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Introdução De onde vieram os primeiros Fuck?


Começo esse livro com a frase de Edmund Burke “Um povo que não Da Alemanha, mais precisamente Schneppenbach, uma pequena vila na
conhece a sua história está condenado a repeti-la”. O caráter, a personali- região de Hunsrück, no estado de Rheinland-Pfalz. Localizada no sudo-
dade, a moral e os bons costumes de cada cidadão se faz pela sua história, este do estado, a 126 quilômetros de Frankfurt e muito próximo da divisa
seja de seus antepassados ou das pessoas que o rodeiam. Um homem que com Luxemburgo e França. Por ser uma cidade tão pequena, de apenas
não conhece suas raízes, que não sabe da onde veio, nunca será um ho- 246 habitantes, é muito comum chamar de vila, ou “Dorf ” em alemão.
mem completo.
É de Hunsrück que vieram a maioria dos imigrantes para São Pedro
Eu, André Felipe Fuck de Oliveira, nascido em 13 de março de 1989, de Alcântara. Uma região muito assolada pelas guerras, teve um período
filho de Eunice Fuck de Oliveira e Antônio Otílio de Oliveira Filho venho muito difícil entre os principais anos da colonização dos alemães para o
por meio dessas linhas tentar contar um pouco da perseverança de um Brasil. Para explicar isso tudo com mais clareza, vamos falar um pouco
povo batalhador, que com a mão calejada e firme no arado, fez a história de história.
desse estado, desse país, e também a minha história. Mesmo depois de
tanta dificuldade, conseguiu perseverar. Por volta de 1815, depois das Guerras Napoleônicas, a região de Huns-
rück ficou perdida no meio do fogo cruzado. Por estar tão próxima da
Esse livro é um apanhado de estudos históricos com base em histórias França, foi uma das regiões germânicas que mais sofreu com o conflito.
contadas por familiares, livros e outros registros. A história a seguir conta Na época, a Alemanha era dividida por vários reinos, o mais forte dos
a jornada de Johann Jakob Fuck, nascido em 1832 em Schneppenbach na estados alemães, a Prússia, com capital em Berlim, tomou posse dos ter-
Alemanha, até São Pedro de Alcântara – SC. ritórios da Renânia e Vestfália, que passaram a categoria de províncias
prussianas. O Hessen, entre os rios Meno e Reno, continuou dividido en-
Convido você leitor a me acompanhar nessa jornada, acompanhado de tre quatro pequenos estados, ao norte de Hannover, o Grão Ducado de
uma boa taça de vinho, um copo de cerveja ou uma xícara de café ou chá, Oldenburg foi restabelecido e continuou com a posse de Birkenfeld Land,
pela história da família Fuck, da Alemanha até a cidade catarinense de entre a Baviera Renana e a Província Renana da Prússia, ao sul de Huns-
São Pedro de Alcântara. Vamos juntos? rück Da Província Renana da Prússia, vieram a maioria dos imigrantes de
São Pedro de Alcântara.

Por ser uma região ocupada por Napoleão, no fim da guerra, ficou de-
solada devido ao caos econômico. Grande parte da força de trabalho da
região, baseada no artesanato e agricultura, foram convocados para os
exércitos de ocupação e conquista.

Em 1815, a Prússia toma o território como seu. Deu um chega para lá nas
tradições francesas que ali queriam tomar força (se continuasse, talvez
estaríamos comendo queijo ao invés de cuca), e por isso, proibiu as tradi-
cionais relações comerciais com a França, provocando uma grande crise
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econômica. A vida dos cidadãos na época começou a se tornar cada vez
mais difícil, dependendo de recursos muito limitados. O alimento básico
na época, a batata inglesa, começou a ser prejudicada por diversas pragas.

Já em 1817, veio com força o chamado “inverno da fome”, obrigando


uma boa parte da população a migrar dentro dos estados alemães. Foi
nessa época difícil que nasceu o ícone Karl Marx em Trier, em 1818. De-
vido ao que viveu em sua infância e juventude, sua obra foi criada e é
famosa até hoje.

O governo da Prússia tolerava a migração do povo pelos estados ale-


mães, porém, apesar da lei de 1818 “Allgemaines Landrecht”, dificultava a
emigração para outras localidades, para não perder mão de obra e solda-
dos para o exército. Estados como Hessen e Baden, facilitaram um pouco
a emigração, devido a filosofia de que o povo é dotado de liberdade e
autonomia e está no seu direito buscar um círculo social que lhe garanta
suas exigências de vida. A situação foi ficando cada vez mais difícil na
região.

Localização de Hunsrück indicado pela seta

Mapa 1: Google Imagens | Mapa 2: Google Maps


Localização de Schneppenbach no mapa de Hunsrück

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Devido as promessas e das notícias vindas da Colônia São Leopoldo, o
O “apoio” brasileiro interesse foi crescendo entre o povo alemão, nos arredores de Trier, Sarre,
Eifel, Hunsrück, e até em Luxemburgo. Não haviam apenas agricultores,
O Agente de Encargos Políticos do Imperador Dom Pedro I, Major Ge- mas também pessoas de várias profissões distintas com mais especializa-
org Anton Schäfer, tinha como missão recrutar soldados para o Exército ção. Então, os primeiros emigrantes vieram para o Brasil. No total de 60
Imperial, mas não foi bem recebido nos estados alemães. Porém, com o famílias enviadas para Amsterdam, onde embarcaram em 1828. Os de-
sucesso da Colônia São Leopoldo, no Rio Grande do Sul em 1825, o inte- mais embarcaram em Bremen, nos navios Johanna Jakobs e Charlotte &
resse da emigração alemã para o Brasil aumentou. A região de Hunsrück Louise, em junho e julho do mesmo ano. Antes do embarque, junto com o
criou uma febre emigratória. Dessa forma, o Major Schäfer comandou representante consular brasileiro, eram anotados o número de integrantes
uma propaganda de aliciamento. Passado o interesse em recrutar sol- de cada família e o peso máximo das bagagens. Um casal com 5 filhos ti-
dados para o Exército Imperial Brasileiro (afinal, ninguém queria mais nha direito a uma bagagem de até 117 quilos, dentre elas: panelas, louças,
guerra), começou a procura de famílias que quisessem estabelecer aqui sementes, ferramentas, roupas, etc.
sua moradia como colonos. Mesmo a Prússia facilitando a emigração, ha-
via apenas uma regra: não deviam ser levadas as pessoas que estivessem A viagem durava em média 90 dias. As mulheres e crianças viajavam no
em idade de serviço militar. porão e os homens no tombadilho. Dentre os passageiros, eram descober-
tos alguns clandestinos, como órfãos, que logo eram amparados pelas fa-
O Governo Imperial do Brasil “oferecia ótimas vantagens”, como: mílias. Infelizmente, na época, ocorriam algumas mortes na viagem, seja
- O Brasil se encarregaria das passagens e alimentação durante a viagem. por doença ou cansaço, e os cadáveres recebiam o mar como sua sepul-
Na chegada ao Brasil, os colonos receberiam utensílios agrícolas e provi- tura. Uma canção composta por Peter Minor era cantada pelos viajantes
sões para se alimentarem até prosperar; durante a travessia, dessa forma era possível descrever melhor a situação
- Os colonos com mais dinheiro, que pagassem sua própria viagem, ao e os sonhos dos imigrantes que para cá vieram, conforme relato de Carlos
chegar no Brasil receberiam uma área maior de terra, proporcional aos H. Hunsche na sua obra “O ano de 1826 da imigração e colonização ale-
custos da viagem; mã no Rio Grande do Sul”:
- Ninguém seria obrigado ao serviço militar no Brasil, o alistamento seria
voluntário; “Wir Treten jetzt die Reise nach Brasilian an
- Os imigrantes teriam seus agrupamentos próprios para não perderem Sei bei uns, Herr, und weise, ja, mache selbst die Bahn
seu patrimônio cultural, nem seus valores de origem, inclusive seu idio- Sei bei uns auf dem Meere mit Deiner Vaterhand!
ma materno; So kommen wir ganz sicher ins das Brasilien-Land.
- Cada região receberia escolas e igrejas, mesmo não sendo elas de origem
católicas; (Iniciamos, agora, a viagem ao Brasil
- Para fixarem residência em terras cedidas pelo Governo, todos os colo- Estejas conosco, Senhor, indica e abre o rumo
nos receberiam o Certificado de Recepção (Aufnahmezusicherung); Estejas conosco no mar com tua mão paternal!
- Os colonos seriam todos estabelecidos na Província do Rio Grande do Assim chegaremos, com certeza, às terras do Brasil).
Sul.
Durch Gott sind berufen, sonst käm’s uns nie in Sinn,
So glauben wir und wander auf Dein Geheiss dahin.
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Gott führt uns auf dem Meere mit Seiner Vaterhand,
So kommen wir ganz sicher in das Brasilien-Land. Chegando no Rio de Janeiro
(Por Deus fomos chamados, sem Ele não ousaríamos viajar Desembarcando no Rio de Janeiro, os imigrantes eram encaminhados
Cremos que viajamos por sua ordem. para a Armação de São Domingos, em Niterói. Em terras fluminenses, o
É Deus que nos guia no mar com sua mão paternal, Inspetor da Colonização Estrangeira, Monsenhor Pedro Machado de Mi-
Assim chegaremos, com certeza, às terras do Brasil). randa Medeiros, tinha em mãos um plano, dos anos de 1790, para a cria-
ção de duas colônias militares e agrícolas entre Desterro e Vila de Lajes,
Gott sprach zu Abrahame: Geh aus von deinem Land, no planalto catarinense, concedendo aos imigrantes condições melhores
Ins Land, das ich Dir zie durch Meine starke Hand! do que a província de São Leopoldo. Em outubro de 1828, ficou acertada
Auch wir vertrauen feste auf Gott, sein heilig Wort, a ida de 146 famílias, num total de 635 pessoas, para Santa Catarina, no
So gehen wir von dannen jetzt nach Brasilien fort. Brigue Marques de Vianna.

(Deus falou a Abraão: parte de tua terra


Para o lugar que, com minha mão forte, indicarei!
Em Santa Catarina
Nós também confiamos firmemente em Deus e sua palavra sagrada, A Ilha de Santa Catarina, que viria a ser no futuro a capital Florianó-
Assim partiremos, agora, daqui para as terras do Brasil). polis, é visitada por europeus desde 1515, e considerada um ponto es-
tratégico nas terras brasileiras. Já em 1828, o estado contava com 50.000
Wie oft haben wir gerufen zu Dir, mein Gott und Herr, habitantes, com 18.000 na ilha, dentre eles açorianos, homens brancos e
So hat sich jetzt eröffnet ein Land, worinnen wir negros livres. Para surpresa dos alemães que tinham lugar destinado em
Auf Deinen Wink hingehen. Durch Leitung Deiner Hand terras entre a Ilha e Lajes, seria cobrado um valor diário de 160 réis pelo
Wirst Du uns wohl versorgen in dem Brasilien-Land.” prazo de um ano.

(Quantas vezes chamamos a ti, Deus e Senhor! Alojados na Armação, os colonos ficaram em completa ociosidade, sem
Se nos apresentou, agora, uma terra para onde o que fazer, além de conviver com os soldados brasileiros no mesmo es-
Nos dirigimos seguindo o Teu sinal, orientados por Tua mão, paço. Sem perspectivas quanto ao destino que iam ter, ociosos e já sem
Nos abrigarás bem nas terras do Brasil). esperança, os imigrantes confinados na Armação da Lagoinha foram aos
poucos perdendo a paciência. Alojados em barrações sem espaço sufi-
ciente, eram castigados pelo frio e a fome, sem nenhuma condição digna
de sobrevivência. Os que chegaram doentes, mais doentes ficaram, sendo
que alguns colonos não resistiram e acabaram falecendo. Com as semen-
tes trazidas da Alemanha já se tornando inutilizáveis, alguma coisa deve-
ria ser feita.

Após tanto esperar, os colonos receberam liberação da abertura de terras


Navio de imigrantes em 1830 na região de São Pedro de Alcântara. Em uma terra acidentada coberta de
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Mata Atlântica, os colonos abriram e conquistaram seu espaço. Em 10 de Santa Catarina é o estado do Brasil com maior número de descenden-
maio de 1829, o serviço da estrada até o morro do Galão, com destino à tes de alemães. Cerca de 50% dos catarinenses possuem descendência
Lajes, estava pronto. Já se achavam concluídas 36 palhoças para servirem germânica. Depois da língua portuguesa, a língua alemã é a segunda
de habitação provisória, e ali se formou a colônia. com maior número de falantes como língua materna.

Em homenagem à Família Imperial Reinante, foi dada o nome de Co-


lônia São Pedro de Alcântara. Dessa forma, foram divididas as terras em
lotes, com a profundidade de 800 braças aos que haviam conseguido che-
gar à Colônia antes dos demais. Foram eles:

- Karl Payeken e Wilhelm;


- Nikolaus Deschamps;
- Heinrich Bohnen;
- Johann Hansen;
- Johann Klocker;
- Heinrich Conrad;
- Franz Caspar Ostermann;
- Johann Alflen;

Colônias alemãs em SC - 1905 (Fonte: Wikipedia)


- Matthias Palm;
- Georg Wagner;
- Christoph Schmitz;
- Johann Gesser;
- Konrad Dör;
- Johann Jakob Gödert;
- Jakob Neckel;
- Matthias Meurer;
- Matthias Rinkus;
- Peter Conradi;
- Cristoph Sabel;
- Franz Conradi.

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Para abrir espaço entre a mata para plantação, os homens com machados
Os anos seguintes em São Pedro de Alcântara e facões se embrenhavam na floresta, onde era comum serem picados.
Em 1830 os colonos foram abandonas a própria sorte pelo governo. As dificuldades eram tantas que em 1837 algumas famílias desistiram
Dessa forma, a população de São Pedro de Alcântara teve que se orga- e começaram a se mudar para cidades do Vale do Itajaí. Inicialmente fo-
nizar por si mesma, e através da solidariedade, do trabalho duro e co- ram as famílias Bornhofer, Deschamps, Gödert, Händchen, Junk, Kerba-
laborativo, a cidade prosperou. Sem um governo próprio, São Pedro de ch, Klocker, Michels, Müller, Palm, Rausch, Schneider, Simonis, Theiss e
Alcântara teve que contar com a harmonia entre seus membros. Werner, encontrando lar em cidades como Itajaí, Belchior (atualmente
Gaspar), Blumenau, etc.
A prioridade principal em tempos difíceis era a sobrevivência. Os que
dispunham de sobras ajudavam os mais necessitados. Nos primeiros anos Durante os anos, os colonos com braço forte perseveraram e venceram
a safra de batata teve sucesso, portanto, durante essa época, a alimentação os desafios da terra crua. Da cidade saíram grandes nomes como Lauro
básica estava garantida. Müller, governador de Santa Catarina em 1889. Além dele, Filipe Schmi-
Mesmo sem um policiamento, as brigas, quando existiam, eram resolvi- dt, que também foi governador do Estado em 1898.
das entre si. Por mais de 20 anos a colônia não teve sequer uma queixa de
roubo, assassinato ou lesão corporal.

Os homens cuidavam da terra, plantavam e construíam casas. Já as mu-


lheres e crianças eram reservadas para os trabalhos domésticos, ou auxi-
liando os homens em suas atividades. O período entre namoro, noivado e
casamento era bastante rápido. Os casais, quando não unidos pelos pró-
prios pais, tinha que contar a aprovação dos mesmos, dando preferência
pela união daquelas que eram da mesma vila ou vizinhos ainda quando
moravam na Alemanha.

Entre os colonos, haviam aqueles que tinham participado da guerra por


Napoleão. Guardavam seus uniformes, espadas e quadros do imperador
francês. Eram eles Hans Unger, Nikolaus Bins (avô da minha trisavó Kla-
ra Bins), Joseph Schmitz e Nikolaus Hoffmann.

As crianças eram educadas pelos pais ou por um dos colonos que era
escolhido para ser professor dos pequenos. Já a saúde preocupava demais
a população. Além das doenças comuns, tiveram que enfrentar a falta de
assistência médica para problemas mais graves, como complicações de
parto, convulsões, espasmos, varíola, entre outros, problemas esses que
ocasionavam em morte com certa frequência. Uma das maiores recorrên-
cias que levavam a morte dos colonos também eram as picadas de cobra.
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Diário do imigrante Mathias Schmitz
Relatos da época sobre a colônia São Pedro (Extraído do Calendário para os alemães no Brasil – um relato que
de Alcântara muito serve para sabermos com mais detalhes o sentimento de um
imigrante nessa época)
Visita do Conde Frederick Christian Raben (natural da Dinamar-
ca) em 1834 (resumo) Já como escolar e mais ainda como adolescente, eu tinha uma aversão
enorme pela emigração e principalmente para o Brasil. Somente ao ouvir
21 de outubro: De barco naveguei para Santa Catarina, com destino o nome já sentia arrepios, porque imaginava a terra bem diferente do que
à colônia alemã de São Pedro de Alcântara, 37 quilômetros continente mais tarde conheci. Eu imaginava uma terra totalmente selvagem, onde
a dentro. Por falta de cavalos, caminhamos 7 quilômetros até nos hos- seus moradores eram seres humanos só na denominação e que mais se
pedarmos na casa de um alemão vindo de Koblenz, que morava numa pareciam com animais. Uma terra na qual, atrás de cada arbusto corria-se
pequena casa junto ao caminho. Aqui já encontramos diversos alemães. o risco de ser mordido por uma cobra ou outro animal selvagem.

22 de outubro: Cavalgamos na manhã seguinte por 30 quilômetros até Uma terra onde não se podia dar um passo em segurança, sem o perigo
a São Pedro de Alcântara, colônia alemã com já 7 anos de fundação. Ao de ser preso, morto e assado pelos selvagens, que acompanhavam os mo-
chegar na cidade, hospedei-me na casa de um jovem francês. Ao cair a radores. Mas mesmo com todos estes perigos em mente: seja como Deus
noite, ouvia barulhos de insetos e sapos. Cobras venenosas também são quiser! Aqui na Alemanha não há futuro para mim. Eu resolvi acompa-
comuns aqui, tanto que 5 à 6 pessoas são mortas por ano. nhar, aos 20 anos, meus pais e mais outros emigrantes para o Brasil.

23 de outubro: Uma doença denominada mal-da-terra é comum aqui. Onze famílias, entre as quais estavam filhos e filhas já adultos. Partiram
As pessoas ficam pálidas, perdem energia e demoram a se recuperar. Diz- certo dia, cantando alegremente, do pequeno lugarejo de Loeffeischeidt
-se provir de má dieta. Muitos são pobres, o povo em geral só se alimenta no Hunsrück, para um novo lar. Muitos dos emigrantes derramaram lá-
de carne-seca com farinha de mandioca e milho torrado em lugar de café. grimas amargas ao se despedir de parentes e amigos, pois era um adeus
A saudade parece tortura para a maioria dos colonos que desejam voltar à para sempre.
sua pátria, mas a maior parte não pode por falta de recursos.
Por volta de 1845, cerca de 40-50 famílias, entre as quais eu também me
24 de outubro: Hoje fez tanto frio que tive que vestir bastante roupa para encontrava, estávamos prontos a viajar de Oeste para a cidade portuária
resistir à friagem nos ambientes da casa, que são construídos de tal forma Dunquerque. Aconteceu um grande contratempo. Recebemos a notícia
que há correnteza de ar por toda a parte. Contaram-me que há certas de que não nos era permitido atravessar a fronteira sem apresentarmos o
ocasiões que o frio é mais intenso do que hoje, formando uma fina crosta exigido certificado. Se não tivéssemos dinheiro suficiente para cobrir as
de gelo sobre a água, com geada na relva. despesas seria melhor voltar para casa. O último nada nos agradou. Já não
tínhamos mais casa nem propriedade.

Nós permanecemos alguns dias em Ostende e neste meio tempo, o


agente foi procurara o armador para tratar de nossa viagem. Certo dia
veio o armador pessoalmente e começou o debate e os acordos. Primeiro
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o mesmo não estava interessado em negociar, mas, por fim concordou em mais para morrer e muito pouco para viver. Consistia em “água com café”,
aceitar 40 Taler para pessoas acima de doze anos e 20 Taler para pessoas batatas semiapodrecidas, um pouco de carne salgada e pão velho. Se nós
abaixo de 12 anos. Muitos não tinham nem esta soma e novos debates se pelo menos tivéssemos recebido somente pão e água, já teríamos ficado
iniciaram. Por último o armador deu-se por satisfeito com 2/3 do preço. satisfeitos. Mas era água duvidosa que diziam ser café, às 10 horas da ma-
Começou então nova negociata entre os passageiros emigrantes, quem nhã, e às 4 horas um pratinho de água morna com pedaços minúsculos
tinha dinheiro emprestava ao que nada tinha, para pagar quando chegas- de carne salgada ou cabeças de peixes salgadas. Esta foi a alimentação dia
se ao Brasil. Eu mesmo pedi emprestado 50 Taler para cobrir as despesas após dia, durante todas as semanas de viagem. Como ficávamos contentes
de meus pais e irmãos. Sobraram assim mesmo 11 famílias; 3 da minha quando chovia e podíamos recolher a água e guardávamos até a última
região, que não conseguiram dinheiro suficiente para a passagem. Estas gota. Se nós tivéssemos levado tanto tempo para a viagem como outros
famílias mais tarde foram acompanhadas pela polícia até a fronteira e en- navios que chegaram ao Brasil, isto é, 5 a 8 meses, nenhum de nós teria
viados de volta à cidade de onde vieram. Que estes tiveram um destino sobrevivido. Os que não morreram de disenteria teriam morrido de fome
lamentável é compreensível, pois tinham vendido tudo o que possuíam. e de sede.

No dia seguinte (era, se não me engano, 19 de outubro), o veleiro levan- Quando a viagem já estava chegando ao fim e a miséria da comida au-
tou âncora e partimos. Éramos 220 pessoas a bordo; todos emigrantes e mentava, todos os pais de famílias e jovens, postaram-se armados diante
fomos logo atacados pelo enjoo. Todos procuravam um canto para dei- da cabine do capitão e exigiram comida e água ou se vingariam. Isto resul-
tar-se. Não sentíamos nem fome nem sede. Logo que esta fase terminou e tou em efeitos positivos. O comandante mandou buscar pão e distribuiu
nós melhoramos, um mal bem pior nos surpreendeu. Era disenteria que boa quantia a todos. Também um barril com água potável apareceu e to-
uma família trouxera a bordo. Esta terrível doença atacou a quase todos, dos puderam saciar sua sede. Igualmente a cozinha apresentou uma co-
inclusive a tripulação! Que miséria reinava entre os doentes! Aqui alguém mida melhor, mas isto foi só um dia; depois tudo continuou como antes.
gritava por água, acolá outro pedia para morrer. Desta doença morreram
durante nossa viagem (6 semanas), 27 pessoas, na maioria adultos, cujos Dez dias tivemos que permanecer a bordo, antes que pudéssemos ir
corpos eram atirados ao mar. Numa noite, eu me lembro, 3 corpos de a terra. Diziam que era por causa da doença, pois os brasileiros tinham
uma só vez foram atirados ao mar. De várias famílias morreram o pai e a medo que a mesma se espalhasse pela cidade também. Mas eu acreditava
mãe deixando de 4 a 5 crianças pequenas mas que logo foram acolhidas que o motivo era bem outro e pela seguinte razão: desde que tínhamos
por outras famílias caridosas. Comida tinha o suficiente, mas o capitão chegado, vinha um senhor, que parecia ser um funcionário no Rio. Este
não entregava. Mesmo para um doente não se obtinha nem um pouco de homem vinha em companhia de outros e um intérprete alemão. Trazia
água para fazer uma sopa, imaginem outro alimento. Quando tentávamos uma grande folha de papel que estava escrito em português e alemão. O
explicar a necessidade de um doente e que o mesmo implorava por co- que queriam? Este senhor tinha grandes áreas de terra numa região onde
mida, ele apenas respondia: Nada! Morre! Bom para os peixes! E viravam fazia bem mais calor, mas do nome não me lembro. Estas terras ele queria
as costas. colonizar com alemães. Eis o motivo porque trazia aquela folha de papel e
que os alemães teriam que assinar. De acordo com o escrito, cada alemão
Uma única vez, depois de implorar muito, ele me vendeu uma garrafa de receberia margem de terra para um certo preço. Os primeiros três anos
vinho por 5 francos para meus pais. Mas em compensação, numa outra nada precisávamos pagar; só a partir dos três anos, tendo 6 anos para o
ocasião quando pedi água, para um doente, a xícara me foi derrubada pagamento. Quem não tivesse feito até então o pagamento teria que pagar
com um tapa na mão e jogada no mar. A comida que recebíamos era de- juros.
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O proprietário também prometeu uma longa ajuda em alimentos e ceder; ao Rio Grande do Sul não nos poderia enviar. No entanto havia três
ferramentas, que poderíamos pagar mais tarde. Teríamos que assinar o províncias que poderíamos escolher, Santa Catarina, São Paulo e Espírito
contrato e o mesmo navio nos levaria ao destino. Foi justamente a mim Santo. Podíamos pensar a respeito e mais tarde quando interrogados, di-
que escolheram para ler o papel; provavelmente acreditando que eu era zer por qual nos decidiríamos. Contentes deixamos a sala de audiência e
o mais entendido em escrita. Depois de ter analisado tudo muito bem voltamos para casa, transmitindo a mensagem do imperador. A alegria
eu disse: “todos podem fazer o que acharem melhor, mas eu, meus pais, não foi tão estrondosa como a primeira, mas grande foi a satisfação que
meus irmãos, queremos primeiro desembarcar, estar em terra firme. Ali sentimos quando à tarde veio uma canoa carregada com alimento; carne,
quero informar-me e se achar conveniente, então assinarei. Numa ter- pão, café, açúcar, arroz, feijão, trigo, sal, etc.
ra estranha não se pode assinar qualquer compromisso à primeira vista”.
Depois que eu falei isto os senhores voltaram a terra. Mas no dia seguinte Agora terminara nossa miséria. Todo dia vinha uma canoa nos trazer
voltaram e assim faziam diariamente. Por fim viram que tudo dependia o necessário durante um mês, tempo que estávamos recolhidos à Praia
de mim e prometeram-me uma gratificação, mesmo terra sem pagamen- Grande. Durante este tempo pesquisamos qual das três Províncias seria a
to, se eu convencesse os outros a assinar o contrato. Mas eu estava firme melhor. Todos aconselharam a de Santa Catarina. Diziam que o clima era
em meu propósito de primeiro desembarcar. Mais tarde soube por um saudável e os alemães ainda seriam estabelecidos próximo da cidade. Por
alemão fugitivo daquela região, que devido ao péssimo clima quase todos tanto nos decidimos por Santa Catarina.
morriam. Agora manifestava-se a fome. Compramos um pedaço de pão,
um pedaço de carne e tomamos um copo de aguardente. Certo dia chegaram vários barcos e nossa bagagem assim como nós, fo-
mos transportados a um veleiro brasileiro. Levantando âncoras, partimos
(...) Dia após dia passava e nada acontecia. A necessidade de alimentos em direção a Província de Santa Catarina. Fomos muito bem tratados;
tornou-se tão grande, que fomos obrigados outra vez a esmolar. Havia comida e água suficientes. O único problema era o espaço. O navio era
muitos moradores que ajudavam de bom coração; outros batiam a porta pequeno para tanta gente, e a maioria permanecia no convés. Algumas
quando nos viam e analisando as constantes visitas que nos fazia aquele vezes fomos surpreendidos por fortes chuvas e ficamos molhados até os
homem, querendo que assinássemos o compromisso para ir às suas ter- ossos. Depois de uma viagem de seis dias, chegamos são e salvos ao porto
ras, me fez pensar que talvez eles estivessem impedindo a ajuda prometi- de Santa Catarina. Ainda no mesmo dia fomos levados em barcos, com
da. Mais uma vez resolvi procurar o imperador. Novamente fiz uma carta todos os pertences, até a cidade e lá instalados num grande galpão. Na
e mandei traduzi-la e junto com o tradutor fui procurar o imperador, que cidade fomos bem recebidos, porque os alemães tinham fama de bons
desta vez encontrava-se no palácio. Pedimos que os guardas anunciassem trabalhadores e nós éramos os primeiros a chegar depois de 20 anos.
e recebemos permissão para entrar. Já não sentia mais receios e confiante
subia as escadas. O imperador nos recebeu num grande salão, mas não Nos primeiros dias recebíamos diariamente mantimentos, assim como
estava sozinho. Vários senhores estavam presentes. Entreguei outra vez no Rio. Apesar de que nada tínhamos a reclamar da comida, para nós se-
a minha cartinha, quando o mesmo veio ao nosso encontro, e uma ir- ria de maior valor um auxílio financeiro. Alguns dos companheiros foram
ritação profunda espelhou-se em seu rosto, quando a leu. Chamou um procurar o presidente da Província e explicar o caso. Este ficou satisfeito
dos presentes e comentaram sobre o que eu havia escrito. Em seguida se porque economizaria nas contas. Agora a diária por pessoa era de 160 Rs.,
dirigiu a nós e gentilmente falou-me, pediu desculpas de que tínhamos que pagavam pontualmente cada mês. Era em verdade muito pouco, mas
esperado tanto tempo em vão, mas agora tudo seria resolvido; que eu fos- dava para viver, porque os alimentos eram baratos. Muitos conseguiram
se tranquilo para junto dos meus. Um pedido no entanto não podia con- trabalho na cidade durante o dia e podiam economizar um pouco para o
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futuro. Este auxílio recebemos por 18 meses. parado com o que sentia agora. Nos sentamos junto ao fogo, aquecendo
uma vez o lado direito outra o lado esquerdo, mas de nada adiantava. Os
Algumas horas de viagem da cidade, na estrada imperial para Lages, dentes batiam e quase não conseguiam pronunciar palavras. Com meu
cidadezinha no planalto, receberíamos terra. Junto a uma estrada! Isto amigo acontecia o mesmo. Ficamos aliviados quando ouvimos um galo
é de grande vantagem para a colônia, pensei quando soube da notícia. cantar. Logo que o dia clareou deixamos o rancho, pois pensar em café ou
Estávamos na cidade cerca de 2 meses, quando fomos noticiados de que outra comida não adiantava. Quando saímos da porta, a terra sob nos-
seríamos transferidos para nossas terras. E realmente, no mesmo dia ain- sos pés se partia e olhando em volta vimos tudo branco; a região estava
da fomos transferidos com tudo o que possuíamos no barco, para a outra coberta por uma grossa camada de gelo. Foi a primeira geada que vi no
margem e mais horas e horas rio acima. Ali fomos instalados primeiro em Brasil. Felizmente o caminho melhorava para nós e não tivemos mais que
casas particulares brasileiras, até que uma família após outra fosse levada tirar as botas. Se tivéssemos que fazê-lo, ou ainda cruzar um rio a nado,
de carro de boi. teríamos morrido de frio. Ficamos felizes quando após meia hora de ca-
minhada chegamos a uma casa cujo dono era alemão. Tiritando de frio
Não chegamos logo à nossa terra porque as medições não tinham ter- entramos e ele nos acolheu com uma xícara de café. Também nos servi-
minado. Três horas de caminhada a partir do último morador e floresta ram um bom almoço e muito tivemos que falar sobre a Europa, da qual já
adentro, fora construído um grande barco onde todas as famílias foram há 20 anos não haviam mais ouvido falar.
alojadas. Eu me recordo da minha surpresa quando vi a estrada imperial.
Na Europa eu nunca vira uma estrada tão ruim. Coberta por mato onde Com a instalação e a vida dos alemães neste lugar fiquei muito satisfei-
rasgava-se a roupa, com cada passo atolado na lama até os joelhos. to; parecia que tinha voltado para a Alemanha. No dia seguinte na festa,
reuniram-se muitos alemães, homens, mulheres e crianças, todos vinham
Logo depois de minha chegada ao barraco, eu fui em companhia de meu a cavalo dos lugares mais distantes para assistir os cultos nas igrejas. Tan-
melhor amigo, fazer uma visita a São Pedro de Alcântara, colonizada há to aqui como na Alemanha, notei que os moradores não desligavam-se
20 anos passados (1826) por alemães e que distava um dia de viagem da dos divertimentos, pois logo que a missa terminou, o povo seguiu para
nossa. Enrolado em um pano algumas peças de roupas, nos pusemos a ca- o lugar de dança. Apesar da música só ser executada por uma clarineta e
minho, para chegar no dia da festa do Espírito Santo. Depois de caminhar um violino, foi uma satisfação enorme observar o colorido e a alegria do
um trecho, fomos obrigados a tirar as pesadas botas, pois atolávamos na povo. Ao anoitecer, muitos retiraram-se para suas casas e outros ficaram
lama a cada metro. Depois da chuva nos dias passados, os riachos esta- até amanhecer. Nós que estávamos cansados, deitamos cedo, agora numa
vam altos e pontes não existiam. Algumas vezes tivemos que atravessar boa cama e dormimos até que o sol nos despertou. Permanecemos alguns
riachos com água até o peito. dias na colônia visitando um e outro colono; sempre bem recebidos. Fica-
mos surpresos com a boa instalação de todos, grandes e verdes pastagens
A noite nos surpreendeu antes de chegarmos à colônia e não tivemos com gado bonito e saudável. Com o firme propósito de trabalhar com
outra escolha a não ser procurar um abrigo. Ao longe vimos o brilho de afinco, a fim de chegar também a possuir uma propriedade tão próspera,
uma fogueira e nos dirigimos para lá; encontramos dois negros junto a regressamos ao nosso rancho.
um fogo e por sinais lhe explicamos que queríamos abrigo, se o permitis-
sem. Os dois concordaram e nos indicaram um lugar perto da fogueira. Alguns dias depois desta viagem manifestei o desejo de visitar as me-
Cansado da viagem nos deitamos para descansar. Dormir foi impossível dições das terras destinadas para nós. Parti em companhia de um jovem
devido ao frio. Na Europa também senti frio, mas nada podia ser com- que já nascera aqui; queríamos chegar até onde trabalhavam os homens.
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Espingarda sobre o ombro, um grande facão na cintura, um saco com Naqueles tempos inicias, muitas chegaram até a mendigar.
mantimentos, estávamos prontos para partir. Como ainda não existia
uma estrada, mas sim somente uma picada, em alguns lugares tivemos Há na Colônia cerca de duzentos com 140 famílias alemãs. Ao lado
que arrastar-nos no chão. da velha geração, surgia uma nova, genuinamente alemã. Em conversa
com a família Schmitt, me contaram que sofreram indizíveis privações e
Quando a terra terminou de ser medida, recebemos nossa parte; quanto desilusões. O filho mais velho, João Adão Schmitt, um homem amável e
maior a família maior a terra. Rapazes sem família recebiam 100 braças de sensato, cordial e franco no modo de falar em sua casa aberta, conta que
largura e 1.000 braças de comprimento (200 margem); pais de famílias re- tem 8 filhos vivos e 4 mortos, mesmo assim, ele recebeu três órfãos, tendo
cebiam 125-200 braças de largura e 1.000 de comprimento. Agora chegou a mesma regalia dos demais filhos. “Se soubessem na Alemanha quantos
a hora de trabalho. Enquanto os pais e filhos munidos de machado, facas, tivemos afadigar-nos e nos vissem agora, não acreditariam!” E de fato,
foices e facão começavam a preparar a terra para construir um rancho, as quando examinava as pessoas, ouvindo-as, perguntando e recebendo res-
mulheres e crianças pequenas permaneciam no galpão comum. Semana postas, era de se admirar. Todos tinham chegado pobres e agora pairavam
após semana o trabalho continuava e aos poucos o terreno ganhava for- bençãos e prosperidade sobre suas casas, campos e prados.
ma. As casas improvisadas foram ocupadas e iniciou-se a construção do
mobiliário e o trazer dos pertences até a colônia. Não era um trabalho Perto dali, um quadro mais sério. Numa colônia inteiramente nova, na
fácil, porque o caminho era apenas uma picada. Tudo que era trazido casa ainda não acabada, morava um jovem casal. A jovem bonita mulher,
levaria pelo menos algumas horas de viagem. Por fim tudo estava no seu há poucas horas dera a luz à uma criança, mas, já Deus a retomara e, entre
devido lugar e a família pode começar a semear. Os primeiros anos foram amargas lágrimas, o próprio pai fazia o esquife, para nele enterrar o filho,
cheios de dificuldades, mas depois também isto normalizou-se e as co- e a jovem senhora, de sua cama, tristemente o contemplava. Essa é tam-
lheitas foram mais gordas. Dia após dia clareava a floresta e sempre mais bém uma história de aldeia certamente melancólica.
crescia a colheita. Muitos anos passaram-se e a colônia prosperou. Todos
os colonos que vieram comigo ao Brasil prosperaram e chegaram a uma Visitamos, pois, toda uma série de colônias. As casas, na maior parte
razoável estabilidade. A viagem a Desterro para a qual naquele tempo vazias, enquanto todos trabalhavam nas encostas da serra. Se aqui hou-
gastava-se dois dias, hoje se faz em um dia. O ditado: “após o sofrimento vessem ladrões, poderiam saquear metade da colônia. Mas o ofício do
segue a alegria”, concretizou-se nesta colônia. furto não é praticado por aqui, os habitantes garantem mutuamente a sua
propriedade.
Tão pouco como eu, todos os outros sentem mais saudades da Europa.
Aqui em Theresópolis, no Brasil, Santa Catarina, encontraram sua felici-
dade.

Theresópolis, 1867
Robert Avé Lallemant, médico naturalista alemão visita São Pedro
de Alcântara em 1858 (resumo)

A Colônia de São Pedro de Alcântara foi fundada em 1829. Quando che-


garam aqui as primeiras famílias, abandonaram-nas vergonhosamente.
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As imagens a seguir, retiradas do filme Die Andere Heimat (A Outra Pá-
Um pouco sobre Schneppenbach tria) de Edgar Reitz, mostram com fidelidade como eram as vilas na re-
gião de Hunsrück em 1840. O filme se passa na vila de Woppenroth (no
Berço da família Fuck, que emigrou para São Pedro de Alcântara, filme com o nome de Schabbach), vizinha à Schneppenbach.
Schneppenbach é uma pequena vila de 246 habitantes, localizada na
região de Hunsrück, no estado de Rheinland-Pfalz (Renânia-Palatina-
do), na Alemanha. Existente desde a idade média, a pequena cidade de
Schneppenbach faz parte de um conjunto de pequenas vilas que pertencia
ao monastério Reichsabtei Sankt Maximin em Trier. No topo do morro
da cidade ainda há as ruínas do castelo Schmidtburg, um dos mais anti-
gos de Hunsrück, pertencentes a família Emichonen, construído em me-
ados do ano de 926 e destruído em 1688 pelas tropas francesas na Guerra
da Grande Aliança.

Em 1798, Schneppenbach foi invadida pelas tropas francesas que imple-


mentaram seu estilo de governo, até o fim da hegemonia francesa. Só em
1817 a cidade voltou a pertencer a Alemanha, que implementou o modelo
de governo Bürgermeisterei (prefeitura) anexo à Prússia. Depois do curso
administrativo após a Segunda Guerra, Schneppenbach foi anexada ao
Kirn-Land, um conjunto de pequenas cidades.

Escala de população/ano:
Ano Habitantes
1815 225
1835 278
1871 293
1905 278
1939 280
1950 285
1961 272
1970 294
1987 284
2005 261

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Fonte: Wikipedia
Schneppenbach nos dias atuais

As ruínas do castelo de Schmidtburg (Fonte: Wikipedia)

Fonte: Wikipedia

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Saindo da Prússia e chegando ao Brasil
Após conhecer os motivos da saída da maioria dos imigrantes vindos da
Alemanha, um pouco sobre o lugar que deixaram para trás (Schneppenba-
ch) e o novo lugar que iriam chamar de lar (São Pedro de Alcântara), uma
nova jornada começa a se formar. Até o dia de hoje, agosto de 2016, não
foi possível encontrar relatos da data exata que saíram da Alemanha nem
o porto de saída (em ordem de probabilidade: Bélgica, Holanda e Ham-
burgo). Continuo a busca por essa informação, se a descobrir, adicionarei
em novas edições do livro.

O ano é uma certeza: 1862. Mas não foi esse o ano em que o primeiro
Fuck de Schneppenbach imigrou para o Brasil. Em 1861, Leonhard Fuck
acompanhado de sua esposa Marie Luise Petry e sua filha Luise Fuck,
com apenas meses de vida, subiram em um navio com destino à Santa
Catarina. Ao pagar a taxa de imigração ao império prussiano, exatamen-
te 300 thaler, Leonhard e sua família tiveram permissão para deixar o
As ruínas do castelo de Schmidtburg (Fonte: Google Maps) país. Quem era Leonhard? Nascido em 6 de fevereiro de 1834, era filho
de Johann Jakob pai e Maria Elisabeth Dämgen e irmão de meu tataravô,
Johann Jakob, o filho. Volto a falar mais sobre a história do primeiro imi-
grante Fuck.

Cerca de um ano depois, em 4 de junho de 1862, Johann pai e filho


pedem dispensa militar para imigrar, tendo resposta negativa por parte
do Königlichen Infanterie-Regiment (Regimento de Infantaria do Impe-
rador). Mas isso não foi o suficiente para largar tudo e embarcar com
destino ao Brasil para uma vida melhor.

Naquele mesmo ano, Johann Jakob Fuck (16/10/1811), sua esposa Ma-
Fonte: Google Maps ria Elisabeth Dämgen (10/08/1812) e seus filhos Johann Jakob – meu ta-
taravô (19/05/1837), Luise (14/03/1840), Johanna (18/06/1845) e Niko-
laus (29/04/1852). Assim como o irmão de Johann pai, Leonhard Fuck
(15/08/1812). Imaginem a dificuldade para o casal Fuck, Johann e Maria
aguentarem uma viagem que levava em média 2 meses, com seus respec-
tivos 51 e 50 anos de idade. Todos os nomes são iguais, não é mesmo? É
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realmente confuso, ainda mais pelo fato que não usam “Junior”, “Filho”
ou “Neto” no final dos seus nomes. Mas não se preocupe, você vai enten- Um pedaço de chão
der melhor na árvore genealógica nesse livro.
É aqui que começa a grande dificuldade em encontrar informações.
Ao chegarem no Brasil, aportaram no Rio de Janeiro. Lá, como aconte- Toda a história da família está fundada na colônia São Pedro de Alcân-
cia com quase todos os colonos, eram dadas opções de destino final aos tara, mas em registros encontrados em 1868, mostram que a família re-
imigrantes alemães, geralmente colônias alemãs que já vinham prospe- quereu terras na Colônia Santa Isabel, mas precisamente na Quarta Linha
rando, como é o caso de São Leopoldo no Rio Grande do Sul, uma colônia (hoje Angelina). Como é possível ver no mapa a seguir, todos os membros
no Espírito Santo, ou em solo catarinense, como era o caso de São Pedro homens da família compraram terras nessa localidade. Quando eu digo
de Alcântara e outras. “compraram”, é porque compraram mesmo. Segundo as leis da imigração
na época, após o ano de 1850, os colonos não ganhavam mais terras do
Sobre a data exata de chegada da família na colônia, infelizmente não governo, e sim compravam.
foram encontradas informações. Mas podemos supor: já que pediram,
em junho de 1862 a dispensa militar, e a viagem costumava levar 2 meses, Ao chegar em 1862, São Pedro de Alcântara já não haviam muitas terras
então chegaram ao Rio de Janeiro em agosto de 1862. Como geralmente boas sobrando. A colônia já prosperava há mais de 30 anos, sobrando
se levava 1 mês para finalmente fixar sua chegada na colônia alemã, pro- aos colonos recém-chegados formar novas colônias pela região. Surgindo
vavelmente a chegada de fato deve ter se dado em setembro ou outubro assim Santa Isabel, Theresópolis e muitas outras. Em 1868 houve a oficia-
de 62. lização do repasse da terra pros colonos, o famoso “registro do vigário”.
Portanto, a família Fuck lá fixava residência, desde sua chegada em 1862
até 1868. Como a história da família está ligada a colônia de São Pedro,
Nessa imagem, retirada do filme Die Andere Heimat (A Outra acredito que há duas possibilidades: ou o registro daquela terra pertencia
a São Pedro, ou a família saiu da Quarta Linha com destino à SPA após
Pátria) de Edgar Reitz, retrata os campos de Hunsrück e as famílias
1868. A primeira possibilidade é mais realista, pois ao comprar suas ter-
transportando seus pertences para a longa viagem até o Brasil. ras, dificilmente eles sairiam de lá.

Leonhard Fuck é, historicamente, um nome importante para Santa


Isabel. Citado em livros históricos, é a certeza da fixação da família na
colônia. Porém, registros dos outros membros não há. Todos os regis-
tros, de nascimento, casamento e óbito dos Fuck além do Leonhard e seus
descendentes, foram feitos em São Pedro de Alcântara. Um dos motivos
possíveis é o fato de Santa Isabel ser de fundação luterana. Como a família
Fuck era católica, talvez tivessem que se deslocar até São Pedro de Alcân-
tara para batizar seus filhos.

Confira na página seguinte o mapa da Quarta Linha que mostra a loca-


lidade das terras. Embaixo Johann pai e filho, Peter Fuck e acima a terra
de Leonhard Fuck.
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Após chegar ao Brasil, Johann Jakob (filho), meu tataravô, casou-se em
1863. O registro desse casamento se dá em São Pedro de Alcântara. Sua
esposa, Anna Martha Bornhausen, já nascida na colônia, é filha de Jakob
Bornhausen. Fruto do casamento, nasceram em São Pedro de Alcântara
Elena (1864) e Bárbara (1865). Ambas não se tem registro de óbito, mas
como se dá na maioria dos casos que não há registro de óbito, é porque
faleceu ainda bebê. Já em 8 de maio de 1867 nasce meu trisavô, Johann
Jakob Fuck, muitas vezes encontrado como Johann Jacob Junior ou ape-
nas Jacob Fuck Junior (o terceiro da linha de Johanns Jakobs).

Mapa de divisão de linhas coloniais (Fonte: Centro Cultural Águas Mornas - SC)
Já no início do século XX, em uma pesquisa feita em São Pedro de Al-
cântara, mostram 3 famílias Fuck morando na colônia. Seriam elas as fa-
mílias de Johann pai (tataravô), Johann filho (meu trisavô), e Peter Fuck,
irmão do Johann pai. Ambos com a profissão de agricultor. Em conversa
com Lindamir Souza, residente de Curitiba e filha de Basílio Fuck, ela me
relatou o pouco que conheceu de seu avô, Jacob Fuck Junior, meu trisavô.
Se tratava de um homem magro e quieto, pouco falava com as crianças
e acredito, quase não falava nada de português. Segue o relato dela: “Pa-
pai e mamãe saiam à noite e eu ficava cuidando dos meus irmãos e do
meu avô. De repente, ele começava a falar e falar. Eu ia ver e ele dizia, no
seu português bem pobre ‘é di pulgui, é di pulgui’. Repetia e repetia, até
que descobri que ele estava falando de pulgas. Coitadinho, nunca esqueço
do jeitinho dele, era muito alto e magro Quando ele faleceu, eu tinha 12
anos, faz muito tempo. Ele e vovó Catharina, do que me lembro, viviam
em Hansa, hoje Corupá, num sítio que meu pai comprou para eles. Já
fomos lá olhar tudo, mas está bem diferente”.

Sobre seu pai Basílio Fuck: “Papai saiu muito cedo de casa (com 12
anos) a pedido da mãe, para que estudasse, pois ela sabia o quanto ele era
inteligente e daí, depois, como a família foi crescendo, papai quase não ia
até lá. Circunstâncias da vida. Ele era muito amoroso e ia, algumas vezes
visitar todos, mas sozinho. Acho que porque tinha pouco dinheiro e logo
em 4 anos de casados, já tinha 3 meninas. Tudo era muito diferente do
que é hoje em dia. Estradas ruins, muito pó, dificuldade com transportes,
e por aí vai”.

32 33
Sobre meu bisavô, Lino Fuck, escrevo o relato do senhor Longino Cla-
sen, 90 anos, ao encontrá-lo na rua central de São Pedro de Alcântara, um
Se espalhando pelo Brasil
dia que estava fazendo buscas sobre a história da família. Ele conta que
Todos sabemos que o berço da família Fuck no Brasil é São Pedro de
era amigo de Lino, e lembra até hoje o dia de seu falecimento. Um homem
Alcântara. Mas devido a grandes problemas na época, como a vida hu-
de estatura baixa, cabelos negros e olhos azuis, sempre muito bem arru-
milde, a grande quantidade de filhos e a falta de terras na região, muitos
mado e limpo, não mostrando a dificuldade da profissão que alimentou
integrantes da família tiveram que ir para outras colônias. É possível en-
15 filhos, a de agricultor, como seu pai e seu avô. Era muito preocupado
contrar muitas pessoas com sobrenome Fuck por Santa Catarina, e acre-
com a aparência, não deixava nem a terra embaixo das unhas, tão comuns
dito, que sejam quase todos da mesma origem. Por ser um sobrenome
da profissão. Segundo Longino, sempre encontrava Lino na missa de do-
incomum, diferente de outras versões como vemos (Fuchs, Fuch, Fucks,
mingo, e um certo dia, ele não apareceu. Foi aí que descobriu, dois dias
entre outros), a família Fuck é muito raramente encontrada.
depois, no dia 3 de novembro de 1959, uma terça-feira, que seu amigo
havia falecido. “Nunca demonstrava doença, o Lino. E um dia se foi. Foi
Os lugares pelo Brasil onde mais se pode encontrar pessoas com o nosso
o primeiro homem a ser enterrado no cemitério central de São Pedro”,
sobrenome são Canoinhas, Blumenau, Itajaí, Indaial, Joinville, oeste e sul
relata Longino.
catarinense, Curitiba e até no norte do país. Alguns eu consegui descobrir
a origem. Vou apresentar o que descobri:
Muito se fala sobre o fato das mães de Lino Fuck e sua esposa Benta Her-
mes terem o mesmo sobrenome, Martendahl. Sim, elas eram parentes.
Canoinhas: a família Fuck de Canoinhas, a segunda cidade onde é pos-
Mas não se preocupe, leitor, o parentesco é bem distante. A família Mar-
sível encontrar mais pessoas com o sobrenome, possui origem em São Pe-
tendahl foi uma das fundadoras de São Pedro de Alcântara. Chegaram
dro de Alcântara, onde Johann Fuck (nascido em 1843 em Schneppenba-
em Desterro no brigue Marquez de Vianna em 12-11-1828 com 9 filhos.
ch), é filho de Johann Jakob Fuck (pai) e Anna Maria Elisabeth Dämgen.
Entraram na colônia São Pedro de Alcântara em 29/03/1829. Dentre os 9
Emigrou junto com a família para São Pedro de Alcântara, e lá ficou até
filhos, estão os irmãos Johann e Johann Firminus Martendahl, o primeiro
falecer. Com sua esposa Ana Maria Spengler, gerou o filho Jacob Bernard
é avô de Benta Hermes, e o segundo é avô de Lino Fuck.
Fuck (1872) que emigrou para Blumenau e casou com Mina Maria Stre-
low, logo em seguida emigrando para Canoinhas.
Muito se fala sobre a origem ser luxemburguesa, mas não encontrei
registros que comprovem isso em nenhuma comuna de Luxemburgo. Há
Indaial, Joinville e Itajaí: uma das razões de ter pessoas com sobrenome
sim registros que eles são da cidade de Pillig, em Hunsrück na Alemanha,
Fuck nessas três cidades é também pela emigração. Em ambas as cidades,
então manteremos essa informação.
os filhos de meu bisavô Lino Fuck, filho de Jacob Fuck Junior, saíram
de São Pedro de Alcântara respectivamente para essas três localidades.
Seriam eles: Reinaldo Fuck para Indaial, Hugo Fuck para Joinville, e meu
avô, Mauro Fuck para Itajaí.

Curitiba: Um dos filhos de Jacob Fuck Junior, Basílio Fuck, irmão de


meu bisavô, alçaram voos mais longos. Foi parar em Curitiba, onde após
largar a função de padre, casou-se e deixou descendentes na capital pa-
ranaense. Inclusive criou a “Vila Fuck”, onde em um terreno construiu
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casas para pessoas carentes. Até hoje possui uma rua em homenagem ao
seu nome em Curitiba.
Típica casa alemã – relato de Telmo Lauro Müller
no livro Pouso dos Imigrantes de Toni Vidal
Em todas as outras cidades que podemos encontrar parentes, se valem
quase sempre pela mesma regra. Apesar de ser uma família muito peque-
Jochem
na em relação a tantas outras, sempre acabamos nos encontrando com
Podemos dizer que nas colônias alemãs do Alto Biguaçu, São Pedro de
alguém com o nosso sobrenome peculiar.
Alcântara e Águas Mornas formam um padrão de arquitetura próprio.
Houve uma significativa penetração, nessa região, de elementos arquite-
Confira no final do livro todas as fotos que consegui reunir da família.
tônicos luso-brasileiros. O telhado com ponto menos inclinado do que na
Alemanha, a aplicação de telha-de-canal (portuguesa) e a ausência com-
pleta da varanda. As mais sofisticadas exibem lambrequins de madeira no
beirado, cachorros e outros detalhes decorativos. A porta geralmente bem
trabalhada, colocada no centro da casa, valoriza a frente que tem acesso
através de 3 ou 4 degraus para vencer o piso de altura de quase um metro.
As vidraças de guilhotina trazem vidros de tamanho regular, conjugadas
com folha de madeira de abrir para dentro, podendo-se escurecer total-
mente os compartimentos. Grande sótão por toda a extensão da casa é
usado para armazenagem dos mantimentos, como também para servir de
dormitório para os rapazes da família.

“O dormitório do casal tinha a cama, o armário, uma mesa ou “komod”,


a cômoda, e infalivelmente, um “koffe” baú. Não eram móveis finos, nem
eram “quartos” e “dormitórios”, como hoje se denominam os conjuntos.
A cama ostentava um macio “Strohsack”, colchão de palha de milho. Essa
palha, de anos em anos, precisava ser renovada, pois ficava reduzida a
pedacinhos e produzia poeira que podia ser facilmente vista no assoalho.
Essa palha era cortada com tesoura ou faca nas duas pontas e depois ras-
gada três ou quatro vezes no sentido longitudinal. Era um serviço para o
inverno, em dia de chuva “weil traus kann me doch nixs mache”, porque
lá fora não se pode fazer nada. O aviso “Strohroppe”, rasgar palha de mi-
lho, para o colchão de cada um, era recebido com geral desagrado, pois
era um trabalho chato que produzia intensa coceira pelo pó que as palhas
têm. Quantas vezes ouvi minha mãe dizer “dud die Palje dinne roppe”,
rasguem as palhas mais vezes, para que ficasse mais macia no colchão.
Mas era preferível dormir em cima de pilha um pouco mais grossa do
que o suplício de uma tarde inteira preso a esse maldito trabalho. Junto
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a isso que nunca se soube que um guri tivesse dormido mal por causa da que usar água e sabão não requer muita coisa e não é privilégio de nin-
palha… O colchão era de uma fazenda grossa, listrada, em geral nas cores guém.
vermelho e azul. Era um “saco” do tamanho da cama, tendo uma abertura
longitudinal ao centro. Quando a mãe ia “das Pet mache”, fazer a cama, ela O quarto dos filhos era bem mais simples ainda. Cama e baú era, em
enfiava os braços pela abertura e revolvia a palha para que ficasse fofa. Por muitos casos, o que havia. E precisava mais? O supérfluo, o desnecessário
cima do colchão ia o “Pedduch”, o lençol. Depois a “Deck”, a coberta. Nem não existia. Claro: ainda não se estava na era de consumo de massa. O
sempre havia uma colcha. O travesseiro era de penas. Minha avó materna baú podia ceder lugar ao armário. Os rapazes, muitas vezes, dormiam na
tinha travesseiros de marcela. Era bom contra a dor de cabeça, dizia ela. “Felbett”, cama de vento. Essa cama tem os pés cruzados, presos por gran-
des parafusos. Os pés eram unidos por dois fortes sarrafões, nos quais
O baú era a peça infalível. O da minha mãe foi presente de casamento de prendia-se o pedaço de lona ou couro que fazia o “fundo” da cama. Ela
meu avô que era marceneiro. Isso prova, além da simplicidade das pesso- é muito prática, pois pode ser dobrada e guardada sem ocupar espaço.
as, a situação econômica em nossa colônia. No baú, além de roupas, eram Muitas famílias tinham o “Felbett” de reserva para atender visitas.
guardados os objetos de uso pessoal, fotografias e os chapéus. Recordo
que minha mãe punha neles invólucros dos sabonetes “das’n gude Geru- Toda casa possuía uma “Stup”, sala de estar, hoje chamada de living. Seu
ch gebt”, para dar cheiro bom. Debaixo da cama, infalível, o “Pissdopp”, mobiliário: mesa de centro, cadeiras, um sofá de madeira, muitas vezes
urinol. Uma ou duas cadeiras completavam o mobiliário. Atrás da porta em “L” para ocupar o canto da sala, e o “Wiechestuhl”, a cadeira de balan-
estava preso o “Zappepret”, uma tábua com tarugos de madeira onde se ço. Em casa de meus avós paternos, o “Wiechestuhl” tinha dono absoluto
penduravam roupas. quando, à noite, depois do jantar, todos se reuniam na “Stup”: minha avó,
a Binevovo, vovó Filipina. Cabe também referir aqui que em minha casa
A cômoda continha a “Petwesch”, a roupa de cama, e a “Kinnwesch”, a não havia luz elétrica. Meus avós tinham e por isso, a reunião noturna
roupa do nenê. Em alguns casos, em cima da cômoda havia um conjunto tinha que ser todos na sala “fa Licht se spaare”, para poupar luz.
de louça, o lavatório: bacia, jarra de água, porta-pente saboneteira e uri-
nol. Esse conjunto foi, em muitos casos, um fino presente de casamento, As paredes da sala ostentavam molduras com fotografias de confirma-
mas de pouco uso. Verdade seja dita, a peça mais usada era o urinol e, por ção ou comunhão, de casamento, de casais ou de famílias amigas. Todas
isso, era também a primeira peça que quebrava. Tanto isso é verdade que posadas com roupas domingueiras. Era comum que as famílias tirassem
nos conjuntos que ainda restam, o urinol já não está presente. uma foto e mandassem fazer uma ou duas dúzias para distribuir a paren-
tes e amigos. Graças a isso, hoje sobram tantas fotos de família de 50 ou
Na parede havia um quadro estampado em uma cartolina muito grossa, mais anos atrás, que são notáveis documentos de uma época. Essas fotos
tendo um ou dois furos na parte de cima, por onde era preso com uma mostravam, invariavelmente, o casal ao centro, sentado. Se houvesse um
fitinha ao prego. Tais quadros, que podiam também ser emoldurados, tra- filho pequeno ou netos, esses sentavam entre os dois ou ficavam de pé
ziam um “Spruch”, provérbio, lema ou versículo bíblico. perto deles. Os filhos atrás, em geral por ordem cronológica. Os casados
estão de braços ou o marido tem a mão no ombro da esposa. Entre ou-
A afirmação de que “o enfeite da casa é a limpeza”, recorda-me minha tras fotografias na sala, não faltava a foto de algum soldado, membro da
avó materna, a “Gustevovo”, a vovó Augusta, que costumava dizer “arm família ao tempo de serviço militar (Nota do autor: com essa descrição,
awe rein”, pobre, mas limpo. Como era sua vida e sua casa: pobre, mas verifique a foto onde meus bisavós, meu avô e seus irmãos estão posando
limpa. O soalho de tábua natural, branca, era um “brinco”. E isso prova na frente de sua casa em SPA e a de meu bisavô com uniforme militar).
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Muito comuns eram os quadros com paisagens onde abundava a neve. entre ele e a parede. Era comum empilhar-se ali a lenha cortada em peda-
É incrível como a neve tem um “poder” sobre os colonos teutos. Velhos ços pequenos e que servia de assento.
cartões postais vindos da Alemanha impressionavam mais pela neve do
que pelas casas ou pontes. Essa influência da neve deve ser uma ligação A casa apresentava também o “Wandschone”, o pano protetor da parede,
sentimental, subconsciente, com a terra dos antepassados. Essa mesma pano bordado pela moça durante o noivado como peça de enxoval. Atrás
neve ficou gravada de tal forma que, até hoje, tantos anos após a imi- do fogão e na sala de estar havia um lugar certo para eles. Muitas vezes
gração, o algodão na árvore de Natal a simboliza com toda a sua força. também atrás da mesa das refeições. Sobre esse “Wandschone” convém
Apesar do calor! dizer mais alguma coisa. Seu tamanho era variável, dependendo do lu-
gar previsto, como do motivo que ele traria. A cor também variava, com
predomínio do branco. Os da cozinha traziam inscrições e figuras quase
No “Esszimmer”, sala de refeições, havia uma grande mesa, onde ca- sempre relativas à alimentação. Assim entre frutas lia-se “Guten appetit”,
biam facilmente oito pessoas, número mais ou menos médio das famí- bom apetite. Ditados populares eram comuns: “Morgenstunde hat Gold
lias até a década de trinta. Um armário com louças, copos, vasos, bibelôs im Munde”, as horas matinais têm ouro na boca, isto é, valem muito. Eram
e bugigangas. Invariavelmente, numa parede da “Esszimmer” havia um comuns também as frases românticas, lembrando o tempo de namoro e
“Abreiskalenne”, um calendário do qual se arrancava, todos os dias, uma noivado, cheios de esperanças e sonhos: “Rosen, Tulpen, Nelken blühen
folhinha que trazia o mês, o dia da semana e, no verso, havia informações und verwelken, aber unsere Liebe Nie”, rosas, tulipas e cravos florescem
históricas, conselhos médicos e informações úteis. e murcham, mas o nosso amor NUNCA. Os panos com estas palavras,
amarelo, traz, ao centro um balaio de flores de várias cores e foi obra de
Na cozinha, o fogão era comprado na venda ou daqueles de pedra, com minha mãe.
uma chapa de três furos em tamanhos diferentes. O fogão de pedra era
muito comum, por ser mais barato e muito prático, pois aproveitava bem Cabe dizer que os panos de parede traziam o “Hochdeutsch”, alemão
a lenha e não era preciso serrá-la em pequenos pedaços. No canto estava gramatical, e não o Hunsrückisch, o gostoso dialeto de nossa colônia.
o “Brotschrank”, o armário do pão, também chamado de “Kicheschrank”, Deve ser porque o alemão gramatical se aprendia na escola ou porque
armário de cozinha ou guarda-louça. Além do pão e da louça nele esta- muitos dialetos eram copiados de livros e revistas ou eram versículos de
vam a “Schmieduz”, a chimieira, a “Buteduz”, a mantegueira e as sobras bíblicos copiados da bíblia.”
da comida do dia. Junto à janela havia uma mesinha com a bacia de lavar
louça porque, na maioria dos casos, a água servida era jogada pela janela O importante é deixar claro que na primeira metade do século passado,
do pátio. Aliás, esse costume, comum e péssimo, formava um local sujo, a privada era separada da casa, construída por cima de um riacho, após
encharcado, de mau cheiro e de moscas, no verão. Mas era assim que se a tomada da água para fins domésticos. Era comum ver enfiados sobre o
fazia. De tempos em tempos, jogava-se terra nesse local. telhado um completo suprimento de sabugos de milho, usados em lugar
do papel higiênico, artigo então inexistente no mercado.
A cozinha era local de encontro de toda a família depois da higiene
vespertina, enquanto a mãe a filha mais velha preparavam o jantar. Os
pequenos procuravam um colo… mormente no inverno, e muitas vezes
adormeciam antes da comida ir para a mesa. Havia um lugar muito dis-
putado na cozinha, no inverno: era o lado do fogão, no espaço que ficava
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Do livro História da Imigração Alemã por Telmo Lauro Müller - aarich – sehr: muito
Wätelist (Wortschatz) – Vocabulário do dialeto Hunsrückisch no - aichen – eigene: própria
- Sprooch – Sprache: língua (idioma)
Brasil e do Hochdeutsch para o português
- hat’me – man hat: a gente diz ou faz
- codele – Kordel: cordão, barbante
Nota: Algumas palavras foram escritas de duas maneiras. Com isso se
- Scrawe – Sklave: escravos
quis indicar as diversidades não só na grafia, mas também, na pronún-
- canoh – Kanu: canoa
cia.
- Pargue – Barke: barca
- Fäad – Pferd: cavalo
- Wäte – Worte: palavras
- ‘s – es ist: é
- Eb’me – eher wir: antes que nós
- hii – hier: aqui
- muss’me – muss man: é preciso
- Bie – bier: cerveja
- foakomme – vorkommen: aparecer
- geche – gegen: contra
- wemme – wen man: quando a gente
- me saad – man sagt: a gente diz, se diz
- me – man: a gente
- harre – hatten: tinham
- heat – hört: escutar
- zichte – züchten: criar
- scheen – schön: bonito
- eldere – alt: pessoas mais velhas
- länt’me – lernt man: a gente aprende
- Scharge – Dörrfleisch – charque
- emol – einmal: de repente, uma vez
- Bowere – Kürbis : abóbora
- wärre – werden: usar
- Siessbatata – Batate: batata doce
- saan – sagen: dizer
- Nokomme – Nachkomme: descendente
- Schile – Schüler: aluno
- geboa – geboren: nascer
- ‘n – ein: um (artigo)
- melge – melken: ordenhar
- woa – war: foi
- Griine – Grüne: verde
- Hunetjoa – Jahr hundert: século
- Buge – Indianer: bugre
- weniche – weniger: menos
- tratiet – aufnehmen: tratar bem alguém
- saad’me – sagt man: a gente diz
- Plette – Blätter: folhas
- East – Erde: terra
- lee – liegen: deitar em
- Halbkuchel – Halbkugel: hemisfério
- fiilste – fühlen – sentir-se
- Unneschied – Unterschied: diferença
- gaputt – kaputt: quebrado
- kai – keine: não ou sem
- easte – ersten: primeiros
- Zaich – Zeuch: roupa
- iwerall – überall: em toda parte
- Motoa – Motor: motor
- homme – haben wir: nós temos
- iss’me – ist man: a gente só
- aneste – anders: diferente
- Mea – Meer: mar
- gewo – geworden: ficar
- sesame – zusammen: juntar
- Hafe – Hafer: aveia
- awwe – aber: mas
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- Kon – Korn: centeio - Meed – Mädels – meninas
- Wesch – Wäsche: roupas - wärich – wäre ich: eu gostaria
- kee – keine: negação - Zimmet – Zimt: canela
- Stichelche – Stückelchen: pequenas partes - Peffe – Pfeffer: pimenta
- Kerch – Kirche: igreja - Epelkuche – Äpfelkuchen: cuca de maçã
- Veein – Verein: sociedade - daile – teilen: dividir
- nidde geloss – niederlassen: ficar num lugar - Menne – Männer: homens
- saad’me – sagt man: a gente diz - Krostische – Krustig: calejadas
- Seel – Seele: alma - Henn – Hand: mãos
- Kriich – Krieg: guerra - geputzt – putzen: capinar, limpar
- vebood – verboten: proibir - geleed – gelegen: colocado
- baaich – bei euch: junto a vocês - heeche – höcher: mais alto
- Tande – Tante: tia - Hiit – Hüte: chapeús
- mene – meinen: pensar - Bäche – Berg: colinas
- Ostere – Ostern: páscoa - gepluut – bluten: sangrar
- fätiche – fertige: pronto - omds – abends: de noite
- Saaldie – Saaltür: porta da sala - geneht – hähen – costurar
- ode – oder: ou - Aandenge – Andenken: lembranças
- woleme – wollen wir: vamos ou queremos - geblib – bleiben: ficaram
- Gunomd – Guten Abend: Boa noite - vedange – verdanken: agradecer
- Ruut – Rute: vara - kimmere – kümmern: preocupar-se
- Peck – Pack: pacote - Grumbeere – Kartoffel: batata
- Toss – Keks: bolacha - geheischnis – vertrauen: acreditar, confiar
- Himbea – Himbeer: framboesa - loo – hier oder da: aqui e lá
- no hea – nachher: depois - Schenneere – sich genieren: envergonhar-se
- alsmol – allemal: às vezes
- moinds – morgens: de manhã
- ufgestii – aufsteigen: levantar-se
- Gadde – Garten: jardim
- wemme, wen’me – wenn man: quando a gente
- do hii – da hier: aqui
- fegesse – vergessen: esquecer
- treft’me – trifft man: a gente encontra
- schenne – schmpfen: xingar
- Sten – Stern: estrela
- Beem – Bäum: árvore
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- Johann Jakob Fuck – o pai que emigrou para o Brasil com os filhos
Árvore genealógica em 1862 (*16/10/1811 em Schneppenbach @20/09/1832 #1865 em São
Pedro de Alcântara) De profissão Johann, era seleiro, chegando ao Bra-
Mas afinal, o que significa a palavra “Fuck” em alemão? Não tem uma sil se tornou agricultor. Casou-se com Anna Maria Elisabeth Dämgen
tradução, na verdade. E nem venha me falar do significa da palavra em (*10/08/1832 Denzen - DE #04/04/1879 em São Pedro de Alcântara).
inglês, porque não há um membro da família que já não tenha ouvido Filhos do casal que faleceram na Alemanha:
essa piadinha com o nosso sobrenome. Desde criança sempre achei que - Catharina Elizabeth Fuck
o sobrenome originalmente era Fuchs (raposa, em alemão), e que ao che- 1833–1834
gar no Brasil ou no cartório houvessem errado o registro, como é muito - Johanna Fuck
comum em vários sobrenomes “diferentes”. Mas acontece que não, essa 1842–1844
escrita é datada de muito, muito tempo atrás. - Nikolaus Fuck
1848–1851
Encontrei em muitos registros de nossos antepassados, datados até o
início de 1700 o sobrenome já nessa forma FUCK. A origem, claro, deve Filhos do casal que emigraram ao Brasil:
vir realmente do sobrenome Fuchs, afinal, além de ser um sobrenome de em 1861 - Leonhard Fuck (*06/02/1834 em Schneppenbach #08/06/1906
verdade, tem realmente um significado. Mas o “erro” vem de muitos anos em Angelina). Casou-se com Marie Louise Petry (*1836 em Bundenbach
atrás, transformando “erro” em algo certo. Mas vamos ao que interessa, #1919 em Angelina) Saíram do Porto da Atuérpia, na Bélgica em 1861 no
peço a paciência de todos vocês, porque da repetição, os antepassados ti- Navio Hollandez Vereemgeng, comandado pelo Capitão Jongh, contendo
nham outro costume: fazer muitos filhos. Citarei desde o mais antigo que 172 imigrantes europeus. Desembarcaram no Rio de Janeiro em 18 de
encontrei, passando pela família que veio ao Brasil, incluindo o sobreno- junho de 1861 e foram enviados para Santa Catarina em 28 de junho de
me de solteiro das esposas. 1861. (1)Veio com a esposa e a filha para Santa Catarina a bordo do Vapor
Imperador, aportado em Desterro em 09 de julho de 1861.
Antes de começar, devo alertar para a legenda de símbolos: Em 3 novembro 1862, declarou estar satisfeito com o Diretor da Colônia
de Santa Isabel.
* nascimento Propriedade 1: 6 julho 1868, Requereu terras em Ribeirão Scharf através
@ casamento do “Registro do Vigário”.
# óbito Em 8 julho 1868, recebeu Título Provisório de Terras do lote número 04
f – filho na margem direita da Quarta Linha da Colônia Santa Isabel, SC.
- Peter Fuck (*1702 em Schneppenbach – DE)

- Johannes Peter Fuck (*1725 #19/02/1783 em Schneppenbach – DE) -


casou-se com Mariae Catharinae Krampen

- Johannes Nikolaus Fuck (*11/06/1772 #13/09/1837 em Schneppenbach


- DE) – casou-se com Maria Magdalena Bong (*1791 #29/01/1816 em
Schneppenbach – DE)
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Em 1862: f7: Maria (*1905 São Pedro de Alcântara #1989 em Florianópolis)
- Johann Jakob Fuck (*19/05/1837 Schneppenbach @27/06/1863 f8: Clara (*1907 São Pedro de Alcântara @1931 Leonardo Vidal da Cunha
#02/07/1928 São Pedro de Alcântara). Casou-se com Anna Martha Bor- #1981 São Pedro de Alcântara)
nhausen – filha de Jakob Bornhausen que emigrou ao Brasil (*1839 São f9: Basílio (*1910 São Pedro de Alcântara @1933 Jovita de França #1975
Pedro de Alcântara #29/03/1905 São Pedro de Alcântara) em Curitiba-PR)

- Peter Jakob Fuck (sem data de nascimento e óbito) Partindo para a árvore genealógica de Lino Fuck e Benta Hermes:
f1: Maria Bernadete (*1923 São Pedro de Alcântara #2004 Santo Amaro
- Louise Fuck (*14/05/1840 Schneppenbach, casou-se com Joannes Ren- da Imperatriz)
gel, #19/06/1917 Antônio Carlos) f2: Odilo (*1924 São Pedro de Alcântara @1949 com Maria Verônica
Junkes #1992 em Jaraguá do Sul)
Partindo para a árvore genealógica de Johann Jakob e Anna f3: Erica Filomena (*1925 São Pedro de Alcântara #1941 São Pedro de
Bornhausen: Alcântara)
f1: Elena (*1864 São Pedro de Alcântara) f4: Irene Judith (*1926 São Pedro de Alcântara)
f2: Barbara (*1865 São Pedro de Alcântara) f5: Braz (*1928 São Pedro de Alcântara #1928 São Pedro de Alcântara)
f3: Jacob Fuck Junior (*1867 São Pedro de Alcântara @1893 com Cathari- f6: Mauro (*26/05/1929 São Pedro de Alcântara @1955 com Juraci Linha-
na Martendahl #1944 Curitiba-PR) res #27/07/1944 em Itajaí)
f4: João (*1869 São Pedro de Alcântara) f7: Zélia (*1930 São Pedro de Alcântara)
f5: Nicolao (*1872 São Pedro de Alcântara) f8: Leogildo (*1932 #1933 São Pedro de Alcântara)
f6: Pedro (*1875 SPA #1933 São Pedro de Alcântara) f9: Reinaldo (*1933 São Pedro de Alcântara #2013 Indaial)
f7: Henrique (*1880 São Pedro de Alcântara) f10: Hugo (*1936 São Pedro de Alcântara #2011 Joinville)
f8: Mathias (*1882 São Pedro de Alcântara) f11: Paulo (*1937 São Pedro de Alcântara #1998 São Pedro de Alcântara)
f12: Maria Tereza (*1940 São Pedro de Alcântara #1988)
Partindo para a árvore genealógica de Jacob Fuck Junior e Catharina f13: Romilda (*1942 São Pedro de Alcântara)
Martendahl: f14: Luiz (*1945 São Pedro de Alcântara)
f1: Benjamin (*1892 São Pedro de Alcântara #1899 São Pedro de Alcân-
tara) Outras famílias que compõe a árvore genealógica da família Fuck atra-
f2: José (*1894 São Pedro de Alcântara @1916 com Mathilde Margarida vés de matrimônio:
Schweitzer #1948) *Na Alemanha: Krampen, Bong, Dämgen, entre outras..
f3: Lino Fuck (*24/02/1897 São Pedro de Alcântara @1922 com Benta *No Brasil: Bornhausen, Martendahl (e suas variações Martendal, Mar-
Hermes #04/11/1959 em São Pedro de Alcântara) thendal, Martenthal), Hermes, May, Pütz, Bins, Schmidt, entre outras.
f4: Marcos (*1899 – casou-se com Catharina Elizabeth Voges e faleceu em *Em Luxemburgo: Mannes
@1941 em Santo Amaro da Imperatriz)
f5: Stefan (*1901 @1925 casou-se com Apolônia Kuhnen e @1929 com
Tomásia Schweitzer, #1976 São Pedro de Alcântara)
f6: Alberto (*1903 São Pedro de Alcântara #1909 São Pedro de Alcântara)
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Certidão de nascimento de Johann Jakob Fuck - 18/05/1837 Certidão de casamento de Johann (pai) e Annna Dämgen

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Texto da certidão de nascimento de inteiro teor de
Johann Jakob Fuck
Im Jahre tausend achthundert dreißig und sieben den zwanzigsten des
Monats Mai nachmittags vier Uhr, erschien vor mir, August Reinhold
Kaiser, Bürgermeister von Gemünden Beamten des Personenstandes,
der Johann Jacob Fuck, sechs und zwanzig Jahre alt, Standes Sattler woh-
nhaft in Schneppenbach, Regierungs-Bezirk Coblenz, welcher mir ein
Kind männlichen Geschlechts vorzeigte, und mir erklärte, daß dies Kind
den neunzehnten des Monats Mai Jahres tausend acht hundert dreißig
und sieben vormittags elf Uhr geboren ist, von ihm Deklaranten und von
Anna Maria Elisabetha Dämgen seiner Ehefrau Standes ohne, wohnhaft
in Schneppenbach in der Dorfstraße im Hause Nr. 26 und erklärte ferner,
diesem Kinde die Vornamen Johann Jacob zu geben.

Diese Vorzeitung und Erklärung haben Statt gehabt in Beisein des Jo- Lino Fuck e Benta Hermes - casamento
seph Schnepp, acht und dreißig Jahre alt Standes Schuster wohnhaft in
Schneppenbach und des Leopold Damm sieben und zwanzig Jahre alt
Standes Bäcker und Wirth wohnhaft zu Gemünden und haben der vorbe-
nannte erklärende Theil sowohl, als die Zeugen, nach ihnen geschehener
Vorlesung, gegenwärtige Urkunde mit mir unterschrieben.

Tradução (desculpe-me pelo meu alemão precário):


No ano de 1837, no vigésimo dia de maio às quatro horas da tarde, apa-
receu diante de mim August Reinhold Kaiser, prefeito da câmara de es-
tado civil, apareceu para ofício de estado, Johann Jacob Fuck, 26 anos,
profissão seleiro e morador de Schneppenbach do distrito de Koblenz,
que me mostrou um bebê de sexo masculino, e me disse que essa criança
nasceu no dia 18 de maio de 1837 às onze horas da manhã, e sua esposa
Anna Maria Elisabetha Dämgen, que vivem em Schneppenbach, na rua
da vila na casa número 26, e declarou que o nome da criança era Johann
Jacob. Na presença de Joseph Schnepp, 38 anos, sapateiro, morador de
Mauro Fuck e Juraci Linhares - casamento
Schneppenbach, e Leopold Damm, 27 anos, padeiro, acima serviram de
testemunhas, assinando a presença diante de mim.

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Lino Fuck, Benta Hermes e filhos

Lino Fuck - filho de Jacob Fuck Junior

Catharina Martendahl e Jacob Fuck Junior (filho do imigrante)


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Clara Fuck (filha de Jacob) com marido e filha
Marcos Fuck - filho de Jacob Fuck Junior

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Nosso lado luxemburguês
Nem só de Alemanha e Brasil é fundido o laço da família Fuck. Se você
é descendente do casal Lino e Benta Hermes você possui também ori-
gem luxemburguesa (país de 500 mil habitantes no centro da Europa).
Muito confundidos com alemães, seja pelo idioma, aparência ou origem
germânica, os luxemburgueses vieram à São Pedro de Alcântara por mo-
tivos parecidos aos alemães: promessas de uma vida melhor. Foi por esse
motivo que em 1828 emigrou Nicolas (ou Nicolaus) Mannes à São Pedro
de Alcântara. Nascido em 1809 em Echternach (divisa com a Alemanha)
filho do barqueiro e pescador Wilhelm Mannes e Anna Maria Wehr, par-
tiu de Bremen na Alemanha em 7 de junho de 1828 no vapor Charlotte &
Louise para integrar por 6 anos o Exército Imperial Brasileiro.

Segundo consta no histórico de casos similares aos dele, por falta de


Basílio Fuck com esposa e filhos comida e condições precárias de sobrevivência, ganhou dispensa do exér-
cito e terras em São Pedro, onde lá casou-se com Anna Maria Werner.
Juntos, tiveram 10 filhos, entre eles Catharina Mannes que nasceu em
1839. Catharina se casou com Firmino Martendahl em 1863. Fruto desse
casamento, nasceu em 1866 Maria Martendhal, mãe de Benta Hermes e
esposa de Pedro André Hermes. Não esqueça de pesquisar mais sobre
Luxemburgo! Um país lindo, importante e com uma cultura riquíssima!

Pedro André Hermes e Maria Martendahl


Irene Judith Fuck (Irmã Cléa) filha de Lino
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Agradecimentos
Agradeço a todo mundo que fez esse livro se tornar realidade. Meus pais
e minha namorada Stefânia Enderle pelo apoio, os historiadores Aderbal
João Philippi e Toni Jochem pelas fontes de pesquisa, Lindamir Souza,
tia Cléa Fuck e todos os outros parentes próximos ou distantes que se
interessaram pela jornada de nossos antepassados. Também não posso

Representação da vila vizinha a Schneppenbach em 1840 - do filme Die


esquecer as cidades de São Pedro de Alcântara e a colônia Santa Isabel
pela recepção e hospitalidade.

Fonte de pesquisa
- Capítulos: O “apoio” brasileiro, Chegando no Rio de Janeiro, Em Santa
Catarina, Os anos seguintes..., Relatos da época: livro São Pedro de Al-
cântara - A Primeira Colônia Alemã de Santa Catarina por Aderbal João
Philippi
- Capítulos: Típica casa alemã e vocabulário do dialeto: livro História da
Imigração Alemã por Telmo Lauro Müller.

Andere Heimat de Edgar Reitz


Qualquer dúvida, sugestão ou crítica, mande um email para mim.
Estou a disposição: andrefo89@gmail.com

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