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“O ponto a que desejo chegar e que diz respeito diretamente a esta reunião

é o seguinte: qual a responsabilidade dos que criam e divulgam conheci-


mentos no mundo atual, mais particularmente na periferia deste mundo
que é onde nos encontramos?
A profissionalização dos cientistas, sua transformação em indivíduos que
vendem serviços e procuram tirar partido da escassez do que vendem, con-
forme as leis do mercado, é o primeiro problema que se coloca. Isso por-
que uma sociedade em que a criatividade está subordinada às leis do mer-
cado é uma sociedade em que os que controlam os meios — os
beneficiários diretos da acumulação — ditam a lei da cidade. Os fins da vi-
da social não serão mais do que um reflexo da lógica desses meios. Portan-
to, é indispensável que os cientistas vejam naquilo que eles produzem va-
lores, algo que tem um sentido em si mesmo, que está relacionado com os
fins da vida humana. Produzir valores implica ter consciência do contexto
social em que vivemos, assumir na plenitude a cidadania. E também signi-
fica organizar-se como cientistas para contribuir decisivamente no proces-
so de reconstrução social.
Na periferia são os cientistas os que mais facilmente adquirem uma visão
global do mundo, pois a ciência é hoje um sistema de criação de conheci-
mentos organizado em escala planetária. A percepção da dependência em
que nos encontramos resulta naturalmente dessa visão global. Isso aumenta
a responsabilidade que cabe naturalmente aos cientistas como agentes da
transformação social. Se os cientistas tomarem plena consciência da signi-
ficação última do que produzem, como valores sociais e humanos, do con-
texto social em que estão inseridos e da situação de dependência a que tem
sido relegado o nosso país, terão necessariamente — como cidadãos ou co-
mo força social organizada — que contribuir de forma decisiva para colo-
car a ciência e a tecnologia a serviço da solução dos imensos problemas
que enfrenta nossa sociedade.
Se é verdade que a tecnologia tem sido correntemente instrumento da pre-
servação de privilégios, como ignorar que mesmo nos regimes mais
autoritários e nas sociedades mais fechadas o poder, para preservar-se, ne-
cessita da cooperação dos que produzem conhecimentos? Portanto, a res-
ponsabilidade dos homens e mulheres de ciência é evidente e indeclinável
nesta civilização da tecnologia. Faço esta afirmação com a certeza de ser
compreendido, pois a razão de ser desta Sociedade Brasileira para o Pro-
gresso da Ciência tem sido a consciência da responsabilidade cívica que
cabe aos que se dedicam à ciência no Brasil.”
Discurso proferido na sessão inaugural da 31a Reunião Anual da SBPC
Fortaleza, 1979
Celso Furtado

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