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Ambas as tiranias descritas são pavlovianas ou skinnerianas: Winston Smith e

Bev Jones são ambos "reeducados" a dado passo. Em ambas está presente,
como de resto em Fahrenheit 451 de Ray Bradbury, a aversão do intelectual a
qualquer poder de facto ou de direito que se dedique à destruição de livros; mas
o que imediatamente salta à vista quando lemos os dois textos é o relevo que
Orwell e Burgess dão à manipulação da linguagem. Em 1985 proibe-se às
escolas que ensinem a norma culta da língua inglesa e impõe-se em vez dela o
chamado Worker's English; em Nineteen Eighty-Four o consenso artificial de
que a tirania necessita é construído recorrendo ao Newspeak.
Apesar de partirem de princípios ideológico-políticos aparentemente opostos, os
dois textos partem de princípios morais muito semelhantes e de concepções
muito próximas da liberdade. Para a personagem principal de Orwell, ser livre
significa poder acreditar que 2+2=4; para Burgess, ser livre significa ser capaz
de escolhas morais.
Hoje, olhando à nossa volta, podemos concluir que o erro e a ingenuidade que
Burgess aponta a Orwell podem não ter sido erro nem ingenuidade: o
hiperfascismo de Nineteen Eighty-Four pode ser uma figura retórica, uma
hipérbole, da qual não se espera que o leitor faça uma interpretação literal, mas
tem afloramentos numerosos e óbvios nas sociedades actuais, mesmo nas mais
democráticas.
Já o erro de Burgess é mais difícil de levar à conta de retórica. O Alex de A
Clockwork Orange reaparece em 1985 sob a forma de um gang juvenil
particularmente violento que acolhe e protege Bev Smith em troca de lições de
História, Latim e Grego. Faz rir a ideia dum bando de skinheads ou equivalente
a interessar-se pela cultura clássica, mas Burgess justifica esta implausibilidade
pela irreverência e pela revolta "naturais" na adolescência: se a autoridade
proíbe o ensino da História, das línguas clássicas e da língua materna na sua
norma culta, então a oposição dos jovens à autoridade levá-los-á a procurar o
que lhes é proibido.
Hélas, não foi isto que aconteceu nos últimos trinta anos. É verdade que certas
tribos urbanas, como os "góticos" ou os "emos", dão alguns sinais de ter
consciência da falta de alguma coisa essencial na herança que nos preparamos
para lhes deixar; mas não sabem que coisa é essa, e muito menos lhes passa pela
cabeça que possa ter alguma coisa a ver com o ensino da História ou do Latim.
Mais grave ainda: o populismo anti-elitista e anti-intelectual que Burgess temia
acima de tudo veio-nos, não pela mão dos sindicatos, mas pela mão daqueles de
quem ele esperava protecção. O apelo à rebeldia, ao individualismo, à mudança
rápida, à ruptura com o passado, vem-nos hoje, como mostra Thomas Frank
em One Market under God, já não da contra-cultura dos anos sessenta, mas sim
da publicidade com que as grandes empresas inundam os media. Os bilionários
já não são uma elite gananciosa e exploradora: usam jeans,
comem hamburgers e são vítimas, como qualquer pessoa vulgar, da perseguição
que lhes move uma casta privilegiada, snob, elitista, intelectual e académica que
tem a veleidade de "saber mais que os mercados" e não aceita submeter-se a eles
com a mesma confiança simples e cega com que um bom muçulmano se
submete a Allah.
E assim se restaura a luta de classes: do lado dos oprimidos vemos Bill Gates, de
braço dado com o nosso vizinho do lado: se não os une a condição económica,
une-os a condição de "homens simples" a fé comum num catecismo (orwelliano
que baste) que afirma, entre outras coisas, que a verdadeira prosperidade está
em trabalhar cada vez mais por cada vez menos dinheiro e que a verdadeira
igualdade é a desigualdade extrema. Do lado dos opressores estão todos os que
se atrevem a pôr em dúvida estas verdades sagradas; e em representação destes
"privilegiados" surgem, em primeiro plano, os professores e os académicos.

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