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JÚRI 02/04/19 – 1ª Vara Criminal de Vitória

Processo nº 0042022-17.2014.8.08.0024

MOISÉS FREIRE PEÇANHA (PARAQUEDISTA)

FUNDAMENTAÇÃO: Artigo 121, § 2º, incisos II e IV do Código Penal

Relata a denúncia ministerial que...

Contudo, ousamos divergir, eis que não há sustentação para um juízo condenatório
contra o réu Moisés. Senão vejamos:

Todavia, esta defesa pretende mostrar, data venia, ousa divergir do entendimento
esposado pelo IRMP.

E os senhores verão que estes autos não dão qualquer base ou fundamento para o IRMP
afirmar que o acusado aqui presente ceifou a vida da vítima dos autos.

Com efeito, o acusado, ao ser ouvido em Juízo negou veementemente a acusação que
lhe foi imputada, afirmando não ter participado do homicídio mencionado na denúncia
in quaestio.

DEPOIMENTOS TESTEMUNHAIS
PC Suelen - Autores do Crime: Fls. 8 – Cara de Macaco e Neguinho (Diego)
Macaco ameaçou o pai da vítima devido a rivalidade.

PC Elson - Autores do Crime: Fls. 12 – Cara de Macaco e Neguinho (Diego)

Clodoaldo (Genitor da Vítima) - Autores do Crime: Fls. 14 e 15 e FLS. 226. Cara de Macaco
e (Diego) - Cara de Macaco ameaça as pessoas do bairro.

Paloma (Genitora da Vítima) - Autores do Crime: Fls. 16. Cara de Macaco e (Diego).
Bilhete Anônimo - Autores do Crime: Fls. 25. Macaco matou o cara – Catinha tem a arma.

REGISTRO DA DENÚNCIA - PC – FLS. 53 – JONATAN efetuou 13 disparos de arma de fogo


contra um homem, que foi a óbito no local. O denunciado foi preso no dia 08/12/2014,
após ter cometido o homicídio de DANIEL QUEIROZ.

FLS. 99 – 111 - RELATÓRIO CONCLUSIVO (PC)


Fls. 102 – (CONTROVERSO) - NEGUINHO (DIEGO) E MACACO FORAM OS AUTORES DO
CRIME

FLS. 103 – TESTEMUNHA PRESERVADA – Visualiza a vítima subindo a escadaria e é


interceptado por NEGUINHO (DIEGO) E MACACO, que perguntam à vítima: Quem é sua
mãe? Após ouvirem a resposta mandaram-no descer, e, em seguida o depoente ouve
muitos tiros.

PC Suelen - Autores do Crime: Fls. 220-221 – Macaco estaria aterrorizando até


motoristas de ônibus. UMA TESTEMUNHA QUE NÃO QUIS SE IDENTIFICAR REVELOU
QUE OS AUTORES DO CRIME FORAM MACACO E DIEGO

FLS. 222 – TESTEMUNHA SIGILOSA – Viu CARA DE MACACO E DIEGO

Fls. 234 – 236 – ISABELLA DE ALMEIDA MIRANDA (DESPACHO)


Menciona apenas CARA DE MACACO E NEGUINHO:
REPRESENTA PELA CONVERSÃO DA PRISÃO EM FLAGRANTE EM PRISÃO PREVENTIVA.

FLS. 241/2 - DECISÃO JUDICIAL – LER EM DESTAQUE – AUTOR DOS FATOS: JONATAN –
DECRETA A PRISÃO PREVENTIVA

FLS. 247 - DECISÃO INDEFERINDO LIBERDADE PROVISÓRIA DE JONATAN

FLS. 261/2 - LAUDO EXAME CADAVÉRICO


FLS. 310/11 - TESTEMUNHA MATEUS – ESTAVA NO SEGUNDO PISO DE SUA RESIDÊNCIA
- VIU APENAS JHONATAN / DIEGO / TIAGO. QUE A VÍTIMA ESTAVA SENTADA DE CABEÇA
BAIXA – JHONATAN SEGURAVA EM SUAS MÃOS. O DECLARANTE IA SE JUNTAR AO
GRUPO, MAS HÁ 30 METROS DE DISTÂNCIA DE ONDE ESTAVA O GRUPO, OUVIU
DIVERSOS DISPAROS E, VIU OS 3 ACIMA, VINDO EM SUA DIREÇÃO CORRENDO. DISSE
QUE CONHECE MOISÉS.

PC Suelen - Fls. 453 – Que Jonatan detalhou a participação de


cada um dos acusados. (ONDE?) - Ainda lhe serviram um pãozinho e o mesmo tomou
um café.
QUE NÃO TEM COMO RECORDAR A CONDUTA DE CADA UM
DOS ACUSADOS (APESAR DO INTERREGNO TEMPORAL, MAS SE ESPERA DE UMA
TESTEMUNHA, AINDA MAIS QUEM TRABALHOU NAS INVESTIGAÇÕES, QUE SE MUNICIE
DE INFORMAÇÕES PRETÉRITAS, PARA PODER DECLINAR EM JUÍZO.
– MAS O QUE LEVANTOU ESTÁ NO SEU RELATÓRIO - DISSE.

FLS. 494 – GENITORA DA VÍTIMA - QUE AS ARMAS UTILIZADAS


NO CRIME ESTAVAM ESCONDIDAS NO BECO, PRÓXIMO A IGREJA MARANATA – MAS,
NÃO SABE DIZER QUEM PASSOU ESSA INFORMAÇÃO.

FLS. 571 – DEPOIMENTO EM JUÍZO (JHONATAN) - OS FATOS SÃO VERDADEIROS EM


RELAÇAO A SUA PESSOA.

FLS. 621/3 - DEPOIMENTO MOISÉS - NÃO SÃO VERDADEIROS OS FATOS EM RELAÇÃO A


SUA PESSOA.

Com a referida análise, observando que para elucidar uma


ação penal é necessário indícios de autoria e materialidade devidamente comprovados,
é nítido o emaranhado de indicação do nome do denunciado, sem qualquer arcabouço
probatório que o sustente.
Sendo assim, ao contrário da materialidade que restou
comprovada por meio de Laudo de Exame Cadavérico, a autoria se diverge e muito se
acompanhada pelos depoimentos, que NÃO podem interferir OU até condenar pessoa
que não teve participação com o fato típico.

DA AUSÊNCIA DE PROVAS
Ora, bem como se pode averiguar, a presente ação penal
trata-se de apuração de crime descrito no artigo 121, § 2º, incisos II e IV do Código Penal
Brasileiro e, a suposta participação do denunciado na prática delituosa lhe imputada.”.

Ora, Exas., estamos diante de um cristalino “ACHISMO”, que


conforme afirmado alhures, tem sido pacificamente rechaçado nos julgados de nossos
Tribunais.

Nesta toada, vislumbra-se que não há indícios plausíveis em


desfavor do réu. Sobreleva-se importante mencionar que, o direito penal brasileiro
adota o princípio do “in dúbio pro reo”, ou seja, na dúvida, interpreta-se a favor do
acusado, pois a garantia de liberdade deve prevalecer sobre a pretensão punitiva do
Estado. Tal princípio é visível no art. 386, VII, do Código Penal:
Art. 386. O juiz absolverá o réu,
mencionando a causa na parte dispositiva, desde que reconheça:
(...)
VII – não existir prova suficiente para a
condenação.

Cumpre ressaltar que, conforme alhures afirmado, não há nos


autos, subsídios ou respaldo fático e probatório suficientes, para se afirmar com
absoluta certeza (que o direito penal, enquanto ciência jurídica, requer), a participação
dolosa do denunciado nos fatos encartados no IP 2861/14, nem tampouco na denúncia
ministerial.
O que deságua indubitavelmente na absolvição do
denunciado, como ora se requer.

Vale aqui ressaltar que não se pode condenar alguém por um


crime que NÃO cometeu usando como prova definitiva as palavras dos policiais que
fizeram à prisão, e supostas conjecturas e ilações fantasiosas, trazidas por testemunhas
sem crédito algum, constantes do Caderno Processual.

Não podemos nos deixar levar pela linha de investigação mais


cômoda ou mais fácil, e sim pela correta e justa, pois não podemos deixar que uma
pessoa que nada teve a ver com o crime em tela, como o acusado, seja condenada pelo
simples fato de existirem ilações levianas, nefastas, funestas, perniciosas, amoral,
indigestas e infundadas, constantes em alguns depoimentos dos autos, conforme
afirmado alhures.

Portanto, não há provas robustas nos autos, que possam com cristalina clareza inserir o
denunciado como partícipe dos fatos encampados na presente Ação Penal, sob pena de
incorrer em grave ofensa a dignidade humana, além de criar assaz insegurança jurídica
no jurisdicionado.

Excelências é cristalino nos autos que o ora acusado nada tem a ver com a suposta
empreitada criminosa que lhe imputam nos Autos da presente Ação Penal.

Ora percebe-se Exa., que estamos diante de um ACHISMO, pois quando o processo
criminal está recheado de “acho que ele também participou, pois estava lá no local dos
fatos”, só podemos concluir que estamos diante de um ACHISMO.

Sabemos que o Direito não é e nem deve ser uma ciência exata (como a matemática,
onde, 1 + 1 são 2), e sim humanística com infinitas vertentes, onde as relações jurídicas
abstratas servem apenas para nortear direitos, deveres e obrigações decorrentes de um
ou mais relações dos cidadãos.
Sendo assim, o iter processual, bem como a condenação criminal exigem plena certeza
da autoria e co-autoria de um crime ou, além da comprovação da materialidade e da
culpabilidade, não podendo existir “achismos” no processo criminal.

Percebemos senhores, que o Processo Criminal deve se nortear pelo Princípio da


Verdade Real.

Insta consignar que, o Tribunal de Justiça Catarinense, em um de seus julgados, afirma


que:
A busca da verdade real é a mola propulsora do processo penal,
para a aplicação da lei repressiva. Se a prova é dúbia e
contraditória, fruto inclusive, de incúria ocorrida na formação do
caderno administrativo1, os fatos apurados no Processo não
fornecem ao julgador a certeza indispensável de estar diante da
realidade, o que impede, sob pena de não ser justo, proclamar um
decreto condenatório2.

Nem sempre esse negócio de “acho que ele também participou, pois estava lá”, conduz
a decisões judiciais coesas e justas, aliás pode produzir até decisões injustas, e colocar
atrás das grades um inocente.

Não importa qual crime esteja sendo julgado, a imparcialidade, a busca pela Verdade
Real, e demais princípios que norteiam o Processo Criminal, devem prevalecer sobre a
convicção de foro íntimo do julgador, para que não tenhamos decisões destoantes da
verdade dos fatos.

1
Ou seja, falta de cuidado, zelo, ou simplesmente negligência, na fase administrativa do processo, em suma, na
condução do inquérito policial, que sem sombra de dúvidas desaguará em uma denúncia ministerial falha, desde
seu nascedouro, que indubitavelmente contaminará, poluirá, todo o iter processual, produzindo uma decisão
judicial manchada pela pecha da ilegalidade.
2 TJ-SC-ACR: 399071 SC 1988.039907-1. Relator: Ernani Ribeiro. Data de Julgamento: 29/04/1991. Primeira Câmara

Criminal. Data de Publicação: DJJ: 8262. Data: 31/05/91. Pág. 14.


Acerca deste importante princípio processual penal, o jurista Heider Fiuza de Oliveira
Filho, afirma-nos que, o primeiro ponto a ser mencionado quando se fala na finalidade
da prova criminal é a questão da verdade3.

Mencionado jurista ainda firma que, a doutrina clássica sustenta que o processo penal
busca, por intermédio da prova, a "verdade real4".

Para o novel mestre, na seara jurídico-penal, o julgador terá chegado à sua verdade,
quando, à vista do exame das provas, detiver robusta convicção (juízo de certeza) de
que seu julgado corresponde efetivamente à realidade do fato criminoso5.

Como os senhores chegarão a plena convicção para emitirem vossa r. decisão, neste
processo, sendo que o que se tem é: “acho que ele também participou, pois estava lá”.

CESAR BECCARIA
Em 1764, imbuído dos princípios iluministas, o comumente conhecido “Apóstolo do
Direito” Cesar Bonesana, Marquês de Beccaria, fez publicar a obra "Dos Delitos e das
Penas". Em sua célebre obra, Beccaria pregava contra condenações e penas injustas.

CONDENAÇÕES INJUSTAS
Todavia, mesmo após o banimento das penas cruéis ainda temos penas injustas, pois,
fundadas em condenações injustas, com base no ACHISMO, no OUVI DIZER, em
TESTEMUNHAS QUE MUDAM DE VERSÃO, COMO VOCÊS MUDAM DE ROUPA. Tudo
isso, estigmatiza aquele que já foi estigmatizado pela sociedade, e coloca infelizmente
atrás das grades um inocente, sob o manto disfarçado da estigmatização.

ESTIGMATIZAÇÃO

3 FILHO, Heider Fiuza de Oliveira. Princípio da Verdade Real no Processo Penal. Disponível em:
http://www.viajus.com.br/viajus.php?pagina=artigos&id=1125&idAreaSel=4&seeArt=yes. Acesso em:
09/03/2016.
4 Idem
5 Idem
O Estigma é definido como marca ou sinal que designa o seu portador como
desqualificado ou menos valorizado, ou segundo a definição do sociólogo Erving
Goffman6: “a situação do indivíduo que está inabilitado para aceitação social plena”.
Podendo ainda ser apresenta o estigma, como um tipo especial de relação entre atributo
e estereótipo.

Para Goffman, enquanto o estigmatizado, o estranho está à nossa frente, em nosso


debilitado imaginário surgem evidências de que este estranho, este estigmatizado, tem
um atributo que o torna diferente de outras pessoas, inserindo-o numa categoria
inferior, por conseguinte, menos desejável, que a do estigmatizador. Assim deixamos de
considerá-la criatura comum e total, reduzindo-a a uma pessoa estragada e diminuída.
Tal característica é estigma, especialmente quando o seu efeito de descrédito é muito
grande.

Para a sociologia o estigma está relacionado com a identidade social dos sujeitos.
Recorrendo-se à etimologia da palavra percebe-se que ao longo do tempo ela foi
adquirindo distintos significados. Inicialmente, ainda na Grécia Antiga, era utilizada para
sinalizar as marcas corporais de escravos e criminosos7.

PRISÕES BRASILEIRAS
Falando em estigmatização, em recente estudo, onde fez- se um Levantamento acerca
do Sistema Prisional Brasileiro, apontou-se que maioria dos presos no Brasil são jovens,
que em sua grande, maciça e esmagadora maioria, pobres, e de baixa escolaridade.

O levantamento também constatou que é muito baixo o grau de escolaridade da


população prisional brasileira: cerca de 53% dos presos possuem ensino fundamental
incompleto8.

6 GOFFMAN, Erving. Estigma: Notas Sobre a Manipulação da Identidade Deteriorada. Rio de Janeiro: LTC Editora,
1988
7
Estigma social. ARAUJO, Disponível em: https://www.infoescola.com/sociologia/estigma-social/. Acesso em:
10/09/2018.
8 http://www.em.com.br/app/noticia/nacional/2015/06/23/interna_nacional,661171/levantamento-aponta-
que-maioria-dos-presos-no-brasil-sao-jovens-negro.shtml
Estão se entupindo nossas prisões, com estes jovens, que em sua maioria sequer tem
condições de pagar por uma defesa técnica. Jovens que estão à margem da sociedade.
Infelizmente, esta triste realidade, indubitavelmente desaguará na superlotação
carcerária, por conseguinte, a ineficiência do Sistema Prisional.

O ministro Gilmar Mendes ao preconizar acerca da crise penitenciária, assim


reverberou: “A questão não se resolve com construção de presídios”

Quase a metade desses presos, afirma precitado ministro, é de presos provisórios e esse
número vai aumentando. A Justiça em geral não tem tempo de julgar. Se você tem um
fluxo de entrada enorme e não tem a saída, a tendência é a superlotação. Durante os
mutirões no Espírito Santo, encontramos alguém preso há 11 anos sem julgamento. E
pensávamos que essa era a última escala das degradações. Mas no Ceará encontramos
um sujeito preso há 14 anos sem julgamento. Isso é uma casa de horrores, ponderou
Gilmar Mendes9.

É o retrato fiel da justiça brasileira senhores, que muitas vezes é lerda, lenta, anda a
passos de tartaruga e ainda por cima é desumana.

Raísa Nascimento, em brilhante artigo jurídico intitulado Panorama do sistema prisional


brasileiro e suas interfaces com o Serviço Social, diz haver no Brasil uma INDÚSTRIA DO
PRESO, o sistema prisional brasileiro é o 4º maior sistema mundial, e as prisões
brasileiras são comparadas a campos de concentração para pobres e às piores jaulas do
terceiro mundo10.

Somente para se ter uma dimensão do problema carcerário no Brasil, em 2005, a


Delegacia de Polícia Civil de Paranaguá foi visitada pela Comissão de Direitos Humanos
e, fruto dessa visita, foi publicada uma nota informativa na página virtual da Assembleia

9
SOUZA, Felipe. A questão não se resolve com construção de presídios', diz Gilmar Mendes sobre crise
penitenciária. Disponível em: https://www.bbc.com/portuguese/brasil-38492779. Acesso em: 10/09/2018.
10 NASCIMENTO, Raísa. Panorama do sistema prisional brasileiro e suas interfaces com o Serviço Social. Acesso em:

15/12/2016. Disponível em:


http://acervodigital.ufpr.br/bitstream/handle/1884/43977/Raisa%20Alves%20Nascimento.pdf?sequence=1&isAl
lowed=y.
Legislativa. O texto revela que naquele ano havia um total de 180 presos em um espaço
que poderia conter no máximo 20 presos, ou seja, 900% além da capacidade total.

Falando em CONDENAÇÕES INJUSTAS, sob o título: As injustiças da Justiça brasileira -


Erros e descasos em processos criminais levam à prisão de inocentes por até duas
décadas, o Sítio na Internet O Globo, noticiou um dos muitos casos de condenações
injustas, onde o que era apenas uma coincidência de um nome em comum, mas erros e
mais erros da Justiça brasileira transformaram a vida do pernambucano Marcos Mariano
da Silva.

Era apenas uma coincidência de um nome em comum (COMEÇA A REPORTAGEM), mas


erros e mais erros da Justiça brasileira transformaram a vida do pernambucano Marcos
Mariano da Silva. Em 1976, o então mecânico e motorista foi preso por um assassinato
cometido por um homônimo na mesma cidade em que morava, Cabo de Santo
Agostinho (PE). Condenado, passou seis anos encarcerado, até o verdadeiro criminoso
ser detido por outro delito. Marcos, então, foi solto, mas seu martírio ainda não havia
se encerrado. Três anos depois, ele foi parado numa blitz e reconhecido por policiais que
sabiam da primeira acusação, mas não de sua inocência. O juiz que cuidou dessa nova
prisão tampouco se preocupou em ler seu processo e o mandou de volta para o presídio,
onde permaneceu até 1998. Nesse período, contraiu tuberculose e ficou cego, até mais
uma vez ser solto pelo reconhecimento do equívoco. No total, Marcos passou 19 anos
preso e, depois, iniciou uma nova luta por reparação. Em 2011, no dia em que o Superior
Tribunal de Justiça (STJ) decidiu pelo pagamento de uma indenização de R$ 2 milhões,
Marcos sofreu um infarto e morreu, sem, contudo, ver a cor ou ainda sentir o cheirinho
dos R$ 2 milhões.

DEPOIMENTO DO RÉU
Quadra registrar que, o réu quando teve sua oportunidade de falar em juízo negou
veementemente sua participação no crime dos autos. Acerca do Interrogatório do réu
na esfera criminal, o legislador infraconstitucional o inseriu entre os artigos 185 a 196,
do Código de Processo Penal.
É o ato em que o acusado é ouvido sobre a imputação a ele dirigida. Tem dupla natureza
jurídica ao interrogatório:
É meio de defesa, pois o interrogatório é o momento primordial para que o
acusado possa exercer sua autodefesa em relação à imputação que lhe pesa.

É também meio de prova, pois assim inserido no Código de Processo Penal e


porque leva elemento de convicção ao julgador.

MEDO CONTEMPORÂNEO11
Aos senhores nobres jurados que formam o Conselho de Sentença, lhes cabe julgar os
crimes dolosos contra a vida, ou seja, aqueles crimes, em que é patente a intenção do
agente de matar. Sejam estes crimes tentados ou consumados.

Impende ressaltar que, aceitar a responsabilidade de ser jurado é cumprir um dever


cívico de extrema importância.

Quadra registrar que, a instituição do Tribunal do Júri está prevista na Constituição


Federal do Brasil, sendo um dos órgãos do Poder Judiciário.

Vossas Excelências enquanto integrantes do Conselho de Sentença, são comumente


conhecidos como juízes de fato.

Importante ressaltar que as mesmas responsabilidades que recaem sobre qualquer


magistrado de qualquer instância ou grau de jurisdição, ao proferir sua decisão, também
lhes recai de igual forma.

Sabe-se que, o juiz ao julgar acima de tudo deve ser imparcial. A imparcialidade do juiz
é pressuposto de validade do processo, devendo o juiz colocar-se entre as partes e acima
delas (RÉU X SOCIEDADE), sendo esta a primeira condição para que possa o magistrado
exercer sua função jurisdicional.

11 Marcelo Serafim de Souza. Advogado criminal. Inscrito na OAB Seccional ES sob o nº 18.472. Graduado em Direito

pela Fabavi – Faculdade Batista de Vitória. Graduando em Teologia pela Faculdade Teológica Unida.
Referido pressuposto, dada sua importância, tem caráter universal e consta da
Declaração Universal dos Direitos do Homem, em seu artigo X, que assim preleciona:
Todo ser humano tem direito, em plena igualdade, a uma justa e
pública audiência por parte de um tribunal independente e
imparcial, para decidir sobre seus direitos e deveres ou do
fundamento de qualquer acusação criminal contra ele.

A imparcialidade do juiz é uma garantia de justiça para as partes e, embora não esteja
expresso na Constituição Federal, é uma garantia constitucional.

O juiz ao julgar, deve se esvaziar de seus mais profundos sentimentos, medos fobias, e
ater-se aos fatos que lhe trazidos pelo processo.

Importante mencionar que, com o avanço da mídia, e os fatos ocorridos em qualquer


parte do mundo, viram notícia, no mesmo instante em que acontecem. E isso se deve
ao avanço da tecnologia, tem feito surgir hodiernamente um novo tipo de medo,
denominado “medo contemporâneo”

Quero em breves e gerais linhas dissertar acerca do medo contemporâneo, e sua


inevitável e desastrosa “influência” na r. decisão do Conselho de Sentença, composto
pelos senhores jurados, bem como seus eminentes pares.

A princípio, cumpre ressaltar que o medo é um sentimento natural e necessário ao


homem, todavia de grande inquietação ante a noção de um perigo real ou imaginário.

A Psicóloga clínica Luciana Oliveira dos Santos12, preleciona que, em um sentido estrito
do termo, o medo é concebido como uma emoção-choque devido à percepção de perigo
presente e urgente que ameaça a preservação de todo indivíduo.

12 Luciana Oliveira dos Santos. O Medo Contemporâneo. Acesso em: 13/07/2015. Disponível em:
http://www.scielo.br/pdf/pcp/v23n2/v23n2a08.pdf.
Para mencionada Psicóloga, diferentemente do sentimento do “medo”, sentido pelos
povos antigos, temos a experiência de medo do indivíduo hoje. Uma experiência
individualizada. É o chamado “medo contemporâneo13”.

Referida psicóloga citando o pai da Psicanálise Sigmund Freud, afirma que o medo
contemporâneo, enquanto mal-estar, atinge como um todo, populações urbanas
principalmente, sem levar em conta a classe e a posição social, expressando-se através
de fenômenos como stress, depressão, episódios psicossomáticos, etc.14

Cumpre ressaltar que a reunião dos sintomas supramencionados, indubitavelmente


acarretará no surgimento no indivíduo portador das síndromes suso transcritas, da
famigerada “síndrome do pânico”, a qual Freud denominava “Neurose de Angústia”15.

O professor do departamento de Ciências Sociais da Universidade Federal da Paraíba


Mauro Guilherme Pinheiro Koury, em seu artigo Medos urbanos e mídia: o imaginário
sobre juventude e violência no Brasil atual, afirma existir uma indústria do medo no
Brasil atual, através da relação entre juventude e violência, com suas proposições
levantadas pela mídia brasileira no imaginário nacional16.

O novel jurista RANGEL, discursando acerca do medo contemporâneo, patrocinado pela


mídia, afirma que:
No Brasil, determinadas capitais como Rio de Janeiro e São Paulo,
protagonizam cenas de violência, para o mundo todo por meio da
mídia, o que por si só, causa certo impacto no turismo e,
consequentemente, na economia, pois se difunde o medo de que

13 Ibidem
14 Ibidem
15 Freud, S., La Neurastenia y la Neurosis de Angustia (Sobre la Justificación de Separar de la Neurastenia Cierto

Complejo de Síntomas a Título de "Neurosis de Angustia") in: SCARPATO, Artur Thiago. Síndrome do Pânico: uma
Abordagem Psicofísica. Revista Hermes, São Paulo, número 3, 1998.
16 Mauro Guilherme Pinheiro Koury. Medos urbanos e mídia: o imaginário sobre juventude e violência no Brasil

atual. Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0102-69922011000300003&script=sci_arttext.


Acesso em: 13/07/2015.
esses lugares são instáveis e perigosos para qualquer empreitada
de mercado, moradia, investimento econômico17...

Todavia, senhores, não se pode dar lugar ao medo ou a estigmatização, para se


condenar quem quer que seja. Deve-se ter provas cabais, robustas e contundentes, para
se pronunciar um juízo de condenação.

Pois, afirmar sem provar, é falácia. Haja vista, alegar e não provar é o mesmo que nada
alegar. Quem afirma isso é a jurisprudência senhores.

Como exemplo, cito aqui um julgado de nosso Tribunal de Justiça capixaba, tendo como
relator, o eminente desembargador Carlos Henrique Rios do Amaral, ao relatar seu voto
em uma brilhante decisão. Senão vejamos, verbis:
APELAÇAO CÍVEL Nº 024.039.005.749. RELATOR: DES. CARLOS
HENRIQUE RIOS DO AMARAL. ACÓRDAO APELAÇAO CÍVEL
SUPOSTA PRESSAO PARA FAZER ACORDO. AUSÊNCIA DE PROVA.
[...] Não há prova nos autos que garantam a afirmação da
recorrente. Existe um nexo íntimo entre o ônus de provar e o ônus
de alegar, de modo que ...alegar e não provar, é o mesmo que
nada alegar. Negado provimento ao recurso18.

Fernando Homem de Mello, em brilhante ensinamento acerca do tema, assevera que,


“o dever de produzir as provas necessárias à comprovação da existência e da veracidade
de determinado fato, vem a ser o ônus da prova (do latim onus probandi, dever de
provar)19

Este ônus da prova, incumbe ao autor da Ação Penal, in casu, o IRMP, que deve
fundamentar e bem embasar suas provas, para que não haja o mínimo resquício de

17 RANGEL, Paulo. Tribunal do Júri: visão linguística, histórica, social e jurídica. 4ª ed. ver. e atual. até 2 de julho de
2012. São Paulo: Atlas, 2012.
18 TJ-ES - AC: 24039005749 ES 24039005749. Relator: CARLOS HENRIQUE RIOS DO AMARAL. Data de Julgamento:

26/06/2007. PRIMEIRA CÂMARA CÍVEL. Data de Publicação: 27/08/2007


19 FILHO, Fernando Homem de Mello Lacerda. PROVA - BREVÍSSIMO COMENTÁRIO. Acesso em: 14/07/2015.

Disponível em: http://www.advogado.adv.br/artigos/2000/homemdemello/prova.htm.


dúvidas no julgador. Pois aqui, no Processo Penal, vige a máxima: “na dúvida, deve o
julgador decidir a favor do réu, pelo princípio in dubio pro reo”.

Juarez Pereira e Dora Pereira, em importante lição acerca deste tema, afirmam que:
Sendo o acusado presumivelmente inocente e cabendo o ônus
probatório ao acusador, é necessário, para a imposição de uma
sentença condenatória, que se prove, além de qualquer dúvida
razoável, a culpa do acusado. Subsistindo dúvida, tem-se que a
acusação não se desincumbiu do ônus que lhe cabe, restando
inafastável a absolvição do réu, já que, sem demonstração cabal
de sua culpa, prevalece a inocência presumida. Nesta acepção,
pode-se dizer que a presunção de inocência confunde-se com o in
dubio pro reo20.

Importante mencionar que, quando apontamos 1 (um) dedo para acusar alguém: “1
(um) dedo, aponto para o próximo, 3 (três) dedos aponto para mim mesmo, e 1 (um)
dedo, aponto para cima, para os céus, que na dicção do Salmista Davi, em Salmos,
capítulo 33, versículos 13 e 14 “é a morada, habitação de Deus”.

O júri, por sua vez, quando contaminado pelo medo urbano (leia-se medo
contemporâneo), acaba decidindo pelo sentimento maléfico causado pelos seus medos
internos e inconscientes, exteriorizados na vida do outro, durante o julgamento.

Não são poucos os jurados que, após o julgamento afirmam ter passado por situação
idêntica àquela, objeto de julgamento e que, por tal razão, sabem que aquilo foi dito
pela acusação (ou pela defesa) é verdadeiro, mesmo que a prova dos autos não sejam
tão convincentes assim.

20PEREIRA, Juarez Maynart; PEREIRA, Dora Maynart. Decisão de pronúncia e presunção de inocência: in dubio pro
reo ou in dubio pro societate?. Revista Jus Navigandi, Teresina, ano 19, n. 3852, 17 jan. 2014. Disponível
em: <http://jus.com.br/artigos/26439>. Acesso em: 13 jul. 2015.
É o famigerado princípio da intima convicção (do jurado) em desarmonia com a
Constituição da República (art. 93, IX), que exige que toda e qualquer decisão judicial
seja fundamentada, sob pena de nulidade, e a (decisão) do júri não pode fugir desse
imperativo21.

Em síntese, a experiência do jurado (leia-se “o medo que sente, ou já sentiu) leva-o a


decidir equivocadamente sobre a vida do outro.

Resumindo: “Ao julgar, devem os jurados, esvaziar-se dos seus medos contemporâneos,
fruto das pregações midiáticas. De suas paixões, emoções, experiências próprias, ou de
terceiros, e com o equilíbrio emocional apropriado que o momento exige, coadunado à
temperança, julgar pela razão. Jamais pela emoção”.

Para que não tenhamos decisões equivocadas, manchadas pelas emoções humanas
exteriorizadas, que indubitavelmente colocará atrás das grades um inocente. Trazendo
grave ofensa ao princípio da dignidade humana, bem como aos demais princípios do
direito que a todos abarca, incluso àquele que está neste momento assentado na
cadeira dos réus.

DOS PEDIDOS
Tendo em vista senhores, a essencialidade do princípio do in dubio pro reo que visa
evitar o cometimento de arbitrariedades pelo Estado e proteger a inocência dos
acusados, onde vige o famigerado brocardo: “É preferível a absolvição de um culpado
do que a condenação de um inocente”, que, inclusive, corrobora a tese desta defesa, de
que todos os elementos aqui carreados e bem explicitados, vislumbra-se inarredável a
negativa de autoria, e com ela se impõe necessária a ABSOLVIÇÃO do réu MOISÉS
FREIRE PEÇANHA, de todas as imputações encontradas contra si, no bojo dos autos
epigrafados.

21RANGEL, Paulo. Tribunal do Júri: visão linguística, histórica, social e jurídica. 4ª ed. ver. e atual. até 2 de julho de
2012. São Paulo: Atlas, 2012.
Onde os senhores ao responder o quesito acerca da ABSOLVIÇÃO do réu MOISÉS FREIRE
PEÇANHA, deverão responder positivamente, pois, assim o fazendo estarão estará
efetuando a mais lídima justiça. É o que desde já se requer.

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