Documente Academic
Documente Profesional
Documente Cultură
Situação de Rua
Psicologia Social Priscilla Menezes Sales Outubro/2018
1. Introdução
essa história.
que causam às diversas doenças que este grupo está sujeito e como estas
atrapalham o seu convívio com a sociedade e até mesmo como podem levar
Sabendo que uma sociedade tem como “motor” as pessoas que nela se
1
biopsicossociais que o levam a este fim são de suma importância por ampliar o
nosso campo de visão e proporciona uma base para potencialmente não criar
pedindo esmola pela cidade. É constituída por pessoas que não tem moradia
não existem, uma vez que seus estudos são feitos apenas com pessoas que
Estão cada vez mais presentes nas ruas pessoas em diversas situações,
problemas mentais, abuso de drogas lícitas e ilícitas e/ou por vontade própria.
2
Se esses fatores os igualam aos olhos da sociedade, há também os que
diferenciam:
[...] alguns fatores os diferenciam: os motivos que os levaram para a rua, o tempo de permanência
nela e o grau de vínculos familiares existentes. A interface desses contribui para classificar o “povo
de rua” em três situações distintas: ficar na rua (circunstancialmente), estar na rua (recentemente) e
ser da rua (permanentemente). “Ficar na rua” caracteriza transitoriedade, a pessoa possui ainda um
projeto de vida e mantém fortes vínculos /familiares; “estar na rua” implica na diminuição do
contato com a família e o estabelecimento de novos vínculos na rua; “ser da rua” traz em si a
identidade e identificação com a própria rua, que passa a ser o lugar de referência e espaço de
relações - o corpo se modifica, bem como as formas de conviver e ver o mundo (ROSA;
CAVICCHIOLI; BRÊTAS, 2005, p. 577).
humano. Não impede que o estudo das causas sociais de um fenômeno seja
semelhante dos bens e riquezas adquiridos. Por mais homogêneas que sejam
3
Mas, se a desigualdade sempre existiu, por que é tão pouco aceita na
[...] Ao contrário dos povos antigos, que tinham muito clara a noção de que a sociedade se
diferenciava por grupos inconciliáveis - como as castas indianas, por exemplo -, o mundo ocidental
desenvolveu a consciência de constituir uma humanidade à qual pertencem todos os habitantes do
planeta.
4
pois, na maioria das vezes, os trabalhadores têm pouco ou nenhum controle
(GIDDENS, 2005)
corrupção.
para muitos, pois, as cidades que começavam a surgir não possuíam a devida
5
estrutura para acolher os novos moradores, ou seja, não estavam preparadas
casas suficientes para morar, nem médicos, nem escolas; e, apesar das
(GIDDENS, 2005)
aumento dos preços, diminuição das rendas dos pobres, diminuição do valor
6
dos salários e entre outros fatores que favorecem a desigualdade social.
(COSTA, 2005)
O país ainda sofre com os efeitos da exploração colonial dos séculos XVI e
problema. Diante disso, devem ser pensadas novas medidas para uma nova
tal fenômeno, e um dos mais relevantes são os fatores biopsíquicos, tais como
IRIART, 2012)
7
Segundo Engel (2010), o contexto histórico é responsável pelo
nascer, não possui autonomia para escolher com quem irá se relacionar e
com Engel, Erikson (apud Cloninger, 1999, p. 149), “o ego desenvolve-se não
denominados psicossociais”.
rua.
8
Fonte: Terceiro Censo de População em situação de Rua e Migrantes de
vários fatores inclusive o fato eles não serem tratados por falta de acesso ao
3.1.1 A Depressão
9
Pino, 2003). Para Dalgalarrondo (2008, p. 307): “[...] as síndromes depressivas
à psicomotricidade”.
fazendo com que a pessoa com depressão tenha um sofrimento mental como
situação de rua e o grau do pode ser grave quando é no morador com muitos
3.1.2 A Ansiedade
10
(ansiedade generalizada) e quadros em que há crises de ansiedade sérias e
Na maior parte dos dias, por pelo menos seis meses, sintomas ansiosos
11
Vários fatores são responsáveis por motivar as pessoas a irem para as
ruas, destacaremos os perfis principais das pessoas que utilizam da rua como
Fonte: Terceiro Censo de População em situação de Rua e Migrantes de Belo Horizonte – 2014.
12
esperanças ou sonhos, recorrendo algumas vezes a drogas e/ou álcool,
CASTRO, 2010)
De acordo com Miranda (2006), o abuso do álcool sempre vem com uma
familiar sem dúvidas faz toda a diferença na vida do ser humano e quando
Infelizmente podemos perceber nos dias atuais cada vez mais essa triste
fazendo com que muitas pessoas saem de sua casa buscando um ambiente
13
em consideração, os valores ainda bastante arraigados de uma sociedade
patriarcal que ainda norteiam boa parte das relações familiares e conjugais. Há
o que gera conflitos e até mesmo a violência doméstica. Como mostra o gráfico
2, os conflitos familiares são responsáveis por grande parte das pessoas que
resolvem morar nas ruas, mesmo sabendo que nessas condições sua vida
decisões que podem mudar a vida das pessoas e como o adoecimento mental
saúde, pois muitos moradores sofrem tipos de violência e tem falta de todo tipo
paralisem suas atividades diárias e muitos ainda não têm acesso ao tratamento
adotando cada vez mais as vias públicas como única opção de vida.
14
4. Compreender a Percepção das Pessoas em Situação de Rua
população de rua, estes que são vistos como perigosos em potencial, tratados
O cidadão em situação de rua não é visto como igual, como integrante da mesma espécie, apenas
não é visto como se fosse coisa. Como analisamos, o indivíduo pode apropriar-se das
representações sociais e passar a ver-se como um objeto, uma peça sem vontade própria.
acabam criando um preconceito com essas que optaram e/ou não tiveram
outra alternativa a não ser estar onde estão. Por isso fazer julgamentos prévios
Muitas das pessoas que vivem na rua, o fazem por não ter tido uma
oportunidade de ter uma casa própria, tendo que destinar-se a esse fim.
15
Quando vemos a situação por fora, sem saber de fato a origem daquele
pessoas resolvem abdicar não ter coesão com a que vivemos. São essas e
outras situações que faz com que criemos senso comum do que de fato é ser
um morador de rua.
As pessoas têm ficado insatisfeitas com suas vidas, seus trabalhos e seu
têm acesso à moeda legal”. Vemos que “Os jogadores” são os que ditam a
rotina de vida propostas a eles. Essas pessoas começam a serem vistas com
modo de vida que mais se adéqua a sua crença ou situação atual de vida.
(COSTA, 2005)
Com isso, entende-se que para se criar uma sociedade mais justa, é
vigente.
16
A função que o Estado desempenha em nossa sociedade vem sofrendo
governo é responsável pelo bem estar social, precisando ofertar mais que
segurança. Nasce, então, uma série de ações para diversas áreas, como
17
Em dezembro de 2005, a LOAS recebeu alterações para a inclusão da
como objetivo discutir questões essenciais à parcela da população que faz das
esse público, e a importância de uma ação que envolva os três eixos: garantia
18
imóveis vazios nos centros urbanos e inclusão do tema população em situação
vivências familiares.
aplicada através de trabalho social com famílias, na qual são observadas suas
19
Conforme o MDS, outro importante programa social existente coordenado
(2015):
A primeira é a Proteção Social Básica, destinada à prevenção de riscos sociais e pessoais, por meio
da oferta de programas, projetos, serviços e benefícios a indivíduos e famílias em situação de
vulnerabilidade social, incluindo os moradores de rua. A segunda é a Proteção Social Especial,
destinada a famílias e indivíduos que já se encontram em situação de risco e que tiveram seus
direitos violados por ocorrência de abandono, maus-tratos, abuso sexual, uso de drogas, entre
outros aspectos.
A importância dos psicólogos está sendo cada vez mais ressaltada nas
20
Combate à Fome, 2009, em 2005 foi consolidada a participação de psicólogos
busca de mudanças das condições vividas por essa população. Com isso
21
para se pensar também, em uma ampliação desse trabalho junto á outros
profissionais de saúde.
6. Considerações Finais
da sociedade sobre essas pessoas. O que mais chamou a atenção foi a visão
sociedade e que cotidianamente é aplicado por cada um, até por fazer parte de
Referências:
AGUIAR, M.; IRIART, J. Significados e práticas de saúde e doença entre a população em situação de rua
em Salvador, Bahia, Brasil. Cadernos Saúde Pública. Rio de Janeiro, 2012, vol.28, n.1, p. 115-124.
Disponível em: < http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0102- 311X2012000100012&script=sci_arttext >
Acesso em: 15 jun. 2015.
ALEXANDRE, R.; DRUMOND, C.; GARCIA, F.; NAPOLI, L. Terceiro Censo de População em Situação de
Rua e Migrantes de Belo Horizonte. Belo Horizonte, 2014. Disponível em: < www.pbh.gov.br > Acesso
em: 20 mar. 2015.
BOTTI, N. et al. Prevalência de depressão entre homens adultos em situação de rua em Belo Horizonte.
Jornal Brasileiro de Psiquiatria, Rio de Janeiro, vol.59, n.1, p. 10-16, 2010.Disponível em: <
http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0047- 20852010000100002&script=sci_arttext > Acesso em: 31
maio 2015.
23
Conselho Nacional de Saúde. Lei 8.080 de 19/09/1990. Disponível em: <
http://conselho.saude.gov.br/legislacao/lei8080_190990.htm > Acesso em: 15 jun. 2015.
COSTA, A. População em situação de rua: contextualização e caracterização. Revista Virtual Textos &
Contextos, v. 4, n. 1, dez. 2005. Disponível em: <
http://revistaseletronicas.pucrs.br/fo/ojs/index.php/fass/article/view/993/773 > Acesso em: 10 abr. 2015.
COSTA, C. Pobreza e exclusão. In:______ Sociologia: introdução à ciência da sociedade. 3a ed. São
Paulo: Moderna, 2005, p 247.
ENGEL, A. Moradores em situação de rua – uma leitura segundo a psicologia corporal. Curitiba, 2010, p.
11-12. Disponível em: <
http://www.centroreichiano.com.br/artigos/Monografias/ENGEL,%20Alberto.%20Moradores
%20em%20Situacao%20de%20Rua.pdf > Acesso em: 22 abr. 2015.
HECKERT, U.; SILVA, J. Psicoses esquizofrênicas entre a população de rua. Revista Psiquiatria Clínica.
USP, São Paulo, v. 29, n. 1. Disponível em: < http://www.hcnet.usp.br/ipq/revista/vol29/n1/14.html >
Acesso em: 10 jun. 2015.
MATTOS, R.; FERREIRA, R.Quem vocês pensam que (elas) são? - Representações sobre as pessoas
em situação de rua. Psicologia e Sociedade. Porto Alegre, 2004, vol.16, n.2, p. 47-58. Disponível em: <
http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0102- 71822004000200007 > Acesso em: 10 abr.
2015.
MENDONÇA, G. Sentidos subjetivos de moradores de rua frente ao futuro. Campinas, 2006. Disponível
em: < http://www.bibliotecadigital.puc-campinas.edu.br/tde_arquivos/6/TDE- 2007-03-09T054634Z-
1277/Publico/GABRIEL%20COELHO%20MENDONCA.pdf > Acesso em: 29 abr. 2015.
Ministério do Desenvolvimento e Combate à Fome. Lei n 11.258/05, de 30 dez. 2005. Disponível em:
http://www.mds.gov.br/acesso-a- informacao/legislacao/mds/leis/2005/Lei,P20no,P2011.258-
,P20de,P2030,P20de,P20dezembro,P20de,P202005.pdf.pagespeed.ce.jDZ4yd9KGO.pdf> Acesso em: 14
maio.2015.
Ministério do Desenvolvimento e Combate à Fome. Política Nacional Para Inclusão Social da População
em Situação de Rua, Brasília, 2008. Disponível em: <
http://www.recife.pe.gov.br/noticias/arquivos/2297.pdf > Acesso em: 16 maio. 2015.
MIRANDA, F. et al. O impacto negativo dos transtornos do uso e abuso do álcool na convivência familiar.
Revista Eletrônica de Enfermagem. Goiânia, 2006. Disponível em: <
https://www.fen.ufg.br/fen_revista/revista8_2/v8n2a07.htm > Acesso em: 3 jun. 2015.
OLIVEIRA, D. Desaparecidos civis: conflitos familiares, institucionais e segurança pública. Brasília, 2007,
p. 263. Disponível em: < http://bdtd.bce.unb.br/tedesimplificado/tde_arquivos/52/TDE-2007-12-
18T131037Z- 2112/Publico/Tese_Dijaci%20David%20de%20Oliveira.pdf > Acesso em: 12 jun. 2015.
PAIXÃO, A. Sociologia Geral. 1a ed. Curitiba: InterSaberes, 2012. Disponível em: . Acesso em: 12 abr.
2015.
24
PIRES, M. Políticas Públicas e Psicologia – Uma Nova Relação sob o Paradigma Democrático.
Perspectivas em Políticas Públicas, Belo Horizonte, v. 1, n. 1, p. 133-156, jan- jun 2008. Disponível em: <
http://revistappp.uemg.br/pdf/artigo6ppp1.pdf > Acesso em: 17 mar. 2015.
SOUZA, L. Apresentação. In: ROSA, C. População de rua: Brasil e Canadá. São Paulo: Hucitec, 1995
25