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Direitos Humanos e Cidadania


Emilly Albuquerque

2013 Copyright. Curso Agora eu Passo - Todos os direitos reservados ao autor.


DIREITOS HUMANOS E CIDADANIA

1 Teoria geral dos direitos humanos.

A teoria geral dos direitos humanos trata dos direitos fundamentais da


pessoa humana, considerando que toda pessoa deve ter a sua dignidade
respeitada e a sua integridade protegida, independentemente da origem, raça,
etnia, gênero, idade, condição econômica e social, orientação ou identidade
sexual, credo religioso ou convicção política.
Toda pessoa deve ter garantidos seus direitos civis (como o direito à vida,
segurança, justiça, liberdade e igualdade), políticos (como o direito à
participação nas decisões políticas), econômicos (como o direito ao trabalho),
sociais (como o direito à educação, saúde e bem-estar), culturais (como o
direito à participação na vida cultural) e ambientais (como o direito a um meio
ambiente saudável).
A classificação dos Direitos Humanos em Gerações e Dimensões se deu
em 1979, em uma conferência do Instituto Internacional de Direitos Humanos,
Karel Vasak propôs uma classificação dos direitos humanos em gerações,
inspirado no lema da Revolução Francesa (liberdade, igualdade e fraternidade).

1a Dimensão ou Geração → Liberdade


2a Dimensão ou Geração → Igualdade
3a Dimensão ou Geração → Fraternidade ou Solidariedade:
metaindividuais e supraindividuais
4a Dimensão ou Geração → Evolução da Ciência/Genética
5a Dimensão ou Geração → Realidade Virtual

Visando relacionar a disciplina dos direitos humanos com a cidadania,


analisaremos alguns pontos relevantes acerca do assunto.

1.1 Conceito, terminologia, estrutura normativa, fundamentação.

a) Conceito

O conceito de Direitos Humanos é muito amplo. Para o Prof. Fernando


Sorondo, ele pode ser considerado sob dois aspectos:
- "constituindo um ideal comum para todos os povos e para todas as
nações, seria então um sistema de valores"; e
- "este sistema de valores, enquanto produto de ação da coletividade
humana, acompanha e reflete sua constante evolução e acolhe o clamor de
justiça dos povos. Por conseguinte, os Direitos Humanos possuem uma
dimensão histórica".
Os Direitos Humanos são princípios internacionais que servem para
proteger, garantir e respeitar o ser humano. Devem assegurar às pessoas o
direito de ter uma VIDA DIGNA com acesso à liberdade, ao trabalho, à
propriedade, à saúde, à moradia, a educação, lazer, alimentação etc.
Os Direitos Humanos são fruto do percurso histórico de costumes e
tradições das antigas civilizações da produção jusfilosófica e de valorização de
direitos naturais.
A finalidade básica dos direitos humanos é coibir o abuso do Poder do
Estado.

b) Terminologia

A nomenclatura DIREITOS HUMANOS e DIREITOS DO HOMEM é


frequentemente usada entre estudiosos latinos e angloamericanos, enquanto
DIREITOS FUNDAMENTAIS é mais apreciada pelos alemães.

Direitos Humanos x Direitos do Homem? X Direitos Fundamentais?

Todas essas denominações, em regra, querem dizer a mesma coisa, ou


seja, é um conjunto de direitos políticos, civis, sociais, econômicos e culturais
garantidos pelo Estado a todos os seres humanos.

c) Estrutura normativa

Para entender a estrutura normativa dos direitos humanos, precisamos


analisar os sistemas que o fundamenta.
O sistema global de proteção dos direitos humanos, da ONU, contém
normas de alcance geral e de alcance especial. As normas de alcance geral e
destinadas a todos os indivíduos, genérica e abstratamente, são os Pactos
Internacionais de Direitos Civis e Políticos e o de Direitos Econômicos, Sociais
e Culturais.
As normas de alcance especial são destinadas a indivíduos ou grupos
específicos, tais como: mulheres, refugiados, crianças entre outros. Dentre as
normas especiais do sistema global da ONU, destacam-se a Convenção contra
a Tortura e outros Tratamentos ou Penas Cruéis, Desumanos e Degradantes, a
Convenção para a Eliminação da Discriminação contra a Mulher, a Convenção
para a Eliminação de todas as formas de Discriminação Racial e a Convenção
sobre os Direitos da Criança. aprovou
Nos sistema global da ONU, o Brasil ratificou a maior parte dos
instrumentos internacionais de proteção aos direitos humanos, tais como o
Pacto Internacional de Direitos Civis e Políticos, em 24/01/92; o Pacto de
Direitos Econômicos, Sociais e Culturais, 24/01/92; a Convenção para a
Eliminação de toda a Discriminação contra a Mulher, em 01/02/84; a
Convenção para a Eliminação de todas as formas de Discriminação Racial, em
27/03/68; e a Convenção sobre os Direitos da Criança, em 24/09/90. Porém, o
Brasil ainda não reconhece a competência dos seus órgãos de supervisão e
monitoramento, os respectivos Comitê de Direitos Humanos, o Comitê contra a
Discriminação Racial, o Comitê contra a Tortura, no que tange à apreciação de
denúncias de casos individuais de violação dos direitos humanos.
Assim, o Brasil aderiu aos mencionados tratados internacionais, porém,
ainda não reconhece a competências de seus órgãos de supervisão, impede a
fiscalização de suas obrigações internacionais por parte daqueles órgãos. Na
prática, tal fato representa a impossibilidade de tais órgãos receberem
denúncias individuais de casos de violações de direitos humanos ocorridos no
país, através do sistema de petições ou denúncias individuais. A possibilidade
de acionar outros órgãos internacionais de supervisão, além da Comissão
Interamericana de Direitos Humanos da OEA, seria uma garantia a mais da
proteção dos direitos humanos no Brasil.
Assim, no sistema global, além do sistema de denúncias individuais, há
também o sistema de investigações e o de relatórios. Ao ratificar os tratados
internacionais mencionados, o Brasil assumiu a obrigação de enviar relatórios
periódicos para os Comitês e de sujeitar-se a uma eventual investigação sobre
a situação dos direitos humanos no seu território. Uma forma de participação e
de intervenção das organizações de direitos humanos no sistema da ONU é o
encaminhamento de relatórios próprios aos respectivos Comitês, para que
sejam analisados juntamente com os relatórios enviados pelos Estados.
O sistema da ONU possui dois tipos de procedimento: os convencionais e
os não convencionais.
O procedimento convencional requer a sua previsão expressa em
tratados, pactos e convenções internacionais, e é supervisionado pelos órgãos
internacionais de supervisão, os Comitês (através do sistema de denúncias,
relatórios e investigações).
Os procedimentos não convencionais são mecanismos não previstos em
tratados que contribuem para a maior eficácia do sistema internacional de
proteção. Os mecanismos não convencionais são bastante específicos e são
acionados em caso de não assinatura dos tratados internacionais pelos países
violadores de direitos humanos num caso específico, como por exemplo, o
sistema de ações urgentes. Nestes casos, a ONU analisará as violações com
base em requisitos como a persistência, a sistematicidade, a gravidade e a
prevenção, para decidir se intervirá através de um dos seus órgãos, tomando
providências concretas.
O sistema interamericano de proteção aos direitos humanos, do qual
participam os estados membros da OEA, integra o sistema regional de
proteção juntamente com os sistema europeu e a sistema africano.
O sistema interamericano de promoção dos direitos humanos teve início
formal com a aprovação da Declaração Americana de Direitos e Deveres do
Homem em 1948 na Colômbia. A Declaração Americana é um instrumento de
alcance geral que integra o sistema interamericano, destinada a indivíduos
genéricos e abstratos, estabelecendo os direitos essenciais da pessoa
independente de ser nacional de determinado Estado, tendo como fundamento
os atributos da pessoa humana. Além da Declaração Americana, há outros
instrumentos de alcance geral que fazem parte do sistema interamericano,
como a Convenção Americana sobre os Direitos Humanos ou “Pacto de San
José”(1969), ratificada pelo Brasil em 25/09/92.
Além dos instrumentos de alcance geral, os sistema interamericano
também é integrado por instrumentos de alcance especial, tais como: a
Comissão Interamericana de Direitos Humanos e a Corte Interamericana de
Direitos Humanos. Ao ratificar a Convenção Americana, o Brasil aceitou
compulsoriamente a competência da Comissão para receber denúncias de
casos individuais de violações de direitos humanos.
Assim, no caso do Brasil, até o presente, o único órgão internacional que
têm competência para aceitar denúncias de casos individuais ;e a Comissão
Interamericana conforme estabelece a Convenção Americana no seu artigo 44:
“Qualquer pessoa ou grupo de pessoas, ou entidade não-governamental
legalmente reconhecida em um ou mais Estados-membros da Organização,
pode apresentar à Comissão petições que contenham denúncias ou queixas de
violação desta Convenção por um Estado-parte.”
Além do recebimento de denúncias, a Comissão tem duas funções:
promover e estimular em termos gerais os direitos humanos através da
elaboração de relatórios gerais; elaborar estudos e relatórios sobre a situação
dos direitos humanos nos países membros da OEA; realizar visitas in loco aos
países membros e, apresentar um Relatório Anual na qual são reproduzidos
relatórios finais dos casos concretos, nos quais já houve uma decisão sobre a
responsabilidade internacional dos países denunciados. A publicação de um
relatório final no Relatório Anual da Comissão divulgado para os Estados
membros da Assembléia Geral da OEA é a sanção mais forte a que pode estar
submetido um Estado, que ainda não tenha reconhecido a competência da
jurisdição da corte Interamericana, proveniente do sistema interamericano.
A Corte Interamericana, diferentemente da Comissão, é um órgão de
caráter jurisdicional, que foi criado pela Convenção Americana sobre Direitos
Humanos com o objetivo de supervisionar o seu cumprimento, como função
complementar a função conferida pela mesma a Comissão.
Assim, a legitimidade processual para o envio de casos para a Corte é
somente concedida para a Comissão os Estado-parte, não sendo permitido o
envio de casos pelas próprias vítimas de violações, seus representantes,
familiares ou pelas organizações não-governamentais. Para que os casos não
sejam encaminhados à Corte primeiramente terão que passar pelo exame da
Comissão, esgotando o seu procedimento:

“Art. 61-1. Somente os Estados-parte e a Comissão têm


direito de submeter um caso à decisão da Corte”.

“Art. 62-1. Todo Estado-parte pode, no momento do


depósito de seu instrumento de ratificação desta
Convenção ou de adesão a ela, ou em qualquer momento
posterior, declarar que reconhece como obrigatória, de
pleno direito e sem convenção especial, a competência da
Corte em todos os casos relativos à interpretação ou
aplicação desta Convenção.”

A Corte possui duas funções principais: a função contenciosa, que é a


análise dos casos individuais de violações de direitos humanos encaminhados
pela Comissão ou pelos Estados-parte; e a função consultiva. A sua função
consultiva refere-se a sua capacidade para interpretar a Convenção e outros
instrumentos internacionais de direitos humanos. Qualquer dos Estados partes
da OEA podem solicitar à Corte uma opinião consultiva, mesmo os que não
são partes na Convenção Americana ou outros órgãos enumerados no
Capítulo X da Carta da Organização, conforme o artigo 64 da Convenção
Americana.
A função consultiva da Corte foi usada com mais freqüência nos seus
primeiros anos de funcionamento, e as Opiniões Consultivas versaram sobre
temas como: os limites de sua autoridade; os limites das ações dos Estados;
discriminação; habeas corpus; garantias judiciais; pena de morte;
responsabilidade do Estado, entre outros temas cruciais para a efetiva proteção
dos direitos humanos.
Por fim, esclarecemos que não existe hierarquia entre o sistema global e
o sistema regional (interamericano) de proteção dos direitos humanos. A lógica
do sistema internacional é de somar e proteger de forma mais integral possível
os direitos da pessoas humana. Neste sentido, o critério adotado para evitar
conflitos entre os vários instrumentos internacionais é da prevalência da norma
mais benéfica para a vítima de violações de direitos humanos. Tal critério
contribui para minimizar os conflitos e possibilitar uma maior coordenação entre
os instrumentos de proteção.
Além disso, igualmente não existe hierarquia entre o sistema
internacional, seja global ou interamericano, e o sistema jurídico dos países. A
tendência e o propósito da coexistência de distintos instrumentos jurídicos que
garantem os mesmos direitos é no sentido de ampliar e fortalecer a proteção
dos direitos humanos, importando em última análise o grau de eficácia da
proteção. Assim será aplicada ao caso concreto a norma que melhor proteger a
vítima seja ela de direito internacional ou de direito interno.

d) Fundamentação

A fundamentação dos Direitos Humanos teve sua solução com a


aprovação da Declaração Universal dos Direitos do Homem, aprovada em 10
de dezembro de 1848 pela Assembléia-Geral das Nações Unidas. Mas
hodiernamente existe uma crise dos fundamentos dos Direitos Humanos, e, o
problema fundamental dos direitos do homem, hoje, não é tanto o de justificá-
los, mas o de protegê-los. Trata-se de um problema não filosófico, mas político.
A verdade é que os direitos humanos encontram-se em uma situação
paradoxal: de um lado, proclamam-se em diversos textos legais um número
crescente de direitos civis, políticos, sociais, econômicos e culturais, que
constituem, na história do direito, a afirmação mais acabada da crença do
homem na sua própria dignidade; de outro lado, esses mesmos direitos,
transformam-se em ideais utópicos, na medida em que são sistematicamente
desrespeitados por grupos sociais e governos. Os próprios governos
autoritários contribuem para a idealização dos direitos humanos, pois
preocupam-se mesmo em declarar a sua fidelidade a esses direitos, ainda que,
cuidadosamente, defendam interpretações particulares sobre a abrangência, o
sistema de proteção e a própria fundamentação dos direitos humanos.
Esse conflito entre valores universais, textos legais e práticas político-
jurídicas fez com que os direitos humanos passassem a ser considerados
como promessa utópica, fadada a desaparecer no mundo etéreo dos ideais
não cumpridos.
Pela fundamentação jusnaturalista temos que tais direitos, antes de
serem positivados nas Declarações de Direitos e nas Constituições, constituem
verdadeiros direitos morais, intrinsecamente relacionados com a própria
existência da humanidade e de seu desenvolvimento histórico, político,
econômico e social. São direitos universais, válidos universalmente,
inalienáveis, imprescritíveis, e, que garantem a dignidade do homem perante
os demais e também sua autonomia, emancipação e liberdade frente ao poder
do Estado.
As três características mais relevantes da fundamentação jusnaturalista
dos direitos humanos seriam as seguintes:

(i) a origem dos direitos naturais não é de Direito Positivo, senão um


tipo de ordem jurídica distinta do Direito Positivo, ou seja, o Direito
Natural;
(ii) tanto a ordem jurídica natural como os direitos naturais deduzidos
são expressão e participação de uma natureza humana comum e
universal para todos os homens; e,
(iii) no que se refere a existência desses direitos, os direitos humanos
existem e o sujeito os possui independentemente do seu
reconhecimento ou não por determinada ordem jurídica.

Muitos teóricos tem defendido a tese de que os direitos humanos tiveram


origem não na ordem jurídica positiva, mas em um direito natural, ou seja, em
um sistema normativo que se caracteriza pelo fato de que o critério segundo a
qual certas normas pertencem ao sistema não está baseado em atos
contigentes ou ditados ou no reconhecimento por parte de certos indivíduos,
senão em sua justificação intrínseca.
A fundamentação jusnaturalista, de forma conclusiva, afirma e tem como
consideração que os direitos humanos são direitos naturais, e, na defesa do
jusnaturalismo como teoria que explica e dá a fundamentação da existência do
direito natural.
Quanto à fundamentação histórica dos direitos humanos, tem por base a
assertiva que os direitos humanos manifestam-se e são variáveis e relativos a
cada contexto histórico e de desenvolvimento da sociedade.
As diferenças da fundamentação jusnaturalista para a fundamentação
histórica dos direitos humanos, consistem em que:
(i) no lugar de direitos naturais, universais e absolutos, fala-se de
direitos históricos, variáveis e relativos;
(ii) no lugar de direitos anteriores e superiores a sociedade, se fala em
direitos de origem social provenientes do resultado da evolução da
sociedade”.

Segundo o pensamento de Norberto Bobbio, os direitos humanos são


direitos históricos, e, foram conquistados ao longo dos tempos, a medida da
evolução e necessidade da própria sociedade, daí o estudo e a teorização dos
direitos humanos em direitos de primeira, segunda e terceira geração.
Para os defensores da fundamentação histórica dos direitos humanos a
temática específica dos mesmos estará fundada nos valores constituídos em
uma comunidade histórica concreta, segundo fins que essa mesma
comunidade pretende realizar. Os direitos assegurados e positivados seriam
resultados de reivindicações e lutas pela afirmação dos mesmos e refletem o
grau de desenvolvimento alcançado em determinada sociedade na afirmação
de seus direitos enquanto cidadãos.
Quanto à fundamentação ética tem-se como ponto de partida que a
fundamentação dos mesmos não pode ser apenas jurídica, mas baseada em
valores, em uma fundamentação ética ou axiológica. Nesta fundamentação, os
direitos humanos aparecem como direitos morais como exigências éticas e
direitos que os homens tem pelo fato de serem homens, e, portanto, com um
direito igual a seu reconhecimento, proteção e garantia por parte do poder
político e jurídico. Direitos esses iguais, obviamente embasados na propriedade
comum de todos eles enquanto seres humanos e iguais independentemente de
qualquer contingência histórica ou cultural, característica física ou intelectual,
poder político ou classe social.
A fundamentação ética dos direitos humanos fundamentais consiste na
consideração destes direitos como direitos morais, entendidos estes como o
resultado de uma dupla vertente, ou seja, ética e jurídica. Partindo deste
prisma, e tendo por base como um dos valores fundantes, o da dignidade da
pessoa humana, pode-se chegar a uma análise ética de fundamentação dos
diferentes direitos, pois não existe uma única fundamentação ética, senão
diversas fundamentações para os direitos humanos.

2 Afirmação histórica dos direitos humanos.

A ideia de direitos humanos ganhou muita importância ao longo da


história, tendo em vista que seus pressupostos e princípios têm como
finalidade a observância e proteção da dignidade da pessoa humana de
maneira universal, ou seja, abrangendo todos os seres humanos.
Preliminarmente, é importante salientar que não serão abordados,
especificamente, todos os fatores que influenciaram na construção da visão
contemporânea de direitos humanos, tendo em vista as limitações do presente
trabalho.
Portanto, serão explicitados os principais marcos históricos relevantes
para a compreensão do tema:

1. Convenção Relativa ao Tratamento dos Prisioneiros de Guerra (1929)


2. Declaração Universal dos Direitos Humanos (1948)
3. Convenção sobre a Eliminação de Todas as Formas de Discriminação Racial
(1965)
4. Pacto Internacional dos Direitos Civis e Políticos (1966)
5. Pacto Internacional dos Direitos Econômicos, Sociais e Culturais (1966)
6. Convenção Americana de Direitos Humanos (Pacto de São José da Costa
Rica – 1969)
7. Declaração Universal dos Direitos dos Povos (1976)
8. Convenção sobre a Eliminação de todas as Formas de Discriminação Contra
a Mulher (1979)
9. Convenção contra a Tortura e outros Tratamentos ou Penas Cruéis,
Desumanos ou Degradantes (1984)
10. Convenção Interamericana para Prevenir e Punir a Tortura (1985)
11. Convenção Interamericana para Prevenir, Punir e Erradicar a Violência
Contra a Mulher (Convenção de Belém do Pará – 1994)
12. Declaração sobre os Princípios e Direitos Fundamentais do Trabalho (1998)
13. Protocolo de Prevenção, Supressão e Punição do Tráfico de Pessoas,
Especialmente Mulheres e Crianças (1999)
14. Convenção Interamericana para a Eliminação de todas as Formas de
Discriminação Contra as Pessoas Portadoras de Deficiência (1999)
15. Convenção Internacional sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência e
seu Protocolo Facultativo (2007)

Apesar da falta de historicidade inerente a esses direitos, é com a história


e seus grandes pensadores que se observa a "evolução" da humanidade, no
sentido de ampliar o conhecimento da essência humana, a fim de assegurar a
cada pessoa seus direitos fundamentais.
Podemos destacar que a noção de direitos humanos foi cunhada ao longo
dos últimos três milênios da civilização.
O Prof. Fábio Konder Comparato, fazendo uma análise histórica dessa
evolução, aponta que foi no período axial que os grandes princípios, os
enunciados e as diretrizes fundamentais da vida, até hoje considerados em
vigor, foram estabelecidos. Informa que nesse período, especialmente entre
600 e 480 a.C., coexistiram, sem se comunicarem entre si, alguns dos maiores
doutrinadores de todos os tempos (entre eles, Buda, na Índia; Confúcio, na
China; Pitágoras, na Grécia e o profeta Isaías, em Israel) e, a partir daí, o curso
da História passou a constituir o desdobramento das idéias e princípios
estabelecidos nesse período. Inclusive, foi nesse período que surgiu a filosofia,
tanto na Ásia como na Grécia, quando então substituiu-se, "pela primeira vez
na História, o saber mitológico da tradição pelo saber lógico da razão".
Em resumo, assinala que foi nesse período que nasceu a idéia de
igualdade entre os seres humanos: "é a partir do período axial que o ser
humano passa a ser considerado, pela primeira vez na História, em sua
igualdade essencial, como ser dotado de liberdade e razão, não obstante as
múltiplas diferenças de sexo, raça, religião ou costumes sociais. Lançavam-se,
assim, os fundamentos intelectuais para a compreensão da pessoa humana e
para a afirmação de direitos universais, porque a ela inerentes".
Na seqüência, podemos destacar o Cristianismo, que em muito contribuiu
para o estabelecimento da igualdade entre os homens. O Cristianismo, sem
dúvida, no plano divino, pregava a igualdade de todos os seres humanos,
considerando-os filhos de Deus, apesar de, na prática, admitir desigualdades
em contradição com a mensagem evangélica (admitiu a legitimidade da
escravidão, a inferioridade da mulher em relação ao homem).
Essa concepção foi fundamental para o reconhecimento dos direitos
necessários à formulação de políticas públicas de conteúdo econômico e
social.
Pode-se falar em três ápices da evolução dos direitos humanos: o
Iluminismo, a Revolução Francesa e o término da Segunda Guerra Mundial.
Com o primeiro foi ressaltada a razão, o espírito crítico e a fé na ciência.
Esse movimento procurou chegar às origens da humanidade, compreender a
essência das coisas e das pessoas, observar o homem natural. A Revolução
Francesa deu origem aos ideais representativos dos direitos humanos, a
liberdade, a igualdade e a fraternidade. Estes inspiraram os teóricos e
transformaram todo o modo de pensar ocidental. Os homens tinham plena
liberdade (apesar de empecilhos de ordem econômica, destacados,
posteriormente, pelo Socialismo), eram iguais, ao menos em relação à lei, e
deveriam ser fraternos, auxiliando uns aos outros. Por fim, com a barbárie da
Segunda Grande Guerra, os homens se conscientizaram da necessidade de
não se permitir que aquelas monstruosidades ocorressem novamente, de se
prevenir os arbítrios dos Estados. Isto culminou na criação da Organização das
Nações Unidas e na declaração de inúmeros Tratados Internacionais de
Direitos Humanos, como "A Declaração Universal dos Direitos do Homem",
como ideal comum de todos os povos.
Os documentos de proteção aos direitos humanos foram surgindo
progressivamente. O antecedente mais remoto pode ser a Magna Carta, que
submetia o governante a um corpo escrito de normas, que ressaltava a
inexistência de arbitrariedades na cobrança de impostos. A execução de uma
multa ou um aprisionamento ficavam submetidos à imperiosa necessidade de
um julgamento justo.
A Petition of Rights tentou incorporar novamente os direitos estabelecidos
pela Magna Carta, por meio da necessidade de consentimento do Parlamento
para a realização de inúmeros atos.
O Habeas Corpus Act instituiu um dos mais importantes instrumentos de
garantia de direitos criados. Bastante utilizado até os nossos dias, destaca o
direito à liberdade de locomoção a todos os indivíduos.
A Bill of Rights veio para assegurar a supremacia do Parlamento sobre a
vontade do rei. A Declaração de Direitos do estado da Virgínia declara que
"todos os homens são por natureza igualmente livres e independentes e têm
certos direitos inatos de que, quando entram no estado de sociedade, não
podem, por nenhuma forma, privar ou despojar de sua posteridade,
nomeadamente o gozo da vida e da liberdade, com os meios de adquirir e
possuir propriedade e procurar e obter felicidade e segurança". Assegura,
também, todo poder ao povo e o devido processo legal (julgamento justo para
todos).
A Declaração de Independência dos Estados Unidos da América, assim
como a Constituição Federal de 1787, consolidam barreiras contra o Estado,
como tripartição do poder e a alegação que todo poder vem do povo;
asseguram, ainda, alguns direitos fundamentais, como a igualdade entre os
homens, a vida, a liberdade, a propriedade. As dez Emendas Constitucionais
americanas permanecem em vigor até hoje, demonstrando o caráter atemporal
desses direitos fundamentais. Essas Emendas têm caráter apenas
exemplificativo, já que, constantemente, novos direitos fundamentais podem
ser declarados e incorporados à Lei Fundamental Americana.
Com a Revolução Francesa, foi aprovada a "Declaração dos Direitos do
Homem e do Cidadão", que garante os direitos referentes à liberdade,
propriedade, segurança e resistência à opressão. Destaca os princípios da
legalidade e da igualdade de todos perante a lei, e da soberania popular. Aqui,
o pressuposto é o valor absoluto da dignidade humana, a elaboração do
conceito de pessoa abarcou a descoberta do mundo dos valores, sob o prisma
de que a pessoa dá preferência, em sua vida, a valores que elege, que passam
a ser fundamentais, daí porque os direitos humanos hão de ser identificados
como os valores mais importantes eleitos pelos homens.
A partir do século XX, a regulação dos direitos econômicos e sociais
passaram a incorporar as Constituições Nacionais. A primeira Carta Magna, a
revolucionar a positivação de tais direitos, foi a Constituição Mexicana de 1917,
que versava, inclusive, sobre a função social da propriedade.
A Constituição de Weimar de 1919, pelo seu capítulo sobre os direitos
econômicos e sociais, foi o grande modelo seguido pelas novas Constituições
Ocidentais.
A partir da segunda metade do século XX, iniciou-se a real positivação
dos direitos humanos, que cresceram em importância e em número, devido,
principalmente, aos inúmeros acordos internacionais. O pensamento formulado
nesse período acentua o caráter único e singular da personalidade de cada
indivíduo, derivando daí que todo homem tem dignidade individual e, com isto,
a Declaração Universal dos Direitos Humanos, em seu art. 6.°, afirma: "Todo
homem tem direito de ser, em todos os lugares, reconhecido como pessoa
perante a lei".
Atualmente não se pode discutir a existência desses direitos, já que, além
de amplamente consagrados pela doutrina, estão presentes também na lei
fundamental brasileira: A Constituição Federal.
Mesmo os mais pessimistas, que alegam a falta de eficácia dos direitos
fundamentais, não podem negar a rápida evolução, tanto no sentido normativo,
como no sentido executivo, desses direitos, que já adquiriram um papel
essencial na doutrina jurídica, apesar de apenas serem realmente
reconhecidos por meio da Declaração Universal dos Direitos do Homem de
1948.
Pode-se constatar, por estes apontamentos, que a evolução dos direitos
humanos foi gradual; todavia, o pensamento moderno "é a convicção
generalizada de que o verdadeiro fundamento da validade – do Direito em geral
e dos direitos humanos em particular – já não deve ser procurado na esfera
sobrenatural da revelação religiosa, nem tampouco numa abstração metafísica
– a natureza como essência imutável de todos os entes do mundo. Se o direito
é uma criação humana, o seu valor deriva, justamente, daquele que o criou. O
que significa que esse fundamento não é outro, senão o próprio homem,
considerado em sua dignidade substancial de pessoa...".
A adoção, pela Assembléia Geral da Organização das Nações Unidas, da
Declaração Universal de Direitos Humanos, em 1948, constitui o principal
marco no desenvolvimento do direito internacional dos direitos humanos. A
Declaração Universal de Direitos Humanos contém um conjunto indissociável e
interdependente de direitos individuais e coletivos, civis, políticos, econômicos,
sociais e culturais, sem os quais a dignidade da pessoa humana não se realiza
por completo.
Esta Declaração tornou-se uma fonte de inspiração para a elaboração de
cartas constitucionais e tratados internacionais voltados à proteção dos direitos
humanos e um autêntico paradigma ético a partir do qual se pode medir e
contestar ou afirmar a legitimidade de regimes e governos. Os direitos ali
inscritos constituem hoje um dos mais importantes instrumentos de nossa
civilização visando assegurar um convívio social digno, justo e pacífico.
A Declaração Universal dos Direitos Humanos não é apenas um conjunto
de preceitos morais que devem informar a organização da sociedade e a
criação do direito. Inscritos em diversos tratados internacionais e constituições,
os direitos contidos na Declaração Universal estabelecem obrigações jurídicas
concretas aos estados nacionais. São normas jurídicas claras e precisas,
voltadas para a proteção e promoção dos interesses mais fundamentais da
pessoa humana. São normas que obrigam os Estados nacionais no plano
interno e externo.
Com a criação da Organização das Nações Unidas em 1945 e a adoção
de declarações, convenções e tratados internacionais para a proteção da
pessoa humana, os direitos humanos deixaram de ser uma questão exclusiva
dos Estados nacionais, passando a ser matéria de interesse de toda a
comunidade internacional. A criação de mecanismos judiciais internacionais de
proteção dos direitos humanos, como a Corte Interamericana e a Corte
Européia de Direitos Humanos ou quase-judiciais como a Comissão
Interamericana de Direitos Humanos ou o Comitê de Direitos Humanos das
Nações Unidas, deixam clara esta mudança na antiga formulação do conceito
de soberania. Mas a obrigação primária de assegurar os Direitos Humanos
continua a ser responsabilidade interna dos Estados Nacional.
No Brasil, a Constituição Federal de 1988 estabeleceu a mais precisa e
detalhada carta de direitos de nossa história, que inclui uma vasta identificação
de direitos civis, políticos, econômicos, sociais e culturais, além de um conjunto
preciso de garantias constitucionais. A Constituição impôs ao Estado brasileiro
a obrigação de reger-se, em suas relações internacionais, pelo princípio da
"prevalência dos direitos humanos" (artigo 4°, inciso II). Resultado desta nova
diretriz constitucional foi o Brasil, no início dos anos noventa, ratificar a adesão
aos Pactos Internacionais de Direitos Civis e Políticos e de Direitos
Econômicos, Sociais e Culturais e às Convenções contra a Tortura e Outros
Tratamentos ou Penas Cruéis, Desumanos ou Degradantes e Americana de
Direitos Humanos, que se encontram entre os mais relevantes instrumentos
internacionais de proteção aos direitos humanos.
Em 1993, o Brasil presidiu o comitê de redação e desempenhou papel
decisivo na elaboração e aprovação da Declaração e do programa da
Conferência Mundial dos Direitos Humanos de Viena, que recomendou aos
Estados Nacionais a elaboração de planos nacionais para a proteção e
promoção dos direitos humanos.
O governo brasileiro considera as normas constitucionais e a adesão a
tratados internacionais passos essenciais para a promoção dos direitos
humanos, mas está consciente de que a proteção efetiva destes direitos
depende da atuação constante do Estado e da sociedade. Com este objetivo, o
governo federal tem se empenhado na proteção de promoção dos direitos
humanos no país, a começar pela elaboração da Agenda de Direitos Humanos,
que resultou em um elenco de propostas e projetos de lei contra a violência.

3 Direitos humanos e responsabilidade do Estado.

A proteção internacional aos direitos humanos teve início com a chamada


proteção diplomática, cuja origem se deu no sistema das cartas de represálias,
sistema em que aquele que sofreu algum dano em território estrangeiro apela
para o Estado de sua nacionalidade para que este exija a reparação do Estado
responsável pelo dano.
O fundamento da proteção diplomática está no suposto dever
internacional de todos os estados de fornecer um tratamento considerado
internacionalmente adequado aos estrangeiros em seu território. Então, o dano
ao estrangeiro é um dano indireto ao Estado de sua nacionalidade.
A Corte Permanente de Justiça Internacional decidiu que o Estado, ao
conceder a proteção diplomática a seu nacional, está, na verdade, afirmando
ser o direito de ver respeitadas as regras de Direito Internacional.
Embora a responsabilidade internacional do Estado por violação de
direitos humanos tenha como origem a responsabilidade internacional do
Estado por danos causados a estrangeiros alterou o enfoque, antes
direcionado ao Estado, agora, no indivíduo.
A natureza das obrigações de proteção aos direitos humanos consagra o
indivíduo como principal preocupação da responsabilidade internacional por
violação dos direitos humanos.
A lesão ao homem, em seus direitos naturais não é uma lesão direta ao
estado, não havendo porque encontrar motivos para explicar a intervenção do
Estado na defesa destes direitos visto a natureza objetiva das obrigações de
proteção de direitos humanos.
Assim, o desenvolvimento da responsabilidade internacional do Estado
por violação dos direitos humanos não é feito através da proteção diplomática,
mas sim, através do Direito Internacional dos Direitos Humanos, que fornece
ao indivíduo um rol de direitos internacionalmente consagrados e, ao mesmo
tempo acesso a instâncias internacionais para que seja averiguada a lesão a
esses direitos.
Foi somente após a segunda guerra mundial, com o nascimento da ONU
que a responsabilidade internacional foi discutida. Antes dela, em 1927, foi
convocado a Conferência Internacional para codificação do direito
internacional. Esta foi realizada em Haia, e o tema da responsabilidade
internacional do Estado foi estudado na sua comissão de número 3, sem
sucesso.
A assembléia geral da ONU, assim, adotou em 7 de dezembro de 1953 a
resolução 799, na qual requereu à Comissão de Direito Internacional o início de
estudos visando à codificação dos princípios de Direito Internacional que regem
a responsabilidade do Estado.
Após várias tentativas de codificar esta responsabilidade internacional foi
somente em 2001 que se fez uma Convenção sobre o assunto que possui 58
artigos divididos em quatro partes. Na primeira parte, com 27 artigos, refere-se
aos princípios gerais da responsabilidade internacional, ao fato ilícito de acordo
com Direito Internacional, à existência de uma violação de norma ou
descumprimento de obrigação internacional, à imputação a um Estado de fato
de terceiro e finalmente às circunstâncias de exclusão da ilicitude da conduta
estatal.
A segunda parte refere-se às formas e graus de responsabilidade
internacional do Estado, determinando as conseqüências e as espécies de
reparação admitidas pelo direito internacional, contendo 14 artigos.
A terceira parte com 13 artigos estabelece um procedimento de
implementação da responsabilidade internacional do Estado e a aplicação das
sanções além de suas condições de licitude.
Na quarta parte, existem disposições gerais em cinco artigos,
estabelecendo o uso subsidiário do Direito Consuetudinário sobre o tema, além
da responsabilização individual do agente público paralelamente a
responsabilização do Estado.
É difícil conceituar responsabilidade, mas, pode-se afirmar que seu
conceito, fundamento e consequências dependem do grau de coesão social e
da visão do justo em cada comunidade humana.
A responsabilidade jurídica pode ser conceituada como sendo a
imputabilidade a um sujeito de direito de efeito do ordenamento jurídico,
quando sucede determinado acontecimento, significando a vulneração da
esfera jurídica de outrem, não importando a fonte da imputação de
conseqüências jurídicas e quais as conseqüências no momento. Deve ser
entendido que o conceito de responsabilidade é justificado pelo fato do ser
humano ter o direito de ser respeitado enquanto pessoa e não prejudicado em
sua existência.
É por este motivo que quando alguém reconhece ter feito injustiça a
terceiro, deve reconhecer também a necessidade de reparar devidamente o
dano causado.
Ao mesmo tempo aquele que sofreu o dano exige a reparação como
direito seu e faz o outro responsável porque este é pessoa. Os fundamentos da
responsabilidade são: alterum nom laedere, honest vivere e suum cuique
tribuere, ou seja, não lesar ao próximo, viver honestamente e dar a cada um o
que é seu, respectivamente.
Para ocorrer a responsabilidade se torna necessária uma seqüência de
elementos. Ocorrência de um suporte fático (violação de uma esfera política de
uma pessoa), nexo causal entre o fato, ou ato, e o dano, além da culpa na
conduta lesiva, eventualmente.
Desta seqüência de elementos surge uma conseqüência, o dever de
reparação imputado a alguém, não necessariamente ao causador do dano.
Além da pretensão reparatória ou indenizatória, a responsabilidade
internacional por violação dos direitos humanos tem ainda a pretensão punitiva
para a responsabilidade criminal. Não é somente o dever jurídico de abstenção
da conduta causadora de danos a outrem que consubstancia a
responsabilidade, pelo contrário, é a titularidade passiva da pretensão
reparatória ou indenizatória que, como conteúdo de uma relação jurídica é
diretamente decorrente de uma norma.
A responsabilidade como direito objetivo aparece como a feição
essencialmente garantidora da ordem jurídica. A imputação do dever de
indenizar, quando houver causado dano a outrem importa atribuir
consequências desfavoráveis àquele que desatendeu a um breve dever de
não-vulneração da esfera jurídica alheia.
No âmbito internacional, a responsabilidade é essencial ao sistema
jurídico, sendo seu fundamento de direito internacional um princípio da
igualdade soberana entre os Estados. Isto ocorre porque um Estado não pode
reivindicar para si uma condição jurídica que não reconhece para outro Estado.
A responsabilidade é de regra apresentada como obrigação internacional de
reparação em face da violação prévia de norma internacional.
O artigo número 1 do projeto de Convenção sobre responsabilidade
internacional da Comissão de Direito Internacional da ONU afirma que todo fato
internacionalmente ilícito do Estado acarreta responsabilidade internacional do
mesmo.
A jurisprudência internacional considerou a responsabilidade dos Estados
como sendo um princípio geral do Direito Internacional. O princípio pelo qual
qualquer conduta do Estado que caracteriza um fato internacionalmente lícito
acarreta a responsabilidade internacional do Estado é um dos princípios
enfatizados pelas decisões judiciais.
Para que se possa entender como funciona a responsabilidade
internacional deve-se conceituar obrigação primária e secundária. As normas
primárias são aquelas que contém obrigações de Direito Internacional cujo
descumprimento enseja a responsabilidade internacional do Estado. As
secundárias são regras abstratas que têm o objetivo de determinar se houve
violação à norma primária e quais são as consequências resultantes da
violação.
As normas primárias são regras de conduta que quando violadas fazem
nascer às obrigações secundárias. A responsabilidade independe do conteúdo
da norma violada, assim, os Estados podem chegar a um consenso sobre as
regras de responsabilização por fatos ilícitos, sem necessariamente acordarem
sobre o conteúdo da norma primária transgredida.
A responsabilização do Estado visa superar o conflito existente entre
condutas contraditórias de um Estado (a aceitação de determinada obrigação e
depois seu descumprimento), engendrando o nascimento, por seu turno, de
novas relações jurídicas.
O artigo 1º do projeto de convenção sobre a responsabilidade
internacional do Estado é elástico o suficiente para abarcar todas as
conseqüências possíveis advindas da constatação do fato internacionalmente
ilícito, tanto as de cunho meramente reparatório, quanto as de cunho
sancionatório.
A responsabilidade pode ser dividida em duas grandes espécies, a penal
e a civil. Na penal as obrigações secundárias almejam impor sanções punitivas
ao indivíduo como retribuição ao mal causado e prevenção à ocorrência de
condutas semelhantes no futuro. Na civil, as obrigações secundárias têm
conteúdo reparatório de cunho patrimonial em geral.
Um problema encontrado nesta dicotomia advém da máxima societas
delinquere non potest, ou seja, a sanção penal só pode ser aplicada a
indivíduos e nunca a entes morais como os Estados. Este entendimento
prestigia o Estado enquanto sujeito privilegiado do direito internacional e
dotado da igualdade soberana em face dos outros Estados.
Devem por esta razão, serem punidos os indivíduos que agindo em nome
do Estado lesam os direitos de outrem. Outros gravames são: falta de
consenso na definição dos ilícitos penais, internacionalmente falando e a falta
de órgão competente para julgar os Estados nessas infrações. Há quem diga
que o Conselho de Segurança da ONU poderia ser o órgão julgador desde que
fosse abolido o direito de veto que determinados países tem e sua competência
fosse ampliada a estes casos. Cita-se também, a Corte Internacional de Justiça
que, no momento, falece do caráter obrigatório de suas penas, sujeitando-as a
faculdade dos Estados.
Na violação de direitos humanos consagra-se a responsabilidade objetiva
do Estado violador, uma vez que o dever de reparação nasce sempre que
houver a violação de uma norma primária internacional. Não se verifica a
existência ou ausência do elemento volitivo ou psíquico do agente, ou seja, não
se comprova dolo ou culpa deste. Basta à comprovação do nexo causal entre a
conduta e o dano em si.

4 Direitos humanos na Constituição Federal.

Direitos Fundamentais são os direitos do ser humanos reconhecidos e


positivados na esfera do direito constitucional, portanto difere-se do termo
direitos humanos com o qual é bastante confundido na medida em que este se
aplica aos direitos reconhecidos e positivados na esfera do Direito
Internacional, por meio de tratados, convenções que aspiram a atividade
universal a todos os tempos e povos.
Esses direitos, advém da própria natureza humana, daí seu caráter
inviolável, intemporal e universal. Essa presente pesquisa vai tratar sobre
aspectos das diferentes culturas com relação aos direitos fundamentais, como
se relacionam e assim por diante.
Os Direitos Humanos Fundamentais, dentre eles os direitos e garantias
individuais e coletivos consagrados no art. 5º da Constituição Federal, não
podem ser utilizados como um verdadeiro escudo protetivo da prática de
atividades ilícitas, tampouco como argumentos para o afastamento ou
diminuição da responsabilidade civil ou penal por atos criminosos, sob pena de
total consagração ao desrespeito a um verdadeiro Estado de Direito.
A Constituição Federal Brasileira de 1988 trouxe em seu Título II, os
Direitos e Garantias Fundamentais subdivididos em cinco capítulos: Dos
direitos e deveres individuais e coletivos, Dos direitos sociais, Da
nacionalidade, Dos direitos políticos, Dos partidos políticos.

- Direitos Individuais e Coletivos: esses são os direitos ligados ao conceito da


pessoa humana e a sua personalidade, tais como a vida, a igualdade, a
dignidade, a honra, a segurança, a propriedade e a liberdade.

- Da nacionalidade compreende-se a situação do indivíduo em face do Estado,


podendo ser nacional ou estrangeiro, este direito é também garantido pela
Declaração Universal dos Direitos Humanos.

- Direitos Sociais são aqueles que têm por objetivo garantir aos indivíduos as
condições materiais tidas como imprescindíveis para o pleno gozo dos seus
direitos, por isso tendem a exigir do Estado intervenções na ordem social.

- Dos direitos políticos é o direito atribuído ao cidadão que lhe permite, através
do voto, do exercício dos cargos públicos ou da utilização de outros
instrumentos constitucionais e legais, ter participação e influência nas
atividades do governo.

- Dos partidos políticos: garante a autonomia e a liberdade plena dos partidos


políticos, como instrumentos necessários e importantes na preservação do
Estado democrático de Direito no qual dispõe o art.17 da CRFB/88.

Alguns dos mais importantes direitos visados pela Constituição da


República Federativa do Brasil de 1988 são: direito à vida é o mais
fundamental de todos os direitos, pois é o pré-requisito da existência e
exercício de todos os demais direitos. O Estado é responsável pelo direito à
vida em sua dupla acepção, ou seja, o direito de continuar vivo e o direito de ter
uma vida digna quanto a subsistência.
O Princípio da Igualdade produz efeitos sobre todas as pessoas do país.
O art. 5º da Constituição Federal brasileira proclama que todos são iguais
perante a lei sem distinção de qualquer natureza, deixando claro inda no inciso
I, que “homens e mulheres são iguais em direitos e obrigações nos termos
desta constituição”.
Noberto Bobbio conceitua os direitos do homem como “aqueles que
pertencem, ou deveria pertencer, a todos os homens, ou dos quais nenhum
homem pode ser despojado. São aqueles cujo reconhecimento é condição
necessária para o aperfeiçoamento da pessoa humana, ou para o
desenvolvimento da civilização.
Os Direitos Fundamentais são inseridos dentro daquilo que o
Constitucionalismo denomina de Princípios Constitucionais, que são os
princípios que guardam os valores fundamentais da ordem jurídica, pois sem
eles a Constituição nada mais seria que um aglomerado de normas que
somente teriam em comum o fato de estarem inseridas em mesmo texto legal;
de modo que, onde não existir Constituição não haverá Direitos Fundamentais.

6 Institucionalização dos direitos e garantias fundamentais.

A institucionalização dos direitos e garantias fundamentais se deu com a


formulação e implementação de políticas e programas para proteção dos
direitos humanos. Vejamos o histórico governamental:

- Governo José Sarney: Foi criado o Conselho Nacional dos Direitos da


Mulher (CNDM, Lei n. 7.353/85). Na área internacional, o Brasil ratificou a
Convenção contra a Tortura e Outros Tratamentos ou Penas Cruéis,
Desumanos ou Degradantes e a Convenção Interamericana para Prevenir e
Punir a Tortura, em 1989.

- Governo Fernando Collor de Mello: Foi criado o Conselho Nacional dos


Direitos da Criança e do Adolescente (CONANDA, criado pela Lei n. 8.242/91,
instalado em 16/12/92). O Ministério da Justiça criou o Departamento de
Assuntos da Cidadania (DEASC, criado pelo Decreto n. 99.244/90),
transformado posteriormente em Secretaria da Cidadania, com uma Divisão de
Direitos Humanos. Na área internacional, o Brasil ratificou a Convenção sobre
os Direitos da Criança, em 1990. Também ratificou o Pacto Internacional dos
Direitos Civis e Políticos, o Pacto Internacional dos Direitos Econômicos,
Sociais e Culturais e a Convenção Interamericana de Direitos Humanos em
1992.

- Marcos para a garantia dos direitos humanos no Brasil: Após a


Conferência de Viena, o Ministério da Justiça convocou organizações da
sociedade civil para elaborar uma Agenda Nacional de Direitos Humanos e
propor medidas de incentivo à cidadania e de combate à violência e à
criminalidade. Dessas reuniões resultou um Programa Nacional de Cidadania e
Combate à Violência. Reconhecimento das mortes de pessoas desaparecidas
em razão de participação política (Lei n.º 9.140/ 95), pela qual o Estado
brasileiro reconhece a responsabilidade da União por essas mortes, quando
tais pessoas estavam sob custódia das forças de segurança durante o regime
autoritário, e concede indenização a seus familiares. Além disso, cria uma
comissão para investigar a responsabilidade da União pela morte de outras
pessoas nas mesmas condições.

Se a Constituição de 1988 foi a base para uma perspectiva sobre os


direitos humanos no Brasil, a criação de vínculos com os sistemas
internacionais de proteção demonstraria uma política de transparência das
ações governamentais, que não precisariam mais se esconder sob o
argumento da soberania nacional. A construção de uma política articulada
neste sentido começa a ser construída no governo do Fernando Henrique
Cardoso.
Aprofundando algumas ações realizadas nos governos anteriores,
particularmente na adesão a tratados internacionais, durante os mandatos do
Presidente Fernando Henrique Cardoso começa a se desenhar uma política
para os direitos humanos no Brasil.
Algumas medidas foram tomadas por iniciativa governamental, porém
outras são resultado da mobilização da sociedade. Fora do espaço do Poder
Executivo cabem dois destaques: a criação da Comissão de Direitos Humanos
da Câmara dos Deputados e a realização das Conferências Nacionais de
Direitos Humanos.
No Congresso Nacional foi criada em 1995 a Comissão de Direitos
Humanos da Câmara dos Deputados, iniciativa seguida por diversas
Assembléias Legislativas. A atuação da Comissão da Câmara tem sido
relevante em ações como a articulação de Comissões Parlamentares de
Inquérito e avaliação de projetos em tramitação, como o bloqueio, por anos,
das propostas de emenda constitucional que buscavam reduzir a idade mínima
de imputabilidade penal.
Uma das atividades realizadas pela Comissão, denominada Caravanas
dos Direitos Humanos, levou à formulação de relatórios sobre a situação em
todo o país de áreas sensíveis na violação de direitos humanos, como prisões,
hospitais psiquiátricos e estabelecimentos de internação de adolescentes.
Contando com o apoio da Comissão da Câmara dos Deputados, realizou-
se no espaço do Congresso Nacional a I Conferência Nacional de Direitos
Humanos, em 1996, mobilizando organizações de defesa dos direitos humanos
de todo o país. A partir de então ocorreram conferências periódicas, com uma
progressiva participação do Poder Executivo. Foram realizadas Conferências
Nacionais de Direitos Humanos em 1996, 1997, 1998, 1999, 2000, 2001, 2002,
2003, 2005 e 2006, sendo a última a XI Conferência, realizada em 2008. As
conferências têm servido de espaço de avaliação das políticas realizadas e de
pressão às autoridades públicas.
A preocupação do Governo Federal como o tema começa a se desenhar
em 1995, quando foi criado o Prêmio Nacional de Direitos Humanos, para dar
maior visibilidade a pessoas e instituições que atuavam na defesa e promoção
de direitos.
Neste mesmo ano começa a ser enfrentado um dos temas do passado
ditatorial ainda sem solução. A lei de anistia de 1979 serviu de pretexto para
bloquear investigações sobre mortos e desaparecidos durante a ditadura. Com
a aprovação da Lei 9.140/95 o governo reconheceu uma lista de pessoas como
tendo sido mortas por ação do Estado, garantindo indenizações a seus
familiares, bem como aos sobreviventes que foram vítimas de tortura. A lei
sofreu modificações, ampliando o período previsto para os atos de violação de
1979 para 5 de outubro de 1988. A comissão que analisa os casos continua em
funcionamento até a atualidade.
A ação mais concreta, no entanto, para conformar uma política destinada
aos direitos humanos, no período, foi a proposição do Programa Nacional de
Direitos Humanos. Procurando cumprir as diretrizes propostas pela
Conferência de Viena, de 1993, como parte dos compromissos assumidos, o
Presidente Fernando Henrique Cardoso criou uma comissão para elaborar um
plano nacional de direitos humanos. Sob a coordenação de José Gregori, a
construção do projeto do plano foi organizada pelo Núcleo de Estudos da
Violência (NEV), da Universidade de São Paulo (USP), à época coordenado
por Paulo Sérgio Pinheiro (MESQUITA NETO, 1999).
Após a realização de uma série de seminários de discussão, com a
participação de representantes de diferentes segmentos sociais, foi lançado
pelo Presidente Fernando Henrique Cardoso em 13 de maio de 1996 o
Programa Nacional de Direitos Humanos - PNDH.
O objetivo do Programa Nacional de Direitos Humanos (PNDH),
elaborado pelo Ministério da Justiça em conjunto com diversas organizações
da sociedade civil, é, identificando os principais obstáculos à promoção e
proteção dos direitos humanos no Brasil, eleger prioridades e apresentar
propostas concretas de caráter administrativo, legislativo e político-cultural que
busquem equacionar os mais graves problemas que hoje impossibilitam ou
dificultam a sua plena realização. O PNDH é resultante de um longo e muitas
vezes penoso processo de democratização da Sociedade e do Estado
brasileiro (Decreto 1.904/96 – I PNDH).
O I PNDH foi dividido em sete títulos gerais e vinte subtítulos. Cada um
deles apresenta um conjunto de objetivos, definidos segundo o prazo de
implantação. São 9 objetivos permanentes, 150 de curto prazo, 55 de médio
prazo e 14 de longo prazo, totalizando 228 objetivos propostos.
Conforme reconheceu a própria introdução do texto do programa, os
objetivos concentram-se no atendimento a direitos individuais que podem ser
enquadrados nas categorias de direitos civis. Segundo o texto:

O Programa, apesar de inserir-se dentro dos princípios


definidos pelo Pacto Internacional de Direitos Civis e
Políticos, contempla um largo elenco de medidas na área
de direitos civis que terão conseqüências decisivas para a
efetiva proteção dos direitos sociais, econômicos e
culturais como, por exemplo, a implementação das
convenções internacionais dos direitos das crianças, das
mulheres e dos trabalhadores (I PNDH).

O entendimento de que é prioritário dar atenção aos direitos civis, sem


descartar a importância dos direitos sociais, parte de uma avaliação de que
este é o fundamento necessário para outras mudanças.
O II PNDH, ao dar atenção a questões como o meio ambiente e à defesa
de direito à identidade de grupos sociais específicos, por motivos étnicos, como
os afrodescendentes, indígenas e ciganos, ou por motivos culturais, como as
diferenças de orientação sexual, abre espaço para as concepções de direitos
humanos baseadas na defesa do multiculturalismo e na crítica do
antropocentrismo da visão liberal clássica.
Tendo sido aprovado no final do mandato de Fernando Henrique
Cardoso, em tese, o II PNDH deveria ter sido o principal balizador das políticas
de direitos humanos no período seguinte, em que se iniciou o Governo Lula.
A ênfase principal nos dois mandatos do Presidente Lula, em relação aos
direitos humanos, parece ter se dado no combate à pobreza extrema, com
políticas sociais de combate à fome e distribuição de renda. Seus símbolos são
os Programas Fome Zero e Bolsa Família. Porém, também foi direcionada
atenção a grupos sociais específicos, como os negros e as mulheres. No
entanto, estas ações geralmente não foram executadas com um discurso
articulado em nome dos direitos humanos, denominação que ficou em geral
restrita às atividades vinculadas à Secretaria Especial de Direitos Humanos da
Presidência da República e ao Ministério da Justiça.
A seguir é analisada a evolução da estrutura institucional dos órgãos
destinados a algumas das políticas específicas de promoção aos direitos
humanos desde 2003, bem como do Programa Nacional de Direitos Humanos
neste período.
Com o início do novo governo foram criados novos órgãos com status
ministerial, ou alterada a estrutura dos pré-existentes, para a promoção de
diversos campos dos direitos humanos. Ao longo dos dois mandatos alguns
deles se mantiveram, outros foram extintos ou incorporados a outros
ministérios.
A Secretaria de Estado dos Direitos da Mulher do Ministério da Justiça, foi
criada pela Medida Provisória 37, de 8 de maio de 2002, convertida na lei
10.539, de 23 de setembro de 2002, ainda pelo Governo Fernando Henrique
Cardoso. Posteriormente, em 2003 foi transformada em Secretaria Especial de
Políticas para as Mulheres, na mesma medida provisória que criou a Secretaria
Especial de Direitos Humanos e o Gabinete do Ministro de Estado
Extraordinário de Segurança Alimentar e Combate à Fome, todos vinculados à
Presidência da República, com ocupantes com status de Ministro (MP 103/03).
Pouco após foi criada a Secretaria Especial de Políticas de Promoção da
Igualdade Racial, pela MP 111/03, convertida na lei 10.678/03, também junto à
Presidência da República e com status de ministro para seu ocupante.
É interessante observar que as Secretarias Especiais de Políticas para as
Mulheres e de Promoção da Igualdade Racial não sofreram alterações com a
reforma ministerial de 2005, quando foi extinta, por quatro meses, a Secretaria
Especial dos Direitos Humanos. Por outro lado, ao longo do Governo Lula
foram criadas e extintas secretarias especiais junto à Presidência, como a de
Aqüicultura e Pesca e a de Portos e a do Conselho de Desenvolvimento
Econômico e Social e Gabinete do Ministro Extraordinário de Segurança
Alimentar e Nutricional, cujas funções passaram para o Ministério do
Desenvolvimento Social com a extinção do cargo.
Estas secretarias foram em geral utilizadas para acomodar os interesses
partidários nas reformas ministeriais. Com estruturas leves, contando com
poucos funcionários, concediam ao ocupante o status de ministro, a
possibilidade de atuação política, mas sem o ônus político e econômico da
criação de um novo ministério.
Um dos exemplos de superposição entre as competências das
Secretarias está nos conselhos ligados a elas. A Secretaria Especial de
Políticas de Promoção da Igualdade Racial conta como parte de sua estrutura
básica com o Conselho Nacional de Promoção da Igualdade Racial – CNPIR,
criado junto com a secretaria em 2003. Tratando de temas semelhantes o
Conselho Nacional de Combate à Discriminação – CNCD foi criado em 2001,
vinculado à Secretaria de Estados dos Direitos Humanos do Ministério da
Justiça, passando posteriormente a compor a Secretaria Especial de Direitos
Humanos. Sua composição foi mudada em 2005, sem, no entanto, terem sido
alterados seus objetivos. As finalidades destes conselhos são bastante
semelhantes, conforme pode se ver nos decretos 4.885/03 e 5.397/05.
A fragmentação pode ser explicada por uma concepção de direitos
humanos que valoriza o direito à diferença e à identidade, mas também pode
ser devida ao particularismo dos interesses envolvidos, tanto em termos de
exploração política da visibilidade dos cargos como dos grupos sociais cuja
mobilização justificou a criação do organismo. O interesse do Presidente da
República parece também ser fundamental na definição da estrutura
institucional a qual forma determinadas políticas.
O Programa Fome Zero foi criado no inicio do primeiro governo Lula (MP
103, de 01 de janeiro de 2003). Do ponto de vista institucional estava vinculado
ao recém-criado Gabinete do Ministro de Estado Extraordinário de Segurança
Alimentar e Combate à Fome, um ministro sem ministério vinculado
diretamente à Presidência da República.
Outro programa importante no Governo Lula, o Bolsa-Família, surgiu da
unificação das ações de transferência de renda do Governo Federal, como as
do Programa Nacional de Renda Mínima vinculado à Educação – Bolsa Escola,
do Programa Nacional de Acesso à Alimentação – PNAA, do Programa
Nacional de Renda Mínima vinculada à Saúde – Bolsa Alimentação e do
Programa Auxílio-Gás, já existentes, por meio da MP 132, de 20 de outubro de
2003, ficando vinculado a um conselho gestor ligado também à Presidência da
República.
Posteriormente, com a incorporação da Secretaria Executiva do Conselho
Gestor Interministerial do Programa Bolsa Família e do Gabinete do Ministro
Extraordinário de Segurança Alimentar e Nutricional ao Ministério da
Assistência Social, foi criado um novo ministério com a denominação de
Ministério do Desenvolvimento Social, pela MP 163, de 23 de janeiro de 2004.
Enquanto o Fome Zero parece ter se tornado mais importante nos discursos do
Presidente da República no exterior, ao Bolsa Família é atribuída por muitos
sua reeleição e grande parte da popularidade que se manteve no segundo
mandato.
Com a criação do Programa de Aceleração do Crescimento, o PAC,
programas sociais com execução vinculada a financiamento de obras, como
são os casos do saneamento básico e da habitação passaram a ter na Casa
Civil o ministério responsável pela articulação das ações, como no caso do
Minha casa, minha vida.
Diante desta diversidade de órgãos responsáveis por políticas que
atendem diferentes aspectos dos direitos humanos, é preciso analisar como
ficou no período o órgão que traz o nome da política em sua própria
denominação.
A Secretaria Especial de Direitos Humanos Um dos elementos que
permite verificar as idas e vindas da trajetória da política de direitos humanos
no Brasil são as mudanças ocorridas no órgão do Governo Federal
encarregado em tese do gerenciamento do Programa Nacional de Direitos
Humanos.
A Secretaria Nacional dos Direitos Humanos, vinculada ao Ministério da
Justiça, foi criada no Governo Fernando Henrique Cardoso pelo Decreto nº
2.193, de 7 de abril de 1997. Ela substituiu a Secretaria de Direitos da
Cidadania, existente nos governos anteriores, que possuía um departamento
de direitos humanos. Com a posse do Governo Lula, o órgão transformou-se
na Secretaria Especial dos Direitos Humanos, vinculada à Presidência da
República (Medida Provisória 103/03, de 01 de janeiro de 2003, transformada
na lei 10.683/03).
O Plano Nacional de Educação em Direitos Humanos – PNEDH começou
a ser elaborado em 2003, com a formação de um comitê com representação da
sociedade civil, da Secretaria Especial de Direitos Humanos, do Ministério da
Justiça e do Ministério da Educação.
Este comitê produziu uma primeira versão do PNEDH em dezembro de
2003. O documento passou a ser debatido em todo o país, recebendo
sugestões de alteração. O documento definitivo foi apresentado em dezembro
de 2006. O plano prevê um conjunto de ações direcionadas a diversos
segmentos: educação básica, educação superior, educação não-formal,
educação dos profissionais dos sistemas de justiça e segurança e educação e
mídia.
As motivações da criação do PNEDH podem ser consideradas
compatíveis com a formulação inicial do I PNDH, que avaliava a inexistência de
uma cultura de direitos humanos no Brasil. No entanto no texto do PNEDH há
apenas três referências marginais ao PNDH, citado como antecedente da
política de direitos humanos no Brasil, constando ainda que o novo plano deve
aprofundar as propostas da educação em direitos humanos existentes no
PNDH. Embora o II PNDH estivesse vigente, não foi feita sua revisão anual,
conforme era previsto. Por outro lado, a SEDH nos primeiros anos dedicou
grande esforço de articulação na criação do novo plano, dando pouca ênfase e
divulgação ao PNDH, até a reformulação deste em 2008/2009.
Em 2008, sob a coordenação da SEDH foi realizado o processo de
discussão que culminou com a realização da 11ª Conferência Nacional dos
Direitos Humanos e a proposição do III PNDH. O modelo adotado para a
Conferência segue o padrão de outras conferências de avaliação e proposição
de políticas públicas realizadas nas últimas duas décadas, em áreas como
saúde, assistência social e infância e juventude, com a escolha de delegados e
realização de conferências preparatórias estaduais, dando à conferência, ao
menos a aparência, de um caráter deliberativo do documento que constituiria o
novo PNDH.
De 15 a 18 de dezembro de 2008 realizou-se conferência onde foi
aprovado o III PNDH, tendo sido reconhecido como tal pelo Decreto nº 7.037,
de 21 de Dezembro de 2009. O documento do novo plano é mais longo e tem
uma estrutura ligeiramente diferente dos anteriores, sendo divido em seis eixos
orientadores, 25 diretrizes, 82 objetivos estratégicos e 521 ações
programáticas.
Os eixos orientadores e as diretrizes do III PNDH são mais abstratos e
amplos do que eram os títulos e subtítulos do II PNDH, embora o número de
ações propostas (521) seja semelhante ao número de objetivos do plano
anterior (518). Enquanto os títulos do II PNDH se parecem com a estrutura dos
direitos previstos na Constituição Federal, os temas dos eixos orientadores e
as diretrizes do III PNDH parecem refletir a diversidade e a linguagem dos
diversos movimentos sociais e organizações não governamentais que articulam
a defesa de diferentes segmentos da sociedade, nos aspectos mais diversos,
passando por questões tradicionais do campo de direitos humanos, como
combate à violência, liberdade e direitos sociais, a temáticas de
desenvolvimento mais recente, como meio ambiente e sexualidade.
Por outro lado, diferentemente dos programas anteriores, cuja aprovação
e lançamento passou despercebido pela maior parte da sociedade, com baixo
interesse da mídia, o lançamento do novo programa rapidamente gerou
polêmica, com ataques dentro e fora do governo, com ampla cobertura
nacional. Os ataques foram direcionados a quatro temas: religião,
responsabilidade dos meios de comunicação, conflitos no campo e ditadura
militar. Em relação ao primeiro, os protestos foram oriundos principalmente de
autoridades da Igreja Católica (CNBB, 2010), contra a proposição de
descriminalização do aborto, considerando que atacaria o direito à vida,
previsto na Constituição, e contra a proibição de ostentar símbolos religiosos
em órgãos públicos federais.
No segundo, as empresas do ramo da comunicação protestaram contra a
possibilidade da criação de penas de perda da concessão de rádio ou televisão
para casos de programação atentatória aos direitos humanos e a criação de
um ranking de emissoras em relação a seu comprometimento com os direitos
humanos.
No terceiro caso, instituições ligadas ao agro-negócio, como a CNA
(Confederação Nacional da Agricultura), bem como o Ministro da Agricultura
protestaram contra a criação de exigência de mediação com os ocupantes
como medida prévia para concessão de liminar para reintegração de posse de
áreas invadidas.
Posteriormente, houve recuo do governo, com a aprovação de alterações,
por meio do Decreto 7.177/10 em 7 ações programáticas e a eliminação de
duas. Em alguns casos, o sentido original foi totalmente retirado, por exemplo,
com a substituição da defesa da legalização do aborto por considerá-lo tema
de saúde pública. Em outros, a mudança foi mais cosmética, para atender os
brios feridos, como a substituição de referências à ditadura militar e à
perseguição política pela citação de violações de direitos ocorrida no período
previsto no artigo 8° do Ato das Disposições Transitórias da Constituição de
1988. A laicização dos órgãos públicos e o ranking de empresas de
comunicação foram simplesmente suprimidos.

7 Política nacional de direitos humanos.

No dia 13 de maio de 1996, o Presidente Fernando Henrique Cardoso


lançou oficialmente o Programa Nacional de Direitos Humanos (PNDH),
tornando o Brasil o terceiro país, depois da Austrália e das Filipinas, a atender
a recomendação da Conferência Mundial de Direitos Humanos de Viena de
preparar um plano de ação para proteção e promoção dos direitos humanos. O
PNDH é uma declaração inequívoca do compromisso do Brasil com a proteção
e promoção dos direitos humanos de todas as pessoas que residem no, e
transitam pelo, território brasileiro. Com a colaboração da Universidade de São
Paulo, através do Núcleo de Estudos da Violência, o PNDH tornou-se
documento de referência obrigatória para o governo e a sociedade na luta pela
consolidação da democracia e do estado de direito e pela construção de uma
sociedade mais justa.
Num estado federal como é o Brasil, os Estados da Federação têm um
papel fundamental na implementação do programa Nacional de Direitos
Humanos e na luta contra a violência, discriminação impunidade e pela efetiva
proteção dos direitos humanos no país. O PNDH propõe ações governamentais
que devem ser implementadas nos Estados da Federação, pelos governos
estaduais ou através de parcerias entre o governo federal, governos estaduais,
governos municipais e sociedade civil.

8 Programas nacionais de direitos humanos.

O PNDH é um programa do Governo Federal do Brasil, criado com base


no art. 84, inciso IV, da Constituição Federal de 1988, pelo Decreto nº 1904, de
13 de maio de 1996, “contendo diagnóstico da situação desses direitos no País
e medidas para a sua defesa e promoção”.
Atualmente já existem 3 versões do PNDH. As versões I e II forma
publicadas durante o governo FHC, e a última, ou PNDH III, foi publicada no
final de 2009, no governo Lula.
As propostas deverão ser discutidas pelo Congresso Nacional, a fim de
que se transformem em lei. Vejamos os principais pontos de cada um dos
programas:

a) PNDH-1

Tem por objetivo identificar os principais obstáculos à promoção e


proteção dos direitos humanos no Brasil, elegendo prioridades e apresentando
propostas concretas de caráter administrativo, legislativo e político-cultural que
busquem equacionar os mais graves problemas que hoje impossibilitam ou
dificultam a sua plena realização. O PNDH é resultante de um longo e muitas
vezes penoso processo de democratização da Sociedade e do Estado
brasileiro.
A Constituição de 1988 estabelece a mais precisa e pormenorizada carta
de direitos de nossa história, que inclui uma vasta identificação de direitos civis,
políticos, econômicos, sociais, culturais, além de um conjunto preciso de
garantias constitucionais. A Constituição também impõe ao Estado brasileiro
reger-se, em suas relações internacionais, pelo princípio da "prevalência dos
Direitos Humanos".
Este programa compõem-se de uma série de normas jurídicas claras e
precisas, voltadas a proteger os interesses mais fundamentais da pessoa
humana. São normas cogentes ou programáticas que obrigam os Estados no
plano interno e externo. Com o estabelecimento das Nações Unidas, em 1945,
e a adoção de diversos tratados internacionais voltados à proteção da pessoa
humana, os direitos humanos deixaram de ser uma questão afeta
exclusivamente aos Estados nacionais, passando a ser matéria de interesse de
toda a comunidade internacional. A criação de mecanismos judiciais
internacionais de proteção dos direitos humanos, como a Corte Interamericana
e a Corte Européia de Direitos Humanos, ou quase judiciais como a Comissão
Interamericana de Direitos Humanos ou Comitê de Direitos Humanos das
Nações Unidas, deixam claro esta mudança na antiga formulação do conceito
de soberania. É certo, porém, que a obrigação primária de assegurar os
direitos humanos continua a ser responsabilidade interna dos Estados.

PROPOSTAS DE AÇÕES GOVERNAMENTAIS


Políticas públicas para proteção e promoção dos direitos humanos no
Brasil:
1. Apoiar a formulação e implementação de políticas públicas e privadas e de
ações sociais para redução das grandes desigualdades econômicas, sociais e
culturais ainda existentes no país, visando a plena realização do direito ao
desenvolvimento.
2. Criar um Cadastro Federal de Inadimplentes Sociais, que relacione os
estados e municípios que não cumpram obrigações mínimas de proteção e
promoção dos direitos humanos, com vistas a evitar o repasse de recursos,
subsídios ou favorecimento a esses inadimplentes.

Proteção do direito à vida


Segurança das pessoas
Curto prazo
3. Promover a elaboração do mapa da violência urbana, com base em dados e
indicadores de desenvolvimento urbano e qualidade de vida, a partir de quatro
grandes cidades;
4. Elaborar um mapa da violência rural a partir de uma região do país, visando
a identificar áreas de conflitos e possibilitar análise mais aprofundada da
atuação do Estado.
5. Apoiar programas para prevenir a violência contra grupos em situação mais
vulnerável, caso de crianças e adolescentes, idosos, mulheres, negros,
indígenas, migrantes, trabalhadores sem terra e homossexuais.
6. Aperfeiçoar a legislação sobre venda, posse, uso e porte de armas e
munições pelos cidadãos, condicionando-os a rigorosa comprovação de
necessidade, aptidão e capacidade de manuseio.
7. Propor projeto de lei regulando o uso de armas e munições por policiais nos
horários de folga e aumentando o controle nos horários de serviço.
8. Apoiar a criação de sistemas integrados de controle de armamentos e
munições pelos Governos estaduais, em parceria com o Governo federal.
9. Implementar programas de desarmamento, com ações coordenadas para
apreender armas e munições de uso proibido ou possuídas ilegalmente.
10. Estimular o aperfeiçoamento dos critérios para seleção, admissão,
capacitação, treinamento e reciclagem de policiais.
11. Incluir nos cursos das academias de polícia matéria específica sobre
direitos humanos.
12. Implementar a formação de grupo de consultoria para educação em direitos
humanos, conforme o Protocolo de Intenções firmado entre o Ministério da
Justiça e a Anistia Internacional para ministrar cursos de direitos humanos para
as polícias estaduais.
13. Estruturar a Divisão de Direitos Humanos, criada recentemente no
organograma da Polícia Federal.
14. Estimular a criação e o fortalecimento das corregedorias de polícia, com
vistas a limitar abusos e erros em operações policiais e emitir diretrizes claras a
todos os integrantes das forças policiais com relação à proteção dos direitos
humanos.
15. Propor o afastamento nas atividades de policiamento de policiais acusados
de violência contra os cidadãos, com imediata instauração de sindicância, sem
prejuízo do devido processo criminal.
16. Incentivar a criação de Ouvidorias de Polícia, com representantes da
sociedade civil e autonomia de investigação e fiscalização.
17. Estimular a implementação de programas de seguro de vida e de saúde
para policiais
18. Apoiar a criação de um sistema de proteção especial à família dos policiais
ameaçados em razão de suas atividades.
19. Estimular programas de cooperação e entrosamento entre policiais civis e
militares e entre estes e o Ministério Público.
20. Apoiar, com envio de pedido de urgência o projeto de lei nº 73 que
estabelece o novo Código de Trânsito.
21. Promover programas de caráter preventivo que contribuam para diminuir a
incidência de acidentes de trânsito.

Médio prazo
22. Incentivar programas de capacitação material das polícias, com a
necessária e urgente renovação e modernização dos equipamentos de
prestação da segurança pública.
23. Apoiar as experiências de polícias comunitárias ou interativas, entrosadas
com conselhos comunitários, que encarem o policial como agente de proteção
dos direitos humanos.
24. Apoiar programas de bolsas de estudo para aperfeiçoamento técnico dos
policiais.
25. Rever a legislação regulamentadora dos serviços privados de segurança,
com o objetivo de limitar seu campo de atuação, proporcionar seleção rigorosa
de seus integrantes e aumentar a supervisão do poder público.
26. Estimular a regionalização do intercâmbio de informações e cooperação de
atividades de segurança pública, com apoio aos atuais Conselhos de
Segurança Pública do Nordeste, do Sudeste e do Entorno, e a outros que
venham a ser criados.
27. Apoiar a expansão dos serviços de segurança pública, para que estes se
façam presentes em todas as regiões do País.

Luta contra a impunidade


Curto prazo
28. Atribuir à Justiça Federal a competência para julgar (a) os crimes
praticados em detrimento de bens ou interesses sob a tutela de órgão federal
de proteção a direitos humanos (b) as causas civis ou criminais nas quais o
referido órgão ou o Procurador-Geral da República manifeste interesse.
29. Atribuir à Justiça Comum a competência para processar e julgar os crimes
cometidos por policiais militares no policiamento civil ou com arma da
corporação, apoiando projeto específico já aprovado na Câmara dos
Deputados.
30. Propor projeto de lei para tornar obrigatória a presença no local, do juiz ou
do representante do Ministério Público, à ocasião do cumprimento de mandado
de manutenção ou reintegração de posse de terras, quando houver pluralidade
de réus, para prevenir conflitos violentos no campo, ouvido também o órgão
administrativo da reforma agrária.
31. Apoiar proposições legislativas que objetivem dinamizar os processos de
expropriação para fins de reforma agrária, assegurando-se, para prevenir
violências, mais cautela na concessão de liminares.
32. Apoiar, no contexto da reforma do Estado, coordenada pelo Ministério da
Administração e Reforma do Estado, propostas para modernizar o Judiciário e
para fortalecer o sistema de proteção e promoção dos direitos humanos, de
forma a agilizar os processos, simplificar as regras e procedimentos e
aumentar as garantias do tratamento igualitário de todos perante a lei.
33. Apoiar a expansão dos serviços de prestação da justiça, para que estes se
façam presentes em todas as regiões do País.
34. Apoiar a multiplicação e manutenção, pelos Estados, de juizados especiais
civis e criminais.
35. Incentivar a prática de plantões permanentes no Judiciário, Ministério
Público, Defensoria Pública e Delegacias de Polícia.
36. Estudar a viabilidade de um sistema de juízes, promotores e defensores
públicos itinerantes, especialmente nas regiões distantes dos centros urbanos,
para ampliar o acesso à justiça.
37. Apoiar medidas de fortalecer as corregedorias internas do Ministério
Público e do Poder Judiciário, para aumentar a fiscalização e monitoramento
das atividades dos promotores e juízes.
38. Regulamentar o artigo 129, VII, da Constituição Federal, que trata do
controle externo da atividade policial pelo Ministério Público.
39. Apoiar a criação nos Estados de programas de proteção de vítimas e
testemunhas de crimes, expostas a grave e atual perigo em virtude de
colaboração ou declarações prestadas em investigação ou processo penal.
40. Propugnar pela aprovação do projeto de lei Nº 4.716-A/94 que tipifica o
crime de tortura.
41. Reformular o Conselho de Defesa dos Direitos da Pessoa Humana
(CDDPH), ampliando a participação de representantes da sociedade civil e a
sua competência.
42. Incentivar a criação e fortalecimento de conselhos de defesa dos direitos
humanos nos Estados e Municípios.
43. Apoiar a atuação da Comissão de Direitos Humanos da Câmara dos
Deputados e de comissões de direitos humanos nos Estados e Municípios, e
às comissões parlamentares de inquérito - tanto no Congresso Nacional como
nas Assembléias Legislativas - para a investigação de crimes contra os direitos
humanos.
44. Apoiar a criação de comissões de direitos humanos no Senado Federal e
nas assembléias legislativas e câmaras municipais onde estas comissões não
tenham ainda sido criadas.
45. Fortalecer e ampliar a esfera de atuação da Ouvidoria Geral da República,
a fim de ampliar a participação da população no monitoramento e fiscalização
das atividades dos órgãos e agentes do poder público.
46. Estimular a criação do serviço "Disque Denúncia" em todo País e Instituir
esse serviço nas repartições públicas federais que integram o sistema federal
de segurança pública.

Médio prazo
47. Propor a revisão da legislação sobre abuso e desacato à autoridade.
48. Fortalecer os Institutos Médico-Legais ou de Criminalística, adotando
medidas que assegurem a sua excelência técnica e progressiva autonomia,
articulando-os com universidades, com vista a aumentar a absorção de
tecnologias.
49. Implantar o Programa de Integração das Informações Criminais, visando à
criação de uma cadastro nacional de identificação criminal.
50. Dar continuidade à estruturação da Defensoria Pública da União, bem
como incentivar a criação de Defensorias Públicas junto a todas as comarcas
do país.

Longo prazo
51. Apoiar a criação do Conselho Nacional de Justiça, com a função de
fiscalizar as atividades do Poder Judiciário.

Proteção do direito à liberdade


Liberdade de Expressão e Classificação Indicativa
Curto Prazo
52. Promover o debate, mediante encontros, seminários, com todos os setores
vinculados ao tema da liberdade de expressão e da classificação indicativa de
espetáculos e diversões públicas, buscando, via de regra, uma ação integrada
e voltada para o interesse público nesse assunto.
53. Propor alteração na legislação existente sobre faixa etária com vistas a
adequá-las aos dias e necessidades atuais.
54. Estabelecer com os produtores e distribuidores de programação um
diálogo, franco, cordial e aberto visando a cooperação e sensibilização desses
setores para o cumprimento da legislação em vigor, convidando-os a uma
participação efetiva neste processo.
55. Estruturar o Departamento de Classificação Indicativa do Ministério da
Justiça, de modo dotá-lo de capacidade operativa compatível com sua missão
institucional.

Médio Prazo
56. Criar um sistema de avaliação permanente sobre os critérios de
classificação indicativa e faixa etária.
57. Promover o mapeamento dos programas radiofônicos e televisivos que
estimulem a apologia do crime, da violência, da tortura, das discriminações, do
racismo, da ação de grupos de extermínio, de grupos paramilitares e da pena
de morte, com vistas a identificar responsáveis e adotar as medidas legais
pertinentes.

Trabalho forçado
Curto prazo
58. Rever a legislação para coibir o trabalho forçado.
59. Fortalecer os mecanismos para fiscalizar e coibir o trabalho forçado, com
vista a eficácia do Programa de Erradicação do Trabalho Forçado e do
aliciamento de trabalhadores - PERFOR, criado pelo Decreto de 03 de
setembro de 1992.
60. Apoiar o Grupo Executivo de Repressão ao Trabalho Forçado - GERTRAF,
vinculado ao Ministério do Trabalho.
61. Incentivar a ampliação dos Serviços de Fiscalização Móvel do Ministério do
Trabalho com vistas à coibição do trabalho forçado.

Médio prazo
62. Criar, nas organizações policiais, divisões especializadas de coibição ao
trabalho forçado, com atenção especial para as crianças, adolescentes,
estrangeiros e migrantes brasileiros.

Penas privativas de liberdade


Curto prazo
63. Reativar e difundir nos Estados o sistema de informática penitenciária -
INFORPEN, de forma a agilizar processos e julgamentos e evitar excessos no
cumprimento de pena.
64. Apoiar programas de emergência para corrigir as condições inadequadas
das prisões, criar novos estabelecimentos e aumentar o número de vagas no
país, em parceria com os Estados, utilizando-se recursos do Fundo
Penitenciário Nacional - FUNPEN.
65. Estimular a aplicação dos dispositivos da Lei de Execuções Penais
referentes a regimes de prisão semiaberto e aberto.
66. Incentivar a implementação de Conselhos Comunitários, conforme
determina a Lei de Execuções Penais, em todas as regiões, para auxiliar,
monitorar e fiscalizar os procedimentos ditados pela Justiça criminal.
67. Levar à discussão, em âmbito nacional, sobre a necessidade de se
repensar as formas de punição ao cidadão infrator, incentivando o Poder
Judiciário a utilizar as penas alternativas contidas nas leis vigentes com vistas
a minimizar a crise do sistema penitenciário.
68. Propor legislação para introduzir penas alternativas à prisão para os crimes
não violentos.
69. Estimular a criação de cursos de formação de agentes penitenciários.
70. Propor normatização dos procedimentos de revista aos visitantes de
estabelecimentos prisionais, com o objetivo de coibir quaisquer ações que
atentem contra dignidade e os direitos humanos dessas pessoas.

Médio prazo
71. Incentivar a agilização dos procedimentos judiciais, a fim de reduzir o
número de detidos à espera de julgamento.
72. Promover programas de educação, treinamento profissional e trabalho para
facilitar a reeducação e recuperação do preso.
73. Desenvolver programas de assistência integral à saúde do preso e de sua
família.
74. Proporcionar incentivos fiscais, creditícios e outros às empresas que
empreguem egressos do sistema penitenciário.
75. Realizar levantamento epidemológico da população carcerária brasileira.
76. Incrementar a descentralização dos estabelecimentos penais, com a
construção de presídios de pequeno porte que facilitem a execução da pena
próximo aos familiares dos presos.

Longo Prazo
77. Incrementar a desativação da Casa de Detenção de São Paulo (Carandiru),
e de outros estabelecimentos penitenciários que contrariem as normas
mínimas penitenciárias internacionais.

Proteção do direito a tratamento igualitário perante a lei


Direitos Humanos, Direitos de Todos:
Curto Prazo
78. Propor legislação proibindo todo tipo de discriminação, com base em
origem, raça, etnia, sexo, idade, credo religioso, convicção política ou
orientação sexual, e revogando normas discriminatórias na legislação infra-
constitucional, de forma a reforçar e consolidar a proibição de práticas
discriminatórias existente na legislação constitucional.
79. Estimular a criação de canais de acesso direto e regular da população a
informações e documentos governamentais para tornar o funcionamento do
Executivo, Legislativo e Judiciário mais transparente, como, por exemplo, a
criação de um banco de dados que possibilite, inclusive, o acompanhamento
da tramitação de investigações e processos legais relativos a casos de violação
de direitos humanos.
80. Lançar uma campanha nacional, envolvendo Estados e Municípios, com o
objetivo de dotar todos os cidadãos, num prazo de um ano, dos documentos
fundamentais de cidadania, tais como certidão de nascimento, carteira de
identidade, carteira de trabalho, título de eleitor e certificado de alistamento
militar (ou certificado de reservista ou certificado de dispensa de incorporação).
81. Instituir a concessão gratuita das certidões de nascimento e de óbito para
todos os cidadãos.
82. Melhorar a qualidade do tratamento das pessoas dependentes do consumo
de drogas ilícitas, o que deve incluir a ampliação da acessibilidade e a
diminuição do seu custo.
83. Incentivar estudos, pesquisas e programas para limitar a incidência e o
impacto do consumo de drogas ilícitas.
84. Apoiar ações para implementação do PANAD - Programa de Ação Nacional
Antidrogas.
85. Apoiar a participação das pessoas portadoras de HIV/AIDS e suas
organizações na formulação e implementação de políticas e programas de
combate e prevenção do HIV/AIDS.
86. Incentivar campanhas de informação sobre HIV/AIDS, visando esclarecer a
população sobre os comportamentos que facilitem ou dificultem a sua
transmissão.
87. Apoiar a melhoria da qualidade do tratamento das pessoas com HIV/AIDS,
o que deve incluir a ampliação da acessibilidade e a diminuição do seu custo.
88. Incentivar estudos, pesquisas e programas para limitar a incidência e o
impacto do HIV/AIDS.
89. Estimular a criação de PROCONs municipais.
90. Estimular, a exemplo da Ordem dos Advogados do Brasil e da Federação
Nacional de Jornalistas, a criação de secretarias, departamentos ou comissões
de direitos humanos e cidadania nos sindicatos, centrais de trabalhadores,
federações e entidades populares e estudantis.

Médio Prazo
91. Instituir a carteira nacional de identidade.
Crianças e Adolescentes.

Curto Prazo
92. Apoiar o funcionamento do Conselho Nacional dos Direitos da Criança e do
Adolescente - CONANDA .
93. Incentivar programas de orientação familiar com o objetivo de capacitar as
famílias a resolver conflitos familiares de forma não violenta, e a cumprir suas
responsabilidades de cuidar e proteger as crianças.
94. Propor alterações na legislação penal com o objetivo de limitar a incidência
da violência doméstica contra as crianças e adolescentes.
95. Propor alterações na legislação penal e incentivar ações com o objetivo de
eliminar o trabalho infantil, punindo a prática de sua exploração.
96. Dar continuidade à Campanha Nacional de Combate à Exploração Sexual
Infanto-juvenil.
97. Incentivar a criação de estruturas para o desenvolvimento de programas
sócio-educativos para o atendimento de adolescentes infratores.
98. Propor a alteração da legislação no tocante à tipificação de crime de
exploração sexual infanto-juvenil, com penalização para o explorador e usuário.
99. Incentivar a criação, nos Estados e Municípios do País, dos Conselhos dos
Direitos da Criança e do Adolescente, Conselhos Tutelares e Fundos dos
Direitos da Criança e do Adolescente 100.Incentivar os programas de
capacitação de conselheiros à distância.
101.Apoiar a produção e publicação de documentos que contribuam para a
divulgação e aplicação do Estatuto da Criança e do Adolescente.
102.Instituir uma política nacional de estímulo à adoção, principalmente por
famílias brasileiras, de crianças e adolescentes efetivamente abandonadas, a
fim de lhes possibilitar a convivência familiar.
103.Apoiar a regulamentação do decreto legislativo que promulgou a
Convenção sobre Cooperação Internacional e Proteção de Crianças e
Adolescentes em Matéria de Adoção Internacional, realizada em Haia (1993),
com a designação de uma autoridade central em matéria de adoções
internacionais no Brasil.
104.Apoiar a criação, pelos tribunais de justiça dos Estados, de comissões de
adoção.
105.Incentivar a criação de estruturas para o desenvolvimento de programas
sócio-educativos para o atendimento de adolescentes infratores.
106.Promover, em parceria com Governos estaduais e municipais e com a
sociedade civil, campanhas educativas relacionadas às situações de risco
vivenciadas pela criança e pelo adolescente, como violência doméstica e
sexual, prostituição, exploração no trabalho e uso de drogas, visando a criar e
manter um padrão cultural favorável aos direitos da criança e do adolescente.
107.Estender o Programa de Merenda Escolar às creches.
108.Apoiar o Programa Brasil Criança Cidadã, desenvolvido pela Secretaria de
Assistência Social do MPAS.
109.Apoiar o Fórum Nacional de Prevenção e Erradicação do Trabalho Infantil,
coordenado pelo Ministério do Trabalho.
110.Promover a discussão do papel dos meios de comunicação no combate à
exploração sexual infantojuvenil.

Médio Prazo
111.Investir na formação e capacitação de profissionais e encarregados da
implementação da política de direitos da criança e do adolescente nos
Governos estaduais e municipais e nas organizações não governamentais,
112.Implantar sistema nacional e sistemas estaduais de informação e
monitoramento da situação da criança e do adolescente, focalizando
principalmente: (a) criação e funcionamento de Conselhos de Direitos da
Criança e do Adolescente e Conselhos Tutelares; (b) localização e identificação
de crianças e adolescentes desaparecidos; (c) violação de direitos de crianças
e adolescentes, que contemple o número de denúncias, número de processos,
local da ocorrência, faixa etária e cor das crianças e adolescentes envolvidos,
número de casos; (d) prostituição Infanto-juvenil; (e) mortes violentas de
crianças e adolescentes.

Longo Prazo
113.Incentivar o reordenamento das instituições privativas de liberdade para
menores infratores, reduzindo o número de adolescentes autores de ato
infracional por unidade de atendimento, com prioridade na implementação das
demais medidas sócio-educativas previstas no Estatuto da Criança e do
Adolescente.
114.Apoiar a criação, pelo Poder Judiciário, Ministério Público e pelos
Governos estaduais, de varas, promotorias e delegacias especializadas em
infrações penais envolvendo menores, como previsto no Estatuto da Criança e
do Adolescente.

Mulheres.
Curto prazo
115.Apoiar o Conselho Nacional dos Direitos da Mulher na formulação e
implementação de políticas públicas para a defesa dos direitos da mulher.
116.Apoiar o Programa Nacional de Combate à Violência Contra a Mulher, do
Governo federal.
117.Incentivar a criação de centros integrados de assistência a mulheres sob
risco de violência doméstica e sexual.
118.Apoiar as políticas dos Governos estaduais e municipais para prevenção
da violência doméstica e sexual contra as mulheres.
119.Incentivar a pesquisa e divulgação de informações sobre a violência e
discriminação contra a mulher e sobre formas de proteção e promoção dos
direitos da mulher.
120.Assegurar o cumprimento dos dispositivos existentes na Lei nº 9.029/95,
que dá proteção às mulheres contra discriminação em razão de gravidez.
121.Apoiar o projeto de lei que altera o Código Penal nos crimes de estupro e
atentado violento à mulher.

Médio prazo
122.Regulamentar o artigo 7, inciso XX, da Constituição Federal, que prevê a
proteção do mercado de trabalho da mulher através de incentivos específicos.
123.Revogar as normas discriminatórias ainda existentes na legislação infra-
constitucional, incluindo particularmente as normas do Código Civil Brasileiro
que tratam do patrio poder, chefia da sociedade conjugal, direito da anulação
do casamento pelo homem quando a mulher não é virgem, privilégio do homem
na fixação do domicílio familiar.
124.Reformular as normas de combate à violência e discriminação contra as
mulheres, em particular, apoio ao projeto do Governo que trata o estupro como
crime contra a pessoa e não mais como crime contra os costumes.
125.Incentivar a inclusão da perspectiva de gênero na educação e treinamento
de funcionários públicos, civis e militares e nas diretrizes curriculares para o
ensino fundamental e médio, com o objetivo de promover mudanças na
mentalidade e atitude e o reconhecimento da igualdade de direitos das
mulheres, não apenas na esfera dos direitos civis e políticos, mas também na
esfera dos direitos econômicos, sociais e culturais.
126.Incentivar a geração de estatísticas que evidenciem salários, jornadas de
trabalho, ambientes de trabalho, doenças profissionais e direitos trabalhistas da
mulher.

Longo prazo
127.Definir políticas e programas governamentais, nas esferas federal,
estadual e municipal, para implementação das leis que asseguram a igualdade
de direitos das mulheres e dos homens em todos os níveis, incluindo saúde,
educação e treinamento profissional, trabalho, segurança social, propriedade e
crédito rural, cultura, política e justiça.

População Negra.
Curto prazo
128.Apoiar o grupo de trabalho interministerial criado por Decreto Presidencial
de 20 de novembro de 1995 com o objetivo de sugerir ações e políticas de
valorização da população negra.
129.Inclusão do quesito "cor" em todos e quaisquer sistemas de informação e
registro sobre a população e bancos de dados públicos.
130.Apoiar o Grupo de Trabalho para a Eliminação da Discriminação no
Emprego e na Ocupação – GTEDEO, instituído no âmbito do Ministério do
Trabalho, pelo decreto de 20 de março de 1996. O GTEDEO de constituição
tripartite, deverá definir um programa de ações e propor estratégias de
combate à discriminação no emprego e na ocupação, conforme os princípios
da Convenção 111, da Organização Internacional do Trabalho - OIT.
131.Incentivar e apoiar a criação e instalação, a níveis estadual e municipal, de
Conselhos da Comunidade Negra.
132.Estimular a presença dos grupos étnicos que compõem a nossa população
em propagandas institucionais contratadas pelos órgãos da administração
direta e indireta e por empresas estatais do Governo Federal.
133.Apoiar a definição de ações de valorização para a população negra e com
políticas públicas.
134.Apoiar as ações da iniciativa privada que realizem discriminação positiva.
135.Estimular as Secretarias de Segurança Pública dos Estados a realizarem
cursos de reciclagem e seminários sobre discriminação racial.

Médio prazo
136.Revogar normas discriminatórias ainda existentes na legislação infra-
constitucional.
137.Aperfeiçoar as normas de combate à discriminação contra a população
negra.
138.Criar banco de dados sobre a situação dos direitos civis, políticos, sociais,
econômicos e culturais da população negra na sociedade brasileira que oriente
políticas afirmativas visando a promoção dessa comunidade.
139.Promover o mapeamento e tombamento dos sítios e documentos
detentores de reminiscências históricas, bem como a proteção das
manifestações culturais afro-brasileiras.
140.Propor projeto de lei, visando a regulamentação dos art. 215, 216 e 242 da
Constituição Federal.
141.Desenvolver ações afirmativas para o acesso dos negros aos cursos
profissionalizantes, à universidade e ás áreas de tecnologia de ponta.
142.Determinar ao IBGE a adoção do critério de se considerar os mulatos, os
pardos e os pretos como integrantes do contingente da população negra.
143.Adotar o princípio da criminalização da prática do racismo, nos Códigos
Penal e de Processo Penal.
144.Estimular que os livros didáticos enfatizem a história e as lutas do povo
negro na construção do nosso país, eliminando esteriótipos e discriminações.
145.Divulgar as Convenções Internacionais, os dispositivos da Constituição
Federal e a legislação infraconstitucional que tratam do racismo.
146.Apoiar a produção e publicação de documentos que contribuam para a
divulgação da legislação antidiscriminatória.
147.Facilitar a discussão e a articulação entre as entidades da comunidade
negra e os diferentes setores do Governo, para desenvolver planos de ação e
estratégias na valorização da comunidade negra.

Longo prazo
148.Incentivar ações que contribuam para a preservação da memória e
fomento à produção cultural da comunidade negra no Brasil.
149.Formular políticas compensatórias que promovam social e
economicamente a comunidade negra.

Sociedades Indígenas
Curto prazo
150.Formular e implementar políticas de proteção e promoção dos direitos das
sociedades indígenas, em substituição a políticas assimilacionistas e
assistencialistas.
151.Apoiar a revisão do Estatuto do Índio (Lei 6.001/73), no sentido apontado
pelo projeto de lei do Estatuto das Sociedades Indígenas, já aprovado na
Câmara dos Deputados.
152.Assegurar a participação das sociedades indígenas e de suas
organizações na formulação e implementação de políticas de proteção e
promoção de seus direitos.
153.Assegurar o direito das sociedades indígenas às terras que eles
tradicionalmente ocupam.
154.Demarcar e regularizar as terras tradicionalmente ocupadas por
sociedades indígenas que ainda não foram demarcadas e regularizadas.
155.No contexto do processo de demarcação das terras indígenas, apoiar
ações que contribuam para o aumento do grau de confiança e de estabilidade
das relações entre as organizações governamentais e não governamentais,
através de seminários, oficinas e projetos que contribuam para diminuir a
desinformação, o medo e outros fatores que contribuam para o acirramento dos
conflitos e para violência contra os índios.
156.Dotar a FUNAI de recursos suficientes para a realização de sua missão de
defesa dos direitos das sociedades indígenas, particularmente no processo de
demarcação das terras indígenas.
157.garantir às sociedades indígenas assistência na área da saúde, com a
implementação de programas de saúde diferenciados, considerando as
especificidades dessas populações.
158.assegurar à sociedades indígenas uma educação escolar diferenciada,
respeitando o seu universo sóciocultural.
159.promover a divulgação de informação sobre os indígenas e os seus
direitos, principalmente nos meios de comunicação e nas escolas, como forma
de eliminar a desinformação (uma das causas da discriminação
e da violência contra os indígenas e suas culturas).

Médio prazo
160.Implantar sistema de vigilância permanente em terras indígenas, com
unidades móveis de fiscalização, com capacitação de servidores e membros da
própria comunidade indígena.
161.Levantar informações sobre conflitos fundiários e violência em terras
indígenas, a ser integrado ao mapa dos conflitos fundiários e violência rural no
Brasil.

Longo prazo
162.Reorganizar a FUNAI para compatibilizar a sua organização com a função
de defender os direitos das sociedades indígenas.
163.Apoiar junto às comunidades indígenas o desenvolvimento de projetos
auto-sustentáveis do ponto de vista econômico, ambiental e cultural.

Estrangeiros, Refugiados e Migrantes Brasileiros


Curto prazo
164.Desenvolver programa e campanha visando à regularização da situação
dos estrangeiros atualmente no país.
165.Adotar medidas para impedir e punir a violência e discriminação contra
estrangeiros no Brasil e migrantes brasileiros no exterior.
166.Propor projeto de lei estabelecendo o estatuto dos refugiados.

Médio prazo
167.Estabelecer política de proteção aos direitos humanos das comunidades
estrangeiras no Brasil
168.Estabelecer política de proteção aos direitos humanos das comunidades
brasileiras no exterior

Longo prazo
169.Reformular a Lei dos Estrangeiros, através da apreciação pelo Congresso
do projeto de lei 1813/91, que regula a situação jurídica do estrangeiro no
Brasil.

Terceira Idade
Curto prazo
170.Estabelecer prioridade obrigatória de atendimento às pessoas idosas em
todas as repartições públicas e estabelecimentos bancários do país.
171.Facilitar o acesso das pessoas idosas a cinemas, teatros, shows de
música e outras formas de lazer público.
172.Apoiar as formas regionais denominadas ações governamentais
integradas, para o desenvolvimento da Política Nacional do Idoso.

Médio Prazo
173.Criar e fortalecer conselhos e organizações de representação dos idosos,
incentivando sua participação nos programas e projetos governamentais de
seu interesse.
174.Incentivar o equipamento de estabelecimentos públicos e meios de
transporte de forma a facilitar a locomoção dos idosos.

Longo prazo
175.Generalizar a concessão de passe livre e precedência de acesso aos
idosos em todos os sistemas de transporte público urbano.
176.Criar, fortalecer e descentralizar programas de assistência aos idosos, de
forma a contribuir para sua integração à família e à sociedade e incentivar o
seu atendimento no seu próprio ambiente.

Pessoas portadoras de deficiência


Curto prazo
177.Formular políticas de atenção às pessoas portadoras de deficiência, para a
implementação de uma estratégia nacional de integração das ações
governamentais e não-governamentais, com vistas ao efetivo cumprimento do
Decreto nº 914, de 06 de setembro de 1993.
178.Propor normas relativas ao acesso do portador de deficiência ao mercado
de trabalho e no serviço público, nos termos do art. 37, VIII da Constituição
Federal.
179.Adotar medidas que possibilitem o acesso das pessoas portadores de
deficiências às informações veiculadas pelos meios de comunicação.

Médio prazo
180.Formular programa de educação para pessoas portadoras de deficiência.
181.Implementar o programa de remoção de barreiras físicas que impedem ou
dificultam a locomoção das pessoas portadoras de deficiência, ampliando o
acesso às cidades históricas, turísticas, estâncias hidrominerais e grande
centros urbanos, como vistos no projeto "Cidade para todos".

Longo prazo
182.conceber sistemas de informações com a definição de bases de dados
relativamente a pessoas portadores de deficiência, à legislação, ajudas
técnicas, bibliografia e capacitação na área de reabilitação e atendimento.

Educação e Cidadania. Bases para uma cultura de Direitos Humanos


Produção e Distribuição de Informações e Conhecimento
Curto prazo
183.Criar e fortalecer programas de educação para o respeito aos direitos
humanos nas escolas de primeiro, segundo e terceiro grau, através do sistema
de "temas transversais" nas disciplinas curriculares, atualmente adotado pelo
Ministério da Educação e do Desporto, e através da criação de uma disciplina
sobre direitos humanos.
184.Apoiar a criação e desenvolvimento de programas de ensino e de pesquisa
que tenham como tema central a educação em direitos humanos.
185.Incentivar campanha nacional permanente que amplie a compreensão da
sociedade brasileira sobre o valor da vida humana e a importância do respeito
aos direitos humanos.
186.Incentivar, em parceria com a sociedade civil, a criação de prêmios, bolsas
e outras distinções regionais para entidades e personalidades que tenham se
destacado periodicamente na luta pelos direitos humanos.
187.Estimular os partidos políticos e os tribunais eleitorais a reservarem parte
do seu espaço específico à promoção dos direitos humanos.
188.Atribuir, anualmente, o Prêmio Nacional de Direitos Humanos.

Médio prazo
189.Incentivar a criação de canais de acesso direto da população a
informações e meios de proteção aos direitos humanos, como linhas
telefônicas especiais.

Conscientização e Mobilização pelos Direitos Humanos


Curto prazo
190.Apoiar programas de informação, educação e treinamento de direitos
humanos para profissionais de direito, policiais, agentes penitenciários e
lideranças sindicais, associativas e comunitárias, para aumentar a capacidade
de proteção e promoção dos direitos humanos na sociedade brasileira.
191.Orientar tais programas na valorização da moderna concepção dos direitos
humanos segundo a qual o respeito à igualdade supõe também a tolerância
com as diferenças e peculiaridades de cada indivíduo.
192.Apoiar a realização de fóruns, seminários e "workshops" na área de
direitos humanos.

Médio prazo
193.Incentivar a criação de bancos de dados sobre entidades, representantes
políticos, empresas, sindicatos, igrejas, escolas e associações comprometidos
com a proteção e promoção dos direitos humanos.
194.Apoiar a representação proporcional de grupos e comunidades minoritárias
do ponto de vista étnico, racial e de gênero nas campanhas de publicidade e de
comunicação de agências governamentais.

Longo prazo
195.Incentivar campanhas de esclarecimento da opinião pública sobre os
candidatos a cargos públicos e lideranças da sociedade civil comprometidos
com a proteção e promoção dos direitos humanos

Ações internacionais para proteção e promoção dos Direitos Humanos:


Ratificação de atos internacionais
Curto Prazo
196.Ratificar a Convenção 138 e implementar a Recomendação 146 da OIT,
que tratam da idade mínima para admissão no emprego.
197.Ratificar a Convenção 169 sobre Povos Indígenas e Tribais em Países
Independentes, aprovada pela OIT em 1989.
198.Ratificar a Convenção Internacional para Proteção dos Direitos dos
Migrantes e de suas Famílias, aprovada pela ONU em 1990.
199.Ratificar a Convenção Interamericana de Desaparecimento Forçado de
Pessoas, assinada em Belém/PA em 9/06/94;
200.Adotar legislação interna que permita o cumprimento pelo Brasil dos
compromissos assumidos internacionalmente, como Estado parte, em
convenções e tratados de direitos humanos.
201.Dar continuidade à política de adesão a tratados internacionais para
proteção e promoção dos direitos humanos, através da sua ratificação e
implementação.

Implementação e divulgação de atos internacionais


Curto prazo
202.Desenvolver campanhas de divulgação, através de veículos de
comunicação, das principais declarações e convenções internacionais para
proteção e promoção dos direitos humanos assinadas pelo Brasil, a fim de
deixar claro quais são os compromissos assumidos pelo Brasil na área da
proteção e promoção dos direitos humanos.
203.Implementar a Conferência Mundial dos Direitos Humanos - 1993, em
Viena, que define a violência contra as mulheres como violência contra os
direitos humanos;
204.Implementar a Convenção Interamericana para prevenir, punir e erradicar
a violência contra a mulher (junho de 1994).
205.Implementar a IV Conferência Mundial da Mulher (Beijing, setembro de
1995);
206.Apoiar, junto com o Ministério das Relações Exteriores, a elaboração do
Plano Hemisférico de Direitos Humanos, no contexto da implementação da
Declaração de Princípios e do Plano de Ação, aprovados pela Cúpula de
Américas realizada em Miami em 1994.
207.No contexto da implementação da Declaração de Princípios e do Plano de
Ação da Cúpula das Américas, criar um sistema hemisférico de divulgação dos
princípios e ações de proteção à cidadania e aos direitos humanos, apoiar
programas internacionais para limitar a incidência e impacto do terrorismo, do
tráfico de drogas e do HIV/AIDS.
208.Implementar as convenções internacionais das quais o Brasil é signatário,
como as que tratam dos direitos da criança e do adolescente, em particular
cumprindo prazos na entrega de planos de ação e relatórios.
209.Implementar propostas de proteção dos direitos da mulher contidas nos
seguintes documentos: A) Declaração e Proposta de Ação da Conferência
Mundial de Direitos Humanos, realizada em Viena em 1993; B) Declaração
sobre Eliminação da Violência Contra a Mulher, aprovada pela ONU em 1993;
C) Convenção Interamericana para Prevenir, Punir e Erradicar a Violência
contra a Mulher ("Convenção de Belém do Pará"), aprovada pela OEA em
1994.
210.Implementar a Convenção Internacional sobre a Eliminação de Todas as
Formas de Discriminação Racial.
211.Implementar as Convenções 29, 105 e 111 da OIT, que tratam do trabalho
forçado e da discriminação nos locais de trabalho.
212.Dar cumprimento à obrigação de submeter relatórios periódicos sobre a
implementação de convenções e tratados de direitos humanos, dos quais o
Brasil seja parte.

Médio prazo
213.Dar publicidade e divulgação aos textos dos tratados e convenções
internacionais de direitos humanos de que o Brasil seja parte.

Apoio a organizações e operações de defesa dos direitos humanos.


Curto prazo
214.Promover o intercâmbio internacional de experiências em matéria de
proteção e promoção dos direitos humanos.
215.Promover o intercâmbio internacional de experiências na área da
educação e treinamento de forças policiais visando melhor prepará-las para
limitar a incidência e o impacto de violações dos direitos humanos no combate
à criminalidade e à violência.
216.Criar e fortalecer programas internacionais de apoio a projetos nacionais
que visem a proteção e promoção dos direitos humanos, em particular da
reforma e melhoria dos sistemas judiciários e policiais.
217.Apoiar a elaboração do protocolo facultativo adicional à Convenção contra
tortura e outros tratamentos, ou penas cruéis, desumanas ou degradantes.

Médio prazo
218.Fortalecer a cooperação com organismos internacionais de proteção aos
direitos humanos, em particular a Comissão de Direitos Humanos da ONU, a
Comissão Interamericana de Direitos Humanos, a Corte Interamericana de
Direitos Humanos e o Instituto Interamericano de Direitos Humanos.
219.Apoiar a elaboração da Declaração sobre os Direitos das sociedades
Indígenas, da ONU.
220.Incentivar a ratificação dos instrumentos internacionais de proteção e
promoção dos direitos humanos pelos países com os quais o Brasil possui
relações diplomáticas.
221.Desenvolver no País o Plano de Ação da Década para a Educação em
Direitos Humanos, aprovado pela Organização das Nações Unidas em 1994
para o período 1995-2004.

Implementação e Monitoramento do Programa Nacional de Direitos


Humanos Implementação
222.Criar um serviço civil constituído por jovens formados como agentes da
cidadania, que possam atuar na proteção dos direitos humanos em todos os
estados do país.
223.Elaborar um Manual dos Direitos Humanos, a ser distribuído nos Estados e
Municípios, para informar, educar e treinar os integrantes de organizações
governamentais e não governamentais responsáveis pela implementação do
Programa Nacional de Direitos Humanos, e para deixar claro os compromissos
assumidos pelo Brasil na área de direitos humanos tanto no Programa Nacional
quanto no plano internacional.
224.Desenvolver campanha publicitária no âmbito nacional, através dos vários
meios de comunicação social, com o objetivo de esclarecer e sensibilizar o
País para a importância dos direitos humanos e do Programa Nacional de
Direitos Humanos.
225.Atribuir ao Ministério da Justiça, através de órgão a ser designado, a
responsabilidade pela coordenação da implementação e atualização do
Programa Nacional de Direitos Humanos, inclusive sugestões e queixas sobre
o seu cumprimento. Atribuir a entidades equivalentes a responsabilidade pela
coordenação da implementação do Programa nos estados e municípios.
226.Promover estudos visando à criação de um sistema de concessão de
incentivos por parte do Governo federal aos Governos estaduais que
implementarem medidas favoráveis aos direitos humanos previstas no
Programa Nacional de Direitos Humanos.

Monitoramento
227.Atribuir ao Ministério da Justiça a responsabilidade de apresentar ao
Presidente da República relatórios quadrimestrais sobre a implementação do
Programa Nacional de Direitos Humanos, face à situação dos direitos humanos
no Brasil.
228.Destinar aos Governos estaduais a responsabilidade de elaborar e
apresentar ao Ministério da Justiça relatórios quadrimestrais e anuais sobre a
implementação do Programa Nacional de Direitos Humanos e a situação dos
direitos humanos no respectivo Estado.

b) PNDH-2

Ainda no Governo FHC foi implementada a 2ª parte do Programa


Nacional de Desenvolvimento Humano, o PNDH 2. Vejamos as propostas:

PROPOSTAS DE AÇÕES GOVERNAMENTAIS


Propostas Gerais
1. Apoiar a formulação, a implementação e a avaliação de políticas e ações
sociais para a redução das desigualdades econômicas, sociais e
culturais existentes no país, visando à plena realização do direito ao
desenvolvimento e conferindo prioridade às necessidades dos grupos
socialmente vulneráveis.
2. Apoiar, na esfera estadual e municipal, a criação de conselhos de direitos
dotados de autonomia e com composição paritária de representantes
do governo e da sociedade civil.
3. Apoiar a formulação de programas estaduais e municipais de direitos
humanos e a realização de conferências e seminários voltados para a
proteção e promoção de direitos humanos.
4. Apoiar a atuação da Comissão de Direitos Humanos da Câmara dos
Deputados, a criação de comissões de direitos humanos nas
assembléias legislativas estaduais e câmaras municipais e o trabalho
das comissões parlamentares de inquérito constituídas para a
investigação de crimes contra os direitos humanos.
5. Estimular a criação de bancos de dados com indicadores sociais e
econômicos sobre a situação dos direitos humanos nos estados
brasileiros, a fim de orientar a definição de políticas públicas
destinadas à redução da violência e à inclusão social.
6. Apoiar, em todas as unidades federativas, a adoção de mecanismos que
estimulem a participação dos cidadãos na elaboração dos orçamentos
públicos.
7. Estimular a criação de mecanismos que confiram maior transparência à
destinação e ao uso dos recursos públicos, aprimorando os
mecanismos de controle social das ações governamentais e de
combate à corrupção.
8. Ampliar, em todas as unidades federativas, as iniciativas voltadas para
programas de transferência direta de renda, a exemplo dos programas
de renda mínima, e fomentar o envolvimento de organizações locais
em seu processo de implementação.
9. Realizar estudos para que o instrumento de ação direta de
inconstitucionalidade possa ser invocado no caso de adoção, por
autoridades municipais, estaduais e federais, de políticas públicas
contrárias aos direitos humanos.
10. Garantir o acesso gratuito e universal ao registro civil de nascimento e
ao assento de óbito.
11. Apoiar a aprovação do Projeto de Lei nº 4715/1994, que transforma o
Conselho de Defesa dos Direitos da Pessoa Humana – CDDPH em
Conselho Nacional dos Direitos Humanos – CNDH, ampliando sua
competência e a participação de representantes da sociedade civil.

Garantia do Direito à Vida


12. Apoiar a execução do Plano Nacional de Segurança Pública – PNSP.
13. Apoiar programas e ações que tenham como objetivo prevenir a
violência contra grupos vulneráveis e em situação de risco.
14. Apoiar a implementação de ações voltadas para o controle de armas,
tais como a coordenação centralizada do controle de armas, o Sistema
Nacional de Armas – SINARM e o Cadastro Nacional de Armas
Apreendidas – CNAA, bem como campanhas de desarmamento e
ações de recolhimento/apreensão de armas ilegais.
15. Propor a edição de norma federal regulamentando a aquisição de armas
de fogo e munição por policiais, guardas municipais e agentes de
segurança privada.
16. Apoiar a edição de norma federal que regule o uso de armas de fogo e
munição por policiais, guardas municipais e agentes de segurança
privada, especialmente em grandes eventos, manifestações públicas e
conflitos, assim como a proibição da exportação de armas de fogo
para países limítrofes.
17. Promover, em parceria com entidades não-governamentais, a
elaboração de mapas de violência urbana e rural, identificando as
regiões que apresentem maior incidência de violência e criminalidade
e incorporando dados e indicadores de desenvolvimento, qualidade de
vida e risco de violência contra grupos vulneráveis.
18. Ampliar programas voltados para a redução da violência nas escolas, a
exemplo do programa „Paz nas Escolas‟, especialmente em áreas
urbanas que apresentem aguda situação de carência e exclusão,
buscando o envolvimento de estudantes, pais, educadores, policiais e
membros da comunidade.
19. Estimular o aperfeiçoamento dos critérios para seleção e capacitação de
policiais e implantar, nas Academias de polícia, programas de
educação e formação em direitos humanos, em parceria com
entidades não-governamentais.
20. Incluir no currículo dos cursos de formação de policiais módulos
específicos sobre direitos humanos, gênero e raça, gerenciamento de
crises, técnicas de investigação, técnicas não-letais de intervenção
policial e mediação de conflitos.
21. Propor a criação de programas de atendimento psicossocial para o
policial e sua família, a obrigatoriedade de avaliações periódicas da
saúde física e mental dos profissionais de polícia e a implementação
de programas de seguro de vida e de saúde, de aquisição da casa
própria e de estímulo à educação formal e à profissionalização.
22. Apoiar estudos e programas para a redução da letalidade em ações
envolvendo policiais.
23. Apoiar o funcionamento e a modernização de corregedorias estaduais
independentes e desvinculadas dos comandos policiais, com vistas a
limitar abusos e erros em operações policiais e a emitir diretrizes claras
aos integrantes das forças policiais com relação à proteção dos
direitos humanos.
24. Fortalecer o Fórum Nacional de Ouvidores de Polícia – FNOP, órgão de
caráter consultivo vinculado à Secretaria de Estado dos Direitos
Humanos, e incentivar a criação e o fortalecimento de ouvidorias de
polícia dotadas de autonomia e poderes para receber, acompanhar e
investigar denúncias.
25. Apoiar medidas destinadas a garantir o afastamento das atividades de
policiamento de policiais envolvidos em ocorrências letais e na prática
de tortura, submetendo-os à avaliação e tratamento psicológico e
assegurando a imediata instauração de processo administrativo, sem
prejuízo do devido processo criminal.
26. Fortalecer a Divisão de Direitos Humanos do Departamento de Polícia
Federal.
27. Criar a Ouvidoria da Polícia Federal – OPF.
28. Apoiar programas estaduais voltados para a integração entre as polícias
civil e militar, em especial aqueles com ênfase na unificação dos
comandos policiais.
29. Reforçar a fiscalização e a regulamentação das atividades das
empresas de segurança privada, com participação da Polícia Civil no
controle funcional e da Polícia Militar no controle operacional das
ações previstas, bem como determinar o imediato recadastramento de
todas as empresas de segurança em funcionamento no País, proibindo
o funcionamento daquelas em situação irregular.
30. Apoiar ações destinadas a reduzir a contratação ilegal de profissionais
de polícia e guardas municipais por empresas de segurança privada.
31. Incentivar ações educativas e preventivas destinadas a reduzir o
número de acidentes e mortes no trânsito.
32. Incentivar a implantação da polícia ou segurança comunitária e de
ações de articulação e cooperação entre a comunidade e autoridades
públicas com vistas ao desenvolvimento de estratégias locais de
segurança pública, visando a garantir a proteção da integridade física
das pessoas e dos bens da comunidade e o combate à impunidade.
33. Apoiar a criação e o funcionamento de centros de apoio a vítimas de
crime nas áreas com maiores índices de violência, com vistas a
disponibilizar assistência social, jurídica e psicológica às vítimas de
violência e a seus familiares e dependentes.
34. Apoiar a realização de estudos e pesquisas de vitimização, com
referência específica a indicadores de gênero e raça, visando a
subsidiar a formulação, implementação e avaliação de programas de
proteção dos direitos humanos.
35. Estimular a avaliação de programas e ações na área de segurança
pública e a identificação de experiências inovadoras e bem sucedidas
que possam ser reproduzidas nos estados e municípios.
36. Implantar e fortalecer sistemas de informação nas áreas de segurança e
justiça, como o INFOSEG, de forma a permitir o acesso à informação e
a integração de dados sobre identidade criminal, mandados de prisão
e situação da população carcerária em todas as unidades da
Federação.
37. Criar bancos de dados sobre a organização e o funcionamento das
polícias e sobre o fluxo das ocorrências no sistema de justiça criminal.
38. Apoiar a implementação de programas de prevenção da violência
doméstica.

Garantia do Direito à Justiça


39. Adotar, no âmbito da União e dos estados, medidas legislativas,
administrativas e judiciais para a resolução de casos de violação de
direitos humanos, particularmente aqueles em exame pelos órgãos
internacionais de supervisão, garantindo a apuração dos fatos, o
julgamento dos responsáveis e a reparação dos danos causados às
vítimas.
40. Apoiar iniciativas voltadas para a capacitação de operadores do direito
em temas relacionados ao direito internacional dos direitos humanos.
41. Apoiar a Proposta de Emenda à Constituição nº 29/2000, sobre a
reforma do Poder Judiciário, com vistas a: a) assegurar a todos, no
âmbito judicial e administrativo, a razoável duração dos processos e os
meios que garantam a celeridade de sua tramitação; b) conferir o
status de emenda constitucional aos tratados e convenções
internacionais sobre direitos humanos aprovados pelo Congresso
Nacional; c) garantir o incidente de deslocamento, da Justiça Estadual
para a Justiça Federal, da competência processual nas hipóteses de
graves crimes contra os direitos humanos, suscitadas pelo Procurador
Geral da República perante o Superior Tribunal de Justiça; d) adotar a
súmula vinculante, dispondo sobre a validade, a interpretação e a
eficácia das normas legais e seu efeito vinculante em relação aos
demais órgãos do Poder Judiciário; e) estabelecer o controle externo
do Poder Judiciário, com a criação do Conselho Nacional de Justiça,
encarregado do controle da atuação administrativa e financeira do
Poder Judiciário e do cumprimento dos deveres funcionais dos juízes;
f) criar o Conselho Nacional do Ministério Público e do Conselho
Superior da Justiça do Trabalho.
42. Apoiar a criação de promotorias de direitos humanos no âmbito do
Ministério Público.
43. Propor legislação visando a fortalecer a atuação do Ministério Público
no combate ao crime organizado.
44. Fortalecer as corregedorias do Ministério Público e do Poder Judiciário,
como forma de aumentar a fiscalização e o monitoramento das
atividades dos promotores e juízes.
45. Regulamentar o artigo 129, inciso VII, da Constituição Federal, que trata
do controle externo da atividade policial pelo Ministério Público.
46. Apoiar a atuação da Procuradoria Federal dos Direitos do Cidadão no
âmbito da União e dos estados.
47. Propor medidas destinadas a incentivar a agilização dos procedimentos
judiciais, a fim de reduzir o número de detidos à espera de julgamento.
48. Fortalecer a Ouvidoria Geral da República, a fim de ampliar a
participação da população no monitoramento e fiscalização das
atividades dos órgãos e agentes do poder público.
49. Criar e fortalecer ouvidorias nos órgãos públicos da União e dos estados
para o atendimento de denúncias de violação de direitos fundamentais,
com ampla divulgação de sua finalidade nos meios de comunicação.
50. Criar e fortalecer a atuação de ouvidorias gerais nos Estados.
51. Apoiar a expansão dos serviços de prestação da justiça, para que estes
se façam presentes em todas as regiões do país.
52. Apoiar medidas legislativas destinadas a transferir, da Justiça Militar
para a Comum, a competência para processar e julgar todos os crimes
cometidos por policiais militares no exercício de suas funções.
53. Incentivar a prática de plantões permanentes no Judiciário, Ministério
Público, Defensoria Pública e Delegacias de Polícia.
54. Fortalecer os Institutos Médico-Legais ou de Criminalística, adotando
medidas que assegurem a sua excelência técnica e progressiva
autonomia.
55. Apoiar o fortalecimento da Defensoria Pública da União e das
Defensorias Públicas Estaduais, assim como a criação de Defensorias
Públicas junto a todas as comarcas do país.
56. Apoiar a criação de serviços de orientação jurídica gratuita, a exemplo
dos balcões de direitos e dos serviços de disque-denúncia, assim
como o desenvolvimento de programas de formação de agentes
comunitários de justiça e mediação de conflitos.
57. Estimular a criação e o fortalecimento de órgãos de defesa do
consumidor, em nível estadual e municipal, assim como apoiar as
atividades das organizações da sociedade civil atuantes na defesa do
consumidor.
58. Apoiar a instalação e manutenção, pelos estados, de juizados especiais
civis e criminais.
59. Incentivar projetos voltados para a criação de serviços de juizados
itinerantes, com a participação de juízes, promotores e defensores
públicos, especialmente nas regiões mais distantes dos centros
urbanos, para ampliar o acesso à justiça.
60. Estimular a criação de centros integrados de cidadania próximos às
comunidades carentes e periferias, que contenham os órgãos
administrativos para atendimento ao cidadão, delegacias de polícias e
varas de juizado especial com representantes do Ministério Público e
da Defensoria Pública.
61. Implementar a Campanha Nacional de Combate à Tortura por meio da
veiculação de filmes publicitários, da sensibilização da opinião pública
e da capacitação dos operadores do direito.
62. Fortalecer a Comissão Especial de Combate à Tortura, criada por meio
da Resolução nº 2, de 5 de junho de 2001, no âmbito do Conselho de
Defesa dos Direitos da Pessoa Humana – CDDPH.
63. Elaborar e implementar o Plano Nacional de Combate à Tortura,
levando em conta as diretrizes fixadas na Portaria nº 1.000 do
Ministério da Justiça, de 30 de outubro de 2001, e as recomendações
do Relator Especial das Nações Unidas para a Tortura, elaboradas
com base em visita realizada ao Brasil em agosto/setembro de 2000.
64. Fomentar um pacto nacional com as entidades responsáveis pela
aplicação da Lei nº 9.455, de 7 de abril de 1997, que tipifica o crime de
tortura, e manter sistema de recepção, tratamento e encaminhamento
de denúncias para prevenção e apuração de casos – SOS Tortura.
65. Ampliar a composição do Conselho Deliberativo do Programa Federal
de Assistência a Vítimas e a Testemunhas Ameaçadas, assim como
sua função de órgão formulador da política nacional de proteção a
testemunhas.
66. Apoiar a criação e o funcionamento, nos estados, de programas de
proteção de vítimas e testemunhas de crimes, expostas a grave e real
ameaça em virtude de colaboração ou declarações prestadas em
investigação ou processo penal.
67. Estruturar o serviço de proteção ao depoente especial instituído pela Lei
nº 9.807/99 e regulamentado pelo Decreto 3.518/00, assim como
fomentar e apoiar a estruturação desses serviços nos estados.
68. Estudar a possibilidade de revisão da legislação sobre abuso e
desacato à autoridade.
69. Apoiar a aplicação da Lei Complementar nº 88/96, relativa ao rito
sumário, assim como outras proposições legislativas que objetivem
dinamizar os processos de expropriação para fins de reforma agrária,
assegurando-se, para prevenir atos de violência, maior cautela na
concessão de liminares.
70. Assegurar o cumprimento da Lei nº 9.416, que torna obrigatória a
presença do juiz ou de representante do Ministério Público no local,
por ocasião do cumprimento de mandado de manutenção ou
reintegração de posse de terras, quando houver pluralidade de réus,
para prevenir conflitos violentos no campo, ouvido também o órgão
administrativo da reforma agrária.
71. Promover a discussão, em âmbito nacional, sobre a necessidade de se
repensar as formas de punição ao cidadão infrator, incentivando o
Poder Judiciário a utilizar as penas alternativas previstas nas leis
vigentes com a finalidade de minimizar a crise do sistema
penitenciário.
72. Estimular a aplicação de penas alternativas à prisão para os crimes não
violentos.
73. Apoiar o funcionamento da Central Nacional – CENAPA e das centrais
estaduais de penas alternativas, estimulando a disseminação de
informações e a reprodução dessas iniciativas, assim como a criação
do Conselho Nacional de Penas e Medidas Alternativas.
74. Adotar medidas para assegurar a obrigatoriedade de apresentação da
pessoa presa ao juiz no momento da homologação da prisão em
flagrante e do pedido de prisão preventiva, como forma de garantir a
sua integridade física.
75. Ampliar a representação da sociedade civil no Conselho Nacional de
Política Criminal e Penitenciária – CNPCP.
76. Apoiar a implementação do Sistema de Informática Penitenciária –
INFOPEN, de forma a acompanhar a passagem do detento por todas
as etapas do sistema de justiça penal, desde a detenção provisória até
o relaxamento da prisão – seja pelo cumprimento da pena, seja pela
progressão de regime – e de possibilitar um planejamento adequado
da oferta de vagas, das ações gerenciais e de outras medidas
destinadas a assegurar a melhoria do sistema.
77. Dar continuidade ao processo de articulação do INFOSEG com o
INFOPEN.
78. Apoiar a implementação, em todos os entes federativos, da Resolução
nº 14, de 11 de novembro de 1994, do Conselho Nacional de Política
Criminal e Penitenciária – CNPCP, que trata das Regras Mínimas para
o Tratamento do Preso no Brasil.
79. Implementar políticas visando a garantir os direitos econômicos, sociais
e culturais das pessoas submetidas à detenção.
80. Desenvolver programas de atenção integral à saúde da população
carcerária.
81. Realizar levantamento epidemiológico da população carcerária
brasileira.
82. Apoiar programas de emergência para corrigir as condições
inadequadas dos estabelecimentos prisionais existentes, assim como
para a construção de novos estabelecimentos, federais e estaduais,
com a utilização de recursos do Fundo Penitenciário Nacional –
FUNPEN.
83. Incrementar a descentralização dos estabelecimentos penais,
promovendo a sua interiorização, com a construção de presídios de
pequeno porte que facilitem a execução da pena nas proximidades do
domicílio dos familiares dos presos.
84. Integrar Juizado, Ministério Público, Defensoria Pública e Assistência
Social na região de inserção dos estabelecimentos prisionais.
85. Incentivar a implantação e o funcionamento, em todas as regiões, dos
conselhos comunitários previstos na Lei de Execuções Penais – LEP,
para monitorar e fiscalizar as condições carcerárias e o cumprimento
de penas privativas de liberdade e penas alternativas, bem como
promover a participação de organizações da sociedade civil em
programas de assistência aos presos e na fiscalização das condições
e do tratamento a que são submetidos nos estabelecimentos
prisionais.
86. Estimular a aplicação dos dispositivos da Lei de Execuções Penais
referentes a regimes semi-abertos de prisão.
87. Apoiar programas que tenham como objetivo a transferência de pessoas
submetidas à detenção provisória de carceragens de delegacias de
Polícia para centros de detenção provisória, núcleos de custódia e/ou
cadeias públicas, ou, no caso de proferida sentença condenatória,
diretamente para estabelecimentos prisionais.
88. Estabelecer níveis hierárquicos de segurança para estabelecimentos
prisionais de modo a abrigar criminosos reincidentes, perigosos e
organizados em estabelecimentos mais seguros.
89. Fortalecer o programa nacional de capacitação do servidor prisional,
com vistas a assegurar a formação profissional do corpo técnico, da
direção e dos agentes penitenciários.
90. Propor a normatização dos procedimentos de revista aos visitantes de
estabelecimentos prisionais, com o objetivo de evitar constrangimentos
desnecessários aos familiares dos presos.
91. Promover programas educativos, culturais, de treinamento profissional e
de apoio ao trabalho do preso, com vistas a contribuir para sua
recuperação e reinserção na sociedade.
92. Apoiar a realização de Mutirões da Execução Penal com vistas à
concessão de progressão de regime e soltura dos presos que já
cumpriram integralmente suas penas.
93. Apoiar programas que tenham como objetivo a reintegração social do
egresso do sistema penitenciário e a redução das taxas de
reincidência penitenciária.
94. Proporcionar incentivos fiscais, creditícios e outros às empresas que
empreguem egressos do sistema penitenciário.
95. Apoiar a desativação de estabelecimentos penitenciários que contrariem
as normas mínimas penitenciárias internacionais, a exemplo da Casa
de Detenção de São Paulo – Carandiru.

Garantia do Direito à Liberdade


Opinião e Expressão
96. Promover debate com todos os setores vinculados ao tema da liberdade
de expressão e da classificação indicativa de espetáculos e diversões
públicas, buscando uma ação integrada e voltada para o interesse
público.
97. Estabelecer diálogo com os produtores e distribuidores de programação
visando à cooperação e sensibilização desses segmentos para o
cumprimento da legislação em vigor e construção de uma cultura de
direitos humanos.
98. Apoiar o funcionamento da Coordenação Geral de Justiça,
Classificação, Títulos e Qualificação, da Secretaria Nacional de Justiça
do Ministério da Justiça, de modo a dotá-la de capacidade operativa
compatível com sua missão institucional.
99. Criar um sistema de avaliação permanente sobre os critérios de
classificação indicativa e faixa etária.
100. Promover o mapeamento dos programas radiofônicos e televisivos que
estimulem a apologia do crime, a violência, a tortura, o racismo e
outras formas de discriminação, a ação de grupos de extermínio e a
pena de morte, com vistas a identificar responsáveis e a adotar as
medidas legais pertinentes.
101. Apoiar a instalação, no âmbito do Poder Legislativo, do Conselho de
Comunicação Social, com o objetivo de garantir o controle democrático
das concessões de rádio e televisão, regulamentar o uso dos meios de
comunicação social e coibir práticas contrárias aos direitos humanos.
102. Garantir a possibilidade de fiscalização da programação das emissoras
de rádio e televisão, com vistas a assegurar o controle social sobre os
meios de comunicação e a penalizar, na forma da lei, as empresas de
telecomunicação que veicularem programação ou publicidade
atentatória aos direitos humanos.
103. Coibir a propaganda de idéias neonazistas e outras ideologias que
pregam a violência, particularmente contra grupos minoritários.
104. Propor legislação visando a coibir o uso da Internet para incentivar
práticas de violação dos direitos humanos.
105. Garantir a imparcialidade, o contraditório e o direito de resposta na
veiculação de informações, de modo a assegurar a todos os cidadãos
o direito de informar e ser informado.
106. Apoiar formas de democratização da produção de informações, a
exemplo das rádios e televisões comunitárias, assegurando a
participação dos grupos raciais e/ou vulneráveis que compõem a
sociedade brasileira.
107. Coibir a utilização de recursos públicos, inclusive de bancos oficiais,
fundações, empresas públicas e de economia mista, para patrocinar
eventos e programas que estimulem a prática de violência.
108. Apoiar, junto aos meios de comunicação, iniciativas destinadas a
elevar a auto-estima dos afrodescendentes, povos indígenas e outros
grupos historicamente vitimizados pelo racismo e outras formas de
discriminação.

Crença e Culto
109. Garantir o direito à liberdade de crença e culto a todos os cidadãos
brasileiros.
110. Prevenir e combater a intolerância religiosa, inclusive no que diz
respeito a religiões minoritárias e a cultos afro-brasileiros.
111. Implementar os dispositivos da Declaração Sobre a Eliminação de
Todas as Formas de Intolerância e Discriminação Fundadas em
Religião ou Crença, adotada pela Assembléia Geral das Nações
Unidas em 25 de novembro de 1981.
112. Proibir a veiculação de propaganda e mensagens racistas e/ou
xenofóbicas que difamem as religiões e incitem ao ódio contra valores
espirituais e/ou culturais.
113. Incentivar o diálogo entre movimentos religiosos sob o prisma da
construção de uma sociedade pluralista, com base no reconhecimento
e no respeito às diferenças de crença e culto.

Orientação Sexual
114. Propor emenda à Constituição Federal para incluir a garantia do direito
à livre orientação sexual e a proibição da discriminação por orientação
sexual.
115. Apoiar a regulamentação da parceria civil registrada entre pessoas do
mesmo sexo e a regulamentação da lei de redesignação de sexo e
mudança de registro civil para transexuais.
116. Propor o aperfeiçoamento da legislação penal no que se refere à
discriminação e à violência motivadas por orientação sexual.
117. Excluir o termo „pederastia‟ do Código Penal Militar.
118. Incluir nos censos demográficos e pesquisas oficiais dados relativos à
orientação sexual.

Garantia do Direito à Igualdade


119. Apoiar o funcionamento e a implementação das resoluções do
Conselho Nacional de Combate à Discriminação – CNCD, no âmbito
do Ministério da Justiça.
120. Estimular a divulgação e a aplicação da legislação antidiscriminatória,
assim como a revogação de normas discriminatórias na legislação
infraconstitucional.
121. Estimular a criação de canais de acesso direto e regular da população
a informações e documentos governamentais, especialmente a dados
sobre a tramitação de investigações e processos legais relativos a
casos de violação de direitos humanos.
122. Apoiar a adoção, pelo poder público e pela iniciativa privada, de
políticas de ação afirmativa como forma de combater a desigualdade.
123. Promover estudos para alteração da Lei de Licitações Públicas de
modo a possibilitar que, uma vez esgotados todos os procedimentos
licitatórios, configurando-se empate, o critério de desempate – hoje
definido por sorteio – seja substituído pelo critério de adoção, por parte
dos licitantes, de políticas de ação afirmativa em favor de grupos
discriminados.
124. Apoiar a inclusão nos currículos escolares de informações sobre o
problema da discriminação na sociedade brasileira e sobre o direito de
todos os grupos e indivíduos a um tratamento igualitário perante a lei.

Crianças e Adolescentes
125. Fortalecer o papel do Conselho Nacional dos Direitos da Criança e do
Adolescente – CONANDA na formulação e no acompanhamento de
políticas públicas para a infância e adolescência.
126. Incentivar a criação e o funcionamento, nos estados e municípios, dos
Conselhos dos Direitos da Criança e do Adolescente, Conselhos
Tutelares e Fundos dos Direitos da Criança e do Adolescente.
127. Promover campanhas de esclarecimento sobre os Fundos dos Direitos
da Criança e do Adolescente, informando sobre as vantagens de
aplicação para pessoas físicas e jurídicas, assim como criar
mecanismos de incentivo à captação de recursos, garantindo formas
de controle social de sua aplicação.
128. Apoiar a produção e publicação de estudos e pesquisas que
contribuam para a divulgação e aplicação do Estatuto da Criança e do
Adolescente – ECA.
129. Assegurar a implantação e o funcionamento adequado dos órgãos que
compõem o Sistema de Garantia de Direitos de Crianças e
Adolescentes, estimulando a criação de Núcleos de Defensorias
Públicas Especializadas no Atendimento a Crianças e Adolescentes
(com os direitos violados), de Delegacias de Investigação de Crimes
Praticados Contra Crianças e Adolescentes e de Varas Privativas de
Crimes Contra Crianças e Adolescentes.
130. Promover a discussão do papel do Poder Judiciário, do Ministério
Público, da Defensoria Pública e do Poder Legislativo, ao lado do
Poder Executivo, bem como da integração de suas ações, na
implementação do ECA.
131. Investir na formação e capacitação de profissionais encarregados da
promoção e proteção dos direitos de crianças e adolescentes no
âmbito de instituições públicas e de organizações não-
governamentais.
132. Capacitar os professores do ensino fundamental e médio para
promover a discussão dos temas transversais incluídos nos
Parâmetros Curriculares Nacionais – PCNs.
133. Apoiar campanhas voltadas para a paternidade responsável.
134. Promover, em parceria com governos estaduais e municipais e com
entidades da sociedade civil, campanhas educativas relacionadas às
situações de violação de direitos vivenciadas pela criança e o
adolescente, tais como: a violência doméstica, a exploração sexual, a
exploração no trabalho e o uso de drogas, visando à criação de
padrões culturais favoráveis aos direitos da criança e do adolescente.
135. Viabilizar programas e serviços de atendimento e de proteção para
crianças e adolescentes vítimas de violência, assim como de
assistência e orientação para seus familiares.
136. Propor alterações na legislação penal com o objetivo de limitar a
incidência da violência doméstica contra crianças e adolescentes.
137. Incentivar programas de orientação familiar com vistas a capacitar as
famílias para a resolução de conflitos de forma não violenta, bem como
para o cumprimento de suas responsabilidades para com as crianças e
adolescentes.
138. Garantir a expansão de programas de prevenção da violência voltados
para as necessidades específicas de crianças e adolescentes.
139. Fortalecer os programas que ofereçam benefícios a adolescentes em
situação de vulnerabilidade, e que possibilitem o seu envolvimento em
atividades comunitárias voltadas para a promoção da cidadania, saúde
e meio ambiente.
140. Apoiar a implantação e implementação do Plano Nacional de
Enfrentamento da Violência Sexual Infanto-Juvenil nos estados e
municípios.
141. Dar continuidade à Campanha Nacional de Combate à Exploração
Sexual Infanto-Juvenil, estimulando o lançamento de campanhas
estaduais e municipais que visem a modificar concepções, práticas e
atitudes que estigmatizam a criança e o adolescente em situação de
violência sexual, utilizando como marco conceitual o ECA e as normas
internacionais pertinentes.
142. Propor a alteração da legislação no tocante à tipificação de crime de
exploração sexual infanto-juvenil, com penalização para o explorador e
o usuário.
143. Combater a pedofilia em todas as suas formas, inclusive através da
internet.
144. Criar informativo, destinado a turistas estrangeiros, cobrindo aspectos
relacionados aos crimes sexuais e suas implicações pessoais, sociais
e judiciais.
145. Promover a discussão do papel dos meios de comunicação em
situações de violação de direitos de crianças e adolescentes.
146. Ampliar o Programa de Erradicação do Trabalho Infantil – PETI de
modo a focalizar as crianças de áreas urbanas em situação de risco,
especialmente aquelas utilizadas em atividades ilegais como a
exploração sexual infanto-juvenil e o tráfico de drogas.
147. Apoiar iniciativas de geração de renda para as famílias de crianças
atendidas pelo PETI.
148. Promover e divulgar experiências de ações sócio-educativas junto às
famílias de crianças atendidas pelo PETI.
149. Apoiar e fortalecer o Fórum Nacional de Prevenção e Erradicação do
Trabalho Infantil.
150. Implantar e implementar as diretrizes da Política Nacional de Combate
ao Trabalho Infantil e de Proteção do Adolescente Trabalhador.
151. Ampliar programas de aprendizagem profissional para adolescentes
em organizações públicas e privadas, respeitando as regras
estabelecidas pelo ECA.
152. Dar continuidade à implantação e implementação, no âmbito federal e
de forma articulada com estados e municípios, do Sistema de
Informação para a Infância e a Adolescência – SIPIA, no que se refere
aos Módulos: I – monitoramento da situação de proteção da criança e
do adolescente, sob a ótica da violação e ressarcimento de direitos; II
– monitoramento do fluxo de atendimento ao adolescente em conflito
com a lei; III – monitoramento da colocação familiar e das adoções
nacionais e internacionais; e IV – acompanhamento da implantação
dos Conselhos de Direitos, Conselhos Tutelares e Fundos para a
Infância e a Adolescência.
153. Apoiar a criação de serviços de identificação, localização, resgate e
proteção de crianças e adolescentes desaparecidos.
154. Promover iniciativas e campanhas de esclarecimento que tenham
como objetivo assegurar a inimputabilidade penal até os 18 anos de
idade.
155. Priorizar as medidas sócio-educativas em meio aberto para o
atendimento dos adolescentes em conflito com a lei.
156. Incentivar o reordenamento das instituições privativas de liberdade
para adolescentes em conflito com a lei, reduzindo o número de
internos por unidade de atendimento e conferindo prioridade à
implementação das demais medidas sócio-educativas previstas no
ECA, em consonância com as resoluções do CONANDA.
157. Incentivar o desenvolvimento, monitoramento e avaliação de
programas sócio-educativos para o atendimento de adolescentes
autores de ato infracional, com a participação de seus familiares.
158. Fortalecer a atuação do Poder Judiciário e do Ministério Público na
fiscalização e aplicação das medidas sócio-educativas a adolescentes
em conflito com a lei.
159. Promover a integração operacional de órgãos do Poder Judiciário,
Ministério Público, Defensorias Públicas e Secretarias de Segurança
Pública com as delegacias especializadas em investigação de atos
infracionais praticados por adolescentes e às entidades de
atendimento, bem como ações de sensibilização dos profissionais
indicados para esses órgãos quanto à aplicação do ECA.
160. Assegurar atendimento sistemático e proteção integral à criança e ao
adolescente testemunha, sobretudo quando se tratar de denúncia
envolvendo o narcotráfico e grupos de extermínio.
161. Estender a assistência jurídica às crianças que se encontram em
abrigos públicos ou privados, com vistas ao restabelecimento de seus
vínculos familiares, quando possível, ou a sua colocação em família
substituta, como medida subsidiária.
162. Instituir uma política nacional de estímulo à adoção de crianças e
adolescentes privados da convivência familiar, assegurando
tratamento não-discriminatório aos postulantes no que se refere a
gênero, raça e orientação sexual.
163. Apoiar medidas destinadas a assegurar a possibilidade de concessão
da guarda de criança ou adolescente ao requerente,
independentemente de sua orientação sexual, sempre no melhor
interesse da criança ou do adolescente.
164. Promover a implementação da Convenção da Haia sobre a Proteção
das Crianças e a Cooperação em Matéria de Adoção Internacional, por
meio do fortalecimento da Autoridade Central Brasileira, instituída pelo
Decreto n.º 3.174/99 e dos órgãos que a integram.
165. Apoiar proposta legislativa destinada a regulamentar o funcionamento
da Autoridade Central Brasileira e do Conselho das Autoridades
Centrais, órgãos responsáveis pela cooperação em matéria de adoção
internacional.
166. Promover ações e iniciativas com vistas a reforçar o caráter
excepcional das adoções internacionais.
167. Promover a uniformização dos procedimentos para a adoção
internacional no Brasil.
168. Promover a implementação da Convenção da Haia sobre os Aspectos
Civis do Seqüestro Internacional de Crianças, no que se refere à
estruturação da Autoridade Central designada pelo Decreto nº
3951/01.
169. Apoiar medidas destinadas a assegurar a localização de crianças e
adolescentes deslocados e retidos ilicitamente, garantindo o regresso
a seu local de origem.

Mulheres
170. Apoiar as atividades do Conselho Nacional dos Direitos da Mulher –
CNDM, assim como dos conselhos estaduais e municipais dos direitos
da mulher.
171. Estimular a formulação, no âmbito federal, estadual e municipal, de
programas governamentais destinados a assegurar a igualdade de
direitos em todos os níveis, incluindo saúde, educação e treinamento
profissional, trabalho, segurança social, propriedade e crédito rural,
cultura, política e justiça.
172. Incentivar a capacitação dos professores do ensino fundamental e
médio para a aplicação dos Parâmetros Curriculares Nacionais –
PCNs no que se refere às questões de promoção da igualdade de
gênero e de combate à discriminação contra a mulher.
173. Incentivar a criação de cursos voltados para a capacitação política de
lideranças locais de mulheres, com vistas ao preenchimento da quota
estabelecida para a candidatura de mulheres a cargos eletivos.
174. Apoiar a regulamentação do Artigo 7º, inciso XX da Constituição
Federal, que prevê a proteção do mercado de trabalho da mulher.
175. Incentivar a geração de estatísticas sobre salários, jornadas de
trabalho, ambientes de trabalho, doenças profissionais e direitos
trabalhistas da mulher.
176. Assegurar o cumprimento dos dispositivos existentes na Lei nº
9.029/95, que garante proteção às mulheres contra a discriminação em
razão de gravidez.
177. Apoiar a implementação e o fortalecimento do Programa de
Assistência Integral à Saúde da Mulher – PAISM.
178. Apoiar programas voltados para a sensibilização em questões de
gênero e violência doméstica e sexual praticada contra mulheres na
formação dos futuros profissionais da área de saúde, dos operadores
do direito e dos policiais civis e militares, com ênfase na proteção dos
direitos de mulheres afrodescendentes e indígenas.
179. Apoiar a alteração dos dispositivos do Código Penal referentes ao
estupro, atentado violento ao pudor, posse sexual mediante fraude,
atentado ao pudor mediante fraude e o alargamento dos permissivos
para a prática do aborto legal, em conformidade com os compromissos
assumidos pelo Estado brasileiro no marco da Plataforma de Ação de
Pequim.
180. Adotar medidas com vistas a impedir a utilização da tese da “legítima
defesa da honra” como fator atenuante em casos de homicídio de
mulheres, conforme entendimento já firmado pelo Supremo Tribunal
Federal.
181. Fortalecer o Programa Nacional de Combate à Violência Contra a
Mulher.
182. Apoiar a criação e o funcionamento de delegacias especializadas no
atendimento à mulher – DEAMs.
183. Incentivar a pesquisa e divulgação de informações sobre a violência e
discriminação contra a mulher e sobre formas de proteção e promoção
dos direitos da mulher.
184. Apoiar a implantação, nos estados e municípios, de serviços de
disque-denúncia para casos de violência contra a mulher.
185. Apoiar programas voltados para a defesa dos direitos de profissionais
do sexo.
186. Apoiar programas de proteção e assistência a vítimas e testemunhas
da violência de gênero, contemplando serviços de atendimento
jurídico, social, psicológico, médico e de capacitação profissional,
assim como a ampliação e o fortalecimento da rede de casas-abrigo
em todo o país.
187. Estimular a articulação entre os diferentes serviços de apoio a
mulheres vítimas de violência doméstica e sexual no âmbito federal,
estadual e municipal, enfatizando a ampliação dos equipamentos
sociais de atendimento à mulher vitimizada pela violência.
188. Apoiar as políticas dos governos estaduais e municipais para a
prevenção da violência doméstica e sexual contra as mulheres, assim
como estimular a adoção de penas alternativas e o fortalecimento de
serviços de atendimento profissional ao homem agressor.

Afrodescendentes
189. Apoiar o reconhecimento, por parte do Estado brasileiro, de que a
escravidão e o tráfico transatlântico de escravos constituíram violações
graves e sistemáticas dos direitos humanos, que hoje seriam
consideradas crimes contra a humanidade.
190. Apoiar o reconhecimento, por parte do Estado brasileiro, da
marginalização econômica, social e política a que foram submetidos os
afrodescendentes em decorrência da escravidão.
191. Adotar, no âmbito da União, e estimular a adoção, pelos estados e
municípios, de medidas de caráter compensatório que visem à
eliminação da discriminação racial e à promoção da igualdade de
oportunidades, tais como: ampliação do acesso dos afrodescendentes
às universidades públicas, aos cursos profissionalizantes, às áreas de
tecnologia de ponta, aos cargos e empregos públicos, inclusive cargos
em comissão, de forma proporcional a sua representação no conjunto
da sociedade brasileira.
192. Criar bancos de dados sobre a situação dos direitos civis, políticos,
sociais, econômicos e culturais dos afrodescendentes na sociedade
brasileira, com a finalidade de orientar a adoção de políticas públicas
afirmativas.
193. Estudar a viabilidade da criação de fundos de reparação social
destinados a financiar políticas de ação afirmativa e de promoção da
igualdade de oportunidades.
194. Apoiar as ações da iniciativa privada no campo da discriminação
positiva e da promoção da diversidade no ambiente de trabalho.
195. Implementar a Convenção Internacional Sobre a Eliminação de Todas
as Formas de Discriminação Racial, a Convenção nº 111 da
Organização Internacional do Trabalho – OIT, relativa à discriminação
em matéria de emprego e ocupação, e a Convenção Contra a
Discriminação no Ensino.
196. Estimular a criação e o funcionamento de programas de assistência e
orientação jurídica para ampliar o acesso dos afrodescendentes à
justiça.
197. Apoiar a regulamentação do artigo 68 do Ato das Disposições
Constitucionais Transitórias – ADCT, que dispõe sobre o
reconhecimento da propriedade definitiva das terras ocupadas pelos
remanescentes das comunidades dos quilombos.
198. Promover o cadastramento e a identificação das comunidades
remanescentes de quilombos, em todo o território nacional, com vistas
a possibilitar a emissão dos títulos de propriedade definitiva de suas
terras.
199. Apoiar medidas destinadas à remoção de grileiros e intrusos das terras
já tituladas das comunidades de quilombos.
200. Apoiar projetos de infraestrutura para as comunidades remanescentes
de quilombos, como forma de evitar o êxodo rural e promover o
desenvolvimento social e econômico dessas comunidades.
201. Criar unidade administrativa no Instituto Nacional de Colonização e
Reforma Agrária – INCRA para prestar apoio a associações de
pequenos(as) agricultores(as) afrodescendentes em projetos de
desenvolvimento das comunidades quilombolas.
202. Incentivar ações que contribuam para a preservação da memória e
fomento à produção cultural da comunidade afrodescendente no
Brasil.
203. Promover o mapeamento e tombamento dos sítios e documentos
detentores de reminiscências históricas, bem como a proteção das
manifestações culturais afro-brasileiras.
204. Estimular a presença proporcional dos grupos raciais que compõem a
população brasileira em propagandas institucionais contratadas pelos
órgãos da administração direta e indireta e por empresas estatais.
205. Incentivar o diálogo com entidades de classe e agentes de publicidade
visando ao convencimento desses setores quanto à necessidade de
que as peças publicitárias reflitam adequadamente a composição
racial da sociedade brasileira e evitem o uso de estereótipos
depreciativos.
206. Examinar a viabilidade de alterar o artigo 61 do Código Penal
brasileiro, de modo a incluir entre as circunstâncias agravantes na
aplicação das penas o racismo, a discriminação racial, a xenofobia e
formas correlatas de intolerância.
207. Propor medidas destinadas a fortalecer o papel do Ministério Público
na promoção e proteção dos direitos e interesses das vítimas de
racismo, discriminação racial e formas correlatas de intolerância.
208. Apoiar a inclusão do quesito raça/cor nos sistemas de informação e
registro sobre população e em bancos de dados públicos.
209. Apoiar as atividades do Grupo de Trabalho para a Eliminação da
Discriminação no Emprego e na Ocupação – GTEDEO, instituído no
âmbito do Ministério do Trabalho e Emprego – MTE.
210. Incentivar a participação de representantes afrodescendentes nos
conselhos federais, estaduais e municipais de defesa de direitos e
apoiar a criação de conselhos estaduais e municipais de defesa dos
direitos dos afrodescendentes.
211. Estimular as secretarias de segurança pública dos estados a
realizarem cursos de capacitação e seminários sobre racismo e
discriminação racial.
212. Propor projeto de lei regulamentando os artigos 215, 216 e 242 da
Constituição Federal, que dizem respeito ao exercício dos direitos
culturais e à constituição do patrimônio cultural brasileiro.
213. Propor ao Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE a
adoção de critério estatístico abrangente a fim de considerar pretos e
pardos como integrantes do contingente da população
afrodescendente.
214. Apoiar o processo de revisão dos livros didáticos de modo a resgatar a
história e a contribuição dos afrodescendentes para a construção da
identidade nacional.
215. Promover um ensino fundado na tolerância, na paz e no respeito à
diferença, que contemple a diversidade cultural do país, incluindo o
ensino sobre cultura e história dos afrodescendentes.
216. Apoiar o fortalecimento da Fundação Cultural Palmares – FCP,
assegurando os meios para o desempenho de suas atividades.

Povos Indígenas
217. Formular e implementar políticas de proteção e promoção dos direitos
dos povos indígenas, em substituição a políticas integracionistas e
assistencialistas.
218. Apoiar o processo de reestruturação da Fundação Nacional do Índio –
FUNAI, de forma que a instituição possa garantir os direitos
constitucionais dos povos indígenas.
219. Dotar a FUNAI de recursos humanos e financeiros suficientes para o
cumprimento de sua missão institucional de defesa dos direitos dos
povos indígenas.
220. Apoiar a revisão do Estatuto do Índio (Lei 6.001/73), com vistas à
rápida aprovação do projeto de lei do Estatuto das Sociedades
Indígenas, bem como a promover a ratificação da Convenção nº 169
da OIT, sobre Povos Indígenas e Tribais em Países Independentes.
221. Assegurar a efetiva participação dos povos indígenas, de suas
organizações e do órgão indigenista federal no processo de
formulação e implementação de políticas públicas de proteção e
promoção dos direitos indígenas.
222. Assegurar o direito dos povos indígenas às terras que tradicionalmente
ocupam, às reservadas e às de domínio.
223. Demarcar e regularizar as terras indígenas tradicionalmente ocupadas,
as reservadas e as de domínio que ainda não foram demarcadas e
regularizadas.
224. Divulgar medidas sobre a regularização de terras indígenas,
especialmente para os municípios brasileiros localizados nessas
regiões, de modo a aumentar o grau de confiança e estabilidade nas
relações entre os povos indígenas e a sociedade envolvente.
225. Garantir aos povos indígenas assistência na área da saúde, com a
implementação de programas de saúde diferenciados, considerando
as especificidades dessa população e priorizando ações na área de
medicina preventiva e segurança alimentar.
226. Assegurar aos povos indígenas uma educação escolar diferenciada,
respeitando o seu universo sócio-cultural, e viabilizar apoio aos
estudantes indígenas do ensino fundamental, de segundo grau e de
nível universitário.
227. Promover a criação de linhas de crédito e a concessão de bolsas de
estudo específicas para estudantes indígenas universitários.
228. Implementar políticas de comunicação e divulgação de informações
sobre os povos indígenas, especialmente nas escolas públicas e
privadas do ensino médio e fundamental, com vistas à promoção da
igualdade e ao combate à discriminação.
229. Implementar políticas de proteção e gestão das terras indígenas, com
a implantação de sistemas de vigilância permanente dessas terras e
de seu entorno, a promoção de parcerias com a Polícia Federal, o
IBAMA e as Secretarias Estaduais de Meio Ambiente, e a capacitação
de servidores e membros das comunidades indígenas.
230. Viabilizar programas e ações na área de etno-desenvolvimento
voltados para a ocupação sustentável de espaços estratégicos no
interior das terras indígenas, tais como áreas desocupadas por
invasores e/ou áreas de ingresso de madeireiros e garimpeiros.
231. Implantar banco de dados que permita colher e sistematizar
informações sobre conflitos fundiários e violência em terras indígenas,
a ser integrado aos mapas de conflitos fundiários e de violência.
232. Apoiar a edição de publicações com dados relativos à discriminação e
à violência contra os povos indígenas.
233. Apoiar o processo de revisão dos livros didáticos de modo a resgatar a
história e a contribuição dos povos indígenas para a construção da
identidade nacional.
234. Promover um ensino fundado na tolerância, na paz e no respeito à
diferença, que contemple a diversidade cultural do país, incluindo o
ensino sobre cultura e história dos povos indígenas.
235. Apoiar e assessorar as comunidades indígenas na elaboração de
projetos e na execução de ações de etno-desenvolvimento de caráter
sustentável.
236. Apoiar a criação e o desenvolvimento dos mecanismos de gestão dos
programas multissetoriais gerenciados pela FUNAI, no âmbito dos
Planos Plurianuais e dos orçamentos federais.
237. Apoiar a criação de serviços específicos de assistência jurídica para
indivíduos e comunidades indígenas.
238. Garantir o direito constitucional dos povos indígenas ao uso exclusivo
da biodiversidade existente em suas terras, implementando ações que
venham a coibir a biopirataria dos recursos e conhecimentos
tradicionais dos indígenas.
239. Desenvolver políticas de proteção do patrimônio cultural e biológico e
dos conhecimentos tradicionais dos povos indígenas, em especial as
ações que tenham como objetivo a catalogação, o registro de patentes
e a divulgação desse patrimônio.

Gays, Lésbicas, Travestis, Transexuais e Bissexuais – GLTTB


240. Promover a coleta e a divulgação de informações estatísticas sobre a
situação sócio-demográfica dos GLTTB, assim como pesquisas que
tenham como objeto as situações de violência e discriminação
praticadas em razão de orientação sexual.
241. Implementar programas de prevenção e combate à violência contra os
GLTTB, incluindo campanhas de esclarecimento e divulgação de
informações relativas à legislação que garante seus direitos.
242. Apoiar programas de capacitação de profissionais de educação,
policiais, juízes e operadores do direto em geral para promover a
compreensão e a consciência ética sobre as diferenças individuais e a
eliminação dos estereótipos depreciativos com relação aos GLTTB.
243. Inserir, nos programas de formação de agentes de segurança pública e
operadores do direito, o tema da livre orientação sexual.
244. Apoiar a criação de instâncias especializadas de atendimento a casos
de discriminação e violência contra GLTTB no Poder Judiciário, no
Ministério Público e no sistema de segurança pública.
245. Estimular a formulação, implementação e avaliação de políticas
públicas para a promoção social e econômica da comunidade GLTTB.
246. Incentivar programas de orientação familiar e escolar para a resolução
de conflitos relacionados à livre orientação sexual, com o objetivo de
prevenir atitudes hostis e violentas.
247. Estimular a inclusão, em programas de direitos humanos estaduais e
municipais, da defesa da livre orientação sexual e da cidadania dos
GLTTB.
248. Promover campanha junto aos profissionais da saúde e do direito para
o esclarecimento de conceitos científicos e éticos relacionados à
comunidade GLTTB.
249. Promover a sensibilização dos profissionais de comunicação para a
questão dos direitos dos GLTTB. Estrangeiros, Refugiados e Migrantes
250. Apoiar, no âmbito do Ministério da Justiça, o funcionamento do Comitê
Nacional para Refugiados – CONARE.
251. Implementar a Convenção da ONU relativa ao Estatuto dos
Refugiados, de 1951, e o Protocolo Adicional de 1966.
252. Promover a capacitação das autoridades nacionais diretamente
envolvidas na execução da política nacional para refugiados.
253. Promover e apoiar estudos e pesquisas relativos à proteção, promoção
e difusão dos direitos dos refugiados, incluindo as soluções duráveis
(reassentamento, integração local e repatriação), com especial
atenção para a situação das mulheres e crianças refugiadas.
254. Apoiar projetos públicos e privados de educação e de capacitação
profissional de refugiados, assim como campanhas de esclarecimento
sobre a situação jurídica do refugiado no Brasil.
255. Desenvolver programa e campanha visando à regularização da
situação dos estrangeiros atualmente no país, atendendo a critérios de
reciprocidade de tratamento.
256. Adotar medidas para impedir e punir a violência e discriminação contra
estrangeiros no Brasil e brasileiros no exterior.
257. Estabelecer políticas de promoção e proteção dos direitos das
comunidades brasileiras no exterior e das comunidades estrangeiras
no Brasil.
258. Propor a elaboração de uma nova lei de imigração e naturalização,
regulando a situação jurídica dos estrangeiros no Brasil.

Ciganos
259. Promover e proteger os direitos humanos e liberdades fundamentais
dos ciganos.
260. Apoiar a realização de estudos e pesquisas sobre a história, cultura e
tradições da comunidade cigana.
261. Apoiar projetos educativos que levem em consideração as
necessidades especiais das crianças e adolescentes ciganos, bem
como estimular a revisão de documentos, dicionários e livros escolares
que contenham estereótipos depreciativos com respeito aos ciganos.
262. Apoiar a realização de estudos para a criação de cooperativas de
trabalho para ciganos.
263. Estimular e apoiar as municipalidades nas quais se identifica a
presença de comunidades ciganas com vistas ao estabelecimento de
áreas de acampamento dotadas de infraestrutura e condições
necessárias.
264. Sensibilizar as comunidades ciganas para a necessidade de realizar o
registro de nascimento dos filhos, assim como apoiar medidas
destinadas a garantir o direito ao registro de nascimento gratuito para
as crianças ciganas.

Pessoas Portadoras de Deficiência


265. Apoiar as atividades do Conselho Nacional dos Direitos da Pessoa
Portadora de Deficiência – CONADE, bem como dos conselhos
estaduais e municipais.
266. Instituir medidas que propiciem a remoção de barreiras arquitetônicas,
ambientais, de transporte e de comunicação para garantir o acesso da
pessoa portadora de deficiência aos serviços e áreas públicas e aos
edifícios comerciais.
267. Regulamentar a Lei nº 10.048/2000 de modo a assegurar a adoção de
critérios de acessibilidade na produção de veículos destinados ao
transporte coletivo.
268. Observar os requisitos de acessibilidade nas concessões, delegações
e permissões de serviços públicos.
269. Formular plano nacional de ações integradas na área da deficiência,
objetivando a definição de estratégias de integração das ações
governamentais e não-governamentais, com vistas ao cumprimento do
Decreto nº 3298/99.
270. Adotar medidas que possibilitem o acesso das pessoas portadoras de
deficiência às informações veiculadas em todos os meios de
comunicação.
271. Estender a estados e municípios o Sistema Nacional de Informações
sobre Deficiência – SICORDE.
272. Apoiar programas de tratamentos alternativos à internação de pessoas
portadoras de deficiência mental e portadores de condutas típicas -
autismo.
273. Apoiar programas de educação profissional para pessoas portadoras
de deficiência.
274. Apoiar o treinamento de policiais para lidar com portadores de
deficiência mental, auditiva e condutas típicas - autismo.
275. Adotar medidas legais e práticas para garantir o direito dos portadores
de deficiência ao reingresso no mercado de trabalho, mediante
adequada reabilitação profissional.
276. Ampliar a participação de representantes dos portadores de deficiência
na discussão de planos diretores das cidades.
277. Desenvolver ações que assegurem a inclusão do quesito
acessibilidade, de acordo com as especificações da Associação
Brasileira de Normas Técnicas – ABNT, nos projetos de moradia
financiados por programas habitacionais.
278. Adotar políticas e programas para garantir o acesso e a locomoção das
pessoas portadoras de deficiência, segundo as normas da ABNT.
279. Garantir a qualidade dos produtos para portadores de deficiência
adquiridos e distribuídos pelo Poder Público - órteses e próteses.
280. Apoiar a inclusão de referências à acessibilidade para pessoas
portadoras de deficiência nas campanhas promovidas pelo Governo
Federal e pelos governos estaduais e municipais.
281. Promover a capacitação de agentes públicos, profissionais de saúde,
lideranças comunitárias e membros de conselhos sobre questões
relativas às pessoas portadoras de deficiência.

Idosos
282. Criar, fortalecer e descentralizar programas de assistência aos idosos,
de acordo com a Lei nº 8.842/94, de forma a contribuir para sua
integração à família e à sociedade e a incentivar o atendimento no seu
próprio ambiente.
283. Apoiar a instalação do Conselho Nacional do Idoso, a constituição de
conselhos estaduais e municipais de defesa dos direitos dos idosos e
a implementação de programas de proteção, com a participação de
organizações não-governamentais.
284. Estimular a fiscalização e o controle social dos centros de atendimento
a idosos.
285. Apoiar programas destinados à capacitação de cuidadores de idosos e
de outros profissionais dedicados ao atendimento ao idoso.
286. Promover a remoção de barreiras arquitetônicas, ambientais, de
transporte e de comunicação para facilitar o acesso e a locomoção da
pessoa idosa aos serviços e áreas públicas e aos edifícios comerciais.
287. Adotar medidas para estimular o atendimento prioritário às pessoas
idosas nas instituições públicas e privadas.
288. Estimular a educação continuada e permanente de idosos e apoiar a
implantação de programas „voluntário idoso‟, como forma de valorizar e
reconhecer sua contribuição para o desenvolvimento e bem-estar da
comunidade.
289. Apoiar programas de estímulo ao trabalho do idoso, inclusive por meio
de cooperativas de produção e de serviços.
290. Desenvolver programas de habitação adequados às necessidades das
pessoas idosas, principalmente em áreas carentes.
291. Estimular a adoção de medidas para que o documento de identidade
seja aceito como comprovante de idade para a concessão do passe
livre nos sistemas de transporte público.
292. Estimular o combate à violência e à discriminação contra a pessoa
idosa, inclusive por meio de ações de sensibilização e capacitação,
estudos e levantamentos estatísticos que contribuam para prevenir a
violação de seus direitos.
293. Adotar medidas para assegurar a responsabilização de familiares pelo
abandono de pessoas idosas.
294. Incentivar a criação, nos estados e municípios, de serviços telefônicos
de informação, orientação e recepção de denúncias (disque-idoso).

Garantia do Direito à Educação


295. Contribuir para a formulação de diretrizes e normas para a educação
infantil de modo a garantir padrões básicos de atendimento em
creches e pré-escolas.
296. Contribuir para o planejamento, desenvolvimento e avaliação de
práticas educativas, além da construção de propostas educativas que
respondam às necessidades das crianças e de seus familiares nas
diferentes regiões do país.
297. Promover um ensino fundado na tolerância, na paz e no respeito às
diferenças, que contemple a diversidade cultural do país.
298. Incentivar a associação estudantil em todos os níveis e a criação de
conselhos escolares compostos por familiares, entidades,
organizações não-governamentais e associações, para a fiscalização,
avaliação e elaboração de programas e currículos escolares.
299. Propor medidas destinadas a democratizar o processo de escolha dos
dirigentes de escolas públicas, estaduais e municipais, com a
participação das comunidades escolares e locais.
300. Incrementar a qualidade do ensino, com intervenções em segmentos
determinantes do sucesso escolar.
301. Consolidar um sistema de avaliação dos resultados do ensino público
e privado em todo o país.
302. Assegurar o financiamento e a otimização do uso dos recursos
públicos destinados à educação.
303. Realizar periodicamente censos educacionais em parceria com as
secretarias de educação dos estados e do Distrito Federal, com o
objetivo de produzir dados estatístico-educacionais para subsidiar o
planejamento e a gestão da educação nas esferas governamentais.
304. Apoiar a popularização do uso do microcomputador e da internet,
através da massificação dessa tecnologia e da realização de cursos de
treinamento em comunidades carentes e em espaços públicos,
especialmente nas escolas, bibliotecas e espaços comunitários.
305. Garantir a universalização, a obrigatoriedade e a qualidade do ensino
fundamental, estimulando a adoção da jornada escolar ampliada, a
valorização do magistério e a participação da comunidade na gestão
das escolas, e garantindo apoio ao transporte escolar.
306. Promover a eqüidade nas condições de acesso, permanência e êxito
escolar do aluno no ensino fundamental, por meio da ampliação de
programas de transferência direta de renda vinculada à educação
(bolsa-escola) e de aceleração da aprendizagem.
307. Garantir o suprimento de livros gratuitos e de qualidade às escolas
públicas do ensino fundamental.
308. Suprir parcialmente as necessidades nutricionais dos alunos das
escolas públicas e das escolas mantidas por entidades filantrópicas
por meio do oferecimento de, no mínimo, uma refeição diária
adequada, estimulando bons hábitos alimentares e procurando
diminuir a evasão e a repetência.
309. Promover a expansão do acesso ao ensino médio com eqüidade e
adequar a oferta atual, de forma ordenada e atendendo a padrões
básicos mínimos.
310. Adotar uma concepção para o ensino médio que corresponda às
determinações da Lei de Diretrizes e Bases da Educação – LDB, assim
como à demanda e às necessidades do país.
311. Implementar a reforma curricular e assegurar a formação continuada
de docentes e gestores de escolas de ensino médio.
312. Equipar progressivamente as escolas de ensino médio com
bibliotecas, laboratórios de informática e ciências e kit tecnológico para
recepção da TV Escola.
313. Estimular a melhoria dos processos de gestão dos sistemas
educacionais nos estados e municípios.
314. Promover a articulação e a complementaridade entre a educação
profissional e o ensino médio.
315. Criar cursos que garantam perspectiva de trabalho para os jovens, que
facilitem seu acesso ao mercado e que atendam também aos
profissionais já inseridos no mercado de trabalho.
316. Estimular a educação continuada e permanente como forma de
atualizar os conhecimentos de jovens e adultos, com base em
competências requeridas para o exercício profissional.
317. Apoiar a criação de mecanismos permanentes para fomentar a
articulação entre escolas, trabalhadores e empresários, com vistas à
definição e revisão das competências necessárias às diferentes áreas
profissionais.
318. Identificar oportunidades, estimular iniciativas, gerar alternativas e
apoiar negociações que encaminhem o melhor atendimento
educacional às pessoas com necessidades educativas especiais, de
forma a garantir a sua integração escolar e social.
319. Garantir a ampliação da oferta do ensino superior de modo a atender a
demanda gerada pela expansão do ensino médio no país.
320. Estabelecer políticas e mecanismos que possibilitem a oferta de cursos
de graduação por meio de metodologias alternativas tais como a
educação à distancia e a capacitação em serviço.
321. Apoiar a criação, nas universidades, de cursos de extensão e
especialização voltados para a proteção e promoção de direitos
humanos.
322. Propor a criação de ouvidorias nas universidades.
323. Propor medidas destinadas à garantia e promoção da autonomia
universitária.
324. Reduzir o índice de analfabetismo da população brasileira, elevando a
média do tempo de estudos e ampliando programas de alfabetização
para jovens e adultos.
325. Estabelecer mecanismos de promoção da eqüidade de acesso ao
ensino superior, levando em consideração a necessidade de que o
contingente de alunos universitários reflita a diversidade racial e
cultural da sociedade brasileira.
326. Assegurar aos quilombolas e povos indígenas uma educação escolar
diferenciada, respeitando o seu universo sócio-cultural e lingüístico.
327. Implantar a educação nos presídios seguindo as diretrizes da LDB.

Garantia do Direito à Saúde, à Previdência e à Assistência Social


328. Assegurar o princípio da universalização do acesso à saúde,
fortalecendo o Sistema Único de Saúde – SUS, assegurando sua
autonomia e democratização, bem como a sua consolidação em todos
os estados e municípios brasileiros.
329. Promover a humanização e a qualidade do atendimento do SUS, bem
como a integralidade e a eqüidade de atenção à saúde da população.
330. Ampliar o acesso da população aos serviços básicos de saúde a partir
do fortalecimento da atenção básica, valendo-se, para tanto, da
expansão e consolidação do Programa de Saúde da Família – PSF.
331. Apoiar o fortalecimento de programas voltados para a assistência
integral à saúde da mulher.
332. Divulgar o conceito de direitos reprodutivos, com base nas plataformas
do Cairo e de Pequim, desenvolvendo campanhas de pré-natal e parto
humanizado, bem como implementando comitês de prevenção da
mortalidade materna e da gravidez na adolescência.
333. Implementar, em todos os municípios brasileiros, o Programa de
Humanização do Parto e Nascimento, que visa a assegurar a
realização de, pelo menos, seis consultas de pré-natal e de todos os
exames, bem como a definição do serviço de saúde onde será
realizado o parto.
334. Considerar o aborto como tema de saúde pública, com a garantia do
acesso aos serviços de saúde para os casos previstos em lei.
335. Desenvolver programas educativos sobre planejamento familiar,
promovendo o acesso aos métodos anticoncepcionais no âmbito do
SUS.
336. Ampliar e fortalecer programas voltados para a assistência domiciliar
terapêutica.
337. Apoiar programas de atenção integral à saúde da criança e de
incentivo ao aleitamento materno que visem à redução da
morbimortalidade materna e de crianças de zero a cinco anos de
idade.
338. Criar o sistema de vigilância epidemiológica de acidentes e violência e
implementar programas de prevenção à violência pública e doméstica,
esclarecendo seus riscos para a saúde e as implicações judiciais da
mesma.
339. Assegurar a assistência adequada e oportuna às vítimas de acidentes
e violência.
340. Estimular e fortalecer a participação social no SUS, inclusive na
identificação de prioridades na área da saúde.
341. Promover o treinamento e a capacitação sistemática de agentes
comunitários de saúde.
342. Apoiar programas que tenham como objetivo prevenir e reduzir os
riscos, acidentes e doenças relacionadas ao ambiente e ao processo
de trabalho.
343. Apoiar programas voltados para a proteção da saúde de profissionais
do sexo.
344. Garantir a assistência farmacêutica básica no âmbito do SUS.
345. Garantir a vigilância sanitária de medicamentos, alimentos e outros
produtos.
346. Promover a produção de medicamentos genéricos e divulgar, junto à
sociedade brasileira, o seu significado e custo.
347. Ampliar e fortalecer os programas de assistência aos portadores de
anemia falciforme.
348. Assegurar o cumprimento da obrigatoriedade, no serviço público de
saúde, da realização do teste de traços falcêmicos e da anemia
falciforme em recém-nascidos.
349. Garantir o acesso aos exames diagnósticos e à terapêutica de
anormalidades no metabolismo.
350. Intensificar as ações destinadas a eliminar a hanseníase como
problema de saúde pública no país, visando a garantir o diagnóstico
precoce e o tratamento dos portadores, bem como a promover
medidas destinadas a combater o preconceito contra a doença.
351. Intensificar as ações destinadas a controlar a tuberculose no país,
visando a garantir o diagnóstico precoce e o tratamento dos
portadores, bem como a promover medidas destinadas a combater o
preconceito contra a doença.
352. Garantir a atenção integral à saúde dos idosos, promovendo o acesso
aos medicamentos específicos no âmbito do SUS.
353. Garantir a atenção integral à saúde dos adolescentes, levando em
conta as necessidades específicas desse segmento populacional.
354. Garantir a atenção integral à saúde dos povos indígenas, levando em
consideração as suas necessidades específicas.
355. Promover o controle dos fundos de pensão e dos planos privados de
saúde, divulgando amplamente os direitos dos pacientes e seus
mecanismos de efetivação.
356. Criar o sistema de vigilância epidemiológica da saúde do trabalhador.
357. Implementar política nacional de saúde para o sistema penitenciário
em conformidade com os princípios do SUS.
358. Apoiar ações destinadas a garantir à mulher presidiária assistência
pré-natal, assistência integral à saúde, assim como o direito a
permanecer com seus filhos no período durante o prazo estabelecido
em lei.
359. Fortalecer a integração de ações entre o Ministério Público, o
Ministério da Saúde, a Comissão de Direitos Humanos da Câmara dos
Deputados, bem como organizações da sociedade civil.
360. Acelerar a implementação de medidas destinadas a desburocratizar os
serviços do Instituto Nacional do Seguro Social – INSS para a
concessão de aposentadorias e benefícios.
361. Implementar programa de remuneração para mães não amparadas
pela seguridade.
362. Estudar a possibilidade de introdução de recorte racial na concessão
dos benefícios continuados de assistência social.
363. Estimular a adesão do trabalhador urbano e rural ao regime geral de
previdência social.
364. Implementar mecanismos de controle social da previdência social.

Saúde Mental
365. Apoiar a divulgação e a aplicação da Lei nº 10.216, de 6 de abril de
2001, com vistas à desconstrução do aparato manicomial sob a
perspectiva da reorientação do modelo de atenção em saúde mental.
366. Estabelecer mecanismos de normatização e acompanhamento das
ações das secretarias de justiça e cidadania nos estados, no que diz
respeito ao funcionamento dos hospitais de custódia e tratamento
psiquiátrico.
367. Promover esforço intersetorial em favor da substituição do modelo de
atenção dos hospitais de custódia e tratamento por tratamento
referenciado na rede SUS.
368. Promover debates sobre a inimputabilidade penal das pessoas
acometidas por transtornos psíquicos.
369. Criar programas de atendimento às pessoas portadoras de doenças
mentais, apoiando tratamentos alternativos à internação, de forma a
conferir prioridade a modelos de atendimento psicossocial, com a
eliminação progressiva dos manicômios.
370. Criar uma política de atenção integral às vítimas de sofrimento
psíquico na área da saúde mental, assegurando o cumprimento da
carta de direitos dos usuários de saúde mental e o monitoramento dos
hospitais psiquiátricos.

Dependência Química
371. Promover campanhas nacionais de prevenção do alcoolismo e do uso
de drogas que geram dependência química, incentivando estudos,
pesquisas e programas para limitar a incidência e o impacto do
consumo de drogas ilícitas.
372. Propor o tratamento dos dependentes de drogas sob o enfoque de
saúde pública.
373. Apoiar ações para implementação do Programa de Ação Nacional
Antidrogas – PANAD.
374. Apoiar programas de assistência e orientação para usuários de drogas,
em substituição ao indiciamento em inquérito policial e processo
judicial.

HIV/AIDS
375. Apoiar a participação dos portadores de doenças sexualmente
transmissíveis – DST e de pessoas com HIV/AIDS e suas
organizações na formulação e implementação de políticas e
programas de combate e prevenção das DST e do HIV/AIDS.
376. Incentivar campanhas de informação sobre DST e HIV/AIDS, visando a
esclarecer a população sobre os comportamentos que facilitem ou
dificultem a sua transmissão.
377. Apoiar a melhoria da qualidade do tratamento e assistência das
pessoas com HIV/AIDS, incluindo a ampliação da acessibilidade e a
redução de custos.
378. Assegurar atenção às especificidades e diversidade cultural das
populações, as questões de gênero, raça e orientação sexual nas
políticas e programas de combate e prevenção das DST e HIV/AIDS,
nas campanhas de informação e nas ações de tratamento e
assistência.
379. Incentivar a realização de estudos e pesquisas sobre DST e HIV/AIDS
nas diversas áreas do conhecimento, atentando para princípios éticos
de pesquisa.

Garantia do Direito ao Trabalho


380. Assegurar e preservar os direitos do trabalhador previstos na
legislação nacional e internacional.
381. Promover políticas destinadas ao primeiro emprego, incorporando
questões de gênero e raça, e criar um banco de dados, com ampla
divulgação, voltado para o público juvenil que busca o primeiro
emprego.
382. Apoiar, promover e fortalecer programas de economia solidária, a
exemplo das políticas de microcrédito, ampliando o acesso ao crédito
para pequenos empreendedores e para a população de baixa renda.
383. Diagnosticar e monitorar o processo de implementação das
cooperativas de trabalho, com ênfase na observância dos direitos
trabalhistas.
384. Estimular programas de voluntariado em instituições públicas e
privadas como forma de promoção dos direitos humanos.
385. Organizar banco de dados com indicadores sociais, que traduzam as
condições de emprego, subemprego e desemprego, sob a perspectiva
de gênero e raça.
386. Assegurar o desenvolvimento de programas de qualificação e
requalificação profissional compatíveis com as demandas do mercado
de trabalho.
387. Fortalecer a política de concessão do seguro-desemprego.
388. Estimular a adoção de políticas de ação afirmativa no serviço público e
no setor privado, com vistas a estimular maior participação dos grupos
vulneráveis no mercado de trabalho.
389. Zelar pela implementação da legislação que promove a igualdade no
mercado de trabalho, sem discriminação de idade, raça, sexo,
orientação sexual, credo, convicções filosóficas, condição social e
estado sorológico, levando em consideração as pessoas com
necessidades especiais, tipificando tal discriminação e definindo as
penas aplicáveis.
390. Dar continuidade á implementação da Convenção nº 111 da OIT, que
trata da discriminação nos locais de trabalho, e fortalecer a rede de
Núcleos de Promoção da Igualdade de Oportunidades e de Combate à
Discriminação no Emprego e na Profissão, instalados nas Delegacias e
Subdelegacias Regionais do Trabalho.
391. Reforçar e ampliar os mecanismos de fiscalização das condições de
trabalho e de tratamento dos(as) trabalhadores(as) e empregados(as)
domésticos(as), assim como rever regulamentos discriminatórios a
exemplo da proibição do uso de entradas e elevadores sociais.
392. Criar um programa de atenção especial aos direitos do trabalhador
rural.
393. Apurar denúncias de desrespeito aos direitos dos trabalhadores, em
especial aos assalariados rurais.
394. Ampliar programas de erradicação do trabalho infantil, com vistas a
uma ação particularmente voltada para crianças de área urbana em
situação de risco, priorizando a repressão a atividades ilegais que
utilizam crianças e adolescentes, tais como a exploração sexual e
prostituição infantis e o tráfico de drogas.
395. Fortalecer as ações do Fórum Nacional de Prevenção e Erradicação
do Trabalho Infantil.
396. Dar continuidade à implementação das Convenções nº 29 e 105 da
OIT, que tratam do trabalho forçado.
397. Apoiar a aprovação da proposta de emenda constitucional que altera o
Artigo nº 243 da Constituição Federal, incluindo entre as hipóteses de
expropriação de terras, além do cultivo de plantas psicotrópicas, a
ocorrência de trabalho forçado.
398. Apoiar a reestruturação do Grupo Executivo de Repressão ao Trabalho
Forçado – GERTRAF, vinculado ao Ministério do Trabalho e Emprego
– MTE, assegurando a maior participação de entidades da sociedade
civil em sua composição.
399. Fortalecer a atuação do Grupo Especial de Fiscalização Móvel do
Ministério do Trabalho e Emprego com vistas à erradicação do trabalho
forçado.
400. Criar, nas organizações policiais, divisões especializadas na repressão
ao trabalho forçado, com atenção especial para as crianças,
adolescentes, estrangeiros e migrantes brasileiros.
401. Criar e capacitar, no âmbito do Departamento da Polícia Federal,
grupo especializado na repressão do trabalho forçado para apoio
consistente às ações da fiscalização móvel do MTE.
402. Promover campanhas de sensibilização sobre o trabalho forçado e
degradante e as formas contemporâneas de escravidão nos estados
onde ocorre trabalho forçado e nos pólos de aliciamento de
trabalhadores.
403. Sensibilizar juízes federais para a necessidade de manter no âmbito
federal a competência para julgar crimes de trabalho forçado.
404. Estudar a possibilidade de aumentar os valores das multas impostas
aos responsáveis pela exploração de trabalho forçado.
405. Propor nova redação para o artigo 149 do Código Penal, de modo a
tipificar de forma mais precisa o crime de submeter alguém à condição
análoga a de escravo.
406. Apoiar programas voltados para o reaparelhamento dos
estabelecimentos penais, com vistas a proporcionar oportunidades de
trabalho aos presos.

Acesso a Terra
407. Promover a segurança da posse, compreendendo a urbanização de
áreas informalmente ocupadas e a regularização de loteamentos
populares, assim como a revisão dos instrumentos legais que
disciplinam a posse da terra, como a lei que regula os registros
públicos (Lei 6.015/73) e a lei federal de parcelamento do solo urbano
(Lei 6.766/79).
408. Promover a igualdade de acesso a terra, por meio do desenvolvimento
de uma política fundiária urbana que considere a função social da terra
como base de apoio para a implementação de políticas habitacionais.
409. Implementar a regularização fundiária, o reassentamento e a reforma
agrária, respeitando os direitos à moradia adequada e acessível, à
demarcação de áreas indígenas e à titulação das terras de
remanescentes de quilombos.
410. Criar e apoiar políticas e programas de ação integrados para o
assentamento de trabalhadores sem terra, com infraestrutura
adequada para a produção agrícola, agroindústria e incentivo a outras
atividades econômicas compatíveis com a defesa do meio ambiente.
411. Promover a agricultura familiar e modelos de agricultura sustentável,
na perspectiva da distribuição da riqueza e do combate à fome.
412. Fortalecer políticas de incentivo à agricultura familiar, em particular nos
assentamentos de reforma agrária, transformando-os em base
provedora de segurança alimentar local e sustentável.
413. Adotar medidas destinadas a coibir práticas de violência contra
movimentos sociais que lutam pelo acesso a terra.
414. Apoiar a aprovação de projeto de lei que propõe que a concessão de
medida liminar de reintegração de posse seja condicionada à
comprovação da função social da propriedade, tornando obrigatória a
intervenção do Ministério Público em todas as fases processuais de
litígios envolvendo a posse da terra urbana e rural.
415. Promover ações integradas entre o INCRA, as secretarias de justiça,
as secretarias de segurança pública, os Ministérios Públicos e o Poder
Judiciário, para evitar a realização de despejos forçados de
trabalhadores rurais, conforme a Resolução n.º 1993/77 da Comissão
de Direitos Humanos das Nações Unidas, garantindo o prévio
reassentamento das famílias desalojadas.
416. Priorizar a regularização fundiária de áreas ocupadas, implantando um
padrão mínimo de urbanização, de equipamentos e serviços públicos
nos empreendimentos habitacionais e na regularização de áreas
ocupadas.

Garantia do Direito à Moradia


417. Promover a moradia adequada, incluindo aspectos de habitabilidade,
salubridade, condições ambientais, espaço, privacidade, segurança,
durabilidade, abastecimento de água, esgoto sanitário, disposição de
resíduos sólidos e acessibilidade em relação a emprego e aos
equipamentos urbanos, por meio da criação, manutenção e integração
de programas e ações voltadas para a habitação, saneamento básico
e infraestrutura urbana.
418. Garantir o respeito aos direitos humanos e a disponibilidade de
alternativas apropriadas para a realocação de pessoas removidas de
habitações ou áreas cujas características impeçam a permanência de
seus ocupantes.
419. Assegurar ampla difusão e compreensão do Estatuto da Cidade (Lei nº
10.257/01) que regulamenta os artigos 182 e 183 da Constituição
Federal.
420. Promover a igualdade de acesso ao crédito, por meio da estruturação
de uma política de subsídios de origem fiscal que possa mesclar
recursos onerosos e não onerosos, potencializando o alcance social
dos programas e ações de governo, especialmente para populações
de baixa renda.
421. Apoiar a regulamentação do Programa de Subsídio à Habitação de
Interesse Social – PSH.
422. Apoiar o estabelecimento de marcos regulatórios para os setores
responsáveis pela universalização do acesso aos serviços básicos,
assim entendidos como abastecimento de água, esgotamento
sanitário, coleta/destinação/tratamento de resíduos sólidos – lixo – e
energia elétrica, buscando identificar novos modelos de gestão.
423. Incentivar a participação da sociedade na elaboração, execução e
acompanhamento de programas de habitação popular.
424. Apoiar o reconhecimento da mulher como chefe de família nos
programas habitacionais.
425. Apoiar a criação de juizados especiais para o julgamento de ações que
envolvam despejos, ações de reintegração de posse e demais ações
relativas ao direito à moradia.
426. Apoiar políticas destinadas à urbanização das áreas de moradia
ocupadas por populações de baixa renda, tais como favelas,
loteamentos e assentamentos.
427. Manter cadastro atualizado de terras e imóveis ociosos, públicos e
privados, garantindo acesso democrático às informações e
progressividade fiscal, onerando imóveis vazios, latifúndios urbanos e
áreas sub-utilizadas, particularmente aquelas servidas por infra-
estrutura.
428. Criar, manter e apoiar programas de proteção e assistência a
moradores de rua, incluindo abrigo, orientação educacional e
qualificação profissional.

Garantia do Direto a um Meio Ambiente Saudável


429. Divulgar e promover a concepção de que o direito a um meio ambiente
saudável constitui um direito humano.
430. Vincular toda e qualquer política de desenvolvimento à
sustentabilidade ecológica.
431. Fortalecer os órgãos de fiscalização ambiental, combinando um
trabalho preventivo e punitivo, mediante articulação e coordenação
entre as três esferas de governo.
432. Promover a educação ambiental, integrando-a no sistema educacional,
em todos os níveis de ensino.
433. Desenvolver programas de formação e qualificação de profissionais
com interesse na proteção ambiental, capacitando agentes de
cidadania para a questão ambiental.
434. Apoiar a criação e o funcionamento dos conselhos municipais e
estaduais de proteção ambiental.
435. Propor a revisão dos valores das multas relativas a danos ambientais.
436. Assegurar a preservação do patrimônio natural, a proteção de
espécies ameaçadas e da biodiversidade e a promoção do
desenvolvimento sustentável, aliados a uma política de combate à
biopirataria e de proteção ao patrimônio genético.
437. Apoiar programas destinados a ampliar o acesso e a utilização de
recursos hídricos, bem como os serviços de tratamento da água.
438. Apoiar programas de saneamento básico, visando à qualidade de vida
dos cidadãos e à redução dos impactos ambientais, incluindo
programa de educação sanitária, com foco na prevenção de doenças e
no uso racional dos recursos naturais.
439. Desenvolver políticas públicas para a proteção das populações
vitimadas por desastres ecológicos, incluindo programas voltados
especificamente para minorias e grupos sociais em áreas de risco ou
submetidos a impactos ambientais.
440. Promover formas de evitar o desperdício dos recursos naturais,
incentivando sua reutilização e reciclagem e promover a educação
para o uso seletivo do lixo.
441. Fortalecer o controle público das águas e desenvolver programas de
revitalização de rios, mangues e praias, implementando comitês ou
conselhos de bacias e sub-bacias, com a participação de
representantes da sociedade civil.

Garantia do Direito à Alimentação


442. Divulgar e promover a concepção de que o direito à alimentação
constitui um direito humano.
443. Apoiar a instalação do Conselho Nacional do Direito à Alimentação –
CNDAL no âmbito da Secretaria de Estado dos Direitos Humanos.
444. Apoiar programas que tenham como objetivo o estímulo ao aleitamento
materno.
445. Promover a ampliação de programas de transferência direta de renda
vinculada à alimentação destinados a crianças de seis meses a seis
anos de idade, bem como a gestantes e nutrizes em risco nutricional.
446. Erradicar a desnutrição infantil por meio de medidas de alimentação
associadas a ações básicas de saúde.
447. Ampliar o sistema de vigilância alimentar e nutricional e promover
ações educativas voltadas à adoção de hábitos de alimentação
saudáveis.
448. Ampliar o abastecimento alimentar, quantitativa e qualitativamente,
com maior autonomia e fortalecimento da economia local, associada a
programas de capacitação, geração de ocupações produtivas e
aumento da renda familiar.
449. Melhorar o acesso da população urbana e rural a uma alimentação de
qualidade, com ampla disseminação de informações sobre práticas
alimentares e estilos de vida saudáveis.
450. Criar e implementar programas de segurança alimentar permanentes
para as famílias carentes, fiscalizados e coordenados por associações
de bairros em todos os estados.
451. Criar e difundir programas de educação alimentar que visem a um
melhor aproveitamento dos recursos alimentares, reduzindo
desperdícios e melhorando a qualidade alimentar.
452. Propor medidas destinadas a reduzir a carga tributária sobre produtos
alimentares essenciais.
453. Propor medidas proibindo a incineração de alimentos estocados para
fins de manutenção de preços, com previsão de destinação dos
estoques não utilizados para alimentação de famílias carentes.
454. Fomentar pesquisas que promovam ganhos de produtividade nas
várias culturas, com vistas a criar estoques reguladores que
assegurem alimentos a todos os cidadãos, particularmente aos mais
pobres.
455. Incentivar o desenvolvimento de programas de horta comunitária.
456. Desenvolver estudos científicos sobre plantio, compra e efeitos dos
alimentos transgênicos e seu impacto sobre a saúde humana.
457. Promover a agricultura familiar e um modelo de agricultura sustentável,
na perspectiva da distribuição da riqueza e do combate à fome.

Garantia do Direito à Cultura e ao Lazer


458. Divulgar e promover a concepção de que o direito à cultura e ao lazer
constitui um direito humano.
459. Garantir a expressão das identidades locais e regionais, considerando
a diversidade étnica e cultural do país, através de políticas públicas de
apoio e estímulo à sua preservação.
460. Fomentar as manifestações populares, as artes plásticas, a dança, a
música, a literatura e o teatro, com especial atenção ao folclore,
mediante a preservação de grupos tradicionais.
461. Garantir a proteção, preservação, restauração, recuperação e acesso
aos bens tombados, conjuntos urbanísticos, monumentos culturais e
naturais, edificações, sítios arqueológicos, peças de museus,
bibliotecas e arquivos em todo o país.
462. Fortalecer as leis de incentivo à cultura, garantindo o acesso da
população aos bens e serviços culturais.
463. Concentrar em áreas com altas taxas de violência os programas de
incentivo a atividades esportivas, culturais e de lazer, voltados
preferencialmente ao público jovem e à população em situação de
risco, buscando o envolvimento das respectivas comunidades e das
confederações, clubes, atletas e artistas na gestão e divulgação
desses programas.
464. Apoiar a criação de espaços públicos adaptados para a prática de
esportes, lazer e manifestações culturais.
465. Estimular a abertura de escolas nos finais de semana para atividades
de lazer comunitário.
466. Apoiar programas de revalorização e criação de casas de cultura,
bibliotecas e arquivos públicos.
467. Apoiar a implementação do programa „Rota dos Escravos‟, que prevê a
recuperação, compilação e tratamento de arquivos históricos (fontes
primárias) relativos ao tráfico de escravos, e o tratamento
informatizado deste material, com a constituição de um banco de
dados sobre o assunto.

Educação, Conscientização e Mobilização


468. Apoiar a ampliação de programas voltados para jovens de 15 a 18
anos, que possibilitem o acesso à complementação educacional,
qualificação profissional, capacitação em direitos humanos e
participação comunitária, a exemplo dos Programas "Agente Jovem de
Desenvolvimento Social e Humano" e "Serviço Civil Voluntário".
469. Fortalecer iniciativas de capacitação de lideranças comunitárias em
meios adequados de gestão, bem como estimular a formação de
novas lideranças.
470. Fortalecer programas de educação em direitos humanos nas escolas
de ensino fundamental e médio, com base na utilização dos „temas
transversais‟ estabelecidos pelos Parâmetros Curriculares Nacionais –
PCNs.
471. Apoiar programas de ensino e de pesquisa que tenham como tema
central a educação em direitos humanos.
472. Incentivar campanhas nacionais sobre a importância do respeito aos
direitos humanos.
473. Atribuir, anualmente, o Prêmio Nacional de Direitos Humanos e
incentivar a criação de bolsas e outras distinções periódicas para
entidades e personalidades que se tenham destacado na defesa dos
direitos humanos.
474. Incentivar a criação de canais de acesso direto da população a
informações e meios de proteção aos direitos humanos, como linhas
telefônicas especiais.
475. Apoiar programas de formação, educação e treinamento em direitos
humanos para profissionais de direito, policiais, agentes penitenciários
e lideranças sindicais, associativas e comunitárias.
476. Apoiar a criação de cursos de direitos humanos nas escolas da
Magistratura e do Ministério Público.
477. Apoiar a realização de fóruns, seminários e workshops na área de
direitos humanos.
478. Apoiar a estruturação da Rede Nacional de Direitos Humanos -
http://www.rndh.gov.br, a criação de bancos de dados com
informações relativas a entidades, representantes políticos, empresas,
sindicatos, igrejas, escolas e associações comprometidos com a
proteção e promoção dos direitos humanos, em nível nacional, e a
divulgação de informações sobre direitos humanos por meio da
internet.
479. Divulgar, por meio da realização de campanhas publicitárias em todos
os meios de comunicação, as leis federais, estaduais e municipais de
proteção dos direitos humanos, os órgãos e instituições responsáveis
pela sua garantia, bem como os programas governamentais
destinados a sua promoção.
480. Apoiar a criação de núcleos descentralizados de divulgação, promoção
e proteção dos direitos humanos nos órgãos públicos responsáveis
pela aplicação da lei.
481. Elaborar cartilha ou manual que contenha informações básicas sobre
os direitos humanos em linguagem popular e uma relação de
organizações governamentais e não governamentais que desenvolvam
atividades de proteção e promoção destes direitos.
482. Promover programas de formação e qualificação de agentes
comunitários de justiça e de direitos humanos, assim como programas
de qualificação dos membros de conselhos municipais, estaduais e
federais de direitos humanos.
483. Promover a articulação dos cursos regulares e dos cursos de extensão
das universidades públicas e privadas, faculdades e outras instituições
de ensino superior, em torno da promoção e proteção dos direitos
humanos.
484. Ampliar o número de cursos superiores de direitos humanos e de
temas conexos.
485. Constituir um banco de dados com informações sobre cursos, teses,
profissionais e atividades acadêmicas voltadas para a promoção e
proteção dos direitos humanos no âmbito das universidades públicas e
privadas, faculdades e outras instituições de ensino superior.
486. Elaborar um calendário nacional de direitos humanos, com a
identificação de datas e eventos relevantes.

Inserção nos Sistemas Internacionais de Proteção


487. Adotar medidas legislativas e administrativas que permitam o
cumprimento pelo Brasil dos compromissos assumidos em pactos e
convenções internacionais de direitos humanos, bem como das
sentenças e decisões dos órgãos dos sistemas universal (ONU) e
regional (OEA) de promoção e proteção dos direitos humanos.
488. Fortalecer a cooperação com os órgãos de supervisão dos pactos e
convenções internacionais de direitos humanos, os mecanismos da
Comissão de Direitos Humanos das Nações Unidas e o sistema
regional de proteção (Comissão, Corte e Instituto Interamericanos de
Direitos Humanos).
489. Promover acordos de solução amistosa, negociados sob a égide da
Comissão Interamericana de Direitos Humanos, para reparar violações
graves de direitos humanos que envolvam responsabilidade da União
ou das unidades da Federação, por ação ou omissão de agentes
públicos.
490. Dar continuidade à política de adesão a tratados internacionais para
proteção e promoção dos direitos humanos, através da ratificação e
implementação desses instrumentos.
491. Dar publicidade e divulgação aos textos dos tratados e convenções
internacionais de direitos humanos dos quais o Brasil é parte, assim
como das declarações, plataformas e programas de ação das
conferências mundiais sobre meio ambiente e desenvolvimento (Rio
de Janeiro, 1992); direitos humanos (Viena, 1993); desenvolvimento
social (Copenhague, 1994); população e desenvolvimento (Cairo,
1994); mulher (Pequim, 1995); assentamentos humanos (Istambul,
1996) e combate ao racismo (Durban, 2001).
492. Implementar as Convenções da Organização Internacional do trabalho
– OIT ratificadas pelo Brasil, assim como a Declaração sobre
Princípios e Direitos Fundamentais no Trabalho, especialmente no que
diz respeito à liberdade de associação, eliminação de todas as formas
de trabalho forçado, erradicação do trabalho infantil e eliminação de
todas as formas de discriminação no trabalho e ocupação.
493. Apoiar a implementação do Protocolo das Nações Unidas contra a
Fabricação e o Tráfico Ilícitos de Armas de Fogo, suas Peças e
Componentes e Munições, no âmbito da Convenção das Nações
Unidas contra o Crime Transnacional Organizado.
494. Ratificar a Convenção nº 169, sobre Povos Indígenas e Tribais em
Países Independentes, adotada pela OIT em 1989.
495. Ratificar a Convenção Internacional para a Proteção dos Direitos dos
Migrantes e de seus Familiares, aprovada pela Assembléia Geral das
Nações Unidas em 1990.
496. Ratificar a Convenção Interamericana sobre o Desaparecimento
Forçado de Pessoas, adotada pela Assembléia Geral da OEA em
Belém do Pará, em 9 de junho de 1994.
497. Apoiar a criação de um sistema hemisférico de divulgação dos
princípios e ações de proteção à cidadania e aos direitos humanos.
498. Propugnar pela criação de um Fórum de Direitos Humanos no
Mercosul.
499. Incorporar, na pauta dos processos de integração econômica regional,
a temática dos direitos humanos.
500. Instalar a comissão interministerial encarregada de coordenar a
elaboração dos relatórios periódicos sobre a implementação de
convenções e tratados de direitos humanos, dos quais o Brasil é parte,
assim como promover cursos de capacitação para os servidores
públicos encarregados da elaboração desses relatórios.
501. Promover o intercâmbio internacional de experiências em matéria de
proteção e promoção dos direitos humanos.
502. Estimular a cooperação internacional na área da educação e
treinamento de forças policiais e capacitação de operadores do direito.
503. Apoiar a capacitação em direitos humanos de integrantes das forças
armadas que participem de operações de paz da Organização das
Nações Unidas.
504. Apoiar a elaboração de protocolo facultativo à Convenção contra a
Tortura e Outros Tratamentos, ou Penas Cruéis, Desumanas ou
Degradantes, adotada pela Assembléia Geral das Nações Unidas em
10 de dezembro de 1984.
505. Apoiar o processo de elaboração das Declarações sobre os Direitos
dos Povos Indígenas no âmbito da ONU e da OEA.
506. Incentivar a ratificação dos instrumentos internacionais de proteção e
promoção dos direitos humanos pelos países com os quais o Brasil
mantém relações diplomáticas.
507. Realizar levantamento e estudo da situação dos presos brasileiros no
exterior.
508. Ratificar o Protocolo Facultativo à Convenção sobre a Eliminação de
Todas as Formas de Discriminação contra a Mulher.
509. Promover a capacitação dos agentes públicos para atuação nos foros
internacionais de direitos humanos.
510. Apoiar o processo de elaboração do Protocolo Facultativo ao Pacto
Internacional dos Direitos Econômicos, Sociais e Culturais da ONU.
511. Instaurar e apoiar o funcionamento da comissão de peritos
encarregada de propor mudanças na legislação interna que permitam
a ratificação, pelo Brasil, do Estatuto do Tribunal Penal Internacional –
Estatuto de Roma.

Implementação e Monitoramento
512. Atribuir à Secretaria de Estado dos Direitos Humanos – SEDH a
responsabilidade pela coordenação da implementação, monitoramento
e atualização do Programa Nacional de Direitos Humanos.
513. Atribuir à SEDH a responsabilidade pela elaboração de planos de ação
anuais para a implementação e monitoramento do PNDH, com a
definição de prazos, metas, responsáveis e orçamento para as ações.
514. Atribuir à SEDH a responsabilidade de coletar, sistematizar e
disponibilizar informações sobre a situação dos direitos humanos no
país e apresentar relatórios anuais sobre a implementação do PNDH.
515. Criar um sistema de concessão de incentivos por parte do Governo
Federal aos governos estaduais e municipais que implementem
medidas que contribuam para a consecução das ações previstas no
PNDH, e que elaborem relatórios periódicos sobre a situação dos
direitos humanos.
516. Elaborar indicadores para o monitoramento da implementação do
Programa Nacional de Direitos Humanos.
517. Acompanhar a execução de programas governamentais e fundos
públicos que tenham relação direta com a implementação do PNDH.
518. Promover ampla divulgação do PNDH em todo o território nacional.

c) PNDH-3

A terceira versão do Programa Nacional de Direitos Humanos (PNDH-3),


lançada em 2010, apresenta a Política de Estado para os temas relativos a
esta área, ao estabelecer diretrizes, objetivos e ações para os anos seguintes.
O objetivo do programa desenvolvido pelo governo federal é dar
continuidade à integração e ao aprimoramento dos mecanismos de
participação existentes e criar novos meios de construção e monitoramento das
políticas públicas sobre Direitos Humanos no Brasil.
O PNDH-3 tem como diretriz a garantia da igualdade na diversidade, com
respeito às diferentes crenças, liberdade de culto e garantia da laicidade do
Estado brasileiro, prevista na Constituição Federal. A ação que propõe a
criação de mecanismos que impeçam a ostentação de símbolos religiosos em
estabelecimentos públicos da União visa atender a esta diretriz.
O programa é ainda estruturado nos seguintes eixos orientadores:

1. Interação Democrática entre Estado e Sociedade Civil;


2. Desenvolvimento e Direitos Humanos;
3. Universalizar Direitos em um Contexto de Desigualdades;
4. Segurança Pública, Acesso à Justiça e Combate à Violência;
5. Educação e Cultura em Direitos Humanos e
6. Direito à Memória e à Verdade

O programa prevê ainda Planos de Ação a serem construídos a cada dois


anos, sendo fixados os recursos orçamentários, as medidas concretas e os
órgãos responsáveis por sua execução.
O PNDH-3 foi precedido pelo PNDH-I, de 1996, que enfatizou os direitos
civis e políticos, e pelo PNDH-II, que incorporou os direitos econômicos,
sociais, culturais e ambientais, em 2002.
A participação social na elaboração do programa se deu por meio de
conferências, realizadas em todos os estados do Brasil durante o ano de 2008,
envolvendo diretamente mais de 14 mil cidadãos, além de consulta pública.
A versão preliminar do Programa ficou disponível no site da SEDH
durante o ano de 2009, aberto a críticas e sugestões. O texto incorporou
também propostas aprovadas em cerca de 50 conferências nacionais,
realizadas desde 2003, sobre tema como igualdade racial, direitos da mulher,
segurança alimentar, cidades, meio ambiente, saúde, educação, juventude e
cultura etc.
O tema da Interação Democrática entre Estado e Sociedade Civil abre o
Programa, de acordo com a idéia de que os agentes públicos e todos os
cidadãos são responsáveis pela consolidação dos Direitos Humanos no País.
Para isso, o PNDH-3 propõe a integração e o aprimoramento dos fóruns de
participação existentes, bem como a criação de novos espaços e mecanismos
institucionais de interação e acompanhamento, como o fortalecimento da
democracia participativa.
A estratégia relativa ao tema Desenvolvimento e Direitos Humanos é
centrada na inclusão social e em garantir o exercício amplo da cidadania,
garantindo espaços consistentes às estratégias de desenvolvimento local e
territorial, agricultura familiar, pequenos empreendimentos, cooperativismo e
economia solidária.
O direito humano ao meio ambiente e às cidades sustentáveis, por
exemplo, bem como o fomento a pesquisas de tecnologias socialmente
inclusivas constituem pilares para um modelo de crescimento sustentável,
capaz de assegurar os direitos fundamentais das gerações presentes e futuras.
Já o tema Universalizar Direitos em um Contexto de Desigualdades
dialoga com as intervenções desenvolvidas no Brasil para reduzir a pobreza e
garantir geração de renda aos segmentos sociais mais pobres, contribuindo de
maneira decisiva para a erradicação da fome e da miséria.
O eixo Segurança Pública, Acesso à Justiça e Combate à Violência
aborda metas para diminuir a violência, reduzir a discriminação e a violência
sexual, erradicar o tráfico de pessoas e a tortura. Propõe ainda reformular o
sistema de Justiça e Segurança Pública ao estimular o acesso a informações e
fortalecer modelos alternativos de solução de conflitos, além de garantir os
direitos das vítimas de crimes e de proteção das pessoas ameaçadas, reduzir a
letalidade policial e carcerária, dentre outros.
O eixo prioritário e estratégico da Educação e Cultura em Direitos
Humanos se traduz em uma experiência individual e coletiva que atua na
formação de uma consciência centrada no respeito ao outro, na tolerância, na
solidariedade e no compromisso contra todas as formas de discriminação,
opressão e violência.
O capítulo que trata do Direito à Memória e à Verdade encerra o temas
abordados no PNDH-3. “A memória histórica é componente fundamental na
construção da identidade social e cultural de um povo e na formulação de
pactos que assegurem a não-repetição de violações de Direitos Humanos,
rotineiras em todas as ditaduras, de qualquer lugar do planeta. O conteúdo
central da proposta é afirmar a importância da memória e da verdade como
princípios históricos dos Direitos Humanos”, diz o texto do Programa.

“Jogar luz sobre a repressão política do ciclo ditatorial, refletir com


maturidade sobre as violações de Direitos Humanos e promover as
necessárias reparações ocorridas durante aquele período são imperativos de
um país que vem comprovando sua opção definitiva pela democracia”,
complementa o texto.

No ano seguinte à publicação do PNDH 3 é aprovada a lei que institui a


Comissão Nacional da Verdade, que vai apurar violações aos direitos humanos
ocorridas entre 1946 e 1988. Sancionada em 18 de novembro de 2011, a
comissão tem prazo de dois anos para colher depoimentos, requisitar e
analisar documentos que ajudem a esclarecer as violações de direitos
humanos ocorridas no período que inclui a ditadura militar. O órgão será
composto por sete membros, nomeados pela Presidência da República.

9 Globalização e direitos humanos.

O processo de reconhecimento e afirmação dos chamados direitos


humanos constituiu uma verdadeira conquista da sociedade moderna ocidental.
Assim, o desenvolvimento e a mudança social estão diretamente vinculados
com o nascimento, a ampliação e universalização dos „novos‟ direitos. Essa
multiplicação histórica dos „novos‟ direitos processou-se por três razões:
a) aumentou a „quantidade de bens considerados merecedores de tutela‟;
b) estendeu-se „a titularidade de alguns direitos típicos a sujeitos diversos
do homem‟;
c) o homem não é mais concebido como ser genérico, abstrato, „(...) mas
é visto na especificidade ou na concreticidade de suas diversas maneiras de
ser em sociedade, como criança, velho, doente etc.

Por certo que, nos marcos de um cenário globalizado, os direitos


humanos em emergência materializam exigências reais da própria sociedade
diante das condições emergentes da vida e das crescentes prioridades
determinadas socialmente.
Em face da mundialização e da ampliação dos chamados “novos” direitos
de natureza humana, objetivando precisar seu conteúdo, titularidade,
efetivação e sistematização, os doutrinadores têm consagrado uma evolução
linear e acumulativa de “gerações” sucessivas de direitos.
Tendo em vista a compreensão atual do fenômeno dos “novos” direitos,
far-se-á uma digressão histórica dos direitos humanos (também cunhados de
direitos do homem ou fundamentais) no que se refere ao seu conteúdo,
contextualização de época, importância e fontes legais institucionalizadas.
Compartilhando as interpretações de Bonavides e de Sarlet, substituem-se os
termos “gerações”, “eras” ou “fases” por “dimensões”, porquanto esses direitos
não são substituídos ou alterados de tempo em tempo, mas resultam num
processo de fazer-se e de complementaridade permanente. Isso claro e
levando em conta as tipologias de Marshall, Bobbio, Sarlet e principalmente a
de Oliveira Jr.

10 As três vertentes da proteção internacional da pessoa humana.

As três vertentes consistem na base de discussão acerca da proteção


humanista. Vejamos cada uma delas:
10.1 Direitos humanos, direito humanitário e direito dos refugiados.

a) Direitos Humanos

São garantias legais de cariz universal que visam proteger indivíduos e


grupos contra ações ou omissões que interfiram com direitos adquiridos
internacionalmente, como a liberdade, ou a dignidade humana. O direito
internacional dos direitos humanos obrigam os governos, principalmente, e
outras entidades responsáveis a cumprirem determinados parâmetros e evita
que desrespeitem outros.
O Direito Internacional Humanitário (DIH) e os Direitos Humanos (DH) são
complementares. Ambos procuram proteger vidas, a saúde e a dignidade dos
seres humanos, embora a partir de ângulos diferentes. O Direito Humanitário é
aplicado em situações de conflito armado, enquanto os direitos humanos, pelo
menos alguns deles, protegem o indivíduo em todas as situações, em tempo de
guerra e paz, da mesma maneira.

b) Direito Humanitário

Consiste em regras aplicáveis em tempo de conflitos armados e protege


as pessoas que já não se encontram diretamente envolvidas nas hostilidades,
sejam soldados feridos ou doentes, prisioneiros de guerra, bem como aqueles
que não são englobados nos conflitos, como os civis e regula os métodos e
meios permitidos numa guerra.
Estão protegidos pelo direito humanitário todos aqueles que se encontram
dentro de um conflito armado: Estados, grupos de conflitos armados, forças
multinacionais, civis e o pessoal de companhias de segurança e militares
privadas (que são considerados civis, logo não podem ser atacados ou tomar
parte diretamente em hostilidades).
O DIH é implementado pelo Estado à luz das Convenções de Genebra. É
da responsabilidade do Estado tomar medidas e assegurar a execução do DIH
no seu território e pelos seus intervenientes em qualquer conflito.

c) Direito dos Refugiados

Na atualidade ainda é constante os movimentos migratórios pelo mundo.


Como fatores desse movimento temos as causas da globalização, a
superpopulação de alguns países ou regiões, nomeadamente o inchaço das
áreas periféricas dos grandes centros urbanos, violação ou negligência de
direitos fundamentais, o desemprego, a desorganização de economias
tradicionais, perseguição, discriminações, xenofobia, a desigualdade
econômica entre países e mesmo as desigualdades entre hemisfério norte e
hemisfério sul. Todos estes fatores, combinados ou não, contribuirão para criar
o personagem conhecido como refugiado, que hoje, corresponde a cerca de 17
milhões e meio de indivíduos, segundo organizações dedicadas ao problema.
A partir das tragédias humanitárias experimentadas pelas duas guerras
mundiais, uma maior consideração começou a surgir no plano internacional
acerca de um sistema de apoio obrigatório dedicado ao refugiado, tendo como
seu primeiro efeito prático, a disposição no artigo 14 da Declaração Universal
de Direitos Humanos, que estabelecia que “em caso de perseguição, toda
pessoa tem direito de procurar asilo, e a desfrutar dele, em qualquer país”.
Mas, o ato fundamental de todo o Direito do Refugiado seria
implementado em dezembro de 1950, com a resolução da Assembleia Geral da
ONU de número 428, que criava o Alto Comissionado das Nações Unidas para
o Refugiado – ACNUR, agência ligada à mesma organização, que se ocuparia
da proteção jurídica internacional aos refugiados, Seu objetivo é buscar
soluções duradouras para a condição destes indivíduos, criando a possibilidade
de uma repatriação voluntária, que sob qualquer aspecto não pode se dar
forçosamente.
Complementando o sistema basilar de amparo ao refugiado é importante
mencionar ainda a Convenção Relativa ao Estatuto dos Refugiados adotada a
28 de julho de 1951, no âmbito da Conferência sobre o Estatuto dos
Refugiados e Apátridas promovida pelas Nações Unidas, que definia a
condição de refugiado e as devidas ações para lidar com sua situação
juridicamente. Outro marco no assunto será a Declaração de Cartagena, de
1984, que amplia o conceito de refugiado, incluindo aqueles que fogem da
violência generalizada em suas regiões, conflitos, desrespeito aos preceitos
básicos de Direitos Humanos e outras condições similares.
O Brasil está em consonância com tais disposições, em especial no
disposto no artigo 4o, incisos II e X da Constituição Federal, onde a
preocupação com o asilo do refugiado é externada, bem como o respeito aos
Direitos Humanos. Em complemento à Constituição, merece destaque a Lei
9474/97. dedicada a definir os mecanismos de implementação do Estatuto dos
Refugiados de 1951 em meio ao ordenamento jurídico nacional.

Convenção Relativa ao Estatuto dos Refugiados

Adotada pela Conferência da ONU de Plenipotenciários sobre o Estatuto dos


Refugiados e Apátridas, em 28 de julho de 1951, convocada pela Resolução
429 (V) da Assembléia Geral da ONU, de 14 de dezembro de 1950. Assinada
pelo Brasil em 15 de julho de 1952 e ratificada em 16 de novembro de 1960.
DECRETO Nº 50.215, DE 28 DE JANEIRO DE 1961.
Promulga a Convenção relativa ao Estatuto dos Refugiados, concluída em
Genebra, em 28 de julho de 1951
O PRESIDENTE DA REPÚBLICA:
Havendo o Congresso Nacional aprovado, pelo Decreto-Legislativo nº 11, de 7
de julho de 1960, com exclusão do seus Artigos 15 e 17, a Convenção relativa
ao Estatuto dos Refugiados, concluída em Genebra, a 28 de julho de 1951, e
assinada pelo Brasil a 15 de julho de 1952; e tendo sido depositado, a 15 de
novembro de 1960, junto ao Secretário-Geral das Nações Unidas, o
Instrumento brasileiro de ratificação da referida Convenção, com exclusão dos
Artigos já citados;
DECRETA que a mencionada Convenção apenas por cópia ao presente
decreto, seja com exclusão dos seus Artigos 15 e 17, executada e cumprida,
tão inteiramente como nela se contém, e que, para os efeitos da mesma, com
relação ao Brasil, se aplique o disposto na Seção B.1 (a), do seu Artigo 1º.
Brasília, em 28 de janeiro de 1961; 140º a Independência e 73º da República.
JUSCELINO KUBITSCHEK
Horácio Lafer

CONVENÇÃO RELATIVA AO ESTATUTO DOS REFUGIADOS


Adotada em 28 de julho de 1951 pela Conferência das Nações Unidas de
plenipotenciários sobre o Estatuto dos Refugiados e Apátridas, convocada pela
Resolução 429 (V) da Assembléia Geral das Nações Unidas, de 14 de
dezembro de 1950.
As Altas Partes Contratantes,
Considerando que a Carta das Nações Unidas e a Declaração Universal dos
Direitos Humanos, aprovada em 10 de dezembro de 1948 pela Assembléia
Geral, afirmaram o princípio de que os seres humanos, sem distinção, devem
gozar dos direitos do homem e das liberdades fundamentais,
Considerando que a Organização das Nações Unidas tem repetidamente
manifestado sua profunda preocupação pelos refugiados e que tem se
esforçado por assegurar-lhes o exercício mais amplo possível dos direitos do
homem e das liberdades fundamentais,
Considerando que é desejável rever e codificar os acordos internacionais
anteriores relativos ao estatuto dos refugiados e estender a aplicação desses
instrumentos e a proteção que eles oferecem por meio de um novo acordo,
Considerando que da concessão do direito de asilo podem resultar encargos
indevidamente pesados para certos países e que a solução satisfatória para os
problemas cujo alcance e natureza internacionais a Organização das Nações
Unidas reconheceu, não pode, portanto, ser obtida sem cooperação
internacional,
Direitos Humanos: Documentos Internacionais
Exprimindo o desejo de que todos os Estados, reconhecendo o caráter social e
humanitário do problema dos refugiados, façam tudo o que esteja ao seu
alcance para evitar que esse problema se torne causa de tensão entre os
Estados,
Notando que o Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados tem
a incumbência de zelar para a aplicação das convenções internacionais que
assegurem a proteção dos refugiados, e reconhecendo que a coordenação
efetiva das medidas tomadas para resolver este problema dependerá da
cooperação dos Estados com o Alto Comissário,
Convieram nas seguintes disposições:

CAPÍTULO I
DISPOSIÇÕES GERAIS
ARTIGO 1º
DEFINIÇÃO DO TERMO "REFUGIADO"
A. Para fins da presente Convenção, o termo "refugiado" se aplicará a qualquer
pessoa:
1) Que foi considerada refugiada nos termos dos Ajustes de 12 de maio de
1926 e de 30 de junho de 1928, ou das Convenções de 28 de outubro de 1933
e de 10 de fevereiro de 1938 e do Protocolo de 14 de setembro de 1939, ou
ainda da Constituição da Organização Internacional dos Refugiados;
As decisões de inabilitação tomadas pela Organização Internacional dos
Refugiados durante o período do seu mandato não constituem obstáculo a que
a qualidade de refugiado seja reconhecida a pessoas que preencham as
condições previstas no parágrafo 2º da presente seção;
2) Que, em conseqüência dos acontecimentos ocorridos antes de 1º de janeiro
de 1951 e temendo ser perseguida por motivos de raça, religião, nacionalidade,
grupo social ou opiniões políticas, encontra-se fora do país de sua
nacionalidade e que não pode ou, em virtude desse temor, não quer valer-se
da proteção desse país, ou que, se não tem nacionalidade encontra-se fora do
país no qual tinha sua residência habitual em conseqüência de tais
acontecimentos, não pode ou, devido ao referido temor, não quer voltar a ele.
No caso de uma pessoa que tem mais de uma nacionalidade, a expressão "do
país de sua nacionalidade" refere-se a cada um dos países dos quais ela é
nacional. Uma pessoa que, sem razão válida fundada sobre um temor
justificado, não se houver valido da proteção de um dos países de que é
nacional, não será considerada privada da proteção do país de sua
nacionalidade.
B. (1) Para os fins da presente Convenção, as palavras "acontecimentos
ocorridos antes de 1º de janeiro de 1951", do art. 1º, seção A, poderão ser
compreendidos no sentido de
a) "acontecimentos ocorridos antes de 1º de janeiro de 1951 na Europa"; ou
b) "acontecimentos ocorridos antes de 1º de janeiro de 1951 na Europa ou
alhures";
e cada Estado Contratante fará, no momento da assinatura, da ratificação ou
da adesão, uma declaração precisando o alcance que pretende dar a essa
expressão do ponto de vista das obrigações assumidas por ele em virtude da
presente Convenção.
2) Qualquer Estado Contratante que adotou a fórmula a) poderá em qualquer
momento estender as suas obrigações adotando a fórmula b) por meio de uma
notificação dirigida ao Secretário-Geral das Nações Unidas.
Direitos Humanos: Documentos Internacionais
C. Esta Convenção cessará, nos casos infra, de ser aplicável a qualquer
pessoa compreendida nos termos da seção A, retro:
1) se ela voltou a valer-se da proteção do país de que é nacional; ou
2) se havendo perdido a nacionalidade, ela a recuperou voluntariamente; ou
3) se adquiriu nova nacionalidade e goza da proteção do país cuja
nacionalidade adquiriu; ou
4) se voltou a estabelecer-se, voluntariamente, no país que abandonou ou fora
do qual permaneceu com medo de ser perseguido; ou
5) se por terem deixado de existir as circunstâncias em conseqüência das
quais foi reconhecida como refugiada, ela não pode mais continuar recusando
a proteção do país de que é nacional;
Contanto, porém, que as disposições do presente parágrafo não se apliquem a
um refugiado incluído nos termos do parágrafo 1 da seção A do presente
artigo, que pode invocar, para recusar a proteção do país de que é nacional,
razões imperiosas resultantes de perseguições anteriores;
6) tratando-se de pessoa que não tem nacionalidade, se por terem deixado de
existir as circunstâncias em conseqüência das quais foi reconhecida como
refugiada, ela está em condições de voltar ao país no qual tinha sua residência
habitual;
Contanto, porém, que as disposições do presente parágrafo não se apliquem a
um refugiado incluído nos termos do parágrafo 1 da seção A do presente
artigo, que pode invocar, para recusar voltar ao país no qual tinha sua
residência habitual, razões imperiosas resultantes de perseguições anteriores.
D. Esta Convenção não será aplicável às pessoas que atualmente se
beneficiam de uma
proteção ou assistência de parte de um organismo ou de uma instituição das
Nações Unidas, que não o Alto Comissariado das Nações Unidas para os
Refugiados.
Quando esta proteção ou assistência houver cessado, por qualquer razão, sem
que a sorte dessas pessoas tenha sido definitivamente resolvida de acordo
com as resoluções a ela relativas, adotadas pela Assembléia Geral das Nações
Unidas, essas pessoas se beneficiarão de pleno direito do regime desta
Convenção.
E. Esta Convenção não será aplicável a uma pessoa considerada pelas
autoridades competentes do país no qual ela instalou sua residência como
tendo os direitos e as obrigações relacionadas com a posse da nacionalidade
desse país.
F. As disposições desta Convenção não serão aplicáveis às pessoas a respeito
das quais houver razões sérias para se pensar que:
a) cometeram um crime contra a paz, um crime de guerra ou um crime contra a
humanidade, no sentido dado pelos instrumentos internacionais elaborados
para prever tais crimes;
b) cometeram um crime grave de direito comum fora do país de refúgio antes
de serem nele admitidas como refugiados;
c) tornaram-se culpadas de atos contrários aos fins e princípios das Nações
Unidas.
Direitos Humanos: Documentos Internacionais

ARTIGO 2º
OBRIGAÇÕES GERAIS
Todo refugiado tem deveres para com o país em que se encontra, os quais
compreendem notadamente a obrigação de respeitar as leis e regulamentos,
assim como as medidas que visam a manutenção da ordem pública.

ARTIGO 3º
NÃO-DISCRIMINAÇÃO
Os Estados Contratantes aplicarão as disposições desta Convenção aos
refugiados sem discriminação quanto à raça, à religião ou ao país de origem.

ARTIGO 4º
RELIGIÃO
Os Estados Contratantes proporcionarão aos refugiados, em seu território, um
tratamento pelo menos tão favorável como o que é proporcionado aos
nacionais no que concerne à liberdade de praticar sua religião e no que
concerne à liberdade de instrução religiosa dos seus filhos.

ARTIGO 5 º
Direitos conferidos independentemente desta Convenção nenhuma disposição
desta Convenção prejudicará os outros direitos e vantagens concedidos aos
outros refugiados, independentemente desta Convenção.
ARTIGO 6º
A EXPRESSÃO "NAS MESMAS CIRCUNSTÂNCIAS"
Para os fins desta Convenção, a expressão "nas mesmas circunstâncias"
significa que todas as condições - em especial as que se referem à duração e
às condições de permanência ou de residência - que o interessado teria de
preencher para poder exercer o direito em causa, se ele não fosse refugiado,
devem ser preenchidas por ele, com exceção das condições que, em razão da
sua natureza, não podem ser preenchidas por um refugiado.

ARTIGO 7º
DISPENSA DE RECIPROCIDADE
1. Ressalvadas as disposições mais favoráveis previstas por esta Convenção,
um Estado Contratante concederá aos refugiados o regime que concede aos
estrangeiros em geral.
2. Após um prazo de residência de três anos, todos os refugiados se
beneficiarão, no território dos Estados Contratantes, da dispensa de
reciprocidade legislativa.
3. Cada Estado Contratante continuará a conceder aos refugiados os direitos e
vantagens de que já gozavam, na ausência de reciprocidade, na data da
entrada em vigor desta Convenção para o referido Estado.
4. Os Estados Contratantes considerarão com benevolência a possibilidade de
conceder aos refugiados, na ausência de reciprocidade, direitos e vantagens
outros além dos que eles gozam em virtude dos parágrafos 2 e 3, assim como
a possibilidade de conceder o benefício da dispensa de reciprocidade a
refugiados que não preencham as condições previstas nos parágrafos 2 e 3.
Direitos Humanos: Documentos Internacionais
5. As disposições dos parágrafos 2 e 3, supra, aplicam-se assim às vantagens
mencionadas nos artigos 13, 18, 19, 21 e 22 desta Convenção, como aos
direitos e vantagens que não são previstos pela mesma.

ARTIGO 8º
DISPENSA DE MEDIDAS EXCEPCIONAIS
No que concerne às medidas excepcionais que podem ser tomadas contra a
pessoa, bens ou interesses dos nacionais de um Estado, os Estados
Contratantes não aplicarão tais medidas a um refugiado que seja formalmente
nacional do referido Estado unicamente em razão da sua nacionalidade. Os
Estados Contratantes que, pela sua legislação, não podem aplicar o dispositivo
geral consagrado neste artigo concederão, nos casos apropriados, dispensas
em favor de tais refugiados.

ARTIGO 9º
MEDIDAS PROVISÓRIAS
Nenhuma das disposições da presente Convenção tem por efeito impedir um
Estado Contratante, em tempo de guerra ou em outras circunstâncias graves e
excepcionais, de tomar provisoriamente, a propósito de uma determinada
pessoa, as medidas que este Estado julgar indispensáveis à segurança
nacional, até que o referido Estado determine que essa pessoa seja
efetivamente um refugiado e que a continuação de tais medidas é necessária a
seu propósito no interesse da segurança nacional.
ARTIGO 10
CONTINUIDADE DE RESIDÊNCIA
1. No caso de um refugiado que foi deportado no curso da Segunda Guerra
Mundial, transportado para o território de um dos Estados Contratantes e aí
resida, a duração dessa permanência forçada será considerada residência
regular nesse território.
2. No caso de um refugiado que foi deportado do território de um Estado
Contratante no curso da Segunda Guerra Mundial e para ele voltou antes da
entrada em vigor desta Convenção para aí estabelecer sua residência, o
período que precedeu e o que se seguiu a essa deportação serão
considerados, para todos os fins para os quais é necessária uma residência
ininterrupta, como constituindo apenas um período ininterrupto.

ARTIGO 11
MARINHEIROS REFUGIADOS
No caso de refugiados regularmente empregados como membros da tripulação
a bordo de um navio que hasteie pavilhão de um Estado Contratante, este
Estado examinará com benevolência a possibilidade de autorizar os referidos
refugiados a se estabelecerem no seu território e entregar-lhes documentos de
viagem ou de admiti-los a título temporário no seu território, a fim,
notadamente, de facilitar sua fixação em outro país.

CAPÍTULO II
SITUAÇÃO JURÍDICA
ARTIGO 12
ESTATUTO PESSOAL
1. O estatuto pessoal de um refugiado será regido pela lei do país de seu
domicílio, ou, na falta de domicílio, pela lei do país de sua residência.
Direitos Humanos: Documentos Internacionais
2. Os direitos adquiridos anteriormente pelo refugiado e decorrentes do
estatuto pessoal, e principalmente os que resultam do casamento, serão
respeitados por um Estado Contratante, ressalvado, sendo o caso, o
cumprimento das formalidades previstas pela legislação do referido Estado,
entendendo-se, todavia, que o direito em causa deve ser dos que seriam
reconhecidos pela legislação do referido Estado se o interessado não houvesse
se tornado refugiado.

ARTIGO 13
PROPRIEDADE MÓVEL E IMÓVEL
Os Estados Contratantes concederão a um refugiado um tratamento tão
favorável quanto possível, e de qualquer maneira um tratamento que não seja
menos favorável do que o que é concedido, nas mesmas circunstâncias, aos
estrangeiros em geral, no que concerne à aquisição de propriedade móvel ou
imóvel e a outros direitos a ela referentes, ao aluguel e aos outros contratos
relativos à propriedade móvel ou imóvel.

ARTIGO 14
PROPRIEDADE INTELECTUAL E INDUSTRIAL
Em matéria de proteção da propriedade industrial, especialmente de invenções,
desenhos, modelos, marcas de fábrica, nome comercial, e em matéria de
proteção da propriedade literária, artística e científica, um refugiado se
beneficiará, no país em que tem sua residência habitual, da proteção que é
conferida aos nacionais do referido país. No território de qualquer um dos
outros Estados Contratantes, ele se beneficiará da proteção dada no referido
território aos nacionais do país no qual tem sua residência habitual.

ARTIGO 15
DIREITOS DE ASSOCIAÇÃO
Os Estados Contratantes concederão aos refugiados que residem
regularmente em seu território, no que concerne às associações sem fins
políticos nem lucrativos e aos sindicatos profissionais, o tratamento mais
favorável concedido aos nacionais de um país estrangeiro, nas mesmas
circunstâncias.

ARTIGO 16
DIREITO DE PROPUGNAR EM JUÍZO
1. Qualquer refugiado terá, no território dos Estados Contratantes, livre e fácil
acesso aos tribunais.
2. No Estado Contratante em que tem sua residência habitual, qualquer
refugiado gozará do mesmo tratamento que um nacional, no que concerne ao
acesso aos tribunais, inclusive a assistência judiciária e a isenção de cautio
judicatum solvi.
3. Nos Estados Contratantes outros que não aquele em que tem sua residência
habitual, e no que concerne às questões mencionadas no parágrafo 2,
qualquer refugiado gozará do mesmo tratamento que um nacional do país no
qual tem sua residência habitual.
Direitos Humanos: Documentos Internacionais

CAPÍTULO III
EMPREGOS REMUNERADOS
ARTIGO 17
PROFISSÕES ASSALARIADAS
1. Os Estados Contratantes darão a todo refugiado que resida regularmente no
seu território o tratamento mais favorável dado, nas mesmas circunstâncias,
aos nacionais de um país estrangeiro no que concerne ao exercício de uma
atividade profissional assalariada.
2. Em qualquer caso, as medidas restritivas impostas aos estrangeiros ou ao
emprego de estrangeiros para a proteção do mercado nacional do trabalho não
serão aplicáveis aos refugiados que já estavam dispensados na data da
entrada em vigor desta Convenção pelo Estado Contratante interessado, ou
que preencham uma das seguintes condições:
a) contar três anos de residência no país;
b) ter por cônjuge uma pessoa que possua a nacionalidade do país de
residência. Um refugiado não poderá invocar o benefício desta disposição no
caso de haver abandonado o cônjuge;
c) ter um ou vários filhos que possuam a nacionalidade do país de residência.
3. Os Estados Contratantes considerarão com benevolência a adoção de
medidas tendentes a assimilar os direitos de todos os refugiados no que
concerne ao exercício das profissões assalariadas aos dos seus nacionais, e
em particular para os refugiados que entraram no seu território em virtude de
um programa de recrutamento de mão-de-obra ou de um plano de imigração.

ARTIGO 18
PROFISSÕES NÃO ASSALARIADAS
Os Estados Contratantes darão aos refugiados que se encontrem regularmente
no seu território tratamento tão favorável quanto possível e, em todo caso,
tratamento não menos favorável do que aquele que é dado, nas mesmas
circunstâncias, aos estrangeiros em geral, no que concerne ao exercício de
uma profissão não assalariada na agricultura, na indústria, no artesanato e no
comércio, bem como à instalação de firmas comerciais e industriais.

ARTIGO 19
PROFISSÕES LIBERAIS
1. Cada Estado Contratante dará aos refugiados que residam regularmente no
seu território e sejam titulares de diplomas reconhecidos pelas autoridades
competentes do referido Estado e que desejam exercer uma profissão liberal,
tratamento tão favorável quanto possível, e, em todo caso, tratamento não
menos favorável do que aquele que é dado, nas mesmas circunstâncias, aos
estrangeiros em geral.
2. Os Estados Contratantes farão tudo o que estiver ao seu alcance, conforme
as suas leis e constituições, para assegurar a instalação de tais refugiados em
territórios outros que não o território metropolitano, de cujas relações
internacionais sejam responsáveis.

CAPÍTULO IV
BEM-ESTAR
ARTIGO 20
RACIONAMENTO
No caso de existir um sistema de racionamento ao qual esteja submetido o
conjunto da população, que regule a repartição geral dos produtos de que há
escassez, os refugiados serão tratados como os nacionais.

ARTIGO 21
ALOJAMENTO
No que concerne ao alojamento, os Estados Contratantes darão, na medida em
que esta questão seja regulada por leis ou regulamentos ou seja submetida ao
controle das autoridades públicas, aos refugiados que residam regularmente no
seu território, tratamento tão favorável quanto possível e, em todo caso,
tratamento não menos favorável do que aquele que é dado, nas mesmas
circunstâncias, aos estrangeiros em geral.

ARTIGO 22
EDUCAÇÃO PÚBLICA
1. Os Estados Contratantes darão aos refugiados o mesmo tratamento que é
dado aos nacionais no que concerne ao ensino primário.
2. Os Estados Contratantes darão aos refugiados um tratamento tão favorável
quanto possível, e em todo caso não menos favorável do que aquele que é
dado aos estrangeiros em geral, nas mesmas circunstâncias, no que concerne
aos graus de ensino superiores ao primário, em particular no que diz respeito
ao acesso aos estudos, ao reconhecimento de certificados de estudos, de
diplomas e títulos universitários estrangeiros, à isenção de emolumentos
alfandegários e taxas e à concessão de bolsas de estudos.

ARTIGO 23
ASSISTÊNCIA PÚBLICA
Os Estados Contratantes darão aos refugiados que residam regularmente no
seu território o mesmo tratamento em matéria de assistência e de socorros
públicos que é dado aos seus nacionais.

ARTIGO 24
LEGISLAÇÃO DO TRABALHO E PREVIDÊNCIA SOCIAL
1. Os Estados Contratantes darão aos refugiados que residam regularmente no
seu território o mesmo tratamento dado aos nacionais quanto aos seguintes
pontos:
a) Na medida em que estas questões são regulamentadas pela legislação ou
dependem das autoridades administrativas: remuneração, inclusive abonos
familiares quando os mesmos integrarem a remuneração; duração do trabalho;
horas suplementares; férias pagas; restrições ao trabalho doméstico; idade
mínima para o emprego; aprendizado e formação profissional; trabalho das
mulheres e dos adolescentes, e gozo das vantagens proporcionadas pelas
convenções coletivas.
b) Previdência social (as disposições legais relativas aos acidentes do trabalho,
às moléstias profissionais, à maternidade, à doença, à invalidez, à velhice, à
morte, ao desemprego, aos encargos de família, bem como a
Direitos Humanos: Documentos Internacionais
qualquer outro risco que, conforme a legislação nacional, esteja previsto no
sistema de previdência social), observadas as seguintes limitações:
I) existência de medidas apropriadas visando a manutenção dos direitos
adquiridos e dos direitos em curso de aquisição;
II) disposições particulares prescritas pela legislação nacional do país de
residência concernentes a benefícios ou a frações de benefícios pagáveis
exclusivamente por fundos públicos, bem como a pensões pagas a pessoas
que não preenchem as condições de contribuição exigidas para a concessão
de uma pensão normal.
2. Os direitos a um benefício decorrentes da morte de um refugiado em virtude
de acidente de trabalho ou de doença profissional não serão afetados pelo fato
do beneficiário residir fora do território do Estado Contratante.
3. Os Estados Contratantes estenderão aos refugiados o benefício dos acordos
que concluíram ou vierem a concluir entre si, relativamente à manutenção dos
direitos adquiridos ou em curso de aquisição em matéria de previdência social,
contanto que os refugiados preencham as condições previstas para os
nacionais dos países signatários dos acordos em questão.
4. Os Estados Contratantes examinarão com benevolência a possibilidade de
estender, na medida do possível, aos refugiados, o benefício de acordos
semelhantes que estão ou estarão em vigor entre esses Estados Contratantes
e Estados não-contratantes.

CAPÍTULO V
MEDIDAS ADMINISTRATIVAS
ARTIGO 25
ASSISTÊNCIA ADMINISTRATIVA
1. Quando o exercício de um direito por parte de um refugiado normalmente
exigir a assistência de autoridades estrangeiras às quais ele não pode recorrer,
os Estados Contratantes em cujo território reside providenciarão para que essa
assistência lhe seja dada, quer pelas suas próprias autoridades, quer por uma
autoridade internacional.
2. A ou as autoridades mencionadas no parágrafo 1 entregarão ou farão
entregar, sob seu controle, aos refugiados, os documentos ou certificados que
normalmente seriam entregues a um estrangeiro pelas suas autoridades
nacionais ou por seu intermédio.
3. Os documentos ou certificados assim entregues substituirão os documentos
oficiais entregues a estrangeiros pelas suas autoridades nacionais ou por seu
intermédio, e terão fé pública até prova em contrário.
4. Ressalvadas as exceções que possam ser admitidas em favor dos
indigentes, os serviços mencionados no presente artigo poderão ser cobrados;
mas estas cobranças serão moderadas e de acordo com o valor que se cobrar
dos nacionais por serviços análogos.
5. As disposições deste artigo em nada afetarão os artigos 27 e 28.

ARTIGO 26
LIBERDADE DE MOVIMENTO
Cada Estado Contratante dará aos refugiados que se encontrem no seu
território o direito de nele escolher o local de sua residência e de nele circular
livremente, com as reservas instituídas pela regulamentação aplicável aos
estrangeiros em geral nas mesmas circunstâncias.

ARTIGO 27
PAPÉIS DE IDENTIDADE
Os Estados Contratantes entregarão documentos de identidade a qualquer
refugiado que se encontre no seu território e que não possua documento de
viagem válido.

ARTIGO 28
DOCUMENTOS DE VIAGEM
1. Os Estados Contratantes entregarão aos refugiados que residam
regularmente no seu território documentos de viagem destinados a permitir-
lhes viajar fora desse território, a menos que a isto se oponham razões
imperiosas de segurança nacional ou de ordem pública; as disposições do
Anexo a esta Convenção se aplicarão a esses documentos. Os Estados
Contratantes poderão entregar tal documento de viagem a qualquer outro
refugiado que se encontre no seu território; darão atenção especial aos casos
de refugiados que se encontrem no seu território e que não estejam em
condições de obter um documento de viagem do país onde residem
regularmente.
2. Os documentos de viagem entregues nos termos de acordos internacionais
anteriores serão reconhecidos pelos Estados Contratantes e tratados como se
houvessem sido entregues aos refugiados em virtude do presente artigo.

ARTIGO 29
DESPESAS FISCAIS
1. Os Estados Contratantes não submeterão os refugiados a emolumentos
alfandegários, taxas e impostos de qualquer espécie, além ou mais elevados
do que aqueles que são ou serão cobrados dos seus nacionais em situações
análogas.
2. As disposições do parágrafo anterior não impedem a aplicação aos
refugiados das disposições de leis e regulamentos concernentes às taxas
relativas à expedição de documentos administrativos para os estrangeiros,
inclusive papéis de identidade.

ARTIGO 30
TRANSFERÊNCIA DE BENS
1. Cada Estado Contratante permitirá aos refugiados, conforme as leis e
regulamentos do seu país, transferir os bens que trouxeram para o seu
território para o território de um outro país, no qual foram admitidos, a fim de
nele se reinstalarem.
2. Cada Estado Contratante considerará com benevolência os pedidos
apresentados pelos refugiados que desejarem obter autorização para transferir
todos os outros bens necessários a sua reinstalação em um outro país, onde
foram admitidos, a fim de nele se reinstalarem.

ARTIGO 31
REFUGIADOS EM SITUAÇÃO IRREGULAR NO PAÍS DE REFÚGIO
1. Os Estados Contratantes não aplicarão sanções penais aos refugiados que,
chegando diretamente de território no qual sua vida ou sua liberdade estava
ameaçada, no sentido previsto pelo art. 1º, encontrem-se no seu território sem
autorização, contanto que se apresentem sem demora às autoridades e
exponham-lhes razões aceitáveis para a sua entrada ou presença irregulares.
2. Os Estados Contratantes não aplicarão aos deslocamentos de tais
refugiados outras restrições que não as necessárias; essas restrições serão
aplicadas somente enquanto o estatuto desses refugiados no país de refúgio
não houver sido regularizado ou eles não houverem obtido admissão em outro
país. À vista desta última admissão, os Estados Contratantes concederão a
esses refugiados um prazo razoável, assim como todas as facilidades
necessárias.

ARTIGO 32
EXPULSÃO
1. Os Estados Contratantes não expulsarão um refugiado que esteja
regularmente no seu território, senão por motivos de segurança nacional ou de
ordem pública.
2. A expulsão desse refugiado somente ocorrerá em conseqüência de decisão
judicial proferida em processo legal. A não ser que a isso se oponham razões
imperiosas de segurança nacional, o refugiado deverá ter permissão de
apresentar provas em seu favor, de interpor recurso e de se fazer representar
para esse fim perante uma autoridade competente ou perante uma ou várias
pessoas especialmente designadas pela autoridade competente.
3. Os Estados Contratantes concederão a tal refugiado um prazo razoável para
ele obter admissão legal em um outro país. Os Estados Contratantes podem
aplicar, durante esse prazo, a medida de ordem interna que julgarem oportuna.
ARTIGO 33
PROIBIÇÃO DE EXPULSÃO OU DE RECHAÇO
1. Nenhum dos Estados Contratantes expulsará ou rechaçará, de forma
alguma, um refugiado para as fronteiras dos territórios em que sua vida ou
liberdade seja ameaçada em decorrência da sua raça, religião, nacionalidade,
grupo social a que pertença ou opiniões políticas.
2. O benefício da presente disposição não poderá, todavia, ser invocado por
um refugiado que por motivos sérios seja considerado um perigo à segurança
do país no qual ele se encontre ou que, tendo sido condenado definitivamente
por um crime ou delito particularmente grave, constitua ameaça para a
comunidade do referido país.

ARTIGO 34 - NATURALIZAÇÃO
Os Estados Contratantes facilitarão, na medida do possível, a assimilação e a
naturalização dos refugiados. Esforçar-se-ão, em especial, para acelerar o
processo de naturalização e reduzir, também na medida do possível, as taxas e
despesas desse processo.

CAPÍTULO VI
DISPOSIÇÕES EXECUTÓRIAS E TRANSITÓRIAS
ARTIGO 35
COOPERAÇÃO DAS AUTORIDADES NACIONAIS COM AS NAÇÕES
UNIDAS
1. Os Estados Contratantes comprometem-se a cooperar com o Alto
Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados, ou qualquer outra
instituição das Nações Unidas que lhe suceda, no exercício das suas funções e
em particular para facilitar a sua tarefa de supervisionar a aplicação das
disposições desta Convenção.
2. A fim de permitir ao Alto Comissariado ou a qualquer outra instituição das
Nações Unidas que lhe suceda apresentar relatório aos órgãos competentes
das Nações Unidas, os Estados Contratantes se comprometem a fornecer-lhes,
pela forma apropriada, as informações e os dados estatísticos solicitados
relativos:
a) ao estatuto dos refugiados,
b) à execução desta Convenção, e
c) às leis, regulamentos e decretos que estão ou entrarão em vigor no que
concerne aos refugiados.

ARTIGO 36
INFORMAÇÕES SOBRE AS LEIS E REGULAMENTOS NACIONAIS
Os Estados Contratantes comunicarão ao Secretário-Geral das Nações Unidas
o texto das leis e dos regulamentos que promulguem para assegurar a
aplicação desta Convenção.

ARTIGO 37
RELAÇÕES COM AS CONVENÇÕES ANTERIORES
Sem prejuízo das disposições constantes no parágrafo 2 do artigo 28, esta
Convenção substitui, entre as Partes na Convenção, os acordos de 5 de julho
de 1922, 31 de maio de 1924, 12 de maio de 1926, 30 de julho de 1928 e 30 de
julho de 1935, bem como as Convenções de 28 de outubro de 1933, 10 de
fevereiro de 1938, o Protocolo de 14 de setembro de 1939 e o Acordo de 15 de
outubro de 1946.

CAPÍTULO VII
CLÁUSULAS FINAIS
ARTIGO 38
SOLUÇÃO DOS DISSÍDIOS
Qualquer controvérsia entre as Partes nesta Convenção relativa à sua
interpretação ou a sua aplicação, que não possa ser resolvida por outros
meios, será submetida à Corte Internacional de Justiça, a pedido de uma das
Partes na controvérsia.

ARTIGO 39
ASSINATURA, RATIFICAÇÃO E ADESÃO
1. Esta Convenção ficará aberta à assinatura em Genebra a 28 de julho de
1951 e, após esta data, depositada em poder do Secretário-Geral das Nações
Unidas. Ficará aberta à assinatura no Escritório Europeu das Nações Unidas
de 28 de julho a 31 de agosto de 1951, e depois será reaberta à assinatura na
sede da Organização das Nações Unidas, de 17 de setembro de 1951 a 31 de
dezembro de 1952.
2. Esta Convenção ficará aberta à assinatura de todos os Estados membros da
Organização das Nações Unidas, bem como de qualquer outro Estado não-
membro convidado para a Conferência de Plenipotenciários sobre o Estatuto
dos Refugiados e dos Apátridas, ou de qualquer Estado ao qual a Assembléia
Geral haja dirigido convite para assinar. Deverá ser ratificada e os instrumentos
de ratificação ficarão depositados em poder do Secretário-Geral das Nações
Unidas.
3. Os Estados mencionados no parágrafo 2 do presente artigo poderão aderir a
esta Convenção a partir de 28 de julho de 1951. A adesão será feita mediante
instrumento próprio que ficará depositado em poder do Secretário-Geral das
Nações Unidas.

ARTIGO 40
CLÁUSULA DE APLICAÇÃO TERRITORIAL
1. Qualquer Estado poderá, no momento da assinatura, ratificação ou adesão,
declarar que esta Convenção se estenderá ao conjunto dos territórios que
representa no plano internacional, ou a um ou vários dentre eles. Tal
declaração produzirá efeitos no momento da entrada em vigor da Convenção
para o referido Estado.
2. A qualquer momento posterior a extensão poderá ser feita através de
notificação dirigida ao Secretário-Geral das Nações Unidas, e produzirá efeitos
a partir do nonagésimo dia seguinte à data na qual o Secretário-Geral das
Nações Unidas houver recebido a notificação ou na data de entrada em vigor
da Convenção para o referido Estado, se esta última data for posterior.
3. No que concerne aos territórios aos quais esta Convenção não se aplique na
data da assinatura, ratificação ou adesão, cada Estado interessado examinará
a possibilidade de tomar, logo que possível, todas as medidas necessárias a
fim de estender a aplicação desta Convenção aos referidos territórios,
ressalvado, sendo necessário por motivos constitucionais, o consentimento do
governo de tais territórios.

ARTIGO 41
CLÁUSULA FEDERAL
No caso de um Estado federal ou não-unitário, aplicar-se-ão as seguintes
disposições:
a) No que concerne aos artigos desta Convenção cuja execução dependa da
ação legislativa do poder legislativo federal, as obrigações do governo federal
serão, nesta medida, as mesmas que as das partes que não são Estados
federais.
b) No que concerne aos artigos desta Convenção cuja aplicação depende da
ação legislativa de cada um dos Estados, províncias ou municípios
constitutivos, que não são, em virtude do sistema constitucional da federação,
obrigados a tomar medidas legislativas, o governo federal clevará, o mais cedo
possível, e com o seu parecer favorável, os referidos artigos ao conhecimento
das autoridades competentes dos Estados, províncias ou municípios.
c) Um Estado federal Parte nesta Convenção fornecerá, mediante solicitação
de qualquer outro Estado Contratante que lhe haja sido transmitida pelo
Secretário-Geral das Nações Unidas, uma exposição sobre a legislação e as
práticas em vigor na federação e em suas unidades constitutivas, no que
concerne a qualquer
Direitos Humanos: Documentos Internacionais
disposição da Convenção, indicando em que medida, por uma ação legislativa
ou de outra natureza, tornou-se efetiva a referida disposição.

ARTIGO 42
RESERVAS
1. No momento da assinatura, da ratificação ou da adesão, qualquer Estado
poderá formular reservas aos artigos da Convenção, que não os artigos 1, 3, 4,
16 (1), 33 e 36 a 46 inclusive.
2. Qualquer Estado Contratante que haja formulado uma reserva conforme o
parágrafo 1 desse artigo, poderá retirá-la a qualquer momento mediante
comunicação com esse fim dirigida ao Secretário-Geral das Nações Unidas.

ARTIGO 43
ENTRADA EM VIGOR
1. Esta Convenção entrará em vigor no nonagésimo dia seguinte à data do
depósito do sexto instrumento de ratificação ou de adesão.
2. Para cada um dos Estados que ratificarem a Convenção ou a ela aderirem
depois do depósito do sexto instrumento de ratificação ou de adesão, ela
entrará em vigor no nonagésimo dia seguinte à data do depósito feito por esse
Estado do seu instrumento de ratificação ou de adesão.

ARTIGO 44
DENÚNCIA
1. Qualquer Estado Contratante poderá denunciar a Convenção a qualquer
momento por notificação dirigida ao Secretário-Geral das Nações Unidas.
2. A denúncia entrará em vigor para o Estado interessado um ano depois da
data em que tiver sido recebida pelo Secretário-Geral das Nações Unidas.
3. Qualquer Estado que houver feito uma declaração ou notificação conforme o
artigo 40, poderá notificar ulteriormente ao Secretário-Geral das Nações Unidas
que a Convenção cessará de se aplicar a todo o território designado na
notificação. A Convenção cessará, então, de se aplicar ao território em
questão, um ano depois da data na qual o Secretário-Geral houver recebido
essa notificação.

ARTIGO 45
REVISÃO
1. Qualquer Estado Contratante poderá, a qualquer tempo, por uma notificação
dirigida ao Secretário-Geral das Nações Unidas, pedir a revisão desta
Convenção.
2. A Assembléia Geral das Nações Unidas recomendará as medidas a serem
tomadas, se for o caso, a propósito de tal pedido.

ARTIGO 46
NOTIFICAÇÕES PELO SECRETÁRIO-GERAL DAS NAÇÕES UNIDAS
O Secretário-Geral das Nações Unidas comunicará a todos os Estados
membros das Nações Unidas e aos Estados não-membros mencionados no
artigo 39:
Direitos Humanos: Documentos Internacionais
a) as declarações e as notificações mencionadas na seção B do artigo 1;
b) as assinaturas, ratificações e adesões mencionadas no artigo 39;
c) as declarações e as notificações mencionadas no artigo 40;
d) as reservas formuladas ou retiradas mencionadas no artigo 42;
e) a data na qual esta Convenção entrará em vigor, de acordo com o artigo 43;
f) as denúncias e as notificações mencionadas no artigo 44;
g) os pedidos de revisão mencionados no artigo 45.
Em fé do que, os abaixo-assinados, devidamente autorizados, assinaram, em
nome de seus respectivos Governos, a presente Convenção.
Direitos Humanos: Documentos Internacionais
Protocolo Relativo ao Estatuto dos Refugiados
Aprovado pela Assembléia Geral da ONU em 31 de janeiro de 1967. Brasil
aderiu em 07 de abril de 1972.

DECRETO Nº 70.946, DE 7 DE AGOSTO DE 1972.


Promulga o Protocolo sobre o Estatuto dos Refugiados.
O PRESIDENTE DA REPÚBLICA , havendo sido aprovado, pelo Decreto
Legislativo nº 93, de 30 de Novembro de 1971, o Protocolo sobre Estatuto dos
Refugiados, concluídos em Nova York, a 31 de Janeiro de 1967;
Havendo sido depositado, pelo Brasil, um Instrumento de Adesão Junto ao
Secretariado das Nações Unidas em 7 de abril de 1972;
E havendo o referido Protocolo, em conformidade com o seu artigo VIII,
parágrafo 2, entrado em vigor, para o Brasil, a 7 de abril de 1972.
Decreta que o Protocolo, apenso por cópia ao presente Decreto, seja
executado e cumprido tão inteiramente como nele se contém.
Brasília, 7 de Agosto de 1972; 151º da Independência e 84º da República.
EMíLIO G. MéDICI
Mário Gibson Barboza
PROTOCOLO RELATIVO AO ESTATUTO DOS REFUGIADOS
Os Estados Partes no presente Protocolo,
Considerando que a Convenção relativa ao Estatuto dos Refugiados, concluída
em Genebra em 28 de Julho de 1951 (daqui em diante referida como a
Convenção), só cobre aquelas pessoas que se tornaram refugiados em
resultado de acontecimentos ocorridos antes de 1 de Janeiro de 1951,
Considerando que, desde que a Convenção foi adoptada, surgiram novas
situações de refugiados e que os refugiados em causa poderão não cair no
âmbito da Convenção,
Considerando que é desejável que todos os refugiados abrangidos na definição
da Convenção, independentemente do prazo de 1 de Janeiro de 1951, possam
gozar de igual estatuto,
Concordaram no seguinte:

ARTIGO I
DISPOSIÇÕES GERAIS
1. Os Estados Partes no presente Protocolo obrigam-se a aplicar os artigos 2 a
34, inclusive, da Convenção aos refugiados tal como a seguir definidos.
2. Para os efeitos do presente Protocolo, o termo refugiado deverá, excepto em
relação à aplicação do parágrafo 3 deste artigo, significar qualquer pessoa que
caiba na definição do artigo 1, como se fossem
Direitos Humanos: Documentos Internacionais
omitidas as palavras como resultado de acontecimentos ocorridos antes de l de
Janeiro de 1951 e... e as palavras ... como resultado de tais acontecimentos,
no artigo 1-A (2).
3. O presente Protocolo será aplicado pelos Estados Partes sem qualquer
limitação geográfica, com a excepção de que as declarações existentes feitas
por Estados já partes da Convenção de acordo com o artigo 1-B (1) (a) da
Convenção deverão, salvo se alargadas nos termos do artigo 1-B (2) da
mesma, ser aplicadas também sob o presente Protocolo.

ARTIGO II
COOPERAÇÃO DAS AUTORIDADES NACIONAIS COM AS NAÇÕES
1. Os Estados Partes no presente Protocolo obrigam-se a cooperar com o Alto
Comissário das Nações Unidas para os Refugiados, ou com qualquer outra
agência das Nações Unidas que lhe possa vir a suceder no exercício das suas
funções, e deverão, em especial, facilitar o desempenho do seu dever de
vigilância da aplicação das disposições do presente Protocolo.
2. Com vista a habilitar o Alto Comissário, ou qualquer outra agência das
Nações Unidas que lhe possa vir a suceder, a fazer relatórios para os órgãos
competentes das Nações Unidas, os Estados Partes no presente Protocolo
obrigam-se a fornecer-lhes as informações e dados estatísticos requeridos, na
forma apropriada e relativos:
a) À condição de refugiados;
b) À aplicação do presente Protocolo;
c) Às leis, regulamentos e decretos que são ou possam vir a ser aplicáveis em
relação aos refugiados.

ARTIGO III
INFORMAÇÃO SOBRE LEGISLAÇÃO NACIONAL
Os Estados Partes no presente Protocolo deverão comunicar ao Secretário
Geral das Nações Unidas as leis e regulamentos que possam vir a adoptar
para assegurar a aplicação do presente Protocolo.

ARTIGO IV
RESOLUÇÃO DE DIFERENDOS
Qualquer diferendo entre Estados Partes no presente Protocolo que esteja
relacionado com a sua interpretação ou aplicação e que não possa ser
resolvido por outros meios deverá ser submetido ao Tribunal Internacional de
Justiça a pedido de qualquer das partes no diferendo.

ARTIGO V
ADESÃO
O presente Protocolo ficará aberto à adesão de todos os Estados Partes na
Convenção ou de qualquer outro Estado Membro das Nações Unidas ou
Membro de qualquer das agências especializadas ou de qualquer Estado ao
qual tenha sido enviado pela Assembleia Geral das Nações Unidas um convite
para aderir ao Protocolo. A adesão será efectuada pelo depósito de um
instrumento de adesão junto do Secretário Geral das Nações Unidas.
Direitos Humanos: Documentos Internacionais

ARTIGO VI
CLÁUSULA FEDERAL
No caso de um Estado federal ou não unitário, aplicar-se-ão as seguintes
disposições:
a) No respeitante aos artigos da Convenção a aplicar de acordo com o artigo I,
parágrafo 1, do presente Protocolo que caibam dentro da competência
legislativa da autoridade legislativa federal, as obrigações do Governo Federal
serão nesta medida as mesmas que as dos Estados Partes que não forem
Estados federais;
b) No respeitante aos artigos da Convenção a aplicar de acordo com o artigo I,
parágrafo 1, do Presente Protocolo que caibam dentro da competência
legislativa de Estados constituintes, províncias ou cantões que não são,
segundo o sistema constitucional da Federação, obrigados a tomar medidas
legislativas, o Governo Federal levará, com a maior brevidade possível, os
referidos artigos, com uma recomendação favorável, ao conhecimento das
autoridades competentes dos Estados, províncias ou cantões;
c) Um Estado Federal parte no presente Protocolo deverá, a pedido de
qualquer outro Estado Parte, transmitido através do Secretário Geral das
Nações Unidas, fornecer uma informação da lei e da prática da Federação e
das suas unidades constituintes no tocante a qualquer disposição em particular
da Convenção, a aplicar de acordo com o artigo I, parágrafo 1, do presente
Protocolo, indicando a medida em que foi dado efeito, por medidas legislativas
ou outras, à dita disposição.

ARTIGO VII
RESERVAS E DECLARAÇÕES
1. No momento de adesão, qualquer Estado poderá formular reservas ao artigo
4 do presente Protocolo e à aplicação de acordo com o artigo I do presente
Protocolo de quaisquer disposições da Convenção além das contidas nos
artigos 1, 3, 4, 16 (1) e 33, desde que, no caso de um Estado Parte na
Convenção, as reservas feitas ao abrigo deste artigo não abranjam os
refugiados aos quais se aplica a Convenção.
2. As reservas formuladas por Estados Partes na Convenção de acordo com o
seu artigo 42 aplicar-se-ão, a menos que sejam retiradas, em relação às suas
obrigações decorrentes do presente Protocolo.
3. Qualquer Estado que faça uma reserva de acordo com o parágrafo l deste
artigo poderá, a qualquer tempo, retirar tal reserva por meio de uma
comunicação para esse efeito dirigida ao Secretário Geral das Nações Unidas.
4. As declarações feitas segundo o artigo 40, parágrafos l e 2, da Convenção
por um Estado Parte nela que adira ao presente Protocolo considerar-se-ão
aplicáveis sob o regime do presente Protocolo, salvo se, no momento de
adesão, for enviada uma notificação em contrário pelo Estado Parte
interessado ao Secretário Geral das Nações Unidas. As disposições do artigo
40, parágrafos 2 e 3, e do artigo 44, parágrafo 3, da Convenção considerar-se-
ão aplicáveis, mutatis mutandis, ao presente Protocolo.

ARTIGO VIII
ENTRADA EM VIGOR
1. O presente Protocolo entrará em vigor no dia do depósito do sexto
instrumento de adesão.
2. Para cada Estado que adira ao Protocolo depois do depósito do sexto
instrumento de adesão, o Protocolo entrará em vigor na data do depósito pelo
mesmo Estado do seu instrumento de adesão.
Direitos Humanos: Documentos Internacionais

ARTIGO IX
DENÚNCIA
1. Qualquer Estado Parte poderá, a qualquer tempo, denunciar este Protocolo
por meio de uma notificação dirigida ao Secretário Geral das Nações Unidas.
2. Tal denúncia terá efeito para o Estado Parte interessado um ano depois da
data em que for recebida pelo Secretário Geral das Nações Unidas.

ARTIGO X
NOTIFICAÇÕES PELO SECRETÁRIO GERAL DAS NAÇÕES UNIDAS
O Secretário Geral das Nações Unidas informará os Estados referidos no artigo
V, acima, da data de entrada em vigor, adesões, reservas, retiradas de
reservas e denúncias do presente Protocolo, e das declarações e notificações
com ele relacionadas.

ARTIGO XI
DEPÓSITO NOS ARQUIVOS DO SECRETARIADO DAS NAÇÕES UNIDAS
Um exemplar do presente Protocolo, cujos textos chinês, inglês, francês, russo
e espanhol são igualmente autênticos, assinado pelo presidente da Assembleia
Geral e pelo Secretário Geral das Nações Unidas, será depositado nos
arquivos do Secretariado das Nações Unidas. O Secretário Geral transmitirá
cópias certificadas do mesmo a todos os Estados Membros das Nações Unidas
e aos outros Estados referidos no artigo V, acima.
11 A Constituição brasileira e os tratados internacionais de direitos
humanos.

Começa-se por afirmar que os tratados internacionais, enquanto acordos


internacionais juridicamente obrigatórios e vinculantes (pacta sunt servanda)
constituem a principal fonte de obrigação do direito internacional.
Na definição de Louis Henkin: “O termo „tratado‟ é geralmente usado para
se referir aos acordos obrigatórios celebrados entre sujeitos de Direito
Internacional, que são regulados pelo Direito Internacional. (...).”.
A necessidade de disciplinar e regular o processo de formação dos
tratados internacionais resultou na elaboração da Convenção de Viena,
concluída em 1969, que teve por finalidade servir como a Lei dos Tratados.
Contudo, limitou-se aos tratados celebrados entre os Estados, não envolvendo
aqueles dos quais participam organizações internacionais.
A primeira regra a ser fixada é a de que os tratados internacionais só se
aplicam aos Estados-partes, ou seja, aos Estados que expressamente
consentiram em sua adoção. Como dispõe a Convenção de Viena: “Todo
tratado em vigor é obrigatório em relação às partes e deve ser cumprido por
elas de boa-fé”. Acrescenta o art. 27 da Convenção: “Uma parte não pode
invocar disposições de seu direito interno como justificativa para o não-
cumprimento do tratado”. Consagra-se, assim, o princípio da boa-fé, pelo qual
cabe ao Estado conferir plena observância ao tratado de que é parte, na
medida em que, no livre exercício de sua soberania, o Estado contraiu
obrigações jurídicas no plano internacional.
Enfatize-se que os tratados são, por excelência, expressão de consenso.
Apenas pela via do consenso podem os tratados criar obrigações legais, uma
vez que Estados soberanos, ao aceitá-los, comprometem-se a respeitá-los.
Em geral, os tratados permitem sejam formulados reservas, o que pode
contribuir para a adesão de maior número de Estados. Nos termos da
Convenção de Viena, as reservas constituem “uma declaração unilateral feita
pelo Estado, quando da assinatura, ratificação, acessão, adesão ou aprovação
de um tratado, com o propósito de excluir ou modificar o efeito jurídico de
certas previsões do tratado, quando de sua aplicação naquele Estado”.

a) O processo de formação dos tratados internacionais

Em geral, o processo de formação dos tratados tem início com os atos de


negociação, conclusão e assinatura do tratado, que são da competência do
órgão do Poder Executivo. A assinatura do tratado, por si só, traduz o aceite
precário e provisório, não irradiando efeitos jurídicos vinculantes.
Após a assinatura do tratado pelo Poder Executivo, o segundo passo é a
sua apreciação e aprovação pelo Poder Legislativo (Congresso Nacional). Em
seqüência, aprovado o tratado pelo Legislativo, há o seu ato de ratificação pelo
Poder Executivo. A ratificação significa a subseqüente confirmação formal por
um Estado de que está obrigado ao tratado. Significa, pois, o aceite definitivo,
pelo qual o Estado se obriga pelo tratado no plano internacional. A ratificação é
ato jurídico que irradia necessariamente efeitos no plano internacional.
No Direito Internacional, a ratificação se refere à subseqüente
confirmação formal (após a assinatura) por um Estado, de que está obrigado a
cumprir o tratado. Entre a assinatura e a ratificação, o Estado está sob a
obrigação de obstar atos que violem os objetivos ou os propósitos do tratado.
No caso brasileiro, a Constituição de 1988, em seu art. 84, VIII, determina
que é da competência privativa do Presidente da República celebrar tratados,
convenções e atos internacionais, sujeitos a referendo do Congresso Nacional.
Por sua vez, o art. 49, I, da mesma Carta prevê ser da competência exclusiva
do Congresso Nacional resolver definitivamente sobre tratados, acordos ou
atos internacionais. Consagra-se, assim, a colaboração entre Executivo e
Legislativo na conclusão de tratados internacionais, que não se aperfeiçoa
enquanto a vontade do Poder Executivo, manifestada pelo Presidente da
República, não se somar à vontade do Congresso Nacional. Assim, celebrado
por representante do Poder Executivo, aprovado pelo Congresso Nacional e,
por fim, ratificado pelo Presidente da República, passa o tratado a produzir
efeitos jurídicos.
Com efeito, o poder de celebrar tratados – como é concebido e como de
fato se opera – é uma autêntica expressão do constitucionalismo; claramente
ele estabelece a sistemática de „checks and balances‟. Ao atribuir o poder de
celebrar tratados ao Presidente, mas apenas mediante o referendo do
Legislativo, busca-se limitar e descentralizar o poder de celebrar tratados,
prevenindo o abuso desse poder.
Contudo, cabe observar que a Constituição brasileira de 1988, ao
estabelecer apenas esses dois dispositivos supracitados (os arts. 49, I, e 84,
VIII), traz uma sistemática lacunosa, falha e imperfeita: não prevê, por exemplo,
prazo para que o Presidente da República encaminhe ao Congresso Nacional o
tratado por ele assinado. Não há ainda previsão de prazo para que o
Congresso Nacional aprecie o tratado assinado, tampouco previsão de prazo
para que o Presidente da República ratifique o tratado, se aprovado pelo
Congresso. Essa sistemática constitucional, ao manter ampla
discricionariedade aos Poderes Executivo e Legislativo no processo de
formação dos tratados, acaba por contribuir para a afronta ao princípio da boa-
fé vigente no direito internacional.
De todo modo, considerando o processo de formação dos tratados e
reiterando a concepção de que apresentam força jurídica obrigatória e
vinculante, resta frisar que a violação de um tratado implica a violação de
obrigações assumidas no âmbito internacional. O descumprimento de tais
deveres implica, portanto, responsabilização internacional do Estado violador.

b) A hierarquia dos tratados internacionais de direitos humanos

A Carta de 1988 consagra, de forma inédita, ao fim da extensa


Declaração de Direitos por ela prevista, que os direitos e garantias expressos
na Constituição “não excluem outros decorrentes do regime e dos princípios
por ela adotados, ou dos tratados internacionais em que a República
Federativa do Brasil seja parte” (art. 5º, § 2º).
Ao prescrever que “os direitos e garantias expressos na Constituição não
excluem outros direitos decorrentes dos tratados internacionais”, a contrário
sensu, a Carta de 1988 está a incluir, no catálogo de direitos
constitucionalmente protegidos, os direitos enunciados nos tratados
internacionais em que o Brasil seja parte. Esse processo de inclusão implica a
incorporação pelo Texto Constitucional de tais direitos.
Ao efetuar a incorporação, a Carta atribui aos direitos internacionais uma
natureza especial e diferenciada, qual seja, a natureza de norma constitucional.
Os direitos enunciados nos tratados de direitos humanos de que o Brasil é
parte integram, portanto, o elenco dos direitos constitucionalmente
consagrados. Essa conclusão advém ainda de interpretação sistemática e
teleológica do Texto, especialmente em face da força expansiva dos valores da
dignidade humana e dos direitos fundamentais, como parâmetros axiológicos a
orientar a compreensão do fenômeno constitucional.
Por isso, o Poder Constituinte dos Estados e, conseqüentemente, das
respectivas Constituições nacionais, está hoje cada vez mais vinculado a
princípios e regras de direito internacional. É como se o Direito Internacional
fosse transformado em parâmetro de validade das próprias Constituições
nacionais (cujas normas passam a ser consideradas nulas se violadoras das
normas do jus cogens internacional). (...)”.
A Constituição assume expressamente o conteúdo constitucional dos
direitos constantes dos tratados internacionais dos quais o Brasil é parte. Ainda
que esses direitos não sejam enunciados sob a forma de normas
constitucionais, mas sob a forma de tratados internacionais, a Carta lhes
confere o valor jurídico de norma constitucional, já que preenchem e
complementam o catálogo de direitos fundamentais previsto pelo Texto
Constitucional. Nesse sentido, afirma Canotilho: “O programa normativo-
constitucional não pode se reduzir, de forma positivística, ao „texto‟ da
Constituição. Há que densificar, em profundidade, as normas e princípios da
constituição, alargando o „bloco da constitucionalidade‟ a princípios não
escritos, mais ainda reconduzíveis ao programa normativo-constitucional, como
formas de densificação ou revelação específicas de princípios ou regras
constitucionais positivamente plasmadas”. Os direitos internacionais
integrariam, assim, o chamado “bloco de constitucionalidade”, densificando a
regra constitucional positivada no § 2º do art. 5º, caracterizada como cláusula
constitucional aberta.
Quanto ao caráter aberto da cláusula constitucional constante do art. 5º, §
2º, é ele evidenciado por José Afonso da Silva ao afirmar que os direitos
individuais podem ser classificados em três grupos: o dos direitos individuais
expressos, explicitamente enunciados nos incisos do art. 5º; o dos direitos
individuais implícitos, subentendidos nas regras de garantias, como o direito à
identidade pessoal, certos desdobramentos do direito à vida; e, por fim, o grupo
dos direitos individuais decorrentes do regime e de tratados internacionais
subscritos pelo Brasil, que “não são nem explícita nem implicitamente
enumerados, mas provêm ou podem vir a prover do regime adotado, como o
direito de resistência, entre outros de difícil caracterização a priori”.
Ocorre que classificar os direitos individuais, colocando numa mesma
categoria os direitos decorrentes dos tratados internacionais e os decorrentes
do regime e dos princípios adotados pela Constituição não é correto, pois os
direitos internacionais são expressos, enumerados e claramente elencados,
não podendo ser considerados de difícil caracterização a priori, como o são os
decorrentes do regime e dos princípios constitucionais.
Assim, uma nova classificação dos direitos previstos pela Constituição
sugere o seguinte: a) o dos direitos expressos na Constituição; b) o dos direitos
expressos em tratados internacionais de que o Brasil seja parte; c) o dos
direitos implícitos (subentendidos nas regras de garantias, bem como os
decorrentes do regime e dos princípios adotados pela Constituição).
Consoante o princípio da máxima efetividade das normas constitucionais,
a partir da Constituição de 1988, os direitos constantes de tratados
internacionais integram e complementam o catálogo de direitos
constitucionalmente previstos, o que justifica estender a esses direitos o regime
constitucional conferido aos demais direitos e garantias fundamentais.
Todas as normas constitucionais são verdadeiras normas jurídicas e
desempenham uma função útil no ordenamento. A nenhuma norma
constitucional se pode dar interpretação que lhe retire ou diminua a razão de
ser. Considerando os princípios da força normativa da Constituição e da ótima
concretização da norma, à norma constitucional deve ser atribuído o sentido
que maior eficácia lhe dê, especialmente quando se trata de norma instituidora
de direitos e garantias fundamentais.
Segundo Canotilho, o princípio da máxima efetividade das normas
constitucionais “é hoje sobretudo invocado no âmbito dos direitos fundamentais
– no caso de dúvidas deve preferir-se a interpretação que reconheça mais
eficácia aos direitos fundamentais”. Está-se assim a conferir máxima
efetividade aos princípios constitucionais, em especial ao princípio do art. 5º,
§2º, ao entender que os direitos constantes dos tratados internacionais passam
a integrar o catálogo dos direitos constitucionalmente previstos.
Há que enfatizar ainda que, enquanto os demais tratados internacionais
têm força hierárquica infraconstitucional, os direitos enunciados em tratados
internacionais de proteção dos direitos humanos apresentam valor de norma
constitucional. Sustenta-se que os tratados tradicionais têm hierarquia
infraconstitucional, porém, supralegal, pois só assim não se desrespeita o
princípio da boa-fé vigente no direito internacional (o pacta sunt servanda), e
que tem como reflexo o art. 27 da Convenção de Viena, segundo o qual não
cabe ao Estado invocar disposições de seu direito interno como justificativa
para o não-cumprimento de tratado.
À luz do art. 102, III, b, da Constituição Federal de 1988 , uma tendência
da doutrina brasileira, contudo, passou a acolher a concepção de que os
tratados internacionais e as leis federais apresentavam a mesma hierarquia
jurídica, sendo, portanto, aplicável o princípio “lei posterior revoga lei anterior
que seja com ela incompatível”. Essa concepção não apenas compromete o
princípio da boa-fé, mas constitui afronta à Convenção de Viena sobre o Direito
dos Tratados.
Com efeito, no julgamento do HC 72.131-RJ (22.11.1995), ao enfrentar a
questão concernente ao impacto do Pacto de São José Costa Rica no direito
brasileiro, o STF, em votação não unânime afirmou: “Parece-me irrecusável, no
exame da questão concernente à primazia das normas de direito internacional
público sobre a legislação interna ou doméstica do Estado brasileiro, que não
cabe atribuir, por efeito do que prescreve o art. 5º, parágrafo 2º, da Carta
Política, um inexistente grau hierárquico das convenções internacionais sobre o
direito positivo interno vigente no Brasil, especialmente sobre as prescrições
fundadas em texto constitucional, sob pena de essa interpretação inviabilizar,
com manifesta ofensa à supremacia da Constituição – que expressamente
autoriza a instituição da prisão civil por dívida em duas hipóteses
extraordinárias (CF, art. 5º, LXVII) – o próprio exercício, pelo Congresso
Nacional, de sua típica atividade político-jurídica consistente no desempenho
da função de legislar. (...) A indiscutível supremacia da ordem constitucional
brasileira sobre os tratado internacionais, além de traduzir um imperativo que
decorre de nossa própria Constituição (art. 102, III, b), reflete o sistema que,
com algumas poucas exceções, tem prevalecido no plano do direito
comparado”.
Entretanto, entendemos que conferir hierarquia constitucional aos
tratados de direitos humanos, com a observância do princípio da prevalência
da norma mais favorável, é interpretação que se situa em absoluta
consonância com a ordem constitucional de 1988, bem como com sua
racionalidade e principiologia.
Trata-se de interpretação que está em harmonia com os valores
prestigiados pelo sistema jurídico de 1988, em especial com o valor da
dignidade humana – que é valor fundamente do sistema constitucional.
Esse tratamento jurídico diferenciado, conferido pelo art. 5º, §2º, da Carta
de 1988, justifica-se na medida em que os tratados internacionais de direitos
humanos apresentam um caráter especial, distinguindo-se dos tratados
internacionais comuns – os tratados de direitos humanos objetivam a
salvaguarda dos direitos do ser humano, e nas das prerrogativas dos Estados.
Lecionam André Gonçalves Pereira e Fausto de Quadros que “Para doutrina
dominante, todas essas normas (Carta das Nações Unidas, Declaração
Universal dos Direitos do Homem, Pactos Internacionais aprovados pelas
Nações Unidas) e todos esses princípios fazem hoje parte do jus cogens
internacional, que constitui Direito imperativo para os Estados”. Seguem
dizendo que “um dos traços mais marcantes da evolução do Direito
Internacional contemporâneo foi, sem dúvida, a consagração definitiva do jus
cogens no topo da hierarquia das fontes do Direito internacional, como uma
„supra-legalidade internacional‟”. Tendo em vista que os direitos humanos mais
essenciais são considerados parte do jus cogens, é razoável admitir a
hierarquia especial e privilegiada dos tratados internacionais de direitos
humanos em relação aos demais tratados internacionais.
Ao lado da corrente que defende a natureza constitucional e outra que
defende status paritário à lei federal dos tratados internacionais de direitos
humanos, há outra no sentido de lhes conferir hierarquia supraconstitucional, e
outra defendendo a natureza supralegal. Vejamos:
Em síntese, há quatro correntes acerca da hierarquia dos tratados de
proteção dos direitos humanos, que sustentam: a) a hierarquia
supraconstitucional de tais tratados; b) a hierarquia constitucional; c) a
hierarquia infraconstitucional, mas supralegal e d) a paridade hierárquica entre
tratado e lei federal.
No sentido de responder à polêmica doutrinária e jurisprudencial
concernente à hierarquia dos tratados internacionais de proteção dos direitos
humanos, a Emenda Constitucional n. 45, de 8 de dezembro de 2004,
introduziu um §3º no art. 5º, dispondo: “Os tratados e convenções
internacionais sobre direitos humanos que forem aprovados, em cada Casa do
Congresso Nacional, em dois turnos, por três quintos dos votos dos respectivos
membros, serão equivalentes às emendas à Constituição”.
Desde logo há que se afastar o entendimento segundo o qual, em face do
§ 3º do art. 5º, da CF, todos os tratados de direitos humanos já ratificados
seriam recepcionados como norma constitucional, pois não teriam obtido o
quorum qualificado de três quintos, demandado pelo aludido parágrafo.
Reitere-se que, por força do art. 5º, §2º, todos os tratados de direitos
humanos, independentemente do quorum de sua aprovação, são
materialmente constitucionais, compondo o bloco de constitucionalidade. O
quorum qualificado está tão-somente a reforçar tal natureza, ao adicionar um
lastro formalmente constitucional aos tratados ratificados, propiciando a
“constitucionalização formal” dos tratados de direitos humanos no âmbito
jurídico interno.
Ademais, como realça Celso Lafer, “o novo parágrafo 3º do art. 5º pode
ser considerado como uma lei interpretativa destinada a encerrar as
controvérsias jurisprudenciais e doutrinárias suscitadas pelo parágrafo 2º do
art. 5º. De acordo com a opinião doutrinária tradicional, uma lei interpretativa
nada mais faz do que declarar o que pré-existe, ao clarificar a lei existente”.
Uma vez mais, corrobora-se o entendimento de que os tratados internacionais
de direitos humanos ratificados anteriormente ao mencionado parágrafo, ou
seja, anteriormente à Emenda Constitucional n. 45/2004, têm hierarquia
constitucional, situando-se como normas material e formalmente
constitucionais. Esse entendimento decorre de quatro argumentos: a) a
interpretação sistemática da Constituição, de forma a dialogar os §§ 2º e 3º do
art. 5º, já que o último não revogou o primeiro, mas deve, ao revés, ser
interpretado à luz do sistema constitucional; b) a lógica e racionalidade material
que devem orientar a hermenêutica dos direitos humanos; c) a necessidade de
evitar interpretações que apontem a agudos anacronismos da ordem jurídica; e
d) a teoria geral da recepção do direito brasileiro.
Se os tratados de direitos humanos ratificados anteriormente à Emenda n.
45/2004, por força dos §§ 2º e 3º do art. 5º da Constituição, são normas
material e formalmente constitucionais, com relação aos novos tratados de
direitos humanos a serem ratificados, por força do §2º do mesmo art. 5º,
independentemente de seu quorum de aprovação, serão normas materialmente
constitucionais. Contudo, para converterem-se em normas também
formalmente constitucionais deverão percorrer o procedimento demandado
pelo § 3º. No mesmo sentido, afirma Celso Lafer: “Com a vigência da Emenda
Constitucional n. 45, de 08 de dezembro de 2004, os tratados internacionais a
que o Brasil venha a aderir, para serem recepcionados formalmente como
normas constitucionais, devem obedecer ao iter previsto no novo parágrafo 3º
do art. 5º”.
Vale dizer, com o advento do § 3º do art. 5º surgem duas categorias de
tratados internacionais de proteção de direitos humanos: a) os materialmente
constitucionais; e b) os material e formalmente constitucionais. Frise-se: todos
os tratados internacionais de direitos humanos são materialmente
constitucionais, por força do §2º do art. 5º. Para além de serem materialmente
constitucionais, poderão, a partir do §3º do mesmo dispositivo, acrescer a
qualidade de formalmente constitucionais, equiparando-se às emendas à
Constituição, no âmbito formal.
É importante realçar a diversidade de regimes jurídicos que se aplica aos
tratados apenas materialmente constitucionais e aos tratados que, além de
materialmente constitucionais, também são formalmente constitucionais. A
diferença entre esses tratados materialmente e formalmente constitucionais
está na denúncia.
A denúncia é ato unilateral pelo qual o Estado se retira de um tratado.
Enquanto os tratados materialmente constitucionais podem ser suscetíveis de
denúncia, os tratados material e formalmente constitucionais, por sua vez, não
podem ser denunciados.
Se admitindo a natureza constitucional de todos os Tratados de Direitos
Humanos, por isso os direitos constantes nestes tratados, como os direitos e
garantias individuais consagrados na CF, constituem cláusula pétrea e não
podem ser abolidos por emenda à Constituição, nos termos do art. 60, § 4º.
Entretanto, embora sejam alcançados pela cláusula pétrea, não sendo
eliminados via emenda constitucional, os tratados internacionais de Direitos
Humanos materialmente constitucionais são suscetíveis de denúncia por parte
do Estado signatário. Com efeito, os Tratados Internacionais de Direitos
Humanos estabelecem regras específicas concernentes à possibilidade de
denúncia. Os direitos internacionais apresentam, assim, uma natureza
constitucional diferenciada.

c) A incorporação dos tratados internacionais de Direitos Humanos.

O princípio da aplicabilidade imediata dos direitos e garantias


fundamentais é assegurado no §1º do artigo 5º. Ora, se as normas definidoras
dos direitos e garantias fundamentais demandam aplicação imediata e se, por
sua vez, os tratados internacionais de Direitos Humanos têm por objeto
justamente a definição de direitos e garantias, conclui-se que tais normas
merecem aplicação imediata. Portanto, possível a invocação imediata de
tratados e convenções de Direitos Humanos, dos quais o Brasil seja signatário,
sem necessidade de edição de ato com força de lei, voltado à outorga de
vigência interna aos acordos internacionais.
A incorporação automática do direito internacional dos direitos humanos
permite ao particular a invocação direta dos direitos e liberdades
internacionalmente assegurados e proíbe condutas e atos violadores a esses
mesmos direitos, sob pena de invalidação.
Este é o entendimento de Flávia Piovesan, sustentando, portanto, a
aplicabilidade imediata dos tratados internacionais de Direitos Humanos, nos
termos da Carta Constitucional.
Com efeito, para a referida autora, na incorporação dos tratados
internacionais o Brasil adota um sistema misto:
1) Nos tratados internacionais de Direitos Humanos – há a incorporação
automática (Art. 5º, §1º, CF). Estes tratados incorporam-se de imediato ao
direito nacional em virtude do ato de ratificação.
2) Aos demais tratados internacionais se aplica a sistemática da
incorporação legislativa, por exigir um ato normativo para tornar o ato
obrigatório na ordem interna. Dessa forma os tratados que não versem sobre
Direitos Humanos não são incorporados de plano pelo direito nacional; ao
contrário, dependem de legislação que os implementem, diversa do ato de
ratificação.
Esse sistema misto é chamado de cláusula geral de recepção semiplena.
O princípio da aplicabilidade imediata identifica-se com a teoria monista,
através da qual o direito interno e o internacional compõe uma mesma unidade,
uma única ordem jurídica.
Entretanto, segundo a doutrina majoritária o Brasil adota a teoria dualista
(com duas ordens jurídicas diversas – a interna e a internacional), nesse
sentido Celso Bastos e Ives Gandra Martins. Para esse posicionamento
existem duas ordens jurídicas distintas, a internacional e a interna, pela qual
aquela só vigorará na ordem interna se e na medida em que cada norma
internacional for transformada em direito interno, inclusive em relação aos
tratados de direitos humanos.
Até o momento esse é o entendimento da jurisprudência do STF, a qual
tem exigido a expedição de um decreto como ato culminante no processo de
incorporação dos tratados, por assegurar a promulgação do tratado
internamente, garantir o princípio da publicidade e conferir executoriedade ao
texto do tratado ratificado, que passa, então, a vincular e a obrigar no plano do
direito positivo interno.
Portanto, para o Supremo e grande parte da doutrina, os tratados
internacionais apresentam status infraconstitucional (mas supralegal) e
aplicação não imediata (teoria dualista). Essa incorporação é feita em 04
etapas:
1) celebração, que é a assinatura do tratado pelo Presidente da República.
2) ratificação, que é a aprovação do tratado pelo Congresso Nacional, por meio
de decreto legislativo (quorum de aprovação da maioria simples).
3) troca (entre dois países) ou depósito (pacto multilateral) dos instrumentos de
ratificação.
4) promulgação do tratado por decreto regulamentar do Presidente da
República. Aqui há a incorporação ao direito interno.
Não obstante exista esse entendimento, a Constituição Federal assegura
a incorporação instantânea dos tratados internacionais de Direitos Humanos
ratificados pelo Brasil, irradiando efeitos e assegurando direitos direta e
imediatamente exigíveis no ordenamento interno.

- Status dos Tratados Internacionais:

a. Emenda Constitucional
b. Caráter Supralegal
c. Lei Ordinária

Recepção de Tratado Internacional

1ª Fase: Assinatura do Presidente (Chefe de Estado)

“CF, Art. 84, Compete privativamente ao Presidente da República: (...)


VIII - celebrar tratados, convenções e atos internacionais, sujeitos a referendo
do Congresso Nacional;”

2ª Fase: Referendo do Congresso Nacional (Decreto Legislativo)

“CF, Art. 49. É da competência exclusiva do Congresso Nacional:


I - resolver definitivamente sobre tratados, acordos ou atos
internacionais que acarretem encargos ou compromissos gravosos ao
patrimônio nacional;”
Dualismo Mitigado ou Abrandado: A CF não obriga que Tratado Internacional
seja recepcionado somente através de lei.

3ª Fase: Promulgação do Tratado

Decreto Presidencial

STF: Tratados Internacionais sobre Direitos Humanos anteriores à EC 45/04


NORMA SUPRALEGAL
-
Costa Rica)

EXEMPLO: DEPOSITÁRIO INFIEL


CF, Art. 5º, LXVII - não haverá prisão civil por dívida, salvo a do responsável
pelo inadimplemento voluntário e inescusável de obrigação alimentícia e a do
depositário infiel;

SÚMULA VINCULANTE 25: É ilícita a PRISÃO CIVIL DE DEPOSITÁRIO


INFIEL, qualquer que seja a modalidade do depósito.

12 Aplicações da perspectiva sociológica a temas e problemas


contemporâneos da sociedade brasileira: a questão da igualdade jurídica
e dos direitos de cidadania, o pluralismo jurídico, acesso à justiça.

O Direito de Cidadania é a prerrogativa que tem o indivíduo de participar


da tomada de decisão política do Estado (exemplos: direito de votar, de
participar de plebiscito, de ingressar com uma ação popular etc.).
No sentido etimológico da palavra, cidadão deriva da palavra civita, que
em latim significa cidade, e que tem seu correlato grego na palavra politikos –
aquele que habita na cidade.
No sentido ateniense do termo, cidadania é o direito da pessoa em
participar das decisões nos destinos da Cidade através da Ekklesia (reunião
dos chamados de dentro para fora) na Ágora (praça pública, onde se
agonizava para deliberar sobre decisões de comum acordo). Dentro desta
concepção surge a democracia grega, onde somente 10% da população
determinava os destinos de toda a Cidade (eram excluídos os escravos,
mulheres e artesãos).
A palavra cidadania foi usada na Roma antiga para indicar a situação
política de uma pessoa e os direitos que essa pessoa tinha ou podia exercer.
A idéia de cidadania surgiu na Idade Antiga, após a Roma conquistar a
Grécia (séc. V d.C.), se expandindo para o resto da Europa. Apenas homens
(de maior) e proprietários de terras (desde que não fossem estrangeiros), eram
cidadãos. Diminuindo assim a idéia de cidadania, já que mulheres, crianças,
estrangeiros e escravos não eram considerados cidadãos.
Na Idade Média (2a era - séc. V até XV d.C.), surgiram na Europa, os
feudos (ou fortalezas particulares). A idéia de cidadania se acaba, pois os
proprietários dos feudos passaram a mandar em tudo, e os servos que
habitavam os feudos não podiam participar de nada.
Após a Idade Média, terminaram-se as invasões Bárbaras, terminando-se
também os feudos, entrando assim, em uma grande crise. Os feudos se
decompõem, formando cidades e depois países (Os Estados Nacionais). Entra
a 3a era (Idade Moderna - séc XV ao XVIII d.C). Os países formados após o
desaparecimento dos feudos foram em conseqüência da união de dois grupos:
o Rei e a Burguesia.
O Rei mandava em tudo e tinha um grande poder, graças aos impostos
que recebia. Com todo esse dinheiro nas mãos, o rei construía exércitos cada
vez mais fortes, além de dar apoio político à Burguesia.
Em conseqüência dessa união, a Burguesia ficava cada vez mais rica e
era ela quem dava apoio econômico aos Reis (através dos impostos). Com o
tempo, o Rei começou a atrapalhar a Burguesia, pois ele usava o poder para
"sacaneála". A Burguesia ficava cada vez mais rica e independente, vendo o
Rei como um perigo e um obstáculo ao seu progresso. Para acabar com o
Absolutismo (poder total do Rei), foram realizadas cinco grandes revoluções
burguesas:
� Revolução Industrial;
� Iluminismo (Revolução Filosófica);
� Revolução Francesa (A maior de todas);
� Independência dos Estados Unidos;
� Revolução Inglesa.

Todas essas cinco revoluções tinham o mesmo objetivo: tirar o Rei do


poder. Com o fim do Absolutismo, entra a Idade Contemporânea (séc. XVIII até
os dias de hoje), surgindo um novo tipo de Estado, o Estado de Direito, que é
uma grande característica do modelo atual. A principal característica do Estado
de Direito é: "Todos tem direitos iguais perante a constituição", percebendo
assim, uma grande mudança no conceito de cidadania.
Por um lado, trata-se do mais avançado processo que a humanidade já
conheceu, por outro lado, porém, surge o processo de exploração e dominação
do capital. A burguesia precisava do povo e o convencia de que todos estavam
contra o Rei e lutando pela igualdade, surgindo assim, as primeiras
constituições (Estado feito a serviço da Burguesia).
Acontece a grande contradição: cidadania X capitalismo. Cidadania é a
participação de todos em busca de benefícios sociais e igualdade. Mas a
sociedade capitalista se alimenta da pobreza. No capitalismo, a grande maioria
não pode ter muito dinheiro, afinal, ser capitalista é ser um grande empresário
(por exemplo). Se todos fossem capitalistas, o capitalismo acabaria, ninguém
mais ia trabalhar, pois não existiriam mais operários (por exemplo).
Começaram a ocorrer greves (pressão) contra os capitalistas por parte dos
trabalhadores, que visavam uma vida melhor e sem exploração no trabalho.
Da função de político, o homem passa para a função de consumidor, o
que é alimentado de forma acentuada pela mídia. O homem que consome
satisfaz as necessidades que outros impõem como necessárias para sua
sobrevivência. Isso se mantém até os dias de hoje (idéia de consumo).
Para mudar essas idéias, as pessoas devem criar seus próprios conceitos
e a escola aparece como um fator fundamental. No Brasil, estamos gestando a
nossa cidadania. Damos passos importantes com o processo de
redemocratização e a Constituição de 1988. Mas, muito temos que andar.
Os direitos que temos não nos foram conferidos, mas conquistados.
Muitas vezes compreendemos os direitos como uma concessão, um favor de
quem está em cima para os que estão em baixo. Contudo, a cidadania não nos
é dada, ela é construída e conquistada a partir da nossa capacidade de
organização, participação e intervenção social.
A cidadania não surge do nada como um toque de mágica, nem tão
pouco a simples conquista legal de alguns direitos significa a realização destes
direitos. E necessário que o cidadão participe, seja ativo, faça valer os seus
direitos. Simplesmente porque existe o Código do Consumidor,
automaticamente deixarão de existir os desrespeitos aos direitos do
consumidor ou então estes direitos se tornarão efetivos? Não! Se o cidadão
não se apropriar desses direitos fazendo-os valer, esses serão letra morta,
ficarão só no papel.
Construir cidadania é também construir novas relações e consciências. A
cidadania é algo que não se aprende com os livros, mas com a convivência, na
vida social e pública. E no convívio do dia-a-dia que exercitamos a nossa
cidadania, através das relações que estabelecemos com os outros, com a
coisa pública e o próprio meio ambiente. A cidadania deve ser perpassada por
temáticas como a solidariedade, a democracia, os direitos humanos, a
ecologia, a ética.
A cidadania é tarefa que não termina. A cidadania não é como um dever
de casa, onde faço a minha parte, apresento e pronto, acabou. Enquanto seres
inacabados que somos, sempre estaremos buscando, descobrindo, criando e
tomando consciência mais ampla dos direitos.
Nunca poderemos chegar e entregar a tarefa pronta, pois novos desafios
na vida social surgirão, demandando novas conquistas e, portanto, mais
cidadania.

QUESTÕES DE CONCURSO

CESPE – PRF – 2009

A ética é uma característica inerente a toda ação humana e, por essa razão, é
um elemento essencial na produção da realidade social. Com relação à ética e
à postura profissional do servidor público, julgue os itens seguintes.
01 A moralidade, no serviço público, está relacionada à obediência
incondicional do servidor aos superiores hierárquicos.

02 A sensibilidade moral é requisito essencial para o exercício das funções do


servidor público.

03 O servidor representa o Estado e, por tal motivo, deve agir de forma a limitar
o direito público em benefício do interesse particular.

04 A impessoalidade está relacionada ao fato de o cargo ocupado pelo servidor


pertencer ao Estado para o cumprimento de sua missão de servir.
05 A prestação de serviço público deve ser compreendida como as ações do
servidor desprendidas de recompensa unicamente pecuniária, motivadas por
uma visão complexa da instituição e de sua participação nela.

Inspetor da Polícia Civil – 2012

Acerca da teoria geral dos direitos humanos e da dignidade da pessoa


humana, julgue os itens a seguir.
06 A dignidade da pessoa humana é um fundamento da República Federativa
do Brasil.

07 O direito internacional dos direitos humanos, fenômeno que antecedeu à


Primeira Guerra Mundial, pode ser conceituado como uma construção
consciente vocacionada a assegurar a dignidade humana.

A respeito da Declaração Universal de Direitos Humanos (DUDH), julgue os


itens que se seguem.
08 Toda pessoa tem direito à liberdade de opinião e expressão. Esse direito
inclui a liberdade de, sem interferência, ter opiniões e de procurar, receber e
transmitir informações e ideias por quaisquer meios e independentemente de
fronteiras.

09 Segundo a DUDH, ninguém poderá ser culpado por ação ou omissão que,
no momento da sua prática, não constituía delito perante o direito nacional ou
internacional.

10 Toda pessoa vítima de perseguição tem o direito de procurar e de gozar


asilo em outros países, mesmo em caso de perseguição legitimamente
motivada por crime de direito comum ou por ato contrário aos propósitos e
princípios das Nações Unidas.

Julgue os próximos itens, relativos à Convenção Internacional sobre a


Eliminação de Todas as Formas de Discriminação Racial.
11 Serão consideradas discriminação racial as medidas especiais tomadas
com o único objetivo de assegurar o progresso adequado de certos grupos
raciais ou étnicos, ainda que tais medidas não conduzam, em consequência, à
manutenção de direitos separados para diferentes grupos raciais.

12 Essa convenção aplica-se em âmbito universal à proteção aos direitos à


igualdade, proibindo, entre outras, distinções, exclusões, restrições e
preferências feitas por um Estado entre cidadãos e não cidadãos.

13 Discriminação racial é toda distinção, exclusão, restrição ou preferência


baseada em raça, cor, descendência ou origem nacional ou étnica que tenha
por objeto ou resultado anular ou restringir o reconhecimento, gozo ou
exercício em um mesmo plano (em igualdade de condição) de direitos
humanos e liberdades fundamentais nos campos político, econômico, social,
cultural ou em qualquer outro campo da vida pública.
A respeito da Convenção contra a Tortura e outros Tratamentos ou Penas
Cruéis, Desumanos ou Degradantes, julgue os itens seguintes.
14 Nenhum país procederá à expulsão, devolução ou extradição de pessoa
para outro Estado quando houver razões substanciais para crer que essa
pessoa corre perigo de ali ser submetida a tortura.

15 Tortura é qualquer ato pelo qual dores ou sofrimentos agudos são infligidos
à pessoa a fim de se obterem informações ou confissões, ainda que tais dores
ou sofrimentos sejam consequências unicamente de sanções legítimas.

CESPE – TJ RR – 2012

A Declaração Universal de Direitos Humanos


16 reconhece o princípio da unicidade sindical.

17 foi adotada após a 2.ª Guerra Mundial pela Assembleia Geral das Nações
Unidas.

18 não dispõe expressamente sobre o direito ao casamento, mas assegura-o


indiretamente ao proteger a família.

19 garante expressamente a gratuidade da educação fundamental.

20 reconhece expressamente que todos têm deveres para com a comunidade


de que participam.

CESPE – AGU – 2012

No que concerne aos direitos humanos no âmbito do direito internacional,


julgue os itens que se seguem.
21 De acordo com a Corte Internacional de Justiça, as disposições da
Declaração Universal dos Direitos Humanos, de caráter costumeiro,
estabelecem obrigações erga omnes.

22 Na sentença do caso Gomes Lund versus Brasil, a Corte Interamericana de


Direitos Humanos estabeleceu que o dever de investigar e punir os
responsáveis pela prática de desaparecimentos forçados possui caráter de jus
cogens.

23 Em casos que envolvam a prática de tortura sistemática, a Convenção


Americana de Direitos Humanos permite o acesso direto do indivíduo à Corte
Interamericana de Direitos Humanos.

Julgue os itens referentes a solução pacífica de controvérsias, direito


internacional do mar, segurança internacional coletiva e manutenção da paz.
24 De acordo com a Convenção das Nações Unidas sobre Direito do Mar,
baixios a descoberto que se encontrem, parcialmente, a uma distância do
continente que não exceda a largura do mar territorial podem ser utilizados
como parâmetro para medir a largura do mar territorial.
25 Em 2011, o órgão de solução de controvérsias da Organização Mundial do
Comércio estabeleceu a ação de reenvio prejudicial, de modo que a Corte
Internacional de Justiça pudesse decidir sobre a competência do órgão para
julgamento de questões de direitos humanos relacionadas ao comércio
internacional.

26 O Tratado sobre a Não Proliferação de Armas Nucleares estabelece a


prevalência de seus dispositivos sobre quaisquer tratados regionais, de forma a
assegurar a ausência total de armas nucleares nos territórios dos Estados
signatários.

CESPE – DPU – 2010

No que concerne ao sistema interamericano de direitos humanos, julgue os


itens que se seguem.
27 Embora sem competência contenciosa, de caráter jurisdicional, a Corte
Interamericana de Direitos Humanos tem competência consultiva, relativa à
interpretação das disposições da Convenção Americana e das disposições de
tratados concernentes à proteção dos direitos humanos.

Com relação à proteção internacional dos direitos humanos, julgue os itens a


seguir.
28 A Declaração Universal dos Direitos Humanos, de 1948, apesar de ter
natureza de resolução, não apresenta instrumentos ou órgãos próprios
destinados a tornar compulsória sua aplicação.

29 Entre os diversos órgãos especializados que tratam da proteção dos direitos


humanos, inclui-se a Corte Internacional de Justiça, órgão das Nações Unidas
cuja competência alcança não só os Estados, mas também quaisquer pessoas
físicas e jurídicas, as quais podem encaminhar suas demandas diretamente à
Corte.

30 Os direitos humanos são indivisíveis, como expresso na Declaração


Universal dos Direitos Humanos, a qual englobou os direitos civis, políticos,
econômicos, sociais e culturais.

No que concerne ao sistema interamericano de direitos humanos, julgue os


itens que se seguem.

31 Qualquer pessoa ou grupo de pessoas, ou entidade não governamental


legalmente reconhecida em um ou mais Estados-membros da Organização dos
Estados Americanos (OEA) podem apresentar à Comissão Interamericana de
Direitos Humanos petições que contenham denúncias ou queixas de violação à
Convenção Americana de Direitos Humanos por um Estado-parte.

32 Embora sem competência contenciosa, de caráter jurisdicional, a Corte


Interamericana de Direitos Humanos tem competência consultiva, relativa à
interpretação das disposições da Convenção Americana e das disposições de
tratados concernentes à proteção dos direitos humanos.
33 A nomenclatura Direitos Humanos é frequentemente usada entre os latinos
e angloamericanos, enquanto Direitos Fundamentais é mais apreciada pelos
alemães.

34 Tecnicamente a Declaração Universal dos Direitos do Homem (1948)


constitui uma recomendação.

35 A Constituição Federal, em seu título II, capítulo I, prevê os Direitos e


Garantias Fundamentais e os direitos e deveres individuais e coletivos e, assim
como a Declaração Universal dos Direitos Humanos, são enumerados os
direitos que todos os seres humanos possuem ninguém será submetido à
tortura nem a tratamento ou castigo cruel, desumano ou degradante.

36 Considerando que os Estados-Membros se comprometeram a promover,


em cooperação com as Nações Unidas, o respeito universal aos direitos e
liberdades humanas fundamentais e a observância desses direitos e
liberdades, e que uma compreensão comum desses direitos e liberdades é da
mais alta importância para o pleno cumprimento desse compromisso, pode-se
afirmar que a Declaração Universal dos Direitos Humanos é um dos
documentos básicos das Nações Unidas e foi assinada em 1948. Nela, são
enumerados os direitos que todos os seres humanos possuem.

37 A Declaração Universal dos Direitos Humanos é considerada um acordo,


pois este termo é usado, geralmente, para caracterizar negociações bilaterais
de natureza política, econômica, comercial, cultural, científica e técnica.
Acordos podem ser firmados entre países ou entre um país e uma organização
internacional.

38 A Declaração Universal dos Direitos Humanos é considerada um tratado já


que tratados são atos bilaterais ou multilaterais aos quais se deseja atribuir
especial relevância política.

39 A Declaração Universal dos Direitos Humanos é uma convenção, pois essa


palavra costuma ser empregada para designar atos multilaterais, oriundos de
conferências internacionais e que abordem assunto de interesse geral.

40 A Declaração Universal dos Direitos Humanos é um protocolo e se designa


a acordos menos formais que os tratados. O termo é utilizado, ainda, para
designar a ata final de uma conferência internacional.

41 A Assembléia Geral proclamou a Declaração Universal dos Direitos


Humanos como o ideal comum a ser atingido por todos os povos e todas as
nações, com o objetivo de que cada indivíduo e cada órgão da sociedade,
tendo sempre em mente esta Declaração, se esforcem, através do ensino e da
educação, por promover o respeito a esses direitos e liberdades, e, pela
adoção de medidas progressivas de caráter nacional e internacional, por
assegurar o seu reconhecimento e a sua observância universal e efetiva, tanto
entre os povos dos próprios Estados-Membros, quanto entre os povos dos
territórios sob sua jurisdição. Assim, conforme proclamou a Declaração
Universal dos Direitos Humanos, todo ser humano tem capacidade para gozar
os direitos e as liberdades estabelecidos nesta Declaração, sem distinção de
qualquer espécie, seja de raça, cor, sexo, idioma, religião, opinião política ou
de outra natureza, origem nacional ou social, riqueza, nascimento, com
algumas restrições.

42 A lei poderá fazer distinção fundada na condição política, jurídica ou


internacional do país ou território a que pertença uma pessoa, quer se trate de
um território independente, sob tutela, sem governo próprio, quer sujeito a
qualquer outra limitação de soberania.

43 A Declaração Universal dos Direitos Humanos preconiza em seu art. XIII


que todo ser humano tem direito à liberdade de locomoção e residência dentro
das fronteiras de cada Estado e que todo ser humano tem o direito de deixar
qualquer país, inclusive o próprio, e a este regressar. Quanto ao asilo político
previsto nesta declaração é correto afirmar que deverá promover o bem de
todos, sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras
formas de discriminação.

44 O PNDH-I, de 1996 enfatizou os direitos civis e políticos, enquanto o PNDH-


II incorporou os direitos econômicos, sociais, culturais e ambientais, em 2002.

45 Entre os temas abordados pelo PNDH-3 temos o direito à Memória e à


Verdade, como componente fundamental na construção da identidade social e
cultural de um povo e na formulação de pactos que assegurem a não-repetição
de violações de Direitos Humanos.

46 Entre as vertentes da proteção internacional da pessoa humana temos os


direitos humanos, o direito humanitário e o direito dos escravos, todos
reconhecidos pelos organismos internacionais.

Quanto ao processo de formação dos tratados internacionais, analise as


assertivas abaixo.
47 O processo de formação dos tratados tem início com os atos de negociação,
conclusão e assinatura do tratado, que são da competência do órgão do Poder
Executivo. A assinatura do tratado, por si só, traduz o aceite definitivo de suas
cláusulas.

48 Uma vez assinado o tratado pelo chefe do Poder Executivo, cabe ao


Congresso Nacional aprova-lo, sem a necessidade de qualquer ratificação por
parte do Presidente da República, por se tratar de competência exclusiva do
Legislativo.

49 A ratificação do tratado internacional consiste no ato jurídico que irradia


necessariamente efeitos no plano internacional, sendo o processo de
confirmação formal por um Estado de que está obrigado ao tratado.

50 Os tratados internacionais de direitos humanos que foram aprovados antes


do advento da EC nº 45/04 possuem status de norma supralegal, razão pela
qual está proibida a prisão civil do depositário infiel, embora o preceito
mantenha-se presente na CF/88.
GABARITO:

01 02 03 04 05 06 07 08 09 10
E C E C C C E C C E
11 12 13 14 15 16 17 18 19 20
E E C C E E E C E C
21 22 23 24 25 26 27 28 29 30
E C E C E E E C E C
31 32 33 34 35 36 37 38 39 40
C E C C C C E E E E
41 42 43 44 45 46 47 48 49 50
C C C C C E E E C C

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