Processo Nº. : 0002110-48.2016.8.05.0146 Classe : RECURSO INOMINADO Recorrente(s) : COELBA COMPANHIA DE ELETRICIDADE DO ESTADO DA BAHIA Recorrido(s) : JOSE APRIGIO NUNES Origem : 1ª VARA DO SISTEMA DOS JUIZADOS - JUAZEIRO
Relatora Juíza : MARIA AUXILIADORA SOBRAL LEITE
VOTO- E M E N T A
1. RECURSO INOMINADO.CONSUMIDOR. COELBA. FORNECIMENTO DE
ENERGIA ELÉTRICA. SUSPENSÃO DO SERVIÇO DE ENERGIA INOBSERVÂNCIA DAS NORMAS REGULAMENTARES. AUSÊNCIA D AVISO PRÉVIO. INEXIGIBILIDADE DA DÍVIDA. INVERSÃO DO ÔNUS DA PROVA ( ART.6º INCISO VIII DO CDC) DANOS MORAIS CONFIGURADOS. QUANTUM ARBITRADO DE ACORDO COM OS PARÂMETROS DA RAZOABILIDADE E PROPORCIONALIDADE. SENTENÇA MANTIDA. 2. Trata-se de recurso interposto contra sentença que julgou procedentes os pedidos formulados na exordial, declarou a inexigibilidade da dívida bem como condenou a ré em R$ 4.500,00 ( quatro mil e quinhentos reais ) a título de danos morais. 3. Trata-se de ação movida em razão da suspensão indevida de fornecimento de energia sem que lhe tenha sido concedido aviso prévio, no dia 24/12/2014, sem qualquer aviso prévio, com base em dívida no valor de R$ 1,05 ( hum reais e cinco centavos). 4. A sentença recorrida não merece reforma. A demonstração do fato básico para o acolhimento da pretensão é ônus do autor, segundo o entendimento do art. 373, inciso I, do NCPC, partindo daí a análise dos pressupostos da ocorrência de indenização por danos morais, recaindo sobre o réu o ônus da prova negativa do fato, segundo o inciso II do mesmo artigo supracitado. 5. Em que pese o quanto alegado pelo réu, não consta dos autos a prova de fato impeditivo, modificativo ou extintivo do direito da parte autora. De fato, restou comprovado nos autos, que a concessionária de serviços públicos procedeu ao corte no fornecimento de energia da unidade consumidora da parte autora em 24/12/2014, conforme termo colacionado aos autos no ev.01, argumentando que a parte autora encontrava-se em débito, sendo este no valor de R$ 1,05. De pronto, cabe ressaltar que a medida adotada para a cobrança do mencionado débito consistente na suspensão de serviço público essencial, para além de não ter observado as normas regulamentares e o cumprimento do direito do consumidor à notificação e prazo para pagamento, revelara-se desproporcional e desarrazoada, ante o ínfimo valor da dívida. 6. Cumpre salientar que estamos diante de uma relação de consumo, impondo- se a aplicação das normas do Código de Defesa do Consumidor, as quais possuem interesse social e são de ordem pública, sendo a responsabilidade da recorrente objetiva e fundada na teoria do risco do empreendimento. 7. Com efeito, já é entendimento consolidado em nossa jurisprudência a ilegalidade no procedimento de suspensão do serviço de energia elétrica sem a concessão do prévio aviso ao consumidor, para que o mesmo possa providenciar o pagamento. De igual modo, tal notificação de nenhum modo poderá ser realizada de modo genérico, no corpo da fatura, sem a especificação do prazo para pagamento e das conseqüências do inadimplemento, a saber, a suspensão do fornecimento de bem essencial no caso de não pagamento das faturas em aberto no prazo . Nesse sentido o STJ já consolidou o entendimento,, conforme julgado: ADMINISTRATIVO, CIVIL E PROCESSUAL CIVIL. ENERGIA ELÉTRICA. INADIMPLEMENTO. SUSPENSÃO DO FORNECIMENTO. CORTE IRREGULAR. AVISO PRÉVIO LANÇADO NA PRÓPRIA FATURA DE FORMA GENÉRICA E SEM EXPLICITAÇÃO DO PRAZO DE 15 DIAS ESTIPULADO PELA ANEEL. SÚMULA 7/STJ. 1. Incide o óbice das Súmulas 211/STJ e 282/STF em relação à suposta vulneração dos arts. 6º, § 3º, da Lei 8.987/95; 17 da Lei 9.427/96; 188, I, 884, 944 e seguintes do Código Civil, que não foram examinados pelo acórdão de origem. 2. A esse respeito, a jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça não admite o prequestionamento (ficto) pela simples oposição de Embargos Declaratórios, reclamando ter havido o efetivo debate na instância ordinária quanto aos preceitos legais suscitados. Precedente: AgRg no REsp 1.393.280/RN, Rel. Ministro Humberto Martins, Segunda Turma, DJe 16.12.2013. 3. Ademais, diversamente do que sustenta a agravante, a controvérsia não se relaciona com a possibilidade de inclusão do aviso prévio no corpo da própria fatura, mas sim com a irregularidade da notificação feita de modo genérico e sem explicitar o prazo de 15 dias para regularização do débito. 4. Arredar a conclusão da instância a quo sobre a irregularidade da notificação demanda reexame do conjunto fático probatório, o que é vedado pelo enunciado da Súmula 7/STJ. 5. A hipótese dos autos não permite a revaloração da prova, tendo em vista não se verificar erro jurídico na aplicação de norma ou princípio. Precedente: AgRg no AREsp 26.857/GO, Rel. Ministra Maria Isabel Gallotti, Quarta Turma, DJe 27.9.2013. 6. Por fim, os precedentes citados pelo agravante não o socorrem, uma vez que, além de não guardarem similitude fática com o caso dos autos, esbarram no enunciado da Súmula 420/STJ, cuja ratio decidendi se aplica à espécie, por analogia. 7. Agravo Regimental não provido. (STJ - AgRg no AREsp: 339935 PE 2013/0141457-4, Relator: Ministro HERMAN BENJAMIN, Data de Julgamento: 01/04/2014, T2 - SEGUNDA TURMA, Data de Publicação: DJe 15/04/2014)
8. Reconhecida a existência dos danos morais por parte da ré contra o autor,
esses devem ser fixados com equilibrada reflexão, examinando a questão relativa à fixação do valor da respectiva indenização. 9. No particular, o prudente arbítrio do magistrado exige não deva ser considerada, apenas, a situação econômica do causador do dano, porque, se tal for o critério, resvalar-se-á para o extremo oposto, com amplas possibilidades de propiciar ao ofendido o enriquecimento sem causa. Há que se atender, porém, e também com moderação, ao efeito inibidor da atitude repugnada.No caso proposto, entendo que tais requisitos foram atendidos, diante da gravidade da conduta da parte demandada, da repetição do comportamento e potencial de danos em grande escala que pode causar , máxime em se tratando o serviço público de fornecimento de energia bem essencial. 10. O valor da indenização fixado pelo juiz sentenciante, a título de danos morais, guarda compatibilidade com o comportamento do recorrente e com a repercussão do fato na esfera pessoal da vítima e, ainda, está em harmonia com os princípios da razoabilidade e proporcionalidade, devendo ser mantida.
11. ISTO POSTO, voto no sentido de CONHECER DO RECURSO INTERPOSTO
E NEGO-LHE PROVIMENTO, para manter a sentença objurgada pelos próprios fundamentos. Custas processuais e honorários advocatícios pelo recorrente, que arbitro em 20% sobre o valor da condenação.
12. Salvador, Sala das Sessões, 13 de Abril de 2017.
13. BELA. MARIA AUXILIADORA SOBRAL LEITE 14. Juíza Relatora 15. BELA CÉLIA MARIA CARDOZO DOS REIS QUEIROZ 16. Juíza Presidente 17. 18. PODER JUDICIÁRIO DO ESTADO DA BAHIA
2ª TURMA RECURSAL DOS JUIZADOS ESPECIAIS
Processo Nº. : 0002110-48.2016.8.05.0146
Classe : RECURSO INOMINADO Recorrente(s) : COELBA COMPANHIA DE ELETRICIDADE DO ESTADO DA BAHIA Recorrido(s) : JOSE APRIGIO NUNES Origem : 1ª VARA DO SISTEMA DOS JUIZADOS - JUAZEIRO
Relatora Juíza : MARIA AUXILIADORA SOBRAL LEITE
ACÓRDÃO
Acordam as Senhoras Juízas da 2ª Turma Recursal dos Juizados Especiais Cíveis e
Criminais do Tribunal de Justiça do Estado da Bahia, CÉLIA MARIA CARDOZO DOS REIS QUEIROZ –Presidente, MARIA AUXILIADORA SOBRAL LEITE – Relatora e ALBÊNIO LIMA DA SILVA HONÓRIO, em proferir a seguinte decisão: RECURSO CONHECIDO E IMPROVIDO . UNÂNIME, de acordo com a ata do julgamento. Custas processuais e honorários advocatícios pelo recorrente, que arbitro em 20% sobre o valor da condenação.
Salvador, Sala das Sessões, 13 de Abril de 2017.
BELA. MARIA AUXILIADORA SOBRAL LEITE Juíza Relatora BELA CÉLIA MARIA CARDOZO DOS REIS QUEIROZ Juíza Presidente