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Artigo Original Conhecimento de médicos não-radiologistas sobre reações adversas aos contrastes iodados

AVALIAÇÃO DO CONHECIMENTO DE MÉDICOS NÃO-RADIOLOGISTAS


SOBRE REAÇÕES ADVERSAS AOS MEIOS DE CONTRASTE IODADOS*
Ronald Trindade1, Daniel Vaccaro Sumi1, Wagner Luiz Kravetz1, Paulo Eduardo Codello Rebelo1,
Fabíola Fontana1, Cássio Gomes dos Reis Jr.2

Resumo OBJETIVO: Avaliar o conhecimento dos médicos não-radiologistas sobre reações adversas ao meio de con-
traste iodado, sua prevenção e as condições clínicas que aumentam seu risco. MATERIAIS E MÉTODOS:
Estudo transversal com 203 médicos não-radiologistas (assistentes, residentes e estagiários) de várias espe-
cialidades, utilizando um questionário com dez questões de múltipla escolha abordando profilaxia, fatores de
risco e condutas relacionadas ao desenvolvimento de reações adversas aos meios de contraste iodados. Os
resultados foram analisados com o programa Statistic Package for Social Sciences, Windows®, versão 12.0.
RESULTADOS: Asma, alergia alimentar, ansiedade e doença isquêmica do coração foram considerados fa-
tores de risco por 80,9%, 78,9%, 5,9% e 4,1% dos participantes, respectivamente. Para 23,4% dos mé-
dicos, não há contra-indicações absolutas ao uso do meio de contraste iodado. As condutas profiláticas em
pacientes com reação prévia ao meio de contraste iodado e em diabéticos em uso de metformina foram cor-
retamente indicadas por 84,5% e 53,7% dos participantes, respectivamente. As questões abordando nefro-
patia induzida por meio de contraste iodado, uso de anti-sépticos tópicos iodados em pacientes com história
de reação adversa ao meio de contraste iodado e ansiedade foram acertadas por 86,1%, 45,5%, e 5,9%
dos participantes, respectivamente. CONCLUSÃO: Os médicos não-radiologistas demonstraram conhecimento
razoável sobre reações adversas aos meios de contraste iodados. É necessária melhor integração e comuni-
cação entre radiologistas e médicos das demais especialidades.
Unitermos: Meios de contraste iodados; Radiologia; Reações adversas; Fatores de risco.

Abstract Evaluation of nonradiologist physicians’ knowledge about adverse reactions to iodinated contrast media.
OBJECTIVE: To evaluate the nonradiologist physicians’ knowledge about adverse reactions to iodinated
contrast media, as well as prevention and associated risk factors. MATERIALS AND METHODS: A transver-
sal study was developed with 203 nonradiologist physicians (assistants, residents and trainees) of different
specialties, who completed a questionnaire including ten multiple choice questions regarding prophylaxis,
risk factors and conduct related to the development of adverse reactions to iodinated contrast media. The
Statistic Package for Social Science version 12.0 for Windows® was utilized for statistical analysis. RESULTS:
Asthma, food allergy, anxiety and ischemic heart disease were considered as risk factors by, respectively,
80.9%, 78.9%, 5.9% and 4.1% of the participants. According to 23.4% of the physicians, there is no absolute
contraindication to the use of iodinated contrast media. Correct prophylactic measures for patients with
previous adverse reaction to iodinated contrast media and in diabetic patients using metformin were indi-
cated, respectively, by 84.5% and 53.7% of the respondents. Questions about contrast-induced nephropa-
thy, use of iodinated topical antiseptics in patients with previous adverse reaction to iodinated contrast media,
and anxiety were correctly answered by, respectively, 86.1%, 45.5% and 5.9% of the participants. CON-
CLUSION: Nonradiologist physicians have shown a reasonable knowledge about adverse reactions to iodi-
nated contrast media. A better integration and communication among radiologists and physicians of other
specialties is warranted.
Keywords: Iodinated contrast media; Radiology; Adverse reactions; Risk factors.

INTRODUÇÃO grande evolução, acompanhando de perto reza leve. Reações consideradas graves ou
a modernização dos diversos métodos de muito graves, no entanto, correspondem a
Os meios de contraste iodados intrave- imagem. A despeito deste avanço, com 0,26% do total(1). Além disso, o desenvol-
nosos adquiriram importância fundamen- agentes cada vez mais seguros, as reações vimento de insuficiência renal aguda indu-
tal no auxílio ao diagnóstico. Com o seu adversas podem ocorrer em até 12% dos pa- zida pelo meio de contraste ocorre em até
crescente uso, estes passaram por uma cientes, sendo a grande maioria de natu- 10% dos pacientes, sendo a terceira causa
de disfunção renal em ambiente hospita-
* Trabalho realizado no Serviço de Radiologia do Hospital do do Hospital do Servidor Público Estadual de São Paulo “Francisco lar(2,3).
Servidor Público Estadual de São Paulo “Francisco Morato de Morato de Oliveira” (HSPE-FMO), São Paulo, SP, Brasil.
Oliveira” (HSPE-FMO), São Paulo, SP, Brasil.
Dentro do espectro das reações relacio-
Endereço para correspondência: Dr. Ronald Trindade. Rua
1.Médicos Residentes do Serviço de Radiologia do Hospital Borges Lagoa, 1565, ap. 26, Vila Clementino. São Paulo, SP, nadas ao uso intravenoso dos meios de con-
do Servidor Público Estadual de São Paulo “Francisco Morato de Brasil, 04038-034. E-mail: rtrindade@gmail.com
Oliveira” (HSPE-FMO), São Paulo, SP, Brasil. Recebido para publicação em 4/2/2007. Aceito, após revisão,
traste, existem algumas condições clínicas
2. Médico Radiologista, Assistente do Serviço de Radiologia em 16/4/2007. relacionadas à sua maior incidência, bem

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Trindade R et al.

como grande número de medidas e precau- fissão e a freqüência de solicitação de exa- RESULTADOS
ções que devem ser avaliadas antes e após mes contrastados.
a realização de um exame contrastado, de Para a análise estatística foi utilizado o Do total de médicos participantes, 118
modo a propiciar ao paciente maior segu- programa Statistic Package for Social Sci- (58,4%) foram identificados como residen-
rança e eficácia no diagnóstico. Por outro ences para Windows®, versão 12.0. tes ou estagiários e 84 (41,6%), como mé-
lado, existem muitos mitos que ainda per- As questões cujas respostas foram dei- dicos assistentes (um dos participantes não
manecem, mantidos principalmente por xadas em branco ou assinaladas mais de preencheu a sua ocupação), divididos nas
profissionais não-ligados à radiologia, pre- uma alternativa quando não-permitido fo- diversas especialidades — clínicas e cirúr-
judicando assim o diagnóstico preciso. ram invalidadas, e portanto, excluídas da gicas (Tabelas 1 e 2). O tempo médio de
Este trabalho teve como objetivo ava- análise estatística. exercício da profissão foi de 10,5 anos, va-
liar o conhecimento dos médicos não-ra- Os resultados foram expressos em mé- riando entre 10 meses e 44 anos.
diologistas a respeito das reações adversas dia ± desvio-padrão para variáveis interva- Quanto à freqüência de solicitação de
ao uso intravenoso dos meios de contraste lares ou de razão e em proporções para exames contrastados, observou-se que 21
iodados, contemplando as condições clíni- variáveis nominais ou ordinais. O teste (10,3%) médicos referiram não solicitar
cas relacionadas ao aumento do risco da não-paramétrico de Mann-Whitney foi uti- quaisquer exames, enquanto 171 (84,3%)
sua ocorrência, bem como medidas rela- lizado para a comparação de variáveis in- indicam até cinco exames por semana e 11
cionadas à sua prevenção, diagnóstico e tervalares ou de razão. A análise de propor- (5,4%), mais de cinco exames.
tratamento. ções foi realizada pelo teste do qui-quadra- Os médicos entrevistados foram ques-
do, o teste exato de Fisher ou a correção de tionados quanto às contra-indicações abso-
MATERIAIS E MÉTODOS continuidade de Yates, de acordo com suas lutas e, conforme observado na Tabela 3,
indicações. As diferenças encontradas, com 47 (23,4%) acertaram a questão ao relata-
Estudo de prevalência realizado durante probabilidade de influência do acaso ≤ 5% rem que não existem contra-indicações
o mês de outubro de 2005, que incluiu 203 (p ≤ 0,05) foram consideradas estatistica- absolutas à injeção do meio de contraste.
médicos residentes, estagiários e assisten- mente significantes. Não houve diferença no número de acertos
tes do Hospital do Servidor Público Esta-
dual (HSPE) de São Paulo. Tabela 1 Especialidades clínicas. Tabela 2 Especialidades cirúrgicas.
Cada um dos médicos incluídos no es-
n %* n %*
tudo foi submetido a um questionário anô-
nimo contendo dez questões de múltipla Clínica médica 37 31,6 Cirurgia geral 12 14,1
escolha abordando diversos aspectos rela- Infectologia 16 13,7 Urologia 12 14,1
cionados a fatores de risco, necessidade do Pneumologia 12 10,3 Ortopedia 12 14,1
uso de pré-medicação e contra-indicações Reumatologia 10 8,5 Neurocirurgia 11 12,9
à administração intravenosa dos meios de Cardiologia 9 7,7 Cirurgia vascular 10 11,8
contraste iodados. Gastroenterologia 9 7,7 Gastrocirurgia 6 7,1
A primeira questão abordou condições Pediatria 9 7,7 Cirurgia plástica 6 7,1
clínicas que representariam contra-indica- Nefrologia 7 6,0 Ginecologia-Obstetrícia 5 5,9
ções absolutas ao uso de meios de contraste Endocrinologia 5 4,3 Oftalmologia 5 5,9
iodados. A segunda questão envolveu os Neurologia 2 1,7 Otorrinolaringologia 3 3,5
fatores de risco ao desenvolvimento de rea- Psiquiatria 1 0,9 Cirurgia torácica 3 3,5
ções anafilactóides ou quimiotóxicas. Ou- Total 117 100,0 Total 85 100,0
tras três questões apresentaram situações
* Calculado com base no total de respostas válidas. * Calculado com base no total de respostas válidas.
clínicas comuns na prática médica diária,
relacionadas ao uso de meios de contraste
iodados em pacientes diabéticos em uso de Tabela 3 Contra-indicações absolutas (n = 201).
metformina, pacientes com reação prévia n %*
ao meio de contraste e pacientes com his-
tória de alergia a peixes e frutos do mar. Síncope 76 37,8

Três assertivas do tipo “verdadeiro ou fal- Alergia a peixes e frutos do mar 59 29,4

so” abordaram nefropatia induzida pelo Rash cutâneo após uso de anti-séptico iodado 50 24,9

contraste e fatores de risco ao desenvolvi- Não existem contra-indicações absolutas 47 23,4

mento de reações adversas. Asma 39 19,4

Foram também colocadas questões Alergia à penicilina 15 7,5

abertas de cunho demográfico, nas quais os Uso de beta-bloqueador 4 2,0

médicos eram questionados sobre sua es- Não sei 33 16,4

pecialidade, o tempo de exercício da pro- * Calculado com base no total de respostas válidas.

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quando comparadas as respostas de médi- Tabela 4 Fatores que aumentam o risco de reações anafilactóides ou quimiotóxicas (n = 194).
cos assistentes e residentes, clínicos e ci- n %*
rurgiões ou quanto à freqüência de solici-
tação de exames (p > 0,05). Asma 157 80,9

A Tabela 4 mostra a opinião dos médi- Alergia alimentar 153 78,9

cos sobre as condições clínicas que aumen- Hipertireoidismo 65 33,5

tam o risco de reações adversas ao meio de Febre do feno 45 23,2

contraste. Asma (n = 157; 77,3%) e alergia Mieloma múltiplo (função renal normal) 40 20,6

alimentar (n = 153; 74,5%) foram as con- Feocromocitoma 32 16,5

dições mais apontadas como fatores de ris- Episódio único prévio de vômitos durante uso de contraste iodado 31 16,0

co. Apenas oito indivíduos (3,9%) aponta- Miastenia gravis 24 12,4

ram corretamente a doença isquêmica do Hipotireoidismo 23 11,9

coração como situação de risco. Houve Doença isquêmica do coração 8 4,1

diferença estatisticamente significante na Glaucoma de ângulo aberto 6 3,1

identificação de alguns fatores de risco * Calculado com base no total de respostas válidas.
entre os médicos residentes e os assisten-
tes. Apenas sete (8,8%) assistentes identi-
Tabela 5 Situações clínicas.
ficaram corretamente o feocromocitoma,
frente aos 25 (22,1%) residentes (χ² = n %*

6,057; p = 0,014). Quanto ao mieloma em Paciente com reação prévia ao meio de contraste 201 100,0
pacientes com função renal normal, 11 Prescreveria pré-medicação com corticóide e anti-histamínico 163 84,5
(13,8%) assistentes e 29 (25,7%) residen- Contra-indicaria o exame 16 8,3
tes apontaram-no como fator de risco (χ² Realizaria teste cutâneo para averiguar sensibilidade ao iodo 4 2,1
= 4,046; p = 0,044). Nas questões referen- Permitiria a realização sem nenhuma precaução 0 0
tes à função tireoidiana, dos 65 indivíduos Não sei o que fazer 10 5,2
que apontaram corretamente o hipertireoi- Paciente diabético em uso de metformina 201 100,0
dismo como fator de risco, 16 (20%) foram Avaliaria a função renal; se alterada, interromperia medicação 48 ho-
representados por assistentes e 49 (43,4%), ras antes e após o exame 108 53,7
por residentes (χ² = 11,446; p = 0,001). Por Avaliaria a função renal; se alterada, contra-indicaria o exame 25 12,4
outro lado, quanto ao hipotireoidismo, que Contra-indicaria o exame 9 4,5
não representa um fator do risco, quase Prescreveria pré-medicação com corticóide e anti-histamínico 6 3,0
todos os assistentes (n = 78; 97,5%) res- Não sei o que fazer 53 26,4
ponderam corretamente, contra 92 (81,4%) Conduta em relação à ingestão de peixes e frutos do mar em paciente com
dos residentes (χ² = 11,544; p = 0,001). reação adversa ao meio de contraste iodado 186 100,0
Quando a amostra foi dividida conforme a Encaminharia a um alergista 80 43,0
especialidade (clínica × cirúrgica), em ape- Recomendaria evitar a ingestão desses alimentos 41 22,0
nas duas situações houve diferença estatis- Solicitaria teste cutâneo para averiguar sensibilidade ao iodo 31 16,7
ticamente significante. Em uma delas, o Recomendaria o uso sem restrições 12 6,5
episódio único de vômito foi atribuído er- Não sei o que fazer 22 11,8
roneamente como fator de risco por 20
* Calculado com base no total de respostas válidas.
(20,4%) clínicos e apenas por oito (9,8%)
cirurgiões (χ² = 3,856; p = 0,05). O glau-
coma de ângulo aberto, que não representa primeira situação, a respeito da conduta em horas antes e após a realização do exame.
fator de risco para reações adversas ao meio relação ao paciente com passado de reação Nesta questão observamos diferença esta-
de contraste iodado, foi erroneamente prévia ao meio de contraste, a maioria dos tisticamente significante entre os acertos de
apontado por seis (5,4%) médicos clínicos entrevistados (n = 163; 84,5%) respondeu médicos assistentes (n = 38; 45,2%) e de
e por nenhum médico de especialidade ci- corretamente que prescreveriam pré-medi- médicos residentes (n = 70; 59,8%) (χ² =
rúrgica (teste exato de Fisher, p = 0,04). A cação com corticóide e anti-histamínico. 3,856; p = 0,05). Em uma outra questão,
freqüência de solicitações de exames con- Na segunda situação, a respeito do paciente sobre a conduta em relação à ingestão de
trastados não influenciou na identificação diabético em uso de metformina que neces- peixes ou outros frutos do mar em paciente
dos fatores de risco a reações adversas. sita da realização do exame contrastado, a com história de reação adversa ao meio de
A Tabela 5 mostra as situações clínicas maioria (n = 108; 53,7%) acertou ao dizer contraste, apenas 12 (6,5%) recomendariam
simuladas que freqüentemente geram dú- que a melhor conduta seria avaliar a fun- o uso desses alimentos sem restrições. Nas
vidas ao encaminhar um paciente para a ção renal, e caso estivesse alterada, inter- demais questões não houve diferença esta-
realização de um exame contrastado. Na romper o uso do hipoglicemiante por 48 tisticamente significante entre as respostas

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Tabela 6 Assertivas (n = 202).

n %*

O fator de risco mais importante para o desenvolvimento de nefropatia induzida por contraste iodado é a desidratação, devendo-se 174 86,1
hidratar os pacientes com déficit de função renal durante pelo menos 24 horas antes do exame
Em paciente com história prévia de reação adversa ao meio de contraste iodado, recomenda-se evitar anti-sépticos tópicos 92 45,5
contendo iodo em sua formulação
Pacientes ansiosos têm probabilidade maior de desenvolverem reação adversa aos meios de contraste 12 5,9

* Calculado com base no total de respostas válidas.

de assistentes e residentes, especialidades Neste estudo, iniciou-se o inquérito em participantes do presente estudo atentaram
clínicas e cirúrgicas ou em relação à fre- busca das contra-indicações à injeção do para o risco aumentado de reação adversa
qüência de pedidos de exames contrastados meio de contraste. Conforme demonstrado severa em pacientes portadores de doença
(p > 0,05). nos resultados, apenas 23,4% da amostra cardíaca, que pode chegar a 0,53% nos pro-
A Tabela 6 ilustra os resultados das as- respondeu corretamente que não existe cedimentos com contrastes iônicos e 0,10%
sertivas que admitiam respostas do tipo contra-indicação absoluta. Mitos ainda cir- quando utilizados contrastes não-iônicos(1).
“verdadeiro ou falso”. A maioria (n = 174; cundam esta questão, já que muitos indi- Existem ainda algumas condições clíni-
86,1%) concordou que a desidratação é o víduos apontaram síncope (37,8%) e aler- cas raras, ou que se mantêm controversas
principal fator de risco para nefropatia in- gia a frutos do mar (29,8%) como contra- na literatura, ou ainda que apresentaram
duzida pelo meio de contraste, devendo-se indicações absolutas. Proporção seme- redução significativa do número de rea-
fazer hidratação prévia à realização do exa- lhante foi encontrada por Confino-Cohen ções adversas com o advento dos contras-
me. Noventa e dois médicos (45%) erraram e Goldberg(4) em estudo semelhante, que tes iodados não-iônicos. Pacientes portado-
ao afirmar que em paciente com história contou com a participação de médicos ra- res de feocromocitoma podem apresentar
prévia de reação adversa ao meio de con- diologistas e não-radiologistas, no qual elevação da concentração sérica das cate-
traste está contra-indicado o uso de anti- 23% referiram não haver contra-indicação colaminas de modo imprevisível logo após
sépticos tópicos à base de iodo. Apenas 12 absoluta aos meios de contraste. Nesse es- a injeção de contrastes intravenosos. No
(5,9%) responderam corretamente que pa- tudo os autores ainda encontraram maior nosso estudo, cerca de 16,5% apontaram
cientes ansiosos têm maior probabilidade proporção de acertos estatisticamente sig- esta condição clínica como fator de risco,
de desenvolver reações adversas aos meios nificantes entre os médicos radiologistas. havendo diferença estatisticamente signi-
de contraste iodados. Não houve diferença Em estudo similar realizado em Israel ficante quando comparadas as respostas de
estatisticamente significante nas respostas por Konen et al.(5), 203 médicos não-radio- médicos residentes e assistentes, tendo os
de médicos assistentes e residentes, clíni- logistas participaram do inquérito a respeito primeiros maior proporção de acertos (p =
cos e cirurgiões nessas questões (χ²). dos fatores de risco relacionados ao uso de 0,014). No estudo de Konen et al.(5), o feo-
contrastes iodados. Foram observadas pro- cromocitoma foi apontado como condição
DISCUSSÃO porções semelhantes ao nosso estudo em de risco por 30% da amostra. Apesar do
relação a algumas condições clínicas, como mínimo risco com o uso de meios de con-
Os meios de contraste iodados torna- asma e alergia alimentar severa, que foram traste não-iônicos, recomenda-se a admi-
ram-se ferramenta crucial no apoio diag- apontadas como fator de risco por 81,3% nistração prévia de bloqueador α-adrenér-
nóstico, principalmente em hospitais de e 77,8% dos médicos participantes. Estas gico em todo paciente com suspeita de feo-
grande porte, que dispõem de inúmeros duas condições constituem os principais cromocitoma(6).
serviços clínico-cirúrgicos. Apesar do fatores de risco relacionados a efeitos ad- Há alguns casos reportados de exacer-
avanço constante, com o advento de agen- versos e são extremamente difundidas na bação do quadro clínico de pacientes com
tes cada vez mais seguros (não-iônicos, literatura, atingindo proporções de reações miastenia gravis, independentemente do
hipo-osmolares), que propiciam melhor adversas de até 19,7% em relação à asma agente utilizado(7,8). Em nossa amostra,
tolerabilidade com menor número de rea- e até 23% para indivíduos que referem 12% identificaram a miastenia gravis como
ções adversas relacionadas ao seu uso, exis- múltiplas alergias alimentares(1). Com o fator de risco, comparada com 28,6% no
tem algumas condições que aumentam o advento dos contrastes não-iônicos, houve estudo de Konen et al.(5).
risco de sua ocorrência. É esperado um redução significativa da incidência de rea- Outro fator controverso entre os solici-
mínimo conhecimento dos médicos solici- ções, chegando a até 7,7% em pacientes tantes de exames contrastados abordado
tantes, no sentido de reconhecer as princi- com asma e até 5,7% em pacientes com nos dois estudos diz respeito ao episódio
pais situações clínicas ligadas a eventos alergia(1). Em outro extremo, também foi único de vômitos, que não apresenta qual-
adversos relacionados aos contrastes ioda- observada curiosa concordância quanto ao quer relação com reações adversas aos
dos, contribuindo assim para evitá-los e desconhecimento sobre alguns fatores de meios de contraste iodados, mas que foram
proporcionando ao paciente um diagnós- risco, já que apenas 9,8% da amostra do apontados como fator de risco por 63,5%
tico preciso e seguro. estudo israelense e 4,1% dos indivíduos da amostra do estudo israelense e por ape-

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Conhecimento de médicos não-radiologistas sobre reações adversas aos contrastes iodados

nas 16% dos indivíduos participantes do nem sempre estão atentos à função renal do ou faria teste cutâneo para avaliar a sensi-
presente estudo. Neste tópico, observou-se paciente, muitas vezes não informando os bilidade ao iodo (16,7%). Quanto aos anti-
diferença estaticamente significante nas valores da creatinina sérica ou não reali- sépticos tópicos, 45,5% dos médicos evi-
respostas em um dos subgrupos analisados zando a hidratação de forma adequada, ou tariam seu uso nestes pacientes. No estudo
(clínicos e cirurgiões), com maior propor- mesmo não relacionando diabetes e o uso de Confino-Cohen e Goldberg(4), a maio-
ção de cirurgiões apontando esta condição de metformina com a função renal e o uso ria da amostra estudada (69,0%) tomaria
como não sendo fator de risco (p = 0,04). do contraste iodado. uma série de precauções irrelevantes em
Conforme publicado em vários artigos Também foi abordado em nosso estudo relação ao uso de alimentos e anti-sépticos
na literatura, em pacientes com função re- o uso de pré-medicação em pacientes com contendo iodo nos pacientes com história
nal normal a realização dos exames con- risco aumentado para o desenvolvimento de reação prévia ao contraste. Apenas 18%
trastados pode ser feita com relativa segu- de reações anafilactóides, principalmente dos radiologistas e 12% dos clínicos e ci-
rança e com baixo risco de nefrotoxicidade naqueles pacientes com história de reação rurgiões participantes daquele estudo re-
induzida pelo contraste, mesmo em pacien- prévia ao contraste. Em nossa amostra, comendariam corretamente o uso sem res-
tes portadores de mieloma múltiplo e dia- 84,5% recomendaram corretamente o uso trições desses produtos. A recomendação
béticos em uso de metformina(9–12). Em de corticóide e anti-histamínico nesses pa- atual do American College of Radiology é
nosso estudo, 20,6% dos entrevistados cientes. Neste caso, o esquema a ser utili- que apenas os pacientes com história alér-
apontaram como fator de risco o mieloma zado não foi abordado, pois é padronizado gica severa a qualquer substância enqua-
múltiplo em pacientes com a função renal no hospital o uso de prednisona (50 mg, 13 dram-se em grupo de risco, não abordando
normal. No estudo de Konen et al.(5), 58% horas, 7 horas e 1 hora antes do exame) e especificamente frutos do mar ou anti-sép-
da amostra responderam de forma equí- prometazina (intramuscular, 1 hora antes ticos tópicos iodados(20).
voca positivamente para este item. do exame). No estudo de Confino-Cohen A especialidade (clínica ou cirúrgica)
O uso de metformina em pacientes dia- e Goldberg(4), 64% sugeriram também a não pareceu influenciar no grau de conhe-
béticos também foi abordado em nosso es- utilização de pré-medicação associada ao cimento dos médicos. No hospital onde foi
tudo. A metformina é um hipoglicemiante uso de contraste hipo-osmolar, este apon- realizado o estudo, as diversas especialida-
oral, sendo 90% excretados pelos rins e tado por 25% dos radiologistas e por 4% des solicitam os exames numa freqüência
acumulando-se no organismo em estados dos não-radiologistas (p < 0,001). O tipo similar, justificando, dessa forma, a simi-
de insuficiência renal. Em pacientes diabé- de contraste não foi abordado em nosso es- laridade no número de acertos. Curiosa-
ticos com função renal alterada, o meio de tudo, pois o meio de contraste utilizado de mente, o longo tempo de exercício da pro-
contraste age como um possível desenca- rotina em todos os exames em nosso hos- fissão, ao contrário do estudo de Confino-
deador da insuficiência renal, que, por sua pital é o ioversol (Optiray®), não-iônico e Cohen e Goldberg(4), não pareceu ser fator
vez, leva ao acúmulo de metformina. O de baixa osmolaridade. determinante no grau de conhecimento a
acúmulo do hipoglicemiante pode levar ao A relação entre o contraste iodado e respeito dos meios de contrastes, já que a
desenvolvimento de acidose lática severa, substâncias contendo iodo em sua compo- proporção de acertos dos médicos residen-
que chega a ser fatal em até 50% dos indi- sição foi sugerida em dois estudos da dé- tes foi maior que a dos médicos assisten-
víduos(13–15). Dessa forma, recomenda-se cada de 70. Witten et al.(16) observaram tes. Em nossa prática, podemos observar
nesses casos interromper o uso desse me- incidência de até 6% de reações adversas que em hospitais acadêmicos a solicitação
dicamento 48 horas antes e 48 horas após agudas em pacientes submetidos a exames de exames complementares é decidida ge-
o estudo contrastado. A maioria dos entre- com uso intravenoso de contrastes iodados. ralmente em discussões interdisciplinares,
vistados (53,7%) concordou que é neces- Resultados similares foram encontrados no envolvendo especialistas, residentes e in-
sária avaliação prévia da função renal e estudo de Shehadi(17). Entretanto, publica- ternos. Porém, é quase sempre o residente
que, caso esta estivesse alterada, a interrup- ções mais recentes não confirmam tais quem está diretamente em contato com o
ção no uso deveria ser orientada para a achados, concluindo que história prévia de serviço de radiologia, sendo o responsável
administração segura do meio de contraste. alergia a frutos do mar ou a quaisquer pro- pelo preenchimento de um questionário in-
Neste item, os residentes obtiveram maior dutos contendo iodo, como anti-sépticos formando se o paciente apresenta fatores de
número de acertos em relação aos médicos tópicos, não tiveram valor preditivo para risco para a ocorrência de reações adversas.
assistentes. Ainda em relação à avaliação reações adversas a meios de contrastes(18,19). Esta situação pode justificar, portanto, um
da função renal, a grande maioria (86,1%) Apesar disso, este conceito ainda é adotado maior número de acertos por parte dos mé-
da nossa amostra apontou a desidratação por grande parcela de médicos não-radio- dicos residentes em comparação com os
como um dos principais fatores de risco ao logistas. Em nosso estudo, apenas 6,5% médicos assistentes.
desenvolvimento de insuficiência renal dos entrevistados não restringiriam a inges-
aguda induzida pelos meios de contraste tão de frutos do mar diante de paciente com CONCLUSÃO
iodados, sendo necessária a realização de histórico de reação ao contraste iodado,
hidratação prévia. Apesar deste relativo enquanto a grande maioria o encaminharia A amostra deste estudo evidenciou um
bom conhecimento, o que se nota na prá- para um especialista em alergia (43,0%), conhecimento razoável sobre os meios de
tica é que os médicos que solicitam exames recomendaria evitar tais alimentos (22,0%) contraste, identificando corretamente a

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Trindade R et al.

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