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Título: Ensaio Crítico da obra Boi na Floresta de Tarsila do Amaral (Uma

imagem do arte br com outras possibilidades de leituras)

Teresa Cristina Melo da Silveira (Teca) – teca@centershop.com.br


Professora de Arte da E.M.Prof. Oswaldo Vieira Gonçalves

Prefeitura Municipal de Uberlândia – Secretaria Municipal de Educação

Relato de Pesquisa

RESUMO
O Ensaio Crítico da obra Boi na floresta de Tarsila do Amaral apresenta várias possibilidades
de entradas na leitura da imagem, contendo, além da análise formal da obra, outras análises
iconográficas e iconológicas.
A imagem selecionada faz parte do material didático da pasta arte br, entretanto as
interpretações relatadas neste ensaio vão além daquelas propostas no Caderno de Estudos do
Professor, explorando outras leituras possíveis.
Esta pesquisa traz uma pequena biografia de Tarsila do Amaral que auxilia na compreensão
da obra analisada, bem como as possíveis influências sofridas pela artista, as similaridades
com outras obras contemporâneas, bem como o contexto histórico-político-social da época em
que esta foi concebida.
Este estudo traça também alguns diálogos possíveis entre Boi na Floresta e algumas obras de
Fernand Léger, Georges De Chirico, Pablo Picasso, bem como entre outras obras da própria
Tarsila do Amaral.
Entretanto, nos aprofundamentos encontrados no texto, o grande diálogo deste ensaio
encontra-se entre a obra de Tarsila aqui estudada e as pinturas de Antônio Henrique Amaral,
com uma maior ênfase em Campo de Batalha 30, sendo possível perceber várias semelhanças
não apenas entre as obras como também entre seus autores.
A pintura Boi na Floresta abre ao espectador vastos horizontes: acordando lembranças,
avivando os sentidos e proporcionando ao leitor novas trajetórias de interpretação da imagem.
Desta forma, a leitura deste estudo possibilita, principalmente aos profissionais do Ensino de
Arte, o contato com outras possibilidades no uso de imagens em sala de aula, proporcionando
uma reflexão quanto aos diferentes modos de explorar os elementos de uma obra, não apenas
no âmbito formal da composição, mas também nos aspectos iconográficos e iconológicos.

Ensaio Crítico da obra Boi na Floresta de Tarsila do Amaral


Teresa Cristina Melo da Silveira

Tarsila do Amaral nasceu em 1886 na fazenda São Bernardo em Capivari, interior de


São Paulo, e faleceu na capital do Estado em 1973, permanecendo, ao longo de seus 87 anos
de vida, sempre à frente de seu tempo.
De família abastada, teve uma infância paradoxal, vivendo simultaneamente um
cotidiano de menina rica (pois tudo o que sua família usava – roupas e utensílios - vinha
diretamente da Europa), e crescendo entre bichos e plantas, em meio a paisagens simples e de
gente humilde, na fazenda onde morava.
Tarsila foi uma modernista: pintou o Brasil, desrespeitou normas clássicas da pintura
nacional e encheu suas telas de cores, muitas cores, conseguindo traduzir em tons vibrantes
todas as sombras de um país que, segundo a sua própria visão apurada, “também é caipira,
interiorano e quase rústico”. Entretanto engana-se quem a considera uma artista estritamente
rural, pois ela desenvolveu também alguns temas sociais e urbanos.1
Foi Tarsila quem criou o conceito de “brasilidade”, sendo a primeira a usar as cores
“caipiras” e a utilizar temas do cotidiano brasileiro, associando-os às técnicas cubistas2.
Boi na floresta (figura I), também denominada O touro, foi pintada em 1928. Óleo sobre
tela, medindo 50 x 61 cm, atualmente pertence ao Museu de Arte Moderna da Bahia, na
cidade de Salvador.

1
Como pode ser visto em Morro da Favela (1924), São Paulo (1924), A Gare (1925), Operários (1925) e
Segunda Classe (1933), dentre outros. (Cf. as figuras 1, 2, 3, 4 e 5 respectivamente no Anexo 1A)
2
Cubismo: Movimento artístico que se iniciou em 1909, liderado por Picasso e Braque, cujas raízes e teorias
tinham sido colocadas anteriormente por Cézanne. Foi uma tentativa para representar, exata e exaustivamente,
numa superfície, todos os aspectos vistos pelo artista, em 3 dimensões. O Cubismo Analítico apresentava
simultaneamente diferentes aspectos do mesmo objeto, abandonando a perspectiva convencional, e usando faces
sobrepostas. A colagem foi um meio de dar relevância à "crua" realidade, de modo a criar uma ruptura na
bidimensionalidade deste processo. Fazendo uso da perspicácia da análise cubista, o Cubismo sintético traduziu
tudo o que poderia ser visto numa linguagem de signos visuais, fornecendo a cada objeto um código
correspondente, tornando a pintura uma realidade paralela, e não uma reflexão da realidade observada pelo
pintor. (SMITH, Edward Lucie, Dicionário de Termos de Arte, 1ªedição, Lisboa, Publicações D.Quixote, 1990,
pp.67-68 [tradução do inglês The Thames and Hudson Dictionary of Art Terms, de MÂNTUA, Ana Cristina,
Londres, Thames and Hudson, Ldt., 1984]). (cf. site 36)
Fig. I – Boi na Floresta (1928)
Tarsila do Amaral
Fonte: http://www1.uol.com.br/bienal/24bienal/nuh/enuhamaral03g.htm

Esta obra faz parte de uma das fases mais importantes da carreira da artista, intitulada
antropofágica. Foi Tarsila quem iniciou o Movimento Antropofágico3 no Brasil, que, liderado
por Oswald de Andrade, propunha a “deglutição” da cultura européia, transformando-a em
algo bem brasileiro.
Boi na floresta foi concebida em uma época em que a sociedade, presa à tradição
acadêmica, vivia da importação atrasada dos modismos europeus, relutando em aceitar as
discussões contemporâneas dos artistas sobre os novos rumos da denominada Arte Moderna.
Entretanto, os avanços, sobretudo artísticos, ao redor do mundo, influenciavam
profundas mudanças também no Brasil, como pode ser verificado no Movimento Modernista.4

“A transformação do mundo com o enfraquecimento gradativo dos grandes


impérios, com a prática européia de novos ideais políticos5, a rapidez dos transportes6 e
mil e uma outras causas internacionais7, bem como o desenvolvimento da consciência
americana e brasileira, os progressos internos da técnica e da educação, impunham a
criação de um espírito novo e exigiam a reverificação e mesmo a remodelação da
inteligência nacional. Isso foi o Movimento Modernista cujos objetivos principais eram
o direito permanente à pesquisa estética, à atualização da inteligência artística brasileira
e à estabilização de uma consciência criadora nacional.” (Mario de Andrade no Catálogo
“Semana de 22”)

3
Em 11 de janeiro de 1928, Tarsila dá de presente de aniversário para Oswald de Andrade uma pintura que o
deixa muito impressionado: “É o homem, plantado na terra!”, diria ele a respeito desta tela. Desde então,
Oswald, Tarsila e seu amigo Raul Bopp, propuseram-se a fazer um movimento em torno desde quadro, dando
origem ao Movimento Antropofágico. O título da obra foi então composto consultando um dicionário da língua
dos índios, o tupi-guarani. Abaporu vem de aba (homem) e poru (comer) e significa o mesmo que
Antropofagia, que vem do grego antropos (homem) e fagia (comer).
4
A Semana de Arte Moderna de 1922, realizada em São Paulo, envolveu representantes das artes plásticas, da
literatura, música e dança, marcando o princípio deste movimento modernista denominado Modernismo
Brasileiro, que discutia como criar uma arte brasileira autêntica, incorporando as propostas das vanguardas
artísticas européias do início do século XX.
5
1920– Nos EUA, mulheres conquistam direito a voto; 1922– Mussolini toma o poder na Itália; 1923–
Formação da União Soviética; 1924– Stalin assume o poder ; 1927– agitações socialistas em Viena.
6
1926– Experiências de sucesso na aviação: Lindbergh voa a Paris; 1928– Henry Ford produz o Modelo A.
7
1923– Publicação do livro Por uma arquitetura, de Lê Corbusier; 1924– lançamento do manifesto Surrealista,
por André Breton, em Paris; 1926– invenção da televisão, greve geral na Inglaterra; 1927– Surge A grande
Floresta de Max Ernest, criação do surrealista que desenvolve a técnica de frotagem; 1929– Quebra da Bolsa de
Nova York, abertura do Museu de Arte Moderna de Nova York ao público.
Segundo Paulo Herkenhoff, curador-geral da XXIV Bienal de São Paulo, “a
Antropofagia é o momento histórico de grande densidade no Modernismo Brasileiro (...) um
momento de busca por emancipação e atualização dos artistas.”
A obra de Tarsila aqui estudada, nasceu imersa neste contexto.
A pintura Boi na floresta, abraça simultaneamente o abstracionismo calculado do
movimento cubista (cheio de pesos e contrapesos, equilíbrio e dinamismo convencional,
linhas e cores variando ao infinito) e a “brasilidade” das cenas interioranas, conquistando a
emancipação das tradições acadêmicas
Nesta pintura há um ambiente composto por algumas figuras. No centro da tela, destaca-
se uma figura de frente para o espectador. Atrás desta figura há uma linha curva, inclinada
para baixo, que separa um plano rosa-amarronzado de um outro em tons de bege, na altura da
linha do horizonte. Acima e ao redor da figura central surgem volumes verticais que rompem
os limites da tela, parecendo ultrapassá-los. As formas e volumes destas estruturas verticais
são moldadas por cores mais claras e mais escuras, dando o efeito de luz e sombra entre as
linhas retas.
O tratamento pictórico empregado nesta obra traz uma visível influência de um dos
mestres de Tarsila: Fernand Léger. Dele a artista herda as cores quase sempre primárias ou
com tonalidades metálicas.8
Do contato travado com alguns artistas em 1923, dentre eles Giorgio De Chirico,
possivelmente veio a sugestão dos volumes verticais presentes em grande parte da
composição.9
A figura do boi, ou touro, pode referir-se também ao contato pessoal de Tarsila com
Pablo Picasso, artista que reconhecidamente elaborou numerosos estudos acerca deste tema10,
e de quem ela comprou várias obras.
A denominação “floresta” é também reconhecida na obra de Marx Ernest11, que em
1927 marca o desenvolvimento da técnica de frotagem12 com alguns trabalhos sob este título.

8
Como pode ser verificado no Anexo 1A em Naine kassiga 1921; A Leitura, 1924 e Woman and Child, 1921,
obras de Léger. (Figuras 6, 7 e 8 respectivamente)
9
Conferir no Anexo 1B: El Enigma de una Jornada,1913; Melanconia, 1912; La matinée angoissante, 1912;
Melancholy and Mystery of a Street,1914; il tempo 1963-4, dentre outras obras de De Chirico. (Figuras 9, 10,
11, 12 e 13 respectivamente)
10
Um exemplo deste tema na obra de Picasso pode ser visto na assemblagem Cabeça de touro (Figura 14 do
Anexo 1B), composta de celim e guidom de bicicleta (As assemblagens consistem em montagens feitas com
objetos ou parte de objetos, onde pouco ou nada se transforma do objeto original, mas que se confere um novo
sentido ao mesmo).
11
Como nas suas obras: A Floresta 1927-28 e Fishbone Forest. 1927. (Figuras 15 e 16 no Anexo 1B)
Entretanto a semelhança dos nomes e das formas verticais entre as florestas de Tarsila e
Ernest pode ser uma mera coincidência.
É possível realizar também um diálogo pertinente entre outras obras de Tarsila e Boi na
Floresta, partindo das linhas verticais paralelas, dos volumes criados pela intensidade da cor
ou mesmo do tema proposto, como pode ser percebido em O sono, 1928; Floresta, 1929 e
Paisagem com touro, 1925, respectivamente13.
Boi na floresta compõe na parte central a figura estilizada de um touro, com grandes
olhos brancos, corpo volumoso e enormes chifres apontando para cima. Um touro com as
patas direcionadas simultaneamente para a direita e para a esquerda, tornando-o imóvel no
ambiente. Figuras e fundo são contrastadas por cores escuras e claras respectivamente, onde o
fundo é formado por um plano côncavo que se encaixa, pousando levemente, sobre um outro
plano convexo. Volumes verticais ocupam grande parte do espaço, sendo que um deles parece
se apoiar exatamente sobre a cabeça do touro. As diferentes posições destes volumes, no que
se refere ao limite inferior da tela, dão uma certa profundidade à cena. Tais volumes, bem
como a figura em cores escuras e a linha horizontal inclinada, tendem a sugestionar o olhar do
observador para baixo, atribuindo um peso maior à parte inferior da obra. Entretanto a linha
curva formada pelos chifres do touro concede uma maior leveza ao quadro, equilibrando a
composição em um movimento ascendente. A linha do horizonte inclinada para baixo é
fundamental para dar um certo movimento à composição, o que não ocorreria caso fosse mais
retilínea. Excetuando-se as formas volumosas da cabeça e do corpo do touro, a composição
poderia ser resumida simplesmente em algumas linhas retas e curvas, dispostas
ordenadamente na tela, sendo que as linhas retas prevalecem não apenas em quantidade, mas
também na grande ocupação do espaço.
Embora a obra em estudo pertença cronologicamente à fase antropofágica de Tarsila,
não há como desvinculá-la de sua fase anterior, denominada “pau-brasil”, já que esta
representa o cúmulo da brasilidade, onde são registradas cidades, paisagens e tipos bem
nacionais. Esta fase é definida por Sérgio Milliet14 como aquela que possui “as cores ditas
caipiras, rosas e azuis, a estilização geométrica das frutas e das plantas tropicais, dos caboclos
e negros, da melancolia das cidadezinhas, tudo isso enquadrado na solidez da construção
cubista”.
12
Frotagem/frottage: a palavra origina-se do francês frotter, que significa friccionar, esfregar, pesquisar texturas
variadas impressas e decalcadas sobre o papel. (cf. Caixa de Cultura Gravura- Instituto Itaú Cultural. Núcleo de
Projetos Educativos)
13
Cf. Figuras 17, 18 e 19 no Anexo 1C.
14
De acordo com pesquisas na internet (cf. site 2)
O boi, parado defronte o espectador da obra, parece contar uma história que conduz a
um outro universo: o dos mitos regionais, tão comuns nos bocados de mundo caipira que
existem pelo Brasil adentro, um acervo precioso da cultura tradicional.
O boi também está ligado a crendices, a tradições rurais, a canções populares, a festas e
folguedos em todo o país. O Boi-Bumbá em Parintins, no Amazonas 15, o Bumba-meu-boi
nordestino, a Farra do Boi no Sul, o boi da cara preta dos acalantos infantis, o boi sem coração
das canções sertanejas, o boi dos rodeios e festas de peão, o boi Barroso (personagem fictício
do filme A marvada carne16) e tantos outros, cuja narrativa de significação simbólica,
continua sendo transmitida de geração em geração, numa alegoria mítica.
O boi, a marvada carne dos sonhos e desejos do matuto interiorano, ao meu ver, parece
estar pressentindo o seu destino, e recordando os tempos de verdes pastagens, agora vive
sozinho, inerte em meio à floresta que o circunda.
Desta forma, percebo, em uma análise iconológica, que a obra Boi na floresta traz, no
olhar da rês, o desassossego do animal que ruma ao matadouro, perdido entremeio a formas
verticais que gradeiam a liberdade dos prisioneiros condenados à morte. Não há como
escapar. A floresta se fecha como as garras de um animal junto à sua presa.17 Sem poder fugir
da fatalidade iminente, o boi trava uma batalha silenciosa e estática com as grades que o
prendem. Grades metálicas, resistentes. Firmes na repetição das formas paralelas. Em uma
verticalidade ascendente que bem poderia ser invertida.18
Distante do campo, cenário natural de sua existência, o boi será constantemente
derrotado quando a batalha travada for contra a fome de milhões de brasileiros.
Segundo esta perspectiva pessoal, do animal que se transforma em alimento, a série
Campo de Batalha de Antônio Henrique Amaral19, possibilita vislumbrar o futuro do boi,

15
Cf. matéria exibida no Jornal Nacional da Rede Globo de Televisão em 29/06/2004.
16
Ficha técnica: Título original: A marvada carne/ Gênero: comédia brasileira/ Duração: 77 min./ Lançamento:
Brasil, 1985/ Distribuição: Embrafilme/ Direção: André Klotzel/ Roteiro: André Klotzel e Carlos Alberto
Sofedini/ Produção: Cláudio Kahns, Tatu Filmes/ Música: Rogério Duprat/ Fotografia: Pedro Farkas/ Direção de
Arte: Adrian Cooper/ Figurino: Maísa Guimarães/ Edição: Alain Fresnot. Elenco: Adilson Barros, Fernanda
torres, Dionísio Azevedo, Geny Prado, Regina Case, Lucélia Machiavelli, Paco Sanchez, Henrique Lisboa,
Chiquinho Brandão, Tonico e Tinoco.
17
Cf. Campo de Batalha 25, óleo s/ tela, 152 x 152 cm, 1974, de Antônio Henrique Amaral.(Figura 20 no Anexo
1C)
18
Cf. Campo de Batalha 31, óleo s/ tela, 92 x 122 cm, 1974, de Antônio Henrique Amaral. (Figura 21 no Anexo
1C)
19
Antônio Henrique Amaral nasceu no ano de 1935. É formado em Direito pela Universidade de São Paulo. De
1939 a 1941, residiu com a família em Buenos Aires. Estudou desenho com Roberto Sambonet, no Museu de
Arte Moderna de São Paulo (1952), e gravura com Lívio Abramo, na Escola de Gravura desse mesmo Museu
(1957), onde realizou a sua primeira individual (gravura) em 1958. em 1959 vai para o Pratt Graphic Institue, em
Nova York, onde estuda gravura com Shiko Munakata e W. Rogalsky.Dedicou-se à gravura até 1967, a partir de
então passa a dedicar-se à pintura, criando a metáfora das “bananas” da fase a que chamou Brasiliana e que,
desencadeando um diálogo pertinente com a obra de Tarsila, sobretudo a pintura Campo de
Batalha 3020, que faz alusão ao termo do boi não como uma morte, mas enquanto novas
possibilidades de interpretações.
Nesta obra supracitada, como em Boi na Floresta, é possível perceber os volumes
verticais amplamente distribuídos pelo espaço, cujas extremidades pontiagudas criam um
movimento descendente na composição, e pontuam, concomitantemente, uma linha paralela
horizontal que divide a cena. O tratamento pictórico, de claros e escuros, apresenta também as
tonalidades metálicas nas estruturas verticais. O fundo claro se destaca entre os tons escuros
das figuras, o que aumenta a familiaridade entre as obras.
O tema, bem brasileiro de ambas as pinturas, coincide na denominação das fases de suas
pinturas: a fase “Pau-Brasil” de Tarsila e a “Brasiliana” de Antônio Henrique.
As carnes entre os garfos lembram o ato de comer, tão enfatizado pela Antropofagia do
Modernismo Brasileiro, pontuando outra peculiaridade semelhante entre estes artistas.
Um outro paralelo possível de ser traçado entre eles, é o tema trabalhado, já que Antônio
Henrique possui uma obra denominada Floresta 121, que, embora possua outras cores na
composição, também apresenta uma série de volumes verticais por todo o espaço da tela.
Por conseguinte, é possível descobrir semelhanças tanto entre as obras mencionadas
como entre os seus autores, cujo parentesco vai além de meras coincidências, podendo ser
reconhecido também em seus sobrenomes22.
Contudo, enquanto em Boi na Floresta a linha inclinada do horizonte concede ao
ambiente uma movimentação circular, de aspecto cíclico e contínuo, como se o boi ficasse
ensimesmado, ruminando outras possíveis trajetórias mais adiante, em Campo de Batalha 30
a linha pontilhada, que atravessa horizontalmente o espaço, dá um sentido de ruptura e de
bloqueio a quaisquer possibilidades de movimentação.
Na obra de Antônio Henrique é possível perceber na composição um sentido de
finidade, de ocaso ou de ponto final no que se refere à figura do boi, ao passo que na pintura

como temática, permanece até hoje. Em 1971 ganha o prêmio de viagem ao exterior no Salão Nacional de Arte
Moderna do Rio de Janeiro. Com o prêmio instala-se em Nova York de onde retorna em 1981. Ao longo dos
últimos 40 anos vem realizando diversas exposições individuais e tem participado de exposições coletivas no
Brasil e no exterior. Sua obra está representada em coleções públicas brasileiras e estrangeiras. Ele vive e
trabalha em São Paulo. Atualmente, exibe no Museu de Arte moderna de São Paulo – MAM, 80 linogravuras,
xilos, gravura em metal e oito matrizes produzidas entre os anos 50 e 70. A exposição estará aberta a visitações
até 25 de julho de 2004.
20
Ver Campo de Batalha 30, óleo s/ tela, 92 x 122 cm, 1974. (Figura 22 no Anexo 1C)
21
Floresta 1,óleo s/ tela, 180 x 180 cm, 1997. (Figura 23 no Anexo 1C)
22
O pai de Antônio Henrique Amaral, o senhor Aguinaldo Amaral, é primo em segundo grau de Tarsila do
Amaral (informação dada pelo próprio artista, conforme e-mail enviado a mim no dia 30/05/2004 às 22:13 horas
através do seu site oficial – cf. site 22)
de Tarsila é possível vislumbrar, no olhar do animal, outras possibilidades. Os olhos do boi
tanto podem conter pequenos espelhos que refletem um amplo horizonte bem à sua frente,
quanto podem simbolizar a porta de entrada para outros mundos, passados ou vindouros,
cujos limites rumam ao infinito.
Perambulando por entre todos os diálogos aqui traçados, eu me aquieto junto àquele que
mais aproxima esta obra de Tarsila das minhas próprias lembranças, ligadas ao gado, ora solto
nos pastos ora ladeado pelas ripas entrelaçadas dos currais, recordando as fazendas de minha
infância. Esta pintura se achega a mim trazendo uma grande quantidade de sons, não apenas
das canções de ninar23, do Menino da Porteira24 ou da Vaca Estrela e do Boi Fubá25, mas
principalmente da voz melodiosa dos boiadeiros, tocando a boiada bem cedinho, logo ao raiar
do dia.
Ao observar o quadro Boi na Floresta, e permitindo ser por ele também observada,
posso perceber, ao longe, o som de algumas vozes entrecortadas. É a saudade teimando em
ecoar, silenciosamente, uma expressão sertaneja: “– Ê, boi!”

Uberlândia, 4 de junho de 2004.

Referências Bibliográficas

Livros:
1. AMARAL, Aracy A. Tarsila: sua obra e seu tempo. São Paulo: Perspectiva e Edusp,
1975.
2. AMARAL, Tarsila. Tarsila por Tarsila. São Paulo: Celebris, 2004.
3. SMITH, Edward Lucie, Dicionário de Termos de Arte, 1ªedição, Lisboa, Publicações
D.Quixote, 1990, pp.67-68 (tradução do inglês The Thames and Hudson Dictionary of Art
Terms, de MÂNTUA, Ana Cristina, Londres, Thames and Hudson, Ldt., 1984)

23
Com por exemplo Acalanto, de Dorival Caymmi, gravada por Roberto Carlos no Compacto Roberto Carlos,
em 1973, pela CBS.
24
Composta por Teddy Vieira e Luizinho, gravada por Sérgio Reis no LP Sérgio Reis, 1973, pela Odeon.
25
Composta por Patativa do Assaré e gravada por Rolando Boldrin no LP Caipira, 1981, pela RGE.
Material Didático:
1. XXIV Bienal de São Paulo – Núcleo Educação. Percurso Educativo para Conhecer Arte
(Material de Apoio Educativo para o Trabalho do Professor com Arte)

2. arte Br. Instituto Arte na Escola. São Paulo, 2003. (Cadernos de Estudos do Professor:
Mundos Inventados)

3. Caixa de Cultura Gravura: história e técnica. Instituto Itaú Cultural. Núcleo de Projetos
Educativos. São Paulo, Itaú Cultural, 2002. (Caderno do professor, imagens de obras em
pranchas A3 e vídeo)

Internet- sites:
1. http://www.tarsiladoamaral.com.br/
2. http://www.artelivre.net/html/pintura/al_pintura_tarsila_do_amaral.htm
3. http://www1.uol.com.br/bienal/24bienal/nuh/enuhamaral01.htm
4. http://www.pitoresco.com.br/brasil/tarsila/tarsila.htm
5. http://www.cyberartes.com.br/indexFramed.asp?pagina=indexArtista.asp&edicao=36
6. http://www.trabalhoescolar.hpg.ig.com.br/tarsila_do_amaral.htm
7. http://www.obraprima.net
• http://www.obraprima.net/materias/html33/html33.html
• http://www.obraprima.net/materias/html766/html766.html
• http://www.obraprima.net/materias/html950/html950.html
8. http://www.historiadaarte.com.br/tarsila.html
9. http://e-biografias.net/biografias/tarsila_amaral.php
10. http://www.trevomaster.com.br/sam1/tarsila%20do%20amaral.htm
11. http://www.osmaiorespintoresdomundoepoemas.hpg.ig.com.br/tarsila%20do%20amaral.h
tml
12. http://www.mondolatino.it/arte/ipittori/tarsiladoamaral.htm
13. http://www.clanamaral.com/Arte/Amaral_Tarsila_Br/Amaral_Tarsila_08Br.htm
14. http://www.itaucultural.org.br/
• http://www.itaucultural.org.br/AplicExternas/Enciclopedia/artesvisuais2003/index.cfm
?fuseaction=detalhe&cd_verbete=2220
• http://www.itaucultural.org.br/AplicExternas/Enciclopedia/artesvisuais2003/index.cfm
?fuseaction=Detalhe&CD_Verbete=3081
15. http://www2.uol.com.br/museus/mam/tardi.html
16. http://www.mulher.org.br/tarsila.htm
17. http://www.verveweb.com/kalix2/
18. http://www.latinartmuseum.com/amaral.htm
19. http://www.mre.gov.br/cdbrasil/itamaraty/web/port/artecult/artespla/artistas/tarsila/
20. http://www.bolsadearte.com/biografias/tarsila.htm
21. http://www.pinturabrasileira.com/artistas
• http://www.pinturabrasileira.com/artistas.asp?cod=32
• http://www.pinturabrasileira.com/artistas.asp?cod=108
22. http://www.galeriabrasil.com.br/tarsila.htm
23. http://www.geocities.com/lizworld99/tarsila
24. http://www.artbr.com.br/mam/2004/05maio/antoniohenriquedoamaral/
25. http://www2.uol.com.br/ahamaral/
26. http://virtualitas.net/finearts/archive/vitaaha.htm
27. http://www.glatt.com.br/artistas/ahamaral/ahamaral.htm
28. http://www.mac.usp.br
• http://www.mac.usp.br/…/98/figuracoes/amaral.html
• http://www.mac.usp.br/.../ secarte/obras/ahamaral.html
• http://www.mac.usp.br/exposicoes/01/acolecao/contexto/1920.html
29. http://www.pinturabrasileira.com/artistas_bio.asp?cod=108&in=1
30. http://lanic.utexas.edu/project/blanton/amaral_campo/
31. http://www.mam.org.br/imprensa/releases/imprensa_mam_22.pdf
32. http://www.aestufa.com.br/canibalia/html/amara.html
33. http://www.estadao.com.br/divirtase/noticias/2002/jun/21/218.htm
34. http://www.globo.com/jornalnacional
35. http://www.cpunet.com.br/paralerepensar/cubismo.htm
36. http://www.historiadaarte.com.br/cubismo.html
37. http://www.pitoresco.com.br/art_data/cubismo/
38. http://www.citi.pt/cultura/literatura/poesia/j_g_ferreira/cubismo.html
39. www.citi.pt/cultura/literatura/poesia/j_g_ferreira/cubismo.
40. http://www.arraialdascores.com.br/CentroEstud/marcenaria.html
41. http://images.google.com.br/images
• http://images.google.com.br/images?q=De%20chirico&hl=pt-BR&lr=&ie=UTF-
8&sa=N&tab=wi
• http://images.google.com.br/images?hl=pt-BR&lr=&ie=UTF-
8&q=Fernand+L%C3%A9ger&btnG=Pesquisar
42. http://quemtemmedo.blogger.com.br/2004_03_01_archive.html
43. http://katia.cabaretvoltaire.com/blog/archives/2002_07.html
44. http://www.abcgallery.com/E/ernst/ernst17.html

ANEXO 1 A

– IMAGENS E CRÉDITOS –
Fig. 1 - Morro da Favela (1924) Fig. 2 - São Paulo (1924) Fig. 3 – A Gare (1925)
Tarsila do Amaral Tarsila do Amaral Tarsila do Amaral

Fig. 4 – Operários (1925) Fig. 5 – Segunda Classe (1933)


Tarsila do Amaral Tarsila do Amaral

Fig. 7- A leitura (1924)


Fernand Léger
Fig. 6 – Naine Kassiga (1921) Fig. 8 - Woman and Child (1921)
Fernand Léger (detalhe)
Fernand Léger
ANEXO 1 B
Fig. 9 - El Enigma de Fig. 10 – Melanconia (1912) Fig. 11 – La matinée Fig. 11 – Mystery and
una Jornada (1913) Giorgio de Chirico angoissante (1912) Melancholy of a Street (1914)
Giorgio de Chirico Giorgio de Chirico Giorgio de Chirico

Fig. 11 - il tempo (1963-4) Fig. 12 Fig. 13


Giorgio de Chirico Giorgio de Chirico Giorgio de Chirico

Fig. 14 - Cabeça de touro (1942) Fig. 15 - A Floresta (1927-28) Fig. 16 - Fishbone Forest. 1927
Pablo Picasso Max Ernst Max Ernst

ANEXO 1 C
Fig. 17 – O sono (1928) Fig. 18 – Floresta (1929) Fig. 19 – Paisagem com touro (1925)
Tarsila do Amaral Tarsila do Amaral Tarsila do Amaral

Fig. 21 - Campo de batalha 31, 1974 Fig. 21 invertida


Fig. 20 - Campo de Antônio Henrique Amaral
Batalha 25 (1974)
Antônio Henrique Amaral

Fig. 23 - Floresta 1 (1997)


Antônio Henrique Amaral
Fig. 22 - Campo de Batalha 30 (1974)
Antônio Henrique Amaral

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