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O velório de Vênus

Eduardo César Benício

Agora, aqui nesse quarto de hotel pé sujo sou o meu próprio inimigo. Já são

duas e quinze da manhã e ainda não encontrei coragem de voltar para casa, talvez nem

volte. Debruçado sobre a janela aprecio o lúgubre lamento das escolhas fadadas ao

fracasso. Suicídio, matar, morrer, vingança? Já não sei mais, pois minha mente

atormentada vagueia perdida por aí numa tempestade de idéias criando milhões de

possíveis possibilidades para dar fim nisso tudo. Confesso que a imagem aqui do sétimo

andar é um tanto convidativa para um salto ao vazio. Porém quem deve pagar pelo erro?

Eu? Com certeza não, posso até ter minha cota, mas seria por omissão e não por

injúrias.

A minha educação foi normal, meus pais ensinaram-me a ser um homem de bem

e cresci dentro dos padrões exigidos pela sociedade: estudei, cursei uma faculdade,

trabalhei arduamente dia após dia; casei (não tive filhos), comprei um carro, uma casa

própria e pago meus impostos em dia. Nunca cometi um deslize, a não ser esse

momento que me encontro num quarto de hotel com uma garota de programa, uma linda

jovem que me abordou quando estava estacionado no acostamento da avenida. Eu que

nunca havia infringido a lei, era politicamente correto, em menos de duas horas já tinha

ultrapassado o limite de velocidade, avançado o sinal vermelho, quase causei um

acidente e agora aqui estou. A essa altura nada mais importa!

Bela jovem! Conseguiu me acalmar. Eu estava em estado de frenesi, ela colocou

ordem em meio ao caos. Adormecida, contemplo as suas curvas sinuosas e todo

esplendor de sua juventude, a luz prateada nessa noite de lua cheia atravessa o quarto

iluminando o seu corpo nu. A mulher se encontra na forma mais sublime quando esta

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sossegada. Em meio a pensamentos fugazes fiquei imaginando o que levaria uma linda

mulher a ter esta vida repleta de perigos. Quem sabe ela também tenha problemas?

Todos têm. Conforta-me um pouco em pensar que os delas sejam piores que os meus.

Mas mesmo assim ela segue em frente, farei o mesmo.

Após esse pensamento egoísta, retornei a amargura de minha vida e tornei-me a

observar o mundo pela janela. O hotel localiza-se no subúrbio da cidade num bairro em

crescimento, porém esquecido pela civilização. Do alto presencio a parte mais torpe da

existência humana, como somos vulneráveis, lá embaixo vejo usuários de drogas em

estado latente que vivem apenas o momento, zumbis perambulando entre os vivos; vejo

também ladrões espancarem um cidadão até ele não reagir mais; em outra esquina,

prostituas de todos os tipos: gordas, magras, feias, altas, travestis e crianças. Escravas

sexuais, funcionárias de uma corja de cafetões que querem lucrar a todo custo. Senti

uma angústia profunda por todas essas pessoas, pois não passavam de vermes sobre a

terra em busca de um corpo putrefato. Aqui em cima sinto-me intocável por essa

selvageria, essa perversidade que até então era desconhecida para mim.

Apesar de isso tudo uma brisa adentra ao quarto e aquieta-me com a sua leveza,

deslizando sobre o meu rosto e como quem sussurra idéias ao pé do ouvido, trouxe

consigo a solução do meu dilema. Não hesitei, peguei chaves, calça, sapato, blusa,

meias, óculos; sai às pressas do quarto, fui andando e vestindo no caminho o que deu.

Puxei cinquenta reais do bolso e paguei a diária. Ao sair do hotel, fiquei por alguns

minutos refletindo sobre a minha decisão, se conseguiria dar cabo aos meus planos;

respirei fundo e pedi ajuda aos céus, pois sabia que dias tenebrosos estariam por vir.

Três meses depois me coloco diante da porta de um compadre meu que reside

em outra cidade. Visivelmente alcoolizado, seguro uma garrafa de pinga barata ao passo

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que apertava afoitamente a campainha de sua casa. Hugo, o meu amigo, gritava lá de

dentro:

- Peraê, já vai!

Ao abrir a porta e deparar-se comigo, o encarei com os olhos marejados e falei

com uma voz trêmula:

- Está feito meu amigo... Enterrei Cristina!

Hugo em silêncio e tentando assimilar o que acabara de lhe contar, apenas me

escutou e assentiu com a cabeça. Pasmo, porém mantendo a calma, prosseguiu:

- Chega aí, entra e me conta essa história direito.

- É meu caro, quisera eu nunca ter sofrido tal moléstia. – conforme fui falando,

fui entrando cambaleante pela casa.

- Senta ai e me conta isso direito, como assim tal moléstia? Você matou sua

mulher?

- Antes fosse! Vou contar o que aconteceu. Há seis meses meu casamento já dava

sinais de que não estava bem, sentia a Cris cada vez mais distante de mim, não havia

afetos, carícias, mal conversávamos. Tu sabes o quão atencioso e trabalhador eu sou,

nunca deixei faltar nada a ela. Mas mesmo assim não foi o suficiente. A maldita rotina

do matrimônio estava corroendo os alicerces da nossa relação, e eu fui incrédulo demais

pra perceber isso. De certo ponto ainda era a mesma coisa: ela levantava mais cedo,

fazia o café, separava minhas roupas, tudo dentro da normalidade, como eu poderia

desconfiar? No entanto algumas semanas antes, ela adquiriu uma estranha mania de

querer me apressar a sair logo de casa pra não perder a hora. Comecei a estranhar, e

preferi acreditar que era impressão minha, então segui com a monotonia de minha vida.
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Saia de casa ainda cedo, encarava o engarrafamento quilométrico e largava do serviço lá

pelas dezenove horas e, muito provavelmente, chegaria em casa por volta das vinte e

uma horas.

- Sim cara, mas isso é normal em todo relacionamento o meu também é assim.

Porque você não fez algo pra sair dessa rotina?

- Foi o que fiz há três meses. Numa manhã de terça feira, o dia tava ensolarado

sem uma nuvem no céu. Quis fazer uma surpresa à Cris, então desmarquei todos os

meus pacientes e retornei pra casa antes do almoço. Estacionei o carro na rua, nem abri

o portão da garagem pra não fazer alarde, atravessei o quintal e vi a máquina de cortar

grama no caminho, estranhei porque não era o dia do jardineiro. Enfim, segui o trajeto a

fim de dar um susto em Cris. Entrei pela porta da cozinha, fui pé ante pé a sua procura.

- E ai, o que aconteceu?

- Ironia do destino, ele me pregou uma peça. Ao se aproximar na porta do meu

quarto escuto risos e gemidos vindos do banheiro da suíte, insisti em não acreditar, mas

já estava pressagiando o pior. Pelo chão do quarto estavam espalhadas as roupas. No

reflexo do espelho, vi Cris tomando banho com o jardineiro, vinte e dois anos mais

novo do que ela.

- Caraca meu velho, que tenso! – disse Hugo levando as mãos ao rosto, mais

espantado do que quando abriu a porta para mim – E ai, você fez o que? Você não...

Interrompi antes que concluísse a frase:

- Não, não os matei! Pra ser sincero nem lembro o que fiz, fiquei tão

transtornado com aquela cena que uma gama de sentimentos misturados me revirou

estômago: raiva; culpa; ódio; insegurança. Minha vontade era de pegar a faca na

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cozinha e enfiar no peito dos dois. Ao invés disso eu fugi, peguei o carro e saí cantando

pneu a toda velocidade, andei o dia inteiro, sem direção e chorando muito.

- E porque tu não vieste pra cá?

- Hugo, eu tava fora de mim, nem sabia quem eu era mais. Depois de vagar a

esmo por ai, entre ruas, becos e vielas, finalmente encostei o carro numa avenida

qualquer. Nem do carro saí, fiquei ali com as mãos no volante olhando para o nada. Foi

quando fui abordado por uma bela jovem, com aqueles vestidinhos curtos que causam

indecisão, não sabe se puxa pra cima e tampa os seios ou se puxa pra baixo e tampa as

partes íntimas.

- Essa cena eu queria ter visto, você todo certinho desenrolando com uma

quenga. – disse Hugo em meio a gargalhadas.

Entendi que Hugo quis amenizar a situação com uma de suas piadas, mas fiquei

fitando-o para demonstrar a minha insatisfação com a sua falta de solidariedade para

com o momento. Ao perceber ele cessou os risos debochados:

- Então, o que vocês fizeram? – perguntou desta vez, constrangido.

- Dali, seguimos direto pra um hotel que ela recomendou. Fizemos sexo por

horas, a raiva era tanta que acabei descontando nela. Após terminamos ela adormeceu e

fiquei da janela observando a vizinhança com os meus pensamentos perigosos. Foi

quando uma brisa tocou o rosto e como um lume, uma idéia me surgia. Fugi mais uma

vez, saí às pressas do hotel e fui pra casa.

- Pra casa? Como teve coragem de encarar sua mulher depois do que ela te fez?

- Era preciso, fazia parte do plano manter a insipidez da vida conjugal.

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- E ela não desconfiou de você voltando de madrugada pra casa?

- Desconfiar ela desconfiou né! Quando me questionou onde estava, respondi

que tinha dado problema no carro. Sabia que não sei mentir, porém sabia também que

não cometia erros. Então ficou elas por elas.

- Cara tu tem muito sangue frio, eu já tinha quebrado os dois. O que você fez

então?

- Pois é, foi difícil manter o controle, não consegui dividir a mesma cama que ela

e passei a dormir no quarto de hóspedes. Ela estranhou, mas no fundo sei que sentiu foi

alívio. No dia seguinte mal consegui trabalhar. Sem dormir e sem comer, apenas com

um desejo de vingança em mente arquitetei o meu plano nos seus mínimos detalhes.

Enquanto estava no processo de criação fui interrompido pela secretária anunciando que

uma tal de Mariana queria me ver, nem sabia quem era. Dei permissão pra entrar, eis

que surge uma morena espetacular, reconhecia aquele corpo, mas confesso que levei

alguns segundos pra identificá-la.

- E quem era?

- A prostituta que eu havia dormido na noite passada. Porém em trajes mais

comportados, digamos. Ah como quis possuí-la ali mesmo no meu consultório.

- E como ela te achou? – indagou Hugo tão surpreso quanto eu.

- Ela foi levar a minha carteira que havia esquecido no hotel e como tinha o meu

cartão dentro não foi difícil me encontrar. Quando conferi, por incrível que pareça

estava tudo em ordem até o dinheiro estava lá. Já viu isso Hugo, uma puta honesta?

- Que isso cara? Esse mundo tem salvação ainda, encontra-se compaixão até

onde não se espera.


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- Verdade! – concordei com o Hugo, mas lembrando do jeito encantador daquela

morena. - Paguei a parte dela, óbvio que dei um pouco mais pela sua boa ação. Com

isso ela deixou o seu cartão comigo, me deu um beijo e foi embora. Aquele momento

me fez esquecer por alguns instantes do meu problema.

- Então, conta qualé desse plano aí. – disse o meu amigo já impaciente.

- Bom, o plano apesar de detalhista havia falhas e precisaria de ajudantes e

alguém com as mesmas características do jardineiro, mas ajudantes que não sentiria

remorso e estivesse habituado com a criminalidade, alguém que já tivera algum contato

com esse mundo ou que vive bem próximo disso. Porém não conheço ninguém, a não

ser...

- A não ser a Mariana?

- Exatamente! Saí mais cedo do serviço e liguei pra ela. Mariana estava em aula

na faculdade, mas concordou em me encontrar numa lanchonete bem próximo da

clínica. Contei toda a história a ela, abri o jogo e disse que precisaria de sua ajuda. Ela,

sensibilizada com a situação, olhava nos meus olhos e segurava a minha mão, muito

solicita aceitou em me ajudar e conhecia um homem ideal para o serviço. Mariana me

levou até Beto Navalha. Ao deparar com aquele homem mal encarado, estremeci. Seu

rosto havia diversas cicatrizes, provas de batalhas sangrentas; suas tatuagens eram

maléficas, religiosas e pejorativas. Quando o vi percebi que portava um trinta e oito

prateado, e também entendi de cara o porquê do nome, ele segurava firmemente uma

navalha, o símbolo de seu apelido. Concentrado, usava a ponta da lâmina para ajeitar as

unhas e, as vezes, girava habilmente o instrumento entre os dedos, mostrando grande

intimidade com ele. Seus antecedentes falam por si, com a ficha criminal tão extensa

quanto à fama, Beto é requisitado a todo o momento para realizar serviços sujos. E

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comigo não foi diferente, conversei com ele sobre o esquema, expliquei nos mínimos

detalhes e adiantei uma parte do pagamento.

- Meu Deus cara, em que você foi se meter? Pra que você queria um assassino e

uma prostituta? – perguntou Hugo já exaltado.

- Pra separar a chave da fechadura.

- Como assim?

- Ela distrairia o jardineiro, enquanto ele cuidava da Cris.

- Cara, não sei se quero escutar mais. Chega pra mim já deu!

- Hugo, dizem que não há vingança maior de que uma mulher traída. Porém um

homem cujo coração foi retalhado é capaz das maiores insanidades. E eu, meu amigo,

fui até o fim.

- E qual foi sua participação nisso?

Hugo já nem olhava mais para mim, ficou de pé com uma mão na cintura e a

outra apoiada na parede, olhando para o chão.

Então, fiz o mesmo e cabisbaixo, prossegui:

- Num desses finais de semana que eu fico em casa e o jardineiro vai trabalhar

pra mim, tive acesso ao seu celular e dele mandei mensagem pra Cris marcando hora e

lugar. Logo, fiz o mesmo com o celular da Cris pro dele, marcando o lugar e uma hora e

meia de antecedência. Inventei uma desculpa que teria de dar plantão no dia, quando

contei isso a ela a vaca mal podia conter o sorriso sarcástico. De longe fiquei

observando toda a trama se desenrolar. Marquei os encontros à noite, porque é nessa

hora que as atrocidades acontecem, e marquei próximo ao hotel onde me refugiei

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naquele dia fatídico. O jardineiro chegou no seu carro velho com quinze minutos de

antecedência e de longe estávamos eu e Beto Navalha do meu carro observando

Mariana em ação. Após alguns minutos de conversa, Mariana convenceu o rapaz a subir

para quarto com ela, sabia que ele aceitaria, qual jovem no auge da sua puberdade

recusaria uma transa com uma morena daquela? Depois de uns quarenta minutos de

espera, Mariana mandou uma mensagem dizendo que havia terminado e entraria pro

banho com o garoto, o combinado foi que ela deixasse a porta aberta para que Beto

entrasse e pegasse todos os seus pertences, inclusive a camisinha usada.

- Não entendi o porquê da camisinha.

- Entenderá. Mandei o Beto se vestir com as roupas do jardineiro e que pegasse

o seu carro também. Com uma notável semelhança, vi Beto sair do hotel com as

vestimentas do jardineiro, entrar no carro e seguir para o ponto de encontro combinado

com a Cris. De certo modo fiquei esperançoso pra que ela não aparecesse ao encontro,

mas não foi possível. Antes que concluísse meu raciocínio Cris chega de táxi, abriu um

sorriso largo ao avistar o carro do jardineiro. Coitada não sabia na arapuca que estava se

metendo.

Ao concluir essa frase dei um leve sorriso sádico e Hugo percebeu.

- Você ta rindo? – disse Hugo com ar de repulsa.

- Sim, porque não sabes o que está por vir.

- Então me diga.

- De longe não se via muita coisa, pois não poderia chegar mais perto e me

expor. Mas vi Cris indo em direção ao carro e se apoiando na janela do lado carona,

quando viu que não era o jardineiro tentou gritar e antes que pudesse Beto puxou a

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arma, mandou que ficasse quieta e entrasse no carro. Depois disso a levou para uma rua

deserta.

- E a matou?

- Não, essa não foi a minha ordem.

- E qual era a ordem?

- Que apenas a estuprasse... Dei todas as coordenadas a ele, pra usar uma

camisinha e quando terminasse, rasgasse a camisinha usada pelo jardineiro em cima das

partes íntimas dela.

- Você é louco? Você não fez isso? – indignado Hugo anda de um lado para o

outro.

- Pior que fiz! Foi tudo muito rápido, após o ato mandei que ele a deixasse em

qualquer lugar perto de nossa casa, e retornasse ao hotel devolvesse os pertences do

jardineiro e sumisse no mundo. E assim fez, aconselhei Mariana fazer o mesmo, o resto

era comigo. De longe fiquei observando o jardineiro indo para o ponto combinado com

a Cris, sem desconfiar de nada foi embora acreditando que havia levado um bolo.

- E a Cris?

- Eu fui pra casa e a encontrei sentada no chão do banheiro chorando muito,

aquela cena me abalou, por um breve momento senti arrependido pelo que fiz. Ela

muito relutante me contou o ocorrido, mas omitiu que estava indo encontrar o

jardineiro. Disse que foi visitar amiga nas proximidades daquele bairro. Como desejei

jogar tudo cara dela. Com muita dificuldade consegui convencê-la a prestar queixa na

delegacia e realizar o exame de corpo de delito. A polícia interrogou algumas

testemunhas que afirmaram ter visto o carro do jardineiro no local, escutou depoimento
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da Cris, recolheu o material genético para análise e copiou algumas imagens de circuito

interno e externo. Sabia que meu plano havia falhas, mas meu trunfo seria o sêmen, uma

prova incontestável. Não deu outra, semanas depois o principal suspeito era o jardineiro

e quando seu DNA bateu com o sêmen coletado, foi decretado voz de prisão no ato. Cris

estava abalada demais pra desmentir a história e sem entender o ocorrido e esboçar

nenhuma reação assistiu de camarote, e em silêncio viu o seu amante ser arrastado pela

polícia enquanto alegava inocência. Desde então não disse mais nada. A casa parecia um

constante velório, Cris só sabia chorar dia e noite.

- Mas e você, vai aguentar a conviver com uma esposa moribunda?

- Não, até porque pedi divórcio, depois de tudo que aconteceu ainda faltava o

tiro de misericórdia. A deixei convivendo com a sua solidão, segredo e culpa pra mim

Cris estava morta e enterrada. Não quis nada que me lembrasse ela, abandonei tudo:

casa, carro, emprego e fui viver no subúrbio com a Mariana.

Hugo já simpatizado com a situação não questionou mais nada, visto que havia

entendido as minhas razões. Em meio às suas risadas histéricas, concluiu:

- Ha..ha..ha! Irônico, sua mulher te trai com o jardineiro, e você acaba achando

fidelidade nos braços de uma puta!

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