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Dissertação apresentada à Pró-Reitoria de Pós-Graduação do Instituto

Tecnológico de Aeronáutica, como parte dos requisitos para obtenção do título de


Mestre em Ciências no Programa de Pós-Graduação em Engenharia de
Infraestrutura Aeronáutica, Área de Infraestrutura Aeroportuária.

Mariana Gomes de Abreu Marques

SOLUÇÕES BASEADAS NA NATUREZA E A INFRAESTRUTURA DE

ABASTECIMENTO DE ÁGUA: ANÁLISE DE APP OCUPADA POR

SISTEMA AGROFLORESTAL

Dissertação aprovada em sua versão final pelos abaixo assinados:

Prof. Dr. Wilson Cabral de Sousa Júnior


Orientador

Prof. Dr. Pedro Teixeira Lacava


Pró-Reitor de Pós-Graduação

Campo Montenegro
São José dos Campos, SP – Brasil
2018
Dados Internacionais de Catalogação-na-Publicação (CIP)
Divisão de Informação e Documentação
de Abreu Marques, Mariana Gomes
Soluções baseadas na Natureza e a infraestrutura de abastecimento de água: análise de APP
ocupada por sistema agroflorestal / Mariana Gomes de Abreu Marques.
São José dos Campos, 2018.
72 p.

Dissertação de mestrado – Pós-graduação em Engenharia de Infraestrutura Aeronáutica, Área de


Infraestrutura Aeroportuária – Instituto Tecnológico de Aeronáutica, 2018. Orientador: Prof. Dr.
Wilson Cabral de Sousa Júnior.

1. Área de Preservação Permanente. 2. Escoamento superficial. 3.Sistema Agroflorestal . I. Instituto


Tecnológico de Aeronáutica. II. Soluções baseadas na Natureza e a infraestrutura de abastecimento de água:
análise de APP ocupada por sistema agroflorestal.

REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA
DE ABREU MARQUES, Mariana Gomes. Soluções baseadas na Natureza e a
infraestrutura de abastecimento de água: análise de APP ocupada por sistema
agroflorestal. 2018. 72 p. Dissertação de mestrado em Infraestrutura Aeroportuária –
Instituto Tecnológico de Aeronáutica, São José dos Campos.

CESSÃO DE DIREITOS
NOME DO AUTOR: Mariana Gomes de Abreu Marques
TÍTULO DO TRABALHO: Soluções baseadas na Natureza e a infraestrutura de abastecimento de
água: análise de APP ocupada por sistema agroflorestal.
TIPO DO TRABALHO/ANO: Dissertação / 2018

É concedida ao Instituto Tecnológico de Aeronáutica permissão para reproduzir cópias desta


dissertação e para emprestar ou vender cópias somente para propósitos acadêmicos e
científicos. O autor reserva outros direitos de publicação e nenhuma parte desta dissertação
pode ser reproduzida sem a sua autorização (do autor).

__________________________________
Mariana Gomes de Abreu Marques
Av. Adhemar de Barros, 1737
CEP: 12245-010, São José dos Campos - SP
iii

SOLUÇÕES BASEADAS NA NATUREZA E A

INFRAESTRUTURA DE ABASTECIMENTO DE ÁGUA:

ANÁLISE DE APP OCUPADA POR SISTEMA

AGROFLORESTAL

Mariana Gomes de Abreu Marques

Composição da Banca Examinadora:

Prof. Dr. José Antônio Schiavon Presidente - ITA


Prof. Dr. Wilson Cabral de Sousa Júnior Orientador - ITA
Prof. Dr. Paulo Ivo Braga de Queiroz Membro interno - ITA
Profa. Dra. Angélica Giarolla Picini Membro externo - INPE

ITA
iv

AGRADECIMENTOS

A Deus, que por meio de minha fé, me fortaleceu ao colocar pessoas certas em minha
vida e abrir caminhos que conduziram a esta conquista.

Agradeço aos meus pais, Maria José e Melchior, por me ensinarem o valor do estudo
e do conhecimento, que permitem a emancipação do indivíduo para se tornar humano,
verdadeira parte do mundo. Ao meu marido, André, que me inspira com o seu
entusiasmo pela ciência, me emociona com a sua generosidade e me transforma com
o seu amor, retribuo com estas palavras de gratidão. Às minhas filhas, que me
ensinam a ternura e pelas quais multipliquei minhas capacidades e encontrei a fonte
de motivação para trabalhar e sonhar. À minha irmã Melina, mulher forte e inteligente,
que sempre me socorre. Nossa parceria é linda, para além desse mundo.

Ainda sou muito grata aos demais familiares e colegas, especialmente aos amigos
Thiago, Demerval e Walter. À professora Angélica que desde o início contribuiu com
ideias e sugestões que lapidaram esse trabalho.

Por fim, agradeço ao meu orientador, professor Wilson, que combina perfeitamente
duas qualidades: sabedoria e empatia. Durante estes anos, fui inspirada por suas
atitudes de sinceridade, respeito e combatividade na luta pela causa ambiental. Dessa
amizade, levo o crescimento pessoal e profissional que adquiri. Sem mais, estendo o
mesmo reconhecimento aos demais professores do Instituto Tecnológico de
Aeronáutica.

O presente trabalho foi realizado com apoio da Coordenação de Aperfeiçoamento de


Pessoal de Nível Superior - Brasil (CAPES) - Código de Financiamento 001.
v

RESUMO

Diante do aumento da demanda por recursos hídricos provocado pelo crescimento


populacional, é oportuno pensar em estratégias para aumentar o potencial dos nossos
ecossistemas em prover recursos hídricos e assegurar a regularidade desse serviço.
As Áreas de Preservação Permanente (APP) foram criadas com a função de amenizar
a pressão antrópica sobre esses ambientes a partir do isolamento espacial. Hoje é
permitido o manejo de APPs com sistemas agroflorestais (SAF). O objetivo deste
estudo é avaliar os componentes do balanço hidrológico de uma bacia nas diferentes
configurações das APPs. A área de estudada foi a Bacia da Represa do Jaguari,
localizada na Vale do Paraíba paulista, recentemente integrada a rede de
reservatórios do Sistema Cantareira. O modelo utilizado para avaliação dos serviços
ecossistêmicos foi Seasonal Water Yield, disponível no pacote InVEST. As simulações
revelaram que as APPs ocupadas apenas por mata nativa, há uma redução de 3,0%
do escoamento superficial e, quando são ocupadas por SAF, a redução é de 2,6%.
Portanto, o SAF também guarda a função ecossistêmica de redução do escoamento
superficial. São necessários estudos para compreender melhor qual configuração de
SAF garante uma melhor resposta para as APPs. Este trabalho revelou a importância
do conhecimento das características da evapotranspiração, quando se pretende
analisar serviços ecossistêmicos ligados ao balanço hídrico. Na Bacia do Jaguari, 74%
da água que chega por meio da precipitação é convertida em evapotranspiração,
revelando que área é uma importante fonte de umidade para a atmosfera local. Para
o sistema de abastecimento de água, a umidade presente na atmosfera é fundamental
na condução de precipitações nas regiões de captação. No cálculo dos índices de
recarga local e escoamento de base, o modelo SWY apresentou um mau
comportamento, que foi investigado com análise de sensibilidade dos parâmetros CN
e kc, sem sucesso. Outras análises de sensibilidade envolvendo evapotranspiração,
precipitação e o parâmetros alfa foram realizadas para se aprofundar o entendimento
sobre o funcionamento do modelo.

Palavras-chave: serviços ecossistêmicos, área de preservação permanente, sistema


agroflorestal, escoamento superficial, escoamento de base
vi

ABSTRACT

Given the increasing demand for water resources caused by population growth, t is
opportune to think of strategies to increase the potential of our ecosystems to provide
water resources and ensure the regularity of this service. The Permanent Preservation
Areas (PPAs) were created with the function of mitigating anthropic pressure on the
environments from the spatial isolation. Today it is allowed the management of APPs
with agroforestry systems (SAF). The objective of this study is to evaluate the
components of the hydrological balance of a basin in the different configurations of the
APPs. The study area was the Jaguari Reservoir Basin, located in Paraíba Valley
region of São Paulo, recently integrated into the reservoir network of the Cantareira
system. The Seasonal Water Yield (InVEST) model was used for the evaluation of
ecosystem services. The simulations revealed that the PPAs occupied only by native
forest, there is a reduction of 3.0% of the surface runoff and, when occupied by SAF,
the reduction is 2.6%. Therefore, the SAF also has the ecosystem function of reducing
quickflow. More studies are needed to better understand which SAF configuration
ensures a better response to APPs. This work revealed the importance of knowing the
characteristics of evapotranspiration when analyzing ecosystem services linked to the
water balance. In the Jaguari basin, 74% of the water that arrives as precipitation is
converted into evapotranspiration, revealing that the region is an important source of
moisture for the local atmosphere. For the water supply system, the humidity present
in the atmosphere is fundamental in the conduction of precipitation in the catchment
area. When calculating local recharge and baseflow index, the SWY model presented
atypical behavior, which was investigated with sensitivity analysis of the parameters
CN and kc, unsuccessfully. Other sensitivity analyzes involving evapotranspiration,
precipitation and alpha parameters were carried out to deepen the understanding of
the model's functioning.

Key words: ecosystem services, permanent preservation area, agroforestry system,


quickflow, baseflow
vii

LISTA DE FIGURAS

Figura 1 - Mapa de localização da bacia da represa do Jaguari ............................... 22

Figura 2 - Áreas de Preservação Permanente na Bacia do Jaguari (Projeto PDPAs


RMSP, 2016) ............................................................................................................. 25

Figura 3 - Modelo de Elevação Digital da área de estudo ......................................... 33

Figura 4 - Imagem de satélite da área de estudo ...................................................... 35

Figura 5 - Mapa de Uso e Ocupação da Terra da bacia do Jaguari .......................... 36

Figura 6 - Comparação entre os cenários 1 e 2 na área do reservatório do Jaguari. 39

Figura 7 - Comparação entre os cenários 1 e 3 na área do reservatório do Jaguari . 40

Figura 8 - Mapa pedológico da Bacia do Jaguari (Fonte: Rossi, 2017) ..................... 41

Figura 9 - Distribuição espacial da precipitação na bacia, para cada mês do ano. ... 45

Figura 10 - Distribuição da evapotranspiração na bacia, para cada mês do ano. ..... 47

Figura 11 - Resultados do escoamento superficial nos três cenários analisados ..... 52

Figura 12 - Resultado de escoamento de base nos três cenários analisados .......... 55

Figura 13 - Resultados de recarga local nos três cenários analisados ..................... 56

Figura 14 -Resultados de recarga local em valores positivos e negativos ................ 57

Figura 15 - Resultados da análise de sensibilidade para o Cenário 1 com ET0 menor


(IIASA/FAO) .............................................................................................................. 61

Figura 16 - Resultado da análise de sensibilidade para precipitação ........................ 63

Figura 17 - Resultado da simulação com alteração do parâmetro alfa ..................... 65


viii

LISTA DE TABELAS

Tabela 1 - Áreas e proporções de uso do solo para cada município inserido na Bacia
do Jaguari (Projeto PDPAs RMSP, 2016) ................................................................. 24

Tabela 2 - Variáveis morfométricas da Bacia do Jaguari .......................................... 26

Tabela 3 - Áreas ocupadas por cada classes de cobertura do solo .......................... 37

Tabela 4 - Grupo de Solo Hidrológico ....................................................................... 42

Tabela 5 - Fator CN adotado (Adaptado de Sartori, 2004) ........................................ 43

Tabela 6 - Valores de Kc adaptados para o uso e cobertura da terra ....................... 44

Tabela 7 - Média histórica de dias chuvosos em São José dos Campos .................. 48

Tabela 8 - Variáveis do balanço hídrico da bacia do Jaguari .................................... 49

Tabela 9 - Escoamento superficial médio, em milímetros. ........................................ 50

Tabela 10 - Escoamento superficial na APP ............................................................. 51

Tabela 11 - Resultados de recarga local e escoamento de base .............................. 53

Tabela 12 - Recarga local e escoamento de base, em milímetros ............................ 54

Tabela 13 - Evapotranspiração real, em milímetros .................................................. 58

Tabela 14 - Comparação das médias mensais de evapotranspiração de referência 59

Tabela 15 - Análise de sensibilidade da evapotranspiração ..................................... 60

Tabela 16 - Comparação do escoamento de base por classe, para ET0 alterado .... 60

Tabela 177 - Valores mensais de alfa para análise de sensibilidade ........................ 64

Tabela 18 - Resultado da alteração de alfa nos parâmetros do balanço hídrico ....... 64

Tabela 19 - Análise de sensibilidade dos parâmetros CN e Kc ................................. 66


ix

LISTA DE ABREVIATURAS

APP Área de Preservação Permanente


CAR Cadastro Ambiental Rural
CGIAR-CSI Consultative Group on International Agricultural Research -
Consortium for Spatial Information
CN Número de curva
Embrapa Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária
ESA European Space Agency
FAO Food and Agriculture Organization
GMES Global Monitoring for Environment and Security
ICMBio Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade
ILPF Integração Lavoura-Pecuária-Floresta
InVEST Integrated Valuation of Ecosystem Services and Tradeoffs
Kc Coeficiente de cultura
MDE Modelo Digital de Elevação
PDPA Plano de Desenvolvimento e Proteção Ambiental
PET Potential Evapotranspiration
RL Reserva Legal
RMSP Região Metropolitana de São Paulo
RPPN Reserva Particular do Patrimônio Natural
SAF Sistema Agroflorestal
SbN Soluções baseadas na Natureza
SCP Semi-automatic Classification Plugin
SIG Sistema de Informação Geográfica
SMA Secretaria de Estado do Meio Ambiente
SNUC Sistema Nacional de Unidades de Conservação
SWY Seasonal Water Yield
TauDEM Terrain Analysis Using Digital Elevation Models
UC Unidade de Conservação
USDA United States Department of Agriculture
x

SUMÁRIO
1. INTRODUÇÃO 12
2. OBJETIVOS 14
3. REVISÃO TEÓRICA 14
3.1. ÁREA DE PRESERVAÇÃO PERMANENTE 14
3.1.1. UNIDADES DE CONSERVAÇÃO 15
3.2. SISTEMAS AGROFLORESTAIS 16
3.3. FUNÇÕES ECOSSISTÊMICAS 18
3.4. SERVIÇOS ECOSSISTÊMICOS 19
3.5. SOLUÇÕES BASEADAS NA NATUREZA 19
4. MATERIAIS E MÉTODOS 21
4.1. CARACTERIZAÇÃO DA ÁREA DE ESTUDO 21
4.1.1. CARACTERIZAÇÃO MORFOMÉTRICA 25
4.2. MODELAGEM DE SERVIÇOS ECOSSISTÊMICOS 27
4.3. MODELO DE PRODUÇÃO SAZONAL DE ÁGUA (SWY) 29
4.4. DADOS DE ENTRADA PARA O MODELO 32
4.4.1. MODELO DIGITAL DE ELEVAÇÃO (MDE) 32
4.4.2. DELIMITAÇÃO DA BACIA HIDROGRÁFICA 33
4.4.3. USO E COBERTURA DA TERRA 34
4.4.3.1. DIFERENTES CENÁRIOS DE ANÁLISE 36
4.4.4. CLASSIFICAÇÃO HIDROLÓGICA DOS SOLOS 41
4.4.5. NÚMERO DE CURVA (CN) E COEFICIENTE DE CULTURA (KC) 42
4.4.6. PRECIPITAÇÃO MENSAL 45
4.4.7. EVAPOTRANSPIRAÇÃO DE REFERÊNCIA MENSAL (ET0) 46
4.4.8. EVENTOS DE CHUVA 48
4.4.9. PARÂMETROS Α Β Γ 48
5. RESULTADOS E DISCUSSÃO 48
5.1. ESCOAMENTO SUPERFICIAL 50
5.2. RECARGA LOCAL E ESCOAMENTO DE BASE 53
5.3. EVAPOTRANSPIRAÇÃO REAL 58
5.4. ANÁLISE DE SENSIBILIDADE 58
5.4.1. ALTERAÇÃO DA ET0 59
5.4.2. ALTERAÇÃO DA PRECIPITAÇÃO 62
5.4.3. ALTERAÇÃO DE Α 64
5.4.4. ALTERAÇÃO DO CN E DO KC 65
xi

6. CONCLUSÃO 67
7. ANEXOS 69
8. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 70
12

1. INTRODUÇÃO

Na segunda metade do século XX, intensificaram-se as discussões sobre meio


ambiente ao redor do globo. A poluição, o desmatamento, a extinção de espécies, os
acidentes ambientais e a mudança climática foram alguns dos motores de
mobilizações importantes acerca do aprimoramento da regulamentação ambiental em
esferas locais, nacionais e transnacionais.

Nas arenas de negociação, geralmente o debate entre os ambientalistas acontece em


torno das correntes conservacionista e preservacionista. A primeira acredita na
proteção do meio natural permitindo o uso racional dos recursos e presença humana
de forma sustentável. Já a segunda considera que não é possível conciliar atividades
econômicas com proteção da natureza e propõe a criação de espaços intocados. Ao
longo das décadas, a combinação dessas abordagens se mostrou eficaz no combate
à degradação, pois os aspectos socioambientais de cada contexto exigem um modelo
de gestão próprio.

No Brasil, a estratégia mais robusta de proteção ambiental é o Código Florestal


Brasileiro, que foi instituído pelo Decreto nº 23.793, de 23 de janeiro de 1934 e
revogado posteriormente pela Lei 4.771 de 1965. Recentemente, houve uma grande
discussão a respeito das propostas de flexibilização de algumas determinações do
Código Florestal, que findaram na Lei nº 12.651, de 25 de maio de 2012. Esse conjunto
de leis, determina as regras de uso e ocupação do solo e estabelece as condições
para o manejo da vegetação, como supressão e exploração, tanto para terras públicas
como para privadas.

A legislação anterior, de 1965, proibia quaisquer sistemas de produção em Áreas de


Preservação Permanente (APP) e Reservas Legais (RL), sendo permitido apenas o
manejo agroflorestal sustentável em RLs de pequenas propriedades rurais, o que
restringia significativamente o perímetro agricultável de tais propriedades.

Desde 25 de maio de 2012, com a instituição do novo Código Florestal, é possível não
só recuperar uma RL degradada com sistemas agroflorestais (SAF) como também é
permitido para propriedades de agricultura familiar, com até quatro módulos rurais,
devidamente inscritas no sistema de Cadastro Ambiental Rural (CAR), fazer
intervenções em APP para implantar SAFs, inclusive suprimir vegetação. Também
ficou definido que pequenas propriedades rurais podem utilizar plantios de sistemas
13

agroflorestais em suas APPs e RLs, desde que esses sistemas sejam submetidos a
planos de manejo sustentáveis aprovados pelo órgão estadual do meio ambiente
responsável.

Essas mudanças podem provocar um impacto socioeconômico positivo pois a


diversidade de cultivo dos SAFs traz maior segurança econômica ao produtor, que
fica menos vulnerável às flutuações de preço do mercado e menos dependente do
sucesso da colheita de uma espécie. Segundo Medrado (2000), algumas vantagens
dos SAFs frente às monoculturas são a utilização mais eficiente do espaço, a
sustentabilidade da produção e o estímulo à economia de produção, com base
participativa.

Entretanto, os benefícios ecossistêmicos da implantação de SAFs em áreas que têm


funções ecossistêmicas específicas, como as APPs que protegem rios e reservatórios,
ainda são pouco conhecidos. E quando se pensa em aprimorar a infraestrutura de
abastecimento de água para que não se repita uma crise hídrica da mesma proporção
dos anos de 2014 e 2015 - é inevitável discutir a interação floresta-água.

As florestas retornam grandes quantidades de água para a atmosfera através da


evapotranspiração, sendo crucial na manutenção do ciclo hidrológico. Segundo
Elisson et al. (2012), embora ainda não esteja esclarecido como se dá todo o processo
de reciclagem local de água, as florestas, as zonas de umidade e a evapotranspiração
que produzem são um dos principais condutores da precipitação. Sem as florestas e
zonas de umidade, a precipitação seria significativamente menor. Com isso, cresce a
importância do conceito de Soluções baseadas na Natureza (SbN), que são
intervenções que levam em conta os aspectos ambientais para resolver desafios de
diversos setores da sociedade. As SbN propõem ações para proteger, gerenciar e
restaurar de forma sustentável ecossistemas naturais ou modificados, que abordem
os desafios da sociedade de forma eficaz e adaptativa, proporcionando
simultaneamente o bem-estar humano e os benefícios da biodiversidade.
14

2. OBJETIVOS

Com a intenção de contribuir para o conhecimento técnico e científico acerca das SbN
e da infraestrutura natural, este trabalho objetiva estimar os serviços ecossistêmicos
de provisão hídrica da área de contribuição do reservatório do Jaguari e de suas APPs
de curso d’água. Para isso, foram analisados três cenários: o primeiro retrata a
situação atual da bacia do Jaguari, na qual as APPs não estão totalmente
preservadas; no segundo cenário, as APPs estão reflorestadas integralmente por
mata nativa e, por fim, no terceiro cenário, essas mesmas áreas são ocupadas por um
sistema agroflorestal.

Como objetivos específicos, buscou-se avaliar os componentes do balanço


hidrológico da bacia nas diferentes configurações das APPs, principalmente os
parâmetros escoamento superficial, escoamento de base e recarga local que são
resultantes da modelagem de serviços ecossistêmicos usando o sub-modelo do
pacote InVEST. Também gerou-se mais conhecimento a respeito do comportamento
do sub-modelo Seasonal Water Yield para as condições brasileiras.

Este trabalho também visa elaborar recomendações para planejamento de


infraestrutura natural relacionada à infraestrutura de abastecimento de água, de
acordo com as premissas das SbN.

3. REVISÃO TEÓRICA

3.1. ÁREA DE PRESERVAÇÃO PERMANENTE

As Áreas de Preservação Permanente (APP) foram criadas pela lei 4.771/65 de 15 de


setembro de 1965, mais conhecida como Código Florestal. São basicamente faixas
de vegetação que devem permanecer preservadas para que possam exercer suas
funções ecossistêmicas como proteção das margens de cursos d’água, proteção da
qualidade das águas, do solo e da biodiversidade, entre outras.
15

O novo Código Florestal, modificado pela Lei 12.727, 17 de outubro de 2012, traz do
primeiro Código Florestal, de 1965, a definição das funções ecossistêmicas das Área
de Preservação Permanente:

Área protegida, coberta ou não por vegetação nativa, com a função ambiental
de preservar os recursos hídricos, a paisagem, a estabilidade geológica e a
biodiversidade, facilitar o fluxo gênico de fauna e flora, proteger o solo e
assegurar o bem-estar das populações humanas.

Ainda segundo o novo Código Florestal, as APPs diretamente relacionadas à recursos


hídricos são as áreas situadas:

I - as faixas marginais de qualquer curso d’água natural perene e intermitente,


excluídos os efêmeros, desde a borda da calha do leito regular, (Incluído
pela Lei nº 12.727, de 2012).

II - as áreas no entorno dos lagos e lagoas naturais, em faixa com largura


mínima de (...);

III - as áreas no entorno dos reservatórios d’água artificiais, decorrentes de


barramento ou represamento de cursos d’água naturais, na faixa definida na
licença ambiental do empreendimento; (Incluído pela Lei nº 12.727, de 2012).

IV - as áreas no entorno das nascentes e dos olhos d’água perenes, qualquer


que seja sua situação topográfica, no raio mínimo de 50 (cinquenta) metros;
(Lei nº 12.727, de 2012).

As APPS consistem em espaços territoriais legalmente protegidos, ambientalmente


frágeis e vulneráveis, podendo ser públicas ou privadas, urbanas ou rurais, cobertas
ou não por vegetação nativa (MMA, 2017).

3.1.1. Unidades de Conservação

Um instrumento frequente de gestão territorial empregado em diversos países é a


Unidade de Conservação (UC). No Brasil, a UC foi devidamente regularizada pela Lei
9.985, de 18 de julho de 2000, que estabeleceu o Sistema Nacional de Unidades de
Conservação (SNUC), onde foram definidos critérios e normas para a implantação e
gestão das mesmas. Segundo Vallejo (2003), a criação das unidades de conservação
no mundo atual vem se constituindo numa das principais formas de intervenção
governamental, visando reduzir as perdas da biodiversidade face à degradação
ambiental imposta pela sociedade.
16

Segundo definição do Ministério do Meio Ambiente, as UC são espaços territoriais,


incluindo seus recursos ambientais, com características naturais relevantes, que têm
a função de assegurar a representatividade de amostras significativas e
ecologicamente viáveis das diferentes populações, habitats e ecossistemas do
território nacional e das águas jurisdicionais, preservando o patrimônio biológico
existente.

As UC dividem-se em dois grupos: de proteção integral (estação ecológica, reserva


biológica, parque, monumento natural e refúgio de vida silvestre) e de uso sustentável
(área de relevante interesse ecológico, floresta nacional, reserva de fauna, reserva de
desenvolvimento sustentável, reserva extrativista, área de proteção ambiental (APA)
e reserva particular do patrimônio natural (RPPN)). O Código Florestal e a Lei do
SNUC são normas autônomas, mas que muitas vezes se confundem pois
frequentemente se sobrepõe. Um exemplo seria a APP de margens de rios que se
localizam dentro de uma APA.

Segundo Antunes (2014), de fato há um sistema binário para a proteção da


diversidade biológica, com base na Constituição Federal. Tal sistema é composto por
uma norma geral aplicável em todo o território nacional que é o Código Florestal, e
pela lei que instituiu o SNUC, o qual é voltado principalmente para o estabelecimento
de espaços territoriais especialmente protegidos, conforme determinação
constitucional.

O autor ainda explica que a existência de normatividades distintas para a proteção da


diversidade implica possíveis conflitos que devem ser resolvidos juridicamente pela
prevalência da norma especial sobre a geral. Do ponto de vista estritamente
ambiental, a norma especial é aplicada concretamente pelo Plano de Manejo
elaborado pelo órgão gestor da Unidade de Conservação, considerando em concreto
a realidade ambiental e definindo os usos possíveis e desejáveis para a área
protegida.

3.2. SISTEMAS AGROFLORESTAIS

O Sistema Agroflorestal (SAF) é uma forma de uso e manejo da terra que concilia o
cultivo de espécies agrícolas com espécies arbóreas (frutíferas e/ou madeireiras) e
17

com a criação de animais. Estes sistemas são utilizados para restauração da


cobertura florestal e diversificação do cultivo, ao mesmo tempo em que colabora para
a soberania e a segurança alimentar dos produtores e consumidores.

Segundo a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), a tecnologia


ameniza limitações do terreno, minimiza riscos de degradação inerentes à atividade
agrícola, otimiza a produtividade a ser obtida e ainda se verifica a diminuição na perda
de fertilidade do solo e no ataque de pragas.

Os SAFs podem apresentar três configurações: silviagrícola, silvipastoril e


agrossilvipastoril. São elas:

• Sistema silviagrícola: produção que integra o componente florestal e agrícola,


pela consorciação de espécies arbóreas com cultivos agrícolas (anuais ou
perenes).
• Sistema silvipastoril: produção que integra o componente pecuário e florestal,
em consórcio.
• Sistema agrossilvipastoril: produção que integra os componentes agrícola,
pecuário e florestal em rotação, consórcio ou sucessão, na mesma área. O
componente "lavoura" restringe-se ou não à fase inicial de implantação do
componente florestal.

Os sistemas chamados Integração Lavoura-Pecuária-Floresta (ILPF) englobam todas


essas categorias e ainda preveem uma quarta configuração de cultura, que é o
sistema agropastoril, que integra o componente agrícola e pecuário em rotação,
consórcio ou sucessão, na mesma área e em um mesmo ano agrícola ou por múltiplos
anos.

Há algumas restrições técnicas para a implantação de SAFs. Abdo et al. (2208)


apontam algumas delas: a existência de poucos estudos das interações biofísicas
entre os componentes do sistema que são de cunho multidisciplinar, poucos
conhecimentos sobre os arranjos, combinações de espécies e manejo dos SAFs, alto
custo das pesquisas de médio e longo prazos e inadequação dos serviços de extensão
rural. Os autores ainda citam que os conhecimentos práticos aliados ao conhecimento
científico na condução dos plantios são determinantes para o sucesso das SAFs.
18

3.3. FUNÇÕES ECOSSISTÊMICAS

Os conceitos presentes na literatura levam a um mesmo entendimento em relação a


geração natural de funções ecossistêmicas: essas são fluxos de energia e informação.
Quando combinados, produzem processos e criam estabilidade nos sistemas nos
quais estão inseridos. Considerando a grande variedade dessas interações, as
funções podem ser agrupadas em quatro categorias, de acordo com a Millenium
Ecosystem Assessment (M.A, 2005), sendo elas:

a. Funções de Regulação – estão ligadas às funções ecológicas essenciais à


manutenção da vida. Em geral, possuem grande importância na prevenção de
desastres naturais, como deslizamentos de terra e enchentes, pois estão
relacionados aos processos biogeoquímicos, de reprodução vegetal e de
assimilação e reciclagem de resíduos.

b. Funções de Hábitat – relacionados à conservação da biodiversidade e recursos


genéticos disponíveis em um determinado ecossistema, preservando os
processos ligados à evolução das espécies. São as funções de abrigo e de
manutenção das áreas e condições ideais de reprodução para as diferentes
espécies da fauna e da flora.

c. Funções de Informação – estão relacionadas à manutenção da saúde e do


bem-estar daqueles que usufruem e uma determinada paisagem do
ecossistema. Estão muito ligadas aos valores humanos.

d. Funções de Produção – capacidade dos ecossistemas de fornecer insumos


para o consumo dos seres em geral, a partir de processos biogeoquímicos de
produção de biomassa (fotossíntese) e matéria-prima.

A capacidade dos ecossistemas de fornecer bens e serviços depende não apenas dos
processos e componentes relacionados a tal função ecossistêmica, mas também dos
limites estabelecidos para que o uso dos recursos seja sustentável, que são
determinados por critérios ecológicos, como integridade, resiliência e resistência. A
importância ou o valor de um determinado ecossistema depende da integridade das
suas funções ecossistêmicas, principalmente de Regulação e de Habitat, e de
características como complexidade, diversidade e raridade (De Groot et al., 2002).
19

3.4. SERVIÇOS ECOSSISTÊMICOS

O conceito de serviços ecossistêmicos é relativamente recente, sendo usado pela


primeira vez na década de 1960. Trata-se dos benefícios diretos e indiretos que o
homem obtém dos ecossistemas. De acordo com o Millenium Ecosystem Assessment
(M.A. 2005), esses benefícios gerados pelos serviços ecossistêmicos podem ser
agrupados nas categorias:

• produção – são bens produzidos ou aprovisionados pelos ecossistemas, tal


como alimento, água doce, lenha, fibras, recursos genéticos, produtos
farmacêuticos e de uso em medicina natural, recursos ornamentais, etc.;

• regulação – são benefícios obtidos pela regulação dos processos do


ecossistema, tal como purificação da água, polinização de cultivos agrícolas do
entorno, regulação do clima, das cheias, da erosão, de doenças, de pragas e
de riscos ambientais, etc.;

• culturais – são benefícios sociais e psicológicos gerados à sociedade pela


interação com ecossistemas naturais, tal como valores estéticos e educativos,
geração de conhecimentos, sentido de propriedade, recreação, inspiração, eco
e agroturismo, diversidade cultural, valores espirituais e religiosos, relações
sociais, etc.;

• suporte – serviços necessários para a produção de todos os outros serviços,


tal como a formação de solo, a fotossíntese, a produção primária, a ciclagem
de nutrientes, etc.

Neste estudo, os serviços ecossistêmicos analisados são basicamente de produção e


regulação pois são aqueles relacionados à manutenção do balanço hídrico em uma
bacia hidrográfica. Foram considerados nesta pesquisa os seguintes serviços: relevo,
vegetação, permeabilidade do solo, precipitação, evapotranspiração, escoamento
superficial, escoamento de base e infiltração de água no solo.

3.5. SOLUÇÕES BASEADAS NA NATUREZA


20

A humanidade alterou significativamente o ambiente natural nos últimos 60 anos em


nome do desenvolvimento. Hoje, são inúmeros os problemas ambientais decorrentes
dessa maneira de pensar o progresso, como a poluição do ar, a degradação de
recursos hídricos e a ameaça à oferta de alimentos. A engenharia convencional
sozinha parece não ser mais capaz de lidar com as ameaças à sobrevivência humana
no planeta.

As Soluções baseadas na Natureza (SbN) são ações para proteger, gerenciar de


forma sustentável e restaurar ecossistemas naturais ou modificados, dirigidas aos
desafios da sociedade (como por exemplo, mudanças climáticas, segurança alimentar
e dos recursos hídricos ou desastres naturais) de forma eficaz e adaptativa, ao mesmo
tempo que proporciona bem-estar humano e benefícios da biodiversidade (Cohen-
shacham et al., 2016).

Embora o conceito de SbN seja relativamente recente (criado pela União Internacional
para Conservação da Natureza em 2009) e seu recorte ainda esteja em construção,
o uso de SbN desenvolvido por tomadores de decisão, nos setores público e privado,
já é uma realidade no Brasil e no mundo.

O Relatório Mundial das Nações Unidas sobre Desenvolvimento dos Recursos


Hídricos de 2018 incentiva a busca por SbN que usam ou simulam processos naturais
para contribuir com o aperfeiçoamento da gestão da água no mundo. O documento
revela que o investimento em SbN ainda é muito pequeno na área de gestão de
recursos hídricos, correspondente a menos de 1% do investimento total em
infraestrutura.

Segundo o relatório, a demanda mundial por água tem aumentado a uma taxa de
aproximadamente 1% ao ano, devido ao crescimento populacional, ao
desenvolvimento econômico e às mudanças nos padrões de consumo, entre outros
fatores, e continuará a aumentar de forma significativa durante as próximas duas
décadas. As mudanças climáticas agravam este cenário, com a tendência de regiões
já úmidas ou secas apresentarem condições cada vez mais extremas.

O documento enfatiza a importância dos ecossistemas no balanço hídrico e salienta


que a vegetação deve ser vista como uma “recicladora” de água, ao invés de ser
21

considerada uma “consumidora” de água, já que até 40% da precipitação terrestre são
gerados pela transpiração vegetal e pela evaporação do solo.

Por último, o relatório cita as infraestruturas naturais – também chamadas de


infraestruturas verdes - como parte das SbN, que podem substituir, incrementar ou
atuar em conjunto com as infraestruturas cinzas, melhorando a resiliência e o
desempenho do sistema como um todo.

A gestão hídrica ainda é fortemente dominada pelas infraestruturas cinzas, sendo o


potencial das SbN amplamente subutilizado. Quando há risco de escassez hídrica, as
primeiras propostas são de captar água de outros mananciais, construir novas
represas ou interligar reservatórios. De fato, devido ao crescimento populacional e ao
inchaço dos aglomerados urbanos observados nas últimas décadas, é fundamental
aumentar a capacidade dos sistemas de abastecimento de água para garantir o
suprimento. No entanto, dispor apenas de infraestrutura cinza não basta quando o
recurso natural está ameaçado. A estratégia de avaliar as condições das áreas de
recarga da bacia e reflorestar é indispensável e deveria fazer parte das soluções
principais para enfrentar uma crise hídrica, com visão de longo prazo.

É preciso continuar buscando a combinação mais adequada entre as infraestruturas


verdes e as cinzas, que maximize os benefícios e a eficiência do sistema e, ao mesmo
tempo, minimize os custos e os esforços para se alcançar esse equilíbrio, como
propõe o relatório. Este trabalho visa contribuir para essa discussão, apontando
alternativas sustentáveis para a infraestrutura de abastecimento de água do país.

4. MATERIAIS E MÉTODOS

4.1. CARACTERIZAÇÃO DA ÁREA DE ESTUDO

O estudo será conduzido dentro das limitações da Sub-bacia do Jaguari, uma sub-
bacia de um dos principais afluentes do Rio Paraíba do Sul: o rio Jaguari. Esta bacia
se localiza no sudeste do Estado de São Paulo e se estende por vários municípios,
como Arujá, Guarulhos, Santa Isabel, Igaratá, Jacareí, São José dos Campos e
Monteiro Lobato (Figura 3).
22

Figura 1 - Mapa de localização da bacia da represa do Jaguari

Embora a Secretaria de Estado do Meio Ambiente (SMA) de São Paulo defina como
sub-bacia do Jaguari uma área mais abrangente, a área de interesse deste estudo é
a área de contribuição do reservatório. Por isso, a bacia hidrográfica considerada
neste trabalho é a bacia da represa do Jaguari, a mesma considerada no Plano de
Desenvolvimento e Proteção Ambiental (PDPA) da bacia do Jaguari, concluído em
2016.

A bacia da represa Jaguari está localizada em uma região com elevada densidade
populacional que apresenta altos índices de degradação das matas nativas, como as
matas no entorno de rios e reservatórios. O bioma predominante é a Mata Atlântica,
com a presença de algumas espécies de Cerrado (ICMBio, 2017).

A importância dessa bacia se confirma por integrar uma rede de reservatórios que
garantem o abastecimento de água de uma das regiões mais povoadas e
industrializadas do país.
23

O rio Jaguari exerce uma importante função como manancial de abastecimento para
as cidades paulistas e para a Região Metropolitana do Rio de Janeiro, através de
transposições para o rio Guandu. Assim, o Reservatório do Jaguari, contribui
indiretamente para esse abastecimento através do fornecimento de vazões
regularizadas para o rio Paraíba do Sul. De acordo com o estudo feito para a Sabesp
em 2006, o rio Jaguari despejava no Rio Paraíba do Sul, o correspondente a 20% da
água revertida para o Guandu em épocas de cheia e a 85% em épocas de seca.

Está em fase de obras o projeto para a interligação entre as barragens do Jaguari e


Atibainha. Essa obra faz parte daquelas emergenciais do Governo do Estado de São
Paulo para aumentar a oferta de água para a Região Metropolitana de São Paulo
(RMSP), após a pior crise de abastecimento ocorrida nos anos de 2014 e 2015,
quando o nível de Sistema Cantareira chegou a menos de 10% da sua capacidade
total. Acordou-se uma transferência de volume anual de 162 milhões de metros
cúbicos, perfazendo uma vazão média de 5,13 m 3/s do Reservatório do Jaguari para
o Reservatório Atibainha. A vazão máxima de transferência (no sentido Jaguari-
Atibainha) é de 8,5 m3/s.

Quanto aos padrões de uso e ocupação do solo na bacia da represa do Jaguari, o


PDPA revela que a área vegetada ocupa 75% da área da Bacia do Jaguari. O uso
rural é o segundo maior uso do solo na bacia, ocupando 22% de sua área. O uso
urbano é pouco expressivo, ocupando quase 3% da área da bacia. Estes dados
podem ser observados na Tabela 1.

O PDPA da bacia do Jaguari identificou na etapa de caracterização física


socioeconômica e ambiental da região os principais vetores de pressão à ocupação
na área do manancial. Os vetores de pressão mais intensos abrangem a RMSP e
estão concentrados, principalmente, nos municípios de Guarulhos e Arujá. Este vetor
é impulsionado pela presença da Rodovia Presidente Dutra, que liga o Estado de São
Paulo ao Estado do Rio de Janeiro; e, o Rodoanel Mário Covas, ainda em construção.
Fora da RMSP, os vetores de pressão identificados são exercidos também pela
Rodovia Dutra e pela Rodovia Dom Pedro I, além da formação de pequenas bordas
urbanas, principalmente nos municípios de Igaratá e Santa Isabel.
24

Tabela 1 - Áreas e proporções de uso do solo para cada município inserido na Bacia do
Jaguari (Projeto PDPAs RMSP, 2016)

Área do município Área vegetada Uso rural Uso urbano


Municípios inserida na bacia
(km2) km2 % km2 % km2 %

Arujá 47,7 36,3 76,1 3,7 7,8 7,7 16,1

Guarulhos 60,8 57,4 94,4 2,6 4,3 0,8 1,3

Igaratá 292,6 186,8 63,8 96,5 33,0 9,3 3,2

Jacareí 63,3 39,3 62,1 23,6 37,3 0,4 0,6

Monteiro Lobato 16,0 12,7 79,4 3,3 20,6 0,0 0,0

Santa Isabel 297,1 222,0 74,7 59,6 20,1 15,5 5,2

São José dos Campos 531,3 429,6 80,9 100,0 18,8 1,7 0,3

Total 1308,5 984,1 75,2 289,3 22,1 35,4 2,7

A bacia do Jaguari foi definida, originalmente, como Área de Proteção de Mananciais


(APM) pela Lei Estadual Nº 898/1975 e apresenta como atributo principal de proteção
a presença de mananciais de interesse para o abastecimento público da RMSP. Com
os objetivos de preservar e recuperar estes mananciais e compatibilizar estas ações
com as de uso e ocupação do solo e ao desenvolvimento socioeconômico busca-se,
a partir da elaboração do Plano de Desenvolvimento e Proteção Ambiental (PDPA), a
criação de uma Lei Específica prevista na Lei Estadual Nº 9.866/1997 (Lei de
Mananciais) para disciplinar o uso e a ocupação do solo na Bacia.

A Figura 2 apresenta as APPs de margens de corpos d’água na Bacia do Jaguari,


conforme o novo Código Florestal. As APPs ocupam 232,25 km², correspondendo 18
% da área total, segundo o PDPA.
25

Figura 2 - Áreas de Preservação Permanente na Bacia do Jaguari (Projeto PDPAs RMSP,


2016)

4.1.1. Caracterização morfométrica

Foi realizada uma breve análise morfométrica da Bacia do Jaguari como forma de se
ter mais elementos para auxiliar a compreensão da dinâmica de drenagem da bacia,
visto que seu formato é menos frequente e que as características geométricas de uma
bacia hidrográfica revelam o comportamento da água em relação ao armazenamento
e escoamento superficial. (Campanharo, 2012). Esta análise foi baseada no trabalho
de Guidolini et. al (2018) de caracterização morfométrica da bacia hidrográfica do Rio
Grande.
26

Tabela 2 - Variáveis morfométricas da Bacia do Jaguari

Variáveis morfométricas

A Área 1309,5 km²

P Perímetro 313,1 km

L Comprimento axial 65,8 km

Δm Amplitude altimétrica 1461 m

LCP Comprimento do curso principal 65,7 km

CT Comprimento do talvegue 43,7 km

Is Índice de sinuosidade 50,3 %

Kc Coeficiente de compacidade 2,423

F Fator forma 0,302

Rr Razão de relevo 0,022

A sinuosidade do curso d’água, representada pelo Is, é um fator determinante da


velocidade do escoamento superficial. Quanto maior a sinuosidade, maior a
dificuldade da água no seu caminho até a foz, com redução da velocidade (Rocha e
Kurtz, 2001, apud Guidolini et al.,2018). O Is é calculado como a diferença entre o
comprimento do rio principal (LCP) e o comprimento do talvegue (CT), dividida pelo
comprimento do talvegue. Christofoletti (1980, apud Guidolini et al.,2018) estabelece
cinco classes de sinuosidade do curso d’água:

• Is < 20%: canal muito reto


• 20% ≤ Is ≤ 30%: canal reto
• 30% ≤ Is ≤ 40%: canal divagante
• 40% ≤ Is ≤ 50%: canal sinuoso
• Is ≥ 50%: canal muito sinuoso

A Bacia do Jaguari apresenta Is = 50,3 %, portanto, está basicamente no limite entre


as duas últimas classes, sendo considerada uma bacia de canais sinuosos.

O coeficiente de compacidade (Kc) consiste na relação entre o perímetro da bacia


hidrográfica e a circunferência de um círculo hipotético cuja área seja igual à área de
27

drenagem da bacia em questão (Vilela e Matos, 1975, apud Guidolini et al.,2018).


Segundo a classificação de Silva e Melo (2006, apud Guidolini et al.,2018), a Bacia do
Jaguari não está propensa a enchentes:

• 1,00 ≤ Kc < 1,25: bacia com alta propensão a grandes enchentes


• 1,25 ≤ Kc < 1,50: bacia com tendência mediana a grandes enchentes
• Kc ≥ 1,50: bacia não sujeita a grandes enchentes.

O fator forma (F) representa a relação entre a área da bacia e o comprimento axial da
bacia. Quanto mais se aproximar do valor 1,0, mais a forma da bacia de aproxima de
um quadrado de lado igual ao seu comprimento axial. O valor de F = 0,302 retrata o
formato alongado da Bacia do Jaguari e confirma a interpretação dada ao coeficiente
de compacidade quanto a não propensão a enchentes. Silva e Melo (2006) classificam
as bacias hidrográficas em função do F da seguinte maneira:

• F ≥ 0,75: bacia sujeita a enchentes


• 0,50 < F < 0,75: bacia com tendência mediana a enchente
• F ≤ 0,50: bacia não sujeita a enchente.

A razão de relevo (Rr) reflete a declividade da bacia hidrográfica, baseada na relação


entre a amplitude altimétrica (∆m) e o comprimento axial da bacia (L). Desta forma, a
Rr é um indicador da intensidade de erosão operando nas vertentes da bacia (Strahler,
1964, apud Guidolini et al., 2018). Segue a classificação de bacias baseada na razão
de relevo proposta (Rossi e Pfeifer, 1999, apud Guidolini et al.,2018):

• Rr baixa: valores de 0,00 a 0,10


• Rr média: valores de 0,11 a 0,30
• Rr alta: valores de 0,31 a 0,60

Segundo essa classificação, a Bacia do Jaguari apresenta baixa intensidade de


processos erosivos relacionados a declividade pois Rr = 0,022.

4.2. MODELAGEM DE SERVIÇOS ECOSSISTÊMICOS

A modelagem de serviços ecossistêmicos para este estudo consistiu em trabalhar com


sistema de informações georreferenciadas (SIG) em conjunto com dados climáticos,
28

geológicos e de vegetação, que produzem resultados na forma de variáveis numéricas


e de imagens pixeladas e vetoriais. Para interpretar essas informações, foi escolhido
o InVEST (Integrated Valuation of Ecosystem Services and Tradeoffs) versão 3.5.0,
que é um módulo disponibilizado gratuitamente pelo Natural Capital Project contendo
vários modelos desenvolvidos para auxiliar no mapeamento, quantificação e
valoração dos serviços ecossistêmicos. O InVEST é uma ferramenta facilitadora para
que, aliado ao conhecimento de especialistas e a outras técnicas científicas,
contribuem para tomada de decisão no que diz respeito ao uso do território e ao
manejo dos recursos naturais.

O software possui 18 módulos para avaliar distintos serviços ecossistêmicos


terrestres, marinhos e costeiros, além de outras ferramentas facilitadoras para
produzir os dados e cenários. Todos os módulos possuem bases teóricas sólidas que
agregam os conhecimentos de ecólogos, hidrólogos, biólogos e outros especialistas.
O InVEST, em sua versão mais atual é independente, porém pode funcionar dentro
do Arctoolbox no ArcGIS.

Os resultados são apresentados no formato de mapas, que facilita o processo de


análise. A resolução espacial e a escala de trabalho ficam a critério do analista, que
obterá respostas que refletem a qualidade dos dados utilizados. O principal objetivo
do pacote é a combinação de diversas informações básicas de parâmetros biofísicos,
para estimar como a distribuição espacial dos elementos pode alterar no
comportamento da provisão de determinado serviço.

O conhecimento da variação sazonal do escoamento, especialmente na estação seca,


requer a compreensão dos processos hidrológicos em uma bacia hidrográfica, em
particular a separação entre o fluxo rápido (durante ou logo após eventos de chuva) e
o fluxo de base (durante o tempo seco). Em climas altamente sazonais, espera-se que
o fluxo de base apresente valores maiores que o fluxo rápido, a menos que haja
armazenamento significativo (por exemplo, um grande reservatório). O sub-modelo de
produção sazonal de água (SWY para Seasonal Water Yield) do InVEST procura
fornecer orientação sobre a contribuição das parcelas de terra para a geração de fluxo
de base e fluxo rápido. O modelo calcula índices espaciais que quantificam esses
fluxos. Atualmente, não há estimativas quantitativas do fluxo base (apenas as
contribuições relativas dos pixels); uma ferramenta separada está em
29

desenvolvimento para resolver esta questão. Apenas o fluxo de escoamento


superficial é calculado quantitativamente pelo modelo.

4.3. MODELO DE PRODUÇÃO SAZONAL DE ÁGUA (SWY)

O modelo de produção de água mensal do InVEST tem como objetivo entender os


efeitos da mudança na paisagem e do manejo do uso do solo no balanço hídrico,
considerando a sazonalidade. O guia do usuário do SWY apresenta as equações
utilizadas pelo software (Sharp et al., 2017).

O escoamento superficial (QF de quickflow) é calculado com uma abordagem


baseada no método do Número de Curva (CN). As propriedades do solo e da
cobertura do solo determinam a parcela de chuva que escorre rapidamente pela
superfície, produzindo o fluxo rápido, e a parcela que infiltra no solo (produzindo
recarga local.) O CN é um parâmetro que reflete essas propriedades, valores altos
indicam maior potencial de escoamento enquanto valores baixos são para terrenos
com maior capacidade de infiltração.

Para calcular o QF, utiliza-se os dados de precipitação mensal (𝑃𝑖,𝑚 ) e número de


eventos de chuva (𝑛𝑚 ):

Eq. 1

0,2𝑆𝑖 𝑆𝑖2 0,8𝑆𝑖 𝑆𝑖


𝑄𝐹𝑖,𝑚 = 𝑛𝑚 ∗ ((𝑎𝑖,𝑚 − 𝑆𝑖 ) ∗ exp (− )+ ∗ exp ( ) ∗ 𝐸1 ∗ ( )) ∗ 25,4
𝑎𝑖,𝑚 𝑎𝑖,𝑚 𝑎𝑖,𝑚 𝑎𝑖,𝑚

Eq. 2

𝑃𝑖,𝑚 1
𝑎𝑖,𝑚 = [𝑖𝑛]
𝑛𝑚 25,4

Eq. 3

𝑒 −𝑡
𝐸1𝑡 = ∫ 𝑑𝑡
1 𝑡

Eq. 4

1000
𝑆𝑖 = − 10 [𝑖𝑛]
𝐶𝑁𝑖
30

Para todos os pixels que fazem parte do curso d’água e para aqueles que o delimitam,
o QF é definido pela precipitação na célula:

Eq. 5

𝑄𝐹𝑐𝑢𝑟𝑠𝑜 𝑑′ á𝑔𝑢𝑎,𝑚 = 𝑃𝑐𝑢𝑟𝑠𝑜 𝑑´á𝑔𝑢𝑎,𝑚

O valor de QF de cada pixel é a somatória dos valores mensais de QF calculados pela


Equação 1.

Eq. 6
12

𝑄𝐹𝑖 = ∑ 𝑄𝐹𝑖,𝑚
1

O índice de recarga local (L) é calculado por uma equação de balanço hídrico
simplificada, que considera a precipitação, o escoamento superficial e a
evapotranspiração real. Esta variável também pode ser entendida como a contribuição
potencial para o fluxo de base.

Eq. 7

𝐿𝑖 = 𝑃𝑖 − 𝑄𝐹𝑖 − 𝐴𝐸𝑇𝑖

Onde 𝐴𝐸𝑇𝑖 = ∑12


1 𝐴𝐸𝑇𝑖,𝑚 e

Eq. 8

𝐴𝐸𝑇𝑖,𝑚 = min(𝑃𝐸𝑇𝑖,𝑚 ; 𝑃𝑖,𝑚 − 𝑄𝐹𝑖,𝑚 + 𝛼𝑚 𝛽𝑖 𝐿𝑠𝑜𝑚𝑎.𝑑𝑖𝑠𝑝,𝑖 )

Nota-se que para cada mês, a AET é limitada pela demanda ou pela água disponível.
A evapotranspiração potencial (PET) é calculada a partir da evapotranspiração de
referência (𝐸𝑇0𝑖,𝑚 ), ponderada pelo coeficiente de cultura kc.

Eq. 9

𝑃𝐸𝑇𝑖,𝑚 = 𝐾𝑐𝑖,𝑚 ∗ 𝐸𝑇0𝑖,𝑚


31

A recarga local pode ser negativa se um pixel não receber quantidade de água
suficiente para atender seus requisitos de vegetação (determinado por kc). Neste
caso, este pixel irá usar água gerada a montante. O índice de recarga local é calculado
em uma escala de tempo anual, mas usa valores derivados de orçamentos mensais
de água.

O índice do fluxo de base (B) representa a contribuição real de um pixel para o fluxo
de base (ou seja, a água que atinge de fato o fluxo subterrâneo). Se a recarga local
for negativa, o pixel não contribuirá para o fluxo de base, portanto, B será definido
como zero. Se o pixel contribuiu para a recarga da água subterrânea, então B é uma
função da quantidade de água que sai do pixel para se juntar ao fluxo de base.

Sabe-se ainda que 𝐵𝑖 é derivado diretamente da proporção do fluxo de base


acumulado deixando a célula i (𝐵𝑠𝑜𝑚𝑎,𝑖 ), com relação à recarga disponível para a
recarga cumulativa a montante:

Eq. 10

𝐿𝑖
𝐵𝑖 = max(𝐵𝑠𝑜𝑚𝑎,𝑖 ∗ ; 0)
𝐿𝑠𝑜𝑚𝑎,𝑖

Sendo
Eq. 11

𝐿𝑠𝑜𝑚𝑎,𝑖 = 𝐿𝑖 + ∑ 𝐿𝑠𝑜𝑚𝑎,𝑗 ∗ 𝑃𝑖,𝑗


𝑗 ∈ { 𝑡𝑜𝑑𝑜𝑠 𝑝𝑖𝑥𝑒𝑙𝑠 𝑞𝑢𝑒 𝑑𝑟𝑒𝑛𝑎𝑚 𝑝𝑎𝑟𝑎 𝑝𝑖𝑥𝑒𝑙 𝑖)

Eq. 12
𝐿𝑑𝑖𝑠𝑝,𝑖 = min( 𝛾 𝐿𝑖 ; 𝐿𝑖 ).

O fluxo de base total, Qb, dado em milímetros, é a média das recargas locais de
contribuição (negativa ou positiva) na bacia:

Eq. 13

∑𝑘 ∈{𝑝𝑖𝑥𝑒𝑙𝑠 𝑛𝑎 𝑏𝑎𝑐𝑖𝑎} 𝐿𝑘
𝑄𝑏 =
𝑛𝑝𝑖𝑥𝑒𝑙𝑠 𝑛𝑎 𝑏𝑎𝑐𝑖𝑎

O valor de atribuição a um pixel é a contribuição relativa de L para o fluxo de base:


32

Eq. 14

𝐿𝑖
𝑉𝑟𝑖 =
𝑄𝑏 ∗ 𝑛𝑝𝑖𝑥𝑒𝑙𝑠 𝑛𝑎 𝑏𝑎𝑐𝑖𝑎

Sobre os parâmetros α, β e γ, alguns esclarecimentos:

• α é um parâmetro em função da sazonalidade da precipitação (o valor-padrão


é 1/12). Para climas em que a precipitação varia significativamente durante o
ano, pode-se adotar valores mensais para α, calculados pela razão entre
valores de precipitação mensais antecedentes e a precipitação total (Pm-1/
Panual);
• β é uma função da topografia, principalmente da área a montante) e dos solos
locais (o valor-padrão é 1), e
• 𝛾 representa a fração de recarga de pixels disponível para os pixels a jusante.
É uma função das propriedades do solo e, possivelmente, da topografia. Na
parametrização padrão (γ =1), γ é constante sobre a paisagem e desempenha
um papel semelhante ao parâmetro α.

4.4. DADOS DE ENTRADA PARA O MODELO

4.4.1. Modelo digital de elevação (MDE)

O MDE foi construído a partir de imagens da missão ALOS PALSAR (Figura 3). Foram
utilizadas 3 imagens para compor a área de interesse, duas produzidas em fevereiro
de 2011 e uma imagem de março de 2011. Esses dados são disponibilizados
gratuitamente pelo Alaska Satellite Facility. A resolução deste mapa – 12,5 m x 12,5
m - define a resolução com que serão fabricados os mapas de resultados (outputs),
ou seja, a precisão espacial dos resultados é suficiente para a análise proposta.
33

Figura 3 - Modelo de Elevação Digital da área de estudo

4.4.2. Delimitação da bacia hidrográfica

A área de interesse deste estudo é a área de drenagem a montante do vertedor da


represa do Jaguari - que foi considerado como exutório da bacia - para que se possa
compreender como as alterações no uso e cobertura do solo dessa área de
contribuição impactam na produção de água do reservatório.

A partir do MDE, utilizou-se dentro do software livre QGIS o pacote de ferramentas


TauDEM (Terrain Analysis Using Digital Elevation Models) - desenvolvido pela
universidade estadual norte-americana de Utah.
34

Com o TauDEM foi realizado o tratamento do MDE, no qual foram corrigidas


irregularidades em pixels que comprometeriam o fluxo (pitremove), criadas direções
de fluxo (flowdirection) e a rede de drenagem (streamdefinition). Com isso, foi definida
a área de contribuição e, por fim, a bacia hidrográfica.

Para a definição da rede de drenagem, definiu-se o limiar (threshold) de 250 como o


que mais aproximava a rede modelada da rede de drenagem real, observada nos
mapas oficiais produzidos pela Secretaria do Meio Ambiente do Estado de São Paulo.

Para confirmar o limiar adotado, foi testado o limiar de 1000 em uma rodada do modelo
com todos os outros dados de entrada mantidos iguais. Verificou-se que os resultados
obtidos diferiam pouco dos primeiros, porém a rede de drenagem era menos
ramificada e mais distante da realidade. Manteve-se, portanto, o limiar de 250.

4.4.3. Uso e cobertura da terra

O mapa uso e cobertura da terra é determinante para a modelagem de produção de


água no SWY porque sua classificação interfere diretamente na determinação dos
parâmetros CN e Kc, presentes no equacionamento do balanço hídrico do modelo.
Por esse motivo, optou-se por fazer a própria classificação para a bacia do Jaguari, a
partir de uma imagem de satélite recente, embora houvessem disponíveis mapas
oficiais de uso e cobertura da terra para a região.

Para a confecção do mapa de uso e cobertura da terra, foram utilizados dados gerados
pela missão Sentinel-2 do Programa GMES (Global Monitoring for Environment and
Security) conjuntamente administrada pela Comunidade Europeia e pela ESA
(European Space Agency), para observação da Terra em alta resolução com alta
capacidade de revisita (5 dias). O sensor apresenta 13 bandas no total, sendo quatro
delas com 10 metros de resolução, seis com 20 metros de resolução e três com 60
metros de resolução.

A imagem selecionada para a classificação de uso e cobertura do solo foi captada no


dia 13 de novembro de 2017 e foi escolhida pela sua nitidez e baixíssima presença de
nuvens (Figura 4).
35

Figura 4 - Imagem de satélite da área de estudo

A classificação de uso e cobertura do solo foi feita com auxílio do software QGIS
2.18.19., utilizando o plugin SCP (Semi-automatic Classification Plugin) que foi
desenvolvido para tratar dados provenientes da missão Sentinel-2 e outros satélites.
Para refinar a classificação gerada, foi utilizado o algorítmo Majority Filter do
complemento SAGA versão 2.3.2.
36

Figura 5 - Mapa de Uso e Ocupação da Terra da bacia do Jaguari

4.4.3.1. DIFERENTES CENÁRIOS DE ANÁLISE

Figura SEQ Figura \* ARABIC 5 - Imagem do Sentinel-2 da área de estudo


37

O mapa de uso e cobertura do solo para cada cenário de estudo contém as seguintes
características:

• Cenário 1: situação atual da bacia do Jaguari. Observa-se na Figura 5 a


intensa ocupação do entorno do reservatório por construções e pastagem.
• Cenário 2: APP do reservatório (faixa de 100 metros ao longo do seu contorno)
e APP de rios (faixa de 30 metros em cada margem dos rios e córregos)
ocupadas por mata nativa (Figura 6).
• Cenário 3: APPs dos reservatórios e dos rios ocupadas com um modelo de
Sistema Agroflorestal (Figura 7)

Tabela 3 - Áreas ocupadas por cada classes de cobertura do solo

Áreas relativas
Classes
Cenário 1 Cenário 2 Cenário 3
Mata nativa 50,0% 55,4% 44,0%
Pasto nativo 21,4% 19,4% 19,4%
Área construída 9,9% 8,5% 8,5%
Cultivo eucalipto 6,1% 6,0% 6,0%
Solo exposto 4,0% 2,5% 2,5%
Vegetação secundaria 3,8% 3,5% 3,5%
Corpos d’água 2,7% 2,6% 2,6%
Pasto degradado 1,4% 1,3% 1,3%
Via pavimentada 0,7% 0,6% 0,6%
Mineração 0,1% 0,0% 0,0%
Agrofloresta (SAF) - - 11,5%

Observa-se que, segundo a classificação de uso do solo realizada para essa


pesquisa, a mata nativa é a cobertura predominante na bacia do Jaguari, presente em
50% do território. Em segundo lugar, está o pasto nativo, com 21,4% (Tabela 3)

Nota-se ainda que a área definida como pertencente à APP corresponde a 11,5% da
área total da bacia, ou seja, a mesma área ocupada pelo SAF no Cenário 3. A redução
de 2,7% para 2,6% da área ocupada por corpos d’água decorre da forma como foi
realizada a demarcação da APP e seu preenchimento da APP com mata nativa e SAF,
na composição dos Cenário 2 e 3. Ocorreu a conversão de uma pequena parcela de
pixels de cursos d’água para pixels de vegetação.
38

Sistemas Agroflorestais em Áreas de Preservação Permanente

Segundo a SMA, até a produção desta pesquisa, não há um modelo de SAF


recomendado para a região de São José dos Campos. Por esse motivo, a
caracterização do SAF considerado nesta pesquisa segue as instruções do Projeto de
Desenvolvimento Rural Sustentável, elaborado pela Coordenadoria de Biodiversidade
e Recursos Naturais do SMA.

No edital de chamada para seleção de projetos de 2013, é estabelecido que em APPs


somente são aceitos SAFs complexos, biodiversos e sucessionais, ou seja, com alta
diversidade de espécies (acima de 30 espécies, sendo pelo menos 40% de espécies
florestais nativas regionais), com densidade de árvores superior a 500 indivíduos/ha,
havendo a integração simultânea e contínua de cultivos agrícolas (anuais ou perenes)
e árvores madeiráveis ou de uso múltiplo. Há ainda outras diretrizes para implantação
de SAF em APP:

a) Poderá ser realizado o plantio intercalado de espécies exóticas com


nativas de ocorrência regional, em até 50% (cinquenta por cento) da área
total, utilizando-se exclusivamente espécies nativas no restante. As
espécies nativas ou exóticas do plantio intercalar são aquelas
consideradas lenhosas, perenes ou de ciclo longo;
b) A densidade de árvores deverá ser superior a 1000 indivíduos/ha,
devendo-se utilizar, no mínimo, 50 espécies lenhosas, perenes ou de
ciclo longo, nativas regionais, sendo pelo menos 10 espécies com
dispersão zoocórica;
c) Metade das espécies arbóreas escolhidas poderão ser espécies exóticas;
d) De todas as espécies utilizadas, no mínimo 50 espécies deverão ser
arbóreas e nativas regionais, e dessas 50 espécies, pelo menos 10
deverão ser de dispersão zoocórica, ou seja, com frutos atrativos para
alimentação da fauna e cujas sementes são transportadas pelos animais.
e) A recomposição e manutenção da fisionomia vegetal nativa, mantendo
permanentemente a cobertura do solo;
f) Não poderá ser realizada exploração madeireira. (Edital PDRS-SA 02,
2013)
39

Figura 6 - Comparação entre os cenários 1 e 2 na área do reservatório do Jaguari


40

Figura 7 - Comparação entre os cenários 1 e 3 na área do reservatório do Jaguari

e respeitando as orientações do Projeto de Desenvolvimento Rural Sustentável, será


considerado para a simulação do Cenário 3 um modelo de SAF em que são
intercaladas espécies nativas frutíferas e lenhosas com espécies arbóreas exóticas,
na mesma proporção, uma vez que há restrições para exploração madeireiras e
41

cultivo de lavouras. A densidade de árvores do modelo de SAF proposto é de 1200


indivíduos/ha, que representa 70,3% da densidade estimada de árvores em uma
microbacia do Parque Estadual da Serra do Mar (1708 indivíduos/ha), no município
de Cunha (SP), cuja cobertura vegetal é floresta natural secundária, sucessora da
vegetação original de Mata Atlântica, em processo de regeneração natural há 40 anos
(Marmontel et al., 2013).

4.4.4. Classificação hidrológica dos solos

As características que definem a permeabilidade do solo são fundamentais para


prever, no balanço hídrico, a parcela da água da chuva que se torna escoamento
superficial e a parcela que infiltra, contribuindo para o escoamento de base. A
classificação do solo da área de estudo quanto a ordem, sub-ordem, profundidade e
textura foi obtida do Mapa Pedológico do Estado de São Paulo: Revisado e Ampliado
(Rossi, 2017). A Figura 4 apresenta os diferentes solos encontrados na Bacia do
Jaguari.

Figura 8 - Mapa pedológico da Bacia do Jaguari (Fonte: Rossi, 2017)


42

A partir dessas informações, foi possível identificar o grupo hidrológico a que cada
solo pertence (Tabela 2), segundo os critérios propostos por Sartori et al. (2004). As
classes A, B, C e D foram definidas pelo Serviço de Conservação do Solo (SCS, Soil
Conservation Service), órgão do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos da
América (USDA).

Tabela 4 - Grupo de Solo Hidrológico

Grupo
Tipo de solo Profundidade Textura
hidrológico
Argilossolos vermelho- Profundo e Muito
Média/Argilosa e Argilosa B
amarelos Profundo
Cambissolos háplicos de Raso a Muito Profundo de Média a Argilosa C
Pouco Profundo e
Gleissolos melânicos Média e Argilosa D
Profundo
Latossolos amarelos Pouco Profundo Argilosa A
Latossolos vermelho- Pouco Profundo e Muito
Argilosa A
amarelos Profundo
Neossolos litólicos Raso Média e Argilosa D

Plintossolos pétricos Raso e Pouco Profundo Argilosa e Muito Argilosa D

4.4.5. Número de curva (CN) e coeficiente de cultura (kc)

O CN reflete a capacidade de infiltração do solo, sendo um valor adimensional que


varia de 0 a 100. Valores baixos representam um solo com alta taxa de infiltração e,
consequentemente, com pouco escoamento superficial. Por outro lado, valores altos
de CN indicam solos com baixa capacidade de infiltração e alta geração de
escoamento superficial. O fator CN para a bacia da represa do Jaguari foi obtido da
Tabela Número da curva de escoamento superficial para usos agrícolas proposta por
Sartori (2004). Foram feitas as seguintes considerações:

• cultivo de eucalipto é equivalente à classe Culturas Temporárias com resíduo


cultural na superfície (Ct + N*+ RCS);
• vegetação secundária equivalente à Vegetação Natural – Capoeira, e
43

• SAF equivalente a Reflorestamento com resíduo cultural na superfície (N*+


RCS).

A tabela original de Sartori (2004) pode ser consultada nos Anexos.

Tabela 5 - Fator CN adotado (Adaptado de Sartori, 2004)

Grupo de solo hidrológico

Uso e Cobertura da terra A B C D


Solo exposto 83 86 91 94
Pasto Nativo 49 69 79 84
Pasto Degradado 68 79 86 89
Vegetação Secundária 30 48 65 73
Mata nativa 20 40 49 52
Cultivo de Eucalipto 61 71 78 81
Área construída 72 82 87 89
Via Pavimentada 72 82 87 89
Mineração 72 82 87 89
Corpos d'água 99 99 99 99
SAF 35 55 70 77

Para corpos d’água, o valor de CN adotado é 99, visto que toda entrada de água se
incorpora ao escoamento superficial do curso d’água e não há infiltração.

Os valores mensais de kc para cada classe de uso e cobertura da terra existentes na


região foram obtidos, em sua maioria, da tabela de kc para culturas agrícolas da FAO
- Food and Agriculture Organization of the United Nations (Allen et al.,1998).

Foi necessário assumir algumas correlações entre os dados disponíveis e os


desejados, que estão descritas a seguir:

• classe Pasto nativo equivalente a Grazing pasture, rotated grazing pois


representa uma vegetação mais preservada;
• classe Pasto degradado equivalente a Grazing pasture, extensive grazing;
• classe Corpos d’água equivalente a Open Water, < 2 m depth or in subhumid
climates or tropics, devido ao clima temperado úmido da região com verão
quente (classificação Köppen-Geiger), embora o reservatório tenha
profundidade maior que 2 metros;
44

• para a classe Solo exposto foi atribuído kc = 0,25, ligeiramente abaixo do menor
valor tabelado para Pastagem degradada;
• para as classes Área construída, Mineração e Via pavimentada foi atribuído
kc = 0,20, como proposto por Nistor (2017) para áreas urbanas. Esse valor
garante que as ET0 adotadas para estas regiões serão devidamente
penalizadas no cálculo da PET.
• como o modelo de SAF considerado para a construção do Cenário 3 apresenta
fisionomia vegetal semelhante a da mata nativa, com 70% de sua densidade
de árvores, assumiu-se kc = 0,77 para o SAF (30% menor que o valor de kc
de mata nativa).

Para a classe Cultivo de eucalipto, foi adotado valor de Kc igual a 1,1, como proposto
por Descheemaeker et al. (2011). Para a Mata Nativa, que é densa como o eucalipto,
foi adotado Kc = 1,1. Para Vegetação secundária, foram interpolados valores de Kc
de feno (Rye grass) e árvore frutífera de pequeno porte (Citrus, com 50% de dossel).

Tabela 6 - Valores de Kc adaptados para o uso e cobertura da terra

Uso e
Cobertura Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set Out Nov Dez
da terra
Solo exposto 0,25 0,25 0,25 0,25 0,25 0,25 0,25 0,25 0,25 0,25 0,25 0,25
Pasto Nativo 0,95 0,85 0,85 0,85 0,85 0,4 0,4 0,4 0,4 0,95 0,95 0,95
Pasto
0,75 0,75 0,75 0,75 0,75 0,3 0,3 0,3 0,3 0,75 0,75 0,75
Degradado
Vegetação
0,92 0,9 0,9 0,9 0,9 0,85 0,85 0,85 0,85 0,92 0,92 0,92
Secundária
Mata nativa 1,1 1,1 1,1 1,1 1,1 1,1 1,1 1,1 1,1 1,1 1,1 1,1
Cultivo de
1,1 1,1 1,1 1,1 1,1 1,1 1,1 1,1 1,1 1,1 1,1 1,1
Eucalipto
Área
0,2 0,2 0,2 0,2 0,2 0,2 0,2 0,2 0,2 0,2 0,2 0,2
construída
Via
0,2 0,2 0,2 0,2 0,2 0,2 0,2 0,2 0,2 0,2 0,2 0,2
Pavimentada
Mineração 0,2 0,2 0,2 0,2 0,2 0,2 0,2 0,2 0,2 0,2 0,2 0,2
Corpos
1,05 1,05 1,05 1,05 1,05 1,05 1,05 1,05 1,05 1,05 1,05 1,05
d'água
SAF 0,77 0,77 0,77 0,77 0,77 0,77 0,77 0,77 0,77 0,77 0,77 0,77
45

4.4.6. Precipitação mensal

Os dados de precipitação foram obtidos do WorldClim, como sugerido pelo Guia do


Usuário do pacote InVEST. Os dados disponíveis são médias mensais do período de
1970 a 2000, com resolução de aproximadamente um quilômetro.

Figura 9 - Distribuição espacial da precipitação na bacia, para cada mês do ano.


46

Há pluviômetros automáticos instalados dentro da bacia, entretanto eles estão


operando há apenas 5 anos e sem regularidade na coleta de dados.

Nota-se que a precipitação mais intensa coincide com as regiões de maior altitude,
com destaque para o distrito de São Francisco Xavier ao norte. A média anual de
precipitação na bacia é de 1451,2 mm, com desvio padrão de 98,2 mm.

4.4.7. Evapotranspiração de referência mensal (ET0)

Foi utilizada como fonte de dados de evapotranspiração de referência mensal a


sugerida pelo guia do usuário do pacote Invest: o Consortium for Spatial Information
(CGIAR-CSI), que disponibiliza dados baseados no WorldClim Global Climate Data.

A base de dados Global Potential Evapo-Transpiration (Global-PET) apresenta


resolução espacial de 30 segundos de arco de longitude, que representa
aproximadamente um quilômetro no Equador. Os dados de evapotranspiração de
referência mensal fornecidos são a média de dados mensais obtidos no intervalo dos
anos 1950 a 2000, em milímetros, disponibilizados no formato raster. A área de
interesse foi recortada do arquivo original utilizando o software QGIS, resultando em
doze arquivos em formato raster, correspondentes a cada mês do ano.

O modelo usado pelo CGIAR-CSI para estimar a evapotranspiração de referência


mensal é o de HARGREAVES et al. (1985), que define a equação:

Eq. 15 𝐸𝑇0 = 0,0023 × 𝑅𝐴 × (𝑇𝑚𝑒𝑑 + 17,8) × 𝑇𝐷0,5

onde ET0 é a evapotranspiração de referência em mm⋅mês-1, Tmed é a média de


temperatura, TD é a amplitude térmica diária e RA é a radiação extraterrestre
(radiação no topo da atmosfera expressa em mm/mês).
47

Figura 10 - Distribuição da evapotranspiração na bacia, para cada mês do ano.


48

4.4.8. Eventos de chuva

Como não foi possível obter dados de eventos de chuva devido à falta de medições
na bacia, foram utilizados valores de dias chuvosos. Os desenvolvedores do modelo
SWY aprovam essa substituição no caso de falta de dados de eventos de chuva. Os
dados utilizados foram disponibilizados pelo Meteoblue Weather, baseados em dados
históricos de 30 anos.

Tabela 7 - Média histórica de dias chuvosos em São José dos Campos

Meses Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set Out Nov Dez

Dias
24,6 20,8 21,9 15,6 12,6 8,8 10,1 9,6 14,5 18,7 19,8 22,2
chuvosos

4.4.9. Parâmetros α β γ

Os parâmetros do modelo α e β representam a fração de recarga anual das parcelas


de gradiente superior que está disponível para um pixel de gradiente inferior para
evapotranspiração em um determinado mês. E γ representa a fração de recarga de
pixels disponível para os pixels de gradiente inferior.

Foram adotados os valores padrões sugeridos no manual do modelo: α = 1/12, β = 1


e γ = 1.

5. RESULTADOS E DISCUSSÃO

O modelo Seasonal Water Yield do pacote InVEST retorna a cada simulação nove
parâmetros relacionados ao balanço hídrico da área de interesse e produz o mapa
dos valores de CN cruzados com a classificação de uso e cobertura do solo.

Oito desses parâmetros são apresentados na forma de mapas (arquivos do tipo raster)
e o último resultado é fornecido na forma decimal, conforme apresentado abaixo. A
unidade de todos os valores é milímetros:
49

• CN: Mapa dos valores CN


• QF: Mapa dos valores de escoamento superficial (quickflow).
• L: Mapa dos valores de recarga local
• L_avail: Mapa da recarga local disponível, ou seja, apenas valores positivos
de L
• B: Mapa do fluxo de base, que apresenta a contribuição de um pixel para o
fluxo de liberação lenta (e que não pode mais ser evapotranspirado)
• B_sum: Mapa da somatória de B, ou seja, fluxo através de um pixel gerado por
todos os pixels a montante, que não é evapotranspirado antes de atingir o curso
d’água;
• L_sum: Mapa da somatória de L, o fluxo através de um pixel gerado por todos
os pixels a montante e que está disponível para evapotranspiração para os
pixels a jusante
• L_sum_avail: Mapa da água disponível para um pixel, gerada por todos os
pixels a montante, disponível para evapotranspiração por este pixel
• V_ri: Mapa dos valores de recarga (contribuição, positiva ou negativa, para a
recarga total)
• Q_b: Fluxo de base médio anual (valor decimal).

A análise de resultados tem seu foco em três principais outputs: escoamento


superficial, recarga local e evapotranspiração real (QF, L e AET, respectivamente),
que compõem o balanço hídrico calculado pelo modelo (Eq. 7).

Tabela 8 - Variáveis do balanço hídrico da bacia do Jaguari

P (mm) σ QF (mm) σ AET (mm) σ L (mm) σ


Cenário 1 100,7 327,5 1073,4 381,3 253,8 328,0
Cenário 2 1451,2 98,2 97,8 327,4 1123,9 361,3 211,5 314,8
Cenário 3 98,1 327,3 1114,8 350,0 246,3 332,7

Para o conjunto de dados que alimentaram o modelo, os resultados revelam que a


bacia, na configuração atual, perde por evapotranspiração 74% da água que entra por
meio da precipitação e 7% da chuva é convertida em escoamento superficial.
50

A intensa evapotranspiração verificada mostra que a bacia apresenta um importante


papel de geração de umidade para a atmosfera local, quando possui mais de 70% do
seu território coberto por vegetação, ou seja, na configuração atual da bacia. Sabe-se
da importância da umidade como serviço ecossistêmico para a manutenção dos ciclos
hidrológicos e como principal condutora da precipitação.

5.1. ESCOAMENTO SUPERFICIAL

Primeiro, é fundamental relembrar que o resultado de QF é o único valor quantitativo


que o modelo SWY entrega ao usuário. Os valores de QF para os três cenários foram
analisados por classe de uso e ocupação do solo, com auxílio da ferramenta
Estatística zonal disponibilizada pelo QGIS.

Tabela 9 - Escoamento superficial médio, em milímetros.

Valores médios de QF (mm) por classe


Classes de uso e Cenário 2
ocupação do solo Cenário 1 Cenário 3
APP com mata
Situação atual APP com SAF
nativa
Corpos d’água 1081,6 1080,0 1080,0
Solo exposto 193,4 148,2 148,2
Mineração 154,3 113,4 113,4
Área construída 126,4 91,0 91,0
Via pavimentada 125,2 90,8 90,8
Mata nativa 71,5 89,0 29,0
Pasto nativo 58,0 31,5 31,5
Pasto degradado 47,5 46,5 46,5
Cultivo eucalipto 24,8 20,6 20,6
Vegetação secundária 9,2 5,3 5,3
Agrofloresta (SAF) - - 321,0
QFmédio (mm) 100,7 97,8 98,1
51

Após a separação dos resultados por classes, os valores médios de QF (Tabela 9)


foram calculados pela Equação 16:

Eq. 16

∑ 𝑄𝐹𝑚é𝑑𝑖𝑜 𝑑𝑒 𝑐𝑎𝑑𝑎 𝑝𝑜𝑙í𝑔𝑜𝑛𝑜 𝑑𝑎 𝑐𝑙𝑎𝑠𝑠𝑒 𝑥 Á𝑟𝑒𝑎 𝑑𝑜 𝑝𝑜𝑙í𝑔𝑜𝑛𝑜


𝑄𝐹 𝑚é𝑑𝑖𝑜 𝑑𝑎 𝑐𝑙𝑎𝑠𝑠𝑒 =
Á𝑟𝑒𝑎 𝑡𝑜𝑡𝑎𝑙 𝑑𝑎 𝑐𝑙𝑎𝑠𝑠𝑒

Os polígonos são gerados pelo procedimento de vetorização da camada raster de uso


e cobertura do solo. Esse dado em vetor é utilizado como grade para a separação dos
valores de QF por classes.

Com exceção da mata nativa, no Cenário 1 encontram-se os máximos de escoamento


superficial para cada classe, ou seja, o aumento de áreas vegetadas na bacia
contribuiu de forma geral para a diminuição do QF. No Cenário 2, houve a redução de
3% do fluxo total de escoamento superficial na bacia, que corresponde ao volume de
3.822.644 m³ de água.

Para melhor compreender o resultado de QF para a diferença entre os cenários, é


necessário focar na região onde foram feitas as alterações de uso e cobertura do solo,
isto é, na APP.

Tabela 10 - Escoamento superficial na APP

Área ocupada por cada classe em relação à área total de APP


Classes de uso e
ocupação do solo Cenário 1 Cenário 2 Cenário 3
Situação atual APP com mata nativa APP com SAF
Corpos d’água 0,4% 0% 0%
Pasto nativo 17,1% 0% 0%
Mineração 0,1% 0% 0%
Solo exposto 13,1% 0% 0%
Pasto degradado 0,3% 0% 0%
Vegetação secundária 2,4% 0% 0%
Via pavimentada 0,7% 0% 0%
Área construÍda 12,2% 0% 0%
Mata nativa 52,3% 100% 0%
Cultivo eucalipto 1,4% 0% 100%
QFmédio (mm) 343,7 318,3 321
52

Figura 11 - Resultados do escoamento superficial nos três cenários analisados


53

Observa-se que o reflorestando da APP com mata nativa, que consiste na conversão
de 47,7% da área, acarreta uma diminuição de 7,4% do escoamento superficial. Por
outro lado, fica claro que a agrofloresta também guarda tal função ecossistêmica de
redução do escoamento superficial - que implica na redução de perda de solo,
desfavorecimento dos picos de vazão, entre outros benefícios - reduzindo em 6,6% o
QF da APP em relação ao Cenário 1.

O modelo aponta que o escoamento superficial nas áreas de APP é três vezes maior
do que a média encontrada na bacia. Este resultado deve ser admitido com cautela
porque o algoritmo utilizado pelo modelo sobrepõe ao raster de uso e cobertura do
solo o raster de definição de cursos d’água (stream definition) e assume para estas
regiões um QF máximo igual à precipitação (Eq. 5). Esse procedimento não afeta os
resultados em uma análise geral, mas se torna relevante quando fazemos um recorte
da análise para as regiões de APP, que necessariamente margeiam os cursos d’água.

5.2. RECARGA LOCAL E ESCOAMENTO DE BASE

É fundamental ressaltar que os resultados fornecidos pelo SWY quanto à recarga local
e ao escoamento de base possuem caráter de índice, segundo o manual do modelo.
Por isso, os valores de L e B possibilitam a comparação das respostas entre diferentes
regiões da bacia.

A recarga local (L) antecede a formação do escoamento de base, portanto é previsto


que os valores desse sejam menores (ou iguais, no caso específico de não haver
evapotranspiração) que aquele. Os resultados médios para a bacia não seguem esse
preceito pois a recarga local pode assumir valores negativos, enquanto que os valores
de B são sempre maiores ou iguais a zero

Tabela 11 - Resultados de recarga local e escoamento de base

L (mm) σ B (mm) σ
Cenário 1 253,8 328,0 295,0 346,9
Cenário 2 211,5 314,8 267,4 333,5
Cenário 3 246,3 332,7 297,0 329,6
54

Tabela 12 - Recarga local e escoamento de base, em milímetros

Classes de uso e Cenário 1 Cenário 2 Cenário 3


ocupação do solo L (mm) B (mm) L (mm) B (mm) L (mm) B (mm)
Via pavimentada 1075,8 1073,0 1108,9 1107,2 1108,9 1108,4
Área construída 1060,8 1053,6 1094,1 1089,3 1094,1 1091,8
Mineração 1008,1 995,4 1045,9 1043,5 1045,9 1044,1
Solo exposto 888,8 838,0 931,3 923,9 931,3 927,5
Pasto degradado 520,3 518,1 521,6 518,5 521,6 520,3
Pasto nativo 373,6 372,3 382,4 380,9 382,4 381,8
Vegetação secundária 220,1 217,9 223,0 220,7 223,0 222,0
Mata nativa 85,2 100,5 76,9 93,5 91,4 106,1
Cultivo eucalipto 37,7 62,5 38,8 63,1 38,8 63,2
Corpos d’água - 343,7 0,0 - 99,9 0,0 - 258,8 0,0
Agrofloresta (SAF) - - - - 317,9 298,5

Os resultados de escoamento de base mostram que as áreas urbanizadas e o pasto


degradado contribuem substancialmente para este fluxo, ao contrário das regiões de
mata nativa e cultivo de eucalipto que apresentam muitos pixels com B = 0, ao
contrário do que se esperava.

Isso pode ser melhor entendido com o mapa de recarga local (Figura 14), que indica,
segundo as considerações e cálculos do modelo, que em grande parte da bacia ocorre
um déficit na infiltração de água e, quando L é negativo, B é igual a zero (Eq. 10).

Conhecendo a forma como o balanço hídrico é considerado nesta modelagem (Eq. 7),
e ciente do valor acentuado de evapotranspiração real resultante, que ultrapassa 70%
da entrada de água pela precipitação, questiona-se a ordem de grandeza dos dados
de evapotranspiração de referência que alimentaram o modelo.

Essa discussão orientou a realização de simulações para análise de sensibilidade do


SWY, a fim de se ter um diagnóstico dos pesos das variáveis para o algoritmo.
55

Figura 12 - Resultado de escoamento de base nos três cenários analisados


56

Figura 13 - Resultados de recarga local nos três cenários analisados


57

Figura 14 -Resultados de recarga local em valores positivos e negativos


58

5.3. EVAPOTRANSPIRAÇÃO REAL

Os resultados calculados de AET são coerentes com as características de cada classe


de uso e cobertura do solo. Nota-se que as áreas vegetadas como mata nativa, cultivo
de eucalipto, vegetação secundária e pasto nativo são as áreas que mais contribuem
para a produção de evapotranspiração na bacia. Essas quatro classes ocupam 73,2%
da área de estudo, que justifica a média de 1073,4 mm de AET para o Cenário 1. As
áreas urbanizadas são as que menos contribuem para a geração de umidade
atmosférica.

Tabela 13 - Evapotranspiração real, em milímetros

AET (mm)
Classes de uso e ocupação do solo
Cenário 1 Cenário 2 Cenário 3
Mata nativa 1388,2 1389,0 1386,9
Cultivo eucalipto 1371,2 1370,9 1370,9
Vegetação secundária 1189,7 1189,8 1189,8
Pasto nativo 1030,3 1030,1 1030,1
Pasto degradado 849,9 849,9 849,9
Solo exposto 334,7 334,1 334,1
Área construída 265,7 265,5 265,5
Via pavimentada 264,8 264,6 264,6
Mineração 262,2 261,3 261,3
Agrofloresta (SAF) - - 1016,0
AETmédia (mm) 1073,4 1123,9 1114,8

É interessante observar que áreas cobertas por SAF apresentam AET próximas a
classe de pasto nativo, embora o valor de kc para SAF seja mais próximo dos valores
de vegetação secundária (assim como os valores de CN).

5.4. ANÁLISE DE SENSIBILIDADE

O comportamento atípico do modelo SWY para o cálculo de L e B foi investigado com


procedimentos de análise de sensibilidade para alguns parâmetros considerados
críticos.
59

5.4.1. Alteração da ET0

Nesta análise foi testada a influência da variável evapotranspiração de referência


(ET0) no resultado de recarga local e escoamento de base.
Para essa comparação utilizou-se os dados de evapotranspiração de referência
desenvolvidos pelo IIASA da FAO para estudos globais de avaliação agroecológica.
O conjunto de dados contém valores médios mensais de ET0 para áreas terrestres
globais, excluindo a Antártida, para o período 1961-1990. O conjunto de dados foi
preparado de acordo com o método FAO Penman – Monteith, com resolução de 30
arc minutos.

Tabela 14 - Comparação das médias mensais de evapotranspiração de referência

Mês ET0 - CGIAR-CSI (dados iniciais) ET0 - IIASA/FAO (comparação)


Janeiro 144,9 38,4
Fevereiro 124,3 37,5
Março 122,6 33,8
Abril 98,7 29,0
Maio 83,4 23,0
Junho 71,1 21,0
Julho 75,9 21,9
Agosto 93,5 26,2
Setembro 109,1 31,0
Outubro 127,9 33,8
Novembro 134,1 37,7
Dezembro 143,5 37,5
ET0 anual 1329,0 370,8

Esses dados de ET0 foram particularmente interessantes para esta análise por
apresentarem valores próximos a um quarto dos valores utilizados inicialmente. Essa
diferença expressiva é ideal para a análise de sensibilidade pretendida.

Nesta simulação, foi possível comprovar o efeito da variável ET0 no cálculo de AET,
que também teve seu valor bastante reduzido, comparado ao resultado inicial de AET.
Pode-se confirmar a expectativa de que um menor valor de AET gerasse maiores
índices de recarga local e escoamento de base.
60

Tabela 15 - Análise de sensibilidade da evapotranspiração

Cenário 1
Médias Com ET0 - CGIAR-CSI (dados iniciais) Com ET0 - IIASA/FAO (comparação)
QF (mm) 100,7 102,4
AET (mm) 1073,4 313,5
L (mm) 253,8 981,2
B (mm) 295,0 1037,9

No novo mapa de recarga local (Figura 15) não há mais aquela grande mancha de
déficit de infiltração de água, são poucos os pixels com L negativo e verifica-se no
histograma dos metadados que os valores estão menos dispersos.

Apesar do mapa de resultado de B mostrar maior contribuição das áreas vegetadas e


menor dispersão dos dados, essas regiões continuam apresentando valores menores
que os das áreas urbanas (com exceção da região de São Francisco Xavier, ao norte
da bacia, onde os pixels de mata de fato contribuem para o fluxo de base com valores
máximos).

Nessa simulação, não houve alteração do comportamento do modelo no cálculo dos


resultados gerais do índice de escoamento de base (Tabela 16).

Tabela 16 - Comparação do escoamento de base por classe, para ET0 alterado

Cenário 1
ET0 - CGIAR-CSI (dados iniciais) ET0 - IIASA/FAO (comparação)
B médio por classes (mm)
Via pavimentada 1073,0 1258,7
Área construída 1053,6 1244,1
Mineração 995,4 1184,1
Solo exposto 838,0 1117,0
Pasto degradado 518,1 1135,8
Pasto nativo 372,3 1094,7
Vegetação secundária 217,9 1072,8
Mata nativa 100,5 1018,3
Cultivo eucalipto 62,5 995,5
Corpos d’água 0,0 3,0
61

Figura 15 - Resultados da análise de sensibilidade para o Cenário 1 com ET0 menor


(IIASA/FAO)
62

5.4.2. Alteração da Precipitação

A impressão de que a AET prejudicava os resultados do modelo para os índices L e


B foi confirmada na análise de sensibilidade de ET0.

Conhecendo o equacionamento do modelo para o balanço hídrico, uma precipitação


muito elevada para a bacia deveria produzir um efeito semelhante ao teste realizado
com valores reduzidos de ET0. Assim desprendendo-se da realidade, foi simulado uma
chuva dez vezes maior do que a considerada originalmente para testar o
comportamento do modelo frente à hipótese levantada.

Os resultados foram satisfatórios e se assemelham aos resultados da análise anterior


(Figua 16). As áreas vegetadas da bacia apresentaram valores relativos ainda maiores
de recarga local e de contribuição para o escoamento de base e valores mais baixos
de QF.

Pela primeira vez, as áreas urbanizadas deixaram de ser as principais contribuintes


do escoamento de base. Nota-se na Figura 15, no mapa de escoamento de base, que
as áreas urbanas próximas ao reservatório apresentam cor azul, ou seja, mesma faixa
de valores das áraes de mata ao norte da bacia. Com a simulação da precipitação
excessiva, observa-se na Figura 16, que as regiões na cor azul (valores máximos de
B) são apenas as regiões de mata. As áreas urbanas passam a ter cor laranja, que é
a faixa de valores mínimos, maiores apenas que o resultado do reservatório, que
apresenta B igual a zero.

Nessa simulação, ficou bastante evidente que os dados do mapa pedológico da bacia
podem influenciar diretamente os resultados de QF e B, pois a mancha de latossolo
vermelho-amarelo na região do distrito de São Francisco Xavier apresenta contorno
bem definido. Isso não ocorre no mapa de recarga local.
63

Figura 16 - Resultado da análise de sensibilidade para precipitação


64

5.4.3. Alteração de α

Para testar se a sazonalidade da precipitação na bacia influencia significativamente


os resultados, foi realizada uma rodada com valores de α calculados pela razão entre
valores de precipitação mensais antecedentes e a precipitação total, como sugere o
manual do modelo (Tabela 18).

Eq. 17
𝑃𝑚−1
𝛼𝑚 =
∑12
1 𝑃𝑖

Tabela 177 - Valores mensais de alfa para análise de sensibilidade

Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set Out Nov Dez
α 0,149 0,165 0,151 0,122 0,052 0,039 0,033 0,023 0,029 0,044 0,095 0,095

O valor padrão de alfa utilizado anteriormente era de 0,083 (1/12) para cada mês.
Essa simulação mostrou que a sazonalidade da precipitação na área de estudo não
foi suficiente para alterar a ordem de grandeza dos resultados, como também não
mudou a relação entre eles.

Tabela 18 - Resultado da alteração de alfa nos parâmetros do balanço hídrico

Cenário 1
Médias α = 0,083 α mensal
QF (mm) 100,7 102,4
AET (mm) 1073,4 1056,5
L (mm) 253,8 269,9
B (mm) 295,0 309,3
65

Figura 17 - Resultado da simulação com alteração do parâmetro alfa

5.4.4. Alteração do CN e do kc

Os resultados das análises de sensibilidade anteriores mantem o questionamento a


respeito do cálculo dos índices de recarga local e escoamento de base. Essa
indagação foi levada aos especialistas da equipe do projeto Natural Capital, que
atuaram no desenvolvimento do SWY. A orientação recebida foi de reavaliar os
valores do CN (igual a 72, 82, 87 e 89, para os solos A, B, C e D, respectivamente)
66

adotados para as áreas urbanas. É possível que eles sejam relativamente baixos,
indicando, na verdade, que nessas classes haveria uma porção significativa de áreas
permeáveis. Foi adotado CN = 95 para todas as áreas urbanas (classes: mineração,
via pavimentada e área construída), para todos os quatro grupos de solos
hidrológicos.

Como a AET apresenta valores altos, decidiu-se por reduzir os valores de kc das
seguintes classes: mata nativa (redução de 1,1 para 1,0), da cultura de eucalipto
(redução de 1,1 para 1,0) e do SAF (0,77 para 0,7).

As alterações foram feitas individualmente apenas para o Cenário 1 em duas rodadas


distintas e, por fim, houve uma terceira simulação com as duas alterações
simultâneas.

Tabela 19 - Análise de sensibilidade dos parâmetros CN e Kc

Cenário 1
Rodada com Kc = 1,0
Rodada com CN = 95
para mata nativa e
Resultado para áreas Rodada com alteração
eucalipto e
inicial urbanizadas, com simultânea de CN e Kc
Kc = 0,7 para SAF, com
kc inalterado
CN inalterado
QF (mm) 100,7 141,2 102,4 141,2
AET (mm) 1073,4 1072,4 1040,3 1039,6
L (mm) 253,8 234,1 285,4 262,1
B (mm) 295,0 249,6 336,8 294,6

A alteração do valor de CN ocasionou o aumento do escoamento superficial como


esperado, uma vez que as áreas urbanizadas se tornaram mais impermeáveis. Com
isso, o escoamento de base foi prejudicado. A diminuição de kc favoreceu a infiltração
de água e o fluxo de base da bacia, uma vez que menor quantidade de água deixou
a bacia na forma de AET.

Com a alteração simultânea de CN e kc, tem-se QF idêntico a primeira rodada, fato


que comprova a ordem com que os cálculos são realizados pelo modelo (QF é o
primeiro resultado calculado). Para o cálculo da AET, observa-se uma influência
irrelevante do CN em seu resultado final. Comparando com o resultado inicial, essa
rodada demonstra que ter áreas mais impermeáveis em combinação com vegetação
67

com menor capacidade de evapotranspiração, não traz benefícios para o fluxo de


base de uma bacia e ainda eleva o indesejado escoamento superficial.

6. CONCLUSÃO

O modelo de Produção Sazonal de Água fornece informações úteis sobre onde e em


que quantidade os serviços ecossistêmicos de caráter hídrico são produzidos em uma
bacia hidrográfica. O modelo apresenta a simplicidade necessária para viabilizar um
estudo ambiental de alta complexidade e multidisciplinariedade, características
retratadas na variedade de seus parâmetros.

Nas simulações realizadas, o modelo comportou-se de forma adequada no cálculo do


escoamento superficial. Os resultados demonstram que o reflorestamento com mata
nativa da APP dos rios e do reservatório da Bacia do Jaguari diminuem em 3% o
escoamento superficial, que representa aproximadamente quatro milhões de metros
cúbicos de água em um ano. Este estudo também constatou que um Sistema
Agroflorestal pode ser implantado em APPs, substituindo a mata nativa, pois ele
também guarda a função ecossistêmica de redução do escoamento superficial. Mas
para isso, observou-se que a configuração dessa agrofloresta é determinante para
que essa função ecossistêmica seja desempenhada com sucesso. Mais estudos são
necessários para compreender o tipo de sistema agroflorestal mais adequado para o
solo e topografia da APP em questão.

Este trabalho revelou a importância do conhecimento das características da


evapotranspiração da área de estudo, quando se pretende analisar serviços
ecossistêmicos ligados ao balanço hídrico. A primeira simulação para a situação atual
da Bacia do Jaguari revela que 74% da água que chega por meio da precipitação é
convertida em evapotranspiração, revelando que a Bacia do Jaguari hoje é uma fonte
de umidade para a atmosfera local. Isso é possível devido a área vegetada da bacia
que é significativa (73,4%). Para o sistema de abastecimento de água, a umidade
presente na atmosfera é fundamental na condução de precipitações nas regiões de
captação. A infraestrutura natural, na forma de áreas vegetadas, fornece vantagens
ao ciclo hidrológico que estão fora do alcance das soluções pensadas em termos de
infraestrutura cinza.
68

No cálculo dos índices de recarga local e escoamento de base, o modelo apresentou


comportamento não-linear. Resultados coerentes para esses índices foram obtidos
apenas com a simulação de uma precipitação demasiadamente alta. Foram seguidas
as orientações de especialistas desenvolvedores do modelo na análise de
sensibilidade dos parâmetros CN e kc, todavia as alterações testadas não foram
suficientes para corrigir a resposta do modelo. Estudos futuros para investigar mais
detalhadamente esta questão são imprescindíveis para a evolução da ciência
ambiental, que cada vez mais lança mão da ferramenta de modelagem para auxiliar a
compreensão da natureza.
69

7. ANEXOS

Fonte Sartori (2004)


70

8. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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