Documente Academic
Documente Profesional
Documente Cultură
Tema 3 - O voluntário 20
Estágios Temáticos
Estágio 1 31
Estágio 2 36
Estágio 3 45
Estágio 4 48
Estágio 5 52
Estágio 6 62
Os Sete Princípios 68
As Sete Práticas 69
Administração 70
5
6
TEMA 1 - O CVV
CENTRO DE VALORIZAÇÃO DA VIDA
1 - Características da nossa sociedade
A própria sociedade, como um organismo vivo, desenvolve parte de sua energia e transforma
algumas dessas características e combate outras.
Diversos grupos têm se organizado com o objetivo de suprir as necessidades coletivas mais im-
portantes. São pessoas que se sensibilizam mais facilmente com os grandes problemas humanos
e tomam para si a tarefa de colaborar para amenizá-los. Delas surgiram diversos tipos de trabalhos
de ajuda, com consequências imediatas.
O simples fato de se saber que “algo está sendo feito” já produz sentimentos positivos no seio
da sociedade. As pessoas sentem-se mais seguras e confiantes, mesmo que não necessitem de
ajuda imediata.
Nenhum ser humano pode dizer que “jamais pensará em suicídio”. A nossa condição interior
e a maneira como dimensionamos os problemas pode ser também passaporte para a dor e o
sofrimento, de onde a morte parece ser, por vezes, a única saída. “Prevenção do suicídio” é uma
expressão de força, de impacto, para a ação silenciosa dos voluntários. Ela nos faz recordar de
7
imagens de policiais e enfermeiros procurando impedir uma tentativa de suicídio. Mas, se a ex-
pressão for usada no sentido da Medicina Preventiva, como ação preventiva do suicídio, então
estará descrevendo um dos aspectos mais importantes do trabalho.
O médico vacina as pessoas, visando desenvolver-lhes resistência contra as doenças. Nós va-
cinamos pessoas por meio da aceitação e da compreensão, para que elas desenvolvam força e
confiança em si mesmas e, dessa forma, adquiram resistência contra a doença do desespero.
4 - Histórico
A partir do momento em que um ser humano colocou-se em disponibilidade para ouvir com
compaixão o desabafo das angústias de outro ser, pode-se dizer que começou o trabalho de pre-
venção do suicídio.
No início do século XX, despontaram diversos serviços de apoio emocional em situações de
crise, todos oferecidos por voluntários. Primeiro, nos Estados Unidos da América, e, depois, em
Londres, ambos no ano de 1906; posteriormente, em Viena, 1948, e em Berlim, 1956.
Entretanto, foi a partir da II Guerra Mundial que, na Europa e nos EUA, começaram a se formar
grupos, profissionais ou voluntários, com a estrita finalidade de prevenir o suicídio. Pessoas que se
colocaram disponíveis para ajudar aqueles que sofrem a ponto de desejarem dar fim à própria vida.
De todas as entidades que foram se formando, uma delas mais se projetou. Trata-se de os
Samaritans, fundada em 1953 pelo Reverendo Chad Varah, psicoterapeuta e pastor da Igreja An-
glicana. Embora ganhando estrutura naquela ocasião, os Samaritans começaram muito antes,
em 1936. Naquele ano, o jovem Varah, recém-formado pela Igreja Anglicana, fora designado para
proceder ao ofício fúnebre de uma jovem de 14 anos que se suicidara. Após fazer a encomendação
do corpo, voltou para casa e escreveu para um pequeno jornal de Londres, dizendo-se disponível,
em sua própria casa, para “ouvir seriamente pessoas falarem de assuntos sérios”. A partir daquele
momento, o Reverendo Varah não mais descansou. Já no dia seguinte à publicação do artigo dele,
recebia a visita de uma pessoa do Continente, isto é, de alguém que atravessara o Canal da Man-
cha somente para abrir-se com o homem que se propunha a ouvir.
Atualmente, os Samaritans contam com mais de 200 postos na prevenção do suicídio em toda
a Inglaterra e Irlanda, reunindo cerca de 20 mil voluntários. Deste grupo teve origem o Befrienders
Worldwide, organização que congrega voluntários de 36 países, onde cerca de 370 postos estão
em atividade.
Os serviços de prevenção do suicídio constituem uma rede inserida em outras redes locais e
globais que oferecem múltiplas formas de suporte.
Podem ser classificados em três categorias, conforme suas características:
a) Humanitários: como “Samaritans”, da Inglaterra; “SOS Amitié”, da França; e o CVV, do Brasil.
Neste grupo, todos os trabalhadores são voluntários reunidos tão somente pelo desejo de servir,
não havendo entre eles discriminação de religião, cor, sexo, filiação política, etc. São entidades
não religiosas e apartidárias, de portas abertas para o atendimento gratuito a pessoa que procura
ajuda, sem discriminação de qualquer espécie;
b) Religiosos: como “Telefono Amico”, da Itália; a “Pastoral da Escuta” e o “Fala que eu te escu-
to”, aqui do Brasil. São mantidos e integrados pelos membros de uma ordem religiosa e também
são desenvolvidos gratuitamente;
c) Científicos: geralmente integrados por profissionais remunerados - médicos, psicólogos, ad-
vogados, etc. O “SPC – Suicide Prevention Center”, de Los Angeles, nos Estados Unidos, é um
8
deles. Seus profissionais têm contribuído muito para que possamos conhecer um pouco melhor o
suicídio e suas causas.
O CVV é um programa de prevenção do suicídio do tipo humanitário, isto é, integrado somente
por voluntários e que presta serviço gratuitamente. Até mesmo seus consultores, como médicos,
advogados e psicólogos, atuam voluntariamente.
O Centro de Valorização da Vida é uma Organização da Sociedade Civil sem finalidades lucrati-
vas, de caráter filantrópico, fundada em 1º de março de 1962 como Campanha de Valorização da
Vida, na cidade de São Paulo, por um grupo inicial de 14 voluntários. Foi registrado como Centro
de Valorização da Vida em 20 de fevereiro de 1965 e, em 20 de dezembro de 1973, reconhecido
como Entidade de Utilidade Pública Federal pelo Decreto nº 73.348.
a) Fase Embrionária
Em julho de 1961, o jovem Jacques André Conchon, então com 19 anos, é tomado de grande
emoção ao receber de um amigo, Milton Batista Jardim, um envelope de papel manilha, com a
informação de que vinha a pedido do “Comandante”.
O Comandante Edgard Armond foi o idealizador da Escola de Aprendizes do Evangelho, mi-
nistrada pela Federação Espírita do Estado de São Paulo. Ao abrir o envelope, viu um recorte de
jornal, com um bilhete manuscrito: “Para quem deseja servir, aqui está uma boa oportunidade”.
Em anexo, uma matéria sobre o trabalho de prevenção do suicídio realizado na Inglaterra pelo Re-
verendo Chad Varah.
Emergiram indagações reflexivas: “Se eles fazem lá, podemos fazer aqui?!... Se é possível pre-
venir lá, por que não seria aqui? É outra cultura, outro país, podemos adaptar...”.
Seguia o mês de agosto de 1961 a todo vapor no campo dos Estudos, Pesquisas e Estatísticas,
com o apoio e orientação do Dr. Ary Alex, médico do HC - Hospital das Clínicas. No final daquele
mês, ocorreu a apresentação do Esboço da Campanha de Prevenção do suicídio para o “Coman-
dante”.
No mês de setembro, depois de sedimentada a ideia de plantões, aconteceu a primeira Mobi-
lização de Voluntários, e surgiram 30 interessados, dentre esses Flávio Focássio. No mesmo mês
foi feita a visita ao Hospital das Clínicas, sob a supervisão do Dr. Pedro Augusto Martins, oportuni-
dade de grande impacto emocional, de reforço à determinação de servir à causa da prevenção do
suicídio e de contribuir de algum modo para minorar as estatísticas.
A certeza de que era preciso e possível fazer algo consolidou-se ao contato com as vítimas do
suicídio, em pleno “calvário de dor”, nos corredores do HC na área dos sobreviventes. Em outubro
seguiram-se os encontros para preparação do grupo. No primeiro, o conferencista faltou e im-
provisou-se. No segundo, um efeito desanimador. Após examinar ficha por ficha, o conferencista
presente balançou a cabeça negativamente no seu parecer: “Você está com um material humano
fraquíssimo”, disse ele, referindo-se aos candidatos ao voluntariado. De todo modo, o encontro
trouxe o beneficio da indicação do livro do psiquiatra Karl Menninger: “O Homem Contra Si Pró-
prio”.
No terceiro encontro, o palestrante convidado faltou, e houve uma evasão de mais de 50% dos
candidatos. O encontro seguinte compensou todos os anteriores quando a conferencista da noite,
a enfermeira Nancy Puhlmann Di Girolamo, afirmou: “A Campanha que hoje vocês iniciam, se, ao
longo de cem anos, tiver salvado uma vida, uma só, já estará justificada”. A reunião seguinte tam-
bém foi um incentivo eloquente, com o psiquiatra Wilson Ferreira de Mello: “Dentro de dez anos
9
vocês estarão entendendo de desespero e ansiedade mais do que eu”.
Novembro prosseguiu com a revisão sobre o nome da campanha, com os desenhos de Nelson
de Oliveira e a preparação para iniciar os plantões. Dezembro surgiu com um desafio que inicial-
mente pareceu um obstáculo e, mais tarde, compreendeu-se ser um exercício de aceitação e de
oportunas lições de determinação, perseverança e disciplina. Jacques foi recrutado para o Exérci-
to. Os jovens continuaram nos caminhos da perseverança no servir por entre os desafios da vida,
da escola, da faculdade, do trabalho, da sobrevivência, entre tantos outros. No mês de dezembro,
o grupo decidiu entrar em férias, para o “desespero de alguns”: “Como? Nem começamos e já
vamos entrar de férias?”
Uma pausa providencial, denominada de férias, após o conferencista daquele final de ano “jogar
um balde de água fria no grupo”, justamente ao falar de “Como dar de si – o que é doação afetiva”,
tema que entusiasmara os interessados em engajar-se. Questionamentos tais como: “Vocês es-
tão mexendo em casa de vespeiro”, “vocês estão invadindo a seara alheia”, entre outros, soaram
como desestímulos.
O mês de janeiro de 1962 foi marcado por intensa dedicação no Exército e no Trabalho. Em fe-
vereiro, ocorreu a definição do tema para a campanha: com a sugestão de Alice Monteiro, surgia
a “Campanha de Valorização da Vida”. Começava a convocação dos voluntários, a elaboração do
MGP – Mapa Geral de Plantão, a definição da estrutura, do local, da administração, etc. Foi dis-
tribuído o Rol Expressivo de Pensamentos Positivos, com frases tais como: “Amanhã será outro
dia”, “Após a tempestade vem a bonança”, etc, experiência que na prática durou poucos dias, pois
rapidamente o grupo percebeu a inadequação de usá-lo durante os atendimentos. No dia 1º de
março de 1962 aconteceu o primeiro plantão.
Nos primeiros quatro anos de atividades, o CVV atendeu em uma sala contígua ao consultório
do Dr. Wilson Ferreira de Mello. Local de grande movimento cuja sala de espera era partilhada,
quando necessário, com as pessoas que procuravam o CVV. Constatou-se um efeito negativo
nessas pessoas, desmotivando-as de retornar. Foi então realizada uma campanha financeira entre
familiares e amigos dos plantonistas, que resultou na compra da sede própria, em julho de 1968. A
linha telefônica, que na época era muito difícil de ser obtida, foi conseguida através de uma pessoa
vinculada ao trabalho.
A conquista da sede própria trouxe ao grupo a segurança para divulgar o serviço de prevenção
do suicídio, por sentir que estava então capacitado a atender adequadamente a um maior número
de pessoas. Inicialmente, o CVV buscou, além de contribuir para minorar o índice de suicídios,
oferecer uma ampla assistência aos que se encontravam em vias de cometê-lo. Focado no proble-
ma e no indivíduo, oferecia soluções e tinha por objetivo tanto dissuadir a pessoa da ideia suicida,
como também prepará-la para enfrentar os problemas futuros. O que durou pouco tempo, uma
vez que o CVV aprendeu com as próprias pessoas em sofrimento que elas buscavam outra coisa:
queriam falar e ser escutadas, sem interferências ou julgamentos.
Em 1970, o grupo passou a estabelecer os critérios para uma divulgação cuidadosa do CVV. Em
1971, começou a expandir a disponibilidade do atendimento, com a criação do Corujão (plantão
das 22 horas às 7 horas). Em dezembro 1974, estendeu o período de atendimento para 24 horas.
O Reverendo Chad Varah veio ao Brasil em maio de 1977, transmitindo ao grupo de voluntários
uma mensagem de confiança que desencadeou o processo de expansão do CVV. Ele retornou em
abril de 1979 para o 1º Encontro Nacional de Plantonistas, com a presença de 500 participantes.
b) Atualidade
10
apoio emocional oferecido por voluntários disponíveis para conversar com pessoas em estado de
angústia, sofrimento, e em necessidade de desabafar por telefone, e-mail, carta, virtual ou pesso-
almente.
Também está associado ao Befrienders Worldwide, entidade que congrega instituições de apoio
emocional e prevenção do suicídio em todo o mundo.
Presta, atualmente, os seguintes serviços:
1. CVV Posto, com postos nas principais capitais e cidades do país, com atendimento por te-
lefone 24 horas através do 188, além de oferecer apoio emocional por e-mail, carta e presencial.
Ainda promove e participa de ações comunitárias, palestras e eventos em prol da sociedade;
2. CVV Comunidade, com voluntários integrados aos postos CVV ou não, que prestam apoio a
grupos diversos da sociedade, tais como presidiários, associações de bairro, empresas, escolas,
faculdades, universidades e sobreviventes de suicídio por meio do GASS - Grupo de Apoio aos
Sobreviventes de Suicídio. Realiza palestras, sessões de Cine Ser, Cursos e o programa Caminho
da Renovação Contínua – CRC, cuja finalidade é divulgar e propagar a Proposta de Vida do CVV;
3. CVV WEB, com voluntários vinculados aos Postos CVV ou não. Realizam os apoios por chat
online, de seus computadores ou celulares pessoais, em sala virtual privativa do CVV;
4. CVV Virtual, com voluntários vinculados aos Postos CVV ou não. Realizam os apoios através
da chamada de Voz por IP de seus computadores ou celulares pessoais, em sala virtual privativa
do CVV.
7 - Os Postos CVV
11
da legislação em vigor referente ao território de abrangência, as regras, as normas, os princípios,
as práticas, os preceitos e as orientações do Programa CVV e de funcionamento da Rede CVV.
Ao grupo interessado serão fornecidas todas as informações sobre como constituir essa asso-
ciação, obrigações civis e legais, regimento interno, custos, hierarquia administrativa e organiza-
cional, e outras que forem necessárias.
Um traço fundamental do CVV é a atuação como grupo de amigos a serviço das pessoas, pois
somente dessa forma é possível alcançar resultados duradouros.
A Direção Centrada no Grupo é o modelo sobre o qual está baseada toda a vida organizativa
do CVV. As funções são executadas por membros diferentes, conforme as habilidades específicas
exigidas pelas diferentes situações, e sempre centradas no grupo ao qual pertence. O que significa
intrinsicamente estar centrado no Trabalho e no Serviço (ideal existencial que nos torna grupo e
rede).
O grupo interessado na constituição do Posto CVV deve observar as etapas descritas a seguir:
a) Informar ao Posto Coordenador Regional;
b) Fundar uma Associação Civil, a Mantenedora, sem fins lucrativos, para desempenhar a fun-
ção de Personalidade Jurídica do Posto e registrá-la no cartório local, juntamente com o Estatuto
da entidade e outros documentos necessários;
c) Providenciar local e infraestrutura necessária para funcionamento do Posto (exemplo: equipa-
mentos para o atendimento e conexão banda-larga);
d) Iniciar a divulgação para a realização de um Curso de Seleção de Voluntários;
e) Eleger a coordenação do Posto, responsável para estar em contato com a regional e tratar
das atividades diárias.
Dentro de cada Posto, os voluntários estão organizados em pequenos grupos, coordenado por
um entre eles, mais experiente, que esteja disponível para prestar apoio e esclarecimento sempre
que os voluntários necessitarem.
A equipe composta pelas Coordenações de Grupos constitui o Grupo Executivo daquele Posto,
que possui uma Coordenação Geral nomeada anualmente.
Os Postos estão agrupados em Regionais, para estimular o desenvolvimento de atividades vol-
tadas ao aperfeiçoamento constante dos voluntários.
As deliberações atinentes ao Programa CVV de Prevenção do Suicídio são da alçada do Grupo
Executivo Nacional, constituído pelas Coordenações Regionais de todo o País.
A reunião de todas as Coordenações de Postos do Brasil constitui o Conselho Nacional, órgão
soberano do CVV, que tem por objetivo desenvolver estudos e referendar as deliberações do Gru-
po Executivo Nacional.
12
a) Estrutura Administrativa do CVV
CVV
Programa de Prevenção do Suicídio
Conselho Nacional
GEN
Coordenações Regionais
Coordenação
Comissões Grupos
Geral do Posto
13
9 - O Programa de Seleção de Voluntários (PSV)
O curso - o PSV - é constituído de quatro temas (parte teórica), 8 a 11 estágios e a aula admi-
nistrativa, totalizando no mínimo 9 encontros e no máximo 12 encontros (parte prática). Ao concluir
o conjunto dos temas com aproveitamento, o candidato passa aos estágios. Nessa etapa, terá
oportunidade de adquirir familiaridade com as situações do cotidiano do CVV e dos atendimen-
tos, no caso de plantonistas, vivenciando o período institucionalmente nomeado de probatório.
Posteriormente à admissão, entre 90 e 120 dias, os candidatos ao voluntariado CVV participam
da aula de reforço, que finaliza o período probatório, e credencia oficialmente a pessoa enquanto
voluntária CVV.
O PSV engloba metodologias e métodos diferenciados relativos aos serviços oferecidos: Tele-
fone, Apoio pessoal, Chat, Virtual, E-mail e Comunidade. Há pontos específicos e diferenciados
entre os serviços (presencial, virtual e misto), bem como regras, normas administrativas, compro-
missos observados a cada modalidade, função a ser exercida e gestão interdependentes. Ora,
contudo, a essência do conteúdo - filosofia, princípios, práticas, preceitos, missão, visão, valores e
proposta de vida - é a mesma para todos os Serviços CVV, para todos os que desejam engajar-se
no Voluntariado e Rede CVV.
O detalhamento, etapas e fases do PSV podem e devem ser observados nas Apostilas e Manu-
ais específicos sobre o tema.
O PSV seleciona o potencial voluntário, mas o caminho formativo e de desenvolvimento se faz
através da experiência vivencial, da participação nas oportunidades de estudos, tais como: reuni-
ões, treinamentos, exercícios, leituras edificantes, encontros, cursos, seminários, reciclagens, etc.
Institucionalmente, o CVV se preocupa e cuida do desenvolvimento e fortalecimento do voluntá-
rio, no exercício do voluntariado e enquanto pessoa, através de inúmeras ofertas e possibilidades
para seu autoconhecimento, maturidade emocional e espiritual, com o trabalho, com o serviço e
com a vida, com oportunidades e com momentos de estudos, além da supervisão, do apoio e do
suporte dos mais experientes. É um processo cíclico, em que o engajamento e o compromisso
pessoal são diferenciais na jornada do tornar-se pessoa e grupo, e melhor servir.
I - O voluntário
É a pessoa com disponibilidade interior para acolher, ouvir, respeitar e compreender as pessoas
angustiadas que procuram o CVV.
Ela deve estar disposta a adquirir ou aperfeiçoar as seguintes características básicas:
a) Flexibilidade: capacidade de deixar o seu ponto de vista e se aproximar do outro com since-
ridade e honestidade;
b) Não sectarismo: não induzir para religião, política ou qualquer outro caminho;
c) Disponibilidade para superar as dificuldades pessoais: os seus preconceitos e medos para
aprender a estar junto com a pessoa;
d) Humildade para reconhecer sua limitação e esforço para se colocar à mesma altura daquele
que está se relacionando com ele;
e) Abertura para Supervisão e Aprimoramento Humano: abertura à opinião, suporte, supervisão
e orientação na prestação do serviço; confraternizar e treinar sempre para melhor ser e servir.
II - A infraestrutura
14
O local deve ser simples, acolhedor, sóbrio e silencioso, que se permita conversar sem dificul-
dade, garantindo sempre a privacidade e o sigilo.
O equipamento necessário e suficiente para que se realize uma ou mais das formas de apoio:
a) Telefone com recursos para acessar o PABX virtual 188;
b) E-mail;
c) Chat;
d) Virtual;
e) Presencial;
f) Carta;
g) Comunidade.
Todos os apoios são sigilosos e com respeito total à privacidade da pessoa. Esta é uma essên-
cia do CVV. Nenhuma informação é revelada a ninguém fora do CVV sem a permissão da pessoa
que procura ajuda. O voluntário, antes de começar a trabalhar no CVV, assume um compromisso
de seguir as regras do trabalho e manter sempre atitude de confidencialidade, tanto durante o seu
tempo de serviço, quanto depois de deixar o CVV. Todos os assuntos com imprensa, advogados,
polícia e outras agências são encaminhados à Coordenação ou ao Voluntário responsável pela
área de Comunicação e Administração do Programa em referência.
III - A divulgação
Necessária para que outras pessoas, em busca de apoio ou candidatas ao voluntariado, conhe-
çam o serviço do CVV e as oportunidades de trabalho voluntário.
15
TEMA 2
A PESSOA QUE PROCURA O CVV
1 - Motivações profundas
A pessoa que pensa em suicídio é uma pessoa solitária. Ela pode estar no meio de uma grande
multidão ou de uma grande família, mas sente-se só, isolada. Tentou comunicar-se com muita gen-
te, mas essa gente toda não a atendeu, não se dispôs a ouvi-la. Logo, o suicídio pode ser encarado
como um gesto de comunicação. O último gesto de comunicação de um indivíduo; gesto deses-
perado e violento, mas que, no fundo, comunica alguma coisa para alguém ou para a sociedade.
Embora, à primeira vista, se tenha a impressão de que o gesto suicida surge repentinamente,
isso nem sempre é correto. Às vezes, é necessário passar longo tempo de sofrimento, até que o
desejo de morrer supere o forte impulso para a vida que todo ser humano possui.
A amizade e o calor humano são o grande antídoto contra esse mal. É justamente esse traba-
lho que nós nos propomos no CVV: doar amizade incondicional aos que nos procuram para que
possam encontrar novas razões para continuar a viver. Agindo assim, estaremos combatendo as
causas mais profundas da atitude autodestrutiva.
a) Ambivalência
Ambivalência é a convivência, num mesmo indivíduo, de dois sentimentos em conflito. O estado
de ambivalência é um estado de sofrimento. No caso da pessoa que pensa em suicídio, por exem-
plo, ela vai aos poucos cultivando (até inconscientemente, às vezes) o desejo de autodestruição;
16
contudo, o instinto de conservação a prende à vida, gritando que quer continuar.
O CVV existe porque acredita que cada pessoa possui essa força de vida que permanentemente
a está impulsionando para uma condição melhor.
b) Busca de atenção
A “falta de tempo”, a pressa, a velocidade com que tudo se realiza hoje em dia contribui para
impedir as pessoas de darem atenção umas às outras. Mais acentuadamente a partir do desen-
volvimento dos meios de comunicação de massa, elas permanecem distantes, cada qual em um
refúgio, fechadas em si mesmas.
c) Desejo de vingança
Quando perdemos algum bem e conseguimos responsabilizar alguém pelo prejuízo que sofre-
mos, é comum surgir em nós um sentimento de revide, um desejo de impor ao outro o mesmo so-
frimento que estamos sentindo. Muitas vezes, entretanto, não conseguimos encontrar outra forma
de fazer o outro sofrer que não seja agredindo e destruindo a nós mesmos.
d) Desejo de fugir de uma situação desagradável
As pessoas que pensam em suicídio desejam fugir do sofrimento, mesmo que essa situação
represente “o nada” para elas. O “nada”, muitas vezes, é sentido como preferível ao intenso sofri-
mento. Isso se dá porque a luta contra o sofrimento, originado por questões mais profundas pelas
dificuldades cotidianas, é sempre tomada como cansativa, monótona, inoperante, interminável e
invencível.
e) Desejo de ir para um lugar melhor
As pessoas em geral buscam o melhor para si, embora, às vezes, possa parecer que elas dese-
jam o sofrimento. A força instintiva que existe dentro de todos nós impulsiona em busca de uma
vida melhor. Mesmo os que cometem suicídio o fazem com a intenção de procurar uma situação
melhor.
f) A procura de paz
Não são todos que conseguem encontrar a paz interior necessária à existência e a sobrevivên-
cia num mundo caracterizado pela competição e pela luta permanente “por um lugar ao sol”. A
morte pode ser vista, em certas circunstâncias, como uma forma de “encontrar paz”.
4 - Suicídios e tentativas
As pessoas que pensam em suicídio desejam uma vida melhor, querem escapar de sua angús-
tia, muitas vezes insuportável. Algumas são mais decididas e outras menos; algumas se utilizam
de métodos letais, como armas de fogo, e outras usam meios menos letais, como a ingestão de
medicamentos.
Ao voluntário do CVV não cabe analisar o quanto a pessoa desejava ou não se matar. A atitude
de quem deseja ajudar consiste em ouvi-la, procurando perceber e sentindo empaticamente suas
angústias. Se procurarmos qualquer explicação antes de ouvi-la, estaremos fazendo um prejulga-
mento. Quem deseja ajudar jamais deve julgar.
A pessoa que tentou uma vez, se não tiver apoio para revalorizar à vida, tentará outras vezes,
até que ocorra a última tentativa, fatal. Muitas vezes, uma tentativa frustrada pode ser um aviso de
suas intenções: a próxima pode não ser mais uma tentativa; pode tornar-se um suicídio.
A pessoa que se mata dá avisos antes de se matar. Avisos diretos ou indiretos, meio camuflados.
Por exemplo: a pessoa dizer que um dia vai se matar é uma forma de aviso; ou quando deixa de
praticar um hobby, sem adotar outro. Está provado que, de cada dez pessoas que se matam, oito
deixam avisos. Se compreendidos a tempo, as atitudes seriam diferentes e poderia ser ajudada.
17
5 - Mitos e fatos
Há uma série de mitos, ideias incorretas sobre o suicídio. O voluntário deve conhecer sobre o
suicídio, visto que o CVV pode atuar como um agente de esclarecimento junto à população, para
que ela passe a olhar a pessoa que pensa em suicídio de forma mais séria e clara.
Mitos Fatos
Quando várias pessoas de uma mesma família
se matam, isso não ocorre em razão da heredita-
riedade. Na verdade, aqueles que ficam sentem-se
culpados por considerarem que não fizeram nada;
não conseguem viver sem a Outra Pessoa e po-
dem repetir o gesto quando não encontram ajuda
O suicídio está no sangue, para superar esses sentimentos.
é hereditário Alguns fatores de riscos que contribuem com o
processo do suicídio são hereditários. Ora, contu-
do, existem pessoas que embora estejam presen-
tes os fatores de risco, não possuem a ideação e a
intencionalidade suicida. Daí a afirmativa de que é
um mito dizer que é algo determinadamente here-
ditário ao qual não haverá escapatória.
A pessoa que pensa em suicídio não se De cada 10 pessoas que se mataram ou tenta-
mata ram, 8 disseram que o fariam.
As pessoas que se matam dão sempre muitos
avisos. Acontece que os demais não acreditam,
O suicídio ocorre sempre sem aviso
não percebem ou não entendem esses avisos.
Geralmente são avisos indiretos.
Ao lado do desejo de fugir da vida existe sem-
A pessoa que se mata estava decidida
pre a poderosa força que impulsiona todos nós
a morrer
para ela. É o chamado instinto de conservação.
Qualquer pessoa pode, em certas circunstân-
Uma pessoa que já pensou em suicídio
cias, pensar em suicídio. Superada a fase, ela
será sempre uma candidata a ele
passara a se comportar como as demais pessoas.
O suicídio ocorre mais entre pessoas A proporção de suicídios é a mesma tanto entre
pobres (ou ricas) pobres quanto entre ricos.
Pode ser encontrado algum sintoma de sofri-
mento mental: depressão e dependência química
Os candidatos ao suicídio são todos principalmente, praticamente entre todos os que
doentes mentais pensam em suicídio. Esses sintomas, no entanto,
podem ser leves, moderados ou severos e todos
podem ser prevenidos e devidamente tratados.
18
6 - O que buscam as pessoas que procuram o CVV?
Pergunte a você mesmo: Se eu estivesse sofrendo muito ou até pensando em suicídio e procu-
rasse alguém:
19
TEMA 3
O VOLUNTÁRIO
1 – Introdução
20
a) Atitude de confiança na pessoa humana
As pessoas possuem uma força interior que as impele continuamente em busca de uma condi-
ção de vida melhor. As adversidades não são suficientes para fazê-las desistir de lutar pela vida,
muitas vezes remando na contra corrente.
A atitude de confiança na pessoa reflete a percepção e a compreensão das características hu-
manas e potenciais. Em essência, as pessoas:
• Tendem ao autodesenvolvimento, sendo, portanto, capazes de tomar decisões sobre si e so-
bre a vida delas;
• Não são necessariamente más em essência;
• Têm necessidades de socialização, autonomia, conservação e autorrealização;
• Quanto mais sentem supridas suas necessidades básicas e quanto mais favorável o ambiente
para o seu desenvolvimento, mais tendem a mover-se na direção da plenitude do seu ser, a desen-
volver suas potencialidades, vivenciar suas capacidades, o processo em pleno processo criativo;
• No processo evolutivo, tendem a mover-se do homem animal - ao homem material; e do ho-
mem material - ao homem em processo; e do homem em processo - ao homem espiritual, movido
e direcionado aos valores e práticas mais altruístas e humanitárias.
Sua tendência natural é procurar a proximidade dos outros; é de buscar amizade e calor huma-
no; é de desejar comunicar o que está em seu universo interior. Quando encontram obstáculos ou
impedimentos, essa tendência pode se obscurecer dando lugar à violência, ao egoísmo, à inveja
e outras atitudes defensivas. No CVV, preconizamos a oferta de um ambiente favorável ao desen-
volvimento humano.
Nossas atitudes repercutem no confiar na pessoa; facilitar o esforço que ela está fazendo para
se comunicar conosco; e reconhecer suas razões, seu sofrimento e o potencial para encontrar
soluções para si.
Respeitar o Outro é reconhecer que só ele reúne as melhores condições para saber e decidir
sobre o que mais lhe convém. Respeitamos o Outro quando reconhecemos sinceramente isto e
assim o tratamos como pessoa; consideramos seus sentimentos e ideias. Diante do seu relato ou
da expressão de suas limitações e dor, nossa atitude é de acolhimento sincero, e não de avaliação.
É importante observar que respeitar não é usar a própria medida para sentir a angústia do Outro,
é tentar usar a medida da própria pessoa.
c) Atitude de aceitação
Aceitar o Outro é admitir sua existência, é abrir as portas para ele, é perceber que “ele é assim”.
É olhar para ele, observar e examinar com ele as suas características, sem receio, sem precon-
ceito, sem julgamento. A atitude de aceitação é significativa, pois, se o Outro não se aceita, ao o
aceitarmos, ele poderá se sentir mais capaz de aceitar-se também.
É importante ainda esclarecer que aceitar é admitir a existência do comportamento de alguém,
de alguma coisa ou de uma dada situação. Assim, aceitar não é o mesmo que concordar ou apro-
var as atitudes do Outro. Significa considerar a pessoa em sua totalidade existencial - sentimento,
pensamento (intelecto, crenças, desejos, percepção, razão), sensação e intuição. A pessoa é um
conjunto, o somatório de todas as partes, forma um todo indivisível.
Atitude de aceitação no CVV significa considerar incondicionalmente a existência do Outro.
21
d) Atitude de compreensão
Compreender o Outro é ter a capacidade de perceber o que está ou não está expresso, relacio-
nado com suas atitudes, pensamentos, sensações, sentimentos e intuições. Significa percebê-lo a
partir do ponto de vista dele, colocar-se no lugar dele com seus valores, para perceber seu mundo
como possivelmente ele percebe. Quando se possui esta capacidade, se estabelece um estado
interno de compreensão empática do Outro.
Para compreender empaticamente alguém é fundamental que se compreenda o contexto, o
todo, o indivíduo e a pessoa (vivência emocional – o que foi dito – sentimento). O foco de nossa
atenção deve estar na própria pessoa, no que ela está relatando, nos sentimentos e nas vivências
que nos conta, o que é profundamente abrangente (envolve sentimento, pensamento, sensação e
intuição) e ainda soma o seu sistema de valores e experiências de vida - atitudes e comportamen-
tos. Resumindo, é diferente e vai muito além do querer entender racionalmente o problema.
3 - Observar a si próprio
Observar com a ideia de conhecer melhor como nós funcionamos: nossa maneira de pensar,
de sentir e agir, nossos preconceitos, nossa maneira de nos relacionarmos com os outros. Assim
poderemos conhecer um pouco, também os que nos procuram. Somos semelhantes em essência.
A interação de pessoa para pessoa, exige vigilância para observar e discernir o que vem de nós
e o que vem do outro, o que se passa internamente em nós, sensibilidade para separar interesses
pessoais, curiosidades, preconceitos e obstáculos que possam dificultar a abertura emocional e
disponibilidade para acolher e servir, durante o encontro com o outro.
a) Flexibilidade
Flexibilidade é a capacidade de deixar nosso ponto de vista e examinar o do Outro, com since-
ridade. A nossa falta de flexibilidade pode trazer obstáculos para aqueles que procuram o serviço.
A Relação de Ajuda não acontece quando existe uma postura com defesa de ideias. Captamos
melhor as emoções do outro, e discernimos das nossas, quando vigiamos e sabemos separar
nosso ponto de vista, e o momento em que esse não cabe, por exemplo, durante a Relação de
Ajuda. Para que o encontro aconteça é fundamental saber reconhecer e respeitar o foco, ou seja,
a pessoa que busca ajuda.
Sempre que emerge nosso sistema de valores, e esse passa a funcionar enquanto obstáculo à
aproximação, acolhimento, respeito, aceitação e compreensão empática do outro deve-se acionar
o observar a si próprio mais intensamente, e a vigilância para com as posturas de ameaças e defe-
sas ao outro. Momento em que o autoconhecimento, o apoio dos mais experientes, o treinamento,
estudo e partilha com o grupo são ainda mais essenciais.
b) Nivelamento
O que diferencia o voluntário da pessoa que busca e usa o serviço do CVV é o momento da
condição emocional, no qual uma pessoa está disposta a acolher, ouvir genuinamente, compre-
ender e ajudar, e a outra está necessitada de acolhimento, de poder desabafar, de compreensão
e de ajuda.
Nivelamento é a atitude de nos percebermos e colocarmos à altura do Outro. Quando nos ni-
velamos, percebemos mais e podemos acolher o Outro com abertura, respeito e compreensão.
O nivelamento é um comportamento indispensável para a aproximação entre as pessoas e que
22
permite a troca de calor humano. Precisamos vivenciar a compreensão que não somos melhores
nem piores do que o Outro.
c) Não Projeção
É aceitar que as pessoas podem perceber as coisas de maneira diversa de mim. Acreditar que
todos veem o mundo da mesma forma que eu vejo é um equívoco. É uma atitude que dificulta a
aproximação genuína entre as pessoas, e o nosso encontro - de pessoa para pessoa.
4 - Moderação
5 - Humildade
Humildade é uma atitude que ocorre quando reconhecemos que não sabemos tudo, que não
somos capazes de superar todas as dificuldades, que não temos soluções prontas para todos os
problemas humanos, que não temos respostas para todas as perguntas. É o reconhecimento de
nossas limitações. Facilita as relações, e as pessoas se sentem melhor diante de quem não se
considera perfeita.
A humildade do voluntário em relação ao CVV diz respeito à abertura e a disponibilidade para
o aprimoramento contínuo, para o trabalho em grupo, o compreender que as pessoas estão em
estágio evolutivo e de maturidade emocional e atitudinal diferentes para com a proposta de vida
preconizada pelo CVV, enquanto filosofia de vida que está em processo, assim como o grupo. Isso
não significa acomodação ou ficar fixo na inércia e, sim, a oportunidade e a possibilidade para que
pratique na relação e na convivência com o grupo o estado de alerta e de prontidão para com o es-
pirito samaritano, além da observação e do respeito às normas coletivas, traço marcante daquele
que deseja construir sem se destacar individualmente.
A vida no CVV esta baseada em combinados, normas, recomendações, confiança e qualidade
nos relacionamentos e interação entre e com as pessoas. A compreensão da necessidade de res-
peitar essas premissas pode refletir entre outros, a humildade do voluntário, em sua relação com a
instituição e com o grupo. É um trabalho interno que só cabe a ele e que facilita a sua permanência
no trabalho.
6 - Disponibilidade
Considerando esta característica necessária ao trabalho, serviço e voluntários, tem como as-
pectos principais:
23
a) Disponibilidade de tempo:
Todos precisam reservar parte de seu tempo para os plantões, reuniões, grupos de estudos,
campanhas de arrecadação de fundos, etc. Parte desta disponibilidade é condição obrigatória,
mínima, imprescindível. E a outra fica por conta de cada um.
Ocorre quando estamos decididos e nos empenhamos através da observação a conhecer nós
mesmos. É olhar pra si, o que torna possível reconhecer o Outro.
O autoconhecimento possibilita reconhecer e aceitar o que requer transformação em nós, e
então mudar como pessoa.
A disponibilidade para o autoconhecimento ajuda no estado de prontidão durante o plantão,
frente à ausência do encontro de pessoa para pessoa. Numa espera produtiva, ao não estarmos
numa Relação de Ajuda durante o plantão, permanecemos vigilantes, disponíveis a nós mesmos e
à sociedade. Disponíveis no observar nosso mundo interior, numa leitura edificante, no meditar e
no refletir, alertas ao possível chamado de ajuda, prontos para caminhar com o Outro. É o mesmo
processo que ocorre com o bombeiro e o atendente do pronto-socorro, que permanecem disponí-
veis, embora nem sempre efetuando o serviço de socorro.
A Relação de Ajuda no CVV preconiza um jeito de ser, e não uma técnica. É um trabalho humani-
tário, que permanece em contínuo processo de transformação, por meio da vivência no campo da
experiência e da interação com as pessoas que procuram e usam os serviços, com a interação e a
colaboração intrínseca dos voluntários, que recebem a proposta ao engajarem-se nesta atividade
enquanto filosofia de vida.
Nos primeiros anos de existência, durante a década de 60, o CVV buscou interferir e impor so-
luções na vida das pessoas que buscavam ajuda.
Destacamos alguns pontos relevantes no marco histórico do CVV, âncoras e águas divisó-
rias na experimentação de si, diante as fases dos atendimentos, a saber:
a) Primeira Fase (1962) - “Eliminada a causa, o efeito cessa”
b) Segunda Fase (1962 - 1965) - “Iluminar os caminhos”
• (1963) - Compreensão dos fatores de risco “transtornos mentais e dependências químicas”
para com o suicídio;
• (1963 - 1965) - Idealização do Hospital Francisca Julia. Fase embrionária. Doação do Terreno
para construção do Hospital;
• (1968) Pedra Fundamental do Hospital.
c) Terceira Fase (1965 - 1975) “Ensinar a pescar”
• (1966) - Após o primeiro contato, todos os “casos” eram submetidos a uma rigorosa observa-
ção durante 90 dias;
• (1966) - Os plantonistas aprovados eram obrigados a fazer estágios de aperfeiçoamento em
hospitais, ambulatórios, sanatórios, etc;
• (1968) - Sede própria e consolidação da experiência do CVV. Fundado há mais de 6 anos, fun-
cionava em caráter experimental;
• (1974) - Cursos de Aperfeiçoamento contendo informações de outros serviços de prevenção
do suicídio pelo mundo: SPC - Suicide Prevention Center, de Los Angeles, e os Samaritans, da
Inglaterra.
d) Quarta Fase (1975) - “A pessoa como Centro”
• A mescla não diretiva: em nossas entrevistas, dentro da diretividade à qual estávamos acos-
tumados, começavam a surgir colocações não diretivas tentando clarificar os sentimentos e as
emoções;
• Implantação do Treinamento de Papéis, que trouxe um processo de constante aperfeiçoamen-
to para os voluntários.
e) Quinta Fase (1979) - Método não diretivo para um Jeito natural de Ser
• “O método não diretivo deixa de ser método e passa a ser comportamento. Os voluntários es-
tão mais descontraídos, as palavras mais soltas, mas ainda existe contraste entre a conversa que
mantemos em nossas salas de atendimento e o bate-papo da rua” ;
• Plano de Trabalho: buscar assimilar a filosofia do CVV, Proposta de Vida, Princípios, Práticas,
25
Valores e Postura de Vida;
• (1983) Finalização do estudo do livro Tornar-se Pessoa (Carl Rogers), e implantação do concei-
to e do exercício de Vida Plena nos encontros, atividades e postos.
A Relação de Ajuda no CVV é a doação de apoio de uma pessoa para outra que está em um
momento de crise ou solidão. Propõe-se, e não se impõe.
A principal atitude na Relação de Ajuda praticada no CVV é a disposição de tratar aos que nos
procuram com respeito, compreensão, aceitação, confiando em sua capacidade e potencialidade
individual, sem críticas ou conselhos.
A disponibilidade que oferecemos, seja por telefone, carta, e-mail, chat, virtual ou pessoalmen-
te, zela pelo anonimato e confidencialidade. O sigilo reduz a ameaça e facilita o contato das pes-
soas conosco.
As pessoas que nos procuram geralmente estão vulneráveis à rejeição. A voz do voluntário e
suas atitudes devem emanar sentimentos de amor para que a pessoa se sinta confiante para falar.
A Relação de Ajuda é oferecida à pessoa que nos procura e está voltada às necessidades dela,
e não do voluntário. Também não é um relacionamento social - o voluntário não expõe a intimidade
dele informando dados pessoais como sobrenome, endereço ou telefone, nem procura obter os
da Outra Pessoa. O voluntário não deve esperar nada em troca. O Outro não tem obrigações, nem
laços de apego, não precisa contribuir com nada nem ter ou mostrar gratidão.
Na Relação de Ajuda, a pessoa decide, é livre para rejeitar ajuda, tomar decisões ou afastar-se a
qualquer momento, com a certeza de não ser procurada. Oferece-se à Outra Pessoa, simplesmen-
te apoio, sem exigências, ameaças ou interferências na vida dela, para que continue livre e tome
as próprias decisões ou recuse ajuda, interrompa o contato, ou mesmo tire a própria vida.
A Relação de Ajuda não é aconselhamento, nem um substituto para a psicoterapia, ou trata-
mento de saúde ou ajuda especializada. Não utiliza nenhuma técnica de persuasão, crença ou
doutrina religiosa. Não é imposta, nem interfere. Não age em benefício da pessoa com objetivo de
obter bons resultados sem o consentimento dela.
Ao compreender e aceitar a proposta de vida do CVV, o voluntário passa a vivenciar os fun-
damentos práticos da Relação de Ajuda, de diversas formas, através das oportunidades para o
Trabalho Voluntário. Reconhece tratar-se de um jeito de ser, e não de uma técnica, uma filosofia
de vida que preconiza viver para além das esferas do pronto-socorro emocional e da prevenção
do suicídio, independente da função escolhida e exercida (Plantonista, Apoio ou Especialista).
Passa-se a vivenciar os fundamentos práticos em qualquer ambiente, e para além dos canais
institucionais de ajuda e interação com o serviço. Aprende-se a oportunizar o encontro de pessoa
para pessoa nas relações e interações humanas, por sua existência e dignidade, que transcende
títulos, honrarias, cargos, papeis e conta bancaria, o que passa a fluir de modo tão natural quando
respirar, do ser humano em processo ao ser humano espiritual.
a) Ouvir ativamente
Ouvir não é uma atitude passiva na qual nada se faz, é uma atitude ativa e participativa. Ouvir
atenciosa e profundamente é o primeiro passo para nos aproximarmos da Outra Pessoa e per-
cebermos seu mundo interno e, assim, podermos responder-lhe da maneira mais transparente e
26
próxima. Requer interesse genuíno e atenção respeitosa.
Quando encontramos alguém que nos ouve com atenção, mesmo por pouco tempo, e podemos
dizer e expressar o que se passa em nosso interior, as ideias se organizam, ficam mais claras, o
potencial criativo se manifesta e novas possibilidades tornam-se visíveis.
Ouvir é essencial à compreensão do outro.
- Observar o que vem de nós mesmos
Algumas atitudes e posturas defensivas que partem de nós podem trazer dificuldades para o
bom desenvolvimento da Relação de Ajuda: nosso humor, indisposição, cansaço, as sensações
ou preconceitos expressos, o tom de voz, a fala ou gestos agressivos. É preciso que estejamos
atentos para lembrar a importância de oferecer nossa disponibilidade, para que tal comportamento
não afaste o outro.
- Ouvir o que é dito e observar o que não é dito
• Os silêncios: o que o outro não diz;
• O tom da voz: calmo, irritado, nervoso;
• A altura da voz: alto, baixo, moderado;
• A postura: rigidez, descontração, concentração;
• A mímica: sorriso, choro, contrações, colorido da face;
• Na escrita: o ritmo, os símbolos utilizados.
- Observar as incoerências
Elas geralmente revelam as dificuldades que o Outro está encontrando para comunicar suas
ideias e sentimentos. Às vezes, a Outra Pessoa faz a troca da terceira pessoa pela primeira (Ele x
Eu). Paciência e calma ajudam a perceber e são úteis para dar tempo ao Outro de adquirir confian-
ça em nós.
- Respeitar os silêncios
Respeitar sempre os silêncios quando ocorrem, sem analisar, nem interpretar. Podem ocorrer:
• No início da Relação de Ajuda;
• Após uma situação confusa;
• Após um desabafo;
• Preparação para tocar num assunto muito difícil;
• Necessário para organização das ideais e sentimentos.
Como voluntário, para nada vai levar qualquer tipo de interpretação para consumar a Relação
de Ajuda. O que vale é a sensibilidade para reconhecer a presença de silêncio fecundo (tempo,
espaço, reflexão, digestão, maturação), o que pede respeito ao tempo do outro, de modo a facilitar
o clima de confiança para conversar e se abrir. Já o silêncio estéril (sem jeito, sem assunto, sem
graça ou coragem para se abrir) repercute em ausência e distanciamento, em falta de comunica-
ção e de diálogo. Sem diálogo, não há Relação de Ajuda.
b) Compreender
As atitudes das pessoas têm sempre uma causa, embora, nem sempre sejam claras ou identifi-
cáveis. Às vezes, as causas dos comportamentos são inconscientes. Certos comportamentos so-
cialmente desajustados, geralmente não se mostram isolados, e, sim, envoltos num emaranhado
de lembranças, recalques, ideias fixas, ambivalências, etc.
Isto esclarece a necessidade de olhar além das causas aparentes e secundárias, em busca das
causas reais, nem sempre evidentes. Vale lembrar-se dos cuidados a tomar em relação a conceitos
apressados de acharmos que já sabemos tudo sobre a Outra Pessoa.
27
De nada adianta ouvir, compreender e não comunicar. É importante que a Outra Pessoa perceba
que a estamos compreendendo, aceitando, respeitando e confiando na capacidade dela, o que
pode ser expresso através de respostas compreensivas, tais como:
• Pelo telefone e virtual - pelo ritmo e pelo tom da nossa voz, pela atenção ao que o outro co-
munica, pelo interesse no que ele diz;
• Pessoalmente - além dos recursos acima, acolhendo-o bem, aproximando-nos dele, apertan-
do-lhe a mão calorosamente, sorrindo-lhe ou olhando nos olhos dele ou oferecendo um lenço;
• Por chat, e-mail e carta - pela prontidão da resposta, a seleção das palavras e o teor da men-
sagem.
4 - Medidas objetivas
a) O local
O ambiente acolhedor e seguro contribui para a pessoa sentir-se melhor. Devemos tomar os
seguintes cuidados:
Privacidade:
• Pelo telefone, virtual, chat, e-mail e carta - espaço silencioso, sem interferência de terceiros e
que possibilite concentração e dedicação plena ao atendimento;
• Pessoalmente - a pessoa deve ficar reservada à observação ou curiosidade de vizinhos quan-
do procurar o Posto. Um alpendre, uma varanda, uma entrada discreta, ausência de grandes le-
treiros, um espaço seguro que a pessoa não se sinta exposta enquanto aguarda para ser recebida.
Conforto:
• A sala em si deve ser um local acolhedor e agradável, limpo e preferencialmente com cores
claras.
Funcionalidade:
• O local deve ter os móveis necessários, simples e sem ostentação, com poucos e discretos
objetos decorativos.
Silêncio:
• Deve ser um local onde se possa conversar sem dificuldade, em tom normal e sem interrup-
ções.
b) Tempo
Embora bastante variável, o tempo necessário para uma Relação de Ajuda é em torno de 50 a
60 minutos.
As primeiras conversas, em geral, são mais demoradas. Algumas vezes, o voluntário toma a
iniciativa de limitar o tempo. É quase sempre a Outra Pessoa quem decide o quanto tempo lhe é
necessário.
c) Sigilo
Conduta dos atendimentos
• Em decorrência de respeito à pessoa, o conteúdo da conversa não deve ser comentado com
outras pessoas. É incorreto quebrar a confiança depositada na condição de sigilo, por uma pes-
soa, mormente quando procura ajuda;
• Muitas vezes é útil informar que o sigilo é uma norma de conduta para o voluntário;
• É compromisso do voluntário o respeito ao sigilo e à confidencialidade das pessoas que usam
o serviço do CVV, antes, durante e após sua permanência no voluntariado.
Conduta ética individual e institucional
• O fato de uma pessoa ter procurado o apoio oferecido pelo CVV, bem como tudo o que tenha
dito e possa identificá-la, é confidencial e sigiloso, permanecendo restrito ao próprio voluntário
e, excepcionalmente, à coordenação, quando estiverem em risco os princípios e a segurança do
28
trabalho ou de qualquer pessoa;
• Para efeito de estudos, desenvolvimento do voluntário e do grupo, utilizamos situações temá-
ticas nos treinamentos de papéis e vivências. Deve-se, no entanto, suprimir detalhes do indivíduo
que possam identificar a pessoa em si. Treinamos as situações, que são temas para rodas de diá-
logos, estudo, exercício de vida plena, o que é diferente de tornar a pessoa nosso assunto.
5 - Lembretes úteis
Para facilitar o treinamento do diálogo centrado na pessoa, utilizaremos o esquema abaixo, que
foi batizado de “Triângulo das Bermudas”.
Quando se inicia a conversa, a Outra Pessoa em geral encontra-se mais interessada em des-
crever os fatos acontecidos ou os problemas pelos quais está passando. Ela tem a liberdade de
abordar livremente o PROBLEMA, o INDIVÍDUO e a PESSOA (o que representamos pelas setas
tracejadas). O voluntário, porém, só deve navegar no sentido das setas cheias, isto é, centralizan-
do sempre o assunto na pessoa.
A PESSOA é seu ser, um todo, com sentimentos, sensações, pensamentos, intuições, emoções,
atitudes e ações.
O INDIVÍDUO é como ele aparece a seus próprios olhos ou aos olhos dos outros. Sua aparência
e qualificativos: idade, altura, profissão, condição social, endereço, CPF, carro, filhos, etc.
O PROBLEMA é a circunstância em que a pessoa está inserida, pela qual passa em determina-
do momento. Está sem emprego, ficou viúva, ganhou na loteria, seu time perdeu o jogo, etc.
PESSOA
(pensamentos,
sentimentos
e ações)
INDIVÍDUO
(nome, endereço, PROBLEMAS
profissão...) (fatos)
31
3 - Ciclo da vida
SENTIMENTOS
PENSAMENTOS AÇÕES
“Respostas compreensivas” são aquelas que refletem nossa compreensão da pessoa e das
vivências dela. Isto ocorre quando conseguimos nos colocar no lugar dela. Transcende o aspecto
verbal. Para além da comunicação verbal daquilo que compreendemos, refletem nossa atitude de
disposição em compartilhar com a Outra Pessoa os seus sentimentos e vivências.
Quando estamos defensivos, as respostas estão voltadas para o INDIVÍDUO e o PROBLEMA no
Triângulo das Bermudas, emergem as “Respostas defensivas” na forma de conselhos, julgamen-
tos, orientações, simples curiosidade, apoio superficial, etc. São decorrentes do nosso receio de
compartilhar verdadeiramente com a Outra Pessoa o sofrimento dela.
Há um tipo aceitável de resposta defensiva: quando é necessário esclarecer a extensão e limites
do apoio que podemos oferecer no CVV, conforme estabelecem nossos Princípios e Práticas.
32
Semáforo
is - Medo
P essoa s-
es Me
ad lin
uld dr
ic e
if
D binados. P
com PP
-
,
as ...
al
m
tu
or
lec
n
nte
s,
E
ite
RD
Desonestidade I
lim
e s a s - Va i d a d e
RDA:
Vivência
Emocional
da Pessoa
V
CV
RC
D ef
do
o-
ho
a l
tr ab Eg
Pr
...
e Pr o
in cipio s d
-
ec
er
nc d
o
ei
to Po
s- -
o
Po
li t i c a al is m
ge m - Pe rs on
33
5 - Vida plena
Viver plenamente é aprender a vivenciar as três fases do ciclo da vida com fluidez, isto é, sentin-
do, pensando e agindo com atenção e estando presente. Nestes momentos, percebemos o outro
e a nós mesmos. Conseguimos no estado de presença, dividir nossa atenção olhando os dois fo-
cos ao mesmo tempo - “o outro e a nós” - com integridade. É quando “caem as fichas”. Não é um
estado fixo ou congelado, e, sim, um processo, um encontro com nosso interior. Assim, podemos
identificar os estados defensivos ou os confiantes, parcialmente ou em sua totalidade, quanto mais
nos abrirmos para a vivência da experiência em plena experiência.
Nossas defesas nos afastam da vida e das pessoas, dificultando toda a relação. Nossos esta-
dos de confiança nos aproximam delas, facilitando as trocas de vivências, impressões e sentimen-
tos. Vida plena é um processo, não um estado. É uma direção, não um destino.
O exercício de Vida Plena ajuda a identificar nossos diversos estados interiores e exteriores, pro-
porcionando-nos um pouco mais de consciência de nós mesmos naquele momento, o que poderá
ser lembrado. O clima de confiança, o entendimento do que é o exercício, a disponibilidade interna
dos participantes e a liberdade para se expressar ou não são essenciais para que se alcancem
os objetivos. O autoconhecimento aumenta nossa disponibilidade para o trabalho e para a Outra
Pessoa.
6 - Treinamento de papéis
a) Objetivo
O treinamento de papéis é um método de aperfeiçoamento do voluntário. É uma vivência emo-
cional, não teatral.
b) Fase de aquecimento
A fase de aquecimento é uma atividade preliminar que visa promover a integração entre os par-
ticipantes e prepará-los para a vivência do papel a ser representado. No CVV, usamos dinâmicas
de grupo, curtas. Uma delas pode ser o Treinamento de Papéis simplificado, em que o facilitador
ou uma pessoa indicada expressa um estado emocional através da verbalização, expressão facial
ou corporal. Um por um dos participantes deverão traduzir sua compreensão da vivência apresen-
tada, se possível com uma palavra apenas. Com esta participação geral, o grupo se descontrai e
se motiva para o treinamento de papéis.
Outra possibilidade é o aquecimento múltiplo. Cada pessoa presente expressa uma vivência
emocional através da verbalização, expressão facial ou corporal, para a pessoa ao seu lado (de-
fine-se direita ou esquerda). Em seguida, a pessoa ao lado traduz sua compreensão da vivência
apresentada, se possível com uma palavra. O grupo poderá ajudar.
c) Fase do treinamento de papéis
Nesta fase, o facilitador deixa em aberto a oportunidade de um dos voluntários viver o papel da
pessoa que procura o CVV e cuja representação poderá se basear:
• Na vivência de alguém que passou por uma Relação de Ajuda no CVV. Neste caso, devem
ser respeitados o sigilo e a privacidade da pessoa. É uma vivência emocional do papel, e não uma
simples repetição da história;
• Na própria vivência, de um problema real que o voluntário esteja passando;
• Na vivência de uma situação hipotética criada pelo voluntário, que necessita ser treinada.
As três possibilidades são importantes. O voluntário pode viver o papel de uma pessoa ou revi-
ver seu papel baseado numa situação real ou imaginária.
Vale considerar que ao viver a personalidade de uma pessoa apoiada, o voluntário não deve
34
aferir seu desempenho real no plantão.
Escolhido o voluntário que vivenciará o papel da pessoa que procura o CVV, este assume sua
posição, informando se o diálogo é pessoal, por telefone ou outro meio. Para preservar o sigilo,
ele não deve falar que a representação baseou-se em atendimento, nem no início, nem no fim da
apresentação. O ambiente deve ser sereno e livre de barulhos e perturbações exteriores.
Em seguida, apresenta-se quem vai viver o papel do voluntário do CVV durante o treinamento.
Antes de iniciar a representação de papéis, o “outro” anuncia seu sexo e sua idade aproximada.
A Relação de Ajuda se inicia, prosseguindo naturalmente com a participação dos dois. Assim
que o facilitador perceber que já foram alcançados alguns aspectos importantes, com respostas
compreensivas, de aceitação, respeito, etc., pode dar o treinamento por encerrado e passar às
observações com o grupo.
Inicia-se, sempre, pela pessoa que experimentou o papel de voluntário; em seguida, passa-se
ao voluntário que vivenciou o papel da pessoa que procura o CVV; e, finalmente, abre-se a palavra
para o grupo, para comentários, se necessário (muitas vezes dispensáveis). O tempo será mais
bem utilizado se os comentários forem substituídos por uma sequência de representações feitas
pelos diversos voluntários enfocando um paralelo da situação.
Ao final, o grupo faz uma apreciação sobre as respostas compreensivas e não compreensivas
que surgiram no treinamento. É útil, pois ajuda a organizar a experiência vivida.
Uma coisa comum durante os treinamentos, e que em tese sinaliza a necessidade de mais trei-
namento e apoio ao voluntário e ao grupo, é o querer representar em todos os detalhes exatamente
o experimentado durante uma Relação de Ajuda, buscando uma aprovação e identificação (saber
se fez o correto). Assim, ao invés de fluir com as respostas que emergem no treinamento, o volun-
tário que vivencia o papel da pessoa que procura o CVV fica preso a uma tentativa de reproduzir o
que ele vivenciou anteriormente, e não vivencia o treinamento no aqui e agora. É importante, nesse
caso, a sensibilidade do facilitador e do grupo, para acolher o voluntário e ajudá-lo na percepção
de si mesmo, de suas inseguranças e ansiedades, compreendendo-o sem censuras ou avaliações.
ESTÁGIO 2
1 - Principais tipos de abordagens telefônicas
b) Superficiais
São contatos desprovidos de conteúdo emocional, e podem também ser de dois tipos:
• Bate-papo usual – Entra em contato para passar o tempo ou aliviar a solidão. Caso a pessoa
insista em manter esse tipo de diálogo, devemos procurar abreviar o contato.
Há outros serviços que se destinam a facilitar o contato entre pessoas solitárias por telefone,
pela Internet, ou pessoalmente. O tempo do plantão é destinado prioritariamente ao pronto-socor-
ro emocional e à prevenção do suicídio. Nos demais tipos de abordagem, cuja intencionalidade é
encontrar a prestação de outro tipo de serviço, compete acolher, compreender, respeitar, conside-
rar e abreviar o contato (limites do serviço e objetividade), através da comunicação compreensiva.
Os postos devem dispor de uma relação dos serviços a serem indicados nessa eventualidade.
• Diálogo, inicialmente superficial, que evolui para apoio. A Outra Pessoa que conhecer um
pouco mais do trabalho, ou ganhar tempo enquanto não adquire confiança para expor os motivos
reais de nos ter procurado.
São contatos de pessoas que estão preocupadas com alguém que conhecem e que precisam
da nossa ajuda. A pessoa que chama pode ser um amigo, parente, vizinho, empregador, cônjuge,
etc. Também pode ser a própria pessoa interessada, mas estar com receio de se expor e não dizer
logo. Em quaisquer situações, ajudar é papel do voluntário e consiste em dar à pessoa oportu-
36
nidade de falar o quanto ela queira. Ela pode estar se sentindo sozinha, inadequada, indignada,
confusa, etc. E, embora tenha procurado o CVV por causa de Outra Pessoa, ela própria também
estará precisando de apoio.
O papel de voluntário:
• Ouvir genuinamente é útil. De algum modo, o voluntário tem preparo para conversar e estar
com a pessoa, por causa de seu treinamento e experiência em lidar com aqueles que sofrem e que,
por isso, podem estar pensando em suicídio. Participar um pouco das experiências da pessoa,
considerar que ela é o foco do diálogo de ajuda, acolher suas inseguranças, ansiedades, preocu-
pações e comunicar compreensão sobre aquilo que ela está a compartilhar é fundamental. Por
vezes, ela pode estar buscando aprovação. Quer certificar-se de estar fazendo a coisa certa, pode
estar sentindo que tem feito pouco e precisa ser feito mais.
As atitudes facilitadoras - “empatia, aceitação, respeito e confiança - ao comunicar compreen-
são” ajudam a clarificar a utilidade ao estar próxima, ao ouvir e fazer saber que se importa com a
pessoa em si. Podem também contribuir com a diminuição da pressão e da autocobrança. Nestas
situações, temos a vantagem de “partilharmos o peso” com nosso grupo, enquanto quem chama
pode estar vivendo tudo sozinha.
• É preciso prestar atenção aos indícios de que a pessoa que nos procura possa realmente ser
a pessoa interessada. Não precisa esclarecer a situação. Quando ela sentir confiança, ela mesma
poderá fazê-lo.
• Devemos deixar que a pessoa tome as providências que achar necessárias. Embora, normal-
mente, o voluntário não possa chamar uma ambulância, avisar um médico ou psiquiatra, chamar
parentes, a polícia, ou tomar qualquer outra iniciativa prática sem a permissão da pessoa direta-
mente interessada, o outro é livre para executar qualquer ação que considere necessária.
• É preciso respeitar esta capacidade. Tirar esta liberdade é considerá-lo incapaz.
• É útil informar que pode dar ao amigo o contato do CVV e encorajá-lo a nos procurar.
• Se a pessoa pensa que seu amigo jamais procuraria o CVV, e que seria mais seguro se nós,
voluntários, entrássemos em contato, então é preciso dizer-lhe que é sempre melhor quando a
própria pessoa toma a iniciativa e entra em contato conosco. Podemos lembrar-lhe o inconve-
niente e o risco de deixá-la embaraçada, ou ainda que nosso contato possa ser visto como uma
intromissão e, assim, dificultar a possibilidade de que ela sinta interesse e necessidade de entrar
em contato com CVV.
• Proponha à pessoa continuar seu contato conosco e informar como está seu amigo. Indepen-
dente de ele nos procurar, ela pode contar com nossa presença.
d) Encaminhando alguém
e) Reticenciosas
São os diálogos intercalados por longos espaços e silêncios. A pessoa se mostra profundamen-
te tensa e com dificuldades de expor-se. A disponibilidade do voluntário se desdobra quando ele
se esforça em sintonizar-se com o tempo de comunicação da pessoa.
f) Diretas ao assunto
Quando alguém em contato com o CVV e expressa “Vou me matar”, entrar em pânico atrapalha.
É comum sentir tensão numa situação como esta. Respirar lenta e profundamente ajuda bastante.
Pode-se transmitir calma ao se expressar mais lentamente, diferente de como se expressa normal-
mente. Ao expressar-se de maneira aflita, o interlocutor pode se sentir inseguro para falar de sua
intimidade, dificulta esta relação delicada em que a confiança é um diferencial.
Expressões como: “Gostaria de ajudar, se puder...”, ou “Você não está suportando a situação
em que vive...”, ou “Está difícil continuar vivendo neste momento...”, ajudam a aproximação do
outro. O ouvir atentamente e compreensivamente é o esforço a fazer.
Isto evitará sua identificação com este primeiro problema apresentado. O que é essencial para
manter a centralidade e propiciar o acolhimento e clima favorável à Relação de Ajuda centrada na
pessoa.
Uma pessoa em crise geralmente pensa que alguma providência deve ser tomada imediatamen-
te. Não se deixe dominar pelo pânico dela. Leve algum tempo para descobrir qual é a situação,
converse com ela para que possa expressar os sentimentos e, assim, ver sua vida e suas possibi-
lidades:
- “Você pode fazê-lo se as coisas continuarem intoleráveis, e, agora, estou aqui com você. Pode
me falar sobre o que está causando tanto sofrimento”.
Para a pessoa em crise, o fato de sentir que pode contar com alguém, pode ajudar a passar o
tempo. O suicídio é um processo lento, mas o ato em si acontece num momento de impulso. Se
nesse momento a pessoa pode contar realmente com alguém, isso pode fazer a diferença.
Algumas pessoas não dizem claramente que estão pensando em suicídio. Elas podem mencio-
nar uma série de perdas: descrever sintomas de depressão, chorar, suspirar, ou dizer coisas como:
“Não vejo saída; não posso continuar; estou no fim da linha”.
A busca de ajuda no CVV pode indicar que a pessoa não está totalmente segura que sua morte
seja a única alternativa. Na crise suicida é comum ocorrer o estado de ambivalência em que os
opostos têm o mesmo valor:
Expressões como: “Quero me matar, mas não estar morto — não para sempre.” Isto pode sig-
nificar a busca de algum modo de sair desta situação angustiante.
Após o desabafo sem ser interrompida, sem ser julgada, criticada ou rejeitada, sem ser acon-
38
selhada, a tensão da pessoa cai, o desespero se alivia e os sentimentos suicidas passam a ser
desconsiderados momentaneamente.
A primeira coisa de que ela precisa é alguém que a ouça e se importe com ela; alguém que a
leve a sério e escute o que tem a dizer. Quase toda pessoa pode ser ajudada a superar quase todo
tipo de situação externa que possa destruir sua confiança em si mesma e na vida se você lhe der
alguma coisa a que se apegar, algum sentimento de que está em contato com outro ser humano
que se importa com ela, que lhe dá valor, que sente que ela é necessária.
g) Silenciosas (mudas)
h) Trotes
Em princípio, para o voluntário do CVV, não existem trotes. Todos os chamados têm valor, como
uma oportunidade de prestar ajuda ou esclarecimento sobre o que é o trabalho do CVV.
Para eliminar ou reduzir os supostos trotes, devemos procurar melhorar sempre a qualidade da
ajuda que prestamos. Na atualidade, dada à facilidade de acesso às tecnologias e diversas fer-
ramentas, são possíveis constatar trotes efetivos direcionados ao CVV pelos diferentes canais de
acesso ao serviço.
39
É um tema que merece a vigilância do voluntário e do grupo, na disponibilidade, aceitação,
compreensão, confiança e respeito com foco na pessoa. Não temos controle ou poder sobre o
outro, e não nos compete julgar ou condenar a pessoa que busca se expressar através do trote.
Permanece válida a mentalidade dos primeiros anos de compreender e receber a pessoa que
busca o CVV através do trote, alguém que precisa e busca ajuda a seu modo, o que significa man-
ter a postura de plantonista, e na sintonia espiritual com o serviço, interagir com o outro através
das respostas compreensivas.
No geral, isso desestimula a pessoa a prosseguir com o trote, e ou reconduz naturalmente a
conversar seriamente e fazer uso do serviço, sem a necessidade de querer persuadir a pessoa a
isso. Insistindo a pessoa no espírito do trote, não funcionando a comunicação compreensiva, se
inevitável, utilizar as respostas defensivas aceitáveis, e abreviar o contato, de modo respeitoso,
informando que as portas estão abertas para um novo contato, quando ela desejar, e o serviço
permanecerá disponível aos que dele necessitam.
i) Enganos
É uma forma de abordagem utilizada geralmente por pessoas que não conhecem suficiente-
mente o trabalho desenvolvido pelo CVV. Devemos esclarecer sempre que a nossa finalidade é
prestar apoio emocional.
O voluntário necessita exercitar, no apoio e no treinamento de papéis, o seu respeito pelas
crenças do outro, e a vigilância para não querer impor as suas ou mesmo ceder à solicitação em
especial quando comunga da mesma crença do outro.
O autoconhecimento ajuda a se aproximar e aceitar nossas opiniões, crenças e preconceitos;
a conversar sobre de forma respeitosa e reflexiva com o grupo. Sempre que possível, exercitar o
ciclo da vida e o exercício de vida plena, para que possamos treinar e melhor servir.
Isso não significa, porém, atender às solicitações da pessoa que procura o serviço do CVV,
mesmo que pessoalmente esteja ao nosso alcance fazê-lo. Nosso compromisso é de oferecer
um trabalho humanitário, centrar o diálogo de ajuda na pessoa, com acolhimento, calor humano e
respeito, oferecer as respostas compreensivas. Insistindo a pessoa em querer receber do CVV um
serviço diferente do ofertado, compete esclarecer os limites do trabalho. Existem serviços religio-
sos e doutrinários, para apoio e suporte que a pessoa poderá contar se assim o desejar.
Os Serviços de Assistência Social existentes prestam apoio material em forma de ajuda finan-
ceira, alimentação, transporte, moradia, etc.
O CVV presta apoio emocional. Não podemos pretender transformá-lo em Serviço de Assistên-
40
cia Social, não temos este direito. Se fosse possível, seria serviço de amadores. Nossa especiali-
zação é outra.
Quando a ajuda solicitada for de natureza material, o voluntário poderá indicar um dos Serviços
de Assistência Social relacionados na lista de contatos disponíveis no Posto e aprovados pelo GE.
l) Reportagens
A divulgação é um dos três sustentáculos do trabalho. Os espaços na mídia têm custo material
elevado, acima de nossas possibilidades. Toda publicidade oferecida gratuitamente é acolhida
com reconhecimento e satisfação.
Precisamos dar atenção a jornalistas ou equipes de reportagem das emissoras de rádio e TV. É
necessário se relacionar bem com eles, recebê-los abertamente. O trabalho deles é importante e
sempre uma oportunidade especial. Cuidados devem ser tomados, com algumas das solicitações,
especialmente as relacionadas com o sigilo da Outra Pessoa, do voluntário e do CVV.
Sendo da mesma região encaminhar o contato a coordenação responsável pela divulgação.
Do contrário oferecer o serviço da Assessoria de Comunicação do CVV, orientar a pessoa que os
meios de contatos podem ser localizados diretamente no site: www.cvv.org.br e ou www.setem-
broamarelo.org.br. Nos casos de abrangência nacional, sugere-se também sempre que possível
tomar nota sobre o veículo, profissional, pauta, data e hora do contato e enviar o mais breve pos-
sível para o e-mail divulgacao@cvv.org.br , que a CND - Comissão Nacional de Divulgação saberá
dar continuidade ao contato. Com isso, estará liberando os outros deste contato e mantendo o
anonimato de voluntário.
A atenção do voluntário deve ser sempre para a Outra Pessoa, durante seu plantão. Além da
pontualidade, que confirma sua disponibilidade, o voluntário deve se dedicar, durante o plantão,
a leituras relacionadas com o trabalho, que facilitem a Relação de Ajuda. Outras atividades que
comprometam nossa disponibilidade devem ser evitadas.
O plantão e a Relação de Ajuda, como outras atividades repetidas periodicamente, podem se
tornar rotineiras e nossa participação se tornar mecânica. É preciso estar alerta para não aconte-
cer. Requer esforços pessoais indispensáveis ao trabalho.
3 - Finalizando um contato
A maior parte das pessoas que entra em contato com o CVV quer alguém com quem se abrir,
sem laços de compromisso. Elas encerram o contato quando terminam de desabafar. Apenas
assegure-se de que elas sabem dos diversos canais de acesso ao CVV, e que podem procurar o
serviço sempre que sentir necessidade.
Quando você estiver finalizando uma ajuda, considere se alguma das seguintes ideias é apro-
priada:
– Encoraje o outro a procurar o CVV novamente
Esta atitude considera que continuar com a Relação de Ajuda é importante e oferece a disponi-
bilidade do CVV, para estar junto com a pessoa. “Pode nos procurar o CVV novamente, se quiser”.
– E se o outro quiser procurar o CVV novamente quando você estiver de plantão?
Esta atitude é natural. Não deve ser forçada pelo voluntário. O outro é livre para procurar o CVV
quando quiser. É importante lembrar que, como voluntário, pode-se doar muito mais como parte
41
de uma equipe do que como personalidade. Isto evita ter muitas pessoas que só falem apenas
com você. É um equívoco e pode ultrapassar a disponibilidade do voluntário.
– Considere a possibilidade de convidar a pessoa para ir ao Posto mais próximo
Lembre-se, entretanto que:
• Não pressione as pessoas, forçando este convite. Continue disponível para a Relação de Aju-
da;
• Algumas pessoas preferem a conveniência e o anonimato (telefone, virtual, chat, e-mail, carta).
Outras acham mais fácil falar pessoalmente;
• Facilite para que a pessoa saiba o que a espera como, por exemplo, um aposento onde ela
poderá falar confortavelmente e com privacidade;
• Dê instruções detalhadas de como chegar ao Posto. As pessoas podem se confundir com
instruções vagas.
– Você ficou com sensação de “tarefa inacabada”?
• Não se deve esperar que o apoio acabe com os problemas resolvidos;
• “Alguém com quem falar” é a essência do serviço e assim que é divulgado;
• As respostas virão do outro, quando ele estiver pronto;
• É inútil dar às pessoas conselhos que não querem ou não podem seguir.
– É engano encaminhar pessoas para agências
• Há momentos que simplesmente não se sabe o que dizer;
• Muitas vezes, o voluntário se sentirá inadequado. Que não “fez” nada, ou mesmo que não
“ajudou;
• É preciso considerar que pessoas deprimidas ou com depressão muitas vezes são de convi-
vência difícil e, por isso, podem não estar sendo ouvidas com atenção e simpatia por familiares ou
amigos;
• Dar tempo e atenção pode parecer pouco, mas pode ser de importância vital para o outro. O
sentimento de importância de si mesmo, com a atenção dada a ele pode ser o que falta para res-
taurar a visão dele próprio e a capacidade de seguir adiante.
– O contato com alguns é difícil de ser encerrado
a) A pessoa já concluiu sua história, e continua repeti-la.
É preciso concluir e encerrar o contato. Avise a pessoa alguns minutos antes:
• “Não quero te cortar, se tem algo mais a dizer...”.
• “Vamos interromper agora? Pode ligar de novo, a qualquer momento que precisar”.
• “Tudo bem, vamos dedicar então mais 5 minutos para você concluir”.
Alguns momentos depois:
• “Tenho que desligar agora. Realmente apreciei falar com você. Podemos conversar em outro
momento”.
• “Deu nossos 5 minutos, foi bom estar com você, nos procure novamente se desejar”.
b) Pessoas que não param de falar, que desejam “bater um papo”, mas são solitárias.
Talvez elas não tenham ninguém que queira ouvi-las. É certo que uma conversa breve e cen-
trada no outro é adequada. Entretanto, ao conversar por mais de 10 minutos com pessoas que
procuram o CVV várias vezes por dia, pode-se estar prolongando contatos “seguros”, evitando-se
contatos “novos”. Ou estar prendendo os canais de acesso ao serviço para novos atendimentos.
Ou ter dificuldades de encontrar um jeito de concluir a conversa.
c) Pessoas que insistem em se sentirem rejeitadas, não importa o que você diga.
Algumas poderão ficar zangadas e ou malcriadas. “Pensei que vocês estivessem aí para ajudar
as pessoas.” O papel do voluntário é oferecer sua disponibilidade para pessoas em desespero.
Não se pode permitir que algumas pessoas insistentes imponham-se e ocupem os canais de ajuda
de modo que outras não possam acessá-los.
42
• Se for preciso finalizar o contato, fique calmo e firme. Se ficar inseguro ou na defensiva, não irá
conseguir. Se ficar zangado ou perder a compostura, o que é um contrassenso como voluntário,
poderá provocar uma reação indesejada no outro como, por exemplo, fazer chamadas perturba-
doras, o que deixará a linha indisponível.
Prestamos ajuda pessoal somente nas dependências do Posto. Em casos extremos e excep-
cionais é possível contar com o apoio presencial de voluntários do CVV, o que se dá de modo ar-
ticulado e organizado. Recomenda-se para esses casos excepcionais a supervisão de voluntários
mais experientes e que se realizem, no mínimo, em dupla (preferencialmente com voluntários de
sexo oposto), evitando-se assim conotações que possam dar margem a possíveis dúbias interpre-
tações.
Exemplos de situações excepcionais: pessoa com mobilidade reduzida, acamada, hospitaliza-
da, em situação de cárcere privado, que se encontra necessitada do pronto-socorro emocional e
da prevenção do suicídio, deseja o apoio do CVV e solicita-o por si mesma. A ajuda fora do plan-
tão só pode ocorrer após estudo e avaliação criteriosa. Não se pode fazê-la fora do Ambiente do
Atendimento CVV sem a autorização prévia e expressa da Coordenação.
É uma situação rara, contudo deve estar clara e ser conversada e expressamente autorizada
pelo CVV para segurança à integridade física do voluntário, e do grupo, e o cumprimento com
isenção do papel social institucional e imagem do CVV.
O sigilo no CVV é essencial. Mantêm-se em segredo os detalhes dos contatos, pessoais, tele-
fônicos, chat, virtual, e-mail, carta ou de qualquer outra natureza. É necessário adotar o mesmo
procedimento também em relação aos voluntários. Assim, não se comenta quem procurou ajuda
e tampouco quem deu ajuda, prevalece o anonimato até mesmo em relação à segurança pública.
43
Nenhum voluntário tem permissão de aceitar uma confidência se for imposta a condição de que
não poderá comunicá-la nem mesmo à Coordenação, se necessário.
Os voluntários do CVV são conhecidos apenas por seu nome próprio. Sobrenomes, endereços
ou dados pessoais são trocados apenas internamente. Logo, qualquer informação não pode ser
compartilhada externamente ou com aqueles que procuram o serviço do CVV. É fundamental res-
peito ao anonimato e à privacidade do voluntário.
Desde o início, o voluntário se compromete com a confidencialidade, durante sua atividade,
assim como após.
Relatórios ou anotações internas permanecem no ambiente interno institucional, e para sair
deste, requerem prévia apreciação administrativa sobre a necessidade e o objetivo, acompanhada
da autorização dos responsáveis sobre o tema.
Nenhuma Relação de Ajuda pode ser acompanhada ou presenciada. Somente os voluntários
e pessoas autorizadas têm acesso aos ambientes que contêm avisos, instruções, arquivos ou as
gavetas de comunicação internas. Todos os assuntos relativos à imprensa, publicidade, justiça,
segurança pública, etc. são encaminhados à Coordenação.
Considere como você aplicaria o sigilo nas situações abaixo, sem faltar com a confiança, mentir,
ficar desorientado, inseguro ou desapontar a Outra Pessoa:
• Uma pessoa pergunta se temos anotações: “Você não está escrevendo isto tudo, está?”
• Uma pessoa tem algo a dizer a você e somente para você: “Posso confiar que você não vai
contar para ninguém?”
• Uma pessoa diz que atropelou uma criança que atravessou correndo na frente de seu carro,
entrou em pânico e não parou!
• Um homem liga aborrecido, porque sua filha fugiu de casa e imagina se ela entrou em contato
com o CVV.
• Um homem pergunta o que aconteceu com a mulher que estava chorando no Posto, na última
vez em que ele esteve lá.
• Uma mulher liga, perguntando se alguém chamado Paulo nos procurou a noite passada.
• Alguém liga, e você percebe que é uma pessoa conhecida, embora ela não tenha lhe reconhe-
cido.
• Uma pessoa lhe diz o quanto foi útil àquela gentil voluntária, Norma, na noite passada; o quan-
to ela parece saber sobre hospitais. “Ela é enfermeira?”.
• Alguém que você conhece ligeiramente chega até você e afirma que ouviu dizer que você está
envolvido com o CVV. “Parece-me tão interessante. Fale-me tudo sobre isso”.
• Uma pessoa contatou o CVV, foi internada no hospital e pede que você a visite “como amigo”.
• Uma pessoa contata o CVV pedindo o número do telefone de um voluntário.
• Uma pessoa diz a você que vai envenenar o marido.
• Uma pessoa vai se mudar para outro estado e pede seu endereço e sobrenome, para que pos-
sa continuar se comunicando com você.
• Um homem quer falar com um voluntário gay. Há alguém gay entre vocês?
• Um repórter entra em contato, perguntando sobre algumas coisas a respeito dos voluntários,
para escrever uma matéria que vai ser publicada daqui a cinco dias.
• Você está se candidatando numa eleição e está fazendo uma lista de suas qualificações e ati-
vidades para propaganda na campanha.
• Uma pessoa contata o CVV, diz que é de outra instituição e quer saber como anda aquela pes-
soa que encaminhou para atendimento no CVV.
44
ESTÁGIO 3
1 - Alcoolismo e pessoas alcoolizadas
a) Alcoolismo:
O alcoolismo está relacionado ao uso contínuo e prolongado do álcool, de modo periódico, per-
manente, habitual ou condicionado por uma dependência psicofísica. Difere de estar embriagado.
É a dependência do indivíduo ao álcool, considerada doença pela Organização Mundial da
Saúde. O uso constante, descontrolado e progressivo de bebidas alcoólicas pode comprometer
seriamente o bom funcionamento do organismo, levando a consequências irreversíveis.
É um vício e pode afetar três aspectos da pessoa:
• Físico: provocar danos à saúde daqueles que bebem;
• Mental: ocasionar distúrbios mentais que podem se tornar crônicos, levando a pessoa até ao
suicídio;
• Social: atinge as relações e mina com a vida familiar, profissional, social e ou econômica.
É incorreto dizer que o alcoolismo é um problema nato e também não é verdade afirmar que
sua causa é desconhecida. A pessoa se torna dependente do álcool ao usá-lo continuamente.
Transforma-se em dependente físico, quando ingere álcool logo de manhã para firmar as mãos; ou
dependente psicológico, quando bebe a qualquer hora para se sentir bem e capaz de encarar o
dia. Assim, seu organismo fica à espera da próxima dose, em estado de ansiedade ou depressão
quando não é atendido.
Um das causas que transforma a pessoa em dependente é o convívio social, que a pressiona a
beber e fazer parte de seu estilo de vida. Torna-se mais fácil quando o custo da bebida é baixo e
onde há poucas restrições de uso. Muitas vezes o dependente é alvo de críticas e desaprovação.
Alguns insistem que deve abandonar o vício usando seus recursos possíveis.
Uma pessoa alcoólica que entra em contato precisa ser acolhida com calor humano. Ao volun-
tário cabe aceitar esta relação da pessoa com o vício, o que nem sempre é fácil para alguns.
O alcoolismo, também conhecido como “síndrome da dependência do álcool”, é uma doença
que se desenvolve após o uso repetido de álcool, tipicamente associado aos seguintes sintomas
(que não necessariamente ocorrem juntos):
• Compulsão: uma necessidade forte ou desejo incontrolável de beber;
• Dificuldade de controlar o consumo: não conseguir parar de beber depois de ter começado;
• Sintomas de abstinência física: náusea, suor, tremores e ansiedade, quando se para de beber;
• Tolerância: necessidade de doses maiores de álcool para atingir o mesmo efeito obtido com
doses anteriormente inferiores ou efeito cada vez menor com uma mesma dose da substância.
b) Pessoas alcoolizadas:
O abuso de álcool é diferente do alcoolismo porque não inclui uma vontade incontrolável de
beber, perda do controle ou dependência física. As pessoas quando alcoolizadas têm poucas
condições de se beneficiarem da Relação de Ajuda.
Algumas atitudes do voluntário podem despertar sua agressividade. Diante a procura de pes-
soa claramente alcoolizada ou em estado de embriaguez, o voluntário deve acolher a pessoa e
respeitosamente finalizar o contato, convidando-a a procurar o CVV em outra ocasião.
45
2. Vício em drogas e pessoas drogadas
Cabe ao voluntário avaliar os próprios preconceitos sobre o assunto e entender que o uso de
drogas não decorre apenas de problemas familiares ou falhas de relacionamento. É uma somatória
de fatores, tais como: conflitos pessoais, dificuldades escolares, sociais ou profissionais, busca de
alternativas, escapismo, predisposição genética, etc.
Certas drogas são utilizadas em tratamentos médicos, obedecendo rigorosamente às dosagens
determinadas por um especialista. Há usuários que as utilizam indevidamente desobedecendo às
prescrições recomendadas.
Pessoas com dependência química, que fazem uso de drogas de modo contínuo e prolonga-
do, periódico, permanente, habitual ou condicionado por uma dependência psicofísica, têm uma
expectativa de vida baixa. Há riscos de superdoses, hepatite, infecções e geralmente adotam um
modo de vida não saudável, comumente vivem fora de casa, alimentam-se inadequadamente,
repousam pouco, e, quando mais dependentes, passam a abandonar além da alimentação e do
repouso, os cuidados pessoais, higiene e saúde. Tudo gira em torno da próxima dose.
Por vezes, na ausência de posses para sustentar o vício, a pessoa ingressa no mundo do crime
e ou da prostituição a fim de obter meios de conseguir a droga.
Aqueles que almejam parar com o vício, além da firmeza de vontade, necessitam do apoio emo-
cional e médico. Em alguns tratamentos, as drogas em uso são substituídas por outras de efeitos
mais amenos, consecutivamente até sair da crise, superar a dependência e conseguir viver sem
usá-las.
Nem sempre é possível ter certeza que uma pessoa está sob efeito de drogas, pois enquanto al-
guns apresentam comportamentos mais óbvios, como agressividade e alucinações, outros podem
ter sintomas bem mais brandos. As tentativas de encontrar soluções rápidas ou fáceis e propô-las
ao usuário devem ser evitadas. Mudar os hábitos, sem que a pessoa queira, é atitude desrespeito-
sa. É uma pretensão ilusória.
Há alguns sinais que nos ajudam a perceber se a pessoa esta sob o efeito de drogas. Esses
sinais podem ocorrer em diversos problemas de saúde e, isoladamente, nem sempre significam
que a pessoa está necessariamente sob o efeito de drogas. Ao perceber vários sinais associados,
há grandes chances de que sejam devido à intoxicação por drogas. Nesses casos, a diretriz é a
mesma da pessoa sob o efeito de álcool: acolher a pessoa e finalizar respeitosamente o contato,
convidando-a a procurar o CVV em outra ocasião.
Sinais comuns:
• Dificuldade em manter o foco;
• Mudanças de assuntos repentinamente;
• Risadas inapropriadas (descontrole, crise de risos, risadas diante a situações sérias);
• Alteração na motivação e interesse (diminuição ou aceleração);
• Mudanças repentinas de humor (raiva súbita e inexplicável, por exemplo);
• Alterações no apetite (vontade incontrolável de comer);
• Paranoia (achar que esta sendo perseguido, comportamento violento, etc.);
• Olhos vermelhos (inchados e vermelhos).
Algumas pessoas apresentam manifestações clássicas; outras, sintomas mais sutis. Atenção
para não cair no equívoco de rotular uma pessoa com a presença de um ou mais dos sintomas
apresentados. Diversos problemas de saúde, como conjuntivite, por exemplo, ou situações co-
muns, como choro, podem resultar em olhos vermelhos e inchados. Tratamento medicamentoso,
uso de remédios controlados, resquícios de um AVC, esclerose múltipla, entre outros, podem dar
a impressão de que a pessoa está em estado de embriaguez ou intoxicação por drogas.
Ouvir o outro, aceitá-lo e interessar-se por ele são posturas que criam o bom relacionamento
46
com aqueles que querem livrar-se da droga e com os que, a princípio, não querem ajuda. Nestes
momentos, é necessário que o voluntário compreenda e aceite esta circunstância.
Quanto à família do dependente químico: quando somos procurados por ela, observa-se que
geralmente sua maior preocupação é:
• Saber quem pode ter desencadeado esta atitude
É frequente que os familiares tragam à tona situações da vida familiar passada visando encon-
trar um ou vários culpados pelo acontecido.
• Descobrir onde esta o “erro”
A indagação “onde errei ou erramos?” é acompanhada de um balanço das relações familiares e
de tudo o que foi proporcionado ao outro. Tenta-se encontrar um alívio da ansiedade, tal como a
afirmação: “Sempre lhe demos o melhor”.
• Ambivalência – perseverar ou desistir
Expressões tais como “não aguento mais”, “já fizemos de tudo”, “seria melhor acabar com tudo
isso”, “sei que não é o certo, mas por vezes penso que seria melhor que ele sumisse ou morresse”
são acompanhadas de choros, dores, desesperos e sentimentos de impotência. Um misto de ou-
tras expressões tais como de um balanço das relações familiares e de tudo o que foi proporciona-
do ao outro. Tenta-se encontrar um alívio da ansiedade, como, por exemplo: “eu preciso ser forte
e suportar tudo isso”, “o que mais podemos fazer?”, “eu acredito que ele sairá dessa”, “onde ela
estará agora, quero-a tanto aqui por perto”.
Diante a eventual dificuldade com o tema é útil procurar apoio e orientação com os voluntários
mais experientes e com o grupo.
47
ESTÁGIO 4
1 - Abalos situacionais
Dentre os abalos situacionais, ocupam lugar de destaque as perdas, que podem ser classifica-
das como a seguir:
Proventos
Trabalho (demissão / aposentadoria)
Saúde
Status
Juventude
Recursos de apoio Amputações
Lar
Ilusões e fantasias
Beleza
Casa
Rotina (promoção, casamento, fortuna)
Pessoas
Bens
Materiais ou concretas Status
Saúde
Independência
Crenças
Fé
Espirituais ou interiores Confiança
Sonhos
Otimismo
48
b) Quanto ao que causa a perda:
• Morte
• Doença (física / mental)
• Separação
• Casamento
• Trabalho
• Suicídio
• Serviço militar
• Estudo: jovem obrigado a sair da casa dos pais
• Formatura: perda dos colegas e ambiente da turma
• Mudança de cidade, estado, pais, escola, faculdade, casa, trabalho, status.
• Relacionamento Intrapessoal e Interpessoal: atitudes, comportamentos, desavenças, confli-
tos, temperamentos, divergências de valores e de ideais, interesses, etc.
As consequências e a maneira de reagir à perda são próprias de cada pessoa. Às vezes, a per-
da provoca mudanças de funções na vida, como no caso de uma pessoa que perde o cônjuge e
passa, assim, a exercer o papel de única provedora e responsável da família.
Além disso, são criados estigmas associados a essas perdas. Por exemplo: uma pessoa que
teve um membro do corpo amputado torna-se alvo de compaixão para outros, e, assim, passa a
ser estigmatizado. Desta maneira, pode ser que isso gere sentimentos de revolta, não aceitação da
perda, e desrespeito por si, o que potencializa um sentimento defensivo voltado a sua pessoa. Por
consequência, isso também poderá criar insegurança nas pessoas próximas para se aproximar
dela, com receio de feri-la ao tocar no assunto.
No geral, o sofrimento diante a perda está atrelado ao fato de sentir que se perdeu uma parte
de si. Por vezes, na dualidade do ter e do ser, acaba-se por acreditar que se é os bens adquiridos
e conquistados. O que reforça a importância do ter, a se confundir com o ser. A percepção de que
somos nossas capacidades de adquirir, construir e utilizar nossos bens se confunde com o sermos
nossos bens.
c) Os principais fatores que determinam como o indivíduo reagirá perante essa situação
de perda são:
49
d) Sentimentos decorrentes da perda
Motivações Sentimento Sentimento Interfaces
Pavor, Pânico, Temor,
Medo
Insegurança, Fobia
Repugnância, Rejeição,
Aversão
Evitar a perda Intolerância
Apreensão, Insatisfação,
Ansiedade Tensão, Impaciência,
Preocupação
Reparar a perda Ira, Fúria, Indignação,
Punir o responsável Raiva
Revolta, Melindre
Tentativa de reparar uma determinada perda
ou de punir a quem julgamos ser responsável
Inveja Cobiça, Rivalidade, Ambição
por ela
Desgosto, Decepção, Aborrecimento,
Melancolia, Desapontamento, Infelici-
Tristeza
dade, Desalento, Desânimo, Pessimis-
Incapacidade de obter prazer e alegria mo
Decorrente de uma determinada perda Autodepreciação,
Culpa
Autoacusação, Autopunição
Saudade Nostalgia
Vergonha Inibição
Carência, Vazio, Privação,
Solidão
Necessidade, Desamparo
Aflição, Agonia,
Ausência de perspectivas - prazer e ale- Angústia
Estreiteza, Opressão
gria
Somatória de perdas não resolvidas Autopiedade, Inaptidão,
Inferioridade
Incapacidade
Desilusão, Decepção,
Desespero
Desengano, Desesperança
Presunção, Euforia, Posse, Grandeza,
Trasitórios - Ameaça de perda Prazer e Alegria Audácia, Orgulho, Ansiedade, Ciúme,
Vaidade, Medo
Atração, Curiosidade,
Interesse
Admiração, Coragem.
Apreço, Aceitação, Atração, Estima,
Afeição Compaixão,
Consideração
Sentimentos de abertura - Prazer Bem Estar, Satisfação
Postura confiante Otimismo, Entusiasmo, Bom Humor,
Alegria Animação,
Contentamento, Confiança
Apesar de não serem frequentes, recebemos também chamadas de crianças. Na sua totalidade,
as que nos procuram possuem problemas no ambiente doméstico. Esses problemas são senti-
dos como perdas de amor dos pais, da segurança, etc. Assim como ocorre com idosos, também
elas dificilmente são ouvidas pelos demais. Normalmente seus problemas não são considerados
importantes. O sofrimento pela perda de animais de estimação, por exemplo, é bastante intenso
nessa idade.
Podemos e devemos falar de maneira natural com as crianças, assim como fazemos com os
demais: sem complicações e sem o linguajar maternal que tenta imitar o infantil. O voluntário deve
exercitar também sua confiança na capacidade que elas possuem de realizar o ciclo da vida.
3 - Adolescentes
Geralmente, eles relatam seus sofrimentos em meio a risadas, o que deve ser tomado como
uma maneira de mascarar a timidez, visto que, para os adolescentes, é muito difícil comunicar
sentimentos e preocupações. Os problemas mais comuns relatados são: achar que os pais não os
entendem; medo de contar aos pais que deixaram de frequentar a escola para ir a outros lugares;
brigas familiares constantes ou iminente separação dos pais; pressão causada pelo fato de os
pais estarem esperando (exigindo) que eles se saiam bem em tudo, o que gera nos adolescentes
o medo de falhar e de magoar os pais.
O mundo do adolescente é muito complexo. Além das mudanças físicas, ele também enfrenta
as dos sentimentos. Por isso, é comum relatar problemas e preocupações típicas de adultos, mis-
turadas a outras aparentemente infantis.
Tudo isso deve ser levado a sério pelo voluntário, porque, por trás de uma simples briga com um
colega de escola, pode se ocultar um grande problema. O fato de o indivíduo ter chamado indica
que algo não está bem e não há qualquer razão para não se acreditar nisso. O adolescente exige o
máximo de confidência em relação aos seus problemas. Assim, se o voluntário fizer com que ele se
sinta confiante, será capaz de expor seus sentimentos e encontrar condições para resolver sozinho
aquilo que o está perturbando.
4 - Pessoas idosas
O índice de suicídio entre pessoas idosas é bastante elevado. Os motivos que levam essas
pessoas a ligarem para o CVV não são muito diferentes dos já citados, mas podemos destacar
principalmente:
• Perda de saúde (limitações causadas por doenças)
• Perda de pessoas (solidão)
• Outros recursos de apoio (trabalho, aposentadoria, proventos)
• Perda de autonomia (agressividade, violência doméstica), ser lesado ou usado financeira e
materialmente
A comunicação, por exemplo, pode estar prejudicada pela perda total ou parcial da audição,
pela vagarosidade da dicção, por confusões e perda de memória, etc. Embora possa acontecer
em qualquer etapa da vida, a solidão é comum entre as pessoas mais velhas, e a maior incidência
se dá entre aquelas que vivem em instituições para idosos. Geralmente são os indivíduos de per-
sonalidade mais difícil que acabam em tais instituições. Eles muito comumente não se relacionam
bem com seus companheiros, o que piora muito a situação.
51
ESTÁGIO 5
1. Ajuda com temática sexual
A sexualidade ainda é um grande tabu social, e se manifesta de diversas formas. Saber primeiro
a diferença entre sexo, gênero, identidade de gênero e orientação sexual pode nos ajudar a ampliar
o olhar mais compreensivo sobre o tema.
a) Sexo
É a parte biológica e se divide entre macho, fêmea e intersexo. É definido por cromossomos e
características como órgãos reprodutivos internos e externos. Uma pessoa biologicamente inter-
sexo pode nascer com características sexuais de macho e fêmea.
b) Gêneros
São as categorias de masculino e feminino que construímos socialmente. Os gêneros englobam
todas as práticas arbitrariamente atribuídas às pessoas que nascem com um aparelho genital ou
outro. Cada cultura incentiva que as pessoas tenham certos comportamentos, vestuários, profis-
sões e valores de acordo com o gênero que lhes foi atribuído ao nascer.
c) Identidade de gênero
Tem a ver com qual gênero a pessoa se identifica. Uma pessoa biologicamente do sexo masculi-
no pode se identificar com o gênero masculino ou feminino, e uma pessoa biologicamente do sexo
feminino também pode se identificar com qualquer um dos dois ou mesmo com ambos.
Transgêneros são pessoas cuja identidade de gênero e expressão desta identidade diferem do
sexo biológico delas. Exemplo: pessoa biologicamente do sexo masculino que se identifica com o
gênero feminino, e se veste ou se comporta de modo coerente com o modo feminino.
Quando a identidade e a expressão de gênero são coerentes com o gênero atribuído à pessoa,
denomina-se cisgênero.
d) Orientação sexual
Descreve por qual pessoa se sente atração afetiva ou sexual. Geralmente se divide em orienta-
ção heterossexual, homossexual e bissexual.
Atualmente, a orientação sexual é vista mais como um contínuo, variando de um extremo ao
outro. A orientação sexual não é necessariamente fixa e pode variar por diferentes razões.
Tanto a orientação sexual, quanto a identidade de gênero costumam se manifestar desde cedo,
independente dos pais ou pessoas próximas serem heterossexuais, homossexuais, transgêneros
ou cisgêneros.
Todas as características da sexualidade são determinadas por múltiplos fatores, como herança
genética passada pelos pais, o funcionamento das glândulas e dos hormônios do corpo, as primei-
ras experiências de socialização, a cultura vigente e as experiências durante vida.
A nossa sociedade incentiva algumas orientações e identidades, enquanto discrimina outras.
Por isso, os pais geralmente costumam incentivar ou reprimir em seus filhos, desde os primeiros
anos, as manifestações de sexualidade a partir das normas culturais com as quais eles concordam.
O rótulo e o preconceito em relação à identidade de gênero são mais comuns do que possamos
imaginar. Automaticamente, a sociedade busca enquadrar sexo e orientação sexual como sendo a
mesma coisa, o que dá margem a julgamentos, tais como:
1• Uma mulher que se reconhece no universo masculino (veste-se, usa de um linguajar mas-
culinizado e porta-se como tal) é homossexual;
52
2• Um homem que se identifica com o universo feminino (veste-se, usa de um linguajar de-
licado ou afeminado, e porta-se como tal) é homossexual;
3• Uma mulher que se identifica com o universo feminino (veste-se, usa de linguajar delicado
e porta-se de modo delicado e suave, com o padrão de modelo “mulher fêmea”) é heterossexual;
4• Um homem que se identifica com o universo masculino (veste-se, usa de linguajar mas-
culinizado, e porta-se com o padrão de modelo “homem macho”) é heterossexual.
Uma pessoa pode disfarçar os seus sentimentos ou tentar obedecer a um padrão de identidade
para ser mais bem aceita, enquanto isso gera internamente anos de frustração, sofrimento e pode
levar até mesmo ao suicídio.
Homossexuais e pessoas com uma identidade destoante do gênero associado ao seu sexo
são alvos de discriminação e de violência. Há incompreensão e negação do fato de que o sexo, a
orientação sexual e a identidade de gênero não são meras escolhas que fazemos.
O resultado disso é que quem não é heterossexual ou cisgênero vive em um mundo muito hostil.
O que por vezes resulta em medo, revolta, dor, sofrimento, isolamento, agressividade, dependên-
cias de álcool e drogas, prostituição, homofobias, homicídios e suicídio.
2 - Assexualidade
É a falta de atração sexual. A pessoa não sente vontade de ter relações sexuais com ninguém.
As pessoas podem ser assexuais em diferentes níveis. Embora não sintam vontade de ter relações
sexuais com alguém, assexuais podem ter desejo sexual e se estimularem sexualmente com al-
guma frequência. A diferença é que, ao contrário da maioria das pessoas, o desejo sexual de as-
sexuais não se traduz em vontade de satisfazer esse desejo por meio de uma relação sexual com
Outra Pessoa.
53
Alguns assexuais não têm interesse sexual e nem afetivo por outras pessoas, enquanto outros
não possuem interesse sexual, mas possuem vontade de se relacionar e se envolver afetivamente
com os outros.
Ser assexual não é a mesma coisa que ter medo de sexo ou ser celibatário. Assexuais geral-
mente não fazem sexo não por medo ou crenças religiosas, e sim porque não sentem vontade. E,
mesmo sem vontade, alguns podem fazer por curiosidade ou para agradar o parceiro.
A assexualidade também difere do transtorno da excitação sexual feminino e do transtorno do
desejo sexual masculino hipoativo. Os dois transtornos envolvem a inexistência ou redução do
interesse sexual, e, em ambos os casos, a pessoa sofre muito com esse transtorno.
Não se conhece muito sobre as causas da assexualidade, tanto fatores genéticos quanto am-
bientais podem ser importantes.
Várias condições médicas e psicológicas, como desregulação hormonal ou depressão podem
levar alguém a exibir pouco ou nenhum interesse sexual. Para saber se alguém é assexual é ne-
cessário fazer uma avaliação por um profissional capacitado.
A assexualidade não esta associada por si só a algum tipo de sofrimento. Não é sinônimo de ter
sofrido uma experiência traumática ou uma disfunção sexual. No entanto, numa sociedade em que
se valoriza tanto o sexo, pode ser difícil ser assexual.
O sofrimento inicialmente atribuído à discriminação social poderá desencadear em negação,
desajustes, dúvidas e inaceitação de si. O que contribui com a somatória de fatores de risco para
o suicídio, tais como: transtornos, isolamento, desequilíbrios, doenças psicossomáticas, vícios,
dependências, compulsões, depressão, ideação suicida, etc.
3 - Sexualidade e Sexo
A sexualidade humana é complexa e diversa e mesmo o que parece tão óbvio pode não ser. A
diversidade de comportamentos e a vivência sexual podem ser mal compreendidas e não aceitas,
o que leva a preconceitos, julgamentos e rejeições da própria pessoa sobre si e das outras pesso-
as.
Ao voluntário compete o olhar sensível e compreensivo para com a complexidade que a área da
sexualidade humana e do sexo ocupa na vida das pessoas e em sociedade. A clareza do conceito
é de vital importância para poder conversar de modo respeitoso.
No aspecto da sexualidade humana e do sexo, esconde-se por universos e guetos, um altíssimo
índice de suicídio. Da prostituição, da orientação sexual (homossexuais), do travesti, das pessoas
em conflito de gênero, das pessoas dependentes sexuais (viciadas no sexo presencial ou virtual),
das compulsivas sexualmente que afundam economicamente na busca por sexo pago e ou casual,
das que sofrem abuso, assédio ou violência sexual, das que sofrem de violação sexual, das que
buscam a cirurgia para mudança de sexo e depois se arrependem, das situações de aborto (es-
pontâneo ou induzido) seguido de arrependimento, culpa ou impotência, das vítimas de estupro,
além do aspecto das doenças sexualmente transmissíveis.
Pode ser difícil iniciar uma conversa sobre aspectos tão íntimos e censurados, em especial
quando a própria pessoa não se aceita e luta insistentemente por sua autonegação. Desaprovação
ou condenação, além de não ajudar, bloqueiam ou, no mínimo, dificultam a livre expressão, reve-
lação e segurança do clima permissivo ao desabafo.
A imposição da heterossexualidade enquanto padrão de modelo socialmente aceito e ade-
quado a grande parte das culturas, sociedades e países, cada vez mais vai dando espaço para a
liberdade da expressão e de orientação sexual; para a união estável e a legalidade do casamento
entre pessoas do mesmo sexo, com igualdade de direitos; para a adoção de crianças por casais
homossexuais, conquistas resultantes de anos de luta e intenso sofrimento, e que fazem emergir,
54
cada vez mais, modelos novos de concepção de família.
De todo modo, a sexualidade permanece enquanto território complexo, tabu em diversas áreas
e temas, numa luta incessante para se derrubar modelos, padrões, estilos e tipos preconcebidos,
como estereótipos no jeito de ser e estar. Assim, é comum, por exemplo, o estereótipo do linguajar,
ao jeito de se vestir, se portar, dos gostos e preferências culturais, lugares aos quais frequentar e o
aprisionamento e imposição de modelos (impostos e autoimpostos), tais como: o gay espalhafato-
so, a lésbica mulher macho (com as vestes e linguajar masculinizado), travesti montado de modo
exuberante e carregado em brilhos, decotes e maquiagem, etc. Modelos que não necessariamente
representam a fiel imitação do universo feminino ou masculino, contudo, o universo que luta por
derrubar imposições de modelo e de jeito certo de ser também impõe a si certos estereótipos.
Há uma vasta evolução e revolução no campo da sexualidade humana. Historicamente, há situ-
ações que já foram consideradas crimes, transtorno, pecado, doença e, na atualidade, são perce-
bidas enquanto naturais. Bem como o contrário também se faz presente, comportamentos vistos
enquanto naturais e culturais no passado e que, na atualidade, se configuram crime, transtorno,
doença, etc.
As noções de desvio, padrões de desempenho sexual e conceitos de papel apropriado para o
gênero podem variar entre as culturas.
A homossexualidade, por exemplo, classifica-se e diferencia-se em ego-sintônica, pessoa ho-
mossexual que se sente confortável, não apresenta problemas com a sua sexualidade e a aceita,
logo, no campo da psiquiatria e psicologia, é considerada enquanto orientação sexual; e a pessoa
homossexual egodistônica, que se sente desconfortável, não se aceita, neste caso no campo da
psiquiatria e psicologia é considerado transtorno sexual.
55
5. Violência sexual contra crianças e adolescentes
É uma violação dos direitos sexuais, porque abusa ou explora o corpo e a sexualidade, seja
pela força ou outra forma de coerção, ao envolver crianças e adolescentes em atividades sexuais
impróprias à sua idade cronológica, ou ao seu desenvolvimento físico, psicológico e social.
A violência sexual infantil pode ocorrer de duas formas:
1• ABUSO SEXUAL: é a utilização do corpo de uma criança ou adolescente, por um adulto ou
adolescente, para a prática de qualquer ato de natureza sexual.
2• EXPLORAÇÃO SEXUAL: caracteriza-se pela utilização sexual de crianças e adolescentes
com a intenção do lucro ou troca, seja financeiro ou de qualquer outra espécie.
O sentimento de culpa, do sentir-se sujo, merecedor, revoltado, etc. são comuns e podem levar
anos para a superação. É importante que tanto a vítima quanto sua família e o próprio abusador
sejam tratados, e tenham a oportunidade de acompanhamento psicológico.
• Sempre que centramos a atenção na pessoa e não no problema, estabelece-se uma conver-
sação de profundo conteúdo emocional, que se distanciará da agressividade ou da obscenidade;
• Emoções, pressão sexual, solidão, busca de alguém com quem falar, podem estar no mesmo
contexto, que o outro poderá separar diante a um ambiente favorável ao diálogo de ajuda;
• Aceitar a obscenidade ou a pessoa obscena não é concordar com seu comportamento. É re-
conhecer sua existência e respeitar os limites e objetivos de ajuda no CVV;
• Tentativa de Escatologia Telefônica ou Cibersexo: respeitamos a existência e finalizamos o
contato.
Independente da motivação para o contato com o CVV, cuja temática pode ser sobre:
Dependéncias para
Transtorno Disfunção Configura Crime
o prazer
Da Identidade Dom-juanismo /
Sexual Necrofilia
de gênero Satiríase
De desejo sexual Sexual devido a uma
Zoofilia Ninfomania
hipoativo condição médica geral
Transtorno de aversão Sexual induzida por
Pedofilia Incesto
sexual substância
Da excitação sexual Ejaculação precoce Gerontofilia Fetichismo
Da excitação sexual
Dispareunia Frotteurismo Masoquismo
feminina
Erétil masculino Vaginismo Exibicionismo Sadismo
Orgásmicos Aversão sexual Voyeurismo Fetichismo Transvéstico
Orgásmico feminino Anorgasmia Parafilias Parcialismo
Orgásmico masculino Disfunção erétil Escatologia telefônica Coprofilia
Doenças sexualmente
De dor Sexual Urofilia
transmissíveis
Frigidez
Clismafilia
Infertilidade
O diálogo de ajuda visa o encontro de pessoa com pessoa, cujo foco é a pessoa e não o indiví-
duo ou seus problemas. Isso significa respeitá-la integralmente, considerar o indivíduo, o problema
e a pessoa conforme o Triângulo das Bermudas, respeitando o direito e a vontade de a pessoa na-
vegar em qualquer direção, se aproximar da sua própria experiência e vivência emocional ou não.
7 - Escatologia Telefônica
Consiste na excitação e sexo por telefone com um parceiro desavisado e sem consentimento.
A pessoa com escatologia telefônica experimenta o estado de tensão e início da excitação ante-
cipadamente ao contato telefônico. A ideia de abordar Outra Pessoa e coagi-la sexualmente por
telefone lhe é excitante e alucinante. Como em outros estados de vício e dependência, a pessoa
entra no estado de aceleração e fixação pelo objeto de consumo. Quem recebe seu contato escuta
enquanto o dependente expõe suas fantasias ou a induz a falar sobre sua atividade sexual. A con-
versa é acompanhada de masturbação (explícita ou implícita), que tende a ser consumada depois
que o contato é interrompido.
Estudos e pesquisa sobre o tema apontam que a Escatologia Telefônica, assim como outros
vícios, pode evoluir para outra dependência e ou agregar novas formas de dependência ou não,
como a denominada Cibersexo.
8 - Cibersexo
O avanço das tecnologias, a facilidade de acesso à internet e às redes sociais virtuais e digitais
também trouxe consigo esse tema que vem sendo estudado e pesquisado, no qual as pessoas
usam de redes interativas, chat, webcam, e-mail, sites e outros meios eletrônicos e virtuais (em
tempo real ou não), para enviar mensagens obscenas e pornografias, assim como para trocar entre
si, transmitir e trocar imagens sexualmente explícitas de si ou de outros.
Um ponto destacado enquanto possível vantagem é o anonimato dos usuários nas salas de
bate-papo, e na prática do cibersexo, uma vez que também permite desempenhar papeis diferen-
tes, como, por exemplo, o do sexo oposto, expressar fantasias de travestismo e transexualismo,
adotar personagens, ter idade diferente da atual, criar perfis falsos, etc.
Investigações sobre o submundo da Internet (denominado Internet profunda) descobriram que
se faz presente nesse universo todo o tipo de violência, transtornos, dependências e práticas cri-
minosas, tais como a pedofilia, a exploração sexual infantil, os abusos sexuais, a violação sexual
e da privacidade e o anonimato de pessoas (usuários dependentes).
A alta vulnerabilidade contribui com uma série de desequilíbrios. A pessoa dependente acaba
por se ver exposta e ter dilacerada sua vida, carreira, família, etc. Pedófilos se utilizam com fre-
quência da Web, se passando por criança e adolescente, ou adultos amigos, para fazer contato
com crianças ou adolescentes, conquistam a confiança delas e posteriormente as convencem de
encontrá-los pessoalmente, sendo então molestadas. Há também casos de adultos vítimas de
estupro, estelionato e até mesmo homicídios nesse território.
Há relacionamentos por computador que se transformam em relacionamentos privados e evo-
luem para o presencial. E, embora haja pessoas que acabam por conquistar e gerar relacionamen-
tos significativos e genuínos, são mais frequentes os casos de danos, destruições, e encontros
com decepção e desilusão, em especial nas situações em que se relaciona virtualmente com um
perfil falso, cuja pessoa real não corresponde com a pessoa fantasiada, podendo gerar a insatisfa-
ção de expectativas, construções, ideia de perfeição, o sentir-se usado e enganado, em especial
quando a pessoa que usou de perfil falso teve essa intenção e só se revela no contato presencial.
57
9 - Contatos obscenos
10 - Contatos eróticos:
a) Exibicionistas:
O outro demonstra prazer em relatar suas experiências sexuais no passado ou no momento da
conversa, e busca expressar com riqueza de detalhes o ato sexual, suas fantasias e desejos.
• Diretriz: comunicar respeitosamente os objetivos do serviço do CVV, e finalizar o contato.
b) Sedutores:
O outro procura envolver o voluntário, passando de exibicionista para sedutor, convidando, di-
reta ou indiretamente, a participação da pessoa do voluntário.
c) Escatologia Telefônica:
Transtorno da preferência sexual em que o prazer é obtido ao se dizer obscenidades pelo te-
lefone ou na masturbação durante o contato telefônico ou após finalizá-lo. O estímulo do prazer
consiste em envolver um parceiro desavisado e sem o seu consentimento (uma espécie de estupro
telefônico ou virtual). Trata-se de uma parafilia praticada por homens e mulheres em que durante o
contato poderá ocorrer ou não a masturbação, e essa, por vezes, se dá ostensivamente, para que
outro perceba (ato violento revelado - explícito); às vezes discretamente, para confundir (ato violen-
to velado – implícito). Faz parte do jogo e das fantasias buscar enganar e confundir o outro. Assim,
no menor sinal implícito ou explícito de que a pessoa do voluntário percebeu suas intenções, ou
que irá finalizar, é comum a pessoa vitimar-se, desculpar-se, dizer que foi sem querer.
Ao ter seu contato finalizado pelo voluntário, costuma retornar sequencialmente e dizer que não
teve a intenção, desculpar-se novamente (no caso daqueles que têm no campo das fantasias o ge-
rar domínio por culpa e piedade, o deixar o outro confuso), ou agredir, falar mal, ameaçar e ofender
(no caso daqueles cuja fonte de prazer se dá pela humilhação, medo e opressão da vítima), etc.
Para as pessoas com essa parafilia, faz parte do jogo e do prazer persuadir, confundir e dominar
o outro.
11 - Detalhando Diretrizes:
a) Escatologia Telefônica ou Cibersexo: O CVV não presta serviço de sexo, e nem está dispo-
nível para promover espaços e brechas que conduzam à Escatologia Telefônica ou Cibersexo.
Identificada essa intencionalidade, finaliza-se o contato. Esse é um dever e um compromisso do
58
voluntário para com a instituição, com o grupo, com os que precisam do serviço de pronto-socorro
emocional e prevenção do suicídio, com a sociedade e consigo.
• Diretriz: comunicar respeitosamente que percebe e respeita a necessidade da pessoa, mas
não está disponível. Finalizar o contato. Sem longas explicações, mas com firmeza e compostura.
A pessoa retorna vitimando-se ou agressiva? Fato que a experiência ensinou, e que pesquisas
e especialistas sobre o tema comprovam, faz parte (embriaguez sexual) do estado compulsivo em
que se encontra (como um dependente químico alucinado para consumir mais álcool ou a droga).
Finalizar o contato, com brevidade, firmeza e compostura.
b) A ajuda com a temática sexual no CVV pode ocorrer por uma infinidade de temas e mo-
tivações, tais como: identidade de gênero, orientação sexual, dificuldades com a dependência
sexual, vícios e compulsões sexuais presencial ou virtual, assexualidade, sexo no casamento e
fora deste (a depender de aspectos culturais, dos valores e do tipo de relação estabelecida entre
os cônjuges), casamento de fachada para dar margem ao padrão de modelo heterossexual, vida
dupla (moral e imoral), casamento sem sexo, abuso sexual, violência sexual, estupro, exploração
sexual, pedofilia, prostituição, conflito entre a orientação e condenação sobre o desejo sexual, o
sexo antes do casamento ou fora deste, inibição ou proibição sexual frente a crenças e doutrinas,
gravidez indesejada, gravidez na adolescência, aborto (espontâneo e indesejado, por escolha,
com culpa e sem culpa), anomalias sexuais, dificuldades com as próprias taras, manias sexuais,
promiscuidades, homofobia, sadismo, masoquismo, fetichismo, travestismo, exibicionismo, entre
tantos outros, cuja premissa seja o pronto-socorro emocional e a prevenção do suicídio. A postura
é a mesma adotada para todas as demais temáticas, tendo o semáforo enquanto suporte.
c) Diante a ajuda com a temática sexual existe uma linha divisória tênue e ao mesmo tempo
nitidamente clara, do que é o pronto-socorro emocional e a prevenção do suicídio, do que é apoio
sexual e sexo por telefone, por computador (virtual, chat, e-mail) ou por correspondência impressa.
Apresentamos a seguir alguns passos para a melhor qualidade na oferta da ajuda:
1• O autoconhecimento do voluntário sobre a própria libido, formas de excitação, sua forma
de vivenciar a sexualidade ou não, de ser sexual ou assexual, dos preconceitos, conceitos e even-
tuais traumas ligados à temática sexual, é o primeiro passo para melhor se aproximar do outro e
oferecer a Relação de Ajuda preconizada pelo CVV;
2• Reconhecer os limites da ajuda e respeitar os limites do serviço;
3• Aceitar a existência de pessoas que nutrem e que vivenciam de maneira desordenada e
compulsiva a preferência sexual, fantasias e o sexo por canais como os do serviço do CVV;
4• Aceitar o que apontam as pesquisas e estudos sobre o tema das parafilias, das disfun-
ções e dos transtornos sexuais, no campo da Escatologia Telefônica e do Cibersexo (pelo com-
putador, com uso de e-mail, chat, voip, redes sociais virtuais). Seu prazer consiste em envolver a
Outra Pessoa sem o conhecimento ou o consentimento dela (no caso do sexo virtual consentido
entre duas ou mais pessoas, ou entre grupos), e por vezes oscila em escancará-lo ou negá-lo,
como em outros tipos de parafilias, cujo prazer está no desconhecimento, no não consentimento,
na dúvida, no desnorteamento e na confusão da vítima (no nosso caso, a pessoa do voluntário);
5• Reconhecer e respeitar os próprios limites e os limites do CVV. Se de um lado o querer
demover a pessoa da sua intenção é desrespeito para com ela, por outro concordar com o uso in-
devido do espaço e canal de serviço do CVV (com ou sem consentimento intencional) é desserviço
e desrespeito às normas, regras e condutas. A diretriz é clara: o que o outro busca está dentro do
contexto da Escatologia Telefônica e do Cibersexo? Esclarece, respeita sua necessidade e finaliza
o contato;
6• Uma pessoa que sofre com a Escatologia Telefônica ou Cibersexo aborda seu sofrimento
e desafio em conviver com a situação, num momento em que esteja sóbria e focada em olhar pra
si, no que no que se passa consigo, suas perdas e danos, desafios, isolamento social, possíveis di-
59
ficuldades em vivenciar relações físicas e presenciais, dificuldades nos relacionamentos, etc, sem
entrar no aspecto prático e detalhado do fato e do ato em si, da prática vivencial dessa parafilia.
Numa analogia para elucidar a diferenciação, é como uma pessoa alcoólatra ou dependente do
uso de outras drogas, que procura o CVV e, tendo feito uso da sua dependência (encontra-se alte-
rada), quer conversar num estado distante da sobriedade e sem condições de discernimento, em
pleno uso da sua dependência. Da pessoa alcoólatra ou dependente de outras drogas que procura
o CVV em estado de sobriedade e quer conversar, sobre o vício, sua dependência e danos em sua
vida, ou outros assuntos, até que tenha coragem e se sinta segura para revelar sua dependência
(dispensa-se a narrativa detalhada de como ela pega, segura, abre ou fecha a garrafa, usa o copo,
o tipo de bebida e quantas vezes e de que jeito – ou faz uso da droga e etc.);
7• Exercitar o discernimento dos propósitos da Relação de Ajuda no CVV e os objetivos do
serviço prestado, com coragem para modificar o que precisa ser modificado em si, aceitação para
com o que não é possível modificar (o outro), e sabedoria para manter-se em sintonia espiritual e
emocional com o trabalho;
8• Contar com o grupo e consigo, com o suporte e supervisão dos mais experientes, realizar
exercícios de vida plena e treinamento de papéis;
9• CLARIFICAR O CONCEITO: ajuda com a temática sexual no CVV condiz com o pronto-
socorro emocional e a prevenção do suicídio, através da oferta de apoio emocional à pessoa em
sofrimento que procura o serviço. Nada tem a ver com sexo por telefone, computador ou qualquer
outro meio, ou com o escutar detalhes e narrativas sobre o ato sexual;
10• Permitir e facilitar para que o outro narre e relate o ato e suas fantasias, com ou sem
envolvimento emocional, afetivo ou sexual num canal do CVV, é desserviço;
11• Toda pessoa é livre (seja voluntária ou não) para fantasiar, participar ou praticar sexo e
vivenciar sua sexualidade de modo não criminoso, seja o sexo com contato físico ou não, afetivo,
espiritual, verbal, mental, por telefone, computador ou qualquer outro canal. Desde que não crimi-
noso. O que implica na relação com Outra Pessoa capaz, no relacionamento com outro humano
vivo, requer o consentimento da outra parte, seja da pessoa interessada e disponível ou do profis-
sional do sexo (que necessariamente precisa ser maior de idade, exercer a profissão com liberda-
de e prestar o serviço sem coação). Requer, ainda, o uso de outros espaços e serviços propícios
e destinados a essa finalidade, cujo CVV não se enquadra em nenhuma dessas possibilidades e
oferta;
12• Considerar que do mesmo modo que não se estamos imune a drogas, álcool, desvalo-
res, violências, conflitos afetivos e conjugais, crises existenciais, conflitos nas relações, finanças
ou profissão, ao suicídio, doenças e depressão, também não estamos dos desafios para com o
vivenciar de modo saudável e harmônico a sexualidade em nossas vidas, quer sejamos sexuais ou
assexuais. Ajuda mais o autoconhecimento e a moderação, do que a desonestidade intelectual, o
moralismo e o falso moralismo, a rigidez e o radicalismo.
13• O VOLUNTÁRIO E SUA AUTOPERCEPÇÃO: observar as próprias necessidades e fazer
uso da honestidade intelectual diante da situação - Escatologia Telefônica (telefonemas obsce-
nos que envolve um parceiro desavisado) ou Cibersexo (sexo virtual) -, é fundamental para com
o autoconhecimento e o respeito ao espaço e serviço do CVV. É possível que por alguma razão
inconsciente a situação desperte sensações, a libido, o interesse ou desinteresse do voluntário.
Identificar e aceitar seus sentimentos, pensamentos e sensações é diferente de nutrir. Dar margem
e espaço permissivo para que a situação evolua com consentimento e conscientemente é desser-
viço e desonestidade para com o grupo e a instituição (má conduta), inconscientemente (percebe-
se que algo mexeu e despertou interesse ou desinteresse e nega-se) é desonestidade intelectual;
14• APROXIMAÇÃO DE SI COM O TEMA: indagações tais como “Mexe comigo?”, Des-
perta curiosidade? Enoja? Incomoda? Aciona meu lado moralista? Aciona meu lado libidinoso?
60
Deixa-me indignado? Deixa-me excitado? Desperta piedade? Desperta raiva? Sinto desejo de dar
corda para ver onde vai? Entro em pânico e sinto vontade de finalizar imediatamente? Desperta
fantasias e desejos em mim, e, quando dou por mim, estou imaginando tudo o que o outro relata?
Reconheço preconceitos e conceitos em meu sistema de valores na área da sexualidade humana
e do sexo? Consigo aceitar, compreender, confiar e respeitar a pessoa do indivíduo que diverge
dos meus ideais e valores? E, finalmente, qual é o foco do serviço do CVV? Onde está o meu foco
nestes momentos?
Quando o contato da pessoa se trata de narrativas, partilhas, obscenidades, agressividades,
busca de sexo com ou sem consentimento, finalizamos o contato e abrimos o canal do CVV para
pessoas que estejam necessitadas de receber e contar com os seus serviços efetivamente.
61
ESTÁGIO 6
1 - Pessoas agressivas
a) Tipos de ameaças
O desabafo por vezes pode se transformar em uma postura agressiva e a Outra Pessoa ameaça
o voluntário.
Podem ser assim classificadas:
• Ameaças diretas: quando a Outra Pessoa, por raiva ou frustração, agride verbalmente ou ame-
aça agredir;
• Ameaças indiretas: quando a Outra Pessoa ameaça se agredir ou cometer suicídio;
• Ameaças durante o apoio pessoal: são situações raras, quando a Outra Pessoa está alcooli-
zada ou drogada. Quando ocorre no posto, pode se tornar uma situação delicada e tensa para o
voluntário.
b) Considerações
Nos três casos é preciso compreender que geralmente:
• A agressividade é uma forma de desabafo,
• A agressão não é dirigida ao voluntário quando este se esforça em respeitá-lo.
c) Recomendações
Com essas considerações, é possível compreender o outro. Contudo, o voluntário precisa ado-
tar duas atitudes corretas:
• Nunca revidar a agressão;
• Não se colocar em atitude defensiva.
Seu comportamento deve ser sempre sereno e firme, aguardando que o outro se acalme e, se
quiser conversar, apoiá-lo.
Caso seja impossível continuar a conversa, e o outro continuar agressivo, se a relação for por
telefone ou virtualmente, pedimos licença e desligamos. Em caso de ser no posto, se o outro não
aceitar a interrupção para retornar quando estiver melhor, é mais seguro solicitar colaboração po-
licial, pedindo que atuem com discrição e ajudem à Outra Pessoa.
2 - Situações drásticas
Situações drásticas são aquelas em que o voluntário é informado de uma tentativa de suicídio
em andamento, ou prestes a acontecer, ou que já tenha ocorrido pouco antes.
Este tipo de apoio poderá ser realizado com segurança, à medida que se organiza e se amplia a
rede nacional de prevenção do suicídio, por contar com mais instituições envolvidas nessa ajuda.
A eficácia da rede dependerá sempre da continuidade desta iniciativa por parte dos Postos do
CVV, em ampliar a rede ao fazer contatos e consumar parceria com outras organizações de pre-
venção do suicídio e dos serviços de saúde e segurança pública.
O intercâmbio de informações dos Postos do CVV entre si, e com os demais serviços - princi-
palmente públicos, poderão melhorar esquema de apoio às pessoas que pensam em cometer o
suicídio.
As situações drásticas podem ser classificadas de acordo com quatro tipos de solicitação.
62
a) Solicitação de companhia
Quando a pessoa liga para ter a companhia do voluntário, logo após ter decidido pelo suicídio,
ou mesmo já tendo iniciado a tentativa.
É necessário que o voluntário confirme se ela deseja ou não ser socorrida. Isso deve ser feito
com serenidade e sem insistência. Se ela não quiser o socorro, ele terá que centrar-se nela.
b) Solicitação de socorro
– Pela própria pessoa
Quando, após ter iniciado a tentativa de suicídio, ela liga solicitando socorro, o volun-
tário deverá solicitar a mesma que acione um serviço de emergência (Bombeiros, Polícia ou
SAMU).
– Por terceiros
Quando alguém solicita ajuda para Outra Pessoa, cuja tentativa de suicídio esteja em andamen-
to (como vimos no Estágio 2), a pessoa que liga deve ser orientada a pedir apoio à polícia, ou ao
pronto-socorro ou ao Corpo de Bombeiros.
d) Usando o Trote
As situações drásticas apresentadas acima são propícias a trote, com as ressalvas feitas no
Estágio 2. Se possível, o voluntário deve solicitar a pessoa que acione o serviço de emergência
(Polícia, Bombeiros ou SAMU), diretamente.
As centrais de triagem da PM e os serviços de socorro possuem larga experiência nesse tipo de
situação e poderão ajudar a outra pessoa.
3 - Personalidade “sociopática”
a) Conceitos
Denominam-se distúrbios de personalidade da pessoa certas atitudes marcantes que se repe-
tem na forma de pensar, sentir e agir. A personalidade usa estas três funções para se relacionar
com o mundo e as pessoas obedecendo à própria estrutura pessoal, as convenções sociais e
demandas da vida.
Assim, passam a ser considerados distúrbios por não estarem congruentes com o comporta-
mento considerado aceitável pela sociedade. São personalidades muitas vezes imprevisíveis que
provocam situações difíceis e até destrutivas. Focam esta relação com as pessoas mais próximas,
amigos, parentes, de convivência esporádica ou um grupo social qualquer.
O distúrbio de personalidade sociopática se caracteriza pela insensibilidade e pela capacidade
de fazer sofrer aos outros ou a um grupo social.
63
SIMBOLIZAÇÃO DO SER DAS PESSOAS E AS INFLUÊNCIAS DA MANEIRA DE COMPORTAMENTO
64
• Vício: drogas em geral, incluindo o alcoolismo.
• Instabilidade profissional: é uma das características mais frequentes. Os empregos são perdi-
dos por razões diversas, dentre eles: agressões, inabilidade em ver o conjunto das coisas, atrasos,
indolência, patifaria... Não conseguem obedecer a qualquer disciplina, programação ou plano de
vida;
• Comportamento autodestrutivo: os sociopatas frequentemente atacam o CVV em seu ponto
mais fraco, ameaçando-os com suicídio. Cometer suicídio não é comum entre eles; entretanto,
podem apresentar uma incidência média, de tentativas, mais altas. Investigações sobre essas
tentativas mostram que a manipulação é sua principal finalidade, por exemplo: como evitar o pa-
gamento de débitos ou procedimentos policiais. Outro exemplo é quando sua atitude é de reter ou
fazer retornar a esposa que está saindo de casa;
• Comportamento racional: como em geral são bastante inteligentes e práticos, usam esta ca-
pacidade enquanto for possível e tiram proveito dela;
Muitas dessas características, de forma mais ou menos acentuada, são comuns a todas as pes-
soas e se tornam visíveis em certas circunstâncias. Uma pessoa pode agir de forma sociopática
diante desta ou daquela situação e adequadamente nas demais. Outra se comporta sociopatica-
mente na maioria das situações.
c) Evolução:
Todas as pessoas possuem capacidade intrínseca de crescimento e amadurecimento. Esse
processo, contudo, ocorre de forma peculiar em cada um. Em alguns ocorre lentamente e, mesmo
mais velhos, ainda permanecem infantis. Outros, a despeito de sua baixa capacidade de aprender
com a experiência, podem na terceira ou quarta década se transformar e tornar-se cidadãos. Há,
ainda, aqueles que se mantêm equilibrados, apoiando-se nas rígidas estruturas das Forças Arma-
das, das religiões ou em hospitais repressivos. É importante neste tratamento o aprendizado em
assumir a própria responsabilidade de seus atos.
Não é possível ajudar as pessoas quebrando as regras ou infringindo normas do grupo.
d) Armadilhas típicas do comportamento sociopático:
O que caracteriza o comportamento do sociopático é sua voracidade afetiva, que o leva a uma
incessante busca de atenção, e necessidade de repetidas provas de que é amado. Considera
insuficiente qualquer prova de amor recebido. Daí passa a rejeitar a pessoa e, assim, reinicia nova
busca.
Essa atenção tanto pode ser material, como por exemplo, ajuda financeira ou social, quanto
emocional, como atenção pessoal a qualquer custo, como também piedade, desafio... A necessi-
dade de desafio é característica do comportamento sociopático e frequentemente torna-se abu-
sivo.
Outra particularidade é sua baixa capacidade de amar. Os outros são apenas instrumentos de
seus desejos e caprichos. Deste modo, alimenta sua permanente “esperança de satisfação futura”.
Se permitirmos o desenvolvimento desta “esperança” imaginária, seu retorno à realidade pode-
rá ser desastroso, frustrando-se e liberando sua natureza agressiva, e poderá voltar- se contra si
mesmo ou contra o voluntário.
Muitas vezes procura obter o que deseja através de chantagem. Relacionando-se com o CVV,
fazer ameaça de suicídio é uma atitude esperada. O objetivo é tirar nossa autoridade e estabelecer
preocupação, remorso e apontar o escândalo que existe até num posto do CVV
e) Como o sociopata envolve o voluntário:
De início, obtendo pequenas concessões, pequenos pedidos satisfeitos, diminuindo assim sua
ansiedade e a do voluntário. Insistindo progressivamente com pedidos mais fúteis, estabelecendo
um relacionamento dependente entre ambos.
Seus relatos convincentes e dramáticos de desastres, rejeições, catástrofes, desemprego,
65
abandono, dívidas, gravidez, delinquência, alcoolismo, vício em drogas, desvios sexuais, citando
alguns apenas para exemplificar, são envolventes e o voluntário precisa perceber seus próprios
sentimentos e reações a estas “histórias tocantes”.
Nossos cuidados serão de:
• Observar nossos sentimentos e reações;
• Impor limites de tempo e frequência a esta relação;
• Não permitir que nossa disponibilidade a outros seja prejudicada;
• Manter-se fiel e íntegro com as normas estabelecidas.
Estas pessoas são especialistas em descobrir falhas no comportamento de grupo. Geralmente
usam aqueles que dão sinais de insegurança e os novos, com pouca experiência. Certos sociopa-
tas têm prazer de dividir o grupo e escandalizar e espalhar a discórdia entre todos, especialmente
em instituições como o CVV.
Quando seus planos falham, podem criar situações embaraçosas como, por exemplo, tentar
obrigar o voluntário a usar a força ou chamar a polícia, para que depois possa dizer que “O CVV,
não é tudo, o que dizem ser”.
Há outros métodos que usam para prejudicar e sabotar o trabalho:
• Contatos repetidos e longos;
• Trotes verdadeiros, com intuito de provocar ansiedade no voluntário e dificuldades para a or-
ganização.
A melhor atitude sempre é: neutralidade e firmeza. O menor sinal de irritação alimenta sua in-
tenção destrutiva. Assim, é necessário usar o conhecimento e cumprimento das normas e combi-
nados com o grupo e a instituição.
Um tipo comum adotado por estas pessoas é o “pobre coitado”- uma pessoa inadequada que
traz problemas sociais diversos, problemas financeiros, entre outros, e que frequenta assiduamen-
te o Plantão. Não se pode permitir que prejudique os outros atendimentos. Deve ser atendido com
atenção e gentileza, com firmeza e, se for o caso, ser encaminhado a serviços de socorro social ou
psicológico disponíveis. Essas pessoas são manipuladoras, raramente entram na crise de suicídio.
a) Motivos
– Necessidade mais tempo para superar a crise
À medida que ela for sendo superada, a frequência dos contatos tenderá a diminuir, até a com-
pleta independência da pessoa.
– Dependência do CVV ou do voluntário
A Relação de Ajuda não está se processando, por dificuldade do outro ou do próprio voluntário.
b) Consequências
Essas situações poderão causar transtornos ao voluntário e ao trabalho:
– Perda da disponibilidade
Por acreditar que ouvirá agora, neste Plantão, “as mesmas coisas” que ouviu no plantão ante-
rior, o voluntário pode deixar de acolher e compreender o outro com o calor humano necessário.
– Desmotivação
O voluntário pode sentir-se inútil e fazer seu Plantão como dever, para não sair do CVV.
c) Providências e recomendações:
Para readquirir disponibilidade e motivação, o voluntário precisa buscar a ajuda dos mais expe-
rientes e dedicar-se ao treinamento em seu grupo, procurando utilizá-lo para aperfeiçoamento da
sua capacidade e melhora da qualidade do trabalho.
66
Algumas dessas situações são difíceis para todos, principalmente as que são consequências de
erros cometidos por nós próprios.
Para desfazer a relação de dependência, é necessário centrar nossa atenção na pessoa. Por
vezes pode ser difícil. Lembremos que o outro está em primeiro lugar e que no trabalho não culti-
vamos interesses pessoais.
Algumas pessoas que procuram o plantão sofrem de transtornos mentais. A maioria passa des-
percebida, ou porque os sintomas não são aparentes, são leves, ou por essas pessoas estarem
seguindo tratamento. Preocupar-se com as causas da pessoa estar nesta situação, além de não
ajudar, dificulta a Relação de Ajuda.
As diretrizes e orientações básicas deste Manual são aplicáveis em todas as circunstâncias.
Respeitamos e compreendemos a pessoa com seus problemas, e nosso esforço é dirigir toda a
atenção para ela.
67
OS SETE PRINCÍPIOS
1 - O objetivo primordial do CVV é estar disponível para prestar apoio emo-
cional às pessoas que estão se sentindo propensas ou determinadas a prati-
carem o suicídio (pronto-socorro).
3 - A pessoa que faz contato com o CVV terá respeitado o seu direito à
liberdade de tomar suas próprias decisões, inclusive a de suicídio, a de romper
o contato a qualquer momento e a de permanecer no anonimato (confiança na
tendência construtiva).
4 - O fato de uma pessoa ter procurado o apoio oferecido pelo CVV, bem
como tudo o que tenha dito e possa identificá-la, é completamente confidencial
e sigiloso, permanecendo restrito ao próprio voluntário e, excepcionalmente, à
coordenação, quando estiverem em risco os princípios e a segurança do tra-
balho ou de qualquer pessoa (sigilo).
68
AS SETE PRÁTICAS
1 - Os voluntários são cuidadosamente selecionados por suas qualidades
pessoais e aptidões naturais para o trabalho. Os processos de aperfeiçoa-
mento individual do voluntário e da sua prática, e de integração às demais ati-
vidades do CVV, são objetos de atenção e empenho permanentes (seleção e
desenvolvimento).
5 - Os voluntários não interferem na vida das pessoas que não pediram aju-
da diretamente ao CVV. Contudo, oferecem também o seu apoio e esclarecem
àqueles que estão preocupados com o bem-estar delas (não interferência).
69
ADMINISTRAÇÃO
I. O Manual do Programa CVV
Além do Manual do Voluntário, o CVV dispõe de outros manuais específicos. Um deles é o Ma-
nual do Programa CVV, cujo objetivo é buscar a unidade do trabalho desenvolvido abordando as
questões administrativas.
1. Filosofia da administração
Talvez o significado mais marcante do nosso trabalho e de maior alcance futuro seja simples-
mente o nosso modo de ser e agir enquanto equipe.
Criar um ambiente onde o poder é compartilhado, as pessoas e os grupos são vistos como dig-
nos de confiança e competentes para enfrentar os problemas: tudo isso é inédito na vida comum.
Nossas escolas, nossos governos e negócios estão permeados da visão de que não se pode
confiar nem num indivíduo, nem em um grupo, o que justifica o poder que exercem sobre eles para
controlá-los. O sistema hierárquico faz parte da nossa cultura, bem como o paradigma de que a
essência das pessoas é perigosa e, por esse motivo, elas precisam ser controladas, guiadas e
ensinadas.
Contudo, nossa experiência — e não estamos sozinhos nela — tem demonstrado que existe
uma outra forma de compreender o ser humano muito mais eficiente e construtiva para o indiví-
duo e a sociedade. Segundo o ponto de vista do Programa CVV, havendo um clima psicológico
adequado, o indivíduo e os grupos são dignos de confiança, criativos, automotivados, poderosos,
construtivos e capazes de realizar potencialidades jamais imaginadas.
O modelo de administração com Direção Centrada no Grupo é o modelo sobre o qual está ba-
seada toda a administração dos Serviços do Programa CVV.
A administração se caracteriza pela valorização dos grupos e pela confiança em sua vitalidade,
e o processo de decisão deve iniciar pela participação de todos.
É, portanto, também uma busca permanente de formas e conteúdos organizativos que dão ao
CVV um dinamismo incomum na nossa sociedade.
70
III. O Centro de Valorização da Vida
Pessoa que
procura apoio
Voluntário do Programa de
Programa CVV Saúde Mental
Grupos/ Comissões
Grupo Executivo Local
GE Regional
GE Nacional
Eixos de Apoio
Conselhos Fiscal
Diretoria Executiva e Consultivo
Conselho Curador
e Assembleia Geral
IV. Serviços do Programa de Apoio Emocional do CVV
1. CVV Postos
Tem por objetivo instalar e manter Postos físicos nas principais capitais e cidades do país.
a) Inicio das atividades no dia 1º de março de 1962, na cidade de São Paulo.
b) A maior parte do trabalho de apoio é realizada telefonicamente. Também é possível realizar
apoios pessoais, por e-mail e por carta. Os voluntários também podem se inserir nos demais ser-
viços: Web, Virtual, e Comunidade.
2. CVV Web
Tem como meta adequar-se aos meios de comunicação mais modernos e atingir o público jo-
vem.
a) Início das atividades em outubro de 2008.
b) As pessoas acessam o chat através do site do CVV: http://www.cvv.org.br
c) O apoio é realizado pelo voluntário diretamente de sua casa através de um programa insta-
lado em seu computador. A senha para acessar o site é liberada para os voluntários no início das
atividades e é cancelada quando deixam de participar do serviço.
3. CVV Virtual
Tem a meta de realizar apoios por voz através da internet e implementar a atuação do voluntário
fora do posto, principalmente em locais em que inexiste um posto físico, atendendo pessoas que
preferem utilizar a internet.
a) Início das atividades no dia 15 de outubro de 2010.
b) Utiliza o aplicativo Skype (gratuito).
c) Alguns Postos físicos disponibilizam o equipamento necessário para que os seus voluntários
realizem apoios também via Skype.
d) O treinamento e a capacitação dos voluntários são realizados através da sala virtual ofertada
pelo MEC. As reuniões e cursos também acontecem nesta sala privativa do CVV.
4. CVV Comunidade
Tem por objetivo compartilhar com a comunidade a proposta de vida do CVV, oferecendo de-
senvolvimento pessoal, e prestar apoio às pessoas no local onde se encontram.
a) Início das atividades em 2012.
b) Disponibiliza as seguintes atividades:
• Caminho de Renovação Continua – CRC
• Cine SER CVV
• Curso Caminho de Valorização da Vida
• Curso de Escutatória
• Palestras de Proposta de Vida
• Semana de Valorização da Vida
• Participações em eventos na comunidade (SIPAT, Multiação, etc.)
• CVV GASS – Grupo de Apoio de Sobreviventes de Suicídio
c) É ainda um programa de apoio indo ao encontro das pessoas com necessidade de ajuda
emocional ou que estejam em situação de risco, ajudando-as a lidar com suas realidades cotidia-
nas e inesperadas em qualquer lugar da comunidade.
72
REGIMENTO INTERNO DO PROGRAMA
CVV APOIO EMOCIONAL
Capítulo 1 - Denominação e finalidades
Art. 1° - O Centro de Valorização da Vida é uma sociedade civil, sem fins lucrativos, fundada
em 1962, sediada na cidade de São José dos Campos, estado de São Paulo, na Estrada Dr. Be-
zerra de Menezes, 700 – CEP 12.229-380, declarada de utilidade pública pelo Decreto Federal n°
73.348, de 20/12/73.
§ 1° - Para alcançar os seus objetivos, o Centro de Valorização da Vida possui várias diretorias
dentre as quais se destaca a Diretoria do Programa de Apoio Emocional.
§ 2° - A Diretoria do Programa de Apoio Emocional do CVV tem por finalidade o desenvolvi-
mento do Programa CVV de Apoio Emocional e Prevenção do Suicídio através dos Serviços: CVV
Postos, CVV Web, CVV Virtual e CVV Comunidade.
§ 3° - A coordenação de todos os trabalhos atinentes ao Programa de Apoio Emocional do CVV
é da responsabilidade do Diretor do Centro de Valorização da Vida, eleito para a Diretoria do Pro-
grama de Apoio Emocional do CVV e designado como Diretor do Programa de Apoio Emocional
do CVV.
§ 4° - As marcas de serviço nominativas CVV, Posto Samaritano, Centro Samaritano, CVV-Sa-
maritanos e seus homófonos, e a mista (logotipo CVV), são de propriedade do Centro de Valoriza-
ção da Vida para todo o território nacional.
73
Capítulo III - Atividades desenvolvidas e coordenação
Art. 5 - As atividades dos Serviços e dos Postos CVV e sua coordenação estão subordinadas
ao texto do documento “Princípios e Práticas” e aos “Manuais do Programa CVV e do Voluntário”.
§ único - Os casos omissos ou que ensejarem dúvidas serão resolvidos ou esclarecidos pelo
Grupo Executivo Nacional e pelo Conselho Nacional e referendados pela Diretoria do Programa de
Apoio Emocional do Centro de Valorização da Vida.
74