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JUNHOj1993
Publicação Oficial do INSTITUTO BRASILEIRO DE CIÊNCIAS CRIMINAIS
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... dos arqueológicos. elaborado à luz de uma Carta Magna que
Tendo em vista recente opinião publicada respeita, acima de tudo, os direitos humanos
neste Boletim sobre o crime de sedução, na e da Cidadania, não pode persistir na concep-
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antiga, as vezes na juns- qual persiste a idéia da conveniência da ção da mulher como propriedade do homem.
manutenção do tipo na reforma penal ora em A perda da virgindade deve ser entendida,
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curso por determinação do Ministro Maurí- para a mulher, como um ato de livre escolha
alguns cri mina listas necessitam urgente cio Corrêa, torna-se necessário, mais uma e como um direito inalienável seu, aos quais
reformulaçâo para adequação aos preceitos vez, esclarecer a posição das mulheres quan- sua honestidade, competência ou respeitabi-
constitucionais em vigor desde 1988. to a este delito específico, embora nossas lidade não podem estar vinculadas. As ex-
É, hoje, inquestionável a equiparação dos críticas não se restrinjam a ele. pressões "mulher virgem", "mulher hones-
direitos da mulher aos direitos do homem, O art. 217 do CP sujeita a reclusão de 2 a ta"ou "desonra própria" devem ser definiti-
nos termos da Carta Magna: 4 anos quem seduzir mulher virgem, menor vamente banidas do ordenamento jurídico.
- Art. 32 - Constituem objetivos funda- de 18 anos e maior de 14, e tiver com ela Trata-se de pseudo-proteção que, na realida-
mentais da República Federativa do Brasil: conjunção carnal, aproveitando-se de sua de, avilta a mulher, rouba-lhe o direito ao
(...) IV - promover o bem de todos, sem incxperiênciaou justificável confiança. Ora, próprio corpo e invade sua vida privada de
preconceitos de origem, raça, sexo, cor, ida- se a mulher está, hoje, definiti vamente equi- forma a retirar-lhe a independência. A honra
de e quaisquer outras formas de discrimina- parada ao homem em direitos e obrigações, da mulher é igual à honra do homem. A
ção." como já demonstrado, por que será que proteção à sexualidade da mulher deve ser
- Art. 52, I - homens e mulheres são iguais alguns juristas não conseguem compreender idêntica àquela destinada ao varão, sendo
em direitos e obrigações, nos termos desta o alcance da Constituição com relação à absolutamente ridículo, nos dias de hoje,
Constituição. " sexualidade? O art. 217 do CP, da forma querer insistir na existência de crimes se-
O Código Penal de 1940, à evidência, como está redigido, não protege a mulher de xuais nos quais a vítima só pode ser mulher.
reflete a condição feminina do começo do malefício algum, apenas reforça o escabro- Como integrante da Comissão de Reforma
século, quando à mulher era negado o exer- so entendimento de que às mulheres o sexo da Parte Especial do Código Penal instituída
cício da cidadania e sua subordinação ao é coisa proibida, um fator de decadência, pelo Ministro da Justiça, Maurício Corrêa,
homem era quase total. A mulher casada uma inabilitação para o casamento, uma posso informar que a 1" Subcomissão encar-
vivia em condições próximas à escravidão, perda de qualidade irreparável, uma conde- regada de rever os crimes contra os costumes
pois, confinada ao lar e alijada do mercado nação imediata à prostituição, um horror à - da qual fazem parte dr. Alberto Silva
de trabalho remunerado, era considerada sua reputação e uma vergonha para a família Franco, dr. Paulo Sérgio Pinheiro, dr. Jair
semi-incapaz para os atos da vida civil. Con- (principalmente para o pai da moça). Leonardo Lopes e eu --, tendo concluído a
vém lembrar, também, que o voto feminino As mulheres são iguais aos homens, é primeira etapa de seus trabalhos, já eliminou
só é possível a partir de 1934, seis anos antes preciso repetir. Vejamos o efeito dessa o crime de sedução (entre outras aberrações
da elaboração do Código Penal cuja Parte igualdade em sentido inverso: "seduzir ra- ainda presentes no CP), incluiu os crimes
Especial ainda vige. paz virgem, menor de 18 e maior de 14 anos, sexuais entre os crimes contra a pessoa e
Frente ao avanço incontestável da posi- e ter com ele conjunção carnal.;" equiparou a liberdade sexual feminina mas-
á
ção da mulher tanto na sociedade como na O preconceito e a desigualdade expressa- culina, não subsistindo nenhum delito, nesta
política e na legislação, os chamados "cri- mente condenados na Constituição de 1988 área, praticável exclusivamente contra a
mes contra os costumes" previstos noTítulo manifestam-se exatamente no momento em mulher. Mesmo porque, seria, como já é,
VI do CP transformaram-se em verdadeiras que a perda da virgindade dos meninos é inconstitucional.
peças de museu e, certamente, após a virada comemorada pela família e a da menina é (Luiza Nagib Eluf)
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absoluta, mas a soma de períodos relativizados. ção à morte é inexorável e conservá-Ia viva
constitui prorrogar, desnecessariamente, a che-
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É algo, pois, carente de unidade. Enquanto a tese
idealista vê na vida uma unidade ôntica e gada irreversível da morte. Em não poucas situ-
valorativa, o critério da qualidade sustenta ações, a interrupção de terapia, por sua vez, põe
logicamente que as diferenças entre os distintos termo, na medida em que a vida é mantida, median-
defensável na medida em que se desloca, pouco perí odos da existência humana pedem dar lugar te medidas instrumentais, a uma existência fictícia.
a pouco, o eixo do conceito de vida de uma a valorização ético-jurídicas diversificadas" Não, há., portanto, nenhuma razão técnica ou
posição de valor absoluto para a de um valor (ob. cit., p. 226). deontológica que exija a perpetuação de providên-
relativo. A noção clássica dá à vida um caráter Na linha desse entendimento, a questão da cias médicas carentes de sentido curativo.
sagrado e intangível. Por esta concepção, desde eutanásia passiva mostra-se em perfeito ajuste. A omissão ou a interrupção de terapia não
a fecundação até a morte, a vida possui "um Se a vida está sendo mantida através de instru- pode ser, contudo, um ato unilateral do médico.
sentido único e um valor absoluto. E idêntico o mentos (ventilação assistida, reanimadores, tra- Algumas cautelas mostram-se imprescindíveis.
valor da vida embrionária ou fetal, da criança, tamento em unidades de terapia intensiva etc.) a Assim, a situação do paciente deve ser atestada,
do adulto e do velho. As exteriorizações vida não é um dado de realidade, mas um mero quanto à iminência ou inevitabilidade da morte,
fenomênicas da vida são ontológica e artifício. Não há cogitar de sua mantença, e ri por dois outros médicos, e a omissão da terapia
axiologicarncnte não essenciais. Em nenhum omissão ou a interrupção da terapia não pode ou o desligamento de equipamentos devem ser
caso, deixam de indicar significativamente o acarretar a criminalização do médico. "O médi- precedidos de prévia permissão do cônjuge ou
substrato ôntico unitário subjacente" (Angel co não é obrigado ao prosseguimento 'ad infini- companheiro em união estável e, na falta, de
Torto Lopez, "Reflex ión crítica sobre el proble- tum' de um tratamento artificioso. A omissão é, parentes sucessivamente indicados e, ainda, de
ma de Ia eutanásia" - "Estudios penales y no caso, conduta adequada ao ordenamento ju- autorização judicial, na forma explicitadano texto.
criminologicos", XIV, p. 223 - Universidad de rídico- (id. ib., p. 235). Somente com o atendimento de todas essas exigên-
Santiago de Cornpostela, 1991). Bem por isso, o § 6" do art. 121 exclui de cias é que a conduta médica guarda licitude.
Essa postura tem sofrido, no entanto, críticas i1icitude a conduta de médico que omite ou
severas por seu dogmatismo e por seu caráter interrompe terapia que mantém, de modo posti- . (Alberto Silva F)'ánco)
nitidamente metafísico, cedendo lugar, de modo ço e inútil, a vida de uma pessoa que, segundo as (Nota: A parte Inicial deste coment~'
cada vez mais crescente, ao princípio da quali- pautas médicas vigentes, já perdeu irremedia- alusiva ao bomicídio piedoso, roi publíead
dade de vida. A vida humana tem, em verdade, velmente a consciência ou nunca chegará a número anterior do Boletim) ,
REVISTADO
DOS TRIBUNAIS
MINISTÉRIO PÚBLICO
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DO CONSUMIDOR Dezembro • 11~ .,... 80.
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3 UM TEIIA EII fOCO:
COIfTRI8U1ÇAo CONFEDERAmA
JllISTt'nJTO B!lASILEIRO DE
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