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http://www.uem.br/acta
ISSN printed: 1806-2636
ISSN on-line: 1807-8672
Doi: 10.4025/actascieduc.v34i2.16978
RESUMO. Este artigo discute os reflexos da crise do capitalismo e do processo de reestruturação produtiva
em um período histórico marcado pela hegemonia das políticas neoliberais no âmbito da educação escolar.
Neste cenário, a ofensiva do capital apresenta alternativas paliativas para a exclusão social com a difusão da
ideologia do voluntariado e do Terceiro Setor, além de propostas vinculadas ao pós-modernismo, que, na
prática, esvaziam a função social da educação e reforçam ao mesmo tempo a mercantilização do processo
escolar. No caso brasileiro, tal projeto confirma uma das características de nossa cultura política: o moderno
se constitui por meio do ‘arcaico’, recriando nossa herança histórica ao atualizar aspectos persistentes e, ao
mesmo tempo, transformando-os no contexto da globalização. Por fim, apontamos para a necessidade
urgente de proposição de novas estratégias de luta, com vistas à criação de uma sociedade emancipada, onde
será possível a existência de uma educação integral, segundo a concepção marxiana.
Palavras-chave: crise estrutural do capital, políticas neoliberais, processo de reestruturação produtiva.
A alternativa encontrada para superação do colapso que avançou a apropriação privada dos bens
econômico foi o chamado keynesianismo, que se coletivos, tais como a terra, a educação, a saúde,
consolidou de fato, após a Segunda Guerra Mundial. entre outros. Como observou István Mészáros, em
Eram os ‘anos de ouro do capitalismo’ que, diga-se O desafio e o fardo do tempo histórico,
de passagem, não foram reluzentes para todos. [...] o reino do capital aproxima-se de seus limites
O crescimento acelerado no pós-guerra entrou em absolutos como resultado de sua crescente
uma fase crítica, sobretudo no início da década de 70 incapacidade de eliminar suas contradições internas,
do milênio passado. A crise do petróleo combinada criando uma crise estrutural global do capital
com a redução do crescimento econômico e (MÉSZÁROS, 2007, p. 15).
crescimento inflacionário contribuíram para a Diante do panorama de reestruturação de
ascensão da ideologia neoliberal que já se encontrava acumulação do capital, em maior ou menor grau,
em gestação. foram afetadas todas as categorias de trabalhadores, e
O colapso no padrão de acumulação não só os situados na produção industrial, mas
fordista/taylorista levou o capital a procurar também os chamados ‘trabalhadores intelectuais’,
estratégias de recuperação das taxas de lucro através incluindo os professores e outros assalariados. Dessa
das propostas neoliberais, que enxergavam no forma, o capitalismo voltou-se crescentemente nas
Estado, e em suas políticas sociais, o grande vilão da últimas décadas para o setor educacional, visto como
economia. Os intelectuais comprometidos com as estratégico na legitimação da ordem, além de ser
bandeiras desfraldadas do neoliberalismo declaravam entendida como mais uma esfera que deve ser
que as despesas do Estado com políticas públicas e o regulada pelas ‘necessidades do mercado’.
poder dos sindicatos destruíam os níveis necessários
de lucro das empresas. A agenda pós-moderna e a educação: ainda é legítimo
Assim sendo, como tentativa de gerenciar a sua aspirar a uma fundamentação racional para ela?
crise estrutural, foi iniciado o processo de
reestruturação do capital e de seu sistema jurídico e Partindo de uma resposta afirmativa, não é possível
ideológico de dominação. A alternativa apontada advertirmos que uma observação mais atenta nos leva a
estaria no suposto ‘Estado-mínimo’, ou seja, a perceber como parcela expressiva do debate
ausência do poder público para as questões sociais, contemporâneo no âmbito da educação questiona, de
mas forte o suficiente para controlar os gastos alguma forma, o tema da modernidade e da herança
públicos e enfraquecer os sindicatos, ao mesmo iluminista e, não raramente, respostas são dadas em
tempo em que se buscava a desregulamentação dos uma perspectiva de educação ‘pós’ moderna.
direitos trabalhistas, além da desmontagem do setor No cenário da crise do capitalismo contem-
produtivo estatal. porâneo, o ‘pós-modernismo’ configurou-se em uma
Dentro do ponto de vista neoliberal, a expressão ideológica das transformações que ocorreram
estabilidade monetária deveria ser o objetivo no âmbito da produção. Configura-se, segundo Wood
e Foster (1999), de determinadas balizas que formam
principal de qualquer governo. Assim, a realização
um rol de bandeiras, a qual é composta por uma vasta
de reformas fiscais, entendida como redução dos
gama de tendências intelectuais e políticas que
impostos sobre o capital, era condição fundamental
surgiram em anos recentes.
para incentivar a retomada econômica. Nesse
Podemos conferir que pelo menos num aspecto
sentido, a alternativa do capitalismo para sua crise
todos os pós-modernos aderem: vivemos uma crise
estrutural do capital acarretou um processo de de ‘certezas’. Circunstância em que o conhecimento
substituição do modelo industrial fordista e do é sistematicamente colocado à prova, ao mesmo
modelo político-econômico keynesiano pelo regime tempo em que se afirma o relativismo das verdades
de acumulação flexível, fortalecendo em grande historicamente construídas pela modernidade. Dessa
parte o capital financeiro e especulativo em um forma, o discurso híbrido do ‘pós-modernismo’
momento de desmoronamento das experiências do protesta contra as noções clássicas de razão, verdade,
chamado ‘socialismo real’ que, sem dúvida, auxiliou objetividade, o conceito de progresso, emancipação
na difusão – entre muitos intelectuais – da ideia de universal ou as grandes narrativas. Além disso,
que o liberalismo e a economia de mercado poderíamos identificar como temas recorrentes ao
venceram em termos absolutos e teriam se discurso ‘pós-moderno’ a atitude cética ao marxismo
transformado em modelo permanente e categórico e à possibilidade de o capitalismo ser superado por
de organização da vida humana. uma sociedade que lhe seja superior. Em oposição
Neste cenário, a opressão da força de trabalho aos pilares do pensamento iluminista, compreende o
aumentou significativamente na mesma velocidade mundo como imprevisível e instável. Dessa forma,
Acta Scientiarum. Education Maringá, v. 34, n. 2, p. 281-290, July-Dec., 2012
Educação e neoliberalismo: dilemas e possibilidades 283
dentro da perspectiva exposta, é natural que o pós- Tais acontecimentos ganharam força na década
modernismo não se organize como uma visão de 1960, com a ocupação da Tchecoslováquia pelo
coerente e organizada do mundo. exército soviético em 1968 e, notadamente, com as
O pensamento pós-moderno significou a revoltas estudantis deste mesmo ano na França e em
consolidação no âmbito da ideologia dos interesses outros países do mundo. Essas experiências, além do
burgueses, na medida em que afirma a desmoronamento do chamado ‘socialismo real’
impossibilidade do conhecimento objetivo e a proporcionaram o avanço das ideias neoliberais e
superação da ordem social existente, substituindo a colocaram na defensiva muitos intelectuais de
luta de classes pela lógica do contentamento das esquerda que tinham como modelo o comunismo
múltiplas identidades que compõe o mosaico social. soviético.
Por isso, em nosso entendimento, a bandeira do Neste cenário de desencantamento com a
individualismo, do fragmentário, das questões das história, ganha espaço a defesa da diversidade sobre a
especificidades foram encampadas pelos pós- igualdade. No entanto, aí reside aquilo que
modernistas, uma vez que se colocam em defesa das entendemos ser uma das contradições das bandeiras
minorias, esquecendo-se do conceito de classes. Em pós-modernas: aceita como inevitável a ordem
outras palavras, por representar o movimento estabelecida, ou ainda, não oferece alternativas
ideológico da nova fase de acumulação de capital, o razoáveis, mas rejeita os projetos alicerçados na razão
discurso pós-moderno relega à categoria de mitos e objetividade. Criticam os males da ‘modernidade’,
eurocêntricos totalitários os conceitos que fundaram mas não enxergam o caráter predatório do
e orientaram a ciência: as ideias de racionalidade e capitalismo.
universalidade, privilegiando, assim, a subjetividade Diante dessas incongruências, a grande questão
fragmentada e dilacerada. colocada por muitos pensadores pós-modernos podem
Cabe enfatizar que, além das transformações no ser sintetizadas nas seguintes indagações: por que o
âmbito da produção, colaboraram para a ofensiva ideal emancipador da razão se transformou em
ideológica pós-moderna as experiências dos regimes barbárie? O domínio da ciência não implicava
totalitários e as guerras mundiais, entendidos não necessariamente na garantia de civilização e progresso?
como produto de relações econômicas marcadas Em nosso entendimento, ao renunciar à
pelo ímpeto imperialista, mas como consequência da possibilidade de um conhecimento objetivo e de
‘modernidade’. Descrentes com o curso da história e superação da ordem existente, os pós-modernos
sem perspectivas de mudanças sociais, uma vez que destruíram aquilo que se transformou em uma de
o chamado socialismo real apresentava sinais de suas bandeiras prediletas: a defesa da diversidade e da
desgaste, muitos enveredaram pelos tortuosos pluralidade. Afinal, como libertar as minorias se a
caminhos de negação da possibilidade de um essência do regime é marcada pela exclusão de
conhecimento objetivo. muitos? Em outras palavras, caíram em uma posição
No entanto, tal movimento não nasceu da vontade análoga àquela apontada por Marx em relação à luta
individual de atores políticos que negaram um projeto dos judeus pela emancipação política1.
universal. Antes de tudo, foi processo cujas origens Para além das questões levantadas, podemos
podem ser associadas à incapacidade do capitalismo em refletir sobre os impasses políticos que a noção de
um sujeito fragmentado acarreta: impede a
prover minimante as necessidades da maioria, bem
compreensão da noção de classe social, ao mesmo
como a crise do chamado ‘socialismo real’. A respeito
tempo em que impede a constituição de laços de
da crise do bloco soviético, vejamos os apontamentos solidariedade de segmentos que poderiam, por sua
de Hobsbawm (1995, p. 386-387): condição de classe, organizarem-se na luta contra o
O desmoronamento político do bloco soviético capital. Nesse sentido, a fragmentação das lutas em
começou com a morte de Stálin, em 1953, mas torno de identidades múltiplas ou de questões
sobretudo com os ataques oficiais à era stalinista em regionais desvinculadas das relações macro arrefece
geral, e, mais cautelosamente, ao próprio Stálin, no o poder de pressão e favorece a hegemonia burguesa.
XX Congresso do PCUS, em 1956. Embora visando Portanto, é dentro deste cenário histórico que
uma platéia soviética muitíssimo restrita – os devemos compreender as propostas hegemônicas
comunistas estrangeiros foram excluídos do discurso
presentes na educação escolar, que contribuem para
secreto de Kruschev –, logo se espalhou a notícia de
que o monólito soviético rachara. Em poucos meses,
a ‘fragmentação’ dos conteúdos, com um evidente
uma liderança comunista reformista na Polônia foi
pacificamente aceita por Moscou (na certa com ajuda
1
Em A questão judaica, Marx (2002, p. 13) considera egoísmo dos judeus pedir
uma emancipação política especial, quando, como alemães, “[...] deveriam
ou o conselho dos chineses), e uma revolução trabalhar pela emancipação política da Alemanha e, como homens, lutar pela
estourou na Hungria. libertação da humanidade”. Nesse egoísmo, reside a incoerência dos judeus de
considerar penosa a opressão particular, mas compactuar com a opressão geral.
A defesa de uma educação baseada nas Como se vê, a essência destrutiva do capital
competências tem origem no discurso empresarial, denunciada por Marx e Engels, no Manifesto
cujo objetivo maior é a reprodução do capital por Comunista, continua extremamente atual. Por isso,
meio da exploração brutal da força de trabalho. Na não devemos estranhar os efeitos desse sistema
verdade, entendemos que a burguesia, como classe excludente, pesadelo de milhares de trabalhadores,
social hegemônica, ainda que defenda publicamente que adota procedimentos ‘técnicos’, revelando-se
a expansão da educação escolar, nunca se preocupou muitas vezes criminosos, através da contínua
por uma igualitária ampliação das potencialidades subversão da produção, concentrando nas poucas
humanas para todos a partir do conhecimento. Por mãos o capital.
isso, verificamos atualmente um discurso que Assim – e esse é um dos grandes exemplos -, a
defende a valorização do ‘conhecimento dos alunos’ defesa do ‘Estado mínimo’, ou melhor, mínimo para
e sua ‘realidade social’. Dessa forma, vivenciamos as questões sociais, que legitima a ação privada na
um momento histórico de hegemonia de um projeto resolução das desigualdades sociais e a admissão da
que representa um recuo em termos de exaustão dos Estados nacionais em sua incumbência
responsabilidade estatal pela implantação de um de mediar – pelo exercício da política – as crescentes
sistema nacional de educação pública e de ampla tensões sociais oriundas dos efeitos perversos do
capitalismo global, levaram as grandes corporações a
democratização da educação, legitimado, como uma
redescobrir o espaço da filantropia como
resposta conservadora que despolitiza e esvazia o
instrumento de altos dividendos de suas respectivas
papel da educação escolar.
imagens pública e social.
No campo da organização da educação básica,
por exemplo, que deveria ser encarada como um As apelativas e seqüenciais campanhas de ‘adote uma
direito social de todos, é cada vez mais associada a escola’, ‘amigo da escola’, ‘padrinho da escola’ e,
agora, do ‘voluntariado’, explicitam a substituição de
ideia de um serviço prestado e adquirido no
políticas efetivas por campanhas filantrópicas. Passa-
mercado ou na filantropia. Chega-se ao ponto de se se a imagem e instaura-se uma efetiva materialidade
considerar que os serviços públicos, em campos de que a educação fundamental e média não
como a educação, devem ser orientados por atuações necessitam de profissionais qualificados, mas de
precisas determinadas a evitar explosões sociais, e professores substitutos e de voluntários
não uma obrigação do Estado. Levando em conta as (FRIGOTTO, 1995, p. 59, grifos do autor).
escolas mantidas pelo Estado, apenas a atitude Dito de outra forma, na prática o Estado, sob
generalizada nos leva a chamá-la de pública, já que hegemonia da burguesia, se descompromete cada dia
constitui somente um eufemismo para o termo mais com a esfera social e entre elas, a educação,
‘estatal’, ou a declaração de uma intenção cada vez deixando de garantir o atendimento aos
mais difícil de ser concretizada. trabalhadores, sob o pretexto da ineficiência e a
Não por acaso, a lógica do capital transforma incapacidade do funcionamento de um Estado
tudo em mercadoria, bens e serviços, incluindo o inchado, sufocado por atuar em diferentes frentes e
próprio trabalhador. As reformas neoliberais em tendo que afiançar tantos serviços sociais. Para fins
curso apenas reforçam algo que já estava presente na dessa constatação, nunca será demais lembrar que as
essência do capitalismo. Senão, vejamos: ladainhas das soluções fúteis, denunciadas por
A burguesia, quando conquistou o poder, destruiu Frigotto, não atacam as desgraças acumuladas pelas
todas as relações feudais, patriarcais, idílicas. Rasgou políticas neoliberais que sequer a visam. E isso não
sem compunção todos os diversos laços feudais que acontecerá jamais por concessão espontânea dos
prendiam o homem a seus ‘superiores nacionais’ e grupos no poder2.
não deixou entre o homem e o homem outro
vínculo que não o do frio ‘pagamento em dinheiro’. [...] Não há dúvida de que podemos pensar na escola
Afogou a sagrada reverência da exaltação religiosa, do como instituição que pode contribuir para a
entusiasmo cavalheiresco, da melancolia sentimental transformação social. Mas uma coisa é falar de suas
do burguês filisteu nas águas geladas do cálculo potencialidades... uma coisa é falar ‘em tese’, falar
egoísta. Fez da dignidade pessoal um simples valor daquilo que a escola poderia ser. Uma coisa é
de troca e, no lugar de um sem-número de expressar a crença de que, na medida em que
liberdades legítimas e duramente conquistadas, consiga, na forma e no conteúdo, levar as camadas
colocou a liberdade única, sem escrúpulos, do trabalhadoras a se apropriarem de um saber
comércio. Numa palavra, no lugar da exploração
velada por ilusões políticas e religiosas, colocou a 2
Quando fazemos referência aos grupos dominantes, é importante reconhecer
exploração seca, direta, despudorada, aberta (MARX; que esses segmentos não são homogêneos em relação aos interesses, mas
possuem interesses convergentes quando contrapostos aos interesses dos
ENGELS, 1998, p. 7, grifo do autor). trabalhadores.
não estão empenhadas ou que não podem realizar ponto de se negar a possibilidade de confrontos e
aquelas tarefas sem se destruírem ou se prejudicarem rupturas com as classes dominantes e proprietárias.
irremediavelmente). Em seguida, deve calibrá-las Historicamente, a contraviolência dos setores
cuidadosamente, porque o sentido daquelas palavras
marginalizados nada mais tem sido que a resposta à
terá de se confundir, inexoravelmente, com o
sistemática violência perpetrada pela ordem
sentido das ações coletivas envolvidas pelas
mencionadas tarefas históricas (FERNANDES, econômica dominante.
1984, p. 9-10). Diante das relações materiais que se apresentam
amplamente favoráveis ao capital, resta-nos o
Considerações finais imperativo ético de refletirmos sobre a conquista de
espaços que se coloquem a serviço da luta pela
Tal qual como Josep Fontana, não cremos na superação da ordem. Do ponto de vista prático,
ruptura inexorável da ordem pelas ‘leis da história’. trata-se de lutar pela conquista de trincheiras no
No entanto, as derrotas do passado não invalidam a combate ao rebaixamento do ensino das camadas
necessidade de construção de uma nova sociedade. populares. Em outras palavras, é importante
Torna-se cada vez mais urgente a denúncia de todas fortalecer um projeto contra-hegemônico. Projeto
as formas de opressão. Não é possível reformar o que esteja a serviço da ‘classe que vive do trabalho’,
capitalismo, ou seja, não existem caminhos mas não do mercado e do lucro das instituições
conciliatórios com o capital. Ainda que o mundo da empresariais. Portanto, não podemos assumir uma
produção tenha passado por inúmeras perspectiva derrotista e perder a noção da dimensão
transformações nos últimos anos, a essência transformadora da história. Entendemos que é
predatória e anticivilizatória do capitalismo continua possível uma superação qualitativa do atual nível de
a mesma observada por Marx e Engels no século desenvolvimento da humanidade, bem como o
XIX. O mundo explode em contradições. A vitória estímulo. Em outras palavras, a emancipação do
do mercado levou a pontos jamais vistos o processo homem é uma possibilidade, bem como a barbárie.
de desumanização, a miséria de milhares e a A história é um jogo aberto. Só nos resta jogar.
concentração de capitais nas mãos de poucos.
A prosperidade prometida pelos intelectuais Referências
comprometidos com a manutenção da ordem não
passou de um engodo. O ímpeto de destruição, até ANTUNES, R. Os sentidos do trabalho: ensaio sobre a
mesmo nos países que atingiram maior estabilidade afirmação e a negação do trabalho. 2. ed. São Paulo:
Boitempo, 2002.
social, tende a crescer. Seriam os processos e as
BRASIL. Secretaria de Educação Fundamental.
reformas educacionais que buscam ‘valorizar’ o
Parâmetros Curriculares Nacionais, 1997. Disponível
‘saber do educando’, ou ainda, a ‘cultura popular’ em: <http://portal.mec.gov.br/seb/arquivos/pdf/livro01.
uma contribuição efetiva da educação para as lutas pdf>. Acesso em: 14 out. 2010.
contra a hegemonia do capital? EDUCAÇÃO EMPREENDEDORA: como a sala de aula
Não se trata aqui de rejeitar a ‘cultura popular’ pode transformar os negócios. Revista Exame, São
em suas diferentes manifestações, mas de Paulo: Abril, n. 3, 16 fev., 2011.
proporcionar ao educando o conhecimento FERNANDES, F. A revolução burguesa no Brasil:
sistematizado e historicamente construído. Torna-se ensaio de interpretação sociológica. Rio de Janeiro:
necessário e urgente uma educação que explique a Guanabara, 1984.
realidade, que apreenda as relações fundamentais da FRIGOTTO, G. Os delírios da razão: crise do capital e
sociedade, na sua organização e nos seus conflitos e metamorfose conceitual no campo educacional. In:
contradições. A superação da sociedade burguesa não GENTILI, P. (Org.). Pedagogia da exclusão.
Petrópolis: Vozes, 1995. p. 77-108.
prescinde do conhecimento produzido
historicamente pela burguesia. Nesse sentido, a GRAMSCI, A. Os intelectuais e a organização da
cultura. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1982.
escola pode ser uma trincheira importante na luta
GENTILI, P. Três teses sobre a relação trabalho e
dos trabalhadores pela superação da ordem.
educação em tempos neoliberais. In: LOMBARDI, J. C.;
Assim, entendemos que a história não persegue SAVIANI, D.; SANFELICE, J. L. (Org.). Capitalismo,
uma meta estabelecida, ela é um produto da ação dos trabalho e educação. Campinas: Autores Associados,
homens dentro de determinadas circunstâncias 2002. p. 45-59.
dadas pelas correlações de forças na luta de classes. GUEDES, M. D. Educação e formação humana: a
Dessa forma, se o socialismo deve ser concebido contribuição do pensamento de Marx para a análise da
como o resultado da intervenção política dos função da educação na sociedade capitalista
trabalhadores em busca da ruptura da ordem contemporânea, 2007. Disponível em: <http://www.
burguesa, esse processo não deve ser mistificado a unicamp.br/cemarx/anais_v_coloquio_arquivos/arquivos/c