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Domingos Faria
[Argumento 1]
P1 – Se Deus existe, então não pode existir mal no mundo.
P2 – Ora, existe mal no mundo.
C – Logo, Deus não existe.
[Argumento 2]
P1 – Se não houver Deus, a vida deixa de ter sentido.
P2 – Mas, a vida tem sentido.
C – Logo, Deus existe.
É fácil ver o que difere estes dois argumentos: um tenta provar que Deus não existe e o
outro tentar provar o contrário. Mas, o que há de comum nestes dois argumentos? Na
lógica proposicional ignora-se o conteúdo específico e atende-se às operações lógicas
existentes. Cada proposição elementar que constitui os argumentos é representada
pelas letras P, Q, R e sucessivamente que se chamam variáveis proposicionais. Por
exemplo, no argumento 1 o P representa a proposição elementar “Deus existe” e o Q
representa “a não existência de mal no mundo”. Já no argumento 2 o P representa “Deus
não existe” e o Q representa “a vida não tem sentido”. Esta tarefa é designada de
dicionário. Agora tendo em conta o dicionário e se abstrairmos o conteúdo dos
argumentos 1 e 2, constataremos que eles partilham a mesma forma lógica: se P, então
Q; não Q; Logo, não P. Nesta forma argumentativa encontramos dois operadores
verofuncionais ou conectivas proposicionais, que são o “se… então” e o “não”. É
importante saber que na lógica proposicional clássica existem várias conectivas
proposicionais com os seus respetivos símbolos lógicos:
“Não” – negação, símbolo: ¬
“E” – conjunção, símbolo: ∧
“Ou” – disjunção, símbolo: ∨
“Ou…ou” – disjunção exclusiva, símbolo: ⊻
“Se…então” – condicional, símbolo: →
“Se e só se” – bicondicional, símbolo: ↔
Além destes símbolos pode-se utilizar o martelo semântico ╞ ou o símbolo de conclusão
∴ para substituir o “logo” ou o indicador de conclusão; e as várias proposições são
separadas por vírgulas (,). Atendendo a isto, pode-se escrever os argumentos 1 e 2 na
linguagem da lógica proposicional clássica da seguinte forma:
P→Q, ¬Q ╞ ¬P
Mas será esta uma forma lógica válida? Para isso temos primeiro de ver as funções de
verdade expressas por cada conectiva proposicional:
Negação: inverte o valor de verdade.
Conjunção: só é verdadeira se as proposições elementares que a
compõem forem ambas verdadeiras.
Disjunção: só é falsa se as proposições elementares que a compõem
forem ambas falsas.
Disjunção exclusiva: só é verdadeira quando uma proposição
elementar é verdadeira e a outra falsa.
Condicional: só é falsa se a antecedente for verdadeira e a consequente
for falsa.
Bicondicional: só é verdadeira se os seus dois lados tiverem o mesmo
valor de verdade.
Com estes princípios podem-se formar as tabelas de verdade que representam as várias
conectivas proposicionais:
Tendo em conta estas tabelas de verdade já conseguimos examinar a validade dos
argumentos 1 e 2. Para isso construímos um inspetor de circunstâncias, ou seja um
dispositivo gráfico com uma sequência de tabelas de verdade que mostra o valor de
verdade de cada premissa e da conclusão em todas as circunstâncias possíveis. Se existir
pelo menos uma circunstância em que todas as premissas são verdadeiras e a conclusão
é falsa, então o argumento é inválido. Caso contrário, o argumento é válido. Então, serão
válidos ou inválidos os argumentos 1 e 2?
de variáveis). Assim, se “n”=2, ficamos com 4 linhas (2x2); se “n”=3, então ficamos com
8 linhas (2x2x2); se “n”=4, ficamos com 16 linhas (2x2x2x2); se “n”=5, ficamos com 32
linhas (2x2x2x2x2); e assim sucessivamente… Com esta informação já se pode construir
adequadamente o inspetor de circunstâncias:
Quinto, por último resta fazer a análise do inspetor de circunstância para determinar se
o argumento é válido ou inválido. O argumento que se está a examinar é válido, pois
não existe qualquer circunstância (linha) em que todas as premissas sejam verdadeiras
e a conclusão falsa.