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Assinado eletronicamente por Manoel Costa Neto, Juiz(a) de 1ª Vara Cível de São Cristóvão,
em 03/05/2019 às 13:53:46, conforme art. 1º, III, "b", da Lei 11.419/2006.
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com o comparecimento das partes Requerentes, surgiram no entorno do local relatos da
existência de um verdadeiro esquema de fraude no concurso público, objetivando beneficiar
candidatos de forma ilícita. De acordo com os fatos que foram exaustivamente noticiados pela
imprensa, algumas pessoas foram presas no dia da realização das provas por tentarem fraudar
o caráter competitivo do mencionado concurso público. As notícias sobre a referida fraude
apontam para uma quadrilha que atua em âmbito nacional, fraudando diversos concursos
públicos e que, no presente caso, um dos presos já tinha concluído a prova e o outro foi detido
em flagrante justamente quando utilizava seu aparelho celular durante o certame, tendo o
esquema sido descoberto após agentes do COPE receberem informações e checarem os
detalhes nas salas indicadas. Os irmãos faziam a prova em uma das salas de uma
universidade particular na capital e confessaram o crime e que, inclusive, pagariam até R$ 20
mil pela aprovação. APolícia informou à imprensa que um dos candidatos foi flagrado com o
celular escondido dentro de um gesso, que protegia o braço esquerdo de uma suposta fratura e
que, durante a prova, candidatos recebiam toques pelo modo vibratório indicando a resposta
correta no momento da prova, o que leva a crer que haviam outros envolvidos que,
externamente aos locais de realização das provas, passavam informações privilegiadas aos
candidatos. Há outros envolvidos foi confirmada pela própria Secretaria de Segurança Pública
em suas diversas entrevistas e que, segundo a SSP, o COPE continua as investigações para
prender outros envolvidos na fraude. Conclui dizendo que houve ao menos duas fraudes na
realização do concurso público;queexiste uma quadrilha que atuou diretamente no dia da
prova;que existiu uma interferência externa no desempenho de candidatos – não apenas os
que foram presos; queo esquema, "fatalmente", envolve servidores que integram o
funcionalismo público e/ou funcionários da empresa responsável pela realização do concurso;
queestão prejudicados princípios básicos que norteiam os concursos públicos, cabendo
destacar: isonomia entre os candidatos, impessoalidade, idoneidade moralidade, livre
concorrência, legalidade, prescritos no artigo 37, da CF e na Lei Federal nº 8.666/1993. As
condutas descritas vão além de uma investigação policial ou de meros atos de improbidade
administrativa, e que na realidade, a fraude que está comprovada e a existência de
interferência externa tornam nula a realização do concurso público, mormente porque prejudica
a pretensão dos milhares de candidatos inscritos, que se deparam com uma verdadeira
simulação de disputa, cujo verdadeiro potencial sequer pode ser aferido nesse momento. D
iante da gravidade dos fatos que foram expostos, estando demonstrada a existência de
interferência externa na realização da prova com a participação de uma quadrilha que envolve
candidatos e outras pessoas com informações privilegiadas, agindo com verdadeira liberdade e
sem qualquer fiscalização eficiente, há nítida violação aos princípios administrativos prescritos
no art. 37, da CF e na Lei Federal nº 8.666/1993, razões pelas quais o concurso público deve
ser anulado. Requereu, liminarmente, que seja determinada “a imediata suspensão do
concurso público e de todo e qualquer ato administrativo decorrente do EDITAL Nº 05/20118,
da Secretaria de Estado do Planejamento, Orçamento e Gestão do Estado de Sergipe,
proibindo o ente estatal de dar seguimento às demais etapas do concurso, mais precisamente a
partir do TESTE FÍSICO”; eao final, a confirmação da liminar coma declaração “de nulidade do
ato administrativo de realização das provas do concurso público da Polícia Militar de Sergipe
realizadas no dia 1º de julho de 2018, assegurando que novo certame seja realizado com a
certeza de aplicação de todas as normas do edital, especialmente, com fiscalização adequada
e sem qualquer interferência externa”. Com a inicial vieram documentos.
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Devidamente citado, o Estado de Sergipe apresentou contestação arguindo,
preliminarmente, a inépcia da petição inicial, visto que o encadeamento de ideias apresentadas
pelo Autor se mostra incoerente, bem como não é possível compreender qual a sua real
intenção. No mérito, sustentoua ausência de comprovação dos fatos alegados, dado que o A
utor não provou a ocorrência de suposta interferência externa após a contenção da fraude pela
PM/SE e pelo IBFC, afirma a inexistência de violação aos princípios da administração pública,
uma vez que não houve omissão do Poder Público, o qual realizou efetiva fiscalização. Aduz
que a tentativade fraude é fato incontrolável por qualquer ente público ou banca examinadora,
porém para comprovação de prejuízo a lisura do certame se faz necessário mais que
demonstrar uma tentativa de fraude ou reproduzir notícias veiculadas pela imprensa. De fato
foram presos dois candidatos, os quais já haviam sido presos por outra tentativa de fraude no
concurso público da PM/PI. No entanto, afirma que a PM/SE e a IBFC, antes e durante a prova,
já tinham conhecimento que os suspeitos, oriundos do Estado de Pernambuco, viriam a
Sergipe para tentar fraudar o exame e adotaram todas as providências necessárias para
impedir sua ocorrência, tendo obtido êxito. A fraude foi controlada e a incolumidade do
concurso foi efetivamente mantida, com a preservação da igualdade entre os concorrentes. A
lém dos 02 irmãos presos, foram eliminados sumariamente do concurso 78 candidatos, por
diversos fatores previstos no edital, sendo que 23 deles pelo cruzamento dos gabaritos
realizados pela auditoria interna da IBFC, sistema de prevenção às fraudes utilizado pelo IBFC,
consistente na identidade de questões corretas e daquelas marcadas como incorretas. Juntou
documentos.
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Providências preliminares da parte autora basicamente reiterativas da peça pórtico.
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A Jurisprudência é assente:
“(…)1. O julgamento antecipado da lide (art. 330, I, CPC), não implica cerceamento
de defesa, se desnecessária a instrução probatória. (Precedentes). 2. O art. 131, do
CPC consagra o princípio da persuasão racional, valendo-se o magistrado do seu
livre convencimento, que utiliza-se dos fatos, provas, jurisprudência, aspectos
pertinentes ao tema e da legislação que entender aplicável ao caso concreto,
rejeitando diligências que delongam o julgamento desnecessariamente. Trata-se de
remédio processual que conspira a favor do princípio da celeridade do
processo.(…)”(AgRg no REsp 417830 / DF; AGREsp 2002/0019750-3 Ministro LUIZ
FUX T1 – PRIMEIRA TURMA DJ 17.02.2003 p. 228)
Nesse sentido:
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Neste sentido o Tribunal de Justiça de Sergipe, sendo Relator o Des. José Alves
Neto, já se pronunciou a respeito, em semelhantes casos julgados por este Juízo:
“Insubsistente se faz este argumento, pois, de acordo com o art. 130 do CPC, cabe
ao juiz, de ofício ou a requerimento da parte, determinar as provas necessárias à
instrução do processo, indeferindo as diligências inúteis ou meramente protelatórias.
Sendo o juiz o destinatário da prova, somente a ele cumpre aferir sobre a
necessidade ou não de sua realização (Theotônio Negrão, CPC e Legislação
processual em vigor, nota 1 ao art. 130, 27ª edição, 1996). Reza o art. 330, I, do
CPC, que O juiz conhecerá diretamente do pedido, proferindo sentença, quando a
questão de mérito for unicamente de direito, ou, sendo de direito e de fato, não
houver necessidade de produzir prova em audiência. 'In casu', o douto magistrado
singular ressaltou que estamos diante de uma questão de fato e de direito, mas que
não precisa de instrução ou maiores provas, posto que, o que foi angariado nos
autos, ou seja, os documentos anexados, permitem ao Juiz decidir a lide.”
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haverá dispensa da prova oral, pois ele é suficiente para fornecer os dados esclarecedores do
litígio.
A audiência de instrução não deve ser obra de mero capricho das partes, mas
precisa ser necessária e útil.
4. "A falta da notificação prevista no art. 17, § 7º, da Lei 8.429/1992 não invalida os
atos processuais ulteriores, salvo quando ocorrer efetivo prejuízo"(REsp
1.034.511/CE).
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fatos novos ou a fatos que se tornem controversos em momento posterior, além de
eventual necessidade de convencimento do próprio Juiz, são a inicial e a
contestação) e da natureza eminentemente de direito dasquestões suscitadas,
levando, com isso, à promoção do julgamento antecipado da lide sem que isto
caracterize cerceamento de defesa.
No caso dos autos, o Juiz instrutor e sentenciante foi claro ao dizer que nenhum dos
fatos que o ora recorrente pretendia demonstrar com as provas cuja produção foi
indeferida eram bastantes para interferir no deslinde da matéria controvertida.
Assim sendo, nos termos do art. 355, inc. I do CPC, tem-se que o processo deve ser
julgado no estado em que se encontra.
Como se não bastasse, a petição inicial, em uma análise mais ampla, representa o
próprio exercício do direito de ação, pois é ato introdutório do processo, ao qual os demais irão
se seguir e manter estreita correlação com o objetivo de alcançar o fim maior do processo, qual
seja, a tutela jurisdicional através da sentença de mérito.
Em que pese tenha o Autor mencionado na exordial diversos fatos que não possuem
relação direta com a presente demanda, como a anulação de questões e a existência de
conflito entre decisões liminares concernentes ao certame concedidas por diferentes Juízo, é
perfeitamente perceptível que a pretensão de anulação do concurso formulada pelo autor se
relaciona com a ocorrência da suposta fraude por ele narrada.
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Como dito alhures, em sede de manifestação à contestação, o Autor se limitou a
reafirmar os termos da inicial, não se manifestando especificamente sobre a preliminar em
comento.
Inicialmente, convém trazer uma breve explanação acerca do direito de ação e suas
condições de exercício.
Após teorizar sobre as Condições da Ação tendo como pivô Enrico Túlio Liebmam, e
com fundamento no CPC/73, a doutrina pátria chegou à conclusão de que três são as
condições da ação: A Legitimidade, informada pelo devedor do direito material pretendido,
observe que a percepção do juiz deve alcançar tão somente a relação e o pedido informado
pelo autor; o Interesse, que é apresentado como a pretensão subjetivamente razoável, o
provimento jurisdicional deve ser útil, necessário e adequado, sob pena de esvaziar o comando
sentencial em prestação inalcançável ou desnecessária; a Possibilidade Jurídica do Pedido
deve ser entendida sob dois aspectos: o primeiro quanto ao pedido propriamente dito, e o
segundo, quanto à causa de pedir/fundamento jurídico.
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atribui a titularidade dapretensão deduzida em juízo, e a coincidência entre a pessoa do
réu e a pessoa contra quem, em tese, pode ser oposta tal pretensão.”(Intervenção de
Terceiros, 8ªed., Ed. Saraiva, 1996, p. 25).
Embora não seja responsável pelo provimento dos cargos públicos em si, como
contratado pelo Poder Público para prestação de serviço consistente na organização e
realização de provas que serão utilizadas para selecionar futuros servidores públicos, a Ré
IBFC atua em nome e a serviço da Administração e por isso tem a obrigação de adotar todos
os procedimentos necessários para que as provas sejam realizadas com observância das
normas do edital e dos princípios administrativos, de modo a assegurar a lisura e transparência
do processo seletivo.
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Não há outras irregularidades, nulidades ou questões processuais a serem
enfrentadas. Feito em ordem, passo a analisar o méritoda questão.
A controvérsia dos autos gira em torno da ocorrência de lesão aos princípios básicos
que norteiam o Concurso Público da PM/SE, em razão de interferência externa no desempenho
de diversos candidatos que realizaram a prova objetiva prejudicando os demais candidatos
inscritos, o que findou por comprometer a higidez e lisura de todo o certame.
Art. 37. A administração pública direta e indireta de qualquer dos Poderes da União,
dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios obedecerá aos princípios de
legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência e, também, ao
seguinte:
No que pertine aos princípios, estes são os alicerçadores da ciência jurídica, base de
toda a construção do Direito, já foram tidos como meros instrumentos de interpretação e
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integração das regras legais. Era a estreiteza da visão positivista que atribuía ao direito posto
caráter preponderante em nossa ciência.
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Dado o enfoque jurídico, é preciso ter-se em mente, que atualmente, a natureza
jurídica dos princípios é eminentemente normativa, apesar de não ter sido essa a postura dos
doutrinadores ao longo do tempo.
Entre esses, por ser pertinente in casu, cabe tecer considerações sobre o postulado
da legalidade, esta entendida em seu sentido amplo, ou seja, sendo considerado como lei todo
o ordenamento jurídico e, em especial, a Constituição Federal, correspondendo ao que a
doutrina modernamente chama de Juridicidade.
No que pertine ao particular, é permitido fazer tudo aquilo que a lei não proíbe,
sendo-lhe aplicado o princípio da autonomia da vontade. Tal idéia é expressa de forma lapidar
por Hely Lopes Meirelles (1996:82) e corresponde ao que já vinha explícito no artigo 4º da
Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão, de 1789:
“...a liberdade consiste em fazer tudo aquilo que não prejudica a outrem;
assim, o exercício dos direitos naturais de cada homem não tem outros limites
que os que asseguram aos membros da sociedade o gozo desses mesmos
direitos. Esses limites somente podem ser estabelecidos por lei”.
Do exposto acima é possível concluir que para que um ato administrativo seja
considerado válido deverá ser praticado de acordo com a legalidade. Ausente este requisito, o
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ato poderá ser anulado pela própria administração oupelo Poder Judiciário. Nesse último
sentido, o inciso XXXV do art. 5º da CF estabelece que nem mesmoa lei poderá excluir da
apreciação do Poder Judiciário lesão ou ameaça a direito.
Insta salientar que poucos atos administrativos exigem tanto respaldo legal quanto o
processo seletivo de um concurso, pois é meio de ingresso de um agente público, devendo o
ente responsável pelo concurso, bem como a própria Banca do certame, a qual faz as vezes da
administração, obedecerem ao princípio da legalidade e da vinculação ao edital do concurso
público que é a sua lei.
Uma vez demonstrado que o concurso público em análise foi alvo de atuação
criminosa no sentido de o fraudar, incumbe ao Poder Público e a Banca organizadora
demonstrar que os atos praticados não comprometeram a legalidade do certame.
No entanto, não se pode olvidar a possibilidade de, mesmo com adoção de medidas
prevenção e fiscalização, ocorram a prática de atos ilegais que, mesmo sendo descobertos,
produzam efeitos que sejam impossíveis de serem revertidos e comprometam a incolumidade
do certame.
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Os Réus sustentaram que os suspeitos de tentativa de fraude, antes mesmo da
realização das provas, já estariam sendo monitorados pela banca organizadora e pela PM/SE
que haviam recebido informações que os mesmos viriam ao Estado de Sergipe para praticar o
crime, e que diante disso adotaram os cuidados necessários para efetiva fiscalização, inclusive
reunindo os candidatos suspeitos em determinadas salas, a fim serem acompanhados por
policiais militares descaracterizados, e que diante das providências adotadas teriam impedido o
êxito da fraude.
A afirmativa dos Réus, além de não estar comprovada pelo contexto probatório dos
autos, se constitui em uma conclusão inocente, diante da magnitude de uma Organização
Criminosa que roda o país inteiro apenas com o objetivo de fraudar concursos públicos.
Explico.
Tal fato levanta uma série de indagações não respondidas pelos Réus, e que
colocam em cheque a incolumidade do concurso.
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Patente a CONFISSÃO DE QUE HOUVE A FRAUDE! Seria bastante apenas um
caso, mas os Réus afastaram 78 candidatos, sendo 23 como diretamente envolvidos na
Organização Criminosa.
O limite dos beneficiados pela Fraude foi inocentemente estimada pelos Réus.
Sendo assim, aparentemente, nada impede, por exemplo, que na marcação das
respostas erradas aqueles que obtiveram conhecimento prévio das respostas corretas tenham
resolvido marcar alternativas aleatórias a fim de se diferenciar. De mais a mais, chama atenção
na lista de pessoas eliminadas fornecida pelo Estado de Sergipe, o número de pessoas que
foram pegas portanto celulares e aparelhos eletrônicos (não identificados na lista) durante a
prova.
Consoante demonstrado, fica evidente que diante da fraude ocorrida os réus não são
capazes de garantir de forma razoável e satisfatória a preservação daigualdade de condições
para todos os concorrentes e consequentemente o favorecimento de alguns por meio de
utilização de expedientes ilegais.
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Restou maculada a incolumidade do certame com ofensa ao princípio da moralidade
administrativa que garante aos candidatos a participação em concurso público hígido,
transparante e livre de fundadas suspeitas de fraude.
É certo que a realização de um novo processo seletivo gera gastos expressivos aos
cofres públicos, notadamente em notório momento de crise financeira pela qual passa o Estado
de Sergipe, no entanto convalidação de um procedimento administrativo eivado de vícios atinge
interesses muito mais caros a sociedade.
Não se trata apenas da proteção dos interesses do autor ou dos demais candidatos,
mas sim de resguardar o interesses de toda a coletividade de que as pessoas mais capazes
venham desempenhar a atividade policial, não se podendo correr o risco que tão importante
atividade seja realizada por policiais desonestos que “compraram” suas vagas no concurso.
Diante do exposto, e considerando tudo quanto mais dos autos consta, JULGO
PROCEDENTE em parte o pedido para DECLARAR a nulidade da etapa de aplicação das
provas objetivas do Concurso Público da Polícia Militar de Sergipe realizadas no dia 1º de julho
de 2018, e consequentemente das etapas posteriores dela decorrentes.
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Outrossim, verificada em sede de cognição exauriente a presença dos requisitos
previstos no art. 300 do CPC, conforme fundamentação supra, DEFIRO ANTECIPAÇÃO DOS
EFEITOS DA TUTELA e determino aimediata suspensão do concurso públicoe de todo e
qualquer ato administrativo decorrente do EDITAL Nº 05/2018, da Secretaria de Estado do
Planejamento, Orçamento e Gestão do Estado de Sergipe, que vise dar seguimento as etapas
do concurso pendentes de serem realizadas.
P.R.I.
https://proview.thomsonreuters.com/launchapp/title/rt/monografias/81352064/v7/document/83510028/anc
https://proview.thomsonreuters.com/launchapp/title/rt/monografias/91049397/v13/document/157101039/a
https://proview.thomsonreuters.com/launchapp/title/rt/monografias/91049397/v13/document/157101039/a
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