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Dourados 2017
CENTRO UNIVERSITÁRIO DA GRANDE DOURADOS
Dourados 2017
A CONTRIBUIÇÃO DE HARVEY COX SOBRE O PAPEL DA IGREJA
NA CIDADE SECULAR
¹Naman de Moura Brito
RESUMO
O presente trabalho tem por objetivo analisar as contribuições do teólogo batista Harvey Cox
sobre a temática em torno da secularização e da urbanização vista a partir da perspectiva da
teologia cristã. Cox entende a Secularização em três níveis. O primeiro trata da demitizização
da natureza; o segundo, da laicização da política; e, por fim, da secularização dos valores. A
Secularização é entendida como uma libertação do homem, do controle religioso e do
metafísico sobre sua razão e linguagem. A Secularização deve ser recebida com alegria pelos
cristãos, pois é um desdobramento natural do cristianismo. O homem pós-moderno não busca
verdades prontas e inquestionáveis da religião. Ele procura vivenciar a fé no cotidiano. A
Igreja em tempos pós-modernos precisa “ser para o mundo” uma teologia revolucionária de
libertação e restauração e participar dos conflitos sociais. A Igreja deve anunciar e realizar o
Reino de Deus na cidade pelas suas funções kerigmáticas e diaconais e, também, pela teologia
política.
ABSTRACT
The present work aims at analyzing the contributions of the Baptist theologian Harvey Cox on
the theme of secularization and urbanization seen from the perspective of the Christian
theology. Cox understands Secularization in three levels. The first deals with the demitization
of nature; the second one tackles the laication of politics and finally the third one copes with
the secularization of values. Secularization is understood as a liberation from man, from
religion and from metaphysical control over their reason and language. Secularization must be
received with joy by Christians, for it is a natural unfolding of Christianity. Post-modern men
do not seek ready and unquestioned truths of religion. They seek to experience faith in
everyday life. The Church in post-modern times needs to be a revolutionary theology of
liberation and restoration to the world and to participate in social conflicts. The Church must
announce and realize the Kingdom of God in the city for its kerygmatic and diaconate
functions and also for political theology.
INTRODUÇÃO
Em 1965, o teólogo Harvey Cox lançou o livro A cidade secular. Cox concorda com
Gogarten que a secularização é o resultado da fé bíblica e, também, com a distinção entre
secularização e secularismo. A secularização possibilitou:
Para Cox, a fonte da secularização se encontra na bíblia. A primeira dimensão ocorreu com a
Criação como Desencantamento da Natureza denominada de pré-secular. Durante este
período, o homem vivia pelo encantamento do mundo: “Os vales e bosques estão infestados de
espíritos. As rochas e os riachos são vivos e encerram demônios amigos ou diabólicos. A
realidade está carregada de poderes mágicos que surgem aqui e ali para ameaçar ou beneficiar
o homem.” (COX, 2015, p.52) Outro teólogo que corrobora com tal pressuposto é Thils ao
afirmar que:
As narrativas da criação dos babilônicos elevavam o Sol, a Lua e as estrelas a uma condição de
semidivinos. Em Gênesis, esses elementos perdem a condição de semidivino e dignos de
adoração e são descritos como criações de Javé, desprovidos de adoração e sem controle sobre
os homens. O homem secularizado tem a tarefa de cuidar a natureza e torná-la uma
responsabilidade atribuída ao Homem Adão. (COX, 2015, p. 54)
O segundo aspecto da secularização possui sua origem na narrativa do Êxodo que representa a
dessacralização da política a partir de um ato de “insurreição contra o monarca devidamente
constituído, contra um faraó, cuja relação para com o deus-sol Re fundamentava a sua
pretensão de soberania política”. Os hebreus libertaram-se do Egito e foi “impossível que se
aceitassem sem reservas as sanções de qualquer monarca.”. O Êxodo simboliza a libertação do
homem de uma ordem sacra-político. A liderança política deve estar baseada na capacidade do
governante de “cumprir objetivos sociais específicos” e não por direito divino. (COX, 2015, p.
57)
Após o desencantamento do mundo, foi necessário acreditar nos poderes de estruturação moral
dos seres humano.
Cox (2015, p. 78) entende que o anonimato representa o Evangelho em distinção a Lei e a lei
“significa tudo o que nos liga, sem espírito crítico, as convenções herdadas, e o Evangelho é
aquilo que os liberta para que possamos decidir por nós mesmos”, representando um
“chamado à escolha e à responsabilidade”. Neste sentido, o pensamento de Cox se encontra
com o de Bonhoeffer, onde o “Deus do Evangelho” promove ao homem a maturidade e a
responsabilidade por suas escolhas, sendo o criador de novas possibilidades.
O homem tecnopolitano é um homem em mobilidade e na mobilidade surge a mudança social
e rompe-se com o sedentarismo e possibilita ao homem nova experiência de vida. Cox (2015,
p. 86) resgatou na bíblia a fonte da mobilidade através da narrativa do Êxodo. Os períodos de
mobilidade dos israelitas como na experiência da libertação do Egito, “a peregrinação no
deserto e as batalhas de Canaã ofereciam os eventos fundamentais sobre os quais erguia a fé
israelita”. Em comparação aos deuses dos Cananeus, Javé (o Deus dos profetas) “não era um
deus de um lugar”. Os Baalins eram proprietários de certos lugares e territórios; eram deuses
imóveis e estacionários, e Javé “ia adiante dele” do seu povo em movimento.
A forma da cidade secular diz respeito ao sistema social que se funde ao estilo e, assim, elas se
afetam mutuamente. O Pragmatismo é compreendido como um dos estilos da cidade secular,
onde há o interesse do homem secular pela questão “Vai funcionar?”. As preocupações com
questões e mistérios religiosos não constituem uma das preocupações do cidadão
tecnopolitano. O homem busca resolver os problemas do aqui e agora. O mundo é o local da
sua reflexão e de seu campo de trabalho, dispensando o apelo à divindade. (COX, 2015, p. 91-
92)
Uma sociedade secularizada não significa estar imersa na ausência do religioso, mas exigir um
diálogo entre os que creem e os que não creem. A secularização não significa a negação de
uma necessidade de espiritualidade.
Como a igreja deve atuar na Tecnópolis? A Teologia da Igreja deve ser uma teologia que
contemple as mudanças sociais permanentes na sociedade. Um dos obstáculos à atuação da
igreja está relacionado às “doutrinas herdadas do período decadente da cristandade clássica”.
As igrejas encontram-se “infetadas com a ideologia da preservação e da permanência”
voltadas ao passado com especificações antiquadas. (COX, 2015, p. 134)
O ser humano não pode ficar em uma submissão a um poder superior, mediatizado pela
natureza e pela Igreja, pois “a atitude religiosa tradicional, enquanto relacionada com a
submissão à Igreja e à natureza por motivos religiosos é classificada por São Paulo como
escravidão, como atitude ultrapassada, como a própria negação da novidade trazida em e por
Jesus Cristo”. (SEGUNDO, 1970, p. 46)
A igreja não é uma instituição. Ela é o “povo de Deus”; a comunidade da fé, cuja missão é
discernir a ação de Deus no mundo e aliar-se à sua obra. A igreja se definiu por aquil que
Deus está fazendo agora no mundo. “É um povo cujas instituições deveriam capacitá-lo a
participar da ação de Deus no mundo – da emancipação do homem para a liberdade e
responsabilidade.” (COX, 2015, p. 155)
Uma teologia da mudança social necessita preceder uma teologia da igreja. A chave para ação
da igreja é que o mesmo Deus que agiu no passado continue sua ação no presente. A igreja
precisa de uma teologia e de uma ética “que capacite a dar sentido a um mundo totalmente
novo”, oposto da ética individualista atual. Os cristãos precisam viver sua responsabilidade no
mundo (ide) como um corpo. Cada membro precisa levar esperança a um devido lugar. A
igreja deveria saber onde atuar e levar as pessoas até Deus, pois Este age no presente. (COX,
2015, p. 135)
Souza (2012, p. 40) afirma sobre a necessidade dos cristãos de “desempenhar um papel na luta
por aspiração ao reconhecimento da sociedade, por parte dos grupos sem privilégios e
hierarquicamente subordinados, como na reelaboração de novas identidades no caldeirão de
lutas culturais”. A Igreja precisa dialogar com a sociedade e seus dilemas sociais. Segundo
(1978) também ressalta a necessidade de uma teologia em diálogo, pois a concepção única – a
religiosa – agora passa a um pluralismo de valores em vista da maturidade:
(COX, 2015, p. 138) entende que somente “uma teologia política deve levar o homem a uma
participação significativa no processo político sem acorrentá-lo a alguma significação
transcendental a que tenha de se submeter”. Cox indaga se podemos construir esta teologia.
Cox responde positivamente à indagação e vê na cidade secular a imagem mais promissora
que os escritores do Novo Testamento descreveram sobre o Reino de Deus “concentrado na
vida de Jesus de Nazaré, continua sendo a revelação mais pela possível da parceria entre Deus
e o homem na história. Nossa luta pela formação da cidade secular é a maneira de
respondermos fielmente a esta realidade no nosso próprio tempo”. As novas situações sociais
surgem para nós e, ao mesmo tempo, nos conclamam a deixar o que é antigo e ir ao encontro
do novo, pois cidade secular é o símbolo do “Reino de Deus”. (COX, 2015, p. 142)
Pereira (2009, p. 128) discorre sobre algumas ideias de Cox sobre a Teologia Política:
É possível falar de Deus diante do Auschwitz, o holocausto judeu? É possível fazer teologia?
Para Moltmann, a resposta pode ser afirmativa desde que “a teologia se renove e desenvolva
crítica e conscientemente, sua dimensão política”. Ao falar de teologia política como uma
correlação da ética política, Moltmann afirma que a ética política mostra o caminho de uma
“ética da esperança” que articula “resistência e antecipação”; de uma “ética messiânica”
presente em todas as dimensões da vida como:
O projeto de uma teologia política busca uma redefinição da relação Igreja e, também, do
mundo a partir de uma prática operante na sociedade a esperança cristã.
Do ponto de vista político, a cidade secular revela a realidade da mudança social e a base para
uma teologia da revolução. Cox apresenta quatro elementos fundamentais de uma teologia
revolucionária que atenderá ao homem tecnopolitano. O fator catalítico deve ser a noção
“capaz de catalizar a ação”, buscando superar o atraso e impulsionar a mudança social. O
emento da intepretação da catalepsia explica o motivo pelo qual muitas pessoas não agem e
se recusam a agir. A ideia de cartase constitui em mostrar que enquanto alguns não agem,
outros agem por estarem dotados da cartase (senso de responsabilidade). A compreensão de
catástrofe impulsiona os que não agem a agirem, “transformando a ordem” existente. (COX,
2015, p. 144)
O chamado do “Reino que vem”, que está sempre chegando, exige sairmos do descanso. Este
evoca a responsabilidade do homem para agir na cidade urbanizada, pois “o reino de Deus
nunca veio na sua plenitude e perfeição para que o homem possa parar e descansar”. O
chamado ao Reino é “aqui e agora” e “quando o homem atenta a Secularização, esta o chama a
agir”. Cox identificou a catalepsia social como a cegueira que impede os homens de agirem.
(COX, 2015, p. 146-147) Como romper esta condição de cegueira, sono e morte? Cox aponta
a conversão (do grego metanóia, lit “mudança de mente”). É como nascer de novo, o que:
Resulta numa vida em que alguém pode agora ver, ouvir, andar e saltar
de alegria. Os obstáculos à percepção e respostas são removidos. O
homem pode, agora, ver o que está acontecendo no seu mundo e reagir
pertinentemente. (COX, 2015, p. 149)
A igreja precisa reagir às novas realidades da história. Tanto Jesus e os apóstolos conclamaram
as pessoas a “abandonarem suas redes, deixarem a cama”. O Evangelho nos chama à
responsabilidade – o aceitar a situação adulta. A igreja possui um ministério que é a
continuação do ministério de Jesus cuja base é a chegada do Reino de Deus. A tarefa era de
anunciar e “proclamar a libertação aos cativos”, restaurar e pôr em liberdade os oprimidos.
Para Cox, o substantivo grego diácono possui o significado de curar e reconciliar ao invés de
servo, serviço, servidor. Sua justificativa é que a função de “diaconia se refere, realmente, ao
ato de curar e reconciliar, de tratar das feridas, de ligar o abismo e de restaurar a saúde do
organismo. O Bom Samaritano é o melhor exemplo de diaconia”. A igreja deve agir na
Tecnópolis em favor dos pobres e necessitados, curar as fraturas da alma do homem urbano-
secular como conflitos entre etnias, e outras tensões sociais. A igreja historicamente observou
os problemas de toda sociedade e fugiu da sua responsabilidade. A atuação da Igreja neste
sentido é de curar.
Como falar de Deus ao homem secular que não se interessa mais pelos mistérios religiosos, e
que exclui a circunstância da fé bíblica? Este homem secular “confia em si mesmo e nos seus
colegas, ao procurar as respostas. Não procura Igreja”. O motivo não está na falta de respeito
ou por ser anticlerical. Este sente que está se preocupando com questões diferentes. (COX,
2015, p. 93,112) Cox ressalta que a Igreja deve dar conta que:
De acordo com Souza (2012, p.140), o “cristianismo possui valores e normas favoráveis aos
seres humanos, quando não manipulado. Estes valores e normas podem conduzir à felicidade,
à dignidade, à liberdade, à justiça e solidariedade”. A verdadeira religiosidade advoga o ideal
de não escravizar, mas libertar; não prejudicar, mas curar; não desequilibrar, mas estabilizar.
Deus não entregou ao homem um mundo concluído e acabado. Este só se completou quando
os elementos receberam nome. A parte confusa e sem forma recebeu do homem sua
significação. Assim, Deus atribui ao homem a tarefa de dar significado ao mundo. Este, por
sua vez, é parceiro de Deus e, ao mesmo tempo, responsável de transformar e cuidar do
mundo.
Como falar de Deus sem religião e de forma secular? Cox tenta responder a esta indagação de
Bonhoeffer mesmo sabendo que este útimo via na palavra “Deus” uma questão semântica
complicada, pois este não é para nós um conceito comum. “A palavra não significa nada, mas
o nome “Deus” é tudo.” Sobre este assunto, Cox afirma que:
Cox difere de Bonhoeffer no entendimento de que falar do Deus da bíblia não é uma forma
que o homem criou para falar de si mesmo. Falar de Deus de uma forma secular é falar de
forma política e sociológica.
Ao longo da história da sociedade, o homem tem experiências distintas com a palavra Deus:
O problema está naqueles que falam de Deus. O homem secular ouve os clérigos e estes
transmitem a “sensação de continuidade histórica” como os “guardiões das tradições de um
grupo introvertido”. Este discurso não funciona, pois está sendo inserido em uma sociedade
que “é ensinada a ser meticulosamente tolerante com as crenças dos outros”. (COX, 2015, p.
272) É necessário abandonar o enclave subcultural e deixar de ser supranatural e passar a atuar
no Reino de Deus “aqui e agora” a fim de ser compreendido. A teologia cristã necessita
superar o paradigma teológico medieval e apresentar uma outra linguagem sobre Deus: uma
liguagem que seja contextualizada.
Uma Teologia Política deve pensar sobre as questões que confrontam a sociedade técnico-
urbana, pois Deus fez o homem responsável. A política é a linguagem da evangelização. A
Igreja deve “examinar as questões que sociedade enfrenta a luz desses eventos decisivos do
passado – o Êxodo e a Páscoa”. A Teologia de hoje deve ser aquela de reflexão em ação.
Assim, a Igreja revela o Deus político que vai “a frente para trabalhar ao Seu lado”, inserindo
nas atividades os aspectos restauradores e reconciliadores de Deus e que “ construa a paz
dentro de um mundo secular, que contribua para a justiça dentro de uma época marcada pela
fome, que apresse o dia da liberdade, numa sociedade sufocada pela segregação”. (COX, 215,
p. 282)
Deus não deixa de estar escondido; pelo contrário, Ele se encontra com
o homem como o “outro” indisponível. Ele não “aparece”, mas mostra
ao homem que esta atuando, em Seu ocultamento, na história humana
(...). Deus esta ensinado o homem a se virar sem Ele, a se tornar
maduro, livre das dependências infantis, a ser plenamente humano.
(COX, 2015, p. 284)
A insistência negativa que se mantém em chamar Deus pelos símbolos do passado como “rei,
pastor”, sendo títulos de individualização que impedem a sua experiência de Deus como um
totalmente “outro”. O homem contemporâneo precisa encontrar Deus com um “você”. Deus na
pessoa de Jesus demostrou “que estava disposto a assumir o lado humano” e isto possibilita
que na cidade secular “Deus chame o homem a encontrá-lo, antes de mais nada, como um
„você‟”. Ao invés de procurar Deus em lugares, Ele está mais interessado que os homens se
interessem mais em seu semelhante e promovam a justiça do que nEle. (COX, 2015, p. 288-
291)
Bonhoeffer (2015) ressalta que o papel do cristianismo é mostrar que o Deus transcendente
não está do lado de lá, fora do mundo, mas Ele está ao alcance do ser humano, vivenciado no
próximo, ou seja, Deus é transcendente no centro de nossa vida.
Nossa relação com Deus não é uma relação “religiosa” com o ser mais
elevado, mais poderoso, melhor que se possa imaginar – isto não é
transcendência genuína – mas nossa relação com Deus é uma nova
vida na “existência para os outros”, na participação no ser de Jesus. O
transcendente não são as tarefas infinitas, inatingíveis, mas é o
respectivo próximo que está ao alcance. Deus em figura humana! Não
como nas religiões orientais, em figuras de animais, como o
monstruoso, caótico, distante, terrível; mas tampouco nas figuras
conceptuais do absoluto, metafísico, infinito, etc.; tampouco na figura
grega do homem-Deus, do “ser humano em si”, mas do “ser humano
para outros”! Por isso o crucificado. (BONHOEFFER, 2015, p. 510-
511)
Não devemos ficar preocupados com qual nome dar a Aquele que é possível encontrar na vida
de Jesus e nas mudanças sociais, como o libertador e o oculto? Falar secularmente de Deus é
“assinalar-lhe a presença e dar-lhe nome”. Esta significação adquire um sentido na história de
modo funcional. A Igreja precisa agir! Assim, Deus revela o seu nome ao homem nas
experiências das mudanças sociais. Apenas devemos “simplesmente aceitar o trabalho de
libertar os cativos”. (COX, 2015, p. 291-295)
CONCLUSÃO
O homem moderno não aboliu a religião. Nas Américas, esta floresce com diversas formas. Na
Europa, no entanto, os bancos das igrejas permanecem vazios. O mundo insiste em ser
“religioso”, o “ressurgir da religião” ou a “ressacralização” aponta que os impulsos religiosos
nunca morreram. Ao invés da “morte de Deus”, há um “renascimento de deuses e deusas”. O
grande desafio teológico que se coloca diante da secularização é: o que tudo isso significa para
a vida real da fé? A vida nas Tecnópolis representou a responsabilidade alcançada pelo homem
decorrente da maioridade. No extremo dessa maioridade estão os horrores causados por esse
mesmo homem que utiliza seu conhecimento técnico e científico muito distante de uma
responsabilidade do poder que deveria libertá-lo.
As discussões de cunho religioso não estão na pauta das discussões da cidade secular e isto
exige da Igreja uma teologia política a fim de compreender e agir no mundo. Cox salienta que
ser cristão é estar envolvido com os dilemas deste mundo. O homem secular em seu anonimato
é a representação do cidadão tecnopolitano. O pragmatismo aponta para um cidadão
preocupado com o seu mundo daqui e não com questões religiosas. Essas características lhe
conferem a profanidade que para Cox representa seu comportamento terrestre.
Esta teologia política é revolucionária e ela necessita ser impulsionada para haver uma
mudança social. Seu discurso e prática devem conduzir o homem a metanóia. Somente ao
exercer suas funções proclamadora, reconciliadora e de comunhão a Igreja poderá transformar
a realidade da cidade secular. O pluralismo e a tolerância são filhos da secularização.
Cox nos mostra que a importância da Igreja está em viver aquilo que ela anuncia. A Igreja
pode e deve ter uma atuação com outras partes da sociedade a fim de dar voz aos excluídos e
marginalizados. A Igreja deve se preocupar com as aflições humanas e voltar a este mundo
como o seu campo de atuação. Cox identificou na estrutura da Igreja os dois obstáculos que
desperdiçam tanto talento como tempo e impelem a ver o que Deus está fazendo no mundo. A
Igreja necessita superar o isolamento introvertido, que é uma complexidade do aparato
denominacional e, também, o conservantismo institucional e social que a isola do mundo. A
Igreja precisa estar em diálogo com o mundo. Ao invés de lutar contra as estruturas
eclesiásticas, essas deveriam estar atentar às estruturas seculares. A superação das burocracias
possibilitará que esta tenha uma comunicação com o mundo.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BONHOEFFER, Dietrich. Resistência e submissão: cartas e anotações escritas na prisão. São
Leopoldo: Sinodal, 2015.
GIBELLINI, ROSINI. A teologia do século XX. São Paulo: Edições Loyola, 2012.
_________. Teologia aberta para o leigo adulto: essa comunidade chamada Igreja. São Paulo:
Loyola, 1978.
SOUZA ISMAEL. Cristão secularizado: contribuições de Hans Kung para viver a fé cristã no
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Universidade Católica do Rio de Janeiro. Rio de Janeiro, 2012.
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