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ANO 3

5ª EDIÇÃO
6/2018

OS PILARES DA
SUSTENTABILIDADE
Social, política, econômica, ambiental e cultural: por que a sociedade
sustentável depende tanto da harmonia entre essas cinco dimensões

ENTREVISTA Dyogo Oliveira, BENCHMARK Mais Gestão, o


presidente do BNDES, fala do novo programa que aplica boas práticas
momento da instituição de governança no setor público
2 brasil junho de 2018
3
4 brasil junho de 2018
INOVAÇÃO A SERVIÇO
DOS BRASILEIROS
Como a indústria farmacêutica nacional
trabalha pelo desenvolvimento do país?

+ACESSO +DIÁLOGO +COMPETITIVIDADE


Inovamos para oferecer Unimos governos, universidades, Investimos em novas
medicamentos de qualidade profissionais de saúde e a tecnologias para colocar o
com segurança e eficácia a sociedade em torno das grandes Brasil no mapa mundial das
preços justos para a população discussões da nossa indústria potências do setor de saúde

Lutar por uma indústria farmacêutica brasileira altamente


inovadora, capaz de enfrentar os desafios globais da saúde,
é a grande causa do Grupo FarmaBrasil. Essa é a nossa
contribuição para melhorar a qualidade de vida da população.
10
ENTREVISTA
Presidente do BNDES, Dyogo
18
BENCHMARK
BRASIL
Mais Gestão,
o programa
Oliveira explica como a
instituição pode contribuir que transforma
com a retomada da economia governos

26
BENCHMARK MUNDO
Estônia, onde a economia
digital acontece

6 brasil junho de 2018


sumário
32
OPINIÃO
Renato Meirelles avalia o
perfil do eleitor brasileiro
34
OPINIÃO
Thiago Lopes explica a
dinâmica da E-Digital
62
DEBATE
Governança é
a chave para superar
gargalos logísticos

52
36
COMPETITIVIDADE
68
BÚSSOLA
A dura missão de

70
tornar o Brasil um
país-membro da OCDE

CAPA
Economia, social, política,
cultural e ambiental: por que a PERFIL
Patrícia Audi: o pulso
busca por uma sociedade
democrático que
sustentável passa pelo equilíbrio
comanda o Conselhão
de suas cinco dimensões

60
RESENHA
O segredo para
driblar a Máquina

7
expediente

Movimento Governo Revista Brasil+


Brasil Competitivo Casa Civil da Presidência da
A Revista Brasil+ é uma publicação
República
Missão semestral do Movimento Brasil
Ministério da Ciência, Tecnologia, Competitivo distribuída a associados e
Promover a competitividade
Inovações e Comunicações parceiros em todo o território nacional.
sustentável do Brasil elevando
Ministério da Indústria, Comércio
a qualidade de vida da
Exterior e Serviços Coordenação geral
população brasileira
Ministério da Fazenda Tatiana de Assis Ribeiro
Visão Ministério do Planejamento,
Contribuir para que o Brasil Desenvolvimento e Gestão Coordenação editorial
seja uma das 30 nações mais Adriane Klamt da Cunha
competitivas do mundo até 2030 Lideranças Empresariais Késsya Letícia de Morais Marques
e da Sociedade Civil
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8 brasil junho de 2018


editorial
Propósito
sustentável
Mais uma eleição se aproxima, e a conjuntura política brasileira não
poderia estar mais difusa. Ainda assim, seria imperativo que determina-
das convicções permeassem os planos de governo e os discursos de qual-
quer ator político. Refiro-me a trabalhar com propósitos bem definidos,
algo que transcenda partidos e suas respectivas ideologias. Afinal, o ver-
dadeiro eixo da transformação de um país em um lugar mais justo, ético
e competitivo é o propósito.
Nesse contexto, o desafio maior é encontrar o equilíbrio para cinco eixos
que guiam o dia a dia de qualquer pessoa. As dimensões econômica, social,
ambiental, cultural e política enchem uma mão e, juntas, dão forma ao con-
ceito de sociedade sustentável. É sobre essa concepção
que nos debruçamos na matéria de capa desta quinta
A transformação do
edição da revista Brasil+. Para falar de sustentabilidade,
revisitamos valores que fazem parte do DNA do MBC Brasil será proporcional
enquanto arena de diálogo entre o público e o privado à capacidade de
no Brasil: eficiência e gestão, governança, digitalização mobilização em torno
e reforma do Estado.
de um bem comum: a
Junto a esses pilares, as diretrizes sustentáveis sempre
tiveram lugar na trajetória do MBC. De agora em diante, busca por uma
no entanto, o paradigma passa a nos guiar de maneira sociedade sustentável
ainda mais intensa. Entendemos a sustentabilidade como
a nova bússola do desenvolvimento humano e concentraremos esforços para
que as organizações e o próprio país sigam o norte apontado por ela.
A essência desses princípios também pode ser vista na entrevista que
abre a edição. Nela, Dyogo Oliveira conta sobre os novos planos do BNDES
em seu empenho pela democratização no acesso ao crédito. Ou então no
perfil que apresenta ao leitor a vasta experiência de Patrícia Audi, a gesto-
ra pública de carreira que comanda o Conselhão – foro estratégico de in-
terlocução entre a sociedade civil e a Presidência da República. Falamos
ainda sobre plataformas inovadoras de gestão, buscamos benchmarks de
governo digital na Estônia, debatemos o ingresso do Brasil na OCDE e ana-
lisamos os gargalos da logística nacional.

Boa leitura.

Claudio Gastal
Presidente executivo do Movimento Brasil Competitivo (MBC)

9
Fotos: André Telles

10 brasil junho de 2018


entrevista
crédito para
a retomada
Desde abril à frente do BNDES, Dyogo Oliveira diz que
as micro, pequenas e médias empresas são as
verdadeiras campeãs nacionais e, por isso, receberão
maior apoio da instituição – que também reforçará a
atuação nas áreas de tecnologia e infraestrutura
Por Ricardo Lacerda

S
ervidor público da titucional 95 – que estabeleceu o
carreira de Espe- teto dos gastos públicos no país.
cialista em Políti- Sua saída do Planejamento, em
cas Públicas e abril de 2018, foi estratégica para
Gestão Governa- o governo, que viu no ministro o
mental desde nome ideal para comandar o Ban-
1998, Dyogo Oli- co Nacional de Desenvolvimento
veira está habitu- Econômico e Social (BNDES).
ado a grandes de- Já na cerimônia de posse, o
safios. Depois de desempenhar novo presidente da instituição fa-
funções de destaque na Secretaria lou em "reinventar" o BNDES, sa-
de Tecnologia Industrial do Minis- lientando a importância de atuar
tério do Desenvolvimento, Indús- mais próximo ao mercado, em vez
tria e Comércio Exterior (MDIC) e de competir com outros bancos,
na Secretaria de Política Econômi- e de disponibilizar crédito em áre-
ca (SPE) do Ministério da Fazenda, as onde há parcos recursos de fi-
em maio de 2016 o economista nanciamentos disponíveis. Em en-
assumiu o comando do Ministério trevista exclusiva para a revista
do Planejamento, Desenvolvimen- Brasil+, Dyogo Oliveira destaca,
to e Gestão com o Brasil envolto entre outros assuntos, a impor-
em uma profunda crise fiscal. tância das micro, pequenas e mé-
Durante quase dois anos, Oli- dias empresas para a retomada
veira esteve à frente de ações mar- econômica do país e explica como
cantes, como a liberação das con- o BNDES trabalhará em consonân-
tas inativas do Fundo de Garantia cia com o governo federal em fa-
do Tempo de Serviço (FGTS) e a vor da transformação digital bra-
entrada em vigor da Emenda Cons- sileira. Acompanhe:

11
As próximas eleições acontecem
em outubro. Considerando a
chegada de um novo presidente
em 2019, quais são suas prioridades
no BNDES?
A agenda do BNDES está vol-
tada ao desenvolvimento do país.
Independentemente do pleito que
se aproxima, há uma agenda inter-
na voltada para a transparência e
a governança, que envolve o aper-
feiçoamento dos processos e da
forma como as operações são con-
duzidas. O objetivo final é reduzir
os prazos de tramitação e, mais do
que isso, encontrar configurações
de financiamento mais adequadas
às necessidades dos clientes. No
tocante ao crédito, estamos facili-
tando a utilização de recursos pri-
vados nos empreendimentos e o
apoio às micro, pequenas e médias
empresas. No tocante ao tipo de
projeto, os focos de atuação estarão
em inovação, tecnologia, desenvol-
vimento de novas empresas, infra-
estrutura e comércio exterior.

De que maneira o BNDES pode


contribuir para financiar a
retomada da economia brasileira?
O Brasil busca uma retomada
consistente que se desdobre em cres-
cimento em médio e longo prazo, o
que requer avanços na competitivi-
dade sistêmica dos produtos e das
companhias brasileiras. No espaço
de atuação do BNDES, isso significa
investir em infraestrutura, disponi-
bilizando insumos e reduzindo os
gargalos produtivos e de escoamen-
to; e em governança para as empre-
sas, possibilitando transparência e
agilidade. Vamos, portanto, desen-
volver projetos de energia, transpor-
te, saneamento, mobilidade urbana.
Com o emprego mais eficiente dos
recursos produtivos e a diminuição
nos custos de produção e de movi-
Segundo Oliveira, a inovação recebe as
mentação internos, o país pode fa- melhores condições de financiamento
zer valer suas vocações como o agro-
negócio e o setor industrial, direcio-

12 brasil junho de 2018


entrevista
nando o adensamento da cadeia e carteira da BNDESPAR, captação adaptarem ao novo referencial. Além
produtiva e a agregação tecnológi- em mercado, entre outros. Ou seja, disso, é uma taxa com um compo-
ca no caminho da sustentabilidade o banco irá viabilizar os recursos que nente de inflação e um componente
financeira e socioambiental. forem necessários para atender à de taxa fixa, o que facilita a gestão
demanda futura. Mas, no contexto dos créditos das empresas. Se mirar-
Em 2017, o total de operações de esperado, a poupança financeira pri- mos na TLP atual, ela é até mesmo
crédito e repasses financeiros do vada se direcionará a ativos mais inferior à antiga TJLP, mantendo a
BNDES caiu 20% em comparação arriscados e rentáveis. O BNDES vai vantagem de oferecer o crédito de
com 2016 – para R$ 560,8 bilhões. atuar no longo prazo e em segmen- longo prazo. Até pode haver interes-
O que provocou a redução e qual tos em que a sua participação faça se dos clientes do BNDES na migra-
é a previsão para fechar 2018? mais diferença, como no de MPMEs ção dos contratos existentes em TJLP
O estoque das operações de cré- [micro, pequenas e médias empre- para contratos em TLP. Investimen-
dito do BNDES declinou em 2017 por sas]. O banco ingressará em novas tos são gastos empresariais voltados
uma conjunção de fatores, destacan- e fundamentais linhas de atuação, ao aumento da capacidade produti-
do-se a queda nos desembolsos do a exemplo da identificação e pre- va, isto é, despesas correntes que
banco, que refletiu a fraca dinâmica paração de projetos que poderão ser trarão retorno financeiro somente
da economia – em que os investi- explorados pelo setor privado em no futuro. Capacidade ociosa signi-
mentos caíram 1,8%. Foi o quarto concessões e PPPs [parcerias públi- fica que parte do capital investido
ano consecutivo de queda no inves- co-privadas]. não apresenta retorno. Assim, o que
timento, que reduziu quase 30% no explica o atual nível da demanda são
acumulado de 2014 a 2017. Contudo, as incertezas conjunturais sobre o
mais recentemente a parcela do in- retorno futuro dos investimentos.
vestimento relacionado a máquinas Daí a importância das medidas de
e equipamentos iniciou a recupera- equilíbrio fiscal e da nova agenda do
ção, o que pode atenuar a redução BNDES, de identificar e estruturar
dos desembolsos. A projeção atual O banco está conduzindo um projetos importantes para o país.
indica um desembolso entre R$ 70 amplo processo de revisão de
bilhões e R$ 80 bilhões em 2018. O senhor já disse que o banco está
todas as suas normas internas, fazendo um esforço para reduzir
Caso mantenha o ritmo de bem como das regras de os prazos de análise e aprovação
devoluções dos empréstimos análise e da aprovação das de projetos – que chegam a 300
tomados do Tesouro Nacional, o dias. Como esse trabalho está
banco conseguirá suprir a demanda
operações de crédito. sendo executado?
por financiamentos em 2018 e nos O banco está conduzindo um
próximos anos? A adoção da Taxa de Longo Prazo amplo processo de revisão de todas
Até o final do ano, teremos an- (TLP) mais próxima das taxas de as suas normas internas, bem como
tecipado o pagamento de quase mercado, em substituição à Taxa das regras de análise e da aprovação
R$ 310 bilhões dos R$ 420 bilhões de Juros de Longo Prazo (TJLP) nos das operações de crédito. Vamos se-
que o BNDES captou da União des- novos contratos contribuiu para gregar por tipo de operação e deter-
de 2008 – sendo somente R$ 130 a redução da procura por crédito? minar metas para cada uma delas.
bilhões apenas em 2018. O volume Não. A queda da demanda é ve- Isso vai provocar uma redução mui-
a ser devolvido permitirá o pleno rificada desde 2015. Dado o fator to grande dos prazos. Algumas ope-
atendimento da demanda. Para o de desconto da fórmula da TLP, que rações vão passar a ter prazos me-
futuro, a composição de funding pre- decai ao longo de anos, não há taxa nores, de horas e dias, e somente as
cisará ser diferente da atual, mas o mais competitiva do que a TLP pa- mais complexas terão um período
contexto será diferente. Com infla- ra projetos de longa maturação. Sua maior de análise, de 180 dias – que é
ção menor e as inevitáveis reformas adoção tem contribuições positivas a meta atual e geral. As metas ainda
fiscais estruturais, as taxas de juros para a demanda por crédito do ban- não foram definidas, mas o processo
reais e nominais deverão continuar co. A TLP tem um período de tran- já está em curso como parte da revi-
em patamar baixo. Há diversas pos- sição suave ao longo de cinco anos, são do planejamento estratégico do
sibilidades para novas fontes: reten- o que respeita o tempo necessário banco. Essas iniciativas devem ser
ção de lucros, venda de patrimônio para o mercado e os investidores se concluídas até o fim de 2018.

13
Oliveira projeta que até o fim de tro Sul (RS) e Pelotas (RS). Em pers-
pectiva estão Curitiba (PR), Natal (RN)
2018 o BNDES terá antecipado o e Petrolina (PE).
pagamento de quase R$ 310 bilhões
Considerando esse novo cenário,
dos R$ 420 bilhões captados da como deve ser a relação do banco
União desde 2008 – sendo R$ 130 com as empresas chamadas cam-
peãs nacionais? E no que diz res-
bilhões apenas neste ano peito aos bancos privados, a ideia
é competir diretamente ou é mais
estratégica uma aproximação?
Em sua gestão, o BNDES criou uma bras e Loteria Instantânea), além da
As verdadeiras campeãs nacio-
área específica para estruturação Integração do Rio São Francisco. Na
nais são as empresas de micro, pe-
de projetos de investimentos agenda com os estados foi estabe-
queno e médio portes, que empregam
públicos. Como ela funciona e qual lecido prioridade ao setor de sane-
parcela representativa da força de
é a sua estrutura? amento, com uma carteira junto aos
trabalho, dinamizam e espalham o
A área para estruturação de pro- estados do Acre, Alagoas, Amapá,
crescimento econômico por todo o
jetos foi criada por conta de uma Ceará, Pará, Pernambuco, Rio de Ja-
território nacional. O banco está fo-
análise mais criteriosa, que avaliou neiro e Sergipe. Todos se encontram
cado na identificação e no apoio a
que muitos projetos chegavam sem na fase de elaboração dos estudos.
essas empresas com potencial de
estar suficientemente maduros para No âmbito da agenda municipal, a
expansão. Bancos privados são par-
entrar em análise – o que dificultava prioridade se deu no setor de ilumi-
ceiros do BNDES tanto nos investi-
o financiamento. Falta formato e mo- nação pública, hoje com nove proje-
mentos de maior monta – contri-
delagem, por exemplo, coisas que tos. Na fase de elaboração dos estu-
buindo para uma alocação ideal dos
atrasam e até mesmo impedem a dos estão os projetos de Teresina (PI),
riscos e estabelecimento de projeções
aprovação. O BNDES decidiu ofere- Porto Alegre (RS) e Macapá (AP). Já
de retorno e sucesso nos grandes
cer uma estrutura para desenvolver na fase de contratação dos estudos
projetos – quanto naqueles finan-
os projetos, para que sejam financi- estão Vila Velha (ES), Consórcio Cen-
ciamentos às empresas de médio e
áveis e atendam a critérios técnicos
Foto: Ministério da Integração Nacional
e regulamentações ambientais.

Os projetos serão desenvolvidos


por demanda ou por iniciativa do
banco? O senhor poderia men-
cionar quais já estão sendo tra-
balhados?
O BNDES atua na estruturação
de projetos em todo seu ciclo: des-
de a concepção até a assinatura do
contrato com o ente privado. Eles
podem ser desenvolvidos tanto por
demanda quanto através da ativi-
dade de fomento. No caso dos pro-
jetos no âmbito do Programa Na-
cional de Desestatização (PND),
normalmente o BNDES é demanda-
do como estruturador. Já no caso dos
projetos relacionados a estados e
municípios, usualmente o BNDES é
quem fomenta a agenda. Na cartei- Integração do rio São Francisco faz parte
da carteira de projetos federais do banco
ra de projetos federais está o PND
(Eletrobras, Distribuidoras da Eletro-

14 brasil junho de 2018


entrevista
pequeno porte, em que contribuem criadas está o BNDES Garagem, pa- mento em tempo real dos movimen-
com conhecimento específico sobre ra investir em jovens promessas do tos na cidade, o que permite funda-
o cliente e na capilarização espacial empreendedorismo nacional. Além mentar de maneira mais concreta o
e do leque de destinatários dos re- disso, compõe o dever de casa o aper- desenvolvimento de políticas públi-
cursos do banco. Por todos esses mo- feiçoamento das condições e carac- cas, com base em dados. No mundo,
tivos, a parceria com os bancos pri- terísticas do crédito. Estamos atra- o ganho econômico potencial má-
vados é prioritária. A aproximação vessando um período crucial para o ximo que a IoT pode trazer ao am-
com o mercado é um passo estraté- BNDES, vivendo um período de trans- biente de cidades é de cerca de US$
gico e envolve, além do crédito, uma formações relevantes na geopolítica 1,6 trilhão em 2025. No Brasil, esse
atuação mais afinada com os bancos mundial e na macroeconomia brasi- ganho econômico é estimado em
privados no mercado de capitais. leira. Com a redução nos patamares US$ 27 bilhões. Economias com ilu-
dos juros domésticos, o banco está minação pública, monitoramento
Como o senhor avalia o nível de se reinventando, como sempre fez ao do tráfego em tempo real e redução
competitividade das empresas bra- longo dos seus quase 70 anos. da mortalidade causada pela vio-
sileiras? O que a gestão pública po- lência são exemplos de aplicações
de aprender com o setor privado? O MBC defende a adoção de boas nas quais a IoT pode contribuir.
Educação, pesquisa e desenvol- práticas de governança para que
vimento de novos produtos são pa- se chegue a uma sociedade mais Qual deve ser o papel do BNDES
lavras-chave para a competitividade sustentável. Em sua opinião, esses como agente de incentivo a novas
das companhias brasileiras. As em- conceitos já estão assimilados na tecnologias e no fomento da digi-
presas hoje são competitivas por política nacional? talização da economia nacional?
conta das vantagens comparativas É fundamental avançar na agen- Trabalhando ativamente na pro-
naturais e da criatividade do empre- da de boas práticas de governança, moção de soluções tecnológicas vol-
sariado nacional. Além do desem- de transparência, de cumprimento tadas aos serviços públicos. Isso va-
penho da logística, da disponibilida- da legislação como instrumento pa- le tanto pelo lado de fomento e di-
de de insumos a preços competitivos ra melhorar a eficiência dos projetos, fusão de novos projetos junto aos
e da qualidade dos marcos regula- inclusive pra produzir resultados mais agentes públicos quanto pelo apoio
tórios, precisamos melhorar muito significativos para a sociedade. financeiro aos planos de investimen-
na produção de ativos intangíveis e tos. Um exemplo prático foi a publi-
na colaboração e interação entre Nesse sentido, como a agenda di- cação da Cartilha de Cidades, deriva-
indústria e universidade. É necessá- gital pode contribuir para a cons- da do Estudo de IoT do BNDES, que
rio, também, facilitar a abertura de trução de um país mais justo e igua- traz um conjunto de casos ilustrativos
novos negócios e aperfeiçoar a con- litário, com maior transparência e e recomendações para a promoção
cessão do crédito – em volume e em serviços públicos de qualidade? de uma agenda rumo à construção
variedade de mecanismos creditícios. O uso das tecnologias da infor- de cidades mais inteligentes no Bra-
O BNDES está atento a esse quadro, mação e comunicação tem sido com- sil. As Tecnologias da Informação e
tanto é que no rol de iniciativas já provadamente um dos meios para Comunicação (TICs) estão na base
ofertar serviços públicos de maior da digitalização da sociedade e im-
qualidade e maior transparência na pactam cada vez mais a economia e
gestão de recursos. De forma sim- o modo de vida das pessoas. Nesse
plificada, a adoção de soluções para sentido, o Planejamento Estratégico
digitalização e controle de serviços do BNDES para o período 2018-2023
As verdadeiras campeãs permite aos agentes públicos ofere- definiu o conjunto de missões prio-
nacionais são as empresas de cerem melhores serviços à população ritárias na atuação do banco, e essa
com uso mais racional de recursos. questão se situou na interseção de
micro, pequeno e médio portes, A disseminação da Internet das Coi- duas temáticas-chave: infraestrutu-
que empregam parcela sas (IoT) em cidades pode trazer inú- ra e inovação. É nesse contexto que
representativa da força de meros benefícios aos cidadãos e à o BNDES desenvolve um trabalho em
gestão pública, seja na área de trans- três eixos principais. O primeiro diz
trabalho, dinamizam e espalham porte, de segurança, na eficiência respeito a soluções financeiras para
o crescimento econômico por energética, entre outras. A IoT pode, ampliação, modernização e univer-
todo o território nacional. por exemplo, viabilizar o monitora- salização da cobertura de infraestru-

15
entrevista

tura de TICs. O segundo, ao apoio à co congregam financiamento, fundos


inovação através de diversos instru- não reembolsáveis, fundos de inves-
mentos de crédito, equity – sobretu- timento e de dívida. Eles buscam
do via fundos de capital semente e As novas políticas atender a diferentes necessidades,
venture capital – e recursos não re- operacionais do BNDES portes de empresas e fases do ciclo
embolsáveis. Já o terceiro tem a ver
com o apoio à formulação de políti-
ampliaram o prazo de de inovação e instituições científicas
e tecnológicas. O banco apoia desde
cas públicas com destaque para o financiamento de 12 para projetos específicos de novos pro-
plano de Internet das Coisas. 20 anos e reduziram o dutos e processos a planos de negó-

E especificamente no segmento
spread do banco para apoio cio em inovação, incluindo IoT e ma-
nufatura avançada, capacitação pro-
de infraestrutura? a projetos de inovação. fissional, entre outros.
O banco financia parte do plano
de investimento das operadoras tra- nomia e na sociedade – além de pro- E como acontece essa atuação,
dicionais ao impulsionar a expansão por um plano de ação para o país. na prática?
e a modernização da banda larga no Nossa visão é que o uso disseminado Na última década, o BNDES de-
país. Além disso, estimula a cadeia das novas tecnologias irá fomentar sembolsou R$ 31,4 bilhões em pro-
local de suprimentos de equipamen- ainda mais a inovação local no setor. jetos de inovação. Cabe notar que
tos e serviços e trabalha junto a pro- nos últimos quatro anos mais de 80%
vedores regionais de acesso para Considerando a parceria com o da quantidade de apoios financeiros
ampliar a penetração da internet em MCTIC, o banco está assumindo o do BNDES foram canalizados para
áreas remotas. papel de financiar projetos inova- MPMEs, totalizando mais de 5,6 mil
dores, sobretudo no que diz res- operações. A inovação segue rece-
O que o BNDES considera mais peito à IoT? bendo as melhores condições de fi-
estratégico no que toca ao seu pla- O estudo de IoT foi finalizado em nanciamento. As novas políticas ope-
no de inovação e na esfera de po- março, com a entrega de um con- racionais do BNDES ampliaram o
líticas públicas? junto de documentos que consolidam prazo de financiamento de 12 para
No plano da inovação, o BNDES uma proposta de plano de ação de 20 anos e reduziram o spread do
atua sistemicamente pela combina- longo prazo. Do lado do governo, as banco para apoio a projetos de ino-
ção de três vertentes complemen- ações de apoio à IoT se inserem na vação. Em termos de participação
tares para fortalecer o ecossistema Estratégia Brasileira de Transforma- acionária e apoio a startups, o ban-
brasileiro. Uma delas é a participação ção Digital. Há ainda expectativa co dispõe de 15 fundos em atividade
acionária direta ou, principalmente, para que um Plano Nacional para de apoio à inovação e ao empreen-
via fundos de investimentos para IoT seja detalhado em breve por meio dedorismo – incluindo três Criatecs
empresas inovadoras e com poten- de um decreto presidencial. Tais ini- para capital semente –, com 99 em-
cial de crescimento. A segunda está ciativas estão sendo conduzidas pe- presas em carteira. No Planejamen-
no crédito para planos de inovação. lo MCTIC. Por seu apoio histórico ao to Estratégico houve a decisão de
E a terceira diz respeito a fundos não setor, o BNDES já apoia as empresas ampliar ainda mais o apoio através
reembolsáveis para tecnologias dis- com inovações em IoT, tanto aque- da atividade de fundos, de modo que
ruptivas desenvolvidas por univer- las que atuam na integração de novos sejamos capazes de promover esse
sidades ou institutos em parceria serviços como aquelas que atuam nas mercado atraindo capital de parcei-
com empresas. Na esfera de políticas tecnologias habilitadoras nas cama- ros nacionais e estrangeiros. Esses
públicas, o BNDES historicamente das de sensores, conectividade e ar- fundos já dispõem de R$ 600 milhões
apoiou o governo na formulação e mazenamento ou análise de dados. para investimento em novas empre-
execução de políticas para o setor sas inovadoras nos próximos quatro
de TIC. Por exemplo: em parceria com Que segmentos devem ser priori- a cinco anos. Destaco, ainda, os novos
o Ministério da Ciência, Tecnologia, zados no fomento à IoT? fundos que completam o portfólio
Inovações e Comunicações, o banco Vemos como fundamental atu- de apoio, especialmente para empre-
financiou um amplo estudo sobre IoT, ar no fomento ao uso da IoT dentro sas nascentes: fundo para investimen-
identificando as áreas onde as solu- dos ambientes priorizados: cidades, to anjo, fundo de dívida (Venture
ções baseadas em objetos conectados rural, saúde e indústria. Os instru- Debt) e fundo para empresas incu-
podem gerar mais impacto na eco- mentos de apoio à inovação do ban- badas ou aceleradas (Primatec).

16 brasil junho de 2018


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mais
eficiência
Programa do Movimento Brasil Competitivo (MBC) auxilia governos e organizações
públicas em projetos que vão da melhoria da alfabetização nas escolas até o
aumento da eficiência nos gastos e a implantação de novos modelos de governança
Por Sérgio Ruck Bueno

18 brasil junho de 2018


Foto: Porto Velho (RO) / Wilson Dias / Agência Brasil

benchmark brasil
N
ão importa o tamanho para disseminar boas práticas de ges-
do Estado ou do mu- tão nos diferentes níveis da admi-
nicípio, nem se o ob- nistração pública com mais veloci-
jetivo é criar um pla- dade e economia de recursos. O
no de desenvolvimen- foco é a modernização, o aumento
to, equilibrar o orça- da qualidade, da produtividade e da
mento ou melhorar os transparência, além da implantação
serviços prestados. de uma cultura sólida de busca por
Diante da baixa evo- resultados nas organizações públicas.
lução das receitas, os governos têm O Mais Gestão é resultado do
em comum o desafio de ampliar a acúmulo de experiência pelo MBC
capacidade de planejamento e ges- desde a criação do Programa de Mo-
tão de projetos para conciliar o con- dernização da Gestão Pública
trole de gastos com as demandas (PMGP), em 2005, que permitiu a
cada vez maiores por investimentos transferência de novos conceitos e
em áreas como saúde, educação, métodos de governança a quase 50
segurança e infraestrutura. governos estaduais, prefeituras e mi-
A tarefa é complexa e reflete o nistérios. Ao longo desses 12 anos
aperto de caixa da maior parte das
administrações estaduais e munici-
pais no Brasil. De acordo com os da- A partir de uma
dos mais recentes da Secretaria do
Tesouro Nacional (STN), de 2015 plataforma online
para 2016 as receitas primárias lí- e do apoio
quidas (descontadas as transferências
para as prefeituras) somadas de to- de consultores,
dos os estados brasileiros avançaram
5,5%, para R$ 574,9 bilhões, e as
o Mais Gestão dissemina
receitas correntes dos municípios boas práticas no
com mais de 100 mil habitantes cres-
ceram 5,7%, para R$ 315,1 bilhões. setor público, com
O problema é que, no mesmo metodologias aplicáveis
intervalo, a inflação medida pelo IP-
CA foi de 6,3%. Significa que gover- a vários níveis da
nadores e prefeitos tiveram, em ter-
mos reais, menos dinheiro para co-
administração
brir despesas de custeio, pagar dívi-
das e investir. Por isso, os gestores de trabalho e a partir das demandas
buscam meios para aumentar os apresentadas pelos gestores públicos
controles e a eficiência dos gastos, foram desenvolvidas novas ferramen-
evitar desperdícios e extrair melho- tas, que no ano passado deram ori-
res resultados a partir de uma fonte gem à nova plataforma de soluções
limitada de recursos. replicáveis ou sob medida para ne-
Esse é o objetivo do programa cessidades específicas.
Mais Gestão, desenvolvido pelo Mo- O governo de Rondônia aderiu
vimento Brasil Competitivo (MBC) ao modelo Mais Gestão Especializa-

19
Em Rondônia, o trabalho
incluiu a capacitação de
servidores, o estímulo à
inovação e a reformulação do
Plano de Desenvolvimento
Econômico Sustentável

do, o mais abrangente do progra-


Soluções para cada ma e que oferece soluções perso-
tipo de necessidade nalizadas às organizações públicas.
O interesse surgiu da busca por um
O programa Mais Gestão está disponível em três forma-
modelo de governança mais efi-
tos. Os modelos Autoaplicável e Desenvolvimento têm so-
ciente, capaz de produzir estraté-
luções padronizadas para a melhoria do desempenho dos
gias de longo prazo associadas a
alunos de escolas públicas, a implantação do sistema de
projetos com impacto positivo na
nota fiscal eletrônica nos municípios, o aumento da eficiên-
qualidade de vida da população.
cia dos gastos das prefeituras e a seleção de funcionários
O trabalho durou 14 meses e in-
para cargos comissionados.
cluiu desde a capacitação dos ser-
O primeiro modelo é aplicado pelo próprio interessado,
vidores e o estímulo à inovação até
utilizando o manual e ferramentas disponíveis na platafor-
a transformação do Plano de De-
ma, enquanto o segundo propõe que administrações públi-
senvolvimento Estadual Sustentá-
cas implementem programas individualmente ou em grupo,
vel (PDES), responsável por definir
com apoio presencial e remoto de especialistas do MBC.
as diretrizes estratégicas para o
O modelo mais completo é o Mais Gestão Especializado,
crescimento local até 2030, em
com soluções personalizadas em áreas como governança,
cláusula da Constituição do Estado.
reestruturação organizacional, transição e plano de governo,
“Tínhamos como grandes desa-
desburocratização, governo digital, desenvolvimento per-
fios internalizar a cultura do plane-
manente de soluções inovadoras e gestão orientada para
jamento e criar um sistema de go-
resultados. Na modalidade, consultores participam em tem-
vernança eficiente”, diz o ex-gover-
po integral do trabalho – que pode chegar a 36 meses.
nador Confúcio Moura (MDB), que
liderou a parceria com o MBC no
estado. Em abril deste ano ele deixou
A plataforma funciona com o cargo para concorrer ao Senado
na eleição de outubro. Na opinião
uma sequência de fases e dele, o PDES melhora a qualidade
etapas de implantação 100% das ações de governo e rompe com
a “velha política da descontinuidade”
personalizáveis. Para conhecer que costuma marcar as administra-
exemplos de boas práticas e ções públicas. “Isso, por si só, já traz
um valor imensurável”, afirma.
outros casos de sucesso, acesse Com o Mais Gestão Especiali-
zado, Rondônia passou a contar
www.maisgestao.org.br com o apoio presencial de uma
equipe do MBC formada por qua-
tro especialistas que se reuniam

20 brasil junho de 2018


benchmark brasil
mensalmente com governador, se- Em Rondônia, relação entre órgãos públicos firmaram pactos de
cretários e assessores. Nesses en- investimentos empenhados metas com indicadores e compro-
contros eram definidos os progra- e liquidados cresceu de missos anuais, inclusive relativos
mas necessários para suprir as de- aos projetos que fazem parte do Ron-
mandas do Estado, algumas delas 61% 71% dônia de Oportunidades, e foi cons-
incluídas após o início do trabalho, em 2016 para em 2017 tituída uma câmara especial forma-
assim como eram avaliados os re- da pelo governador e pelos secretá-
sultados alcançados a cada etapa,
verificadas as dificuldades e esta-
e deve
chegar a 93%
em 2018
rios que passou a se reunir mensal-
mente para avaliar os projetos.
belecidos os passos subsequentes. Um novo sistema de gestão de
Para Rosana Vieira de Souza, en- processos e de conhecimento foi
tão superintendente de Estado para O governo de implantado em todas as áreas do
Resultados, pasta ligada diretamen- Rondônia contratou governo e consolidou as novas me-
te ao governador e criada no âmbi- todologias em um manual de boas
to do novo modelo de governança,
também fixado em lei, o grande 96 servidores para a
nova carreira de
práticas em gestão pública para criar
melhores condições de aplicar as
legado da parceria com o MBC foi especialista em Gestão de estratégias definidas no PDES. Pro-
a institucionalização do PDES por Políticas Públicas. cedimentos foram simplificados e
meio de uma emenda à Constitui- Eles passarão por um desburocratizados, fluxos foram re-
ção do Estado. O plano, que será programa de tutoria com organizados e as ações passaram a
revisado a cada quatro anos, foi ali- um ano de duração. ser documentadas com a finalidade
nhado ao programa Rondônia de de preservar a “memória” da admi-
Oportunidades, responsável por nistração estadual.
executar os projetos de curto e mé- Rondônia de Conforme Rosana, a nova go-
dio prazo de acordo com as diretri- Oportunidades vernança e a plataforma informati-
zes estratégicas estabelecidas. Moura explica que ainda é ce- zada aportada pelo Mais Gestão
O Mais Gestão contribuiu com a do para identificar com precisão proporcionaram ainda um maior
própria estruturação do PDES, pois os efeitos econômicos do progra- controle sobre as empresas públicas.
agregou estratégias, metas e indica- ma em Rondônia, mas entende que Entre elas estão a Companhia de
dores a um amplo diagnóstico feito ele será um norteador para as de- Água e Esgotos (CAERD), a Compa-
anteriormente pelo governo. Além cisões dos futuros gestores. “É mui- nhia de Mineração de Rondônia
disso, tanto no caso do programa to positivo para os investimentos”, (CMR) e a Sociedade de Portos e Hi-
quanto no do modelo de governança, constata Rosana. Para ela, um dos drovias do Estado (SOPH). “Ninguém
os projetos aprovados pela Assem- desafios nos próximos anos será ficou solto no processo e os serviços
bleia Legislativa foram elaborados manter o crescimento descentra- melhoraram”, afirma.
com o apoio da equipe do MBC. lizado do Estado, baseado no agro- Com a informatização e a sim-
negócio, com sustentabilidade am- plificação, os procedimentos tor-
biental, menos burocracia e equi- naram-se mais precisos e mais rá-
líbrio fiscal – mesmo em momen- pidos e a eficiência dos gastos au-
tos de crise econômica. mentou. Um exemplo é a relação
O modelo de governança im- entre investimentos liquidados
plantado em Rondônia introduziu (executados) e empenhados (con-
Tínhamos como grandes o conceito de Estado voltado para tratados), que avançou de 61% pa-
desafios internalizar a cultura do resultados, racionalizou a distribui- ra 71% de 2016 para 2017. O au-
ção das responsabilidades sobre as mento aconteceu, em parte, graças
planejamento e criar um sistema políticas públicas entre as diferen- à maior qualidade no planejamento
de governança eficiente. tes secretarias e promoveu a arti- e execução dos projetos, com des-
culação entre as decisões estraté- taque para o setor de infraestrutura
Confúcio Moura, ex-governador de Rondônia rodoviária – segundo Rosana.
gicas, táticas e operacionais. Os

21
Fotos: Prefeitura de Iracemápolis

O grande legado
da parceria com
o MBC foi a
institucionalização
do Plano de
Desenvolvimento
Econômico
Sustentável por meio
de uma emenda
à Constituição
do Estado.
Rosana Vieira de Souza,
ex-superintendente de
Assuntos Estratégicos do
Estado para Resultados, do
governo de Rondônia

Em 2016, dos R$ 523,7 milhões Em Iracemápolis, o foco é


em investimentos empenhados, R$ ajustar as contas para ganhar
capacidade de investimento
319,6 milhões foram liquidados.
Em 2017, R$ 370,7 milhões dos R$
520,4 milhões em aportes públicos
programados foram executados no
mesmo exercício. E, para 2018, a Os novos servidores participarão ''Boas Ideias'', de 2013. No início, as
estimativa é que a relação aumen- de um programa de tutoria de um ano, três melhores propostas para apri-
te para 93%. desenvolvido pela equipe do MBC. morar os serviços públicos eram in-
Mas assim como uma governan- Nesse período eles serão orientados cubadas e aquelas que fossem im-
ça ágil e eficiente é necessária para pelo pessoal de maior experiência pa- plantadas rendiam prêmios em di-
colocar projetos de longo, médio e ra atuar como gestores de projetos e nheiro aos autores. A partir de 2017,
curto prazo de pé, ela própria de- programas estratégicos. Ao mesmo com o Mais Gestão, as 20 sugestões
pende da capacitação e da motiva- tempo, outros 80 funcionários que mais interessantes passaram a ser
ção dos servidores. Com 1,8 milhão trabalham em contato direto com classificadas. Os responsáveis rece-
de habitantes em 52 municípios, a população – em áreas como edu- beram, além da recompensa finan-
Rondônia tem um quadro de apro- cação, segurança e saúde – foram ceira, cursos de formação como em-
ximadamente 60 mil funcionários selecionados para um curso de qua- preendedores públicos para contri-
públicos ativos. Depois de criar uma lificação com mentoria de 11 sema- buir na estruturação dos projetos,
Escola de Governo, em 2016, o Es- nas. Depois disso, eles atuarão como que já incluem desde aulas de reda-
tado contratou 96 pessoas para a multiplicadores dos conhecimentos. ção de boletins de ocorrência para
nova carreira de especialista em ges- O funcionalismo já havia sido policiais até a distribuição de livros
tão de políticas públicas – aprovadas chamado a participar do processo didáticos em meio eletrônico para
em concurso em 2017. de inovação por meio do programa alunos do ensino médio.

22 brasil junho de 2018


benchmark brasil
A prefeitura de nários passem por atividades de ca-
Solução antidéficit
Iracemápolis (SP) pacitação ou sejam impactados de
No interior de São Paulo, a 170
pretende economizar alguma maneira por elas.
quilômetros da capital, o pequeno
Um exemplo de descontrole en-
município de Iracemápolis também
passou a aplicar a plataforma Mais
Gestão. A adesão aconteceu em
R$ 1,3 milhão
em 2018
contrado pelas equipes envolvidas no
programa foi o pagamento excessivo
com aumento de controle de horas extras. Os servidores munici-
agosto de 2017 e trazia consigo um sobre gastos com horas pais de Iracemápolis estão submetidos
objetivo traçado pela prefeitura da extras, merenda escolar, ao regime celetista e podem fazer até
cidade de apenas 23,3 mil habitan- aquisição e distribuição de 44 horas extraordinárias por mês. Mas
tes: reequilibrar as finanças públicas, medicamentos, telefonia e o limite era recorrentemente ultrapas-
reduzir o endividamento e liberar energia elétrica. sado sem justificativa – havia ocasiões
recursos para investimentos. “Ao as-
em que funcionários recebiam inclusi-
sumir a gestão, em janeiro de 2017,
ve sem cumprir a jornada estendida.
nos deparamos com um déficit de A cifra corresponde a
No ano passado, a folha de pa-

22%
R$ 500 mil mensais”, lembra o pre-
gamento consumiu 53,98% da recei-
feito, Fábio Zuza.
ta corrente líquida da prefeitura, pra-
Para uma prefeitura que encer-
ticamente no limite do permitido

6
rou 2017com receita corrente líqui-
pela Lei de Responsabilidade Fiscal
da de R$ 66 milhões, o rombo não dos R$ milhões (LRF), que é de 54%. Só as horas ex-
era nada desprezível e a estratégia em investimentos tras consumiram R$ 1,5 milhão, o
de combate ao desequilíbrio come- realizados em 2017 equivalente a pouco mais de 4% da
çou pela definição de grupos priori- pela prefeitura. folha, e a meta traçada foi reduzir es-
tários de despesas correntes que
ta conta em pelo menos 20% (ou R$
exigiam uma intervenção rápida.
300 mil) ao longo de 2018.
Entre os alvos escolhidos estavam údos da plataforma, oferece apoio
A solução foi instituir planilhas
os gastos com telefonia, energia elé- presencial e remoto com o objetivo
assinadas pelos gestores responsáveis,
trica, merenda escolar, aquisição de de criar a capacidade institucional
com justificativa, identificação dos
medicamentos e excesso de horas local para a implantação da solução
servidores e controle das jornadas
extras realizadas por parte dos cer- escolhida. O consultor capacita a
ca de 700 servidores municipais. equipe e apoia a coleta e a análise
Conforme o prefeito, a meta de dos dados, além de promover
economia fixada via Mais Gestão workshops para capacitação dos
foi de R$ 1,3 milhão ao longo de gestores e líderes dos projetos liga-
2018. Apesar de aparentemente dos às diferentes categorias de gas-
modesta, a cifra corresponde a 22% tos. Uma vez por mês, o grupo se
dos R$ 6 milhões em investimentos reúne com o prefeito para avaliar O programa ajuda a
realizados em 2017 pela prefeitura as ações, verificar falhas e apontar
– que encerrou o ano com uma dí- correções de rumo. entender, por meio
vida consolidada de R$ 21,9 milhões. “Estamos no caminho certo. O de uma espécie
Além disso, os resultados começa- programa ajuda a entender, por de auditoria, onde
ram a aparecer até antes do espe- meio de uma espécie de auditoria,
rado: de novembro de 2017 a mar- onde estão os gargalos das contas estão os gargalos
ço de 2018, foram economizados públicas e onde podemos evitar das contas públicas
R$ 515,6 mil, o que já ajudou a evi- eventuais desperdícios”, resume e onde podemos
tar que o déficit orçamentário do Zuza. De acordo com ele, inicial-
ano passado fosse além dos R$ 4,6 mente 20 servidores participaram evitar eventuais
milhões apurados no exercício. dos workshops e foram capacitados desperdícios.
Iracemápolis aderiu à modali- na metodologia de eficiência do
dade Mais Gestão Desenvolvimen- gasto municipal. Mas a ideia é que Fábio Zuza, prefeito
to, que além do acesso aos conte- até o fim de 2018 todos os funcio- de Iracemápolis (SP)

23
Foto: Prefeitura de Ariquemes
colas, mas está sendo aplicado nas
demais instituições municipais ao
longo de 2018.
Na fase piloto foram benefi-
ciados 527 alunos, que passaram
por avaliações em Língua Portu-
guesa, interpretação de textos e
Matemática em agosto, antes das
atividades de reforço escolar, e em
dezembro, após os primeiros me-
ses de aplicação do programa. En-
tre os estudantes de 3o ano, as no-
No município de Ariquemes, os trabalhos tas tiveram uma melhora de até
visam a transformação da educação 75% em Língua Portuguesa e de
até 85% em Matemática.
A evolução foi possível graças
à maior interação entre as equipes
adicionais. Com ferramentas relati- mais carente ficou mais rígido, com pedagógicas da secretaria e das es-
vamente simples, um terço do ob- o suporte de assistentes sociais que colas – inclusive em atividades den-
jetivo anual de economia já havia ajudam a garantir fornecimento “a tro de sala de aula. Ariquemes tem
sido atingido de janeiro a abril. A quem realmente precisa”. pouco mais de 900 professores mu-
próxima etapa considera incluir a nicipais que atendem turmas com
negociação de um sistema de banco Educação priorizada cerca de 30 alunos cada e, no início,
de horas com os funcionários, no Em Ariquemes, a 200 quilô- parte deles mostrou resistências à
qual as horas extras passarão a ser metros da capital de Rondônia, atuação de analistas pedagógicos
compensadas com períodos de fol- Porto Velho, a prefeitura aderiu externos nas escolas. A boa recepção
ga - e não mais pagas em dinheiro. ao Mais Gestão orientado à edu- dos estudantes às atividades pro-
No caso da merenda, a determi- cação. A meta é buscar novas prá- postas, no entanto, contribuiu para
nação para que apenas os estudantes ticas para aprimorar o desempe- angariar o comprometimento dos
tenham acesso à alimentação proje- nho dos 14 mil alunos do 1o ao 5o docentes com o programa.
ta uma economia de R$ 480 mil em ano nas 21 escolas municipais nas Conforme o assessor especial da
2018 – ou 30% dos R$ 1,6 milhão disciplinas de Matemática e Lín- prefeitura, Ricardo Souza Rodrigues,
gastos no ano passado. Antes, parte gua Portuguesa, com foco princi- que também participa da implanta-
dos funcionários usufruía do benefí- pal na melhoria da alfabetização. ção do programa, o trabalho da equi-
cio destinado aos alunos, mas os ser- O trabalho iniciou em março de pe de seis pedagogos montada na
vidores recebem R$ 416 por mês em 2017 e já envolveu professores, Secretaria da Educação é auxiliar os
vale-alimentação. “O município pa- coordenadores e orientadores edu- professores na avaliação do nível de
gava duas vezes”, diz Zuza. cacionais, além de analistas, ges-
Os processos de aquisição e tores e pedagogos da Secretaria
distribuição de medicamentos tam- Municipal de Educação.
bém foram redesenhados, a fim de O município, que tem 107,3 mil
diminuir as despesas na ordem de habitantes, optou pela modalidade
10% a 15% sobre os R$ 2 milhões Autoaplicável. Trata-se da opção mais
desembolsados em 2017. Neste simples do programa, e após receber A plataforma auxilia os
caso, quase metade das compras treinamento, a professora Olímpia professores a desenvolver
era feita sem licitação, mas em Fernandes tornou-se multiplicadora
março todas passaram a ser feitas e responsável pela aplicação da me- atividades de acordo com as
pelo sistema de registro de preços. todologia entre os agentes ligados necessidades específicas dos
Na outra ponta, o controle da en- ao processo de ensino. O projeto, de- estudantes.
trega gratuita de remédios não in- nominado Programa de Melhoria da
cluídos na lista do Sistema Único Alfabetização, iniciou como plano Olímpia Fernandes,
de Saúde (SUS) para a população piloto nos 3os e 5os anos de três es- professora em Ariquemes

24 brasil junho de 2018


benchmark brasil
Em Ariquemes (RO), aprendizagem dos alunos, no desen- A implantação do programa, que
a fase piloto do volvimento e na aplicação de novos mira o melhor desempenho dos alu-
programa beneficiou conteúdos e novas atividades. Os nos em exames como a Avaliação
estudantes com mais dificuldades, Nacional de Alfabetização (ANA) e

527 alunos,
que passaram por
por exemplo, recebem aulas de re-
forço no contraturno escolar, relata.
Segundo Olímpia, a partir da in-
a Prova Brasil, pode levar de um ano
a um ano e meio, desde a sensibili-
zação e capacitação de professores
avaliações em Língua serção de dados sobre o desempenho até a execução da intervenção pe-
Portuguesa, interpretação dos estudantes em planilhas específi- dagógica em si e a transformação
de textos e Matemática. cas, as ferramentas da plataforma Mais do programa em um processo per-
Gestão permitem extrair diagnósticos manente. O trabalho inclui a forma-
de desempenho individualizados e por ção das equipes pedagógicas e ges-
Os estudantes de
turmas. A partir daí, também sugere toras com professores, coordenado-
3o ano, por exemplo,
atividades para atender às necessida- res, diretores de escolas e analistas,
registraram melhoras
des específicas de aprimoramento oficinas e cursos de capacitação pa-
de até 75 % nas notas identificadas. “Assim podemos desen- ra os agentes envolvidos, diagnós-
em Língua Portuguesa e volver novas didáticas para que os alu- ticos do desempenho dos estudan-
de até 85% em nos que não têm o mesmo rendimen-
to possam acompanhar o restante da
tes, preparação de materiais peda-
gógicos e aplicação de novas ativi-
Matemática.
turma”, explica a professora. dades e conteúdos de ensino.

RONDÔNIA
População:
1,8 milhão de habitantes
Receita corrente líquida em 2017:
R$ 6,5 bilhões
Foco do Mais Gestão:
Desenvolver novo modelo de
governança para tornar os processos
administrativos mais ágeis e confiáveis
e conciliar com mais eficiência as
estratégias de longo prazo e os projetos
de curta e média duração.

ARIQUEMES (RO) IRACEMÁPOLIS (SP)


População: População:
107,3 mil habitantes 23,3 mil habitantes
Receita corrente líquida em 2017: Receita corrente líquida em 2017:
R$ 184 milhões R$ 66 milhões
Foco do Mais Gestão: Foco do Mais Gestão:
Desenvolver novas práticas de Reequilibrar as finanças, reduzir
aprendizagem para melhorar o desempenho endividamento e liberar recursos
dos alunos da rede municipal de ensino. para investimentos.

25
Estônia,
a sociedade
digital
Como uma antiga república soviética usou a
internet para elevar o bem-estar da população, atrair
investidores e estimular a economia
Por Leonardo Pujol

I
magine um país totalmen- projetos mais ambiciosos da indús-
te digital. Carros com sis- tria tecnológica global: a criação de
tema de navegação autô- uma sociedade digital. No país, a
nomo trafegam pelas ru- burocracia deu lugar à dinâmica do
as, políticos são eleitos ambiente online. A Estônia foi pio-
pela internet, consultas neira na universalização do acesso
do sistema de saúde ficam à internet nas escolas e já liberou o
hospedadas em nuvem. teste de veículos autônomos em ru-
Todos os serviços públicos e ban- as e estradas. Cerca de 95% das de-
cários podem ser acessados online, clarações fiscais são preenchidas
com um simples número de iden- virtualmente. O mesmo percentual
tidade. Nada de formulários repe- é o de digitalização das prescrições
titivos, múltiplos cartões ou pilhas médicas. As eleições também ocor-
de documentos. E mais: nem é pre- rem, em parte, pela web: quase um
ciso morar lá para aproveitar alguns terço (32%) dos votos foram lança-
desses benefícios. A nação em ques- dos via internet no pleito de 2017.
tão oferece vistos digitais a estran- No mesmo ano, logo após o recorde
geiros, que podem se valer dos bai- de valorização do bitcoin, o governo
xos impostos para abrir uma em- anunciou o plano de criar sua própria
presa no país – mesmo que jamais moeda virtual – a estcoin. Ao todo,
o visitem. Tudo é desburocratizado, 99% dos serviços públicos estão dis-
competitivo e eficiente. Parece utó- poníveis digitalmente. Apenas casa-
pico, futurista, mas existe um lugar mento, divórcio e negociação de
no mundo onde esse cenário já é imóveis requerem presença física.
realidade. Estamos falando da Es- As inovações estonianas são im-
tônia – ou melhor, da e-Estonia. pulsionadas por um gigantesco sis-
Banhada pelo mar báltico, no tema de dados que unifica as infor-
leste europeu, a Estônia tem um dos mações dos cidadãos. Criado em

26 brasil junho de 2018


benchmark mundo
2001, o X-Road é quase onipresen- ano graças ao sistema. A estimativa portantes", explica Federico Plante-
te e integra mais de 900 organizações anual é que a digitalização impul- ra, porta-voz do e-Estonia Showroom,
dos setores público e privado. Áreas sione 2% do PIB. espaço criado na capital, Tallinn, pa-
como educação, segurança, legislação, Mas um sistema sofisticado não ra apresentar o case do país a pes-
saúde e impostos são cobertas pela conseguiria esse impacto sozinho. quisadores, investidores, políticos e
ferramenta. O X-Road é guiado pelo Na verdade, ele pouco serviria se as outros tomadores de decisão. "Se as
conceito "one time", em que, uma vez pessoas o utilizassem de modo es- pessoas não confiam nas tecnologias
registrada no banco de dados, a in- porádico, somente para determina- ou nos governos dispostos a imple-
formação não será mais pedida ao dos serviços públicos. Foi por isso mentá-las, então só é possível uma
usuário e ficará disponível para todos que a Estônia estendeu o X-Road à administração pública digital, mas
os órgãos conectados ao sistema. iniciativa privada – sobretudo aos não uma sociedade digital."
Dali em diante, os dados são bancos e às operadoras de telefonia.
A plataforma
compartilhados e atualizados de ma- de gestão de A ideia era tornar-se presente no Aposta estratégica
neira descentralizada, reduzindo a dados integra dia a dia e fazer as pessoas se acos- Alcançar essa harmonia não foi
burocracia. Os bancos, por exemplo, mais de tumarem com a tecnologia. algo trivial. A Estônia é pequena. Sua
não precisam exigir diferentes com- 900 Deu certo. Hoje há uma sólida extensão é de 45,3 mil km², menor
provantes e documentos a um cor- organizações confiança da população em relação do que o Espírito Santo, e 52% do
rentista interessado em captar um públicas e ao sistema – e isso é motivo de or- território é formado por bosques e
privadas
empréstimo. Já está tudo no X-Road. gulho para o governo estoniano. "É florestas. Aproximadamente 1,3 mi-
O cálculo do governo é de que uma um componente intangível, mas lhão de pessoas vivem lá. Ou seja, é
pessoa economiza cinco dias de seu indiscutivelmente um dos mais im- um país com a população de uma

Foto: Annika Haas

Na vitrine: o e-Estonia conta com


um showroom na capital do país
27
Foto: Kaupo Kalda

Em Tallinn, o visual medieval


contrasta com a tecnologia de
ponta empregada no país

cidade como Guarulhos (SP) ou Por- O sistema X-Road surgiu em se- – incluindo o voto pela web. "É como
to Alegre (RS). Se comparada com guida, em 2001, e pavimentou o ca- ter um escritório do governo sempre
os vizinhos Rússia (144,3 milhões de minho para o Digital ID, o documen- aberto no seu computador", diz Plan-
habitantes) e Finlândia (5,4 milhões), to de identificação e de assinatura tera, do e-Estonia Showroom.
a Estônia tem uma densidade popu- eletrônica. Trata-se de um cartão físi- A votação online, por exemplo,
lacional bastante baixa. Essa carac- co que possui um chip reconhecido ocorre por um software baixado
terística representou um desafio por leitores adaptados aos computa- no computador – um método pa-
quando o país se tornou indepen- dores. Misto de RG com cartão de cré- recido ao utilizado pelos brasileiros
dente, em 1991, após o colapso da dito, o Digital ID possibilita o acesso para declarar o Imposto de Renda.
União Soviética: não havia pessoal remoto a serviços públicos e bancários A Estônia foi pioneira no modelo,
suficiente para girar a economia;
tampouco dinheiro ou recursos na-
turais a serem explorados.
A saída do governo para alavan- Entra em vigor o
car a competitividade foi apostar na e-Tax, software para
pagamento de
tecnologia. A Estônia aproveitou o impostos. Hoje,
boom do setor, na década de 1990, 95% das
e estabeleceu um fundo de desen- declarações são
arquivadas por ele.
volvimento e leis que acompanhas-
sem as inovações. Também desenhou
um sistema do zero – já que os anti- 1997 2000 2001
gos, usados pelos soviéticos, eram A Estônia lança o Começa a era X-Road,
totalmente obsoletos. O plano esto- e-Governance, que banco de dados
prioriza a tecnologia governamental que
niano foi oficializado em 1997 e teve para melhorar a atualiza e distribui
a educação como foco inicial. Ao fim competitividade do informações de forma
Estado e aumentar o descentralizada –
daquele ano, 97% das escolas locais inclusive do setor
bem-estar das pessoas.
estavam conectadas à internet. privado.

28 brasil junho de 2018


benchmark mundo
inaugurado nas eleições regionais tretanto, requer atenção redobrada ciamento de dados. "Toda a infraes-
de 2005. Naquele ano, 1,9% dos quanto à segurança dos dados – o trutura é baseada em tecnologia de
eleitores aderiu ao i-Voting. A que, na prática, vale para todo o criptografia avançada", explica Sandra
plataforma estreou em âmbito na- sistema digital estoniano. Roosna, analista da e-Governance Aca-
cional no pleito legislativo de 2007, demy, um think tank estoniano que
representando 5,5% do total de Segurança garantida treina governos e empresas para im-
votos. O sistema político estonia- A abrangência da estrutura vir- plementar estratégias virtuais.
no é parlamentarista, no qual o tual acende o alerta quanto à priva- As operações criptografadas são
chefe de governo é o presidente cidade das pessoas e à proteção dos feitas por blockchain. Gerada para
do Parlamento. Tanto ele quanto dados. Contudo, entre as nações da assegurar a lisura de transações com
os demais políticos podem ser elei- Europa, ela ocupa o primeiro lugar moedas virtuais, a inovação funciona
tos pela internet. Nas eleições de como um livro de registros online. A
2017, um em cada três eleitores Estônia possui um blockchain próprio
optou pelo serviço em vez de ir a Entre os países da – o KSI, desenvolvido em 2012 e re-
uma zona eleitoral. plicado pela OTAN e pelo Departa-
O i-Voting oferece diversos be-
Europa, a Estônia ocupa mento de Defesa dos Estados Unidos.
nefícios. Um deles é a economia. A o primeiro lugar em A principal característica do KSI é a
solução facilita a logística e diminui descentralização segura das informa-
a demanda por cédulas, urnas e pes- segurança cibernética ções. Ou seja, o usuário sabe quando
soal. O pleito online também esti- e por quem seus dados estão sendo
mula a própria participação demo- em segurança cibernética, segundo a acessados. Assim, ele pode denunciar
crática, devido à comodidade e ao União Internacional de Telecomuni- invasões. Em um caso famoso no pa-
fato de começar antes do dia oficial cações (ITU, na sigla em inglês). Cada ís, uma policial foi punida por acessar
de votação. Na Estônia, onde o su- serviço online possui um mecanismo informações particulares de seu na-
frágio não é obrigatório, esse fator específico de garantia. No caso da elei- morado. Outro episódio semelhante
ganha ainda mais importância. Além ção, o software exige uma assinatura ocorreu durante a campanha eleito-
disso, os eleitores podem votar de digital para confirmar o voto. Já as ati- ral de 2011, quando um candidato
qualquer lugar. No Brasil, o voto vidades realizadas através do celular leu informações pessoais sobre po-
fora da seção eleitoral de registro requerem um SIM card especial, que tenciais concorrentes. O governo re-
só é possível para o cargo de pre- contém um certificado digital e outros conhece certo risco de invasão à pri-
sidente. Atualmente, existem pelo dois códigos de identificação. O X- vacidade, mas não a manipulação das
menos 14 países com algum tipo -Road também conta com camadas informações – seja por hackers ou
de votação online. O modelo, en- seguras de reconhecimento e geren- administradores de sistema.

Os estonianos passam Lançamento do Oficialização do


a ter um Digital ID, KSI Blockchain, mesma e-Residency,
documento que tecnologia aplicada às identidade digital
funciona como cartão moedas virtuais, mas transnacional que
de identificação, válido usada na Estônia para possibilita a estrangeiros
para uso de bancos a documentar serviços o direito de abrir uma
consultas médicas. públicos e privados. empresa na Estônia.

2001 2005 2008 2008 2014


A Estônia é o primeiro O e-Health armazena
país a possibilitar o voto em nuvem os dados de
pela internet. O sistema saúde dos pacientes. O
i-Voting pode ser registro permite
baixado pelo cidadão e controle e tratamentos
usado em qualquer mais eficazes por parte
lugar do mundo. dos médicos.

29
Estônia ve explicação sobre o motivo da
adesão. Depois, o interessado paga
CAPITAL: Tallinn uma taxa de 100 euros, que cobre
SUPERFÍCIE: 45,3 mil km² o custo da emissão do cartão de
identificação digital. O processo é
avaliado em até quatro semanas e

dos quais 52 % são


menos de 1% dos candidatos são
rejeitados – decisão tomada pela
bosques e florestas polícia local e pela Guarda de Fron-
teiras. "A Estônia só quer garantir
POPULAÇÃO: 1,3 milhão que nenhum residente eletrônico
IDIOMA OFICIAL: estoniano tenha participado de atividades cri-
minosas", explica Kaspar Korjus,
diretor-gerente do e-Residency.
Apesar do visto virtual, o mo-
Para o governo da Estônia, as implementação (tal como uma em- delo não dá direito a visto perma-
vantagens da digitalização se so- presa), inclusive com troca de in- nente no país. Se aprovado, o resi-
brepõem aos eventuais riscos. O formações técnicas. A Finlândia é dente digital deve buscar o cartão
aplicativo e-Health é um exemplo a principal parceira da Estônia e em uma das 34 embaixadas da Es-
disso. Disponível desde 2008, a fer- utiliza o mesmo X-Road. tônia ou no próprio país. Parcerias
ramenta armazena em nuvem 95% Só que a estratégia comercial da com o setor privado estão sendo
dos dados gerados em hospitais e Estônia na área digital vai muito além. estudadas para a criação de centros
consultórios clínicos. Cada cidadão Em 2014, o governo lançou o e-Re- que facilitem a coleta do cartão –
que visitar um médico na Estônia sidency, seu programa de residência um projeto piloto já foi implemen-
tem seu próprio registro – contendo eletrônica. Funciona assim: você po- tado na Coreia do Sul. Até março
anotações, diagnósticos, resultados de se estabelecer virtualmente na de 2018, a Estônia tinha 31 mil re-
de exames e prescrições antigas. As- Estônia, abrir um negócio por lá e
sim, os profissionais de saúde podem até acessar os produtos e serviços
acessar quase todo o histórico dos digitais. Tudo isso sem sair de onde Até março deste ano, o
pacientes – alguns dados, como exa- você está. A ideia é atrair pessoas programa de residência
mes ginecológicos, ficam restritos interessadas nas taxas de impostos
a especialistas. "As soluções de saú- aplicadas pelo governo local, tidas eletrônica da Estônia
de eletrônica permitem que a Estô-
nia ofereça medidas preventivas mais
como as menores da União Europeia
(UE). "Se tudo é digital, independen-
somava 31 mil inscritos
eficientes, aumentando a conscien- temente da localização, você pode
tização dos pacientes e também eco- criar um país sem fronteiras", disse sidentes eletrônicos, oriundos de
nomizando bilhões de euros", des- Taavi Kotka, ex-diretor de informa- 156 países – principalmente da Fin-
creve o site do e-Health. ções da Estônia e coordenador do lândia (3,6 mil) e da Rússia (2,1 mil).
projeto, em entrevista recente à re- A meta é chegar a 10 milhões até
Tipo exportação vista americana The New Yorker. 2025. Após o Brexit, um número
As políticas digitais da Estônia A possibilidade de alavancar a expressivo de pedidos partiu do Rei-
são uma referência para gestores economia a partir dos contribuintes no Unido. A maior parte feita por
públicos e empresários ao redor do virtuais agradou o parlamento es- empresários interessados em man-
mundo. Não à toa, o país montou toniano, que levou apenas oito me- ter uma base na União Europeia.
um showroom para apresentar su- ses para analisar e aprovar a pro- O processo de abertura de em-
as soluções aos interessados. Se- posta. O trâmite para solicitar a presas através do e-Residency leva
gundo o governo local, pelo menos residência eletrônica é simples. Bas- cerca de três horas. Não é preciso
130 nações já se valeram de algum ta acessar o site do programa (e- ter um endereço físico ou um repre-
benchmark estoniano. Além da ex- -resident.gov.ee) e enviar uma có- sentante no país. A partir da valida-
portação, o governo também tra- pia do passaporte ou do cartão de ção, é possível solicitar serviços ban-
balha com modelo de replicação e identificação, uma foto e uma bre- cários, usar provedores internacio-

30 brasil junho de 2018


benchmark mundo
Residentes digitais
Entre 2014 e 2018, a Estônia emitiu 31 mil cartões do e-Residency –
nais de serviços de pagamento (co-
boa parte para cidadãos da Finlândia e da Rússia
mo PayPal) e assinar documentos e
contratos. "Estamos democratizan- POSIÇÃO N° DE O que motiva os estrangeiros
do o acesso ao empreendedorismo PAÍS RESIDENTES a solicitar o e-Residency
em todo o mundo", sintetiza Korjus.
Atualmente, há cerca de 5 mil 1. Finlândia 3.616
8,6%
empresas abertas via e-Residency 2. Rússia 2.105 Usar tecnologia de
– a maioria vinculada às áreas de autenticação segura
tecnologia, gestão e comércio ata- 3. EUA 1.930
13,7%
cadista. Um levantamento da con- 4. Ucrânia 1.917
6,5% Admiradores do
sultoria Deloitte mostrou que, entre conceito
os anos de 2015 e 2016, essas com- 5. Alemanha 1.780
Viver ou
visitar a
e-Residency
panhias renderam 14,4 milhões de Estônia
euros à Estônia. O dinheiro é gerado
6. Reino Unido 1.747

tanto por taxas diretas, como im- 7. Itália 1.395


postos estatais, quanto indiretas,
contabilizando a criação de empre- 8. Japão 1.255
gos e o uso de serviços. Até 2021, a 9. Índia 1.254
expectativa é de que o montante
chegue a 1,8 bilhão de euros por ano. 10. França 1.254
O Skype e o TransferWise, mais fa-
moso sistema de remessa de valores
34. Brasil 204

para o exterior, são exemplos de ino-


41,1%
TOTAL (156 PAÍSES) 30.964 Ter uma base
vações que nasceram em startups independente
para negócios
estonianas e ganharam o mundo. Destes,
O caráter progressista da Estô- 3,4%
nia tende a cruzar as fronteiras nos 26,9%
próximos anos. Em 2017, o país as-
88% 12% Outros
Abrir novos
são homens são mulheres negócios na Estônia
sumiu a presidência rotativa do
Conselho de Ministros da UE. O car-
go coube ao ex-primeiro-ministro Celeiro de empresas
Andrus Ansip, que aproveitou os seis A Estônia democratizou o acesso ao empreendedorismo.
meses de mandato para incentivar São mais de 5 mil empresas digitais criadas a partir do e-Residency – a maioria
a abertura do bloco ao paradigma concentrada nas áreas de tecnologia, gestão e comércio atacadista
digital. Uma das primeiras medidas
seria aplicar o modelo da e-Estonia 6.000
N° DE EMPRESAS

num projeto de integração dos sis-


5.000 5.033
temas de identificação eletrônica
dos 28 países membros. O projeto 4.495
4.000
ganhou simpatia e atualmente es-
tá em análise. Para Sandra Roosna, 3.000 3.256
da e-Governance Academy, a cons-
trução desse ecossistema, ou mes- 2.000
2.302

mo de novas nações digitais, vai


1.302
sempre depender de vontade polí- 1.000
tica. "Por sorte, os líderes poderão 522
aprender conosco e evitar os erros 0 147

que cometemos", diz ela. E arrema- Mai Nov Mai Nov Mai Nov Jan
ta: "Quando desenvolvemos nossa 2015 2015 2016 2016 2017 2017 2018
sociedade digital, não tivemos nin-
Fonte: Governo da Estônia, e-Estonia e e-Residency
guém para nos ensinar".

31
Demanda por
mudança
Além do consenso de que existe uma profunda
falta de representatividade no Brasil, o país
atravessa uma grave crise e não há previsão do
que pode acontecer daqui para frente

Para se ter uma ideia do des- nós. Há um consenso de que o pa-


crédito da política entre os brasi- ís atravessa uma grave crise. Para
leiros, reparem em um dado le- 96% dos brasileiros, estamos em
vantado pelo Instituto Locomotiva crise. Já 71% avaliam de forma ne-
em parceria com a Ideia BigData gativa a situação econômica atual
para o RenovaBR. Existe no país um do país e 84% dos brasileiros afir-
total de 109 milhões de eleitores mam ter medo de perder o padrão
que afirmam não querer votar em de vida conquistado.
alguém que esteja exercendo man- Atualmente, 96% dos brasilei-
dato de deputado ou senador. O ros estão insatisfeitos com os go-
número representa o pensamento vernantes e 88% acreditam que os
de 78% dos eleitores brasileiros. políticos nunca defendem os inte-
Junte a isso outro dado de uma resses da população. Apenas 4%
pesquisa do Instituto Locomotiva confiam em algum partido político
que aponta que 93% dos eleitores e somente 7% confiam nas lideran-
não se sentem representados pe- ças políticas. Para além da crise de
la política. representatividade, o grau de con-
A conclusão sobre os levanta- fiança nas instituições políticas tam-
mentos é óbvia: percebe-se uma bém é baixo. Em uma escala de ze-
profunda falta de representativida- ro até dez para avaliar o grau de
de política entre os eleitores brasi- confiança nas instituições, as notas
leiros. O que é pior: não temos a médias são: Democracia do Brasil,
menor previsão do que poderá acon- 3,43; Prefeito, 2,81; Governador,
tecer com o nosso futuro. E notem 2,31; Congresso Nacional, 1,89; Par-
que as próximas eleições serão dis- tidos Políticos, 1,07.
Renato Meirelles é putadas em poucos meses, em ou- As notas refletem uma aprova-
presidente do Instituto
tubro. Mas vamos tentar entender ção baixíssima dos brasileiros em
Locomotiva
as razões da crise de representati- relação às instituições que os re-
Foto: Divulgação
vidade que está tão presente entre presentam. Além disso, dois entre

32
32 brasil
brasil junho
junhodede
2018
2018
opinião
três brasileiros (ou 65%) admitem vação na política nacional. Para Em uma escala de 0 a 10 para
que costumam votar para presiden- 74% dos brasileiros (ou três de ca- avaliar o grau de confiança nas
te por exclusão, e não por afinidade. da quatro eleitores), quem muda
Mas o que querem os brasileiros da e quem renova a política é a própria
instituições brasileiras, a
classe política? Temos dados que sociedade. E 87% acreditam que pesquisa do RenovaBR aponta
mostram que apenas 5% da popu- é preciso agir para melhorar a po- as seguintes notas médias:
lação acredita que os políticos atu- lítica nacional. O principal proble-
ais conhecem os principais proble- ma, e que emperra essas mudanças,

3,43
mas do Brasil. é que de um lado existe uma gran- Democracia
de demanda da sociedade para a
do Brasil
Representatividade renovação da política e, de outro,
A falta de preparo também é os próprios representantes da po-

2,81
um fator importante entre os elei- lítica tradicional. Estes últimos fa-
tores. Apenas 11% acreditam que zem de tudo para permanecer no
os políticos eleitos se prepararam poder, criando regras que dificul-
Prefeito
para desempenhar seus mandatos. tam mudanças e impedem finan-
E ainda existe a falta de compro- ciamentos e candidaturas. Isso faz

2,31
misso dos parlamentares. Apenas com que a mudança individual e a
6% das pessoas acham que os po- vontade coletiva de mudar entre Governador
líticos brasileiros costumam ouvir os brasileiros dependa justamente
a população para tomar decisões. de quem nada quer mudar.
No entanto, o fato real – que de- Os dados da pesquisa mostram
vemos enfrentar – é que, se a po-
pulação não fizer nada, nada vai
mudar na política. Essa mudança,
também que 95% dos brasileiros es-
peram que as candidaturas ouçam
as pessoas para tomar suas decisões;
95% esperam que as candidaturas
Congresso
Nacional 1,89
tão desejada por todos nós, não

1,07
virá por milagre nem pelo surgi- estudem sobre os problemas do pa-
mento de um supercandidato. ís; 99%, que devem estudar sobre o Partidos
Pois vejam: para 97% dos bra- papel e o funcionamento das insti- Políticos
sileiros, é preciso haver uma reno- tuições políticas; e 90% dos eleitores

querem que os candidatos sejam trans-


parentes e prestem contas à população.
Dois entre três brasileiros São essas as mudanças que os brasilei-
admitem votar para presidente por ros mais querem ver na política.
Quando se fala em renovação da
exclusão – e não por afinidade. Mas política, todo mundo acha que é im-
o que quer o eleitor? Temos dados possível. Quando se fala em mudan-
ça, ouvimos que os políticos que es-
que mostram que apenas 5% da tão aí não vão deixar isso acontecer.
Mas, como dizia o velho Raul Sei-
população acredita que os políticos xas, repito: “Sonho que se sonha só
atuais conhecem os principais é só um sonho. Mas sonho que se
sonha junto [nas urnas, palavras mi-
problemas do Brasil nhas] é realidade”.

33
Ações para
um novo
paradigma
Com o lançamento da Estratégia Brasileira para
a Transformação Digital (E-Digital), o governo
cria um ambiente favorável aos benefícios
proporcionados pela vanguarda da tecnologia

O impacto do fenômeno do "di- cações (MCTIC), em parceria com


gital" na economia, na vida das pes- o setor produtivo, comunidade
soas e no governo não é propria- científica e acadêmica e socieda-
mente uma novidade. A velocidade de civil. O documento foi subme-
com que a digitalização vem ocor- tido a consulta pública em setem-
rendo, no entanto, tem feito com bro de 2017 e recebeu mais de 2
que esse fenômeno apresente uma mil acessos.
face radicalmente nova, gerando De forma similar às estratégias
um importante desafio para o Es- digitais de outros países, a E-Digi-
tado: a criação de um ambiente tal busca coordenar as diversas
propício para colher os benefícios iniciativas governamentais ligadas
da transformação digital. ao tema em torno de uma visão
Com base em experiências e única, sinérgica e coerente. Assim,
documentos internacionais, o go- poderá apoiar a digitalização dos
verno brasileiro se lançou na ta- processos produtivos e a capaci-
Thiago Camargo Lopes é refa de elaborar uma estratégia tação para o ambiente digital, pro-
secretário de Políticas movendo a geração de valor e o
digital brasileira. A E-Digital é re-
Digitais do Ministério da
sultado de um amplo trabalho crescimento econômico. Para isso,
Ciência, Tecnologia,
Inovações e desenvolvido por um Grupo de foram definidos nove eixos temá-
Comunicações (MCTIC) Trabalho Interministerial, coorde- ticos, divididos em dois grandes
nado pelo Ministério da Ciência, grupos: eixos habilitadores e eixos
Foto: Divulgação Tecnologia, Inovações e Comuni- de transformação digital.

34
34 brasil
brasil junho
junhodede
2018
2018
opinião
Como habilitadores da transfor- órbita desde maio de 2017, é parte
mação digital estão: infraestrutura importante do esforço brasileiro de
de redes e acesso à internet; pes- digitalização. Além disso, o Plano Na-
quisa, desenvolvimento e inovação; cional de Internet das Coisas, cons-
confiança no ambiente digital; edu- truído pelo MCTIC em uma parceria
cação e capacitação profissional; e com o Banco Nacional de Desenvol-
dimensão internacional. Já os eixos vimento Econômico e Social (BNDES),
de transformação digital consistem prevê a adoção de políticas públicas
em economia baseada em dados; para o desenvolvimento da Internet
um mundo de dispositivos conec- Nos próximos das Coisas em quatro ambientes con-
siderados prioritários: cidades, saúde,
tados; novos modelos de negócios; anos, a economia agronegócio e indústria.
e transformação digital da cidadania
e do governo.
digital global Para que a E-Digital não fique
deverá crescer apenas no campo das boas intenções,

2,5
Salto foi criada uma estrutura de gover-
qualitativo nança no âmbito da administração
A E-Digital oferece um amplo pública federal. Trata-se do Comitê
diagnóstico dos desafios a serem vezes Interministerial para a Transformação
enfrentados, uma visão de futuro, Digital (CITDigital), presidido pela
um conjunto de ações estratégicas
mais que a Casa Civil da Presidência da Repúbli-
que nos aproximam dessa visão e expansão do ca. Será criada também uma instân-
cia multissetorial de caráter consul-
indicação para monitorarmos o pro- PIB mundial. tivo com setor produtivo, academia
gresso na consecução de nossos
objetivos. As ações estratégicas Isso significará um e sociedade. Caberá à Secretaria de
Políticas Digitais (Sepod), sucessora
definidas têm foco no papel do go- total estimado de
da Secretaria de Política de Informá-
23
verno como habilitador e facilitador
dessa transformação digital no se- US$ trilhões tica (Sepin), funcionar como secre-
tor produtivo do país, na capacita- taria executiva do Sistema Nacional
até 2025 para a Transformação Digital.
ção da sociedade para a nova rea-
lidade e na atuação do Estado co-
mo prestador de serviços e garan-
tação e inclusão na sociedade, para
tidor de direitos.
No entanto, talvez o aspecto que todos possam se desenvolver e Coordenada pelo MCTIC em
mais importante seja o Brasil enca- prosperar. Aproveitar todo o poten- parceria com representações
rar a transformação digital como cial das tecnologias digitais signifi-
uma oportunidade para dar um sal- cará aumentar a produtividade e os setoriais e a sociedade civil,
to qualitativo. As tecnologias digitais níveis de renda e emprego no país.
É importante destacar que di-
a E-Digital foi submetida à
proporcionam as ferramentas para
uma profunda transformação na versas ações do MCTIC estão alinha- consulta pública em
das com a E-Digital. O Satélite Geo-
atuação do próprio governo, na com-
petitividade e produtividade das estacionário de Defesa e Comuni-
setembro de 2017 e recebeu
empresas – assim como na capaci- cações Estratégicas (SGDC), em mais de 2 mil acessos

35
O motor do
equilíbrio
Surgido dos debates
ambientais, o conceito de
sustentabilidade ganhou
abrangência e desponta como o
propósito de uma ordem global.
Entenda como o Brasil vem se
alinhando a esse parâmetro na
busca por uma realidade mais
justa e igualitária
Por Emanuel Neves e Ricardo Lacerda
Fotos Shutterstock e Freepik

36 brasil junho de 2018


capa
A
cidade de Freiburg, na tratégias do setor privado e em po-
Alemanha, enfrentava líticas da esfera pública. É a susten-
sérias carências habi- tabilidade despontando como a
tacionais no começo nova bússola do crescimento global.
da década de 1990. O paradigma, entretanto, não
Uma das soluções en- é uma inovação. As definições de
contradas pela admi- sustentabilidade começaram a apa-
nistração pública para recer em 1987, a partir de um estudo
dirimir o problema foi da Comissão Mundial sobre o Meio
a estruturação de no- Ambiente e o Desenvolvimento
vas comunidades em locais suba- (WCED, na sigla em
proveitados do município. É o caso inglês), filiada à Or-
do distrito de Vauban, cuja remo- ganização das Na-
delação se iniciou por volta de 1995, ções Unidas (ONU). Segundo Richard Shaker,
numa área onde havia quartéis aban- O levantamento, professor de Sustentabilida-
donados. O projeto do bairro teve batizado de Nosso de Ambiental e Urbana da
o desenvolvimento sustentável co- Futuro Comum, Universidade de Toronto, no
mo base e levou mais de uma dé- propôs uma maior
Canadá, a sustentabilidade
cada até ser consolidado. Hoje, integração entre os
Vauban se destaca por otimizar a temas ecológicos e é a meta final da humani-
utilização dos recursos naturais e o progresso econô- dade e representa o equilí-
diminuir o impacto humano no meio mico. A nova orien- brio entre o homem e os
ambiente. Mas não é só isso. A vida tação ganhou o no- ecossistemas – conseguido
de seus 5,3 mil habitantes conjuga me de desenvolvi- por meio de uma atuação
características referentes às diver- mento sustentável.
holística e concatenada de
sas dimensões da sustentabilidade. "É o desenvolvi-
O conceito, aliás, vai muito além mento que satisfaz todos os eixos da sociedade.
das questões ambientais. as necessidades do
Referência mundial na área do presente sem com-
ecodesenvolvimento, o economis- prometer a capacidade de as gera-
ta franco-polonês Ignacy Sachs clas- ções futuras satisfazerem as suas
sifica a sustentabilidade como a próprias necessidades", define o do-
universalização dos direitos huma- cumento, também conhecido como
nos. A definição suplanta as prer- Relatório Brundtland.
rogativas cívicas e jurídicas e se es- O longo prazo, como se vê, é
tende às esferas econômicas, sociais, um dos pilares dessa premissa. "In-
ambientais, políticas e culturais. Os vestir em longo prazo na saúde, na
cinco aspectos se entrelaçam e re- política e nas instituições represen-
presentam a orquestração da vida ta uma atuação sustentável. Já o
em sociedade. "A sustentabilidade imediatismo é a ausência da sus-
é uma abordagem conjunta. Não tentabilidade", explica Guilherme
há como mexer de um lado sem Passos, conselheiro do Instituto
afetar o outro. Todo o processo é Semeia. A ONG articula entidades
de busca por equilíbrio", confirma públicas, privadas e civis para me-
Claudio Gastal, presidente execu- lhorar a qualidade de parques ur-
tivo do Movimento Brasil Compe- banos e naturais do Brasil. Esse tra-
titivo (MBC). Cada vez mais, o ter- balho sinérgico tem características
mo irá ganhar importância nas es- inerentes à sustentabilidade.

37
Ao congregar diversos âmbitos Com o tempo, as fronteiras da cionamento do distrito alemão de
da sociedade, o Semeia prega a res- sustentabilidade passaram a abarcar Vauban deixa clara essa interde-
ponsabilidade compartilhada acerca múltiplos setores, determinando o pendência – a começar pela forma
de um tema comum ao bem-estar caráter holístico do conceito. "O es- como o projeto nasceu.
de todos. "Se abordarmos de modo copo incorporou questões sociais e A adoção dos preceitos susten-
separado cada problema, seja a es- de governança por parte de empre- táveis foi proposta por um grupo de
cassez de água ou a pobreza, encon- sas, governos e terceiro setor. Os moradores. Eles criaram um fórum
traremos apenas soluções de curto sistemas caminham juntos e pedem democrático que congregou arqui-
prazo que não resolverão os dese- esse olhar agregado", explica Ra- tetos, engenheiros e financistas pa-
quilíbrios mais profundos", ressalta chel Biderman, diretora do World ra discutir essas diretrizes. Aqui, no-
o conferencista Peter Senge, profes- Resource Institute (WRI) Brasil. A tam-se duas dimensões do conceito:
sor do Massachusetts Institute of ONG conecta lideranças locais pa- a cultural, ligada ao ideário susten-
Technology (MIT), no livro A Revo- ra criar soluções de desenvolvimen- tável; e a política, relacionada à ar-
lução decisiva: como indivíduos e or- to sustentável. O paralelismo de ticulação do grupo. Isso, vale dizer,
ganizações trabalham em parceria dimensões citado por Rachel é a confirma uma teoria de Peter Senge,
para criar um mundo sustentável. tônica da sustentabilidade. E o fun- segundo a qual as principais lideran-

Foto: Andreas Schwarzkopf / Creative Commons

Alinhado aos preceitos da sustentabilidade em


suas múltiplas dimensões, o distrito alemão de
Vauban, em Freiburg, é exemplo a ser seguido

38 brasil junho de 2018


capa
ças sustentáveis não saem das salas

Foto: FIEC
de CEOs ou de gabinetes políticos.
Em geral, são pessoas quase anôni-
mas que se movem por devoção ao
tema, buscando transformar reali-
dades de baixo para cima.
O plano de Vauban passou por
debates na Câmara Municipal de
Freiburg, reunindo sociedade civil,
terceiro setor e iniciativa privada.
A Fundação Alemã do Meio Am-
biente e a União Europeia destina-
ram financiamentos ao projeto. As-
sim, a iniciativa uniu diversas áreas
em nome de um só propósito. Esse
amplo encadeamento de forças é

o segredo das políticas sustentáveis


e serve de exemplo ao Brasil. "O
processo dependerá do envolvimen-
to de todos os cidadãos. Sozinha, a
estrutura estatal não consegue res- É inaceitável que se faça algo do
ponder às necessidades reais da po-
pulação", alerta o deputado federal
ponto de vista econômico sem o
Osmar Terra, ministro do Desenvol- atendimento de outros fatores.
vimento Social de 2016 a 2018.
O caráter social também se evi- Jorge Gerdau, presidente do Conselho do MBC
dencia em Vauban. Parte das casas
foi erguida em sistema de cocons- A região é ocupada por pessoas de
trução. A ação facilitou o acesso à classe média, alinhadas à identida-
moradia pelas famílias com menor de original do lugar. Os grupos de
renda. Também houve subsídios go- coconstrução e as moradias com-
vernamentais para a compra de lotes. partilhadas garantem a equidade
As residências são abastecidas por social do distrito.
energia solar e têm um eficiente iso-
lamento térmico, que reduz o con- Desafio global
sumo energético em 50%. Também A experiência de Vauban mostra
há 150 casas com produção energé- a atuação prática das diretrizes sus-
tica superior ao gasto. Elas funcionam tentáveis. Mas cabe ressaltar que o
como pequenas usinas fotovoltaicas, distrito alemão é um microcosmo
cujo excedente é vendido à rede pú- de 41 hectares, apenas. A aplicação
blica. Ou seja, economia e meio am- dos princípios em larga escala é bem
biente andam lado a lado. mais complexa. Imagine, por exem-
Além disso, Vauban tornou-se plo, a dificuldade de implementá-los
a maior área verde da cidade, e a em um país com tantos gargalos
mobilidade foi facilitada pela com- sociais e gerenciais como o Brasil.
binação entre ciclovias e o serviço Ainda assim, a ONU almeja levar
de bonde elétrico. O processo sus- essa realidade a todo o planeta.
tentável valorizou o bairro, agora O programa Objetivos de De-
um dos mais disputados de Freiburg. senvolvimento Sustentável (ODS)

39
foi lançado pela entidade em 2015. tratégia Brasileira para a Transfor- se dá entre setor público, privado e
Assinada por 150 líderes nacionais, mação Digital (E-Digital), oficiali- terceiro setor. Todos os âmbitos pre-
a agenda delimita 17 grandes metas zada em março. A iniciativa preten- cisam convergir para o bem maior",
para aprimorar a qualidade de vida de fomentar a economia digital em reforça Claudio Gastal (leia mais so-
global. Os ODS se reportam a desa- todas as áreas produtivas do país. bre o assunto na página 50).
fios em setores como economia, Ainda assim, o Brasil carece de Nessa árdua tarefa, as coalizões
educação, inclusão social e meio uma maior adequação ao paradigma nacionais podem exercer um papel
ambiente. A proposta da ONU é me- sustentável, já que o objetivo deli- de protagonismo. É o caso do Pacto
lhorar o mundo até 2030, prazo pa- mitado pelo modelo é extenso e de- pela Reforma do Estado, lançado pe-
ra que o protocolo seja cumprido safiador. A sustentabilidade visa à lo MBC em 2015. A ação visa dina-
pelos países signatários. E o Brasil, obtenção de prosperidade irrestrita mizar a máquina pública através de
claro, está entre eles. a países, organizações e cidadãos. uma agenda compartilhada entre
Em 2016, o governo federal criou "O foco da discussão se volta a um União e estados. "O desperdício do
a Comissão Nacional para os ODS propósito maior, que é oferecer uma dinheiro deveria provocar tanta in-
(CNODS), formada por 32 repre- vida digna a toda a comunidade", dignação quanto a corrupção. Há
sentantes do setor público, da ini- sublinha Jorge Gerdau Johannpeter, muita margem para cortes na esfe-
ciativa privada e da sociedade civil. presidente do Conselho Superior do ra estatal", garante a economista Ana
A CNODS elaborou um plano de MBC. A entidade, inclusive, está re- Carla Abrão Costa, líder de mercado
ação com medidas a serem adota- posicionando a sua atuação para para o Brasil da consultoria ameri-
das até 2019. Outro exemplo de contribuir com o fomento da sus- cana Oliver Wyman e ex-secretária
política pública que contribui para tentabilidade no país. "Buscamos da Fazenda de Goiás. A digitalização
a implementação dos ODS é a Es- acabar com esse rompimento que dos governos é outro avanço que se
impõe. Em 2017, o MBC apresentou
a Coalizão Brasil Digital, com o in-
Foto: MBC/Divulgação

tuito de impulsionar a digitalização


da economia brasileira. A articulação
público-privada colaborou com a es-
truturação da E-Digital.
Além da união de esforços, a con-
solidação da sustentabilidade exige
avanços nas cinco dimensões do con-
ceito. Sobretudo no campo econô-
mico. "Se não houver eficiência na
gestão econômica, não teremos con-
dições de atingir patamares de inves-
timentos que levem a uma estrutura
social de dignidade", avisa Gerdau.

Não sou contra a estabilidade no


setor público, mas sim contra o que
fizemos com ela. O Estado deve ser
eficiente acima de tudo.
Claudio Gastal, presidente executivo do MBC

40 brasil junho de 2018


capa
Foto: Campus Party

Inovação e tecnologia norteiam


o surgimento de novos e
promissores negócios no país

SUSTENTABILIDADE
Econômica
Dínamo da transformação A carga tributária
$ brasileira é a maior
s políticas sustentáveis mica, equilíbrio ambiental, justiça da América Latina.
estão cada vez mais pre- social e governança corporativa.
sentes no setor privado. A governança também é o vetor
Em 2010, por exemplo, ideal para a sustentabilidade no setor Os índices superam os de
a Unilever lançou um público. Entretanto, o modelo admi- nações como EUA e Suíça.
plano para alinhar algumas de suas nistrativo brasileiro ainda tem muito
marcas aos propósitos sustentáveis. a melhorar. "A esquizofrenia do nos-
Resultado: essas unidades de negó- so sistema tributário rouba a produ- Entre os 30 países com mais
cio representaram 60% do cresci- tividade da economia. E precisamos tributos, o pior retorno em
mento da multinacional em 2016 e considerar que metade dela está na termos de bem-estar social é
evoluíram 50% mais rápido do que mão do setor público", afirma Ana verificado no Brasil.
as demais operações. No Brasil, exis- Carla. A saída para o problema tribu-
te inclusive um parâmetro para afe- tário, diz ela, começa pelo equilíbrio
rir o nível de sustentabilidade das fiscal. E o país até tomou algumas Um cidadão
empresas. Trata-se do Índice de Sus- providências nesse sentido. brasileiro trabalha
tentabilidade Empresarial (ISE), ela-
borado por uma parceria entre o
Banco Mundial e a Fundação Getúlio
A Emenda Constitucional 95,
aprovada no fim de 2016, estabele-
ceu um teto para os gastos públicos
150
dias por ano só para
Vargas (FGV), que analisa o desem- e preparou as estruturas de um go- pagar impostos.
penho sustentável de companhias verno que almeja ser sustentável.
da BM&FBovespa. Para isso, baseia- Mas é possível avançar muito mais. Fontes: OCDE e Instituto Brasileiro de
-se em itens como eficiência econô- "O Brasil deve enfrentar a agenda Planejamento e Tributação.

41
A Sustentabilidade Econômica SUSTENTABILIDADE
visa desenvolver um país ou uma Social
organização em consonância com
parâmetros macrossociais, incluindo Em busca de
a preservação da natureza e a redução autonomia
das disparidades sociais m 2018, o Instituto de
Pesquisa Econômica Apli-
cada (Ipea) comparou
de reformas basilares, como a da dados econômicos de 29

Foto: Oliver Wyman / Divulgação


Previdência, para voltar à trilha de países, colhidos entre
crescimento", aconselha Ana Carla. 2006 e 2014, e concluiu que a con-
O tema é intrincado, mas passa a centração de renda no Brasil está en-
ser imprescindível para o país supe- tre as cinco maiores. Cerca de 23%
rar dificuldades históricas – sinteti- de toda riqueza do país está na mão
zadas no termo Custo Brasil. O cál- de apenas 1% da população. O resul-
culo leva em consideração o peso tado é o dobro da média averiguada
dos impostos e da má gestão, asso- nas nações incluídas no estudo.
ciado a carências logísticas e de in-
Políticas de transferência de renda
fraestrutura (leia mais em reporta-
como o Bolsa Família deram o primei-
gem na página 62). E os obstáculos
ro impulso para tentar equilibrar essa
não param por aí.
gangorra. Mas a solução ainda se mos-
No Brasil, o tempo médio para
tra incompleta. O projeto requer me-
abertura de uma empresa não fica
canismos capazes de promover a au-
abaixo de 119 dias, de acordo com
tonomia de quem está vinculado ao
o Banco Mundial. Em países desen- e de geração de prosperidade. "Se
benefício. "O resultado da política
volvidos, o trâmite demora em mé- quiser alcançar o desenvolvimento
social se mede pela diminuição do nú-
dia cinco dias. O reflexo disso é a sustentável, o Brasil terá de ampliar
mero de pessoas que precisam da ren-
queda da competitividade no ce- a sua capacidade de aporte. Para
da complementar", afirma OsmarTer-
nário externo. "Quem deseja me- isso, precisamos sair de uma pou-
ra. Em 2016 e 2017, a crise econômi-
lhorar o Brasil precisa apostar em pança que está em 15% e chegar a
ca fez quase 1 milhão de pessoas pe-
modernização da economia, aber- 22%", indica Jorge Gerdau. A meta
direm reingresso ao Bolsa Família.
tura de mercado, empreendedoris- permitirá um avanço de até 3% do
O alcance da sustentabilidade
mo e equilíbrio das contas públicas", Produto Interno Bruto (PIB) anual
social passa pela independência eco-
orienta o cientista político Fernando até 2030. E um salto como esse,
nômica dos cidadãos. Esse fator, por
Schüler, professor no Insper. diz ele, pode representar o passa-
sua vez, decorre das oportunidades
O estímulo ao empreendedoris- porte para a redução dos níveis de
de emprego e de qualificação. "As
mo é um dos caminhos para incre- desigualdade social, uma chaga pro-
evidências empíricas mostram que
mentar o potencial de investimentos funda do país.
o melhor remédio para reduzir a po-
breza é o crescimento econômico
aliado à educação de qualidade", diz
Investir no Brasil é A diferença fica em Schüler, do Insper. A Universidade

30% mais
caro do que em países
38%
em relação a nações
de Manchester, na Inglaterra, criou
uma iniciativa nesse sentido.
Em 2012, a instituição imple-
desenvolvidos. emergentes. mentou o programa The Works no
bairro de Moss Side, região carente
Fonte: Fiesp de Manchester que vem sendo re-

42 brasil junho de 2018


capa
Foto: MDS/Divulgação
2,4 mil pessoas nos primeiros qua- tima colocação – à frente apenas
tro anos. Resultado: o The Works da Colômbia.
sagrou-se vencedor da categoria O elevador social não funciona
Impacto Social do Prêmio de Ne- em razão da precariedade da edu-
gócios Sustentáveis 2016, oferecido cação. Sem uma formação qualifi-
pelo jornal inglês The Guardian. cada, a população mais pobre não
Como se vê, o direito ao emprego concorre às melhores vagas de em-
é a base para a dignidade social. "A prego. "O país precisa desenvolver
máxima do 'ensinar a pescar' significa políticas de longo prazo para o en-
oportunizar o progresso às pessoas. O sino. A pauta deve sair do discurso
Bolsa Família não é um projeto de vi- e tornar-se prioridade de fato. Esse
da. Todo mundo pensa em melhorar", é o nosso grande problema político",
salienta Terra. O problema é que a afirma a socióloga Neca Setubal,
ascensão social aparece como sonho presidente dos Conselhos da Fun-
inatingível para boa parte dos brasi- dação Tide Setubal e do Grupo de
leiros. Um estudo da
formulada. A iniciativa oferece cur- Organização para a
sos de formação e viabiliza empre- Cooperação e De-
gos não acadêmicos na universida- senvolvimento Eco-
A Sustentabilidade Social busca
de – cerca de 700 vagas ao ano. Além nômico (OCDE), di- estabelecer condições sociais
disso, a instituição mantém parce- vulgado em 2018,
rias com diversas empresas, muitas comparou os índices homogêneas, com equidade de renda
das quais não teriam condições de
qualificar profissionais antes de con-
de mobilidade social e de acesso aos serviços essenciais
de 30 nações e o
tratá-los. A ação empregou mais de Brasil ficou na penúl- pelas gerações atuais e futuras

Foto: Marcelo Camargo / Agência Brasil


Ensino básico:
investimento estratégico

43
Foto: Wilson Dias / Agência Brasil
9 10
gerações é o tempo problema não está na atenção ao
que uma família ensino superior, mas na falta dela
situada entre os junto a crianças e adolescentes. "O
foco na primeira infância pode re-
% mais pobres sultar numa mudança transforma-
dora para as famílias em situação
de vulnerabilidade, quebrando assim
o ciclo intergeracional de pobreza",
destaca o ex-ministro. Entretanto,
as barreiras à sustentabilidade social
pode demorar para não se limitam ao ensino.
atingir o rendimento O país apresenta carências pro-
médio dos brasileiros. fundas em praticamente todos os
serviços básicos. E a mudança do qua-
Fonte: OCDE
dro está atrelada ao eixo econômico.
"Com a renda per capita atual, não
Institutos, Fundações e Empresas temos condições de atender as ne-
(Gife). O foco, portanto, deve estar cessidades mínimas da população",
na educação de base – bem diferen- reforça Gerdau. Em 2017, o PIB per
te da atual conjuntura, em que os capita do Brasil foi de US$ 8,3 mil SUSTENTABILIDADE
aportes são proporcionalmente por ano, de acordo com o IBGE. A
maiores no ensino superior.
Outro levantamento da OCDE
média dos países-membros da OCDE
– na qual o Brasil pleiteia ingresso – é
Política
aponta que o Brasil investe US$ 11,7 de US$ 30 mil. Nos Estados Unidos,
mil por ano em cada universitário. o valor chega a US$ 44 mil. Efervescência
É um volume superior ao de nações
como Itália (US$ 11,5 mil) e Repú-
A jornada brasileira em direção
à sustentabilidade tende a ser lon-
democrática
blica Tcheca (US$ 10,5 mil). Já a re- ga. Além de depender de esforços
ceita destinada ao ensino básico é de conjuntos, a escolha por percorrer ntre os especialistas ou-
US$ 3,8 mil por estudante, menos da o trajeto é essencialmente política. vidos por Brasil+, existe
metade do que fazem os países da OC- E o momento do país parece pro- um consenso de que o
DE, cuja média fica em US$ 8,7 mil. O pício a esse debate. interesse pela política
cresceu nos últimos
anos. A retomada se iniciou nas
48,1% 7,7 milhões marchas populares de 2013, com o
dos brasileiros de residências restabelecimento de uma partici-
não têm é o déficit pação ativa da sociedade nas pau-
acesso à coleta habitacional tas nacionais. "O Estado só é sus-
de esgoto. do país. tentável se for democrático. A de-
fesa da democracia se faz pela dis-
Em 2016, cussão dos problemas no dia a dia",
12,6% 900 mil defende Gastal. O debate tem ocor-
das mortes brasileiros rido, mas é marcado por uma forte
violentas do esperam por dicotomia de posições. Na verdade,
mundo exames e cirurgias o entrechoque deve dar o tom das
aconteceram na rede pública. campanhas eleitorais marcadas pa-
no Brasil. É o Os procedimentos ra o segundo semestre.
maior índice chegam a demorar Além de inviabilizar consensos,
do planeta. 10 anos. o antagonismo das discussões ga-
nha caráter destrutivo. "Não gosto
Fontes: Sistema Nacional de Informações sobre Saneamento, FGV,
de teorias que colocam o país numa
SmallArmsSurvey e Conselho Federal de Medicina (CFM). crise terminal. Apesar dos erros, a

44 brasil junho de 2018


capa
Congresso Nacional tem a missão
de sustentar a democracia brasileira

nossa democracia é vigorosa", de- política – outro quesito no qual o Atualmente, o principal fórum
fende Schüler. O cientista político Brasil ainda pode evoluir. A edição de debate dos problemas nacionais
faz questão de frisar a consolidação de 2017 do Índice de Democracia, é a internet. A ferramenta, porém,
do sistema democrático, que já organizado pela The Economist, co- carrega desvantagens. "A web trou-
resistiu a turbulências importantes loca o país como a 49ª nação mais xe intensidade de participação, mas
desde a sua retomada. Ele cita a democrática entre as 167 analisadas. também instabilidade e radicali-
superação de dois impeachments O estudo leva em consideração di- zação. Nesse sentido, há uma cri-
em três décadas, a independência versos fatores, incluindo liberdades se. Vivemos as dores de um anár-
das instituições e a maturidade da civis, pluralismo e processo eleitoral. quico plebiscitarismo digital", de-
Constituição como motivos de or- A pior performance brasileira foi ave- fine Schüler. O vozerio inflamado
gulho do país. riguada no critério "cultura política" das redes sociais reverbera nas
A conscientização sobre os fatos – eixo que se relaciona, entre outras instâncias decisórias e dificulta a
trazidos por Schüler é um passo im- coisas, com o interesse dos cidadãos aprovação de reformas. A pauta
portante para a sustentabilidade na vida pública. previdenciária, por exemplo, é ape-
nas um dos muitos campos mina-
dos pelos quais o próximo presi-
dente precisará trafegar.
A Sustentabilidade Política, em âmbito nacional, O engajamento da sociedade,
refere-se à garantia da democracia e da coesão assim, deve primar por uma noção
mais ampla de cidadania. "Preci-
social entre o Estado e a sociedade. Já na esfera samos desenvolver isso. Enquanto
internacional, o conceito prega a paz global e o cada um olhar apenas para o seu
interesse particular, todos perde-
respeito às soberanias nacionais remos", aconselha Neca Setubal.

45
2018 se transformará em uma opor- SUSTENTABILIDADE
Cultural
tunidade ímpar para debater essas
A arena digital, e outras lacunas.
"Apesar da polarização, teremos
com seus méritos a chance de fazer uma discussão mais
e limitações, profunda do que em 2014, aprovei- Foco na
é o novo normal da tando a maior mobilização da socie- diversidade
dade civil", projeta Ana Carla Abrão
democracia. Costa. A economista também res-
salta que uma eventual rejeição de adoção do paradigma
Fernando Schüler, cientista
pautas não pode impedir o futuro sustentável parte do
político e professor no Insper
governo de dar continuidade às re- entendimento de seus
formas necessárias ao país. "Os níveis valores e de sua rele-
de popularidade não garantem ou vância como bússola
Foto: Divulgação

impedem a aprovação de uma agen- para a transformação social. Mas


da. Mas quem assumir o cargo de- trata-se de uma construção inicial-
verá saber usar o seu capital político." mente abstrata. "A cultura contribui
A sustentabilidade, nesse sen- com o tema no sentido antropoló-
tido, pode representar uma ban- gico, do invisível e do conceitual",
deira capaz de transportar os de- explica Neca. O processo, diz a so-
bates a um nível acima dos emba- cióloga, tem origem nas noções de
tes ideológicos. "Haverá um cres- família e de comunidade, apontan-
cente espaço na democracia para do para a ideia de colaboração e
líderes que tenham capacidade de bem-estar comum.
gerar consensos", ressalta Schüler. O economista Ignacy Sachs con-
O caráter abrangente e o propósi- sidera a abordagem imaterial como
to igualitário posicionam o concei- um dos maiores desafios da susten-
to como uma pauta suprapartidá- tabilidade. Isso porque a estratégia
ria. A introdução do debate, porém, de modernização deve respeitar as
começa pela disseminação dos pre- raízes vigentes de um povo ou de
Outro ponto importante diz respei- ceitos em âmbito cultural. uma nação sem incorrer no risco de
to à abrangência da participação
política viabilizada pela tecnologia.
Apenas
Apenas 32,7% dos brasileiros com
renda inferior a um quarto do salá-
rio mínimo acessaram a internet em
32,7%
2015, segundo o IBGE. O índice che- dos brasileiros com O cultural é a
renda inferior a um
ga a 92,1% entre aqueles que ganham
quarto do salário
capacidade de se
mais de dez salários mínimos.
Aqui, a relação com a sustenta- mínimo acessaram identificar, de
bilidade socioeconômica se eviden- a internet em 2015. construir
cia. A Noruega lidera o Índice de
O índice chega a
identidades, de olhar
Democracia da The Economist há
para o futuro e para
sete anos. Uma das explicações pa-
ra o bom desempenho está na equi- 92,1% o bem comum. Tudo
dade social. Segundo a ONU, o país entre os que isso tem um
nórdico tem a terceira menor taxa ganham mais de dez
de desigualdade de renda no mundo. salários mínimos. amálgama que é
Já o Brasil figura entre os dez piores dado pela cultura.
nesse quesito. Por isso, o pleito de Fonte: IBGE
Neca Setubal, socióloga

46 brasil junho de 2018


capa
Foto: Ivo Gonçalves PMPA
Concerto da Ospa, em
Porto Alegre: música
clássica ao alcance de todos

sufocar as identidades estabelecidas.


No Brasil, a missão é ainda mais
A Sustentabilidade Cultural defende a
complexa. "Eu não saberia definir preservação das culturas locais e a
uma cultura brasileira, pois o traço
diversificado prevalece", analisa adaptação profícua da sociedade aos
Neca. A cultura nacional é hetero- movimentos de inovação e mudança
gênea e apresenta uma extensa ga-
ma de particularidades regionais.
As identidades locais, muitas vimento e incentivam o turismo e 4% do PIB nacional em 2010.
vezes, são um fator de desenvol- a economia. Cabe ao Estado esti- Apesar de proteger as tradições,
mular as manifestações culturais, a sustentabilidade cultural também
Foto: Thiago Queiroz

encarando-as como ativo e dife- aborda a correta absorção das ino-


rencial competitivo. "Sempre que vações, adequando o país às reali-
há uma crise econômica, a cultura dades globais. As políticas de inclu-
sofre com cortes porque é vista são e de respeito à diversidade fazem
como algo secundário. Essa é uma parte do processo. "Os movimentos
postura burra", disse Sérgio Sá Lei- étnicos e de gênero ganharam voz
tão, ministro da Cultura, durante nos últimos dez anos. A internet aju-
o seminário #CulturaGeraFuturo, dou nisso, mas também potenciali-
realizado em junho, no Rio de Ja- zou a intolerância", pondera Neca
neiro. O Atlas Econômico da Cul- Setubal. Além disso, a diversidade
tura Brasileira, lançado em 2017, cultural encontra relação com a opu-
estima que as cadeias produtivas lência dos recursos naturais brasilei-
ligadas à cultura, como mercado ros – e esse é outro trunfo do país
editorial e museus, movimentaram no desafio da sustentabilidade.

47
Foto: Cesar Brustolin / SMCS

Parques urbanos têm


papel fundamental na
nova ordem sustentável

SUSTENTABILIDADE derman, da WRI. De fato, os ho-


landeses adotaram uma estratégia
A Sustentabilidade
Ambiental de resiliência ao aumento dos níveis
dos mares e rios – um efeito dire-
Ambiental
to dessas transformações. estabelece
Adaptação Por lá, o projeto Room for the uma relação
River prevê a construção de 1,3 mil
necessária edificações flutuantes até 2040. Um consciente entre o
edra fundamental do con-
exemplo é o bairro de Steigereiland,
em Amsterdã. A região, concluída
homem
ceito, o eixo ambiental per- em 2011, possui 43 casas instala- e o ecossistema,
passa todos os seus demais das sobre o lago IJmeer. E elas não
âmbitos da sustentabilidade. são como barcos: os alicerces das
visando à
A abordagem consciente residências são feitos com cubas recuperação e à
do homem em relação ao meio am- de concreto preenchidas por iso-
biente ganha relevância em face da por. Insubmergível, a estrutura é perpetuação dos
dilapidação dos recursos naturais presa a estacas que garantem sua recursos naturais
e da alteração do clima em nível estabilidade.
global. "Alguns países já incorpo- Outra abordagem sustentável tem
raram isso nos orçamentos públi- a ver com o fomento de energias re-
cos. A Holanda, por exemplo, está nováveis. Nesse quesito, sistemas fo-
adaptando infraestruturas às mu- tovoltaicos como os existentes nas
danças climáticas", cita Rachel Bi- casas de Vauban ganham destaque.

48 brasil junho de 2018


capa
Em janeiro, o Brasil bateu o recorde
de 1 gigawatt de capacidade de ener-
Todas as dimensões
gia solar instalada, segundo a Asso- da sustentabilidade
ciação Brasileira de Energia Solar Fo-
tovoltaica (Absolar). A potência é su-
ficiente para abastecer 500 mil domi- SOCIAL
cílios por um ano – marca só atingida Igualdade, qualidade de vida
por 30 países. Entretanto, apenas homogênea, renda justa e pleno emprego.
0,01% da energia nacional vem de
fontes solares, um segmento no qual
a China desponta com 77 gigawatts CULTURAL
instalados e cerca de 40% de toda Equilíbrio entre tradição e inovação,
fotoenergia disponível no mundo. entre valores locais e globais.
A energia sustentável carrega
consigo diversas possibilidades, es- ECOLÓGICA
pecialmente quando se avalia o po- Gestão consciente do capital natural.
tencial brasileiro. A irradiação solar
por aqui, por exemplo, só perde pa-
ra a registrada na Austrália. A título AMBIENTAL
de comparação, o índice médio é o Respeito à capacidade de autodepuração
dobro do existente no território ale- dos ecossistemas naturais.
mão. Graças à Amazônia e à Mata
Atlântica, a maior biodiversidade do TERRITORIAL
planeta está aqui, de acordo com Configurações habitacionais
um estudo do Ministério do Meio balanceadas, com resguardo a áreas
Ambiente. O conceito se refere à ecologicamente frágeis.
variedade de seres vivos encontrados
em um único local. "Não associar a
economia a essa riqueza é desper- ECONÔMICA
diçar informações e matéria-prima Desenvolvimento equilibrado,
para alimentos, cosméticos, remé- modernização da produção, autonomia na
dios", salienta Rachel Biderman, que pesquisa técnico-científica e inserção
também é conselheira da ONG Uma soberana na economia internacional.
Gota no Oceano, dedicada a diver-
sas causas socioambientais. POLÍTICA NACIONAL
Foto: WRI Brasil
Democracia e universalização dos
direitos humanos, com coesão social
para implementação do projeto nacional
por parte do Estado.

POLÍTICA INTERNACIONAL
Garantia da paz, cooperação internacional,
zelo pelos recursos naturais, garantia de
diversidades biológicas e culturais e
construção de legado positivo à humanidade.

Fonte: SACHS, Ignacy. Caminhos para o


Desenvolvimento Sustentável (Garamond, 2002).

49
POR UM

MAIOR
À frente do projeto de
reposicionamento do MBC, o
publicitário Arthur Bender defende as
coalizões como instrumento para a
mobilização do país em favor do
desenvolvimento sustentável
Na busca por uma sociedade
mais sustentável, o MBC trabalha
com a ampliação do conceito de
sustentabilidade, ainda muito vin-
culado ao ambiental. Para isso, pas-
sa a abordá-la em suas cinco dimen-
sões: econômica, política, social,
ambiental e cultural. Qual é o pro-
pósito desse novo posicionamento?
O MBC possui uma contribuição
inquestionável para a eficiência e a
competitividade do Brasil. Nesses 15
anos, atuou em diversas frentes em
centenas de projetos em nível mu-
nicipal, estadual e federal e efetiva-
mente foi coerente com sua missão
com relação ao sonho de um Brasil
mais competitivo. Uma trajetória que
muito nos orgulha e que tornou o
MBC uma instituição singular. É uma
das únicas instituições no Brasil com
o poder de unir o público e o privado
e de formar coalizões robustas em
torno da competitividade.

50 brasil junho de 2018 Foto: Nilton Santolin


capa
Mas esses são outros tempos, com vado. Então governança passa a ser e tenhamos um país mais justo e
novas exigências e um cenário bem fundamental no processo de levar o igualitário no horizonte de 2030?
diferente de 15 anos atrás, no mundo Brasil para um outro patamar de dis- Aliás, por que a visão de longo pra-
e principalmente no Brasil. Por isso, cussão, muito mais estratégico e efi- zo do MBC estabeleceu essa data?
competitividade continua sendo um caz. Por outro lado, governança não A transformação de um país é
meio importante e um traço mar- pode ser fim. Governança deve ser uma causa gigantesca que jamais
cante do MBC. Mas passamos a acre- meio, um estágio, que nos permitirá poderá ser conquistada com visões
ditar que a visão ousada e ambiciosa sonhar com algo maior. Porque é atra- oportunistas. O Brasil nessas últimas
de um Brasil sustentável nas suas vés dela que poderemos chegar um três décadas de democratização já
cinco dimensões é mais estratégica dia a um Brasil sustentável. provou por demais dessa visão equi-
e uma das poucas bandeiras capazes vocada. Um projeto de um país sus-
de unir diferentes ideologias em tor- Em vez de se limitar a ser um think tentável social, econômica, política,
no de uma mesma causa com gran- tank, o MBC se propõe a ser um do ambiental e culturalmente como o
de impacto no futuro do Brasil. tank, atuando na materialização que sonhamos não se faz com um
das ideias e propósitos que defen- mandato de governo, mas somente
Desde a sua fundação, o MBC atua de. De que maneira isso pode im- com a coalizão de todas as forças da
com um grande objetivo: aumen- pactar na construção de um país sociedade e com uma geração de
tar a eficiência e a competitivida- mais justo, ético e sustentável? líderes dispostos a alcançar essa me-
de do Brasil. De que maneira os O MBC sempre se caracterizou ta. Por isso, um horizonte maior.
líderes do poder público, da ini- pelo seu pensar, pela sua capacida-
ciativa privada e da sociedade po- de de aglutinar, de criar coalizões O MBC foi reposicionado em torno
dem contribuir? em torno de causas, mas essencial- da ideia de um Brasil sustentável.
Fundamentalmente, compreen- mente também pelo "seu fazer". Esse é o fim maior, a visão a ser bus-
dendo que só teremos um Brasil sus- Queremos um MBC com o melhor cada. O que mais foi discutido e
tentável nas suas cinco dimensões do pensamento nacional, mas cada planejado nesse reposicionamento?
quando conseguirmos derrubar to- vez mais comprometido com o fazer O planejamento desenvolvido
das as barreiras, todos os entraves em torno de seu posicionamento, pela KeyJump [empresa em que Ben-
conceituais e burocráticos entre pú- movido por seu propósito. der é CEO] trabalhou em três frentes:
blico e privado e conseguirmos não um 'O quê?'; um 'Como?' e um 'Por
só as melhores saídas para os nossos Coalizões impactam e influenciam quê?' para o MBC. Então estabelece-
impasses através de uma troca rica transformações sociais, econômi- mos que somos um 'Movimento que
de experiências, tecnologias, meios cas, políticas etc. Em sua opinião, promove um Brasil justo, ético e sus-
e ferramentas, mas também um em- que atributos a marca MBC possui tentável'. E que nossa forma de atu-
bate valioso de ideias onde preva- para aglutinar pautas e sensibilizar ação vai se dar através do 'Advocacy
leça uma visão de nação e não de lideranças para que o Brasil avance + Do tank e formando Coalizões'. Mas
governos, nem de ideologias ou de o mais importante nesse reposicio-
grupos e seus interesses. namento foi o reescrever do propó-
sito. Um 'porque' que estava contido
Nesse sentido, a busca pelas me- no movimento e que fizemos voltar
lhores práticas de governança pelo à tona nesse trabalho. Então chega-
setor público é fundamental. Por mos à conclusão de que o nosso pro-
que a sociedade também deve pósito não poderia ser outro senão:
aprender e reconhecer o valor da A visão de um Brasil sustentável 'Porque somos inconformados com
governança na gestão pública? a realidade do Brasil'. É isso que nos
Aprendemos que competitivida-
nas suas cinco dimensões é uma tira da cama de manhã e que faz unir
de sem governança pode ser extre- das poucas bandeiras capazes de líderes de diferentes setores para con-
mamente danoso para a sociedade unir diferentes ideologias em tinuar a creditar na ideia de que o
– haja vista todos os dramas que vi- Brasil pode ser transformado num
vemos hoje em torno da promiscui-
torno de uma mesma causa. país sustentável. É esse inconformis-
dade nas relações entre público e pri- mo que nos move.

51
Sessão plenária de
comércio internacional na
sede da OCDE, em Paris

Em busca de
aprovação
52 brasil junho de 2018
competitividade
Confiante na boa relação mantida há tempos com

Foto: Julien Daniel / OCDE


a OCDE, o governo brasileiro entregou em maio de
2017 um pedido formal para ingressar na
organização. Desde então, o país trabalha para se
adaptar a diversos pontos da agenda de governança
exigida pela entidade

A
Por Emanuel Neves e Ricardo Lacerda

equipe diplomática programas de avaliação da OCDE dão


do Brasil na França origem a estudos e grupos de trabalho
ganhou reforços em que auxiliam a elaboração de estraté-
2018. No fim de fe- gias de gestão pública. Entretanto, a
vereiro, o governo adesão ao grupo pode trazer muitos
federal anunciou a outros benefícios.
montagem de uma Uma cadeira permanente na OCDE
nova comitiva em equivale a um selo internacional de
Paris, liderada pelo subsecretário-ge- qualidade em governança. "Assinar a
ral de Assuntos Econômicos e Finan- entrada representa convergir as legis-
ceiros do Ministério das Relações Ex- lações brasileiras para os parâmetros
teriores, Carlos Márcio Cozendey. O das nações que lideram o comércio
comitê, formado por seis diplomatas, mundial. O país ganharia uma chance-
tem a missão de acompanhar o pro- la de credibilidade junto a investidores",
cesso que analisa a entrada do Brasil explica Ricardo Mendes, sócio-diretor
na Organização para a Cooperação e da Prospectiva Consultoria. O status
Desenvolvimento Econômico (OCDE). ajudaria a melhorar a imagem interna-
O movimento foi desencadeado em cional da economia brasileira, abalada
maio de 2017, a partir do pedido for- desde os rebaixamentos nas notas con-
mal de ingresso enviado à entidade, cedidas pelas principais agências de
sediada na capital francesa. O objeti- classificação de risco. Nos últimos anos,
vo principal da OCDE é promover po- Moody’s, Standard&Poor's e Fitch Ra-
líticas públicas para impulsionar o tings tiraram o grau de investimento
desenvolvimento das nações. do Brasil, motivadas pela deterioração
Fundada em 1961, a OCDE reúne das contas públicas.
boa parte dos países mais ricos do Assim, o mercado global passou a
mundo. Somados, seus 37 membros ver com desconfiança a capacidade de
representam 62% do PIB global e ope- o país pagar suas dívidas ou gerar re-
ram dois terços dos negócios inter- torno aos investidores. "Como membro
nacionais. Uma das principais vanta- da OCDE, o país demonstra que está
gens de integrar a entidade está na alinhado às melhores práticas públicas
oportunidade de compartilhar expe- e passa a ser considerado um ambien-
riências de governança com essas na- te seguro para receber aportes", diz
Juntos, os 37
ções desenvolvidas. "O diálogo pode Guaranys. O Brasil, porém, terá de su-
membros da
resultar em insights capazes de levar perar alguns obstáculos para alcançar
OCDE
o país a grandes saltos", afirma Mar- esse objetivo. O processo para entrada
respondem
celo Guaranys, subchefe de Análise e na OCDE acontece em duas etapas.
por62 % Acompanhamento de Políticas Go- Primeiro, o pedido precisa ser aceito
do PIB global vernamentais (SAG) da Casa Civil. Os por todas as nações participantes do

53
grupo. A segunda fase consiste no ali- mênia e Peru aguardam análise. A re-
nhamento das diretrizes de governan- quisição peruana, por exemplo, foi
ça à cartilha da entidade. O Brasil ain- enviada há quatro anos.
da está no estágio inicial, com a evo- Por ordem de chegada, o Brasil
lução dos trâmites bastante lenta. E ocupa o último lugar da lista de pre- O setor privado americano tem
um dos principais entraves é a postu-
ra refratária dos Estados Unidos.
tendentes. "Perdemos o timing no
passado e acabamos nos juntando a
sido 100% favorável ao Brasil
outras nações. Desperdiçamos a chan- começar a negociação. Mas há
resistência americana ce de liderar esse processo", avalia certa antipatia do governo Trump
O presidente norte-americano
DonaldTrump é contrário a uma aber-
Fernando Loureiro, diretor sênior de
Políticas Públicas & Relações Gover-
em relação ao país. E ninguém
tura indiscriminada da OCDE – e pre- namentais da Intel América Latina. sabe ao certo o porquê.
ga a adoção de critérios rígidos à acei- Agora, o caminho para dobrar o veto
Ricardo Mendes, sócio-diretor
tação de novos membros. Em maio, de Donald Trump pode ser especial-
da Prospectiva Consultoria
a entidade aprovou a adesão de Co- mente complicado para o Brasil.
lômbia e Lituânia. Mas a fila para fazer Isso porque os motivos que levam da Casa Branca pode ter duas justifi-
parte da organização ainda é extensa. os Estados Unidos a frearem o ímpeto cativas. Uma delas é prática: o Brasil
Costa Rica e Cazaquistão já estão na brasileiro não se limitam à preocupa- está em ano eleitoral e não há uma
fase de alinhamentos e negociação. ção com o inchaço da OCDE. "O setor tendência concreta capaz de assegurar
A Rússia também havia avançado a privado americano tem sido 100% fa- os resultados das urnas. Ou seja, o ce-
esse estágio, mas as conversações fo- vorável ao Brasil começar a negociação. nário político e ideológico só deverá
ram suspensas em 2014, como reta- Mas há certa antipatia do governo se definir após outubro. Já o outro mo-
liação à participação do país na Guer- Trump em relação ao país. E ninguém tivo seria diplomático e a explicação
ra da Crimeia. Os pedidos de entrada sabe ao certo o porquê", afirma Men- estaria num pretenso antagonismo
de Argentina, Bulgária, Croácia, Ro- des, que atua em Miami. A resistência exercido pelo Brasil às posições de Is-

Foto: Hervé Cortinat / OCDE

Encontro do Conselho de
Ministros da OCDE acontece
anualmente em Paris

54 brasil junho de 2018


competitividade
rael nos debates da Organização das Tema de casa
Nações Unidas para Educação, Ciência
e Cultura (Unesco). Em 2017, o país
O Brasil já sabe bem como funcionam as cobranças públicas efetuadas pela OCDE
votou a favor da resolução que nega
aos seus membros. Em 2015, por exemplo, a entidade elaborou 13 recomendações
a soberania israelense sobre a totali-
para otimizar a governança do país. O aconselhamento envolvia diversas áreas, desde
dade do território da cidade de Jeru-
mudanças na tributação até a adoção de medidas de estímulo à concorrência de mer-
salém. O imbróglio levou os Estados
cado. Em fevereiro, a instituição divulgou o documento Relatórios Econômicos OCDE:
Unidos, principal aliado de Israel no
Brasil 2018, que demonstra em quais termos o país tinha observado os apontamentos
Ocidente, a anunciar seu desligamen-
feitos no estudo. Resultado: o Brasil evoluiu em oito desses quesitos, mas não tomou
to da Unesco. Em seguida, o próprio
nenhuma medida relacionada aos outros cinco.
governo de Israel tomou a mesma de-
cisão. Aliás, o país do Oriente Médio
também se mostra resistente à entra-
da brasileira na OCDE.
Recomendações não atendidas
A tese da retaliação diplomática
ganha força pelo fato de DonaldTrump Estabelecer mandatos fixos ao pre- Implementar medidas para fortalecer a
apoiar publicamente o ingresso da Ar- sidente do Banco Central e aos mem- concorrência entre as empresas.
gentina na entidade. Aqui, o relacio- bros do Comitê de Política Monetá-
ria (Copom). Consolidar os tributos federais e estadu-
namento próximo entre o mandatário
ais incidentes sobre o consumo em um
americano e o presidente argentino Aperfeiçoamento dos profissionais único imposto sobre valor agregado.
Maurício Macri pode estar pesando a técnicos responsáveis por preparar
favor do país vizinho. Apesar disso, o os processos de concessão em in- Vetar gradualmente a dedução de gastos
fraestrutura. com planos de saúde no Imposto de Renda.
Brasil também tem os seus trunfos
nesse processo. Um deles é a longa
história de colaboração com a OCDE.
Recomendações com evolução
Parceiro-chave
A aproximação começou em 1994, Implantar o ajuste fiscal com os ob- tarifas e regras de conteúdo nacional.
com a participação brasileira em pro- jetivos de médio prazo para estabi- O que o país fez: reduziu as exigências
gramas de colaboração lançados na lização da dívida bruta. de conteúdo nacional nos setores de
América Latina. Além do Brasil, o pro- O que o país fez: aprovou a lei do petróleo e gás.
jeto da OCDE incluía parcerias com teto de gastos.
Expandir a participação em treina-
Argentina, Chile e México. Os dois úl- Aumentar gradualmente a idade de mento profissional para aliviar a es-
timos já integram o grupo. A entrada aposentadoria. cassez de trabalhadores com qualifi-
mexicana aconteceu naquele mesmo O que o país fez: o projeto da reforma da cação técnica.
ano, enquanto a admissão chilena Previdência está em debate no Congresso. O que o país fez: aumentou em 67%
ocorreu em 2010. "O México e o Chi- a participação de mulheres no progra-
Diminuir a rigidez do orçamento, ma Pronatec, embora a oferta de cursos
le olharam para o mundo e hoje são
através da redução da afetação de nem sempre esteja alinhada às carên-
os países que têm mais acordos co- receitas e da flexibilização das des- cias do mercado.
merciais na região", destaca Loureiro, pesas obrigatórias em certos itens.
da Intel. Em 1996, o Brasil passou a O que o país fez: removeu a indexação Considerar aumentar ainda mais os im-
fazer parte do Comitê do Aço, criado ao PIB dos gastos federais mínimos com postos sobre combustíveis para estimu-
saúde e educação e criou a Instituição lar as opções de energia sustentáveis.
para debater políticas e práticas dire-
Fiscal Independente (IFI). O que o país fez: aumentou os impos-
cionadas à indústria siderúrgica.
tos sobre combustíveis em 2017, embo-
O ponto alto do engajamento Ajustar com maior frequência a taxa ra ainda estejam baixos na comparação
brasileiro ocorreu em 2007, quando do empréstimo compulsório (TJLP), internacional.
a OCDE listou o país entre os seus em linha com a Selic.
Evitar o ressurgimento de subsídios im-
cinco parceiros-chave – ao lado de O que o país fez: substituiu a TJLP pe-
la TLP, que irá convergir para as taxas plícitos ao petróleo em caso de possíveis
China, Índia, Indonésia e África do aumentos de preço e ajustar regular-
de mercado nos próximos cinco anos.
Sul. Nessa condição, o Brasil tem mente o preço do petróleo.
direito a alinhavar parcerias com ór- Diminuir o nível de proteção comercial O que o país fez: subsídios implícitos
gãos da OCDE e acessar sistemas de de forma contínua, com redução de ao petróleo não retornaram.

55
Foto: Julien Daniel / OCDE
Brasil é o país não filiado
com maior presença em
comitês da OCDE

dados e estatísticas, além de ser in- entidades mundiais, como a Organi- exigidos pelas regras da entidade", res-
cluído em análises e levantamentos. zação Mundial do Comércio (OMC) e saltaGuaranys, da SAG.A desregulação,
Outro fator importante é a adesão a ONU. Na atual condição, o Brasil por exemplo, é defendida pela OCDE
às normas de governança indicadas pode seguir esses dispositivos, mas não como principal vetor para ampliar a
pela entidade. Ao todo, a OCDE pos- opina sobre a sua elaboração. competitividade e a inovação, incre-
sui 237 instrumentos legais desse mentando a produtividade. A entida-
tipo. O Brasil já subscreve 43 deles Cartilha respeitada de também é a favor da tributação
e pediu adesão a mais 74. A aplicação das políticas definidas simplificada. Em geral, os membros
Em 2015, o país assinou um acor- pela OCDE não é obrigatória nem im- adotam o VAT (o Imposto Sobre Va-
do que previa maior participação nos põe punições ou restrições por des- lor Agregado) como taxação unifica-
comitês da instituição. O engajamen- cumprimento aos integrantes do gru- da sobre bens e serviços.
to nos núcleos de governança pública po. Mas a entidade encontra meios O governo federal aposta na ade-
e regulação de energia elétrica é uma para influenciar os filiados a seguirem quação a diretrizes como essas para
consequência disso. Atualmente, o sua cartilha. Um deles é a divulgação impulsionar as mudanças necessárias
Brasil é a nação não filiada com maior pública de pesquisas e rankings com- à retomada do desenvolvimento. A lei
presença em comitês e a segunda em parativos entre os países. Em 2017, por que prevê um teto para os gastos pú-
número de assinaturas de instrumen- exemplo, a OCDE publicou o levanta- blicos, aprovada em 2016, e a própria
tos – longe de ser um desconhecido mento Education at a Glance (Um olhar reforma da Previdência, em discussão
para o contexto da instituição. O me- sobre a educação, em tradução livre), no Congresso, são exemplos de ações
xicano Ángel Gurría, secretário-geral que coloca o Brasil como último co- influenciadas pelos eixos estratégicos
da entidade, chegou a chamar o Brasil locado no quesito "abandono escolar" da OCDE. Como membro, o país en-
de "primo" da OCDE durante uma reu- entre as 13 nações avaliadas. traria numa esfera de governança em
nião de cúpula realizada em 2017. Além disso, a organização também que o comprometimento com a efe-
Ainda assim, o parentesco não con- envia recomendações diretas para que tividade das políticas públicas é vital.
fere o poder detido pelos membros os países sigam determinadas políticas. "O Brasil poderia consolidar transfor-
efetivos. As estratégias preconizadas "Muitos ministérios têm interface com mações que são difíceis de passar den-
pela OCDE têm a força de influenciar a OCDE e passam a olhar com maior tro do jogo político nacional", acredita
as decisões de algumas das principais atenção para os graus de compliance Mendes. Ainda assim, o redireciona-

56 brasil junho de 2018


competitividade
mento proporcionado pela entrada na Membros originais (desde 1961)
OCDE pode exigir esforços de adequa-
ção que mexem com práticas históri-
cas do país. O protecionismo tecno-
lógico é uma delas. Alemanha Áustria Bélgica Canadá Dinamarca

Upgrade necessário
Em 2017, a Organização Mundial Espanha Estados Unidos França Grécia Irlanda
do Comércio (OMC) condenou o Bra-
sil a suspender sete programas que
concedem subsídios à indústria nacio-
Islândia Luxemburgo Noruega Países Baixos Portugal
nal. A decisão se baseia no fato de os
benefícios oferecerem vantagens com-
petitivas em desacordo com as regras
estabelecidas pela entidade. Uma das Reino Unido Suécia Suíça Turquia
normativas contestadas pela OMC é
a Lei da Informática. Criada em 1991, Membros mais recentes
a norma garante incentivos fiscais pa-
ra produtores de hardwares, automa-
ção industrial e telecomunicações.
"Estamos na era da sociedade digital, Chile Eslovênia Estônia Israel Letônia
mas ainda levantamos barreiras para
2010 2016
centralizar o desenvolvimento de pro-
dutos localmente. É política velha num
mundo novo", critica Loureiro, da Intel.
"Não há mais como voltar a políticas Colômbia Lituânia
de reserva de mercado ou participar 2018
do processo global de forma isolada."
O Brasil recorreu contra a decisão
da OMC – e o processo deve ter um Membros em negociação
desfecho ainda em 2018. "A entrada
Cazaquistão Costa Rica Rússia
na OCDE é vista como uma oportuni- processo processo processo aberto
dade para o país fomentar uma eco- aberto em 2013 aberto em 2015 em 2007 e
suspenso em 2014
nomia de mercado mais integrada às
economias globais, utilizando a redu- países candidatos
ção tarifária de bens importados", re-
força Mendes, da Prospectiva. A revisão
dos conceitos passa a ser fundamental
para o desenvolvimento tecnológico
Argentina Brasil Bulgária Croácia Peru
do país, tendo em vista a elaboração candidatura candidatura candidatura candidatura candidatura
formalizada formalizada formalizada formalizada formalizada
de programas como a Estratégia Bra- em 2016 em 2017 em 2012 em 2017 em 2014
sileira para Transformação Digital e o
Plano Nacional de Internet das Coisas.

Romênia
candidatura
A reforma da Previdência formalizada
em 2012

e a PEC do Teto são


exemplos de ações parceiros-chave

influenciadas pelos eixos


estratégicos da OCDE África do Sul Brasil China Índia Indonésia

57
"Estamos falando em facilitar o de Dados Pessoais (PL 5276/2016), quais pode transferir dados. A Argen-
acesso à tecnologia, com ferramen- elaborado com base em uma consul- tina está lá. O Brasil, não", compara
tas de baixo custo e melhor quali- ta pública, foi aprovado pelos depu- Loureiro. A movimentação de dados
dade. Defender um modelo de fa- tados em maio e aguarda o parecer internacionais é importante tanto no
bricação com preços acima de qual- dos senadores. Já a PL 330/2013, de âmbito da segurança quanto na criação
quer outro país significa punir o ci- conteúdo semelhante, tramita em ca- de estratégias de comércio exterior.
dadão", diz Loureiro. Na Argentina, ráter de urgência no Senado. "É pre- Além disso, a falta de solidez jurídica
o governo Macri reduziu de 35% ciso acelerar a definição disso para em relação ao assunto depõe contra
para zero o imposto sobre importa- oferecer certezas jurídicas ao merca- o ambiente de negócios brasileiro e se
ção de produtos de informática, co- do, demonstrando que o Brasil é capaz constitui num entrave para atração de
mo celulares e computadores. de lidar com dados. O
O modelo argentino busca bara- país poderia se trans-
tear as ferramentas de acesso à inter- formar num hub im- Políticas bilaterais e as
net e privilegiar o desenvolvimento da portante na América diferentes relações entre
inteligência de negócios no ambiente Latina”, aconselha
online. É o caso do Mercado Livre, o Loureiro. Mas alguns blocos são fatores levados
maior marketplace da América Latina.
Fundada em 1999, a empresa de co-
pontos desses docu-
mentos podem estar
em conta na aprovação
mércio eletrônico tem sede em Buenos em desacordo com os de ingresso na OCDE
Aires e faturou US$ 844 milhões em padrões da OCDE e
2016. Outro ponto importante na po- terão de ser mais bem discutidos. investimentos. Por isso, a otimização
lítica tecnológica diz respeito à aber- Um deles diz respeito ao acesso da agenda digital brasileira representa
tura de dados. "A OCDE possui um e pedido de correção de dados por um passo importante no processo de
código de privacidade de dados e de parte dos titulares. "Os projetos ga- adequação às premissas da OCDE. Mas
biotecnologia que vai além da legisla- rantem que os dados sejam acessados, não é o único.
ção nacional dos países", destaca Men- enquanto a recomendação da OCDE
des. Os princípios da entidade buscam abre certa margem para recusa", elu- Costura demorada
evitar a criação de barreiras para o flu- cida Mendes. A pauta ganha impor- Uma vez aprovado como candi-
xo de dados pessoais, estimulando o tância no momento em que a União dato, o país passa à etapa de nego-
trânsito seguro das informações entre Europeia aprova o Regulamento Geral ciações. E o elemento político con-
os países membros. de Proteção de Dados (GDPR), uma tinua tendo um peso importante
O Brasil ainda não conta com uma nova e abrangente normativa sobre nesse estágio. "Os membros utilizam
lei geral e unificada para o tema. A po- o uso do insumo, encarado como o o processo para defender seus inte-
lítica de dados é regida pelo Marco Ci- petróleo da economia digital. O bali- resses junto ao país que pretende
vil da Internet e possui proposições zador foi implementado em maio e aderir. É preciso negociar em múl-
setoriais tramitando na Câmara e no restringe a troca de dados internacio- tiplos tabuleiros", avisa Mendes. As
Senado. O Projeto de Lei de Proteção nais a países que ofereçam níveis de políticas bilaterais e as diferentes
proteção semelhantes aos aplicados relações entre blocos, como a UE e
pelos integrantes do bloco. Esse, in- o Mercosul, são fatores que devem
clusive, é um dos itens de resguardo ser levados em consideração. Outro
defendidos pelas normativas da OCDE ponto fundamental é a equiparação
Estamos na era da sociedade digital, relacionadas ao fluxo de dados. das legislações.
A Argentina já tem um código re- O processo de entrada da Co-
mas ainda levantamos barreiras conhecido entre os países europeus. lômbia, por exemplo, foi iniciado em
para centralizar o desenvolvimento Sem uma lei clara e alinhada, o Brasil 2013 e exigiu adequações em leis
de produtos localmente. pode ser vetado desse intercâmbio e trabalhistas e normativas relaciona-
reforçar seu isolamento. Inclusive, o das à propriedade intelectual do se-
Fernando Loureiro, diretor sênior de Políticas Públicas impedimento já é realidade. "A Colôm- tor farmacêutico, além de questões
& Relações Governamentais da Intel América Latina bia tem uma lista de países com os referentes aos direitos humanos. O

58 brasil junho de 2018


competitividade
Foto: Julien Daniel / OCDE
Secretário-geral da OCDE,
Angel Gurría é simpático ao
ingresso do Brasil no grupo

Brasil, por sua vez, é considerado o acontece com o Brasil. Por aqui, a Ca- disso, não precisa abrir mão da agen-
país com mais pontos alinhados à sa Civil ainda crê numa definição rá- da de desenvolvimento junto às na-
entidade entre as nações que aguar- pida da situação. "Mês a mês, mante- ções emergentes”, avalia Mendes.
dam resposta ao pedido de entrada, mos a expectativa de que a resposta Outro ponto importante é a reso-
mas isso não significa que a análise chegue. Podemos ser aceitos a qual- lução do problema envolvendo o au-
do caso brasileiro será mais rápida. quer momento", acredita Guaranys. mento dos impostos de importação
No começo do
Durante o processo, os comitês Entretanto, a encruzilhada no horizon- ano, a Casa do aço e do alumínio no mercado ame-
temáticos pedem para avaliar as po- te político deve atrasar esses planos. Branca anunciou ricano. Em março, a Casa Branca con-
líticas e práticas da nação candida- A indefinição quanto aos rumos sobretaxas de firmou a aplicação de sobretaxas para
ta. A diversificação da economia políticos após as eleições faz com 25% e as duas matérias-primas estrangeiras.
brasileira deve fazer com que vários que a OCDE acenda a luz de alerta. O Brasil chegou a iniciar um diálogo
desses núcleos queiram dialogar com Uma nova guinada ideológica po-
10% para a com o governo Trump para ser inclu-
compra de aço
o país. "Todas as normas às quais o deria esvaziar o anseio do Brasil em e alumínio de ído na lista de isentos, mas não teve
Brasil pediu acesso gerarão nego- ingressar na entidade. Foi assim du- fora do país sucesso. A restrição deve afetar a in-
ciações e acompanhamentos", con- rante os governos Lula e Dilma, que dústria siderúrgica nacional, que tem
firma Guaranys. Em média, os países mantiveram relações de proximida- nos Estados Unidos um de seus prin-
levam de três a cinco anos para pre- de com a OCDE, mas priorizaram a cipais parceiros. Entretanto, o episódio
encher os termos pedidos pela OCDE. posição de destaque no Grupo dos não foi dado por encerrado.
Mas pode demorar mais. O Peru lan- 77 – o bloco dos países pobres e em O governo federal pode tentar es-
çou sua candidatura em 2014 e criou desenvolvimento. A entidade possui treitar as relações com Washington e
um projeto prévio de reposiciona- 134 membros e é liderada por China propor novos diálogos. Por outro lado,
mento junto à OCDE. A intenção do e Índia. Caso seja aprovado na OCDE, existe também a possibilidade de o
governo peruano é entrar para o o Brasil tende a se afastar da coali- país se aliar às demais nações prejudi-
grupo em 2021, ano do bicentenário zão. Isso, entretanto, pode não ter cadas e recorrer à OMC – batendo de
de sua independência. efeitos práticos tão contundentes. frente com os Estados Unidos e em-
Antes disso, porém, é preciso ser "O Brasil nunca teve recursos sufi- baralhando de vez o xadrez político que
aceito como candidato. O mesmo cientes para ser líder do G77. Além envolve a OCDE.

59
Foto: iStock

Pausa
para
reflexão
lunista de inovação do New York
Times e três vezes vencedor do Prê-
mio Pulitzer, Friedman aborda o te-
ma em seu mais recente livro, Obri-

o
gado pelo atraso: um guia otimista
para sobreviver em um mundo cada
Em Obrigado pelo ritmo da vida mo- vez mais veloz – lançado no Brasil
atraso, o colunista do derna flui de modo em 2017 pela editora Objetiva. A
alucinante. A acele- obra reúne uma série de pautas do
New York Times Thomas ração constante que cotidiano e busca demonstrar como
L. Friedman aponta impulsiona a tecno- as esferas da economia, da política,
caminhos para logia também trans- da cultura e da ética são incorpo-
instituições e pessoas forma o meio am- radas e ressignificadas pela nova
conseguirem se adaptar biente e o mercado. configuração da Máquina.
às transformações do Não à toa, essas áre- De acordo com Friedman – também
as são as principais engrenagens que autor do best-seller O Mundo é Pla-
mundo atual movem o mundo, segundo o jorna- no –, a sociedade estável e estática
lista norte-americano Thomas L. que as últimas gerações conheceram
Por Fernanda La Cruz
Friedman. As três forças motrizes acabou. O século 21 vive a chamada
formam "a Máquina" – uma estru- Era da Aceleração, na qual todos os
tura que jamais operou de modo tão setores são dominados por uma "es-
rápido e desafiador quanto hoje. Co- tabilidade dinâmica", em que a pa-

60 brasil junho de 2018


resenha
ciência se tornou um conceito ul- Tal cenário experimenta os efei- disso, o autor enfatiza as vantagens
trapassado. Intolerante a qualquer tos da chamada Lei de Moore. A re- dos modelos descentralizados de
tipo de espera, o homem não en- gra determina que a capacidade de gestão pública, como o dos Estados
contra tempo para reflexões ou sair processamento dos computadores Unidos, que são abertos a experi-
do piloto automático. "Em tempos e da tecnologia dobra a cada dois mentos de governança. Segundo ele,
assim, fazer uma pausa e refletir, em anos. A equação foi cunhada em esses sistemas poderão embasar um
vez de entrar em pânico e se reco- 1965, pelo químico norte-america- "projeto de reinvenção social" afi-
lher, é uma necessidade", explica o no Gordon Moore, cofundador da nado à contemporaneidade. Os pa-
autor, em um trecho da obra. "Não Intel, e vem se mostrando aplicável íses que se mantiverem em estraté-
é um luxo ou uma distração, mas ao funcionamento da Máquina. A Lei gias obsoletas tendem a alargar a
uma maneira de aumentar as chan- de Moore não muda apenas o ritmo defasagem ao ritmo das inovações.
ces de conseguirmos compreender das mudanças, mas altera a própria Assim, perderão espaço no cenário
melhor e de nos engajarmos de for- capacidade de se absorver cada uma internacional, afastando os cidadãos
ma produtiva no mundo à nossa delas. Segundo Friedman, a recon- das inovações.
volta." O título do livro, inclusive, figuração periódica tem impactos "Na Era da Aceleração, liderar
tem tudo a ver com essas premissas. irrestritos e cria uma fissura quase significa forjar as atitudes culturais
A rotina atarefada de Friedman instantânea entre o mundo conhe- corretas e as opções políticas mais
só era interrompida quando seus cido e o novo mundo possível – sem apropriadas", aconselha Friedman.
amigos ou entrevistados se atrasa- que haja tempo hábil para entendi- "Precisamos de uma política dinâ-
vam para os encontros. De repente, mento e adaptação. A rapidez do mica, híbrida, que não tenha medo
ele descobriu que gostava desses processo faz com que pessoas, em- de combinar ideias." Na prática, sig-
hiatos forçados, pois podia ficar a presas e governos sintam-se perdi- nifica dizer que os governos devem
sós com seus pensamentos por um dos. Mas qual seria a solução? estipular um prazo de validade para
breve momento, e daí veio a expres- Friedman defende a integração suas medidas e testar novos méto-
são: "Obrigado pelo atraso". De fato, do governo aos novos sistemas – não dos. A ideia é inovar no ritmo dos
a reflexão tem um papel fundamen- apenas à tecnologia – como única inovadores. Ou seja, as estratégias
tal. Há pouco menos de mil anos, saída viável. Entretanto, ele destaca devem ser constantemente avaliadas
explica Friedman, uma mudança a necessidade de modificações es- e alinhadas a novos paradigmas. O
importante demorava até três ge- truturais, incluindo o estabelecimen- tempo certo para começar esse pro-
rações para ser totalmente assimi- to de novas plataformas partidárias cesso é agora, mas acima de tudo
lada. Mas como proceder atualmen- e o estímulo às Parcerias Público- o gestor deve ter em mente que o
te, quando o ritmo frenético das -Privadas (PPPs), como vetores de erro – assim como o atraso – faz
inovações é mais rápido do que a inovação no campo político. Além parte desse caminho.
própria capacidade de assimilação?

Lidar com a ansiedade


No âmbito da governança, o fe-
nômeno atinge diretamente o poten-
cial de resiliência de gestores e insti-
tuições. Isso gera angústia e impede
FICHA TÉCNICA
que empresas e governos se beneficiem
Título: Obrigado pelo atraso: um
totalmente das possibilidades da mo-
guia otimista para sobreviver em
dernidade. O autor aponta o descom-
um mundo cada vez mais veloz
passo causado pelas transformações
Autor: Thomas L. Friedman
como o principal problema da políti-
Editora: Objetiva
ca atual. Sem pausas e sem atrasos,
Ano: 2017
ninguém consegue acompanhar o rit-
Páginas: 560
mo da evolução. “Lidar com essa an-
siedade é um dos maiores desafios a
serem enfrentados pelas grandes li-
deranças hoje”, define.

61
Foto: Ferrovia Transnordestina/Valec

Logística
inteligente
Não basta construir estradas ou
ferrovias. Para se tornar mais
competitivo, o Brasil precisa de
uma governança eficiente para
planejar e integrar os grandes
projetos de infraestrutura
Por Andreas Müller

62 brasil junho de 2018


debate
S
etembro de 2011: o entre si, o consórcio interessado de- Lançado em 2017,
governo federal final- sistiu do Linhão e, até hoje, não há de-
mente havia encon- finição quanto ao futuro do projeto. o Plano Nacional de
trado uma concessio-
nária disposta a cons-
O caso não é único e está longe
de ser o mais grave. Ao longo de dé-
Logística prevê o aporte
truir e gerenciar o cadas, o Brasil tropeça na falta de in- de R$ 132,6 bilhões no
trecho final do Linhão tegração dos órgãos que tocam gran-
do Tucuruí. Com 715 des projetos de infraestrutura. Os segmento até 2025
quilômetros, a linha exemplos vão da construção de Bra-
de transmissão levaria energia de Ma- sília (DF) até as obras da Copa do Mun- incluída no PAC e realizada em apenas
naus (AM) até Boa Vista (RR) e de- do. E se desdobram numa série de ab- um ano, de forma exemplar. Mas o
mandaria um investimento de R$ 1,2 surdos logísticos que travam o desen- investimento foi em vão: a Marinha,
bilhão. Àquela altura, Roraima era o volvimento: pontes inacabadas, ferro- responsável pela segurança da costa,
único estado sem conexão com o Sis- vias abandonadas, rodovias duplicadas jamais deu autorização para que os
tema Interligado Nacional (SIN). Com aos pedaços e uma série de empreen- navios de grande porte atracassem ali.
a conclusão da obra, prevista para ja- dimentos que custam o dobro, o triplo Os prejuízos são gigantescos. Só
neiro de 2015, chegaria ao fim a ne- – ou que simplesmente ficam pela no setor portuário, as ineficiências de
cessidade de buscar energia na Vene- metade. Essa ausência de governança gestão causam perdas de R$ 4,3 bi-
zuela ou em pequenas termelétricas provoca não apenas o desperdício de lhões por ano, segundo um estudo
– o que resultava em aumento de ta- recursos pela obra em si, mas também divulgado em 2017 por Sérgio Sampaio
rifas e recorrentes apagões. pelo que cada projeto deixa de pro- Cutrim, doutor em Engenharia Naval
Faltava apenas aprovar o empre- porcionar caso estivesse finalizado. e Oceânica pela Universidade de São
endimento em diferentes instâncias. Em algumas situações, o problema Paulo (USP). Ao todo, existem 37 por-
Mas foi justamente aí que os problemas vai além da incapacidade de planejar tos públicos no país. Destes, 19 são
começaram a aparecer. Apesar do aval ou executar as obras; envolve a falta administrados pela União e 18, por
da União e do Ministério de Minas e de articulação com órgãos de contro- estados, municípios e consórcios pú-
Energia, o projeto esbarrou no Minis- le e fiscalização. Em 2009, o Porto de blicos. Em outras áreas, a gravidade
tério Público Federal do Amazonas Rio Grande, no sul do Rio Grande do das perdas fica evidente em casos co-
(MPF/AM). Enquanto isso, a Agência Sul, passou por uma ampla operação mo o da ferroviaTransnordestina. Lan-
Nacional de Energia Elétrica (Aneel) de dragagem para aprofundar o calado çado em 2006 para ligar o Porto de
entrou com recursos para rever o ca- e permitir o acesso de grandes navios. Pecém (CE) ao de Suape (PE), o em-
so. Enquanto o poder público discutia Orçada em R$ 196 milhões, a obra foi preendimento já consumiu cerca de

63
Além de sofrer influência zenais e mensais. Valendo-se de um
processo bem estruturado, esse en-
de entes governamentais, volvimento de diferentes instâncias
exemplifica como as práticas de go-
diversos projetos dependem vernança podem contribuir para me-
do cenário político – como lhorar a infraestrutura nacional.

a continuidade (ou não) de Batuta logística


um presidente ou prefeito O fato é que o Brasil carece de um
ente capaz de centralizar o planeja-
mento e concatenar os grandes pro-
R$ 6 bilhões em investimentos públi- jetos de infraestrutura, evitando o
cos – 33% acima da previsão inicial, desperdício com empreendimentos
de R$ 4,5 bilhões. Detalhe: a ferrovia que não conversam entre si. É o que
está longe de ser concluída. Em mar- defendem especialistas como Guilher-
ço de 2018, a Companhia Siderúrgica me Guedes Xavier, diretor executivo
Nacional (CSN), responsável pela obra, da área de infraestrutura da Accentu-
saiu em busca de investidores para re no Brasil. "Esse modelo com os
bancar o que falta. Segundo informa- transportes de um lado, energia do
ções publicadas pelo jornal O Povo, o outro, telecomunicações de outro não
objetivo era encontrar alguém capaz é uma invenção brasileira. Mas há pa-
de injetar pelo menos mais R$ 7 bi- íses que fazem isso de maneira mais
lhões no projeto. integrada", explica.
O modal ferroviário também está Em 2013, o MBC apresentou um
no cerne de outro debate: a renovação estudo à Câmara de Políticas de Ges-
antecipada de concessões, tema que tão, Desempenho e Competitividade
ficou ainda mais patente depois da (CGDC) da Casa Civil. O documento
paralisação rodoviária de maio passa- analisava as fragilidades de governan-
do. Anunciado pelo governo no co- ça na construção e operação da in-
meço de 2017, o pacote incluía cinco fraestrutura de transportes do país.
prorrogações que, juntas, contemplam Conclusão: um dos grandes desafios Rio Grande: porto investiu em
aportes de R$ 25 bilhões e somam 13 estava na "complexidade e fragmen- dragagem para receber navios
maiores, mas a Marinha vetou
mil quilômetros de malha. Em meio tação" do modelo brasileiro. Em ca-
a objeções dos órgãos envolvidos e à da modal, as obras dependem de uma
falta de quadro na Agência Nacional orquestra diferente de entes gover-
de Transportes Terrestres (ANTT), o namentais – que, muitas vezes, atu-
governo já admite que uma das pror- am sem maestro.
rogações poderá ficar para 2019. No setor rodoviário, por exemplo, Em cada etapa, há ainda a influ-
A fim de dar agilidade ao proces- a elaboração das políticas de desen- ência direta de outros entes governa-
so, o Programa de Parcerias e Inves- volvimento compete ao Ministério mentais: Ministério do Planejamento,
timentos (PPI), vinculado ao Planal- dos Transportes. Já o planejamento órgãos ambientais, agentes de fomen-
to, firmou um convênio de apoio das obras é feito pela Empresa de Pla- to e agências reguladoras. Sem es-
técnico com o Movimento Brasil nejamento e Logística (EPL), que de- quecer, é claro, da interferência polí-
Competitivo (MBC). Por meio da con- ve realizar os estudos necessários pa- tica: a troca de um presidente, gover-
sultoria Accenture, o MBC tem aju- ra integrar as obras com outros modais. nador ou prefeito sempre afeta a con-
dado as equipes da ANTT e do PPI A partir daí, a parte da execução é co- tinuidade das obras de infraestrutura.
responsáveis por avaliar os estudos mandada pelo Departamento Nacio- É o que pode acontecer com as con-
e propostas apresentados pelas con- nal de Infraestrutura de Transportes cessões ferroviárias caso não sejam
cessionárias. O modelo de acompa- (DNIT), que precisa observar as deter- renovadas até o fim de 2018.
nhamento contempla a entrega de minações da ANTT – que nem sempre No estudo feito em 2013, o MBC
relatórios e encontros semanais, quin- segue os conselhos da EPL. já apontava uma "fragmentação da

64 brasil junho de 2018


debate
Foto: Alina Souza / Palácio Piratini

formulação de políticas em múltiplos recursos escassos. É fundamental uma diferença histórica: desta vez,
ministérios, sem uma coordenação pensar de maneira integrada." o foco está na atração de investi-
efetiva". Também dizia que "a EPL mentos privados. A nova secretaria
não está plenamente integrada aos aposta no PPI se aliou à EPL para estabelecer um
demais agentes públicos do sistema Nos últimos anos, o governo fe- planejamento que desse mais segu-
de transporte". Para Xavier, da Ac- deral vem tentando criar espaços de rança aos parceiros e investidores
centure, o descompasso se mantém coordenação dos diferentes órgãos que atuam na área de infraestrutura.
até hoje. "Talvez, esse tipo de frag- envolvidos nos projetos de infraes- "Isso foi um marco em termos de
mentação pudesse acontecer em trutura logística. A mais recente ten- instrumentos de governança, crian-
países maduros, com gargalos mais tativa veio com a Secretaria Especial do uma porta de entrada para as
localizados. Mas não no Brasil", sus- do PPI, criada em 2016. O objetivo, demandas dos investidores, com to-
tenta. "Aqui, ainda temos uma de- como sempre, é estruturar projetos, da a transparência necessária", des-
manda muito forte de infraestrutu- definir prioridades e garantir a efici- taca Tarcísio Gomes de Freitas, se-
ra, com gargalos muito grandes e ência de cada empreendimento. Com cretário de Coordenação de Projetos

65
Foto: ASCOM MPOG

Linha Tucuruí-Macapá-Manaus
opera desde 2013. Já Roraima
ainda espera ligação ao Sistema
Integrado Nacional (SIN)

da pasta. Para ele, assim como para a tricos, confrontou as demandas e as consolidar soluções
maioria dos especialistas ouvidos por ofertas [para identificar quais eram os Mas deve-se ter cautela. Segun-
Brasil+, a solução para integrar os pro- projetos prioritários]", explica Freitas. do Daniel Caldeira, diretor de Au-
jetos logísticos brasileiros passa pelo Segundo ele, os mais recentes ditoria de Políticas de Infraestru-
trabalho conjunto do PPI com a EPL. projetos de infraestrutura analisados tura do Ministério da Transparência
Foi dessa parceria que nasceu uma pelo PPI já se encaixam na lógica de e Controladoria-Geral da União
das grandes apostas do governo para integração do PNL. Um exemplo é a (CGU), a mudança do cenário bra-
a infraestrutura de transportes: o Pla- Ferrogrão, uma ferrovia que deverá sileiro passa não só pelo bom pla-
no Nacional de Logística (PNL). Lan- conectar as lavouras do Centro-Oes- nejamento de projetos, mas tam-
çado em setembro de 2017, o PNL tem te com o Porto de Miritituba, no Pa- bém pelo acompanhamento rigo-
o objetivo de "elaborar o planejamen- rá. O trajeto será integrado com a roso e fiscalização da execução.
to estratégico para otimizar a movi- BR-163 e com terminais hidroviários. "Enfrentar isoladamente apenas
mentação de cargas com o uso dos Além disso, já conta com o aval de uma dessas causas significa somen-
diferentes modos de transporte". O uma lei específica para evitar proble- Seguindo a te incorrer em mais custo adminis-
plano, que contou com contribuição mas na parte ambiental – já que os diretriz do PNL, trativo e custo de oportunidade
do MBC em sua elaboração, prevê in- trilhos atravessarão o Parque do Ja- a Ferrogrão para a gestão", defende ele.
deverá escoar
vestimentos de cerca de R$ 132,6 bi- manxim, onde há uma reserva flo- a produção de Em outras palavras, é hora de
lhões em projetos de infraestrutura restal. "Os projetos já enxergam a lavouras do estabelecer processos bem definidos
logística até 2025 – sendo R$ 92,7 bi- cadeia toda. Tudo segue a lógica do Centro-Oeste para gerenciar os projetos que pas-
até o Porto de
lhões em rodovias não concedidas e PNL", garante Freitas. Ao todo, sus- Miritituba, sam pelo governo. E isso significa
R$ 37,3 bilhões em rodovias concedi- tenta, o país economizará cerca de no Pará acabar com a redundância nos papéis
das. "O plano detectou todas as cadeias R$ 50 bilhões por ano caso os inves- que os diferentes órgãos e autarquias
produtivas, suas origens e destinos. E timentos previstos no programa se- exercem na condução das obras de
assim, utilizando modelos economé- jam plenamente realizados. infraestrutura (veja mais detalhes no

66 brasil junho de 2018


debate
quadro). Para o economista Bernardo
Figueiredo, ex-presidente da EPL, a
organização deveria começar por uma É preciso integrar
abordagem elementar no mundo da
gestão: a divisão entre atividades es-
os integradores
tratégicas e operacionais. O Brasil conta com diferentes órgãos capazes
Nesse contexto, o Ministério dos de propor políticas de planejamento e para o se-
Transportes, por exemplo, tem de se tor de infraestrutura logística. O problema é que,
consolidar como ente estratégico – o muitas vezes, ainda falta articulação entre eles.
que significa centralizar o planeja- Uns atuam somente em áreas específicas do go-
mento e elencar as necessidades e verno. Outros são tão abrangentes que se sobre-
projetos prioritários para o Brasil. Su- põem aos demais. A solução estaria em integrar
bordinado a ele, o PPI deve funcionar os integradores, como já vem ocorrendo no caso
como um gestor dos investimentos da EPL e do PPI. Mas há outros órgãos que tam-
feitos pelo governo em transportes, bém atuam nos projetos de infraestrutura logís-
servindo de ponte entre os planos tica do país. Veja alguns deles:
estratégico e tático. Finalmente, a
EPL seria a gestora dos projetos lo- Conselho Nacional de Integração
gísticos e respectivos processos, atu- de Políticas de Transporte (Conit)
ando no plano operacional. "A EPL Foi criado em 2008 com o objetivo de desenvolver
deve promover a pactuação de todo políticas de integração dos transportes e assessorar a
mundo em torno de um plano, di- Presidência da República no planejamento da
infraestrutura logística. Mas nunca foi atuante. Em 2016,
zendo o que tem de ser feito, quem teve parte de suas atribuições absorvida pelo PPI.
faz, qual o prazo de cada um. Precisa
ser como uma empresa, que estabe- Empresa de Planejamento e Logística (EPL)
lece uma meta e um plano de exe- Surgiu em 2011, inicialmente com a missão de
cução", diz Figueiredo. desenvolver a tecnologia dos trens de alta velocidade
Uma abordagem semelhante se no Brasil. Em 2012, porém, teve seu escopo ampliado
e passou a elaborar estudos e pesquisas para amparar
aplicaria à gestão pública como um o planejamento e a integração dos diferentes modais
todo. Em uma pesquisa recente com de transporte. Foi o ente responsável por elaborar o
300 órgãos federais, oTribunal de Con- Plano Nacional de Logística (PNL).
tas da União (TCU) chegou a uma con-
clusão desanimadora: a maioria deles Programa de Parcerias de Investimentos (PPI)
(55,4%) ainda apresenta níveis rudi- Foi lançado em 2016, no âmbito do Programa Avançar
Parcerias. É uma espécie de planejador de concessões
mentares de governança. São organi- públicas e parcerias público-privadas (PPPs) na área
zações com dificuldades para tocar de infraestrutura. Atua junto com a EPL na condução
inclusive processos básicos – como do PNL.
treinamentos, avaliação de gestores,
planejamento e metas de desempe- Comitê de Monitoramento e Avaliação
nho. E isso, é claro, prejudica a quali- de Políticas Públicas Federais (CMAP)
Instituído também em 2016, busca aperfeiçoar as ações
dade dos serviços que eles prestam. do próprio governofederal.Suafunção é auxiliar o presidente
Finalmente, é preciso que mais a avaliar e monitorar políticas, programas e outras iniciativas
entes sejam envolvidos para garantir em diferentes áreas governamentais, ajudando a priorizar
que os planos logísticos atendam a projetos e evitar o desperdício de recursos.
uma visão de longo prazo. Atualmen-
te, o PNL prevê obras somente até Comitê Interministerial de Governança (CIG)
Criado em 2017, tem o papel de assessorar o presidente
2025. Para superar o histórico de des-
da República na definição de estratégias de governança.
perdícios de recursos e obras inacaba- Está ligado à Casa Civil, mas integra representantes
das, é preciso que o Brasil esteja dis- dos ministérios da Transparência e CGU, da Fazenda
posto a olhar cada vez mais longe. e do Planejamento.

67
bússola
Governo lança plataforma com
1,7 mil serviços ao cidadão
O novo
Portal de
Serviços

Serviços públicos
disponíveis

1.692

Desse total,

Nos últimos anos, o governo fe- repartição estatal. Apenas 25% dos "Queremos que o brasileiro veja que 31% possuem
deral emitiu decretos, investiu em serviços ainda não contam com o Estado está mais ágil e mais efi- todas as
digitalização e simplificou processos nenhuma etapa digital. Ao facilitar ciente. Se o cidadão precisa de uma etapas digitais.

na tentativa de reduzir o excesso de o acesso a informações e a serviços informação, um documento, é obri-


burocracia na administração públi- públicos pela internet, seja por com- gação do governo facilitar ao má-
ca. Nesse sentido, um novo passo putador ou por smartphone, poupa- ximo", declarou o presidente Michel
foi dado em maio passado com o -se tempo e recursos tanto da es- Temer, no lançamento do portal.
lançamento do Portal de Serviços fera pública quanto de contribuin- Na ocasião, também foi apresen- 59 dias é o prazo
(www.servicos.gov.br). A plataforma tes e organizações. O Ministério do tado o Documento Nacional de médio entre a
solicitação e a
congrega e direciona aproximada- Planejamento, Desenvolvimento e Identificação (DNI), certidão digital
entrega do serviço
mente 1,7 mil serviços, como soli- Gestão estima que, em aspectos que reúne informações da identi-
citação de salário-maternidade, como tempo gasto em cada pro- dade, CPF, Título de Eleitor e Car-
emissão de Carteira de Trabalho e cesso, pagamentos de taxas e des- teira de Habilitação. O uso do DNI Fonte:
de aposentadoria – que exigiam a locamentos, poderão ser economi- começa como projeto piloto ainda Portal de Serviços
presença física do cidadão em uma zados até R$ 144 milhões por ano. em 2018, no Paraná.

Para ir além na nuvem


A utilização de computação em nuvem pelo governo brasileiro está crescendo – as con-
sultas públicas e as licitações mais recentes estão de prova. Mas essa expansão poderia
acontecer de forma ainda mais acelerada e eficiente, segundo conclusão de estudo do MBC,
em parceria com o Insper Metrics. Afinal, são inúmeros os benefícios oferecidos pelo cloud
computing. Uma das vantagens, por exemplo, é que o sistema suprime a necessidade de
uso de data centers de grande porte, uma vez que a hospedagem dos aplicativos das má-
quinas do governo é transferida para equipamentos virtuais – mitigando uma série de cus-
tos. O problema é que fazer a migração ainda depende da resolução de alguns gargalos,
como alterações no marco legal que rege as contratações do setor público (Lei 8666/93).
Além disso, o relatório destaca a necessidade de medidas mais competitivas para a popu-
larização da ferramenta. Uma delas seria a implantação de um pacote de incentivos fiscais
para provedores de nuvens públicas.

68 brasil junho de 2018


Fotos: Tiago Mendes

Eficiência
do país em pauta
Economia digital, desburocra- a sociedade civil nesse ideal. "Tor-
tização, governança e boas práticas nar o Brasil mais competitivo é um
de gestão. Juntos, esses valores le- desafio que envolve a ação de toda
vam à sustentabilidade e compõem a Esplanada dos Ministérios, gran-
os eixos que pautam o dia a dia do des empresários e entidades como
Movimento Brasil Competitivo o MBC, que exercem com grande
(MBC). A pauta foi apresentada du- competência a missão de promover
1 rante a 49ª Reunião do Conselho a competitividade sustentável do
Superior, a 22ª Assembleia Geral Brasil, sem perder de vista a me-
Ordinária e a 13ª Assembleia Geral lhoria da qualidade de vida da nos-
Extraordinária do MBC no mês de sa população." Também na ocasião,
abril, em São Paulo. Entre os pales- foi divulgado o novo alinhamento
trantes estavam o ministro da In- estratégico da organização. Trata-
dústria, Comércio Exterior e Servi- -se da sustentabilidade em suas
ços (MDIC), Marcos Jorge, e o his- cinco dimensões: econômica, polí-
toriador e cientista político Jorge tica, social, cultural e ambiental. Os
Caldeira. Em sua apresentação, que temas, na prática, não são novos
incluiu detalhes de programas ca- para o MBC e já vinham sendo am-
pitaneados pela pasta, o ministro plamente trabalhados por meio de
2 defendeu o aumento da competi- ações como a Coalizão Brasil Digi-
tividade da indústria nacional e a tal, o Mais Gestão e o Pacto pela
integração entre a esfera pública e Reforma do Estado.

O potencial na economia digital

Depois dos Estados Unidos, da Índia e da China, nenhum


outro país tem tantos usuários de internet quanto o Brasil.
São 120 milhões de pessoas, segundo a Conferência das
Nações Unidas sobre Comércio e Desenvolvimento (UNC-
3 TAD). No entanto, apesar de aparecer em quarto lugar no
uso de internet, o país ocupa a 51ª posição entre os gover-
nos digitais. Com isso, a conclusão é de que "ainda há mui-
to a avançar", segundo palavras do próprio secretário de
Tecnologia da Informação e Comunicação do Ministério do
Planejamento, Desenvolvimento e Gestão (Setic/MP), Luís
Felipe Salin Monteiro. Em palestra na reunião do Conselho
Superior do MBC, ele indicou que a colocação em prática
de uma boa estratégia de transformação digital pode re-
presentar até 5,7% do PIB de um país. Como a economia
digital cresce em média 2,5 vezes mais que os demais se-
tores econômicos, o cenário parece promissor. "Estima-se
4 que US$ 23 trilhões circulem no mundo, até 2025, envoltos
1. Reunião do Conselho Superior do MBC; nessa economia digital", destacou o secretário.
2. Ministro do MDIC, Marcos Jorge; 3. Cientista
político Jorge Caldeira; 4. Conselheiros, associados e
convidados durante encontros do MBC

69
Foto: Romério Cunha / Casa Civil

Movida
a desafios
A experiência acumulada vimento econômico e social do país", Internacional do Trabalho (OIT),
explica. Antes, os fóruns e grupos de passando pela reestruturação que
em diferentes segmentos da
trabalho contavam com a participa- tirou a prefeitura de Niterói (RJ) de
esfera pública tem sido ção de políticos, por exemplo. As re- uma crise administrativa.
fundamental para embasar a centes alterações estão documenta- Isso sem falar de uma incursão
missão de Patrícia Audi na das no livro Conselhão: do Diálogo aos no sistema bancário e de investidas
reorganização do Conselho de Resultados, lançado na 47ª reunião em projetos próprios. "Sempre tive
Desenvolvimento Econômico do grupo, em março. uma vontade muito grande de ser
A obra, elaborada por Patrícia e independente e seguir uma carreira
e Social – o Conselhão
pela equipe da Secretaria do CDES que pudesse me completar como

Q
(Sedes), elucida a metodologia de pessoa", relata. A inclinação vem de
Por Ricardo Lacerda
recomposição do fórum e o seu no- berço e foi influenciada pela família.
vo arranjo institucional. "Buscamos "Meus pais e avós prestigiavam mui-
uem observa a tra- incorporar pessoas que pudessem to o estudo, a independência e a au-
jetória de Patrícia versar sobre novas pautas e reforçar tonomia feminina."
Audi se depara com os temas já presentes, sem deixar
uma ampla diver- de lado as representações sindicais Rumo
sidade de experiên- laborais e patronais. Muitos conse- ao Planalto
cias. E a liderança lheiros foram mantidos e outros, Para Patrícia, o costume de en-
da Secretaria do substituídos para abrir espaço a no- carar novos projetos também tem
Conselho de De- vas questões", explica a secretária. relação com a infância, vivida no Rio
senvolvimento Com a reformatação, o CDES de Janeiro (RJ). Ela conta que, ao la-
Econômico e Social (CDES), assumi- ganhou diversidade de gênero e ra- do da irmã, três anos mais nova,
da em junho de 2016, é apenas o mais cial. A participação feminina, por habituou-se a mudar de escola inú-
recente desafio abraçado por esta exemplo, cresceu 83% desde 2016 meras vezes. As trocas aconteciam
especialista em gestão que soma qua- – quase 40 mulheres compõem atu- sempre que o pai, então professor
se três décadas de serviço público. almente o grupo. São pessoas do de Física e Matemática, era chama-
Criado em 2003, o CDES é um cole- Brasil inteiro, das mais variadas ori- do para lecionar em um novo colégio.
giado formado por aproximadamen- gens, conhecimentos e crenças. "Em O rumo da família Audi foi alterado
te 100 cidadãos provenientes de vários comum, todos têm espírito público de modo decisivo em 1980, quando
setores, e tem a função de assessorar desenvolvido e estão interessados o patriarca abandonou o magistério
a Presidência da República ao esta- em discutir melhorias para o país." para atuar na Empresa Brasileira de
belecer um diálogo entre o Poder Exe- O senso público, aliás, é uma Notícias (EBC), em Brasília (DF).
cutivo e a sociedade civil. das marcas de Patrícia Audi. Ela apu- A mudança para a capital federal,
Em menos de dois anos no cargo, rou essa percepção na longa car- onde ficava a sede da estatal, aproxi-
Patrícia promoveu mudanças profun- reira percorrida na esfera estatal. mou Patrícia da gestão pública – em-
das no Conselhão. "Decidimos que o A lista inclui desde atuações em bora não tenha sido essa sua primeira
CDES deveria ter apenas membros da ministérios até a coordenação de escolha profissional. Aos 17 anos, ela
sociedade civil e focar no desenvol- projetos premiados na Organização prestou vestibular para Comunicação

70 brasil
brasil junho
junhode
de2018
2018
perfil
No Conselhão,
discutimos temas
como gestão pública,
empreendedorismo,
primeira infância e
direito LGBT, pautas
fundamentais para o
desenvolvimento
econômico e
social do país.

71
Foto: Romério Cunha / Casa Civil
No CDES, Patrícia tem a missão
de dar voz à sociedade civil
junto ao Poder Executivo

Social na Universidade de Brasília casa dos 20 anos de idade. Entre- que tinha espírito público, queria de-
(UnB), mas ingressou na faculdade tanto, esse não foi o fato mais im- senvolver isso e ajudar a sociedade."
de Administração de Empresas, sua portante vivido no banco. Em seguida, ela foi aprovada em
segunda opção. "Achei o curso bas- terceiro lugar num concurso para a
tante eclético e acabei gostando da Aventuras área administrativa do Supremo Tri-
área", lembra. O primeiro estágio não gastronômicas bunal Federal (STF). Mas a atuação
demorou a surgir. A vaga como ge- Aos 21 anos, Patrícia ficou grá- na esfera jurídica não durou muito.
rente de contas num grande banco vida e se viu obrigada a abandonar Um ano depois, Patrícia pediu exo-
abriu as portas do mercado finan- o emprego. "Deixaram claro que eu neração e foi morar em Recife (PE),
ceiro, mas colocou Patrícia diante não teria muitas chances de seguir acompanhando o primeiro marido
de uma situação delicada. a carreira naquele momento. É uma na abertura de uma filial da empre-
Em 16 de março de 1990, o Pla- questão de gênero que persiste até sa em que ele trabalhava. O vínculo
no Collor bloqueou as poupanças e hoje", lamenta. Fora do banco em com o poder público se manteve com
investimentos com saldos acima de que trabalhava, ela decidiu abrir uma a aprovação num concurso da Su-
50 mil cruzados novos – pouco mais sorveteria. O negócio durou pouco, perintendência do Desenvolvimen-
de R$ 6 mil, em valores atuais –, sob cerca de um ano, mas deixou ensi- to do Nordeste (Sudene).
a justificativa de controlar a inflação. namentos importantes sobre gestão. Mas o cargo na autarquia federal
"No dia seguinte, havia filas de pes- Depois do nascimento da filha, foi substituído por um novo desafio:
soas para falar comigo, várias delas a designer Giovanna, hoje com 27 abrir um restaurante em Miami, nos
chorando. Muitos dos meus clientes anos, Patrícia concluiu a faculdade Estados Unidos. A experiência durou
tiveram a economia de uma vida in- e teve sua primeira experiência no cerca de um ano até que Patrícia se
teira confiscada", relembra. Como serviço público ao assumir como as- divorciou e resolveu voltar ao Brasil,
ela diz, foi preciso amadurecer "do sessora do deputado federal pernam- em 1997. Perita em concursos, ela
dia para a noite", recém entrando na bucano José Múcio Monteiro – atu- logo ingressaria na exigente carreira
al ministro do Tri- de gestora pública. E, dali em diante,
Para relaxar da rotina atribulada, bunal de Contas da jamais se afastaria da função.
União (TCU). A O reingresso foi um marco na
Patrícia gosta de ficar com a família, temporada de um vida de Patrícia Audi. A seleção pre-
viajar e se exercitar. Ela pratica ano na Câmara via uma preparação de seis meses
despertou o gosto para o cargo de especialista em Po-
corrida há mais de 30 anos pelo setor. "Senti líticas Públicas e Gestão Governa-

72 brasil junho de 2018


perfil
mental (EPPGG), do Ministério do
Planejamento, Orçamento e Gestão.
Apesar do vínculo com o Planeja-
mento, Patrícia poderia participar da
elaboração de políticas públicas em
Precisamos de um projeto mais robusto de
outras instâncias. E foi isso que a le- reforma do Estado, que priorize a eficiência,
vou à coordenação nacional da Se- o cuidado com o cidadão e a melhoria da
cretaria de Direitos Humanos, depois
transformada em ministério. O tra-
qualidade dos gastos.
balho trouxe vivências significativas.
"Tive a chance de perceber como a lizados e entidades governamentais. carências apontadas pela agenda, mas
discriminação é forte e que nem to- A ação foi reconhecida pela OIT ainda necessita uma melhor aborda-
das as pessoas têm as mesmas chan- como o melhor projeto internacional gem estrutural. "Precisamos de um
ces e direitos. Confrontei-me com de combate ao trabalho escravo e projeto mais robusto de reforma do
isso e cresci muito pessoalmente." transformou o Brasil em referência Estado, que priorize a eficiência, o
Em 2000, a profissional teria mundial no tema. Em razão do papel cuidado com o cidadão e a melhoria
mais um grande desafio pela frente: desempenhado na entidade, Patrícia da qualidade dos gastos." Inclusive,
assumir a Diretoria de Benefícios do recebeu o prêmio de pessoa mais boa parte dessas ideias foi colocada
Instituto Nacional de Seguridade influente do ano na área de Direitos em prática durante a passagem pela
Social (INSS). Na posição, coube a Humanos, concedido pela Gazeta prefeitura de Niterói.
ela a tarefa de colaborar para a mo- Mercantil, e também o prêmio da
dernização do órgão – e não foram revista Claudia na categoria Projeto Choque de gestão
poucas as melhorias efetuadas em Social, ambos em 2007. O caminho até Niterói começou
três anos de trabalho. Um exemplo Concluído o trabalho na OIT, Pa- com o retorno de Patrícia ao Rio de
disso foi uma instrução normativa trícia Audi retornou ao Ministério do Janeiro. Cedida ao governo do esta-
que unificou as 586 portarias e di- Planejamento. Primeiramente, como do, ela integrou um programa de er-
No INSS,
namizou a concessão de benefícios. Patrícia
secretária-adjunta da Secretaria de radicação da pobreza extrema. A es-
"Eu coordenava 18 mil servidores respondia por Gestão. Em seguida, na função de tratégia foi direcionada a cidades da
espalhados pelo Brasil, assinava qua- 18 mil secretária de Assuntos Estratégicos, Região Metropolitana e incluiu polí-
se 8% do PIB e pagava 21 milhões servidores onde o trabalho foi direcionado à ticas de complementação de renda
espalhados criação da Agenda Nacional de Ges- e de capacitação profissional. O pro-
de pessoas por mês", enumera. A pelo Brasil,
passagem pelo INSS e a experiência assinava quase tão Pública, ação elaborada em par- jeto contou com a participação de
ceria com o Movimento Brasil Com- Patrícia até 2012, quando o então
na área de direitos humanos valeram
a Patrícia um convite da OIT para
8 % do PIB petitivo (MBC). O projeto tinha a secretário estadual de Direitos Hu-
e pagava
assumir a Coordenação Nacional do intenção de destacar os pontos mais manos, Rodrigo Neves, candidatou-
21 milhões importantes para o aprimoramento -se à prefeitura de Niterói. Ao vencer
Combate ao Trabalho Escravo. de pessoas
Entre 2002 e 2007, ela foi cedida por mês da governança pública. Organizado o pleito, ele a convidou para assumir
à entidade e liderou um mapeamen- em seis temas, o documento foi lan- a Secretaria de Planejamento e Ges-
to do trabalho escravo no Brasil. De çado em 2009 e contou com a par- tão da cidade.
quebra, incentivou um amplo deba- ticipação de acadêmicos, atores go- A missão da equipe formada por
te sobre o tema. O movimento re- vernamentais e representantes da Neves era revolucionar a adminis-
sultou na descoberta de diversos fo- sociedade civil. tração municipal. Havia cinco anos
cos de exploração irregular de mão Ao analisar a elaboração da agen- que Niterói estava inadimplente no
de obra, especialmente na área rural. da, Patrícia lembra que o governo Cadastro Único de Convênios (CAUC)
"O proprietário atribui uma dívida federal ainda não havia compreen- – uma espécie de Serasa da Fazenda
ilegal a essas pessoas, e elas não con- dido a necessidade de rever sua orien- Nacional – e não podia pleitear em-
seguem pagar nem sair das fazendas, tação econômica. "Ninguém criti- préstimos ou investimentos. Além
que são muito distantes de tudo", cava a matriz daquele momento. A das dívidas, a estrutura era inchada
explica. A partir disso, a OIT criou situação mudou, e o Brasil perma- e repleta de nós. "Havia 11 sistemas
um pacto nacional para mitigar o neceu com a mesma política. Os re- de folha de pagamento diferentes e
problema, incluindo campanhas de flexos disso só começaram a ser per- sete plataformas orçamentárias e fi-
conscientização e a participação ati- cebidos em 2015", avalia. Para ela, nanceiras que não se comunicavam",
va de empresas, institutos especia- o país evoluiu em relação a algumas lembra Patrícia. A unificação dos pro-

73
perfil

nos encontros. Os debates foram


organizados em grupos de trabalho,
divididos por temas como agrone-
gócio, produtividade e educação. As
Fui a uma fazenda no interior do Pará reuniões contam com a participação
de representantes e técnicos do go-
onde havia 72 trabalhadores com malária, verno, que ajudam a filtrar e dina-
vivendo em tendas de lona. Detalhe: o mizar as propostas.
dono das terras era um médico. As plenárias dão origem a agen-
das de recomendações, entregues à
Presidência da República. Patrícia
cessos e a eliminação de estruturas A nova função chegou num mo- conta que, em março do ano passa-
redundantes foram as primeiras me- mento complicado do país. "Não do, o presidente recebeu 15 indicações
didas adotadas com sucesso. imaginava que tudo seria tão turbu- sobre cinco áreas e determinou aos
O prefeito também recrutou téc- lento, mas foi um debate muito rico", ministérios que formulassem políti-
nicos para atuar nas principais se- ressalta. Na CGU, foi possível par- cas relacionadas aos temas desburo-
cretarias e realizou consultas públi- ticipar da consolidação da Lei Anti- cratização e ambiente de negócios.
cas sobre carências da cidade. O le- corrupção e do aprimoramento das O resultado: 68% das propostas fei-
vantamento deu origem ao plano regras de compliance. Outro proje- tas foram executadas pelo governo.
Niterói que Queremos, elaborado to de destaque foi a criação de de- A efetividade do novo modelo do
em parceria com o MBC e a consul- bates sobre cidadania direcionados Conselhão é destacada no livro recém-
toria Macroplan. A função de Patrícia a crianças, utilizando personagens -lançado: "O grande diferencial do
era zelar pelo cumprimento das di- da Turma da Mônica como atrativo. CDES em sua nova fase foi orientar
retrizes estipuladas na estratégia. "Eu Em 2016, Simão trocou a CGU para as atividades para resultados. Isso
era a tirana", brinca. "Com o auxílio liderar o Ministério do Planejamen- significa extrair, do diálogo entre o
luxuoso do MBC, conseguimos apli- to e entregou a Patrícia a Secretaria governo e a sociedade civil, deman-
car boa parte dos itens da Agenda de Gestão e Planejamento. O tra- das que são efetivamente transfor-
Nacional de Gestão Pública." balho durou apenas cinco meses, madas em políticas públicas".
As medidas não demoraram a quando houve a mudança da Presi- O projeto de Patrícia Audi é con-
surtir efeito e Niterói saiu do CAUC dência da República. No novo cená- solidar o órgão como espaço rele-
em três meses. Um ano depois, a ci- rio, a administradora foi convidada vante para os debates nacionais. "A
dade foi apontada pelo Ministério a reestruturar o CDES. troca que acontece aqui é fundamen-
Público Federal como uma das mais As inovações no Conselhão não tal. Os últimos quatro anos não fo-
transparentes do Rio de Janeiro e a se limitam à composição dos mem- ram fáceis, mas o CDES tornou-se
6ª melhor em gestão fiscal do Estado. bros. Um dos pontos mais impor- mais maduro do que nunca. Meu
"Não se consegue isso sem rigidez tantes é a metodologia de atuação, objetivo é institucionalizar o fórum
fiscal e melhorias de gestão. As mi- que dá voz aos participantes e cria cada vez mais." Esse, portanto, será
nhas experiências anteriores foram um processo efetivo de encaminha- o foco dela daqui para frente – até
fundamentais nesse trabalho. Em ter- mento para as sugestões surgidas que surja um novo desafio.
mos de governança, apliquei ali pra-
ticamente tudo que havia aprendido."
Foto: Arquivo Pessoal

Fórum consolidado
No total, a passagem pelo Rio de
Janeiro durou quatro anos. E esse pe-
ríodo rendeu a Patrícia mais do que
realizações profissionais. "Encontrei
o companheiro da minha vida", afir-
ma, referindo-se ao atual marido,
Douglas Capela. A convite de Valdir
Simão, então ministro-chefe da Con-
troladoria Geral da União (CGU), em
2015 ela retornou a Brasília para as- Patrícia ao lado de Douglas Capela,
sumir a Secretaria de Transparência seu marido, e da filha, Giovanna
e Prevenção à Corrupção da CGU.

74 brasil junho de 2018


TER A CAPACIDADE
DE SE TRANSFORMAR
É VITAL.
Foi essa atitude que nos trouxe até aqui,
atravessando mais de um século de história,
e nos faz seguir adiante.

Ao quebrar padrões, abandonar certezas


e abrir espaço para o novo. Ao deixar a era
digital entrar pela porta da frente.
Todos os dias.

Para inovar no aço, a gente


se transforma todos os dias.
Isso é aço digital.
E esse é só o começo.

#açodigital
75
inconformados

A transformação que queremos para o Brasil


não é feita de vencedores ou de perdedores.
Porque não existe o país de uns e de outros.

Acreditamos que a transformação começa


em cada um de nós, na medida do nosso
inconformismo e da nossa capacidade
de indignação com a realidade.

O que você tem feito?

Não espere que a mudança


simplesmente aconteça.

www.mbc.org.br

76 brasil junho de 2018

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