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O ANTIGO TESTAMENTO
Na lição de hoje falarei a respeito dos textos usados como base para as traduções
do Antigo Testamento. Inicialmente é preciso dizer que não temos textos
originais escritos, por exemplo, pelo profeta Isaías, pelos diversos autores dos
Salmos ou pelo autor do livro de Reis. Infelizmente tais escritos não foram
preservados. O que temos são cópias, escritas em hebraico, em grego e outros
idiomas, como o latim. Está desapontado? Calma, não há razões para isso!
É importante compreender que naquele tempo os textos eram escritos à mão,
em materiais como o papiro, o couro, a cerâmica ou em metal. O papiro, feito do
caule de uma planta, é frágil, com durabilidade curta. Os textos preservados em
couro podem durar bastante, como os Manuscritos do Mar Morto, uma série de
escritos encontrados nas imediações do Mar Morto a partir de 1947. mais antigo
de que dispomos – escrito em prata - vem dos anos 700 a 600 antes de Cristo,
período em que são situados os governos dos reis Ezequias e Josias.
O objeto, um amuleto usado no pescoço, foi usado por um judeu que acreditava
no poder mágico e protetor do texto sagrado (é mais ou menos como o que
muita gente faz hoje com o Salmo 91). Conhecido como amuleto de Ketef
Hinnon, o artefato tem esse nome porque foi encontrado em uma câmara
funerária no vale de Hinnon, em Jerusalém. Ele contém as bênçãos sacerdotais
de Nm 6,24-26:
Sem dúvida uma descoberta surpreendente, você não acha? Em segundo lugar
no quesito antiguidade, aparece o papiro de Nash, encontrado em 1902 no Egito
e datado para a metade do século II a.C. Ele contém os dez mandamentos = Ex
20,2-17 /Dt 5,6-21 e um texto muito estimado pelos judeus, presente em Dt 6,4-
5. Você pode consultar o manuscrito online acessando o site da Biblioteca
Digital da Universidade de Cambridge (o link será inserido no final do texto).
Bem, por hoje é só. Na semana que vem falarei sobre os manuscritos do Novo
Testamento.
Links:
Um vídeo, em inglês, mostrando o amuleto de Ketef Hinnon e a gruta na qual foi
encontrado: https://cudl.lib.cam.ac.uk/view/MS-OR-00233/1
O NOVO TESTAMENTO
Quando Paulo usa a expressão “toda a Escritura” (1Tm 3,16,) está se referindo
ao Antigo Testamento (como em 5,18, citando Dt 25,4). O termo “Escritura”,
usado por ele, não se refere a todo o Novo Testamento por uma razão muito
simples: o Apocalipse, por exemplo, foi escrito pelo menos trinta anos após sua
morte. Além do mais, a definição dos livros que compõem o nosso atual Novo
Testamento só ocorreu no século IV. Talvez você esteja se perguntando a
respeito dos textos originais produzidos discípulos de Jesus. Bem, assim como
no caso do Antigo testamento, não temos documentos originais. Mas dispomos
de cópias bem antigas.
Além dos fragmentos de papiro e citações antigas feitas pelos primeiros cristãos,
os mais antigos códices (folhas de couro encadernadas como um livro) do Novo
Testamento são o Códice Sinaítico (contém o Novo Testamento inteiro) e
o Códice Vaticano (faltam algumas cartas paulinas e o Apocalipse), ambos
do século IV d.C. e descobertos somente no século XIX. Antes dessa grande
descoberta, os textos do Novo Testamento das nossas Bíblias vinham de outros
manuscritos, menos confiáveis.
Simplificando bastante, é possível dizer que há dois grandes grupos de
manuscritos do Novo Testamento: o primeiro, datado para o fim da era
medieval (1200-1300 d.C.), foi usado, por exemplo, por Lutero, e é ainda hoje
utilizado como base para as traduções de Bíblias como a Almeida Corrigida e
Fiel (ACF) e a King James. O segundo, descoberto no século XIX e datado para o
século IV d.C., é usado em versões como a NVI, a Almeida Revista e Atualizada e
a Bíblia de Jerusalém. Isso explica pequenas diferenças entre as Bíblias que
usam como fonte para suas traduções os manuscritos medievais e as que
utilizam os manuscritos mais antigos.
Uma das mais frequentes críticas às traduções que usam como fonte os
manuscritos mais antigos, como NVI ou a Almeida Revista e Atualizada (ARA),
é a colocação entre colchetes de dois versos que aparecem em 1 Jo 5,7-8 (o
colchete indica que estão sob suspeita). O texto é colocado entre colchetes
porque não aparece nos manuscritos mais antigos. Tal atitude provocou muita
inquietação no meio cristão, pois foi levantada a hipótese de que a verdadeira
intenção dos responsáveis por essas versões é negar a doutrina da
trindade. Será?
O mais provável mesmo é que esse texto tenha sido acrescentado mais tarde ao
texto original. Mas você não precisa se preocupar: de modo geral os teólogos
preferem usar outros textos para defender a doutrina da trindade (veja p. ex. Mt
28,19; Jo 1,14; 1Co 8,6; Fp 2,7-10; 1Jo 5,20). Fundamentar uma doutrina
usando apenas versos entre colchetes é algo perigoso, pois não é possível saber
com certeza se faziam parte do texto original.
Agora que você sabe a razão da presença dos colchetes em algumas versões, faça
uma experiência: acesse uma Bíblia online clicando no link abaixo e compare 1
Jo 5,7-8; Mt 17,21; Mt 18,11; Mt 23,14; Mc 7,16 nas versões “João Ferreira de
Almeida Revista e Atualizada” (ARA) e “João Ferreira de Almeida Corrigida e
Revisada, Fiel” (ACF). Repare que os colchetes aparecem na ARA, mas não na
ACF.
http://www.bibliaonline.net/bol/
Caso você venha acompanhando as lições desde o início, então já sabe que não
dispomos de registros do texto bíblico escritos de próprio punho por Isaías,
Ezequiel, Mateus ou Tiago, por exemplo. O que temos são cópias. É preciso
compreender que os textos eram escritos à mão, num processo lento e
complexo. Eles não tinham impressora a laser, copiadora ou scanner. Também
não tinham à sua disposição cadeiras confortáveis com espuma injetada, ar
condicionado e luminária com lâmpada de led. Vez por outra cometiam um erro
aqui e ali. Mas tenha calma, não há razões para pânico.
Bem, além do problema das cópias, há outra questão envolvendo o texto bíblico
que tem sido motivo de muita confusão: as traduções. Nem sempre os
tradutores concordam em relação ao sentido de uma palavra, gerando versões
do texto bíblico muito diferentes entre si. Neste caso as diferenças entre versões
são explicadas pelas opiniões diferentes do tradutor em relação às palavras e
não pelas diferenças entre os manuscritos utilizados como fonte para as
traduções. Este tipo de problema não atinge apenas as Bíblias. Textos
produzidos por filósofos alemães, por exemplo, também ganham versões
diferentes quando traduzidos para o português.
É preciso compreender que quando o escritor sagrado diz que “tudo é névoa”,
quer com isso indicar que, aos seus olhos, a riqueza, a fama e até mesmo os
elementos da natureza “se vão” com o tempo. Quando uma pessoa revela muita
preocupação com a aparência ou com seu status social, dizemos que ela é
“vaidosa”, ou seja, que se preocupa demais com as coisas fúteis, vazias, ilusórias,
que se vão com facilidade. Em nosso uso diário a palavra portuguesa “vaidade”,
do latim “vanitas” (=vazio), perdeu seu sentido original e assim acaba não
expressando bem o sentido que o texto bíblico quer dar (vou tratar sobre isso
mais adiante).
Agora repare que optei por não traduzir a palavra hebraica “qohélet” (A Bíblia
de Jerusalém também não traduz). Ocorre que ninguém sabe ao certo o
significado dessa palavra, que aparece uma única vez em toda a Bíblia!
“Qohélet” deriva da palavra hebraica qahal (assembleia) o que talvez sugira que
Qohélet seja uma pessoa que discursava numa assembleia. Algo como um
“palestrante”, “sábio” ou “mestre” que discursa para um público interessado em
ouvi-lo (Lutero traduziu o termo por “pregador”). Compare a tradução do termo
em algumas versões bíblicas clicando no link no final do texto.
Acho que já deu para perceber que traduções excessivamente literais não
ajudam muito, não é mesmo? Em certa medida todo o tradutor interpreta a
palavra com a qual se depara. Mas como eu já disse, é preciso equilíbrio e
cuidado para não exagerar. Vejamos mais um exemplo.
Embora eu reconheça que a Nova Versão Internacional (NVI) deva ser alvo de
muitos elogios, sua tradução de 1Co 6,9, contém um erro imperdoável. Na
relação de pecados condenados no texto, o termo grego “arsenokoitai” foi
traduzido por “homossexual ativo”! Embora não faltem textos no livro sagrado
condenando a relação sexual entre homens (como Rm 1,27), esta palavra grega
utilizada por Paulo aparece uma única vez na Bíblia e não ocorre em textos
gregos seculares antigos. É bem provável que se refira a algum tipo de pecado
sexual, mas é impossível saber ao certo de que se trata.
Mas não quero aqui demonizar as versões com linguagem popular. Em minha
opinião a Nova Tradução na Linguagem de Hoje (NTLH) conseguiu se
aproximar bastante do sentido da palavra “névoa” em Ecl 1,2. Sua tradução
ficou assim: “É ilusão, é ilusão, diz o Sábio. Tudo é ilusão”. Como em nossos dias
a palavra “vaidade” está associada à preocupação com a aparência, o tradutor
buscou um termo que tivesse um sentido mais abrangente (particularmente
prefiro as palavras “transitório” ou “passageiro”). Isso explica seu conselho em
11,9-10: “jovem... sê feliz nos dias da tua mocidade... pois juventude e cabelos
negros são névoa” (na sua versão provavelmente aparece a palavra “vaidade”).
Dizendo de maneira bem clara: “aproveita a tua mocidade, porque os cabelos
negros (ou seja, o vigor da juventude) são passageiros”.
Bem, o texto desta lição ficou mais longo do que eu desejava, então vou parando
por aqui.
http://www.bibliaonline.net/acessar.cgi?pagina=avancada
Consultar as Escrituras, no tempo de Jesus, não era uma tarefa tão fácil como é
hoje em dia. Os textos eram escritos em rolos compridos e difíceis de manipular.
Quando você lê, em Lc 4,17, que Jesus “abriu” o livro de Isaías numa sinagoga
de Nazaré, na verdade deveria ler “desenrolou” (a palavra grega do texto indica
exatamente isso). Mas não precisamos pegar no pé dos tradutores, que
geralmente tentam descomplicar o texto para os leitores não familiarizados
como o mundo de Jesus. Além disso ainda não havia, como atualmente, divisões
em capítulos e versículos.
Mas a divisão da Bíblia em partes menores tal como conhecemos hoje só surgiu
em 1220, quando Estephen Langton, futuro arcebispo de Canterbury (na
Inglaterra), criou a divisão em capítulos. A primeira Bíblia dividida desse modo
(uma versão escrita em latim) foi realizada em paris e ficou conhecida como a
Bíblia parisiense. Em 1525 foi publicada uma Bíblia rabínica seguindo a divisão
feita por Langton.
Bem, a ideia desta lição é chamar a atenção para a necessidade de uma leitura
mais atenciosa do texto sagrado. Embora tenham sua utilidade, não confie tanto
nas divisões em capítulos e versículos. Também tenha cautela com títulos dos
capítulos, que também foram acrescentados com a finalidade de facilitar a
compreensão do texto.
Por hoje é só. Na semana que vem tem mais. Até lá.
UMA BREVE HISTÓRIA DA INTERPRETAÇÃO BÍBLICA
Após Cristo ter deixado fisicamente os apóstolos, a “Bíblia” dos judeus (nosso
Antigo Testamento) foi acolhida como texto sagrado pelos cristãos. Com isso, os
primeiros pensadores cristãos sentiram a necessidade de adequar o Antigo
Testamento à nova fé. Parte dessa tarefa foi feita pelos evangelistas
(particularmente Mateus) e pelos apóstolos nas suas epístolas (principalmente
Paulo). Os evangelistas e os apóstolos, sempre que viam necessidade, citavam
“as Escrituras”, ou seja, o Antigo Testamento, para mostrar para os judeus que
Jesus era mesmo o messias esperado. Até aí tudo bem.
Orígenes, outro cristão que gostava do método alegórico, dizia que as muralhas
de Jericó não eram exatamente muros feitos de pedra, mas representavam “o
culto aos ídolos”. Josué, ao rodear as muralhas estaria fazendo uma espécie de
alusão aos apóstolos, que derrubaram os “muros da idolatria” e o “engano dos
filósofos” com suas “trombetas”, isto é o Evangelho. Mas alguns cristãos dos
primeiros séculos, como Diodoro de Tarso (falecido em 390 d.C.), não
concordavam com as interpretações alegóricas. E seus “Comentários aos
Salmos”, declarou que a alegoria era um recurso criado por pessoas
despreparadas, que sentindo-se impotentes diante do texto acabavam forçando
o leitor a entender uma coisa em lugar de outra.
Mas a prática da alegoria não foi uma invenção cristã. Ela foi herdada dos
rabinos e de mestres judeus como Fílon de Alexandria (10 a.C. – 50 d.C,),
influenciados pela cultura grega. As passagens o livro de Eclesiastes que exaltam
o “comer”, o “beber”, o “alegrar-se” e o “desfrutar a vida com a mulher amada”
como dom divino (2,24; 3,12-13.22; 5,18-20; 8,15; 9,7-10; 11,7-10) foram
tratadas como alegóricas, dado o mal-estar que causavam aos seus
leitores. Alguns sábios judeus explicaram as passagens incômodas do
Eclesiastes da seguinte forma: “todas as referências a comer e beber neste livro
representam a Torá e as boas obras” (Qoh.Rab. 2:24; cf. o Targum [Tg. Eccl
2:24]).
Martinho Lutero, reformador do século XVI que iniciou o movimento que deu
origem às igrejas protestantes, estava mais preocupado com o sentido histórico
do texto. Assim, dizia que embora possa parecer algo brilhante, a alegoria é
“obra de tolos”. O reformador alemão também gostava de enfatizar que a Bíblia
interpreta a si mesma. Com essa declaração pretendeu combater a tradição
católica que dizia que o sentido da Escritura só poderia ser encontrado com o
auxílio do Papa.
Desfazendo mitos
De fato as três palavras existem. Elas aparecem em textos gregos escritos por
filósofos da Antiguidade, como Platão, por exemplo. Na Bíblia constam apenas
“fileo” e “ágape”. Ocorre que essas duas palavras não têm, na Bíblia, sentidos tão
diferentes assim.
Eu gostaria de deixar uma nota final sobre o termo “eros”, que como eu já disse
não ocorre na Bíblia. Em nosso idioma o termo aparece como prefixo de
palavras usadas para indicar o amor carnal: erótico, erotismo, erotização, etc.
Veja que Inácio de Antioquia, bispo cristão do final primeiro século, empregou
“eros” com esse sentido negativo : “O meu amor (eros) foi crucificado e não
há em mim fogo de paixão. [...] Não me atraem o alimento de corrupção e os
prazeres desta vida” (Carta aos Romanos, 7,2).
“Eu me saciarei como de óleo e gordura, e com alegria nos lábios minha boca te
louvará”. (Sl 63,5; cf. Sl 36,8).
Atualmente, quando percebemos que nossa vida está em perigo, dizemos que
ela “está por um triz” (ou “por um fio”). Entre os hebreus, quando alguém se
sentia em perigo, era comum dizer algo como “minha vida está nas minhas
mãos”, afinal “ter nas mãos” algo tão precioso como a vida, indica o grau de
fragilidade do indivíduo. Veja:
“Minha vida está sempre em minhas mãos, mas não esqueço a tua lei”. (Sl
119,109) Cf. Jz 12,3; 1Sm 19,5; Jó 13, 14; Est 14,4.
Algumas versões, como a NVI e a NTLH, optaram por traduzir assim: “minha
alma está sempre em perigo”. Embora não tenha sido fiel às palavras do texto
original, o sentido foi preservado. A mesma expressão aparece em Jó 13,14,
acompanhada de outra metáfora dotada de mesmo sentido:
“Tomo a minha carne entre os meus dentes, coloco a minha vida em minha
mão”. (Jó 13,14).
“(Deus é) meu escudo e o chifre de minha salvação” (= a força que me salva) (Sl
18, 2).
Caso você leia o texto completo, verá que nele aparecem, ao lado de chifre,
outros símbolos de força, como “rocha”, “fortaleza”, “torre, etc. Ainda hoje
usamos tais metáforas. Mas “chifre” é um termo tão estranho aos nossos olhos
para indicar algo capaz de nos dar um suporte inabalável, que a maioria dos
tradutores simplesmente o substituíram por “força”.
Há uma terceira opção? Sim. Algumas versões, como a Bíblia TEB, a Bíblia do
Peregrino e a Bíblia de Jerusalém, embora tenham optado por uma tradução
bem literal, inserem no rodapé uma série de notas explicativas esclarecendo
para o leitor detalhes a respeito das particularidades do texto original. E assim
matam dois coelhos com uma cajadada só. Uma curiosidade: essas Bíblias são
as mais baratas e menos populares. Vai entender!
Ah, você pode acessar e comparar diversas versões da Bíblia acessando este site:
http://www.bibliaonline.net/acessar.cgi?pagina=avancada
SOBRE AS TRADUÇÕES
AS PIRIGUETES DE SIÃO
Muitas das palavras hebraicas que compõem este texto (marcadas com a
interrogação) aparecem uma única vez em todo o Antigo Testamento (são
chamadas de hápax legomenon). Isso torna o trabalho do tradutor uma tarefa
quase impossível.
Em casos como este uma das soluções possíveis é consultar uma tradução do
texto hebraico para outro idioma, como o grego, realizada nos II século a.C. por
judeus que (em tese) ainda conheciam o significado dessas palavras. Mas nós
temos um texto grego, com datação suficientemente antiga? Sim, temos duas
versões preservadas em grego datadas para o IV século: o Códice Sinaítico e o
Códice Vaticano.
Para que você tenha ideia do quão complexa é a tarefa de traduzir o Antigo
Testamento, saiba que das 8000 palavras hebraicas que compõem o texto - de
Gênesis a Malaquias -, 2000 aparecem uma única vez. Como saber o significado
desses termos?
João Cassiano (360-435), monge cristão da Cítia (atual Romênia), seguiu por
um caminho bastante semelhante: 1. Sentido literal (histórico), 2. Sentido
alegórico (alusivo), 3. Sentido tropológico (moral) e 4. Sentido anagógico
(celestial). Lutero, no século XVI, rejeitou o método, tratado por ele como
“produto da ignorância” e “bobagem” (WA 2,509,14s).
No Alcorão, de acordo com um comentário místico atribuído ao Imam Ja'far al-
Sadiq (702-765 d.C.), também se escondem quatro sentidos: 1. Expressão literal
(ibāra); 2. Alusão (ishāra); 3. Sutilezas (laā'if) e 4. Realidade mais profunda
(ḥaqā'iq). A expressão literal seria para as pessoas comuns, a alusão para a elite,
as sutilezas para os amigos de Deus, e a realidade mais profunda para os
profetas.