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A FOTOGRAFIA
Se estivermos sentados numa sala escura em que haja um único buraquinho por onde possa entrar
luz, vinda, por exemplo, de um jardim iluminado, veremos uma imagem desse jardim na parede em frente
ao buraquinho (dependendo da distância).
É neste princípio, chamado de câmara escura, que todas as máquinas fotográficas se baseiam, sendo
este princípio conhecido há mais de dois mil anos. Aristóteles (cerca de 334 A. C.), descreve a câmara
escura na sua obra intitulada Física.
Por volta do séc. XVI, em vez de buracos de alfinete, usavam-se lentes convexas — como as dos
óculos para a miopia. Nesse mesmo séc. Leonardo da Vinci (1452-1519) utilizou a câmara escura para a
resolução dos problemas da perspectiva e, a partir de então,
outros artistas começaram a utilizá-la para representar num
plano, com o maior realismo possível, a realidade
tridimensional. A lente produzia no ‘écran’ uma imagem clara e
nítida, sendo usada para traçar contornos de paisagens, edifícios
e naturezas-mortas.
Só no séc. XIX é que foi possível o aparecimento da
máquina fotográfica, pois só então começou a ser possível
aproveitar materiais sensíveis, próprios para fixar directamente
a imagem.
Primeiro através do francês Nicéphore Niepce (1765-
1833) que obteve, com uma câmara escura, uma imagem Nicéphore Niepce
permanente sobre uma superfície sensível à luz. Vista da janela sobre Le Gras 1826
Depois, o pintor francês Louis Daguerre (1787-1851), que se havia associado a Niepce,
desenvolveu e conseguiu a primeira imagem permanente que permitia a sua reprodução múltipla. Esta
imagem permanente ainda não tinha o nome pela qual hoje é
conhecida, fotografia, mas sim daguerreótipo, que deriva do
nome do seu próprio inventor. O daguerreótipo, era então uma
placa metálica sensibilizada com iodeto de prata, procedimento
que permitia a reprodução múltipla, mas só refotografando. A
verdadeira reprodução múltipla só aconteceu em 1841, sendo
simultaneamente o primeiro processo negativo-positivo. Este
processo foi inventado pelo inglês William Talbot que o
baptizou de calótipo e que é um aperfeiçoamento do
daguerreótipo.
Passou-se também a usar vidros. Estes eram cobertos
com líquidos sensíveis à luz, e metidos numa máquina que não
Louis Daguerre
era mais do que uma caixa. Eram expostos à luz o tempo Vista do Boulevard du Temple 1839
necessário, sendo depois revelados. A fim de controlar o
tempo, foram inventados obturadores mecânicos, do mesmo modo que, para controlar a luminosidade da
imagem, surgiram os diafragmas.
Cerca de 1890, George Eastman inventou um rolo com várias películas, que permitia à máquina,
agora já mais desenvolvida, tirar fotografias seguidas. Desde então, têm sido criados milhares de modelos
de máquinas fotográficas e têm-se desenvolvido vários tipos de películas fotográficas. Hoje em dia, a
película é constituída por um suporte de celulóide coberto por uma emulsão de prata.
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Fonte de luz e motivo a fotografar. A palavra fotografia significa «desenhar com luz».
A luz que ilumina o motivo e tudo o que o rodeia, reflecte-se em todas as direcções; alguns destes
raios luminosos vão passar através da objectiva, formando uma imagem que é um reflexo do motivo.
A posição da fonte de luz (sua altura e incidência) e a qualidade da mesma (seja ela dura como a da
luz directa do Sol, seja difusa como a dos dias nublados) determinam o aspecto e a direcção das sombras,
de influência decisiva sobre o volume do assunto fotografado.
O contraste entre a luz e a sombra pode ser reduzido ou modificado se, usando uma superfície de
cor clara ou uma segunda fonte de luz, se fizer reflectir parte da luz na sombra. A intensidade da fonte de
luz é extremamente importante, devido ao efeito produzido no tempo de exposição necessário.
Obturador. O
obturador é um
dispositivo que abre e
fecha e que nos permite
não só escolher o
momento exacto para tirar a fotografia, mas também controlar o tempo total em que a
luz actua sobre o filme (velocidade de disparo da máquina). Existem dois tipos
principais de obturador:
— o de lâminas metálicas colocadas entre a objectiva e o diafragma, ou entre o
diafragma e o plano focal (filme), ou ainda combinado no diafragma;
— o de plano focal, constituído por duas cortinas que abrem uma a seguir à
outra (excepto quando a velocidade de disparo é inferior a 1/125 seg., onde a segunda
cortina fica parada o tempo necessário de disparo) e que estão colocadas junto ao plano
focal, o que possibilita a mudança de objectivas. No sistema reflex de uma objectiva,
permite a observação do motivo através da objectiva.
Visor. Todas as máquinas fotográficas que se destinam a ser utilizadas manualmente precisam de
um tipo qualquer de visor, que nos permita orientar a máquina e enquadrar a imagem com maior ou
menor rigor.
Hoje em dia, muitas câmaras utilizam tipos de visor por sistema reflex. Este sistema utiliza uma
segunda objectiva (câmaras de objectivas geminadas), ou até
mesmo a própria objectiva (câmaras reflex directo), mostrando
no visor exactamente a imagem que irá ficar registada no filme.
A visão através de uma única objectiva reflex, além de
ser muito mais exacta no enquadramento e na focagem, tem
também a vantagem de se ajustar quando há mudança de
objectiva.
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Plano focal. O plano focal é a superfície plana na qual se forma a imagem. Quando tiramos uma
fotografia, a película está esticada em cima do plano focal. Quanto mais perto a máquina está do motivo,
tanto mais longe o plano focal se encontra da objectiva.
Por conseguinte, é preciso haver um sistema de focagem que permita movimentar a objectiva,
afastando-a ou aproximando-a do plano focal, de forma a obter imagens nítidas dos motivos que estejam
perto ou longe.
Todas as máquinas fotográficas são construídas de tal maneira que, quando a focagem está bem
feita, o plano focal vai coincidir com a superfície da película.
Normalmente, estas máquinas são de foco fixo o que permite focar com enorme rigor tudo o que
se encontra à distância de entre 2 m e o infinito.
Noutros modelos, foca-se com uma escala em que as distâncias ao motivo são assinaladas por
símbolos ou por metros.
Muitos modelos escolhem eles próprios a exposição correcta, noutros marca-se o símbolo
adequado às condições atmosféricas e outros ainda, permitem escolher a velocidade de obturação e a
abertura do diafragma.
Muitas destas máquinas, têm flash incorporado que geralmente tem um alcance máximo de 3,5 m
com uma película de sensibilidade média (100 ASA).
Com exposição automática ou feita através de símbolos de condições atmosféricas, não se
consegue alterar a abertura do diafragma, sendo a profundidade de campo impossível de controlar.
O ponto de vista das máquinas de visor directo, não é exactamente
igual ao da objectiva. O visor está geralmente afastado cerca de 2 ou 3 cm e
colocado de modo a apanhar a mesma parte que a objectiva abarca de um
motivo distante. Porém, quando se aproxima do motivo, em consequência do
deslocamento dos dois pontos de vista, no visor vê-se mais da parte de cima e
menos da de baixo, do que na objectiva, assim como o ponto de vista do visor,
estará mais para um dos lados do que o ponto de vista da objectiva. A este
problema de enquadramento chama-se erro de paralaxe. Quanto mais perto o
motivo estiver, maior o erro de paralaxe.
Os modelos mais avançados das máquinas de visor directo, já permitem um controlo manual da
focagem, do obturador e da sensibilidade do filme.
A focagem do motivo, pode ser feita através do sistema de telémetro, onde a luz da janela do
telémetro é reflectida através de espelhos para o visor, indo aí formar uma imagem virtual. Focando a lente
de observação, uma lente de espelhos desloca-se, fazendo deslocar também a imagem virtual para um lado.
Quando as imagens coincidirem, a cena estará bem focada. Durante a focagem, a máscara que o visor
forma desloca-se, obliquamente, indicando a compensação da paralaxe.
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A SLR é a máquina mais desenvolvida e mais procurada para a realização de fotografia avançada.
O seu fundamento — um espelho a 45 graus para reflectir a imagem formada pela objectiva num
despolido do visor exactamente até antes do momento da exposição — foi aplicado pela primeira vez no
séc. XIX, nas máquinas de placas.
Contudo a perfeição atingida pelos actuais modelos era inimaginável há cem
anos atrás. Este tipo de máquina, não sofre do erro de paralaxe, pode-se ver
exactamente a mesma imagem que a objectiva vai formar na película — o seu
tamanho, a distância exacta da focagem e, se se fechar o diafragma, a profundidade
de campo.
Quando se muda de objectiva, aparece automaticamente no despolido o
novo campo de visão.
Se se adaptar a máquina a um telescópio ou a um microscópio, ou se se
colocarem difusores e máscaras na objectiva, continua a ser possível ver-se
exactamente a imagem que a objectiva vai formar.
É devido à popularidade internacional da SLR, que a mais avançada
tecnologia óptica e electrónica é concebida, prioritariamente, em função deste tipo
de máquina. Fotómetro de leitura directa através da objectiva (TTL), zoom e motor
são partes de um sistema sempre crescente, construído em torno do corpo da
máquina.
Alguns fotógrafos acham que é mais difícil focar num despolido do que com
o telémetro de imagem coincidente, especialmente quando há pouca luz ou quando o
diafragma se encontra fechado. Para solucionar este último problema, a maior parte
das objectivas utiliza diafragmas automáticos que permanecem completamente
abertos até ao momento da exposição.
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A PROFUNDIDADE DE CAMPO
É por este motivo que as máquinas compactas, geralmente com objectivas de pequena distância focal, dão
uma profundidade de campo muito grande, normalmente entre 2 m e o infinito.
O fotógrafo, tal como o pintor, preocupa-se em conseguir enquadramentos equilibrados, por isso
o fotógrafo não deve esquecer os pontos e as linhas de força mais importantes do campo visual que
fotografa.
São linhas e pontos importantes de uma imagem as medianas, as diagonais, os pontos extremos
destas e o centro. Sentem-se sem se verem.
- Plano de conjunto; é um
plano onde o pretendido é
mostrar uma parte do plano
geral. Neste plano pode existir
um ou mais pontos de
interesse relativo, pois não é
dada uma atenção particular
para um motivo.
Pintar com a luz. A luz é o elemento mais importante da fotografia, pois é com a sua presença ou
ausência parcial, que uma imagem é reproduzida. Assim, a luz pode ser o elemento mais importante no
aspecto expressivo de uma fotografia. A interferência provocada pela luz em características da imagem
como simetria, assimetria, textura, volume, contraste, etc, é tão importante que todo a drama contido na
imagem pode perder-se pela simples mudança de direcção da iluminação.
Glossário
Aristóteles- Célebre filósofo grego, nascido na Estagira (384 A.C.), na Macedónia e morreu em Calcis
(322 A.C.), na Eubeia. Foi discípulo de Platão durante vinte anos. O seu sistema mostra-nos toda a
Natureza como um imenso esforço da matéria bruta para se elevar até ao acto puro, isto é, ao pensamento
e à inteligência. Aristóteles é o génio mais vasto da Antiguidade; abrangeu todas as ciências do seu tempo e
criou muitas que não existiam. Alguns dos seus principais tratados são o Organon, a Retórica, a Poética, dois
tratados de Moral, a Política, a História dos Animais, a Física, os Meteoros, o Céu, a Metafísica, etc.
Câmara escura- Na sua forma mais simples, consiste numa sala escura, com um pequeno orifício numa
das paredes. Os raios luminosos que passam por esse orifício projectam num plano (que pode ser uma
parede) uma imagem invertida da cena existente no exterior. Foi pela primeira vez referida por Aristóteles
no séc. IV (cerca do ano 334 A.C.) e desenvolvida ao longo dos tempos, como auxiliar do desenho.
Durante o séc. XVI, juntaram-se lentes biconvexas ao aparelho primitivo. Thomas Wedgewood, filho do
poeta Josiah, foi quem, cerca do ano de 1800, tentou pela primeira vez associar materiais sensíveis à luz, à
câmara escura. O francês Nicéphore Niepce conseguiu, efectivamente, fazê-lo, tendo obtido uma imagem
permanente em 1826.
Celulóide- Plástico elástico, translúcido e moldável que se obtém da dinitrocelulose e cânfora, criado em
1869 pelo norte-americano J. Wesley Hyatt. Emprega-se no fabrico de películas e como substituto do
vidro, chifre e marfim. Devido a ser altamente inflamável foi substituído na maioria das aplicações por
produtos sintéticos.
Despolido de focagem- Plano de vidro despolido que, colocado no plano focal da máquina, permite
observar e focar a imagem.
Diafragma- Termo que designa a abertura ajustável da objectiva. É ele que controla a quantidade de luz a
entrar na máquina, podendo estar colocado na parte anterior ou posterior da objectiva ou ainda dentro
dela.
Difusor- Qualquer material capaz de dispersar ou difundir a luz a fim de a suavizar. Quanto mais próximo
estiver da fonte de luz, menos a dispersa.
Distância focal- É a distância entre a objectiva (a partir do seu ponto nodal posterior) e o plano focal,
quando a focagem está feita para o infinito.
DX- Sistema de codificação dos rolos fotográficos que permite às máquinas de leitura DX ler a
sensibilidade do filme.
Emulsão- Material sensível à luz, constituído por uma suspensão de halogenetos de prata em gelatina,
aplicada sobre bases diferentes, de modo a produzir placas, películas e papel fotográfico.
Focagem- Sistema que permite movimentar a objectiva em relação ao plano da imagem, de modo a obter
o grau de nitidez desejada sobre a película.
Fotómetro- Instrumento utilizado para medir a quantidade de luz que incide no motivo ou que por ele é
reflectida. Está concebido de modo a transformar essa medida em informações úteis, como a velocidade
de obturação e abertura necessárias para tirar uma fotografia de qualidade aceitável.
Lente- Elemento óptico de cristal ou plástico, capaz de flectir a luz. Em fotografia, uma objectiva pode
ser constituída por um único elemento ou por vários. Basicamente, as lentes simples são de dois tipos:
Convergentes e divergentes. As convergentes são convexas e conduzem os raios luminosos para o eixo
óptico. As divergentes são côncavas e afastam os raios luminosos do eixo óptico. Utilizam-se ambas nas
objectivas compostas, mas o efeito geral é fazer convergir os raios luminosos.
Máquina reflex- São máquinas que utilizam um espelho para reflectir os raios luminosos provenientes da
imagem para um despolido de vidro, usado para observar e focar. São de dois tipos: SLR que possui um
espelho retráctil por trás da objectiva; TLR, com um espelho fixo por trás da objectiva de observação. O
sistema TLR está sujeito ao erro de paralaxe.
Microprisma- Círculo com a forma de grade, existente no centro do vidro despolido de focagem de uma
máquina, que rodeia o visor de imagem partida. Ajuda a focar motivos não lineares.
Números f- São os números marcados no barril da objectiva e que indicam o tamanho da abertura do
diafragma.
Obturador- Mecanismo utilizado para controlar o tempo de actuação da luz numa emulsão sensível.
Obturador de plano focal- Obturador colocado mesmo em frente do plano focal. A película colocada no
plano focal é exposta progressivamente, à medida que as lâminas do obturador se deslocam sobre ela.
Paralaxe- Diferença entre a imagem vista pelo visor e a registada na película. Essa diferença aumenta
quando os motivos se aproximam da objectiva.
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Película- Material fotográfico que consiste numa base de plástico fino e transparente, revestida de uma
emulsão sensível à luz. A película a preto e branco tem uma única camada de emulsão, enquanto a película
para cor tem, pelo menos, três, sendo cada uma delas sensível a uma cor diferente.
Pentaprisma- Dispositivo óptico, geralmente montado nas máquinas de 35 mm, que possibilita a
observação da imagem durante a focagem. Um sistema de espelhos inverte a imagem lateralmente, de
modo que a cena possa ser observada na posição correcta.
TTL- Abreviatura da expressão “through the lens”; refere-se a um sistema de leitura no qual um
mecanismo sensível à luz incorporado no corpo da máquina mede a exposição a partir da luz da imagem
que atravessa a objectiva.
Visor- Sistema utilizado para enquadrar e, por vezes, para focar o motivo.
Zoom- Objectiva construída de forma a variar a distância focal, sem afectar a focagem ou a abertura do
diafragma, dentro de certos limites (por exemplo: zoom de 80-200 mm).
Bibliografia: