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03/04/2019 Domínios do Crime - Estadão

PCC 10 ANOS 

RAFAEL ARBEX/ESTADÃO

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O PODER DE ‘ESTADO’
Alexandre Hisayasu TEXTO

Organização criminosa encontra


nos presídios brasileiros espaço
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para crescer e ocupar o lugar do Estado

soma da força financeira com a expansão territorial faz com que o

A Primeiro Comando da Capital (PCC) desempenhe um papel de “Estado


paralelo” diante de um poder público com dificuldades para coibir suas
articulações. A falta de uma legislação mais específica contra facções
criminosas, de mecanismos eficazes para incentivar integrantes a fazer acordo de
delação premiada, de um programa de proteção a testemunhas eficiente e de uma
rede de proteção às autoridades que lidam diariamente com processos contra o
crime organizado são alguns dos fatores que, segundo promotores e magistrados
especialistas no assunto, contribuem para a falta de uma resposta dura do Estado
contra o bando.

Um dos instrumentos mais eficazes contra o crime organizado, a delação premiada,


tem efeito quase nulo nas investigações contra o PCC em comparação à Operação
Lava Jato, por exemplo, que investiga denúncias de corrupção na Petrobrás. Um
preso do PCC pode conseguir diminuição de pena apenas no processo em que ele
está delatando, se o acordo for firmado – ou seja, o benefício não atinge outros
processos a que ele responde.

Outro dado preocupante é que, como praticamente todos os presídios são dominados
pelo PCC, o delator teria de estar em uma penitenciária com detentos rivais à facção,
mas nem os inimigos admitem uma “traição”. O desfecho é que o preso acaba em
uma penitenciária destinada a estupradores.

Segundo investigações do Ministério Público Estadual (MPE), há registros de presos


que pertenciam à cúpula do PCC que fizeram delação premiada e foram duramente
reprimidos. Um teve a mulher assassinada com vários tiros, outro teve dois irmãos
mortos de maneira extremamente cruel. A ordem no PCC é que, se alguém da
cúpula colaborar com a Justiça, deve ser executado e seus parentes também.

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Se para um delator ou uma testemunha é perigoso, para um juiz que tem a


responsabilidade de julgar processos do PCC, o risco também é grande. Se um
magistrado se sentir ameaçado, ele pode convocar o Colegiado de Juízes por meio
do Tribunal de Justiça de São Paulo (TJ-SP), que nomeia outros dois juízes para
assinar as decisões em conjunto. Porém, quem pediu o apoio continua na mesma
localidade e cuidando de outros processos.

Para o promotor Lincoln Gakiya, há a necessidade de criação de varas criminais


específicas, com juízes e promotores especializados em combater o crime
organizado, como a 13ª Vara Federal de Curitiba, do juiz Sérgio Moro, com estrutura
de segurança para desenvolver as investigações.

Escutas. Durante os ataques de maio de 2006, investigações conseguiram


informações por meio de escutas telefônicas autorizadas pela Justiça. Hoje, porém,
segundo o MPE, os presos – principalmente as lideranças do PCC – não usam mais
celular. O principal meio de contato entre eles e os subordinados que estão nas ruas
a serviço do crime são as visitas que vão aos presídios todos os fins de semana. A
fiscalização feita por agentes penitenciários não tem instrumentos eficazes de evitar
esse tipo de contato. Investigações mostram que o PCC paga até R$ 2 mil para uma
visita ir até o presídio, receber a ordem da liderança e repassá-la aos demais
integrantes que estão soltos.

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Segundo o promotor Gakiya, outra forma de comunicação usada são os cartões de


memória. “Os presos escondem esses chips dentro das televisões de tela fina que
têm nas celas. Essas TVs têm saída USB, por exemplo, que acaba servindo para
esconder os chips. Nesses cartões, ficam armazenados dados sobre vários assuntos
ligados ao PCC, desde despesas com advogados a ordens que devem ser cumpridas.”
Hoje, um preso pode comprar uma TV, independentemente do modelo, e colocar em
sua cela. A Secretaria da Administração Penitenciária (SAP) faz uma fiscalização
para evitar esse tipo de comunicação.

VÍDEO. "É preciso cortar o elo de comunicação da cúpula do PCC"

Comunicação. Para o promotor, um dos meios mais eficazes para combater o PCC é
cortar a comunicação entre os integrantes da facção. “A cúpula deve ser isolada no
Regime Disciplinar Diferenciado de Presidente Bernardes. Hoje, uma ordem demora
uma semana para chegar até o integrante que está na rua. E posso garantir que,
desde 2006, eles não pararam de cometer crimes. Então, há a necessidade de
isolamento por mais tempo.”

Hoje, um preso pode ficar até um ano no RDD, que, para as autoridades, é um período
insuficiente. Em 2013, Gakiya, com outros promotores dos Gaecos de São Paulo,

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pediu à Justiça, entre outras medidas, a internação imediata de 35 presos da cúpula


da facção criminosa no RDD. A Justiça negou, houve recurso e 17 acabaram
internados. Porém, as transferências não foram simultâneas, o que prejudicou as
investigações. “A proposta era isolar a liderança do PCC e os principais integrantes
simultaneamente para quebrar a comunicação, mas não foi autorizado, infelizmente.”

Para a desembargadora Ivana David, do Tribunal de Justiça de São Paulo (TJ-SP), a


superlotação nos presídios é um fator que contribui, e muito, para o crescimento da
organização. O Estado tem mais de 200 mil detentos. “Hoje, Centros de Detenção
Provisória (CDPs), com capacidade para abrigar 700 presos, estão com 2,5 mil.
Dentro do sistema prisional, o PCC adota o preso: cuida dele, da família dele, enfim,
se monta uma sociedade criminosa paralela que age justamente onde o Estado está
ausente.”

GOVERNO APONTA ‘DIFICULDADES


IMPOSTAS PELA LEI’ NO
MONITORAMENTO DE PRESOS

A Secretaria da Administração Penitenciária (SAP), da gestão Geraldo Alckmin


(PSDB), afirma, por meio de nota, que as atuais leis implicam barreiras no
monitoramento dos presos. “Mesmo com as dificuldades impostas pela
legislação brasileira, que atualmente proíbe o monitoramento da conversação
entre advogados e seus clientes em prol do sigilo profissional, a pasta tem se
esmerado no enfrentamento ao crime”, informa, a fim de evitar o envio de
mensagens das lideranças detidas aos criminosos que atuam nas ruas.

Preso com potencial de risco à segurança, segundo a secretaria, é


“imediatamente isolado” nas Penitenciárias I de Avaré ou II de Presidente
Venceslau. Nessas unidades, os detentos só podem deixar as celas algemados.
Além disso, 23 presídios do Estado, incluindo as duas de segurança máxima, têm
bloqueadores de sinal de celular para eliminar a comunicação externa. As
unidades operam, de acordo com a pasta, dentro dos padrões estabelecidos de
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segurança, “sem qualquer registro de motim, rebelião ou fugas ao longo dos


últimos cinco anos”.

Na Penitenciária II Maurício Henrique Guimarães Pereira, de Presidente


Venceslau, onde está Marco Willians Herbas Camacho, o Marcola, há, segundo a
secretaria, “rigorosos procedimentos de segurança, ordem e disciplina, tais
como o uso do Grupo de Intervenção Rápida (GIR)”. Os agentes acompanham
os detentos em todos os atendimentos aos quais são submetidos fora do raio,
bem como inclusões e exclusões do presídio, auxiliam nas revistas das celas e
também na retirada do sentenciado para atendimento de saúde no período
noturno. A unidade tem mais de cem câmeras internas e externas de
monitoramento e os pavilhões são cobertos com estrutura metálica para evitar o
lançamento e a chegada de objetos.

Ainda de acordo com a SAP, “o combate às organizações criminosas é realizado


diuturnamente”. Para isso, trabalham de forma articulada os órgãos de
inteligência da pasta, os serviços de inteligência da Polícia Militar e da Polícia
Civil, o Judiciário e os Grupos de Atuação Especial no Combate ao Crime
Organizado (Gaecos), do Ministério Público Estadual (MPE), e a Polícia Federal.

O Estado de São Paulo tem 230.743 mil presos, de acordo com dados atualizados
até o dia 9 de maio de 2016, em 164 unidades – é o maior sistema carcerário do
País.

A LUXUOSA VIDA E A
ILUSTRE VISITA DAS
DAMAS DO CRIME

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Quando chega o fim de semana, a Penitenciária Maurício Henrique Guimarães


Pereira, conhecida como P2 de Presidente Venceslau, no oeste paulista, começa a
ser rodeada por ônibus de excursão e também carros de luxo. Neles, estão as
mulheres consideradas as primeiras-damas do Primeiro Comando da Capital (PCC),
que se deslocam de várias cidades, principalmente de São Paulo, para visitar seus
companheiros. Isso não é segredo nenhum para agentes penitenciários, polícia e
Ministério Público.

No fim de semana do Dia das Mães, o sábado, 7, ficou reservado para as visitas de


metade dos presos. Os ônibus com os parentes começam a chegar por volta de 1h30
da madrugada. As mulheres descem, pegam uma senha na porta da prisão e vão
para um hotel próximo. Elas retornam por volta das 6 horas, quando os portões se
abrem. Os comerciantes brincam dizendo que “a crise chegou ao Comando (PCC)”.
“Eles cortaram dois ônibus para diminuir os gastos. Agora são só cinco fretados por
dia de visita”, conta um deles.

O local tem barracas com lanches e refeições para os parentes, que complementam
as encomendas com o “jumbo” trazido de casa para os presos. É comum as
mulheres comprarem fiado e algumas tentarem ir embora sem pagar. Quem
trabalha por lá diz também que não é incomum buscar clientes dentro do ônibus
para acertar as contas. Comuns mesmo são as brigas entre elas quando uma pega a
encomenda da outra.

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No domingo, foi a vez de as mulheres e os filhos dos integrantes da cúpula do PCC


fazerem as visitas. Para ver os companheiros na unidade onde vivem 841 detentos,
com vagas para até 1.280 – uma das poucas prisões sem problema de superlotação
–, elas descartam os fretados e preferem ir em seus próprios veículos.

Cynthia Giglioli da Silva Camacho, mulher de Marco Willians Herbas Camacho, o


Marcola, chega em um Toyota SW4 2014, conduzido por sua motorista particular. O
carro custa mais de R$ 150 mil. Os comerciantes dizem que ela é discreta e muito
educada. Na Justiça, Cynthia responde em liberdade às acusações de associação
para o tráfico de drogas e lavagem de dinheiro.

A família de Wanderson Nilton de Paula Lima, o Andinho, condenado por sequestros,


homicídios e tráfico de drogas, também costuma chegar a bordo de carros
importados avaliados em mais de R$ 100 mil. Sua mulher, Luciane de Seixas,
também estava no presídio e chegou em um Kia Sorento, avaliado em R$ 120 mil. No
domingo, o Estado flagrou os veículos de luxo parados perto da prisão. À frente
estava o carro de Cynthia, seguido do Sorento de Luciane e, logo atrás, havia um
Toyota Corolla 2016.

PRÓXIMO CAPÍTULO

O PODER FURIOSO

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