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JOSÉ MELO
Governador do Estado do Amazonas
HAMILTON CASARA
Coordenador do Centro Estadual de Mudanças Climáticas – CECLIMA
EDIMAR VIZZOLI
Diretor Presidente do Instituto de Desenvolvimento Agropecuário e Florestal Sustentável do
Estado do Amazonas– IDAM
ii
Série Técnica Planos de Gestão
Volume I – Diagnóstico
BORBA,
JULHODE 2014
iii
APRESENTAÇÃO DA SDS
O Governo do Amazonas, por meio da Secretaria de Estado do Meio Ambiente e
Desenvolvimento Sustentável e do Centro Estadual de Unidades de Conservação
apresenta o resultado de um trabalho participativo desenvolvido ao longo de cinco anos
e que consolida a estratégia de conservação dos recursos naturais da maior parcela de
floresta tropical presente em um estado subnacional do mundo.
Através de uma política pública que alia equilíbrio entre conservação ambiental e
desenvolvimento econômico e social,o Amazonas chegou ao patamar de Estado com os
menores índices de desmatamento da Amazônia Brasileira. Com 42 Unidades de
Conservação Estaduais, sendo a Reserva de Desenvolvimento Sustentável Puranga-
Conquista a mais recente, criada em março de 2014, incrementam o sem 160% as áreas
protegidas.
Os planos de gestão são instrumentos legais que norteiam as áreas protegidas no
processo de conservação e recuperação da biodiversidade, das funções ecológicas, da
qualidade ambiental e da paisagem natural, além de ser um instrumento fundamental
para a realização de pesquisas científicas, visitação pública, recreação, atividades de
educação ambiental e, sobretudo, de geração de emprego e renda e os sete Planos de
Gestão das Unidades de Conservação Estaduais da área de influência da Rodovia
BR-319 somam-se aos vinte e dois planos existentes e são ferramentas valiosas de
implementação, consolidação e manutenção de uma região estratégica por definição.
A responsabilidade institucional em manter os serviços ambientais prestados
pelas florestas do Amazonas e, ao mesmo tempo, valorizar o trabalho realizado pelas
populações residentes nas 33 Unidades de Conservação de Uso Sustentável (do total de
42 UC estaduais) é enorme: significa conservar aproximadamente 19 milhões de ha, ou
12% do território do Estado, além da manutenção de 200 milhões toneladas de carbono
equivalente.
Através de um amplo trabalho de coleta de dados de campo com uma equipe com
trinta e cinco pesquisadores, foram realizados os levantamentos de dados primários e
secundários visando subsidiar os diagnósticos dos meios físico, biológico,
socioeconômico, ambiental e fundiário da RDS do Matupiri, RDS Igapó-Açu, RDS do Rio
Madeira, PAREST do Matupiri, RESEX Canutama, FLORESTA Canutama e a FLORESTA
Tapauá.
Foram realizadas consultas públicas nos municípios de Careiro, Canutama, Borba,
Novo Aripuanã e Tapauá, com a presença de 500 pessoas no total, permitindo contribuir
para a definição das regras de uso para as Unidades de Conservação, com a manifestação
expressa das populações locais. A elas nosso respeito e agradecimento por contribuir
com a conservação do nosso patrimônio natural e etnocultural.
A publicação destes planos é um passo importante na implementação e garantia
da conservação da biodiversidade e geração de renda, atitude que o povo do Amazonas
aprova. Parabenizamos a equipe envolvida pela iniciativa, e esperamos que a presente
publicação contribua como uma ferramenta de trabalho para os profissionais da área
ambiental, agentes públicos, empresários, ambientalistas, professores, estudantes e as
populações tradicionais das Unidades de Conservação.
iv
APRESENTAÇÃO DO CEUC
O século XX foi marcado por grandes transformações nas mais diferentes dimensões da
vida socioeconômica e político/cultural. As grandes metamorfoses do século XX continuam a nos
influenciar e, certamente, delinearão o destino do século XXI muito mais do que ousamos
imaginar. Uma das transformações mais significativas da vida socioeconômica e político/cultural
ocorrem entre os homens e suas formas de apropriação e uso dos recursos naturais. Nenhuma
forma de organização social anterior a que vivemos apropriou-se de modo tão profundo e, na
grande maioria das vezes, de forma tão irracional, como o atual processo civilizatório.
A civilização na qual estamos inevitavelmente inseridos lembra-nos que precisamos
urgentemente superar a perspectiva do Contrato Social, tal como elaborado por Jean-Jacques
Rousseau (1999), por outra perspectiva substantivamente nova – a de Michel Serres (2004), tal
como contida em o Contrato Natural. O presente processo civilizatório exige, na verdade, que o
contrato natural entre os homens e a natureza estabeleça relações simbiônticas para que todos
(todos!) possam usufruir de modo justo dos frutos da Terra.
As 42Unidades de Conservação estaduais (UC), criadas no Amazonas a partir de 1989 (a
primeira foi o PAREST Nhamundá), são partes constitutivas desse novo contrato natural exigido
pelo nosso tempo. Essa exigência, aliás, torna-nos inevitavelmente contemporâneos das tarefas
históricas das quais não podemos fugir. Nesse momento, as Unidades de Conservação (UC)
podem ser compreendidas com territórios de biodiversidade e sociodiversidade – com marco
regulatório próprio – que carregam em seus princípios fundamentais a preservação e/ou
conservação, dependendo obviamente do tipo de UC a que nos referimos. Entendemos, assim,
que as Unidades de Conservação (UC), como áreas protegidas, podem/devem induzir a outras
formas de desenvolvimento, noutras palavras, ao desenvolvimento sustentável. Como noção
normativa, mais do que conceito científico, a sustentabilidade desse novo modo de
desenvolvimento precisa levar necessariamente em consideração a diversidade da vida biológica
e as populações tradicionais que moram, trabalham e vivem de geração em geração nas UC –
territórios de novas formas de vida – e as futuras gerações.
Por fim, manifesto a imensa satisfação, como Coordenador do Centro Estadual de
Unidades de Conservação (CEUC), organismo gestor das UC no âmbito da Secretaria de Estado
de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável (SDS), em concluir e entregar publicamente
os sete Planos de Gestão – Reserva de Desenvolvimento Sustentável Igapó-Açu, Reserva
Extrativista Canutama, Floresta Estadual Canutama, Reserva de Desenvolvimento Sustentável do
Matupiri, Parque Estadual do Matupiri, Floresta Estadual Tapauá e Reserva de Desenvolvimento
Sustentáveldo Rio Madeira – assim como comunicar à sociedade a criação de seis Conselhos
Gestores das respectivas UC, com a exceção da RDS do Rio Madeira que já o possuía. Não
precisamos reafirmar aqui que os Conselhos Gestores das UC são ferramentas fundamentais
para consolidar, através da vontade coletiva organizada, de modo contínuo, as Unidades de
Conservação (UC). Contudo, sua efetiva consolidação – transformando-as em celeiros de
recursos naturais renováveis e ancoradas na perspectiva de serem economicamente viáveis,
politicamente equilibradas e socialmente justas (BENCHIMOL, 2002) – depende ao mesmo tempo
do respeito ao modo de vida das populações tradicionais e sua participação política, da SDS, do
CEUC, do compromisso sociopolítico Chefe da UC, mas, também, e de modo compartilhado, das
parcerias institucionais que colaboram com a tarefa social de reinventar do mundo – onde, aliás,
o Amazonas ocupa lugar estratégico central face suas singularidades socioambientais e suas
inerentes conexões como a sociedade global.
v
Equipe Técnica do Plano de Gestão do Parque
Estadual do Matupiri
Coordenação Geral
Henrique dos Santos Pereira, Eng. Agrônomo, MSc. em Biologia, Dr. em Ecologia (UFAM)
-Volume II - Planejamento
Josinaldo Aleixo de Sousa, Dr. em Sociologia (CONSULTOR DO ARPA)
vi
Michel Fabiano Catarino, Biólogo, MSc. em Ecologia Tropical e Recursos Naturais (UFAM)
Michelle Andreza Pedroza da Silva, Bióloga, Esp. em Etnodesenvolvimento, MSc. em Ciências do Ambiente
e Sustententabilidade (NUSEC/UFAM)
Mônica Suani Barbosa da Costa, Eng. Florestal, Esp. em Desenvolvimento Sustentável na Amazônia com
Ênfase em Educação Ambiental (NUSEC/UFAM)
Roberto Franklin Perella Gonçalves, Biólogo, MSc. em Ciências do Ambiente e Sustentabilidade
(CEUC/SDS)
Sâmia Feitosa Miguez, Cientista Social, MSc. em Sociologia (NUSEC/UFAM)
Samya Fraxe Neves, Cientista Social, MSc. em Antropologia (NUSEC/UFAM)
Sergio Sakagawa, Biólogo(Chefe da UC - CEUC/SDS)
Sissi Mikaella de Araújo, Administradora, Esp. em Marketing Empresarial (NUSEC/UFAM)
Suzy Cristina Pedroza da Silva, Eng. Florestal, MSc. em Agricultura e Sustentabilidade na Amazônia
(NUSEC/UFAM)
- Ictiofauna
Andreza dos Santos Oliveira, Biólogo, MSc.em Biologia de Água Doce e Pesca (INPA)
Gabriel Gazzana Barros, Biólogo, MSc. Ciências Biológicas (INPA)
Jansen Alfredo Sampaio Zuanon, Biólogo, MSc. em Biologia de Água Doce e Pesca Interior, Dr. Ecologia
(INPA)
Thiago Belisário D'Araújo Couto, Biólogo, MSc. em Ecologia (INPA)
Wellington Silva Pedroza, Biólogo, MSc. em Biologia de Água Doce e Pesca (INPA)
- Avifauna
Cristina Dreves, Assistente de campo
Dante Buzzetti, Biólogo (IPUMA)
Ricardo Almeida, Biólogo (UFAM)
Sérgio Henrique Borges, Biólogo, MSc. em Biologia, Dr. em Zoologia (FVA )
- Mastofauna
Adriane Morais, Bióloga, MSc. emEcologia (INPA)
Fabio Rohe, Ecólogo, MSc. em Ecologia (WCS )
Jefferson Oliveira, Mestrando (INPA)
Equipe Administrativa
Ademar Roberto Martins de Vasconcelos, Graduado em Tecnologia em Gestão Ambiental (NUSEC/UFAM)
Michelle Andreza Pedroza da Silva, Bióloga, Esp. em Etnodesenvolvimento, MSc. em Ciências do Ambiente
e Sustentabilidade (NUSEC/UFAM)
Sissi Mikaella de Araújo, Administradora, Esp. em Marketing Empresarial (NUSEC/UFAM)
Cooperação Técnica
Fundação de Apoio Institucional Rio Solimões – UNISOL
Núcleo de Socioconomia da Universidade Federal do Amazonas (NUSEC/UFAM)
Apoio Financeiro
Departamento Nacional de Infraestrutura de Transporte – DNIT
Programa Áreas Protegidas da Amazônia do Ministério do Meio Ambiente – ARPA/MMA
viii
LISTA DE FIGURAS
Figura 1. Localização do Parque Estadual do Matupiri. ....................................................................................... 6
Figura 2. Mapa Fundiário do Parque Estadual do Matupiri. ............................................................................ 20
Figura 3. Fitofisionomia e Caracterização da Paisagem – PAREST do Matupiri ....................................... 29
Figura 4. Mapa geomorfológico do Parque Estadual do Matupiri. ................................................................ 31
Figura 5. Mapa geomorfológico do Parque Estadual do Matupiri. ................................................................ 33
Figura 6. Mapa pedológico do Parque Estadual do Matupiri. .......................................................................... 36
Figura 7. Mapa de hidrografia do Parque Estadual do Matupiri. ................................................................... 39
Figura 8. Vegetação do Interflúvio Purus-Madeira, ressaltando as fitofisionomias vegetais da
PAREST do Matupiri. ...................................................................................................................................................... 43
Figura 9. Desenho esquemático para análise da constância. .......................................................................... 49
Figura 10. Trechos de amostragem por meio de coleta padronizada da ictiofauna no PAREST do
Matupiri, municípios de Borba e Manicoré, Amazonas. .................................................................................... 51
Figura 11. Localização dos pontos de amostragem no PAREST do Matupiri. ............................................ 52
Figura 12. Abundância relativa das famílias de peixes encontradas em área de
campina/campinarana no PAREST do Matupiri, municípios de Borba e Manicoré, Amazonas......... 54
Figura 13. Abundância das espécies encontradas em área de campina/campinarana no PAREST do
Matupiri, municípios de Borba e Manicoré, Amazonas. .................................................................................... 55
Figura 14. Riqueza e densidade total (abundância) da ictiofauna nos trechos de amostragem no
PAREST do Matupiri, municípios de Borba e Manicoré, Amazonas. ............................................................. 56
Figura 15. Dendrograma e matriz de similaridade (Índice de Bray-Curtis) dos pontos de
amostragem da ictiofauna no PAREST do Matupiri, municípios de Borba e Manicoré, Amazonas. . 56
Figura 16. Espécies de peixe encontradas em área de campina/campinarana no PAREST do
Matupiri, municípios de Borba e Manicoré, Amazonas. .................................................................................... 58
Figura 17. Gráfico de diversidade e equitabilidade dos pontos amostrais do PAREST do Matupiri,
municípios de Borba e Manicoré, Amazonas. ........................................................................................................ 59
Figura 18. Métodos de Amostragens. ....................................................................................................................... 61
Figura 19. Diversidade de Herpetofauna no Parque Estadual do Matupiri. .............................................. 62
Figura 20. Curva de acumulação de espécies por tempo de amostragem para os grupos de anfíbios
e répteis............................................................................................................................................................................... 63
Figura 21. Mapa da região do Parque Estadual do Matupiri, cortado pelo rio Matupiri, mostrando
os locais onde foram amostradas as aves por Ricardo Almeida e Dante Buzzetti. ................................. 68
Figura 22. Curvas cumulativas de diversidade de aves observadas e estimadas a partir do esforço
empregado nos censos................................................................................................................................................... 72
Figura 23. Agrupamento dos ambientes amostrados a partir da similaridade na composição de
espécies de aves co complexo campina/campinarana no Parque Estadual do Matupiri. .................... 72
Figura 24. Mapa das trilhas amostradas em uma área de campina e campinarana do PAREST do
Matupiri pela equipe de mastofauna entre novembro e dezembro de 2012. ........................................... 79
ix
Figura 25. Armadilha de interceptação e queda, com balde enterrado e cerca guia. ............................ 80
Figura 26. Armadilha fotográfica sendo instalada. ............................................................................................. 81
Figura 27. Mapa dos pontos amostrados através de armadilhamento fotográfico em uma área de
campina e campinarana do PAREST do Matupiri pela equipe de mastofauna entre novembro e
dezembro de 2012........................................................................................................................................................... 82
Figura 28. Religiões praticadas pela população no entorno do PAREST do Matupiri, de acordo com
diagnóstico socioeconômico de campo. .................................................................................................................. 99
Figura 29. Casal de idosos........................................................................................................................................... 101
Figura 30. Homem realizando suas atividades diárias fora de casa. .......................................................... 102
Figura 31. Preparo da farinha. .................................................................................................................................. 104
Figura 32. Maior interesse do turismo para as aldeias. .................................................................................. 107
Figura 33. Mapa de reconhecimento arqueológico PAREST do Matupiri, área de entorno. .............. 111
Figura 34. Fragmentos cerâmicos e circunferência de recipiente; parte da borda exposta. ............ 114
Figura 35. Parte de circunferência de urna funerária exposta. ................................................................... 114
Figura 36. No solo acinzentado, circunferência de recipiente cerâmico utilizado em ritual pelas
sociedades pré-colombianas. .................................................................................................................................... 116
Figura 37. Terra preta, associada a vestígios cerâmicos no terreiro da Aldeia Sapucaia. ................. 116
Figura 38. Fragmento cerâmico decorado sendo escavado pelas águas pluviais; e o solo argiloso-
arenoso, próximo do centro social. ......................................................................................................................... 118
Figura 39. Estilo de arquitetura da Aldeia Tapagem; e, ao fundo, a vegetação de palmeiras. .......... 118
Figura 40. Reunião. ....................................................................................................................................................... 126
Figura 41. Aldeia Piranha. .......................................................................................................................................... 127
Figura 42. Aldeia Sapucaia. ........................................................................................................................................ 128
Figura 43. Aldeia Sapucainha .................................................................................................................................... 129
Figura 44.Aldeia Tapagem. ........................................................................................................................................ 129
Figura 45. Localidade Correia. .................................................................................................................................. 130
Figura 46. Braço grande. ............................................................................................................................................. 131
Figura 47. Santa Maria do Poção. ............................................................................................................................. 132
Figura 48. Democracia. ................................................................................................................................................ 133
Figura 49. Jatuarana. .................................................................................................................................................... 133
Figura 50. Fotos de residências comumente encontradas na região de entorno do PAREST do
Matupiri............................................................................................................................................................................. 136
Figura 51. Materiais utilizados para cobertura das residências da T.I. Cunhã Sapucaia. ................... 137
Figura 52. Distribuição da população segundo o número de cômodos nas residências. .................... 137
Figura 53. Distribuição da população segundo o numero de dormitórios na residência. ................. 138
Figura 54. Fontes de energia das residências. .................................................................................................... 138
Figura 55. Eletrodomésticos presentes nas residências. ................................................................................ 139
Figura 56. Frequência de doenças entre os usuários do PAREST do Matupiri. ...................................... 143
Figura 57. Frequência de doenças entre as crianças, PAREST do Matupiri. ............................................ 143
x
Figura 58. Fonte de água utilizada pelos moradores do entorno da Unidade de Conservação
PAREST do Matupiri em diferentes períodos sazonais. .................................................................................. 145
Figura 59. Tratamento da água realizado por usuários da Unidade de Conservação PAREST do
Matupiri............................................................................................................................................................................. 146
Figura 60. Espacialização das comunidades, localidades e aldeias que utilizam o PAREST do
Matupiri............................................................................................................................................................................. 150
Figura 61. Pirâmide etária do Parque Estadual do Matupiri......................................................................... 152
Figura 62. Documentos que a população do entorno do PAREST do Matupiri possui. ........................ 153
Figura 63. Estado civil no Parque Estadual do Matupiri. ................................................................................ 154
Figura 64. Organizações comunitárias presentes no entorno do PAREST do Matupiri. ..................... 157
Figura 65. Moradia na Aldeia Piranha com quintal agroflorestal ao redor, PAREST do Matupiri. . 159
Figura 66. Produção familiar de farinha de mandioca na Aldeia Piranha, PAREST do Matupiri. .... 161
Figura 67.Culturas permanentes cultivadas nos quintais agroflorestais e roças, PAREST do
Matupiri............................................................................................................................................................................. 162
Figura 68. Culturas temporárias cultivadas nos quintais agroflorestais e roças, PAREST do
Matupiri............................................................................................................................................................................. 163
Figura 69. Panorama da criação animal desenvolvida pelos usuários do PAREST do Matupiri
residentes no município de Borba (%). ................................................................................................................ 165
Figura 70. Panorama da criação animal desenvolvida pelas localidades indicadas como usuárias do
PAREST do Matupiri residentes no município de Manicoré/AM (%). ....................................................... 166
Figura 71. Animais silvestres criados na comunidade Jatuarana, Manicoré-AM, para as finalidades
de consumo (esquerda) e de estimação (direita). ............................................................................................. 166
Figura 72. Manejo adotado na criação de animais no entorno do PAREST do Matupiri (%). ........... 167
Figura 73. Principais produtos não madeireiros utilizados pelos moradores do Parque Estadual do
Matupiri/AM. ................................................................................................................................................................... 170
Figura 74. Principais produtos não madeireiros mais utilizados pelos moradores do Parque
Estadual do Matupiri/AM. .......................................................................................................................................... 170
Figura 75. Limites do Parque Estadual do Matupiri e as áreas de pesca dentro e no entorno da UC.
.............................................................................................................................................................................................. 178
Figura 76. Principais ambientes de pesca na área do PAREST do Matupiri. ........................................... 183
Figura 77. Apetrechos de pesca utilizados pelos comunitários que pescam no Parque Estadual do
Matupiri............................................................................................................................................................................. 185
Figura 78. Lista dos principais peixes explorados pesca de subsistência e comercial ribeirinha no
Parque Estadual do Matupiri. ................................................................................................................................... 185
Figura 79. Origem das embarcações que compram pescado das comunidades que exploram a
região. ................................................................................................................................................................................ 187
Figura 80. Locais afirmados pelos usuários de onde realizam as caçadas. .............................................. 189
Figura 81. Animais mais caçados no PAREST do Matupiri e Entorno. ....................................................... 190
xi
Figura 82. Animais mais caçados pelos moradores do entorno do PAREST do Matupiri com acesso
por Manicoré/AM. ......................................................................................................................................................... 191
Figura 83. Queixadas (Tayassu pecari) criadas na comunidade Jatuarana-Manicoré-AM, para as
finalidades de consumo (esquerda) e de estimação (direita). ..................................................................... 192
Figura 84. Porcentagem de áreas especiais da ALAP BR319. ........................................................................ 218
Figura 85. Áreas prioritárias para conservação Estado do Amazonas e localização de Unidades de
Conservação Estaduais na área de influência da BR-319. .............................................................................. 219
LISTA DE TABELAS
Tabela 1. Descrição das fitofisionomias do PAREST do Matupiri. ................................................................. 26
Tabela 2. Tamanho e Porcentagem de Área do PAREST do Matupiri........................................................... 27
Tabela 3. Áreas em hectares das unidades geológicas presentes no Parque Estadual do Matupiri. 30
Tabela 4. Unidades geológicas presentes no Parque Estadual do Matupiri. ............................................. 32
Tabela 5. Modelados presentes na Planície Amazônica. ................................................................................... 34
Tabela 6. Modelados presentes na Depressão Ituxi-Jari. .................................................................................. 34
Tabela 7. Descrição das classes de solo do Parque Estadual do Matupiri. ................................................. 37
Tabela 8. Descrição das fitofisionomias vegetais para PAREST do Matupiri em função das
descrições realizadas pelo RADAMBRASIL (Brasil 1978) e complementados com dados primários
da RDS Igapó-Açu e IPUMA. .......................................................................................................................................... 41
Tabela 9. Localização e caracterização dos pontos amostrados da coleta padronizada no PAREST
do Matupiri, municípios de Borba e Manicoré, Amazonas. .............................................................................. 49
Tabela 10. Caracterização limnológica e estrutural dos trechos amostrados no PAREST do
Matupiri, municípios de Borba e Manicoré, Amazonas. .................................................................................... 50
Tabela 11. Número de espécies registradas em diferentes estudos realizados na região do
interflúvio Purus-Madeira. .......................................................................................................................................... 65
Tabela 12. Principais festas religiosas de Borba. ................................................................................................ 99
Tabela 13. Festas religiosas do entorno do PAREST mais citadas pela população. .............................. 100
Tabela 14. Reconhecimento de Potencial arqueológico do Rio Igapó-Açu (Parque Estadual do
Matupiri). .......................................................................................................................................................................... 112
Tabela 15. Áreas das Aldeias com ausência de vestígio arqueológico nos Rios Igapó-Açu e do
Matupiri (PAREST). ....................................................................................................................................................... 120
Tabela 16. Área de potencial arqueológico não conferida (PAREST do Matupiri)................................ 120
Tabela 17. Descrição dos lugares onde foi feito o levantamento dos dados socioeconômicos na
região do entorno do PAREST do Matupiri. ......................................................................................................... 124
Tabela 18. Infraestrutura disponível nas comunidades, localidades e aldeia do entorno PAREST do
Matupiri............................................................................................................................................................................. 135
Tabela 19. Oferecimento do serviço “educação” segundo aldeia/comunidade. .................................... 140
Tabela 20. Oferecimento do serviço “educação” segundo comunidade. ................................................... 141
xii
Tabela 21. Destino dos resíduos sólidos pelos moradores do entorno da Unidade de Conservação
PAREST do Matupiri. .................................................................................................................................................... 147
Tabela 22. Localidades e aldeias que utilizam os recursos naturais no PAREST do Matupiri. ......... 149
Tabela 23. Panorama social, político e econômico do entorno do PAREST do Matupiri. ................... 151
Tabela 24. Dados dos produtos não madeireiros no município de Borba/AM, em 2012. .................. 168
Tabela 25. Dados dos produtos vegetais não madeireiros no município de Borba/AM. .................... 169
Tabela 26. Calendário de produção anual das atividades no extrativismo não madeireiro no
Parque Estadual do Matupiri/AM. ........................................................................................................................... 172
Tabela 27. Plano de Manejo Florestal em Pequena Escala (área até 500 ha) existente no Município
de Borba/Am. .................................................................................................................................................................. 173
Tabela 28. Principais produtos madeireiros utilizados pelos moradores do Parque Estadual do
Matupiri/AM. ................................................................................................................................................................... 174
Tabela 29. Extração de madeira (m³) nos municípios que compõem a região do Madeira. .............. 176
Tabela 30. Extrativismo madeireiro do município de Borba/AM, em 2008 a 2011. ............................ 176
Tabela 31. Unidades de Conservação (UCs) e área ocupada no Município de Borba/AM. ................. 177
Tabela 32. Distribuição do número de moradores entrevistados por comunidade. ........................... 178
Tabela 33. Áreas utilizadas para a exploração dos recursos pesqueiros dentro do Parque Estadual
do Matupiri. ..................................................................................................................................................................... 179
Tabela 34.Áreas utilizadas para a exploração dos recursos pesqueiros no entorno do Parque
Estadual do Matupiri. ................................................................................................................................................... 180
Tabela 35. Finalidade da atividade pesqueira pelos comunitários. ........................................................... 183
Tabela 36. Número de pescadores por comunidade, épocas em que praticam a atividade pesqueira
e forma de envolvimento com instituição de classe. ........................................................................................ 183
Tabela 37. Peixes explorados pela pesca de subsistência e comercial ribeirinha, época de captura e
tipos de apetrechos utilizados. ................................................................................................................................. 184
Tabela 38. Opinião das comunidades sobre a prática da pesca esportiva. .............................................. 186
Tabela 39. Conflitos identificados entre as aldeias e comunidades que fazem uso do Parque do
Matupiri............................................................................................................................................................................. 188
Tabela 40. Produtos agrícolas vendidos (V) pelos moradores ao entorno do PAREST do Matupiri
por Núcleo (Borba e Manicoré). ............................................................................................................................... 194
Tabela 41. Produtos não madeireiros comercializados pelos moradores do entorno do PAREST do
Matupiri por Núcleo (Borba e Manicoré). ............................................................................................................ 195
Tabela 42. Dados da comercialização da produção de Castanha pelos moradores do entorno do
PAREST do Matupiri (Núcleo de Borba). ............................................................................................................... 196
Tabela 43. Dados da comercialização da produção dos Óleos Vegetais pelos moradores do entorno
do PAREST do Matupiri (Núcleo de Borba). ......................................................................................................... 197
Tabela 44. Dados da comercialização da produção dos óleos vegetais pelos moradores do entorno
do PAREST de Matupiri (Núcleo de Borba). ......................................................................................................... 198
xiii
Tabela 45. Produtos Madeireiros comercializados pelos moradores ao entorno do PAREST do
Matupiri/Núcleo de Borba. ........................................................................................................................................ 199
Tabela 46. Produtos pesqueiros comercializados pelos moradores ao entorno do PARQUE do
Matupiri por Núcleo (Borba e Manicoré). ............................................................................................................ 200
Tabela 47. Criação de animais domésticos comercializados pelos moradores ao entorno do PAREST
do Matupiri por Núcleo (Borba e Manicoré). ...................................................................................................... 201
Tabela 48. Fortalezas do PAREST do Matupiri identificadas nas oficinas de avaliação estratégica
participativas. ................................................................................................................................................................. 213
Tabela 49. Fraquezas do PAREST do Matupiri identificadas nas oficinas de avaliação estratégica
participativas. ................................................................................................................................................................. 214
Tabela 50. Ameaças do PAREST do Matupiri identificadas nas oficinas de avaliação estratégica
participativas. ................................................................................................................................................................. 215
Tabela 51. Oportunidades do PAREST do Matupiri identificadas nas oficinas de avaliação
estratégica participativas. .......................................................................................................................................... 216
LISTA DE ANEXOS
Anexo I. Decreto de Criação do Parque Estadual do Matupiri. .................................................................... 240
Anexo II. Áreas Protegidas no Estado do Amazonas. ....................................................................................... 242
Anexo III. Lista detalhada do material botânico coletado na PAREST do Matupiri. ............................ 243
Anexo IV. Lista taxonômica das espécies de peixes coletadas no PAREST do Matupiri, municípios
de Borba e Manicoré, Amazonas. ............................................................................................................................. 245
Anexo V. A Lista das espécies de anfíbios e répteis registradas no Parque Estadual do Matupiri. 247
Anexo VI. Lista preliminar de espécies de aves registradas no Parque Estadual do Matupiri. ....... 250
Anexo VII. Lista Lista de espécies de mamíferos que ocorrem nas áreas de Campinas/Campinaras,
no PAREST do Matupiri e Entorno. .......................................................................................................................... 255
LISTA DE APÊNDICE
Apêndice I. Pranchas de Fotos de Anfíbiose Répteis no PAREST do Matupiri. ....................................... 259
Apêndice II. Vista aérea e terrestre dos ambientes amostrados no PAREST do Matupiri. ................ 264
Apêndice III. Algumas espécies de aves amostradas durante os trabalhos de campo no PAREST do
Matupiri............................................................................................................................................................................. 268
xiv
SIGLAS
ATER Serviço de Assistência Técnica e Extensão Rural
SDS/AM Secretaria de Estado do Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável do
Amazonas
SEUC Sistema Estadual de Unidades de Conservação
CECLIMA Centro Estadual de Mudanças Climáticas
CEUC Centro Estadual de Unidades de Conservação
COIAB-AM Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira
DNIT Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes
FEAM Fundação Estadual do Meio Ambiente
FEPI-AM Fundação Estadual dos Povos Indígenas
FLONA Floresta Nacional
FUNAI Fundação Nacional do Índio
IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
IDAM Instituto de Desenvolvimento Agropecuário e Florestal Sustentável do
Estado do Amazonas
INCRA Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária
MMA Ministério do Meio Ambiente
IBAMA Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis
MPE Ministério Público Estadual
NUSEC Núcleo de Socioeconomia da Universidade Federal do Amazonas
PPBio Programa de Pesquisa em Biodiversidade
PAREST Parque Estadual
REBIO Reserva Biológica
UFAM Universidade Federal do Amazonas
SISBIO Sistema de Autorização e Informação em Biodiversidade
GIZ Deutsche Gesellschaft für Internationale Zusammenarbeit
WWF World Wide Fund for Nature
UGMUC Unidade Gestora do Centro Estadual de Mudanças Climáticas e do Centro
Estadual de Unidades de Conservação
xv
SUMÁRIO
1. INTRODUÇÃO ................................................................................................................................................................... 1
2. LOCALIZAÇÃO DA UNIDADE DE CONSERVAÇÃO ................................................................................................. 4
3. HISTÓRICO DE PLANEJAMENTO .............................................................................................................................. 7
4. CONTEXTO ATUAL DO SISTEMA DE UNIDADE DE CONSERVAÇÃO NO AMAZONAS ..............................12
5. INFORMAÇÕES GERAIS ...............................................................................................................................................15
5.1. FICHA TÉCNICA........................................................................................................................................................................... 16
5.2. ACESSO À UNIDADE DE CONSERVAÇÃO .......................................................................................................................... 17
5.3. HISTÓRICO DE CRIAÇÃO E ANTECEDENTES LEGAIS................................................................................................. 18
5.4. ORIGEM DO NOME ..................................................................................................................................................................... 18
5.5. SITUAÇÃO FUNDIÁRIA ............................................................................................................................................................ 19
5.6. HISTÓRICO DE IMPLEMENTAÇÃO DA UNIDADE DE CONSERVAÇÃO ................................................................ 22
6. CARACTERIZAÇÃO AMBIENTAL ..............................................................................................................................25
6.1. CARACTERIZAÇÃO DAS PAISAGENS E FITOFISIONOMIAS ..................................................................................... 26
6.2. FATORES ABIÓTICOS ............................................................................................................................................................... 30
6.2.1. Aspectos Geológicos............................................................................................................................................................. 30
6.2.2. Geomorfologia ....................................................................................................................................................................... 32
6.2.3. Solos........................................................................................................................................................................................... 35
6.2.4. Clima e Hidrologia ............................................................................................................................................................... 37
6.3. FATORES BIÓTICOS .................................................................................................................................................................. 40
6.3.1. Vegetação ................................................................................................................................................................................ 40
6.3.2. Fauna ........................................................................................................................................................................................ 46
6.3.2.1 Ictiofauna ...................................................................................................................................................................... 46
6.3.2.2 Herptofauna................................................................................................................................................................. 60
6.3.2.3 Avifauna ........................................................................................................................................................................ 67
6.3.2.4 Mastofauna................................................................................................................................................................... 77
6.4. SERVIÇOS AMBIENTAIS .......................................................................................................................................................... 89
6.5. POTENCIALIDADES DE USO DOS RECURSOS NATURAIS ......................................................................................... 96
7. CARACTERIZAÇÃO SOCIOECONÔMICA DA POPULAÇÃO USUÁRIA .............................................................97
7.1. ASPECTOS CULTURAIS ............................................................................................................................................................ 98
7.1.1. Religião .................................................................................................................................................................................... 99
7.1.2. Gênero..................................................................................................................................................................................... 101
7.1.3. Alimentação ......................................................................................................................................................................... 103
7.1.4. Potencial Turístico ............................................................................................................................................................. 104
7.2. ASPECTOS ARQUEOLÓGICO ............................................................................................................................................... 108
7.3. CARACTERIZAÇÃO DA POPULAÇÃO ............................................................................................................................... 124
7.3.1. Descrição das Comunidades do Entorno da Unidade de Conservação e da Zona de Amortecimento124
7.2.2. Educação ............................................................................................................................................................................... 139
7.3.3. Saúde ....................................................................................................................................................................................... 142
7.3.4. Saneamento Básico ........................................................................................................................................................... 144
7.4. DISTRIBUIÇÃO ESPACIAL E DEMOGRAFIA ................................................................................................................. 148
7.4.1. Espacialização das Comunidades do Entorno da Unidade de Conservação e da Zona de
Amortecimento ............................................................................................................................................................................... 148
7.4.2. Caracterização da População e Demografia........................................................................................................... 151
7.4.3. Registro Civil dos Moradores ......................................................................................................................................... 153
7.4.4. População Ativa e Renda ................................................................................................................................................ 154
7.5. ORGANIZAÇÃO COMUNITÁRIA......................................................................................................................................... 157
xvi
7.6. PADRÃO DE USO DOS RECURSOS NATURAIS ............................................................................................................. 158
7.6.1. Atividades Agropecuárias ............................................................................................................................................... 158
7.6.1.1 Culturas Temporárias .......................................................................................................................................... 160
7.6.1.2 Culturas Permanentes.......................................................................................................................................... 161
7.6.1.3 Criação de Animais ................................................................................................................................................ 164
7.6.2. Atividades Extrativistas ................................................................................................................................................... 168
7.6.2.1 Atividades Extrativistas Não Madeireira ..................................................................................................... 168
7.6.2.2 Atividades Extrativistas Madeireira .............................................................................................................. 173
7.6.3. Atividades de Pesca ........................................................................................................................................................... 177
7.5.4. Uso da Fauna ....................................................................................................................................................................... 188
7.6.5. Comercialização dos Produtos ..................................................................................................................................... 192
7.7. PERCEPÇÃO DOS MORADORES SOBRE A UNIDADE DE CONSERVAÇÃO DO PARQUE DO MATUPIRI202
8. ASPECTOS INSTITUCIONAIS .................................................................................................................................. 206
8.1. RECURSOS HUMANOS E INFRAESTRUTURA .............................................................................................................. 207
8.2. ESTRUTURA ORGANIZACIONAL ...................................................................................................................................... 208
9. ANÁLISE E AVALIAÇÃO ESTRATÉGICA............................................................................................................... 209
10. DECLARAÇÃO DE SIGNIFICÂNCIA...................................................................................................................... 218
11. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ........................................................................................................................ 221
12. ANEXOS ....................................................................................................................................................................... 239
xvii
1. INTRODUÇÃO
1
O Plano de Gestão é uma das principais ferramentas de gestão da Unidade de
Conservação (UC), uma vez que está prevista legalmente no Sistema Nacional de
Unidades de Conservação (SNUC) e Sistema Estadual de Unidades de Conservação
(SEUC). Além do Plano de Gestão, outra ferramenta que compõe esse conjunto é o
conselho gestor da UC.
Este Plano de Gestão do Parque Estadual do Matupiri foi elaborado em
atendimento ao artigo 33 do SEUC (Lei complementar nº 53, 2007, Amazonas). Trata-se
de um documento técnico e gerencial, fundamentado nos objetivos do PAREST enquanto
UC de Proteção Integral, tendo como base os preceitos legais e os interesses da proteção
de espécimes que fundamentaram a sua criação.
O Plano serve de base técnica e de apoio ao desenvolvimento e à gestão dessa
Unidade, subsidiando as ações da equipe do Centro Estadual de Unidades de
Conservação (CEUC) e do Conselho Consultivo, das instituições parceiras do Governo do
Estado e demais instituições que apoiam a UC.
O Plano de Gestão das UCs deve caracterizar o ambiente natural, a sociedade que
nela habita e sua usuária, definir o zoneamento, as regras de uso dos recursos naturais e
de convivência, as possibilidades de geração sustentável de renda, bem como sua
conservação, indicando os programas e subprogramas de manejo para o
desenvolvimento da UC.
No caso deste Plano do PAREST do Matupiri, apesar de ser uma UC de Proteção
Integral, existem populações indígenas no entorno do Parque que fazem uso do Parque
de forma tradicional; assim, o Plano de Gestão traz diretrizes para a reflexão dessa
relação entre a proteção dos recursos e o uso tradicional das populações.
O Plano de Gestão é, portanto, a ferramenta norteadora das ações e programas a
serem implementados na UC, e deve representar uma “fotografia” do que é a UC nos seus
mais diferentes aspectos: ambientais, socioculturais, econômicos, fauna e flora, etc.
Este volume I do PAREST do Matupiri é fruto de estudos (diagnósticos)
realizados por várias equipes de pesquisadores de áreas diversas que demonstram um
panorama da UC, e que serve de base principal para nortear o volume 2 que define os
programas, subprogramas e zoneamento da UC.
Este volume I traz uma caracterização do contexto geográfico em que está
localizada a UC, bem como uma caracterização da própria UC, quanto aos aspectos
2
ambientais, socioculturais e de socioeconomia da UC, que serve de base para o
desenvolvimento de quaisquer projetos e programas de gestão da UC.
Este Plano de Gestão se baseia em um modelo de gestão ambiente que envolve a
participação social na implementação das áreas protegidas, bem como estabelece o
compromisso de relacionar conservação, desenvolvimento sustentável e melhoria da
qualidade de vida das comunidades que habitam essas áreas protegidas ou que delas
dependem diretamente.
3
2. LOCALIZAÇÃO DA
UNIDADE DE
CONSERVAÇÃO
4
O Parque Estadual do Matupiri (PAREST do Matupiri) criada pelo Decreto
Estadual N. 28.424 de 27 de março de 2009, com uma área de aproximadamente de
513.747,469 ha está localizada entre o interflúvio Rio Purus - Rio Madeira nos
municípios de Borba e Manicoré, pertencente à Mesorregião do Sul Amazonense e
Microrregião do Madeira no Estado do Amazonas.
O PAREST do Matupiri localiza-se no trecho do Km 161 ao Km 365 da BR-319, na
margem esquerda no sentido Manaus Porto-Velho. Na porção sul limita-se com o
assentamento PAE Jenipapo, é delimitada pela rodovia AM-464 e a RDS do Rio Amapá,
RDS do Matupiri. Na porção central é cortada pelo rio Matupiri (Figura 1). O PAREST do
Matupiri faz limite com a Terra Indígena Cunhã Sapucaia e RDS Igapó-Açu.
5
Figura 1. Localização do Parque Estadual do Matupiri.
6
3. HISTÓRICO DE PLANEJAMENTO
7
3.1 REUNIÕES TÉCNICAS DE PLANEJAMENTO
Após a assinatura do convênio para a Implementação das Unidades de
Conservação Estaduais do Amazonas na área de Influência da BR-319 houve reuniões de
coordenação e equipe técnica para delineamento e afinamento de atividades, a saber:
Reunião de planejamento – 02/01/2013. Pontos de destaque: definição
de contratações; formalização das equipes dos Agentes Ambientais
Voluntários, Brigadistas, Fundiário; e planejamento da logística;
Reunião de esclarecimentos das metas – 11/01/2013. Pontos de
destaque: complementação de volumes e redimensionamentos das áreas
atendidas no convênio;
Reunião de apresentação e discussão do formulário socioeconômico
– 23/01/2013. Pontos de destaque: alterações, correções e detalhamento
de itens presente no formulário;
Reunião planejamento técnico da coordenação – 24/01/2013. Pontos
de destaque: estipulação de data de entrega dos planos de trabalho
individuais, previsão de pessoas nas viagens, definição de data para o
treinamento de aplicação de formulários;
Reunião planejamento técnico da coordenação – 30/01/2013. Pontos
de destaque: informes da UNISOL, cronograma de viagens e entendimento
sobre os processos de solicitação de autorização de pesquisa e entrada nas
UCs;
Reunião de discussão logística sobre as viagens – 31/01/2013. Pontos
de destaque: logística das viagens; determinação de setores e pontos de
apoio;
Reunião de alinhamento do programa de Implementação das UC’s da
BR-319 – 07/02/2013. Pontos de destaque: apresentação das equipes
(NUSEC/CEUC), nivelamento de informações, articulação de
coordenadores temáticos, roteiros de ações de campo e documentos
validados do CEUC;
Reunião de definição metodológica do Mapeamento Participativo dos
Usos dos Recursos Naturais – 20/02/2013. Pontos de destaque:
definições dos temas, método de mapeamento e aquisição da informação e
composição do relatório final;
Reunião de fluxo de informação – 25/02/2013. Pontos de destaque:
solicitação de mapas, check list do kit para entrevista, impressão dos
formulários e definições sobre o treinamento dos formulários;
Reunião de Plano de Ação para Próximas Viagens– 20/03/2013.
Pontos de destaque: recrutamento e seleção do cadastro reserva dos
pesquisadores temporários para as próximas viagens, treinamento e
nivelamento dos novos pesquisadores temporários para aplicação dos
8
formulários socioeconômicos, Licitações de transporte fluvial para as
expedições de RDS e PAREST do Matupiri. Solicitação do novo Edital do
Perfil VIII-Equipe da Fauna, finalização dos TDR’S de Pessoa Física novo
Edital do Perfil IV – Agente Ambiental Voluntário e Designer;
Reunião de articulação de atividades conjugadas – 09/04/2013.
Pontos de destaque: proposta metodológica das equipes Agentes
Ambientais Voluntários, Conselho Gestor e Mapeamento participativo e
orçamento da viagem;
Reunião Levantamentos de dados e identificação de lacunas -
09/04/2013. Pontos de Destaque: Análise dos dados coletados em campo
e conclusão do Volume I, Definição dos pontos focais dos dados, Definição
dos pesquisadores que farão sistematização dos demais Planos de Gestão;
Reunião de Planejamento de Viagem das Equipes de Agente Ambiental
Voluntário, Conselho Gestor e Mapeamento Participativo - 11/04/2013.
Pontos de Destaque: Ações necessárias para RDS e PAREST do Matupiri;
Reunião de Estratégias para Pesquisa de Campo PAREST e RDS do
Matupiri - 17/04/2013. Pontos de Destaque: Apresentação das equipes e
coordenações; Abordagem da pesquisa e instrumentos de coleta de dados;
Mobilização nas aldeias, comunidades e localidades; Roteiro de Viagem;
Divisões de Tarefas, Orientação às atividades que deverão ser executadas
durante toda a viagem; Preparação do material de campo;
Reunião Geral sobre a RDS e PAREST do Matupiri - 06/05/2013.
Pontos de Destaque: levantamento parcial sobre a primeira expedição RDS
e PAREST do Matupiri; desenvolvimento do novo Formulário Focal e
treinamento dos pesquisadores; Reavaliação da estratégia de trabalho na
T.I – Terra Indígena e Planejamento para Segunda Expedição no PAREST
do Matupiri;
Reunião de Avaliação de Viagem da RDS e PAREST do Matupiri –
10/05/2013. Pontos de Destaque: apresentação da equipe envolvida,
recomendações da Coordenação Técnica e Aplicação da Análise
SWOT/FOFA;
Reunião sobre Pendências de Relatórios/Produtos com a
Coordenação de Equipes -18/06/2013. Pontos de Destaque:
Apresentação dos Coordenadores das Equipes do Conselho Gestor, Agente
Ambiental Voluntário e Fauna/Flora; Encaminhamento da Coordenação
sobre a Nota Técnica desenvolvida pelo o Gestor da PAREST do Matupiri;
Reunião de Planejamento da Logística para Próximas Expedições -
01/07/2013. Pontos de Destaque: Apresentação do responsável pela
logística das expedições executadas e a executar; previsão de datas;
fechamento do financiamento e atividades que serão desenvolvidas pelo
PIUC 319 e ARPA em RDS e PAREST do Matupiri;
9
Planejamento de Expedições das Equipes: Conselho Gestor,
Mapeamento Participativo e Agente Ambiental Voluntário –
04/07/2013. Pontos de Destaque: fechamentos das datas para expedições
nas atividades pendentes no PAREST do Matupiri, RDS do Matupiri e
Floresta Estadual Tapauá; pesquisadores disponíveis para desenvolver as
atividades; logística de campo; mobilização nas UC’s pelos Gestores.
Expedições realizadas
Protocolos SDS/CEUC
Termo de responsabilidade
Atestado de ciência do termo de responsabilidade
Autorização de entrada na UC
10
Termo de Coleta ICMBio/IBAMA(SISBIO)
Termo PPBio
Não houve necessidade de autorização devido às áreas não fazerem parte do
diagnóstico biológico.
11
4. CONTEXTO ATUAL DO SISTEMA
DE UNIDADE DE CONSERVAÇÃO NO
AMAZONAS
12
A partir da criação do Sistema Nacional de Unidades de Conservação (SNUC), por
meio da Lei Federal nº. 9.985, de 18 de junho de 2000, o Brasil vem passando por um
processo evolutivo significativo no âmbito ambiental, mais especificamente no âmbito
das áreas protegidas, tanto em relação aos marcos regulatórios, como na ampliação de
unidades de conservação. As unidades de conservação criadas no Estado do Amazonas,
por exemplo, entre 2003 e 2009 representam cerca 11 % do total de áreas protegidas
criadas no mundo nesse período (CEUC/SDS, 2010a).
Atualmente a política ambiental do Amazonas é executada pela Secretaria de
Estado do Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável – SDS, que integrou a
estrutura administrativa do Poder Executivo do Governo do Estado, como órgão da
Administração Direta, por meio da Lei n.º 2.783 de 31 de janeiro de 2003. A supervisão
dessa política é feita pelo Conselho Estadual de Meio Ambiente do Estado do Amazonas
– CEMAAM, previsto no art. 220 da Constituição Estadual de 1989, e instituído pela Lei n.
2.985 de 18 de outubro de 2005 (CEUC, 2010e).
As legislações estaduais alinham-se aos mesmos princípios do sistema nacional,
ajustando a regra geral às peculiaridades locais, muitas vezes funcionando como um
complemento. Dessa forma, em 05 de junho de 2007 a Assembleia Legislativa do Estado
do Amazonas promulgou a Lei Complementar Nº 53, que instituiu o Sistema Estadual de
Unidades de Conservação (SEUC), o qual estabelece normas e critérios para criação,
implantação e gestão das unidades de conservação estaduais, incluindo infrações e
penalidades nessas áreas (CEUC, 2010b).
À realidade local que abriga diversas populações tradicionais no interior da
floresta. Esta categoria atualmente é a mais representada no Sistema Estadual,
refletindo uma política voltada à conservação e ao desenvolvimento de forma conciliada,
já que as RDS abrigam comunidades tradicionais, cuja subsistência baseia-se em
sistemas mais sustentáveis de utilização dos recursos naturais. Tais comunidades
podem desempenhar um papel fundamental na conservação da natureza por serem seus
usuários diretos. Atualmente, entre as 42 UC, nove são de proteção integral e 32 de uso
sustentável (CEUC, 2010a).
Além das Reservas de Desenvolvimento Sustentável, o SEUC também prevê a
consolidação de mosaicos de Unidades de Conservação, que constituem conjuntos de UC
em uma mesma região e que podem incluir ambas as modalidades (proteção integral e
uso sustentável), tanto da esfera Federal quanto da Estadual. A gestão de um mosaico de
13
Unidades de Conservação é feita de forma integrada e participativa, considerando os
objetivos e contextos distintos de cada UC (CEUC, 2010a). As Unidades de Conservação
do Entorno da rodovia BR-319, por exemplo, se enquadram no contexto de um mosaico.
Para operacionalizar o SEUC, além da necessidade de estrutura adequada e
instrumentos jurídicos necessários, são publicados pelo Governo do Estado do
Amazonas, quando necessário, portarias, decretos e instruções normativas. Dentro deste
arcabouço, foi instituído pela Lei Nº 3.244, de 04 de abril de 2008, o Centro Estadual de
Unidades de Conservação - CEUC, juntamente com o Centro Estadual de Mudanças
Climáticas (CECLIMA), ambos como parte da Unidade Gestora do Centro Estadual de
Mudanças Climáticas e do Centro Estadual de Unidades de Conservação (UGMUC),
vinculada à SDS (CEUC, 2010c).
Por serem inúmeros e complexos os desafios enfrentados nessa temática, o órgão
conta ainda com parcerias com as organizações sociais que representam os moradores
das unidades de conservação, organizações não governamentais e instituições públicas e
privadas, nas esferas municipal, estadual, federal e internacional (CEUC/SDS, 2010).
Entre diversas outras fontes de recursos financeiros do CEUC, atualmente, as principais
são provenientes do Ministério de Transportes (DNIT), para a implementação de UCs
situadas na área da influência da BR 319, da Petrobras, referente à compensação
ambiental das obras do Gasoduto Coari-Manaus e do Programa Áreas protegidas da
Amazônia – ARPA, vinculado ao Ministério de Meio Ambiente (CEUC, 2010c).
De acordo com CEUC (2010 d), o histórico de crescimento do SEUC é recente e
desde 2003 o número de unidades de conservação aumentou de 12 para 41, sendo que
existem mais projetos de criação em estudo e em andamento. O Estado do Amazonas
tem hoje, 49,14% de seu território protegido e, apesar da existência de algumas
sobreposições de terra, o Sistema Estadual de UCs é responsável por 19.007.032,62
milhões de ha (Anexo).
14
5. INFORMAÇÕES GERAIS
15
NUSEC/UFAM (2013)
5.1. FICHA TÉCNICA
Nome PAREST do Matupiri
Área 513.747,469 ha
Municípios abrangidos Borba e Manicoré
16
Decreto Decreto Estadual nº 28.424 de 27 de março de 2009
Ao norte: a área é delimitada pela RDS Igapó Açu
Ao sul: a área é delimitada pelo Igarapé Matupiri.
Limites A leste: o PAREST está delimitado pela RDS do Rio
Amapá
A oeste: o PAREST está delimitado pela RDS do Matupiri
Bioma Floresta Amazônica
17
5.3. HISTÓRICO DE CRIAÇÃO E ANTECEDENTES LEGAIS
Através iniciativa do Governo Federal, a BR-319 se encontrava em processo de
revitalização. Esta proposta tem o intuito de reativar o corredor viário que liga a região
norte do Brasil com o resto do país. Porém, visando à manutenção dos ecossistemas
amazônicos, a reativação desta estrutura viária, pode se tornar uma grande porta de
entrada para o aumento das atividades agropecuárias e consequentemente a degradação
do meio ambiente e, em especial, o avanço do arco do desmatamento que, atualmente,
atinge as regiões do sul do Amazonas (FEARNSIDE, 2003).
Visando minimizar estes impactos, em 2009, o Governo do Estado do Amazonas
criou, através de decretos estaduais, seis novas UC no interflúvio Purus-Madeira, onde
está inserida a BR-319; a RDS do Matupiri, RDS Igapó-açú, FLORESTA Canutama, RESEX
Canutama, FLORESTA Tapauá e, finalmente, o PAREST do Matupiri.
O Parque Estadual do Matupiri (PAREST do Matupiri), Unidade de Conservação
de proteção integral, foi criado através do Decreto Estadual nº. 28.424, de 27 de março
de 2009(Amazonas, 2009), localizado nos municípios de Borba e Manicoré, nas bacias
do Rio Matupiri, tem como objetivo proteger áreas de extrema importância para a
biodiversidade dos ecossistemas amazônicos, deste interflúvio, além de blindar as áreas
do contexto de BR-319, contra os avanços das atividades de desmatamento que
acompanharão a revitalização e ocupação das áreas de entorno desta rodovia,
possibilitando a realização de pesquisas científicas, desenvolvimento de atividades de
educação ambiental e recreação em contato com a natureza ecológica.
É uma área relativamente isolada, onde seu principal acesso é através da AM-464
que atualmente se encontra desativa e intransitável, um ramal da BR-319 que liga o rio
Madeira à BR-319.
19
Figura 2. Mapa Fundiário do Parque Estadual do Matupiri.
20
O Parque Estadual de Matupiri não possui áreas de ocupação humana, está
entrecortado por igarapé e rios, são 16 igarapés (Caniço, Castanhal-Piriá, Cururu, Terra
Nova, Vila, Pavão, Pedras, Açu, Invira, Praia Grande, Maçangana, Praia Alta, Arara, Água
Vermelha, Matupiri e Bom Futuro) e dois rios (Amapá e Matupiri); faz divisa com as
terras indígenas Cunhã - Sapucaia e com as reservas de uso Estaduais RDS do Rio Amapá
e RDS do Rio Madeira e PAE Jenipapo, formando com estas o mosaico de unidades de
conservação do centro-sul do Amazonas.
O Parque Estadual de Matupiri está limitado do ao norte por grande parte da
extensão da rodovia BR 319. Ao sul há uma infinidade de áreas particulares, cabe
ressaltar que estas áreas particulares estão localizadas dentro da Terra Indígena
Pinatuba, havendo sobreposição de terras particulares. A gleba nas quais estão
localizadas estas áreas particulares e terras indígenas pertence ao Estado do Amazonas.
No entorno do parque existem 26 comunidades com cerca de 480 famílias que
utilizam a agricultura, caça e pesca como principais atividades de subsistência. O parque
tem implicações socioeconômicas por representar a conservação de uma grande área de
floresta de várzea do médio rio Madeira, essencial a manutenção dos estoques
pesqueiros da região. O parque também tem um forte potencial para ecoturismo, em
especial o turismo ornitológico. A cidade de Borba, sede de um dos municípios do
parque possui um roteiro turístico estabelecido, Festa de Santo Antônio de Borba, que
ocorre no início de junho sendo considerada uma das maiores festas religiosas do
estado.
Dentro da delimitação territorial do Parque Estadual do Matupiri não há projetos
de assentamentos do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária – INCRA. No
entanto, há quantidade significativa de projetos de assentamentos localizados nos
municípios de Borba e Manicoré. Em Borba há 09 projetos de assentamentos (PA
Puxurizal, PA Piaba, PAE Abacaxis, PAE Trocanã, PAE Tupana Igapó-Açu, PAE Maripiti,
PAE Anumaã, RDS Canumã e PDS Axinim) e em Manicoré há também 09 projetos de
assentamentos (PA Matupi, PAE Matupiri, PAE Jenipapos, Resex do Lago Capanã Grande,
RDS Amapá, PAE Onças, PAE Lago do Acará, PAE Baetas e PAE Fortaleza).
21
5.6. HISTÓRICO DE IMPLEMENTAÇÃO DA UNIDADE DE
CONSERVAÇÃO
2004 – O Ministério de Meio Ambiente e o Ministério dos Transportes criam a
Portaria Interministerial Nº 273, que cria e estabelece diretrizes para o Programa
Nacional de Regularização Ambiental das Rodovias Federais.
2005 – O Governo Federal define recuperação do pavimento da Rodovia BR-319,
que liga Manaus/AM a Porto Velho/RO.
2006 – Com base no Artigo 22-A (SNUC), o MMA decreta Área de Limitação
Administrativa Provisória (ALAP) no entorno da BR-319 com o objetivo de realizar
estudos voltados à criação de unidades de conservação.
Por meio do Decreto s/n, de 2 de janeiro de 2006, o Governo Federal submeteu o
entorno da rodovia BR-319 (uma área de aproximadamente 15 milhões e 400 mil
hectares), à limitação administrativa provisória (ALAP) com o objetivo de evitar que
atividades e empreendimentos efetiva ou potencialmente causadores de degradação
ambiental pudessem prejudicar o estado dos recursos naturais ali existentes, enquanto
os órgãos competentes realizavam estudos para a criação de unidades de conservação.
Os estudos e consultas públicas em toda a região da ALAP, além de intensas
negociações, tanto internas ao governo federal como junto ao Governo do Amazonas,
produziram a proposta de um “mosaico” de unidades de conservação, já resguardadas
áreas de possível interesse de povos indígenas. A proposta de mosaico de áreas
protegidas, então chamado ALAP da BR-319, é composta por 13 UCs, abrangendo uma
área de 9.414.486 ha, sendo 29% de proteção integral e 71% de uso sustentável.
2008–Portaria № 295 do MMA instituiu o Grupo de Trabalho - GT BR-319, com a
finalidade de elaborar diretrizes e acompanhar o processo de Licenciamento Ambiental
da Rodovia BR-319.
Foi instituído também o subgrupo de Proteção e Implementação das UC da
BR-319, composto pelo ICMBio, SDS/AM, SEDAM/RO e Conservation Strategy Fund
(CSF), elaborou o Plano de Proteção e Implementação das UC da BR-319, que propõem o
planejamento regionalizado e integrado.
Posteriormente, após as reuniões do GT-BR-319, o DNIT repassou recursos para
o Governo do AM e ICMBio, para implementação do Plano de Proteção e
Implementação das UC da BR-319.
22
O estudo promovido pela Conservação Estratégica (2009) avaliou a eficiência
econômica da recuperação de seu principal segmento (aprox. 400 km) no Estado do
Amazonas, e concluiu que o projeto geraria prejuízos para os cofres públicos de 316
milhões de reais (em “análise convencional”) e 785 milhões de reais (em “análise
integrada”). Seria necessário que benefícios brutos do projeto fossem três vezes maior
segundo a “análise convencional”, e, cinco vezes maior, segundo a “análise integrada”,
para que o projeto atingisse viabilidade econômica.
Entre 2006 e 2009 o Governo do Amazonas com base no SEUC 1criou
1
O SEUC (Lei Complementar nº 53, de 05 de junho de 2007) é a legislação vigente que estabelece as diretrizes
de criação, implementação e gestão de Unidades de Conservação no Estado do Amazonas.
23
gestão da RDS e PAREST do Matupiri, abordando o seguinte tema atividade de
turismo na Terra Indígena Cunha Sapucaia;
Julho de 2012
Primeira reunião do Chefe da UC PAREST do Matupiri com os moradores da
Terra Indígena Cunhã Sapucai, com objetivo de explicar o objetivo do CEUC e
como atua;
Abril de 2013
Realizada primeira atividade de levantamento do diagnóstico socioeconômico da
RDS e PAREST do Matupiri nos rios Autaz Mirim, Igapó-Açu e Matupiri pelos
chefes da UC Ana Claudia Leitão e Sergio Sakagawa;
Maio de 2013
Sensibilização para com os moradores da área do entorno da RDS do Matupiri
para retomada na Elaboração do Plano de Gestão;
Janeiro de 2014
Reunião junto ao órgão gestor para fechar calendário da Consulta Pública;
Março de 2014
Consulta Pública realizada em Borba no dia 11/03/2014;
Reunião do Conselho Gestor para deliberação do Plano de Gestão no dia
13/03/2014.
24
6. CARACTERIZAÇÃO AMBIENTAL
25
NUSEC/UFAM (2013)
6.1. CARACTERIZAÇÃO DAS PAISAGENS E
FITOFISIONOMIAS
De acordo com a classificação do Projeto RADAMBRASIL, 1977 (Base Cartográfica
do IBGE, na escala 1:250.000, de 2007) o PAREST do Matupiri possui cinco
fitofisionomias principais: Floresta Ombrófila Densa Aluvial com Dossel Emergente
(Dae), Floresta Ombrófila Densa de Terras Baixas com Dossel Emergente (Dbe), Floresta
Ombrófila Aberta de Terras Baixas com Palmeiras (Abp), Floresta Ombrófila Aberta
Aluvial com palmeiras (Aap), e Savana - Gramíneo-Lenhosa, sem floresta-de-galeria
(Sgs)(Figura 3 e Tabela 1).
26
Floresta Esta formação, compreendida entre 4o de latitude Norte e 16 o de
Ombrófila latitude Sul, em altitudes que variam de 5 até 100 m, apresenta
Aberta de Floresta predominância da faciação com palmeiras. É também encontrada em
Terras Baixas Ombrófila estado natural, mas, no caso, em associação com outras angiospermae,
com Aberta de em comunidades isoladas dos Estados do Maranhão e do Pará, sempre
Palmeiras Terras Baixas situadas abaixo de 100 m de altitude.
(Abp)
27
com palmeiras
28
Figura 3. Fitofisionomia e Caracterização da Paisagem – PAREST do Matupiri
29
6.2. FATORES ABIÓTICOS
O presente item traz informações sobre a Unidade no que diz respeito às
características do meio abiótico. Foram caracterizados os seguintes aspectos: clima,
geologia, geomorfologia, solos e hidrografia/hidrologia.
Tabela 3. Áreas em hectares das unidades geológicas presentes no Parque Estadual do Matupiri.
30
Figura 4. Mapa geomorfológico do Parque Estadual do Matupiri.
31
Na tabela 4 são descritas as unidades geológicas presente na área de estudo. A
descrição teve como referência o trabalho desenvolvido pela Geologia e Recursos
Minerais do Estado do Amazonas, na escala 1:1.000.000 (CPRM, 2006).
6.2.2. Geomorfologia
O Parque Estadual do Matupiri está inserido em duas unidades geomorfológicas a
Planície Amazônica e Depressão do Madeira-Purus (Figura 5).
As descrições das unidades morfológicas e dos modelados seguiram o manual de
geomorfologia desenvolvido pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE,
2009).
32
Figura 5. Mapa geomorfológico do Parque Estadual do Matupiri.
33
Planície Amazônica
Modelado Descrição
Depressão do Madeira-Purus
Modelado Descrição
34
tabular. inconsolidadas, denotando eventual controle estrutural.
6.2.3. Solos
Solos são resultantes de cinco variáveis interdependentes, denominados fatores
deformação do solo, a saber: organismos, clima, material de origem, relevo e tempo. Esse
conceito indica o quanto o elemento solo possui relações com os demais elementos que
explicam e modelam a paisagem.
No Parque Estadual do Matupiri foi identificado quatro classes de solos: Latossolo
Amarelo, Argissolo Vermelho Amarelo, Planossolo e Gleissolo (Figura 6).
O solo em maior representatividade é Argissolo Vermelho-Amarelo com
78,06%%, seguido pelo Latossolo Amarelo com 13,24%, essas duas classes de solo são
característicos de ambientes de terra firme.
O Planossolo representa 8,30% da área, e corresponde as áreas de campos
naturais de terra firme presentes no Parque Estadual do Matupiri, denotando feições
associadas com umidade, apresentando problemas de encharcamento durante o período
chuvoso e ressecamento e fendilhamento durante a época seca.
Em menor proporção consta o Gleissolo com 0,40% da área, esta classe
compreende pequenas porções próximas às margens do Rio do Matupiri.
35
Figura 6. Mapa pedológico do Parque Estadual do Matupiri.
36
A descrição das classes de solos (Tabela 7) seguiram a conceituação e o modelo
de classificação proposto pelo Sistema Brasileiro de Classificação de Solos da Embrapa
(SiBCS), publicado em 1999 e atualizado em 2006.
Classes Descrição
37
de variação anual. A temperatura média anual varia de 25 a 27º C, com máximo de 36,8º
C e mínima 23,0º C. A umidade relativa do ar (URA)gira em torno de 85% e a
precipitação média anual é de 2.400mm anuais.
Quanto à hidrografia, o Parque Estadual do Matupiri é drenado em sua totalidade
pela bacia do Madeira. É á principal bacia do Sudoeste da Amazônia, todos os rios
deságuam direta ou indiretamente no rio Madeira. A bacia do madeira apresenta uma
densa rede hidrográfica de características dentrítica ou arborescentes (Christofoletti,
1980). A Unidade de Conservação é banhada pelos rios Matupiri e Amapá (Figura 7).
38
Figura 7. Mapa de hidrografia do Parque Estadual do Matupiri.
39
6.3. FATORES BIÓTICOS
6.3.1. Vegetação
A Pesquisa em Modelagem Ambiental da Amazônia (Projeto GEOMA 2002,
http://www.lncc.br/~geoma) e o Programa de Pesquisa em Biodiversidade (PPBio
2002, http://ppbio.inpa.gov.br), estão buscando, através da pesquisa cientifica,
aprofundar o conhecimento sobre esta região. Exemplo disso, a região em que se localiza
a área objeto deste estudo, é caracterizada por apresentar grande variedade de
formações vegetais, incluindo áreas de campina que anteriormente eram conhecidas
como Savanas, além da floresta densa (Terra Firme e Aluvial) e floresta aberta (Terra
Firme e Aluvial) como as mais importantes (RADAMBRASIL 1978).
Ocorrem nas áreas de clima quente e úmido e solos arenosos encharcados ou não,
ocupando uma área aproximada de 180.000 km² no território brasileiro (IBGE, 2000) e
estando amplamente distribuídas na Amazônia e em diversas outras regiões tropicais
(FERREIRA, 2009). Essa ampla distribuição propiciou uma gama de denominações que
tem dificultado uma conceituação precisa e suficientemente abrangente para esses
ambientes. A utilização do termo Campinarana coube primariamente a Ducke (1938) e a
Sampaio (1940, 1944), que o empregaram para a região do Alto Rio Negro, embora
também tenham se referido ao mesmo tipo de vegetação com a designação “Caatinga do
Rio Negro”. Egler (1960) foi o primeiro fitogeógrafo a empregar corretamente o termo
Campinarana para a Amazônia. Takeuchi (1960) usou a denominação Campina, após
Ducke (1938) e Sampaio (1940 - 1944). No entanto, o conhecimento da composição
florística destes ambientes ainda são escassos.
Com a finalidade de auxiliar a coleta de dados primários, dados secundários
foram obtidos a partir dos principais registros de coletas botânicas incluídas em
herbários (INPA, NYBG e MOBOT), visto que a existência de testemunhos destes
materiais para consulta torna estes dados teoricamente mais seguros e confiáveis do
ponto de vista taxonômico. Assim, os dados de registros de ocorrência das espécies
foram obtidos através do banco de dados dos Herbários do Instituto Nacional de
Pesquisas da Amazônia (INPA), New York Botanical Garden (NYBR) e Missouri Botanical
Garden (MOBOT).
40
O levantamento vegetacional foi realizado com 16 dias de campo sendo 12 de
coletas (ARPA/2012) e 4 dias de campo e aproximadamente 2 de coleta (IPUMA/2010).
As expedições foram em 2 campinas diferentes da UC.
O levantamento florístico foi feito por meio da procura aleatória por plantas em
estágio reprodutivo nos arredores da trilha. No entanto, a caracterização estrutural da
vegetação foi realizada em pontos representativos, distribuídos ao longo das trilhas, e
que foram selecionados e analisados de acordo com a variação e representatividade
ambiental.
Fitofisionomias vegetais
De acordo com as classificações do RADAMBRASIL (Brasil, 1978) e trabalhos
recentes realizadas na RDS Igapó-Açu (UC próxima da área de estudo) e dados coletados
pelo IPUMA, as formações vegetais predominantes apara a PAREST do Matupiri (Tabela
8), onde nota-se a predominância de Floresta Ombrófila Densa das Terras Baixas
(91.84%), porém ocorrendo também áreas de Campina/Campinarana, anteriormente
denominada de Savana, além de Floresta Ombrófila Aluvial (Figura 8).
Tabela 8. Descrição das fitofisionomias vegetais para PAREST do Matupiri em função das
descrições realizadas pelo RADAMBRASIL (Brasil 1978) e complementados com dados primários
da RDS Igapó-Açu e IPUMA.
Vegetação Descrição
41
Formação que apresenta agrupamentos de árvores emergentes nas elevações
mais pronunciadas dos interflúvios, como o angelim-da-mata (Hymenolobium
Florestas Ombrófilas de petraeum), angelim-pedra (Dinizia excelsa), tauari (Couratari spp.), castanha-
Terras Baixas (Densa e do-pará (Bertholletia excelsa) entre outras. É significativa a presença de
Aberta), comumente palmeiras que competem por luz no estrato arbóreo superior: babaçu
conhecida como (Orbygnia spp.), patauá (Oenocarpus bataua), açaí (Euterpe spp.), ocorrendo
Floresta de Terra firme preferencialmente nos locais mais úmidos. Geralmente são considerados solos
ácidos e pobres em nutrientes. A Floresta de Terra Firme ocupa 91. 84% da
área total da PAREST do Matupiri (Figura 8).
42
Figura 8. Vegetação do Interflúvio Purus-Madeira, ressaltando as fitofisionomias vegetais da PAREST do Matupiri.
43
Caracterização da vegetação
Nas formações do PAREST do Matupiri as fisionomias visitadas foram
principalmente de Campinarana Gramíneo lenhosa em solo hidromórfico Essa região do
Parque representa ainda um grande vazio de coleta devido ao difícil acesso, uma vez que
em quilômetros não há estradas ou qualquer rio navegável. Nas manchas de Campina a
vegetação é caracterizada por apresentar uma cobertura de ervas das famílias
Cyperaceae, Orchidaceae, Poaceae, Xyridaceae e algumas Pteridófitas, todas de
dispersão pantropical. Entre as lenhosas mais representativas da paisagem tem
destaque os gêneros Macairea, Chaunochiton e Himatanthus tendo destaque também a
grande densidade de Bactris campestris Poepp. ex Mart. No entanto, durante as
incursões em campo foi possível identificar dois ambientes predominantes:
Campina/Campinarana e Floresta Ombrófila (Terra Firme).
De modo geral, as campinas aberta são densamente cobertas por gramíneas e
arvoretas esparsas com altura de aproximadamente 1.5 – 2 m de altura. Em alguns
pontos, os indivíduos arbustivos encontram-se agrupados formando pequenos capões
com altura máxima de 5 m. No interior desses capões o estrato herbáceo é mais escasso.
O estrato herbáceo é caracterizado pela grande abundância de Abolboda macrosthacya,
Duckeacyperaceoidea, Lagenocarpus glomerulatus, Monotrema xyridoides e
Xyrisstenocephala. O estrato arbustivo é composto por espécimes de Bactriscampestris,
Chaunochiton loranthoides, Humiria balsamifera e Rhodognaphalopsisfaroensis.
Por outro lado, as áreas de transição entre a Campina e a Floresta Ombrófila são
caracterizadas por Campinarana Arbustiva/Florestada, onde há uma concentração de
indivíduos arborescentes formando um dossel de aproximadamente 2 m de altura que
aumenta gradativamente à medida que se aproximada da vegetação florestada. O
diâmetro do tronco na altura do peito (DAP) desses indivíduos não ultrapassa os 15cm.
Em alguns pontos essa transição é abrupta.
Quanto à composição florística, durante a execução do método de levantamento
rápido da vegetação foram feitos 1180 registros de indivíduos de plantas vasculares,
sendo identificadas 104 espécies subordinadas a 81 gêneros e 44 famílias. A lista de
espécies coletadas na área de Campina/Campinarana (Anexo - material botânico
coletado na PAREST do Matupiri).
44
As florestas de Terra Firme, fitofisionomia predominante nesta Unidade de
Conservação, é uma da formação vegetais mais bem estudada, portanto, as
características estruturais e de composição florística podem ser relacionadas aos
encontradas nas outras Unidades de Conservação localizadas próximas da área de
estudo, como a RDS Igapó-Açu e RDS do Rio Madeira.
Todas as espécies de planta encontradas no PAREST do Matupiri possuem grande
importância para conservação das comunidades vegetais presentes em ilhas de campina
da Amazônia como um todo. A maioria das espécies é exclusiva desse tipo de ambiente,
portanto, qualquer intervenção que modifique a estrutura dessas ilhas pode
comprometer a manutenção dessas assembleias ou até mesmo extinguir algumas
espécies. Essas espécies possuem adaptações que lhes permitem colonizar e manter
populações viáveis nesses tipos de ambientes pobres em nutrientes e com elevado stress
hídrico. Dessa forma, a conservação dessas ilhas de campina é de extrema importância
para a manutenção da diversidade vegetal presente do PREST Matupiri.
Por outro lado, mesmo apresentando baixa diversidade beta, essas ilhas formam
um ecossistema único na paisagem que difere muito das formações florestais.
Provavelmente essa ampla diferença provocará um grande aumento na diversidade
beta, pois em ambientes próximos com diferenças edáficas tão distintas a substituição
de espécies esperada tende a ser elevada. Porém, para uma maior clareza na
compreensão desse fato exige estudos mais aprofundados tanto nas campinaranas
quanto nas Florestas de Terra Firme.
Além disso, não foram encontradas espécies de interesse econômico. A maioria
das espécies de interesse econômico é destinada a indústria madeireira, e nas áreas de
campina as espécies não atingem o tamanho e a circunferência desejada para tal
finalidade. No entanto, potencialmente valoradas comercialmente são as espécies com
beleza ornamental, como orquídeas, bromélias e eriocauláceas (sempre-vivas).
As espécies encontradas na área de estudo não apresentaram histórico de
exploração. Possivelmente presente no entorno estão as espécies exploradas para
extração do leite da sova (Couma SP.), balata (Micropholi sp. ou Chrysophyllum sp.) e
coquirana (Chrysophyllum sp.), que são espécies arbóreas e que já foram muito
exploradas economicamente na região para uso do látex. Porém, essas espécies não
foram encontradas nesse trabalho. A presença dessas espécies foi relatada pelos
45
mateiros, que são moradores do entorno do parque. A extração da sova, balata e
coquirana já foi uma atividade de geração de renda realizada pelos seus pais e avós.
Muitas Campinas são áreas de trabalho e uso dos antigos moradores, e hoje em dia as
trilhas da sova e balata que chegam até as campinas são utilizadas somente para a caça
de subsistência, pois o comércio da sova, balata e coquirana não tem mais mercado.
Atualmente as ameaças sobre a vegetação das campinas no interior do PAREST
do Matupiri é baixa por estas se encontrarem inseridas numa densa floresta. Porém, com
a reativação da BR-319 essa situação pode se alterar. A facilidade de acesso pode causar
uma entrada de agentes externos como espécies exóticas passíveis de provocar
distúrbios no equilíbrio dinâmico da comunidade vegetal das campinas.
6.3.2. Fauna
6.3.2.1 Ictiofauna
O Parque Estadual do Matupiri é uma Unidade de Conservação (UC) do grupo de
Unidades de Proteção Integral, criada através do Decreto Estadual nº 28.424 de 27 de
março de 2009. Possui uma área total de aproximadamente 513.747,469 ha, situada no
Interflúvio Purus-Madeira, na margem esquerda da BR-319 no sentido Manaus – Porto
Velho e com suas áreas pertencentes aos municípios de Borba e Manicoré. A criação da
UC está ligada ao decreto do governo federal de 02 de janeiro de 2006 que cria a Área de
Limitação Administrativa Provisória (ALAP) ao longo da Rodovia Federal BR-319, com o
intuito de evitar o processo de ocupação desordenada e o aumento dos desmatamentos
nessa região, em razão da retomada do asfaltamento da rodovia (TDR). A vegetação da
área amostrada compreende áreas de campina, com solo argiloso. O diagnóstico
biológico da ictiofauna é representativo de parte da área do PAREST do Matupiri que
engloba áreas de campina e campinarana.
Foram estabelecidos oito (08) trechos amostrais (MAT01 a MAT08), abrangendo
igarapés, alagado em campinarana e capão de mata na campina, seguindo critérios
estritamente logísticos, já que o acampamento-base da expedição foi montado em um
local desconhecido, em função de um erro de localização do ponto anteriormente
selecionado. Tal fato acabou forçando a equipe de ictiofauna a abrir suas próprias trilhas
e buscar ambientes para a coleta. Dos trechos amostrados, somente em MAT01, MAT02,
MAT03 e MAT04 foi possível aplicar a metodologia inicialmente proposta (vide texto a
46
seguir), já que os demais corpos d’água disponíveis para amostragem eram nascentes ou
alagados, sem um leito definido. Nessas áreas foram realizadas coletas não
padronizadas, e os resultados foram utilizados apenas para o inventário ictiofaunístico.
Tratamento de Dados
Equitabilidade
Abundância
Análise de constância
48
A constância de ocorrência das espécies foi determinada utilizando-se a relação
entre o número de coletas contendo a espécie em questão (p) e o número total de
coletas realizadas (P), expressa em porcentagem por C = p x 100/P. A espécie foi
considerada constante se C ≥ 50%, acessória se 25% ≤ C < 50% ou acidental se C < 25%
(Figura 9).
B Largura
105NIKON
Trecho
Local. Ambiente Coordenada Coleta padronizada C.A. C.V.
amostral
MAT01 Ig. do Jeju Ig. S 04o 50' 00.1'' SIM Preta 70%
49
W 61o 01' 01.5''
S 04o 50' 08.6'' Preta 75%
MAT02 Ig. do Jeju Ig. SIM
W 61 o 00' 56.9''
S 04o 50' 14.6'' Preta 85%
MAT03 Ig. do Jeju Ig. SIM
W 61o 00' 55.6''
S 04o 49' 53.6'' Preta 75%
MAT04 Ig. do Jeju Ig. SIM
W 61o 01' 04.5''
S 04o 49' 51.8'' Preta 80%
MAT05 Ig. do Joel Ig. NÃO
W 61o 01' 14.6''
Capão de S 04o 49' 44.4'' Clara 85%
MAT06 Vala NÃO
Mata W 61o 00' 26.1''
Ig. do S 04o49' 57.7'' Clara 15%
MAT07 Alagado NÃO
Cauxi W 60o 59' 22.3''
Ig. do S 04o49' 54.6'' Clara 15%
MAT08 Alagado NÃO
Cauxi W 60o 59' 24.0''
Nota:Local. = Localidade; Ig. = igarapé; C.A. = Cor da água; C.V. = Cobertura vegetal.
Tabela 10. Caracterização limnológica e estrutural dos trechos amostrados no PAREST do
Matupiri, municípios de Borba e Manicoré, Amazonas.
Nota:L. M. = largura média (m); V. M. = velocidade média (m/s); P. M. = profundidade média (cm); V. =
vazão (m3/s); A. F. = ambiente fitofisionômico; A = areia; F = folhiço; G = galho; R = raiz.
50
Figura 10. Trechos de amostragem por meio de coleta padronizada da ictiofauna no PAREST do
Matupiri, municípios de Borba e Manicoré, Amazonas.
A B
C D
52
conectam durante o período chuvoso, fornecendo energia alóctone através de pequenos
invertebrados e material vegetal. Portanto, as áreas de campina e campinarana não
deveriam ser alvos de qualquer tipo de intervenção antrópica, seja na vegetação
(fornecedora direta e indireta de energia para o sistema), seja no solo/substrato, que
permite a retenção temporária da água no ambiente enquanto é drenada para as partes
mais baixas – igarapés e alagados.
Os trechos MAT07 e MAT08 são extensos alagados, com velocidade da água
bastante reduzida (ambientes quase lênticos), sem margens definidas, com capins no
leito e que chega a invadir área de campinarana adjacente. Apesar de constituir um
ambiente em potencial para a ictiofauna, não foram capturados nem observados peixes
nesses locais.
Nota: A figura foi dividida em duas partes apenas para facilitar a visualização, em função
da grande diferença de abundância entre as famílias.
Nota: A figura foi dividida em duas partes apenas para facilitar a visualização,
em função da grande diferença de abundância entre as famílias.
55
Figura 14. Riqueza e densidade total (abundância) da ictiofauna nos trechos de amostragem no
PAREST do Matupiri, municípios de Borba e Manicoré, Amazonas.
56
Fonte: NUSEC/UFAM (2013).
MAT03 * * * 69,5652
MAT04 * * * *
A B
C D
E F
G H
58
proporcional (reduzindo a equitabilidade) dessas espécies. Entretanto, esses ambientes
aquáticos do PAREST do Matupiri durante a expedição a campo.
Figura 17. Gráfico de diversidade e equitabilidade dos pontos amostrais do PAREST do Matupiri,
municípios de Borba e Manicoré, Amazonas.
0,8 0,60
J' Pielou
0,6 0,50
0,40
0,4 0,30
0,2 0,20
0,10
0,0 0,00
MAT01 MAT02 MAT03 MAT04
Trechos amostrais
6.3.2.2 Herptofauna
Embora pouco representativo, em número de espécies, os quelônios são o grupo
mais ameaçado, tanto mundialmente quanto regionalmente. Existem aproximadamente
300 espécies e 460 taxa (incluindo-se todas as subespécies reconhecidas) de tartarugas
de água doce no mundo. Atualmente, mais de 200 espécies estão listadas como
ameaçadas na Lista Vermelha de Espécies Ameaçadas da IUCN de 2000 (TURTLE
CONSERVATION FUND, 2002). A Amazônia brasileira está representada por 17 espécies
de quelônios, sendo 15 espécies de água-doce e duas espécies de quelônios terrestres
(VOGT et al., 2007).
Padrões de diversidade biológica podem ser definidos a partir de parâmetros
ecológicos como riqueza e composição de espécies. Estes parâmetros têm sido
frequentemente subestimados na Amazônia, como resultado da existência de extensas
áreas não amostradas para diversos grupos taxonômicos, sobretudo, áreas de difícil
acesso. Para répteis e anfíbios, embora existam boas estimativas de distribuição de
espécies em escalas grandes, lacunas de amostragem dificultam a determinação de
padrões regionais de diversidade. Aparentemente, escalas regionais são mais adequadas
para orientar tomadas de decisões na gestão de áreas protegidas. Portanto, espera-se
aprimoramento de capacidades gestoras, na medida em que lacunas de amostragem são
preenchidas.
O Parque Estadual do Matupiri está inserido no interflúvio entre os rios Madeira
e Purus, nos municípios de Castanho e Manicoré, Estado do Amazonas. Os dados
primários foram concentrados em amostragens realizadas entre os dias 27 de novembro
60
e 11 de dezembro de 2012, dentro e nos arredores de manchas de campina e
campinarana.
Foram utilizados quatro métodos de registro de espécimes, dos quais dois foram
padronizados em relação ao esforço amostral: 1) Procura visual limitada por tempo
37,2% (n=16) e armadilhas pitfall 46,5% (n=20) (Figura 18) das espécies foram
registradas por estes métodos, e três geraram registros adicionais (encontros
ocasionais, registros auditivos e colaboração de terceiros). Para os métodos
padronizados, o esforço de amostragem foi aproximadamente igual entre três categorias
de hábitats preliminarmente definidas por diferenças estruturais: campina,
campinarana e margens de igarapés (Anexo – Ambiente amostrado). Foi usada procura
visual limitada por tempo (CRUMP & SCOTT, 1994), com esforço amostral de 80,01
horas/observador. Instalamos duas linhas de armadilhas de interceptação e queda
“Pitfall” (CECHIN & MARTINS, 2000), com 10 baldes de 60 litros em cada linha, e
distância de 10 m entre baldes vizinhos. O esforço amostral usando este método foi de
200 armadilhas/noite. Foram feitos registros auditivos de vocalizações de anfíbios
anuros, e gravações das espécies que estavam no início de sua atividade reprodutiva.
61
Nota: 1) Vista da cerca-guia; 2) Detalhe do balde “pitfall” enterrado no solo; 3) Pesquisadores realizando
procura visual limitada por tempo na campina.
Fonte: Vinícius T. de Carvalho.
Todo material coletado foi preparado utilizando técnicas de rotina (FRANCO &
SALOMÃO, 2002; CALLEFO, 2002). Os anfíbios e répteis foram sacrificados utilizando
anestésico odontológico Benzotop (Benzocaína) e fixados através de solução de formol a
10% e após 24 horas preservados em álcool 70%. O material testemunho foi coletado
por meio de autorização MMA/ICMBio/SISBIO (Nº 37073-1) e encontra-se depositado
na Coleção de Anfíbios e Répteis do INPA – Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia.
Foram registradas 43 espécies entre anfíbios e répteis, sendo 22 espécies de
anfíbios anuros (13 gêneros e sete famílias), 12 de lagartos (12 gêneros e seis famílias) e
nove de serpentes (nove gêneros e quatro famílias) (Figura 19). A Lista das espécies de
anfíbios e répteis registradas no Parque Estadual do Matupiri. A Lista das espécies de
anfíbios e répteis registradas no Parque Estadual do Matupiri encontra-seem anexo.
Nota: A) Representatividade das espécies da Herpetofauna registradas por grupo taxonômico, B) Número
de espécies de anfíbios anuros registrada e suas respectivas famílias, C) Número de espécies de serpentes
62
registradas e suas respectivas famílias, D) Número de espécies de lagartos registradas e suas respectivas
famílias.
Figura 20. Curva de acumulação de espécies por tempo de amostragem para os grupos de anfíbios
e répteis.
Anfíbios
Número acumulado de
Lagartos
Serpentes
espécies
Dias
63
A proteção da vegetação ripária (mata ciliar) corresponde a uma das principais
estratégias de conservação (MARCZAK et al.,2010). No Brasil o Código Florestal
Brasileiro determina que nas margens de córregos de até 10 metros de largura, a área
mínima de florestas deve ser de 30 metros de mata preservada, categorizando-as como
áreas de proteção permanente (APPs). No entanto estudos recentes com diversos
grupos taxonômicos (DRUCKER et al., 2008, FRAGA et al., 2011; BUENO et al.,2012)
mostram que a área sob influência das zonas ripárias é muito maior que os 30 m
determinados pelo código, sendo estas muito pequenas para proteger as espécies que
ocorrem nestes tipos de ambiente.
Em todas as categorias de ambiente foram encontrados sítios de vocalização.
Ambientes como as campinaranas ocorrem formação de poças provenientes das chuvas,
nas quais as espécies que ali ocorrem (e g. Leptodactylus discodactylus, Leptodactylus
rhodomystax, Hypsiboas aff. cineracens, Syncope bassleri, Allobates caeruleodactylus)
utilizam de forma direta ou indiretamente para reproduzir. Outro ambiente que forma
sítios para reprodução são as campinas, que quando estão alagadas devido as chuvas da
região, formam um grande emaranhado de poças onde diversas espécies se reproduzem.
No entanto no presente estudo a estação chuvosa e o inicio do período reprodutivo das
espécies ainda estavam iniciando, fazendo com que o numero de espécies encontradas
tenha sido subestimada.
Ambientes de campina são muito importantes, pois estes são ambientes que se
encontram isolados e de difícil acesso, devido a essas dificuldades existe uma escassez
de conhecimento a respeito da herpetofauna que ocorre em tais fisionomias vegetais.
Além dessas dificuldades, esses tipos de ambientes por possuírem uma vegetação muito
superficial, e por possuírem solo bastante arenoso, são suscetíveis a incêndios naturais
em períodos secos, tornando as espécies que ali ocorrem vulneráveis a esse evento
natural.
Outro aspecto que torna as campinas um importante componente da paisagem, é
que pelo fato das mesmas encontrarem-se isoladas, há uma provável ocorrência de
espécies típicas de ambiente aberto, além de espécies endêmicas. No presente estudo foi
constada a presença de duas espécies de “pererecas” (Hypsiboas cf. Lanciformis e H. aff.
cinerascens) que faz parte de um complexo de espécies. As espécies encontradas no
PAREST do Matupiri provavelmente podem tratar-se de duas espécies novas. Os
64
espécimes estão sendo investigados e o manuscrito de descrição está em fase de
preparação.
Diferenças em parâmetros ecológicos como riqueza e composição de espécies
podem ser esperadas como resposta à variação natural em fatores ambientais ao longo
da paisagem (e.g. GORDO, 2003; FRAGA et al., 2011). No entanto, a maioria das espécies
registradas exclusivamente em uma categoria de hábitat, geralmente ocorre em grande
variedade de ambientes, tanto para os répteis como anfíbios.
Quando comparamos os dados pretéritos provenientes de estudos próximos da
região do Parque Estadual do Matupiri no interflúvio Purus-Madeira aos resultados do
presente estudo observamos uma similaridade na riqueza de espécies para algumas
localidades (Tabela 11).
Não foram registradas espécies ameaçadas, tanto pelos critérios da IUCN quanto
IBAMA, nem endêmica. No entanto, pudemos constatar a presença de espécies não
formalmente descritas, pertencentes a complexos taxonômicos confusos. É o caso dos
sapos-folha do complexo Rhinella gr. margaritifera, que apresenta espécies bastante
distintas em relação à morfologia e estrutura do canto, já documentadas para o
interflúvio Madeira-Purus (Lima, com. pess.). Outro anfíbio com problemas taxonômicos
e que recentemente um estudo demonstrou tratar-se de uma espécie críptica é o anuro
Phyzelaphryne miriamae que abriga em seu complexo de espécies táxons ainda não
descritos (e.g. FOUQUET et al., 2012). Entretanto uma espécie do gênero Hypsiboas, nova
para a ciência, foi descoberta nas campinas do Parque e está sendo descrita por nossa
equipe.
67
Figura 21. Mapa da região do Parque Estadual do Matupiri, cortado pelo rio Matupiri, mostrando os locais onde foram amostradas as aves por Ricardo
Almeida e Dante Buzzetti.
Nota: As manchas cor-de-rosa indicam a localização de campinas arbustiva. O mapa menor mostra os micro-ambientes amostrados por Ricardo Almeida.
68
Durante os censos foram compiladas listas de espécies registradas a cada cinco
minutos, para se ter um controle temporal dos censos. Para cada espécie detectada (por
observação ou vocalização) foram tomadas as seguintes informações em uma caderneta de
campo: nome da espécie, número de indivíduos, ambiente, micro-ambiente, estrato vertical
de ocorrência da espécie no ambiente (chão, sub-bosque, estrato médio, sub-dossel, dossel,
aéreo), forma de registro (observação ou vocalização), comportamento (pousado,
forrageando, leque, sobrevôo), alimento (quando possível) e sociabilidade (par, pequeno
grupo e grande grupo).
Complementando as amostragens nos transectos, um total de dezesseis redes de
neblina foi utilizado. Para cada transecto foram montadas duas linhas de oito redes cada
(10x2m malhas de 36 mm). As redes ficaram abertas das 05h 30min às 11h. A partir das 11
horas a taxa de captura é quase nula e a temperatura e a exposição direta ao sol poderiam
aumentar a taxa de mortalidade das aves capturadas. As linhas de redes ficaram montadas
por dois dias consecutivos em cada sítio de amostragem/transecto. Para cada espécie de
ave capturada foram tomadas as seguintes informações: 1) identificação; 2) foto, 3)
anotações de dados biológicos (e.g. idade, sexo, mudas de asa, cauda, peso e corpo, placa,
gordura e peso) e 4) anotações de dados morfológicos (e.g. asa, cauda e culmem).
Alguns exemplares foram coletados (Reg. de licença: 2401152) ou tirado apenas
amostras de sangue e tombados na coleção de aves do Instituto Nacional de Pesquisas da
Amazônia (INPA). Os trabalhos de campo foram conduzidos no período de 28 de novembro
a 10 de dezembro de 2012. No total foram acumuladas 47 horas de observação nos
transectos e 735 horas/redes no uso de redes de neblina.
Além dos dados coletados por Ricardo Almeida, este relatório inclui informações
levantadas pelo ornitólogo Dante Buzetti que visitou o PAREST do Matupiri. Infelizmente,
no relatório que tivemos acesso, não são informados maiores detalhes das amostragens
conduzidas por este pesquisador como período amostragem, locais específicos ou esforço
de campo. As espécies de aves registradas por Dante no PAREST do Matupiri constam da
listagem apresentada neste estudo.
69
A diversidade de aves no PARET do Matupiri
71
Figura 22. Curvas cumulativas de diversidade de aves observadas e estimadas a partir do esforço
empregado nos censos.
90
80 Curva_observada
Curva_estimada
70
No de espécies
60
50
40
30
20
10
0
1 51 101 151 201 251
Unidades amostrais
Nota: As unidades amostrais se referem a listas compiladas em censos de cinco minutos. A curva estimada foi
calculada usando o estimador Chao 1.
A composição local de espécies de aves da mata de terra firme foi bastante distinta
da encontrada nos ambientes que crescem sobre solos arenosos (Figura 23). A avifauna das
campinas e dos capões foi bastante similar, enquanto que a campinarana apresentou uma
avifauna mais misturada incluindo elementos da mata de terra firme adjacente. Nota-se que
as matas de terra firme e as campinas/campões ocupam os extremos de um gradiente na
composição de espécies de aves.
Nas terras baixas da Amazônia, foram identificadas nove áreas de endemismo com
base na distribuição restrita de espécies de aves (HAFFER, 1978; CRACRAFT, 1985; SILVA
et al., 2005;BORGES E SILVA,2012). O PAREST do Matupiri está inserido na área de
endemismo Inambari (interflúvio Madeira/Purus), na margem esquerda do médio Rio
Madeira onde foram registradas 56 espécies de aves endêmicas (HAFFER, 1990;
CRACRAFT,1985).
Das 140 espécies registradas no PAREST do Matupiri, ao menos seis espécies são de
ocorrência limitada à área de endemismo Inambari, o que corresponde a 5% da avifauna
conhecida para essa área de endemismo (CRACRAFT, 1985). Ressaltamos que a proporção
de espécies endêmicas do Inambari registradas no PAREST do Matupiri deve aumentar
significativamente com a intensificação dos inventários de aves na região. Além desses
relevantes registros, foram identificadas em campo pelo menos duas de aves recentemente
descritas, reforçando ainda mais a distinção biogeográfica do Inambari (COHN-HAFT et al.,
2013a,b).
Até 2005, apenas 5% da área de endemismo Inambari estava comprometida pelo
desmatamento (SILVA et al., 2005) e apenas 7% encontrava-se em áreas protegidas, sendo
que apenas 1,7% correspondem a áreas de proteção integral (SILVA et al., 2005). Assim, o
PAREST do Matupiri representa uma área protegida de grande relevância no contexto da
proteção de um importante componente biogeográfico da Amazônia.
Espécies de destaque
73
Nos inventários preliminares da avifauna do PAREST do Matupiri foram registradas
várias espécies de aves relevantes do ponto de vista biogeográfico e espécies pouco
conhecidas na natureza. Os grupos de espécies ou espécies individuais mais relevantes
registradas nos inventários são destacados abaixo.
Espécies endêmicas do Inambari (prancha 2): Pyrrhura snethlageae (Tiriba-do-
madeira), Phaethornis philippii (Rabo-branco-amarelo), Selenidera reinwardtii (Saripoca-de-
coleira), Pteroglossus beauharnaesii (Araçari-mulato), Cercomacra serva (Chororó-preto) e
Gymnopithys salvini (Mãe-de-taoca-de-cauda-barrada).
Espécies típicas das campinas amazônicas(prancha 2):Polytmus theresiae (Beija-flor-
verde), Schistochlamys melanopis (Sanhaçu-de-coleira), Tachyphonus phoenicius (Tem-tem-
de-dragona-vermelha), Emberizoides herbicola, Formicivora grisea (Papa-formiga-pardo),
Xenopipo atronitens (Pretinho) e Elaenia ruficeps (Guaracava-de-topete-vermelho)
Dolospingus fringiloides (Papa-capim-de-coleira). Espécie registrada oito vezes,
sendo cinco vezes na campina e três vezes em pequenos capões de mata em frequente
atividade vocal. Os registros mais próximos dessa espécie foram no cerrado do Parque
Estadual do Guariba (R. Almeida obs. pes.). Este é o segundo registro desta espécie ao sul do
rio Amazonas. Esse novo registro amplia sua distribuição original já que era considerada
uma espécies endêmica do noroeste da Amazônia na área de endemismo Imeri
(CRACRAFT,1985;BORGESet al. 2001;BORGES & ALMEIDA, 2012).
Herpsilochmus praedictus (Chorozinho-esperado). Espécie comum de pequeno porte
da família Thamnophilidae. Ocorre em ambientes de mata de terra firme, campinarana e
campina. Em apenas uma ocasião observei dois indivíduos, possivelmente um casal, no
subbosque, na borda de um capão. Essa espécie havia sido considerada como sendo
Hersilochmus sellowi (PACHECO & OLMOS, 2005), espécie endêmica do Nordeste brasileiro,
entretanto, os registros vocais indicam que se trata na verdade de uma espécie distinta e
recentemente descrita (COHN-HAFTet al.,2013a).
Cyanocorax hafferi(Cancão-da-campina). Espécie da família Corvidae de porte médio
(172 g) recentemente descrita (COHN-HAFT et al., 2013).Comum no interior dos pequenos
capões e nas bordas dos capões maiores. Estes capões estão inseridos nas extensas
vegetações de campina no PAREST do Matupiri. O cancão-da-campina foi observado em três
74
ocasiões em pequenos grupos 3 a5 indivíduos ou em casal. A ocorrência de Cyanocorax
hafferiera conhecida até então apenas para a região de Manicoré e Novo Aripuanã, na
margem esquerda do rio Madeira, compreendendo apenas o interflúvio Madeira-Purus
(COHN-HAFT, 2013b), entretanto, novos registros dessa espécie foram realizados por Dante
Buzzetti na Resex de Canutama, na margem esquerda do Rio Purus (COHN-HAFT,2013b),
ampliando ainda mais sua distribuição. Devido a sua pequena área de ocupação de somente
1090 km2 esta espécie está sendo considerada como vulnerável pelos critérios da IUCN
(COHN-HAFT et al., 2013b). Além disso, o hábitat preferencial da espécie é bastante
susceptível a perturbações como incêndios e uso inadequado do solo.
Os inventários apresentado neste diagnóstico representam ainda uma estimativa
limitada da diversidade de aves do PAREST do Matupiri. Não obstante estes inventários,
ainda que preliminares, permitiram avaliar o potencial do PAREST do Matupiri para a
proteção de uma avifauna bastante distinta no contexto amazônico, além de terem sido
registradas várias espécies raras e pouco conhecidas na natureza.
Em termos de proteção, a região do PAREST do Matupiri encontra-se em áreas de
relativo difícil acesso, o que favorece a sua conservação. Não foi encontrado nenhum
vestígio da presença humana no local e a região se apresenta em alto grau de conservação.
Entretanto, é importante ressaltar que o PAREST do Matupiri no seu limite leste está
adjacente a BR - 319 e no limite sul e sudoeste a AM - 464. Tais estradas podem, a médio e
longo prazo, impactar essa UC através da facilitação do acesso ao seu interior.
Monitoramento de aves
6.3.2.4 Mastofauna
Entre os países ocidentais, o Brasil figura com a maior diversidade de mamíferos
(FONSECA et al.,1996). A Região Amazônica apresenta cerca de 70% das espécies que
ocorrem no Brasil, com 59% de supostos endemismos.
O grupo dos mamíferos se tornou de particular interesse, devido às interações
envolvendo sítios diversos em suas áreas de distribuição e variabilidade de hábitos
alimentares, integrando nichos relevantes na dinâmica biológica dos sistemas florestais.
Desta forma, os trabalhos de campo foram concentrados de forma a levantar as
espécies de mamíferos de médio e grande porte que ocorrem em áreas de
Campina/Campinarana localizadas no Parque Estadual do Matupiri, complementando as
informações a respeito da fauna de mamíferos, através de lista de espécies, destacando
espécies consideradas endêmicas, espécies raras e espécies ameaçadas de extinção, e
diagnosticar o status de conservação destas espécies.
Para obtenção dos dados, os métodos utilizados foram:
77
1 – Procura Ativa (Transecção Linear) e Observações Indiretas (registro de pegadas,
fezes, tocas e vocalização).
2 – Coletas de espécimes através de armadilhas de queda (pitfall).
3 – Armadilhamento fotográfico e inclusão de relatos de avistamentos de espécies
por pesquisadores de outras equipes que conduziam seus trabalhos na área.
Procura ativa (Transecção linear) e Observações indiretas.
O método é realizado em transecto linear e tem como objetivo principal obter dados
sobre a composição e a abundância relativa de primatas diurnos que ocorrem na região e de
algumas outras espécies de mamíferos diurnos amostradas pelo método (ex. Mazama spp.,
Pecari tajacu, Eira barbara, Tamandua tetradactyla, Dasyprocta sp).
O protocolo utilizado foi baseado no National Research Council (1981) e consiste em
caminhadas com velocidade constante ao longo de trilhas retilíneas (transectos) e registros
dos animais avistados e identificados bem como registros indiretos: fezes e pegadas.
Foram abertas três trilhas retilíneas e uma trilha ao longo do curso do igarapé
principal totalizando 3.700 km de extensão (Figura 24). As coletas dos dados iniciaram-se
no ponto 00 de cada trilha, diariamente, alternando-se as trilhas amostradas. Foi realizado
um total de 120 km e 432 horas de esforço amostral, com amostragens diurnas e noturnas.
78
Figura 24. Mapa das trilhas amostradas em uma área de campina e campinarana do PAREST do Matupiri pela equipe de mastofauna entre
novembro e dezembro de 2012.
79
Coleta de espécimes através do método de pitfall
As coletas de espécimes através de pitfall (Figura 25) seguiram o método de
interceptação e queda (CECHIN & MARTINS, 2000), onde foram instalados dois conjuntos
de baldes com capacidade de 60 litros dispostos em “linha” contendo 10 baldes em cada um
dos conjuntos, com distância de 10 metros entre si. Instalados pela equipe de herpetofauna
em uma área de transição entre uma formação de campina/campinarana e mata ciliar.
Figura 25. Armadilha de interceptação e queda, com balde enterrado e cerca guia.
Foram utilizadas nove unidades de armadilhas fotográficas, dispostas fora das trilhas
utilizadas para amostragem do censo (Figura 27).
81
Figura 27. Mapa dos pontos amostrados através de armadilhamento fotográfico em uma área de campina e campinarana do PAREST do
Matupiri pela equipe de mastofauna entre novembro e dezembro de 2012.
82
As armadilhas foram ajustadas para amostragem continua (24 horas) e disparos
(registros de imagem) com intervalos mínimos de 10 segundos. A sensibilidade do sensor
foi ajustada em campo. As armadilhas foram fixadas nos pontos de amostragens em troncos
a uma altura de 25 cm perpendicularmente do chão. Para reduzir a elevada umidade e
constantes formações de chuva na região amazônica, utilizou-se absorvente interno
feminino (e.g. O.B.) em cada armadilha fotográfica.
Os sítios de amostragem foram registrados anotando-se: Numero da armadilha,
localização (coordenadas geográficas) e o tipo de habitat. Hora de inicio e termino do
período de amostragem.
Os critérios de escolha dos pontos de instalação das câmeras se estabeleceram em
locais que apresentavam sinais de uso do local por mamíferos (toca, vestígios, pegadas e
rastros). As armadilhas foram posicionadas em distancias do transecto variado de 0,5m até
10m, evitando assim o disparo das mesmas quando o pesquisador utilizava o transecto no
método de Procura Ativa.
Foi realizado esforço amostral de 1440 horas em ambientes de campinarana. Não
foram utilizadas armadilhas fotográficas em áreas de campina, pois estas não devem ser
colocadas em ambientes abertos devido s sensibilidade do sensor de movimento.
83
Foram registradas 60 espécies de mamíferos de pequeno, médio e grandes portes
pertencentes a sete Ordens (ANEXO - Lista de espécies de mamíferos que ocorrem nas áreas
de Campinas/Campinaras), sendo as mais comuns, ou avistadas: Lagothrix cana e Cebus
macrocephalus. Essa não é uma listagem definitiva das espécies de mamíferos de maior
porte que ocorrem na região e pode ser ampliada na medida em que forem realizados
outros trabalhos.
Em decorrência do reduzido esforço amostral ocasionado principalmente pelo
período chuvoso, torna-se pouco prudente apresentar dados de abundância das espécies,
no entanto cabe ressaltar a elevada frequência de registros (diretos e indiretos) de espécies
extensivamente caçadas em regiões habitadas, como a anta (T. terrestres), queixada
(Tayassu pecari), caititu (P. tajacu), veados (Mazama sp) e macaco-barrigudo (Lagothrix
cana). A frequência observada para essas espécies amostradas na região do PAREST do
Matupiri podem refletir à ausência de pressão de caça nessa região, dada ausência de
populações humanas.
Os diferentes e reduzidos esforços de amostragem aplicados por ponto de coleta
(ANEXO - Lista de espécies de mamíferos que ocorrem nas áreas de
Campinas/Campinaras), impossibilitam qualquer conclusão comparativa entre a riqueza e
abundância das espécies de mamíferos.
A região possui difícil acesso e ainda não teve sua biodiversidade bem amostrada.
Pelo fato de ser difícil de acessar esta área do Parque por enquanto não sofre ameaça. No
entanto é válido ressaltar que a revitalização da BR-319 poderá permitir o acesso a esses
locais. Caso haja acesso e alteração destas áreas, a duração e a intensidade dessas atividades
de retirada da cobertura florestal aliada à alteração da composição das suas espécies
fatalmente irá reduzir significativamente a abundância de indivíduos da mastofauna.
Um problema amostral, encontrado em estudos rápidos com a mastofauna
amazônica, repete-se neste. Trata-se de um reduzido esforço de campo destinado a
registrar, inclusive, algumas espécies de hábitos muito discretos, de difícil detecção até
mesmo por vestígios em ambientes de floresta (ex: Speothos venaticus, Atelocynus microtis).
Outra ordem que merece destaque é a dos Primatas, com 11 espécies. Esse grupo foi
o único que apresentou endemismos para o interflúvio Purus-Madeira, representados por
84
Lagothrix cana, Saguinus labiatus rufiventer,Saguinus fuscicollis mura e Callicebus caligatus,
o interflúvio também apresenta mais duas espécies endêmicas do gênero Callicebus, porém
com distribuição não contemplada pela região do PAREST do Matupiri. Tal fato ressalta a
importância de ações de preservação destinadas à conservação dessas espécies no Parque e
no interflúvio.
Considerando os primatas como “espécies guarda-chuva” (ROBERGE & ANGELSTAM,
2004) para a conservação de habitats, grandes porções de áreas protegidas para cada
espécie endêmica do gênero Saguinus e Calicebus pode abranger extensa parte da
diversidade de hábitats no interflúvio, sendo um bom critério para a manutenção de grande
porção da biodiversidade desta região.
No interflúvio Purus-Madeira buscando conhecimento da diversidade desse grupo,
visando à construção de estratégias de conservação. As Campinas do Parque Estadual do
Matupiri deve ganhar destaque nesse sentido, e pode ser pioneira na construção dessas
estratégias.
Espécies Ameaçadas
Neste inventário cinco espécies são consideradas ameaçadas de extinção pela IUCN
(2012.2 versão 3.1), registradas através da coleta de dados e dos relatos apresentados pelos
moradores da região (P. maximus, M. tridactyla, S. venaticus, L. wiedii, P. onca).
Fitofisionomias
85
Atividade de Caça
86
possibilidade de extinção local de espécies vegetais podem acarretar o isolamento, e
prováveis alterações nas densidades populacionais e na estrutura de comunidades animais
(ZIMMERMAN & BIERREGAARD, 1986). As comunidades locais de mastofauna são
profundamente influenciadas pelos processos históricos e regionais, e a redução ou
fragmentação dos habitats desencadeia um processo de diminuição das diversidades locais
e regionais, a partir do qual não haverá retorno (RICKLEFS, 1946).
Esta área estudada não sofreu nenhuma alteração e não é utilizada por caçadores,
portanto vale a pena decretá-la área-chave para manutenção das espécies.
Não foi registrada nenhuma nova espécie ou espécie não esperada para a região e
algumas das espécies esperadas para a região não foram registradas. Poucas observações
diretas das espécies foram obtidas na área estudada e praticamente todas as conclusões
foram tomadas com base na informação obtida na literatura, fato que pode trazer alguns
equívocos, já que as populações animais não são distribuídas uniformemente pela
paisagem.
A constatação da alta diversidade, prevista para a área, de diferentes grupos
taxonômicos como primatas e da existência de espécies ameaçadas e de restrita
distribuição geográfica são alguns dos pontos que demonstram a relevância da área para a
conservação. Por outro lado com o esforço amostral realizado, não foi possível obter uma
boa caracterização da mastofauna dentro dos limites do PAREST do Matupiri, tornando
pertinente a extrapolação de dados de estudos anteriores (SAMPAIO et al., 2010;ROHE
2007;ROHE et al., 2008; ROHE et al., 2009; ROHE et al., 2012) na ausência de informações
primarias de melhor qualidade obtidas dentro dos limites da reserva. Para que se possam
embasar diretrizes de manejo apropriadas para a área, abaixo algumas recomendações:
- Realizar levantamentos mais abrangentes e duradouros visando obter informações
sobre a representatividade fitofisionomica (adequada para fins de manejo) para as
populações de mamíferos presentes.
- Efetuar um levantamento da fauna de pequenos mamíferos com a utilização de
diferentes métodos amostrais;
87
- Diagnosticar a atividade de caça nas áreas adjacentes ao Parque para determinar de
maneira clara as áreas de fonte e de sumidouro. Já determinando esta área utilizada no
estudo como área fonte de animais.
O conjunto de campinas e campinaranas no Parque Estadual do Matupiri deve
receber atenção especial, tanto pela alta probabilidade de abrigar espécies endêmicas como
pela sua fragilidade como ecossistema. Os solos arenosos conferem um sistema delicado
para o estabelecimento da vegetação, que se for removida ou impactada, pode haver danos
irreparáveis. O fato de serem fitofisionomias mais abertas propiciam baixas umidades em
certas épocas do ano, facilitando a propagação de fogo, assim como já foi observado em
campinas no Parque Nacional do Jaú. Portanto, merecem cuidados no planejamento de
atividades em suas proximidades ou interior, de forma a afastar ações antrópicas que
poderiam gerar incêndios ou aumentar o potencial de desastres desse tipo, como a retirada
de madeira em áreas vizinhas ao Parque ou mesmo o plantio de roças.
Um programa de estudos para entender a relevância e similaridade dessas manchas
de campinas quanto à biodiversidade é importante, não só dentro do Parque, mas também
incluindo paisagens desse tipo em todo o interflúvio. Pois só assim saberemos o papel do
Parque na conservação das espécies associadas a esta paisagem e a relação com as demais
manchas fora desta UC.
Apesar dos estudos preliminares não terem sido direcionados para a verificação da
possível pressão exercida sobre a biodiversidade, podemos apontar a região oeste do
Parque, próxima à BR-319, e a região ao longo do rio Matupiri, principalmente ao leste do
Parque, como sendo as áreas mais preocupantes, principalmente no que se refere à caça e
potencial exploração madeireira. As estradas são reconhecidamente facilitadoras para a
entrada de caçadores e madeireiros em toda a Amazônia e o rio Matupiri é a entrada usada
por ribeirinhos moradores do entorno e indígenas para caçar e pescar. Provavelmente a
intensidade da pressão é diferenciada desde os limites e entorno da UC até o seu interior,
mas é relevante estabelecer programas de fiscalização e monitoramento do uso desses
recursos para um planejamento adequado de conservação da biodiversidade.
Por ser uma UC de proteção integral envolto por áreas protegidas que incluem UCs
de uso sustentável e Terra Indígena, o Parque Estadual do Matupiri tem grande
88
possibilidade de estar funcionando como “fonte” de recursos naturais para as áreas
adjacentes. Entretanto é preciso a implantação de programas integrados de monitoramento
da biodiversidade em sintonia com as Áreas Protegidas ao redor e dentro do possível, um
planejamento de zoneamento do mosaico como um todo, de forma a otimizar as áreas de
uso restrito das UCs no entorno localizando-as em contato direto com o Parque.
89
destinem ao desenvolvimento e administração dos Programas e Projetos de Mudanças
Climáticas, Conservação Ambiental e Desenvolvimento Sustentável, conforme previstos na
Lei n.º 3.135, de 05 de junho de 2007, e na Lei Complementar n.º 53, de 05 de junho de
2007, bem como gerenciar serviços e produtos ambientais, definidos nesta Lei.
No SEUC, se fosse possível reordenar os objetivos previstos no Artigo 4, teríamos
que o sistema objetiva-se em contribuir para a manutenção da diversidade biológica e dos
recursos genéticos do Estado do Amazonas, considerados o seu território e as águas
jurisdicionais, de forma a valorizar, econômica e socialmente os serviços ambientais e os
produtos florestais, visando a promoção do desenvolvimento sustentável e a melhoria da
qualidade de vida das populações locais, regionais e globais.
Ainda em 2007, a Fundação Amazonas Sustentável foi instituída, como resultado
desta política estadual tendo como seus fundadores o Governo do Amazonas e o Banco
Bradesco. A partir de 2008, foi destinado à Fundação os direitos de gestão dos produtos e
serviços ambientais das UCs do Estado e a incumbência de gerenciar e implementar o
Programa Bolsa Floresta, um pioneiro mecanismo de pagamento por serviços ambientais
no Brasil, anteriormente administrado pelo Governo do Amazonas.
O PBF tem quatro componentes: Bolsa Renda, que incentiva a inserção das
populações locais nas cadeias produtivas florestais sustentáveis (óleo, castanha, madeira de
manejo, pesca e turismo de base comunitária), Bolsa Social, para a melhoria da educação,
saúde, comunicação e transporte; Bolsa Associação, destinado ao fortalecimento das
associações dos moradores das UC’s para a organização, empoderamento e o controle social
do PBF; e Bolsa Familiar, recompensa mensal de R$ 50, às mães de famílias moradoras das
UC’s que assumirem o compromisso com o desmatamento zero e o desenvolvimento
sustentável. O Programa abrange as seguintes UCs: Floresta Maués, RDS Amanã, RDS
Canumã, RDS Cujubim, RDS Juma, RDS Mamirauá, RDS Piagaçu Purus, RDS Rio Amapá, RDS
do Rio Madeira, APA Rio Negro, RDS Rio Negro, RDS Uacari, RDS Uatumã, RESEX Catuá
Ipixuna e Resex Rio Gregório.
No ano de 2012, foram investidos nas UC’s atendidas pelo Programa Bolsa Floresta o
valor aproximado de 9 milhões de reais. É a primeira experiência de compensação por
Serviços Ambientais do Brasil, que executa ações em uma área de 10 milhões de hectares,
90
beneficiando 7.989 famílias que vivem na floresta e que se comprometem com a redução do
desmatamento (AMAZONAS, 2013).
Entretanto, de acordo com a legislação vigente, mesmo sendo competência da FAS a
gestão dos serviços ambientais das UCs Estaduais, a fundação não vem executando estudos
e projetos para captação de recurso e não há previsão para inserção de novas UCs no
Programa Bolsa Floresta.
Neste caso, por ser uma unidade de Proteção Integral, os beneficiários do Programa
deveriam ser os usuários da unidade, como apresentado neste Plano.
O Governo do Amazonas, através do Fórum Amazonense de Mudanças Climáticas,
Biodiversidade, Serviços Ambientais e Energia (FAMC), iniciou em 2010 a discussão da
Política Estadual de Valorização dos Serviços Ambientais. O principal objetivo da
Política de Serviços Ambientais do Amazonas é garantir a manutenção da integridade dos
ecossistemas e dos serviços ambientais do estado, valorizando os atores e as atividades
responsáveis pela conservação ambiental e dos serviços ambientais.
Segundo o projeto de Lei, são destacados os serviços ambientais, como beleza cênica,
carbono (sequestro e estoque), conservação e uso do solo, conservação e valorização da
biodiversidade, regulação do clima e serviços hídricos.
Segundo o CECLIMA, a proposta da Política de Serviços Ambientais do Amazonas,
está atualmente em análise pela Casa Civil e busca estabelecer segurança jurídica para as
populações inseridas nos programas de serviços ambientais. A proposta da Política
Estadual de Gestão dos Serviços Ambientais é reconhecer o papel das populações na
manutenção das florestas e, consequentemente, dos serviços ambientais providos
(CECLIMA, 2012).
O estudo realizado pelo Ministério do Meio Ambiente, sobre o papel das UCs na
economia nacional, que por meio da análise econômica da relação entre um grupo
selecionado de bens e serviços ambientais e de atividades econômicas associadas às
unidades de conservação, demonstrou que a contribuição decorrente da manutenção
desses serviços é expressiva, embora ainda não conte com suficiente reconhecimento da
91
sociedade. “As unidades de conservação constituem peças-chaves para promover a
conservação e a provisão de serviços ambientais que contribuem para o crescimento de
uma série de cadeias econômicas”.
Desta forma, seguem algumas experiências para que se possa vislumbrar atividades
a serem discutidas e planejadas na elaboração e implementação dos Planos de Gestão.
ICMS Ecológico
Não necessariamente como uma ação, ou uma atividade a ser executada dentro da
gestão da própria UC, mas importante levantar a bandeira no Estado do Amazonas em
relação ás experiências que ocorrem nos estados do Paraná, São Paulo, Rio de Janeiro,
através do ICMS Ecológico.
Considerado um incentivo fiscal intergovernamental baseado no princípio do
“protetor-recebedor”, o ICMS Ecológico é um mecanismo que introduz critérios ambientais
no cálculo da parcela de 25% de repasse a que fazem jus os municípios, constituindo um
mecanismo de incentivo aos municípios que investem na conservação de seus recursos
naturais visando diminuir pressões decorrentes da urbanização e de processos de produção
agrícola e industrial.
O município de Canutama, por exemplo, possui a extensão territorial de 29.819,71
quilômetros quadrados, sendo que 20.178,58 destes são protegidos por unidades de
conservação, o que totaliza um total de 67,67% (SDS, 2013, Atlas – Análise do
Desmatamento Consolidado nos Municípios do Amazonas).
Biodiversidade
92
biológica e reconhece a estreita e tradicional dependência de recursos biológicos de muita
comunidades locais e populações indígenas com estilos de vida tradicional.
O desenvolvimento dos planos para a conservação da biodiversidade devem abordar
diferentes formas de reconhecimento e uso do conhecimento tradicional e sua importância
em relação ao alcance dos objetivos propostos. No SEUC, está previsto que o órgão gestor
deve se articular com a comunidade científica com o propósito de incentivar o
desenvolvimento de pesquisas sobre a fauna, a flora, e a ecologia das UCs e sobre as formas
de uso sustentável dos recursos naturais, valorizando-se o conhecimento das comunidades
tradicionais (Artigo 45, SEUC).
Segundo Noda (2002), as formas de produção tradicional constituem um importante
repositório da variabilidade genética de muitas espécies cultivadas e, em alguns casos, tem
assegurado a conservação de espécie cultivadas não convencionais. Para Pereira (2002), a
segurança alimentar, renda e nutrição, emprego e energia e o bem estar em geral de mais de
300 milhões de pessoas que vivem nas florestas e dependem da conservação destes biomas.
Lembra ainda, que a importância dos produtos naturais, também se dá através do
conhecimento e uso de uma infinidade de plantas e que na indústria farmacêutica, cerca de
um quarto de todas as drogas usadas na medicina são fabricadas diretamente de plantas ou
são versões modificadas de substâncias encontradas na natureza.
Segundo Freitas (2002), o universo aquático amazônico é um imenso mosaico, com
uma grande variedade de ambientes e habitados por uma diversidade de espécies de peixes
superior à de qualquer outro lugar do mundo, sendo a pesca é uma atividade tradicional na
bacia amazônica e a pressão sobre os estoques naturais variou de intensidade ao longo do
tempo (FREITAS, p.225).
Em relação á importância da carne de caça para os povos da floresta, Neto (2009),
aponta que é estimado para os povos da Amazônia brasileira um consumo diário de 75,5
toneladas de carne de animais silvestre por dia, atendendo 149.000 caçadores de
subsistência, suprindo em média 506 g por dia por família de caçador. Estes números
mostram a importância da carne de caça para os povos da floresta (NETO, 2009).
Tendo em vista esta correlação entre biodiversidade e uso tradicional dos recursos
naturais, o CEUC desenvolveu o Programa de Monitoramento da Biodiversidade e do Uso
93
dos Recursos Naturais – ProBUC. O programa visa á implantação de um sistema pioneiro de
monitoramento na Amazônia tendo com premissa o envolvimento de comunitários
residentes das UCs, como forma de evidenciar para as populações tradicionais a
importância e responsabilidade de sua atuação na manutenção da integridade dos
ecossistemas para a manutenção de seus próprios meio de vida.
O ProBUC é um programa participativo, no qual o envolvimento dos comunitários vai
além da capacitação para coleta de dados sobre a biodiversidade e o uso de recursos
naturais, sendo envolvidos e estimulados a participar em todos os processos, desde o
planejamento à avaliação dos resultados. Com o foco nas ameaças, o monitoramento
realizado pelo programa busca compreender o status da biodiversidade e uso de recursos
das comunidades da UC para planejar medidas mitigadoras e preventivas que subsidiem as
ações previstas no Plano de Gestão, visando assegurar a conservação e integridade das UCs.
Sistemas AgroFlorestais
94
um modelo de desenvolvimento social de baixo carbono, de forma a gerar “créditos” para
compensar a emissão de GEE de parceiros interessados.
Produtos Florestais
Projetos de REED +
95
6.5. POTENCIALIDADES DE USO DOS RECURSOS
NATURAIS
Por trata-se de uma unidade de conservação de proteção integral, não possui
moradores dentro de seus limites e nem títulos definitivos dentro da unidade.
Tais informações e deliberações serão tratadas neste Plano de Gestão, onde serão
caracterizados os moradores residentes da zona de amortecimento, atividades econômicas
exercidas, áreas oficinas de planejamento participativo, é o momento onde se planejam as
atividades com os atores envolvidos, sendo levantadas as expectativas de gestão sobre a
unidade e os projetos a serem executados nestes cinco anos. de uso, além do próprio
zoneamento e regras de uso, apresentados no Volume 2.
No Parque Estadual do Matupiri algumas aldeias e comunidades praticam o
extrativismo vegetal para fins medicinais, alimentícios e econômicos.
Tais potencialidades, como o extrativismo vegetal não madeireiro (castanha, açaí,
copaíba, andiroba), já são usadas pelos usuários, e devem ser inseridos ao planejamento,
para realização do ordenamento do uso, e melhoria na cadeia produtiva. Quanto ao recurso
madeireiro, também deve ser objeto de manejo, sendo descrito na caracterização que é uma
importante fonte de renda para os moradores do entorno, entretanto, sendo feito fora dos
limites da unidade. Importante ressaltar, que a atividade é realizada no momento de forma
ilegal, sendo necessário criar alternativas para sua continuidade de forma sustentável, e
com agregação de valor através de sua certificação.
Outro dado que será apresentado sobre os moradores do entorno, é sua dependência
da unidade em relação ao uso dos recursos para subsistência, sendo usado carne de caça e
os peixes para complemento protéico. No item sobre o mapeamento, podem ser observadas
as áreas e espécies usadas, devendo propor ações para monitoramento e uso de forma
sustentada. O recurso pesqueiro em específico deve-se levar em consideração o uso das
populações residentes, a pressão por agentes externos, e avaliar as potencialidades e
consequências do turismo que envolve a pesca esportiva.
96
7. CARACTERIZAÇÃO SOCIOECONÔMICA
DA POPULAÇÃO USUÁRIA
97
7.1. ASPECTOS CULTURAIS
Os municípios que estão nas margens esquerda e direita rio Madeira são: Nova
Olinda do Norte, Borba, Manicoré, Novo Aripuanã e Humaitá. O Parque Estadual do
Matupiri abrange os municípios de Borba e Manicoré. A denominação de “Borba” deve-se ao
fato do então governador da província do Grão-Pará da qual fazia parte a região que hoje
compreende o Estado do Amazonas, Mendonça Furtado, determinar que as vilas da
província devessem ter nome de cidades portuguesas. Já o nome “Manicoré” origina-se de
“Anicoré”, tribo indígena que habitava a região e que deu nome ao rio Manicoré, afluente do
rio Madeira (IBGE, 20130).Deste modo, os aspectos culturais em Borba e Manicoré – área
de abrangência municipal do PAREST do Matupiri - e das populações que vivem no entorno
da UC estão conectados com a cultura dos povos indígenas e dos brancos.
No município de Borba, por exemplo, a tradição indígena é bem presente, pois as
festas culturais pintam cenários na cidade; e nas áreas rurais são realizadas festividades
durante quase o ano todo. Já quanto à fé, boa parte dos borbenses presta homenagem ao
padroeiro do município, Santo Antônio, pois, na frente da cidade, há uma estátua deste, com
13m, e o festejo em sua homenagem conduz multidões que vêm de várias partes do rio
Madeira e adjacências e também da capital do Amazonas. As atividades ocorrem de1 a 14
de junho de cada ano. É a festa mais famosa da região, atraindo inúmero fieis.
Em Manicoré destaca-se a Festa da Melancia, com fins de divulgar a maior produção
de melancia do Amazonas. Ainda encontramos a Festa do Açaí na comunidade do Estirão,
no rio Manicoré. O Festival das Quadrilhas também é festa importante, envolvendo todos os
bairros da cidade, onde cada um deles apresenta uma quadrilha.
As festas das sedes municipais são citadas aqui pelo alcance que tem junto às
comunidades do entorno do PAREST do Matupiri, que costumam prestigiar os festejos em
seus momentos de folga, onde também aproveitam para visitar parentes que moram na
sede dos municípios. Da mesma forma, entende-se que há uma continuidade entre a área
urbana e a rural, entre a cidade e o campo, em uma relação de interdependência. Como por
exemplo, a festa da Melancia que ocorre na área urbana de Manicoré, depende dos
trabalhadores do campo responsáveis pela produção das melancias e de parte dos
alimentos que vão à mesa daqueles que vivem em áreas urbanizadas.
98
7.1.1. Religião
Figura 28. Religiões praticadas pela população no entorno do PAREST do Matupiri, de acordo com
diagnóstico socioeconômico de campo.
4%
14%
Assembleia
Batista
Católica
82%
Fonte: NUSEC/UFAM(2013).
A predominância da religião católica em Borba pode ser observada tanto pelos dados
obtidos em campo, quanto pelo aspecto cultural-religioso em um município cujas principais
festas, que atraem visitantes de diversos lugares, são de origem católica. Borba tem em seu
calendário seis festas católicas (Tabela 12). Dentre os principais festejos católicos, o
principal e um dos mais famosos do Estado do Amazonas é a festa de Santo Antônio, no mês
de junho, padroeiro do município de Borba e que atrai os moradores do entorno do
PAREST, bem como os moradores de outras localidades interioranas.
99
Festa de Nª Srª das Dores Outubro
Fonte: NUSEC/UFAM(2013).
Em Manicoré, a igreja Católica também se faz fortemente presente. Uma das festas
oficiais no calendário é a da padroeira do município, Nª Srª das Dores, em 15 de setembro.
As comunidades do entorno do PAREST do Matupiri ainda comemoram outros santos
importantes no imaginário de seus habitantes (Tabela 13).
Tabela 13. Festas religiosas do entorno do PAREST mais citadas pela população.
Fonte: NUSEC/UFAM(2013).
Apesar das festas católicas realizadas em algumas localidades, isto não significa a
ausência de evangélicos que sejam moradores desses lugares. Não existem comunidades
apenas de evangélicos ou apenas de católicos. Observa-se, sim, a convivência destas duas
crenças. Da mesma forma, não há como precisar a localização de igrejas por comunidades
visto que nem sempre se encontram templos edificados para as práticas religiosas, podendo
estas ocorrer em residências ou em centros comunitários, até mesmo na escola. O padre ou
o pastor, conforme o caso, também não são presenças constantes, ambos fazem visitas
periódicas a estes locais.
100
7.1.2. Gênero
A população na área do entorno da PAREST do Matupiri, através dos dados do
formulário familiar, referentes ao período de maio de 2013, foi contabilizada em 53% de
população masculina contra 47% de população feminina (Figura 29).
Fonte: NUSEC/UFAM(2013).
Fonte: NUSEC/UFAM(2013).
102
Os homens transportam os produtos que a família comercializa no mercado,
constroem casas, constroem canoas e barcos, consertam objetos, caçam – ou seja, realizam
os trabalhos que exigem mais força física e que são externos à casa. Estes ofícios são
ensinados aos filhos homens, que quando se tornam mais velhos, na ausência do pai, são os
responsáveis pela família. Os homens também possuem o controle de toda a produção
familiar, sobre o quanto venderam, o quanto consumiram e o tamanho da área de uso.
7.1.3. Alimentação
Os principais aspectos acerca dos hábitos alimentares dos moradores do entorno do
PAREST podem ser descobertos através de uma observação atenta no momento da visita às
suas casas. Deste modo, as informações aqui reveladas foram obtidas primordialmente no
campo da pesquisa. Em torno de uma casa ribeirinha, pode-se encontrar uma rica variedade
de plantações como ingá, pupunha, abacate, bacaba, jenipapo e outras frutas. É comum
encontrar também jiraus de cebolinhas, chicória, arruda, sabugueiros, etc. Esses frutos e
plantas são perfeitamente utilizados na dieta alimentar ou como remédios caseiros,
oriundos da medicina popular. O jirau por vezes é montado com uma canoa com aspecto
antigo, cheia de plantas.
A farinha é o alimento mais popular e de maior valor simbólico para essa população,
por ser o principal acompanhamento do peixe, presente todos os dias nas mesas das
famílias locais. Da farinha de mandioca fazem também a tapioca e o beijú, consumidos no
café da manhã ou no lanche da tarde, acompanhados de café. Apesar de a farinha ser um
alimento pobre em nutrientes, os moradores do entorno do PAREST complementam sua
alimentação através do consumo das proteínas presentes nos peixes da região (Figura 31).
Os peixes mais apreciados e abundantes ali são o tucunaré, jaraqui, traíra, piranha e cará.
103
Figura 31. Preparo da farinha.
Fonte: NUSEC/UFAM(2013).
Assim como a farinha de mandioca, outro alimento popular e bastante consumido
entre eles, que também é proveniente da roça, é o cará um tubérculo com alto valor
nutricional. O cará costuma ser consumido cozido. São encontradas várias espécies de cará,
sendo o cará roxo a mais apreciada. Pela abundância de árvores frutíferas em seus quintais,
as frutas das temporadas são consumidas, sobretudo em forma de suco. Pode-se encontrar
uma variedade delas, como buriti, jambo, banana, laranja, maracujá, cupuaçu, pequi, caju,
graviola, etc. As carnes de caça são outro tipo de iguaria bastante apreciada entre eles.
Consomem carne de tatu, paca, quexada, cutia, jacaré, macaco, capivara e bichos de casco.
Nas sedes municipais de Borba e Manicoré, os moradores do entorno vão em busca
de alimentos que complementem sua alimentação através de gêneros alimentícios não
produzidos na UC, como arroz, feijão, macarrão, bolacha e leite. O café é um item
indispensável na maioria dos ranchos, por sempre estar presente no café-da-manhã e nos
lanches da tarde. Temperos como sal, óleo, manteiga e açúcar também entram no rol de
compras do mercado. Todo o resto dos alimentos consumidos pelos moradores do entorno
do PAREST do Matupiri provém de sua relação com a natureza.
105
também constitui a população residente no entorno, o que na visão destes acaba sendo
injusta, uma vez que conflitos ocorridos no passado demonstram que foram principalmente
os indígenas que protegeram a área pertencente ao Parque. Este conflito também acontece
devido ao parque ser a área que contém maior abundância de recursos naturais.
De acordo com pesquisa realizada com os moradores da Terra Indígena, 33%
afirmaram desconhecer a atividade de turismo na região e entre os 67% que conhecem a
prática, 56% apontaram a pesca esportiva como o principal segmento turístico praticado.
Para além, 31% afirmaram ocorrer passeios nos rios pela exuberância dos locais e 13 %
devido à fauna existente na região.
Dentre os potenciais turísticos encontrados na região, os moradores do entorno
elencam o modo de vida como o principal, representando 33% dos entrevistados, em
seguida está à pesca com 31%, as casas dos moradores perfazendo 22% do total e 14%
colocaram as comidas de cunho regional.
Uma das alternativas viáveis para progressivamente diminuir o uso da pesca
esportiva até, se possível, sua extinção, seria desenvolver o ecoturismo na área da unidade,
com a possibilidade de abertura de trilhas, passeios de barco e banhos pelos rios e igarapés
que cortam a região, sendo este um processo de educação ambiental para os turistas, na
busca por outro tipo de valorização perante a unidade. Para além, o município de Borba é
um dos principais destinos do turismo religioso no Amazonas, no qual os visitantes são
atraídos pela festa de Santo Antônio de Borba, realizada no período de 01 a 13 de junho,
nessa época vários barcos partem de Manaus para os arraiais de Borba realizando a
romaria. Este é um festejo consolidado e que também mobiliza turistas de outros estados do
Brasil, configurando-se, portanto, em grande potencial de divulgação da unidade.
106
Figura 32. Maior interesse do turismo para as aldeias.
Diversificação da renda
24%
3%
107
As informações dos questionários, as conversas informais e as observações in loco a
serem analisadas sobre o potencial turístico da UC é um grande desafio aos gestores,
população local e parceiros para buscarem conjuntamente a solução para os problemas. A
atividade turística já é uma realidade presente no local, no entanto, deve-se trabalhar para
que estes possam criar autonomia na execução desta, de forma paulatina a fim de evitar
consequências negativas para as populações. Há também populações residindo no entorno
da parte sul do Parque, no entanto, esta parte não trabalha e tampouco recebe visitação de
turistas, sendo necessário, portanto, que o ordenamento seja realizado primeiramente com
os moradores indígenas do entorno, pois estes já possuem experiência na atividade
turística, para que depois seja ampliado a estes moradores.
2
O solo de terra preta é característico de ocupações humanas há milhares de ano. Possui alto teor de fertilidade, por
isso é utilizado em práticas de agricultura familiar na Amazônia Central.
108
E dados copilados de levantamentos secundários e de campo encontram-se
pontuados no mapa na figura 33 e nas tabelas de números 14 a 16. Informa-se que a
abordagem metodológica de campo pautou-se unicamente em observação e em registros
fotográficos dos locais nos quais havia vestígios nos terreiros das aldeias, sem nenhuma
intervenção.
Procedimento de abordagem
Levantamento secundário
A região do baixo e médio Rio Madeira, por ser composta de áreas de terra firme e de
várzea, pode ter contribuído para os assentamentos humanos pré-colombianos. A pesquisa
arqueológica na Amazônia, em verdade, pode ter iniciado a partir de quando houve a
necessidade de identificar o potencial econômico da Região.
As primeiras expedições que desceram e subiram o Rio Amazonas demonstraram em
seus registros que a Região tinha grande potencial econômico. Foi por meio da economia
que houve os primeiros registros de ocupações humanas extensas, às margens dos rios
amazônicos.
As primeiras notícias que se tem hoje da região do Rio Madeira sobre a história
indígena pretérita vêm de estudos de arqueologia dessa área por Curt Nimuendajú, 2004;
Simões, 1978-82; Miller, 1979; Moraes & Neves, 2012.
E, nesse sentido, o pioneirismo em identificar essa história coube ao etnólogo alemão
Nimuendajú, que, por meio de expedições financiadas por instituições da Europa e do
109
Brasil, ou por conta própria, reuniu coleções etnográficas e arqueológicas da área do baixo
Rio Madeira-AM e de áreas adjacentes para serem comercializadas em museus do Brasil e
da Europa. E, diga-se de passagem, Curt Nimuendajú também pode ter sido o primeiro a
comercializar peças arqueológicas do Estado do Amazonas nos mercados negros da Europa,
apregoa FAULHABER (2011, p. 20).
Portanto, a partir de levantamento junto a artigos, livros, além de relatórios de
pesquisas arqueológicas e do site do IPHAN (www.iphan.gov.br), foram identificados 23
sítios arqueológicos (CNSA) no Cadastro Nacional de Sítios Arqueólogos.
E, no mapa, elaborado pelo arqueólogo Claide de Paula Moraes, apontam-se 378
sítios arqueológicos na Amazônia Central; desse total, 100 sítios estão distribuídos na calha
do rio Madeira, no Estado do Amazonas, nos municípios de Nova Olinda do Norte, Borba,
Manicoré e Humaitá.
Inicialmente, em cada aldeia foi realizada reunião no sentido de informar o objetivo
do trabalho junto à comunidade. E, durante a reunião, por meio do gestor da Unidade de
Conservação, o Tuxaua direcionava um líder para responder às questões do questionário
semiestruturado do NUSEC/UFAM, ou o próprio líder o fazia.
Ao fim da reunião, com a devida autorização, realizava-se o procedimento de
caminhamento em torno da aldeia, nos caminhos das roças, da casa de farinha ou no acesso
à aldeia. Nos locais onde foram identificados vestígios pré-colombianos foram feitos os
registros na caderneta de campo, os registros fotográficos e a retirada de captura de
coordenadas geográficas.
Nas áreas adjacentes às aldeias, o método que se adotou foi a obtenção de
informações dos agentes que realizavam atividades de caça, de pesca, além de plantadores
de roçados em áreas do centro (distantes) das aldeias, na extração de frutos e de madeiras.
As informações colhidas junto às aldeias sintetizaram-se no mapa figura 33, nas
tabelas 14, 15 e 16. Na tabela 14, encontram-se informações de áreas de potencial
arqueológico; na tabela 15, descreveram-se as áreas das aldeias em que não foi identificada
presença de vestígios arqueológicos; e, na última tabela, há informações colhidas junto aos
agentes que realizavam atividades adjacentes às aldeias, com os dados de registros
arqueológicos.
110
Figura 33. Mapa de reconhecimento arqueológico PAREST do Matupiri, área de entorno.
111
Tabela 14. Reconhecimento de Potencial arqueológico do Rio Igapó-Açu (Parque Estadual do
Matupiri).
Coordenada geográfica*
Potencial Unidade de
N. Localidade Característica
Arqueológico Conservação Longitude
Latitude (S)
(W)
À margem direita
Sítio cerâmico a
Aldeia do rio Igapó-Açu.
01 céu aberto, de PAREST -04,518945 -60,238203
Piranha Em torno do
médio potencial.
Parque.
À margem
Sítio cerâmico -04,506445
Aldeia esquerda do rio
03 de baixo PAREST -60,414902
Tapagem Igapó-Açu. Em
potencial
torno do Parque.
Reconhecimento Arqueológico
Até pouco tempo, achava-se que as zonas de altos rios de águas pretas eram
pobres, ou seja, a ausência de peixes e de caças era evidente, logo eram divisores de
baixa densidade de população humana. A arqueologia, em pouco mais de cem anos de
pesquisa na Amazônia, vem demonstrando que isso de certa forma é incorreto.
Rios de águas pretas têm grandes potenciais de exemplares de peixes de forma
quase igual aos de águas brancas. Ademais, quase todos os rios de águas pretas são
tributários de rios de águas brancas.
O Paraná do Madeirinha, tributário do rio Madeira, da margem esquerda, tem boa
parte de suas águas modificadas uma vez por ano, isto é, no período da subida do rio; as
águas do Rio Madeira adentram o Paraná do Madeirinha, tornando-se de água branca. Já
no período da seca, a água do Paraná se torna preta.
Os rios que deságuam do Madeirinha, como os rios Autaz-mirim, Igapó-Açu e
Matupiri, têm águas pretas, entretanto, conforme as informações das populações
112
indígenas e não indígenas, as piracemas ocorrem de janeiro a dezembro, de forma que,
em alguns meses (cheia dos rios), há menos peixes, devido à grande área de igapó; e,
com isso, os peixes se espalham nessas áreas; na seca, há grande quantidade de peixes.
Os registros arqueológicos vêm confirmando que rios de águas pretas foram
também densamente habitados, haja vista que os grandes castanhais da região, em sua
maioria, estão em áreas de rios de águas pretas, cujos solos, às vezes, são de terra preta
de índio. Esse solo está associado a assentamentos de ocupações humanas há milênios. O
arqueólogo Eduardo Neves, em seu livro “A arqueologia da Amazônia”, descreve que, na
bacia do alto Rio Madeira, incluindo o rio Jamari, tributário da margem direita do
Madeira, estudos arqueológicos identificaram sítios arqueológicos de terra preta de 4
mil anos Neves (2006, p. 53).
No terreno da “Aldeia do Piranha”, a coordenada é: S 04º. 518.945– W 60º.
238.203. O solo apresentava-se com coloração avermelhada; entre as casas foram
observados vários fragmentos cerâmicos associados a pequenas manchas de solo
escuro, o qual alguns autores vêm classificando como “terra mulata” (STEINER et al.,
2010,p. 300).
Trata-se de uma nomenclatura utilizada na tentativa de diferenciar as periferias
de sítios arqueológicos com densidade de solo de terras pretas. A aldeia Piranha tem
aproximadamente 200mx100m, com 44 casas, todas de pernas de paus, isto é, de
assoalho de madeiras e cobertura de palmeiras; há duas casas de reuniões sociais, as
quais são de alvenaria; em quase toda a extensão, observamos fragmentos cerâmicos.
Próximo ao centro social e em frente à casa do tuxaua há vários fragmentos
cerâmicos simples; alguns com pinturas; e duas circunferências de recipientes
cerâmicos, sendo a primeira com aproximadamente 25 cm; e a segunda com 40 cm de
diâmetro (Figuras 34 e 35). Esses registros podem estar associados a sítios-cemitérios,
onde os artefatos podem conter fragmentos de ossadas humanas, às vezes associadas a
oferendas.
Por ser uma vistoria de reconhecimento arqueológico, fizeram-se apenas
discretos registros fotográficos com o fito de não atrair crianças que viessem danificá-los
nem que, por curiosidade, fizessem intervenções, isto é, escavassem e logo levassem a
perturbações irreversíveis.
113
Figura 34. Fragmentos cerâmicos e circunferência de recipiente; parte da borda exposta.
Fonte: NUSEC/UFAM(2013).
Fonte: NUSEC/UFAM(2013).
Esse registro engendra, em verdade, as interrogações que há sobre a imensa área
da região; o que pouco se sabe em relação a como era conviver em ambientes
exuberantes ou em um “inferno verde” (RANGEL, 2008, p.38). Os artefatos são a história
do modo de vida das populações humanas que utilizaram os imensos rios de águas
pretas para, em suas margens, depositar sua história: a tinta do jenipapo (Genipa
americana L), possivelmente, coloria a cerâmica e o corpo dos indígenas; e, com os
114
resíduos materiais ou orgânicos, transformavam o solo de cor avermelhado em terras
pretas, altamente férteis, que hoje são utilizadas para a produção de hortaliças em várias
áreas da região. A isso, AB’SÁBER (2003, p. 10) chama de “heranças depositadasnos
enigmas de cada pensamento do gênero humano contemporâneo”.
A“Aldeia Sapucaia” está localizada à margem direita do rio Igapó-Açu; a
coordenada é: S 04°49058 - 60°35166. Há vinte e sete casas, das quais duas são o centro
social e a escola. Elas estão distribuídas por 120mx60m, em duas fileiras.
A primeira fileira é onde está a escola e o centro social, além de sete casas; na
outra fileira, numa espécie de rua, estão as demais casas, as quais se encontram
perfiladas, com espaçamento de 2m a 3m entre elas.
O solo é de cor acinzentada; nas áreas em que não havia capim, as crianças
utilizavam o terreiro para divertir-se e para fazer brincadeira de pular corda, jogo da
velha e de macaca. No setor (W), havia um intervalo entre duas casas.
Nesse espaço, devido à chuva que caiu à noite, expuseram-se vários fragmentos
cerâmicos. Próximo da antepenúltima casa do setor (W) havia duas metades de
circunferências de recipientes; pelas características, podem estar associadas a ritual de
sepultamento. Em torno do campo de futebol, debaixo de duas árvores de ingazeiras,
havia uma pequena mancha de terra preta.
Entre o centro social, a escola e uma casa da segunda fileira, a chuva que caiu pela
madrugada expôs uma circunferência de recipiente de 20 cm de diâmetro; no fim do
setor (E), próximo da casa do tuxaua, vários fragmentos cerâmicos estavam em
superfície.
Por fim, os vestígios de mancha de terra preta, além dos recipientes cerâmicos em
circunferência, que afloram entre as casas por intervenção antrópica ou pelas águas
pluviais, expõem diversos fragmentos importantes, que podem contribuir para a
elucidação do modo de vida das populações pré-colombianas que ao longo dos milênios
manejaram os ambientes, deixando sua história encravada nas margens do baixo Rio
Igapó-Açu.
A aldeia Sapucaia encontra-se assentada sobre um sítio arqueológico. E, nos
últimos milênios, pela distribuição dos vestígios em superfície e pela paisagem, aponta-
se que a aldeia pré-colombiana era bem maior que atualmente; agora, conforme a
informação do agente de saúde da aldeia Sapucaia reside 111 (cento e onze) pessoas.
115
Esse número, no passado pré-colonial, poderia ser multiplicado por mil, ou seja,
havia mais gente vivendo naquela época do que hoje. E deixaram um patrimônio
fundamental como são as formações de terras pretas e os castanhais, os quais hoje são
uma das fontes de renda do povo Mura.
Nas Figuras 36 e 37, constam vestígios arqueológicos que testemunham os manejos nos
ecossistemas de várzeas e de terra firme de sociedades que elaboraram modos de vida
que são heranças ancestrais, as quais são mantidas por jovens e adultos, atualmente na
aldeia.
Figura 36. No solo acinzentado, circunferência de recipiente cerâmico utilizado em ritual pelas
sociedades pré-colombianas.
Fonte: NUSEC/UFAM(2013).
Figura 37. Terra preta, associada a vestígios cerâmicos no terreiro da Aldeia Sapucaia.
Fonte: NUSEC/UFAM(2013).
116
A “Aldeia Tapagem” está localizada à margem esquerda do Rio Igapó-Açu, numa
planície na qual os setores (E-W) se estendem para áreas de várzeas. As casas, com
exceção da escola, são todas de pernas compridas; em algumas localidades do Estado do
Amazonas, os moradores falam que são casas esperando a enchente do rio, por isso as
bases são altas; no fundo há algo de razoável nisso, pois as subidas dos rios nos últimos
anos têm atingido níveis desproporcionais, levando as casas de pernas compridas a
ficarem submersas.
Na aldeia, a subida das águas estava distante das casas em torno de 10m. No
passado pré-colonial, registros arqueológicos vêm demonstrando que as áreas próximas
à foz de rios, lagos ou igarapés eram alvos de assentamentos duradouros; em alguns
deles, tem-se identificado sítios arqueológicos com perfis de terra preta de até 2m de
profundidade.
Na área da aldeia, durante o caminhamento, observaram-se alguns fragmentos
em superfície. Próximo do campo de futebol, numa área onde as crianças brincavam
jogando bolinha de gude havia alguns fragmentos de cerâmica decorada. Próximo do
terreiro da escola, outros fragmentos ficaram expostos pelas águas pluviais.
O solo de coloração avermelhada é argiloso-arenoso. Pela distribuição de
fragmentos por quase toda a aldeia, isso leva a supor que, no passado pré-colonial, o
assentamento pode ter sido maior que a atual aldeia; conforme as figuras 38 e 39
observam-se fragmentos cerâmicos sendo escavados pelas águas pluviais.
A área de extensão da Aldeia é de 110mx30m; atrás das casas, a vegetação é
composta de diversas palmeiras; em algumas partes, percebeu-se a intervenção no solo
pelos porcos, de forma que se expuseram vestígios. Ademais, em torno das casas, havia
excrementos de porcos e caprinos, pois esses animais fazem parte da dieta alimentar da
Aldeia, em dias de festa. Os excrementos são saturados e despejados nas plantações de
canteiros suspensos existentes na Aldeia.
117
Figura 38. Fragmento cerâmico decorado sendo escavado pelas águas pluviais; e o solo argiloso-
arenoso, próximo do centro social.
Fonte: NUSEC/UFAM(2013).
Fonte: NUSEC/UFAM(2013).
118
Possivelmente, as práticas de canteiros suspensos, as atividades agrícolas, a pesca
e a caça seguem padrões, herdados de tradições ancestrais, conforme os informes
capturados durante a realização de entrevista.
O consultor realizou entrevista junto a um morador da aldeia sobre os sistemas
agrícolas e a captação de recursos no sentido de manter a existência da sociedade. Ao
longo da entrevista, a pessoa foi esmiuçando que o sistema de pescaria é bem artesanal,
pois é realizada com pequenos utensílios de pesca, tais como caniço, pequeno espinhel,
armadilhas e flechas.
Os peixes capturados são destinados ao consumo da Aldeia. As pescarias são
realizadas nos lagos e nos igarapés próximos à área, entretanto, quando há necessidade
de maior quantidade de pescado ou de caça, quando são realizados mutirões para
limpezas das roças ou para novos roçados, os pescadores e os caçadores se deslocam
para as áreas das unidades de conservação; assim, são usuários contínuos dos estoques
de peixes e de caças; quanto à extração de castanhas, alguns membros da aldeia ainda
praticam essa atividade, ficando toda a temporada residindo nos grandes castanhais, a
que eles chamam de “nativos”, os quais estão localizados ao longo dos rios Matupiri,
Igapó-Açu e seus tributários.
Na aldeia, há dez casas, das quais numa funciona a escola, além de um escombro
que estava apenas entabuado, sem cobertura. As casas ficam numa plataforma de
madeira; no porto de uma delas, havia alguns jiraus com cebolinhas, cheiros-verdes,
chicórias e tomates, que se somam à mesa das famílias da Aldeia.
Nas tabelas 15 e 16, áreas onde foram realizadas entrevistas socioeconômicas e
antropológicas, nas aldeias “Sapucainha” e “Correia”; a primeira está localizada à
margem direita do Rio Igapó-Açu. Conforme informação dos indígenas Mura, o
assentamento tem pouco mais de cinco anos; a aldeia tem 50mx20m, com dez casas,
sendo duas para eventos sociais (igreja e escola) e duas plataformas flutuantes que
estavam na porção (N) da aldeia, além de uma área de campo para prática de futebol. A
segunda aldeia está localizada à margem esquerda do Rio Matupiri, a 6,5km da foz; e há
nove casas; nelas em apenas uma há família residindo; as demais estavam nos
castanhais ou para a cidade de Autazes, conforme informou o tuxaua.
Nas incursões entre as residências das aldeias, no campo de futebol e nas
plantações de roças de macaxeiras, foi observada a ausência de vestígio arqueológico,
conforme está listado na tabela 15. Mas os moradores, por meio das entrevistas ou de
119
conversas informais, durante a estada dos consultores, informaram que há áreas de solo
de terras pretas quase que em todos os igarapés e no rio.
Tanto no rio Igapó-Açu quanto no Matupiri, as terras pretas, em sua maioria, são de
grandes castanhais. Um dos informantes relatou que o “Castanhal Pina”, o qual se
encontra numa região de terra firme “alta”, contém uma significativa área de terra preta.
No entanto essas áreas estão distantes das aldeias; e assim não houve qualquer
possibilidade de realizar visitas às áreas informadas. Destarte, apenas foram registradas
as informações na tabela 16.
Tabela 15. Áreas das Aldeias com ausência de vestígio arqueológico nos Rios Igapó-Açu e do
Matupiri (PAREST).
Incidência de terra
Indígena Aldeia preta e área de Igarapé do
01 Piquiá PAREST
Sapucainha castanhais; água Piquiá/Igapó-Açu.
preta.
Igarapé
Indígena Aldeia Área de castanhais
02 Massagana PAREST Massagana/ Igapó-
Sapucainha com terra preta
Açu.
120
Indígena Aldeia Rio Amapá/Rio
04 Amapá PAREST Áreas de terra preta
Sapucainha Matupiri.
Igarapé
Castanhal Indígena Aldeia Terra firme e áreas
05 PAREST Mutum/Rio
Pino Sapucainha de terra preta.
Matupiri
Igarapé
Santo Indígena Aldeia
06 PAREST Área de terra preta. Mutum/Rio
Antônio Sapucainha
Matupiri.
Mutum Igarapé do
Indígena Aldeia Áreas de terras
07 grande e PAREST Mutum/Rio
Sapucainha pretas.
pequeno Matupiri.
Igarapé dos
Igarapé dos Indígena Aldeia
08 PAREST Áreas de terra preta. Botos/Rio
Botos Sapucainha
Matupiri.
Tributário da
margem esquerda do
Indígena Aldeia Tributário do rio
09 Tapagem PAREST Rio Igapó-Açu; áreas
Tapagem Igapó-Açu
de castanhais e com
terra preta.
Tributário da
margem direita do
Igarapé da Indígena Aldeia Tributário do rio
10 PAREST rio Igapó-Açu; poucas
Onça Tapagem Igapó-Açu
manchas de terra
preta.
Tributário da
margem esquerda do
Indígena Aldeia Tributário do rio
11 Terra Nova PAREST rio Igapó-Açu;
Tapagem Igapó-Açu
incidência de terra
preta.
Tributário da
margem esquerda;
Indígena Aldeia poucas manchas de Tributário do rio
12 Santa Joana PAREST
Tapagem terra preta com Igapó-Açu
cerâmica em
superfície.
Localidade de terra
Pontas de preta; castanhal com
Indígena Aldeia Tributário do rio
13 Castanheira PAREST terra preta; margem
Tapagem Igapó-Açu
s direita do rio Igapó-
Açu.
121
Tributário da
margem esquerda do
Tributário do rio
14 Paca Indígena Aldeia Correia PAREST rio Igapó-Açu;
Igapó-Açu
incidência de terra
preta.
122
No Rio Matupiri, só há uma aldeia, e uma família atualmente lá reside. A
incidência de sítios arqueológicos e as informações de potencial nos dois rios podem
justificar que rios de águas pretas sejam ricos em proteínas; e, assim, podem ter sido as
grandes âncoras para que, em momentos tardios, as populações mantivessem grandes
mobilidades, porém em áreas fixas, pois os três sítios arqueológicos estão associados a
extratos de solo de terra preta, a qual, na acepção de Neves (2006, p. 54), constitui uma
espécie de divisor de sendentarismo. Na Aldeia Sapucai, conforme informações do
agente de saúde, há cento e onze pessoas, entre jovens e adultos, num espaço de
7.200m².
No passado pré-colonial, esse número poderia ser multiplicado por mil, pois a
alteração na paisagem sugere que o assentamento era de proporções elevadas; assim
deveria haver um mecanismo no sentido de produzir alimentos para uma população
bem densa.
Por conseguinte os castanhais, os açaizais e outras espécies podem ser uma das
respostas para a sobrevivência e o contato dessas populações; os castanhais centrais que
há hoje nos igarapés e nas margens dos rios da região são, em verdade, resultantes das
ações de populações que mantinham certa sintonia com os ecossistemas, pois, no Rio
Igapó-Açu, a sua cabeceira o interliga ao Rio Purus; assim, as populações do rio Madeira
mantinham contatos anualmente, no período da subida do rio.
Portanto a troca pode ter sido uma das providências para que rios de águas
pretas centrais mantivessem comunicação com os de águas brancas. Ademais, a
tecnologia cerâmica e as ferramentas de pedras podem ter sido uma das explicações
para o adensamento dessas populações ameríndias pré-coloniais.
E, por fim, estudos arqueológicos futuros juntamente com as populações
indígenas podem contribuir para o entendimento de como as populações pré-
colombianas manejavam os ecossistemas das áreas do parque e da terra indígena há
milhares de anos. Mas, por outro lado, o que o levantamento preliminar aponta é que há
um patrimônio importante para ser estudado por vários ramos da ciência.
123
7.3. CARACTERIZAÇÃO DA POPULAÇÃO
7.3.1. Descrição das Comunidades do Entorno da Unidade de
Conservação e da Zona de Amortecimento
Tabela 17. Descrição dos lugares onde foi feito o levantamento dos dados socioeconômicos na
região do entorno do PAREST do Matupiri.
A T.I Cunhã Sapucaia homologada em 2006, possui uma área de 471.450 ha com
mais de 587 indígenas predominantemente da etnia Mura e Munduruku em minoria.
Atualmente o Brasil conta com uma população Mura de aproximadamente 15.713
pessoas. Registros históricos relatam que desde o sec. XVII percebe-se a presença dos
Mura na região dos rios Madeira, Japurá, Solimões, Negro e Trombetas. Esse grupo
étnico era conhecido por seu exímio conhecimento e habilidade em navegar pelos rios,
lagos e igarapés.
Durante o processo de contato, como de praxe, houve muitos conflitos que
resultaram em massacres e estigmas. Em todo encontro de culturas, os ícones ou
elementos dos grupos envolvidos sofrem alterações e ressignificações. A língua
comumente falada pelos Mura,por exemplo, abriu espaço para o português, que hoje é o
seu principal idioma, contudo, de acordo com Amoroso (2013) os Mura falam português,
mas em uma “linguagem própria” que eles chamam de “nossa linguagem”.
A religiosidade passou a versar sobre o cristianismo, no entanto, é facilmente
notada à presença de personagens míticos como o Juma, ser muito importante que
compõe imaginário dos habitantes desta região. É comum ouvir relatos da aparição de
um homem alto, peludo que porta um porrete na mão, além dos relatos de encante do
boto, nesse caso é comum recorrerem aos dons dos caboclos (como os Mura se referem
ao pajé), recorrem a este também com frequência em casos de doenças, para tomar os
“remédios da terra” como eles chamam.
As aldeias costumam promover festejos em devoção aos santos. A aldeia Deus é
pai, por exemplo, promove todo ano uma festa para o Divino Espírito Santo, que teve
inicio com uma promessa que a matriarca da aldeia fez para alcançar a cura para o seu
esposo, que havia sido mordido por uma cobra. Nas festas religiosas que acontecem nas
aldeias, contam com missa celebrada por um padre do município de Borba. As festas
também são regadas por muita musica, dança e brincadeiras (derrubada do mastro), há
um tom de disputa entre as aldeias em relação a quem promove a melhor festa, disputa
aqui está relacionada com prestigio, onde só faz sentido existir um em pelo outro, e não
em um sentido de conflito. Essas festas religiosas vão além de um ato de fé, uma vez que
elas promovem a socialização entre as aldeias, e também possuem um papel importante
nas articulações políticas.
125
A forma habitacional dos Mura, é composta por casas com paredes de madeira ou
palha, piso de assoalho de madeira, ou terra batida, e cobertura de palha ou telha. As
casas estão posicionadas preferencialmente em frente aos lagos e rios, fazendo menção a
estima ao rio, que além de uma fonte de abastecimento de água e meio de subsistência é
também muito apreciado por ser também um lugar onde é possível exercer o seu
fascínio pela navegação, era muito comum esse povo passar um longo espaço de tempo
sobre as águas em suas canoas (PEQUENO, 2006).
Esse grupo étnico se reconhece como habitantes da “beira” fazendo referencia as
peculiaridades de morar em área de várzea, como indica Amoroso (2013).
A relação estabelecida entre as aldeias Mura baseiam em afinidades e
articulações políticas. Essas articulações na maioria das vezes envolvem acordos,
definições de regras para o uso dos recursos naturais de áreas específicas. Esses acordos
são estabelecidos através de reuniões entre as aldeias que podem levar dias, segundo o
tuxaua da aldeia Piranha, “o povo mura é um povo palestrante gostamos de falar, é só
assim que chegamos a um acordo”. As negociações não devem ter pressa, pois para
estes, quem negocia deve ter tempo e paciência para tal (Figura 40).
Fonte: NUSEC/UFAM(2013).
As redes de relações Mura vão além da sua esfera territorial, o que implica em
dizer que nesse caso em especifico, essas relações se estendem desde as aldeias vizinhas
até aos municípios próximos onde moram alguns parentes e parceiros políticos que
também fazem parte da OPMTICS (Organização do povo Mura da Terra Indígena Cunhã
– Sapucaia). A relação com a população não indígena geralmente é restrita a uma política
de boa vizinhança, e os conflitos acontecem pelo fato dos não indígenas acreditarem que
uma vez que os indígenas possui uma terra delimitada estes, deveriam utilizar
126
unicamente a área determinada para a T.I. As aldeias que fazem uso direto do PAREST
do Matupiri são: aldeia Piranha, aldeia Sapucaia, aldeia Sapucainha, aldeia Tapagem e a
localidade Correia.
Aldeias
Aldeia Piranha
Aldeia Piranha (Figura 41) esta localizada à margem direita do rio Igapó Açu em
área de terra firme. É a maior, e a mais estruturada aldeia da T.I Cunhã Sapucaia. Essa
aldeia possui 45 famílias com indígenas da etnia Mura e Munduruku. A infraestrutura da
aldeia conta com 2escolas, uma com ensino fundamental e a outra com ensino médio a
distancia, via internet, que vai até o 1 ano, além do ensino de Jovens e Adultos (EJA).
Possui um centro social, igreja, polo base de saúde,motor de luz, casa de farinha e campo
de futebol. Os moradores estão divididos entre a religião católica e evangélica. Essa
aldeia fica 2h30min de distancia de Borba em um motor 40 PT. Seu sistema econômico
consiste na pesca, agricultura, caça, e também na extração da madeira, além de
atividades relacionada com pesca esportiva onde trabalham como guia.
Fonte: NUSEC/UFAM(2013).
127
Aldeia Sapucaia
Localizada em área de terra firme no rio Igapó Açu, a aldeia Sapucaia abriga 18
famílias totalizando 111 pessoas. Possui escola, centro comunitário, igreja, campo de
futebol, poço, motor de luz e casa de farinha. Os indígenas da etnia Mura tem sua
economia baseada na agricultura, pesca, extrativismo e pesca esportiva. Os moradores
dessa aldeia fazem parte da Organização do Povo Mura da Terra Indígena Cunhã
Sapucaia (OPMTICS) (Figura 42).
Fonte: NUSEC/UFAM(2013).
Aldeia Sapucainha
128
Figura 43. Aldeia Sapucainha
Fonte: NUSEC/UFAM(2013).
Aldeia Tapagem
Aldeia Tapagem está localizada em uma área de terra firme a margem esquerda
do Rio Igapó-Açu. Juntos totalizam 7 (sete) famílias e 37 indígenas da etnia Mura, dentre
eles católicos e evangélicos. As atividades de extração, agricultura e pesca, além da
pratica da pesca esportiva fazem parte do sistema econômico da aldeia, exercidos
principalmente para subsistência. Tapagem conta com a infraestrutura de escola,centro
comunitário, barco, motor de luz, campo e casa de farinha. A aldeia está
aproximadamente 2h00 do município de Borba no motor 40 Hp (Figura 44).
Fonte: NUSEC/UFAM(2013).
129
Localidade
Correa
Fonte: NUSEC/UFAM(2013).
Braço Grande
Fonte: NUSEC/UFAM(2013).
Bracinho
Bracinho está localizado em área de terra firme também no lago Jenipapo. Nessa
comunidade moram 24 famílias, cuja atividade econômica é baseada na agricultura,
extrativismo e pesca voltada principalmente para subsistência. Recebem bolsa família,
bolsa floresta e bolsa verde, que contribui para renda dos moradores. Essa comunidade
conta com a infraestrutura de escola do 1 e 2 grau e Ensino de Jovens e Adulto (EJA) ,
motor de luz, a estrutura do posto de saúde, mas atualmente está desativado, casa de
farinha, campo de futebol, centro comunitário, igreja, poço que atualmente não está
funcionando, telefone e radiofonia.
131
infraestrutura com escola, motor de luz, casa de farinha, campo de futebol, igreja e
telefone (Figura 47).
Fonte: NUSEC/UFAM(2013).
Democracia
132
Figura 48. Democracia.
Fonte: NUSEC/UFAM(2013).
Jatuarana
Fonte: NUSEC/UFAM(2013).
133
Infraestrutura e Comunicação das Comunidades usuárias
134
insuficiente para atender a demanda do coletivo, pois o serviço público oferecido não
corresponde a necessidade dos moradores.
Tabela 18. Infraestrutura disponível nas comunidades, localidades e aldeia do entorno PAREST do
Matupiri.
Aspectos Habitacionais
135
Figura 50. Fotos de residências comumente encontradas na região de entorno do PAREST do
Matupiri.
Nota: A) Palafitas mais sofisticadas construídas com paredes de madeira e cobertura de zinco/alumínio.
Aldeia Piranha, mai/2013 B) Palafita mais simples construída de madeira e coberta com palha. Aldeia
Sapucaia, Fonte: NUSEC/UFAM(2013).
Na região da Terra Indígena Cunhã Sapucaia, 90% das casas possuem parede de
madeira. Já na região de Manicoré, as paredes das residências são feitas, principalmente,
em madeira e há também registros de casa de alvenaria.
Quanto à cobertura, o principal material utilizado, no caso da T.I. é a palha, tendo,
ainda, a presença de cobertura de zinco/alumínio entre outros materiais (Figura 51).
136
Figura 51. Materiais utilizados para cobertura das residências da T.I. Cunhã Sapucaia.
80%
70%
Frequência Relativa
60%
50%
40%
30%
20%
10%
0%
Alumínio/Zinco Palha outros
Material
60%
50%
Frequencia Relativa
40%
30%
20%
10%
0%
1 2 3 4 5
Número de Cômodos
137
Figura 53. Distribuição da população segundo o numero de dormitórios na residência.
80%
70%
Frequência Relativa
60%
50%
40%
30%
20%
10%
0%
1 Número de2Dormitórios 3
80%
70%
Frequência Relativa
60%
50%
40%
30%
20%
10%
0%
Gerador Comunitário Gerador Particular Não há energia
Fonte energética
138
Figura 55. Eletrodomésticos presentes nas residências.
100%
90%
80%
Frequência Relativa
70%
60%
50%
40%
30%
20%
10%
0%
Fogão TV Parabólica Outros Aparelho de Geladeira Rádio
som
Eletrodomésticos
NOTA: Dentro do item “outros” foram citados os seguintes eletrodomésticos: Freezer, DVD, caixa
amplificadora, maquina de lavar, ventilador.
Fonte: NUSEC/UFAM (2013).
7.2.2. Educação
Segundo a Constituição Brasileira de 1988 (art. 205), a educação é um direito de
todos e dever do Estado e da família. Assim deve visar o pleno desenvolvimento da
pessoa humana, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o
trabalho, que é também, uma dentre as várias dimensões da cidadania.
A escola é um espaço sociocultural regido por um conjunto de normas e regras
educacionais, que buscam unificar e delimitara ação dos seus sujeitos, através de sua
complexa trama de relações sociais entre os sujeitos, que incluem alianças, conflitos,
imposição de normas e estratégias individuais ou coletivas, de transgressão ou de
acordos que dão forma à vida escolar. Fruto da ação recíproca entre o sujeito e a
instituição, esse processo, como tal é heterogêneo (EZPELETA & ROCKWELL, 1986).
140
Como exemplo dos problemas relacionados à infraestrutura, nas aldeias Sapucaia
e Piranha o espaço não comporta os alunos, enquanto na aldeia Sapucainha a escola é
apenas um pequeno cômodo improvisado e recoberto de palha.
O principal meio utilizado pelos estudantes para chegar às escolas é a caminhada.
Já na época da cheia e/ou quando é necessário se locomover à outra Aldeia/Comunidade
para ir à escola, alguns estudantes optam pela utilização de barcos para se locomoverem.
As falas e também o número de moradores que usou a digital para assinar em vários
momentos das atividades em campo evidenciam o alto índice de analfabetismo.
Em teoria, por se tratar de população indígena, a legislação (art. 210 da CF e LDB)
indica a necessidade de educação diferenciada. Porém, isso não é respeitado de maneira
integral. No que toca às escolas das aldeias Sapucaia, Piranha e Sapucainha é
interessante perceber que, com exceção da escola da aldeia Piranha, que oferece aos
alunos aulas da língua Mura, segundo declaração dos professores não há qualquer
especificidade no ensino oferecido.
Série O professor
Tem No de
Comunidade Quantos? mora na
disponibilizada professor alunos
comunidade?
Braço Aprox.
1o a 5o ano do E. F. Sim 2 Sim
Grande 30
141
Todas as comunidades possuem escola e, das cinco comunidades estudadas, duas
delas oferecem o Ensino Médio. Isso não significa, porém, que o ensino é de qualidade e
que as condições são as melhores possíveis. Os principais problemas apontados foram à
infraestrutura e a distância.
Para chegar à escola, os alunos vão principalmente de barco. Porém, em algumas
comunidades, durante a seca, o percurso é feito caminhando. E, as vezes, essas distancias
são significativas, o que dificulta a ida destes alunos à escola.
7.3.3. Saúde
Para os usuários do Parque Estadual do Matupiri, o fator Saúde, apresenta as
seguintes características: Em caso de doenças graves, os moradores deslocam-se até os
municípios mais próximos de suas comunidades, como Manicoré e Borba. Para o
deslocamento (até estes municípios) os moradores utilizam rabetas, voadeiras e
recreios. O tempo de viagem dura em torno de 1 a 7 horas. Há visitas de Agentes de
Saúde, apenas no Parque Estadual que abrange o município de Manicoré. As mulheres
fazem o preventivo e o pré-natal também quando há possibilidade.
A doença de maior prevalência entre os adultos é a malária. Segundo Tauil (2009)
a malária no Brasil continua sendo um grande problema de saúde pública. Embora
muitos progressos tivessem sido obtidos na luta contra a doença nos últimos 60 anos, o
número de casos registrados anualmente ainda é muito elevado, assim como de outras
doenças causadas por mosquitos.
Segundo o Ministério da Saúde (2010) no município de Borba (que abrange esta
UC), entre 2001 e 2011, houve 565 casos de doenças transmitidas por mosquitos, dentre
os quais a malária, febre amarela, leishmaniose e dengue. Contudo, a SEPLAN (2011),
demonstra que houve em 2010, 1.808 casos de malária neste município.
Já o município de Manicoré (em que o Parque também está localizado), entre os
anos de 2001 a 2011, houve 815 casos de doenças transmitidas por mosquitos (Figura
56). Neste município, a SEPLAN (2011) aponta que houve 2.083 casos de malária.
142
Figura 56. Frequência de doenças entre os usuários do PAREST do Matupiri.
143
Para o tratamento das doenças, os usuários do PAREST, utilizam plantas
medicinais cultivadas nos quintais agroflorestais e roças, além de produtos extrativistas.
As plantas usadas são as seguintes: Boldo, jambú, mangarataia, unha de gavião, sucúba,
copaíba, marapoãm, cidreira, abacate, cipó-tiitica, chá de alho, andiroba, mel de abelha,
folha de laranjeira, leite de banana prata e casca de azeitona. Além do tratamento
fitoterápico, os moradores utilizam outras formas de tratamento, através de consultas
médicas e com agentes de saúde.
Entre os moradores há a presença de pessoas com necessidades especiais, tais
como: deficiência auditiva, visual e mental. Dentre os problemas sociais, está o
alcoolismo e o uso de drogas ilícitas.
144
Figura 58. Fonte de água utilizada pelos moradores do entorno da Unidade de Conservação
PAREST do Matupiri em diferentes períodos sazonais.
80%
Frequência de informantes (%)
70%
60%
50%
Cheia
40%
Seca
30%
20%
10%
0%
Rio Poço artesiano Igarapé Cacimba
Locais de coleta
145
outras. Mais de cinco milhões de pessoas morrem por ano no mundo devido às doenças
transmitidas pela água.
Na tentativa de minimizar a contaminação pela água os moradores do entorno da
UC PAREST do Matupiri realizam como medidas preventivas o coamento da água
seguida de aplicação de Hipoclorito, a fervura foi citada com menor frequência pelos
entrevistados (Figura 59).
Figura 59. Tratamento da água realizado por usuários da Unidade de Conservação PAREST do
Matupiri.
9%
46%
45%
146
Segundo Jardim e Wells (1995) o lixo é tudo resíduo da atividade humana, e
considerada inutilizável, indesejáveis ou descartáveis. Pode ser composto por
substâncias putrescível, combustíveis e incombustíveis, quando descartado de forma
incorreta, acarreta problemas ambientais e sanitários.
Nas comunidades rurais usuárias da UC PAREST do Matupiri o problema
referente à geração de resíduos está relacionada ao aumento do consumo de produtos
industrializados pelos comunitários. As embalagens são descartadas de forma
inadequada no meio ambiente como, sacos plásticos e metal que levam mais de 100 anos
para se decompor.
Dentre os tipos de resíduos que são lançados no rio, buracos, incinerados ou
vendidos pelos usuários UC estão, pilhas, embalagens plásticas, folhas secas e latas
(Tabela 21). As garrafas pet e de vidro muita das vezes são reaproveitadas para
armazenar água ou sementes de culturas de ciclo curto. Já os restos de alimentos são
destinados para complementar a alimentação dos animais.
Tabela 21. Destino dos resíduos sólidos pelos moradores do entorno da Unidade de Conservação
PAREST do Matupiri.
Comercializa - - - 33% -
147
acabam dando o mesmo destino para diferentes categorias de resíduos, uma vez que, os
comunitários desconhecem a coleta seletiva.
A falta de tratamento dos resíduos e seu acúmulo podem atrair insetos e animais
vetores de doenças como: febre amarela, leptospirose transmitida pela urina do rato e
tétano causado por materiais cortantes descartados no lixo, além disso, animais
peçonhentos podem se alojar nos entulhos.
Dentre as alternativas para tentar fornecer conhecimento sobre saneamento
básico é implantar nas escolas pertencentes às comunidades do entorno da UC PAREST
do Matupiri, projetos de educação ambiental, visando criar uma conscientização
ambiental nos envolvidos, bem como, contribuir para a qualidade de vida das pessoas
que vivem nestas áreas.
148
As comunidades, localidades e aldeias localizadas no entorno do Parque
contabilizam 07 comunidades, 04aldeias e 01 localidade que utilizam os recursos
naturais da RDS do Matupiri (Figura 60 e Tabela 22).
Tabela 22. Localidades e aldeias que utilizam os recursos naturais no PAREST do Matupiri.
Coordenadas Geográficas
(Decimal)
Localidades e Aldeias
Lat. Long.
149
Figura 60. Espacialização das comunidades, localidades e aldeias que utilizam o PAREST do Matupiri.
150
7.4.2. Caracterização da População e Demografia
95-99
90-94
85-89
80-84
75-79
70-74
65-69
60-64
55-59
Faixa Etária
50-54
45-49
40-44
35-39
30-34
25-29
20- 24
15-19
10-14
5-9
2-4
0-1
20 15 10 5 0 5 10 15 20
Frequência Relativa
F M
152
7.4.3. Registro Civil dos Moradores
70%
60%
50%
40%
30%
20%
10%
0%
RN RG CPF TE CC
Documento
Algumas hipóteses podem ser colocadas em relação aos documentos que estes
moradores/usuários possuem, uma seria que a maioria das crianças tem nascido no
hospital, sendo este um ponto favorável ao registro de nascimento destas. Além disso,
153
para ter direito aos auxílios fornecidos pelo Estado, alguns desses documentos se fazem
necessários.
4%
4%
Casado
Solteiro
46%
União Consensual
42% Viúvo
Separado
4%
De forma geral, o Parque é pouco utilizado por estas pessoas, o que não anula a
importância dos recursos da UC para alguns, em especial para os povos indígenas que
habitam a T.I. Cunhã-Sapucaia das etnias Mura e Mundukuru, os quais possuem modos
próprios de organização social e política, bem como uma dinâmica de tempo
diferenciada. Este grupo em especial enfatizou seu uso histórico dos recursos no
passado e a importância da área que hoje corresponde ao Parque Estadual do Matupiri.
Apesar dos moradores destas comunidades fazerem uso dos recursos do Parque
em diferentes freqüências e intensidades, na maioria dos casos, suas economias não se
154
baseiam ou não têm forte relação com o uso de tais recursos, sendo que é difícil
determinar essa proporção de uso. Dessa forma, no que se refere aos aspectos de renda,
foi feita uma breve descrição qualitativa dos grupos de usuários em relação a suas
atividades econômicas.
a) Caracterização do núcleo de Borba (T.I. Cunhã Sapucaia) quanto às atividades
econômicas em relação ao Parque Estadual do Matupiri
155
No que se refere aos benefícios sociais, parte das famílias sé beneficiária do
programa Bolsa Família, contudo, poucas pessoas recebem aposentadoria devidamente,
como deveriam ao menos em função da idade3. No caso de aposentadoria por tempo de
serviço, esta varia em função das condições de trabalho do indígena, mas sabe-se que a
maioria deles, tradicionalmente, inicia o trabalho no campo bastante jovem, algo que
sugere que muitos deles já poderiam receber o benefício.
3 Nesse caso segue-se o padrão dos trabalhadores rurais, em que a aposentadoria deve ser concedida aos homens
a partir de 60 anos e às mulheres a partir de 55 anos.
156
comunidades aparentemente são melhor assistidas quando comparadas aos outros
setores, já que há um número considerável de pessoas que recebem o Bolsa Família,
aposentadoria e até mesmo o bolsa verde.
6%
18%
OIPMTICS
47% Associação de Pescadores
Igreja
Clube de Jovens
29%
Figura 65. Moradia na Aldeia Piranha com quintal agroflorestal ao redor, PAREST do Matupiri.
Fonte: NUSEC/UFAM(2013).
159
membros da família para exercerem outras atividades, agrícolas e não agrícolas,
complementando a renda familiar, fenômeno esse denominado de pluriatividade
(MARAFON & RIBEIRO, 2006). Esse fenômeno no PAREST é desencadeado e
caracterizado nas atividades e práticas na agricultura, na pesca, na criação animal,
extrativismo vegetal e animal.
Os usuários do PAREST costumam cultivar diversas culturas agrícolas em
diferentes agroecossistemas, como por exemplo, nas roças e os quintais agroflorestais,
entremeados aos Sistemas agroflorestais (SAFs). Os quintais agroflorestais, segundo
Schimitt (2003), são áreas de produção, localizadas perto da casa, onde se cultiva uma
variedade de espécies agrícolas, florestais, medicinais e ornamentais e a criação de
pequenos animais com o objetivo de fornecer várias formas de bens e serviços como:
alimentos, ervas medicinais, fibras e outros produtos de uso na propriedade durante
todo o ano. A configuração multi-estratificada e a alta.
160
Figura 66. Produção familiar de farinha de mandioca na Aldeia Piranha, PAREST do Matupiri.
Fonte: NUSEC/UFAM(2013).
161
com 1000 ha de áreas cultivadas no município de Manicoré (município em o PAREST
está localizado).
30%
24%
Frequencia relativa
18%
12%
6%
0%
Culturas permanentes
162
Figura 68. Culturas temporárias cultivadas nos quintais agroflorestais e roças, PAREST do
Matupiri.
24%
Frequecnia relativa
18%
12%
6%
0%
Culturas temporárias
164
possível apenas quando houver interessados visitando a localidade. No entorno
referente à Manicoré, 50% dos criadores de animais, comercializam-nos.
As criações de bovinos (bois), de caprinos (carneiros) e de suínos (porco), foram
identificadas nestas localidades e estão diretamente relacionadas à capacidade de se
obter um dinheiro rápido quando houver alguma necessidade imediata. Desta forma, os
criadores possuem plantéis compostos por pequenos números de animais variando de 1
a 15 animais, exceto os carneiros, os quais foram observados apenas nas localidades em
Borba e foram vistos sempre 2 ou 3 animais por criador.
A criação de suíno se mostrou bastante expressiva, nas áreas referentes à Borba
(Figura 69), havendo criadores que já chegaram a possuir 100 animais para comporem o
plantel. Estes animais são vendidos pelo valor aproximado de R$ 100,00/uni e os
carneiros vendidos por R$ 180,00/uni, sendo tais normalmente vendidos na sede
municipal de Borba e em alguns casos a comercialização é feita também na própria
localidade, comunidade e/ou aldeia.
A maior parte destes criadores possuem criações de aves domésticas como
galinhas e patos (65%), havendo grande habilidade desenvolvida de manejo pelos seus
criadores, que possuem em média 17 aves, criadas para finalidade de consumo (Figura
69). Os moradores que comercializam chegam a ter planteis compostos por
aproximadamente 30 aves podendo chegar a 80 animais para a formação do plantel.
Figura 69. Panorama da criação animal desenvolvida pelos usuários do PAREST do Matupiri
residentes no município de Borba (%).
Figura 70. Panorama da criação animal desenvolvida pelas localidades indicadas como usuárias do
PAREST do Matupiri residentes no município de Manicoré/AM (%).
Figura 71. Animais silvestres criados na comunidade Jatuarana, Manicoré-AM, para as finalidades
de consumo (esquerda) e de estimação (direita).
166
O manejo de criação mais utilizado é o extensivo, metodologia adotada por 78%
dos criadores, que criam os animais soltos e sem delimitação de área. No entanto,
podem-se encontrar também criações animais em sistema semi-intensivo, em sistema
intensivo (Figura 72). O sistema intensivo é menos utilizado, pois demandaria maiores
recursos quanto: instalações, alimentação e mão-de-obra. Tal sistema é caracterizado
pela criação dos animais presos, totalmente dependente do seu criador.
Figura 72. Manejo adotado na criação de animais no entorno do PAREST do Matupiri (%).
167
acordos relacionados ao plano de gestão da UC em questão. As parcerias com outras
instituições que atuam nesta vertente, como o IDAM e a SEPROR devem ser estudadas
para viabilizar tais atividades.
Desta forma, correspondemos às necessidades das comunidades existentes no
entorno da UC, e cumprimos com a meta da categoria, de manutenção e conservação da
biodiversidade.
Tabela 24. Dados dos produtos não madeireiros no município de Borba/AM, em 2012.
168
Borracha 154 APRUEX toneladas 45 3,50
Total → 366
Tabela 25. Dados dos produtos vegetais não madeireiros no município de Borba/AM.
Fonte:IBGE,2011.
169
Estadual do Matupiri (Figura 73). A castanha, andiroba, açaí e copaíba são as quatro
espécies mais utilizadas pelos moradores dessa Unidade de Conservação (Figura 74). Os
dados fazem parte da pesquisa de campo realizada pela equipe do NUSEC (2013).
Figura 73. Principais produtos não madeireiros utilizados pelos moradores do Parque Estadual do
Matupiri/AM.
72%
64%
56%
Frequência relativa
48%
40%
32%
24%
16%
8%
0%
Figura 74. Principais produtos não madeireiros mais utilizados pelos moradores do Parque
Estadual do Matupiri/AM.
75%
60%
Frequência relativa
45%
30%
15%
0%
Castanha Andiroba Açaí Copaíba
170
Castanha (Bertholletia excelsa Humb. & Bonpl)
Tabela 26. Calendário de produção anual das atividades no extrativismo não madeireiro no
Parque Estadual do Matupiri/AM.
Produtos Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set Out Nov Dez
Cipó Titica X X X X X X X X X X X X
Cipó Ambé X X X X X X X X X X X X
Cipó Timbó X X X X X X X X X X X X
Amapá X X X X X X X X X X X X
Copaíba X X X X X X X X X X X X
Sucuuba X X X X X X X X X X X X
Açaí X X X X X X X
Bacaba X X X X X X X
Castanha X X X X X X X
Piquiá X X X
Uxi Liso X X X
Uxi Coroa X X X
Uxi X X X
172
Balata X X X
Patauá X X X X
Borracha X X X
Tucumã X X
Abiu X X
Buriti X
Mel X
Andiroba X
Sova X
Palha X
Tabela 27. Plano de Manejo Florestal em Pequena Escala (área até 500 ha) existente no Município
de Borba/Am.
Ecossistema
Planos Área
Propriedades
total
Nº de Pós- Principais Volume
dos
Extrativistas Nº de Novo
Exploratório Planos
Terra Firme espécies total (m³)
PMFSPE POA (ha)
(Nº) (ha)
173
( Nº )
Anoirá,
Angelim,
Punã,
30 30 3 5 5.700 5.700 1.680
acapú
PMFSPE - Plano de Manejo Florestal Sustentável de Pequena Escala / POA - Plano Operacional Anual
Fonte: IDAM, 2012.
Tabela 28. Principais produtos madeireiros utilizados pelos moradores do Parque Estadual do
Matupiri/AM.
N° Espécies Frequência Relativa
(%)
1 Itaúba 88
2 Marupá 48
3 Louro Cedro 48
4 Angelim 28
174
5 Acariquara 24
6 Louro 20
7 Cedrinho 20
8 Louro Itaúba 20
9 Envira Cutia 16
10 Laranjinha 16
11 Louro Paxiúba 12
12 Louro Rosa 12
13 Tintarana 12
14 Louro Capoeira 12
15 Piquiá 12
16 Piranheira 8
17 Itaúba Preta 8
18 Copaíba 8
19 Itaúba Surubim 8
20 Maparajuba 8
175
Tabela 29. Extração de madeira (m³) nos municípios que compõem a região do Madeira.
Madeiras - madeira em
tora (m³)
32.250 32.572 25.250 854
Total 692.830
Aldeia/Comunidade Número
participantes
Piranha (Indígena) 5
Sapucaínha (Indígena) 7
Tapagem (Indígena) 4
Sapucaia (Indígena) 3
Correia (Indígena) 1
Áreas de pesca
Figura 75. Limites do Parque Estadual do Matupiri e as áreas de pesca dentro e no entorno da UC.
178
Fonte: NUSEC/UFAM (2013).
Tabela 33. Áreas utilizadas para a exploração dos recursos pesqueiros dentro do Parque Estadual
do Matupiri.
Igarapé/Rio Coordenadas geográficas PS PC PE
179
Cózima 5° 7'8.59"S 61° 2'58.18"O 1 1 1
180
Mário 4°32'2.62"S 60°27'40.74"O 1 1 1
181
Cacaia 4°30'43.76"S 60°13'16.88"O 1 0 0
182
Figura 76. Principais ambientes de pesca na área do PAREST do Matupiri.
100
Frequência (%)
80
60
40
20
0
Igapó Lago Paraná Poço Rio /
igarapés
Ambientes de pesca
Finalidades %
Subsistência 74,1
Comercial 25,9
Tabela 36. Número de pescadores por comunidade, épocas em que praticam a atividade pesqueira
e forma de envolvimento com instituição de classe.
Comunidades N Épocas A NA
183
Sapucaia 100 Ano todo 5 95
Tabela 37. Peixes explorados pela pesca de subsistência e comercial ribeirinha, época de captura e
tipos de apetrechos utilizados.
184
Surubim julho a dezembro Linha comprida e malhadeira
Traíra Abril a julho Malhadeira, linha comprida
Tucunaré agosto a dezembro Malhadeira, linha comprida
Fonte: NUSEC/UFAM (2013).
Figura 77. Apetrechos de pesca utilizados pelos comunitários que pescam no Parque Estadual do
Matupiri.
25
Frequência (%)
20
15
10
5
0
Apetrechos de pesca
Figura 78. Lista dos principais peixes explorados pesca de subsistência e comercial ribeirinha no
Parque Estadual do Matupiri.
16
14
12
Frequência (%)
10
8
6
4
2
0
Tucunaré Jaraquí Traíra Surubim Piranha Matrinchã
Peixes
185
Pesca esportiva
Realizada nos períodos de seca, representa uma atividade economicamente muito
importante para as comunidades locais que exploram o PAREST do Matupiri,
principalmente as indígenas. Nesse período, muitos estrangeiros oriundos de outros
países, como os Estados Unidos, França e Espanha, são levados por empresários do ramo
para pescarem o tucunaré (Cichla spp.). Uma das empresas que atuam na região é “Liga
de Ecopousadas da Amazônia Brasileira”. Essa empresa apoia a fiscalização das áreas de
pesca dentro da RDS do Matupiri, e, antes da criação do parque, dentro da área do
Parque Matupiri, assim como a FUNAI.
Como contrapartida, as comunidades indígenas recebem uma compensação em
dinheiro que pode chegar a 120 mil Reais pela permanência dos pescadores esportivos
por 60 dias na área da RDS e Parque Matupiri. Entretanto a prática da atividade não é
bem vista por algumas comunidades (Tabela 38). Esse tipo de pescaria também foi
citado para a área do Parque mais próxima ao município de Manicoré. Nessa região, a
comunidade Jatuarana apoia a prática.
Piranha Igapó-Açu, Matupiri e Tem que continuar, pois é uma coisa muito boa para a
Tupana aldeia.
Tapagem Boca do Matupiri, Igapó Açú Para os indígenas não é uma coisa tão boa, pois o valor
pago pela compensação é muito pequeno.
Sapucaia Igarapé-açu, Matupiri e Ajuda pra vivência das aldeias por meio das
Tupana compensações
Correia Rio Matupiri e Igapó Açú Não é uma prática muito boa, pois prejudica os peixes
sofrem.
Pesca profissional
Os pescadores de fora atuam de duas maneiras no PAREST do Matupiri. Parte das
embarcações que adentram a UC sem conhecimento e autorização dos moradores do
entorno provenientes dos municípios de Manaus, Manacapuru, Borba e Autazes, visitam
as comunidades para comprar o pescado (Figura 79).
186
Figura 79. Origem das embarcações que compram pescado das comunidades que exploram a
região.
40
35
30
Frequência (%) 25
20
15
10
5
0
Manaus Borba Manacapuru Outras Autazes
regiões
Origem das embarcações
Outros pescadores que entram sem avisar ou pedir permissão, acessam os rios
Matupiri e Igapó-Açu pela rodovia BR -319 na época de verão, evitando assim o contato
com as comunidades. Os pescadores de fora exploram principalmente o tucunaré, o
tambaqui, alguns carás, peixe liso, pirapitinga, Matrinchã e jaraqui.
Conflitos
Somente uma comunidade entrevistada alegou não haver qualquer tipo de
conflito como outros grupos usuários. Todas as outras informaram a ocorrência do
evento e relacionaram com a entrada de pescadores de fora, fato que pode acontecer
com ou sem a permissão das comunidades (Tabela 39).
187
Tabela 39. Conflitos identificados entre as aldeias e comunidades que fazem uso do Parque do
Matupiri.
Comunidades Acordos Conflitos Quais?
188
utilizam a fauna silvestre através da caça, que é realizada ao longo dos rios, estradas, nas
roças e dentro dos castanhais, com a captura e o abate de animais, ocasionalmente
encontrados (caça oportunista). No entanto, quando estes se direcionam a área do
PAREST do Matupiri é prioritariamente para realizar a extração de produtos, seja de
origem vegetal, seja de origem animal. Neste segundo, a caça realizada é classificada
como caça premeditada a qual pode se dá com o uso de cachorros (Canis lupus
familiaris), com a utilização de armadilhas (caça de espera), e na modalidade varrido, o
qual consiste em formar um grupo de caçadores para procura do(s) animal(is)
silvestre(s) desejado(s), sendo a caça de espera a mais utilizada pelos entrevistados na
referida unidade de conservação.
O uso de cães, usados para a finalidade de caça, também foi relatada como uma
prática comum, usada principalmente para “acoar” cutias e outros roedores silvestres.
Esses animais são importantes, pois atuam também mantendo onças e outros animais
silvestres afastados dos domicílios. No entorno da UC, com acesso pelo município de
Manicoré, pouco foram os relatos referentes ao uso do PAREST do Matupiri. No entanto,
estes moradores afirmaram conhecer a área e possuírem uso histórico, apesar de não
utilizarem-na com frequência. Tal área foi utilizada no passado para e conforme o
mapeamento realizado tais moradores chegavam apenas até o entorno a coleta de sorva,
balata e coquirana do Parque em função da distância e logística para trazer o que foi
extraído. A necessidade de caçar na região do Parque foi diagnosticada, a qual se chegou
a números expressivos. Dos animais extraídos (caçados), 38% são retirados de dentro
do PAREST do Matupiri, e os usuários afirmaram ainda, conhecer bem a área da UC e
utilizar outras áreas da proximidade, esses dados foram obtidos na TI, área de maior
influência antrópica no Parque (Figura 80).
100%
80%
60%
40%
20%
0%
Animais caçados
190
As localidades identificadas pelo diagnóstico socioeconômico, que realizam a
atividade de caça no Parque Estadual do Matupiri foram às comunidades/localidades
indígenas: Aldeia Sapucaia, Aldeia Tapagem, Aldeia Correia, Aldeia Pacovão, Aldeia
Piranha, Aldeia Sapucainha Localidade Pires e Comunidade Vila Nova. Em relação às
localidades do entorno com acesso por Manicoré, os animais apontados como mais
caçados para consumo foram à paca (80%), os animais de grande e médio porte: os
porcos-do-mato como queixadas (Tayassu pecari) e caititu (Tayassutajacu); juntamente
coma cutia, macaco barrigudo e os cervídeos (veados) (Figura 82).
Figura 82. Animais mais caçados pelos moradores do entorno do PAREST do Matupiri com acesso
por Manicoré/AM.
Frequência dos animais caçados
80%
60%
40%
(%)
20%
0%
Animais caçados
191
Figura 83. Queixadas (Tayassu pecari) criadas na comunidade Jatuarana-Manicoré-AM, para as
finalidades de consumo (esquerda) e de estimação (direita).
192
Considerando este contexto, objetivou-se descrever a comercialização dos
produtos agroextrativistas e pecuários produzidos pelos agricultores familiares
indígenas moradores da região de entorno do PARQUE. É importante destacar que as
atividades do extrativismo praticadas pelos moradores são desenvolvidas dentro do
PARQUE, há mais de cinco décadas. Nesta época não havia sido criada, oficialmente, área
de proteção integral4 na categoria de PARQUE.
Esses moradores do entorno da UC, dos núcleos de Borba e de Manicoré
respectivamente, afirmaram ser a agricultura (58,6% e 41,7%), o extrativismo (27,6% e
16,7%), a pesca (6,9% e 8,3%) e a criação de animais domésticos (6,9% e 33%) as
principais atividades produtivas, por ordem de importância econômica. Portanto, a
agricultura é, para a maioria das comunidades, a atividade mais importante para
obtenção de renda durante a maior parte do ano.
193
Tabela 40. Produtos agrícolas vendidos (V) pelos moradores ao entorno do PAREST do Matupiri
por Núcleo (Borba e Manicoré).
Geral V Geral V
Núcleo de Borba
Núcleo de Manicoré
Macaxeira 4 3 80 60
Banana 5 2 100 40
Milho 3 2 60 40
Melancia 3 1 60 20
Gerimum 2 1 40 20
Abacate 2 1 40 20
Cupuaçu 1 1 20 20
Abacaxi 1 1 20 20
Feijão 1 1 20 20
Maxixe 1 1 20 20
194
Produtos Extrativistas Não Madeireiras
Geral V Geral V
Núcleo de Borba
Castanha 14 10 66,7 47,6
Cipó 10 5 47,6 23,8
Copaíba 10 4 47,6 19
Andiroba 9 4 42,9 19
Açaí 9 3 42,9 14,3
Buriti 3 3 14,3 14,3
Bacaba 7 2 33,3 9,5
Patauá 7 2 33,3 9,5
Mel de Abelha 4 2 19,0 9,5
Total 73 35 161,9 90,5
Núcleo de Manicoré
Castanha 4 1 80 20
Açaí 3 1 60 20
Andiroba 2 1 40 20
Seringa 1 1 20 20
Total 12 5 240 100
195
Atualmente, a castanha é um dos principais produtos comercializado pelos
moradores, pertencentes ao núcleo de Borba. A castanha é extraída pelos moradores e
vendida para os atravessadores (agentes de comercialização), que levam a produção das
comunidades em troca de dinheiro. A maioria da produção é comercializada na região
com destino para o município de Borba e Estado do Pará. O preço pago aos extrativistas
pela castanha varia entre R$ 35,00 e R$ 100,00 por saca, que tem 50 kg e o período da
safra vai de novembro a abril (Tabela 42).
Quantidade
Comunidades PARQUE Extraída Valor (R$) Destino
N°
Indígenas Entorno Dentro Saca (50 kg) Saca Arrecadado Produção
Aldeia
2 — 4 35,00 140,00 Atravessador/Borba
Tapagem
X
20 90,00 1800,00
Quantida
de Destin
N° Comunidades Produtos PARQUE Terra Extraída Valor (R$) o
Arrecadad Produç
Indígenas Extraídos Entorno Dentro Indígena Litros Litro o ão
Andiroba 10 13,00 130,00
Aldeia
1 — X — Região
Tapagem
Copaíba 50 14,00 700,00
Andiroba
Aldeia Atraves
3 — X — *NR 10,00 *NR
Sapucaia sador
Copaíba
Andiroba
4 Aldeia Piranha — — X *NR *NR *NR Região
Copaíba
A coleta dos frutos do açaí, bacaba, buriti e patauá realizada pelos moradores, é
uma pratica tradicional, e bastante comum dentro do PARQUE (Tabela 44). Essas
espécies frutíferas são usadas principalmente como fonte de alimento pelas famílias
locais. Porém, esses moradores conseguem extrair uma quantidade significativa, o que
acarreta a comercialização do excedente destes recursos, principalmente, para o
mercado regional de Borba e atravessadores.
197
Tabela 44. Dados da comercialização da produção dos óleos vegetais pelos moradores do entorno
do PAREST de Matupiri (Núcleo de Borba).
Quant.
Comunidades Produtos PARQUE Terra Extraída Destino
N°
Indígenas Extraídos Entorno Dentro Indígena Litros/ Produção
Sacas
Aldeia
Região
1 Piranha Açaí x X X 30 l
Região e
Açaí — X — 3s Borba
Buriti — X — 1s
Açaí — X — 10 s
Pataúa — X — 5s
198
Tabela 45. Produtos Madeireiros comercializados pelos moradores ao entorno do PAREST do
Matupiri/Núcleo de Borba.
Angelim — — —
Borba, Janaucá e
2 Aldeia Piranha Louro — X —
Autazes
Miratauá — X —
Acariquara — X — Manaus
Aldeia
4 Itaúba — X X
Tapagem
Louro — X X Região
Marupá — X X
Itaúba — — X
Angelim — — X
Aldeia
5 Marupá — — X Borba e Janaucá
Sapucainha
Cedrinho — — X
Louro — — X
Itaúba — X X
Marupá X X —
Louro X X X
Envira X — —
Aldeia
6 Região
Sapucaia
Tintarana X X —
Marajupá — X —
Angelim — X X
Acariquara — X X
199
Produtos Extrativistas Animal (pescado)
A pesca, seja ela a de subsistência ou para fins comerciais, é de fato uma atividade
muito importante nesta região durante todo o ano. Foram identificadas algumas
espécies de peixes que são comercializadas pelos moradores da área de entorno do
PARQUE, são: jaraqui, tucunaré e matrixã. A maior parte dos pescadores moradores do
entorno da UC comercializam seu pescado na sede do município de Borba-AM (Tabela
46).
Valor (R$)
Núcleo de Borba
Núcleo de Manicoré
Jaraqui 1 20,0 — — —
Curimatã 1 20,0 — — —
Total
200
Criação de Animais de Pequeno/Grande Porte
A criação de pequenos animais, como galinhas, patos e porcos ocorre nos quintais
e sítios familiares ao entorno do PAREST do Matupiri. Os animais de pequeno porte que
têm a maior representatividade na comercialização são: as aves e suínos. Ao contrário, a
criação de grande porte (bovinos) apresenta menor representatividade na
comercialização (Tabela 47).
Tabela 47. Criação de animais domésticos comercializados pelos moradores ao entorno do PAREST
do Matupiri por Núcleo (Borba e Manicoré).
Geral V Geral V
Núcleo de Borba
Núcleo de Manicoré
Ave 5 2 100 40
Suíno 3 1 60 20
Bovino 3 1 60 20
Total 11 4 220 80
201
Contudo, o diagnóstico mostrou que, apesar de ser um PARQUE, há de se pensar
em um Plano de Uso para essa região, pois existem pessoas que já exploram e
comercializam os recursos há mais de 50 anos. De acordo com DIEGUES (2004), as
florestas tropicais abrigam populações indígenas, ribeirinhas, extrativistas, pescadores,
que possuem seus próprios mitos e relações com a natureza. A legislação brasileira que
cria parques, muitas vezes retira essas populações destas áreas, causando problemas de
caráter ético, social, econômico, político e cultural. As populações tradicionais
desenvolvem modos de vida particulares que envolvem grande dependência dos ciclos
naturais.
202
reclamação da queda na receita dos indígenas oriundas do turismo de pesca pela
exclusão da área do parque no roteiro.
Todavia, o aspecto mais relevante na percepção dos indígenas é a questão da
criação de uma unidade de conservação de proteção integral numa área de uso histórico
deles sem a devida consulta. Este aspecto é o vetor que povoa os discursos sobre a
criação da UC em tom de lamento e indignação.
“Nós plantamos, cuidamos e na hora de colher não podemos...”
(Pedro Tcheré, tuxaua da Aldeia Piranha).
203
Esse entendimento, de certa forma, serviu como atenuante para a questão da
exclusão deles na consulta pública quando da criação do Parque. Isso foi resultado de
um diálogo lento e gradual, iniciado pela Chefia da UC, e que somente agora colhe frutos
ilustrados na recepção mais aberta destes para com as equipes de pesquisa. Essa relação
foi ilustrativa quando alguns depoimentos indicaram que já houve viagem à passeio para
o Parque, descaracterizando o uso exclusivo para trabalho, e que havia intenção de que
a área seja conservada no sentido de deixá-la como herança para as novas gerações.
Outro aspecto da percepção desse povo com a UC é a relação de afinidade com o
lugar. Havia alguns deles que moravam mais próximo e tinha a área do Parque em seu
raio de uso cotidiano. Embora tenham saído antes da criação, estes mantiveram o uso
dos recursos e demonstram perplexidade por não terem direito sobre algo que sempre
fez parte do seu cotidiano. Todavia, estes também parecem estar incorporando o
discurso do “empréstimo” da para o governo estadual, uma vez que as condições de
defesa deles em relação à área são bem mais limitadas.
Nas áreas de entorno que compreendem o município de Manicoré, Ramal de
Manicoré e PAE Jenipapo, a perspectiva é diferenciada.
No Ramal de Manicoré existem indígenas e ribeirinhos. Embora os ribeirinhos já
tenham ouvido falar no Parque, estes não são usuários frequentes e tem uma relação
pequena com a área tendo uma percepção positiva voltada para a BR319 e, em certo
nível, indiferente em relação ao Parque. O fato de haver uma associação mãe da RDS Rio
Amapá, faz que as atenções sejam voltadas a esta relegando à segundo plano questões
relacionadas ao Parque.
Também localizada no Ramal de Manicoré, a Aldeia Camaioá, com etnia Mura e
Munduruku, possui uma percepção sobre o Parque é diferenciada daquela verificada na
TI Cunhã Sapucaia. Primeiramente, estes não residem numa TI demarcada, mas existe
um pedido em trâmite junto à FUNAI de uma área que contempla uma porção do Parque.
E em segundo, afirmaram que estavam sabendo da existência do Parque na
oportunidade de pesquisa e indicaram uso de recursos da área deste. Em terceiro, eles
têm um solicitação de demarcação de suas terras que contemplam a área do parque.
A visita a essa aldeia foi bastante ilustrativa para traçar a percepção destes em
relação ao Parque. Após, tomarem ciência de que a área que eles reivindicam está
contida no Parque, eles e recusaram a participar da pesquisa alegando que ao aceitarem
participar, estariam legitimando o Parque e enfraquecendo o pleito deles de demarcação
204
da terra. Isso representa a forma como eles veem a UC enquanto território dado pelo
estado, que passa a ser diferenciado considerando que, outrora, consistia numa área de
uso tradicional.
No PAE, o acesso à área do parque se dá pelos caminhos que restaram da época
da extração de sova e balata e é feita somente pelos mais antigos. A distância e o difícil
acesso são determinantes para a percepção destes sobre o Parque que se restringe à
memória dos mais antigos acerca de um território de trabalho aonde pouco se vai e
apenas constitui a lembrança de um lugar bonito pela biodiversidade. Todos os
entrevistados responderam ter ciência da existência de um Parque, e alguns dos
moradores da comunidade Santa Maria do Poção afirmara ir uma vez por ano para lazer.
Em relação à restrição uso, na comunidade Braço Grande foi afirmado que é bom que
seja divulgado para que não acabem os recursos.
Em síntese, a percepção sobre o Parque Estadual do Matupiri compreende
apreensões diferenciadas que estão relacionadas com o referencial de relação com a
área que compreende a UC e informações sobre a área enquanto uma unidade de
conservação de proteção integral. Algo transversal nesse mosaico refere-se ao uso
histórico que, embora seja verificado de forma diferenciada entre os grupos, encontra-se
no cerne da percepção deles enquanto experiência empírica com a área. Tais acúmulos
de vivências se metamorfoseiam a uma territorialidade institucional que, ao não
dialogar adequadamente com os modos de vida tradicionais, se torna estranha ao
cotidiano resultando em grande dificuldade na implementação das UCs e, por vezes,
resistência a esta.
205
8. ASPECTOS INSTITUCIONAIS
206
8.1. RECURSOS HUMANOS E INFRAESTRUTURA
O Parque Estadual do Matupiri conta atualmente com um gestor, que reside na
sede do município de Careiro Castanho. Até o fim de 2012, o gestor da UC estava alocado
em uma sala cedida pela Secretaria Municipal do Meio Ambiente, porém o espaço foi
solicitado pelo ex prefeito, o que deixa o gestor atualmente sem local no município.
Utiliza, então, sua residência como escritório para articular e realizar suas demandas.
Para chegar às mediações do parque, o gestor da unidade tarda 2 dias, e ainda,
como não há moradores no interior, suas ações são voltadas às comunidades do entorno,
relacionadas com a utilização do parque. O gestor vai ao local seguindo alguma
denúncia, quando a população solicita sua presença em alguma reunião, ou então para
acompanhar alguma atividade planejada, como monitoramento da área e averiguação
dos equipamentos que ficam em campo.
Os chefes de UC contam com o apoio e suporte técnico de equipes do CEUC/SDS
situados em Manaus. No caso do Parque Estadual do Matupiri, o gestor conta com o
apoio de parceiros em Borba: o IDAM, que auxilia com infraestrutura para ação no local,
já que os pertences da unidade ficam no município de Careiro Castanho, e a FUNAI, que
auxilia nas ações com a população indígena do local; e em Manicoré: através do líder do
PAE Jenipapo, que acompanha as atividades, além de mobilizar a população quando
necessário. Em Manicoré, possui também parceria com a presidência da Associação Mãe
da RDS do Rio Amapá, onde o presidente o auxilia em suas idas nas comunidades do
Ramal de Manicoré.
Quanto à infraestrutura, a UC adquiriu uma serie de equipamentos necessários
para a gestão e fiscalização que ficam lotados no município de Careiro Castanho. São
eles: laptop, impressora, GPS, máquina de foto, no break, caminhonete e gerador. Por não
ter base, todos estes materiais ficam na residência do Gestor. Os comunitários, quando
procuram o Gestor, vêm na casa do mesmo.
Além destes equipamentos, o gestor conta também com uma voadeira que fica na
RDS do Igapó Açú e o Gestor mantêm um acordo verbal com um morador para vigiá-la.
O morador é pago com recurso particular do Gestor (rancho e gasolina), pois o CEUC não
tem recurso para manutenção de terceiros.
207
8.2. ESTRUTURA ORGANIZACIONAL
De acordo com o Art. 6.o do SEUC, a gestão é feita pelos seguintes órgãos, com
suas respectivas funções:
-Órgão Central: SDS (Secretaria de Estado do Meio Ambiente e Desenvolvimento
Sustentável, com a função de estabelecer normas de gestão e coordenar o processo de
criação, implantação e reclassificação das UCs estaduais.
-Órgão Supervisor: CEMAAM (Conselho Estadual de Meio Ambiente do Estado do
Amazonas), com a função de avaliar a implementação do SEUC.
-Órgãos Gestores: CEUC (Centro Estadual de Unidades de Conservação), com a
função de estabelecer políticas e programas de gestão das UCs estaduais.
-Órgãos Fiscalizadores: IPAAM (Instituto de Proteção Ambiental do Estado do
Amazonas) e as Secretarias Municipais de Meio Ambiente são os órgãos com a função de
licenciar e fiscalizar atividades potencial ou efetivamente poluidoras ou degradadoras,
inclusive nas Unidades de Conservação e sua Zona de Amortecimento, aplicando as
correspondentes sanções administrativas.
Além desses órgãos governamentais, o SEUC prevê a criação de um conselho
consultivo, no caso dos Parques Estaduais, para auxiliar na tomada de decisão sobre a
gestão da área, o qual deve ser presidido pelo representante do Órgão Gestor (CEUC) e
constituído de representantes de órgãos públicos, de organizações da sociedade civil,
das comunidades tradicionais e população usuária da área. O processo para a criação do
Conselho Gestor do Parque Estadual do Matupiri na época da pesquisa de campo ainda
estava tramitando, com sua composição prevista para agosto.
Quanto à organização social atual, a população indígena conta com uma
associação, a Organização Indígena do Povo Mura da Terra Indígena Cunha Sapucaia
(OIPMTCS) para organizar as suas tomadas de decisão. A população residente no PAE
Jenipapo está organizado, formando a “Associação dos moradores agroextrativistas da
Comunidade de Braço Grande do PAE Jenipapo”, e os moradores da região da RDS Rio
Amapá se organizam na associação “Central das Associações Agroextrativistas
Democracia”
208
9. ANÁLISE E AVALIAÇÃO ESTRATÉGICA
209
Para a análise e avaliação estratégica para consolidação do Plano de Gestão do
Parque Estadual do Matupiri foram conduzidas oficinas com públicos alvo diferenciados,
utilizando-se a ferramenta matriz SWOT (Strenghts, Weaknesses, Opportunities e
Threats) ou Forças, Fraquezas, Oportunidades e Ameaças (F. O. F. A.).
O principal objetivo da construção participativa da matriz SWOT foi permitir um
olhar valorativo das forças que compõem a UC, possibilitando uma avaliação estratégia a
partir de definições de questões-chave identificadas pelos stakeholders5; no caso, os
usuários da UC e os pesquisadores e analistas ambientais que elaboraram o diagnóstico
da unidade. Esses atores foram envolvidos por entender-se que, de alguma forma, eles
podem contribuir ou ser envolvidos nas ações preconizadas no Plano, nas suas
diferentes vertentes. Assim, os stakeholders identificados são elementos essenciais ao
planejamento estratégico do Plano de Gestão (FUSCALDI e MARCELINO, 2008).
A primeira série de oficinas foi realizada nas campanhas de campo com a
participação da população residente e usuários do entorno da Unidade de Conservação,
por ocasião do mapeamento das áreas de uso. A segunda série de oficinas foi realizada
em Manaus e envolveu todos os pesquisadores, coordenadores de áreas e coordenação
geral do Programa de Implementação das Unidades de Conservação Estaduais do
Amazonas na área de Influência da BR-319 (PIUC).
Os resultados das oficinas geraram matrizes para cada ordem de fatores:
Fortaleza (+), Fraquezas (-), Oportunidades (+) e Ameaças (-). Fortalezas e Fraquezas
foram consideradas como sendo fatores internos da Unidade de Conservação e do órgão
gestor, bem como do próprio sistema que regulamenta as Ucs do Estado do Amazonas
(SEUC). São fatores que atualmente estariam impedindo ou dificultando que os objetivos
das UCs sejam alcançados, ainda que tais fatores estejam sob o controle dos atores
sociais locais (moradores e gestores). As Ameaças foram consideradas como sendo os
fatores externos que, no presente, estariam influenciando o processo de implementação
das Unidades de Conservação em questão, sem, no entanto, estarem sob a
governabilidade dos gestores da UC ou dos seus moradores. As oportunidades são
fatores externos e internos que representam potenciais que devem ser almejados e por
tanto se referem a um estado futuro desejável. As Oportunidades são atitudes e
5
Stakeholder (em português, parte interessada ou interveniente), é um termo usado referente às partes
interessadas que devem estar de acordo com as práticas de governança de determinadas organizações.
210
iniciativas que viabilizam defesas contras as Ameaças, superação das Fraquezas e
aproveitamento ótimo das Fortalezas.
Após análise de conteúdo dos resultados das oficinas, os fatores apontados foram
analisados quanto à sua relevância e em seguida agrupados e analisados segundo sua
dimensão de origem ou interferência. Os fatores internos positivos (i.e., Fortalezas) e
negativos (i.e., Fraquezas) apontados pelos avaliadores foram analisados segundo
quatro dimensões de origem: sociopolítica, institucional, ambiental e cultural (Tabelas
48 e 49). Os fatores externos negativos (i.e., Ameaças) e positivos (i.e., Oportunidades)
foram analisados segundo três dimensões afetadas: da Conservação, Econômica e do
Desenvolvimento social (Tabelas 50 e 51).
Entre as Fortalezas identificadas, grande parte está associada à presença das
comunidades indígenas do entorno, principalmente aquelas da TI Cunhã Sapucaia. Estas
populações são responsáveis pelo atual estado de conservação do Parque uma vez que
historicamente vêm controlando o acesso e o uso dos recursos na área. São grupos
sociais com elevado grau de organização sociopolítica o que permite um diálogo mais
qualitativo, uma vez estabelecidas parcerias para a gestão local integrada. Sendo a única
unidade de proteção integral no setor norte do interflúvio, seu excelente estado de
conservação e a ocorrência de ecótonos (manchas de campinas) representa alta
probabilidade para ocorrência de endemismos e de descoberta de novas espécies para a
ciência.
Entre os fatores que constituem fragilidades foram mencionadas questões afetas
à dispersão dos moradores do entorno e à exclusão dos indígenas da TI Cunhã Sapucaia
das discussões para a criação do Parque. Do ponto de vista geográfico (ambiental), o
isolamento, a multiplicidade de vias de acesso e a logística desses acessos dificultam as
ações de gestão. Outros fatores destacados se referem à diversidade sociocultural dos
segmentos sociais que ocupam o entorno do Parque, o que pode vir a dificultar o diálogo
entre esses segmentos. As análises também apontam para o potencial de conflito
territorial em razão dos objetivos da unidade de conservação (proteção integral) e o uso
atual de seus recursos naturais pelas populações do entorno.
Entre os fatores considerados como Ameaças foram destacados aqueles
associados com a invasão de barcos pesqueiros e a exploração de outros recursos
naturais por invasores cuja pressão deverá aumentar em decorrência da revitalização da
BR-319 e AM-464: risco de aumento do desmatamento e alto nível de pressão sobre a
211
área do parque que é próxima a BR e tem como seu limite a AM-464. Do ponto de vista
das atividades econômicas, merece destaque a problemática do turismo empresarial de
pesca esportiva que ocorre na região. Na atualidade, a atividade representa uma fonte de
renda para os indígenas mediante acordo com empresa que explora o serviço, que pode
vir a ser questionado judicialmente. Temas como a erosão do conhecimento tradicional e
o conflito intergeracional também foram apontados como ameaças às comunidades
indígenas do entorno.
Entre as oportunidades, foram indicadas a elaboração de uma proposta para o
sistema de fiscalização integrada e o desenvolvimento de instrumentos jurídicos que
contemple o uso histórico dos recursos naturais do parque e também para a
regulamentação do turismo na TI. Atendendo à vocação da UC, há ainda a oportunidade
para o desenvolvimento do plano de uso público da área e programa de pesquisa
científica.
212
Tabela 48. Fortalezas do PAREST do Matupiri identificadas nas oficinas de avaliação estratégica participativas.
DIMENSÕES
Existência de segmentos sociais Atitude proativa de gestão do parque Única unidade de proteção integral Uso e manejo tradicional histórico dos
organizados no entorno do parque (TI que estabeleceu o diálogo com as que compondo um mosaico de áreas recursos pelos indígenas que foi
Cunhã Sapucaia) que podem dar comunidades indígenas do entorno, protegidas na porção norte da responsável pela atual estado de
suporte à vigilância. Destaque para a como efeitos positivos do tratamento interflúvio Purus-Madeira. O que pode conservação da área.
TI Cunhã Sapucaia que consiste na de potenciais conflitos territoriais. ser aproveitado no processo de
principal entrada para o Parque. governança socioambiental.
Lideranças locais muito bem Participação das organizações CAAD – Abundância dos Recursos Naturais, Educação formal indígena que
articuladas e informadas: a formação RDS do Rio Madeira e Comissão do tais como a fauna e riqueza de promove a afirmação da identidade
política das lideranças permite um PAE Jenipapo no Conselho Gestor. ambientes com a presença de cultural das comunidades e com
diálogo e facilita o processo de boa Representam o entorno sul do Parque fragmentos de campinas desdobramentos na gestão do Parque.
governança. e são estratégicas para apoiar as ações
da gestão.
Interesse dos indígenas em Existência da OIMPITCS: que atua Isolamento atual da área do Parque - O Ricos repertórios de conhecimentos e
desenvolver turismo de bases politicamente como representação fato deste se localizar numa área práticas tradicionais das comunidades
comunitárias intercultural formal dos indígenas remota facilita a conservação no locais sobre o manejo e o uso de
moradores do entorno. sentido da dificuldade de acesso para recursos naturais que devem ser
exploração ilegal de recursos. considerados na gestão da área.
Apoio dos indígenas na preservação do Potencial de endemismo e novos
Parque como proteção da Terra registros biológicos.
Indígena.
213
Tabela 49. Fraquezas do PAREST do Matupiri identificadas nas oficinas de avaliação estratégica participativas.
DIMENSÕES
214
Tabela 50. Ameaças do PAREST do Matupiri identificadas nas oficinas de avaliação estratégica participativas.
DIMENSÕES
Invasão de barcos pesqueiros prejudicando os Pesca esportiva ilegal: acordo informal entre Ausência institucional de todas as esferas: a ausência
moradores: os depoimentos, principalmente dos empresa e lideranças indígenas da TI Cunhã dos serviços públicos para as populações do entorno
indígenas, evidenciam que existe invasão da área do Sapucaia gerando renda para estes pode sofrer compromete a permanência destas ali resultando na
Parque para pesca comercial. intervenções de ordem judicial acarretando em diminuição de pessoas para a “vigilância” da área.
conflitos com os indígenas, que defendem a atuação
da empresa por ser a única fonte de renda fixa.
Revitalização da BR-319 e AM-464: risco de aumento Falta de estrutura para o desenvolvimento do uso Erosão do conhecimento tradicional: implica em
do desmatamento e alto nível de pressão sobre a público: não existem iniciativas de promover o uso perdas irreparáveis de conhecimentos milenares
área do parque que é próxima a BR e tem como seu público da área. sobre a natureza e a forma de etnoconservação
limite a AM-464. responsável pela configuração atual da floresta.
Caça ilegal de coleta de ovos (quelônios) – invasores: Conflito intergeracional: as diferentes percepções
invasão para exploração dos ovos de quelônios. das novas gerações incorre em perdas no
conhecimento tradicional e num déficit de sucessão
de lideranças entre os indígenas, principalmente.
215
Tabela 51. Oportunidades do PAREST do Matupiri identificadas nas oficinas de avaliação estratégica participativas.
DIMENSÕES
Implementar sistema de fiscalização: proposta de Desenvolvimento da cadeia produtiva do Artesanato Dialogo interinstitucional para a governança: o
um sistema de fiscalização que contemple a indígena, como estratégia de geração de renda, com diálogo interinstitucional é imprescindível para se
complexa geografia do Parque. base em princípios da sustentabilidade ambiental e pensar em alternativas sociais, econômicas e de
cultural; conservação para o Parque.
Garantia de uso histórico dos recursos naturais do Aproveitamento do Potencial turístico do Parque. A Divulgação ampla do Parque para população local e
parque (termo de compromisso) através da criação presença dos indígenas da TI Cunhã Sapucaia no escolas do município para a divulgação do
de um instrumento jurídico (p.ex., termo de entorno do parque pode ser um atrativo para a conhecimento acerca das áreas protegidas
compromisso) que permita a concessão de uso promoção de um turismo. esclarecendo a visão sobre estas.
específico da área.
Regular atividade de pesca esportiva no entorno da Serviços ambientais: acompanhar as discussões no Ações de incentivo ao resgate e valorização do
UC: a regulamentação da atividade de pesca âmbito do Estado do Amazonas para acompanhar o conhecimento tradicional, integradas com as
esportiva no entorno pode concorrer para a baixa na seu avanço e verificar a possibilidade de inserir o universidades para inclusão dos saberes locais nas
pressão de uso do parque para esse fim. Parque no contexto. ações de conservação.
Desenvolver coleções biológicas da UC com A atuação das agências de desenvolvimento (p. ex., Formação de lideranças em todos os segmentos
estrutura para visitação: como alternativa de IDAM) junto às populações do entorno promovendo sociais do entorno como forma de fortalecer a
conservação no Parque e geração de renda para as a extensão rural visando a geração de renda baseada participação comunitária no conselho e demais
populações. na agricultura familiar, diminuindo a pressão sobre espaços de discussão sobre a questão ambiental
os recursos do Parque. (Conselhos Municipais, etc.).
Pesquisa – articulação de recursos via FAPEAM: em Desenvolvimento de estrutura para o uso público do Ampliar o diálogo com a Aldeia Camaioá do Ramal
atenção ao artigo 45 do SEUC, é possível articular um Parque como espaço de visitação da população para de Manicoré (AM-464): promover a aproximação
edital conjunto entre SDS, SECTI e FAPEAM com o desfrute de suas amenidades a atrativos naturais. com a aldeia Camaioá para maiores esclarecimentos
objeto específico que seria a pesquisas nas UCs da sobre o contexto do Parque de forma a contar com
área de influência da BR-319. A FAPEAM pode estes no processo de governança da área.
dispor os recursos necessários para a ação.
216
217
O Parque Estadual do Matupiri é parte de um conjunto de áreas protegidas
extremamente importante no ordenamento da área de influencia da BR319. Com o
anúncio de pavimentação do trecho entre Manaus-Porto Velho, provocou grandes
especulações e ocupações desordenadas, com isso a região de entorno da BR319 foi
decretada como Área sob Limitação Administrativa Provisória – ALAP, que teve como
objetivo suspender a concessão de novas licenças ambientais e propor a criação de
unidades de conservação ao final do processo. A ALAPBR-319 possuía uma área total de
8.266.235,00 ha. Após a conclusão dos processos de criação de áreas protegidas, ficaram
constituídas 53 áreas Especiais (antigas e novas) que incluemTerras Indígenas,
Unidades de Conservação Federais e Estaduais (Figura 84).
Áreas Livres
9% Terras indigenas
Assentamentos
17% 8%
UCs Estaduais
23%
Outra
24%
UCs Federais
42%
Parque Matupiri
1%
218
Figura 85. Áreas prioritárias para conservação Estado do Amazonas e localização de Unidades de Conservação Estaduais na área de influência da BR-
319.
219
Através do diagnóstico biológico, foi possível observar que o Parque Estadual do
Matupiri é um importante componente do grande sistema da Floresta Amazônica, pois
além de se encontrar em ótimo estado de conservação, apresenta grande diversidade, o
que aponta a importância da Unidade dentro do bioma tropical.
A unidade é representada em 91% de sua extensão territorial pela Floresta
220
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238
12. ANEXOS
239
Anexo I. Decreto de Criação do Parque Estadual do Matupiri.
240
241
Anexo II. Áreas Protegidas no Estado do Amazonas.
242
Anexo III. Lista detalhada do material botânico coletado na PAREST do Matupiri.
Hábito
Arbóreo
Arbusto
Licania sp.2
Maieta sp.
Meriania urceolata
Miconia sp.1
Tococa guianensis
Tococa nitens
Palicourea nitidella
Remijia firmula
Retiniphyllum chloranthum
243
Árvore
Arvoreta
Epífita
Erva terrestre
Cyperaceae
Becquerelia cymosa
Lagenocarpus rigidus
Lagenocarpus sp.
Mapania sp.
Miconia ciliata
Pachyloma huberioides
Tibouchina sp.2
Epistephium parviflorum
Rubiaceae
Palicourea nitidella
Psychotria amplectens
244
Sipanea pratensis
Xyris savanensis
Xyris sp.
Xyris stenocephala
Hemi-parasita
Liana herbácea
Palmeira
Anexo IV. Lista taxonômica das espécies de peixes coletadas no PAREST do Matupiri, municípios
de Borba e Manicoré, Amazonas.
CHARACIFORMES
CHARACIDAE
CRENUCHIDAE
ERYTHRINIDAE
245
Hoplerythrinus unitaeniatus (Agassiz,
1829) Jeju 2 1 25%
GASTEROPELECIDAE
Peixe-
Carnegiella strigata (Günther, 1864) Borboleta 2;3;4 1+1+1 75%
LEBIASINIDAE
SILURIFORMES
ASPREDINIDAE
AUCHENIPTERIDAE
CETOPSIDAE
HEPTAPTERIDAE
TRICHOMYCTERIDAE
GYMNOTIFORMES
HYPOPOMIDAE
GYMNOTIDAE
CYPRINODONTIFORMES
246
RIVULIDAE
PERCIFORMES
CICHLIDAE
Anexo V. A Lista das espécies de anfíbios e répteis registradas no Parque Estadual do Matupiri.
Ambientes
Categoria Taxonômica Nome Comum Métodos
CAM CAP IGA
Família Aromobatidae
Família Bufonidae
Família Centrolenidae
Perereca-de-
6. Hyalinobathrachium sp. vidro X PV
Família Eleutherodactylidae
Família Hylidae
Dendropsophus marmoratus
8. (Laurenti, 1768) Perereca X
9. Perereca X
Dendropsophus parviceps
247
(Boulenger, 1882)
Osteocephalus buckleyi
12. (Boulenger, 1882) Perereca X PV
Família Leptodactylidae
Leptodactylus discodactylus
17. (Boulenger, 1884) Rã X X X PV
Leptodactylus pentadactylus
19. (Laurenti, 1768) Rã X X PV
Leptodactylus rhodomystax
20. Boulenger, 1884 Rã X X X PV, VO
Família Microhylidae
Família Dactyloidae
Família Sphaerodactylidae
Chatogekko amazonicus
24. (Andersson, 1918) Osga X PT, EO
248
25. Gonatodes hasemani Griffin, 1917 Osga X PT
Família Gymnophthalmidae
Alopoglossus atriventris
26. (Duellman, 1973) Calango
Arthrosaura reticulata
27. (O'Shaughnessy, 1881) Calango X PT
Família Mabuyidae
Família Tropiduridae
Uranoscodon superciliosus
32. (Linnaeus, 1758) Tamacuaré X PV
Família Teiidae
Família Typhlopidae
Cobra-de-
PT
35. Typhlops sp. duas- cabeças
Família Boidae
Família Dipsadidae
Oxyrhopus melanogenys
40. (Tschudi, 1845) Falsa-coral X PV
249
41. Taeniophallus sp. Cobra-cipó PT
Família Viperidae
Nota: Ambientes: CAM = Campina; CAP = Campinarana; IGA = Igarapé; Métodos: PV = Procura Visual; PT =
Pitfall; VO = Vocalização; EO = Encontro ocasional; CT = Colaboração de terceiros.
Anexo VI. Lista preliminar de espécies de aves registradas no Parque Estadual do Matupiri.
250
PSITTACIDAE Orthopsittaca manilata maracanã-do-buriti D, R
251
Phaethornis philippii rabo-branco-amarelo D, R
252
Thamnophilus murinus choca-murina D, R
Xiphocolaptes arapaçu-vermelho R
promeropirhynchus
253
(Tyrannoidea)
254
Dacnis cayana saí-azul R
Sporophila sp. R
Nota: A sequência dos nomes científicos e os nomes populares seguem a recomendação do CBRO (2011).
Os registros referem-se a Ricardo Almeida (R) e Dante Buzzetti (D).
Anexo VII. Lista Lista de espécies de mamíferos que ocorrem nas áreas de Campinas/Campinaras,
no PAREST do Matupiri e Entorno.
Xernathra
255
Choloepus preguiça- Referencia LC Amazônia
didactylus real bibliográfica
Primates
Carnivora
256
Leopardus jaguatirica Rohe et al LC Américas
pardalis 2012
Artiodactyla
Perissodactyla
Rodentia
257
sul
Didelphimorphia
258
APÊNDICE
Apêndice I. Pranchas de Fotos de Anfíbiose Répteis no PAREST do Matupiri.
259
Prancha 2 – Anfíbios: 9) Phyzelaphryne miriamae; 10) P. miriamae (ventre); 11) Hypsiboas aff.
Lanciformis (sp nova); 12) H. aff. lanciformis (ventre); 13) Osteocephalus buckleyi; 14) Osteocephalus
taurinus; 15) Edalorhina perezi; 16) E. perezi. Fotos: Vinícius T. de Carvalho.
260
Prancha 3 – Anfíbios: 17) Leptodactylus hylaedactylus; 18) Leptodactylus andreae; 19) Leptodactylus
discodactylus; 20) L. discodactylus (ventre); 21) Leptodactylus rhodomystax; 22) Leptodactylus
pentadactylus; 23) Syncope bassleri; 24) Ctenophryne geayi. Fotos: Vinícius T. de Carvalho.
261
Prancha 4 – Lagartos: 1) Gonatodes hasemani; 2) Arthrosaura reticulata; 3) Cercosaura ocellata (fêmea);
4) C. ocellata (macho); 5) Kentropyx calcarata; 6) Iphisa elegans; 7) Norops fuscoauratus; 8) N.
fuscoauratus (detalhe da região gular - papo). Fotos: Vinícius T. de Carvalho.
262
Prancha 5 – Serpentes: 1) Typhlops sp.; 2) Typhlops sp. (detalhe da cabeça); 3) Corallus hortulanus; 4)
Drepanoides anomalus; 5) Taeniophallus sp.; 6) Erythrolamprus pygmaeus; 7) Xenopholis scalaris; 8)
Bothrops atrox. Fotos: Vinícius T. de Carvalho.
263
Apêndice II. Vista aérea e terrestre dos ambientes amostrados no PAREST do Matupiri.
A B
C D
264
1) Vista aérea da campina, 2 e 3) Detalhe da vegetação rasteira e dos capões. Fotos: Vinícius T. de
Carvalho.
265
1) Vista aérea da Área de campinarana, 2) Detalhe de uma palmeira Buriti e 3) Detalhe da folha de Buriti.
Fotos: Vinícius T. de Carvalho.
266
1) Vista do Igarapé de primeira ordem, 2) Detalhe da profundidade neste trecho do rio e
colaração da água, 3) Detalhe da altura do barranco na margem direita do igarapé. Fotos:
Vinícius T. de Carva
267
Apêndice III. Algumas espécies de aves amostradas durante os trabalhos de campo no PAREST do
Matupiri.
B
A
D
C
PRANCHA 2 - A) Dolospingus fringiloides, B) Elaenia ruficeps (espécies típica das campinas amazônicas),
C) Gymnopithys salvini, fêmea e D) macho (espécie endêmica da área de endemismo Inambari).
268