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Bem-aventurados os que
observam a justiça...
(Salmos 106:3)
Processo nº 0045194-35.2012.8.08.0024
ISMALEM MESCHIATTI DO CARMO, já devidamente qualificado nos autos do processo que lhe
move o Ministério Público Estadual, por seu advogado constituído MARCELO SERAFIM DE
SOUZA – OAB-ES 18.472, infra-assinado, vem respeitosamente, à honrada presença de Vossa
Excelência, apresentar como efetivamente apresenta ALEGAÇÕES FINAIS, com fulcro no art.
403, §3º, do Código de Processo Penal, pelas razões de fato e de direito a seguir expostas:
DOS FATOS
Consta na Denúncia que, no dia 06 de Junho de 2012, por volta das 19h40min, a vítima HEBERT
OLIVEIRA DO SANTÍSSIMO, encontrava-se próximo à frente de sua casa, no bairro Jabour nesta
capital, quando foi surpreendido por um veículo Volkswagen Gol, placa MRM-6147, os quais se
encontravam a bordo: ISMALEM MESCHIATTI DO CARMO, WANDERSON DE ALMEIDA
MEIRELLES, DANIEL NONATO VIANA E WESLEY MATOS FELICIANO, onde ISMALEM saiu do carro
e a mando de VALDORI ADÃO, efetuou disparos de arma de fogo em desfavor da vítima, cujos
ferimentos o levaram a óbito, consumando o crime de homicídio.
O motivo do crime seria em razão da vítima ter sido vista com WANGLERSON PERONI
GONÇALVES, vulgo “NINO”, em um chamado “baile funk” na casa de shows Twister.
VALDORI e “NINO” são de gangues rivais, que estão em constante conflito pelo controle do
tráfico de drogas de região de Goiabeiras, como HEBERT, vulgo “ACEROLA” estava acompanhado
de “NINO” na referida casa de shows, integrantes da “gangue do VALDORI” logo constataram
que eram amigos e, supostamente a mando de VALDORI, a vítima foi executada com oito tiros
de arma de fogo, segundo Laudo de Exame Cadavérico de fls.73/75.
Mais adiante, no depoimento do próprio “NINO”, fls. 86/87, quanto à morte de “ACEROLA”,
confirma que a vítima foi vista anteriormente com o mesmo na Twister, porém declara que tem
conhecimento que os executores do crime foram: “VANDINHO”, ISMALEM, DANIEL NONATO
VIANA vulgo “BISCOITO” e “ORELHA”, ou seja, seu depoimento foi com base no que falaram para
o mesmo e que todos executaram o crime.
Outro declarante, de nome FELIPE SOUTO ALBERTO, fls. 92/93, já informa que ouviu dizer que
quem matou “ACEROLA” foi “VANDINHO”.
O declarante MARCOS ANTONIO ROSA DE SOUZA, ás fls. 115/116, diz que ouviu comentários
que os autores foram “VANDINHO”, “FELIPÃO” e “ORELHA”.
Com a referida análise, observando que para elucidar uma ação penal é necessário indícios de
autoria e materialidade devidamente comprovados, é nítido o emaranhado de suposições de
nomes de diversas pessoas, que ao contrário da materialidade que restou comprovada por meio
de Laudo de Exame Cadavérico, a autoria se diverge e muito se acompanhada pelos
depoimentos com base no “eu ouvi comentários” ou “eu fiquei sabendo”, que, insta frisar, é de
assaz sabença, são provas de cunho duvidoso que podem interferir em até condenar pessoa que
não teve participação com o fato típico.
DO DIREITO
Ora, bem como se pode averiguar, a presente ação penal trata-se de apuração de crime descrito
no art. 121, §2°, I e IV do Código Penal Brasileiro, tendo como vítima HEBERT OLIVEIRA DO
SANTÍSSIMO. Consta por várias vezes aos autos, que foram identificados 04 ocupantes do Gol, e
que há fortes indícios da participação de ISMALEM e DANIEL pelo simples fato de que em
depoimento “se ouviu dizer” ou “fiquei sabendo”.
Até mesmo quando à única prova é depoimento da própria vítima, existe o seguinte
entendimento:
Diferentemente da materialidade, que foi demonstrada pelo Laudo de Exame Cadavérico de fls.
73/75, não há indícios plausíveis em desfavor do acusado ISMALEM. Quanto à defesa dos réus,
leciona NUCCI:
“O que se busca aos acusados em geral é a mais aberta possibilidade de defesa,
valendo-se dos instrumentos e recursos previstos em lei e evitando-se
qualquer forma de cerceamento. Aos réus, no Tribunal do Júri, quer-se a
defesa perfeita, dentro, obviamente, das limitações naturais dos seres
humanos.”1
Também se observa que a cada depoimento colhido mais nomes são apontados como suspeitos,
onde os depoentes não oculares citam todo aquele próximo a VALDORI como coautor do crime.
Com isto, toda investigação se transformou em um emaranhado de suspeitos que gera dúvidas
quanto à autoria.
O direito penal brasileiro adota o princípio do “in dúbio pro reo”, ou seja, na dúvida, interpreta-
se a favor do acusado, pois a garantia de liberdade deve prevalecer sobre a pretensão punitiva
do Estado. Tal princípio é visível no art. 386, VII, do Código Penal:
Art. 386. O juiz absolverá o réu, mencionando a causa na parte dispositiva,
desde que reconheça:
(...)
VII – não existir prova suficiente para a condenação.
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1-NUCCI, Guilherme de Souza. Tribunal do Júri – 5. ed. rev., atual. e ampl. – Rio de Janeiro : Forense, 2014.
Neste mesmo diapasão, foi juntado aos autos anteriormente, tanto a cópia da carteira
profissional assinada (fl. 335), como a folha de ponto (fl. 333) que revela que no dia 06 de Junho
de 2012, o acusado fez a escala de serviço no período de 18h ás 06h do dia seguinte e como
consta aos autos, o fato típico ocorreu por volta das 19h40min, comprovando que o mesmo não
se encontrava nem próximo ao local dos fatos, pois seu posto de trabalho como Porteiro é no
município de Serra.
Também é fato que o acusado jamais se furtou de contribuir com as investigações, tanto que só
ficou sabendo que havia mandado de prisão em seu desfavor quando foi prestar depoimento
em sede policial, onde declarou os crimes que já foi incurso, demonstrando que atualmente sua
conduta não condiz como a de um membro de uma “gangue”.
Na própria decisão de fls. 446/447, o mm. Juiz aponta que os acusados ISMALEM e DANIEL não
alcançam graduação suficiente para prisão preventiva.
DOS PEDIDOS
Considerando os elementos aqui carreados, inarredável a negativa de autoria, e com ela se
impõe necessária a impronúncia do acusado, reforçando que a fragilidade dos elementos
acusatórios carreados não chega a trazer sequer dúvidas se a autoria pode ou não ser atribuída
ao acusado, e assim, de tão frágil, não se pode apoiar no in dúbio pro reo, pois assim agindo
delineada está a arbitrariedade e ofensa à Constituição Federal de 1988.
Termos em que,
Pede e espera deferimento.
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MARCELO SERAFIM DE SOUZA
ADVOGADO - OAB/ES 18.472