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FEMINISMO MARXISTA
Por Feminismo Marxista
O FEMINISMO LIBERAL
Como mencionado há pouco, o feminismo é uma ovelha desgarrada da
Revolução Francesa. O Iluminismo, que fundamentou filosoficamente
esse momento paradigmático da história do ocidente, pregava belas
ideias de liberdade, igualdade entre todas pessoas. Mas, peraí! Essa
igualdade não incluía metade da população: as mulheres. Tomada a
Bastilha, sacanearam com aquelas que ajudaram a construir a
Revolução. Estabelecida a nova ordem, ainda se continuou a relegar às
mulheres a condição de cidadãs de segunda classe, sem qualquer poder
de decisão sobre os destinos da nova sociedade que se formava.
Na foto, as famosas suffragettes, feministas liberais conhecidas pela luta pelo direito ao
sufrágio . As reivindicações do feminismo dessa época foram muito relevantes, o que
permitiu que, na primeira metade do século XX, diversas delas fossem formalmente
atendidas, como o direito de votar e ser votada, ingresso nas instituições escolares e
participação no mercado de trabalho. Lentamente também se observou uma mudança
nos códigos civis, que passaram a proclamar a igualdade de direitos entre os cônjuges.
Alguma atrevida começou a se pronunciar, solicitando a radicalização
do conceito de igualdade que tanto pregavam, incluindo realmente toda
a população. Essa moçoila foi a célebre Olympe de Gouges. Olympe quis
reescrever o documento principiológico da Revolução Francesa,
a Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão, que não
mencionava as mulheres, redigindo a Declaração dos Direitos da
Mulher e da Cidadã. No novo documento, proclamava que as mulheres
também possuíam direitos inalienáveis, tais como a liberdade, a
propriedade e o direito à resistência contra a opressão. Se as mulheres
podem subir ao cadafalso e ser punidas por suas condutas e opiniões,
também podem subir na tribuna e participar das decisões políticas.
Por esses motivos, e por ser uma crítica ferrenha dos procedimentos
jacobinos, como o uso disseminado da pena de morte, uma de nossas
pioneiras foi condenada e morta na guilhotina.
O FEMINISMO MARXISTA
Com o desenvolvimento do capitalismo e a sedimentação da Revolução
Industrial, novos problemas passam a se pôr nessa nova forma de
sociedade, e a classe proletária emerge como principal crítica às
mudanças desse período, já que foi o grupo que se viu em maiores
desvantagens.
Na foto, Alexandra Kollontai, uma
das principais representantes do feminismo marxista. Ela acreditava que apenas com o
socialismo as mulheres poderiam exercer seu trabalho plenamente, pois lhes seria de
direito a socialização do trabalho doméstico, a assistência infantil, a licença-
maternidade, dentre outros direitos econômicos e sociais.
Influenciado pela análise econômica marxista e pela valorização dos
direitos relacionados ao trabalho, o feminismo marxista entendia que a
causa da subordinação feminina adviria da própria organização da
economia e do mundo do trabalho. Sendo assim, a libertação das
mulheres se daria com a abolição da propriedade privada e com a
transformação da divisão sexual do trabalho.Tinha-se o proletariado
excluído da riqueza por ele produzida na indústria, e as mulheres, que
sequer gozavam dos direitos civis e políticos básicos, quando
pertencentes à classe trabalhadora, tinham potencializada sua situação
de degradação e miséria. Surge, então, o movimento socialista marxista,
inspirado na crítica de Karl Marx ao capitalismo, que vem também a
influenciar o surgimento de uma nova concepção de feminismo,
denominada feminismo marxista.
Assim, para essa corrente, não seria o sistema econômico que oprimiria
as mulheres, mas o sistema de dominação social do sexo. Diferiria tanto
do feminismo liberal quanto do marxista no campo do pensamento e no
de ação. Para elas, o reformismo liberal possuía uma análise muito
superficial da discriminação das mulheres e o marxismo seria um tanto
reducionista e machista. Este essencialmente por reduzir o problema à
questão de classes e por negar, inicialmente, uma luta autônoma das
mulheres.
***
Na foto, em destaque, Andrea
Dworkin, uma das principais vozes do feminismo radical. Com o slogan “o pessoal é
político”, as feministas radicais pretendiam não só ganhar o espaço público, mas
também revolucionar o espaço privado. Questionavam a separação entre espaço público
e privado, que até então encobria a dominação patriarcal e a opressão que aconteciam
em âmbito doméstico. Um dos grandes feitos dessa corrente foi expor o problema da
violência doméstica, questão até então negligenciada pelos grupos anteriores.
Apesar de emergirem em diferentes momentos históricos, ainda hoje se
pode encontrar manifestações inspiradas em todas as vertentes citadas.
Viram? Não tem como não ser feminista. No final das contas o que se
quer é a emancipação de todas/os. Independentemente da
fundamentação escolhida, ser feminista é uma luta pela dignidade, pela
liberdade, pela igualdade. Saia do armário e manifeste-se!
O QUE É O FEMINISMO?
Por Márcia Tiburi para Revista Cult
Ato de mulheres pela democracia em Santiago durante o governo
militar de Pinochet (Kena Lorenzini/Wikimedia Commons)
Uma conversa sobre o feminismo enquanto tal, uma conversa que
procure lançar luz sobre sua definição, me parece necessária diante da
multiplicidade de vozes feministas, bem como do desentendimento
bastante visível na esfera pública, quanto ao que é feminismo. Pairam
preconceitos misóginos sobre o próprio termo e fica prejudicada, neste
sentido, a proposta geral do feminismo. Daí a necessidade de uma
conversa conceitual que possa abrir nossas mentes e percepções para a
questão. Abaixo lanço algumas ideias sobre as quais pretendo escrever
nos próximos tempos.
Tendo isso em vista, podemos começar por afirmar que o feminismo não
é uma ideologia no sentido positivo – e a-crítico – de conjunto de ideias,
muito menos é uma ideologia no sentido negativo de “falsa consciência”
que serviria para acobertar a disputa de poder entre homens e mulheres,
quando buscar-se-ia uma supremacia de gênero – no caso o feminino
contra o masculino – e uma mera inversão de jogo no sistema da
dominação masculina. O feminismo não é uma inversão ideológica. Não
é uma inversão do poder. Uma inversão pressuporia sua manutenção.
Em outras palavras, o feminismo não é uma manutenção do poder
patriarcal com roupagem nova ou invertida que se alcança por uma
ideologia de puro oposicionismo.
Dialética negativa
Podemos dizer que o feminismo é uma teoria prática que surge das
condições concretas das relações humanas, enquanto essas relações são
baseadas em relações de linguagem que são relações de poder. Um poder
constituído com base no que se pode chamar de paradigma masculinista.
O feminismo é uma crítica concreta da sociedade que tem base em uma
ação teórica inicial e que é constitutiva da prática enquanto crítica da
dominação masculina. Feminista é alguém que pensa criticamente,
enquanto essa crítica se dá na direção de uma releitura do mundo que
tira os véus desse mesmo mundo organizado pela dominação masculina.
Mas a dominação masculina não é apenas atitude dos homens, embora
seja fácil para os homens, sujeitos concretos que autorizam a si mesmos
como agentes da dominação masculina. A dominação masculina é
estrutura de poder ao nível dos dispositivos do poder. Engana-se quem
pensa que o “machismo”, nome vulgar da dominação masculina, será
desmanchado apenas por meio de uma dominação feminina que seria,
aliás, um erro capaz de destruir o feminismo.
Pluralidade
Feminismo é, sob qualquer aspecto, um termo que se deve usar tendo
em vista seu caráter plural. A pluralidade do feminismo não se refere
apenas aos múltiplos coletivos, grupos e movimentos que se definem
como feministas ou aos diversos modos pelos quais pessoas se definem
como feministas. No caso do feminismo, não se trata de falar da
pluralidade das tendências apenas, mas de perceber que a pluralidade é
própria ao conceito de feminismo, enquanto a pluralidade implica a
singularidade que se relaciona com o seu outro.