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O caso Pinterest
A relativamente nova rede social Pinterest já se tornou conhecida e popular, inclusive no Brasil, e hoje
desponta como uma das redes de maior popularidade no mundo, mas nem sempre foi assim. O Pinterest é
uma rede social que permite salvar imagens e figuras no perfil de um usuário e posteriormente compartilhá-
las (To pin, em inglês, se referindo ao ato de fixar em um quadro). O sucesso da plataforma se deveu,
principalmente, à inovação de seu design e usabilidade.
A rede foi idealizada pelos americanos Paul Sciarra e Ben Silbermann, este último anteriormente
funcionário e entusiasta do Google. Os empresários se uniram com o objetivo de criar algo novo e, durante
algum tempo, antes do projeto da rede social, desenvolveram aplicações mobile e apps sem sucesso.
“Trabalhei em produtos nos quais ocorriam quedas do site no meio da noite e ninguém percebia”, lembrou
Silbermann, sem muita saudade, em entrevista para o Business Insider1.
E, de fato, em seus primeiros meses no ar, o Pinterest parecia ser apenas mais um desses produtos.
Silbermann contou, na entrevista, que após nove meses no ar, o site possuía pouco mais de dez mil usuários e
muitos deles não utilizavam a rede em base diária.
O empresário disse que alguns poucos amigos e conhecidos mantiveram o site vivo. Os primeiros cinco
mil usuários foram praticamente contatados por ele de modo pessoal – para muitos, deixava seu celular e
mantinha contato frequente.
Os dois sócios não desistiram ao longo dos difíceis doze primeiros meses do projeto e investiram tempo e
dedicação obsessiva, especialmente em relação ao design e à plataforma do produto. “O site não virou um
sucesso do dia para a noite”, comentou Silbermann na entrevista, embora muitos atualmente tenham tal
impressão.
Em junho de 2011, o Pinterest começou a receber maior atenção da mídia e iniciou rápida escalada a partir
do final de 2011. Hoje, o site se aproxima dos 25 milhões de usuários, segundo dados da ComScore.
O caso Fab.com
Ainda não tão popular no Brasil, a rede com foco em design Fab.com na verdade começou, embora muitos
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não saibam, como uma rede social voltada ao público gay, chamada Fabulis. A jogada inicial foi na verdade
afetada por uma série de mudanças em curso na
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sociedade norte-americana, o que acabou fazendo com que a
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equipe fundadora do Fabulis, na época, passasse por um pivot que daria origem ao Fab.com.
Três fatores-chave acabaram levando à sequência de fatos que faria com que o Fab.com virasse a opção
mais rentável e correta para o negócio, fazendo com que o foco no público gay cedesse espaço a uma rede
concentrada em design, de modo mais genérico:
> O FABULIS ATRAIU 50 MIL MEMBROS em seus três primeiros meses de vida, um excelente número.
Contudo, nos cinco meses seguintes, o volume de membros apenas dobraria, chegando próximo dos 100 mil, o
que demonstrava, sem dúvida, falhas no ganho d e escala da startup. Os fundadores da rede haviam levantado
um capital total de US$ 3 milhões, projetando faturamento de US$ 50 a 100 milhões, mas viram que, com a
evolução da rede, dificilmente passariam da marca de US$ 10 milhões em faturamento;
> UMA SÉRIE DE MUDANÇAS no tocante aos direitos da comunidade gay norte-americana e ações visando
à aproximação da sociedade e desse público trariam diversos avanços do ponto de vista social e humanitário,
porém refletiam de forma negativa em produtos e serviços criados para a comunidade, que não mais queria
usufruir algo específico, mas sim aquilo que o restante da sociedade usufruía. A partir daí, houve um
questionamento a respeito da real necessidade de um Groupon Gay ou redes e mídias sociais focadas somente
no público gay;
> EM MUITAS OFERTAS do site voltadas ao público gay, especialmente na área de design, mais de metade
dos consumidores, na verdade, consistiam em heterossexuais – com isso, o Fabulis viu que talvez estivesse
erroneamente limitando seu público-alvo e que a ideia de uma rede concentrada em design tinha fundamento,
aumentando assim sua escalabilidade.
As constatações acabaram levando a uma rápida mudança no modelo de negócios, que passou a focar na
indústria do design, estimada em US$ 100 bilhões, sem maiores gastos e aproveitando o capital já levantado
com a ideia do Fabulis. O site Fabulis foi fundado em fevereiro de 2010 e mudou sua estratégia de branding
para o Fab.com em junho de 2011, o que levaria inclusive à compra, em fevereiro deste ano, da alemã
Casacanda, por cerca de US$ 11 milhões – o Fab.com é considerado um dos grandes inovadores do social
commerce e hoje é avaliado em mais de US$ 200 milhões.
“Como ditam as forças de mercado, quando há excessiva abundância de certo recurso, o valor desse
recurso cai. Eventualmente, um recurso abundante atinge um ponto no qual ele se torna mais barato em
sua compra, substituição ou mesmo reparo. E, para muitas incubadoras, os empreendedores atingiram
esse ponto”, explica Dao.
Seguindo tal pressuposto, podemos considerar que, sob a visão do investidor ou mesmo do mercado, uma
startup, assim como o produto ou serviço que a mesma busca introduzir, deve possuir algumas características
mínimas que a tornem viável. Aplicando a curva de MVP de Gronsund às variáveis “apelo junto a
investidores” e “características da startup” teríamos um ponto da curva no qual o MVE se manifesta. Nesse
ponto, um mínimo capital investido na recém-formada empresa a levaria ao sucesso, gerando o máximo
retorno ao investidor (veja Figura 2).
Mas de que modo é possível atingir esse ponto ou ao menos aproximar sua startup dele?
Esse é o ponto atacado pela infinidade de métodos, estratégias para construção de modelos de negócio,
teorias envolvendo a formação de startups e todo tipo de arma empresarial que cerca hoje o cenário do
empreendedorismo. Abordaremos algumas delas ao longo deste livro e também o papel da principal figura
responsável pela facilitação e introdução de todas essas metodologias e estratégias nessas novas empresas: as
pessoas! Sejam os empreendedores ou os mentores responsáveis pela condução dos processos.
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PONTO DE VISTA:
TALLIS GOMES
Sócio-fundador e CEO da Easy Taxi
Tallis foi, ao longo de 2012, uma das grandes sensações entre os empreendedores digitais brasileiros com o Easy Taxi.
Ainda criança, o empresário precisou de dinheiro para comprar equipamentos para sua banda e assim resolveu vender
celulares de segunda mão no Mercado Livre.
Perguntamos a Tallis sobre a importância de um mentor, ou mentores, na construção de sua carreira, caráter e,
principalmente, dessa startup que o levou às luzes da ribalta do empreendedorismo brasileiro. O jovem CEO começou
sua resposta com uma curiosa proposta: “Vou separar essa resposta em dois estágios — o nascimento do negócio e o
amadurecimento desse negócio. Só posso falar desses dois estágios, pois foram os únicos que vivi com um real business
enquanto empreendedor.”
O nascimento do negócio
Tallis reconhece o peso de um bom mentor nesta fase do desenvolvimento de uma empresa. “Todos sabemos que os
pilares de um negócio são um bom produto, ‘flawless execution’ (uma execução sem falhas) e networking.”
O empresário vai além — ele acredita que, nos primeiros dias de uma empresa, a importância de uma boa cadeia de
relacionamentos supera a necessidade de um bom produto para sua constituição. Ele comenta que, se você executa um
modelo e um plano sem falhas, isso implica em um bom time, que certamente irá desenvolver o produto de modo a
atender corretamente às necessidades e apontamentos de seu “chefe”, ou seja, o próprio cliente.
“Porém, se você não possui um bom networking (o que é a realidade da maioria dos empreendedores de primeira
viagem), você não conseguirá quebrar as primeiras barreiras de entrada do seu negócio”, admite ele.
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Tallis teve como mentores, ainda na fase preliminar de seu negócio, Felipe Matos (que veio a coordenar o programa
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Start-UP Brasil, do governo brasileiro) e João Ávila (coordenador da rede de investidores Anjos do Brasil para o estado
de Minas Gerais). O CEO do Easy Taxi diz que ambos foram essenciais na abertura de relacionamentos importantes para
a empresa e até mesmo para conquistar rodadas iniciais de investimento-anjo.
O amadurecimento
Com o negócio já validado pelo mercado, a empresa começa a gerar uma considerável receita e caminha em direção à
escalabilidade. “Nessa fase, ter um mentor mais técnico, com uma visão de processos e um diversificado repertório de
mercados em sua carreira como gestor e empreendedor, é essencial”, explica Tallis. Ele ressalta a importância que esse
tipo de mentor teve para tornar possível levar a empresa a dez países ao longo de seus primeiros dois anos de vida. Para
Tallis, compreender as minúcias culturais, burocráticas e de mercado em todos esses países seria praticamente
impossível sem a presença desse tipo de mentor.
Quando se trata de desempenhar o papel de mentor para a próxima geração de proprietários de negócios e
fundadores de startups, líderes de organizações empreendedoras têm caído em uma enorme armadilha.
Simplificamos um complexo termo – “mentoria” – em um genérico sinônimo de oferecer aconselhamento
à revelia.8
Gerber afirma que, se realmente queremos formar empreendedores e fornecer bases para o avanço de um
forte empreendedorismo local e regional, devemos derrubar tal concepção, gerando mudanças em cinco
frentes:
> CONECTANDO AQUELES QUE SABEM ÀQUELES QUE FAZEM. Gerber lembra que, muito embora
empreendedores sejam amplamente encorajados a buscar mentores, tal procura em geral se restringe a nomes
do próprio segmento de startups e tecnologia, e de fato pouco se busca junto a cientistas, pesquisadores,
profissionais de engenharia e desenvolvimento e até mesmo de áreas não imediatamente relacionadas, como a
filosofia;
> PENSANDO GLOBALMENTE, MAS DESENVOLVENDO MENTORES REGIONAIS. O alto custo de
vida e fatores macroeconômicos, diz Gerber, levaram muitos empreendedores a focar em seu mercado local.
Ainda assim, o poder das universidades e centros locais pode conectar mentores de fora à comunidade local, e
também esforços e parcerias públicas e privadas podem trazer ao cluster regional uma visão mais abrangente e
globalizada;
> RECONHECENDO O VALOR DAS RELAÇÕES PEER-TO-PEER. Um excelente mentor não tem
necessariamente de ser mais velho, ou mesmo único. Em vez disso, devemos valorizar as relações P2P,
descentralizando o papel do servidor e beneficiando a troca de conhecimento de forma mais dinâmica e
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abrangente; 8/20
> PERSONALIZANDO PARES, MEDINDO RESULTADOS E ELEVANDO O ACESSO. Gerber lembra
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que as ferramentas de catalisação de relacionamentos e contatos podem e devem ser usadas para aproximar
empreendedores de mentores que se adaptem às suas necessidades e perfis. Do mesmo modo, essa “camada”
social da “mentoria” pode gerar análises mais precisas de resultados e facilitar o acesso a novos mentores por
parte de startups;
> COMEÇANDO DESDE CEDO. Para Gerber, a geração Y viu a receita de sucesso de seus pais cair por
terra com a sucessão de crises econômicas e sistêmicas. Ele cita dados que mostram que mais da metade dos
recém-formados nos EUA que buscam o mercado de trabalho acabam em empregos nos quais desenvolvem
pouco suas habilidades recém-adquiridas. Nesse cenário, o empreendedorismo tornou-se uma opção viável e,
com a aproximação de mentores, novos empreendedores podem já ingressar no mercado com preparo e visão de
negócios.
Mentoria e estratégia
Achar mentores adequados é apenas o começo da jornada para desenvolver sua empresa, seu modelo de
negócios e se desenvolver como empreendedor. Os modelos em geral são parcial ou mesmo totalmente
baseados em suposições e dados mais genéricos e apenas ilustram o grau de viabilidade de um novo projeto.
A partir do modelo viável, o papel do mentor se torna essencial para definir estratégias e abordagens
eficientes para colocar em prática o modelo de negócio ou mesmo para alterá-lo de modo que possa se ajustar
à realidade (pivotagem) – uma ou mais vezes.
A estratégia de uma startup estará primeiramente baseada no tipo de inovação ou novo produto que a
mesma pretende inserir no mercado. Clayton Christensen, um dos mais influentes gurus da inovação da
atualidade, cunhou o conceito de “inovação disruptiva”, ou seja, aquela que causa perturbações no mercado.
Com base na teoria, antes de definir quaisquer estratégias, fundadores e mentores devem compreender que
tipo de “disrupção” a nova empresa causa no mercado.
A “disrupção” pode ocorrer em quatro diferentes níveis (ou em mais de um deles): um novo produto, uma
nova tecnologia de produção, uma nova forma de distribuir um produto ou ainda uma nova maneira de
prestar um serviço9.
Bons mentores o ajudarão a concentrar seus esforços e estratégia no ponto de “disrupção” de sua startup.
Não raro, fundadores pensam estar revolucionando o mercado com seu produto, mas na verdade o ponto alto
de seu modelo de negócios está na distribuição ou modelo de precificação, por exemplo. Estratégias mal
formuladas ou focadas em uma frente errônea podem sacrificar uma startup antes mesmo que ela tenha
chances de reverter ou “pivotar” seu negócio.
O distanciamento dos mentores em relação à empresa fornece visões independentes e mais racionais,
principalmente quando um pivot ou um próximo passo envolve uma total reformulação do modelo inicial.
Qualquer que seja sua estratégia para buscar mentores, ao consegui-los, um aspecto é primordial: a
independência. Não são poucas as startups que fracassaram e que teriam sido salvas com uma segunda
opinião. Além disso, uma visão de fora ou ao menos desconectada do modelo inicial de negócios pode criar
uma cultura corporativa mais forte, uma vez que demonstra a abertura dessa nova empresa para ideias e
propostas de mudança, reforçando sua imagem de flexibilidade.
Todo empreendedor é por natureza um entusiasta e, como todo entusiasta, dificilmente enxerga as falhas e
problemas que surgem em seus planos iniciais e só os percebe quando é tarde demais. A seguir, detalharemos
alguns casos nos quais uma visão externa crítica poderia ter rendido milhões ou ao menos ter evitado a perda
de similar montante. Lembre-se de que para atingir a curva do MVE, aceitar e buscar vários feedbacks é
fundamental para o seu negócio.
Separamos os cases de duas empresas americanas não tão conhecidas ou lembradas, inclusive em razão de
haverem falhado. Em nossa opinião, as startups Pay by Touch e Joost falharam principalmente em razão da
falta de uma “mentoria” adequada:
O caso Joost11
Algumas startups que falharam possuíam absolutamente tudo para seguir em frente, e bem, porém, em
razão de equívocos típicos da falta de aconselhamento, acabaram não vingando. Esse é o caso do Joost, que
apareceu no mercado com uma plataforma de transmissão de TV on-line, de forma eficiente e respeitando
direitos autorais.
Pesados nomes da indústria como fundadores – os responsáveis pelo empreendimento estavam também
envolvidos em projetos como o do Kazaa e o Skype – não foram suficientes para fazer o projeto decolar. Os
aportes de US$ 45 milhões levantados pelo Joost também não ajudaram a startup a seguir em frente. De igual
forma, o sistema era tecnologicamente impecável, e o pré-lançamento do aplicativo gerou milhares e milhares
de downloads entre usuários.
Com tudo isso, qualquer um perguntaria como essa startup está atualmente. Não está – acessando a página
do Joost, é possível ver uma mensagem que informa sobre a descontinuidade do aplicativo por tempo
indeterminado, o que leva à pergunta definitiva: o que deu errado?
Na verdade, mentores mais conservadores provavelmente teriam salvado a pele do Joost, que pecou em
alguns pontos:
> A HORA CERTA DE DAR ESCALA: o Joost contratou muita gente e rápido demais, nunca se comportando
como uma startup, mas sim como uma grande empresa em franco crescimento. Além disso, foram fundados
escritórios demais em um curto período de tempo (em Nova Iorque, Londres e também na Holanda);
> FOCO: o Joost era um programa ambicioso que, no entanto, não possuía um foco específico, nem em termos
de público nem em termos do conteúdo que pretendia transmitir;
> FASE BETA: o renome dos fundadores atraiu mais de 250 mil usuários nas etapas de pré-lançamento.
Quando problemas técnicos surgiram, a lentidão em sua resolução e o grande número de usuários fizeram com
que a popularidade se transformasse em um aspecto negativo;
> TIMING: a empresa tardou a perceber que seu serviço iria perder espaço para soluções de vídeo on-line e
browser-based. Exemplo disso é o Hulu, que surgiu como uma plataforma on-line simples e fácil de usar e hoje
representa quase 10% do volume de tráfego de vídeos na internet;
> CONTRATOS: o Joost identificou corretamente a necessidade de formalizar contratos e parcerias com os
grandes produtores de conteúdo televisivo, mas falhou em termos de priorizar e agir agressivamente para levar
tais contratos a termo.
Surgido em 2007, em versão beta, o Joost perdeu compasso e hoje está fora do ar. No começo de 2011,
quando ainda operava e tentava solucionar problemas, o site recebia um pouco mais de 500 mil visitantes
únicos por mês enquanto o principal concorrente, o Hulu, já batia na casa de 12 ou 13 milhões.
“Para uma startup, a analogia mais representativa é o jogador de basquete: ele rapidamente interrompe a
jogada, mantém uma das pernas fixas, observa e gira em torno do seu eixo para explorar diferentes opções
de passe. Esse é o conceito do pivot em uma startup: girar em outra direção e testar novas hipóteses, mas
mantendo sua base para não perder a posição já conquistada.”
Gitahy ilustra a analogia ainda com exemplos de grandes nomes da área no mundo, como o Flickr, que se
utilizou das rotinas já desenvolvidas para a troca de imagens entre jogadores on-line (a plataforma foi
inicialmente concebida para ser um jogo de RPG) para criar uma rede social.
Lançando mão da analogia de Gitahy, é possível pensar no mentor, ou mentores, como um técnico dessa
mesma equipe de basquete – durante o giro, o “pivô” se lembra das instruções de jogadas dadas pelo técnico
e aciona um jogador ou outro, de acordo com a tática descrita no banco, anteriormente. Bons mentores não
impedem seu “giro” nem mesmo tomam a bola e a arremessam, mas sim ajudam você a decidir com mais
clareza o que fazer com a bola para que os pontos sejam convertidos.
São vários os tipos de pivots que podem levar a ajustes nos modelos de negócio de uma startup. Eric Ries,
autor de A startup enxuta, e alguns outros especialistas norte-americanos contabilizam pelo menos dez tipos
distintos de “giros” que podem ser realizados por empreendedores, com o objetivo de validar e tocar sua
startup adiante. São eles:
> ZOOM-IN: ocorre quando um mero feature do produto original se torna o verdadeiro produto final da
startup;
> ZOOM-OUT: no sentido inverso, o produto original se mostra insuficiente e acaba se tornando apenas uma
das funcionalidades do produto viável da startup;
> SEGMENTO: o produto resolve de fato um problema, mas o público inicialmente visado não é o correto;
> NECESSIDADE: o problema resolvido não é relevante para o público considerado ou não oferece o valor
proposto, então os empreendedores deverão buscar a real necessidade desse público para efetuar os ajustes;
> PLATAFORMA: o produto é válido e viável, mas não na plataforma inicialmente adotada ou escolhida;
> ARQUITETURA DE NEGÓCIO: mudança de uma política de pricing de margens altas para um volume
baixo para uma política de margens pequenas para um grande volume, ou vice-versa;
> CAPTURA DE VALOR: mudança nas propostas iniciais de monetização ou geração de receita;
> CRESCIMENTO: mudanças na estratégia da startup para efetuar seu ganho de escala;
> CANAL: o produto precisa ser entregue por outro canal, o que certamente afetará a logística, o pricing e
outros fatores;
> TECNOLOGIA: a startup acaba encontrando uma forma mais rápida e barata de capturar o mesmo valor,
por meio de inovações.
1. Segmentos de consumo
Representa exatamente o público que seu produto ou serviço pretende atingir. Isso não quer dizer
necessariamente que sua startup precise focar em apenas um público, de modo que nesse espaço você poderá
relacionar públicos distintos, que exijam condições de oferta, pagamento, entrega ou processos diferentes
para serem atendidos. Em outras palavras, é aquele público para o qual queremos criar valor.
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Aconselhamos nesta parte específica do Canvas, que trata de segmentos de consumo, o estudo da teoria da
cauda longa e da estratégia do Oceano Azul.
Conforme o Wikipédia, cauda longa (do inglês Long Tail) é um termo utilizado na estatística para
identificar distribuições de dados como a curva de Pareto, onde o volume de dados é classificado de forma
decrescente. Quando comparada a uma distribuição normal, ou Gaussiana, a cauda longa apresenta uma
quantidade muito maior de dados ao longo da curva.
O termo cauda longa ganhou popularidade recentemente como uma maneira de descrever a estratégia de se
vender uma grande variedade de itens, embora cada um deles em pequenas quantidades, em vez de
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concentrar esforços em alguns poucos itens de venda intensiva. A cauda longa foi popularizada em artigo 14/20
de
Chris Anderson para a revista Wired em outubro
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de 2004, no qual ele mencionou a Amazon.com, a Apple e o
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Netflix como exemplos de empresas que aplicam esta estratégia. O autor então elaborou o conceito em seu
livro A cauda longa – Do mercado de massa para o mercado de nicho.
Já a estratégia do Oceano Azul, idealizada pelos professores Chan e Mauborgne, também poderá auxiliar o
trabalho nesta parte do modelo. Os autores chamam de oceano azul todo o espaço do mercado que ainda não
foi vislumbrado até o momento e que, por isso, segue inexplorado. No oceano azul, em contraposição ao
oceano vermelho (que representa o mercado tradicional), a demanda é criada, e não disputada com a
concorrência.
2. Proposta de valor
A coluna central do modelo Canvas descreve como sua empresa cria valor para o cliente e os atributos de
seu produto que atendem às necessidades ou resolvem o problema detectado no público em questão.
Novidade, inovação, customização, design, preço, condições de pagamento, performance e outros atributos
geram valor a uma marca – valor este, por vezes, intangível.
O modelo de negócios é hoje a ferramenta mais demandada por possíveis investidores e também mentores,
permitindo a visualização rápida e simples da estrutura cíclica de geração e entrega de valor de uma empresa
ou projeto. A simplicidade e organização das ideias e hipóteses no diagrama fizeram com que outras formas
de representação praticamente caíssem em desuso no mercado de tecnologia e empresas inovadoras.
Dois conceitos são bastante similares e complementares ao conceito de proposta de valor. O primeiro é o
de posicionamento de mercado. O posicionamento integra os três fatores que determinam o futuro de uma
empresa: a estratégia competitiva, o domínio setorial e os atributos da marca. Essa visão compreende as
lições brilhantemente demonstradas por Michael Porter, Peter Drucker e Philip Kotler.
O segundo conceito é o de branding. Marca, no contexto do branding, não é apenas um nome ou logotipo
que identifica uma empresa. A marca não se limita a uma forma gráfica. Do ponto de vista de quem a produz,
a marca representa a identidade da empresa e seus valores, equipe, processos, produtos e serviços
desenvolvidos e comercializados. Do ponto de vista de quem consome, a marca é uma percepção, resultante
de experiências, impressões e sentimentos vividos em relação a determinada empresa, produto ou serviço.
3. Canais
São as formas ou meios com os quais você entregará o valor proposto ao cliente. Aqui vão desde as
ferramentas que chamarão a atenção do cliente para a oferta do seu produto até a logística envolvida na
entrega e também os processos e mecanismos de pós-vendas.
De acordo com o processo do Canvas, os canais possuem cinco estágios13:
> PERCEPÇÃO: exposição ou mecanismos que chamam a atenção do consumidor para a disponibilidade e
oferta do produto;
> AVALIAÇÃO: mecanismos que auxiliam o cliente na avaliação e escolha do produto, características e
condições para que seja realizada a compra;
> COMPRA: processos e mecanismos que permitem ao cliente efetuar a compra de fato. Condições de
pagamento e recebimento em geral estão incluídas aqui;
> ENTREGA: no caso de produtos para pronta-entrega, esse estágio praticamente está situado junto ao
processo de compra, mas nem todos os bens e serviços possuem prazos de entrega pequenos ou curtos;
> PÓS-VENDAS: fase de suporte, atendimento e avaliação de satisfação posterior ao ato de compra e entrega
total do produto ou serviço.
5. Fluxos de receita
Essa área mostra o dito “resultado” de sua empresa – mediante a entrega de valor ao cliente, sua empresa
irá gerar receita e esse campo descreve como e que tipo de receita será gerada.
A receita pode ser originada da simples venda do bem, do seu aluguel ou empréstimo, de assinaturas,
cobranças por prestação de serviços, por uso, publicidade e muito mais. O mais importante aqui é relacionar
fontes de receita plausíveis e condizentes com o valor e também com o público que se pretende atingir.
Nesta área do Canvas, a estratégia de precificação é fundamental, além de um planejamento sobre como
monetizar seu produto ou serviço. Em outras palavras, o empreendedor deve saber por quanto vender.
Existem duas formas para fazer o cálculo do preço de venda de um produto: ou com base nos custos ou
analisando o mercado e os preços dos concorrentes. Qual é o melhor método? Ambos. Isso porque adotar o
preço de venda de um produto pelo simples cálculo de seus custos pode fazer com que este produto deixe de
ser condizente com os patamares praticados no mercado.
Por outro lado, adotar o valor somente com base no mercado também é um grande erro, pois sem o cálculo
dos custos, o produto pode ser vendido a preço abaixo do necessário para se pagar, gerando prejuízo para a
empresa.
6. Recursos
Compreende os ativos e recursos que a empresa terá de utilizar para poder criar valor. Os recursos não são
apenas físicos, mas também compreendem o pessoal envolvido (recursos humanos), recursos intelectuais, na
forma de licenças, “mentorias” e consultorias, e principalmente recursos financeiros, para investimento e
formação de caixa, ao menos inicial.
7. Atividades
Grosso modo, compreende os processos e plataformas desenvolvidos pela empresa para criar e entregar
valor. No caso clássico da indústria, relaciona-se ao processo de manufatura envolvido. No caso de startups
de tecnologia, envolve plataformas, softwares e algoritmos desenvolvidos para “fazer funcionar” a geração e
entrega de valor ao cliente.
8. Parcerias
É claro que seus fornecedores podem e devem estar entre os parceiros do seu negócio, mas esse campo
também envolve parceiros financeiros, que realizem aportes na companhia, ou mesmo parceiros de mídia e
divulgação.
9. Estrutura de custos
Esta é a parte que em geral dá trabalho e dor de cabeça. Os custos fixos e de manutenção do negócio estão
aqui relacionados, mas também custos variáveis, como despesas com divulgação, por exemplo.
Como ressaltado, o modelo Canvas é hoje o padrão no segmento, mas, de qualquer modo, quer ele seja ou
não utilizado, todos esses fatores deverão estar relacionados em qualquer modelo de negócio proposto por
startups. O framework gráfico do Canvas torna a visualização mais rápida, mas, no fim das contas, o que vale
é o conteúdo nele inserido.
Para calcular o preço com base nos custos, é preciso somar quatro partes:
> O CUSTO DO PRODUTO (VALOR DE COMPRA, NO CASO DE UM COMÉRCIO, OU SOMA DOS
VALORES DAS MATÉRIAS-PRIMAS E INSUMOS, NO CASO DE UMA FÁBRICA);
> OS GASTOS VARIÁVEIS DO PRODUTO (COMO IMPOSTOS SOBRE VENDAS, COMISSÕES DE
VENDAS, EMBALAGENS);
> OS GASTOS FIXOS POR PRODUTO (COMO GASTOS OCUPACIONAIS, COM PESSOAL,
DESPESAS ADMINISTRATIVAS);
> O PERCENTUAL OU VALOR DO LUCRO PRETENDIDO, O CHAMADO MARK-UP.
Concluímos que o modelo Canvas ilustra muito bem a proposta e o ciclo de geração de valor de uma
empresa. Entretanto, muitas empresas ou projetos simplesmente ignoram a principal função deles: submeter
suposições e novos conceitos a condições reais de mercado.
“Até um modelo de negócios ver a luz do dia no mundo real, é impossível saber se ele realmente dará
certo”, afirma Saul Kaplan, em artigo no Harvard Business Review14. Kaplan é autor do livro The Business
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Model Innovation Factory.
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Kaplan lembra que dificilmente empreendedores bem-sucedidos alavancam seus negócios com base no
primeiro modelo traçado. A única aceleração provável, completa ele, é partir o mais rápido possível do
conceito ao protótipo e então ao teste em condições de mercado – havendo falha, novos modelos e protótipos
já deverão estar em desenvolvimento.
Porém, embora modelos de negócio sejam de fato a principal peça para exposição de startups junto a
parceiros e investidores, não podem ser encarados como planos de negócio, um erro que na verdade vem
sendo cometido de modo frequente por muitas empresas nascentes, e até mesmo por aceleradoras e
investidores.
Nem a fórmula mágica, nem a receita de bolo. O que definirá o sucesso será a sujeição de múltiplos
modelos conceituais ao mercado, até que deles surja o modelo definitivo da startup, sobre o qual estará o
verdadeiro plano de negócios. E a participação do empreendedor em todo esse processo de aprendizado será
fundamental.
Osterwalder divide os drivers do ambiente ao qual os modelos das startups estarão sujeitos em quatro
grupos principais: tendências-chave, forças de mercado, forças macroeconômicas e forças da indústria ou
setor.
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Macroeconomia e contracultura
Startups estão inseridas na economia global e, como tal, são e serão sempre afetadas por qualquer um de
seus movimentos, sejam eles no mercado financeiro, em produtos e serviços ou mesmo em decisões políticas
entre países e governos.
Fatores e particularidades macroeconômicas locais tornam o modelo de negócio de difícil aplicação de
acordo com a região demográfica – a opção é modificar o modelo ou abrir mão do mercado. O mesmo ocorre
com qualquer outro negócio no segmento.
A vantagem, até o momento, tem sido o caráter de contracultura do movimento de startups. O
empreendedorismo digital, ou 2.0, ganhou rapidez e dinâmica exatamente como uma opção a muitas das
mazelas do regime econômico vigente, ocupando o espaço de parte deteriorada da economia e surgindo como
uma segunda via em um momento difícil.
A questão é: como esse novo mercado se comportará em uma situação onde a velha economia não esteja
tão mal assim? Com opções de investimento de menor risco de volta ao cenário, permanecerão os fundos
ávidos por investir em companhias nascentes ou irão mais uma vez esgotar seus caixas aplicando em
commodities e empresas da velha economia?
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A velocidade de adaptação das startups, inerente
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à sua própria natureza, deverá dar conta do recado em
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muitos casos, mas em outros, não.
Podemos citar alguns fatores macroeconômicos que devem ser levados em consideração por um
empreendedor viável:
> ECONÔMICOS (GLOBAL E LOCALMENTE);
> SOCIAIS E DEMOGRÁFICOS;
> POLÍTICOS E LEGAIS;
> TECNOLÓGICOS;
> CULTURAIS;
> ECOLÓGICOS E NATURAIS.
2 The Next Web, 1° de setembro de 2012. “Are startup founders entrepreneurs or poker players?”.
3 The Methodologist: Experiments in Entrepreneurship, 12 de janeiro de 2010. “Minimum Viable Product revisited — the MVP Curve?”.
4 Venture Beat, 1° de maio de 2012. “The dirty secret behind the incubator boom”.
7 In A arte do começo.
8 CNN Money, 25 de setembro de 2012. “Why our thinking about mentoring is all wrong”.
14 Harvard Business Review Blogs, 23 de abril de 2012. “Put your new business model to the test”.
16 Business Model Alchemist, 8 de maio de 2012. “Competition is not part of your business model”.
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