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UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS

INSTITUTO DE FILOSOFIA E CIÊNCIAS HUMANAS


PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIA POLÍTICA

JOSÉ RAULINO CHAVES PESSOA JÚNIOR

ARTICULAÇÃO ENTRE AS INSTÂNCIAS PARTIDÁRIAS:


O CASO DO PMDB, PT E PSDB DO CEARÁ
NAS ELEIÇÕES DE 2012 E 2014

CAMPINAS
2018
JOSÉ RAULINO CHAVES PESSOA JÚNIOR

ARTICULAÇÃO ENTRE AS INSTÂNCIAS PARTIDÁRIAS:


O CASO DO PMDB, PT E PSDB DO CEARÁ NAS ELEIÇÕES DE 2012 E 2014

Tese apresentada ao Instituto de Filosofia


e Ciências Humanas da Universidade
Estadual de Campinas como parte dos
requisitos exigidos para obtenção do
título de Doutor em Ciência Política.

Orientador: Oswaldo Martins E. do Amaral

Este exemplar corresponde à versão final da


tese defendida por José Raulino Chaves Pessoa
Júnior e orientada pelo prof. Dr. Oswaldo
Martins E. do Amaral.
______________________________________

CAMPINAS
2018
UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS
INSTITUTO DE FILOSOFIA E CIÊNCIAS HUMANAS
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIA POLÍTICA

A Comissão Julgadora dos trabalhos de Defesa de Tese de Doutorado, composta pelos


Professores(as) Doutores(as) a seguir descritos(as), em sessão pública realizada em 14 de
dezembro de 2018, considerou o candidato JOSÉ RAULINO CHAVES PESSOA
JÚNIOR aprovado.

Prof. Dr. Oswaldo Martins E. do Amaral (Orientador) - Universidade Estadual de


Campinas (UNICAMP)

Profa. Dra. Rachel Meneguello - Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP)

Prof. Dr. Valeriano Mendes Ferreira Costa - Universidade Estadual de Campinas


(UNICAMP)

Profa. Dra. Maria do Socorro Sousa Braga - Universidade Federal de São Carlos
(UFSCAR)

Prof. Dr. Jawdat Abu-El-Haj - Universidade Federal do Ceará (UFC)

A Ata de Defesa, assinada pelos membros da Comissão Examinadora, consta no


processo de vida acadêmica do aluno.
Dedico este trabalho ao meu pai, José
Raulino, que durante a minha jornada do
doutorado completou a sua caminhada e
partiu para outro nível de vínculo em que
seu corpo físico não era mais necessário.
AGRADECIMENTOS

O engenho de pesquisa e escrita de uma tese não é uma atividade individual.


Embora tenha sido necessário um longo período solitário de estudo e maturação das
ideias, esse trabalho só pôde se concretizar porque muitas instituições e pessoas
contribuíram para que isso fosse possível. Dessa forma, quero registrar meu
reconhecimento às instituições que possibilitaram encontros para o amadurecimento das
reflexões presentes nesse texto e também quero demonstrar minha profunda gratidão a
generosidade de muitas pessoas que tiveram a paciência de conviver comigo durante essa
árdua jornada.
Ao meu orientador, professor Oswaldo Amaral, quero agradecer a
oportunidade que tive para desenvolver essa pesquisa. Pesquisa essa que foi gestada
durante uma disciplina, Partidos e Sistemas Partidários, ministrada por ele e na qual
participai durante meu Programa de Estágio Docente (PED). Agradeço a liberdade, as
possibilidades de reflexão e o estímulo intelectual para elaborar esse trabalho.
À professora Rachel Meneguello, agradeço os debates na disciplina
Metodologia de Pesquisa em Ciência Política, os encontros promovidos pelo Centro de
Estudos de Opinião Pública (CESOP) e os valiosos comentários durante o exame de
Qualificação.
Ao professor Valeriano Costa, sou grato pelos autores e temas apresentados
na disciplina Teoria Política Contemporânea II, pelas longas conversas sobre minha
pesquisa e pelos comentários na minha primeira apresentação de trabalho no programa
de doutorado.
À professora Maria do Socorro Braga (UFSCAR), pelos debates e
comentários de trabalhos em variados eventos acadêmicos, pelo estímulo constante à
pesquisa, pela leitura atenta e valiosa no exame de Qualificação, pelo carinho e confiança.
Ao professor Jawdat Abu-El-Haj (UFC), que proporcionou a minha primeira
experiência acadêmica e a quem eu devo o interesse em pesquisar sobre política.
Ao professor Bruno Speck (USP), agradeço as conversas atentas sobre o tema
e o interesse constante em acompanhar o processo de finalização do trabalho.
À professora Andréa Freitas, agradeço os comentários e debates realizados e
o carinho e afeto sempre demonstrados.
Ao professor Glauco Peres, sou grato pelos debates em eventos científicos e
pelas sugestões em trabalhos apresentados.
Ao Programa de Pós-Graduação em Ciência Política da UNICAMP, que
sempre trabalhou para potencializar a pesquisa e a minha formação. Sou grato em especial
aos professores que acompanharam essa jornada no programa: Luciana Tatagiba, que fui
PED na disciplina de Introdução à Ciência Política; Andréia Galvão; Armando Boito
Júnior e Andrei Koerner. Agradeço também a secretária Camila Magalhães, por toda
paciência e profissionalismo.
Ao Grupo de Estudos em Política Brasileira (PolBras), vinculado ao CESOP,
que possibilitou espaço para debate e discussão de trabalhos em reuniões e eventos. Sou
grato aos pesquisadores, pesquisadoras e colegas que integram esse grupo e que me
acolheram. Eu acredito e “i want to believe” que instituições como grupos de estudo e
pesquisa asseguram a profissionalização do ofício de pesquisador. Sou grato a Ana Flávia
Magalhães, Beatriz Mezzalira, Bruna Karoline Oliveira, Bruno Souza da Silva, Fernando
Bizzarro Neto, Guilherme Nafalski, Henrique Curi, Jean Lucas Fernandes, Jeison Heiler,
Marcela Tanaka, Marco Faganello, Maria Vitória de Almeida, Monize Arquer, Otávio
Catelano, Vítor Sandes Freitas e Vitor Vasques.
Ao Laboratório de Estudos de Política, Eleições e Mídia (LEPEM-UFC), que
foi fundamental para meu ingresso no ofício de pesquisador. Sou grato aos amigos e
amigas com que mantenho interlocuções constastes: Cleyton Monte, professor Estevão
Arcanjo, Márcia Paula Vieira, professora Maria Auxiliadora Lemenhe, Monalisa Lopes,
Monalisa Torres, professora Rejane Carvalho e professor Valmir Lopes.
Aos organizadores e organizadoras dos eventos científicos que participei, por
proporcionar oportunidades de debates acadêmicos. Esses espaços foram fundamentais
para insights e maturação das ideias desse trabalho. Sou grato a professora Flávia
Freidenberg e ao Grupo de Investigação de Partidos e Sistemas Partidários (GIPSAL) da
Associação Latino-americana de Ciência Política (ALACIP), a Área Temática de
Eleições e Representação Política da Associação Brasileira de Ciência Política (ABCP),
ao Grupo de Trabalho de Partidos e Sistemas Partidários da Associação Nacional de Pós-
Graduação e Pesquisa em Ciências Sociais (ANPOCS), ao Fórum Brasileiro de Pós-
Graduação em Ciência Política, ao Seminário Nacional Partidarismo, Militantismo e
Comportamento Eleitoral no Brasil, a Semana Ciência Política Universidade Federal de
São Carlos (UFSCAR), ao Seminário do Grupo de Pesquisa Partidos, Eleições e
Comportamento Político da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) liderado pela
professora Gabriela Tarouco, ao Seminário Nacional Sociologia & Política promovido
pela Universidade Federal do Paraná (UFPR) e em especial aos professores Adriano
Codato, Bruno Bolognesi e Renato Perissinotto.
Aos professores e professoras que em conversas informais ou palestras em
eventos contribuíram para consolidação das reflexões aqui expostas. Sou grato a, Teresa
Kerbauy (UNESP/Araraquara), Jamil Marques (UFPR), Igor Grill (UFMA), Ernesto
Seidl (UFSC), Denise Paiva (UFRDS), Silvana Krause (UFRGS) e Pedro Ribeiro
(UFSCAR).
Ao Departamento de Ciências Sociais da Universidade Regional do Cariri
(URCA), pela experiência de docência nessa instituição, pelo estímulo a pesquisa e pela
companhia de excelentes colegas de trabalho. Destaco o apoio de Adriana Simião, André
Álcman Damasceno, Carlos Alberto Tolovi, Otília Souza, Paula Cordeiro, Renata
Marinho Paz e Sávio Cordeiro.
Ao Programa Nacional de Formação de Professores da Educação Básica
(PARFOR), que me possibilitou a experiência de docência e um profundo aprendizado
quanto ao ofício de professor.
Aos colaboradores e colaboradoras dessa pesquisa que permitiram a coleta de
dados. Sou grato aos integrantes dos órgãos partidários do Partido do Movimento
Democrático Brasileiro (PMDB), do Partido dos Trabalhadores (PT) e do Partido da
Social Democracia Brasileira (PSDB), ao Tribunal Regional Eleitoral do Ceará (TRE-
CE) e ao jornal O Povo.
À minha turma de doutorado, que possibilitou tantos debates e encontros com
pessoas fabulosas. Agradeço a Danielle Pereira, minha conterrânea e amiga fiel que tanto
me ensinou sobre militância negra e que me aninhou no seu ciclo de amizade pessoal,
apresentando-me a Lauren Santos, essa “mãe” e amiga que sempre acolhe; a Rony
Coelho, meu amigo que sempre me deu tanto suporte e apoio e que também me
possibilitou o encontro com Samyra “Shakira”, uma amiga valiosa; a Katiuscia Moreno,
minha amiga feminista que tanto me ensinou; a João Paulo Viana, pela acolhida e
companhia em Barão Geraldo. Agradeço também ao meu amigo Bruno Rubiatti, aliado
que me amparou nessa jornada do doutorado.
Aos amigos do Cariri, essa terra que me abrigou, sou muito grato a Christiane
Luci Alves, Cristina Carneiro, Dulcinéia Loureiro, Iara Araújo, Karla Brandão, Ricardo
Salmito e Valéria Pinheiro. Sou também grato aos amigos que acompanharam de perto
algumas etapas da minha trajetória: Alba Carvalho, Diana Viana, Francisco Romenique
e Felipe Mota.
A minha família, meu suporte valioso de existência. À minha mãe, Mavinier
Chaves Pedrosa, mulher aguerrida que tanto me inspira e que insistiu em ocupar um lugar
na Câmara dos Vereadores de Catarina-CE. Aos meus irmãos, Roquelina e Lourival. A
meu primo/irmão Elvis.
Por último, mas não menos importante, sou grato ao precioso suporte, carinho
e afeto oferecido pelo meu companheiro Roberto Marques. "A mim ensinou-me tudo.
Ensinou-me a olhar para as coisas. Aponta-me todas as coisas que há nas flores. Mostra-
me como as pedras são engraçadas quando a gente as tem na mão e olha devagar para
elas" (Fernando Pessoa).
“Para examinar a ordem organizativa de
um partido, é necessário, antes de mais
nada, investigar a sua estrutura de poder,
como o poder é distribuído dentro da
organização, como se reproduz, como se
modificam as relações de poder e com
quais consequências organizativas”.

Ângelo Panebianco
(Modelos de partido)

“O correr da vida embrulha tudo, a vida é


assim: esquenta e esfria, aperta e daí
afrouxa, sossega e depois desinquieta. O
que ela quer da gente é coragem”.

João Guimarães Rosa


(Grande Sertão: Veredas)
RESUMO

A presente pesquisa tem por objetivo analisar o grau de centralização, na arena


subnacional, das três maiores agremiações partidárias do Brasil: PMDB, PT e PSDB. A
partir de uma abordagem institucionalista, o estudo examina articulações entre as
instâncias partidárias nos três âmbitos federativos (municipal, estadual e nacional),
investigando de que forma esses partidos centralizam ou descentralizam decisões
eleitorais estratégicas, como: formação de aliança e coligação, seleção de candidatos e
distribuição de recursos para as campanhas eleitorais. Tendo como recorte espacial o
estado do Ceará, a pesquisa investiga a estrutura organizacional dos Diretórios Estaduais
e dos Diretórios Municipais em diferentes escalas de municípios (pequena, média e
grande magnitude eleitoral). Como recorte temporal, a pesquisa abarca dois ciclos
eleitorais: eleição municipal de 2012 e eleição geral de 2014. Como hipótese principal,
sustenta-se que o grau de centralização das decisões que envolvem a arena eleitoral
apresenta oscilações de acordo com o modelo organizacional do partido, a magnitude
eleitoral do município e o tipo de eleição. A pesquisa combina variáveis ambientais,
internas e históricas, mobilizando dados quantitativos coletados no sítio do Tribunal
Superior Eleitoral e dados qualitativos colhidos através de pesquisa documental e de
entrevistas semi-estruturadas com dirigentes dos partidos. Constata-se, ao longo do
trabalho, que o PMDB apresenta-se como partido personalista centralizado
informalmente, o PT como “partido de oposição” centralizado por tendência e o PSDB
como “partido governista” com fraca integração.

Palavras-chave: Organização partidária; Eleições; PMDB; PT; PSDB; Ceará; Brasil.


ABSTRACT

This research aims to investigate degrees of centralization of three major party


associations in Brazil in the sub-national arena: PMDB (Partido Movimento Democrático
Brasileiro or Brazilian Democratic Party, free translation) PT (Partido dos Trabalhadores
or Workers’ Party, free translation), and PSDB (Partido da Social Democracia Brasileira
or Party of the Brazilian Social Democracy). From an institutionalist perspective, the
research analyzes articulations amongst parties’ instances in the three federative levels
(municipal, state, and national). Thereupon, the investigation shows how these parties
centralize or decentralize strategic electoral decisions, such as coalition and alliance
formation, selection of candidates, and distribution of resources for election campaigns.
Ceará state is the spatial delimitation for the examination on the organizational structure
of Diretórios Estaduais (State Directorates, free translation) and Diretórios Municipais
(Municipal Directories, free translation) in different scales of municipalities (of small,
medium, and large electoral magnitude). The research considers two electoral cycles:
municipal elections for 2012 and the general election of 2014. The working hypothesis
for the research is that the degree of centralization for decisions involving the electoral
arena presents oscillations according to the organizational party models, municipalities’
electoral magnitudes, and types of elections. The research combines environmental,
internal and historical variables, based on quantitative data from the Tribunal Superior
Eleitoral (Superior Electoral Court, free translation), and qualitative data from research
andsemi-structured interviews with party leaders. The findings demonstrate that PMDB
is a personalist and informally centralized party, PT is a politically oriented and
oppositional party and PSDB is a ruling party with weak levels of integration.

Keywords: Party organization; Elections; PDB; PT; PSDB; Ceará; Brazil.


LISTA DE TABELAS
Tabela 1 - Quantidade de órgãos partidários no Brasil (2008-2015) ......................................... 41
Tabela 2 - Quantidade de deputados federais e estaduais eleitos no Ceará (1966-1978) ............ 64
Tabela 3 - Quantidade de prefeitos e vereadores eleitos no Ceará (1966-1976) ........................ 64
Tabela 4 - Representação na ALECE do partido do governador ............................................... 78
Tabela 5 - Distribuição das vagas na aliança PMDB-PSB-PT em 2010 .................................. 114
Tabela 6 - Lista de presidentes da Comissão Provisória do PMDB de Fortaleza (2008-2016) . 129
Tabela 7 - Candidatos da coligação Ceará de Todos — Eleição de 2014 ................................ 161
Tabela 8 - Transferência do Diretório Nacional do PMDB ao Executivo municipal ............... 165
Tabela 9 - Transferência do Diretório Nacional do PMDB ao Legislativo municipal .............. 166
Tabela 10 - Transferência do Diretório Nacional do PMDB ao Legislativo - Eleições 2014 ... 170
Tabela 11 - Síntese do grau de centralização do PMDB do Ceará .......................................... 175
Tabela 12 - Candidatos do PED 2007 do Diretório Estadual .................................................. 193
Tabela 13 - Comissão Executiva PT-CE (2008-2017) ............................................................ 199
Tabela 14 - Candidatos da coligação PT-PROS em 2014 ....................................................... 232
Tabela 15 - Transferência do Diretório Nacional do PT ao Executivo municipal .................... 244
Tabela 16 - Transferência do Diretório Nacional do PT ao Legislativo - Eleições 2014 .......... 248
Tabela 17 - Síntese do grau de centralização do PT do Ceará ................................................. 251
Tabela 18 - Lista de presidentes do PSDB-CE ....................................................................... 266
Tabela 19 - Transferência do Diretório Nacional do PSDB ao Executivo municipal ............... 303
Tabela 20 - Transferência do Diretório Nacional do PSDB ao Legislativo municipal ............. 303
Tabela 21 - Síntese do grau de centralização do PSDB do Ceará ............................................ 307

LISTA DE GRÁFICOS
Gráfico 1 - Quantidade de deputados federais eleitos (1994-2014) ........................................... 40
Gráfico 2 - Dispersão da votação para governador em 1982 no Ceará ...................................... 66
Gráfico 3 - Percentual dep. estadual eleito - PMDB, PT e PSDB (1982-2014) ......................... 75
Gráfico 4 - Percentual dep. federal eleito - PMDB, PT e PSDB (1982-2014) ........................... 75
Gráfico 5 - Percentual de vereadores eleitos - PMDB, PT e PSDB (1982-2012)....................... 75
Gráfico 6 - Percentual prefeitos eleitos - PMDB, PT e PSDB (1982-2012) .............................. 75
Gráfico 7 - Percentual de candidatos a prefeitos pelo partido - Ceará (1982-2012) ................... 82
Gráfico 8 - Percentual de municípios que o partido apresentou candidatura (1982-2012) ......... 84
Gráfico 9 - Percentual de municípios com órgão partidário (2008-2016) .................................. 85
Gráfico 10 - Porcentagem de órgãos partidários municipais no Ceará (2010-2014) .................. 87

LISTA DE FIGURAS
Figura 1 - Organograma do PMDB ....................................................................................... 117
Figura 2 - Mapa do poder organizativo do PMDB — Gestão Eunício Oliveira (1998-2017)... 126
Figura 3 - Organograma do PT .............................................................................................. 195
Figura 4 - Mapa do poder organizativo do PT cearense .......................................................... 202
Figura 5 - Organograma do PSDB ......................................................................................... 273
Figura 6 - Mapa do poder organizativo do PSDB................................................................... 275

LISTA DE MAPAS
Mapa 1 - Localização dos municípios analisados e grau de magnitude eleitoral ....................... 44
Mapa 2 - Distribuição espacial dos órgãos partidários do PMDB-CE (2008-2015) ................... 90
Mapa 3 - Distribuição espacial dos órgãos partidários do PT-CE (2008-2015) ......................... 91
Mapa 4 - Distribuição espacial dos órgãos partidários do PSDB-CE (2008-2015) .................... 92
LISTA DE SIGLAS E ABREVIATURAS

Partidos políticos
Sistema Partidário de 1946-1964

PDC: Partido Democrata Cristão


PR: Partido Republicano
PSD¹: Partido Social Democrático

PSP: Partido Social Progressista


PTB: Partido Trabalhista Brasileiro
PTN: Partido Trabalhista Nacional
UDN: União Democrática Nacional

Sistema Partidário de 1964-1979

ARENA: Aliança Renovadora Nacional


MDB: Movimento Democrático Brasileiro

Sistema Partidário pós 1979

AVANTE: Avante
NOVO: Partido Novo

PCB: Partido Comunista Brasileiro


PCdoB: Partido Comunista do Brasil
PCO: Partido da Causa Operária
PDC: Partido Democrata Cristão
PDS: Partido Democrático Social
PDT: Partido Democrático Trabalhista

PEN: Partido Ecológico Nacional


PFL/DEM: Partido da Frente Liberal/Democratas
PH: Partido Humanista
PHS: Partido Humanista da Solidariedade
PL: Partido Liberal
PMB¹: Partido Municipalista Brasileiro
PMB²: Partido da Mulher Brasileira

PMDB: Partido do Movimento Democrático Brasileiro


PMN: Partido da Mobilização Nacional
PP/PPB: Partido Progressista/Partido Progressista Brasileiro
PPL: Partido Pátria Livre
PPR: Partido Progressista Reformador
PPS: Partido Popular Socialista

PR: Partido da República


PRB: Partido Republicano Brasileiro
PRN: Partido da Reconstrução Nacional
PROS: Partido Republicano da Ordem Social
PRP: Partido Republicano Progressista
PRTB: Partido Renovador Trabalhista Brasileiro
PSB: Partido Socialista Brasileiro

PSC: Partido Social Cristão


PSD²: Partido Social Democrático
PSDB: Partido da Social Democracia Brasileira
PSDC: Partido Social Democrata Cristão
PSL: Partido Social Liberal
PSOL: Partido Socialismo e Liberdade

PST: Partido Social Trabalhista


PSTU: Partido Socialista dos Trabalhadores Unificado
PT: Partido dos Trabalhadores
PTB: Partido Trabalhista Brasileiro
PTC: Partido Trabalhista Cristão
PTdoB: Partido Trabalhista do Brasil

PTN: Partido Trabalhista Nacional


PTR: Partido Trabalhista Renovador
PV: Partido Verde
REDE: Rede Sustentabilidade

SD: Solidariedade

Tendências internas do PT

AE: Articulação de Esquerda


AP: Ação Popular

Articulação UNL: Articulação Unidade na Luta


CD: Campo Democrático
CM: Campo Majoritário
CNB: Construindo um Novo Brasil
CO: Causa Operária
CS: Convergência Socialista

DR: Democracia Radical


DS: Democracia Socialista
EPS: Esquerda Popular e Socialista
FS: Força Socialista
MP: Militância Petista
MPT: Movimento PT

MS: Militância Socialista


NE: Nova Esquerda
OT: O Trabalho
PCBR: Partido Comunista Brasileiro Revolucionário
PRC: Partido Revolucionário Comunista
PRO: Partido Revolucionário Operário

TM: Movimento por uma Tendência Marxista - Tendência Marxista


TM: Tendência Marxista
VP: Voz Proletária
VS: Vertente Socialista
Outras siglas

AC: Ato Complementar

ACB: Associação Cristã de Base


AI: Ato Institucional
AJE: Associação dos Jovens Empresários do Ceará
ALECE: Assembleia Legislativa do Estado do Ceará
ANL: Ação Libertadora Nacional
BNB: Banco do Nordeste do Brasil

CDOC: Conselho de Defesa Operário e Popular


CEBs: Comunidades Eclesiais de Base
CEU: Comitê Eleitoral Unificado
CHESF: Companhia Hidrelétrica do São Francisco
CIC: Centro Industrial do Ceará
CNBB: Conferência Nacional dos Bispos do Brasil

CNPJ: Cadastro Nacional da Pessoa Jurídica


COHEBE: Companhia Hidrelétrica de Boa Esperança
CONEFOR: Companhia Nordeste de Eletrificação de Fortaleza
CPF: Cadastro de Pessoas Físicas
CPT: Comissão Pastoral da Terra
CRAJUBAR: Crato, Juazeiro do Norte e Barbalha
CUT: Central Única dos Trabalhadores

DETRAN: Superintendência do Departamento Estadual de Trânsito


DHBB/CPDOC: Dicionário Histórico-Biográfico Brasileiro / Centro de Pesquisa e
Documentação de História Contemporânea do Brasil
DNOCS: Departamento Nacional de Obras Contra as Secas

EaD: Educação à Distância


ECEME: Escola de Comando e Estado-Maior do Exército
ELETROBRÁS: Centrais Elétricas Brasileiras
FIESP: Federação das Indústrias do Estado de São Paulo
FLNE: Frente de Libertação do Nordeste
GTE: Grupo de Trabalho Eleitoral
HGPE: Horário Gratuito de Propaganda Eleitoral

IDH: Índice de Desenvolvimento Humano


IDT: Instituto de Desenvolvimento do Trabalho
IPECE: Instituto de Pesquisa e Estratégia Econômica do Ceará
JEC: Juventude Estudantil Católica
JUC: Juventude Universitária Católica
LGBTT: Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis, Transexuais e Transgêneros

LOPP: Lei Orgânica dos Partidos Políticos


LPP: Lei dos Partidos Políticos
LRP: Lei de Reforma Partidária
MALCE: Memorial da Assembleia Legislativa do Ceará
MEB: Movimento de Educação de Base
MR-8: Movimento Revolucionário Oito de Outubro
MST: Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra

MUP: Movimento de Unidade Progressista


NOVACAP: Companhia Urbanizadora da Nova Capital do Brasil
PED: Processo de Eleições Diretas
PIB: Produto Interno Bruto
PJMP: Pastoral da Juventude do Meio Popular
PLAMEG: Plano de Metas Governamentais

PO: Pastoral Operária


RG: Registro Geral
SEI: Serviço de Informação do Exército
SGIP: Sistema de Gerenciamento de Informações Partidária
SORG: Secretaria de Organização
SPCE: Sistema de Prestação de Contas Eleitorais

SUDENE: Superintendência do Desenvolvimento do Nordeste


TCE: Tribunal de Contas do Estado
TCE-CE: Tribunal de Contas do Estado do Ceará

TRE-CE: Tribunal Regional Eleitoral do Ceará


TSE: Tribunal Superior Eleitora
UFC: Universidade Federal do Ceará
UNICEF: Fundo das Nações Unidas para a Infância

Abreviaturas

Dep.: Deputado
Pref.: Prefeito
Quant.: Quantidade
Sec.: Secretaria
Sen.: Senador
SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ............................................................................................................................... 21
Modelos de partidos e a centralidade da arena eleitoral ............................................ 28
Federalismo e organização partidária ....................................................................... 32
Desenho da pesquisa................................................................................................ 39
Desvendando a caixa preta: pesquisa qualitativa sobre organização partidária ......... 46
Organização da tese ................................................................................................. 51

1. APRESENTANDO OS PERSONAGENS: PMDB, PT E PSDB NA DISPUTA


ELEITORAL CEARENSE ............................................................................................................ 55
1.1 - Sistema bipartidário e a hegemonia da ARENA ............................................... 55
1.2 - Sistema pluripartidário e a emergência do PMDB, PT e PSDB ........................ 65
1.3 - Capilaridade organizativa do PMDB, PT e PSDB ............................................ 81

2. O PMDB-CE: PARTIDO PERSONALISTA CENTRALIZADO INFORMALMENTE


............................................................................................................................................................ 99
2.1- Modelo originário e desenvolvimento organizativo........................................... 99
2.2- Estrutura da organização partidária ................................................................. 116
2.3- Grau de centralização nas eleições .................................................................. 140
a) Formação de aliança e coligação .................................................................... 143
b) Seleção de candidatos .................................................................................... 150
c) Distribuição de recursos ................................................................................. 164

3. O PT-CE: PARTIDO DE OPOSIÇÃO CENTRALIZADO POR TENDÊNCIA ........... 177


3.1- Modelo originário e desenvolvimento organizativo......................................... 177
3.2- Estrutura da organização partidária ................................................................. 194
3.3- Grau de centralização nas eleições .................................................................. 219
a) Formação de aliança e coligação .................................................................... 221
b) Seleção de candidatos .................................................................................... 234
c) Distribuição de recursos ................................................................................. 243

4. O PSDB-CE: PARTIDO GOVERNISTA COM FRACA INTEGRAÇÃO ..................... 253


4.1- Modelo originário e desenvolvimento organizativo......................................... 253
4.2- Estrutura da organização partidária ................................................................. 270
4.3- Grau de centralização nas eleições .................................................................. 291
a) Formação de aliança e coligação .................................................................... 294
b) Seleção de candidatos .................................................................................... 298
c) Distribuição de recursos ................................................................................. 302

CONSIDERAÇÕES FINAIS ....................................................................................................... 309

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ....................................................................................... 319

DOCUMENTOS PARTIDÁRIOS E LEGISLAÇÃO ............................................................. 327

MATÉRIAS DE JORNAIS .......................................................................................................... 331

SÍTIOS CONSULTADOS ............................................................................................................ 335

ANEXOS ......................................................................................................................................... 337


21

INTRODUÇÃO

A presente pesquisa tem por objetivo investigar a articulação entre as instâncias


partidárias nos três âmbitos federativos (municipal, estadual e nacional), analisando a
organização dos partidos em diferentes escalas de municípios. Portanto, a partir do caso do
estado do Ceará, serão investigadas as três maiores agremiações partidárias nacionais: Partido
do Movimento Democrático Brasileiro (PMDB), Partido dos Trabalhadores (PT) e Partido da
Social Democracia Brasileira (PSDB). A investigação abrange dois ciclos eleitorais: a eleição
municipal de 2012 e a eleição geral de 2014. Busca-se compreender o grau de centralização
dessas agremiações no que tange às decisões eleitorais na arena subnacional. Para mensurar
essa articulação intrapartidária, a pesquisa investiga três variáveis centrais: formação de aliança
e coligação, seleção de candidatos e distribuição de recursos para as campanhas.
No que concerne à arena eleitoral, procura-se compreender que tipos de canais
internos são estabelecidos entre as instâncias partidárias. São canais de comunicação,
deliberação, imposição ou intervenção? Ocorre, nessas agremiações, centralização da tomada
de decisão relativa à arena eleitoral? Caso ocorra centralização, ela se dá no plano nacional ou
no estadual?
Buscando responder tais questões, esse estudo ancora-se no atual debate sobre a
organização dos partidos brasileiros. Essa agenda de pesquisa tem mobilizado a literatura na
ciência política nacional na última década. Embora essa discussão não seja nova na literatura
internacional, ela só se tornou central no Brasil a partir das análises sobre as legendas partidárias
surgidas após a reforma partidária de 19791.
O recente interesse sobre o aspecto organizacional das agremiações partidárias é
motivado pelo fato de que ainda pouco sabemos sobre o funcionamento interno dessas
organizações. Pode-se citar algumas pesquisas sobre essa temática, como estudos de caso de
algumas agremiações, a saber: o PT (MENEGUELLO, 1989; KECK, 1991; RIBEIRO, 2010;
AMARAL, 2013), o PSDB (ROMA, 2002; ASSUMPÇÃO, 2008), o PMDB (MELHEM, 1998;
BIZARRO NETO, 2013) e, por fim, o Partido da Frente Liberal/Democratas (PFL/DEM)
(TAROUCO, 1999; CODATO; CERVI, 2006).

1
Cabe ressaltar a existência de estudos que abordaram o aspecto organizacional dos partidos que atuaram nos
regimes políticos anteriores. Sobre os partidos do período democrático compreendido entre 1946 a 1964, podemos
citar a pesquisa de Benevides (1981) que investigou a União Democrática Nacional (UDN) e de Hippolito (1985)
sobre o Partido Social Democrático (PSD¹). No período da ditadura militar, destacamos o trabalho de Kinzo (1988)
que analisou o Movimento Democrático Brasileiro (MDB). Nessas pesquisas, a dimensão organizacional era um
entre os vários aspectos analisados sobre as agremiações, não se constituindo como tema central de investigação.
22

Além desses estudos de caso, existem alguns trabalhos que empreendem análise
comparativa. Entre essas pesquisas, destacam-se as análises comparativas entre o PT e o PMDB
(RIBEIRO; FERREIRA, 2009), entre o PFL/DEM e o PMDB (FERREIRA, 2002) e entre o PT
e o PSDB (ROMA, 2006; SILVA, 2017). Outras análises se centram em questões pontuais da
organização partidária, como: seleção de candidatos (BOLOGNESI, 2013; BRAGA;
AMARAL, 2013), fundo partidário (BRAGA; BOURDOUKAN, 2010), estrutura decisória
interna (RIBEIRO, 2013) e processo de tomada de decisão (GUARNIERI, 2011).
Apesar do crescente aumento de pesquisas com enfoque organizacional, ainda
existem inúmeras lacunas sobre o real funcionamento das agremiações partidárias no Brasil,
com estudos que movimentem novos dados empíricos sobre as principais agremiações e
aspectos pontuais da sua estrutura organizativa.
A importância desta pesquisa deve-se ainda ao fato de que pouco compreendemos
sobre as atividades internas das organizações partidárias na arena subnacional e no âmbito
municipal. São escassas as análises que fornecem dados qualitativos e elementos empíricos
substanciais sobre a vida interior das agremiações partidárias, suas tomadas de decisões e suas
estruturas de oportunidades. Muitos desses aspectos organizativos não seriam visualizados por
meio de dados agregados, por exemplo.
Buscando contribuir com esse debate, a presente análise procura compreender
como os partidos brasileiros se estruturam e se organizam internamente para disputar as
eleições. Como formam alianças e coligações, como selecionam seus candidatos e como
distribuem os recursos para as campanhas eleitorais.
Existem definições alargadas e restritas sobre as organizações partidárias. As
primeiras analisam os variados tipos de partidos, como aqueles que competem eleitoralmente
nos regimes democráticos com sistema pluripartidário; os partidos únicos que operam em
regimes fechados com sistema unipartidário — que não permite a competição eleitoral — e os
partidos antissistema — que buscam subverter o status quo e conquistar o governo. Já as
definições restritas investigam exclusivamente a dimensão competitiva dos partidos que atuam
na arena eleitoral (JANDA, 1993).
Na presente pesquisa, adota-se a definição restrita, ou seja, organização que
compete por votos nas eleições. Nesse aspecto, observa-se que a arena eleitoral é o ambiente
particular no qual as legendas atuam e desenvolvem a sua atividade específica, que é a disputa
por votos (PANEBIANCO, [1982]). Parte-se do pressuposto de que essa arena é o lócus
essencial de atuação das agremiações partidárias, visto que, a partir do embate eleitoral, estas
agremiações conquistam recursos essenciais à sua manutenção e ao desenvolvimento das suas
23

atividades organizacionais. Assim, a atividade eleitoral é função básica exercida pelas


agremiações partidárias na democracia representativa (WEBER, [1922]; DOWNS, [1957];
SARTORI, [1976]).
Procuramos compreender, aqui, como os partidos brasileiros se organizam para
disputar pleitos eleitorais nos variados níveis federativos em que atuam. Assim, a questão que
norteia este estudo: qual é o grau de centralização dos processos decisórios do partido no
que tange à arena eleitoral?
Parte-se do pressuposto que, a despeito da existência de forças de dispersão geradas
pela natureza federativa do sistema político brasileiro (LIMA JÚNIOR, 1997; MAINWARING,
2001; AMES, 2003) e da alegada fragilidade dos partidos políticos na arena eleitoral
(MAINWARING, 2001; AMES, 2003), os órgãos partidários hierarquicamente superiores, nos
âmbitos nacional ou estadual, possuem mecanismos formais e/ou informais para controlar o
processo decisório no que diz respeito à arena eleitoral. As instâncias nacionais ou estaduais
concentram recursos organizativos que possibilitam centralização das decisões, influenciando
as instâncias hierarquicamente inferiores, como Diretórios Estaduais e Diretórios Municipais,
os quais são estratégicos. Assim, as agremiações desenvolvem mecanismos que neutralizam os
possíveis vetores centrífugos gerados pelo federalismo ou pela disputa eleitoral.
Como hipótese central, defendemos que o grau de centralização das decisões que
envolvem a arena eleitoral apresenta oscilações de acordo com o modelo organizacional,
a magnitude eleitoral do município e o tipo de eleição.
Defende-se que a origem do partido importa, que seu o modelo originário, se
marcado por estrutura organizacional centralizada ou descentralizada, irá influenciar seu
desenvolvimento organizativo (DUVERGER, [1951]; PANEBIANCO, [1982]). Baseado no
conceito de dependência da trajetória — path dependence — e no arsenal bibliográfico sobre a
organização das agremiações partidária analisadas, adotamos como hipótese que o PMDB
apresenta centralização nos Diretórios Estaduais, o PT centralização nacional em maior
grau e o PSDB centralização nacional em menor grau.
Quanto à magnitude eleitoral, defende-se como hipótese que nos municípios com
mais recursos e marcados por uma premiação maior — como capital e municípios de médio
porte — ocorre maior grau de centralização e interferência. Nos municípios menores, com
baixa magnitude eleitoral, os órgãos partidários locais apresentam menor grau de
centralização, gozando de maior autonomia.
Por fim, quanto ao tipo de eleição, admite-se como hipótese que as eleições
nacionais e estaduais exibem maior grau de centralização e que eleições municipais
24

apresentam menor grau de centralização. Assim, as decisões envolvendo as disputas locais


são mais descentralizadas e as lideranças locais desfrutam de maior autonomia.
Acreditamos que, em tese, as maiores legendas têm mais incentivos para
descentralizar seu processo decisório eleitoral, visto que possuem lideranças regionais, são
organizados em todo o território nacional, disputam cargos em todos os níveis do Executivo e
do Legislativo e apresentam candidatos na maioria dos municípios. Assim, se nas maiores
legendas houver um processo de centralização para controlar a arena eleitoral, presume-se que
também nas legendas menores exista essa tendência.
Admite-se também que a centralização do processo decisório pode ser estabelecida
nos espaços formais da organização — conforme é desenhado no estatuto e nas resoluções e
decidido nas reuniões da Comissão Executiva —, assim como nos espaços informais — por
meio da rotina estabelecida pela repetição de relações pessoais e a recorrência de acordos e
reuniões informais. A efetivação dessa centralização pode ocorrer por meio de variados
desenhos organizativos, podendo ser implementada pela execução da engrenagem burocrática
da agremiação, pelo acionamento dos grupos que integram a organização ou pela arbitrariedade
de liderança personificada.
Para tentar elucidar essas questões, analisaremos, conforme explicitado
anteriormente, os maiores partidos do Brasil: PT, PMDB e PSDB. Dentre as atuais 35
agremiações registradas, essas três agremiações são protagonistas, tanto no aspecto
organizacional quanto no desempenho eleitoral. Além disso, possuem alta representatividade
no Legislativo nacional e ocuparam postos no Executivo nacional. Nesse sentido, para essas
legendas, a arena nacional é central.
Dois supostos teóricos principais fundamentam a pesquisa. O primeiro é que as
agremiações partidárias são organizações fundamentais para o funcionamento de sistemas
políticos democráticos. Essas agremiações desempenham operacionalidade funcional ao
sistema, articulando a competição eleitoral e entrelaçando de maneira estável e previsível a
sociedade com o regime político.
Embora os partidos políticos nas democracias industriais avançadas estejam
passando por mudanças recentes, tais como diminuição da identificação partidária, queda no
número de filiados e aumento do sentimento antipartidário (DALTON; WATTENBERG, 2001;
DIAMOND; GUNTHER, 2001; DALTON, MCALLISTER, WATTENBERG, 2003), essas
teses não podem ser transplantadas para análise nas novas democracias — como América
Latina, Leste Europeu e África Subsaariana.
25

A literatura sobre partidos e sistemas partidários é concentrada em sistemas


institucionalizados, havendo pouco debate sobre democracias e semi-democracias
caracterizadas por sistemas partidários pouco institucionalizados (MAINWARING; TORCAL,
2005). Os critérios que são utilizados para medir o nível de institucionalização das agremiações
que atuam nas democracias com um grau notável de consolidação não são válidos ou dizem
pouco sobre a realidade política de países de democracia recente. Tomemos como exemplo os
partidos na América Latina, que são caracterizados como organizações em que predominam a
informalidade e a pessoalidade sobre a formalização de procedimentos. Realidade diferente do
cenário europeu ou americano (FREIDENBERG; LEVITSKY, 2007).
Podemos destacar que as agremiações partidárias no Brasil são instituições
fundamentais na arena eleitoral. Primeiro, porque possuem o monopólio da representação
política, uma vez que a lei eleitoral obriga que todos os candidatos sejam filiados em alguma
agremiação para que possam disputar eleições. A Lei dos Partidos Políticos (LPP) de 1995, Lei
nº 9.096, prescreve, em seu Artigo 18, que "para concorrer a cargo eletivo, o eleitor deverá estar
filiado ao respectivo partido pelo menos um ano antes da data fixada para as eleições,
majoritárias ou proporcionais” (BRASIL, 1995). Embora na Lei Eleitoral de 2015, Lei nº
13.165, o prazo mínimo para o candidato ser filiado em alguma agremiação partidária tenha
diminuído para seis meses (Art. 9º), percebe-se que as agremiações partidárias ainda detêm o
monopólio da concessão de candidatura.
Segundo, porque para que um candidato tenha acesso aos recursos fundamentais
para campanha eleitoral — como tempo de rádio e televisão no Horário Gratuito de Propaganda
Eleitoral (HGPE), recursos financeiros para campanha e suporte técnico de advogados,
marqueteiros e contador — ele precisar pertencer a um partido e ter influência na tomada de
decisões interna.
No que se refere às análises sobre os partidos políticos brasileiros produzidas a
partir da década de 1980, a “primeira onda” diagnosticou que essas agremiações seriam frágeis,
carecendo de sólida estrutura organizacional.
Para esses analistas, as agremiações partidárias seriam pouco enraizados na
sociedade; a identificação por parte do eleitorado não seria clara e diferenciada; o foco de
atuação seria apenas o desempenho eleitoral; o controle da organização sobre os seus membros
seria frágil, o que tornava suas ações pouco estáveis e previsíveis; o perfil programático entre
as legendas seria pouco diferenciado e sem consistência ideológica; e, por fim, as agremiações
gerariam incentivos seletivos para que os seus candidatos agissem de forma individualista e
personalista (LIMA JÚNIOR, 1983; LAMOUNIER; MENEGUELLO, 1986; LAMOUNIER,
26

1989; MAINWARING, 1991; SARTORI, 1993; MENEGUELLO, 1994; MAINWARING,


2001; AMES, 2003; KINZO, 2004). Tomando as variáveis institucionais como foco, essa
literatura criticava o sistema eleitoral que ou dificultava a estabilização da democracia ou,
minimamente, geraria patologias na representação política.
Em desacordo com o pessimismo dessas teses, uma “segunda onda” de pesquisas
passaram a analisar os partidos brasileiros não apenas em sua relação com o sistema eleitoral,
mas contemplando, sobretudo, sua performance na arena legislativa e governamental.
Na Câmara dos Deputados, por exemplo, pesquisas constataram a existência de
disciplina partidária gerada pelo regimento interno da casa, que confere amplos poderes aos
líderes partidários, fazendo com que estes neutralizassem as estratégias individualistas dos
deputados geradas pelo sistema eleitoral (LIMONGI; FIGUEIREDO, 1998). No Executivo
federal, observou-se uma lógica partidário-parlamentar na composição da base governamental,
sendo os as agremiações partidárias atores fundamentais para a composição da equipe do
governo (MENEGUELLO, 1998).
Assim, mesmo enfrentando dificuldades em sua função mediadora entre eleitores e
sistema político e na estruturação do jogo político, os partidos são organizações fundamentais
para o sistema democrático.
Retornando os supostos teóricos dessa pesquisa, parte-se ainda da defesa de que a
organização partidária é uma variável crucial para compreender o funcionamento das
agremiações partidárias.
Na literatura das ciências sociais, os partidos políticos foram analisados sob
variadas perspectivas teórico-metodológicas. Foi investigada a influência dessas organizações
na sociedade e sua relação com as classes sociais, analisada a dinâmica eleitoral por meio da
observação de dimensões como a volatilidade eleitoral e formação de coligações, estudada a
sua capacidade de formular e implementar políticas públicas e observada também a interação
do sistema partidário como um todo.
Dentro dessa variedade de abordagens, compreendemos que as agremiações
partidárias são compostas por três elementos fundamentais, sendo sua complexidade
comportamental explicada pelo jogo das relações entre esses setores: o partido como
organização propriamente dita, o partido no governo, o partido no eleitorado (BONE, 1958;
SORAUF, 1967; KATZ; MAIR, 1995, 2009).
No estudo em questão, a perspectiva adotada é investigar os partidos como
organização, compreendendo suas dinâmicas organizativas internas e a sua fisionomia. Essa
preocupação com o funcionamento da estrutura interna das agremiações partidárias esteve
27

presente ao longo do tempo em trabalhos clássicos das literaturas europeia e americana


(OSTROGORSKI, 1902; MICHELS, [1911]; WEBER, [1922]; DUVERGER, [1951];
NEUMANN, 1956; KIRCHHEIMER, [1966]; PANEBIANCO, [1982]; KATZ; MAIR, 1995,
2009).
Parte-se da ideia de que para entender as agremiações partidárias é necessário
analisar a dimensão do poder organizativo, investigando as alianças e os conflitos pelo poder
entre os diferentes atores que compõem a organização. Comungando com a tradição das
ciências sociais que ressalta a dimensão do conflito, adota-se a hipótese de que a luta pelo poder
no interior das organizações oferece a principal chave analítica para compreender o
funcionamento do partido e as mudanças que este experimenta ao longo do tempo
(PANEBIANCO, [1982]).
O partido como organização é um sistema autônomo de desigualdades que cria suas
próprias hierarquias. Seus conflitos internos estão relacionados a esse sistema de desigualdades.
Esse sistema interno possibilita a um grupo de pessoas um tipo específico de poder que permite
a imposição de sua definição das relações humanas dentro da organização. Assim, quem
controla uma organização tem poder superior ao de quem não pode exercer controle análogo,
sendo os conflitos intrapartidários fruto dessa busca ou defesa de poder organizativo
(PANEBIANCO, [1982]).
Os partidos políticos não são organizações uniformes e homogêneas, sendo antes
sistemas de conflitos compostos por sub-coalizões de militantes que advogam por diversas
estratégias e objetivos. Essas organizações são compostas por uma soma de indivíduos que
formam grupos rivais, os quais buscam alcançar interesses específicos. Ao mesmo tempo, esses
grupos buscam superar suas diferenças e articulam os diversos interesses em uma meta maior
que unifica a agremiação (KITSCHELT, 1989). Sobre esse prisma, compreender essas relações
de poder no interior da organização é fundamental para analisar como a organização toma
determinadas posições.
A pesquisa compreende que os partidos, como organizações complexas, servem
também para possibilitar, perpetuar e/ou aumentar o poder social de grupos mais ou menos
restritos que os comandam. Parte-se da ideia de que dentro da agremiação partidária existem
conflitos entre os agentes organizativos que os compõem, surgindo sempre uma nova classe
dirigente que irá substituir ou apoiar as classes dirigentes preexistentes (PANEBIANCO,
[1982]).
Na literatura sobre as agremiações partidárias, existe um consenso sobre os estas
instituições como grupo que busca cotas de poder (WEBER, [1922]; DUVERGER, [1951];
28

DOWNS, [1957]; KIRCHHEIMER, [1966]; SARTORI, [1976]; PANEBIANCO, [1982]). Na


democracia representativa, as agremiações partidárias assumem o poder, o governo e o
parlamento por meio do embate eleitoral. Portanto, é fundamental analisarmos a centralidade
da arena eleitoral nos diferentes modelos de partidos apontados pela literatura sobre
organização partidária.

Modelos de partidos e a centralidade da arena eleitoral

A literatura sobre organização partidária teve em Ostrogorski (1902), Michels


[1911] e Weber [1922, 1919] seus primeiros teóricos. Estes autores buscaram compreender a
função das agremiações partidárias na democracia moderna. Porém, foi na década de 1950, com
o trabalho de Duverger [1951], que essa temática avançou com a sistematização da diversidade
de agremiações partidárias por meio da criação de tipologia. O autor estabeleceu classificação
a partir da sua origem interna ou externa aos grupos parlamentares e comitês eleitorais,
respectivamente partidos de quadros e partidos de massa.
Um dos tipos sociológicos destacado por Duverger [1951] é chamado partido de
quadros. Este corresponde aos partidos “burgueses” de representação individual, ou agremiação
de notáveis, surgidos no século XIX e que atravessaram o século XX.
O funcionamento interno dessas organizações é orientado para a arena eleitoral.
Essas instituições:
Repousam em comitês pouco amplos, assaz independentes uns dos outros,
geralmente descentralizados; não procuram multiplicar seus partidários nem
enquadrar grandes massas populares, mas antes agrupar personalidades. Sua
atividade é orientada internamente para as eleições e as combinações
parlamentares, daí conservando um caráter semi-sazonal; seu arcabouço
administrativo é embrionário, sua direção permanece grandemente nas mãos
de deputados e apresenta uma forma individual muito acentuada: o verdadeiro
poder pertence a tal ou tal grupo congregado em torno de um líder
parlamentar, e a vida do partido reside na rivalidade desses pequenos grupos.
O partido só se ocupa de problemas políticos; a doutrina e os problemas
ideológicos desempenham apenas um papel secundário; o partidarismo
baseia-se de preferência no interesse ou no hábito (DUVERGER, [1951], p.
35, grifo nosso).
Com a expansão do sufrágio no final do século XIX e início do XX, surgiram os
partidos socialistas e comunistas. Essas agremiações foram nomeadas por Duverger [1951] de
partidos de massa, pois eram organizações populares que enquadravam a opinião pública e
integravam grande contingente de trabalhadores.
Nesse tipo, os comitês eram grupos de trabalho mais amplos e abertos, com forte
integração e maior centralização. Estes podiam ser divididos em seções, no caso dos partidos
29

socialistas, ou em células, no caso dos partidos comunistas. Eles nasciam da cúpula que
centralizaria seções ou células da base. As agremiações buscavam multiplicar seus filiados,
enquadrando-os e politizando-os.
A sua principal atividade não era a disputa eleitoral ou a ocupação de cargos no
parlamento, mas a promoção de valores espirituais e morais. Seu arcabouço administrativo seria
burocratizado, apresentando estrutura permanente. Apresentam-se mais coerentes e
disciplinados. O grupo parlamentar não influenciava a atuação da organização, sendo
constantemente vigiado e disciplinado. A doutrina e os problemas ideológicos desempenhavam
papel central, apresentando forte doutrinarismo, que exigia de seus membros a adesão ao
programa e à ideologia da agremiação partidária.
O êxito da política de enquadramento dos partidos de massa e as suas expressivas
vitórias no plano eleitoral levou Duverger [1951] a considerar que os partidos de quadros iriam
se adaptar ao seu modelo organizativo para conseguir se conservar no poder. Essa
universalização dos partidos de massa seria o fenômeno intitulado de “contágio pela esquerda”.
Observando a atuação das agremiações partidárias na Europa e nos Estados Unidos,
Kirchheimer [1966] contestou esse fenômeno. Para este autor, após o crescimento econômico
e a experiência do Estado de Bem-Estar Social houve redução da polarização política, que
causou desideologização no campo político. Surgiu um novo tipo de organização, caracterizado
como catch-all, ou partido pega-tudo. Esse tipo seria caracterizado pela drástica redução da
bagagem ideológica; maior estreitamento entre os grupos de lideranças do topo das
organizações; rebaixamento do papel desempenhado pelo membro partidário individual; busca
de eleitores em toda a população, e não mais concentrada em clientela específica; predomínio
da influência de grupos de interesse no interior da organização que dão suporte eleitoral e
financeiro.
Motivado por uma estratégia eleitoral, o partido catch-all se lança da maneira mais
abrangente possível no mercado eleitoral, expressando amplos sentimentos de preocupação
popular. Seu discurso político não apresenta mais caráter ideológico voltado a uma classe social
específica ou uma clientela confessional, mas investe em temas os mais abrangentes possíveis
em favor do recrutamento de eleitores da população em geral. Esse tipo apresenta caráter mais
conservador, pois se empenha em continuar no poder ou em se mover em direção ao poder
governamental.
Dialogando com essa tipologia, Panebianco [1982] definiu, posteriormente, um
novo modelo de organização, o partido profissional-eleitoral. Esse tipo seria marcado pela
atuação de profissionais, filiados ou não, que assumiriam destaque na política intrapartidária
30

devido a sua competência técnica e não mais por sua militância. A agremiação partidária seria
caracterizada pelo apelo ao eleitorado de opinião onde predominaria representantes públicos e
direções personalizadas. O financiamento ocorreria por meio de grupos de interesse ou de
fundos públicos. A relação partido-eleitorado se dava por meio de vínculo mais fraco e
descontínuo, ancorada não mais na forte inserção social e com subculturas políticas fortes e
compactas.
A transformação dos antigos partidos burocráticos de massa em partidos
profissionais-eleitorais se deu em razão de duas importantes mudanças ambientais: uma mais
estrutural — ligada ao sistema de estratificação social provocada pela dinâmica capitalista,
ocasionando, por exemplo, a diminuição do número de trabalhadores no setor secundário — e
outra mais pontual, relacionada ao impacto dos meios de comunicação de massa na dinâmica
política (PANEBIANCO [1982]).
Sobre esse aspecto, cabe destacar a análise de Epstein (1967) já na década de 1960,
a qual destaca que os partidos eleitorais estadunidenses estariam mais preparados para disputar
eleições nas modernas campanhas eleitorais do que os partidos socialistas europeus, pois para
ter sucesso na disputa eleitoral não era mais necessário recrutar e mobilizar uma massa de
militantes, bastando apenas operar corretamente os meios de comunicação de massa e as
pesquisas eleitorais.
Avançando na tipologia organizativa, Katz e Mair (1995) propuseram uma linha
evolutiva dos modelos de partidos: partido de quadro, partido de massa, partido catch-all e
partido cartel. Para os autores, seguindo as transformações nas democracias, predominaria,
atualmente, o modelo de partido cartel.
Nessa nova configuração, o partido seria marcado por estreita relação com o Estado,
uma vez que os recursos obtidos pelo e por meio do Estado são fundamentais para que a
organização sobreviva. Esses recursos garantem acesso aos meios de comunicação de massa,
fornecimento de recursos humanos, legitimidade perante a sociedade civil e auxílio para a
distribuição de incentivos seletivos.
A contribuição de Katz e Mair (1995) vai além da criação de nova tipologia. Os
autores sofisticaram as análises ao defenderem que os partidos não podiam ser analisados como
unidades, já que teriam três expressões distintas, ou três faces: a face pública, ou como o partido
se faz representar no parlamento e no governo; a base partidária, compreendendo os militantes
e filiados; e a direção nacional. Essa distinção é importante porque permite compreender a real
função que o partido desempenha nas democracias contemporâneas, já que o partido cartel
privilegia a face pública em detrimento das outras.
31

Por último, podemos citar a tipologia proposta por Wolinetz (2002) que classifica
as agremiações partidárias a partir do seu comportamento. Nessa perspectiva, existiriam
partidos do tipo vote-seeking, policy-seeking e office-seeking.
O tipo vote-seeking seria marcado pela ênfase na arena eleitoral. O objetivo
principal é ganhar eleições e para alcançar essa meta pode recorrer a estratégia de transformação
de seu programa e de sua política. Seria o tipo clássico, definido por Downs [1957], de partidos
como maximizadores de votos, à exemplo das agremiações que perseguem políticas para ganhar
as eleições mais do que vencem eleições para implementar políticas. Caso opere em sociedade
heterogênea ou sob sistema de eleições majoritárias, a organização teria estrutura de coalizão
suficientemente ampla para abraçar diferentes grupos sociais e dar ao partido a chance de
conquista da maioria. Caso opere em sistema multipartidário, a organização tentaria maximizar
o apoio de amplo eleitorado. Organiza-se para ganhar o cargo em todos ou quase todos os níveis
(local, regional ou nacional) em que as eleições ocorrem, mantendo apenas o grau mínimo de
estrutura partidária necessária para recrutar e selecionar candidatos e fazê-los eleitos
(WOLINETZ, 2002).
No aspecto organizacional, a atividade de vote-seeking exige intensiva participação
de filiados e ativistas para desenvolver a campanha eleitoral. Porém, por meio do uso de fundos
privados ou governamentais para financiar as eleições e com o predomínio de campanhas
eleitorais dirigidas por profissionais e agências de marketing, o envolvimento dos filiados não
é mais imperativo. Os níveis de atividade do partido variariam consideravelmente, aumentando
no período eleitoral (WOLINETZ, 2002).
Os partidos do tipo policy-seeking orientam sua atividade buscando redefinir a
agenda política para realizar mudanças substantivas em variadas áreas. Apresentam programas
bem definidos, priorizando as suas ideias e o seu programa. Contam com intensa atuação de
militantes (WOLINETZ, 2002).
O terceiro tipo, o partido office-seeking, prioriza a participação no governo.
Esquiva-se de comprometimentos programáticos e estratégias eleitorais de ataque a outras
legendas capazes de torná-lo indesejável como parceiro de coalizão. O objetivo é ganhar votos
suficientes para assegurar sua participação em coalizões governamentais, pois a sobrevivência
organizativa desse tipo depende dos recursos provenientes do Estado. Cabe observar, ainda,
que seus membros ocupam, ou buscam ocupar, cargos públicos (WOLINETZ, 2002).
Assim, podemos dividir a compreensão sobre os modelos de partidos entre teorias
que superdimensionam a atividade eleitoral na atuação partidária e outras que minimizam sua
centralidade. As teses que minimizam a importância das disputas eleitorais argumentam que,
32

em algumas ocasiões, as agremiações adotam ações que, previsivelmente, ou os penaliza


eleitoralmente ou não possibilita ganhos eleitorais, sendo a estratégia de maximizar os votos
apenas uma das possíveis frentes de ação. As outras frentes de ação seriam a demarcação de
posição no jogo político, a formação de militantes, entre outras.
Observando o cenário político brasileiro, Souza (1976) ressalta que existe
vinculação das agremiações partidárias com o aparelho estatal desde a formação dos primeiros
grandes partidos nacionais em 1945. Nesse aspecto, ocupar postos no governo é substancial
para a sobrevivência política das agremiações partidárias. Como esses cargos são ocupados por
meio do embate eleitoral, essa arena torna-se essencial para as agremiações partidárias
nacionais investigadas nesta pesquisa.
Como acentuado anteriormente, a maioria das análises sobre organização partidária
no Brasil são estudos de caso sobre agremiações específicas. Poucas pesquisas comparam a
estrutura organizacional de variados partidos, sobretudo a partir de análise multinível,
observando-os em seus variados níveis federativos de atuação — nacional, estadual e municipal.
Visando suprir essa lacuna na literatura, buscamos analisar como os principais
partidos brasileiros — PMDB, PT e PSBD — se estruturam para disputar eleições nos
diferentes níveis federativos em que atuam. Nesse aspecto, torna-se central o debate sobre a
relação entre o federalismo e a organização partidária.

Federalismo e organização partidária

No debate sobre a fragilidade dos partidos brasileiros, a natureza federativa do


sistema político é tomada como um dos fatores que originaria partidos pouco
institucionalizados e com frágil estrutura organizacional (MAINWARING, 2001; AMES,
2003). Essas pesquisas criticam sobretudo a engenharia institucional, como o sistema eleitoral
e o federalismo, que estimulariam a heterogeneidade das legendas, dando forma a subsistemas
partidários-eleitorais estaduais.
No entanto, a recente literatura sobre a correlação entre federalismo e organização
partidária argumenta que a relação entre essas duas variáveis é complexa e que os efeitos
esperados variam conforme o tipo de federalismo, o modelo genético da organização partidária
e a relação entre as elites intrapartidária.
Nas análises sobre os tipos de organização partidária, constata-se que a estrutura
federal do Estado reflete no modelo de organização que a agremiação adota, sendo inclusive a
causa de um tipo de descentralização da estrutura organizacional. Duverger [1951], por
33

exemplo, classifica quatro tipos de descentralização: local, quando a base do partido tem
autonomia e o centro tem pouco controle sobre sua ação; ideológica, quando as correntes
internas ou tendências tem autonomia; social, quando categorias de composição
socioeconômica distintas tem autonomia; federativa, quando os grupos são formados a partir
do federalismo estatal.
De maneira geral, percebeu-se que em estados unitários as estruturas partidárias
tendem a ser mais centralizadas. Por sua vez, em estados federativos, estas estruturas tendem a
ser mais descentralizadas (DUVERGER, [1951]; PANEBIANCO, [1982]).
Essa relação não ocorre de forma mecânica. Existem casos em que o partido assume
organização centralizada pelo fato da natureza federativa do Estado já permitir que
determinados grupos exprimam suas demandas diretamente nos órgãos governamentais; ou
ainda, circunstâncias em que grupos optam por estrutura federal dentro da organização pelo fato
do Estado ser unitário e não possibilitar o acesso de determinados grupos ou interesses ao
sistema político (DUVERGER, [1951]). O federalismo torna-se assim uma variável central para
compreender como as agremiações partidárias se organizam.
Como modelo de organização política, o federalismo busca equacionar tensões em
sociedades marcadas por algum tipo de clivagem. Nesse sistema, coexistem diferentes centros
de poder e instâncias de decisão, ocorrendo constante tensão entre forças centrífugas e
centrípetas, gerando e mantendo tanto a unidade quanto a diversidade (BOTHE et al., 1995).
Esse arranjo institucional, baseado em estrutura dual de poder, é formado pelo
governo central e pelos governos regionais que possuem autonomia constitucional, criando
múltiplas arenas para os partidos se organizarem e disputarem eleições. O federalismo permite
a dispersão do poder e acarreta um sistema partidário diverso e autônomo nas unidades
constituintes (RIKER, 1964).
Ainda de acordo com Riker (1964), a crescente autonomia das agremiações
partidárias no plano subnacional gerada pelo federalismo teria como efeito relevante a
necessidade de responder de forma mais direta às demandas de seus eleitores. Dessa forma, nas
arenas municipais e estaduais, os partidos se tornariam mais responsáveis e representativos da
população local do que seriam se fossem centralizados e uniformes.
No entanto, existem diferentes formas de federalismo, sendo também variados os
seus efeitos sobre a organização partidária. Em federações descentralizadas e com pouca
coordenação entre as esferas federal e estadual, a tendência é que o partido, no plano estadual,
seja autônomo. O contrário ocorre em federações centralizadas, em que os recursos são
concentrados e existe necessidade de coordenação entre os entes federativos, pois a tendência
34

é encontrar partidos integrados e com pouca autonomia no plano estadual (CHHIBBER;


KOLLMAN, 2009).
Na literatura, argumenta-se que quando o plano estadual tem seu poder elevado pela
autonomia no pacto federativo e pelo alto desempenho econômico, aumenta-se o preço para
manter a unidade entre os planos estadual e federal do partido. Isso eleva o potencial para a
divergência entre as preferências dessas duas esferas que o compõem (THORLAKSON, 2009).
No Brasil, a tese de Lima Júnior (1983) inaugurou uma tradição na literatura que
passou a observar essas agremiações sob perspectiva intra-sistêmica, analisando o sistema
partidário nacional por meio da observação de variações dentro do próprio sistema e das
diferenças regionais existentes.
Criticando a noção de uma “racionalidade política invariante”, que não levaria em
conta a noção de tempo e espaço, o autor defende a utilização de uma “racionalidade política
contextual”. Nessa, poder-se-ia observar a coexistência de diferentes subsistemas partidários
dentro do sistema partidário legalmente estabelecido. Assim, analisando o sistema partidário de
1946 a 1964, o autor observa que em vez de multipartidário, fragmentado e composto por treze
legendas, esse sistema é composto por três subsistemas partidários: bipartidário, multipartidário
moderadamente fragmentado e multipartidário altamente fragmentado (LIMA JÚNIOR, 1983).
A tese da existência de subsistemas partidários estaduais passou a orientar as
análises sobre o sistema partidário pós-reforma de 1979. Nesses sistemas, as organizações
partidárias estaduais seriam fortalecidas e o poder central dos partidos não exerceria controle
sobre suas atividades. Isso significa que em uma agremiação pode existir 27 chefes partidários,
isto é, um para cada estado-membro (LIMA JÚNIOR, 1997).
Prevaleceu, portanto, a tese de que o federalismo atua como força centrífuga sobre
os partidos políticos brasileiros, afetando e dificultando sua coesão interna, tornando as
organizações partidárias mais descentralizadas (MAINWARING, 1991; STEPAN, 1999). Esse
sistema político dificultaria a criação de arenas partidárias nacionais de organização, pois o
partido tem que levar em consideração as demandas regionais e locais na ordenação de
prioridades (FERREIRA, 2002).
Defende-se, ainda, que a competição eleitoral é desenhada a partir da lógica
estadual, pois a única eleição de abrangência nacional é a de presidente, e todas as outras têm
caráter estadual ou local. Nesse sistema, as elites políticas constroem suas carreiras no plano
estadual, sendo o governador, e não as agremiações partidárias, suas peças-chave. Essa tese
argumenta que o sistema político no período de redemocratização obedeceu mais a padrões
35

regionais do que nacionais, gerando incentivos para que a classe política agisse de forma
“estadualista” e não em torno de pacto nacional (ABRUCIO, 1998).
Abrucio (1998) defende que os governadores são os atores principais para a
compreensão do sistema político brasileiro, e que as agremiações partidárias estaduais não
agregariam interesses coletivos, pois, como já demonstrado por Ames (2003), os deputados
federais agem de maneira individualista.
Prevalece a tese de que são as instâncias partidárias estaduais que organizam e
conduzem as disputas eleitorais, selecionam candidatos de todos os níveis e comandam os
mecanismos de patronagem (ABRUCIO, 1998; AMES, 2003). Os partidos se organizariam em
subsistemas estaduais com padrões de aliança e lógicas distintas, enfraquecendo a sua
construção como estruturas nacionais (LIMA JÚNIOR, 1983, 1997).
Apesar das pesquisas iniciais ressaltarem esse efeito perverso do federalismo no
sistema partidário, pesquisas recentes vêm rebatendo tais análises.
Consta que, após a autonomia organizativa adquirida com a LPP de 1995, as
agremiações partidárias passaram a alterar suas estruturas decisórias de forma a concentrar
poder nas instâncias nacionais, reprimindo, assim, possíveis fragmentações federalistas
(RIBEIRO, 2013).
Percebe-se que as lideranças partidárias possuem mecanismos que lhes permitem
centralizar o poder dentro da organização, controlando a atividade partidária das instâncias
subnacionais. Essa centralização ocorre por meio do mecanismo das Comissões Provisórias,
que faz com que as lideranças tenham controle sobre as convenções partidárias, órgão
deliberativo por excelência (GUARNIERI, 2011). Assim, o sistema partidário segue em direção
a concentração do poder partidário (BRAGA; ROMA, 2002; GUARNIERI, 2011; RIBEIRO,
2013).
Embora se possa observar tendência de centralização do sistema partidário no plano
nacional, com a existência de subsistemas próprios nos estados (BRAGA, 2006), esses
subsistemas partidários estaduais tendem a reproduzir a lógica do sistema federal, seguindo em
direção à nacionalização partidária (BRAGA; ROMA, 2002).
Além disso, nota-se que os sistemas partidários que emergem da disputa eleitoral
nos municípios se articulam e podem ser explicados pelas disputas que ocorrem nas outras
esferas da federação, nos planos estadual e federal. Existe, pois, articulação no sistema
partidário entre diferentes níveis da federação (CARNEIRO; ALMEIDA, 2008).
Dessa forma, surge nesse debate uma questão fundamental: qual o grau de
centralização das decisões eleitorais dos partidos brasileiros?
36

No Brasil, a regulamentação da atividade partidária ocorreu por meio da Lei


Orgânica dos Partidos Políticos (LOPP), Lei nº 4.740, publicada em 15 de julho de 1965. No
mesmo ano, o “regime militar-autoritário brasileiro” (KINZO, 1988) impôs o Ato Institucional
nº 2 (AI-2), que em seu Artigo 18 extinguiu os partidos políticos existentes e impôs que
agremiações com função de partido que fossem criadas seguissem as exigências da LOPP de
1965.
Posteriormente, com a Constituição de 1967, a lei constitucional passou a
normatizar os partidos, sendo o Capítulo III dedicado a estas instituições. A LOPP foi revogada
em 1971, pela Lei nº 5.682, que detalhou a estrutura organizacional dos partidos, refletindo o
regime federalista do Estado. Os órgãos do partido eram divididos nos níveis nacional, estadual
e municipal, sendo este último subdividido em zonas eleitorais ou zonais, caso contasse com
mais de um milhão de habitantes. Esses órgãos, segmentados nesses níveis federativos,
compunham uma hierarquia em que o nível superior, o nacional, podia intervir em alguns casos
nos níveis inferiores. Por essa legislação, a seção municipal constituía a unidade orgânica
fundamental (Art. 23) e a Convenção Nacional seu órgão supremo (Art. 24).
A LOPP de 1971 instituiu quatro tipos de órgãos partidários, como vemos abaixo:
Art. 22. São órgãos dos Partidos Políticos:
I - De deliberação: as Convenções Municipais, Regionais e Nacionais;
II - De direção e de ação: os Diretórios Distritais, Municipais, Regionais e
Nacionais;
III - De ação parlamentar: as Bancadas; e
IV - De cooperação: os conselhos de ética partidária, os conselhos fiscais e
consultivos, os departamentos trabalhistas, estudantis, femininos e outros com
a mesma finalidade. (BRASIL, 1971).
Durante seu período de existência, a LOPP sofreu alterações conforme os interesses
imediatos do governo. A grande reforma dessa legislação aconteceu em 1979, com a Lei de
Reforma Partidária (LRP), Lei nº 6.767, que cancelou os partidos existentes até então —
Aliança Renovadora Nacional (ARENA) e Movimento Democrático Brasileiro (MDB) —, e
por meio da modificação de alguns dispositivos, possibilitou a criação de novas agremiações
partidárias.
A LOPP não chegava a proibir diretamente a existência de mais de dois partidos,
porém colocava obstáculos intransponíveis para a criação de novas agremiações. Por exemplo,
consta no Artigo 7º dessa legislação que para um partido pleitear sua organização deveria contar
inicialmente com 5% do eleitorado que houvesse votado na última eleição geral para a Câmara
dos Deputados, distribuído em sete ou mais estados, com o mínimo de 7% em cada um deles
(Art. 7º).
37

A LRP flexibilizou as exigências para a criação imediata de novas agremiações,


como vemos abaixo:
Art. 14. Funcionará imediatamente o partido político que, registrado no
Tribunal Superior Eleitoral, tenha:
I - como fundadores signatários de seus atos constitutivos pelo menos 10%
(dez por cento) de representantes do Congresso Nacional, participando a
Câmara dos Deputados e o Senado Federal; ou
II - apoio expresso em voto de, no mínimo, 5% (cinco por cento) do eleitorado
que haja votado na última eleição geral para a Câmara dos Deputados, pelo
menos por 9 (nove) Estados, com o mínimo de 3% (três por cento) em cada
um deles (BRASIL, 1979).
Pela legislação de 1979, para que uma agremiação partidária obtivesse o
reconhecimento legal provisório, seus fundadores, em número nunca inferior a 101, deveriam
eleger uma Comissão Diretora Nacional Provisória, formada de 7 a 11 membros, que se
responsabilizasse pela publicação, na imprensa oficial, de um manifesto de lançamento,
acompanhado do estatuto e do programa (Art. 5º). Essa comissão designaria para os estados
comissões com igual número de membros, os quais nomeariam, em suas respectivas áreas
territoriais, comissões para os municípios e para as zonas eleitorais existentes em suas capitais
(Art. 6º). Depois de cumpridas as formalidades iniciais, como o envio à Justiça Eleitoral de atas
da organização dessas Comissões Provisórias e declarações de apoio ao estatuto e programa, o
partido provisório teria o prazo de 12 meses para se organizar de forma permanente (Art. 9º).
Por organização da Comissão Provisória Nacional, entedia-se a realização da
Convenção Nacional, de Convenções Regionais em pelo menos nove estados e Convenções
Municipais em 1/5 de seus respectivos municípios. Nessas convenções, deveriam ser aprovados
o manifesto, o estatuto e o programa. Além disso, deveria ser realizada a eleição dos respectivos
Diretórios e Comissões Executivas (Arts. 12 e 13).
Cumpridas essas exigências, a organização adquiria registro provisório e poderia
disputar as eleições gerais de 1982. Para que tivesse direito à representação no Senado Federal,
na Câmara dos Deputados e nas Assembleias Legislativas, este deveria, obrigatoriamente, obter
votação mínima nas eleições para a Câmara dos Deputados, apresentando o apoio em voto de
5% do eleitorado, distribuído em pelo menos nove estados, com o mínimo de 3% em cada um
deles (Art. 16). Caso não obtivesse essa votação mínima, seus candidatos seriam declarados
nulos, mas a agremiação poderia preservar sua organização para habilitar-se a novo pleito
eleitoral (Art. 17).
As exigências do Artigo 16, citadas no parágrafo acima, foram suspensas pela
Emenda Constitucional nº 22, em 29 de junho de 1982, antes das eleições, em 15 de novembro.
Caso a Emenda não tivesse sido promulgada, apenas dois partidos teriam obtido direito a
38

representação legislativa: o Partido Democrático Social (PDS), que herdou o capital político da
ARENA e obteve 36,68% dos votos; e o PMDB, o antigo MDB, que apresentou 36,46% dos
votos. As outras agremiações que disputaram as eleições não alcançaram o quórum mínimo
inicialmente estabelecido: o Partido Democrático Trabalhista (PDT) com 4,94%, o Partido
Trabalhista Brasileiro (PTB) com 3,77% e o PT com 3,01% (CITADINI, 1988).
Nessa legislação partidária, as decisões eleitorais eram descentralizadas. Em cada
nível hierárquico ocorriam convenções destinadas exclusivamente à seleção de candidatos e ao
estabelecimento de coligações eleitorais, sendo suas deliberações válidas para sua esfera de
atuação. Assim, por exemplo, a Convenção Municipal decidia sobre as eleições locais,
selecionando os candidatos ao cargo de prefeito e vereador; a Convenção Estadual definia os
candidatos para os cargos de deputado estadual, governador, deputado federal e senador, e, por
fim, a Convenção Nacional selecionava o candidato ao cargo de presidente.
Percebemos que a LRP ainda estava engessada pelas regulamentações da LOPP. A
legislação partidária especificava minunciosamente as exigências para a criação de uma nova
agremiação e modelava detalhadamente suas estruturas internas. Como ressalta Keck (1991),
esse ordenamento jurídico favorecia claramente as agremiações que herdaram a estrutura
partidária e o capital eleitoral, como vimos para o caso da ARENA e do MDB. Além disso,
dificultava a inovação política proposta por partidos como o PT.
Em 1995, com a LPP, Lei nº 9.096, os partidos conquistaram autonomia para definir
sua estrutura interna, incentivando as agremiações a reformularem seus estatutos. Apesar de o
modelo originário dos partidos, fundados sob a égide da LRP e da LOPP, ser marcado pela forte
descentralização, as agremiações passaram a reformular seus estatutos de modo a desenvolver
formalmente estratégias para controlar nacionalmente as suas decisões.
Podemos citar a criação de um novo órgão partidário de âmbito nacional
estabelecido por algumas agremiações. Esse novo instrumento burocrático era de natureza
consultiva e ocupava posição similar ao Conselho Executivo Nacional, definindo de forma
centralizada as decisões internas. Como destacado por Ribeiro (2013), percebe-se indícios de
que as lideranças nacionais dos maiores partidos, como PT, PSDB, PMDB e PFL/DEM,
buscaram estabelecer uma estrutura decisória centralizada pelos órgãos nacionais e com maior
articulação interna entre as instâncias partidárias, sobretudo no que se refere às decisões
eleitoras.
Nesse sentido cabe indagarmos: os partidos apresentam graus variados de
centralização? No que tange às decisões eleitorais, quando, como e onde existe a tendência para
a centralização? Buscando analisar essas questões desenvolvemos a presente pesquisa.
39

Desenho da pesquisa

Como dito anteriormente, o objetivo central dessa pesquisa é analisar a articulação


entre as instâncias partidárias dos três maiores partidos Brasil (PMDB, PT e PSDB) quanto às
deliberações eleitorais nas eleições de 2012 e 2014. A escolha dessas agremiações partidárias
deve-se ao fato de que estas são celebradas pela literatura como as mais importantes do país.
Observando a eleição para a Câmara dos Deputados entre 1994 e 2014, como
demonstrado no Gráfico 12, percebemos que as três legendas foram as que mais elegeram
deputados.
Identificamos que o PMDB, durante esse período histórico, elegeu o maior número
deputados federais. Em seguida, aparecem PT e PSDB. Todos os demais partidos apresentaram
desempenho irregular ao longo dos ciclos eleitorais. Podemos observar, também, que algumas
siglas apresentaram redução na quantidade de cadeiras ocupadas ao longo das eleições, como
foi o caso do PFL/DEM e do Partido Progressista/Partido Progressista Brasileiro (PP/PPB).
No aspecto organizacional, os três partidos investigados na presente pesquisa são
os que mais possuem capilaridade organizativa, como vemos na Tabela 1 que se segue.

2
São necessárias duas explicações técnicas quanto à elaboração desse gráfico. Primeiro, para contabilizar a
quantidade de deputados federais do PP/PPB ao longo desses ciclos eleitorais, foram agregados alguns dados: nas
eleições de 1994 foram somados os deputados federais do Partido Progressista Reformador (PPR), com 52
deputados, e do Partido Trabalhista Renovador (PTR), com 36 deputados. Segundo, na categoria “outros” foram
agregadas as pequenas agremiações. Porém, nas eleições de 2014, esse número aumentou porque foram
contabilizados dois tipos de partidos: os estreantes na disputa eleitoral, mas que obtiveram um alto desempenho
eleitoral, como o Solidariedade (SD) com 15 deputados e o Partido Republicano da Ordem Social (PROS), com
11 deputados; e os que aumentaram sua representação, como o Partido Republicano Brasileiro (PRB), com 21
deputados.
40

Gráfico 1 - Quantidade de deputados federais eleitos (1994-2014)

PMDB
76 78 66
83 89
107 PT

PSDB
70
59
91 86 PFL/DEM
49 83
PP/PPB
54
62 99 54 PTB
70 65 22

36 PSB
43
89 25 PDT
65
84 44
105 34 PL/PR
22 19
42
PCdoB
52 35 34
88 22
10 PCB/PPS
60 27 27 10
26 12
24 PSC
31 22 41 37
31
15 21 23 8
15 PSD
18 13 12
34 26
25 21 17
12 76 PV
13 9 13
12 15 13
10 7
17 26 Outros
6 5 12
1994 1998 2002 2006 2010 2014
Fonte: Elaboração própria a partir dos dados do Tribunal Superior Eleitora (TSE).
41

Tabela 1 - Quantidade de órgãos partidários no Brasil (2008-2015)


% Média
PARTIDO 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015 MÉDIA
Municípios
PT 4.910 5.093 5.078 5.392 5.427 5.423 4.983 5.140 5.180,7 93,0
PMDB 4.049 4.983 4.458 5.447 5.449 4.867 4.590 5.303 4.893,2 87,8
PSDB 4.153 4.291 3.261 5.127 5.127 4.949 3.801 4.985 4.461,7 80,1
DEM 4.266 4.583 4.246 4.795 4.679 4.269 4.089 4.557 4.435,5 79,6
PTB 3.800 4.133 3.924 4.821 4.813 4.442 4.001 4.250 4.273 76,7
PR 3.956 4.191 3.969 4.552 4.529 4.460 4.011 4.461 4.266,1 76,5
PP 2.983 4.288 3.786 4.824 4.784 4.379 3.889 4.627 4.195 75,3
PDT 2.818 3.434 3.053 4.700 4.750 4.216 3.765 4.408 3.893 69,8
PSD - - 2 4.584 4.700 4.553 4.375 4.825 3.839,8 68,9
PSB 2.581 3.463 3.236 4.395 4.524 4.249 3.520 4.322 3.786,2 67,9
PSC 2.513 2.760 2.799 3.685 3.691 3.676 3.434 3.720 3.284,7 58,9
PPS 2.263 2.874 2.128 3.731 3.729 3.303 2.661 3.177 2.983,2 53,5
PRB 2.127 2.398 2.436 33.89 3.333 3.322 3.085 3.666 2.969,5 53,3
PV 2.164 2.556 2.395 3.551 3.509 2.661 2.094 2.771 2.712,6 48,7
PCdoB 1.692 2.164 1.875 2.796 2.841 2.706 1.977 2.555 2.325,7 41,7
PROS - - - - - 1.158 1.704 3.367 2.076,3 37,2
SD - - - - - 990 1.768 2.982 1.913,3 34,3
PSL 1.089 1.386 1.352 2.568 2.574 1.965 1.720 2.342 1.874,5 33,6
PRP 1.195 1.298 1.316 2.216 2.184 2.017 1.690 2.137 1.756,6 31,5
PMN 1.454 1.443 1.459 2.181 2.082 1.753 1.578 1.870 1.727,5 31,0
PTN 1.265 1.236 1.227 2.032 1.979 1.852 1.703 2.176 1.683,7 30,2
PTdoB 926 978 1.091 2.100 2.117 2.082 1.912 2.216 1.677,7 30,1
PHS 763 1.013 950 2.093 2.100 1.731 1.348 2.359 1.544,6 27,7
PTC 807 1.019 1.025 2.069 2.003 1.715 1.219 1.834 1.461,3 26,2
PRTB 864 948 913 1.898 1.837 1.298 1.092 1.565 1.301,8 23,3
PSDC 696 771 813 1.663 1.687 1.244 882 1.283 1.129,8 20,2
PSOL 459 464 477 666 800 778 628 682 619,2 11,1
PEN 0 3 3 7 67 681 932 2162 481,8 8,65
PPL 0 6 6 580 914 557 16 38 264,6 4,75
PCB 244 268 237 209 212 174 112 110 195,7 3,51
PSTU 82 85 77 87 114 107 97 79 91 1,63
PMB² - - - - - 8 8 180 65,3 1,17
PCO 55 46 46 46 47 47 47 47 47,6 0,85
NOVO - - - - - 3 3 3 3 0,05
REDE - - - - - 2 2 2 2 0,03
Fonte: Elaboração própria a partir dos dados do SGIP-TSE.
42

Observando os dados da Tabela 1, percebe-se que o PT é a agremiação com maior


número de órgãos partidários, estando presente em 93% dos municípios, segundo a média do
período. Em seguida aparece o PMDB, com 87,8%, e o PSDB, com 80,1%. Nota-se que esses
partidos apresentam larga cobertura territorial, não se restringindo a determinadas regiões.
Ao compararmos a porcentagem média, vemos que apenas sete agremiações — PT,
PMDB, PSDB, DEM, PTB, Partido da República (PR) e Partido Progressista (PP) — possuem
órgãos partidários em mais de 70% dos municípios. As outras 28 agremiações apresentam
média inferior. Além disso, treze legendas possuem percentual abaixo de 30%, demonstrando
características evidentes de restrição territorial. Assim, ao observarmos a quantidade de
agremiações partidária nos municípios, percebemos que o PMDB, o PT e o PSDB são
significativos pela sua nacionalização e amplitude territorial.
Os dados apresentados na Tabela 1 corroboram informações fornecidas por
pesquisas anteriores. Ribeiro e Ferreira (2009) afirmaram que o PT, assim como o PSDB, o
PMDB e o PFL/DEM, são organizações que exibem o maior grau de penetração territorial,
apresentando desconcentração regional e caráter nacional. Braga, Rodrigues-Silveira e Borges
(2013) demonstraram que o PT, o PSDB e o PMDB possuem alta capilaridade organizacional,
abrangendo em torno de 90% dos municípios.
A escolha dos três partidos é justificada tanto pelo aspecto organizacional quanto
por representatividade. A pesquisa investigará a organização interna dessas três agremiações,
analisando a articulação, a autonomia e o controle entre as instâncias dos partidos nos três
âmbitos federativos (municipal, estadual e nacional), buscando compreender o nível de
centralização em diferentes escalas de municípios.
No plano nacional, essas três legendas elegeram, em 2014, a maior bancada para
Câmara Federal e apresentaram alta capilaridade organizacional, abrangendo em torno de 90%
dos municípios. Porém, quando observamos o plano regional, percebemos que a robustez dessas
agremiações varia de estado para estado. Por isso, a análise sobre as organizações partidárias
no plano subnacional é fundamental para captar as nuances das estruturas partidárias e suas
variações regionais.
Esse estudo será realizado a partir do caso do estado do Ceará, que nas eleições de
2014 apresentou 6.271.554 eleitores, sendo o 8º maior colégio eleitoral do país, representando
4% do total de eleitores. A análise dessa unidade federativa é relevante porque por meio dela
podemos perceber como essas relações ocorrem em um estado que, embora apresente
magnitude eleitoral média, suas elites políticas, especialmente as que compõem os três partidos
43

analisados, possuem ou possuíram ao longo do tempo histórico influência no Diretório


Nacional, ocupando ocasionalmente o cargo de presidente ou vice-presidente.
No PMDB, as lideranças regionais do Ceará ocuparam postos centrais na Comissão
Executiva Nacional. Podemos citar o cargo de presidente, assumido pelo deputado federal Paes
de Andrade (1995-1998) e o cargo de tesoureiro, ocupado respectivamente pelo senador Mauro
Benevides (1975-1979; 1980-1990); pela filha de Paes de Andrade e esposa de Eunício
Oliveira, Mônica Oliveira (2004-2010); e, desde 2010, pelo senador Eunício Oliveira.
No PT, José Guimarães foi, na Câmara dos Deputados, líder do partido (2012-2014)
e líder do governo Dilma Rousseff (2015-2016). Desempenhou ainda, nas eleições de 2014, a
função de coordenador do Grupo de Trabalho Eleitoral (GTE) do PT no Nordeste. Atualmente
é vice-presidente no Diretório Nacional. Outra liderança estadual que integrou Comissão
Executiva Nacional foi José Barroso Pimentel, ocupando o cargo de secretário na Secretaria
Nacional de Finanças e Planejamento (2005).
Por fim, no PSDB, a então deputada federal Moema São Tiago foi a segunda vice-
presidenta na primeira Executiva Nacional do partido (1989-1991). Posteriormente, Tasso
Jereissati foi por duas gestões presidente do Diretório Nacional (1991-1993; 2005-2007),
assumindo interinamente a presidência do partido em 2017, e atualmente é vice-presidente.
Sérgio Machado foi 1º secretário (1991-1993) e 2º vice-presidente (1993-1994) na Executiva
Nacional. Na presidência do Instituto Teotônio Vilela, Lúcio Alcântara assumiu uma gestão
(1996-2002) e Tasso Jereissati outra (2011-2015).
Na pesquisa proposta, um procedimento metodológico central é o uso de casos
comparados. A metodologia de estudo de caso, como apontada por Gerring (2004), possui duas
características principais. Em primeiro lugar, ela realiza estudo de profundidade em cada caso
selecionado, contribuindo para o conhecimento empírico da realidade abordada. Em segundo
lugar, permite a descoberta de mecanismos causais, pois o conhecimento sobre o caso particular
possibilita a análise de outros casos que possuem perfil similar.
O risco na utilização de casos comparados é que a pesquisa oscile entre dois polos.
Ou a pesquisa aborda superficialmente os diferentes casos analisados, descobrindo ou
acreditando descobrir uniformidades à custa da negação das peculiaridades de cada caso; ou o
estudo envereda a tal ponto na análise dos casos, aprofundando as suas características
específicas, que perde de vista a perspectiva comparativa, resumindo a pesquisa a uma
justaposição de casos sem efetiva comparação (PANEBIANCO, [1982]).
Outro risco se dá na escolha dos casos selecionados, pois as exclusões são tão
importantes quanto as inclusões na determinação dos resultados teóricos. Nesse caminho, é
44

necessário saber o que vai comparar e se é possível comparar, sendo fundamental existir certa
homogeneidade ambiental (mesmas instituições políticas e sociais, regras eleitorais
equivalentes) para que as variáveis operacionais sejam reduzidas e, assim, possa ser
estabelecida uma comparação (PANEBIANCO, [1982]).
No estudo em questão, o critério para a escolha dos casos no plano municipal
ocorreu tomando como indicador principal a magnitude eleitoral. Para a seleção não foram
diretamente levados em consideração dados como tamanho da população, Produto Interno
Bruto (PIB) e Índice de Desenvolvimento Humano (IDH). Partiu-se do pressuposto de que a
magnitude eleitoral e esses índices econômicos seriam diretamente proporcionais. Assim,
escolher os casos apenas pelo tamanho eleitoral simplificaria a seleção.
Os casos foram classificados em uma escala de grande, média e pequena magnitude
eleitoral, sendo selecionada uma de cada escala. Além disso, orientou-se que os casos fossem
de regiões geográficas distintas e que suas elites políticas tivessem graus variados de influência
no Diretório Estadual do partido.
Quanto à seleção dos três municípios analisados, definiu-se que o critério de grande
magnitude eleitoral seria representado pela capital, o de média seria a mediana dos municípios
entre 20 a 200 mil eleitores e o de pequena magnitude, a mediana dos municípios com menos
de 20 mil eleitores. Além disso, os municípios precisariam ter Diretório ou Comissão Provisória
dos três partidos nas duas eleições analisadas. A reivindicação da existência de órgão partidário
nas eleições analisadas é justificada pela necessidade de mínima organização do partido no
município. Para melhor acompanhamento dos casos selecionados, segue um Mapa que torna
possível a visualização dos municípios investigados e suas magnitudes eleitorais em 2014.

Mapa 1 - Localização dos municípios analisados e grau de magnitude eleitoral

6.271.554 eleitores

Grande magnitude - 1.657.776 eleitores

Média magnitude - 33.657 eleitores

Pequena magnitude - 11.999 eleitores


Fonte: Elaboração própria a partir da base do ficheiro wiki.
45

Em cada caso estudado, serão analisadas a organização e a articulação interna dos


três partidos investigados. O foco principal desta pesquisa será duas eleições — a eleição
municipal de 2012 e a eleição geral de 2014. Para conseguir explicar a forma específica como
cada partido no estudo de caso particular orientou suas ações e estratégias eleitorais é necessário
ilustrar o período de fundação do partido e seu ambiente de atuação. Assim, investigaremos as
condições ambientais nas quais esses partidos surgiram, analisando seu modelo originário e seu
desenvolvimento organizativo.

Embora o tempo histórico da pesquisa seja o atual período democrático pós-


reforma partidária de 1979, foi feito um recorte temporal mais restrito, englobando essas duas
últimas eleições.

Para realizar essa pesquisa foram utilizadas técnicas de coleta de dados de natureza
quantitativa e qualitativa. No que ser refere às informações quantitativas, foi elaborado um
banco de dados sobre os órgãos partidários no Brasil, conforme exposto na Tabela 1. Esses
dados foram obtidos por meio da construção de algoritmo de Web Scraping que captou todos
os dados do Sistema de Gerenciamento de Informações Partidária (SGIP) do Tribunal Superior
Eleitoral (TSE). Com isso, foi possível construir um banco contendo o registro de todos os
órgãos partidários brasileiros para cada município do país entre os anos de 2000 e 2015.

No entanto, a fim de trabalhar com essas informações, foi necessário um tratamento


dos dados. No sítio do TSE constam as seguintes informações sobre os órgãos partidários: nome
do município ou estado, tipo de órgão (Diretório, Comissão Provisória, Comissão Interventora),
início e fim da vigência, número do protocolo e situação (vigente e não vigente). Com os dados
assim organizados, era problemático sabermos se em determinado ano o órgão partidário estava
estruturado enquanto Diretório ou Comissão Provisória, pois havia casos em que o partido
estava alguns meses do ano como um tipo de órgão e depois como outro. Para padronizar, foi
estabelecido que se a agremiação partidária tivesse permanecido mais de seis meses do ano —
ou mais de 182 dias — como um tipo de órgão específico (como Diretório, por exemplo), seria
classificado como se ela tivesse permanecido todo o ano (como Diretório).

Cabe ressaltar que a alimentação dessas informações é feita pelos próprios partidos
no sítio do TSE. Como ela foi iniciada no ano de 2008, muitas informações relativas a esse
período estão incompletas, o que explica a baixa quantidade de órgãos partidários para todas as
agremiações nesse período.
46

Outro dado quantitativo utilizado foi a prestação de contas dos partidos para as duas
eleições estudadas, 2012 e 2014, e os recursos obtidos pelos Diretórios Estaduais na cota do
Fundo Partidário. Foi analisada a transferência de recursos do Diretório Nacional, informação
disponibilizada também no sítio do TSE, no Sistema de Prestação de Contas Eleitorais (SPCE) 3.
No entanto, o foco da investigação está na realização de uma pesquisa qualitativa que capte a
dinâmica intrapartidária e conecte as três arenas federativas do partido, investigando como essas
agremiações se articulam e qual é o grau de centralização nas tomadas de decisão envolvendo
questões da arena eleitoral.

Desvendando a caixa preta: pesquisa qualitativa sobre organização partidária

A partir de Panebianco [1982] e Sartori [1976], podemos ressaltar que existem dois
tipos de política: a visível e a invisível. O primeiro tipo refere-se à política interpartidária em
que os eleitores, reduzidos ao papel de consumidores, optam entre produtos e questões políticas;
e os partidos, disputando em cenário complexo, competem pela preferência de um
multifacetado eleitorado de massa. O segundo tipo alude à política intrapartidária — esotérica
e invisível aos olhos do eleitorado. Nessa arena é que as elites intrapartidárias disputam o
cardápio de opções que será oferecido aos eleitores.

Essa política invisível relativa a vida interna dos partidos é difícil de ser investigada.
Isso porque, além de esses dados não estarem disponíveis em plataformas on-line de consulta,
os partidos hesitam em fornecer dados e informações. Para desvendar a caixa-preta da
organização partidária, foi necessária imersão nas atividades do partido por meio de pesquisa
qualitativa. Foram coletados dados primários sobre os partidos políticos, como documentos
oficiais, entrevistas com elites partidárias e pesquisa em jornal. Esse procedimento
metodológico foi fundamental para este estudo, pois as informações que se deseja coletar só
podem ser colhidas de forma direta, in loco, por meio de entrevista e de contato mais
aproximado com as lideranças partidárias.

3
Sobre esse dado cabe uma observação. No sítio do TSE são disponibilizadas informações sobre prestação de
contas eleitorais das duas eleições investigadas nessa pesquisa. De acordo com as informações coletadas no banco
de dados do SPCE, o PMDB, na eleição de 2012, contava com 20 CNPJs diferentes. Isso dificultava a identificação
de qual documento seria o correspondente ao Diretório Nacional, visto que, em alguns casos, um mesmo número
estava relacionado tanto ao Diretório Nacional quanto ao Diretório Estadual e Municipal. Para resolver essa
questão, foi utilizado como CNPJ do Diretório Nacional o documento que contou com o maior volume de recursos
e que tinha uma distribuição que abrangia todos os estados da federação. No caso, foram utilizados os seguintes
CNPJs dos partidos: PMDB (00.676.213/0001-38), PT (00.676.262/0001-70) e PSDB (03.653.474/0001-20).
47

No contato inicial da pesquisa de campo com as agremiações, foi feita apresentação


formal por meio de uma carta de intenção da pesquisa4. Após esse primeiro contato, foram
solicitados alguns documentos que abordassem a fundação da agremiação e sua trajetória, como
lista dos presidentes, quantidade de filiados etc. Além disso, foi requerida a indicação de alguns
membros da agremiação partidária que pudessem conceder entrevistas sobre alguns pontos, a
saber: o período da fundação do partido e seu desenvolvimento organizativo, as eleições
municipais de 2012 e as eleições gerais de 2014.
Preferencialmente, foi utilizado o método posicional para identificar a elite
partidária e os informantes-chave da pesquisa. Esse método defende que a elite de uma
agremiação é formada por indivíduos que ocupam posições formais de mando na instituição,
como presidência, diretoria etc. A sua vantagem é identificar com segurança quem detém o
poder na agremiação. Como exemplo de uso desse método no estudo de elites, cita-se Mills
[1956].
No entanto, em alguns casos, foi necessário recorrer ao método de indicação para
identificar os informantes-chave da pesquisa. Por esse método, um membro do partido, em geral
o secretário ou o coordenador, encaminhava quem estaria apto a conceder a entrevista. Esse
recurso foi útil porque, em determinados momentos, o presidente do partido ou o coordenador
da campanha eleitoral estava viajando ou raramente comparecia presencialmente à sede da
agremiação, o que dificultaria ou impossibilitaria a realização da entrevista.
Antes de iniciar propriamente as entrevistas com os informantes, foram feitas breve
apresentação pessoal e exposição rápida sobre a pesquisa desenvolvida. Em seguida, ressaltou-
se que todas as perguntas da entrevista tinham por objetivo a pesquisa acadêmica, e que seriam
utilizadas apenas com esse propósito. Além disso, pedia-se permissão para o uso do gravador
como registro, justificando que era necessário para que nenhuma informação fosse perdida e
que caso o entrevistado quisesse uma cópia da entrevista, esta seria disponibilizada.
No início das entrevistas, eram feitas perguntas de concórdia, como: tempo de
filiação e envolvimento nas atividades do partido. Esse tipo de indagação era necessário tanto
para saber, inicialmente, qual o grau de conhecimento do entrevistado sobre a agremiação e seu
ambiente político, quanto para estabelecer o rapport, ou a “quebra de gelo”, na condução da
entrevista.

4
Nesse documento eram expressos o objetivo da pesquisa, a finalidade da visita, a vinculação acadêmica do
pesquisador e a importância da colaboração da agremiação partidária. Além disso, dados pessoais do pesquisador
foram informados, tais como: RG, CPF e endereço profissional, a fim de dar mais credibilidade e segurança à
pesquisa.
48

Utilizando a classificação proposta por Thiollent (1980), a presente pesquisa


empregou dois modelos de entrevista: a entrevista semiestruturada e a entrevista centrada ou
focused interview. O emprego do primeiro modelo de entrevista estava relacionado a perguntas
mais objetivas, em que as respostas eram mais predeterminadas, como por exemplo se o partido
estava organizado como Diretório ou Comissão Provisória. Nesse tipo de entrevista, as
perguntas se assemelhavam as de um formulário.
O segundo modelo foi utilizado para construir um ambiente de interação mais
espontâneo em que o entrevistado descrevia livremente suas experiências e analisava como
alguns processos políticos dentro da agremiação partidária tinham ocorrido. Embora fosse
utilizado roteiro para orientar e estimular a discussão 5, este era aplicado com flexibilidade,
permitindo ajustes durante o decorrer da entrevista. Nesse aspecto, privilegiou-se o processo
interativo para produzir uma situação em que o entrevistado se sentia confortável e confiante
para expressar suas opiniões. Assim, pôde ocorrer alteração na ordem das perguntas e a inclusão
de questões e tópicos não previstos, fazendo com que cada entrevista fosse específica, embora
o mesmo roteiro tivesse sido utilizado em todas elas. Porém, quando o entrevistado enveredava
por assuntos não relacionados aos objetivos da pesquisa, foi necessário fazer intervenções para
reorientar a condução da interação.
Nesse tipo de entrevista, é necessário que o entrevistado esteja à vontade com o tipo
de registro da interação para que o “efeito de espontaneidade” seja produzido (THIOLLENT,
1980). Frequentemente, algumas informações foram obtidas apenas quando o gravador foi
desligado. Isso ocorreu tanto a pedido do entrevistado, quando queria comentar algum
acontecimento que envolvia sigilo de informações, quanto pela anunciação do pesquisador de
que a entrevista teria chegado ao fim e que o gravador seria desligado.
Uma das grandes dificuldades para a realização desse estudo foi a falta de material
empírico sobre essas agremiações partidárias. As pesquisas acadêmicas que têm como foco os
partidos políticos no Ceará são raras6. O que existe são estudos que centram sua atenção em
lideranças políticas, processos legislativos e eleições específicas. Nessas análises, as
agremiações partidárias tornam-se ou atores secundários do processo político, ou instituições
que não possuem relevância.

5
No Anexo 2, segue o roteiro utilizado para as entrevistas. Foram coletadas quatro grupos principais de
informações: a história do partido (HP), a atual estrutura organizacional do partido (EP), a campanha envolvendo
as eleições municipais de 2012 (E2012) e as eleições gerais de 2014 (E2014).
6
Sobre o PT, existem as pesquisas de Olinda (1991), Parente (1994) e Vieira (2007). Sobre o PSDB, ver Parente
(2000). Por fim, sobre o PMDB não existe nenhuma pesquisa acadêmica.
49

Além disso, existe dificuldade na coleta de dados primários nos partidos. Primeiro
porque os membros do partido não têm controle sobre a história da agremiação, não sabendo
informar, por exemplo, quem compôs a Comissão Executiva ao longo dos anos7. Essa falta de
conhecimento abrange desde os partidos menos institucionalizados no plano local até os
Diretórios Estaduais. Nesse ponto específico, o PT é a agremiação mais comprometida como
sua história institucional, fornecendo em alguns casos informações sobre a composição da
Comissão Executiva ao longo do tempo.
Na coleta dos dados primários nas agremiações, observou-se que o Diretório
Estadual do PT arquiva documentos, porém estes estão empilhados em armazém que não
fornece condições adequadas para a conservação do material. Além disso, o partido não realiza
triagem desse material, sendo difícil a coleta de dados. Já os Diretórios Estaduais do PMDB e
do PSDB arquivam algumas atas, mas não existe descrição dos debates internos nesses
documentos. Encontram-se apenas os nomes dos membros que estavam presentes e as
principais decisões tomadas. Nos Diretórios Municipais, não encontramos registros da história
do partido.
O Tribunal Regional Eleitoral do Ceará (TRE-CE) possui o arquivo da composição
dos Diretórios dos partidos do período da década de 1980 e início de 1990. O acesso a essas
fichas partidárias foi fundamental porque a maior parte das agremiações não tinha essas
informações detalhadas. Porém, o restante das fichas partidárias relacionadas ao período mais
recente foi perdido em incêndio 8.
Outra dificuldade encontrada foi a resistência das agremiações em fornecer dados
sobre sua organização interna, predominando um clima de desconfiança 9. Como a entrevista é

7
A coleta da informação sobre a composição da Comissão Executiva foi bastante problemática nas três
agremiações. As atas dos partidos não estavam organizadas e muitas agremiações não disponibilizaram o material.
Além disso, foi mais fácil coletar essas informações sobre o Diretório Estadual do que sobre os órgãos municipais.
8
Entre os arquivos incendiados estavam os dados sobre os órgãos partidários de Fortaleza. Nesse aspecto, para
coletar mais informações sobre os partidos em Fortaleza seria necessário um investimento nos arquivos dos
partidos, o que não foi possível nessa pesquisa.
9
Dentre os partidos analisados, o Diretório Estadual do PSDB no Ceará foi o órgão que apresentou maior
resistência na pesquisa de campo. No primeiro contato fui classificado como petista por ter ido barbado, sendo
inclusive indagado se as informações colhidas no partido seriam fornecidas para o PT. Isso demonstra que, na
coleta de dados qualitativos, o pesquisador precisa estar atento sobre como seu informante o apreende, já que um
contato malsucedido pode impossibilitar a pesquisa de campo. Para conseguir estabelecer o mínimo de confiança
com a burocracia partidária participei de alguns eventos, como a Convenção Regional em Iguatu e em Crato, e
retornei com frequência à sede da agremiação para marcar entrevistas. Apesar desse esforço, não foi possível
realizar entrevista com o presidente do Diretório Estadual, Luiz Pontes. Outro partido onde enfrentei resistência
foi o Diretório Municipal do PT de Barbosa (SP). Como já tinha realizado entrevistas com membros de outras
agremiações no município, como PMDB e PSDB, e já estava próximo dessas lideranças locais, os dirigentes do
PT ficaram desconfiados com a minha presença. Nesse aspecto, um dirigente do PT, em tom jocoso, chegou a
confessar que, inicialmente, pensava que eu era um “exterminador de petistas”. Apesar dessas dificuldades iniciais,
consegui entrevistar três membros desse partido no município.
50

uma ferramenta fundamental na coleta de dados da pesquisa, foi necessária aproximação mais
demorada para que os integrantes dos partidos, sobretudo as secretárias, fornecessem as
informações solicitadas e apresentassem os informantes qualificados para as entrevistas. Os
obstáculos impostos ao acompanhamento regular da dinâmica intrapartidária não permitiram
um estudo mais aprofundado e uma descrição mais detalhada sobre os amplos processos
decisório nos partidos, por isso a necessidade do recorte para investigar a arena eleitoral e o
caso do Ceará10.
Além das dificuldades específicas apontadas, a pesquisa de campo enfrentou outro
grande desafio. A interação mais próxima com os órgãos partidários, tão necessária a realização
da pesquisa qualitativa, foi dificultada pelo ambiente de suspeita que predominava nos partidos
quando o pesquisador começava a solicitar documentos formais da instituição e informações
sobre a prestação de conta da agremiação. Nesse aspecto, era comum ouvir respostas como:
“nossas contas foram todas aprovadas pelo TSE” e “tudo ocorreu segundo as regras legais”.
Esse ambiente de suspeita foi desencadeado sobretudo pela influência da “Operação Lava Jato”,
que desde de março de 2014 investiga esquema de corrupção que envolve a Petrobrás,
empresários e partidos políticos. Cabe ressaltar que as três agremiações analisadas nessa
pesquisa estão sendo investigadas nessa operação.
Foram realizadas, no total, 34 entrevistas de média e longa duração com as
principais lideranças partidárias. Em alguns órgãos partidários, para coletarmos todas as
informações necessárias, foi preciso entrevistar variadas lideranças que ocupavam cargos
estratégicos na agremiação. Isso aconteceu normalmente quando o entrevistado não tinha
segurança nas informações fornecidas ou quando existiam variadas versões sobre algum
conflito dentro do partido, sendo necessário entrevistar os atores envolvidos no processo.
Assim, em determinados órgãos partidários foi necessário entrevistar apenas um
membro da Comissão Executiva, pois este era qualificado para responder as perguntas
envolvendo os quatro grupos de questões. Em outros órgãos partidários, os próprios integrantes
da Comissão Executiva indicavam outros membros qualificados para complementar as
informações solicitadas. As 34 entrevistas realizadas estão assim distribuídas entre os órgãos
partidários: cinco entrevistas no Diretório Estadual do Ceará, quatro no Diretório Municipal de
Fortaleza (CE), sete em Mombaça (CE), dez em Nova Olinda (CE) e oito em Barbosa (SP)11.

10
Inicialmente, a pesquisa tinha por recorte a comparação entre um estado de média magnitude eleitoral (no caso,
o Ceará) e outro de alta (no caso, São Paulo). Porém, devido a dificuldades impostas na realização da pesquisa de
campo, foi construído um novo recorte, permanecendo apenas o caso do Ceará. Em São Paulo foi realizada
pesquisa de campo em Barbosa, município de pequeno porte, porém os dados não são analisados na presente tese.
11
Para mais informações sobre os colaboradores da pesquisa, ver Anexo 1.
51

Para conseguir acesso a esses informantes, foi necessário participar de alguns


eventos nos partidos, tais como: Convenção Regional do PSDB-CE realizada no município de
Iguatu em outubro de 2015; plenária do PT-Fortaleza em março de 2016; sala de espera do
Diretório Estadual do PMDB e do PSDB. Esses eventos, além de possibilitarem contato mais
próximo com as secretárias das agremiações12 — o que foi vital para a coleta dos dados —
permitiu que fosse observada a dinâmica interna desses partidos.
Como dado complementar tanto para a montagem das entrevistas quanto para a
história das agremiações partidárias no Ceará, foi realizada pesquisa nos jornais do principal
meio de comunicação do estado: jornal O Povo13. Nessa pesquisa, foram obtidas 440 matérias
sobre o PT, 50 matérias sobre o PSDB e 30 matérias sobre o PMDB.
Dessa forma, a partir da coleta e análises desses dados sobre o PMDB, PT e PSDB,
buscamos contribuir com o debate e ajudar a lançar luz sobre áreas pouco exploradas na
literatura brasileira, como a relação entre as instâncias partidárias nos três âmbitos federativos
no que tange ao processo eleitoral.

Organização da tese

O texto está dividido em quatro capítulos. No primeiro capítulo apresentaremos o


desempenho eleitoral e a capilaridade organizativa do PMDB, PT e PSDB no subsistema
partidário cearense. O capítulo se inicia contextualizando o ambiente político no período do
“regime militar-autoritário brasileiro”, quando predominava um sistema bipartidário, tendo a
ARENA como partido dominante.
Em seguida, o capítulo aborda o desempenho eleitoral dos três partidos ao longo do
atual período democrático, descrevendo a quantidade de deputados federais, deputados
estaduais, prefeitos e vereadores eleitos. Esse foco na performance eleitoral é necessário
porque, como veremos ao longo do trabalho, o principal motivo de conflitos intrapartidário não
ocorre por posições ideológicas distintas ou pela discordância de posicionamentos assumidos
pelo partido na arena parlamentar. A causa basilar das disputas se dá no processo decisório na

12
Um dado interessante, mas que não foi possível de ser analisado nessa pesquisa, é a relação de gênero nas
atividades internas do partido. Os cargos hierarquicamente mais baixos – como auxiliar de serviços gerais,
recepcionista e secretário – são exercidos por mulheres nas três agremiações. Além disso, comparativamente as
mulheres são as que obtêm a menor quantidade de votos nas eleições proporcionais nas três agremiações, como
podemos observar nos Anexos 5, 6 e 7.
13
No Ceará, existem outros jornais de grande circulação, como: Diário do Nordeste e Tribuna do Ceará. Porém, o
jornal O Povo, além de ser celebrado na comunidade acadêmica como a mídia impressa que mais tem credibilidade,
possui o banco de dados sistematizado, o que facilita as pesquisas das matérias do jornal. Para as matérias desses
jornais, foi feito o recorte temporal de 1979 a 2014 para os três partidos com as seguintes palavras-chaves: “crise”,
“conflito”, “convenção”, “Processo de Eleição Direta” no caso do PT, “Eleições 2012” e “Eleições 2014”.
52

arena eleitoral. O período de maior efervescência nas agremiações partidárias ocorre no


momento de escolha dos candidatos e de desenvolvimento da campanha eleitoral. Nesse
aspecto, é importante verificarmos o desempenho eleitoral dessas agremiações.
O primeiro capítulo é finalizado com a análise dos dados organizacionais dos
partidos, tais como: lançamento de candidatos a prefeitos; quantidade de órgãos partidários
municipais; tipo de órgão predominante, se Diretório ou Comissão Provisória; e sua distribuição
espacial.
Nos outros três capítulos abordaremos os dados qualitativos sobre os três partidos
investigados. Iniciamos com o PMDB, em seguida examinaremos o PT e, por último, o PSDB.
Em cada capítulo sobre essas agremiações partidárias serão analisados três pontos principais:
modelo originário e desenvolvimento organizativo, estrutura da organização partidária e grau
de centralização das eleições.
Na investigação sobre o modelo originário do partido, seguindo os passos de
Panebianco [1982], observamos três fatores específicos da fundação do partido que seguem
classificação dicotômica. O primeiro é tipo de desenvolvimento territorial do partido, que pode
ocorrer por penetração (quando um centro — a arena nacional — controla, estimula e dirige a
expansão para a periferia — entendida aqui como os órgãos partidários estaduais e municipais),
por difusão (quando a expansão acontece espontaneamente por ação das elites locais, que
primeiro constroem os partidos localmente ou regionalmente e somente depois se interligam
em organização nacional), ou de forma mista. O segundo fator é o tipo de legitimação do
partido, a fonte de legitimação da liderança, que pode ser interna (na ausência de alguma
instituição externa que legitime o partido) ou externa (quando ocorre a presença de alguma
instituição, como, por exemplo, igreja, sindicato, associação etc.). O último é a presença ou
ausência de uma liderança carismática, esse tipo de liderança faz da agremiação veículo
instrumental construído para sua afirmação como líder absoluto, sendo responsável por
estabelecer as metas ideológicas do partido e a sua tomada de decisão estratégica.
Quanto à análise sobre o desenvolvimento organizativo, exploramos a disputa
interna pelo poder no interior do partido, investigando a composição de grupos internos no
processo de consolidação da organização, sobretudo no Diretório Estadual e no órgão partidário
da capital. Esse tópico é importante por assumirmos como hipótese que o modelo originário do
partido irá influenciar seu desenvolvimento organizativo. Assim, compreendemos que um
partido é uma organização que se transforma no tempo, apresentando várias fases conforme as
mudanças ambientais as quais é submetido. Sua estrutura organizativa é explicada pelo seu
53

passado, pelo seu modelo originário e pelas relações que estabelece com seu instável ambiente
externo (PANEBIANCO, [1982]).
No tópico sobre a estrutura da organização partidária, abordaremos como as
instâncias partidárias estão ordenadas, analisando o organograma do partido por meio dos
estatutos14. Investigaremos também como o partido está estruturado em seus diferentes níveis
federativos, no Diretório Estadual e nos Diretórios Municipais, e como o poder está distribuído
no interior da organização. Nessa seção, retrataremos como a organização estrutura seus órgãos
partidários locais a partir do estudo de caso dos municípios de grande, média e pequena
magnitude eleitoral.
Cabe destacar que na exposição sobre a evolução organizativa do partido nos órgãos
municipais daremos ênfase ao desempenho eleitoral da agremiação no plano local. Essa escolha
metodológica deve-se ao fato de que a consolidação destas agremiações partidárias nos
municípios é refém dessa influência ambiental. O partido é dominado pela “face pública”
(KATZ; MAIR, 1995) que se mostra forte e autônoma. Os membros eleitos para cargos eletivos,
sobretudo os cargos do Executivo, comandam a máquina partidária local. A legitimidade destes
como dirigentes provém de fatores externos a organização, principalmente o desempenho
eleitoral, que os fortalecem internamente. Com isso, a trajetória organizacional do partido fica
atrelada ao seu percurso eleitoral15.
No último item investigaremos o grau de centralização das eleições, abordando as
eleições municipais de 2012 e as eleições estaduais de 2014. Para medir o grau de centralização,
o tópico explora três pontos centrais: formação de alianças e coligações, seleção de candidatos
e distribuição de recursos para as campanhas. A análise dessas variáveis tem por objetivo
examinar se os recursos e as decisões do partido são oferecidos e centralizados pelo Diretório
Nacional ou pelo Diretório Estadual ou descentralizados para os órgãos partidários municipais.
Por fim, apresentaremos as considerações finais, onde articulamos as conclusões
obtidas no estudo de caso sobre cada agremiação com os objetivos e as hipóteses levantadas
nesta introdução. Buscaremos debater a variação do grau de centralização relacionando-a ao
modelo organizacional dos três partidos, a magnitude eleitoral dos municípios e o tipo de
eleição.

14
Não foi realizada comparação sistemática entre os estatutos dos três partidos ou um confronto entre os estatutos
de cada partido ao longo do seu desenvolvimento organizativo. Foi realizada leitura instrumental dos estatutos de
cada partido que regulamentavam as duas eleições analisadas, 2012 e 2014.
15
Para auxiliar a leitura desse tópico, foi organizado o resultado eleitoral dos casos investigados na pesquisa. Estão
dispostos o desempenho eleitoral dos partidos em Nova Olinda (Anexo 8), Mombaça (Anexo 9), Fortaleza (Anexo
10) e Ceará para o Executivo estadual e o Senado (Anexo 11).
54
55

1. APRESENTANDO OS PERSONAGENS: PMDB, PT E PSDB NA DISPUTA


ELEITORAL CEARENSE16
1.1 - Sistema bipartidário e a hegemonia da ARENA

Antes de abordar especificamente as eleições do atual ciclo democrático, é


necessário fazer uma pequena digressão para observar o ambiente político cearense e o
desempenho eleitoral dos partidos no período do regime militar brasileiro.
Isso é relevante porque embora o PMDB tenha sido fundado a partir da LRP (Lei
nº 6.767 /1979), que deu início ao multipartidarismo do atual sistema partidário brasileiro, suas
origens remontam ao período do bipartidarismo vigente no “regime militar-autoritário
brasileiro”. Nesse regime político, o sistema partidário era estruturado a partir da polaridade
entre duas agremiações: o partido governista, representado pela ARENA, e o partido de
oposição, representado pelo MDB. Com a reforma de 1979, as agremiações partidárias foram
obrigadas a inserir a palavra partido em seus nomes, e assim o MDB transformou-se em PMDB.
Além disso, no Ceará, os primeiros embates eleitorais no período pós-redemocratização foram
influenciados pelo ambiente político herdado do “regime militar-autoritário”, transmitindo os
mesmos líderes políticos, como veremos a seguir.
O “regime militar-autoritário brasileiro” (KINZO, 1988) teve início no golpe de
Estado que afastou o então presidente João Goulart (PTB) do governo, em 31 de março de 1964.
Esse golpe foi guiado por uma ideologia técnico-militar que buscava “purificar” a política
brasileira tanto dos políticos de esquerda — que queriam alterar o status quo —, quanto dos
“políticos tradicionais” — que dificultavam a modernização e a ramificação do aparato estatal
nos rincões do país, visto que apresentavam longa carreira política eleitoral pautada em vínculos
tradicionais com o eleitor. Como ressalta Carvalho (1999, p. 66),
A revolução de 64 proclamava a subversão e a corrupção como chagas da
política a serem extirpadas a qualquer custo. A imagem do político
profissional carregava o estigma desses dois males e, portanto, constituía-se o
alvo natural de execração pública naqueles tempos de “ardor
revolucionário[...]”.
O presidente marechal Castelo Branco, eleito indiretamente em 11 de abril de 1964,
inicialmente manteve o aparato democrático representativo, coma a realização de eleições
periódicas; manutenção dos partidos políticos e do Parlamento. No entanto, em 1965, foi

16
As informações sobre a política cearense que compõem esse capítulo foram coletadas nas obras de Montenegro
(1980), Mota (1985; 1992), Lemenhe (1995), Carvalho (1999) e Parente (2000). Além disso, foram colhidas
informações sobre integrantes da elite política cearense, destacando-se as pesquisas no Dicionário Histórico-
Biográfico Brasileiro do Centro de Pesquisa e Documentação de História Contemporânea do Brasil
(DHBB/CPDOC), portal da Câmara dos Deputados e publicações do Memorial da Assembleia Legislativa do
Ceará (MALCE) sobre o perfil dos deputados estaduais da 13ª a 25ª legislaturas (1951-2002).
56

implementada imposições legais para “moralizar” a disputa eleitoral e garantir que elementos
“corruptos e subversivos” não retornassem ao poder. Em 15 de julho, foram estabelecidos dois
marcos legais para controlar os resultados não esperados da disputa eleitoral de 1965: o Código
Eleitoral (Lei nº 4.737) e a LOPP (Lei nº 4.740). Esta última tinha por objetivo regular a
atividade intrapartidária, por meio de um estatuto orgânico comum a todos os partidos, e limitar
o número de agremiações por meio de restrições ao seu funcionamento. O artigo abaixo da
LOPP mostra que houve redução imediata do número de agremiações que podiam existir
legalmente, ao estabelecer rigorosa representação legislativa:
Art. 47. Ainda se cancelará o registro do partido que não satisfizer seguintes
condições:
I - apresentação de provas ao Tribunal Superior Eleitoral, no prazo
improrrogável de 12 (doze) meses, contados da data do seu registro, de que
constituiu legalmente Diretórios regionais em, pelo menos 11 (onze) Estados.
II - eleição de 12 (doze) deputados federais, distribuídos por 7 (sete) Estados,
pelo menos;
III - votação de legenda, em eleições gerais para a Câmara dos Deputados,
correspondente, no mínimo a 3% (três por cento) do eleitorado no País
(BRASIL, 1965).
Com a imposição dessa regra, apenas quatro agremiações partidárias — Partido
Social Democrático (PSD), União Democrática Nacional (UDN), Partido Trabalhista Brasileiro
(PTB) e Partido Social Progressista (PSP) — cumpriam os requisitos legais exigidos pela nova
legislação. O sistema partidário existente desde a democratização de 1945 era composto por
treze partidos, sendo três dominantes: o PSD, composto pela facção que controlava as máquinas
administrativas estaduais durante a ditadura de Getúlio Vargas (1937-1945); a UDN, fundada
por facções oligárquicas que faziam oposição a Getúlio Vargas; o PTB, controlado pelo
Ministério do Trabalho e que buscava cooptar as massas urbanas emergentes com base no
sistema sindical (KINZO, 1988).
Nas eleições estaduais de outubro de 1965, que elegeriam os governadores de onze
estados, os candidatos apoiados pelo governo militar foram derrotados pela aliança
oposicionista, liderada pelo PSD-PTB, em dois importantes estados: Guanabara e Minas Gerais.
Com isso, houve endurecimento do regime, sendo publicado em 27 de outubro de 1965 o AI-
2, que em seu Artigo 18 extinguia todos os partidos existentes, submetendo a organização de
novas agremiações às normas da LOPP (Lei nº 4.740). Como foi dito anteriormente, a LOPP
não estabelecia obrigatoriamente sistema de dois partidos, apenas restringia a criação de muitas
agremiações. Posteriormente, em 20 de novembro de 1965, foi publicado o Ato Complementar
nº 4 (AC-4) que possibilitou a base legal para um sistema bipartidário. Este novo AC definiu as
57

novas regras a serem seguidas para criação e registro de organizações com atribuições de
partido político, conforme percebemos abaixo:
Art. 1º Aos membros efetivos do Congresso Nacional, em número não inferior
a 120 deputados e 20 senadores, caberá a iniciativa de promover a criação,
dentro do prazo de 45 dias, de organizações que terão, nos termos do presente
Ato, atribuições de partidos políticos enquanto estes não se constituírem
(BRASIL, 1965).
Aritmeticamente, seria possível a criação de três agremiações, visto que o
Congresso contava, à época, com 409 deputados federais e 66 senadores. Porém, o objetivo era
montar uma estrutura partidária que garantisse apoio ao governo, congregando os membros que
apoiavam a “revolução”, e um fraco partido de oposição que aglutinava as forças políticas
remanescentes. A adesão dos parlamentares ao partido governista, a ARENA, foi tão massiva
que a criação de uma segunda agremiação se tornou tarefa árdua para “regime militar-
autoritário brasileiro”, que não queria ser caracterizada como ditadura de partido único. Foi
necessário o então presidente Castelo Branco persuadir um senador a se filiar ao partido da
oposição para viabilizar sua fundação. Na nova reconfiguração do sistema partidário, a ARENA
foi composta, na sua grande parte por parlamentares udenistas e pessedistas. O MDB, por sua
vez, era integrado por parlamentares oriundos dos partidos trabalhistas e pela ala progressista
do PSD (KINZO, 1988).
No Ceará, a montagem de uma estrutura partidária que garantisse apoio ao governo
militar foi facilitada pela existência da “União pelo Ceará”, uma aliança entre UDN e PSD para
as eleições de 1962. Nessas eleições, a coligação UDN, PSD e Partido Trabalhista Nacional
(PTN) elegeu o governador, Virgílio Távora (UDN), o vice-governador, Figueiredo Correia
(PSD), e um senador, Wilson Gonçalves (PSD). Já a oposição, estabelecida na coligação PTB
e Partido Democrata Cristão (PDC), elegeu um senador, Carlos Jereissati (PTB). Nesse período,
duas lideranças polarizavam o sistema partidário cearense: Virgílio Távora e Carlos Jereissati.
Virgílio Távora, capitão militar formado pela Escola de Comando e Estado-Maior
do Exército (ECEME), era filho de tradicional político cearense, Manuel do Nascimento
Fernandes Távora. Seu pai foi interventor no Ceará (1930-1931), deputado federal pelo Partido
Social Democrático do Ceará (PSD) (1934-1937) e pela UDN (1946-1947) e senador pelo PTB
(1947-1951; 1955-1963). A carreira política eleitoral de Virgílio Távora se iniciou em 1950,
quando foi eleito deputado federal pela UDN. Permaneceu duas legislaturas como deputado
federal (1951-1959), ocupando importantes postos na hierarquia da UDN, tais como: secretário-
geral (1953-1955) e vice-presidente do Diretório Nacional (1957-1959).
58

Ele é caracterizado por Carvalho (1999) e Parente (2000) como estrategista que
conhecia de perto a “política de bastidores”, sendo responsável por articular a composição de
chapas eleitorais majoritárias, como a candidatura vitoriosa de Paulo Sarasate a governador em
1954 em aliança intitulada “As Oposições Coligadas”, a qual estabelecia coalizão entre UDN,
PTB e Partido Republicano (PR). Após ser derrotado para o cargo de governador nas eleições
de 1958 e sem mandato parlamentar, foi compensado com a ocupação de cargos federais pela
UDN, como diretor da Companhia Urbanizadora da Nova Capital do Brasil (NOVACAP), em
1959; coordenador da campanha presidencial de Jânio Quadros, em 1960; e Ministro de Viação
e Obras Públicas (1961-1962). A projeção nacional como ministro possibilitou que ele
articulasse a aliança de 1962, “União pelo Ceará”, sendo eleito governador.
Carlos Jereissati, empresário e importador de tecidos, era aliado de Getúlio Vargas
e João Goulart, sendo a principal liderança do PTB no estado. Foi deputado federal por dois
mandatos consecutivos (1955-1963). Foi eleito senador em 1962, mas após assumir a vaga no
Senado Federal em 1963, morreu sem deixar herdeiro político.
Com a estruturação do sistema bipartidário no estado, a ARENA foi constituída por
parlamentares que integravam a Aliança Pelo Ceará, com exceção de parte do PSD. A ARENA
foi inicialmente liderada por Virgílio Távora e Paulo Sarasate — este último foi eleito deputado
federal pela UDN (1946-1955; 1959-1967) e governador (1955-1958). Já o MDB foi criado
com o apoio de grupo dissidente do PSD chefiado pelo deputado federal José Martins
Rodrigues, pelos parlamentares do PTB órfãos da morte repentina do senador Carlos Jereissati
e por lideranças mais à esquerda.
A influência política de Virgílio Távora foi abalada no início do “regime militar-
autoritário” pelo fato deste ter relações pessoais com João Goulart (PTB). Apesar disso,
permaneceu no cargo de governador até o final do seu mandato, em 1966. A patente de coronel,
o caráter conservador da “União pelo Ceará” e o legado dos Távoras como revolucionários
históricos17 o preservaram de ser arremessado na vala comum dos políticos profissionais.
No entanto, dois episódios fizeram com que Virgílio Távora experimentasse o
isolamento político: a resistência à pressão dos militares do Grupo de Obuses, que queriam que

17
Podemos citar a atuação de parentes de Virgílio Távora nos processos revolucionários na história política do
Brasil. Como seu pai, Manuel do Nascimento Fernandes Távora — revolucionário em 1930 —; seu tio, o militar
Joaquim do Nascimento Fernandes Távora — participante do levante tenentista de Mato Grosso em 1922 e morto
em combate na Revolta Paulista de 1924 —; seu outro tio, Juarez do Nascimento Fernandes Távora — também
integrante Revolta Paulista de 1924, da Coluna Prestes (1925-1927) e da Revolução de 1930; nessa último
movimento político-militar comandou as forças nordestinas que apoiavam Getúlio Vargas, recebendo o apelido de
“Vice-Rei do Norte”; foi o segundo colocado na eleição indireta para presidente da República do Congresso
Nacional em abril 1964; e indicado por Castelo Branco para ocupar o Ministério de Viação e Obras Públicas, cargo
que ocupou de 1964 a 1967.
59

este assinasse documento acusando o ex-presidente João Goulart; a referência ao ex-presidente


João Goulart como responsável pela realização da transmissão de energia da hidrelétrica de
Paulo Afonso para o Ceará — no discurso de inauguração da obra, em 1965, em que estava
presente o então presidente Castelo Branco.
Com isso, Virgílio Távora foi afastado do processo eleitoral de 1966, não
participando das articulações políticas que escolheriam seu sucessor e não obtendo legenda para
concorrer ao Senado. O cargo do Executivo estadual era indicado pelo presidente da República
e “empossado” pela respectiva Assembleia Legislativa Estadual. Nessa eleição, o então
presidente Castelo Branco, por ligações pessoais com o deputado federal Paulo Sarasate,
indicou o então deputado estadual Plácido Aderaldo Castelo (ARENA), um desconhecido na
política do estado. O fortalecimento de Paulo Sarasate na ARENA, que inclusive foi eleito
senador em 1966, coincidiu com o ostracismo de Virgílio Távora, que passou a ocupar o cargo
de deputado federal (1967-1971).
Nas eleições de 1970 para o Executivo estadual do Ceará, o comando militar do IV
Exército, sediado em Recife, impôs a candidatura de um engenheiro eletricista formado pela
Escola Técnica do Exército, o coronel César Cals Filho. Este era defensor da ideologia técnico-
militar do governo, e sua indicação tinha por objetivo o desmonte da aparelhagem de poder
estabelecida pelos políticos tradicionais. Embora tivesse relação com a política tradicional do
Ceará18, não possuía vínculos com a política eleitoral ou com grupos políticos locais — sua
filiação a ARENA, por exemplo, ocorreu apenas quando foi nomeado governador em 1971.
César Cals Filho era militar de carreira com know-how técnico-administrativo
demonstrado nos cargos que ocupou na burocracia estatal, tais como: diretor do departamento
de energia elétrica do Piauí (1961); presidente da Companhia Nordeste de Eletrificação de
Fortaleza (CONEFOR) (1962-1963); e presidente da Companhia Hidrelétrica de Boa Esperança
(COHEBE) (1963-1970).
Apesar da imposição do nome de César Cals a governador ser motivada por uma
escolha técnica da alta cúpula dos militares para desarticular as bases de sustentação da política
tradicional no estado, a ditadura militar não descartou o controle de votos que a política
tradicional dos chefes políticos possibilitava. O “regime militar-autoritário brasileiro” (KINZO,
1988) instalou, assim, uma situação de certa forma contraditória, pois embora o governo fosse
uma ditadura, ainda conservava as instituições democráticas, como as eleições para o
Parlamento e para as prefeituras das cidades interioranas. O regime, então, carecia de votos

18
Seu pai, o médico César Cals, foi deputado estadual (1925-1928; Liga Eleitoral Católica (LEC) 1934) e prefeito
nomeado de Fortaleza (1930-1931; 1946).
60

como mecanismo de legitimação do poder, sobretudo após a crise econômica de 1973, que pôs
fim ao “milagre econômico” que até então legitimava a ditadura. Com isso, os donos de “currais
eleitorais” viram seu prestígio novamente reforçado — como estratégia de contrabalançar a
tendência ao voto oposicionista dos centros urbanos. O governo federal passou a encorajar as
oligarquias nos estados e estas fortaleceram as oligarquias nos municípios.
Nesse cenário, uma velha “raposa”19 da política cearense se fortaleceu como
articulador de chapas majoritárias: Virgílio Távora, que exercia o mandato de deputado federal
(1967-1971). Político virtuoso, ele conseguiu reconquistar o prestígio junto à cúpula do regime
militar, galgando importantes cargos na hierarquia do partido governista, como 2º secretário da
Executiva Nacional da ARENA em 1969 e presidente da Comissão Mista de Orçamento do
Congresso Nacional em 1970.
A montagem da chapa majoritária de 1970 iniciou um arranjo entre as elites
estaduais do Ceará que ficou conhecido como “Política dos Coronéis” (MOTA, 1985). Esse
grande acordo perdurou durante todo o “regime militar-autoritário” e teve por objetivo a
concentração do poder nas mãos da ARENA, não deixando espaço para o surgimento de novas
lideranças no partido de oposição. Assim, a divisão da chapa governamental ficou composta
por: coronel César Cals Filho como governador; coronel e então deputado federal Humberto
Bezerra, irmão gêmeo do militar e deputado estadual Adauto Bezerra, como vice; e coronel
Virgílio Távora como senador.
O “Pacto dos Coronéis” tinha dois preceitos: “união na cúpula e divisão na base”
(MOTA, 1985, p. 178). Embora na disputa para o Executivo estadual houvesse a aliança entre
as três lideranças que se revezaram no cargo nomeado pelo regime militar — César Cals Filho
(1971-1975), Adauto Bezerra (1975-1978) e Virgílio Távora (1979-1982) —, na base, elas
estabeleciam implacável disputa para estruturar suas facções dentro da ARENA, buscando a
adesão do maior número possível de deputados e prefeitos.
Assim, no Ceará, a ARENA era fragmentada em facções lideradas por esses três
chefes políticos que disputavam internamente por meio do mecanismo de sublegendas20. Pela
Lei das Sublegendas (Lei nº 5.453), cada partido podia apresentar até três candidatos para um

19
O uso do termo “raposa” remonta à metáfora elaborada por Maquiavel [1513]. O autor alerta que o príncipe,
entendido aqui como liderança política, precisa combater usando a força e recorrendo a sua natureza animal, sendo
necessário empregar a habilidade feroz do leão (que não tem defesa contra os acordos, mas aterroriza os lobos) e
astuciosa da raposa (que tem defesa contra os acordos e reconhece os lobos).
20
Como vimos, a ditadura militar instituiu variados “casuísmos eleitorais” para montar uma engrenagem político-
institucional de apoio ao novo regime. Entre esses casuísmos podemos citar a regulamentação de sublegendas
dentro dos partidos, previstas no Código Eleitoral de 1965 (Lei nº 4.737) e instituída pela Lei das Sublegendas em
1968 (Lei nº 5.453). Essa adaptação foi necessária para acomodar as diferentes facções dentro da ARENA e do
MDB oriundas dos partidos do antigo sistema partidário de 1945-1964.
61

mesmo cargo nas eleições para prefeito e senador. Conforme o chefe político fosse galgando
postos de comando, ele ia montando sua base eleitoral, sendo que o ápice do poder político da
sua facção ocorria quando ocupava o posto de governador, pois assim distribuía incentivos
seletivos para sua rede de apoiadores, fincando suas raízes políticas21.
A facção “cesista” foi estruturada quando César Cals Filho ocupou o posto de
governador (1971-1975), cargo privilegiado que lhe possibilitou realizar “recrutamento
compulsório e ostensivo de políticos do interior” (CARVALHO, 2002), multiplicando adesões
a seu grupo. O objetivo era criar, efetivamente, uma facção política própria, assim como
desarticular a facção “virgilista”, usando inclusive a força para dizimar os correligionários de
Virgílio Távora. No momento em que ocupava o Executivo estadual, sua facção chegou a ser a
maior em número de deputados, superando a facção do seu principal oponente, como
percebemos no seguinte depoimento de um ex-deputado22 que acompanhou essa disputa.
No interior derrubou todo mundo que era do Virgílio [Távora]. Andavam em
uma camioneta do Serviço de Informação do Exército (SEI) que parava nas
cidades, entrava ostensivamente para causar impacto... sabe como é no
interior. Ia nas prefeituras com a ficha para os políticos preencherem e os que
estavam sendo aliciados passavam a obedecer ao bastão do governador César
Cals. [...] Dos deputados federais somente um ficou com Virgílio [Távora], o
Marcelo Linhares, e dos deputados estaduais o Aquiles Peres Mota”.
(CARVALHO, 1999, p. 71).
Porém, quando César Cals Filho deixou o governo, sua facção desidratou, obtendo
apoio apenas de um deputado federal e cinco deputados estaduais23. Isso se refletiu nas eleições
de 1974, quando seu indicado a vaga ao Senado, o então deputado federal antivirgilista Edilson
Távora, não foi eleito. Após o frustrado embate eleitoral, as relações de César Cals Filho com
a alta cúpula militar o conduziram ao cargo de diretor de coordenação das Centrais Elétricas
Brasileiras (ELETROBRÁS) (1975-1979).
Em 1974, César Cals Filho articulou seu retorno ao posto de governador do Ceará,
contando com uma base de apoio formada por cinco deputados federais, sete estaduais e pelo
senador Wilson Gonçalves (DHBB/CPDOC, VERBETE BIOGRÁFICO CESAR CALS DE
OLIVEIRA FILHO, 2010). Prevendo que sua articulação política não teria êxito, desistiu da
candidatura. Para compensá-lo, foi indicado pela cúpula militar ao posto de senador biônico.
Ocupou o cargo de senador, mas, com a posse do general João Figueiredo a presidente em 1979,

21
Seria necessária uma pesquisa que analisasse a capilaridade de cada facção dentro da ARENA, demonstrando a
montagem da rede de apoio entre deputados e prefeitos.
22
Depoimento de Liberato Moacir de Aguiar, ex-deputado da UDN (1951-1962), em entrevista a Carvalho (1999).
23
O deputado federal era Mauro Sampaio, que tinha sua base eleitoral na região do Cariri; os deputados estaduais
eram: Antônio Tavares, Carlos Cruz, Júlio Rêgo, Ciro Ferreira Gomes e João Viana (CARVALHO, 1999).
62

deixou o Senado para assumir o Ministério das Minas e Energia (1979-1985), retornando em
seguida ao cargo de senador (1985-1987).
César Cals Filho era considerado pouco habilidoso na arte da chefia da política
tradicional, configurando-se como chefe político imposto pela cúpula militar devido a sua
capacidade técnico-administrativa. Carvalho (2002) cita, por exemplo, que o primeiro episódio
de uma série de ações inábeis de César Cals Filho foi afastar Waldemar Alcântara da
presidência do Diretório Estadual da ARENA. Este era antigo líder do PSD no estado, deputado
federal (1954-1955), senador suplente (1963) e protagonista na coligação “União pelo Ceará”
de 1962. Ocupava o cargo de senador pela ARENA desde 1968 e na política intrapartidária
cumpria a função de unificar o partido. Essa exoneração foi interpretada como insulta aos
“políticos tradicionais” que acompanhavam Waldemar Alcântara e Virgílio Távora.
A facção político-familiar “bezerrista”24 foi estruturada por meio do domínio da
política local no município de Juazeiro do Norte. A família Bezerra de Meneses conseguiu
acumular poder econômico e político por meio da posição privilegiada de financiadores e
corretores na cotonicultura. Transformaram os pequenos e médios produtores de algodão, de
quem financiava a plantação e comprava a produção, em extensa e capilarizada rede de cabos
eleitorais. No início de 1970, os Bezerras se configuravam como os mais importantes
compradores e beneficiadores de algodão do Cariri e do estado (LEMENHE, 1995).
A atuação da família Bezerra de Meneses na política eleitoral teve início em 1947,
quando Leonardo Bezerra (UDN) foi eleito vereador de Juazeiro do Norte. Porém, o efetivo
controle político local aconteceu nas eleições de 1962, quando Humberto Bezerra tornou-se
prefeito de Juazeiro do Norte pela UDN. A facção política-familiar já estava estabelecida na
política local por meio do terceiro mandato de vereador e do posto de deputado estadual.
Durante 19 anos (1963-1982) a família Bezerra de Menezes, por meio da ocupação direta nos
cargos eletivos ou através da indicação de candidatos alinhados com a facção, teve controle da
vida política de Juazeiro do Norte, tanto no Executivo quanto no Legislativo.

24
A utilização do termo “bezerrista” em vez de “adautista” deve-se ao fato de que esse chefe político constituiu
sua facção com base no poder político familiar. Na facção político-familiar dos Bezerra de Meneses, cinco
membros ocuparam postos eletivos pela UDN, ARENA, PDS e PFL. Segue a lista: Leandro Bezerra: vereador de
Juazeiro do Norte (1948-1954); Orlando Bezerra: vereador de Juazeiro do Norte (1955-1963), prefeito de Juazeiro
do Norte (1970-1972), deputado estadual (1975-1982), deputado federal (1983-1994); Adauto Bezerra: deputado
estadual (1959-1974), governador do Ceará (1975-1978), deputado federal (1979-1983), vice-governador (1982-
1986); Humberto Bezerra: prefeito de Juazeiro do Norte (1963-1966), deputado federal (1967-1971), vice-
governador (1971-1974), secretário de Assuntos Municipais do governo estadual na gestão do seu irmão Adauto
Bezerra (1975-1978); Jarbas Bezerra, filho de Orlando Bezerra, deputado estadual (1979-1990). Para mais
informações, ver: Lemenhe (1995).
63

Quando ocupou o cargo de deputado estadual (1959-1974), Adauto Bezerra era


vinculado à facção “virgilista”. Cabe ressaltar que a indicação de seu irmão, Humberto Bezerra,
para o cargo de vice no Executivo estadual em 1970 foi articulada por Virgílio Távora. O
empenho de César Cals Filho em eclipsar a liderança de Virgílio Távora favoreceu a facção
“bezerrista”, que começou a alçar vôo próprio. Em 1974, a roda da fortuna favoreceu Adauto
Bezerra, pois quando Ernesto Geisel assumiu a presidência, colocou como chefe da Assessoria
Especial de Relações Públicas da Presidência o seu primo próximo, Humberto Esmeraldo, o
qual era amigo pessoal de Ernesto Geisel e defendeu o nome de Adauto Bezerra para o governo
do estado, que foi, então, indicado pelo presidente.
No momento em que ocupou o Executivo estadual (1975-1978) pôde expandir sua
área de influência para além do plano local, criando sua própria facção dentro da ARENA. Entre
as estratégias utilizadas para estruturar seu esquema de poder, Lemenhe (1995) destaca a
atuação da delegacia regional do Ministério da Educação, ocupada por sua irmã, Maria
Alacoque Bezerra, que distribuía empregos no setor de serviços de educação do estado e dos
municípios; e a Secretaria de Assuntos Municipais, presidida por seu irmão, Humberto Bezerra,
que intermediava a distribuição de recursos e verbas para os municípios.
Nas eleições de 1978, Adauto Bezerra planejava ser candidato a senador, mas como
sua gestão desagradou a facção “virgilista”, teve receio de não ser eleito, como aconteceu
anteriormente com o candidato a senador indicado por César Cals Filho em 1974, como
comentado anteriormente. Assim, Adauto Bezerra optou pela vitória certa como deputado
federal, assim como de seu irmão, Orlando Bezerra, como deputado estadual.
Por último, a facção “virgilista” retomou o poder governamental quando Virgílio
Távora passou a ocupar a Executivo estadual (1979-1982). Nesse momento já estava ocorrendo
o processo gradual de abertura política. A primeira eleição direta para governador após o fim
do “regime militar-autoritário brasileiro” (KINZO, 1988), em 1982, teve influência direta de
Virgílio Távora, que indicou o candidato a governador, conforme veremos posteriormente.
Embora a ARENA fosse fragmentada em três facções, as quais estabeleciam guerra
contínua por maior espaço dentro do governo, a junção dos três grupos em uma única
agremiação possibilitou que o partido se tornasse hegemônico na política cearense. Conforme
a tipologia dos sistemas partidários proposta por Sartori [1976], o sistema de partido
hegemônico não permite efetiva competição formal pelo poder. Nesse tipo de sistema, podem
existir outros partidos, como havia o MDB, porém, estas agremiações são apenas toleradas,
compondo uma segunda classe, pois não possuem condições reais de competir com o partido
64

hegemônico em termos de igualdade de poder. Esse tipo de partido hegemônico é característico


de sistemas partidários não competitivos, em que não ocorre alternância ou rotação no poder.
Analisando os resultados eleitorais durante o período da ditadura militar no Ceará,
observamos como o “Pacto dos Coronéis” tornou a ARENA um partido hegemônico, como
podemos constatar nas duas Tabelas seguintes.

Tabela 2 - Quantidade de deputados federais e estaduais eleitos no Ceará (1966-1978)


DEPUTADO FEDERAL DEPUTADO ESTADUAL
ELEIÇÃO ARENA MDB TOTAL ARENA MDB TOTAL
1966 15 (78,9) 4 (21,1) 19 49 (75,4) 16 (24,6) 65
1970 13 (81,2) 3 (18,8) 16 31 (79,5) 8 (20,5) 39
1974 13 (81,2) 3 (18,8) 16 32 (80) 8 (20) 40
1978 15 (75) 5 (25) 20 33 (75) 11 (25) 44
Fonte: Elaboração própria a partir dos dados do TRE-CE.

Tabela 3 - Quantidade de prefeitos e vereadores eleitos no Ceará (1966-1976)


PREFEITO VEREADOR
ELEIÇÃO ARENA MDB TOTAL ARENA MDB TOTAL
1966 119 (84,4) 22 (15,6) 141 886 (77,5) 258 (22,5) 1144
1970 123 (86) 20 (14) 143 994 (82) 218 (18) 1212
1972 120 (85) 21 (15) 141 1057 (82) 234 (18) 1291
1976 131 (94) 9 (6) 140 1115 (81,5) 236 (18,5) 1351
Fonte: Elaboração própria a partir dos dados do TRE-CE.

Analisando as duas Tabelas, percebemos que a ARENA apresentou uma trajetória


de domínio eleitoral. Mesmo depois do crescimento do MDB no plano nacional pós-1973,
quando o processo eleitoral adquiriu caráter plebiscitário de rejeição ou apoio à ditadura militar,
a ARENA continuou hegemônica no Ceará. Na Câmara Federal e na Assembleia Legislativa
do Estado do Ceará (ALECE), ocupou, em média, respectivamente 80% e 77% das cadeiras,
valor que só diminuiu nas eleições de 1978. Mesmo com essa redução, o partido ainda preenchia
75% das vagas. Podemos perceber a capilaridade da ARENA no estado observando as eleições
municipais. No plano local, o partido conseguiu ocupar, ao longo das quatro eleições, uma
média de 87% das vagas para o cargo de prefeito e 80% para o cargo de vereador. Na última
eleição municipal desse regime, em 1976, a ARENA inclusive apresentou seu melhor
desempenho nas eleições para o Executivo municipal, atingindo 94% das prefeituras do estado.
Já o MDB cearense tinha na arena eleitoral um campo de ação limitado. Essa
dificuldade para conseguir a adesão de deputados e prefeito e assim consolidar um partido de
65

oposição ao regime deve-se à “vocação para o governo” de políticos tradicionais, que utilizam
os recursos do Estado para distribuir favores, cargos, verbas e outros tipos de incentivos
seletivos para sua base eleitoral, pois só recorrendo a tais expedientes esse tipo de político
consegue manter sua carreira. Um dos fundadores do partido no estado afirma: “[...] quase que
não conseguimos fazer um partido de oposição, porque o que todo mundo queria ser mesmo
era ser governo" (JOÃO ALVES MELO, secretário-geral do PMDB-CE. Entrevista concedida
ao autor em 17/11/2015).
Como percebemos nas duas Tabelas anteriores, esse partido apresentou baixo
desempenho eleitoral, e algumas das conquistas eleitorais foram obtidas graças às fissuras
internas na ARENA, momento explorado com sagacidade pelo MDB. Podemos citar a disputa
pela senatoria em 1974, por exemplo. Nessa eleição, o candidato do MDB, Mauro Benevides,
obteve o apoio informal de Virgílio Távora (ARENA) e foi eleito senador em detrimento do
candidato oficial da ARENA.
Expostos esses dados, observamos que a ARENA era o partido hegemônico no
Ceará, mas que apresentava fissuras internas criadas pela competição de três lideranças. Essas
contradições ecoaram na formação do herdeiro do partido, o PDS. Já o MDB apresentava
dificuldades para sobreviver num ambiente político hostil à oposição, repercutindo na primeira
eleição do atual ciclo democrático, como veremos a seguir.

1.2 - Sistema pluripartidário e a emergência do PMDB, PT e PSDB

A primeira eleição do atual ciclo democrático, eleições de 1982, foi caracterizada


no plano nacional pelo avanço eleitoral dos partidos da oposição, PMDB e PDT. Estes partidos
conquistaram respectivamente 9 e 1 dos 22 cargos para o Executivo estadual no Brasil. No
Ceará, seguindo a tendência do Nordeste25, o PDS apresentou extraordinário desempenho
eleitoral. Esse partido conseguiu eleger o governador, Luiz de Gonzaga Fonseca Mota, o
senador, Virgílio Távora, 17 dos 22 deputados federais, 34 dos 46 deputados estaduais, 136 dos
140 prefeitos e 1.366 dos 1.531 vereadores. Percebe-se que, no âmbito regional, o maquinário
político tradicional, montado durante o “regime militar-autoritário brasileiro” (KINZO, 1988)
e analisado no tópico anterior, sobreviveu ao novo desafio ambiental experimentado pelo
retorno de eleições diretas ao Executivo estadual. Essa perenidade do “Pacto dos Coronéis”

25
Os nove governadores do nordeste eleitos em 1982 foram do PDS, caracterizando a única região em que o
PMDB não conseguiu penetração eleitoral na disputa do executivo estadual.
66

(MOTA, 1985) é observada na capilaridade que o PDS apresentou e no fraco desempenho


eleitoral do PMDB nessas eleições de 198226.
A formação partidária cearense na primeira eleição direta para o Executivo estadual
ainda estava sob a égide do bipartidarismo do sistema anterior. Percebe-se que as agremiações
que herdaram a estrutura partidária e o capital político dos partidos vigentes no período da
ditadura tiveram vantagens. O PT, por exemplo, que com muito esforço conseguiu se estruturar
para competir nas eleições de 1982 no Ceará, obteve baixo desempenho eleitoral. Não tendo
conseguido representação no Parlamento e não elegendo nenhum candidato no plano municipal.
O PDS, nessas eleições de 198227, apresentava-se como partido hegemônico. O
único território em que ele não conseguiu estabelecer domínio político foi na capital. O
município de Fortaleza mostrava-se oposicionista. O Gráfico abaixo mostra a dispersão dos
votos por municípios para o Executivo estadual entre os dois candidatos mais votados: Gonzaga
Mota (PDS) e Mauro Benevides (PMDB).

Gráfico 2 - Dispersão da votação para governador em 1982 no Ceará

300.000

250.000
Mauro Benevides (PMDB)

200.000

150.000

100.000

50.000

0
0 20.000 40.000 60.000 80.000 100.000 120.000 140.000 160.000
Gonzaga Mota (PDS)

Fonte: Elaboração própria a partir dos dados do TRE-CE.

Analisando o Gráfico, notamos que o único ponto destoante é o que representa a


votação de Fortaleza. Nesse município, Mauro Benevides (PMDB) apresentou expressiva
votação, 280.540 votos (64%). Gonzaga Mota (PDS) ficou em segundo lugar, com 154.399

26
Quando comparamos o desempenho eleitoral do PMDB no plano nacional com o obtido no Ceará, percebe-se a
sua fragilidade inicial no cenário estadual. Enquanto nas eleições nacionais de 1982 o partido elegeu 41,7% da
Câmara Federal (200 deputados federais) e 42,6% das Assembleias Legislativas estaduais (404 deputados
estaduais), no estado do Ceará o partido conservou a representação que o MDB possuía, elegendo 22% dos
deputados federais (5 deputados) e 26% da ALECE (12 deputados estaduais).
27
Para mais informações sobre as eleições de 1982 no Ceará, ver: Barros e Costa (1985).
67

votos (35%). Até mesmo o candidato do PT, Américo Barreira, obteve alta adesão, 5.494 votos
(1,2%), concentrando em Fortaleza mais da metade da sua votação no estado, 9.956 votos no
total.
No restante dos municípios do estado, Mauro Benevides apresentou baixo
desempenho eleitoral. Basta observar que Gonzaga Mota obteve 70% dos votos válidos
(1.149.259 votos) e Mauro Benevides alcançou 29% (478.755 votos) concentrados em grande
parte na capital.
Como vimos, o PDS no estado teve o bônus de herdar o capital político da ARENA,
mas atrelado a isso teve o ônus de herdar também suas disputas intrapartidárias. Na eleição de
1982, por exemplo, foi necessário pacto intermediado pelo então chefe do Gabinete Civil da
Presidência da República, João Leitão de Abreu, conhecido como “Acordo de Brasília”
(MOTA, 1985), para que fosse montada a chapa para o Executivo estadual e o Senado.
Nesse contrato, cada facção política do PDS (“cesistas”, “bezerristas” e
“virgilistas”) ficaria com 1/3 dos cargos do primeiro escalão do governo estadual; o candidato
a governador seria indicado por Virgílio Távora, que escolheu o secretário de Planejamento da
sua gestão, o economista Gonzaga Mota. Já o candidato a vice-governador seria indicado por
Adauto Bezerra, que indicou a si próprio para assumir o cargo. O prefeito de Fortaleza, por sua
vez, seria nomeado por César Cals Filho, que designou seu filho, César Cals Neto, para o cargo.
Quanto à escolha para os cargos no Senado, a vaga de titular coube a Virgílio Távora, que
indicou a si próprio. A indicação da primeira e segunda suplência para o cargo ficou a cargo de
Adauto Bezerra, que escolheu respectivamente seu amigo pessoal e banqueiro, José Afonso
Sancho, e sua irmã, Maria Alacoque Bezerra.
Caso um analista levasse em consideração apenas os resultados eleitorais de 1982,
concluiria que o retorno à redemocratização não teria alterado a “fortuna” (MAQUIAVEL,
[1513]) dos três chefes políticos, visto que o PMDB não era, efetivamente, um competidor e o
PT tinha apresentado baixo desempenho eleitoral. Porém, em 1985, a eleição indireta para
presidente da República e o restabelecimento de eleições diretas para prefeitos das capitais
estremeceram o chão onde esses chefes políticos tinham enraizado suas bases de sustentação.
A eleição indireta para presidente ocasionou não só a implosão interna do PDS
nacional. O PDS cearense, que até então vivia sob a égide do “Pacto dos Coronéis” herdado da
ARENA, também foi afetado pelas disputas nacionais. Na Convenção Nacional do PDS que
indicaria a chapa do partido para o Executivo nacional duas candidaturas polarizavam a
agremiação. O então senador Virgílio Távora apoiou a candidatura do ex-governador de São
Paulo (1979-1982) e então deputado federal, Paulo Maluf. Este tinha como vice o ex-
68

governador do Ceará (1958-1959), concunhado de Virgílio Távora e então deputado federal,


Flávio Marcílio. Já o ministro de Minas e Energia, César Cals, e o então governador e vice-
governador do Ceará, respectivamente Gonzaga Mota e Adauto Bezerra, apoiavam a
candidatura do então Ministro do Interior, Mário Andreazza, que tinha como vice o então
governador de Alagoas, Divaldo Suruagy.
Nessa eleição primária do PDS, a chapa formada por Paulo Maluf e Flávio Marcílio
obteve vitória. Porém, lideranças estaduais nordestinas28 ficaram descontentes com o processo
interno de escolha dos candidatos e saíram do partido para formar uma Frente Liberal. Esse
fracionamento do PDS nacional reconfigurou as alianças entre as elites políticas cearenses, pois
César Cals continuou no PDS e renovou sua relação conflituosa com Virgílio Távora; Adauto
Bezerra integrou-se ao então PFL; e Gonzaga Mota filiou-se ao PMDB.
Aliado a esse fracionamento dos chefes políticos, a eleição direta para o Executivo
de Fortaleza possibilitou o surgimento de novos atores políticos. Nas eleições de Fortaleza em
1985, oito agremiações partidárias articularam o lançamento de candidatos29. Inicialmente,
essas eleições se configuravam como a disputa entre os chefes políticos e o governador. A
polarização esperada era entre os candidatos do PMDB e do PFL.
O PMDB, contando com o apoio de grande parte da esquerda que então integrava
o partido — Partido Comunista Brasileiro (PCB), Partido Comunista do Brasil (PCdoB) e
Movimento Revolucionário Oito de Outubro (MR-8) —, apresentou como candidato a prefeito
o então deputado federal Paes de Andrade. Este possuía votação concentrada na capital e
integrava o grupo dos autênticos do MDB. O candidato a vice-prefeito, radialista sem histórico
de cargos eletivos, Narcélio Lima Verde, foi indicado pelo então governador Gonzaga Mota.
O PFL, na ocasião vinculado ao vice-governador Adauto Bezerra, apresentou como
candidato o então deputado federal Lúcio Alcântara, que já tinha ocupado os cargos de prefeito
nomeado de Fortaleza (1979-1982), secretário de Saúde do estado do Ceará (1971-1973; 1975-
1978) e secretário para Assuntos Municipais (1978-1979). Ademais, era filho de Waldemar
Alcântara, antigo líder do PSD e da ARENA que ocupou o cargo de deputado federal (1954-
1955), senador (1963; 1968-1975) e governador do Ceará (1978-1979). O candidato a vice-

28
Destaca-se o ex-governador da Bahia (1971-1975; 1979-1983) Antônio Carlos Magalhães, o então governador
do Piauí, Hugo Napoleão Neto, e o então governador de Pernambuco, Roberto Magalhães.
29
Cabe ressaltar que o aumento de agremiações disputando eleições de 1985 deve-se à promulgação da Emenda
Constitucional n. º 25, que no seu Art. 7º possibilitou que partidos em formação pudessem apresentar candidatos
às eleições municipais. Com isso, o número de partidos eleitorais no Ceará passou de três nas eleições de 1982,
como — PDS, PMDB e PT — para oito nas eleições de 1985 — PDS, PMDB, PT, PTB, PDT, PFL, PSC e PL.
69

prefeito era o então deputado federal Evandro Ayres de Moura, que também já tinha ocupado
o cargo de prefeito nomeado de Fortaleza (1975—1978).
Uma coligação entre PDS e PTB, que contava com o apoio do senador Virgílio
Távora e do ministro César Cals Filho, apresentou como candidato o então deputado federal
Antônio Alves de Moraes. Este já ocupava o terceiro mandato consecutivo na Câmara Federal,
eleito deputado federal em 1974 pelo MDB, tendo sido vereador de Fortaleza também pelo
MDB (1966-1972).
No entanto, uma candidatura apresentou-se como novidade, alterando as relações
de força já estabelecidas na política cearense. Apresentando sua campanha de televisão criativa
montada nos novos “padrões midiáticos publicitários da política” (CARVALHO, 1999) e com
militância ativa nos bairros de periferia, a candidata do PT, a deputada estadual Maria Luiza
Fontenelle, foi eleita com 159.846 votos (34%), apresentando mais de 11 mil votos do que o
segundo colocado. Em segunda posição ficou o candidato do PMDB, Paes de Andrade, com
148.427 votos (32%), e em terceiro o candidato do PFL, Lúcio Alcântara, com 121.326 votos
(26%)30.
As eleições de 1986 completaram o quadro de adversidade enfrentado pelos antigos
chefes políticos do período da ditadura no Ceará. Nesse cenário, consolidaram-se rupturas na
política estadual, fazendo ruir a maquinaria política montada nos moldes tradicionais. Essa
engrenagem política foi fundada no prestígio dos chefes estaduais que, por meio de uma rede
capilarizada e hierarquizada de chefes e chefetes davam a conhecer sua vontade aos eleitores,
que a traduziam em votos certos. A política cearense, no âmbito das disputas estaduais e
municipais em Fortaleza, apresentou transição da “arte da chefia política no contexto da
tradição” — como vimos no tópico anterior sobre os três chefes políticos —, para a “arte da
política no tempo da sociabilidade midiática e da estética publicitária” (CARVALHO, 1999).
O centro da disputa nas eleições de 1986 era os cargos no Executivo estadual e as
duas vagas ao Senado Federal. Os três chefes políticos reprisaram o “Pacto dos Coronéis”
(MOTA, 1985) na “Coligação Democrática” que unia PFL, PDS e PTB. Nessa aliança, o
candidato a governador foi Adauto Bezerra (PFL), que no período ocupava o cargo de vice-
governador, e o vice-governador foi indicado por Virgílio Távora, que escolheu o então
deputado estadual Aquiles Mota (PDS). Para o Senado, os indicados foram o então senador
César Cals Filho (PDS) e o então deputado federal e ministro da pasta da Desburocratização do
Governo de José Sarney, Paulo de Tarso Lustosa (PFL).

30
Para mais informações sobre o resultado eleitoral de Fortaleza ver Anexo 10.
70

A coligação Movimento Pró-Mudanças, que unia PMDB, lideranças conservadoras


democratas-cristãos do PDC e os partidos comunistas PCB e PCdoB, apresentou como
candidato a governador o empresário e ex-presidente do Centro Industrial do Ceará (CIC),
Tasso Jereissati (PMDB). Além disso, aglutinava forças políticas ligadas tanto aos movimentos
sociais de esquerda e de centro-esquerda, quanto aos segmentos políticos mais tradicionais.
Nessa coligação, o vice-governador seria o então deputado estadual Plácido Castelo
(PMDB), indicado pelo então governador Gonzaga Mota. Para o Senado foram indicados o
então presidente do Banco do Nordeste do Brasil (BNB), Mauro Benevides (PMDB), e o então
procurador do Conselho de Contas dos Municípios do Governo do Ceará e deputado estadual
suplente em 1982 pelo PDS, Cid Carvalho (PMDB).
Tasso Jereissati (PMDB) obteve, no total, 53,3% dos votos válidos (1.407.693
votos), contra 30% (807.315 votos) de Adauto Bezerra (PFL)31. A novidade dessa eleição foi
que a regra pragmática do acordo político não produziu os resultados esperados. A votação de
Adauto Bezerra foi inferior a de Tasso Jereissati não apenas na capital — que, como vimos,
apresentava tendência oposicionista —, mas também no interior do estado, onde os “coronéis”
supostamente tinham votos “cativos”. Além disso, o outro chefe político, César Cals Filho
(PDS), não foi eleito senador, tendo o PMDB ocupado as duas vagas ao Senado.
Apesar dessa vitória não poder ser atribuída exclusivamente ao acúmulo de forças
mudancistas locais, visto que ocorria num contexto de transformação política em todo o país32,
percebemos que as bases políticas interioranas estavam desarticuladas, não sendo mais
afiançadoras de “votos certos” aos chefes políticos, como no sistema bipartidário em que a
ARENA era o partido hegemônico.
O retorno ao multipartidarismo e os embates políticos nos pleitos de 1985 e 1986
tornaram a política cearense mais competitiva. Novos atores e variados partidos políticos
disputaram a política institucional, colocando os limites da manutenção de lideranças políticas
sustentadas na “arte da chefia política” (CARVALHO, 1999).
Como vimos no tópico anterior, percebemos que os três chefes políticos do período
da ditadura militar possuíam traços em comum, como a formação militar e a legitimidade
baseada na política tradicional. No entanto, observamos características específicas na
montagem dos seus “principados” (MAQUIAVEL, [1513]), das suas facções políticas. César

31
Para mais informações sobre o resultado eleitoral do Executivo estadual ver Anexo 11.
32
Na eleição em 1986, o PMDB conseguiu eleger 22 governadores, só sendo derrotado em Sergipe. Além disso,
esse partido conseguiu eleger 38 senadores (77,8%) e na Câmara elegeu 260 deputados federais (53%). Pode-se,
inclusive, falar de uma “onda do Plano Cruzado” do governo José Sarney (PMDB).
71

Cals Filho assumiu o cargo de governador imposto pela alta cúpula militar na estratégia de
desarticular os grupos políticos tradicionais. No entanto, para consolidar-se na política estadual,
recorreu às estratégias da política tradicional. Montou seu “principado” com “armas e virtude”
da influência que possuía na alta cúpula militar, não conseguindo fincar raízes de sua facção
política. Faltava a esse “príncipe” força política própria, pois apenas detinha o governo, e não
o eleitorado.
Com o retorno ao multipartidarismo, César Cals Filho continuou filiado à ARENA
que se transformou em PDS. Nas eleições de 1982, lançou seu filho, César Cals Neto, como
candidato a deputado federal, mas cometeu o erro estratégico de concentrar votos nessa
candidatura. Com isso, dois deputados federais “cesistas”, Claudino Sales e Gomes da Silva,
não foram eleitos. A partir disso, conquista o desprezo de seus “súditos” (MAQUIAVEL,
[1513]), como percebemos no seguinte título de matéria do jornal O Povo: “Claudino magoado
com o esquema cesista” (O POVO, 30 nov.1982). Nas eleições de 1986, César Cals Filho não
foi eleito ao Senado, ocupando a quarta posição entre os candidatos, apresentando 602.546
votos (11%). Em seguida, em 1987, articulou a recriação do Partido Social Democrático (PSD)
no Ceará, tornando-se secretário-geral do Diretório Nacional. Coordenou, no Ceará, a
campanha de Ronaldo Caiado (PSD) a presidente da República em 1989.
A continuação de seu “principado” foi adiante por meio da carreira política de seus
dois filhos: César Cals Neto — que foi reeleito deputado federal em 1986 e ficou na suplência
em 1990 pelo PSD — e Marcos César Cals — que iniciou sua carreira política aos 22 anos,
eleito em 1986 pelo PDS o mais jovem deputado estadual do país. Na ALECE, este ocupou o
cargo de deputado estadual por seis mandatos consecutivos (1987-2010), assumindo a
presidência (2003-2006). Pelo PSDB, partido a que se filiou em 1997, ocupou a segunda
presidência (1997) e a presidência (2009-2011) da Comissão Executiva Estadual.
Contando com sólida carreira política familiar de base local, Adauto Bezerra
tornou-se governador e exerceu domínio político no terceiro colégio eleitoral do estado, o
município de Juazeiro do Norte33. O declínio político dessa facção iniciou-se nas eleições
municipais de 1982, na sua base municipal, quando o candidato a prefeito, Erivano Cruz (PDS
I), foi derrotado. O postulante vitorioso, Manoel Salviano (PDS II), era apoiado pelo senador

33
Durante as décadas de 1970 e 1980, o município de Juazeiro do Norte só perdia em magnitude eleitoral para a
capital do estado, Fortaleza, e o município de Sobral. Porém, diferentemente de Sobral, Juazeiro do Norte exerce
forte influência na região do Cariri cearense, sul do estado. Somado aos municípios vizinhos de Crato e Barbalha,
forma uma conurbação chamada de triângulo CRAJUBAR.
72

Virgílio Távora, e foi localmente indicado pelo deputado federal Mauro Sampaio (PDS),
anteriormente “bezerrista” e que depois estruturou uma facção política própria no município.
A partir de 1985, a facção político-familiar se agrupou no PFL, controlando o
Diretório Estadual. Nas eleições de 1986, ocuparam, pela quinta eleição consecutiva, uma vaga
na Câmara Federal e outra na ALECE, respectivamente assumidas por Orlando Bezerra e Jarbas
Bezerra. O partido que controlavam, o PFL, também ultrapassou a representação parlamentar
do PDS34, mas a grande derrota de Adauto Bezerra no Executivo estadual fez com que
ocupassem a posição de infortúnio que é a oposição ao governo.
Nas eleições de 1988, um membro da família Bezerra de Meneses, José Arnon
Bezerra, perdeu a disputa ao Executivo municipal de Juazeiro do Norte. Em 1990, a facção
reelegeu novamente um deputado federal e um deputado estadual, cargos assumidos
respectivamente por Orlando Bezerra e Arnon Bezerra. Porém, como permaneceu na oposição,
o PFL diminuiu a representação no Parlamento35. Adauto Bezerra foi designado pelo presidente
Fernando Collor de Melo para a Superintendência do Desenvolvimento do Nordeste
(SUDENE), cargo que assumiu de 1990 a 1991.
Atualmente, a perpetuação da facção política-familiar ocorre por meio da trajetória
política de Arnon Bezerra, que foi eleito vice-prefeito de Juazeiro do Norte pelo PFL em 1982.
Em 1994, ele migrou para o partido governista, o PSDB, ocupando o cargo de deputado federal
(1995-2003). Filiou-se, em seguida, ao PTB, tornando-se presidente do Diretório Estadual, e
continuou com o mandato de deputado federal (2003-2017). Elegeu-se, em 2017, prefeito de
Juazeiro do Norte.
Virgílio Távora adquiriu seu “principado” por meio da fortuna do pai, mas
apresentou a virtú (MAQUIAVEL, [1513]) necessária para expandir fronteiras e conquistar seu
próprio território com “armas e virtudes” próprias. Dominando a “política de bastidores”,
destacou-se como grande estrategista ao construir acordos de complexa engenharia política,
como a “União pelo Ceará”, em 1962, e o “Pacto dos Coronéis”, que estruturou chapas
majoritárias estaduais em cinco eleições consecutivas, de 1970 até 198636. Ainda
desempenhando o mandato de senador, Virgílio Távora morreu em 1988, mas seu “principado”
não se desarticulou. Esse “príncipe”, diferentemente de César Cals Filho, detinha força política
própria. Seus herdeiros políticos, que não se restringiam exclusivamente a sua prole, deram

34
Em 1986, o PDS elegeu três deputados federais e cinco deputados estaduais, já o PFL elegeu seis deputados
federais e 13 deputados estaduais. Ver Anexo 3.
35
Em 1990, o PFL elegeu quatro deputados federais e cinco deputados estaduais.
36
Para informações sobre o assunto, consultar Mota (1985).
73

continuidade a seu legado. O PDS foi liderado pelo então deputado federal Aécio de Borba, que
ocupava o cargo na Câmara Federal desde 1983 e tinha sido secretário do governo estadual nos
dois períodos em que Virgílio Távora foi governador (1963-1966; 1979-1982); por um ex-
deputado estadual “virgilista” (1959-1987), Aquiles Peres Mota; e pelo concunhado de Virgílio
Távora, ex-governador de Ceará (1958-1959) e ex-deputado federal (1963-1987) Flávio
Marcílio.
Posteriormente, a viúva de Virgílio Távora, Luiza Távora disputou como vice-
governadora no pleito de 1990. Ela tinha acumulado capital político com os trabalhos de
assistência social que realizou no período em que foi primeira-dama (1963-1966; 1979-1982).
Foi candidata em uma aliança conservadora que tinha por coesão a oposição ao PSDB. A
coligação eleitoral pela qual foi candidata, intitulada de “Compromisso Ceará Verdade”, tinha
por “cabeça de chapa”, ou candidato principal, o antigo postulante ao Senado pelo PFL em
1986, Paulo de Tarso Lustosa (PDS). No entanto, essa aliança não obteve êxito, obtendo apenas
871.047 votos (30%).
A herança política de Virgílio Távora foi transferida para seu filho, Carlos Virgílio
Távora, que foi deputado federal por três mandatos consecutivos (1983-1995) pelo PDS/PPR.
No entanto, nas eleições de 1994 este não foi reeleito, ocupando a suplência como deputado
federal pelo Partido Progressista Reformador (PPR).
Percebe-se que com as mudanças na legislação partidária, que flexibilizaram a
criação de novas agremiações, como a Emenda Constitucional nº 25/1985 e a LPP (Lei nº
9.096/1995), o subsistema partidário cearense ficou mais complexo, composto por variados
partidos com representação parlamentar. Analisando o subsistema parlamentar e as eleições de
1994 no Ceará, Moraes Filho (1997) salienta que foi constituído tanto na Câmara dos Deputados
quanto na ALECE um subsistema de três a quatro partidos com média fragmentação, dando
indícios de institucionalização do subsistema partidário no estado.
Observando a representação na Câmara dos Deputados e na ALECE dos partidos
em nove ciclos eleitorais (1982 a 2014), como pode ser verificado no Anexo 3, percebemos que
quatro agremiações se destacaram, elegendo a maioria dos 198 cargos para deputados federais
e 414 cargos para deputados estaduais do estado. Ocupando as primeiras posições nesse recorte
temporal, apesar das oscilações que serão abordadas nessa pesquisa, temos em ordem de
classificação: PSDB, PMDB, PPB/PP37 e PT.

37
O PPB/PP surgiu em 1995 através da fusão do Partido Progressista Reformador (PPR) com o Partido Progressista
(PP). Destaca-se que esses dois partidos nasceram de fusões anteriores, ocorridas em 1993, sendo o PPR fundado
74

Cabe destacar que essa classificação do PPB/PP como terceira agremiação que mais
elegeu deputados no Ceará deve-se à alta representação do PDS em 1982, que elevou a média
do partido. Essa agremiação apresentou trajetória eleitoral de decadência. Após a morte de
Virgílio Távora, em 1988, o PDS foi liderado pelo então deputado federal (1983-1998) Aécio
de Borba. A fusão com o PDC, ocorrida em 1993, não alterou as relações intrapartidárias do
PDS para criar o PPR. Isso porque os democratas-cristãos que ocupavam cargos eletivos, o
deputado federal Moroni Torgan e o deputado estadual Paulo Carlos Duarte, já tinham migrado
para o PSDB na ocasião. Eles tinham ocupado, respectivamente, os cargos de secretário e
subsecretário de segurança pública estadual na gestão de Tasso Jereissati (1987-1990).
Alguns anos depois, a fusão do PPR com o PP, ocorrida em 1995, alterou as relações
intrapartidárias do herdeiro do PDS e do “virgilismo”. O PPR no estado já apresentava sinais
de decadência, pois nas eleições de 1994 não elegeu suas duas principais lideranças para a
Câmara Federal, Aécio de Borba e Carlos Virgílio Távora, embora ainda contasse com quatro
deputados estaduais. Por sua vez, o PP apresentava dois deputados federais: o padre José
Linhares, que ocupava mandato na Câmara dos Deputados desde 1991, e o empresário Edson
Queiroz Filho, que assumia o primeiro cargo eletivo. Na formação do PPB cearense, o deputado
federal Edson Queiroz Filho assumiu a presidência do Diretório Estadual (1995-1997), sendo
depois ocupada pelo deputado federal padre José Linhares (1997-1998).
Para observamos o desempenho eleitoral dos três partidos aqui analisados, PMDB,
PT e PSDB, seguem Gráficos que demonstram o percentual de deputados federais, deputados
estaduais, prefeitos e vereadores eleitos pelas três siglas. Esses dados são relevantes pois
mostram a representação no Parlamento e o enraizamento no plano local.
Os quatro Gráficos, apesar de apresentarem dados sobre cargos e eleições
diferentes, mostram trajetórias eleitorais similares nos três partidos: o PMDB iniciou com baixo
desempenho (eleições de 1982), depois inflacionou (eleições de estaduais de 1986 e municipais
de 1988) e em seguida decaiu, mas conseguiu se estabilizar; o PT despertou com baixo
desempenho eleitoral (eleições de 1982), foi crescendo timidamente (eleições na década de
1990) e despontou a partir do momento em que o partido alcançou o Executivo federal (eleições
de 2002); o PSDB iniciou apresentando alto desempenho (eleições municipais de 1992), logo
em seguida atingiu seu ápice (eleições estaduais de 1998), mas, em sentido contrário a trajetória
eleitoral do PT, apresentou curso de declínio (a partir das eleições de 2002). Como observamos
na página seguinte.

a partir da fusão entre o Partido Democrático Social (PDS) e o Partido Democrata Cristão (PDC); e o PP de uma
fusão entre o Partido Social Trabalhista (PST) e o Partido Trabalhista Renovador (PTR).
75

Gráfico 4 - Percentual dep. federal eleito - PMDB, PT e PSDB (1982-2014) Gráfico 3 - Percentual dep. estadual eleito - PMDB, PT e PSDB (1982-2014)
60 60

50 50
40 40
30 30
20 20
10 10
0 0
1982 1986 1990 1994 1998 2002 2006 2010 2014 1982 1986 1990 1994 1998 2002 2006 2010 2014
PMDB PT PSDB PMDB PT PSDB

Fonte: Elaboração própria a partir dos dados do TRE-CE. Fonte: Elaboração própria a partir dos dados do TRE-CE.

Gráfico 6 - Percentual prefeitos eleitos - PMDB, PT e PSDB (1982-2012) Gráfico 5 - Percentual de vereadores eleitos - PMDB, PT e PSDB (1982-2012)
60 60
50 50
40 40
30 30
20 20
10 10
0 0
1982 1988 1992 1996 2000 2004 2008 2012 1982 1988 1992 1996 2000 2004 2008 2012
PMDB PT PSDB PMDB PT PSDB

Fonte: Elaboração própria a partir dos dados do TRE-CE. Fonte: Elaboração própria a partir dos dados do TRE-CE.
76

Analisando os Gráficos 3 e 4, percebemos que o PMDB, em 1982, manteve


o percentual de representação parlamentar obtido na eleição anterior, em 1978. Conseguiu
conservar as 5 cadeiras (22,7%) na Câmara Federal e as 12 vagas (26%) na ALECE. Nas
eleições de 1986, apresentou seu melhor desempenho na série história, elegendo metade
das vagas na Câmara, totalizando 12 deputados federais (54,5%), e na ALECE, com 24
deputados estaduais (53,3%). Após esse pico, reduziu sua representatividade no
Legislativo. Percebe-se, no entanto, trajetória de relativa estabilidade ao longo das
eleições, elegendo, em média, 21% das vagas na Câmara Federal e 11% na ALECE. Cabe
destacar que na Câmara Federal o PMDB foi apresentando trajetória de declínio na sua
representação. Essa diminuição do número de deputados teve início na eleição de 2006,
quando elegeu 6 deputados federais (27%), e prosseguiu nas eleições seguintes: em 2010,
elegeu 5 deputados federais (22,7%); em 2014, elegeu 3 (13,6%).
Analisando a capilaridade do PMDB, verificada nos Gráficos 5 e 6,
observamos baixo rendimento nas eleições de 1982. Essa acanhada representação era
fruto da dominância exercida pela ARENA/PSD. Nas eleições de 1988, o PMDB
apresentou seu melhor desempenho eleitoral na série histórica, elegendo 59 prefeitos
(33%) e 777 vereadores (32,5%). Cabe ressaltar que essa performance eleitoral foi
influenciada pelo fato de o governador Tasso Jereissati estar filiado ao partido, exercendo
atração no recrutamento da base local. Nas eleições seguintes, após a migração do então
governador, a agremiação diminuiu a quantidade de prefeitos e vereadores. Apesar dessa
brusca redução, nas eleições de 1992, a agremiação apresentou estabilidade ao longo dos
ciclos eleitorais posteriores, ao eleger em torno de 10% dos prefeitos e vereadores do
estado. Cabe destacar o desempenho eleitoral para o Executivo municipal nas eleições de
2008, quando o partido teve acréscimo de 18,3% comparado à eleição anterior, elegendo
33 prefeitos (17,9%) no total.
O PT estreou nas eleições de 1982 de forma precária, apresentando fraco
desempenho eleitoral ao competir em pleito marcado pela lógica do bipartidarismo do
sistema anterior. Na eleição seguinte, em 1986, obteve representação na ALECE,
ocupando 2 vagas (4,4%). A representação na Câmara Federal demorou a ser conquistada;
apenas no pleito de 1994 a agremiação elegeu deputados federais, momento em que
ocupou 1 cadeira (4,5%). A partir das eleições de 2006, quando o partido ocupava o
governo no plano nacional, o PT estadual conseguiu ampliar e manter sua representação
na Câmara Federal, dobrando o número de deputados federais ao conquistar 4 vagas
(18%). No tocante à representação na ALECE, o PT apresentou curso oscilante:
77

aumentava o número de cadeiras conquistadas em uma eleição, ocupando 5 vagas


(10,8%), como vemos nas eleições de 2002 e 2010; e reduzia no pleito seguinte, voltando
a ocupar 2 vagas (4%), como em 2006 e 2014.
No plano local, o PT exibiu trajetória ascendente ao longo das eleições, com
curva mais acentuada a partir de 2004, primeira eleição municipal após o partido assumir
o Executivo federal. Em cinco eleições, de 1982 a 2000, apresentou tímido desempenho
eleitoral, elegendo no máximo 1% dos cargos do Executivo e 2% do Legislativo. Já no
pleito de 2012, manifestou seu melhor desempenho, elegendo 26 prefeitos (14%) e 182
vereadores (8,4%).
O PSDB estreou como partido governista e exibiu, nas eleições de 1990, alto
desempenho eleitoral, sendo a agremiação com maior representação parlamentar: 7
deputados federais (31,8%) e 18 deputados estaduais (39%). Esse domínio eleitoral foi
ampliando nas eleições seguintes, chegando ao ápice nas eleições de 1998, quando obteve
metade da representação na Câmara Federal — 12 deputados federais (54%) —, e a
maioria na ALECE — 21 deputados estaduais (45,6%). A partir das eleições de 2002,
quando o PT assumiu o Executivo federal, o PSDB do Ceará apresentou trajetória de
declínio eleitoral. No pleito de 2014, o partido apresentou seu pior desempenho na série
histórica, ocupando apenas 1 vaga (2%) na Câmara Federal e 1 (4,5%) na ALECE.
A exemplo do ocorrido nos planos federal e estadual, o PSDB apresentou
percurso decrescente também nas eleições locais. Na sua estreia em eleições municipais,
votação de 1992, a agremiação apresentou seu melhor desempenho na séria histórica,
conseguindo eleger 50% dos prefeitos e vereadores. Nos dois pleitos seguintes, em 1996
e 2000, apresentou pequena redução, mas diminuição de capilaridade no plano local
ocorreu a partir das eleições de 2004. Percebemos isso com clareza comparando os
resultados das eleições de 2008 e 2012: a agremiação reduziu a quantidade de prefeitos
eleitos, de 54 para 13, e de vereadores, passando de 343 para 177.
Estudando a trajetória eleitoral do PSDB cearense, percebemos a força de
gravidade que a máquina administrativa exerce no subsistema partidário. Observa-se que
de 1982 a 2014 o partido ao qual o governador do estado estivesse vinculado conseguia
eleger a maioria das vagas na ALECE, notando-se efeito contrário quando o partido deixa
de ser governo. Porém, essa maioria passou a diminuir ao longo das eleições e em alguns
pleitos ela não se confirmou, como vemos na Tabela seguinte.
78

Tabela 4 - Representação na ALECE do partido do governador


Partido do Partido com maior
Eleição Governador eleito
governador representação
1982 Gonzaga Mota (PDS) PDS 34 (74%) PDS 34 (74%)
1986 Tasso Jereissati (PMDB) PMDB 24 (52%) PMDB 24 (52%)
1990 Ciro Ferreira Gomes (PSDB) PSDB 18 (39%) PSDB 18 (39%)
1994 Tasso Jereissati (PSDB) PSDB 20 (43%) PSDB 20 (43%)
1998 Tasso Jereissati (PSDB) PSDB 21 (46%) PSDB 21 (46%)
2002 Lúcio Alcântara (PSDB) PSDB 17 (37%) PSDB 17 (37%)
2006 Cid Ferreira Gomes (PSB) PSB 8 (17%) PSDB 15 (33%)
2010 Cid Ferreira Gomes (PSB) PSB 11 (24%) PSB 11 (24%)
2014 Camilo Santana (PT) PT 2 (4%) PROS 12 (26%)
Fonte: Elaboração própria a partir dos dados do Anexo 3.

Ao analisar os dados acima, verificamos que na eleição fundante do sistema


pluripartidário — sufrágio de 1982 — e no período da “Era Tasso” — eleições de 1986 a
2002 —, o partido do governador foi a agremiação com maior representação na ALECE.
Porém, cabe destacar que, nos pleitos de 1998 e 2002, o partido do ex-governador Ciro
Ferreira Gomes, que disputava o cargo principal nas eleições presidenciais, alcançou
representação na ALECE. A partir da colonização da facção de Ciro Ferreira Gomes no
Partido Popular Socialista (PPS), esta agremiação elegeu 4 deputados estaduais (8%) em
duas eleições consecutivas, em 1998 e 2002. Com a migração dessa facção política para
o Partido Socialista Brasileiro (PSB) em 2005, o PPS no Ceará retomou seu ostracismo
político, como vemos no Anexo 3.
Nas eleições estaduais de 2006, o candidato vitorioso, Cid Ferreira Gomes
(PSB), — irmão do ex-ministro da Integração Nacional (2003-2006), Ciro Ferreira
Gomes — foi eleito em primeiro turno com 62% dos votos válidos. Seu concorrente, o
então governador Lúcio Alcântara (PSDB), obteve 34% dos votos válidos. Embora o PSB
não tivesse alcançado a maioria na ALECE, o partido teve a adesão de deputados do
PSDB, os quais compuseram o governo, como o ex-deputado federal Bismarck Maia, que
ocupou a Secretaria de Turismo, e o deputado estadual Marcos César Cals, que assumiu
a Secretaria de Justiça e Cidadania.
No pleito seguinte, em 2010, ocorreu o afastamento entre Tasso Jereissati
(PSDB) e a facção política dos irmãos Ferreira Gomes. Essa facção conseguiu eleger a
maioria na ALECE. Com a migração da facção para o Partido Republicano da Ordem
Social (PROS) em 2013, o PSB não alcançou representação no parlamento nas eleições
de 2014.
79

Para o sufrágio de 2014, os irmãos Ferreira Gomes, então filiados ao PROS,


compuseram aliança estadual e indicaram o candidato a governador. Foi escolhido um
deputado estadual, Camilo Santana, que, apesar de filiado ao PT, mantinha sistema de
lealdade política com o então governador Cid Ferreira Gomes. Assim, embora o partido
oficial do governador (PT) tivesse elegido apenas 2 deputados estaduais (4%), o partido
extraoficial (PROS), partido do governador, elegeu 12 vagas (26%) na ALECE.
Dessa forma, observa-se que o subsistema partidário cearense sofreu
alterações ao longo desses ciclos eleitorais. Analisando os pleitos de 1982 a 1994, Moraes
Filho (2001) atesta tendência de cristalização do subsistema parlamentar com domínio do
PSDB. Com a entrada da facção política dos Ferreira Gomes no cenário eleitoral estadual,
temos profunda alteração no subsistema partidário cearense.
Como essa facção política migra constantemente de partido 38, essas mudanças
de legendas impactam todo o sistema partidário. Isso porque em cada mudança de
legenda, as lideranças dessa facção arrastam grande contingente de deputados, prefeitos,
vereadores e cabos eleitorais em todo o estado. Com adesão em massa ao partido, a facção
dos Ferreira Gomes coloniza a agremiação, altera seu ecossistema político e inflaciona a
representação política da sigla. Porém, verifica-se que esse crescimento partidário não
apresenta raízes, ou seja, quando a facção política abandona a sigla, ocorre diminuição
brusca da representação política.
A facção político-familiar se fortaleceu com a ascensão política Ciro Ferreira
Gomes. Este assumiu cargos estratégicos na arena estadual — deputado estadual (1983-
1988), líder do governo (1987-1989), prefeito de Fortaleza (1989-1990) e governador
(1991-1994) — e ocupou postos na arena nacional — ministro da Fazenda (1994) no
governo Itamar Franco (PMDB), candidato a presidente da República em 1998 e 2002
pelo PPS e ministro da Integração Nacional (2003-2006) no governo Lula da Silva (PT).
No mandato de Ciro Gomes como governador (1991-1994), seu irmão — o
engenheiro civil, Lúcio Ferreira Gomes — assumiu a chefia de gabinete e seu outro irmão
— o também engenheiro civil e recém-eleito deputado estadual, Cid Ferreira Gomes —
tornou-se líder do PSDB na ALECE.

38
Cabe destacar que seria necessária uma análise mais aprofundada para investigar a rede criada por essa
facção e as suas migrações partidárias, visto que Ciro Ferreira Gomes iniciou sua carreira política no PDS
e depois apresentou uma longa carreira de migrações, indo para o PMDB, o PSDB, o PPS, o PSB, o PROS
e o PDT. A pesquisa de Monte (2016) investiga as alianças da facção, porém não aborda a relação com os
partidos.
80

Em seguida, Cid Ferreira Gomes consolidou-se na política estadual ao ocupar


cargos eletivos, foi reeleito deputado estadual em 1994 pelo PSDB, empossado presidente
da ALECE (1995-1996) e eleito prefeito de Sobral por dois mandatos, em 1996 (PSDB)
e 2000 (PPS). Lúcio Ferreira Gomes ocupou cargos comissionados na iniciativa pública
e privada, foi diretor-econômico-financeiro da antiga estatal de telecomunicações,
Teleceará, e depois pela empresa de telecomunicações OI.
Outro integrante da facção político-familiar, o outro irmão Ivo Ferreira
Gomes, assumiu o cargo de chefe de Gabinete e secretário de Desenvolvimento da
Educação na administração de Cid Ferreira Gomes em Sobral. Em 2002, Ivo Ferreira
Gomes foi eleito deputado estadual pelo PPS, sendo reeleito em 2006 (PSB), 2010 (PSB)
e 2014 (PROS). Dos cinco irmãos Ferreira Gomes, a única que não ocupou a cena pública
foi a médica Lia Ferreira Gomes39.
A facção político-familiar Ferreira Gomes ainda agrega outros parentes40.
Embora estes não ocupem o núcleo duro da facção, a conquista de alguns de seus
mandatos foi obtida por meio da mobilização dessa rede política. Podemos citar o primo,
filho do ex-deputado estadual João Ferreira Gomes (1956-1978), Agostinho Gomes [Tin
Gomes], que teve atuação política em Fortaleza. Foi vereador suplente em 1996 e 2000
pelo PSDB, eleito vereador em 2004 pelo Partido Humanista da Solidariedade (PHS) e
indicado pela facção para ocupar o cargo de vice-prefeito na aliança com o PT para as
eleições municipais de Fortaleza em 2008. Foi eleito deputado estadual em 2014 pelo
PDT, integrando o partido da facção. O outro primo, o médico Pimentel Gomes Neto, foi
eleito deputado federal em 1994 pelo PSDB e em 1998 foi eleito deputado federal
suplente pelo PPS.

39
Esse ofuscamento das mulheres em facções políticas estruturadas em torno da família, como no caso do
Ferreiras Gomes e dos Bezerras, denota os impasses que o gênero feminino enfrenta na inserção da política
institucional. Nessas facções político-familiares, a mulher é tanto herdeira do capital político da família
quanto o homem. Porém, o lugar de comando é ocupado como um posto essencialmente masculino. Seria
necessária uma pesquisa para aprofundar essas questões, o que foge ao recorte da presente tese.
40
Além desses parentes citados, a facção agrupa técnicos e políticos profissionais não associados ao vínculo
consanguíneo. Podemos citar três atores. O primeiro é o economista e professor da UFC Carlos Mauro
Benevides Filho, filho do ex-presidente do PMDB-CE Mauro Benevides. Mauro Filho foi secretário de
Finanças de Fortaleza (1989-1990) e secretário de Planejamento e Coordenação do estado (1991-1994), os
dois cargos na gestão de Ciro Ferreira Gomes. Foi eleito deputado estadual pelo PMDB em 1990, pelo
PSDB em 1994, pelo PPS em 1998 e 2002 e pelo PSB em 2006. Na gestão de Cid Gomes (2007-2014), foi
secretário da Fazenda nos dois mandatos. O segundo é deputado estadual (1991-atual) José Jácome
Albuquerque (Zezinho Albuquerque). Inicialmente foi eleito deputado estadual em 1990 pelo PDS e
reeleito em 1994 pelo PPR, depois seguiu a facção e integrou-se ao PPS, sendo reeleito deputado estadual
em 1998. Acompanha a facção em todos os respectivos partidos, sendo eleito presidente da ALECE (2013-
2016). Por último, o engenheiro civil Leônidas Cristino, eleito deputado federal em 1994 (PSDB), 2002
(PPS) e 2014 (PROS), eleito prefeito de Sobral em 2004 (PPS) e 2008 (PSB) e indicado pela facção para o
cargo de ministro da Secretaria Especial de Portos (2011-2013).
81

A ex-esposa de Ciro Ferreira Gomes, Patrícia Saboya, também ocupou cargos


eletivos. Teve atuação política como primeira-dama de Fortaleza (1989-1990) e do Ceará
(1991-1994), foi eleita vereadora de Fortaleza em 1996 (PSDB), depois filiou-se ao PPS,
partido da facção, sendo eleita deputada estadual em 1998 e senadora em 2002. Disputou
a prefeitura de Fortaleza em 2008 pelo PDT, mas não obteve o apoio da facção que estava
filiada ao PSB e coligada ao PT. Foi eleita em 2010 deputada estadual pelo PDT e em
2014 foi nomeada para o cargo de conselheira do Tribunal de Contas do Estado do Ceará
(TCE-CE) pelo governador Cid Ferreira Gomes e eleita pela ALECE.
Expostas algumas características do subsistema partidário cearense e a
densidade político-eleitoral dos três partidos investigados nessa pesquisa (PMDB, PT e
PSDB), é interessante fazer paralelo com a capacidade de estruturação dessas três
agremiações no plano local, assunto do próximo tópico.

1.3 - Capilaridade organizativa do PMDB, PT e PSDB

Para entender melhor a estruturação organizacional dos partidos, é necessário


ir além dos resultados eleitorais e examinar sua capilaridade. Isso pode ser percebido por
meio da abrangência de municípios em que as agremiações apresentam órgãos
partidários, seja nas condições de Diretório ou Comissão Provisória.
Como proxy de organização partidária, vamos, inicialmente, verificar a
quantidade de candidatos a prefeito que o partido apresentou ao longo da série histórica.
Esse indicador é importante porque mostra a capacidade de estruturação da organização
no plano local, demonstrando que, minimamente, a agremiação possui força política para
apresentar candidatura própria.
Cabe observar que o mero fato de apresentar candidato ao Executivo
municipal não indica, necessariamente, que a agremiação é fortemente estruturada e
possui capital político. A escolha de apresentar ou não candidato próprio faz parte da
estratégia do partido para maximizar votos. Em alguns casos, por exemplo, a agremiação
possui capital político e opta ou por se coligar com outros partidos — apresentando
candidato a vice — ou por não lançar candidato — negociando ganhos futuros ou apoio
para as eleições proporcionais. Também podem ocorrer casos em que o partido não possui
capital político e apresenta candidato próprio para demarcar posição na disputa eleitoral,
estruturar melhor a organização partidária por meio dos recursos oferecidos pela disputa
eleitoral (tempo de TV, recursos materiais conquistados por meio de doações,
82

envolvimento de militantes mobilizados pela campanha eleitoral etc.) ou barganhar apoio


eleitoral para segundo turno.
Mesmo com essas ressalvas, a análise do lançamento de candidatura própria
é um proxy de organização partidária. No Gráfico seguinte, temos o percentual de
municípios em que o PMDB, PT e PSDB apresentaram algum candidato ao cargo
principal do Executivo municipal.

Gráfico 7 - Percentual de candidatos a prefeitos pelo partido - Ceará (1982-2012)41


100

80

60

40

20

0
1982 1988 1992 1996 2000 2004 2008 2012 2016

PMDB PT PSDB

Fonte: Elaboração própria a partir dos dados do TRE-CE.

A partir dos dados do Gráfico, percebemos que o PMDB apresentou trajetória


descendente. Nas eleições de 1982, o partido apresentou candidato próprio em mais de
90% dos municípios. Isso demonstra que a estratégia do partido no plano local era de
domínio do ambiente político, pois mesmo apresentando baixo capital político — como
vimos, esse pleito teve o PDS como partido hegemônico —, a agremiação decidiu por
apresentar candidato próprio. Como observado anteriormente, o PMDB herdou a
estrutura organizativa do MDB, possibilitando à agremiação capilaridade suficiente para
apresentar candidatos próprios ao Executivo municipal. Cabe destacar que, nessa eleição,
o PMDB apresentou 160 candidatos a prefeito nos 140 municípios que compunham o

41
Cabe observar que, na elaboração desse gráfico, foram contabilizadas nas eleições de 2008 apenas as
candidaturas deferidas, com ou sem recurso. No caso, se fôssemos contar todas as situações das
candidaturas apresentadas pelo banco de dados do TRE-CE — como “indeferido”, “indeferido com recurso,
“renuncia”, “cassado”, “falecido” e “inelegível” —, o número de candidatos seria maior. Nesse caso, o
PMDB aumentaria o número de candidatos de 69 para 80; o PSDB, de 87 para 101; e o PT, de 52 para 53.
83

estado à época, sendo que em 27 municípios lançou mais de um candidato por meio do
mecanismo de sublegenda.
Nas eleições de 1988, o PMDB, ainda conservou grande quantidade de
candidatos próprios, abrangendo mais de 80% dos municípios do estado. Esse alto índice
deve-se ao contexto da referida eleição, pois o partido teve a fortuna de ocupar o governo
estadual, tornando-se uma legenda atrativa para políticos profissionais que queriam se
candidatar.
Nas eleições seguintes, por ocupar o lugar ingrato de oposição no plano
estadual, o PMDB reduziu sua capilaridade quanto ao lançamento de candidatos próprios
ao Executivo municipal. No entanto, podemos perceber que a organização conseguiu
manter estabilidade nesse quesito, cobrindo em média 30% dos municípios do estado. O
PMDB só conseguiu retomar o crescimento a partir das eleições de 2004, momento em
que estava coligado ao PT, que ocupava o Executivo federal, e ao PSB, que assumia o
Executivo estadual.
Já o PT exibiu trajetória oscilante nas décadas de 1980 e 1990, só atingindo
estabilidade no número de candidatos próprios ao Executivo municipal quando alcançou
o Executivo federal, em 2002. Assim, a partir das eleições de 2004, consolidou sua oferta
de candidatos ao Executivo no plano local, apresentando 49 candidatos, em 2004; 69, em
2008 e 52, em 2012.
Por ter nascido como partido do governo, o PSDB apresentou em seu primeiro
embate eleitoral grande quantidade de candidatos próprios, que alcançava mais de 80%
dos municípios. Essa alta oferta de candidatos foi mantida durante o período em que
ocupou o Executivo estadual (1990-2006). Porém, a partir do momento em teve o
infortúnio de ser oposição nos planos federal e estadual, diminuiu o lançamento de
candidatos próprios no plano local, tornando-se uma legenda pouco atrativa para políticos
profissionais.
Dessa forma, percebe-se que o crescimento na oferta de candidatura própria
ao Executivo municipal está relacionado à posição de situação no plano estadual.
Observada a capacidade organizativa desses partidos a partir do lançamento de candidatos
próprios, vamos explorar outra medida para mensurar sua capilaridade. No caso, a
abrangência de órgãos partidários no estado.
84

Para isso, utilizamos como proxy de órgãos partidários no plano local a


existência de pelo menos um candidato ao cargo de vereador nas eleições42. Isso porque
o fato de apresentar candidato nas eleições indica que a agremiação possui minimamente
alguma organização. Embora esse indicador não reflita com precisão a quantidade de
órgãos partidários — pois pode haver casos em que o partido possui algum tipo de
organização, mas que não apresentou nenhum candidato—, ele serve como termômetro
para perceber o grau de capilaridade no plano local. Vejamos o Gráfico abaixo:

Gráfico 8 - Percentual de municípios que o partido apresentou candidatura (1982-2012)


100

80

60

40

20

0
1982 1988 1992 1996 2000 2004 2008 2012 2016

PMDB PT PSDB

Fonte: Elaboração própria a partir dos dados do TRE-CE.

Pelo Gráfico acima, percebemos que o PMDB possui alta penetração


territorial no plano local. Como foi abordado, essa estrutura organizacional foi herdada
do MDB. Nas eleições de 1988, a legenda apresentou o máximo de sua capacidade
organizativa, lançando candidatos em todos os 178 municípios do estado à época. Após
esse pico, reduziu sua penetração territorial, embora tenha estabilizado essa organização
durante três ciclos eleitorais, de 1992 a 2000, quando apresentou, em média, candidatos
em 70% dos municípios. A partir de 2004, o PMDB aumentou sua penetração, chegando
a anunciar candidaturas em 89% dos municípios nas eleições de 2008.
Diferentemente do PMDB, o PT não herdou uma estrutura organizacional,
tendo que construir sua arquitetura organizacional “tijolo por tijolo”. Assim, nas eleições

42
Esse critério de medição foi necessário porque o TSE disponibiliza a lista de Diretórios e Comissões
Provisórias dos partidos apenas a partir de 2008, sendo necessária a utilização de outros meios para medir
a organização partidária.
85

de 1982, apresentou candidatos em apenas 24% dos municípios. Nas eleições seguintes,
conseguiu expandir sua organização, e durante três ciclos eleitorais (1988 a 1996),
apresentou candidatos em quase metade do território estadual — 46% dos municípios.
Nas eleições de 2000, ampliou o número de candidaturas, atingindo 64% dos municípios.
Efetivamente, com a assunção ao Executivo federal no pleito de 2002, o partido alcançou
o máximo da sua capilaridade no plano local, apresentando alguma candidatura no
Legislativo municipal em 94% do território cearense.
O PSDB demonstrou percurso organizacional diferente dos outros dois
partidos. Na sua eleição fundante, contava com estrutura organizativa prévia, pois já
ocupava o Executivo estadual. Com isso, já partiu com alta capilaridade, lançando
candidatos em todos os municípios do estado. Nos ciclos eleitorais seguintes, conseguiu
manter essa penetração territorial no plano local, apresentando certa diminuição a partir
das eleições de 2008. Essa redução da capilaridade foi sentida com maior impacto nas
eleições de 2012, momento em que apresentou candidatos em 75% dos municípios.
Para uma análise mais apurada da estrutura organizacional desses partidos, é
necessário observar também a quantidade de órgãos partidários na condição de Diretório
ou Comissão Provisória ao longo dos anos, e não apenas no período eleitoral. A partir
desse dado, podemos perceber o perfil de estrutura partidária disponível para disputar as
eleições — informação que dispomos no próximo Gráfico.

Gráfico 9 - Percentual de municípios com órgão partidário (2008-2016)


100

80

60

40

20

0
2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016

PMDB PT PSDB

Fonte: Elaboração própria a partir dos dados do SGIP-TSE.


86

Pela análise do Gráfico, percebemos que tanto o PMDB quanto o PSDB


possuem sazonalidade em sua estrutura organizacional. Esses dois partidos organizam-se
prioritariamente no período das eleições municipais, ocorridas em 2008, 2012 e 2016,
momento em que apresentam quantidade maior de órgãos partidários municipais. Após
as eleições municipais, reduzem sua capilaridade organizativa, apresentando drástica
redução do número de órgãos partidários locais.
Analisando o PMDB, percebe-se que, nas eleições municipais de 2008, 2012
e 2016, a legenda apresentava alta penetração territorial, estando organizada em quase
todo o território cearense, respectivamente em 77%, 96% e 94% dos municípios. Essa
abrangência territorial da organização no período das eleições municipais contrasta com
o observado nas eleições estaduais de 2010 e 2014, momento em que o PMDB
apresentava órgãos partidários na metade dos municípios do estado, respectivamente 53%
e 54%. Como vemos, o PSDB também apresenta a mesma característica organizacional.
Nas eleições municipais de 2008, 2012 e 2016 o partido se amplia, chegando a abarcar
quase todos os municípios, respectivamente 75%, 88% e 80%; nas eleições estaduais de
2010 e 2014, retrai-se, reduzindo a 51% e 60% dos municípios que compõem o estado,
respectivamente.
O PT é o único partido que apresenta estrutura organizacional perene, não
reduzindo sua capilaridade organizativa no plano local após as eleições municipais. A
partir disso, alimentamos a hipótese que essa agremiação não se organiza no plano local
apenas para disputar as eleições municipais. Pelos dados apresentados no Gráfico,
percebemos que no pleito municipal de 200843 o PT apresentou a menor quantidade de
órgãos partidários na série histórica, abrangendo 83% dos municípios do estado. No ano
seguinte ampliou e manteve sua penetração territorial, apresentando órgão partidário local
em 99% dos municípios do estado.
Essa “lógica da diferença” (KECK, 1991) que caracteriza o PT no sistema
partidário pode ser percebida não apenas em comparação com o PMDB e o PSDB.
Observando a quantidade de órgãos partidários municipais do subsistema partidário
cearense nas eleições estaduais e municipais, percebemos essa sazonalidade da estrutura
partidária, salvo algumas exceções. Como percebemos no Gráfico seguinte.

43
Cabe observar que, como os dados foram coletados no TSE e essa instituição começou a disponibilizar
essas informações a partir de 2008, supomos que para esse ano específico os dados não sejam precisos,
embora seja necessária uma investigação para verificar essa suposição. Essa suspeita acerca dos dados de
2008 alimenta a hipótese de que nesse ano o PT cearense estivesse organizado em mais municípios do que
o apresentado pelo sítio, que soma 154 órgãos partidários municipais.
87

Gráfico 10 - Porcentagem de órgãos partidários municipais no Ceará (2010-2014)


100

80

60

40

20

0
PMDB
PTB

PSB

PSC

PTN

PTC
PEN
PRB

PSDB

PSL

PRP

PSDC

PSTU
PPS

PHS

PPL
PCdoB

PRTB
PTdoB
DEM

PMN
PR

PP

PCO
PT

PV
PDT

PCB
PSOL
Eleições estaduais de 2010 Eleições estaduais de 2014 Eleições municipais de 2012

Fonte: Elaboração própria a partir dos dados da tabela do Anexo 4.

Pelo Gráfico, observamos que algumas agremiações possuem estabilidade na


quantidade de órgãos partidários locais entre as eleições estaduais de 2010 e 2014 e a
eleição municipal de 2012. Nesse conjunto de partidos, destacam-se agremiações que
apresentam capilaridade organizativa, tais como PT, PR, PTB e Partido Republicano
Brasileiro (PRB). Observando o PSB, percebe-se que o partido demonstrou estabilidade
na quantidade de órgãos partidários nas eleições de 2010 e 2012, porém nas eleições de
2014 houve encolhimento organizacional, realidade ocasionada pela migração da facção
política dos Ferreira Gomes para o PROS.
Outras agremiações apresentam inflação no número de órgãos partidários
locais no período das eleições municipais, quais sejam: PSDB, PMDB, PCdoB, Partido
Verde (PV), PPS, PHS, Partido da Mobilização Nacional (PMN) e Partido Trabalhista
Cristão (PTC). O caso extremo é o Partido Pátria Livre (PPL), que na eleição municipal
de 2012 apresentou órgãos partidários em 26% dos municípios do Ceará, significando 49
órgãos, mas na eleição estadual de 2014 não contou com nenhum órgão municipal.
Percebe-se que esses partidos organizam suas máquinas partidárias no plano local para
disputar as eleições municipais.
É interessante observar três agremiações partidárias que, embora
nacionalmente sejam partidos médios, no Ceará apresentam alta capilaridade
organizacional, como PR, PTB e PRB. Em 2012, todos os órgãos partidários municipais
dessas três agremiações eram Comissões Provisórias. O órgão partidário estadual também
88

se estrutura por meio de Comissão Provisória, demonstrando, assim, sua fragilidade


organizacional.
No Ceará, o PR foi presidido pelo ex-governador (2003-2006) Lúcio
Alcântara. Este era filiado ao PSDB, mas, ao final do seu mandato, devido a conflitos
intrapartidários envolvendo as eleições de 2006, migrou para o PR, tornando-se
presidente da Comissão Provisória Estadual. Nessa mudança de legenda, outros filiados
do PSDB o acompanharam, como seu filho e deputado federal (1999-2011) Leonardo
Alcântara e o deputado estadual (2003-2011) Adahil Barreto Sobrinho.
O PTB é presidido pelo ex-deputado federal (1995-2016) e atual prefeito de
Juazeiro do Norte, José Arnon Bezerra. Este era filiado ao PSDB e ao migrar para o PTB
em 2003 tornou-se presidente da Comissão Provisória Estadual.
Já o PRB foi estruturado no Ceará como uma legenda satélite da facção
política dos Ferreira Gomes (PSB). O PRB era usado para abrigar lideranças partidárias
locais que, por racionalidade contextual, não poderiam ser filiadas ao PSB. A Comissão
Provisória do PRB foi assumida formalmente em 2007 por uma liderança sem expressão
estadual, o então secretário municipal de Limoeiro do Norte, José Mailson Cruz, antes
filiado ao PPS. Este, nas eleições de 2010, foi eleito deputado estadual suplente.
Informalmente, quem arquitetou as alianças no PRB para as eleições municipais de 2008
foi o deputado estadual ligado ao então governador Cid Ferreira Gomes (PSB), José
Albuquerque (PSB), como é noticiado na matéria "PRB surpreendeu grandes legendas"
(DIÁRIO DO NORDESTE, 13 out. 2008).
Em 2011, o então presidente do Diretório Nacional do PRB, Marcos Pereira,
destituiu o comando da Comissão Provisória Estadual no Ceará, nomeando como
presidente regional o empresário e 2º suplente do senador Eunício Oliveira (PMDB),
Miguel Dias, fato divulgado na matéria “PRB tem um novo presidente no CE” (DIÁRIO
DO NORDESTE, 20 out. 2011). Em 2014, novamente o Diretório Nacional do PRB
alterou o comando da Comissão Provisória Estadual e empossou como presidente o então
deputado estadual do partido, Ronaldo Martins. Este já tinha ocupado o cargo de vereador
em Caucaia (2001-2002) e deputado estadual pelo Partido Liberal (PL) (2003-2005),
PMDB (2006-2009) e pelo PRB (2010-2014), e nas eleições de 2014 elegeu-se deputado
federal pelo PRB.
Pelo exposto acima, percebemos que o PT apresenta características
organizacionais em comum com o PR, PTB e PRB, como penetração territorial e
manutenção dos órgãos partidários locais. Porém, o PT se diferencia por ser estruturado
89

majoritariamente a partir de Diretórios, e não de Comissões Provisórias, além de ser uma


legenda que apresenta atividade política no período extra-eleitoral, como veremos no
capítulo 3, reservado para a análise dessa agremiação.
Para complementar a análise sobre a penetração territorial dos partidos
PMDB, PT e PSDB no Ceará, cabe estudarmos o ordenamento espacial dos órgãos
partidários municipais. Nas páginas seguintes disponibilizamos mapas que apresentam a
distribuição dos Diretórios e Comissões Provisórias em eleições estaduais (2010 e 2014)
e municipais (2008 e 2012) nas regiões do estado44.

44
Para a análise das regiões do estado, utilizamos como critério a divisão de macrorregiões de planejamento
estabelecida pelo Instituto de Pesquisa e Estratégia Econômica do Ceará (IPECE). Ver Anexo 14.
90

Mapa 2 - Distribuição espacial dos órgãos partidários do PMDB-CE (2008-2015)

Fonte: Elaboração própria a partir dos dados do SGIP-TSE.


91

Mapa 3 - Distribuição espacial dos órgãos partidários do PT-CE (2008-2015)

Fonte: Elaboração própria a partir dos dados do SGIP-TSE.


92

Mapa 4 - Distribuição espacial dos órgãos partidários do PSDB-CE (2008-2015)

Fonte: Elaboração própria a partir dos dados do SGIP-TSE.


93

Pelo exame dos Mapas, percebemos que o PMDB possui frágil organização
em algumas regiões do estado, tais como: Litoral Norte; Sertão Central, especificamente
Sertão dos Crateús e Vale do Jaguaribe; e região do Cariri, no sul do estado. Constata-se
isso porque no período das eleições estaduais (2010 e 2014) a legenda não apresentou
órgãos partidários nos municípios dessas regiões, indicando que a estruturação destes não
é perene, mas apenas para disputar eleições municipais. Além disso, comparando os tipos
de órgãos partidários locais nas duas eleições municipais, observamos que em 2008 a
legenda era composta, em sua maior parte, por Diretórios (98%). Isso mudou em 2012,
momento em que a legenda apresentou amento no número de Comissões Provisórias,
totalizando 40% no estado.
Já o PT, como observado anteriormente, é a única agremiação que possui
organização perene ao longo dos ciclos eleitorais, corroborando com a literatura que
percebe especificidades na estrutura organizativa desse partido (MENEGUELLO, 1989;
KECK, 1991; RIBEIRO, 2010; AMARAL, 2013). Pelos Mapas, observamos que a partir
das eleições de 2010 a organização partidária local do partido passou a abranger
praticamente todo o território do estado, salvo alguns municípios. Além disso, embora a
legenda conte com uma política interna para instituir Diretórios em detrimento de
Comissões Provisórias, percebemos que o partido passou a contar com número crescente
de Comissões Provisórias.
Ao analisarmos os Mapas do PSDB, percebemos que o partido não é
caracterizado por regiões com frágil organização, como o PMDB. Porém, nas eleições
estaduais de 2010, a legenda não contou com órgãos partidários nos municípios do Sertão
Central e do Vale do Curu. Cabe ressaltar que, nesse pleito de 2010, o partido apresentou
sua mais baixa estrutura organizativa local, estando presente apenas na metade dos
municípios do estado. Outro ponto importante a ser destacado é a tendência de redução
da quantidade de Diretórios, em comparação com as Comissões Provisórias. Observando
a quantidade de órgãos partidários locais nas eleições municipais, percebemos essa
tendência, pois em 2008 a legenda estava esturrada em 90% dos municípios como
Diretório, já em 2012 essa porcentagem caiu para 52%.
Percebe-se uma tendência geral nas três legendas investigadas, qual seja: o
aumento da quantidade de Comissões Provisórias municipais. O uso desse mecanismo de
Comissões Provisórias é feito sobretudo em locais em que a agremiação não consegue
fincar suas raízes e estruturar um Diretório. Dessa forma, recorre à criação de Comissões
Provisórias — expediente mais simples que a organização de Diretório — para disputar
94

eleições. Outra análise que foi proposta por Guarnieri (2011) é que as lideranças
partidárias nacionais ou estaduais recorrem à estruturação de Comissões Provisórias
como estratégia para as disputas internas e para o controle das instâncias subnacionais.
Para compreender a organização desses partidos no plano local, é preciso
fazer uma abordagem qualitativa que investigue como esses partidos se estruturam
internamente. Na pesquisa de campo com os órgãos partidários, foi observada clara
diferença entre a organização da máquina partidária nos planos estadual e municipal.
No âmbito estadual, percebe-se que a agremiação conta com infraestrutura
para seu funcionamento, como: sede fixa onde organiza sua burocracia, funcionários
(secretária, jornalista, marqueteiro, advogado, contador) e equipamentos (móveis,
computador, impressora). No entanto, essa estrutura varia entre os partidos. O PT,
conforme a literatura já aponta (RIBEIRO, 2010; AMARAL, 2013), é a agremiação
partidária mais estruturada, com sede exclusiva para o funcionamento do Diretório
Estadual. Em seguida aparece o PMDB, que tem sede própria onde o Diretório Estadual
e o Diretório Municipal de Fortaleza funcionam juntos. Por último, o PSDB, que não
possui sede própria, sendo o imóvel uma casa em que coabitam o Diretório Estadual e
uma fraca estrutura do Diretório Municipal de Fortaleza.
No âmbito municipal, essas agremiações são marcadas por fragilidade
organizativa ainda mais aguda. Nenhum dos três partidos investigados, com exceção do
PT de Fortaleza, possui sede própria, funcionários ou equipamentos. Essa falta de
estrutura deve-se ao fato de que nenhum desses órgãos partidários municipais recebe
dinheiro do fundo partidário para organizar-se no plano local. O PT novamente é a
exceção, isso porque parte das contribuições dos filiados, que necessariamente precisam
estar em dia para votar no Processo de Eleições Diretas (PED) do partido, fica com o
Diretório Municipal. Como ressaltou uma liderança do partido: “Esse recurso [uma
porcentagem da taxa do partido que fica para o órgão municipal] garante organização
mínima para o partido, podendo realizar encontros e viagens financiadas” (MARIA DO
SOCORRO MATOS, presidenta do Diretório Municipal do PT de Nova Olinda e
vereadora. Entrevista concedida ao autor em 18/09/2015).
As funções desempenhadas pelos membros na organização não são claras,
predominando acúmulo de funções e monopólio das atividades em que, por exemplo, uma
mesma pessoa é presidente do Diretório, secretário, tesoureiro e líder do partido na
Câmara dos Vereadores.
95

Prevalece relação informal entre os membros do partido na qual as reuniões


não são registradas em atas ou protocoladas por meio de algum documento oficial. O
registro oficial é feito apenas quando é preciso preencher requisito exigido pelo Tribunal
Eleitoral.
Os membros do partido não têm controle sobre a história da instituição, não
sabendo informar quem compôs a Comissão Executiva ao longo dos anos. Essa falta de
domínio sobre as instâncias partidárias se estende inclusive ao conhecimento de quem é
filiado ou não ao partido. Embora o TSE informe no seu sítio a lista de filiados dos
partidos — por meio do Filiaweb —, essa informação não coincide com os registros dos
partidos, ocorrendo discrepância sobre o número de filiados.
Essa falta de perenidade na organização da agremiação partidária ocorre
sobretudo porque quando a coalizão dominante ou o líder partidário são destituídos, os
militantes que davam sustentação a essa coalizão ou a esse líder desligam-se do partido,
não havendo continuidade dos membros que compõem a instituição. Nesse processo de
transição, atas são perdidas, documentos são escondidos e dados são ocultados, não
existindo memória da instituição, tampouco o arquivamento dos documentos legais.
Nas três agremiações, a maioria das atividades partidárias formais, como
encontros, convenção e campanha de filiação, ocorre no período eleitoral, sendo escassas
as atividades extra-eleitorais, como formação política e reuniões para debater políticas
públicas e conjuntura política. Esses debates ocorrem de maneira informal, quando as
lideranças da agremiação se encontram em algum evento social no município. Cabe
ressaltar que as decisões mais importantes no partido são tomadas pela liderança ou pelo
grupo de notáveis que dirige a agremiação.
Esse perfil compõe o modelo de “partido de elites”, no qual a agremiação
partidária apresenta pouca ou nenhuma organização extraparlamentar (DUVERGER
[1951]; KIRCHHEIMER, [1966]). O partido é composto por líderes notáveis que formam
a coalizão dominante, e o mecanismo de mobilização de seus membros ocorre por meio
de incentivos seletivos, como a distribuição de patronagem, por exemplo. No que diz
respeito ao aspecto organizacional, as unidades locais nesse modelo de partido são pouco
articuladas e incipientes. A atividade fundamental se desenvolve no período eleitoral,
quando seleciona seus candidatos e realiza a campanha (NEUMANN, 1956).
Percebe-se, assim, que esses partidos são organizados para a embate eleitoral
local. Novamente, a exceção apenas se dá no PT. Nesse sentido, é interessante observar
96

a análise feita pelo coordenador regional do PSDB na região do Cariri, Francisco Ranilson
da Silva, em entrevista ao autor:
Na verdade, a maioria dos partidos no interior funciona assim. A
exceção que eu conheço é o PT. O PT ele tem uma organização assim
programática que é diferente, eles costumam se reunir fora do tempo de
eleição. O meu partido mesmo, o PSDB, ele não tem essa programática,
não tem essa organização, essa militância não é tão forte. Ela é mais em
tempo de eleição. Eu por exemplo tô tentando mudar isso, dentro do
partido. Eu hoje sou funcionário do PSDB, então a minha ação aqui na
região é tentar mudar isso. Porque o atual presidente Luiz Pontes quer
mudar isso no Ceará todo. E quer até que depois que a gente fizer isso
sirva de modelo para o país inteiro, pro PSDB nacional, onde é um
partido que tem uma vida orgânica mais ativa, onde seja mais ligado à
sua base. Que costuma até hoje, ele costuma ser mais em tempo de
eleição (FRANCISCO RANILSON DA SILVA, secretário regional do
PSDB no Cariri. Entrevista concedida ao autor em 26/09/2015).
Apesar de inicialmente afirmar que esse perfil organizativo do PSDB é
característico apenas dos municípios do interior, ao final de sua fala o colaborador
ressaltou que esse é um traço comum em todo o território nacional, e que a expectativa
da atual gestão do PSDB estadual é criar mecanismo de participação efetiva dos filiados
dentro do partido. Para transformar a organização interna do PSDB, o coordenador
regional se inspira no modelo organizativo do PT, como “vida orgânica mais ativa” e
“Núcleo de Base”.
Pelos dados apresentados sobre o desempenho eleitoral e a estrutura
organizativa das três legendas (PMDB, PT e PSDB), percebemos trajetórias distintas
entre elas. O PMDB iniciou o embate eleitoral herdando o capital político e a estrutura
organizativa do MDB. Nas duas eleições seguintes o partido apresentou crescimento
eleitoral e organizativo ao receber a filiação do então governador e de grupo de jovens
empresários do CIC, conquistando o Executivo estadual. Depois, iniciou-se período de
declínio, mas conseguiu obter estabilidade relativa. Na década de 2000, voltou a
apresentar crescimento a partir de sua aliança estadual com o PT e o PSB, este último
liderado pela facção política dos Ferreira Gomes.
O PT apresentou tímido desempenho eleitoral e organizativo nas décadas de
1980 e 1990. Posteriormente, com o efeito coattail45 nas eleições de 2002 e a nova
condição de situação no plano nacional, o PT, no plano estadual, iniciou trajetória de

45
Esse efeito ocorre quando a eleição do principal candidato do partido repercute e influencia positivamente
no desempenho eleitoral dos outros candidatos do partido, legenda ou coalizão no Legislativo. Nesse
sentido, um candidato a presidente ou a governador bem avaliado tende a aumentar as chances dos outros
candidatos do seu partido, atuando como um “puxador de votos”. Essa influência ocorreria em um
movimento up-down e em uma mesma disputa.
97

crescimento eleitoral e capilaridade organizativa, apresentando órgãos partidários em


98% dos municípios do estado em 2015.
Por fim, o PSDB iniciou sua trajetória como partido do governo, elegendo a
maior bancada de deputados federais e deputados estaduais. No entanto, ao sair do
governo e com a ascensão do PT no plano nacional, a legenda começou a decair nas
eleições de 2002, aumentando os conflitos internos.
Para aprofundar a pesquisa sobre os partidos em questão é necessário realizar
uma pesquisa qualitativa sobre a criação e o desenvolvimento organizativo dessas
agremiações. Além disso, abordarmos o grau de centralização do Diretório Estadual nas
eleições de 2012 e 2014, foco dessa pesquisa. Como veremos nos próximos três capítulos
dedicados um para cada agremiação.
98
99

2. O PMDB-CE: PARTIDO PERSONALISTA CENTRALIZADO


INFORMALMENTE
2.1- Modelo originário e desenvolvimento organizativo
O processo de formação de um partido é complexo, pois envolve o amálgama
de uma pluralidade de grupos políticos que integram a organização. Se essa assertiva é
válida para todo tipo de partido, como defende Panebianco [1982], ela se aplica com
precisão para o caso do PMDB. Esse partido, como foi dito anteriormente, foi fundado a
partir da estrutura organizacional do MDB que abrigava em seu interior membros
pertencentes às mais variadas matrizes ideológicas. Esse caráter de “frente oposicionista
bastante ampla e genérica” do MDB (FERREIRA, 2002) ocorreu por ser esta a única
agremiação partidária de oposição no sistema bipartidário imposto pela ditadura militar.
O PMDB herdou essa heterogeneidade em sua composição ideológica, abrigando tanto
membros da antiga ditadura militar46, quanto ex-guerrilheiros do antigo MR-8 e militantes
comunistas vinculados ao extinto PCB e PCdoB47.
Devido a esse espólio político do MDB, o partido não apresentou dificuldades
para cumprir as exigências da Reforma Partidária de 197948. Nessa nova legislação,
especificamente em seu Artigo 12, era estabelecido período de doze meses para que a
Comissão Diretora Nacional Provisória realizasse convenções em pelo menos nove
estados e em 1/5 dos respectivos municípios e elegesse o Diretório Nacional. O PMDB
conseguiu, nesse prazo, organizar Diretórios Estaduais em todos os 22 estados existentes,
demonstrando uma ramificação só alcançada pelo PDS.
A partir do modelo originário de Panebianco [1982], compreende-se que o
PMDB foi caracterizado por meio de uma modalidade mista de penetração e difusão
territorial49. Inicialmente, seu desenvolvimento ocorreu por difusão, pois as agremiações
locais e regionais que integravam o MDB aderiram ao novo partido, seguindo tendência
de “germinação espontânea". Posteriormente, o Diretório Nacional penetrou nos
territórios em que não conseguiu alcançar inicialmente.
O segundo fator que particularizou seu modelo originário foi a ausência de
instituição externa que promovesse seu nascimento, não sendo vinculado a nenhum

46
Isso se tornou mais evidente quando o PMDB acomodou os filiados do extinto Partido Popular (PP) que
foi fundado por antigos dissidentes da Arena e do MDB.
47
Como os partidos comunistas — PCB e PCdoB — mesmo depois da reforma partidária de 1979
permaneceram na ilegalidade, alguns dos seus militantes aderiram a fundação do PMDB.
48
Processo oposto ocorreu com o PT, como veremos adiante.
49
Mendoza e Oliveira (2003) apresentam tese contrária. Para os autores, a origem territorial do PMDB
ocorreu por penetração, tendo as regiões sudeste e centro-oeste como centro de direção e formação das
organizações locais.
100

sindicato ou grupo religioso, por exemplo. O terceiro fator de seu modelo genético foi a
presença de um líder carismático que se arrogava intérprete e símbolo das metas
ideológicas originárias. O líder que plasmou a identidade partidária da organização foi
Ulysses Guimarães, ministro da Indústria e Comércio no governo de João Goulart (1961-
1962) e deputado federal pelo MDB desde 1966. Este era o presidente do Diretório
Nacional do MDB (1972-1979) durante a transição para o sistema pluripartidário e foi
posteriormente eleito presidente do Diretório Nacional do PMDB (1979-1991),
permanecendo nesse cargo 19 anos.
A identidade do partido estava relacionada a luta de resistência ao
autoritarismo e com o processo de restauração da democracia. A legenda se arrogava
como representante legítima da oposição, sendo, em termos organizacionais, a maior
agremiação oposicionista. O PMDB, como sistema natural, tinha como meta ideológica
central a defesa da redemocratização, como percebemos no manifesto do partido:
O PMDB prosseguirá e intensificará a luta travada pelo MDB em prol
das grandes teses democráticas: manutenção do calendário eleitoral,
eleições diretas em todos os níveis, defesa da autonomia dos municípios
e fortalecimento da federação, democratização do ensino, anistia ampla
geral e irrestrita, liberdade de informação, restauração dos poderes do
Congresso e convocação de uma Assembleia Nacional Constituinte
(PARTIDO DO MOVIMENTO DEMOCRÁTICO BRASILEIRO,
1981).
Essa identidade relacionada a defesa da redemocratização do país vai marcar
o partido durante todo seu desenvolvimento organizativo, representando o seu principal,
e talvez o único, incentivo coletivo de identidade. Pela construção dessa identidade
coletiva, o PMDB consolidou-se na década de 1980 como o principal partido de oposição.
Ocupou o Executivo federal em 1985 quando o então vice-presidente, José Sarney,
assumiu o governo após a morte do presidente eleito Tancredo Neves (PMDB). Com o
êxito econômico do Plano Cruzado implementado no governo, a legenda alcançou alto
desempenho eleitoral nas eleições de 1986. Nesse pleito, elegeu 95,7% dos governadores,
77,6% dos senadores, 53,4% dos deputados federais e 47% dos deputados estaduais
(NICOLAU, 1998).
O PMDB ocupou novamente o Executivo federal após o impeachment de
Fernando Collor, do Partido da Reconstrução Nacional (PRN), em 1992. Momento em
que o vice-presidente, Itamar Franco, assumiu o governo. A legenda também, de 1985 até
1993, assumia a presidência da Câmara Federal e do Senado, sendo ator relevante na
arena parlamentar. Desde então, o partido vem compondo a coalizão de governo no
101

Executivo federal, como Fernando Henrique Cardoso (1995-2002), Lula da Silva (2003-
2010) e Dilma Rousseff (2011-2016). Com o impeachment de Dilma Rousseff em 2016,
o partido assumiu novamente a presidência, tendo o vice-presidente, Michel Temmer,
ocupado o governo.
Tendo como espelho o modelo originário do PMDB nacional, percebemos
que a construção do PMDB no Ceará apresentou movimento tanto de aproximação quanto
de afastamento a esse padrão. No Ceará, a legenda também foi marcada pela
heterogeneidade em sua composição ideológica herdada do MDB, como percebemos na
seguinte fala:
Eu vim do PCdoB, ainda na época da ditadura. Eu vinha do movimento
estudantil do Rio [de Janeiro], vim morar no Ceará em [19]81. E eu
cheguei na faculdade já com essa ligação. Fui militar no PMDB em
1982, ainda não filiada de fato, pois o partido [PCdoB] tirou alguns
deputados do PMDB para apoiar. Até porque estávamos todos dentro
do PMDB, o PCdoB e outros partidos eram proscritos na época, então
a militância se dava dentro do PMDB. Alguns desses candidatos eram
do próprio PCdoB e outros eram do próprio PMDB com uma postura
considerada mais avançada. Que era o caso do Paes [de Andrade]. Os,
digamos assim, mais, mais trotskistas apoiaram a campanha da Maria
Luiza [Fontenele] e outros mais ortodoxos apoiaram Paes [de Andrade].
[...] Depois, muitos colegas saíram do PMDB, que era um grande
guarda-chuva, para participar de outros partidos, como o PT e o PDT.
Mas eu preferi ficar no PMDB (ROSÂNGELA AGUIAR, delegada do
partido e presidenta do PMDB-Mulher. Entrevista concedida ao autor
em 17/11/2015).
Por esse depoimento, percebemos que o PMDB acolhia integrantes de
variados matizes ideológicos, como progressistas e trotskistas que instrumentalizavam o
partido para ocupar cargos na política institucional.
Na criação do PMDB no Ceará, o partido também foi marcado por uma
origem territorial do tipo mista. Ocorreu penetração territorial centralizada na capital do
estado — já que em Fortaleza o partido era mais estruturado — e difusão territorial por
meio da transição das agremiações do MDB no interior do estado que aderiram a criação
do PMDB. Nos dois Diretórios Municipais do interior do Ceará pesquisados — Mombaça
e Nova Olinda —, o PMDB local foi estruturado a partir das mesmas lideranças do MDB.
Esse modelo misto de desenvolvimento territorial do partido é percebido na seguinte fala:
Trabalho mesmo foi criar o MDB no Ceará. Quase que não
conseguimos fazer um partido de oposição, porque o que todo mundo
queria era ser governo. Quando criaram aqui o MDB, o primeiro
Diretório foi o de Fortaleza e em seguida foram para Campos Sales
fundar o segundo Diretório. Lá tinha uma influência muito grande de
Pernambuco por conta das Ligas Camponesas que estavam naquele
estágio de crescimento. Esse município se mostrou como de oposição
102

ao regime de exceção. Mas já a fundação do PMDB foi tranquila, pois


tínhamos todo esse trabalho do MDB. Em Fortaleza, o partido era mais
forte e depois que conseguimos fazer o trabalho para transformar o
MDB no interior em PMDB, nós tentamos criar o PMDB nas cidades
que ainda não tinha o partido (JOÃO ALVES MELO, secretário-geral
do PMDB-CE. Entrevista concedida ao autor em 17/11/2015).
O processo de “germinação espontânea" do PMDB no interior do estado é
percebido na fala dos dirigentes nos Diretórios Municipais. Abaixo, percebemos uma fala
que ilustra esse desenvolvimento territorial por difusão:
O PMDB aqui foi criado por meio de toda a história do MDB. Aqui nós
temos uma tradição, uma relação muito forte com Paes de Andrade, que
é filho de Mombaça! Digo que a tradição do PMDB, o amor pelo
partido, passa de pai pra filho, de geração pra geração. Em todas as
cidades aqui perto que acompanhei, as lideranças partidárias que eram
do MDB passaram para o PMDB. Foi uma coisa muito natural (DIANA
BARRETO, secretária-geral do PMDB de Mombaça e ex-vice-prefeita.
Entrevista concedida ao autor em 15 e 16 /10/2015).
Esse entendimento de que a criação do PMDB foi baseada em herança
familiar, no qual o cargo de liderança do partido era passado de uma geração a outra, não
está presente apenas no Diretório Estadual do Ceará. Ferreira (2002), ao investigar o
PMDB nacional, constatou a mesma ideia, demostrando que essa é uma característica
geral do partido. Nessa pesquisa, a autora ilustra essa percepção por meio da fala da ex-
presidenta do Diretório Estadual de Goiás, Íris Araújo. Essa liderança política defende
que “[...] existe no PMDB até uma condição diferente dos outros partidos porque ele tem
uma história, tem um alicerce e tem uma tradição que é aquela de passar de pai para
filho” (FERREIRA, 2002, p.148, grifo nosso).
Outro aspecto que aproxima o PMDB do Ceará do padrão nacional é a
ausência de relação com instituições externas ao partido no momento da sua fundação.
Porém, diferente do plano nacional que contou com a presença do líder carismático, no
caso Ulysses Guimarães; o Diretório Estadual não apresentou esse tipo de liderança.
Entretanto, cabe ressaltar que dois políticos se mantiveram no centro de gravidade da
coalizão dominante do partido: Antônio Paes de Andrade e Carlos Mauro Cabral
Benevides. Ambos eram filiados ao PSD e com a imposição ao bipartidarismo integraram
a ala do partido que fundou o MDB no Ceará.
No momento de criação do MDB, Paes de Andrade ocupava o cargo de
deputado federal, eleito em 1962, e já acumulava três mandatos consecutivos como
deputado estadual (1951-1962). Herdando o background familiar de seu sogro, Paes de
Andrade logo consolidou-se como liderança nacional do partido.
103

O sogro de Paes de Andrade, José Martins Rodrigues, era a principal liderança


estadual do PSD e posteriormente comandou a fundação do MDB no estado. Apresentava
uma carreira política consolidada, como percebemos pelos cargos que ocupou: deputado
federal por três mandatos consecutivos (1955-1969), ministro da Justiça (1961) nomeado
por Ranieri Mazzilli (PSD), secretário estadual do Interior e Justiça e da Fazenda no Ceará
(1935-1943) e deputado estadual (1925-1930).
Já Mauro Benevides acumulava dois mandatos consecutivos como deputado
estadual (1959-1966) — tendo ocupado o cargo de presidente da ALECE (1963-1965) —
e um mandato como vereador de Fortaleza (1955-1959).
As duas estrelas do partido não entraram em colisão porque entre os dois
existia um acordo tácito. Enquanto Paes de Andrade se ocupava da política nacional,
Mauro Benevides exercia a mediação das negociações regionais e locais. Essa divisão do
trabalho político-partidário já ocorria no período de fundação do MDB. Mesmo quando
Mauro Benevides assumiu cargo de projeção nacional, como senador entre 1974 e 1986,
esse pacto não foi rompido. Como é salientado por um membro do partido: “Entre os dois
existia uma parceria muito forte. Um não se metia na questão do outro” (ROSÂNGELA
AGUIAR, delegada do partido e presidenta do PMDB-Mulher. Entrevista concedida ao
autor em 17/11/2015).
A divisão de trabalho entre as lideranças permitiu que a coalizão dominante
estabilizasse o MDB e posteriormente o PMDB. No período de transição, por exemplo, a
liderança regional do partido continuou a ser exercida por Mauro Benevides, que ocupava
esse cargo desde 1969. Essa manutenção da ordem organizativa atravessou a eleição
fundante de 1982. Na disputa para a ALECE e para a Câmara Federal, a balança pendeu
a favor da coalizão dominante que conseguiu se reproduzir ao reeleger seus integrantes50
e controlar elites insurgentes dentro da agremiação.
Embora em 1982 o partido tivesse mantido essa estabilidade da sua coalizão
dominante, a agremiação, em contraste com o crescimento eleitoral do PMDB nacional,
não obteve expansão quanto ao número de cargos eletivos conquistados. Pois, como

50
Destacamos a reeleição em 1982 de membros que integravam a coalizão dominante. Destaca-se para o
cargo de deputado federal Antônio Paes de Andrade e Antônio Alves de Moraes e para deputado estadual
Carlos Eduardo Benevides, Francisco Castelo de Castro e Antônio Eufrasino Neto. Embora a deputada
estadual Maria Luiza Fontenele tenha sido reeleita, esta não consta na lista porque pertencia a uma facção
dentro do partido que se opunha a coalizão dominante. No capítulo adiante sobre o PT abordaremos a
trajetória de Maria Luiza.
104

vimos no capítulo anterior, o partido apresentou o mesmo desempenho histórico do MDB


no estado.
O PMDB continuou com uma estratégia de adaptação ao ambiente, tática
adotada durante o período do MDB. O partido buscava a conservação de quotas de poder,
mantendo-se no mercado político por meio do vácuo deixado pelo partido dominante, o
PDS. A organização já estava consolidada no sistema de interesses, possuindo território
de caça e base eleitoral circunscrita aos grandes centros urbanos. Por esse motivo, a
agremiação não se inseriu no sistema partidário por meio de uma política agressiva de
dominação e transformação do ambiente, pois adotar tal política aventureira poderia
encolher seu mercado eleitoral e torná-lo alvo da revanche do partido concorrente e
hegemônico, o PDS. Preferiu se aclimatar na disputa eleitoral, beneficiando-se das
fissuras internas do partido governista.
Porém, o período de estagnação e calmaria na agremiação era momentâneo.
O cenário regional de instabilidade no sistema de dominação política exercido pela
ARENA/PDS favorecia o crescimento organizativo e eleitoral da oposição, liderada pelo
PMDB. Ressaltam-se dois fatores que, embora tenham alterado o sistema de força em
favor do PMDB, trouxeram instabilidade à coalizão dominante do partido.
O primeiro fator foi a filiação do então governador Gonzaga Mota. Este, que
era vinculado ao PDS, passou a se aproximar da agenda política nacional ao longo do seu
mandato (1983-1986). A política nacional durante o contexto de transição democrática
foi marcada pelo movimento de Diretas Já, em 1984, e a eleição indireta de Tancredo
Neves (PMDB) para a Presidência da República em 1985. Como o PMDB nacional e os
governadores desse partido estavam envolvidos nessas pautas, Gonzaga Mota como
governador acabou se aproximando dessa agremiação.
A integração de Gonzaga Mota ao PMDB estadual foi conflituosa. Na
imprensa local, foram publicadas diversas matérias denunciando o embate interno do
partido, como fica evidenciado no título da matéria: “Partilha de cargos divide
peemedebistas” (O POVO, 03 mai. 1985). Esses conflitos eram, em sua maioria,
motivados pela divisão de cargos no governo. Existia a denúncia de que os chefes do
PMDB queriam metade dos cargos na gestão de Gonzaga Mota.
Dentro do PMDB, havia atritos entre dois grupos: a) neopeemedebistas ou
“gonzaguistas”, formados em sua maioria por deputados e prefeitos ligados diretamente
ao governador ou por filiados que ocupavam postos no governo estadual; b) históricos,
liderados por Mauro Benevides, que exerciam cargos centrais na estrutura partidária.
105

Gonzaga Mota tentou ocupar posição de comando dentro do partido e, para


isso, buscou articular aliança para a eleição municipal de Fortaleza em 1985. Nesse pleito,
o partido adotou ação política de dominação do ambiente ao apresentar candidatura
própria ao Executivo. Entretanto, a aliança que Gonzaga Mota costurou com o PFL
fracassou e o candidato do PMDB não foi eleito. A chapa “puro sangue” do partido, que
tinha o então deputado federal Paes de Andrade como candidato a prefeito e o radialista
Narcélio Sobreira Limaverde como vice-prefeito, obteve 148.427 votos (31,9% dos votos
válidos).
Após a derrota nas eleições, a crise interna no PMDB se agravou e Gonzaga
Mota foi marginalizado dentro da agremiação. Foram noticiadas especulações sobre sua
desfiliação e sobre uma possível adesão ao PDT, partido então presidido pelo deputado
federal Lúcio Alcântara. Como podemos perceber nos títulos das matérias: “Gonzaga diz
que não há motivo para o rompimento” (SERPA, O POVO, 14 ago. 1985) e “Plano para
86 exclui Gonzaga da política. Nas eleições majoritárias nenhuma vaga seria dele” (O
POVO, 02 dez. 1985).
Este conflito foi provisoriamente solucionado após a intermediação de
integrantes da agremiação partidária no plano nacional, como o então presidente José
Sarney (PMDB), como foi publicada na matéria: “Mota afirma que fica no PMDB e
recusa PDT. Em Brasília, o Governador pede apoio a Sarney” (O POVO, 03 dez. 1985).
Para apaziguar os conflitos internos do Diretório Estadual, foi estabelecido acordo em
que Gonzaga Mota indicaria metade dos integrantes da Executiva Estadual e a ala do
“PMDB histórico” ocuparia também a metade das secretarias do governo. Esse acordo
foi noticiado na matéria: “PMDB quer a metade dos cargos do Governo. Isso resulta da
integração do Mota ao partido” (O POVO, 04 dez. 1985).
Embora, como vimos, a incorporação de Gonzaga Mota ao PMDB não tenha
sido tranquila, ela possibilitou visibilidade ao partido e permitiu que a agremiação
ocupasse postos no governo estadual, aumentado seu capital político para futuras disputas
eleitorais.
Outro fator que permitiu o fortalecimento do PMDB no estado foi a adesão
dogrupo de jovens empresários ligados ao CIC. Essa associação de empresário locais se
notabilizou como espaço de discussão e debate durante o processo de redemocratização,
construindo capital simbólico de oposição ao regime militar e aos políticos tradicionais
que lideravam a política estadual.
106

O CIC conseguiu firmar a candidatura do seu ex-presidente (1981-1983), o


empresário Tasso Jereissati, ao Executivo estadual em 1986. Essa candidatura, segundo
Mota (1992), foi articulada pelo então presidente José Sarney (PMDB) que passou a
interferir na sucessão estadual no Ceará para consolidar o partido no estado. O presidente
estava fortalecido pelo sucesso do plano econômico que combateu a inflação e estabilizou
temporariamente a economia.
As lideranças históricas do Diretório Estadual do Ceará acataram a
candidatura de Tasso Jereissati como govenador, visto que, no acordo, o então presidente
regional Mauro Benevides, seria o candidato ao Senado e o então deputado estadual
Francisco Castelo de Castro seria o vice-governador.
Similar ao que aconteceu com Gonzaga Mota, a incorporação de Tasso
Jereissati ao PMDB foi conturbada. Os conflitos internos no partido tornaram-se públicos
na sua gestão (1987-1990), quando houve embate entre o Legislativo e o Executivo
estaduais. O governador, embora tivesse mais da metade dos deputados estaduais filiados
a seu partido, enfrentou dificuldades para aprovar projetos, sobretudo os que envolviam
medidas de austeridade fiscal e de racionalização da máquina pública (PESSOA JÚNIOR,
2011).
É interessante observar que no momento de impasse no Diretório Estadual,
quando a coalizão dominante não conseguia estabelecer consenso mínimo para garantir a
estabilidade da organização, o Diretório Nacional intermediou a resolução dos conflitos.
Isso aconteceu nos dois episódios que envolveram os então governadores do partido —
Gonzaga Mota e Tasso Jereissati. Quando essas duas lideranças foram filiadas, elas já
possuíam capital político consolidado, sendo suas lealdades externas à agremiação.
Gonzaga Mota era governador no momento em que esse cargo assumia forte
protagonismo nacional na transição política e Tasso Jereissati era empresário vinculado
ao CIC. Essas lideranças não se submeteram as ordens da coalizão dominante do partido,
sendo necessária a ação direta do plano nacional, tanto do Diretório Nacional do PMDB
quanto do presidente da República, José Sarney (PMDB). Cabe observar que os
governadores tiveram protagonismo no período da redemocratização, inclusive porque
foram os primeiros chefes do Executivo a serem eleitos, já que a eleição direta para a
presidência da República só ocorreu em 1989 51.

51
Para mais informações sobre o papel desempenhado pelos governadores no processo democrático, ver
Abrucio (1998).
107

No momento inicial que envolveu as duas primeiras eleições no estado, o


PMDB passou por uma fase de forte instabilidade. Diante das novas posições assumidas
no período de transição, como a conquista do Executivo estadual em 1986 e a maioria da
bancada na ALECE, o partido apresentou uma crise de identidade. Internamente, a
agremiação apresentava-se dividida, pois não existia consenso quanto a sua linha política,
se continuaria assumindo papel de oposição ou se adotaria nova estratégia de ação como
partido governista. Após a agenda de transição, essa crise no PMDB também atingiu o
plano nacional no período em que José Sarney foi presidente, como constatado na
pesquisa de Ferreira (2002).
A coalizão dominante do PMDB cearense enfrentava uma crise interna.
Ocorria novo conflito na arena parlamentar que polarizava duas facções do partido. Uma
era formada pelos deputados governistas ligados a Tasso Jereissati, sendo composta na
sua maioria por neófitos na agremiação que se filiaram atraídos pelos recursos do
governo. A outra era comandada pelo então presidente da ALECE, Antônio Câmara, e
contava com o apoio do deputado federal Paes de Andrade. Nesse embate, o presidente
da ALECE passou a conduzir a bancada de deputados estaduais do PMDB que estavam
descontentes com as medidas implantadas pelo então secretário de Governo, Sérgio
Machado, ex-presidente do CIC (1983-1985). Segundo Mota (1992), uma das medidas
adotadas pelo secretário que causou a indignação dos políticos governistas foi a
obrigatoriedade do currículo dos candidatos indicados pelos deputados para ocupar os
postos no segundo e terceiro escalões do governo estadual.
As divergências do então governador Tasso Jereissati com o PMDB não se
restringiam apenas ao plano estadual. Na arena nacional, ocorreu conflito com o
presidente do Diretório Nacional, Ulysses Guimarães. Foi noticiado na imprensa nacional
uma matéria intitulada “PMDB veta Tasso e abre crise na sucessão de Funaro”
(FREITAS, FOLHA DE SÃO PAULO, 28 abr. 1987). Na reportagem, é informado que
o então presidente José Sarney convidou Tasso Jereissati para ser ministro da Fazenda
após a exoneração do ministro Dilson Funaro. Porém, Ulysses Guimarães, que não tinha
sido consultado sobre essa indicação, preparou uma lista de candidatos ao cargo que
excluía o nome de Tasso Jereissati.
Após esse episódio, Tasso Jereissati passou a criticar publicamente na
impressa o comando do PMDB nacional exercido por Ulysses Guimarães. Sobretudo
porque este, na avaliação daquele, liderava a legenda de forma personalista e não
consultava os governadores na tomada de decisões internas da agremiação.
108

Os conflitos envolvendo Tasso Jereissati e o Diretório Nacional foram


impulsionados pelo fato de que o governador buscava projeção política nacional. Porém,
nesse momento, Ulysses Guimarães estava freando as aspirações políticas de lideranças
que desejassem tal posição na organização. O presidente do PMDB se preparava para ser
candidato ao Executivo nacional pela legenda na primeira eleição direta desde o fim da
ditadura militar. Nessa eleição de 1989, Tasso Jereissati não apoiou Ulysses Guimarães
devido ao boicote anterior e aderiu à campanha de Mário Covas (PSDB).
Depois dessa campanha, Tasso Jereissati rompeu formalmente com o PMDB
e se filiou ao PSDB. Essa migração pode ser observada quando comparamos o início e o
fim da formação do gabinete de governo no estado do Ceará. Segundo dados apresentados
por Freitas (2015), no primeiro gabinete, em março de 1987, a única legenda contemplada
com cargos no primeiro escalão foi o PMDB, preenchendo 33,3% das pastas; já no último
gabinete, em maio de 1990, o único partido que ocupava secretarias era o PSDB,
preenchendo 26,6% das vagas.
O desenlace dessa onda de conflitos internos no PMDB cearense se deu após
a saída da facção de Tasso Jereissati. A agremiação solucionou sua principal causa de
divergências internas, passando a experimentar estabilidade organizativa. O PMDB foi
novamente comandado pelos membros históricos, sendo presidida por Mauro Benevides.
A organização voltou a ter voz uníssona, muito embora, junto a essa calmaria, tenha vindo
a redução da sua representação parlamentar. Como abordado anteriormente, nas eleições
de 1990, o PMDB diminuiu de 12 para 4 a quantidade de cadeiras ocupadas na Câmara
Federal pelo estado; e na ALECE, o impacto foi ainda maior, reduzindo de 24 para 4 a
quantidade de deputados estaduais eleitos. Além disso, não elegeu o candidato ao Senado,
tendo Antônio Paes de Andrade obtido 38% dos votos válidos (752.950 votos). Essa
decaída na representação também afetou as eleições municipais de 1992, pois reduziu de
59 para 20 a quantidade de prefeituras conquistadas e de 777 para 308 o número de
vereadores no estado.
Como ressalta Panebianco [1982], um dos principais motivos para a
contestação da legitimidade da coalizão dominante é o encolhimento eleitoral do partido.
Nesses casos, inicia-se uma crise de autoridade e as elites minoritárias passam a criticar
a condução dos líderes argumentado que estes seguem políticas que põem em risco a
sobrevivência da organização. Porém, no caso do PMDB, mesmo com esse encolhimento
do território eleitoral nas eleições de 1990 e 1992, a coalizão dominante não foi
deslegitimada ou contestada.
109

Isso aconteceu porque a estratégia de expansão que foi adotada, por exemplo
a filiação de políticos com capital político extra organização como Gonzaga Mota e Tasso
Jereissati, tinha colocado em risco a estabilidade organizativa do partido. O aumento
repentino do número de filiados afetou sua coesão interna, pois criou várias facções
dentro da organização. Além disso, a posição de partido governista alimentou a
expectativa de distribuição de incentivos seletivos por intermédio da ocupação de cargos
públicos. Porém, essa não foi a realidade vivenciada pelo partido, visto que a coalizão
dominante não teve acesso privilegiado a esses cargos como era desejado.
A coalizão dominante preferiu adotar para a organização uma linha política
sem aparentes chances de sucesso eleitoral. Optou por permanecer no modo seguro e
conservar no sistema de interesse a posição de partido de oposição. Essa estratégia pode
ser percebida na fala do dirigente partidário por meio da expressão “foi melhor para o
partido”:
Depois da saída do grupo do Tasso [Jereissati], o partido encolheu.
Estava na oposição de novo, né? Quem quer ser oposição? Mas, apesar
disso, foi melhor pro partido. Ficamos mais unidos. Tava tendo muita
briga, muito conflito. Muita gente no partido acreditou que ocupando o
governo nós teríamos mais facilidade para aprovar projetos, para
conseguir as coisas. Mas foi puro sonho. Do jeito que tava, foi melhor
pro partido ficar na oposição. Quem apenas tava querendo cargo saiu,
ficou apenas os que eram comprometidos com a bandeira do partido
(JOÃO ALVES MELO, secretário-geral do PMDB-CE. Entrevista
concedida ao autor em 17/11/2015).
Durante a década de 1990 e o início dos anos 2000, o PMDB no estado
apresentou relativa estabilidade nas disputas eleitorais, consolidou-se como principal
adversário do PSDB. Apresentou candidatos ao Executivo estadual e ao Senado ao longo
de três eleições consecutivas (1994, 1998 e 2002), como vemos no Anexo 11. Embora
não tenha conseguido eleger nenhum candidato nessas disputas eleitorais, o PMDB
conseguiu se consolidar como o partido de oposição que apresentava o melhor
desempenho eleitoral52. No âmbito local, o PMDB ocupou em média 10% das prefeituras

52
Em 1994, o candidato a governador Juraci Magalhães obteve 37,6% dos votos válidos (930.407 votos) e
os dois candidatos ao Senado obtiveram o terceiro e o quarto lugar, respectivamente Mauro Benevides com
11,6% (460.201 votos) e Cid Saboia com 9,8% (386.471 votos). Em 1998, o candidato a governador
Gonzaga Mota obteve 21,9% dos votos válidos (548.509 votos) e o candidato ao Senado Paes de Andrade
obteve 31,8% (734.180 votos). A exceção se deu apenas nas eleições de 2002, quando o candidato do
PMDB, Sérgio Machado, ocupou o terceiro lugar no primeiro turno, obtendo 12% dos votos válidos
(395.699 votos). Nessa eleição, embalado pela popularidade da campanha nacional de Lula da Silva para
presidente, o PT foi para o segundo lugar na disputa para o Executivo estadual. Para mais informações, ver
Anexo 11.
110

durante três ciclos eleitorais (1992, 1996 e 2000), com destaque para a manutenção do
Executivo municipal de Fortaleza.
No plano interno, percebemos também uma onda de estabilidade política,
sendo o cargo de presidente do Diretório Estadual exercido por Mauro Benevides de 1969
a 1998. A permanência do mesmo presidente do partido durante tanto tempo não
significou a ausência de conflitos para ocupar essa posição. O que permitiu essa
continuidade foi a adoção de estratégias políticas por parte da coalizão dominante para
apaziguar e acomodar os interesses das elites minoritárias emergentes. Como observamos
no comentário de Rosângela Aguiar:
Toda vida quando antecedia um período que ia ter convenção um grupo
de pessoas chegava pro Paes [de Andrade]: “nós temos que fazer uma
chapa e pá, pá, pá...”. Só que isso acabava não indo para frente. Porque
fazer cotidianamente o partido é chato! Eu gosto, particularmente. Mas
as pessoas não gostam! Porque tem muita burocracia. Cada dia que
passa até mesmo a forma de você prestar conta tá cada dia mais
complexa. Você tem que fazer a política cotidiana administrativa do
partido que não tem o glamour por exemplo de um mandato. Então
quando se aproxima do período de convenção há, principalmente
naquela época, sempre tinha pessoas que: “ah, vamos tirar o Mauro
[Benevides]”. Mas acabava que faziam uma conversa anterior e
compunham e sem fazer disputa acabava que alguns atores mudavam,
justamente por essa pressão anterior por lançamento de chapa, Mauro
[Benevides] chamava pra conversar, acomodava um, acomodava outro.
E a coisa não ia pra frente (ROSÂNGELA AGUIAR, delegada do
partido e presidenta do PMDB-Mulher. Entrevista concedida ao autor
em 17/11/2015, grifo nosso).
Pelo relato acima, percebe-se que a estabilidade da coalizão dominante se
dava por intermédio da estratégia de Mauro Benevides evitar conflitos formais dentro da
instância partidária. As tensões eram solucionadas por meio de acordos informais e
conversas que antecediam o período de convenção. Como salientado na seguinte frase:
“faziam uma conversa anterior e compunham”. Quando existiam lideranças que, por sua
projeção política externa ao partido, pressionavam por renovação dos cargos de direção,
elas eram posteriormente acomodadas pelo grupo dirigente. A estratégia da coalizão
dominante era incorporar algumas lideranças emergentes e ter total controle sobre a
transição de poder na estrutura interna da organização.
Cabe observar também que a entrevistada acima, que integra a atual Comissão
Executiva do Diretório Estadual, coloca como principal obstáculo à renovação da direção
partidária o fato de a atividade burocrática ser “chata”. Não é conjecturado, por exemplo,
que o envolvimento de lideranças e filiados nas posições de comando da estrutura
111

partidária pode ser dificultado pela não existência de canais formais de participação
política e pela não renovação dos ocupantes desses cargos.
Durante essa gestão de Mauro Benevides (1969-1998), não existia dentro do
partido uma liderança que pudesse se contrapor de forma competitiva a seu comando.
Nesse contexto,
[...] o Paes [de Andrade] era a pessoa que talvez tivesse um nome para
mudar isso, por que o fundador do MDB aqui no Ceará foi o sogro dele,
o Martins Rodrigues, e o Paes de Andrade por conta da expressão
nacional que alcançou não tinha interesse político em ocupar o cargo de
presidente do Diretório Estadual (ROSÂNGELA AGUIAR, delegada
do partido e presidenta do PMDB-Mulher. Entrevista concedida ao
autor em 17/11/2015).
Como foi destacado anteriormente, a estabilidade da direção se dava porque
existia divisão de trabalho entre as duas principais lideranças da agremiação que
ocupavam posições distintas nas arenas políticas. Contudo, na convenção partidária de
1998, em uma das tradicionais “conversas que antecediam a convenção”, um militante
que até então não tinha exercido nenhum cargo eletivo passou a liderar o processo de
montagem de uma chapa de oposição. Essa disputa ocasionou instabilidade, sendo
noticiada pela imprensa local por meio de matéria intitulada “Sucessão interna gera crise
no PMDB do Ceará” (O POVO, 26 dez. 1997). O militante em questão era o empresário
Eunício Oliveira, que possuía capital político dentro da organização pelo fato de seu
sogro, Paes de Andrade, ocupar a Presidência Nacional do PMDB (1995-1998).
Nesse embate entre Mauro Benevides e Eunício Oliveira, o segundo saiu
vitorioso. Analisando essa convenção partidária que elegeu o novo presidente do
Diretório Estadual, o então tesoureiro do partido, João Alves Melo, comentou que:
Mauro [Benevides] tinha o apoio de muitos chefes do partido, mas tava
distante das bases e na disputa por delegados, o grupo lá [chapa de
Eunício Oliveira] levou a melhor porque investiu em cima de
delegados. [Pausa longa] Comprou os delegados... (JOÃO ALVES
MELO, secretário-geral do PMDB-CE. Entrevista concedida ao autor
em 17/11/2015).
É interessante destacar que nessa parte da entrevista o colaborador ficou
pensativo, com respostas calculadas para que não criasse situação de embaraço para a
organização. Após ter salientado que a chapa de Eunício Oliveira venceu porque
“comprou” os delegados, demonstrou constrangimento por ter revelado tal opinião.
Depois, argumentou que “a oposição fez uma campanha pesada para conseguir os votos
dos delegados, distribuindo passagem, alimentação e até hospedagem para que eles
112

viessem votar” (JOÃO ALVES MELO, secretário-geral do PMDB-CE. Entrevista


concedida ao autor em 17/11/2015).
Apesar do entrevistado João Alves Melo na época compor a coalizão
dominante, este ressaltou que o processo de transição do comando da Comissão Executiva
foi tranquilo. Destacou que não houve rupturas bruscas, como vemos abaixo:
Também não houve desintegração. Pra você ter uma ideia, eu que
naquele tempo era tesoureiro do partido e presidente da Fundação
Pedroso Horta [...] e apoiei Mauro Benevides, mas depois continuei
integrado na gestão do partido. Eu continuei na Executiva, continuei
com uma nova função, a função de secretário-geral do partido, que até
hoje eu exerço, todo o período de gestão de Eunício [Oliveira]. E Mauro
[Benevides] continuou na Executiva, como Vice-Presidente (JOÃO
ALVES MELO, secretário-geral do PMDB-CE. Entrevista concedida
ao autor em 17/11/2015).
Essa interpretação da transição política e do lugar ocupado por Mauro
Benevides é destacado também na entrevista concedida por Rosângela Aguiar:
Essa questão da participação estava ficando bastante aflorada nas
pessoas. Quer dizer, você queria participar e aquela estrutura estava ali
há muito tempo. Havia uma vontade de mudança. Não era uma questão
contra Mauro [Benevides]. Tanto é que em todos esses momentos o
Mauro [Benevides] nunca perdeu o espaço dele dento do PMDB.
Continua como vice-presidente (ROSÂNGELA AGUIAR, delegada do
partido e presidenta do PMDB-Mulher. Entrevista concedida ao autor
em 17/11/2015).
Após assumir a presidência do Diretório Estadual, Eunício Oliveira foi eleito
deputado federal, ocupando três mandatos consecutivos (1999-2011). A gestão de
Eunício Oliveira no PMDB pode ser dividida em duas fases distintas. Na primeira fase,
que vai do início de seu mandato em 1998 ao final das eleições de 2002, percebemos
escasso crescimento eleitoral, embora o Diretório Estadual tenha conseguido manter a
estrutura organizativa e o desempenho eleitoral herdado da gestão de Mauro Benevides.
Já a segunda fase é caracterizada pelo crescimento eleitoral e organizacional
da agremiação, estabelecidos a partir da aliança estadual com o PT e o PSB. Ao longo da
década de 1990 no Ceará, o PMDB e PT disputavam o lugar de oposição legítima ao
poder exercido pelo PSDB. A aliança estadual entre os dois partidos ocorreu após a
ocupação do PT no Executivo federal em 2003 e a posterior composição do PMDB
nacional nessa coalizão de governo. Por intermédio desse pacto, o líder do PMDB
cearense, Eunício Oliveira, foi indicado para ocupar o cargo de ministro das
Comunicações em janeiro de 2004, permanecendo no cargo até julho de 2005.
No plano eleitoral estadual, a aliança PMDB-PT começou no segundo turno
da eleição municipal de Fortaleza, em 2004, que polarizava a candidata do PT, a ex-
113

vereadora de Fortaleza (1997-2002) e então deputada estadual Luizianne Lins, e o


candidato do PFL, o então deputado federal Moroni Torgan.
O PMDB nas eleições municipais de 2004 em Fortaleza tinha apresentado
candidato próprio ao Executivo municipal, tendo estabelecido aliança com partidos
pequenos, como o Partido Trabalhista Nacional (PTN) e o Partido Renovador Trabalhista
Brasileiro (PRTB). O governo municipal do segundo mandato de Juraci Magalhães
(2001-2004) não contava com alta popularidade. Devido a avaliações negativas da gestão
do PMDB, o candidato à sucessão, o então secretário de Finanças — Aloísio Carvalho
Neto —, não se mostrava competitivo. Este obteve apenas 7% dos votos válidos (78.619
votos).
Com a vitória da candidata do PT, o PMDB passou a ocupar cargos no
governo municipal e a afinar esse pacto iniciado na disputa eleitoral. Nas eleições de
2006, o PMDB, pela primeira vez desde as eleições de 1982, não apresentou candidato
próprio ao Executivo estadual, optando por manter a aliança com o PSB e o PT. Nessa
coligação, coube ao partido a indicação da primeira vaga de suplente ao Senado, que foi
indicado Raimundo Noronha Filho, irmão do então deputado federal e ex-prefeito de
Parambu (2005-2010), Genecias Noronha (PMDB).
Percebe-se que, nessa aliança em 2006, o PMDB não participou da indicação
de nenhum cargo de titular, preservando essa indicação para a eleição de 2010. Como é
destacado no seguinte trecho da entrevista:
A desistência do Eunício [Oliveira] para a disputar do Senado, de uma
forma bastante concreta, favoreceu para que não houvesse uma quebra
daquele grupo. Ele não ter “batido o pé” [insistido]. Porque, naquela
época, o mais importante era construir aquele grupo de oposição. Se
você fosse entrar ali com a obstinação de um projeto próprio, pessoal,
você poderia perder a oportunidade. [...] O que foi negociado de uma
maneira geral era que nós teríamos a senatoria que não tivemos em
2006, em 2010. Isso foi claramente negociado. Porque, em 2008, o Cid
[Ferreira Gomes], o Eunício [Oliveira], todo mundo apoiou a
candidatura da Luizianne [Lins] (ROSÂNGELA AGUIAR, delegada
do partido e presidenta do PMDB-Mulher. Entrevista concedida ao
autor em 17/11/2015).
Para compor essa coligação, que se contrapunha à reeleição do então
governador Lúcio Alcântara (PSDB), o PMDB era ator essencial, o “fiel da balança”. Isso
porque, como destacado anteriormente, a agremiação desde a redemocratização
apresentava candidatos ao Executivo estadual e obtinha entre 20% a 30% dos votos
válidos. Como destaca a entrevistada Rosângela Aguiar, a vitória dessa coligação foi
possível devido ao apoio do PMDB e a desistência de Eunício Oliveira para a disputa ao
114

Senado. A entrevistada ressaltou que essa desistência representou “ato de grandeza” do


líder do partido, pois devido “a sua grandeza de espírito, soube colocar o projeto do grupo
em detrimento de ambições pessoais” (ROSÂNGELA AGUIAR, delegada do partido e
presidenta do PMDB-Mulher. Entrevista concedida ao autor em 17/11/2015).
A partir dessa aliança eleitoral, percebe-se que tanto a eleição nacional quanto
a estadual estão interligadas para planejar a eleição municipal de Fortaleza. Esse
fenômeno é observado nos acordos entre os partidos para compor a coligação eleitoral.
Observa-se que as agremiações ao negociarem a montagem da chapa para a disputa de
cargos no âmbito federal (senador) e estadual (governador e vice-governador), já “fecham
questão” para a eleição seguinte, compondo os cargos para o Executivo de Fortaleza.
No caso analisado, o fato de o PMDB ter se resignado na acomodação da
aliança com o PT e PSB, não disputando a vaga de titular para o Senado em 2006 e
também não indicando candidatos ao Executivo municipal de Fortaleza em 2008, o
credenciou para ser escolhido pela coligação para ocupar uma das duas vagas ao Senado
em 2010. Como vemos na Tabela a seguir que mostra as indicações das vagas para o
Executivo estadual e o Senado em 2010.

Tabela 5 - Distribuição das vagas na aliança PMDB-PSB-PT em 2010


CARGO PARTIDO CANDIDATO
Governador PSB Cid Ferreira Gomes
Vice-Governador PMDB Domingos Gomes de Aguiar Filho
Senador PMDB Eunício Lopes de Oliveira
1º Suplente Senador PT Waldemir Catanho de Sena Junior
2º Suplente Senador PRB Miguel Dias de Souza
Senador PT José Barroso Pimentel
1º Suplente Senador PSB Aluísio Sergio Novais Eleuterio
2º Suplente Senador PCdoB Luís Carlos Paes de Castro
Fonte: Elaboração própria a partir do Anexo 11.

Sete siglas compunham essa coligação — PSB, PMDB, PT, PCdoB, PRB,
PDT e Partido Social Cristão (PSC). Porém, apenas cinco apresentaram candidatos nas
disputas majoritárias. Observando essa Tabela, percebe-se que, além da cota de titular de
senador, coube também ao PMDB a indicação da vaga de vice-governador. No entanto,
é necessário contextualizar essa eleição para compreender a montagem dessa chapa. No
caso em questão, a escolha do candidato a vice-governador foi mais uma decisão pessoal
e de confiança feita pelo então governador Cid Ferreira Gomes (PSB) e menos uma
indicação da direção do PMDB. A preferência pelo nome do então deputado estadual e
115

presidente da ALECE, Domingos Filho (PMDB), não foi estabelecida pelo PMDB e não
passou pelo trâmite das decisões deliberativas do partido. Nesse caso, a única indicação
do Diretório Estadual do PMDB para a composição dessa chapa foi para o cargo de titular
no Senado.
Cabe destacar que na pesquisa de campo observamos que essa nomeação de
Domingos Filho, 2º vice-presidente do Diretório Estadual, como vice-governador
ocasionou conflitos internos no PMDB. O líder do partido, o presidente do Diretório
Estadual Eunício Oliveira, sentiu-se desprestigiado, pois entendia que a lealdade do
candidato do PMDB estava ligada ao político que o indicou, no caso Cid Ferreira Gomes
(PSB), e não ao partido. Além disso, fortalecendo um membro, que não devia lealdade
direta ao presidente da legenda por essa indicação, com cargo de vice-governador
aumentaria os ânimos dentro da agremiação. Fornecia a este membro o controle sobre
zonas de incerteza na organização, como a distribuição de incentivos seletivos.
Um dado no resultado eleitoral dessa eleição chama atenção: o candidato a
senador do PMDB obteve votação maior que o candidato a governador. No caso, Eunício
Oliveira obteve 2.688.833 votos (36,32% dos votos válidos) enquanto Cid Ferreira
Gomes (PSB) alcançou 2.436.940 votos (61,27% dos votos válidos), marcando, assim,
uma diferença de 251.893 votos a mais para o candidato a senador.53
Esse fenômeno é interessante porque mostra o fôlego político dessa liderança
do PMDB. Como ressalta Carvalho (1999), historicamente nas eleições estaduais no
Ceará o candidato a governador “puxa os votos” para o candidato a senador, montando a
estratégia de “voto casado”. Como as duas eleições são para cargos majoritários, torna-se
mais fácil associar uma imagem à outra. Além disso, como a votação para o Executivo
movimenta mais recursos do que para o Legislativo, inclusive de tempo no HGPE, o
candidato a governador consegue obter mais votos54.

53
Esse fenômeno não aconteceu com o candidato ao Senado pelo PT, que obteve 2.397.851 votos, sendo
39.089 votos a menos do que o candidato a governador da coligação, como vemos no Anexo 11.
54
Essa lógica prevaleceu nas eleições pós-redemocratização no Ceará. A exceção a esse padrão ocorre
quando o candidato ao Senado possui uma “imagem-marca” (CARVALHO, 1999) mais forte do que o
candidato ao Executivo estadual. No Ceará, como vemos no Anexo 11, esse fenômeno aconteceu em apenas
três eleições: em 2002, quando os candidatos ao Senado Tasso Jereissati (PSDB) e Patrícia Saboya (PPS)
obtiveram respectivamente 1.915.781 e 1.864.404 votos, quantidade superior ao obtido pelo candidato a
governador Lúcio Alcântara (PSDB), que obteve 1.625.202 votos; em 2010, como relatado acima; e em
2014, quando Tasso Jereissati (PSDB) como candidato ao Senado alcançou 2.314.796 votos, enquanto o
candidato a governador da coligação, Eunício Oliveira (PMDB), obteve 1.979.499 votos no primeiro turno.
116

Essa performance eleitoral do PMDB em 201055 alimentou o anseio da


coalizão dominante estabelecer uma linha política de dominância ambiental para disputa
do Executivo estadual, já que Eunício Oliveira obteve mais votos que o governador eleito.
A principal liderança do PMDB saiu fortalecida, credenciando o Diretório Estadual para
negociar alianças políticas nas eleições municipais de 2012 e futuramente nas eleições
estaduais de 2014. Antes de investigar as duas eleições, vamos analisar a estrutura
organizacional do PMDB, assunto do próximo tópico.

2.2- Estrutura da organização partidária


A estrutura organizacional do PMDB durante as duas eleições examinadas
nessa pesquisa foi regulamentada pelos estatutos de 2007 e 2013. O partido, como
observado por Ferreira (2002) e Ribeiro (2013), pouco modificou sua estrutura
organizacional ao longo do tempo56. A transformação mais acentuada ocorreu no estatuto
de 1993, quando o partido institucionalizou a descentralização de cunho federalista ao
adotar critérios regionais na composição do Diretório Nacional (FERREIRA, 2002).
Segundo os estatutos de 2007 e 2013, a organização possui quatro níveis:
nacional, estadual, municipal e zonal (Art. 14), sendo composto pelos seguintes órgãos:
as Convenções, os Diretórios, o Conselho Nacional, as Comissões Executivas, as
Comissões de Ética e Disciplina, os Conselhos Fiscais, a Fundação Pedroso Horta e as
Bancadas Parlamentares (Art. 15). Como observamos no organograma do partido na
página seguinte.

55
O alto desempenho eleitoral do PMDB na disputa para o Senado não fez eco nas outras disputas para o
Legislativo, pois nessa eleição teve sua representação no Legislativo reduzida. Na Câmara Federal, o
partido diminuiu uma cadeira, ocupando cinco vagas (22%); e na ALECE, o encolhimento do número de
cadeiras ocupadas foi maior, de sete (15%) em 2006 passou para três (6,5%) em 2010.
56
Embora o PMDB tenha apresentado sete estatutos ao longo do tempo – instituídos em 1980, 1993, 1996,
2007, 2013, 2016 e 2017 –, a regulamentação da sua estrutura organizacional foi mantida.
117

Figura 1 - Organograma do PMDB


AÇÃO
DEBIBERAÇÃO DIREÇÃO EXECUÇÃO COLABORAÇÃO COOPERAÇÃO
PARLAMENTAR
Comissão
Convenção Diretório Comissões de Ética e Conselho Fiscal
Executiva Bancadas Parlamentares
NACIONAL

Nacional Nacional Disciplina Nacional Nacional


Nacional

Conselho Fundação Ulysses


Nacional Guimarães
Núcleos Nacionais

Comissão
Convenção Diretório Comissões de Ética e Bancada de Deputados Conselho Fiscal
ESTADUAL

Executiva
Estadual Estadual Disciplina Estadual Estaduais Estadual
Estadual

Núcleos Estaduais
MUNICIPAL

Comissão
Convenção Diretório Comissões de Ética e Conselho Fiscal
Executiva Bancada de Vereadores
Municipal Municipal Disciplina Municipal Municipal
Municipal

Núcleos Municipais
ZONAL

Comissão
Diretório
Convenção Zonal Executiva
Zonal
Zonal

Fonte: Elaboração própria a partir dos Estatutos de 2007 e 2013 do PMDB.


118

O mandato dos órgãos partidários tem duração de dois anos, sendo permitida
a reeleição (Art. 15, § 1°). As Convenções são reunidas ordinariamente para escolher os
candidatos do partido aos postos eletivos ou para eleger os membros dos seus Diretórios,
das Comissões de Ética e Disciplina e os delegados à convenção hierarquicamente
superior (Art. 22). As Comissões Executivas são eleitas pelos seus respectivos Diretórios
(Art. 30 § 1°).
No plano nacional, o partido apresenta dois órgãos de direção: Diretório
Nacional e Conselho Nacional. Este último órgão tem a função de construir canais
internos de negociação e decisão, sendo convocado em situações excepcionais
(FERREIRA, 2002). É um órgão intermediário entre a Comissão Executiva e o Diretório
Nacional “destinado a tomar mais ágeis as mais importantes decisões partidárias, sem
perda da representatividade do Partido” (Art. 71). É mais enxuto que o Diretório
Nacional, sendo composto pelos membros da Comissão Executiva Nacional e pelos
presidentes dos Diretórios Estaduais. Além disso, desde que sejam filiados ao partido, é
formado pelos ex-presidentes nacionais, pelos ex-presidentes da República; pelos
governadores de Estado, pelos presidentes, ex-presidentes e ex-líderes do partido na
Câmara dos Deputados e no Senado Federal (Art. 72).
O partido pode estar estruturado no nível estadual ou municipal como
Diretório ou como Comissão Provisória. A Comissão Provisória tem a função de
organizar e dirigir dentro de 90 dias a convenção para eleger o Diretório no seu respectivo
âmbito federativo. No âmbito estadual, o Diretório é composto por até 71 membros
titulares e 23 suplentes, incluídos o líder da bancada do partido na Assembleia e os ex-
presidentes da Comissão Executiva Estadual (Art. 80), já a Comissão Provisória é
formada apenas por sete membros (Art. 41). No âmbito municipal, o Diretório é composto
de até 45 membros titulares e 15 suplentes, incluídos na condição de membros natos, os
ex-presidentes municipais e o líder da bancada do partido na Câmara de Vereadores (Art.
91), já a Comissão Provisória é integrada por apenas 5 membros (Art. 42).
A organização apresenta órgãos de cooperação que fazem a relação com a
sociedade, seriam os núcleos. No âmbito nacional, conta com os seguintes núcleos:
mulher, sindical, afro, juventude, sócio ambiental e tradicionalista.
Observando o estatuto, percebemos que as regras que estabelecem os motivos
para intervenção em órgão partidário (Art. 60) ou sua dissolução (Art. 61) são amplas,
cabendo interpretação arbitrária por parte da Comissão Executiva. Estabelecendo análise
119

formal, julgaríamos que o partido é centralizado, pois os órgãos superiores exercem


controle sobre variadas áreas de atuação do partido. Como vemos nos artigos abaixo:
Art. 60. Os órgãos do Partido somente intervirão nos órgãos
hierarquicamente inferiores para:
I - manter a integridade partidária;
II - assegurar o exercício dos direitos das minorias;
III - reorganizar as finanças e regularizar as transferências de recursos
para outros órgãos partidários, previstas no Estatuto ou em resoluções.
IV - assegurar a disciplina e a democracia interna.
V - garantir o desempenho político-eleitoral do Partido.
VI - impedir acordo ou coligação com outros partidos em desacordo
com as decisões superiores;
VII - preservar as normas estatutárias, a ética partidária, os princípios
programáticos, ou a linha político-partidária fixada pelos órgãos
superiores e a linha política fixada pelos órgãos competentes.
VIII - regularizar o controle das filiações partidárias.
Art. 61. O Diretório que se tomar responsável pela violação do Código
de Ética, dos princípios programáticos, do Estatuto, ou por desrespeito
a qualquer diretriz ou deliberação regularmente estabelecida pelos
órgãos competentes, incorrerá na pena de dissolução, que será aplicada
pelo Diretório de hierarquia imediatamente superior.
§ 1º - Será também decretada a dissolução do Diretório cujo
desempenho eleitoral não corresponder aos interesses do Partido ou, a
critério do órgão hierárquico imediatamente superior, for considerado
impeditivo do progresso e do desenvolvimento partidários (PARTIDO
DO MOVIMENTO DEMOCRÁTICO BRASILEIRO. Estatuto do
PMDB 2007 e 2013).

A intervenção é decretada pelo voto da maioria absoluta do órgão


hierarquicamente superior. Nesse ato, deverá constar a indicação dos nomes de cinco
componentes que integrarão a Comissão Interventora, no caso de ingerência, ou
Comissão Provisória, no caso de dissolução, e o prazo de duração dessa comissão. O
prazo de existência dessa comissão poderá ser prorrogado enquanto não cessarem as
causas que a determinaram (Art. 60, § 3º; Art. 63).
Quando observamos situações concretas por meio da pesquisa de campo,
percebemos que mais importante do que as regras formais é a sua interpretação, já que
permite ampla margem de arbítrio. A coalizão dominante controla uma importante zona
de incerteza: as regras organizativas. Verificamos situações em que os dirigentes
partidários municipais fizeram coligações com partidos de oposição ao PMDB no plano
estadual ou nacional e isso não foi interpretado como desvio às regras do partido.
Percebemos que a coalizão dominante detém o controle da zona de incerteza por
intermédio das regras formais, pois consegue impor ou relevar sua não observância.
Como exemplo, temos a onda de intervenção e dissolução de órgãos
partidários locais no final de 2014. Após as eleições estaduais de 2014, evidenciamos que
120

o Diretório Estadual do Ceará desenvolveu uma política de maior controle dos órgãos
municipais liderados por “políticos infiéis”. Nessa eleição, a principal liderança do
partido, Eunício Oliveira, foi candidato ao Executivo estadual, como veremos adiante.
Como em alguns municípios o candidato a governador do PMDB não obteve desempenho
eleitoral satisfatório, a agremiação passou a intervir nos órgãos locais. O secretário-geral
João Alves Melo informou que a agremiação fez avaliação para identificar os possíveis
“infiéis”. Essa análise levava em consideração apenas o percentual de votos que Eunício
Oliveira obteve nos municípios, como ressalta:
Nós tivemos avaliação no nível de prefeitos e vereadores. E teve
expulsão. Em Fortaleza, nós tivemos a expulsão do vereador Carlos
Mesquita, porque ele foi um caso emblemático, apareceu claramente ele
fazendo campanha para o adversário [Camilo Santana (PT)]. No
interior, ex-prefeitos que se integraram à campanha do outro lado, nós
expulsamos do partido. Eles continuaram prefeito porque o cargo não é
nosso, mas foi expulso do partido. Foi o prefeito de Nova Russas e o
prefeito de Santa Quitéria (JOÃO ALVES MELO, secretário-geral do
PMDB-CE. Entrevista concedida ao autor em 17/11/2015).
Além do vereador de Fortaleza e desses dois prefeitos, o partido expulsou o
prefeito do município de Crato, como esclarece:
A questão do Ronaldo [Mattos] no Crato ficou muito evidente durante
a eleição. Primeiro se dizia que por influência do governador, pelo fato
do governador, que disputava pelo PT, ter estrutura política firme no
Crato e se dizer como filho do Crato por opção, apesar de ter nascido
em Barbalha. Até porque o pai militou politicamente durante muitos
anos no Crato, foi deputado estadual com votação no Crato. E o
Ronaldo [Mattos], ele ficou naquela: “Fico com o da terra ou fico com
o de fora? Como é que vai ser isso?”. E eu acho que falou mais alto aí
o suporte financeiro que foi oferecido para que ele desenvolvesse as
ações políticas. O nosso era mais limitado, que era recurso de doação,
e o que ofereceram a ele era muito mais generoso. Que naturalmente foi
feito de uma forma normal, que se faz em política, que é começar pelo
vereador. “Acha que tem quantos votos no distrito? Tome tanto! Tá
aqui, pra você sustentar essa votação. Tá aqui!” E aí vai! Ou seja,
esfacela qualquer estrutura de poder dessa forma. Ronaldo [Mattos]
depois não teve como justificar nada diferente disso que já se tinha na
nossa visão de avaliação e ele achou que o melhor caminho seria se
afastar do partido e assim fez (JOÃO ALVES MELO, secretário-geral
do PMDB-CE. Entrevista concedida ao autor em 17/11/2015).
Conforme o secretário-geral João Alves Melo informou, o então prefeito
Ronaldo Mattos (PMDB) tinha prometido apoiar Eunício Oliveira para governador. No
entanto, o candidato obteve no primeiro turno apenas 24,37% dos votos válidos (15.085
votos), enquanto o candidato do PT conseguiu 72,6% (44.948 votos). Depois desse baixo
desempenho eleitoral, Eunício Oliveira se reuniu com o prefeito para melhorar o
percentual de votos no segundo turno. Mesmo assim, o PMDB obteve somente 16,9%
121

dos votos válidos (11.205 votos), enquanto o candidato do PT conseguiu 83,09% (55.040
votos). Após esse desempenho eleitoral, a expulsão do então prefeito foi inevitável.
Embora essa política de intervenção nos órgãos locais tenha sido polêmica,
expondo o partido na opinião pública, esse processo foi visto como necessário e avaliado
positivamente pela Executiva Estadual, como ressalta:
Não adianta ter um filiado que não apoia eleitoralmente o partido, que
não vota na maior liderança do partido, em um nome que tem
repercussão nacional e que tem lutado para fortalecer o partido aqui.
Então, se não vota, melhor é dar o fora e procurar outro partido. Prefiro
assim! (JOÃO ALVES MELO, secretário-geral do PMDB-CE.
Entrevista concedida ao autor em 17/11/2015).
Nesse sentido, a agremiação enfrenta o dilema: ou investe na carreira política
de seus filiados e obtêm políticos comprometidos com o partido, ou apenas “empresta” a
legenda partidária para que políticos profissionais e com capital político próprio disputem
eleições. A primeira escolha requer mais tempo de preparação da carreira política, já a
segunda fornece ao partido maior número de políticos eleitos, mas que não são leais à
agremiação.
O secretário-geral João Alves Melo afirmou, por exemplo, que é comum o
assédio para que os deputados federais da agremiação migrem para outras legendas. “O
interesse do deputado federal é ser empossado como presidente do Diretório Estadual”
(JOÃO ALVES MELO, secretário-geral do PMDB-CE. Entrevista concedida ao autor em
17/11/2015). Como exemplo, o entrevistado cita o caso do deputado federal Danilo Forte,
que embora tivesse trânsito no PMDB — obtendo recursos para sua campanha eleitoral
como veremos adiante —, migrou para o PSB, assumindo a direção da Executiva Estadual
do partido.
Por meio dos dados colhidos na pesquisa de campo, evidenciamos que no
plano prático, o presidente do Diretório Estadual do Ceará, Eunício Oliveira, possui total
controle sobre as “zonas de incerteza do partido” (PANEBIANCO, [1982]), como
expertise política, gestão das relações com o ambiente, comunicações internas, regras
formais, financiamento da organização e recrutamento.
Observando a composição de cargos da presidência da Executiva Estadual na
gestão de Eunício Oliveira, percebemos estabilidade na composição das alianças. Em
1998, por exemplo, a presidência foi ocupada por Eunício Oliveira; a 1º vice-presidência
foi assumida por seu amigo pessoal e sócio nas empresas, Gaudêncio Gonçalves de
122

Lucena57; a 2º vice-presidência foi ocupada por uma liderança regional que estava no
primeiro mandato como deputado estadual, Domingos Gomes de Aguiar Filho; e a 3º
vice-presidência foi ocupada pelo ex-presidente, Mauro Benevides. Esse arranjo foi
mantido até 2011, quando a 2ª vice-presidência foi transferida de Domingos Filho, então
vice-governador, para Agenor Gomes de Araújo Neto, ex-deputado estadual (2003-2005)
e então prefeito de Iguatu (2005-2012).
Compreende-se que Eunício Oliveira compôs estável arranjo de aliança
dentro do partido. Para isso, acomodou nos órgãos partidários, como a Comissão
Executiva Estadual, algumas lideranças regionais do partido, como deputados federais,
deputados estaduais e prefeitos. Como exemplo, temos Raimundo Lopes Junior, ex-
prefeito de Itapuúna (1997-2004), que ocupou o cargo de secretário adjunto (2008-2013)
e 2º tesoureiro (2013-2015); e Aníbal Ferreira Gomes, deputado federal (1995-1999;
2003-2007; 2011-2015), que assumiu o cargo de 2º tesoureiro (2008-2013).
Observa-se que Eunício Oliveira como líder da coalizão dominante reduziu a
dimensão da Comissão Executiva para restringir as margens de manobra das minorias
dentro do partido, impossibilitando a participação destes na estrutura partidária. A falta
de poder intrapartidário de lideranças que possuem cargos eletivos tem motivado sérias
críticas à gestão de Eunício Oliveira. Lideranças regionais cobram da Executiva Estadual
mecanismos de participação. Como destaca Panebianco ([1982], p. 30): “nos partidos, a
exigência de mais ‘democracia’ é típico cavalo de batalha das minorias internas para
legitimar a si próprias na luta contra a maioria”.
Na entrevista com o secretário-geral, este comentou a participação dessas
lideranças regionais na estrutura interna do partido, argumentou que:
[...] particularmente acho que nós deveríamos, [na] próxima
recomposição do Diretório, fortalecer com companheiros que vêm há
muitos anos enfrentando essas dificuldades de eleições municipais,
fortalecer esse Diretório com esses nomes que efetivamente têm dado
excelentes contribuições para o partido. Ele tem hoje uma boa
composição, mas precisa esse reconhecimento daqueles que
efetivamente têm trabalhado pelo partido, que ainda não tiveram
oportunidade de se aproximar dos chamados cargos de maior monta,
que são os cargos do Diretório Estadual (JOÃO ALVES MELO,
secretário-geral do PMDB-CE. Entrevista concedida ao autor em
17/11/2015).

57
Eunício Oliveira e Gaudêncio Lucena têm uma relação de amizade que remonta ao período em que
moravam na Casa do Estudante em Fortaleza. São sócios em empresas do ramo de transporte de valores,
segurança privada, comunicação, aviação e tecnologia, com atuação nos estados do Ceará, Pernambuco,
Piauí, Rio Grande Norte e São Paulo.
123

Pelo depoimento acima, percebemos que o secretário-geral é favorável a


renovação da composição do Diretório Estadual para integrar membros que
historicamente são filiados e que possuem capital político por ter ocupado algum posto
eletivo, como prefeito, deputado estadual ou deputado federal.
Ao ser questionado porque poucas lideranças históricas compunham o
Diretório Estadual, ocupando, por exemplo, o cargo de delegado, ele ressaltou que:
Isso aconteceu muito em função daquele clima que todo partido
enfrenta, de você ficar desconfiando que a pessoa não vai permanecer.
Tá recebendo tantos acenos de outras estruturas partidárias que
efetivamente é provável que ele se afaste do partido e vá para uma outra
tendência. Mas isso aconteceu efetivamente com vários companheiros,
mas que não atingiu aqueles que chamamos de pilares do partido de
vários municípios e tá na hora da gente fazer efetivamente o
reconhecimento dessas pessoas que permaneceram, trazendo para a
estrutura do Diretório Estadual (JOÃO ALVES MELO, secretário-geral
do PMDB-CE. Entrevista concedida ao autor em 17/11/2015).
Esse “dilema da confiança” é recorrente na estrutura interna do partido, pois
como a agremiação conta com muitos políticos profissionais que não acumularam capital
no interior da organização, existe alto custo para desenvolver lealdade organizacional, já
que são independentes da estrutura partidária. Pelo fato de a organização não formar
politicamente seus quadros, o sistema de lealdade desses políticos não perpassa a
organização partidária, sendo tributário de lideranças políticas, no caso o presidente do
Diretório Estadual, Eunício Oliveira.
É interessante observar que o secretário-geral do Diretório Estadual afirmou
que a pressão desses políticos para participar dos cargos no Diretório ocorre por meio de
apelo. Nesse sentido, a ideia de “apelo” denuncia o caráter das relações pessoais e
tradicionais que predominam no partido. Os filiados não são estimulados a reivindicar
posições de comando no Diretório. Estes não recorrem, por exemplo, aos aspectos
formais do estatuto ou cobram a criação de critérios mínimos que definissem a escolha
dos delegados. A seleção dos delegados fica à critério do presidente do Diretório Estadual.
Analisando a lista dos 34 delegados do Diretório Estadual (2013-2015),
percebemos que, apenas na família de Eunício Oliveira, oito pessoas compõem a lista de
delegados: sua esposa (Mônica Oliveira), três de seus quatro filhos (Manuella Mata Pires,
Marcela Oliveira e Rodrigo Oliveira), seu genro (César Mata Pires Filho), seu sobrinho
(Danniel Lopes), seu sogro (Antônio Paes de Andrade) e ele próprio. Seu vice, Gaudêncio
Lucena, possui cinco integrantes da sua família como delegado: seus dois filhos
(Gaudêncio Lucena Júnior e Igor Lucena), dois irmãos (Carlos Lucena e Glaucia Ferrer)
124

e ele próprio. O outro sócio nas empresas, Nelson Neves, compõe a lista junto com seu
filho, Rodrigo Neves. Além disso, ainda constam como delegados os assistentes
parlamentares de Eunício Oliveira e funcionários do Diretório Estadual. Apenas quatro
deputados federais — Aníbal Ferreira Gomes, Mauro Benevides, Mário Feitoza e Danilo
Forte — aparecem na lista de políticos com mandato eletivo que exercem a função de
delegado.
Percebe-se que Eunício Oliveira e Gaudêncio Lucena, por intermédio de
relações familiares, exercem concentração decisória na indicação dos delegados do
partido. Esse controle político sobre a organização é diferente do cenário observado por
Ferreira (2002) na direção nacional do partido. A autora verificou que até o ano de 2000,
nenhuma corrente conseguiu ser majoritária no partido, tornando sua direção um grande
mosaico. “Havia um vazio de lideranças nacionais capazes de arregimentar o partido
nacionalmente e, em contrapartida, uma inflação de lideranças regionais” (FERREIRA,
2002, p. 158). No posfácio de seu livro, a autora ressaltou que a tendência governista que
em 2001 elegeu Michel Temer como presidente da agremiação, teria, a partir dali,
potencial para aglutinar as diversas forças internas, dando direção nacional ao partido.
Observando também a estrutura informal do PMDB cearense, percebemos
que Eunício Oliveira centraliza as decisões, excluindo negociações com outras lideranças
do partido. Ocorre centralização por meio de comando personalista e autocrático do líder
partidário, passando ao largo da estrutura formal da organização partidária.
Na pesquisa de campo, foi salientado pelos entrevistados que Eunício
Oliveira exerce liderança pessoal e de confiança com os filiados do partido. Nesse caso,
a estrutura organizacional não tem tanto peso nas relações de poder internas. Esse tipo de
comando produz entre militantes e líderes locais a expectativa de constante aproximação
política com a liderança partidária para que assim consigam “segurar o partido” no plano
local.
Como exemplo, temos o caso de um militante que integrou as estruturas
burocráticas do partido, mas que por apresentar baixo rendimento eleitoral no plano local
teve o órgão partidário colonizado pela facção política rival. Como vemos abaixo no
depoimento:
Participei do PMDB-Jovem. Fui pra muitos encontros em Fortaleza e
até um em Brasília. Pagava do meu bolso inclusive, praticamente não
recebia nenhuma ajuda de custo do partido. Ia porque gostava,
acreditava, tinha aquele sonho, sabe. Mas aí, teve uma disputa aqui em
Nova Olinda e o meu grupo político aqui tava em baixa, tinha perdido
a eleição, não conseguimos eleger o vereador! Quando vi foi Eunício
125

[Oliveira] entregar “de mão beijada” [de forma extremamente fácil] o


partido para o grupo rival. Não acreditei que fizeram isso comigo, com
nosso grupo... Tivemos que sair do PMDB, mesmo eu gostando do
partido, mas não tinha como ficar os dois grupos lá (EX-MILITANTE
DO PMDB DE NOVA OLINDA. Entrevista concedida ao autor em
20/09/2015).
Observa-se que a estrutura partidária tem pouco peso, prevalecendo relações
pessoais. Na pesquisa de campo, foi destacado por alguns membros da elite política local
que eles “usam” o partido como máquina eleitoral, não tendo interesse direto em instituir
um Diretório. A Comissão Provisória já forneceria o recurso de poder que muitos
almejariam: legenda partidária para apresentar candidatos no plano local, estabelecer
relações com as elites partidárias estaduais e receber algum recurso para campanha. Como
foi destacado pelo presidente da Comissão Provisória Municipal de Nova Olinda:
Naquele tempo, a gente não tinha conhecimento de que com a Comissão
Provisória a gente podia organizar uma eleição, aí a gente montou um
Diretório do partido. Mas com o Diretório dá uma trabalheira, pois
temos que ter muitos filiados. Então íamos atrás de pessoas para filiar
ao partido, ia atrás de assinaturas e tal. Na gestão do Afonso [Sampaio]
a gente tinha 400 filiados, só que é muito difícil quando você tem muito
filiados... É 400 cabeças pensando... Na hora de uma reunião é
problema. Então eu preferi manter um quadro pequeno para ter mais
qualidade... porque as pessoas mais fiéis ao partido, pessoa mais
dedicada ao partido. Porque você tem 400, aí quaisquer coisinhas estão
mudando de partido... quer ir para outro partido, aí fica aquele jogo
logo. Então eu digo logo: “não! Vamos botar pessoas que querem ter
compromisso com o partido. Assuma compromissos”. Aí ficamos nesse
quadro de 80, 80 e pouco se não chegar a 100. Aí a gente descobriu que
com a Comissão [Provisória] estávamos aptos a disputar eleição. Era
muito melhor, pois com cinco integrantes, que podia ser até na mesma
família e que facilitava bastante o trabalho, estava montada uma
Comissão [Provisória]. Esta nem de Convenção precisa para lançar os
candidatos. O problema é que é mais fácil o Diretório Estadual tomar o
partido e entregar para outra pessoa. Mas já acompanhei casos no
PMDB mesmo que o [Diretório] Estadual tomou um Diretório
Municipal e entregou para outro grupo. Eles inventam qualquer
desculpa e tomam mesmo. O [Diretório] Municipal até tentou recorrer,
mas não teve jeito. Então, é melhor a Comissão [Provisória], pois dá
menos trabalho (ELÍSIO GALDINO, presidente do PMDB de Nova
Olinda e atual vice-prefeito. Entrevista concedida ao autor em
20/09/2015).
Seguindo os passos de Panebianco [1982], construímos um mapa do poder
organizativo do PMDB cearense. O autor destaca que esse tipo de mapeamento delineia
os grupos ou instâncias que efetivamente possuem controle sobre a organização. Esses
núcleos de poder podem coincidir ou não com as instâncias oficiais do partido retratada
no organograma. Observando as relações de poder dentro do partido vemos que o líder
partidário, Eunício Oliveira, exerce forte influência no Diretório Estadual e nos Diretórios
126

Municipais. Já o grupo parlamentar, representado pelas lideranças estaduais do partido,


exerce fraca influência no conjunto dos Diretórios Municipais. A exceção se dá apenas
quando o órgão partidário municipal faz parte da base eleitoral de algum deputado, como
por exemplo o PMDB de Iguatu que é controlado pelo deputado estadual Agenor Neto, e
o PMDB de Acaraú pelo deputado federal Aníbal Gomes. Além de Eunício Oliveira,
apenas as lideranças locais exercem influência relevante nos órgãos partidários
municipais. Como vemos abaixo.

Figura 2 - Mapa do poder organizativo do PMDB — Gestão Eunício Oliveira (1998-2017)

LÍDER PARTIDÁRIO

DIRETÓRIO ESTADUAL
Núcleo duro – GRUPO PARLAMENTAR
Funcionários membros da
do partido Deputados Deputados
coalizão
Federais Estaduais
dominante

Profissionais – advogados,
publicitários e jornalistas

ÓRGÃO MUNICIPAL LIDERANÇAS LOCAIS

Legenda: Forte influência Fraca influência

Fonte: Elaboração própria.

Na pesquisa de campo, foi observado que no plano estadual o PMDB possui


robusta estrutura partidária. Esse vigor organizacional é contrastado com a fragilidade
dos Diretórios Municipais do partido, que em sua grande maioria estão organizados como
Comissão Provisória. Mesmo o órgão partidário de Fortaleza é pouco estruturado, não
possuindo sede própria e funcionando como anexo do Diretório Estadual.
O Diretório Estadual possui sede própria, funcionando de forma independente
da estrutura organizacional montada por alguns parlamentares do partido. Esse Diretório
127

conta com funcionários de carreira, como secretários, advogados e contador, e estrutura


equipada para desenvolver suas atividades. Possui equipamentos, como: computadores,
impressoras, projetores, data show, televisões etc. O presidente do Diretório Estadual,
Eunício Oliveira, conta com escritório próprio e funcionários, independentemente da
estrutura partidária.
A falta de estrutura partidária no âmbito local deve-se ao fato de que nenhum
desses órgãos recebe dinheiro do fundo partidário para organizar a máquina partidária.
Na pesquisa de campo junto ao Diretório Estadual, o secretário-geral afirmou que este
Diretório não possui recursos para estruturar os órgãos municipais. Como observamos
abaixo:
Os recursos que são distribuídos para os Diretórios Estaduais, eles são
mínimos, eles mal financiam a estrutura partidária no plano estadual.
Mal financiam. Você, pra ter uma estrutura partidária dessa, você tem
que ter um grupo de pessoas pra trabalhar com vínculo da justiça
eleitoral, com ações de disseminação do programa do partido, pessoas
que dão suporte no atendimento, no Diretório. Tudo isso aqui. E esses
recursos, eles são mínimos, mal dá para você cobrir essa despesa aqui.
Se você pegar esse recurso, que já é mínimo, e fatiar com os Diretórios
Municipais, você deixa de cumprir na essência aquilo que é mais
importante, que é o fortalecimento do partido no estado como um todo.
Este é um problema que todo partido político enfrenta. Com exceção
daquele que está no poder, porque, além do recurso que recebe de
transferência do fundo partidário, ele vai no vácuo da gestão pública e
vai levando consigo sobra daqui e dacolá pra poder desenvolver as suas
ações (JOÃO ALVES MELO, secretário-geral do PMDB-CE.
Entrevista concedida ao autor em 17/11/2015).
No discurso acima, o secretário-geral da Executiva Estadual defende que o
Diretório Estadual não teria condições materiais para repassar parte do fundo partidário
para os Diretórios Municipais, pois caso isso acontecesse, a agremiação ficaria fragilizada
por não fortalecer a principal estrutura do partido no estado, o Diretório Estadual. É
argumentado que o fundo partidário fornece ao Diretório Estadual apenas o mínimo
necessário para manter sua estrutura partidária e que o partido conseguiria distribuir
recursos aos Diretórios Municipais apenas se estivesse no governo e contasse com os
recursos do Estado, como cargos e verbas.
Apesar do traço comum de fragilidade organizativa, percebem-se oscilações
entre os órgãos partidários municipais. Essas diferenças devem-se menos a magnitude
eleitoral dos municípios e mais ao tipo de relação existente entre as lideranças locais e o
líder do partido, Eunício Oliveira. Quanto mais próximo do líder, mais recursos as
lideranças partidárias locais recebem e mais centralização sofrem.
128

Observando a relação entre o órgão municipal de Fortaleza e o Diretório


Estadual, percebemos que na atual gestão não ocorre distinção clara entre os dois órgãos.
O PMDB de Fortaleza é estruturado como Comissão Provisória. Esse caráter temporário
da Comissão Provisória é ressaltado pelo então presidente Willame Correia. Como
observado abaixo:
Sempre foi Comissão Provisória [fala insegura]. Agora, quando se diz
“é uma Comissão Provisória”, são os membros provisórios que estão
organizados para em seguida fazer a convenção, a Convenção
Municipal, daí se passar a não ser mais, a Comissão Provisória, se
efetiva o Diretório [...] É porque sempre o partido, ele [...], como ainda
tá nessa fase de organização, cê organizar o zonais também não é fácil.
(WILLAME CORREIA, presidente do PMDB de Fortaleza. Entrevista
concedida ao autor em 19/11/2015).
Pelo discurso acima, percebe-se que o intuito dos membros provisórios da
comissão é organizar o mais breve possível o órgão partidário como Diretório. Na
entrevista com o então presidente, percebemos que este não possuía segurança ao falar
sobre o motivo do órgão partidário de Fortaleza ainda ser estruturado de forma tão
precária. A principal dificuldade que foi ressaltada pela direção é estruturação dos zonais
no órgão municipal, organizar o partido com sua capilaridade nos bairros.
Porém, sustentamos a hipótese que a manutenção desse tipo de organização
provisória é estabelecida para que o Diretório Estadual tenha influência maior sobre o
órgão municipal de uma cidade tão importante como a capital. Como destacado por
Guarnieri (2011), a Comissão Provisória permite maior controle dos órgãos partidários
locais por parte do Diretório Estadual. Pois, como vimos no estatuto do partido (Art. 60,
§ 3º; Art. 63), quem indica os cinco membros que irão compor a Comissão Provisória
Municipal é o Diretório Estadual.
Quando observamos a lista dos órgãos partidários fornecida pelo SGIP-TSE,
percebemos que as orientações do estatuto não são seguidas. O Artigo 41 do estatuto
estabelece que a renovação dos membros da Comissão Provisória deverá ocorrer no
máximo duas vezes. No entanto, os membros do Comissão Provisória de Fortaleza
passam longos períodos ocupando o cargo de presidente, como vemos a seguir.
129

Tabela 6 - Lista de presidentes da Comissão Provisória do PMDB de Fortaleza (2008-2016)


Início e fim da Vigência Quant. de
Presidente
(tempo de duração) renovações
2008 a 2011 (1.103 dias) 3 José Maria Couto Bezerra
2011 a 2012 (290 dias) 2 Francisco Abdenago Paulino de Oliveira
2012 a 2013 (552 dias) 1 Walter Lima Frota Cavalcante
2014 a 2016 (776 dias) 8 Francisco Willame Correia de Lima
Fonte: Elaboração própria a partir dos dados do SGIP-TSE.

No processo decisório do PMDB de Fortaleza, o Diretório Estadual centraliza


as decisões. O presidente do PMDB de Fortaleza ameniza essa centralização, defendendo
que as decisões são tomadas na busca do consenso entre todos que integram o partido,
como vemos abaixo:
O partido em si é uma família. O Eunício [Oliveira] é nosso presidente
estadual. Agora, quem está em exercício é o Gaudêncio Lucena, que é
o vice-presidente. Mas sempre quando há essa escolha do candidato
majoritário a prefeito de Fortaleza, acontece um bom senso, com
encontro de todos, né? Do partido, vereadores, candidatos a vereadores,
pré-candidatos a vereadores, lideranças, então. A gente busca o
consenso para ter esse melhor candidato. (WILLAME CORREIA,
presidente do PMDB de Fortaleza. Entrevista concedida ao autor em
19/11/2015).
Nesse discurso, temos uma compreensão tradicional de partido político, o que
corrobora com a compreensão do PMDB-CE como “partido de elites” (DUVERGER
[1951]; KIRCHHEIMER [1966]). Willame Correia ressalta que as decisões que são
tomadas no partido são baseadas a partir do consenso entre todos que integram a
agremiação. No entanto, pelos dados já observados sobre o perfil de liderança de Eunício
Oliveira e da organização estrutural da agremiação, percebe-se que ele como líder
consegue conduzir sem dificuldades o processo decisório. Até porque, na ausência de
Eunício Oliveira, quem toma as decisões é seu sócio e 1º vice-presidente, Gaudêncio
Lucena.
Esse controle efetivo do Diretório Estadual sobre o órgão partidário de
Fortaleza é historicamente datado. Ele se deu após o enfraquecimento político da principal
liderança do PMDB de Fortaleza, o ex-prefeito Juraci Vieira de Magalhães. Durante os
anos de 1990, as eleições municipais em Fortaleza foram caracterizadas pela vitória do
fenômeno do “juraciismo”, marcadas pela ausência de competitividade, sendo seus
resultados anunciados com antecedência pelas pesquisas de opinião. Porém, nas eleições
de 2000 e 2004 observa-se tendência de enfraquecimento (MORAES FILHO, 2010).
130

Juraci Magalhães era o 1º vice-presidente na gestão de Mauro Benevides


como presidente do Diretório Estadual do PMDB. Os dois apresentavam alinhamento
político, Mauro Benevides atuava no plano nacional, assumindo inclusive o cargo de vice-
presidente da Assembleia Nacional Constituinte de 1987, e Juraci Magalhães delegava
no plano estadual e municipal, sobretudo em Fortaleza. Como observamos no depoimento
abaixo:
Os dois [Mauro Benevides e Juraci Magalhães] apresentavam uma
relação pessoal de amizade, de família [...] O Mauro [Benevides],
embora tenha saído para fazer uma política mais nacional, como
senador, ele tinha um segundo homem, vamos dizer assim, que fazia o
dia-a-dia do partido para ele aqui, que era o Juraci Magalhães (JOÃO
ALVES MELO, secretário-geral do PMDB-CE. Entrevista concedida
ao autor em 17/11/2015).
No acordo envolvendo as eleições municipais de 1988 em Fortaleza, a vaga
de vice-prefeito coube às lideranças do “PMDB histórico” e Mauro Benevides indicou
Juraci Magalhães como candidato, que até então nunca tinha disputado cargo eletivo. Essa
escolha se deu porque este “era a pessoa que tinha mais ligação, à época, com Fortaleza
mesmo. Porque ele era médico aqui, ele fez todo o trabalho de construção dos diretórios
zonais, tinha essa ligação com a cidade” (JOÃO ALVES MELO, secretário-geral do
PMDB-CE. Entrevista concedida ao autor em 17/11/2015). Posteriormente, com a
renúncia do prefeito Ciro Ferreira Gomes para disputar o governo estadual em 1990,
Juraci Magalhães assumiu o cargo de prefeito de Fortaleza (1990-1992).
Juraci Magalhães liderou o processo que embargou as pretensões do PSDB
assumir a prefeitura de Fortaleza, estabelecendo o domínio do PMDB na política local.
Nas eleições de 1992, Juraci Magalhães elegeu seu sucessor no primeiro turno, o então
secretário de Finanças Antônio Cambraia. Este, que até então não possuía militância
política, foi eleito com 374.600 votos (55% dos votos válidos). Nas eleições de 1996,
Juraci Magalhães foi eleito prefeito também no primeiro turno, com 520.074 votos (63%
dos votos válidos). No entanto, durante seu segundo mandato, percebe-se
enfraquecimento da sua liderança, quando os índices de aprovação da sua gestão
decaíram. Foi reeleito em 2000, mas enfrentou uma campanha mais competitiva. Juraci
Magalhães obteve no primeiro turno 306.643 votos (33% dos votos válidos), indo para o
segundo turno com o candidato do PCdoB, o então deputado federal Inácio Arruda, que
obteve 282.094 votos (30% dos votos válidos). No segundo turno foi eleito com 512.655
votos (53,9% dos votos válidos).
131

Como vimos, nas eleições de 2004, o candidato de Juraci Magalhães a


sucessão do PMDB em Fortaleza foi o advogado Aloísio Barbosa de Carvalho Neto. Este
até então nunca tinha disputado cargo eletivo e nessa eleição apresentou baixo
desempenho eleitoral. Depois dessa derrota eleitoral a liderança de Juraci Magalhães
enfraqueceu, perdendo influência até no PMDB de Fortaleza.
Moraes Filho (2010) caracteriza o “fenômeno do juraciismo” na política de
Fortaleza por três aspectos centrais. O desempenho administrativo, caracterizado pelo
ativismo realizador de grandes obras públicas no estilo "Juraci faz"58; O estilo de
liderança como político que fala ao povo e que conhece a cidade como ninguém; e o
caráter local, perfil fortemente municipal, sem pretensões nem fôlego político para maior
envergadura.
Observado a organização do PMDB municipal no interior, percebemos
diferenças marcantes. Existem tanto órgãos locais que possuem identidade partidária e
enraizamento na sociedade, como é o caso do PMDB de Mombaça; quanto órgãos que
são estruturados apenas no período das eleições municipais, sendo o partido
sucessivamente colonizado por grupos políticos locais, como é o caso do PMDB de Nova
Olinda.
Na pesquisa de campo, foi observado que o PMDB de Mombaça apresenta
forte identidade partidária. A criação do PMDB/MDB remonta ao período do PSD na
política local. Mombaça foi durante o período militar estratégico para o MDB, sendo um
dos pouco municípios do Ceará onde o partido ocupou o governo municipal.
A forte presença do MDB no plano local se deu por intermédio da liderança
de dois políticos: o deputado estadual Francisco Castelo de Castro e o deputado federal
Paes de Andrade59. O advogado Castelo de Castro iniciou sua carreira política ocupando
o posto do Executivo municipal em Mombaça: prefeito nomeado (1944-1945) e prefeito
eleito (1959-1963) pelo PSD. Nas eleições de 1962 foi eleito deputado estadual pelo PSD.
Durante o período da ditadura militar, Castelo de Castro foi eleito deputado estadual em
quatro eleições seguidas (1966, 1970, 1974 e 1978).

58
Slogan utilizado pela campanha eleitoral de Juraci Magalhães por ocasião das inúmeras obras realizadas
na sua gestão.
59
Paes de Andrade ao longo de sua trajetória política cultivou uma relação com esse município, afirmando
que “Mombaça é meu universo político e sentimental” (NADER, 1998). Em um dos momentos que assumiu
provisoriamente o cargo de presidente da República, em 25 de fevereiro de 1989, visitou a cidade com o
avião presidencial, ficando conhecido como “presidente de Mombaça”.
132

O partido possuía estrutura partidária que envolvia desde a liderança de


deputado federal até a atuação de prefeitos e de vereadores. Era presidido por um notável
local, o coronel Francisco Martins de Melo Sobrinho. Este, apesar de não ocupar posto
eletivo, comandou a estrutura burocrática do partido.
O MDB obteve vitória para o Executivo municipal em Mombaça na primeira
eleição marcada pelo bipartidarismo, em 1966. Nesse pleito, foram eleitos o parteiro José
Marques de Sousa como prefeito e o irmão do então deputado estadual Castelo de Castro
(MDB), José Castelo de Castro, como vice-prefeito.
Nessa primeira gestão do MDB à frente do Executivo municipal (1967-1970),
o partido contou com a vantagem de possuir um conterrâneo que ocupava o Executivo
estadual. Embora o então governador Plácido Aderaldo Castelo tivesse sido nomeado pela
alta cúpula da ARENA no estado60, ele atuou para que o município fosse beneficiado com
obras de infraestrutura, como: primeiro hospital municipal, instalação de escolas,
eletrificação e pavimentação da sede do município.
O governador influenciou inclusive no desvio de uma rodovia estadual que
estava sendo construída, a CE-060, para que esta atravessasse o município de Mombaça.
Esta obra foi importante porque interligou Mombaça à capital do estado e permitiu que a
produção local de algodão fosse escoada. Cabe destacar que nesse período, o município
vivia seu boom econômico com a instalação de fábricas de beneficiamento de algodão e
de destilação de aguardente de cana de açúcar (CRUZ, 2011).
Nas eleições de 1970, utilizando o recurso da sublegenda, o partido se dividiu
ao apresentar três candidatos. O candidato mais votado do MDB, o agropecuarista e então
vereador José Venício de Lima Martins, perdeu a disputa para a ARENA. Este partido,
que também apresentou três sublegendas, teve como candidato mais votado o proprietário
rural José Jaime Benevides, que já tinha ocupado o posto do Executivo municipal pela
UDN durante dois mandatos (1951-1954; 1963-1966).
Em 1972, o candidato do MDB, José Venício de Lima Martins, perdeu
novamente a disputa para a ARENA. Este partido apresentou como candidato o ex-
promotor de Justiça em Mombaça (1964-1969), José Valdomiro Távora de Castro. Seu

60
A indicação do nome do então deputado estadual Plácido Castelo foi recebida com desconfiança pelos
políticos, pois este não tinha atuação relevante na ALECE e era filiado ao um partido inexpressivo, o Partido
Social Progressista (PSP). O então governador Virgílio Távora tinha indicado Adauto Bezerra, que era
então deputado estadual e um hábil político. Porém, como inicialmente os militares queriam neutralizar a
influência tanto de políticos tradicionais quanto a liderança de Virgílio Távora na política cearense, estes
não acataram essa recomendação. Prevaleceu a indicação do então senador Paulo Sarasate. Para mais
informações ver: CARVALHO (1999).
133

ingresso na política local ocorreu por meio da indicação de seu sogro, José Sidrão de
Alencar Benevides, então presidente do Diretório da ARENA em Mombaça.
Embora o MDB não tivesse obtido êxito em duas eleições seguidas, a
agremiação apresentava forte identidade partidária no município. As disputas eleitorais
eram acirradas e o MDB perdeu essas eleições por uma pequena diferença, 249 votos nas
eleições de 1970 e 322 em 1972.
Nas eleições de 1976, o MDB novamente conseguiu eleger seu candidato ao
Executivo municipal. Foram eleitos o ex-vereador Walderez Dinis Vieira como prefeito
e como vice-prefeito José Venício de Lima Martins, ex-vereador (1967-1970) e candidato
a prefeito em duas eleições (1970 e 1972). Essa vitória foi possibilitada pela fragilidade
interna da ARENA que estava dividida pela competição entre as suas lideranças locais.
O ex-prefeito José Jaime Benevides almejava ser candidato a prefeito, mas o então
prefeito Valdomiro Távora apoiou o seu cunhado, Emílio Gress. Nessa disputa interna,
José Jaime Benevides retirou sua candidatura e informalmente apoiou o MDB.
Posteriormente, o PMDB local herdou a estrutura organizacional e o capital
eleitoral do MDB. A agremiação continuou sendo presidida pela mesma liderança,
Francisco Martins. Durante a pesquisa de campo, os entrevistados constantemente
enfatizavam o passado de glória e seus vínculos políticos. Por exemplo, Diana Barreto,
secretária-geral do PMDB de Mombaça, ressaltou a memória política do período em que
seu tio, Plácido Castelo, foi governador nomeado na década de 1950; e Gerson Vieira
Neto, ex-presidente do partido, destacou o fato de seu pai, Walderez Dinis Vieira, ter sido
eleito prefeito em 1976.
O PMDB de Mombaça começou a se fragilizar por conta de seu principal
desafio ambiental: as eleições. Na sucessão eleitoral em 1982, a agremiação apresentava
disputa interna. De um lado, havia a facção que ocupava a arena governamental do
partido, liderada pelo então prefeito Walderez Diniz Vieira, e que articulava o lançamento
do então vice-prefeito, José Venício Martins, como candidato a prefeito. Do outro lado,
a coalizão dominante do partido, presidida por Francisco Martins, coordenava a
candidatura do primo do deputado estadual Castelo de Castro, Antônio Castelo Meireles.
O PMDB, utilizando-se do mecanismo de sublegenda, apresentou os dois
candidatos ao cargo de prefeito. Mas, assolado por esse conflito interno, o desempenho
eleitoral do partido foi penalizado. Podemos citar o fato de que a soma dos votos das duas
sublegendas do PMDB não ultrapassou os votos do candidato opositor, o ex-prefeito
134

Valdomiro Távora (PDS). Este candidato obteve 8.780 votos nessa disputa eleitoral,
contra 8.196 votos dos dois candidatos do PMDB.
Adaptando-se às modificações no ambiente externo, marcado pelo fraco
desempenho eleitoral no pleito municipal em 1982, o partido tomou uma decisão que
repercutiu ao longo de sua vida organizacional: a aliança eleitoral com o PDS/ARENA.
Essa estratégia de coligação foi alimentada pela facção de Castelo de Castro, que liderava
o partido após a morte do líder Francisco Martins. Castelo de Castro, que então ocupava
o posto de vice-governador, buscava construir uma base de sustentação política para o
PMDB no estado e a aliança com lideranças da antiga ARENA fazia parte dessa tática.
Nas eleições municipais de 1988, o PDS apresentou o candidato a prefeito, o
médico Nelson Benevides Teixeira; e o PMDB, o vice, o agropecuarista e presidente do
Diretório Municipal, Francisco José Brasil Barreto. No entanto, essa aliança entre
tradicionais grupos rivais apresentou alta rejeição, como percebemos no depoimento
abaixo:
Pra você ter uma ideia, o Nelson Benevides, ele, certa vez. ele chegou
com medo de perder. Pra uma pessoa que vinha lá de Fortaleza, ele
médico, não é? Com conhecimento. Como medo de perder. Porque o
seguinte, na época ele tinha que fazer cinquenta por cento mais um, né?
Porque se não havia uma outra eleição. Ele tava com medo de perder
pros [votos em] branco (GERSON VIEIRA NETO, ex-presidente do
PMDB de Mombaça, ocupou o cargo de vereador por três mandatos e
vice-prefeito por dois mandatos. Entrevista concedida ao autor em
15/10/2015).
Nesse pleito de 1988, houve o maior percentual de votos em branco no
município, que atingiu o percentual de 20,9%. Até um candidato de oposição, Nilson
Alves do Nascimento (PT), que não contava com estrutura partidária e capital político
eleitoral, obteve 16,3% dos votos. Esse resultado demonstrou que a oposição entre
PDS/ARENA e PMDB/MDB, que remontava a polarização entre UDN e PDS, ainda
estava presente para os eleitores61.
Essa coligação eleitoral fez com que o PMDB enfraquecesse, já que não era
oposição ao PDS. Como comentou um membro do partido: “o PMDB quase se acaba com
a morte de Chico Martins e com a coligação que foi feita. Isso começou a afundar o
partido” (DIANA BARRETO, secretária-geral do PMDB de Mombaça e ex-vice-prefeita.
Entrevista concedida ao autor em 15 e 16 /10/2015).

61
Essa polarização era tão acentuada no município que até meados da década de 1960 existiam dois clubes
sociais que não eram compartilhados por correligionários de partidos diferentes. Existia o Excelsior
frequentado pelos partidários da UDN e o Recreativo utilizado pelos correligionários do PDS (CRUZ,
2011).
135

Nas eleições municipais seguintes, o PMDB assumiu a posição de fiel da


balança na disputa política local. Manteve a aliança com Valdomiro Távora (PDS),
indicando o vice-prefeito em três eleições consecutivas: 1988 com Francisco José Brasil,
1992 com Walderez Diniz Vieira e 1996 com Diana Barreto.
Nas eleições de 2000, por intermédio de um acordo estabelecido com o então
presidente do Diretório Estadual, Eunício Oliveira, o PMDB de Mombaça se aliou ao
PSDB e apresentou candidatura própria. O candidato a prefeito foi o médico Newton
Benevides (PMDB), irmão do ex-prefeito Nelson Benevides, e o vice-prefeito foi o
empresário Ari Benevides Cavalcante (PSDB). Porém, essa chapa não foi eleita, obtendo
45% dos votos válidos, 9.585 votos.
Posteriormente, ocorreu aliança entre a facção político-familiar de Valdomiro
Távora (PP) e dos Benevides. Fazendo oposição a essa aliança, nas eleições de 2004, o
PMDB e o PSDB apresentaram candidatura. Foram lançados como candidatos os
vereadores Wilame Barreto Alencar (PSDB) e Gerson Cavalcante Vieira Neto (PMDB),
respectivamente postulantes ao cargo de prefeito e vice-prefeito. O candidato da situação
era o então vice-prefeito, Roberto Benevides de Castro (PP), advogado e filho de
Valdomiro Távora. Como foi acentuado nas entrevistas, apesar dessa candidatura ter sido
de resistência, a campanha ganhou força e a oposição venceu a disputa eleitoral. Essa
chapa PSDB/PMDB foi reeleita em 2008.
A posição de vice assumida pelo PMDB de Mombaça é percebida por alguns
de seus membros como o motivo de seu enfraquecimento ao logo das eleições. Como
percebemos abaixo:
Porque Castelinho [Castelo de Castro] era vice e vice é zero à esquerda.
É melhor você ser vereador, porque tem o direito de votar, de barganhar.
O prefeito precisa de você para votar as coisas dele. Você tem como
barganhar, entendeu? E vice só é mesmo o cargo. Se o prefeito não
quiser dar uma função, nem função ele tem. Você fica só com o seu
cargo, só recebendo seu salário e acabou-se a história! Para começo de
história, nem gabinete para o vice tem em Mombaça! Teve no tempo
do Wilame [Barreto Alencar], que o Wilame deu pro Gerson [Vieira
Neto]. Agora com o Ecildo [Evangelista Filho], a vice não tem nada
não. Na prefeitura, a vice não tem direito não. Não tem nem onde
despachar. É muito bom o vice para somar, pra conseguir votos para os
dois se elegeram, mas depois que eles se elegem... (DIANA
BARRETO, secretária-geral do PMDB de Mombaça e ex-vice-prefeita.
Entrevista concedida ao autor em 15 e 16 /10/2015).
Ao se afastar do poder público, o partido foi perdendo a capacidade de gerar
incentivos seletivos para atrair e manter militantes carreiras. Atrelado a isso, a agremiação
também não criava incentivos coletivos para atrair novos militantes crentes. Com isso, o
136

PMDB foi monopolizado por lideranças locais e consumido por “militantes infiéis”.
Como percebemos no seguinte comentário:
PMDB praticamente se acabou, ficou uma família só, só aqui em casa.
Ficou pouca gente. Com esse negócio dessas coligações eles foram
engolindo o PMDB. Primeiro para ser presidente do partido você
precisa ter estrutura, o Coronel Chico Martins [antigo presidente] tinha
estrutura muito bonita. Ele era muito rico, era um senhor já de idade e
tinha aquela posição como se fosse fidalgo e todo mundo respeitava e
tinha aqueles mais velhos que diziam: “meu pai morreu, mas eu
continuo no PMDB, por causa do meu pai”. Hoje você não tem mais
isso. Não existe mais fidelidade, são conveniências. Eu tô aqui,
apertado aqui, e vem o prefeito e diz: “venha pra mim que lhe dou tanto”
(DIANA BARRETO, secretária-geral do PMDB de Mombaça e ex-
vice-prefeita. Entrevista concedida ao autor em 15 e 16 /10/2015).
Para enfatizar sua fidelidade ao PMDB, Diana Barreto citou o caso da
fundação do PSDB no município, como percebemos: “na criação do PSDB, o prefeito
Nelson Benevides convidou meu marido [Francisco José Brasil], que era seu vice, para
compor a legenda. Ele não foi, ficou no PMDB junto com Paes de Andrade” (DIANA
BARRETO, secretária-geral do PMDB de Mombaça e ex-vice-prefeita. Entrevista
concedida ao autor em 15 e 16 /10/2015). Percebe-se que mesmo o partido enfrentando
situações de enfraquecimento eleitoral, a facção política local não migrou para outros
partidos. Essa identidade partidária é distinta da encontrada no PMDB de Nova Olinda,
como veremos adiante.
Observando o percentual de votos de deputados federais do PMDB nesse
município, percebemos que Mombaça foi ao longo do tempo estratégico para o PMDB
estadual. Por apresentar média magnitude eleitoral, em torno de 33 mil eleitores, e por ser
base eleitoral de importantes lideranças estaduais do partido, como Paes de Andrade e
depois Eunício Oliveira, a política local no município foi centralizada pelo Diretório
Estadual. Os acordos envolvendo as eleições municipais eram debatidos com a liderança
estadual para poder potencializar as eleições dos deputados federais do partido.
Nas eleições de 1982 e 1986, o candidato a deputado federal Paes de Andrade
obteve no município mais de 40% dos votos válidos, respectivamente 7.362 votos e 4.108
votos. Como vimos anteriormente, o PMDB local fazia oposição ao PDS, herdando a
disputa histórica entre MDB versus ARENA e PDS versus UDN. Porém, nas eleições de
1990, o PMDB local, seguindo orientações do Diretório Estadual, fez aliança com o PDS
e apoiou um candidato a deputado federal desse partido, Carlos Virgílio Távora (PDS).
Nas eleições seguintes, em 1994, ainda em composição com o PDS/PP, Paes de Andrade
obteve a metade dos votos válidos, 7.011 votos.
137

Em 1998, o líder político local do PP, Valdomiro Távora, desertou do suporte


eleitoral ao PMDB e apoiou um deputado do PSDB, Leonardo Alcântara (PSDB), filho
do então senador Lúcio Alcântara (PSDB), que obteve 7.487 votos, 47,8% dos votos
válidos. Nessa eleição, percebemos o declínio da influência política do PMDB, o
candidato a deputado federal, Eunício Oliveira, obteve 15,8% dos votos válidos, 2.320
votos e o candidato a deputado estadual, o ex-prefeito Walderez Diniz Vieira, líder do
PMDB local, obteve baixa votação, 2.644 votos, e não foi eleito.
A renúncia do apoio eleitoral de Valdomiro Távora (PP) ao líder estadual do
PMDB, o deputado federal Eunício Oliveira, acarretou o rompimento político do PMDB
de Mombaça com essa liderança. À época, este partido ocupava o cargo na vice prefeitura
na coligação com o PP.
O Diretório Estadual, buscando potencializar a votação dos candidatos a
deputado federal em Mombaça, estabeleceu aliança com o PSDB local. Percebemos que
o partido conseguiu aumentar o desempenho eleitoral nas eleições para deputado federal
no município. Como observamos na votação de Paes de Andrade em 2002 e de Eunício
Oliveira em 2006, que obtiveram respectivamente 4.525 votos (22% dos votos válidos) e
7.490 votos (33% dos votos válidos). Nas eleições de 2010, o candidato a deputado
federal do PMDB, Mauro Benevides, obteve votação no município, 5.391 votos, 26% dos
votos válidos. No entanto, este não foi apoiado pela coalizão dominante do PMDB, mas
por um vereador do PSDB, Ecildo Evangelista Filho.
Percebemos que historicamente a formação de alianças políticas no município
envolveu ampla negociação com as lideranças estaduais do partido, uma vez que o
município é estratégico para as eleições do partido. Como foi relatado na pesquisa de
campo, em cada ciclo eleitoral Eunício Oliveira se reunia com os dirigentes do PMDB de
Mombaça para firmar as estratégias eleitorais. Essas reuniões, como narrado tanto por
Diana Barreto quanto por Gerson Vieira Neto, ocorriam de forma informal no
apartamento do Eunício Oliveira.
Já o PMDB de Nova Olinda apresenta características distintas. A única
similaridade é que também o MDB no município foi organizado a partir de lideranças
locais antes vinculadas ao PDS, como o agropecuarista Celso Matos Cordeiro. O partido
apresentou baixo rendimento eleitoral no município durante a ditadura militar. Nas
eleições de 1966, o então presidente do partido, Celso Matos Cordeiro, foi candidato a
prefeito, mas não foi eleito, obtendo 453 votos, 41% dos votos válidos. O partido só
voltou a apresentar candidato ao Executivo municipal nas eleições de 1976, porém
138

mostrava-se fragmentado ao lançar candidatos em duas sublegendas. O partido obteve


baixo desempenho eleitoral. A sublegenda do PMDB que mais obteve votos, que tinha
como candidato a prefeito o agropecuarista Raimundo Nonato Sampaio, alcançou 21%
dos votos válidos (621 votos).
No processo de transformação do partido em PMDB, a presidência da
agremiação foi assumida por Raimundo Nonato Sampaio. Este foi novamente candidato
a prefeito em 1982 e em 1988, mas não obteve sucesso eleitoral, obtendo respectivamente
1.050 votos (35% dos votos válidos) e 1.062 votos (26%). Após a última eleição,
Raimundo Sampaio se afastou do comando direto do PMDB e a agremiação passou a ser
liderada por seu filho, Afonso Domingos Sampaio, eleito vereador em 1988. Durante o
mandato de Afonso Sampaio, este se aproximou do prefeito José Alencar Alves (PFL) e
nas eleições municipais de 1992, o partido, sob sua gestão, não apresentou candidato
próprio ao Executivo municipal, apoiando a candidatura do sucessor do então prefeito, o
empresário local Francisco Idemar Alves de Alencar (PDT). O PMDB estava fragilizado
e teve apenas um candidato eleito no Legislativo, o político profissional Osvaldo Geraldo
de Sousa. Este já tinha sido eleito vereador em três eleições consecutivas (1976, 1982 e
1988) e depois dessa eleição assumiu o comando do partido.
Com o enfraquecimento político das lideranças locais que lideravam o PMDB
em Nova Olinda, o Diretório Estadual acatou a filiação da facção do ex-prefeito José
Alencar Alves. Este tinha procurado o Diretório Estadual para apresentar candidatura nas
eleições municipais de 1996. A esposa de José Alencar, Fábia Brito Alencar Alves, foi
eleita prefeita nessa eleição, mas o PMDB elegeu apenas um vereador, Alberto Calisto
Alencar, que integrava também a facção de José Alencar Alves.
Em 1997, atendendo ao convite da Secretaria de Governo do estado, que tinha
Tasso Jereissati (PSDB) como governador, a então prefeita Fábia Brito Alencar Alves
migrou para o PSDB. No entanto, membros de sua facção política continuavam
presidindo a Comissão Provisório do PMDB no município. Nas eleições de 2000, o
PMDB participou da coligação eleitoral que tinha Fábia Brito Alencar Alves (PSDB)
como candidata à reeleição. Essa coligação foi vitoriosa, porém o PMDB não conseguiu
eleger nenhum dos quatro candidatos ao Legislativo, inclusive o ex-vereador Osvaldo
Geraldo de Sousa não foi eleito pela segunda eleição consecutiva, em 1996 e 2000.
Articulando as eleições de 2004, uma facção política local procurou o
Diretório Estadual do PMDB para apresentar candidatura própria ao Executivo. Esse
grupo, que faziam oposição a José Alencar Alves, tinha o agropecuarista Francisco Jucinê
139

Sampaio de Oliveira como principal liderança. Embora o PMDB não tivesse obtido
sucesso eleitoral nessa disputa ao Executivo municipal, tendo o candidato alcançado
3.277 votos (41% dos votos válidos), conseguiu recuperar a representatividade na Câmara
Municipal, ocupando 2 das 9 vagas.
Nas eleições municipais de 2008, o partido foi colonizado por outra facção
política local. Um empresário, Elízio Manoel Galdino, que há pouco tempo tinha se
instalado no município, assumiu a liderança do partido. Este já tinha sido eleito vereador
pelo PMDB em Juazeiro (1976 e 1982) e Sobradinho (1988), ambos municípios da Bahia.
Quando foi morar em Nova Olinda, filiou-se ao PMDB local e procurou o Diretório
Estadual do partido para articular as eleições locais de 2008. Este tinha recebido o convite
do então prefeito, Afonso Sampaio (PSDB), para ser candidato a vice-prefeito na sua
candidatura de reeleição. Nessa eleição de 2008, o partido conseguiu ocupar a vice
prefeitura e uma vaga na Câmara, sendo eleito o primo do prefeito, Francisco Ronaldo
Sampaio.
Pelos dados apresentados, observa-se que a organização é estruturada apenas
para disputar as eleições municipais, sendo colonizada por distintos grupos políticos
locais que muitas vezes são antagonistas na disputa local. O partido não apresenta
identidade política, adquirindo a conformação de acordo com a facção que o lidera.
A agremiação é usada de forma instrumental pelas elites locais, visto que no
plano estadual o partido apresenta lideranças com forte capital político que podem render
relações políticas futuras para políticos locais. O partido cumpre a função de fazer o
vínculo entre as lideranças locais (prefeito, vereador ou cabo eleitoral) e as lideranças
estaduais (presidente do partido e deputados). Assim, ter o controle e a posse de um
partido que tem influência no plano estadual e até federal conta como capital político para
a liderança local, pois significa que ele tem trânsito com políticos de influência na arena
estadual.
Quando o então presidente do PMDB de Nova Olinda foi questionado se fazia
diferença estar no PMDB, ele respondeu que:
Faz, porque você pra estar num partido, você tem que ter amizade com
os seus diretores [com o Diretório Estadual]. É o que eu disse, apoio
moral ele me dá. Eu tenho segurança que ele não dá o partido a outro.
Porque eu sou fiel a eles, tá entendendo? Então, são essas coisas que
você tem que ver do partido. Porque partido nenhum, pelos menos
nessas cidades pequenas aqui, não manda nada não, nenhum! Não é só
o PMDB, não! Então, você tem que ter aquela segurança que aquele
pessoal, o presidente do partido, o vice-presidente, tudo, são pessoas
que confiam em você e que são fiéis a você e você tem que ser fiel a
140

eles. Porque existem muitos casos assim: o cara não é fiel ao


presidente e o presidente vai e toma o partido dele na véspera da
eleição, aí ele... a situação fica difícil, né? Então essa é a vantagem. Eu
tô lá porque confio em Eunício [Oliveira] e o Eunício confia em mim.
Confio no vice-presidente [Gaudêncio Lucena] e ele confia em mim.
Toda vida eu trabalhei em política foi assim, aquela confiança
[mútua], porque se for só de dinheiro não adianta que não funciona.
Nem eu peço ... eu faço o que minhas condições dão. E já pra não ter o
poder de não tá sendo humilhado a ninguém, nem ser omisso a
ninguém. Eu faço aquilo que eu acho que tá certo pra mim, apenas eu
combino, eu procuro ter o entendimento, mas for chegar e “não! Você
tem que fazer isso aí!” [Suposição da Direção Estadual dando ordens a
ele]. Eu não aceito (ELÍSIO GALDINO, presidente do PMDB de Nova
Olinda e atual vice-prefeito. Entrevista concedida ao autor em
20/09/2015, grifo nosso).
Pelo depoimento, percebe-se que entre o presidente do PMDB de Nova
Olinda e o Diretório Estadual existe uma relação tradicional de fidelidade e confiança.
Durante a gestão de Elísio Galdino como presidente, que assumiu o comando em 2008,
percebemos que a agremiação apresentou estabilidade organizacional, sendo liderada pela
mesma facção política desde então.
Analisada a estrutura organizativa do partido no plano estadual e municipal,
vamos investigar o grau de centralização das decisões partidárias.

2.3- Grau de centralização nas eleições


Tanto nas eleições municipais de 2012 quanto nas eleições gerais de 2014, o
Diretório Nacional do PMDB não instituiu regulamentação quanto a escolha de
candidatos ou formação de coligações. O partido publicou instruções normativas para
definir os critérios de aplicação dos recursos financeiros recebidos por pessoas físicas ou
jurídicas. A normatização é a mesma para as eleições de 2012 e 2014, como vemos nos
dois artigos abaixo:
Art. 1º - Os recursos financeiros recebidos de pessoas físicas ou
jurídicas destinados as campanhas eleitorais, respeitados os limites
legais, serão de responsabilidade exclusiva dos respectivos órgãos
partidários arrecadadores, assim como sua destinação e prestação de
contas.
Art. 2º - Os recursos financeiros de pessoas físicas e jurídicas que forem
arrecadados pelo Diretório Nacional, bem como os recursos do Fundo
Partidário que forem revertidos às campanhas eleitorais terão suas
destinações previamente autorizadas pelo Presidente Nacional do
Partido (PARTIDO DO MOVIMENTO DEMOCRÁTICO
BRASILEIRO. Instrução Normativa nº 001/2014).
A única diferença entre as duas instruções normativas de 2012 e de 2014 é
que nas eleições municipais de 2012 era necessário também a autorização do tesoureiro
141

nacional para a transferência de recursos do Diretório Nacional as campanhas eleitorais.


Essa informação demonstra que embora o partido não centralizasse nacionalmente as
decisões como escolha de candidatos e formação de alianças, os recursos financeiros eram
concentrados e distribuídos pelo Diretório Nacional.
Para disputar as eleições municipais de 2012 no Ceará, o PMDB contava com
178 órgãos partidários locais (96,7% dos municípios), sendo 107 Diretórios e 71
Comissões Provisórias. A partir dessa capilaridade organizacional, o presidente do
Diretório Estadual, Eunício Oliveira, organizou o lançamento das candidaturas do
partido, como destacado pelo título da matéria na imprensa local: “PMDB promove
convenções em 78 municípios” (O POVO, 22 jun. 2012).
Para a disputa dos cargos do Executivo municipal, o PMDB apresentou 52
candidatos ao cargo de prefeito, abrangendo 28% dos municípios do estado. Dessas
candidaturas, 38 campanhas podem ser consideradas competitivas62. Analisar a
quantidade de campanhas competitivas para medir a força organizacional e eleitoral de
agremiações partidárias faz-se necessário, já que a mera apresentação numérica de
candidatos não mede com precisão o desempenho eleitoral da agremiação. Isso porque o
partido pode assumir a estratégia de lançar candidato pouco competitivo apenas para
demarcar posição na disputa eleitoral, para barganhar apoio futuro no segundo turno ou
para negociar a montagem da coalizão de governo.
O partido conseguiu eleger 20 prefeitos (10,8% das prefeituras no estado),
destacando-se as vitórias obtidas em municípios de média magnitude eleitoral, como:
Juazeiro do Norte (166.037 eleitores), Crato (85.084 eleitores), Morada Nova (57.086
eleitores) e Tauá (44.041 eleitores).
Para o cargo de vice-prefeito, o partido apresentou 54 candidatos, sendo que
93% deles participavam de coligações com outros partidos de amplo espectro ideológico,
abrangendo do PCdoB ao PP. Foram eleitos 30 vice-prefeitos (16% do total). Cabe
destacar que o partido conseguiu eleger o vice-prefeito da capital do estado, o que confere
oportunidade de visibilidade política. Percebe-se que a presença do PMDB nessa eleição
se deu com mais ênfase no cargo de vice-prefeito do que no de prefeito, tanto no número
de candidatos apresentados quanto no de eleitos.
O partido apresentou chapa “puro-sangue” para o Executivo municipal em
apenas quatro municípios, sendo em sua maioria candidaturas pouco competitivas.

62
A adoção desse critério assume que um candidato é competitivo quando obtém o percentual acima de
40% dos votos válidos.
142

Observando os dados eleitorais, percebemos que apenas o candidato do município de


Milagres era competitivo, conseguindo, inclusive, vencer a disputa eleitoral com 52,45%
dos votos válidos. Nos outros três municípios, percebemos fraco desempenho eleitoral,
como Mombaça (16,51%), Ipu (3,2%) e Paracuru (0,76%).
Diante desses dados, levanta-se a hipótese de que, nesses casos, a ausência de
coligação para as eleições majoritárias parece não indicar fortalecimento da legenda
mediante a avaliação de que tal coligação não seria necessária. Ao contrário, a ausência
de alianças políticas que poderia potencializar a campanha de candidatos não
competitivos revela fragilidade do partido.
Na disputa para o Legislativo municipal, o partido apresentou 889 candidatos
(7% do total de candidatos a esse cargo), sendo eleitos 247 vereadores (11%). Essa oferta
de candidatos ao Legislativo abrangeu 156 municípios (84% do território). Quando
observamos a quantidade de municípios em que o PMDB elegeu no mínimo um vereador,
percebemos que o partido possuía densidade eleitoral, pois conseguiu representatividade
em 108 Câmaras Municipais, abrangendo 58% dos municípios do estado.
Com os saldos positivos das eleições municipais de 2012, o PMDB se
preparou para assumir o papel de protagonista na disputa estadual de 2014. Até então a
agremiação apresentava estratégia de adaptação do ambiente, de sobrevivência no vácuo
de poder deixado por partidos maiores e mais poderosos, como o PSDB na década de
1990 e o PSB depois das eleições estaduais de 2006. Na eleição de 2014, o partido
assumiu a estratégia de domínio do ambiente eleitoral, buscando expandir a organização
e maximizar os votos.
Essa mudança de estratégia do partido, de adaptação à modificação do
ambiente, pode ser observada na seguinte fala: “em 2010, houve uma chacoalhada geral
de participação dentro do partido. Ele passou a ser enxergado como um partido que tem
um projeto real, próprio, de poder” (ROSÂNGELA AGUIAR, delegada do partido e
presidente do PMDB-Mulher. Entrevista concedida ao autor em 17/11/2015). Esse
movimento de participação alimentou a ideia de lançar candidato próprio ao Executivo
estadual, fato que não acontecia desde a aliança política com Cid Ferreira Gomes nas
eleições de 2006.
Exposto o ambienta de disputa política través dos dados mais gerais sobre as
eleições, vamos analisar os conjuntos das variáveis de articulação entre as instâncias
partidárias para mensurar o grau de centralização desses partidos no que tange às decisões
eleitorais
143

a) Formação de aliança e coligação


Quando analisamos a atividade do Diretório Estadual do PMDB no que tange
ao estabelecimento de coligação no plano municipal, percebemos ambiguidade. No plano
formal, segundo o estatuto do partido de 2007, o Diretório Municipal e Zonal tem
competência para decidir sobre as questões locais, desde que respeite as decisões dos
órgãos superiores, como o Diretório Estadual e o Diretório Nacional (Artigo 92). Nas
eleições de 2012, os Diretórios hierarquicamente superiores ao Diretório Municipal não
publicaram nenhuma resolução especificando a política de aliança e coligação eleitoral.
Nesse caso, os Diretórios Municipais teriam autonomia para estabelecer a política
eleitoral no âmbito da sua jurisdição.
Porém, quando realizamos a pesquisa de campo nos Diretórios Municipais,
percebemos que esses órgãos não possuem ampla autonomia. No plano informal,
percebe-se a centralização por parte do líder do partido. Nota-se que a instância estadual
exerce controle por meio de relações pessoais que envolvem os membros da Executiva
do Diretório Estadual e as lideranças locais do partido.
O secretário-geral do partido, João Alves Melo, afirmou que “existe uma
ampla gama de situações que envolvem as alianças locais” do PMDB. Existe caso de o
Diretório Estadual receber a visita dos dirigentes partidários locais para negociar a
política de aliança local. Em outras situações, o órgão partidário estadual conduz
diretamente as negociações com os partidos para montar a aliança e a coligação, sendo
estabelecida a política de aliança de cima para baixo. Mas, como é ressaltado pelo
entrevistado, o que tem em comum nos dois casos “é um entendimento com Eunício
[Oliveira]. Ele senta e escuta as lideranças para conduzir as alianças” (JOÃO ALVES
MELO, secretário-geral do PMDB-CE. Entrevista concedida ao autor em 17/11/2015).
Na pesquisa de campo, percebemos graus distintos de controle sobre a
formação de alianças municipais. O grau de centralização varia de acordo com a
relevância estratégica do município para o partido. Essa relevância é percebida por meio
de dois pontos: tamanho do eleitorado e proximidade dos dirigentes partidários locais
com o líder estadual do partido. Quanto maior for a magnitude eleitoral e mais coesão
existir entre as lideranças partidárias, maior será a centralização.
Em Fortaleza, percebemos que o Diretório Estadual centralizou essas
decisões de estratégia eleitoral. A política de aliança no Diretório Municipal de Fortaleza
é dependente da estratégia eleitoral para as eleições estaduais. Nas eleições de 2012, o
PMDB em Fortaleza seguiu a ampla aliança liderada pelo então governador Cid Ferreira
144

Gomes (PSB)63. Nesse acordo, o PSB apresentou candidatura própria, não apoiando o
candidato à sucessão do PT.
Como vimos anteriormente, o PMDB de Fortaleza está organizado como
Comissão Provisória, sendo tutelado pelo Diretório Estadual. Na entrevista realizada com
o então presidente desse órgão partidário, Willame Correia, este afirmou que não percebe
nenhum problema nessa falta de autonomia do plano municipal, como observamos
abaixo:
Na verdade, o PMDB de Fortaleza deve muito a liderança do Eunício
[Oliveira]. Se não fosse o empenho político, a determinação dele em
conduzir as atividades do partido, o PMDB aqui não estava fortalecido.
Eu não vejo problema da gente seguir as determinações que ele
estabelecer. Ele é uma liderança nacional, ocupa lugar central no
Senado, então é muito natural que ele tenha uma visão melhor do que a
gente que está aqui na base, nas atividades cotidianas do partido. Sei
que ele quer o melhor para o partido, então porque não seguir, né? [...]
Assim, eu não percebo que a gente tenha menos autonomia por ser
Comissão Provisória, pois mesmo que fosse Diretório nós seguiríamos
Eunício [Oliveira]. (WILLAME CORREIA, presidente do PMDB de
Fortaleza. Entrevista concedida ao autor em 19/11/2015).
Pelo depoimento, percebemos que o presidente do PMDB de Fortaleza possui
forte relação com o líder partidário estadual. Essa fala coloca Eunício Oliveira como
liderança que possui expertise política necessária para conduzir o partido. Essa liderança
controlaria de tal forma a gestão das relações com o ambiente que guiaria o partido para
o estabelecimento de agenda política estratégica, sem que para isso seja necessário
negociar com os dirigentes partidários do plano municipal. O líder ocuparia a posição de
“secante marginal” (PANEBIANCO [1982]) ao participar de dois sistemas de ação, um
interno ao partido e outro formado pela relação entre o partido e o ambiente.
Essa fidelidade do presidente do PMDB de Fortaleza ao líder Eunício Oliveira
é percebida com desconfiança por algumas lideranças dentro do partido. Willame Correia
até então nunca tinha disputado nenhum cargo eletivo e também não possuía capital
político extra organização. Na pesquisa de campo, observou-se comentários de que a sua
indicação como presidente foi feita diretamente por Eunício Oliveira porque este tinha
segurança da sua “fidelidade cega”.
Na entrevista com Willame Correia foi possível perceber que seu domínio
sobre a história do partido e sobre as relações político-organizativas internas eram
limitados. Houve insegurança em suas falas sobre aspectos organizacionais do partido e

63
Essa aliança envolvia 13 partidos: PRB / PP / PTB / PMDB / PSL / PSDC / PHS / PMN / PTC / PSB /
PRP / PSD / PT do B.
145

sobre as eleições, como se ele não soubesse informar ou não tivesse confiança de que os
dados fornecidos na entrevista pudessem ser divulgados. Assim, deduz-se que a ocupação
desse membro como presidente do principal órgão municipal do estado não se deve a sua
expertise para conduzir a organização, mas a sua fidelidade ao líder partidário.
Na pesquisa de campo, percebeu-se também que o Diretório Estadual teve
autonomia para definir o arco de alianças local. Essa decisão não passou pelo Diretório
Nacional, pelas instâncias burocráticas da Comissão Executiva Nacional. Em entrevista,
o presidente do PMDB de Fortaleza pontuou essa relação:
Eu acho o seguinte: todo partido, que tenha sua Executiva Nacional,
eles procuram ver a questão é local. Se a questão local do PMDB, nosso
PMDB, é se coligar com um partido que não esteja na base junto, na
composição nacional, isso não terá problema. Chega um ponto que até
a composição nacional irá de uma forma entender, entender que a
questão é local. O PMDB tem que procurar administrar melhor essa
questão. A gente vê, não é só no PMDB. Em outros partidos sempre há
questão que um candidato é de um partido, [mas] muitas vezes não é
simpatizante a nível nacional do Diretório Nacional e quer se aliar a um
partido a, b ou c. Mas, como o partido sabe, a importância do partido é
ganhar as eleições e ganhar a frente majoritária, a administração
majoritária. Ás vezes, [em] muita questão até há um entendimento de
liberar (WILLAME CORREIA, presidente do PMDB de Fortaleza.
Entrevista concedida ao autor em 19/11/2015).
Nesse aspecto, a agremiação assume postura pragmática de ganhar eleição e
autoriza as instâncias estadual e local a celebração de alianças que permitam ao partido
dividendos eleitorais. Busca-se ou ganhar as eleições, elegendo o Executivo e o máximo
de candidatos ao Legislativo; ou maximizar os votos, tornando-se ator imprescindível
para compor a coalizão de governo. O perfil ideológico das coligações no âmbito nacional
é minimizado diante da decisão da conjuntura política local.
Quando examinamos as eleições municipais em Mombaça, percebe-se como
o presidente do Diretório Estadual centraliza informalmente o processo decisório. Na
pesquisa de campo, foi acentuado que historicamente o arco de aliança local é debatido e
discutido com Eunício Oliveira por meio de reuniões informais em seu apartamento ou
na sede do Diretório Estadual do PMDB.
Muitos dos acordos políticos, coligações eleitorais e lançamento de
candidatura para o Executivo local eram estabelecidos no âmbito do Diretório Estadual
que negociava com lideranças que integravam o Diretório Municipal. Uma
exemplificação dessa relação entre as duas instâncias do partido foi citada por um
entrevistado ao descrever a aliança com o PSDB nas eleições de 2000 em Mombaça, pois
“(...) já foi feita essa coligação, lá de cima já veio. Sempre a gente de acordo com Eunício
146

Oliveira” (GERSON VIEIRA NETO, ex-presidente do PMDB de Mombaça, ocupou o


cargo de vereador por três mandatos e vice-prefeito por dois mandatos. Entrevista
concedida ao autor em 15/10/2015).
Nas eleições de 2012, o presidente do PMDB em Mombaça era Wellington
Barreto. Este pertence a uma tradicional família local que desde o período do MDB é
vinculada ao partido, é sobrinho de Francisco José Brasil Barreto que ocupou pela
agremiação o cargo de vereador (1983-1988) e vice-prefeito (1989-1992). Por essa
relação de proximidade, as negociações eram estabelecidas diretamente com o líder do
partido, sem passar pelos órgãos burocráticos do Diretório Estadual. Nessa eleição de
2012, por exemplo, o PMDB rompeu a aliança local que tinha com o PSDB, mas isso só
foi possível porque foi negociado com a liderança estadual.
Analisando as eleições em Nova Olinda teremos mais elementos para
mensurar esse processo de centralização informal. Embora a estrutura burocrática do
Diretório Estadual exerça pouca ingerência no PMDB de Nova Olinda, percebemos que
a centralização se dá informalmente por intermédio da relação de confiança estabelecida
entre Eunício Oliveira e o presidente do órgão partidário municipal, Elízio Galdino.
Nas eleições de 2012 em Nova Olinda, o PMDB local renovou a coligação
estabelecida desde 2008 com a facção política liderada pelo prefeito Afonso Sampaio
(PSDB). Este foi prefeito por dois mandatos consecutivos (2005-2012) e, na
impossibilidade de ser candidato novamente em 2012, indicou seu primo, Ronaldo
Sampaio (PSD), como candidato a prefeito. O PMDB, por intermédio de Elízio Galdino,
permaneceu ocupando o cargo de vice-prefeito.
Embora formalmente pelo estatuto do partido o presidente do órgão partidário
municipal, Elízio Galdino, tivesse autonomia para decidir sobre a disputa eleitoral no
plano local, este foi solicitar a Eunício Oliveira a legenda do partido para ser candidato.
Esse dirigente local ressaltou que o partido em Nova Olinda goza de autonomia relativa.
Informou que, como presidente do partido, tem liberdade nas questões burocráticas e
organizacionais, como: regularidade das reuniões, debates políticos, número de filiados e
pagamento da taxa partidária. Porém, quando é necessário tomar qualquer decisão
estratégica como as alianças e coligações, é imperativo uma conversa com Eunício
Oliveira. Caso contrário, o partido sofre intervenção da cúpula estadual. Como
constatamos abaixo:
Não tem, assim, intervenção porque eu geralmente, antes de tomar
qualquer decisão, eu antes converso com Eunício. “Eunício [Oliveira],
147

eu tô precisando fazer isso, isso. Quê que você acha?”. “Ah, veja lá...”.
“Não, mas essa opção e essa, qual que você acha melhor?”. Tá
entendendo? Mas ele chegar e intervir por isso, por aquilo, nunca.
Geralmente eu converso com ele pra não ter atrito, pra não ter problema
(ELÍZIO GALDINO, presidente do Diretório do PMDB e atual vice-
prefeito. Entrevista concedida ao autor em 20/09/2015).
Pelo depoimento acima, percebe-se que o líder do Diretório Estadual
desenvolve sistema de lealdade dentro da agremiação. A tomada de decisão não passa por
canais formais e burocráticos, mas por relações de confiança e deferência à liderança do
partido. Na fala abaixo, observamos isso com mais clareza:
Eunício [Oliveira] é aquela pessoa que sabe quem são as pessoas fiéis
a ele. Uma pessoa que é fiel a ele, ele nem exige, só conversa. Não tem
esse negócio de “você tem que (...)”. Ele não é de exigir de ninguém.
Por exemplo: eu sou do PMDB; se eu não apoiasse ele, ele não ia gostar,
claro! Mas ele ia ficar na dele. Na época lá, ele não mexeria. Agora ele
podia mexer, tomar o partido, isso ou aquilo outro. Mas na época, ele
não mexe. Eu acho correto a coerência da parte dele. Porque ninguém
é obrigado a votar em ninguém, o fato deu gostar dele, porque de
repente eu podia não querer. Mas eu, no meu caso, se eu fosse fazer um
negócio desse, eu tinha pegado o partido e tinha entregado a ele. “Não
vou votar em você”. Eu acho errado é você tá num partido, não ser fiel
a seu partido e querer manter o partido (ELÍZIO GALDINO, presidente
do Diretório do PMDB e atual vice-prefeito. Entrevista concedida ao
autor em 20/09/2015).
O presidente do PMDB no município, Elízio Galdino, comentou que o
Diretório Estadual não se envolve nas decisões cotidianas do Diretório Municipal, não
especifica diretamente as alianças ou candidatos. Porém, as decisões que o partido toma
precisam ser em alguma medida negociadas com Eunício Oliveira.
O colaborador citou um caso que esclarece como ocorre essa relação entre as
instâncias partidárias. No episódio mencionado, foi relatado que uma liderança política
local, que tinha inclusive maior capital político do que Elízio Galdino, queria o comando
do PMDB no município. Caso essa liderança tivesse obtivesse a presidência da
agremiação, a autoridade de Elízio Galdino seria ocultada. No entanto, por possuir “boa
relação” com Eunício Oliveira, a direção foi mantida com Elízio Galdino. Como
percebemos abaixo:
Por sinal, houve um fato passado em que um prefeito [Afonso
Sampaio], um ex-prefeito, quis tomar o partido e foi falar com o Eunício
[Oliveira]. Aí o Eunício disse: “Rapaz, não tem problema você vir para
o PMDB, não, você conhece Cabeludo [Elízio Galdino]? Você é amigo
do Cabeludo? Pronto, converse com Cabeludo, você é amigo dele. Tá
tudo fácil”. Aí disse: “Não, mas Cabeludo só lhe deu tantos votos, eu
lhe dou mais tantos votos”. Aí Eunício disse: “Olha, é, prefeito… Eu
trabalho com qualidade, não é com quantidade. Cabeludo me deu essa,
mas é a votação que ele me dá sempre, e não é de tá exigindo nada e é
148

uma pessoa fiel a mim! [ênfase na frase ‘fiel a mim’]. Então eu trabalho
com essas pessoas fiéis a mim. Sua votação pra mim nunca conta, não”
(ELÍZIO GALDINO, presidente do Diretório do PMDB e atual vice-
prefeito. Entrevista concedida ao autor em 20/09/2015).
Constata-se então que essa “boa relação” é percebida por meio da fidelidade
no apoio político à liderança estadual do PMDB e na lealdade nos compromissos
assumidos. Isso garante que a máquina partidária continue sendo liderada por sua facção
política e que o partido não fosse “tomado” por nenhuma outra liderança.
Notamos que, no plano formal, os Diretórios Municipais possuem autonomia
no que tange as decisões eleitorais, como lançar candidatos e estabelecer alianças e
coligações. Nesse aspecto, cabe à instância deliberativa local, a Convenção Municipal,
definir a sua política eleitoral. No entanto, observando empiricamente as decisões
eleitorais a partir da pesquisa de campo, percebemos que os Diretórios Municipais
apresentam graus variados de descentralização.
Predomina centralização informal em que as deliberações eleitorais nos
municípios são negociadas entre as lideranças locais e estaduais do partido. Por essa
característica, a distinção entre Diretório e Comissão Provisória é amenizada. Ainda que
o órgão partidário municipal seja estruturado como Diretório, caso suas lideranças não
possuam relação próxima com o líder partidário ou com membros da Comissão Executiva
Estadual, esse órgão dificilmente terá autonomia e acesso aos recursos distribuídos pela
direção partidária. Já o oposto pode acontecer. Um órgão estruturado como Comissão
Provisória, cujas lideranças locais estejam alinhadas com o Diretório Estadual, terá acesso
privilegiado aos recursos.
Observando a eleição estadual, percebemos que o Diretório Estadual do
Ceará tem autonomia para definir sua política de aliança e coligação. Como ressaltado
por Ferreira (2002), esse partido teve sua gênese e institucionalização marcadas por alto
grau de autonomia das instâncias estaduais.
Cabe destacar que, como foi verificado na pesquisa de campo, o processo de
formação de aliança e coligação eleitoral do partido não passa pelos canais formais de
decisão partidária. A escolha dos aliados é feita pelo líder do partido que informa aos
membros do Diretório Estadual a política de aliança que será adotada.
Apesar dessa autonomia da liderança estadual, percebe-se que existe
negociação com o Diretório Nacional do partido. Nesse caso, predomina a mesma
racionalidade das eleições municipais: o partido dá autonomia para eleger a maior
quantidade de candidatos e maximizar os votos.
149

No início das articulações das eleições estaduais de 2014, o PMDB


continuava na aliança com o então governador Cid Ferreira Gomes. Como este não
poderia se candidatar novamente ao cargo, visto que já estava no segundo mandato, o
PMDB tinha expectativa de assumir o governo estadual. Esse sentimento foi alimentado
pelo fato de Cid Ferreira Gomes ter rompido com o PT nas eleições municipais de 2012
em Fortaleza, estreitando laços com Eunício Oliveira. Nessa ocasião, reservou-se então
ao PMDB a indicação do cargo vice-prefeito. Como é ressaltado no depoimento abaixo:
Aí foi quando a coisa começou a degringolar. Por quê? Com a
impossibilidade do Cid [Ferreira Gomes] se reeleger em 2014, né? Era
meio que dado como certa a candidatura de Eunício [Oliveira].
Especificamente em 2012, ao se formar a chapa em que o PMDB deu a
vice, entrou com a vice do Roberto Cláudio. Então já era uma conversa
que de tácita virou clara. A conversa que eles [Cid Ferreira Gomes e
Ciro Ferreira Gomes] negam até hoje. Em alguns momentos, se você
procurar na imprensa, você vai encontrar o próprio Ciro [Ferreira
Gomes] dizendo que, por ele, por mais que hoje ele esteja dando “piti”
[ficando irritado], mas isso é o jeito Ciro [Ferreira Gomes] de ser, mas
até ele mesmo se colocava, mas eles chegaram a dizer com uma certa
clareza que o nome seria o Eunício [Oliveira] (ROSÂNGELA
AGUIAR, delegada do partido e presidenta do PMDB-Mulher.
Entrevista concedida ao autor em 17/11/2015).
Porém, como o PROS, partido do então governador Cid Ferreira Gomes, não
apoiou a candidatura de Eunício Oliveira ao Executivo estadual, os dois partidos declaram
rompimento político. Na imprensa local, Eunício Oliveira passou a fazer severas críticas
à gestão do então governador Cid Ferreira Gomes. Na matéria intitulada "Eunício Oliveira
diz que nunca recebeu voto de reciprocidade de Cid Gomes", o líder do PMDB denunciou
que “foi buscar na conversa com o governador reciprocidade. Eu apoiei o governador em
2006, quando ele tinha apenas 9% dos votos” (O POVO, 26 mai. 2014).
Retrucando as críticas de Eunício Oliveira, Ciro Ferreira Gomes (PROS),
irmão do governador Cid Ferreira Gomes e então secretário de Saúde do Ceará, afirmou
na imprensa local que o governador não apoiaria Eunício Oliveira como candidato. Na
matéria “Ciro diz que Eunício parece "biruta de aeroporto"”, temos os argumentos de Ciro
Ferreira Gomes para essa decisão, como defendeu:
“Explicou por que: ele, nos últimos meses, tem se associado a tudo que
representa o retrocesso ao estado do Ceará. Parece esses sinais de
aeroporto, a chamada biruta de aeroporto: ora vai pra cá, ora vai pra lá,
ora afirma isso, ora afirma aquilo. E o cearense precisa de rumo, precisa
de firmeza. Tanto mais nesses tempos bicudos que estamos vivendo”
(PONTES, O POVO, 04 jun. 2014)
Essa crítica, inclusive com alusão ao termo “biruta de aeroporto”, foi
motivada pela busca de apoio do candidato do PMDB a sua própria candidatura. Foi
150

denunciando que Eunício Oliveira teve encontros com a ex-prefeita de Fortaleza,


Luizianne Lins (PT) e com o deputado estadual Heitor Férrer (PDT).
Como a aliança com o então governador Cid Ferreira Gomes (PROS) e o PT
ruíram, Eunício Oliveira buscou o apoio de outros partidos para conseguiu viabilizar sua
candidatura. Coligou-se na disputa majoritária com PSDB, DEM e outros partidos
menores, como PSC, PR, PTN, PPS, Partido Republicano Progressista (PR) e Partido
Social Democrata Cristão (PSDC), como vemos no Anexo 12.
Quando questionado se o Diretório Nacional pressionou para que o PMDB
no Ceará mantivesse a aliança com o PT e Cid Ferreira Gomes (PROS), o secretário-geral
do Diretório Estadual, João Alves Melo, afirmou que “Eunício Oliveira tinha o apoio do
Diretório Nacional e todos sabiam que ele fez o que podia para manter a coligação; a
solução última foi a aliança com o PSDB”. Ele comentou que cada Diretório Estadual era
autônomo para definir aliança ou não com o PT, como complementa:
Cada estado no Brasil tem uma história diferente em termos de partidos
políticos. E a forma como as lideranças conduzem as ações políticas,
né? Do estado, elas são respeitadas. Tem que ser respeitadas essas
diferenças. No plano estadual, é mais fácil você respeitar essas
diferenças, né? Porque as coisas são mais homogêneas. No plano
nacional, elas são muito heterogêneas (JOÃO ALVES MELO,
secretário-geral do PMDB-CE. Entrevista concedida ao autor em
17/11/2015).

b) Seleção de candidatos
Similar ao que foi evidenciado no tópico anterior, o PMDB apresenta
ambivalência quanto ao processo de seleção de candidatos à disputa eleitoral. O seu
estatuto estabelece que as Convenções Estaduais, Municipais e Zonais poderão definir a
posição do órgão quanto à escolha de candidatos a cargo de eleição majoritária (Artigo
22, § 3°). Mais adiante, o estatuto especifica que as Convenções Municipais se destinam
à escolha de candidatos a prefeito, vice-prefeito e vereador (Artigo 87, § 2°). Percebe-se
que, pelas regras formais, os órgãos municipais possuem autonomia para fazer a seleção
dos candidatos.
Na pesquisa de campo, no entanto, foi observado que essa autonomia não é
extensiva a todos os órgãos partidários. As disputas locais em alguns municípios são
acompanhadas diretamente pelo líder do partido e as decisões nas escolhas dos candidatos
são centralizadas por ele.
O secretário-geral João Alves Melo elucida essa ambivalência. Anuncia que
o órgão partidário municipal goza de autonomia para definir suas estratégias eleitorais,
151

mas é necessário construir consenso dentro do partido junto à instância estadual. Como
percebemos no seguinte trecho:
Tem naturalmente um entendimento, um diálogo entre a pessoa que se
interessa pela disputa e a direção estadual, tem esse diálogo até porque
a direção estadual vai trabalhar pela eleição. É claro que Eunício
[Oliveira] se reúne com um e com outro candidato e define as
estratégias e o melhor nome. Mas o município é que efetivamente faz a
indicação dos nomes. [...] Mesmo sendo Comissão Provisória, tem essa
autonomia (JOÃO ALVES MELO, secretário-geral do PMDB-CE.
Entrevista concedida ao autor em 17/11/2015).
Pelo depoimento acima, notamos que as lideranças municipais negociam
informalmente a escolha dos candidatos com o presidente do Diretório Estadual, Eunício
Oliveira. Inclusive, quando o secretário-geral foi questionado sobre o fato de ter lançado
menos candidatos ao cargo de prefeito em 2012, comparado com 2008 64, este informou
que:
Queríamos montar alianças para as eleições gerais de 2014, já que o
partido tinha condições de disputar o Executivo estadual e já
previamente negociando com a coligação. Assim, a estratégia para 2012
era lançar menos candidatos como cabeça de chapa e formar um arco
de aliança maior com outras agremiações, podendo indicar o cargo de
vice, por exemplo (JOÃO ALVES MELO, secretário-geral do PMDB-
CE. Entrevista concedida ao autor em 17/11/2015).
Percebe-se que a seleção de candidatos e o estabelecimento de alianças nas
eleições municipais de 2012 foi arquitetada pela direção estadual, que buscava construir
estratégia eleitoral de candidatura própria ao Executivo estadual em 2014. Porém, o
acompanhamento da disputa local em alguns casos é centralizado pela liderança do
partido.
Semelhante ao que ocorre no processo de formação de aliança e coligação
eleitoral, a escolha do candidato ao Executivo municipal em Fortaleza não foi
estabelecida pelo órgão partidário local, como está regulamentado no estatuto. Essa
escolha foi feita diretamente pelo líder do partido e não envolveu os canais de decisão
formal do partido.
Como vimos, nas eleições de 2012, o PMDB estava coligado com o PSB
liderado pelo então governador Cid Ferreira Gomes. O PSB indicou o cargo de “cabeça
de chapa” e o PMDB indicou o cargo de vice-prefeito. No PMDB, a designação do
candidato foi feita por Eunício Oliveira, que escolheu seu sócio e integrante da Comissão
Executiva Estadual, Gaudêncio Lucena. Essa eleição foi competitiva, mas a chapa do

64
Nas eleições de 2008, a sigla apresentou 69 candidatos ao Executivo municipal e em 2012 reduziu para
52.
152

PSB/PMDB conseguiu eleger seus candidatos ao Executivo municipal no segundo turno,


como vemos no Anexo 10.
No entanto, percebemos que essa centralização quanto a seleção de candidato
pelo líder partidário ocorre apenas para as eleições majoritárias. Nas eleições
proporcionais, essa escolha é feita pelos integrantes do órgão partidário municipal, como
é evidenciado na narrativa abaixo:
Primeiramente, a gente, dentro de um contato, uma articulação, do
interesse do próprio candidato, há uma procura do candidato, do pré-
candidato a vereador ao PMDB. Com ele conhecendo a história do
MDB, muitos já começam com aquela simpatia ao partido PMDB [...]
[Por] muitos dos nossos candidatos aqui, a gente é procurado, eles vêm
até a sede do partido, mostra o desejo de se filiar ao partido e, se filiando
ao partido, quando ele se filia, “não é porque eu me filiei...”, não, porque
existe dentro das normas eleitorais uma quantidade, ou seja, são 65
candidatos, 20 mulheres e 45 homens. Se nós tivermos acima de 65, o
quê que nós vamos fazer? A comissão nossa, ou seja, do Diretório
Municipal, com a comissão que nós tiramos junto àqueles que estão
junto há mais tempo com o PMDB, com essa identidade mais forte que
já vem há anos, nós iremos fazer esse levantamento, iremos ver o
compromisso de cada candidato, porque o importante não é só a gente
ter assim uma quantidade grande. É qualidade! Ás vezes, chega até a
ter essa quantidade grande, mas dentro dessa quantidade nós iremos
buscar, assim, essa qualidade, nós ter o PMDB representado em todos
os bairros de Fortaleza, em todos ou próximo a todos os bairros, que é
importante um partido ter a representação, trazer essa representação
popular, porque aqui dentro do PMDB nós temos pré-candidatos com
diversas formação, temos o líder candidato, o professor, o sindicalista,
um advogado, temos um médico, temos o... pastor, né? Temos a dona
de casa, o desempregado, ou seja, nós buscamos fazer um partido à cara
da sociedade de Fortaleza (WILLAME CORREIA, presidente do
PMDB de Fortaleza. Entrevista concedida ao autor em 19/11/2015).
Observa-se que o órgão partidário municipal cria uma comissão especial para
selecionar os candidatos ao Legislativo. Inicialmente é feito levantamento de todos os
filiados que demonstraram interesse em se candidatar e posteriormente é realizado
triagem para apresentar os candidatos mais competitivos. Essa escolha é baseada em dois
pontos principais: grau de fidelidade do candidato ao partido e capacidade de o candidato
obter votos para a legenda. Em sua fala, o presidente do PMDB de Fortaleza argumentou
que a agremiação busca maior representação para “fazer um partido à cara da sociedade
de Fortaleza”. Contudo, cabe observar que a escolha para lançar determinado candidato
é feita tendo por critério seu capital político prévio, observando a capacidade do político
para mobilizar sua rede e angariar votos para o partido. Assim, mesmo que o candidato
não seja eleito, ele contribui para que outro candidato da agremiação fosse eleito.
153

Quando examinamos as eleições municipais em Mombaça, percebemos


como o líder partidário estadual consegue centralizar informalmente o processo de
escolha do candidato. No período pré-eleitoral, houve no PMDB de Mombaça disputa
interna para saber se a legenda participaria de coligação ou apresentaria candidatura
própria. Os que defendiam coligação, entre eles o então vice-prefeito Gerson Vieira Neto,
afirmavam que o partido deveria manter a aliança local com o PSDB, já que pela segunda
vez consecutiva ocupava o posto na vice prefeitura (2004 e 2008).
Já os que advogavam a tese de candidatura própria ressaltavam que era
necessário fortalecer o partido, recuperando seu “passado de glória”. Essa facção era
liderada pelo presidente da Comissão Executiva Municipal, Wellington Barreto. Embora
o líder desse grupo fosse neófito na política local, pois nunca havia disputado cargo
eletivo ou ocupado postos de direção no governo municipal, ele era membro de uma
tradicional família filiada ao PMDB local. E o mais importante, esse dirigente tinha
relação de proximidade com o líder partidário estadual. Com o aval de Eunício Oliveira,
Wellington Barreto se qualificou para a disputa local.
O líder da tese derrotada, o vice-prefeito Gerson Vieira Neto, ressaltou nas
entrevistas que o motivo do PMDB de Mombaça ter perdido espaço na política local foi
querer lançar candidato próprio. Como percebemos abaixo:
E nessa última eleição agora [2012], é que não me escutaram. Conversei
com Leleco [Wellington Barreto], com Berto [Humberto Vieira Filho].
O que que eu ia fazer? Eu não sou candidato a nada, como eu provei
que não fui candidato. Eu apoiava Amelinha [Maria Amélia Barreto
Vieira] como candidata a vereadora. O Leleco [Wellington Barreto] ia
ser candidato a vice, ou quem ele indicasse. A gente ia ter o que? O
PMDB? Ia crescer, Secretaria de Saúde, como já tinha; e a Secretaria
de Infraestrutura, que eu ia para infraestrutura, não é? O PMDB ia ficar
com uma vereadora, com a vice prefeitura, com a Secretaria de Saúde,
com a Secretaria de Infraestrutura. Tá entendo? E o PMDB tem hoje o
que? Não tem nenhum vereador na Câmara porque não me escutaram
(GERSON VIEIRA NETO, ex-presidente do PMDB de Mombaça,
ocupou o cargo de vereador por três mandatos e vice-prefeito por dois
mandatos. Entrevista concedida ao autor em 15/10/2015).
Pela fala acima, o colaborador relata que se reuniu com as principais
lideranças do partido: Leleco [Wellington Barreto], médico e sobrinho do ex-prefeito
Francisco José Brasil Barreto (1989-1992), e Berto [Humberto Vieira Filho], então
vereador (2005-2012) e filho de uma liderança histórica do PMDB local, Luiz Humberto
Teixeira Vieira que foi candidato a vice-prefeito em 1982. O objetivo seria convencê-los
a continuar com a estratégia de adaptação ao ambiente que o partido vinha adotando. Pois,
154

por meio dessa tática, o PMDB ocupou postos no governo local, como vice-prefeita,
representatividade na Câmara Municipal e secretarias municipais.
Na entrevista, Gerson Vieira Neto afirmou que o PMDB apresentou
candidatura própria porque Eunício Oliveira permitiu e até estimulou para que isso
acontecesse. Em determinada parte da entrevista, esse líder local apontou o dedo para o
gravador como se quisesse que Eunício Oliveira escutasse o áudio. Nesse trecho, o
entrevistado se emocionou e culpou a liderança estadual pela derrocada do PMDB no
município. Como vemos abaixo:
Tava todo mundo unido para não apresentar candidato, foi que o PMDB
[de Mombaça] foi escutar coisa de alguém. Mas isso aí o Eunício
[Oliveira] é culpado também. Porque eu me lembro como se fosse hoje,
lá em Fortaleza, numa reunião, eu ia passando, o Eunício bateu no
ombro, no ombro do Leleco [Wellington Barreto], do Dr. Leleco: “Meu
futuro prefeito de Mombaça!”. Aí foi quando começou, Dr. Eunício
Oliveira, foi aí [apontando o dedo para o gravador]! Começou dessa
reunião do PMDB do Ceará! Ele tava com um grupo de amigos e o
Eunício [Oliveira] falou: “Futuro prefeito de Mombaça, Dr. Leleco!”.
Não é? É que colocou na cabeça do Leleco. Rapaz novo, sem
experiência na política. Isso aí ficou marcado e fica marcado mesmo.
Já pensou, o presidente do partido dizer que ele ia ser o futuro prefeito
da Mombaça... (GERSON VIEIRA NETO, ex-presidente do PMDB de
Mombaça, ocupou o cargo de vereador por três mandatos e vice-
prefeito por dois mandatos. Entrevista concedida ao autor em
15/10/2015).
Ao longo da entrevista, Gerson Vieira Neto afirmou que desde as eleições
municipais de 2008 Eunício Oliveira queria que Wellington Barreto (Dr. Leleco) fosse o
candidato a vice-prefeito na coligação do PMDB com o PSDB. Existia uma estratégia
para que o partido potencializasse o nome de Wellington Barreto para que em 2012 ele
fosse o candidato a prefeito. Em determinado trecho da entrevista, Gerson Vieira Neto
comentou como foi a reunião para decidir o candidato a vice-prefeito em 2008 na
coligação com o PSDB, que tinha Wilame Barreto Alencar como candidato à reeleição:
No meio disso tudo aí teve uma reunião no apartamento do Eunício
Oliveira, aí participou a Diana [Barreto], Berto [Humberto Vieira
Filho], Jacinta [Jacinta Maria Altino Vieira], Leleco [Wellington
Barreto], Amelinha [Maria Amélia Barreto Vieira] e eu levei meu filho
Walderez Neto. Porque lá queriam que eu, o Leleco médico, não é? Que
ele fosse candidato. Candidato a vice-prefeito do Wilame [Barreto
Alencar]. Porque, na realidade, eles tinham razão. Porque o Leleco
[Wellington Barreto], médico, ele tinha 76% e eu 26 de aprovação pra
ser o candidato do Wilame [Barreto Alencar]. O Eunício [Oliveira] acho
que mandou fazer uma pesquisa. Mas eu não abri, não! Quando eu não
tinha nada eu não fui, ah? Que o cotado para ser vice-prefeito era o
Berto Vieira [Humberto Vieira Filho] e eu quem fui candidato. Porque
que eu não servia para ser o candidato? Como a Claudênia [Cavalcante]
vai ser a vice do Ecildo [Evangelista Filho] para o ano. Não foi, eleito
155

por ele? Então tinha o mesmo direito de concorrer novamente! Quer


dizer que uma causa perdida eu vou, não é? Que aquela causa do
Wilame [Barreto Alencar] e eu no primeiro mandato era uma causa
perdida, ninguém acreditava! Eu não fui! Aí, o segundo mandato, que
era uma questão mais tranquila, tinha mais estrutura, eu abrir? Porque?
Não! Mas aí ficou resolvido. É tanto que eu levei meu filho, Walderez
Neto, ele participou lá, viu! “Oh, você tá vendo aí? Porque que é que
não compensa ir pra política”. Porque a gente faz a vida todinha, não é?
No final [mãos abertas indicando que estavam vazias] Como eu disse
pro Eunício [Oliveira]: “rapaz, vocês estão acabando com o futuro dos
meus filhos”. Porque? Porque eu tinha me dedicado só a política! Eu
não tinha nenhum outro negócio, não é? Então, nos últimos 16 anos, só
a política. Só vivendo do salário da política, né? Aí foi que pensou lá e
viu e eu fui o candidato a vice e fomos vitoriosos novamente (GERSON
VIEIRA NETO, ex-presidente do PMDB de Mombaça, ocupou o cargo
de vereador por três mandatos e vice-prefeito por dois mandatos.
Entrevista concedida ao autor em 15/10/2015).
Pelo trecho acima, percebemos que as reuniões para decidir as estratégias
políticas do partido acontecem em ambiente informal, no apartamento de Eunício
Oliveira, e não envolvem a estrutura burocrática do órgão estadual. Nesses acordos,
participam a elite partidária local e o líder do partido. O então presidente do PMDB de
Mombaça, Gerson Vieira Neto, esclareceu que em 2004, quando o partido não tinha
estrutura e não ocupava nenhum posto no governo municipal, ele foi escolhido para ser
vice-prefeito em uma chapa que apresentava poucas chances de vitória eleitoral. Porém,
quando a conjuntura política se mostrou favorável ao partido, como em 2008 quando a
agremiação tinha o cargo de vice-prefeito e ocupava algumas secretarias municipais, ele
era preterido como candidato natural na chapa que iria disputar a reeleição.
Depois desse episódio político, Gerson Vieira Neto renunciou ao cargo de
presidente do partido, mas continuou como candidato a vice-prefeito pelo PMDB em
2008. Posteriormente, o clima político dentro no partido ficou tenso porque muitos
integrantes compreenderam que, por conta da “birra” de Gerson Vieira Neto ser candidato
a vice-prefeito em 2008, o partido tinha perdido oportunidade de promover seus quadros,
sobretudo a carreira política do jovem médico Wellington Barreto.
Na pesquisa de campo, foi acentuado que Gerson Vieira Neto não agia de
forma estratégica para potencializar as chances de crescimento do partido no município.
Ressaltaram que este tinha uma postura individualista e que só queria promover sua
carreira política. Como a presença de Gerson Vieira Neto na Comissão Executiva do
partido causava mal-estar, este migrou para o PPS.
Quando questionei porque Eunício Oliveira não teria feito intervenção direta
na escolha do candidato em 2008, foi esclarecido que o partido iria se desgastar e que o
156

bônus de ter Wellington Barreto como candidato não valeria o ônus implicado, pois
Gerson Vieira Neto ameaçou migrar para outro partido e ser candidato a vice de qualquer
maneira.
Por esse episódio relatado, percebe-se que Wellington Barreto tem relação
próxima com Eunício Oliveira. Essa sintonia é enfatizada no depoimento abaixo:
Eunício [Oliveira] apoiou. Nós fomos ao Eunício [Oliveira], o Eunício
[Oliveira] disse assim: “Meu filho, eu sou muito mais subir num
palanque com a pessoa que é fiel a mim, como você, do que eu subir no
palanque de um adversário que eu não tenho aquela confiança. Mas eu
só lhe peço uma coisa: faça coligação. Sem coligação ninguém ganha
em Mombaça” (DIANA BARRETO, secretária-geral do PMDB de
Mombaça e ex-vice-prefeita. Entrevista concedida ao autor em 15 e 16
/10/2015).
Eunício Oliveira concedeu a autorização para que o PMDB rompesse a
aliança local com o PSDB e apresentasse Wellington Barreto como candidato a prefeito.
O partido buscou efetivar coligação eleitoral com uma tradicional liderança política local,
Valdomiro Távora (PP). Como essa aliança não foi consumada, o PMDB apresentou
chapa “puro sangue”. Mas, com a ausência de aliados, a sigla obteve pouca adesão
eleitoral. Na disputa para o Executivo, a sigla conseguiu apenas 16,5% dos votos válidos
e na disputa para o Legislativo não elegeu nenhum dos oito candidatos.
O processo de centralização informal a que o PMDB de Mombaça é
submetido pode também ser observado nas eleições estaduais de 2014. O então prefeito,
Ecildo Evangelista Filho (PSD), sinalizou a Eunício Oliveira que não acompanharia seu
partido no apoio à eleição de Camilo Santana (PT) como governador e que votaria
naquele. No município, o poder político do então prefeito era maior em comparação ao
do grupo do PMDB. Basta citar que este foi eleito com 77,5% dos votos válidos (10.715
votos). Mas, antes de confirmar essa aliança política com o grupo local opositor do PMDB
de Mombaça, Eunício Oliveira fez uma reunião informal com as lideranças desse órgão,
como observamos abaixo:
Eunício [Oliveira] chamou no apartamento e disse: “Eu sou candidato
e preciso de votos e tudo indica que o Ecildo [Evangelista Filho] tá
querendo votar em mim, quer me apoiar pra governador, e eles tão
vindo agora, 5 da tarde. Como é, Diana, concorda?”. Aí o que ele queria,
queria apoiar o Eunício [Oliveira] para que na próxima eleição [em
2016] o PMDB o apoiasse para prefeito (DIANA BARRETO,
secretária-geral do PMDB de Mombaça e ex-vice-prefeita. Entrevista
concedida ao autor em 15 e 16 /10/2015).
Pelo depoimento, percebemos que existe relação de proximidade entre
Eunício Oliveira e as lideranças desse órgão partidário. Para resolver essa questão
157

partidária, foi feita negociação no apartamento de Eunício Oliveira. Observa-se que não
foi marcada reunião com os membros da Comissão Executiva Estadual na sede do partido,
como seria prevista pelo estatuto da agremiação. Além disso, houve minimamente acordo
para que o partido não fosse simplesmente “tomado” desse grupo e entregue a outro sem
aviso prévio. A secretária-geral do PMDB, Diana Barreto, falou inclusive que já
aconteceu casos de intervenção direta do Diretório Estadual no órgão municipal, como
observamos:
Quem manda no Diretório Municipal é o Diretório Estadual. Na hora
em que o Diretório Estadual quer destituir o partido daqui ele destitui.
Ele bota quem ele quer! Ele bota a intervenção e tira. Acaba com o
partido! Ele bota quem ele quer! [...] O Eunício Oliveira já destituiu o
PMDB daqui. Um cidadão que tava dando trabalho demais, que não
queria... Tava só se impondo. Aí ele [Eunício Oliveira] chamou meu
marido [Francisco José Barreto] e disse: “Pegue tantas assinaturas dos
seus amigos e venha para cá que eu vou destituir o partido e vou fazer
uma Comissão Provisória”. Isso existe! (...) Pegou essas assinaturas e
dissolveu o Diretório, tudo! Os 21 membros e fez uma provisória e
botou meu marido como presidente e, logo depois, quando as coisas se
ajeitaram, aí foi feita uma convenção e voltou tudo o que era normal, a
normalidade (DIANA BARRETO, secretária-geral do PMDB de
Mombaça e ex-vice-prefeita. Entrevista concedida ao autor em 15 e 16
/10/2015).
Assim, existem casos de intervenção direta do Diretório Estadual nos órgãos
municipais. O fato do candidato do PMDB em 2012, Wellington Barreto, ter obtido
votação pouco expressiva poderia ser motivo para que o Diretório Estadual destituísse o
partido no município e entregasse a legenda para o grupo política opositor, como já
aconteceu em alguns casos. Observando as eleições de 2014, percebemos que o apoio do
prefeito Ecildo Evangelista Filho (PSD) para a campanha de Eunício Oliveira garantiu
para este 11.948 votos (58,4% dos votos válidos) no primeiro turno e 11.653 votos
(52,9%) no segundo turno.
Interessante o fato relatado pela secretária-geral do PMDB de Mombaça, que
afirmou que o próprio Eunício Oliveira negociou para que Ecildo Evangelista Filho
pudesse se desfiliar do seu partido, o PSD, e concorresse à reeleição em 2016 pelo PMDB,
como observamos abaixo:
Aí o Ecildo [Evangelista Filho] disse: “Senador, e eles vão judiar
comigo, porque eu não tô apoiando e é capaz de eu não ter legenda pra
minha reeleição”. Aí nesse dia mesmo, lá, o Eunício [disse]: “Não se
preocupe que eu sou o presidente estadual do PMDB e eu dou a legenda
para você”. [...] Aí o Eunício disse: “Por isso não, porque eu sou
presidente do PMDB Estadual, a Patrícia [Gomes], eu vou ter que dar
anuência à Patrícia [Gomes], porque ela vai para reeleição, mas não é
mais pelo meu partido, o PMDB, não sei porque, quais são as razões...”.
158

E ele disse: “Eu consigo dela a anuência de você e de todos os


vereadores que vocês não vão perder o mandato de vocês, não vão ser
prejudicados”. Como a vice atual, a vice-prefeita Claudênia
[Cavalcante], que vai pra reeleição com a mesma chapa de Ecildo
[Evangelista] Filho, que é de um partido que não tô sabendo a sigla
agora [PTB], também o presidente [do Diretório Estadual] também não
dava anuência e o Eunício conseguiu também lá de cima, na esfera
federal, conseguiu a anuência dela. Ela se desfiliou e filiou-se ao PSDB
(DIANA BARRETO, secretária-geral do PMDB de Mombaça e ex-
vice-prefeita. Entrevista concedida ao autor em 15 e 16 /10/2015).
Pelo depoimento, observa-se que Eunício Oliveira conseguiu, por intermédio
de negociações com as cúpulas partidárias, acomodar as lideranças políticas locais para
que pudessem concorrer à reeleição em 2016. Essa negociação garantia o apoio desse
grupo a sua eleição para o Executivo estadual em 2014.
Quando observamos as eleições em Nova Olinda, percebemos que o
processo de seleção de candidatos tanto para o Executivo quanto para o Legislativo é
descentralizado. O órgão partidário local, presidido pelo vice-prefeito Elízio Galdino, tem
autonomia para escolher os candidatos. Na pesquisa de campo, Elízio Galdino enfatizou
que “eu que escolho os candidatos e tenho a segurança que Eunício Oliveira não iria
interferir nessa escolha”. No partido não ocorre disputas envolvendo a seleção de
candidatos, pois a agremiação é permissiva quanto a membros que desejam se candidatar
ao cargo de vereador.
Ao investigarmos a seleção de candidatos para as eleições estaduais no
Ceará, percebemos graus distintos de centralização que variam de acordo com o tipo de
disputa. Para as eleições majoritárias constatamos que o líder do partido, Eunício
Oliveira, concentra as decisões, como percebemos na articulação para a escolha do
candidato ao Executivo estadual em 2014.
Como foi relatado previamente, o PMDB estava aliado ao então governador
Cid Ferreira Gomes (PROS) no princípio das articulações políticas envolvendo a disputa
para o Executivo estadual. O PMDB alimentava a esperança de ter apoio do governador
na candidatura própria ao governo estadual.
No PMDB, duas lideranças movimentavam suas bases eleitorais para serem
escolhidos como candidatos a governador. Uma dessas lideranças era o então vice-
governador, Domingos Filho. Contudo, quando o Diretório Nacional se posicionou
apoiando a candidatura de Eunício Oliveira, Domingos Filho migrou para o PROS,
partido do então governador Cid Ferreira Gomes. Essa disputa interna no partido foi
publicizada na imprensa local, como vemos nos seguintes títulos: “Vice de Cid,
159

Domingos Filho, matura saída do PMDB” (REBOUÇAS, O POVO, 03 set. 2013) e


“Presidente do PMDB garante que Eunício Oliveira disputará Governo do Ceará” (O
POVO, 03 jan. 2014).
Mesmo o então vice-governador Domingos Filho não sendo mais filiado ao
PMDB, este contou com o apoio de peemedebistas para ser candidato a governador na
chapa indicada por Cid Ferreira Gomes (PROS), como foi noticiado na imprensa:
"Peemedebistas apoiam Domingos Filho para governo" (PONTES, O POVO, 29 mai.
2014).
Rosângela Aguiar comentou a atuação do então vice-governador para ser
candidato a governador pelo PMDB:
Domingos [Filho] trabalhava para isso, mas ele não tinha envergadura
para isso... Ele ainda era um líder regional. Entendeu? Quando eu digo
envergadura, era... Se fosse para ter chapa numa convenção, ele perdia.
Pela questão que continua um pouco hoje, dele e da família como um
todo, dessa questão ali dos Inhamuns. Por mais que tivesse uma pessoa
aqui, outra acolá, era uma coisa regional. O Eunício [Oliveira] tinha
passado por uma eleição majoritária, 2010, senador, era uma eleição
majoritária. Então, de uma certa forma, ele tinha uma projeção de líder
e já com uma projeção nacional, já tinha sido ministro (ROSÂNGELA
AGUIAR, delegada do partido e presidenta do PMDB-Mulher.
Entrevista concedida ao autor em 17/11/2015).
Pela fala acima, a entrevistada ressalta que o poder político de Domingos
Filho dentro do partido era localizado, restrito a sua base eleitoral, a região dos Inhamuns.
Mesmo ocupando o cargo de vice-governador, essa liderança não tinha como disputar
com Eunício Oliveira.
A outra liderança que se articulava para ser candidato era o próprio líder do
partido, Eunício Oliveira. Este, diferente do poder localizado e regionalizado de
Domingos Filho, era senador, tinha trânsito na direção nacional do partido ocupando o
cargo de tesoureiro e tinha renome nacional, tendo ocupado o cargo de ministro das
Comunicações (2004-2005). E mais importante do que toda essa credencial mencionada,
Eunício Oliveira controlava as principais posições de poder do partido. Nesse jogo de
forças, Domingos Filho não teria fôlego para ser candidato pelo PMDB.
Com a migração do principal oponente, o então vice-governador Domingos
Filho, a agremiação minou uma disputa interna formal, estabelecida por meio de
convenção eleitoral para a escolha do candidato majoritário. Reestabelecida a ordem
interna no partido, Eunício Oliveira oficializou a aliança com a facção política dos irmãos
Ferreira Gomes. Na imprensa local, na matéria “Ciro Gomes será candidato ao Senado
em chapa com Eunício, diz site”, foram noticiadas matérias especulando os arranjos
160

eleitorais dessa aliança, com Eunício Oliveira, na cota do PMDB, ocupando o cargo de
governador; e Ciro Ferreira Gomes (PROS), na cota de Cid Ferreira Gomes, assumindo
a vaga no Senado (O POVO, 26 mar. 2014).
Depois do rompimento entre o PMDB e Cid Ferreira Gomes, Eunício Oliveira
fez aliança com os dois principais oponentes da facção dos irmãos Ferreira Gomes: Tasso
Jereissati (PSDB), ex-governador que debutou o então deputado estadual Ciro Ferreira
Gomes para projeção estadual ao indicá-lo como candidato a prefeito de Fortaleza em
1988 e a governador em 1990; e Roberto Pessoa (PR), considerado desafeto pessoal dos
irmãos Ferreira Gomes. Nas eleições de 2010, quando Roberto Pessoa coordenava a
campanha de Lucio Alcântara (PR) como candidato a governador, aquele teve embate
com suposto desfecho de agressão física com o então deputado federal Ciro Ferreira
Gomes (PSB), que coordenava a campanha de reeleição de seu irmão Cid Ferreira Gomes
(PSB) como governador65. Roberto Pessoa é uma importante liderança estadual, foi
filiado ao PFL, ocupando por esse partido o cargo de presidente da Executiva Estadual
do Ceará (1991-2003), deputado estadual (1991-1994), deputado federal (1995-2004), e
depois migrou para o PL/PR, ocupando por esse partido o cargo de prefeito de Maracanaú
(2005-2012), parque industrial e a segunda maior economia do estado.
Na Tabela seguinte, temos o arranjo de indicação dos cargos que foi
montando a partir da aliança. O PMDB, tendo o PR como vice, liderou a indicação para
o Executivo estadual. Foi reservado ao PSDB as vagas para o Senado, que apresentou sua
principal liderança, Tasso Jereissati, como titular. Como suplentes foram indicados
Francisco Feitosa Lima (DEM), ex-deputado federal pelo PSDB (1999-2002) e
empresário do setor de transporte urbano; e Fernando Façanha Filho, médico e delegado
do Diretório Estadual do PSDB.

65
É noticiado diversas matérias abordando confrontos entre Roberto Pessoa e Ciro Ferreira Gomes. Como
evidenciamos nos seguintes títulos das matérias: “Bate-boca – Roberto Pessoa registra BO contra Ciro
Gomes” (LIMA, BLOG DO ELIOMAR, 30 set. 2010), "Em carta, prefeito cearense chama Ciro Gomes de
vagabundo e usuário de drogas" (PATURY, REVISTA ÉPOCA, 02 out. 2012), "Ex-prefeito Roberto Pessoa
diz que teve celulares grampeados" (O POVO, 06 abr. 2013) e "Roberto Pessoa reage a farpas de Ciro
Gomes: “Não discuto com drogado! ”" (LIMA, BLOG DO ELIOMAR, 01 ago. 2014).
161

Tabela 7 - Candidatos da coligação Ceará de Todos — Eleição de 2014


Cargo Nome do Candidato Partido 1º turno 2º turno Situação
Governador Eunício Oliveira PMDB 1.979.499 2.113.940
Não eleito
Vice-governador Roberto Pessoa PR (46,41%) (46,65%)
Senador Tasso Jereissati PSDB
2.314.796
1º Suplente Francisco Feitosa Lima DEM - Eleito
(57,91%)
2º Suplente Fernando Façanha Filho PSDB
Fonte: Elaboração própria a partir dos dados do TRE-CE.
Após a oficialização de Eunício Oliveira como candidato, a máquina
partidária foi mobilizada para viabilizar sua candidatura como governador em 2014.
Como percebemos abaixo:
Quando a gente foi construir a candidatura do Eunício Oliveira a
governo do estado, por exemplo, nós passamos um ano e meio fazendo
encontros em todo o Ceará pra construir essa ideia de candidatura
própria. A gente construiu um nome para ele. Foram 14 encontros, se
não me falhe a memória, até a convenção em junho. Então foi um
PMDB itinerante, praticamente. Nós fomos a todas as regiões do estado
e reuníamos... Teve reunião de chegar a ter quase 6 mil pessoas. Porque
a característica de um encontro regional é que você pega um município
e geralmente você trabalha com 13 a 20 municípios do entorno e leva
para aquela discussão. À medida que essa discussão começou, a coisa
ficou tão interessante que você tinha gente que começou a ir pros
encontros fora das suas regiões (ROSÂNGELA AGUIAR, delegada do
partido e presidenta do PMDB-Mulher. Entrevista concedida ao autor
em 17/11/2015).
Nessa narrativa, observamos que o Diretório Estadual organizou encontros
para potencializar a candidatura própria de sua principal liderança. Esses encontros
demonstram que a agremiação desenvolve atividades extra eleitorais, porém elas estão
marcadas para preparar o partido para as eleições.
O partido iniciou um processo de centralização formal para montar estrutura
eleitoral capaz de eleger seu candidato. Isso porque existiam denúncias que
correligionários não estariam apoiando a campanha de Eunício Oliveira. O Diretório
Estadual, inclusive, ameaçou não acatar a candidatura de deputados que não apoiassem a
campanha eleitoral, como foi destacado na seguinte matéria de blog político: “PMDB
ameaça não dar legenda a quem não votar em Eunício. Deputados reagem” (HOLANDA,
BLOG DO WILRISMAR, 27 mai. 2014).
Para as eleições proporcionais, percebemos que o processo é centralizado
formalmente pela estrutura burocrática do Diretório Estadual, embora todo o andamento
seja informado ao presidente do partido, Eunício Oliveira. Foi estabelecido uma comissão
especial para selecionar os candidatos ao Legislativo, como deputados federais e
162

deputados estaduais. O secretário-geral do Diretório Estadual João Alves Melo e a


delegada Rosângela Aguiar participaram como membros dessa comissão. Na pesquisa de
campo, foi observado que o partido dá prioridade de legenda aos membros que já possuem
cargo eletivo, “depois é feito um estudo para ver a rede de apoio de cada candidato e
damos legenda a pessoas que já possuem um trabalho político e que são comprometidas
com o partido” (JOÃO ALVES MELO, secretário-geral do PMDB-CE. Entrevista
concedida ao autor em 17/11/2015).
Nas eleições de 2014, o PMDB do Ceará apresentou 14 candidatos ao cargo
de deputado federal, sendo 2 candidaturas indeferidas, e 26 candidatos ao cargo de
deputado estadual. Percebe-se que o recrutamento da elite parlamentar prioriza políticos
profissionais que já possuam capital político e “elites tradicionais” baseadas em prestígio
e riqueza que possuem prestígio fora da vida política. Observando o background dos
aspirantes, no Anexo 5, percebemos que o partido prioriza candidatos com carreira
flexível, como advogados e médicos, e que possuem o apoio de alguma base social ou
geográfica.
O secretário-geral do PMDB afirmou que incumbents ou políticos que
possuam experiência prévia possuem prioridade na composição das listas. Foi informado
que o partido é procurado por políticos profissionais, que inclusive já possuem histórico
de filiação em outras agremiações, para serem candidatos na expectativa de serem eleitos.
O cálculo eleitoral desses candidatos é que como a agremiação apresenta alto coeficiente
partidário, estes teriam maiores chances de serem eleitos do que se disputassem em
partidos pequenos e sem coligação.
Como exemplo, temos o caso da candidatura de Ricardo Almeida como
deputado estadual. Este é empresário do ramo de óleos vegetais e membro de facção
política-familiar. Esse político apresenta o município de Acopiara — cidade de médio
porte que apresentou magnitude eleitoral de 36 mil eleitores em 2014 — como principal
base eleitoral. Seu pai, Francisco Alves Sobrinho, foi prefeito desse município pela UDN
(1959-1962) e pela ARENA (1973-1976) e deputado estadual pelo PDC (1963-1966); seu
irmão, Antônio Almeida Neto, foi prefeito pelo PDT (1993-1996), pelo PPS (2005-2008)
e pelo PTB (2008-2012); seu outro irmão, Emídio José de Almeida Neto, foi vereador
pelo PPS (2005-2012); seu primo, Francisco Felipe de Almeida, foi prefeito pelo PDT
(1997-2000); seu outro primo, Antônio Edval de Almeida, foi vereador pelo PDS (1983-
1988); sua prima, Maria Risalva de Almeida Ferreira, foi vereadora pelo PDT (1997-
2000) e pelo PTB (2001-2004); seu sobrinho, Robson Alves de Almeida Diniz, foi
163

candidato a prefeito pelo PMDB nas eleições de 2012, mas não foi eleito. Ricardo
Almeida foi vereador pelo PFL (1989-1992) e pelo PDT (1993-1994), deputado estadual
pelo PDT (1995-2002). Nas eleições de 2008, candidatou-se como prefeito pelo PT na
cidade de Catarina, município vizinho que então apresentava magnitude eleitoral de 6 mil
eleitores, mas não foi eleito.
Observando a trajetória política desse candidato, observa-se que este já
passou por vários partidos e que possui capital político circunscrito a uma base geográfica
específica. Por mais que este político não tenha sido eleito, sua candidatura possibilitou
ao PMDB a obtenção de votos, especificamente 10.507, para compor o coeficiente
partidário. Porém, esse perfil de candidatura auto selecionada não possibilita a construção
de lealdade ao partido.
Analisando a lista de candidatos ao Legislativo — Anexo 5 —, percebemos
monopolização por parte de grupos políticos familiares que lançam candidaturas casadas
a deputado federal e deputado estadual. Podemos citar José Gerardo de Arruda (Dep.
Federal) e Inês Maria de Arruda (Dep. Estadual), filho e mãe respectivamente; José
Mauro Gonçalves de Macedo (Dep. Federal) e David Ney Gonçalves de Macedo (Dep.
Estadual), irmãos e filhos de Raimundo Antônio de Macêdo, prefeito de Juazeiro do Norte
(PMDB-2012-2016; PSDB-2005-2008), deputado federal (PMDB-2011-2012) e
deputado estadual (PSDB-1991-2004); Jaziel Pereira de Sousa (Dep. Federal) e Silvana
de Sousa (Dep. Estadual), marido e mulher respectivamente.
Observando o desempenho eleitoral dos candidatos, percebemos uma questão
de gênero: a maior parte das mulheres candidatas não são competitivas, apresentando, em
geral, baixa votação. As exceções são duas candidatas que possuem maridos como
políticos e que por suas trajetórias como esposas acumularam capital eleitoral, como Inês
Arruda e Silvana de Sousa mencionadas anteriormente, e a médica ginecologista, Jocélia
Castro, que por meio da sua atividade profissional conseguiu prestígio político. Esse dado
levanta a hipótese que o partido distribui poucos recursos a candidaturas de mulheres e
que a indicação delas se deve ao fato da legislação eleitoral exigir percentual de 30% de
algum dos sexos nas listas eleitorais. Assim, caso a candidata não conte com algum capital
político extra organização, ela dificilmente obterá bom desempenho eleitoral.
Por fim, ao analisarmos o processo de seleção de candidatos para o
Legislativo estadual, percebemos que o partido é permissivo quanto à possibilidade de
legenda. Como a organização é orientada eleitoralmente, os critérios de seleção tendem a
164

ser menos rigorosos e os candidatos selecionados ou auto selecionados — no caso de


incumbents ou políticos profissionais — apresentam autonomia frente ao partido.
Quanto a centralização do Diretório Nacional, foi observado graus distintos
de controle. Quando se trata de candidato ao Executivo estadual, o Diretório Nacional
acompanha esse processo de forma mais intensa. No caso do Ceará, como o candidato do
PMDB integra a Executiva Nacional, essa supervisão foi menos burocrática e “acontecia
até informalmente quando o Eunício Oliveira estava em Brasília”, como ressaltou o
secretário-geral João Alves Melo. Quanto à lista de deputados federais, ele informou que
o Diretório Nacional pede apenas que o Diretório Estadual apresente candidatos que
tenham compromisso com o partido, mas que inexiste controle rigoroso, como o que
ocorre para o Executivo. Por fim, quanto aos deputados estaduais, a indicação é de plena
autonomia do Diretório Estadual.

c) Distribuição de recursos
Observando as transferências do Diretório Nacional para as eleições no Ceará
no SPCE-TSE, percebemos que dentre os partidos investigados, os candidatos do PMDB
cearense foram os que receberam a maior porcentagem de recursos. Nas eleições de 2012,
o Diretório Nacional do PMDB totalizou receita de R$ 41.885.443,64, sendo 6,4%
transferido para as candidaturas do Ceará, somando R$ 2.715.000,00. Em 2014, o valor
foi maior, dos R$ 63.013.005,01 arrecadados pelo Diretório Nacional, 10,9% foi
transferido para os candidatos do Ceará, totalizando R$ 6.883.064,94.
Ao analisamos a distribuição de recursos, percebemos que o Diretório
Estadual, por meio da sua articulação com o Diretório Nacional, centralizou o processo
decisório e os distribuiu de forma seletiva para algumas candidaturas. Isso pode ser
percebido quando verificamos as transferências do Diretório Nacional para as campanhas
eleitorais em 2012 no Ceará66, como demostrado na página seguinte.

66
Nos dados do TSE, não foram encontrados recursos transferidos pelo Diretório Estadual do Ceará para
as eleições no estado. Quanto as transferências do Diretório Nacional, o valor totalizado foi de R$
2.715.000,00, que incluía tanto os candidatos do PMDB quanto os de outros partidos aliados. A maior parte
desse total, 67% (R$ 1.835.000,00), foi destinada às campanhas do Executivo. Entre essas candidaturas do
Executivo, 88% (R$ 1.630.000,00) foram destinados ao PMDB.
165

Tabela 8 - Transferência do Diretório Nacional do PMDB ao Executivo municipal


VALOR
VOTOS % VOTOS
CANDIDATO MUNICÍPIO SITUAÇÃO RECEBIDO
NOMINAIS NOMINAIS
(R$)
Ildsser Alencar Lavras da
7.638 43,63 Não eleito 450.000,00
Lopes Mangabeira
Inês Maria
Corrêa de Caucaia 43.476 28,31 Não eleito 300.000,00
Arruda
Luis Wellington
Mombaça 2.282 16,51 Não eleito 120.000,00
Barreto Vieira
Daniel Queiroz Não consta informação dessa candidatura no
Beberibe 100.000,00
Rocha TRE-CE67
Antônio Adail
Guaraciaba do
Machado 7.726 35,52 Não eleito 100.000,00
Norte
Castro
José Geraldo
Ipaumirim 3.413 45,62 Não eleito 100.000,00
dos Santos
Raimundo
Juazeiro do
Antônio de 65.079 51,55 Eleito 100.000,00
Norte
Macedo
Pedro Calisto
Tamboril 7.264 46,67 Não eleito 90.000,00
da Silva
Raimunda
Ribeiro dos Fortim 5.124 48,36 Não eleito 70.000,00
Santos
Ivan Monte
Crateús 17.539 44,80 Não eleito 50.000,00
Claudino
Ybsen Keith
Catunda de Ipaporanga 2.890 41,77 Não eleito 50.000,00
Lima Moreira
Hellosman
Sampaio de Milagres 8.808 52,45 Eleito 50.000,00
Lacerda
Fabiano
Magalhães de Santa Quitéria 10.817 40,87 Eleito 50.000,00
Mesquita
TOTAL 1.630.000,00
Fonte: Elaboração própria a partir dos dados do SPCE-TSE.

Observando os dados dessa Tabela, percebemos que o valor da transferência


para os candidatos não está diretamente relacionado ao critério de candidatura
competitiva, como observamos no caso do candidato de Mombaça. Como dito
anteriormente, Wellington Barreto e Eunício Oliveira possuem relação pessoal e essa
proximidade explicaria o fato desse candidato ter recebido recurso proporcionalmente
maior que outros candidatos do partido.

67
A única informação que consta é na prestação de contas do candidato, mas, nos dados sobre desempenho
eleitoral, este não aparece como candidato. Nesse banco de dados, o PMDB aparece como vice – com o
candidato Francisco Celio Oliveira dos Santos – de um candidato do PP.
166

Esse tratamento diferenciado ao candidato de Mombaça é ressaltado quando


contrastado com o candidato de Juazeiro do Norte. Este município, que possui 166.037
eleitores, foi contemplado com apenas R$ 100.000,00, mesmo o candidato Raimundo
Macedo sendo competitivo, tendo inclusive sido eleito. A distribuição de recursos
também não está condicionada à magnitude eleitoral do município, como observado no
caso de Ipaporanga, que, mesmo contando com apenas 9.944 eleitores, seu candidato a
prefeito pelo PMDB recebeu recursos do Diretório Nacional.
A partir da análise desses dados, sustentamos a hipótese de que dentro do
partido predominam critérios informais, relações de confiança e de pessoalidade na
escolha dos candidatos que receberão recursos do Diretório Nacional. Sobretudo porque
Eunício Oliveira, na condição de tesoureiro do Diretório Nacional, teria acesso
privilegiado aos recursos que seriam transferidos para as campanhas no Ceará.
Isso pode ser observado no valor recebido pelo candidato de Lavras da
Mangabeira, base eleitoral de Eunício Oliveira e município em que sua irmã, Edenilda
Lopes de Oliveira Sousa (PMDB), foi eleita prefeita em 2004 e 2008. O candidato do
PMDB recebeu o maior valor distribuído pelo partido, 450 mil. Mesmo contando com
esse recurso, o candidato não foi eleito, obtendo 43,6% dos votos válidos.
Os candidatos do PMDB que disputavam as vagas para a Câmara Municipal
também receberam doações do Diretório Nacional, totalizado 91,4% (R$ 805.000,00) dos
recursos destinados ao Legislativo. Na Tabela seguinte, temos a descrição dos municípios
que receberam recursos.

Tabela 9 - Transferência do Diretório Nacional do PMDB ao Legislativo municipal


VEREADORES VALOR
MUNICÍPIO ELEITORES EM 2012
FINANCIADOS TOTAL (R$)
Fortaleza 1.602.717 11 610.000,00
Maracanaú 146.074 2 50.000,00
Icó 52.651 1 10.000,00
Barbalha 40.733 1 20.000,00
Lavras da Mangabeira 25.177 9 105.000,00
Milagres 22.410 1 10.000,00
TOTAL 805.000,00
Fonte: Elaboração própria a partir dos dados do SPCE-TSE.

Observando os dados, percebemos que Fortaleza foi o município em que os


vereadores mais receberam recursos, com média de R$ 55.454,54 para cada candidato.
Essa transferência maior de recursos é compreendida pelo fato de o cargo de vereador em
167

Fortaleza ser estratégico para o Diretório Estadual, visto que possibilita visibilidade ao
partido e permite, inclusive, que esses vereadores possam futuramente ser eleitos
deputados estaduais.
Um dado que chama atenção nessa Tabela é novamente o valor de recursos
transferidos aos candidatos de Lavras da Mangabeira. Observamos que o Diretório
Nacional financiou a campanha de nove vereadores, o total de vagas disponíveis na
Câmara Municipal. Nesse sentido, a estratégia do partido era viabilizar a campanha do
candidato a prefeito do município, como vimos na Tabela 9, e proporcionar a formação
de base de sustentação do prefeito no Legislativo local.
Embora os candidatos do PMDB tenham recebido a maior quantidade de
recursos do Diretório Nacional, é notável o fato de que outros partidos tenham ganhado
doações para suas campanhas. Nas disputas para o Executivo, os candidatos de dois
partidos obtiveram recursos: PSB nos municípios de Cedro, Quixeramobim e Itapiúna,
totalizando R$ 105.000,00; e PSD de Banabuiú, que obteve R$ 100.000,00.
Nas disputas para o Legislativo, embora o total transferido tivesse sido menor,
R$ 75.000,00, esse recurso foi destinado a uma maior quantidade de partidos, como o
PSDB, PTC, PTN, PDT e PHS. A maioria dos candidatos dessas agremiações compunha
coligação com o PMDB nas eleições municipais. Esse foi novamente o caso de Lavras da
Mangabeira, pois dois candidatos do PHS, um do PDT e outro do PTC receberam recursos
para a campanha. Esses três partidos e mais outros dois (PTB e PCdoB) compunham a
coligação que lançou o candidato do PMDB, Ildsser Alencar Lopes.
Cabe observar que um candidato a vereador de Fortaleza pelo PTN obteve R$
20.000,00 do Diretório Nacional do PMDB, embora este partido não estivesse coligado
com o PMDB, mas com o seu oponente, o PT. Na entrevista de campo, o presidente do
PMDB de Fortaleza, Willame Correia, enfatizou novamente a tese por ele defendida que
o líder possui expertise política necessária para gerir o partido:
Olha [pausa longa], eu sinceramente não vejo nenhum problema que
candidatos aliados, mesmo que estejam em outro partido, tenham nosso
apoio [...] O Eunício [Oliveira] sabe conduzir o partido e se ele fez essas
escolhas é porque ele tem conhecimento (WILLAME CORREIA,
presidente do PMDB de Fortaleza. Entrevista concedida ao autor em
19/11/2015).
Em Mombaça, as lideranças partidárias ressaltaram que os recursos “ (...)
eles foram escassos, mal dando para cobrir as despenas mais básicas” (Diana Barreto,
secretária-geral do PMDB. Entrevista concedida ao autor em 22/09/2015). Mesmo em
168

campanhas anteriores é relatado que o Diretório Estadual só fornecia recursos para o


combustível, como é percebido abaixo:
O combustível. Porque nós, do PMDB, nunca recebemos assim, essas
coisas, essas farturas do PMDB [do Diretório Estadual]. Toda vida foi
desse jeito! A moto era minha, aí colocavam o combustível. Quando eu
comecei, aí o pessoal: “Candidato a vice-prefeito andando de moto”
(GERSON VIEIRA NETO, ex-presidente do PMDB de Mombaça,
ocupou o cargo de vereador por três mandatos e vice-prefeito por dois
mandatos. Entrevista concedida ao autor em 15/10/2015).
Interessante observar nesse relato que foram mínimos os recursos obtidos
pelo candidato, que já tinha sido vereador por três mandatos consecutivos (1992, 1996 e
2000). Além disso, muitos estranhavam o fato de o candidato a vice-prefeito utilizar meio
de transporte precário, indicando que não tinha subsídios para a campanha.
Na entrevista realizada em Nova Olinda, o presidente do partido afirmou
também que não recebeu recursos da legenda para custear sua campanha ou a de qualquer
outro candidato da agremiação, como é ressaltado abaixo:
O papel que o PMDB desempenha em Nova Olinda. A gente tem o
partido, o controle do partido... E tem o vereador, tem o vice-prefeito,
que sou eu. É um papel político para a gente ter nossos candidatos, pra
trabalhar, porque a gente trabalha com recurso próprio, não tem recurso
de partido, não tem recurso de, de liderança, nada, é o nosso. [...] Não
recebemos nada pelo partido, nada, nada, nada. Nunca recebemos! Até
o pessoal chega: “Não, vem dinheiro do partido”. Pode ter vindo para
outro, aqui nunca veio, não (ELÍZIO GALDINO, presidente do
Diretório do PMDB e atual vice-prefeito. Entrevista concedida ao autor
em 20/09/2015).
Nesse depoimento, percebemos que o recurso fornecido pelo partido é o
“controle” da agremiação para que o presidente do órgão municipal possa tomar suas
decisões de forma autônoma. Essa concessão dada pelo Diretório Estadual é a mais
importante e, a partir desse recurso, os candidatos autofinanciam suas campanhas, como
Elízio Galdino ressalta: “Eu quero a segurança que o partido sempre tá comigo, que não
vai entregar o partido para outra pessoa”.
Assim, tendo observado esses dados de transferência de financiamento
eleitoral do Diretório Nacional para os candidatos e Diretórios Municipais do Ceará em
2012, alimentamos a hipótese de que a distribuição de recursos do partido possui dois
pontos principais: é centralizada pelo Diretório Estadual, visto que Eunício Oliveira
ocupava o cargo de tesoureiro; e é baseada em critérios informais, relações de confiança
e de pessoalidade. Como ressaltado anteriormente, a estratégia eleitoral em 2012 era
montar a maior rede possível de alianças para que o partido tivesse legitimidade e força
169

política para disputar o Executivo estadual em 2014, o que explica a transferência de


recursos para os partidos aliados.
Questionado sobre essa transferência de recurso do Diretório Nacional do
PMDB para as eleições no Ceará, o secretário do Diretório Estadual João Alves Melo
argumentou que:
Essas transferências são comuns e estão todas aprovadas pelo
Judiciário. Elas fazem parte do interesse do Diretório Nacional de fazer
um arco de alianças maior. O Diretório Nacional via na figura de
Eunício Oliveira uma aposta para as eleições de 2014, assim buscava
naturalmente fortalecer o partido no estado. Nada mais natural (JOÃO
ALVES MELO, secretário-geral do PMDB-CE. Entrevista concedida
ao autor em 17/11/2015).
Na entrevista com o secretário-geral do PMDB cearense, percebemos que o
tema do financiamento eleitoral é delicado. O entrevistado se mostrava comedido em suas
respostas, argumentando que essas transferências foram “aprovadas pelo Judiciário”.
Observa-se também que este via como “natural” a agremiação transferir recursos a
candidatos de outros partidos, mesmo que alguns membros do PMDB não recebessem
nenhum recurso. Inquirido sobre qual seria o critério utilizado para financiar os
candidatos, o secretário afirmou que não existia nenhum documento oficial, mas que
todos esses candidatos foram escolhidos pelo Diretório Nacional e que não seria Eunício
Oliveira que escolheria a quem os recursos seriam destinados.
Observa-se, assim, que o secretário-geral não quer que Eunício Oliveira,
então tesoureiro do Diretório Nacional, seja responsabilizado pela seleção dos candidatos
do partido no Ceará que receberam recursos para suas campanhas. Pelo discurso acima,
busca-se construir a ideia de que essa escolha foi feita por membros do Diretório Nacional
e que não passou por decisão de Eunício Oliveira.
Quanto ao financiamento eleitoral das eleições estaduais no Ceará, o
secretário-geral João Alves Melo ressaltou que o Diretório Estadual tenta providenciar
recursos com o Diretório Nacional para custear as campanhas, mas novamente insistiu
que os recursos do Diretório Estadual são mínimos.
Analisando a transferência de recursos do Diretório Nacional para as
campanhas eleitorais no Ceará em 2014, observamos que o candidato ao Executivo
estadual, Eunício Oliveira, conseguiu a maior quantia, totalizando R$ 4.878.594,66. Por
ocupar o cargo de tesoureiro da Executiva Nacional do partido esse líder tem acesso a
importante zona de incerteza: o financiamento. Como ator organizativo, essa liderança
170

teve acesso a contatos privilegiados, conseguindo financiamento do partido para sua


campanha eleitoral como governador.
Observando o financiamento para a campanha de deputados federais e
estaduais, percebemos que estes obtiveram menos da metade do valor que Eunício
Oliveira conseguiu. Como vemos abaixo.

Tabela 10 - Transferência do Diretório Nacional do PMDB ao Legislativo - Eleições 2014


Votos Valor
Cargo Nome do Candidato Situação
Nominais recebido (R$)
Dep. Federal Francisco Danilo Bastos Forte 180.157 Eleito 1.004.470,28
Dep. Federal Carlos Mauro Cabral Benevides 60.201 Suplente 600.000,00
Dep. Federal Mário Feitoza de Carvalho Freitas 56.162 Suplente 200.000,00
Dep. Estadual Danniel Lopes de Oliveira Sousa 62.550 Eleito 200.000,00
TOTAL 2.004.470,28
Fonte: Elaboração própria a partir dos dados do SPCE-TSE.

Analisando esses dados, percebemos a distribuição de poder no interior da


agremiação. Dos 12 candidatos ao cargo de deputado federal apresentados pelo PMDB,
três deles foram eleitos: Danilo Forte (180.157 votos), Aníbal Ferreira Gomes (173.736
votos) e Vitor Valim (92.499 votos). Desses, apenas Danilo Forte recebeu recursos do
Diretório Nacional. Este ocupou importantes postos de comando no partido, foi membro
do Diretório Nacional (2009), presidente da Fundação Ulysses Guimarães do Ceará
(2010), delegado do Diretório Estadual do Ceará (2013-2015) e na Câmara dos Deputados
foi vice-líder do PMDB (2013-2015). Mas, como ressaltado anteriormente, esse migrou
para o PSB em 2015 para obter a residência da Executiva Estadual do partido.
Já o deputado Aníbal Ferreira Gomes, apesar de ocupar cargos no Diretório
Estadual e ter obtido expressiva votação, não recebeu nenhum recurso do Diretório
Nacional. Este iniciou sua carreira eleitoral como prefeito de Acaraú (1989-1993) —
cidade de médio porte — pelo PMDB e em 1994 foi eleito deputado federal. Assumindo
o mandato no auge do PSDB no Ceará, migrou para esse partido em 1997 e foi reeleito
em 1998. Retornou ao PMDB em 1999, ocupando no Diretório Estadual o cargo de 2º
tesoureiro (2008-2013) e em seguida o cargo de delegado (2013-2018). Porém, migrou
para o DEM em 2018.
Outro deputado federal eleito que também não obteve recursos foi Vítor
Valim. Este é apresentador de programa policial e desde 2008 ocupava o cargo de
vereador de Fortaleza pelo PMDB. Mas, diferente de Aníbal Ferreira Gomes, não ocupava
171

cargos na direção do partido, sendo considerando político “autônomo”, que possui capital
político acumulado fora da organização partidária. Em 2018, migrou para o PROS.
Cabe observar o caso dos outros dois deputados federais não eleitos que
receberam recursos do Diretório Nacional: Mauro Benevides, o ex-presidente e atual 3º
vice-presidente do Diretório Estadual do Ceará, e Mário Feitoza, deputado federal e
aliado político de Eunício Oliveira.
Investigando o financiamento para a campanha de deputado estadual,
observamos discrepância maior de poder intrapartidário. Dos 26 candidatos no Ceará, o
Diretório Nacional só financiou a campanha de um candidato: Daniel Oliveira. Este é
sobrinho de Eunício Oliveira, 1º tesoureiro e delegado do Diretório Estadual e presidente
da Juventude do PMDB cearense (2008-atual).
Cabe ressaltar o caso do candidato Agenor Neto, que não recebeu nenhum
recurso, mesmo ocupando a 2º vice-presidência do Diretório Estadual e sendo um político
com expressiva votação, obtendo a maior votação (78.868 votos) entre os deputados
estaduais do partido.
Quanto a outros recursos para a campanha eleitoral dos candidatos, o
secretário-geral João Alves Melo informou que o Diretório Estadual forneceu estrutura
para as campanhas. Disponibilizou materiais, como adesivos e gravação de jingles, e
orientou sistematicamente os Diretórios Municipais e os candidatos do partido por meio
do seu staff técnico, como advogados, publicitários e contadores. Outra atividade
desenvolvida pela agremiação foi a realização de pesquisas eleitorais internas que foram
utilizadas, sobretudo, para a escolha do candidato que o partido vai lançar ou apoiar. Esse
é um recurso imprescindível, pois o Diretório Estadual busca construir campanhas
competitivas para obter o máximo de dividendos eleitorais, como ressalta o secretário-
geral:
Quando nós desenvolvemos ações de uma campanha eleitoral, nós
sempre vemos a campanha eleitoral no seu todo. Por exemplo,
município A tem dez candidatos a vereador, dentre os quais três ou
quatro têm potencial de chegar à eleição. Tendo candidato a prefeito
que está com vantagem dentro do processo. Então à medida que nós
vamos a esse município, nós fortalecemos aquelas candidaturas para
que elas se viabilizem com os meios que nós dispomos. Fortalecemos
oferecendo suporte, depois fortalecemos oferecendo a estrutura mínima
que nós temos pra hoje, fortalecemos oferecendo suporte financeiro
para a gestão no período seguinte. [...] O partido trabalha muito em cima
disso, em cima de pesquisa (JOÃO ALVES MELO, secretário-geral do
PMDB-CE. Entrevista concedida ao autor em 17/11/2015).
172

No órgão partidário de Fortaleza, que utiliza todo o aparato burocrático do


Diretório Estadual, os candidatos têm oportunidades de assessorias técnicas, como é
relatado abaixo:
O partido em si, ele dá toda a estrutura a todos os candidatos e pré-
candidatos, desde o seu tempo de televisão, o PMDB é um partido que
tem um tempo de televisão muito bom, grande [...] Assessoria jurídica.
O partido em si dá toda essa estrutura de acompanhamento da parte que
se compõe uma eleição [...] [pois uma eleição precisa de] uma
assessoria jurídica, precisa de ter um acompanhamento, de profissionais
como na parte da publicidade, que a gente falou há pouco tempo [...]
então o PMDB tem, dentro do seu quadro de filiado, pessoas
simpatizantes que quando chega esse período de eleições, ele vem a não
ser candidato, mas sim vem contribuir dando essa assessoria
(WILLAME CORREIA, presidente do PMDB de Fortaleza. Entrevista
concedida ao autor em 19/11/2015).
Pelo depoimento acima, o presidente do PMDB de Fortaleza defende que o
partido fornece essa estrutura de forma igualitária para todos os candidatos. Existem
recursos, como as assessorias contábil e jurídica e a distribuição de alguns materiais de
campanha, como adesivos e panfletos, que são distribuídos para todos os candidatos. No
entanto, percebe-se que alguns candidatos, por terem proximidade maior com a Comissão
Executiva Estadual conseguem mais recursos, como tempo de TV e recursos de
propaganda.
No estatuto, não existe uma regra especificando a distribuição desses
recursos. A existência de alguma resolução sobre essa questão não era de conhecimento
de nenhum dos entrevistados. Assim, a distribuição desses recursos fica a cargo da
Comissão encarregada da organização da eleição.
Na pesquisa realizada com os órgãos municipais de Mombaça e Nova
Olinda, as lideranças partidárias locais informaram que o Diretório Estadual fornece
esses recursos técnicos para a campanha eleitoral. O presidente do PMDB de Nova Olinda
ressaltou esse suporte técnico:
Orientação dá. Por exemplo, a gente precisa de um, uma consulta com
um advogado, tem o advogado do partido que a gente consulta ele, lá
do Diretório [Estadual]. Essas coisas, essa orientação ele dá, esse apoio
moral ele dá. Permanente, qualquer hora que você precisar (ELÍZIO
GALDINO, presidente do Diretório do PMDB e atual vice-prefeito.
Entrevista concedida ao autor em 20/09/2015).
No entanto, essas lideranças denunciaram a falta de recursos materiais para a
estruturação e manutenção da organização partidária. Isso é percebido quando os
entrevistados afirmam que o órgão municipal nunca recebeu nenhuma verba do fundo
173

partidário, embora a legislação partidária oriente que o Diretório Estadual deve


obrigatoriamente repassar um percentual para os Diretórios Municipais.
Embora o Diretório Estadual não transfira recursos do fundo partidário para
os órgãos municipais, fornece outros recursos da máquina partidária. Verificamos que o
Diretório Estadual desenvolve projetos e promove alguns serviços que abrangem todos
os municípios. Um desses projetos é coordenado pela fundação do partido, Fundação
Ulysses Guimarães, e tem por objetivo qualificar seus candidatos por meio de cursos 68.
Para a coordenadora:
O principal ganho desses cursos, principalmente a partir do momento
em que eles se intensificaram, foi reaproximar o partido da juventude.
Por que que eu estou dizendo isso... Porque a ideia que se tem fora dos
partidos, do que é um partido no seu dia a dia, na sua vivência, é uma
ideia muito estereotipada, bastante estereotipada. As pessoas têm uma
noção, que a própria imprensa colabora muitas vezes ao estereotipar
bastante que partido x, partido y. Quando você vê que o partido, ele te
oferece espaços de discussão, de formação, que aquilo abre todo um
espaço que não necessariamente pra sua militância política ou pra sua
candidatura, mas te prepara, por exemplo, pra você saber discutir dentro
da escola, da universidade, de uma série de lugares. Te dá uma
informação pelo menos pra entender... (ROSÂNGELA AGUIAR,
delegada do partido e presidenta do PMDB-Mulher. Entrevista
concedida ao autor em 17/11/2015).
Nesse discurso, a entrevistada passa a ideia de que a agremiação oferece
espaço para debate e formação política, existindo intensa atividade interna, com
discussões e formulações de políticas públicas. Não predominaria dentro do partido uma
lógica fisiológica, imagem essa que marca o estereótipo sobre o PMDB.
Além desses cursos, o Diretório Estadual também organiza convenções e
comícios eleitorais nos municípios estratégicos para a agremiação, contando com a
participação das principais lideranças do partido. Nos eventos de 2012, a presença de
Eunício Oliveira foi central, visto que era a liderança estadual de maior destaque no
partido.
Observa-se que o Diretório Estadual do Ceará centraliza a distribuição de
recursos, seja financiamento da campanha eleitoral ou assistência técnica. Observando as
duas eleições, percebemos que esse Diretório Estadual possui o apoio político e financeiro
do Diretório Nacional, relação facilitada pelo fato do seu líder, Eunício Oliveira, ocupar

68
Entre esses cursos, os mais procurados, segundo Rosângela Aguiar, que também coordena as formações
da Fundação, são os de “Eleições Municipais: Saber para Vencer”, “Curso de Dicção e Oratória”, “Curso
Básico de Formação Política Ulysses Guimarães” e o “Curso de Formação Política para Juventude”. Esses
cursos são oferecidos a partir da modalidade de Educação à Distância (EaD).
174

cargo no Diretório Nacional e exercer liderança no plano nacional, ocupando, inclusive,


a posição de líder do partido no Senado (2013-2014).
Segundo os membros da Executiva Estadual que foram entrevistados, o
Diretório Nacional dá autonomia ao Diretório Estadual para que este defina suas
estratégias eleitorais e distribua seus recursos, visto que o mais importante para o partido
é eleger a maior quantidade de candidatos. Entretanto, apesar dessa autonomia, o
Diretório Nacional faz reuniões para cobrar e acompanhar os resultados eleitorais, como
observamos abaixo:
Cobra, sim. Por exemplo, nesse ano nós já tivemos uma reunião com
todos os estados reunidos em Brasília, onde nós fizemos uma avaliação
estado por estado, presença do estado em termos de filiação, a presença
do estado em número de municípios integrados, a presença do estado
no exercício de cargos; por exemplo, quantos prefeitos nós temos,
quantos vereadores nós temos, qual a representação federal, qual a
representação estadual, qual a representação no Senado. Tudo isso foi
avaliado, e naqueles estados que estão abaixo da média, é feito um
trabalho direto de elevação desse estado para, pelo menos, ele estar na
média do Brasil. E esse trabalho, ele é conduzido naturalmente pelo
Diretório Estadual. A fundação Ulysses Guimarães dá suporte, o
Diretório Nacional do partido dá suporte e é conduzido pelo Diretório
Estadual (JOÃO ALVES MELO, secretário-geral do PMDB-CE.
Entrevista concedida ao autor em 17/11/2015).
Contudo, apesar desse acompanhamento quanto ao número de políticos
eleitos, o Diretório Estadual tem independência. Nesse aspecto, um dos entrevistados
enalteceu o fato de o PMDB não ser centralizado e não contar com linha política clara e
delimitada, como percebemos abaixo:
O PMDB, de uma forma geral, você pode definir como um partido de
centro. Com espaço pro conservadorismo e a pauta progressista
conviver de vez em quando e cair de pau [entrar em conflito]. O que,
de certa forma, é interessante que você tenha essa disputa, né? De
pensamentos e a não existência de um pensamento hegemônico
(ROSÂNGELA AGUIAR, delegada do partido e presidenta do PMDB-
Mulher. Entrevista concedida ao autor em 17/11/2015)
Para a entrevistada, a ideia de democracia dentro do partido é compreendida
a partir da não centralidade das decisões, pois cada Diretório Estadual tem autonomia
para definir sua política, predominando decisões colegiadas. Como Rosângela Aguiar
ressaltou: “Você nunca vai encontrar um PMDB em nenhum lugar do Brasil homogêneo.
Pela própria formação do partido. Isso não existe!”. A partir do que foi exposto nesse
tópico, temos uma Tabela que sintetiza o grau de centralização das variáveis analisadas.
175

Tabela 11 - Síntese do grau de centralização do PMDB do Ceará

DISTRIBUIÇÃO DE
ALIANÇA E
SELEÇÃO DE CANDIDATO RECURSOS PARA
COLIGAÇÃO
CAMPANHA
Cargos majoritários - Alta
Alta centralização: líder autocrático Alta centralização:
centralização: indica os candidatos. líder autocrático
CEARÁ

líder distribui os recursos para


autocrático Cargos proporcionais - Baixa alguns candidatos que
estabelece os centralização: líder autocrático são escolhidos para ter
acordos. aceita indicação dos candidatos, financiamento.
mas precisa ser negociado.
Alta Executivo - Alta centralização:
centralização: líder autocrático indica os
Alta centralização:
FORTALEZA

líder candidatos.
líder autocrático
autocrático
distribui os recursos para
estabelece os Legislativo - Descentralizado:
alguns candidatos que
acordos. líder não acompanha a indicação
são escolhidos para ter
Atrelado a dos candidatos. Processo é
financiamento.
disputa realizado pelo órgão partidário
estadual. local.
Executivo - Baixa
centralização: líder aceita
Alta indicação dos candidatos, mas Alta centralização:
MOMBAÇA

centralização: precisa ser negociado. líder autocrático


líder distribui os recursos para
autocrático Legislativo - Descentralizado: alguns candidatos que
estabelece os líder não acompanha a indicação são escolhidos para ter
acordos. dos candidatos. Processo é financiamento.
realizado pelo órgão partidário
local.
Executivo - Descentralizado:
líder não acompanha a indicação
dos candidatos. Processo é
NOVA OLINDA

Baixa Sem recurso: lideranças


realizado pelo órgão partidário
centralização: locais não possuem
local.
líder aceita trânsito com o líder
acordos locais, autocrático do partido
Legislativo - Descentralizado:
mas precisa ser para conseguir
líder não acompanha a indicação
negociado. financiamento.
dos candidatos. Processo é
realizado pelo órgão partidário
local.
Fonte: Elaboração própria.
176
177

3. O PT-CE: PARTIDO DE OPOSIÇÃO CENTRALIZADO POR TENDÊNCIA


3.1- Modelo originário e desenvolvimento organizativo
De acordo com Meneguello (1989), o PT configurou-se como uma novidade
político-institucional no cenário partidário brasileiro no que diz respeito à origem,
organização e proposta. O partido é caracterizado por uma “lógica da diferença” (KECK,
1991) que o tornaria singular no sistema partidário brasileiro e análogo ao modelo de
“partido de massa” assinalado por Duverger [1951].
A originalidade do partido quanto a sua origem e composição interna deve-se
a multiplicidade de atores políticos que contribuíram para sua formação. Além da classe
operária urbana, que integrou o Novo Sindicalismo e promoveu greves no final da década
de 1970, outros atores destacaram-se como protagonistas no processo de fundação do
partido: líderes comunitários ligados às Comunidades Eclesiais de Base (CEBs),
parlamentares que antes integravam o MDB, setores da intelectualidade, membros de
organizações de esquerda que já possuíam alguma organização e militantes de
movimentos populares urbanos (MENEGUELLO, 1989; KECK, 1991).
A proposta política do PT era também inovadora, caracterizando-se pelo
caráter classista, socialista e democrático. O objetivo do partido era possibilitar a inserção
no sistema político de novos atores, até então marginalizados, expressando os interesses
dos pobres e dos trabalhadores na esfera política (MENEGUELLO, 1989; KECK, 1991).
Quanto a organização interna, percebemos a originalidade do seu desenho
institucional. Como foi comentado anteriormente, a legislação partidária de 1979
especificava de forma detalhada como os partidos deveriam se organizar. O PT conseguiu
se destacar frente as outras agremiações à medida que adaptou as regras oficiais de
organização aos interesses políticos do partido.
Como ressalta Keck (1991), a proposta de criação do PT era de fundar uma
agremiação que garantisse a seus membros escolha política consciente no momento de
suas filiações. Os órgãos partidários deveriam ser canais efetivos que possibilitassem
atividade política ativa e que refletissem organização interna democrática. Porém,
cumprir os imperativos legais e criar um novo partido de baixo para cima sem contar
inicialmente com grande base parlamentar era desafiador.
A autora ressalta que o partido implementou dois importantes mecanismos
organizacionais para garantir processo democrático interno e estimular a participação dos
seus membros: a pré-convenção e os Núcleos de Base. O primeiro seria a realização de
um encontro antes da convenção oficial prevista na legislação partidária. Esta pré-
178

convenção seria mais ampla, com participação de maior número de membros do partido,
e constituiria a verdadeira reunião deliberativa do partido.
Por sua vez, os Núcleos de Base seriam uma modificação da estrutura
organizacional do partido, já que a legislação partidária de 1979 determinava como níveis
federativos os âmbitos nacionais, estaduais, municipais e zonais. Os Núcleos de Base
seriam organizados em sua maioria a partir de bairros, constituindo-se como subdivisão
do órgão partidário municipal e/ou zonal. Essa, organização alicerçada nos Núcleos de
Base, teria como objetivo garantir maior participação e democratização das decisões do
partido, com estímulo à participação de todos os seus membros.
Nesse aspecto, a organização partidária, centrada em Núcleos de Base,
constituiria uma democracia de base na medida em que a legitimidade da representação
deveria ser permanentemente confirmada pelo contato direto entre representantes e
representados, que inclusive deveriam partilhar da mesma condição de classe.
Observando as características do modelo originário do partido, Keck (1991)
e Mendoza e Oliveira (2003) defendem que o desenvolvimento inicial do PT foi
caracterizado por penetração territorial que teve como centro o estado de São Paulo. A
formação do partido “dependeu principalmente dos contatos que o núcleo do grupo de
organização de São Paulo mantinha com o resto do país (bem como com o interior do
estado)” (KECK, 1991, p. 117). Porém, “o processo de formação do partido ocorreu de
várias formas distintas, de acordo com a natureza do grupo que assumiu a
responsabilidade pela sua organização em cada estado” (KECK, 1991, p. 117).
Segundo a autora, apesar do desenvolvimento territorial do partido ter sido
centrado na penetração mantida pelo movimento operário de São Paulo, ocorreu também
processo de difusão em que uma heterogeneidade de grupos locais fundava Diretórios
Estaduais e Municipais. Cita, como exemplos, a formação do PT do Rio de Janeiro, onde
houve um “amálgama relativamente conflituoso [entre] estudantes e intelectuais, grupos
comunitários organizados com base em trabalhos de bairro e (...) parlamentares” (KECK,
1991, p. 118); e uma experiência de formação mais homogênea, constituída pela rede das
comunidades de base da Igreja e pelos sindicatos rurais, como ocorrido no Acre.
Ribeiro (2010) contesta a tese de Keck (1991) sobre o modelo originário do
PT. Para o autor, o desenvolvimento territorial do partido foi caracterizado por um
mosaico de experiências regionais, apresentando caráter heterogêneo dos processos e
atores envolvidos na organização. A agremiação inicialmente seria marcada pelo
desenvolvimento territorial difuso, só assumindo maior capacidade de penetração
179

territorial a partir de 1983, com a formação da corrente chamada Articulação, quando o


grupo sindical paulista passou a ter maior controle sobre a expansão organizativa do
partido.
O segundo fator que caracteriza seu modelo originário é a presença de
instituições externas desde seu nascimento. Destacam-se os sindicatos urbanos, ligados
ao movimento operário do Novo Sindicalismo; os sindicatos rurais, como o Sindicato dos
Trabalhadores Rurais; e a Igreja católica, especificamente os setores mais progressistas
vinculados à teologia da libertação.
No modelo originário do partido, não se percebe a existência de um líder
carismático que faça da organização uma extensão de si mesmo, como no modelo
proposto por Panebianco [1982]. Observa-se a atuação de uma liderança sindical, Luiz
Inácio Lula da Silva, que forneceu os incentivos coletivos fundamentais para a construção
da identidade partidária. Essa liderança foi eleita como primeiro presidente do partido,
tornando-se seu intérprete autorizado.
Defrontando o modelo originário do PT nacional com o PT do Ceará, é
possível perceber algumas singularidades do caso cearense. Semelhante ao ocorrido no
plano nacional, a construção do partido no Ceará foi marcada pela presença de lideranças
de esquerda que militaram durante a ditadura militar. Essa militância organizada era
vinculada aos movimentos sociais e sindicais, sendo composta por variados grupos.
Alguns grupos atuavam dentro do MDB, aderindo ao PT no momento de sua fundação, e
outros agiam de forma clandestina.
Entre os militantes de esquerda que contribuíram para a fundação do PT no
estado, cabe ressaltar a atuação de Francisco Auto Filho. Este era jornalista e professor
recém-saído da prisão política e articulou a visita de Lula da Silva a Fortaleza em 1978
para discorrer sobre a Frente dos Trabalhadores e mobilizar os militantes para a fundação
do partido. Em 1980, quando foi criado a Comissão Provisória Estadual do Ceará, Auto
Filho assumiu o cargo de presidente (OLINDA, 1991).
Embora a organização do partido tenha sido iniciada na capital do estado, por
meio da atuação militantes trotskistas, a expansão inicial do PT no estado se deu
majoritariamente por meio de processo de difusão territorial. No interior, grupos que eram
vinculados às CEBs e aos Sindicatos dos Trabalhadores Rurais aderiram a criação do
partido, sem existir um centro forte e controlador da expansão territorial.
A consolidação do PT nesse estado foi marcada por estruturação territorial
em direção inversa ao modelo nacional, ocorrendo no sentido interior-capital, das áreas
180

menos industrializadas e rurais para as áreas mais industrializadas e urbanas. Essa


característica particulariza a criação do PT nesse estado. Diferente da fundação do PT em
São Paulo que se deu por meio da atuação de ativismo urbano, no Ceará a zona rural foi
responsável pela expansão do partido. Isso vai de encontro a tese de que no Ceará a
política na zona rural era oligárquica e coronelística.
Deve-se ressaltar que, durante a ditadura militar, houve no Ceará intensa
politização na área rural por meio do ativismo de organizações clandestinas. Destaca-se
a Ação Popular (AP), originária da Juventude Universitária Católica (JUC) em 1962, que
no Nordeste teve penetração no meio rural por meio do Movimento de Educação de Base
(MEB) ligado à Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB). Com a radicalização
da ditadura, a organização aderiu à linha chinesa de Mao Tsé-Tung, defendendo maior
interação com as comunidades rurais e a formação de guerrilhas no campo. Outra
organização foi a Frente de Libertação do Nordeste (FLNE), dissidência da Ação
Libertadora Nacional (ALN) que defendia a luta armada guerrilheira sob inspiração
guevarista. Por último, acentua-se a atuação do Partido Comunista Brasileiro
Revolucionário (PCBR), dissidência do PCB que criticava a tese de aliança com a
burguesia brasileira e que defendia a atuação na área rural como estratégia para construir
o “Governo Popular Revolucionário” (BRASIL NUNCA MAIS, 1985).
Quanto a presença de instituições externas, cabe destacar duas organizações
no interior do estado: o Sindicato dos Trabalhadores Rurais e a Igreja católica por meio
da Comissão Pastoral da Terra (CPT).
No sertão, o sindicato assumiu o papel de politizar os trabalhadores rurais, os
parceiros-moradores, sobre seus direitos e de mediar, por meio das delegacias sindicais,
a relação entre parceiros-moradores e proprietários na fiscalização dos contratos. Os
parceiros exigiam o pagamento da renda da terra de acordo com legislação 69 e os
moradores reivindicavam indenização pelo trabalho incorporado à terra e pelo tempo de
moradia. Nesse ambiente, o sindicato atuava como corpo estranho ao inserir nova
gramática de luta pelos direitos e não mais a reiteração da cultura do favor e do
clientelismo (BARREIRA, 1992).
A Igreja católica, por meio da missão evangélica de transformação da
sociedade, assumiu o protagonismo na política eleitoral. Segmentos progressistas da
Igreja passaram a exercer militância tanto de forma direta, lançando e apoiado

69
Em novembro de 1964 foi promulgada a Lei nº 4.504, Estatuto da Terra, disciplinado as relações
fundiárias no país.
181

candidaturas, quanto de forma indireta, por meio da educação política e de organização


do “povo oprimido”. Buscando politizar os cristãos para as eleições de 1982, foi
publicado uma Cartilha Política em novembro de 1981 pela CNBB — Regional Nordeste
I. Carvalho (2009), realizando análise de conteúdo da referida cartilha, destaca que esse
documento criticava o clientelismo e à política de “favores” ao apresentar situações, em
geral vivenciadas no meio rural, em que os trabalhadores votavam no candidato que o
patrão mandasse como retribuição aos favores recebidos. Nas eleições de 1986,
integrantes da CPT, das CEBs e da Pastoral da Juventude do Meio Popular (PJMP)
apoiaram a campanha do sindicalista dos trabalhadores rurais de Tauá, Antônio Amorim,
como deputado federal pelo PT.
Estas duas instituições, sindicato rural e Igreja, foram responsáveis pela
mobilização de contingente de movimentos sociais no interior e pela implantação do
partido nos municípios a partir de questões locais. O PT de Mombaça, por exemplo, foi
fundado a partir da articulação do Sindicato dos Trabalhadores Rurais, Sindicato dos
Bancários e de núcleos da Igreja como a PJMP, sendo instituído uma Comissão Provisória
em 1981. O PT do Nova Olinda foi criado também 1981 a partir da mobilização de
organizações sociais como: Sindicato dos Trabalhadores Rurais e associações
comunitárias da Igreja, como a Associação Cristã de Base (ACB).
A ACB foi fundada no Ceará na década de 1980. A associação orientava a
criação de projetos sociais e a organização de associações nas comunidades rurais. Em
conjunto com o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), a ACB
conseguiu mobilizar e organizar importantes manifestações e ocupações rurais na região
do Cariri. Atualmente, a primeira presidente do PT em Nova Olinda, Maria do Socorro
da Silva, coordena os movimentos populares na ACB.
A implantação do PT de Nova Olinda caracterizou-se pela proximidade com
instituições externas que tanto legitimavam o partido como forneciam militantes ou
eleitores em potencial. Similar ao que aconteceu com o partido trabalhista britânico
(Labour Party) no período em que havia a filiação compulsória dos membros do sindicato
(Trade Unions) ao partido (DUVERGER, [1951]); o Sindicato dos Trabalhadores Rurais
foi a instituição central no recrutamento de novos militantes para o PT local. Como
podemos observar pelo depoimento a seguir:
Teve um movimento grande de filiação que aí o Sindicato inclusive foi
peça forte na questão de filiação do partido. Grande parte dos filiados
que o partido tem foi o Sindicato nas bases trabalhando essa questão de
filiação. Na época de fundação do partido. Acontecia um processo
182

interessante que quem se filiava no sindicato já ganhava a filiação no


PT. Era quase que automático (MARIA DO SOCORRO SANTOS,
secretária do Diretório e presidenta do Sindicato dos Trabalhadores
Rurais de Nova Olinda. Entrevista concedida ao autor em 19/09/2015).
Por último, o PT cearense não foi marcado pela presença de uma “liderança
carismática” (PANEBIANCO, [1982]), sendo composto por miscelânea de grupos e
atores.
Os primeiros anos da fundação do PT no plano estadual foram marcados por
intensos conflitos entre as tendências que formavam o partido: Articulação dos 133, O
Trabalho (OT), Convergência Socialista (CS), Causa Operária (CO) e o grupo dos
movimentos pastorais da Igreja Católica. Fato marcante dessas disputas intrapartidárias
foi o afastamento de Auto Filho, então presidente da Comissão Executiva Provisória,
articulado pelo militante vinculado a Articulação, Gilvan Rocha (OLINDA, 1991;
PARENTE, 1994). Em 1981, quando foi criado o Diretório Estadual, a presidência do
partido foi assumida por Joaquim Alves de Almeida, vinculado a Pastoral Operária (PO),
movimento da Igreja católica ligada ao partido.
O resultado das eleições de 1982 demonstrou que, em seu primeiro teste
eleitoral, o partido ainda não tinha expressividade político-institucional em território
dominado pelas lideranças do PDS. Nessa eleição, o PT não elegeu nenhum candidato,
embora tivesse apostado na tática de lançar o máximo de candidatos para demarcar
posição e se fortalecer enquanto organização. Podemos citar o fato do partido ter lançado
candidatos aos cargos de prefeito e vereador em 34 cidades (24% do total de municípios
no estado), e, em todas elas, contar com candidatura própria ao Executivo municipal.
Analisando os dados eleitorais, percebe-se que o partido alcançou menos de
1% dos votos válidos. O candidato a governador, Américo Barreira, obteve 0,6% dos
votos válidos (9.956 votos) e candidato a senador, Willian Medeiros, obteve também
quase a mesma porcentagem de votos, 0,5% (9.478 votos). Esse mesmo percentual de
votos foi obtido também pelos três deputados federais e oito deputados estaduais que o
partido apresentou.
Após esse embate eleitoral, o PT atravessou outra crise, passando por
reestruturação da sua Executiva Estadual. Em 1984, o PT do Ceará realizou uma
Convenção Regional e empossou nova Comissão Executiva, tendo Gilvan Rocha
(Articulação) como presidente. Este tinha sido candidato a deputado federal em 1982 e
obteve o mesmo percentual de votos que o então presidente do Diretório Estadual
Joaquim Almeida (PO). A diferença entre a votação dos dois é que enquanto 75% dos
183

4.215 votos de Gilvan Rocha foram concentrados na capital, apenas 31% dos 4.242 votos
de Joaquim Almeida foram obtidos em Fortaleza, sendo o restante distribuído no estado.
Percebemos que a base eleitoral de Gilvan Rocha era localizada em Fortaleza.
Esse dado demonstra que o Diretório Municipal de Fortaleza conseguiu
estruturar coalizão dominante dentro do partido, embora esse processo não tenha sido
livre de conflitos, como chamam a atenção as matérias na imprensa local. Na matéria
intitulada “PT em convenção: muda o comando no Ceará” (O POVO, 15 jan.1984) são
destacados os desentendimentos entre os membros do partido na Pré-Convenção
Regional. Observa-se a descrição de situações de conflito, como percebemos no seguinte
trecho: “Os trabalhos de ontem foram encerrados por volta das 17 horas, registrando-se
apenas dois incidentes: um espocar (tiro, segundo outros) sem que se identificasse de
onde partiu e sem atingir ninguém; e a destruição de uma faixa” (O POVO, 15 jan.1984).
Na mesma matéria, é relatado ainda que uma chapa não se registrou para concorrer, sendo
na Convenção Regional eleita a chapa única que tinha Gilvan Rocha como presidente.
Em outra matéria, intitulada “PT faz advertência a cinco dissidentes” (O
POVO, 30 abr. 1984), temos o relatado de que o Diretório Estadual aprovou uma
advertência a membros ligados aos órgãos partidários do interior do estado. Estes,
especificamente Antônio Pinheiro, Alberto Fernandes, Lúcia Santos, José Hilário Freitas
e João Alfredo, compunham a chapa intitulada “Avança na Luta com as Bases” que não
concorreu na Convenção Regional. Os membros dessa chapa — chapa desistente segundo
a situação e chapa obstruída segundo a oposição — tinham solicitado à Justiça Eleitoral a
anulação da Convenção Regional. Na referida reportagem é salientado que "uma ala do
PT pretendia a expulsão dos cinco dos seus quadros, [...] [mas] venceu a tese de
advertência pública”.
Outra informação relevante na matéria sobre a Convenção Regional do PT (O
POVO, 15 jan.1984) é a menção à presença de membros do Conselho de Defesa Operário
e Popular (CDOP), entidade vinculada a então deputada estadual Maria Luíza (PMDB).
Dirigentes do PT denunciaram que membros desse conselho estariam lá "com o intuito
de 'baldear a nossa Convenção'".
O destaque à presença de integrantes do CDOC é significativo devido ao
movimento de aproximação da então deputada estadual Maria Luíza (PMDB) com o PT.
Esta liderança disputava com o PCdoB a hegemonia dos movimentos populares de
184

Fortaleza70. Quando uma ala mais esquerdista do PCdoB rompeu com a sigla em 1984,
criando o Partido Revolucionário Comunista (PRC), Maria Luíza passou a integrar esse
grupo.
Em 1985, o PRC, guiado por uma concepção de estratégia e tática da
revolução brasileira, vinculou-se ao PT como grupo autônomo. Esse grupo tinha como
principais lideranças o deputado federal José Genoíno, de São Paulo, e Tarso Genro, do
Rio Grande do Sul. Em 1989, por meio de autocrítica a sua ortodoxia, o grupo se dissolveu
e passou a constituir uma tendência do PT sob a denominação Nova Esquerda (NE)
(AZEVEDO, 1995).
Seguindo essa transição do PRC, a então deputada estadual Maria Luíza
migrou para o PT em 1985. Sua integração não foi pacífica, já que seu grupo político se
constituía uma facção autônoma dentro do PT. Na disputa intrapartidária no Diretório
Estadual do Ceará, a facção liderada pela deputada estadual Maria Luiza contava com
importantes recursos de poder. Possuía um mandato parlamentar na ALECE, tinha
articulação com os movimentos populares em Fortaleza e apresentava enraizamento em
17 municípios no interior do estado. Como destaca Carvalho (1999), o objetivo desse
grupo era obter a legenda para competir à prefeitura de Fortaleza.
Esse objetivo foi alcançado nas eleições de 1985, quando o PT lançou Maria
Luiza como candidata à prefeitura de Fortaleza, tendo como vice Américo Barreira,
vinculado a Articulação 71. Embora o partido tenha conseguido eleger a primeira prefeita
com o retorno de eleições diretas para o Executivo das capitais, o mandato de Maria Luiza
não consolidou laços de lealdade com a organização. Seu grupo, fortalecido pelo
resultado eleitoral em que obteve 34% dos votos válidos (159.846 votos), rompeu com o
PRC/NE e criou o Partido Revolucionário Operário (PRO). Essa facção, como ressalta
Carvalho (1999), era restrita ao Ceará e, mais especificamente, ao próprio “grupo de
Maria”.
O comportamento outsider do PRO causou diversos conflitos no interior do
partido. Uma dessas divergências aconteceu quando Maria Luíza anunciou mudanças no

70
Carvalho (1999) ressalta que a disputa entre Maria Luíza e o PCdoB era refletida na organização dos
movimentos populares em Fortaleza. Como na oposição entre União das Comunidades Cearenses e União
das Mulheres, comandadas por Maria Luíza, e Federação de Bairro e Favelas e Conselho Popular da
Mulher, lideradas pelo PCdoB.
71
Inicialmente, na Pré-Convenção em maio, o candidato a vice de Maria Luíza era o então presidente do
Diretório Estadual, Gilvan Rocha, como vemos na matéria “Maria Luiza candidata a Prefeita pelo PT” (O
POVO, 20 mai. 1985). Porém, na Convenção em agosto, Gilvan Rocha retirou seu nome e Américo Barreira
foi lançado como candidato, como vemos na matéria “PT indica Maria Luiza com festa no teatro” (O
POVO, 11 ago. 1985).
185

primeiro escalão do governo, como destacado na matéria “Maria provoca crise no PT com
as mudanças” (O POVO, 15 jul. 1986). Nessa permuta de cargos, a prefeita remanejou
José Guimarães, irmão do então deputado federal José Genoíno (PT-SP) do PRC/NE, da
chefia de Gabinete para o Instituto de Previdência do Município. Essa transferência
desencadeou o acirramento da tensão entre o PRO e a Articulação. Como a Articulação
tinha influência na Executiva Estadual e Nacional do partido, esta tendência pressionou
para que o PRO tivesse menos poder na Executiva Municipal de Fortaleza.
Os conflitos intrapartidários chegaram ao ápice quando foram tornadas
públicas as denúncias no “caso dos coronéis”. Na matéria “Dirigentes petistas resolvem
se afastar. Comissão investigará relação do PT com os coronéis” (O POVO, 31 dez.
1986), temos o relato de que 16 membros da Executiva e do Diretório Regional do partido
decidiram se afastar para que as acusações fossem investigadas. Na ocasião, alguns
membros do partido foram acusados de terem recebido dinheiro do candidato a
governador Adauto Bezerra (PFL) e da sua coligação PFL/PDS/PTB para financiar a
campanha de candidatos do PT e barrar o crescimento eleitoral do candidato do PMDB,
Tasso Jereissati.
Em outra matéria, intitulada “Comissão de Ética do PT apurará denúncias.
Envolvimento com Coronéis pode gerar expulsões” (O POVO, 07 jan. 1987), temos o
esclarecimento dessa acusação. Como vemos abaixo:
A prefeita Maria Luiza, Gilvan Rocha, ex-presidente do Partido dos
Trabalhadores, Manuel Fonseca, secretário de Saúde do Município e o
ex-primeiro-vice-presidente do PT, William Montenegro poderão ser
expulsos da agremiação, caso sejam confirmadas as denúncias de
Antônio Amorim, candidato não eleito a deputado federal. Eles são
acusados, em nota assinada por Amorim e mais 15 militantes petistas,
de terem recebido 140 mil cruzados e um carro de som dos "coronéis",
que não chegou a ser usado durante a última campanha eleitoral (O
POVO, 07 jan. 1987).
Outros membros da Executiva Estadual também foram implicados no “caso
dos coronéis” e receberam advertência do Diretório Nacional, tendo sido posteriormente
expulsos do partido. Na matéria “PT expulsa ex-dirigentes” (O POVO, 26 jan. 1987) é
informado que foram expulsos o então presidente do Diretório Estadual, Gilvan Rocha; o
candidato a governador pelo partido em 1982, William Montenegro; e Manuel Fonseca.
Com a expulsão do presidente estadual, o cargo foi assumido provisoriamente por José
Guimarães.
Nessa denúncia, a então prefeita Maria Luíza recebeu advertência do
Diretório Nacional, como abordado em matérias na imprensa local: “Punição de
186

advertência leva Maria Luíza a deixar o PT” (O POVO, 18 ago. 1987) e “PT mantém
punição e torna difícil o acordo com Maria” (O POVO, 22 ago. 1987). A prefeita
questionou essa advertência junto as instâncias partidárias e solicitou pedido retratação
do partido, como demonstra o título da matéria “Maria recorre para obter retratação.
Executiva do PT ressalta 'novo tempo' no trato da questão” (O POVO, 23 ago. 1987). A
prefeita passou longo período negociando sua permanência na agremiação, como foi
relatado em “Maria negocia sua permanência no PT” (O POVO, 19 set. 1987), e
conseguiu ser inocentada nesse processo do “caso dos coronéis”.
Porém, sua expulsão era anunciada, dado os constantes conflitos internos
envolvendo sua facção. O estopim foi a negociação envolvendo as eleições municipais de
1988. O PT estava dividido na indicação do candidato à sucessão e na participação do
partido em uma Frente Progressista com partidos de esquerda, como PDT, PSB, PCdoB
e PCB. Na manchete “PRO usa força e impede a realização de seis pré-convenções zonais
do PT” (O POVO, 25 abr. 1988) temos o relato de agressões físicas e tumultos no
encontro do partido.
No artigo intitulado “PT e a força das tendências”, temos uma explicação
desse conflito interno. Como vemos abaixo:
O Partido da Revolução Operária impediu a realização, ontem
[24/04/1988], das pré-convenções zonais do Partido dos Trabalhadores.
Os motivos que levaram o PRO a obstruir pela força a escolha dos 80 a
100 delegados à Convenção Municipal foram, primeiro, as
impugnações de 905 filiações de militantes daquela tendência e,
segundo, a participação do PT na Frente Progressista, não admitida pelo
grupo. A Executiva pretendeu, com as impugnações, evitar a ascensão
de Dalton Rosado à condição de candidato do partido à sucessão de
Maria Luiza, fato consumado caso as filiações fossem aceitas. A
composição com os demais partidos de esquerda é combatida pelo PRO
porque a opção da Frente Progressista na escolha do seu candidato a
prefeito jamais recairia sobre o nome do atual secretário de Finanças do
município [Dalton Rosado]. A crise se instalou no Partido dos
Trabalhadores. E as crises no PT são motivos para demonstrações da
força das tendências. O entendimento é difícil porque cada uma delas
se julga com mais razão do que as outras. A força que mantém o partido
unido é menor do que aquela que o divide, mas, apesar de desafiar as
leis da física, o PT continua a existir e a abrigar simpatizantes que
proporcionam uma convivência interna pouco amigável. Alguns blocos
até se respeitam, mas, para eles, ceder a acordos pode parecer sinal de
fraqueza (MORAES NETO, O POVO, 25 abr. 1988).
Nesse artigo de opinião, percebemos os recursos de poder utilizados pelas
tendências do partido na disputa pelo controle da organização. A coalizão dominante não
conseguia estabelecer seu comando com eficácia, visto que a tendência liderada pela
prefeita, o PRO, detinha recursos por meio do cargo no governo. A tendência conseguia,
187

por exemplo, mobilizar enorme contingente de pessoas para os encontros do partido,


como no caso da filiação em massa de 905 membros. No entanto, como a coalizão
dominante controlava importante zona de incerteza — “as regras formais”, e mais
especificamente “o recrutamento” —, foi possível o veto a admissão de novos membros
que poriam em risco a eleição dos delegados à Convenção Municipal. Nessa situação
limite, só restou a tendência opositora o boicote a realização do encontro do partido, como
defendeu o candidato às eleições primárias, Dalton Rosado, em entrevista ao jornal:
[O boicote foi] “o único instrumento possível para evitar que se
consumasse uma injustiça e o desrespeito à democracia do PT” E diz
apostar na superação da crise. “Desejamos resolver este grave
problema, mas a persistir o mesmo tipo de comportamento casuístico
da Executiva — e com a aquiescência da Nacional — estará criando um
impasse com prejuízos imprevisíveis para as duas partes”, observou (O
POVO, 25 abr. 1988).
Por esse depoimento, percebemos que a exigência por mais democracia no
interior do partido está ligada a estratégia de sobrevivência política das minorias internas
(PANEBIANCO [1982]). A tendência opositora acusava a coalizão dominante de
interpretar as regras formais para lhes favorecer, como expressa na frase “tipo de
comportamento casuístico da Executiva”.
Esse conflito interno resultou na expulsão da prefeita Maria Luíza e alguns
dos integrantes do PRO pelo Diretório Estadual, como foi noticiado na matéria
“Executiva Estadual expulsa Maria Luíza do Partido dos Trabalhadores” (O POVO, 26
abr. 1988). A prefeita recorreu às instâncias superiores do partido, mas o Diretório
Nacional ratificou a expulsão, retratado na matéria “Diretório do PT homologa expulsão
da prefeita Maria Luíza do partido” (O POVO, 08 mai. 1988).
Com a expulsão, o PRO migrou para o Partido Humanista (PH) e apresentou
Dalton Rosado como candidato a prefeito. Entre os integrantes desse grupo, destacava-se
também a atuação de dois integrantes: Jorge Paiva, assessor de Maria Luíza na prefeitura;
e Rosa Fonsêca, candidata a deputada federal pelo PT em 1986, ocasião em que obteve
13.628 votos, e vereadora de Fortaleza em 1988 pelo PH.
Essas expulsões e afastamentos foram comentados pela coalizão dominante
do partido, como fica evidenciado nas manchetes das matérias: “Américo Barreira afirma
que desde 86 havia um corpo estanho no PT” (O POVO, 26 abr. 1988) e “José Dirceu diz
que PT não perde politicamente” (O POVO, 26 abr. 1988).
188

Esses conflitos internos evidenciavam que a organização ainda não estava


institucionalizada no estado. No partido, ainda não existia coalizão dominante estável,
sendo constantes os embates entre as diversas facções que compunham a agremiação.
O resultado eleitoral de 1986 introduziu novas clivagens no interior do
partido. Na correlação de forças envolvendo os grupos internos, uma corrente, intitulada
de “grupo da Igreja”, ficou fortalecida. Esta corrente mantinha bases eleitorais no interior
do estado e conseguiu eleger dois deputados estaduais — João Alfredo e Ilário Marques
—, que eram advogados do Sindicato dos Trabalhadores Rurais.
Com esse desempenho eleitoral, o “grupo da Igreja” passou a fazer parte da
coalizão dominante do partido, suplantando a Articulação, até então liderada por Gilvan
Rocha. Em 1987, o deputado estadual João Alfredo foi eleito presidente do Diretório
Estadual.
De acordo com Olinda (1991), a partir do alinhamento com o Diretório
Nacional, o “grupo da Igreja” foi dividido posteriormente em duas facções: Articulação
e Vertente Socialista (VS). A primeira tendência foi integrada pelo deputado estadual
Ilário Marques e pelo deputado estadual eleito em 1990 Mário Mamede. A segunda foi
liderada pelo então presidente João Alfredo.
Além dessas duas tendências principais, um grupo começava a se fortalecer
no Diretório Estadual a partir da acumulação de força junto ao Diretório Nacional. Esse
grupo era liderando regionalmente por José Guimarães e formava a tendência NE. O
trânsito dessa tendência no órgão nacional do partido ocorreu quando sua principal
liderança, o deputado federal José Genoíno, integrou como suplente o Conselho
Executivo Nacional no final dos anos de 1980.
Existiam ainda tendências menores lideradas por sindicalistas, como:
Tendência Marxista (TM), OT e CS. O partido era ainda formado por lideranças que não
mantinham ligação com nenhuma tendência específica, à exemplo das lideranças políticas
do município de Icapuí, como o então prefeito José Airton e seu aliado político, Francisco
Teixeira (OLINDA, 1991).
Percebe-se o crescimento organizacional do partido no estado analisando as
eleições municipais em 1988. O PT apresentou pelo menos um candidato ao cargo de
vereador em 81 municípios, representando aumento de 138% em comparação a eleição
municipal de 1982, quando teve candidatos em apenas 34 municípios. A agremiação
potencializou sua penetração territorial no interior, mas não conseguia ter sucesso
semelhante na mobilização de suas bases nos pequenos e médios municípios.
189

Na matéria intitulada “PT reúne Diretório Regional para discutir eleições


municipais-88” (O POVO, 20 mar. 1988), temos o relato que mostra o crescimento
organizacional do partido. Como vemos abaixo:
Hoje, o PT está organizado em 85 municípios cearenses. Para os
petistas, um crescimento muito rápido para quem no final de [19]87
contava apenas com 35 Diretórios. Ele [o partido] pretende concorrer
às eleições municipais, lançando candidatos a vereador em todos os
municípios cearenses. No entanto, para a Executiva, o partido está com
dificuldades de encontrar, em alguns municípios, pessoas qualificadas
para o cargo, já que a base do PT no interior é de trabalhadores rurais.
No entanto, garante o secretário de Organização, Juarez de Paula, que
nas grandes cidades o PT terá candidato a prefeito e com condição de
vitória (O POVO, 20 mar. 1988).
Apesar do aumento de seu leque de aliança com partidos de esquerda — como
PSB, PCdoB e PCB —, o PT cearense ainda apresentava dificuldades para se viabilizar
eleitoralmente nas disputas de 1990, tendo eleito apenas um deputado estadual. O
candidato ao Executivo estadual, João Alfredo, por sua vez, obteve apenas 7,8% dos votos
nominais (185.482 votos).
Após a turbulência interna nos anos 1980, o PT cearense apresentou
estabilidade interna na década de 1990. Houve a formação de aliança entre as tendências
mais moderadas que detinham representatividade no Legislativo e nas gestões
municipais, como Articulação, liderada pelo prefeito Ilário Marques e pelo deputado
federal José Pimentel; e NE, comandada por José Guimarães. Esse arranjo conseguiu
constituir coalizão dominante estável no Diretório Estadual, diminuindo o espaço de
tendências trotskistas mais à esquerda, como: Democracia Socialista (DS), OT, CS. José
Guimarães (NE/DR), por exemplo, exerceu o mandato como presidente do Diretório
Estadual durante nove anos (1992-2001).
Essa aliança regional entre membros da Articulação e da NE, coadunava com
os pactos nacionais de alinhamento das tendências. Em 1995, no Encontro Nacional para
eleger o 7º Diretório Nacional, foi criado a tendência Campo Majoritário (CM) que elegeu
José Dirceu como presidente. O CM integrava duas tendências: Articulação Unidade na
Luta (Articulação UNL) e Democracia Radical (DR). As duas foram criadas em 1993, no
encontro para eleger o 6º Diretório Nacional, sendo fruto de fracionamentos e fusões de
outras tendências. A primeira, Articulação UNL, surgiu do fracionamento da Articulação
que originou uma corrente de continuidade, UNL, e outra corrente dissidente e mais à
esquerda, Articulação de Esquerda (AE). Já a segunda, DR, surgiu da fusão entre as
tendências VS e NE (RIBEIRO, 2010).
190

O CM integrou correntes de centro, como o Movimento PT (MPT), e


conseguiu montar coalizão nacional estável no partido, comandando a organização por
uma década, de 1995 a 2005 (RIBEIRO, 2010).
Apesar dessa estabilidade no comando do partido, o PT cearense não
conseguiu alcançar expressivos dividendos eleitorais. Na década de 1990, elegeu apenas
um deputado federal, o sindicalista dos bancários José Pimentel, e três deputados
estaduais, o ex-presidente do Diretório Estadual João Alfredo, o professor Artur Bruno e
o médico Mário Mamede.
Quanto a representação do partido nos Executivos municipais, ela se
restringia a administração de dois municípios: Quixadá e Icapuí. Esse primeiro é um
município de médio porte, marcado pela atuação política do deputado estadual Ilário
Marques.
O segundo município é de pequeno porte e foi a primeira prefeitura
administrada pelo partido no estado. O PT governou o município por quatro mandatos
consecutivos (1987 a 2004). Essa administração, revezada entre José Airton e Francisco
Teixeira, tornou-se paradigmática para a gestão de prefeituras de pequeno porte para o
partido, como “modo petista de governar”72. O município recebeu, inclusive, prêmio pelo
Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF) em 1991 ao universalizar a educação
básica (ABU-EL-HAJ, 2006). Com esse capital político acumulado na gestão de Icapuí,
José Airton foi lançado candidato a governador pelo partido em 1998, mas obteve apenas
13,8% dos votos válidos (347.671 votos).
Na eleição do primeiro PED em 200173, houve composição entre as
tendências. A DR, liderada pelo então presidente do Diretório Estadual José Guimarães,
articulou a eleição de José Airton (MPT) para sucedê-lo. Essa chapa do CM congregou
novamente o apoio de outras lideranças partidárias, como o prefeito Ilário Marques e o
deputado federal José Pimentel, ambos da tendência Articulação UNL.
Nas eleições gerais de 2002, o PT no Ceará conseguiu penetrar no eleitorado
do interior do estado por meio do efeito coattail. A eleição do principal candidato do
partido, no caso o postulante a presidente Lula da Silva (PT), repercutiu positivamente no

72
Em uma edição especial da revista Teoria & Debate (BITTAR, 1992), intitulada “O modo petista de
governar”, são analisadas experiências de gestão municipal em pequenos municípios. Nessa seção, a gestão
de Icapuí foi ressaltada como exemplo de bom governo.
73
A Secretaria de Organização (SORG) não conseguiu disponibilizar informações sobre as disputas dos
PED’s de 2001 e 2005. Seria necessário organizar os arquivos do partido para coletar essas informações, o
que não foi possível para a presente pesquisa. Além disso, essas eleições do PED mereceriam uma análise
mais aprofundada sobre a disputa intrapartidária, porém foge ao escopo da pesquisa.
191

desempenho eleitoral dos outros candidatos do partido. Como Lula da Silva apresentava
aceitação popular nessas eleições no Ceará, o candidato a governador do PT “pegou
carona” e conseguiu crescimento ao longo do embate eleitoral. Nessa campanha de 2002,
a disputa ao Executivo estadual no Ceará voltou a ser competitiva.
Inicialmente, a candidatura própria do PT ao governo estadual foi mais
decorativa do que substancial, servindo apenas para proporcionar palanque a candidatura
de Lula da Silva. Inclusive, a prioridade da máquina partidária do PT estadual era a
campanha presidencial. O candidato a governador foi José Airton, então vereador de
Fortaleza e presidente do Diretório Estadual. A escolha deste como candidato se deu em
virtude da resistência de outros políticos do partido com melhor performance eleitoral e
maior inserção política. Estes não queriam disputar as eleições majoritárias, preferindo a
reeleição garantida na Câmara dos Deputados e na ALECE.
A candidatura de José Airton ao Executivo estadual, embalada pelo jingle de
campanha “Lula lá, José Airton cá”, passou de 924.690 votos (28% dos votos válidos) no
1º turno para 1.762.679 votos (49,9% dos votos válidos) no 2º turno. Foi derrotado pelo
candidato do PSDB, o então senador Lúcio Alcântara, por diferença de 3.047 votos, que
significou 0,08% dos votos válidos.
Com a ascensão ao Executivo nacional em 2002 e ao Executivo municipal de
Fortaleza em 2004, o PT tornou-se ator relevante nas disputas estaduais do Ceará. A
coalizão dominante do Diretório Estadual mostrava-se estável, ocorrendo a renovação da
aliança entre as principais lideranças estaduais do partido: o deputado estadual José
Guimarães (DR), o deputado federal José Pimentel (Articulação), o prefeito Ilário
Marques (Articulação) e o presidente do Diretório Estadual José Airton (MPT).
Observa-se que no PED de 2005, a tendência CM conseguiu manter a
hegemonia no PT, derrotando as tendências mais à esquerda. Foi eleito como presidente
do Diretório Estadual Joaquim Cartaxo (DR), urbanista vinculado ao deputado estadual
José Guimarães (DR).
Nas eleições de 2006, a Comissão Executiva Estadual, aliada a estratégia
nacional do PT, buscava costurar acordos para potencializar a reeleição de Lula da Silva
a presidente da República. Pela primeira vez o partido não apresentou candidatura própria
192

ao Executivo estadual. Foi estabelecida aliança com Cid Ferreira Gomes74 (PSB), irmão
do então ministro da Integração Nacional Ciro Ferreira Gomes.
Nesse acordo, o candidato a Executivo estadual foi Cid Ferreira Gomes (PSB)
e o vice-governador foi o então vereador suplente de Fortaleza, Francisco Pinheiro (PT),
ligado a TM e indicado pela então prefeita de Fortaleza Luizianne Lins (DS). A indicação
dessa vaga coube às tendências trotskistas, como TM e DS, porque dentro do PT elas
ficaram fortalecidas ao ocuparem o governo municipal de Fortaleza. Além disso, a
indicação do cargo foi uma estratégia utilizada para convencer essas tendências a
participarem da aliança, visto que se mostravam resistentes.
No PED 2007, ocorreu ruptura na coalizão dominante do partido, tornado
competitiva a disputa intrapartidária. As lideranças estaduais da Articulação UNL e da
DR estavam nacionalmente integradas na tendência Construindo um Novo Brasil (CNB).
Porém, localmente estavam agrupadas em tendências opostas: o deputado federal José
Guimarães na corrente Campo Democrático (CD), o prefeito de Quixadá Ilário Marques
na corrente Militância Petista (MP) e o deputado federal José Pimentel na Articulação
UNL.
Nessa disputa, o candidato à reeleição, Joaquim Cartaxo, obteve a maioria
dos votos, mas não o suficiente para ganhar no primeiro turno. No segundo turno, o
candidato Ilário Marques conseguiu agrupar as correntes mais à esquerda, como DS e
TM, e de centro, como MPT. Com esse arranjo entre variadas tendência do partido, Ilário
Marques conseguiu ser eleito. Como vemos nos dados da Tabela seguinte.

74
Cid Ferreira Gomes tinha sido deputado estadual (1991-1996) pelo PSDB e prefeito de Sobral, eleito em
1996 (PSDB) e em 2000 (PPS). Em 2005, a facção política dos irmãos Ferreira Gomes filiou-se ao PSB,
partido historicamente ligado ao PT no Ceará.
193

Tabela 12 - Candidatos do PED 2007 do Diretório Estadual


Candidato Dados Votos (%)
Presidente do Diretório Estadual (1990-1992), deputado 1º Turno:
Ilário Marques estadual (1987-1990; 1999-2000) e prefeito de Quixadá 3.157 (21,6)
(Articulação UNL/MP) (1993-1996; 2001-2008). Apoiado pelo deputado federal 2º Turno:
José Pimentel 7.244 (53)
Presidente do Diretório Estadual (2005-2007), secretário 1º Turno:
Joaquim Cartaxo das Cidades no governo estadual. Apoiado por José 6.421 (44)
(DR/CD) Guimaraes (DR/CD) 2º Turno:
6.421 (47)
Apoiado pelo deputado federal e ex-presidente do 2.044 (14)
Reudson Souza (MPT)
Diretório Estadual José Airton (MPT)
Deputada estadual (2003-2006). Apoiada pela prefeita de 1.688 (11,5)
Íris Tavares (DS)
Fortaleza Luizianne Lins (DS)
Antônio Ibiapino (TM) Militante de Fortaleza vinculado à esquerda petista 1.184 (8)
Roberto Luque (OT) Vinculado à CUT-CE 92 (0,6)
Fonte: Elaboração própria a partir dos dados do PT-CE e do O Povo (CARTAXO, 06 dez. 2007;
ILÁRIO, 19 dez. 2007).

A tônica desse PED foi a aliança do partido com o PSB, liderado pelos
Ferreira Gomes. A corrente situacionista defendia a manutenção dessa aliança, enquanto
as correntes oposicionistas criticavam a coalizão dominante por não ser independente.
Havia a acusação de que o presidente do partido, Joaquim Cartaxo, não se dedicava às
atividades partidárias, já que parte de seu tempo era devotado para a função de secretário
no governo estadual do PSB.
No PED 2009, o Diretório Estadual retomou sua unidade partidária. Houve
aliança entre as principais correntes do partido na indicação do cargo de presidência. A
então prefeita de Fortaleza Luizianne Lins (DS) foi eleita com 97% dos votos, enquanto
a professora Maria José Moraes (OT) obteve 3% dos votos (LUIZIANNE, PT-CEARÁ,
26 nov. 2009).
Esse ambiente de unidade partidária garantiu a manutenção da aliança entre
PT, PSB e PMDB para as eleições estaduais de 2010. Nesse acordo, coube ao PT a
indicação de duas vagas: a de titular em uma vaga ao Senado, sendo indicado o então
deputado federal José Pimentel (Articulação UNL); e a de 1º suplente na outra vaga ao
Senado, sendo escolhido o ex-vice-prefeito de Fortaleza Waldemir Catanho de Sena (DS).
Porém, esse clima de tranquilidade na agremiação acabou quando foi iniciado
o processo de negociação para a sucessão da prefeitura de Fortaleza em 2012. Como
veremos a seguir ao analisarmos a relação entre as instâncias partidárias.
194

3.2- Estrutura da organização partidária


Dentre os partidos analisados, o PT é a agremiação que apresenta a estrutura
organizacional mais complexa. Como foi abordado no início do capítulo, a organização
interna do PT foi um dos pontos que o tornou diferente das outras agremiações.
Observando o organograma do partido na página seguinte, percebemos
complexa estrutura de órgãos e instâncias partidárias que formam o partido. As instâncias
partidárias desempenham funções deliberativas (Congressos e Encontros), diretivas
(Diretórios), executivas (Comissões Executivas), consultivas e colaborativas (Setoriais,
Juventude do PT e Núcleos de Base). Já os órgãos partidários desenvolvem atividades de
ação parlamentar (bancadas), fiscalização e cooperação (Conselhos Fiscais, Comissões
de Ética, Ouvidorias, Conselho de Assuntos Disciplinares), colaboração estratégica
(Macrorregiões e Microrregiões) e formação política (Fundação Perseu Abramo e Escola
Nacional de Formação).
A estrutura partidária se apresenta dividida em três níveis federativos:
nacional, estadual e municipal. Em alguns municípios, como capitais dos estados com
mais de 500.000 eleitores e quando apresenta mais de 1.000.000 de eleitores, é obrigatória
a organização de Diretórios Zonais (Estatuto de 2007, art. 81; Estatuto de 2013, art. 85).
Observa-se a existência de variadas Secretarias e de Setoriais. A primeira é
criada conforme as necessidades administrativas da Comissão Executiva. Destacam-se
algumas secretarias cujos líderes integram a Comissão Executiva, como Secretaria de
Organização (SORG), Geral, de Finanças e Planejamento, de Formação Política, de
Movimentos Populares, de Comunicação e de Assuntos Institucionais. As Setoriais são
instâncias que buscam organizar os filiados, articulando-os junto aos movimentos sociais.
O Diretório Estadual do Ceará, por exemplo, é composto por sete Secretarias (Meio
Ambiente e Desenvolvimento, Mulheres, Cultura, Juventude, Sindical, Educação e
Saúde) e quatro setoriais (Tecnologia da Informação; Lésbicas, Gays, Bissexuais,
Travestis, Transexuais e Transgêneros (LGBTT); Combate ao Racismo e Segurança
Pública).
195

Figura 3 - Organograma do PT
ÓRGÃOS PARTIDÁRIOS INSTÂNCIAS PARTIDÁRIAS
AÇÃO COLABORAÇÃO /
FORMAÇÃO COLABORAÇÃO FISCALIZAÇÃO DEBIBERAÇÃO DIREÇÃO EXECUÇÃO
PARLAMENTAR CONSULTA
Fundação Comissão
Macrorregiões Bancadas Congresso Diretório
Perseu Conselho Fiscal Nacional Executiva Setoriais Nacionais
NACIONAL

Nacionais Parlamentares Nacional Nacional


Abramo Nacional

Escola Encontro Secretarias


Comissão de Ética Nacional Juventude do PT
Nacional de Nacional Nacionais
Formação Ouvidoria Nacional
Conselho de Assuntos
Disciplinares

Macros e Bancada de Encontro Diretório Comissão


Conselho Fiscal Estadual Setoriais Estaduais
Microrregiões Deputados Estadual Estadual Executiva
Estaduais Estadual
ESTADUAL

Comissão de Ética Estadual


Secretarias
Ouvidoria Estadual Juventude do PT
Estaduais

Conselho de Assuntos
Disciplinares

Bancada de Encontro Diretório Comissão


MUNICIPA

Conselho Fiscal Municipal Executiva Setoriais


Vereadores Municipal Municipal
Municipal
L

Comissão de Ética Juventude do PT


Municipal Secretarias
Municipais Núcleos de Base
ZONA

Comissão
Diretório
L

Encontro Zonal Executiva


Zonal
Zonal
Fonte: Elaboração própria a partir do Estatuto do PT de 2007 e 2013.
196

No estatuto, o partido ainda preserva a existência dos Núcleos de Base. No


entanto, ao longo da trajetória do PT, essa política de participação direta do filiado nas
decisões internas e de intensa formação foi relegada a segundo plano. Amaral (2013, p.
121) ressalta que
De novidade institucional e símbolo maior do incentivo a uma
participação de alta intensidade nas atividades partidárias por parte dos
filiados, os Núcleos de Base se transformaram, em alguns anos, em
organismos desarticulados e incapazes de cumprir as funções para as
quais foram criados no início dos anos 1980.
Nesse estatuto, estava presente uma novidade institucional promovida: o
PED. Esse mecanismo institucional alterou a forma de seleção das lideranças no interior
do partido. Foi instituída a eleição como forma de escolher dirigentes em todos os níveis
partidários. O estatuto do partido de 2013 determinou que:
Art. 36. As direções zonais, municipais, estaduais, nacional e seus
respectivos presidentes ou presidentas, os Conselhos Fiscais, as
Comissões de Ética e os delegados e delegadas aos Encontros
Municipais e Zonais serão eleitos pelo voto direto dos filiados e das
filiadas (PARTIDO DOS TRABALHADORES. Estatuto de 2013).
Segundo Amaral (2013), a instituição do PED forneceu poder aos filiados,
estendendo a estes a possibilidade de participação na importante atividade partidária de
seleção de lideranças internas. Embora apoiado em concepção de militância mais aberta
e inclusiva, esse mecanismo promoveu participação restrita, se comparado aos Núcleos
de Base. O autor avalia que a inciativa individualizou o processo decisório,
desarticulando-o de outras atividades da organização. Além disso, a implantação do PED
deixou a disputa intrapartidária mais suscetível as influencias ambientais, condicionando-
a ao desempenho do partido nas arenas eleitoral e governista.
Uma importante característica do partido é sua composição interna, formada
por diferentes facções. As divergências internas e a composição dos quadros diretivos do
partido foram ressaltadas em diferentes trabalhos, como Meneguello (1989), Keck
(1991), Azevedo (1995), Lacerda (2002), Ribeiro (2010) e Amaral (2013).
Como foi comentado anteriormente, a formação do PT foi marcada por
variados grupos internos. Essa heterogeneidade foi responsável por distintas concepções
quanto ao papel do partido e envolveu debates quanto a institucionalização da agremiação
e sua participação nas eleições de 1982 (MENEGUELLO, 1989).
A regra formal de escolha de lideranças no partido se dava a partir da
composição informal de negociação entre os líderes, que organizavam uma única chapa.
Após o resultado das eleições de 1982, esse arranjo foi substituído por sistema
197

proporcional em que uma chapa poderia ocupar cargos nos órgãos de direção, desde que
obtivesse mais de 10% dos votos (KECK, 1991).
Foi formada aliança entre alguns grupos dentro do partido, a Articulação dos
113, que conseguiu maioria absoluta dos cargos na convenção de 1983, tornando-se a
coalizão dominante do partido. A autora ressalta que:
A formação da Articulação foi uma tentativa de consolidar a liderança
do partido. Os que a propunham eram membros da sua ala sindical
(inclusive Lula), militantes católicos e intelectuais. Representava um
esforço para impor uma visão relativamente unificada da natureza e dos
objetivos do PT, não ao ponto de eliminar as diferenças derivadas das
tendências, mas pelo menos como expressão de uma clara maioria
(KECK:1991, p. 135).
Mesmo com a formação da coalizão dominante, o partido ainda enfrentava
problemas quanto a existências de grupos internos que mantinham estruturas, lideranças
e impressa próprias. O desafio relativo a existência de “partidos dentro do partido” foi
normatizado por meio da “Resolução sobre Tendências” em 1987:
Quer dizer, o PT não admite em seu interior organizações com políticas
particulares em relação à política geral do PT; com direção própria; com
representação pública própria; com disciplina própria, implicando
inevitavelmente em dupla fidelidade; com estrutura paralela e fechada;
com finanças próprias, de forma orgânica e permanente; com jornais
públicos e de periodicidade regular (PARTIDO DOS
TRABALHADORES. Resoluções sobre Tendências, 1987).
Como esse tema era delicado e o partido se preparava para o embate eleitoral,
como as eleições municipais de 1988 e a eleição direta para presidente em 1989, a efetiva
regulamentação das tendências internas ocorreu apenas em 1990. Nesse ano, o Diretório
Nacional aprovou a “Regulamentação das Tendências Internas”. Essa regulamentação
afirmava que para um grupo ser organizado como tendência deveria assumir o
compromisso com o programa do partido e enviar à SORG Nacional documentos
informando sua linha política-programática e os nomes dos principais dirigentes
(RIBEIRO, 2010).
O reconhecimento da tendência dependeria de aprovação da Comissão
Executiva Nacional e do Diretório Nacional. Caso a tendência não fosse aprovada, o
grupo deveria se dissolver. Caso obtivesse o registro, poderia concorrer a cargos
dirigentes nos Diretórios e Comissões Executivas por meio do sistema proporcional
interno, mantida a cláusula de barreira que era o quórum mínimo de 10% dos votos dos
delegados. A eleição interna ocorreu no mesmo ano, no 7º Encontro Nacional, e dez
tendências obtiveram registro: Articulação, CS, DS, Força Socialista (FS), Luta pelo
Socialismo, TM, OT, VS, Voz Proletária (VP) e NE (RIBEIRO, 2010).
198

Em 1991, no I Congresso do partido, ocorreram novos conflitos envolvendo


o processo de normatização das tendências. Como resultado desse embate, houve
endurecimento quanto às atividades desenvolvidas pelas tendências, embora estas
pudessem disputar cargos de direção e fossem formalmente reconhecidas como “partidos
do sistema político petista” (RIBEIRO, 2010). Nesse sistema interno de desigualdade, “o
militante que deseja disputar cargo na hierarquia petista continua precisando,
necessariamente, vincular-se a alguma tendência. Isolado, está destituído de
oportunidades de ascensão” (RIBEIRO, 2010, p. 191-192). “A competição política no
interior da agremiação se estruturou em torno das tendências, pois elas passaram a ser os
principais veículos de representação interna, canalizando diferentes demandas
partidárias” (AMARAL, 2013, p. 139).
A atuação das tendências vai além das disputas por cargos dirigentes e da
prescrição de determinadas linhas políticas para o partido. Nessa resolução do I
Congresso, foi estabelecido que a disputa eleitoral seria balizada pelas tendências,
conforme sua força interna. Na pesquisa de Couto (1995) sobre a administração do PT na
prefeitura de São Paulo durante a gestão de Luiza Erundina (1989-1993), foi observado
que a distribuição dos cargos no partido era fracionada entre as tendências,
proporcionalmente a sua força. Sustentamos como tese que o processo decisório eleitoral
no partido é centralizado pelas tendências.
Com a ascensão do PT como partido governante no âmbito federal e a
modificação de seu sistema eleitoral interno, por meio de eleições diretas para a seleção
de lideranças, houve reorganização da estrutura de clivagens internas. Observando a
disputa interna por meio da realização dos PED’s (2001, 2005, 2007 e 2009) percebe-se
ampliação de votos válidos pelas chapas mais à direita do partido e movimentação rumo
à direita de tendências como: DS e MPT. Com isso, ocorreu maior homogeneidade
ideológica e programática dentro da agremiação (AMARAL, 2013).
Com o PED, a presidência do Diretório é disputada por lideranças partidárias,
vinculadas a alguma tendência ou alianças entre tendências, e a Comissão Executiva é
distribuída entre as tendências de acordo com a proporcionalidade dos votos obtidos por
cada chapa. Nesse processo, a institucionalidade das tendências ganha força nas disputas
intrapartidárias. A seguir, temos uma Tabela com a composição da Comissão Executiva
do Diretório Estadual do PT, distribuída entre as tendências.
199

Tabela 13 - Comissão Executiva PT-CE (2008-2017)


2008-2010 2010-2013 2013-2017
Presidência Ilário Marques (MP) Luizianne Lins (DS) De Assis Diniz (CD)

1º Vice- Luizianne Lins (DS) José Guimarães (CD) (2010- Airton Buriti (MP)
Presidência 2011)

Joaquim Cartaxo (CD) (2011-


2013)
2º Vice- José Pimentel (CNB) Antônio Carlos (DS) Raimundo Ângelo
Presidência (DS)

Sec. Finanças Reudson Souza (MPT) Haroldo Pontes (CNB - Inácio Mariano (CD)
Pimentel) (2010)

Vaumik Ribeiro (CNB -


Pimentel) (2010-2013)
Sec. Geral Antônio Carlos (DS) Francisco Pinheiro (EPS, ex- Liliane Araújo (MPT)
TM) (2010)

Israel Martins (EPS) (2011-


2013)
SORG Haroldo Pontes (CNB - Crisostomo Secundino (CD) Ivanilde Pereira (CD)
Pimentel) (2010)

Crisostomo Secundino Inácio Costa (CD) (2011-


(CD) 2013)
Sec. Formação Antônio Ibiapino (TM) Ilário Marques (MP) Joaquim Cartaxo
Política (CD)

Sec. Assuntos Reudson Souza (MPT) Marcos Sousa (MPT)


Institucionais —

Sec. Haroldo Pontes (CNB - Francisco Pinheiro


Comunicação — (EPS, ex-TM)
Pimentel) (2011-2013)
Sec.
Movimentos Antônio Ibiapino (TM)
— —
Populares (2011-2013)

Fonte: Elaboração própria a partir dos dados do TSE e PT-CE.

Pelos dados acima, percebe-se que a tendência que ocupa mais cargos de
direção é a CD liderada pelo deputado federal José Guimarães. Em seguida, aparece a DS
comandada pela prefeita Luizianne Lins. É marcante a presença de tendências menores
vinculadas a lideranças específicas, como MPT do deputado federal José Airton, MP do
prefeito de Quixadá Ilário Marques e CNB do senador José Pimentel. A única tendência
mais à esquerda que ocupou postos na Comissão Executiva foi a TM. Já a tendência OT,
apesar de sempre disputar os PED’s, não ocupou espaço na burocracia do partido.
200

Comparando o PT às outras agremiações analisadas nessa pesquisa, como


PMDB e PSDB, observamos que esse partido apresenta a estrutura organizacional mais
desenvolvida e institucionalizada, sendo caracterizado por maior número de Diretórios
Municipais. Tanto o Diretório Estadual quanto o Diretório Municipal de Fortaleza
possuem sedes próprias. Os Diretórios dispõem de corpo de funcionários capacitados que
desempenham atividades no partido, como: secretariado, assessoria jurídica, contábil e de
comunicação. A agremiação detém mobiliário e equipamentos para desenvolver suas
atividades organizacionais.
O fato do Diretório Municipal de Fortaleza executar suas atividades de forma
independente da estrutura burocrática do Diretório Estadual lhe garante autonomia para
definir suas ações políticas. Esses órgãos partidários apresentaram posições políticas
antagônicas em determinados momentos, sendo inclusive liderados por tendências
distintas. Isso não foi observado nos outros dois partidos. Tanto no PMDB quanto no
PSDB, o órgão partidário de Fortaleza funciona na dependência do Diretório Estadual,
fazendo com que o órgão municipal seja monopolizado pela liderança estadual.
Dentre as agremiações investigadas, o PT é a única que exibe uma página na
internet exclusiva para o Diretório Estadual, disponível em <http://ptceara.org.br/>. O
sítio do Diretório Estadual expõe atualização constante de notícias sobre as atividades
desenvolvidas pela agremiação. Isso revela que o partido apresenta preocupação em
compor e divulgar uma agenda de atividades e de participação política que ultrapassam o
ativismo puramente eleitoral. Embora os outros dois partidos apresentem uma página para
o Diretório Estadual do Ceará, elas se encontram vinculadas aos respectivos partidos no
plano nacional.
Apesar dessa robustez organizacional, o presidente do Diretório Estadual, De
Assis Diniz, argumentou que o PT é marcado atualmente por redução do seu poder, tanto
na estruturação da sua máquina burocrática, quanto de representação e de elaboração de
políticas públicas. Para o entrevistado, ocorre deslocamento do poder, que migra do
aparato partidário para os gabinetes dos políticos. Como percebemos abaixo:
O partido tem o poder, mas o poder real não está no partido. Há uma
política que ao longo dos últimos 15, 16 anos a gente tem percebido que
o poder real se desloca com a sua capacidade elaborativa da
centralidade partidária para os gabinetes, para os mandatos, para ação
do Executivo e isso não foge à regra no Ceará. Nós estamos batendo de
frente, se confrontando com essa lógica de que o partido se estrutura
numa relação, muitas das vezes criando uma relação de vulnerabilidade
partidária, de uma vulnerabilidade orgânica, porque desloca-se o poder
real para a centralidade dos mandatos, sejam eles mandato de vereador,
201

deputado estadual, deputado federal e senador. Hoje, quando se percebe


que a estruturação de uma campanha já se pensa na organização daquele
mandato e aquele mandato não vem na perspectiva de fortalecer o
partido, mas muito mais do seu espaço político. Então, considerando
todo esse conjunto de elementos, a nossa atuação vem para romper e
construir uma dinâmica que possa induzir o partido a ter um resgate da
sua política de formação, de ter a capacidade de elaborar e de fazer
formulações para a sociedade. O partido se caracterizando como uma
parte da sociedade, esta parte tem que pensar o todo. (...) E hoje, a nossa
atuação vem nesse sentido de buscar constituir núcleos, constituir
relações e principalmente, buscar na capacidade de elaborar do partido
os seus principais quadros. Então, é isso que nós estamos a frente do
partido fazendo nesses últimos dois anos (DE ASSIS DINIZ, presidente
do Diretório Estadual do PT-Ceará. Entrevista concedida ao autor em
24/11/2015).
Nesse aspecto, o Diretório Estadual do partido possui poucos recursos para
acompanhar e auxiliar os Diretórios Municipais nas eleições locais. Essa assessoria ocorre
mais por intermédio do gabinete de algum político do partido, que disponibiliza material
para campanha, pesquisas eleitorais e auxílio para a realização de comícios.
Ocorre assim enfraquecimento do aparato partidário, em detrimento do
fortalecimento do mandato parlamentar, com sua própria estrutura política. Essa é a
crítica que o atual presidente do Diretório Estadual faz à gestão anterior, que forneceu
assessoria e se focou apenas nas eleições em Fortaleza, relegando a segundo plano outros
municípios. No depoimento citado, o presidente do Diretório Estadual argumentou que
sua gestão busca romper com essa dinâmica, fortalecendo o partido como instância
burocrática de atuação política.
No entanto, cabe observar que o principal articulador da campanha de De
Assis Diniz para o PED 2013, o deputado federal José Guimarães, foi o parlamentar que
mais coordenou individualmente a eleição de prefeitos no interior do estado em 2012.
Essa crítica ao fortalecimento do mandato parlamentar atinge também José Guimarães,
pois este, durante as eleições municipais, montou estrutura paralela à máquina partidária
para acompanhar e assessorar a sua base eleitoral.
Assim, nas palavras do próprio presidente do Diretório Estadual do PT, o
deputado “[José] Guimarães foi o grande vencedor das eleições [de 2012]”. Nesse
sentido, o acompanhamento dessas eleições municipais ocorreu mais através dos vínculos
políticos estabelecidos entre as lideranças locais e os parlamentares e menos por atuação
política coordenada pelo Diretório Estadual.
Na pesquisa de Meneguello (1989) sobre a formação do PT no início da
década de 1980, a autora já observa que a atividade parlamentar não era controlada pela
202

agremiação. Como destaca: “o PT conseguiu apenas teoricamente controlar o avanço da


organização do grupo parlamentar no partido durante o período estudado, dado que sua
influência no processo de formação do PT foi bastante significativa” (MENEGUELLO,
1989, p. 98).
Observando os grupos e instâncias que possuem o controle sobre a
organização, foi feito mapa do poder organizativo do PT cearense. Percebemos que as
tendências do partido detêm o controle organizativo, seja diretamente ao assumir o
Diretório Estadual e os órgãos municipais; seja indiretamente ao influenciar o grupo
parlamentar e membros do governo. Por sua vez, alguns parlamentares têm influência nas
tendências do partido, fazendo com que estas operem segundo o seu comando. Podemos
citar a liderança que o deputado federal José Guimarães exerce na tendência CNB, em
âmbito nacional, e na CD, em âmbito regional; e a influência que a deputada federal
Luizianne Lins ocupa na DS. Como vemos abaixo.
Figura 4 - Mapa do poder organizativo do PT cearense

DIRETÓRIO ESTADUAL

Núcleo duro – MEMBROS DO


Funcionários
TENDÊNCIAS

membros da GOVERNO
do partido
coalizão
dominante GRUPO PARLAMENTAR

Profissionais – advogados, Deputados Deputados


publicitários e jornalistas Federais Estaduais

ÓRGÃO MUNICIPAL LIDERANÇAS LOCAIS

Legenda: Forte influência Fraca influência

Fonte: Elaboração própria.

No mapa do poder organizativo do PT, é evidente a situação complexa


imposta aos órgãos municipais do partido. Estes sofrem forte influência das tendências e
fraca influência do Diretório Estadual. Já na relação com as lideranças locais, os órgãos
municipais podem sofrer forte influência, quando a organização partidária local é mais
frágil; ou fraca influência, quando o partido é institucionalizado. Percebe-se que existem
203

diferenças entre as agremiações que foram criadas e se consolidaram antes e depois da


chegada do PT ao Executivo federal em 2002.
Na pesquisa de campo, observamos que o Diretório de Fortaleza apresenta
independência do Diretório Estadual, o Diretório de Mombaça reflete o modelo de
organização partidária estimulado após 2002 e o Diretório de Nova Olinda expressa
características organizativas do modelo anterior.
O Diretório de Fortaleza, como vimos anteriormente, conseguiu eleger uma
mulher como prefeita na primeira eleição pós-redemocratização, em 1985. Porém, a
gestão de Maria Luiza (1986-1988) acarretou uma onda de instabilidade no partido.
Primeiro, houve o envolvimento de Maria Luíza no “caso dos coronéis” nas eleições de
1986. Em seguida, ocorreu conflito envolvendo as Pré-Convenções Zonais em 1988 para
a escolha dos candidatos pela agremiação, resultando na expulsão da prefeita do partido.
Depois dessa experiência no Executivo municipal, o partido só retornaria ao governo local
19 anos depois, nas eleições de 2004.
Realidade oposta da que ocorreu na gestão de Luísa Erundina na prefeitura
de São Paulo (1989-1993). Essa gestão, segundo Kowarick e Singer (1993), implementou
republicanismo democrático que combinava representação política e participação direta,
buscando desprivatizar ou tornar público o que é estatal. Essa experiência de governo
fortaleceu o partido, inaugurando o “modo petista de governar”.
Historicamente, o PT de Fortaleza foi liderado por tendências mais à esquerda
vinculadas ao movimento sindical e movimentos sociais, como DS, OT, TM e CS. Estas
tendências trotskistas priorizavam a articulação de base, a defesa do socialismo e o
lançamento de candidaturas próprias ou a construção de frentes de esquerda com alianças
restritas. Esse posicionamento contrastava com o Diretório Estadual, liderado pela
Articulação, que defendia o compromisso institucional e a formação de alianças mais
amplas para potencializar a expansão eleitoral do partido. Com isso, predominava o
conflito interno a partir do tensionamento entre a Comissão Executiva Estadual e a
Comissão Executiva de Fortaleza. Percebe-se a falta de controle da coalizão dominante
de âmbito estadual sob a Executiva da capital do estado, realidade distinta da encontrada
nos outros partidos aqui investigados.
Podemos ilustrar essa divergência observando as orientações com relação ao
arco de alianças para as eleições municipais de 1992. Segundo Parente (1994), no partido
existiam duas orientações. Uma era conduzida pela Executiva Nacional e apoiada pela
Executiva Estadual, que indicava coligações e frentes eleitorais com tradicionais partidos
204

de esquerda, como o PDT e o PSDB, e eventualmente com o PMDB. Outra orientação


era defendida pela Executiva Municipal de Fortaleza, que criticava essa aliança com
partidos como o PSDB que, localmente, era o partido governista e liderado pelo então
governador Tasso Jereissati. Na matéria intitulada “Bancário encabeça a chapa do PT à
prefeitura de Fortaleza. Nome de ‘Branquinho’ será colocado na convenção petista em
junho” (O POVO, 26 mai. 1992), temos a informação de que o Diretório de Fortaleza
aprovou a tese de candidatura própria do partido, derrotando a aliança com o PDT.
Esses conflitos entre os dois Diretórios foram tornados públicos na imprensa
local. O então presidente provisório do Diretório Estadual e prefeito eleito em 1992 com
a aliança PT-PSDB, Ilário Marques (Articulação), na matéria intitulada “Ilário critica PT
local por ser contra alianças” argumentou que:
A política de alianças adotada pelo Partido dos Trabalhadores está
correta e critica a posição tomada pela direção de seu partido em
Fortaleza, que se posicionou contra a aliança com o PSDB em Quixadá.
“A nossa grande arma foi a capacidade de articularmos um leque mais
amplo de forças que nos apoiam” (O POVO, 11 out. 1992).
Dias depois, os candidatos do partido a prefeito e a vice-prefeito de Fortaleza
em 1992, respectivamente Fernando Branquinho e Francisco Pinheiro, assinaram uma
nota no jornal intitulada “PT esclarece”. Nessa nota, estes afirmam que:
(...) nos estranha o fato de Ilário Marques dirigir suas críticas não aos
foros do PT Municipal e à sua direção por meio dos mecanismos
democráticos do partido. Ao contrário, Ilário se utiliza do fato de ter
voltado a ser expressão pública do partido para fazer valer seus pontos
de vista diretamente na imprensa, atropelando a democracia interna e a
discussão organizada no PT (O POVO, 17 out. 1992).
A partir desse episódio, percebe-se que o partido era marcado por intensas
disputas intrapartidárias e que a coalizão dominante do Diretório Estadual não tinha
influência sobre o Diretório de Fortaleza, que era marcado pela atuação de militantes e
tendências mais à esquerda do partido.
Essa cisma foi atualizada no período pré-eleitoral de 2004, nas disputas
internas para definir qual o posicionamento do partido para a eleição municipal de
Fortaleza. Na ocasião, segundo Vieira (2007), existia a polarização de duas teses lideradas
por grupos distintos. Um grupo era composto pelo CM, que compunha com a Articulação
e com a DR. Essa aliança integrava a coalizão dominante da Executiva Estadual e estava
associada ao Diretório Nacional. Era defendido a tese da candidatura de Inácio Arruda
(PCdoB) a prefeito de Fortaleza.
205

Tendo o PT como aliado, Inácio Arruda já tinha sido candidato a prefeito nas
eleições de Fortaleza em 1996 e 2000. Nessa última disputa eleitoral, o referido candidato
apresentou alto desempenho, indo para o segundo turno. Assim, mostrava-se opositor
competitivo e eficaz para desmontar o domínio do PMDB de Juraci Magalhães no
Executivo local. Além disso, Inácio Arruda era filiado ao partido que compunha a
coalizão de Lula da Silva.
O outro grupo era formado pela DS, OT, TM e FS. Esse bloco defendia a tese
da candidatura própria do PT. O nome escolhido era a então deputada estadual ligada a
DS, Luizianne Lins. Argumentava-se que o partido deveria retornar a sua origem histórica
de mobilização junto ao movimento popular. Para Vieira (2007), o objetivo da DS pela
candidatura própria era que a tendência pudesse se fortalecer no interior do partido por
meio da disputa pelo Executivo municipal.
Nas disputas internas, a tese da candidatura própria foi aprovada. O PT,
coligado com o PSB, conseguiu obter a segunda maior votação, 22% dos votos válidos
(248.215 votos), impulsionando a candidatura de Luizianne Lins para o segundo turno.
Em terceira posição ficou Inácio Arruda (PCdoB), que tinha o apoio de tendências do PT,
como Articulação e DR, obtendo 19% dos votos válidos (214.002 votos). No segundo
turno, a candidata do PT conseguiu o apoio da esquerda, inclusive do PCdoB75. Luizianne
Lins fazia oposição ao candidato de direita, o delegado e deputado federal Moroni Torgan
(PFL), sendo eleita com 56% dos votos válidos (620.174 votos).
Em 2008, a eleição municipal de Fortaleza foi polarizada mais uma vez entre
a esquerda, tendo a prefeita Luizianne Lins como candidata, e a direita, representada
novamente pelo ex-deputado federal (1991-2007) Moroni Torgan (PFL). O PT,
compondo ampla aliança, conseguiu eleger sua candidata no primeiro turno. A coligação
era formada pelo PSB do governador Cid Ferreira Gomes, PMDB, PCdoB e partidos
pequenos, como PHS, PV, PMN, PSL, PTN, PRB, PSDC e Partido Trabalhista do Brasil
(PTdoB). O candidato a vice-prefeito nessa chapa era Agostinho Gomes [Tin Gomes],
vereador do PHS e primo do governador Cid Ferreira Gomes que o indicou para esse
cargo.
Com esses dois mandatos de Luizianne Lins na capital do estado (2005-2012),
a DS tornou-se força hegemônica nos órgãos de direção municipal, ampliando a

75
Em retribuição a esse apoio e a derrota sofrida nas eleições municipais de 2004, Inácio Arruda foi apoiado
pelo PT para ser candidato titular a vaga no Senado em 2006 na aliança PT, PSB e PMDB.
206

influência no âmbito estadual. Como no momento em que Luizianne Lins foi eleita
presidenta do Diretório Estadual no PED de 2009.
Porém, o ambiente de aliança entre as tendências do partido que ecoava no
alinhamento entre o Diretório Municipal de Fortaleza e o Diretório Estadual encontrou
seu limite no processo de escolha de candidato para as eleições municipais de Fortaleza
em 2012. Esse rompimento ocorreu devido a ausência de apoio ao candidato do PT
indicado por Luizianne Lins pela facção Ferreira Gomes. Nessa eleição, foi eleito o
deputado estadual Roberto Cláudio (PSB) apadrinhado pela facção.
Com isso, a então presidenta do Diretório Estadual, ex-prefeita Luizianne
Lins (DS), passou a liderar movimento de oposição aos Ferreira Gomes dentro do PT. No
Diretório Municipal de Fortaleza, tendo Raimundo Ângelo (DS) como presidente, a DS
conseguiu construir hegemonia para a aprovação de uma resolução definindo que o PT
faria oposição a gestão de Roberto Cláudio (2013-2016). Porém, no âmbito estadual do
partido, a DS não conseguia ter essa influência política. As tendências hegemônicas —
CD liderada pelo deputado federal José Guimarães, MPT dirigida pelo deputado federal
José Airton e MP comandada pelo ex-prefeito de Quixadá Ilário Marques — eram
favoráveis a manutenção da aliança com o governador Cid Ferreira Gomes (PSB).
Essa polarização ficou evidente na disputa do PED de 2013. Na imprensa
local foi destacado o conflito dentro do partido, como evidenciamos na matéria intitulada
“Denúncia e clima de guerra antes de eleição no PT” (REBOUÇAS, O POVO, 02 nov.
2013). Destacamos abaixo trecho da matéria:
A oito dias do Processo de Eleições Diretas (PED) que irá definir os
novos comandos do PT, o clima é dos piores dentro do partido no Ceará,
com denúncias de compra de voto, relatos de cooptação e ameaça de
abertura de processo na comissão de ética. O clima de acirramento é
considerado sem precedentes nos últimos anos. No debate da noite de
quinta-feira entre os candidatos à presidência estadual do PT, em
Fortaleza, os militantes dos candidatos [De Assis] Diniz e Guilherme
Sampaio quase saíram na tapa.
A corrente Democracia Socialista (DS), da qual faz parte a ex-prefeita
Luizianne Lins que apoia Guilherme, divulgou ontem áudio — sem
veracidade comprovada — no qual homem, que se diz integrante da
tendência adversária Campo Democrático, afirma para interlocutora
que há possibilidade de emprego “na prefeitura” para quem estiver ao
lado de [De Assis] no PT estadual e de David Barros na presidência da
executiva de Fortaleza. O homem não especifica a que prefeitura se
refere. O áudio teria sido gravado pela interlocutora, supostamente
simpatizante da DS.
O atual presidente do PT municipal, Raimundo Ângelo, afirmou, ainda,
que há relatos de que secretários da Prefeitura de Fortaleza têm buscado
angariar votos para David junto a funcionários petistas da gestão
207

Roberto Cláudio. Na briga partidária, David concorre com Elmano de


Freitas, que foi adversário de RC nas eleições de 2012. Ângelo afirmou
que o grupo poderá abrir a comissão de ética para apurar a situação.
Questionado sobre as provas, ele afirmou que “na hora certa” irão
apresentá-las.
O grupo que apoia [De Assis] e David reagiu furioso às denúncias.
“Quero lhe assegurar que não temos nenhuma relação com a Prefeitura
(de Fortaleza). Desconheço qualquer possibilidade de ter havido
movimento para pedir voto em troca de emprego. Isso é muito grave.
Se há denúncia, que eles levem ao Ministério Público. Fazer isso através
da imprensa é leviandade. As pessoas querem manchar um trabalho
feito com muito suor e compromisso”, retrucou [De Assis], favorito
para vencer o PED estadual. Ele refutou a hipótese de intervenção
externa e ressaltou que o grupo respeita a resolução partidária
municipal, que definiu postura de oposição à gestão RC (REBOUÇAS,
O POVO, 02 nov. 2013).
Pela matéria, percebe-se a tensão que marcou o partido nesse PED
envolvendo as duas principais tendências do partido. A DS acusava a CD de usar recursos
do Estado, tanto do governo estadual quanto da prefeitura de Fortaleza, para angariar
votos para as eleições internas do partido no apoio a seus candidatos.
Em outra reportagem intitulada “Agressão verbal e ameaça de briga entre
militantes: petistas avaliam consequências” (REBOUÇAS, O POVO, 02 nov. 2013) é
salientado pelo ex-prefeito de Quixadá, Ilário Marques (MP), que:
(...) “Do ponto de vista prático, (o racha) não tem consequência
nenhuma. Está se formando uma grande maioria partidária que vai dar
o rumo no PT. (Os deputados federais) José Airton, José Guimarães e o
nosso grupo temos 70% do partido. O acirramento se limita a Fortaleza,
com o grupo de Luizianne. A divisão de palanque vai ser a Luizianne e
a facção dela sozinho” (REBOUÇAS, O POVO, 02 nov. 2013).
O destaque dessas matérias na impressa local é produtivo para investigarmos
os conflitos intrapartidários e percebermos os embates em momentos decisivos para o
partido, como a eleição da Executiva e as decisões eleitorais. Cabe evidenciar que a
impressa aborda mais esses conflitos internos do PT aos de outras agremiações. Isso
porque o PT é mais burocratizado e marcado por disputa entre suas tendências. Nos outros
partidos, como no PMDB já investigado, as disputas intrapartidárias são resolvidas
informalmente pelo líder e não conseguem ter fôlego para acionar as instâncias formais
do partido, como a disputa pela presidência da agremiação.
O resultado do PED de 2013 conservou as relações de força entre as
tendências do partido. A CD liderada pelo deputado federal José Guimarães, em aliança
com o MPT de José Airton e MP de Ilário Marques, conseguiu eleger seu candidato no
plano estadual, De Assis Diniz. Este foi presidente do Sindicato dos Metalúrgicos do
Estado do Ceará, presidente da Federação dos Metalúrgicos do Norte/Nordeste,
208

presidente do Instituto de Desenvolvimento do Trabalho (IDT) e presidente da Central


Única dos Trabalhadores (CUT) no Ceará.
A DS liderada pela ex-prefeita Luizianne Lins, em aliança com a Articulação
UNL do senador José Pimentel e o MPT do deputado federal José Airton, obteve vitória
no Diretório de Fortaleza ao eleger Elmano de Freitas, candidato a prefeito pelo PT em
2012.
O próximo órgão municipal analisado difere radicalmente do modelo de
organização do PT de Fortaleza. Trata-se de uma espécie de organização estimulada após
a conquista do PT no plano federal, em 2002.
No período da sua criação na década de 1980 o PT de Mombaça desenvolvia
várias atividades de formação e de mobilização para as eleições. Segundo relato de Cícera
Evaniria de Oliveira, articuladora da fundação do partido no município, na eleição
municipal de 1988, o PT apresentou candidatura própria, aproveitando o vácuo de poder
deixado pela rejeição a aliança entre as lideranças tradicionais do PDS e do PMDB. No
entanto, a sigla não conseguiu eleger nenhum dos sete candidatos ao Legislativo e o
candidato ao Executivo, o então funcionário do Banco do Brasil Nilson Alves do
Nascimento, obteve 20,7% dos votos válidos (3.347 votos).
Depois dessa experiência eleitoral o partido foi extinto, só retornando sua
organização após as eleições de 2002. Nas eleições municipais de 2004, o PT estava em
coligação com o PSDB e o PMDB no apoio à candidatura ao Executivo de Wilame
Barreto Alencar (PSDB), então vereador. Em entrevista, a candidata a vereadora pelo PT
naquela eleição, Cícera Evaniria de Oliveira, comentou que a consumação dessa
coligação com o PSDB foi discutida com a liderança do PT estadual, José Guimarães.
Como ressaltou:
Tivemos encontros com [José] Guimarães que acompanhava o PT local
e a aceitação dessa coligação foi tranquila. Como ele disse: “em cada
município é uma eleição, em cada caso é um caso”. Então não
enfrentamos dificuldade (CÍCERA EVANIRIA DE OLIVEIRA, ex-
secretária municipal e fundadora do PT de Mombaça. Entrevista
concedida ao autor em 16/10/2015).
Essa candidatura do PSDB foi vitoriosa e o PT na primeira gestão de Wilame
Alencar (2005-2008) ocupou duas secretarias: Secretaria de Educação (Cícera Evaniria
de Oliveira) e Secretaria de Esporte (César Garcia de Araújo [César Som]).
Nas eleições de 2008, o PT, em coligação com o PCdoB, apresentou
candidatura própria ao Executivo municipal. O empresário do ramo de som, César Garcia
de Araújo [César Som], foi o candidato a prefeito e o comerciário do PCdoB, José
209

Valdetário de Araújo, foi o vice. Com o baixo desempenho eleitoral da sua candidatura,
1,3% dos votos válidos (329 votos), César Som abandonou a presidência do partido. O
Diretório Municipal foi presidido em seguida pelo funcionário público João Victor
Cândido de Oliveira, que nas eleições de 2012 articulou candidatura própria. A chapa foi
composta pelo eletricista Antônio Ermínio Filho e pelo empresário do ramo de farmácias
Francisco Luiz Feitosa [Fanca Feitosa] e obteve 5,9% votos válidos (824 votos).
Na pesquisa de campo, foi destacado que o PT no município é organizado
apenas nas campanhas eleitorais, não existindo atividades políticas que ocorram fora
desse período. O partido apresenta fracos laços organizacionais verticais, não sendo
articulado ou liderado por nenhuma tendência do partido.
Na entrevista com o atual presidente do partido de Mombaça, Antônio
Ermínio Filho, este ressaltou que as lideranças do partido tinham expectativas de que as
políticas públicas implementadas no município pelo governo federal do PT fossem
articuladas por meio do partido no plano local. Quando essa possibilidade não foi
concretizada, os integrantes do partido no município foram desmobilizados e muitos
abandonaram a agremiação. Como este ressalta abaixo:
Aqui, o PT daqui quando chega um projeto São José, chega um
[projeto] Minha Casa Minha Vida, é tudo nas mãos dos outros [do
prefeito]. Não precisa de candidato, de presidente do PT aqui não. Não
reconhece a gente para nada. É tudo na mão dos outros políticos! Quer
dizer, o presidente botou a Dilma [Rousseff], mandou fazer um projeto
alí, quem ia inaugurar era uma presidente de outro partido, não era o PT
não. Nós ficávamos só olhando de longe...[pausa longa]. Aí como o
partido vai crescer desse jeito? Nunca! (...) Era tudo na mão do Dr.
Nelson [Benevides] ou do Valdomiro [Távora]. Eles já foram prefeitos,
já tem mais lideranças. Eles [o PT estadual] já vêm é isso. Aí nunca
fizeram crescer o partido. Muitos já abandonaram o PT, viram que não
dava em nada. Por isso estão “na peia” [no infortúnio] (ANTÔNIO
ERMÍNIO FILHO, presidente do Diretório Municipal do PT de
Mombaça e candidato a prefeito em 2012. Entrevista concedida ao autor
em 16/10/2015).
Pelo depoimento, percebemos que o partido não desempenhava nenhuma
atividade extra eleitoral que possibilitasse o desenvolvimento organizativo e político da
agremiação. O presidente do partido esperava colher no plano local os louros da
notoriedade e aceitação popular que o PT apresentava na política nacional. Porém, como
os projetos, verbas e recursos só chegavam no município por meio da mobilização com
as lideranças políticas locais com capital político consolidado, como Nelson Benevides e
Valdomiro Távora, sobrava pouco espaço político para lideranças emergentes.
210

É interessante ainda observar que sequer a mobilização local para a campanha


do candidato a governador do PT, Camilo Santana, nas eleições de 2014, não passava
pela estrutura municipal do partido. Ela ocorreu por meio de lideranças políticas
tradicionais. Como observamos abaixo:
Camilo [Santana] foi candidato a governo nunca mandou nada pra gente
aqui. Quem tomava de conta da campanha dele aqui era o pessoal do
Valdomiro [Távora], de outro partido. Tomou nem conhecimento se
tinha PT em Mombaça, pelo menos para participar junto com os outros,
né? A gente foi que foi lá em Fortaleza e falou com o coordenador da
campanha dele lá. A gente falou que era de Mombaça e falaram “não,
não, Mombaça a gente tem o grupo lá, o Valdomiro [Távora]”. Não
falaram nem se tinha presidente do PT nem nada. Aí o pessoal foi
esmorecendo. A campanha do Camilo toda aí eles passaram as
coordenadas pra o pessoal do Valdomiro [Távora], que é do PP
(ANTÔNIO ERMÍNIO FILHO, presidente do Diretório Municipal do
PT de Mombaça e candidato a prefeito em 2012. Entrevista concedida
ao autor em 16/10/2015).
Na entrevista, Antônio Ermínio Filho explicou que o partido apresentava
contas irregulares: “o partido era meio desmantelado, não tinha nem conta em banco, nem
CNPJ [Cadastro Nacional da Pessoa Jurídica]. Depois que eu entrei foi que eu
providenciei CNPJ (...) Aqui o PT é caixa zero, nunca teve nada não, nem pagar a taxa as
pessoas pagam”. Comentou ainda que essa irregularidade iria prejudicar o PT em
Mombaça na realização do PED estadual em 2013. Mas, com a articulação de José
Guimarães o partido pode realizar esse processo eleitoral interno. Como percebemos
abaixo:
Quem pagou isso aí foi o [José] Guimarães. Porque não ia ter a
campanha para PED estadual também, né? Que era o De Assis Diniz
candidato de [José] Guimarães. Aí eles mandaram perguntar que era e
mandou pagar alguns. Aqui só deu De Assis, noventa e tanto por cento
só deu De Assis (ANTÔNIO ERMÍNIO FILHO, presidente do
Diretório Municipal do PT de Mombaça e candidato a prefeito em 2012.
Entrevista concedida ao autor em 16/10/2015).
Para que o PED seja realizado em âmbito municipal, o estatuto do partido
regulamenta que esta instância deverá estar em dia com suas contribuições junto às
respectivas instâncias superiores e que essa quitação deverá ser efetuada até 60 (sessenta)
dias antes do PED (Art. 36, §4º e 5º). Caso isso não seja cumprido, não haverá eleição
para a respectiva direção municipal e o PED será convocado, sob a coordenação da
instância superior, apenas para a eleição das direções das instâncias superiores (Art. 36,
§6º).
Percebemos que a coalizão dominante, articulada por meio da liderança de
José Guimarães, promoveu a vitória eleitoral do seu candidato, De Assis Diniz, por meio
211

do controle de importante zona de incerteza que é a regra formal. Sabendo que seria
necessário regularizar as contas partidárias do Diretório Municipal para que este
participasse do PED, José Guimarães providenciou sua normalização. Na pesquisa de
campo, foi salientado que esse tipo de estratégia política foi adotado em outros Diretórios
Municipais. Percebemos que em órgãos partidários organizacionalmente mais frágeis a
coalizão dominante estadual consegue controlar o processo eleitoral interno.
Realidade oposta é percebida no Diretório do PT em Nova Olinda. Nesse
município, o partido foi fundado em 1981. Organizado inicialmente como Comissão
Provisória, obteve o status de Diretório em 1983. Durante as décadas de 1980 e 1990, o
partido foi presidido por Maria Socorro da Silva, líder comunitária local vinculada a igreja
católica.
Durante a década de 1980, o partido foi caracterizado por trabalho de
mobilização, tendo relação próxima com as associações rurais e o Sindicato dos
Trabalhadores Rurais. A agremiação só se envolveu diretamente com a política eleitoral
nas eleições de 1992, quando o partido apresentou três candidatos ao Legislativo
municipal. Pela performance eleitoral do partido, percebe-se que a agremiação não
possuía penetração no eleitorado, pois dos três candidatos, o mais votado obteve 37 votos,
0,74% dos votos válidos.
Segundo a candidata a vereadora a época e atual presidenta do PT de Nova
Olinda, Maria do Socorro Matos, apesar do fraco desempenho político-eleitoral do
partido, os ganhos obtidos em concorrer na arena eleitoral foram de outra espécie. Esta
argumentou que depois desse escrutínio, o partido conseguiu se organizar melhor no
plano local, tendo compreensão mais apurada da sua força eleitoral no município. A
agremiação centrou a atuação na sua base social, que era os movimentos sociais, passando
a mobilizar as comunidades rurais na reivindicação de suas demandas específicas.
O PT só voltou a disputar eleições em 2004, momento em que integrou
coligação eleitoral com PMDB, PP e PPS e apresentou três candidatos ao Legislativo. O
partido conseguiu ocupar uma vaga na Câmara Municipal, elegendo a então presidenta
do Diretório Municipal, a professora da rede municipal Maria do Socorro Matos.
Animada com a atuação do partido na arena Legislativa local, a coalizão
dominante resolveu adotar estratégia ofensiva de conquista do ambiente para eleições de
2008. Foi articulado o lançamento de candidatura própria, mesmo que o PT não tivesse o
apoio de outros partidos. Para o Executivo, o partido apresentou chapa “puro sangue”,
encabeçada pelo então presidente do Diretório e professor da rede municipal Roberto
212

Souza, tendo como vice a então vereadora Maria do Socorro Matos. Porém, o partido
apresentou baixo rendimento eleitoral: na disputa majoritária obteve apenas 150 votos
(1,66% dos votos válidos) e na proporcional não conseguiu eleger nenhum vereador dos
dois candidatos apresentados.
Na pesquisa de campo, foi observado que após essa derrota eleitoral, o partido
passou por período de crise, até que em 2012 conseguiu eleger novamente a vereadora e
presidenta do partido, Maria do Socorro Matos.
Observando a estrutura organizativa do partido, percebemos que este se
apresenta como exceção no plano local. Diferente dos outros partidos, o PT de Nova
Olinda possui recursos financeiros e a partir desse fundo, organiza encontros e eventos
com regularidade, mantendo em média a frequência de uma reunião a cada trimestre. Os
membros que compõem o Diretório Municipal participam, em média, a cada seis meses
de formações com o Diretório Estadual, tanto em Fortaleza, que fica a 520 quilômetros
de distância, quanto nas cidades vizinhas.
Essa possibilidade de o Diretório Municipal dispor de dinheiro em caixa para
financiar algumas atividades está relacionada às regras formais do partido, previstas no
estatuto. Como ressaltou Maria Socorro Matos na entrevista, embora o partido não receba
dinheiro do Fundo Partidário, o Diretório Municipal fica com 25% da contribuição
financeira que todo filiado tem obrigatoriamente que fazer ao partido.
Segundo o estatuto, essa contribuição teria que ser semestral. A regularidade
de pagamento pelos filiados locais se dá pela necessidade de estar em dia com a
contribuição financeira do partido para poder votar e ser votado no PED que ocorre a cada
quatros anos.
Além disso, dentre os partidos analisados, o PT é o único em que os dirigentes
partidários e os filiados que ocupam cargos eletivos ou cargos de confiança pagam a taxa
ao partido. Segundo regulamentam os Artigos 183 e 187 do estatuto, essa taxa é mensal
e seu valor é tabelado pelo Diretório Nacional. Como foi salientado na entrevista:
“Normalmente essa taxa é paga na véspera do PED, junta os 4 anos e aí o filiado paga de
uma só vez. Pois só vota se tiver contribuição em dia. Mensalmente a taxa só é paga por
mim, pois é debitado direto na minha conta” (MARIA DO SOCORRO MATOS,
presidenta do Diretório Municipal do PT de Nova Olinda e vereadora. Entrevista
concedida ao autor em 18/09/2015).
Outro traço que faz com que o PT seja exceção em relação às outras
agremiações é a sua relação com os movimentos sociais. Historicamente a agremiação
213

desenvolveu relação próxima com sindicatos (Sindicato dos Trabalhadores Rurais e


Sindicato dos Servidores Municipal) e com associações rurais. No entanto, a presidenta
Maria do Socorro Matos ressaltou em entrevista que atualmente o partido está distante
das organizações da sociedade civil, limitando-se a atividades na arena eleitoral. Como
percebemos abaixo:
Durante meu primeiro mandato [2005-2008], eu tinha bastante atuação,
o PT se articulava com Sindicatos, Federações e Associações.
Estávamos animados com o cenário nacional. Depois teve a eleição em
2008 e foi muito chato porque a gente avaliou que os caras [Federações
e Associações Comunitárias] julgavam que a gente só servia na hora do
movimento, na organização. Para ir para o poder público a gente não
servia. Depois teve um afastamento, o afastamento foi mais por parte
do partido. Não foram as associações. Foi o partido que não deu mais
atenção. Isso foi ruim para gente. Foi imaturo? É claro que foi!
Abandonamos! E até hoje a gente não conseguiu levantar a cabeça.
(MARIA DO SOCORRO MATOS, presidenta do Diretório Municipal
do PT de Nova Olinda e vereadora. Entrevista concedida ao autor em
18/09/2015).
Um aspecto que demonstra a consolidação do partido na política local é a
capacidade de a agremiação construir carreiras para seus membros. A direção do partido
foi historicamente formada por integrantes que pertenciam a classes sociais
economicamente desfavorecidas e por meio do envolvimento com as atividades que o
partido desenvolvia alguns de seus integrantes conseguiram se projetar socialmente. Essa
projeção foi possibilitada pelo fato de que militar no partido era atuar nos movimentos
sociais, desempenhando papel de liderança. O partido também ofereceu formação política
e qualificação que esses militantes não encontrariam em outras agremiações ou
instituições.
A partir da atuação no PT de Nova Olinda, alguns militantes conseguiram
acumular capital político, como podemos perceber pelo depoimento da vereadora Maria
do Socorro Matos:
O PT no seu nascimento, no seu momento de luta, tinha uma intensa
vida orgânica. Por meio do PT e com o PT eu tive formação política,
tive contato com Diretórios do partido de outros municípios, conheci
militantes de outros partidos que também faziam parte do campo de
esquerda, tive conhecimento de uma imensa variedade de movimentos
sociais, participei de encontros, plenária e assembleias em outros
municípios, organizei ocupações de terra, manifestações e greves. Tudo
isso a militância no partido me possibilitou. Antes eu não tinha o
conhecimento, não tinha uma leitura crítica da realidade aqui do sertão.
(MARIA DO SOCORRO MATOS, presidenta do Diretório Municipal
do PT de Nova Olinda e vereadora. Entrevista concedida ao autor em
18/09/2015).
214

Essa socialização política de partido localizado mais à esquerda do espectro


ideológico e com forte atuação extra eleitoral diverge da socialização tradicional de
“partidos de elites” em que os militantes possuem capital político extrapartidário gerado
a partir de seus vínculos familiares, sociais ou de classe social.
Apesar do partido ter possibilitado esse acúmulo de capital político,
percebemos que ocorre oligarquização no interior da agremiação, pois são os mesmos
militantes que ocupam os postos de comando. No caso, o partido foi caracterizado pela
hegemonia de uma mesma coalizão dominante desde a sua fundação. Mesmo com o
estabelecimento de eleições diretas para os cargos diretivos, dentro do partido não havia
a inscrição de mais de uma chapa. Essa dinâmica só foi alterada no PED de 2009, quando
ocorreu a inscrição de uma chapa de oposição. Nesse período, o partido estava passando
por crise interna devido ao fraco desempenho nas eleições de 2008.
Na perspectiva aqui adotada, defende-se que nos partidos, o palco central de
atuação é a arena eleitoral, pois a partir da eleição a agremiação pode desenvolver
estratégia de modificação do seu ambiente. Esse predomínio sobre o ambiente possibilita
que o partido tanto doutrine e mobilize seu eleitorado e militantes, como também exponha
suas propostas de políticas públicas e sua ideologia. Quando bem-sucedidas, essas
disputas eleitorais funcionam para fortalecer o poder da coalizão dominante, pois
demonstram que esta possui expertise e capital político para projetar o partido na
sociedade. Porém, quando ocorre derrota, abre-se espaço para contestar a liderança da
coalizão dominante. Esta torna-se vulnerável, mostrando que não possui conhecimento
sobre a organização partidária e sobre o seu “real” capital político. Prevalecem disputas
em que avaliações contrastantes sobre o “rendimento” da organização e sua capacidade
de obter com eficácia seus objetivos entram em choque.
No caso em questão, esse período de conflitos intraorganizativos ocorreu
após as eleições municipais de 2008, quando o partido não conseguiu manter sua
representação na Câmara Municipal. Com o “passo em falso” dado pela coalizão
dominante, a partir de estratégia eleitoral aventureira, foi mobilizada coalizão alternativa
que constituiu uma chapa de oposição. Essa chapa eleitoral foi organizada por militantes
de outro Diretório Municipal ligados ao deputado federal José Guimarães da tendência
CNB. Essa tendência fazia oposição a DS, vinculada a coalizão dominante do PT de Nova
Olinda.
José Guimarães, que então exercia o cargo de direção do BNB, buscava
construir coalizão para assumir o Diretório Estadual do partido e para isso pretendia
215

aumentar sua influência nos Diretórios Municipais. Para alcançar esse objetivo, militantes
da sua tendência articularam uma chapa de oposição no PED em Nova Olinda. Essa chapa
tinha como candidato a presidente um filiado que até então não participava da vida
orgânica do partido, Evanilton José de Matos.
Na entrevista realizada com Evanilton José de Matos, era perceptível sua falta
de vivência no interior da agremiação. Este demonstrava pouco conhecimento sobre a
atuação da organização e suas normas legais. Quando foi questionado sobre a sua
candidatura e a motivação para construir chapa de oposição, o entrevistado não soube
dizer ao certo como ocorreu, apenas ressaltou que “um pessoal do Banco do Nordeste de
Fortaleza chegou aqui e queriam mudar a direção do partido aqui, porque via que não
tinha vencimento. Aí fui candidato!” (EVANILTON JOSÉ DE MATOS, ex-membro do
PT de Nova Olinda e candidato ao PED em 2009. Entrevista concedida ao autor em
19/09/2015).
A candidatura de outsider que efetivamente não participava das instâncias do
partido gerou desconfiança por parte da coalizão dominante, como podemos perceber na
fala do atual vice-presidente do PT:
[José] Guimarães junto com Valentim [Normando, assessor de José
Guimarães] defendia a tese assim... [pausa longa] Queria tomar o
partido na verdade, o PT de Nova Olinda, pra entregar para pessoas
laranja (...) O Evanilton [José de Matos] era filiado há muito tempo,
mas eu nem sabia que ele era filiado porque ele não participava das
reuniões que a gente tinha, parece que de três em três meses aqui em
Nova Olinda... E ele nasceu do nada. Ele veio somente para
candidatura, ele inclusive tava irregular com o partido. Mas por meio
de força política conseguiram regularizar a situação dele para ele poder
disputar. E aí ninguém logicamente quer aceitar esse detalhe aí, né? A
gente sabia que era só um laranja para outras pessoas tomarem de conta,
que se isso tivesse acontecido eu nem sei como era o partido em Nova
Olinda hoje (...) (EUGÊNIO BEZERRA ALVES, vice-presidente e
funcionário do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Nova Olinda.
Entrevista concedida ao autor em 19/09/2015).
Uma leitura similar foi feita pela atual presidenta do PT e que na época
disputava o PED:
Eu nem considero essa pessoa, esse grupo que se levantou. Esse grupo
ele foi instigado, foi coordenado pelo prefeito da época [Afonso
Sampaio (PSDB)] que visava ter o monopólio do partido. Porque na
verdade o partido aqui é independente de qualquer grupo, de qualquer
situação. Independente demais! Graças a Deus por isso. Aí o prefeito,
que era do PSDB, ele queria a qualquer custo o monopólio do partido.
Ele queria ter pessoa de confiança para poder fazer a aliança da forma
que eles achavam interessante. Aí o grupo se levantou, foi, não teve...
Até porque o nosso grupo era um grupo assim que era composto por
professores, era a maioria eram professores e tinha um certo nível
216

cultural que jamais iam concordar com uma aliança com o poder
público na época (MARIA DO SOCORRO MATOS, presidenta do
Diretório Municipal do PT de Nova Olinda e vereadora. Entrevista
concedida ao autor em 18/09/2015).
Segundo a chapa que compõe a coalizão dominante do PT local, a motivação
para o lançamento da chapa de oposição nesse PED era fazer com que o então prefeito
Afonso Sampaio (PSDB) tivesse influência nas instâncias diretivas do partido através do
mandato de uma “pessoa de confiança”. Segundo relatos colhidos nas entrevistas, o
candidato Evanilton Matos seria um “laranja”, pois quem exerceria efetivamente o
comando do partido seria o líder político local Gerlânio Sampaio, que era próximo ao
prefeito e pretendia ser candidato ao Executivo municipal nas eleições de 2012 pelo PT.
Na pesquisa de campo, foi destacado que a articulação de José Guimarães
nesse PED de Nova Olinda ocorreu porque este tinha postura política de muito
pragmatismo e queria que o PT estivesse no comando das elites locais para que
conquistasse o Executivo municipal. Além disso, com esse “acordo de cavalheiros” o
Diretório Municipal de Nova Olinda apoiaria o candidato de José Guimarães na próxima
eleição do PED estadual.
Nas entrevistas feitas com a coalizão dominante do partido, foi enfatizado que
os filiados apoiadores da chapa de oposição estavam na sua maioria irregulares com as
contribuições semestrais do partido e que assim não puderam votar no PED. Esta versão
foi contestada pelo candidato da oposição Evanilton Matos, pois segundo este, sua chapa
não foi vitoriosa porque “antes da disputa [do PED] ela [candidata da chapa da situação
e vice-presidenta do PT, Maria do Socorro Matos] passou de porta-em-porta desfiliando
as pessoas. Se não tivesse tido isso quem tinha ganhado era eu”.
Independente de qual versão dos fatos é a verdadeira, o importante a ser
analisado nesse episódio é que a coalizão dominante, como já observado por Michels
[1911] e Panebianco [1982], possui a expertise que a faz usar de forma mais eficiente os
recursos da máquina partidária para se perpetuar na liderança do partido. No caso em
questão, a coalizão dominante, sabendo que o pagamento da contribuição partidária é
essencial para a participação no PED, conseguiu organizar para que os filiados que dão
sustentação a sua liderança estivessem em dia com o partido e assim participassem do
processo eleitoral interno.
Percebemos que a coalizão dominante possui recursos financeiros, materiais
e técnicos que possibilitam sua perpetuação no poder. Esse capital político é percebido
217

na fala do vice-presidente quando questionando sobre a contribuição dos filiados ao


partido, como vemos abaixo:
Teve uma verba agora, não sei se do deputado ou da própria DS, que
enviou e a presidente. Ela inclusive me perguntou o que fazer. Ela tava
na intenção de pagar [a contribuição de] uns e outros não, pra ajudar os
filiados a manter. Porque, na verdade, muita gente não tem condições
de pagar o partido... E aí eu não deixei ela fazer dessa maneira não.
“Não, você tá errada!” Porque são dois momentos [duas contribuições
por ano]. O correto é você pagar todos eles. O correto é você pagar essa
primeira parte, nem que tire do seu bolso, mas pra ajudar, né? Não sei
se ela fez assim, dessa maneira. Mas foi o que eu sugeri (EUGÊNIO
BEZERRA ALVES, vice-presidente e funcionário do Sindicato dos
Trabalhadores Rurais de Nova Olinda. Entrevista concedida ao autor
em 19/09/2015).
Nessa narrativa, percebemos que o entrevistado tem consciência dos recursos
de poder que a Comissão Executiva do partido possui. No caso em questão, trata-se do
pagamento da contrição financeira que todo filiado é obrigado a custear. O vice-
presidente busca construir uma imagem de imparcialidade, pois se a presidenta pagasse
as taxas partidárias de apenas alguns filiados, ela poderia privilegiar os militantes que são
próximos a sua tendência, excluindo ou isolando outros militantes.
Depois dessa disputa interna, os filiados que apoiavam a chapa de oposição
se distanciaram do partido, alguns apresentaram formalmente o pedido de desfiliação e
outros apenas não participaram mais das atividades partidárias. Interessante observar a
situação de filiação do candidato de oposição Evanilton José de Matos. Este quando foi
questionado se estaria filiado ao PT não soube informar. Resposta similar foi obtida com
a presidenta do partido, como percebemos na seguinte frase: “O Evanilton, se bem que
não me engano, pediu desfiliação” (MARIA DO SOCORRO MATOS, presidenta do
Diretório Municipal do PT de Nova Olinda e vereadora. Entrevista concedida ao autor
em 18/09/2015)76.
Nesse relato sobre o processo eleitoral interno, podemos perceber o grau de
organização e sistematização do PT na arena local. Como o partido contava com a
prerrogativa de ser Diretório e de também ser liderado por uma coalizão dominante que
concretamente tem controle das regras formais da agremiação, não foi possível que uma
liderança partidária estadual, no caso o deputado federal José Guimarães, interferisse nas
decisões locais do partido. Assim, a tentativa de um membro, que possui inclusive

76
Na lista dos filiados disponibilizada pelo Filiaweb-TSE não consta o nome de Evanilton José de Matos.
Conseguimos identificar que seu pai, Jose Raimundo de Matos, foi desfilado em agosto de 2009 e seu
primo, Francisco Alves de Matos, que também compôs a chapa de oposição, ainda permanece filiado ao
PT de Nova Olinda.
218

influência no Diretório Nacional, de eleger uma chapa próxima a sua tendência não teve
sucesso, pois essa ação foi interpretada pela coalizão dominante local como clara
intervenção nas decisões do Diretório Municipal.
Se por ventura esse tipo de disputa interna tivesse ocorrido em um partido
que fosse organizado de forma informal e que as lideranças estaduais tivessem influência
nas decisões locais, como no caso do PT de Mombaça, a chapa de oposição teria maiores
chances no processo eleitoral. Isso porque essa contenda não seria resolvida no plano
local, mas de maneira up-down em que a oposição se articularia por cima, buscando
influência junto às lideranças estaduais, e a partir desse capital político teria legitimidade
no plano local.
Isso pode ser percebido na fala da presidenta do Diretório Municipal, quando
questionada se o Diretório Estadual já havia interferido em alguma decisão do partido, ao
que Maria do Socorro Matos respondeu: “Nunca! Nenhuma, até porque fazemos tudo no
plano legal, estatutário”. Então, seguir as regras formais do partido garante legitimidade
à coalizão dominante, mesmo que esta não seja alinhada com as lideranças que ocupam
a Comissão Executiva Estadual. Assim, para que uma liderança estadual consiga
influência no partido no plano local é necessário seguir os tramites formais, que no caso
do PT significa ganhar o PED.
Essa realidade organizacional do Diretório de Nova Olinda foi observada pelo
presidente do Diretório Estadual, como percebemos na fala abaixo:
O Diretório de Nova Olinda é um Diretório atuante. Você tem uma
Presidenta que exerce cargo de mandato de vereadora, a companheira
Socorro. Tem uma atuação muito forte no município. Tem uma relação
com o movimento sindical muito interessante. Tem dificuldade com a
gestão do prefeito Ronaldo [Sampaio (PSD)], bate muito! Embora seja
da base. Mas, é um Diretório que tem reuniões, que tem diálogo.
Acompanha a vida do partido (DE ASSIS DINIZ, presidente do
Diretório Estadual do PT-Ceará. Entrevista concedida ao autor em
24/11/2015).
Em Nova Olinda, embora o município apresente menos eleitores do que
Mombaça77, percebe-se que o Diretório Municipal tem acompanhamento maior, tanto do
Diretório Estadual quanto das tendências dentro do partido. A Comissão Executiva do PT
de Nova Olinda é vinculada a DS e isso possibilita que lideranças dessa tendência
acompanhem a conjuntura política local. Assim, pelo fato do Diretório Municipal possuir

77
Essa ressalva é importante porque no caso do PT encontramos uma situação particular que contraria a
hipótese de magnitude eleitoral adotada na Tese.
219

tanto histórico de penetração nos movimentos sociais quanto representação política, isso
o qualifica para um acompanhamento mais efetivo pelas tendências do partido.
Observado a estrutura organizativa do partido no plano estadual e municipal,
vamos investigar o grau de centralização das decisões partidárias.

3.3- Grau de centralização nas eleições


Em pesquisa sobre a campanha eleitoral do PT em 1982, Meneguello (1989)
observa que o PT organizou a campanha de forma centralizada por meio do Comitê
Eleitoral Unificado (CEU). O objetivo desse comitê era centralizar a distribuição de
finanças e a organização da propaganda do partido nos diversos níveis: municipal,
estadual e nacional. Depois de 30 anos, como o partido passou a organizar sua campanha
eleitoral?
A partir de 1995, com a formação do CM e a eleição de José Dirceu como
presidente do Diretório Nacional, o PT inaugurou novo estilo de campanha marcado pela
centralização nacional. Esse novo estilo tornou-se evidente na campanha presidencial de
2002. No entanto, já nas orientações relativas às campanhas municipais de 1996 é
evidenciado um novo estilo de normatização instalando-se de forma progressiva. Nessa
eleição, foi elaborado Manual de Campanha para os candidatos visando maior
organização das campanhas eleitorais (RIBEIRO, 2010).
Observa-se que:
A gestão Campo Majoritário desenvolveu uma clara estratégia de
centralização da organização das campanhas municipais do PT, por
meio da criação e fortalecimento de um Grupo de Trabalho Eleitoral
Nacional (GTE) a cada período de disputas. A crescente concentração
de recursos financeiros no DN tornou os Diretórios subnacionais cada
vez mais dependentes de repasses descendentes. O fortalecimento dos
órgãos nacionais em um contexto de novas tecnologias permitiu que,
além do dinheiro, também chegasse aos DMs mais distantes do país,
praticamente em tempo real (via Internet), uma infinidade de recursos
elaborados de modo centralizado. Materiais Gráficos e audiovisuais
(jingles, vinhetas, spots), plataformas-padrão por tema (educação,
juventude, meio ambiente etc.), assessorias contábil e jurídica, e
cartilhas dos mais diversos tipos: formação do candidato petista, modo
petista de legislar, metodologia de elaboração de programa de governo,
manuais de propaganda e marketing etc. Além disso, os Diretórios
subnacionais passaram a receber informações geradas
centralizadamente por profissionais externos contratados diretamente
pelo DN. Nesse ponto, destacam-se as pesquisas contratadas junto a
grandes institutos, e os serviços de publicitários especializados em
marketing político (RIBEIRO, 2010, p. 119).
220

Tanto nas eleições municipais de 2012 quanto nas eleições estaduais de 2014,
o PT organizou GTE que realizou encontros de definição de tática eleitoral de
candidaturas. O GTE estabeleceu estratégias gerais para as eleições, elaborando cartilhas
sobre programa de governo e formulação de políticas públicas, propagandas dos
candidatos, orientações jurídicas e financeiras de campanha, pesquisas eleitorais e outros
aspectos que as campanhas suscitaram.
O GTE do Ceará para as eleições municipais de 2012 foi coordenado pelo 1º
vice-presidente do Diretório Estadual, Joaquim Cartaxo. Era composto por outros oito
membros da Executiva Estadual: Ticiana Studart, José Reudson de Souza, Israel Martins,
Ilário Marques, Haroldo Pontes, Inácio Neto, Issac Júnior e Luciana Castelo Branco.
Nas eleições municipais de 2012, o PT mantinha sua capilaridade no estado,
apresentando 182 órgãos partidários locais (98% dos municípios). Essa estrutura
organizativa permitiu que o partido apresentasse grande quantidade de candidatos,
abrangendo 173 municípios (94%).
Para o Executivo municipal, o partido apresentou candidatos ao cargo de
prefeito em 58 municípios (31%). Esse percentual consolidava o crescimento da sigla no
estado, que desde as eleições de 2004 apresentava essa média de candidaturas. Cabe
observar também que o PT apresentou em 2012 candidaturas competitivas, pois 70%
destas (41 candidatos) obtiveram percentual de votos válidos acima de 40%. Isso mostra
que o partido estava se consolidando eleitoralmente no estado, como observamos pelos
êxitos eleitorais obtidos em 27 municípios.
Observa-se então período de estabilidade organizacional do partido. Podemos
perceber isso pela manutenção de sua capilaridade — pois desde 2009 apresentava órgãos
partidários em 99% dos municípios — e pela permanência no lançamento de candidatos
— pois desde 2004 abarcava 94% dos municípios.
Em Fortaleza, embora o partido não tenha conseguido eleger o sucessor da
então prefeita Luizianne Lins (PT), era perceptível sua penetração no eleitorado. A
eleição foi concorrida e o candidato obteve, no segundo turno, alta porcentagem de votos,
46,9% (576.435 votos).
O PT apresentou candidatos ao cargo de vice-prefeito em 48 municípios
(10%), sendo 19 chapas “puro sangue”. Apenas quatro dessas chapas obtiveram êxito.
Cabe observar que mais da metade dessas candidaturas “puro sangue” eram pouco
competitivas, o que sugere a hipótese de que esse tipo de candidatura representa
fragilidade do partido que não conseguiu obter aliados para sua campanha.
221

Quanto a disputa para o Legislativo municipal, o partido apresentou 1.155


candidatos. Esse valor representou grande aumento quando comparamos com a eleição
de 2008, em que o partido apresentou 847 candidatos deferidos. Embora a oferta de
candidatos ao Legislativo municipal tenha aumentado, esse crescimento não acompanhou
o percentual de eleitos. A sigla conseguiu eleger apenas 180 vereadores no estado (8,4%).
Esses vereadores eleitos eram distribuídos no território e o partido conseguiu eleger pelo
menos um vereador em 106 câmaras municipais, abrangendo 57,6% dos municípios. Isso
permitiu que o partido se estruturasse no interior do estado, pois a existência de pelo
menos um vereador do partido fazia com que a agremiação tivesse organização mais
sólida.
Expostos esses dados mais gerais sobre as eleições no estado, vamos analisar
os conjuntos das variáveis de articulação entre as instâncias partidárias.

a) Formação de aliança e coligação


O estatuto de 2013 do PT concede autonomia aos municípios para “deliberar
sobre acordos políticos e coligações eleitorais com estrita observância das orientações
emanadas das instâncias nacionais” (Artigo 76, j). Diferente do PMDB, o PT estabeleceu
uma resolução quanto às eleições municipais de 2012. Na segunda etapa do seu 4º
congresso determinou que
O PT priorizará o lançamento de candidaturas próprias nas principais
cidades do país, nas cidades em que governa e onde representa a melhor
chance de vitória do campo progressista. Como partido que busca
alianças para suas vitórias, o PT poderá também apoiar candidaturas de
outros partidos governistas. [...] Como já foi dito, mas vale enfatizar,
nosso objetivo é ampliar fortemente a presença do PT e seus aliados no
comando dos municípios brasileiros e nas Câmaras de Vereadores(as),
especialmente as capitais e as cidades com mais de 150 mil eleitores.
Nossos adversários serão as agremiações que representam o bloco
conservador, formado pelo PSDB, pelo DEM e o PPS, com os quais
não faremos chapas (PARTIDO DOS TRABALHADORES. Resolução
do 4º Congresso do PT, 2011).
Por esse documento, o partido estabeleceu que não realizaria aliança e
coligação com PSDB, DEM e PPS e que priorizaria candidaturas próprias, sobretudo nas
capitais e nas cidades com mais de 150 mil eleitores. Nos municípios em que o partido
não conseguisse apresentar candidatura própria, a estratégia seria a aliança com partidos
da base aliada.
Em fevereiro de 2012, o Diretório Nacional do partido publicou uma
resolução fortalecendo essas decisões, como vemos a seguir.
222

O 4º Congresso quis que, antes de tudo, o PT afirmasse na sociedade a


sua singularidade, seu papel como partido de esquerda e principal
dirigente do Executivo nacional, e continuasse ampliando sua força nas
bases locais. Daí a prioridade a candidaturas próprias, sem descartar
que, em alguns locais, a melhor tática eleitoral pode ser a aliança com
outro partido da base na cabeça da chapa, desde que isso não signifique
um enfraquecimento de nosso partido. As nossas vitórias serão
facilitadas pela conjuntura nacional favorável, mas dependerão
sobretudo, em cada uma das cidades, da confiança popular em nossas
lideranças locais, da capacidade de construir alianças, e do firme
propósito de continuar no plano local os sucessos de nosso governo
nacional, expressando nossos objetivos num adequado programa de
governo da cidade (PARTIDO DOS TRABALHADORES. Resolução
Política do Diretório Nacional, 2012).
Analisando os documentos formais, assumiríamos que o PT apresenta forte
centralização quanto a formação de aliança e coligação nas eleições municipais,
estabelecendo os partidos com os quais não deveria compor alianças. Porém, quando
verificamos os dados eleitorais e realizamos entrevistas nos Diretórios Municipais,
percebemos graus distintos de centralização. Podemos observar que a centralização e o
acompanhamento do processo eleitoral estão relacionados mais a articulação entre as
tendências dentro do partido e menos a articulação entre suas instâncias partidárias.
Apenas no município de Fortaleza observamos meticuloso acompanhamento
realizado pelo Diretório Nacional. Este município, por ser capital, foi considerado
estratégico para o partido, sobretudo porque contava com o governo municipal desde
2005. O Diretório Nacional estabeleceu uma Comissão de Acompanhamento das Eleições
de 2012. Essa comissão tinha como coordenador o presidente do PT nacional Rui Falcão
e contava com mais 11 membros do Diretório Nacional, entre eles o deputado federal
cearense, José Guimarães78.
A eleição em Fortaleza também foi orientada pelo Diretório Estadual. O
Diretório Municipal, por sua vez, teve autonomia para definir suas estratégias eleitorais.
Entre os dois Diretórios predominava simbiose, já que eram presididos por integrantes da
mesma tendência, a DS. Luizianne Lins presidia o Diretório Estadual e Raimundo Nonato
Lima Ângelo presidia o Diretório Municipal.
Percebemos que a instância estadual e a municipal do PT estavam associadas
na tese de candidatura própria, fato que não é recorrente na história da agremiação. Essa

78
Mais informações sobre a composição dessa coordenação em: <http://www.ptmg.org.br/diretorio-
nacional-do-pt-aprova-resolucao-que-trata-da-comissao-de-acompanhamento-das-eleicoes-
2012/#.WjpKNDdG3IU>. Acesso em 12 de novembro de 2017.
223

conexão é percebida na fala do então candidato a prefeito de Fortaleza, como vemos


abaixo:
Então, a primeira coisa que em 2012, nós fomos pra eleição com o
partido, inclusive com a estadual, muito unificada. Nós fizemos um
processo político com a participação, inclusive do presidente nacional
do partido, tendo inclusive conversas com o ex-presidente Lula na
época, e que nós chegamos no encontro municipal, nós tínhamos 63%
dos delegados, tirados na base. Mais tivemos 93% dos votos dos
delegados. Porque o companheiro [Artur] Bruno não manteve o nome
dele até o final e nós fomos pro voto no encontro, então significou que
todo grupo do Guimarães, todo o grupo do Zé Airton acabou votando
no meu nome para a candidatura à prefeito; o grupo do companheiro
Ilário Marques. Então primeiro não teve nenhum tipo de divergência
nem diferença no PT estadual, nem PT municipal na eleição de 2012,
nós tivemos a mesma, posição a mesma coisa. [...] Então, em 2012 não
teve divisão. É óbvio toda campanha, você tem gente que faz mais e
tem gente que faz menos campanha, é natural da vida, mas não teve
dissidência. O próprio [Artur] Bruno fez campanha. Então, eu não tenho
o que me queixar do apoio do partido na minha candidatura em 2012.
(ELMANO DE FREITAS, candidato a prefeito em Fortaleza nas
eleições de 2012 e presidente do Diretório Municipal do PT de
Fortaleza. Entrevista concedida ao autor em 24/11/2015).
No entanto, a defesa de candidatura própria por parte do PT afastava o apoio
do PSB, liderado pelo então governador Cid Ferreira Gomes. Este buscava entabular
candidato próprio e se apoiava em pesquisas de opinião que mostravam baixa aceitação
da gestão de Luizianne Lins (PT) na prefeitura79. Diante da realização de prévias do PT
que anunciaram o então secretário de Educação, Elmano de Freitas, como candidato, o
PSB declarou que não o apoiaria. Na imprensa local foi noticiada uma matéria intitulada
“PSB rejeita Elmano e anuncia intenção de ter candidato”. Nela, Cid Ferreira Gomes
declarou que “o candidato que a Luizianne Lins indicou é um candidato que, para nós,
representa a continuidade de um modelo que o PSB entende exaurido” (O POVO, 12 jun.
2012).
Houve tentativa de recomposição da aliança entre os dois partidos pela
Direção Nacional do PT, inclusive com a intermediação do ex-presidente Lula da Silva.
Porém, essa negociação não conseguiu reatar o pacto PT-PSB. Nesse aspecto, é
interessante observar a leitura que o então candidato a prefeito pelo PT, Elmano de
Freitas, faz sobre esse rompimento político e a intermediação do Diretório Nacional:
Não fomos nós que rompemos a aliança. Nós fomos a uma reunião, eu
não tive na reunião, que foi a prefeita Luizianne [Lins] na época com o
presidente Rui Falcão, não sei mais se foi alguém, acho que o [José]
Guimarães e foram reunir com o governador Cid [Gomes], ainda pra

79
Na impressa local foram publicadas matérias abordando o rompimento políticos entre o PT e o PSB. Para
mais informações sobre essa eleição consultar: Carvalho e Lopes (2016).
224

tentar manter a aliança e lá o governador Cid disse que não ia ter


aliança. E uma coisa que o PT sempre achou que o fato do partido ter a
prefeitura era natural que se propusesse a manter. Isso era o que o PT
tinha em mente, tanto na esfera municipal, na estadual e na nacional.
Então, nós fizemos todo o movimento, desde a construção do nome até
o arco de alianças construído com o Diretório Estadual e o Diretório
Nacional. Não havia nenhum, da nossa parte e do Diretório Nacional,
qualquer, ninguém nem discutia isso de ter tutela, não tinha. Muita
reunião ali unificada, o Diretório Nacional nos ajudou muito em várias
conversas com partidos pra termos aliados na eleição... Posso dizer que
o companheiro Rui Falcão foi muito importante na construção dessa
unidade, ele chegou a receber cada pré-candidato do PT, pra ouvir cada
um (ELMANO DE FREITAS, candidato a prefeito em Fortaleza nas
eleições de 2012 e presidente do Diretório Municipal do PT de
Fortaleza. Entrevista concedida ao autor em 24/11/2015).
Na fala acima, percebe-se que o entrevistado enfatiza a ideia de unidade
dentro do partido. Essa unidade envolveu o partido nos três níveis federativos — nacional,
estadual e municipal — para consolidar a tese de candidatura própria. A atuação do
presidente do Diretório Nacional, Rui Falcão, na formação da aliança para candidatura do
PT em Fortaleza deve-se ao fato de que a disputa eleitoral desse município era
considerada estratégica para o partido. Em matéria do jornal Estadão, escrito pela
jornalista Vera Rosa e intitulada “PT vai priorizar campanha em cidades com mais de 150
mil habitantes em 2012”, percebemos como Fortaleza, por ser capital, foi priorizada pelo
Diretório Nacional para ter acompanhamento mais detalhado.
A cúpula do PT vai dar prioridade, na campanha de 2012, a 117 cidades
com mais de 150 mil habitantes. O grupo de municípios, que inclui as
capitais, é chamado de "joia da coroa" pelo comando petista.
Levantamento feito pelo partido mostra que essas cidades representam
42% do eleitorado brasileiro e algo em torno de 53% do Produto Interno
Bruto (PIB). "São centros que irradiam política e se tornaram
fundamentais para qualquer projeto nacional", resumiu o presidente do
PT, Rui Falcão. Uma resolução a ser aprovada pelo Diretório Nacional
amanhã - na última reunião do ano, em Belo Horizonte (MG) - diz que
as principais campanhas dos partidos aliados devem estar subordinadas
ao guarda-chuva do projeto construído pela presidente Dilma Rousseff
(ROSA, ESTADÃO, 01 dez. 2011).
A ruptura com o PSB na disputa local foi negociada de forma cautelosa pelo
Diretório Nacional para não afetar a aliança estabelecida no plano estadual e federal, já
que o apoio do então governador Cid Ferreira Gomes era estratégico para fortalecer o PT
no estado.
Para disputar a eleição em Fortaleza, o PT consolidou a aliança que tinha com
partidos pequenos que integravam a coalizão de governo, como PTN, PSC e PV. O cargo
de vice-prefeito foi indicado pelo PR, liderando pelo ex-governador Lúcio Alcântara que
fazia oposição a Cid Ferreira Gomes (PSB). Como ressaltou Elmano de Freitas na
225

entrevista, “todo esse arco de aliança foi estabelecido junto ao Diretório Estadual e com
o acompanhamento de Rui Falcão [presidente do Diretório Nacional]”.
Já em Mombaça, o Diretório Estadual não acompanhou nenhuma etapa das
eleições locais. O presidente do Diretório Municipal e candidato a prefeito, Antônio
Ermínio Filho, ressaltou que “aqui eles não acompanharam nada. Do PT estadual, nunca
recebi convite de ninguém. Mas a eleição aqui foi na raça, tipo o PT antigo, de
antigamente. Só na raça mesmo...”. Nesse município, o PT apresentou candidato próprio
ao Executivo municipal em 2012 com chapa “puro sangue”. Tinha apenas o PSC como
partido aliado. Essa aliança não envolveu nenhuma articulação com as lideranças
estaduais do partido. Essa coligação só foi costurada porque o candidato do PT era filiado
ao PSC e quando migrou deixou um parente que tem controle desse partido no município.
Pelo depoimento do presidente do PT de Mombaça, podemos notar que o
Diretório Municipal possui liberdade para formar alianças e coligações, não precisando
negociar suas estratégias com o Diretório Estadual. Porém, essa autonomia deve-se mais
a falta de articulação com o Diretório Estadual e com alguma tendência dentro do partido.
O então candidato a prefeito não possuía nenhum trânsito com integrantes do partido no
nível estadual. Esse presidente municipal não foi iniciado na organização, não possuía
conhecimento sobre a agremiação ou sobre o funcionamento das tendências dentro do
partido. Os vínculos que estabeleceu eram apenas com as lideranças locais do partido.
Essa ausência de articulação com o Diretório Estadual foi ressaltada quando
o presidente do PT de Mombaça comentou a atuação do presidente do PT do Ceará. Foi
destacado que, após a eleição do PED que elegeu De Assis Diniz, acabou a comunicação
que o órgão municipal tinha com os dirigentes estaduais. Como observamos abaixo:
Aí também ele [De Assis Diniz] disse que iria ficar participando, ia
mandar não sei o que pra dar um curso a gente aí, pra ensinar o que é o
PT, né? Mas depois que ele ganhou, nós nunca mais vimos esse homem
não! Tem dois telefones dele ali. Eu ligo e ele não atende, não! Por isso
que eu quero sair. Eles não têm contato com a gente, não! (ANTÔNIO
ERMÍNIO FILHO, presidente do Diretório Municipal do PT de
Mombaça e candidato a prefeito em 2012. Entrevista concedida ao autor
em 16/10/2015).
Percebe-se que essa autonomia do Diretório Municipal de Mombaça para
decidir sobre a aliança local deve-se mais a sua histórica fragilidade organizacional,
fazendo com que as tendências do partido não tenham penetração na agremiação local.
Como o PT no município é pouco expressivo, não possui representatividade em nenhum
226

cargo político e também não possui conexão com movimentos sociais, finda por não se
articular com o Diretório Estadual.
O presidente do Diretório Estadual, De Assis Diniz, ressaltou essa
característica organizativa do Diretório Municipal de Mombaça. Como percebemos
abaixo:
Eu diria que em Mombaça é pra nós um grau de dificuldade muito
grande. Porque lá é um daqueles Diretórios que as pessoas se acham
donos... donos do partido. Botaram o partido dentro de uma pasta e
caminha para todo canto com essa pasta. Nós fizemos um esforço
homérico para fazermos o PED, não conseguimos. Porque não tinha
filiado suficientes. Nós fizemos o PEDex agora no mês de setembro, de
outubro. Não conseguimos fazer Diretório nem PEDex também. Ou
seja, é um município que tem muita vulnerabilidade. Lá, hoje, a gente
vai criar uma Comissão Provisória e estamos com dificuldade de indicar
pessoas para Comissão Provisória porque não queremos colocar
aqueles que sempre tiveram a frente para não atuar na mesma
perspectiva de botar o PT dentro de uma pasta (DE ASSIS DINIZ,
presidente do Diretório Estadual do PT-Ceará. Entrevista concedida ao
autor em 24/11/2015).
Como foi relatado na pesquisa de campo, observamos que a estratégia do PT
de expandir os órgãos partidários para todos os municípios fez com que a agremiação não
tivesse controle efetivo da organização. Em sua periferia organizativa, como em
Mombaça, observamos ausência de estrutura e fidelidade organizativa.
Essa ausência de interlocução entre as instâncias partidárias no plano estadual
e municipal foi ressaltada novamente quando o presidente do Diretório Municipal de
Mombaça, Antônio Ermínio Filho, foi relatar sobre o apoio local a candidatura de Camilo
Santana como governador pelo PT em 2014.
Camilo [Santana] foi candidato a governo nunca mandou nada pra gente
aqui. Quem tomava de conta da campanha dele aqui era o pessoal do
Valdomiro [Távora], de outro partido. Tomou nem conhecimento se
tinha PT em Mombaça, pelo menos para participar junto com os outros,
né? A gente foi que foi lá em Fortaleza e falou com o coordenador da
campanha dele lá. A gente falou que era de Mombaça e ele falou “não,
não, Mombaça a gente tem o grupo lá, o Valdomiro [Távora]”. Não
falou nem se tinha presidente do PT nem nada. Aí o pessoal foi
esmorecendo. A campanha do Camilo [Santana] toda aí eles passaram
as coordenadas pra o pessoal do Valdomiro [Távora], que é do PP
(ANTÔNIO ERMÍNIO FILHO, presidente do Diretório Municipal do
PT de Mombaça e candidato a prefeito em 2012. Entrevista concedida
ao autor em 16/10/2015).
Pelo relato acima, observa-se que a campanha eleitoral do candidato ao
Executivo estadual do PT no município não mobilizou a estrutura partidária local. Essa
campanha foi articulada por lideranças tradicionais de outros partidos que apoiavam o
candidato do PT.
227

Em Nova Olinda, por sua vez, percebemos realidade oposta a encontrada em


Mombaça. O PT nesse município conta com a representação política de uma vereadora,
Maria do Socorro Matos, que é a atual presidenta do Diretório Municipal. Esse órgão
partidário possui interlocução com a instância estadual, porém essa articulação ocorre
com mais frequência por meio do vínculo estabelecido pela tendência interna do partido.
A presidenta ressalta que existem diretrizes para o estabelecimento de alianças por meio
da tendência a qual é vinculada, a DS. Como percebemos abaixo:
Nós temos sim autonomia para decidir sobre coligação e também
lançamento de candidatura. É claro que o partido orienta para que a
gente não faça coligação com o PSDB ou com o DEM, por exemplo.
Mas de forma alguma isso tira nossa autonomia e também (...) não, a
gente não ia propor uma aliança desse tipo. Agora, existe um
direcionamento maior no partido por conta dos deputados que a gente é
ligado e que são ligados a uma tendência específica dentro do partido.
Agora mesmo, estamos com o deputado Elmano Freitas, que é da DS.
Ele já tem feito umas visitas aqui, acompanhado nossa atuação.
(MARIA DO SOCORRO MATOS, presidenta do Diretório Municipal
do PT de Nova Olinda e vereadora. Entrevista concedida ao autor em
18/09/2015).
Pelo depoimento acima, percebe-se que a vinculação dos membros do
Diretório Municipal ao deputado estadual, que integra uma tendência específica, faz com
que o plano municipal sofra alguma centralização.
Assim, no que se refere à formação de aliança e coligações no âmbito
municipal, percebemos que quando existe alguma centralização, ela não ocorre por meio
das instâncias partidárias, mas por meio das tendências dentro do partido.
Como foi abordado no início desse tópico, o 4º Congresso Nacional do PT,
que hierarquicamente é a instância deliberativa mais importante do partido, estabeleceu
que nas eleições de 2012 o partido não realizaria alianças com PSDB, DEM e PPS. Porém,
quando observamos as coligações eleitorais no Ceará percebemos que essa resolução não
foi implementada em todos os municípios.
Em dois municípios, o PT apresentou candidatos próprios ao Executivo tendo
como vice candidatos filiados a esses partidos adversários. Em Ararendá, o vice era do
PSDB e em Paramoti, o candidato ao cargo era vinculado ao PPS. Além disso, em outros
municípios que o PT apresentou candidatos para o cargo de prefeito ou vice-prefeito,
esses partidos participaram da coligação. O PSDB fez parte da coligação em 15
municípios, o DEM em 9 e PPS em 16.
Cabe ressaltar que a maior parte desses municípios tinha o órgão partidário
local vinculado a tendência CNB, liderada por José Guimarães, como é o caso de
228

Ararendá e Paramoti. Por fazer parte da coalizão dominante do partido, José Guimarães
detém o controle sobre as regras organizacionais, importante zona de incerteza. A partir
desse recurso, este pode estabelecer as regras, manipular sua interpretação e impor ou não
sua observância.
Na pesquisa de campo, foi destacado que José Guimarães faz alianças com
partidos e políticos considerados adversários do partido no plano nacional. Mas, como
estabelece alianças que garantem dividendos eleitorais ao partido, suas ações políticas
consideradas incompatíveis com a regras éticas e ideológicas do partido são relevadas.
Em Nova Olinda, por exemplo, o deputado federal José Guimarães obteve 2.000 votos
(24% dos votos válidos) nas eleições de 2014. Esse desempenho eleitoral, no entanto, não
foi obtido por meio da articulação com a instância partidária local. Foi o então prefeito,
Ronaldo Sampaio (PSD), que liderou a campanha desse deputado federal no município.
Quando observamos a formação de alianças para eleições estaduais no Ceará,
percebemos a articulação do Diretório Nacional e Estadual para a obtenção de
candidaturas competitivas. A eleição estadual de 2014 foi caracterizada pelo rompimento
do trâmite regular de formação de alianças políticas e de escolha de candidatos, que seria
feita a partir das decisões tomadas pelo GTE. Como salientou o presidente do Diretório
Estadual, De Assis Diniz, nas eleições estaduais de 2014 ocorreu “um caso ímpar,
singular e exemplar que modificou toda a lógica do que é nossa tradição de termos
processo dinâmico de debate e discussão e deliberações”.
Inicialmente, o Diretório Estadual seguiu o trâmite formal para definir o arco
de aliança política e de escolha de candidatos: realizou o Encontro de Definição de Tática
Eleitoral. Nesse evento, realizado em março de 2014, as duas principais tendências do
partido no âmbito estadual, a DS que compõem a coalizão dominante do Diretório
Municipal de Fortaleza e a CNB/CD que ocupa a coalizão dominante do Diretório
Estadual, votaram em consenso na tese de candidatura própria para o Senado. Assim, as
duas tendências, que historicamente defendem posicionamentos distintos, acordaram na
estratégia da candidatura de José Guimarães ao Senado. Esse acordo interno foi inclusive
registrado pela imprensa local, como fica evidenciado no título da matéria: “PT indica
José Guimarães ao Senado, mas pode rever posição” (O POVO, 30 mar. 2014).
Nesse encontro, foram aprovadas algumas diretrizes que o Diretório Estadual
posteriormente publicou em resolução, como vemos abaixo:
O PT Ceará já deixou claro por meio das resoluções do seu Diretório
Estadual que a prioridade em sua tática deve privilegiar a reeleição da
229

Presidenta Dilma Rousseff, ao mesmo tempo afirmando o


protagonismo do PT no estado.

Essa compreensão implica na definição do Encontro de Tática Eleitoral


pela manutenção da aliança que governa o estado, com o PMDB,
PROS, PT e demais aliados, cabendo ao PT apresentar ao conjunto dos
partidos sua pretensão política de compor a chapa majoritária indicado
o candidato ao Senado (PARTIDO DOS TRABALHADORES.
Resolução do Encontro Estadual de Tática Eleitoral do PT Ceará,
2014).
Pelo texto acima, percebemos que o objetivo principal das eleições de 2014
no Ceará era a eleição para o Executivo nacional, mantendo o arco de alianças com os
partidos que davam sustentação política ao PT no plano nacional. No Ceará, o partido
manteria a aliança com a facção política do então governador Cid Ferreira Gomes, filiado
ao PROS. A lealdade a esse grupo se deu sobretudo pelo fato de Cid Ferreira Gomes ter
migrado do PSB, quando este partido decidiu não apoiar a reeleição de Dilma Rousseff e
apresentar candidato próprio em 2010.
Apesar do Diretório Estadual do PT reconhecer que era necessário
protagonismo político, as decisões eleitorais do partido estavam submetidas as estratégias
da facção política dos Ferreira Gomes (PROS). Nessa aliança estabelecida entre o PT e o
PROS, este indicaria o candidato ao Executivo estadual. Porém, neste partido existiam
incertezas quanto a escolha do candidato ao Executivo estadual, visto que cinco nomes
eram cotados para a disputa. Essa imprevisibilidade na indicação do sucessor de Cid
Ferreira Gomes é noticiada na imprensa local, como na matéria intitulada “Prós e contra
de uma escolha” (FIRMO, O POVO, 31 mai. 2014).
Esperando essa indicação do governador, o PT postergou seu rito de escolha
dos candidatos. Até o final de junho, próximo a data final estabelecida pela justiça
eleitoral para a realização da convenção eleitoral que apresentaria os candidatos, o PT
não tinha fechado questão quanto ao lançamento de candidatos, tornando-se refém das
estratégias políticas dos Ferreira Gomes. Finalmente, no último dia previsto pela
legislação eleitoral, na convenção eleitoral dos dois partidos, o PT apresentou seus
candidatos, cedendo e acatando a decisão por parte do então governador Cid Ferreira
Gomes.
É interessante observamos como o presidente do Diretório Estadual construiu
a narrativa sobre essa eleição. Como vemos abaixo:
Então nós fizemos o Encontro Estadual. Nesse Encontro Estadual nós
definimos que não teríamos candidatura própria, que nós
defenderíamos a presença do partido na chapa majoritária e
230

indicaríamos um candidato para o Senado. Esta estrutura do Encontro


Estadual vai para o Congresso, e no Congresso define a política de
aliança. Aí no Congresso nós fizemos, em considerarmos [pausado e
pensativo] as indefinições do nosso principal aliado e a nossa e
concatenado a isso a eleição federal da Presidente Dilma [Rousseff], a
nossa tática tava intimamente definida que no Ceará o nosso principal
aliado, que eram os irmãos Ferreira Gomes, teria o apoio do PT para
indicar o candidato, e nós não iríamos ter candidato, nós apoiaríamos
[batendo com o dedo na mesa de forma enfática] o candidato dos
Ferreira Gomes. Chegou o Congresso e o Congresso não tinha ainda
uma definição de quem era o candidato. O que aconteceu? O Congresso
deliberou que quem iria definir a política de aliança seria o Diretório
Estadual. Bom, “De Assis, mas você tem as instâncias que é Executiva,
Diretório Estadual, Plenária e Congresso. O Congresso foi instalado,
não definiu quem era o candidato e remeteu a definição para o Diretório
Estadual, que era uma instância inferior. Mas isso não é uma
incongruência?” Não! Porque a instância máxima do Congresso pode
deliberar para uma instância inferior. Foi deliberado ao Diretório
Estadual. Até aquele momento, o Congresso aconteceu em maio,
finalzinho da primeira quinzena, sem uma definição. Então nós
remetemos ao Diretório Estadual. Acontece que no último momento da
campanha, os Ferreira Gomes ao considerar o conjunto de candidatos
que eles tinham, fizeram uma pesquisa e identificaram que tinha dois
elementos que traziam muitas dificuldades para a tática eleitoral deles.
Um, é que os candidatos que eles tinham, os cinco: Mauro [Benevides],
Zezinho [Albuquerque], Leônidas [Cristino], Domingos Filho e a
Izolda [Cela], nenhum tinha capacidade de empolgar e de animar e de
criar uma indução de enfrentamento com o candidato opositor [Eunício
Oliveira (PMDB)] que estava muito bem posicionado na pesquisa. E o
outro, era criar toda e qualquer dificuldade para vincular qualquer
possibilidade de vinda nacional de dirigentes do PT para apoiar outro
candidato que não fosse do arco de aliança, por isso um candidato do
PT. E os irmãos Ferreira Gomes numa tratativa na madrugada do dia 29
para o dia 30 de junho, que é o último dia da convenção, tira os nomes
deles [dos 5 possíveis candidatos], nos chama para a conversa, nos
convence que o posicionamento nosso na chapa majoritária não seria
no Senado, mas sim na cabeça de chapar indicando o nome do Camilo
Santana. Essa discussão aconteceu do dia 29 pro dia 30, precisamente
de 12:00 às 04:00 da manhã, e quando foi meio dia nós estávamos com
o Diretório convocado para assumir uma posição deliberativa. Foi nesse
momento que o Diretório Estadual definiu que teria candidatura
própria. Considerarmos todo o histórico do PT, este é um caso ímpar,
singular e exemplar que modificou toda a lógica do que é nossa tradição
de termos um processo dinâmico de debate e discussão e deliberações
e o Diretório Estadual então homologou o nome da candidatura para o
governo do Estado, Camilo Santana. (DE ASSIS DINIZ, presidente do
Diretório Estadual do PT-Ceará. Entrevista concedida ao autor em
24/11/2015).
Pela fala acima, percebe-se que o entrevistado não interpretou como negativa
a forma como ocorreu a formação de aliança e a escolha de candidatos para as eleições
estaduais de 2014. Não é evidenciado mal-estar, nem pelo fato do partido ter abandonado
seu trâmite regular de escolha e homologação de candidatura, nem por aceitar a
231

candidatura imposta por alguém externo ao partido. Essa anuência da Comissão


Executiva do PT foi motivada pela manutenção do arco de alianças para a eleição do
Executivo nacional.
Percebe-se que o partido abriu mão dos tradicionais mecanismos de tomada
de decisão que envolvem intensa participação dos filiados e de delegados em Encontros
Zonais, Encontro de Tática Eleitoral e Congresso de homologação de candidaturas. Além
disso, aderiu à tradicional “política dos bastidores” em que as decisões são tomadas por
uma pequena elite sem consultar à base partidária. O Diretório Estadual, formado por um
número menor de filiados, decidiu pelo apoio às decisões políticas da facção dos Ferreiras
Gomes.
É interessante observar também que pelo fato do PT ter estrutura mais
burocrática e seguir regras formais no processo de decisão, o presidente De Assis Diniz
teve que utilizar argumentos formais do estatuto ao justificar porque o Congresso remeteu
ao Diretório a escolha de candidato à campanha majoritária.
Durante esse processo de escolha de candidato, o partido não permaneceu
uníssono quanto a “espera” pela decisão do governador Cid Ferreira Gomes (PROS). O
Diretório Municipal de Fortaleza, liderado pela DS, contestou a decisão do Diretório
Estadual em manter aliança com PROS e apoiar a candidatura desse partido ao cargo de
governador. Em encontro, o Diretório Municipal defendeu a tese de candidato próprio ao
Executivo estadual, tendo Luizianne Lins como candidata. Como é noticiado na impressa:
“PT de Fortaleza aprova tese de nome próprio” (O POVO, 13 jun. 2014). Porém, essa
tendência não conseguiu apoio para sua tese, visto que a prioridade para o partido era a
eleição nacional e em consequência disso, a manutenção da aliança com Cid Ferreira
Gomes (PROS).
É interessante observar que, dias depois desse encontro do PT de Fortaleza,
foi noticiado nos jornais que o Diretório Nacional do PT ratificaria as decisões tomadas
no Encontro Estadual de Tática Eleitoral, como fica evidenciado no título da matéria
“Diretório Nacional do PT ratifica aliança do partido com Pros de Cid” (O POVO, 20 jun.
2014). Isso ressalta que a tese defendida pelo Diretório Municipal de Fortaleza não
encontrava apoio na instância superior do partido e que o PT iria manter a aliança com
Cid Ferreira Gomes. Ainda esperando a decisão do governador quanto a escolha do
candidato, o Diretório Estadual publica uma resolução em 27 de junho deliberando a
aliança com o PROS. Como vemos a seguir:
232

Nesse sentido, o Diretório Regional do PT-CE delibera:


a) Aprovar aliança para as eleições majoritárias de 2014 no Ceará, com
o Partido Republicano da Ordem Social - PROS e demais partidos que
compõem a base de apoio do governo do Estado, ratificando a indicação
do deputado federal e vice-presidente nacional do PT, José Guimarães
como candidato da aliança ao Senado;
b) Delegar à Comissão Executiva Estadual do PT, a aprovação dos
nomes indicados pela aliança para os cargos de Governador e Vice.
(PARTIDO DOS TRABALHADORES. Resolução política do
Diretório Estadual do Partido dos Trabalhadores do Ceará, 2014.)
Observa-se que o Diretório Estadual se articulava para apoiar a candidatura
ao Executivo estadual estabelecida por Cid Ferreira Gomes (PROS) e apresentar José
Guimarães como candidato ao Senado.
Cabe observar que, embora o candidato a governador Camilo Santana fosse
filiado ao PT, o que determinou a escolha desse deputado estadual foi a lealdade política
a Cid Ferreira Gomes. Essa lealdade à facção foi testemunhada durante o período em que
este ocupou secretarias no governo estadual. Camilo Santana foi secretário do
Desenvolvimento Agrário durante a primeira gestão de Cid Ferreira Gomes e secretário
de Cidades na segunda gestão. Na imprensa nacional, foi noticiada a indicação do
candidato ao Executivo estadual do PT por parte de Cid Ferreira Gomes (PROS),
afirmando que “dentre os petistas cearenses, o escolhido é o que mais tem identidade com
Cid [Gomes]” (ESTADÃO, 29 jun. 2014).
Assim, o processo de escolha dos candidatos da ampla coligação liderada pelo
PT e pelo PROS e que envolvia mais 18 partidos, como vemos no Anexo 13,80 fortaleceu
a facção política dos Ferreira Gomes. Além da escolha do candidato a governador, Cid
Ferreira Gomes indicou candidato ao cargo de vice-governador e o titular da vaga de
senador. Como vemos abaixo:
Tabela 14 - Candidatos da coligação PT-PROS em 2014
Votos 1º Votos 2º
Cargo Nome do Candidato Situação Partido
turno turno
Governador Camilo Santana PT
2.039.233 2.417.668
Vice- Eleito
Izolda Cela (47,81%) (53,35%) PROS
governador
Senador Mauro Benevides PROS
1.573.732
1º Suplente Padre José Zé Não Eleito PP
(39,37%)
2º Suplente Honório Pinheiro PROS
Fonte: Elaboração própria a partir dos dados do TRE-CE.

80
Nessa coligação percebe-se também um fraco grau de coerência ideológica, pois partidos de esquerda,
como PT, PCdoB, PDT e PV, estão coligados com partidos de direita, como o PP, PTB, SD, PSL.
233

Quando observamos a formação de coligação para a disputa na Câmara


Federal e para ALECE, percebemos que o Diretório Estadual seguiu a orientação do
Diretório Nacional para garantir expressiva votação na eleição para o Executivo federal.
Na entrevista com o presidente do Diretório Estadual do PT, De Assis Diniz, foi
ressaltado que o PT decidiu integrar a coligação eleitoral na eleição proporcional com os
partidos aliados para garantir apoio na eleição majoritária. A negociação com as
agremiações que participariam da coligação proporcional foi extensa e envolveu amplos
acordos, pois alguns partidos só apoiariam a campanha majoritária se participassem da
coligação na eleição proporcional.
Na disputa para cargos proporcionais, o PT participou de coligação em
comum com sete partidos, como PRB, PTB, PHS, PSD, SD, PROS e Partido Social
Liberal (PSL). Além desses, tanto nas disputas para Câmara Federal quanto para ALECE,
o PT fez coligações específicas com outras siglas. Para o Legislativo federal, incluiu
outras três legendas (PP, PDT e PC do B) e para o estadual, incorporou o PV. Na
entrevista com De Assis Diniz, foi informado que a coligação com esses três últimos
partidos a Câmara Federal foi uma exigência dessas agremiações. Por terem baixa
votação, estas tinham receio de não atingirem o coeficiente partidário.
Essa decisão do PT de participar de coligação para as eleições majoritárias
foi interpretada como estratégia equivocada por parte do GTE do PT Ceará, como
observamos abaixo:
Eu diria que aí foi uma estratégia equivocada do GTE do partido.
Porque nós poderíamos, com a votação que nós tivemos desses 4
deputados federais, nós poderíamos ter eleito o quinto e disputado a
sexta vaga. Como nós optamos por fazermos uma aliança de uma
coligação proporcional com os outros partidos, acabamos sendo
tragados e engolidos pela votação dos outros parlamentares. Mas a
votação dos nossos candidatos, se tivéssemos saído só, como saiu por
exemplo o PDT, como saiu por exemplo outros partidos pequenos,
como o PCdoB, nós teríamos eleito 5 deputados federais e ter disputado
a sexta vaga. Mas, aprendemos com esse processo e a definição
nacional de uma orientação de manter os seus 78 deputados, 80
deputados. E o Ceará contribuiria pela manutenção dos 4. Quem sabe
chagando ao 5º (DE ASSIS DINIZ, presidente do Diretório Estadual do
PT-Ceará. Entrevista concedida ao autor em 24/11/2015).
O colaborador expressa, portanto, uma avaliação negativa das alianças
realizadas. Caso o PT tivesse optado por uma racionalidade contextual das eleições
estaduais, poderia ter eleito mais deputados. Porém, como a estratégia dessa ampla
coligação era nacional, pois visava o fortalecimento da campanha para o Executivo
nacional, tinha que envolver outros partidos, mesmo que diminuísse sua representação.
234

A partir do que foi relatado, observa-se que a manutenção da aliança com o


PROS, o lançamento de candidato nas disputas majoritárias (cargos para governador e
senador) e a formação de coligação eleitoral para a disputa proporcional foram
centralizados pelo Diretório Estadual, seguindo as orientações do Diretório Nacional.
Este Diretório tinha uma decisão clara quanto às eleições de 2014 no Ceará: manutenção
da aliança política com os irmãos Ferreira Gomes (Cid Ferreira Gomes e Ciro Ferreira
Gomes) para garantir apoio a eleição federal da presidenta Dilma Rousseff. Para atender
essa estratégia nacional, a dinâmica de participação política dentro do partido foi
sacrificada.

b) Seleção de candidatos
O estatuto de 2012 do partido concede ao Encontro Municipal, instância da
organização partidária em nível municipal, autonomia para “escolher os candidatos ou
candidatas a cargos eletivos na esfera municipal ou, no caso da realização de prévias,
referendar os candidatos ou candidatas” (Artigo 76, c).
Nesse documento, existe um título que regulamentar a escolha dos candidatos
ou candidatas às eleições proporcionais e majoritárias (Título IV). O estatuto estabelece
que caberá à Comissão Executiva ou ao Diretório de cada nível abrir o período eleitoral
para indicação, impugnação e aprovação de candidaturas às eleições proporcionais e
majoritárias (Artigo 139). Formalmente, são três os pré-requisitos para ser candidato: a)
estar filiado ou filiada ao partido por pelo menos um ano antes do pleito; b) estar em dia
com a tesouraria do partido; c) assinar e registrar em cartório o “Compromisso Partidário
do Candidato ou Candidata Petista” (Artigo 140).
Para cada cargo, existe uma quantidade mínima de assinaturas para que a
Comissão Executiva examine o pedido de pré-candidatura (Artigo 142). Para os cargos
majoritários em cada nível federativo é necessário o voto favorável de 10% dos votantes
do último PED. Para o cargo de vereador é necessário a aprovação de três membros do
Diretório Municipal; ou de um núcleo; ou de um Diretório Zonal na respectiva direção
municipal; ou de 2,5% do total de filiados ou filiadas, que participaram do último
encontro municipal. Para o cargo de deputado estadual ou federal é necessário a assinatura
favorável de 1/3 (um terço) dos membros do Diretório Estadual; ou 5% das Comissões
Executivas municipais; ou 1% dos filiados ou filiadas, no estado; ou da indicação do
encontro setorial estadual ou nacional. Por fim, no encontro correspondente a cada nível
235

hierárquico serão apresentadas as chapas de candidaturas e votadas individualmente as


impugnações.
Porém, por meio das informações coletadas na pesquisa de campo,
percebemos que quando o partido realiza seu encontro para o lançamento de candidaturas,
as chapas já estão estabelecidas. A seleção de candidatos ocorre por meio de negociações
entre as diversas tendências que integram o partido. Além disso, percebemos que a
instância municipal não tem autonomia para decidir sobre a seleção de candidatos, já que
esta seleção envolve relação entre as tendências e entre os órgãos partidários de nível
hierárquico superior. Cabe ressaltar que percebemos gradações de autonomia entre os
Diretórios Municipais investigados.
A campanha eleitoral de Fortaleza teve o acompanhamento direto do
Diretório Nacional por meio do presidente Rui Falcão. Desde janeiro de 2012, foi
noticiado pelo sitio do Diretório Estadual do partido encontros entre Rui Falcão e a então
prefeita Luizianne Lins para debater a sucessão eleitoral em Fortaleza81. Após o Diretório
Municipal de Fortaleza resolver apresentar candidatura própria em dezembro de 2011, o
partido via-se diante de um dilema. Cinco lideranças do partido mobilizavam suas bases
para ser candidato à sucessão: o secretário de Educação na gestão de Luizianne Lins,
Elmano de Freitas; o deputado federal que possuía votação concentrada em Fortaleza,
Artur Bruno; o vereador, Guilherme Sampaio; o presidente da Câmara Municipal, Acrísio
Sena; o deputado estadual que estava como secretário das Cidades no governo do estado,
Camilo Santana.
Essa divisão foi pacificada pela mediação do então presidente do Diretório
Nacional, Rui Falcão, que negociava com as tendências que apresentavam candidatos.
Como percebemos no depoimento de Elmano de Freitas:
Nós éramos cinco pré-candidatos. Eu, [Artur] Bruno, Guilherme
[Sampaio], o Acrísio [Sena] e o Camilo [Santana]. Ele ouviu cada um
dos cinco e foi nos ajudando a construir uma candidatura que unificasse.
E ele esteve no encontro e esteve na reunião, no encontro em que tanto
o Acrísio como o Camilo e como o Guilherme retiraram o nome pra me
apoiar e ficou o Bruno. Ele participou de todos os processos
pessoalmente, então. Aqui nós tivemos um trabalho político de muito
diálogo, de construção de unidade, entendeu, então, nesse sentido o PT
tem, nós já tivemos experiência de conflito, nesse caso de 2012 não foi
o caso, foi o contrário, de muita colaboração. Eu sou muito grato
inclusive ao [Rui] Falcão pelo que ele fez ao PT de Fortaleza, de
colaborar, de ouvir, de ajudar, de opinar “Olha Elmano, eu acho que por
aqui é mais fácil assim e fulano de tal, a gente pode e vamos conversar

81
Ver: Presidenta do PT Ceará discute eleições 2012 com presidente nacional do partido. Disponível em:
<http://ptceara.org.br/imprimir.asp?id=4991>. Acesso em 19 de dezembro de 2016.
236

pra mim entender , tem queixas do grupo tal e nós precisamos


contemplar essas preocupações, é um balanço muito positivo mais
também tem questão que precisa ser melhoradas né? Então vamos,
vamos ouvir, vamos discutir” Então ele foi uma figura muito importante
pelo peso que ele tem, conquistando o partido, porque muitas vezes ele
fazia essa ligação nossa com o presidente Lula. Então foi muito
positivo, né? Nem que num teve conflito, não só não teve conflito, como
a participação dele foi muito colaborativa e muito positiva na
construção dessa unidade (ELMANO DE FREITAS, candidato a
prefeito em Fortaleza nas eleições de 2012 e presidente do Diretório
Municipal do PT de Fortaleza. Entrevista concedida ao autor em
24/11/2015).
Segundo o relato acima, a seleção do candidato ao Executivo municipal foi
construída a partir da articulação com o presidente do Diretório Nacional, Rui Falcão. Na
entrevista, Elmano de Freitas salientou que não foi escolhido especificamente por
Luizianne Lins, mas “pelo caminhar das negociações estabelecidas com Rui Falcão e com
os companheiros de partido”.
Elmano de Freitas é advogado ligado aos movimentos sociais, como a
Pastoral da Terra. Coordenou a campanha de reeleição de Luizianne Lins em 2008 e com
a vitória dessa candidatura integrou a gestão como secretário de Educação e do
Orçamento Participativo. A escolha de seu nome para concorrer ao Executivo municipal
envolveu forte polêmica. Na imprensa local, foi publicada uma matéria em que a prefeita
Luizianne Lins teria dito "Me preparo para eleger até um poste". Como vemos abaixo:
“Eu me preparo para eleger até um poste. E sem luz!” Foi assim que a
prefeita de Fortaleza, Luizianne Lins (PT), reagiu ontem ao ser
indagada sobre os preparativos para sua sucessão em 2012, uma
incógnita até aqui pela ausência de nomes para disputar a Prefeitura.
Luizianne, contudo, não quis citar possíveis candidatos, mas garantiu
que, como qualquer chefe do Executivo, quer eleger seu substituto para
dar continuidade a uma gestão que, apesar de tantas críticas, será,
segundo ela, reconhecida por muitos projetos importantes que estão
sendo implantados (O POVO, 07 dez. 2010).
Posteriormente, quando a prefeita sinalizou que Elmano de Freitas seria seu
candidato predileto à sucessão municipal, a associação a essa matéria tornou-se
recorrente. Aliados políticos criticaram a escolha da prefeita, argumentando que o
candidato era “poste”. Ou seja, defendiam que seria arriscado apoiar a candidatura de
alguém tão vinculado a gestão municipal e desconhecido pelo eleitorado, já que nunca
tinha sido testado na disputa de cargos eletivos.
O PSB liderado pelo então governador Cid Ferreira Gomes mostrava-se
propenso a apoiar a candidatura do deputado estadual Camilo Santana, que era próximo
a ele e ocupava uma secretaria no governo estadual. Com a decisão do PT no apoio à
237

candidatura de Elmano de Freitas, o PSB rompeu a aliança. O governador costurou acordo


com o PMDB e apresentaram uma candidatura alternativa. Outras agremiações pequenas
integraram a coligação dessa nova candidatura, como PHS, PMN, PSL, PRB, PTdoB e
PSDC.
Na pesquisa de campo, foi salientado que a escolha de Elmano de Freitas
como candidato foi uma decisão pessoal da então prefeita Luizianne Lins. Interessante
ressaltar que a presidenta do Diretório Municipal de Fortaleza, Luizianne Lins, fez uma
publicação no jornal local defendendo a tese da escolha do candidato. No artigo, intitulado
“Exercício democrático, sempre”, a prefeita e presidenta do partido argumenta que a
candidatura de Elmano de Freitas envolveu amplo processo de debates dentro da
agremiação. Como percebemos abaixo:
Um ano e meio de debates marcou o processo de escolha do candidato
à Prefeitura de Fortaleza pelo Partido dos Trabalhadores (PT) para as
próximas eleições de outubro. Iniciado em março de 2011, com
plenárias reunindo a militância petista em diversos bairros, culminando
com outra grande plenária, que reuniu mais de cinco mil militantes no
bairro Parangaba, na Capital. Seguimos então para o Ciclo de Debates
— Fortaleza e o Governo Popular, quando resgatamos as conquistas e
os desafios da administração que concluiremos esse ano, após oito anos
de mandato. Esses debates geraram, inclusive, uma publicação
retratando as vitórias, as grandes obras e as políticas sociais do nosso
governo. Ao longo desse período, contamos com cinco candidatos
dentro do partido, todos incluídos nesse movimento conjunto de escolha
do pré-candidato a prefeito da capital cearense. Realizamos o Encontro
Municipal do PT Fortaleza, com participação de 300 delegados do
partido e contando com a presença do presidente nacional do PT, Rui
Falcão. Por fim, o advogado Elmano Freitas foi escolhido
democraticamente como candidato à sucessão por nós, militantes do
PT, num processo democrático que teve o apoio do ex-presidente Luiz
Inácio Lula da Silva, maior referência política do partido no País.
Agora, a fase é de construção do programa de governo. Nesse mês
realizaremos debates temáticos que darão origem ao programa. Nosso
espírito é de unidade, união, fraternidade e democracia! E, dentro dessa
lógica, queremos o melhor para Fortaleza (LINS, O POVO, 12 jun.
2012).
A publicação desse artigo na impressa local partiu da necessidade de
Luizianne Lins apagar a associação entre a candidatura de Elmano de Freitas e a fala
anterior bastante explícita de que elegeria até um “poste”. Além disso, tentava conter os
comentários de que se tratava de uma decisão autocrática por parte da prefeita. Isso
demonstra a necessidade de justificar a escolha do candidato e evidenciar que esta foi
fruto de processos legítimos e democráticos.
Quanto a seleção ao Legislativo municipal, o PT decidiu não fazer coligação
para apresentar um maior número de candidatos. Como foi ressaltado na pesquisa de
238

campo, a estratégia era lançar o máximo de candidaturas competitivas ao Legislativo para


potencializar a candidatura de Elmano de Feitas ao Executivo municipal. O partido
apresentou 40 candidatos. Essas candidaturas eram distribuídas entre as tendências do
partido e o Diretório Municipal teve autonomia para apresentá-las.
Em entrevista com o então vereador do PT Jovanil Oliveira, este ressaltou que
a seleção de candidatos ao Legislativo e a distribuição de recursos para campanha no
partido ocorre por meio da correlação de forças entre as correntes internas do partido.
Embora tenha argumentado que também existem candidaturas “avulsas”, que não
pertencem a nenhuma corrente do partido. Porém, essas campanhas possuem acesso
escasso aos recursos do partido. Jovanil Oliveira foi candidato nas eleições de 2008,
integrando a cota da DS no partido, e em 2012 saiu como candidatura “avulsa”. Como
percebemos abaixo:
Eu fui candidato a Câmara Legislativa [Municipal] e na época eu tava
saindo de um grupo, de uma das correntes internas que compõe o
partido, que era o grupo inclusive ligado a prefeita Luizianne Lins. Eu
tive um trauma político aí e então havia uma situação de disputa porque
a minha candidatura não era desejada pela corrente, pelo grupo. Como
eu passei a ser aquela candidatura que corre solta e havia uma
candidatura que era prioridade, a única que candidatura com prioridade
na corrente, todo o acordo interno de distribuição de tempo de TV e de
rádio foi distribuído a partir de uma correlação de forças das correntes
que tinham representação junto a direção Executiva. Como eu não tinha
representação na Executiva e tava numa situação... tinha tomado uma
decisão contrária ao desejo do grupo e tudo, então a minha campanha
por exemplo sofreu vários embates, várias dificuldades, inclusive com
tempo de TV. Colocaram um tempo de TV numa distribuição em que
eu aparecia menos vezes na TV e no rádio (JOVANIL OLIVEIRA,
vereador suplente de Fortaleza empossado em 2015. Entrevista
concedida ao autor em 23/11/2015).
No município de Mombaça, o PT teve plena autonomia para apresentar
candidatos, tanto ao Executivo quanto ao Legislativo. Durante a pesquisa de campo, foi
salientado que o Diretório Estadual não acompanhou o processo de seleção e lançamento
de candidaturas.
O partido apresentou chapa “puro sangue” ao Executivo municipal e a escolha
de Antônio Ermínio Filho como candidato a prefeito foi estabelecida pelas lideranças
locais. Como percebemos abaixo:
Eu era do PSC, sabe. Aí o PT tem muita vontade de aqui na Mombaça
eleger um vereador... aí me convidaram pro PT. Porque meu nome é
bom pra vereador. Aí inventaram de colocar logo pra prefeito, aí... não
saiu do canto. (...) O convite partiu do Presidente do PT, daqui. Do PT
estadual nunca recebi convite de ninguém. Só tinha relação com o
pessoal daqui mesmo: o César Som, o Fanca Feitosa. Eles tinham
239

contato com Ilário Marques, do Quixadá. (ANTÔNIO ERMÍNIO


FILHO, presidente do Diretório Municipal do PT de Mombaça e
candidato a prefeito em 2012. Entrevista concedida ao autor em
16/10/2015).
Quanto a seleção de candidatos ao Legislativo, o presidente do PT de
Mombaça, Antônio Ermínio Filho, informou que o partido não era restritivo e qualquer
membro do partido que quisesse ser candidato seria aceito pelo Diretório. Foi ressaltado
que o partido teve dificuldade para apresentar candidatos ao Legislativo, sobretudo de
mulheres que quisessem concorrer. Como foi dito anteriormente, pela legislação eleitoral,
os partidos políticos precisam apresentar no mínimo 30% de algum dos sexos como
candidato(a). O partido apresentou nove candidatos ao Legislativo municipal, sendo três
do sexo feminino.
Observando os resultados eleitorais, percebemos que o partido apresentou
baixo desempenho eleitoral, não conseguindo eleger nenhum candidato. Cabe ressaltar
que as candidatas mulheres apresentaram votação abaixo da média do partido. Apenas
uma candidata apresentou desempenho regular, sendo a quarta mais votada pelo partido,
obtendo 50 votos (0,21% dos votos válidos). As outras duas obtiveram 14 e 3 votos,
respectivamente 0,06% e 0,01% dos votos válidos. Isso demonstra as dificuldades
enfrentadas pelas mulheres para sua inserção na política institucional.
Em Nova Olinda, o Diretório Municipal também teve autonomia para
apresentar candidatos. Esse processo envolveu encontros com o deputado estadual
Elmano de Freitas, que orientou as lideranças partidárias locais. O PT participou de
coligação eleitoral com mais sete partidos: PRB, PDT, PR, PHS, PMN, PSB e PCdoB.
Para o Executivo municipal, o partido decidiu não apresentar candidato próprio, apoiando
chapa conduzida pelo PSB. Para o Legislativo, o partido decidiu adotar uma política
restritiva quanto ao número de candidatos, apresentando apenas duas candidatas. A meta
do partido era garantir a eleição da ex-vereadora e presidenta do Diretório Municipal,
Maria do Socorro Matos.
Na pesquisa de campo, foi ressaltado que essa estratégia eleitoral teve a
diretriz da tendência do partido. Lideranças da DS avaliaram que o partido ficou muito
fragilizado ao adotar uma política aventureira em 2008 com o lançamento de Maria do
Socorro Matos como candidata a prefeita. Para a eleição de 2012, foi realizada uma
pesquisa eleitoral e como a ex-vereadora Maria do Socorro Matos tinha maior
probabilidade de ser eleita, sua candidatura foi considerada prioritária. De fato, essa
estratégia deu resultado e o partido pode novamente ocupar a representação na Câmara
240

Municipal com o mandato de Maria Socorro Matos, eleita com 651 votos (6,5% dos votos
válidos). A outra candidata do partido, a liderança do distrito de Barreiros, Ana Carla
Cordeiro, obteve 469 votos (4,7% dos votos válidos), mas não foi eleita.
Observa-se que em Nova Olinda, diferente de Mombaça, as mulheres
possuem forte protagonismo no partido, conseguindo exercer cargos de liderança. Isso é
fruto do trabalho de base que o partido, aliado ao Sindicato dos Trabalhadores Rurais,
conseguiu construir na política local, recrutando e qualificando lideranças femininas.
Para a eleição estadual de 2014 no Ceará, como foi ressaltado anteriormente,
o Diretório Nacional do PT estabeleceu como objetivo principal a reeleição da presidenta
Dilma Rousseff e a formação de alianças para possibilitar expressiva votação. Para isso,
o partido deveria construir candidaturas fortes para potencializar esse projeto. Como
percebemos na resolução do 14º Encontro Nacional.
O PT nacional orienta os estados a constituir chapas proporcionais
fortes, representativas e com o maior número possível de candidatos,
entendendo que isso contribui para engajar um maior número de
militantes na campanha pela reeleição da Presidenta Dilma [Rousseff],
dos majoritários estaduais e na própria legenda proporcional. Cabe ao
partido estimular novas candidaturas, projetando assim novos quadros
públicos, especialmente mulheres, jovens e representantes de
segmentos etno-raciais. (PARTIDO DOS TRABALHADORES.
Resolução sobre tática eleitoral e política de alianças, 2014.).
No Ceará, o GTE do partido PT tinha a coordenação de José Guimarães e do
presidente do Diretório Estadual De Assis Diniz. Foi estabelecido que o partido
apresentaria candidaturas competitivas para ampliar sua representação no Legislativo
federal e estadual. Além disso, o partido daria prioridade a candidatos que já fossem
políticos e/ou que contassem com uma rede de apoio para se eleger. O restante das vagas
seria distribuído entre as tendências do partido. Foi ressaltado pelo presidente do
Diretório Estadual os requisitos informais para a seleção de candidaturas, como
percebemos abaixo:
Claro que uma candidatura que vem com o apoio e com o aval de uma
corrente ela em princípio não tem porque ser vetada ou que se crie
alguma dificuldade pra que ela se efetive, se formalize. Membros do
partido, mesmo que não seja ligada a nenhuma corrente, mas que já tem
uma militância no partido de uma longa data tem uma candidatura
legitimada. Mas, normalmente candidaturas de pessoas que se filiaram
recentemente no partido, ou pessoas que não temos como medir o seu
capital eleitoral, ou candidatos que numa situação de hipótese pode
prejudicar uma determinada candidatura considerada importante para o
partido, porque vai dividir o voto, vai disputar votos no mesmo
território, numa mesma base eleitoral, é possível que haja algum tipo de
dificuldade para oficialização dessa candidatura (DE ASSIS DINIZ,
241

presidente do Diretório Estadual do PT-Ceará. Entrevista concedida ao


autor em 24/11/2015).
Na entrevista com De Assis Diniz, afirmou-se que durante as negociações
para a seleção de candidatos aos cargos proporcionais em 2014 não ocorreu nenhuma
situação de conflito político dentro do partido. Como foi enfatizado pelo entrevistado:
“Os candidatos que se mostraram interessados em concorrer já possuíam interlocução
com as tendências ou vinha costurando a sua candidatura há algum tempo e já tinha
consenso no partido quanto a sua vaga na disputa”.
Para a Câmara Federal, o PT apresentou 10 candidatos. Segundo o presidente
do Diretório Estadual, De Assis Diniz, a escolha dos candidatos é feita de forma autônoma
pelo Diretório Estadual. Porém, nessa eleição existia compromisso de Diretórios
Estaduais com o Diretório Nacional em manter as vagas do partido na Câmara Federal.
Para isso, o Diretório Estadual do Ceará se comprometeu em apresentar candidaturas
competitivas que possibilitassem a manutenção das quatro vagas na Câmara Federal pelo
partido.
Na disputa para o Legislativo estadual, o PT apresentou 14 candidatos82. Para
essa disputa, diferente dos candidatos apresentados para Câmara Federal, o partido
contemplou todas as tendências dentro do Diretório. Como percebemos no depoimento
abaixo:
Nós montamos uma chapa e nessa chapa o conjunto dos partidos teriam
85 candidatos. Nós apresentamos que o Partido dos Trabalhadores teria
14 candidatos. E começamos a construir. Nós temos 14. Quais são as
forças políticas que vão apresentar? (...) Aí, a definição das
candidaturas estaduais nós potencializamos vários nomes. Mas é muito
mais uma definição das correntes políticas do que uma definição
partidária. Nós abrimos uma série de conversas e tratativas com os mais
diferentes setores das correntes políticas, incentivando para que eles
viessem para se candidatar. Uns para projetar nome, outro para
consolidar posições, outro na perspectiva de se apresentar pra sociedade
para eleições futuras. Então, nós sugerimos que tivéssemos
candidaturas mulheres, candidaturas sociais, candidaturas do âmbito do
próprio parlamento como os vereadores. Mas, é uma definição muito
exclusiva das forças e das correntes políticas do partido. (...) Bom, o
debate que nós fizemos foi o seguinte. A partir da proporção do PED
uma adequação do resultado da proposição, mas isso flexibilizado. Nós
tivemos dois nomes que chegaram depois, mas que não tinha nenhuma
força política com representatividade para bancar na chapa, então nós
optamos que não iríamos dar legenda. Tá certo que eram pessoas
desconhecidas e que não tinham peso na estrutura interna do partido.
Mais foi muito mais fruto de um diálogo de composição do que uma

82
No sitio do PT Ceará é noticiado que o partido apresentou 16 nomes para o cargo de deputado estadual.
No caso, dois nomes foram excluídos: Djanira Mendes e Joaquim Cartaxo. Ver:
<http://ptceara.org.br/noticias/texto.asp?id=5966>. Acesso em 08 de janeiro de 2018.
242

fórmula ou uma deliberação (DE ASSIS DINIZ, presidente do Diretório


Estadual do PT-Ceará. Entrevista concedida ao autor em 24/11/2015).
Pela fala acima, percebemos que o Diretório Estadual distribuiu as vagas para
a disputa na ALECE de forma a contemplar as várias tendências que compõem a
Executiva Estadual e os vários perfis de candidatura. Para isso, o partido não utilizou
critérios formais para indicar os candidatos, ocorrendo a escolha informal,
“flexibilizada”, por meio de negociações.
No Anexo 6, temos o inventário de todos os candidatos à Câmara Federal e a
ALECE apresentados pela agremiação nessa eleição de 2014. Na lista, descrevemos
dados políticos básicos dos candidatos e a sua tendência. Observando essas informações,
percebemos que a CNB foi a tendência que mais apresentou candidatos: três candidatos
a deputado federal e cinco a deputado estadual. Em seguida aparece a DS, com dois
candidatos para cada cargo. A minoria dos candidatos é lançada de forma independente,
sem o apoio de tendências.
Quanto a formação de coligação para o Legislativo, o presidente do Diretório
Estadual reconheceu que o partido cometeu erros na sua estratégia política nas eleições
para deputado estadual. O partido diminuiu sua representação nessa eleição, reduzindo as
vagas na ALECE de cinco para duas. Como percebemos abaixo:
Porque no início do debate político a definição nossa era de que
sairíamos só, sem coligação. Aí, vimos que se fizéssemos isso
correríamos o risco de não ter o coeficiente para manter os nossos 5
deputados estaduais. Tendo agora o Camilo [Santana] governador isso
potencializaria, só que já era tarde demais. Resultado: saímos de cinco
pra dois deputados estaduais (DE ASSIS DINIZ, presidente do
Diretório Estadual do PT-Ceará. Entrevista concedida ao autor em
24/11/2015).
Percebe-se que a estratégia política que o partido adota é contextual e baseada
em cálculo eleitoral. Envolve também variáveis que este não controla, já que ocorre com
frequência a aliança com outras agremiações. Nesse cenário complexo de múltiplas
variáveis, observamos que importantes decisões não dependem exclusivamente do
partido. Por exemplo, a determinação se a agremiação participará ou não de coligação,
com quais partidos se coligará e quais as candidaturas que são competitivas, coloca para
a organização cenários difíceis de imaginar e calcular. Como na questão ressaltada acima,
se o GTE tivesse previsto que lançaria candidato próprio ao Executivo estadual poderia
ter apresentando mais candidatos ao Legislativo, pois a campanha para governador
potencializaria as outras campanhas do partido no efeito coattail, como debatido
anteriormente.
243

Essa realidade observada na pesquisa de campo, em que o partido assume


características do tipo “partido profissional eleitoral” (PANEBIANCO, [1982]), é
diferente da descrita na pesquisa de Keck (1991) sobre o partido nos anos 1980, quando
o PT apresentava características de “partido de massa” (DUVERGER, [1951]). Na
ocasião, a autora chamou a atenção para o processo de escolha de candidatos no partido,
caracterizando-o como altamente participativo. As candidaturas para cargos legislativos
eram baseadas a partir da indicação dos núcleos e Diretórios, sendo realizadas pré-
convenções eleitorais que podiam vetar nomes específicos considerados inadequados, em
sua maioria por questões éticas. Já as candidaturas para os cargos executivos eram
decididas por consenso. Caso existisse disputa em torno da candidatura, seria realizada
eleição primária interna.
A autora cita um episódio envolvendo uma primária interna:
Um caso interessante em que uma eleição primária produziu uma
reviravolta na situação foi a batalha pela indicação da candidatura do
partido nas eleições para a Prefeitura de São Paulo em 1988: a liderança,
inclusive Lula, apoiava Plínio de Arruda Sampaio, mas os membros do
partido votaram massivamente em Luiza Erundina (que acabou de fato
sendo eleita prefeita) (KECK, 1991, p. 133).

c) Distribuição de recursos
Sobre financiamentos de campanhas eleitorais, o presidente do Diretório
Estadual, De Assis Diniz, informou que eram fundamentados nas transferências feitas
pelo Diretório Nacional do partido, seja nas eleições municipais de 2012, seja nas eleições
gerais de 2014. Como destacamos abaixo:
Bom, lembremos que na campanha de 2012 e de 2014 o partido recebia
doação, não era o candidato que recebia doação. Então uma empresa X
doava 5 milhões. O Diretório Nacional, nas relações com o Diretório
Estadual, das pesquisas que nós tínhamos, perguntavam: “Quais são os
candidatos hoje em condições de disputar e ser eleito?” A gente dizia x,
y, z. Esses candidatos estão bem posicionados, esses candidatos
montaram um arco de aliança, esses candidatos tem uma expressão
social, tem o apoio de tantos prefeitos, esse candidato... E em cima disso
havia então uma construção do candidato com o Diretório Estadual e o
Nacional para o aporte de recursos na campanha (DE ASSIS DINIZ,
presidente do Diretório Estadual do PT-Ceará. Entrevista concedida ao
autor em 24/11/2015).
Pelo trecho da entrevista, percebemos que os recursos eram centralizados pelo
Diretório Nacional e depois distribuídos aos candidatos por intermédio do Diretório
Estadual. Observa-se, portanto, articulação nacional para a construção de determinadas
campanhas eleitorais nos municípios.
244

Por meio dos dados de prestação de contas das eleições de 2012 no SPCE-
TSE, constata-se que o Diretório Nacional do PT transferiu R$ 8.022.750,00 para as
campanhas municipais no Ceará. Esse valor correspondeu a 6,2% do total distribuído em
todo o país nessa eleição, que foi R$ 127.715.516,75. Destes recursos destinados ao
Ceará, sua grande maioria foi para candidatos do PT (99%). Apenas um candidato do
PSB, que fazia coligação com o PT e disputava o Executivo municipal em Quixeramobim,
recebeu R$: 68.500,00 para sua campanha. Os recursos distribuídos foram concentrados
nas campanhas para o Executivo, ficando o Legislativo apenas com 2%.
Na Tabela abaixo temos a relação dos candidatos ao Executivo municipal que
receberam recursos do Diretório Nacional para suas campanhas.

Tabela 15 - Transferência do Diretório Nacional do PT ao Executivo municipal


VALOR
TENDÊNCIA/ VOTOS
MUNICÍPIO CANDIDATO RESULTADO RECEBIDO
DEPUTADO NOMINAIS (%)
(R$)
318.262 (25,4)
Elmano de 1º Turno -
Fortaleza DS Não eleito 6.982.500
Freitas da Costa 576.435 (46,98)
2º Turno
José Ilário Ilário
Quixadá Gonçalves Marques 19.912 (45,4) Não eleito 256.500
Marques (MP)
Maria Ivoneide
José Airton
Pentecoste Rodrigues de 9.855 (40,26) Eleito 95.000
(MPT)
Moura
Marcos Roberto Guimarães
Pacajus 17.944 (67,19) Eleito 76.000
Brito Paixão (CNB)
Missão Tardiny Pinheiro Guimarães
10.965 (50,8) Eleito 63.500
Velha Roberto (CNB)
Francisco Celso Guimarães
Canindé 18.293 (76,63) Eleito 47.500
C. Secundino (CNB)
Aurélio
Viçosa Do Guimarães
Fontenele 13.272 (42,5) Não eleito 43.500
Ceará (CNB)
Magalhaes
Tabuleiro José Marcondes Guimarães
7.755 (41,7) Eleito 30.000
Do Norte Moreira (CNB)
Giovane Guedes José Airton
Araripe 6.079 (49,8) Não eleito 28.500
Silvestre (MPT)
Luis Samuel Guimarães
Assaré 6.969 (50,7) Eleito 19.000
Freire (CNB)
José Juarez
Pimentel
Iracema Diógenes 4.940 (55,5) Eleito 19.000
(AUL)
Tavares
João Coutinho Não consta informação dessa
Meruoca 19.000
Aguiar Neto candidatura no TRE-CE
Odílio Almeida Guimarães
Russas 2.070 (4,9) Não eleito 19.000
Filho (CNB)
245

VALOR
TENDÊNCIA/ VOTOS
MUNICÍPIO CANDIDATO RESULTADO RECEBIDO
DEPUTADO NOMINAIS (%)
(R$)
Ana Teresa
Guimarães
Jaguaruana Barbosa de 11.823 (52,4) Eleito 15.000
(CNB)
Carvalho
Joaquim Gomes Guimarães
Porteiras 4.265 (43) Não eleito 15.000
da Cruz (CNB)
Francisco
Guimarães
Crato Marcos Bezerra 7.315 (11,1) Não eleito 9.500
(CNB)
da Cunha
Jerônimo Neto Guimarães
Morrinhos 6.590 (50,6) Eleito 9.500
Brandão (CNB)
Ilário
Claudino Castro
Mucambo Marques 286 (3,1) Não eleito 9.500
Custodio
(MP)
Rondilson de José Airton
Salitre 6.335 (65,6) Eleito 9.500
Alencar Ribeiro (MPT)
Carlos Cesar de
Bela Cruz DS 942 (5,7) Não eleito 4.750
Carvalho
Campos José Dorgival H. José Airton
1.459 (9,8) Não eleito 4.750
Sales Sudário Lins (MPT)
Adail
José Airton
Groaíras Albuquerque 4.009 (57,3) Eleito 4.750
(MPT)
Melo
TOTAL 7.781.250,00
Fonte: Elaboração própria a partir dos dados do SPCE-TSE. e de informações fornecidas pelo
presidente do Diretório Estadual do PT-CE.

Analisando a Tabela, percebemos que a campanha para o Executivo de


Fortaleza foi a que mais recebeu recursos, totalizando 89%. Como foi observado
anteriormente, a eleição da capital era estratégica para o Diretório Nacional, e por isso
observamos a concentração de recursos a ela destinados. Além disso, o candidato
mostrava-se competitivo e possuía trânsito na estrutura interna do partido, pois era
vinculado a DS.
A segunda campanha que mais recebeu recursos foi a de Quixadá, que tinha
como candidato Ilário Marques, tradicional quadro do partido, tendo sido presidente do
Diretório Estadual entre 2008 e 2010.
Os outros candidatos obtiveram quantidade inferior de recursos. Porém, cabe
destacar que essas transferências se deram pela relação que esses candidatos tinham
diretamente com alguma tendência do partido ou por meio de algum deputado. O
deputado federal José Guimarães, por possuir trânsito no Diretório Nacional ocupando o
cargo de 1º vice-presidente da Comissão Executiva Nacional desde 2010, foi o político
246

mais beneficiado. Os recursos para sua base eleitoral totalizaram R$ 347.500,00. O


segundo político que mais angariou recursos foi José Airton, com R$ 142.500,00 no total.
Segundo o presidente do Diretório Estadual, De Assis Diniz, não existe
formalmente no partido critérios claros e precisos que definam que candidatura receberá
recursos para sua campanha eleitoral. Como ressaltado anteriormente, os critérios
usualmente utilizados são a estratégia eleitoral da campanha e sua competitividade. Cabe
observar que esse julgamento é feito pelas tendências e quando seus membros ocupam
postos estratégicos na organização a transferência de recursos é facilitada. Como este
comenta:
Essas tendências elas compõem a Executiva Nacional, no momento em
que compõe a Executiva Nacional você tá ali no cotidiano da
Presidência com a sua Executiva, cê tem interlocução mais fácil. E o
Diretório Estadual referenda que aquele ou aquela candidatura tem
potencialidade, tem viabilidade e o Diretório Nacional deposita direto
na conta do candidatado (DE ASSIS DINIZ, presidente do Diretório
Estadual do PT-Ceará. Entrevista concedida ao autor em 24/11/2015).
Utilizando o critério de formalidade e informalidade dos partidos político na
América Latina adotado por Freidenberg e Levitsky (2007), percebemos que no PT
predomina informalidade no financiamento das campanhas eleitorais. Apesar do
Diretório Nacional do partido dirigir e centralizar a distribuição dos recursos para os
candidatos, essa divisão não é embasada em documentos oficiais e não ocorre de forma
clara a partir da adoção de critérios precisos, como competitividade do candidato, tempo
de filiação ao partido, magnitude eleitoral do município etc. Assim como no PMDB, a
distribuição dos recursos não é regulada pelos membros do partido e ocorre de forma
pouco transparente. Também é dirigida por meio dos indivíduos e de suas redes, não
sendo mobilizada por meio da burocracia do partido. Nesse aspecto, a diferença entre o
PT e o PMDB é que no primeiro a distribuição se dá pelas tendências internas, que são
grupos ideológicos que compõem o partido, e no segundo ocorre pelas relações de
patronagem e da relação com o líder do partido.
Quando observamos a disponibilidade da estrutura partidária do Diretório
Estadual para as eleições municipais de 2012, percebemos que o PT privilegiou as
eleições de Fortaleza. Na pesquisa de campo, os outros Diretórios Municipais, como
Mombaça e Nova Olinda, reclamaram da ausência de auxílio para suas campanhas.
Porém, ressaltaram que a sigla disponibilizou advogados e alguns materiais para
campanha.
247

É interessante observar a leitura que o atual presidente do Diretório Estadual,


Francisco De Assis, faz sobre essa eleição. Percebe-se na entrevista crítica a coordenação
da campanha municipal por parte do Diretório Estadual, pois na avalição deste, a gestão
anterior acompanhou apenas a campanha municipal de Fortaleza, relegando a segundo
plano as eleições em outros municípios. Como é enfatizado na seguinte fala:
Na eleição de 2012 houve uma estratégia do Diretório Estadual de
privilegiar a eleição em Fortaleza e abandonar o interior. Então os
candidatos que foram convidados a compor o partido, ou as oposições
que se registraram para disputar, ou tiveram a presença do Deputado
[Federal] [José] Guimarães, que foi o grande vencedor das eleições, ou
do Deputado Zé Airton, ou do Senador Pimentel. Pimentel elegeu 2
prefeitos. E o Zé Airton elegeu 4 e o Guimarães elegeu 21 ao todo83, da
relação pessoa do PT. Então foi muito mais de estrutura de parlamentar
do que do próprio Diretório Estadual. O Diretório Estadual concentrou
toda a sua energia na eleição de Fortaleza, na disputa de Roberto
Cláudio [PSB] com Elmano de Freitas [PT], e abandonou o interior.
Então, não houve da parte do Diretório Estadual de cuidar, de
acompanhar, de monitorar, de observar, de fazer pesquisa. Se tivesse
tido isso... Nós, em 8 municípios do estado do Ceará, perdemos eleição.
Se pegarmos em Milagre nós perdemos a eleição por 34 votos. Se nós
pegarmos a eleição de Araripe, nós perdemos por 56 votos. Se nós
pegarmos a eleição de Palhano, nós perdemos por 156 votos. Então, se
tivesse tido o Diretório Estadual acompanhado não tínhamos eleito só
26, nós teríamos eleito na pior das hipóteses de 35 a 37 prefeitos (DE
ASSIS DINIZ, presidente do Diretório Estadual do PT-Ceará.
Entrevista concedida ao autor em 24/11/2015).
Ressalta-se a crítica feita ao Diretório Estadual por este órgão ter privilegiado
a eleição de Fortaleza. Para o atual presidente do Diretório Estadual, a gestão anterior não
coordenou as eleições municiais, cabendo essa atividade a atuação isolada de
parlamentares que apoiavam alguma campanha eleitoral do partido nos municípios. Nesse
aspecto, este comenta que o deputado federal José Guimarães elegeu prefeitos em 18
municípios, o deputado federal José Airton obteve vitória em 5 e o senador José Pimentel
em 2 cidades84. Soma-se a vitória obtida em Sobral, mas esta é tributada mais a atuação
política dos Ferreiras Gomes, do então governador Cid Ferreira Gomes (PROS), do que
de algum político do PT.

83
Observa-se que os números citados nessa parte da entrevista não coincidem com os mencionados
anteriormente. Essa diferença ocorreu porque inicialmente foi ressaltado que “Pimentel elegeu 2 prefeitos.
E o Zé Airton elegeu 4 e o Guimarães elegeu 21 ao todo”, mas quando foi mostrado a lista do TSE com os
26 prefeitos eleitos pelo partido o entrevistado corrigiu os números anteriores e foi especificando os
vínculos políticos de cada candidato eleito.
84
Segue a lista de municípios que segundo o Presidente do Diretório Estadual, De Assis Diniz, os
parlamentares “conseguiu eleger os prefeitos”. Temos, José Guimarães (18): Itapipoca, Canindé, Pacajus,
Barbalha, Mauriti, Jaguaruana, Missão Velha, Ocara, Senador Pompeu, Icapuí, Tabuleiro do Norte,
Forquilha, Cruz, Assaré, Morrinhos, Pindoretama, Ipaporanga e Ararendá; José Airton (5): Acaraú,
Pentecoste, Salitre, Quixelô e Groaíras; José Pimentel (2): Amontada e Iracema.
248

Assim, a ausência da estrutura partidária nas eleições municipais no interior


do estado é destacada pelo entrevistado. Enfatiza ainda que não houve por parte do
Diretório Estadual a montagem de GTE que coordenasse e acompanhasse as eleições
municipais do PT no interior do estado, assim
o [deputado federal José] Guimarães falou mais em nome dele e não do
Diretório. Porque o Diretório não houve deliberação. Não houve um
GTE para acompanha a eleição. Foi uma ação parlamentar e não uma
ação do partido (DE ASSIS DINIZ, presidente do Diretório Estadual do
PT-Ceará. Entrevista concedida ao autor em 24/11/2015).
Quanto ao financiamento eleitoral para as eleições estaduais do Ceará, de
acordo com os dados do SPCE-TSE, o Diretório Nacional transferiu R$ 2.109.010,45.
Esse valor correspondeu a 1,6% do total distribuído por esse órgão, que foi R$
127.715.516,75. Todo esse recurso foi destinado a candidatos do PT, porém apenas 4,3%
foi alocado para campanhas do Executivo. Interessante compararmos essa transferência
com a ocorrida em 2012. Na eleição municipal, o Diretório Nacional financiou na sua
maior parte campanhas para o Executivo, concentrando 98% dos recursos. Porque na
eleição estadual, o Diretório Nacional destinou percentual tão baixo para a campanha do
Executivo? Sustentamos a hipótese de que o candidato a governador Camilo Santana,
apesar de ser filiado ao PT, não possuía trânsito entre as correntes do partido e por isso
não obteve recursos da máquina partidária para sua campanha.
Quando observamos a transferência para a campanha do Legislativo no
Ceará, percebemos a força das tendências dentro do partido, pois apenas os deputados
que tinham algum vínculo com elas conseguiram recursos do Diretório Nacional. A seguir
temos os valores das transferências:

Tabela 16 - Transferência do Diretório Nacional do PT ao Legislativo - Eleições 2014


Votos Valor
Cargo Nome do Candidato Situação
Nominais recebido (R$)
Dep. Federal José Guimarães (CNB) 209.032 Eleito 807.500,00
Dep. Federal Luizianne Lins (DS) 130.717 Eleito 665.010,45
Dep. Federal José Airton (MPT) 94.056 Eleito 95.000,00
Dep. Federal Deodato Ramalho (AE;DS) 18.535 Suplente 95.000,00
Dep. Estadual Elmano de Freitas (DS) 44.292 Eleito 304.000,00
Dep. Estadual Rachel Marques (MP) 35.955 Suplente 95.000,00
Dep. Estadual Artur Bruno (Reencantar) 26.458 Suplente 47.500,00
TOTAL 2.109.010,45
Fonte: Elaboração própria a partir dos dados do SPCE-TSE.

Pelos dados na Tabela acima, percebe-se que o Diretório Nacional privilegiou


a campanha para Câmara Federal. Porém, nem todos os dez candidatos que disputaram
249

para esse cargo receberam recursos. As candidaturas à Câmara Federal que mais
obtiveram recursos foram as duas maiores lideranças do partido no Ceará e as que
representam as principais tendências no partido: José Guimarães (CNB/CD) e Luizianne
Lins (DS).
Outras duas candidaturas receberam recursos equivalentes: José Airton, que
pertence a tendência MPT, deputado federal por dois mandatos (2007-2010; 2011-2014),
membro do Diretório Nacional do PT (2006), presidente do PT do Ceará e vereador por
Fortaleza (2001-2004), candidato a governador pela agremiação nas eleições de 2002,
prefeito de Icapuí (1993-1996); Deodato Ramalho, nacionalmente é ligado a tendência
Articulação de Esquerda (AE) e localmente é próximo a Luizianne Lins (DS) e foi
vereador em Fortaleza (2013-2016).
Quanto à disputa para ALECE, apenas três dos quatorze candidatos
receberam financiamento. O que obteve mais recursos foi Elmano de Freitas, ligado a DS
e candidato a prefeito por Fortaleza em 2012. Os outros dois candidatos foram: Rachel
Marques, ligada nacionalmente a CNB e regionalmente a Militância Socialista (MS), foi
deputada estadual em três mandatos (2005-2006; 2007-2010; 2011-2014), seu
companheiro Ilário Marques também vinculado a CNB foi deputado federal (2013) e
presidente do Diretório Estadual (2008-2010); Artur Bruno, vinculado a tendência
regional Reencantar, deputado federal (2011-2015), deputado estadual por quatro
mandatos consecutivos (1995-1998; 1999-2002; 2003-2006; 2007-2010) e vereador de
Fortaleza por dois mandatos (1989-1992; 1993-1994).
Essa lógica interna de financiar candidaturas centralizando por meio das
tendências pode ser percebida quando observamos um caso de candidatura que não foi
articulada por nenhuma tendência. O caso em questão foi a candidatura de Odorico
Monteiro à Câmara Federal. Este foi um importante militante do quadro burocrático do
partido, ocupando cargos de gestão na saúde pública. Foi secretário de Saúde no governo
do PT em Icapuí (1988-1992), Quixadá (1993-1996) e Fortaleza (2005-2008), e também
ocupou a Secretaria de Gestão Estratégica e Participativa do Ministério da Saúde (2011-
2013). Embora historicamente tivesse identidade com a tendência CNB, sua candidatura
em 2014 foi avulsa. Ou seja, não tinha articulação com nenhuma tendência do partido.
Isso acabou repercutindo na ausência de financiamento da sua campanha.
Na pesquisa de campo, um entrevistado que não permitiu sua identificação
informou que
250

Inicialmente, havia um esforço, uma tentativa para que ele [Odorico


Monteiro] não fosse mais candidato. Pois, como antes o [José]
Guimarães ia ser candidato ao Senado, ele deixou espaço no grupo para
outras candidaturas a Câmara Federal e uma das candidaturas que
cresceu foi a de Odorico [Monteiro]. Mas, quando [José] Guimarães
voltou a ser candidato a deputado federal, este tencionou Odorico
[Monteiro] para desistir da candidatura. Porém, este já tinha avançado
muito na articulação da sua candidatura, tendo feito acordos com
lideranças locais, prefeitos e vereadores, e não tinha mais como voltar
atrás. Isso gerou problemas e arranhões políticos. Então a candidatura
de Odorico [Monteiro] não foi desejada e isso refletiu no financiamento
da sua campanha e até no seu mandato. Ele constantemente reclama que
tem notado muita dificuldade para os encaminhamentos políticos do
mandato (MILITANTE DO PT. Entrevista concedida ao autor em
23/11/2015).
Por meio desse episódio, percebemos que o vínculo com as tendências
permite o financiamento das campanhas e o desempenho no mandato. Quando o
presidente do Diretório Estadual do PT foi questionado sobre como ocorria o processo
para o financiamento de candidaturas este informou que ocorre por meio de análises feitas
pelo GTE. Como algumas tendências compõem esse grupo, elas possuem informações
privilegiadas e encaminham o financiamento para os candidatos considerados
estratégicos. As tendências controlam importante zona de incerteza organizacional: o
financiamento eleitoral. Como percebemos no depoimento abaixo:
Nem tudo que acontece na política é documentado... O que você vai ter
é o volume de recurso que entrou na campanha, mas as tratativas, as
negociações, as deliberações...Você não vai ter em nenhum partido, em
nenhuma organização ata de reunião que deliberou que você vai dar,
privilegiar o candidato A, B ou C. Tá certo! Você não vai encontrar isso
em lugar nenhum! Nem para Deputado estadual, nem para Vereador,
nem pra Prefeito, nem pra Deputado Federal, nem para Presidente.
Porque são deliberações que ocorrem ao olhar de uma pesquisa
eleitoral, ao senso comum dos interesses de uma corrente. Então são
decisões muito pautados na informalidade. Você não reúne uma
Executiva para tratar disso. Até porque tem o GTE, no GTE tem um
coordenador de finança, na coordenação de finança tem um
coordenador político, no coordenador político tem o cara que está
arrecadando. Então não é algo que se tenha registrado. Você não
encontra isso em lugar nenhum. Você terá os valores que entraram no
CNPJ do candidato (DE ASSIS DINIZ, presidente do Diretório
Estadual do PT-Ceará. Entrevista concedida ao autor em 24/11/2015).
Percebemos que o PT dentre os partidos analisados é o que mais formaliza
suas decisões e posições. Predomina ainda informalidade quanto às decisões de
financiamento eleitoral, que é gerido pelas tendências por meio de negociações.
A partir do que foi exposto nesse tópico, temos um quadro que sintetiza o
grau de centralização das variáveis analisadas.
251

Tabela 17 - Síntese do grau de centralização do PT do Ceará

DISTRIBUIÇÃO DE
ALIANÇA E
SELEÇÃO DE CANDIDATO RECURSOS PARA
COLIGAÇÃO
CAMPANHA
Cargos majoritários — Baixa
centralização: Diretório
Alta centralização:
Nacional acompanha o processo
Diretório Nacional
junto com o Diretório Estadual, Centralizado por
acompanha o
mas este escolhe seus tendências: lideranças
CEARÁ

processo junto com


candidatos. que possuem trânsito nas
o Diretório Estadual
tendências conseguem
para manter aliança
Cargos proporcionais - recursos para suas
que garanta a
Centralizado por tendências: campanhas.
eleição do
Tendências, por meio da
Executivo nacional.
articulação no GTE, faz a
indicação dos seus candidatos.
Executivo - Baixa
centralização: Diretório
Alta centralização:
Nacional acompanha o processo
Diretório Nacional
junto com o Diretório Centralizado por
FORTALEZA

acompanha o
Municipal, mas este escolhe seus tendências: lideranças
processo junto com
candidatos. Autonomia frente ao que possuem trânsito nas
o Diretório
Diretório Estadual. tendências conseguem
Municipal.
recursos para suas
Autonomia frente
Legislativo - Centralizado por campanhas.
ao Diretório
tendências: Tendências, por
Estadual.
meio da articulação no GTE, faz
a indicação dos seus candidatos.
Sem recurso: lideranças
MOMBAÇA

Descentralizado: locais não possuem


Executivo e Legislativo -
lideranças locais trânsito nas tendências
Descentralizado: lideranças
definem suas do partido para
locais definem suas estratégias.
estratégias. proporcionar
financiamento.
Baixa
NOVA OLINDA

centralização: Executivo e Legislativo - Baixa Sem recurso: lideranças


lideranças locais centralização: lideranças locais locais não possuem
tem reuniões com tem reuniões com lideranças trânsito nas tendências
lideranças estaduais estaduais para orientar a do partido para
para orientar a estratégia eleitoral do partido. proporcionar
estratégia eleitoral financiamento.
do partido.
Fonte: Elaboração própria.
252
253

4. O PSDB-CE: PARTIDO GOVERNISTA COM FRACA INTEGRAÇÃO


4.1- Modelo originário e desenvolvimento organizativo
A fundação nacional do PSDB ocorreu em 1988 por parlamentares oriundos,
em sua grande maioria, do PMDB. Tratava-se de uma legenda de origem exclusivamente
parlamentar. Na literatura que aborda a criação da agremiação, não existe consenso
quanto aos motivos de sua fundação, se seria motivada por questões ideológicas ou por
ação pragmática de estratégia eleitoral.
Autores que enfatizam a orientação ideológica no processo de fundação do
PSDB, como Christiano (2003), argumentam que durante as votações na Assembleia
Nacional Constituinte (1987-1988), uma ala mais progressista do PMDB formou grupo
próprio dentro do partido, intitulado de Movimento de Unidade Progressista (MUP).
Esses parlamentares votaram contra a orientação do partido, defendendo o
parlamentarismo como sistema de governo, em oposição ao presidencialismo, e a
manutenção do mandato de quatro anos para o então presidente José Sarney (PMDB), em
oposição à ampliação do mandato para cinco anos.
Interpretações que defendem uma origem intermediária entre ideologia e
pragmatismo, como Kinzo (1993), ressaltam que:
Com efeito, a criação do PSDB correspondeu, em primeiro lugar, ao
desejo de um grupo descontente do PMDB de se reunir em um novo
partido de perfil mais progressista, na linha das teses da social-
democracia, e que trabalhasse pela instauração do parlamentarismo no
Brasil. Correspondia também ao objetivo de viabilizar a candidatura do
senador Mário Covas à presidência da República nas eleições de 1989
(KINZO, 1993, p. 48).
Roma (2002), por sua vez, enfatiza a natureza pragmática da criação do
PSDB. Ressalta que existem três elementos fundamentais que influenciaram a decisão de
fundar a agremiação:
O primeiro seria o pouquíssimo espaço político que o governo Sarney
concedeu aos políticos fundadores deste partido. O segundo é a
exclusão destes políticos do processo sucessório à presidência da
República. Já o terceiro elemento articula-se, de forma estratégica, com
os anteriores, pois consiste na abertura de um mercado de eleitores de
centro descontentes com o governo federal (ROMA, 2002, p. 73).
Nessa perspectiva da racionalidade eleitoral, o ponto de ebulição para a
criação do PSDB teria sido a proximidade das eleições para cargo de presidente da
República em 1989, a primeira eleição direta para esse cargo após o término da ditadura
militar. Nessa disputa, um parlamentar constituinte do PMDB que integrava o MUP, o
então senador Mário Covas (PMDB-SP), pretendia ser candidato a presidente, mas
254

encontrava resistência no interior da agremiação a partir da atuação de duas lideranças. A


primeira era o então governador de São Paulo e presidente do Diretório Estadual, Orestes
Quércia, que não tinha interesse em fortalecer o grupo do PMDB paulista contrário à sua
liderança. A segunda era o então deputado federal e presidente do Diretório Nacional,
Ulysses Guimarães (PMDB-SP), que mobilizava o partido para ser candidato
presidencial. Com o acirramento desses conflitos internos, o grupo do PMDB paulista —
liderando pelo ex-governador Franco Montoro e pelos então senadores Fernando
Henrique Cardoso e Mário Covas — articulou a fundação do PSDB (KINZO, 1993).
O partido conquistou seu registro provisório em junho de 1988, recebendo a
adesão de parlamentares de outros partidos. Tornou-se a terceira maior bancada no
Congresso, sendo formado por oito senadores — 7 advindos do PMDB e 1 do PFL — e
37 deputados federais — 31 incorporados do PMDB, 3 do PFL, 1 do PDT, 1 do PSB e 1
do PTB — (KINZO, 1993).
Observando os três fatores específicos do modelo originário do PSDB
nacional, concorda-se com a análise proposta por Roma (2002). Para o autor, o
desenvolvimento territorial do partido se deu por difusão85, originando uma estrutura
organizacional descentralizada que agrupava órgãos partidários municipais e estaduais
com autonomia de ação decisória. Em relação ao tipo de legitimação, o autor observa que
nenhuma instituição externa foi responsável pela criação da agremiação, já que o partido
desde sua fundação não manteve vínculos com outras organizações, como sindicatos de
trabalhadores e patronais. Por fim, quanto ao último fator, o autor defende que a
agremiação não possibilitou a emergência de líder carismático que estabelecesse as metas
ideológicas do partido e definisse a tomada de decisão estratégica.
No Ceará, o PSDB recebeu a adesão imediata de duas lideranças: a deputada
federal Moema São Tiago (PDT) e o empresário do grupo J. Macedo, Amarílio Macedo.
Moema São Tiago iniciou sua vida pública por meio da militância nos movimentos
estudantis durante a ditadura militar. Como universitária do curso de direito, participou
do movimento de oposição considerado ilegal pelo regime político, como a organização
clandestina de esquerda ALN. Em 1973, por influência política de sua família 86, foi
exilada política em Portugal. Em 1979, regressou ao Brasil com a Lei da Anistia (Lei nº

85
Mendoza e Oliveira (2003) apresentam tese contrária. Para os autores, a origem territorial do PSDB
ocorreu por penetração.
86
Moema São Tiago era sobrinha de Luiza Távora, esposa de Virgílio Távora. Este é ex-governador do
Ceará (1963-1966) e na época ocupava o cargo de senador (1971-1979).
255

6.683/1979). Aliada a Leonel Brizola, foi a percussora na fundação do PDT no Ceará em


1989, tornando-se presidenta do Diretório Estadual. Em entrevista ao jornalista Erivaldo
Carvalho (CARVALHO, O POVO, 19 jan. 2015), Moema São Tiago ressaltou que no
período da reestruturação partidária em 1979 se filiou ao PDT pelo ideário trabalhista e
pela afinidade política com Leonel Brizola, fundador da agremiação.
Em 1985, na primeira eleição direta para o Executivo nas capitais, Moema
São Tiago foi candidata a prefeita em Fortaleza em chapa "puro sangue" do PDT. Não foi
eleita nesse pleito, obtendo apenas 0,79% dos votos válidos (3.692 votos). Por meio da
sua atuação como advogada do Sindicato dos Médicos do Ceará e de uma campanha
política pautada no carisma da mulher em que erguia na mão uma rosa vermelha do PDT,
foi eleita deputada federal constituinte em 1986 (PARENTE, 2000).
Durante sua atuação como deputada constituinte, foi vice-líder do PDT.
Posteriormente, foi afastada dessa posição quando entrou em colisão com o presidente
nacional da agremiação, Leonel Brizola, que defendia eleições diretas em 1987. Para a
deputada, as eleições diretas naquele momento atrapalhariam o andamento dos trabalhos
da Constituinte. Com o mal-estar dentro do PDT após esse conflito, deixou o partido em
1988, criticando Leonel Brizola por reproduzir “o modelo conservador do político
brasileiro: caciquismo, oportunismo político e aventureirismo eleitoral” (DHBB/CPDOC,
VERBETE BIOGRÁFICO MOEMA CORREIA SÃO TIAGO, 2010).
Durante seu mandato, aproximou-se do MUP, reunindo em sua residência
membros desse grupo para articular a criação de novo partido de cunho socialista. Entre
os presentes estavam o ministro do Trabalho Almir Pazzianoto (PMDB-SP), os senadores
Fernando Henrique Cardoso (PMDB-SP) e Affonso Camargo (PMDB-PR), e os
deputados federais Fernando Lira (PMDB-PE) e Pimenta da Veiga (PMDB-MG)
(MARQUES; FLEISCHER, 1996). Como única deputada federal cearense a aderir ao
partido, ela foi fundamental para a articulação do PSDB no Ceará. Com a criação da
agremiação, Moema São Tiago ocupou o cargo de segunda vice-presidente na primeira
Executiva Nacional (1989-1991) e tornou-se presidenta da Comissão Provisória Estadual
do Ceará (1989-1990).
A segunda liderança, o empresário Amarílio Macedo, iniciou sua trajetória
política como militante na Juventude Estudantil Católica (JEC) e posteriormente foi
presidente do Diretório Acadêmico de Economia (1967) na UFC. Foi membro fundador
do PSDB nacional e ex-presidente do CIC.
256

Esse centro industrial foi fundado no início do processo de industrialização


do Ceará em 1919. No início, o CIC apresentava tímida atuação política. Apenas em 1978
passou a ter protagonismo com a gestão dos “jovens empresários”. Contando com a
assessoria técnica do BNB, do DNOCS, de professores da UFC e do governo do estado,
o CIC passou a debater alternativas para o desenvolvimento econômico do estado (LIMA,
2004). O primeiro presidente dessa nova gestão do CIC foi Benedito Veras [Beni Veras]
(1978-1980), mentor dos “jovens empresários” e o mais experiente na vida empresarial,
tendo atuado no movimento estudantil na década de 1950 e militado no PCB (MUNIZ,
2007). O segundo presidente foi Amarílio Macêdo (1980-1981) e o terceiro presidente foi
Tasso Jereissati (1981-1983).
Esses “jovens empresários” sinalizavam que tinham ambições políticas, seja
pressionando e influenciando diretamente o poder público em suas políticas econômicas
e sociais, seja apresentando candidaturas eletivas (MUNIZ, 2007). Nas eleições de 1982,
o CIC apoiou a candidatura do economista Gonzaga Mota (PDS) ao Executivo estadual.
Com o rompimento do governador Gonzaga Mota com os três chefes políticos — Virgílio
Távora, Adauto Bezerra e César Cals — e sua migração para o PMDB, os “jovens
empresários” do CIC migraram para esse partido e articularam a candidatura de Tasso
Jereissati ao Executivo estadual em 1986.
Nobre (2008, p. 17) ressalta que esses “jovens empresários” do CIC tinha
perfil homogêneo, como vemos abaixo:
A composição dessa nova elite política é bastante peculiar: são
empresários jovens, na faixa de 30 a 40 anos, com formação superior e
cursos de pós-graduação realizados em importantes centros nacionais e
internacionais, e quase todos estavam à frente dos negócios das
famílias, que se expandiram com os incentivos do planejamento estatal,
e mantinham boas articulações políticas com empresários do eixo Rio -
São Paulo.
Amarílio Macêdo liderou, por meio do Movimento Pró-Mudanças, a
candidatura de Tasso Jereissati. Após a vitória, esse movimento continuou suas
atividades, intensificando o debate em torno de propostas para o novo governo,
promovendo seminários de debates inclusive no interior do estado. O governador e seu
ciclo mais próximos de colaboradores considerou que a experiência havia ido longe
demais e resolveu isolar o Movimento Pró-Mudanças, causando com isso o rompimento
dos partidos de esquerda — PCB e PCdoB — e o isolamento do empresário Amarílio
Macêdo do ciclo de influência do governador (BONFIM, 2002). Amarílio Macêdo, em
257

entrevista a Parente (2000, p. 208), ressaltou que Beni Veras foi a seu encontro lembrá-
lo: “Já ganhamos as eleições! Não vamos mais brincar disso!”.
No Governo das Mudanças, primeiro governo de Tasso Jereissati (1987-
1990), foi montado insulamento burocrático liderado pelo núcleo duro do CIC. Buscava-
se instaurar uma racionalidade tecnocrata, protegendo as secretarias estratégias do
interesse político e das demandas fisiológicas do PMDB. Essa nova elite dirigente
rejeitava a política tradicional, dando primazia aos técnicos oriundos do setor público. O
centralismo do CIC foi transferido para o governo, que passou a ser conhecido como
Cambeba87. Como ressalta Mota (1987, p. 80):
Cambebistas eram os governantes e seus simpatizantes. Para os
oposicionistas: autoritários, auto-suficientes, arrogantes, inteligentes,
empresários, inimigos dos políticos. Como não desejaram ficar a
reboque do PMDB e do “Movimento Pró-Mudanças” o Cambeba
formou seu próprio grupo político com reuniões diárias na sala de
refeições do Centro Administrativo durante o almoço com o
Governador às 14:00 horas. Os comensais eram: governador Tasso
Jereissati, secretário Sérgio Machado [presidente do CIC (1983-1985)],
secretário Assis Machado [presidente do CIC (1985-1987)], Byron
Queiróz [vice-presidente do CIC (1978-1980; 1983-1985)], Inácio
Campelo [vice-presidente do CIC (1980-1981)], Beni Veras [presidente
do CIC (1978-1980)], Cândido Quinderé [vice-presidente do CIC
(1983-1987)], Airton Angelim [2º secretário do CIC (1978-1980; 1985-
1987)] e às vezes, Assis Vieira Fiuza e Pedro Casimiro, todos do Centro
Industrial do Ceará — CIC.
Percebe-se que Amarílio Macedo já não pertencia a esse seleto grupo do CIC
que integrava o governo e que se apresentava como homogêneo e coeso. Este
representava uma dissidência do centralismo do Cambeba.
No processo de fundação do PSDB cearense, Moema São Tiago e Amarílio
Macêdo defendiam posições diferentes quanto ao rumo da organização. A deputada
federal buscava expandir a máquina partidária por meio da ação pragmática de estratégia
eleitoral, filiando políticos para apoiar a candidatura de Mário Covas à presidência da
República em 1989. Já o empresário Amarílio Macedo defendia uma posição mais
ideológica de pureza dos princípios partidários. Este era aliado aos empresários paulistas
da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (FIESP) e buscava construir no

87
Esse nome fazia referência a nova sede administrativa do governo estadual, que ficava localizada em um
bairro na entrada da cidade chamado Cambeba. A transferência da sede administrativa de uma área central,
como era o Palácio da Abolição, para um bairro isolado deve-se ao fato de que o novo governo queria
dificultar o acesso à sede do governo. Buscava-se o isolamento da “romaria de políticos do interior” que
visitava o governo buscando verbas e cargos e da pressão dos movimentos sociais por meio de
manifestações públicas. A sede do administrativa do governo retornou ao Palácio da Abolição na gestão de
Lúcio Alcântara em 2003.
258

estado um partido mais ideológico que representasse os interesses do empresariado


moderno e fosse independente do governo.
Nesse período, ocorreram conflitos envolvendo o apoio e a filiação de
políticos. O primeiro foi o então deputado federal Lúcio Alcântara (PFL), noticiado pela
impressa local. Nas matérias “Moema tacha de “vacilação masculina” (O POVO, 10 fev.
1989) e “Lúcio encerra fase de polêmica com PSDB” (O POVO, 10 fev. 1989) foi
divulgado que a deputada ofereceu a Lúcio Alcântara a presidência do Diretório Estadual
e a maioria na Comissão Executiva. Já o empresário Amarílio Macedo vetava sua filiação,
pois considerava esse deputado federal legítimo representante da política oligárquica dos
três “coronéis”.
Lúcio Alcântara é filho do ex-governador da ARENA Waldemar Alcântara
(1978-1979) e ocupou cargos comissionados na gestão dos três chefes políticos: no
governo de César Cals foi secretário de Saúde (1971-1973), na administração de Adauto
Bezerra foi novamente secretário de Saúde (1975) e secretário para Assuntos Municipais
(1978) e na gestão de Virgílio Távora foi indicado por este como prefeito de Fortaleza
(1979-1982). Em 1982, foi eleito deputado federal pela ARENA. Em 1986, fundou o PFL
no estado e reelegeu-se deputado federal por esse partido.
Outro conflito foi o apoio do então governador Tasso Jereissati. O empresário
Amarílio Macêdo, em entrevista publicada na matéria “PSDB terá um futuro cinza no
Ceará” (O POVO, 01 fev. 1989), afirmou que não ocupou cargos na Comissão Provisória
Estadual porque foi preterido pelo apoio do então governador. Como percebemos na
matéria abaixo:
Consciente de que seu nome foi “trocado” pelo apoio do governador
Tasso Jereissati à candidatura Mário Covas à Presidência da República,
ele desabafa: “Lamento profundamente não só estar envolvido, mas
sobretudo por assistir ao PSDB assumir uma atitude retrógrada,
clientelista e fisiológica, que vai resultar na anulação do Partido no
Estado” (O POVO, 01 fev. 1989).
O motivo desse descontentamento por parte de Amarílio Macêdo era que a
partir dessa vinculação com o governador, o partido nasceria atrelado a estrutura
governamental, ficando dependente dos recursos do Estado. Além disso, o partido seria
criado de cima para baixo, sem o envolvimento e mobilização da classe empresarial e de
outros grupos sociais. Como constatamos na entrevista:
(...) agora, sob o comando do Cambeba [grupo de Tasso Jereissati],
“pelo telefone, um bom advogado o colocará em funcionamento em
grande parte dos municípios cearenses”. Mas fazer política dessa
259

maneira, adverte, é repetir a velha forma barata, sem originalidade e


mantedora do atraso político no Estado (O POVO, 01 fev. 1989).
O receio do empresário Amarílio Macêdo era de que acontecesse com o
PSDB o que ocorreu com o Partido Municipalista Brasileiro (PMB¹) no Ceará, que foi
utilizado com “partido de aluguel” do governo para abrigar correligionários da facção
política de Tasso Jereissati que concorriam às eleições municipais de 198888. Além disso,
existia a desconfiança de que Tasso Jereissati negligenciaria o processo de fortalecimento
do PSDB. Sua facção política, o Cambeba, consolidava-se independente da estrutura
organizacional do PMDB.
Esse processo ficou evidente na eleição municipal de 1988 em Fortaleza,
quando o candidato a prefeito, Ciro Ferreira Gomes (PMDB), então deputado estadual
que exercia a liderança do governo na ALECE, foi eleito devido ao fenômeno do
“tassismo”, sendo pouco tributário da estrutura partidária. Nessa eleição municipal,
Amarílio Macêdo liderou movimento de oposição a Tasso Jereissati — intitulado
Fortaleza sim, Cambeba não — apoiando a candidatura do PDT, do então deputado
estadual e radialista Edson Silva.
Na primeira Comissão Provisória do PSDB no estado, em março de 1989, a
deputada federal Moema Correia São Tiago assumiu a presidência e o ex-presidente do
CIC e aliado do governador Tasso Jereissati, Beni Veras, assumiu a 1ª vice-presidência.
Após o envolvimento do então governador Tasso Jereissati na campanha
presidencial ao lado do PSDB, este ficou próximo das lideranças nacionais do partido e
passou a liderar a sigla no estado. Segundo Parente (1998), existia entre Tasso Jereissati
e Mário Covas afinidade política ideológica. Isso porque a gestão de Tasso Jereissati era
marcada por discurso progressista de modernização do Estado que não se afinava com as
práticas políticas tradicionais características das lideranças do PMDB.
Com a filiação do governador ao PSDB, o partido cresceu e recebeu a adesão
de diversos políticos com mandato eletivo. Foi noticiado na imprensa local a filiação de
prefeitos durante a campanha eleitoral de Mário Covas, como sugere o título das matérias:
“Os prefeitos que agora são ‘tucanos’” (O POVO, 29 mar. 1989) e “Cambeba ajuda na
filiação ao PSDB” (O POVO, 29 mar. 1989).

88
O PMB¹ funcionou com uma sublegenda do PMDB, utilizada como estratégia eleitoral para refugiar
políticos do interior que, por razões conjunturais locais, não podiam ingressar no PMDB. Nas eleições de
1988, o PMB¹ conseguiu eleger 8,9% dos 178 prefeitos do estado.
260

Em outras matérias, temos denúncias de que o recrutamento de filiados em


massa ao partido ocorria menos por distribuição de incentivos coletivos, como por
exemplo a comunhão com as ideias políticas da agremiação, e mais por distribuição de
incentivos seletivos. Como percebemos nas matérias abaixo, respectivamente "TVE
usada para filiação ao PSDB" (O POVO, 22 fev. 1989) e "Maioria não sabia o porquê da
adesão" (O POVO, 17 jan. 1990):
A máquina administrativa mais uma vez é usada inescrupulosamente
pelo Cambeba para fazer politicagem. A denúncia foi feita ontem ao O
POVO, pelo líder do PDT, deputado Édson Silva, exibindo o Diário
Oficial do Estado, constante à portaria 016/90, onde servidores da
Fundação de Telecomunicações do Ceará foram encaminhados aos
municípios de Sobral e Crateús, recebendo diárias, “com a finalidade
de filiação ao PSDB” (O POVO, 22 fev. 1989).

A maioria das pessoas presentes ao evento [Convenção Partidária do


PSDB de Fortaleza] era proveniente da periferia de Fortaleza. Cerca de
1.000 moradores de bairros mais distantes do centro comercial foram
transportados para o Centro de Convenções por ônibus cedidos pela
Prefeitura e demostravam desconhecimento sobre a filiação partidária,
não sabendo a razão pela qual foram levadas ao local (O POVO, 17 jan.
1990).
Pelas matérias acima, percebe-se que o partido conseguiu a adesão de novos
filiados a partir da utilização de recursos do governo, pois detinha o comando da máquina
administrativa do estado e da prefeitura de Fortaleza. É interessante observar que a última
reportagem ressalta o fato de que a maior parte dos militantes presentes na Convenção
Partidária era da periferia e que só foram para o evento porque foi disponibilizado pela
sigla transporte e alimentação.
Comparando o modelo originário do PSDB, percebemos que dentre os
partidos analisados, essa agremiação no Ceará foi a que menos seguiu a tendência
nacional de criação da sigla. O PSDB cearense surgiu como partido do governo,
conquistando a máquina estadual logo após seu nascimento. Assim, teve fácil acesso aos
recursos seletivos que a máquina governamental dispõe e ao apoio financeiro oriundo dos
grupos de interesse. A força gravitacional exercida pelo partido do governo atraia
políticos profissionais que queriam compor a coalizão do governo, como podemos
perceber nas matérias intituladas “Bancada majoritária na Câmara e AL” (O POVO, 17
jan. 1990) e “PSDB pretende filiar até [19]92 170 prefeitos” (O POVO, 18 jun. 1991). O
desenvolvimento territorial do partido se deu por difusão, por meio da adesão de
lideranças locais tradicionais antes vinculadas ao PDS.
261

O PSDB de Nova Olinda, por exemplo, foi fundado em 1990 a partir da


filiação de lideranças políticas tradicionais antes ligadas ao PDS. Foi organizado
inicialmente como Comissão Provisória, sendo presidido pelo então vice-prefeito
Laurênio Alves Feitosa (PDS). Em 1991, adquiriu o status de Diretório, sendo presidido
por outra antiga liderança do PDS, o candidato a prefeito em 1988 Antônio Taumaturgo
de Magalhães.
Em Mombaça, o partido foi fundado também em 1990 a partir de lideranças
tanto do PDS, como o médico e vereador Newton Benevides, quanto do PMDB, como o
vereador Francisco Teixeira Filho. Teve como primeiro presidente o empresário local
Elias Rodrigues Cavalcante. Embora inicialmente não tivesse como presidente uma
liderança com mandato eletivo, logo o então prefeito Nelson Benevides assumiu esse
cargo, tornando-se a principal liderança.
Outra característica do modelo originário do PSDB cearense é seu vínculo
com organização externa, o CIC. A partir dessa relação, a organização cearense distribuía
incentivos coletivos centrados na ideia de modernidade política. É importante ressaltar
que a campanha de Tasso Jereissati em 1986 foi marcada pela defesa de uma visão
empresarial e racionalizada da gestão pública, com a eliminação do clientelismo e o
combate ao patrimonialismo dos três “coronéis”.
Esse termo “coronel” foi explorado durante a campanha de Tasso Jereissati,
que construiu um discurso de modernidade em oposição à ideia de atraso político do
estado89. Esse “atraso” seria supostamente ocasionado pelo comando político exercido
pelas lideranças caricatas dos três coronéis maquiavélicos. No entanto, os três chefes
políticos não correspondiam efetivamente ao estereótipo de coronel que a imagem-
estigma da campanha produzia, não sendo lideranças “atrasadas” ligadas ao latifúndio.
Podemos citar que César Cals Filho era técnico engenheiro militar, Adauto Bezerra era
banqueiro e industrial e Virgílio Távora implementou políticas públicas para o
desenvolvimento industrial do estado. Em sua primeira gestão como governador (1963-
1966), Virgílio Távora elaborou o Plano de Metas Governamentais (PLAMEG),
implementou no estado a eletrificação da Companhia Hidrelétrica do São Francisco
(CHESF) e defendeu incentivos fiscais para instalar o I Distrito Industrial do Ceará. Em
sua segunda gestão (1979-1982), executou seu novo plano administrativo, PLAMEG II,
para transformar o Ceará no III Pólo Industrial do Nordeste.

89
Para mais informações sobre a campanha de Tasso Jereissati em 1986, ver Carvalho (1999).
262

Nessa campanha de 1986, Adauto Bezerra poderia ter acionado sua condição
de classe para construir uma imagem de “político moderno”. Assim como Tasso Jereissati
poderia ter mobilizado sua tradição familiar na política — seu pai, Carlos Jereissati, foi
deputado federal (1955-1963) e eleito senador em 1963 pelo PTB — para produzir uma
imagem de “político tradicional”. No entanto, como mostraram Lemenhe (1995) e
Carvalho (1999), Adauto Bezerra mobilizou as noções tradicionais de "lealdade" e
"gratidão" para montar sua campanha eleitoral, enquanto Tasso Jereissati acionou
categorias como “racionalidade”, “empreendedorismo” e “juventude”.
Essa imagem de Tasso Jereissati atrelada à ideia de modernidade foi
construída por meio de seu vínculo político com o CIC. Com a migração do governador
Tasso Jereissati para o PSDB, o partido herdou essa imagem de modernidade construída
pelos “jovens empresários” do CIC.
Por último, o PSDB cearense foi marcado pela presença de uma “liderança
carismática” (PANEBIANCO, [1982]), Tasso Jereissati, que fez do partido uma extensão
de si mesmo. Este não precisou ocupou formalmente o cargo de presidente do Diretório
Estadual para ter controle sobre a organização. Suas energias foram concentradas para
ocupar cargos de direção nacional. Em 1991, Tasso Jereissati disputou a presidência da
Executiva Nacional com o deputado federal Euclides Scalco, líder do partido na Câmara
Federal. Para a gestão de 1991 a 1993 da Executiva Nacional, Tasso Jereissati assumiu a
presidência e Euclides Scalco a 1ª vice-presidência.
No Ceará, na sucessão do Executivo estadual em 1990, o “candidato natural”
seria Sérgio Machado 90, então secretário de governo do estado e ex-vice-presidente do
CIC (1980-1983). Este já articulava sua candidatura em diversas prefeituras do interior.
Contudo, esse trabalho de base não refletia nas pesquisas de opinião. Outra liderança do
Cambeba apresentava-se competitiva: o ex-líder do governo e então prefeito de Fortaleza,
Ciro Ferreira Gomes.
Este tinha perfil distinto dos “jovens empresários” do CIC. Político
profissional, pertencia a uma facção político-familiar estruturada por meio do domínio da
política local no município de Sobral91. Na narrativa dessa facção, é salientado a tradição

90
O pai de Sérgio Machado, Expedito Machado, era filiado ao PSD e ocupou cargos na política, foi
deputado estadual (1955-1958), deputado federal (1959-1964) e ministro da Viação e Obras Públicas (1963-
1964) no governo João Goulart. Como o golpe militar, teve seu mandato cassado e seus direitos políticos
suspenso, retornando a política nas eleições de 1986, sendo eleito deputado federal pelo PMDB.
91
Esse município foi durante as décadas de 1970 e 1980 o segundo maior colégio eleitoral do estado,
ficando atrás apenas da capital, Fortaleza. Com a consolidação da economia industrial no estado, os
263

política da família92. Seu pai, José Euclides Ferreira Gomes Júnior, foi prefeito de Sobral
(1977-1983) pela ARENA e seu tio paterno, João Ferreira Gomes, foi deputado estadual
por seis legislaturas (1956-1978) pela UDN e posteriormente pela ARENA. Essa facção
político-familiar era subgrupo da facção “cesista”, conforme defende Monte (2016).
Para suceder o Governo das Mudanças e dar continuidade ao projeto de
“hegemonia burguesa” (NOBRE, 2008) no Ceará, foi escolhido como candidato Ciro
Ferreira Gomes. A nomeação de um sucessor que não pertencia ao núcleo duro do CIC
deve-se à atitude prática e centralizadora de Tasso Jereissati. Sintetizando esse estilo de
liderança, Mota (1992), em texto não acadêmico 93, descreve uma suposta cena que teria
ocorrido no episódio de lançamento de Ciro Ferreira Gomes como candidato:
Eram 12h30min do dia 23 de março de 1990 quando o governador
Tasso [Jereissati] chamou ao seu gabinete o secretário Sérgio Machado
e ordenou: “Sérgio convoque a imprensa para amanhã e anuncie o nome
de Ciro [Ferreira Gomes] como nosso candidato a Governador”. Sérgio
surpreendido: “o que é isso, Tasso, eu ainda posso melhorar nas
pesquisas”. Ao que retrucou o Governador: “não há mais tempo e você
teve todo tempo do mundo”. Sérgio endurecendo: “O Partido foi
organizado por mim. Disputarei na Convenção”. Tasso batendo forte na
mesa de Trabalho: “não temos mais assunto”. Levantou-se da cadeira e
avistou entrando na sala os empresários Beni Veras e Ignácio Campelo,
que persuadiram Sérgio a retirar-se para seu gabinete de trabalho.
O governador convocou para horas depois uma reunião do Secretariado,
não assistida pelo secretário Sérgio, e com as presenças dos deputados
estaduais Francisco Aguiar e Luís Pontes, além do 1º vice-presidente
da Comissão Diretora do PSDB, Beni Veras, e anunciou o nome de Ciro
[Ferreira] Gomes, como candidato ao Cambeba (MOTA, 1992, p. 228).
Pela narrativa, observamos que o líder carismático, Tasso Jereissati,
centraliza as decisões no partido de forma a não mobilizar canais formais de deliberação,
como a Convenção Partidária. A seleção de candidatura ao Executivo, por exemplo, é
instituída de maneira informal, por meio da decisão autocrática do líder.

municípios da Região Metropolitana de Fortaleza – Maracanaú, Caucaia e Maranguape – superaram os


municípios do interior – Sobral e Juazeiro do Norte – em magnitude eleitoral.
92
Na construção dessa narrativa dos Ferreira Gomes como uma família política de tradição, recua-se no
tempo para argumentar que membros dessa família ocuparam os primeiros cargos diretivos na fundação de
Sobral, sendo os “pais fundadores”. Cita-se os dois primeiros intendentes do município: Vicente Cesar
Ferreira Gomes (1890) e o Tenente-Coronel José Ferreira Gomes (1891-1892), bisavô de Ciro Ferreira
Gomes e chefe do Partido Conservador.
93
Aroldo Mota, jurista e especialista em direito eleitoral, integra o grupo de intelectuais tradicionais
vinculado ao Instituto Histórico Geográfico e Antropológico do Ceará. Foi eleito deputado estadual
suplente nas eleições de 1963 (PSP) e 1967 (MDB). Publicou obras sobre a História Política do Ceará em
que descrevia a “política de bastidores”, como as negociações envolvendo a formação das alianças e a
escolha de candidatos. Embora a contribuição de suas obras seja inconteste, elas não possuem o rigor
teórico-metodológico que a academia exige.
264

Nessas eleições de 1990 no Ceará, o PSDB conseguiu eleger o governador


Ciro Ferreira Gomes no primeiro turno, com 54,3% dos votos válidos (1.279.492 votos).
A agremiação ainda elegeu para o Senado Beni Veras (PSDB), presidente do Diretório
Estadual. O PSDB se constituiu como partido predominante, nos termos de Sartori
[1976], conseguindo montar a maior bancada no Legislativo ao eleger 31% dos deputados
federais e 39% dos deputados estaduais.
Essa eleição consolidou novo ciclo político no cenário cearense, a chamada
“Era Tasso” (1987-2006)94. Embora o primeiro governo de Tasso Jereissati tenha sido no
PMDB, foi no PSDB que essa liderança constituiu seu domínio. Assim, a “Era Tasso” é
confundida com a hegemonia do PSDB no estado, pois, a partir do comando de sua
principal liderança, esse partido dominou o cenário político estadual. O domínio do PSDB
no Ceará foi fortalecido pelos dois mandatos consecutivos de Tasso Jereissati no
Executivo estadual (1995-2002) que também correspondeu ao comando desse partido no
Executivo nacional, com os mandatos de Fernando Henrique Cardoso (1995-2002).
Como vimos, Tasso Jereissati iniciou sua trajetória política se contrapondo ao
poder oligárquico dos três chefes políticos. Porém, a imagem-estigma de “oligarquia” e
“coronelismo” vai acompanhar as narrativas sobre os “jovens empresários” na política
cearense, entrecruzando com a ideia de “modernidade”. Para elucidar isso, destaco uma
entrevista de Tasso Jereissati na Folha de São Paulo95, como vemos abaixo:
Agência Folha - Em 1986, o sr. derrotou os chamados coronéis da
política cearense pregando o fim das oligarquias. A sua volta agora não
significa a instalação de uma nova oligarquia?
Tasso Jereissati - Não. Nossa origem, que é baseada numa política
urbana e de massas, nega o conceito de oligarquia. Além disso, nos
últimos oito anos, nosso grupo gerou novas lideranças como o ministro
da Fazenda, Ciro Gomes, o ministro do Planejamento, Beni Veras, e
agora surge o senador eleito Sérgio Machado. Nenhum deles tem um

94
A “Era Tasso” foi um conceito construído pela imprensa e compreendeu as três gestões de Tasso Jereissati
(1987-1990; 1995-1998; 1999-2002), a de Ciro Ferreira Gomes (1991-1994) e a de Lúcio Alcântara (2003-
2006). Na literatura acadêmica, existem variadas análises teóricas sobre esse período, abordando-o sob
variados aspectos, desde a construção do capital simbólico desse grupo até sua relação com os movimentos
sociais. Dentre essas pesquisas, destaco as análises que abordaram o processo de declínio dos três chefes
políticos e a ascensão dos empresários no poder, como Barreira (1992), Lemenhe (1995), Parente (2000),
Carvalho (1999, 2001, 2002), Diógenes (2002), Abu-El-Haj (2002, 2006) e Abu-El-Haj e Sousa (2003).
95
Outra matéria da Folha atrelou a imagem-estigma de “coronelismo” à gestão do PSDB no Ceará, como
percebemos no título “Coronelismo tucano”. Na reportagem, é noticiado a morte do prefeito de Acaraú,
João Jaime Ferreira Gomes Filho (PSDB), e os suspeitos do crime que são políticos, primos da vítima e
irmãos entre si: “o deputado federal Aníbal Ferreira Gomes, o deputado estadual Manoel Duca da Silveira
Neto ("Duquinha") e o próprio vice-prefeito de Acaraú, Amadeu Ferreira Gomes Filho ("Amadeuzinho"),
todos do PSDB”. A matéria ressalta que "o caso, de acordo com a polícia, revive todos os estereótipos
criados em torno da política no Nordeste, com recurso à pistolagem, desvio de verbas públicas, suborno e
disputa de morte entre ramos rivais de uma mesma família" (SANTOS, FOLHA DE SÃO PAULO, 10 jul.
1998).
265

comportamento oligárquico. Ao contrário, nosso grupo estimula o


surgimento de novas lideranças (MOTA, FOLHA DE SÃO PAULO, 9
out. 1994).
Segundo relato acima, a “Era Tasso” conseguiu criar novas lideranças que
atuaram na política nacional. A mais eminente foi a carreira política de Ciro Ferreira
Gomes, já abordada no capítulo 1. Mas, além dessa, destacamos a trajetória do núcleo
duro do CIC: Sérgio Machado, Assis Machado Neto, Beni Veras e Byron Queiróz.
Sérgio Machado foi eleito senador pelo PSDB em 1994, mas rompeu com
Tasso Jereissati no período da Convenção Partidária para escolha do sucessor ao
Executivo estadual em 1998, momento em que Sérgio Machado queria ser candidato e
Tasso Jereissati articulava sua reeleição. Sérgio Machado migrou para o PMDB em 2001
e foi candidato a governador em 2002, mas obteve apenas 12% dos votos válidos (395.699
votos). Posteriormente foi indicado na cota do PMDB para ocupar a presidência da
Transpetro96.
Assis Machado Neto foi secretário de Transporte, Energia, Comunicação e
Obras (1987-1990), candidato a prefeito de Fortaleza em 1992, mas obteve apenas 26%
dos votos, presidente do Diretório Estadual do PSDB (1993-1994) e secretário de
Governo nas duas gestões de Tasso Jereissati (1995-2000). Ocupou cargos na iniciativa
privada, como: presidente da Construtora Mota Machado S.A., que atua no ramo da
construção civil; presidente da Fiotex Indústria S.A., do ramo têxtil; membro do Conselho
Gestor da NET, rede de TV a cabo; e membro do Conselho da TV Jangadeiro, empresa
de comunicação.
Beni Veras foi eleito senador em 1990 (PSDB), ministro do Planejamento,
Orçamento e Coordenação (1994-1995) e posteriormente vice-governador de Tasso
Jereissati (1999-2002). Byron Queiroz foi secretário da Fazenda (1991-1994) e
posteriormente presidente do BNB (1995-2002) na cota do PSDB.
Pela descrição da trajetória política desses integrantes, percebe-se que Tasso
Jereissati priorizava o núcleo duro do CIC na indicação de postos estratégicos, como
cargos eletivos ou comissionados.
Além disso, a máquina partidária era comandada pelo núcleo duro do CIC.
Embora o partido tivesse recebido a filiação de políticos com mandato eletivo e da adesão
em massa de militantes, a agremiação matinha pureza ideológica com a direção exercida

96
Órgão vinculado a Petrobrás e responsável pelo transporte e logística de combustível. Sérgio Machado
foi o presidente que ocupou esse cargo por mais tempo, de 2003 a 2014.
266

pelos “jovens empresários” que compunham a coalizão dominante no interior da


organização. Podemos perceber isso ao verificarmos a sincronia entre os ex-presidentes
do CIC e os presidentes do Diretório Estadual do partido. Como veremos abaixo.
Tabela 18 - Lista de presidentes do PSDB-CE
PRESIDENTE MANDATO DESCRIÇÃO
Moema São
1989 a 1990 Deputada federal pelo PDT (1987-1990).
Tiago
Beni Veras 1990 a 1993 Ex-presidente do CIC (1978-1980).
Ex-presidente do CIC (1985-1987). Assumiu em seguida a
Assis Machado
1993 a 1994 secretaria de Governo nas duas gestões de Tasso Jereissati (1995-
Neto
2002).
Luiz Pontes 1994 a 1995 Filho de liderança histórica do PSD/MDB, Oziris Pontes, que foi
deputado estadual (1947-1959) e deputado federal (1959-1975).
Deputado estadual pelo PMDB (1983-1990), deputado federal pelo
PSDB (1991-1994).
Marco 1995 a 2000 Secretário de Saúde no governo estadual (1989-1990). Deputado
Penaforte federal (1991-1995).
Secretário de saúde no governo estadual (1987-1989), prefeito de
Antônio Lavor 2000 a 2003
Jucás (1993-1996).
Vereador pelo PFL (1989-1990) em Quixeramobim, deputado
Cirilo Pimenta
2003 a 2006 estadual pelo PSDB (1991-1996) e prefeito em Quixeramobim
Lima
(1997-2000).
Raimundo
2006 a 2007 Secretário da Indústria e Comércio (1995-1998).
Marques Viana
Francisco
Segundo suplente a senador de Tasso Jereissati nas eleições de
Holanda 2007
2010. Prefeito de Jaguaribara (2013-2016).
Guedes
Coordenador-geral da Associação dos Jovens Empresários do
Carlos Matos Ceará (AJE) em 1991. Vice-presidente do CIC (1996-1998).
2007 a 2009
Lima Secretário de Agricultura Irrigada (1999-2002) e de Agricultura e
Pecuária (2002-2006).
Presidente do Diretório Estadual do PSDB (1995-2000). Secretário
Marco
2009 a 2010 de Saúde no governo estadual (1989-1990). Deputado federal
Penaforte
(1991-1995).
Deputado federal pelo PSDB (1997-atual), prefeito pelo PFL
(1989-1992) e vice-prefeito pelo PDS (1983-1989) de
Raimundo
Maranguape. Na Câmara dos Deputados foi vice-líder do PSDB
Gomes de 2010 a 2011
(2007-2008; 2011-2012; 2013-2014) e vice-líder da Minoria
Matos
(2016). Suplente do Diretório Regional do PSDB-CE (1995),
presidente do Diretório Municipal do PSDB-Maranguape (1990).
Filho do ex-Governador César Cals Filho (1971-1975). Deputado
Marcos César
2011 estadual pelo PDS (1987-1998) e pelo PSDB (1999-2010),
Cals
presidente da ALECE (2003-2006).
Presidente do Diretório Estadual do PSDB (1994-1995). Filho de
Osíris Pontes. Deputado estadual pelo PMDB (1983-1990).
Luiz Pontes 2011 a 2017 Deputado federal pelo PSDB (1991-1998) e senador (1999-2006).
Secretário de Governo na gestão de Lúcio Alcântara como
governador (2003-2006).
Fonte: Elaboração própria com base nos dados disponibilizados pelo PSDB-CE.
267

Percebe-se que o vínculo do PSDB com CIC mostrou seu limite. À medida
em que o partido recebia a adesão de políticos tradicionais do interior e que o fenômeno
“tassista” começou a perder fôlego na capital, o PSDB passou a incorporar políticos
profissionais no núcleo dirigente da agremiação. O partido assumiu uma faceta mais
conservadora.
Ocorreu um câmbio do perfil da direção partidária, pois o partido passou a
ser comandado por políticos de carreira, vinculados à maquinaria política estruturada por
meio de cabos eleitorais nos municípios do interior e que conjugavam a gramática política
tradicional. Como podemos perceber na descrição da biografia dos presidentes do partido.
Na pesquisa de campo, foi salientado que o presidente do Diretório Estadual
Luiz Pontes, que sucedeu a Assis Machado Neto em 1994, tinha perfil de maior diálogo
com a base eleitoral do interior, pois recebia deputados estaduais, prefeitos e vereadores
para negociar acordos locais. O que diferenciava do perfil de liderança mais distante, frio
e objetivo dos "jovens empresários" do CIC.
Analisando o perfil dos deputados estaduais que apoiaram Tasso Jereissati
nas disputas ao Executivo estadual durante quatro ciclos eleitorais — 1986, 1990, 1994 e
1998 —, Nobre (2008) ressaltou o caráter conservador das alianças políticas. A maior
parte desses deputados estaduais pertencia a clãs políticos familiares socializados em uma
política tradicional assentada em práticas clientelistas.
Podemos notar ruptura desse padrão de fortalecimento do núcleo duro do CIC
em 2002, no período de lançamento dos candidatos do partido. Para suceder aos dois
mandatos de Tasso Jereissati, o PSDB indicou o ex-senador Lúcio Alcântara.
Um colaborador da pesquisa e militante do partido que preferiu não ser
identificado ressaltou que essa escolha foi feita diretamente por Tasso Jereissati e que
causou conflitos internos no partido. Isso porque várias lideranças, algumas do núcleo
duro do CIC, desejavam ser candidato. Porém, como a eleição ameaçava ser competitiva
e essas lideranças apresentavam baixa aceitação nas pesquisas internas do partido, Tasso
Jereissati optou pelo caminho seguro de escolher um político profissional que tinha
trabalho de base junto aos cabos eleitorais (prefeitos e vereadores) do interior.
Essa dissidência no PSDB cearense fomentou o lançamento de candidaturas
de antigos integrantes do “tassismo”. Estes disputavam entre si para se colocarem como
sucessores legítimos da “Era Tasso”. Como foi noticiada na matéria “Tasso tenta barrar
268

dissidências no Ceará” (FERNANDES, FOLHA DE SÃO PAULO, 24 mar. 2002), como


vemos adiante:
O governador Tasso Jereissati (PSDB) intensificou nesta última semana
suas visitas ao interior do Ceará para fechar o cerco sobre seus aliados
e impedir o surgimento de dissidências no partido.
Em tom de despedida do governo estadual, Tasso -que sai dia 5 de abril
provavelmente para disputar o Senado- já esteve em 30 dos 184
municípios do Ceará desde o início do ano. Nesta última semana, ele
visitou, em média, três municípios por dia.
O governador cearense quer certificar-se de que os prefeitos que
garantem a sucessão estadual não caiam na tentação de apoiar os ex-
tucanos Welington Landim (PSB) e Sérgio Machado (PMDB), que hoje
são os principais nomes de oposição a Tasso no Ceará.
Landim, presidente da Assembléia Legislativa, quando saiu do PSDB,
na metade do ano passado, levou junto outros sete deputados para a
oposição e controla politicamente alguns municípios na região sul do
Estado, o chamado Cariri. Essa também é uma área em que Machado
tem apoio. Machado rompeu com o grupo de Tasso em 1998, quando
queria concorrer ao governo cearense pelo PSDB, mas foi impedido
pelo governador, que se reelegeu.
Nas eleições de 2002, o PSDB garantiu sua continuidade política. Lúcio
Alcântara foi eleito governador no segundo turno e Tasso Jereissati foi eleito senador. A
outra vaga do Senado foi ocupada por Patrícia Saboya Ferreira Gomes (PPS), ex-esposa
de Ciro Ferreira Gomes (PPS), com o apoio informal de Tasso Jereissati.
Nas eleições de 2006, ocorreu o declínio da “Era Tasso” com a derrota de
Lúcio Alcântara à sucessão do governo estadual. Porém, o candidato a governador
vitorioso, Cid Ferreira Gomes (PSB), pertencia a uma facção que se fortaleceu e se
consolidou na “Era Tasso”, sendo uma bipartição do Cambeba. Essa ligação entre Tasso
Jereissati e a facção política-familiar Ferreira Gomes torna-se evidente no
posicionamento ambíguo assumido pelo líder carismático do PSDB. Nessa eleição, Tasso
Jereissati apoiou informalmente Cid Ferreira Gomes — ainda que este apresentasse
aliança com o PT ocupando o cargo de vice — em detrimento do candidato do PSDB,
Lúcio Alcântara.
A postura dúbia assumida por Tasso Jereissati ocasionou crise interna no
PSDB que foi tornada pública na imprensa nacional. Podemos mencionar a matéria
intitulada “Lúcio Alcântara deixa PSDB e filia-se ao PR” (ESTADÃO, 07 mar. 2007),
como vemos abaixo:
“[...] o ex-governador [Lúcio Alcântara] sai do PSDB brigado com o
presidente nacional do partido, senador cearense Tasso Jereissati, que o
acusou de não ter feito campanha para o presidenciável tucano Geraldo
Alckmin, no ano passado. Lúcio, por sua vez, chamou Tasso de traidor,
por não ter se engajado na campanha de reeleição a governador e ‘ainda
269

ter apoiado meu adversário, o hoje governador Cid Ferreira Gomes


(PSB)’”.
Na gestão de Cid Ferreira Gomes (2007-2010), o PSDB ocupou duas
secretarias: Secretaria de Turismo, assumida pelo deputado federal suplente Bismarck
Maia; e a Secretaria de Justiça e Cidadania, ocupada pelo deputado estadual Marcos César
Cals.
Nas eleições de 2010, o PSDB cearense enfrentou um dilema, como destaca
Carvalho (2013, p. 42): “[ou] lançar candidato próprio ao governo ou manter-se na
confortável posição de apoiar e ser apoiado pelo governador em sua pretensão maior, a
reeleição de Tasso Jereissati ao senado”. Diante do acordo entre a facção Ferreira Gomes
e o PT, que compreendia o lançamento das duas vagas para o Senado, o PSDB rompeu
com essa facção e apresentou candidato próprio ao Executivo estadual e um candidato
para uma das duas vagas no Senado.
Porém, o PSDB mostrava-se desidratado ao sair do governo e não teve êxito
em construir discurso de oposição ao governador Cid Ferreira Gomes (PSB), visto que
até pouco tempo atrás integrava a base governista. A sigla não conseguiu eleger o
candidato a governador, o ex-secretário Marcos César Cals, que obteve a segunda
colocação com 19% dos votos válidos; e tampouco o candidato a senador, Tasso
Jereissati, que ficou em terceira classificação.
Conforme Carvalho (2013, p. 49), o desempenho de Tasso Jereissati
(...) foi desastroso mesmo em municípios onde os prefeitos pertenciam
ao seu partido, o PSDB: dos 54 municípios em apenas 06 (11,11%)
Tasso foi o candidato a senador mais votado; em 23 (42,59%) ocupou
a segunda colocação e em 25 (46,29%) foi o terceiro colocado.
No segundo mandato de Cid Ferreira Gomes (2011-2014), o PSDB assumiu
postura de crítica ao governo. Isso devido ao afastamento entre Tasso Jereissati e a facção
Ferreira Gomes.
Com a fundação do PSD em 2011, o PSDB cearense teve uma baixa com a
migração em massa de seus quadros. A sigla teve origem parlamentar de deputados
federias e estaduais que queriam integrar a coalizão de governo. A criação do PSD no
Ceará foi dirigida pelo gestor do gabinete do governador, Almircy Pinto, que negociava
a migração de deputados do PSDB para o PSD. Ao todo, um deputado federal — Manoel
Salviano Sobrinho —, quatro deputados estadual — Moesio Loiola, Rogerio Aguiar,
Osmar Baquit e Gony Arruda —, e três deputados estaduais suplentes — Teodoro Soares,
270

Jesuíno Sampaio Neto (Neném Coelho) e Cirilo Pimenta — migraram e aderiram à base
aliada do governador.
Percebe-se que esses deputados arrastaram seus cabos eleitorais para o PSD.
Isso pode ser constatado ao observarmos a base eleitoral desses oito parlamentares que
eram filiados ao PSDB. Examinando as dez cidades que esses oito parlamentares
obtiveram maior número de votos — que totalizou 69 municípios —, percebemos que a
migração de prefeitos e vereadores do PSDB para o PSD foi maior do que em outros
municípios que não integravam a base eleitoral desses deputados — outros 69 municípios
aleatórios97. Os dados mostram que nos municípios que são base eleitoral, 57,7% dos
prefeitos e vereadores acompanham esses parlamentares na mudança de sigla. Já nos
municípios que não integravam a base eleitoral, a migração foi menor, correspondendo a
36,5%.
Esse dado sugere que a migração ocorre em bloco seguindo uma lógica de
lideranças estaduais — deputados federais e estaduais — que tem laços políticos com
lideranças locais — prefeitos e vereadores. Nos dois casos investigados do PSDB do
interior, Mombaça e Nova Olinda, verificamos que as lideranças locais integram a base
eleitoral de deputados e os acompanham na migração partidária. No caso de Mombaça, o
prefeito Wilame Barreto Alencar seguiu o deputado estadual Osmar Baquit; e no caso de
Nova Olinda, o ex-prefeito Afonso Sampaio acompanhou o deputado federal Manoel
Salviano.
Essa desidratação do PSDB vai refletir nas eleições de 2012 e 2014, como
veremos a seguir.

4.2- Estrutura da organização partidária


Nas duas eleições examinadas nessa pesquisa, a estrutura organizacional do
PSDB foi regulamentada pelos estatutos de 2011 e 2013. A maior alteração na estrutura
organizacional da agremiação ocorreu em 1999, quando foram realizadas reformas
estatutárias para aumentar o grau de concentração decisória e de centralização (ROMA,
2002; RIBEIRO, 2013). Como exemplo, podemos citar a criação do Conselho Político
Nacional. Essa modificação do estatuto representou um modelo distinto do PMDB, por

97
Para compor essa amostra, foi respeitando o mesmo padrão de tamanho populacional encontrado nos 69
municípios que compuseram a base eleitoral dos parlamentares. A amostra foi formada por: um município
com mais de 200 mil habitantes, dois municípios entre 100 e 200 mil habitantes, 13 municípios com 50 a
100 mil habitantes, 28 entre 20 a 50 mil habitantes e 25 municípios de 10 a 20 mil habitantes.
271

exemplo, que é caracterizado por fragmentação federalista (RIBEIRO, 2013). No PSDB,


o Conselho Político Nacional decide sobre questões estratégicas no âmbito nacional e é
composto por membros não eleitos pelo corpo partidário. Como vemos abaixo:
Art. 72. Ao Conselho Político Nacional compete:
I - Avaliar periodicamente o desempenho político do Partido;
II - Atuar, conjuntamente com o Diretório Nacional, no exame e decisão
de questões políticas relevantes de âmbito nacional que lhe forem
submetidas pela Comissão Executiva Nacional;
III - Decidir, no âmbito da eleição majoritária nacional, sobre o modelo
de escolha de candidatos e a formação de coligação, assim como sobre
fusões ou incorporações partidárias, que lhe forem submetidos pela
Comissão Executiva Nacional.
§ 1º. Integram o Conselho Político Nacional:
I - Os ex-Presidentes da República e os que tenham concorrido ao
cargo;
II - Um representante dos Governadores de Estado;
III - Um representante das bancadas do Congresso Nacional;
IV - O Presidente da Comissão Executiva Nacional.
§ 2º. O Presidente do Conselho Político será escolhido entre seus
membros.
§ 3º. Os representantes referidos nos itens II e III serão designados pelo
Conselho (PARTIDO DA SOCIAL DEMOCRACIA BRASILEIRA.
Estatuto de 2013).
O Conselho Político Nacional fortaleceu lideranças partidárias já
consolidadas na agremiação, como as que disputaram a vaga para a presidência da
República. Assim, José Serra, que disputou as eleições presidenciais de 2002 e 2010,
Geraldo Alckmin, eleições de 2006, e Aécio Neves, eleições de 2014, integraram esse
órgão.
Outro movimento de centralização do poder foi o fortalecimento da Executiva
Nacional em detrimento do Diretório Nacional. A Executiva Nacional é composta por 25
membros efetivos e sete suplentes (Art. 64), já o Diretório Nacional é formado por 177
membros efetivos e 59 suplentes (Art. 62).
No estatuto de 2007, foi incluído um novo artigo que impunha algumas
exigências às Comissões Provisórias Municipais para que estas pudessem constituir
Diretórios e gozar de autonomia para compor a direção do partido. Essas exigências se
relacionavam ao número de filiados, participação em eleições e desempenho político-
eleitoral. Como vemos no artigo abaixo:
Art. 47. As Comissões Municipais, designadas nos termos do art. 45,
dirigirão o Partido com as atribuições de Diretório e Comissão
Executiva Municipal e só serão autorizadas a organizar e dirigir a
Convenção para eleição do Diretório, Delegados e demais órgãos
partidários, após o atendimento da exigência do número mínimo de
filiados a que se refere o art. 163 e participação em uma eleição,
municipal ou geral, apresentando desempenho político-eleitoral
272

avaliado pela Comissão Executiva Estadual segundo os critérios, as


diretrizes e orientações estabelecidos em resolução da Comissão
Executiva Nacional (PARTIDO DA SOCIAL DEMOCRACIA
BRASILEIRA. Estatuto de 2013).
As alterações nos estatutos garantiram ao Diretório e a Executiva Nacional
maior interferência nas decisões eleitorais dos órgãos estaduais. Ao analisar as resoluções
publicadas pelo PSDB no Diário Oficial da União, Ribeiro (2013) observou que entre
2006 e 2010, a Executiva Nacional passou a normatizar as coligações estaduais e a
interferir em algumas delas. O autor ainda destaca que no estatuto de 2011 foi
acrescentado dispositivo que possibilita à Executiva Nacional intervir sumariamente em
Diretórios e Executivas de qualquer nível hierárquico, passando inclusive sobre os
estados, o que antes não era permitido.
Segundo os estatutos de 2011 e 2013, a estrutura partidária se apresenta
dividida em três níveis federativos: nacional, estadual e municipal. Em municípios com
mais de quinhentos mil eleitores haverá Diretórios organizados por unidades
administrativas ou zonas eleitorais (Art. 17, §1º).
Nos três níveis da Federação, o partido é composto por órgãos com função de
deliberação (Convenções), de direção e ação partidária (Diretórios, Comissões
Executivas e Conselho Político Nacional), de ação parlamentar (Bancadas), de atuação
na sociedade (Redes Temáticas, Núcleos de Base e Secretariados), de disciplina e
fidelidade partidária (Conselhos de Ética e Disciplina), de fiscalização financeira
(Conselhos Fiscais) e de cooperação (Conselhos Políticos Estaduais, Instituto Teotônio
Vilela de Estudos Políticos, Econômicos e Sociais e Formação Política e Coordenadorias
Regionais) (Art. 17). Como podemos observar na Figura 5.
273

Figura 5 - Organograma do PSDB

AÇÃO ATUAÇÃO NA
DEBIBERAÇÃO DIREÇÃO EXECUÇÃO COLABORAÇÃO COOPERAÇÃO
PARLAMENTAR SOCIEDADE
Comissão Instituto Teotônio
Convenção Diretório Conselho de Ética e Secretariados
Executiva Bancada Federal Vilela de Estudos
NACIONAL

Nacional Nacional Disciplina Nacional Nacionais


Nacional Políticos,
Econômicos e
Conselho Sociais e
Conselho Fiscal
Político Formação
Nacional
Nacional Política

Comissão Conselhos
ESTADUAL

Convenção Diretório Conselho de Ética e Secretariados


Executiva Bancada Estadual Políticos
Estadual Estadual Disciplina Estadual Estaduais
Estadual Estaduais
Conselho Fiscal
Estadual

Comissão
Convenção Diretório Conselho de Ética e Secretariados
Executiva Bancada Municipal
MUNICIPAL

Municipal Municipal Disciplina Municipal Municipais


Municipal
Conselho Fiscal
Redes Temáticas
Municipal
Núcleos de Base

Comissão
Diretório Conselho de Ética e Secretariados
ZONAL

Convenção Zonal Executiva


Zonal Disciplina Zonal Zonais
Zonal
Conselho Fiscal Zonal
Fonte: Elaboração própria. Estatuto do PSDB de 2011 e 2013.
274

Pelo menos no plano formal, o PSDB assemelha-se ao PT no tocante à


estruturação de órgãos que dialogam com a sociedade. Conforme o estatuto, essa conexão
ocorre por meio da articulação com organizações populares, de moradores e comunitárias,
além de movimentos ambiental, trabalhista e sindical, da juventude, da mulher, da
diversidade, de minorias étnicas, de profissionais liberais, empreendedores, de artistas,
rural, terceira idade, terceiro setor. Essa articulação pretende abarcar também temas
relevantes, como: gestão de cidades, desenvolvimento sustentável, cultura, segurança
pública, políticas sociais, economia, competitividade, infraestrutura e outros (Art. 16,
inciso II).
Embora essa orientação apresente-se vaga, visto que o partido se articularia
com variadas organizações e movimentos sociais, o PSDB possui segmentos ativos que
estabelecem essa conexão com a sociedade, como os segmentos TucanAFRO, Sindical,
Mulher, Juventude e Diversidade Tucana que debate políticas para a comunidade
LGBTT.
Observa-se que as modificações nos estatutos do partido permitiram
formalmente maior intervenção da Executiva Nacional sobre os órgãos estaduais. Porém,
ao observamos situações concretas por meio da pesquisa de campo, verificamos que no
Ceará essa centralização não ocorreu. A liderança estadual, o senador Tasso Jereissati,
continuou exercendo seu domínio sobre a máquina partidária. Basta mencionar que
mesmo este sendo acusado de não apoiar o candidato ao Executivo nacional do partido,
o Diretório Estadual do Ceará não sofreu nenhum embargo da Comissão Executiva
Nacional ou do Conselho Político Nacional. Tasso Jereissati foi imputado pelo baixo
desempenho eleitoral no Ceará dos candidatos a presidente do PSDB, como Fernando
Henrique Cardoso em 1998 e José Serra em 2002; em contraste com a performance
eleitoral de Ciro Ferreira Gomes (PPS) 98.
Observando as relações de poder dentro do partido, construímos um mapa do
poder organizativo do PSDB cearense, como vemos na Figura seguinte.

98
No Ceará em 1998, Ciro Ferreira Gomes obteve 27% dos votos (909.402 votos) e Fernando Henrique
Cardoso alcançou 24% (804.969 votos). Em 2002, Ciro Ferreira Gomes obteve 44% dos votos (1.529.623
votos) e José Serra alcançou 8% (293.425 votos).
275

Figura 6 - Mapa do poder organizativo do PSDB

LÍDER CARISMÁTICO

DIRETÓRIO ESTADUAL
GRUPO PARLAMENTAR
Profissionais Núcleo duro –
– advogados, membros da Deputados Deputados
publicitários e coalizão Federais Estaduais
jornalistas dominante

ÓRGÃO MUNICIPAL LIDERANÇAS LOCAIS

Legenda: Forte influência Fraca influência

Fonte: Elaboração própria.

O mapa do poder organizativo do PSDB apresenta semelhanças com o do


PMDB. Mas, o que particularizou o PSDB cearense foi o domínio político exercido pela
sua liderança, Tasso Jereissati. Este, ao longo da institucionalização da organização, se
constitui como “liderança carismática” (PANEBIANCO, [1982]), fazendo do partido
uma extensão de si mesmo. Nesse aspecto, o PSDB apresenta grau de informalidade
maior do que o PMDB, pois Tasso Jereissati não ocupa formalmente o cargo de presidente
do Diretório Estadual, mas informalmente dirige o partido.
Outra caraterística do PSDB é a estrutura precária do Diretório Estadual. O
partido não possui sede própria, funcionando em uma casa alugada adaptada para abrigar
o Diretório Estadual e o órgão partidário de Fortaleza. O partido apresenta poucos
funcionários, em comparação com os outros dois partidos que compõem essa pesquisa.
Percebe-se que, similar ao PMDB, os órgãos municipais experimentam fraca
influência do grupo parlamentar. A exceção ocorre apenas quando o município é base
eleitoral de algum deputado. No geral, os órgãos municipais sofrem forte influência das
lideranças locais, sendo pouco integrados à estrutura burocrática do partido.
276

Observando o partido no plano local, vemos que a agremiação é estruturada


como máquina eleitoral, apresentando fragilidade organizativa. Como a arena eleitoral
local é seu principal lócus de atuação, a agremiação não apresenta estrutura
organizacional perene. Como observamos no Gráfico 8, tanto o PSDB quanto o PMDB
possuem sazonalidade em sua estrutura organizacional, pois se estrutura prioritariamente
em períodos de eleições municipais, ocorridas em 2008 e 2012. Após as eleições, o PSDB
reduz sua capilaridade organizativa.
Nas entrevistas realizadas, foi destacado que em 2011 o partido começou a se
estruturar para disputar as eleições municipais. O desenvolvimento da organização
partidária ocorria tanto por penetração, quando o Diretório Estadual tentava recrutar
antigos políticos filiados ao partido; como por difusão, quando elites locais negociavam
com o Diretório Estadual a refundação do partido no município ou a colonização da
agremiação local com a filiação em massa de sua facção política.
No entanto, o PSDB não se mostrava atrativo para políticos profissionais e
notáveis locais porque estava na oposição e contava com frágil bancada parlamentar. Esse
perfil compõe o modelo de “partido de elites” (DUVERGER [1951]; KIRCHHEIMER
[1966]), como foi ressaltado anteriormente.
Analisando a relação entre o órgão municipal de Fortaleza e o Diretório
Estadual, percebemos que ao longo da institucionalização do partido o órgão local não
conseguiu obter autonomia, funcionando como extensão do órgão estadual.
Nas eleições municipais de 1992, o PSDB apresentou Assis Machado Neto,
ex-presidente do CIC (1985-1987), como candidato a prefeito. Esse obteve 26% dos votos
válidos (177.443 votos), enquanto o candidato do PMDB, o então secretário municipal
Antônio Cambraia, conseguiu 55% dos votos válidos (374.600 votos). Esse resultado
eleitoral demonstrou que o fenômeno “tassista” começava a perder fôlego na capital. Essa
performance eleitoral contrastava com o desempenho do partido no interior, pois a sigla
conseguiu eleger 92 prefeitos (50%) e 977 vereadores (39%).
Em 1996, a candidata a prefeita pelo PSDB, Socorro França Pinto, obteve
apenas 10% dos votos válidos (85.293 votos). Porém, nessa eleição o partido apresentou
a maior votação para o Legislativo municipal, a candidata a vereadora, esposa de Ciro
Ferreira Gomes e ex-primeira-dama de Fortaleza (1989-1990) Patrícia Saboya, foi eleita
com 21.839 votos.
O baixo desempenho eleitoral do PSDB, apesar da expressiva votação obtida
por Patrícia Saboya (PSDB), fez com que o partido ocupasse posição secundária nas
277

eleições municipais de 2000 em Fortaleza. Nessa eleição, o PSDB ocupou o cargo de


vice-prefeito em coligação que tinha Patrícia Saboya, filiada ao PPS, como candidata a
prefeita. Porém, a oposição à liderança de Tasso Jereissati na capital era tamanha que,
segundo Barreira (2002), a intenção de voto da candidata Patrícia Saboya decrescia cada
vez que associavam sua imagem à do então governador Tasso Jereissati.
Em 2004, com a impossibilidade de Juraci Magalhães (PMDB) concorrer à
prefeitura de Fortaleza, visto que já estava no seu segundo mandato consecutivo, o PSDB
empenhou-se para ser o continuador do fenômeno do “juraciismo”. O partido apresentou
como candidato ao Executivo o ex-prefeito Antônio Cambraia, antigo quadro do PMDB
e que tinha sucedido Juraci Magalhães em 1993. Porém, novamente o desempenho
eleitoral do PSDB foi baixo e esse candidato obteve apenas 18% dos votos (200.407
votos). Em 2008, o PSDB mais uma vez compôs coligação com Patrícia Saboya (PDT),
apresentando o candidato a vice-prefeito, e também não conseguiu obter desempenho
eleitoral satisfatório. Patrícia Saboya obteve 15% dos votos válidos (183.136 votos).
A oposição a Tasso Jereissati e ao PSDB em Fortaleza deve-se ao ativismo
do Sindicato dos Trabalhadores no Serviço Público Estadual do Ceará. Isso porque os
funcionários públicos estaduais, parcela significativa da classe média citadina, foram
afetados pela política de controle salarial, demissões e realocação de funcionários no
governo do Cambeba (CARLEIAL, 2000; BARREIRA, 2002).
Outra corrente de oposição a Tasso Jereissati em Fortaleza deve-se à atuação
dos movimentos sociais de bairros na periferia. Os partidos de esquerda historicamente
apresentaram forte atuação nesses movimentos urbanos e com o crescente processo de
favelização de Fortaleza99, houve maior mobilização da sociedade civil e a formação de
lideranças de bairro que foram eleitas para o Legislativo e disputaram o Executivo 100.
Essa fragilidade do PSDB de Fortaleza é destacada por um colaborador, como
vemos abaixo:
Aqui em Fortaleza, o PSDB sempre foi frágil! Enfrentamos muitas
dificuldades para organizar o partido e isso é refletido nos resultados
eleitorais. Quando íamos pros bairros estruturar os zonais, a gente não
conseguia fidelizar os filiados. É tanto que o partido é montado para
disputar as eleições municipais e depois ele é, vamos dizer assim,
engolido pelo Diretório Estadual. Todo o quadro do partido é
mobilizado para os Diretórios no interior, que é onde temos mais força
[...] Até na Câmara Municipal o partido não conseguiu eleger muitos

99
Em 1995, 36% da população de Fortaleza estava concentrada em favelas (BARREIRA, 2002).
100
Podemos citar como exemplo desse processo de formação de liderança a trajetória política de Inácio
Arruda (PCdoB) que foi vereador de Fortaleza (1989-1990), deputado estadual (1991-1994), deputado
federal (1995-2007) e disputou o Executivo municipal de Fortaleza em 1996, 2000 e 2004.
278

vereadores. A exceção foi em 1992, quando o PSDB elegeu seis


vereadores. Mas depois, só foi caindo: [quatro] em 1996, três em 2000,
dois em 2004 e um nas eleições de 2008 e de 2012. Quer dizer, como a
gente consegue montar um partido com uma representação tão baixa
(MILITANTE DO PSDB DE FORTALEZA. Integrante do Diretório
de Fortaleza que concedeu entrevista, mas não quis ser identificado.
Entrevista realizada em 25/11/2015).
Nessa entrevista, foi destacado que o partido é estruturado para disputar as
eleições municipais, funcionando na maior parte do tempo como Comissão Provisória. A
presidência do partido é estabelecida por Tasso Jereissati que indica alguma liderança de
sua confiança.
Na entrevista com Tomás Figueiredo Filho, este ressaltou seus planos de ação
para dinamizar a atividade partidária durante sua gestão (2013-2015), como vemos
abaixo:
Tínhamos a intenção de montar um sistema de gestão de contatos, mais
agressivo que a gente pudesse gerar um cartão de aniversário, pudesse
identificar e em algumas ocasiões chamar, por exemplo, dia da mulher,
vamos filtrar só nossas filiadas mulheres aqui do Diretório de Fortaleza
e vamos de repente fazer um... convidar para um movimento e
parabenizá-la, vamos mandar um cartão. Tentar fazer uma
movimentação nesse sentido, mas por falta de recurso, a gente não
tinha. Ficava sempre agregado ao sistema do estadual, que era um
sistema mais arcaico, então a gente não conseguiu efetivar algumas
ideias que a gente tinha por conta dessa dificuldade de caixa e também
de pessoas, né? A dificuldade de pessoas também era grande (TOMÁS
FIGUEIREDO FILHO, ex-presidente do Diretório do PSDB de
Fortaleza (2013-2015), deputado estadual (2007-2010) e eleito
deputado federal suplente em 2010. Entrevista concedida ao autor em
25/11/2015).
Essa ação do partido assemelha-se a empresa privada, revelando o vínculo do
PSDB com os empresários e sua lógica de ação. A aproximação com os militantes não
ocorre através da politização e de debates de temas, mas através do vínculo personalista
de fidelização de clientes, como o envio de cartão no dia do aniversário ou de flores no
dia das mulheres.
A gestão de Tomás Figueiredo Filho no Diretório Municipal de Fortaleza,
copiando o modelo petista, tentou também fomentar uma atividade política mais intensa
no partido. Foi destacado que durante seu mandato, o Diretório Municipal obteve filiações
espontâneas por meio do protagonismo que o PSDB estava exercendo no plano nacional,
como as críticas ao mandato de Dilma Rousseff (PT). Obtendo essa onda de novo filiados,
o Diretório Municipal buscou nutrir o ativismo dentro do partido, mas não teve êxito,
como percebemos no depoimento abaixo:
279

Foram movimentos muito pequenos, a gente não conseguiu fazer com


que essas movimentações crescessem, a gente também não conseguiu,
naquele momento histórico, o engajamento das pessoas pra fazer com
que determinados fóruns, que a gente chama internamente dentro do
partido, da legislação, de Núcleo de Base, que os Núcleos de Base são
núcleos temáticos. Você tem o Núcleo de Base da Advocacia, tem o
Núcleo de Base da Medicina, tem o Núcleo de Base é... ligado a área
sindical, tem o núcleo de base ligado a... sei lá, artesãos. Então você tem
o Núcleo de Base de diversas matizes e a gente tentava na hora da
filiação identificar a pessoa com o Núcleo de Base e formar ali aquele
núcleo e fazer com que elas mesmo estimulassem. Deixava o espaço do
partido à disposição e tentava fomentar. A gente tentou marcar
reuniões, chegamos a fazer um fórum sobre segurança que era uma
ideia do [Diretório] Municipal. O [Diretório] Estadual achou uma boa,
incorporou e aconteceu. Mas tínhamos outros tópicos que a gente queria
debater, de mobilidade urbana, de consciência ambiental que a gente
não conseguiu evoluir. Concluí que Núcleo de Base não funciona. Eu
não sei hoje. Todos os movimentos do partido ficavam sempre
concentrados na Diretoria Executiva e em mim mesmo, como
presidente. Não conseguiu fazer com que voluntários se motivassem,
tocassem esses projetos pra frente (TOMÁS FIGUEIREDO FILHO,
ex-presidente do Diretório do PSDB de Fortaleza (2013-2015),
deputado estadual (2007-2010) e eleito deputado federal suplente em
2010. Entrevista concedida ao autor em 25/11/2015).
Quando observamos os órgãos municipais do PSDB no interior do estado,
percebemos que o partido era dirigido por uma elite tradicional que atuava na política
local e que possuía capital eleitoral extra-organização. No momento de fundação do
PSDB no Ceará, buscava-se o rompimento com políticos tradicionais que eram filiados
principalmente ao PDS e ao PFL. Porém, à medida que o PSDB foi perdendo o apoio
político-eleitoral na capital, a organização passou a compor uma aliança com a elite
política tradicional predominante no interior do estado. Para exemplificar esse modelo de
partido, vamos observar os casos do PSDB de Mombaça e de Nova Olinda.
Em Mombaça, como foi comentado anteriormente, o PSDB foi fundado por
lideranças antes vinculadas ao PDS que tinham mandato eletivo, como o então prefeito
Nelson Benevides. Este tinha sido eleito em 1988, sucedendo o mandato de Valdomiro
Távora (PDS). Porém, nas eleições estaduais de 1990, os dois romperam a aliança.
Enquanto Nelson Benevides se aproximava do então governador Tasso Jereissati,
Valdomiro Távora ainda era vinculado aos chefes políticos do período militar,
especificamente Virgílio Távora.
É interessante observar que a disputa entre essas duas lideranças polarizou a
disputa local durante a década de 1990. A facção liderada por Valdomiro Távora manteve
a aliança política local com o PMDB. Nas eleições estaduais de 1990, o líder político
Valdomiro Távora foi eleito ao cargo de deputado estadual. Este apresentou desempenho
280

eleitoral concentrado territorialmente, pois apenas em Mombaça obteve 66% do total de


seus votos no estado, alcançando 8.939 votos (47% dos votos válidos no município). Nas
eleições municipais de 1992, retomou ao governo local, sendo Valdomiro Távora eleito
prefeito de Mombaça com 10.214 votos, 50,8% dos votos válidos.
Nas eleições de 1994, seu filho, Valdomiro Távora Junior (PPR), foi eleito
deputado estadual, obtendo em Mombaça 10.180 votos. Os votos nesse município
representaram 44% do total da sua votação no estado, observando que a facção conseguiu
ampliar sua rede de influência para outros municípios. Nas eleições municipais de 1996,
a facção de Valdomiro Távora apresentou como candidato ao Executivo municipal uma
liderança local que nunca tinha ocupado nenhum posto político, o vaqueiro Benone
Pedrosa. A escolha desse como candidato a prefeito, segundo informações coletadas, teria
ocorrido pelo fato desse ser fiel à facção política. Marcado por uma disputa competitiva,
o candidato da facção de Valdomiro Távora foi eleito com 10.547 votos (50,5% dos votos
válidos). Nas eleições seguintes, a facção conseguiu eleger novamente Valdomiro Távora
Júnior (PPB) como deputado estadual em 1998 e reeleger Benone de Araújo Pedrosa (PP)
como prefeito em 2000.
A oposição, filiada ao PSDB, era comandada pela facção dos Benevides, que
tinha o então prefeito Nelson Benevides como principal liderança. Nas eleições estaduais
de 1990, a facção apresentou como candidato ao cargo de deputado estadual o irmão de
Nelson Benevides, o médico e então vereador Newton Benevides (PSDB).
Na pesquisa de campo, foi ressaltado que a candidatura de um membro da
facção dos Benevides ao Legislativo estadual foi estimulada pelo então governador Tasso
Jereissati. A coordenação política do governo estadual fazia mapeamento para avaliar as
bases eleitorais dos três chefes políticos tradicionais (Virgílio Távora, Adauto Bezerra e
César Cals Filho). O objetivo era fortalecer nos municípios as lideranças locais que se
opunham à rede de influência desses três políticos, como a facção dos Benevides que
fazia oposição a Valdomiro Távora.
Assim, por meio da máquina governamental, o PSDB poderia montar sua
base política no interior e fragilizar a influência de lideranças tradicionais. Vale notar que
em Mombaça, o filho do ex-governador Virgílio Távora, o deputado federal Carlos
Virgílio Távora (PDS), apresentava expressiva votação por meio do apoio de Valdomiro
Távora. Nas eleições de 1982 e 1986, este deputado federal obteve no município
respectivamente 5.632 votos (34% dos votos válidos) e 6.523 votos (42%) e nas eleições
de 1990 essa aliança tinha sido reafirmada.
281

A estratégia da facção dos Benevides de ampliar sua área de influência por


meio da ocupação do posto de deputado estadual não obteve êxito. Nas eleições de 1990,
Newton Benevides apresentou votação concentrada territorialmente em Mombaça e não
foi eleito deputado estadual. Nesse município, obteve 8.616 votos (46% dos votos
válidos), representando 71% da sua votação no estado. Nas eleições de 1994, Newton
Benevides foi novamente candidato a deputado estadual, obtendo em Mombaça 7.888
votos (42% dos votos válidos). Sua votação ainda estava concentrada nesse município,
representando 67% dos votos alcançados no estado, não conseguindo ser eleito.
Quando observamos as eleições municipais em Mombaça, percebemos que a
facção dos Benevides não conseguiu destituir a influência política de Valdomiro Távora.
Nas eleições de 1992 e de 1996, o PSDB apresentou chapa “puro sangue” ao Executivo
municipal, tendo o empresário do setor de distribuição de medicamentos, José Evenilde
Benevides, como candidato a prefeito. Embora não tivesse obtido êxito nessas disputas,
as eleições foram competitivas e o candidato do PSDB perdeu por uma pequena diferença,
330 votos em 1992 e 228 votos em 1996. O PSDB ocupava representação significativa
na Câmara Municipal, tendo elegido nessas eleições 8 e 7 vereadores das 19 vagas na
Câmara.
Como foi ressaltado anteriormente, nas eleições estaduais de 1998, o chefe
político Valdomiro Távora (PPB) desertou no apoio à candidatura de deputado federal do
PMDB, Eunício Oliveira. Valdomiro Távora apoiou a campanha do filho do então
senador Lúcio Alcântara (PSDB), o deputado federal Leonardo Alcântara (PSDB). Essa
aliança desencadeou o rompimento político entre o PMDB e o PPB.
Capitalizando o apoio político do PMDB, parte da facção política dos
Benevides migrou para este partido. Embora o líder da facção, Nelson Benevides,
estivesse ainda filiado PSDB e mantivesse o controle sobre a agremiação local. Alinhado
com as lideranças estaduais do PMDB, Newton Benevides lançou-se como candidato
desse partido nas eleições municipais de 2000, tendo como vice-prefeito o empresário Ari
Benevides Cavalcante (PSDB). Novamente a facção dos Benevides não conseguiu eleger
o candidato ao Executivo municipal, alcançando 9.585 votos (45% dos votos válidos).
Embora o PSDB tenha conseguido eleger 6 vereadores das 19 vagas.
Nas eleições estaduais de 2002, Newton Benevides candidatou-se novamente
ao cargo de deputado estadual pelo PHS. Foi eleito suplente, apresentando votação
concentrada em Mombaça, pois os 6.042 votos obtidos nesse município representaram
64% da sua votação no estado.
282

Depois dessas disputas eleitorais, a facção dos Benevides se fragilizou e o


PSDB local ficou enfraquecido com a migração de seus filiados para o PMDB e o PP.
Nelson Benevides formalmente continuava na presidência do PSDB, embora o líder da
bancada, o vereador Wilame Barreto Alencar, tivesse assumido informalmente a
liderança do partido. Este adotou uma linha política de oposição à facção de Valdomiro
Távora, participando de uma greve dos professores municipais.
Para disputar as eleições de 2004, Wilame Barreto Alencar costurou
candidatura com outro vereador e juntos montaram chapa de oposição. Com a conquista
do governo local nessas eleições, o PSDB pode novamente se estruturar e o prefeito
Wilame Barreto Alencar tornou-se formalmente presidente da agremiação, ocasionando
a migração da facção dos Benevides. Nas eleições municipais de 2008, Wilame Barreto
Alencar foi candidato a reeleição pelo PSDB.
Durante o período em que Wilame Barreto Alencar foi presidente, o PSDB
em Mombaça estava organizado como Comissão Provisória. Em entrevista, Wilame
Barreto Alencar ressaltou que não tinha relação próxima com as principais lideranças
estaduais do partido. Além disso, no período da gestão do governador Lúcio Alcântara
(2003-2006), apesar do então prefeito Wilame Barreto Alencar pertencer ao mesmo
partido que o governador, a liderança local não tinha acesso aos recursos estaduais.
Enquanto isso, a oposição, filiada ao PPB, tinha acesso privilegiado aos
órgãos do governo estadual por conta da relação entre o ex-deputado Valdomiro Távora
e o governador Lúcio Alcântara. O filho do governador, o deputado federal Leonardo
Alcântara, já tinha sido apoiado em Mombaça por Valdomiro Távora em duas eleições
consecutivas, em 1998 e 2002. Na gestão de Lúcio Alcântara, Valdomiro Távora foi
indicado em 2003 para um órgão da burocracia do governo do estado, a Superintendência
do Departamento Estadual de Trânsito (DETRAN-CE), e seu filho, o então deputado
estadual Valdomiro Távora Júnior, foi eleito em 2005 conselheiro TCE-CE. Embora essa
indicação para conselheiro do Tribunal de Contas do Estado (TCE) tenha ocorrido por
meio de eleição na Assembleia Legislativa Estadual, o governador é ator fundamental
para articular essa indicação101. Como Wilame Barreto Alencar comentou:
É natural que o governador desse mais apoio ao grupo da oposição que
sempre votou no filho do governador. Tudo era mais difícil: conseguir
verbas, obter informações, ter contato com as pessoas. A gente sentindo
muita dificuldade e [em 2010] lançaram Marcos Cals como candidato
a governador e esse era ainda mais próximo de Valdomiro [Távora].

101
Para informação sobre como ocorre as eleições para o TCE-CE consultar Nobre (2008).
283

(WILAME BARRETO ALENCAR, vereador pelo PSDB por dois


mandatos, presidente do Diretório e prefeito em duas gestões.
Entrevista concedida ao autor em 16/10/2015).
A única liderança do PSDB que o então prefeito Wilame Barreto Alencar
tinha proximidade era o deputado estadual Osmar Baquit. Por meio do apoio do prefeito,
este deputado estadual tinha sido votado em Mombaça nas eleições de 2006 e 2010,
obtendo respectivamente 6.471 votos (23% dos votos válidos) e 7.627 votos (36%). Com
a migração de Osmar Baquit para o PSD em 2011, o então prefeito Wilame Barreto
Alencar o acompanhou. Como percebemos no depoimento abaixo:
Nós migramos para o PSD por conveniências locais também. Porque o
PSD era um partido que era em cima do muro. Ele era um pouco
governo, um pouco oposição. [...] Então, cada um foi procurando seu
caminho. E nós achamos melhor pelo aquele momento, naquele
contexto, ir pra o PSD. Era um partido novo, o deputado [estadual] que
a gente apoiava também se filiou. Até porque a gente queria se
aproximar mais do governo, das verbas estaduais para dizer a verdade.
Um prefeito que esteja mais ligado ao governador tem mais facilidade
de trazer obras ao município. Quando você pega um governo que seja
aliado verdadeiro, ele pode trazer uma indústria, criar emprego. O
município pobre como Mombaça tendo um prefeito sem governo sofre
o pão que o diabo amassou. E eu queria na verdade me aproximar do
governador Cid [Ferreira] Gomes e a forma que eu tinha de me
aproximar era saindo do PSDB, que era um partido de oposição ao
governo, e ir para algum partido que tivesse alguma ligação como o
governador (WILAME BARRETO ALENCAR, vereador pelo PSDB
por dois mandatos, presidente do Diretório e prefeito em duas gestões.
Entrevista concedida ao autor em 16/10/2015).
Pela entrevista, observa-se que a motivação para a migração se deu pela
sedução que o partido governista oferece. Embora o ex-prefeito Wilame Barreto Alencar
tivesse ressaltado que ainda possui identidade partidária vinculada ao PSDB, esse
incentivo coletivo não conseguiu prendê-lo ao partido quando a agremiação experimentou
um período na oposição. Além disso, com a migração do deputado estadual que
intermediava as relações políticas dentro do partido, não era estratégico permanecer na
agremiação.
Embora Wilame Barreto Alencar tivesse migrado para o PSD, este deixou
uma “pessoa de confiança” no partido, a então vereadora e líder da bancada Elidiana de
Carvalho. Posteriormente, a agremiação foi “entregue” à facção política adversária.
Como observamos abaixo:
Nós fomos surpreendidos, porque assim, nós fomos eleitos pelo PSDB,
quando foi na questão das filiações o PSDB aqui foi entregue, como era
só Comissão Provisória, nós não tínhamos Diretório, então a Comissão
Provisória foi entregue ao grupo que era adversário político na época
do Wilame [Barreto Alencar]. Foi entregue nas mãos do Dr. Valdomiro
284

[Távora]. Que é adversário político. Por isso a minha migração, porque


não tínhamos mais como ficar no PSDB já que o PSDB não estava mais
com a gente. E passamos para o PSD porque era a questão de um partido
novo, foi quando surgiu a oportunidade que a lei nos dava esse direito
(ELIDIANA DE CARVALHO, integrante da Comissão Provisória do
PSDB de Mombaça e vereadora. Entrevista concedida ao autor em
14/10/2015).
Em 2012, a Comissão Provisória do PSDB em Mombaça foi assumida pela
facção política de Valdomiro Távora, que indicou Antônia Sandra Teixeira como
presidenta. Esse órgão teve vida curta e depois das eleições municipais foi desativado.
Com o retorno da principal liderança do PSDB do Ceará, Tasso Jereissati, ao cargo de
senador nas eleições de 2014, a facção política do ex-prefeito Wilame Barreto Alencar
(PSD) e do então prefeito Ecildo Evangelista Filho (PSD) retomou o controle local da
agremiação. Como Wilame Barreto Alencar destacou: “O Tasso [Jereissati] assumiu um
compromisso que o PSDB ficaria com nosso grupo”.
O PSDB de Mombaça foi então reestruturado como Comissão Provisória em
2015, tendo como presidente Orlando Benevides Filho. Este, embora não tivesse capital
político, era filho de empresário local, Orlando Benevides, aliado à facção do ex-prefeito
Wilame Barreto Alencar. A então vice-prefeita, Claudênia Cavalcante, que era do PTB,
migrou para o PSDB junto com a então vereadora Elidiana de Carvalho, antes filiada ao
PSD.
Quando o ex-prefeito Wilame Barreto Alencar e a vereadora Elidiana de
Carvalho foram questionados sobre qual o papel desempenhado pelos partidos nas
eleições locais, estes ressaltaram que:
Na realidade, os partidos não têm nenhuma estrutura. Os partidos, eu
posso dizer que, são apenas uns aluguéis para candidatura. Não existe
um estudo para se ter uma coerência política. Eu digo sempre que os
partidos do Brasil e no interior eles são partidos de aluguéis. Você usa
por conveniências locais, mas não por você se adequar ao regulamento
que o partido diz. Não é nem regulamento, é uma palavra que estou
dizendo errada. É a ideologia partidária. Então é uma conveniência
local (WILAME BARRETO ALENCAR, vereador pelo PSDB por dois
mandatos, presidente do Diretório e prefeito em duas gestões.
Entrevista concedida ao autor em 16/10/2015).

A gente sente essa dificuldade, né? Acho que os partidos como um todo
eles deixam muito a desejar nessa questão. Inclusive tem pessoas que
como não entende da área política, não são políticos, muita gente pensa
que “aí, eu vou me candidatar porque o partido dá uma estrutura, de
repente oferece alguma condição, eu não tenho condição de ser eleito
não, mas eu vou ver se recebo alguma coisa”, né? E isso é ilusão! Não
existe isso. Principalmente eleição pra vereador que é uma eleição
muito disputada. E a gente não tem, nem no PSDB, nem no PSD,
nenhum dos partidos oferece estrutura, condição financeira, advogado,
285

nada (ELIDIANA DE CARVALHO, integrante da Comissão


Provisória do PSDB de Mombaça e vereadora. Entrevista concedida ao
autor em 14/10/2015).
Nesse raciocínio de “partido de aluguel”, todas as agremiações seriam
equivalentes, já que todas possuem o monopólio da representação política. Porém, as
lideranças locais escolhem alguns partidos para serem candidatos e é a análise dessa
escolha que é necessário investigar. As lideranças locais buscam se aproximar das
lideranças estaduais por meio da filiação aos seus respectivos partidos políticos. As
agremiações que apresentam identidade partidária consolidada no eleitorado ou que
integram a base governista são as mais disputadas pelas facções locais. Embora o fator
decisivo para filiação a uma agremiação específica seja o pragmatismo político e a relação
com as lideranças estaduais, é recorrente a referência a incentivos coletivos como a
identidade partidária em agremiações como o PMDB e o PSDB.
Observa-se que a estrutura de oportunidade para as lideranças locais que
possuem pouco capital político é possibilitada apenas pelas agremiações menores. Já para
os políticos tradicionais, são oferecidos a presidência de partidos maiores, com expressiva
bancada legislativa estadual e federal, e partidos que estão no governo, que significa
barganha por recursos.
Além disso, uma estratégia recorrente que se observa é a colonização de
várias agremiações partidárias por parte dos grupos políticos locais. Como foi ressaltado
na entrevista:
Porque que cada grupo aqui tenta conquistar o máximo de partidos
botando seus afilhados? Só para segurar a questão do tempo ou colocar
algum grupo. [...] Cada partido desse fica atrelado a liderança de um
político maior: ou do prefeito, ou do ex-prefeito, ou de uma liderança
política tradicional. [...] Não é que tenha estrutura partidária não, mas
para uma eleição futura será mais um aliado pra questão do tempo, pra
questão do número de vagas para vereador. Que a gente estava
esperando alguma mudança [na legislação eleitoral] que não houve
(WILAME BARRETO ALENCAR, vereador pelo PSDB por dois
mandatos, presidente do Diretório e prefeito em duas gestões.
Entrevista concedida ao autor em 16/10/2015).
Pelo depoimento acima, o ex-prefeito ressalta que o principal interesse em
controlar várias siglas partidárias seria o aumento do tempo de propaganda de rádio que
cada coligação tem direito. No entanto, a adesão eleitoral por meio de propaganda
eleitoral gratuita no rádio tem pouco impacto em municípios como Mombaça, em que a
campanha eleitoral ocorre majoritariamente por meio de visitas nas casas do eleitor ou
por meio de comícios eleitorais.
286

O principal objetivo para manter o controle sobre várias agremiações


partidárias é estabelecer vínculos com lideranças estaduais que comandam o partido e
evitar que a facção concorrente assuma esse partido no plano local. Em cenário hipotético
do partido se fortalecer no plano nacional ou estadual, o grupo local se beneficiaria,
pegando carona com o crescimento eleitoral. Além disso, tendo vários partidos à
disposição, a facção pode realocar um subfacção política em outras agremiações.
Nas eleições de 2012, o PSDB estava sob controle da facção política de
Valdomiro Távora. Além desse partido, a facção ocupava o PP, que tinha Valdomiro
Távora como presidente da Comissão Provisória, e o PR, que tinha o seu filho, Roberto
Benevides de Castro, como presidente. No plano estadual, o PR era comandado pelo ex-
governador Lúcio Alcântara, aliado político de Valdomiro Távora.
Na eleição estadual de 2014, o PSDB retornou ao comando da facção do então
prefeito Ecildo Evangelista Filho (PMDB) e do ex-prefeito Wilame Barreto Alencar.
Além desse partido, a facção ocupava o PMDB, que tinha o então prefeito Ecildo
Evangelista Filho como presidente, e o PSD que continuava sendo presidido por Wilame
Barreto Alencar. Essa migração partidária é percebida com naturalidade pelas lideranças
locais, como verificamos:
Eu sou presidente do PSD. O prefeito [Ecildo Evangelista Filho] saiu
do PSD e foi pra o PMDB e levou todo mundo! Então quem tá no poder
naturalmente ele consegue aglomerar todas as lideranças e pra onde ele
for o pessoal vai atrás. É natural! Como aconteceu comigo na época em
que eu saí do PSDB e fui pra o PSD, como aconteceu com Dr. Nelson
[Benevides] quando saiu do PDS e foi para o PSDB (WILAME
BARRETO ALENCAR, vereador pelo PSDB por dois mandatos,
presidente do Diretório e prefeito em duas gestões. Entrevista
concedida ao autor em 16/10/2015).
Observamos características similares ao analisarmos o PSDB de Nova
Olinda. Como dito anteriormente, essa agremiação foi inicialmente presidida por
lideranças do PDS. Em 1991, o Diretório Estadual articulando as eleições municipais
acatou a filiação da facção política do ex-prefeito José Alves de Lima, antes filado PFL.
José Alves Lima assumiu o posto de vice-presidente na Comissão Provisória.
Este era uma liderança tradicional no município, tendo ocupado o posto de vice-prefeito
(1967-1970) e de prefeito em duas gestões, pela ARENA (1973-1976) e pelo PDS (1983-
1988). Além disso, o então prefeito José Alencar Alves (PFL) era seu “apadrinhado”
político.
Na pesquisa de campo, foi salientado que essa filiação da facção política de
José Alves Lima foi negociada diretamente com o Diretório Estadual. Somente quando a
287

filiação foi efetivada é que os membros do PSDB local foram informados. O ingresso de
novo membro com notória expressão pública não passou pelos órgãos partidários do
município.
A estratégia de crescimento eleitoral por meio da filiação de notáveis locais
teve êxito e nas eleições de 1992 o PSDB obteve excelente desempenho eleitoral. Elegeu
chapa “puro sangue” ao Executivo municipal, tendo José Alves de Lima como prefeito e
Maria de Fátima Magalhães como vice, e ocupou a maior bancada na Câmara Municipal,
assumindo 4 das 11 vagas. Após esse desempenho eleitoral, a facção dos Lima assumiu
a coalizão dominante do partido.
Com a morte de José Alves de Lima em 1993, sua facção ficou fragilizada e
o PSDB enfrentou crise institucional. A facção política dos Lima passou a ser liderada
pelo filho do antigo líder, Humberto de Lima, que conseguiu manter o controle sobre a
sigla.
Nas eleições de 1996, o PSDB lançou a esposa de Humberto de Lima, a dona
de casa Alzeny de Lima, como candidata a prefeita. Marcada por disputa eleitoral
acirrada, a candidata não foi eleita por uma pequena diferença de votos, 680 votos. A
candidata eleita foi Fábia Brito Alencar (PMDB), médica e esposa do ex-prefeito José
Alencar Alves, que obteve 3.694 votos, 55% dos votos válidos. Embora o PSDB não
tivesse obtido êxito na campanha ao Executivo, percebemos que a agremiação ainda tinha
peso político local, pois assumiu novamente a maior bancada na Câmara Municipal,
ocupando 5 das 11 vagas.
Como o PSDB tinha o controle do Executivo estadual, a agremiação atraía
muitos políticos locais que se filiavam ao “partido do governador” para obter recursos.
Buscando essa aproximação, a então prefeita Fábia Brito Alencar articulou junto ao
Diretório Estadual sua filiação ao PSDB.
Novamente, percebemos que as negociações envolvendo a filiação de
políticos com notória expressão pública ocorreu de cima para baixo, sem existir diálogo
com a instância local. Com a efetivação da filiação da prefeita ao PSDB, os membros
mais próximos da facção política dos Lima acompanham a liderança de Humberto de
Lima na migração para outra sigla.
Nas eleições de 2000, o PSDB apoiou a reeleição de Fábia Brito Alencar. Esta
foi eleita junto com três vereadores. Em 2004, a facção política da prefeita apoiou a
candidatura do empresário local Afonso Sampaio. Este foi eleito prefeito e tornou-se
presidente do PSDB de Nova Olinda. Com o rompimento político entre o então prefeito
288

Afonso Sampaio e a ex-prefeita Fábia Brito Alencar, esta abandona o partido junto com
sua facção. Nas eleições de 2008, Afonso Sampaio foi candidato a reeleição pelo PSDB.
No PSDB, o então prefeito Afonso Sampaio era base eleitoral do deputado
federal Manoel Salviano. O prefeito articulou a votação desse deputado federal no
município nas eleições de 2006 e 2010, fazendo com que obtivesse alta porcentagem de
votos, respectivamente 2.924 votos (38% dos votos válidos) e 2.451 votos (32% dos votos
válidos). Com a migração desse deputado federal para o PSD, Afonso Sampaio o
acompanhou. Quando Afonso Sampaio foi questionado na entrevista porque tinha
acompanhado o deputado federal, este ressaltou que:
Tá filiado ao mesmo partido que o seu deputado contribui para
conseguir recurso. É um laço de amizade mais forte quando você é do
mesmo partido que seu deputado, você se sente mais em casa. A gente
se sente mais a vontade. [Manoel] Salviano já tinha ajudado o
município. Quando eu assumi o município ele já tinha feito algo por
Nova Olinda e continuou me ajudando e eu decidi votar nele por conta
disso, porque ele tava fazendo por mim, pelo meu município. Me
ajudando em Brasília, abrindo as portas e trazendo recursos para Nova
Olinda. No momento, fui atendido com mais vantagem, o município foi
atendido com mais recurso exatamente com o Manuel Salviano e com
o [deputado estadual] Vasques Landim (AFONSO SAMPAIO, ex-
presidente do PSDB de Nova Olinda e prefeito em duas gestões.
Entrevista concedida ao autor em 06/11/2015).
Observa-se que, similar a estratégia eleitoral adotada pelas facções políticas
de Mombaça, Afonso Sampaio desfilia-se do PSDB, mas articula para que uma “pessoa
de confiança” assuma a sigla por ele. Nessa transição, assume como presidente do PSDB
do Nova Olinda o comerciante Antônio Demontier Feitosa.
O PSDB em Nova Olinda apresenta frágil articulação entre as instancias
partidária. A integração do órgão local ocorre mais pela vinculação com os deputados
estaduais e federais do partido, estabelecendo relação personalista de clientela. A
agremiação potencializa essas relações para se estruturar no plano local, porém quando o
partido está na oposição não tem como alimentar sua rede de clientela e finda por
fragilizar-se.
Observando o caso do PSDB de Nova Olinda, percebemos que, embora o
partido esteja atuando de forma ativa na política local desde sua fundação em 1991, a
agremiação foi marcada por muitos períodos de instabilidade. Compreendemos que a
agremiação nunca foi institucionalizado, apesar de historicamente ter apresentado
excelente desempenho eleitoral tanto para o Executivo quanto para o Legislativo.
289

Essa falta de institucionalização é percebida na transição de uma coalizão


dominante para outra. Essas transições não foram pacíficas, sempre ocasionando a saída
de membros da coalizão anterior. Além disso, cabe observar que o partido foi sempre
liderado pela facção que assumia o Executivo municipal, mostrando sua dependência com
o Estado. A organização não foi capaz de gerar incentivos seletivos e tão pouco coletivos
para recrutar e manter seus membros.
Na trajetória da agremiação, muitos foram os PSDB’s, pois o partido era
conformado a partir da facção política local que o colonizava. Podemos mencionar que a
agremiação foi dominada pelas facções políticas-familiares dos Lima, liderado por José
Alves de Lima (1992-1996); dos Alencar, comandada por José Alencar Alves e sua
esposa Fábia Brito Alencar (1996-2009); e dos Sampaio, chefiada por Afonso Sampaio
(2009-2012).
Essa característica do PSDB de Nova Olinda é fruto da estratégia do Diretório
Estadual, pois a coalizão estadual busca fortalecer o partido recorrendo à filiação de
lideranças locais que já possuem capital eleitoral, que já foram testadas no escrutínio
eleitoral. A agremiação não engendra suas próprias lideranças, recorrendo com frequência
a filiação de elites políticas tradicionais para apresentar maior número de prefeitos, vice-
prefeitos e vereadores, compondo um “partido de notáveis”.
O Diretório Estadual quando percebe que a facção política local que compõe
a coalizão dominante do partido no município está enfraquecida ou mesmo não possui
capital eleitoral “toma” o partido dessa facção ou convida a facção política local opositora
para assumir a Comissão Executiva do partido. Assim, grupos políticos que são rivais
históricos na política local sucedem o comando do mesmo partido, demonstrando que a
agremiação é frouxa. Nessa configuração, mais importante do que a instituição, o partido,
é a liderança personalista da facção local que o comanda.
Na entrevista com Afonso Sampaio, este explicita essa sucessão de grupos
políticos locias, como percebemos abaixo:
Porque quando uma liderança sai de um partido no interior, o Diretório
logicamente na Capital ele tem que dar esse Diretório para alguém do
município e o grupo mais forte é quem é prioridade. Então, com certeza
aquele segundo grupo aceita e já vai atrás também, até porque quer ficar
com o partido que era do seu aliado. É uma guerra entre partidos de
municípios pequenos como o nosso (AFONSO SAMPAIO, ex-
presidente do PSDB de Nova Olinda e prefeito em duas gestões.
Entrevista concedida ao autor em 06/11/2015).
290

A partir dessa performance eleitoral e de sua atuação na arena governamental,


o PSDB possui forte identidade partidária no município, sobretudo entre as lideranças
políticas locais. Cabe destacar que esse incentivo coletivo não é suficiente para fazer com
que uma liderança local busque se filiar ou consiga estruturar o partido no município. A
filiação a um partido no plano local depende mais das estratégias político-eleitorais dos
atores locais e menos da identidade partidária, como percebemos na fala da atual
presidente da Comissão Provisória do PSDB em Nova Olinda.
Eu sempre admirei o PSDB, eu sempre fui muito fã de Tasso
[Jereissati], sempre fui! Então, assim, aí surgiu a oportunidade, Afonso
[Sampaio] precisava de uma pessoa pra confiança dele, aí me chamou.
Disse: “Você é muito fanática do PSDB de Tasso [Jereissati]] eu vou
botar você como presidente do partido”. Aí aceitei de cara, porque tenho
um respeito muito grande pelo partido, gosto do partido, admiro muito
o partido (WYLDIANE SAMPAIO, presidenta em exercício da
Comissão Provisória de Nova Olinda. Entrevista concedida ao autor em
25/09/2015).
A entrevistada acima é a “pessoa de confiança” do ex-prefeito Afonso
Sampaio. Ela inicialmente foi filiada ao PFL e depois ao PMDB; embora, como ressaltou
na entrevista, sempre votou em Tasso Jereissati (PSDB), “sempre fui fanática dele,
sempre votei nele. Sempre! Independentemente de qualquer coisa”. Porém, apesar dessa
identificação com o partido, ela não era filiada ao PSDB. Sua filiação dependia da
estratégia político-eleitoral do líder de sua facção política, o ex-prefeito Afonso Sampaio.
Observa-se uma relação pragmática envolvendo as filiações partidárias das
facções políticas locais. Tomemos com paradigma a facção política-familiar dos Lima.
Como vimos, inicialmente o líder da facção, José Alves de Lima, era vinculado ao partido
governista, ARENA/PDS. Depois, acompanhou a liderança do ex-governador Adauto
Bezerra e migrou para o PFL. Como o crescimento do PSDB, após a filiação do
governador Tasso Jereissati, o líder da facção filiou-se a esse partido. Porém, como a
facção política enfraqueceu após perder as eleições municipais de 1996, esta não
conseguiu manter-se como “dona” do partido.
Em seguida, o então líder da facção, Humberto de Lima, migrou para o PPS.
A escolha por essa agremiação ocorreu por influência de Ciro Ferreira Gomes que foi
candidato a presidente da República pelo partido em 1998. Humberto de Lima foi
candidato a prefeito nas eleições de 2000. Marcado por um cenário de acirramento na
disputa, a facção política perdeu novamente as eleições majoritárias por pequena
diferença, 221 votos, embora tivesse elegido a maior bancada na Câmara Municipal, cinco
vereadores.
291

Com o declínio do PPS no estado após a saída de Ciro Ferreira Gomes, essa
facção política migrou para o PMDB. Por meio desse partido, apresentou candidatura ao
Executivo municipal nas eleições de 2004, o agricultor Francisco Jucinê Sampaio, e ao
Legislativo, como a esposa de Humberto de Lima, Alzeny de Lima. O resultado eleitoral
foi novamente desfavorável à facção, o candidato a prefeito não foi eleito, obtendo 3.277
votos (41% dos votos válidos), e também não elegeu nenhum vereador.
Nas eleições de 2008, a facção estava filiada ao PSB, partido do então
governador Cid Ferreira Gomes, e conseguiu representação na Câmara Municipal com a
eleição de Alzeny de Lima. Porém, a candidata a prefeita Fábia Alencar Alves, que tinha
como vice Humberto de Lima, não foi eleita. Na eleição municipal de 2012, Alzeny de
Lima foi candidata novamente a vereadora filiada a outro partido, o PSD, não tendo sido
eleito.
Percebemos assim que a instrumentalização do partido como máquina
eleitoral local é praticada tanto pelo Diretório Estadual quanto pelas lideranças políticas
locais. O primeiro busca expansão imediata da organização por meio da filiação de
notáveis locais para disputar os pleitos. O segundo procura maximizar os votos por meio
da filiação a um partido já consolidado no mercado eleitoral ou em ascensão.
Observado a estrutura organizativa do PSDB no plano estadual e municipal,
vamos investigar o grau de centralização das decisões partidárias.

4.3- Grau de centralização nas eleições


Analisando os estatutos de 2011 e 2013, observa-se que eles preveem
centralização formal por parte do Diretório Estadual nas definições das eleições
municipais. Embora a Convenção Municipal seja responsável por escolher ou proclamar
os candidatos a prefeito, vice-prefeito e vereador nos respectivos municípios (Art. 95), o
Diretório Estadual pode estabelecer normas e diretrizes para a escolha de candidatos e a
formação de coligações para as eleições municipais, podendo intervir nos Diretórios
Municipais e decidir sobre possíveis dissoluções de alianças ou destituições de Comissões
Executivas (Art. 81).
A centralização no nível estadual para eleições municipais foi ressaltada em
uma resolução da Comissão Executiva Nacional. Pelas regras do estatuto, esse órgão tem
o poder de baixar resoluções quanto a eleições prévias para escolha de candidatos (Art.
61). No uso dessa atribuição, foram publicadas resoluções regulamentando as duas
eleições.
292

Em 2012, a primeira resolução do partido instituiu poder à Comissão


Executiva Estadual para decidir sobre as eleições locais em municípios com mais de
50.000 eleitores. Como percebemos nos três artigos abaixo:
Art. 1º. A celebração de coligações para as eleições majoritárias e
proporcionais nos municípios que tinham até 50.000 eleitores em 31 de
dezembro de 2011 e naqueles com mais de 50.000 eleitores na mesma
data, estará sujeita à análise e aprovação, respectivamente, da Comissão
Executiva Estadual correspondente ou da Comissão Executiva
Nacional, a critério de cada uma dessas instâncias.
Art. 2º. A Comissão Executiva Nacional ou a Comissão Executiva
Estadual, conforme o caso, poderá orientar e intervir na escolha de
candidatos, podendo, ainda, proibir o lançamento de candidaturas nos
municípios, bem como intervir na celebração de coligações.
Art. 3º. Se a Convenção Municipal desobedecer as decisões e diretrizes
da Comissão Executiva Estadual ou Comissão Executiva Nacional,
conforme o disposto nos artigos anteriores, poderá ter todos os seus atos
anulados (§§ 2º e 3º do art. 7º, da Lei 9.504/97) (PARTIDO DA
SOCIAL DEMOCRACIA BRASILEIRA. Resolução do Conselho
Executivo Nacional n° 001/2012).
Posteriormente, foi publicada outra resolução, regulamentando a distribuição
de recursos para campanha eleitoral. Por meio desse documento, percebemos que a
prioridade do Diretório Nacional era financiar as eleições majoritárias. Como vemos
abaixo:
Art. 1º As doações de pessoas físicas ou jurídicas recebidas pela
Direção Nacional do PSDB serão preferencialmente aplicadas nas
campanhas municipais para eleição de prefeitos, mas poderão ser
distribuídas pelas demais eleições para vereador a critério do Presidente
Nacional do PSDB, considerando a necessidade de fortalecimento do
Partido bem como de suas candidaturas (PARTIDO DA SOCIAL
DEMOCRACIA BRASILEIRA. Resolução do Conselho Executivo
Nacional n° 002/2012).
Quando observamos as eleições estaduais de 2014, notamos que o Diretório
Nacional, presidido pelo então senador Aécio Neves, publicou uma resolução que
garantia a esse órgão o controle formal sobre as decisões eleitorais. O objetivo seria a
construção de unidade nacional para garantir o interesse partidário e possibilitar a
campanha do candidato a presidente. Observa-se alto grau de centralização, como vemos
nos artigos abaixo:
Art. 2º. A composição de chapas às eleições majoritárias e
proporcionais nos estados, seja com candidaturas exclusivas de filiados,
ou em celebração de coligações, ficam submetidas a aprovação da
Comissão Executiva Nacional, sendo que o seu anúncio e formalização
depende desta.
Art. 3º. A Comissão Executiva Nacional, a qualquer tempo, pode
orientar e intervir na escolha de candidatos e na celebração de
coligação.
293

Art. 4º. A Comissão Executiva Estadual ou a Comissão Provisória


Estadual encaminha, obrigatoriamente, à Comissão Executiva
Nacional, até o dia 30 de março de 2014, análise da conjuntura política
no estado e situação das potenciais alianças com outros partidos e
candidatos às eleições majoritária e proporcional.
Art. 10. A Convenção Estadual que contrariar às diretrizes estabelecidas
pela Comissão Executiva Nacional será anulada, assim como todos os
atos dela decorrentes, em ato do seu Presidente que, também, decretará
a intervenção no órgão estadual e consequente nomeação da comissão
interventora (PARTIDO DA SOCIAL DEMOCRACIA
BRASILEIRA. Resolução do Conselho Executivo Nacional n°
001/2014).
Examinando os dados no Ceará, percebemos que entre os partidos analisados
na pesquisa, o PSDB é o que apresenta menor capilaridade. Em 2012, a agremiação
apresentava 163 órgãos partidários locais, abrangendo 88% dos municípios, sendo 77
Comissões Provisórias e 86 Diretórios. Apesar da existência dessa estrutura organizativa,
o partido apresentou candidatos em apenas 138 municípios, correspondendo a 75% do
território estadual.
Para o Executivo municipal, o PSDB apresentou candidatos ao cargo de
prefeito em apenas 30 municípios (16%). Esse percentual indica que a sigla não se
mostrava atrativa para os políticos profissionais, visto que o partido estava na oposição e
não tinha conseguido eleger sua principal liderança, Tasso Jereissati, em 2010. Dessas
candidaturas ao Executivo, somente 19 eram competitivas. O partido conseguiu eleger 13
prefeitos de municípios de pequeno porte, 7% das prefeituras. Esse percentual
representou o pior desempenho eleitoral da agremiação ao longo da sua trajetória
histórica.
O PSDB apresentou candidatos ao cargo de vice-prefeito em 38 municípios
(8%), obtendo vitória em 17 deles. O partido ainda se apresentava atrativo para compor
coligações e ocupar a vaga de vice-prefeito. Isso pode ser observado no desempenho
eleitoral, pois 65% dessas candidaturas eram competitivas.
O partido apresentou 14 chapas “puro sangue”, sendo metade deles pouco
competitivas. O que sugere a hipótese de que a ausência de coligação para as eleições
majoritárias indica fragilidade do partido. No entanto, em cinco município, o partido
elegeu essas chapas “puro sangue”, demonstrando que o PSDB se mantinha fortificado
em algumas “ilhas”, como nas cidades de Abaiara, Horizonte, Mucambo, Poranga e
Viçosa do Ceará, que historicamente apresentam alto desempenho eleitoral.
Quanto à disputa para o Legislativo municipal, o PSDB apresentou 718
candidatos. Esse valor foi inferior à quantidade de candidaturas ao cargo de vereador
294

deferidas na eleição de 2008, que contabilizou 1.124 candidatos. A sigla conseguiu eleger
apenas 176 vereadores no estado (8,2%). Quando observamos a quantidade de municípios
em que o PSDB elegeu no mínimo um vereador, percebemos que o partido possuía baixa
densidade eleitoral, pois conseguiu representatividade em apenas 89 Câmaras
Municipais, abrangendo 48% dos municípios do estado.
Esses dados demonstram que o partido estava fragilizado para disputar as
eleições de 2012 e 2014. Feito esse panorama das eleições, vamos analisar os conjuntos
das variáveis de articulação entre as instâncias partidárias.

a) Formação de aliança e coligação


Quando analisamos a atividade do Diretório Estadual do PSDB no que tange
ao estabelecimento de coligação no plano municipal, percebemos que somente a eleição
de Fortaleza é articulada por esse Diretório. Similar aos outros partidos, a política de
aliança para as eleições de Fortaleza é dependente da estratégia eleitoral para as eleições
estaduais.
No pleito de 2012, o PSDB em Fortaleza estava isolado, não conseguiu
compor aliança eleitoral com nenhum partido. Na pesquisa de campo, foi destacado que
o PSDB tentou aliança com o DEM. Este partido tinha como principal liderança o ex-
vice-governador de Tasso Jereissati (1995-1998) e candidato a prefeito de Fortaleza em
2004 e 2008, Moroni Torgan. Como o DEM articulava o lançamento de Moroni Torgan
a prefeito, o PSDB não quis participar da coligação ocupando o cargo de vice-prefeito. A
estratégia do PSDB para essa eleição era apresentar candidatura própria, como
percebemos no depoimento abaixo:
Pelo que acompanhei, percebi que dentro do partido havia o desejo de
lançar candidato próprio. Porque eleição sempre anima todo mundo,
eleição por mais que o sujeito não esteja filiado ele vem, participa, se
engaja, ele gosta do candidato de forma pessoal e vem. Então, como em
2008 o PSDB tinha entrado como vice e em 2010 o Marcos [César] Cals
tinha tirado uma votação boa em Fortaleza, quando se candidatou a
governador, o partido tava mobilizado para a candidatura própria, pois
tinha candidatos conhecidos. [...] O objetivo era que através da eleição
o partido pudesse se estruturar novamente (TOMÁS FIGUEIREDO
FILHO, ex-presidente do Diretório do PSDB de Fortaleza (2013-2015),
deputado estadual (2007-2010) e eleito deputado federal suplente em
2010. Entrevista concedida ao autor em 25/11/2015).
Assim, percebe-se que o lançamento de candidatura “puro sangue” em
Fortaleza não significava fortalecimento do partido ou pureza ideológica. Ao contrário,
representava fragilidade, pois o partido não conseguiu estabelecer alianças com outras
295

agremiações. A expectativa era que através do ativismo eleitoral a agremiação pudesse


penetrar nos bairros da capital e se estruturar.
Observando as eleições de 2012 em Mombaça, percebemos que o PSDB
também estava fragilizado. A agremiação estava sob controle do líder político Valdomiro
Távora. Para essa disputa eleitoral, essa facção política reafirmou a aliança estabelecida
com a facção dos Benevides. Nas eleições de 2008, os dois grupos estavam alinhados e
apresentaram como candidatos ao Executivo municipal o ex-prefeito Nelson Benevides
(PSB) e o filho de Valdomiro Távora, Roberto Benevides de Castro (PR). Nessa eleição,
a chapa não obteve sucesso eleitoral, alcançando 10.363 votos (44% dos votos válidos).
Nesse pleito, a aliança entre as duas facções envolvia coligação de cinco
partidos. Três dessas agremiações eram colonizadas pela facção do Valdomiro Távora,
como o PSDB, PP e PR, e duas pela facção dos Benevides, como o PSB, que era presidido
pelo ex-prefeito Nelson Benevides, e o PRB, que era presidido pelo ex-deputado estadual
Newton Benevides.
Na pesquisa de campo, foi ressaltado que no PSDB não havia articulação
entre a instância partidária local e a estadual. O partido em Mombaça teve plena
autonomia para definir sua estratégia de aliança e coligação. Existia apenas um acordo
informal com o presidente do Diretório Estadual, Luiz Pontes, que o PSDB em Mombaça
participaria das eleições locais apoiando a aliança da facção de Valdomiro Távora.
Analisando o PSDB de Nova Olinda, percebemos também a ausência de
articulação entre as instâncias partidárias e, em consequência disso, a autonomia do plano
local para estabelecer suas estratégias políticas.
O presidente da agremiação em 2012 era Antônio Demontier Feitosa. Este era
delegado do partido quando o ex-prefeito Afonso Sampaio era presidente da agremiação.
Com a migração dessa liderança para o PSD, Antônio Demontier Feitosa assumiu a
presidência do partido. Inicialmente o PSDB obteve o status de Comissão Provisória e
um mês depois foi estruturado como Diretório102.
Nesse pleito de 2012, o PSDB participou de coligação junto com outros
partidos — PSD, PMDB, PP, PTB, DEM e PRP — na disputa ao Executivo municipal
que tinha Ronaldo Sampaio (PSD) como candidato a prefeito e Elízio Manoel Galdino
(PMDB) como vice. O candidato a prefeito era então vereador, tendo sido eleito em 2008

102
No Filiaweb-TSE, o ex-prefeito Afonso Sampaio consta como membro, especificamente no cargo de
vice-presidente e delegado, do PSDB de Nova Olinda. Porém, na entrevista realizada, este ressaltou que
tinha migrado para o PSD em 2011.
296

pelo PMDB; sua candidatura foi articulada por seu primo, o então prefeito Afonso
Sampaio.
Na pesquisa de campo, foi destacado que o PSDB no plano local tinha
autonomia para decidir sua estratégia de formação de aliança e de coligação. Além disso,
prevalecia a informalidade, pois a principal liderança do PSDB, Afonso Sampaio, não era
filiada ao partido e o presidente da agremiação, Antônio Demontier Feitosa, não tinha
autonomia para ditar os rumos da organização.
Quando Antônio Demontier Feitosa foi questionado que atividade
desenvolvia no partido, já que as decisões eram estabelecidas informalmente por Afonso
Sampaio, este respondeu que
Era tipo um vaqueiro. Vaqueiro tá ali para segurar um partido, mas as
coordenadas quem mandava era Afonso [Sampaio]. Era mais um
partido dele, que ele botava uma pessoa de confiança dele pra tomar de
conta, sem voz ativa pra alguma coisa, nem pra ter atitude de
candidatura ou de debater alguma coisa dentro. Só pra manter... as
decisões eram dele. Aí não era interessante para mim (ANTÔNIO
DEMONTIER FEITOSA, ex-presidente do PSDB de Nova Olinda.
Entrevista concedida ao autor em 23/09/2015).
Quanto a formação de alianças para eleições estaduais no Ceará, percebemos
um grau de articulação que inexiste no plano municipal. Como comentado anteriormente,
o Diretório Nacional publicou resoluções para centralizar as decisões no partido.
Buscava-se potencializar a eleição a presidente da República do então presidente nacional
do PSDB, o senador Aécio Neves. Na pesquisa de campo, foi destacado que o Diretório
Nacional exercia pressão para que o Diretório Estadual no Ceará montasse estrutura de
campanha para dar suporte a eleição presidencial, como por exemplo apresentando
candidato ao governo do estado.
Porém, o PSDB cearense ainda estava fragilizado com a derrota de Tasso
Jereissati em 2010, o baixo desempenho eleitoral em 2012 e o lugar de oposição assumido
pela agremiação no segundo governo de Cid Gomes (2011-2014). Ocupar a oposição foi
um preço caro a ser pago por um partido que nasceu e se institucionalizou ocupando
postos no governo. Assim, o PSDB não tinha condições de apresentar candidato próprio
ao Executivo estadual em 2014, como é destacado abaixo:
[...] porque nós não tínhamos, a não ser que fosse o candidato o senador
Tasso [Jereissati], nós não tínhamos condições de ter um candidato
competitivo na eleição. Nós teríamos um candidato, que se a gente
apresentasse um nome, qualquer que fosse, por menos novo que ele
fosse, por exemplo, vamos dizer que eu fosse candidato a governador,
né? Ia partir de um índice de desconhecimento violentíssimo,
praticamente noventa e tantos por cento e ia passar a ficar conhecido ao
297

longo da eleição, não sendo tempo suficiente, com as condições que nós
tínhamos, de chegar a ir a um segundo turno (TOMÁS FIGUEIREDO
FILHO, ex-presidente do Diretório do PSDB de Fortaleza (2013-2015),
deputado estadual (2007-2010) e eleito deputado federal suplente em
2010. Entrevista concedida ao autor em 25/11/2015).
Ao assumir a oposição, o PSDB se aproximou do PR. Este partido era liderado
por Lúcio Alcântara, ex-governador e candidato ao Executivo estadual em 2006 (PSDB)
e 2010 (PR); e pelo ex-prefeito de Maracanaú (2005-2012), Roberto Pessoa. Como foi
ressaltado por um informante, quando o “período de conversa” que antecede as
convenções partidárias foi iniciado, as duas agremiações já apresentavam forte sintonia
em função das conversas constantes que suas lideranças já vinham tendo ao longo do
tempo.
Posteriormente, quando o PMDB assumiu a oposição, como vimos no
capítulo 2, o PSDB foi procurado por essa agremiação. O objetivo era estruturar uma
chapa “antiferreiragomismo”. A aliança entre PSDB, PMDB e PR ocorreu no âmbito
regional e o Diretório Estadual do PSDB teve autonomia para selar esse acordo.
Porém, nessa aliança existia empecilho quanto ao apoio à eleição
presidencial. Isso porque o PMDB estadual apoiava Dilma Rousseff (PT), que tinha o
presidente nacional desse partido, Michel Temer (PMDB), como vice-presidente; e o
PSDB estadual apoiava o candidato do partido, Aécio Neves (PSDB). Esse obstáculo foi
destacado na entrevista:
Até que chegou um determinado momento que [recapitulação de um
suposto diálogo] “oh, nós vamos fazer um pacto. A gente tem o
interesse estadual comum, e isso é o nosso interesse primordial, porque
nós moramos é aqui no estado do Ceará. E temos um interesse nacional
conflitante. Então cada um faz a campanha do seu candidato a
presidente e isola essa campanha do candidato a presidente da
campanha estadual”. Uma equação muito difícil de ser fechada, mas
que, para nós realmente pudéssemos fortalecer estadualmente, nós
terminamos abrindo mão dessa exclusividade. Até tentamos, o senador
Tasso [Jereissati] até tentou muito trazer, fazer com que o senador
Eunício [Oliveira] apoiasse o nosso candidato a presidente, o que não
aconteceu. Mas a gente fez esse entendimento [recapitulação de um
suposto diálogo]: “olha, eu vou fazer a minha campanha para candidato
a presidente, você vai fazendo a sua e a gente vai tentar fazer com que
essas campanhas nacionais elas funcionem à parte da campanha
estadual”. É tanto que tinha o comitê do Aécio [Neves], específico, em
outro lugar diferente do comitê de campanha (TOMÁS FIGUEIREDO
FILHO, ex-presidente do Diretório do PSDB de Fortaleza (2013-2015),
deputado estadual (2007-2010) e eleito deputado federal suplente em
2010. Entrevista concedida ao autor em 25/11/2015).
Na entrevista, foi ressaltado que o Diretório Nacional acatou essa aliança
regional na condição do PSDB cearense apresentar candidato que pudesse potencializar
298

a campanha de Aécio Neves a presidente da República. No acordo final, o PSDB


apresentaria o candidato ao Senado para promover a campanha presidencial do partido,
como veremos adiante.

b) Seleção de candidatos
Similar ao que foi evidenciado no tópico anterior, por não apresentar
integração entre seus órgãos partidários, o PSDB concedeu autonomia para que os órgãos
municipais selecionassem seus candidatos. A exceção foi a capital, que se mostrou
centralizada pelo líder do partido, Tasso Jereissati.
Em Fortaleza, o PSDB apresentou como candidato a prefeito o ex-deputado
estadual (1987-2010) e ex-presidente do Diretório Estadual do PSDB (2011), Marcos
César Cals; e como candidato a vice-prefeito o então deputado estadual (1991-2014)
Fernando Hugo. Na matéria intitulada "PSDB oficializa candidatura de Marcos Cals a
prefeito de Fortaleza" temos um depoimento do então presidente do PSDB de Fortaleza,
Pedro Fiúza. Este ressaltou que “os nomes foram escolhidos pela militância. Há muito
tempo, nós queríamos esses dois nomes” (G1 CEARÁ, 30 jun. 2012).
Porém, cabe destacar que a afirmação de que a seleção dos candidatos foi
feita pela militância do partido é um recurso retórico, pois a Convenção Partidária apenas
homologou a escolha já efetivada pelo líder do partido, Tasso Jereissati. Como destacou
um colaborador da pesquisa:
Na verdade, quem faz a escolha dos candidatos é o próprio Tasso
[Jereissati]. Mesmo ele mais distante da política nesse período, era ele
que escolhia os candidatos, sobretudo para o cargo de prefeito. [...]
Nessa eleição, o partido não tinha um leque de escolha muito ampla
não. Isso porque o partido enfrentou uma sangria muito grande em 2011
quando muitos deputados foram para um partido novo, o PSD. Então,
no PSDB tinha o Marcos [César] Cals que já era conhecido, pois
aparecia na imprensa e tinha sido candidato a governador na eleição
anterior. E tinha também um deputado estadual que era forte na
oposição, Dr. [Fernando] Hugo. Então, não tinha muita escolha e o
partido acatou a decisão do Tasso [Jereissati] de apresentar os dois
(MILITANTE DO PSDB DE FORTALEZA. Integrante do Diretório
de Fortaleza que concedeu entrevista, mas não quis ser identificado.
Entrevista realizada em 25/11/2015).
Quanto a seleção de candidatos ao Legislativo municipal, foi informado nas
entrevistas que o partido apresentou “baixa procura” de lideranças que queriam se
candidatar. Como o partido não participou de coligação, o PSDB dispunha de número
inédito de vagas e o militante que quisesse concorrer obteria facilmente a legenda. Foram
299

apresentados 28 candidatos ao cargo de vereador, sendo apenas um eleito, o radialista


Carlos Dutra, com 9.359 votos.
Observando a lista de aspirantes ao Legislativo municipal, percebe-se que o
partido apresentou candidaturas pouco competitivas apenas para preencher as vagas,
sobretudo a cota de gênero. De acordo com a legislação eleitoral, os partidos ou
coligações deverão preencher o mínimo de 30% e o máximo de 70% para candidaturas
de cada sexo (Lei nº 9.504/1997, art. 10, § 3º). No caso, o partido poderia apresentar cota
de 30% para candidaturas masculinas. Porém, como a literatura atesta as dificuldades
enfrentadas pelas mulheres na participação efetiva na política institucional (MIGUEL;
BIROLI, 2010; MENEGUELLO; MANO; GORSKI, 2012), essa cota dos 30% finda por
ser ocupada por mulheres.
No PSDB, as mulheres são as que proporcionalmente obtiveram a menor
quantidade de votos. Como constatamos nos três candidatos menos votados, três
mulheres: a estudante Carolina Cavalcante, 20 votos; a advogada Eline Marques, 10
votos; e a dona de casa Idilmar Sousa, 1 voto. Somando os votos das oito candidatas,
totaliza-se apenas 986 votos, que corresponde a 2,7% dos 35.514 votos que o partido
obteve nas eleições para o Legislativo em Fortaleza.
Observando a escolha de candidatos nos outros dois órgãos municipais,
Mombaça e Nova Olinda, observamos que tiveram plena autonomia para selecionar seus
candidatos. Isso porque não havia articulação entre a instância partidária local e a
estadual.
O PSDB de Mombaça participou de coligação que tinha como candidatos ao
Executivo o médico Nelson Benevides (PSB) e como vice o professor Delmar Pinheiro
(PP), este foi indicado por Valdomiro Távora (PP). No entanto, a candidatura ao
Executivo foi indeferida com recurso pelo TSE e a coligação apresentou apenas
candidatos ao Legislativo.
Nas entrevistas, foi informado que o PSDB não apresentou nenhum candidato
ao Legislativo, visto que os aliados do líder Valdomiro Távora preferiram concorrer pelos
outros partidos controlados pela facção, como PP e PR. O resultado eleitoral mostrou que
a facção política de Valdomiro Távora ainda tinha peso na disputa local, pois o PP e o PR
juntos elegeram 46% da Câmara Municipal.
Na pesquisa de campo no Diretório Estadual do PSDB, foi ressaltado que a
estratégia de “entregar” o partido à facção de Valdomiro Távora foi percebida como erro
de cálculo político. Esperava-se crescimento eleitoral com a entrada da facção, mas isso
300

não ocorreu. Depois das eleições, a Comissão Provisória do PSDB de Mombaça foi
destituída pelo Diretório Estadual.
Analisando a seleção de candidatos no PSDB de Nova Olinda, percebemos
também plena autonomia do plano local. Na entrevista realizada com o então presidente
do PSDB, Antônio Demontier Feitosa, este ressaltou que assumiu esse cargo para
articular as eleições municipais de 2012. Como percebemos abaixo:
O projeto que eu tinha para o PSDB era que o partido ia ter candidato a
vereador, a prefeito, a vice [...] Fiquei no partido porque ele [Afonso
Sampaio] tinha compromisso na época de o PSDB sairia na chapa
majoritária dele, como vice, ou como prefeito. Só que ele tirou até os
vereadores. Saiu todos os vereadores. Teve dois candidatos a vereador,
mas só pra cumprir tabela mesmo. É tanto que o mais bem votado dos
dois acho que tirou 36 votos, o outro tirou 8 votos. Aí ele saiu, tirou os
vereadores que tinha sido eleito do PSDB na época. Saiu também. E o
partido ficou só como para somar tempo de legenda. Uma legenda a
mais e tempo de propaganda eleitoral. Aí não era meu objetivo
participar de um partido desse jeito. Aí quando passou a eleição
entreguei a presidência a ele. É tanto que eu estou com a [Comissão]
Provisória... a desfiliação pronta pra me entregar a atual presidente pra
mim sair do PSDB (ANTÔNIO DEMONTIER FEITOSA, ex-
presidente do PSDB de Nova Olinda. Entrevista concedida ao autor em
23/09/2015).
Como foi comentado acima, nesse pleito o PSDB não apresentou candidato
ao Executivo municipal, lançou apenas dois candidatos ao Legislativo. Estes, porém,
eram inexpressivos na política local, sendo indicados pelo líder político Afonso Sampaio,
que mesmo não integrando a agremiação tinha controle sobre as atividades partidárias.
Estes candidatos não possuíam capital político e foram lançados apenas para cumprir as
exigências legais para que o órgão partidário municipal se mantivesse ativo.
Em entrevista, Antônio Demontier Feitosa ressaltou que o comando do PSDB
em Nova Olinda foi mantido informalmente com o então prefeito Afonso Sampaio porque
este tinha prometido ao presidente do Diretório Estadual, Luiz Pontes, que lançaria
candidato ao Executivo nas eleições municipais de 2012.
Ao analisarmos a seleção de candidatos para eleições estaduais no Ceará,
percebemos novamente articulação que não ocorre no plano municipal. O Diretório
Estadual, dirigido pelo líder Tasso Jereissati, negociou a escolha dos candidatos.
A coligação com o PMDB em 2014 deu autonomia para que o PSDB e seus
aliados (PR e DEM) indicassem os candidatos ao Senado e também a vaga de vice-
governador. Como comentado anteriormente, no acordo final o PR ocupou a vaga de vice-
governador, indicando Roberto Pessoa; o PSDB ocupou a vaga de titular e 2º suplente
para Senado, designando respectivamente o líder Tasso Jereissati e o médico Fernando
301

Façanha Filho; e o DEM, a vaga de 1º suplente no Senado, indicando o empresário


Francisco Feitosa (Chiquinho Feitosa).
Na entrevista abaixo percebemos as negociações em torno das indicações:
Então, como a gente ficou com a vaga de candidatura ao Senado, era
natural que o vice fosse o Dr. Roberto Pessoa. Mas enquanto o Tasso
[Jereissati] ainda não tava definido como candidato, muito
provavelmente o candidato a senador seria o Roberto Pessoa e a vice
seria do PSDB. Nesse jogo havia essa possibilidade. O jogo mudou, é
dinâmico e tudo acontece muito rápido. O senador Tasso [Jereissati]
terminou sendo candidato e instado pelo PSDB nacional, Fernando
Henrique [Cardoso] e outras lideranças com quem ele tem muito
contato, e o PR entrou naturalmente na vice, sem nenhum desgaste. [...]
Já a suplência no Senado coube a Chiquinho Feitosa. Ele que já tinha
sido suplente na candidatura anterior [eleições de 2010], que é do DEM,
que é o partido nacionalmente aliado do PSDB mas que aqui no estado
do Ceará tinha uma aproximação com o governador. A intenção era
aproximar realmente, resgatá-los e reaproximá-los. E o Fernando
[Façanha Filho] porque além de ser do partido, ele tem uma penetração
social importante. É um médico renomado. É uma figura que tem uma
respeitabilidade junto a sociedade civil muito grande. E a gente
enxergava naquele momento que seria muito importante tê-lo na chapa
como uma figura assim, como neófito. A bem dizer, ele não é uma
figura de fora da política, ele sempre foi dentro da política, até porque
integrava o Diretório Municipal. Mas era bem enxergado pela
sociedade civil. Não era aquele político de carreira, não era um político
que já tava desgastado pelo processo. Era um político que entrava assim
como membro da sociedade civil participando da política (TOMÁS
FIGUEIREDO FILHO, ex-presidente do Diretório do PSDB de
Fortaleza (2013-2015), deputado estadual (2007-2010) e eleito
deputado federal suplente em 2010. Entrevista concedida ao autor em
25/11/2015).
Quanto à seleção de candidatos para as disputas proporcionais, percebemos
semelhança com o PMDB. O processo é centralizado por uma comissão criada pelo
Diretório Estadual, embora a seleção final seja negociada com o líder do partido, Tasso
Jereissati. Na pesquisa de campo, foi destacado que o partido dá prioridade de legenda a
incumbents e militantes que possuem capilaridade regional, setorial ou que tenham
penetração em determinados nichos da sociedade ou em determinados públicos. Não
existe critérios formais nessa seleção, como é destacado abaixo:
São diversos fatores, não há uma escolha com critérios efetivamente
objetivos, pré-definidos. Isso vai de acordo com a quantidade de vagas,
com a quantidade de interessados, há um rearranjo. O mais importante
nas questões partidárias é negociar sempre e dialogar sempre pra que
aquele que não foi possível que fosse candidato se agregue a campanha
de alguém, que esteja participando da campanha majoritária e que não
fique, que não crie uma aresta com esta pessoa, que ela saiba que tem
uma outra oportunidade, tem uma outra campanha (TOMÁS
FIGUEIREDO FILHO, ex-presidente do Diretório do PSDB de
Fortaleza (2013-2015), deputado estadual (2007-2010) e eleito
302

deputado federal suplente em 2010. Entrevista concedida ao autor em


25/11/2015).
Nas eleições de 2014, o PSDB cearense presentou 8 candidatos ao cargo de
deputado federal e 17 ao cargo de deputado estadual. No Anexo 7, temos a lista de todos
os candidatos apresentados pela agremiação. Observando essa informação, percebemos
semelhanças com a lista de candidatos do PMDB, em que prevalecem profissionais
liberais, como advogados e médicos, ou políticos que apresentam apoio de base territorial.
Além disso, muitos aspirantes não apresentavam inserção na política partidária, sendo
candidatos pela primeira vez. A concessão de legenda para esses militantes sem capital
político ocorreu porque o partido apresentou baixa procura de políticos profissionais que
queriam se candidatos pelo PSDB.
Semelhante aos outros dois partidos, percebe-se graus distintos de controle
quanto à centralização do Diretório Nacional na seleção de candidatos. Quando se trata
de candidato ao Executivo estadual ou ao Senado, o Diretório Nacional acompanha esse
processo de forma mais intensa. Caba destacar a pressão exercida pelo Diretório Nacional
para que o partido apresentasse no estado candidato que potencializasse a campanha
presidencial. Quanto à lista de deputados federais ou estaduais, o Diretório Estadual tem
plena autonomia para lançar candidatos.

c) Distribuição de recursos
Durante a pesquisa de campo, foi destacado que o Diretório Estadual obteve
nas duas eleições analisadas poucos recursos para as campanhas eleitorais. Observando
as transferências do Diretório Nacional para as eleições no Ceará, percebemos que dentre
os partidos investigados, os candidatos do PSDB cearense foram os que receberam a
menor porcentagem de recursos. De acordo com os dados do SPCE-TSE, nas eleições de
2012, o Diretório Nacional do PSDB totalizou receita de R$ 47.410.623,68, sendo 0,9%
transferido para as candidaturas do Ceará, somando R$ 460.000,00. Em 2014, o valor foi
praticamente igual. Dos R$ 58.480.888,71 arrecadados pelo Diretório Nacional, apenas
0,6% foi transferido para os candidatos do Ceará, totalizando R$ 400.000,00.
Analisando a transferência para as eleições de 2012 no Ceará, percebemos
que todo o recurso foi destinado às candidaturas do PSDB. Além disso, a maior parte do
recurso foi transferido às campanhas do Executivo. O candidato ao Executivo de
Fortaleza, Marcos César Cals, concentrou 75% dos recursos, porém sua candidatura não
foi competitiva, obtendo baixo desempenho eleitoral. Como vemos na Tabela seguinte.
303

Tabela 19 - Transferência do Diretório Nacional do PSDB ao Executivo municipal


VALOR
VOTOS % VOTOS
CANDIDATO MUNICÍPIO SITUAÇÃO RECEBIDO
NOMINAIS NOMINAIS
(R$)
Marcos César
Fortaleza 30.457 2,4 Não eleito 235.000,00
Cals de Oliveira
Maria Rizoleta Dep. Irapuan
3.202 59,08 Eleita 25.000,00
Pinheiro Moreira Pinheiro
Francisco
Jaguaribara 3.470 83,82 Eleito 25.000,00
Holanda Guedes
Tomás Antônio
Albuquerque de
Santa
Paula Pessoa - 8.956 33,84 Não eleito 25.000,00
Quitéria
Tomás Figueiredo
Filho
TOTAL 310.000,00
Fonte: Elaboração própria a partir dos dados do SPCE-TSE.

As campanhas ao Legislativo obtiveram apenas 32,6% dos recursos, que


correspondeu a R$ 150.000,00. Os únicos candidatos que obtiveram recursos foram os
que competiam para Câmara Municipal de Fortaleza, como vemos na Tabela abaixo.

Tabela 20 - Transferência do Diretório Nacional do PSDB ao Legislativo municipal


VOTOS VALOR
CANDIDATO VÍNCULO SOCIAL SITUAÇÃO
NOMINAIS RECEBIDO (R$)
Empresário e 20.000,00
Renan Ehrich Colares 7.416 Suplente
estudante
Vinculado aos
carismáticos — 20.000,00
Carlos Matos Lima 6.177 Suplente
Comunidade Católica
Shalom
Estudante, filho do
Pedro Victor Colares deputado federal
3.767 Suplente 110.000,00
Gomes de Matos Raimundo Gomes de
Matos
TOTAL 150.000,00
Fonte: Elaboração própria a partir dos dados do SPCE-TSE.

Percebe-se que os candidatos com maiores recursos não foram eleitos. Cabe
destacar que o filho do deputado federal Raimundo Gomes de Matos, Pedro Victor Gomes
de Matos, concentrou 73% dos recursos e mesmo assim obteve baixa votação. O único
vereador eleito pelo PSDB em Fortaleza foi o pastor da Igreja Universal e radialista
Carlos Dutra, que recebeu 9.359 votos. Este já tinha sido eleito em 2008, também pelo
PSDB.
304

Observando a distribuição de recursos para as campanhas municipais,


percebemos que os candidatos que disputaram o colégio eleitoral de Fortaleza são
priorizados pela agremiação. Além disso, o órgão partidário municipal utiliza a estrutura
burocrática e financeira do Diretório Estadual, concentrando os recursos nos candidatos
da capital, como é destacado abaixo:
O PSDB de Fortaleza ele funciona agregado ao Diretório Estadual,
como não tem uma sede própria ele funciona dentro de uma sala do
Diretório Estadual e a gente se aproveita da estrutura do Diretório
Estadual, porque nós realmente não temos os recursos. E não há um
repasse do Diretório Estadual pra o Diretório Municipal de Fortaleza
(TOMÁS FIGUEIREDO FILHO, ex-presidente do Diretório do PSDB
de Fortaleza (2013-2015), deputado estadual (2007-2010) e eleito
deputado federal suplente em 2010. Entrevista concedida ao autor em
25/11/2015).
Em Mombaça, como o PSDB nas eleições de 2012 não apresentou nenhum
candidato, o partido não obteve nenhum recurso para a campanha eleitoral. Cabe destacar
que o PSDB estava participando de coligação eleitoral. Porém, as lideranças da
agremiação de Mombaça que foram entrevistadas ressaltaram que o partido nunca
forneceu estrutura para sua campanha eleitoral, mesmo quando o partido apresentava
candidatos ao Executivo municipal, como percebemos abaixo:
Na realidade, os partidos nunca, pelo menos os que eu tenha passado,
eles dão o apoio, ou seja jurídico ou seja financeiro. Tem esse fundo
partidário, nunca chegou aqui. Como não chega! [voz exaltada] Nessa
sua pesquisa você vai ver [batendo com o dedo indicador na mesa]: o
fundo partidário só serve para o Diretório Estadual e Nacional. Eles não
chegam nos Diretórios Municipais (WILAME BARRETO ALENCAR,
vereador pelo PSDB por dois mandatos, presidente do Diretório e
prefeito em duas gestões. Entrevista concedida ao autor em
16/10/2015).
Nessa entrevista, o colaborador ficou inflamado quando foi responder sobre
os recursos do partido para campanha eleitoral. Percebia-se que o objetivo da fala era
denunciar que a agremiação nunca forneceu nenhum recurso para as campanhas eleitorais
no município, mesmo no momento áureo do PSDB no Ceará, na década de 1990.
Foi destacado que os candidatos do PSDB, quando receberam algum recurso
para campanha, obtiveram-no por meio de relações estabelecidas com deputados
estaduais do partido. Nesse aspecto, o sistema de lealdade fica atrelado aos parlamentares
do partido — deputados estaduais ou deputados federais — e não à estrutura partidária.
Esse dado fornece subsídios para compreendermos porque quando um deputado migra de
partido ele consegue arrastar uma rede de lideranças locais para a nova agremiação.
305

Em Nova Olinda, foi ressaltado que o Diretório Municipal também não


obteve nenhum recurso para realizar a campanha eleitoral. Os dois candidatos ao
Legislativo em 2012 fizeram suas campanhas com recursos próprios. Nessa eleição,
inclusive, não foi enviado nenhum material publicitário de campanha, como é ressaltado
na entrevista abaixo:
Lolô [Carlos Alberto Rodrigues] e Rita Belo [Rita de Jesus] [candidatos
a vereador] não fizeram propriamente campanha. Os poucos votos que
eles tiveram foram por meio de amigos que votaram neles. Não teve
gasto nenhum com campanha. Foi na base da amizade (ANTÔNIO
DEMONTIER FEITOSA, ex-presidente do PSDB de Nova Olinda.
Entrevista concedida ao autor em 23/09/2015).
Os dois candidatos do PSDB obtiveram baixa votação, Carlos Alberto
Rodrigues obteve 33 votos e Rita de Jesus alcançou apenas 7 votos. Esse resultado
eleitoral corrobora a argumentação do então presidente do PSDB de Nova Olinda,
Antônio Demontier Feitosa, de que os dois postulantes foram apresentados apenas para
preencher legenda, sem receber apoio do partido ou da liderança informal do PSDB em
Nova Olinda, o ex-prefeito Afonso Sampaio.
Mesmo nas eleições de 2014, o PSDB de Nova Olinda não recebeu nenhum
recurso para fazer a campanha de Aécio Neves como presidente e de Tasso Jereissati
como senador. O então presidente da Comissão Provisória, Romário Amorim, enfatizou
que
[...] nem dinheiro pra gente pagar um povo pra balançar bandeira eles
deram, nem carro de som. Aqui a campanha foi toda a gente que fez,
que mobilizou. A sorte que até inclusive eu trouxe até o senador Tasso
[Jereissati], pro evento aqui que não tava marcado, de última hora. Que
ele tinha que vir. Aí forcei, forcei, falei até com o Luiz Pontes e tal. Pedi
a ele, pessoalmente. A gente tava até numa reunião no [hotel] Verdes
Vale. Aí na hora que ele ia saindo, saindo para falar no particular. Aí
corri pro corredor e tal e tal. Ele disse: “marque para hoje, sete horas”.
Disse de última hora. Aí liguei pros meus amigos e disse: “organize aí
que o Tasso [Jereissati] vai vir”. Mandei gravar uma vinheta pra
anuncia que Tasso [Jereissati] vinha pra Nova Olinda. E sei que de
última hora deu certo, tudo certo. Quando ele chegou tava tudo: os
enfeites, o palco, o som e o povo [...] Quando a gente fez o evento ele
[o presidente do Diretório Estadual Luiz Pontes] chegou perguntando
quanto a gente tinha gastado. Aí a gente disse a quantia x aí ele disse:
“pronto!” Contribuiu nesse momento (ROMÁRIO AMORIM,
presidente do PSDB de Nova Olinda. Entrevista concedida ao autor em
24/09/2015).
Quanto à distribuição de recursos para as eleições estaduais no Ceará em
2014, observamos que os únicos candidatos que receberam financiamento do Diretório
306

Nacional foram Tasso Jereissati, candidato ao Senado, e Raimundo Gomes de Matos,


candidato à Câmara Federal. Foi destinado R$ 200.000,00 para cada campanha.
Na pesquisa de campo, foi ressaltado que todos os candidatos que receberam
recursos do Diretório Nacional nas eleições de 2012 e 2014, tinham relação de
proximidade com Tasso Jereissati, como vemos abaixo:
Olha, se alguém quer ter algum benefício ou recurso através do PSDB
tem que ser próximo do Tasso [Jereissati]. O problema é que ele é muito
ausente no cotidiano do partido. Então, só resta ficar próximo do Luiz
Pontes, que é uma pessoa mais aberta e que sempre conversa com todo
mundo. Mas, mesmo assim, tem que ter contato com Tasso [Jereissati],
pois como ele é próximo do pessoal do Diretório Nacional, ele sempre
consegue recursos para o [Diretório] Estadual e no final das contas ele
é quem decide (MILITANTE DO PSDB DE FORTALEZA. Integrante
do Diretório de Fortaleza que concedeu entrevista, mas não quis ser
identificado. Entrevista realizada em 25/11/2015).
A partir o que foi exposto nesse capítulo, temos um quadro que sintetiza o
grau de centralização das variáveis analisadas.
307

Tabela 21 - Síntese do grau de centralização do PSDB do Ceará

DISTRIBUIÇÃO DE
ALIANÇA E
SELEÇÃO DE CANDIDATO RECURSOS PARA
COLIGAÇÃO
CAMPANHA
Cargos majoritários - Alta
centralização: líder carismático
indica os candidatos. Alta centralização:
Alta
líder carismático
CEARÁ

centralização:
Cargos proporcionais - Baixa distribui os recursos para
líder carismático
centralização: líder carismático alguns candidatos que
estabelece os
aceita indicação dos candidatos, são escolhidos para ter
acordos.
mas precisa ser negociado. financiamento.
Processo é dirigido pela
Executiva Estadual.
Executivo - Alta centralização:
Alta
líder carismático e Executiva
centralização:
Estadual indicam os candidatos. Alta centralização:
FORTALEZA

líder carismático
líder carismático
e Executiva
Legislativo — Baixa distribui os recursos para
Estadual
centralização: líder carismático alguns candidatos que
estabelecem os
não acompanha a indicação dos são escolhidos para ter
acordos. Atrelado
candidatos. Processo é realizado financiamento.
a disputa
pelo órgão municipal que é
estadual.
atrelado ao Diretório Estadual.
Executivo e Legislativo -
Sem recurso: lideranças
MOMBAÇA

Descentralizado: Descentralizado: líder


locais não possuem
órgão municipal carismático e Diretório Estadual
trânsito com o líder
tem autonomia não acompanham a indicação
carismático do partido
para estabelecer dos candidatos. Processo é
para conseguir
acordos. realizado pelo órgão partidário
financiamento.
local.
Executivo e Legislativo -
NOVA OLINDA

Sem recurso: lideranças


Descentralizado: Descentralizado: líder
locais não possuem
órgão municipal carismático e Diretório Estadual
trânsito com o líder
tem autonomia não acompanham a indicação
carismático do partido
para estabelecer dos candidatos. Processo é
para conseguir
acordos. realizado pelo órgão partidário
financiamento.
local.
Fonte: Elaboração própria.
308
309

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Esta tese investigou o grau de centralização na arena subnacional das três


maiores agremiações partidárias do Brasil: PMDB, PT e PSDB. Para isso, tomou como
estudo de caso o estado do Ceará. Examinou a articulação entre as instâncias partidárias
nos três âmbitos federativos: municipal, estadual e nacional.
A pesquisa analisou de que forma esses partidos centralizam ou
descentralizam decisões eleitorais estratégicas, investigando três variáveis centrais:
formação de aliança e coligação, seleção de candidatos e distribuição de recursos para as
campanhas eleitorais. Para refletir sobre essas variáveis, avaliou dois ciclos eleitorais: a
eleição municipal de 2012 e a eleição geral de 2014.
A pesquisa constatou que as agremiações desenvolvem mecanismos formais
e/ou informais que compensam possíveis vetores centrífugos criados pelo federalismo ou
pela disputa eleitoral. Os resultados encontrados ao longo do trabalho confirmam a
hipótese central apresentada na Introdução desta tese. Atestou-se graus distintos de
centralização das decisões estratégicas que envolvem a arena eleitoral. O grau de
centralização oscilava de acordo com o modelo organizacional do partido, a
magnitude eleitoral do município e o tipo de eleição.
Quanto ao modelo organizacional, percebeu-se diferenças marcantes entre
as três agremiações e seus efeitos no grau de centralização dos partidos. Os dados
coletados na pesquisa corroboraram com a hipótese levantada. Constatando-se que
durante as eleições pesquisadas, o PMDB apresentou centralização nos Diretórios
Estaduais, o PT centralização nacional em maior grau e o PSDB centralização nacional
em menor grau.
Observou-se que o PMDB cearense herdou a estrutura organizacional do
MDB, sendo dirigido por líderes que exercem forte controle sobre a agremiação e que
utilizam de variados expedientes para se manter na direção do partido. Basta citar que
Mauro Benevides comandou o Diretório Estadual durante 29 anos (1969-1998) e Eunício
Oliveira é presidente há duas décadas, desde 1998. O partido torna-se personalista, tendo
o líder a autoridade para conformar a organização segundo seus interesses.
O tipo de autoridade desenvolvido pela liderança do PMDB cearense, Eunício
Oliveira, configura-se como poder autocrático. Nesse sistema, o poder está focalizado no
dirigente da organização que a comanda pessoalmente. Ocorre uma forma rígida de
controle, significando escassez de jogos políticos, já que os militantes ou expressam
310

lealdade ao dirigente ou são excluídos. A organização persegue e maximiza qualquer


objetivo que o dirigente estabeleça (MINTZBERG, 1983).
No PMDB, as decisões que envolvem a arena eleitoral são centralizadas pelo
Diretório Estadual, especificamente pelo líder autocrático. Esse líder exerce controle forte
e direto sobre o Diretório Estadual e os Diretórios Municipais. Para ter acesso aos recursos
do partido é necessário ter relação de proximidade com o líder.
Predomina no partido uma relação clientelista, prevalecendo sistema natural
de distribuição de incentivos seletivos como mecanismo para alcançar a lealdade dos
membros, pressionando a organização a se adaptar ao próprio ambiente para que sempre
ocupe cargos no governo.
Sobre isso, no entanto, cabe observar que esse conceito de partido clientelista
não existe em estado puro, tratando-se apenas de distinção analítica. Assim, mesmo nessa
organização, existe a distribuição de incentivos coletivos de identidade ligados à
manutenção da estabilidade democrática do país. No partido, a existência de objetivos
oficiais, como garantia da democracia e da sua governabilidade, não é mera fachada para
ocultar objetivos específicos dos agentes organizativos.
O PMDB continuou com uma estratégia de adaptação ao ambiente, tática
adotada durante o período do MDB, buscando a conservação de quotas de poder. Exercia
contestação moderada ao PSDB, mantendo-se no mercado político por meio do vácuo
deixado por esse partido dominante. O PMDB, ao longo de sua institucionalização,
configurou-se como oposição interelite. Predominam no partido candidatos notáveis que
desempenham profissões de relativo prestígio social e que dispõem de tempo livre para
se dedicar à política, como médicos e advogados.
Já o PT cearense se institucionalizou como “partido de oposição”
(PANABIANCO, [1982]). Isso significou que, para a agremiação sobreviver em
ambiente árido às políticas de um partido localizado mais à esquerda do espectro
ideológico, teve que estruturar uma organização forte e sólida, mobilizando com eficácia
e regularidade os militantes crentes. A agremiação não podia usufruir dos recursos do
Estado e nem dispunha de abundantes recursos financeiros fornecidos por grupos de
interesse.
O modelo originário do PT foi caracterizado pela presença de instituições
externas, como o Sindicato dos Trabalhadores Rurais e a Igreja católica. Estas duas
instituições foram responsáveis pela mobilização de contingente de movimentos sociais
nos municípios do interior, fundando o partido a partir de questões locais.
311

Durante a primeira década de estruturação do PT no estado, a agremiação


enfrentou desafios para se consolidar. O maior deles foi a acomodação das distintas
facções que compunham a organização. Apesar de ter obtido vitória na primeira disputa
eleitoral da capital no pós-ditadura, no pleito de 1985, o partido enfrentou expulsões e
conflitos internos depois de assumir o governo. Evidenciava-se que a organização ainda
não estava institucionalizada.
A agremiação experimentou a estabilidade organizativa apenas na década de
1990, quando houve a celebração de acordo entre as tendências mais moderadas, que
detinham representatividade no Legislativo e nas gestões municipais. Referimo-nos, no
caso, a tendência Articulação e NE. Esse arranjo conseguiu estabelecer uma coalizão
dominante estável no Diretório Estadual, diminuindo o espaço de tendências trotskistas
mais à esquerda, como: DS, OT, CS. José Guimarães, vinculado à Articulação, por
exemplo, exerceu o mandato como presidente do Diretório Estadual durante nove anos
(1992-2001).
No PT, percebemos centralização em maior grau. Porém, isso não ocorre por
meio da articulação entre as instâncias partidárias, como está regulamentado no estatuto
do partido, mas por intermédio de relações costuradas pelas suas tendências internas.
Predomina no partido a oposição entre duas tendências: CNB, liderada pelo deputado
federal José Guimarães; e DS, dirigida pela ex-prefeita de Fortaleza Luizianne Lins.
Tanto a seleção de candidatos quanto a distribuição de recursos para as campanhas
eleitorais ocorrem por intermédio das tendências dentro do partido.
Por fim, no PSDB, observamos frágil estrutura organizacional. Essa
agremiação iniciou sua trajetória no estado como “partido governista” (PANEBIANCO,
[1982]), sendo “partido dominante” (SARTORI, [1976]) na década de 1990. A ampla
disponibilidade de recursos públicos e apoio financeiro que a agremiação experimentou
em seus primeiros anos de existência desencorajou o desenvolvimento organizativo. Sua
coalizão dominante não teve interesse em desenvolver uma burocracia de partido, pois
usufruía do spoil system ao utilizar a burocracia estatal para estruturar a organização.
Cabe destacar que o partido também foi marcado pela presença de instituição
externa, como o CIC. A imagem de modernidade construída pelo seleto grupo dos “jovens
empresários” do CIC, que se apresentava como homogêneo e coeso, possibilitou que o
PSDB cearense distribuísse incentivos coletivos de identidade. A organização estava
vinculada à defesa de uma visão empresarial e racionalizada da gestão pública. Buscava-
se implementar na burocracia estatal a racionalidade tecnocrata que eliminaria o
312

clientelismo e combateria o patrimonialismo e as demandas fisiológicas dos políticos


profissionais.
O PSDB cearense foi marcado pela presença de uma “liderança carismática”
(PANEBIANCO, [1982]), Tasso Jereissati, que fez da organização uma extensão de si
mesmo. Este líder, embora não ocupasse formalmente o cargo de presidente do Diretório
Estadual, exercia informalmente o controle sobre a organização.
A partir de 2002, o PSDB exibiu trajetória eleitoral de declínio. Este percurso
foi inversamente proporcional ao apresentado pelo PT. O PSDB cearense pagou alto
preço ao ocupar o lugar ingrato da oposição, perdendo o suporte financeiro experimentado
na primeira década de sua existência e afrouxando seus laços com o Estado.
Nas duas eleições investigadas nessa pesquisa, o PSDB apresentou fraca
integração entre suas instâncias partidárias. O líder partidário centralizava as decisões
eleitorais do Diretório Estadual e do órgão municipal de Fortaleza. Os outros órgãos
municipais eram marcados por forte autonomia das lideranças locais na definição das
estratégias eleitorais.
Quanto à magnitude eleitoral, os dados da pesquisa confirmaram a hipótese
adotada. Constatou-se que nos municípios com mais recursos e marcados por premiação
maior — como capital e municípios de médio porte — ocorreu maior grau de
centralização e interferência. Nos municípios menores, com baixa magnitude eleitoral, os
órgãos partidários locais apresentaram menor grau de centralização, gozando de maior
autonomia.
Aliado a essa verificação, a pesquisa observou distintos modelos de
organização partidária em diferentes escalas de municípios.
No município de grande magnitude eleitoral, como a capital, a organização
dos partidos e as disputas eleitorais são tributárias da polarização que ocorre na arena
estadual. Percebe-se que tanto a eleição nacional quanto a estadual estão interligadas para
planejar a eleição municipal de Fortaleza. Esse fenômeno é observado nos acordos entre
os partidos para compor a coligação eleitoral. Observa-se que as agremiações, ao
negociarem a montagem da chapa para a disputa de cargos no âmbito federal (senador) e
estadual (governador e vice-governador), já “fecham questão” para a eleição seguinte,
compondo os cargos para o Executivo de Fortaleza.
Nos municípios de média magnitude eleitoral, a relação estabelecida com
as elites estaduais, como deputados federais e deputados estaduais, estrutura a
organização dos partidos. No caso apresentado ao longo da tese, percebe-se que o
313

município de Mombaça é estratégico para o desempenho eleitoral de deputados e por isso


sua política local é centralizada pelo Diretório Estadual. Observamos que, historicamente,
a formação de alianças políticas no município envolveu ampla negociação com as
lideranças estaduais do partido. Os acordos relacionados as eleições municipais são
debatidos com a liderança estadual do partido para poder potencializar as eleições dos
deputados federais e estaduais da agremiação ou de partidos coligados.
Por sua vez, nos municípios de pequena magnitude eleitoral, observa-se
forte autonomia, predominando uma racionalidade política contextual. Percebe-se que a
organização é estruturada apenas para concorrer nas eleições municipais, sendo
instrumentalizada como “máquina eleitoral”. Esse emprego da legenda apenas para
disputar o pleito eleitoral é praticado pelas lideranças políticas locais. Estes procuram
maximizar os votos por meio da filiação a um partido já consolidado no mercado eleitoral,
de preferência o partido do governo, ou em ascensão. Os líderes partidários locais não
tem interesse em construir estrutura organizacional mais sólida, como o Diretório por
exemplo. Isto porque mesmo uma estrutura mais débil organizacionalmente, como
Comissão Provisória ou Comissão Interventora, já fornece os recursos de poder
desejados: legenda partidária, relações com as elites partidárias estaduais e obtenção de
algum recurso para campanha.
O partido cumpre a função de fazer o vínculo entre as lideranças locais
(prefeito, vereador ou cabo eleitoral) e as lideranças estaduais (presidente do partido e
deputados). Assim, ter o controle e a posse de um partido que tem influência no plano
estadual e até federal conta como capital político para a liderança local, pois significa que
ele tem trânsito com políticos de influência na arena estadual.
Até mesmo o Diretório Estadual utiliza-se deste expediente do partido como
“máquina eleitoral” para se estruturar no plano local. As lideranças partidárias estaduais
buscam expansão imediata da organização por meio da filiação de notáveis locais, de
preferência os que já possuem mandato eletivo, para disputar os pleitos. A manutenção
de determinada facção política no comando da agremiação local é subordinada a
influência ambiental, como o desempenho do partido na arena eleitoral local. Observa-se
que nessa estratégia de expansão organizacional, o partido é colonizado por distintos
grupos políticos locais, muitas vezes antagonistas na disputa municipal. O partido não
apresenta identidade política, adquirindo conformação de acordo com a facção que o
lidera.
314

A exceção a essa tipologia de organização partidária de acordo com a


magnitude eleitoral do município ocorre no PT. Nesse partido, a variável que determina
o tipo de organização é a inserção estatal assumida pela agremiação. Quando o PT ocupou
o Executivo nacional em 2003, a organização passou a estimular a criação de órgãos
partidários municipais nas cidades onde não havia histórico organizacional. Atrelado a
isso, a sigla passou a ser assediada por políticos profissionais que queriam
instrumentalizar a legenda para ganharem a disputa eleitoral. O resultado foi a inflação
de órgãos municipais, abarcando a quase totalidade do estado, mas que apresentavam
frágil estrutura organizativa e fraco vínculo com a sociedade civil organizada.
Esta realidade é oposta à estruturação dos órgãos municipais do PT que foram
fundados na década de 1980. Estes eram conectados com militância nos movimentos
sociais e em instituições como sindicatos e núcleos da Igreja católica. Cabe destacar o
protagonismo de instituições que atuavam na área rural e que contribuíram para a
fundação do PT no interior do estado. Ressalta-se a atuação do Sindicato dos
Trabalhadores Rurais e dos núcleos da Igreja católica, como as CEBs e diversas pastorais,
entre elas a pastoral da terra e a pastoral da juventude.
Por fim, quanto ao tipo de eleição, verificou-se a hipótese assumida. As
eleições nacionais e estaduais exibiram maior grau de centralização e as eleições
municipais apresentaram menor grau. Porém, a variável que indicou maior diferenciação
quanto ao grau de centralização não foi o nível federativo da disputa (nacional, estadual
ou municipal), mas o sistema de votação, se majoritário ou proporcional. Constatou-se
que os disputas majoritárias são mais centralizadas e as disputas proporcionais são
descentralizadas.
As eleições majoritárias que ocorrem no âmbito estadual e municipal são mais
centralizadas pelos órgãos hierarquicamente superiores. Observou-se que as disputas para
o Executivo estadual e para o Senado são articuladas, acompanhadas e centralizadas tanto
pelo órgão nacional quanto pelo estadual; e as disputas para Executivo municipal são
centralizadas pelo Diretório Estadual ou lideranças partidárias estaduais. Já as eleições
proporcionais são descentralizadas. Mesmo a disputa para o Legislativo nacional, como
a Câmara Federal, não é centralizada pelo Diretório Nacional.
Outro achado relevante da pesquisa foi o refinamento quando ao tipo de
institucionalização partidária, que pode ser formal ou informal (FREIDENBERG;
LEVITSKY, 2007). Estabelecendo gradiente de formalização da estrutura partidária,
315

constatamos que o PT é o mais formal. Em seguida aparece o PMDB e por último o


PSDB, como o partido mais informal.
A formalidade organizacional do PT se deve ao fato do partido ser mais
estruturado, possuir sede própria para o Diretório Estadual e Diretório Municipal de
Fortaleza, apresentar um corpo permanente de funcionários, seguir o estatuto e centralizar
as decisões nas instancias formais, como a Comissão Executiva.
Por sua vez, o PMDB é centralizado por uma “liderança autocrática”
(MINTZBERG, 1983) que formalmente ocupa a presidência do Diretório Estadual. Já o
PSDB é dirigido por uma “liderança carismática” (PANEBIANCO, [1982]) que, embora
centralize as decisões, não exerce cargo formal de comando no Diretório Estadual. Nesses
dois partidos, os laços organizativos são estabelecidos entre o líder e os militantes, sem a
intermediação da burocracia. Os recursos políticos destas lideranças tendem a ser
baseados em atributos pessoais, como dinheiro e capital social. Nesse sentido, dão pouca
importância à dimensão organizativa do partido para gerar incentivos coletivos,
priorizando a distribuição de incentivos seletivos.
Cabe destacar que a predominância de procedimentos informais no partido
tem implicações na qualidade da democracia interna. Processos formalmente
institucionalizados estão abertos a avaliação pública, assegurando certo grau de
responsabilidade. Já processos informais carecem de transparência, fazendo com que a
agremiação siga os comandos do líder, sem ter controle sobre suas ações. O partido torna-
se personalista, pois a liderança possui ampla liberdade de manobra na manipulação da
organização, podendo facilmente modificar as regras do jogo organizativo.
A presente pesquisa também lançou luz sobre aspectos da política
institucional e partidária que não eram inicialmente objetos de investigação. Podemos
citar como pano de fundo a relação entre família e política, com a formação de facções
político-familiares. Essa dimensão da política tradicional é recorrente na estruturação da
carreira política e na perpetuação de facções por longo período de tempo, atravessando
inclusive décadas. Podemos citar como exemplo paradigmático a continuidade dos
Távoras na política cearense. Essa facção político-familiar remonta a República Velha,
momento em que faziam oposição à oligarquia de Nogueira Accioly, e foi atravessando
variados cenários institucionais até estacionar na trajetória política de Carlos Virgílio
Távora, deputado federal de 1983 a 1995.
Outro aspecto observado é que essa intersecção entre família e política é
reprodutora de uma ordem patriarcal. A presença feminina na política institucional e seu
316

sucesso eleitoral resulta, em grande parte, da influência masculina familiar. Nas


trajetórias política das mulheres é recorrente a existência da figura do marido, do pai ou
do irmão como catalisador do acesso destas ao espaço político.
Além disso, as mulheres enfrentam dificuldades para serem inseridas como
integrantes de facções político-familiares. Podemos citar dois casos exemplares. O caso
de Lia Ferreira Gomes, herdeira do capital político familiar, mas que não ingressou na
política institucional. Esta trajetória contrasta com os percursos de seus quatro irmãos que
ocuparam cargos públicos: Ciro, Cid, Ivo e Lúcio Ferreira Gomes. Outro caso é a figura
do “genro” no PMDB cearense, sendo recorrente a transmissão do capital político familiar
ao esposo da filha e não propriamente à filha. Isso aconteceu com José Martins Rodrigues
que transmitiu seu legado para seu genro Paes de Andrade e este para seu genro Eunício
Oliveira e este depois empregou seus dois genros em altos cargos disponibilizados pelo
partido, um como delegado do Diretório Estadual e outro como diretor da Agência
Nacional de Aviação Civil (ANAC).
Observou-se assim limitações e sub-representação de mulheres nas instâncias
partidárias e entraves para a participação destas na política institucional. Percebeu-se que
o PT proporciona maiores incentivos para a representação de mulheres nas instâncias
partidárias, como a paridade entre homens e mulheres nos órgãos de direção. Esse dado
corrobora pesquisas, como Perissinotto e Bolognesi (2009), que apontam as agremiações
localizadas mais à esquerda do espectro ideológico como mais abertas à participação de
mulheres.
O presente trabalho contribuiu para os estudos sobre organização interna
partidária sob a perspectiva multinível e de comparação entre diferentes partidos. Para
aprofundar esse debate seriam necessárias comparações com outras unidades federativas,
o que não foi possível para a corrente pesquisa.
Outro aspecto crucial seria o desdobramento da pesquisa sobre os pleitos
subsequentes, eleições municipais de 2016 e eleições gerais de 2018. Isso porque após as
eleições de 2014, as três agremiações investigadas na pesquisa enfrentaram desafios
ambientais que testaram a sobrevivência de suas organizações. Basta citar alguns eventos
políticos, como: contestação do resultado das eleições presidenciais pelo PSDB,
impeachment da presidenta Dilma Rousseff (PT), alta desaprovação do governo assumido
pelo PMDB através do vice-presidente Michel Temer, aprofundamento das investigações
da Lava Jato com denúncias de corrupção envolvendo o primeiro escalão dos três partidos
investigados e prisão da principal liderança do PT, Lula da Silva.
317

A tese se deparou com um desafio que foi a realização de pesquisa qualitativa nas
instâncias partidárias para investigar a relação de poder intrapartidário. Esse entrave
revela que os partidos políticos brasileiros não são transparentes e carecem de democracia
intrapartidária.
Para a consolidação da ordem democrática brasileira é imperativo o
aprofundamento da democracia interna nos partidos. Estas organizações gozam de
importantes recursos institucionais, como monopólio da representação política, recursos
do Fundo Público e tempo de propaganda no rádio e TV, sendo necessário maior
transparência de suas ações. Por isso, pesquisas acadêmicas que investiguem as relações
de poder intrapartidária e as questões relativas a sua organização interna são tão
necessárias e urgentes. A elaboração dessa tese colabora com esse debate e também
diminui o déficit de dados e informações precisas a respeito dos partidos brasileiros.
318
319

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(LOPP). Brasília-DF, jul. 1971.
BRASIL. Lei nº 6.683, de 28 de agosto de 1979. Concede anistia e dá outras providências.
Brasília-DF, ago. 1979.
BRASIL. Lei nº 6.767, de 20 de dezembro de 1979. Lei de Reforma Partidária (LRP).
Modifica dispositivos da Lei nº 5.682, de 21 de julho de 1971 (Lei Orgânica dos Partidos
Políticos), nos termos do artigo 152 da Constituição, alterado pela Emenda Constitucional
nº 11, de 1978; dispõe sobre preceitos do Decreto-Lei nº 1.541, de 14 de abril de 1977, e
dá outras providências. Brasília-DF, dez. 1979.
BRASIL. Emenda Constitucional nº 22, de 29 de junho de 1982. Altera e acrescenta
dispositivos à Constituição Federal. Brasília-DF, jun. 1982.
BRASIL. Emenda Constitucional nº 25, de 15 de maio de 1985. Altera dispositivos da
Constituição Federal e estabelece outras normas constitucionais de caráter transitório.
Brasília-DF, mai. 1985.
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Dispõe sobre partidos políticos, regulamenta os arts. 17 e 14, § 3º, inciso V, da
Constituição Federal. Brasília-DF, set. 1995.
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1997.
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Dispõe sobre a arrecadação e os gastos de recursos por partidos políticos, candidatos e
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Dispõe sobre a arrecadação e os gastos de recursos por partidos políticos, candidatos e
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comitês financeiros e, ainda, sobre a prestação de contas nas Eleições de 2014. Brasília-
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setembro de 1997, 9.096, de 19 de setembro de 1995, e 4.737, de 15 de julho de 1965 -
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BANCADA majoritária na Câmara e AL. O Povo, Política Local, 2-A, 17 de janeiro de


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BANCÁRIO encabeça a chapa do PT à prefeitura de Fortaleza. O Povo, Fortaleza, p. 3-
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CAMBEBA ajuda na filiação ao PSDB. O Povo, Fortaleza, 29 de março de 1989.
CARTAXO e Ilário disputam segundo turno petista. O Povo, Fortaleza, 06 de dezembro
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CIRO Gomes será candidato ao Senado em chapa com Eunício, diz site. O Povo,
Fortaleza, 26 de março de 2014.
CLAUDINO magoado com o esquema cessista. O Povo, Fortaleza, 30 de novembro de
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COMISSÃO de Ética do PT apurará denúncias. O Povo, Fortaleza, p. 2, 07 de janeiro de
1987.
DIRETÓRIO do PT homologa expulsão da prefeita Maria Luíza do partido. O Povo,
Fortaleza, P. 2, 08 de maio de 1988.
DIRETÓRIO nacional do PT ratifica aliança do partido com Pros de Cid. O Povo,
Fortaleza, 20 de junho de 2014.
DIRIGENTES petistas resolvem se afastar. O Povo, Fortaleza, p. 2, 31 de dezembro de
1986.
EUNÍCIO Oliveira diz que nunca recebeu voto de reciprocidade de Cid Gomes. O Povo,
Fortaleza, 26 de maio de 2014.
EXECUTIVA Estadual expulsa Maria Luíza do Partido dos Trabalhadores. O Povo,
Fortaleza, p. 2, 26 de abril de 1988.
EX-PREFEITO Roberto Pessoa diz que teve celulares grampeados. O Povo, Fortaleza,
06 de abril de 2013.
FIRMO, Érico. Prós e contra de uma escolha. O Povo, Fortaleza, 31 de maio de 2014.
ILÁRIO critica PT local por ser contra alianças". O Povo, Fortaleza, p. 2-A, 11 de outubro
de 1992.
332

ILÁRIO vence e critica PSDB na base de Cid Gomes. O Povo, Fortaleza, 19 de dezembro
de 2007.
JOSÉ Dirceu diz que PT não perde politicamente. O Povo, Fortaleza, p. 4, 26 de abril de
1988.
LINS, Luizianne. Exercício democrático, sempre. O Povo, Fortaleza, 12 de junho de
2012.
LÚCIO encerra fase de polêmica com PSDB. O Povo, Fortaleza, 10 de fevereiro de 1989.

MAIORIA não sabia o porquê da adesão. O Povo, Fortaleza, 17 de janeiro de 1990.


MARIA Luiza candidata a Prefeita pelo PT. O Povo, Fortaleza, 20 de maio de 1985.
MARIA negocia sua permanência no PT. O Povo, Fortaleza, 19 de setembro de 1987.
MARIA provoca crise no PT com as mudanças. O Povo, Fortaleza, 15 de julho de 1986.
MARIA recorre para obter retratação. O Povo, Fortaleza, 23 de agosto de 1987.
MOEMA tacha de “vacilação masculina”. O Povo, Fortaleza, 10 de fevereiro de 1989.

MORAES NETO, M. PT e a força das tendências. O Povo, Fortaleza, 25 de abril de 1988.


MOTA afirma que fica no PMDB e recusa PDT. Em Brasília, o Governador pede apoio
a Sarney. O Povo, Fortaleza, p. 02, 03 de dezembro de 1985.
OS PREFEITOS que agora são “tucanos”. O Povo, Fortaleza, 29 de março de 1989.
PARTILHA de cargos divide peemedebistas. O Povo, Fortaleza, p. 02, 03 de maio de
1985.
PLANO para 86 exclui Gonzaga da política. Nas eleições majoritárias nenhuma vaga
seria dele. O Povo, Fortaleza, p. 02, 02 de dezembro de 1985.
PMDB promove convenções em 78 municípios. O Povo. Fortaleza, 22 de junho de 2012.
PMDB quer a metade dos cargos do Governo. Isso resulta da integração do Mota ao
partido. O Povo, Fortaleza, p. 02, 04 de dezembro de 1985.
PONTES, Bruno. Ciro diz que Eunício parece "biruta de aeroporto". O Povo, Fortaleza,
4 de junho de 2014.
PONTES, Bruno. Peemedebistas apoiam Domingos Filho para governo. O Povo,
Fortaleza, 29 de maio de 2014.
PRESIDENTE do PMDB garante que Eunício Oliveira disputará Governo do Ceará. O
Povo, Fortaleza, 03 de janeiro de 2014.
PRO usa força e impede a realização de seis pré-convenções zonais do PT. O Povo,
Fortaleza, 25 de abril de 1988.
PSB rejeita Elmano e anuncia intenção de ter candidato. O Povo, Fortaleza, 12 de junho
de 2012.
333

PSDB pretende filiar até 92 170 prefeitos. O Povo, Fortaleza, 18 de junho de 1991.

PSDB terá um futuro cinza no Ceará. O Povo, Política Local, 3-A, 01 de fevereiro de
1989.
PT de Fortaleza aprova tese de nome próprio. O Povo, Fortaleza, 13 de junho de 2014.
PT em convenção: muda o comando no Ceará. O Povo, Fortaleza, 15 de janeiro de 1984.

PT esclarece. O Povo, Fortaleza, p. 6-A, 17 de outubro de 1992.


PT expulsa ex-dirigentes. O Povo, Fortaleza, p. 3, 26 de janeiro de 1987.
PT faz advertência a cinco dissidentes. O Povo, Fortaleza, 30 de abril de 1984.
PT indica José Guimarães ao Senado, mas pode rever posição. O Povo, Fortaleza, 30 de
março de 2014.
PT indica Maria Luiza com festa no teatro. O Povo, Fortaleza, 11 de agosto de 1985.
PT mantém punição e torna difícil o acordo com Maria. O Povo, Fortaleza, 22 de agosto
de 1987.

PT reúne Diretório Regional para discutir eleições municipais-88. O Povo, Fortaleza, p.


2, 20 de março de 1988.
PUNIÇÃO de advertência leva Maria Luíza a deixar o PT. O Povo, Fortaleza, 18 de
agosto de 1987.
REBOUÇAS, Hébely. Agressão verbal e ameaça de briga entre militantes: petistas
avaliam consequências. O Povo, Fortaleza, 02 de novembro de 2013.
REBOUÇAS, Hébely. Denúncia e clima de guerra antes de eleição no PT. O Povo,
Fortaleza, 02 de novembro de 2013.
REBOUÇAS, Hébely. Vice de Cid, Domingos Filho, matura saída do PMDB. O Povo,
Fortaleza, 03 de setembro de 2013.
SERPA, Egídio. Gonzaga diz que não há motivo para o rompimento. O Povo, Fortaleza,
p. 03, 14 de agosto de 1985.
SUCESSÃO interna gera crise no PMDB do Ceará. O Povo, Fortaleza, Política, p. 3, 26
de dezembro de 1997.
TVE usada para filiação ao PSDB. O Povo, Fortaleza, 22 de fevereiro de 1989.

Folha de São Paulo e Estadão:


FERNANDES, Kamila. Tasso tenta barrar dissidências no Ceará. Folha de São Paulo,
São Paulo, 24 de março de 2002.
FREITAS, Jânio de. PMDB veta Tasso e abre crise na sucessão de Funaro. Folha de São
Paulo, São Paulo, p.A-5, 28 de abril de 1987.
334

MOTA, Paulo. Tasso quer Estado `pequeno e forte'. Folha de São Pulo, São Paulo, 9 de
outubro de 1994.
SANTOS, Mário Vitor. Coronelismo tucano. Prefeito de Acaraú é assassinado após
denunciar pressões de parentes para desviar verbas públicas. Folha de São Pulo, São
Paulo, 10 de julho de 1998.
LÚCIO Alcântara deixa PSDB e filia-se ao PR. Estadão, Agencia Estado, São Paulo, 07
de março de 2007.
PROS oficializa candidatura de Camilo Santana. Estadão, São Paulo, 29 junho 2014.
ROSA, Vera. PT vai priorizar campanha em cidades com mais de 150 mil habitantes em
2012. Estadão, 01 de dezembro de 2011.

Outros:
HOLANDA, Wilrismar. PMDB ameaça não dar legenda a quem não votar em Eunício.
Deputados reagem. Blog do Wilrismar, Fortaleza, 27 de maio de 2014.
LIMA, Eliomar de. Bate-boca — Roberto Pessoa registra BO contra Ciro Gomes. Blog
do Eliomar, O Povo, Fortaleza, 30 de setembro de 2010.
PATURY, Felipe. Em carta, prefeito cearense chama Ciro Gomes de vagabundo e usuário
de drogas. Revista Época, O Globo, 02 de outubro de 2012.

LIMA, Eliomar de. Roberto Pessoa reage a farpas de Ciro Gomes: “Não discuto com
drogado!”. Blog do Eliomar, O Povo, Fortaleza, 01 de agosto de 2014.
PRB surpreendeu grandes legendas. Diário do Nordeste, Fortaleza, 13 de outubro de
2008.
PRB tem um novo presidente no CE. Diário do Nordeste, Fortaleza, 20 de outubro de
2011.

PSDB oficializa candidatura de Marcos Cals a prefeito de Fortaleza. G1 Ceará, Fortaleza,


30 de junho de 2012.
LUIZIANNE é eleita presidente do PT Ceará. Já foram apurados 97,6% dos votos, cujo
o total foi de 32.633 sufrágios. PT-Ceará, Fortaleza, 26 de novembro de 2009.
335

SÍTIOS CONSULTADOS
ASSEMBLEIA LEGISLATIVA DO ESTADO DO CEARÁ (ALECE). Publicações
do Memorial da Assembleia Legislativa do Ceará Deputado Pontes Neto (MALCE).
Disponível em <https://www.al.ce.gov.br/index.php/publicacoes-malce>. Acesso em 28
de janeiro de 2018.
CÂMARA DOS DEPUTADOS. Biografia dos deputados federais. Disponível em:
<http://www2.camara.leg.br/deputados/pesquisa>. Acesso em 12 de fevereiro de 2017.
DICIONÁRIO HISTÓRICO-BIOGRÁFICO BRASILEIRO (DHBB/CPDOC).
Centro de Pesquisa e Documentação de História Contemporânea do Brasil (CPDOC) da
Fundação Getúlio Vargas (FGV). Verbetes temáticos e bibliográficos. 3ª Edição.
Coordenação Geral de Christiane Jalles de Paula e Fernando Lattman-Weltman. 2010.
Disponível em <http://www.fgv.br/cpdoc/acervo/arquivo>. Acesso em 28 de janeiro de
2018.
DIRETÓRIO ESTADUAL DO PT CEARÁ. Notícias. Disponível em:
<http://ptceara.org.br/noticias/index.asp?current=>. Acesso em 28 de janeiro de 2018.
TRIBUNAL REGIONAL ELEITORAL DO CEARÁ (TRE-CE). Informações sobre
eleições no Ceará. Disponível em: <http://www.tre-ce.jus.br/>. Acesso em 28 de janeiro
de 2018.
TRIBUNAL SUPERIOR ELEITORAL (TSE). Divulgação de Candidaturas e Contas
Eleitorais - DivulgaCand. Disponível em:
<http://divulgacandcontas.tse.jus.br/divulga/#/>. Acesso em 28 de janeiro de 2018.
TRIBUNAL SUPERIOR ELEITORAL (TSE). Repositório de dados eleitorais.
Disponível em: <http://www.tse.jus.br/eleicoes/estatisticas/repositorio-de-dados-
eleitorais-1/repositorio-de-dados-eleitorais>. Acesso em 28 de janeiro de 2018.
TRIBUNAL SUPERIOR ELEITORAL (TSE). Sistema de filiação partidária -
Filiaweb. Disponível em:
<http://filiaweb.tse.jus.br/filiaweb/filiacao/relacao/consulta.seam>. Acesso em 28 de
janeiro de 2018.
TRIBUNAL SUPERIOR ELEITORAL (TSE). Sistema de Gerenciamento de
Informações Partidárias (SGIP). Disponível em:
<http://www.tse.jus.br/partidos/partidos-politicos/informacoes-partidarias>. Acesso em
28 de janeiro de 2018.
TRIBUNAL SUPERIOR ELEITORAL (TSE). Sistema de Prestação de Contas
Eleitorais (SPCE). Consulta aos doadores e fornecedores de campanha de Candidatos.
Eleições de 2012. Disponível em:
<http://inter01.tse.jus.br/spceweb.consulta.receitasdespesas2012/abrirTelaReceitasCand
idato.action>. Acesso em 28 de janeiro de 2018.
TRIBUNAL SUPERIOR ELEITORAL (TSE). Sistema de Prestação de Contas
Eleitorais (SPCE). Consulta aos doadores e fornecedores de campanha de Candidatos.
Eleições de 2014. Disponível em:
<http://inter01.tse.jus.br/spceweb.consulta.receitasdespesas2014/abrirTelaReceitasCand
idato.action>. Acesso em 28 de janeiro de 2018.
336
337

ANEXOS
Anexo 1 - Lista dos integrantes dos partidos que foram entrevistados103
CASO PARTIDO CARGO OU FUNÇÃO ENTREVISTADO
PT Presidente do Diretório Estadual Francisco de Assis Diniz
Vice-presidente do Diretório João Alves de Melo
PMDB
CEARÁ

Delegada e coordenadora do PMDB-Mulher Rosângela Félix Aguiar


Maria de Jesus Carvalho
Secretária e membro da Comissão Executiva
Bertoldo
PSDB
Francisco Ranilson da
Secretário regional — Seção Cariri
Silva
Presidente do Diretório Elmano de Freitas
FORTALEZA

PT
Vereador Jovanil Oliveira
PMDB Presidente da Comissão Provisória Willame Correia

PSDB Ex-presidente do Diretório (2013-2015) Tomás Figueiredo Filho


Presidente do Diretório Municipal e candidato
Antônio Ermínio Filho
a prefeito em 2012
João Victor Candido de
PT Presidente do Diretório (2010-2014)
Oliveira
Ex-secretária municipal e fundadora do Cícera Evaniria de
partido Oliveira
MOMBAÇA

Presidente do PMDB de Mombaça (2003-


2008); Vereador pelo PMDB por três Gerson Cavalcante Vieira
mandatos (1993-2004); Vice-prefeito pelo Neto
PMDB
PMDB em dois mandatos (2005-2012)
Secretária geral e fundadora do partido,
Diana Barreto
vice-prefeita pelo PMDB (1997-2000)
Membro do Diretório e vereadora Elidiana Carvalho
PSDB Vereador pelo PSDB por dois mandatos
(1997-2004); presidente do Diretório (2005- Wilame Barreto Alencar
2012); prefeito em duas gestões (2005-2012)
Presidenta do Diretório e vereadora Maria do Socorro Matos
Vice-presidente e funcionário do Sindicato
Eugênio Bezerra Alves
dos Trabalhadores Rurais
PT Secretário de Finanças Francisco Pedro
Secretária do Diretório e presidenta do
NOVA OLINDA

Maria do Socorro Santos


Sindicato dos Trabalhadores Rurais
Candidato ao PED em 2009 Evanilton José de Matos
PMDB Presidente do Diretório e atual vice-prefeito Elízio Galdino
Presidenta em exercício da Comissão
Wyldiane Sampaio
Provisória
Presidente do Diretório (2014-2015) Romário Amorim
PSDB Ex-presidente da Comissão Provisória (2011-
Antônio Demontier Feitosa
2013)
Ex-Presidente do Diretório (2007-2011) e
Afonso Sampaio
Prefeito (2005-2012)
FONTE: Elaboração própria.

103
Além desses colaboradores, outros integrantes dos três partidos deram entrevistas, mas preferiram não
serem identificados.
338
339

Anexo 2 - Roteiro para as entrevistas


História do partido (HP):
Modelo originário:
- Como ocorreu a fundação do partido?
- Que grupos ou atores políticos participaram da fundação?
- Os principais fundadores do partido eram anteriormente vinculados a outro partido?
- Existia algum sindicato, associação ou grupo social que auxiliou a criação do partido?

Desenvolvimento organizativo:
- Quais foram os presidentes do partido ao longo dos anos?
- Como se desenvolve o processo de eleição do presidente do partido?
- Já ocorreu algum conflito envolvendo a eleição para presidente do partido?
* (Em caso positivo): Como esse conflito foi solucionado? Algum órgão partidário de
nível hierárquico superior (estadual ou nacional) ou liderança partidária foram
mobilizados para intermediar o conflito?
- Já ocorreu alguma intervenção nesse órgão partidário?
* (Em caso positivo) Que órgão fez essa intervenção e por qual motivo?
- Você considera que exista uma liderança central, ou lideranças centrais, no partido?
- Quais os principais grupos (ou correntes) que compõem o partido?

Atual estrutura organizacional do partido (EP):


- Esse órgão partidário é organizado como Diretório ou Comissão Provisória?
* (Organizado como Diretório): Na sua opinião, existe alguma ampliação de poder pelo
fato do partido estar organizado como Diretório?
* (Organizado como Comissão Provisória): Na sua opinião, existe alguma restrição de
poder pelo fato do partido estar organizado como Comissão Provisória?
- O partido recebe recursos do fundo partidário?
- O partido possui sede própria? Possui mobiliários e equipamentos para suas atividades?
Possui transporte próprio?
- Possui funcionários para as atividades do partido, como: secretário, contador, advogado,
jornalista etc.?
- Os assessores dos parlamentares desenvolvem trabalhos burocráticos para o partido?
- Com que frequência ocorre as reuniões da Comissão Executiva e do Diretório?
- Quantos filiados o partido possui?
- Os filiados pagam algum tipo de taxa ao partido?
- Qual o envolvimento desses filiados com o partido?
- O partido desenvolve algum tipo de formação política para os filiados?

Eleições municipais de 2012 (E2012) e Eleições gerais de 2014 (E2014):


Coligação eleitoral:
- Como ocorreu a coligação para a disputa do Executivo? E para o Legislativo?
- As outras instâncias do partido (estadual, nacional) orientaram para que esse órgão
partidário fizesse/ou não fizesse coligação com algum partido específico?
* (Em caso de existir uma orientação): Existiu algum documento oficial (resolução ou
portaria) ou foi repassado informalmente por meio de reuniões e encontros?
340

- Alguma liderança política do partido orientou para a formação de coligação com algum
partido específico?
- Ocorreu algum conflito envolvendo essa coligação?
* (Em caso positivo) Como esse conflito foi solucionado? Algum órgão partidário de
nível hierárquico superior (estadual ou nacional) ou liderança partidária foram
mobilizados para intermediar o conflito?

Seleção de candidatos:
- Como ocorreu o processo de seleção de candidatos para o Executivo? E para o
Legislativo?
- As outras instâncias do partido (estadual, nacional) intermediaram essa seleção de
candidatos?
* (Em caso positivo): Ela ocorreu de igual forma para a seleção do Executivo e do
Legislativo ou o partido priorizou alguma dessas disputas?
- Para vaga do Executivo existiu mais de um candidato?
* (Em caso positivo): Como o partido procedeu para escolher o candidato? Existiu
algum tipo de prévia eleitoral? O partido seguiu o que previa no estatuto ou procedeu
informalmente a partir da orientação de alguma liderança partidária?
- Existiram critérios formais para selecionar os candidatos, como por exemplo: tempo de
filiação ao partido, participação nas decisões partidárias, competitividade eleitoral etc.?
- Alguma liderança política intermediou esse processo de seleção de candidatos?
- Ocorreu algum conflito envolvendo a seleção de candidatos?
* (Em caso positivo) Como esse conflito foi solucionado? Algum órgão partidário de
nível hierárquico superior (estadual ou nacional) ou liderança partidária foram
mobilizados para intermediar o conflito?

Financiamento eleitoral:
- Como ocorreu o processo de financiamento da campanha dos candidatos?
- Alguma instância do partido (municipal, estadual ou federal) financiou algum
candidato? Quais?
- Esse financiamento ocorreu mais para candidatos do Executivo ou também para
candidatos do Legislativo?
- As outras instâncias do partido (estadual, nacional) intermediaram esse financiamento?
Alguma liderança política intermediou esse financiamento?
- Existiram critérios formais para selecionar quais campanhas seriam financiadas, como
por exemplo: tempo de filiação ao partido, participação nas decisões partidárias,
competitividade eleitoral etc.?
- Ocorreu algum conflito envolvendo esse financiamento eleitoral?
* (Em caso positivo) Como esse conflito foi solucionado? Algum órgão partidário de
nível hierárquico superior (estadual ou nacional) ou liderança partidária foi mobilizado
para intermediar o conflito?

Acompanhamento do partido para campanha eleitoral:


- Alguma instância do partido (municipal, estadual ou federal) providenciou recursos para
a campanha de algum candidato?
* (Em caso positivo) Quais recursos foram disponibilizados? Para quais candidatos?
341

- Alguns desses recursos foram oferecidos para os candidatos, como: curso de preparação
para a campanha eleitoral, material de campanha, auxílio de militantes, suporte para a
organização de comício, visita de alguma liderança política?
- O partido em alguma instância (municipal, estadual ou federal) disponibilizou serviços
de técnicos, como: contador, advogado, jornalista, marqueteiro etc.?

Avaliação da eleição:
- Como você avalia essa eleição? A Comissão Executiva e/ou o Diretório se
reuniram/reuniu para debater sobre os resultados eleitorais dessa eleição?
- Alguma instância superior do partido (estadual ou federal) exigiu algum desempenho
eleitoral?
342
343

Anexo 3 - Quantidade de dep. federal e estadual eleito por partido (1982-2014)

1982 1986 1990 1994 1998 2002 2006 2010 2014 TOTAL (%)
PARTIDO C A C A C A C A C A C A C A C A C A
CD AL
D L D L D L D L D L D L D L D L D L
46 99
PSDB — — — — 7 18 11 20 12 21 8 17 5 15 2 7 1 1 (23,2) (23,9)
50 72
PMDB 5 12 12 24 4 4 5 5 5 6 5 5 6 7 5 3 3 6 (25,3) (17,4)
PPB/ 55
17 34 3 5 3 6 2 4 1 2 1 2 2 0 1 0 0 2 30 (15)
(13,2)
PP
24
PT 0 0 0 2 0 1 1 3 1 3 2 5 4 3 4 5 4 2 16 (8)
(5,8)
24
PSB — — 0 0 2 1 0 1 1 1 0 2 2 8 4 11 0 0 9 (4,5)
(5,8)
PFL/ 24
— — 6 13 4 5 2 0 1 2 2 1 0 1 0 1 1 1 16 (8)
(5,8)
DEM
PDT — — 1 2 2 3 0 4 0 2 0 1 0 2 1 4 1 3 5 (2,5) 21 (5)
PROS — — — — — — — — — — — — — — — — 3 12 3 (1,5) 12 (3)
PCdoB — — 0 0 0 1 1 0 1 1 1 1 1 1 2 1 1 2 7 (3,5) 7 (1,7)
PR — — — — — — — — — — — — — — 2 2 2 2 4 (2) 4 (1)
PL — — 0 0 0 2 0 3 0 1 2 4 1 0 — — — — 3 (1,5) 9 (2)
PCB/
— — 0 0 0 0 0 0 0 4 1 4 0 0 0 0 1 1 2 (1) 9 (2)
PPS
PTB — — 0 0 0 2 0 1 0 2 0 0 1 0 1 1 1 0 3 (1,5) 6 (1,4)
PSN -
— — — — — — — — 0 0 — 2 0 2 0 1 1 1 1 (0,5) 6 (1,4)
PHS
PSL — — — — — — — — 0 0 0 1 0 2 0 1 1 1 1 (0,5) 5 (1,2)
PRB — — — — — — — — — — — — — — 0 2 1 1 1 (0,5) 3 (0,7)
PV — — — — — — — — 0 0 0 0 0 2 0 2 0 1 0 5 (1,2)
PSDC — — — — — — — — 0 0 0 0 0 2 0 1 0 1 0 4 (1)
SD — — — — — — — — — — — — — — — — 1 2 1 (0,5) 2 (0,5)
PSC — — 0 0 0 0 0 2 0 1 0 0 0 0 0 0 0 1 0 4 (1)
PTN -
— — — — — — — — — — 0 0 0 0 0 1 0 1 0 2 (0,5)
PODE
PMN — — — — — — 0 2 0 0 0 0 0 0 0 1 0 0 0 3 (0,7)
PRP — — — — — — — — — — — — 0 0 0 1 0 1 0 2 (0,5)
PSD² — — — — — — — — — — — — — — — — 0 2 0 2 (0,5)
PSD¹ — — — — 0 1 0 1 0 0 0 1 — — — — — — 0 3 (0,7)
PSOL — — — — — — — — — — — — 0 0 0 0 0 1 0 1 (0,2)
PEN — — — — — — — — — — — — — — — — 0 1 0 1 (0,2)
PTdoB/
— — — — 0 0 — — — 0 0 0 0 0 0 1 0 0 0 1 (0,2)
AVANTE
PAN — — — — — — — — 0 0 0 0 0 1 — — — — 0 1 (0,2)
PCN — — — — 0 1 — — — — — — — — — — — — 0 1 (0,2)
PRN/
— — — — 0 1 — — 0 0 — — — — — — — — 0 1 (0,2)
PTC
198 414
TOTAL 22 46 22 46 22 46 22 46 22 46 22 46 22 46 22 46 22 46
(100) (100)
Fonte: Elaboração própria a partir dos dados do TRE-CE.
OBS.: Partidos que disputaram eleições, mas não conseguiram representação no Parlamento: PPL, PRTB,
PCO, PTC, PRONA, PCB, PSTU, PTR e PGT.
344
345

Anexo 4 - Quantidade de órgãos partidários - 184 municípios do Ceará (2008-2015)


%
PARTIDOS 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015 MÉDIA
MUNICÍPIOS
PT 154 183 183 184 182 184 184 179 179,125 97,3
PR 162 171 173 178 176 176 177 181 174,25 94,7
PTB 158 161 160 167 164 162 162 161 161,875 87,9
PRB 139 144 146 168 169 169 169 132 154,5 83,9
PSB 68 168 162 181 181 179 77 138 144,25 78,3
PSDB 139 173 94 165 163 138 112 164 143,5 77,9
PMDB 142 128 98 172 178 143 101 174 142 77,1
PCdoB 125 129 99 157 159 150 101 154 134,25 72,9
PDT 86 129 88 144 149 153 131 182 132,75 72,1
PP 83 118 100 154 158 128 124 154 127,375 69,2
DEM 126 124 94 114 115 114 114 137 117,25 63,7
PV 115 131 72 141 139 71 67 98 104,25 56,6
PSD 0 0 0 144 146 150 151 164 94,375 51,2
PSC 73 75 76 105 107 102 80 90 88,5 48
PPS 96 48 25 114 115 71 61 123 81,625 44,3
PSL 77 58 48 101 96 98 57 89 78 42,3
PTN 54 20 32 100 100 100 87 120 76,625 41,6
PHS 21 85 58 94 101 68 38 87 69 37,5
PMN 52 57 25 94 92 68 62 72 65,25 35,4
PTdoB 21 22 26 78 76 79 69 99 58,75 31,9
PRP 77 58 49 52 47 46 45 71 55,625 30,2
PRTB 27 23 30 75 76 56 46 71 50,5 27,4
PROS 0 0 0 0 0 104 139 138 47,625 25,8
PSDC 43 58 45 61 58 49 26 41 47,625 25,8
PTC 44 14 4 70 72 46 29 66 43,125 23,4
PEN 0 0 0 1 27 68 60 87 30,375 16,5
SD 0 0 0 0 0 64 67 106 29,625 16,1
PSOL 19 1 1 2 25 25 25 24 15,25 8,28
PCB 16 18 12 12 11 5 4 2 10 5,43
PPL 0 0 0 5 49 0 0 1 6,875 3,73
PMB² 0 0 0 0 0 7 7 7 2,625 1,42
PSTU 1 1 1 1 4 4 3 2 2,125 1,15
PCO 1 0 0 0 0 0 0 0 0,125 0,06
Fonte: Elaboração própria a partir dos dados do SGIP-TSE.
346
347

Anexo 5 - Lista de candidatos à Câmara Federal e a Assembleia em 2014 — PMDB


SITUAÇÃO
NOME CARGO (VOTOS PROFISSÃO / CARGO / SITUAÇÃO POLÍTICA
NOMINAIS)
Deputado federal (2011-atual). Filiações partidárias:
PSB (2015-2017), PMDB (2008-2015), PCdoB (2001-
2008) e PMDB (1982-2001). Líder do PSB (10/2015-
Francisco
10/2017), vice-Líder do PMDB (02/2013-01/2015),
Danilo Dep. Eleito por QP
presidente da Fundação Ulysses Guimarães do Ceará
Bastos Federal (180.157)
(2010), membro do Diretório Nacional do PMDB
Forte
(2009). presidente da Fundação Nacional de Saúde
(2007-2010), diretor executivo da Fundação Nacional
de Saúde (FUNASA) (2005-2007).
Deputado federal (1995-atual). Prefeito de Acaraú-CE
Aníbal
Dep. Eleito por QP (1989-1993). Filiação partidária: PMDB (1999-
Ferreira
Federal (173.736) atual;1982-1997), PSDB (1997-1999). Presidente do
Gomes
Diretório do PMDB-Acaraú (1982-1988).
Apresentador de programa policial na TV. Deputado
Vitor Eleito por
Dep. federal (2015-atual), vereador de Fortaleza (2008-
Pereira média
Federal 2014). Filiação partidária: PMDB (2009-atual); PHS
Valim (92.499)
(2008).
Deputado federal (1999-2016), senador (1975-1983;
1987-1995), deputado estadual (1959-1975) e vereador
Carlos de Fortaleza (1955-1959). presidente (1969-1998) e
Mauro Dep. Suplente vice-presidente (1966-1968) do Diretório Regional do
Cabral Federal (60.201) MDB/PMDB-CE, tesoureiro da Comissão Executiva
Benevides Nacional do MDB/PMDB (1975-1979; 1980-1990) e
secretário do Diretório Regional do PSD-CE (1962-
1965).
Deputado federal (2011-2015). Presidente do grupo
Mário MCF (1997-2010), executivo do Banco Mercantil de
Feitoza de Dep. Suplente Pernambuco (BMP) (1992-1995), executivo do Banco
Carvalho Federal (56.162) Mercantil do Ceará/Banco Mercantil de Crédito (BMC)
Freitas (1978-1992). Filiações partidárias: PMDB (2007-2010;
2011-atual), PSDB (1992-2007).
Médico. Deputado estadual suplente (2007-2010),
Jaziel
Dep. Suplente vereador de Fortaleza pelo PL (2001-2004). Renunciou
Pereira de
Federal (53.561) à candidatura a dep. estadual em 2010. Casado com a
Sousa
deputada estadual Silvana Oliveira de Sousa.
Esmeralda Professora municipal em Icó e coordenadora regional
Roberto de Dep. Suplente dos cursos de formação política da Fundação Ulysses
Sousa Federal (3.805) Guimarães no Ceará. Base política de Edenilda Lopes
Lima de Oliveira, irmã de Eunício Oliveira.

Deputado federal suplente em 2010 com 66.144 votos.


Filho do ex-deputado federal (PSDB-1995-1997;
José PMDB-2003-2011) e ex-prefeito de Caucaia (PSDB-
Gerardo Dep. Suplente 1997-2000) — José Gerardo Oliveira de Arruda Filho
Corrêa de Federal (1.117) — e da ex-prefeita de Caucaia (PMDB 2005-2008) e
Arruda ex-deputada estadual (PSDB 1999-2004) — Inês Maria
Correa de Arruda —, irmão da candidata a deputada
estadual em 2014 — Lívia Correa de Arruda (PTB).
348

SITUAÇÃO
NOME CARGO (VOTOS PROFISSÃO / CARGO / SITUAÇÃO POLÍTICA
NOMINAIS)
Empresário. Filho do ex-prefeito (PMDB-2012-2016;
PSDB-2005-2008) e ex-vice-prefeito (PSDB-1989-
José
1992) de Juazeiro do Norte, ex-deputado federal
Mauro Dep. Suplente
(PMDB-2011-2012), ex-deputado estadual (PSDB-
Gonçalves Federal (389)
1991-2004) — Raimundo Antônio de Macêdo. Irmão
de Macedo
do candidato a deputado estadual (PMDB) David
Macedo.
Francisco
Carlos de Dep. Suplente
Advogado. Militante do PMDB de Fortaleza.
Freitas - Federal (288)
Carlone
Maria
Valselena Dep. Suplente
Vendedora. Militante do PMDB de Fortaleza.
Nogueira Federal (118)
Felix
Francisca
Suely Dep. Suplente
Natural de Russas. Militante do PMDB de Fortaleza.
Nogueira Federal (27)
Lima
Ana
Dona de casa, natural de Lavras da Mangabeira. Ligada
Mirtes Dep. Indeferido
à facção política de Edenilda Lopes de Oliveira, irmã
Leite Federal (0)
de Eunício Oliveira.
Machado
Maria
Josélia Dep. Indeferido
Dona de casa. Militante do PMDB de Fortaleza.
Chagas da Federal (0)
Silva
Ex-deputado estadual (PMDB- 2003-2005; 2015-atual),
Agenor
Dep. Eleito por QP prefeito de Iguatu (PSDB — 2005-2008; PMDB- 2009-
Gomes de
Estadual (78.868) 2012). 2º vice-presidente do Diretório Estadual do
Araújo Neto
PMDB-CE (2011-atual).
Danniel Dep. estadual (2011-atual). Sobrinho do senador Eunício
Lopes de Dep. Eleito por QP Oliveira, 1º tesoureiro do Diretório Estadual do PMDB-
Oliveira Estadual (62.550) CE (2008-atual) e presidente da Juventude do PMDB
Sousa (JPMDB-CE) (2008-atual).
Silvana Médica e evangélica, deputada estadual (2010-atual).
Dep. Eleito por QP
Oliveira de Esposa do candidato a dep. federal Jaziel Pereira de
Estadual (41.449)
Sousa Sousa.
Carlomano
Dep. Eleito por QP Dep. estadual (PMDB 1998-2014; PPR 1994-1998; PDS
Gomes
Estadual (37.422) 1991-1994), vereador de Fortaleza (PDS 1989-1990).
Marques
Vereador de Fortaleza (PMDB 1997-2008; PHS 2008-
Walter 2011; PMDB 2013-) e presidente da Câmara Municipal
Dep. Eleito por QP
Lima Frota de Fortaleza (2013-2014). Presidente e diretor financeiro
Estadual (33.094)
Cavalcante da Cooperativa Habitacional dos Bancários do Estado do
Ceará (COHABECE) (1996).
Vereador de Tauá (2009-2014). Presidente da União dos
Audic Eleito por Vereadores e Câmaras do Ceará (UVC) (2013-2014).
Dep.
Cavalcante média Integrava anteriormente a base eleitoral de Domingos
Estadual
Mota Dias (28.509) Filho, o 2º vice-presidente do Diretório Estadual do
PMDB-CE (2008-2011).
349

SITUAÇÃO
NOME CARGO (VOTOS PROFISSÃO / CARGO / SITUAÇÃO POLÍTICA
NOMINAIS)
Leonardo Advogado. Conselheiro estadual da Ordem dos
Dep. Suplente
Araújo de Advogados (2009-2015). Secretário-geral da Associação
Estadual (24.040)
Sousa dos Jovens Advogados do Brasil (AJA) (2006-2009).
Prefeita de Caucaia (PMDB 2005-2008), Deputada
estadual (PSDB 1999-2004). Candidata do PMDB não
eleita ao Executivo de Caucaia nas eleições de 2010 e
Inês Maria 2012. Esposa do ex-deputado federal (PSDB-1995-1997;
Dep. Suplente
Correa de PMDB-2003-2011) e ex-prefeito de Caucaia (PSDB-
Estadual (23.787)
Arruda 1997-2000) — José Gerardo Oliveira de Arruda Filho.
Mãe dos candidatos em 2014: dep. federal José Gerardo
Corrêa de Arruda (PMDB) e dep. estadual Lívia Correa
de Arruda (PTB).
Ricardo
Dep. Suplente Empresário. Dep. estadual (PDT 1995-2002), vereador
Alves de
Estadual (10.507) de Acopiara (PFL 1989-1992; PDT 1993-1994).
Almeida
Jocélia Médica ginecologista em Itapipoca, município onde
Ligia da Dep. Suplente concentrou sua votação, 3.950 (57%). Candidata a
Cunha Silva Estadual (6.841) deputada estadual em 2010 pelo PHS, obteve 14.874
Castro votos, concentrando em Itapipoca 10.630 votos (71%).
João Empresário, natural de Massapê, município onde
Jacques concentrou sua votação, 4.464 votos (79%). Foi
Dep. Suplente
Carneiro candidato ao Executivo desse município em 2000 (7.970
Estadual (5.614)
Albuquerqu votos) e 2004 (8.583 votos) pelo PPS e 2008 pelo PSB
e (9.870 votos).
Carlos
Administrador. Militante do PMDB de Fortaleza.
Aurélio Dep. Suplente
Candidato a deputado estadual em 2010 pelo PSDB,
Oliveira Estadual (1.135)
obteve 421votos.
Gonçalves
Administradora. Militante do PMDB de Fortaleza, local
em que obteve 793 votos (86%). Criadora de uma página
Lara
Dep. Suplente nas redes sociais — “Ceará Apavorado”
Palmeira
Estadual (912) <https://www.facebook.com/ongcearaapavorado> —
Pinheiro
onde relata casos de criminalidade no estado e em
Fortaleza.
Maria Ieda
Dep. Suplente Sem ocupação definida. Candidata em 2012 e 2004 a
Ferreira
Estadual (647) vereadora em Caridade, mas não obteve votos.
Maia
Estudante. Militante do PMDB de Fortaleza. Candidato
George
Dep. Suplente a deputado estadual pelo PTC em 2010, obtendo 5 votos,
Marconi
Estadual (414) e a deputado federal em 2006 pelo PSDC, obtendo 1.065
Sousa Silva
votos.

Servidor público estadual da Empresa de Assistência


José Evaldo Dep. Suplente Técnica de Extensão Rural do Ceará (EMATERCE),
Ribeiro Estadual (381) presidente da Associação dos Servidores da
EMATERCE (ASSEMA) (2009-2017).
350

SITUAÇÃO
NOME CARGO (VOTOS PROFISSÃO / CARGO / SITUAÇÃO POLÍTICA
NOMINAIS)
Empresário. Filho do ex-prefeito (PMDB-2012-2016;
PSDB-2005-2008) e ex-vice-prefeito (PSDB-1989-
David Ney 1992) de Juazeiro do Norte, ex-deputado federal
Dep. Suplente
Gonçalves (PMDB-2011-2012), ex-deputado estadual (PSDB-
Estadual (323)
de Macedo 1991-2004) — Raimundo Antônio de Macêdo. Irmão do
candidato a deputado federal (PMDB) José Mauro
Macedo.
Funcionária comissionada do governo estadual do
Gisele
Dep. Suplente Ceará- apoio administrativo. Militante do PMDB de
Felipe
Estadual (312) Fortaleza. Candidata em 2012 a vereadora em Fortaleza
Braga
obtendo 8 votos.
Arlindo
Augusto de Dep. Suplente Professor. Candidato em 2000 a vereador em Pacatuba
Araújo Estadual (186) pelo PPS, obteve 45 votos.
Filho
Zuíla Enfermeira. Candidata a vereadora em Guaiuba pelo
Dep. Suplente
Assunção PMDB em: 2012 (5 votos), 2008 (19 votos) e 2004 (33
Estadual (146)
da Silva votos).
Francisca
Sem ocupação definida. Candidata a vereadora pelo
Maria de Dep. Suplente
PMDB de Fortaleza em 2012 (93 votos) e em 2004 em
Jesus Estadual (127)
Milagres (0 votos).
Santos
Marco
Feitoza de Dep. Suplente Administrador. Militante do PMDB de Fortaleza. Aliado
Albuquerqu Estadual (65) político do deputado federal Mário Feitoza (PMDB).
e Freitas
Ênio
Dep. Suplente Vereador no município de Pacatuba pelo PMDB (2005-
Medeiros
Estadual (39) atual).
do Carmo
Antônio Vereador no município de Iguatu (2008-atual). Aliado
Dep. Suplente
Bandeira político do deputado estadual (2003-atual) e ex-prefeito
Estadual (36)
Junior de Iguatu (2005-2012) Agenor Neto (PMDB).
Francisca
Aurinete Dep. Suplente
Estudante. Militante do PMDB de Russas.
Vieira de Estadual (21)
Sousa
Talita
Dep. Suplente
Valentim Enfermeira. Militante do PMDB de Canindé.
Estadual (20)
Ximenes
Fonte: Elaboração própria a partir dos dados do DivulgaCand-TSE, portal do Câmara dos
Deputados, Assembleia Legislativa do Ceará e Dicionário Bibliográfico do CPDOC.
351

Anexo 6 - Lista de candidatos à Câmara Federal e a Assembleia em 2014 — PT


SITUAÇÃO
NOME CARGO (VOTOS PROFISSÃO / CARGO / SITUAÇÃO POLÍTICA
NOMINAIS)
Deputado federal (2007-atual), deputado estadual
(2000-2006), membro do Diretório Nacional do PT
(2006-atual), coordenador do GTE Nacional (2004),
José Nobre Eleito por presidente do Diretório Estadual do PT-CE (1991-
Dep.
Guimarães QP 2000). Na Câmara dos Deputados foi líder do PT
Federal
(CNB/CD) (209.032) (12/2012-02/2014), vice-líder do Governo
(04/2011), vice-líder do PT (03/2009-03/2010;
02/2011-06/2011). Na ALECE foi líder do PT
(2001-2005).
Prefeita de Fortaleza (2005-2012), deputada
estadual (2002-2004), vereadora de Fortaleza (1996-
2002); presidenta do Diretório Estadual do PT-CE
Luizianne de Eleito por
Dep. (2010-2013); presidenta do PT de Fortaleza (2010-
Oliveira Lins QP
Federal 2013; 1995-1997); membro do Diretório Nacional
(DS) (130.717)
(1996); secretária estadual de Mulheres do PT-CE
(1995-1997), secretária estadual de Juventude do
PT-CE (1992-1994).
Médico e professor universitário, secretário de
Luiz Odorico Eleito por Gestão Estratégica e Participativa no Ministério da
Dep.
Monteiro de QP Saúde (2011-2014), secretário de Saúde em
Federal
Andrade (CNB) (121.640) Fortaleza (2005-2008), Sobral (1997-2004),
Quixadá (1993-1996) e Icapuí (1988-1992).
Deputado federal (2007-atual), vereador de
Fortaleza (2001-2004), prefeito de Icapuí pelo PT
(1993-1996) e pelo PMDB (1986-1988), vereador de
José Airton Eleito por Aracati pelo PMDB (1982-1985), membro do
Dep.
Felix Cirilo da QP Diretório Nacional do PT (2006), presidente do
Federal
Silva (MPT) (94.056) Diretório Estadual do PT-CE (2001-2004), do PT de
Icapuí (1987), do PMDB de Icapuí (1982), diretor da
Associação dos Prefeitos e Municípios do Estado do
Ceará (APRECE) (1986-1988;1993-1996).
Deputado federal (2007-2015). Na Câmara dos
Deputados foi vice-líder do PT (03/2007-04/2008;
Antônio Eudes Dep. Suplente
03/2013-03/2014); membro do Diretório Estadual
Xavier (DS) Federal (35.952)
do PT-CE (2007-atual), presidente da CUT-CE
(1997-2000).
Advogado. Vereador de Fortaleza (2013-2016).
Deodato José secretario da Executiva Regional 4 de Fortaleza
Dep. Suplente
Ramalho Junior (2005?-2009), secretário de Meio Ambiente e
Federal (18.535)
(AE) Controle Urbano da Prefeitura de Fortaleza
(SEMAM) (2009-2012?).

Vereador de Fortaleza (2009-atual). Na Câmara dos


Vereadores foi presidente (2011-2012) e líder do
governo (2008-2010). Presidente do Instituto
José Acrisio de Dep. Suplente
Municipal de Pesquisa, Administração e Recursos
Sena (MS) Federal (15.676)
Humanos (IMPARH) (2005-2008), presidente da
CUT-CE (1991), dirigente do Sindicato dos
Bancários do Ceará.
352

SITUAÇÃO
NOME CARGO (VOTOS PROFISSÃO / CARGO / SITUAÇÃO POLÍTICA
NOMINAIS)
Francisco
Antônio Costa
Emiliano (Sen. Dep. Suplente
Motorista de veículos de transporte de carga.
Pimentel e Dep. Federal (6.774)
Estadual Artur
Bruno)
Alba Cristina
Dep. Suplente
Nogueira Lopes Agente administrativo.
Federal (711)
(CNB)
Celia Romero
Gonçalves
Dep. Suplente
Rodrigues Professora de ensino fundamental.
Federal (359)
(Militante
Independente)
Presidente (2010-2013; 2005-2009), secretário de
Finanças (2001-2005) e coordenador regional
Eleito por (1993-1996) da Federação dos Trabalhadores e
Moises Braz Dep.
QP Trabalhadoras Rurais do Estado do Ceará
Ricardo (CNB) Estadual
(75.027) (FETRAECE), presidente do Sindicato dos
Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais (STTR) de
Massapê (1990-1993).
Presidente do PT de Fortaleza (2013-2017),
secretário municipal de Educação de Fortaleza
(2011-2012), coordenador da Comissão de
Elmano de Eleito por Participação Popular do Gabinete da Prefeita de
Dep.
Freitas da Costa QP Fortaleza (2009-2011), coordenador da campanha
Estadual
(DS) (44.292) de reeleição de Luizianne Lins a prefeita de
Fortaleza em 2008, coordenador da Rede Nacional
de Advogados e Advogadas Populares (RENAP)
(2001-2009).
Deputado estadual (2007-2014), Secretária do
Desenvolvimento Agrário (SDA) (2014-), assessor
Francisco José Dep. Suplente da Secretaria Especial de Aquicultura e Pesca
Teixeira (CNB) Estadual (37.110) (SEAP) (2005-2006), prefeito de Icapuí (1989-
1992), secretário de Comunicação e Turismo de
Icapuí (1987-1988).
Deputada estadual (2005-2014; 2016-atuando como
suplente), presidenta da Companhia Docas do Ceará
(2003-2004), secretária de Saúde e Assistência
Social de Quixadá (2001-2002), presidenta da
Rachel Ximenes
Dep. Suplente Fundação de Turismo de Fortaleza (FORTUR)
Marques
Estadual (35.955) (1999), presidenta da Fundação Municipal de
(CNB/MP)
Profissionalização e Geração de Emprego, Renda e
Difusão Tecnológica (PROFITEC) de Fortaleza
(1997-1998), secretária do Trabalho e Ação Social
de Quixadá (1993-1996).
Manoel
Raimundo de Dep. Suplente Prefeito de Juazeiro do Norte (2009-2012), vereador
Santana Neto Estadual (31.396) de Juazeiro do Norte (2001-2004).
(CNB)
353

SITUAÇÃO
NOME CARGO (VOTOS PROFISSÃO / CARGO / SITUAÇÃO POLÍTICA
NOMINAIS)
Deputado federal (2011-2015), deputado estadual
Artur José
Dep. Suplente (1995-2010), vereador de Fortaleza (1989-1994),
Vieira Bruno
Estadual (26.458) vice-Líder do PT na Câmara dos Deputados
(Reencantar)
(04/2011-03/2012; 03/2014).
Deputado estadual (2010-2014), secretário
municipal, ouvidor geral do município de Fortaleza,
Antônio Carlos assessor especial do gabinete da prefeitura (2005-
Dep. Suplente
de Freitas Souza 2010), secretário-geral (2008-2010) e 2º vice-
Estadual (16.286)
(DS) presidente (2010-2013) do Diretório Estadual do
PT-CE, assessor político dos mandatos de vereadora
e deputada estadual de Luizianne Lins (1996-2004).
Vice-governador (2007-2010), vereador suplente de
Fortaleza (2001-2004), secretário da Cultura do
Francisco José Dep. Suplente
Ceará (2011-2013), secretário-geral do Diretório
Pinheiro (EPS) Estadual (15.054)
Estadual do PT-CE (2010-2013), Secretário da
Regional IV (2005-2007).
Guilherme de
Figueiredo
Dep. Suplente
Sampaio (Muda Vereador de Fortaleza (2005-atual).
Estadual (11.550)
PT; Casa
Vermelha)
Alísio de
Dep. Suplente
Menezes Meira Representante comercial.
Estadual (2.607)
(CNB)
Ana Valeria
Escolástico
Dep. Suplente
Mendonça Agente administrativo.
Estadual (954)
(Militância
Independente)
Ana Maria
Ferreira da Dep. Suplente Funcionária pública estadual da secretaria da
Cunha Campos Estadual (637) Fazenda do Estado do Ceará (SEFAZ).
(OT/AP)
Luciantonio
Dep. Suplente
Almeida Falcão Advogado. Sindicato dos Bancários.
Estadual (618)
(Sem. Pimentel)
Maria do Carmo
Bezerra Alves
Dep. Suplente
Martins Odontóloga.
Estadual (128)
(Militante
Independente)
Joaquim
Dep. 1º vice-presidente (2010-2013) e presidente (2005-
Cartaxo Filho Renuncia
Estadual 2007) do Diretório Estadual do PT-CE.
(CNB)
Djanira Maria
Silva Mendes Dep.
Deferido Servidora pública federal.
(Militante Estadual
Independente)
Fonte: Elaboração própria a partir dos dados do DivulgaCand-TSE, portal do Câmara dos Deputados,
Assembleia Legislativa do Ceará, Dicionário Bibliográfico do CPDOC e entrevista com Sônia Braga
(Membro do Diretório Estadual do PT do Ceará) para coletar informações sobre as tendências.
354
355

Anexo 7 - Lista de candidatos à Câmara Federal e a Assembleia em 2014 — PSDB


SITUAÇÃO
NOME CARGO (VOTOS PROFISSÃO / CARGO / SITUAÇÃO POLÍTICA
NOMINAIS)
Deputado Federal pelo PSDB (1997-atual), prefeito pelo
PFL (1989-1992) e vice-prefeito pelo PDS (1983-1989)
de Maranguape. Vice-líder do PSDB (2007-2008; 2011-
Raimundo Eleito por
Dep. 2012; 2013-2014) e vice-líder da Minoria (2016) na
Gomes de QP
Federal Câmara dos Deputados. Presidente (2010-2011) e
Matos (95.145)
suplente (1995) do Diretório Regional do PSDB-CE,
presidente do Diretório Municipal do PSDB-
Maranguape (1990).
Mayra
Isabel Dep. Suplente Médica. Presidenta do Sindicato dos Médicos do Ceará
Correia Federal (25.835) (SINDME-CE) (2015-2018).
Pinheiro
Advogada. Militante do PSDB de Fortaleza. Integrante
Eliete da lista sêxtupla eleita pela Ordem dos Advogados do
Dep. Suplente
Sampaio Ceará (OAB-CE) para à vaga de desembargador do
Federal (1.598)
Pinheiro Tribunal Regional do Trabalho Sétima Região (TRT7)
pelo Quinto Constitucional.
Vivianne
Dep. Suplente Secretária. Candidata a vereadora de Fortaleza em 2012
Fortes de
Federal (1.265) pelo PSDB (105 votos).
Cerqueira
Advogado e radialista. Procurador de Justiça do
Tribunal de Contas dos Municípios do Ceará (1987-
2017), deputado estadual (1981-1986), vereador
Francisco suplente de Fortaleza pelo MDB (1978). Em 1992 filiou-
Almino Dep. Suplente se ao PSDB e retomou a atividade política eleitoral,
Leite de Federal (1.095) porém não obteve êxito nas candidaturas a vereador de
Menezes Fortaleza em 2012 (327 votos), 2008 (397 votos) e 2004
(618 votos); Dep. Estadual em 1998 (1.932 votos) e Dep.
Federal em 2010 (2.369 votos), apresentando uma
votação concentrada em Fortaleza (1.942 votos - 81%).
Carlos
Dep. Suplente
Francisco Advogado. Militante do PSDB de Fortaleza.
Federal (445)
Bonaparte
Paulo Sergio
Dep. Suplente Médico. Militante do PSDB de Fortaleza e ligado ao
de Oliveira
Federal (345) Sindicato dos Médicos do Ceará (SINDME-CE).
Moura
Darlan Ex-soldado da polícia militar, defensor da
Dep. Suplente
Menezes desmilitarização da corporação e autor do livro
Federal (295)
Abrantes "Militarismo, um sistema arcaico de segurança pública".

Luiz Jairo Comerciante e militante do PSDB do Crato-CE. Foi


Dep. Indeferido
Sampaio candidato a vereador em 2012 em Crato pelo PSDB,
Federal (0)
Pinto obtendo 382 votos.
356

SITUAÇÃO
NOME CARGO (VOTOS PROFISSÃO / CARGO / SITUAÇÃO POLÍTICA
NOMINAIS)
Empresário. Diretor da Granja Regina. Ocupou cargos
de direção em órgãos de representação empresarial,
como: coordenador-geral da Associação dos Jovens
Empresários do Ceará (AJE) em 1991, presidente da
Associação Cearense de Avicultura (ACEAV) (1992-
1998), vice-presidência do CIC (1996-1998), diretor
corporativo do Instituto de Desenvolvimento Industrial
Eleito por do Ceará (INDI), órgão ligado a Federação das
Carlos Dep.
QP Indústrias do Estado do Ceará (FIEC), (2012-2014). Foi
Matos Lima Estadual
(29.036) secretário da Agricultura Irrigada do Estado do Ceará
(1999-2002), secretário da Agricultura e Pecuária
(2003-2006), presidente do Fórum dos Secretários de
Agricultura do Nordeste e vice-presidente do Fórum
Nacional de Secretários de Agricultura (2002-2006). No
PSDB assumiu os cargos de presidente do Diretório
Estadual do Ceará (2007-2009) e presidente do Instituto
Teotônio Vilela (2012-2014).
Tomás
Antônio
Albuquerque
Advogado. Deputado estadual pelo PSDB(2007-2010) e
de Paula Dep. Suplente
deputado federal suplente em 2010, obtendo 53.918
Pessoa Filho Estadual (20.143)
votos.
- Tomás
Figueiredo
Filho
Antônio
Arnaldo Dep. Suplente
Empresário.
Forte dos Estadual (7.592)
Santos
Marcos
Dep. Suplente
Rodrigues Médico.
Estadual (2.722)
Cordeiro
João Batista Dep. Suplente
Jornalista e redator.
Gomes Mota Estadual (1.340)
Francisca
Gilmara Dep. Suplente Servidora pública estadual. Natural de Limoeiro do
Campelo Estadual (1.038) Norte.
Girão
Almir
Dep. Suplente
Antônio de Empresário.
Estadual (832)
Sousa
Inês Romero Dep. Suplente
Servidora pública estadual.
Lima Estadual (454)
Francisco
Dep. Suplente
das Chagas Sem ocupação definida.
Estadual (384)
Silva
Nixson Seigi Comerciante. Era militante do PSDB de Fortaleza, local
Dep. Suplente
Pedrosa em que obteve 128 votos. Em 2016 candidatou-se a
Estadual (273)
Nagaura vereador em Fortaleza pelo PV, obtendo 112 votos.
Empresário. Militante do PSDB de Fortaleza onde
Luiz Carlos Dep. Suplente
obteve 207 votos. Sem histórico anterior de cargos
Filho Estadual (248)
eleitos.
357

SITUAÇÃO
NOME CARGO (VOTOS PROFISSÃO / CARGO / SITUAÇÃO POLÍTICA
NOMINAIS)
Antônio
Dep. Suplente Professor, jornalista e redator. Candidatou-se em 2016
Elias da
Estadual (223) vereador de Maranguape pelo PTB, obtendo 17 votos.
Costa
Marcos
Antônio Dep. Suplente Advogado. Militante do PSDB de Camocim. Eleito em
Silva Veras Estadual (183) 2016 vereador de Camocim.
Coelho
Marcos
Heleno Dep. Suplente Sem ocupação definida. Militante do PSDB de
Barbosa dos Estadual (129) Fortaleza. Sem histórico anterior de cargos eleitos.
Santos
Maria
Pedagoga e professora universitária. Militante do PSDB
Mirian Dep. Suplente
de Fortaleza. Candidata a vereadora de Fortaleza pelo
Marinheiro Estadual (101)
PSDB em 2008 (88 votos) e 2012 (0 voto).
Paiva
Francisco da
Nobrega Dep. Suplente Sem ocupação definida. Militante do PSDB de
Vasconcelos Estadual (54) Pentecoste.
Junior
Maria José
Oliveira Dep. Candidatura Aposentada. Militante do PSDB de Fortaleza. Ex-
Lopes de Estadual indeferida vereadora de Itaiçaba (1989-1992).
Moura
Marcos
Aurélio Dep. Renúncia Vereador em Russas (2009-2016). Reeleito vereador de
Ferreira Estadual Russas em 2016, mas pelo PSD.
Estácio
Luiz Alberto Dep.
Renúncia Empresário. Presidente do Diretório Estadual.
Vidal Pontes Estadual
Fonte: Elaboração própria a partir dos dados do DivulgaCand-TSE, portal do Câmara dos
Deputados, Assembleia Legislativa do Ceará e Dicionário Bibliográfico do CPDOC.
358
359

Anexo 8 - Lista de candidatos ao Executivo municipal de Nova Olinda (1982-2012)

VOTOS
CARGO COLIGAÇÃO PARTIDO CANDIDATO
NOMINAIS

Pref. José Alves de Lima


(sem coligação) PDS 1.950
Vice Laurênio Alves Feitosa
1982

Pref. Raimundo Nonato Sampaio


(sem coligação) PMDB 1.050
Vice Alvino Ribeiro de Carvalho
Pref. PFL José Alencar Alves
* 1.866
Vice * José Cordeiro de Matos
Pref. PMDB Raimundo Nonato Sampaio
1988

* 1.062
Vice * André Félix Barbosa
Pref. PDS Antônio Taumaturgo de Magalhães
* 1.027
Vice * Maria Feitosa de Alencar Porfírio
Pref. PSDB José Alves de Lima
* 2.835
Vice * *
1992

Pref. PDT Francisco Idemar Alves de Alencar


* 2.775
Vice * *
Pref. PMDB / PFL / PMDB Fábia Brito Alencar Alves
3.694
Vice PDT * *
1996

Pref. Maria Alzeny Rodrigues de Lima


(sem coligação) PSDB 3.014
Vice *
Pref. PSDB / PFL / PSDB Fábia Brito Alencar Alves
3.384
Vice PMDB / PPB PFL Francisco Fernando de Matos Feitosa
2000

Pref. Humberto Moreira de Lima


(sem coligação) PPS 3.163
Vice Francisco Barbosa Filho
Pref. PSDB / PL / PSDB Afonso Domingos Sampaio
PHS / PFL / 4.677
Vice PL Francisco Idemar Alves de Alencar
2004

PRP
Pref. PP / PT / Francisco Jucinê Sampaio de Oliveira
PMDB 3.277
Vice PMDB / PPS Humberto Moreira de Lima
Pref. PP/ PSDB/ PSDB Afonso Domingos Sampaio
5.350
Vice PMDB/ DEM PMDB Elízio Manoel Galdino
Pref. Fábia Brito Alencar Alves
2008

PHS/PRP/PMN
PSB 3.546
Vice /PSB Humberto Moreira de Lima
Pref. Antônio Roberto de Araújo Souza
(sem coligação) PT 150
Vice Maria do Socorro Alves de Matos
Pref. PP / PTB / PSD PSD Francisco Ronaldo Sampaio
PMDB / DEM / 4.978
Vice PRP / PSDB / PMDB Elízio Manoel Galdino
2012

Pref. PRB / PDT / PSB Geraldo Gerlânio Sampaio de Oliveira


PT / PR / PHS /
4.627
Vice PMN / PSB / PHS Jacques de Souza Brito
PC do B
Fonte: Elaboração própria a partir dos dados do TRE-CE.
* Sem informações
360
361

Anexo 9 - Lista de candidatos ao Executivo municipal de Mombaça (1982-2012)


VOTOS
CARGO PARTIDO CANDIDATO
NOMINAIS
Pref. José Valdomiro Távora de Castro
(sem coligação) PDS 8.780
Vice Francisco Djacir Marques
1982

Pref. Antônio Castelo Meireles


(sem coligação) PMDB-1 4.923
Vice Luiz Humberto Teixeira Vieira
Pref. José Venício de Lima Martins
(sem coligação) PMDB-2 3.273
Vice Francisco Antônio Sá Filho
Pref. PDS Nelson Benevides Teixeira
PDS / PMDB 12.791
Vice Francisco José Brasil Barreto
1988

Pref. Nilson Alves do Nascimento


(sem coligação) PT Fátima Aparecida Andrade 3.347
Vice
Granjeiro
Pref. PDS José Valdomiro Távora de Castro
PDS / PMDB 10.214
Vice PMDB Walderez Diniz Vieira
1992

Pref. José Evenilde Benevides Martins


(sem coligação) PSDB Newton Benevides Castelo 9.884
Vice
Teixeira
Raimundo Benone de Araújo
Pref. PPB / PMDB / PPB
Pedrosa 10.547
PDT
1996

Vice PMDB Diana Maria Gomes Barreto


Pref. José Evenilde Benevides Martins
(sem coligação) PSDB 10.319
Vice *
Raimundo Benone de Araújo
Pref.
PPB / PDT PPB Pedrosa 11.493
Vice Roberto Benevides de Castro
2000

Newton Benevides Castelo


Pref. PMDB
Teixeira
PMDB / PSDB 9.585
Antônio Ari Benevides
Vice PSDB
Cavalcante
Pref. PSDB / PMDB / PSDB José Wilame Barreto Alencar
13.044
PT
2004

Vice PMDB Gerson Cavalcante Vieira Neto


Pref. PP Roberto Benevides de Castro
PP / PL / PSC 10.363
Vice PP Eduardo Pedroza
Pref. PSDB José Wilame Barreto Alencar
PTB/PSDB/PMDB 12.206
Vice PMDB Gerson Cavalcante Vieira Neto
2008

Pref. PR/ PP/ PRB/ PSB Nelson Benevides Teixeira


11.556
Vice DEM/ PSC/ PSB PR Roberto Benevides de Castro
Pref. PT César Garcia de Araújo
PCdoB/ PT 329
Vice PC do B José Valdetário de Araújo
Pref. PSD Ecildo Evangelista Filho
PDT / PTB / PPS /
Claudênia do Nascimento Sousa 10.715
Vice DEM / PRP / PSD PTB
Cavalcante
Pref. Luís Wellington Barreto Vieira
(sem coligação) PMDB 2.282
2012

Vice Leôncio Nunes de Almeida


Pref. PT Antônio Ermínio Filho
PT / PSC 824
Vice PT Francisco Luiz Feitosa
Pref. PRB / PP / PR / PSB Roberto Benevides de Castro Não
Vice PSB / PSDB PP Delmar Pinheiro homologada
Fonte: Elaboração própria a partir dos dados do TRE-CE. * Sem informações
362
363

Anexo 10 - Lista de candidatos ao Executivo municipal de Fortaleza (1982-2012)


VOTOS
CARGO COLIGAÇÃO PARTIDO CANDIDATO
NOMINAIS
Pref. Maria Luiza Menezes Fontenele
(sem coligação) PT 159.846
Vice Américo Barreira
Pref. Antônio Paes de Andrade
(sem coligação) PMDB 148.427
Vice Narcélio Sobreira Limaverde
Pref. Lúcio Gonçalo Alcântara
(sem coligação) PFL 121.326
Vice Evandro Ayres de Moura
Pref. PTB Antônio Alves de Morais
1985

PTB/ PDS 27.204


Vice PDS José Aragão e Albuquerque Junior
Pref. Francisco Tarciso Leite
(sem coligação) PSC 4.303
Vice Marcelo de Melo Brasil
Pref. Moema Correia São Tiago
(sem coligação) PDT 3.692
Vice Francisco Flávio Torres de Araújo
Pref. Humberto Bevilaqua Vieira
(sem coligação) PL Celia Maria Gaspar Albano 405
Vice
Amora
Pref. Ciro Ferreira Gomes
PMDB / PMB¹ PMDB 179.274
Vice Juraci Magalhães
Pref. PDT Edson Silva
PDT / PCdoB 173.957
Vice * Mariano de Freitas
Pref. PFL Gidel Dantas Queiróz
PFL / PDC 95.162
Vice * Osmar Diógenes
Pref. PDS Francisco Batista Torres de Melo
PDS / PMN 62.425
Vice * Eliseu Becco
Pref. PT / PSB / PCB / PT Mário Mamede Filho
1988

33.768
Vice PV * José Maria Arruda Pontes
Pref. Pedro Augusto de Sales Gurjão
(sem coligação) PL 16.615
Vice Cláudio Marinho
Dalton Augusto Rosado de
Pref.
(sem coligação) PH Oliveira e Sousa 13.442
Vice Cristina Baldini
Pref. Marcos César Cals de Oliveira
(sem coligação) PSD 6.171
Vice Cyro Régis
Pref. José Ribamar Aguiar Júnior
(sem coligação) PJ 5.994
Vice Lalinha Pimentel
Pref. Antônio Elbano Cambraia
* PMDB 374.600
Vice Antônio Marcelo Teixeira Sousa
Pref. PSDB Francisco Assis Machado Neto
* 177.443
Vice * *
Pref. PDT Lúcio Gonçalo de Alcântara
* 81.284
Vice * *
Pref. PT Fernando Ayres Branquinho
1992

* 30.088
Vice * Francisco José Pinheiro
Pref. PRN Eliano Gino de Oliveira
* 5.925
Vice * *
Pref. PSC José Luciano Monteiro
* 4.359
Vice * *
Pref. PFS José Acrísio de Sena
* 2.829
Vice * *
364

VOTOS
CARGO COLIGAÇÃO PARTIDO CANDIDATO
NOMINAIS
Pref. PMDB Juraci Vieira de Magalhaes
PMDB / PL 520.074
Vice * *
Inácio Francisco de Assis Nunes
Pref. PCdoB / PT / PCdoB
Arruda 149.476
PSTU / PCB
Vice * *
Maria do Perpetuo Socorro França
Pref. PSDB / PTB / PSDB
Pinto 85.293
PPS / PSD
Vice * *
Pref. PPB Edson Queiroz Filho
PPB / PFL 50.444
Vice * *
Pref. Oscar Costa Filho
1996

(sem coligação) PDT 5.506


Vice *
Pref. João Souza de Oliveira
(sem coligação) PTdoB 4.822
Vice *
Pref. José Luciano Monteiro
(sem coligação) PSC 2.642
Vice *
Pref. João Francisco Saraiva Menezes
(sem coligação) PV 1.864
Vice *
Pref. PSN / PAN / PSN Francisco Tarciso Leite
1.348
Vice PSDC * *
Pref. Gil Guerra Pereira
(sem coligação) PSL 746
Vice *
Pref. PMDB / PAN / Juraci Vieira de Magalhães
PL / PST / PMN /
PMDB 306.643
Vice PRTB / PSDC / Maria Isabel de Araújo Lopes
PSL
Inácio Francisco de Assis Nunes
Pref. PCdoB / PT / PDT PCdoB
Arruda 282.094
/ PSB / PCB
Vice PT Artur José Vieira Bruno
Pref. Moroni Bing Torgan
2000 - TURNO 1

(sem coligação) PFL 167.760


Vice Maria Gorete Pereira
Patrícia Lúcia Saboya Ferreira
Pref. PPS
PPS / PSDB / PPB Gomes
/ PTB / PSD / 157.790
João Jaime Gomes Marinho de
Vice PSC / PV PSDB
Andrade
Pref. Orlando Augusto da Silva Júnior
(sem coligação) PHS 6.138
Vice Joaquim Galdino Barbosa
Pref. João Souza de Oliveira
(sem coligação) PTdoB Francisco de Assis Caetano da 4.687
Vice
Silva
Pref. Raimundo Pereira de Castro
(sem coligação) PSTU 1.819
Vice José Mário Sobrinho Coelho
Pref. PMDB / PAN / Juraci Vieira de Magalhães
PL / PST / PMN /
TURNO 2

PMDB 512.655
Vice PRTB / PSDC / Maria Isabel de Araújo Lopes
PSL
Inácio Francisco de Assis Nunes
Pref. PCdoB / PT / PDT PCdoB
Arruda 437.271
/ PSB / PCB
Vice PT Artur José Vieira Bruno
365

VOTOS
CARGO COLIGAÇÃO PARTIDO CANDIDATO
NOMINAIS
Pref. PFL Moroni Bing Torgan
PFL / PAN / PTC 296.063
Vice PAN Rosa Virginia Veras Frota
Pref. PT Luizianne de Oliveira Lins
PT / PSB 248.215
Vice PSB José Carlos Veneranda da Silva
Pref. PCB / PL / PPS / PC do B Inácio F.co de Assis Nunes Arruda
PMN / PRONA / 214.002
Vice PCdoB PPS Paulo Sérgio Bessa Linhares
Pref. PP / PTB / PSL / Antônio Elbano Cambraia
PSDC / PRP / PSDB Francisco de Assis Cavalcante 200.407
Vice
PSDB Nogueira
2004 - TURNO 1

Pref. PMDB / PTN / Aloísio Barbosa de Carvalho Neto


PMDB 78.619
Vice PRTB Galeno Taumaturgo Lopes
Pref. Heitor Correia Ferrer
(sem coligação) PDT 38.753
Vice Raimundo José Arruda Bastos
Pref. Nielson Queiroz Guimarães
(sem coligação) PSC 16.194
Vice Francisco Laélio de Oliveira Bedê
Pref. Francisco José Caminha Almeida
PHS / PTdoB PHS 10.781
Vice Divânia Maria Pessoa Menezes
Raimundo Marcelo Carvalho da
Pref.
(sem coligação) PV Silva 5.798
Vice Aristides Braga Neto
Pref. Valdir Alves Pereira
(sem coligação) PSTU 2.456
Vice Ana Herica Brasil Figueiredo
Pref. Antônio José de Abreu Vidal
(sem coligação) PCO 1.840
Vice Emilio Rodrigues Filho
TURNO 2

Pref. PT Luizianne de Oliveira Lins


PT / PSB 620.174
Vice PSB José Carlos Veneranda da Silva
Pref. PFL Moroni Bing Torgan
PFL / PAN / PTC 483.085
Vice PAN Rosa Virginia Veras Frota
Pref. PT/ PSB/ PCdoB/ PT Luizianne de Oliveira Lins
PMDB/ PV/ PHS/
PMN/ PSL/ PTN/ Agostinho Frederico Carmo 593.778
Vice PRB/ PTdoB/ PHS
Gomes
PSDC
Pref. DEM Moroni Bing Torgan
DEM / PP 295.921
Vice PP Alexandre Pereira Silva
Patrícia Lucia Saboya Ferreira
Pref.
PTB/ PSDB/ PDT PDT Gomes 183.136
Vice PSDB Antenor Manoel Naspolini
Pref. Florêncio Nunes Neto
(sem coligação) PSC 22.874
2008

Vice Sergio Gomes Cavalcante


Adahil Barreto Cavalcante
Pref.
(sem coligação) PR Sobrinho 4.828
Vice Roberto Eduardo Matoso
Pref. José Carlos Vasconcelos
(sem coligação) PCB 1.636
Vice Francisco Roberto dos Santos
Pref. Sergio Braga Barbosa
(sem coligação) PPS 6.235
Vice Michele Pinto Ávila Militao
Pref. PSOL Renato Roseno de Oliveira
PSOL / PSTU 67.080
Vice PSTU Francisco das Chagas Gonzaga
Pref. José Ribamar Aguiar Júnior
(sem coligação) PTC 8.232
Vice Aldenor Figueiredo Brito
366

VOTOS
CARGO COLIGAÇÃO PARTIDO CANDIDATO
NOMINAIS
Pref. PT / PTN / PSC / PT Elmano de Freitas da Costa
318.262
Vice PR / PV PR Antônio Mourão Cavalcante
PRB / PP / PTB / Roberto Claudio Rodrigues
Pref. PSB
PMDB / PSL / Bezerra
PSDC / PHS /
291.740
PMN / PTC / PSB
Vice PMDB Gaudêncio Gonçalves de Lucena
/ PRP / PSD /
PTdoB
2012 - TURNO 1

Pref. PDT Heitor Correia Ferrer


PDT / PPS 262.365
Vice PPS Alexandre Pereira Silva
Pref. Moroni Bing Torgan
(sem coligação) DEM 172.002
Vice Lineu Ferreira Jucá
Pref. PSOL Renato Roseno de Oliveira
PCB / PSOL 148.128
Vice PSOL Soraya Vanini Tupinamba
Pref. Marcos Cesar Cals de Oliveira
(sem coligação) PSDB 30.457
Vice Fernando Hugo da Silva Colares
Inácio Francisco de Assis Nunes
Pref.
(sem coligação) PCdoB Arruda 22.808
Vice Francisco Lopes da Silva
Pref. Francisco Das Chagas Gonzaga
(sem coligação) PSTU 3.308
Vice Nivania Menezes Amâncio
PRB / PP / PTB / Roberto Claudio Rodrigues
Pref. PSB
PMDB / PSL / Bezerra
TURNO 2

PSDC / PHS /
650.607
PMN / PTC / PSB
Vice PMDB Gaudêncio Gonçalves de Lucena
/ PRP / PSD /
PTdoB
Pref. PT / PTN / PSC / PT Elmano De Freitas da Costa
576.435
Vice PR / PV PR Antônio Mourão Cavalcante
Fonte: Elaboração própria a partir dos dados do TRE-CE.
* Sem informações
367

Anexo 11 - Lista de candidatos ao Executivo estadual e Senado pelo Ceará (1982-2014)


VOTOS
CARGO COLIGAÇÃO PARTIDO CANDIDATO
NOMINAIS
Gov. Luís de Gonzaga de Fonseca Mota
1.149.468
Vice Adauto Bezerra de Meneses
Virgílio de Moraes Fernandes
Sen. (sem coligação) PDS
Távora
1.120.235
1ª supl. José Afonso Sancho
2ª supl. Alacoque Bezerra de Meneses
Gov. Carlos Mauro Cabral Benevides
478.853
1982

Vice Ozires Pontes


Sen. (sem coligação) PMDB Dorian Sampaio
1ª supl. Mosslair Cordeiro Leite 463.535
2ª supl. Renê Barreira
Gov. Américo Barreira
9.961
Vice Manoel Dias da Fonseca Neto
Sen. (sem coligação) PT Francisco Willian de M. Medeiros
1ª supl. Maria Valda de Albuquerque 9.478
2ª supl. João Ferreira de Vasconcelos
Gov. Tasso Ribeiro Jereissati
1.407.693
Vice Castelo de Castro
Sen. Carlos Mauro Cabral Benevides
1ª supl. PMDB/ PDC/ Djalma Eufrásio 1.219.289
PMDB
2ª supl. PCB/ PCdoB Humberto Esmeraldo
Sen. Cid Sabóia de Carvalho
1ª supl. Nestor Vasconcelos 950.231
2ª supl. Esmerino Arruda
Gov. PFL José Adauto Bezerra de Meneses
807.315
Vice PDS Aquiles Peres Mota
Sen. Paulo de Tarso Lustosa da Costa
1ª supl. PFL Ernani Viana 732.169
PFL/ PDS/ PTB
2ª supl. João Fujita
Sen. César Cals de Oliveira Filho
1ª supl. PDS Manuel Castro 602.546
2ª supl. José Macedo
1986

Gov. PT José Haroldo Bezerra Coelho


68.044
Vice PSB Valton de Miranda Leitão
Sen. Maria Cleide Carlos Bernal
1ª supl. PT Valda Albuquerque 49.878
PT / PSB
2ª supl. Francisca Gonçalves
Sen. Eduardo Régis Monte Jucá
1ª supl. PSB Miguel Arrais 1.046.449
2ª supl. Ayter Peter
Gov. PSC Francisco Aires Quintela
7.304
Vice PL Hugo Lessa
Sen. Francisco José Loyola Rodrigues
1ª supl. PSC Moacir Leite 16.375
2ª supl. PSC / PL Eva Gomes
Sen. Olga Nunes da Silva
1ª supl. PL Luciano Abreu 14.985
2ª supl. Walter Ramos
368

VOTOS
CARGO COLIGAÇÃO PARTIDO CANDIDATO
NOMINAIS
Sen. Pedro Augusto de Sales Gurjão
1ª supl. Galba Menezes 114.019
2ª supl. *
(sem coligação) PDT
Sen. Alberto Leite Teixeira
1ª supl. Francisco Gomes Pereira 19.668
2ª supl. *
Gov. PSDB Ciro Ferreira Gomes
1.279.492
Vice PDT Lúcio Gonçalo de Alcântara
PDT / PDC /
Sen. PSDB Benedito Clayton Veras Alcântara
PSDB
1ª supl. PSDB José Reginaldo Duarte 1.026.965
2ª supl. PDT Juarez Fernandes Leitão
Gov. PDS Paulo de Tarso Lustosa da Costa
871.047
Vice PDS / PMDB / PDS Luiza Morais Correia Távora
Sen. PFL / PTR / PSD PMDB Antônio Paes de Andrade
1990

1ª supl. / PTdoB * José Afonso Sancho 752.950


2ª supl. * Claudio Cysne de Medeiros
Gov. PT João Alfredo Telles Melo
185.482
Vice PCB Vasco Damasceno Weyne
PT / PCB / PSB /
Sen. PT Antônio Durval Ferraz Soares
PCdoB
1ª supl. PSB Valton de Miranda Leitão 162.415
2ª supl. PCdoB Francisco Lopes da Silva
Gov. José Ribamar Aguiar Júnior
(sem coligação) PRN 19.508
Vice Prado Júnior
Gov. Tasso Ribeiro Jereissati
PSDB 1.368.757
Vice Moroni Bing Torgan
Sen. PDT Lúcio Gonçalo de Alcântara
1ª supl. PDT / PTB / * * 1.193.819
2ª supl. PSDB * *
Sen. PSDB José Sérgio de Oliveira Machado
1ª supl. PSDB Esmerindo Oliveira Arruda Coelho 888.961
2ª supl. PSDB Sílvio Brás Peixoto da Silva
Gov. Juraci Vieira de Magalhães
930.407
Vice Antônio Gomes da Silva Câmara
Sen. Carlos Mauro Cabral Benevides
1ª supl. PPR / PMDB / PMDB José Parente Prado 460.201
2ª supl. PFL / PP / PSD Eduardo Moraes de Oliveira
1994

Sen. Cid Saboia de Carvalho


1ª supl. Leorne Belém Menescal d Holanda 386.471
2ª supl. Raimundo de Sá e Sousa
Gov. Joaquim Cartaxo Filho
PT 75.753
Vice Valton de Miranda Leitão
Sen. PT Antônio Durval Ferraz Soares
1ª supl. PT / PPS / PSB / * * 201.739
2ª supl. PCdoB * *
Sen. PSB Eduardo Regis Monte Juca
1ª supl. * * 237.902
2ª supl. * *
Gov. PSTU Rosa Maria Ferreira da Fonsêca
72.395
Vice PSTU/PCB * José Acrísio de Sena
Sen. PSTU Maria Luiza Menezes Fontenele 307.519
369

VOTOS
CARGO COLIGAÇÃO PARTIDO CANDIDATO
NOMINAIS
1ª supl. * *
2ª supl. * *
Gov. José Evaldo Costa Lins
26.819
Vice Maria Edlene Costa Lins
Sen. (sem coligação) PRONA Ana de Castro Lins
1ª supl. * 162.404
2ª supl. *
Sen. Artur de Freitas Torres de Melo
1ª supl. (sem coligação) PMN * 95.226
2ª supl. *
Gov. Tasso Ribeiro Jereissati
PSDB 1.569.110
Vice Benedito Clayton Veras Alcântara
PPB / PPS / PTB
Sen. PSDB Luiz Alberto Vidal Pontes
/ PSD / PSDB
1ª supl. PSDB José Reginaldo Duarte 1.433.020
2ª supl. PPB José Valdomiro Távora de Castro
Gov. PMDB Luiz de Gonzaga Fonseca Mota
PMDB / PSC / 548.509
Vice * Júlio Ventura Neto
PFL / PAN /
Sen. PMDB Antônio Paes de Andrade
PRN / PSDC /
1ª supl. * Manuel Francisco Viana Neto 734.180
PST / PSL
2ª supl. * José Ricardo Barroso Prado
Gov. PDT / PT / PSB / PT José Airton Félix Cirilo da Silva
1998

PCdoB / PV / 347.671
Vice PDT Heitor Correia Férrer
PCB
Gov. Valdir Alves Pereira
18.239
Vice Jacinta Silva de Sousa
Sen. (sem coligação) PSTU Raimundo Pereira de Castro
1ª supl. Manoel de Farias Maciel 62.451
2ª supl. Francisco Francine Pereira Lima
Gov. Antônio Reginaldo Costa Moreira
(sem coligação) PMN 18.304
Vice Paulo Maciel
Sen. Francisco Tarciso Leite
PL / PSN /
1ª supl. PSN Francisco José Caminha Almeida 73.647
PTdoB
2ª supl. Eunizia Lopes Barroso
Gov. Lúcio Gonçalo de Alcântara
PSDB 1.625.202
Vice Francisco de Queiroz Maia Junior
PSDB / PPB /
Sen. PSDB Tasso Ribeiro Jereissati
PSD / PV
1ª supl. PSDB Francisco Assis Machado Neto 1.915.781
2ª supl. PPB *
Gov. José Airton Felix Cirilo da Silva
PT 924.690
2002 - TURNO 1

Vice Mariano Araújo Freitas


Sen. PT Mario Mamede Filho
1ª supl. PT / PCdoB / PL * José Maria Arruda Pontes 908.009
2ª supl. / PMN / PCB * José Áureo de Oliveira Júnior
Sen. PL Gelson Ferraz de Medeiros
1ª supl. * José Maria Nogueira Lira 168.159
2ª supl. * Libânio Rodrigues da Cunha
Gov. José Sérgio de Oliveira Machado
PMDB 395.699
Vice Carmem Ulisses Peixoto Esmeraldo
Sen. PMDB / PFL PMDB Paulo de Tarso Lustosa da Costa
1ª supl. * * 415.854
2ª supl. * *
370

VOTOS
CARGO COLIGAÇÃO PARTIDO CANDIDATO
NOMINAIS
Gov. PSB / PSDC / PSB José Welington Landim
PSC / PSL /
PTdoB / PHS /
PSDC / PSC / 240.189
Vice PSB Pedro Augusto de Sales Gurjão
PSL / PTdoB /
PHS / PAN /
PGT / PRT
Sen. Eudoro Walter de Santana
1ª supl. (sem coligação) PSB * 773.027
2ª supl. *
Sen. Paulo de Tarso Melo Lima
1ª supl. (sem coligação) PHS * 23.224
2ª supl. *
Gov. Cláudia Maria Meneses Brilhante
(sem coligação) PTB 37.658
Vice Jorge Francisco Braz
Gov. Pedro de Albuquerque Neto
(sem coligação) PDT 31.102
Vice Raimundo José Arruda Bastos
Patrícia Lúcia Saboya Ferreira
Sen. PPS
PPS / PDT / PTB Gomes
1.864.404
1ª supl. / PTN * *
2ª supl. * *
Gov. Raimundo Pereira de Castro
9.707
Vice Nericilda Bezerra da Rocha
Sen. (sem coligação) PSTU Raimundo José Aguiar Ribeiro
1ª supl. * 9.810
2ª supl. *
TURNO 2

Gov. PSDB / PPB / Lúcio Gonçalo de Alcântara


PSDB 1.765.726
Vice PSD / PV Francisco de Queiroz Maia Junior
Gov. PT / PCdoB / PL José Airton Félix Cirilo da Silva
PT 1.762.679
Vice / PMN / PCB Mariano Araújo Freitas
Gov. PSB Cid Ferreira Gomes
2.411.457
Vice PSB / PT / PT Francisco José Pinheiro
PCdoB / PMDB Inácio Francisco de Assis Nunes
Sen. PC do B
/ PRB / PP / PHS Arruda
1.912.663
1ª supl. / PMN / PV * Glória Maria Ramos Tavares
2ª supl. * Raimundo Noronha Filho
Gov. PSDB Lúcio Gonçalo de Alcântara
1.309.277
Vice PTB / PTN / * Jorge Alberto Vieira Studart Gomes
Sen. PSC / PPS / PFL PFL Moroni Bing Torgan
2006

/ PAN / PTC / Francisco Feitosa de Albuquerque


1ª supl. * 1.680.362
PSDB Lima
2ª supl. * Francisco de Queiroz Maia Júnior
Gov. PSTU / PCB / PSOL Renato Roseno de Oliveira
106.184
Vice PSOL * Francisco Paiva das Neves
Sen. Raimundo Pereira de Castro
1ª supl. (sem coligação) PSTU Valdir Alves Pereira 18.545
2ª supl. Cícero Marcos Chave
Sen. Tarcísio Leitão de Carvalho
1ª supl. (sem coligação) PCB Djanira Bezerra Lopes 6.084
2ª supl. José Nauri de Araújo Ferreira
371

VOTOS
CARGO COLIGAÇÃO PARTIDO CANDIDATO
NOMINAIS
Francisco Horácio Marques
Gov.
Gondim 19.491
Vice Alzira Guerra Saldanha de França
(sem coligação) PSDC
Sen. Antônio Fernandes da Silva Filho
1ª supl. José Hélio Fiuza Leite 3.640
2ª supl. Antônio Sales dos Santos
Gov. PDT / PL / José Maria de Melo
PL 15.274
Vice PRTB / PTdoB Iranildo Pereira de Oliveira
Sen. Maria Nair Fernandes Silva
1ª supl. (sem coligação) PDT Tibúrcio Bezerra de Morais Neto 39.327
2ª supl. Francisco das Chagas Soares
Gov. Salete Maria da Silva
(sem coligação) PCO 4.165
Vice João Alves Duarte
Gov. PSB Cid Ferreira Gomes
2.436.940
Vice PMDB Domingos Gomes de Aguiar Filho
Sen. PSB /PT / PMDB Eunício Lopes de Oliveira
1º supl. PMDB / PRB / PT Waldemir Catanho de Sena Júnior 2.688.833
2º supl. PDT / PSC / PRB Miguel Dias de Souza
Sen. PCdoB PT José Barroso Pimentel
1º supl. PSB Aluísio Sergio Novais Eleutério 2.397.851
2º supl. PCdoB Luís Carlos Paes de Castro
Gov. Marcos César Cals de Oliveira
PSDB 775.852
Vice Pedro Cunha Fiuza
Sen. PSDB Tasso Ribeiro Jereissati
DEM / PSDB
Francisco Feitosa de Albuquerque
1º supl. DEM 1.754.567
Lima
2º supl. PSDB Francisco Holanda Guedes
Gov. PR Lúcio Gonçalo de Alcântara
654.035
Vice PPS Claudio Henrique do Vale Vieira
Sen. PR / PPS Alexandre Pereira Silva
1º supl. PPS Régis Nogueira de Medeiros 470.127
2010

2º supl. Ricardo Pereira Sales


Raimundo Marcelo Carvalho da
Gov.
(sem coligação) PV Silva 66.271
Vice Aristides Braga Neto
Gov. Soraya Vanini Tupinambá
38.599
Vice Francisco de Assis Sousa
Sen. (sem coligação) PSOL Marilene Torres de Vasconcelos
1º supl. Augusto César Tavares da Silva 58.732
2º supl. Josélito Medeiros Do Nascimentos
Gov. Francisco das Chagas Gonzaga
5.412
Vice Nivania Menezes Amâncio
Sen. Reginaldo Ferreira de Araújo
1º supl. Fernando Luiz Lima Saraiva 14.755
(sem coligação) PSTU
2º supl. Manoel de Farias Maciel
Sen. Raquel Dias Araújo
1º supl. José Maria de Andrade 14.650
2º supl. José Mário Sobrinho Coelho
Sen. Benedito Oliveira Viana
1º supl. (sem coligação) PCB Luiz Gonzaga Lima 2.880
2º supl. Paulo Luiz Pinheiro Campos
372

VOTOS
CARGO COLIGAÇÃO PARTIDO CANDIDATO
NOMINAIS
Gov. PRB / PP / PDT PT Camilo Sobreira de Santana
/ PT / PTB / PSL Maria Izolda Cela de Arruda 2.039.233
Vice PROS
/ PRTB / PHS / Coelho
Senador PMN / PTC / PV PROS Carlos Mauro Benevides Filho
1º supl. / PEN / PPL / PP José Linhares Ponte
PSD / PC do B / 1.573.732
2º supl. PT do B / SD / PROS Francisco Honório Pinheiro Alves
PROS
Gov. PMDB Eunício Lopes de Oliveira
1.979.499
Vice PR Roberto Soares Pessoa
PMDB / PSC /
2014 - TURNO 1

Senador PSDB Tasso Ribeiro Jereissati


DEM / PSDC /
Francisco Feitosa de Albuquerque
1º supl. PRP / PSDB / DEM
Lima 2.314.796
PR / PTN / PPS
Fernando Antônio Mendes Façanha
2º supl. PSDB
Filho
Gov. Eliane Novaes Eleuterio Teixeira
144.507
Vice Leonardo de Bayma Rebouças
Geovana Maria Cartaxo de Arruda
Senador (sem coligação) PSB
Freire
66.895
1º supl. Maria Valda de Albuquerque
2º supl. Geraldo Cadeira de Oliveira
Gov. PSOL Ailton Claecio Lopes Dantas
102.394
Vice PCB Benedito Oliveira Viana
PSTU / PCB /
Senador PSTU Raquel Dias Araújo
PSOL
1º supl. PSTU Carlota Sales de Carvalho 42.065
2º supl. PSOL Augusto Cesar Tavares da Silva
Gov. PRB / PP / PDT PT Camilo Sobreira de Santana
/ PT / PTB / PSL
/ PRTB / PHS /
PMN / PTC / PV
Maria Izolda Cela de Arruda 2.417.668
TURNO 2

Vice / PEN / PPL / PROS


Coelho
PSD / PC do B /
PT do B / SD /
PROS
Gov. PMDB / PSC / PMDB Eunício Lopes de Oliveira
DEM / PSDC /
2.113.940
Vice PRP / PSDB / PR Roberto Soares Pessoa
PR / PTN / PPS
Fonte: Elaboração própria a partir dos dados do TRE-CE.
* Sem informações
373

Anexo 12 - Gráfico das coligações - Eleições estaduais de 2014 — PMDB e PSDB

Fonte: Elaboração própria a partir dos dados do TRE-CE.


374
375

Anexo 13 - Gráfico das coligações - Eleições estaduais de 2014 — PT

Fonte: Elaboração própria a partir dos dados do TRE-CE.


376
377

Anexo 14 - Mapa do Ceará

Fonte: IPECE.

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