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ALEM DO UNIVERSALISMO FEMINISTA:

A FENOMENOLOGIA DA EXISTÊNCIA DA
MULHER AFRODESCENDENTE NO
BRASIL
Kaká Portilho1
Marina Miranda2

Palavras-Chave: Revisão epistemológica; filosofia; matriarcado africana.

Resumo: A revisão das epistemologias modernas impõem-se como um desafio teórico para a reflexão
das múltiplas ontologias. Sobre a luz de uma perspectiva endógena africana e afro-diaspórica, o campo
dos estudos do feminino tem se mostrado essencial para uma construção reomodal, indicando um
caminho diferente para a quebra de paradigmas estabelecidos – o que forja o papel subalterno à mulher
negra no mundo contemporâneo. Seja na forma simbólica ou concreta, dentro da cultura ocidental, os
“feminismos” reforçam antigas narrativas universalistas restringindo se a uma percepção etnocêntrica do
mundo. Naturalmente, esses estudos têm exigido a uma exposição teórica que acomode as diferenças
do pensamento sobre gênero (feminilidades e masculinidades), as complexas realidades e experiências
cotidianas das mulheres africanas no Brasil e o deslocamento de estruturas sociais baseadas na
construção de gênero.

Apresentação
A revisão das epistemologias modernas impõe-se como um desafio teórico para a
compreensão do mundo em suas múltiplas ontologias. Sobre a luz de uma perspectiva
endógena africana/afro-diaspórica, o campo dos estudos do feminino tem se mostrado
essencial para o desenvolvimento de uma reflexão dialógica-poliracional, que quebre
os paradigmas que ainda subalternizam a mulher negra no imaginário social. No campo
simbólico ou na realidade concreta a existência dessas mulheres.
Naturalmente, esses estudos têm exigido uma exposição teórica que acomode
as diferenças de pensamento da fluidez da ontologia e da epistemologia africana.
Porquê africana? Pensar a mulher na experiência africana, segue o marcador de
linhagem DNA mt, das mulheres africanas que viveram no Brasil3. Sendo longínquos ou
recentes, em termos de demarcação geográfica, os africanos são nossos ancestrais.
Segundo o médico geneticista Sérgio Danilo Pena, a maior parte desses ancestrais
vieram do Centro Oeste da África4, ou seja, povos de línguas bantas.

1Mestranda do Programa de Pós-Graduação em Relações Etnicorraciais (PPRER-CEFET/RJ), pesquisadora do


African Studies pelo Centro de Altos Estudos e PesquisaAfrikana e Afro-Diaspórica (CEPAA), docente do curso de
História Geral da África do Instituto Hoju. Email: marinamiranda@id.uff.br .
2Bacharel em Antropologia pela Universidade Federal Fluminense (UFF), pesquisadora do racismo cognitivo pelo

LEECCC/UFF e coordenadora do Centro de Altos Estudos e Pesquisa Afrikana a Afro-Diaspórica (CEPAA) do


Instituto Hoju.
3
Os estudos chamados marcadores de linhagem foram feitos em um grupo de negros em São Paulo e é considerado
uma referência para o que aconteceu no resto do país, por causa das constantes migrações internas durante o
período escravocrata. Disponível em:
<http://www.bbc.com/portuguese/reporterbbc/story/2007/05/070502_sub_estudo_pena_cg.shtml >; Acesso em:
Abril de 2018.
4
Região que inclui Angola, Congo, Camarões – seguida pelo Oeste (Nigéria, Gana, Togo e Costa do Marfim) – e
pelo Sudeste Africano (Moçambique.
Propomos neste artigo uma investigação do ser, conhecimento e “verdade” sob a
perspectiva da filosofia Ubuntu de origem Núbia, que foi difundida nas muitas
migrações dos povos de línguas bantas, trazendo a tona circunstâncias objetivas que
permitam que as mulheres afrikanas no Brasil tornem-se conscientes de sua ontologia.
A escolha deste caminho filosófico, está estritamente baseada na profunda penetração
das línguas bantas, nas formas de comunicar-se e na elaboração de linguagens entre
os pretos no Brasil; e também pela implicação estratégica sobre a ética contida na
filosofia Ubuntu, que se encaixa perfeitamente à proposição deste trabalho, como bem
nos demonstra o filósofo Renato Nogueira:
Ubuntu pode ser traduzido como “o que é comum a todas as pessoas”. A máxima zulu
e xhosa, umuntu ngumuntu ngabantu (uma pessoa é uma pessoa através de outras
pessoas) indica que um ser humano só se realiza quando humaniza outros seres
humanos. A desumanização de outros seres humanos é um impedimento para o auto-
conhecimento e a capacidade de desfrutar de todas as nossas potencialidades
humanas. O que significa que uma pessoa precisa estar inserida numa comunidade,
trabalhando em prol de si e de outras pessoas. A ideia de ubuntu atravessa, constitui e
regula inúmeras comunidades africanas bantufonas. É importante considerar a
afrodiáspora. Entendo por afrodiáspora, as bases racistas, os processos históricos e as
implicações da escravização impetrada por árabes e europeus de povos negro-
africanos a partir do século VIII, as migrações forçadas de povos negro-africanos na
condição de pessoas escravizadas inicialmente para o próprio continente europeu e,
em seguida, para colônias europeias entre os séculos IX e XIX, além das relações
entre elites europeias e classes dirigentes africanas, com a cumplicidade de setores
dessas elites africanas, foram estabelecidas relações assimétricas que foram decisivas
no estabelecimento do modelo europeu de Estado-Nação e subdesenvolvimento dos
países africanos no cenário mundial (NOGUEIRA, 2018).
Assim, damos vazão a produção de sentido necessária a esse universo que prioriza a
experiência das mulheres negras em seu locus semântico e histórico. Nos interessa
ainda, discutir o pensamento fragmentado sobre gênero, baseado numa estrutura
linguística sujeito-verbo-sujeito ressaltando sua oposição fundamentalmente
irreconciliável com o “vir-a-ser”, que esquarteja em pedaços de realidade, a existência
de todas as mulheres a partir de uma construção monolítica, centrada em sua condição
biológica e não em sua condição ecológica, suprimindo as características das
complexas realidades nas experiências cotidianas das mulheres africanas5 no Brasil.
Não limitadas a nossa própria observação, nossa investigação busca narrativas
“nativas”, “internalistas” ou “endógenas”, que não sejam apenas um mero
interpretacionismo das realidades pelo ponto de vista de suas narradoras.
Neste ensaio, sobre a experiência das mulheres negras, principalmente
concentradas em periferias, lançaremos mão de algumas formas de análises
estruturadas no campo da cognição, uma forma de investigação baseada na ciência
cognitiva, mais especificamente no seu campo mais dinâmico, o enacionismo 6 (Varela;

5
O sentido de mulher africana abrange não apenas mulheres nascidas no continente, mas todas as mulheres negras
que vivem na diáspora e pela autodeterminação se nomeiam africana em diáspora.
6
(…) se qualifica inativo para enfatizar a crescente convicção de que a cognição não é a representação de um mundo
pré-concebido por uma mente pré-concebida, mas sim é a promulgação de um mundo e uma mente com base
em uma história da variedade de ações que um ser no mundo executa.
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Thompson; Rosch, 1991:9). Optamos por um modelo de elaboração em autopoiesis7,
que cumpre o papel de eclodir “as realidades” em que operam o modo de vida,
pensamento e concepção histórico-coletiva da existência dessas mulheres.

A mulher simbólica: dois aspectos de uma mesma realidade


Sobre a evidente marca dos conflitos de interesses culturais, as narrativas
“universais” que capturam e aliciam o legado das resistências das mulheres negras e
as percepções sobre sua própria realidade, precisam ser submetidas a análises críticas
que questionam sua legitimidade ante aos contextos e seus referenciais que estão fora
do escopo, conjunturas e interesses inerentes a sua situação no espaço colonial (Dove,
1998). Este artifício também antecipa a percepção dessas mulheres, no que se refere
às categorias e estruturas sobre as quais elas concebem o entendimento sobre si, seu
entorno e suas relações; forjando as bases onde se formam seus elos comunitários.
Esses elos estão na prática, constituídos nas narrativas de suas mães, avós,
avôs, tios, tias e ainda, no legado etéreo a que são associadas aos seus ancestrais,
conformando-se como seus referenciais de vida, o peso vivenciados por seus
ascendentes no contínuo legado perpetrado pelo racismo e pelo legado da
escravização, mas para além disso, a força de suas experiências de resiliência e
legado moral, filosófico e cultural.
Os estudos do feminismo têm esforçado-se na compreensão e luta contra
opressões de gênero, deixando de lado o sentido dual de gênero e categorizando sua
origem como feminino. Deslocando o pensamento fragmentado ocidental, compreender
o feminismo – um sistema que luta contra opressão de “gênero”, nega-se ao sentido da
palavra e direciona sua prática apenas ao feminino, reafirmando sua base de
julgamento que restringe a palavra MULHER ao sentido de esposa de uma família-
nuclear8 na concepção euro-americana. Segundo Bigome e Khadiagala (2003), uma
das formas de se compreender adequadamente famílias africanas é admitindo-a na
forma de “famílias alargadas”9. O campo por onde esta concepção pode ser melhor
elaborada é o da fenomenologia, isto porque o filósofo Merleau-Ponty, em sua obra a
Fenomenologia da Percepção, situa-nos no sentido perceptivo do método que
desejamos alcançar, o que é demonstrado no seguinte trecho de sua obra:
(...) a fenomenologia é também uma filosofia que
repõe as essências na existência, e não pensa que se possa compreender o homem e
o mundo de outra maneira senão a partir de sua “facticidade”. É uma filosofia
transcendental que coloca em suspenso, para compreendê-las, as afirmações da
atitude natural, mas é também uma filosofia para a qual o mundo já está sempre “ali”,
antes da reflexão, como uma presença inalienável, e cujo esforço todo consiste em
reencontrar este contato ingênuo com o mundo, para dar-lhe enfim um estatuto
filosófico (Merleau-Ponty, 1999:1).

É de suma importância, observar, portanto, que a experiências das mulheres


pretas de periferia não acontecem no ambiente ideal de uma “eminente fragilidade”
feminina. Tampouco, é restituído a mulher preta qualquer opção sobre como orientar a

7
Originalmente é um termo da biologia que significa “criar a si mesmo” apropriado pelos estudos de cognição no
campo da cognição e fenomenologia.
8
Ver EITEMAN; STONEHILL; MOFFETT, 2013. pp.43.
9
As famílias alagadas podem incluir: filhos, pais, avós, tios, irmãos e irmãs, filhos adotados e acolhidos, servos.
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educação para a masculinidade de seus filhos mergulhados na violência racial própria
do patriarcado, e sequer sobre as circunstâncias em que são configuradas sua
condição familiar e seu papel no modelo estrutural de uma família alargada. Limitar
conceitos que tangem à relação mulheres pretas na sociedade patriarcal, a uma práxis
enraizada num núcleo-familiar eurocêntrico, nos mostra que o determinismo
universalista do feminismo falhou ao negar a existência de arranjos familiares africanos
na diáspora; estes que redefiniram o conceito de família enunciados por Morgan (1871)
e revisitado por Engels (2016). Concentrar-se no caminho que privilegia o núcleo
familiar europeu para criar uma agenda política de emancipação para mulheres
afrodescendentes é negar a existência destas mulheres e sua relação social
constitutiva no âmbito do fenômeno sócio-racial, nesse sentido, o feminismo se
apresenta como mais uma experiência colonial às mulheres pretas da diáspora, pois
fixa sua condição “desde de” o lugar relegado pela desumana condição de propriedade
das famílias brancas, e sobretudo, acomodada como apêndice ao modelo familiar-
europeu, patriarcal e dependente das mulheres brancas para sustentar-se como
sistema de opressão.
A pesquisadora Oyèwúmi (2004), argumenta que a família nuclear é a
organização social que constitui o fundamento do feminismo, e isto implica a difundida
crença entre as feministas, que um objetivo importante é subverter a instituição
dominante masculina e a crença entre os detratores do feminismo que se impõe de
forma sui generis como anti-familiar10. Se o método da unidade de análise do
feminismo é a família nuclear euro-americana, que interpreta as mulheres – brancas11
de classe média como esposas, a afirmativa sugere que está será a forma-social
determinada para elas dentro da instituição matrimonial. Seguimos, então, o
pensamento grego-ocidental, marcado pela figura da mulher como esposa-reprodutora
– conforme o próprio mito de Oresteia de Ésquilo – de manutenção da linhagem e que
deve, sobremaneira, dedicar obediência ao seu marido para cumprir com este requisito.
Na sociedade atual, o que se revela como um fenômeno de misoginia é ditado pelos
altos números de caso de violação da obediência aos valores morais instituídos pelo
patriarcado, condicionada a categorização subalterna em que este sistema concebe
suas mulheres. O direito à vida estaria ameaçado pela superioridade masculina, que
em relação de poder, ainda que não encontre isenção nas sanções legais – visto a Lei
13.104/2015 que estabelece punição especial para homicídios praticados contra
mulheres – não têm resultados positivos quando a categoria mulher vem acompanhada
pela sua etnia - MULHER-NEGRA. Assistimos o aumento de 22% nos homicídios
praticados contra as mulheres negras; e ainda o aumento em 54% nos crimes de
violência praticados contra essas mesmas mulheres; enquanto as mulheres brancas
têm uma queda de aproximadamente 10%, em dez anos, segundo dados do Ipea e o
Atlas da Violência de 2017.
A universalização da concepção de mulher, realmente cumpre o papel possível
para afirmar-se como uma demanda em prol de equidade. No entanto, é necessário
que para tal possamos presumir a condição de mulher em relação de poder, com papel

10
Ver OYÈWÚMI, Ouèronké, 2000.
11
A representação formulada encontra-se também registrada na Mitologia grega. Verifica-se na narrativa romana, a
absolvição de Orestes se deu através do voto de Atenas/Minerva, deusa Palas, pelo assassinato de sua mãe,
motivado pela vingança em honra a seu pai- assassino de sua irmã. A narrativa, acredita-se, inaugura as bases
fundamentais do patriarcado.
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substancial na família nuclear. Em tais condições ambientais, a mulher negra não é
projetada na condição interseccional, e isto pode ser dito devido a limitação circunscrita
pelas estruturas de parentesco apontadas neste trabalho. A mulher negra na sociedade
patriarcal, tradicionalmente assume o papel materno, além do servil, doméstico-privado
e a-subjetivo nas famílias nucleares-brancas patriarcais, soma-se ainda, a desfavorável
concepção de self formadas nestas relações, que constroem de forma inter-subjetiva, a
percepção de que sua presença nas instituições familiares se dará na natureza
condicional imposta por um legado escravocrata.
Na perspectiva do fenômeno social, a categorização universalista da mulher,
atualmente traduz o feminismo, como única via disciplinar de combate a opressão de
gênero, centrada em absoluto nas categorias em que as mulheres brancas estão
inseridas, por estarem essencialmente evocando suas experiências em objeção a
ordem patriarcal. Os efeitos operados pela hegemonia da estrutura elementar do
feminismo, tem produzido estranhamento à mulheres negras, devido a forma em que
encontram-se dissociadas das experiências das mulheres brancas, sobretudo no
campo das experiências subjetivas formadoras de suas percepções da realidade. O
recente interesse sobre os temas que envolvem a mulher negra, a comunidade negra
acadêmica tem despertado para a alienação acerca das unidades em que são
analisadas as estratégias de luta e existência dessas mulheres. A alienação, portanto, é
um importante fator quando se trata de abraçar ideologias como forma de reivindicar
lutas sociais e representatividade. Sem dúvidas vivemos diferentes níveis de
alienações e percepções críticas, mas não podemos negar, que a altíssimo nível de
mortalidade e perpetração da violência contra a população negra, compromete a vida
das mulheres negras de forma a imputar-lhes uma evidente situação de holocausto.
Faz-se imprescindível apontar, que o modo de vida das mulheres negras de
periferia e seu modelo de família alargada, revela-se como um poderoso campo de
disseminação e memória das culturas africanas que vieram para o Brasil. Apesar das
condições de desvantagens econômicas e urbanas e sobretudo de violência em que
essas mulheres vivem majoritariamente em consequências do legado racista do país,
são elas o centro da organização e gestão familiar nas periferias, conforme dados
estatísticos que demonstram que em dez anos o número de lares chefiados por
mulheres dobrou12. Esta centralidade alude alguns fatores presentes nas sociedades
africanas vindas para o Brasil, o mais importantes desses, é a forma em que a mulher
africana concebida como unidade de análise do feminino. Notadamente, sua condição
está associada a uma visão de mundo metafísica, onde ela representa e detém
domínio sobre a relação sociedade-natureza, condição esta que atribui-lhe o domínio
do conhecimento e gestão praticados no âmbito social e espiritual.
Elucidar portanto, o significado de certas categorias em uma proposta reomodal
(Ramose, 1999) ou espiral conformada ao pensamento-unidade-dualista13, dos povos
de línguas bantas e da sociedade Dogon, faz-se necessário para uma acepção
12
O número de lares brasileiros chefiados por mulheres saltou de 23% para 40% entre 1995 e 2015, segundo
informações da pesquisa Retrato das Desigualdades de Gênero e Raça, divulgada nesta segunda-feira. A
sondagem, feita pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), é realizada com base nos números da
Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad).
13
Proposta analítico-filosófica que diz respeito à essencialidade do pensamento africano, onde corpo e alma/natureza
e pessoa compõem um integrado e único complexo de existência. Ao contrário de Descartes, conhecido por
alcunhar a concepção que, no entanto, a descreve como componentes do Ser com naturezas essencialmente
opostas.
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ontológica mais aproximada da experiência cognitiva da mulher negra na diáspora, e
ainda, para tornar cognoscível o entendimento da linguagem simbólica do termo
“mulher” fora da organização social e política baseada na oposição marido-esposa.

Distanciando Memórias
O contínuo processo de desterritorialização e destituição do corpo-coletivo-
cognitivo, sistematizou o pleno distanciamento da “concepção-africana-de-si” das
mulheres e homens negros no Brasil. O processo decorrente do período escravagista,
radicou legalmente uma condição de nacionalização ilusória da população africana no
pós-abolição. O discurso que circulou o imaginário de democracia racial e
integralização das culturas, garantiu muito mais do que uma tentativa de não-
reatividade à condição de “ex-escravos” – na qual os corpos pretos ainda estão
inseridos – asseguraram e ainda asseguram, um continuado processo de negação de
uma unidade de pertencimento centrado sua condição de povo, que apesar de tanta
diversidade cultural, acabou por se conformar como uma “minoria”étnica, fora do
continente africano, mas, no entanto, mantém uma Unidade Cultural Africana, como
nos afirma Diop (2014).
Através das dinâmicas sociais engendradas pelo racismo, outro fenômeno pode
ser ainda hoje verificado na sociedade brasileira. Concomitante ao processo de
clareamento racial, surge a denegação sistemática de um pertencimento africano-
diaspórico com o objetivo de mitigar diferença com que são tratados aqueles que
possuem maior taxa melanodérmica. A partir da concepção de dissonância cognitiva 14
cunhada na área de psicologia social, podemos compreender que junto a negação e
denegação etnicorracial, há ainda um distanciamento cada vez maior da narrativa
sobre si, em prol da aproximação da imagem do “outro-social”. Dessa forma a memória
coletiva e a condição de agenciamento à melhores condições coletivas no futuro (que
impactam diretamente na vida de cada negro), afastam, no plano psico-social, as
possibilidades de desenvolvimento de autonomia e o consequente processo de
emancipação e elaboração criativa.

Autodeterminação dos Povos


“Toda pessoa tem direito a uma nacionalidade e ninguém deve ser
arbitrariamente privado de nacionalidades nem de ter negado o
direito de mudar de nacionalidade”
(Declaração Universal dos Direitos das Nações Unidas, Artigo 15.).

Debruçarmo-nos, consequentemente, sobre uma perspectiva não-nacionalizada,


obliterando o encarceramento da ideia de nação, democracia racial e pseudo-igualdade
organizada pela categoria de gênero no que diz respeito a mulher, para enfim,
sublinhar a experiência vivida. Neste sentido, é possível encontramos mulheres
africanas no Brasil, não apenas pela auto-nomeação, mas também pela sua origem
genealógica recente. Nesse sentido, a africanidade do povo preto no Brasil coloca-se

14
Cunhado por Leon Festinger que propôs uma teoria da dissonância cognitiva centrada em como as pessoas tentam
alcançar consistência interna. Na psicologia social, está associado ao comportamento de um coletivo ao entrar
em conflito com as crenças que são essenciais para a sua autoidentidade.
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como princípio suleador15 da sua orientação epistemológica, assim como o papel de
centralidade da mulher negra afro-brasileira no contexto que ocupam nos espaços
sociais. No entanto, a percepção do lugar ocupado pela mulher negra segue sendo
distorcida pelo discurso feminista, organizando as referências dessas mulheres sobre
sua experiência a partir de uma percepção dissociativa 16, ao confrontar-se com as
memórias, capital-simbólico e princípios da gestão matriarcal ou GMATER®17,
deixadas por seus ancestrais e que estão impregnadas nas múltiplas linguagens
culturais afro-brasileiras.

Matriarcado e Mulherismo Afrikana


Na busca desta experiência, o matriarcado afrikana dialoga com a teoria afro-
americana denominada Womanism African ou mulherismo africana. Porém, o
matriarcado expande seu escopo conceitual para a percepção dos efeitos do modelo
sociopolítico na diáspora negra no Brasil, reificando seu conceito, que foi apropriado
para uma concepção europeia/ocidental.
O Matriarcado Afrikana é uma teoria que vem sendo desenvolvida pelas
pesquisadoras Kaká Portilho e Marina Miranda, com o propósito de descrever, mapear,
analisar, comparar e difundir a narrativa das mulheres africanas do continente e da
diáspora brasileira que perceptivelmente assemelham-se, seja nas estratégias, nos
saberes ou nas práticas cotidianas, algo inerente ou primordial, conceituado pela
antropóloga Marimba Ani como asili africano18, que no contexto da diáspora negra,
apesar dos fatores traumáticos, não dissolveu-se, mas, moldou as experiências através
do tempo e do espaço. Esta teoria também busca reconhecer a especificidade concreta

15
“Sulear” está cumprindo o papel de apontar a natureza antagonista da direção teórica e metodológica em que as
categorias estão sendo desenvolvidas. Está em contraposição a categoria “nortear” comumente utilizada para
indicar uma direção a seguir.
16
Refere-se ao fenômeno de Dissociação Psicológica: cunhado pelo psiquiatra francês Pierre Janet (1859-1947)
definiu o fenômeno da dissociação no seu livro L'Automatisme psychologique. Segundo ele, o papel deste
mecanismo é defensivo, surgindo em resposta a um trauma psicológico. Apesar de considerar a dissociação
como um mecanismo de defesa inicialmente efetivo, protegendo o indivíduo psicologicamente do impacto de
eventos traumáticos, uma tendência habitual de dissociação pode ser um indício de uma psicopatologia mais
profunda. Disponível em: < https://pt.wikipedia.org/wiki/Dissocia%C3%A7%C3%A3o_(psicologia) >.
17
Conceito criado pelas autoras, que sistematiza e conceitua os princípios fundamentais da gestão nos sistemas
matriarcais africanos e os traz para a realidade e demandas do cotidiano do povo negro no país.
18
O conceito de Asili, uma palavra Kisuaíli que é usada de várias maneiras relacionadas para significar “começo”,
“origem”, “fonte”, “natureza” (no sentido da “natureza” de uma pessoa ou coisa) (...) Asili como uma
ferramenta conceitual para análise cultural refere-se ao princípio explicativo de uma cultura. É o princípio
germinal do ser de uma cultura, a sua essência. A ideia de uma semente, o símbolo analógico onipresente em
explicações filosóficas e cosmológicas Africanas, é ideal para nossos propósitos. A ideia é que o asili é como
um modelo que carrega dentro de si o padrão arquetípico para o desenvolvimento cultural; nós poderíamos dizer
que ele é o DNA da cultura. Ao mesmo tempo incorpora a “lógica” da cultura. A lógica é uma explicação de
como ela funciona, bem como, o princípio de seu desenvolvimento. Nossa suposição então, é que a asili gera
desenvolvimento sistemático; ela é uma afirmação do logos. A asili de uma cultura é formulativa, e é ideológica
na medida em que ela dá sentido ao desenvolvimento. Ela é responsável por consistência e padrão na cultura, e
também por sua tenacidade. A asili determina o desenvolvimento cultural; em seguida, a forma que a cultura
toma atua para manter a sua integridade. ‘Ela atua como uma tela, incorporando ou rejeitando inovações,
dependendo da sua compatibilidade com a sua própria natureza essencial. É como se ela fosse um princípio de
auto-realização. Ela é uma força propulsora que vai dirigir a cultura, desde que permaneça intacta: ou seja,
carregada nos “genes culturais”.A fim de a cultura ser alterada (e isso inclui o pensamento e comportamento
coletivos daqueles dentro dela), a própria asili teria de ser alterada. Mas isso implicaria um processo de
destruição e o nascimento de uma nova entidade. Asili(s) Culturais não são feitas para ser mudadas."
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da experiência de gênero no âmbito do que é individual-comum às mulheres negras,
reivindicando autonomia para analisar como as experiências múltiplas conectam e
diferenciam-se das experiências das mulheres não-negras. E sta proposta pauta-se na
busca por um conjunto de ideais que possibilitem (re) examinar uma ontologia, o que
significa “ser o que somos”, e que “ao mesmo tempo nos encoraja a perceber o que
queremos nos tornar” (Dove, 1998). Tais exigências, irão nos fornecer meios de teorizar
mudanças da modalidade existencial das mulheres afrikanas no Brasil, assim como
reconhecer as diferentes tradições e culturas que ligam as mulheres afrikanas de todos
os continentes em tempos e lugares distintos.
A partir desta perspectiva, “cultura” e “tradição” podem ser vistas como um
projeto inacabado que está continuamente sendo transformado pelos agentes culturais.
Deste modo, seremos capazes de nos afastar de proposições deterministas, teorias
cartesianas e noções redutivas de um excepcionalismo Africano.
A fenomenologia19 - como uma teoria que evita fazer afirmações absolutas ou
universalistas sobre o mundo e as relações sociais anteriores à sua investigação, reúne
os requisitos mais pertinentes à uma compreensão teórica da existência feminina
Afrikana. Sua ênfase em uma teoria situada e incorporada de conhecimento e
experiência, une-se ao desafio de rejeitar por completo o binarismo20 ou maniqueísmo
confrontando o determinismo, no qual teorias focadas no gênero, a exemplo do
feminismo, reforçam o privilégio dos aspectos: (1) mentais sobre o físico: a exemplo do
racionalismo platônico oposicionista a emoção e a intuição como naturezas humanas;
(2) sujeito sobre o objeto: reduzindo a relação sociedade e natureza, forjando a este
nexo um sentido de primitivismo; (3) cultura sobre a natureza; uma incessante temática
para a antropologia cultural tradicional, pautada em um discurso essencializado nas
dicotomias e peculiaridades a estas condições convenientes aos homens e mulheres
brancas.
Tantas perspectivas atentam ao processo de formação interpretacionista das
subjetividades sociais que são minuciosamente construídas, criando meios para
compreender possibilidades libertadoras. Estas poderão ser desenvolvidas no futuro
pelas mãos de homens e mulheres pretas que se propuserem a este desafio.
De fato, podemos afirmar que a fenomenologia é uma filosofia dos começos, e a
respeito desse preceito, voltaremos a algumas das perguntas que Sojourner Truth 21
profere na Convenção dos direitos da Mulher (1851)22
“O Segundo sexo.” Ela pergunta: “O que é uma mulher?” e “Como tornar-se
uma?” Partindo deste ponto reafirmamos as perguntas colocando-as à luz das
experiências e perspectivas atuais africano-centradas, com objetivo de investigar os
significados dos corpos sexualmente diferenciados, e esclarecer como a “incorporação”
(Beauvoir, 1963) de tais concepções produzem e afetam a nossa experiência do
mundo. Estamos cientes que alguns teóricos e leitores de sua obra, têm argumentado,
19
Russell (1912), Capítulo 5.
20
Pensamento estruturado por oposição, sem espaços para outras possibilidades.
21
Sojourner Truth (1797 – 26 de novembro de 1883) foi o nome adotado, a partir de 1843, por Isabella Baumfree,
uma abolicionista afro-americana e ativista dos direitos da mulher... Seu discurso mais conhecido, “Não sou
uma mulher?”, foi pronunciado em 1851, na Convenção dos Direitos da Mulher em Akron, Ohio, 23 de maio de
2009.
22
Participou da Convenção dos Direitos da mulher em Akron, Ohio, onde pronunciou seu famoso discurso “Não Sou
Uma Mulher?”, relativo a uma das mais famosas imagens abolicionistas, o de uma escrava ajoelhada, com a
legenda “Não Sou Uma Mulher e Uma Irmã?”.
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Universidade Federal de Uberlândia – (UFU)
que o atual interesse sobre obra de Beauvoir submersa a teoria feminista. É
injustificado e tem pouca relevância para as mulheres Afrikanas do continente e da
diáspora (Arnfred, 2002), contudo, a filosofia existencial de Beauvoir sobre mulheres
“incorporadas”, concentrada nas experiências das mulheres é mais relevante agora do
que nunca, dadas as enormes mudanças sociais e fluidez cultural que caracterizam as
sociedades Africanas. Retornar às questões de Beauvoir, não significa fechar-se em
um humanismo acrítico, essencialista, metafísico ou universal, ao invés disso, envolve
a compreensão, articulando formas complexas a que estas mulheres foram
subjugadas, sem no entanto, ignorar os seus esforços na tentativa de descobrir novas
identidades e modos de existência em sua condição de colonizada. Antes de investigar
como a fenomenologia, pode fornecer uma alternativa para descrições existentes,
traçamos uma crítica de alguns dos modos pelos quais Africanas e teóricas Africanistas
analisaram as identidades das mulheres.
Ao longo dos últimos vinte anos, em uma variedade de abordagens, essas
pensadoras têm procurado tratar das implicações políticas e das concepções de
diferença de sexo na África. Para simplificar, vamos distinguir entre as abordagens que
chamam a atenção para as diferenças hierárquicas entre homens e mulheres,
acentuando os fatores que tencionam a sua equivalência social e status complementar.
No caso do primeiro, as mulheres Africanas por vezes são definidas apenas pelo
domínio de sujeitos do sexo masculino em sistemas patriarcais. Este fatos marca o
contraste com as teorias que argumentam as posições dos homens e mulheres, a partir
da significância da mulher nos mais diversos contextos Africanos e dinâmicas sociais,
produzindo os desafios na compreensão desses papéis para o conceito de
“patriarcado”.
Tais sentenças sedimentam a ideia de que homens e mulheres possuem
diferentes papéis e relativamente, responsabilidades na sociedade, mas sustentam que
ambos possuem as mesmas experiências, como sujeitos sociais. Exemplos
contraditórios a essa afirmativa, podem ser verificados nos mais variados grupos
étnicos, a exemplo do grupo dos Kás, Khoi-Sanm pejorativamente chamados de
“pigmeus”. Estes povos têm origem em Ruanda, Uganda, República Democrática do
Congo, República Centro-Africana, Camarões, Guiné Equatorial, Gabão, Congo,
Angola, Botsuana, Namíbia e Zâmbia. Conhecidos por sua baixa estatura, são
cercados de lenda e mitos. Povos que até hoje sobrevivem como caçadores-coletores,
centram sua unidade sócio-econômica na aldeia (comunitarismo), onde o caçador mais
hábil, o mais velho (gerontocracia) é designado a presidir a unidade. Apesar disso, esta
estrutura social não faz distinção ou divisão do trabalho entre os sexos. Qualquer um,
homem ou mulher, recolhe tubérculos, fungos, larvas e cogumelos na floresta e a
pesca pode ser feita por mulheres e crianças23.
Já na narrativa e entendimento ocidental, o fato de um caçador mais velho
exercer o papel de chefia, pode representar a hierarquia de poder masculina, ou
patriarcado. Mas, de fato, o que é ignorado reside no campo do enacionismo dinâmico
deste povo. A palavra Jengi, literalmente floresta, encontrada como uma singularidade
em todos os territórios que residem é a chave para a desmistificação da hierarquia de
poder masculino entre os Kás. Estes povos possuem sua centralidade cultural na
floresta, um ente feminino, associando a ela sua vida espiritual e física, e a prática da

23
Cavalli-Sforza, Luigi Luca: African pygmie. Academic Press, 1986.
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caça, é compreendida como um ente que guarda o espírito masculino. Este ente, está
representado no plano social pelo chefe caçador e o feminino presente nos corpos das
mulheres de seu grupo (Turnbull, 1968/1972). Os critérios de hierarquia nesse caso,
sequer podem ser percebidos na perspectiva dos “pontos de vista”, para os Kás a caça
está indissociada da floresta e na realidade, de alguma forma o ente masculino está
“reduzido no fazer e na experiência do homem mais velho, mas de forma alguma
determina a organização e a organicidade desse povo. Parte da explicação sobre o
modelo matrimonial monogâmico desses grupos, permanece sendo um enigma aos
estudiosos destas sociedades. Porém, um olhar pouco preocupado com as convenções
ocidentais, pode enxergar que a resposta está na própria formatação das relações
matrimoniais. Os Kás são monogâmicos porque os homens casam-se com a própria
Jendi, a floresta nutridora corporificada na figura feminina, suas esposas, confrontando
a convicção dos pretensos “analíticos” de sua cultura que sustentaram que a poligamia
africana é uma característica de povos primitivos, resultando elaboração dos estudos
de parentesco em sociedades ditas primitivas a exemplo destes povos.
Os saberes africanos narrados em uma perspectiva poliracionalista 24 ou espiral
como a dos povos Dogons25, nos conduzem a refletir sobre o formalismo cartesiano
ocidental e suas narrativas sensualistas e folclorizantes sobre o pensamento africano.
Uma análise crítica nos traz a tona a arma de combate colonial que nos
transformou no “outro”, sujeito essencial à pretensão de superioridade eurocêntrica que
deseja sempre proferir a última palavra sobre o que é humano e o que é divino.
No Brasil, a condição do homem negro coloca-se como uma grave questão em
relação às condições de existência da mulher negra. Isto porque não é coerente
analisar a formação de autonomia dessas mulheres, obscurecendo os referenciais
formativos de uma auto-imagem relacionada a seus familiares masculinos no que tange
inclusive a concepção de famílias alargadas. O impacto do genocídio do povo negro,
atua de forma devastadora, na imagética de violência que assola mulheres negras
ainda na infância, transmitindo uma educação prematura para a violência, além de
reforçar o estereótipo de subalternidade, fragilidade e miséria associados aos homens
negro desde a infância. Por outro lado, a violência perpetrada aos homens negros, a
auto-imagem gerada pelo racismo e o sistema patriarcal, lança-o na perspectiva de
uma masculinidade única, possível, reprodutora do abuso contra a mulher negra, e
amplificada para uma condição natural-masculina-negra pelo discurso feminista. De
fato, são os homens negros as maiores vítimas dos sistemas carcerários (os mais
imputáveis no mundo), e também são os homens negros os mais associados a todo e
qualquer tipo de violência. Vale ressaltar que o homem negro é permanentemente
desassociado de uma origem família-nuclear, assim como a mulher negra, causando
sua emasculação social.
Apesar de todo o esforço de conversão que a teoria feminista empregou na
captura das mulheres negras à “porta-bandeiras” de sua agenda, o desajustamento
entre a cosmovisão africana que tem como primazia a memória – portadora dos
vestígios presentes na contemporaneidade, e seus saberes, são um ponto primordial a
ser considerado como força. Apesar de todo o esforço de conversão que a teoria

24
Perspectiva que possui como primazia a incorporação das diversas formas de conceber e racionalizar o universo
cultural.
25
Dogon é um povo que habita o Mali e o Burquina Faso. Vivem em uma remota região no interior da África
Ocidental. Possuem uma elaborada concepção de mundo centrada em conhecimentos sobre astronomia.
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feminista empregou na captura das mulheres negras à “porta-bandeiras” de sua
agenda, o desajustamento entre a cosmovisão africana que tem como primazia a
memória – portadora dos vestígios presentes na contemporaneidade, e seus saberes,
são um ponto primordial a ser considerado como força motriz para a autonomia do
pensamento e criação intelectual que ocupem-se, de fato, com a descolonização e a
reconstrução da história de emancipação do povo negro no Brasil. Mantendo vivo o
ventre que tem preservado a nossa existência.

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