A importância das Conferências de Haia (1899 e 1907) para as Organizações Internacionais
Aluno: Ícaro Souza Vieira
“Foram as duas primeiras Conferências de Haia (1899 e 1907) que, de forma inédita, tentaram estabelecer princípios jurídicos comuns para a organização internacional.” (Seintefus, 2005).
Tanto a Primeira quanto a Segunda Conferência de Haia ficaram marcadas pela
ausência do exercício stricto sensu de poder das grandes potências. Elas foram regidas pelo princípio igualitário de um voto para cada Estado. Neste sentido, inauguraram um modus operandi que futuramente resultaria na diplomacia multilateral (base para a formação das organizações internacionais). Além disso, deram destaque à diplomacia aberta em contraste à tradicional diplomacia de sigilo e de segredo, tendo em vista a larga divulgação da imprensa na cobertura de suas atividades. E ainda contaram com a participação de organizações não governamentais por meio do ativismo dos movimentos pacifistas, como o da Cruz Vermelha. De modo geral, as duas Conferências simbolizaram o início da universalização do sistema internacional e também da igualdade entre os Estados na participação nas deliberações da diplomacia multilateral. Deste modo relativizou a existência de uma comunidade mundial circunscrita apenas à lógica interestatal (“estadocêntrica”). A participação do Brasil nas Conferências foi importante. O chefe de delegação, Rui Barbosa, sugeriu à apreciação da proposta em que nenhuma das potências buscasse alterar, por meio de guerra, as atuais fronteiras de seu território à custa de outra potência, senão ante a recusa de arbitragem proposta pela outra potência interessada na alteração ou desde que houvesse desobediência ou violação do compromisso arbitral. A anexação territorial por via bélica não teria então validade jurídica. A proposta de Rui era, para a época, radical, e por isso acabou não vingando. No entanto, a sua repercussão foi grande, simbolizando um antecedente do preceito contemporâneo do direito internacional público proibitivo da aquisição de território pela força, isto é, buscar a paz pelo direito. É também um componente do que veio a ser o princípio da não intervenção – outro fator primordial da natureza das organizações internacionais – a questão da soberania. Podemos afirmar que o embrião do multilateralismo juntamente com o fortalecimento dos princípios da igualdade entre os Estados e o da não intervenção (ambos relacionados com a soberania) foi o legado maior das Conferências de Haia para as Relações Internacionais e principalmente para as Organizações Internacionais na medida em que abriu o espaço para novas formas de relacionamento entre os Estados e a partir daí redesenhar as forças e atores que compõem do sistema internacional moderno.