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DIDÁTICA APLICADA
À
SOCIOLOGIA
cespeUnB
Centro de Seleção e de Promoção de Eventos
SECRETARIA DA EDUCAÇÃO DO ESTADO DO CEARÁ
CONCURSO PÚBLICO PARA PROVIMENTO NO CARGO DE PROFESSOR PLENO I
PROGRAMA DE CAPACITAÇÃO PROFISSIONAL
DIDÁTICA APLICADA
À
SOCIOLOGIA
Autora
Maria Célia da Silva Gonçalves
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Reitor
José Geraldo de Sousa Junior
Vice-Reitor
João Batista de Souza
cespeUnB
Centro de Seleção e de Promoção de Eventos
Ricardo Carmona
Diretor-Geral
Rosalina Pereira
Diretora-Executiva
Equipe Técnico-Pedagógica
Ana Maria da Silva Peixoto
Danielle Xabregas Pamplona Nogueira
Lady Sakay
Luís Fernando Tavares Santos
Michelle Galdino da Silva
Milene de Fátima Soares
Nayara César Santos de Morais
Vera Lúcia de Jesus
Endereço
Campus Universitário Darcy Ribeiro
Edifício Sede CESPE/UnB
Caixa Postal 04488
CEP: 70904-970 – Asa Norte, Brasília/DF
Telefone: (61) 3448-0100
Fax: (61) 3448-0110
Site: www.cespe.unb.br
E-mail: sac@cespe.unb.br
Caro(a) Professor(a) esse é o módulo de Didática aplicada à Sociologia. Ele tem por
objetivo promover uma reflexão sobre o papel do professor de Sociologia no Ensino
Médio. Ele está dividido em quatro unidades, que de forma alguma têm a pretensão
de esgotar o assunto apenas objetiva desencadear um processo de estudos e reflexões
sobre essa prática pedagógica.
Foi escrito por uma professora que partilha de algumas coisas com você! Acredito
que a paixão pela Sociologia, pela educação assim a vontade de ver o Brasil melhorar,
crescer e se tornar um país que oferece oportunidades de vida com dignidade a todos
os seus filhos, seja a principal. Este sonho me faz acreditar que todo(a) professor(a)
deve ser/estar eternamente apaixonado(a).
Sobre ensinar com paixão, aconselhou o grande educador Rubens Alves aos novos
professores:
Inspirada por Rubens Alves, acredito que o meu papel, enquanto professora, é despertar
cada aluno para se tornar um novo mestre. Mestre no sentido amplo da palavra:
aquele que ensina, mas também muito aprende... aquele que sonha, mas também faz
acontecer... aquele que é apaixonado pela arte de ensinar. A esse propósito, escreveu
Gabriel Perissé:
Professores e professoras apaixonadas acordam cedo e dormem tarde, movidos pela idéia fixa
de que podem mover o mundo. Apaixonados, esquecem a hora do almoço e do jantar: estão
mais preocupados em combater as múltiplas fomes que, de múltiplas formas debilitam as
inteligências.
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As professoras apaixonadas descobriram que há homens no magistério igualmente
apaixonados pela arte de ensinar, que é a arte de dar contexto a todos os textos.
Não há pretextos que justifiquem, para os professores apaixonados, um grau a menos de paixão,
e não vai nisso nem um pouco de romantismo barato.
Apaixonar-se sai caro!
Os professores apaixonados, com ou sem carro, buzinam o silêncio comodista,
dão carona para os alunos, que moram mais longe do conhecimento,
saem cantando o pneu da alegria.
Se estão apaixonados, e estão, fazem da sala de aula um espaço de cânticos,
de ênfases, de sínteses que demonstram, pela via do contraste, o absurdo que é viver sem paixão,
ensinar sem paixão.
Dá pena, dá compaixão ver o professor desapaixonado, sonhando acordado com a
aposentadoria, contando nos dedos os dias que faltam para as suas férias, catando no
calendário os próximos feriados, jogando seu dinheiro em loterias para,se Deus quiser, poderem
parar de trabalhar e viver de um golpe de sorte. Os professores apaixonados muito bem sabem
das dificuldades, do desrespeito, das injustiças, até mesmo dos horrores que há na profissão.Não
deixa de professar, e seu protesto é continuar amando apaixonadamente.
Continuar amando é não perder a fé,palavra pequena que não se dilui no café ralo, não foge pelo
ralo, não se apaga como um traço de giz no quadro.
Ter fé impede que o medo esmague o amor, que as alienações antigas e novas substituam a
lúcida esperança.
Dar aula não é contar piada, mas quem dá aula sem humor não está com nada, ensinar é uma
forma de oração.
Não essa oração chacoalhar de palavras sem sentido, com voz melosa ou ríspida. Mera oração
subordinada, e mais nada.
Os professores apaixonados querem tudo, todas as operações.
Querem multiplicar o tempo, somar esforços, dividir os problemas para solucioná-los.
Querem analisar a química da realidade. Querem traçar o mapa de inusitados tesouros.
Só não querem diminuir sua paixão.
Os olhos dos professores apaixonados brilham quando no meio de uma explicação, percebem o
sorriso do aluno que entendeu algo que eles mesmos, professores, não esperavam explicar.
Mas é também indisfarçável. A paixão é inexplicável, bem sei.[...]
Estar apaixonado é apaixonante. (PERISSÉ, 2004)
Caro(a) professor(a)
Somos homens e mulheres do século XXI, vivemos em um mundo que promete muito
para o futuro, tecnologias, ciências, sonhos, qualidade de vida, mas também um mundo
profundamente marcado por conflitos tensões e principalmente por divisão social. A
ciência que constrói é a mesma que pode destruir, a produção de riquezas que gera
qualidade de vida é a mesma que pode finalizar com a natureza , a vida humana e até
o planeta. No entanto sabemos que podemos procurar moldar as nossas vidas para
viver em sociedade de uma forma melhor, legando um mundo melhorado para as
gerações futuras.
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Como será o amanhã? Este é um questionamento feito não apenas pelos compositores
e cantores, mas é também o ponto central da Sociologia, um campo de estudo
com papel fundamental na cultura intelectual moderna. O Professor, o sociólogo,
o cantor o compositor, o artista e também o povo vive a interrogar como será o
amanhã perante as modificações do nosso planeta que vem sofrendo um processo
de transformações muito aceleradas que foram estabelecidas há poucas décadas? A
revolução tecnológica, com a entrada, em grande escala, da decodificação do DNA,
da informática acessível ao povo, da utilização robótica para aceleração da produção
industrial, das telecomunicações, tem modificado muito a vida das pessoas.
Como a educação pode ajudar na construção de uma sociedade mais humana, fraterna
e cooperativa? Onde buscar as soluções para os problemas sociais do nosso país? Qual
a sua função, professor, nesse processo de descobrir alternativas para a edificação de
uma vida mais justa para todos os membros da nossa enorme nação?
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Sumário
Refletir sobre nossa formação e nossa prática deve ser um ato constante em nossas
vidas profissionais, porque o professor do século XXI deve ser um profissional
diferente, deve ser um professor que percebe as inovações do seu tempo e se adéqua
a elas. Esse novo perfil deve ser marcado pela capacidade de aprender a aprender,
como queria o grande educador brasileiro Paulo Freire. Aprender é uma das coisas
mais importantes da vida “em resumo, poderíamos dizer que o professor se tornou um
aprendiz permanente, um construtor de sentidos, um cooperador, e, sobretudo, um
organizador da aprendizagem (GADOTTI, 2003, p. 8).
Ainda nessa direção, os PCNs destacam alguns princípios básicos que a educação
básica brasileira deve privilegiar, são eles:
O que é ser professor no Ceará no século XXI? Certamente a resposta para esta
indagação não difere muito do que é esperado para o professor no restante do país
no mesmo espaço temporal. Espera-se que esse seja um profissional que valorize os
princípios da educação elencados acima, ou como quer o grande educador brasileiro,
Moacir Gadotti,
Ser professor hoje é viver intensamente o seu tempo com consciência e
sensibilidade. Não se pode imaginar um futuro para a humanidade sem
educadores. Os educadores, numa visão emancipadora, não só transformam
a informação em conhecimento e em consciência crítica, mas também
formam pessoas. Diante dos falsos pregadores da palavra, dos marqueteiros,
eles são os verdadeiros “amantes da sabedoria”, os filósofos de que nos
falava Sócrates. Eles fazem fluir o saber - não o dado, a informação, o puro
conhecimento - porque constroem sentido para a vida das pessoas e para
a humanidade e buscam, juntos, um mundo mais justo, mais produtivo
e mais saudável para todos. Por isso eles são imprescindíveis. (GADOTTI,
op.cit., p.09)
Porém, não poderíamos esquecer os pontos básicos definidos pela UNESCO para a
educação do século XXI. De acordo com a UNESCO, todo professor comprometido
com uma educação que visa à promoção do bem estar social, da vida, da dignidade,
da identidade devem conhecer e se empenhar em promover em seus alunos esses
quatro pontos:
OBJETIVA PROMOVER O
• APRENDER A CONVIVER DESENVOLVIMENTO SOCIAL.
VISA PROMOVER O
• APRENDER A SER DESENVOLVIMENTO PESSOAL.
OBJETIVA PROMOVER O
• APRENDER A CONHECER DESENVOLVIMENTO SOCIAL.
Como você sabe, muito já foi escrito, investigado na busca de uma resposta para o
questionamento: como devemos aprender? A aprendizagem aqui proposta visa
compreender, descobrir e conhecer. Como professores, devemos desenvolver em
nossos alunos esses princípios para que eles adquiram mais prazer em estudar. Para
que isto aconteça é necessário que o aluno tenha acesso às metodologias de ensino
que o conduzam para o mundo da ciência em questão. Pois sabemos que para aprender
a conhecer, o aluno deverá aprender a aprender. Essa aprendizagem deverá ser pela
vida inteira na busca constate de aperfeiçoamento e especializações relativas à sua
profissão. Para que isso se efetive é necessário formar hábitos de leituras e pesquisa e
principalmente o gosto pelo aprendizado constante na vida.
Vale ressaltar o esforço da Sociedade Brasileira de Educação (SBS) que no seu último
congresso (2009) tinha um Grupo de Trabalho (GT) dedicado aos estudos do Ensino
de Sociologia.
Para mudarmos esse quadro precisamos pensar no ensino através da pesquisa. Porque,
como afirma Pedro Demo, “Quem ensina carece pesquisar, quem pesquisa carece
ensinar. Professor que apenas ensina jamais o foi” (2003, p.17). As ORIENTAÇÕES
CURRICULARES PARA O ENSINO MÉDIO enfatizam a importância de uma prática
pedagógica pautada pela pesquisa.
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Caro(o) Professor(a)
Por que ensinar sociologia? Essa é uma pergunta muito específica, quando se trata
de Ciências Sociais, nunca ouvimos o questionamento: por que ensinar Matemática,
Química ou Física? As pessoas conhecem o valor dessas ciências e sabem da importância
de conhecer esses campos de saberes, mas quando se trata de Ciências Sociais, pouca
gente conhece o seu devido valor e/ou atribui significado à sua aprendizagem.
De acordo com o PCN do Ensino Médio os estudos das Ciências Sociais, de forma mais
ampla objetiva introduzir o aluno nas principais questões conceituais e metodológicas
das disciplinas de Sociologia, Antropologia e Política.
Sabemos que a Sociologia é a ciência que estuda a vida social da humanidade, como
o seu objeto de estudo é o comportamento dos seres humanos, ela se torna um
empreendimento fascinante e irresistível. “A abrangência do estudo sociológico é
extremamente vasta, incluindo desde a análise de encontros ocasionais entre indivíduos
na rua até investigação de processos sociais globais”. (GIDDENS, 2005, p.24)
Podemos chegar à conclusão de que o café não é apenas uma bebida, ele tem todo
um valor simbólico que se insere em nossas atividades diárias.
Ainda poderíamos dizer que o ato de beber café envolve os indivíduos numa complexa
trama de relacionamentos sociais e econômicos que existem em todo o mudo. O café
é um elo entre pessoas ricas e pobres. Já parou para pensar sobre isso? Ele geralmente
é produzido nos países pobres e consumido largamente em países ricos. O café
divide com o petróleo o posto de uma das mercadorias mais valiosas no comércio
internacional. Para alguns países ele é a maior fonte de renda. Para produzir o café e
transportá-lo é necessário construir relações sociais globais, entre pessoas que estão a
milhares de quilômetros de distância. Estudar essas relações é tarefa da Sociologia.
Ensinar Sociologia é buscar descortinar o universo de meu aluno, é mostrar para ele
as possibilidades de questionamento da realidade, é desvelar as relações sociais e os
jogos de poder que vão tecendo as nossas realidades, cearense e brasileira.
Segundo esse autor o esforço dos clássicos foi importante, alguns colaboraram na
superação de modos muito fluidos, especulativos e subjetivos de ver a realidade social,
sobretudo quando a Sociologia derivava da Filosofia.
Conforme (MARTINS, 2006, p.10-11) podemos “entender a sociologia como uma das
manifestações do pensamento moderno. A evolução do pensamento científico, que
vinha se constituindo desde Copérnico, passa a cobrir, com a sociologia, uma nova
área do conhecimento ainda não incorporada ao saber científico, ou seja, o mundo
social. [...]”.
Mas esse é um assunto que você conhece muito bem, passemos então a refletir como
ela poderia ser usada para transformar a educação e a sociedade? Não lhe parece um
projeto fascinante?
Deve se enfatizar dois eixos muito importantes, em torno dos quais vem se construindo
grande parte da tradição sociológica: a relação entre indivíduo e sociedade, a partir da
influência da ação individual sobre os processos sociais, bem como a importância
do processo inverso, e a dinâmica social, pautada em processos que envolvem, ao
mesmo tempo, porém em gradações variadas, a manutenção da ordem e, por outro
lado, a mudança social.
Como bem observou Carlos Benedito Martins “é fundamental que o sociólogo quebre
o seu isolamento e passe a interagir com os grupos, as classes e as organizações que
procuram recriar a sociedade.” (MARTINS, 2006, p.93), porque, de acordo com esse
autor, “a função do sociólogo de nossos dias é libertar sua ciência do aprisionamento
que o poder burguês lhe impôs e transformar a sociologia em um instrumento de
transformação social.” (MARTINS, op.cit., p.93)
Professor(a), para responder a esse questionamento, nós devemos levar em conta que
a Lei 9.394/96 estabeleceu como uma das finalidades primordiais do Ensino Médio
Brasileiro a edificação da cidadania do aluno, corroborando, assim, a importância do
ensino da Sociologia no Ensino Médio. Levando-se em conta que o conhecimento
sociológico tem como funções básicas “investigar, identificar, descrever, classificar
e interpretar/explicar todos os fatos relacionados à vida social, logo permite
instrumentalizar o aluno para que possa decodificar a complexidade da realidade
social.” (BRASIL, op.cit., p. 318)
De acordo com esse contexto de transformações intensas, nas relações sociais e nos
valores que as confirmam, é atribuído à Sociologia um função analítica primordial,
tendo em vista os resultados de suas pesquisas. São esses conhecimentos produzidos
por sociólogos que irão nortear outros profissionais a procurarem novas alternativas
de agirem frente aos problemas sociais oriundos desta nova ordem política, econômica
e social. Portanto, a Sociologia tem duplo papel, ao mesmo tempo em que objetiva
um empenho para entender a realidade social, deverá também oferecer subsídios a
outros agentes sociais na solução dos problemas.
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DEMO, P. Sociologia: uma introdução crítica. 2ed. São Paulo: Atlas, 1995.
MARTINS, Carlos Benedito. O que é sociologia. 68. ed. São Paulo : Brasiliense, 2006.
Professor(a),
Na Unidade II discutimos os motivos de ensinar Ciências Sociais,
especificamente os conhecimentos da Sociologia no Ensino Médio. Vimos
que no Brasil existe uma grande carência de estudos e reflexões nessa
área, nessa unidade refletiremos sobre o que e como ensinar Sociologia.
Nesta unidade tentaremos pensar no que e como ensinar Sociologia.
Embora seja importante registrar “que diferentemente das outras disciplinas escolares,
a Sociologia não chegou a um conjunto mínimo de conteúdos sobre os quais haja
unanimidade, pois sequer há consenso sobre alguns tópicos ou perspectivas” (BRASIL.
MEC/SEB, 2006, p.115).
Com o objetivo de melhor definir sociedade, aqui será adotada a idéia de relação
social como unidade elementar. Em certa medida, a definição de sociedade aparece,
convencionalmente, associada à expressão rede de relações sociais, dentro da qual
apontamos a importância do processo de interação social.
1
Entende-se pela expressão socialização total uma rede de relações sociais cada vez mais complexa e densa, que
reduz a possibilidade de autonomia do indivíduo. (ver HORKHEIMER, M. e ADORNO, T. (orgs.) Temas Básicos da
Sociologia. São Paulo: Cultrix/USP, 1973.) Ao contrário de Durkheim e de outros teóricos que trabalham com uma
abordagem “macroteórica”, alguns autores, por outro lado, sobretudo aqueles ligados ao movimento teórico
chamado “Individualismo Metodológico”, reforçam o papel dos indivíduos na explicação dos fenômenos sociais.
Para o aprofundamento dessa discussão, ver: ELSTER, Jon. Peças e Engrenagens das Ciências Sociais. Rio de Janeiro:
Relume-Dumará, 1994.(Brasil, 1999, p.319)
2
Para Lévi-Strauss, as relações sociais constituem a matéria-prima que torna manifesta a própria estrutura social.
Tal modelo concebe estrutura enquanto um sistema integrado de partes, que permite tornar inteligível todos
os fatos observáveis. Embora não possam ser chamados de estruturalistas, outros autores também trabalham
com uma noção implícita de estrutura. É o caso de Marx, ao formular a idéia de sistema ou modo de produção
capitalista. E também o caso de Durkheim, para quem os “fatos sociais” são realidades independentes de outros
planos da existência humana, porém devendo ser analisados como um sistema que supõe uma totalidade
(BRASIL, 1999, p.320).
3
Para Durkheim, fatos sociais são maneiras de agir, pensar e sentir exteriores ao indivíduo, e dotadas de um
poder coercitivo.
Assim como a cultura, o seu conceito também é fruto da construção humana, e ao longo
da história da humanidade esse conceito tem variado, estando ligado à vertente e à
abordagem que se propõe a caracterizá-lo. De modo geral, este termo foi assumindo e
congregando vários significados ao longo do tempo: ele surgiu, provavelmente, ainda
na Idade Média, por volta do século XI, só que naquele comento cultura era sinônimo
de agricultura; como o movimento do Humanismo, no Renascimento por volta do
século XVI, o conceito passou a ser ligado à cultura do espírito; com a chegada do
movimento do Iluminismo no século XVIII, o termo recebeu a importância de o cultivo
em ciências, letras e artes; apenas no advento do século XIX, os pensadores começaram
a se preocupar em constituir um refinamento conceitual para cultura. A partir desse
momento “o termo pode ser entendido como civilização (Kultur, em alemão) ou ainda
como desenvolvimento mental e organizacional das sociedades (nos termos de E. F.
Tylor)” (BRASIL, op.cit., p.320).
Neste contexto o trabalho passa ser uma categoria primordial para melhor
compreensão da cultura, valorizada “enquanto dimensão material envolvida na
regulação das relações sociais, que também gera significados, ou seja uma dimensão
conceitual. O trabalho é um fato cultural. Nesse sentido, tanto a produção quanto o
seu produto têm significado na cultura” (BRASIL, op.cit., p.320).
Se, por outro lado, a vida social pode ser entendida como um conjunto
de práticas (re)produzidas, analogicamente podemos tomar a vida social
como um tipo de linguagem. Em outros termos, como um sistema de
comunicação, de cuja constituição e atribuição de sentido participamos.
Sendo assim, a linguagem é falada por atores e utilizada como meio de
comunicação e interação, formando uma estrutura dotada de sentido
(BRASIL, op.cit., p, 322).
A preocupação com a noção de política é de extrema importância, uma vez que ela
gera no aluno a capacidade de tomada de decisões acerca dos problemas sociais
que afetam a sociedade na qual está inserido. Permitindo a esse aluno, por um lado,
compreender como o poder se mostra também nas relações sociais do dia a dia e nos
diversos grupos sociais com os quais ele mesmo se depara: a escola, a família, a fábrica
etc.. E por outro, evidencia o equívoco que é o de adotar uma postura que não valorize
ou negue a política enquanto uma prática socialmente válida, tendo-se em vista que,
para a maioria dos brasileiros, política é apenas engodo, enganação, corrupção. É
muito importante que o aluno perceba que negar a política seria contestar a lógica
da cidadania, tendo em vista que para uma cidadania seja efetiva é necessário que
os cidadãos participem dos diversos espaços da sociedade. Assim a Sociologia deve
contribuir para uma reflexão que busque identificar práticas políticas pautadas na
ética, muito embora a História do Brasil seja marcada por exemplos contrários, como
práticas paternalistas, clientelistas, fisiológicas, corrupção, abuso de poder, descaso
com a educação e a saúde do brasileiro, etc.
Faz-se mister discutir nas aulas de Sociologia o conceito de Estado; levar os alunos
a perceberem que o ser-homem é um ser histórico e cultural, portanto sua vida é
sempre conduzida por determinada ordem normativa e política. “Dentro do campo
do Direito, da Política e da própria Economia, o conceito de Estado aparece enquanto
uma instância que, ao mesmo tempo, racionaliza a distribuição do poder legítimo
dentro de uma nação e desenvolve sistemas econômicos complexos para distribuir
bens, muitas vezes de maneira desigual” (BRASIL, op.cit., p.323).
Uma boa teorização do conceito deve levar o aluno a entender o que é um Estado e
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Professor(a),
Na unidade anterior procuramos fazer uma reflexão sobre o que ensinar
e como ensinar Sociologia no Ensino Médio. Nesta unidade iremos
discutir alguns saberes necessários à prática educativa. Ser professor
é ser um artista apaixonado pelo que faz. A arte de ensinar requer
comprometimento, conhecimento, coragem, formação continuada,
capacidade de aprender a aprender, e muito amor, como diria o grande
educador Paulo Freire.
Você já parou para pensar, que muito mais que saber Sociologia, a sociedade brasileira,
espera que nós, professores do século XXI assumamos os desafios de instrumentalizar
os nossos alunos para que sejam seres mais humanos, mais justos, mais éticos , enfim
que os eduquemos para vida, e que para isto são necessários novos saberes. “Entre
eles, saber planejar, saber organizar o currículo, saber pesquisa, estabelecer estratégias
para formar grupos, para resolver problemas, relacionar-se com a comunidade, exercer
atividades socioantropológicas, etc.” (GADOTTI, op.cit., p.14)
Na visão dos PCN do Ensino Médio Brasileiro, não existe uma dicotomia ente habilidade
e competências, elas se complementam, são duas faces de uma mesma moeda, são
inseparáveis na ação, embora exijam domínios de conhecimentos específicos. Nesta
direção, até o Dicionário de Língua Portuguesa assim define competência: “Qualidade
de quem é capaz de apreciar e resolver certo assunto, fazer determinada coisa;
capacidade, habilidade, aptidão, idoneidade” (AURÉLIO, 2003).
Trabalhar com a teoria das competências exige que os professores pratiquem uma
pedagogia diferenciada, buscando construir essas competências e as exercitar em
Nesta direção a pesquisadora Nelcy Teresinha Lubi Finck, afirma em sua dissertação
de mestrado que:
Independente das questões conceituais aqui levantas pelos pesquisadores acerca dos
termos competência, habilidades e saberes, o professor de Sociologia do estado do
Cinema, vídeo ou DVD, e TV – Entende-se aqui o ensino visual em dois níveis, que
não podem ser separados sob pena de se perderem os frutos quando tratados
parcialmente. Por um lado, quando se passa um vídeo ou DVD (filme de ficção
ou documentário), tem-se a ilustração, o exemplo para a ação, o entretenimento
e até o poder catártico que pode provocar a visão de um fato reconstruído pela
sua representação – atualização. Por outro, tem-se o “estudo” dessa ilustração,
da ressurreição, do entretenimento e da catarse, da representação do fato, isto
é, a análise e a interpretação da mensagem e do meio.
Trazer a TV ou o cinema para a sala de aula não é apenas buscar um novo
Acreditamos que o primeiro contato dos alunos com a Sociologia tem que ser um
momento marcante e carregado de significados, para que esse aluno possa gostar da
disciplina e principalmente compreender a importância do conteúdo na sua vida e na
sua formação.
O uso do cinema vem crescendo como um grande aliado em sala de aula, no entanto,
é necessário que o professor faça um bom planejamento de suas aulas, estabeleça
os objetivos, negocie a avaliação, enfim deixe claro todo o processo de produção do
conhecimento a partir da exibição do filme.
Segundo Martins (2007), algumas situações devem ser evitadas em sala de aula:
Antes da exibição
Nesta perspectiva (MARTINS, 2007, p.08) alerta que a “seleção é um processo que
implica algumas decisões. Adequação do conteúdo do filme ao tema da aula, custos
de aluguel de fitas; acesso às locadoras com títulos adequados e o conflito com o
“gosto” dos alunos. Outro aspecto a ser considerado é compatibilizar o tempo de aula
(50 minutos) com a duração do filme (duas horas).”
Durante a exibição
Depois da Exibição
Avaliação
Pode ser sugerido aos alunos que assumam a posição de repórteres e entrevistem os
principais personagens do filme Os Miseráveis. Perguntas podem ser sugeridas: tais
como as origens dos personagens, como eles se sentem em relação ao trabalho nas
fábricas, a questão da carga horária diária de trabalho, a discriminação contra a mulher,
a forma de tratamento as crianças, as doenças, a prostituição a criminalidade, a revolta
dos operários, as idéias revolucionárias. Enfim eles devem reconstruir o contexto social
da obra. É muito importante que o aluno contextualize o filme com o nascimento da
Sociologia, sempre refletindo sobre a questão da estratificação social, a questão da
legalidade e da legitimidade do poder, os direitos dos cidadãos e suas diferentes
formas de participação política no contexto retratado na obra.
Jor
nal
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Pod Com
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Outro recurso que muito pode auxiliar o professor de Sociologia no Ensino Médio é
a utilização do jornal em sala de aula. O uso do jornal na sala de aula vem crescendo
paulatinamente e se afirmando como uma prática comprovadamente útil no
desenvolvimento de um processo pedagógico comprometido com a cidadania. Se
a escola precisa proporcionar aos alunos a compreensão da sociedade, seus modos
e seus costumes, o jornal se torna uma ferramenta extremamente importante para
anunciar uma leitura da realidade social, seu desenvolvimento, suas contradições e
suas necessidades.
O jornal, como ferramenta pedagógica, traz uma visão aberta e atualizada, um espaço
de divulgação de idéias, de comunicação de opinião e interesses e tem contorno
Normalmente, o jornal ajuíza os valores, a ética, a cidadania, por meio dos mais diversos
temas e se constituindo assim um aparelho admirável para o aluno se perceber e se
introduzir na vida social, através dessa ferramenta de comunicação. Sem mencionar
que o uso do jornal na sala de aula acolhe o que preconiza os Parâmetros Curriculares
Nacionais (PCNs), pois os assuntos abordados podem subsidiar o trabalho como os
temas transversais, enfatizando-se, por exemplo, a questão da ética e da cidadania
nos enfoques e tendências, que dão aos fatos e notícias. É possível ensinar por meio
da utilização do jornal, a leitura, a interpretação das matérias publicadas sob um
olhar reflexivo e crítico, levando aos alunos a se posicionar no mundo atual como um
cidadão crítico e participativo.
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DEMO, P. Sociologia: uma introdução crítica. 2ed. São Paulo: Atlas, 1995.
MARTINS, Ana Lucia Lucas. Cinema e Ensino de Sociologia: usos de filmes em sala
de aula.In: XIII Congresso Brasileiro de Sociologia -29 de maio a 1 de junho de 2007
UFPE, Recife (PE). Disponível em: http://www.sbsociologia.com.br/congresso_v02/
papers/GT9%20Ensino%20de%20Sociologia/Cinema_e_Ensino_de_Sociologia-_SBS-
2007.pdf>. Acesso em: 10 nov. 2009.
MARTINS, Carlos Benedito. O que é sociologia. 68. ed. São Paulo : Brasiliense, 2006.
(Primeiros Passos : 57)
PERRENOUD, Philipe. 10 novas competências para ensinar. Porto Alegre: Artmed, 2000.