Documente Academic
Documente Profesional
Documente Cultură
net/publication/324758836
CITATIONS READS
0 78
1 author:
Andrea Cardarello
20 PUBLICATIONS 73 CITATIONS
SEE PROFILE
All content following this page was uploaded by Andrea Cardarello on 25 April 2018.
Andrea Cardarello
Universidade Federal do Rio Grande do Sul* – Brasil
*
Mestranda em Antropologia Social.
o fotógrafo quiseram que ela fosse” (p. 143-144). Portanto, recomenda-se que,
da mesma forma como se avaliam os documentos verbais, as fotos sejam com-
preendidas através da apreciação crítica de suas mensagens.
Embora as imagens sejam excelentes recursos para a descrição de deter-
minadas coisas (por exemplo, formas geométricas, gestos e expressões faciais
e corporais), as idéias, teorias, sentimentos e deduções não são transponíveis
para a imagem fixa e isolada. A natureza polissêmica da imagem suscita leitu-
ras diferentes de acordo com a variabilidade da recepção e interpretação do
leitor. Essas leituras diferenciadas são introduzidas por aspectos como a idade,
sexo e nível social. É por isso que “[…] não olhamos apenas para uma foto,
sempre olhamos para a relação entre nós e ela” (p. 145). itando Arnheim: “o
que se vê, depende de quem olha […]” (p. 130).
Dessa forma, raramente a imagem prescinde do código escrito. As legen-
das são geralmente indispensáveis, podendo, inclusive, transformar o conteúdo
observado. A autora nos lembra que foi nos trabalhos de antropologia visual,
particularmente com as contribuições de Margaret Mead, que se tomou cons-
ciência de que as imagens precisam ser descritas por palavras para serem
incorporadas ao trabalho científico. “Não é possível utilizar apenas o texto não-
verbal, cuja ambigüidade de um lado e mutismo de outro abrem demais as
questões apresentadas, deixando-as indefinidas e inadequadas a uma sistema-
tização científica.” (p. 152-153).
No entanto, essa transposição verbal nem sempre dá conta de todas as
contribuições da fotografia: a transposição da imagem para palavras dificil-
mente se completa, sendo freqüentemente empobrecedora. Com isso Leite
observa que cada uma das diferentes fontes tem vieses específicos e exprime,
na maior parte das vezes, um aspecto limitado da questão focalizada pelo pes-
quisador.
Para fazer todos estes comentários, a autora se baseia, fundamentalmen-
te, em uma coleção de retratos de família de álbuns cedidos por descendentes
de imigrantes de várias origens. São famílias italianas, alemãs, portuguesas,
judias russas, espanholas, marroquinas, suecas, libanesas e japonesas que aca-
baram por se reunir na cidade de São Paulo no início do século. Abrangendo o
período de 1890 a 1930, esta coleção de fotografias compreende três gerações.
A esses retratos foram acrescentadas fotografias de família de acervos públi-
cos e os publicados em revistas ou almanaques. Por fim, a autora incluiu na sua
coleção fotos de famílias tradicionais brasileiras, das camadas dominantes e de
camadas médias. Um dos capítulos do livro também aborda a família do século
não pode ser atribuída inteiramente à imagem que a família queria transmitir de si
mesma, se quando foi produzida a imagem fotográfica exigia um longo tempo de
exposição e a atenção dos retratados precisava ser atraída por um “vai sair um
passarinho” do fotógrafo. (p. 75-76).