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Autor: Marília T.

Barboza da Silva; Lygia dos Santos Maciel

Título: Paulo da Portela: traço de união entre duas culturas

Indicação bibliográfica :Funarte, Rio de Janeiro, 1980. 160p. (Coleção MPB, 3)

Localização : Biblioteca Central do Gragoatá, UFF

Data da 1ª edição:
1980 Informação sobre a edição:
É o terceiro número da Coleção MPB, do Ministério da Educação e
Cultura / Funarte, que edita biografias de importantes nomes da
música brasileira, como Silas de Oliveira e Geraldo Pereira.

Jongo/Caxambu:
“Era muito comum a chegada a Oswaldo Cruz de novos moradores vindos de
diversos pontos do Brasil, sobretudo de Minas Gerais e do Estado do Rio. Considerado o
tipo de relacionamento social que logo se estabelecia entre antigos e novos moradores, a
interação social intensa, talvez fique explicado o tipo de manifestações culturais
predominantes, que nada se relacionava com os traços culturais de outros grupos moradores
nos centros mais urbanizados. A cultura de Oswaldo Cruz era mais influenciada por padrões
rurais.
As festas de Oswaldo Cruz no início da década de 20 não eram animadas pelo
samba, como o concebemos hoje, mas pelo jongo e pelo caxambu. O jongo é uma ‘espécie
de samba, em São Paulo, Minas Gerais, Espírito Santo, Estado do Rio. Sua coreografia
difere duma para outra localidade, mas sempre conserva as características de samba de
roda, no centro da qual se exibem os dançarinos. O movimento da roda é lunar, isto é, ao
contrário ao dos ponteiros do relógio. O acompanhamento é feito exclusivamente por
instrumentos de percussão. O canto é de estrofe e refrão, às vezes ajudado pelo batido das
palmas’ (23). O caxambu é um ‘grande tambor negro e dança executada ao som desse
instrumento’ (24). O jongo e o caxambu são danças folclóricas, isto é, produzidas e
consumidas pela comunidade, que não se preocupa em identificar os autores. A única
aproximação possível entre o jongo, o caxambu e as cerimônias religiosas é que todos se
realizam nas mesmas residências. Autores da autoridade de Oneyda Alvarenga, Renato de
Almeida e Edson Carneiro, além do folclorista Câmara Cascudo, não admitem que tais
danças sejam manifestações religiosas. Consideram-nas profanas. No entanto, os raros
jongueiros remanescentes de uma época que cultivava com regularidade esse gênero de
manifestação, baseados na memória de seus antepassados, afirmam exatamente o
contrário.” Nota 23: “CASCUDAO, Luiz da Câmara. Dicionário do Folclore brasileiro. 2.
ed. rev. e aum. Rio de Janeiro, MEC/INL, 1962. p.199.” Nota 24: idem. (p.140)

“As noitadas de caxambu, de partido-alto, de samba de terreiro, de tumba e de


outras formas de ziriguidum aconteciam na casa de Paulo da Portela. Vez por outra a
moçada ia arrastar os pés no caxambu do Vieira, à rua Perdigão Malheiros, onde Tia Teresa,
mãe do Mestre Fuleiro, baixava sempre e comandava a zorra. A coisa cresceu muito,
tornando a casa de Paulo da Portela pequena e apertada.” (p.42)

Batuque / Migração:
“Todos os fundadores da Portela por nós inquiridos foram unânimes em afirmar que
foi o pessoal do Estácio que levou o samba para Oswaldo Cruz. O que queriam realmente
dizer com isso?
Rufino aprendera a batucar em Minas Gerais, em Matias Barbosa, com Maria
Galdina, antes de 1920. Fora também jongueiro em Juiz de Fora. Alvarenga participava de
jongo em Oswaldo Cruz. A batucada, o chamado samba duro, era praticada em toda área do
atual município do Rio de Janeiro. Edson Carneiro denominou-a até de pernada carioca.
Para esse folclorista a área do samba se estende ‘do Maranhão até S. Paulo, com pequenas
interrupções’. Como, então, caberia ao pessoal do Estácio a tarefa de ‘trazer o samba’ para
Oswaldo Cruz?
A batucada era essencialmente uma melodia simples, onde se inseria um refrão
vocal improvisado ou tradicional, mero pretexto para suporte rítmico. No meio da roda
plantava-se um batuqueiro, à espera do ataque do outro. Rufino lembra que Brancura era
famoso não tanto pelos méritos reais, mas porque sendo canhoto, era mais difícil
‘desmanchar pela esquerda’. Partido alto também não tinha letra. Era só nas palmas e nas
cordas.” (p.70)
Gurufim:
“Habituados á morte, por que não fazê-la mais leve, promovendo um ‘gurufim’?
Pesquisas feitas em mais de dez favelas de diversos pontos diferentes do Rio de Janeiro,
através de entrevistas com pessoas de dez a oitenta anos de idade, de ambos os sexos,
permitiram-nos uma caracterização bem razoável do chamado gurufim:
PERGUNTA: Você pode nos explicar, definir para nós o que é um ‘gurufim’?
RESPOSTAS:
SEU RUFINO (72 anos, sócio n° 1 e fundador do GRES Portela): ‘Gurufim’ é todo mundo
sentado, brincando.
ALVAIADE (68 anos, presidente da velha guarda da Portela): As pessoas se reúnem em
torno daquele corpo, na casa do morto, conversando, para passar a hora e aguardar o
funeral.
DOCA: (40 anos, doméstica, pastora da Velha Guarda da Portela): ‘Gurufim ‘ é o seguinte:
cada elemento que está participando do ‘gurufim’ é um peixe – um é baleia, outro é
sardinha, outro é corvina, etc. Todo mundo, então fica: - Gurufim, gurufim, passou por
aqui; manjou sardinha. Aquele que é sardinha, responde: - Sardinha não manja, que é que
manja? Garoupa. Então ‘a garoupa’ responde: Garoupa não manja, que é que manja?
Baleia.
Assim, vão falando o nome de todos os peixes. O indivíduo que estiver distraído e
não responder, leva bolo.
ALVAIADE – Tem várias brincadeiras.
RUFINO – ‘Tiê, tiê, voou, voou’. Também tem ‘corre-chave’.
ALVAIADE – Todos ficam sentados como nós estamos aqui. Fica uma pessoa com a chave,
com os lhos vendados. Entrega a alguém. Que vai passando a chave para outro. Então, vem
a ordem: - Pára a chave! Na mão de quem estiver a chave, parou, leva bolo.
CASQUINHA – (45 anos, compositor, de Oswaldo Cruz) – Mas aí é o seguinte: tem uma
definição pra isso porque infelizmente, com o espírito do morto, se reunia ali aquele
pessoal todo. Então, como agente ia passar a noite toda ali, escolhia umas brincadeiras para
espantar o sono. A gente escolhia os nomes dos peixes em segredo.
ERNANI – (47 anos, crooner da Velha Guarda) – tinha várias charadas, para os ‘peixes
decifrarem. A pessoa que era o peixe, de acordo com a charada, respondia. Se não, bolo
nele. Por exemplo: ‘Vinte cinco no lote A resposta é sardinha.
- ‘Tô portão com ela!’ A resposta era namorado.
DOCA – No ‘gurufim’, eu pelo menos gostava muito de ir em todos os ‘gurufins’ porque
tinha uma cachacinha, um pão com manteiga ou pão com mortadela. Então eu não podia
perder porque a cachaça rolava a noite toda. A gente tinha que beber um bocadinho pra
poder passar a noite. Às vezes também passava um cafezinho.
MARTINHO DA VILA – (40 anos, do morro as Cachoeirinha, cantor e compositor)
‘Gurufim’, enterro de pobre, nunca foi triste. Os mais velhos ficavam conversando sobre a
vida do morto. Os mais novos iam para o quintal fazer as brincadeiras. Eu, por exemplo, só
há pouco tempo, tomei conhecimento de capela.
NEUMA GONÇALVES – (56 anos, folha de Saturnino Gonçalves, fundador do GRES
Estação Primeira de Mangueira) – A gente tirava aporta da sala principal e deitava sobre
uns caixotes, punha o morto ali em cima, rodeado de gente sentada em bancos. Quando a
cachaça comia solta, nego dormia e os outros pintavam a cara dele de rolha queimada.
ANÍBAL SILVA – (60 anos, compositor do Salgueiro, Imperador do Samba em 1947) –
‘Gurufim é velório sem capela, em casa mesmo, com saudade e risada, lembrança e
cachaça e muitas brincadeiras. Faz a morte não ficar tão feia. (...)
Apesar de termos visto, pelos depoimentos acima, que o termo ‘gurufim’ é usado
pelos 60% da nossa população que formam as massas, que é corrente em mais de trezentas
favelas do Rio de Janeiro, a determinação de seu conceito tornou-se dificílima pela
ausência de registro nos melhores dicionários de língua portuguesa, mesmo o mais
atualizado de todos, o Novo Aurélio, editado em 1974.
Encontramos o termo registrado no Dicionário do folclore brasileiro, de Luiz da
Câmara Cascudo:
Gurufim – canto de velório negro em São Paulo. Possível prosódia de golfinho.
Nelson Mota registrou um gurufim no morro do Papagaio, cidade de São Paulo, como
‘brincadeira para distrair velório’. ‘O delfim, nos cultos do Mediterrâneo, era cetáceo
sagrado, salvador de vidas e ligado às reverências de Afrodite, deusa marítima. A imagem
da alma dos mortos atravessava o mar para alcançar o outro mundo, a barca dos mortos, os
peixes acompanhantes e defensores, entre todos o golfinho, amigo de Arion, é crença
egípcia que se espalhou amplamente. O gurufim será um vago elemento, recordando essa
jornada de iniciação, já liberta das contingências fisiológicas’. (...)
Computadas as diversas informações colhidas, podemos concluir que:
a) gurufim é corruptela de golfinho;
b) o golfinho era um peixe participante da comitiva de acompanhamento dos mortos,
que atravessavam o mar para alcançar o outro mundo, segundo crença egípcia;
c) muitos negros escravos brasileiros foram trzidos do Sudão, região limítrofe com o
Egito;
d) a idéia do golfinho ligada à morte faz parte, então, do folclore africano;
e) o negro da América prosseguiu, em nossas terras, o culto a seus mortos;
f) aqui, por uma série de fatores sócio-econômicos, preservou-se em comunidades
proletárias, ditas faveladas;
g) pelo contato, seus hábitos religiosos se difundira, pelos outros grupos étnicos que
povoavam as mesmas áreas;
h) logo, acha-se explicado o fenômeno gurufim nos grupos proletários do Rio de
Janeiros e São Paulo, não pela presença de sua origem e evolução, mas pela
presença do peixe em todas as brincadeiras que acompanham as referidas
cerimônias de velório.
O que pode causar estranheza aos leitores é o total descaso dos estudiosos para fato
tão comum e usual no universo de tão grande parte da nossa população.” (p. 26-29)

Região Descrita: Madureira, Rio de Janeiro.


Período da Descrição: Primeiras décadas do século XX.
Ilustrações: De Paulo da Portela e de sua família em várias situações; reprodução de
documentos (certidão de nascimento e óbito) e inúmeras páginas de jornais da época.
Comentários: Biografia de um dos fundadores da escola de samba Portela, de Oswaldo
Cruz: Paulo Benjamin de Oliveira, mais conhecido como Paulo da Portela. Narra a relação
dele com as manifestações culturais do bairro de Madureira, dando ênfase especial ao
samba e à fundação do G.R.E.S. Portela.

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