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PARECER
ALUNO:
R.A.:
TURMA: DGEFL1801BRTA0O
20
Análise do Documentário: Pro Dia Nascer Feliz (2007)
O documentário dirigido por João Jardim, de inspirador só tem o nome. Aliás, o título
da filmagem é uma grande ironia, e nos mostra uma realidade devastadora: o
sucateamento da educação, a falta de interesse de alunos e professores, e o insucesso
escolar. As cenas começam a nos mostrar uma escola do interior da cidade de
Pernambuco: uma realidade que, de certa forma, já se era esperada: uma escola sem a
menor estrutura, pois faltam até os quesitos mais básicos como papel higiênico e
descarga nos banheiros. Os recursos didáticos não existem. Um funcionário diz que o
pouco dinheiro que chega à escola se perde, com gastos de contador, impostos que a
prefeitura não perdoa e outros. Os alunos, muitas vezes, não podem frequentar as aulas
porque o transporte destinado a eles quebra frequentemente. Estes são atos que vão na
contramão do Artigo 4º, incisos VIII e IX da Lei de Diretrizes e Bases de 1996:
Mais triste ainda é ver a culpa sendo jogada de setor em setor: os alunos culpam os
professores, que muitas vezes faltam, mandam substitutos e não conhecem os próprios
alunos. Os professores culpam os alunos que não estão “interessados” em aprender, e
por isso ficam desmotivados a trabalhar. É um ciclo vicioso negativo que fere diversos
artigos da LDB/96, como podemos ver abaixo, nos artigos destinados às funções das
instituições escolares e dos docentes:
Infelizmente estes não são os únicos artigos desrespeitados. Se formos analisar com
calma, todo o sistema está infringindo as leis determinadas. A própria fala do
funcionário, sobre a falta de verba da escola pode ser justificada pela falta de
cumprimento daquilo que foi estabelecido pela Constituição de 1988, segundo Serrazes
e Corrêa (2013), que cada instância deverá destinar porcentagens mínimas de seus
repasses para a educação. A União deverá aplicar em educação 18%, e os Estados e
Municípios nunca menos de 25%. Ao ver a situação desta escola do interior de
Pernambuco, não fica difícil entender que algo está muito errado.
E então João Jardim nos leva para outro extremo: um colégio particular em Alto de
Pinheiros, na cidade de São Paulo, cuja mensalidade beira os R$ 1.600,00. A princípio
pensamos que a realidade seria diferente, mas não é. Alunos desmotivados, sonolentos,
depredação do patrimônio escolar, tudo isso em um colégio católico destinado à elite
paulista. Os alunos não conseguem organizar seu pensamento, e colocam a culpa na
falta de carinho dos pais, ou mesmo na pressão que estes impõem para que os filhos
tirem boas notas. É um quadro sério de depressão, violência velada e crises existenciais.
Os alunos não fazem ideia do abismo social que há entre eles e a periferia. Uma das
alunas relata que “gostaria” de ajudar os mais necessitados, mas que isso implicaria em
sair de suas aulas de natação, de yoga, e atrapalharia sua rotina. Destaca ainda que não
tem “culpa” de ter nascido em uma família rica, e que deve aproveitar as oportunidades
que o dinheiro lhe dá. A desmotivação dos alunos é cheia de lamentos, e isso pode ser
provado na cena da garota que chora e se emociona porque acha que “estuda demais e
acaba se tornando mulher de menos”. Outra aluna comemora ter passado de ano, pelo
conselho (que não pôde ser filmado), mas que nos dá a entender que o aluno é visto
como “cliente”, e como diz a sabedoria popular: “o cliente sempre tem razão”. É um
desrespeito, para não dizer um desacato, com as leis educacionais, que priorizam a
educação. O Estado deveria supervisionar os estabelecimentos privados, mas esta regra
continua sendo vista como uma “lei morta”.
Para finalizar este quadro deprimente e aterrador, uma escola da periferia de São Paulo.
Violência explícita, relatos de brigas entre meninas. Uma aluna que “foge” da escola
por medo de outras meninas, que a ameaçaram. Outro depoimento de uma garota que
comete um assassinato a facadas, dentro da escola. Não sente o menor remorso, nem
culpa, nem nada.
De todos os adolescentes que foram filmados, nenhum está isento de problemas, seja ele
de qualquer origem. A educação não é um meio para resolvê-los, e isso é o mais
assustador. A escola passa a ser o lugar que destrói os sonhos, e facilita a criação de
uma identidade frágil, pautada na violência e na desilusão.
“Pro dia nascer feliz” nos mostra um triste quadro, o da educação. Não importa como,
onde e nem quanto dinheiro está envolvido. O insucesso educacional é uma realidade do
país. A culpa é jogada de um para outro, enquanto o tempo passa os alunos “se
formam”, e, tecnicamente, está tudo bem.
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O que vemos hoje, porém, é um total descaso com a educação em todos os âmbitos. A
União, os Estados e Municípios começam por não repassar a verba necessária aos
estabelecimentos de ensino, um dinheiro que “misteriosamente” se perde. Isso gera
problemas graves de estrutura, falta de materiais e recursos didáticos. Aliado aos
problemas financeiros vemos a desmotivação de professores a alunos.
Os alunos vão para a escola defender interesses escusos: namorar, fazer amizades, e
(por muitas vezes), cometer delitos. A falta de estrutura familiar propicia este tipo de
comportamento, os jovens não possuem quem os acompanhe em sua vida escolar. Os
professores, por sua vez, ficam desmotivados porque os alunos não querem aprender,
usam da falta de respeito e da desorganização. Os docentes não se importam, faltam,
passam os alunos de ano para se livrarem dos problemas. O trabalho não é levado a
sério, porque as consequências não existem.
Este ciclo vicioso negativo, que envolve União, Estados, Municípios, pais, alunos,
professores, agentes escolares, tende a permanecer até que alguma razão maior aja sobre
eles e os faça mudar. Do contrário, continuaremos a ver os imensos abismos entre as
escolas particulares (que abarcam uma minoria da população, elitizada) e as escolas
públicas. Continuaremos a ver os jovens perdidos, sem nenhuma instrução que os
permita escolher uma formação. Colheremos estes “frutos” daqui 10 ou 15 anos, quando
esta geração começar a ocupar cargos importantes para o funcionamento de nossas
vidas.
Eles são o futuro, e com a atual educação, o “amanhã” se torna muito perigoso.
Referências Bibliográficas:
CORRÊA, R. A.; SERRAZES, K. E. Políticas da Educação Básica. Batatais: Claretiano,
2013.
Disponível em:
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicaocompilado.htm>.
Acesso em: 29 abr. 2019.
Disponível em: https://www.qedu.org.br/estado/122-rondonia/aprendizado. Acesso em
02 de mai. 2019