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Tendências e perspectivas

das teorias locacionais no


Capitalismo Contemporâneo
Rhalf Magalhães Braga
Mestre em Geografia pela Universidade Federal Fluminense -UFF

INTRODUÇÃO a organização espacial – entende-se a pro-


cura de resposta para a questão central: por
Há uma urgente necessidade de um escopo de re- que o homem e suas atividades estão locali-
ferência para o estudo da localização industrial, o zados do modo como estão?” Ainda segundo
qual está relacionado com a crescente atenção que
este autor, as teorias locacionais surgem com
vem sendo dispensada à pesquisa teorética em ge-
ografia (Smith, 1971, p. 2).
o advento do capitalismo e da necessidade
Precisamos desesperadamente de novos mapas por parte da classe dominante de planejar o
cognitivos da paisagem econômica, para não falar uso racional e lucrativo do espaço de modo
em novas estratégias políticas de intervenção nes- a alcançar o almejado “equilíbrio”. As inte-
sa paisagem (Martin, 1996, p. 56). rações espaciais das grandes corporações
A questão das decisões locacionais das indústrias
multifuncionais e multilocalizadas promo-
é um tema bastante interessante e que merece
maior aprofundamento teórico nas pesquisas re-
vem a escolha de determinados lugares em
alizadas na geografia industrial (Matushima, detrimento de outros, ressaltando e amplian-
2002, p. 5). do as diferenças entre eles (Corrêa, 1997).

As sentenças acima são ilustrativas da rele- As teorias de localização industrial (“teorias


vância dos estudos locacionais e sua redis- burguesas” para Lipietz, 1987) foram margi-
cussão e aprofundamento, não só aqui no nalizadas com a emergência da corrente ra-
Brasil, mas também no exterior. Isto é ainda dical/marxista da Geografia, estagnando em
mais válido se considerarmos o capitalismo grande medida os possíveis avanços teóricos.
contemporâneo (pós-1970) e a enorme velo- Como afirma Silva (1995, p. 26): “Em função
cidade de mudança do conteúdo dos lugares. de uma postura crítica aparentemente mar-
xista, os estudos de difusão espacial foram
O enfoque locacional em Geografia com- deixados de lado, tendo sido considerados
preende não só a distribuição espacial das ideológicos e de pouca substância”. Atitude
atividades econômicas (em particular das esta que o autor chama de “macarthismo às
empresas), mas igualmente as relações in- avessas” (Silva, 1995, p. 48). Este artigo bus-
ternas e externas à produção. Como ressalta ca uma postura contrária, conforme Ribeiro
Corrêa (1986, p. 62): “Por estudo locacional (1982, p. 420-21): “O importante é procurar Tendências e perspectivas das
– muitas vezes denominado de estudo sobre entender sua validade [da teoria] e restrições teorias locacionais no capitalismo
contemporâneo

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em função do momento em que foram ela- PRINCIPAIS TENDÊNCIAS E PERS-
boradas e, a partir daí, avançar com novas PECTIVAS
perspectivas teóricas que venham a contri-
buir no entendimento do tema proposto”. Para a análise da economia espacial conside-
ra-se o trabalho de J. H. von Thünen (1783-
1 - Segundo Waibel (1955, p. 273), As teorias locacionais atuais perpassam o es- 1850) (“O Estado Isolado”)1 como pioneiro.
a obra de Thünen está dividida em tudo das corporações, que buscam a hegemo-
três volumes. O primeiro traz como
Antes dele, poucos foram os estudos loca-
subtítulo “Análise da influência que nia econômica ao nível mundial. Para Ribeiro cionais mais sistematizados. Corrêa (1986,
exercem sobre a agricultura o preço (1982, p. 442), o estudo destes setores é o leit- p. 63) cita três autores: o banqueiro francês
dos cereais, a fertilidade do solo e os
motiv das pesquisas atuais em geografia eco- Richard Cantillon, que publicou em 1755 um
impostos” e foi publicado em 1826.
O segundo volume trata do “salário nômica, em geral, e industrial, em particular: ensaio sobre a organização espacial baseada
adequado e sua relação com a taxa de
juros e com a renda” e surgiu em 1850
nas diferenças de circulação de capital; o en-
O que se tem verificado quanto às teorias de lo-
(primeira parte) e em 1863 (segunda genheiro militar francês e co-editor de uma
parte). Neste último ano também calização industrial é uma preocupação com
enciclopédia chamado Jean Reynaud. Entre
veio a público o terceiro volume, cujo as unidades de produção, deixando de lado as
título é “Bases para a determinação modernas firmas industriais, que apresentam 1836 e 1841 este autor propôs um sistema
do rendimento do solo, da época de unidades espacialmente separadas mas interde- hierárquico de centros com três ou quatro
circulação mais favorável e do valor
das reservas de madeira de diferen-
pendentes nos seus diferentes setores administra- níveis, cujas áreas de influência se constitui-
tes idades no reflorestamento com tivos, produtivos e de serviços. O importante hoje riam em forma de hexágonos. Três princípios
pinheiros” são as modernas corporações que influenciam em
eram fundamentais: sociabilidade (formação
muitas localizações através de diferentes tomadas
2 - Em Corrêa (1986) há uma pe- de aldeias agrícolas em função dos custos de
de decisões. Esta deveria ser a verdadeira preocu-
riodização do enfoque locacional em pação do geógrafo industrial, se ele quer expressar transporte), fator econômico (a população
Geografia. Um primeiro momento
padrões de localização (Ribeiro, 1982, p. 442). agrícola se dispersa espacialmente e o co-
(século XVIII a meados de 1870) é
marcado pela ausência de tais estudos mércio e serviços tendem a se unir de forma
na Geografia. Nesta etapa os estudos O capitalismo contemporâneo (pós-1970) coesa) e administração (ajuste do conjunto).
de localização eram feitos por homens
de negócios. O período 1870-1920, é chamado por alguns autores de “pós-for- O terceiro autor mencionado é Leon Lalan-
igualmente de ausência, marca a dismo” (Benko & Lipietz, 1994) ou “acu- ne e seus estudos de organização espacial
presença dos estudos locacionais por
mulação flexível” (Harvey, 2001) que se em decorrência da expansão ferroviária2.
parte da economia (espacial) e da
ecologia humana de Robert Park. caracteriza pelo capitalismo financeiro, pela
Entre 1920-1955 começam a apa- densidade informacional, fluxos em tempo J. H. von Thünen utilizou sua experiência
recer estudos nesta temática dentro
da Geografia, sobretudo a partir da real, importância dos serviços e confluên- como economista e proprietário agrícola no
criação em 1925 do periódico Eco- cia de todos estes fatores na lógica espacial Norte da Alemanha e concebeu um modelo
nomic Geography. O apogeu seria no
das corporações. A solidariedade orgânica de padrões de uso da terra na forma de cír-
período 1955-1970 com o advento da
Nova Geografia. do espaço (interdependência entre ações e culos concêntricos a um mercado central. O
atores do lugar) se transforma em solidarie- objetivo de seus estudos era a harmonização
dade organizacional, ou seja, uma interde- e remuneração justa para a subsistência dos
pendência mecânica, produto de normas e in- produtores (Waibel, 1955; Mesquita, 1978;
teresses mercantis (Santos & Silveira, 2001). Barnes, 2003). Estabeleceu um “estado iso-
lado” uniforme com os seguintes pressupos-
A seguir empreendemos um resgate, ain- tos: a) sistema primitivo de transporte terres-
da que incompleto, das principais teorias tre em linha reta para o mercado central; b)
locacionais. Para uma visão global de boa os custos de transporte são proporcionais à
parte delas sugerimos a leitura de Hamilton distância, ou seja, quanto mais longe do cen-
(1975), Haggett (1975) e Manzagol (1985). tro, mais elevados; c) todos os agricultores
do estado isolado possuem o mesmo nível
técnico e pensam racionalmente, visando à
maximização dos lucros; d) ausência de co-
municação com o mundo exterior; e) fatores
físicos constantes: área finita, terra plana e
arável, fertilidade uniforme (Mesquita, 1978).

Rhalf Magalhães Braga

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O estado isolado de Thünen possuía seis os seguintes pressupostos: a) um país único
círculos ou anéis agrários em torno da cida- com clima e técnica homogênea; b) concor-
de (Waibel, 1955, p. 274): o primeiro, mais rência perfeita; c) os lugares e o tipo de abas-
interno, estava voltado para produtos que tecimento de matérias-primas e mercado são
não suportavam um transporte demorado, conhecidos; d) uma única empresa que pro-
como verduras, flores e leite; no segundo duz um só produto; e) os custos de transpor-
anel temos a silvicultura, pois o transpor- te variam em função do peso e da distância
te de lenha em carros era difícil e caro; no ao mercado; f) imobilidade do fator trabalho
terceiro círculo havia o cultivo de cereais e e oferta ilimitada (Ribeiro, 1982). Calcado
forragens na modalidade rotação de cultu- em seus precursores (Roscher, Schäffle e
ras utilizando o arado; o quarto anel, muito Launhardt) constrói um triângulo locacional
largo, era utilizado para agricultura e pasta- com vértices na distribuição das fontes de
gem por rotação de culturas; no quinto surge matéria-prima, posição das vias de acesso e
o sistema de três campos com o alqueive; no os mercados (Costa, 2002, p. 2-3). Assim, a
sexto, igualmente muito largo, temos criação idéia central é encontrar o ponto de equilíbrio,
extensiva; e fora destas zonas eram encon- ou seja, buscar o menor custo de produção,
trados caçadores espalhados pela floresta. considerando três etapas: 1) determinação
do custo mínimo de transporte; 2) conside-
Von Thünen retoma a teoria da renda da ter- rar os impactos dos custos do trabalho e 3)
ra de David Ricardo, que varia de acordo as forças de aglomeração (Manzagol, 1985).
com a distância do mercado e a fertilidade
dos solos (teoria dos cultivos). Desenvolve August Lösch (1906-1945) critica as posi-
em associação a teoria da intensidade, onde ções de Weber (demanda constante e ponto
os sistemas agrícolas decrescem em inten- de custo mínimo) e centra a sua análise na
sidade com o aumento da distância. Estava disputa por mercados. A empresa terá mais
aberto o caminho para o desenvolvimento lucros se diversificar seus produtos e con-
da escola neoclássica marginalista e a ciên- seguir manter exclusividade de mercados
cia regional de Walter Isard (Barnes, 2003). (Costa, 2002, p. 4). Lösch chega a comen-
Destacamos cinco vertentes principais tar sobre a formação de regiões econômicas
no que concerne às teorias locacionais: polarizadas por uma cidade central, unifi-
neoclássica, comportamental, sistêmi- cando, assim, as teorias locacionais ante-
ca, marxista e as contribuições atuais, riores (Barnes, 2003). Lösch concebe uma
das quais selecionamos alguns autores. planície em áreas hexagonais de mercado
cujo tamanho varia em função dos custos de
transporte e onde as empresas procuram ex-
A ESCOLA NEOCLÁSSICA plorar adequadamente o cone de demanda.

Dentro da vertente neoclássica, há os que bus- Outro autor relevante da escola neoclássi-
cam determinar as normas de localização de ca é, entre outros, Walter Isard. Foi criador
uma empresa (Alfred Weber) e os que buscam da ciência regional, representa uma “sín-
leis para o equilíbrio espacial (August Lösch). tese weberiana” e desenvolveu as equa-
A escola neoclássica tem como características ções gerais de Lösch. A sua teoria é inte-
principais: a) encontrar a melhor localização gradora, não analisa isoladamente cada
para a instalação de uma empresa; b) minimi- fator locacional (Costa, 2002, p. 5). O obje-
zar os custos totais; c) o fator determinante é tivo é buscar o ponto ótimo, ou seja, o cus-
o custo de transporte, buscando-se aquelas lo- to mínimo e o lucro máximo (“minimax”).
calizações onde este seja menor. Nesta corren-
te a contribuição dos economistas é decisiva. No debate neoclássico se insere também o
economista britânico Alfred Marshall, au-
Tendências e perspectivas das
Alfred Weber (1869-1958) procura expli- tor da formulação dos distritos industriais teorias locacionais no capitalismo
contemporâneo
car a localização ótima da indústria e adota (conhecidos como distritos marshallianos).
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Para Marshall, a concentração de ativida- dispersão da agricultura em trabalho clássico
des econômicas e industriais ocorre em fun- de 1925 intitulado “Origem e dispersão agrí-
ção de fatores naturais, como a proximida- cola” (Silva, 1995; Santos, 2003). Seguindo
de a fontes de matéria-prima e energia, mas esta tradição, o geógrafo sueco Torsten Ha-
igualmente importante é a disponibilidade gerstrand publicou em 1953 um trabalho cha-
de mão-de-obra qualificada e a existência mado “Difusão de inovações como processo
de um ambiente político e econômico favo- espacial” que trata da difusão de informações
rável. A formação dos distritos está ligada à em função do comportamento humano. Ha-
fabricação do mesmo produto e o contexto gerstrand, através de regularidades empíricas,
de cooperação e complementação entre as buscava entender como a informação era di-
empresas, o que permite a inserção de in- fundida, considerando redes de comunicação
dústrias menores (Matushima, 2002, p. 4). social em várias escalas e de forma hierárqui-
ca. Utilizando a simulação Monte Carlo, Ha-
Becattini (1994, p. 20) define o distrito in- gerstrand desenvolve três modelos: 1) adoção
dustrial como uma “entidade socioterritorial e sucessão pelo tempo; 2) difusão por hierar-
caracterizada pela presença ativa de uma quia; 3) difusão por contágio (Silva, 1995).
comunidade de pessoas e de uma população
de empresas num determinado espaço geo- Outros autores adotaram e desenvolveram
gráfico e histórico”. Há, nas palavras do au- esta teoria, como Lawrence A. Brown (pers-
tor, uma “osmose perfeita entre comunidade pectiva de sistema geral), Allan Pred (“matriz
local e as empresas”. O distrito marshalliano comportamental” das empresas baseada no
é marcado pela auto-suficiência e a divisão acesso à informação), Lackshman E. Yapa
do trabalho cada vez mais acentuada, produ- (considerando o contexto dos países subde-
ção dos excedentes voltada para o mercado senvolvidos). Para este último, ver Figueire-
externo, formação de uma rede de relações do (1978). Silva (1995) resgatou a teoria sob
privilegiadas entre distrito, fornecedores e um enfoque marxista. Mascarenhas (2001)
clientes, presença de trabalhadores ao domi- utilizou a teoria da difusão espacial de ino-
cílio e a tempo parcial, entre outros fatores. vações para o estudo geográfico do futebol.

Santos (2003) criticou duramente a teoria da


difusão espacial de inovações, destacando o
A ESCOLA DO COMPORTAMENTO seu caráter abstrato, matemático, reduzindo
o processo à forma e desconsiderando as re-
A escola do comportamento surge nos anos
lações de poder entre os agentes. Seria ape-
1960 como crítica à vertente econômica neo-
nas uma “estratégia de vendas” das grandes
clássica e ressalta a noção de comportamen-
empresas. Para Milton, esta teoria se insere
to satisfatório. Não se busca mais a melhor
em um contexto de planejamento urbano do
localização, mas aquela adequada aos ob-
pós-guerra, voltado para a difusão do capital,
jetivos da empresa. Assim, esta escola tem
disseminação da ideologia do crescimento, da
como idéias centrais: a) busca de margens
sociedade de consumo, das noções de efici-
espaciais rentáveis; b) análise da concor-
ência e racionalidade (os chamados “grandes
rência e as decisões de longo e curto prazo
projetos”). Assim, a Economia esqueceu do
para a escolha da localização industrial;
homem e do espaço ao criar o homo econo-
c) as empresas buscam a maximização do
micus e a Ciência Regional serviu para disse-
crescimento e com isso ocorrem interdepen-
minar o capital em vários espaços nacionais.
dências entre elas (Matushima, 2002, p. 2).

A teoria da difusão de inovações faz parte des- A ESCOLA SISTÊMICA


ta perspectiva e tem o geógrafo norte-ameri-
cano Carl Sauer como pioneiro. Sauer estudou A “escola sistêmica” correspondeu ao apogeu
Rhalf Magalhães Braga a configuração espacial de áreas culturais e a do enfoque locacional na Geografia (1955-
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1970) (Corrêa, 1986). Identifica-se com a deste da Alemanha. Sua teoria foi difundida
escola locacional (localização dos fenôme- nos anos 1960 nos Estados Unidos e a partir
nos sobre a superfície da Terra) segundo Ha- daí por vários países, inclusive o Brasil. Se-
ggett (1976). O contexto era da emergência gundo Christaller, as localidades apresentam
de teorias como a dos pólos de crescimento determinadas funções centrais que atraem os
de François Perroux, centro-periferia de John consumidores do entorno, dependendo do
Friedmann, do desenvolvimento do subdesen- custo de deslocamento (Moraes et al., 2004,
volvimento de Gunder Frank, das etapas do p. 2). As localidades centrais controlam de-
desenvolvimento econômico de Rostow, te- terminadas hinterlândias ou regiões comple-
oria da dependência, da Ciência Regional de mentares, com alcance espacial máximo e
Walter Isard. Período também da afirmação alcance espacial mínimo. Cada produto tem
da “Nova Geografia” sob a orientação teórica um alcance espacial específico. No primeiro
inicial de Fred Schaefer e William Bunge, que caso, tem-se um raio a partir da localidade
criticavam os parcos resultados do empirismo central até onde os consumidores se deslo-
da Geografia Tradicional e postulavam uma cam para obter determinados bens e serviços.
atitude positiva, matemática e “científica” No segundo caso, tem-se a área mínima
para a Geografia. James (1970, p. 7) afirma para que determinada função central possa
que a Geografia é a análise de sistemas espa- se instalar lucrativamente (Corrêa, 1989).
ciais. Pred (1970) tem uma abordagem rica
ao tratar do sistema urbano e industrializa- Para Santos (2003), a teoria dos lugares cen-
ção dos Estados Unidos de 1800 a 1914. O trais seria válida ainda hoje para justificar a
autor relaciona urbanização e industrialização existência de grandes concentrações. Milton
e busca uma “teoria de localização geográ- Santos lamenta que tenham esquecido da pre-
fica” com base no processo de causalidade ocupação de Christaller sobre as estruturas
circular e acumulativa de Gunnar Myrdal. sociais. Além disso, segundo o autor, seria in-
teressante analisar o hexágono de Christaller
A teoria geral dos sistemas, base da tendên- em relação à comercialização e relativizar o
cia locacional em tela, provém da Biologia, conceito de limiar, considerando a classe mé-
elaborada nos anos 1930 por Ludwig von dia e os dois subsistemas do sistema urbano.
Bertalanffy. Um sistema é um conjunto que
estabelece trocas com o entorno que lhe con- A teoria dos dois circuitos da economia dos
ferem certa autonomia e coerência, apesar países subdesenvolvidos de Milton Santos
de sofrer transformações (Manzagol, 1985, (1979; 2005) foi um enriquecimento da teo-
p. 168). Na definição de Haggett (1976, p. ria dos lugares centrais. Santos afirma que há
27): “...[Sistemas] são seções arbitrariamen- nos referidos países duas realidades articula-
te capturadas do mundo real que apresentam das: a) o circuito superior, de produtos mo-
algumas conexões funcionais comuns”. Bor- dernos, controlados por grandes monopólios
chert (1970) comenta o uso da teoria dos sis- internacionais e de circulação nacional e in-
temas na Geografia e destaca sua relevância. ternacional (negócios bancários, comércio de
exportação, indústrias, comércio e serviços
Mencionamos a seguir duas teorias desta “es- modernos). Este segmento possui elevado ní-
cola sistêmica” aplicada à Geografia: a teoria vel tecnológico, recursos para investimento,
dos lugares centrais de Walter Christaller, de poucos e qualificados trabalhadores (até es-
importância inegável ainda hoje e a teoria dos trangeiros), estratégias de venda e propagan-
dois circuitos da economia dos países sub- da, apoio governamental e articulação interna;
desenvolvidos de Milton Santos, mais ade- b) o circuito inferior, das camadas de menor
quada à realidade de países como o Brasil. poder aquisitivo, de produtos mais simples,
cuja circulação é local/regional. Nesta par-
O geógrafo alemão Walter Christaller, in- te do circuito há contatos face a face entre
Tendências e perspectivas das
fluenciado por von Thünen, elaborou a teo- vendedor e consumidor, reutilização de bens teorias locacionais no capitalismo
contemporâneo
ria dos lugares centrais em 1933 para o su- duráveis, empregos numerosos, pouco qua-
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lificados e nativos, escassos recursos para Destaca-se nesta vertente a Escola da Regu-
investir (na verdade luta para sobreviver no lação Francesa (entre seus expoentes estão
mercado), porém elevado potencial criativo. Alain Lipietz, Ph. Aydalot, M. Aglietta, R.
Boyer, Georges Benko) que trata da nova di-
Além dos autores citados, Barnes (2003) visão inter-regional do trabalho e o papel do
identifica na ciência espacial norte-america- Estado local e suas especificidades (Benko &
na duas escolas: a Universidade de Iowa e a Lipietz, 1994a). Estes autores defendem que
Universidade de Washington (Seattle), todas o capitalismo é por natureza contraditório e
inseridas na revolução teorético-quantitativa a exploração do trabalhador, as crises de su-
e com base na escola alemã de localização, perprodução e a queda dos lucros são ineren-
sobretudo Lösch. Como representantes da tes ao sistema. A partir dos anos 1970 tem-se
primeira estão Fred Shaeffer e Harold Mc- a crise do regime fordista e do seu modo de
Carty. Este grupo realizava estudos sobre a regulação calcado na intervenção maciça do
obtenção de lucros e a concentração de ati- Estado keynesiano na economia (Busato &
vidades em regiões econômicas utilizando Pinto, 2005). A revolução técnico-científica,
teorias da Economia (análise de regressão a informática e a microeletrônica, a globali-
e correlação) e o método empírico da Geo- zação dos mercados financeiros e modos de
grafia. A escola de Seattle tem como patro- produzir mais “flexíveis” articulam os luga-
no William Garrison e seus expoentes são res em uma complexa rede pós-fordista que
Brian Berry, Michael Dacey, Duane Marble, coloca em xeque as velhas “ortodoxias” dos
Richard Morril, John Nystuen e Edward Ta- anos 1960/1970 (Benko & Lipietz, 1994a).
affe. Este grupo utilizava recursos da Esta- Lipietz (1988) analisou especificamente a
tística e Matemática (equações, graphos), da industrialização dos países subdesenvol-
Física (gravidade e modelos de entropia), da vidos (o chamado “fordismo periférico”).
Sociologia e Economia (modelos de uso da
terra urbana, física social e ecologia urbana No campo da Sociologia Urbana destaca-se
fatorial) e da Geometria (redes, teoria dos Manuel Castells. Em Castells (1978) ocorre
graphos e análise de formas topológicas). a união dos enfoques estruturalista/marxis-
ta e sistêmico. Há uma relação entre tipos
de empresas e os tipos de espaços relacio-
A ESCOLA MARXISTA E/OU ES- nados. As firmas são classificadas quanto
TRUTURALISTA à atividade técnica, segundo seu laço eco-
nômico com o espaço ou conforme sua po-
No contexto de renovação crítica se destaca tência econômica (capacidade financeira).
nos anos 1970 a escola estruturalista de locali-
zação industrial, de ênfase marxista, que alar- Quanto à atividade técni-
ga o campo de análise ao incorporar questões ca as empresas são divididas em:
sociais e políticas. As principais característi-
cas são: a) o estudo da localização industrial a) execução de um produto;
deveria balizar políticas de desenvolvimento b) intermediário, sem inovação, mas
econômico; b) os fatores econômicos são pri- automatizada em relação à produção;
mordiais nas análises espaciais; c) não desen- c) investigação e inovação como
volveu modelos abstratos de empresas indivi- princípio da atividade técnica.
duais; d) caráter não apenas descritivo, mas
também leva em conta as respostas das em- Quanto ao laço econômico com o es-
presas ao problema da localização; e) introdu- paço as empresas são divididas em:
ção da variável histórica (Matushima, 2002,
p. 2). Deste modo, postula-se que o espaço 1) empresas dependentes do espa-
geográfico não é neutro, é condição e produto ço do ponto de vista da clientela;
material da lógica do capital (Lipietz, 1987). 2) empresas dependentes do espa-
Rhalf Magalhães Braga
ço quanto às condições de produção;
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3) empresas “livres” no inte- ção concretos, por uma forma dialética entre
rior de certo espaço, cuja localiza- forças produtivas e relações de produção.
ção não afeta seu funcionamento.

Quanto à potência econômica as empresas AS TENDÊNCIAS MAIS RECENTES


podem ser grandes, médias ou pequenas.
As teorias mais recentes de localização in-
Os espaços de implantação industrial podem dustrial têm dois fundamentos básicos:
ser: 1) inegável papel da informação em to-
1) espaço denso do meio urbano (com rela- dos os setores; 2) ênfase no poder eco-
ção à população e atividade); nômico em escalas locais e regionais.
2) espaço com facilidades fun-
cionais (boa comunicação); Alvin Toffler, escritor e futurista americano,
3) espaço de valoração social/simbólica. editor da revista Fortune, escreveu vários ar-
tigos e livros sobre a revolução tecnológica,
Uma crítica que pode ser feita à teoria es- digital, corporativa e informacional e seus
truturalista é a sua visão do papel das em- impactos na sociedade. Criou em 1996 uma
presas no processo de difusão industrial. associação para difusão de seus trabalhos,
Nas palavras de Matushima (2002, p. 3): cuja influência atingiu diversos estadistas.

Contudo, a teoria estruturalista ainda parece Toffler (1983) defende que o momento atual
não ter conseguido explicar as funções exerci- é de reestruturação tecno-econômica da so-
das pelas empresas de capital endógeno, de atu-
ciedade. A economia mundial passou por três
ação local, no processo de desenvolvimento, já
que muitas dessas empresas não seguem uma “ondas” em sua história: a primeira onda ocor-
das principais linhas de análise estruturalista, e reu há 10.000 anos com a agricultura nômade
não se transferem de local em busca de maiores e a posterior fixação em aldeias; a segunda
taxas de benefícios (Matushima, 2002, p. 3). onda ocorreu há 300 anos com a Revolução
Industrial, o advento da fábrica, de máquinas
Santos (2003) estabelece uma abordagem e o consumo de massa; a terceira onda está
marxista envolvendo espaço e dominação. calcada no conhecimento, no colapso da ve-
Em todo o mundo o homem está sujeito à im- lha economia industrial e de massa. As ondas
posição de uma tecnologia imposta de fora. podem conviver em conjunto e o autor cita o
Os espaços agrícolas cada vez mais se espe- exemplo do Brasil. A informação substitui os
cializam e se subordinam à indústria criando fatores de produção clássicos (terra, trabalho
regiões e homens-produtores alienados. As e capital). A produção de mercadorias pelas
formas geográficas auxiliam na expansão do empresas multinacionais tende a se regionali-
capitalismo criando o que o autor chama de zar ou ter um caráter mais local e/ou setorial.
“totalidade do diabo”, onde os grandes proje-
tos governamentais servem aos interesses do No campo da Administração, pelo menos
capital privado. A solução estaria na produ- três autores são muito debatidos: Peter F.
ção voltada para o consumo da população e Drucker, Kenichi Ohmae e Michael E. Por-
a distribuição/desconcentração do excedente. ter. Peter Ferdinand Drucker (1909-2005)
Ao nível teórico a proposta é considerar o é filósofo e administrador austríaco, presi-
conceito de totalidade para interpretar todos dente de uma associação que leva seu nome
os objetos e forças que atuam sobre eles e ca- e foi professor de Ciências Sociais da Cla-
tegorias analíticas externas (tempo e escala) remont Graduate University, na Califórnia.
e internas (estrutura, função e forma), todas
perpassadas pela categoria processo, ou seja, Drucker (1993) sustenta que desde 1945 vi-
a estrutura espacializada. É nessa perspectiva vemos uma Revolução Gerencial baseada
que o autor propõe o conceito de lugar como no conhecimento, que supera o capitalismo.
Tendências e perspectivas das
teorias locacionais no capitalismo
combinação particular de modos de produ- O conhecimento é informação eficaz em
contemporâneo

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ação focalizada em resultados. Hoje o co- de atuação é o cerne da competição”. Com
nhecimento é aplicado de forma a promover relação às localizações mais competitivas,
uma inovação sistemática. As sociedades Porter propõe o esquema de um “diamante”
pós-capitalistas plenas estão no mundo de- da vantagem nacional (Porter, 1999, p. 178),
senvolvido, onde há um pluralismo de orga- cujos vértices são: 1) condições de fatores:
nizações, onde a Nação-Estado não é mais posição do país em relação à mão-de-obra
importante e sim os fundos de pensão, os qualificada e infra-estrutura; 2) condições da
gerentes e a produção descentralizada e re- demanda: mercado interno relativo ao setor;
gionalizada (“capitalismo sem capitalistas”). 3) setores correlatos e de apoio: estado dos
A mão-de-obra desaparece como fator de fornecedores deve ser competitivo internacio-
produção. As corporações passaram das ge- nalmente; 4) estratégia, estrutura e rivalidade
rências “nos melhores interesses equilibrados das empresas: natureza da rivalidade das em-
dos interessados” para “maximizar o valor presas no mercado interno, constituição, or-
do acionista”. Neste contexto o foco está na ganização e gerência destas empresas. O fator
produtividade e o trabalhador é responsável mais importante de todos estes é a rivalidade
por ela: “é preciso exigir que os trabalha- doméstica, pois estimula os demais (Porter,
dores assumam a responsabilidade pela sua 1999, p. 192). O foco da competitividade está
própria produtividade e que eles exerçam na manutenção da produtividade, não impor-
controle sobre ela” (Drucker, 1993, p. 62). ta onde as empresas estejam localizadas. As
empresas competitivas investem sobretudo
Kenichi Ohmae é engenheiro nuclear e con- em tecnologia e otimização da produção.
sultor em administração da Ohmae & As-
sociates em Tóquio. Trabalhou na Hitachi Na Sociologia uma obra de referência é o li-
e foi por 23 anos sócio da firma de consul- vro A sociedade em rede de Manuel Castells.
toria McKinsey & Company, especializada Nele o autor trata do modo de produção capi-
em estratégias internacionais para governos talista e do informacionalismo como modo de
e grandes corporações. No seu livro “O fim desenvolvimento. Desde o fim dos anos 1990
do Estado-Nação” sustenta que “onde há a estaria em voga uma “nova economia” basea-
prosperidade, sua base é regional” (Ohmae, da na tecnologia da informação, nas finanças
1999, p. 95). Esta base regional consiste nos e na biotecnologia, todas tendo como pólo
“Estados-Regiões”, verdadeiros “portões de propulsor os Estados Unidos. Outros alicerces
entrada” dos Estados-Nações, espaços alta- importantes seriam a produtividade, a concor-
mente conectados com a economia global. rência econômica, a expansão dos mercados e
O sucesso destes estados está nos quatro “i”s novas fontes de capital e mão-de-obra especia-
(investimento, indústria, informação e indiví- lizada. Nas palavras do autor a nova economia
duos). O Estado-Região ideal possui entre 5
e 20 milhões de pessoas, ao menos um aero- É informacional porque a produtividade e a
porto internacional, um porto de classe inter- competitividade de unidades ou agentes nessa
economia (sejam empresas, regiões ou nações) de-
nacional e uma densa economia de serviços
pendem basicamente de sua capacidade de gerar,
e de propaganda para estimular o consumo processar e aplicar de forma eficiente a informa-
personalizado. Estas concentrações regionais ção baseada em conhecimentos. É global porque
permitem o incremento crescente de ino- as principais atividades produtivas, o consumo e a
vações e o bem-estar da população ao con- circulação, assim como seus componentes (capital,
sumir produtos de qualidade e mais baratos. trabalho, matéria-prima, administração, infor-
mação, tecnologia e mercados) estão organizados
A visão de Michael E. Porter, professor de ges-
em escala global, diretamente ou mediante uma
tão empresarial na Harvard Business School, rede de conexões entre agentes econômicos. É rede
está calcada na busca de competitividade das porque, nas novas condições históricas, a produti-
empresas. Para Porter (1999, p. 8), “a estru- vidade é gerada, e a concorrência é feita em uma
tura e a evolução dos setores e as maneiras rede global de interação entre redes empresariais
como as empresas conquistam e sustentam a (Castells, 2003, p. 119) (grifos no original).
Rhalf Magalhães Braga
vantagem competitiva nas respectivas áreas
174 • GEOGRAFARES, nº 6, 2008
Castells sustenta a hipótese de que na socie- Benko & Lipietz (1994a), da Escola da Regu-
dade organizada em rede o espaço organiza lação francesa, propõem que hodiernamente
o tempo (p. 467). O autor concebe o espaço há uma nova relação capital-trabalho em cur-
como “expressão da sociedade”, “tempo cris- so com a crise do taylorismo do pós-guerra e a
talizado”, “suporte material e simbólico de importância crescente dos sistemas locais na
práticas sociais de tempo compartilhado”, qualificação profissional. Conforma-se tam-
ressaltando que não é apenas contigüidade. bém uma nova organização industrial calcada
(p. 467-521). Os fluxos definiriam as formas nas relações entre empresas agindo em redes
e os processos espaciais, criando o que cha- especializadas nas formas subcontratação e
ma de “espaço de fluxos”, dividido em três parceria. A rede seria uma forma de organiza-
camadas: 1) composta por um circuito de im- ção interempresas cuja governança foi defini-
pulsos eletrônicos (microeletrônica, teleco- da para além do mercado, pois amplia as po-
municações, processamento computacional, tencialidades espaciais dos novos “objetos”
sistemas de transmissão e transporte em alta tomados em consideração (Benko & Lipietz,
velocidade e as tecnologias de informação; 2) 1994b, p. 249-250). A nova forma que surge
os nós ou centros com importantes funções destas interações são os “distritos de redes”
estratégicas e os centros de comunicação; 3) nas metrópoles centrais do mundo, ou seja, são
organização espacial das elites gerenciais do-
as regiões ganhadoras. Nos países subdesen-
minantes que exercem as funções de direção.
volvidos ou perdedores as “megalópoles” são
O espaço de fluxos necessita de um suporte
as formas espaciais das regiões ganhadoras.
material, este sim fornecido pelo “espaço de
lugares”, afinal, como afirma Castells (2003,
Ainda nesta perspectiva, Veltz (1994) carac-
p. 517), “as pessoas ainda vivem em lugares”.
teriza o período atual de flexibilidade “dinâ-
mica” onde cresce a procura de estruturas e
Na Geografia, um grupo de geógrafos da
de formas de gestão mais transversais, mais
Universidade da Califórnia faz parte deste
horizontais, suscetíveis de ter melhor em
enfoque informacional e regional. São eles:
conta parâmetros como os prazos, a qua-
Michael Storper, Allen J. Scott, John Ag-
lidade ou a inovação. Para isso têm papel
new e Edward W. Soja. Scott et al (1999,
central a logística e a informática. Formam-
p. 11) discutem o que chamam de “cidades-
se “empresas-sistema” ou “empresas-rede”
regiões globais”, “nós” espaciais essenciais
ou ainda “redes de empresas” (Veltz, 1994,
na economia mundial. As cidades-regiões
p. 195). O território-zona, clássico, contí-
globais criam um ambiente de eficiên-
guo, dá lugar ao território-rede, pulverizado,
cia do sistema econômico e intensificam a
atomizado e ao mesmo tempo conectado.
criatividade, aprendizagem e a inovação.
Para uma abordagem geográfica mais críti-
Storper (1999) afirma que no atual “capi-
ca das teorias locacionais citamos Harvey
talismo de aprendizagem” (pós-1970) há
(2001) e Santos (1999). A tese de Harvey
três componentes da “santíssima trindade”
da condição pós-moderna possui os seguin-
da economia regional: a tecnologia, as or-
tes elementos principais: a) há uma mudança
ganizações e os territórios. A tecnologia é
radical nas práticas culturais e político-eco-
marcada pela diversificação e flexibilida-
nômicas desde 1972; b) novas maneiras de
de, processos não-hierárquicos e trabalhos
experimentar o tempo e o espaço; c) ascensão
em rede. As organizações são as empresas
de formas culturais pós-modernas; d) modos
e os sistemas de produção não verticais. Os
mais flexíveis na acumulação do capital; e)
territórios são os complexos, as economias
novo ciclo de compressão tempo-espaço na
externas de escala, as vantagens relacionais
organização do capitalismo; f) as mudanças
regionalmente específicas. Os territórios e as
são superficiais, não a ponto de falarmos
regiões são os espaços de ação pragmática
em “pós-capitalismo” ou “pós-industrial”. Tendências e perspectivas das
básicos do capitalismo (Storper, 1999, p. 57). teorias locacionais no capitalismo
contemporâneo

GEOGRAFARES, nº 6, 2008 • 175


No que tange às teorias locacionais, Harvey interesse pela geografia deve-se à quarta (ou
(2001) se apóia em Lefebvre e as considera final?) onda e revolução de retornos crescen-
como estratégias (velhas e novas) do capital tes/competição imperfeita que veio de encon-
corporativo para aumentar seus lucros em tro à economia há duas décadas” (Krugman,
um tempo de crise: “As diferenciações ge- 1998, p. 7). O papel da Geografia também se-
ográficas nas modalidades e condições de ria, segundo o autor, importante para as polí-
controle do trabalho, ao lado de variações ticas de desenvolvimento: “Felizmente, pode-
na qualidade e quantidade da força de tra- mos afirmar com segurança: considerando a
balho, assumem importância muito maior geografia como fator crucial para o desenvol-
nas estratégias locacionais corporativas” vimento e que existem sem dúvida fortes im-
(Harvey, 2001, p. 265). Assim, as grandes plicações políticas, é um tema importante para
corporações disputam as vantagens de uma pesquisa posterior” (Krugman, 1998, p. 28).
localidade baseadas na racionalidade: “A
competição intercapitalista e a fluidez do Para Krugman (1998), a “Nova Geografia
capital-dinheiro com relação ao espaço tam- Econômica” deve resgatar os modelos clás-
bém forçam racionalizações geográficas em sicos da economia espacial (Weber, Lösch,
termos de localização como parte da dinâmi- Christaller, Von Thünen), os modelos de
ca da acumulação” (Harvey, 2001, p. 214). “potencial de mercado” de Harris e as ma-
trizes de decisão empresarial de Pred. Para
Santos (1999) também ressalta a racionali- isso, Krugman (ao lado de Masahisa Fujita e
dade presente no espaço através dos objetos Anthony Venables) elabora um modelo com
técnicos. O espaço geográfico seria um híbri- quatro pilares: 1) o modelo de competição
do entre sistemas de objetos (conjunto de for- monopolística de Dixit-Stiglitz, que respei-
ças produtivas) e sistemas de ação (relações ta a integridade natural de muitas decisões
sociais de produção). Em outra definição do locacionais; 2) a teoria dos icebergs das tro-
autor, o espaço une as formas mais a vida que cas internacionais de Paul Samuelson, que
as anima. Há complementaridade entre divi- preserva a elasticidade da demanda ao unir
são social do trabalho (repartição no mundo o modelo de estrutura de mercado de Dixit-
ou no lugar do trabalho vivo) e divisão ter- Stiglitz e os custos de transporte embuti-
ritorial do trabalho (distribuição e localiza- dos; 3) evolução: os fatores de produção se
ção dos diversos elementos). O atual sistema movem gradualmente entre as localizações
técnico possui como elementos: a) univer- que oferecem maiores retornos reais; uso
salidade e auto-expansão; b) vida sistêmica; da teoria dos jogos; 4) computador: utiliza-
c) concretude; d) conteúdo em informação; do para cálculos e simulações dinâmicas.
e) intencionalidade (Santos, 1999, p. 171).

Assim, os lugares são cada vez mais atraves-


sados por verticalidades, ou seja, influências CONSIDERAÇÕES FINAIS
externas que os alienam. As horizontalidades
ou nexos locais são rompidos pela lógica do Concordamos com Barnes (2003), ao afirmar
capital. O imperativo da fluidez opõe mercado que a Geografia Econômica esqueceu cinco
e sociedade civil. Os atuais espaços da globa- teorias: a teoria dos lugares centrais, a regra
lização são unificados pelas redes financeiras de Zipf (rank-size), a causação cumulativa,
de forma única na história. O Estado é chama- as economias externas locais e os modelos
do na medida em que são necessárias normas de renda da terra. É inegável que o enfoque
para garantir a corporatização do território. locacional em geografia perdeu seu fôlego,
ao contrário de outras áreas, como a Econo-
Na Economia, o norte-americano Paul Krug- mia e a Administração. Esperamos que este
man estabelece um debate com a Geografia artigo contribua de alguma forma para uma
ao retomar as teorias locacionais, um tanto es- retomada mais sistemática das teorias loca-
Rhalf Magalhães Braga
quecidas por esta disciplina: “Assim, o novo cionais, pois o espaço geográfico é organi-
176 • GEOGRAFARES, nº 6, 2008
zado de diferentes formas e por diferentes R. L. & GOMES, P.C.C. (Orgs.) Explo-
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RESUMO
O objetivo deste artigo é resgatar o tema das
teorias locacionais e assim contribuir para o
debate na Geografia, debate este um tanto es-
quecido atualmente. Destacamos as principais
tendências do enfoque locacional: neoclássi-
co, comportamental, sistêmico e marxista.
Além disso, abordamos algumas perspectivas
atuais, não só na Geografia, como também na
Administração, Economia e Sociologia. Nota-
se que as abordagens caminham de um pen-
samento mais abstrato e generalizante, pas-
sando por uma consideração dos problemas
sociais até um olhar mais regional e focado
no paradigma do capitalismo informacional.

Palavras-Chave: Teorias Locacionais; Capi-


talismo Contemporâneo; Geografia Urbana.

ABSTRACT
The purpose of this article is to rediscuss lo-
cational theory and contribute to this debate
in Geography, especially considering that it
is not so discussed recently. We selected five
tendencies in locational theory: neoclassic,
behavioral, systemic and Marxist. Beyond
Tendências e perspectivas das
that, we debate some recent perspectives, not teorias locacionais no capitalismo
contemporâneo
only in Geography, but also in Administration
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