Sunteți pe pagina 1din 102

PHARMACIA

B R A S I L E I R A
Ano XII - Número 89 - Janeiro/Abril de 2018

Pharm. Bras. ISSN. 1414-4794

Os novos desafios
dos farmacêuticos
Os farmacêuticos estão diante de desaos em saúde,
com profunda repercussão social. E os enfrentam,
com qualicação. O envelhecimento da população
associado a novas necessidades em saúde, a
obesidade, o cenário protagonizado pela dengue e
arboviroses, a busca por reduzir em 50% os danos
relacionados ao medicamento e a judicialização da
saúde são alguns deles. Nas análises clínicas, é
desaador acompanhar o acelerado processo de
automação.

Para os farmacêuticos, desaos são estímulos e estão


associados à superação, à abertura de mercado de
trabalho, à prestação de mais e melhores serviços à
população. Desaos não constituem espinhos para
os farmacêuticos, mas ores. As novas ores da
prossão. A PHARMACIA BRASILEIRA traz
entrevistas sobre estes temas.
Visite a página do
Conselho Federal de Farmácia
www.cff.org.br

Em nossa página, você terá


acesso às seguintes informações:
• CFF (suahistória, funções, metas e objetivos; a diretoria e os • Publicações (informações sobre as publicações técnicas e
conselheiros federais; as comissões e grupos detrabalho); científicas na área farmacêutica);
• Os CRFs (diretorias, endereços, telefones e emails); • Editais (licitações e eleições);
• O Cebrim Centro Brasileiro de Informações sobre me- • Consultas públicas (as matérias que se encontram abertas
dicamentos (A tividades, Sismed, solicitação de infor- à participação do farmacêutico ou de toda a sociedade para
mações, farmácia com unitária, medicamentos novos, ser editadas.);
nomenclatura, dissertações, artigos, livros, notícias e • Notícias (geradas no CFF e fora.);
alertas etc.); • Agenda de eventos (saiba sobr e os congressos, seminários,
• Legislação (o Código de Ética da Profissão Farmacêutica e fóruns, simpósios, cursos e outros eventos farmacêuticos
todo o conjunto da legislação farmacêutica brasileira leis, que serão realizados, no Brasil e fora);
decretos, portarias, resoluções do CFF, resoluções sanitárias, • Links (clique e terá acesso às mais importantes páginas das
projetos de lei etc.); organizações farmacêuticas e de saúde em geral, do Minis-
• Revista “Pharmacia Brasileira” (a publicação do CFF está tério da Saúde, da Anvisa, das faculdades de Farmácia, entre
disponibilizada, também, na Internet). Visite-a; outras). E muito mais.

O acesso é gratuito. A página é sua.


Editorial
A revista PHARMACIA BRASILEIRA (PB) pela Organização Mundial da Saúde (OMS) cujo
está de volta, após uma interrupção de quatro objetivo é reduzir em 50%, nos próximos cinco
anos. Esta edição, de número 89 (janeiro, feve- anos, os danos graves e evitáveis à saúde asso-
reiro e março de 2018), é marcada pela produção ciados ao medicamento. Por outro lado, farma-
de longas entrevistas com autoridades técnicas cêuticos, em todo o País, estão embasando as
e científicas sobre temas e segmentos profissio- decisões de juízes  com  pareceres e relatórios
nais os mais diferentes, todos eles do interesse técnicos  sobre os medicamentos demandados
do farmacêutico. A maior parte do material pu- em ações judiciais. Há um chamamento aos pro-
blicado, aqui, pretende oferecer aos leitores fissionais, no sentido de que atuem, com vistas
farmacêuticos subsídios que possam ajudá-los a a que a judicialização da saúde seja racionaliza-
interpretar a cena em que eles estão inseridos e da. Matéria publicada no site “Portal da Saúde”,
que traz, como um dos seus principais traços, os do Ministério da Saúde, em 15.10.15, informa
novos desafios que vêm enfrentando. que, de 2010 a 2015, houve um aumento de
O envelhecimento da população, por 500% nos valores pagos pelo Ministério, para
exemplo, constitui um desafio gigantesco para atender decisões de juízes. O percentual cor-
o farmacêutico. Fenômeno de expressão mun- responde a um gasto de mais de R$ 2,1 bilhões.
dial, com impactos significativos nos contex- Atuar na perícia criminal, também, instiga
tos sanitário e socioeconômico dos países, as o farmacêutico.  Uma das áreas mais bem-su-
transformações demográficas decorrentes da cedidas, sob diferentes pontos de vista - inclu-
expansão do número de idosos representam sive o da remuneração – a perícia exige uma
novas necessidades em saúde e exigem dos superqualificação. Qualificar, quaisquer que
farmacêuticos que o tratamento medicamen- sejam os segmentos em que atua, é uma busca
toso seja efetivo e seguro para o idoso, por permanente do farmacêutico. É o que ele vem
meio de atividades clínicas, como consultas de fazendo para prestar os seus cuidados no SUS
acompanhamento e revisão da farmacoterapia. (Sistema Único de Saúde).
A obesidade cuja prevalência, no Bra- Não é diferente para quem pretende atuar,
sil, subiu de 11,8%, em 2006, para 18,9%, em também, num dos novos nichos de mercado: o
2016, é outro desafio que o farmacêutico vem relacionado à  Política Nacional de Resíduos Só-
tendo que enfrentar, por meio dos seus cuida- lidos. Empresas de farmacêuticos estão sendo
dos e sua capacidade de educador em saúde, constituídas para prestarconsultoria, capacitação
valendo-se inclusive de conhecimentos de far- e controladoria em gestão de serviços de saúde;
macologia do emagrecimento. logística (coleta, transporte, tratamento e desti-
Não menos desafiador é o cenário inquie- nação final de resíduos dos serviços de saúde).
tante protagonizado pela dengue e pelas arbo- Os farmacêuticos encaram estes e outros
viroses (febre amarela, zika e chikungunya). O desafios, porque têm responsabilidades sociais
farmacêutico assumiu posições importantes e em saúde. E porque estão se qualificando téc-
na linha de frente da prevenção e combate às nica e cientificamente para os desafios.
arboviroses. OUTROS DESAFIOS - Estes e outros
Nas análises clínicas, é desafiadora para o assuntos são temas de matérias desta edição
farmacêutico a necessidade de acompanhar o da PHARMACIA BRASILEIRA. Mas há outros
forte processo de  automação. Este nome está desafios impostos por doenças, como as respi-
associado à eficiência, e os processos que a en- ratórias, as cardiovasculares, a diabetes e, tam-
volvem atingem rigorosamente todas as fases la- bém, pela necessidade de adesão do paciente
boratoriais (pré-clínica, analítica e pós-analítica). ao tratamento, entre outras. Mas estas serão
abordadas na próxima edição. Boa leitura.
Louvável  o envolvimento dos farmacêu-
ticos brasileiros com o  Desafio Global  lançado O editor.

Pharmacia Brasileira nº 89 - Janeiro/Abril 2018


2
ÍNDICE
PALAVRA DO PRESIDENTE

O farmacêutico no Desafio
Global lançado pela OMS
Diretoria
Walter da Silva Jorge João (Presidente) Em artigo, o presidente do Conselho Fe-
Lenira da Silva Costa (Vice-Presidente) deral de Farmácia, Walter da Silva Jorge
Erlandson Uchôa Lacerda (Secretário-Geral) João, fala do relevante significado que há
João Samuel de Morais Meira (Tesoureiro) no envolvimento dos farmacêuticos bra-
sileiros com o Desafio Global lançado pela
Conselheiros Federais
Romeu Cordeiro Barbosa Neto (AC) Organização Mundial da Saúde (OMS)
José Gildo da Silva (AL) cujo objetivo é reduzir em 50%, nos pró- Dr. Walter Jorge, presidente do CFF
Marcos Aurélio Ferreira da Silva (AM) ximos cinco anos, os danos graves e evitá-
Carlos André Oeiras Sena (AP) veis à saúde associados ao medicamento.
Altamiro José dos Santos (BA)
“A iniciativa da OMS encontra, no Brasil,
Luis Cláudio Mapurunga da Frota (CE)
Forland Oliveira Silva (DF) uma categoria muito mais fortalecida e
Gedayas Medeiros Pedro (ES)
Sueza Abadia de Souza Oliveira (GO)
organizada para o desafio”, observa o pre-
sidente do CFF. 07
Luís Marcelo Vieira Rosa (MA)
Gerson Antônio Pianetti (MG)
Márcia Regina Gutierrez Saldanha (MS)
José Ricardo Arnaut Amadio (MT)
Walter da Silva Jorge João (PA) ENTREVISTA
João Samuel de Morais Meira (PB) COM O DR. CASSYANO CORRER, FARMACÊUTICO
Bráulio César de Sousa (PE)
Elena Lúcia Sales Souza (PI) O envelhecimento e o farmacêutico
Valmir de Santi (PR)
Alex Sandro Rodrigues Baiense (RJ) Fenômeno de expressão mundial, com
Lenira da Silva Costa (RN) impactos nos contextos sanitário e so-
Lérida Maria dos Santos Vieira (RO) cioeconômico dos países, o envelheci-
Erlandson Uchôa Lacerda (RR)
Josué Schostack (RS)
mento da população constitui um de-
Paulo Roberto Boff (SC) safio gigantesco para o farmacêutico.
Margarete Akemi Kishi (SP) Quem afirma é o Dr. Cassyano Correr,
Vanilda Oliveira Aguiar (SE) professor adjunto do Departamento
Amilson Álvares (TO) de Farmácia da UFPR e pesquisador
Jornalista Responsável
dos programas de pós-graduação em
(redação, reportagens e edição) Ciências Farmacêuticas e de pós-gra-
Aloísio Brandão duação em Assistência Farmacêutica
RP 1.390/07/65v/DF da mesma instituição de ensino. Ele DR. CASSYANO CORRER: “O
farmacêutico deve garantir que o
explica como o farmacêutico pode en- tratamento medicamentoso do idoso
FOTO: Yosikazu Maeda
frentar esse desafio. seja efetivo e seguro, por meio de

09
atividades clínicas, como consultas
Projeto Gráfico de acompanhamento e revisão da
farmacoterapia”.
Kiko Nascimento - K&R Artes Gráficas
(61) 3386-5408 / (61) 98232-7424

Artigos não manifestam necessariamente a opinião


da revista “Pharmacia Brasileira”, e são de inteira res- LANÇAMENTOS
ponsabilidade dos seus autores.
Notícias sobre o lançamento de alguns dos principais livros dirigi-

15
dos a farmacêuticos estão, na “Pharmacia Brasileira”.

UMA PUBLICAÇÃO DO
CONSELHO FEDERAL DE FARMÁCIA
SHIS QI 15 Lote L - Lago Sul - Fone: (61) 3878-8700
CEP: 71635-615 - Brasília - DF
E-mail: ass.imprensa@cff.org.br (redação)

A CAPA DESTA EDIÇÃO FOI PRODUZIDA


PELO EDITOR ALOÍSIO BRANDÃO E PELO Pharmacia Brasileira nº 89 - Janeiro/Abril 2018
3
ILUSTRADOR KIKO NASCIMENTO
ÍNDICE
ENTREVISTA VÁRIAS
COM O DR. ARTUR TIMERMAN,
MÉDICO INFECTOLOGISTA Medicina Tradicional
Chinesa: busca pelo
BRASIL: no rastro
fortalecimento,
da dengue e das
arboviroses 18 no Brasil 33
A tríplice epidemia (dengue, zika
e chikungunya) que assombrou o
País e ecoou, no mundo inteiro e,
agora, a febre amarela são o tema
da entrevista com uma das maio-
res autoridades brasileiras em
dengue e arboviroses. O médico Representantes do CFF e da WFCMS reúnem-se para buscar
fortalecimento da Medicina Tradicional Chinesa, no Brasil
infectologista Dr. Artur Timer-
man é o presidente da Sociedade Representantes da província de Gansu, na
Brasileira de Dengue e Arboviro- China, e da WFCMS (Federação Mundial
ses (SBD-A) e chefe do Serviço de de Sociedades de Medicina Chinesa) reu-
Controle de Infecção Hospitalar niram-se com diretores do Conselho Fede-
Dr. Artur Timerman, médico infectologista, presidente da
do Complexo Hospitalar Edmun- Sociedade Brasileira de Dengue e Arboviroses ral de Farmácia. Os chineses propuseram
do Vasconcelos, de São Paulo. uma aproximação com o CFF, com vistas
a divulgar a Medicina Tradicional Chinesa,
no Brasil. Esta e outras matérias tratando
ENTREVISTA
de ações do CFF estão nesta seção.
COM O DR. ÉVERTON BORGES,
FARMACÊUTICO

Judicialização:
farmacêuticos embasam
decisões de juízes
A atuação de farmacêuticos no Judiciário, subsidiando juízes com pa-
receres e relatórios técnicos sobre os medicamentos demandados em
ações judiciais, estão embasando as decisões e levando julgadores a
40
mudarem suas decisões. Entrevistamos o farmacêutico Dr. Éverton
Dr. Éverton Borges: “Farmacêuticos são imprescindíveis para
Borges, especialista em judicialização na saúde. estruturar os Núcleos de Apoio Técnico (NATs)”.

Farmacêuticos recém- ENTREVISTA


COM O DR. ERLANDSON UCHÔA LACERDA, FARMACÊUTICO
formados precisam manter
A promissora carreira de
lutas por conquistas 49
47 farmacêutico perito criminal
A perícia criminal é uma das áreas de atuação do
O diretor-tesoureiro do CFF,
Dr. João Samuel de Morais farmacêutico mais bem-sucedidas, sob diferen-
Meira, diz que farmacêuticos tes pontos de vista. Inclusive o da remuneração.
que estão entrando no mer- É, também, uma das que exigem uma superqualifi-
cado encontram um cenário cação profissional. O farmacêutico Dr. Erlandson
positivo, resultado de muitas Uchôa, perito criminal da Polícia Civil de Roraima e
lutas que precisam ser manti- diretor secretário-geral do CFF, fala, em entrevista
Diretor tesoureiro do CFF,
Samuel de Morais Meira:
das. “Novos farmacêuticos, em à PB, sobre como o farmacêutico pode especializar- Dr. Erlandson Uchôa,
“Novos farmacêuticos,
em hipótese alguma, hipótese alguma, devem abrir -se, para pleitear uma vaga na perícia criminal; o que farmacêutico perito
criminal e diretor
devem abrir a guarda para
a guarda para retrocesso nas faz e onde atua o perito, como se encontra o merca- secretário-geral do CFF
retrocesso nas conquistas”.
conquistas”, pede. do de trabalho na área, entre outras questões.

Pharmacia Brasileira nº 89 - Janeiro/Abril 2018


4
ÍNDICE
ENTREVISTA
COM O DR. MAX VIANA, FARMACÊUTICO Porque população,
Cuidados farmacêuticos Governo e farmácias
na obesidade 52 ganham com os cuidados
A prevalência da obesidade, no Brasil, subiu de 11,8%, em farmacêuticos
2006, para 18,9%, em 2016. Os farmacêuticos podem
ajudar a promover uma reviravolta nessa realidade, ofere-
62
cendo um vasto conjunto de cuidados aos obesos. O que Presidente do CFF, Walter
os profissionais podem fazer? Com a palavra, o Dr. Max Jorge: “Lei obriga farmácias
a assumirem o que, sempre,
Viana. Professor no Instituto Brasil de Pós-graduação, foi de suas naturezas
sanitária e social”.
Capacitação e Assessoria (I-Bras), o farmacêutico Max
Max Viana Viana é um estudioso da farmacologia do emagrecimento. A Lei nº 13.021/14 pode desencadear
uma série de benefícios, por fortalecer
DIA DO FARMACÊUTICO: ministro da Saúde os cuidados farmacêuticos prestados,
nas farmácias, segundo prevê o presi-
anuncia inclusão de serviços farmacêuticos na dente do CFF, Dr. Walter Jorge: “Ga-
Tabela de Procedimentos do SUS 56 nham o Governo, que vai desembolsar
menos para custear medicamentos,
assistência médica e atenção básica;
a população, que tem nas farmácias
um estabelecimento de saúde; as far-
mácias, que passam a contribuir com
as questões sociais; os médicos, que
terão um forte aliado no acompanha-
mento do uso dos medicamentos pe-
los seus pacientes, e os os farmacêuti-
cos que, ao prestarem cuidados, têm a
sua autoridade técnica reforçada”.
Ministro da Saúde, Ricardo Barros,
recebe a  Comenda da  Ordem do
Mérito Farmacêutico Internacional do Ricardo Barros, ministro da Saúde, anuncia inclusão dos
presidente do CFF, Walter Jorge João serviços farmacêuticos na Tabela de Procedimentos do SUS
ENTREVISTA
Há dois meses de se desincompatibilizar do cargo de ministro da Saúde COM O DR. IRINEU GRINBERG,
para concorrer a uma vaga de deputado federal pelo Paraná, Ricardo FARMACÊUTICO-BIOQUÍMICO
Barros, anunciou a inclusão de serviços farmacêuticos na Tabela de
Procedimentos, Medicamentos e OPM (Órteses, Próteses e Materiais
Especiais) do SUS. Com isso, os farmacêuticos passam a compor o gru-
Análises clínicas
e automação
64
po de profissionais elencados para a realização de procedimentos de A automação é uma
promoção e prevenção em saúde remunerados pelo Sistema. O anúncio aliada de primeira
foi feito, na sede do CFF. ordem das análises
clínicas. O seu nome
ENTREVISTA remete à eficiência,
COM O DR. JOSÉ GILDO DA SILVA, FARMACÊUTICO
58
e os processos que
a envolvem atingem
A expansão da fiscalização farmacêutica rigorosamente todas
O CFF, em ações unificadas com os CRFs, as fases laboratoriais
está reorientando e expandindo a sua po- (pré-clínica, analíti-
lítica para a fiscalização farmacêutica. Esta ca e pós-analítica).
revista entrevistou o conselheiro federal de Quem explica a im- Dr. Irineu Grinberg,
Farmácia por Alagoas e ex-coordenador da portância da auto- farmacêutico-bioquímico
Cofisc (Comissão de Fiscalização do Exercí- mação para os laboratórios clínicos
cio Profissional) do CFF, Dr. José Gildo da é o Dr. Irineu Keiserman Grinberg,
Silva, sobre o crescimento do setor. farmacêutico-bioquímico devotado
Dr. José Gildo da Silva, conselheiro às análises clínicas e um pensador do
federal de Farmácia por Alagoas
setor.

Pharmacia Brasileira nº 89 - Janeiro/Abril 2018


5
ENTREVISTA
ÍNDICE COM A DRA. GIZELE LEAL, FARMACÊUTICA

Política Nacional de

ARTIGO
Resíduos Sólidos
A Política Nacional de Resí-
75
duos Sólidos (PNRS), insti-
Ciência, tecnologia, inovação tuída pela Lei 12.305/2010
e sustentabilidade 70 e que determina que, a
partir de 3 de agosto de
Artigo de autoria da vice- 2014, não será permitido
-presidente do Conselho descartar lixo em vazadou-
Federal de Farmácia, Dra. ros a céu aberto (os lixões),
Lenira da Silva Costa, cha- bateu fundo nas cabeças in-
ma a atenção para este gri- quietas dos farmacêuticos
tante conflito estabelecido mineiros Gizele Souza Sil- Gizele Leal, farmacêutica
no setor: laboratórios clíni- va Leal e Leandro Catarina
cos precisam participar do Leal. Os dois criaram a Farmabiente, empresa que
desenvolvimento e acom- atua no setor, em Minas. Nesta entrevista, Gizele
panhar a evolução no diag- Dra. Lenira da Silva Costa, Leal ensina aos farmacêuticos interessados como
nóstico, movida pela tecno- vice-presidente do CFF criar uma firma do gênero.
logia, mas têm dificuldades para investir, porque são
vítimas de um modelo de remuneração predatório.
FARMÁCIA CLÍNICA, NO BRASIL
Uma história de utopia e desbravamento
ENTREVISTA
COM O DR. VALMIR DE SANTI, FARMACÊUTICO 82
O poder dos cuidados
farmacêuticos no SUS
A saúde está no centro de dis-
cussões cujo objetivo é repensar
o setor. Estão em curso ajustes O professor José Aleixo Prates, um
farmacêutico visionário que, também,
que propõem resolver o problema era focado na prática e hábil estrategista,
da fragmentação da atenção e da anuncia a implantação de um serviço
de farmácia clínica, no Hospital das
gestão, por exemplo. Os cuidados Clínicas da UFRN, quando ninguém A foto, de 1979, no Hospital das Clínicas da UFRN, é
falava, ainda, da dessa área, no País. Foi emblemática. Acima da porta, a identificação que o Bra-
farmacêuticos podem contribuir Dr. Valmir de Santi: o início de uma verdadeira aventura que sil, ainda, não conhecia. O grupo reúne os farmacêuticos
para o sucesso das novas defini- “O SUS é um grande
promoveu mudanças profundas na cena
farmacêutica brasileira.
Lúcia Noblat, Júlio Maia (diretor da farmácia hospitalar),
Socorro Oliveira (da farmacotécnica) e Tarcísio Palhano
ções que movimentam o setor. desafio para todos os
profissionais de saúde”. Década de setenta: o farmacêutico visionário Dr. José
Como? Com a palavra, o Dr. Val-
Aleixo Prates inicia a luta pela implantação de um serviço
mir de Santi, conselheiro federal de Farmácia pelo Panará
de farmácia clínica, no Hospital das Clínicas, atual Hospital
e coordenador do programa “Cuidado farmacêutico no
Universitário Onofre Lopes, da Universidade Federal do
SUS – capacitação em serviços”, do CFF.
71
Rio Grande do Norte, quando ninguém sequer sabia do que
se tratava. Era o primeiro sopro clínico da Farmácia, no País.

TERAPIA FLORAL: uma compreensão


holística do paciente e do tratamento 92
Mais de noventa anos depois de o médico britânico Edward
Bach descobrir as propriedades curativas de flores silvestres,
a terapia floral, por um lado, suscita questionamentos, mas, por
outro, tem o número de adeptos em franco crescimento. O que
é como funcionam os florais? Quem responde é a farmacêutica
Dra. Valéria Ota
especialista Dra. Valéria Ota.

Pharmacia Brasileira nº 89 - Janeiro/Abril 2018


6
Palavra do Presidente

O farmacêutico
no Desafio Global
Dr. Walter da Silva Jorge João,
presidente do Conselho Federal de Farmácia.

A redução de 50% dos danos à saúde rela-


cionados ao medicamento será, para os farma-
cêuticos, uma questão de consciência social.
E a OMS sabe disto. Os farmacêuticos são os
É de relevante significado o envolvimento profissionais da saúde mais envolvidos com o
dos farmacêuticos brasileiros com o Desafio medicamento e, também, com o paciente usuá-
Global lançado pela Organização Mundial da rio do medicamento. As suas ações dobram em
Saúde (OMS) cujo objetivo é reduzir em 50%, expectativas, com o fortalecimento da farmá-
nos próximos cinco anos, os danos graves e cia clínica.
evitáveis à saúde associados ao medicamento. Há componentes muito especiais, neste
Profissionais, sempre, tão sensíveis às ques- contexto, que devem ensejar um olhar reflexi-
tões sanitárias e sociais, os farmacêuticos têm, vo por parte dos próprios farmacêuticos e das
atualmente, mais amparo legal e dispõem de autoridades em todas as esferas de poder. Eu
um maior arsenal de conhecimentos clínicos. me refiro à expansão do reconhecimento ofi-
Assim, podem prestar o seu vasto conjunto de cial - e, também, da população - aos seus servi-
cuidados aos usuários de medicamentos, com ços profissionais na área clínica.
mais segurança jurídica e mais embasamento Esta aceitação como algo verdadeiro, in-
clínico. Os seus serviços são decisivos para o contestável, é sintomática. Acena para novas
sucesso da política da OMS, de reverter os in- atitudes por parte dos usuários dos serviços
dicadores preocupantes relacionados ao uso farmacêuticos, das autoridades e dos próprios
irracional de medicamentos. profissionais. É fácil percebê-las. Os cida-
O Desafio Global da OMS encontra, no dãos, nos Municípios, não estariam aceitando
Brasil, uma categoria muito mais fortalecida – e até cobrando – que lhes sejam oferecidos
e organizada sob os mais diferentes aspec- cuidados farmacêuticos no serviço público;
tos. Por exemplo, ela conseguiu aparar antigas prefeitos e secretários de Saúde não abririam
arestas políticas, construir uma só bandeira e concursos para contratar farmacêuticos, se
usar um diapasão com o mesmo tom para, des- não identificassem as suas atribuições clínicas
ta forma, marchar unida em suas lutas e rei- como decisivas para a melhoria da saúde local
vindicações sem, contudo, perder os matizes e e para o enfrentamento e redução dos prejuí-
ideologias que coabitam a sua natureza. zos à saúde e aos cofres públicos relacionados
Ao mesmo tempo, a categoria farmacêu- ao medicamento.
tica deu um salto histórico em sua busca por Inclui-se no rol das atribuições clínicas a
qualificação em diversos segmentos. O fabulo- prescrição farmacêutica. Ela é compreendida
so aporte de conhecimentos em farmácia clíni- pela resolução, de nº 586/2013, do Conselho
ca é uma de suas mais importantes conquistas. Federal de Farmácia (CFF), que a criou como
É com a farmácia clínica que os farmacêuticos um “ato pelo qual o farmacêutico seleciona e
estão, mais uma vez, reconstruindo a sua his- documenta terapias farmacológicas e não far-
tória e ajudando a reescrever a própria histó- macológicas, e outras intervenções relativas
ria da saúde, no Brasil. ao cuidado à saúde do paciente, visando à pro-

Pharmacia Brasileira nº 89 - Janeiro/Abril 2018


7
Palavra do Presidente

moção, proteção e recuperação da saúde, e à todo o processo de prescrição e dispensação


prevenção de doenças e de outros problemas de medicamentos, no âmbito do SUS, toman-
de saúde”. do por referência a Relação de Medicamentos
Os Municípios estão contratando farma- Essenciais do Município (Remume). A norma
cêuticos para atuar na área clínica, baseando-se estabelece que os medicamentos devem ser
na Lei 13.021/14 e nos regulamentos profissio- prescritos por profissionais habilitados, “neles
nais do CFF. Isto mostra o tamanho da impor- incluído o farmacêutico”.
tância dos serviços farmacêuticos para essas De acordo com a Portaria, o farmacêuti-
unidades federativas, no sentido de alterar a co pode prescrever medicamentos, de acordo
cena meio turva do sistema público de saúde. com a Lista de Grupos e Indicações Terapêu-
A título de exemplo, cito os Municípios de ticas Especificadas (GITE), isentos de prescri-
São Paulo (SP) e de Araguaína (TO). São Paulo ção médica, conforme a Resolução 586/13,
editou a Portaria nº 338, de 05 de fevereiro do CFF, e de acordo, ainda, com protocolos ou
de 2014, da Secretaria Municipal de Saúde. outras normativas técnicas estabelecidas pelo
Ela normatiza a prescrição farmacêutica e a gestor municipal, quando se tratar de medica-
dispensação de medicamentos, no âmbito das mentos sob prescrição médica.
unidades pertencentes ao Sistema Único de
A prescrição farmacêutica é fundamental
Saúde (SUS), sob gestão municipal.
para racionalizar o uso do medicamento e efe-
O artigo 4º da Portaria 338/2014 estabe- tivar a sua eficácia e segurança. O uso irracio-
lece que o farmacêutico, também, é considera- nal conduz a erros de medicação que, por sua
do prescritor de medicamentos. O parágrafo vez, relaciona-se a vários problemas, como in-
4º deste artigo diz que, ao farmacêutico, “é per- terações medicamentosas, efeitos colaterais,
mitido prescrever medicamentos, de acordo não adesão ao tratamento e a mais uma diver-
com a Lista de Grupos e Indicações Terapêuti- sidade de situações.
cas Especificadas (GITE), isentos de prescrição
médica, conforme a Resolução do Conselho Juntos, esses problemas podem resultar
Federal de Farmácia (CFF) nº 586, de 29 de no agravamento da saúde do paciente, em in-
agosto de 2013; e de acordo com protocolos ternações evitáveis, em óbitos, em gastos des-
ou outras normativas técnicas estabelecidas necessários com a aquisição de medicamentos
pelo gestor municipal, quando se tratar de me- tanto pelo paciente como pelo SUS, o que re-
dicamentos sob prescrição médica”. presenta enorme prejuízo financeiro. Dados
da OMS revelam um custo anual de US$ 42
Já em Araguaína, a Portaria municipal
bilhões, em todo o mundo, com erros de me-
nº 018, de 27 de março de 2015, normatiza
dicação. Esse montante corresponde a 1% das
despesas globais de saúde.
O mundo está, portanto, perdendo di-
“A redução de 50% dos danos à saúde nheiro para o desperdício, enquanto pacientes
relacionados ao medicamento será, clamam pelo medicamento que pode garantir
para os farmacêuticos, uma questão de as suas saúdes e salvar-lhes as vidas. Medica-
consciência social. E a OMS sabe disto. mento com orientação farmacêutica, é obvio.
Sem este e outros serviços, a eficácia e a garan-
Os farmacêuticos são os profissionais da
tia do medicamento tornam-se frágeis. Negar
saúde mais envolvidos com o medicamento ao cidadão o seu direito sagrado de ter acesso
e, também, com o paciente usuário do aos serviços farmacêuticos, como a orientação
medicamento. As suas ações dobram em e todo o vasto conjunto de atribuições clínicas,
expectativas, com o fortalecimento da incluindo a prescrição, é o mesmo que negar-
-lhe a saúde. É enterrar o sucesso do Desafio
farmácia clínica” (Dr. Walter Jorge, presidente do CFF). Global.

Pharmacia Brasileira nº 89 - Janeiro/Abril 2018


8
ENTREVISTA
Com o Dr. Cassyano Correr, farmacêutico clínico

O envelhecimento
e o farmacêutico Pelo jornalista Aloísio Brandão,
Editor desta revista.

mero de indivíduos portadores de doenças


crônicas.
“O farmacêutico deve garantir que o
tratamento medicamentoso do idoso seja
efetivo e seguro, por meio de atividades clí-
nicas, como consultas de acompanhamento
e revisão da farmacoterapia”, explica o far-
macêutico Cassyano Correr, que participou,
até recentemente, de uma das mais bem-su-
cedidas experiências brasileiras em cuidados
farmacêuticos a pacientes polimedicados: o
Ambulatório de Atenção Farmacêutica do
Hospital de Clínicas da Universidade Fede-
ral do Paraná (UFPR). A ampla maioria dos
pacientes do ambulatório é formada por ido-
sos.
O fortalecimento da atenção primária,
com foco na prevenção de doenças crônicas,
DR. CASSYANO CORRER: “O farmacêutico deve garantir
impõe-se como ajuste fundamental na saúde
que o tratamento medicamentoso do idoso seja efetivo pública. Mas os governantes têm, ainda, que
e seguro, por meio de atividades clínicas, como consultas resolver o difícil problema da limitação de
de acompanhamento e revisão da farmacoterapia”.
recursos para o setor no qual pesa a deman-
da de medicamentos. O problema agrava-se,
O envelhecimento da população cons- devido ao fato de o consumo de fármacos
titui um desafio gigantesco para o farma- ser maior nessa faixa etária.
cêutico. Fenômeno de expressão mundial A prevalência de doenças crônicas (car-
e que tem gerado impactos significativos diovasculares, diabetes e pulmonares) e
nos contextos sanitário e socioeconômico neurodegenerativas (doença de Parkinson e
dos países, quer sejam eles desenvolvidos mal de Alzheimer) relacionadas ao envelhe-
ou em desenvolvimento, as transformações cimento deve preocupar os farmacêuticos,
demográficas decorrentes da expansão do tamanha a responsabilidade que pesa sobre
número de idosos representam algumas das esses profissionais. Afinal, cerca de 80% dos
novas necessidades em saúde e exigem das idosos tem pelo menos uma doença crônica.
autoridades ajustes profundos nos progra- Significa dizer que, entre eles, é maior a ne-
mas sanitários, por causa do aumento do nú- cessidade do uso de medicamentos.

Pharmacia Brasileira nº 89 - Janeiro/Abril 2018


9
ENTREVISTA
Com o Dr. Cassyano Correr, farmacêutico clínico

Por causa dessas doenças, os idosos tos podem ser mais intensos, por causa da
consomem três vezes mais medicamentos diminuição de suas funções hepática e re-
que os pacientes jovens. Aí, está um enorme nal, entre outros fatores. Considerando que
perigo. O uso simultâneo de vários fármacos grande parte das pessoas, nesta faixa etária,
predispõe à ocorrência de interações medi- faz polifarmácia (uso de vários medicamen-
camentosas indesejáveis e potencialmente tos, ao mesmo tempo), os riscos são maiores.
perigosas. Quando associado a outros fa- Portanto, pesa sobre os ombros dos far-
tores, como prescrições inadequadas, não macêuticos o desafio de prestar cuidados e
observância dos esquemas terapêuticos e de serem educadores em saúde em um novo
alterações fisiológicas, o problema ganha contexto marcado por uma mudança no per-
contornos mais escuros, ainda, com o sur- fil das doenças, que estão deixando de ser
gimento de agravos e reflexos nos sistemas essencialmente infectocontagiosas (no caso
público e privado de saúde. das populações jovens) com a maior incor-
A intervenção do farmacêutico é funda- poração de doenças crônicas (no caso dos
mental para dirimir os iminentes riscos cau- idosos), com todas as suas implicações.
sados pelo uso de medicamentos em idosos, Ressalte-se que o envelhecimento da
para promover a adesão ao tratamento e a população brasileira é um fenômeno em
racionalidade do uso destes produtos. Se o curso. O País encontra-se em avançado
uso de fármacos suscita cuidados em pa- processo de transição no que diz respeito
cientes jovens e sem doenças crônicas, o que à mortalidade e à fertilidade. Em 2050, se-
se dirá, então, entre os idosos, faixa etária gundo projeções da ONU (Organização das
em que se registra o aumento das alterações Nações Unidas), a estrutura etária dos brasi-
fisiológicas. leiros será igual à dos países desenvolvidos,
CONCILIAÇÃO DE MEDICAMEN- onde 45% dos habitantes têm de 45 a 64
TOS - “A grande quantidade de condições anos de idade, e 19,8% têm de 65 anos para
crônicas do paciente idoso gera uma rotina mais.
de acompanhamento por profissionais de A PHARMACIA BRASILEIRA entre-
diversas especialidades. Nessa situação, os vistou o farmacêutico Cassyano Correr. Ele
pacientes podem receber várias prescrições fala sobre o rico trabalho do Ambulatório
e, devido à falta de comunicação dos profis- de Atenção Farmacêutica do Hospital de
sionais entre si e deles com familiares e pa- Clínicas da Universidade Federal do Pa-
cientes, pode ocorrer a sobreposição de tra- raná (UFPR) e do Laboratório de Serviços
tamentos”, alerta o Dr. Cassyano Correr. Ele Clínicos e Evidência em Saúde (LASCES) da
acrescenta que, nesse caso, o farmacêutico mesma Universidade, sobre os riscos das
pode conciliar os medicamentos prescritos interações medicamentosas e a importância
pelos diferentes profissionais, evitando que da conciliação de medicamentos usados por
os tratamentos sejam sobrepostos e causem pacientes idosos, da dificuldade de interação
“confusão ao paciente e consequentes da- entre integrantes das equipes multiprofis-
nos por uso incorreto”. sionais hospitalares, entre outros assuntos.
A farmacocinética clínica explica que Dr. Cassyano Correr é professor adjun-
os idosos sofrem alterações que interferem to do Departamento de Farmácia da UFPR,
na absorção, distribuição, metabolização e instituição em que ele é, também, pesquisa-
eliminação dos medicamentos. Nesses pa- dor dos programas de Pós-Graduação em
cientes, os efeitos tóxicos dos medicamen- Ciências Farmacêuticas e de Pós-Gradua-

Pharmacia Brasileira nº 89 - Janeiro/Abril 2018


10
ENTREVISTA
Com o Dr. Cassyano Correr, farmacêutico clínico

ção em Assistência Farmacêutica (PPGAS- cas daquela Universidade. Ainda, na UFPR,


FAR). Antes, Correr atuou como tutor do ele leciona conteúdos de Farmácia Clínica
Programa de Residência Multiprofissional e de Farmacoterapia para a graduação, pós-
em Saúde e coordenou o ambulatório de -graduação e Residência em Farmácia. VEJA
atenção farmacêutica do Hospital de Clíni- A ENTREVISTA.

reduzir a morbidade e morta- doença pulmonar obstruti-


lidade. va crônica (DPOC), causada
Atualmente, alguns tipos primordialmente pelo taba-
de câncer, que antigamente gismo; a hipertensão arterial
eram considerados fatais, sistêmica (HAS), que contri-
são curáveis, se diagnostica- bui para incidência de DAC,
dos precocemente e tratados AVE; e insuficiência cardíaca,
com quimioterapia adequada. além doenças ósseas, como
E outros problemas crônicos osteoporose, entre outras.
de saúde, como a doença ar- Em geral, cada uma
terial coronariana (DAC), que dessas condições exige tra-
são causa de grande morta- tamento medicamentoso
lidade para o paciente, hoje, complexo. Devido às altera-
são muito bem controladas, ções fisiológicas oriundas do
através de um grande arsenal envelhecimento e à influência
de medicamentos. prolongada de fatores am-
PHARMACIA BRASILEI­ bientais, grande parcela dos
RA - Dr. Cassyano Correr, o PHARMACIA BRASILEI­ pacientes idosos apresenta
envelhecimento da popula- RA - O idoso está sujeito a mais de uma doença. A gran-
ção é um fenômeno de abran- doenças, o que o leva a fazer de quantidade de morbida-
gência mundial, relacionado à uso de vários medicamentos des levará à polifarmácia, que
transição demográfica. Entre (polifarmácia). Quais são as pode predispor às cascatas
os fatores que concorrem doenças mais prevalentes iatrogênicas, à falta de efe-
para que as populações vivam entre os idosos e quais os tividade do tratamento, às
mais e melhor, está o aumen- problemas mais recorrentes dificuldades de adesão e às
to da facilidade de acesso aos relacionados ao uso de medi- reações adversas aos medi-
medicamentos e a outras tec- camentos nessa faixa etária? camentos.
nologias em saúde. Qual a im- Farmacêutico Cassya-
portância dos medicamentos no Correr - Entre as mais PHARMACIA BRASILEI­
no aumento do tempo de vida prevalentes no paciente ido- RA - Entre as reações adver-
das pessoas? so, estão a doença arterial sas, a interação medicamen-
Farmacêutico Cassyano coronariana, representada tosa negativa é o principal
Correr - Os medicamentos primordialmente pelo infarto problema relacionado ao uso
são ferramentas muito va- agudo do miocárdio (IAM); simultâneo de medicamentos
liosas para a prevenção e o o diabetes mellitus (DM); pelo idoso?
tratamento de doenças, alívio doenças cerebrovasculares, Farmacêutico Cassyano
de sintomas e auxílio diagnós- como o acidente vascular Correr - A interação medica-
tico. Desta maneira, ao serem encefálico (AVE), que pode mentosa tem importância re-
utilizados, racionalmente, os comprometer significativa- levante para população idosa,
medicamentos são capazes, mente a autonomia do idoso; devido à grande quantidade
junto a outras medidas, de problemas pulmonares, como de medicamentos usada por

Pharmacia Brasileira nº 89 - Janeiro/Abril 2018


11
ENTREVISTA
Com o Dr. Cassyano Correr, farmacêutico clínico

ela. Ao interagirem, os medi- torna-se essencial dentro da mentos sejam sobrepostos e


camentos podem aumentar o equipe. venham causar confusão ao
efeito um do outro, levando O farmacêutico deve ga- paciente e os consequentes
à toxicidade, ou podem dimi- rantir que o tratamento medi- danos, por causa do uso in-
nuir o efeito, levando à falha camentoso seja efetivo e se- correto.
terapêutica. guro, por meio de atividades
Tanto para um lado, onde clínicas, como consultas de PHARMACIA BRASILEI­
o efeito exacerbado pode le- acompanhamento e revisão RA - Quais são os impactos
var a resultados indesejados, da farmacoterapia. Lembran- causados pelo envelhecimen-
quanto para o outro, em que do que, para o paciente idoso, to da população nos sistemas
pode ocorrer o descontrole em especial, deve se consi- público e privado de saúde?
da doença, o paciente será derar a qualidade de vida e a Farmacêutico Cassya-
prejudicado. Dessa maneira, funcionalidade como pontos no Correr - A necessidade de
é essencial que a farmaco- de partida, evitando ao máxi- acompanhamento contínuo
terapia seja revisada com o mo que estas sejam compro- dos pacientes idosos, devido
intuito de evitar que intera- metidas. à quantidade de condições
ções negativas causem danos crônicas, demanda grande
ao paciente. Apesar disso, as PHARMACIA BRASILEI­ disponibilidade de profissio-
interações medicamentosas RA - Fale sobre a conciliação nais. Se não acompanhados
não são o principal problema de medicamentos usados e orientados, frequentemen-
no idoso polimedicado. Nos- pelos idosos e realizada pelo te, tais condições crônicas
sa experiência tem mostrado farmacêutico. tendem a se descontrolar,
que a adesão e a persistência Farmacêutico Cassyano aumentando a morbidade e
no tratamento constituem Correr - A grande quantida- exigindo a hospitalização.
o grande desafio desses pa- de de condições crônicas no Para os pacientes idosos,
cientes. paciente idoso gera uma ro- a internação é um grande ris-
tina de acompanhamento por co, visto que a taxa de mortali-
PHARMACIA BRASILEI­ profissionais de diversas es- dade é maior em idosos hospi-
RA - O  envelhecimento da pecialidades. Nessa situação, talizados. Para os sistemas de
população constitui um novo os pacientes podem receber saúde, a hospitalização signifi-
desafio para os farmacêuti- várias prescrições e, devido ca aumento de gastos, já que
cos? Como ele pode contri- à falta de comunicação entre o custo de um paciente inter-
buir para que o uso de medi- os profissionais e deles com nado é muito maior do que o
camentos, nessa faixa etária, familiares e pacientes, pode de um paciente ambulatorial.
seja o mais seguro e racional ocorrer a sobreposição de Quando se coloca a perspec-
possível, considerando não tratamentos. Nesse caso, o tiva sobre os medicamentos,
apenas a incidência de doen- farmacêutico pode conciliar estes pacientes irão repre-
ças prevalentes, mas a pró- os medicamentos prescritos sentar o grupo de usuários
pria senilidade das pessoas? pelos diferentes profissio- pesados do sistema de saúde,
Farmacêutico Cassyano nais, evitando que os trata- tanto público, quanto privado.
Correr - O fato de o paciente
idoso possuir diversas
doenças e, por este motivo, “O fato de o paciente idoso possuir
ser acompanhado por uma diversas doenças e, por este motivo, ser
farmacoterapia complexa,
constitui para o farmacêutico acompanhado por uma farmacoterapia
um grande desafio, sim. complexa, constitui para o farmacêutico um
Entretanto, é pelo mesmo grande desafio” (Dr. Cassyano Correr).
motivo que esse profissional

Pharmacia Brasileira nº 89 - Janeiro/Abril 2018


12
ENTREVISTA
Com o Dr. Cassyano Correr, farmacêutico clínico

PHARMACIA BRASILEI­
RA - O senhor esteve à frente
do bem-sucedido ambulató- “Acho que este é um ótimo mercado de
rio de atenção farmacêutica trabalho para o farmacêutico, pois se trata
do Hospital de Clínicas da
Universidade Federal do Pa- de uma área que traz o profissional para
raná (UFPR). Explique as ati- dentro da equipe de saúde e para a linha de
vidades desenvolvidas pelos frente do sistema de saúde. A visibilidade é
farmacêuticos, no Ambulató- grande e, com isso, abrem-se portas para o
rio, inclusive a consulta.
Farmacêutico Cassyano profissional” (Dr. Cassyano Correr).
Correr - O ambulatório foi
criado, em 2011, por inicia-
tiva da chefia de farmácia do Federal do Paraná. É onde Farmacêutico Cassyano
HC-UFPR e da coordenação trabalham os alunos de Correr - O primeiro passo é
da Residência Multiprofissio- mestrado e doutorado; onde desenhar, com clareza, o ob-
nal do Hospital. Atualmente, concentramos as atividades jetivo do serviço. Isto, antes
a farmacêutica Maria Luíza do nosso grupo de pesquisa. mesmo de tentar negociar
Fávero é a professora res- Este laboratório está um espaço físico junto à ins-
ponsável pelo ambulatório. vinculado à pós-graduação tituição. O farmacêutico deve
Nós atendemos pacien- em Ciências Farmacêuticas ser capaz de comunicar - por-
tes ambulatoriais polimedi- da UFPR. O laboratório que um serviço assim seria
cados que já passaram pelo nasceu, a partir dos estudos importante - que problemas
serviço de cardiologia do de revisão sistemática e ele ajudaria a resolver, tanto
hospital em consultas farma- metanálise que começamos a dos pacientes como da pró-
cêuticas nas quais fazemos conduzir, anos atrás. pria equipe.
uma revisão abrangente de Outro ponto importante
todos os medicamentos em PHARMACIA BRASILEI­­­­ é romper com metodologias
uso pelos pacientes, a fim de RA - O Ambulatório de Aten- rígidas de trabalho. O serviço
corrigir eventuais problemas ção Farmacêutica e o LASCES deve ser desenhado, de acor-
da farmacoterapia e melhorar estão inseridos em algum do com as necessidades reais
a adesão ao tratamento. Os programa de residência mul- dos pacientes. O que quero
pacientes recebem consultas tiprofissional? dizer é que os farmacêuticos
de retorno, até que todos os Farmacêutico Cassyano ficam obcecados com a ideia
problemas tenham sido resol- Correr - O Ambulatório está de fazer acompanhamen-
vidos, quando, então, é dada ligado à residência multipro- to farmacoterapêutico, mas
alta do serviço. Hoje, temos fissional em atenção hospita- nem sempre esse formato irá
cinco consultórios operando, lar do HC-UFPR. O LASCES atender às necessidades.
numa tarde por semana. está ligado à pós-graduação Pode ser que consultas
em Ciências Farmacêuticas. únicas de revisão da farmaco-
PHARMACIA BRASILEI­ terapia e aconselhamento ao
RA - Fale, ainda, sobre o Labo- PHARMACIA BRASILEI­ paciente já sejam suficientes,
ratório de Serviços Clínicos RA - O que deve fazer o far- ou que o foco deva ser todo
e Evidência em Saúde (LAS- macêutico que se interessar para a adesão ao tratamen-
CES), da UFPR, instituição em montar um serviço se- to. No nosso caso, em que
em que o senhor é professor. melhante ao Ambulatório de trabalhamos com pacientes
Farmacêutico Cassyano Atenção Farmacêutica? Qual polimedicados, os problemas
Correr - O LASCES é nosso o ponto de partida para a im- de adesão ao tratamento,
laboratório na Universidade plantação dos serviços? condições clínicas não trata-

Pharmacia Brasileira nº 89 - Janeiro/Abril 2018


13
ENTREVISTA
Com o Dr. Cassyano Correr, farmacêutico clínico

“O farmacêutico deve ter como atividades so serviço, ainda, sentimos


que há necessidade de maior
voltadas ao cuidado do paciente idoso a
integração com os demais
revisão dos medicamentos diariamente ambulatórios. Por outro lado,
prescritos e o monitoramento dos pouco a pouco, percebemos
resultados terapêuticos e das possíveis que a equipe reconhece o
reações adversas” (Dr. Cassyano Correr). trabalho e passa a contar com
ele. Vemos isso pelas condu-
tas dos profissionais, a partir
das, reações adversas e insu- Farmacêutico Cassyano das nossas intervenções. A
cesso terapêutico são muito Correr - Acredito que estão mudança nesse campo é lenta
comuns, o que exige de nós se expandindo, sim. Há vários e depende de um verdadeiro
uma abordagem integral do relatos de experiência de ser- trabalho de formiguinha. Mas
tratamento e da pessoa. viços semelhantes, principal- há um avanço claro aconte-
mente, ligados ao SUS. Acho cendo nessa área. Chegare-
PHARMACIA BRASILEI­ que este é um ótimo mercado mos, lá.
RA - O farmacêutico que sai de trabalho para o farmacêu-
da graduação está apto a tico, pois se trata de uma área PHARMACIA BRASILEI­
atuar em um desses serviços? que traz o profissional para RA - Qual a importância da
Como ele pode se qualificar dentro da equipe de saúde e assistência farmacêutica hos-
melhor para essa atividade? para a linha de frente do siste- pitalar ao idoso que faz uso
Farmacêutico Cassyano ma de saúde. A visibilidade é de muitos medicamentos, si-
Correr - Infelizmente, não grande e, com isso, abrem-se multaneamente?
está. A graduação em Farmácia portas para o profissional. Por Farmacêutico Cassya-
tornou-se tão generalista, que outro lado, é uma área para no Correr - A hospitalização
é praticamente incapaz de qual é preciso ter vocação do paciente idoso é sempre
preparar bem o profissional e disciplina. Muitos não dão um risco. Dessa maneira, o
para atuar em qualquer área conta da responsabilidade. cuidado de cada profissional
específica, como é o caso da é essencial dentro do hospi-
farmácia clínica ambulatorial. PHARMACIA BRASILEI­ tal. O farmacêutico deve ter
Para um aluno de gradua- RA - Fala-se muito nas dificul- como atividades voltadas ao
ção interessado nesta área, dades de interação entre os cuidado do paciente idoso: a
minha dica é que procure ler integrantes das equipes mul- revisão dos medicamentos
o máximo que puder sobre o tiprofissionais hospitalares. diariamente prescritos e o
assunto. Crie seu próprio pla- Onde está o ponto que trava monitoramento dos resulta-
no de estudo e busque orien- o diálogo multiprofissional? O dos terapêuticos e das possí-
tação dos professores da área Ambulatório e os outros ser- veis reações adversas. Lem-
do seu curso. Além disso, faça viços do Hospital de Clínicas brando que existem várias
o máximo de tempo possível da UFPR dialogam bem entre ferramentas com foco em me-
de estágio, em algum lugar si? Interagem-se, adequada- dicamentos considerados ina-
que o coloque em contato di- mente? propriados para idosos. Dessa
reto com o paciente. Farmacêutico Cassyano maneira, o farmacêutico con-
Correr - Esse não é um pro- tribui para o uso racional de
PHARMACIA BRASILEI­ blema exclusivo da Farmácia. medicamentos, melhorando
RA - Serviços, como o Ambu- Estamos em um sistema frag- os resultados terapêuticos e
latório, estão expandindo-se, mentado no qual o diálogo e evitando danos que possam
no Brasil? É um bom mercado o trabalho conjunto são a ex- prolongar a permanência no
para o farmacêutico? ceção e não a regra. No nos- hospital.

Pharmacia Brasileira nº 89 - Janeiro/Abril 2018


14
Lançamentos

FARMÁCIA: BIOÉTICA E BIODIREITO


O debate que vem ocorrendo em torno da bioé- farmacêutico. E, agora?”,
tica e biodireito, no campo farmacêutico, fica, agora, doutor em Ciências Far-
mais enriquecido, com a publicação do livro FARMÁ- macêuticas pela Univer-
CIA: BIOÉTICA E BIODIREITO. De autoria do Dr. sidade Estadual de Ma-
Arnaldo Zubioli, uma das maiores expressões da Far- ringá (UEM), no Paraná,
mácia, no Brasil, a nova publicação traz, em suas 236 Zubioli argumenta que o
páginas, um rico e atualizado estudo sobre os mais di- seu novo livro tem o ob-
versos aspectos da matéria, atraindo os seus leitores jetivo de “contribuir para
para o tema. o debate realizado sobre
FARMÁCIA: BIOÉTICA E BIODIREITO levanta o papel da bioética e biodireito no estar, saber e fazer
as questões que mais vêm movimento as discussões da Farmácia em sua atividade profissional quotidiana”.
no setor farmacêutico. O livro busca os antecedentes Dr. Arnaldo Zubioli, que foi professor de Farma-
históricos da bioética e do biodireito para, em segui- cologia e Terapêutica; Ética, Deontologia e Legislação
da, mergulhar no subtema “Princípios da Bioética”, em Farmacêutica da UEM e atuou como pró-reitor de
que trata do principialismo, do liberalismo em bioéti- Extensão, Ensino e Pesquisa da mesma instituição de
ca, da ética das virtudes, da casuística, do contratual. ensino, lembra que a formação do farmacêutico, na
O outro subtema são os “Princípios do Biodireito”, graduação, “é fundada em ciência e técnica, sem uma
com estudos a respeito da dignidade da pessoa hu- discussão mais ampla da dimensão humanística da
mana, igualdade ou isonomia, inviolabilidade da vida, atividade farmacêutica ligada à interação social que
entre outros. singulariza a profissão”.
Os aspectos da tanatologia e biotanalogia (vida O livro é um grato convite ao farmacêutico bra-
e finitude), cuidados paliativos, bioética e bioterroris- sileiro, no sentido de que tome assento a essa verda-
mo, bioética e pesquisa, bioética e Farmácia, aspectos deira mesa-redonda proposta pelo Dr. Arnaldo Zubio-
éticos de medicamentos  off-label; ética, medicamen- li, para o inadiável e necessário debate a respeito da
tos, doenças raras e bioética e ciências farmacêuticas bioética e do biodireito. É uma publicação indepen-
entram para o centro do debate proposto por Dr. Ar- dente e, para adquiri-lo, o interessado deve entrar em
naldo Zubioli. Ressalte-se que Zubioli, há mais de dez contato com Maria Augusta pelo telefone (41)3363-
anos, vem se debruçando em investigar as questões 0234. Valor: R$ 35,00.
que ganharam textos em seu livro.
Autor de seis outros livros, entre eles “Profissão: Pelo jornalista Aloísio Brandão, do CFF.

FORMULÁRIO ATIVOS DERMATOLÓGICOS


O objetivo des- que o mercado pode oferecer Para os propagandistas, tra-
te primeiro FOR- para as mais diversas situações ta-se de uma coletânea de su-
MULÁRIO ATIVOS dentro da dermoestética. gestões para visitação. Ou seja,
D E R M ATO LÓ G I - Os Drs. Daniel e Valéria expli- para fazer do profissional da es-
COS é, segundo os cam, ainda, que outras finalidades tética um aliado efetivo na saúde
seus autores, far- do livro são “potencializar a ação da população. São 240 fórmulas
macêuticos Daniel dos seus procedimentos nos cui- divididas nos capítulos de bases
Antunes Junior e dados diários, por meio do  home dermatológicas, acne, antienve-
Valéria Maria de care  indicado, para desenvolver o lhecimento, antipoluição, celulite,
Souza, levar a mé- critério que o prescritor deve ter pré e pós-procedimentos, microa-
dicos, farmacêu- na seleção dos ativos escolhidos”. gulhamento, intradermoterapia,
ticos, biomédicos, Também, para aumentar as pro- produtos capilares etc.
dentistas, enfer- postas de formulações para os O livro, de 240 páginas, está
meiros, fisioterapeutas e pro- cosmetólogos que, hoje, ampliam sendo vendido ao preço de R$
fissionais da área de estética in- sua atuação, nas indústrias, na 159,00. Para adquiri-lo, acesse a
formações sobre as melhores e criação de novos produtos cosmé- página  www.ativosdermatologi-
mais reconhecidas formulações ticos. cos.com.br

Pharmacia Brasileira nº 89 - Janeiro/Abril 2018


15
Lançamentos

A FARMACOLOGIA DO SUPLEMENTO
Esta é uma publicação dirigi- TO.  Este livro, de capa dura e de
da a nutricionistas e farmacêuti- 848 páginas, está à venda por R$
cos. O livro procura proporcionar 269,00. É um verdadeiro dicio-
a melhor escolha de um suple- nário prático utilizado por farma-
mento, considerando os critérios cêuticos, médicos, nutricionistas,
técnicos que levarão a um trata- profissionais da cosmetologia e da
mento eficaz e seguro. Conceitos estética que necessitam de infor-
multidisciplinares são abordados, mações técnicas sobre os ativos e
com foco em fisiologia e as ca- adjuvantes utilizados na dermato-
racterísticas farmacológicas de logia, como os dermocosméticos,
cada princípio ativo. A publicação e na beleza e qualidade e vida, a
aborda os temas “Noções de Far- exemplo dos nutracêuticos.
macologia”, “A Prescrição”, “O que Os autores descrevem, nesta
o Nutricionista Prescreve?”, “Su- publicação, cerca de 3.000 ativos,
plementação Esportiva”, “Nutra- além de vários artigos e sugestões
cêuticos e Fitoquímicos”, “Ativos de fórmulas que abordam ques-
e sugestões de fórmulas”, “Ativos tões, como toxicidade e alergia a
Dermatológicos” e “Dermocos- cosméticos, controle de qualida-
méticos e Nutracêuticos”. de, adjuvantes, emolientes, águas,
Os farmacêuticos Daniel An- fragrâncias, alimentos funcionais,
tunes Junior e Valéria Maria de entre outros. A compra deve ser
Souza são os autores de  A FAR- feita por meio da página www.ati-
MACOLOGIA DO SUPLEMEN- vosdermatologicos.com.br

ATIVOS DERMATOLÓGICOS -
DERMOCOSMÉTICOS E
NUTRACÊUTICOS (9 VOLUMES)
Com 848 páginas e no formato de capa dura, “Ativos Dermatológi-
cos - Dermocosméticos E Nutracêuticos”, de autoria dos farmacêuticos
Daniel Antunes Junior e Valéria Maria de Souza, é um dicionário prático
voltado para farmacêuticos, médicos, nutricionistas, profissionais da cos-
metologia e da estética que necessitam de informações técnicas sobre os
ativos e adjuvantes utilizados na dermatologia, como os dermocosméti-
cos, e na beleza e qualidade e vida, como os nutracêuticos.
São descritos quase 3.000 ativos, além reunir vários artigos e suges-
tões de fórmulas que abordam questões, como toxicidade e alergia a cos-
méticos, controle de qualidade, adjuvantes, emolientes, águas, fragrân-
cias, alimentos funcionais, entre outros. Custa R$ 269,00. Para adquiri-lo,
visita a página www.ativosdermatologicos.com.br

Pharmacia Brasileira nº 89 - Janeiro/Abril 2018


16
Lançamentos

BRASIL SAÚDE AMANHÃ: nômico, social e ambiental. A pro-


POPULAÇÃO, ECONOMIA E GESTÃO posta é não restringir o olhar a um
cenário imediato. Ao contrário, o
objetivo do livro é influenciar ati-
Jabuti -, intitulada BRASIL SAÚDE vamente o planejamento nacional
AMANHÃ: POPULAÇÃO, ECO- de médio e longo prazo no campo
NOMIA E GESTÃO, de Paulo Ga- das políticas de saúde.
delha, José Carvalho de Noronha, Para tanto, é preciso com-
Sulamis Dain e Telma Ruth Pereira preender a saúde não como a
(orgs.), é um trabalho de compro- mera oferta de um pacote de ser-
metimento com a efetivação do viços, mas como uma construção
SUS e a melhoria da saúde públi- social que abarca os mais varia-
ca, no Brasil. A coletânea busca dos setores – economia, política,
entender a realidade presente cultura, demografia, saneamento
para preparar o futuro, de modo básico, meio ambiente, agricultu-
a aproximar os horizontes dese- ra, indústria, ciência e tecnologia,
jados e afastar os desvios indese- gestão pública etc.
jáveis. O livro tem 224 páginas e é
A partir da prospecção estra- vendido ao preço de R$ 46,00. 
tégica, os autores trazem refle- Pode ser adquirido junto à Livraria
Uma coletânea publicada xões sobre o país que queremos Virtual da Editora Fiocruz. Fonte:
pela Editora Fiocruz – e que es- em um horizonte de vinte anos, Editora Fiocruz (por Fernanda
teve entre as finalistas do Prêmio articulando desenvolvimento eco- Marques).

CRÔNICAS FARMACÊUTICAS NO TEMPO DO SUS


“Crônicas farmacêuticas no tem- macêutica. Aqui, o autor fala da
po do SUS” é o título do livro de política estadual de assistência
autoria do farmacêutico Ozório e das práticas farmacêuticas, da
Paiva. Está sendo vendido por Farmácia Básica, da assistência
R$ 50,00. Interessados em ad- farmacêutica. Já a terceira parte
quiri-lo devem entrar em contato do livro, que está focada em temas
com o autor, por meio do telefone de ordem político-sociais, discor-
(61)8373-1244. O livro é dividido re sobre as prescrições arabescas,
em três partes. A primeira aborda as conferências de Saúde, os me-
questões alusivas ao âmbito pro- dicamentos genéricos, plantões
fissional, como as atividades far- de farmácia etc.
macêuticas nos estabelecimentos O autor de “Crônicas farmacêuti- de Saúde, no Brasil, Economia e
comunitários, os bioquímicos, a cas no tempo do SUS”, Ozório Pai- Administração Farmacêutica; Vi-
fiscalização do exercício profissio- va Filho, é farmacêutico industrial, gilância Sanitária, Políticas de Fár-
nal, a municipalização e o farma- especialista em saúde pública e macos e Farmacovigilância em fa-
cêutico, as múltiplas responsabi- em Vigilância Sanitária, mestre culdades do Distrito Federal. Foi,
lidades, a função do farmacêutico em Saúde Coletiva. Atuou como ainda, presidente do Conselho
na saúde pública entre outras. professor de Deontologia e Le- Regional de Farmácia do Distrito
A parte 2 trata da assistência far- gislação Farmacêutica; Políticas Federal.

Pharmacia Brasileira nº 89 - Janeiro/Abril 2018


17
ENTREVISTA
Com o médico infectologista Artur Timerman

Arboviroses: outros desafios


para os farmacêuticos
A tríplice epidemia causada pelas arboviroses (dengue, zika e
chikungunya), no brasil, em 2015 e 2016, assombrou o país e
repercutiu, no mundo inteiro. Agora, é a febre amarela (fa) que
impacta na saúde do brasileiro. A vacinação e as discussões levantadas
em torno da mesma estão no centro do tema. Mas há questões
fundamentais a serem debatidas, como as causas que levaram à
expansão territorial da presença do vírus do gênero flavivirus.
Jornalista Aloísio Brandão, do CFF.

Por que ele se deslocou para tantos lu- Não encontrando outra opção de sobrevi-
gares? Especialistas afirmam que o desequi- vência, eles são forçados a buscar essa única
líbrio ambiental tem responsabilidade dire- alternativa para a proliferação.
ta em sua propagação. Isto, porque há uma “A redução de ambientes naturais
relação estreita entre o desmatamento de restringe as espécies a uma área menor,
áreas florestais e os surtos da febre amarela. aumentando a concentração de agentes
A hipótese mais defendida é a de que a di- infecciosos em circulação”, explica a biólo-
minuição do tamanho do habitat natural dos ga Márcia Chame. Ela é a coordenadora de
macacos, com a destruição de florestas, está estudos de Biodiversidade e Saúde Silves-
obrigando esses animais a se concentrarem tre da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz). A
em área muito menores. Dra. Márcia Chame falou sobre o assunto à
Assim, os macacos passam a ser presas revista “Radis”, da Escola Nacional de Saúde
fáceis para o Haemagogus, o principal mos- Pública Sérgio Arouca, da Fiocruz (edição de
quito silvestre transmissor da FA. O outro 23/02/2017).
mosquito é do gênero Sabethes. Importa sa- HISTÓRICO - A febre amarela é an-
lientar que os próprios insetos, também, es- tiga. Um manuscrito Maia, em Yucatan, no
tão sendo vitimados pelos desmatamentos. México, de 1648, já relata a epidemia de

Pharmacia Brasileira nº 89 - Janeiro/Abril 2018


18
ENTREVISTA
Com o médico infectologista Artur Timerman

Sociedade Brasileira de Dengue e


Arboviroses (www.sbd-a.org) é fonte de
informações técnicas e científicas sobre
as doenças para farmacêuticos. CFF
recomenda que profissionais associem-se
à entidade. Filiação é gratuita.

uma doença semelhante à febre amarela. A


primeira epidemia confirmada deu-se, em
1730, na Península Ibérica. Ali, a doença
causou a morte de 2.200 pessoas. O apare-
cimento da FA, no Brasil, aconteceu, em Per-
nambuco, em 1685. Dr. Artur Timerman, médico infectologista, presidente da
Sociedade Brasileira de Dengue e Arboviroses
Os casos perduraram, no Estado, por
dez anos, e chegou a Salvador, onde foi re-
gistrada a morte de aproximadamente 900 ENTREVISTA - No momento mais crí-
pessoas, durante seis anos. Segundo a pági- tico da tríplice epidemia, esta revista entre-
na do Ministério da Saúde, “um período de vistou o Presidente da SBC-A (Sociedade
silêncio epidemiológico ocorreu, por cerca Brasileira de Dengue e Arboviroses (SBD-A)
de 150 anos, no País”, graças à realização de - www.sbd-a.org, o médico Artur Timerman,
grandes campanhas de prevenção. sobre as arboviroses. No dia 08.02.18, vol-
O atual surto febre amarela ocorre, tamos a falar com Dr. Timerman. Desta vez,
com a Zica, ainda, ameaçando o Brasil, se- o tema da entrevista foi a febre amarela.
gundo relatório da Human Rights Watchm, Dr. Artur é mestre em Infectologia pela
uma organização internacional não-gover- Faculdade Medicina da Universidade de São
namental que defende e realiza pesquisas Paulo (USP) e atua como chefe do Serviço de
sobre os direitos humanos, com sede em Controle de Infecção Hospitalar do Comple-
sede em Nova Iorque (EUA) e escritórios, xo Hospitalar Edmundo Vasconcelos, de São
em 15 países. A precariedade no saneamen- Paulo. Ele é uma autoridade internacional
to está no centro das causas dos surtos da sobre o assunto. Timerman não descarta a
tríplice epidemia (dengue, zika e chikun- urbanização da febre amarela.
gunya), segundo o relatório. A Human Righ- “O  risco de migração em massa desta
ts Watchm denuncia que “os investimentos doença para o ambiente urbano não deve
governamentais em infraestrutura de água e ser descartado. Não é um cenário promis-
saneamento foram inadequados”, facilitando sor. E se torna, ainda, mais preocupante, se
as condições para a proliferação do mosqui- considerarmos a presença de fatores que
to Aedes aegypti e a rápida disseminação do dificultam, pelo menos em curto prazo, a
vírus da Zika. proposição de ações para  a erradicação

Pharmacia Brasileira nº 89 - Janeiro/Abril 2018


19
ENTREVISTA
Com o médico infectologista Artur Timerman

do Aedes aegypti, que é o vetor no ambiente (SBD-A). Firmaram uma parceria que ajudou
urbano, e, também, a acelerada expansão da a qualificar os farmacêuticos no tratamento
indústria de materiais não biodegradáveis das três viroses que assolaram o País, em
e a existência de condições climáticas favo- 2015/2016.
ráveis, agravadas pelo aquecimento global”, Importante fonte de informações so-
alertou o médico infectologista. bre tudo o que diz respeito a esses vírus e às
Ele acrescentou: “Some-se a esse pano- infecções que eles causam, a SBD-A está in-
rama o modelo de urbanização implantado, teiramente à disposição dos farmacêuticos,
no País, caracterizado pela redução progres- demais profissionais da saúde e população,
siva das áreas verdes das cidades à custa de para lhes oferecer conhecimentos. O CFF
empreendimentos imobiliários situados em conclama os farmacêuticos a se associarem
locais onde não há a menor infraestrutura de à SBD-A. A filiação e a mensalidade são gra-
saneamento básico que os comporte”. tuitas.
INEDITISMO NA MEDICINA - Sobre FONTES DE INFORMAÇÕES PARA
as outras arboviroses, Dr. Artur Timerman FARMACÊUTICOS - A Sociedade Brasilei-
explica que o Brasil viveu, durante o surto ra de Dengue e Arboviroses informa que
dos anos de 2015 e 2016, uma situação pe- desenvolveu um programa de atualização, a
culiar na Medicina, com a ocorrência simul- partir das evidências científicas mais recen-
tânea de três epidemias transmitidas por um tes disponíveis sobre dengue, zika, chikun-
mesmo vetor. Isto é inédito na história da gunya e, também, sobre a febre amarela.
Medicina, segundo ele. “As interações entre “O conteúdo retrata os principais métodos
tais infecções, tanto ocorrendo simultanea- e ações de prevenção baseados nos guias e
mente ou em sequência, correlacionam-se protocolos oficiais das autoridades de saúde,
às consequências, ainda, desconhecidas”, além da experiência dos profissionais envol-
alertou o médico infectologista e presidente vidos”, informa A Sociedade.
da Sociedade Brasileira de Dengue e Arbo- Acrescenta que, “entre os vários enfo-
viroses. Para o médico, a redução em torno ques, destacam-se a biologia dos vetores, as
de 95% nos casos de dengue, zika e chikun- características das arboviroses de importân-
gunya não significa que essas arboviroses cia para a saúde humana, como diferenciar
estejam inteiramente sob controle. as principais arboviroses, o tratamento ade-
PROFISSIONAIS DA SAÚDE E AS quado e as particularidades destas doenças
ARBOVIROSES - Os surtos cobram dos far- em populações especiais, como crianças,
macêuticos e demais profissionais da saúde gestantes, idosos e pessoas com comorbida-
conhecimentos sobre as doenças e sua cor- des”. A página da SBD-A informa, ainda, que
relação com fatores, como o saneamento foram preparadas cinco videoaulas que tra-
básico, a interação entre infecções concomi- zem conhecimento atualizado aos profissio-
tantes e sequenciais, o espectro de manifes- nais de saúde. Para conhecer os conteúdos,
tações clínicas etc. basta clicar no endereço www.sbd-a.org
Na busca por oferecer aos farmacêuti- CAMPANHA FARMACÊUTICOS
cos mais conhecimentos técnicos e científi- CON­TRA O AEDES AEGYPTI - Os farmacêuti-
cos sobre essas doenças, o Conselho Federal cos brasileiros, ressalte-se, já haviam se lança-
de Farmácia (CFF) aproximou-se da Socie- do em atividades de combate às arboviroses,
dade Brasileira de Dengue e Arboviroses em todo o País. Uma forte campanha, nesse

Pharmacia Brasileira nº 89 - Janeiro/Abril 2018


20
ENTREVISTA
Com o médico infectologista Artur Timerman

sentido, foi lançada pelos conselhos Federal (cff.org.br/farmaceuticoemacao) com infor-


e regionais de Farmácia, em parceria com a mações sobre as arboviroses, entre outras
Enefar (Executiva Nacional de Estudantes de ações.
Farmácia), Anfarmag (Associação Nacional de As ações lideradas pelo CFF repercu-
Farmacêuticos Magistrais), SBFFC (Socieda- tiram de tal maneira e foram consideradas
de Brasileira de Farmacêuticos e Farmácias tão positivas, que atravessaram as fronteiras
Comunitárias), Sbrafh (Sociedade Brasileira do Brasil e foram acolhidas, em vários países
de Farmácia Hospitalar e Serviços de Saúde) da América Latina, por intermediação de or-
e o Profar (Programa de Suporte ao Cuidado ganizações profissionais internacionais. O
Farmacêutico na Atenção à Saúde). FFA (Fórum Farmacêutico das Américas) e
A campanha, que leva o nome de Far- a FIP (Federação Farmacêutica Internacio-
macêuticos em ação: todos contra o Aedes nal) levaram a campanha dos farmacêuticos
aegypti, foi lançada, no dia 19 de março de brasileiros contra as arboviroses para a Ar-
2016, e teve grande repercussão. Os profis- gentina, o Equador, a Costa Rica, Panamá,
sionais tomaram as ruas das capitais e cida- Paraguai e Uruguai. E mais: as instituições
des do interior, mostrando a sua capacidade internacionais traduziram e distribuíram,
de mobilização e o seu compromisso com a nesses países, o folder que o Conselho Fede-
saúde da população. De complexa elabo- ral de Farmácia produziu para distribuição
ração, a campanha, além de ações nas ruas, entre farmacêuticos e a população do Brasil.
envolve a distribuição de folders para far- Veja a entrevista com o DR. ARTUR
macêuticos e população, a criação de um link TIMERMAN.

PHARMACIA BRASILEI- eles é um alerta para a saú- ra residia em zonas rurais.


RA - Dr. Artur Timerman, de pública (Vasconcelos PFC: Porém, meio século depois
por que os casos de febre Febre Amarela. Revista da (2010), 84,4% da população
amarela (FA) vêm recrudes- Sociedade Brasileira de Medi- passou a viver, em regiões
cendo, no Brasil? O desequi- cina Tropical 36(2):275-293, urbanas. Essa inversão
líbrio ambiental é um dos mar-abr, 2003). aconteceu, sem a instalação
responsáveis por sua expan- Por outro lado, é possí- correta de uma infraestru-
são? Que relação há entre o vel afirmar, de forma segura, tura de  saneamento básico
desequilíbrio ambiental e a que a presença de algumas (Fonte: IBGE, Censo Demo-
doença? arboviroses, como a den- gráfico 2010).
Dr. Artur Timerman - A gue, a zika e a chikungunya, No Brasil, a situação
transmissão da FA no am- em nossas grandes cidades, atual e preocupante das ar-
biente silvestre não é erradi- é produto da  urbanização boviroses reflete um com-
cável, porque os animais de- caótica que vem sendo ve- plexo contexto, no qual se
vem ser preservados, já que rificada, nas últimas déca- interagem a ineficácia de
atuam como sentinelas, uma das. Os números mostram atuação do poder público e
espécie de linha de frente. A que, na década de 1960, da sociedade em geral. É um
comprovação da circulação por exemplo,  mais de me- ciclo que precisa ser inter-
do vírus da doença entre tade da população brasilei- rompido, avançando na bus-

Pharmacia Brasileira nº 89 - Janeiro/Abril 2018


21
ENTREVISTA
Com o médico infectologista Artur Timerman

ca de soluções reais para o massa desta doença para zação implantado, no País,
controle e a prevenção con- o ambiente urbano não caracterizado pela redução
tra o Aedes e manter planos deve ser descartado. Não progressiva das áreas ver-
de combates eficientes con- é um cenário promissor. E des das cidades à custa de
tra as ocorrências da febre se torna,  ainda, mais preo- empreendimentos imobiliá-
amarela. cupante,  se considerarmos rios situados em locais onde
PHARMACIA BRASI- a presença de fatores que não há a menor infraestru-
LEIRA - O vírus da febre dificultam, pelo menos em tura de saneamento básico
amarela sofre mutações? curto prazo, a proposição que os comporte. Por esse
As vacinas que foram apli- de ações para a erradicação motivo, as cidades brasilei-
cadas, nos últimos 15 anos, do Aedes aegypti, que é o ve- ras estão cada vez mais im-
e as que estão sendo ofe- tor no ambiente urbano, e, permeabilizadas. Quando
recidas à população, neste também, a acelerada expan- chove, não há onde a água
momento, contemplam as são da indústria de materiais ser drenada, constituin-
mutações, se é que o vírus é não biodegradáveis e a exis- do-se no drama frequente
mesmo mutante? tência de condições climá- de  enchentes (Vasconcelos
ticas favoráveis, agravadas PFC: Febre Amarela. Revista
Dr. Artur Timerman
pelo aquecimento global. da Sociedade Brasileira de
- Não há mutações clinica-
mente relevantes no vírus Some-se a esse pano- Medicina Tropical 36(2):275-
da febre amarela e, por con- rama o modelo de urbani- 293, mar-abr, 2003).
seguinte, as vacinas aplica-
Foto: Vinicius Marinho - Fiocruz

das, desde que a mesma foi


desenvolvida, em 1937, per-
manecem mantendo a sua
eficácia. Lembrando que,
para conferir proteção, há
necessidade de administra-
ção de duas doses, com in-
tervalo mínimo de dez anos
entre si.
PHARMACIA BRASILEI-
RA - O mosquito  Hemago-
gus é o vetor de transmissão PHARMACIA BRASI- Dr. Artur Timerman -
da febre amarela, no espaço LEIRA - A vacina contra a fe- A febre amarela faz parte da
silvestre. Quais são as reais bre amarela está no centro lista de doenças de notifica-
possibilidades de a doença de debates e dúvidas. Afinal, ção compulsória e, como tal,
avançar para a área urbana qual é a dose que imuniza, qualquer caso suspeito deve
e ser transmitida pelo Aedes definitivamente? O que o ser imediatamente notifi-
aegypti? senhor tem a dizer sobre cado à autoridade sanitária
Dr. Artur Timerman o fracionamento da dose e local, estadual ou nacional e
- O  risco de migração em sua eficácia? esta, por sua vez, notifica os

Pharmacia Brasileira nº 89 - Janeiro/Abril 2018


22
ENTREVISTA
Com o médico infectologista Artur Timerman

“O risco de migração em massa desta


doença para o ambiente urbano não
deve ser descartado. Não é um cenário
promissor. E se torna, ainda, mais
preocupante, se considerarmos a presença
de fatores que dificultam, pelo menos em
curto prazo, a proposição de ações para a
erradicação do Aedes aegypti, que é o
vetor no ambiente urbano”
(Médico infectologista Artur Timerman,
Presidente da Sociedade Brasileira de Dengue e Arboviroses).

organismos internacionais. amarílico vivo atenuado, recomendando reforço,


Posteriormente, havendo a cultivado em ovo de galinha. após dez anos, nas áreas de
confirmação laboratorial, a A vacina produzida por recomendação ou persistin-
notificação do caso é con- Biomanguinhos apresenta, do o risco epidemiológico
firmada e a autoridade na- em sua formulação, a pre- para viajantes que se desti-
cional ratifica a autoridade sença de gelatina bovina, nam a essas áreas.
sanitária internacional. eritromicina, canamicina, Esse posicionamen-
O método mais eficaz cloridrato de L-histidina,  to do Ministério da Saúde
para se prevenir a febre L-alanina, cloreto de sódio baseou-se em publicações
amarela é a vacinação com- e água para injeção. Já a da internacionais e brasilei-
posta com a cepa atenuada Sanofi Pasteur contém lac- ras que indicam a queda
17D do vírus da febre ama- tose, sorbitol, cloridrato de da imunidade contra febre
rela. Atualmente, duas sub- L-histidina, L-alanina e so- amarela, após uma dose, a
cepas são usadas na produ- lução salina. Ambas as vaci- longo prazo, nos indivíduos
ção de vacinas: a 17DD, no nas têm perfis de segurança que receberam apenas uma
Brasil, e a 17D-204, no resto semelhantes, assim como dose.  Tal recomendação era
do mundo. A diferença é que estimativa comparável de embasada no fato de que a
a 17DD tem 81 passagens a eficácia, estimada ao redor recomendação de tão so-
mais em ovo embrionado de de 95%. mente uma dose da vacina
galinha comparativamente Até março de 2017, o pela OMS consubstanciava-
ao outro preparado vacinal. Brasil, apesar das evidên- -se no fato de que a mesma
No Brasil, estão dispo- cias apresentadas pela OMS seria indicada, em países da
níveis duas vacinas: a pro- (Organização Mundial da África, onde haveria circu-
duzida por Biomanguinhos Saúde) sobre a proteção, a lação do vírus selvagem na
- Fiocruz, utilizada pela rede longo prazo, conferida, após comunidade, propiciando,
pública, e a produzida pela a aplicação de uma única dessa forma, o “efeito boos-
Sanofi Pasteur, utilizada dose da vacina febre amare- ter”, natural naqueles indiví-
pela rede privada. Ambas, la, era o único país a manter duos que tivessem recebido
compostas de vírus vacinal o esquema de duas doses, a dose preconizada. Esse

Pharmacia Brasileira nº 89 - Janeiro/Abril 2018


23
ENTREVISTA
Com o médico infectologista Artur Timerman

“A ocorrência de três epidemias nitário Internacional exige


simultâneas, transmitidas por um mesmo somente uma dose que,
vetor, é inédita na história da Medicina. também, deve ser aplicada
pelo menos dez dias antes
Estamos vivenciando uma época em
da viagem e é considerada
que as interações entre tais infecções, válida por toda vida.
tanto ocorrendo simultaneamente ou
O fracionamento da
em sequência, correlacionam-se às dose da vacina de febre
consequências, ainda, desconhecidas” amarela é processo empre-
(Médico infectologista Artur Timerman,
Presidente da Sociedade Brasileira de Dengue e Arboviroses). gado, quando se dá conco-
mitantemente premência
de vacinação de um grande
efeito booster não se verifica- proteger o maior número número de pessoas e há ca-
ria em locais do mundo onde possível de pessoas e, as- rência no abastecimento do
não são relatados, por dé- sim, bloquear os surtos no- produto vacinal, situação
cadas, a circulação urbana tificados. Dessa forma, em vigente, atualmente, no Bra-
do vírus, não advindo, por 05/04/2017, o Ministério sil. Toda consubstanciação
conseguinte, esse “reforço” da Saúde divulgou novas científica acerca da vacina
natural da imunização. recomendações de vacina- de febre amarela diz respei-
No entanto, devido à ex- ção, em consonância com as to a trabalhos efetuados e
pansão da circulação do vírus recomendações da Organi- publicados com o emprego
de febre amarela, na América zação Mundial da Saúde: a da dose plena da vacina.  É
Latina e África, diversos paí- partir de abril de 2017, dose recomendável o uso fracio-
ses incluíram a vacina febre única da vacina febre ama- nado, mas devemos alertar
amarela na rotina de seus rela será adotada, em todo a população que sua real
programas de imunização ou o País, para todas as faixas eficácia, assim como o tem-
realizam campanhas de vaci- etárias. po em que perdura essa
nação. Ocorre que o número Portanto, pessoas que eficácia, são temas a serem
de produtores da vacina di- já receberam uma dose da esclarecidos em trabalhos
minuiu, nos últimos 20 anos. vacina, mesmo que há mui- ainda a serem efetivados.
Hoje, são dez produtores, tos anos, não serão revaci- PHARMACIA BRASI-
sendo apenas três pré-qua- nadas, mesmo em situações LEIRA - Fale sobre a segu-
lificados pela Organização de risco. Importante dizer rança da vacina. Há espe-
Mundial de Saúde: Bio-Man- que essas medidas, ade- cialistas que a aprovam, mas
guinhos (Brasil), Sanofi - Pas- quadas, nesse momento, entendem que a vacina tem
teur (França) e Instituto Pas- para controle da situação muito a evoluir. Outros de-
teur (Senegal). epidemiológica em que vi- fendem o investimento no
O crescente registro vemos, hoje, podem não ser desenvolvimento de uma
de casos, em nosso País, e definitivas e serão revistas vacina mais moderna.
a necessidade de se vacinar pelo Programa Nacional de Dr. Artur Timerman -
a nossa população impõem Imunizações. Em caso de No que tange aos eventos
a tomada de decisões de viagem a países que exigem adversos associados à va-
saúde pública que permitam o CIVP, o Regulamento Sa- cina contra febre amarela,

Pharmacia Brasileira nº 89 - Janeiro/Abril 2018


24
ENTREVISTA
Com o médico infectologista Artur Timerman

“Todos esses vírus apresentam potencial


de se disseminar, em nossas metrópoles,
extrapolando seus habitats silvestres.
São fantasmas que nos espreitam e que
podem deixar de ser fantasmas e se tornar
reais, caso mantenhamos esse modelo de
urbanização e saneamento básico vigente”
(Médico infectologista Artur Timerman,
Presidente da Sociedade Brasileira de Dengue e Arboviroses).

observam-se efeitos no lo- Reações alérgicas, como que, agora, volta a ameaçar
cal da administração do inó- erupções na pele, urticá- a saúde humana, tanto na
culo, tais como dor no local ria e asma, acontecem com África como na América.
de aplicação que ocorre em frequência de um caso para Em nosso Continente, mais
4% dos adultos vacinados, 130 mil a 250 mil vacinados. de 90% dos casos descri-
evento menos frequente Entre 1999 e 2009, ocor- tos, nas décadas de 70 a 90,
em crianças pequenas, com reu anafilaxia na proporção por exemplo, ocorreram, no
duração de um ou dois dias, de 0,023 caso para cem mil Peru, na Bolívia e no Bra-
geralmente de intensidade doses aplicadas. Entre 2007 sil (Vasconcelos PFC: Febre
leve a moderada. Manifesta- e 2012, aconteceram 116 Amarela. Revista da Socieda-
ções sistêmicas, como febre, casos (0,2 caso em 100 mil de Brasileira de Medicina Tro-
dor de cabeça e muscular, vacinados) de doença neu- pical 36(2):275-293, mar-
não são raros, acometendo rológica, principalmente, -abr, 2003).
cerca de 4% dos vacinados quando se tratava de pri- O Brasil é o tercei-
pela primeira vez e menos meira dose e em idosos. Já ro país que mais notifica a
de 2% nas segundas doses. a disseminação do vírus va- febre amarela, nas Améri-
Apesar de muito raros, cinal pelos órgãos, chama- cas (cerca de 19% de todos
podem acontecer eventos da “doença viscerotrópica”, os casos).  Esta emergên-
graves. São eles: reações neste mesmo período, ocor- cia  tem ocorrido simulta-
alérgicas, doença neuroló- reu em 21 pessoas (0,04 ca- neamente com o incremen-
gica (encefalite, meningite, sos em 100 mil vacinados). to da dispersão do  Aedes
doenças autoimunes com PHARMACIA BRA- aegypti  e epidemias de ar-
envolvimento do sistema SILEIRA - Que avaliação o boviroses, o que aumenta o
nervoso central e periféri- senhor faz das barreiras sa- risco de reurbanização.
co), doença visceral (infec- nitárias contra a febre ama- No País, todos os anos,
ção pelo vírus vacinal, cau- rela, no Brasil? a FA tem sido diagnosticada.
sando danos semelhantes Dr. Artur Timerman Na década de 1970, o esta-
aos da doença). - Desde os anos 80, com do mais atingido foi Goiás.
No Brasil, entre 2007 maior evidência nos 90, ve- Nos anos 80, lideraram as
e 2012, a ocorrência destes rifica-se a reemergência, estatísticas o Pará e Mato
eventos graves foi de 0,42 isto é, a volta da febre ama- Grosso do Sul. Já nos 90,
caso por 100 mil vacinados. rela, antes já controlada e novamente, o Pará e o Ma-

Pharmacia Brasileira nº 89 - Janeiro/Abril 2018


25
ENTREVISTA
Com o médico infectologista Artur Timerman

ranhão. A partir de 2000, mos casos de FA). É preciso PHARMACIA BRASI-


Goiás voltou a ser o mais estudar constantemente as LEIRA - Como está o con-
acometido e, em 2001, Mi- condições desse transmis- trole desses três arboviro-
nas Gerais. sor e o seu papel, no Brasil, ses?
Todos os casos de fe- para se conhecer sua sus- DR.  ARTUR TIMER-
bre amarela decorreram de ceptibilidade, sensibilidade MAN -  O vetor comum a
transmissão silvestre. Cerca e capacidade de transmitir essas três arboviroses veio
de 90% deles encontra-se o vírus da febre amarela. Em para ficar. O modelo de ur-
associada com a transmis- outras palavras, não se sabe banização em vigência, em
são pelo  Hg Janthinomys. a real capacidade vetorial nossas metrópoles, serve,
Mais de 80% ocorreram em da população de  Aedes ae- de forma perfeita, à persis-
adolescentes e adultos jo- gypti  que circula, no Brasil. tência do vetor em nosso
vens do sexo masculino e a A cobertura vacinal antia- meio. Enquanto permane-
letalidade (média de 50%) marílica varia de acordo cer esse modelo de urbani-
têm variado muito, o que com a área, sendo boa nas zação, o combate ao mos-
se deve à falha no reconhe- áreas endêmicas e de tran- quito será apenas paliativo.
cimento e no diagnóstico sição (cobertura geral acima Isto é, se caracterizará tão
da FA. Ressalte-se que, no de 80%) e ruim na área não somente como uma política
passado, não havia preo- acometida pela doença. de redução de danos. Da
cupação em se fazer busca PHARMACIA BRASI- forma atual, teremos que
ativa dos casos de FA, o que LEIRA - Fale sobre as outras conviver indefinidamente
limitava o seu número. três arboviroses. com a presença do mosqui-
Sabe-se, agora, que es- DR.  ARTUR TIMER- to, com suas consequências
ses casos representam im- MAN -  O Brasil viveu uma tão deletérias.
portante fonte de infecção situação peculiar na Medi- PHARMACIA BRA-
para os mosquitos trans- cina. A ocorrência de três SILEIRA - Que desafios o
missores e que os infecta- epidemias (dengue, chikun- avanço das arboviroses está
dos invariavelmente apre- gunya e zika) simultâneas impondo aos profissionais
sentam viremia, ou seja, o transmitidas por um mesmo da saúde?
vírus fica presente na cor- vetor é inédita na história DR.  ARTUR TIMER-
rente sanguínea em níveis da Medicina. Estamos vi- MAN -  A grosso modo, po-
suficientes para infectar os venciando uma época em demos mencionar que elas
vetores (Vasconcelos PFC: que as interações entre tais impõem aos profissionais da
Febre Amarela. Revista da infecções, tanto ocorrendo saúde que conheçam a cor-
Sociedade Brasileira de Medi- simultaneamente ou em se- relação das doenças com o
cina Tropical 36(2):275-293, quência, correlacionam-se saneamento básico, a inte-
mar-abr, 2003). às consequências, ainda, ração entre infecções con-
Por outro lado, o Aedes desconhecidas. Essas inte- comitantes e sequenciais, o
aegypti  encontra-se distri- rações devem ser objeto de espectro de manifestações
buído, em todos os Estados estudos e a SBD/A tem por clínicas, o espectro das mal-
do País, tanto dentro como obrigação implementar o formações fetais atribuíveis
fora da área endêmica (fora conhecimento acerca dessa à infecção pelo Zika vírus;
da área em que já detecta- situação inédita. as dificuldades diagnósti-

Pharmacia Brasileira nº 89 - Janeiro/Abril 2018


26
ENTREVISTA
Com o médico infectologista Artur Timerman

cas: quadros clínicos que se sequilíbrio ambiental sobre rus. O ano de 2017 pode ser
assemelham e carência de a expansão das arboviroses? considerado como um inter-
recursos diagnósticos, atra- DR.  ARTUR TIMER- regno entre grandes epide-
vés de sorologias e provas MAN - Como já anterior- mias, que devem voltar a se
genéticas. As arboviroses mente mencionado, o mode- verificar, nos próximos anos.
impõem aos profissionais lo de urbanização vigente, PHARMACIA BRASI-
da saúde que conheçam, em nossas metrópoles, foi LEIRA - Registros do Insti-
ainda, o fluxograma de aten- absolutamente perfeito... tuto Evandro Chagas mos-
dimento, a priorização do Para os mosquitos. tram que já estão circulando,
atendimento, em épocas PHARMACIA BRA- no território nacional, 210
epidêmica; o desperdício de SILEIRA - Os números de arbovírus. O crescimento
recursos escassos em forma casos de dengue, zika e foi vertiginoso. Há 30 anos,
de prevenção desprovida de eram apenas 95 deles. Pelo
chikungunya que assombra-
maior utilidade. menos 37 desses arbovírus
ram o Brasil e o mundo, em
PHARMACIA BRASI- são capazes de provocar
2016, sofreram uma redu-
LEIRA - A vacina contra a doenças. A febre do Maya-
ção em torno de 95%, em
dengue, tudo faz crer, não ro, a febre do Oropouche e a
2017. Significa que essas
demorará a ser disponibili- encefalite de Saint Louis são
arboviroses estão inteira-
zada à população. O senhor algumas delas. Essas doen-
mente sob controle?
acredita que o esforço em- ças virais transmitidas por
DR.  ARTUR TIMER- mosquitos podem ser disse-
pregado em sua produção MAN - De forma alguma. minadas, no País, e, também,
facilitará o desenvolvimento Quando analisamos histo- virar um grave problema de
da pesquisa e da produção ricamente as epidemias das saúde pública?
de vacinas contra a zika e arboviroses, fica evidente
a chikungunya? DR.  ARTUR TIMER-
que, no Brasil, todas elas se
MAN - Sem dúvida. Temos o
DR.  ARTUR TIMER- iniciam, na região Nordeste,
exemplo recente da infecção
MAN - A vacina contra a e, após períodos entre dois
pelo vírus zika, desconhe-
dengue, atualmente dispo- a quatro anos, se dissemi-
cida, há quatro anos, e que
nível, tem seu emprego res- nam para as regiões Cen-
se revestiu e se revestirá
trito por uma série de ques- tro-Oeste, Sudeste e Sul do
da gravidade de que temos
tionamentos que devem, País. As infecções pelo ví- conhecimento. Todos esses
ainda, ser elucidados. Todo rus zika foram inicialmente vírus apresentam potencial
o campo da vacinologia, en- observadas, em Estados do de se disseminar, em nossas
fatize-se, requer a execução Nordeste (Ceará, Pernam- metrópoles, extrapolando
de estudos de grande porte buco, Paraíba e Rio Grande seus habitats silvestres. São
e prolongados. A disponibi- do Norte), em 2014. fantasmas que nos esprei-
lização de vacinas  contra a As epidemias de den- tam e que podem deixar de
zika e a chikungunya é espe- gue e chikungunya seguem ser fantasmas e se tornarem
rada para, pelo menos, daqui se mantendo, sendo as pri- reais, caso mantenhamos
(2017) a cinco anos. meiras de maior ou menor esse modelo de urbanização
PHARMACIA BRASI- magnitude na dependência e saneamento básico vigen-
LEIRA - E o impacto do de- do sorotipo circulante do ví- te, em nosso País.

Pharmacia Brasileira nº 89 - Janeiro/Abril 2018


27
Fotos do arquivo da Fiocruz

Eliminar a Dengue: Desafio Brasil


alcança taxa de 90% de Aedes aegypti
com Wolbachia
O aumento da taxa de Aedes aegypti com Wolbachia, no Ponto Final,
em Jurujuba, legitima o êxito do método. Mais seis bairros da Região
Oceânica de Niterói preparam-se para receber os mosquitos que reduzem
a transmissão da dengue, Zika e chikungunya

O projeto Eliminar a Dengue: Desafio to, no Brasil. A metodologia consistiu na


Brasil, conduzido pela Fiocruz, confirma sua inoculação da bactéria Wolbachia, reti-
nova taxa de sucesso em 90% de presença de rada da mosca da fruta, no ovo do Aedes
Aedes aegypti com Wolbachia, no Ponto Final, aegypti, para que, desta forma, o inseto se
em Jurujuba, bairro de Niterói (RJ), onde foi desenvolva com a bactéria no seu orga-
implementado o projeto-piloto. A fase de ex- nismo de forma intracelular.
pansão avança para bairros da região oceâ- O Projeto propõe a liberação dos
nica do Município. Com equipe presente, mosquitos Aedes aegypti com Wolbachia
nos bairros de Cafubá, Jacaré, Jardim Ibuí, em uma área, por um determinado perío-
Piratininga, Santo Antônio e Camboinhas, o do de tempo, proporcionando a substitui-
projeto promove atividades de informação, ção gradual da população de mosquitos
conhecimento e engajamento comunitário Aedes aegypti de campo pelos mosquitos
para que, em breve, possa prosseguir com a com a bactéria Wolbachia. Esta substitui-
liberação dos Aedes aegypti com Wolbachia. ção ocorre, mediante o cruzamento entre
A iniciativa da Fiocruz ajudará a proteger eles, com a transmissão da bactéria pela
mais 32 mil habitantes dessas doenças. fêmea aos seus filhotes. Desta forma, o
O PROJETO - O projeto Eliminar a método torna-se autossustentável, uma
Dengue: Desafio Brasil propõe um método vez que naturalmente a bactéria vai se
capaz de reduzir a transmissão dos vírus perpetuar nas gerações futuras dos mos-
da dengue, Zika e chikungunya pela libe- quitos.
ração de mosquitos Aedes aegypti com a “O método não envolve nenhuma
bactéria Wolbachia. Essa bactéria é natu- modificação genética e é complementar
ral, pois existe em muitos outros insetos. a todos que já existem para proteção e
A iniciativa é parte do programa interna- combate às doenças. É uma iniciativa ino-
cional “Eliminate Dengue: Our Challenge”, vadora, sem fins lucrativos, autossusten-
com participação do pesquisador da Fio- tável, porque não exige a sua contínua im-
cruz, Luciano Moreira, que lidera o proje- plementação, na área, além de ser segura,

Pharmacia Brasileira nº 89 - Janeiro/Abril 2018


28
porque não tem qualquer influência em de mosquito. Como resultado, o sucesso
seres humanos e no meio ambiente”, expli- da  Wolbachia  está diretamente ligado à
ca Moreira. capacidade de reprodução do inseto.
SOBRE A  WOLBACHIA - A  Wolba- Curiosamente, a  Wolbachia  confere
chia pipientis  é uma bactéria intracelular uma vantagem reprodutiva devido à cha-
observada, pela primeira vez, há 70 anos, mada ‘incompatibilidade citoplasmática’:
em mosquitos da espécie  Culex pipiens. fêmeas com  Wolbachia,  sempre, geram
Sua descoberta ocorreu, em 1926, mas filhotes com Wolbachia no processo de re-
poucas pesquisas foram realizadas sobre produção, seja ao se acasalar com machos
o tema, até 1972. Desde 1990, mais de sem a bactéria ou machos com a bactéria.
1.500 estudos científicos sobre a  Wol- E, quando as fêmeas sem  Wolbachia  se
bachia  foram publicados em periódicos acasalam com machos com a  Wolbachia,
científicos. os óvulos fertilizados morrem.
Estudos recentes demonstraram que Inicialmente, com poucos  Aedes ae-
esta bactéria é amplamente presente en- gypti  com  Wolbachia  na população de
tre os invertebrados e pode ocorrer natu- mosquitos, a vantagem reprodutiva será
ralmente em até 60% de todos os insetos pequena. Mas, com as sucessivas gera-
do mundo, incluindo borboletas e diver- ções, o número de mosquitos machos e
sos mosquitos, como o Culex, o comum fêmeas com Wolbachia tende a aumentar,
‘pernilongo’. Apesar desta ampla gama de até que a população inteira de mosquitos
hospedeiros, a Wolbachia não é infecciosa tenha esta característica.  Por isso, uma
e não é capaz de infectar vertebrados, vez estabelecido o método, em campo,
incluindo os humanos. em determinada localidade, os mosquitos
CAPACIDADE PARA REDUZIR A continuam a transmitir a  Wolbachia  na-
TRANSMISSÃO  DOS VÍRUS DENGUE turalmente para seus descendentes, dis-
E ZIKA - Cientistas do programa inter- pensando a necessidade de intervenções
nacional Eliminar a Dengue: Nosso De- adicionais.
safio demonstraram, em condições de APROVAÇÕES ÉTICAS E REGULA-
laboratório, que a  Wolbachia  é capaz de TÓRIAS - O protocolo da fase de expan-
reduzir a transmissão do vírus da dengue são do Projeto, no Brasil, foi aprovado
pelo mosquito  Aedes aegypti.  Em maio pela Agência Nacional de Vigilância Sani-
de 2016, os pesquisadores do programa tária (Anvisa), pelo Instituto Brasileiro de
publicaram um estudo científico em que Meio Ambiente e Recursos Naturais Re-
descrevem a  ação da bactéria  Wolba- nováveis (Ibama), pelo Ministério da Agri-
chia, também, sobre o vírus Zika. cultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa)
A característica intracelular da  Wol- e pela Comissão Nacional de Ética em
bachia  (ela vive apenas dentro de células) Pesquisa (Conep), após rigorosa avaliação
impõe limitações significativas na sua ca- sobre a segurança para a saúde e para o
pacidade de dispersão, uma vez que ela meio ambiente.
só pode ser transmitida verticalmente (de
mãe para filho), por meio do ovo da fêmea Fonte: Fiocruz (assessoria de imprensa).

Pharmacia Brasileira nº 89 - Janeiro/Abril 2018


29
Fotos do arquivo da Fiocruz

Vacina contra zika desenvolvida, no


Brasil, previne a doença na gestação

Zika causa microcefalia

Estudo é desenvolvido pelo Instituto Evandro Chagas e considerado um dos


mais avançados para oferta de uma vacina contra a doença.

Testes feitos em camundongos, junto com institutos dos EUA, mostraram,


ainda, que o vírus pode causar danos aos testículos e esterilidade.

A vacina contra a zika, desenvolvida pelo rante a gestação. É um dos mais avançados
Instituto Evandro Chagas (IEC), vinculado estudos para a oferta de uma futura vacina
ao Ministério da Saúde, apresentou resul- contra a doença para proteger mulheres e
tado positivo nos testes em camundongos crianças da microcefalia e outras alterações
e macacos. A aplicação de uma única dose neurológicas causadas pelo vírus. Os dados
da vacina preveniu a transmissão da doença foram divulgados no dia 22.09.17, pela revis-
nos animais e o contágio de seus filhotes, du- ta Nature Communications.

Pharmacia Brasileira nº 89 - Janeiro/Abril 2018


30
Os testes pré-clínicos foram reali- testículos. Por isso, de acordo com o dire-
zados simultaneamente no Instituto Na- tor do IEC, Pedro Vasconcelos, ainda não
cional de Saúde (NIH), Universidade do é possível apontar o impacto de esterili-
Texas e Universidade Washington, dos Es- zação nesses animais. “Estamos iniciando
tados Unidos, todos parceiros na pesqui- um novo experimento nesse sentido para
sa. Os testes obtiveram sucesso em seu
verificar o impacto desta esterilidade na
objetivo, que é impedir que o vírus zika
copulação dos animais. O que se sabe é
cause microcefalia e outras alterações do
sistema nervoso central tanto nos camun- que há uma grande quantidade de vírus
dongos quanto nos macacos. Já os testes na excreção do esperma, que significa que
em humanos devem ser realizados, a par- o vírus tem bastante capacidade de se re-
tir de 2019, na Fiocruz/Biomanginhos, no plicar, causando a destruição das células
Rio de Janeiro. que resulta em diminuição (atrofia) dos
Do grupo controle que não tomou a testículos e, consequentemente, a esteri-
vacina, as fêmeas de camundongos tiveram lidade”, concluiu o diretor do IEC.
aborto por conta da transmissão do vírus Os testes da vacina que está sendo
zika, ou seus filhotes nasceram com microce-
desenvolvida pelo IEC em parceria com
falia e outras alterações neurológicas.
os institutos norte-americanos, também,
ESTERILIDADE EM MACHOS - Além
tiveram sucesso na proteção de animais
dos testes em fêmeas, foram realizados
testes em camundongos machos. Um dos machos. Além de demonstrar efetividade
achados científicos inéditos é que o vírus entre as fêmeas de camundongos e ma-
zika pode ser capaz de causar esterilida- cacos, prevenindo a transmissão do vírus
de. A infecção nos animais reduziu con- zika aos seus bebês, a vacina foi capaz de
sideravelmente a quantidade de esper- impedir danos aos testículos dos camun-
matozoides, a mobilidade deles (ficaram dongos machos vacinados.
praticamente imóveis) e o tamanho dos A parceria para essa pesquisa foi fir-
testículos (atrofia). Esses testes não fo- mada, em fevereiro de 2016, a partir de
ram realizados nos macacos.
acordo internacional visando o desenvol-
No entanto, não é possível afirmar
vimento de vacina contra o vírus zika.  O
que esse efeito também se aplique aos
Ministério da Saúde vai destinar um to-
seres humanos. O diretor do Instituto
Evandro Chagas (IEC), Pedro Vasconce- tal de R$ 7 milhões nos próximos cinco
los, ressalta que é preciso mais estudos anos (até 2021) para o desenvolvimento
para entender a dimensão deste proble- e produção da vacina. O imunobiológico
ma. “Há uma preocupação de que esse em desenvolvimento utiliza a tecnologia
achado evidencie que possa ocorrer um de vírus vivo atenuado de apenas uma
impacto similar entre os seres humanos, dose, já que vacina com vírus vivo são al-
contudo ainda não há nenhum estudo que tamente capazes de estimular o sistema
demonstre isso”, pontuou o diretor Pedro imunológico e proteger o organismo da
Vasconcelos.
infecção.
A pesquisa não chegou a testar a ca-
pacidade dos animais de engravidarem Fonte: Agência Saúde, do Ministério da Saúde
fêmeas, após os danos constatados nos (jornalista Amanda Mendes).

Pharmacia Brasileira nº 89 - Janeiro/Abril 2018


31
Pesquisa aponta para
terapia preventiva
contra o zika
Anticorpos monoclonais, produzidos em
laboratório por biotecnologia, têm alto
potencial de aplicação contra o vírus
transmitido pelo Aedes.

Amplamente utilizados no tratamento de nais. Os testes em macacos mostraram que


doenças como alguns tipos de câncer, como o coquetel foi capaz de bloquear com êxito a
o de mama, gástrico e do osso, os anticorpos replicação do vírus zika. Testes em laboratório
monoclonais, produzidos em laboratório me- demonstraram a capacidade de bloqueio do ví-
diante técnicas de biotecnologia, também, têm rus zika pelo coquetel de anticorpos monoclo-
alto potencial de aplicação contra o vírus zika. nais, de até 100%.
A evidência foi demonstrada em uma pesqui- “O método é altamente promissor para a
sa liderada por cientistas norte-americanos, prevenção de malformações congênitas e efei-
em parceria com o Instituto Oswaldo Cruz tos adversos em olhos e membros, uma vez que
(IOC/Fiocruz) e com a Universidade de São o coquetel de anticorpos monoclonais poderia
Paulo (USP). A pesquisa foi publicada no dia ser administrado em gestantes e prevenir a in-
04.10.17, na revista Science Translational Medi- fecção do feto. A literatura científica tem apon-
cine. Apesar da técnica rebuscada de produção tado que estas proteínas são extremamente
dos anticorpos monoclonais, a ideia é simples: seguras”, enfatizou o líder do estudo, o imu-
introduzidos no organismo, eles foram capazes nologista David Watkins, da Universidade de
de combater o vírus zika, com alta especificida- Miami. “O trabalho apresenta um importante
de em relação a esse alvo. passo para o desenvolvimento de uma terapia
Os testes com macacos foram baseados de ação preventiva contra o zika”, completou
no uso de anticorpos monoclonais extraídos Myrna Bonaldo, chefe do Laboratório de Bio-
do sangue humano, a partir de um paciente em logia Molecular de Flavivírus do IOC/Fiocruz,
fase aguda de infecção pelo vírus zika. Ou seja: também autora do estudo. Brasileiro, natural
a pessoa estava produzindo anticorpos para
de Belo Horizonte, o cientista Diogo Magnani,
combater o vírus e os cientistas precisavam
que também atua na Universidade de Miami, é
identificar, em meio ao vasto arsenal de imu-
o primeiro autor do artigo.
nidade produzido pelo organismo do paciente,
quais seriam eficazes contra o zika. Chegou-se Fonte: AFN (Agência Fiocruz de Notícias), com Vinicius
a um coquetel com três anticorpos monoclo- Ferreira (IOC/Fiocruz).

Pharmacia Brasileira nº 89 - Janeiro/Abril 2018


32
VÁRIAS

Medicina Tradicional Chinesa:


busca pelo fortalecimento, no Brasil
CFF recebe delegação da China

Representantes da província de Gansu,


na China, e da WFCMS (Federação Mundial de
Sociedades de Medicina Chinesa) reuniram-se,
no dia 22 de novembro de 2017, com direto-
res do Conselho Federal de Farmácia (CFF), na
sede do órgão, em Brasília. Os chineses propu-
seram uma aproximação com o CFF, com vistas
a divulgar a Medicina Tradicional Chinesa, no
Brasil. Eles se dispuseram a participar de even-
tos promovidos pelo CFF e pediram o apoio do
órgão para o congresso que realizarão, em par-
ceria com o Ministério da Saúde, em 2018, em
São Paulo.
Representantes do CFF e da WFCMS reúnem-se para buscar
O encontro, na sede do Conselho Federal fortalecimento da Medicina Tradicional Chinesa, no Brasil
de Farmácia, foi intermediado pelo farmacêuti-
co Paulo Varanda. Ele é especialista em Medici-
na Tradicional Chinesa, presidente da Socieda- sociação Brasileira de Medicina Chinesa e inte-
de Brasileira de Farmacêuticos Acupunturistas grante da delegação que visitou os diretores do
(Sobrafa), coordenador do Grupo de Trabalho CFF, Fang Fang, lembrou que a pesquisadora
em Medicina Chinesa e Acupuntura do CFF, ór- chinesa Tu Youyou ganhou o Prêmio Nobel de
gão que representa junto à Anvisa (Agência Na- Medicina de 2015 por suas pesquisas e desco-
cional de Vigilância Sanitária) e ao Ministério berta de uma terapia contra a malária, à base da
da Saúde para assuntos relacionados ao tema. artemisinina, princípio ativo do extrato da planta
A delegação chinesa esteve, no Brasil, bus- artemísia (Artemisia annua).
cando firmar acordos com o Ministério da Saú- O presidente do Conselho Federal de
de e a Anvisa. Também, para discutir estratégias Farmácia, Walter da Silva Jorge João, disse
que viabilizem os convênios assinados na 7ª que o Brasil precisa dessa prática integrativa
Reunião de Ministros da Saúde dos Países dos para ampliar o acesso à assistência à saúde e
BRICS, realizada, em julho de 2017, na China, promover a qualidade de vida da população.
em favor do fortalecimento da Medicina Tradi- Ele destacou que o CFF apoiará as iniciativas,
cional Chinesa como prática integrativa e com- incluindo o congresso, que será realizado, em
plementar no Sistema Único de Saúde (SUS).  2018. Também, se comprometeu a inserir o
PESQUISAS – Durante a reunião, na sede tema na programação do II Congresso Brasilei-
do CFF, os chineses exibiram um vídeo produ- ro de Ciências Farmacêuticas, a ser realizado
zido pelo governo daquele País, para demons- pelo CFF, em 2019, em Belém (PA). “Nada mais
trar que a China tem trabalhado em pesquisas adequado, considerando que Belém do Pará é a
e no desenvolvimento de tratamentos à base porta de entrada para a Amazônia, onde está a
de plantas. Nesse sentido, a presidente da As- maior biodiversidade do planeta”, concluiu.

Fonte: Comunicação do CFF

Pharmacia Brasileira nº 89 - Janeiro/Abril 2018


33
VÁRIAS

Uso de canabinóides carece de mais debate

Farmacêuticos pedem que


usuários de derivados
da maconha tenham
acompanhamento
farmacoterapêutico.

Cerca de 2.000 pacien- patias e epilepsias. Também, técnica para orientá-los ade-
tes, no Brasil, estão usando, há as que foram submetidas quadamente, evitando pro-
com a autorização da Justiça, a tratamento pós-trauma- blemas relacionados ao uso
medicamentos à base de ca- tismo craniano e de câncer. do produto e assegurando o
nabinóides, substâncias que Dra. Margarete Kishi desta- melhor resultado possível do
têm como base o princípio ca que os canabinóides têm tratamento”, argumenta a far-
ativo da maconha (Cannabis ação sobre o sistema nervoso macêutica.
sativa). Mas o País precisa central e o uso concomitante Coordenadora do Gru-
ampliar o debate em torno de opióides, como a morfina, po de Trabalho sobre Fito-
do uso do derivado da planta, para controle da dor, muito terapia do Conselho Federal
alerta a farmacêutica Marga- comum no tratamento de al- de Farmácia, Dra. Margare-
rete Kishi, conselheira fede- gumas dessas doenças, exi- te Kishi destaca que o deba-
ral de Farmácia por São Pau- ge cuidado. “É preciso uma te sobre o tema é urgente e
lo. Em novembro de 2017, o adequação da dose e prestar necessário. “Nós temos de
tratamento com canabinói- mais informação ao paciente”, discutir, sim, o uso terapêu-
des foi tema de uma discus- alerta. tico da Cannabis sativa. Não
são levantada, no auditório Margarete Kishi ressal- podemos nos omitir. Vários
Ruy Barbosa da Universidade ta a importância do acompa- países do mundo já regulari-
Presbiteriana Mackenzie, em nhamento farmacoterapêu- zaram o seu uso, a exemplo
São Paulo, durante evento tico. Ela lembra que, como a da Europa e Estados Uni-
promovido pela instituição, dispensação ocorre em pro- dos, onde é utilizada como
com o apoio do Conselho Fe- cesso judicial, muitas vezes, suplemento alimentar. Ou-
deral de Farmácia. o paciente não recebe esse tros países estão a caminho
As pessoas que utilizam acompanhamento. “O farma- da regulamentação do uso
canabinóides geralmente cêutico deve ser inserido no como medicamento, como a
sofrem de dores intensas e atendimento a esses pacien- Colômbia, o Peru e o Brasil”,
têm doenças, como neuro- tes, pois ele tem competência conclui.

Pharmacia Brasileira nº 89 - Janeiro/Abril 2018


34
VÁRIAS
NOTÍCIAS DO CFF
Regulamentação da fiscalização farmacêutica
A fiscalização executada pelos Conselhos O dirigente do CFF disse mais: “Aprova-
Regionais de Farmácia tem o seu procedimento mos uma das resoluções mais importantes
regulamentado. A regulação veio por meio da Re- para a nossa profissão. Ela é base do trabalho
solução número 648, de 30 de agosto de 2017, dos conselhos regionais de Farmácia; ela é a
publicada pelo Conselho Federal de Farmácia nossa ‘bíblia”. Dr. Gildo fez questão de realçar
(CFF), no “Diário Oficial da União” de 11 de ou- que a condução da aprovação da norma foi uma
tubro de 2017. A nova resolução é considerada “construção aberta, em que tivemos um amplo
avançada, por respaldar e fortalecer os atos fis- debate”. Lembrou que todos os segmentos que
calizatórios dos CRFs, por definir com clareza os compõem o sistema CFF e CRFS, incluindo ges-
deveres e as responsabilidades dos fiscais e ges- tores e farmacêuticos fiscais, puderam opinar.
tores desses órgãos e por favorecer e estimular a
valorização do farmacêutico e da profissão.
A Resolução 648/2017 é resultado dos
debates realizados nos Encontros Regionais e
Nacional de Fiscalização, na Reunião Geral dos
Conselhos Federal e Regionais de Farmácia e
de consulta pública. Antes de ser aprovada pelo
Plenário do CFF, o texto da norma foi submeti-
do à avaliação da Comissão de Legislação e Re-
gulamentação (Coleg) do CFF e da Assessoria
Jurídica do órgão. Presidente do CFF, Walter da Silva Jorge
João, diz que Resolução nº 648/2017 abrange
evoluções da profissão farmacêutica.

A PAR DA EVOLUÇÃO – Para o presiden-


te do CFF, Walter da Silva Jorge João, a Resolu-
ção nº 648/2017 abrange, com propriedade, as
evoluções da profissão farmacêutica. Segundo o
presidente, nos últimos cinco anos, vários fatos
levaram transformações positivas na profissão,
a exemplo da edição das resoluções de números
585 e 586, ambas de 2013, que regulamenta as
atribuições clínicas do farmacêutico e a prescri-
ção farmacêutica e, também, com a aprovação
Dr. José Gildo da Silva, conselheiro federal de Farmácia
por Alagoas: “Regulamentação da fiscalização foi fruto de da Lei nº 13.021/14, que mudou o conceito de
um processo democrático e responsável”. farmácia, no País, classificando-a como unidade
de assistência à saúde. Essas mudanças promo-
DEMOCRÁTICO E RESPONSÁVEL – veram a evolução da profissão.
Para o conselheiro federal de Farmácia por Sobre a regulamentação da fiscalização
Alagoas e, à época, coordenador da Comissão farmacêutica, Dr. Walter Jorge concluiu: “A
de Fiscalização (Cofisc) do CFF, José Gildo da nova resolução traz definições bem claras de
Silva, a regulamentação do procedimento da organização, deveres e responsabilidades dos
fiscalização farmacêutica foi um processo gestores e dos farmacêuticos fiscais. As mu-
democrático e responsável. “Prevaleceu o danças realizadas vão permitir a padronização
equilíbrio e o respeito à legislação vigente, dos atos fiscalizatórios, em todo o País, viabi-
visando à valorização do farmacêutico e aos lizando um melhor desempenho nas ações de
interesses públicos”, acrescentou Dr. José fiscalização e ensejando a valorização da pro-
Gildo. fissão farmacêutica”.

Pharmacia Brasileira nº 89 - Janeiro/Abril 2018


35
VÁRIAS

Manipulação de antineoplásicos é
privativa do farmacêutico, reitera CFF

A manipulação de medi- cendo titulação mínima para


camentos antineoplásicos é a atuação do farmacêutico
ato privativo intransferível e na oncologia. O artigo 1º da
indelegável do farmacêutico. Resolução/CFF nº 623/16,
Este é o parecer emitido pelo alterado pela Resolução/CFF
Conselho Federal de Farmá- nº 640/17, estabeleceu como
cia (CFF), por meio de nota sendo atribuição privativa
técnica sobre o tema. Para do farmacêutico o preparo
alinhar conceitos e entendi- dos antineoplásicos e demais transporte, dispensação e
mentos sobre o tema com os medicamentos que possam utilização de antineoplási-
Conselhos Regionais de Far- causar risco ocupacional ao cos”, comenta o coordenador
mácia (CRFs), o CFF enfatiza manipulador (teratogenici- do Grupo de Trabalho sobre
na nota que nenhum outro dade, carcinogenicidade e/ou Farmácia Hospitalar e con-
profissional de saúde, quer mutagenicidade) nos estabe- selheiro federal pelo estado
seja ele de nível superior ou lecimentos de saúde públicos do Rio Grande do Sul, Josué
de nível médio, pode realizar ou privados. Schostack.
esse ato, nem mesmo sob a “Ao publicar a resolução, Ele diz mais: “Além disto,
supervisão do farmacêutico. o CFF considerou a impor- buscou garantir o gerencia-
A nota técnica reitera tância e a necessidade, nos mento correto dos resíduos
e detalha o que já está pre- estabelecimentos de saúde, oriundos da manipulação
visto na Resolução nº 623, de se estabelecer rotinas e desses medicamentos, em
de 29 de abril de 2016, do procedimentos e de se asse- prol da segurança do farma-
CFF, que dá nova redação gurar condições adequadas cêutico, do paciente, da equi-
ao artigo 1º da Resolução/ de formulação, preparo, ar- pe multidisciplinar e do meio
CFF nº 565/12, estabele- mazenagem, conservação, ambiente”.

FarmaSis: gestão via web


que permite a cada conselho regional de Far-
mácia gerir suas informações relativas a várias
áreas da administração, a exemplo do cadastro
e da fiscalização. Desenvolvido pelo Conselho
Federal de Farmácia e CRFs para atender aos
conselhos de Farmácia, o FarmaSis deverá en-
trar em operação, na maioria dos Estados, até
o final de 2018.
Na reunião plenária do CFF, realizada,
nos dias 6 e 7.10.17, durante o XIX
FarmaSis é o nome do sistema de gestão Congresso Farmacêutico de São Paulo, foi
empresarial que funciona via navegador web, aprovado o convênio para manutenção e
com acesso restrito, seguro e individualizado, suporte do sistema, que já funciona como

Pharmacia Brasileira nº 89 - Janeiro/Abril 2018


36
VÁRIAS
projeto piloto, no Rio Grande do Sul e Mato Uma das grandes vantagens do sistema é
Grosso. No Distrito Federal, o programa que alguns serviços estarão acessíveis de qual-
será implantado, neste ano. quer computador, no site www.crfweb.com.br.
O programa foi desenvolvido, utilizando O acesso ocorrerá, com total segurança, pois
sistemas de software livre, tanto para o am- os dados estarão protegidos por login e senha.
Para farmacêuticos e empresas, será possível
biente de servidor, quanto para as tecnologias
realizar o acompanhamento de protocolos e
de desenvolvimento (linguagens de progra-
de atendimentos solicitados nos CRFs, os co-
mação e banco de dados). Por meio dessa fer-
municados de afastamento prévio e as justifi-
ramenta, será possível uma padronização na
cativas de ausência, além da atualização de da-
forma de registrar e gerenciar as informações
dos cadastrais e da reimpressão de boletos de
relacionadas aos profissionais e empresas ins-
serviços. Alguns serviços serão de livre acesso,
critas, bem como as informações das fiscaliza-
inclusive à população, como a emissão de certi-
ções realizadas.
dão de regularidade.
Conforme o coordenador do projeto e O presidente do CFF, Walter da Silva Jor-
vice-presidente do CFF, Valmir de Santi, o ge João, salientou que se trata de um projeto
FarmaSis proporcionará maior modernidade de grande amplitude e execução complexa,
e tornará mais ágeis os serviços prestados pe- que envolve procedimentos delicados como
los conselhos. “Será um grande avanço para a a migração de dados. “A atual gestão do CFF
profissão, visto que, a partir da padronização, orgulha-se de encabeçar esse projeto, desen-
conseguiremos informações mais precisas so- volvido em um curto espaço de tempo de 18
bre os profissionais em atuação, no País, bem meses. Isso somente está sendo possível, gra-
como as empresas registradas nos conselhos. ças à adesão dos conselhos regionais”, disse o
Também, será possível atender aos inscritos, presidente do CFF.
com maior presteza e rapidez”, comentou Val-
mir de Santi. Fonte: Comunicação do CFF.

O farmacêutico na
suplementação alimentar
CFF vai trabalhar pela ampliação da atuação
do profissional nessa área.

O Conselho Federal de
Farmácia (CFF) está atuan-
do junto à Agência Nacional
de Vigilância Sanitária (An- Dra. Priscila Dejuste pede proteção
visa) e a outros conselhos à atribuição do farmacêutico na área
da suplementação alimentar.
profissionais na revisão da
regulamentação de toda a
Dr. Carlos Eduardo Rocha Garcia: belecer um novo marco re-
cadeia dos suplementos ali- “Farmacêutico tem vínculo histórico gulatório para o setor.
mentares. Hoje, existem vá- com a área de alimento”.
rias resoluções da agência Os membros do Grupo
que tratam do assunto em ção, comercialização etc.). O de Trabalho do Conselho Fe-
todas as suas etapas (produ- interesse da Anvisa é esta- deral de Farmácia encarrega-

Pharmacia Brasileira nº 89 - Janeiro/Abril 2018


37
VÁRIAS
do de participar do processo, estamos vivenciando uma in- O coordenador do GT
farmacêuticos Priscila De- vasão desta competência do sobre Suplementos Alimen-
juste e Carlos Eduardo Ro- farmacêutico, com dispensa- tares e conselheiro federal
cha Garcia, fizeram uma ex- ção de medicamentos e me- de Farmácia pelo Estado do
posição ao Plenário do CFF, dicamentos fitoterápicos nos Maranhão, Fernando Bacelar
durante a sua 463° Reunião chamados ‘body shops’, que Lobato, informa que a apre-
Plenária, realizada, nos dias são lojas de produtos para o sentação feita ao Plenário
6 e 7.10.17. Eles destacaram cuidado com o corpo. “É pre- desencadeou alguns desdo-
a importância, a pertinência e ciso cuidar, também, para que bramentos importantes. Por
a urgência de os conselhos de o farmacêutico apodere-se solicitação do presidente do
Farmácia darem prioridade de sua fatia, neste mercado. CFF, Walter da Silva Jorge
ao assunto. Hoje, 90% do mercado de su- João, o GT vai trabalhar na
Dr. Carlos Eduardo Ro- plementos estão em outros proposta de um curso à dis-
cha Garcia lembrou o víncu- segmentos, além do varejo tância para capacitar o far-
lo histórico do farmacêutico farmacêutico”, observou. macêutico na prescrição e
com a área, estreitado, a par- A farmacêutica obser- dispensação de suplementos
tir das novas legislações que vou que os suplementos são alimentares.
disciplinam a formação e a produtos cuja utilização é O GT também foi en-
atuação farmacêutica, entre cada vez mais ampla. “Se- carregado de elaborar uma
as quais, as Diretrizes Curri- gundo pesquisa feita pela resolução para regulamen-
culares Nacionais do Curso Associação Brasileira de Ali- tar as atribuições do far-
de Graduação em Farmácia. mentos para Fins Especiais e macêutico nesta área e, por
Os cursos, observou, preci- Congêneres (ABIAD), 54% da último, traçar estratégias
sam adequar-se. No entanto, população usam suplementos para garantir a segurança
conforme destacou Priscila alimentares e, hoje, temos do usuário desses produ-
Dejuste, os produtos estão um mercado consumidor em tos. “A proposta é elaborar
acessíveis, no mercado, em franco crescimento. Para se um plano de fiscalização a
estabelecimentos diversos, ter uma ideia, há 100 mil ido- ser executado pelos con-
além das farmácias, sendo sos com mais de 100 anos, no selhos regionais junto aos
dispensados por leigos. E, o Brasil, que usam esses pro- órgãos de vigilância sani-
que é pior: “Estabelecimen- dutos”, citou. E a população, tária, para garantir que os
tos não farmacêuticos co- acrescentou Priscila Dejuste, produtos comercializados
mercializam inclusive medi- quer que os produtos sejam tenham garantia de proce-
camentos e fitoterápicos”. dispensados pelos farmacêu- dência e que medicamentos
PROTEÇÃO PROFIS- ticos. “Entre todos os profis- e medicamentos fitoterá-
SIONAL - Priscila Dejuste sionais, o farmacêutico é o picos sejam dispensados
alertou para a necessidade de terceiro mais lembrado pelo apenas pelos farmacêuticos
os conselhos protegerem a consumidor como o mais con- e não sejam vendidos, em
atribuição profissional do far- fiável para a dispensação dos lojas”, concluiu.
macêutico na área. “Precisa- suplementos alimentares”,
mos estar atentos, porque já segundo a mesma pesquisa. Fonte: Comunicação do CFF.

Pharmacia Brasileira nº 89 - Janeiro/Abril 2018


38
VÁRIAS

Liderança do presidente do CFF


é reconhecida, internacionalmente
e conquistas. O prêmio é fruto de estratégias
bem definidas, de um trabalho coletivo, da inte-
gração entre as entidades e da união das lideran-
ças da profissão. Reforça, ainda, o compromisso
e a responsabilidade de continuar buscando o
engajamento dos farmacêuticos pelos avanços
da profissão”, explicou o dirigente do CFF.
CURRÍCULO – Farmacêutico graduado
pela Universidade Federal do Pará (UFPA),
Walter da Silva Jorge João é mestre em Ciên-
cia dos Alimentos e Nutrição pelo Instituto de
Nutrición de Centro America y Panamá (INCAP),
Guatemala. Atuou como professor, por 23
anos, na universidade em que se graduou, onde
foi, também, chefe de Departamento e diretor
do Centro de Ciências da Saúde, entre outros
cargos na área da pesquisa.
É membro titular da Academia Nacional
Dr. Walter Jorge João recebe o prêmio FIP Fellowship da presi- de Farmácia e presidente da Federação Pan-
dente da Federação Internacional Farmacêutica, Carmen Peña -Americana de Farmácia (Fepafar). Presidiu o
Conselho Regional de Farmácia do Estado do
A Federação Internacional Farmacêuti- Pará, e é o presidente do Conselho Federal de
ca (FIP), que representa mais de 4 milhões de Farmácia (CFF). No CFF, foi, antes, membro
farmacêuticos, no mundo, concedeu ao presi- das Comissões de Tomada de Contas e de Le-
dente do Conselho Federal de Farmácia, Wal- gislação e Regulamentação.
ter da Silva Jorge João, o prêmio FIP Fellowship. Liderou a aprovação de importantes reso-
A homenagem foi entregue, no dia 10.09.17, luções para a classe farmacêutica. Entre elas,
durante a cerimônia de abertura do 77º Con- as que regulamentam as atribuições clínicas
gresso Mundial de Farmácia e Ciências Farma- do farmacêutico, a prescrição farmacêutica, a
cêuticas, realizado, em Seul, Coreia do Sul. O atuação do farmacêutico na floralterapia, na
prêmio reconhece membros individuais da Fe- estética e na perfusão sanguínea. Liderou a
deração que, entre outros requisitos, têm forte criação do Fórum Nacional de Luta pela Valo-
liderança internacional e contribuem para o rização da Profissão Farmacêutica e promoveu
avanço da prática da Farmácia ou das ciências o maior movimento em defesa da categoria,
farmacêuticas. mudando, assim, as faces do farmacêutico e
Walter Jorge João é o primeiro brasileiro da farmácia, no Brasil, com a aprovação da Lei
a receber a honraria. Para ele, a homenagem é 13.021/14. Em 2016, conduziu a proposta de
uma conquista a ser dividida com os 200 mil far- atualização das Diretrizes Curriculares Nacio-
macêuticos brasileiros. “Esse momento foi mui- nais para o curso de Graduação em Farmácia,
to tocante, porque me permitiu revisitar toda buscando alinhar a formação do profissional às
uma trajetória profissional, permeada por lutas exigências do século XXI.

Pharmacia Brasileira nº 89 - Janeiro/Abril 2018


39
ENTREVISTA
Com o farmacêutico Éverton Borges

JUDICIALIZAÇÃO: farmacêuticos
embasam decisões de juízes

A atuação de farmacêuticos no judiciário, vem elaborando propostas a serem enca-


subsidiando juízes com pareceres e relatórios minhadas ao judiciário, com o objetivo de
técnicos sobre os medicamentos demandados buscar alternativas que levem à diminuição
em ações judiciais, estão embasando as de- das demandas e façam reduzir os impac-
cisões e levando julgadores a mudarem suas tos financeiros das decisões judiciais sobre
decisões. Os medicamentos constituem cerca os cofres dos Estados e Municípios. O CFF
de 80% das demandas judiciais, fato que causa entende que a raiz do grande número de
um enorme impacto nos cofres públicos, com demandas está na assistência farmacêutica
repercussões na saúde. Este cenário em que o insatisfatória. Quanto melhor a assistência,
Governo é obrigado a fornecer medicamentos, menor o número de ações na justiça.
insumos, equipamentos e cirurgias a pacientes Matéria publicada no site “Portal da Saú-
em acatamento a decisões judiciais, é o que se de”, do Ministério da Saúde, em 15.10.15, infor-
denomina de judicialização da saúde. ma que, de 2010 a 2015, houve um aumento de
O Conselho Federal de Farmácia vem 500% nos valores pagos pelo Ministério, para
se debruçando em estudar a judicialilzação. atender decisões de juízes. O percentual cor-
Para tanto, criou um grupo de trabalho que responde a um gasto de mais de R$ 2,1 bilhões.

Pharmacia Brasileira nº 89 - Janeiro/Abril 2018


40
ENTREVISTA
Com o farmacêutico Éverton Borges

causado pelas ações judiciais. Eles narraram


que vêm encontrando dificuldades, como a fal-
ta de orçamento para cumprir as decisões, as
ordens de prisão, bloqueio de suas contas pes-
soais etc.
Marcelo Castro, ministro da Saúde, à
época, e que participou do evento, explicou:
“O caráter imediatista do cumprimento das
decisões judiciais pode levar ao desperdício de
recurso público, uma vez que a aquisição dos
medicamentos e insumos não é feita de ma-
neira planejada e nem por meio de processo
criterioso. Precisamos nos organizar, de modo
a não sobrecarregar um orçamento já subfi-
nanciado”, alertou Marcelo Castro. Ele disse,
Dr. Éverton Borges: “Como cerca de 80% das ainda, que grande parte das ações dirigidas ao
demandas judiciais envolvem medicamentos, os
Ministério da Saúde pede tratamento de doen-
farmacêuticos são imprescindíveis para estruturar
os núcleos de apoio técnico – NATs”. ças cujas opções terapêuticas já se encontram
no SUS.
O ministro da Saúde, Ricardo Barros, de- Naquele evento, o desembargador Re-
clarou que a judicialização na saúde deve ser nato Dresch, membro do Fórum do CNJ, en-
combatida para que o governo possa cumprir fatizou que o magistrado não tem condições
o que é previsto pelo SUS. Barros anunciou um de negar um pedido de um paciente doente.
gasto da ordem de R$ 7 bilhões por ano com a “Ele não entende de medicina. Se há um do-
judicialização, o que dificulta ao SUS fornecer cumento indicando risco de vida, na dúvida, o
outros serviços e medicamentos. magistrado irá atender”, afirmou. O encontro
Ele garantiu apoiar as parcerias entre os contou, também, com a participação do en-
órgãos da saúde e do judiciário, com vistas à tão presidente do Supremo Tribunal Federal
implantação dos Núcleos de Apoio Técnico do (STF), Ricardo Lewandowski.
Poder Judiciário (NATs), em todo o Brasil. Os ENTREVISTA – A revista PHARMACIA
NATs – atualmente, há 80 desses núcleos, no BRASILEIRA entrevistou o farmacêutico Dr.
País, distribuídos em 19 dos 27 tribunais - reú- Éverton Borges, especialista em judicializa-
nem especialistas e têm o objetivo de subsidiar ção na saúde. Farmacêutico-bioquímico ana-
os magistrados em suas decisões. Farmacêuti- lista clínico pela Universidade Federal do Rio
cos integram os NATs. Grande do Sul (UFRGS), Dr. Éverton Borges
A judicialização na saúde acumula polê- é especialista em Gestão da Assistência Far-
micas de diferentes naturezas. Em um deba- macêutica pela Universidade Federal de San-
te realizado, no dia 27 de abril de 2016, pelo ta Catarina (UFSC) e atua como assessor de
CONASS (Conselho Nacional de Secretários Relações Institucionais do Conselho Regional
de Saúde) e que contou com a participação de Farmácia do Rio Grande do Sul. Também,
do ministro da Saúde, à época, Marcelo Cas- integra o Grupo de Trabalho de Farmacêuticos
tro, de gestores do setor e de integrantes do no Sistema de Justiça do Conselho Federal de
Fórum Nacional do Poder Judiciário para Mo- Farmácia. Borges é, ainda, o coordenador do
nitoramento e Resolução das Demandas de grupo de agentes fiscais do fórum que reúne
Assistência à Saúde do Conselho Nacional de 27 conselhos de profissões regulamentadas
Justiça (CNJ), secretários de saúde dos Esta- cujo objetivo é promover o fortalecimento da
dos apresentaram um quadro preocupante fiscalização. VEJA A ENTREVISTA.

Pharmacia Brasileira nº 89 - Janeiro/Abril 2018


41
ENTREVISTA
Com o farmacêutico Éverton Borges

PHARMACIA BRASI-
LEIRA - Dr. Éverton Borges,
os juízes, em todas as ins- “Como cerca de 80% das demandas
tâncias, estão sensibilizados judiciais envolvem medicamentos, os
para a necessidade de se- farmacêuticos são imprescindíveis
rem subsidiados com infor- para estruturar os núcleos de apoio
mações por farmacêuticos
técnico - NATs.”
em assuntos pertinentes à
aquisição e à dispensação (Dr. Éverton Borges, farmacêutico-bioquímico,
membro do Grupo de Trabalho de Farmacêuticos
de medicamentos no serviço no Sistema de Justiça do CFF).
público?
Dr. Éverton Borges - Em
todas as instâncias, não. Ain- traça diretrizes aos magis- de apoio técnico. O Conse-
da, estamos no início de um trados quanto às demandas lho Federal de Farmácia, por
movimento que pretende judiciais que envolvem a as- meio do seu Grupo de Tra-
alcançar todos os atores do sistência à saúde. No mes- balho de Farmacêuticos no
sistema de Justiça, além dos mo ano, o CNJ publicou Sistema de Justiça, já visitou
magistrados. Temos como a  Resolução nº 107, que alguns dos principais NATs
metas sensibilizar os defen- instituiu o Fórum Nacional em funcionamento como,
sores públicos, promotores do Judiciário para Monito- por exemplo, o  Núcleo de
e procuradores de Justiça, ramento e Resolução das Assessoria Técnica em Ações
advogados da União, entre Demandas de Assistência de Saúde, que está localizado
outros e, principalmente, os à Saúde – Fórum da Saúde no Tribunal de Justiça do Es-
atores do sistema de saúde, -, que é coordenado por um tado do Rio de Janeiro, onde
os gestores públicos nas três comitê executivo nacional e atuam 29 farmacêuticos,
esferas de Governo. Ou seja, constituído por comitês es- além de outros profissionais
todos os que estão envolvi- taduais. da saúde, que emitem pare-
dos com o fenômeno da judi- O    Fórum Nacional do ceres e relatórios técnicos,
cialização da saúde. Judiciário para a Saúde  visi- por meio de fontes bibliográ-
tará todos os comitês execu- ficas baseadas em evidências
PHARMACIA BRASI­ tivos estaduais, com o obje- científicas.
LEI­RA - O Judiciário, em to- tivo de apoiar a implantação, Temos, como objetivo,
dos os seus órgãos, deve con- nos Estados e no Distrito identificar todos os farma-
tratar farmacêuticos para Federal, de núcleos de apoio cêuticos que atuam no sis-
prestar informações  técni- técnico (NATs). Os NATs se- tema de Justiça, dentro dos
cas e científicas aos juízes, rão formados por especia- NATs ou em outras estrutu-
para que estes julguem as listas e devem subsidiar os ras, para formar uma rede de
demandas dos pacientes magistrados na tomada de farmacêuticos que emitem
com mais embasamento? decisões nas questões rela- relatórios e pareceres técni-
Dr. Éverton Borges - No cionadas ao direito à saúde. cos para o sistema de Justi-
ano de 2010, o Plenário do Como cerca de 80% das ça. Para gerenciar esta rede,
Conselho Nacional de Jus- demandas judiciais envolvem o CFF estará disponibilizan-
tiça (CNJ) aprovou a  Re- medicamentos, os farmacêu- do e qualificando o Cebrim
comendação nº 31, de 30 ticos são imprescindíveis (Centro de Informações so-
de março daquele ano, que para estruturar os núcleos bre Medicamentos).

Pharmacia Brasileira nº 89 - Janeiro/Abril 2018


42
ENTREVISTA
Com o farmacêutico Éverton Borges

PHARMACIA BRASI- encontramos os NATs em Desta forma, a inter-


LEIRA - Quais são os as- funcionamento que emitem venção farmacêutica pode
suntos que os juízes mais pareceres e relatórios técni- direcionar algumas mudan-
carecem de informações dos cos que fornecem subsídios ças junto aos prescritores,
farmacêuticos? para a tomada de decisão como, por exemplo, o Ritu-
Dr.  Éverton  Borges - dos juízes, no Rio Grande ximabe. O paciente neces-
Sem dúvida nenhuma, as do Sul, iniciamos uma ação sitava de aproximadamente
principais carências dos juí- envolvendo a Defensoria 550 mg do medicamento,
zes e demais operadores do Pública do Estado, nos pro- por dose. O laudo e a recei-
Direito (defensores públi- cedimentos que antecedem ta médica preconizavam a
cos, promotores de Justiça, o processo judicial. apresentação de 500 mg e
advogados etc.) estão rela- Os NATs atuam, no final quantidade de 24 frascos
cionadas com as definições do processo, somente com a para oito ciclos (uma dose/
das políticas públicas que ação judicial já em andamen- ciclo).
envolvem a assistência far- to, aguardando a decisão do No entanto, o produto
macêutica do Sistema Úni- juiz. Ou seja, independente possui apresentação de 100
co de Saúde (SUS), as ações do resultado, os custos de mg e de 500 mg. Assim, bas-
e os serviços de saúde que tramitação de cada ação já tariam 16 frascos (oito de
estão alocados na forma ocorreram - custos para o 100mg e oito de 500 mg). A
de blocos de financiamen- judiciário, para o sistema de prescrição foi refeita, con-
to específicos, de acordo Justiça. siderando o novo cálculo.
com seus objetivos e carac- Nossa inovação foi no Vantagem: diminuição do
terísticas,    os  componente sentido de atuar, de forma a resíduo para descarte e re-
básicos, estratégicos e es- garantir que a ação judicial dução de aproximadamente
pecializados da assistência inicie-se, com o farmacêutico R$ 26.500,00 do valor do
farmacêutica  e  a incorpora- trabalhando ao lado do de- tratamento.
ção, exclusão ou alteração fensor publico, para auxiliar Outro exemplo é rela-
de tecnologias em saúde o atendimento aos assistidos cionado à Lenalidomida. Ha-
pelo SUS, definidas nos pro- sobre medicamentos pres- via uma prescrição de 25 mg
tocolos clínicos e diretrizes critos e respectiva disponi- ao dia para o paciente (uma
terapêuticas (PCDT). bilidade no SUS, bem como dose diária, indefinidamen-
auxiliar em processos inter- te). A prescrição foi revista
PHARMACIA BRASI­ nos relacionados com a judi- pelo médico, indicando seis
LEI­RA - O senhor pode citar cialização de medicamentos. ciclos. Vantagem: diminui-
exemplos de pareceres de Assim, o farmacêutico, ção de sobras para descarte
farmacêuticos que muda- na Defensoria Pública, pode (180 comprimidos em um
ram importantes decisões identificar que a maioria das ano) e redução do valor do
de juízes do Rio Grande do prescrições e laudos contém tratamento de aproximada-
Sul? Que impactos essas fármacos que não perten- mente R$ 21.600,00.
mudanças causaram à saúde cem a qualquer componente Cito, ainda, como exem-
da população e aos cofres de medicamentos oficiais, ou plo, uma decisão relacio-
públicos do Estado? pertencem, mas não na con- nada ao medicamento de
Dr.  Éverton  Borges centração e/ou na forma far- nome  Azacitina. Uma pres-
- Diferente de outros Es- macêutica com apresentação crição descrevia a dose de
tados da Federação, onde preconizada pela lista oficial. 150 mg/dia (sete dias, a cada

Pharmacia Brasileira nº 89 - Janeiro/Abril 2018


43
ENTREVISTA
Com o farmacêutico Éverton Borges

28 dias, num total de seis mento. O problema é que os saúde, e outro modelo para
ciclos) e 42 ampolas. A apre- juízes recebem demandas quem tem acesso limitado e
sentação disponível contém que tratam de urgências/ que é a ampla maioria da po-
100 mg/dose. A totalidade emergências em que cons- pulação. O senhor concorda
de ampolas estava equivoca- ta, no processo judicial, que com essa compreensão? Os
da, o que induziu ao erro nos o caso é passível de óbito, farmacêuticos que atuam
orçamentos. caso o paciente não receba no Judiciário estão contri-
É possível reutilizar a o medicamento ou o serviço buindo para evitar essa de-
sobra reconstituída, em até de saúde, imediatamente. sigualdade e ajudar na equi-
22 horas do seu preparo. É o dilema dos  direitos dade do acesso aos serviços
Foi solicitado ao prescritor coletivos versus direitos in- e produtos oferecidos pelo
revisar a prescrição quanto dividuais. Nestes casos, com SUS?
à dose (150 mg/dia) e sobre a possibilidade de óbito do Dr.  Éverton  Borges -
a possibilidade de adminis- paciente, o juiz certamen- Uma das causas do fenôme-
tração da dose, em cada 22 te irá deferir a solicitação, a no da judicialização pode ser
horas. Mesmo mantendo menos que ele consiga re- compreendida pela amplia-
a dose diária de 150 mg, a ceber informações técnicas ção do acesso da população
possibilidade de uso dentro suficientes e imediatas que à Justiça. Os dados do CNJ
de 22 horas diminuiria as so- garantam alternativas de demonstram que os Estados
bras para descarte (100 mg/ tratamento e mantenham da Federação com a maior
dose) e reduziria o valor do a vida do paciente. Assim, demanda judicial são aque-
tratamento em aproximada- onde não há este apoio téc- les onde a população possui
mente R$ 38.400,00. nico aos magistrados, serão maior acesso à Justiça. E a
concedidos medicamentos tendência é que o acesso
PHARMACIA BRASI­ ou serviços de saúde de seja cada vez maior.
LEIRA - Estudiosos do altíssimo custo para trata- É importante com-
assunto lembram que os mento de uma única pessoa, preender que um processo
juízes, certamente por des- afetando o orçamento de judicial na área da saúde,
conhecer questões ligadas à secretarias de Saúde que já sempre, se inicia com uma
medicina, ao medicamento, não possuem recursos sufi- prescrição médica, em que
desconsideram o impacto cientes para as demandas da o paciente recebeu a nega-
orçamentário de suas deci- coletividade. tiva de fornecimento na es-
sões, não importando a na- fera administrativa, ou seja,
tureza do ente da Federação PHARMACIA BRASI­ o medicamento estava em
que terá que fornecer o que LEI­RA - A judicialização da falta ou não constava da lista
é pedido pelo paciente. O se- saúde, segundo os mes- da farmácia do Município ou
nhor concorda com os críti- mos estudiosos, pode estar do Estado.
cos da judicialização, de que criando dois modelos de Neste contexto, neces-
falta aos juízes mais embasa- SUS: um, para aqueles que sitamos de duas interven-
mento técnico para julgar as têm como ingressar com ções farmacêuticas: uma, dos
demandas? uma ação no Judiciário e, farmacêuticos do sistema de
Dr.  Éverton  Borges – assim, conseguir acesso ir- Justiça, fornecendo subsí-
Sim, concordo, e os próprios restrito aos recursos do dios técnicos para correções
juízes, também, entendem poder público para atender e alternativas dentro das
que lhes falta este embasa- as suas necessidades em políticas públicas; outra, dos

Pharmacia Brasileira nº 89 - Janeiro/Abril 2018


44
ENTREVISTA
Com o farmacêutico Éverton Borges

farmacêuticos do sistema de Dr.  Éverton  Borges PHARMACIA BRASI­


saúde, que atuam na logísti- - Para qualquer deman- LEIRA - Os farmacêuti-
ca, na clínica e na gestão pú- da judicial, as  prerrogati- cos  gaúchos têm uma ex-
blica dos medicamentos. vas previstas no art. 95 da periência vanguardista
Entendo que, para aju- Constituição Federal, tam- re­­­la­cionada à atuação dos
dar na equidade do acesso bém, chamadas de “garantia profissionais junto à Justiça,
aos serviços e produtos ofe- de independência”, assegu- graças a um convênio que o
recidos pelo SUS, devemos, ram a imparcialidade dos Conselho Regional do Rio
em primeiro lugar, inserir julgamentos, na medida em Grande do Sul firmou com a
os farmacêuticos, de fato, que, através delas, os ma- Defensoria Pública do Esta-
no SUS, já que uma grande gistrados estarão livres para do. Por meio do convênio, o
parte dos serviços de assis- decidir, isentos de pressões CRF-RS disponibiliza farma-
tência farmacêutica, nos Mu- sociais, interesses políticos cêuticos dos seus quadros
nicípios, não conta com os ou econômicos ou de exi- para assessorar juízes em
profissionais farmacêuticos. gências dos próprios órgãos demandas relacionadas à
Nos Municípios sem jurisdicionais. saúde. O senhor pode falar
farmacêuticos, encontrare- A atuação do juiz, no sobre essa experiência?
mos grandes problemas de entanto, também, sofre
acesso, de falta de medica- limitações, a exemplo do Dr.  Éverton  Borges
mentos, de desorganização dever de motivar as suas - No Rio Grande do Sul, o
e falta de gestão técnica, decisões.  Assim, não exis- Conselho Regional de Far-
com o consequente aumen- te um limite para a toma- mácia (CRF-RS) é membro
to da judicialização para o da de decisões de juízes. do Comitê Executivo Esta-
fornecimento de medica- Entretanto, o fenômeno dual que trata das deman-
mentos. da judicialização da saúde das judiciais que envolvem
motivou o CNJ, por meio a assistência à saúde no Es-
PHARMACIA BRASI­ da  I e II Jornada de Direi- tado, conforme a Resolução
LEIRA - Existe um limite to da Saúde, a  aprovar os nº 107, do CNJ. Participan-
para a tomada de decisões chamados “enunciados do do Comitê, juntamente
de juízes em demandas que interpretativos”  sobre com as instituições do siste-
envolvem medicamentos? direito da saúde. ma de Justiça e sistema de
Ou eles (os juízes) podem A  ideia é que os enun- Saúde (Tribunal de Justiça
decidir à revelia de uma sus- ciados sirvam de apoio aos do Rio Grande do Sul, Cor-
tentação técnico-cientifica, magistrados na tomada de regedoria do Tribunal de
ainda que as suas decisões decisões em processos que Justiça, ministérios públicos
comprometam os orçamen- envolvam os temas da saú- Estadual e Federal, Justiça
tos das unidades da Fede- de, auxiliando a comunidade Federal, AGU, defensorias
ração, como foi o caso do jurídica na interpretação de públicas Estadual e Federal,
Rio Grande do Sul cujo or- questões não pacificadas. secretarias de Saúde Esta-
çamento da Secretaria de Como os enunciados não dual e dos Municípios, entre
Saúde para a aquisição de têm caráter vinculante, não outros, com a proposta de
medicamentos, segundo da- há obrigatoriedade de o juiz um trabalho de planejamen-
dos fornecidos pelo senhor, acatar, no caso de entender to de gestão sistêmica. Iden-
ficou comprometido em que a questão é jurisdicional tificamos a oportunidade de
81% com a judicialização? e não administrativa. um trabalho cooperativo

Pharmacia Brasileira nº 89 - Janeiro/Abril 2018


45
ENTREVISTA
Com o farmacêutico Éverton Borges

com a Defensoria Pública


do Rio Grane do Sul. Uma das causas do fenômeno da
Dessa forma, o CRF-RS judicialização pode ser compreendida
firmou, há mais de dois anos, pela ampliação do acesso da
um Termo de Cooperação população à Justiça.”
Técnica que envolve o Con-
(Dr. Éverton Borges, farmacêutico-bioquímico,
selho e a Defensoria, em membro do Grupo de Trabalho de Farmacêuticos
que o CRF-RS cede um pro- no Sistema de Justiça do CFF).

fissional farmacêutico para


atuar na Unidade Central de
Atendimento e Ajuizamento
da DPE-RS, junto aos defen- sórias que envolvem as de- promotores, defensores das
sores públicos. mandas da saúde, ocupando comarcas), gerando ações
Este trabalho foi tão todos os espaços possíveis de planejamento e gestão
efetivo, gerando como re- e levando a valorização e sistêmicas, que promoveram
sultados a diminuição de competência técnica dos mudanças nos sistema de
processos ajuizados pelos farmacêuticos para dentro Justiça e no sistema de Saú-
defensores públicos, que já destas instituições. de, com a consequente re-
obtivemos o reconhecimen- Este trabalho levou o dução de gastos com medi-
to à capacidade profissional CRF-RS a se destacar no camentos judicializados.
do farmacêutico, culminan- Comitê Executivo do Rio Por tudo isso, o  CFF,
do com a criação do cargo Grande do Sul, proporcio- por meio do Grupo de
de analista técnico farma- nou o desenvolvimento de Trabalho de Farmacêuticos
cêutico para o quadro da termos de cooperação, além no Sistema de Justiça, está
instituição, por meio de deli- da Defensoria Pública do trabalhando para sensibi-
beração do Conselho Supe- Estado, com a Secretaria de lizar a todos os Conselhos
rior da Defensoria Pública Saúde Estadual (SES) e com Regionais de Farmácia,
do Estado. a Federação das Associa- sobre a necessidade de in-
ções de Municípios do Esta- serção desses conselhos
PHARMACIA BRASI­ do (FAMURS). nos comitês executivos dos
LEI­RA - A assessoria de vo- Assim, o trabalho, na respectivos Estados, ocu-
cês, farmacêuticos gaúchos, Defensoria, resultou na di- pando efetivamente este
junto à Justiça fez reduzir minuição de processos ju- espaço que, além de valori-
os gastos da Secretaria de diciais contra o Estado ou zar a competência técnica
Saúde com medicamentos os Municípios. O trabalho dos farmacêuticos dentro
judicializados? com a SES e FAMURS pro- do sistema de Justiça, per-
Dr.  Éverton  Borges porcionou uma série de ca- mite justificar, técnica e
- Sim. A diretoria atual do pacitações e workshops, nas economicamente, toda a
CRF-RS definiu como uma diversas regiões do Estado, necessidade de inserção de
de suas diretrizes de gestão reunindo os farmacêuticos farmacêuticos no SUS, de
o desenvolvimento estra- que atuam na assistência modo a organizar, raciona-
tégico das relações institu- farmacêutica dos Municí- lizar e ampliar a assistência
cionais, ou seja, colocar o pios, juntamente com os re- farmacêutica, nos Estados e
Regional lado a lado com as presentantes do sistema de Municípios, evitando, assim,
principais instâncias deci- Justiça das regiões (juízes, a judicialização.

Pharmacia Brasileira nº 89 - Janeiro/Abril 2018


46
LUTAR, SEMPRE

Farmacêuticos recém-formados
precisam manter lutas por conquistas
Diretor-tesoureiro do CFF, João Samuel de Morais Meira, diz que novos
farmacêuticos que estão entrando no mercado encontram um cenário
positivo, resultado de muitas lutas que precisam ser mantidas.

“Os farmacêuticos recém-formados devem


manter os seus ânimos dirigidos para as lutas
pelo fortalecimento da profissão. Há atitudes
e ações que eles podem exercer, para ajudar
a profissão a dar outros passos mais à frente,
ainda. Os novos farmacêuticos, em hipótese
alguma, devem abrir a guarda para nenhum
tipo de retrocesso nas conquistas. Essas con-
quistas custaram muitas lutas daqueles que
os antecederam. Elas precisam ser honradas”.
O apelo é do diretor-tesoureiro do Conselho
Federal de Farmácia, João Samuel de Morais
Meira. Dr. Samuel realça que as conquistas
Diretor tesoureiro do CFF, Samuel de ajudaram a transformar para melhor o pa-
Morais Meira: “Novos farmacêuticos, em norama farmacêutico e da saúde, no País, e
hipótese alguma, devem abrir a guarda
para retrocesso nas conquistas”. precisam ser consolidadas junto à população.

O dirigente do CFF expansão do mercado em- profissionais. “A população


ressalta que “os novos far- pregador e pelas transfor- está vivendo mais, porque
macêuticos estão chegando mações sanitárias e sociais, tem mais acesso aos siste-
à porta de entrada da pro- marcadas por novas neces- mas de saúde e aos medi-
fissão, exatamente, quando sidades em saúde e pela camentos. Mas isto tem um
ela se mostra mais forte e incorporação de hábitos de custo, como o consumo três
mais promissora que nunca”. vida mais saudáveis, como a vezes maior de medicamen-
Segundo o dirigente do CFF, prática de exercícios físicos. tos pelos idosos. Acontece
uma convergência de fato- Essa nova realidade, que o uso simultâneo de
res está contribuindo para o observa o dirigente do Con- muitos medicamentos pode
fortalecimento da profissão, selho Federal de Farmácia, resultar em interações me-
no Brasil, a começar pela requer muito mais cuidados dicamentosas perigosas. A

Pharmacia Brasileira nº 89 - Janeiro/Abril 2018


47
LUTAR SEMPRE

conciliação desses medica- 611/ 2014, que regulamen- Aproveitou para citar
mentos é uma importante ta a floralterapia. “Esta nova que o Conselho Federal de
atividade do farmacêutico, realidade profissional tem Farmácia, também, regula-
que vai garantir a segurança um grande alcance social e mentou a atividade profis-
no uso desses produtos”, ex- em saúde, e ajuda a consoli- sional em áreas, como ban-
plica Dr. Samuel Meira. dar a autoridade técnica do cos de leite, de sémen e de
Ele citou, ainda, as farmacêutico”, disse Dr. Sa- sangue de cordão umbilical;
ações de educador em saú- muel Meira. a citogenética humana e a
de praticadas pelo farma- ANÁLISES CLÍNICAS - imunogenética, a biologia
cêutico. Essas ações levam, Professor, durante 31 anos, molecular, as análises toxi-
a título de exemplo, a impor- de Hematologia e Citologia cológicas, entre outras.
tantes mudanças de hábitos Clínicas do Departamento Dr. Samuel Meira reco-
de vida das pessoas e à so- de Ciências Farmacêuticas nheceu que o segmento das
lidificação da política do uso da Universidade Federal da análises clínicas continua
racional de medicamentos. Paraíba, Dr. Samuel Meira enfrentando dificuldades
Para o diretor-tesou- salienta o igual papel social relacionadas à defasagem
reiro do CFF, os farma- dos farmacêuticos que irão nos valores praticados nas
cêuticos recém-formados atuar nas análises clínicas. tabelas de procedimentos.
chegam ao mercado, já en- “O setor está identificado Mas salientou que as dificul-
contram situações muito com o que há de mais mo- dades, se prejudicam, por
favoráveis, como o aparato derno em tecnologia e em um lado, por outro, impul-
legal que facilita o seu exer- pesquisa, e tem conquis- sionam as lutas pelo cresci-
cício profissional. Exemplos tado avanços em todas as mento.
são a regulamentação das direções, como nos diag- Citou como exemplo
atribuições clínicas (Re- nósticos e mesmo no mo- os embates jurídicos, em
solução 585/2013) e da nitoramento terapêutico”, que os farmacêuticos luta-
prescrição farmacêutica explica. Lembra a impor- ram e conquistaram vitórias
(Resolução 586/2013) pelo tância dos exames labora- marcantes, como é o caso
CFF e a instituição da Lei toriais para a confirmação da decisão do Tribunal Re-
13.021/14, que transforma dos diagnósticos pelos mé- gional Federal da Primeira
as farmácias e drogarias em dicos. Região (TRF) da 1ª Região,
unidades de prestação de que ratifica a competência
Os farmacêuticos que se
assistência farmacêutica, do farmacêutico na elabora-
dedicam às análises clínicas,
assistência à saúde e orien- ção de laudos de exames em
de acordo com o diretor do
tação sanitária individual e citopatologia. Sentença do
CFF, vêm especializando-se
coletiva e reitera a obriga- TFR é que, mesmo em casos
em vários segmentos, como
toriedade da presença per- de resultado positivo, não se
a biologia molecular, imu-
manente do farmacêutico trata de diagnóstico ou de
nohematologia, imunocito-
nesses estabelecimentos. ato médico.
química, imunohistoquímica,
Realçou, também, as perfusão sanguínea, hemote- Pelo jornalista Aloísio Brandão, editor.
resoluções do CFF, de nú- rapia, citopatologia, entre ou-
mero 616/2015, que regu- tros, dando mostras de que o
lamenta a saúde estética, e a setor não tem fronteiras.

Pharmacia Brasileira nº 89 - Janeiro/Abril 2018


48
ENTREVISTA
Com o Dr. Erlandson Uchôa Lacerda

A promissora carreira de
farmacêutico perito criminal
tear uma vaga na perícia criminal; o que faz e
onde atua o perito, como se encontra o mer-
cado de trabalho na área da perícia, sobre o
processo de modernização permanente pelo
qual vem passando a perícia, por meio da in-
corporação de novas tecnologias e métodos,
entre outras questões.
“Como a carreira de perito criminal é
bem promissora, há, sempre, interesse de
profissionais em se tornarem peritos. Porém
há uma condição: para ser um perito crimi-
nal oficial, o farmacêutico deve submeter-se
a concurso público, única forma de ingresso
no cargo. E, para isso, não tem outra receita,
senão estudar muito”, recomenda o Dr. Er-
landson Uchôa.
Farmacêutico formado pela Universida-
de Federal de Pernambuco (UFPE), Uchoa
especializou-se em Farmacologia do Sistema
Nervoso Central pela Universidade Federal
Dr. Erlandson Uchôa, farmacêutico perito de Lavras (UFLA), em Minas Gerais, e cursa
criminal e diretor secretário-geral do CFF o doutorado em Saúde Pública na Universi-
dad de Ciencias Empresariales Y Sociales da
Argentina. Acumula uma vasta experiência na
gestão pública, a partir de quando coorde-
nou a assistência farmacêutica do Município
A perícia criminal é uma das áreas de de Boa Vista (RR). Sob a sua coordenação,
atuação do farmacêutico mais bem-suce- o órgão conseguiu que fosse aprovada uma
didas sob diversos pontos de vista. Inclusi- lei municipal regulamentando a inclusão da
ve o da remuneração. É, ao mesmo tempo, assistência no PSF (Programa Saúde da Fa-
uma das que exigem uma superqualificação mília). Dr. Erlandson Uchôa Lacerda é con-
do profissional. O farmacêutico Dr. Erland- selheiro federal de Farmácia por Roraima e
son Uchôa Lacerda, perito criminal da Polí- diretor secretário-geral do Conselho Fede-
cia Civil de Roraima, fala, nesta entrevista à ral de Farmácia.
PHARMACIA BRASILEIRA, sobre como o
farmacêutico pode especializar-se, para plei- Veja a entrevista com Dr. Erlandson Uchôa.

Pharmacia Brasileira nº 89 - Janeiro/Abril 2018


49
ENTREVISTA
Com o Dr. Erlandson Uchôa Lacerda

cêutico deve submeter-se a


concurso público, única for-
ma de ingresso no cargo. E,
“Para ser um perito criminal para isso, não tem outra re-
oficial, o farmacêutico deve ceita, senão estudar muito.
Há, também, a possibilida-
submeter-se a concurso público, de de atuação como perito
única forma de ingresso no judicial, outra área em que
cargo. E, para isso, não tem outra podemos atuar.
receita, senão estudar muito” PHARMACIA BRASI-
(Dr. Erlandson Uchôa Lacerda, LEIRA – O interesse dos far-
perito criminal e diretor secretário-geral do CFF). macêuticos em seguir uma
carreira de perito criminal
está crescendo? Dados do
Ministério da Justiça, de
PHARMACIA BRASI- lizados na perícia criminal
2013, mostram que 17%
LEIRA – Farmácia versus di- laboratorial. Esses exames
dos peritos criminais que
reito processual penal: onde são complementares e tec-
está o ponto de encontro nicamente definidores para atuam, no Brasil, são far-
dos dois, Dr. Erlandson a elaboração do inquérito macêuticos. Como o senhor
Uchoa? policial ou do processo pe- traduz esses números? Eles
nal.  Como o farmacêutico são expressivos?
Dr. Erlandson Uchôa
Lacerda - O profissional pode se qualificar para ser Dr. Erlandson Uchôa
farmacêutico possui ampla um perito criminal? Que Lacerda – Sim, são núme-
formação e, por isto, tem cursos de especialização ros bastante expressivos.
uma área de atuação bem são oferecidos? Isso só vem comprovar que
diversificada. O encontro Dr. Erlandson Uchôa a Farmácia abrange diver-
da Farmácia com o direito Lacerda – Hoje, já existem sas áreas do conhecimento.
processual penal dá-se com diversos cursos de especia- Em alguns Estados, o farma-
a carreira de perito crimi- lização em Perícia Criminal cêutico é o profissional em
nal, que é uma das áreas de e em Ciências Forenses maior número, nos órgãos
atuação do farmacêutico. sendo oferecidos, em todo periciais, trabalhando nos
PHARMACIA BRASI- o Brasil, por diversas insti- mais diversos setores, como
LEIRA – A Química, a Física tuições de ensino. E tem ha- laboratório de química, bio-
e a Biologia (entomologia vido muita procura. Como logia, DNA e local de crime,
forense, química forense, a carreira de perito é bem entre outros.
genética - DNA forense -, promissora, há, sempre, PHARMACIA BRASI-
toxicologia forense, he- interesse de profissionais LEIRA – Fale sobre o merca-
matologia forense, bro- em se tornarem peritos do de trabalho para o farma-
matologia forense) são as criminais. Porém há uma cêutico perito criminal. Em
grandes áreas das ciências condição: para ser um peri- que instituições ele pode
envolvidas nos exames rea- to criminal oficial, o farma- atuar?

Pharmacia Brasileira nº 89 - Janeiro/Abril 2018


50
ENTREVISTA
Com o Dr. Erlandson Uchôa Lacerda

até então, no mundo intei-


ro.  Fale sobre as inovações
nesse setor. O que de mais
moderno está sendo utiliza-
do pela perícia criminal?
Dr. Erlandson Uchôa
Lacerda – A perícia criminal
vem se modernizando cons-
tantemente, por meio da
incorporação de novas tec-
nologias e métodos, como é
o caso da extração de DNA
por métodos inovadores, da
análise de substâncias por
Dr. Erlandson Uchôa reira pode passar dos R$ espectroscopia, cromato-
Lacerda – Como disse, o 10.000,00. Além do salário, grafia líquida (HPLC) e ga-
concurso público é a única um outro atrativo na carrei- sosa (CGMS) e infraverme-
opção e depende da oferta ra policial é o direito à apo- lho, bem como através do
de vagas dos governos es- sentadoria especial. desenvolvimento frequente
taduais e federal. Depois PHARMACIA BRASI- de novas áreas de atuação,
de aprovados em concurso LEIRA – A perícia criminal é que vão se introduzindo nas
e passarem por um período dinâmica e incorpora inova- ciências forenses, como é
de treinamento, no caso, ções tecnológicas, perma- o caso da entomologia fo-
a Academia de Polícia, os nentemente. Algumas têm rense, hematologia foren-
peritos irão atuar nos ins- farmacêuticos à frente. É o se, tricologia forense, entre
titutos de Criminalística caso do Dr. Hermerson Ber- outras.
dos Estados e nos órgãos tassoni, professor univer- É certo que a perícia
correspondentes na Polícia sitário e perito do Instituto criminal, sendo bem apare-
Federal, nas unidades da de Criminalística do Paraná, lhada e contemplada com
Federação. que desenvolveu, na década investimento, tanto de in-
PHARMACIA BRASI- passada, junto às também fraestrutura como de pes-
LEIRA – A carreira é bem re- farmacêuticas Luíza Gobor e soal qualificado, só tende
munerada? Daphne Manuela Toledo, um a desenvolver-se, cada vez
Dr. Erlandson Uchôa método de extração de DNA mais, de forma a contribuir
Lacerda – Sim. Por isto, tem de ossos para identificar ca- com a solução de crimes e a
sido cada vez mais procu- dáveres e que é muito mais dar uma resposta à altura de
rada. Em alguns Estados, eficiente e mais rápido, com- que necessita a sociedade
o salário de início de car- parado ao que era utilizado, brasileira.

Pharmacia Brasileira nº 89 - Janeiro/Abril 2018


51
ENTREVISTA
Com o farmacêutico Max Viana

Cuidados farmacêuticos
na obesidade

Obesidade cresce quase 12%,


em dez anos, no Brasil, e
constitui grande desafio para
os farmacêuticos.

FARMACÊUTICOS - A obesidade é um
problema para o qual os farmacêuticos têm de-
dicado atenção e empregado os seus serviços.
Os profissionais possuem um vasto conjunto
de serviços e atos a prestar às pessoas aco-
metidas da doença. Educadores em saúde por
excelência, os farmacêuticos podem promover
A prevalência da obesidade, no Brasil, uma reviravolta nessa realidade, promovendo
subiu de 11,8%, em 2006, para 18,9%, em mudanças nos hábitos de vida do obeso, con-
2016, atingindo quase um em cada cinco bra- trolando o seu problema ou disseminando a
sileiros. A disparada da obesidade, em apenas sua prevenção. O que os profissionais podem
dez anos, fez acender todos os sinais de alerta fazer? Com a palavra, o Dr. Max Viana.
dentro do Ministério da Saúde, responsável
Farmacêutico formado pela Universi-
pela pesquisa que levantou esses números
dade Federal de Alagoas (UFAL), Max Viana
críticos.
tem especialização em Farmacologia Clínica
São dados inéditos, divulgados, no dia pelo Instituto Brasileiro de Pós-Graduação e
17.04.17, e integram a Pesquisa de Vigilância Extensão (IBPEX), mestrado em Ciências Far-
de Fatores de Risco e Proteção para Doenças macêuticas e está doutorando-se em Ciên-
Crônicas por Inquérito Telefônico (Vigitel), cias da Saúde pela mesma UFAL. Atua como
do Ministério, realizada, em todas as capitais professor no Instituto Brasil de Pós-gradua-
do País, num total de 53.210 pessoas maiores ção, Capacitação e Assessoria (I-Bras). É um
de 18 anos. dedicado estudioso - e acumula experiência
Segundo, ainda, a pesquisa, o crescimen- na área - da farmacologia do emagrecimen-
to da obesidade pode ter desencadeado o to, tema de palestras que vem fazendo para
aumento da prevalência de diabetes e hiper- farmacêuticos. Esse contexto abre para o Dr.
tensão. A suspeita faz sentido. O diagnóstico Max Viana as portas para estudos em áreas,
médico de diabetes subiu de 5,5%, em 2006, como a psicofarmacologia e os suplementos
para 8,9%, em 2016. Já o de hipertensão foi alimentares. A PHARMACIA BRASILEIRA
de 22,5%, em 2006, para 25,7%, em 2016. A o entrevistou para saber sobre as ações dos
prevalência de ambas as doenças dá-se em farmacêuticos, com vistas a prevenir e tratar
mulheres. a obesidade. VEJA A ENTREVISTA.

Pharmacia Brasileira nº 89 - Janeiro/Abril 2018


52
ENTREVISTA
Com o farmacêutico Max Viana

dia para praticar atividades de risco para várias doenças.


físicas, para se atentar à ali- O senhor pode citá-las e ex-
mentação e até para dormir plicar o nível de associação
mais cedo e por oito horas. que há entre a obesidade e
Entretanto, especial- as doenças?
mente na última década, Dr. Max Viana - As
que eu denomino de fast-life, doenças mais comuns nos
tudo “é pra ontem”. As pes- obesos são diabetes, hi-
Dr. Max Viana
soas precisam cumprir me- pertensão e dislipidemias,
tas surreais, prazos curtos. resultado do sedentarismo
PHARMACIA BRASI­ Isso afeta diretamente o seu associado à alimentação
LEIRA - Dr. Max, no dia tempo e a qualidade do seu desbalanceada, que desen-
17.04.17, o Ministério da sono, e torna difícil fazer pla- cadeia alterações no orga-
Saúde divulgou os resulta- nejamentos alimentar e físi- nismo, capazes de gerar, res-
dos de uma pesquisa reali- co, o que leva as pessoas a se pectivamente, resistência à
zada pelo próprio órgão se- renderem frequentemente à insulina, formação de ede-
gundo os quais, em dez anos, zona de conforto do fast-food mas e acúmulo de lipídeos
a prevalência da obesidade e do lar, ao invés de optarem na circulação (LDL, VLDL,
passou de 11,8%, em 2006, por pratos balanceados e de triglicerídeos).
para 18,9%, em 2016, atin- buscarem a academia. Além disso, o excesso
gindo quase um em cada cin- PHARMACIA BRASI- de peso acarreta sobrecarga
co brasileiros. Como explicar LEIRA - A obesidade é fator nas articulações, principal-
o crescimento da obesidade,
no País, em índices tão ele-
vados e em tão pouco tem-
po? Por que a doença está “Sabe-se que o mau funcionamento
crescendo tanto?
intestinal acarreta prejuízos na
Dr. Max Viana - Atribuo
o crescimento da obesidade absorção de nutrientes que serão úteis
aos maus hábitos incorpo- na síntese dos neurotransmissores e
rados à rotina da população, demais substâncias endógenas. Por
não apenas do Brasil, como
do mundo todo. No século
isso, se tem dito que o intestino é
passado, a rotina de trabalho nosso ‘segundo cérebro”
não era tão intensa, se com- (Farmacêutico Max Viana, estudioso da farmacologia do emagrecimento).
parada à atual. Isso permitia
que as pessoas dedicassem
mais facilmente uma parte do

Pharmacia Brasileira nº 89 - Janeiro/Abril 2018


53
ENTREVISTA
Com o farmacêutico Max Viana

mente, na coluna vertebral, substâncias endógenas. Por coterapêutico, avaliação de


joelhos e tornozelos, oca- isso, se tem dito que o intes- doenças existentes, medidas
sionando osteoartrites, bem tino é nosso “segundo cére- antropométricas, entre ou-
como dificuldades na respi- bro”. tros).
ração, mais especificamente Um exemplo do que De posse desses dados,
durante o sono (apneia do acontece com o obeso é ficará mais facilmente dire-
sono). Um ponto importante quando, em uma determi- cionado o atendimento pelo
a se destacar é a disfunção nada situação de ansiedade farmacêutico, finalizado com
intestinal no obeso. A maio- (que inclusive é outro dis- a sua prescrição. Além do
ria é acometida por disbiose túrbio psicológico bastante mais, identificados os po-
e, ao invés de recorrer aos relevante), seja por pressão tenciais problemas de saú-
prebióticos e probióticos e à no trabalho ou na família, ou de, ele deverá encaminhar o
correção da ingestão hídrica, quando submetido a dietas paciente para as especialida-
utilizam laxantes, acarretan- muito restritivas, recorre des médicas e a um nutricio-
do problemas secundários aos alimentos ricos em açú- nista, psicólogo, educador fí-
ainda maiores. cares e gorduras que trazem sico ou a um fisioterapeuta, a
PHARMACIA BRASI- alívio momentâneo, porém fim de que a equipe multidis-
LEIRA - Problemas psicoló- logo depois, vem o autojul- ciplinar, de acordo com suas
gicos que resultam na dimi- gamento do “por que comi permissões legais, possa, em
nuição da autoestima e na tanto?”, “comi demais” e, ao conjunto, melhorar a vida do
depressão, também, têm as- ver sua imagem no espelho, paciente. Por fim, importa
sociação com a obesidade. O só cronifica o quadro de- ressaltar e reforçar os cuida-
senhor pode falar sobre essa pressivo da autoculpa. dos por toda a vida, como a
associação? PHARMACIA BRASI- redução no consumo de sal,
Dr. Max Viana - A de- LEIRA - Quais são os cuida- açúcares, refrigerantes, be-
pressão tem correlação di- dos clínicos que os farma- bidas alcoólicas e estimular a
reta com os níveis dos neu- cêuticos, como educadores prática regular de atividades
rotransmissores serotonina, em saúde, podem prestar físicas e o descanso necessá-
dopamina e noradrenalina. aos pacientes na prevenção rio, ao fim do dia.
Quando há o decréscimo de e tratamento da obesidade? PHARMACIA BRASI-
um ou mais desses, o indiví- Dr. Max Viana - Anam- LEIRA - A obesidade consti-
duo apresenta os sintomas nese farmacêutica, antes de tui um desafio para os farma-
clássicos da depressão. Isso tudo. Imaginemos nós numa cêuticos?
acontece, com frequência, consulta com o farmacêutico Dr. Max Viana - Sem
no obeso, seja pela altera- na qual ele traça o perfil ge- dúvida. O desafio consiste
ção da neurotransmissão ou ral do paciente, desde dados na educação em saúde pres-
pela desregulação intestinal. pessoais (nome, idade, sexo, tada pelo farmacêutico, que
Sabe-se que o mau fun- histórico familiar, hábitos de considero como prioritária,
cionamento intestinal acar- vida) a dados técnicos (aferi- no sentido de demonstrar
reta prejuízos na absorção ção e acompanhamento de que os cuidados deverão
de nutrientes que serão pressão arterial, glicemia ca- ser seguidos, a longo prazo.
úteis na síntese dos neuro­ pilar e exames laboratoriais, E que o imediatismo resulta
transmissores e demais acompanhamento farma- em efeitos paliativos, mas o

Pharmacia Brasileira nº 89 - Janeiro/Abril 2018


54
ENTREVISTA
Com o farmacêutico Max Viana

reganho de peso é previs-


to. Esse profissional preci-
sa atualizar-se, diante das
inovações do mercado, pois
existem várias alternativas “A obesidade é um desafio para os
adjuvantes ao tratamento farmacêuticos. O desafio está na
dos sintomas da obesidade educação em saúde, que considero
e que são cabíveis à prescri-
ção farmacêutica. prioritária, no sentido de demonstrar
PHARMACIA BRASI- que os cuidados devem ser seguidos,
LEIRA - As pessoas fazem a longo prazo, e que o imediatismo
uso, por automedicação, de resulta em efeitos paliativos. Mas o
medicamentos, tanto alopáti-
cos, como plantas e fitoterá-
reganho de peso é previsto”
(Farmacêutico Max Viana, estudioso da farmacologia do emagrecimento).
picos, para o tratamento da
obesidade. Quais são os ris-
cos potenciais de se usar me-
dicamentos por conta própria com vistas o problema? Que TSH) e adrenais (cortisol)
para tratar esse problema? alterações nos parâmetros não devem ser esquecidos.
Dr. Max Viana - O risco bioquímicos os exames po- Provas de funções hepá-
cardíaco é o mais potencial- dem revelar? tica (TGO, TGP e GGT) e
mente perigoso, comumen- Dr. Max Viana - A rotina renal (ureia e creatinina)
te observado com o uso de de exames deve ser realiza- devem ser acompanhadas,
sibutramina, anos atrás; de da, periódica e rigorosamen- também, uma vez que são
anfetaminas e, atualmente, te. As alterações nos exa- os principais órgãos elimi-
com o uso irracional de subs- mes de glicemia em jejum, nadores de toxinas (vulgo
tâncias com efeito termogê- pós-prondial, hemoglobina “detox”), e alguns pacientes
nico. Outros efeitos, tam- glicada e insulina sugerem apresentam quadros de es-
bém, devem ser pontuados, hiperglicemia ou propria- teatose hepática, quando a
a saber: renal, hepático com mente diabetes mellitus. O gordura visceral excede à
uso irracional de chá verde, lipidograma nos remete às cavidade abdominal ou so-
por exemplo, em razão do dislipidemias (colesterol, tri- frem de insuficiência renal.
teor de catequinas, que são glicerídeos elevados). Alte- Logo, é imprescindível
fitoquímicos hepatotóxicos; rações em potássio e sódio a atuação do farmacêutico
hormonais, com uso indiscri- séricos nos atentam a uma no acompanhamento e mo-
minado de hibiscos, além de possível disritmia, entre ou- nitoramento dessas taxas.
alterações de humor, insô- tros. Obviamente, caberá a rea-
nia, distúrbios gastrointesti- A avaliação da função lização de outros exames, a
nais, entre outros. hormonal, também, é im- depender do que for obser-
PHARMACIA BRASI- prescindível. Hormônios vado na anamnese.
LEIRA - Pessoas com obesi- gonadais (testosterona li-
dade devem manter uma ro- vre, estrogênio, progeste- Pelo jornalista Aloísio Brandão,
tina de exames laboratoriais, rona), da tireoide (T3, T4 e editor desta revista.

Pharmacia Brasileira nº 89 - Janeiro/Abril 2018


55
Dia do Farmacêutico

Serviços farmacêuticos
são incluídos na Tabela
de Procedimentos do SUS

promoção e prevenção em saúde remunera-


dos pelo Sistema.
O anúncio dessa e de outras medidas
que contemplam os farmacêuticos foi feita,
no dia 24 de janeiro de 2018, durante so-
lenidade em comemoração ao Dia do Far-
macêutico, 20 de janeiro. Ricardo Barros
recebeu das mãos do presidente do CFF,
Walter Jorge João, a comenda da Ordem do
Mérito Farmacêutico Internacional no grau
Grã-Cruz. O anúncio do ministro da Saúde
foi entendido como um gesto de reconheci-
mento ao farmacêutico como  integrante da
equipe diretamente responsável pelo aten-
dimento aos usuários do SUS.
VALORIZAÇÃO PROFISSIONAL - Dr.
Walter Jorge lembrou que a inserção de ser-
viços farmacêuticos na antiga Tabela SIA/SUS
viabiliza os códigos que faltavam para a com-
pleta valorização dos farmacêuticos como
profissionais do cuidado à saúde em todos os
âmbitos. “Obtivemos a atualização da Classi-
Ministro da Saúde, Ricardo Barros, recebe a  Comenda ficação Brasileira de Ocupações (CBO), am-
da Ordem do Mérito Farmacêutico Internacional do pre-
sidente do CFF, Walter Jorge João pliando de duas para oito as ocupações e de 19
para 117 as especialidades; conquistamos os
códigos da Classificação Nacional de Ativida-
O ministro da Saúde, Ricardo Barros, des Econômicas (CNAE) e, agora, temos a co-
anunciou, no auditório do Conselho Federal de dificação que nos torna profissionais da saúde
Farmácia (CFF), a inclusão de serviços farma- prestadores de serviços para o SUS”, ressaltou
cêuticos na Tabela de Procedimentos, Medica- o presidente do CFF.  Mas o maior ganho, se-
mentos e OPM (Órteses, Próteses e Materiais gundo ele, é para os usuários do SUS, que terão
Especiais) do SUS (Sistema Único de Saúde), no farmacêutico mais um aliado para o sucesso
antes, denominada Tabela de Procedimentos de seu tratamento.
SIA/SUS. Com isso, os farmacêuticos passam QUALIFAR - Outra medida anunciada
a compor o grupo de profissionais elencados pelo ministro da Saúde, Ricardo Barros, foi o
para a realização de alguns procedimentos de repasse de R$ 22 milhões visando à expansão

Pharmacia Brasileira nº 89 - Janeiro/Abril 2018


56
Dia do Farmacêutico

Barros reforçam o papel do farmacêutico nos


cuidados à saúde e representam o reconheci-
mento, por parte do Ministério, das atribuições
clínicas do farmacêutico regulamentadas pelo
CFF. “Ela nos torna grandes aliados no desen-
volvimento de estratégias para, não apenas
reduzir custos com a assistência à saúde, mas
para melhorar a qualidade do atendimento
prestado aos usuários do SUS”, lembrou o pre-
sidente do Conselho, Walter Jorge.
A inclusão dos serviços farmacêuticos
na Tabela de Procedimentos, Medicamentos e
OPM era uma reivindicação antiga dos farma-
cêuticos e do CFF, protagonista nas negocia-
Ricardo Barros, ministro da Saúde, anuncia inclusão dos ções para que ela fosse viabilizada. Dr. Walter
serviços farmacêuticos na Tabela de Procedimentos do SUS
Jorge explicou: “Os colegas que integram as
do Qualifar-SUS (Programa de Qualificação da equipes das unidades de saúde pública reali-
Assistência Farmacêutica no SUS). Ele contem- zavam os procedimentos, mas o trabalho não
pla desde investimentos na estruturação dos tinha visibilidade nem para os gestores e nem
serviços farmacêuticos até ações de cuidado para o Ministério da Saúde. Não havia códigos
ao usuário. A expansão do Qualifar-SUS vai disponíveis para que o atendimento fosse devi-
atender mais 844 Municípios. damente registrado em nome do farmacêutico
O ministro fez um balanço dos avanços do responsável por ele”.
programa Farmácia Popular e dos 600 dias de O presidente do CFF enfatizou que as
sua gestão à frente da pasta da Saúde. Disse medidas anunciadas pelo ministro da Saúde
que foi possível realocar R$4,6 bilhões para repercutirão na ampliação da capacidade de
o custeio de mais serviços no SUS e adotar atendimento aos usuários do SUS, vez que o
estratégias para tornar a administração mais farmacêutico reforçará as equipes envolvidas
eficiente, ampliando o atendimento para o ci- no atendimento direto ao paciente. “Com a
dadão, inclusive no que diz respeito ao acesso produtividade do farmacêutico reconhecida
ao medicamento. Ele lembrou que essas inicia- pelo Ministério da Saúde, sua contratação pas-
tivas são o resultado de discussões que conta- sa a ser vista pelo gestor como investimento e
ram com a colaboração do CFF, com destaque não mais como simples ônus ou obrigação le-
para o papel do farmacêutico como profissional gal”, reforça Walter Jorge.
comprometido com o fortalecimento do SUS. O dirigente do Conselho Federal de Far-
Participaram da solenidade o diretor do mácia disse, ainda, que, atuando na gestão, o
Departamento de Assistência Farmacêutica farmacêutico, indiretamente, já proporciona
do Ministério da Saúde, Renato Teixeira; o pre- receita aos cofres da rede pública onde está in-
sidente do Conselho Nacional de Secretarias serido, porque racionaliza gastos com medica-
Municipais de Saúde (Conasems), Mauro Jun- mentos e otimiza aquisições, além de garantir
queira; o presidente do Conselho Nacional de uma manutenção adequada dos estoques, evi-
Secretários de Saúde (Conass), Michele Capu- tando perdas e desperdícios. “Ocorre que isso
to Neto, e o secretário de Ciência, Tecnologia e nem sempre é enxergado pelo gestor. Agora,
Insumos Estratégicos, Marco Fireman. ele será mais notado, pois passa a proporcio-
FORTALECIMENTO DOS CUIDADOS nar, também, receita com a realização de pro-
- Medidas anunciadas pelo ministro Ricardo cedimentos”, concluiu.

Pharmacia Brasileira nº 89 - Janeiro/Abril 2018


57
ENTREVISTA
Com o Dr. José Gildo da Silva

A expansão da
fiscalização farmacêutica
Setor cresce em números e em qualidade.

Os dados que traduzem o crescimento da fiscalização farmacêutica, no Bra-


sil, não podem mais ser compreendidos apenas à luz da quantidade. Não são mais
os números de inspeções isoladamente que devem merecer as atenções dos seus
observadores, mas também a qualidade do ato fiscalizador. O Conselho Federal
de Farmácia, em ações unificadas com os Conselhos Regionais, está reorientando
a sua política para o setor. Ela inclui um conjunto de medidas que está levando à
expansão linear da fiscalização, em todo o País, e, por conseguinte, fortalecendo a
assistência farmacêutica exercida, nas farmácias comunitárias.
O desenvolvimento da fiscalização tem reflexos diretos e positivos na assis-
tência farmacêutica e, por conseguinte, no fortalecimento da saúde. A fiscaliza-
ção abre uma cadeia de benefícios. Ao refletir sobre a assistência farmacêutica,
impacta em dois fundamentos sanitários: a promoção da saúde e a prevenção de
doenças. Com o avanço da fiscalização, ganha, em última análise, a população, que
passa a ter acesso a mais serviços profissionais.

Pharmacia Brasileira nº 89 - Janeiro/Abril 2018


58
ENTREVISTA
Com o Dr. José Gildo da Silva

Entre as medidas responsáveis pela marcha em frente da fiscalização, estão


a atualização e a revisão de várias resoluções, a padronização do Plano Anual de
Fiscalização, a unificação do Termo de Inspeção, Intimação e Auto de Infração, a
padronização da Ficha de Verificação do Exercício Profissional, a implementação
do Perfil de Assistência do Farmacêutico e do Estabelecimento, bem como da fis-
calização eletrônica móvel.
A revista PHARMACIA BRASILEIRA entrevistou o conselheiro federal de
Farmácia por Alagoas e ex-coordenador da Cofisc (Comissão de Fiscalização do
Exercício Profissional) do CFF, DR. JOSÉ GILDO DA SILVA, sobre o crescimen-
to da fiscalização. Farmacêutico-bioquímico com pós-graduação em Docência do
Ensino Superior e especialização em Citologia Clínica, DR. JOSÉ GILDO é Conse-
lheiro Federal de Farmácia pelo Estado de Alagoas. É farmacêutico-bioquímico do
Centro de Patologia e Medicina Laboratorial da Universidade Estadual de Ciên-
cias da Saúde de Alagoas (Uncisal) e do laboratório de análises clínicas do Municí-
pio de Murici, no Estado.

VEJA A ENTREVISTA.

estão sendo fortemente atacadas pelo Conse-


lho Federal de Farmácia, com vistas a que eles
apresentem o mesmo desempenho dos outros.
Vários fatores contribuem para o cresci-
mento da fiscalização. Entre eles, destacamos
o irrestrito apoio administrativo e financeiro
do Conselho Federal de Farmácia aos Conse-
lhos Regionais, as auditorias de diagnóstico de
fiscalização neles realizadas pela Cofisc e as
ações desenvolvidas nos Encontros Nacionais
e Regionais de Fiscalização.
Na última década, considerando o período
compreendido entre 2005 a 2014, observa-
mos um crescimento de 35,45% no número de
inspeções. Em 2005, foram realizadas 112.849
Dr. José Gildo da Silva, conselheiro inspeções e, em 2014, os Regionais totalizaram
federal de Farmácia por Alagoas
318.320 inspeções. É um crescimento bastan-
te expressivo.
PHARMACIA BRASILEIRA - A fiscaliza-
ção farmacêutica está crescendo, em todo o PHARMACIA BRASILEIRA - O cresci-
País? E em que percentual e período? A que se mento dá-se, tanto na quantidade, como na
deve o crescimento? qualidade do ato fiscalizador?
Dr. José Gildo da Silva - O crescimento Dr. José Gildo da Silva - Os dados que te-
da fiscalização está ocorrendo, sim, e de for- mos reportam aos crescimentos quantitativo e
ma linear, em todo o País. Pouquíssimos Es- qualitativo da fiscalização. O conjunto de ações
tados não conseguiram, ainda, acompanhar o desenvolvidas pelo CFF, Conselhos Regionais
ritmo que os demais vêm imprimindo, porque e Cofisc teve como resposta este expressivo
enfrentam algumas dificuldades que, ressalto, resultado. Ou seja, um aumento considerável

Pharmacia Brasileira nº 89 - Janeiro/Abril 2018


59
ENTREVISTA
Com o Dr. José Gildo da Silva

“Não só nas farmácias comunitárias, mas em todo o


segmento da assistência farmacêutica, a fiscalização
tem um papel fundamental, no sentido de preservar
o exercício profissional e valorizar a profissão,
sem esquecer que, com uma efetiva fiscalização,
propicia-se o aumento da oferta de trabalho.”
(Dr. José gildo da silva, conselheiro federal de Farmácia por Alagoas).

em todos os segmentos e em todas as direções auditorias realizadas, nós orientamos os fis-


da fiscalização. cais para que procurem informar os farma-
cêuticos sobre os procedimentos legais que
PHARMACIA BRASILEIRA - Explique a norteiam a sua área de atuação profissional.
expansão da qualidade na fiscalização. Dar esta informação ao colega tem o propó-
Dr. José Gildo da Silva - A expansão de- sito de apoiá-lo, para que ele desempenhe
ve-se a um trabalho que vem sendo executado, as suas atividades, com profissionalismo e
ao longo dos anos e que, ultimamente, tem se ética.
intensificado, com a adoção de várias ações es-
pecíficas. As ações são as mudanças na temáti- PHARMACIA BRASILEIRA - Quais são os
ca e no formato dos Encontros de Fiscalização; efeitos da fiscalização sobre a assistência far-
a atualização e a revisão de várias resoluções; a macêutica prestada, nas farmácias comunitá-
padronização do Plano Anual de Fiscalização; a rias?
unificação do Termo de Inspeção, Intimação e Dr. José Gildo da Silva - Não só nas farmá-
Auto de Infração; a padronização da Ficha de cias comunitárias, mas em todo o segmento da
Verificação do Exercício Profissional; a imple- assistência farmacêutica, a fiscalização tem um
mentação do Perfil de Assistência do Farma- papel fundamental, no sentido de preservar o
cêutico e do Estabelecimento e a fiscalização exercício profissional e valorizar a profissão,
eletrônica móvel. sem esquecer que, com uma efetiva fiscaliza-
ção, propicia-se o aumento da oferta de traba-
PHARMACIA BRASILEIRA - O Conse- lho.
lho Federal de Farmácia iniciou uma política A fiscalização, função precípua dos Conse-
segundo a qual a fiscalização não deve res- lhos de Farmácia, assegura a presença do far-
tringir-se ao ato fiscalizador em si, mas se macêutico, nos estabelecimentos, para prestar
expandir para outras áreas, como a educação os seus cuidados clínicos. Em consequência,
e a orientação. De acordo com essa política, fica evidente a valorização do farmacêutico
o fiscal é o elo entre o Conselho Regional e proprietário da farmácia. A consequência disto
o farmacêutico fiscalizado. O fiscal leva do é uma significativa melhoria na assistência far-
CRF a orientação, a educação farmacêutica, macêutica.
as informações, e traz do farmacêutico as de-
mandas, as reclamações etc. Como se encon- PHARMACIA BRASILEIRA - O CFF trata-
tra esta política, hoje? rá, de forma diferenciada, a fiscalização exerci-
Dr. José Gildo da Silva - Continua sen- da, nas farmácias e drogarias, depois da edição
do prioritária. Em todas as ações da Cofisc, da Resolução nº 586/12/CFF, que autoriza os
seja nos Encontros de Fiscalização ou nas farmacêuticos a prescreverem medicamentos,

Pharmacia Brasileira nº 89 - Janeiro/Abril 2018


60
ENTREVISTA
Com o Dr. José Gildo da Silva

e da Lei 13.021/14, que transforma as farmá- lização eletrônica móvel em todos os CRFs.


cias e drogarias em unidades de prestação de Cito, ainda, entre o que está por vir, a disponi-
assistência farmacêutica, assistência à saúde e bilização de documentos fiscais (Termo de Ins-
orientação sanitária individual e coletiva, e as- peção, Auto de Infração, Relatório de Perfil de
segura a atuação do farmacêutico, nesses esta- Assistência) no site dos Regionais, além de ou-
belecimentos? tras iniciativas que têm por objetivo fortalecer
Dr. José Gildo da Silva - A Resolução nº a fiscalização, tornando-a cada vez mais ágil e
586/13, do CFF, e a Lei 13.021/14 são duas eficaz.
importantes conquistas sociais e sanitárias.
Com certeza, nós dispensaremos uma especial PHARMACIA BRASILEIRA - Quais são as
atenção à implementação das ações de fiscali- maiores dificuldades encontradas pelos fiscais
zação que envolvem atividades relacionadas em suas atividades cotidianas? O que os Con-
às referidas normas, pois elas são ferramentas selhos Federal e Regionais fazem para resolvê-
primordiais para a consolidação de nossa pro- -las?
fissão e para o fortalecimento da promoção da Dr. José Gildo da Silva - As principais di-
saúde e prevenção de doenças. ficuldades encontram-se na logística da fiscali-
Continuaremos desenvolvendo ações zação, na utilização de veículos não exclusivos
junto aos Conselhos Regionais, no sentido de e em mal estado de conservação, na fragilidade
aprimorarmos os setores de fiscalização, para do relacionamento entre fiscais e gestores, na
melhor atender a estas novas demandas, a falta de um melhor planejamento, no andamen-
exemplo do que já realizamos no Encontro Na- to não tão ágil do processo administrativo fis-
cional de Fiscalização de 2015, com palestra cal, além de dificuldades financeiras.
específica sobre a prescrição farmacêutica. Todavia, o CFF não tem medido esforços
para resolver estas e outras dificuldades que
PHARMACIA BRASILEIRA - Como os afetam o processo fiscalizador. Neste sentido,
Conselhos Regionais de Farmácia têm recebi- tem disponibilizado apoios administrativo, es-
do as inovações na fiscalização? trutural e financeiro, necessários para que os
Dr. José Gildo da Silva - Com o apoio e a CRFs melhorem as suas condições de trabalho
aprovação da Diretoria do CFF, apresentamos no setor de fiscalização.
uma proposta clara e objetiva de trabalho, que
consiste no despertar de uma responsabilida- PHARMACIA BRASILEIRA - Fale sobre a
de solidária, envolvendo gestores dos CRFs, qualificação dos fiscais, considerando que eles
Cofisc e fiscais, cujo objetivo é o aprimoramen- têm que atuar junto a farmacêuticos dos mais
to e o compartilhamento da fiscalização como diversos segmentos profissionais. Como eles
um todo. A proposta, por si só, já se configura estão se capacitando para desafios tão grandes?
como uma ação inovadora. Em decorrência, ti- Dr. José Gildo da Silva - A qualificação
vemos um aproveitamento e um acolhimento contínua é necessária para um melhor de-
excelentes. sempenho do fiscal em suas atividades. Por
isto, a sua qualificação é uma prioridade do
PHARMACIA BRASILEIRA - Falar em ino- Conselho Federal. Em todos os Encontros de
vação, que novidades estão por vir na fiscaliza- Fiscalização, realizamos palestras de atuali-
ção? zação e qualificação, abordando temas suge-
Dr. José Gildo da Silva - Estamos implan- ridos pelos próprios fiscais, por solicitação
tando um sistema integrado de gerenciamento da Cofisc.
envolvendo o CFF e todos os Conselhos Regio-
nais. Está em implantação, também, a emissão Pelo jornalista Aloísio Brandão,
da Certidão de Regularidade on-line e a fisca- Editor desta revista.

Pharmacia Brasileira nº 89 - Janeiro/Abril 2018


61
População, Governo e
farmácias ganham com os
cuidados farmacêuticos
Expectativa é que Lei nº 13.021/14 faça reduzir
problemas decorrentes do uso irracional de
medicamentos e diminua prejuízos para sistemas de saúde.

da Lei 13.021/14. Isto, porque a riscos. “A esperança, agora, é a


norma, aprovada por unanimida- Lei 13.021/14”, comemora.
de, no Senado, e fruto de um am- PREJUÍZOS  -  A hospitali-
plo entendimento entre todas as zação evitável é apenas uma das
instituições farmacêuticas e as graves consequências dos pro-
que representam os segmentos blemas relacionados ao mau uso
industrial e comercial do setor, de medicamentos. Esses pro-
muda o conceito de farmácia, no blemas poderiam ser, ao menos,
Brasil, vez que transforma as far- minimizados, se os usuários dos
mácias e drogarias em unidades medicamentos tivessem acesso
de prestação de assistência far- à prescrição farmacêutica, nas
macêutica, assistência à saúde e farmácias particulares, e, ali, re-
orientação sanitária individual e cebessem, ainda, a orientação
coletiva, e assegura a atuação do sobre o uso correto desses pro-
farmacêutico, nesses estabeleci- dutos e as informações, no cam-
mentos. po da educação em saúde, rela-
“Esta Lei obriga as farmá- cionadas aos cuidados em saúde,
O sofrimento imposto às cias particulares (comunitárias) em geral.
pessoas e os prejuízos aos cofres a assumirem aquilo que sempre Estudos divulgados no li-
dos sistemas público e privado foi de suas naturezas sanitária e vro “Cuidados Farmacêuticos na
de saúde por problemas, como social: a assistência farmacêuti- Atenção Básica” (Caderno 1: Ser-
a não-adesão do paciente ao tra- ca e o seu compromisso com as viços Farmacêuticos na Atenção
tamento, as intoxicações e inte- questões de saúde. Isto estava Básica à Saúde), publicado pelo
rações medicamentosas indese- obscurecido pelo interesse eco- Ministério da Saúde, revelam
jáveis, as reações adversas e as nômico”, observa o Presidente que, no mundo, cerca de 28% de
hospitalizações evitáveis, pode- do CFF, Walter Jorge João. todas as visitas ao pronto aten-
rão ter uma redução expressiva Segundo ele, esse interesse dimento tiveram origem em pro-
em suas estatísticas, por conta rebaixou a farmácia à condição blemas relacionados ao uso de
dos efeitos da Lei nº 13.021/14. de mercadinho, e o medicamen- medicamentos, sendo que 8,6%
Esta é a expectativa do Conse- to foi aviltado e transformado a 24,2% dos casos resultaram em
lho Federal de Farmácia (CFF), em pura mercadoria. “Desta internações e 70% dos eventos
baseada em exemplos de po- forma, as farmácias passaram a foram considerados evitáveis.
pulações que experimentaram vender de tudo, pondo de lado IMPACTOS  – O mesmo
transformações positivas em seu os cuidados clínicos prestados livro traz dados disponíveis no
contexto sanitário, graças aos pelos farmacêuticos”, assinala DATASUS (Departamento de
serviços farmacêuticos, ali, pres- o dirigente do CFF para quem, Informática do SUS), revelan-
tados. seguindo este modelo “arcaico e do que, só em 2013, podem ter
A expectativa do CFF é his- pernicioso”, as farmácias expõem ocorrido, no Brasil, entre 1,2
tórica e, agora, ganha o ânimo a saúde dos cidadãos a graves milhão e 3,2 milhões de interna-

Pharmacia Brasileira nº 89 - Janeiro/Abril 2018


62
lho Federal de Farmácia reforçam formação clínica e conscientes
o entendimento de que os proce- dos seus papeis sanitário e social”,
dimentos e serviços farmacêu- enfatiza Dr. Walter Jorge João.
ticos prestados, ali, repercutem Enfim, com os cuidados far-
sobremaneira na saúde da popu- macêuticos, ganham o Governo,
lação, gerando resultados posi- que passa a desembolsar me-
tivos em todo o sistema público, nos para custear medicamen-
inclusive reduzindo os números tos, assistência médica e, por
de hospitalizações e gastos. conseguinte, a atenção básica
Atos, como a prescrição em saúde como um todo; a so-
Presidente do CFF, Walter ciedade, que tem nas farmácias
Jorge: “Lei obriga farmácias a
farmacêutica; serviços, como
o acompanhamento farmaco- não apenas um ponto de venda
assumirem o que, sempre, foi de
suas naturezas sanitária e social”. terapêutico, e procedimentos, de medicamentos, mas um es-
como a aferição da pressão e da tabelecimento de saúde que o
taxa de glicose, levam pacientes CFF deseja que atue integrado
a aderir melhor ao tratamento, ao SUS, inclusive participando
reduzem os casos de reações ad- das campanhas de vacinação;
ções de urgência ligadas a pro-
versas a medicamentos e o uso as próprias farmácias, que dei-
blemas relacionados aos medi-
inadequado – e, muitas vezes, xam de ser subutilizadas como
camentos. Naquele ano, houve
grave - desses produtos por au- unidades de assistência à saú-
cerca de 48 milhões de atendi-
tomedicação. de e passam também a contri-
mentos de urgência e emergên-
buir com as questões sociais do
cia e 11 milhões de internações Além do bem-estar dos
País; os médicos, que passam a
de urgência a um custo médio pacientes, esses benefícios de- contar com um aliado no acom-
de R$ 1.135,26 por usuário, por safogam os hospitais e clínicas panhamento do uso dos medi-
internação. do próprio Governo. São ganhos camentos pelos seus pacientes,
O custo total das hospi- permanentes e em cadeia. O CFF e os próprios os farmacêuticos
talizações por medicamentos, acrescenta, ainda, o trabalho que, ao desempenharem as suas
no  Brasil, pode ficar entre R$ fundamental do farmacêutico atribuições de cuidadores em
1,3 bilhão e R$ 3,6 bilhões. Se- como educador em saúde, capaz saúde, têm a sua autoridade téc-
gundo avaliação dos estudiosos, de levar os cidadãos a mudarem nica reforçada.
a economia de recursos poderia os seus hábitos de vida. O uso
“A Lei  13.021/14 é muito
ser da ordem de R$ 2,5 bilhões, inadequado de medicamentos
avançada, porque acena para o
ao ano, somente com hospitali- não necessariamente resulta em
fortalecimento da saúde, a partir
zações, caso 70% dos problemas hospitalizações. Mas ele pode
da expansão do acesso da popu-
evitáveis fossem impedidos de causar efeitos devastadores na
lação à assistência farmacêutica.
acontecer. saúde dos seus usuários.
A Lei representa uma quitação
Várias iniciativas para con- AGILIDADE -  No centro de um débito histórico do Le-
ter essa sangria nos cofres pú- dos benefícios dos cuidados far- gislativo junto à sociedade no
blicos foram adotadas, mas ainda macêuticos, estão a efetividade tocante às questões de saúde,
não surtiram os efeitos neces- do tratamento e o fortalecimen- vez que, até então, ela foi vilipen-
sários. Diretores do CFF enten- to da política de uso racional do diada quanto ao seu direito de
dem que falta ao serviço público medicamento. Os serviços pro- acesso aos cuidados farmacêuti-
dirigir o foco de suas atenções fissionais prestados, nas farmá- cos. Não se pode privar um povo
para os cuidados clínicos presta- cias particulares, estão imunes à do direito a esses cuidados, sob
dos pelos farmacêuticos na aten- burocracia, às filas e à marcação pena de comprometer a sua saú-
ção básica à saúde e não apenas de consultas. Por isto, são ágeis de e até levar pessoas à morte. O
para a gestão do medicamento. e acessíveis. Sem contar que as cumprimento da Lei vai alterar
As atribuições clínicas do far- farmácias têm uma capilaridade profundamente – e para melhor
macêutico são preponderantes enorme, vez que há estabeleci- - o panorama da saúde brasileira”,
dentro do arsenal de recursos mentos em todos os bairros de previu o Presidente do CFF, Wal-
disponíveis para a promoção da grandes cidades e em qualquer ter Jorge João.
saúde. vilarejo.  “É só chegar à farmácia,
No caso das farmácias par- e o paciente será muito bem aten-
ticulares, os dirigentes do Conse- dido por farmacêuticos de boa Pelo jornalista Aloísio Brandão, editor.

Pharmacia Brasileira nº 89 - Janeiro/Abril 2018


63
ENTREVISTA
Com o Dr. Irineu Grinberg, farmacêutico-bioquímico

Análises clínicas
e automação
Pelo jornalista Aloísio Brandão,
Dr. Irineu Grinberg, farmacêutico-bioquímico Editor desta revista.

A automação é uma aliada de primeira no setor, tantas foram as atividades, pro-


ordem das análises clínicas. O seu nome gramas e instituições dos quais esteve à
remete à eficiência, e os processos que a frente, como a SBAC, o Sindicato dos La-
envolvem atingem rigorosamente todas as boratórios de Análises Clínicas do seu Es-
fases laboratoriais (pré-clínica, analítica e tado, onde, também, participou da direção
pós-analítica). Os tempos são de expansão do Conselho Estadual de Saúde.
e modernização do setor, até porque não DR. IRINEU GRINBERG explica que
se imagina diagnóstico sem análises clíni- os laboratórios respondem ao crescimen-
cas, nem análises clínicas sem automação. to da demanda, aumentando o número de
Quem explica a importância da au- soluções e lançando novos testes, prin-
tomação para os laboratórios clínicos é o cipalmente, nos setores de imunologia e
farmacêutico DR. IRINEU KEISERMAN bioquímica avançada. Isto, sem perder de
GRINBERG. Homem devotado às análises vista a quantidade e a qualidade dos servi-
clínicas, ele é, também, digamos, um pen- ços. A qualidade, ressalte-se, é a alma das
sador do setor. Gaúcho de Porto Alegre, análises clínicas. A SBAC a focaliza como
onde se formou farmacêutico pela Uni- o centro de suas atenções. Todo esse con-
versidade Federal do Rio Grande do Sul texto envolvendo expansão, aumento da
(UFRGS), Grinberg especializou-se em produção e controle de qualidade passa
Análises Clínicas pela SBAC e em Micro- pela automação.
biologia Alimentar pela UFRGS. Foi dire- A revista PHARMACIA BRASILEIRA
tor do Laboratório Lafont Ltda., em Porto entrevistou o Dr. Irineu Grinberg sobre
Alegre, e acumula uma vasta experiência este tema instigante, quando ele presidia

Pharmacia Brasileira nº 89 - Janeiro/Abril 2018


64
ENTREVISTA
Com o Dr. Irineu Grinberg, farmacêutico-bioquímico

a SBAC. Grinberg falou sobre os impactos sobre as empresas, realidade que as em-
que os processos de automação causam purra para a necessidade de realização de
no setor laboratorial, sobre o nível de en- um número maior de exames, com menos
volvimento dos farmacêuticos brasileiros equipamentos, menos pessoas e menos
com a automação e sobre quando um la- tempo. O que advirá dessa realidade para
boratório deve ou não automatizar-se. os laboratórios e para os farmacêuticos?
Ele discorreu, ainda, sobre o avanço As respostas estão com Grinberg.
das tecnologias e da pressão dos custos VEJA A ENTREVISTA.

PHARMACIA BRASILEI­ exames, havia a necessidade ser implementada linearmen-


RA - Dr. Irineu Grinberg, que de pelo menos quatro profis- te por todos os laboratórios,
impacto a automação exerce sionais trabalhando no setor ou é preciso levar em consi-
nas análises clínicas? de hematologia. Isto, sem deração questões, como os
Dr. Irineu Grinberg - Os considerar os profissionais modelos de processos au-
processos de automação em que executavam a coleta de tomatizados, os diferentes
laboratórios de análises clí- material. Com a chegada des- exames, o volume de proces-
nicas começaram, na década tes equipamentos, o mesmo samento, a capacidade de in-
de 1950, iniciando-se por serviço passou a ser executa- vestimento etc.?
do por, no máximo, duas pes-
equipamentos de bioquími- Dr. Irineu Grinberg - Pri-
soas e, ainda, sobrava tempo
ca da marca Technicon, que meiramente, deverá ser leva-
para trabalhar em outros se-
eram imensos equipamentos do em conta o porte dos labo-
tores do laboratório.
utilizados em análises bio- ratórios. Laboratórios muito
químicas (dosagens de com- pequenos não necessitam,
PHARMACIA BRASILEI­
ponentes sanguíneos). Logo a princípio, automatizar os
RA - Qual o percentual de la-
após, foram lançados os equi- seus processos. Isto deverá
boratórios brasileiros que se
pamentos de hematologia da ocorrer de modo paulatino,
utilizam dos modernos recur-
marca Coulter, que revolucio- sos da automação? considerando, sempre, a rela-
naram o setor, pois eram mais ção crescimento X necessida-
Dr. Irineu Grinberg -
compactos e realizavam, com de de trabalho X custo.
Imagina-se que, atualmente,
extrema rapidez, a série ver- É importante conside-
80% dos laboratórios brasi-
melha do hemograma, mais rar que todos os laborató-
leiros possuem algum tipo de
a contagem de leucócitos, rios implantam, no primeiro
automação, que poderá estar
restando aos profissionais de momento, os setores de re-
nos setores técnicos ou no
laboratório a confecção do cepção, emissão de laudos
setor de recepção, emissão
esfregaço sanguíneo, a colo- e faturamento, através da
de laudos, etc.
ração e a leitura microscópica contratação de sistemas
da contagem diferencial. PHARMACIA BRASILEI­ de TI (tecnologia da infor-
Àquela época, somente RA - A automação foi intro- mação). Existem, em nosso
podiam possuir estes equi- duzida nas análises clínicas País, excelentes sistemas de
pamentos os laboratórios de como base para a eficiência e informática oferecidos à co-
grande porte, pois eram mui- até mesmo para a visibilida- munidade laboratorial que
to caros e raros. Os grandes de das empresas. Ela atingiu ajudam, de modo seguro, a
laboratórios da época realiza- todas as fases laboratoriais resolução da rotina nestes
vam cerca de 50 hemogramas (pré-clínica, analítica e pós- setores, que quase sempre
diários e, para este número de -analítica). A automação deve são os primeiros a apresen-

Pharmacia Brasileira nº 89 - Janeiro/Abril 2018


65
ENTREVISTA
Com o Dr. Irineu Grinberg, farmacêutico-bioquímico

tar problemas ante ao au- a uma maior qualificação dos


mento de demanda. laboratórios, pode suprir as
necessidades da população e
PHARMACIA BRASILEI­ os anseios da classe médica
RA - A população brasileira por qualidade laboratorial.
está envelhecendo, fruto do Deveremos, sempre, es-
fenômeno global da transição tar atentos ao binômio qua-
demográfica. Por conseguin- lidade/quantidade. Uma e
te, ela sofre de mais doenças outra não caminham juntas.
crônicas e degenerativas e, Pode-se até afirmar que, num
quase sempre, faz uso de po- determinado momento, se
lifarmácia, o que a leva a ne- não houver extrema atenção,
cessitar de mais assistência poderá ocorrer um imenso
em saúde e, em maior escala, vão entre elas. Os conceitos e
dos exames laboratoriais, res- preceitos de qualidade labo-
ponsáveis por 70% dos diag- ratorial devem estar, sempre,
nósticos de doenças e de 90% presentes e, de maneira mais
das altas hospitalares. Esta enfática, no aumento do nú-
nova realidade demográfica mero de atendimento. É real
é um desafio especial para o a afirmação de renomados Dr. Irineu Grinberg: “Estas novas
setor laboratorial? Que van- conferencistas de que a pior especializações são importantes,
tagens a automação oferece crise é do “crescimento”. e algumas delas, como a biologia
à demanda de atendimentos molecular, estarão incorporadas a
todas as rotinas laboratoriais”.
desse novo público? PHARMACIA BRA-
Dr. Irineu Grinberg - A SILEIRA - Os laboratórios
atividade laboratorial tende experimentam o avanço de através da realização de um
a crescer, em todo mundo. tecnologias e estão sujeitos à número muito maior de aten-
Na prática rotineira, não pressão sobre (e dos) os cus- dimentos com os mesmos co-
existe diagnóstico sem o au- tos. Essa realidade empurra laboradores.
xílio laboratorial. Duas ver- as empresas para a realização
Entretanto, não se pode
tentes importantes ajudam de um número maior de exa-
esquecer que os valores de
este crescimento. A primei- mes, com menos equipamen-
remuneração dos exames la-
ra é o aumento do número tos, menos pessoas e menos
boratoriais, em nosso País,
de soluções que o laborató- tempo. O que novo contexto
são os mais baixos do mundo.
rio oferece como auxílio ao envolvendo pressão sobre
diagnóstico. custos etc. pode trazer como O Sistema Único de Saúde
consequências para os labo- tem, há mais de 20 anos, os
A todo momento, são
ratórios? valores de remuneração la-
lançados novos testes, prin-
boratorial congelados para
cipalmente, nos setores de Dr. Irineu Grinberg -
90% do rol dos exames.
imunologia e bioquímica Está mais do que claro que
avançada, biologia molecular a modernização de um labo- Não se pode esquecer,
e espectrometria de massa. O ratório, seja ela em TI ou por também, que a tabela de
aumento e o envelhecimento meio de aquisição de equipa- remuneração dos demais
da população são a segunda mentos para os setores técni- compradores de serviços
vertente, que confirma, de cos, eleva consideravelmente vinculados às cooperativas,
modo irretorquível, o enun- os custos, mesmo levando-se autogestão, seguradoras e
ciado da sua indagação. Este em conta a diminuição do va- medicina de grupo tendem
aumento populacional, aliado lor da folha de pagamento, pelo mesmo caminho, pois os

Pharmacia Brasileira nº 89 - Janeiro/Abril 2018


66
ENTREVISTA
Com o Dr. Irineu Grinberg, farmacêutico-bioquímico

laboratórios atuam, separan-


“Realmente, as máquinas fazem do serviços ou áreas, como a
bioquímica, a endocrinologia
tudo, mas se não controladas, e a hematologia, entre outras.
de modo exaustivo, fazem tudo As críticas repousam no fato
errado” (Dr. Irineu Grinberg). de a departamentalização
das áreas ser pouco eficiente,
enquanto a integração entre
honorários seguem o mesmo fácil substituir, ou aumentar o elas geram eficiência e redu-
congelamento. número de máquinas. ção de custos para os labo-
Estas instituições ob- Entretanto, no setor ratórios. O senhor concorda
servam os mesmos critérios. técnico, é exatamente o con- com as críticas?
Suas tabelas são nominadas trário, apesar de existirem Dr. Irineu Grinberg - Em
e codificadas pelas regras da várias modalidades de aquisi- parte. A grande maioria dos
CBHPM, mas os valores se- ção. Raramente, a compra do laboratórios, em nosso País,
guem congelados, e são ape- equipamento é recomendá- está localizada em prédios
nas um pouco mais altos que vel, pois o capital investido é antigos e adaptados, através
a remuneração do SUS. É raro alto e a obsolescência, rápida. de sucessivas reformas na
encontrar algum laboratório, Não vale a pena o laboratório área física para o funciona-
no País, que obteve, nestes estar abarrotado de sucata mento como estabelecimen-
20 anos, algum tipo de ganho imprestável, sem nenhum to laboratorial. O resultado
real em seus honorários. tipo de uso. final são de plantas mais an-
Na locação, que seria o tiquadas, mas que, se bem
PHARMACIA BRASILEI­ processo mais aconselhável planejadas e com um organo-
RA - Qual o impacto financei- de negociação, vale registrar grama bem construído, não
ro da automação no custo que são necessárias 1.675 ocorrerão os atropelos e as
operacional dos laboratórios? dosagens de glicose pela ta- ineficiências citadas.
Dr. Irineu Grinberg - No bela SUS para quitar um mês Está muito claro que se
setor de informática, existe de locação de um equipamen- um laboratório estiver em
impacto financeiro, entretan- to de bioquímica de pequeno/ fase de construção, deverá
to, pelos benefícios que traz médio porte. ser projetado com uma plan-
aos laboratórios, torna-se Não obstante, deve ser ta moderna, funcional e com
quase irrelevante. A popula- observado - e citado, a todo tudo muito bem pensado,
rização dos equipamentos de momento - que os baixos valo- seguindo tudo o que é preco-
informática, bem como o cus- res de remuneração dos exa- nizado pela Anvisa, por meio
to dos programas de gestão, mes laboratoriais consistem da RDC 50, que dita as orien-
faz com que a informatização no grande gargalo que impe- tações referentes à área físi-
dos laboratórios seja palatá- dem o crescimento e a quali- ca dos estabelecimentos de
vel com custos inferiores aos ficação do setor. Portanto, é saúde.
benefícios. bem possível que os valores Nestes casos, tudo de-
Em 1987, quando adqui- cobrados pelos equipamen- verá ser observado, desde
rimos o primeiro computador tos sejam justos. Entretanto, o acesso de pessoas com
do nosso laboratório, em Por- quase impagáveis, em função necessidades especiais, re-
to Alegre, houve a necessida- da baixa remuneração. cepção, salas de coleta de
de de a operação ser realizada, material, sanitários (femini-
através de “leasing”, tal era o PHARMACIA BRASILEI­ no, masculino, para clientes
custo do equipamento e da im- RA - Estudiosos do setor cri- e funcionários), trajeto das
pressora. Atualmente, é muito ticam o modelo em que os amostras no ambiente la-

Pharmacia Brasileira nº 89 - Janeiro/Abril 2018


67
ENTREVISTA
Com o Dr. Irineu Grinberg, farmacêutico-bioquímico

boratorial, setor(es) de exe- sos de filtração, desionização,


cução de exames, expurgo, osmose reversa, antes de
lavagem e desinfecção de poderem entrar nos equipa-
materiais e trajeto dos resí- mentos.
duos secos, orgânicos e con- O controle de qualida-
taminados, vestiário, refeitó- de interno (Proin) deve ser
rio etc.). diário e, às vezes, até mais
Mas - repito mais uma
de uma vez por dia, dian-
vez - isto é obrigação legal
te de uma situação adver-
para todos, e cobrado por to-
sa. Atenção à qualidade da Dr. Irineu Grinberg -
das as Visas estaduais e mu-
energia elétrica, também, Estas novas especializações
nicipais, com base em todas
permanente. Portanto, mais existem, são importantes e al-
as RDCs da Anvisa que regu-
do que apenas um executor gumas delas, tais como a bio-
lam o setor.
de exames, nossos colegas logia molecular, espectrome-
PHARMACIA BRASILEI­ devem ser os sacerdotes da tria de massas, cromatografia
RA - Os farmacêuticos analis- qualidade laboratorial, vi- (HPLC), estarão, em breves
tas clínicos estão atualizan- giando os equipamentos de tempos, incorporadas a todas
do-se a contento para lidar modo permanente e sempre as rotinas laboratoriais, e os
com a automação? prontos - e com conhecimen- profissionais que delas tive-
tos - para auxiliar os clientes rem conhecimento e prática
Dr. Irineu Grinberg -
e profissionais médicos na estarão à frente e terão todas
Tudo é questão de preparo e
interpretação e sugestão de as preferências. Estas novas
treinamento. Nos modernos
novos procedimentos labo- especialidades laboratoriais
processos de automação, fala-
ratoriais. estão totalmente identifica-
-se que a máquina faz tudo. É
das com todos os processos
apenas “apertar botões”, como Esta qualificação se ad-
de automação.
costumam falar os dirigentes quire com o tempo, expe-
do Ministério da Saúde, quan- riência, pois os nossos novos
PHARMACIA BRASILEI­
do nossas entidades os procu- colegas ditos “generalistas” RA - Qual o impacto da auto-
ram para solicitar reajuste dos não concluem os cursos de mação sobre o mercado de
exames laboratoriais. Farmácia preparados para trabalho dos farmacêuticos?
Realmente, as máquinas esta função. E que papel é reservado ao
fazem tudo, mas se não con- PHARMACIA BRASI- profissional nesse contexto?
troladas, de modo exaustivo, LEIRA - Os farmacêuticos re-
Dr. Irineu Grinberg - É
fazem tudo errado. É neces- cém-formados estão buscan-
necessário repetir, frisar e
sário controlar, a todo mo- do especializações e novos deixar bem claro que haverá
mento, a qualidade da água campos dentro das análises sempre lugar para os profis-
reagente. É sabido que a água clínicas? Quais são os cam- sionais bem preparados e que
fornecida pelas nossas hi- pos? Eles (os novos campos) a profissão farmacêutica con-
dráulicas necessitam de am- estão identificados com a au- corre com outras. Portanto,
plos e dispendiosos proces- tomação? qualificação é e será, cada vez
mais, primordial para todas as
“Não se pode esquecer que os conquistas profissionais.
valores de remuneração dos PHARMACIA BRASILEI­
exames laboratoriais, em nosso RA - Para onde vão as análi-
País, são os mais baixos do mundo” ses clínicas, levando-se em
(Dr. Irineu Grinberg). conta o vigoroso processo de

Pharmacia Brasileira nº 89 - Janeiro/Abril 2018


68
ENTREVISTA
Com o Dr. Irineu Grinberg, farmacêutico-bioquímico

implantação da automação
nos laboratórios?
Dr. Irineu Grinberg - “Estas novas especializações são
Chegará o momento em que
laboratórios de portes pe-
importantes, e algumas delas, como a
quenos e médios não pode- biologia molecular, estarão incorporadas a
rão mais suportar o custo do todas as rotinas laboratoriais” (Dr. Irineu Grinberg).
crescimento e da automa-
ção dos serviços, nem mes-
mo a implantação de tecno- para a interpretação dos personalizado, em que as
logias futuras, todas elas às exames, levando-se em con- peculiaridades especiais de
nossas portas. Vai chegar, sideração a observância dos cada cliente possam ser cap-
inexoravelmente, o momen- sinais clínicos dos pacientes. tadas.
to das grandes decisões es- O que o senhor tem a dizer Vale lembrar que quem
tratégicas para todos. Uns já sobre isso? procura o laboratório está
o fizeram, através da criação
Dr. Irineu Grinberg - O doente, pensa que poderá
de redes de associativismo,
contato com o cliente é feito estar ou necessita resolver
terceirizações, fusões e sempre no momento pré-a- uma situação de angústia.
aquisições. nalítico, quando são forne- Por exemplo, um beta HCG
Estas ações diminuem cidas todas as orientações ou exames admissionais
sensivelmente o custo dos e preparo para a realização para um novo emprego ou
serviços, pois é possível tra- dos exames e no momento função.
balhar com qualidade e mui- da coleta de material, quan-
ta quantidade. Não vai haver do coletadores bem treina-
diminuição do número de dos podem avaliar o cliente, PHARMACIA BRASI-
estabelecimentos laborato- realizar algumas perguntas LEIRA - Para muitos, a au-
riais. Isto é impossível, tal é básicas, transmitindo-as aos tomação dos laboratórios
a importância do setor no profissionais do laborató- clínicos só tem prós. A auto-
segmento saúde, mas, com rio que deverão possuir o mação, também, tem contras?
toda a certeza, diminuirá o conhecimento para avaliar Dr. Irineu Grinberg -
número de equipamentos, cada caso. Possivelmente, o que foi,
e a preferência cairá nos de Nem sempre, isto é pos- até agora, discorrido poderá
maior porte, com mais qua- sível. Entretanto o labora- estabelecer um panorama
lidade e resolutividade. Esta tório ideal seria aquele em entre os prós e contras da
é uma tendência a incidir em que as coletas pudessem ser automação. Importante, mais
todo o país, mesmo nos mais realizadas pelos bioquímicos uma vez, citar que todos os
distantes lugares. Prevalece- que, assim, poderiam esta- prós da automação deverão
rão os melhores sistemas de belecer um relacionamento vir acompanhados de um
logística e de tecnologia da de nível muito mais elevado exaustivo acompanhamento
informação. e avançado com os clientes. da qualidade, monitorização
Nossos pacientes, seja em permanente dos equipamen-
PHARMACIA BRASILEI­ que situação for, jamais po- tos, e de um sistema de TI que
RA - Há observadores do derão ser transformados em acompanhe todo este investi-
setor que afirmam que a au- apenas um simples código de mento, lançando, de imedia-
tomação fez diminuir ou até barras ou algo similar. Esta to, os resultados dos exames
extinguir o contato do ana- é a vantagem dos pequenos em rede, e disponibilizando-
lista clínico com o paciente. laboratórios, que podem rea- -os o mais rápido possível aos
Isso teria trazido prejuízos lizar um atendimento direto, clientes.

Pharmacia Brasileira nº 89 - Janeiro/Abril 2018


69
ARTIGO

ANÁLISES CLÍNICAS
Ciência, tecnologia,
inovação e sustentabilidade
Dra. Lenira da Silva Costa,
Vice-presidente do Conselho Federal de Farmácia.

A evolução no diagnóstico, na área da saú-


de, movida pela tecnologia é de um dinamismo
constante, e os laboratórios clínicos precisam
participar do desenvolvimento e acompanha-
mento evolutivo. Considerando que a inovação
é imprescindível aos serviços de saúde. Seria
necessário o aporte de recursos praticamente
inexistentes para se acompanhar o mercado e Os laboratórios clínicos, particularmente,
a tecnologia. Mas como investir, cada vez mais, os pequenos e médios, sobrevivem, com difi-
diante de um modelo de remuneração preda- culdade, pois precisam investir em tecnologia
tório? É um contrassenso. e em gestão, necessitando de recursos finan-
Os laboratórios clínicos respondem por ceiros, inclusive para proporcionar uma edu-
mais de 70% das decisões clínicas. O diagnós- cação continuada dos profissionais envolvidos.
tico laboratorial é imprescindível à promoção, O Conselho Federal de Farmácia (CFF),
proteção e recuperação da saúde. Eles contri- em parceria com a Sociedade Brasileira de
buem com a desospitalização, a partir de um Análises Clínicas (SBAC), visando a contribuir,
exame básico, acrescentando ao envelheci- de alguma forma, para minimizar os efeitos de-
mento populacional a prevalência de doenças letérios que a economia e o sistema de saúde
crônicas cujas consequências passam pela têm trazido aos laboratórios clínicos, promove-
necessidade maior de solicitação de exames, rá, em 2018, o curso de gestão em laboratórios
o que aprofunda a crise no Sistema Único de clínicos (online), com carga horária de 60 ho-
Saúde (SUS). ras, para todos os farmacêuticos interessados.
Se, por um lado, o SUS não remunera ade- O objetivo das duas instituições é contri-
quadamente, a saúde suplementar não difere buir com a atualização profissional, formando
muito. O modelo de remuneração está atrelado gestores que, além da eficiência na administra-
ao modelo assistencial e precisa ser discutido. ção, onde os recursos financeiros, estruturais,
Discussões importantes são feitas por meio da humanos e a qualidade sejam instrumentos de
Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) destaque, o que pode trazer perspectivas de
no tocante ao fator de qualidade. No entanto, novos desafios.
os índices de remuneração não são satisfató- O projeto do curso é voltado para atender
rios ao acompanhamento da gestão qualificada. às necessidades mercadológicas de qualifica-
A legislação sanitária, também, precisa ser ção dos farmacêuticos na área de gerencia-
aprimorada e a RDC 302/05, que trata do re- mento do laboratório clínico, valorizando-o e
gulamento técnico para o funcionamento dos reforçando a abrangência nacional das ações
laboratórios clínicos, é de 2005. Portanto, exi- institucionais do CFF e da SBAC e, principal-
ge uma urgente atualização. mente, pensando na segurança do paciente.

Pharmacia Brasileira nº 89 - Janeiro/Abril 2018


70
ENTREVISTA COM
Com o Dr. Valmir de Santi, especialista em saúde pública

O poder dos cuidados


farmacêuticos no SUS
A saúde está no centro de discussões cujo objetivo é repensar o setor. Estão em
curso, por exemplo, ajustes que propõem, por meio da implantação das Redes de
Atenção à Saúde (RAS), resolver o problema da fragmentação da atenção e da
gestão, com vistas a assegurar à população acesso aos serviços e produtos, res-
peitada a questão do custo-efetividade. O financiamento do sistema é um desafio
gigantesco que precisa ser enfrentado e está na linha de frente das discussões. Os
cuidados farmacêuticos podem contribuir para o sucesso das novas definições que
movimentam o setor. Como? Com a palavra, o DR. VALMIR DE SANTI.

encaminhados pelos outros serviços”, detalha


Dr. Valmir.
Ele complementa: “É, aí, onde o farmacêu-
tico tem uma atuação importantíssima, pois a
ele compete acompanhar esses pacientes que
necessitam de uma atenção maior, geralmen-
te, hipertensos e diabéticos em estado mais
grave”. Segundo Valmir de Santi, a farmácia e o
farmacêutico não podem figurar apenas como
apoio à rede, mas como parte dela, realizando
o cuidado farmacêutico ao grupo de paciente
que necessita desse acompanhamento.
A força motriz vinda dos cuidados clínicos
prestados pelo farmacêutico é capaz de gerar
uma série de benefícios à clientela do SUS. Foi
o que motivou o Conselho Federal de Farmácia
(CFF) a criar o programa “Cuidado farmacêuti-
co no SUS – capacitação em serviços”. A expec-
Dr. Valmir de Santi coordena o programa Cuidado tativa é de que ele ajude a reverter a lógica que
farmacêutico no SUS – capacitação em serviços, do CFF
prevalece no sistema de sobrevalorizar a dis-
Especialista em saúde pública, Valmir de tribuição de medicamentos, sem que os seus
Santi explica que o modelo que vem sendo usuários tenham o acompanhamento clínico
implantado no SUS (Sistema Único de Saú- dos farmacêuticos, o que acaba diminuindo o
de) baseia-se na lógica do fortalecimento da resultado terapêutico aguardado. O programa
atenção primária ou básica. “A atenção básica é coordenado por Dr. Valmir de Santi.
é a mais importante, pois é, a partir dela, que O Ministério da Saúde vem manifestando
se dá o controle de todo o processo de aten- o desejo de alterar essa lógica. No dia 24.01.18,
ção. A grande maioria dos pacientes entra no o ministro Ricardo Barros, da Saúde, esteve na
SUS pela atenção básica e circula por outros sede do CFF, onde foi condecorado com a Or-
serviços, mas voltam para a atenção básica, dem do Mérito Farmacêutico Internacional no

Pharmacia Brasileira nº 89 - Janeiro/Abril 2018


71
ENTREVISTA COM
Com o Dr. Valmir de Santi, especialista em saúde pública

grau Grã-Cruz, e anunciou medidas com esse Farmacêutico graduado pela Universi-
objetivo. Uma delas – e mais importante - foi dade Estadual de Ponta Grossa (UEPG), no
o reconhecimento do farmacêutico como in- Paraná, mesma instituição pela qual cursou
tegrante da equipe diretamente responsável o mestrado em Saúde Pública, Valmir de
pelo atendimento aos usuários do SUS. Santi atuou como professor de Epidemiolo-
Serviços farmacêuticos foram inseridos gia, de Políticas de Saúde e Planejamento,
na Tabela de Procedimentos, Medicamentos de Gestão da Assistência Farmacêutica e
e OPM (Órteses, Próteses e Materiais Espe- de Serviços no SUS nos cursos de Farmá-
ciais) do Sistema, antes, denominada Tabela cia, Enfermagem e Medicina da UEPG. Foi
de Procedimentos SAI/SUS. Com isso, os far- Secretário de Saúde do Município de Ponta
macêuticos passam a ser incluídos no grupo Grossa e é um estudioso do sistema público
de profissionais elencados para a realização de de saúde do Brasil e de outros países. É con-
procedimentos de promoção e prevenção em selheiro federal de Farmácia pelo Paraná e
saúde, remunerados pelo Sistema. foi vice-presidente do CFF.

PHARMACIA BRASILEI­ atenção básica, encaminha- estabilizado na atenção bá-


RA – Dr. Valmir de Santi, os dos pelos outros serviços. As- sica, ou tem que usar outros
cuidados farmacêuticos são sim, o farmacêutico tem uma serviços em outros níveis. Em
estratégicos para o sucesso atuação importantíssima, pois todos os momentos, o farma-
da atenção primária e, tam- a ele compete acompanhar es- cêutico pode contribuir da
bém, das Redes de Atenção ses pacientes que necessitam seguinte forma: realizando
à Saúde (RAS), modelo que de uma atenção maior, geral- os serviços farmacêuticos
está em implantação no SUS. mente, hipertensos e ou dia- de acompanhamento farma-
Quem faz a afirmação é o sa- béticos em estado mais grave. coterapêutico; executando a
nitarista Eugênio Vilela, um A farmácia e o farmacêutico conciliação de medicamentos
dos idealizadores do SUS e não podem figurar apenas e a revisão da farmacotera-
das RAS. Em seu livro, que como apoio à rede, mas como pia, durante a dispensação.
leva o título homônimo de parte dela, realizando o cuida- No processo de acompanha-
“Redes de Atenção à Saúde”, do farmacêutico ao grupo de mento, o farmacêutico po-
Vilela, ao se referir à atenção paciente que necessita desse derá atuar na educação em
primária, diz que a condição acompanhamento.
básica para que a reestrutu- PHARMACIA BRASILEI­
ração do Sistema, por meio RA – A atenção primária tem
das redes, obtenha sucesso repercussões em todos os
está na inclusão da farmácia níveis da assistência à saúde.
clínica no Sistema. O senhor É, aí, que os cuidados farma-
pode situar os cuidados far- cêuticos mostram a sua pu-
macêuticos nas RAS? jança, sendo fundamentais
Dr. Valmir de Santi - e decisivos para a saúde da
Dentro das RAS, a atenção bá- população. Que cuidados os
sica é a peça mais importante, farmacêuticos irão prestar à
pois é, a partir dela, que se dá clientela do SUS na atenção
todo o controle do processo primária?
de atenção. A grande maioria Dr. Valmir de Santi -
dos pacientes entra pela aten- Quando um paciente procura
ção básica e circula por outros o sistema de saúde, ele pode
serviços, mas voltam para a ter seu problema resolvido ou

Pharmacia Brasileira nº 89 - Janeiro/Abril 2018


72
ENTREVISTA COM
Com o Dr. Valmir de Santi, especialista em saúde pública

saúde, de maneiras individual que os pacientes procurem “A farmácia e o farmacêutico


ou coletiva e, ainda, realizar a menos as atenções de outros não podem figurar apenas como
monitorização terapêutica de níveis e consiga estabilizar apoio à rede, mas como parte
medicamentos. em parâmetros melhores os dela, realizando o cuidado
PHARMACIA BRASILEI­ pacientes já graves que se farmacêutico ao grupo de
utilizam de seus serviços.
RA – No SUS, tem prevalecido paciente que necessita desse
a lógica de se sobrevalorizar Além disso, quando o acompanhamento.
a distribuição de medicamen- farmacêutico estiver assu-
(Dr. Valmir de Santi, especialista em saúde pública e
tos, sem que os seus usuários mindo a prescrição de medi- coordenador do programa “Cuidado farmacêutico no
tenham o acompanhamento camentos para problemas de SUS – capacitação em serviços”, do CFF)”.
clínico dos farmacêuticos, o saúde autolimitados, poderá,
que acaba diminuindo o re- também, contribuir para uma E não é tarefa fácil, com a
sultado terapêutico aguar- melhor racionalização da uti- falta de recursos para contra-
dado. O programa “Cuidado lização dos serviços médicos, tações e com a miopia de mui-
farmacêutico no SUS – capa- que estarão mais focados nos tos gestores, que não enxer-
citação em serviços”, do CFF, pacientes que precisam da gam o quanto o farmacêutico
vai ajudar a inverter a lógica atenção deles. pode contribuir com seu tra-
reinante no Sistema? Esta é a balho na diminuição de cus-
PHARMACIA BRASILEI­
sua expectativa? tos com os tratamentos dos
RA – O SUS é um desafio – e
pacientes e com uma melhor
Dr. Valmir de Santi - A em que termos - para o far-
utilização dos medicamentos.
ex­
pectativa é exatamente macêutico?
esta. Estamos capacitando os Dr. Valmir de Santi - É
colegas farmacêuticos para um grande desafio para to-
poderem realizar os serviços dos os profissionais de saúde.
farmacêuticos dentro do SUS. Atender toda a população
Em cada polo formado (são brasileira, gratuitamente e
13, hoje, com 87 cidades aten- dentro de um único sistema,
didas e 930 farmacêuticos em não é tarefa fácil. Há subfi-
capacitação), estamos dispo- nanciamento, há problemas
nibilizando 100 horas de trei- de planejamento, há falta de
namento nas áreas da semio- profissionais e falta de orga-
logia, hipertensão, diabetes, nização dos serviços dentro Dr. Valmir de Santi: “O SUS é um
prescrição de medicamentos da lógica da RAS. Porém mui- grande desafio para todos os
alopáticos e fitoterápicos. to é feito e o farmacêutico profissionais de saúde”.

Assim, estamos procu- pode contribuir para melho- PHARMACIA BRASILEI­


rando colocar o farmacêu- rar o SUS. RA – O projeto “Cuidado
tico em maior contato com O desafio para o farma- farmacêutico no SUS – capa-
o paciente, mas sem perder cêutico é se estabelecer como citação em serviços”, do CFF,
o aspecto da logística dos profissional de saúde e não só coordenado pelo senhor, lança
medicamentos. Pois não há do produto medicamento. É um novo olhar sobre a atuação
processo de cuidado, sem o necessário que ele se insira na do farmacêutico no SUS, vez
medicamento estar dispo- equipe de trabalho e, ali, cum- que oferece as bases para que
nível para o paciente. Nossa pra o seu papel na área clínica. os profissionais conheçam e
expectativa, ainda, é que o É necessário que ele consi- apliquem o raciocínio clínico no
farmacêutico possa, assim, ga ter mais pessoal em sua cuidado que prestará aos clien-
contribuir mais para resolver equipe na área logística, para tes do sistema. O que define o
os problemas de saúde den- poder se dedicar mais ao pro- raciocínio clínico? Por que ele é
tro da atenção básica, para cesso de atenção ao paciente. básico para o cuidado?

Pharmacia Brasileira nº 89 - Janeiro/Abril 2018


73
ENTREVISTA COM
Dr. Valmir de Santi, especialista em saúde pública

“Quando o farmacêutico estiver Dr. Valmir de Santi - dilatado de tempo ou quando


assumindo a prescrição de Esperamos que saia um far- os tratamentos sugeridos e
macêutico mais capacitado acompanhados não estiverem
medicamentos para problemas
e preparado para auxiliar a surtindo efeito. Isso fará com
de saúde autolimitados, ele equipe de saúde no proces- que haja menos consultas mé-
poderá contribuir para uma so de atenção ao paciente; dicas com pacientes que po-
melhor racionalização da um farmacêutico integrado dem ser acompanhados pelo
utilização dos serviços dos ao trabalho desenvolvido na farmacêutico, disponibilizan-
médicos, que estarão mais equipe e não apenas um pro- do o médico para outras ativi-
fissional de apoio na área do dades que necessitam de sua
focados nos pacientes que
medicamento; um farmacêu- atenção especializada.
precisam da atenção deles. tico que passe a contribuir Ainda, quando for dispo-
(Dr. Valmir de Santi, especialista em saúde pública e muito mais para a solução dos
coordenador do programa “Cuidado farmacêutico no
nibilizado o serviço de pres-
SUS – capacitação em serviços”, do CFF)”.
problemas de saúde autolimi- crição de medicamentos não
tados dentro da unidade de tarjados pelo farmacêutico,
saúde e para a estabilização ele poderá atuar, prescreven-
Dr. Valmir de Santi - Pa­
ou melhoria de estado de saú- do produtos para problemas
ra que o farmacêutico real-
de de pacientes crônicos. de saúde autolimitados, o que
mente possa cuidar do pa-
ciente, é necessário que ele PHARMACIA BRASILEI­ provocará outra diminuição
seja incorporado ao processo RA – O contexto da saúde, no de consultas médicas para
de tratamento prescrito pelo mundo inteiro – e não é dife- pacientes que têm problemas
médico. Assim, o farmacêu- rente, no Brasil –, passa por que podem ser resolvidos
tico pode conhecer todos os mudanças que estão levando pelo farmacêutico.
aspectos da doença do pa- a uma redefinição na presta- Tudo isso tem grande im-
ciente, apropriar-se dos seus ção dos cuidados. Esse ajuste pacto e é muito seguro, pois
aspectos clínicos e passar, en- tem o objetivo de reorgani- há, na unidade de saúde, uma
tão, a tomar decisões, a partir zar e dividir o trabalho, com equipe composta de médicos,
desse conhecimento. Deci- vistas, entre outras expec- farmacêuticos e enfermeiros
sões relacionadas ao uso do tativas, a que se solucione a que, num trabalho integrado,
medicamento, sua efetividade crise de financiamento dos
ou não no tratamento, suas saberá quando o papel de um
sistemas público e privado de acaba e começa o do outro,
interações e efeitos adversos. saúde e para que se supere o
Decisões relacionadas a pro- podendo todos atuar, de for-
desafio de assegurar o acesso
postas de mudança de hábitos ma conjunta, para uma me-
da população aos serviços e
de vida do paciente. Todas es- lhoria da saúde da população
produtos, respeitada a ques-
sas decisões são tomadas em que utiliza o SUS.
tão do custo-efetividade.
equipe da qual ele faz parte.
Como os cuidados farmacêu-
ticos podem contribuir para o “O desafio para o
PHARMACIA BRASILEI­
sucesso das novas definições
RA – A objetividade é a tônica farmacêutico é se estabelecer
que marcam o setor?
do conteúdo do projeto “Cui- como profissional de
dado farmacêutico no SUS”, Dr. Valmir de Santi - O
farmacêutico poderá diminuir,
saúde e não só do produto
sem deixar de abranger uma
vasta gama informações, que de forma expressiva, o traba- medicamento. É necessário
vai das questões legais perti- lho médico na unidade de saú- que ele se insira na equipe de
nentes à utilização de fitote- de. Com o seu trabalho, o far- trabalho e, ali, cumpra o seu
rápicos, dos transtornos me- macêutico poderá cuidar de papel na área clínica.
nores às doenças crônicas. grupos de pacientes hiperten-
(Dr. Valmir de Santi, especialista em saúde pública e
Que farmacêutico sairá dessa sos e diabéticos, que só volta- coordenador do programa “Cuidado farmacêutico no
capacitação? rão ao médico, num prazo mais SUS – capacitação em serviços”, do CFF)”.

Pharmacia Brasileira nº 89 - Janeiro/Abril 2018


74
ENTREVISTA COM
Com a Dra. Gizele Leal, farmacêutica

Política Nacional de Resíduos Sólidos:


Farmacêuticos criam empresa
de gerenciamento de resíduos
Pelo jornalista Aloísio Brandão,
Editor desta revista.

empresas farmacêuticas pioneiras - e bem


sucedidas - no setor: a Farmabiente - Cen-
tral de Gerenciamento de Resíduos.
A PHARMACIA BRASILEIRA entrevis-
tou a Dra. Gizele Leal para saber de sua tra-
jetória profissional e da rica história do seu
empreendimento. “A ideia foi minha, mas a
coragem foi do meu marido, Leandro”, expli-
ca a farmacêutica, resumindo a gênese da
Farmabiente. Farmacêutica industrial pela
Universidade Federal de Alfenas (Unifal),
Gizele Leal tem habilitação em Homeopatia
e especialização em Química pela Universi-
dade Federal de Lavras (UFLA), em Minas,
e cursou Docência do Ensino Superior. Du-
rante o período da graduação, foi professora
Farmacêutica Gizele Leal criou e dirige empresa
de coleta, transporte, tratamento e destinação de Química em curso preparatório para o
final de resíduos dos serviços de saúde. vestibular e atuou como estagiária voluntá-
ria na Farmácia da Unidade de Saúde Nossa
A Política Nacional de Resíduos Sólidos
Senhora Aparecida, em Alfenas.
(PNRS), instituída pela Lei 12.305/2010 e
que determina que, a partir de 3 de agosto A inquietação a levava cada vez mais
de 2014, não será permitido descartar lixo além e, sempre, motivada pelo desejo de
em vazadouros a céu aberto (os lixões), ba- qualificação e de ocupar espaços no contex-
teu fundo nas cabeças inquietas dos farma- to farmacêutico - inclusive no mercado pro-
cêuticos mineiros GIZELE SOUZA SILVA fissional - de sua região. Em 2005, de volta
LEAL e LEANDRO CATARINA LEAL. Uni- à sua Ipatinga (MG), tornou-se sócia de uma
dos pelo casamento e pela Farmácia, os dois farmácia de manipulação, ao tempo em que
embalavam, desde os tempos de universida- se apresentava, como voluntária, à Prefeitu-
de, o sonho de ter um negócio vinculado à ra Municipal do Município.
atividade farmacêutica e conectado à defesa Mas foi, em 2006, ao assumir a respon-
do meio ambiente. E encontraram na referi- sabilidade técnica do almoxarifado central
da lei o caminho e o ânimo para criar, no dia da Prefeitura, que ela se viu diante do desa-
15 de junho de 2010, essa que é umas das fio de solucionar o grave problema dos me-

Pharmacia Brasileira nº 89 - Janeiro/Abril 2018


75
ENTREVISTA COM
Com a Dra. Gizele Leal, farmacêutica

dicamentos vencidos. “Até então, não exis- Ali, estava selada a decisão de criar a Farma-
tiam registros dos quantitativos perdidos biente, sob o slogan “Farmacêuticos em prol
pela falta de gestão e havia total ausência do do meio ambiente”.
profissional farmacêutico, no setor”, lembra. Gizele Leal, nesta entrevista, fala sobre
Não por isto. A dificuldade foi respondida a atuação de sua empresa, aponta os cami-
com a implantação da logística reversa. “To- nhos para a criação de uma firma do gênero,
dos os medicamentos vencidos, nas unida- garante que o gerenciamento de resíduos é
des de saúde do Município, eram devolvidos um mercado promissor para o farmacêuti-
para o abrigo de resíduos, no almoxarifado co, aponta os resíduos coletados e as suas
central. Mas, ainda, não existiam empresas fontes geradoras e avalia a construção da
locais capazes de gerenciar periodicamente logística reversa e as dificuldades para a sua
estes resíduos”, lembra a farmacêutica. implantação.
Até que, em 2010, participou do Em-
pretec (Seminário para Empreendedores). VEJA A ENTREVISTA

PHARMACIA BRASI­
LEI­RA - Dra. Gizele Leal, o
que faz a sua empresa?
Dra. Gizele Leal - A
Farmabiente é uma empre-
sa constituída por um casal
de farmacêuticos que pos-
sui como missão a proteção
do meio ambiente. Atuamos
em duas linhas. São elas:
consultoria, capacitação e
controladoria em gestão de
serviços de saúde; logística Coletores de resíduos
(coleta, transporte, trata-
mento e destinação final duos, e os rejeitos vão para
de resíduos dos serviços o aterro sanitário.
de saúde). Hoje, só no Mu-
PHARMACIA BRASI­
nicípio de Ipatinga (MG),
LEI­RA - De que é constituí-
possuímos 130 pontos de
da a Farmabiente, do ponto
coleta de medicamentos ficação, são embalados para
transporte rodoviário, no de vista físico? Qual é a sua
vencidos, distribuídos entre
as farmácias e drogarias. caso de resíduos B - Classe estrutura?
Após a coleta mensal, I. São transportados, trata- Dra. Gizele Leal - A Far-
estes medicamentos são dos, por meio de incinera- mabiente, do ponto de vista
encaminhados para a cen- ção, e as cinzas, destinadas físico, é constituída de re-
tral de triagem, onde são para aterro classe I. Para cepção, administração; se-
classificados, de acordo com resíduos B - Classe II, são tores gerencial, comercial,
as normas de saúde e meio encaminhados para labora- financeiro, técnico, logístico
ambiente. Depois da classi- tório de tratamento de resí- e sanitário F e M, DML (de-

Pharmacia Brasileira nº 89 - Janeiro/Abril 2018


76
ENTREVISTA COM
Com a Dra. Gizele Leal, farmacêutica

pósito de material de limpe- no sobre a importância do sos coletores de lâminas de


za), sala de treinamentos, gerenciamento correto, ou Raio-X para a população, em
copa e cozinha, vestiários seja, as pessoas aderem, por todas as unidades de saúde.
feminino e masculino, abri- exigência da legislação, e não Outro parceiro importante
go de resíduos A, B - Classe por consciência. é a Consul (Cooperativa de
I, B - Classe II, D e E; labora- Consumo dos Empregados
PHARMACIA BRASI­
tório de tratamento de resí- da Usiminas), que disponi-
LEI­RA - E houve pontos fa-
duos, pátio de veículos. biliza, em suas drogarias,
voráveis, também?
inclusive no shopping da
PHARMACIA BRASI- Dra. Gizele Leal - Sim,
cidade, nosso coletor de
LEIRA - Qual é o posicio- houve pontos favoráveis,
medicamentos vencidos ou
namento da sua empresa como a disponibilidade da
restos de embalagens con-
no mercado de trabalho? A vigilância sanitária local; o
taminadas.
Farmabiente tem concor- apoio do Sebrae (Serviço
rentes? Brasileiro de Apoio às Micro PHARMACIA BRASI­
Dra. Gizele Leal - A e Pequenas Empresas) e a LEI­RA - Que recomendação
nossa empresa é a única demanda reprimida. a senhora faz aos farmacêu-
do Município que possui ticos que desejam montar
PHARMACIA BRASI­
licença ambiental para as uma empresa destinada a
LEI­RA - Importa à Farma-
quatro classes de resíduos realizar o gerenciamento de
biente ser uma empresa
e utiliza a melhor metodo- resíduos, a exemplo do que
diferenciada? Quais são os
logia ambiental e sanita- faz a Farmabiente?
diferenciais?
riamente correta. Ou seja, Dra. Gizele Leal - Reco-
Dra. Gizele Leal - Te-
triagem e classificação e mendo consultar as legis-
mos vários diferenciais. Um
tratamentos específicos lações vigentes em níveis
deles é a nossa atuação na
para cada resíduo. municipal, estadual e fede-
elaboração e monitoramen-
ral; verificar a viabilidade
PHARMACIA BRASI­ to dos PGRSS. Auxiliamos
técnica de instalação da
LEI­RA - Quais foram os na implantação dos mes-
empresa junto aos órgãos
principais desafios que a se- mos, por meio de cursos de
fiscalizadores; fazer uma
nhora encontrou para mon- capacitação aos profissio-
pesquisa de mercado; ela-
tar a sua empresa? nais de saúde.
borar um plano de negócios
Dra. Gizele Leal - Nos- Outro diferencial está
e trabalhar bastante.
sos principais desafios foram em nosso projeto social, o
a falta de regulamentação Programa Descarte Cons- PHARMACIA BRASI­
sobre o assunto; falta de pro- ciente, desenvolvido em par- LEI­
RA - Qual é o investi-
fissionais técnicos capacita- ceria com diversas empresas mento que o farmacêutico
dos, tanto em nível munici- que atuam na gestão de resí- empresário do setor tem
pal, quanto estadual; artigos duos especiais cujo objetivo que fazer para montar a sua
científicos inexistentes e/ou é capacitar pessoas e viabili- própria empresa? Qual o
escassos sobre a destinação zar a destinação correta de lucro presumido? E qual é o
de alguns resíduos; ausência resíduos químicos, especiais lucro de sua empresa, Dra.
de cadastros das empresas e serviços de saúde. Gizele? Quantos pessoas ela
licenciadas que atuam no Um dos parceiros é a emprega?
setor; falta de conscientiza- Prefeitura Municipal de Ipa- Dra. Gizele Leal - O
ção das pessoas e do Gover- tinga, que disponibiliza nos- investimento é em torno de

Pharmacia Brasileira nº 89 - Janeiro/Abril 2018


77
ENTREVISTA COM
Com a Dra. Gizele Leal, farmacêutica

“O investimento (para o farmacêutico montar preservados 450.000 litros


a sua própria empresa) é em torno de R$ de água. Em se tratando de
saúde pública, isto repre-
250.000,00, sem a aquisição do incinerador
senta redução da prolifera-
próprio, e 1.500.000,00, com incinerador ção de vetores.
próprio. A Lucratividade média é de 12% a
PHARMACIA BRASI­
20%” (Gizele Leal, farmacêutica e empresária).
LEI­RA - Quais são os resí-
duos coletados e quais as
R$ 250.000,00, sem a aqui- tros problemas. Pode reduzir
suas fontes geradoras?
sição do incinerador próprio, o impacto no meio ambiente,
Dra. Gizele Leal - Con-
e 1.500.000,00, com incine- além de gerar mais emprego,
forme a RDC nº 306/2004,
rador próprio. A Lucrativi- renda, diminuição de custos,
da Anvisa, e a Resolução
dade média é de 12% a 20%. além de reduzir a matéria-
nº 358/2005, do Conama
A nossa empresa emprega -prima e aumentar a vida útil
(Conselho Nacional do Meio
atualmente dez pessoas. dos aterros sanitários.
Ambiente), os resíduos dos
PHARMACIA BRASI­ PHARMACIA BRASI­ serviços de saúde são classi-
LEI­RA - O gerenciamento de LEI­RA - Quanto (em tonela- ficados e divididos em cinco
resíduos é um mercado pro- das) a sua empresa já cole- grupos. São eles:
missor para o farmacêutico? tou de resíduos, em Ipatinga • Grupo A - (potencial-
Dra. Gizele Leal - Sim. e região? E o que esse volu- mente infectantes). São
Não só o Brasil, como o mun- me representa de perigo à os resíduos com a pos-
do tem mudado o modo de saúde e ao meio ambiente? sível presença de agen-
pensar sobre o futuro.  A cor- Dra. Gizele Leal - A Far- tes biológicos que, por
reta gestão de resíduos pode mabiente já coletou 26.500 suas características,
minimizar o impacto sobre a toneladas de resíduos. De podem apresentar ris-
saúde pública, com redução acordo com a BHS (Brasil co de infecção. Exem-
de acidentes com perfuro- Health Service), a cada quilo plos: recipientes e ma-
cortantes, redução de infec- de resíduos coletados e tra- teriais resultantes do
ções, internações, entre ou- tados, adequadamente, são processo de assistência
à saúde, tais como as
luvas que tiveram con-
tato com sangue ou se-
greções de clientes.
• Grupo B - Resíduos
que contêm substân-
cias quí­mi­cas que po-
dem apresentar risco
à saúde pública ou ao
meio ambiente, depen-
dendo de suas caracte-
rísticas de inflamabi-
lidade, corrosividade,
reatividade e toxicida-
de. Exemplos: medica-
mentos vencidos.

Pharmacia Brasileira nº 89 - Janeiro/Abril 2018


78
ENTREVISTA COM
Com a Dra. Gizele Leal, farmacêutica

• Grupo C - Quaisquer tais como os hospitais, far- intoxicação, internação e


materiais resultantes mácias, drogarias, distribui- até mesmo a morte.
de atividades humanas doras, transportadoras, labo- Existem classes que são
que contenham radio- ratórios de análises clínicas, mais perigosas, tais como os
nuclídeos em quanti- postos de coleta, clínicas mé- antimicrobianos, os citostá-
dades superiores aos dicas, odontológicas e vete- ticos, os antineoplásicos, os
limites de isenção es- rinárias, entre outros. Impor- imunossupressores, os digi-
pecificados nas normas tante ressaltar que parte dos tálicos, os imunomodulado-
da Comissão Nacional resíduos domiciliares possui res, os antirretrovirais e os
de Energia Nuclear características que fazem insumos farmacêuticos dos
(CNEM) e para os quais com que se assemelhem aos medicamentos controlados
a reutilização é impró- resíduos dos serviços de saú- pela Portaria 344/98, do
pria ou não prevista. As de. Exemplos são os acessó- Ministério da Saúde. Porém
normas são aplicáveis a rios utilizados por pacientes alguns medicamentos não
locais que possuem ra- diabéticos para a aplicação oferecem riscos ao meio
dioterapia. diária de insulina injetável, ambiente, tais como os fito-
• Grupo D - Resíduos que os lenços descartáveis, fe- terápicos, que são os deriva-
não apresentam risco zes de animais domésticos, dos de plantas medicinais.
biológico, químico ou fraldas descartáveis, absor- Exemplo de medica-
radiológico à saúde ou ventes higiênicos, além de mentos descartados pela
ao meio ambiente, po- medicamentos vencidos, população, de maneira
dendo ser equiparados inutilizados e/ou restos e equivocada e cotidiana-
aos resíduos domicilia- embalagens. mente, e que oferecem
res. Exemplos: resíduos mais riscos à saúde e ao
PHARMACIA BRASI­
recicláveis, como papel, meio ambiente são os an-
LEI­­RA - Quais são os medi-
plástico, vidro, metal e timicrobianos (amoxicilina,
camentos descartados, co-
não-recicláveis, como azitromicina, cefalexina,
tidianamente e de maneira
entre outros), pois podem
papel higiênico. equivocada, que oferecem
favorecer a propagação
• Grupo E - Materiais mais riscos à saúde e ao
da resistência bacteriana
perfurocortantes ou meio ambiente?
múltipla a antibióticos. Os
escarificantes, todos os Dra. Gizele Leal - Todos
anticoncepcionais (hormô-
utensílios de vidro que- os medicamentos vencidos
nios), porque podem con-
brado no laboratório e descartados, de maneira
taminar o solo, a atmosfera
outros similares. Exem- inadequada, oferecem ris-
e a água. Estes produtos
plos: agulhas. cos à saúde pública, uma vez
podem contaminar o peixe,
Estes resíduos são ge- que podem ser reutilizados,
com o aumento de hormô-
rados por serviços de saúde, gerando reações alérgicas,
nio feminino, que volta à
nossa mesa, ameaçando o
ser humano (masculino).
“A atual grade curricular do curso de
Farmácia está voltada para a inserção PHARMACIA BRASI­
do medicamento na cadeia, mas não se LEI­RA - Que avaliação a se-
nhora faz da construção da
preocupa em retirar o medicamento do
logística reversa de medica-
mercado” (Gizele Leal, farmacêutica e empresária). mentos?

Pharmacia Brasileira nº 89 - Janeiro/Abril 2018


79
ENTREVISTA COM
Com a Dra. Gizele Leal, farmacêutica

Dra. Gizele Leal - É de- vel o retorno ao fabricante, saltar que a Lei determina
safiante e inovadora, pois como é o caso de pilhas e que, a partir de 3 de agosto
viabiliza e responsabiliza, baterias. de 2014, não será permitido
pela primeira vez, a popu- Já para os medicamen- descartar lixo em vazadou-
lação, que é um importante tos que possuem diversos ros a céu aberto (os lixões).
elo na cadeia de medica- fabricantes e princípios Dra. Gizele Leal - Atri-
mentos. ativos, o ideal seria viabili- buo à diversidade de nosso
zar pontos de coleta para País. O Brasil é composto
PHARMACIA BRASI­
tratamento e destinação por Estados completamen-
LEI­RA - Acha que o prin-
final descentralizada. Ou te distintos quanto à terri-
cípio da responsabilidade
seja, o usuário ou pacien- torialidade e ao desenvolvi-
compartilhada pelo ciclo de
te devolveria os restos e mento; a falta de estrutura
vida dos produtos que nor-
os medicamentos venci- e de conhecimento e cons-
teia essa política está sendo
dos, nos pontos de coleta ciência; ao investimento
bem absorvida pelas partes inicial alto; à ausência de
(farmácias/ drogarias); os
envolvidas no processo? transportadores ou distri- legislação específica e única.
Dra. Gizele Leal - In- buidores fariam a logísti- No caso da cadeia de medi-
felizmente, não na veloci- ca de coleta, ou arcariam camentos, o gerenciamen-
dade de que precisamos. financeiramente com os to de resíduos é abordado,
Mas acredito que podemos custos, por meio de agen- de forma fragmentada, em
avançar neste quesito. tes logísticos, até a central diferentes normas, o que
PHARMACIA BRASI­ de triagem e tratamento, e pode dificultar o entendi-
LEI­RA - Pode explicar o que os fabricantes e importa- mento pelo profissional.
compete a cada uma das dores cuidariam do trata-
PHARMACIA BRASI­
partes? mento e destinação final.
LEI­RA - Qual é a destinação
Dra. Gizele Leal - Em Vale ressaltar a impor-
que a sua empresa dá aos
geral, cabe aos fabricantes, tância do setor de pesquisa
resíduos de medicamentos
importadores, distribuido- e desenvolvimento de me-
coletados?
res e comerciantes imple- dicamentos industriais, no
Dra. Gizele Leal - Os
mentar e operacionalizar o sentido de definir a melhor
medicamentos passam pelo
sistema de logística rever- técnica de tratamento des-
setor de triagem e são sepa-
sa,  disponibilizar postos de tes possíveis resíduos.
rados, de acordo com o prin-
entrega de resíduos, dar PHARMACIA BRASI­ cípio ativo em classe I (resí-
destinação ambientalmente LEI­RA - A que a senhora duos perigosos) e classe II
adequada, sendo o rejeito atribui a dificuldade (ou (resíduos não- perigosos).
encaminhado para a dispo- indiferença) de parte dos Os resíduos perigosos (clas-
sição final ambientalmente envolvidos com o ciclo de se I) são incinerados e as cin-
adequada. vida dos medicamentos zas geradas, depositadas em
Cabe aos consumido- (indústrias, importadoras, aterro sanitário (classe I). Já
res efetuar a devolução, no farmácias e consumido- os resíduos não-perigosos
posto de coleta, após a uti- res)  para cumprir a Política (classe II) são tratados, por
lização. Para alguns itens Nacional de Resíduos Sóli- meio de processos químicos
prioritários para a implanta- dos (PNRS), instituída pela (neutralização, complexa-
ção desta logística, é possí- Lei 12.305/2010? Vale res- ção, precipitação) e desca-

Pharmacia Brasileira nº 89 - Janeiro/Abril 2018


80
ENTREVISTA COM
Com a Dra. Gizele Leal, farmacêutica

racterizados, conforme pre- mento. Para fins sanitários, medicamento na cadeia, ou


coniza a RDC 306/2014. todo medicamento vencido seja, prepara o profissional
deve ser considerado como para a pesquisa, desenvolvi-
PHARMACIA BRASI­
resíduo perigoso. mento, produção industrial
LEI­RA - Incineração, auto-
PHARMACIA BRASI- e magistral, passa pelas dis-
clavação, descontaminação
LEIRA - Fale sobre a legis- tribuidoras e transportado-
química e descaracterização
lação que regulamenta o ras e chega até os pontos
física: qual é a metodologia
setor? de dispensação (farmácias e
mais indicada para cada tipo
Dra. Gizele Leal - En- drogarias), mas não se preo-
de resíduo?
tre as legislações, as princi- cupa em retirar o medica-
Dra. Gizele Leal - Re-
pais, em nível federal, são a mento do mercado.
síduos dos grupos A e E po-
Lei 12.305/2010, que trata Nosso maior exem-
dem ser tratados, por meio
sobre a Política Nacional de plo esta na dispensação
de autoclave; resíduos do
Resíduos Sólidos (PNRS); de amoxicilina suspensão.
grupo B podem ser incine-
a  RDC Anvisa 306/2004, Orientamos o paciente
rados, descontaminados
que dispõe sobre o regula- a como preparar o me-
quimicamente e/ou desca-
mento técnico para o geren- dicamento, porque ele é
racterizados fisicamente,
ciamento de resíduos de ser- necessário, quando come-
conforme triagem.
viços de saúde, que obriga as çará a fazer efeito, o que
PHARMACIA BRASI­ empresas de saúde do País a acontecerá se for tomado
LEI­RA - Qual é o nível de desenvolverem  seus planos de forma incorreta ou não
classificação dos medica- de gerenciamento dos resí- for tomado, quais são os
mentos quanto ao perigo duos de serviços de saúde efeitos adversos mais fre-
que ele representa para a (PGRSS), importante instru- quentes, como e quando
saúde e o meio ambiente? mento para gestão; a Reso- o medicamento deve ser
Dra. Gizele Leal - Os lução Conama 358/2005, tomado, qual a duração do
medicamentos, por serem que dispõe sobre o trata- tratamento, como deve ser
constituídos de produtos mento e a disposição final guardado etc. Mas o far-
químicos, devem ser classi- dos resíduos dos serviços de macêutico deve informar,
ficados, de acordo com as saúde; ABNT NBR 10004 / ainda, o que fazer com as
legislações sanitária e am- 2004, que faz a classificação sobras e com a embala-
biental. Atualmente, utiliza- de resíduos sólidos. gem.
mos a RDC nº 306/2004, da PHARMACIA BRASI- A verdade é que pre-
Anvisa, e a 10.0004/2004, LEIRA - A senhora afirma cisamos despertar, não só
da ABNT (Associação Brasi- que o farmacêutico, ainda, nos farmacêuticos, mas
leira de Normas Técnicas) - não se sente capacitado nos empresários do ramo,
NBR. Assim sendo, recebem pela gestão integral do me- na população e no poder
classificações mistas, ou dicamento. Explique a sua público, a conscientiza-
seja: B - classe I  (resíduos de afirmação. ção e a responsabilização
medicamentos perigosos) e Dra. Gizele Leal - A sobre o descarte correto
B - classe II (resíduos de me- atual grade curricular do destes resíduos para que,
dicamentos não- perigosos) curso de Farmácia está juntos, possamos proteger
somente para fins de trata- voltada para a inserção do o meio ambiente.

Pharmacia Brasileira nº 89 - Janeiro/Abril 2018


81
FARMÁCIA CLÍNICA, NO BRASIL

FARMÁCIA CLÍNICA, NO BRASIL


Uma história de utopia e desbravamento
Década de setenta: o farmacêutico visionário JOSÉ ALEIXO PRATES anuncia a
luta pela implantação de um serviço de farmácia clínica, no Hospital das Clínicas,
atual Hospital Universitário Onofre Lopes, da UFRN. Até ali, ninguém sabia o que
significava farmácia clínica, no Brasil, a não ser pela leitura de artigos. Era o
primeiro sopro clínico da Farmácia, no País.

Pelo jornalista Aloísio Brandão, editor.

“Ninguém sequer sabia o que significava Uma saraivada de críticas, desconfiança e as-
farmácia clínica, àquela época, no Brasil, a não sombro partiu de todo lado – mas não da UFRN
ser pela leitura de artigos publicados em revis- - contra aquele farmacêutico determinado a por
tas americanas”. A declaração, feita pelo pioneiro em curso uma ideia tida como “infrutífera”, “esta-
e uma das maiores autoridades brasileiras nesse pafúrdia” e “maluca”. Mas pouco se lhe importavam
segmento profissional, Dr. Tarcísio Palhano, tra- as dificuldades. Aquele farmacêutico sabia que iria
duz o ambiente farmacêutico que grassava, no encontrá-las e vencê-las. Mas, também, sabia ma-
País, até o fim dos anos 70, marcado pelo tradi- nejá-las e transformá-las em energia vital, positiva.
cionalismo que as práticas profissionais seguiam O visionário que agia como um Quixote levava o
e que, não diferentemente, eram exercidas, tam- nome de José Aleixo Prates e Silva ou apenas Pro-
bém, em grande parte do mundo. Até que o pro- fessor Aleixo, figura central e definitiva na história
fessor Aleixo Prates, um farmacêutico estrategis- da implantação dessa prática profissional, no País.
ta e visionário (é assim que os amigos o reputam e
ele próprio se autodefine), aparece na cena farma- O professor José Aleixo
Prates, um farmacêutico
cêutica brasileira, na década de 1970, e anuncia a visionário que, também, era
luta em favor da criação de um serviço de farmá- focado na prática e hábil
cia clínica, no Hospital das Clínicas, atual Hospital estrategista, anuncia a
implantação de um serviço de
Universitário Onofre Lopes, da Universidade Fe- farmácia clínica, no Hospital
deral do Rio Grande do Norte (UFRN), em Natal. das Clínicas da UFRN,
Era o primeiro sopro clínico da Farmácia. quando ninguém falava,
ainda, dessa área, no País. Foi
o início de uma verdadeira
aventura que promoveu
mudanças profundas na cena
farmacêutica brasileira.

Paulista do Município de Bebedouro, nascido


a 8 de março de 1928, Aleixo deixou a terra natal,
aos 18 anos, para fazer o curso de radiotelegrafis-
ta da Aeronáutica, no Nordeste. Ele tinha três op-
ções de cidades. Mas quando o avião em que via-
java sobrevoou a cidade de Mossoró, ele decidiu
que, ali, seria o seu lugar. “Fiquei impressionado
com a iluminação de Mossoró, e pensei: é aqui que
vou ficar”, justificou a decisão.
Na cidade, casou-se com Marisa, com quem
teve quatro filhos. Dois deles são farmacêuticos,
O Hospital das Clínicas da Universidade Federal do Rio
Grande do Norte, hoje, Hospital Universitário Onofre sendo que Júlio César é professor de Deontologia
Lopes, foi o polo irradiador da farmácia clínica, no Brasil e coordena a farmácia-escola (ela fora criada pelo

Pharmacia Brasileira nº 89 - Janeiro/Abril 2018


82
FARMÁCIA CLÍNICA, NO BRASIL
seu pai) do curso de Farmácia da UFRN. Aleixo vez, por temer que o vento mudasse, dentro da
concluiu o curso de radiotelegrafista e ingressou Universidade, e soprasse o seu sonho para longe.
na Aeronáutica, em Natal. Entrou para o curso de Então, passou a fertilizar o terreno.
Farmácia da UFRN, onde se formou, em 1957. As leituras que fazia sobre o tema estavam
Deixou a Aeronáutica, quatro anos depois, em revistas dos pioneiros norte-americanos e em
como capitão reformado, para assumir, no Rio de alguns artigos dos farmacêuticos Evaldo de Olivei-
Janeiro, a função de assessor técnico da Maurício ra, José Tobias Neto e Manoel Bastos Lira, publi-
Vilela, uma indústria farmacêutica, hoje, extinta. Do cados na “Gazeta da Farmácia”, um jornal escrito
Rio, transferiu-se para São Paulo, levado por outro e editado pelo também farmacêutico Antônio Nu-
desafio: o de atuar como assessor do Conselho Fe- nes Lago, que circulou, no Brasil, na década de 60.
deral de Farmácia, então, sediado naquela capital. O ELO - Aleixo estava maravilhado e conven-
A inquietação moveu o farmacêutico, mais cido de que a filosofia da farmácia clínica, segundo
uma vez. Agora, para dentro do universo acadê- a qual os farmacêuticos devem prestar cuidados
mico, tornando-se professor de Deontologia no diretamente ao paciente, de forma a otimizar a
curso de Farmácia da USP (Universidade de São farmacoterapia, promover saúde e bem-estar e
Paulo). Depois, fez livre docência na Universidade prevenir doenças, dentro da perspectiva da pro-
Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). moção do uso seguro e racional de medicamentos,
OUSADIA E AVENTURA - Até que o reitor seria o novo elo que religaria o profissional à pro-
da Universidade Federal do Rio Grande do Nor- fissão, com um diferencial: o elo seria mais denso,
te, Domingos Gomes de Lima, convidou-o para porque, entre um e o outro, estaria o paciente.
ingressar na instituição. A UFRN foi o ponto de
partida para uma das mais ousadas aventuras na
história da Farmácia brasileira, que reverbera
(hoje, mais que em qualquer outro tempo, graças
às políticas adotadas pelo Conselho Federal de
Farmácia para o setor), no País inteiro. A farmácia
clínica encontrava em Aleixo o homem certo e na
UFRN, a instituição ideal para a sua implantação.
A instituição acolheu a sua ousada utopia e o pro-
fessor foi em frente.

“Ninguém sequer sabia o que


significava farmácia clínica, A filosofia da farmácia clínica, centrada na prestação de
àquela época, no Brasil, a não ser cuidados pelo farmacêutico diretamente ao paciente (foto
acima), seria o elo que religaria o profissional à profissão.
pela leitura de artigos publicados
Vale lembrar que os farmacêuticos vinham de
em revistas americanas” uma perda grande que os abateu, profundamente.
(Dr. Tarcísio Palhano, Até o início do século XX, embora o Brasil já pos-
pioneiro da farmácia clínica noBrasil).
suísse cursos de Farmácia, o nome farmacêutico,
Aleixo Prates, se, por um lado, era um voraz ainda, continuava associado ao do boticário. Era
leitor de tudo o que lhe caía às mãos sobre far- ele quem preparava e comercializava produtos
mácia clínica, por outro lado, era dado à prática, medicinais. Mas o fortalecimento da indústria far-
aos fazeres profissionais. Era nisso em que acre- macêutica, com a deflagração da Segunda Guerra
ditava: conhecimento e prática. A implantação de Mundial, enfraqueceu a lida dos farmacêuticos.
um serviço na área clínica, dentro do Hospital das Isto, porque, embora fossem profissionais
Clínicas, virou uma obsessão sua e ninguém o dis- de grande formação técnica e científica, os seus
suadia da ideia. Muito articulado, Aleixo passou – serviços passaram a ser pouco demandados pela
e com incrível rapidez – a convencer a todos, do população que tinha, nos estabelecimentos far-
reitor ao diretor do hospital e a alguns médicos macêuticos, os medicamentos – agora, industria-
professores, do seu propósito. Tinha pressa. Tal- lizados – de que necessitava.

Pharmacia Brasileira nº 89 - Janeiro/Abril 2018


83
FARMÁCIA CLÍNICA, NO BRASIL

Os farmacêuticos, então, foram enquadra-


dos dentro de um conceito equivocado, segundo “Até que um visionário aparece
o qual eles eram apenas “entregadores” de caixi- na cena farmacêutica brasileira,
nhas de produtos fabricados. E um fosso abriu-se
entre os farmacêuticos e os pacientes. Pior para
na década de 1970, e anuncia
todos. a luta pela criação de um serviço
Aleixo Prates tinha a real dimensão da gravi- de farmácia clínica, no Hospital
dade social e sanitária do problema, e a farmácia das Clínicas, atual Hospital
clínica estava no centro de suas convicções. Prin-
cipalmente, acreditava que essa área da Farmácia
Universitário Onofre Lopes, da
era uma nova forma de unir o profissional ao pa- UFRN, em Natal. Era o primeiro
ciente. Não era mais apenas o medicamento, mas sopro clínico da Farmácia”.
o cuidado a ser prestado, que estaria na linha de (Redação da matéria).
frente das ações profissionais.

A estratégia O formando, então, de- que teve o zero como ponto de


siste de cursar um mestrado partida.
do visionário em Microbiologia Clínica, na “Fui feliz na escolha das
Universidade Federal do Rio pessoas, na descoberta de ta-
O ingresso do professor
de Janeiro, e resolve integrar lentos para a formação da equi-
Dr. Aleixo Prates na Universi-
as fileiras que o professor pe. Tarcísio, por exemplo, foi es-
dade Federal do Rio Grande do
Aleixo Prates iria formar em colhido a dedo. Via em seu rosto
Norte foi a chave-mestra com
torno dessa área profissional. a ousadia e o talento”, lembrou
que ele abriu todas as portas
O nome do recém-formado? Aleixo Prates, em entrevista
que levariam à implantação do
Tarcísio Palhano. que deu à revista “Pharmacia
primeiro serviço de farmácia
clínica, no Brasil. Os movimen- “Eu vinha de uma famí- Brasileira”, do Conselho Federal
tos iniciais do professor foram lia pobre, natural de São José de Farmácia, em 2006.
todos no sentido de formar uma de Mipibu, no interior do Rio O GRUPO - Tarcísio foi
equipe, qualificá-la e levá-la a Grande do Norte. Meu pai era enviado por Aleixo Prates
atuar dentro do princípio do um funcionário público muni- para o Serviço de Farmácia do
multiprofissionalismo. Assim, cipal que complementava sua Hospital das Clínicas da USP
estaria gerando as condições pequena renda mensal, fazendo (Universidade de São Paulo), à
para criar o serviço. fretes em uma carroça de boi. época, dirigido pelo professor
Mas apenas a energia ge- De repente, eu sou levado por José Silvio Cimino, e, depois,
rada na cabeça daquele Quixote uma verdadeira onda que me para o Instituto do Coração,
não seria o bastante para mover colocaria no epicentro de um também, da USP, onde fez um
os seus moinhos. Era preciso movimento pioneiro que viria treinamento em farmácia hos-
que outras forças convergissem a implantar uma das mais belas pitalar, sob a orientação do Dr.
para o mesmo ponto. A primeira páginas da história farmacêuti- George Washington B. Cunha,
água nova que ele trouxe para ca brasileira, chamada de farmá- chefe do Serviço, para, de lá,
o moinho foi o convencimento cia clínica”, lembra emocionado seguir para o Chile, a fim de
que exerceu sobre um jovem Tarcísio Palhano, que endossa cursar uma especialização em
concluinte do curso de Farmá- o justo adjetivo que foi dado a Farmácia Clínica.
cia da UFRN para se juntar a ele, Aleixo Prates, o de visionário, No Chile, o recém-for-
Aleixo, e “criar um novo cenário que acabou caindo bem para ele mado farmacêutico foi aluno
farmacêutico, no Brasil, por próprio e os demais que se jun- daquela que se tornaria figura
meio da farmácia clínica”. taram a ele em sua empreitada e central na consolidação das

Pharmacia Brasileira nº 89 - Janeiro/Abril 2018


84
FARMÁCIA CLÍNICA, NO BRASIL
bases teóricas e práticas clí- farmacêuticos passaram, desde fiou a execução de vários planos
nicas, no então Hospital das o começo, a ser desenvolvidas taxados por muitos de “mirabo-
Clínicas da UFRN: a professo- em equipe com outros profis- lantes”. Mas o segmento ganhou
ra chilena Inés Ruiz, uma auto- sionais, no hospital. tempo e lugar e deslanchou. Mil
ridade na área de reconheci- Inicialmente, Lúcia foi novecentos e setenta e nove
mento internacional. atuar na disciplina de Clínica simboliza o ano de implantação
Cirúrgica IV (DCC), sob a lide- da farmácia clínica, no Brasil.
rança do médico e professor
Onofre Lopes Júnior. Ivonete
integrou a equipe de Gastrente-
rologia, com o médico e profes-
sor Carlos Fonseca e, por fim,
Tarcísio foi atuar na Pneumono-
logia, tendo à frente o médico e
professor Elmano Marques.

Professora Inés Ruiz, chilena,


autoridade de reconhecimento
internacional em farmácia clínica, foi
figura central na consolidação das
bases teóricas e práticas clínicas, no
Hospital das Clínicas da UFRN.
A foto, de 1979, no Hospital das Clínicas
Equipe da disciplina Gastroenterologia
da UFRN, é emblemática. Acima da porta, a
Concluído o estudo, na da qual fazia parte a farmacêutica Ivonete
identificação que o Brasil, ainda, não conhe-
Batista (segunda da esquerda) acompanha
Universidade do Chile, Palha- paciente internado.
cia. O grupo reúne os farmacêuticos Lúcia
Noblat, Júlio Maia (diretor da farmácia hos-
no retornou para a UFRN, já pitalar), Socorro Oliveira (da farmacotécni-
contratado como professor do ca) e Tarcísio Palhano
curso de Farmácia. E recebeu
carta branca do professor Alei- FORTALECIMENTO E EX-
xo para convidar farmacêuticos PANSÃO - Os dois serviços de-
para ocupar postos-chave na ram decisiva sustentação técni-
equipe. As primeiras a chegar ca e científica às ações clínicas.
foram duas ex-colegas de tur- Mas Aleixo e Tarcísio queriam
Paciente internado recebe a visita da equi- mais. Entendiam que era urgen-
ma: Lúcia Costa (Noblat) e pe da disciplina Pneumologia. O farmacêu-
Ivonete Batista. Ambas foram, tico Tarcísio Palhano (segundo da direita te disseminar a força da farmá-
também, enviadas para o Chile, para a esquerda) integrava o grupo. cia clínica pelo Brasil, sob a ar-
a fim de cursar farmácia clínica. As transformações com gumentação de que, se era tão
A equipe ficou formada, ao final que os pioneiros da farmácia eficaz, tão importante, ela não
de 1979. clínica sonhavam começaram a poderia ficar confinada àquele
Aleixo Prates, ao mesmo se materializar, com a implanta- hospital. Além do que, difundida
tempo, agiu, no sentido de cons- ção, em 15 de janeiro de 1979, pelo País, a farmácia clínica iria
truir o que não se exercia, até do Serviço de Farmácia Clíni- se fortalecer e dar “crias”, como,
então, no Brasil: o multiprofis- ca e do Centro de Informação de fato, aconteceu.
sionalismo. E se houve algo em sobre Medicamentos (CIM), Tarcísio Palhano lembra que
que o professor foi irredutível, no então Hospital das Clínicas era predominante na equipe o
além de peremptório, foi a sua da UFRN. Ambos foram os pri- pensamento de que, independen-
defesa firme e intransigente do meiros do gênero, no Brasil. À temente dos aspectos ideológi-
que julgava ser a essência do frente do feito extraordinário, cos contidos na proposta levada
seu projeto, que é a prática. Por estava Tarcísio Palhano. A ele, à frente pelos farmacêuticos de
isso, as atividades clínicas dos o professor Aleixo Prates con- Natal (e todos os novos conceitos,
* As duas fotos (da coluna do meio) são de aulas práticas ministradas no I Curso Brasileiro de Farmácia Clínica (1983).

Pharmacia Brasileira nº 89 - Janeiro/Abril 2018


85
FARMÁCIA CLÍNICA, NO BRASIL

“As transformações com que os pioneiros da


farmácia clínica sonhavam começaram a se
ideias e mudanças de compor- materializar, com a implantação, em 15 de
tamentos profissionais), deveria janeiro de 1979, do Serviço de Farmácia
prevalecer a busca pela consoli-
dação e propagação da farmácia
Clínica e do Centro de Informação sobre
clínica, com vistas à promoção do Medicamentos (CIM), no Hospital da UFRN.
uso seguro e racional dos medica- Ambos foram os primeiros do gênero, no Brasil”.
mentos, por meio da inserção do (Redação da matéria)”.
farmacêutico na equipe multipro-
fissional de saúde. De 1985 a 1992, foram Acrescentou que eram
Ainda de acordo com o realizados oito cursos de espe- convidados a ministrar cur-
professor Palhano, a equipe do cialização em Farmácia Hospita- sos, dar aulas, fazer palestras,
Hospital das Clínicas fora es- lar para o Controle de Infecção participar de mesas-redondas
truturada, seguindo um pensa- Hospitalar, dos quais participa- e, em todas essas ocasiões,
mento que contemplava o for- ram 191 farmacêuticos de todo procuraram realçar o valor e
talecimento das competências o País. A farmácia clínica era um a importância da farmácia clí-
profissionais de cada integran- dos grupos temáticos dos cur- nica para o sistema de saúde,
te, mas que, também, cobrava sos. Em 1995, o “XVIII Encontro “tendo em vista tratar-se de
o comprometimento de todos Nacional de Estudantes de Far- uma prática profissional que
com a causa da farmácia clíni- mácia” (ENEF) abriu espaço para se efetiva essencialmente em
ca. “Nós tínhamos a orientação a realização, sob a coordenação benefício do paciente, tendo
permanente do professor Alei- de Palhano, do “1º Concurso o farmacêutico como membro
xo, e isso nos dava muito mais sobre Aconselhamento ao Pa- ativo da equipe de saúde”, ex-
segurança, muito mais certeza ciente do País”. Daí para frente, plica o farmacêutico norte-rio-
daquilo que nós pretendíamos, a farmácia clínica passou a ser -grandense.
do que buscávamos”, acrescen- uma história do conhecimento A obstinação em difundir a
ta Dr. Tarcísio. dos farmacêuticos brasileiros. farmácia clínica foi, com o tem-
O PRIMEIRO SEMINÁRIO O esforço para divulgar po, contribuindo para dissipar
- Movidos por esse pensamen- essa área profissional deman- as dúvidas entre farmacêuticos
to foi que, em 1981, eles rea- dou um serviço de formiga. “Tão e outros profissionais da saúde.
lizaram o “1º Seminário Bra- logo implantamos o primeiro Os pioneiros potiguares saíam
sileiro de Farmácia Clínica”. Serviço de Farmácia Clínica e o plantando sementes da clínica
Cento e onze farmacêuticos primeiro Centro de Informação por onde andavam. Foi assim
de 14 Estados deslocaram-se sobre Medicamentos do Brasil, dentro das equipes de cardio-
para Natal para participar do começamos a ser requisitados vascular, gastrenterologia e
evento. Dois anos depois, veio para participar de eventos far- pneumologia do Hospital das
o “1º Curso Brasileiro de Far- macêuticos por todo o País. Clínicas, nas comissões de con-
mácia Clínica”, com a partici- Neles, passamos a divulgar essa trole de infecção hospitalar, de
pação de 18 farmacêuticos de nova prática farmacêutica”, lem- farmácia e terapêutica, de su-
sete Estados. bra Tarcísio Palhano. porte nutricional, parenteral e
enteral, das quais fizeram parte.
Também, nas aulas que minis-
I Curso Brasileiro de Farmácia travam para estudantes de Far-
Clínica, no então Hospital
das Clínicas da UFRN, em mácia, Medicina, Enfermagem,
1983: aula prática, com Odontologia e Nutrição. Assim,
acompanhamento a paciente começou a ser construído o re-
internado, da equipe da
disciplina Cardiovascular.
conhecimento da importância
A farmacêutica Lúcia Costa da participação do farmacêuti-
(terceira da direita para a co clínico como membro ativo
esquerda) integrava a equipe.
e efetivo da equipe multiprofis-
sional de saúde.

Pharmacia Brasileira nº 89 - Janeiro/Abril 2018


86
FARMÁCIA CLÍNICA, NO BRASIL
O sonho que se sonha junto
O grupo do Hospital Universitário Onofre Lopes, da UFRN,
embarcou no mesmo sonho do professor Aleixo Prates e vê, hoje, a
expansão da farmácia clínica, com o protagonismo assumido pelos
farmacêuticos na linha de frente da saúde.

À medida que chegava ao conhecimento farmácias hospitalares, de maneira geral, eram


dos profissionais, a farmácia clínica anunciava- precárias, dificultando o farmacêutico a se de-
-se como a oportunidade mais factível para os dicar a uma atividade de excelência, que exigia
farmacêuticos atuarem diretamente junto aos a retaguarda de uma estrutura bem definida e
pacientes e para integrarem as equipes mul- consolidada”, argumenta.
tiprofissionais. E se, num primeiro momento, Não significa dizer, contudo, que a no-
a compreensão e a adesão à farmácia clínica vidade que acabara de brotar, em Natal, dei-
não ocorreram, instantânea e integralmente, xasse de impactar, de uma forma ou de outra,
conforme desejado, principalmente, por parte no seio da categoria. O convite do Ministério
de alguns dos diretores e administradores de da Saúde ao grupo do Hospital Universitário
hospitais, mais à frente, ela passou a nutrir in- Onofre Lopes, da UFRN, para que realizasse e
teresses e a arrebanhar apoios. sediasse cursos de especialização em farmácia
A dificuldade de alguns diretores e admi- hospitalar para o controle de infecção hospi-
nistradores hospitalares proporcionarem as talar; as andanças de Aleixo Prates e Tarcísio
condições para a implantação da farmácia clí- Palhano pelo País, a convite de universidades e
nica estava em eles não conseguirem enxergar entidades farmacêuticas, para falar sobre far-
as vantagens dessa nova prática farmacêuti- mácia clínica, a inclusão da disciplina Farmácia
ca que extrapolava, em muito, as rotineiras e Clínica nos currículos de cursos de Farmácia,
tradicionais atividades do ciclo da assistência a criação da Sociedade Brasileira de Farmácia
farmacêutica. Hospitalar, a ampliação da oferta de publica-
Já as dificuldades de adesão por parte dos ções focadas na área clínica são uma prova dos
próprios farmacêuticos, assim que a farmácia efeitos do que acontecera, no Rio Grande do
clínica começou a engatinhar, no Rio Grande Norte.
do Norte, também, têm explicações. Para Tar- O NOVO – Composta por farmacêuticos
císio Palhano, uma das causas do não envolvi- muito jovens e recém-formados, a equipe de
mento imediato dos profissionais com a nova Natal representava o novo, que tomava a fren-
área estava em sua formação que, “de certa te de uma área profissio-
forma, tinha sido descaracterizada pelo adven- nal nova, criada, na década
to da indústria farmacêutica”. Palhano entende passada (em 1965), nos
que isso favorecia a procura do profissional Estados Unidos, e levada
por outras áreas de atuação, distanciando-o de para o Chile, em 1972. “A
atividades que exigiam um conhecimento mais farmácia clínica desper-
apurado sobre os medicamentos. tava em cada um de nós o
Não foi só. O professor Tarcísio Palhano sentimento de superação
atribui, ainda, à precariedade das farmácias de nossas próprias limi-
hospitalares um fator preponderante para o tações e o desejo de vê-la
pouco interesse dos farmacêuticos pela far- consolidada, no Brasil”, ex-
Dr. Tarcísio Palhano: “A farmácia
mácia clínica, naquele instante inaugural. “As plica Tarcísio Palhano. clínica despertava em cada um de
nós o sentimento de superação de
nossas próprias limitações”.

Pharmacia Brasileira nº 89 - Janeiro/Abril 2018


87
FARMÁCIA CLÍNICA, NO BRASIL

E não havia mesmo outra maneira de se Importa ressaltar que, passados 38 anos
resumir o que representavam o grupo nata- da implantação do primeiro serviço, a farmá-
lense e a farmácia clínica por cuja implantação cia clínica, ainda, não está definitivamente
eles lutaram, se não adjetivando tudo aquilo consolidada, no Brasil. Mas a vigorosa política
de novo. Afinal, ali, estavam jovens farmacêu- adotada pelo CFF para o setor vem promo-
ticos entregues obstinadamente à ideia de es- vendo uma reviravolta na cabeça dos farma-
treitar a relação entre profissionais e pacien- cêuticos que atuam na área.
tes, por meio de um elo que pouco se falava, Sob a liderança de Dr. Walter Jorge, a
então: os cuidados. Para tanto, era preciso primeira ação desenvolvida pelo CFF, com
aprofundar os conhecimentos de anatomia, vistas a fortalecer as práticas clínicas, foi um
fisiologia, semiologia, patologia, farmacologia forte trabalho de convencimento dos próprios
e terapêutica. Conjunto de ações conside- farmacêuticos e de lideranças profissionais,
radas nobres, os cuidados acenavam, ainda, de professores e coordenadores de cursos de
para possibilidades de realização profissional. Farmácia, de autoridades de todos os poderes
CONSTRUÇÃO PERMANENTE – Qua- e da própria população dos benefícios da far-
se quarenta anos depois, o presidente do mácia clínica. Nesse sentido, o Conselho Fe-
Conselho Federal de Farmácia, Walter Jorge deral de Farmácia realizou eventos históricos.
João, identificou nas práticas clínicas a possi- O primeiro deles foi a “Oficina Sobre
bilidade de se aprofundar os serviços presta- Serviços Farmacêuticos em Farmácias Co-
dos, nas farmácias públicas e particulares, e munitárias”, realizada, em Brasília, em maio de
de se resgatar a autoridade técnica do farma- 2012. Com a oficina, o Conselho quis produ-
cêutico. Dr. Walter Jorge vê, também, impor- zir um pensamento que harmonizasse a opi-
tantes conteúdos social e eticoprofissional nião da maioria acerca dos cuidados clínicos e
nas ações desenvolvidas pelo farmacêutico da prescrição farmacêutica que, naquele ano,
clínico, quer sejam, nas farmácias e drogarias, estava em processo de discussão.
quer nas farmácias públicas e hospitalares.
O evento pôs à mesa, pela primeira vez,
Para ele, é preciso manter, de forma perma-
representantes da academia (professores
nente, o processo de fortalecimento da far-
da área clínica de cursos de Farmácia), de
mácia clínica.
instituições científicas, de sociedades e de
associações farmacêuticas, e de entidades
representativas do comércio farmacêutico
para debater os serviços profissionais, em far-
mácias comunitárias, incluindo a prescrição
farmacêutica. Todos saíram da oficina, com a
certeza de terem conquistado uma vitória.
A BEM-SUCEDIDA ESTRATÉGIA DO
CFF - Mas, antes de levar ao debate a sua po-
lítica de fortalecimento da farmácia clínica, o
CFF uniu a categoria e unificou o seu discurso.
Só assim, foi possível aprovar resoluções, como
as que regulamentam as atribuições clínicas do
farmacêutico e a prescrição farmacêutica.
O presidente do CFF, Walter Jorge João, Dr. Walter Jorge entendia que uma dis-
identificou nas práticas clínicas a possibilidade cussão em torno de temas, como a autoriza-
de se aprofundar os serviços prestados
nas farmácias públicas e particulares, de se ção pelo CFF para o farmacêutico prescrever,
resgatar a autoridade técnica do farmacêutico teria que ser democrática e aberta. Para o
e de se expandir o conteúdo social nos presidente do CFF, as discussões deveriam
serviços profissionais. O CFF criou políticas de
fortalecimento da farmácia clínica. contar com a participação de todas as entida-

Pharmacia Brasileira nº 89 - Janeiro/Abril 2018


88
FARMÁCIA CLÍNICA, NO BRASIL
des representativas dos farmacêuticos, não clínica. Qualificado e amparado por um ro-
importando os seus matizes ideológicos e po- busto conjunto normativo, o farmacêutico
líticos. Ele conseguiu. assume papel de protagonista na área clínica
Em seguida, partiu para sensibilizar os dentro do contexto da saúde.
parlamentares, com vistas a que votassem A Lei 13.021/14, em consonância com
projetos que incluíssem as ativividades clíni- as resoluções do CFF, está trazendo novas
cas providas por farmacêuticos nos serviços cores para a página onde está sendo reescrita
público e privado de saúde. Para tanto, foi a história da profissão – e da saúde -, no País.
criada a Frente Parlamentar em Defesa da Ressalte-se que esse conjunto normativo fez
Assistência Farmacêutica. Mais uma vez, o crescer o interesse dos farmacêuticos pela
CFF marcou outro tento, com a aprovação da qualificação na área clínica.
Lei 13.021/14. RECONHECIMENTO - Por isto, atual-
Fruto de intensa mobilização da categoria, mente, a clínica é a área que mais atrai os
tendo à frente o CFF, a lei muda o conceito de farmacêuticos para a qualificação, tanto eles
farmácia, no Brasil, a transforma em unidade de atuem nas farmácias particulares, como nas
prestação de assistência farmacêutica, assis- da rede pública. E por falar em rede pública,
tência à saúde e orientação sanitária individual um dos idealizadores do Sistema Único de
e coletiva, e assegura a atuação do farmacêuti- Saúde, o sanitarista mineiro Eugênio Vila-
co no estabelecimento. Ou seja, a farmácia clí- ça, em seu livro “Redes de Atenção à Saúde”,
nica, desde o seu embrião, no Brasil, vem avan- cita a farmácia clínica como condição para o
çando, mas a custo de muita mobilização. sucesso do novo modelo da saúde pública,
O avanço da farmácia clínica é um pro- no âmbito da atenção primária. Ao se referir
cesso sem volta, que vem deitando profundas a esse nível de atenção, o sanitarista diz que
raízes no cenário farmacêutico e alterando a uma das condições para que a reestruturação
realidade da profissão e da própria saúde. Este do SUS seja bem-sucedida é a inclusão da far-
contexto inclui a alta qualificação do profissio- mácia clínica no Sistema.
nal na área. É, por tudo isto, que o farmacêutico A identificação do farmacêutico com a
vem assumindo o protagonismo em várias si- filosofia da farmácia clínica aproximou-o do
tuações e terapias e, também, nas equipes mul- cidadão, usuário ou não do medicamento, e o
tiprofissionais, ao lado de outros integrantes. levou a assumir importante papel social, num
PROTAGONISMO - Nesta década, re- momento decisivo em que o Brasil planeja uma
gistrou-se um expressivo aumento da de- nova saúde pública. O sonho do visionário pro-
manda por cuidados farmacêuticos. Os seus fessor Aleixo Prates já não é mais só um sonho,
papeis de educador em saúde, de prestador porque é sonhado por milhares de farmacêuti-
de cuidados clínicos e de orientador sobre o cos. A profissão nunca mais será a mesma.
uso correto do medicamento acenam para o
fortalecimento da prevenção de doenças e
“Mas, antes de levar ao debate
para a promoção da saúde. a sua política de fortalecimento
As resoluções do CFF, de números 485 da farmácia clínica, o CFF uniu
e 486, ambas de agosto de 2013 (elas regu- a categoria, unificou o seu
lamentam respectivamente as atribuições clí-
nicas do farmacêutico e a prescrição farma-
discurso. Só assim, foi possível
cêutica), e a Lei 13.021, de 2014, reforçam aprovar resoluções, como as
a legitimidade e a legalidade dessas ações que regulamentam as atribuições
profissionais e abrem caminhos para o for-
talecimento da farmácia clínica, vez que esse
clínicas do farmacêutico e a
conjunto de serviços e atos exercido pelos prescrição farmacêutica”
farmacêuticos tem sustentação na farmácia (Redação da matéria).

Pharmacia Brasileira nº 89 - Janeiro/Abril 2018


89
COMUNICAÇÃO DO CFF

ENTREVISTA FARMACÊUTICA faz 15 anos


Cada entrevista vem atingindo um público acima de 50
milhões de ouvintes, por edição, segundo levantamento.

A “Entrevista Farmacêutica” está comple-


tando 15 anos. O quadro de entrevistas, que
vai ao ar pela “Rádio Nacional para a Amazônia”
(Ondas Curtas 11.780 KHz e 6.180KHz), emis-
sora da EBC (Empresa Brasil de Comunicação),
estatal pública, já veiculou cerca de 720 entre-
vistas, sempre, ao vivo, às quartas-feiras, a partir
das 15h30. A “Nacional da Amazônia” possui um
público ouvinte gigantesco, principalmente, nas
regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste. Mas
as palavras dos farmacêuticos ganham o País in-
teiro, porque outras emissoras captam o sinal da
EBC pela parabólica ou pela internet e, também,
sua vez, tem enorme carência de informações
transmitem as palavras dos farmacêuticos.
em saúde”, lembra o idealizador e produtor da
A entrevista é veiculada em dois momen- “Entrevista Farmacêutica”, jornalista Aloísio
tos: ao vivo, pela EBC, e editado (resumido) e Brandão, do CFF. Ele lembra que as entrevis-
gravado. Neste último caso, a entrevista é pu- tas ajudam a sociedade a conhecer melhor os
blicada em uma rede formada por 2.205 emis- serviços prestados pelos farmacêuticos e a se
soras de rádio localizadas, em todo o Brasil e beneficiar desses conhecimentos. “As entrevis-
nos Estados Unidos (Flórida e Connecticut), tas ajudam a popularizar o universo gigantesco
Argentina, Uruguai, Paraguai e Guiana. A rede e diverso da profissão farmacêutica”, comple-
é liderada pela Agência Radioweb. Só por meio menta o jornalista.
dessa rede, a “Entrevista Farmacêutica” está
A entrevista pode ser ouvida, ao vivo, di-
chegando a mais 53 milhões de ouvintes, em
retamente pelo rádio e, também, pela Internet.
todo o País e fora, segundo criterioso levanta-
Para tanto, basta entrar na página do Conselho
mento realizado pela própria agência.
Federal de Farmácia (www.cff.org.br). Ali, o lei-
Ela é um quadro do programa “Falando, tor encontrará, ao final do texto de chamada,
francamente”, apresentado pela jornalista Arte- a seguinte frase marcada em azul: “CLIQUE
misa Azevedo, da EBC. A “Entrevista Farmacêu- AQUI E OUÇA A ‘ENTREVISTA FARMACÊU-
tica” é um esforço conjunto do Conselho Fede- TICA AO VIVO”. Ao clicar no link, o leitor vai di-
ral de Farmácia (CFF) e da rádio, com o objetivo reto para a página da EBC. Assim que acessá-la,
de levar à população informações em saúde e, encontrará, acima e à direita, um quadro verde,
sempre, com um sentido de utilidade pública e onde se lê “Ouça ao vivo”. Mas se o interessado
tendo farmacêuticos como entrevistados. perder a entrevista, ao vivo, ele poderá ouvi-la
BOAS FONTES - “Farmacêuticos são fon- gravada. Neste caso, ele deverá acessar a página
tes cada vez mais requisitadas para entrevis- do CFF (www.cff.org.br), no mesmo link citado
tas que abordam o tema saúde, porque detêm (“CLIQUE AQUI E OUÇA A ‘ENTREVISTA FAR-
vastos conhecimentos técnicos e científicos em MACÊUTICA AO VIVO”), onde encontrará o
suas diversas áreas de atuação. E o público, por “arquivo de entrevistas”. É clicar e boa audição.

Pharmacia Brasileira nº 89 - Agosto/Setembro 2017


90
COMUNICAÇÃO DO CFF

No ar
Desde 05 de agosto de 2017,
Dia da Farmácia, farmacêuticos e
população estão ouvindo a “Rádio
News Farma” online. Ela pertence
ao sistema Conselho Federal/con-
selhos regionais de Farmácia (CFF/
CRFs). A emissora é uma fonte de in-
formações em saúde e em Farmácia,
em especial. A rádio funciona 24 ho-
ras por dia e tem uma programação
diversificada, vez que, além de vei- Federal”, “CRF em Foco” e “Agenda cal, é composta de um repertório
cular informações sobre o universo Farmacêutica”, movimentam a “Rá- que contempla 50% de Música Po-
farmacêutico, também, oferece aos dio News Farma”, ao longo de sua pular Brasileira, incluindo Rock na-
ouvintes notícias sobre saúde, po- programação diária. cional; 35% de Pop e Rock interna-
lítica, economia, cultura e esporte, “As matérias jornalísticas cional e 15% de Samba. A produção
além de tocar músicas de qualidade. abordam da regulamentação que de conteúdo é de responsabilidade
CONTEÚDO - Parte dele é rege o exercício profissional e as de uma agência especializada, que
produzida pela equipe de jornalis- diferentes áreas de atuação do atua em parceria com a equipe de
tas do CFF e outra parte, pela agên- farmacêutico até informações vol- comunicação do CFF.
cia contratada. O material está dis- tadas à educação em saúde, tendo COMO OUVIR - A “News
ponível para emissoras de rádios de como referência o conhecimento e Farma” online pode ser acessada
todo o País. Editorias, a exemplo da a capacidade técnica dos farmacêu- pelo link www.newsfarma.org.br.
“Conversa com o Presidente”, além ticos”, explica o presidente do CFF, Pode ser ouvida, também, pelo ce-
de matérias e notas, como o “CFF Walter Jorge João. lular, por meio de aplicativo para
em Ação”, “Boletim do Conselheiro Quanto à programação musi- Android e iOS.

Um programa de TV de
farmacêuticos para a sociedade
O programa de TV “Farmacêutico + Saúde”, lan- A solenidade de lançamento do programa contou
çado, no dia 29 de setembro de 2017, pelo Conselho com a participação de Gustavo Audi, responsável pelas
Federal de Farmácia (CFF) e produzido em parceria relações institucionais do “Canal Saúde”, representando
com o Conselho Regional de Farmácia do Paraná a presidente da Fiocruz, Nísia Trindade. “O conselho
(CRF-PR), com o apoio dos demais CRFs, é mais um está de parabéns, pela produção do programa. Quero
avanço na comunicação voltada para farmacêuticos agradecer, por vocês terem escolhido o ‘Canal Saúde’
e sua relação com a sociedade. Destinado ao público para veicular o conteúdo. Esta parceria, para nós, é a
adulto de todas as classes sociais, o programa bus- comprovação do papel do Canal em âmbito nacional”,
ca divulgar o alcance e a importância da atuação do explicou Gustavo Audi.
profissional na saúde pública. “É um programa que Idealizador do projeto, o então presidente do
tem o farmacêutico como principal fonte de informa- CRF-PR, Arnaldo Zubioli, destacou a pertinência e a
ção, feito pelos Conselhos de Farmácia para a socie- importância da iniciativa. “Numa época de mídias, a co-
dade”, declarou o presidente do CFF, Walter da Silva municação é essencial. Sem ela, nós não falamos com
Jorge João. a sociedade”, realçou Zubioli em discurso proferido no
Ele está disponível às emissoras de TV que se inte- lançamento do programa, na sede do CFF, em Brasília.
ressarem em veiculá-lo. O programa já está sendo exibi- O programa de TV era inicialmente um projeto do
do pelo “Canal do CFF no Youtube”, por meio de parceria CRF-PR. Mas, por intermédio do conselheiro federal
com a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz). Vai ao ar, às de Farmácia pelo Estado do Paraná e então vice-presi-
terças e quintas feiras, às 13, 16h30 e 19 horas. Com dente do CFF, Valmir de Santi, o plenário do Conselho
duração de dez minutos e com dois espaços para inter- Federal aprovou a sua incorporação. “Esse programa é
valo, tem uma linguagem acessível e aborda temas de um espaço para que o farmacêutico possa repassar à so-
interesse público, procurando repassar principalmente ciedade informações baseadas em evidências às quais
informações sobre o uso correto, seguro e racional de as pessoas não conseguem ter acesso com regularidade
medicamentos. nos meios de comunicação”, comentou Valmir de Santi.

Pharmacia Brasileira nº 89 - Agosto/Setembro 2017


91
ENTREVISTA
Com a Dra. Valéria Ota, farmacêutica

TERAPIA FLORAL:
uma compreensão
holística do paciente
e do tratamento
Dra. Valéria Ota

Pelo jornalista Aloísio Brandão,


Editor desta revista.

Mais de noventa anos depois de o médico a medicina ortodoxa, mas é a explicação que es-
britânico Edward Bach descobrir as proprieda- tudiosos da terapia têm para apresentar: florais
des curativas de flores silvestres da região de são compostos energéticos e os seus princípios
Gales, na Grã-Bretanha, das quais extraiu as 38 ativos não eletromagnéticos e não químicos.
infusões naturais que compõem o que se deno- Atuam nas emoções.
mina Florais de Bach, a terapia floral continua Por que, então, a terapia floral expande-se
suscitando dúvidas e questionamentos do tipo tanto? Por que os florais, estando no centro de
“florais são placebos?”, ou “como é possível a desconfianças e de discussões, e não merecen-
cura de doenças por meio de essências florais?”. do (ainda) a devida atenção da ciência, ganham
Afinal, o que são essências florais? De uma coi- milhões de adeptos, no mundo inteiro, a cada
sa, os especialistas têm certeza: não são alopa- ano; expande-se como um mercado e conquis-
tia, nem homeopatia, nem fitoterapia. Então, ta a confiança de profissionais da saúde, como
por que e como curam? A resposta pode dar médicos e farmacêuticos? Aliás, médicos que
um nó na cabeça de quem segue estritamente prescrevem florais ou outras terapias alternati-

Pharmacia Brasileira nº 89 - Janeiro/Abril 2018


92
ENTREVISTA
Com a Dra. Valéria Ota, farmacêutica

vas já não são mais incluídos em martirológios, ro, total) do homem, em contraposição à frag-
como em outros tempos. mentação como ele é visto, hoje, pela terapia
Há várias respostas para as perguntas, convencional.
segundo os estudiosos do assunto. Uma delas A base filosófica holística é fundamental
está no que eles identificam como o esgota- no contexto da terapia floral e tem inspiração
mento da terapia convencional e instituciona- milenar, ainda, em Hipócrates (460 a.C. a 370
lizada. Em um primoroso artigo intitulado “A a.C.), o médico e filósofo grego para quem a
integralidade da terapia floral e a viabilidade medicina não deve isolar uma parte do corpo e
de sua inserção no Sistema Único de Saúde” - desconsiderar o resto. Mas os séculos trouxe-
publicado em “O Mundo da Saúde”, São Paulo: ram outras influências para a medicina, basea-
2010;34(1):57-64 -, os autores Luciana Cohen da, por exemplo, nas ideias do filósofo e mate-
Persiano Neves, Lucilda Selli (in memorian) e mático francês René Descartes (1596 a 1650).
Roque Junges trazem a seguinte argumenta- Segundo Descartes, ao se entender cada uma
ção sobre o crescimento das terapias não-con- das partes, entende-se o todo.
vencionais: “Certamente, este fato aponta para O Pe. Fernando Rizzardo, em artigo, pon-
uma crise das terapias usadas pela medicina tifica que estamos entrando numa nova era na
oficial e cientificamente reconhecida”. qual somos todos convocados para a inteireza.
Os autores citam, ainda, fatores paralelos “O ser mutilado, fragmentado na mente, no co-
para o crescimento das terapias alternativas: “A ração e no existir, será removido para o museu
gradativa tecnificação do exercício da Medici- do ontem. Apenas os inteiros estarão prepa-
na afasta o profissional do paciente, devido ao rados para os novos desafios”, afirma. Importa
encarecimento e à mecanização das terapias, salientar que, embora remeta ao contexto da
enquanto as terapias naturais, por sua vez, ca- fé, o artigo de Rizzardo apropria-se, também, à
racterizam-se pelo uso de meios menos onero- visão das terapias alternativas naquilo que elas
sos, fundados numa visão integral da saúde e, buscam de holismo.
principalmente, por métodos não invasivos e O religioso critica o racionalismo cientí-
tóxicos”. fico, “que basicamente define o ser humano
O MERCADO - Para que o leitor tenha como um animal racional”. Para ele, “o ser hu-
uma ideia, há uma estimativa de que 4 milhões mano é mais do que razão. Ele tem dimensões
de brasileiros busquem alguma terapia alter- simbólicas, míticas, amorosas. Ele é um ser ca-
nativa. Segundo a Associação Brasileira de paz de amar, de criar mitos, simbolizações etc.
Medicina Complementar, há cerca de 50.000 que também compõem o ser humano”. Para
terapeutas alternativos em atividade, no País. Rizzardo, não cabe fragmentação. O seu artigo
A expansão desse mercado é da ordem de 20% foi publicado no “Blog da Fé” e leva o título de
ao ano, no mundo inteiro. “Compreender o ser humano como um todo”.
O mercado movimenta, no Brasil, por ano, BACH, O CRIADOR - Foi Edward Bach
aproximadamente 500 milhões de dólares, quem sacramentou a filosofia holística na te-
montante que, de acordo com os observado- rapia que ele próprio criou. O médico britânico
res, é pequeno, se comparado ao dos Estados desenvolveu e adotou duas ideias fundamen-
Unidos. Naquele País, cerca de 60 milhões de tais na medicina que exerceu. São elas: com-
pessoas são adeptas das terapias alternativas, bater a doença em suas causas e não em seus
animando o mercado com 30 bilhões de dólares. efeitos, e curar sem agredir.
VISÃO INTEGRAL - O avanço da terapia Para Bach, o que se conhece como doen-
floral tem uma forte sustentação filosófica nu- ça “é o último resultado produzido no corpo, o
trida pela busca de uma compreensão holística produto final de forças profundas e duradou-
(o termo vem do grego holos, que significa intei- ras”. Dizia que a doença não é material, mas

Pharmacia Brasileira nº 89 - Janeiro/Abril 2018


93
ENTREVISTA
Com a Dra. Valéria Ota, farmacêutica

energética. “A vida é harmonia, um estado do a do doente e não a da doença. Bach, então,


ser em ritmo, e a doença é discordância”. Ou trouxe para dentro do seu trabalho os princí-
seja, “é quando uma parte do todo não vibra em pios hahnemannianos.
uníssono”, exclamava o criador dos florais. Ele Em 1929, Edward Bach possuía o seu la-
insistiu veementemente na necessidade de se boratório de pesquisas, publicava artigos so-
buscar a “compreensão da unidade”. bre os seus estudos com plantas e com as suas
Mas, afinal, quem foi esse homem que pôs, vacinas nas mais importantes revistas científi-
no mundo, uma terapia complementar cujo cas britânicas e era, enfim, um médico bem-su-
objetivo é equilibrar as emoções das pessoas, cedido que ganhava um bom dinheiro. De re-
tendo por base a parte sutil das flores silves- pente, o brilhante cientista causa um assombro
tres, sem que a mesma interfira na química dos entre os amigos, colegas, pacientes e leitores:
corpos? Importa mesmo conhecer um pouco abandona tudo e parte para Gales, a fim de es-
de sua vida e de sua personalidade. tudar as flores. Estava tão convencido de que a
Edward Bach nasceu, no dia 24 de setem- medicina tradicional não lhe dizia respeito que,
bro de 1886, em Moseley, subúrbio de Bir- além de fechar o laboratório e o consultório,
mingham, em Warwickshire, Inglaterra. Obser- queimou seus trabalhos científicos, quebrou as
vador inato, desde pequeno, manifestou amor à seringas e amplas das vacinas e jogou os seus
natureza, enorme poder de concentração, intui- conteúdos fora.
ção, humor e uma incrível sensibilidade. Sofria, Iniciava-se, então, a carreira do homem
diante do sofrimento de seres humanos, animais que criou os florais, base de uma terapia sim-
e plantas, o que o levou, ainda menino, a escolher ples, feita com flores e da maneira mais singela,
a carreira de médico. Aos 20 anos, ingressou na como bem queria o seu criador, mas revolucio-
Faculdade de medicina de Birmingham. Pós-gra- nária. E que é reconhecida e recomendada pela
duou-se, em Londres, em 1912, e, dois anos de- Organização Mundial da Saúde e usada, mun-
pois, especializou-se em Saúde Pública. dialmente.
O médico montou um consultório, em Har- REGULAMENTAÇÃO - O Conselho Fede-
ley Street, mas manifestava profunda insatisfa- ral de Farmácia regulamentou a atuação clínica
ção com os tratamentos ortodoxos. Suas preo- do farmacêutico na floralterapia, por meio da
cupações voltaram-se para as doenças crônicas Resolução nº 611, publicada no “Diário Oficial
relacionadas à toxemia intestinal, quando pas- da União”, no dia 09 de junho de 2015. A maté-
sou a estudar Imunologia, época em que é ad- ria foi aprovada por unanimidade pelo Plenário
mitido como bacteriologista, no Hospital Esco- do órgão, no dia 29 de maio do mesmo ano. A
la da Universidade do lugar. Criou uma vacina norma exige que os profissionais cursem pós-
contra um tipo de irritação intestinal a qual foi -graduação lato sensu ou stricto sensu, reco-
aplicada com êxito. Mas Bach não era adepto nhecido pelo Ministério da Educação (MEC),
das vacinas injetáveis, alegando que elas cau- ou façam curso livre, com carga horária mínima
sam dor, edema e incômodo nos pacientes. Para de 180 horas, em floralterapia, para atuar na
ele, a verdadeira cura devia ser suave e sem dor. terapia floral. Também, podem requerer o reco-
Aí, partiu para modificar a técnica. nhecimento junto aos seus CRFs os farmacêu-
Foi quando atuou como bacteriologista no ticos que comprovarem já ter experiência na
Hospital Homeopático de Londres que Edward área.
Bach mergulhou nas ideias de Samuel Hahne- “A valorização do farmacêutico como
mann, o fundador da homeopatia. Hahnemann, detentor do conhecimento técnico sobre me-
havia cem anos, também, tinha estabelecido dicamentos e outras terapias preventivas e
relações entre a doença crônica e a toxemia in- curativas é uma prioridade do CFF. E a instru-
testinal, e afirmado que a verdadeira cura era mentalização desses profissionais, para que

Pharmacia Brasileira nº 89 - Janeiro/Abril 2018


94
ENTREVISTA
Com a Dra. Valéria Ota, farmacêutica

possam angariar cada vez mais o respeito e o normas das boas práticas de manipulação, se-
reconhecimento por parte da sociedade é uma gundo a RDC 67, de 2007. Vale ressaltar que
forma de o Plenário do Conselho contribuir manipulação de florais não é um ato exclusivo
com uma visibilidade cada vez maior de nossa do farmacêutico. Ota explica, ainda, a produ-
profissão”, disse Walter Jorge João. ção, a ação e a eficácia dos florais.
ENTREVISTA - A revista PHARMACIA Formada em Farmácia pela UFMS (Uni-
BRASILEIRA entrevistou a farmacêutica Valé- versidade Federal do Mato Grosso Do Sul), a
ria Ota de Amorim. Ela fala sobre florais ver- Dra. Valéria Ota é especialista em Homeopa-
sus ciência, comenta o avanço inquestionável tia e integra o Grupo de Trabalho em Medicina
da terapia floral, no Brasil, e discorre sobre sua Tradicional Chinesa e Acupuntura do CFF. É,
base filosófica e sobre a importância de os flo- também, farmacêutica responsável e proprie-
rais serem manipulados, nas farmácias, devido tária da Farmácia Florallys, em São Paulo. VEJA
ao fato de estes estabelecimentos seguirem as A ENTREVISTA.

“Edward Bach observou a assinatura


da planta, o seu gestual, o que ela
transmitia com suas formas e cores,
e compreendeu que as flores, no
auge de sua energia, vibravam em
frequência semelhante à da alma
humana.”
(Dra. Valéria Ota)

PHARMACIA BRASILEI- ao entrar em contato íntimo vibram e entram em resso-


RA - Dra. Valéria Ota, a ação com a natureza, observou, nância, da mesma forma que
dos florais, segundo estudio- atento, a assinatura da planta, um preparado floral atuaria
sos, não pode ser explicada o seu gestual, o que ela trans- em ressonância com o orga-
pela ciência, porque a pes- mitia com suas formas, cores nismo humano.
quisa tradicional não conse- e compreendeu que as flores,
gue abranger esse modelo no auge de sua energia, vibra- PHARMACIA BRASILEI­
terapêutico sutil, que tem por vam em frequência semelhan- RA - A ciência tradicional
base a energia vibracional. te à da alma humana. O mode- precisa dar um passo, no
Essa dificuldade de entender lo está mais próximo das leis sentido de elaborar métodos
a ação dos florais coloca a da física do que da química. que, além da ação bioquímica
ciência em colisão com essa Segundo a Teoria das dos seus constituintes, con-
terapia e diminui o seu inte- Cordas, as diferentes vibra- templem a energia sutil dos
resse pela mesma? ções energéticas poderiam florais? Uma conduta, nesse
Dra. Valéria Ota - Não produzir diferentes partí- sentido, enriqueceria a pró-
há colisão entre terapia floral culas (da mesma forma que pria ciência e traria novas pos-
e ciência, considerando que a uma corda pode produzir di- sibilidades de tratamento de
ciência é o conhecimento ob- ferentes sons sem que sejam doenças?
tido, mediante a observação necessárias diferentes cordas Dra. Valéria Ota - Sim,
e a experiência. Edward Bach, - uma para cada som), onde as precisamos encontrar um mo-
idealizador da terapia floral, ínfimas partículas da matéria delo que seja o caminho para

Pharmacia Brasileira nº 89 - Janeiro/Abril 2018


95
ENTREVISTA
Com a Dra. Valéria Ota, farmacêutica

o reconhecimento mais am- postas à luz do sol, por algumas mitir o restabelecimento do
plo da Terapia Floral. Mas, no horas, para que o calor facilite o equilíbrio e da paz interior.
Brasil, tem-se realizado gran- processo de transferência para
des avanços de protocolos a água do seu potencial vibra- PHARMACIA BRASILEI-
nas universidades, centros de cional. A água fica impregnada RA - Como são preparados os
saúde, ambulatórios e ONGs da “virtude” da planta, uma in- florais?
em pesquisas e experimentos formação específica. Este é o Dra. Valéria - Na farmá-
junto a pacientes humanos, método solar. Flores que apa- cia, o floral pode ser preparado
animais e vegetais. recem, em dias chuvosos ou em formulações ou uma única
nublados, são preparadas pelo flor, em frasco de 30ml, con-
PHARMACIA BRASILEI- método da fervura (boiling). tendo duas gotas da solução-
RA - O que impede a ciência Esta água que contém a infor- -estoque. Caso seja o Rescue
de buscar esse caminho? mação é filtrada e armazenada, remedy®, serão quatro gotas,
Dra. Valéria Ota - A par- adequadamente, após acres- em veículo brandy de 30%
tir deste século, as terapêuti- centar o brandy (conhaque de (conhaque de uva), ou, ainda,
cas que olham o ser humano uva) como conservante. A par- em glicerina vegetal diluída
como um todo estão sendo re- tir desta solução, serão prepa- ou vinagre de maçã diluído.
visitadas, estão em evidência radas as soluções-estoque a Devem-se tomar quatro gotas
e haverá necessidade de ven- serem comercializadas. sublinguais, quatro vezes ao
cermos os paradigmas. Isto é, dia ou conforme a prescrição
os modelos aplicados aos ex- PHARMACIA BRASILEI- solicitada.
perimentos não poderão ba- RA - Embora não sejam atos
sear-se no modelo tradicional exclusivos do farmacêutico, a PHARMACIA BRASILEI-
de dose/resposta, visto que, manipulação e dispensação de RA - Qual é o seu mecanismo
neste âmbito, temos impor- florais devem ser realizadas, na de ação?
tantes variáveis e peculiarida- farmácia, pelo farmacêutico? Dra. Valéria Ota - Segun-
des próprias do sistema. Por que? do Gurudas, o caminho espe-
Dra. Valéria Ota - A cífico depende sobretudo do
PHARMACIA BRASILEI­ manipulação dos florais não tipo de essência administrada
RA - Os florais são submetidos é um ato exclusivo do far- e do temperamento/persona-
a controle sanitário? Como ele macêutico, pois não há uma lidade da pessoa. Mas é, a par-
é feito, já que as essências flo- regulação específica. O que tir dos meridianos (Medicina
rais não constituem produtos ressalto é que a manipulação Tradicional Chinesa) e cha-
submetidos ao regime da Vigi- realizada, na farmácia, segue kras, que as propriedades te-
lância Sanitária? as normas das boas práticas rapêuticas das essências, real-
Dra. Valéria Ota - Os pro- de manipulação, segundo a mente, alcançam os diversos
dutos florais não são objeto de RDC 67, de 2007, que es- corpos sutis. Nestes locais, os
registro sanitário, no Brasil. tabelece que toda a infraes- preparados vibracionais são
Portanto, não passam pela re- trutura laboratorial, matéria amplificados e processados/
gulação da Anvisa. O método prima, insumos e pessoal es- retransmitidos para o sistema
de preparação dos florais é tão preparados para execu- celular do corpo físico e áreas
simples: colher nas primeiras tar a técnica com a qualidade correspondentes à faixa e fre-
horas da manhã algumas flo- requerida para o produto quência vibracional do floral
res da mesma espécie, deixan- floral. Entretanto, o próprio ministrado, corrigindo o pa-
do-as em uma vasilha de vidro Dr. Bach citava que a terapia drão disfuncional.
com água pura da fonte. floral serve ao autoconhe-
Na Inglaterra, as flores cimento e, portanto, quem PHARMACIA BRASILEI-
colhidas de plantas que flores- desejar, deve preparar seu RA - Críticos dos florais argu-
cem em dias claros ficam ex- próprio floral e, assim, per- mentam que essa terapia age

Pharmacia Brasileira nº 89 - Janeiro/Abril 2018


96
ENTREVISTA
Com a Dra. Valéria Ota, farmacêutica

monia entre corpo, alma (com-


“No Brasil, tem-se realizado preende o emocional, o men-
grandes avanços de protocolos nas tal, o volitivo) e espirito, nós,
universidades, centros de saúde, profissionais da saúde que
trabalham com florais, busca-
ambulatórios e ONGs em pesquisas
mos as causas e não somente
e experimentos junto a pacientes os efeitos a serem curados.
humanos, animais e vegetais.”
(Dra. Valéria Ota) PHARMACIA BRASILEI­
RA - Enquanto a ciência tra-
dicional não se debruça em
estudar a ação dos florais, a
como um placebo. Dizem que e aprovada? Ou são os dois física quântica e a metafísica
o tratamento só tem eficácia, fatores? o fazem, e místicos (muitos
se os pacientes acreditarem Dra. Valéria Ota - São deles são leigos em saúde)
nos florais? Acontece que os os dois fatores, pois há uma têm recomendado o uso des-
florais, também, são indica- necessidade de o ser humano sa terapia. Isso desvia o eixo
dos para plantas e animais, o buscar reequilibrar-se, de for- do conhecimento sobre flo-
que faz pressupor que essas ma mais saudável, de forma rais para o campo do misti-
afirmações dos críticos não que ele também faça a parte cismo? A aproximação entre
têm sentido, não é mesmo? do seu processo de cura. E o os florais e o misticismo tira
Dra. Valéria Ota - Os re- floral traz esta possibilidade te- o reconhecimento científico
médios florais são dotados de rapêutica com uma visão tota- da terapia floral? Ou isto não
um poder de cura bem defini- lizante. Paralelamente, a medi- tem importância para que
do, bem distante da fé, e sua cina especialista perdeu o foco médicos e terapeutas alter-
ação não depende de quem do homem integral e deixa uma nativos prescrevam a terapia?
o administra ou acredita ne- lacuna na sua terapia. Exemplo Dra. Valéria Ota - A te-
les. Assim como o sedativo é a medicina que olha a dor no rapia floral é usada, quando
faz o paciente dormir, seja estomago e não observa o que há desarmonia das energias
ele dado pela enfermeira ou é a causa desta dor. internas provocada por sen-
pelo médico (extraído do livro timentos (medo, solidão,
“Liberte-se”, escrito pelo Dr. PHARMACIA BRASILEI­ frustração, ansiedade, raiva,
Bach). Por isto, crianças, ani- RA - Qual é o nível de interes- desesperança e depressão
mais e plantas beneficiam-se se dos médicos pelos florais? são capazes de desequilibrar
da ação dos florais, pois são E quanto aos farmacêuticos? o sistema). O que se busca
sistemas isentos de precon- Dra. Valéria Ota - Tanto atingir no organismo é esta
ceitos, de fé e crença. médicos como farmacêuticos capacidade interna de regu-
e outros profissionais des- lar, de harmonizar. Portanto,
PHARMACIA BRASI- pertam interesse pela terapia a aplicabilidade da terapia
LEIRA - A aceitação da te- floral, já que a mesma tem segue conceitos e preceitos
rapia com florais cresce, no caráter multidisciplinar. O in- bem definidos pelo Dr. Bach.
mundo inteiro, por que as teresse vem de quando a sua O misticismo é algo que
populações buscam uma vi- busca pessoal os leva a procu- está fora da terapia floral e
são holística do homem sobre rar outras formas de tratar o está associado às pessoas que
si próprio? Ou por que para- paciente, despertado, através possam estar envolvidas com
lelamente a isso há, segundo de um olhar mais integrativo os florais, mas para os profis-
estudiosos, uma “crise” das com o ser humano. sionais de saúde, como eu, o
terapias usadas pela medicina Assim como para Dr. que importa é a base concei-
cientificamente reconhecida Bach a saúde é a perfeita har- tual da terapia, como ela olha o

Pharmacia Brasileira nº 89 - Janeiro/Abril 2018


97
ENTREVISTA
Com a Dra. Valéria Ota, farmacêutica

ser humano, como ela recupe- Este foi o cerne da pesquisa nestes tempos modernos ob-
ra e reequilibra a força vital do do Dr. Bach. Disse ele: “Todas servamos busca desenfreada
ser humano. Portanto, o místi- as essências florais são puras por produtos que divulga-
co não deve atrapalhar ou se e inofensivas. Não se deve te- dos na mídia ditam regras de
interpor, quando o propósito mer dar demais, ou diversas equilíbrio perfeito; resumin-
é o equilíbrio de forma sutil e vezes, apesar de que a menor do o floral a apenas um olhar
duradoura. É claro que tudo o das quantidades já é suficien- tradicional: apenas na doen-
que é excessivo não constrói e, te para agir. E nenhum floral ça, tudo que o Dr. Bach, não
sim, desequilibra as partes. causa danos, mesmo quando preconizava.
o que se está tomando não é
PHARMACIA BRASILEI­ o mais indicado para o caso”. PHARMACIA BRASILEI­
RA - A terapia floral é mais RA - A senhora é proprietária
eficaz no tratamento de que PHARMACIA BRASILEI­ de uma farmácia homeopá-
doenças? RA - Qualquer pessoa pode tica, em São Paulo, onde ma-
Dra. Valéria Ota - Os fazer uso dos florais? nipula, dispensa e prescreve
desequilíbrios emocionais e Dra. Valéria Ota - Sim, florais. Fale sobre as suas ex-
mentais são harmonizados qualquer pessoa pode usar periências clínicas envolven-
com uma rapidez incrível, mas, florais, seja bebê, criança, do essa terapia.
em muitas outras situações, adolescente, idoso, mulher na Dra. Valéria Ota - Mi-
podem ser usados com suces- menopausa, assim como os nha experiência na Farmácia
so, como nas emergências, ao animais de pequeno e grande Florallys com a terapia floral
falar em público, em medos es- portes. E, ainda, as plantas se ocorre mais no campo das
pecíficos, síndrome do pânico beneficiam do uso dos florais. situações emergenciais, com
etc. Tudo depende do olhar do mães e bebês na primeira
profissional que a prescreve. PHARMACIA BRASILEI­ fase da vida, na adolescência
RA - Como não exige prescri- e em situações de desalento
PHARMACIA BRASILEI­ ção médica, existe o perigo de e tristeza, no medo e na preo-
RA - Os florais podem apre- se desenvolver a cultura da cupação excessiva. Enfim, nas
sentar reações adversas, inde- automedicação de florais? situações do homem e da mu-
sejáveis? Eles interagem com Dra. Valéria Ota - Acre- lher modernos que tentam
medicamentos e alimentos? dito que a procura pelo floral equilibrar todas as sobrecar-
Dra. Valéria Ota - É im- torna o paciente autocons- gas do dia-a-dia e manter cor-
provável que duas gotas di- ciente do que deseja cons- po e mente sãos, o que é, nos
luídas em água possam cau- truir para seu corpo e mente, dias de hoje, uma luta cons-
sar qualquer reação adversa. se nesta jornada ele se consi- tante e dinâmica.
As flores das quais os florais dera preparado poderia esco- Situações mais crônicas
são feitos são completamen- lher o seu floral, porém vale que exijam uma visão clínica
te inofensivas e não toxicas. ressaltar que muitas vezes mais dedicada são encami-
nhadas aos profissionais que
conheço e atuam com maes-
“O misticismo está fora da terapia floral. tria. É importante reconhecer
Ele está associado às pessoas que possam o seu espaço, onde você pode
estar envolvidas com os florais, mas para atuar e onde está o limite em
os profissionais de saúde, como eu, o que que você deve compartilhar
com outros profissionais, pois
importa é a base conceitual da terapia, o objetivo, sempre, é integrar
como ela olha o ser humano, como ela este paciente dentro de um
recupera e reequilibra a sua força vital.” recurso terapêutico que re-
(Dra. Valéria Ota) sulte em sucesso.

Pharmacia Brasileira nº 89 - Janeiro/Abril 2018


98
Tema: “Farmacêutico das Américas: cuidar, inovar e educar”
Eixos: “cuidado farmacêutico, gestão, inovação e educação” - Ciências Farmacêuticas

II Congresso Brasileiro de Ciências Farmacêuticas


II Congresso Latino Americano de Estudantes de Farmácia
IV Congresso Brasileiro de Farmácia Estética
III Simpósio Farmacêutico de Nutracêuticos
IV Encontro Nacional de Educadores em Farmácia Clínica

7 a 9 de novembro de 2019
Hangar Convenções e Feiras da Amazônia - Belém/PA.

Instituições realizadoras: Instituições correalizadoras:

Departamento de Assistência Farmacêutica - DAF/MS

Parceria Institucional: GOVERNO DO

Sistema CFF/CRFs PARA

www.congressobrasileiro.org.br
78th FIP World Congress of
Pharmacy and Pharmaceutical Sciences
Glasgow, UK
2-6 September 2018

Pharmacy: Transforming outcomes!


New ways for pharmacy to provide better patient care
Are you a community, hospital or industrial pharmacist, or a pharmaceutical scientist?
Wherever you practise, FIP wants you to be inspired to extend your role so that you
play a full part in ensuring patients get the best care possible.

Today’s one-size-fits-all approach to pharmacological treatment WELCOME TO GLASGOW


is failing many patients around the globe. Come to the Glasgow Glasgow, a former European Capital of Culture once voted the
world’s friendliest city, has expanded hugely from its origins as
congress, which will help you develop new ideas about how you
a small salmon-fishing village on the River Clyde, but it remains
can advance pharmaceutical care, use new technologies, work compact enough to explore with ease its world-class museums,
with others and empower yourselves to provide personalised galleries and award-winning visitor attractions. Away from the
medicines therapy – and thereby transform patient outcomes. city, stunning scenery abounds in the beautiful countryside.

CONGRESS STREAMS:

A > From bench to bedside B > Partners in health C > Empowered for health D > Targeting special interests
Advancing pharmaceutical care Recognises that pharmacists and Emphasises leadership develop- Looks at special interests in the
Focuses on new technologies and pharmaceutical scientists cannot ment, including disseminating new different fields of pharmacy and
approaches to achieve individua- operate in a vacuum if the goal knowledge through the identifica- pharmaceutical sciences.
lised therapy, including emerging is to transform patient outcomes tion of key competencies, along
ethical dimensions associated and achieve the best possible care with outstanding approaches to
with their implementation. for patients. New collaborative effective and ethical communica-
Advancements in drug discovery, practices, research and educatio- tion, to enable life-long learning.
formulation, compounding, nal models are needed among Transforming patient outcomes
delivery systems and mathema- traditional health care professio- can only be achieved with a Note
tical modelling can be used to nals like doctors and nurses, but pharmacy workforce empowered Some congress sessions are
translate such innovations into these also must be expanded to to develop and implement the accredited for continuing
better outcomes in populations include FIP pharmacist and phar- latest advances in pharmacy and education. Check with your
and individual patients. maceutical scientist members. pharmaceutical care sciences. country’s professional body.

Please find more information:


www.fip.org/glasgow2018

S-ar putea să vă placă și