Classe : RECURSO INOMINADO Recorrente(s) : BANCO DO BRASIL Recorrido(s) : ELIANA ALVES SAMPAIO
Origem : 4ª VSJE DO CONSUMIDOR (VESPERTINO)
Relatora Juíza : MARIA AUXILIADORA SOBRAL LEITE
G VOTO EMENTA
RECURSO INOMINADO. CONSUMIDOR. CARTÃO DE CRÉDITO.
TRANSAÇÕES NÃO RECONHECIDAS PELA AUTORA. INVERSÃO DO ÔNUS DA PROVA. FALHA NA PRESTAÇÃO DO SERVIÇO. RESPONSABILIDADE OBJETIVA. ART. 14 DO CDC. RESTITUIÇÃO DOS VALORES PAGOS. DANOS MORAIS NÃO CONFIGURADOS. MEROS ABORRECIMENTOS. FATO INSUFICIENTE, DE PER SI, PARA CONFIGURAR A VIOLAÇÃO A DIREITOS DA PERSONALIDADE. SENTENÇA PARCIALMENTE REFORMADA.
1.Trata-se de recurso inominado interposto contra sentença que
julgou parcialmente procedente o pedido formulado na exordial, nestes termos: “Ante o exposto, JULGO PARCIALMENTE PROCEDENTES os pedidos formulados na exordial, para condenar a acionada a proceder ao cancelamento definitivo do débito vinculado ao cartão de crédito Ourocard da autora de nº. 4984.XXXX.XXXX.5272, referente as compras realizadas nos dias 22/06/2015 e 03/07/2015, no importe total de R$ 3.464,80 (três mil, quatrocentos e sessenta e quatro reais e oitenta centavos), no prazo de 05 dias, sob pena de multa diária no valor de R$ 50,00 (cinquenta reais), limitada, contudo ao valor de alçada
dos Juizados Especiais.;”
2. O recorrente busca a reforma da sentença, suscita preliminar
de inépcia da inicial, e no mérito, sustenta a ausência de provas acerca do fato alegado, bem como a inexistência de nexo de causalidade entre o suposto dano e conduta que possa ser atribuída ao banco. Que não há que se falar em danos morais na hipótese, sendo mister a improcedência dos pedidos.
3. Trata-se de ação na qual a parte busca o reconhecimento da
ilegitimidade dos lançamentos de compras efetuados em seu cartão de crédito cuja autoria a mesma desconhece. Pleiteou a devolução em dobro dos valores pagos, bem como indenização pelos danos morais sofridos.
4. A despeito das alegações da parte demandada, esta não
logrou êxito na comprovação da legitimidade das compras efetuadas no cartão de crédito da parte autora, como lhe incumbia fazê-lo, sendo caso de aplicação da inversão do ônus da prova, nos termos do art.6o, inciso VIII do CDC.
5. Como sabido, as instituições bancárias, bem como as
administradoras de cartões de crédito, possuem o dever de atuar com diligência no ato da contratação de seus serviços, bem como na manutenção dos mesmos, verificando os dados pessoais daqueles que manifestam a intenção de contratar, através da solicitação dos documentos de identificação, bem como arquivando as cópias dos instrumentos, ou registrando por outros meios de prova o ato da contratação, de modo a evitar fraudes que corriqueiramente ocorrem no mercado de consumo, bem como para evitar falha na prestação de seus serviços, que venham a causar danos aos consumidores.
6. A narrativa fática constante dos autos é dptada de
verossimilhança, e corroborada com os elementos de prova adunados, tais quais comprovante de reclamação administrativa e protocolo de atendimento. O réu, por seu turno, não produz prova suficiente de que a compra teria sido realizada pela parte autora. 7. O art. 14 do CDC, dispondo sobre a responsabilização do fornecedor pelo fato do produto ou serviço, preleciona que: “Art. 14. O fornecedor de serviços responde, independentemente da existência de culpa pela reparação dos danos causados aos consumidores por defeitos relativos à prestação dos serviços, bem como por informações insuficientes ou inadequadas sobre sua fruição e riscos.” 7. Discutindo-se a prestação defeituosa de serviço, incide a responsabilidade civil objetiva inerente ao próprio risco da atividade econômica, consagrada no art. 14, caput, do CDC, que impõe ao fornecedor o ônus de provar causa legal excludente (§ 3º do art. 14), algo que o recorrente não se desincumbiu. 8. Reconhecida a ilegitimidade dos lançamentos efetuados no cartão de crédito da parte autora, agiu com acerto o magistrado sentenciante ao determinar a restituição simples dos valores pagos, 2. No concernente ao pleito indenizatório pelos supostos danos morais sofridos, tenho que não há nos autos provas acerca da lesão a direitos subjetivos, inexistindo prova de fato ou consequência adversa para a parte acionante que não o aborrecimento decorrente do fato em si, e cujo prejuízo restara plenamente ressarcido com a condenação imposta pela sentença, em que pese o reconhecimento da falha na prestação dos serviços, insuficiente, contudo, de per si, para configurar o abalo moral. Não houve a negativação do nome da parte autora nos cadastros de proteção ao crédito, e nem fora demonstrados maiores repercussões advindos do fato dos lançamentos indevidos de compras não reconhecidas.
3. Nesse mesmo sentido, sempre pertinente a lição do Des. Sérgio
Cavalieri Filho, abaixo transcrita: “Só deve ser reputado como dano moral a dor, vexame, sofrimento ou humilhação que, fugindo à normalidade interfira no comportamento psicológico do indivíduo, causando-lhe aflições, angustia e desequilíbrio em seu bem estar. Mero dissabor, aborrecimento, mágoa, irritação ou sensibilidade exacerbada está fora da órbita do dano moral, pois fazem parte do nosso dia-a-dia... Se assim não se entender, acabamos por banalizar o dano moral, ensejando ações judiciais em busca de indenização pelos mais triviais aborrecimentos”. 11. ISTO POSTO, voto no sentido de CONHECER DO RECURSO INTERPOSTO E NEGO-LHE PROVIMENTO, tão somente para excluir da sentença o capítulo atinente aos danos morais, mantendo-a no mais pelos próprios fundamentos. Sem custas processuais e honorários advocatícios, pelo êxito da parte no recurso.
Salvador, Sala das Sessões, 01 de Junho de 2017.
BELA. MARIA AUXILIADORA SOBRAL LEITE Juíza Relatora BELA CÉLIA MARIA CARDOZO DOS REIS QUEIROZ Juíza Presidente
PODER JUDICIÁRIO DO ESTADO DA BAHIA
2ª TURMA RECURSAL DOS JUIZADOS ESPECIAIS
Processo nº. : 0142535-12.2015.8.05.0001
Classe : RECURSO INOMINADO Recorrente(s) : BANCO DO BRASIL Recorrido(s) : ELIANA ALVES SAMPAIO
Origem : 4ª VSJE DO CONSUMIDOR
(VESPERTINO) Relatora Juíza : MARIA AUXILIADORA SOBRAL LEITE ACÓRDÃO Acordam as Senhoras Juízas da 2ª Turma Recursal dos Juizados Especiais Cíveis e Criminais do Tribunal de Justiça do Estado da Bahia, CÉLIA MARIA CARDOZO DOS REIS QUEIROZ –Presidente, MARIA AUXILIADORA SOBRAL LEITE – Relatora e ALBÊNIO LIMA DA SILVA HONÓRIO, em proferir a seguinte decisão: RECURSO CONHECIDO E PARCIALMENTE PROVIDO . UNÂNIME, de acordo com a ata do julgamento. Sem custas processuais e honorários advocatícios, pelo êxito da parte no recurso.
Salvador, Sala das Sessões, 01 de Junho de 2017.
BELA. MARIA AUXILIADORA SOBRAL LEITE Juíza Relatora BELA CÉLIA MARIA CARDOZO DOS REIS QUEIROZ Juíza Presidente