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202 Prrurrr SrnII.r.

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co n 9(Ões

Eis uma advertência da tecnociência de inspilação


fárrstica, em pleno processo de formatação do homern pós-
CorucrusÃo
orgânico: quem não conseguir atingir a categoria de pós-
humano, selando o pacto de tlanscendência com as seduto-
las promessas e corrr os árdr,ros imperativos da tecnociência
contemporânea, pocle estar conclenado a virar subumano.

Norns

1. FOUCAULT, Michel. 1978-11)79. Nascirnento tla biopolítica. In


llesrlrro r/os crl's0.. r/o Collàge da Frnuce ('1970-1982). Ilio deJaneiro:
Editor, 1997. p.89.
Jorgc. Zahar DonEs E DEI,ÍCIAs DA CoMPATIBILIDADE:
2. BALZAC, Horroré de. MLtdastt Mígtton.In BENJAMIN, op. cit. p. UMA QUESTÃO POLÍTICA
75.
3. FOUCAUI-T, Michel. 1979-1980. Do govemo dos vit,rts. Iu Rcsr- ,, n r,, r r, r,
no dos crr rsos do Col/àcr' tlc F rtnce 0 970'1982). Rio de Jandiro: Jorge
Zahar Editor, itl97. p. 1()1. ;:,1::; { r,:
r;,,r:,,r
^
4. FOUCAUt,T, Michel. Ent dc.fest Llt socitdndc. Sào Par.rlo: Martins
Fontes,2()0(). p 3t)4. Cocthc dó uitln ntt srrpcr-h olrrrrr (ühermensch) ncni
5 ILrideni, p. 297. tnfito plrn cÍl,rcssnr os rsfbrços titônicos do honreut
6 RIFKIN, Jeremy. O sécultt dns biotacttolo,!ios. A valorização dos nuttlcriltt, ttuts pt1rfi sugerir tlttc boa desscs cst'or_
ltnrta
genes e a reconstrr.rção clo mundo. São Parrlo: Makron Brxrks, 1999. ços cstrí nrtl cnfocadn, O Espírito tlnTarro dc Gocthc
p44 está Llizettdo n Fattsltt: por qtrc rtão lutas
ltarn tc con-
7. SHIVA, Vaudana. Bioyirtttrin: A pilhagem da rratuleza e c1o co- _,crlcr cttt rtrri Mensch, ttnr ntttêrtlico st,r lttrnnno?
nhecimenkr. Petrir;rolis: Ed. Vozes, 20t)1. p. 65.
tt. OLIVEIR^ DOS SANTOS, Antonit'r. Pesqr"risa de Mercado. Bio- Marshall Berrnan
tecnologia brasileira permanece acadêmica, por falta de política
agressiva e capital de risco. Folln dc S. Pnulo, São laulo,27 jan A partir clas transformaçÕes percorriclas ao longo deste
2002. Caderno Mais!, p. 21. trabalho, qr,re vôm ocorrendo nas últimas clécaclas nos cam_
9. CASTEL, Robert. La,Jr:.slirírt de ,r.t ,lssqrrs. Bucnos Aires: Anagra- pos dos saberes e dos poder.es das socieclacles ocidentais,
ma, 1995. p. 9
poclemos inferir qLre as modalidades cle construção biopo_
10. HAI\4ER, Dean; COPELAND, Peter. El Misttrio r/t, /os Ccric.s
lítica dos cclrpos e clas aimas estão em rnr-rtação. As lutas
Buenos Airts: Er1. Vergara, 1998. p. 182.
pela produção de modos de ser intensificarn-se no mundo
contempor;ineo, em jogos cada vez mais complexos e ambi
guos, difíceis de serem apreendidos. O que estamos nos tor_
nando? A resposta não é simples, e talvez deva mesmo ser
múritipla e ficar em aberto.
a'F

204 [),,rur.r Srst-r,t O trLrur.l,t P(is-oR(:^Nrco 205

As tecnologias clue in-lplegrlam as paisagens nestes iní- dos psicofármacos e outras "tecnologias da ahna" quc sc
cios do século XXI parecen'r cumprir um papel Lelevante propõem a estimulal e tranqiiiliz;rr os nelvos supet'cxcitados
nessas batalhas pela moclelagem corporal e subjetiva - es- dos sujeitos c1o munclo atuai, investidos pela figura clo con-
peciaimente os artefirtos teleinformáticos e biotecnológicos sumidol e ir-npelidos à reciclagem acelerada contra a amea-
aqui comentados, cor.n todos os disculsos e os afetos a eles Ça peilnanente de obsolescência.
t'rssoci;rdos. A transição clo capitalismo industrial para as As nTetáforas nllllca são inocentes, posstlem sempl:e
formas contemporâneas de circr,rlação globalizada do capi- Llma riqueza cle ser-rtidos que extrapola seLr significado es-
tal coincidc, como l,imos, com uma ênfase na orientação tritarnente contextual e contamina as lrargens das pala-
fátrstica da perspectiva filosófica qr-re embasa as pcsqtrisas vras. Gilles Deleuze escolhelr a serpente como o animal
e descobertas tecnocientíficas. Nesse citrplo deslocamento, lepresentativo da socieclade de contlole: sinuosa, ondlt-
são abaladas e reconfiguladas as definições do ser hnmano: lante, flexível, hipnótica, mutante, perigosa. Do mesmo
a ancoraBenl r1o corpo l,ivo na infonnação digital suscita modo, o sistema nervoso e o código genético são metáfo-
ccrtas terrclôrrcias neognósticas, que aspiram à transcendên- ras privilegittdas hoje em dla, hiper-estendidas, banaliza-
cra da "essência ir.naterial da ah.na", vincr-rlando-se a Lrma das em seu Lrso e abuso, pois elas servelil para definir qua-
série de metáforas que rerlovanl o velho clnalismo cartesiano se todas irs coisas: como as verdades ilusórias de Nietzsche,
conr tocltres higlt-te ch. A noção c1e obsolescência dos rneca- estão se convertendo em moedas que perderam a sLla
nisrnos biológicos e a sui'l conseqriente r.rltrapassagern pelos efígie. "E o ADN da inforrnaçã o" , dizNichoias Negroponte
processos tecnocientíficos atinge, tarnbém, otttlos concei- ao explicar o fr-rndamento dos bits, aqtreles impulsos ele-
tcls fr.urdamc'ntzris da tradição ociclental, como os de nature- tr'ôlricos que estariam prestes a subsiitr-rir os átomos que
za, vida e morte. Nesse contexto de mr-rtações flagrantes, costtrmarram confortnar a lealiclade ociciental. "E ttr-n sis-
tanto na csfera humana quanto na cosmológica, rlovas pro- tema nervoso digital", afirma Bill Gates para definir o fes-
postâs emergem como vetores do biopodel oricutaclos pe- tejadcl casatnento da tecnologiir informática com os negó-
las velozes oscilaçocs do mercado - con1o, por cxcmplo, a cios de alcance global.
gestão de si e a pós-evolução. Assim, nas configr-trações atuais dos corpos e das subie-
Quando I']aLü Virilio clescreve o "horrem superexcitado" tiviclades, em mais de um senticlo, Parece qtle os nervos
coulo unl tipo característico da subjetividade contemporâ- alterados e os genes alteráveis - venceram os músculos
-
nea, assinerla a ênfase voltacla para os nervos: uln território cansados da antiga sociedade indr-rstrial. Na mutação da-
privilegiado do estresse e de outros distúrrbios típicos da qLlela formação social para a coutcmporânea, acompanhan-
contemporaneidade, como a depressão, a anorexia, a sín- do o desiocamento do foco da produção para o consumo llo
drome do pârrico e os comportamentos compulsivos e ob- capitalismo mais recente, os corpos dóceis (e úteis) inspira-
sessivos. Ccxlpatível corr os circuitos eietlôntcos da apare- dos no modelo mecânico do robô Pareceln cada vez urais se
lhagem digital - assitrr corno o código genético cifrado no " digitalizar" . Perderam atualidade aqueles corpos-máqui-
DNA -, cl sistema nervoso estrlltura os corpos informatiza- na cujo cenário por antonomásia era o interior das fábricas:
dos da sociedade pós-industrial. Ele é o alvo fundamental organismos equipados com prótescs de madeira ou de me-
206 P,\ULA SIBII,I^ O nourrvr rós-oncÂNrccr 207

tal (ou a elas equiparáveis) que acentnavam seus movimen- sária em um mundo onde impera a lógica automatizada
tos rígiclos e ritmados pela cadência mecânica. Figuras fir- do self-serzticc e onde a exterioridade se superpõe à inte-
memente assentadas no imaginár'io ocidenial, que foram rioridade. Corpos pelmanentemente ameaçados pela som-
piasmadas em fihnes clássicos como Metrópolis e Tenrpos bla da obsolescêircia - tanto a do seu solarnre mental como
ntodernos, e em toda rlma saga literária provavelmente inau- a do seu hordwnre colpolal - e lançaclos, pol isso, no turbi-
gurada corn O httnrcnr tle arein eOs nutônrntos, de Hoffman, e llrão do upgrnda constante, intimados a maximizarem a slla
com A Eon futura, de Villiers de L'Isle-Adam. flexibilidade e a sua capacidade de reciclagem. Enfim:
Assistidos pelir retórica e pelas novíssimas próteses co1'pos investidos pelo impulso fáustico de ultrapassagem
teleinforrnáticas e biotecnológicas, os organismos contem- de todos os limites, que malca os saberes e as ferramentas
porâneos transfolmaram-se em corpos ligados, áviclos, an- cla nova tecnociência.
tenados, ansiosos, sintonizados - e, tambem, sem dúvicla, Urra série cle perguntas tem norteado este trabalho,
írteis. Corpos acoplados à tecnologia digitai, estimulados e âcompanhando o seu percurso até chegar a estas páginas
aparelhados por L1ln instrumental selxpre atualizado de finais, sublinirando sempre a necessidade de politizar esta
rnicrodispositivos não-orgânicos. Corpos cuja "essência" é problemática, negando a slrposta "inocência" e as preten-
consiclerada imaterinl: pula inforniação composta de luz sões de neutraliclacle ou naturalidade que costumam tem-
elétrica que eventualmente poderia ser transferida para um perâr os debates em tolno destes assuntos. Quais são as
arquivo cle computador, ou alterada em sua base gênica implicações políticas dos processos aqui cotnentados? Os
como Llma colrecão de um suposto erro no código, ou hi- limites clo possível expandem-se eÍI novos desdobramen-
bridizada com os bits de outros organismos olr dispositivos tos, ou se esgotam no deserto cle utna mesmice asfixiante?
eletrônicos - à mar-ieira cie uma transmutação qr-re aponta, As potências da vicla se enriquecem nestes movimentos, on
sempre, para o upgr0dc em nome da eficiência. são frrtalmente cerceadas? Ablem-se novas opções de resis-
Não se trata mais, portanto, daqueles corpos laborio- tência e de criação, ou fecham-se os catlinhos que pocle-
samente convertidcls em força de trabalho, escr-Llpidos em riam conduzir ao "or"rtrameÀto"? Crescem as possibilida-
longas e penosas sessões de treinamento e disciplina para des tecnodemiúrgicas de produção de si mestno e cle cons-
saciar as demandas da proclução industriai; aquelas almas trução de novos mundos? Ou, pelo contrário, esfacelam-se
clolorosamente submetidas às sondagens psicoanalíticas, as dimensões pírblica e política, em face da utopia do con-
irnpelidas ao autoconhecimento profundo do seu sel ínti- forto e das tiranias do upgrnde impostas pelas demandas do
mo e obscuro. Em h-rgar c{essas configurações, agora e[rer- capital?
gem outros tipos de corpos e outros tipos de subjetrvida- Não há respostas simples e unívocas para essas ques-
des: autocontrolados, inspirados no moclelo empresarial, tões. No entanto, acreditamos que o mero fato de poder-
imbuídos a adrninistrarenl selrs riscos e sens prazeres de mos formulá-las esteja assinalando a possível emergência
acordo col11 o seLl próplio capital genético, avaliando cons- de algumas linhas de reflexão. Em primeiro lugar, assu-
tantemente o lrrenu de produtos e selviços oferecidos no mindo a proposta cle suspeitar de todas as verdades fir-
rnercado, com tocla a responsabilidade individual neces- memente estabeleciclas, convém tomar precauções diante
20fl I'rrut.t Srntt.t,r O rrorr,reu rós<rttcÂrurco .l( )( )

da "histeria antitecnológica", como a denclmina Peter ardis enganosos deste biopoder informatizado e flcxil,i-
Sioterdijk. Não basta qr"restionar a suposta ner-rtralidade lizado, atrelaclo ao compasso alegremente tirânico clos
política dos conhecirrentos e do instrumental da tecno- mercados.
ciência, desconfiar da necessariedaclc que costnma infiltrar "Toxicômanos de identidade." Assim se referc Sucly
o que é percebido como "natural", desvelando as profun- Rolnik às sr"tbjetividades contemporâneas, que são bombar-
das imbricaçoes do tecido c-le poder-saber uas lutas peria deadas e investidas sem cessar por uma infinidadc rlc
conformação dos corpos e das subjetividacles. Trimbém é pulsÕes mutantes. Corpos e almas construídos a partir clos
necessiirio nos precavcrmos contra oLrtros fantasmas. I)ois catálogos atraentes, porém perecíveis - e, portanto, sempt.c
é foltíssima a cc'rmoção que os proccssos aqui aplesenta- renovados -, de rnodos de ser oferecidos no mercado. Ir
dos estão plovocirnc'lo no substrato metafísico da tradiçãcr nesses redemoinhos, todavia, que pode assomar uma boa
ocidenttrl, decompondo os clássicos dualisrnos analógi- notícia: essa polifonia subjetivante está corroendo as ba-
cos para estilhaçá-los nas infinitas variarltes combinatórias ses da estabilidade identitária, aquela "aima como prisãtr
da perspectiva digital. Tal impacto, com enormes collse- do corpo" que tem marcado, com seu fogo prometéico, os
c1üências er.n todos os âmbitos, podc r.notivar rcaçires nos- sujeitos da socieclade moderna e industrial. No lugar das
tálgicas ou sanr'losistas clos "bons terrpos idos", arrtig;rs identidades fixas de outrora, hoje proliferam novas mocla-
épocas cle cerrtezas fimres, realidades absoltrtas, identida- lidades de ser: "identidades prêt-à-porter" e "kits de perfis-
cles fixas e estár,eis. Nessc contexto, a "histeria ;intitecno- padrão", cotÍlo os denomina Rolnik, pacotes subjetivantes
lógica" denr-urciada por Sloterdijk expressarra "o ressenti- oferecidos nas mídias e nas vitrines para serem consumidos
mento cia bivalência cacluca contrat urna polivtrlência qr-re e descartados rapidamente, conformando "ideniidades glo-
não pocie compreender".l Sem dúr,ida, é importante não balizadas flexíveis, que mudam ao sabor dos movimentos
perder de vista objeções desse tipo, bem como o risco de do urercado e com igual velocidade". Embora tais proces-
esbarrar em estér:e is lamentaçoes rletafísicas que acabam sos estejam indicando uma banaiização e um esvaziamento
sendo desmobilizantes e, pelo mesnlo motivo, reacioná- das potências subjetivas, também apontam alguns efeitos
lias. No entanto, tarnbém é preciso notar que os novos pro- colaterais que podem ser interessantes: sua polifonia verti-
cessos escolldern, por sua vez, outros vestígios r-netafísi- ginosa está contribuindo para estilhaçar a rigidez analógica
cos - tais como a idéia de inforrnaçào como seuclo ii essên- que constringia os corpos e as subjetividades da sociedade
cia imaterial de todas iis coisas, tanto as vivtts conto as disciplinar. A insistência no modeio das identidades fixas e
inertes, incluindo-se aí o próprio seL humarrcl, com sLla con- estáveis, porém, assim como seu vínculo inextricável com
seqülente c'lesvalorização do corpo clrgârrico e todas as suas as tiranias mercadológicas, continua bloqueando as potên-
potencialidades. Por outro lado, elxbora seja impossível cias que poderiam surgir caso se abrissem aos novos influ-
olhamros com algum tipo cle nostalgia para as sociedades xos antiduaiistas, poiivalentes, ambíguos e múltiplos, com
disclplinares desclitas cruamente pol Michel Foucault, as possibilidades neles implícitas de expandir os campos
obras conro o Post-Scriptrrnr de Gilles Deleuze e Á ,gcslrTo do possível. Talvez seja a hora de resgatar " o prazer na con-
d0s ri5^c0s de Robelt Castel tarnbéur nos advertem sobre os fusão clas fronteiras e a responsabilidade na sua constru-
270 Paur.n SrRri-r.c
O Hol,mru Pós-oRaiÂNico 'll

ção", como proclamava Donna Halaway etn seu Cyborg


Mnnifesto. qualidade específica do homern: fazer par.lt'tli) rrrrr,,r ,,,,1,,,
É n.rm sentido semelhar-rte que Antonio Negri e Michael cie "não fixada". Em seu livro sobre as polítitls tl,r :,rrlrlr.lr
Hardt conciuell, em seu livro Intpério, que a atual desestru- vidade contemporânea, Peter Pál Pelbart rcionrir os lr,rlor,
turação geopolítica do capitalismo industrial pode ser "uma nietzschianos, resgatando a sua visão da Iorrlir lrorrrr,rrr
boa notícia". De acordo com essa lógica múltipla e esface- como uma invenção histórica, cornplexa e mutautt,. ( ) rlrrc
lante do novo regime de poder, em constairte onicrise, e enfastiava Nietzsche "é o fato de que o homem st, lorrrrrrr
perante a emergência dos discursos sobre o pós-humano, um veÍme medíocre e insosso, e que esse apequcnarrrr,lrlo
cabe questionar, por exemplo, se alguma vez existiu essa nivelado se tornou meta da civiiização", explica pcllr;r.1, ,,r,
"natureza humana" cujos limites para as mudanças esta- homem está doente, e sua doença chama-se homcur, r,ss;r
riam hoje sendo desafiados pela tecnociência de inspiração forma reativa e impotente que se pretende eternizar,,..r Ar,
fáustica. Ou se, pelo contrário, como Pico della lvlirandola sim, se o homem como figura histórica foi o responsiivcl
descobrira já em 1486, seria próprio do humano ser indefi- pelo aprisionamento da vida, então para liberá-la st,r.i,r pr.r.
nido e moldável, uma forma fluida e sempre aberta aos ciso, antes, ultrapassáJo. Compartilhando o mesino hor.i
devires da história. Por outro lado, se a forma homem é zonte, autoras feministas como Donna Haraway e Kathcrirtr,
uma invenção do humanismo ocidenttrl, perfeitamente da- Hayles dennnciarn, em suas análises sobre a subjetivitlatll
tada e hoje em plena decadência, por que não inventar no- contemporânea hibridizada com as novas tecnologias, irs
vas conceituaçÕes e, jr"urto com elas, novas forrnas de ser no potências rnortíferas aliadas a este novo regime de protl,,r.
mundo e novos rnundos para sermos? Como refletia Gil1es que intensrfica e sofistica os cclntroles disciplinarcs t,

Deleuze em uilta entrevista de 19fi6: biopolíticos da sociedacle industr.iirl. Entretanto, elirs tanr
bém resgatam as possibilidades inéditas que se abrem conr
a diluição da idéia clássica de homem e com o seu up{rrirlr,
Pode ocorrer que as forças do lromem entrem na crrmposi-
para o clúorg ou para o pós-orgânico. "Não lamento a mortt.
ção de uma forma não-humana, mas animal, ou divina [...]
Hoje é comurn dizermos que o homem enfrenta novas for-
de urn conceito tão profundamente enraizado em projctos

ças: o silício e não mais simplesrnente o carbono, o cosmos


de clominação e de opressão", desafia Hayles.
e não mais o mundo... Por que a forma composta seria ain- Os autores que inspiraram muitas das idéias expostas
da o Homem? [...] Se o homem foi uma maneira dt .rprisio- neste livlo, e cuja força perpassa a sua intencionalirlarlt,,
nar a vida, não seria necessário que, sob uma outra forma, colocaram a ênfase de toda a sua obra na resistência aos
a vida se libere no prírprio homenr? 2
dispositivos palalisantes de pclder-saber, assim co1.l1o nir
criação de novos territórios existenciais. Michel Fotrcatrll
As palavras de Deleuze trazem reminiscências que re- ensinara que o poder: é ardiloso mas não é onipotentc: r,[,
velam a genealogia do seu pensamento. "Estamos cansndos tem uma espécie de ineficácia constitutiva, é impotentet por
do homem", escreveu Friedrich Nietzsche há mais de cem definição. As relações de força que constituem as reclcs cl,
anos. O pensador alemão festejava, também, essa valiosa poder são desequilibradas, estão sempre em movinltnt(),
em luta, são instáveis e tensas, ireterogêneas, imprcvisírrt,is.
'213
212 Paur-a Srsrr-ra O noue:ra pos-oRcÂNlco

Nor,q,s
Por isso, o filósofo propunha opor os corpos, os prazeres e
os saberes às captações do poder. Compreender as dobras e
1. SLOTERDUK, Peter. El hombre operable Notas sobre el estadtr
torções do presente é um desafio político, necessário para ético cle la tecnologia gên\ca. Artet'acto, pensamientos tle [a Técn ica'
podermos imaginar e criar altelnativas capazes de abrir fen- Bttenos Aires: UBA, v. 4,p.20-29, inverno 2001' p 25'
das na superfície finamente urdida pelos saberes e pelos 2.DELEIJZE, Cilles. Rachar as coisas, rachat as palavras Conutrss'
çocs. Rio de Janeiro: Editora 34,
1992 p' 774'
poderes. "Suscitar acontecimentos", "engendrar novos cs-
g. pf Lgenf, Peter Pá1. A aertigent pttr unr t'itt: Políticas da subjetivida-
paços-tempos", praticar uma 'ldissidência criativa". Do
cie contemporânea. São Parrlo: Iluminuras, 2000 p 13'
mesmo modo que as tecnologias de poder, hoje as resistên-
cias também abandonam os austeros enfrentamentos dico-
tômicos para se organizar em redes. "As resistências der
xam de ser marginais e tornam-se ativas numa sociedade
que se abre em redes", apontam Negr:i e Hardt, destacando
o potencial libertário que se insinua r1o novo regime de po-
der. Se hoje os dispositivos de poder são mais intensos e
sofisticados, mais difíceis de serem burlados, as possibili-
dacles de subvertê-los também se multiplicam.
Todo texto exige um ponto final, mesmo qlle as sllas
problemáticas continuem a fluir e a inspirar uma série ín-
finita de desdobramentos possíveis. I'ara finalizar este li-
vro, então, escoihemos essa imagem que e\/oca as potên-
cias do corpo humano resistindo às forças mortíferas. As-
sim, ecoamos a proposta foucaultiana de se considerar a
vida como um objeto político, de estudá-la em sua encar-
nação nas lutas históricas das diversas formaçoes sociais,
procuÍando detectar aqueles instantes preciosos em que
ela, inexplicável em sua vóntade, se rebela contra as for-
ças que procuram sujeitá-la, criando outros mundos e es-
paços-tempos, enriquecendo as subjetividades e arnplian-
do o escopo do que é. Não estranha, portanto, que tenha
sido a vida o alvo predileto das lutas políticas dos últi-
mos séculos, afinando o foco até atingir o nível molecular,
pois as suas representações mudam mas ela continua a
encarnar a plenitude do possível: tudo o qne se é e o que
se pode ser.

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