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Agradeço primeiramente - e imensamente - à Marina Grinover que
aceitou me acompanhar no processo de realização deste trabalho.
Por todas as orientações e pelas palavras de conforto nos momen-
tos de auto-questionamento.
Aos meus pais, os grandes culpados por eu ter tido a ideia de estu-
dar arquitetura.
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índice
introdução 12
método de abordagem 15
as hipotéses 37
conclusões 121
bibliografia 129
O presente trabalho reúne algumas inquietações que foram
elaboradas no decorrer da minha formação em arquitetura e urba-
nismo dentro da FAU.
Perceber o espaço é algo que construímos como habitantes
dele, no entanto passar a interpretá-lo, analisá-lo e produzi-lo traz
diversos questionamentos sobre como a disciplina conforma esse
espaço para o outro.
A aproximação desses questionamentos poderia ser feita de
diversas formas, a partir da própria prática da arquitetura, do debru-
çamento acadêmico, das análises das soluções espaciais já existen-
tes, dentre outros. Escolher um desses caminhos como investigação
foi uma opção, e dessa forma o presente trabalho se presta a, a partir
de quatro estudos de caso, descrever, analisar e reconstruir essas
soluções existentes.
O conceito de hipótese1 aparece aqui como um entendimen-
to que precede a conformação do espaço em si, é a antecipação
das formas que satisfazem uma necessidade futura, transformando
solicitações funcionais, sociais e subjetivas em um projeto mate-
rializado (MONTANER, 2017). Não existe apenas uma solução
frente à uma determinada demanda, e sim diversas hipóteses de
como esta pode ser suprida.
Contextos e períodos históricos diferentes conformam hipó-
teses diferentes, de maneira que os projetos traduzem em si quais
ideias eram correntes em determinado contexto, desde social até
tecnicamente.
É por isso, que cada um dos projetos aqui estudados foram
também nomeados de hipóteses, no sentido que, pra além de
serem um projeto de fato – todos construídos e em uso – refletem
também algumas antecipações de ideias, e é a partir de cada um
deles que busco pesquisar e explorar como uma certa concepção
materializa um espaço, um projeto em si, implantado, abrangendo
um certo programa.
Para tal discussão foi escolhido um tema, e dentro dele al-
guns estudos de caso.
Parte-se de uma inquietação trazida por uma colocação de
Bernard Tchumi a respeito das três etapas envolvidas no enten-
introdução
13
método de abordagem
relação com a cidade informal, e como lidar com esses grandes ter-
ritórios auto construídos, consolidados e ao mesmo tempo carentes
dentro das cidades, e a segunda é como a construção de habitação
pode colaborar para a conformação de uma urbanidade, desde seu
uso até a seu desenho.
Os exemplos selecionados se afastam entre si quanto a tipo-
logia e contexto, porém se aproximam por outro motivo: são proje-
tos que materializam suas hipóteses de forma singela, sem buscar a
arquitetura espetacular, cada um tem um objetivo e uma estratégia
e usam de boa técnica para realizá-la. O interesse, por fim, é olhar
para a arquitetura do cotidiano do morar, que é estruturadora da ci-
dade, seja a cidade formal em que se encontra o edifício Anchieta,
ou a informal, da Gleba A, ou como propositora de outras formas
de vida coletiva, focando em outras demandas, que, apesar de seus
problemas, também trazem consigo uma coerência interna.
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02
03
01
04
18
01.
EDIFÍCIO ANCHIETA
EDIFÍCIO ISOLADO
ÁREA CENTRAL
MUNICÍPIO DE SÃO PAULO
02.
PARQUE CECAP
CONJUNTO HABITACIONAL
REGIÃO METROPOLITANA
MUNICÍPIO DE GUARULHOS
03.
COPROMO
CONJUNTO HABITACIONAL
REGIÃO METROPOLINA
MUNICÍPIO DE OSASCO
04.
GLABE A, HELIÓPOLIS
EDIFÍCIO EM ÁREA INFORMAL
MUNICÍPIO DE SÃO PAULO
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Abordar o tema da habitação social no Brasil ultrapassa as
discussões internas da disciplina da arquitetura, no que abrange
a estética, a linguagem, os materiais ou mesmo a organização dos
espaços, pois há um nível da discussão diretamente ligado às polí-
ticas públicas e à ação do Estado na produção de habitação.
Por serem de financiamento público, cada um desses pro-
jetos esteve ligado a uma política ou programa relativo à ação do
Estado na produção de habitação e sujeito à diversas restrições, seja
verba, metragem e programa. Não somente a arquitetura conforma
uma hipótese da maneira de habitar e morar, mas também há um
nível associado à que o Estado acredita como suprir tal demanda.
Tal nível acaba por influenciar diretamente esses projetos,
pois tem impactos sobre as diretrizes frente à demanda habitacio-
nal. Ao mesmo tempo, tais questões são, e já foram, o maior volume
de pesquisa relacionado à habitação coletiva de financiamento pú-
blico, e muitas vezes seus projetos são vistos unicamente por esse
viés, algo que inclusive contribui para uma ideia de que a moradia
popular está atrelada a um certo modelo a ser replicado, e não um
projeto que demande a mesma qualidade ou investimento discur-
sivo do que habitações coletivas de financiamento privado.
contexto da política pública
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10. Informação retirada do site ticipar de algumas iniciativas como esta, que demonstram até hoje
institucional da CDHU: http:// bons resultados em questões econômicas e de fixação da comuni-
www.cdhu.sp.gov.br/web/guest/
institucional/quem-somos
dade no local. Ela se configura como uma experiência muito menos
vertical de construção de habitação – no sentido de hierarquia de
11. O Programa Minha Casa Minha decisão, e imposição de uma forma hegemônica e universal. Não
Vida é uma iniciativa do Governo se sente uma imposição do desenho do arquiteto tão grande nesse
Federal fundado em 2009 e visa a projeto quanto por exemplo no CECAP, tornando-se um exemplo
promoção de habitação popular em
áreas urbanas e rurais.
da associação entre processo produtivo, financiamento e projeto.
E atende famílias das faixas de Por fim, dentro de um contexto contemporâneo de finan-
renda de abaixo de 5 mil reais ciamento, o projeto da Gleba A, em Heliópolis, é financiado pela
mensais bruto (faixas 1, 2 e 3) CDHU. “Herdeira” da autarquia do CECAP, a CDHU assumiu o
papel de principal promotora de habitação no estado de São Paulo
e a maior empresa habitacional do Brasil, movimentando cerca de
1 bilhão de reais por ano10. O entendimento da atuação da empresa
passa pela compreensão do desenvolvimento da política habitacio-
nal brasileira nos últimos 50 anos (ROYER, 2002), deixando mar-
cas em sua estrutura institucional.
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das pessoas que lá habitam. As “solicitações de projeto” contem- IMAGEM 01
porâneas demandam uma aproximação para com os desafios sociais Conjunto promovido pelo Programa
Minha Casa Minha Vida em Marabá,
próprios de agora, seja a de reintegração com território existente PA, que revela a monotonia e
ou mesmo de lidar com a vacância dos centros urbanos (RUBANO, repetitividade da solução da
2014). Associando o discurso da disciplina da arquitetura e do urba- habitação própria de tal ação do
nismo em relação à habitar cidades - e também um entendimento Estado. A foto faz parte do ensaio
fotográfico realizado por Tuca Vieira
de como essa cidade apresenta-se - e à produção e o acesso à essas e apresentado na X Bienal de
moradias. Arquitetura de São Paulo
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A solução de projeto parte de um problema, de uma certa de-
manda programática, a qual o arquiteto usará de um determinado
método objetivo para conceber a melhor resposta para tal (MU-
NARI, 1998).
Nesse sentido surge a hipótese de projeto, que antevê, para
aquela demanda, qual a ideia espacial que responde melhor àque-
las necessidades colocadas. A hipótese surge não como a solução
em si, pois essa será o projeto, mas ela corresponde a uma série de
valores sociais, urbanos, técnicos e de linguagem que se buscará
materializar em um edifício.
No caso do problema habitacional tem-se um método ou
modelo bem claro. As necessidades programáticas de uma casa são
algo bem definidos na sociedade ocidental que desde a revolução
industrial vem projetando a casa operária ou popular urbana – isso
sem questionar essas necessidades no mundo contemporâneo ou
se a organização espacial tradicional não reproduz algumas rela-
ções sociais já ultrapassadas. No entanto o programa relacionado à
morar é algo bem consolidado em nossa sociedade.
Confirmamos isso uma vez que todas as demandas coloca-
das pelo poder público para as unidades reproduzem as mesmas
necessidades programáticas: uma área social, de convivência con-
junta, as partes privadas dos quartos e um núcleo de área molhada
com um banheiro, uma cozinha e uma área de serviço. O edifí-
cio Anchieta foge um pouco ao modelo, uma vez que conta com
um quarto unido às áreas molhadas destinado a uma empregada
doméstica. A existência desse cômodo demonstra a destinação a
uma classe de mais alta renda dentro da classe dos industriários e
também quais necessidades e relações estavam incluídas em um
apartamento de 1940.
projetar o habitar
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informais e autoconstruídas, vendo como uma possibilidade de ha-
bitabilidade para as populações que ali se instalam - com a devida
revisão de precariedade que também muitas vezes lhe é própria.
Isso surge, em oposição à uma ideia de arquitetura universalizan-
te, funcional e racional, imposta hierarquicamente - como ocorre
muitas vezes nos conjuntos habitacionais. O COPROMO, por mais
que seja um conjunto, aparece nessa transição, aproximando a co-
munidade da produção do espaço, ainda que se configure como um
território de exceção ao tecido urbano.
Por mais que conformem esse tipo de território, é neces-
sário relativiza-los como ação, entendendo-os exatamente como
as hipóteses que são, entendendo-os como produtos de uma
concepção de um contexto não apenas arquitetônico, mas fruto de
expectativas do desenvolvimento de habitação por parte do Esta-
do.
26
A teoria crítica de arquitetura tem emprestado de outras dis-
ciplinas seus métodos de analise, seja a historia, a arte, a sociologia,
ou as contribuições filológicas de estudo de dados sociais ou téc-
nicos (ZEVI, 1996). No entanto a própria produção da arquitetura
não se faz a partir desses códigos, o que implica em uma distância
entre a própria arquitetura e o método de analisa-la.
Há também uma distância entre o que a arquitetura produz
- espaços – e o instrumento que utiliza em seu processo de con-
cepção – o desenho. A partir dele, a arquitetura assumiu códigos
de representação abstrata dos espaços, representando o volume ar-
quitetônico como uma projeção ortogonal das seções horizontais e
verticais do edifício, ou seja, as plantas e cortes.
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senta como linguagem analítica dos projetos, é um esforço de, se
utilizando dos códigos tradicionais da representação arquitetônica
- a projeção ortogonal - uni-la à volumetria dos espaços, como forma
de sintetizar esses diversos planos que conformam uma edificação.
As linhas da planta também estão associadas à uma dimen-
são vertical, e a união das duas qualidades dessas linhas é que per-
mite nos aproximar da materialização delas no espaço.
A representação utilizada pode ser estranha aos olhos, uma
vez que une duas projeções ortogonais paralelas do espaço - a plan-
ta e a elevação - adicionando ainda um nível tridimensional. O de-
senho faz referencia ao mesmo tempo que se afasta da representa-
ção tradicional arquitetônica, e não reproduz uma percepção de um
observador do espaço.
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IMAGEM 03.
Neste exemplar da arte popular
brasileira, de Antonio Poteiro, a
paisagem da várzea e do rio, é
representada a partir de uma
simultaneidade de planos que não
se configuram como nossos olhos
captariam tal cena, ao mesmo
tempo, ainda nos permite entender
a cena, as diversas posições dos
jogadores de futebol e os barcos
navegando no rio.
IMAGEM 04.
A arte egipcia antiga é reconhecida
pela bidimensionalidade da
representação, ao retratar pessoas
e animais de forma planificada.
O exemplo de estuque ao lado
também se utiliza da planificação
dos elementos, apresentando
concomitantemente vários pontos
de vistas diferentes, por exemplo, o
lago com a vista superior, ao mesmo
tempo que as árvores frontalmente.
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Tais exemplos se tratam da representação arcaicas do espaço,
no entanto, torna-se simbólica da necessidade de apresentar a ar-
quitetura em geral – entendendo aqui a arquitetura como a cidade
em si, os espaços livres e construídos.
Ao mesmo tempo, apesar de esforços, sejam eles vernacula-
res, técnicos ou subversivos, parte da existência de uma obra não
pode ser representada de nenhuma forma. Seu entendimento em
totalidade só é conhecido e vivido na experiência direta. Principal-
mente se tratando de habitação, em que o real entendimento do
espaço se da na vivencia cotidiana dele.
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IMAGEM 05.
Referência mundial, o manual de
dimensões e organização dos
espaços realizado pelo arquiteto
alemão Ernst Neufert, toma
como partida algumas medidas e
proporções que seriam adequadas
para a habitabilidade de um ser
humano no espaço.
IMAGEM 06.
A imagem, intitulada “Increasing
disorder in a dining table” revela um
esforço em representar o tempo
na arquitetura, a partir da interação
humana com os objetos.
31
As ferramentas que o arquiteto dispõe para projetar estão
diretamente associadas aos resultados encontrados. Se fossemos
mais a fundo em cada um dos projetos, entendendo cada etapa
de sua concepção e desenvolvimento seria possível, por exemplo,
perceber diferenças em um projeto que partiu do croqui de outro
IMAGEM 07.
que partiu de uma maquete, ou mesmo de um projeto concebido
Mario Botta utiliza da representação
paralela como discurso de na prancheta de outro realizado em sua totalidade nos softwares
linguagem e de projeto. dos computadores.
32
IMAGEM 08.
Neste retrato do projeto da Sadat
Rest House, de Hassan Fathy,
de autoria do próprio arquiteto,
há, tanto a referência à própria
representação do antigo Egito,
quanto a subversão da maneira
tradicional de representação
arquitetônica. Aqui o arquiteto
realiza a mesma estratégia de
rebatimento dos planos ortogonais
que conformam o entendimento do
desenho de arquitetura: a planta e
as elevações.
IMAGEM 09.
O cartaz produzido pelo Arquiteto
Alex Wall para o escritório Office
for Metropolitan Architecture do
arquiteto Rem Koolhaas, baseado no
projeto para o concursodso Parc La
Villette também usa da planificação
como forma de subversão do
entendimento tradicional do espaço.
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As representações realizadas - que constam na segunda parte
do trabalho - a partir das bases tradicionais dos projetos, ou seja,
suas respectivas plantas e cortes, tornam-se o próprio método de
aproximação dos projetos. Se a o concepção desses projetos foi rea-
lizada a partir do desenho, ao refaze-los a partir do modelo eletrôni-
co – método escolhido para essa reconstrução e posterior síntese
de representação – é possível identificar o raciocínio que existiu
em seu desenvolvimento, as modulações, as repetições e a organi-
zação dos ambientes a partir de premissas arquitetônicas.
Pelo fato dos projetos contidos neste trabalho serem exem-
plares das hipóteses que representam, e comuns no imaginário da
história da arquitetura e dos arquitetos em geral, o acesso aos de-
senhos originais e tradicionais são acessíveis, e portanto, conside-
rou-se de mais valia a ressignificação dos mesmos, como parte do
estudo, ao invés de apenas reproduzi-los como já se conhece.
De toda forma não foram desconsideradas as bases originais
e as formas de apresentação tradicionais de planta e corte. Cada
uma das representações está associada a uma forma de compreen-
são da arquitetura.
Duas formas de síntese da representação para posterior aná-
lise dos edifícios foram propostas, primeiramente a perspectiva pa-
ralela que associa as projeções ortogonais horizontais e verticais, e
o diagrama axonométrico, que por mais que também se afaste de
uma percepção do observador do espaço, é um código mais comum
ao entendimento, e busca demonstrar a tridimensionalidade total
pesquisa de linguagem
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quatro hipóteses
ANO: 1941
40
imagem 10
imagem 11
41
imagem 12
unidade
pavimento
edifício
pavimentos 12
pavimentos residenciais 11
total de unidades 80
pavimentos uso comercial 2
pavimentos com garagem 1
1
levantamento de dados
projeto
total de edifícios 1
população total 480
área total construída (m2) 14400
área terreno (m2) 4000
ca 3,6
taxa de ocupação 0,6
43
projeto • concepção arquitetônica
46
sem escala 47
projeto • concepção arquitetônica
48
sem escala 49
descrição • qual urbanidade?
via
du
to
ok av
uh en
ar id
a a
ko pa
ei ul
ist ão
a laç
so
con
da
a
ru
51
Acima do térreo comercial sobe a torre residencial, com 10
pavimentos. Ela se divide basicamente em três tipos de
apartamentos. Se organizando como a forma mais clássica da
lamina, cada apartamento ocupa a extensão transversal da lamina,
tendo sua fachada principal para a rua e o fundo para a circulação
descrição • unidade espacial
horizontal avarandada.
58
sem escala 59
O parque CECAP de Guarulhos é uma das últimas experiências
de produção de habitação popular promovida pelo Estado antes
de um longo período marcado pelos projetos do BNH durante a
ditadura militar no Brasil.
A implantação em Guarulhos demonstra o contexto de consolidação
da região metropolitana de São Paulo, e o enfrentamento da questão
habitacional pelo Estado em uma das áreas de maior concentração
de moradia operária.
Projeto dos arquitetos Vilanova Artigas, Paulo Mendes da Rocha e
Fábio Penteado o Conjunto Zezinho Magalhães faz referencia às
hipótese ii • parque CECAP
ANO: 1967
62
imagem 13
imagem 14
63
imagem 15
unidade
pavimento
edifício
pavimentos 4
pavimentos residenciais 3
total de unidades 60
pavimentos uso comercial 0
pavimentos com garagem 1
pavimentos área comum 1
área total residencial (m2) 3120
área total circulação horizontal (m2) 300
área total circulação vertical (m2) 200
levantamento de dados
conjunto
edifícios 16
população 3840
área construída (m2) 79680
área do módulo urbano selecionado (m2) 64392
densidade populacional 596,3
ca 1,23
projeto
total de edifícios 62
população total 14880
área total construída (m2) 308760
área terreno (m2) 1.800.000
ca 0,17
taxa de ocupação 0,04
65
projeto • concepção arquitetônica
68
escala 1:150 69
13. A citação é extraida da Edição O conjunto não conta apenas com as zonas residenciais, chamadas
do debate sobre o Conjunto no memorial dos arquitetos de “freguesias”, mas também com
Habitacional Zezinho Magalhães
equipamentos, distribuídos funcionalmente, cada um ocupando
realizado na FAUUSP em 1967.
Desenho no 4, São Paulo, GFAU, a área de uma quadra, em diferentes pontos da gleba em que o
1972. conjunto está implantado. Tais equipamentos estavam inseridos
em um projeto de uso de toda a população da região, para além
do conjunto. A questão habitacional não é enxergada como
única finalidade do morar. Integrado às freguesias e às áreas de
equipamentos tem-se as áreas livres e o sistema viário.
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descrição • edifício
ANO: 1991
82
imagem 16
imagem 17
83
imagem 18
unidade
pavimento
edifício
pavimentos 5
pavimentos residenciais 5
total de unidades 20
pavimentos uso comercial 0
pavimentos com garagem 0
pavimentos área comum 0
área total residencial (m2) 1080
área total circulação horizontal (m2) 85
área total circulação vertical (m2) 47,5
área total uso condominial(m2) 0
levantamento de dados
conjunto
edifícios 4
população 320
área construída (m2) 4850
área do módulo urbano selecionado (m2) 2168
densidade populacional 1476
ca 2,23
projeto
total de edifícios 50
população total 4000
área total construída (m2) 60625
área terreno (m2) 50.600
ca 1,19
taxa de ocupação 0,23
85
projeto • concepção arquitetônica
89
14. Existem sim diversas pré-
existências no entorno do terreno
de implantação do conjunto, seja de
morfologia das ocupações vizinhas
ou do sistema viário. No entanto,
ao se fechar em si, o COPROMO,
de certa forma, nega essas pré-
existências e realiza uma ideia
de ocupação que refere-se a ele
mesmo.
ANO: 2004
100
imagem 20
imagem 19
imagem 21
101
imagem 22
unidade
pavimento
edifício
pavimentos 4
pavimentos residenciais 3
total de unidades 49
pavimentos uso comercial 0
levantamento de dados
projeto
total de edifícios 1
população total 196
área total construída (m2) 3171
área terreno (m2) 1843
ca 1,72
taxa de ocupação 0,43
103
17. Citação do memorial descritivo
do projeto retirado do livro Vigliecca
& Associados. O terceiro território.
são paulo, 2014. p. 145
106
sem escala 107
18. VIGLIECCA & ASSOCIADOS. O
terceiro território. São Paulo, 2014.
descrição • qual urbanidade?
córrego existente
109
Todos os edifícios do projeto da Gleba A tem uma grande adaptação
com o território, ao mesmo tempo que dispõe de uma grande
racionalidade projetual.
111
0 1 5 10
113
descrição • da porta para dentro
118
sem escala 119
conclusões
comparações possíveis
Cada um dos projetos analisados se configuram também
como “formas genéricas” de uma certa hipótese arquitetônica, essa
ideia regeu toda a construção da análise do trabalho. Nenhum dos
projetos é inaugural de uma certa tipologia ou de uma tendência
urbanística, e sim são referencias de seu próprio tempo. Ao mesmo
tempo, tornaram-se exemplares na própria história da arquitetura
reforçando a própria hipótese em que se embasaram.
123
21. MARX, Karl. O capital: O tema da habitação social lança mão de outras áreas do co-
Crítica da economia nhecimento por se inserir em um processo social e da política pú-
política. São Paulo: Nova
Cultural, v. I, p. 70, 1985. apud
blica que extrapola a arquitetura (PETRELLA, 2011). Ao mesmo
PETRELLA, 2011, p.114 tempo, expõe os compromissos dos arquitetos na construção do
território para além da instância privada – que conta normalmente
com mais recursos e mais liberdades criativas.
Os quatro exemplos foram selecionados por contradizerem
uma idéia de que a habitação social corresponde a um modelo, que
replicado, irá suprir a demanda relativa à moradia. Tal solução foi,
por muitas décadas adotada, criando territórios de exceção, guetos
urbanos e afastando parte da população – a mais pobre – das re-
des de troca da cidade, dos acessos à heterogeneidade de usos, de
equipamentos e do transporte. A redução da habitação social a um
mero modelo serve ao lucro das construtoras, e não aos seus mora-
dores ou à cidade como um todo.
Cada um dos estudos de caso sugere uma possível estratégia,
de urbanidade e arquitetura, desenvolvida a partir do desenho e do
projeto, e que resulta de fato em espaços para habitar.
É necessário, no entanto, relativizar os projetos como pro-
dutos de seu contexto histórico, e como resultado de uma vontade
política.
54 m2 50,75 m2
125
0 1 5
As comparações possíveis entre os projetos estão, portanto,
amparadas nas relações sociais que “produziram” as formas especí-
ficas aqui exemplificadas. Toda crítica, correspondente às “manei-
ras de habitar” de cada um deles, precisa levar em conta as bases
sociais e históricas em que as hipóteses estão embasadas.
O projeto do Conjunto Zezinho Magalhães, por exemplo,
não é apenas parte de uma vontade política de reprodutibilida-
de em massa, como são, por exemplo, os conjuntos do BNH, do
mesmo período ou os do Programa Minha Casa, Minha Vida, mais
recentes – em que o projeto arquitetônico é destituído de impor-
tância. Neste exemplar da arquitetura modernista consta um en-
tendimento, da época, de como poderia dar-se a democratização
dos espaços de moradia, e como a indústria e a construção a partir
da pré-fabricação poderiam cooperar para tanto. A crítica aos re-
sultados desta hipótese são realizadas a partir de outro contexto
histórico, em que outras “verdades” estão sugeridas.
126
de habitação coletiva, houve um esforço em determinar métodos 22. Dado retirado do Censo
e parâmetros comuns a todos os projetos, tanto no levantamen- Demográfico do IBGE 2010
to de dados quanto nas escalas de apresentação de cada um dos
23. Descrição dos objetivos do
desenhos. No entanto, para a criação de uma base comparativa
projeto segundo a página online
sistemática, existe a necessidade de equivaler os dados de algum do grupo, que consta no endereço:
modo, e precisar categorias de desenho, escala e apresentação mais https://chc.fau.usp.br/sobre
regulares. O grupo é organizado pelos
Este esforço mirou-se no exemplo dos Cadernos de Habita- docentes Leandro Medrano e Luiz
Recamán da FAUUSP.
ção Coletiva. Tal publicação é iniciativa do grupo de pesquisa da
FAUUSP (Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universida-
de de São Paulo) que “visa a sistematização de informações sobre
as habitações coletivas, que ficarão disponíveis para pesquisadores,
órgãos públicos, profissionais e interessados” 23. Faz parte de uma
cooperação com a ETSAM-UPM (Escuela Tecnica Superior de
Arquitectura de Madrid) que realiza levantamento semelhante a
respeito das habitações coletivas Espanholas.
O projeto conta com uma sistematização de escalas, catego-
rias de desenhos, além de um extenso e dedicado levantamento
de dados, possibilitando um entendimento técnico de cada um dos
edifícios analisados.
A escolha de realizar mais de um estudo de caso neste tra-
balho esteve amparada na intenção de estabelecer um método de
leitura de projeto e um levantamento, que eventualmente pode-
ria ser levado adiante, com análises de outras propostas de habita-
ção coletiva ou social. No entanto, exatamente pela existência de
um projeto como os Cadernos de Habitação coletiva para tanto, e
como decisão pessoal de pesquisa, abdicou-se de certas sistemati-
zações para dar lugar a uma pesquisa de representação a partir do
redesenho e das sínteses descritivas dos projetos.
A pesquisa de representação desenvolvida permitiu a inves-
tigação dos próprios processos que a disciplina utiliza para a elabo-
ração de projetos e possibilitou entender a lógica de que se valeu
cada um dos estudos de caso analisados no que diz respeito à sua
concepção.
127
IMAGEM 01. Tuca Vieira (fotografia cedida pelo autor)
IMAGEM 02. Extraído de: https://bracketsmackdown.com/elements-of-
design-pdf.html
IMAGEM 03. Reprodução da obra Rio de Janeiro, de autoria de Antonio
Poteiro, sem data
IMAGEM 04. O jardin de Nebamun, 1400 a.C. Estuque em uma tumba
de Tebas, 64 x 74,2 cm; Museu Britânico, Londres.
IMAGEM 05. NEUFERT, Ernst. A Arte de projetar em arquitetura. São
Paulo, Editora Gustavo Gili; Edição: 18ª, 2013.
IMAGEM 06. Increasing disorder in a dining table, Sarah Wigglesworth,
extraído de http://www.deconcrete.org/2010/02/17/dining-disorders/
IMAGEM 07. Biblioteca do Convento Capuchin, Mario Botta. Captado
de: http://archiveofaffinities.tumblr.com/post/54952353723/mario-botta-
library-of-the-capuchin-convent
IMAGEM 08. Sadat Rest House, Garf Hoseyn, Egito, Hassan Fathy.
IMAGEM 09. Alex Wall, Office for Metropolitan Architecture (OMA),
“The Pleasure of Architecture,” 1983. Poster baseado na competição
para o Parc de la Villette, Paris, 1982–83. Impressão, 30 11/16 x 20 3/16
IMAGEM 10. Leonardo Finotti (fotografia cedida pelo autor)
IMAGEM 11. Leonardo Finotti (fotografia cedida pelo autor)
lista de figuras
129
ROYER, Luciana. Política habitacional no Estado de São Paulo:
estudo sobre a Companhia de Desenvolvimento Habitacional e
Urbano do Estado de São Paulo – CDHU. 2002. 209 f. Dissertação
(Mestrado) – Faculdade de Arquitetura e Urbanismo, Universidade
de São Paulo, São Paulo, 2002.
130
tipografia Big Caslon, Caslon 540, Theinhardt
papel pólen bold 90gm
impressão Inprima
encadernação encadernadora duarte
131