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Processo nº 0042022-17.2014.8.08.0024
Contudo, ousamos divergir, eis que não há sustentação para um juízo condenatório
contra o réu Moisés. Senão vejamos:
Todavia, esta defesa pretende mostrar, data venia, ousa divergir do entendimento
esposado pelo IRMP.
E os senhores verão que estes autos não dão qualquer base ou fundamento para o IRMP
afirmar que o acusado aqui presente ceifou a vida da vítima dos autos.
Com efeito, o acusado, ao ser ouvido em Juízo negou veementemente a acusação que
lhe foi imputada, afirmando não ter participado do homicídio mencionado na denúncia
in quaestio.
DEPOIMENTOS TESTEMUNHAIS
PC Suelen - Autores do Crime: Fls. 8 – Cara de Macaco e Neguinho (Diego)
Macaco ameaçou o pai da vítima devido a rivalidade.
Clodoaldo (Genitor da Vítima) - Autores do Crime: Fls. 14 e 15 e FLS. 226. Cara de Macaco
e (Diego) - Cara de Macaco ameaça as pessoas do bairro.
Paloma (Genitora da Vítima) - Autores do Crime: Fls. 16. Cara de Macaco e (Diego).
Bilhete Anônimo - Autores do Crime: Fls. 25. Macaco matou o cara – Catinha tem a arma.
FLS. 241/2 - DECISÃO JUDICIAL – LER EM DESTAQUE – AUTOR DOS FATOS: JONATAN –
DECRETA A PRISÃO PREVENTIVA
DA AUSÊNCIA DE PROVAS
Ora, bem como se pode averiguar, a presente ação penal
trata-se de apuração de crime descrito no artigo 121, § 2º, incisos II e IV do Código Penal
Brasileiro e, a suposta participação do denunciado na prática delituosa lhe imputada.”.
Portanto, não há provas robustas nos autos, que possam com cristalina clareza inserir o
denunciado como partícipe dos fatos encampados na presente Ação Penal, sob pena de
incorrer em grave ofensa a dignidade humana, além de criar assaz insegurança jurídica
no jurisdicionado.
Excelências é cristalino nos autos que o ora acusado nada tem a ver com a suposta
empreitada criminosa que lhe imputam nos Autos da presente Ação Penal.
Ora percebe-se Exa., que estamos diante de um ACHISMO, pois quando o processo
criminal está recheado de “acho que ele também participou, pois estava lá no local dos
fatos”, só podemos concluir que estamos diante de um ACHISMO.
Sabemos que o Direito não é e nem deve ser uma ciência exata (como a matemática,
onde, 1 + 1 são 2), e sim humanística com infinitas vertentes, onde as relações jurídicas
abstratas servem apenas para nortear direitos, deveres e obrigações decorrentes de um
ou mais relações dos cidadãos.
Sendo assim, o iter processual, bem como a condenação criminal exigem plena certeza
da autoria e co-autoria de um crime ou, além da comprovação da materialidade e da
culpabilidade, não podendo existir “achismos” no processo criminal.
Nem sempre esse negócio de “acho que ele também participou, pois estava lá”, conduz
a decisões judiciais coesas e justas, aliás pode produzir até decisões injustas, e colocar
atrás das grades um inocente.
Não importa qual crime esteja sendo julgado, a imparcialidade, a busca pela Verdade
Real, e demais princípios que norteiam o Processo Criminal, devem prevalecer sobre a
convicção de foro íntimo do julgador, para que não tenhamos decisões destoantes da
verdade dos fatos.
1
Ou seja, falta de cuidado, zelo, ou simplesmente negligência, na fase administrativa do processo, em suma, na
condução do inquérito policial, que sem sombra de dúvidas desaguará em uma denúncia ministerial falha, desde
seu nascedouro, que indubitavelmente contaminará, poluirá, todo o iter processual, produzindo uma decisão
judicial manchada pela pecha da ilegalidade.
2 TJ-SC-ACR: 399071 SC 1988.039907-1. Relator: Ernani Ribeiro. Data de Julgamento: 29/04/1991. Primeira Câmara
Mencionado jurista ainda firma que, a doutrina clássica sustenta que o processo penal
busca, por intermédio da prova, a "verdade real4".
Para o novel mestre, na seara jurídico-penal, o julgador terá chegado à sua verdade,
quando, à vista do exame das provas, detiver robusta convicção (juízo de certeza) de
que seu julgado corresponde efetivamente à realidade do fato criminoso5.
Como os senhores chegarão a plena convicção para emitirem vossa r. decisão, neste
processo, sendo que o que se tem é: “acho que ele também participou, pois estava lá”.
CESAR BECCARIA
Em 1764, imbuído dos princípios iluministas, o comumente conhecido “Apóstolo do
Direito” Cesar Bonesana, Marquês de Beccaria, fez publicar a obra "Dos Delitos e das
Penas". Em sua célebre obra, Beccaria pregava contra condenações e penas injustas.
CONDENAÇÕES INJUSTAS
Todavia, mesmo após o banimento das penas cruéis ainda temos penas injustas, pois,
fundadas em condenações injustas, com base no ACHISMO, no OUVI DIZER, em
TESTEMUNHAS QUE MUDAM DE VERSÃO, COMO VOCÊS MUDAM DE ROUPA. Tudo
isso, estigmatiza aquele que já foi estigmatizado pela sociedade, e coloca infelizmente
atrás das grades um inocente, sob o manto disfarçado da estigmatização.
ESTIGMATIZAÇÃO
3 FILHO, Heider Fiuza de Oliveira. Princípio da Verdade Real no Processo Penal. Disponível em:
http://www.viajus.com.br/viajus.php?pagina=artigos&id=1125&idAreaSel=4&seeArt=yes. Acesso em:
09/03/2016.
4 Idem
5 Idem
O Estigma é definido como marca ou sinal que designa o seu portador como
desqualificado ou menos valorizado, ou segundo a definição do sociólogo Erving
Goffman6: “a situação do indivíduo que está inabilitado para aceitação social plena”.
Podendo ainda ser apresenta o estigma, como um tipo especial de relação entre atributo
e estereótipo.
Para a sociologia o estigma está relacionado com a identidade social dos sujeitos.
Recorrendo-se à etimologia da palavra percebe-se que ao longo do tempo ela foi
adquirindo distintos significados. Inicialmente, ainda na Grécia Antiga, era utilizada para
sinalizar as marcas corporais de escravos e criminosos7.
PRISÕES BRASILEIRAS
Falando em estigmatização, em recente estudo, onde fez- se um Levantamento acerca
do Sistema Prisional Brasileiro, apontou-se que maioria dos presos no Brasil são jovens,
que em sua grande, maciça e esmagadora maioria, pobres, e de baixa escolaridade.
6 GOFFMAN, Erving. Estigma: Notas Sobre a Manipulação da Identidade Deteriorada. Rio de Janeiro: LTC Editora,
1988
7
Estigma social. ARAUJO, Disponível em: https://www.infoescola.com/sociologia/estigma-social/. Acesso em:
10/09/2018.
8 http://www.em.com.br/app/noticia/nacional/2015/06/23/interna_nacional,661171/levantamento-aponta-
que-maioria-dos-presos-no-brasil-sao-jovens-negro.shtml
Estão se entupindo nossas prisões, com estes jovens, que em sua maioria sequer tem
condições de pagar por uma defesa técnica. Jovens que estão à margem da sociedade.
Infelizmente, esta triste realidade, indubitavelmente desaguará na superlotação
carcerária, por conseguinte, a ineficiência do Sistema Prisional.
Quase a metade desses presos, afirma precitado ministro, é de presos provisórios e esse
número vai aumentando. A Justiça em geral não tem tempo de julgar. Se você tem um
fluxo de entrada enorme e não tem a saída, a tendência é a superlotação. Durante os
mutirões no Espírito Santo, encontramos alguém preso há 11 anos sem julgamento. E
pensávamos que essa era a última escala das degradações. Mas no Ceará encontramos
um sujeito preso há 14 anos sem julgamento. Isso é uma casa de horrores, ponderou
Gilmar Mendes9.
É o retrato fiel da justiça brasileira senhores, que muitas vezes é lerda, lenta, anda a
passos de tartaruga e ainda por cima é desumana.
9
SOUZA, Felipe. A questão não se resolve com construção de presídios', diz Gilmar Mendes sobre crise
penitenciária. Disponível em: https://www.bbc.com/portuguese/brasil-38492779. Acesso em: 10/09/2018.
10 NASCIMENTO, Raísa. Panorama do sistema prisional brasileiro e suas interfaces com o Serviço Social. Acesso em:
DEPOIMENTO DO RÉU
Quadra registrar que, o réu quando teve sua oportunidade de falar em juízo negou
veementemente sua participação no crime dos autos. Acerca do Interrogatório do réu
na esfera criminal, o legislador infraconstitucional o inseriu entre os artigos 185 a 196,
do Código de Processo Penal.
É o ato em que o acusado é ouvido sobre a imputação a ele dirigida. Tem dupla natureza
jurídica ao interrogatório:
É meio de defesa, pois o interrogatório é o momento primordial para que o
acusado possa exercer sua autodefesa em relação à imputação que lhe pesa.
MEDO CONTEMPORÂNEO11
Aos senhores nobres jurados que formam o Conselho de Sentença, lhes cabe julgar os
crimes dolosos contra a vida, ou seja, aqueles crimes, em que é patente a intenção do
agente de matar. Sejam estes crimes tentados ou consumados.
Sabe-se que, o juiz ao julgar acima de tudo deve ser imparcial. A imparcialidade do juiz
é pressuposto de validade do processo, devendo o juiz colocar-se entre as partes e acima
delas (RÉU X SOCIEDADE), sendo esta a primeira condição para que possa o magistrado
exercer sua função jurisdicional.
11 Marcelo Serafim de Souza. Advogado criminal. Inscrito na OAB Seccional ES sob o nº 18.472. Graduado em Direito
pela Fabavi – Faculdade Batista de Vitória. Graduando em Teologia pela Faculdade Teológica Unida.
Referido pressuposto, dada sua importância, tem caráter universal e consta da
Declaração Universal dos Direitos do Homem, em seu artigo X, que assim preleciona:
Todo ser humano tem direito, em plena igualdade, a uma justa e
pública audiência por parte de um tribunal independente e
imparcial, para decidir sobre seus direitos e deveres ou do
fundamento de qualquer acusação criminal contra ele.
A imparcialidade do juiz é uma garantia de justiça para as partes e, embora não esteja
expresso na Constituição Federal, é uma garantia constitucional.
O juiz ao julgar, deve se esvaziar de seus mais profundos sentimentos, medos fobias, e
ater-se aos fatos que lhe trazidos pelo processo.
A Psicóloga clínica Luciana Oliveira dos Santos12, preleciona que, em um sentido estrito
do termo, o medo é concebido como uma emoção-choque devido à percepção de perigo
presente e urgente que ameaça a preservação de todo indivíduo.
12 Luciana Oliveira dos Santos. O Medo Contemporâneo. Acesso em: 13/07/2015. Disponível em:
http://www.scielo.br/pdf/pcp/v23n2/v23n2a08.pdf.
Para mencionada Psicóloga, diferentemente do sentimento do “medo”, sentido pelos
povos antigos, temos a experiência de medo do indivíduo hoje. Uma experiência
individualizada. É o chamado “medo contemporâneo13”.
Referida psicóloga citando o pai da Psicanálise Sigmund Freud, afirma que o medo
contemporâneo, enquanto mal-estar, atinge como um todo, populações urbanas
principalmente, sem levar em conta a classe e a posição social, expressando-se através
de fenômenos como stress, depressão, episódios psicossomáticos, etc.14
13 Ibidem
14 Ibidem
15 Freud, S., La Neurastenia y la Neurosis de Angustia (Sobre la Justificación de Separar de la Neurastenia Cierto
Complejo de Síntomas a Título de "Neurosis de Angustia") in: SCARPATO, Artur Thiago. Síndrome do Pânico: uma
Abordagem Psicofísica. Revista Hermes, São Paulo, número 3, 1998.
16 Mauro Guilherme Pinheiro Koury. Medos urbanos e mídia: o imaginário sobre juventude e violência no Brasil
Pois, afirmar sem provar, é falácia. Haja vista, alegar e não provar é o mesmo que nada
alegar. Quem afirma isso é a jurisprudência senhores.
Como exemplo, cito aqui um julgado de nosso Tribunal de Justiça capixaba, tendo como
relator, o eminente desembargador Carlos Henrique Rios do Amaral, ao relatar seu voto
em uma brilhante decisão. Senão vejamos, verbis:
APELAÇAO CÍVEL Nº 024.039.005.749. RELATOR: DES. CARLOS
HENRIQUE RIOS DO AMARAL. ACÓRDAO APELAÇAO CÍVEL
SUPOSTA PRESSAO PARA FAZER ACORDO. AUSÊNCIA DE PROVA.
[...] Não há prova nos autos que garantam a afirmação da
recorrente. Existe um nexo íntimo entre o ônus de provar e o ônus
de alegar, de modo que ...alegar e não provar, é o mesmo que
nada alegar. Negado provimento ao recurso18.
Este ônus da prova, incumbe ao autor da Ação Penal, in casu, o IRMP, que deve
fundamentar e bem embasar suas provas, para que não haja o mínimo resquício de
17 RANGEL, Paulo. Tribunal do Júri: visão linguística, histórica, social e jurídica. 4ª ed. ver. e atual. até 2 de julho de
2012. São Paulo: Atlas, 2012.
18 TJ-ES - AC: 24039005749 ES 24039005749. Relator: CARLOS HENRIQUE RIOS DO AMARAL. Data de Julgamento:
Juarez Pereira e Dora Pereira, em importante lição acerca deste tema, afirmam que:
Sendo o acusado presumivelmente inocente e cabendo o ônus
probatório ao acusador, é necessário, para a imposição de uma
sentença condenatória, que se prove, além de qualquer dúvida
razoável, a culpa do acusado. Subsistindo dúvida, tem-se que a
acusação não se desincumbiu do ônus que lhe cabe, restando
inafastável a absolvição do réu, já que, sem demonstração cabal
de sua culpa, prevalece a inocência presumida. Nesta acepção,
pode-se dizer que a presunção de inocência confunde-se com o in
dubio pro reo20.
Importante mencionar que, quando apontamos 1 (um) dedo para acusar alguém: “1
(um) dedo, aponto para o próximo, 3 (três) dedos aponto para mim mesmo, e 1 (um)
dedo, aponto para cima, para os céus, que na dicção do Salmista Davi, em Salmos,
capítulo 33, versículos 13 e 14 “é a morada, habitação de Deus”.
O júri, por sua vez, quando contaminado pelo medo urbano (leia-se medo
contemporâneo), acaba decidindo pelo sentimento maléfico causado pelos seus medos
internos e inconscientes, exteriorizados na vida do outro, durante o julgamento.
Não são poucos os jurados que, após o julgamento afirmam ter passado por situação
idêntica àquela, objeto de julgamento e que, por tal razão, sabem que aquilo foi dito
pela acusação (ou pela defesa) é verdadeiro, mesmo que a prova dos autos não sejam
tão convincentes assim.
20PEREIRA, Juarez Maynart; PEREIRA, Dora Maynart. Decisão de pronúncia e presunção de inocência: in dubio pro
reo ou in dubio pro societate?. Revista Jus Navigandi, Teresina, ano 19, n. 3852, 17 jan. 2014. Disponível
em: <http://jus.com.br/artigos/26439>. Acesso em: 13 jul. 2015.
É o famigerado princípio da intima convicção (do jurado) em desarmonia com a
Constituição da República (art. 93, IX), que exige que toda e qualquer decisão judicial
seja fundamentada, sob pena de nulidade, e a (decisão) do júri não pode fugir desse
imperativo21.
Resumindo: “Ao julgar, devem os jurados, esvaziar-se dos seus medos contemporâneos,
fruto das pregações midiáticas. De suas paixões, emoções, experiências próprias, ou de
terceiros, e com o equilíbrio emocional apropriado que o momento exige, coadunado à
temperança, julgar pela razão. Jamais pela emoção”.
Para que não tenhamos decisões equivocadas, manchadas pelas emoções humanas
exteriorizadas, que indubitavelmente colocará atrás das grades um inocente. Trazendo
grave ofensa ao princípio da dignidade humana, bem como aos demais princípios do
direito que a todos abarca, incluso àquele que está neste momento assentado na
cadeira dos réus.
DOS PEDIDOS
Tendo em vista senhores, a essencialidade do princípio do in dubio pro reo que visa
evitar o cometimento de arbitrariedades pelo Estado e proteger a inocência dos
acusados, onde vige o famigerado brocardo: “É preferível a absolvição de um culpado
do que a condenação de um inocente”, que, inclusive, corrobora a tese desta defesa, de
que todos os elementos aqui carreados e bem explicitados, vislumbra-se inarredável a
negativa de autoria, e com ela se impõe necessária a ABSOLVIÇÃO do réu MOISÉS
FREIRE PEÇANHA, de todas as imputações encontradas contra si, no bojo dos autos
epigrafados.
21RANGEL, Paulo. Tribunal do Júri: visão linguística, histórica, social e jurídica. 4ª ed. ver. e atual. até 2 de julho de
2012. São Paulo: Atlas, 2012.
Onde os senhores ao responder o quesito acerca da ABSOLVIÇÃO do réu MOISÉS FREIRE
PEÇANHA, deverão responder positivamente, pois, assim o fazendo estarão estará
efetuando a mais lídima justiça. É o que desde já se requer.