Jesus Cristo se reveste de um novo Corpo: sua Igreja (Cl 1,24).
Cristo é a Cabeça deste Corpo e
nós somos seus demais membros (Ef 5,23) que, apesar de distintamente sermos muitos, formamos um só Corpo em Cristo (Rm 12,5). Tanto é que quando o Apóstolo S. Paulo, antes de se converter, ao perseguir os cristãos, é questionado assim por Jesus: "por que ME persegues?" (At 9,4). O mesmo Apóstolo como que fala que nem a morte nos separará de Cristo (Rm 8,38-39). Então, embora os Santos estejam mortos para a vida terrena ("bios" em grego), eles, ao morrer, passando pelo juízo particular (Hb 9,27) e herdando o Céu, estão vivos para a Vida Eterna ("zoé" em grego) em Cristo: "Disse-lhe Jesus: Eu sou a ressurreição e a vida; o que crê em mim, ainda que esteja morto, viverá; e todo o que vive e crê em mim, não morrerá eternamente. Crês nisto?" (Jo 11,25-26). É certo que há muito mais Santos, que não são canonizados pela Igreja, que só Deus conhece. A Igreja canoniza aquele Santo que teve uma vida de santidade, e que através de preces de intercessões em nome deste Santo, após a morte de tal Santo, se realizou algum milagre, para que assim, conforme as Escrituras, o imitemos (Hb 6,12) e possamos pedir que interceda por nós (explicarei a intercessão dos Santos mais a frente). Então, os Santos no Céu formam a parte triunfante da una Igreja de Cristo, que subsiste em 3 realidades: militante ou terrena, padecente (purgatório) e triunfante ou celeste. Por isso, disse o Apóstolo, que é mediante a Igreja (terrena) que podemos conhecer os Principados e Potestades (Ef 3,10), que são os Santos e Anjos que veem Deus face a face, a Igreja Celeste. É aos membros dessa Igreja Celeste, Santos e Mártires, que o Autor de Hebreus se referia ao dizer de que estamos rodeados por "tão grande nuvem de testemunhas" (Hb 12,1). Quem está no Céu, tanto Anjo como Santo, não tem corpo ou matéria, mas são somente espíritos (Lc 20,36). Se lê no Livro de Apocalipse que tanto os Anjos como os Santos não deixam de rezar a Deus (Ap 5,8-12 e Ap 7,3-4). Portanto, a faculdade de orar não provém da carne, mas do espírito, e, repito, os espíritos no Céu não cessam de orar a Deus (Ap 4,8). Também é lido no Livro do Apocalipse que alguns mártires clamavam para que Deus intercedesse na Terra para fazer vingança (Ap 6,10). A vingança de Deus, que Cristo como que prometeu fazê-la por seus Santos (Lc 18,7), nada mais é que um castigo justo visando o bem da pessoa, por isto algumas traduções traduzem a “vingança de Deus” como justiça, que é o caso da maioria das traduções de S. Lucas 18,7, ainda que ambos os termos originais das Escrituras (de Ap 6,10 e Lc 18,7) signifiquem “vingança”. Sendo nós, seja na Terra ou no Céu, em Cristo membros de um único Corpo, cremos que, assim como Cristo nos confessa diante dos Anjos (Lc 12,8), Ele nos confessa também aos seus Santos. Então, apesar dos Santos e Anjos não serem onisciente ou algo do tipo, pois só Deus tem tais atributos, os Santos e Anjos veem Deus face a face (Mt 18,10 e 1Co 13,12), portanto, cremos que Deus confessa nossas preces de intercessões aos Santos e Anjos para que em nosso favor orem a Deus, como é evidenciado em Tobias, onde o Arcanjo S. Rafael apresentava as orações de Tobit ao Senhor (Tb 12,12) assim como um Anjo intercedia por Jerusalém segundo a visão do profeta Zacarias (Zc 1,12-14). Enfim, concluo com os ditos de S. Tomás de Aquino em sua Suma Teológica: “Quanto mais perfeitos em caridade são os santos nos céus, tanto mais oram pelos que estão na terra que podem ser auxiliados pela oração. Ademais, quanto mais estão unidos a Deus, tanto mais serão as suas orações atendidas. A ordenação divina está determinada de modo que a perfeição dos superiores redunde nos inferiores, como a luz do sol ilumina o ar. Por isso, se diz de Cristo: “Subiu por si mesmo para Deus para interpelar por nós” (Hb 7, 25). E assim corrige Jerônimo o texto de Vigilância: “Se os apóstolos e os mártires, ainda no corpo, podiam orar pelos outros, quando ainda deviam preocupar-se por eles mesmos, quanto mais o poderão após coroados, vitoriosos e triunfantes!”. Aos santos que estão no céu, por serem bem- aventurados, nada lhes falta a não ser a glória do corpo pela qual oram. Ora, ademais, por nós, pois nos falta a última perfeição da bem-aventurança. As suas orações possuem impetração eficaz por causa dos seus méritos anteriores e por causa da aceitação divina. Deus quer que os seres inferiores sejam auxiliados por todos os superiores. Por isso, é conveniente orar não apenas para os mais santos, como também para os menos santos. Se assim não fosse, dever- se-ia recorrer só à misericórdia divina. Não obstante, às vezes acontece que a súplica de um menos santo seja mais eficaz, ou porque implora com maior devoção, ou porque Deus quer fazer conhecida a santidade deles.” (ST II-II, 83, 11)