Documente Academic
Documente Profesional
Documente Cultură
CAMPINAS
2018
JOSÉ RAULINO CHAVES PESSOA JÚNIOR
CAMPINAS
2018
UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS
INSTITUTO DE FILOSOFIA E CIÊNCIAS HUMANAS
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIA POLÍTICA
Profa. Dra. Maria do Socorro Sousa Braga - Universidade Federal de São Carlos
(UFSCAR)
Ângelo Panebianco
(Modelos de partido)
LISTA DE GRÁFICOS
Gráfico 1 - Quantidade de deputados federais eleitos (1994-2014) ........................................... 40
Gráfico 2 - Dispersão da votação para governador em 1982 no Ceará ...................................... 66
Gráfico 3 - Percentual dep. estadual eleito - PMDB, PT e PSDB (1982-2014) ......................... 75
Gráfico 4 - Percentual dep. federal eleito - PMDB, PT e PSDB (1982-2014) ........................... 75
Gráfico 5 - Percentual de vereadores eleitos - PMDB, PT e PSDB (1982-2012)....................... 75
Gráfico 6 - Percentual prefeitos eleitos - PMDB, PT e PSDB (1982-2012) .............................. 75
Gráfico 7 - Percentual de candidatos a prefeitos pelo partido - Ceará (1982-2012) ................... 82
Gráfico 8 - Percentual de municípios que o partido apresentou candidatura (1982-2012) ......... 84
Gráfico 9 - Percentual de municípios com órgão partidário (2008-2016) .................................. 85
Gráfico 10 - Porcentagem de órgãos partidários municipais no Ceará (2010-2014) .................. 87
LISTA DE FIGURAS
Figura 1 - Organograma do PMDB ....................................................................................... 117
Figura 2 - Mapa do poder organizativo do PMDB — Gestão Eunício Oliveira (1998-2017)... 126
Figura 3 - Organograma do PT .............................................................................................. 195
Figura 4 - Mapa do poder organizativo do PT cearense .......................................................... 202
Figura 5 - Organograma do PSDB ......................................................................................... 273
Figura 6 - Mapa do poder organizativo do PSDB................................................................... 275
LISTA DE MAPAS
Mapa 1 - Localização dos municípios analisados e grau de magnitude eleitoral ....................... 44
Mapa 2 - Distribuição espacial dos órgãos partidários do PMDB-CE (2008-2015) ................... 90
Mapa 3 - Distribuição espacial dos órgãos partidários do PT-CE (2008-2015) ......................... 91
Mapa 4 - Distribuição espacial dos órgãos partidários do PSDB-CE (2008-2015) .................... 92
LISTA DE SIGLAS E ABREVIATURAS
Partidos políticos
Sistema Partidário de 1946-1964
AVANTE: Avante
NOVO: Partido Novo
SD: Solidariedade
Tendências internas do PT
Abreviaturas
Dep.: Deputado
Pref.: Prefeito
Quant.: Quantidade
Sec.: Secretaria
Sen.: Senador
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO ............................................................................................................................... 21
Modelos de partidos e a centralidade da arena eleitoral ............................................ 28
Federalismo e organização partidária ....................................................................... 32
Desenho da pesquisa................................................................................................ 39
Desvendando a caixa preta: pesquisa qualitativa sobre organização partidária ......... 46
Organização da tese ................................................................................................. 51
INTRODUÇÃO
1
Cabe ressaltar a existência de estudos que abordaram o aspecto organizacional dos partidos que atuaram nos
regimes políticos anteriores. Sobre os partidos do período democrático compreendido entre 1946 a 1964, podemos
citar a pesquisa de Benevides (1981) que investigou a União Democrática Nacional (UDN) e de Hippolito (1985)
sobre o Partido Social Democrático (PSD¹). No período da ditadura militar, destacamos o trabalho de Kinzo (1988)
que analisou o Movimento Democrático Brasileiro (MDB). Nessas pesquisas, a dimensão organizacional era um
entre os vários aspectos analisados sobre as agremiações, não se constituindo como tema central de investigação.
22
Além desses estudos de caso, existem alguns trabalhos que empreendem análise
comparativa. Entre essas pesquisas, destacam-se as análises comparativas entre o PT e o PMDB
(RIBEIRO; FERREIRA, 2009), entre o PFL/DEM e o PMDB (FERREIRA, 2002) e entre o PT
e o PSDB (ROMA, 2006; SILVA, 2017). Outras análises se centram em questões pontuais da
organização partidária, como: seleção de candidatos (BOLOGNESI, 2013; BRAGA;
AMARAL, 2013), fundo partidário (BRAGA; BOURDOUKAN, 2010), estrutura decisória
interna (RIBEIRO, 2013) e processo de tomada de decisão (GUARNIERI, 2011).
Apesar do crescente aumento de pesquisas com enfoque organizacional, ainda
existem inúmeras lacunas sobre o real funcionamento das agremiações partidárias no Brasil,
com estudos que movimentem novos dados empíricos sobre as principais agremiações e
aspectos pontuais da sua estrutura organizativa.
A importância desta pesquisa deve-se ainda ao fato de que pouco compreendemos
sobre as atividades internas das organizações partidárias na arena subnacional e no âmbito
municipal. São escassas as análises que fornecem dados qualitativos e elementos empíricos
substanciais sobre a vida interior das agremiações partidárias, suas tomadas de decisões e suas
estruturas de oportunidades. Muitos desses aspectos organizativos não seriam visualizados por
meio de dados agregados, por exemplo.
Buscando contribuir com esse debate, a presente análise procura compreender
como os partidos brasileiros se estruturam e se organizam internamente para disputar as
eleições. Como formam alianças e coligações, como selecionam seus candidatos e como
distribuem os recursos para as campanhas eleitorais.
Existem definições alargadas e restritas sobre as organizações partidárias. As
primeiras analisam os variados tipos de partidos, como aqueles que competem eleitoralmente
nos regimes democráticos com sistema pluripartidário; os partidos únicos que operam em
regimes fechados com sistema unipartidário — que não permite a competição eleitoral — e os
partidos antissistema — que buscam subverter o status quo e conquistar o governo. Já as
definições restritas investigam exclusivamente a dimensão competitiva dos partidos que atuam
na arena eleitoral (JANDA, 1993).
Na presente pesquisa, adota-se a definição restrita, ou seja, organização que
compete por votos nas eleições. Nesse aspecto, observa-se que a arena eleitoral é o ambiente
particular no qual as legendas atuam e desenvolvem a sua atividade específica, que é a disputa
por votos (PANEBIANCO, [1982]). Parte-se do pressuposto de que essa arena é o lócus
essencial de atuação das agremiações partidárias, visto que, a partir do embate eleitoral, estas
agremiações conquistam recursos essenciais à sua manutenção e ao desenvolvimento das suas
23
socialistas, ou em células, no caso dos partidos comunistas. Eles nasciam da cúpula que
centralizaria seções ou células da base. As agremiações buscavam multiplicar seus filiados,
enquadrando-os e politizando-os.
A sua principal atividade não era a disputa eleitoral ou a ocupação de cargos no
parlamento, mas a promoção de valores espirituais e morais. Seu arcabouço administrativo seria
burocratizado, apresentando estrutura permanente. Apresentam-se mais coerentes e
disciplinados. O grupo parlamentar não influenciava a atuação da organização, sendo
constantemente vigiado e disciplinado. A doutrina e os problemas ideológicos desempenhavam
papel central, apresentando forte doutrinarismo, que exigia de seus membros a adesão ao
programa e à ideologia da agremiação partidária.
O êxito da política de enquadramento dos partidos de massa e as suas expressivas
vitórias no plano eleitoral levou Duverger [1951] a considerar que os partidos de quadros iriam
se adaptar ao seu modelo organizativo para conseguir se conservar no poder. Essa
universalização dos partidos de massa seria o fenômeno intitulado de “contágio pela esquerda”.
Observando a atuação das agremiações partidárias na Europa e nos Estados Unidos,
Kirchheimer [1966] contestou esse fenômeno. Para este autor, após o crescimento econômico
e a experiência do Estado de Bem-Estar Social houve redução da polarização política, que
causou desideologização no campo político. Surgiu um novo tipo de organização, caracterizado
como catch-all, ou partido pega-tudo. Esse tipo seria caracterizado pela drástica redução da
bagagem ideológica; maior estreitamento entre os grupos de lideranças do topo das
organizações; rebaixamento do papel desempenhado pelo membro partidário individual; busca
de eleitores em toda a população, e não mais concentrada em clientela específica; predomínio
da influência de grupos de interesse no interior da organização que dão suporte eleitoral e
financeiro.
Motivado por uma estratégia eleitoral, o partido catch-all se lança da maneira mais
abrangente possível no mercado eleitoral, expressando amplos sentimentos de preocupação
popular. Seu discurso político não apresenta mais caráter ideológico voltado a uma classe social
específica ou uma clientela confessional, mas investe em temas os mais abrangentes possíveis
em favor do recrutamento de eleitores da população em geral. Esse tipo apresenta caráter mais
conservador, pois se empenha em continuar no poder ou em se mover em direção ao poder
governamental.
Dialogando com essa tipologia, Panebianco [1982] definiu, posteriormente, um
novo modelo de organização, o partido profissional-eleitoral. Esse tipo seria marcado pela
atuação de profissionais, filiados ou não, que assumiriam destaque na política intrapartidária
30
devido a sua competência técnica e não mais por sua militância. A agremiação partidária seria
caracterizada pelo apelo ao eleitorado de opinião onde predominaria representantes públicos e
direções personalizadas. O financiamento ocorreria por meio de grupos de interesse ou de
fundos públicos. A relação partido-eleitorado se dava por meio de vínculo mais fraco e
descontínuo, ancorada não mais na forte inserção social e com subculturas políticas fortes e
compactas.
A transformação dos antigos partidos burocráticos de massa em partidos
profissionais-eleitorais se deu em razão de duas importantes mudanças ambientais: uma mais
estrutural — ligada ao sistema de estratificação social provocada pela dinâmica capitalista,
ocasionando, por exemplo, a diminuição do número de trabalhadores no setor secundário — e
outra mais pontual, relacionada ao impacto dos meios de comunicação de massa na dinâmica
política (PANEBIANCO [1982]).
Sobre esse aspecto, cabe destacar a análise de Epstein (1967) já na década de 1960,
a qual destaca que os partidos eleitorais estadunidenses estariam mais preparados para disputar
eleições nas modernas campanhas eleitorais do que os partidos socialistas europeus, pois para
ter sucesso na disputa eleitoral não era mais necessário recrutar e mobilizar uma massa de
militantes, bastando apenas operar corretamente os meios de comunicação de massa e as
pesquisas eleitorais.
Avançando na tipologia organizativa, Katz e Mair (1995) propuseram uma linha
evolutiva dos modelos de partidos: partido de quadro, partido de massa, partido catch-all e
partido cartel. Para os autores, seguindo as transformações nas democracias, predominaria,
atualmente, o modelo de partido cartel.
Nessa nova configuração, o partido seria marcado por estreita relação com o Estado,
uma vez que os recursos obtidos pelo e por meio do Estado são fundamentais para que a
organização sobreviva. Esses recursos garantem acesso aos meios de comunicação de massa,
fornecimento de recursos humanos, legitimidade perante a sociedade civil e auxílio para a
distribuição de incentivos seletivos.
A contribuição de Katz e Mair (1995) vai além da criação de nova tipologia. Os
autores sofisticaram as análises ao defenderem que os partidos não podiam ser analisados como
unidades, já que teriam três expressões distintas, ou três faces: a face pública, ou como o partido
se faz representar no parlamento e no governo; a base partidária, compreendendo os militantes
e filiados; e a direção nacional. Essa distinção é importante porque permite compreender a real
função que o partido desempenha nas democracias contemporâneas, já que o partido cartel
privilegia a face pública em detrimento das outras.
31
Por último, podemos citar a tipologia proposta por Wolinetz (2002) que classifica
as agremiações partidárias a partir do seu comportamento. Nessa perspectiva, existiriam
partidos do tipo vote-seeking, policy-seeking e office-seeking.
O tipo vote-seeking seria marcado pela ênfase na arena eleitoral. O objetivo
principal é ganhar eleições e para alcançar essa meta pode recorrer a estratégia de transformação
de seu programa e de sua política. Seria o tipo clássico, definido por Downs [1957], de partidos
como maximizadores de votos, à exemplo das agremiações que perseguem políticas para ganhar
as eleições mais do que vencem eleições para implementar políticas. Caso opere em sociedade
heterogênea ou sob sistema de eleições majoritárias, a organização teria estrutura de coalizão
suficientemente ampla para abraçar diferentes grupos sociais e dar ao partido a chance de
conquista da maioria. Caso opere em sistema multipartidário, a organização tentaria maximizar
o apoio de amplo eleitorado. Organiza-se para ganhar o cargo em todos ou quase todos os níveis
(local, regional ou nacional) em que as eleições ocorrem, mantendo apenas o grau mínimo de
estrutura partidária necessária para recrutar e selecionar candidatos e fazê-los eleitos
(WOLINETZ, 2002).
No aspecto organizacional, a atividade de vote-seeking exige intensiva participação
de filiados e ativistas para desenvolver a campanha eleitoral. Porém, por meio do uso de fundos
privados ou governamentais para financiar as eleições e com o predomínio de campanhas
eleitorais dirigidas por profissionais e agências de marketing, o envolvimento dos filiados não
é mais imperativo. Os níveis de atividade do partido variariam consideravelmente, aumentando
no período eleitoral (WOLINETZ, 2002).
Os partidos do tipo policy-seeking orientam sua atividade buscando redefinir a
agenda política para realizar mudanças substantivas em variadas áreas. Apresentam programas
bem definidos, priorizando as suas ideias e o seu programa. Contam com intensa atuação de
militantes (WOLINETZ, 2002).
O terceiro tipo, o partido office-seeking, prioriza a participação no governo.
Esquiva-se de comprometimentos programáticos e estratégias eleitorais de ataque a outras
legendas capazes de torná-lo indesejável como parceiro de coalizão. O objetivo é ganhar votos
suficientes para assegurar sua participação em coalizões governamentais, pois a sobrevivência
organizativa desse tipo depende dos recursos provenientes do Estado. Cabe observar, ainda,
que seus membros ocupam, ou buscam ocupar, cargos públicos (WOLINETZ, 2002).
Assim, podemos dividir a compreensão sobre os modelos de partidos entre teorias
que superdimensionam a atividade eleitoral na atuação partidária e outras que minimizam sua
centralidade. As teses que minimizam a importância das disputas eleitorais argumentam que,
32
exemplo, classifica quatro tipos de descentralização: local, quando a base do partido tem
autonomia e o centro tem pouco controle sobre sua ação; ideológica, quando as correntes
internas ou tendências tem autonomia; social, quando categorias de composição
socioeconômica distintas tem autonomia; federativa, quando os grupos são formados a partir
do federalismo estatal.
De maneira geral, percebeu-se que em estados unitários as estruturas partidárias
tendem a ser mais centralizadas. Por sua vez, em estados federativos, estas estruturas tendem a
ser mais descentralizadas (DUVERGER, [1951]; PANEBIANCO, [1982]).
Essa relação não ocorre de forma mecânica. Existem casos em que o partido assume
organização centralizada pelo fato da natureza federativa do Estado já permitir que
determinados grupos exprimam suas demandas diretamente nos órgãos governamentais; ou
ainda, circunstâncias em que grupos optam por estrutura federal dentro da organização pelo fato
do Estado ser unitário e não possibilitar o acesso de determinados grupos ou interesses ao
sistema político (DUVERGER, [1951]). O federalismo torna-se assim uma variável central para
compreender como as agremiações partidárias se organizam.
Como modelo de organização política, o federalismo busca equacionar tensões em
sociedades marcadas por algum tipo de clivagem. Nesse sistema, coexistem diferentes centros
de poder e instâncias de decisão, ocorrendo constante tensão entre forças centrífugas e
centrípetas, gerando e mantendo tanto a unidade quanto a diversidade (BOTHE et al., 1995).
Esse arranjo institucional, baseado em estrutura dual de poder, é formado pelo
governo central e pelos governos regionais que possuem autonomia constitucional, criando
múltiplas arenas para os partidos se organizarem e disputarem eleições. O federalismo permite
a dispersão do poder e acarreta um sistema partidário diverso e autônomo nas unidades
constituintes (RIKER, 1964).
Ainda de acordo com Riker (1964), a crescente autonomia das agremiações
partidárias no plano subnacional gerada pelo federalismo teria como efeito relevante a
necessidade de responder de forma mais direta às demandas de seus eleitores. Dessa forma, nas
arenas municipais e estaduais, os partidos se tornariam mais responsáveis e representativos da
população local do que seriam se fossem centralizados e uniformes.
No entanto, existem diferentes formas de federalismo, sendo também variados os
seus efeitos sobre a organização partidária. Em federações descentralizadas e com pouca
coordenação entre as esferas federal e estadual, a tendência é que o partido, no plano estadual,
seja autônomo. O contrário ocorre em federações centralizadas, em que os recursos são
concentrados e existe necessidade de coordenação entre os entes federativos, pois a tendência
34
regionais do que nacionais, gerando incentivos para que a classe política agisse de forma
“estadualista” e não em torno de pacto nacional (ABRUCIO, 1998).
Abrucio (1998) defende que os governadores são os atores principais para a
compreensão do sistema político brasileiro, e que as agremiações partidárias estaduais não
agregariam interesses coletivos, pois, como já demonstrado por Ames (2003), os deputados
federais agem de maneira individualista.
Prevalece a tese de que são as instâncias partidárias estaduais que organizam e
conduzem as disputas eleitorais, selecionam candidatos de todos os níveis e comandam os
mecanismos de patronagem (ABRUCIO, 1998; AMES, 2003). Os partidos se organizariam em
subsistemas estaduais com padrões de aliança e lógicas distintas, enfraquecendo a sua
construção como estruturas nacionais (LIMA JÚNIOR, 1983, 1997).
Apesar das pesquisas iniciais ressaltarem esse efeito perverso do federalismo no
sistema partidário, pesquisas recentes vêm rebatendo tais análises.
Consta que, após a autonomia organizativa adquirida com a LPP de 1995, as
agremiações partidárias passaram a alterar suas estruturas decisórias de forma a concentrar
poder nas instâncias nacionais, reprimindo, assim, possíveis fragmentações federalistas
(RIBEIRO, 2013).
Percebe-se que as lideranças partidárias possuem mecanismos que lhes permitem
centralizar o poder dentro da organização, controlando a atividade partidária das instâncias
subnacionais. Essa centralização ocorre por meio do mecanismo das Comissões Provisórias,
que faz com que as lideranças tenham controle sobre as convenções partidárias, órgão
deliberativo por excelência (GUARNIERI, 2011). Assim, o sistema partidário segue em direção
a concentração do poder partidário (BRAGA; ROMA, 2002; GUARNIERI, 2011; RIBEIRO,
2013).
Embora se possa observar tendência de centralização do sistema partidário no plano
nacional, com a existência de subsistemas próprios nos estados (BRAGA, 2006), esses
subsistemas partidários estaduais tendem a reproduzir a lógica do sistema federal, seguindo em
direção à nacionalização partidária (BRAGA; ROMA, 2002).
Além disso, nota-se que os sistemas partidários que emergem da disputa eleitoral
nos municípios se articulam e podem ser explicados pelas disputas que ocorrem nas outras
esferas da federação, nos planos estadual e federal. Existe, pois, articulação no sistema
partidário entre diferentes níveis da federação (CARNEIRO; ALMEIDA, 2008).
Dessa forma, surge nesse debate uma questão fundamental: qual o grau de
centralização das decisões eleitorais dos partidos brasileiros?
36
representação legislativa: o Partido Democrático Social (PDS), que herdou o capital político da
ARENA e obteve 36,68% dos votos; e o PMDB, o antigo MDB, que apresentou 36,46% dos
votos. As outras agremiações que disputaram as eleições não alcançaram o quórum mínimo
inicialmente estabelecido: o Partido Democrático Trabalhista (PDT) com 4,94%, o Partido
Trabalhista Brasileiro (PTB) com 3,77% e o PT com 3,01% (CITADINI, 1988).
Nessa legislação partidária, as decisões eleitorais eram descentralizadas. Em cada
nível hierárquico ocorriam convenções destinadas exclusivamente à seleção de candidatos e ao
estabelecimento de coligações eleitorais, sendo suas deliberações válidas para sua esfera de
atuação. Assim, por exemplo, a Convenção Municipal decidia sobre as eleições locais,
selecionando os candidatos ao cargo de prefeito e vereador; a Convenção Estadual definia os
candidatos para os cargos de deputado estadual, governador, deputado federal e senador, e, por
fim, a Convenção Nacional selecionava o candidato ao cargo de presidente.
Percebemos que a LRP ainda estava engessada pelas regulamentações da LOPP. A
legislação partidária especificava minunciosamente as exigências para a criação de uma nova
agremiação e modelava detalhadamente suas estruturas internas. Como ressalta Keck (1991),
esse ordenamento jurídico favorecia claramente as agremiações que herdaram a estrutura
partidária e o capital eleitoral, como vimos para o caso da ARENA e do MDB. Além disso,
dificultava a inovação política proposta por partidos como o PT.
Em 1995, com a LPP, Lei nº 9.096, os partidos conquistaram autonomia para definir
sua estrutura interna, incentivando as agremiações a reformularem seus estatutos. Apesar de o
modelo originário dos partidos, fundados sob a égide da LRP e da LOPP, ser marcado pela forte
descentralização, as agremiações passaram a reformular seus estatutos de modo a desenvolver
formalmente estratégias para controlar nacionalmente as suas decisões.
Podemos citar a criação de um novo órgão partidário de âmbito nacional
estabelecido por algumas agremiações. Esse novo instrumento burocrático era de natureza
consultiva e ocupava posição similar ao Conselho Executivo Nacional, definindo de forma
centralizada as decisões internas. Como destacado por Ribeiro (2013), percebe-se indícios de
que as lideranças nacionais dos maiores partidos, como PT, PSDB, PMDB e PFL/DEM,
buscaram estabelecer uma estrutura decisória centralizada pelos órgãos nacionais e com maior
articulação interna entre as instâncias partidárias, sobretudo no que se refere às decisões
eleitoras.
Nesse sentido cabe indagarmos: os partidos apresentam graus variados de
centralização? No que tange às decisões eleitorais, quando, como e onde existe a tendência para
a centralização? Buscando analisar essas questões desenvolvemos a presente pesquisa.
39
Desenho da pesquisa
2
São necessárias duas explicações técnicas quanto à elaboração desse gráfico. Primeiro, para contabilizar a
quantidade de deputados federais do PP/PPB ao longo desses ciclos eleitorais, foram agregados alguns dados: nas
eleições de 1994 foram somados os deputados federais do Partido Progressista Reformador (PPR), com 52
deputados, e do Partido Trabalhista Renovador (PTR), com 36 deputados. Segundo, na categoria “outros” foram
agregadas as pequenas agremiações. Porém, nas eleições de 2014, esse número aumentou porque foram
contabilizados dois tipos de partidos: os estreantes na disputa eleitoral, mas que obtiveram um alto desempenho
eleitoral, como o Solidariedade (SD) com 15 deputados e o Partido Republicano da Ordem Social (PROS), com
11 deputados; e os que aumentaram sua representação, como o Partido Republicano Brasileiro (PRB), com 21
deputados.
40
PMDB
76 78 66
83 89
107 PT
PSDB
70
59
91 86 PFL/DEM
49 83
PP/PPB
54
62 99 54 PTB
70 65 22
36 PSB
43
89 25 PDT
65
84 44
105 34 PL/PR
22 19
42
PCdoB
52 35 34
88 22
10 PCB/PPS
60 27 27 10
26 12
24 PSC
31 22 41 37
31
15 21 23 8
15 PSD
18 13 12
34 26
25 21 17
12 76 PV
13 9 13
12 15 13
10 7
17 26 Outros
6 5 12
1994 1998 2002 2006 2010 2014
Fonte: Elaboração própria a partir dos dados do Tribunal Superior Eleitora (TSE).
41
necessário saber o que vai comparar e se é possível comparar, sendo fundamental existir certa
homogeneidade ambiental (mesmas instituições políticas e sociais, regras eleitorais
equivalentes) para que as variáveis operacionais sejam reduzidas e, assim, possa ser
estabelecida uma comparação (PANEBIANCO, [1982]).
No estudo em questão, o critério para a escolha dos casos no plano municipal
ocorreu tomando como indicador principal a magnitude eleitoral. Para a seleção não foram
diretamente levados em consideração dados como tamanho da população, Produto Interno
Bruto (PIB) e Índice de Desenvolvimento Humano (IDH). Partiu-se do pressuposto de que a
magnitude eleitoral e esses índices econômicos seriam diretamente proporcionais. Assim,
escolher os casos apenas pelo tamanho eleitoral simplificaria a seleção.
Os casos foram classificados em uma escala de grande, média e pequena magnitude
eleitoral, sendo selecionada uma de cada escala. Além disso, orientou-se que os casos fossem
de regiões geográficas distintas e que suas elites políticas tivessem graus variados de influência
no Diretório Estadual do partido.
Quanto à seleção dos três municípios analisados, definiu-se que o critério de grande
magnitude eleitoral seria representado pela capital, o de média seria a mediana dos municípios
entre 20 a 200 mil eleitores e o de pequena magnitude, a mediana dos municípios com menos
de 20 mil eleitores. Além disso, os municípios precisariam ter Diretório ou Comissão Provisória
dos três partidos nas duas eleições analisadas. A reivindicação da existência de órgão partidário
nas eleições analisadas é justificada pela necessidade de mínima organização do partido no
município. Para melhor acompanhamento dos casos selecionados, segue um Mapa que torna
possível a visualização dos municípios investigados e suas magnitudes eleitorais em 2014.
6.271.554 eleitores
Para realizar essa pesquisa foram utilizadas técnicas de coleta de dados de natureza
quantitativa e qualitativa. No que ser refere às informações quantitativas, foi elaborado um
banco de dados sobre os órgãos partidários no Brasil, conforme exposto na Tabela 1. Esses
dados foram obtidos por meio da construção de algoritmo de Web Scraping que captou todos
os dados do Sistema de Gerenciamento de Informações Partidária (SGIP) do Tribunal Superior
Eleitoral (TSE). Com isso, foi possível construir um banco contendo o registro de todos os
órgãos partidários brasileiros para cada município do país entre os anos de 2000 e 2015.
Cabe ressaltar que a alimentação dessas informações é feita pelos próprios partidos
no sítio do TSE. Como ela foi iniciada no ano de 2008, muitas informações relativas a esse
período estão incompletas, o que explica a baixa quantidade de órgãos partidários para todas as
agremiações nesse período.
46
Outro dado quantitativo utilizado foi a prestação de contas dos partidos para as duas
eleições estudadas, 2012 e 2014, e os recursos obtidos pelos Diretórios Estaduais na cota do
Fundo Partidário. Foi analisada a transferência de recursos do Diretório Nacional, informação
disponibilizada também no sítio do TSE, no Sistema de Prestação de Contas Eleitorais (SPCE) 3.
No entanto, o foco da investigação está na realização de uma pesquisa qualitativa que capte a
dinâmica intrapartidária e conecte as três arenas federativas do partido, investigando como essas
agremiações se articulam e qual é o grau de centralização nas tomadas de decisão envolvendo
questões da arena eleitoral.
A partir de Panebianco [1982] e Sartori [1976], podemos ressaltar que existem dois
tipos de política: a visível e a invisível. O primeiro tipo refere-se à política interpartidária em
que os eleitores, reduzidos ao papel de consumidores, optam entre produtos e questões políticas;
e os partidos, disputando em cenário complexo, competem pela preferência de um
multifacetado eleitorado de massa. O segundo tipo alude à política intrapartidária — esotérica
e invisível aos olhos do eleitorado. Nessa arena é que as elites intrapartidárias disputam o
cardápio de opções que será oferecido aos eleitores.
Essa política invisível relativa a vida interna dos partidos é difícil de ser investigada.
Isso porque, além de esses dados não estarem disponíveis em plataformas on-line de consulta,
os partidos hesitam em fornecer dados e informações. Para desvendar a caixa-preta da
organização partidária, foi necessária imersão nas atividades do partido por meio de pesquisa
qualitativa. Foram coletados dados primários sobre os partidos políticos, como documentos
oficiais, entrevistas com elites partidárias e pesquisa em jornal. Esse procedimento
metodológico foi fundamental para este estudo, pois as informações que se deseja coletar só
podem ser colhidas de forma direta, in loco, por meio de entrevista e de contato mais
aproximado com as lideranças partidárias.
3
Sobre esse dado cabe uma observação. No sítio do TSE são disponibilizadas informações sobre prestação de
contas eleitorais das duas eleições investigadas nessa pesquisa. De acordo com as informações coletadas no banco
de dados do SPCE, o PMDB, na eleição de 2012, contava com 20 CNPJs diferentes. Isso dificultava a identificação
de qual documento seria o correspondente ao Diretório Nacional, visto que, em alguns casos, um mesmo número
estava relacionado tanto ao Diretório Nacional quanto ao Diretório Estadual e Municipal. Para resolver essa
questão, foi utilizado como CNPJ do Diretório Nacional o documento que contou com o maior volume de recursos
e que tinha uma distribuição que abrangia todos os estados da federação. No caso, foram utilizados os seguintes
CNPJs dos partidos: PMDB (00.676.213/0001-38), PT (00.676.262/0001-70) e PSDB (03.653.474/0001-20).
47
4
Nesse documento eram expressos o objetivo da pesquisa, a finalidade da visita, a vinculação acadêmica do
pesquisador e a importância da colaboração da agremiação partidária. Além disso, dados pessoais do pesquisador
foram informados, tais como: RG, CPF e endereço profissional, a fim de dar mais credibilidade e segurança à
pesquisa.
48
5
No Anexo 2, segue o roteiro utilizado para as entrevistas. Foram coletadas quatro grupos principais de
informações: a história do partido (HP), a atual estrutura organizacional do partido (EP), a campanha envolvendo
as eleições municipais de 2012 (E2012) e as eleições gerais de 2014 (E2014).
6
Sobre o PT, existem as pesquisas de Olinda (1991), Parente (1994) e Vieira (2007). Sobre o PSDB, ver Parente
(2000). Por fim, sobre o PMDB não existe nenhuma pesquisa acadêmica.
49
Além disso, existe dificuldade na coleta de dados primários nos partidos. Primeiro
porque os membros do partido não têm controle sobre a história da agremiação, não sabendo
informar, por exemplo, quem compôs a Comissão Executiva ao longo dos anos7. Essa falta de
conhecimento abrange desde os partidos menos institucionalizados no plano local até os
Diretórios Estaduais. Nesse ponto específico, o PT é a agremiação mais comprometida como
sua história institucional, fornecendo em alguns casos informações sobre a composição da
Comissão Executiva ao longo do tempo.
Na coleta dos dados primários nas agremiações, observou-se que o Diretório
Estadual do PT arquiva documentos, porém estes estão empilhados em armazém que não
fornece condições adequadas para a conservação do material. Além disso, o partido não realiza
triagem desse material, sendo difícil a coleta de dados. Já os Diretórios Estaduais do PMDB e
do PSDB arquivam algumas atas, mas não existe descrição dos debates internos nesses
documentos. Encontram-se apenas os nomes dos membros que estavam presentes e as
principais decisões tomadas. Nos Diretórios Municipais, não encontramos registros da história
do partido.
O Tribunal Regional Eleitoral do Ceará (TRE-CE) possui o arquivo da composição
dos Diretórios dos partidos do período da década de 1980 e início de 1990. O acesso a essas
fichas partidárias foi fundamental porque a maior parte das agremiações não tinha essas
informações detalhadas. Porém, o restante das fichas partidárias relacionadas ao período mais
recente foi perdido em incêndio 8.
Outra dificuldade encontrada foi a resistência das agremiações em fornecer dados
sobre sua organização interna, predominando um clima de desconfiança 9. Como a entrevista é
7
A coleta da informação sobre a composição da Comissão Executiva foi bastante problemática nas três
agremiações. As atas dos partidos não estavam organizadas e muitas agremiações não disponibilizaram o material.
Além disso, foi mais fácil coletar essas informações sobre o Diretório Estadual do que sobre os órgãos municipais.
8
Entre os arquivos incendiados estavam os dados sobre os órgãos partidários de Fortaleza. Nesse aspecto, para
coletar mais informações sobre os partidos em Fortaleza seria necessário um investimento nos arquivos dos
partidos, o que não foi possível nessa pesquisa.
9
Dentre os partidos analisados, o Diretório Estadual do PSDB no Ceará foi o órgão que apresentou maior
resistência na pesquisa de campo. No primeiro contato fui classificado como petista por ter ido barbado, sendo
inclusive indagado se as informações colhidas no partido seriam fornecidas para o PT. Isso demonstra que, na
coleta de dados qualitativos, o pesquisador precisa estar atento sobre como seu informante o apreende, já que um
contato malsucedido pode impossibilitar a pesquisa de campo. Para conseguir estabelecer o mínimo de confiança
com a burocracia partidária participei de alguns eventos, como a Convenção Regional em Iguatu e em Crato, e
retornei com frequência à sede da agremiação para marcar entrevistas. Apesar desse esforço, não foi possível
realizar entrevista com o presidente do Diretório Estadual, Luiz Pontes. Outro partido onde enfrentei resistência
foi o Diretório Municipal do PT de Barbosa (SP). Como já tinha realizado entrevistas com membros de outras
agremiações no município, como PMDB e PSDB, e já estava próximo dessas lideranças locais, os dirigentes do
PT ficaram desconfiados com a minha presença. Nesse aspecto, um dirigente do PT, em tom jocoso, chegou a
confessar que, inicialmente, pensava que eu era um “exterminador de petistas”. Apesar dessas dificuldades iniciais,
consegui entrevistar três membros desse partido no município.
50
uma ferramenta fundamental na coleta de dados da pesquisa, foi necessária aproximação mais
demorada para que os integrantes dos partidos, sobretudo as secretárias, fornecessem as
informações solicitadas e apresentassem os informantes qualificados para as entrevistas. Os
obstáculos impostos ao acompanhamento regular da dinâmica intrapartidária não permitiram
um estudo mais aprofundado e uma descrição mais detalhada sobre os amplos processos
decisório nos partidos, por isso a necessidade do recorte para investigar a arena eleitoral e o
caso do Ceará10.
Além das dificuldades específicas apontadas, a pesquisa de campo enfrentou outro
grande desafio. A interação mais próxima com os órgãos partidários, tão necessária a realização
da pesquisa qualitativa, foi dificultada pelo ambiente de suspeita que predominava nos partidos
quando o pesquisador começava a solicitar documentos formais da instituição e informações
sobre a prestação de conta da agremiação. Nesse aspecto, era comum ouvir respostas como:
“nossas contas foram todas aprovadas pelo TSE” e “tudo ocorreu segundo as regras legais”.
Esse ambiente de suspeita foi desencadeado sobretudo pela influência da “Operação Lava Jato”,
que desde de março de 2014 investiga esquema de corrupção que envolve a Petrobrás,
empresários e partidos políticos. Cabe ressaltar que as três agremiações analisadas nessa
pesquisa estão sendo investigadas nessa operação.
Foram realizadas, no total, 34 entrevistas de média e longa duração com as
principais lideranças partidárias. Em alguns órgãos partidários, para coletarmos todas as
informações necessárias, foi preciso entrevistar variadas lideranças que ocupavam cargos
estratégicos na agremiação. Isso aconteceu normalmente quando o entrevistado não tinha
segurança nas informações fornecidas ou quando existiam variadas versões sobre algum
conflito dentro do partido, sendo necessário entrevistar os atores envolvidos no processo.
Assim, em determinados órgãos partidários foi necessário entrevistar apenas um
membro da Comissão Executiva, pois este era qualificado para responder as perguntas
envolvendo os quatro grupos de questões. Em outros órgãos partidários, os próprios integrantes
da Comissão Executiva indicavam outros membros qualificados para complementar as
informações solicitadas. As 34 entrevistas realizadas estão assim distribuídas entre os órgãos
partidários: cinco entrevistas no Diretório Estadual do Ceará, quatro no Diretório Municipal de
Fortaleza (CE), sete em Mombaça (CE), dez em Nova Olinda (CE) e oito em Barbosa (SP)11.
10
Inicialmente, a pesquisa tinha por recorte a comparação entre um estado de média magnitude eleitoral (no caso,
o Ceará) e outro de alta (no caso, São Paulo). Porém, devido a dificuldades impostas na realização da pesquisa de
campo, foi construído um novo recorte, permanecendo apenas o caso do Ceará. Em São Paulo foi realizada
pesquisa de campo em Barbosa, município de pequeno porte, porém os dados não são analisados na presente tese.
11
Para mais informações sobre os colaboradores da pesquisa, ver Anexo 1.
51
Organização da tese
12
Um dado interessante, mas que não foi possível de ser analisado nessa pesquisa, é a relação de gênero nas
atividades internas do partido. Os cargos hierarquicamente mais baixos – como auxiliar de serviços gerais,
recepcionista e secretário – são exercidos por mulheres nas três agremiações. Além disso, comparativamente as
mulheres são as que obtêm a menor quantidade de votos nas eleições proporcionais nas três agremiações, como
podemos observar nos Anexos 5, 6 e 7.
13
No Ceará, existem outros jornais de grande circulação, como: Diário do Nordeste e Tribuna do Ceará. Porém, o
jornal O Povo, além de ser celebrado na comunidade acadêmica como a mídia impressa que mais tem credibilidade,
possui o banco de dados sistematizado, o que facilita as pesquisas das matérias do jornal. Para as matérias desses
jornais, foi feito o recorte temporal de 1979 a 2014 para os três partidos com as seguintes palavras-chaves: “crise”,
“conflito”, “convenção”, “Processo de Eleição Direta” no caso do PT, “Eleições 2012” e “Eleições 2014”.
52
passado, pelo seu modelo originário e pelas relações que estabelece com seu instável ambiente
externo (PANEBIANCO, [1982]).
No tópico sobre a estrutura da organização partidária, abordaremos como as
instâncias partidárias estão ordenadas, analisando o organograma do partido por meio dos
estatutos14. Investigaremos também como o partido está estruturado em seus diferentes níveis
federativos, no Diretório Estadual e nos Diretórios Municipais, e como o poder está distribuído
no interior da organização. Nessa seção, retrataremos como a organização estrutura seus órgãos
partidários locais a partir do estudo de caso dos municípios de grande, média e pequena
magnitude eleitoral.
Cabe destacar que na exposição sobre a evolução organizativa do partido nos órgãos
municipais daremos ênfase ao desempenho eleitoral da agremiação no plano local. Essa escolha
metodológica deve-se ao fato de que a consolidação destas agremiações partidárias nos
municípios é refém dessa influência ambiental. O partido é dominado pela “face pública”
(KATZ; MAIR, 1995) que se mostra forte e autônoma. Os membros eleitos para cargos eletivos,
sobretudo os cargos do Executivo, comandam a máquina partidária local. A legitimidade destes
como dirigentes provém de fatores externos a organização, principalmente o desempenho
eleitoral, que os fortalecem internamente. Com isso, a trajetória organizacional do partido fica
atrelada ao seu percurso eleitoral15.
No último item investigaremos o grau de centralização das eleições, abordando as
eleições municipais de 2012 e as eleições estaduais de 2014. Para medir o grau de centralização,
o tópico explora três pontos centrais: formação de alianças e coligações, seleção de candidatos
e distribuição de recursos para as campanhas. A análise dessas variáveis tem por objetivo
examinar se os recursos e as decisões do partido são oferecidos e centralizados pelo Diretório
Nacional ou pelo Diretório Estadual ou descentralizados para os órgãos partidários municipais.
Por fim, apresentaremos as considerações finais, onde articulamos as conclusões
obtidas no estudo de caso sobre cada agremiação com os objetivos e as hipóteses levantadas
nesta introdução. Buscaremos debater a variação do grau de centralização relacionando-a ao
modelo organizacional dos três partidos, a magnitude eleitoral dos municípios e o tipo de
eleição.
14
Não foi realizada comparação sistemática entre os estatutos dos três partidos ou um confronto entre os estatutos
de cada partido ao longo do seu desenvolvimento organizativo. Foi realizada leitura instrumental dos estatutos de
cada partido que regulamentavam as duas eleições analisadas, 2012 e 2014.
15
Para auxiliar a leitura desse tópico, foi organizado o resultado eleitoral dos casos investigados na pesquisa. Estão
dispostos o desempenho eleitoral dos partidos em Nova Olinda (Anexo 8), Mombaça (Anexo 9), Fortaleza (Anexo
10) e Ceará para o Executivo estadual e o Senado (Anexo 11).
54
55
16
As informações sobre a política cearense que compõem esse capítulo foram coletadas nas obras de Montenegro
(1980), Mota (1985; 1992), Lemenhe (1995), Carvalho (1999) e Parente (2000). Além disso, foram colhidas
informações sobre integrantes da elite política cearense, destacando-se as pesquisas no Dicionário Histórico-
Biográfico Brasileiro do Centro de Pesquisa e Documentação de História Contemporânea do Brasil
(DHBB/CPDOC), portal da Câmara dos Deputados e publicações do Memorial da Assembleia Legislativa do
Ceará (MALCE) sobre o perfil dos deputados estaduais da 13ª a 25ª legislaturas (1951-2002).
56
implementada imposições legais para “moralizar” a disputa eleitoral e garantir que elementos
“corruptos e subversivos” não retornassem ao poder. Em 15 de julho, foram estabelecidos dois
marcos legais para controlar os resultados não esperados da disputa eleitoral de 1965: o Código
Eleitoral (Lei nº 4.737) e a LOPP (Lei nº 4.740). Esta última tinha por objetivo regular a
atividade intrapartidária, por meio de um estatuto orgânico comum a todos os partidos, e limitar
o número de agremiações por meio de restrições ao seu funcionamento. O artigo abaixo da
LOPP mostra que houve redução imediata do número de agremiações que podiam existir
legalmente, ao estabelecer rigorosa representação legislativa:
Art. 47. Ainda se cancelará o registro do partido que não satisfizer seguintes
condições:
I - apresentação de provas ao Tribunal Superior Eleitoral, no prazo
improrrogável de 12 (doze) meses, contados da data do seu registro, de que
constituiu legalmente Diretórios regionais em, pelo menos 11 (onze) Estados.
II - eleição de 12 (doze) deputados federais, distribuídos por 7 (sete) Estados,
pelo menos;
III - votação de legenda, em eleições gerais para a Câmara dos Deputados,
correspondente, no mínimo a 3% (três por cento) do eleitorado no País
(BRASIL, 1965).
Com a imposição dessa regra, apenas quatro agremiações partidárias — Partido
Social Democrático (PSD), União Democrática Nacional (UDN), Partido Trabalhista Brasileiro
(PTB) e Partido Social Progressista (PSP) — cumpriam os requisitos legais exigidos pela nova
legislação. O sistema partidário existente desde a democratização de 1945 era composto por
treze partidos, sendo três dominantes: o PSD, composto pela facção que controlava as máquinas
administrativas estaduais durante a ditadura de Getúlio Vargas (1937-1945); a UDN, fundada
por facções oligárquicas que faziam oposição a Getúlio Vargas; o PTB, controlado pelo
Ministério do Trabalho e que buscava cooptar as massas urbanas emergentes com base no
sistema sindical (KINZO, 1988).
Nas eleições estaduais de outubro de 1965, que elegeriam os governadores de onze
estados, os candidatos apoiados pelo governo militar foram derrotados pela aliança
oposicionista, liderada pelo PSD-PTB, em dois importantes estados: Guanabara e Minas Gerais.
Com isso, houve endurecimento do regime, sendo publicado em 27 de outubro de 1965 o AI-
2, que em seu Artigo 18 extinguia todos os partidos existentes, submetendo a organização de
novas agremiações às normas da LOPP (Lei nº 4.740). Como foi dito anteriormente, a LOPP
não estabelecia obrigatoriamente sistema de dois partidos, apenas restringia a criação de muitas
agremiações. Posteriormente, em 20 de novembro de 1965, foi publicado o Ato Complementar
nº 4 (AC-4) que possibilitou a base legal para um sistema bipartidário. Este novo AC definiu as
57
novas regras a serem seguidas para criação e registro de organizações com atribuições de
partido político, conforme percebemos abaixo:
Art. 1º Aos membros efetivos do Congresso Nacional, em número não inferior
a 120 deputados e 20 senadores, caberá a iniciativa de promover a criação,
dentro do prazo de 45 dias, de organizações que terão, nos termos do presente
Ato, atribuições de partidos políticos enquanto estes não se constituírem
(BRASIL, 1965).
Aritmeticamente, seria possível a criação de três agremiações, visto que o
Congresso contava, à época, com 409 deputados federais e 66 senadores. Porém, o objetivo era
montar uma estrutura partidária que garantisse apoio ao governo, congregando os membros que
apoiavam a “revolução”, e um fraco partido de oposição que aglutinava as forças políticas
remanescentes. A adesão dos parlamentares ao partido governista, a ARENA, foi tão massiva
que a criação de uma segunda agremiação se tornou tarefa árdua para “regime militar-
autoritário brasileiro”, que não queria ser caracterizada como ditadura de partido único. Foi
necessário o então presidente Castelo Branco persuadir um senador a se filiar ao partido da
oposição para viabilizar sua fundação. Na nova reconfiguração do sistema partidário, a ARENA
foi composta, na sua grande parte por parlamentares udenistas e pessedistas. O MDB, por sua
vez, era integrado por parlamentares oriundos dos partidos trabalhistas e pela ala progressista
do PSD (KINZO, 1988).
No Ceará, a montagem de uma estrutura partidária que garantisse apoio ao governo
militar foi facilitada pela existência da “União pelo Ceará”, uma aliança entre UDN e PSD para
as eleições de 1962. Nessas eleições, a coligação UDN, PSD e Partido Trabalhista Nacional
(PTN) elegeu o governador, Virgílio Távora (UDN), o vice-governador, Figueiredo Correia
(PSD), e um senador, Wilson Gonçalves (PSD). Já a oposição, estabelecida na coligação PTB
e Partido Democrata Cristão (PDC), elegeu um senador, Carlos Jereissati (PTB). Nesse período,
duas lideranças polarizavam o sistema partidário cearense: Virgílio Távora e Carlos Jereissati.
Virgílio Távora, capitão militar formado pela Escola de Comando e Estado-Maior
do Exército (ECEME), era filho de tradicional político cearense, Manuel do Nascimento
Fernandes Távora. Seu pai foi interventor no Ceará (1930-1931), deputado federal pelo Partido
Social Democrático do Ceará (PSD) (1934-1937) e pela UDN (1946-1947) e senador pelo PTB
(1947-1951; 1955-1963). A carreira política eleitoral de Virgílio Távora se iniciou em 1950,
quando foi eleito deputado federal pela UDN. Permaneceu duas legislaturas como deputado
federal (1951-1959), ocupando importantes postos na hierarquia da UDN, tais como: secretário-
geral (1953-1955) e vice-presidente do Diretório Nacional (1957-1959).
58
Ele é caracterizado por Carvalho (1999) e Parente (2000) como estrategista que
conhecia de perto a “política de bastidores”, sendo responsável por articular a composição de
chapas eleitorais majoritárias, como a candidatura vitoriosa de Paulo Sarasate a governador em
1954 em aliança intitulada “As Oposições Coligadas”, a qual estabelecia coalizão entre UDN,
PTB e Partido Republicano (PR). Após ser derrotado para o cargo de governador nas eleições
de 1958 e sem mandato parlamentar, foi compensado com a ocupação de cargos federais pela
UDN, como diretor da Companhia Urbanizadora da Nova Capital do Brasil (NOVACAP), em
1959; coordenador da campanha presidencial de Jânio Quadros, em 1960; e Ministro de Viação
e Obras Públicas (1961-1962). A projeção nacional como ministro possibilitou que ele
articulasse a aliança de 1962, “União pelo Ceará”, sendo eleito governador.
Carlos Jereissati, empresário e importador de tecidos, era aliado de Getúlio Vargas
e João Goulart, sendo a principal liderança do PTB no estado. Foi deputado federal por dois
mandatos consecutivos (1955-1963). Foi eleito senador em 1962, mas após assumir a vaga no
Senado Federal em 1963, morreu sem deixar herdeiro político.
Com a estruturação do sistema bipartidário no estado, a ARENA foi constituída por
parlamentares que integravam a Aliança Pelo Ceará, com exceção de parte do PSD. A ARENA
foi inicialmente liderada por Virgílio Távora e Paulo Sarasate — este último foi eleito deputado
federal pela UDN (1946-1955; 1959-1967) e governador (1955-1958). Já o MDB foi criado
com o apoio de grupo dissidente do PSD chefiado pelo deputado federal José Martins
Rodrigues, pelos parlamentares do PTB órfãos da morte repentina do senador Carlos Jereissati
e por lideranças mais à esquerda.
A influência política de Virgílio Távora foi abalada no início do “regime militar-
autoritário” pelo fato deste ter relações pessoais com João Goulart (PTB). Apesar disso,
permaneceu no cargo de governador até o final do seu mandato, em 1966. A patente de coronel,
o caráter conservador da “União pelo Ceará” e o legado dos Távoras como revolucionários
históricos17 o preservaram de ser arremessado na vala comum dos políticos profissionais.
No entanto, dois episódios fizeram com que Virgílio Távora experimentasse o
isolamento político: a resistência à pressão dos militares do Grupo de Obuses, que queriam que
17
Podemos citar a atuação de parentes de Virgílio Távora nos processos revolucionários na história política do
Brasil. Como seu pai, Manuel do Nascimento Fernandes Távora — revolucionário em 1930 —; seu tio, o militar
Joaquim do Nascimento Fernandes Távora — participante do levante tenentista de Mato Grosso em 1922 e morto
em combate na Revolta Paulista de 1924 —; seu outro tio, Juarez do Nascimento Fernandes Távora — também
integrante Revolta Paulista de 1924, da Coluna Prestes (1925-1927) e da Revolução de 1930; nessa último
movimento político-militar comandou as forças nordestinas que apoiavam Getúlio Vargas, recebendo o apelido de
“Vice-Rei do Norte”; foi o segundo colocado na eleição indireta para presidente da República do Congresso
Nacional em abril 1964; e indicado por Castelo Branco para ocupar o Ministério de Viação e Obras Públicas, cargo
que ocupou de 1964 a 1967.
59
18
Seu pai, o médico César Cals, foi deputado estadual (1925-1928; Liga Eleitoral Católica (LEC) 1934) e prefeito
nomeado de Fortaleza (1930-1931; 1946).
60
como mecanismo de legitimação do poder, sobretudo após a crise econômica de 1973, que pôs
fim ao “milagre econômico” que até então legitimava a ditadura. Com isso, os donos de “currais
eleitorais” viram seu prestígio novamente reforçado — como estratégia de contrabalançar a
tendência ao voto oposicionista dos centros urbanos. O governo federal passou a encorajar as
oligarquias nos estados e estas fortaleceram as oligarquias nos municípios.
Nesse cenário, uma velha “raposa”19 da política cearense se fortaleceu como
articulador de chapas majoritárias: Virgílio Távora, que exercia o mandato de deputado federal
(1967-1971). Político virtuoso, ele conseguiu reconquistar o prestígio junto à cúpula do regime
militar, galgando importantes cargos na hierarquia do partido governista, como 2º secretário da
Executiva Nacional da ARENA em 1969 e presidente da Comissão Mista de Orçamento do
Congresso Nacional em 1970.
A montagem da chapa majoritária de 1970 iniciou um arranjo entre as elites
estaduais do Ceará que ficou conhecido como “Política dos Coronéis” (MOTA, 1985). Esse
grande acordo perdurou durante todo o “regime militar-autoritário” e teve por objetivo a
concentração do poder nas mãos da ARENA, não deixando espaço para o surgimento de novas
lideranças no partido de oposição. Assim, a divisão da chapa governamental ficou composta
por: coronel César Cals Filho como governador; coronel e então deputado federal Humberto
Bezerra, irmão gêmeo do militar e deputado estadual Adauto Bezerra, como vice; e coronel
Virgílio Távora como senador.
O “Pacto dos Coronéis” tinha dois preceitos: “união na cúpula e divisão na base”
(MOTA, 1985, p. 178). Embora na disputa para o Executivo estadual houvesse a aliança entre
as três lideranças que se revezaram no cargo nomeado pelo regime militar — César Cals Filho
(1971-1975), Adauto Bezerra (1975-1978) e Virgílio Távora (1979-1982) —, na base, elas
estabeleciam implacável disputa para estruturar suas facções dentro da ARENA, buscando a
adesão do maior número possível de deputados e prefeitos.
Assim, no Ceará, a ARENA era fragmentada em facções lideradas por esses três
chefes políticos que disputavam internamente por meio do mecanismo de sublegendas20. Pela
Lei das Sublegendas (Lei nº 5.453), cada partido podia apresentar até três candidatos para um
19
O uso do termo “raposa” remonta à metáfora elaborada por Maquiavel [1513]. O autor alerta que o príncipe,
entendido aqui como liderança política, precisa combater usando a força e recorrendo a sua natureza animal, sendo
necessário empregar a habilidade feroz do leão (que não tem defesa contra os acordos, mas aterroriza os lobos) e
astuciosa da raposa (que tem defesa contra os acordos e reconhece os lobos).
20
Como vimos, a ditadura militar instituiu variados “casuísmos eleitorais” para montar uma engrenagem político-
institucional de apoio ao novo regime. Entre esses casuísmos podemos citar a regulamentação de sublegendas
dentro dos partidos, previstas no Código Eleitoral de 1965 (Lei nº 4.737) e instituída pela Lei das Sublegendas em
1968 (Lei nº 5.453). Essa adaptação foi necessária para acomodar as diferentes facções dentro da ARENA e do
MDB oriundas dos partidos do antigo sistema partidário de 1945-1964.
61
mesmo cargo nas eleições para prefeito e senador. Conforme o chefe político fosse galgando
postos de comando, ele ia montando sua base eleitoral, sendo que o ápice do poder político da
sua facção ocorria quando ocupava o posto de governador, pois assim distribuía incentivos
seletivos para sua rede de apoiadores, fincando suas raízes políticas21.
A facção “cesista” foi estruturada quando César Cals Filho ocupou o posto de
governador (1971-1975), cargo privilegiado que lhe possibilitou realizar “recrutamento
compulsório e ostensivo de políticos do interior” (CARVALHO, 2002), multiplicando adesões
a seu grupo. O objetivo era criar, efetivamente, uma facção política própria, assim como
desarticular a facção “virgilista”, usando inclusive a força para dizimar os correligionários de
Virgílio Távora. No momento em que ocupava o Executivo estadual, sua facção chegou a ser a
maior em número de deputados, superando a facção do seu principal oponente, como
percebemos no seguinte depoimento de um ex-deputado22 que acompanhou essa disputa.
No interior derrubou todo mundo que era do Virgílio [Távora]. Andavam em
uma camioneta do Serviço de Informação do Exército (SEI) que parava nas
cidades, entrava ostensivamente para causar impacto... sabe como é no
interior. Ia nas prefeituras com a ficha para os políticos preencherem e os que
estavam sendo aliciados passavam a obedecer ao bastão do governador César
Cals. [...] Dos deputados federais somente um ficou com Virgílio [Távora], o
Marcelo Linhares, e dos deputados estaduais o Aquiles Peres Mota”.
(CARVALHO, 1999, p. 71).
Porém, quando César Cals Filho deixou o governo, sua facção desidratou, obtendo
apoio apenas de um deputado federal e cinco deputados estaduais23. Isso se refletiu nas eleições
de 1974, quando seu indicado a vaga ao Senado, o então deputado federal antivirgilista Edilson
Távora, não foi eleito. Após o frustrado embate eleitoral, as relações de César Cals Filho com
a alta cúpula militar o conduziram ao cargo de diretor de coordenação das Centrais Elétricas
Brasileiras (ELETROBRÁS) (1975-1979).
Em 1974, César Cals Filho articulou seu retorno ao posto de governador do Ceará,
contando com uma base de apoio formada por cinco deputados federais, sete estaduais e pelo
senador Wilson Gonçalves (DHBB/CPDOC, VERBETE BIOGRÁFICO CESAR CALS DE
OLIVEIRA FILHO, 2010). Prevendo que sua articulação política não teria êxito, desistiu da
candidatura. Para compensá-lo, foi indicado pela cúpula militar ao posto de senador biônico.
Ocupou o cargo de senador, mas, com a posse do general João Figueiredo a presidente em 1979,
21
Seria necessária uma pesquisa que analisasse a capilaridade de cada facção dentro da ARENA, demonstrando a
montagem da rede de apoio entre deputados e prefeitos.
22
Depoimento de Liberato Moacir de Aguiar, ex-deputado da UDN (1951-1962), em entrevista a Carvalho (1999).
23
O deputado federal era Mauro Sampaio, que tinha sua base eleitoral na região do Cariri; os deputados estaduais
eram: Antônio Tavares, Carlos Cruz, Júlio Rêgo, Ciro Ferreira Gomes e João Viana (CARVALHO, 1999).
62
deixou o Senado para assumir o Ministério das Minas e Energia (1979-1985), retornando em
seguida ao cargo de senador (1985-1987).
César Cals Filho era considerado pouco habilidoso na arte da chefia da política
tradicional, configurando-se como chefe político imposto pela cúpula militar devido a sua
capacidade técnico-administrativa. Carvalho (2002) cita, por exemplo, que o primeiro episódio
de uma série de ações inábeis de César Cals Filho foi afastar Waldemar Alcântara da
presidência do Diretório Estadual da ARENA. Este era antigo líder do PSD no estado, deputado
federal (1954-1955), senador suplente (1963) e protagonista na coligação “União pelo Ceará”
de 1962. Ocupava o cargo de senador pela ARENA desde 1968 e na política intrapartidária
cumpria a função de unificar o partido. Essa exoneração foi interpretada como insulta aos
“políticos tradicionais” que acompanhavam Waldemar Alcântara e Virgílio Távora.
A facção político-familiar “bezerrista”24 foi estruturada por meio do domínio da
política local no município de Juazeiro do Norte. A família Bezerra de Meneses conseguiu
acumular poder econômico e político por meio da posição privilegiada de financiadores e
corretores na cotonicultura. Transformaram os pequenos e médios produtores de algodão, de
quem financiava a plantação e comprava a produção, em extensa e capilarizada rede de cabos
eleitorais. No início de 1970, os Bezerras se configuravam como os mais importantes
compradores e beneficiadores de algodão do Cariri e do estado (LEMENHE, 1995).
A atuação da família Bezerra de Meneses na política eleitoral teve início em 1947,
quando Leonardo Bezerra (UDN) foi eleito vereador de Juazeiro do Norte. Porém, o efetivo
controle político local aconteceu nas eleições de 1962, quando Humberto Bezerra tornou-se
prefeito de Juazeiro do Norte pela UDN. A facção política-familiar já estava estabelecida na
política local por meio do terceiro mandato de vereador e do posto de deputado estadual.
Durante 19 anos (1963-1982) a família Bezerra de Menezes, por meio da ocupação direta nos
cargos eletivos ou através da indicação de candidatos alinhados com a facção, teve controle da
vida política de Juazeiro do Norte, tanto no Executivo quanto no Legislativo.
24
A utilização do termo “bezerrista” em vez de “adautista” deve-se ao fato de que esse chefe político constituiu
sua facção com base no poder político familiar. Na facção político-familiar dos Bezerra de Meneses, cinco
membros ocuparam postos eletivos pela UDN, ARENA, PDS e PFL. Segue a lista: Leandro Bezerra: vereador de
Juazeiro do Norte (1948-1954); Orlando Bezerra: vereador de Juazeiro do Norte (1955-1963), prefeito de Juazeiro
do Norte (1970-1972), deputado estadual (1975-1982), deputado federal (1983-1994); Adauto Bezerra: deputado
estadual (1959-1974), governador do Ceará (1975-1978), deputado federal (1979-1983), vice-governador (1982-
1986); Humberto Bezerra: prefeito de Juazeiro do Norte (1963-1966), deputado federal (1967-1971), vice-
governador (1971-1974), secretário de Assuntos Municipais do governo estadual na gestão do seu irmão Adauto
Bezerra (1975-1978); Jarbas Bezerra, filho de Orlando Bezerra, deputado estadual (1979-1990). Para mais
informações, ver: Lemenhe (1995).
63
oposição ao regime deve-se à “vocação para o governo” de políticos tradicionais, que utilizam
os recursos do Estado para distribuir favores, cargos, verbas e outros tipos de incentivos
seletivos para sua base eleitoral, pois só recorrendo a tais expedientes esse tipo de político
consegue manter sua carreira. Um dos fundadores do partido no estado afirma: “[...] quase que
não conseguimos fazer um partido de oposição, porque o que todo mundo queria ser mesmo
era ser governo" (JOÃO ALVES MELO, secretário-geral do PMDB-CE. Entrevista concedida
ao autor em 17/11/2015).
Como percebemos nas duas Tabelas anteriores, esse partido apresentou baixo
desempenho eleitoral, e algumas das conquistas eleitorais foram obtidas graças às fissuras
internas na ARENA, momento explorado com sagacidade pelo MDB. Podemos citar a disputa
pela senatoria em 1974, por exemplo. Nessa eleição, o candidato do MDB, Mauro Benevides,
obteve o apoio informal de Virgílio Távora (ARENA) e foi eleito senador em detrimento do
candidato oficial da ARENA.
Expostos esses dados, observamos que a ARENA era o partido hegemônico no
Ceará, mas que apresentava fissuras internas criadas pela competição de três lideranças. Essas
contradições ecoaram na formação do herdeiro do partido, o PDS. Já o MDB apresentava
dificuldades para sobreviver num ambiente político hostil à oposição, repercutindo na primeira
eleição do atual ciclo democrático, como veremos a seguir.
25
Os nove governadores do nordeste eleitos em 1982 foram do PDS, caracterizando a única região em que o
PMDB não conseguiu penetração eleitoral na disputa do executivo estadual.
66
300.000
250.000
Mauro Benevides (PMDB)
200.000
150.000
100.000
50.000
0
0 20.000 40.000 60.000 80.000 100.000 120.000 140.000 160.000
Gonzaga Mota (PDS)
26
Quando comparamos o desempenho eleitoral do PMDB no plano nacional com o obtido no Ceará, percebe-se a
sua fragilidade inicial no cenário estadual. Enquanto nas eleições nacionais de 1982 o partido elegeu 41,7% da
Câmara Federal (200 deputados federais) e 42,6% das Assembleias Legislativas estaduais (404 deputados
estaduais), no estado do Ceará o partido conservou a representação que o MDB possuía, elegendo 22% dos
deputados federais (5 deputados) e 26% da ALECE (12 deputados estaduais).
27
Para mais informações sobre as eleições de 1982 no Ceará, ver: Barros e Costa (1985).
67
votos (35%). Até mesmo o candidato do PT, Américo Barreira, obteve alta adesão, 5.494 votos
(1,2%), concentrando em Fortaleza mais da metade da sua votação no estado, 9.956 votos no
total.
No restante dos municípios do estado, Mauro Benevides apresentou baixo
desempenho eleitoral. Basta observar que Gonzaga Mota obteve 70% dos votos válidos
(1.149.259 votos) e Mauro Benevides alcançou 29% (478.755 votos) concentrados em grande
parte na capital.
Como vimos, o PDS no estado teve o bônus de herdar o capital político da ARENA,
mas atrelado a isso teve o ônus de herdar também suas disputas intrapartidárias. Na eleição de
1982, por exemplo, foi necessário pacto intermediado pelo então chefe do Gabinete Civil da
Presidência da República, João Leitão de Abreu, conhecido como “Acordo de Brasília”
(MOTA, 1985), para que fosse montada a chapa para o Executivo estadual e o Senado.
Nesse contrato, cada facção política do PDS (“cesistas”, “bezerristas” e
“virgilistas”) ficaria com 1/3 dos cargos do primeiro escalão do governo estadual; o candidato
a governador seria indicado por Virgílio Távora, que escolheu o secretário de Planejamento da
sua gestão, o economista Gonzaga Mota. Já o candidato a vice-governador seria indicado por
Adauto Bezerra, que indicou a si próprio para assumir o cargo. O prefeito de Fortaleza, por sua
vez, seria nomeado por César Cals Filho, que designou seu filho, César Cals Neto, para o cargo.
Quanto à escolha para os cargos no Senado, a vaga de titular coube a Virgílio Távora, que
indicou a si próprio. A indicação da primeira e segunda suplência para o cargo ficou a cargo de
Adauto Bezerra, que escolheu respectivamente seu amigo pessoal e banqueiro, José Afonso
Sancho, e sua irmã, Maria Alacoque Bezerra.
Caso um analista levasse em consideração apenas os resultados eleitorais de 1982,
concluiria que o retorno à redemocratização não teria alterado a “fortuna” (MAQUIAVEL,
[1513]) dos três chefes políticos, visto que o PMDB não era, efetivamente, um competidor e o
PT tinha apresentado baixo desempenho eleitoral. Porém, em 1985, a eleição indireta para
presidente da República e o restabelecimento de eleições diretas para prefeitos das capitais
estremeceram o chão onde esses chefes políticos tinham enraizado suas bases de sustentação.
A eleição indireta para presidente ocasionou não só a implosão interna do PDS
nacional. O PDS cearense, que até então vivia sob a égide do “Pacto dos Coronéis” herdado da
ARENA, também foi afetado pelas disputas nacionais. Na Convenção Nacional do PDS que
indicaria a chapa do partido para o Executivo nacional duas candidaturas polarizavam a
agremiação. O então senador Virgílio Távora apoiou a candidatura do ex-governador de São
Paulo (1979-1982) e então deputado federal, Paulo Maluf. Este tinha como vice o ex-
68
28
Destaca-se o ex-governador da Bahia (1971-1975; 1979-1983) Antônio Carlos Magalhães, o então governador
do Piauí, Hugo Napoleão Neto, e o então governador de Pernambuco, Roberto Magalhães.
29
Cabe ressaltar que o aumento de agremiações disputando eleições de 1985 deve-se à promulgação da Emenda
Constitucional n. º 25, que no seu Art. 7º possibilitou que partidos em formação pudessem apresentar candidatos
às eleições municipais. Com isso, o número de partidos eleitorais no Ceará passou de três nas eleições de 1982,
como — PDS, PMDB e PT — para oito nas eleições de 1985 — PDS, PMDB, PT, PTB, PDT, PFL, PSC e PL.
69
prefeito era o então deputado federal Evandro Ayres de Moura, que também já tinha ocupado
o cargo de prefeito nomeado de Fortaleza (1975—1978).
Uma coligação entre PDS e PTB, que contava com o apoio do senador Virgílio
Távora e do ministro César Cals Filho, apresentou como candidato o então deputado federal
Antônio Alves de Moraes. Este já ocupava o terceiro mandato consecutivo na Câmara Federal,
eleito deputado federal em 1974 pelo MDB, tendo sido vereador de Fortaleza também pelo
MDB (1966-1972).
No entanto, uma candidatura apresentou-se como novidade, alterando as relações
de força já estabelecidas na política cearense. Apresentando sua campanha de televisão criativa
montada nos novos “padrões midiáticos publicitários da política” (CARVALHO, 1999) e com
militância ativa nos bairros de periferia, a candidata do PT, a deputada estadual Maria Luiza
Fontenelle, foi eleita com 159.846 votos (34%), apresentando mais de 11 mil votos do que o
segundo colocado. Em segunda posição ficou o candidato do PMDB, Paes de Andrade, com
148.427 votos (32%), e em terceiro o candidato do PFL, Lúcio Alcântara, com 121.326 votos
(26%)30.
As eleições de 1986 completaram o quadro de adversidade enfrentado pelos antigos
chefes políticos do período da ditadura no Ceará. Nesse cenário, consolidaram-se rupturas na
política estadual, fazendo ruir a maquinaria política montada nos moldes tradicionais. Essa
engrenagem política foi fundada no prestígio dos chefes estaduais que, por meio de uma rede
capilarizada e hierarquizada de chefes e chefetes davam a conhecer sua vontade aos eleitores,
que a traduziam em votos certos. A política cearense, no âmbito das disputas estaduais e
municipais em Fortaleza, apresentou transição da “arte da chefia política no contexto da
tradição” — como vimos no tópico anterior sobre os três chefes políticos —, para a “arte da
política no tempo da sociabilidade midiática e da estética publicitária” (CARVALHO, 1999).
O centro da disputa nas eleições de 1986 era os cargos no Executivo estadual e as
duas vagas ao Senado Federal. Os três chefes políticos reprisaram o “Pacto dos Coronéis”
(MOTA, 1985) na “Coligação Democrática” que unia PFL, PDS e PTB. Nessa aliança, o
candidato a governador foi Adauto Bezerra (PFL), que no período ocupava o cargo de vice-
governador, e o vice-governador foi indicado por Virgílio Távora, que escolheu o então
deputado estadual Aquiles Mota (PDS). Para o Senado, os indicados foram o então senador
César Cals Filho (PDS) e o então deputado federal e ministro da pasta da Desburocratização do
Governo de José Sarney, Paulo de Tarso Lustosa (PFL).
30
Para mais informações sobre o resultado eleitoral de Fortaleza ver Anexo 10.
70
31
Para mais informações sobre o resultado eleitoral do Executivo estadual ver Anexo 11.
32
Na eleição em 1986, o PMDB conseguiu eleger 22 governadores, só sendo derrotado em Sergipe. Além disso,
esse partido conseguiu eleger 38 senadores (77,8%) e na Câmara elegeu 260 deputados federais (53%). Pode-se,
inclusive, falar de uma “onda do Plano Cruzado” do governo José Sarney (PMDB).
71
Cals Filho assumiu o cargo de governador imposto pela alta cúpula militar na estratégia de
desarticular os grupos políticos tradicionais. No entanto, para consolidar-se na política estadual,
recorreu às estratégias da política tradicional. Montou seu “principado” com “armas e virtude”
da influência que possuía na alta cúpula militar, não conseguindo fincar raízes de sua facção
política. Faltava a esse “príncipe” força política própria, pois apenas detinha o governo, e não
o eleitorado.
Com o retorno ao multipartidarismo, César Cals Filho continuou filiado à ARENA
que se transformou em PDS. Nas eleições de 1982, lançou seu filho, César Cals Neto, como
candidato a deputado federal, mas cometeu o erro estratégico de concentrar votos nessa
candidatura. Com isso, dois deputados federais “cesistas”, Claudino Sales e Gomes da Silva,
não foram eleitos. A partir disso, conquista o desprezo de seus “súditos” (MAQUIAVEL,
[1513]), como percebemos no seguinte título de matéria do jornal O Povo: “Claudino magoado
com o esquema cesista” (O POVO, 30 nov.1982). Nas eleições de 1986, César Cals Filho não
foi eleito ao Senado, ocupando a quarta posição entre os candidatos, apresentando 602.546
votos (11%). Em seguida, em 1987, articulou a recriação do Partido Social Democrático (PSD)
no Ceará, tornando-se secretário-geral do Diretório Nacional. Coordenou, no Ceará, a
campanha de Ronaldo Caiado (PSD) a presidente da República em 1989.
A continuação de seu “principado” foi adiante por meio da carreira política de seus
dois filhos: César Cals Neto — que foi reeleito deputado federal em 1986 e ficou na suplência
em 1990 pelo PSD — e Marcos César Cals — que iniciou sua carreira política aos 22 anos,
eleito em 1986 pelo PDS o mais jovem deputado estadual do país. Na ALECE, este ocupou o
cargo de deputado estadual por seis mandatos consecutivos (1987-2010), assumindo a
presidência (2003-2006). Pelo PSDB, partido a que se filiou em 1997, ocupou a segunda
presidência (1997) e a presidência (2009-2011) da Comissão Executiva Estadual.
Contando com sólida carreira política familiar de base local, Adauto Bezerra
tornou-se governador e exerceu domínio político no terceiro colégio eleitoral do estado, o
município de Juazeiro do Norte33. O declínio político dessa facção iniciou-se nas eleições
municipais de 1982, na sua base municipal, quando o candidato a prefeito, Erivano Cruz (PDS
I), foi derrotado. O postulante vitorioso, Manoel Salviano (PDS II), era apoiado pelo senador
33
Durante as décadas de 1970 e 1980, o município de Juazeiro do Norte só perdia em magnitude eleitoral para a
capital do estado, Fortaleza, e o município de Sobral. Porém, diferentemente de Sobral, Juazeiro do Norte exerce
forte influência na região do Cariri cearense, sul do estado. Somado aos municípios vizinhos de Crato e Barbalha,
forma uma conurbação chamada de triângulo CRAJUBAR.
72
Virgílio Távora, e foi localmente indicado pelo deputado federal Mauro Sampaio (PDS),
anteriormente “bezerrista” e que depois estruturou uma facção política própria no município.
A partir de 1985, a facção político-familiar se agrupou no PFL, controlando o
Diretório Estadual. Nas eleições de 1986, ocuparam, pela quinta eleição consecutiva, uma vaga
na Câmara Federal e outra na ALECE, respectivamente assumidas por Orlando Bezerra e Jarbas
Bezerra. O partido que controlavam, o PFL, também ultrapassou a representação parlamentar
do PDS34, mas a grande derrota de Adauto Bezerra no Executivo estadual fez com que
ocupassem a posição de infortúnio que é a oposição ao governo.
Nas eleições de 1988, um membro da família Bezerra de Meneses, José Arnon
Bezerra, perdeu a disputa ao Executivo municipal de Juazeiro do Norte. Em 1990, a facção
reelegeu novamente um deputado federal e um deputado estadual, cargos assumidos
respectivamente por Orlando Bezerra e Arnon Bezerra. Porém, como permaneceu na oposição,
o PFL diminuiu a representação no Parlamento35. Adauto Bezerra foi designado pelo presidente
Fernando Collor de Melo para a Superintendência do Desenvolvimento do Nordeste
(SUDENE), cargo que assumiu de 1990 a 1991.
Atualmente, a perpetuação da facção política-familiar ocorre por meio da trajetória
política de Arnon Bezerra, que foi eleito vice-prefeito de Juazeiro do Norte pelo PFL em 1982.
Em 1994, ele migrou para o partido governista, o PSDB, ocupando o cargo de deputado federal
(1995-2003). Filiou-se, em seguida, ao PTB, tornando-se presidente do Diretório Estadual, e
continuou com o mandato de deputado federal (2003-2017). Elegeu-se, em 2017, prefeito de
Juazeiro do Norte.
Virgílio Távora adquiriu seu “principado” por meio da fortuna do pai, mas
apresentou a virtú (MAQUIAVEL, [1513]) necessária para expandir fronteiras e conquistar seu
próprio território com “armas e virtudes” próprias. Dominando a “política de bastidores”,
destacou-se como grande estrategista ao construir acordos de complexa engenharia política,
como a “União pelo Ceará”, em 1962, e o “Pacto dos Coronéis”, que estruturou chapas
majoritárias estaduais em cinco eleições consecutivas, de 1970 até 198636. Ainda
desempenhando o mandato de senador, Virgílio Távora morreu em 1988, mas seu “principado”
não se desarticulou. Esse “príncipe”, diferentemente de César Cals Filho, detinha força política
própria. Seus herdeiros políticos, que não se restringiam exclusivamente a sua prole, deram
34
Em 1986, o PDS elegeu três deputados federais e cinco deputados estaduais, já o PFL elegeu seis deputados
federais e 13 deputados estaduais. Ver Anexo 3.
35
Em 1990, o PFL elegeu quatro deputados federais e cinco deputados estaduais.
36
Para informações sobre o assunto, consultar Mota (1985).
73
continuidade a seu legado. O PDS foi liderado pelo então deputado federal Aécio de Borba, que
ocupava o cargo na Câmara Federal desde 1983 e tinha sido secretário do governo estadual nos
dois períodos em que Virgílio Távora foi governador (1963-1966; 1979-1982); por um ex-
deputado estadual “virgilista” (1959-1987), Aquiles Peres Mota; e pelo concunhado de Virgílio
Távora, ex-governador de Ceará (1958-1959) e ex-deputado federal (1963-1987) Flávio
Marcílio.
Posteriormente, a viúva de Virgílio Távora, Luiza Távora disputou como vice-
governadora no pleito de 1990. Ela tinha acumulado capital político com os trabalhos de
assistência social que realizou no período em que foi primeira-dama (1963-1966; 1979-1982).
Foi candidata em uma aliança conservadora que tinha por coesão a oposição ao PSDB. A
coligação eleitoral pela qual foi candidata, intitulada de “Compromisso Ceará Verdade”, tinha
por “cabeça de chapa”, ou candidato principal, o antigo postulante ao Senado pelo PFL em
1986, Paulo de Tarso Lustosa (PDS). No entanto, essa aliança não obteve êxito, obtendo apenas
871.047 votos (30%).
A herança política de Virgílio Távora foi transferida para seu filho, Carlos Virgílio
Távora, que foi deputado federal por três mandatos consecutivos (1983-1995) pelo PDS/PPR.
No entanto, nas eleições de 1994 este não foi reeleito, ocupando a suplência como deputado
federal pelo Partido Progressista Reformador (PPR).
Percebe-se que com as mudanças na legislação partidária, que flexibilizaram a
criação de novas agremiações, como a Emenda Constitucional nº 25/1985 e a LPP (Lei nº
9.096/1995), o subsistema partidário cearense ficou mais complexo, composto por variados
partidos com representação parlamentar. Analisando o subsistema parlamentar e as eleições de
1994 no Ceará, Moraes Filho (1997) salienta que foi constituído tanto na Câmara dos Deputados
quanto na ALECE um subsistema de três a quatro partidos com média fragmentação, dando
indícios de institucionalização do subsistema partidário no estado.
Observando a representação na Câmara dos Deputados e na ALECE dos partidos
em nove ciclos eleitorais (1982 a 2014), como pode ser verificado no Anexo 3, percebemos que
quatro agremiações se destacaram, elegendo a maioria dos 198 cargos para deputados federais
e 414 cargos para deputados estaduais do estado. Ocupando as primeiras posições nesse recorte
temporal, apesar das oscilações que serão abordadas nessa pesquisa, temos em ordem de
classificação: PSDB, PMDB, PPB/PP37 e PT.
37
O PPB/PP surgiu em 1995 através da fusão do Partido Progressista Reformador (PPR) com o Partido Progressista
(PP). Destaca-se que esses dois partidos nasceram de fusões anteriores, ocorridas em 1993, sendo o PPR fundado
74
Cabe destacar que essa classificação do PPB/PP como terceira agremiação que mais
elegeu deputados no Ceará deve-se à alta representação do PDS em 1982, que elevou a média
do partido. Essa agremiação apresentou trajetória eleitoral de decadência. Após a morte de
Virgílio Távora, em 1988, o PDS foi liderado pelo então deputado federal (1983-1998) Aécio
de Borba. A fusão com o PDC, ocorrida em 1993, não alterou as relações intrapartidárias do
PDS para criar o PPR. Isso porque os democratas-cristãos que ocupavam cargos eletivos, o
deputado federal Moroni Torgan e o deputado estadual Paulo Carlos Duarte, já tinham migrado
para o PSDB na ocasião. Eles tinham ocupado, respectivamente, os cargos de secretário e
subsecretário de segurança pública estadual na gestão de Tasso Jereissati (1987-1990).
Alguns anos depois, a fusão do PPR com o PP, ocorrida em 1995, alterou as relações
intrapartidárias do herdeiro do PDS e do “virgilismo”. O PPR no estado já apresentava sinais
de decadência, pois nas eleições de 1994 não elegeu suas duas principais lideranças para a
Câmara Federal, Aécio de Borba e Carlos Virgílio Távora, embora ainda contasse com quatro
deputados estaduais. Por sua vez, o PP apresentava dois deputados federais: o padre José
Linhares, que ocupava mandato na Câmara dos Deputados desde 1991, e o empresário Edson
Queiroz Filho, que assumia o primeiro cargo eletivo. Na formação do PPB cearense, o deputado
federal Edson Queiroz Filho assumiu a presidência do Diretório Estadual (1995-1997), sendo
depois ocupada pelo deputado federal padre José Linhares (1997-1998).
Para observamos o desempenho eleitoral dos três partidos aqui analisados, PMDB,
PT e PSDB, seguem Gráficos que demonstram o percentual de deputados federais, deputados
estaduais, prefeitos e vereadores eleitos pelas três siglas. Esses dados são relevantes pois
mostram a representação no Parlamento e o enraizamento no plano local.
Os quatro Gráficos, apesar de apresentarem dados sobre cargos e eleições
diferentes, mostram trajetórias eleitorais similares nos três partidos: o PMDB iniciou com baixo
desempenho (eleições de 1982), depois inflacionou (eleições de estaduais de 1986 e municipais
de 1988) e em seguida decaiu, mas conseguiu se estabilizar; o PT despertou com baixo
desempenho eleitoral (eleições de 1982), foi crescendo timidamente (eleições na década de
1990) e despontou a partir do momento em que o partido alcançou o Executivo federal (eleições
de 2002); o PSDB iniciou apresentando alto desempenho (eleições municipais de 1992), logo
em seguida atingiu seu ápice (eleições estaduais de 1998), mas, em sentido contrário a trajetória
eleitoral do PT, apresentou curso de declínio (a partir das eleições de 2002). Como observamos
na página seguinte.
a partir da fusão entre o Partido Democrático Social (PDS) e o Partido Democrata Cristão (PDC); e o PP de uma
fusão entre o Partido Social Trabalhista (PST) e o Partido Trabalhista Renovador (PTR).
75
Gráfico 4 - Percentual dep. federal eleito - PMDB, PT e PSDB (1982-2014) Gráfico 3 - Percentual dep. estadual eleito - PMDB, PT e PSDB (1982-2014)
60 60
50 50
40 40
30 30
20 20
10 10
0 0
1982 1986 1990 1994 1998 2002 2006 2010 2014 1982 1986 1990 1994 1998 2002 2006 2010 2014
PMDB PT PSDB PMDB PT PSDB
Fonte: Elaboração própria a partir dos dados do TRE-CE. Fonte: Elaboração própria a partir dos dados do TRE-CE.
Gráfico 6 - Percentual prefeitos eleitos - PMDB, PT e PSDB (1982-2012) Gráfico 5 - Percentual de vereadores eleitos - PMDB, PT e PSDB (1982-2012)
60 60
50 50
40 40
30 30
20 20
10 10
0 0
1982 1988 1992 1996 2000 2004 2008 2012 1982 1988 1992 1996 2000 2004 2008 2012
PMDB PT PSDB PMDB PT PSDB
Fonte: Elaboração própria a partir dos dados do TRE-CE. Fonte: Elaboração própria a partir dos dados do TRE-CE.
76
38
Cabe destacar que seria necessária uma análise mais aprofundada para investigar a rede criada por essa
facção e as suas migrações partidárias, visto que Ciro Ferreira Gomes iniciou sua carreira política no PDS
e depois apresentou uma longa carreira de migrações, indo para o PMDB, o PSDB, o PPS, o PSB, o PROS
e o PDT. A pesquisa de Monte (2016) investiga as alianças da facção, porém não aborda a relação com os
partidos.
80
39
Esse ofuscamento das mulheres em facções políticas estruturadas em torno da família, como no caso do
Ferreiras Gomes e dos Bezerras, denota os impasses que o gênero feminino enfrenta na inserção da política
institucional. Nessas facções político-familiares, a mulher é tanto herdeira do capital político da família
quanto o homem. Porém, o lugar de comando é ocupado como um posto essencialmente masculino. Seria
necessária uma pesquisa para aprofundar essas questões, o que foge ao recorte da presente tese.
40
Além desses parentes citados, a facção agrupa técnicos e políticos profissionais não associados ao vínculo
consanguíneo. Podemos citar três atores. O primeiro é o economista e professor da UFC Carlos Mauro
Benevides Filho, filho do ex-presidente do PMDB-CE Mauro Benevides. Mauro Filho foi secretário de
Finanças de Fortaleza (1989-1990) e secretário de Planejamento e Coordenação do estado (1991-1994), os
dois cargos na gestão de Ciro Ferreira Gomes. Foi eleito deputado estadual pelo PMDB em 1990, pelo
PSDB em 1994, pelo PPS em 1998 e 2002 e pelo PSB em 2006. Na gestão de Cid Gomes (2007-2014), foi
secretário da Fazenda nos dois mandatos. O segundo é deputado estadual (1991-atual) José Jácome
Albuquerque (Zezinho Albuquerque). Inicialmente foi eleito deputado estadual em 1990 pelo PDS e
reeleito em 1994 pelo PPR, depois seguiu a facção e integrou-se ao PPS, sendo reeleito deputado estadual
em 1998. Acompanha a facção em todos os respectivos partidos, sendo eleito presidente da ALECE (2013-
2016). Por último, o engenheiro civil Leônidas Cristino, eleito deputado federal em 1994 (PSDB), 2002
(PPS) e 2014 (PROS), eleito prefeito de Sobral em 2004 (PPS) e 2008 (PSB) e indicado pela facção para o
cargo de ministro da Secretaria Especial de Portos (2011-2013).
81
80
60
40
20
0
1982 1988 1992 1996 2000 2004 2008 2012 2016
PMDB PT PSDB
41
Cabe observar que, na elaboração desse gráfico, foram contabilizadas nas eleições de 2008 apenas as
candidaturas deferidas, com ou sem recurso. No caso, se fôssemos contar todas as situações das
candidaturas apresentadas pelo banco de dados do TRE-CE — como “indeferido”, “indeferido com recurso,
“renuncia”, “cassado”, “falecido” e “inelegível” —, o número de candidatos seria maior. Nesse caso, o
PMDB aumentaria o número de candidatos de 69 para 80; o PSDB, de 87 para 101; e o PT, de 52 para 53.
83
estado à época, sendo que em 27 municípios lançou mais de um candidato por meio do
mecanismo de sublegenda.
Nas eleições de 1988, o PMDB, ainda conservou grande quantidade de
candidatos próprios, abrangendo mais de 80% dos municípios do estado. Esse alto índice
deve-se ao contexto da referida eleição, pois o partido teve a fortuna de ocupar o governo
estadual, tornando-se uma legenda atrativa para políticos profissionais que queriam se
candidatar.
Nas eleições seguintes, por ocupar o lugar ingrato de oposição no plano
estadual, o PMDB reduziu sua capilaridade quanto ao lançamento de candidatos próprios
ao Executivo municipal. No entanto, podemos perceber que a organização conseguiu
manter estabilidade nesse quesito, cobrindo em média 30% dos municípios do estado. O
PMDB só conseguiu retomar o crescimento a partir das eleições de 2004, momento em
que estava coligado ao PT, que ocupava o Executivo federal, e ao PSB, que assumia o
Executivo estadual.
Já o PT exibiu trajetória oscilante nas décadas de 1980 e 1990, só atingindo
estabilidade no número de candidatos próprios ao Executivo municipal quando alcançou
o Executivo federal, em 2002. Assim, a partir das eleições de 2004, consolidou sua oferta
de candidatos ao Executivo no plano local, apresentando 49 candidatos, em 2004; 69, em
2008 e 52, em 2012.
Por ter nascido como partido do governo, o PSDB apresentou em seu primeiro
embate eleitoral grande quantidade de candidatos próprios, que alcançava mais de 80%
dos municípios. Essa alta oferta de candidatos foi mantida durante o período em que
ocupou o Executivo estadual (1990-2006). Porém, a partir do momento em teve o
infortúnio de ser oposição nos planos federal e estadual, diminuiu o lançamento de
candidatos próprios no plano local, tornando-se uma legenda pouco atrativa para políticos
profissionais.
Dessa forma, percebe-se que o crescimento na oferta de candidatura própria
ao Executivo municipal está relacionado à posição de situação no plano estadual.
Observada a capacidade organizativa desses partidos a partir do lançamento de candidatos
próprios, vamos explorar outra medida para mensurar sua capilaridade. No caso, a
abrangência de órgãos partidários no estado.
84
80
60
40
20
0
1982 1988 1992 1996 2000 2004 2008 2012 2016
PMDB PT PSDB
42
Esse critério de medição foi necessário porque o TSE disponibiliza a lista de Diretórios e Comissões
Provisórias dos partidos apenas a partir de 2008, sendo necessária a utilização de outros meios para medir
a organização partidária.
85
de 1982, apresentou candidatos em apenas 24% dos municípios. Nas eleições seguintes,
conseguiu expandir sua organização, e durante três ciclos eleitorais (1988 a 1996),
apresentou candidatos em quase metade do território estadual — 46% dos municípios.
Nas eleições de 2000, ampliou o número de candidaturas, atingindo 64% dos municípios.
Efetivamente, com a assunção ao Executivo federal no pleito de 2002, o partido alcançou
o máximo da sua capilaridade no plano local, apresentando alguma candidatura no
Legislativo municipal em 94% do território cearense.
O PSDB demonstrou percurso organizacional diferente dos outros dois
partidos. Na sua eleição fundante, contava com estrutura organizativa prévia, pois já
ocupava o Executivo estadual. Com isso, já partiu com alta capilaridade, lançando
candidatos em todos os municípios do estado. Nos ciclos eleitorais seguintes, conseguiu
manter essa penetração territorial no plano local, apresentando certa diminuição a partir
das eleições de 2008. Essa redução da capilaridade foi sentida com maior impacto nas
eleições de 2012, momento em que apresentou candidatos em 75% dos municípios.
Para uma análise mais apurada da estrutura organizacional desses partidos, é
necessário observar também a quantidade de órgãos partidários na condição de Diretório
ou Comissão Provisória ao longo dos anos, e não apenas no período eleitoral. A partir
desse dado, podemos perceber o perfil de estrutura partidária disponível para disputar as
eleições — informação que dispomos no próximo Gráfico.
80
60
40
20
0
2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016
PMDB PT PSDB
43
Cabe observar que, como os dados foram coletados no TSE e essa instituição começou a disponibilizar
essas informações a partir de 2008, supomos que para esse ano específico os dados não sejam precisos,
embora seja necessária uma investigação para verificar essa suposição. Essa suspeita acerca dos dados de
2008 alimenta a hipótese de que nesse ano o PT cearense estivesse organizado em mais municípios do que
o apresentado pelo sítio, que soma 154 órgãos partidários municipais.
87
80
60
40
20
0
PMDB
PTB
PSB
PSC
PTN
PTC
PEN
PRB
PSDB
PSL
PRP
PSDC
PSTU
PPS
PHS
PPL
PCdoB
PRTB
PTdoB
DEM
PMN
PR
PP
PCO
PT
PV
PDT
PCB
PSOL
Eleições estaduais de 2010 Eleições estaduais de 2014 Eleições municipais de 2012
44
Para a análise das regiões do estado, utilizamos como critério a divisão de macrorregiões de planejamento
estabelecida pelo Instituto de Pesquisa e Estratégia Econômica do Ceará (IPECE). Ver Anexo 14.
90
Pelo exame dos Mapas, percebemos que o PMDB possui frágil organização
em algumas regiões do estado, tais como: Litoral Norte; Sertão Central, especificamente
Sertão dos Crateús e Vale do Jaguaribe; e região do Cariri, no sul do estado. Constata-se
isso porque no período das eleições estaduais (2010 e 2014) a legenda não apresentou
órgãos partidários nos municípios dessas regiões, indicando que a estruturação destes não
é perene, mas apenas para disputar eleições municipais. Além disso, comparando os tipos
de órgãos partidários locais nas duas eleições municipais, observamos que em 2008 a
legenda era composta, em sua maior parte, por Diretórios (98%). Isso mudou em 2012,
momento em que a legenda apresentou amento no número de Comissões Provisórias,
totalizando 40% no estado.
Já o PT, como observado anteriormente, é a única agremiação que possui
organização perene ao longo dos ciclos eleitorais, corroborando com a literatura que
percebe especificidades na estrutura organizativa desse partido (MENEGUELLO, 1989;
KECK, 1991; RIBEIRO, 2010; AMARAL, 2013). Pelos Mapas, observamos que a partir
das eleições de 2010 a organização partidária local do partido passou a abranger
praticamente todo o território do estado, salvo alguns municípios. Além disso, embora a
legenda conte com uma política interna para instituir Diretórios em detrimento de
Comissões Provisórias, percebemos que o partido passou a contar com número crescente
de Comissões Provisórias.
Ao analisarmos os Mapas do PSDB, percebemos que o partido não é
caracterizado por regiões com frágil organização, como o PMDB. Porém, nas eleições
estaduais de 2010, a legenda não contou com órgãos partidários nos municípios do Sertão
Central e do Vale do Curu. Cabe ressaltar que, nesse pleito de 2010, o partido apresentou
sua mais baixa estrutura organizativa local, estando presente apenas na metade dos
municípios do estado. Outro ponto importante a ser destacado é a tendência de redução
da quantidade de Diretórios, em comparação com as Comissões Provisórias. Observando
a quantidade de órgãos partidários locais nas eleições municipais, percebemos essa
tendência, pois em 2008 a legenda estava esturrada em 90% dos municípios como
Diretório, já em 2012 essa porcentagem caiu para 52%.
Percebe-se uma tendência geral nas três legendas investigadas, qual seja: o
aumento da quantidade de Comissões Provisórias municipais. O uso desse mecanismo de
Comissões Provisórias é feito sobretudo em locais em que a agremiação não consegue
fincar suas raízes e estruturar um Diretório. Dessa forma, recorre à criação de Comissões
Provisórias — expediente mais simples que a organização de Diretório — para disputar
94
eleições. Outra análise que foi proposta por Guarnieri (2011) é que as lideranças
partidárias nacionais ou estaduais recorrem à estruturação de Comissões Provisórias
como estratégia para as disputas internas e para o controle das instâncias subnacionais.
Para compreender a organização desses partidos no plano local, é preciso
fazer uma abordagem qualitativa que investigue como esses partidos se estruturam
internamente. Na pesquisa de campo com os órgãos partidários, foi observada clara
diferença entre a organização da máquina partidária nos planos estadual e municipal.
No âmbito estadual, percebe-se que a agremiação conta com infraestrutura
para seu funcionamento, como: sede fixa onde organiza sua burocracia, funcionários
(secretária, jornalista, marqueteiro, advogado, contador) e equipamentos (móveis,
computador, impressora). No entanto, essa estrutura varia entre os partidos. O PT,
conforme a literatura já aponta (RIBEIRO, 2010; AMARAL, 2013), é a agremiação
partidária mais estruturada, com sede exclusiva para o funcionamento do Diretório
Estadual. Em seguida aparece o PMDB, que tem sede própria onde o Diretório Estadual
e o Diretório Municipal de Fortaleza funcionam juntos. Por último, o PSDB, que não
possui sede própria, sendo o imóvel uma casa em que coabitam o Diretório Estadual e
uma fraca estrutura do Diretório Municipal de Fortaleza.
No âmbito municipal, essas agremiações são marcadas por fragilidade
organizativa ainda mais aguda. Nenhum dos três partidos investigados, com exceção do
PT de Fortaleza, possui sede própria, funcionários ou equipamentos. Essa falta de
estrutura deve-se ao fato de que nenhum desses órgãos partidários municipais recebe
dinheiro do fundo partidário para organizar-se no plano local. O PT novamente é a
exceção, isso porque parte das contribuições dos filiados, que necessariamente precisam
estar em dia para votar no Processo de Eleições Diretas (PED) do partido, fica com o
Diretório Municipal. Como ressaltou uma liderança do partido: “Esse recurso [uma
porcentagem da taxa do partido que fica para o órgão municipal] garante organização
mínima para o partido, podendo realizar encontros e viagens financiadas” (MARIA DO
SOCORRO MATOS, presidenta do Diretório Municipal do PT de Nova Olinda e
vereadora. Entrevista concedida ao autor em 18/09/2015).
As funções desempenhadas pelos membros na organização não são claras,
predominando acúmulo de funções e monopólio das atividades em que, por exemplo, uma
mesma pessoa é presidente do Diretório, secretário, tesoureiro e líder do partido na
Câmara dos Vereadores.
95
a análise feita pelo coordenador regional do PSDB na região do Cariri, Francisco Ranilson
da Silva, em entrevista ao autor:
Na verdade, a maioria dos partidos no interior funciona assim. A
exceção que eu conheço é o PT. O PT ele tem uma organização assim
programática que é diferente, eles costumam se reunir fora do tempo de
eleição. O meu partido mesmo, o PSDB, ele não tem essa programática,
não tem essa organização, essa militância não é tão forte. Ela é mais em
tempo de eleição. Eu por exemplo tô tentando mudar isso, dentro do
partido. Eu hoje sou funcionário do PSDB, então a minha ação aqui na
região é tentar mudar isso. Porque o atual presidente Luiz Pontes quer
mudar isso no Ceará todo. E quer até que depois que a gente fizer isso
sirva de modelo para o país inteiro, pro PSDB nacional, onde é um
partido que tem uma vida orgânica mais ativa, onde seja mais ligado à
sua base. Que costuma até hoje, ele costuma ser mais em tempo de
eleição (FRANCISCO RANILSON DA SILVA, secretário regional do
PSDB no Cariri. Entrevista concedida ao autor em 26/09/2015).
Apesar de inicialmente afirmar que esse perfil organizativo do PSDB é
característico apenas dos municípios do interior, ao final de sua fala o colaborador
ressaltou que esse é um traço comum em todo o território nacional, e que a expectativa
da atual gestão do PSDB estadual é criar mecanismo de participação efetiva dos filiados
dentro do partido. Para transformar a organização interna do PSDB, o coordenador
regional se inspira no modelo organizativo do PT, como “vida orgânica mais ativa” e
“Núcleo de Base”.
Pelos dados apresentados sobre o desempenho eleitoral e a estrutura
organizativa das três legendas (PMDB, PT e PSDB), percebemos trajetórias distintas
entre elas. O PMDB iniciou o embate eleitoral herdando o capital político e a estrutura
organizativa do MDB. Nas duas eleições seguintes o partido apresentou crescimento
eleitoral e organizativo ao receber a filiação do então governador e de grupo de jovens
empresários do CIC, conquistando o Executivo estadual. Depois, iniciou-se período de
declínio, mas conseguiu obter estabilidade relativa. Na década de 2000, voltou a
apresentar crescimento a partir de sua aliança estadual com o PT e o PSB, este último
liderado pela facção política dos Ferreira Gomes.
O PT apresentou tímido desempenho eleitoral e organizativo nas décadas de
1980 e 1990. Posteriormente, com o efeito coattail45 nas eleições de 2002 e a nova
condição de situação no plano nacional, o PT, no plano estadual, iniciou trajetória de
45
Esse efeito ocorre quando a eleição do principal candidato do partido repercute e influencia positivamente
no desempenho eleitoral dos outros candidatos do partido, legenda ou coalizão no Legislativo. Nesse
sentido, um candidato a presidente ou a governador bem avaliado tende a aumentar as chances dos outros
candidatos do seu partido, atuando como um “puxador de votos”. Essa influência ocorreria em um
movimento up-down e em uma mesma disputa.
97
46
Isso se tornou mais evidente quando o PMDB acomodou os filiados do extinto Partido Popular (PP) que
foi fundado por antigos dissidentes da Arena e do MDB.
47
Como os partidos comunistas — PCB e PCdoB — mesmo depois da reforma partidária de 1979
permaneceram na ilegalidade, alguns dos seus militantes aderiram a fundação do PMDB.
48
Processo oposto ocorreu com o PT, como veremos adiante.
49
Mendoza e Oliveira (2003) apresentam tese contrária. Para os autores, a origem territorial do PMDB
ocorreu por penetração, tendo as regiões sudeste e centro-oeste como centro de direção e formação das
organizações locais.
100
sindicato ou grupo religioso, por exemplo. O terceiro fator de seu modelo genético foi a
presença de um líder carismático que se arrogava intérprete e símbolo das metas
ideológicas originárias. O líder que plasmou a identidade partidária da organização foi
Ulysses Guimarães, ministro da Indústria e Comércio no governo de João Goulart (1961-
1962) e deputado federal pelo MDB desde 1966. Este era o presidente do Diretório
Nacional do MDB (1972-1979) durante a transição para o sistema pluripartidário e foi
posteriormente eleito presidente do Diretório Nacional do PMDB (1979-1991),
permanecendo nesse cargo 19 anos.
A identidade do partido estava relacionada a luta de resistência ao
autoritarismo e com o processo de restauração da democracia. A legenda se arrogava
como representante legítima da oposição, sendo, em termos organizacionais, a maior
agremiação oposicionista. O PMDB, como sistema natural, tinha como meta ideológica
central a defesa da redemocratização, como percebemos no manifesto do partido:
O PMDB prosseguirá e intensificará a luta travada pelo MDB em prol
das grandes teses democráticas: manutenção do calendário eleitoral,
eleições diretas em todos os níveis, defesa da autonomia dos municípios
e fortalecimento da federação, democratização do ensino, anistia ampla
geral e irrestrita, liberdade de informação, restauração dos poderes do
Congresso e convocação de uma Assembleia Nacional Constituinte
(PARTIDO DO MOVIMENTO DEMOCRÁTICO BRASILEIRO,
1981).
Essa identidade relacionada a defesa da redemocratização do país vai marcar
o partido durante todo seu desenvolvimento organizativo, representando o seu principal,
e talvez o único, incentivo coletivo de identidade. Pela construção dessa identidade
coletiva, o PMDB consolidou-se na década de 1980 como o principal partido de oposição.
Ocupou o Executivo federal em 1985 quando o então vice-presidente, José Sarney,
assumiu o governo após a morte do presidente eleito Tancredo Neves (PMDB). Com o
êxito econômico do Plano Cruzado implementado no governo, a legenda alcançou alto
desempenho eleitoral nas eleições de 1986. Nesse pleito, elegeu 95,7% dos governadores,
77,6% dos senadores, 53,4% dos deputados federais e 47% dos deputados estaduais
(NICOLAU, 1998).
O PMDB ocupou novamente o Executivo federal após o impeachment de
Fernando Collor, do Partido da Reconstrução Nacional (PRN), em 1992. Momento em
que o vice-presidente, Itamar Franco, assumiu o governo. A legenda também, de 1985 até
1993, assumia a presidência da Câmara Federal e do Senado, sendo ator relevante na
arena parlamentar. Desde então, o partido vem compondo a coalizão de governo no
101
Executivo federal, como Fernando Henrique Cardoso (1995-2002), Lula da Silva (2003-
2010) e Dilma Rousseff (2011-2016). Com o impeachment de Dilma Rousseff em 2016,
o partido assumiu novamente a presidência, tendo o vice-presidente, Michel Temmer,
ocupado o governo.
Tendo como espelho o modelo originário do PMDB nacional, percebemos
que a construção do PMDB no Ceará apresentou movimento tanto de aproximação quanto
de afastamento a esse padrão. No Ceará, a legenda também foi marcada pela
heterogeneidade em sua composição ideológica herdada do MDB, como percebemos na
seguinte fala:
Eu vim do PCdoB, ainda na época da ditadura. Eu vinha do movimento
estudantil do Rio [de Janeiro], vim morar no Ceará em [19]81. E eu
cheguei na faculdade já com essa ligação. Fui militar no PMDB em
1982, ainda não filiada de fato, pois o partido [PCdoB] tirou alguns
deputados do PMDB para apoiar. Até porque estávamos todos dentro
do PMDB, o PCdoB e outros partidos eram proscritos na época, então
a militância se dava dentro do PMDB. Alguns desses candidatos eram
do próprio PCdoB e outros eram do próprio PMDB com uma postura
considerada mais avançada. Que era o caso do Paes [de Andrade]. Os,
digamos assim, mais, mais trotskistas apoiaram a campanha da Maria
Luiza [Fontenele] e outros mais ortodoxos apoiaram Paes [de Andrade].
[...] Depois, muitos colegas saíram do PMDB, que era um grande
guarda-chuva, para participar de outros partidos, como o PT e o PDT.
Mas eu preferi ficar no PMDB (ROSÂNGELA AGUIAR, delegada do
partido e presidenta do PMDB-Mulher. Entrevista concedida ao autor
em 17/11/2015).
Por esse depoimento, percebemos que o PMDB acolhia integrantes de
variados matizes ideológicos, como progressistas e trotskistas que instrumentalizavam o
partido para ocupar cargos na política institucional.
Na criação do PMDB no Ceará, o partido também foi marcado por uma
origem territorial do tipo mista. Ocorreu penetração territorial centralizada na capital do
estado — já que em Fortaleza o partido era mais estruturado — e difusão territorial por
meio da transição das agremiações do MDB no interior do estado que aderiram a criação
do PMDB. Nos dois Diretórios Municipais do interior do Ceará pesquisados — Mombaça
e Nova Olinda —, o PMDB local foi estruturado a partir das mesmas lideranças do MDB.
Esse modelo misto de desenvolvimento territorial do partido é percebido na seguinte fala:
Trabalho mesmo foi criar o MDB no Ceará. Quase que não
conseguimos fazer um partido de oposição, porque o que todo mundo
queria era ser governo. Quando criaram aqui o MDB, o primeiro
Diretório foi o de Fortaleza e em seguida foram para Campos Sales
fundar o segundo Diretório. Lá tinha uma influência muito grande de
Pernambuco por conta das Ligas Camponesas que estavam naquele
estágio de crescimento. Esse município se mostrou como de oposição
102
50
Destacamos a reeleição em 1982 de membros que integravam a coalizão dominante. Destaca-se para o
cargo de deputado federal Antônio Paes de Andrade e Antônio Alves de Moraes e para deputado estadual
Carlos Eduardo Benevides, Francisco Castelo de Castro e Antônio Eufrasino Neto. Embora a deputada
estadual Maria Luiza Fontenele tenha sido reeleita, esta não consta na lista porque pertencia a uma facção
dentro do partido que se opunha a coalizão dominante. No capítulo adiante sobre o PT abordaremos a
trajetória de Maria Luiza.
104
51
Para mais informações sobre o papel desempenhado pelos governadores no processo democrático, ver
Abrucio (1998).
107
Isso aconteceu porque a estratégia de expansão que foi adotada, por exemplo
a filiação de políticos com capital político extra organização como Gonzaga Mota e Tasso
Jereissati, tinha colocado em risco a estabilidade organizativa do partido. O aumento
repentino do número de filiados afetou sua coesão interna, pois criou várias facções
dentro da organização. Além disso, a posição de partido governista alimentou a
expectativa de distribuição de incentivos seletivos por intermédio da ocupação de cargos
públicos. Porém, essa não foi a realidade vivenciada pelo partido, visto que a coalizão
dominante não teve acesso privilegiado a esses cargos como era desejado.
A coalizão dominante preferiu adotar para a organização uma linha política
sem aparentes chances de sucesso eleitoral. Optou por permanecer no modo seguro e
conservar no sistema de interesse a posição de partido de oposição. Essa estratégia pode
ser percebida na fala do dirigente partidário por meio da expressão “foi melhor para o
partido”:
Depois da saída do grupo do Tasso [Jereissati], o partido encolheu.
Estava na oposição de novo, né? Quem quer ser oposição? Mas, apesar
disso, foi melhor pro partido. Ficamos mais unidos. Tava tendo muita
briga, muito conflito. Muita gente no partido acreditou que ocupando o
governo nós teríamos mais facilidade para aprovar projetos, para
conseguir as coisas. Mas foi puro sonho. Do jeito que tava, foi melhor
pro partido ficar na oposição. Quem apenas tava querendo cargo saiu,
ficou apenas os que eram comprometidos com a bandeira do partido
(JOÃO ALVES MELO, secretário-geral do PMDB-CE. Entrevista
concedida ao autor em 17/11/2015).
Durante a década de 1990 e o início dos anos 2000, o PMDB no estado
apresentou relativa estabilidade nas disputas eleitorais, consolidou-se como principal
adversário do PSDB. Apresentou candidatos ao Executivo estadual e ao Senado ao longo
de três eleições consecutivas (1994, 1998 e 2002), como vemos no Anexo 11. Embora
não tenha conseguido eleger nenhum candidato nessas disputas eleitorais, o PMDB
conseguiu se consolidar como o partido de oposição que apresentava o melhor
desempenho eleitoral52. No âmbito local, o PMDB ocupou em média 10% das prefeituras
52
Em 1994, o candidato a governador Juraci Magalhães obteve 37,6% dos votos válidos (930.407 votos) e
os dois candidatos ao Senado obtiveram o terceiro e o quarto lugar, respectivamente Mauro Benevides com
11,6% (460.201 votos) e Cid Saboia com 9,8% (386.471 votos). Em 1998, o candidato a governador
Gonzaga Mota obteve 21,9% dos votos válidos (548.509 votos) e o candidato ao Senado Paes de Andrade
obteve 31,8% (734.180 votos). A exceção se deu apenas nas eleições de 2002, quando o candidato do
PMDB, Sérgio Machado, ocupou o terceiro lugar no primeiro turno, obtendo 12% dos votos válidos
(395.699 votos). Nessa eleição, embalado pela popularidade da campanha nacional de Lula da Silva para
presidente, o PT foi para o segundo lugar na disputa para o Executivo estadual. Para mais informações, ver
Anexo 11.
110
durante três ciclos eleitorais (1992, 1996 e 2000), com destaque para a manutenção do
Executivo municipal de Fortaleza.
No plano interno, percebemos também uma onda de estabilidade política,
sendo o cargo de presidente do Diretório Estadual exercido por Mauro Benevides de 1969
a 1998. A permanência do mesmo presidente do partido durante tanto tempo não
significou a ausência de conflitos para ocupar essa posição. O que permitiu essa
continuidade foi a adoção de estratégias políticas por parte da coalizão dominante para
apaziguar e acomodar os interesses das elites minoritárias emergentes. Como observamos
no comentário de Rosângela Aguiar:
Toda vida quando antecedia um período que ia ter convenção um grupo
de pessoas chegava pro Paes [de Andrade]: “nós temos que fazer uma
chapa e pá, pá, pá...”. Só que isso acabava não indo para frente. Porque
fazer cotidianamente o partido é chato! Eu gosto, particularmente. Mas
as pessoas não gostam! Porque tem muita burocracia. Cada dia que
passa até mesmo a forma de você prestar conta tá cada dia mais
complexa. Você tem que fazer a política cotidiana administrativa do
partido que não tem o glamour por exemplo de um mandato. Então
quando se aproxima do período de convenção há, principalmente
naquela época, sempre tinha pessoas que: “ah, vamos tirar o Mauro
[Benevides]”. Mas acabava que faziam uma conversa anterior e
compunham e sem fazer disputa acabava que alguns atores mudavam,
justamente por essa pressão anterior por lançamento de chapa, Mauro
[Benevides] chamava pra conversar, acomodava um, acomodava outro.
E a coisa não ia pra frente (ROSÂNGELA AGUIAR, delegada do
partido e presidenta do PMDB-Mulher. Entrevista concedida ao autor
em 17/11/2015, grifo nosso).
Pelo relato acima, percebe-se que a estabilidade da coalizão dominante se
dava por intermédio da estratégia de Mauro Benevides evitar conflitos formais dentro da
instância partidária. As tensões eram solucionadas por meio de acordos informais e
conversas que antecediam o período de convenção. Como salientado na seguinte frase:
“faziam uma conversa anterior e compunham”. Quando existiam lideranças que, por sua
projeção política externa ao partido, pressionavam por renovação dos cargos de direção,
elas eram posteriormente acomodadas pelo grupo dirigente. A estratégia da coalizão
dominante era incorporar algumas lideranças emergentes e ter total controle sobre a
transição de poder na estrutura interna da organização.
Cabe observar também que a entrevistada acima, que integra a atual Comissão
Executiva do Diretório Estadual, coloca como principal obstáculo à renovação da direção
partidária o fato de a atividade burocrática ser “chata”. Não é conjecturado, por exemplo,
que o envolvimento de lideranças e filiados nas posições de comando da estrutura
111
partidária pode ser dificultado pela não existência de canais formais de participação
política e pela não renovação dos ocupantes desses cargos.
Durante essa gestão de Mauro Benevides (1969-1998), não existia dentro do
partido uma liderança que pudesse se contrapor de forma competitiva a seu comando.
Nesse contexto,
[...] o Paes [de Andrade] era a pessoa que talvez tivesse um nome para
mudar isso, por que o fundador do MDB aqui no Ceará foi o sogro dele,
o Martins Rodrigues, e o Paes de Andrade por conta da expressão
nacional que alcançou não tinha interesse político em ocupar o cargo de
presidente do Diretório Estadual (ROSÂNGELA AGUIAR, delegada
do partido e presidenta do PMDB-Mulher. Entrevista concedida ao
autor em 17/11/2015).
Como foi destacado anteriormente, a estabilidade da direção se dava porque
existia divisão de trabalho entre as duas principais lideranças da agremiação que
ocupavam posições distintas nas arenas políticas. Contudo, na convenção partidária de
1998, em uma das tradicionais “conversas que antecediam a convenção”, um militante
que até então não tinha exercido nenhum cargo eletivo passou a liderar o processo de
montagem de uma chapa de oposição. Essa disputa ocasionou instabilidade, sendo
noticiada pela imprensa local por meio de matéria intitulada “Sucessão interna gera crise
no PMDB do Ceará” (O POVO, 26 dez. 1997). O militante em questão era o empresário
Eunício Oliveira, que possuía capital político dentro da organização pelo fato de seu
sogro, Paes de Andrade, ocupar a Presidência Nacional do PMDB (1995-1998).
Nesse embate entre Mauro Benevides e Eunício Oliveira, o segundo saiu
vitorioso. Analisando essa convenção partidária que elegeu o novo presidente do
Diretório Estadual, o então tesoureiro do partido, João Alves Melo, comentou que:
Mauro [Benevides] tinha o apoio de muitos chefes do partido, mas tava
distante das bases e na disputa por delegados, o grupo lá [chapa de
Eunício Oliveira] levou a melhor porque investiu em cima de
delegados. [Pausa longa] Comprou os delegados... (JOÃO ALVES
MELO, secretário-geral do PMDB-CE. Entrevista concedida ao autor
em 17/11/2015).
É interessante destacar que nessa parte da entrevista o colaborador ficou
pensativo, com respostas calculadas para que não criasse situação de embaraço para a
organização. Após ter salientado que a chapa de Eunício Oliveira venceu porque
“comprou” os delegados, demonstrou constrangimento por ter revelado tal opinião.
Depois, argumentou que “a oposição fez uma campanha pesada para conseguir os votos
dos delegados, distribuindo passagem, alimentação e até hospedagem para que eles
112
Sete siglas compunham essa coligação — PSB, PMDB, PT, PCdoB, PRB,
PDT e Partido Social Cristão (PSC). Porém, apenas cinco apresentaram candidatos nas
disputas majoritárias. Observando essa Tabela, percebe-se que, além da cota de titular de
senador, coube também ao PMDB a indicação da vaga de vice-governador. No entanto,
é necessário contextualizar essa eleição para compreender a montagem dessa chapa. No
caso em questão, a escolha do candidato a vice-governador foi mais uma decisão pessoal
e de confiança feita pelo então governador Cid Ferreira Gomes (PSB) e menos uma
indicação da direção do PMDB. A preferência pelo nome do então deputado estadual e
115
presidente da ALECE, Domingos Filho (PMDB), não foi estabelecida pelo PMDB e não
passou pelo trâmite das decisões deliberativas do partido. Nesse caso, a única indicação
do Diretório Estadual do PMDB para a composição dessa chapa foi para o cargo de titular
no Senado.
Cabe destacar que na pesquisa de campo observamos que essa nomeação de
Domingos Filho, 2º vice-presidente do Diretório Estadual, como vice-governador
ocasionou conflitos internos no PMDB. O líder do partido, o presidente do Diretório
Estadual Eunício Oliveira, sentiu-se desprestigiado, pois entendia que a lealdade do
candidato do PMDB estava ligada ao político que o indicou, no caso Cid Ferreira Gomes
(PSB), e não ao partido. Além disso, fortalecendo um membro, que não devia lealdade
direta ao presidente da legenda por essa indicação, com cargo de vice-governador
aumentaria os ânimos dentro da agremiação. Fornecia a este membro o controle sobre
zonas de incerteza na organização, como a distribuição de incentivos seletivos.
Um dado no resultado eleitoral dessa eleição chama atenção: o candidato a
senador do PMDB obteve votação maior que o candidato a governador. No caso, Eunício
Oliveira obteve 2.688.833 votos (36,32% dos votos válidos) enquanto Cid Ferreira
Gomes (PSB) alcançou 2.436.940 votos (61,27% dos votos válidos), marcando, assim,
uma diferença de 251.893 votos a mais para o candidato a senador.53
Esse fenômeno é interessante porque mostra o fôlego político dessa liderança
do PMDB. Como ressalta Carvalho (1999), historicamente nas eleições estaduais no
Ceará o candidato a governador “puxa os votos” para o candidato a senador, montando a
estratégia de “voto casado”. Como as duas eleições são para cargos majoritários, torna-se
mais fácil associar uma imagem à outra. Além disso, como a votação para o Executivo
movimenta mais recursos do que para o Legislativo, inclusive de tempo no HGPE, o
candidato a governador consegue obter mais votos54.
53
Esse fenômeno não aconteceu com o candidato ao Senado pelo PT, que obteve 2.397.851 votos, sendo
39.089 votos a menos do que o candidato a governador da coligação, como vemos no Anexo 11.
54
Essa lógica prevaleceu nas eleições pós-redemocratização no Ceará. A exceção a esse padrão ocorre
quando o candidato ao Senado possui uma “imagem-marca” (CARVALHO, 1999) mais forte do que o
candidato ao Executivo estadual. No Ceará, como vemos no Anexo 11, esse fenômeno aconteceu em apenas
três eleições: em 2002, quando os candidatos ao Senado Tasso Jereissati (PSDB) e Patrícia Saboya (PPS)
obtiveram respectivamente 1.915.781 e 1.864.404 votos, quantidade superior ao obtido pelo candidato a
governador Lúcio Alcântara (PSDB), que obteve 1.625.202 votos; em 2010, como relatado acima; e em
2014, quando Tasso Jereissati (PSDB) como candidato ao Senado alcançou 2.314.796 votos, enquanto o
candidato a governador da coligação, Eunício Oliveira (PMDB), obteve 1.979.499 votos no primeiro turno.
116
55
O alto desempenho eleitoral do PMDB na disputa para o Senado não fez eco nas outras disputas para o
Legislativo, pois nessa eleição teve sua representação no Legislativo reduzida. Na Câmara Federal, o
partido diminuiu uma cadeira, ocupando cinco vagas (22%); e na ALECE, o encolhimento do número de
cadeiras ocupadas foi maior, de sete (15%) em 2006 passou para três (6,5%) em 2010.
56
Embora o PMDB tenha apresentado sete estatutos ao longo do tempo – instituídos em 1980, 1993, 1996,
2007, 2013, 2016 e 2017 –, a regulamentação da sua estrutura organizacional foi mantida.
117
Comissão
Convenção Diretório Comissões de Ética e Bancada de Deputados Conselho Fiscal
ESTADUAL
Executiva
Estadual Estadual Disciplina Estadual Estaduais Estadual
Estadual
Núcleos Estaduais
MUNICIPAL
Comissão
Convenção Diretório Comissões de Ética e Conselho Fiscal
Executiva Bancada de Vereadores
Municipal Municipal Disciplina Municipal Municipal
Municipal
Núcleos Municipais
ZONAL
Comissão
Diretório
Convenção Zonal Executiva
Zonal
Zonal
O mandato dos órgãos partidários tem duração de dois anos, sendo permitida
a reeleição (Art. 15, § 1°). As Convenções são reunidas ordinariamente para escolher os
candidatos do partido aos postos eletivos ou para eleger os membros dos seus Diretórios,
das Comissões de Ética e Disciplina e os delegados à convenção hierarquicamente
superior (Art. 22). As Comissões Executivas são eleitas pelos seus respectivos Diretórios
(Art. 30 § 1°).
No plano nacional, o partido apresenta dois órgãos de direção: Diretório
Nacional e Conselho Nacional. Este último órgão tem a função de construir canais
internos de negociação e decisão, sendo convocado em situações excepcionais
(FERREIRA, 2002). É um órgão intermediário entre a Comissão Executiva e o Diretório
Nacional “destinado a tomar mais ágeis as mais importantes decisões partidárias, sem
perda da representatividade do Partido” (Art. 71). É mais enxuto que o Diretório
Nacional, sendo composto pelos membros da Comissão Executiva Nacional e pelos
presidentes dos Diretórios Estaduais. Além disso, desde que sejam filiados ao partido, é
formado pelos ex-presidentes nacionais, pelos ex-presidentes da República; pelos
governadores de Estado, pelos presidentes, ex-presidentes e ex-líderes do partido na
Câmara dos Deputados e no Senado Federal (Art. 72).
O partido pode estar estruturado no nível estadual ou municipal como
Diretório ou como Comissão Provisória. A Comissão Provisória tem a função de
organizar e dirigir dentro de 90 dias a convenção para eleger o Diretório no seu respectivo
âmbito federativo. No âmbito estadual, o Diretório é composto por até 71 membros
titulares e 23 suplentes, incluídos o líder da bancada do partido na Assembleia e os ex-
presidentes da Comissão Executiva Estadual (Art. 80), já a Comissão Provisória é
formada apenas por sete membros (Art. 41). No âmbito municipal, o Diretório é composto
de até 45 membros titulares e 15 suplentes, incluídos na condição de membros natos, os
ex-presidentes municipais e o líder da bancada do partido na Câmara de Vereadores (Art.
91), já a Comissão Provisória é integrada por apenas 5 membros (Art. 42).
A organização apresenta órgãos de cooperação que fazem a relação com a
sociedade, seriam os núcleos. No âmbito nacional, conta com os seguintes núcleos:
mulher, sindical, afro, juventude, sócio ambiental e tradicionalista.
Observando o estatuto, percebemos que as regras que estabelecem os motivos
para intervenção em órgão partidário (Art. 60) ou sua dissolução (Art. 61) são amplas,
cabendo interpretação arbitrária por parte da Comissão Executiva. Estabelecendo análise
119
o Diretório Estadual do Ceará desenvolveu uma política de maior controle dos órgãos
municipais liderados por “políticos infiéis”. Nessa eleição, a principal liderança do
partido, Eunício Oliveira, foi candidato ao Executivo estadual, como veremos adiante.
Como em alguns municípios o candidato a governador do PMDB não obteve desempenho
eleitoral satisfatório, a agremiação passou a intervir nos órgãos locais. O secretário-geral
João Alves Melo informou que a agremiação fez avaliação para identificar os possíveis
“infiéis”. Essa análise levava em consideração apenas o percentual de votos que Eunício
Oliveira obteve nos municípios, como ressalta:
Nós tivemos avaliação no nível de prefeitos e vereadores. E teve
expulsão. Em Fortaleza, nós tivemos a expulsão do vereador Carlos
Mesquita, porque ele foi um caso emblemático, apareceu claramente ele
fazendo campanha para o adversário [Camilo Santana (PT)]. No
interior, ex-prefeitos que se integraram à campanha do outro lado, nós
expulsamos do partido. Eles continuaram prefeito porque o cargo não é
nosso, mas foi expulso do partido. Foi o prefeito de Nova Russas e o
prefeito de Santa Quitéria (JOÃO ALVES MELO, secretário-geral do
PMDB-CE. Entrevista concedida ao autor em 17/11/2015).
Além do vereador de Fortaleza e desses dois prefeitos, o partido expulsou o
prefeito do município de Crato, como esclarece:
A questão do Ronaldo [Mattos] no Crato ficou muito evidente durante
a eleição. Primeiro se dizia que por influência do governador, pelo fato
do governador, que disputava pelo PT, ter estrutura política firme no
Crato e se dizer como filho do Crato por opção, apesar de ter nascido
em Barbalha. Até porque o pai militou politicamente durante muitos
anos no Crato, foi deputado estadual com votação no Crato. E o
Ronaldo [Mattos], ele ficou naquela: “Fico com o da terra ou fico com
o de fora? Como é que vai ser isso?”. E eu acho que falou mais alto aí
o suporte financeiro que foi oferecido para que ele desenvolvesse as
ações políticas. O nosso era mais limitado, que era recurso de doação,
e o que ofereceram a ele era muito mais generoso. Que naturalmente foi
feito de uma forma normal, que se faz em política, que é começar pelo
vereador. “Acha que tem quantos votos no distrito? Tome tanto! Tá
aqui, pra você sustentar essa votação. Tá aqui!” E aí vai! Ou seja,
esfacela qualquer estrutura de poder dessa forma. Ronaldo [Mattos]
depois não teve como justificar nada diferente disso que já se tinha na
nossa visão de avaliação e ele achou que o melhor caminho seria se
afastar do partido e assim fez (JOÃO ALVES MELO, secretário-geral
do PMDB-CE. Entrevista concedida ao autor em 17/11/2015).
Conforme o secretário-geral João Alves Melo informou, o então prefeito
Ronaldo Mattos (PMDB) tinha prometido apoiar Eunício Oliveira para governador. No
entanto, o candidato obteve no primeiro turno apenas 24,37% dos votos válidos (15.085
votos), enquanto o candidato do PT conseguiu 72,6% (44.948 votos). Depois desse baixo
desempenho eleitoral, Eunício Oliveira se reuniu com o prefeito para melhorar o
percentual de votos no segundo turno. Mesmo assim, o PMDB obteve somente 16,9%
121
dos votos válidos (11.205 votos), enquanto o candidato do PT conseguiu 83,09% (55.040
votos). Após esse desempenho eleitoral, a expulsão do então prefeito foi inevitável.
Embora essa política de intervenção nos órgãos locais tenha sido polêmica,
expondo o partido na opinião pública, esse processo foi visto como necessário e avaliado
positivamente pela Executiva Estadual, como ressalta:
Não adianta ter um filiado que não apoia eleitoralmente o partido, que
não vota na maior liderança do partido, em um nome que tem
repercussão nacional e que tem lutado para fortalecer o partido aqui.
Então, se não vota, melhor é dar o fora e procurar outro partido. Prefiro
assim! (JOÃO ALVES MELO, secretário-geral do PMDB-CE.
Entrevista concedida ao autor em 17/11/2015).
Nesse sentido, a agremiação enfrenta o dilema: ou investe na carreira política
de seus filiados e obtêm políticos comprometidos com o partido, ou apenas “empresta” a
legenda partidária para que políticos profissionais e com capital político próprio disputem
eleições. A primeira escolha requer mais tempo de preparação da carreira política, já a
segunda fornece ao partido maior número de políticos eleitos, mas que não são leais à
agremiação.
O secretário-geral João Alves Melo afirmou, por exemplo, que é comum o
assédio para que os deputados federais da agremiação migrem para outras legendas. “O
interesse do deputado federal é ser empossado como presidente do Diretório Estadual”
(JOÃO ALVES MELO, secretário-geral do PMDB-CE. Entrevista concedida ao autor em
17/11/2015). Como exemplo, o entrevistado cita o caso do deputado federal Danilo Forte,
que embora tivesse trânsito no PMDB — obtendo recursos para sua campanha eleitoral
como veremos adiante —, migrou para o PSB, assumindo a direção da Executiva Estadual
do partido.
Por meio dos dados colhidos na pesquisa de campo, evidenciamos que no
plano prático, o presidente do Diretório Estadual do Ceará, Eunício Oliveira, possui total
controle sobre as “zonas de incerteza do partido” (PANEBIANCO, [1982]), como
expertise política, gestão das relações com o ambiente, comunicações internas, regras
formais, financiamento da organização e recrutamento.
Observando a composição de cargos da presidência da Executiva Estadual na
gestão de Eunício Oliveira, percebemos estabilidade na composição das alianças. Em
1998, por exemplo, a presidência foi ocupada por Eunício Oliveira; a 1º vice-presidência
foi assumida por seu amigo pessoal e sócio nas empresas, Gaudêncio Gonçalves de
122
Lucena57; a 2º vice-presidência foi ocupada por uma liderança regional que estava no
primeiro mandato como deputado estadual, Domingos Gomes de Aguiar Filho; e a 3º
vice-presidência foi ocupada pelo ex-presidente, Mauro Benevides. Esse arranjo foi
mantido até 2011, quando a 2ª vice-presidência foi transferida de Domingos Filho, então
vice-governador, para Agenor Gomes de Araújo Neto, ex-deputado estadual (2003-2005)
e então prefeito de Iguatu (2005-2012).
Compreende-se que Eunício Oliveira compôs estável arranjo de aliança
dentro do partido. Para isso, acomodou nos órgãos partidários, como a Comissão
Executiva Estadual, algumas lideranças regionais do partido, como deputados federais,
deputados estaduais e prefeitos. Como exemplo, temos Raimundo Lopes Junior, ex-
prefeito de Itapuúna (1997-2004), que ocupou o cargo de secretário adjunto (2008-2013)
e 2º tesoureiro (2013-2015); e Aníbal Ferreira Gomes, deputado federal (1995-1999;
2003-2007; 2011-2015), que assumiu o cargo de 2º tesoureiro (2008-2013).
Observa-se que Eunício Oliveira como líder da coalizão dominante reduziu a
dimensão da Comissão Executiva para restringir as margens de manobra das minorias
dentro do partido, impossibilitando a participação destes na estrutura partidária. A falta
de poder intrapartidário de lideranças que possuem cargos eletivos tem motivado sérias
críticas à gestão de Eunício Oliveira. Lideranças regionais cobram da Executiva Estadual
mecanismos de participação. Como destaca Panebianco ([1982], p. 30): “nos partidos, a
exigência de mais ‘democracia’ é típico cavalo de batalha das minorias internas para
legitimar a si próprias na luta contra a maioria”.
Na entrevista com o secretário-geral, este comentou a participação dessas
lideranças regionais na estrutura interna do partido, argumentou que:
[...] particularmente acho que nós deveríamos, [na] próxima
recomposição do Diretório, fortalecer com companheiros que vêm há
muitos anos enfrentando essas dificuldades de eleições municipais,
fortalecer esse Diretório com esses nomes que efetivamente têm dado
excelentes contribuições para o partido. Ele tem hoje uma boa
composição, mas precisa esse reconhecimento daqueles que
efetivamente têm trabalhado pelo partido, que ainda não tiveram
oportunidade de se aproximar dos chamados cargos de maior monta,
que são os cargos do Diretório Estadual (JOÃO ALVES MELO,
secretário-geral do PMDB-CE. Entrevista concedida ao autor em
17/11/2015).
57
Eunício Oliveira e Gaudêncio Lucena têm uma relação de amizade que remonta ao período em que
moravam na Casa do Estudante em Fortaleza. São sócios em empresas do ramo de transporte de valores,
segurança privada, comunicação, aviação e tecnologia, com atuação nos estados do Ceará, Pernambuco,
Piauí, Rio Grande Norte e São Paulo.
123
e ele próprio. O outro sócio nas empresas, Nelson Neves, compõe a lista junto com seu
filho, Rodrigo Neves. Além disso, ainda constam como delegados os assistentes
parlamentares de Eunício Oliveira e funcionários do Diretório Estadual. Apenas quatro
deputados federais — Aníbal Ferreira Gomes, Mauro Benevides, Mário Feitoza e Danilo
Forte — aparecem na lista de políticos com mandato eletivo que exercem a função de
delegado.
Percebe-se que Eunício Oliveira e Gaudêncio Lucena, por intermédio de
relações familiares, exercem concentração decisória na indicação dos delegados do
partido. Esse controle político sobre a organização é diferente do cenário observado por
Ferreira (2002) na direção nacional do partido. A autora verificou que até o ano de 2000,
nenhuma corrente conseguiu ser majoritária no partido, tornando sua direção um grande
mosaico. “Havia um vazio de lideranças nacionais capazes de arregimentar o partido
nacionalmente e, em contrapartida, uma inflação de lideranças regionais” (FERREIRA,
2002, p. 158). No posfácio de seu livro, a autora ressaltou que a tendência governista que
em 2001 elegeu Michel Temer como presidente da agremiação, teria, a partir dali,
potencial para aglutinar as diversas forças internas, dando direção nacional ao partido.
Observando também a estrutura informal do PMDB cearense, percebemos
que Eunício Oliveira centraliza as decisões, excluindo negociações com outras lideranças
do partido. Ocorre centralização por meio de comando personalista e autocrático do líder
partidário, passando ao largo da estrutura formal da organização partidária.
Na pesquisa de campo, foi salientado pelos entrevistados que Eunício
Oliveira exerce liderança pessoal e de confiança com os filiados do partido. Nesse caso,
a estrutura organizacional não tem tanto peso nas relações de poder internas. Esse tipo de
comando produz entre militantes e líderes locais a expectativa de constante aproximação
política com a liderança partidária para que assim consigam “segurar o partido” no plano
local.
Como exemplo, temos o caso de um militante que integrou as estruturas
burocráticas do partido, mas que por apresentar baixo rendimento eleitoral no plano local
teve o órgão partidário colonizado pela facção política rival. Como vemos abaixo no
depoimento:
Participei do PMDB-Jovem. Fui pra muitos encontros em Fortaleza e
até um em Brasília. Pagava do meu bolso inclusive, praticamente não
recebia nenhuma ajuda de custo do partido. Ia porque gostava,
acreditava, tinha aquele sonho, sabe. Mas aí, teve uma disputa aqui em
Nova Olinda e o meu grupo político aqui tava em baixa, tinha perdido
a eleição, não conseguimos eleger o vereador! Quando vi foi Eunício
125
LÍDER PARTIDÁRIO
DIRETÓRIO ESTADUAL
Núcleo duro – GRUPO PARLAMENTAR
Funcionários membros da
do partido Deputados Deputados
coalizão
Federais Estaduais
dominante
Profissionais – advogados,
publicitários e jornalistas
58
Slogan utilizado pela campanha eleitoral de Juraci Magalhães por ocasião das inúmeras obras realizadas
na sua gestão.
59
Paes de Andrade ao longo de sua trajetória política cultivou uma relação com esse município, afirmando
que “Mombaça é meu universo político e sentimental” (NADER, 1998). Em um dos momentos que assumiu
provisoriamente o cargo de presidente da República, em 25 de fevereiro de 1989, visitou a cidade com o
avião presidencial, ficando conhecido como “presidente de Mombaça”.
132
60
A indicação do nome do então deputado estadual Plácido Castelo foi recebida com desconfiança pelos
políticos, pois este não tinha atuação relevante na ALECE e era filiado ao um partido inexpressivo, o Partido
Social Progressista (PSP). O então governador Virgílio Távora tinha indicado Adauto Bezerra, que era
então deputado estadual e um hábil político. Porém, como inicialmente os militares queriam neutralizar a
influência tanto de políticos tradicionais quanto a liderança de Virgílio Távora na política cearense, estes
não acataram essa recomendação. Prevaleceu a indicação do então senador Paulo Sarasate. Para mais
informações ver: CARVALHO (1999).
133
ingresso na política local ocorreu por meio da indicação de seu sogro, José Sidrão de
Alencar Benevides, então presidente do Diretório da ARENA em Mombaça.
Embora o MDB não tivesse obtido êxito em duas eleições seguidas, a
agremiação apresentava forte identidade partidária no município. As disputas eleitorais
eram acirradas e o MDB perdeu essas eleições por uma pequena diferença, 249 votos nas
eleições de 1970 e 322 em 1972.
Nas eleições de 1976, o MDB novamente conseguiu eleger seu candidato ao
Executivo municipal. Foram eleitos o ex-vereador Walderez Dinis Vieira como prefeito
e como vice-prefeito José Venício de Lima Martins, ex-vereador (1967-1970) e candidato
a prefeito em duas eleições (1970 e 1972). Essa vitória foi possibilitada pela fragilidade
interna da ARENA que estava dividida pela competição entre as suas lideranças locais.
O ex-prefeito José Jaime Benevides almejava ser candidato a prefeito, mas o então
prefeito Valdomiro Távora apoiou o seu cunhado, Emílio Gress. Nessa disputa interna,
José Jaime Benevides retirou sua candidatura e informalmente apoiou o MDB.
Posteriormente, o PMDB local herdou a estrutura organizacional e o capital
eleitoral do MDB. A agremiação continuou sendo presidida pela mesma liderança,
Francisco Martins. Durante a pesquisa de campo, os entrevistados constantemente
enfatizavam o passado de glória e seus vínculos políticos. Por exemplo, Diana Barreto,
secretária-geral do PMDB de Mombaça, ressaltou a memória política do período em que
seu tio, Plácido Castelo, foi governador nomeado na década de 1950; e Gerson Vieira
Neto, ex-presidente do partido, destacou o fato de seu pai, Walderez Dinis Vieira, ter sido
eleito prefeito em 1976.
O PMDB de Mombaça começou a se fragilizar por conta de seu principal
desafio ambiental: as eleições. Na sucessão eleitoral em 1982, a agremiação apresentava
disputa interna. De um lado, havia a facção que ocupava a arena governamental do
partido, liderada pelo então prefeito Walderez Diniz Vieira, e que articulava o lançamento
do então vice-prefeito, José Venício Martins, como candidato a prefeito. Do outro lado,
a coalizão dominante do partido, presidida por Francisco Martins, coordenava a
candidatura do primo do deputado estadual Castelo de Castro, Antônio Castelo Meireles.
O PMDB, utilizando-se do mecanismo de sublegenda, apresentou os dois
candidatos ao cargo de prefeito. Mas, assolado por esse conflito interno, o desempenho
eleitoral do partido foi penalizado. Podemos citar o fato de que a soma dos votos das duas
sublegendas do PMDB não ultrapassou os votos do candidato opositor, o ex-prefeito
134
Valdomiro Távora (PDS). Este candidato obteve 8.780 votos nessa disputa eleitoral,
contra 8.196 votos dos dois candidatos do PMDB.
Adaptando-se às modificações no ambiente externo, marcado pelo fraco
desempenho eleitoral no pleito municipal em 1982, o partido tomou uma decisão que
repercutiu ao longo de sua vida organizacional: a aliança eleitoral com o PDS/ARENA.
Essa estratégia de coligação foi alimentada pela facção de Castelo de Castro, que liderava
o partido após a morte do líder Francisco Martins. Castelo de Castro, que então ocupava
o posto de vice-governador, buscava construir uma base de sustentação política para o
PMDB no estado e a aliança com lideranças da antiga ARENA fazia parte dessa tática.
Nas eleições municipais de 1988, o PDS apresentou o candidato a prefeito, o
médico Nelson Benevides Teixeira; e o PMDB, o vice, o agropecuarista e presidente do
Diretório Municipal, Francisco José Brasil Barreto. No entanto, essa aliança entre
tradicionais grupos rivais apresentou alta rejeição, como percebemos no depoimento
abaixo:
Pra você ter uma ideia, o Nelson Benevides, ele, certa vez. ele chegou
com medo de perder. Pra uma pessoa que vinha lá de Fortaleza, ele
médico, não é? Com conhecimento. Como medo de perder. Porque o
seguinte, na época ele tinha que fazer cinquenta por cento mais um, né?
Porque se não havia uma outra eleição. Ele tava com medo de perder
pros [votos em] branco (GERSON VIEIRA NETO, ex-presidente do
PMDB de Mombaça, ocupou o cargo de vereador por três mandatos e
vice-prefeito por dois mandatos. Entrevista concedida ao autor em
15/10/2015).
Nesse pleito de 1988, houve o maior percentual de votos em branco no
município, que atingiu o percentual de 20,9%. Até um candidato de oposição, Nilson
Alves do Nascimento (PT), que não contava com estrutura partidária e capital político
eleitoral, obteve 16,3% dos votos. Esse resultado demonstrou que a oposição entre
PDS/ARENA e PMDB/MDB, que remontava a polarização entre UDN e PDS, ainda
estava presente para os eleitores61.
Essa coligação eleitoral fez com que o PMDB enfraquecesse, já que não era
oposição ao PDS. Como comentou um membro do partido: “o PMDB quase se acaba com
a morte de Chico Martins e com a coligação que foi feita. Isso começou a afundar o
partido” (DIANA BARRETO, secretária-geral do PMDB de Mombaça e ex-vice-prefeita.
Entrevista concedida ao autor em 15 e 16 /10/2015).
61
Essa polarização era tão acentuada no município que até meados da década de 1960 existiam dois clubes
sociais que não eram compartilhados por correligionários de partidos diferentes. Existia o Excelsior
frequentado pelos partidários da UDN e o Recreativo utilizado pelos correligionários do PDS (CRUZ,
2011).
135
PMDB foi monopolizado por lideranças locais e consumido por “militantes infiéis”.
Como percebemos no seguinte comentário:
PMDB praticamente se acabou, ficou uma família só, só aqui em casa.
Ficou pouca gente. Com esse negócio dessas coligações eles foram
engolindo o PMDB. Primeiro para ser presidente do partido você
precisa ter estrutura, o Coronel Chico Martins [antigo presidente] tinha
estrutura muito bonita. Ele era muito rico, era um senhor já de idade e
tinha aquela posição como se fosse fidalgo e todo mundo respeitava e
tinha aqueles mais velhos que diziam: “meu pai morreu, mas eu
continuo no PMDB, por causa do meu pai”. Hoje você não tem mais
isso. Não existe mais fidelidade, são conveniências. Eu tô aqui,
apertado aqui, e vem o prefeito e diz: “venha pra mim que lhe dou tanto”
(DIANA BARRETO, secretária-geral do PMDB de Mombaça e ex-
vice-prefeita. Entrevista concedida ao autor em 15 e 16 /10/2015).
Para enfatizar sua fidelidade ao PMDB, Diana Barreto citou o caso da
fundação do PSDB no município, como percebemos: “na criação do PSDB, o prefeito
Nelson Benevides convidou meu marido [Francisco José Brasil], que era seu vice, para
compor a legenda. Ele não foi, ficou no PMDB junto com Paes de Andrade” (DIANA
BARRETO, secretária-geral do PMDB de Mombaça e ex-vice-prefeita. Entrevista
concedida ao autor em 15 e 16 /10/2015). Percebe-se que mesmo o partido enfrentando
situações de enfraquecimento eleitoral, a facção política local não migrou para outros
partidos. Essa identidade partidária é distinta da encontrada no PMDB de Nova Olinda,
como veremos adiante.
Observando o percentual de votos de deputados federais do PMDB nesse
município, percebemos que Mombaça foi ao longo do tempo estratégico para o PMDB
estadual. Por apresentar média magnitude eleitoral, em torno de 33 mil eleitores, e por ser
base eleitoral de importantes lideranças estaduais do partido, como Paes de Andrade e
depois Eunício Oliveira, a política local no município foi centralizada pelo Diretório
Estadual. Os acordos envolvendo as eleições municipais eram debatidos com a liderança
estadual para poder potencializar as eleições dos deputados federais do partido.
Nas eleições de 1982 e 1986, o candidato a deputado federal Paes de Andrade
obteve no município mais de 40% dos votos válidos, respectivamente 7.362 votos e 4.108
votos. Como vimos anteriormente, o PMDB local fazia oposição ao PDS, herdando a
disputa histórica entre MDB versus ARENA e PDS versus UDN. Porém, nas eleições de
1990, o PMDB local, seguindo orientações do Diretório Estadual, fez aliança com o PDS
e apoiou um candidato a deputado federal desse partido, Carlos Virgílio Távora (PDS).
Nas eleições seguintes, em 1994, ainda em composição com o PDS/PP, Paes de Andrade
obteve a metade dos votos válidos, 7.011 votos.
137
Sampaio de Oliveira como principal liderança. Embora o PMDB não tivesse obtido
sucesso eleitoral nessa disputa ao Executivo municipal, tendo o candidato alcançado
3.277 votos (41% dos votos válidos), conseguiu recuperar a representatividade na Câmara
Municipal, ocupando 2 das 9 vagas.
Nas eleições municipais de 2008, o partido foi colonizado por outra facção
política local. Um empresário, Elízio Manoel Galdino, que há pouco tempo tinha se
instalado no município, assumiu a liderança do partido. Este já tinha sido eleito vereador
pelo PMDB em Juazeiro (1976 e 1982) e Sobradinho (1988), ambos municípios da Bahia.
Quando foi morar em Nova Olinda, filiou-se ao PMDB local e procurou o Diretório
Estadual do partido para articular as eleições locais de 2008. Este tinha recebido o convite
do então prefeito, Afonso Sampaio (PSDB), para ser candidato a vice-prefeito na sua
candidatura de reeleição. Nessa eleição de 2008, o partido conseguiu ocupar a vice
prefeitura e uma vaga na Câmara, sendo eleito o primo do prefeito, Francisco Ronaldo
Sampaio.
Pelos dados apresentados, observa-se que a organização é estruturada apenas
para disputar as eleições municipais, sendo colonizada por distintos grupos políticos
locais que muitas vezes são antagonistas na disputa local. O partido não apresenta
identidade política, adquirindo a conformação de acordo com a facção que o lidera.
A agremiação é usada de forma instrumental pelas elites locais, visto que no
plano estadual o partido apresenta lideranças com forte capital político que podem render
relações políticas futuras para políticos locais. O partido cumpre a função de fazer o
vínculo entre as lideranças locais (prefeito, vereador ou cabo eleitoral) e as lideranças
estaduais (presidente do partido e deputados). Assim, ter o controle e a posse de um
partido que tem influência no plano estadual e até federal conta como capital político para
a liderança local, pois significa que ele tem trânsito com políticos de influência na arena
estadual.
Quando o então presidente do PMDB de Nova Olinda foi questionado se fazia
diferença estar no PMDB, ele respondeu que:
Faz, porque você pra estar num partido, você tem que ter amizade com
os seus diretores [com o Diretório Estadual]. É o que eu disse, apoio
moral ele me dá. Eu tenho segurança que ele não dá o partido a outro.
Porque eu sou fiel a eles, tá entendendo? Então, são essas coisas que
você tem que ver do partido. Porque partido nenhum, pelos menos
nessas cidades pequenas aqui, não manda nada não, nenhum! Não é só
o PMDB, não! Então, você tem que ter aquela segurança que aquele
pessoal, o presidente do partido, o vice-presidente, tudo, são pessoas
que confiam em você e que são fiéis a você e você tem que ser fiel a
140
62
A adoção desse critério assume que um candidato é competitivo quando obtém o percentual acima de
40% dos votos válidos.
142
Gomes (PSB)63. Nesse acordo, o PSB apresentou candidatura própria, não apoiando o
candidato à sucessão do PT.
Como vimos anteriormente, o PMDB de Fortaleza está organizado como
Comissão Provisória, sendo tutelado pelo Diretório Estadual. Na entrevista realizada com
o então presidente desse órgão partidário, Willame Correia, este afirmou que não percebe
nenhum problema nessa falta de autonomia do plano municipal, como observamos
abaixo:
Na verdade, o PMDB de Fortaleza deve muito a liderança do Eunício
[Oliveira]. Se não fosse o empenho político, a determinação dele em
conduzir as atividades do partido, o PMDB aqui não estava fortalecido.
Eu não vejo problema da gente seguir as determinações que ele
estabelecer. Ele é uma liderança nacional, ocupa lugar central no
Senado, então é muito natural que ele tenha uma visão melhor do que a
gente que está aqui na base, nas atividades cotidianas do partido. Sei
que ele quer o melhor para o partido, então porque não seguir, né? [...]
Assim, eu não percebo que a gente tenha menos autonomia por ser
Comissão Provisória, pois mesmo que fosse Diretório nós seguiríamos
Eunício [Oliveira]. (WILLAME CORREIA, presidente do PMDB de
Fortaleza. Entrevista concedida ao autor em 19/11/2015).
Pelo depoimento, percebemos que o presidente do PMDB de Fortaleza possui
forte relação com o líder partidário estadual. Essa fala coloca Eunício Oliveira como
liderança que possui expertise política necessária para conduzir o partido. Essa liderança
controlaria de tal forma a gestão das relações com o ambiente que guiaria o partido para
o estabelecimento de agenda política estratégica, sem que para isso seja necessário
negociar com os dirigentes partidários do plano municipal. O líder ocuparia a posição de
“secante marginal” (PANEBIANCO [1982]) ao participar de dois sistemas de ação, um
interno ao partido e outro formado pela relação entre o partido e o ambiente.
Essa fidelidade do presidente do PMDB de Fortaleza ao líder Eunício Oliveira
é percebida com desconfiança por algumas lideranças dentro do partido. Willame Correia
até então nunca tinha disputado nenhum cargo eletivo e também não possuía capital
político extra organização. Na pesquisa de campo, observou-se comentários de que a sua
indicação como presidente foi feita diretamente por Eunício Oliveira porque este tinha
segurança da sua “fidelidade cega”.
Na entrevista com Willame Correia foi possível perceber que seu domínio
sobre a história do partido e sobre as relações político-organizativas internas eram
limitados. Houve insegurança em suas falas sobre aspectos organizacionais do partido e
63
Essa aliança envolvia 13 partidos: PRB / PP / PTB / PMDB / PSL / PSDC / PHS / PMN / PTC / PSB /
PRP / PSD / PT do B.
145
sobre as eleições, como se ele não soubesse informar ou não tivesse confiança de que os
dados fornecidos na entrevista pudessem ser divulgados. Assim, deduz-se que a ocupação
desse membro como presidente do principal órgão municipal do estado não se deve a sua
expertise para conduzir a organização, mas a sua fidelidade ao líder partidário.
Na pesquisa de campo, percebeu-se também que o Diretório Estadual teve
autonomia para definir o arco de alianças local. Essa decisão não passou pelo Diretório
Nacional, pelas instâncias burocráticas da Comissão Executiva Nacional. Em entrevista,
o presidente do PMDB de Fortaleza pontuou essa relação:
Eu acho o seguinte: todo partido, que tenha sua Executiva Nacional,
eles procuram ver a questão é local. Se a questão local do PMDB, nosso
PMDB, é se coligar com um partido que não esteja na base junto, na
composição nacional, isso não terá problema. Chega um ponto que até
a composição nacional irá de uma forma entender, entender que a
questão é local. O PMDB tem que procurar administrar melhor essa
questão. A gente vê, não é só no PMDB. Em outros partidos sempre há
questão que um candidato é de um partido, [mas] muitas vezes não é
simpatizante a nível nacional do Diretório Nacional e quer se aliar a um
partido a, b ou c. Mas, como o partido sabe, a importância do partido é
ganhar as eleições e ganhar a frente majoritária, a administração
majoritária. Ás vezes, [em] muita questão até há um entendimento de
liberar (WILLAME CORREIA, presidente do PMDB de Fortaleza.
Entrevista concedida ao autor em 19/11/2015).
Nesse aspecto, a agremiação assume postura pragmática de ganhar eleição e
autoriza as instâncias estadual e local a celebração de alianças que permitam ao partido
dividendos eleitorais. Busca-se ou ganhar as eleições, elegendo o Executivo e o máximo
de candidatos ao Legislativo; ou maximizar os votos, tornando-se ator imprescindível
para compor a coalizão de governo. O perfil ideológico das coligações no âmbito nacional
é minimizado diante da decisão da conjuntura política local.
Quando examinamos as eleições municipais em Mombaça, percebe-se como
o presidente do Diretório Estadual centraliza informalmente o processo decisório. Na
pesquisa de campo, foi acentuado que historicamente o arco de aliança local é debatido e
discutido com Eunício Oliveira por meio de reuniões informais em seu apartamento ou
na sede do Diretório Estadual do PMDB.
Muitos dos acordos políticos, coligações eleitorais e lançamento de
candidatura para o Executivo local eram estabelecidos no âmbito do Diretório Estadual
que negociava com lideranças que integravam o Diretório Municipal. Uma
exemplificação dessa relação entre as duas instâncias do partido foi citada por um
entrevistado ao descrever a aliança com o PSDB nas eleições de 2000 em Mombaça, pois
“(...) já foi feita essa coligação, lá de cima já veio. Sempre a gente de acordo com Eunício
146
eu tô precisando fazer isso, isso. Quê que você acha?”. “Ah, veja lá...”.
“Não, mas essa opção e essa, qual que você acha melhor?”. Tá
entendendo? Mas ele chegar e intervir por isso, por aquilo, nunca.
Geralmente eu converso com ele pra não ter atrito, pra não ter problema
(ELÍZIO GALDINO, presidente do Diretório do PMDB e atual vice-
prefeito. Entrevista concedida ao autor em 20/09/2015).
Pelo depoimento acima, percebe-se que o líder do Diretório Estadual
desenvolve sistema de lealdade dentro da agremiação. A tomada de decisão não passa por
canais formais e burocráticos, mas por relações de confiança e deferência à liderança do
partido. Na fala abaixo, observamos isso com mais clareza:
Eunício [Oliveira] é aquela pessoa que sabe quem são as pessoas fiéis
a ele. Uma pessoa que é fiel a ele, ele nem exige, só conversa. Não tem
esse negócio de “você tem que (...)”. Ele não é de exigir de ninguém.
Por exemplo: eu sou do PMDB; se eu não apoiasse ele, ele não ia gostar,
claro! Mas ele ia ficar na dele. Na época lá, ele não mexeria. Agora ele
podia mexer, tomar o partido, isso ou aquilo outro. Mas na época, ele
não mexe. Eu acho correto a coerência da parte dele. Porque ninguém
é obrigado a votar em ninguém, o fato deu gostar dele, porque de
repente eu podia não querer. Mas eu, no meu caso, se eu fosse fazer um
negócio desse, eu tinha pegado o partido e tinha entregado a ele. “Não
vou votar em você”. Eu acho errado é você tá num partido, não ser fiel
a seu partido e querer manter o partido (ELÍZIO GALDINO, presidente
do Diretório do PMDB e atual vice-prefeito. Entrevista concedida ao
autor em 20/09/2015).
O presidente do PMDB no município, Elízio Galdino, comentou que o
Diretório Estadual não se envolve nas decisões cotidianas do Diretório Municipal, não
especifica diretamente as alianças ou candidatos. Porém, as decisões que o partido toma
precisam ser em alguma medida negociadas com Eunício Oliveira.
O colaborador citou um caso que esclarece como ocorre essa relação entre as
instâncias partidárias. No episódio mencionado, foi relatado que uma liderança política
local, que tinha inclusive maior capital político do que Elízio Galdino, queria o comando
do PMDB no município. Caso essa liderança tivesse obtivesse a presidência da
agremiação, a autoridade de Elízio Galdino seria ocultada. No entanto, por possuir “boa
relação” com Eunício Oliveira, a direção foi mantida com Elízio Galdino. Como
percebemos abaixo:
Por sinal, houve um fato passado em que um prefeito [Afonso
Sampaio], um ex-prefeito, quis tomar o partido e foi falar com o Eunício
[Oliveira]. Aí o Eunício disse: “Rapaz, não tem problema você vir para
o PMDB, não, você conhece Cabeludo [Elízio Galdino]? Você é amigo
do Cabeludo? Pronto, converse com Cabeludo, você é amigo dele. Tá
tudo fácil”. Aí disse: “Não, mas Cabeludo só lhe deu tantos votos, eu
lhe dou mais tantos votos”. Aí Eunício disse: “Olha, é, prefeito… Eu
trabalho com qualidade, não é com quantidade. Cabeludo me deu essa,
mas é a votação que ele me dá sempre, e não é de tá exigindo nada e é
148
uma pessoa fiel a mim! [ênfase na frase ‘fiel a mim’]. Então eu trabalho
com essas pessoas fiéis a mim. Sua votação pra mim nunca conta, não”
(ELÍZIO GALDINO, presidente do Diretório do PMDB e atual vice-
prefeito. Entrevista concedida ao autor em 20/09/2015).
Constata-se então que essa “boa relação” é percebida por meio da fidelidade
no apoio político à liderança estadual do PMDB e na lealdade nos compromissos
assumidos. Isso garante que a máquina partidária continue sendo liderada por sua facção
política e que o partido não fosse “tomado” por nenhuma outra liderança.
Notamos que, no plano formal, os Diretórios Municipais possuem autonomia
no que tange as decisões eleitorais, como lançar candidatos e estabelecer alianças e
coligações. Nesse aspecto, cabe à instância deliberativa local, a Convenção Municipal,
definir a sua política eleitoral. No entanto, observando empiricamente as decisões
eleitorais a partir da pesquisa de campo, percebemos que os Diretórios Municipais
apresentam graus variados de descentralização.
Predomina centralização informal em que as deliberações eleitorais nos
municípios são negociadas entre as lideranças locais e estaduais do partido. Por essa
característica, a distinção entre Diretório e Comissão Provisória é amenizada. Ainda que
o órgão partidário municipal seja estruturado como Diretório, caso suas lideranças não
possuam relação próxima com o líder partidário ou com membros da Comissão Executiva
Estadual, esse órgão dificilmente terá autonomia e acesso aos recursos distribuídos pela
direção partidária. Já o oposto pode acontecer. Um órgão estruturado como Comissão
Provisória, cujas lideranças locais estejam alinhadas com o Diretório Estadual, terá acesso
privilegiado aos recursos.
Observando a eleição estadual, percebemos que o Diretório Estadual do
Ceará tem autonomia para definir sua política de aliança e coligação. Como ressaltado
por Ferreira (2002), esse partido teve sua gênese e institucionalização marcadas por alto
grau de autonomia das instâncias estaduais.
Cabe destacar que, como foi verificado na pesquisa de campo, o processo de
formação de aliança e coligação eleitoral do partido não passa pelos canais formais de
decisão partidária. A escolha dos aliados é feita pelo líder do partido que informa aos
membros do Diretório Estadual a política de aliança que será adotada.
Apesar dessa autonomia da liderança estadual, percebe-se que existe
negociação com o Diretório Nacional do partido. Nesse caso, predomina a mesma
racionalidade das eleições municipais: o partido dá autonomia para eleger a maior
quantidade de candidatos e maximizar os votos.
149
b) Seleção de candidatos
Similar ao que foi evidenciado no tópico anterior, o PMDB apresenta
ambivalência quanto ao processo de seleção de candidatos à disputa eleitoral. O seu
estatuto estabelece que as Convenções Estaduais, Municipais e Zonais poderão definir a
posição do órgão quanto à escolha de candidatos a cargo de eleição majoritária (Artigo
22, § 3°). Mais adiante, o estatuto especifica que as Convenções Municipais se destinam
à escolha de candidatos a prefeito, vice-prefeito e vereador (Artigo 87, § 2°). Percebe-se
que, pelas regras formais, os órgãos municipais possuem autonomia para fazer a seleção
dos candidatos.
Na pesquisa de campo, no entanto, foi observado que essa autonomia não é
extensiva a todos os órgãos partidários. As disputas locais em alguns municípios são
acompanhadas diretamente pelo líder do partido e as decisões nas escolhas dos candidatos
são centralizadas por ele.
O secretário-geral João Alves Melo elucida essa ambivalência. Anuncia que
o órgão partidário municipal goza de autonomia para definir suas estratégias eleitorais,
151
mas é necessário construir consenso dentro do partido junto à instância estadual. Como
percebemos no seguinte trecho:
Tem naturalmente um entendimento, um diálogo entre a pessoa que se
interessa pela disputa e a direção estadual, tem esse diálogo até porque
a direção estadual vai trabalhar pela eleição. É claro que Eunício
[Oliveira] se reúne com um e com outro candidato e define as
estratégias e o melhor nome. Mas o município é que efetivamente faz a
indicação dos nomes. [...] Mesmo sendo Comissão Provisória, tem essa
autonomia (JOÃO ALVES MELO, secretário-geral do PMDB-CE.
Entrevista concedida ao autor em 17/11/2015).
Pelo depoimento acima, notamos que as lideranças municipais negociam
informalmente a escolha dos candidatos com o presidente do Diretório Estadual, Eunício
Oliveira. Inclusive, quando o secretário-geral foi questionado sobre o fato de ter lançado
menos candidatos ao cargo de prefeito em 2012, comparado com 2008 64, este informou
que:
Queríamos montar alianças para as eleições gerais de 2014, já que o
partido tinha condições de disputar o Executivo estadual e já
previamente negociando com a coligação. Assim, a estratégia para 2012
era lançar menos candidatos como cabeça de chapa e formar um arco
de aliança maior com outras agremiações, podendo indicar o cargo de
vice, por exemplo (JOÃO ALVES MELO, secretário-geral do PMDB-
CE. Entrevista concedida ao autor em 17/11/2015).
Percebe-se que a seleção de candidatos e o estabelecimento de alianças nas
eleições municipais de 2012 foi arquitetada pela direção estadual, que buscava construir
estratégia eleitoral de candidatura própria ao Executivo estadual em 2014. Porém, o
acompanhamento da disputa local em alguns casos é centralizado pela liderança do
partido.
Semelhante ao que ocorre no processo de formação de aliança e coligação
eleitoral, a escolha do candidato ao Executivo municipal em Fortaleza não foi
estabelecida pelo órgão partidário local, como está regulamentado no estatuto. Essa
escolha foi feita diretamente pelo líder do partido e não envolveu os canais de decisão
formal do partido.
Como vimos, nas eleições de 2012, o PMDB estava coligado com o PSB
liderado pelo então governador Cid Ferreira Gomes. O PSB indicou o cargo de “cabeça
de chapa” e o PMDB indicou o cargo de vice-prefeito. No PMDB, a designação do
candidato foi feita por Eunício Oliveira, que escolheu seu sócio e integrante da Comissão
Executiva Estadual, Gaudêncio Lucena. Essa eleição foi competitiva, mas a chapa do
64
Nas eleições de 2008, a sigla apresentou 69 candidatos ao Executivo municipal e em 2012 reduziu para
52.
152
por meio dessa tática, o PMDB ocupou postos no governo local, como vice-prefeita,
representatividade na Câmara Municipal e secretarias municipais.
Na entrevista, Gerson Vieira Neto afirmou que o PMDB apresentou
candidatura própria porque Eunício Oliveira permitiu e até estimulou para que isso
acontecesse. Em determinada parte da entrevista, esse líder local apontou o dedo para o
gravador como se quisesse que Eunício Oliveira escutasse o áudio. Nesse trecho, o
entrevistado se emocionou e culpou a liderança estadual pela derrocada do PMDB no
município. Como vemos abaixo:
Tava todo mundo unido para não apresentar candidato, foi que o PMDB
[de Mombaça] foi escutar coisa de alguém. Mas isso aí o Eunício
[Oliveira] é culpado também. Porque eu me lembro como se fosse hoje,
lá em Fortaleza, numa reunião, eu ia passando, o Eunício bateu no
ombro, no ombro do Leleco [Wellington Barreto], do Dr. Leleco: “Meu
futuro prefeito de Mombaça!”. Aí foi quando começou, Dr. Eunício
Oliveira, foi aí [apontando o dedo para o gravador]! Começou dessa
reunião do PMDB do Ceará! Ele tava com um grupo de amigos e o
Eunício [Oliveira] falou: “Futuro prefeito de Mombaça, Dr. Leleco!”.
Não é? É que colocou na cabeça do Leleco. Rapaz novo, sem
experiência na política. Isso aí ficou marcado e fica marcado mesmo.
Já pensou, o presidente do partido dizer que ele ia ser o futuro prefeito
da Mombaça... (GERSON VIEIRA NETO, ex-presidente do PMDB de
Mombaça, ocupou o cargo de vereador por três mandatos e vice-
prefeito por dois mandatos. Entrevista concedida ao autor em
15/10/2015).
Ao longo da entrevista, Gerson Vieira Neto afirmou que desde as eleições
municipais de 2008 Eunício Oliveira queria que Wellington Barreto (Dr. Leleco) fosse o
candidato a vice-prefeito na coligação do PMDB com o PSDB. Existia uma estratégia
para que o partido potencializasse o nome de Wellington Barreto para que em 2012 ele
fosse o candidato a prefeito. Em determinado trecho da entrevista, Gerson Vieira Neto
comentou como foi a reunião para decidir o candidato a vice-prefeito em 2008 na
coligação com o PSDB, que tinha Wilame Barreto Alencar como candidato à reeleição:
No meio disso tudo aí teve uma reunião no apartamento do Eunício
Oliveira, aí participou a Diana [Barreto], Berto [Humberto Vieira
Filho], Jacinta [Jacinta Maria Altino Vieira], Leleco [Wellington
Barreto], Amelinha [Maria Amélia Barreto Vieira] e eu levei meu filho
Walderez Neto. Porque lá queriam que eu, o Leleco médico, não é? Que
ele fosse candidato. Candidato a vice-prefeito do Wilame [Barreto
Alencar]. Porque, na realidade, eles tinham razão. Porque o Leleco
[Wellington Barreto], médico, ele tinha 76% e eu 26 de aprovação pra
ser o candidato do Wilame [Barreto Alencar]. O Eunício [Oliveira] acho
que mandou fazer uma pesquisa. Mas eu não abri, não! Quando eu não
tinha nada eu não fui, ah? Que o cotado para ser vice-prefeito era o
Berto Vieira [Humberto Vieira Filho] e eu quem fui candidato. Porque
que eu não servia para ser o candidato? Como a Claudênia [Cavalcante]
vai ser a vice do Ecildo [Evangelista Filho] para o ano. Não foi, eleito
155
bônus de ter Wellington Barreto como candidato não valeria o ônus implicado, pois
Gerson Vieira Neto ameaçou migrar para outro partido e ser candidato a vice de qualquer
maneira.
Por esse episódio relatado, percebe-se que Wellington Barreto tem relação
próxima com Eunício Oliveira. Essa sintonia é enfatizada no depoimento abaixo:
Eunício [Oliveira] apoiou. Nós fomos ao Eunício [Oliveira], o Eunício
[Oliveira] disse assim: “Meu filho, eu sou muito mais subir num
palanque com a pessoa que é fiel a mim, como você, do que eu subir no
palanque de um adversário que eu não tenho aquela confiança. Mas eu
só lhe peço uma coisa: faça coligação. Sem coligação ninguém ganha
em Mombaça” (DIANA BARRETO, secretária-geral do PMDB de
Mombaça e ex-vice-prefeita. Entrevista concedida ao autor em 15 e 16
/10/2015).
Eunício Oliveira concedeu a autorização para que o PMDB rompesse a
aliança local com o PSDB e apresentasse Wellington Barreto como candidato a prefeito.
O partido buscou efetivar coligação eleitoral com uma tradicional liderança política local,
Valdomiro Távora (PP). Como essa aliança não foi consumada, o PMDB apresentou
chapa “puro sangue”. Mas, com a ausência de aliados, a sigla obteve pouca adesão
eleitoral. Na disputa para o Executivo, a sigla conseguiu apenas 16,5% dos votos válidos
e na disputa para o Legislativo não elegeu nenhum dos oito candidatos.
O processo de centralização informal a que o PMDB de Mombaça é
submetido pode também ser observado nas eleições estaduais de 2014. O então prefeito,
Ecildo Evangelista Filho (PSD), sinalizou a Eunício Oliveira que não acompanharia seu
partido no apoio à eleição de Camilo Santana (PT) como governador e que votaria
naquele. No município, o poder político do então prefeito era maior em comparação ao
do grupo do PMDB. Basta citar que este foi eleito com 77,5% dos votos válidos (10.715
votos). Mas, antes de confirmar essa aliança política com o grupo local opositor do PMDB
de Mombaça, Eunício Oliveira fez uma reunião informal com as lideranças desse órgão,
como observamos abaixo:
Eunício [Oliveira] chamou no apartamento e disse: “Eu sou candidato
e preciso de votos e tudo indica que o Ecildo [Evangelista Filho] tá
querendo votar em mim, quer me apoiar pra governador, e eles tão
vindo agora, 5 da tarde. Como é, Diana, concorda?”. Aí o que ele queria,
queria apoiar o Eunício [Oliveira] para que na próxima eleição [em
2016] o PMDB o apoiasse para prefeito (DIANA BARRETO,
secretária-geral do PMDB de Mombaça e ex-vice-prefeita. Entrevista
concedida ao autor em 15 e 16 /10/2015).
Pelo depoimento, percebemos que existe relação de proximidade entre
Eunício Oliveira e as lideranças desse órgão partidário. Para resolver essa questão
157
partidária, foi feita negociação no apartamento de Eunício Oliveira. Observa-se que não
foi marcada reunião com os membros da Comissão Executiva Estadual na sede do partido,
como seria prevista pelo estatuto da agremiação. Além disso, houve minimamente acordo
para que o partido não fosse simplesmente “tomado” desse grupo e entregue a outro sem
aviso prévio. A secretária-geral do PMDB, Diana Barreto, falou inclusive que já
aconteceu casos de intervenção direta do Diretório Estadual no órgão municipal, como
observamos:
Quem manda no Diretório Municipal é o Diretório Estadual. Na hora
em que o Diretório Estadual quer destituir o partido daqui ele destitui.
Ele bota quem ele quer! Ele bota a intervenção e tira. Acaba com o
partido! Ele bota quem ele quer! [...] O Eunício Oliveira já destituiu o
PMDB daqui. Um cidadão que tava dando trabalho demais, que não
queria... Tava só se impondo. Aí ele [Eunício Oliveira] chamou meu
marido [Francisco José Barreto] e disse: “Pegue tantas assinaturas dos
seus amigos e venha para cá que eu vou destituir o partido e vou fazer
uma Comissão Provisória”. Isso existe! (...) Pegou essas assinaturas e
dissolveu o Diretório, tudo! Os 21 membros e fez uma provisória e
botou meu marido como presidente e, logo depois, quando as coisas se
ajeitaram, aí foi feita uma convenção e voltou tudo o que era normal, a
normalidade (DIANA BARRETO, secretária-geral do PMDB de
Mombaça e ex-vice-prefeita. Entrevista concedida ao autor em 15 e 16
/10/2015).
Assim, existem casos de intervenção direta do Diretório Estadual nos órgãos
municipais. O fato do candidato do PMDB em 2012, Wellington Barreto, ter obtido
votação pouco expressiva poderia ser motivo para que o Diretório Estadual destituísse o
partido no município e entregasse a legenda para o grupo política opositor, como já
aconteceu em alguns casos. Observando as eleições de 2014, percebemos que o apoio do
prefeito Ecildo Evangelista Filho (PSD) para a campanha de Eunício Oliveira garantiu
para este 11.948 votos (58,4% dos votos válidos) no primeiro turno e 11.653 votos
(52,9%) no segundo turno.
Interessante o fato relatado pela secretária-geral do PMDB de Mombaça, que
afirmou que o próprio Eunício Oliveira negociou para que Ecildo Evangelista Filho
pudesse se desfiliar do seu partido, o PSD, e concorresse à reeleição em 2016 pelo PMDB,
como observamos abaixo:
Aí o Ecildo [Evangelista Filho] disse: “Senador, e eles vão judiar
comigo, porque eu não tô apoiando e é capaz de eu não ter legenda pra
minha reeleição”. Aí nesse dia mesmo, lá, o Eunício [disse]: “Não se
preocupe que eu sou o presidente estadual do PMDB e eu dou a legenda
para você”. [...] Aí o Eunício disse: “Por isso não, porque eu sou
presidente do PMDB Estadual, a Patrícia [Gomes], eu vou ter que dar
anuência à Patrícia [Gomes], porque ela vai para reeleição, mas não é
mais pelo meu partido, o PMDB, não sei porque, quais são as razões...”.
158
eleitorais dessa aliança, com Eunício Oliveira, na cota do PMDB, ocupando o cargo de
governador; e Ciro Ferreira Gomes (PROS), na cota de Cid Ferreira Gomes, assumindo
a vaga no Senado (O POVO, 26 mar. 2014).
Depois do rompimento entre o PMDB e Cid Ferreira Gomes, Eunício Oliveira
fez aliança com os dois principais oponentes da facção dos irmãos Ferreira Gomes: Tasso
Jereissati (PSDB), ex-governador que debutou o então deputado estadual Ciro Ferreira
Gomes para projeção estadual ao indicá-lo como candidato a prefeito de Fortaleza em
1988 e a governador em 1990; e Roberto Pessoa (PR), considerado desafeto pessoal dos
irmãos Ferreira Gomes. Nas eleições de 2010, quando Roberto Pessoa coordenava a
campanha de Lucio Alcântara (PR) como candidato a governador, aquele teve embate
com suposto desfecho de agressão física com o então deputado federal Ciro Ferreira
Gomes (PSB), que coordenava a campanha de reeleição de seu irmão Cid Ferreira Gomes
(PSB) como governador65. Roberto Pessoa é uma importante liderança estadual, foi
filiado ao PFL, ocupando por esse partido o cargo de presidente da Executiva Estadual
do Ceará (1991-2003), deputado estadual (1991-1994), deputado federal (1995-2004), e
depois migrou para o PL/PR, ocupando por esse partido o cargo de prefeito de Maracanaú
(2005-2012), parque industrial e a segunda maior economia do estado.
Na Tabela seguinte, temos o arranjo de indicação dos cargos que foi
montando a partir da aliança. O PMDB, tendo o PR como vice, liderou a indicação para
o Executivo estadual. Foi reservado ao PSDB as vagas para o Senado, que apresentou sua
principal liderança, Tasso Jereissati, como titular. Como suplentes foram indicados
Francisco Feitosa Lima (DEM), ex-deputado federal pelo PSDB (1999-2002) e
empresário do setor de transporte urbano; e Fernando Façanha Filho, médico e delegado
do Diretório Estadual do PSDB.
65
É noticiado diversas matérias abordando confrontos entre Roberto Pessoa e Ciro Ferreira Gomes. Como
evidenciamos nos seguintes títulos das matérias: “Bate-boca – Roberto Pessoa registra BO contra Ciro
Gomes” (LIMA, BLOG DO ELIOMAR, 30 set. 2010), "Em carta, prefeito cearense chama Ciro Gomes de
vagabundo e usuário de drogas" (PATURY, REVISTA ÉPOCA, 02 out. 2012), "Ex-prefeito Roberto Pessoa
diz que teve celulares grampeados" (O POVO, 06 abr. 2013) e "Roberto Pessoa reage a farpas de Ciro
Gomes: “Não discuto com drogado! ”" (LIMA, BLOG DO ELIOMAR, 01 ago. 2014).
161
candidato a prefeito pelo PMDB nas eleições de 2012, mas não foi eleito. Ricardo
Almeida foi vereador pelo PFL (1989-1992) e pelo PDT (1993-1994), deputado estadual
pelo PDT (1995-2002). Nas eleições de 2008, candidatou-se como prefeito pelo PT na
cidade de Catarina, município vizinho que então apresentava magnitude eleitoral de 6 mil
eleitores, mas não foi eleito.
Observando a trajetória política desse candidato, observa-se que este já
passou por vários partidos e que possui capital político circunscrito a uma base geográfica
específica. Por mais que este político não tenha sido eleito, sua candidatura possibilitou
ao PMDB a obtenção de votos, especificamente 10.507, para compor o coeficiente
partidário. Porém, esse perfil de candidatura auto selecionada não possibilita a construção
de lealdade ao partido.
Analisando a lista de candidatos ao Legislativo — Anexo 5 —, percebemos
monopolização por parte de grupos políticos familiares que lançam candidaturas casadas
a deputado federal e deputado estadual. Podemos citar José Gerardo de Arruda (Dep.
Federal) e Inês Maria de Arruda (Dep. Estadual), filho e mãe respectivamente; José
Mauro Gonçalves de Macedo (Dep. Federal) e David Ney Gonçalves de Macedo (Dep.
Estadual), irmãos e filhos de Raimundo Antônio de Macêdo, prefeito de Juazeiro do Norte
(PMDB-2012-2016; PSDB-2005-2008), deputado federal (PMDB-2011-2012) e
deputado estadual (PSDB-1991-2004); Jaziel Pereira de Sousa (Dep. Federal) e Silvana
de Sousa (Dep. Estadual), marido e mulher respectivamente.
Observando o desempenho eleitoral dos candidatos, percebemos uma questão
de gênero: a maior parte das mulheres candidatas não são competitivas, apresentando, em
geral, baixa votação. As exceções são duas candidatas que possuem maridos como
políticos e que por suas trajetórias como esposas acumularam capital eleitoral, como Inês
Arruda e Silvana de Sousa mencionadas anteriormente, e a médica ginecologista, Jocélia
Castro, que por meio da sua atividade profissional conseguiu prestígio político. Esse dado
levanta a hipótese que o partido distribui poucos recursos a candidaturas de mulheres e
que a indicação delas se deve ao fato da legislação eleitoral exigir percentual de 30% de
algum dos sexos nas listas eleitorais. Assim, caso a candidata não conte com algum capital
político extra organização, ela dificilmente obterá bom desempenho eleitoral.
Por fim, ao analisarmos o processo de seleção de candidatos para o
Legislativo estadual, percebemos que o partido é permissivo quanto à possibilidade de
legenda. Como a organização é orientada eleitoralmente, os critérios de seleção tendem a
164
c) Distribuição de recursos
Observando as transferências do Diretório Nacional para as eleições no Ceará
no SPCE-TSE, percebemos que dentre os partidos investigados, os candidatos do PMDB
cearense foram os que receberam a maior porcentagem de recursos. Nas eleições de 2012,
o Diretório Nacional do PMDB totalizou receita de R$ 41.885.443,64, sendo 6,4%
transferido para as candidaturas do Ceará, somando R$ 2.715.000,00. Em 2014, o valor
foi maior, dos R$ 63.013.005,01 arrecadados pelo Diretório Nacional, 10,9% foi
transferido para os candidatos do Ceará, totalizando R$ 6.883.064,94.
Ao analisamos a distribuição de recursos, percebemos que o Diretório
Estadual, por meio da sua articulação com o Diretório Nacional, centralizou o processo
decisório e os distribuiu de forma seletiva para algumas candidaturas. Isso pode ser
percebido quando verificamos as transferências do Diretório Nacional para as campanhas
eleitorais em 2012 no Ceará66, como demostrado na página seguinte.
66
Nos dados do TSE, não foram encontrados recursos transferidos pelo Diretório Estadual do Ceará para
as eleições no estado. Quanto as transferências do Diretório Nacional, o valor totalizado foi de R$
2.715.000,00, que incluía tanto os candidatos do PMDB quanto os de outros partidos aliados. A maior parte
desse total, 67% (R$ 1.835.000,00), foi destinada às campanhas do Executivo. Entre essas candidaturas do
Executivo, 88% (R$ 1.630.000,00) foram destinados ao PMDB.
165
67
A única informação que consta é na prestação de contas do candidato, mas, nos dados sobre desempenho
eleitoral, este não aparece como candidato. Nesse banco de dados, o PMDB aparece como vice – com o
candidato Francisco Celio Oliveira dos Santos – de um candidato do PP.
166
Fortaleza ser estratégico para o Diretório Estadual, visto que possibilita visibilidade ao
partido e permite, inclusive, que esses vereadores possam futuramente ser eleitos
deputados estaduais.
Um dado que chama atenção nessa Tabela é novamente o valor de recursos
transferidos aos candidatos de Lavras da Mangabeira. Observamos que o Diretório
Nacional financiou a campanha de nove vereadores, o total de vagas disponíveis na
Câmara Municipal. Nesse sentido, a estratégia do partido era viabilizar a campanha do
candidato a prefeito do município, como vimos na Tabela 9, e proporcionar a formação
de base de sustentação do prefeito no Legislativo local.
Embora os candidatos do PMDB tenham recebido a maior quantidade de
recursos do Diretório Nacional, é notável o fato de que outros partidos tenham ganhado
doações para suas campanhas. Nas disputas para o Executivo, os candidatos de dois
partidos obtiveram recursos: PSB nos municípios de Cedro, Quixeramobim e Itapiúna,
totalizando R$ 105.000,00; e PSD de Banabuiú, que obteve R$ 100.000,00.
Nas disputas para o Legislativo, embora o total transferido tivesse sido menor,
R$ 75.000,00, esse recurso foi destinado a uma maior quantidade de partidos, como o
PSDB, PTC, PTN, PDT e PHS. A maioria dos candidatos dessas agremiações compunha
coligação com o PMDB nas eleições municipais. Esse foi novamente o caso de Lavras da
Mangabeira, pois dois candidatos do PHS, um do PDT e outro do PTC receberam recursos
para a campanha. Esses três partidos e mais outros dois (PTB e PCdoB) compunham a
coligação que lançou o candidato do PMDB, Ildsser Alencar Lopes.
Cabe observar que um candidato a vereador de Fortaleza pelo PTN obteve R$
20.000,00 do Diretório Nacional do PMDB, embora este partido não estivesse coligado
com o PMDB, mas com o seu oponente, o PT. Na entrevista de campo, o presidente do
PMDB de Fortaleza, Willame Correia, enfatizou novamente a tese por ele defendida que
o líder possui expertise política necessária para gerir o partido:
Olha [pausa longa], eu sinceramente não vejo nenhum problema que
candidatos aliados, mesmo que estejam em outro partido, tenham nosso
apoio [...] O Eunício [Oliveira] sabe conduzir o partido e se ele fez essas
escolhas é porque ele tem conhecimento (WILLAME CORREIA,
presidente do PMDB de Fortaleza. Entrevista concedida ao autor em
19/11/2015).
Em Mombaça, as lideranças partidárias ressaltaram que os recursos “ (...)
eles foram escassos, mal dando para cobrir as despenas mais básicas” (Diana Barreto,
secretária-geral do PMDB. Entrevista concedida ao autor em 22/09/2015). Mesmo em
168
cargos na direção do partido, sendo considerando político “autônomo”, que possui capital
político acumulado fora da organização partidária. Em 2018, migrou para o PROS.
Cabe observar o caso dos outros dois deputados federais não eleitos que
receberam recursos do Diretório Nacional: Mauro Benevides, o ex-presidente e atual 3º
vice-presidente do Diretório Estadual do Ceará, e Mário Feitoza, deputado federal e
aliado político de Eunício Oliveira.
Investigando o financiamento para a campanha de deputado estadual,
observamos discrepância maior de poder intrapartidário. Dos 26 candidatos no Ceará, o
Diretório Nacional só financiou a campanha de um candidato: Daniel Oliveira. Este é
sobrinho de Eunício Oliveira, 1º tesoureiro e delegado do Diretório Estadual e presidente
da Juventude do PMDB cearense (2008-atual).
Cabe ressaltar o caso do candidato Agenor Neto, que não recebeu nenhum
recurso, mesmo ocupando a 2º vice-presidência do Diretório Estadual e sendo um político
com expressiva votação, obtendo a maior votação (78.868 votos) entre os deputados
estaduais do partido.
Quanto a outros recursos para a campanha eleitoral dos candidatos, o
secretário-geral João Alves Melo informou que o Diretório Estadual forneceu estrutura
para as campanhas. Disponibilizou materiais, como adesivos e gravação de jingles, e
orientou sistematicamente os Diretórios Municipais e os candidatos do partido por meio
do seu staff técnico, como advogados, publicitários e contadores. Outra atividade
desenvolvida pela agremiação foi a realização de pesquisas eleitorais internas que foram
utilizadas, sobretudo, para a escolha do candidato que o partido vai lançar ou apoiar. Esse
é um recurso imprescindível, pois o Diretório Estadual busca construir campanhas
competitivas para obter o máximo de dividendos eleitorais, como ressalta o secretário-
geral:
Quando nós desenvolvemos ações de uma campanha eleitoral, nós
sempre vemos a campanha eleitoral no seu todo. Por exemplo,
município A tem dez candidatos a vereador, dentre os quais três ou
quatro têm potencial de chegar à eleição. Tendo candidato a prefeito
que está com vantagem dentro do processo. Então à medida que nós
vamos a esse município, nós fortalecemos aquelas candidaturas para
que elas se viabilizem com os meios que nós dispomos. Fortalecemos
oferecendo suporte, depois fortalecemos oferecendo a estrutura mínima
que nós temos pra hoje, fortalecemos oferecendo suporte financeiro
para a gestão no período seguinte. [...] O partido trabalha muito em cima
disso, em cima de pesquisa (JOÃO ALVES MELO, secretário-geral do
PMDB-CE. Entrevista concedida ao autor em 17/11/2015).
172
68
Entre esses cursos, os mais procurados, segundo Rosângela Aguiar, que também coordena as formações
da Fundação, são os de “Eleições Municipais: Saber para Vencer”, “Curso de Dicção e Oratória”, “Curso
Básico de Formação Política Ulysses Guimarães” e o “Curso de Formação Política para Juventude”. Esses
cursos são oferecidos a partir da modalidade de Educação à Distância (EaD).
174
DISTRIBUIÇÃO DE
ALIANÇA E
SELEÇÃO DE CANDIDATO RECURSOS PARA
COLIGAÇÃO
CAMPANHA
Cargos majoritários - Alta
Alta centralização: líder autocrático Alta centralização:
centralização: indica os candidatos. líder autocrático
CEARÁ
líder candidatos.
líder autocrático
autocrático
distribui os recursos para
estabelece os Legislativo - Descentralizado:
alguns candidatos que
acordos. líder não acompanha a indicação
são escolhidos para ter
Atrelado a dos candidatos. Processo é
financiamento.
disputa realizado pelo órgão partidário
estadual. local.
Executivo - Baixa
centralização: líder aceita
Alta indicação dos candidatos, mas Alta centralização:
MOMBAÇA
convenção seria mais ampla, com participação de maior número de membros do partido,
e constituiria a verdadeira reunião deliberativa do partido.
Por sua vez, os Núcleos de Base seriam uma modificação da estrutura
organizacional do partido, já que a legislação partidária de 1979 determinava como níveis
federativos os âmbitos nacionais, estaduais, municipais e zonais. Os Núcleos de Base
seriam organizados em sua maioria a partir de bairros, constituindo-se como subdivisão
do órgão partidário municipal e/ou zonal. Essa, organização alicerçada nos Núcleos de
Base, teria como objetivo garantir maior participação e democratização das decisões do
partido, com estímulo à participação de todos os seus membros.
Nesse aspecto, a organização partidária, centrada em Núcleos de Base,
constituiria uma democracia de base na medida em que a legitimidade da representação
deveria ser permanentemente confirmada pelo contato direto entre representantes e
representados, que inclusive deveriam partilhar da mesma condição de classe.
Observando as características do modelo originário do partido, Keck (1991)
e Mendoza e Oliveira (2003) defendem que o desenvolvimento inicial do PT foi
caracterizado por penetração territorial que teve como centro o estado de São Paulo. A
formação do partido “dependeu principalmente dos contatos que o núcleo do grupo de
organização de São Paulo mantinha com o resto do país (bem como com o interior do
estado)” (KECK, 1991, p. 117). Porém, “o processo de formação do partido ocorreu de
várias formas distintas, de acordo com a natureza do grupo que assumiu a
responsabilidade pela sua organização em cada estado” (KECK, 1991, p. 117).
Segundo a autora, apesar do desenvolvimento territorial do partido ter sido
centrado na penetração mantida pelo movimento operário de São Paulo, ocorreu também
processo de difusão em que uma heterogeneidade de grupos locais fundava Diretórios
Estaduais e Municipais. Cita, como exemplos, a formação do PT do Rio de Janeiro, onde
houve um “amálgama relativamente conflituoso [entre] estudantes e intelectuais, grupos
comunitários organizados com base em trabalhos de bairro e (...) parlamentares” (KECK,
1991, p. 118); e uma experiência de formação mais homogênea, constituída pela rede das
comunidades de base da Igreja e pelos sindicatos rurais, como ocorrido no Acre.
Ribeiro (2010) contesta a tese de Keck (1991) sobre o modelo originário do
PT. Para o autor, o desenvolvimento territorial do partido foi caracterizado por um
mosaico de experiências regionais, apresentando caráter heterogêneo dos processos e
atores envolvidos na organização. A agremiação inicialmente seria marcada pelo
desenvolvimento territorial difuso, só assumindo maior capacidade de penetração
179
69
Em novembro de 1964 foi promulgada a Lei nº 4.504, Estatuto da Terra, disciplinado as relações
fundiárias no país.
181
4.215 votos de Gilvan Rocha foram concentrados na capital, apenas 31% dos 4.242 votos
de Joaquim Almeida foram obtidos em Fortaleza, sendo o restante distribuído no estado.
Percebemos que a base eleitoral de Gilvan Rocha era localizada em Fortaleza.
Esse dado demonstra que o Diretório Municipal de Fortaleza conseguiu
estruturar coalizão dominante dentro do partido, embora esse processo não tenha sido
livre de conflitos, como chamam a atenção as matérias na imprensa local. Na matéria
intitulada “PT em convenção: muda o comando no Ceará” (O POVO, 15 jan.1984) são
destacados os desentendimentos entre os membros do partido na Pré-Convenção
Regional. Observa-se a descrição de situações de conflito, como percebemos no seguinte
trecho: “Os trabalhos de ontem foram encerrados por volta das 17 horas, registrando-se
apenas dois incidentes: um espocar (tiro, segundo outros) sem que se identificasse de
onde partiu e sem atingir ninguém; e a destruição de uma faixa” (O POVO, 15 jan.1984).
Na mesma matéria, é relatado ainda que uma chapa não se registrou para concorrer, sendo
na Convenção Regional eleita a chapa única que tinha Gilvan Rocha como presidente.
Em outra matéria, intitulada “PT faz advertência a cinco dissidentes” (O
POVO, 30 abr. 1984), temos o relatado de que o Diretório Estadual aprovou uma
advertência a membros ligados aos órgãos partidários do interior do estado. Estes,
especificamente Antônio Pinheiro, Alberto Fernandes, Lúcia Santos, José Hilário Freitas
e João Alfredo, compunham a chapa intitulada “Avança na Luta com as Bases” que não
concorreu na Convenção Regional. Os membros dessa chapa — chapa desistente segundo
a situação e chapa obstruída segundo a oposição — tinham solicitado à Justiça Eleitoral a
anulação da Convenção Regional. Na referida reportagem é salientado que "uma ala do
PT pretendia a expulsão dos cinco dos seus quadros, [...] [mas] venceu a tese de
advertência pública”.
Outra informação relevante na matéria sobre a Convenção Regional do PT (O
POVO, 15 jan.1984) é a menção à presença de membros do Conselho de Defesa Operário
e Popular (CDOP), entidade vinculada a então deputada estadual Maria Luíza (PMDB).
Dirigentes do PT denunciaram que membros desse conselho estariam lá "com o intuito
de 'baldear a nossa Convenção'".
O destaque à presença de integrantes do CDOC é significativo devido ao
movimento de aproximação da então deputada estadual Maria Luíza (PMDB) com o PT.
Esta liderança disputava com o PCdoB a hegemonia dos movimentos populares de
184
Fortaleza70. Quando uma ala mais esquerdista do PCdoB rompeu com a sigla em 1984,
criando o Partido Revolucionário Comunista (PRC), Maria Luíza passou a integrar esse
grupo.
Em 1985, o PRC, guiado por uma concepção de estratégia e tática da
revolução brasileira, vinculou-se ao PT como grupo autônomo. Esse grupo tinha como
principais lideranças o deputado federal José Genoíno, de São Paulo, e Tarso Genro, do
Rio Grande do Sul. Em 1989, por meio de autocrítica a sua ortodoxia, o grupo se dissolveu
e passou a constituir uma tendência do PT sob a denominação Nova Esquerda (NE)
(AZEVEDO, 1995).
Seguindo essa transição do PRC, a então deputada estadual Maria Luíza
migrou para o PT em 1985. Sua integração não foi pacífica, já que seu grupo político se
constituía uma facção autônoma dentro do PT. Na disputa intrapartidária no Diretório
Estadual do Ceará, a facção liderada pela deputada estadual Maria Luiza contava com
importantes recursos de poder. Possuía um mandato parlamentar na ALECE, tinha
articulação com os movimentos populares em Fortaleza e apresentava enraizamento em
17 municípios no interior do estado. Como destaca Carvalho (1999), o objetivo desse
grupo era obter a legenda para competir à prefeitura de Fortaleza.
Esse objetivo foi alcançado nas eleições de 1985, quando o PT lançou Maria
Luiza como candidata à prefeitura de Fortaleza, tendo como vice Américo Barreira,
vinculado a Articulação 71. Embora o partido tenha conseguido eleger a primeira prefeita
com o retorno de eleições diretas para o Executivo das capitais, o mandato de Maria Luiza
não consolidou laços de lealdade com a organização. Seu grupo, fortalecido pelo
resultado eleitoral em que obteve 34% dos votos válidos (159.846 votos), rompeu com o
PRC/NE e criou o Partido Revolucionário Operário (PRO). Essa facção, como ressalta
Carvalho (1999), era restrita ao Ceará e, mais especificamente, ao próprio “grupo de
Maria”.
O comportamento outsider do PRO causou diversos conflitos no interior do
partido. Uma dessas divergências aconteceu quando Maria Luíza anunciou mudanças no
70
Carvalho (1999) ressalta que a disputa entre Maria Luíza e o PCdoB era refletida na organização dos
movimentos populares em Fortaleza. Como na oposição entre União das Comunidades Cearenses e União
das Mulheres, comandadas por Maria Luíza, e Federação de Bairro e Favelas e Conselho Popular da
Mulher, lideradas pelo PCdoB.
71
Inicialmente, na Pré-Convenção em maio, o candidato a vice de Maria Luíza era o então presidente do
Diretório Estadual, Gilvan Rocha, como vemos na matéria “Maria Luiza candidata a Prefeita pelo PT” (O
POVO, 20 mai. 1985). Porém, na Convenção em agosto, Gilvan Rocha retirou seu nome e Américo Barreira
foi lançado como candidato, como vemos na matéria “PT indica Maria Luiza com festa no teatro” (O
POVO, 11 ago. 1985).
185
primeiro escalão do governo, como destacado na matéria “Maria provoca crise no PT com
as mudanças” (O POVO, 15 jul. 1986). Nessa permuta de cargos, a prefeita remanejou
José Guimarães, irmão do então deputado federal José Genoíno (PT-SP) do PRC/NE, da
chefia de Gabinete para o Instituto de Previdência do Município. Essa transferência
desencadeou o acirramento da tensão entre o PRO e a Articulação. Como a Articulação
tinha influência na Executiva Estadual e Nacional do partido, esta tendência pressionou
para que o PRO tivesse menos poder na Executiva Municipal de Fortaleza.
Os conflitos intrapartidários chegaram ao ápice quando foram tornadas
públicas as denúncias no “caso dos coronéis”. Na matéria “Dirigentes petistas resolvem
se afastar. Comissão investigará relação do PT com os coronéis” (O POVO, 31 dez.
1986), temos o relato de que 16 membros da Executiva e do Diretório Regional do partido
decidiram se afastar para que as acusações fossem investigadas. Na ocasião, alguns
membros do partido foram acusados de terem recebido dinheiro do candidato a
governador Adauto Bezerra (PFL) e da sua coligação PFL/PDS/PTB para financiar a
campanha de candidatos do PT e barrar o crescimento eleitoral do candidato do PMDB,
Tasso Jereissati.
Em outra matéria, intitulada “Comissão de Ética do PT apurará denúncias.
Envolvimento com Coronéis pode gerar expulsões” (O POVO, 07 jan. 1987), temos o
esclarecimento dessa acusação. Como vemos abaixo:
A prefeita Maria Luiza, Gilvan Rocha, ex-presidente do Partido dos
Trabalhadores, Manuel Fonseca, secretário de Saúde do Município e o
ex-primeiro-vice-presidente do PT, William Montenegro poderão ser
expulsos da agremiação, caso sejam confirmadas as denúncias de
Antônio Amorim, candidato não eleito a deputado federal. Eles são
acusados, em nota assinada por Amorim e mais 15 militantes petistas,
de terem recebido 140 mil cruzados e um carro de som dos "coronéis",
que não chegou a ser usado durante a última campanha eleitoral (O
POVO, 07 jan. 1987).
Outros membros da Executiva Estadual também foram implicados no “caso
dos coronéis” e receberam advertência do Diretório Nacional, tendo sido posteriormente
expulsos do partido. Na matéria “PT expulsa ex-dirigentes” (O POVO, 26 jan. 1987) é
informado que foram expulsos o então presidente do Diretório Estadual, Gilvan Rocha; o
candidato a governador pelo partido em 1982, William Montenegro; e Manuel Fonseca.
Com a expulsão do presidente estadual, o cargo foi assumido provisoriamente por José
Guimarães.
Nessa denúncia, a então prefeita Maria Luíza recebeu advertência do
Diretório Nacional, como abordado em matérias na imprensa local: “Punição de
186
advertência leva Maria Luíza a deixar o PT” (O POVO, 18 ago. 1987) e “PT mantém
punição e torna difícil o acordo com Maria” (O POVO, 22 ago. 1987). A prefeita
questionou essa advertência junto as instâncias partidárias e solicitou pedido retratação
do partido, como demonstra o título da matéria “Maria recorre para obter retratação.
Executiva do PT ressalta 'novo tempo' no trato da questão” (O POVO, 23 ago. 1987). A
prefeita passou longo período negociando sua permanência na agremiação, como foi
relatado em “Maria negocia sua permanência no PT” (O POVO, 19 set. 1987), e
conseguiu ser inocentada nesse processo do “caso dos coronéis”.
Porém, sua expulsão era anunciada, dado os constantes conflitos internos
envolvendo sua facção. O estopim foi a negociação envolvendo as eleições municipais de
1988. O PT estava dividido na indicação do candidato à sucessão e na participação do
partido em uma Frente Progressista com partidos de esquerda, como PDT, PSB, PCdoB
e PCB. Na manchete “PRO usa força e impede a realização de seis pré-convenções zonais
do PT” (O POVO, 25 abr. 1988) temos o relato de agressões físicas e tumultos no
encontro do partido.
No artigo intitulado “PT e a força das tendências”, temos uma explicação
desse conflito interno. Como vemos abaixo:
O Partido da Revolução Operária impediu a realização, ontem
[24/04/1988], das pré-convenções zonais do Partido dos Trabalhadores.
Os motivos que levaram o PRO a obstruir pela força a escolha dos 80 a
100 delegados à Convenção Municipal foram, primeiro, as
impugnações de 905 filiações de militantes daquela tendência e,
segundo, a participação do PT na Frente Progressista, não admitida pelo
grupo. A Executiva pretendeu, com as impugnações, evitar a ascensão
de Dalton Rosado à condição de candidato do partido à sucessão de
Maria Luiza, fato consumado caso as filiações fossem aceitas. A
composição com os demais partidos de esquerda é combatida pelo PRO
porque a opção da Frente Progressista na escolha do seu candidato a
prefeito jamais recairia sobre o nome do atual secretário de Finanças do
município [Dalton Rosado]. A crise se instalou no Partido dos
Trabalhadores. E as crises no PT são motivos para demonstrações da
força das tendências. O entendimento é difícil porque cada uma delas
se julga com mais razão do que as outras. A força que mantém o partido
unido é menor do que aquela que o divide, mas, apesar de desafiar as
leis da física, o PT continua a existir e a abrigar simpatizantes que
proporcionam uma convivência interna pouco amigável. Alguns blocos
até se respeitam, mas, para eles, ceder a acordos pode parecer sinal de
fraqueza (MORAES NETO, O POVO, 25 abr. 1988).
Nesse artigo de opinião, percebemos os recursos de poder utilizados pelas
tendências do partido na disputa pelo controle da organização. A coalizão dominante não
conseguia estabelecer seu comando com eficácia, visto que a tendência liderada pela
prefeita, o PRO, detinha recursos por meio do cargo no governo. A tendência conseguia,
187
72
Em uma edição especial da revista Teoria & Debate (BITTAR, 1992), intitulada “O modo petista de
governar”, são analisadas experiências de gestão municipal em pequenos municípios. Nessa seção, a gestão
de Icapuí foi ressaltada como exemplo de bom governo.
73
A Secretaria de Organização (SORG) não conseguiu disponibilizar informações sobre as disputas dos
PED’s de 2001 e 2005. Seria necessário organizar os arquivos do partido para coletar essas informações, o
que não foi possível para a presente pesquisa. Além disso, essas eleições do PED mereceriam uma análise
mais aprofundada sobre a disputa intrapartidária, porém foge ao escopo da pesquisa.
191
desempenho eleitoral dos outros candidatos do partido. Como Lula da Silva apresentava
aceitação popular nessas eleições no Ceará, o candidato a governador do PT “pegou
carona” e conseguiu crescimento ao longo do embate eleitoral. Nessa campanha de 2002,
a disputa ao Executivo estadual no Ceará voltou a ser competitiva.
Inicialmente, a candidatura própria do PT ao governo estadual foi mais
decorativa do que substancial, servindo apenas para proporcionar palanque a candidatura
de Lula da Silva. Inclusive, a prioridade da máquina partidária do PT estadual era a
campanha presidencial. O candidato a governador foi José Airton, então vereador de
Fortaleza e presidente do Diretório Estadual. A escolha deste como candidato se deu em
virtude da resistência de outros políticos do partido com melhor performance eleitoral e
maior inserção política. Estes não queriam disputar as eleições majoritárias, preferindo a
reeleição garantida na Câmara dos Deputados e na ALECE.
A candidatura de José Airton ao Executivo estadual, embalada pelo jingle de
campanha “Lula lá, José Airton cá”, passou de 924.690 votos (28% dos votos válidos) no
1º turno para 1.762.679 votos (49,9% dos votos válidos) no 2º turno. Foi derrotado pelo
candidato do PSDB, o então senador Lúcio Alcântara, por diferença de 3.047 votos, que
significou 0,08% dos votos válidos.
Com a ascensão ao Executivo nacional em 2002 e ao Executivo municipal de
Fortaleza em 2004, o PT tornou-se ator relevante nas disputas estaduais do Ceará. A
coalizão dominante do Diretório Estadual mostrava-se estável, ocorrendo a renovação da
aliança entre as principais lideranças estaduais do partido: o deputado estadual José
Guimarães (DR), o deputado federal José Pimentel (Articulação), o prefeito Ilário
Marques (Articulação) e o presidente do Diretório Estadual José Airton (MPT).
Observa-se que no PED de 2005, a tendência CM conseguiu manter a
hegemonia no PT, derrotando as tendências mais à esquerda. Foi eleito como presidente
do Diretório Estadual Joaquim Cartaxo (DR), urbanista vinculado ao deputado estadual
José Guimarães (DR).
Nas eleições de 2006, a Comissão Executiva Estadual, aliada a estratégia
nacional do PT, buscava costurar acordos para potencializar a reeleição de Lula da Silva
a presidente da República. Pela primeira vez o partido não apresentou candidatura própria
192
ao Executivo estadual. Foi estabelecida aliança com Cid Ferreira Gomes74 (PSB), irmão
do então ministro da Integração Nacional Ciro Ferreira Gomes.
Nesse acordo, o candidato a Executivo estadual foi Cid Ferreira Gomes (PSB)
e o vice-governador foi o então vereador suplente de Fortaleza, Francisco Pinheiro (PT),
ligado a TM e indicado pela então prefeita de Fortaleza Luizianne Lins (DS). A indicação
dessa vaga coube às tendências trotskistas, como TM e DS, porque dentro do PT elas
ficaram fortalecidas ao ocuparem o governo municipal de Fortaleza. Além disso, a
indicação do cargo foi uma estratégia utilizada para convencer essas tendências a
participarem da aliança, visto que se mostravam resistentes.
No PED 2007, ocorreu ruptura na coalizão dominante do partido, tornado
competitiva a disputa intrapartidária. As lideranças estaduais da Articulação UNL e da
DR estavam nacionalmente integradas na tendência Construindo um Novo Brasil (CNB).
Porém, localmente estavam agrupadas em tendências opostas: o deputado federal José
Guimarães na corrente Campo Democrático (CD), o prefeito de Quixadá Ilário Marques
na corrente Militância Petista (MP) e o deputado federal José Pimentel na Articulação
UNL.
Nessa disputa, o candidato à reeleição, Joaquim Cartaxo, obteve a maioria
dos votos, mas não o suficiente para ganhar no primeiro turno. No segundo turno, o
candidato Ilário Marques conseguiu agrupar as correntes mais à esquerda, como DS e
TM, e de centro, como MPT. Com esse arranjo entre variadas tendência do partido, Ilário
Marques conseguiu ser eleito. Como vemos nos dados da Tabela seguinte.
74
Cid Ferreira Gomes tinha sido deputado estadual (1991-1996) pelo PSDB e prefeito de Sobral, eleito em
1996 (PSDB) e em 2000 (PPS). Em 2005, a facção política dos irmãos Ferreira Gomes filiou-se ao PSB,
partido historicamente ligado ao PT no Ceará.
193
A tônica desse PED foi a aliança do partido com o PSB, liderado pelos
Ferreira Gomes. A corrente situacionista defendia a manutenção dessa aliança, enquanto
as correntes oposicionistas criticavam a coalizão dominante por não ser independente.
Havia a acusação de que o presidente do partido, Joaquim Cartaxo, não se dedicava às
atividades partidárias, já que parte de seu tempo era devotado para a função de secretário
no governo estadual do PSB.
No PED 2009, o Diretório Estadual retomou sua unidade partidária. Houve
aliança entre as principais correntes do partido na indicação do cargo de presidência. A
então prefeita de Fortaleza Luizianne Lins (DS) foi eleita com 97% dos votos, enquanto
a professora Maria José Moraes (OT) obteve 3% dos votos (LUIZIANNE, PT-CEARÁ,
26 nov. 2009).
Esse ambiente de unidade partidária garantiu a manutenção da aliança entre
PT, PSB e PMDB para as eleições estaduais de 2010. Nesse acordo, coube ao PT a
indicação de duas vagas: a de titular em uma vaga ao Senado, sendo indicado o então
deputado federal José Pimentel (Articulação UNL); e a de 1º suplente na outra vaga ao
Senado, sendo escolhido o ex-vice-prefeito de Fortaleza Waldemir Catanho de Sena (DS).
Porém, esse clima de tranquilidade na agremiação acabou quando foi iniciado
o processo de negociação para a sucessão da prefeitura de Fortaleza em 2012. Como
veremos a seguir ao analisarmos a relação entre as instâncias partidárias.
194
Figura 3 - Organograma do PT
ÓRGÃOS PARTIDÁRIOS INSTÂNCIAS PARTIDÁRIAS
AÇÃO COLABORAÇÃO /
FORMAÇÃO COLABORAÇÃO FISCALIZAÇÃO DEBIBERAÇÃO DIREÇÃO EXECUÇÃO
PARLAMENTAR CONSULTA
Fundação Comissão
Macrorregiões Bancadas Congresso Diretório
Perseu Conselho Fiscal Nacional Executiva Setoriais Nacionais
NACIONAL
Conselho de Assuntos
Disciplinares
Comissão
Diretório
L
proporcional em que uma chapa poderia ocupar cargos nos órgãos de direção, desde que
obtivesse mais de 10% dos votos (KECK, 1991).
Foi formada aliança entre alguns grupos dentro do partido, a Articulação dos
113, que conseguiu maioria absoluta dos cargos na convenção de 1983, tornando-se a
coalizão dominante do partido. A autora ressalta que:
A formação da Articulação foi uma tentativa de consolidar a liderança
do partido. Os que a propunham eram membros da sua ala sindical
(inclusive Lula), militantes católicos e intelectuais. Representava um
esforço para impor uma visão relativamente unificada da natureza e dos
objetivos do PT, não ao ponto de eliminar as diferenças derivadas das
tendências, mas pelo menos como expressão de uma clara maioria
(KECK:1991, p. 135).
Mesmo com a formação da coalizão dominante, o partido ainda enfrentava
problemas quanto a existências de grupos internos que mantinham estruturas, lideranças
e impressa próprias. O desafio relativo a existência de “partidos dentro do partido” foi
normatizado por meio da “Resolução sobre Tendências” em 1987:
Quer dizer, o PT não admite em seu interior organizações com políticas
particulares em relação à política geral do PT; com direção própria; com
representação pública própria; com disciplina própria, implicando
inevitavelmente em dupla fidelidade; com estrutura paralela e fechada;
com finanças próprias, de forma orgânica e permanente; com jornais
públicos e de periodicidade regular (PARTIDO DOS
TRABALHADORES. Resoluções sobre Tendências, 1987).
Como esse tema era delicado e o partido se preparava para o embate eleitoral,
como as eleições municipais de 1988 e a eleição direta para presidente em 1989, a efetiva
regulamentação das tendências internas ocorreu apenas em 1990. Nesse ano, o Diretório
Nacional aprovou a “Regulamentação das Tendências Internas”. Essa regulamentação
afirmava que para um grupo ser organizado como tendência deveria assumir o
compromisso com o programa do partido e enviar à SORG Nacional documentos
informando sua linha política-programática e os nomes dos principais dirigentes
(RIBEIRO, 2010).
O reconhecimento da tendência dependeria de aprovação da Comissão
Executiva Nacional e do Diretório Nacional. Caso a tendência não fosse aprovada, o
grupo deveria se dissolver. Caso obtivesse o registro, poderia concorrer a cargos
dirigentes nos Diretórios e Comissões Executivas por meio do sistema proporcional
interno, mantida a cláusula de barreira que era o quórum mínimo de 10% dos votos dos
delegados. A eleição interna ocorreu no mesmo ano, no 7º Encontro Nacional, e dez
tendências obtiveram registro: Articulação, CS, DS, Força Socialista (FS), Luta pelo
Socialismo, TM, OT, VS, Voz Proletária (VP) e NE (RIBEIRO, 2010).
198
1º Vice- Luizianne Lins (DS) José Guimarães (CD) (2010- Airton Buriti (MP)
Presidência 2011)
Sec. Finanças Reudson Souza (MPT) Haroldo Pontes (CNB - Inácio Mariano (CD)
Pimentel) (2010)
Pelos dados acima, percebe-se que a tendência que ocupa mais cargos de
direção é a CD liderada pelo deputado federal José Guimarães. Em seguida, aparece a DS
comandada pela prefeita Luizianne Lins. É marcante a presença de tendências menores
vinculadas a lideranças específicas, como MPT do deputado federal José Airton, MP do
prefeito de Quixadá Ilário Marques e CNB do senador José Pimentel. A única tendência
mais à esquerda que ocupou postos na Comissão Executiva foi a TM. Já a tendência OT,
apesar de sempre disputar os PED’s, não ocupou espaço na burocracia do partido.
200
DIRETÓRIO ESTADUAL
membros da GOVERNO
do partido
coalizão
dominante GRUPO PARLAMENTAR
Tendo o PT como aliado, Inácio Arruda já tinha sido candidato a prefeito nas
eleições de Fortaleza em 1996 e 2000. Nessa última disputa eleitoral, o referido candidato
apresentou alto desempenho, indo para o segundo turno. Assim, mostrava-se opositor
competitivo e eficaz para desmontar o domínio do PMDB de Juraci Magalhães no
Executivo local. Além disso, Inácio Arruda era filiado ao partido que compunha a
coalizão de Lula da Silva.
O outro grupo era formado pela DS, OT, TM e FS. Esse bloco defendia a tese
da candidatura própria do PT. O nome escolhido era a então deputada estadual ligada a
DS, Luizianne Lins. Argumentava-se que o partido deveria retornar a sua origem histórica
de mobilização junto ao movimento popular. Para Vieira (2007), o objetivo da DS pela
candidatura própria era que a tendência pudesse se fortalecer no interior do partido por
meio da disputa pelo Executivo municipal.
Nas disputas internas, a tese da candidatura própria foi aprovada. O PT,
coligado com o PSB, conseguiu obter a segunda maior votação, 22% dos votos válidos
(248.215 votos), impulsionando a candidatura de Luizianne Lins para o segundo turno.
Em terceira posição ficou Inácio Arruda (PCdoB), que tinha o apoio de tendências do PT,
como Articulação e DR, obtendo 19% dos votos válidos (214.002 votos). No segundo
turno, a candidata do PT conseguiu o apoio da esquerda, inclusive do PCdoB75. Luizianne
Lins fazia oposição ao candidato de direita, o delegado e deputado federal Moroni Torgan
(PFL), sendo eleita com 56% dos votos válidos (620.174 votos).
Em 2008, a eleição municipal de Fortaleza foi polarizada mais uma vez entre
a esquerda, tendo a prefeita Luizianne Lins como candidata, e a direita, representada
novamente pelo ex-deputado federal (1991-2007) Moroni Torgan (PFL). O PT,
compondo ampla aliança, conseguiu eleger sua candidata no primeiro turno. A coligação
era formada pelo PSB do governador Cid Ferreira Gomes, PMDB, PCdoB e partidos
pequenos, como PHS, PV, PMN, PSL, PTN, PRB, PSDC e Partido Trabalhista do Brasil
(PTdoB). O candidato a vice-prefeito nessa chapa era Agostinho Gomes [Tin Gomes],
vereador do PHS e primo do governador Cid Ferreira Gomes que o indicou para esse
cargo.
Com esses dois mandatos de Luizianne Lins na capital do estado (2005-2012),
a DS tornou-se força hegemônica nos órgãos de direção municipal, ampliando a
75
Em retribuição a esse apoio e a derrota sofrida nas eleições municipais de 2004, Inácio Arruda foi apoiado
pelo PT para ser candidato titular a vaga no Senado em 2006 na aliança PT, PSB e PMDB.
206
influência no âmbito estadual. Como no momento em que Luizianne Lins foi eleita
presidenta do Diretório Estadual no PED de 2009.
Porém, o ambiente de aliança entre as tendências do partido que ecoava no
alinhamento entre o Diretório Municipal de Fortaleza e o Diretório Estadual encontrou
seu limite no processo de escolha de candidato para as eleições municipais de Fortaleza
em 2012. Esse rompimento ocorreu devido a ausência de apoio ao candidato do PT
indicado por Luizianne Lins pela facção Ferreira Gomes. Nessa eleição, foi eleito o
deputado estadual Roberto Cláudio (PSB) apadrinhado pela facção.
Com isso, a então presidenta do Diretório Estadual, ex-prefeita Luizianne
Lins (DS), passou a liderar movimento de oposição aos Ferreira Gomes dentro do PT. No
Diretório Municipal de Fortaleza, tendo Raimundo Ângelo (DS) como presidente, a DS
conseguiu construir hegemonia para a aprovação de uma resolução definindo que o PT
faria oposição a gestão de Roberto Cláudio (2013-2016). Porém, no âmbito estadual do
partido, a DS não conseguia ter essa influência política. As tendências hegemônicas —
CD liderada pelo deputado federal José Guimarães, MPT dirigida pelo deputado federal
José Airton e MP comandada pelo ex-prefeito de Quixadá Ilário Marques — eram
favoráveis a manutenção da aliança com o governador Cid Ferreira Gomes (PSB).
Essa polarização ficou evidente na disputa do PED de 2013. Na imprensa
local foi destacado o conflito dentro do partido, como evidenciamos na matéria intitulada
“Denúncia e clima de guerra antes de eleição no PT” (REBOUÇAS, O POVO, 02 nov.
2013). Destacamos abaixo trecho da matéria:
A oito dias do Processo de Eleições Diretas (PED) que irá definir os
novos comandos do PT, o clima é dos piores dentro do partido no Ceará,
com denúncias de compra de voto, relatos de cooptação e ameaça de
abertura de processo na comissão de ética. O clima de acirramento é
considerado sem precedentes nos últimos anos. No debate da noite de
quinta-feira entre os candidatos à presidência estadual do PT, em
Fortaleza, os militantes dos candidatos [De Assis] Diniz e Guilherme
Sampaio quase saíram na tapa.
A corrente Democracia Socialista (DS), da qual faz parte a ex-prefeita
Luizianne Lins que apoia Guilherme, divulgou ontem áudio — sem
veracidade comprovada — no qual homem, que se diz integrante da
tendência adversária Campo Democrático, afirma para interlocutora
que há possibilidade de emprego “na prefeitura” para quem estiver ao
lado de [De Assis] no PT estadual e de David Barros na presidência da
executiva de Fortaleza. O homem não especifica a que prefeitura se
refere. O áudio teria sido gravado pela interlocutora, supostamente
simpatizante da DS.
O atual presidente do PT municipal, Raimundo Ângelo, afirmou, ainda,
que há relatos de que secretários da Prefeitura de Fortaleza têm buscado
angariar votos para David junto a funcionários petistas da gestão
207
Valdetário de Araújo, foi o vice. Com o baixo desempenho eleitoral da sua candidatura,
1,3% dos votos válidos (329 votos), César Som abandonou a presidência do partido. O
Diretório Municipal foi presidido em seguida pelo funcionário público João Victor
Cândido de Oliveira, que nas eleições de 2012 articulou candidatura própria. A chapa foi
composta pelo eletricista Antônio Ermínio Filho e pelo empresário do ramo de farmácias
Francisco Luiz Feitosa [Fanca Feitosa] e obteve 5,9% votos válidos (824 votos).
Na pesquisa de campo, foi destacado que o PT no município é organizado
apenas nas campanhas eleitorais, não existindo atividades políticas que ocorram fora
desse período. O partido apresenta fracos laços organizacionais verticais, não sendo
articulado ou liderado por nenhuma tendência do partido.
Na entrevista com o atual presidente do partido de Mombaça, Antônio
Ermínio Filho, este ressaltou que as lideranças do partido tinham expectativas de que as
políticas públicas implementadas no município pelo governo federal do PT fossem
articuladas por meio do partido no plano local. Quando essa possibilidade não foi
concretizada, os integrantes do partido no município foram desmobilizados e muitos
abandonaram a agremiação. Como este ressalta abaixo:
Aqui, o PT daqui quando chega um projeto São José, chega um
[projeto] Minha Casa Minha Vida, é tudo nas mãos dos outros [do
prefeito]. Não precisa de candidato, de presidente do PT aqui não. Não
reconhece a gente para nada. É tudo na mão dos outros políticos! Quer
dizer, o presidente botou a Dilma [Rousseff], mandou fazer um projeto
alí, quem ia inaugurar era uma presidente de outro partido, não era o PT
não. Nós ficávamos só olhando de longe...[pausa longa]. Aí como o
partido vai crescer desse jeito? Nunca! (...) Era tudo na mão do Dr.
Nelson [Benevides] ou do Valdomiro [Távora]. Eles já foram prefeitos,
já tem mais lideranças. Eles [o PT estadual] já vêm é isso. Aí nunca
fizeram crescer o partido. Muitos já abandonaram o PT, viram que não
dava em nada. Por isso estão “na peia” [no infortúnio] (ANTÔNIO
ERMÍNIO FILHO, presidente do Diretório Municipal do PT de
Mombaça e candidato a prefeito em 2012. Entrevista concedida ao autor
em 16/10/2015).
Pelo depoimento, percebemos que o partido não desempenhava nenhuma
atividade extra eleitoral que possibilitasse o desenvolvimento organizativo e político da
agremiação. O presidente do partido esperava colher no plano local os louros da
notoriedade e aceitação popular que o PT apresentava na política nacional. Porém, como
os projetos, verbas e recursos só chegavam no município por meio da mobilização com
as lideranças políticas locais com capital político consolidado, como Nelson Benevides e
Valdomiro Távora, sobrava pouco espaço político para lideranças emergentes.
210
do controle de importante zona de incerteza que é a regra formal. Sabendo que seria
necessário regularizar as contas partidárias do Diretório Municipal para que este
participasse do PED, José Guimarães providenciou sua normalização. Na pesquisa de
campo, foi salientado que esse tipo de estratégia política foi adotado em outros Diretórios
Municipais. Percebemos que em órgãos partidários organizacionalmente mais frágeis a
coalizão dominante estadual consegue controlar o processo eleitoral interno.
Realidade oposta é percebida no Diretório do PT em Nova Olinda. Nesse
município, o partido foi fundado em 1981. Organizado inicialmente como Comissão
Provisória, obteve o status de Diretório em 1983. Durante as décadas de 1980 e 1990, o
partido foi presidido por Maria Socorro da Silva, líder comunitária local vinculada a igreja
católica.
Durante a década de 1980, o partido foi caracterizado por trabalho de
mobilização, tendo relação próxima com as associações rurais e o Sindicato dos
Trabalhadores Rurais. A agremiação só se envolveu diretamente com a política eleitoral
nas eleições de 1992, quando o partido apresentou três candidatos ao Legislativo
municipal. Pela performance eleitoral do partido, percebe-se que a agremiação não
possuía penetração no eleitorado, pois dos três candidatos, o mais votado obteve 37 votos,
0,74% dos votos válidos.
Segundo a candidata a vereadora a época e atual presidenta do PT de Nova
Olinda, Maria do Socorro Matos, apesar do fraco desempenho político-eleitoral do
partido, os ganhos obtidos em concorrer na arena eleitoral foram de outra espécie. Esta
argumentou que depois desse escrutínio, o partido conseguiu se organizar melhor no
plano local, tendo compreensão mais apurada da sua força eleitoral no município. A
agremiação centrou a atuação na sua base social, que era os movimentos sociais, passando
a mobilizar as comunidades rurais na reivindicação de suas demandas específicas.
O PT só voltou a disputar eleições em 2004, momento em que integrou
coligação eleitoral com PMDB, PP e PPS e apresentou três candidatos ao Legislativo. O
partido conseguiu ocupar uma vaga na Câmara Municipal, elegendo a então presidenta
do Diretório Municipal, a professora da rede municipal Maria do Socorro Matos.
Animada com a atuação do partido na arena Legislativa local, a coalizão
dominante resolveu adotar estratégia ofensiva de conquista do ambiente para eleições de
2008. Foi articulado o lançamento de candidatura própria, mesmo que o PT não tivesse o
apoio de outros partidos. Para o Executivo, o partido apresentou chapa “puro sangue”,
encabeçada pelo então presidente do Diretório e professor da rede municipal Roberto
212
Souza, tendo como vice a então vereadora Maria do Socorro Matos. Porém, o partido
apresentou baixo rendimento eleitoral: na disputa majoritária obteve apenas 150 votos
(1,66% dos votos válidos) e na proporcional não conseguiu eleger nenhum vereador dos
dois candidatos apresentados.
Na pesquisa de campo, foi observado que após essa derrota eleitoral, o partido
passou por período de crise, até que em 2012 conseguiu eleger novamente a vereadora e
presidenta do partido, Maria do Socorro Matos.
Observando a estrutura organizativa do partido, percebemos que este se
apresenta como exceção no plano local. Diferente dos outros partidos, o PT de Nova
Olinda possui recursos financeiros e a partir desse fundo, organiza encontros e eventos
com regularidade, mantendo em média a frequência de uma reunião a cada trimestre. Os
membros que compõem o Diretório Municipal participam, em média, a cada seis meses
de formações com o Diretório Estadual, tanto em Fortaleza, que fica a 520 quilômetros
de distância, quanto nas cidades vizinhas.
Essa possibilidade de o Diretório Municipal dispor de dinheiro em caixa para
financiar algumas atividades está relacionada às regras formais do partido, previstas no
estatuto. Como ressaltou Maria Socorro Matos na entrevista, embora o partido não receba
dinheiro do Fundo Partidário, o Diretório Municipal fica com 25% da contribuição
financeira que todo filiado tem obrigatoriamente que fazer ao partido.
Segundo o estatuto, essa contribuição teria que ser semestral. A regularidade
de pagamento pelos filiados locais se dá pela necessidade de estar em dia com a
contribuição financeira do partido para poder votar e ser votado no PED que ocorre a cada
quatros anos.
Além disso, dentre os partidos analisados, o PT é o único em que os dirigentes
partidários e os filiados que ocupam cargos eletivos ou cargos de confiança pagam a taxa
ao partido. Segundo regulamentam os Artigos 183 e 187 do estatuto, essa taxa é mensal
e seu valor é tabelado pelo Diretório Nacional. Como foi salientado na entrevista:
“Normalmente essa taxa é paga na véspera do PED, junta os 4 anos e aí o filiado paga de
uma só vez. Pois só vota se tiver contribuição em dia. Mensalmente a taxa só é paga por
mim, pois é debitado direto na minha conta” (MARIA DO SOCORRO MATOS,
presidenta do Diretório Municipal do PT de Nova Olinda e vereadora. Entrevista
concedida ao autor em 18/09/2015).
Outro traço que faz com que o PT seja exceção em relação às outras
agremiações é a sua relação com os movimentos sociais. Historicamente a agremiação
213
aumentar sua influência nos Diretórios Municipais. Para alcançar esse objetivo, militantes
da sua tendência articularam uma chapa de oposição no PED em Nova Olinda. Essa chapa
tinha como candidato a presidente um filiado que até então não participava da vida
orgânica do partido, Evanilton José de Matos.
Na entrevista realizada com Evanilton José de Matos, era perceptível sua falta
de vivência no interior da agremiação. Este demonstrava pouco conhecimento sobre a
atuação da organização e suas normas legais. Quando foi questionado sobre a sua
candidatura e a motivação para construir chapa de oposição, o entrevistado não soube
dizer ao certo como ocorreu, apenas ressaltou que “um pessoal do Banco do Nordeste de
Fortaleza chegou aqui e queriam mudar a direção do partido aqui, porque via que não
tinha vencimento. Aí fui candidato!” (EVANILTON JOSÉ DE MATOS, ex-membro do
PT de Nova Olinda e candidato ao PED em 2009. Entrevista concedida ao autor em
19/09/2015).
A candidatura de outsider que efetivamente não participava das instâncias do
partido gerou desconfiança por parte da coalizão dominante, como podemos perceber na
fala do atual vice-presidente do PT:
[José] Guimarães junto com Valentim [Normando, assessor de José
Guimarães] defendia a tese assim... [pausa longa] Queria tomar o
partido na verdade, o PT de Nova Olinda, pra entregar para pessoas
laranja (...) O Evanilton [José de Matos] era filiado há muito tempo,
mas eu nem sabia que ele era filiado porque ele não participava das
reuniões que a gente tinha, parece que de três em três meses aqui em
Nova Olinda... E ele nasceu do nada. Ele veio somente para
candidatura, ele inclusive tava irregular com o partido. Mas por meio
de força política conseguiram regularizar a situação dele para ele poder
disputar. E aí ninguém logicamente quer aceitar esse detalhe aí, né? A
gente sabia que era só um laranja para outras pessoas tomarem de conta,
que se isso tivesse acontecido eu nem sei como era o partido em Nova
Olinda hoje (...) (EUGÊNIO BEZERRA ALVES, vice-presidente e
funcionário do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Nova Olinda.
Entrevista concedida ao autor em 19/09/2015).
Uma leitura similar foi feita pela atual presidenta do PT e que na época
disputava o PED:
Eu nem considero essa pessoa, esse grupo que se levantou. Esse grupo
ele foi instigado, foi coordenado pelo prefeito da época [Afonso
Sampaio (PSDB)] que visava ter o monopólio do partido. Porque na
verdade o partido aqui é independente de qualquer grupo, de qualquer
situação. Independente demais! Graças a Deus por isso. Aí o prefeito,
que era do PSDB, ele queria a qualquer custo o monopólio do partido.
Ele queria ter pessoa de confiança para poder fazer a aliança da forma
que eles achavam interessante. Aí o grupo se levantou, foi, não teve...
Até porque o nosso grupo era um grupo assim que era composto por
professores, era a maioria eram professores e tinha um certo nível
216
cultural que jamais iam concordar com uma aliança com o poder
público na época (MARIA DO SOCORRO MATOS, presidenta do
Diretório Municipal do PT de Nova Olinda e vereadora. Entrevista
concedida ao autor em 18/09/2015).
Segundo a chapa que compõe a coalizão dominante do PT local, a motivação
para o lançamento da chapa de oposição nesse PED era fazer com que o então prefeito
Afonso Sampaio (PSDB) tivesse influência nas instâncias diretivas do partido através do
mandato de uma “pessoa de confiança”. Segundo relatos colhidos nas entrevistas, o
candidato Evanilton Matos seria um “laranja”, pois quem exerceria efetivamente o
comando do partido seria o líder político local Gerlânio Sampaio, que era próximo ao
prefeito e pretendia ser candidato ao Executivo municipal nas eleições de 2012 pelo PT.
Na pesquisa de campo, foi destacado que a articulação de José Guimarães
nesse PED de Nova Olinda ocorreu porque este tinha postura política de muito
pragmatismo e queria que o PT estivesse no comando das elites locais para que
conquistasse o Executivo municipal. Além disso, com esse “acordo de cavalheiros” o
Diretório Municipal de Nova Olinda apoiaria o candidato de José Guimarães na próxima
eleição do PED estadual.
Nas entrevistas feitas com a coalizão dominante do partido, foi enfatizado que
os filiados apoiadores da chapa de oposição estavam na sua maioria irregulares com as
contribuições semestrais do partido e que assim não puderam votar no PED. Esta versão
foi contestada pelo candidato da oposição Evanilton Matos, pois segundo este, sua chapa
não foi vitoriosa porque “antes da disputa [do PED] ela [candidata da chapa da situação
e vice-presidenta do PT, Maria do Socorro Matos] passou de porta-em-porta desfiliando
as pessoas. Se não tivesse tido isso quem tinha ganhado era eu”.
Independente de qual versão dos fatos é a verdadeira, o importante a ser
analisado nesse episódio é que a coalizão dominante, como já observado por Michels
[1911] e Panebianco [1982], possui a expertise que a faz usar de forma mais eficiente os
recursos da máquina partidária para se perpetuar na liderança do partido. No caso em
questão, a coalizão dominante, sabendo que o pagamento da contribuição partidária é
essencial para a participação no PED, conseguiu organizar para que os filiados que dão
sustentação a sua liderança estivessem em dia com o partido e assim participassem do
processo eleitoral interno.
Percebemos que a coalizão dominante possui recursos financeiros, materiais
e técnicos que possibilitam sua perpetuação no poder. Esse capital político é percebido
217
76
Na lista dos filiados disponibilizada pelo Filiaweb-TSE não consta o nome de Evanilton José de Matos.
Conseguimos identificar que seu pai, Jose Raimundo de Matos, foi desfilado em agosto de 2009 e seu
primo, Francisco Alves de Matos, que também compôs a chapa de oposição, ainda permanece filiado ao
PT de Nova Olinda.
218
influência no Diretório Nacional, de eleger uma chapa próxima a sua tendência não teve
sucesso, pois essa ação foi interpretada pela coalizão dominante local como clara
intervenção nas decisões do Diretório Municipal.
Se por ventura esse tipo de disputa interna tivesse ocorrido em um partido
que fosse organizado de forma informal e que as lideranças estaduais tivessem influência
nas decisões locais, como no caso do PT de Mombaça, a chapa de oposição teria maiores
chances no processo eleitoral. Isso porque essa contenda não seria resolvida no plano
local, mas de maneira up-down em que a oposição se articularia por cima, buscando
influência junto às lideranças estaduais, e a partir desse capital político teria legitimidade
no plano local.
Isso pode ser percebido na fala da presidenta do Diretório Municipal, quando
questionada se o Diretório Estadual já havia interferido em alguma decisão do partido, ao
que Maria do Socorro Matos respondeu: “Nunca! Nenhuma, até porque fazemos tudo no
plano legal, estatutário”. Então, seguir as regras formais do partido garante legitimidade
à coalizão dominante, mesmo que esta não seja alinhada com as lideranças que ocupam
a Comissão Executiva Estadual. Assim, para que uma liderança estadual consiga
influência no partido no plano local é necessário seguir os tramites formais, que no caso
do PT significa ganhar o PED.
Essa realidade organizacional do Diretório de Nova Olinda foi observada pelo
presidente do Diretório Estadual, como percebemos na fala abaixo:
O Diretório de Nova Olinda é um Diretório atuante. Você tem uma
Presidenta que exerce cargo de mandato de vereadora, a companheira
Socorro. Tem uma atuação muito forte no município. Tem uma relação
com o movimento sindical muito interessante. Tem dificuldade com a
gestão do prefeito Ronaldo [Sampaio (PSD)], bate muito! Embora seja
da base. Mas, é um Diretório que tem reuniões, que tem diálogo.
Acompanha a vida do partido (DE ASSIS DINIZ, presidente do
Diretório Estadual do PT-Ceará. Entrevista concedida ao autor em
24/11/2015).
Em Nova Olinda, embora o município apresente menos eleitores do que
Mombaça77, percebe-se que o Diretório Municipal tem acompanhamento maior, tanto do
Diretório Estadual quanto das tendências dentro do partido. A Comissão Executiva do PT
de Nova Olinda é vinculada a DS e isso possibilita que lideranças dessa tendência
acompanhem a conjuntura política local. Assim, pelo fato do Diretório Municipal possuir
77
Essa ressalva é importante porque no caso do PT encontramos uma situação particular que contraria a
hipótese de magnitude eleitoral adotada na Tese.
219
tanto histórico de penetração nos movimentos sociais quanto representação política, isso
o qualifica para um acompanhamento mais efetivo pelas tendências do partido.
Observado a estrutura organizativa do partido no plano estadual e municipal,
vamos investigar o grau de centralização das decisões partidárias.
Tanto nas eleições municipais de 2012 quanto nas eleições estaduais de 2014,
o PT organizou GTE que realizou encontros de definição de tática eleitoral de
candidaturas. O GTE estabeleceu estratégias gerais para as eleições, elaborando cartilhas
sobre programa de governo e formulação de políticas públicas, propagandas dos
candidatos, orientações jurídicas e financeiras de campanha, pesquisas eleitorais e outros
aspectos que as campanhas suscitaram.
O GTE do Ceará para as eleições municipais de 2012 foi coordenado pelo 1º
vice-presidente do Diretório Estadual, Joaquim Cartaxo. Era composto por outros oito
membros da Executiva Estadual: Ticiana Studart, José Reudson de Souza, Israel Martins,
Ilário Marques, Haroldo Pontes, Inácio Neto, Issac Júnior e Luciana Castelo Branco.
Nas eleições municipais de 2012, o PT mantinha sua capilaridade no estado,
apresentando 182 órgãos partidários locais (98% dos municípios). Essa estrutura
organizativa permitiu que o partido apresentasse grande quantidade de candidatos,
abrangendo 173 municípios (94%).
Para o Executivo municipal, o partido apresentou candidatos ao cargo de
prefeito em 58 municípios (31%). Esse percentual consolidava o crescimento da sigla no
estado, que desde as eleições de 2004 apresentava essa média de candidaturas. Cabe
observar também que o PT apresentou em 2012 candidaturas competitivas, pois 70%
destas (41 candidatos) obtiveram percentual de votos válidos acima de 40%. Isso mostra
que o partido estava se consolidando eleitoralmente no estado, como observamos pelos
êxitos eleitorais obtidos em 27 municípios.
Observa-se então período de estabilidade organizacional do partido. Podemos
perceber isso pela manutenção de sua capilaridade — pois desde 2009 apresentava órgãos
partidários em 99% dos municípios — e pela permanência no lançamento de candidatos
— pois desde 2004 abarcava 94% dos municípios.
Em Fortaleza, embora o partido não tenha conseguido eleger o sucessor da
então prefeita Luizianne Lins (PT), era perceptível sua penetração no eleitorado. A
eleição foi concorrida e o candidato obteve, no segundo turno, alta porcentagem de votos,
46,9% (576.435 votos).
O PT apresentou candidatos ao cargo de vice-prefeito em 48 municípios
(10%), sendo 19 chapas “puro sangue”. Apenas quatro dessas chapas obtiveram êxito.
Cabe observar que mais da metade dessas candidaturas “puro sangue” eram pouco
competitivas, o que sugere a hipótese de que esse tipo de candidatura representa
fragilidade do partido que não conseguiu obter aliados para sua campanha.
221
78
Mais informações sobre a composição dessa coordenação em: <http://www.ptmg.org.br/diretorio-
nacional-do-pt-aprova-resolucao-que-trata-da-comissao-de-acompanhamento-das-eleicoes-
2012/#.WjpKNDdG3IU>. Acesso em 12 de novembro de 2017.
223
79
Na impressa local foram publicadas matérias abordando o rompimento políticos entre o PT e o PSB. Para
mais informações sobre essa eleição consultar: Carvalho e Lopes (2016).
224
entrevista, “todo esse arco de aliança foi estabelecido junto ao Diretório Estadual e com
o acompanhamento de Rui Falcão [presidente do Diretório Nacional]”.
Já em Mombaça, o Diretório Estadual não acompanhou nenhuma etapa das
eleições locais. O presidente do Diretório Municipal e candidato a prefeito, Antônio
Ermínio Filho, ressaltou que “aqui eles não acompanharam nada. Do PT estadual, nunca
recebi convite de ninguém. Mas a eleição aqui foi na raça, tipo o PT antigo, de
antigamente. Só na raça mesmo...”. Nesse município, o PT apresentou candidato próprio
ao Executivo municipal em 2012 com chapa “puro sangue”. Tinha apenas o PSC como
partido aliado. Essa aliança não envolveu nenhuma articulação com as lideranças
estaduais do partido. Essa coligação só foi costurada porque o candidato do PT era filiado
ao PSC e quando migrou deixou um parente que tem controle desse partido no município.
Pelo depoimento do presidente do PT de Mombaça, podemos notar que o
Diretório Municipal possui liberdade para formar alianças e coligações, não precisando
negociar suas estratégias com o Diretório Estadual. Porém, essa autonomia deve-se mais
a falta de articulação com o Diretório Estadual e com alguma tendência dentro do partido.
O então candidato a prefeito não possuía nenhum trânsito com integrantes do partido no
nível estadual. Esse presidente municipal não foi iniciado na organização, não possuía
conhecimento sobre a agremiação ou sobre o funcionamento das tendências dentro do
partido. Os vínculos que estabeleceu eram apenas com as lideranças locais do partido.
Essa ausência de articulação com o Diretório Estadual foi ressaltada quando
o presidente do PT de Mombaça comentou a atuação do presidente do PT do Ceará. Foi
destacado que, após a eleição do PED que elegeu De Assis Diniz, acabou a comunicação
que o órgão municipal tinha com os dirigentes estaduais. Como observamos abaixo:
Aí também ele [De Assis Diniz] disse que iria ficar participando, ia
mandar não sei o que pra dar um curso a gente aí, pra ensinar o que é o
PT, né? Mas depois que ele ganhou, nós nunca mais vimos esse homem
não! Tem dois telefones dele ali. Eu ligo e ele não atende, não! Por isso
que eu quero sair. Eles não têm contato com a gente, não! (ANTÔNIO
ERMÍNIO FILHO, presidente do Diretório Municipal do PT de
Mombaça e candidato a prefeito em 2012. Entrevista concedida ao autor
em 16/10/2015).
Percebe-se que essa autonomia do Diretório Municipal de Mombaça para
decidir sobre a aliança local deve-se mais a sua histórica fragilidade organizacional,
fazendo com que as tendências do partido não tenham penetração na agremiação local.
Como o PT no município é pouco expressivo, não possui representatividade em nenhum
226
cargo político e também não possui conexão com movimentos sociais, finda por não se
articular com o Diretório Estadual.
O presidente do Diretório Estadual, De Assis Diniz, ressaltou essa
característica organizativa do Diretório Municipal de Mombaça. Como percebemos
abaixo:
Eu diria que em Mombaça é pra nós um grau de dificuldade muito
grande. Porque lá é um daqueles Diretórios que as pessoas se acham
donos... donos do partido. Botaram o partido dentro de uma pasta e
caminha para todo canto com essa pasta. Nós fizemos um esforço
homérico para fazermos o PED, não conseguimos. Porque não tinha
filiado suficientes. Nós fizemos o PEDex agora no mês de setembro, de
outubro. Não conseguimos fazer Diretório nem PEDex também. Ou
seja, é um município que tem muita vulnerabilidade. Lá, hoje, a gente
vai criar uma Comissão Provisória e estamos com dificuldade de indicar
pessoas para Comissão Provisória porque não queremos colocar
aqueles que sempre tiveram a frente para não atuar na mesma
perspectiva de botar o PT dentro de uma pasta (DE ASSIS DINIZ,
presidente do Diretório Estadual do PT-Ceará. Entrevista concedida ao
autor em 24/11/2015).
Como foi relatado na pesquisa de campo, observamos que a estratégia do PT
de expandir os órgãos partidários para todos os municípios fez com que a agremiação não
tivesse controle efetivo da organização. Em sua periferia organizativa, como em
Mombaça, observamos ausência de estrutura e fidelidade organizativa.
Essa ausência de interlocução entre as instâncias partidárias no plano estadual
e municipal foi ressaltada novamente quando o presidente do Diretório Municipal de
Mombaça, Antônio Ermínio Filho, foi relatar sobre o apoio local a candidatura de Camilo
Santana como governador pelo PT em 2014.
Camilo [Santana] foi candidato a governo nunca mandou nada pra gente
aqui. Quem tomava de conta da campanha dele aqui era o pessoal do
Valdomiro [Távora], de outro partido. Tomou nem conhecimento se
tinha PT em Mombaça, pelo menos para participar junto com os outros,
né? A gente foi que foi lá em Fortaleza e falou com o coordenador da
campanha dele lá. A gente falou que era de Mombaça e ele falou “não,
não, Mombaça a gente tem o grupo lá, o Valdomiro [Távora]”. Não
falou nem se tinha presidente do PT nem nada. Aí o pessoal foi
esmorecendo. A campanha do Camilo [Santana] toda aí eles passaram
as coordenadas pra o pessoal do Valdomiro [Távora], que é do PP
(ANTÔNIO ERMÍNIO FILHO, presidente do Diretório Municipal do
PT de Mombaça e candidato a prefeito em 2012. Entrevista concedida
ao autor em 16/10/2015).
Pelo relato acima, observa-se que a campanha eleitoral do candidato ao
Executivo estadual do PT no município não mobilizou a estrutura partidária local. Essa
campanha foi articulada por lideranças tradicionais de outros partidos que apoiavam o
candidato do PT.
227
Ararendá e Paramoti. Por fazer parte da coalizão dominante do partido, José Guimarães
detém o controle sobre as regras organizacionais, importante zona de incerteza. A partir
desse recurso, este pode estabelecer as regras, manipular sua interpretação e impor ou não
sua observância.
Na pesquisa de campo, foi destacado que José Guimarães faz alianças com
partidos e políticos considerados adversários do partido no plano nacional. Mas, como
estabelece alianças que garantem dividendos eleitorais ao partido, suas ações políticas
consideradas incompatíveis com a regras éticas e ideológicas do partido são relevadas.
Em Nova Olinda, por exemplo, o deputado federal José Guimarães obteve 2.000 votos
(24% dos votos válidos) nas eleições de 2014. Esse desempenho eleitoral, no entanto, não
foi obtido por meio da articulação com a instância partidária local. Foi o então prefeito,
Ronaldo Sampaio (PSD), que liderou a campanha desse deputado federal no município.
Quando observamos a formação de alianças para eleições estaduais no Ceará,
percebemos a articulação do Diretório Nacional e Estadual para a obtenção de
candidaturas competitivas. A eleição estadual de 2014 foi caracterizada pelo rompimento
do trâmite regular de formação de alianças políticas e de escolha de candidatos, que seria
feita a partir das decisões tomadas pelo GTE. Como salientou o presidente do Diretório
Estadual, De Assis Diniz, nas eleições estaduais de 2014 ocorreu “um caso ímpar,
singular e exemplar que modificou toda a lógica do que é nossa tradição de termos
processo dinâmico de debate e discussão e deliberações”.
Inicialmente, o Diretório Estadual seguiu o trâmite formal para definir o arco
de aliança política e de escolha de candidatos: realizou o Encontro de Definição de Tática
Eleitoral. Nesse evento, realizado em março de 2014, as duas principais tendências do
partido no âmbito estadual, a DS que compõem a coalizão dominante do Diretório
Municipal de Fortaleza e a CNB/CD que ocupa a coalizão dominante do Diretório
Estadual, votaram em consenso na tese de candidatura própria para o Senado. Assim, as
duas tendências, que historicamente defendem posicionamentos distintos, acordaram na
estratégia da candidatura de José Guimarães ao Senado. Esse acordo interno foi inclusive
registrado pela imprensa local, como fica evidenciado no título da matéria: “PT indica
José Guimarães ao Senado, mas pode rever posição” (O POVO, 30 mar. 2014).
Nesse encontro, foram aprovadas algumas diretrizes que o Diretório Estadual
posteriormente publicou em resolução, como vemos abaixo:
O PT Ceará já deixou claro por meio das resoluções do seu Diretório
Estadual que a prioridade em sua tática deve privilegiar a reeleição da
229
80
Nessa coligação percebe-se também um fraco grau de coerência ideológica, pois partidos de esquerda,
como PT, PCdoB, PDT e PV, estão coligados com partidos de direita, como o PP, PTB, SD, PSL.
233
b) Seleção de candidatos
O estatuto de 2012 do partido concede ao Encontro Municipal, instância da
organização partidária em nível municipal, autonomia para “escolher os candidatos ou
candidatas a cargos eletivos na esfera municipal ou, no caso da realização de prévias,
referendar os candidatos ou candidatas” (Artigo 76, c).
Nesse documento, existe um título que regulamentar a escolha dos candidatos
ou candidatas às eleições proporcionais e majoritárias (Título IV). O estatuto estabelece
que caberá à Comissão Executiva ou ao Diretório de cada nível abrir o período eleitoral
para indicação, impugnação e aprovação de candidaturas às eleições proporcionais e
majoritárias (Artigo 139). Formalmente, são três os pré-requisitos para ser candidato: a)
estar filiado ou filiada ao partido por pelo menos um ano antes do pleito; b) estar em dia
com a tesouraria do partido; c) assinar e registrar em cartório o “Compromisso Partidário
do Candidato ou Candidata Petista” (Artigo 140).
Para cada cargo, existe uma quantidade mínima de assinaturas para que a
Comissão Executiva examine o pedido de pré-candidatura (Artigo 142). Para os cargos
majoritários em cada nível federativo é necessário o voto favorável de 10% dos votantes
do último PED. Para o cargo de vereador é necessário a aprovação de três membros do
Diretório Municipal; ou de um núcleo; ou de um Diretório Zonal na respectiva direção
municipal; ou de 2,5% do total de filiados ou filiadas, que participaram do último
encontro municipal. Para o cargo de deputado estadual ou federal é necessário a assinatura
favorável de 1/3 (um terço) dos membros do Diretório Estadual; ou 5% das Comissões
Executivas municipais; ou 1% dos filiados ou filiadas, no estado; ou da indicação do
encontro setorial estadual ou nacional. Por fim, no encontro correspondente a cada nível
235
81
Ver: Presidenta do PT Ceará discute eleições 2012 com presidente nacional do partido. Disponível em:
<http://ptceara.org.br/imprimir.asp?id=4991>. Acesso em 19 de dezembro de 2016.
236
Municipal com o mandato de Maria Socorro Matos, eleita com 651 votos (6,5% dos votos
válidos). A outra candidata do partido, a liderança do distrito de Barreiros, Ana Carla
Cordeiro, obteve 469 votos (4,7% dos votos válidos), mas não foi eleita.
Observa-se que em Nova Olinda, diferente de Mombaça, as mulheres
possuem forte protagonismo no partido, conseguindo exercer cargos de liderança. Isso é
fruto do trabalho de base que o partido, aliado ao Sindicato dos Trabalhadores Rurais,
conseguiu construir na política local, recrutando e qualificando lideranças femininas.
Para a eleição estadual de 2014 no Ceará, como foi ressaltado anteriormente,
o Diretório Nacional do PT estabeleceu como objetivo principal a reeleição da presidenta
Dilma Rousseff e a formação de alianças para possibilitar expressiva votação. Para isso,
o partido deveria construir candidaturas fortes para potencializar esse projeto. Como
percebemos na resolução do 14º Encontro Nacional.
O PT nacional orienta os estados a constituir chapas proporcionais
fortes, representativas e com o maior número possível de candidatos,
entendendo que isso contribui para engajar um maior número de
militantes na campanha pela reeleição da Presidenta Dilma [Rousseff],
dos majoritários estaduais e na própria legenda proporcional. Cabe ao
partido estimular novas candidaturas, projetando assim novos quadros
públicos, especialmente mulheres, jovens e representantes de
segmentos etno-raciais. (PARTIDO DOS TRABALHADORES.
Resolução sobre tática eleitoral e política de alianças, 2014.).
No Ceará, o GTE do partido PT tinha a coordenação de José Guimarães e do
presidente do Diretório Estadual De Assis Diniz. Foi estabelecido que o partido
apresentaria candidaturas competitivas para ampliar sua representação no Legislativo
federal e estadual. Além disso, o partido daria prioridade a candidatos que já fossem
políticos e/ou que contassem com uma rede de apoio para se eleger. O restante das vagas
seria distribuído entre as tendências do partido. Foi ressaltado pelo presidente do
Diretório Estadual os requisitos informais para a seleção de candidaturas, como
percebemos abaixo:
Claro que uma candidatura que vem com o apoio e com o aval de uma
corrente ela em princípio não tem porque ser vetada ou que se crie
alguma dificuldade pra que ela se efetive, se formalize. Membros do
partido, mesmo que não seja ligada a nenhuma corrente, mas que já tem
uma militância no partido de uma longa data tem uma candidatura
legitimada. Mas, normalmente candidaturas de pessoas que se filiaram
recentemente no partido, ou pessoas que não temos como medir o seu
capital eleitoral, ou candidatos que numa situação de hipótese pode
prejudicar uma determinada candidatura considerada importante para o
partido, porque vai dividir o voto, vai disputar votos no mesmo
território, numa mesma base eleitoral, é possível que haja algum tipo de
dificuldade para oficialização dessa candidatura (DE ASSIS DINIZ,
241
82
No sitio do PT Ceará é noticiado que o partido apresentou 16 nomes para o cargo de deputado estadual.
No caso, dois nomes foram excluídos: Djanira Mendes e Joaquim Cartaxo. Ver:
<http://ptceara.org.br/noticias/texto.asp?id=5966>. Acesso em 08 de janeiro de 2018.
242
c) Distribuição de recursos
Sobre financiamentos de campanhas eleitorais, o presidente do Diretório
Estadual, De Assis Diniz, informou que eram fundamentados nas transferências feitas
pelo Diretório Nacional do partido, seja nas eleições municipais de 2012, seja nas eleições
gerais de 2014. Como destacamos abaixo:
Bom, lembremos que na campanha de 2012 e de 2014 o partido recebia
doação, não era o candidato que recebia doação. Então uma empresa X
doava 5 milhões. O Diretório Nacional, nas relações com o Diretório
Estadual, das pesquisas que nós tínhamos, perguntavam: “Quais são os
candidatos hoje em condições de disputar e ser eleito?” A gente dizia x,
y, z. Esses candidatos estão bem posicionados, esses candidatos
montaram um arco de aliança, esses candidatos tem uma expressão
social, tem o apoio de tantos prefeitos, esse candidato... E em cima disso
havia então uma construção do candidato com o Diretório Estadual e o
Nacional para o aporte de recursos na campanha (DE ASSIS DINIZ,
presidente do Diretório Estadual do PT-Ceará. Entrevista concedida ao
autor em 24/11/2015).
Pelo trecho da entrevista, percebemos que os recursos eram centralizados pelo
Diretório Nacional e depois distribuídos aos candidatos por intermédio do Diretório
Estadual. Observa-se, portanto, articulação nacional para a construção de determinadas
campanhas eleitorais nos municípios.
244
Por meio dos dados de prestação de contas das eleições de 2012 no SPCE-
TSE, constata-se que o Diretório Nacional do PT transferiu R$ 8.022.750,00 para as
campanhas municipais no Ceará. Esse valor correspondeu a 6,2% do total distribuído em
todo o país nessa eleição, que foi R$ 127.715.516,75. Destes recursos destinados ao
Ceará, sua grande maioria foi para candidatos do PT (99%). Apenas um candidato do
PSB, que fazia coligação com o PT e disputava o Executivo municipal em Quixeramobim,
recebeu R$: 68.500,00 para sua campanha. Os recursos distribuídos foram concentrados
nas campanhas para o Executivo, ficando o Legislativo apenas com 2%.
Na Tabela abaixo temos a relação dos candidatos ao Executivo municipal que
receberam recursos do Diretório Nacional para suas campanhas.
VALOR
TENDÊNCIA/ VOTOS
MUNICÍPIO CANDIDATO RESULTADO RECEBIDO
DEPUTADO NOMINAIS (%)
(R$)
Ana Teresa
Guimarães
Jaguaruana Barbosa de 11.823 (52,4) Eleito 15.000
(CNB)
Carvalho
Joaquim Gomes Guimarães
Porteiras 4.265 (43) Não eleito 15.000
da Cruz (CNB)
Francisco
Guimarães
Crato Marcos Bezerra 7.315 (11,1) Não eleito 9.500
(CNB)
da Cunha
Jerônimo Neto Guimarães
Morrinhos 6.590 (50,6) Eleito 9.500
Brandão (CNB)
Ilário
Claudino Castro
Mucambo Marques 286 (3,1) Não eleito 9.500
Custodio
(MP)
Rondilson de José Airton
Salitre 6.335 (65,6) Eleito 9.500
Alencar Ribeiro (MPT)
Carlos Cesar de
Bela Cruz DS 942 (5,7) Não eleito 4.750
Carvalho
Campos José Dorgival H. José Airton
1.459 (9,8) Não eleito 4.750
Sales Sudário Lins (MPT)
Adail
José Airton
Groaíras Albuquerque 4.009 (57,3) Eleito 4.750
(MPT)
Melo
TOTAL 7.781.250,00
Fonte: Elaboração própria a partir dos dados do SPCE-TSE. e de informações fornecidas pelo
presidente do Diretório Estadual do PT-CE.
83
Observa-se que os números citados nessa parte da entrevista não coincidem com os mencionados
anteriormente. Essa diferença ocorreu porque inicialmente foi ressaltado que “Pimentel elegeu 2 prefeitos.
E o Zé Airton elegeu 4 e o Guimarães elegeu 21 ao todo”, mas quando foi mostrado a lista do TSE com os
26 prefeitos eleitos pelo partido o entrevistado corrigiu os números anteriores e foi especificando os
vínculos políticos de cada candidato eleito.
84
Segue a lista de municípios que segundo o Presidente do Diretório Estadual, De Assis Diniz, os
parlamentares “conseguiu eleger os prefeitos”. Temos, José Guimarães (18): Itapipoca, Canindé, Pacajus,
Barbalha, Mauriti, Jaguaruana, Missão Velha, Ocara, Senador Pompeu, Icapuí, Tabuleiro do Norte,
Forquilha, Cruz, Assaré, Morrinhos, Pindoretama, Ipaporanga e Ararendá; José Airton (5): Acaraú,
Pentecoste, Salitre, Quixelô e Groaíras; José Pimentel (2): Amontada e Iracema.
248
para esse cargo receberam recursos. As candidaturas à Câmara Federal que mais
obtiveram recursos foram as duas maiores lideranças do partido no Ceará e as que
representam as principais tendências no partido: José Guimarães (CNB/CD) e Luizianne
Lins (DS).
Outras duas candidaturas receberam recursos equivalentes: José Airton, que
pertence a tendência MPT, deputado federal por dois mandatos (2007-2010; 2011-2014),
membro do Diretório Nacional do PT (2006), presidente do PT do Ceará e vereador por
Fortaleza (2001-2004), candidato a governador pela agremiação nas eleições de 2002,
prefeito de Icapuí (1993-1996); Deodato Ramalho, nacionalmente é ligado a tendência
Articulação de Esquerda (AE) e localmente é próximo a Luizianne Lins (DS) e foi
vereador em Fortaleza (2013-2016).
Quanto à disputa para ALECE, apenas três dos quatorze candidatos
receberam financiamento. O que obteve mais recursos foi Elmano de Freitas, ligado a DS
e candidato a prefeito por Fortaleza em 2012. Os outros dois candidatos foram: Rachel
Marques, ligada nacionalmente a CNB e regionalmente a Militância Socialista (MS), foi
deputada estadual em três mandatos (2005-2006; 2007-2010; 2011-2014), seu
companheiro Ilário Marques também vinculado a CNB foi deputado federal (2013) e
presidente do Diretório Estadual (2008-2010); Artur Bruno, vinculado a tendência
regional Reencantar, deputado federal (2011-2015), deputado estadual por quatro
mandatos consecutivos (1995-1998; 1999-2002; 2003-2006; 2007-2010) e vereador de
Fortaleza por dois mandatos (1989-1992; 1993-1994).
Essa lógica interna de financiar candidaturas centralizando por meio das
tendências pode ser percebida quando observamos um caso de candidatura que não foi
articulada por nenhuma tendência. O caso em questão foi a candidatura de Odorico
Monteiro à Câmara Federal. Este foi um importante militante do quadro burocrático do
partido, ocupando cargos de gestão na saúde pública. Foi secretário de Saúde no governo
do PT em Icapuí (1988-1992), Quixadá (1993-1996) e Fortaleza (2005-2008), e também
ocupou a Secretaria de Gestão Estratégica e Participativa do Ministério da Saúde (2011-
2013). Embora historicamente tivesse identidade com a tendência CNB, sua candidatura
em 2014 foi avulsa. Ou seja, não tinha articulação com nenhuma tendência do partido.
Isso acabou repercutindo na ausência de financiamento da sua campanha.
Na pesquisa de campo, um entrevistado que não permitiu sua identificação
informou que
250
DISTRIBUIÇÃO DE
ALIANÇA E
SELEÇÃO DE CANDIDATO RECURSOS PARA
COLIGAÇÃO
CAMPANHA
Cargos majoritários — Baixa
centralização: Diretório
Alta centralização:
Nacional acompanha o processo
Diretório Nacional
junto com o Diretório Estadual, Centralizado por
acompanha o
mas este escolhe seus tendências: lideranças
CEARÁ
acompanha o
Municipal, mas este escolhe seus tendências: lideranças
processo junto com
candidatos. Autonomia frente ao que possuem trânsito nas
o Diretório
Diretório Estadual. tendências conseguem
Municipal.
recursos para suas
Autonomia frente
Legislativo - Centralizado por campanhas.
ao Diretório
tendências: Tendências, por
Estadual.
meio da articulação no GTE, faz
a indicação dos seus candidatos.
Sem recurso: lideranças
MOMBAÇA
85
Mendoza e Oliveira (2003) apresentam tese contrária. Para os autores, a origem territorial do PSDB
ocorreu por penetração.
86
Moema São Tiago era sobrinha de Luiza Távora, esposa de Virgílio Távora. Este é ex-governador do
Ceará (1963-1966) e na época ocupava o cargo de senador (1971-1979).
255
entrevista a Parente (2000, p. 208), ressaltou que Beni Veras foi a seu encontro lembrá-
lo: “Já ganhamos as eleições! Não vamos mais brincar disso!”.
No Governo das Mudanças, primeiro governo de Tasso Jereissati (1987-
1990), foi montado insulamento burocrático liderado pelo núcleo duro do CIC. Buscava-
se instaurar uma racionalidade tecnocrata, protegendo as secretarias estratégias do
interesse político e das demandas fisiológicas do PMDB. Essa nova elite dirigente
rejeitava a política tradicional, dando primazia aos técnicos oriundos do setor público. O
centralismo do CIC foi transferido para o governo, que passou a ser conhecido como
Cambeba87. Como ressalta Mota (1987, p. 80):
Cambebistas eram os governantes e seus simpatizantes. Para os
oposicionistas: autoritários, auto-suficientes, arrogantes, inteligentes,
empresários, inimigos dos políticos. Como não desejaram ficar a
reboque do PMDB e do “Movimento Pró-Mudanças” o Cambeba
formou seu próprio grupo político com reuniões diárias na sala de
refeições do Centro Administrativo durante o almoço com o
Governador às 14:00 horas. Os comensais eram: governador Tasso
Jereissati, secretário Sérgio Machado [presidente do CIC (1983-1985)],
secretário Assis Machado [presidente do CIC (1985-1987)], Byron
Queiróz [vice-presidente do CIC (1978-1980; 1983-1985)], Inácio
Campelo [vice-presidente do CIC (1980-1981)], Beni Veras [presidente
do CIC (1978-1980)], Cândido Quinderé [vice-presidente do CIC
(1983-1987)], Airton Angelim [2º secretário do CIC (1978-1980; 1985-
1987)] e às vezes, Assis Vieira Fiuza e Pedro Casimiro, todos do Centro
Industrial do Ceará — CIC.
Percebe-se que Amarílio Macedo já não pertencia a esse seleto grupo do CIC
que integrava o governo e que se apresentava como homogêneo e coeso. Este
representava uma dissidência do centralismo do Cambeba.
No processo de fundação do PSDB cearense, Moema São Tiago e Amarílio
Macêdo defendiam posições diferentes quanto ao rumo da organização. A deputada
federal buscava expandir a máquina partidária por meio da ação pragmática de estratégia
eleitoral, filiando políticos para apoiar a candidatura de Mário Covas à presidência da
República em 1989. Já o empresário Amarílio Macedo defendia uma posição mais
ideológica de pureza dos princípios partidários. Este era aliado aos empresários paulistas
da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (FIESP) e buscava construir no
87
Esse nome fazia referência a nova sede administrativa do governo estadual, que ficava localizada em um
bairro na entrada da cidade chamado Cambeba. A transferência da sede administrativa de uma área central,
como era o Palácio da Abolição, para um bairro isolado deve-se ao fato de que o novo governo queria
dificultar o acesso à sede do governo. Buscava-se o isolamento da “romaria de políticos do interior” que
visitava o governo buscando verbas e cargos e da pressão dos movimentos sociais por meio de
manifestações públicas. A sede do administrativa do governo retornou ao Palácio da Abolição na gestão de
Lúcio Alcântara em 2003.
258
88
O PMB¹ funcionou com uma sublegenda do PMDB, utilizada como estratégia eleitoral para refugiar
políticos do interior que, por razões conjunturais locais, não podiam ingressar no PMDB. Nas eleições de
1988, o PMB¹ conseguiu eleger 8,9% dos 178 prefeitos do estado.
260
89
Para mais informações sobre a campanha de Tasso Jereissati em 1986, ver Carvalho (1999).
262
Nessa campanha de 1986, Adauto Bezerra poderia ter acionado sua condição
de classe para construir uma imagem de “político moderno”. Assim como Tasso Jereissati
poderia ter mobilizado sua tradição familiar na política — seu pai, Carlos Jereissati, foi
deputado federal (1955-1963) e eleito senador em 1963 pelo PTB — para produzir uma
imagem de “político tradicional”. No entanto, como mostraram Lemenhe (1995) e
Carvalho (1999), Adauto Bezerra mobilizou as noções tradicionais de "lealdade" e
"gratidão" para montar sua campanha eleitoral, enquanto Tasso Jereissati acionou
categorias como “racionalidade”, “empreendedorismo” e “juventude”.
Essa imagem de Tasso Jereissati atrelada à ideia de modernidade foi
construída por meio de seu vínculo político com o CIC. Com a migração do governador
Tasso Jereissati para o PSDB, o partido herdou essa imagem de modernidade construída
pelos “jovens empresários” do CIC.
Por último, o PSDB cearense foi marcado pela presença de uma “liderança
carismática” (PANEBIANCO, [1982]), Tasso Jereissati, que fez do partido uma extensão
de si mesmo. Este não precisou ocupou formalmente o cargo de presidente do Diretório
Estadual para ter controle sobre a organização. Suas energias foram concentradas para
ocupar cargos de direção nacional. Em 1991, Tasso Jereissati disputou a presidência da
Executiva Nacional com o deputado federal Euclides Scalco, líder do partido na Câmara
Federal. Para a gestão de 1991 a 1993 da Executiva Nacional, Tasso Jereissati assumiu a
presidência e Euclides Scalco a 1ª vice-presidência.
No Ceará, na sucessão do Executivo estadual em 1990, o “candidato natural”
seria Sérgio Machado 90, então secretário de governo do estado e ex-vice-presidente do
CIC (1980-1983). Este já articulava sua candidatura em diversas prefeituras do interior.
Contudo, esse trabalho de base não refletia nas pesquisas de opinião. Outra liderança do
Cambeba apresentava-se competitiva: o ex-líder do governo e então prefeito de Fortaleza,
Ciro Ferreira Gomes.
Este tinha perfil distinto dos “jovens empresários” do CIC. Político
profissional, pertencia a uma facção político-familiar estruturada por meio do domínio da
política local no município de Sobral91. Na narrativa dessa facção, é salientado a tradição
90
O pai de Sérgio Machado, Expedito Machado, era filiado ao PSD e ocupou cargos na política, foi
deputado estadual (1955-1958), deputado federal (1959-1964) e ministro da Viação e Obras Públicas (1963-
1964) no governo João Goulart. Como o golpe militar, teve seu mandato cassado e seus direitos políticos
suspenso, retornando a política nas eleições de 1986, sendo eleito deputado federal pelo PMDB.
91
Esse município foi durante as décadas de 1970 e 1980 o segundo maior colégio eleitoral do estado,
ficando atrás apenas da capital, Fortaleza. Com a consolidação da economia industrial no estado, os
263
política da família92. Seu pai, José Euclides Ferreira Gomes Júnior, foi prefeito de Sobral
(1977-1983) pela ARENA e seu tio paterno, João Ferreira Gomes, foi deputado estadual
por seis legislaturas (1956-1978) pela UDN e posteriormente pela ARENA. Essa facção
político-familiar era subgrupo da facção “cesista”, conforme defende Monte (2016).
Para suceder o Governo das Mudanças e dar continuidade ao projeto de
“hegemonia burguesa” (NOBRE, 2008) no Ceará, foi escolhido como candidato Ciro
Ferreira Gomes. A nomeação de um sucessor que não pertencia ao núcleo duro do CIC
deve-se à atitude prática e centralizadora de Tasso Jereissati. Sintetizando esse estilo de
liderança, Mota (1992), em texto não acadêmico 93, descreve uma suposta cena que teria
ocorrido no episódio de lançamento de Ciro Ferreira Gomes como candidato:
Eram 12h30min do dia 23 de março de 1990 quando o governador
Tasso [Jereissati] chamou ao seu gabinete o secretário Sérgio Machado
e ordenou: “Sérgio convoque a imprensa para amanhã e anuncie o nome
de Ciro [Ferreira Gomes] como nosso candidato a Governador”. Sérgio
surpreendido: “o que é isso, Tasso, eu ainda posso melhorar nas
pesquisas”. Ao que retrucou o Governador: “não há mais tempo e você
teve todo tempo do mundo”. Sérgio endurecendo: “O Partido foi
organizado por mim. Disputarei na Convenção”. Tasso batendo forte na
mesa de Trabalho: “não temos mais assunto”. Levantou-se da cadeira e
avistou entrando na sala os empresários Beni Veras e Ignácio Campelo,
que persuadiram Sérgio a retirar-se para seu gabinete de trabalho.
O governador convocou para horas depois uma reunião do Secretariado,
não assistida pelo secretário Sérgio, e com as presenças dos deputados
estaduais Francisco Aguiar e Luís Pontes, além do 1º vice-presidente
da Comissão Diretora do PSDB, Beni Veras, e anunciou o nome de Ciro
[Ferreira] Gomes, como candidato ao Cambeba (MOTA, 1992, p. 228).
Pela narrativa, observamos que o líder carismático, Tasso Jereissati,
centraliza as decisões no partido de forma a não mobilizar canais formais de deliberação,
como a Convenção Partidária. A seleção de candidatura ao Executivo, por exemplo, é
instituída de maneira informal, por meio da decisão autocrática do líder.
94
A “Era Tasso” foi um conceito construído pela imprensa e compreendeu as três gestões de Tasso Jereissati
(1987-1990; 1995-1998; 1999-2002), a de Ciro Ferreira Gomes (1991-1994) e a de Lúcio Alcântara (2003-
2006). Na literatura acadêmica, existem variadas análises teóricas sobre esse período, abordando-o sob
variados aspectos, desde a construção do capital simbólico desse grupo até sua relação com os movimentos
sociais. Dentre essas pesquisas, destaco as análises que abordaram o processo de declínio dos três chefes
políticos e a ascensão dos empresários no poder, como Barreira (1992), Lemenhe (1995), Parente (2000),
Carvalho (1999, 2001, 2002), Diógenes (2002), Abu-El-Haj (2002, 2006) e Abu-El-Haj e Sousa (2003).
95
Outra matéria da Folha atrelou a imagem-estigma de “coronelismo” à gestão do PSDB no Ceará, como
percebemos no título “Coronelismo tucano”. Na reportagem, é noticiado a morte do prefeito de Acaraú,
João Jaime Ferreira Gomes Filho (PSDB), e os suspeitos do crime que são políticos, primos da vítima e
irmãos entre si: “o deputado federal Aníbal Ferreira Gomes, o deputado estadual Manoel Duca da Silveira
Neto ("Duquinha") e o próprio vice-prefeito de Acaraú, Amadeu Ferreira Gomes Filho ("Amadeuzinho"),
todos do PSDB”. A matéria ressalta que "o caso, de acordo com a polícia, revive todos os estereótipos
criados em torno da política no Nordeste, com recurso à pistolagem, desvio de verbas públicas, suborno e
disputa de morte entre ramos rivais de uma mesma família" (SANTOS, FOLHA DE SÃO PAULO, 10 jul.
1998).
265
96
Órgão vinculado a Petrobrás e responsável pelo transporte e logística de combustível. Sérgio Machado
foi o presidente que ocupou esse cargo por mais tempo, de 2003 a 2014.
266
Percebe-se que o vínculo do PSDB com CIC mostrou seu limite. À medida
em que o partido recebia a adesão de políticos tradicionais do interior e que o fenômeno
“tassista” começou a perder fôlego na capital, o PSDB passou a incorporar políticos
profissionais no núcleo dirigente da agremiação. O partido assumiu uma faceta mais
conservadora.
Ocorreu um câmbio do perfil da direção partidária, pois o partido passou a
ser comandado por políticos de carreira, vinculados à maquinaria política estruturada por
meio de cabos eleitorais nos municípios do interior e que conjugavam a gramática política
tradicional. Como podemos perceber na descrição da biografia dos presidentes do partido.
Na pesquisa de campo, foi salientado que o presidente do Diretório Estadual
Luiz Pontes, que sucedeu a Assis Machado Neto em 1994, tinha perfil de maior diálogo
com a base eleitoral do interior, pois recebia deputados estaduais, prefeitos e vereadores
para negociar acordos locais. O que diferenciava do perfil de liderança mais distante, frio
e objetivo dos "jovens empresários" do CIC.
Analisando o perfil dos deputados estaduais que apoiaram Tasso Jereissati
nas disputas ao Executivo estadual durante quatro ciclos eleitorais — 1986, 1990, 1994 e
1998 —, Nobre (2008) ressaltou o caráter conservador das alianças políticas. A maior
parte desses deputados estaduais pertencia a clãs políticos familiares socializados em uma
política tradicional assentada em práticas clientelistas.
Podemos notar ruptura desse padrão de fortalecimento do núcleo duro do CIC
em 2002, no período de lançamento dos candidatos do partido. Para suceder aos dois
mandatos de Tasso Jereissati, o PSDB indicou o ex-senador Lúcio Alcântara.
Um colaborador da pesquisa e militante do partido que preferiu não ser
identificado ressaltou que essa escolha foi feita diretamente por Tasso Jereissati e que
causou conflitos internos no partido. Isso porque várias lideranças, algumas do núcleo
duro do CIC, desejavam ser candidato. Porém, como a eleição ameaçava ser competitiva
e essas lideranças apresentavam baixa aceitação nas pesquisas internas do partido, Tasso
Jereissati optou pelo caminho seguro de escolher um político profissional que tinha
trabalho de base junto aos cabos eleitorais (prefeitos e vereadores) do interior.
Essa dissidência no PSDB cearense fomentou o lançamento de candidaturas
de antigos integrantes do “tassismo”. Estes disputavam entre si para se colocarem como
sucessores legítimos da “Era Tasso”. Como foi noticiada na matéria “Tasso tenta barrar
268
Jesuíno Sampaio Neto (Neném Coelho) e Cirilo Pimenta — migraram e aderiram à base
aliada do governador.
Percebe-se que esses deputados arrastaram seus cabos eleitorais para o PSD.
Isso pode ser constatado ao observarmos a base eleitoral desses oito parlamentares que
eram filiados ao PSDB. Examinando as dez cidades que esses oito parlamentares
obtiveram maior número de votos — que totalizou 69 municípios —, percebemos que a
migração de prefeitos e vereadores do PSDB para o PSD foi maior do que em outros
municípios que não integravam a base eleitoral desses deputados — outros 69 municípios
aleatórios97. Os dados mostram que nos municípios que são base eleitoral, 57,7% dos
prefeitos e vereadores acompanham esses parlamentares na mudança de sigla. Já nos
municípios que não integravam a base eleitoral, a migração foi menor, correspondendo a
36,5%.
Esse dado sugere que a migração ocorre em bloco seguindo uma lógica de
lideranças estaduais — deputados federais e estaduais — que tem laços políticos com
lideranças locais — prefeitos e vereadores. Nos dois casos investigados do PSDB do
interior, Mombaça e Nova Olinda, verificamos que as lideranças locais integram a base
eleitoral de deputados e os acompanham na migração partidária. No caso de Mombaça, o
prefeito Wilame Barreto Alencar seguiu o deputado estadual Osmar Baquit; e no caso de
Nova Olinda, o ex-prefeito Afonso Sampaio acompanhou o deputado federal Manoel
Salviano.
Essa desidratação do PSDB vai refletir nas eleições de 2012 e 2014, como
veremos a seguir.
97
Para compor essa amostra, foi respeitando o mesmo padrão de tamanho populacional encontrado nos 69
municípios que compuseram a base eleitoral dos parlamentares. A amostra foi formada por: um município
com mais de 200 mil habitantes, dois municípios entre 100 e 200 mil habitantes, 13 municípios com 50 a
100 mil habitantes, 28 entre 20 a 50 mil habitantes e 25 municípios de 10 a 20 mil habitantes.
271
AÇÃO ATUAÇÃO NA
DEBIBERAÇÃO DIREÇÃO EXECUÇÃO COLABORAÇÃO COOPERAÇÃO
PARLAMENTAR SOCIEDADE
Comissão Instituto Teotônio
Convenção Diretório Conselho de Ética e Secretariados
Executiva Bancada Federal Vilela de Estudos
NACIONAL
Comissão Conselhos
ESTADUAL
Comissão
Convenção Diretório Conselho de Ética e Secretariados
Executiva Bancada Municipal
MUNICIPAL
Comissão
Diretório Conselho de Ética e Secretariados
ZONAL
98
No Ceará em 1998, Ciro Ferreira Gomes obteve 27% dos votos (909.402 votos) e Fernando Henrique
Cardoso alcançou 24% (804.969 votos). Em 2002, Ciro Ferreira Gomes obteve 44% dos votos (1.529.623
votos) e José Serra alcançou 8% (293.425 votos).
275
LÍDER CARISMÁTICO
DIRETÓRIO ESTADUAL
GRUPO PARLAMENTAR
Profissionais Núcleo duro –
– advogados, membros da Deputados Deputados
publicitários e coalizão Federais Estaduais
jornalistas dominante
99
Em 1995, 36% da população de Fortaleza estava concentrada em favelas (BARREIRA, 2002).
100
Podemos citar como exemplo desse processo de formação de liderança a trajetória política de Inácio
Arruda (PCdoB) que foi vereador de Fortaleza (1989-1990), deputado estadual (1991-1994), deputado
federal (1995-2007) e disputou o Executivo municipal de Fortaleza em 1996, 2000 e 2004.
278
101
Para informação sobre como ocorre as eleições para o TCE-CE consultar Nobre (2008).
283
A gente sente essa dificuldade, né? Acho que os partidos como um todo
eles deixam muito a desejar nessa questão. Inclusive tem pessoas que
como não entende da área política, não são políticos, muita gente pensa
que “aí, eu vou me candidatar porque o partido dá uma estrutura, de
repente oferece alguma condição, eu não tenho condição de ser eleito
não, mas eu vou ver se recebo alguma coisa”, né? E isso é ilusão! Não
existe isso. Principalmente eleição pra vereador que é uma eleição
muito disputada. E a gente não tem, nem no PSDB, nem no PSD,
nenhum dos partidos oferece estrutura, condição financeira, advogado,
285
filiação foi efetivada é que os membros do PSDB local foram informados. O ingresso de
novo membro com notória expressão pública não passou pelos órgãos partidários do
município.
A estratégia de crescimento eleitoral por meio da filiação de notáveis locais
teve êxito e nas eleições de 1992 o PSDB obteve excelente desempenho eleitoral. Elegeu
chapa “puro sangue” ao Executivo municipal, tendo José Alves de Lima como prefeito e
Maria de Fátima Magalhães como vice, e ocupou a maior bancada na Câmara Municipal,
assumindo 4 das 11 vagas. Após esse desempenho eleitoral, a facção dos Lima assumiu
a coalizão dominante do partido.
Com a morte de José Alves de Lima em 1993, sua facção ficou fragilizada e
o PSDB enfrentou crise institucional. A facção política dos Lima passou a ser liderada
pelo filho do antigo líder, Humberto de Lima, que conseguiu manter o controle sobre a
sigla.
Nas eleições de 1996, o PSDB lançou a esposa de Humberto de Lima, a dona
de casa Alzeny de Lima, como candidata a prefeita. Marcada por disputa eleitoral
acirrada, a candidata não foi eleita por uma pequena diferença de votos, 680 votos. A
candidata eleita foi Fábia Brito Alencar (PMDB), médica e esposa do ex-prefeito José
Alencar Alves, que obteve 3.694 votos, 55% dos votos válidos. Embora o PSDB não
tivesse obtido êxito na campanha ao Executivo, percebemos que a agremiação ainda tinha
peso político local, pois assumiu novamente a maior bancada na Câmara Municipal,
ocupando 5 das 11 vagas.
Como o PSDB tinha o controle do Executivo estadual, a agremiação atraía
muitos políticos locais que se filiavam ao “partido do governador” para obter recursos.
Buscando essa aproximação, a então prefeita Fábia Brito Alencar articulou junto ao
Diretório Estadual sua filiação ao PSDB.
Novamente, percebemos que as negociações envolvendo a filiação de
políticos com notória expressão pública ocorreu de cima para baixo, sem existir diálogo
com a instância local. Com a efetivação da filiação da prefeita ao PSDB, os membros
mais próximos da facção política dos Lima acompanham a liderança de Humberto de
Lima na migração para outra sigla.
Nas eleições de 2000, o PSDB apoiou a reeleição de Fábia Brito Alencar. Esta
foi eleita junto com três vereadores. Em 2004, a facção política da prefeita apoiou a
candidatura do empresário local Afonso Sampaio. Este foi eleito prefeito e tornou-se
presidente do PSDB de Nova Olinda. Com o rompimento político entre o então prefeito
288
Afonso Sampaio e a ex-prefeita Fábia Brito Alencar, esta abandona o partido junto com
sua facção. Nas eleições de 2008, Afonso Sampaio foi candidato a reeleição pelo PSDB.
No PSDB, o então prefeito Afonso Sampaio era base eleitoral do deputado
federal Manoel Salviano. O prefeito articulou a votação desse deputado federal no
município nas eleições de 2006 e 2010, fazendo com que obtivesse alta porcentagem de
votos, respectivamente 2.924 votos (38% dos votos válidos) e 2.451 votos (32% dos votos
válidos). Com a migração desse deputado federal para o PSD, Afonso Sampaio o
acompanhou. Quando Afonso Sampaio foi questionado na entrevista porque tinha
acompanhado o deputado federal, este ressaltou que:
Tá filiado ao mesmo partido que o seu deputado contribui para
conseguir recurso. É um laço de amizade mais forte quando você é do
mesmo partido que seu deputado, você se sente mais em casa. A gente
se sente mais a vontade. [Manoel] Salviano já tinha ajudado o
município. Quando eu assumi o município ele já tinha feito algo por
Nova Olinda e continuou me ajudando e eu decidi votar nele por conta
disso, porque ele tava fazendo por mim, pelo meu município. Me
ajudando em Brasília, abrindo as portas e trazendo recursos para Nova
Olinda. No momento, fui atendido com mais vantagem, o município foi
atendido com mais recurso exatamente com o Manuel Salviano e com
o [deputado estadual] Vasques Landim (AFONSO SAMPAIO, ex-
presidente do PSDB de Nova Olinda e prefeito em duas gestões.
Entrevista concedida ao autor em 06/11/2015).
Observa-se que, similar a estratégia eleitoral adotada pelas facções políticas
de Mombaça, Afonso Sampaio desfilia-se do PSDB, mas articula para que uma “pessoa
de confiança” assuma a sigla por ele. Nessa transição, assume como presidente do PSDB
do Nova Olinda o comerciante Antônio Demontier Feitosa.
O PSDB em Nova Olinda apresenta frágil articulação entre as instancias
partidária. A integração do órgão local ocorre mais pela vinculação com os deputados
estaduais e federais do partido, estabelecendo relação personalista de clientela. A
agremiação potencializa essas relações para se estruturar no plano local, porém quando o
partido está na oposição não tem como alimentar sua rede de clientela e finda por
fragilizar-se.
Observando o caso do PSDB de Nova Olinda, percebemos que, embora o
partido esteja atuando de forma ativa na política local desde sua fundação em 1991, a
agremiação foi marcada por muitos períodos de instabilidade. Compreendemos que a
agremiação nunca foi institucionalizado, apesar de historicamente ter apresentado
excelente desempenho eleitoral tanto para o Executivo quanto para o Legislativo.
289
Com o declínio do PPS no estado após a saída de Ciro Ferreira Gomes, essa
facção política migrou para o PMDB. Por meio desse partido, apresentou candidatura ao
Executivo municipal nas eleições de 2004, o agricultor Francisco Jucinê Sampaio, e ao
Legislativo, como a esposa de Humberto de Lima, Alzeny de Lima. O resultado eleitoral
foi novamente desfavorável à facção, o candidato a prefeito não foi eleito, obtendo 3.277
votos (41% dos votos válidos), e também não elegeu nenhum vereador.
Nas eleições de 2008, a facção estava filiada ao PSB, partido do então
governador Cid Ferreira Gomes, e conseguiu representação na Câmara Municipal com a
eleição de Alzeny de Lima. Porém, a candidata a prefeita Fábia Alencar Alves, que tinha
como vice Humberto de Lima, não foi eleita. Na eleição municipal de 2012, Alzeny de
Lima foi candidata novamente a vereadora filiada a outro partido, o PSD, não tendo sido
eleito.
Percebemos assim que a instrumentalização do partido como máquina
eleitoral local é praticada tanto pelo Diretório Estadual quanto pelas lideranças políticas
locais. O primeiro busca expansão imediata da organização por meio da filiação de
notáveis locais para disputar os pleitos. O segundo procura maximizar os votos por meio
da filiação a um partido já consolidado no mercado eleitoral ou em ascensão.
Observado a estrutura organizativa do PSDB no plano estadual e municipal,
vamos investigar o grau de centralização das decisões partidárias.
deferidas na eleição de 2008, que contabilizou 1.124 candidatos. A sigla conseguiu eleger
apenas 176 vereadores no estado (8,2%). Quando observamos a quantidade de municípios
em que o PSDB elegeu no mínimo um vereador, percebemos que o partido possuía baixa
densidade eleitoral, pois conseguiu representatividade em apenas 89 Câmaras
Municipais, abrangendo 48% dos municípios do estado.
Esses dados demonstram que o partido estava fragilizado para disputar as
eleições de 2012 e 2014. Feito esse panorama das eleições, vamos analisar os conjuntos
das variáveis de articulação entre as instâncias partidárias.
102
No Filiaweb-TSE, o ex-prefeito Afonso Sampaio consta como membro, especificamente no cargo de
vice-presidente e delegado, do PSDB de Nova Olinda. Porém, na entrevista realizada, este ressaltou que
tinha migrado para o PSD em 2011.
296
pelo PMDB; sua candidatura foi articulada por seu primo, o então prefeito Afonso
Sampaio.
Na pesquisa de campo, foi destacado que o PSDB no plano local tinha
autonomia para decidir sua estratégia de formação de aliança e de coligação. Além disso,
prevalecia a informalidade, pois a principal liderança do PSDB, Afonso Sampaio, não era
filiada ao partido e o presidente da agremiação, Antônio Demontier Feitosa, não tinha
autonomia para ditar os rumos da organização.
Quando Antônio Demontier Feitosa foi questionado que atividade
desenvolvia no partido, já que as decisões eram estabelecidas informalmente por Afonso
Sampaio, este respondeu que
Era tipo um vaqueiro. Vaqueiro tá ali para segurar um partido, mas as
coordenadas quem mandava era Afonso [Sampaio]. Era mais um
partido dele, que ele botava uma pessoa de confiança dele pra tomar de
conta, sem voz ativa pra alguma coisa, nem pra ter atitude de
candidatura ou de debater alguma coisa dentro. Só pra manter... as
decisões eram dele. Aí não era interessante para mim (ANTÔNIO
DEMONTIER FEITOSA, ex-presidente do PSDB de Nova Olinda.
Entrevista concedida ao autor em 23/09/2015).
Quanto a formação de alianças para eleições estaduais no Ceará, percebemos
um grau de articulação que inexiste no plano municipal. Como comentado anteriormente,
o Diretório Nacional publicou resoluções para centralizar as decisões no partido.
Buscava-se potencializar a eleição a presidente da República do então presidente nacional
do PSDB, o senador Aécio Neves. Na pesquisa de campo, foi destacado que o Diretório
Nacional exercia pressão para que o Diretório Estadual no Ceará montasse estrutura de
campanha para dar suporte a eleição presidencial, como por exemplo apresentando
candidato ao governo do estado.
Porém, o PSDB cearense ainda estava fragilizado com a derrota de Tasso
Jereissati em 2010, o baixo desempenho eleitoral em 2012 e o lugar de oposição assumido
pela agremiação no segundo governo de Cid Gomes (2011-2014). Ocupar a oposição foi
um preço caro a ser pago por um partido que nasceu e se institucionalizou ocupando
postos no governo. Assim, o PSDB não tinha condições de apresentar candidato próprio
ao Executivo estadual em 2014, como é destacado abaixo:
[...] porque nós não tínhamos, a não ser que fosse o candidato o senador
Tasso [Jereissati], nós não tínhamos condições de ter um candidato
competitivo na eleição. Nós teríamos um candidato, que se a gente
apresentasse um nome, qualquer que fosse, por menos novo que ele
fosse, por exemplo, vamos dizer que eu fosse candidato a governador,
né? Ia partir de um índice de desconhecimento violentíssimo,
praticamente noventa e tantos por cento e ia passar a ficar conhecido ao
297
longo da eleição, não sendo tempo suficiente, com as condições que nós
tínhamos, de chegar a ir a um segundo turno (TOMÁS FIGUEIREDO
FILHO, ex-presidente do Diretório do PSDB de Fortaleza (2013-2015),
deputado estadual (2007-2010) e eleito deputado federal suplente em
2010. Entrevista concedida ao autor em 25/11/2015).
Ao assumir a oposição, o PSDB se aproximou do PR. Este partido era liderado
por Lúcio Alcântara, ex-governador e candidato ao Executivo estadual em 2006 (PSDB)
e 2010 (PR); e pelo ex-prefeito de Maracanaú (2005-2012), Roberto Pessoa. Como foi
ressaltado por um informante, quando o “período de conversa” que antecede as
convenções partidárias foi iniciado, as duas agremiações já apresentavam forte sintonia
em função das conversas constantes que suas lideranças já vinham tendo ao longo do
tempo.
Posteriormente, quando o PMDB assumiu a oposição, como vimos no
capítulo 2, o PSDB foi procurado por essa agremiação. O objetivo era estruturar uma
chapa “antiferreiragomismo”. A aliança entre PSDB, PMDB e PR ocorreu no âmbito
regional e o Diretório Estadual do PSDB teve autonomia para selar esse acordo.
Porém, nessa aliança existia empecilho quanto ao apoio à eleição
presidencial. Isso porque o PMDB estadual apoiava Dilma Rousseff (PT), que tinha o
presidente nacional desse partido, Michel Temer (PMDB), como vice-presidente; e o
PSDB estadual apoiava o candidato do partido, Aécio Neves (PSDB). Esse obstáculo foi
destacado na entrevista:
Até que chegou um determinado momento que [recapitulação de um
suposto diálogo] “oh, nós vamos fazer um pacto. A gente tem o
interesse estadual comum, e isso é o nosso interesse primordial, porque
nós moramos é aqui no estado do Ceará. E temos um interesse nacional
conflitante. Então cada um faz a campanha do seu candidato a
presidente e isola essa campanha do candidato a presidente da
campanha estadual”. Uma equação muito difícil de ser fechada, mas
que, para nós realmente pudéssemos fortalecer estadualmente, nós
terminamos abrindo mão dessa exclusividade. Até tentamos, o senador
Tasso [Jereissati] até tentou muito trazer, fazer com que o senador
Eunício [Oliveira] apoiasse o nosso candidato a presidente, o que não
aconteceu. Mas a gente fez esse entendimento [recapitulação de um
suposto diálogo]: “olha, eu vou fazer a minha campanha para candidato
a presidente, você vai fazendo a sua e a gente vai tentar fazer com que
essas campanhas nacionais elas funcionem à parte da campanha
estadual”. É tanto que tinha o comitê do Aécio [Neves], específico, em
outro lugar diferente do comitê de campanha (TOMÁS FIGUEIREDO
FILHO, ex-presidente do Diretório do PSDB de Fortaleza (2013-2015),
deputado estadual (2007-2010) e eleito deputado federal suplente em
2010. Entrevista concedida ao autor em 25/11/2015).
Na entrevista, foi ressaltado que o Diretório Nacional acatou essa aliança
regional na condição do PSDB cearense apresentar candidato que pudesse potencializar
298
b) Seleção de candidatos
Similar ao que foi evidenciado no tópico anterior, por não apresentar
integração entre seus órgãos partidários, o PSDB concedeu autonomia para que os órgãos
municipais selecionassem seus candidatos. A exceção foi a capital, que se mostrou
centralizada pelo líder do partido, Tasso Jereissati.
Em Fortaleza, o PSDB apresentou como candidato a prefeito o ex-deputado
estadual (1987-2010) e ex-presidente do Diretório Estadual do PSDB (2011), Marcos
César Cals; e como candidato a vice-prefeito o então deputado estadual (1991-2014)
Fernando Hugo. Na matéria intitulada "PSDB oficializa candidatura de Marcos Cals a
prefeito de Fortaleza" temos um depoimento do então presidente do PSDB de Fortaleza,
Pedro Fiúza. Este ressaltou que “os nomes foram escolhidos pela militância. Há muito
tempo, nós queríamos esses dois nomes” (G1 CEARÁ, 30 jun. 2012).
Porém, cabe destacar que a afirmação de que a seleção dos candidatos foi
feita pela militância do partido é um recurso retórico, pois a Convenção Partidária apenas
homologou a escolha já efetivada pelo líder do partido, Tasso Jereissati. Como destacou
um colaborador da pesquisa:
Na verdade, quem faz a escolha dos candidatos é o próprio Tasso
[Jereissati]. Mesmo ele mais distante da política nesse período, era ele
que escolhia os candidatos, sobretudo para o cargo de prefeito. [...]
Nessa eleição, o partido não tinha um leque de escolha muito ampla
não. Isso porque o partido enfrentou uma sangria muito grande em 2011
quando muitos deputados foram para um partido novo, o PSD. Então,
no PSDB tinha o Marcos [César] Cals que já era conhecido, pois
aparecia na imprensa e tinha sido candidato a governador na eleição
anterior. E tinha também um deputado estadual que era forte na
oposição, Dr. [Fernando] Hugo. Então, não tinha muita escolha e o
partido acatou a decisão do Tasso [Jereissati] de apresentar os dois
(MILITANTE DO PSDB DE FORTALEZA. Integrante do Diretório
de Fortaleza que concedeu entrevista, mas não quis ser identificado.
Entrevista realizada em 25/11/2015).
Quanto a seleção de candidatos ao Legislativo municipal, foi informado nas
entrevistas que o partido apresentou “baixa procura” de lideranças que queriam se
candidatar. Como o partido não participou de coligação, o PSDB dispunha de número
inédito de vagas e o militante que quisesse concorrer obteria facilmente a legenda. Foram
299
não ocorreu. Depois das eleições, a Comissão Provisória do PSDB de Mombaça foi
destituída pelo Diretório Estadual.
Analisando a seleção de candidatos no PSDB de Nova Olinda, percebemos
também plena autonomia do plano local. Na entrevista realizada com o então presidente
do PSDB, Antônio Demontier Feitosa, este ressaltou que assumiu esse cargo para
articular as eleições municipais de 2012. Como percebemos abaixo:
O projeto que eu tinha para o PSDB era que o partido ia ter candidato a
vereador, a prefeito, a vice [...] Fiquei no partido porque ele [Afonso
Sampaio] tinha compromisso na época de o PSDB sairia na chapa
majoritária dele, como vice, ou como prefeito. Só que ele tirou até os
vereadores. Saiu todos os vereadores. Teve dois candidatos a vereador,
mas só pra cumprir tabela mesmo. É tanto que o mais bem votado dos
dois acho que tirou 36 votos, o outro tirou 8 votos. Aí ele saiu, tirou os
vereadores que tinha sido eleito do PSDB na época. Saiu também. E o
partido ficou só como para somar tempo de legenda. Uma legenda a
mais e tempo de propaganda eleitoral. Aí não era meu objetivo
participar de um partido desse jeito. Aí quando passou a eleição
entreguei a presidência a ele. É tanto que eu estou com a [Comissão]
Provisória... a desfiliação pronta pra me entregar a atual presidente pra
mim sair do PSDB (ANTÔNIO DEMONTIER FEITOSA, ex-
presidente do PSDB de Nova Olinda. Entrevista concedida ao autor em
23/09/2015).
Como foi comentado acima, nesse pleito o PSDB não apresentou candidato
ao Executivo municipal, lançou apenas dois candidatos ao Legislativo. Estes, porém,
eram inexpressivos na política local, sendo indicados pelo líder político Afonso Sampaio,
que mesmo não integrando a agremiação tinha controle sobre as atividades partidárias.
Estes candidatos não possuíam capital político e foram lançados apenas para cumprir as
exigências legais para que o órgão partidário municipal se mantivesse ativo.
Em entrevista, Antônio Demontier Feitosa ressaltou que o comando do PSDB
em Nova Olinda foi mantido informalmente com o então prefeito Afonso Sampaio porque
este tinha prometido ao presidente do Diretório Estadual, Luiz Pontes, que lançaria
candidato ao Executivo nas eleições municipais de 2012.
Ao analisarmos a seleção de candidatos para eleições estaduais no Ceará,
percebemos novamente articulação que não ocorre no plano municipal. O Diretório
Estadual, dirigido pelo líder Tasso Jereissati, negociou a escolha dos candidatos.
A coligação com o PMDB em 2014 deu autonomia para que o PSDB e seus
aliados (PR e DEM) indicassem os candidatos ao Senado e também a vaga de vice-
governador. Como comentado anteriormente, no acordo final o PR ocupou a vaga de vice-
governador, indicando Roberto Pessoa; o PSDB ocupou a vaga de titular e 2º suplente
para Senado, designando respectivamente o líder Tasso Jereissati e o médico Fernando
301
c) Distribuição de recursos
Durante a pesquisa de campo, foi destacado que o Diretório Estadual obteve
nas duas eleições analisadas poucos recursos para as campanhas eleitorais. Observando
as transferências do Diretório Nacional para as eleições no Ceará, percebemos que dentre
os partidos investigados, os candidatos do PSDB cearense foram os que receberam a
menor porcentagem de recursos. De acordo com os dados do SPCE-TSE, nas eleições de
2012, o Diretório Nacional do PSDB totalizou receita de R$ 47.410.623,68, sendo 0,9%
transferido para as candidaturas do Ceará, somando R$ 460.000,00. Em 2014, o valor foi
praticamente igual. Dos R$ 58.480.888,71 arrecadados pelo Diretório Nacional, apenas
0,6% foi transferido para os candidatos do Ceará, totalizando R$ 400.000,00.
Analisando a transferência para as eleições de 2012 no Ceará, percebemos
que todo o recurso foi destinado às candidaturas do PSDB. Além disso, a maior parte do
recurso foi transferido às campanhas do Executivo. O candidato ao Executivo de
Fortaleza, Marcos César Cals, concentrou 75% dos recursos, porém sua candidatura não
foi competitiva, obtendo baixo desempenho eleitoral. Como vemos na Tabela seguinte.
303
Percebe-se que os candidatos com maiores recursos não foram eleitos. Cabe
destacar que o filho do deputado federal Raimundo Gomes de Matos, Pedro Victor Gomes
de Matos, concentrou 73% dos recursos e mesmo assim obteve baixa votação. O único
vereador eleito pelo PSDB em Fortaleza foi o pastor da Igreja Universal e radialista
Carlos Dutra, que recebeu 9.359 votos. Este já tinha sido eleito em 2008, também pelo
PSDB.
304
DISTRIBUIÇÃO DE
ALIANÇA E
SELEÇÃO DE CANDIDATO RECURSOS PARA
COLIGAÇÃO
CAMPANHA
Cargos majoritários - Alta
centralização: líder carismático
indica os candidatos. Alta centralização:
Alta
líder carismático
CEARÁ
centralização:
Cargos proporcionais - Baixa distribui os recursos para
líder carismático
centralização: líder carismático alguns candidatos que
estabelece os
aceita indicação dos candidatos, são escolhidos para ter
acordos.
mas precisa ser negociado. financiamento.
Processo é dirigido pela
Executiva Estadual.
Executivo - Alta centralização:
Alta
líder carismático e Executiva
centralização:
Estadual indicam os candidatos. Alta centralização:
FORTALEZA
líder carismático
líder carismático
e Executiva
Legislativo — Baixa distribui os recursos para
Estadual
centralização: líder carismático alguns candidatos que
estabelecem os
não acompanha a indicação dos são escolhidos para ter
acordos. Atrelado
candidatos. Processo é realizado financiamento.
a disputa
pelo órgão municipal que é
estadual.
atrelado ao Diretório Estadual.
Executivo e Legislativo -
Sem recurso: lideranças
MOMBAÇA
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A tese se deparou com um desafio que foi a realização de pesquisa qualitativa nas
instâncias partidárias para investigar a relação de poder intrapartidário. Esse entrave
revela que os partidos políticos brasileiros não são transparentes e carecem de democracia
intrapartidária.
Para a consolidação da ordem democrática brasileira é imperativo o
aprofundamento da democracia interna nos partidos. Estas organizações gozam de
importantes recursos institucionais, como monopólio da representação política, recursos
do Fundo Público e tempo de propaganda no rádio e TV, sendo necessário maior
transparência de suas ações. Por isso, pesquisas acadêmicas que investiguem as relações
de poder intrapartidária e as questões relativas a sua organização interna são tão
necessárias e urgentes. A elaboração dessa tese colabora com esse debate e também
diminui o déficit de dados e informações precisas a respeito dos partidos brasileiros.
318
319
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ABRUCIO, F. Os barões da federação: os governadores e a redemocratização brasileira.
São Paulo, SP: Hucitec, 1998.
ABU-EL-HAJ, J. Classe, poder e administração pública no Ceará. In: PARENTE, J.;
ARRUDA, J. M. (Orgs.). A era Jereissati: modernidade e mito. Fortaleza: Edições
Demócrito Rocha, v. 1, p.83-106, 2002.
______. Os tempos de rebeldia: Icapuí na berlinda do modo petista de governar. In:
LEMENHE, M. Auxiliadora; CARVALHO, Rejane Vasconcelos Accioly (Org.).
Política, cultura e processos eleitorais. Fortaleza: Fundação Konrad Adenauer, p. 79-
112, 2006.
______; SOUSA, J. J. As revoluções silenciosas no Nordeste: eleições e mudança social
em Itapiúna. In: CARVALHO, R. V. A. (Org.). A produção da política em campanhas
eleitorais: eleições municipais de 2000. Campinas—SP: Pontes; Fortaleza: Programa de
Pós-Graduação em Sociologia da Universidade Federal do Ceará, p. 255-290, 2003.
AMARAL, O. E. As transformações na organização do Partidos dos Trabalhadores
entre 1995 e 2009. São Paulo: Alameda, 2013.
AMES, B. Os entraves da democracia no Brasil. Rio de Janeiro: FGV, 2003.
ASSUMPÇÃO, R. P. S. Análise organizacional do Partido da Social Democracia
Brasileira no Estado de São Paulo (1988-2006). Tese (Doutorado em Sociologia) —
Araraquara: Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho (UNESP), 2008.
AZEVEDO, C. B. A estrela partida ao meio: ambiguidades do pensamento petista. São
Paulo: Entrelinhas, 1995.
BARREIRA, C. Trilhas e atalhos do poder: conflitos sociais no Sertão. Rio de Janeiro:
Rio Fundo, 1992.
BARREIRA, I. A. F. Pensamento, palavras e obras. In: PARENTE, J.; ARRUDA, J. M.
(Orgs.). A era Jereissati: modernidade e mito. Fortaleza: Edições Demócrito Rocha, v.
1, p.63-82, 2002.
BARROS, H.; COSTA, L. As eleições de 1982 n Ceará. In: FALCÃO NETO, Joaquim
de Arruda (Org.) Nordeste: Eleições. Recife: Fundação Joaquim Nabuco, Massangana, p.
165-185, 1985.
BENEVIDES, M. V. M. A UDN e o Udenismo: ambiguidades do liberalismo brasileiro
(1945-1965). São Paulo: Paz e Terra, 1981.
BITTAR, J. (Org.) O modo petista de governar. Caderno Especial de Teoria & Debate.
São Paulo: Partido dos Trabalhadores, Diretório Regional de São Paulo, 1992.
BIZARRO NETO, F. A. PMDB: Organização e desenvolvimento em São Paulo (1994-
2010). Dissertação (Mestrado em Ciência Política) — Campinas: Universidade Estadual
de Campinas (UNICAMP), 2013.
BOLOGNESI, B. A seleção de candidaturas no DEM, PMDB, PSDB e PT nas eleições
legislativas federais brasileiras de 2010: percepções dos candidatos sobre a formação das
listas. Revista de Sociologia e Política, v. 21, n. 46, p. 45-68, 2013.
320
BONE, H. A. Political Parties and Pressure Group Politics. The Annals of the American
Academy of Political and Social Science, v. 319, n. 1, p. 73-83, 1958.
BONFIM, W. L. S. De Távora a Jereissati: duas décadas de política no Ceará. In:
PARENTE, J.; ARRUDA, J. M. (Orgs.). A era Jereissati: modernidade e mito. Fortaleza:
Edições Demócrito Rocha, v. 1, p.35-62, 2002.
BOTHE, M. et al. O federalismo na Alemanha. São Paulo: Fundação Konrad Adenauer,
1995.
BRAGA, M. S. S. O Processo Partidário-Eleitoral Brasileiro: Padrões de Competição
Política (1982-2002). São Paulo: Humanitas / Fapesp, 2006.
______; AMARAL, O. E. Implicações do processo de seleção de candidatos na
competição partidária: o caso brasileiro. Revista de Sociologia e Política, v. 21, n. 46, p.
33-43, 2013.
______; BOURDOUKAN, A. Partidos políticos no Brasil: organização partidária,
competição eleitoral e financiamento público. Perspectivas: Revista de Ciências Sociais,
v. 35, 2010.
______; RODRIGUES-SILVEIRA, R.; BORGES, T. Organización, territorio y sistema
partidario: difusión territorial de la organización de los partidos y sus potenciales
impactos sobre la estructura del sistema partidario en Brasil. América Latina Hoy, v. 62,
n. 0, p. 15-45, 2013.
______; ROMA, C. Sistema partidário, eleições e a questão federativa no Brasil (1986-
2000). In: SANTOS, A. M.; PINTO, C. R. (Eds.). Partidos no Cone Sul: novos ângulos
de pesquisa. Rio de Janeiro: Fundação Konrad Adenauer, 2002.
BRASIL NUNCA MAIS. Um relato para a História. Petrópolis: Vozes, 1985.
CARLEIAL, A. N. Cultura e cotidiano sindical no setor público: o caso do MOVA-
SE (Sindicato dos Trabalhadores no Serviço Público Estadual do Ceará. Fortaleza:
EdUECE, 2000.
CARNEIRO, L. P.; ALMEIDA, M. H. T. Definindo a arena política local: sistemas
partidários municipais na federação brasileira. Dados, v. 51, n. 2, p. 403-432, 2008.
CARVALHO, R. V. A. Transição democrática brasileira e padrão midiático
publicitário da política. Campinas: Pontes, 1999.
______. Imagem marca e continuísmo político: a era Tasso no Ceará. In: AGUIAR,
Odílio, BATISTA, José Élcio e PINHEIRO, Joceny (Orgs.). Olhares contemporâneos:
cenas do mundo em discussão na universidade. Fortaleza: Edições Demócrito Rocha, p.
193-209, 2001.
______. Virgílio, Adauto e César Cals: a política como arte da chefia. In: PARENTE, J.;
ARRUDA, J. M. (Orgs.). A era Jereissati: modernidade e mito. Fortaleza: Edições
Demócrito Rocha, v. 1, p. 9-34, 2002.
______. A disputa pelo governo do Ceará em 2010: a consolidação de um ciclo político
pós tassismo? Raízes, v. 33, n. 1, p. 34-52, 2013.
321
______; LOPES, M. S. Duelo entre candidatos poste: a campanha eleitoral pela prefeitura
de Fortaleza em 2012. Revista de Ciências Sociais. Fortaleza, v. 47, n. 2, p. 92-124,
2016.
CHHIBBER, P.; KOLLMAN, K. The Formation of National Party Systems:
Federalism and Party Competition in Canada, Great Britain, India, and the United States.
Princeton: Princeton University Press, 2009.
CHRISTIANO, R. De volta ao começo! Raízes de um PSDB militante, que nasceu na
oposição. Brasília: Instituto Teotônio Vilela, 2003.
CITADINI, A. R. Lei orgânica dos partidos políticos: comentários, notas e
jurisprudência. 2a ed. São Paulo: Max Limonad, 1988.
CODATO, A.; CERVI, E. U. Institucionalização partidária: uma discussão empírica a
partir do caso do PFL do Paraná. In: CODATO, Adriano Nervo; SANTOS, Fernando José
dos (Org.). Partidos e eleições no Paraná: uma abordagem histórica. Curitiba: Tribunal
Regional Eleitoral do Paraná, p. 245-274, 2006.
COUTO, Cláudio. O desafio de ser governo: o PT na prefeitura de São Paulo (1989-
1992). Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1995.
CRUZ, F. A. L. Os bestializados: Mombaça e a ditadura que não foi (1964-1985). Revista
da Associação Brasileira de Pesquisadores de História e Genealogia. São Paulo, v.
17, p. 85-96, 2011.
DALTON, R. J.; WATTENBERG, M. P. Parties without partisans: political change in
advanced industrialized democracies. Oxford: Oxford University, 2001.
DALTON, R. J.; MCALLISTER, I.; WATTENBERG, M. P. Democracia e identificação
partidária nas sociedades industriais avançadas. Análise Social, v. XXXVIII (Verão), n.
167, p. 295-320, 2003.
DIAMOND, L.; GUNTHER, R. Political Parties and Democracy. Baltimore: Johns
Hopkins University Press, 2001.
DIÓGENES, G. M. S. Ciro Gomes: percursos de uma imagem. In: PARENTE, J.;
ARRUDA, J. M. (Orgs.). A era Jereissati: modernidade e mito. Fortaleza: Edições
Demócrito Rocha, v. 1, p.107-124, 2002.
DOWNS, A. Uma teoria econômica da democracia. São Paulo: EdUSP, 1999 [1957].
DUVERGER, M. Os Partidos Políticos. Rio de Janeiro: Zahar; UNB, 1980 [1951].
EPSTEIN, L. Political Parties in Western Democracies. London: Pall Mall, 1967.
FERREIRA, D. P. PFL X PMDB: marchas e contramarchas (1982-2000). Goiânia:
Alternativa, 2002.
FREIDENBERG, F.; LEVITSKY, S. Organizacion informal de los partidos en America
Latina. Desarrollo Economico — Revista de Ciencias Sociales. IDES, Buenos Aires,
v. 46, n. 184, p. 539-568, 2007.
FREITAS, V. E. V. S. Alianças partidárias nos estados brasileiros: das coligações às
coalizões de governo (1986-2010). Tese (Doutorado em Ciência Política) — Campinas:
Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP), 2015.
322
GERRING, J. What is a case study and what it is good for? American Political Science
Review, v. 98, n. 2, p. 341-354, 2004.
GUARNIERI, F. A força dos partidos “fracos”. Dados, v. 54, n. 1, p. 235-258, 2011.
HIPPÓLITO, L. De raposas e reformistas: o PSD e a experiência democrática brasileira
(1945-64). Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1985.
JANDA, K. Comparative political parties: research and theory. In: FINIFTER, A. W.
(Ed.). Political Science: The State of the Discipline II. Washington, D.C.: American
Political Science Association, cap. 7, p. 163-191, 1993.
KATZ, R.; MAIR, P. Changing models of party organization and party democracy the
emergence of the cartel party. Party Politics, v. 1, n. 1, 1995.
______. The cartel party thesis: a restatement. Perspectives on Politics, v. 7, n. 04, 2009.
KECK, M. E. PT, a lógica da diferença: o Partido dos Trabalhadores na construção da
democracia brasileira. São Paulo: Ática, 1991.
KINZO, M. D. G. Oposição e autoritarismo: gênese e trajetória do MDB, 1966-1979.
São Paulo: Vértice; IDESP, 1988.
______. Radiografia do quadro partidário brasileiro. 2a ed. São Paulo: Fundação
Konrad Adenauer, 1993.
______. Partidos, eleições e democracia no Brasil pós-1985. Revista Brasileira de
Ciências Sociais, v. 19, n. 54, p. 23-40, 2004.
KIRCHHEIMER, O. A transformação dos sistemas partidários da Europa Ocidental.
Revista Brasileira de Ciência Política, n. 7, p. 349-385, 2012 [1966].
KITSCHELT, H. P. The logic of party formation: structure and strategy of belgian and
west german ecology parties. Ithaca, NY: Cornell University Press, 1989.
KOWARICK; L.; SINGER, A. Experiência do partido dos trabalhadores na prefeitura de
São Paulo. Novos Estudos Cebrap, São Paulo, n.35, mar. 1993.
LACERDA, A. D. O PT e a Unidade Partidária como Problema. Dados, Rio de Janeiro,
v. 45, n. 1, p. 39-76, 2002.
LAMOUNIER, B. Partidos e utopias: o Brasil no limiar dos anos 90. São Paulo: Loyola,
1989.
______; MENEGUELLO, R. Partidos políticos e consolidação democrática: o caso
brasileiro. São Paulo: Brasiliense, 1986.
LEMENHE, M. A. Família, tradição e poder: o(caso) dos coronéis. São Paulo:
ANNABLUME; Fortaleza: EdUFC, 1995.
LIMA JÚNIOR, O. B. Os partidos políticos brasileiros: a experiência federal e regional
- 1945-1964. Rio de Janeiro: Graal, 1983.
______. (Org.). O sistema partidário brasileiro: diversidades e tendências (1982-1994).
Rio de Janeiro: Fundação Getúlio Vargas, 1997.
323
BRASIL. Lei nº 5.682, de 21 de julho de 1971. Lei Orgânica dos Partidos Políticos
(LOPP). Brasília-DF, jul. 1971.
BRASIL. Lei nº 6.683, de 28 de agosto de 1979. Concede anistia e dá outras providências.
Brasília-DF, ago. 1979.
BRASIL. Lei nº 6.767, de 20 de dezembro de 1979. Lei de Reforma Partidária (LRP).
Modifica dispositivos da Lei nº 5.682, de 21 de julho de 1971 (Lei Orgânica dos Partidos
Políticos), nos termos do artigo 152 da Constituição, alterado pela Emenda Constitucional
nº 11, de 1978; dispõe sobre preceitos do Decreto-Lei nº 1.541, de 14 de abril de 1977, e
dá outras providências. Brasília-DF, dez. 1979.
BRASIL. Emenda Constitucional nº 22, de 29 de junho de 1982. Altera e acrescenta
dispositivos à Constituição Federal. Brasília-DF, jun. 1982.
BRASIL. Emenda Constitucional nº 25, de 15 de maio de 1985. Altera dispositivos da
Constituição Federal e estabelece outras normas constitucionais de caráter transitório.
Brasília-DF, mai. 1985.
BRASIL. Lei nº 9.096, de 19 de setembro de 1995. Lei dos Partidos Políticos (LPP).
Dispõe sobre partidos políticos, regulamenta os arts. 17 e 14, § 3º, inciso V, da
Constituição Federal. Brasília-DF, set. 1995.
BRASIL. Lei nº 9.504, de 30 de setembro de 1997. Lei das Eleições. Brasília-DF, set.
1997.
BRASIL. Tribunal Superior Eleitoral. Resolução nº 23.376, de 1 de março de 2012.
Dispõe sobre a arrecadação e os gastos de recursos por partidos políticos, candidatos e
comitês financeiros e, ainda, sobre a prestação de contas nas eleições de 2012. Brasília-
DF, mar. 2012.
BRASIL. Tribunal Superior Eleitoral. Resolução nº 23.406, de 27 de fevereiro de 2014.
Dispõe sobre a arrecadação e os gastos de recursos por partidos políticos, candidatos e
328
comitês financeiros e, ainda, sobre a prestação de contas nas Eleições de 2014. Brasília-
DF, fev. 2014.
BRASIL. Lei nº 13.165, de 29 de setembro de 2015. Altera as Leis nos 9.504, de 30 de
setembro de 1997, 9.096, de 19 de setembro de 1995, e 4.737, de 15 de julho de 1965 -
Código Eleitoral, para reduzir os custos das campanhas eleitorais, simplificar a
administração dos Partidos Políticos e incentivar a participação feminina. Brasília-DF,
set. 2015.
PARTIDO DO MOVIMENTO DEMOCRÁTICO BRASILEIRO. Manifesto dos
Fundadores do PMDB à Nação. Revista do PMDB, n.1, julho, 1981.
MATÉRIAS DE JORNAIS
O Povo:
"ME PREPARO para eleger até um poste". Sucessão de Luizianne Lins. O Povo,
Fortaleza, 07 de dezembro de 2010.
AMÉRICO Barreira afirma que desde 86 havia um corpo estanho no PT. O Povo,
Fortaleza, P. 4, 26 de abril de 1988.
ILÁRIO vence e critica PSDB na base de Cid Gomes. O Povo, Fortaleza, 19 de dezembro
de 2007.
JOSÉ Dirceu diz que PT não perde politicamente. O Povo, Fortaleza, p. 4, 26 de abril de
1988.
LINS, Luizianne. Exercício democrático, sempre. O Povo, Fortaleza, 12 de junho de
2012.
LÚCIO encerra fase de polêmica com PSDB. O Povo, Fortaleza, 10 de fevereiro de 1989.
PSDB pretende filiar até 92 170 prefeitos. O Povo, Fortaleza, 18 de junho de 1991.
PSDB terá um futuro cinza no Ceará. O Povo, Política Local, 3-A, 01 de fevereiro de
1989.
PT de Fortaleza aprova tese de nome próprio. O Povo, Fortaleza, 13 de junho de 2014.
PT em convenção: muda o comando no Ceará. O Povo, Fortaleza, 15 de janeiro de 1984.
MOTA, Paulo. Tasso quer Estado `pequeno e forte'. Folha de São Pulo, São Paulo, 9 de
outubro de 1994.
SANTOS, Mário Vitor. Coronelismo tucano. Prefeito de Acaraú é assassinado após
denunciar pressões de parentes para desviar verbas públicas. Folha de São Pulo, São
Paulo, 10 de julho de 1998.
LÚCIO Alcântara deixa PSDB e filia-se ao PR. Estadão, Agencia Estado, São Paulo, 07
de março de 2007.
PROS oficializa candidatura de Camilo Santana. Estadão, São Paulo, 29 junho 2014.
ROSA, Vera. PT vai priorizar campanha em cidades com mais de 150 mil habitantes em
2012. Estadão, 01 de dezembro de 2011.
Outros:
HOLANDA, Wilrismar. PMDB ameaça não dar legenda a quem não votar em Eunício.
Deputados reagem. Blog do Wilrismar, Fortaleza, 27 de maio de 2014.
LIMA, Eliomar de. Bate-boca — Roberto Pessoa registra BO contra Ciro Gomes. Blog
do Eliomar, O Povo, Fortaleza, 30 de setembro de 2010.
PATURY, Felipe. Em carta, prefeito cearense chama Ciro Gomes de vagabundo e usuário
de drogas. Revista Época, O Globo, 02 de outubro de 2012.
LIMA, Eliomar de. Roberto Pessoa reage a farpas de Ciro Gomes: “Não discuto com
drogado!”. Blog do Eliomar, O Povo, Fortaleza, 01 de agosto de 2014.
PRB surpreendeu grandes legendas. Diário do Nordeste, Fortaleza, 13 de outubro de
2008.
PRB tem um novo presidente no CE. Diário do Nordeste, Fortaleza, 20 de outubro de
2011.
SÍTIOS CONSULTADOS
ASSEMBLEIA LEGISLATIVA DO ESTADO DO CEARÁ (ALECE). Publicações
do Memorial da Assembleia Legislativa do Ceará Deputado Pontes Neto (MALCE).
Disponível em <https://www.al.ce.gov.br/index.php/publicacoes-malce>. Acesso em 28
de janeiro de 2018.
CÂMARA DOS DEPUTADOS. Biografia dos deputados federais. Disponível em:
<http://www2.camara.leg.br/deputados/pesquisa>. Acesso em 12 de fevereiro de 2017.
DICIONÁRIO HISTÓRICO-BIOGRÁFICO BRASILEIRO (DHBB/CPDOC).
Centro de Pesquisa e Documentação de História Contemporânea do Brasil (CPDOC) da
Fundação Getúlio Vargas (FGV). Verbetes temáticos e bibliográficos. 3ª Edição.
Coordenação Geral de Christiane Jalles de Paula e Fernando Lattman-Weltman. 2010.
Disponível em <http://www.fgv.br/cpdoc/acervo/arquivo>. Acesso em 28 de janeiro de
2018.
DIRETÓRIO ESTADUAL DO PT CEARÁ. Notícias. Disponível em:
<http://ptceara.org.br/noticias/index.asp?current=>. Acesso em 28 de janeiro de 2018.
TRIBUNAL REGIONAL ELEITORAL DO CEARÁ (TRE-CE). Informações sobre
eleições no Ceará. Disponível em: <http://www.tre-ce.jus.br/>. Acesso em 28 de janeiro
de 2018.
TRIBUNAL SUPERIOR ELEITORAL (TSE). Divulgação de Candidaturas e Contas
Eleitorais - DivulgaCand. Disponível em:
<http://divulgacandcontas.tse.jus.br/divulga/#/>. Acesso em 28 de janeiro de 2018.
TRIBUNAL SUPERIOR ELEITORAL (TSE). Repositório de dados eleitorais.
Disponível em: <http://www.tse.jus.br/eleicoes/estatisticas/repositorio-de-dados-
eleitorais-1/repositorio-de-dados-eleitorais>. Acesso em 28 de janeiro de 2018.
TRIBUNAL SUPERIOR ELEITORAL (TSE). Sistema de filiação partidária -
Filiaweb. Disponível em:
<http://filiaweb.tse.jus.br/filiaweb/filiacao/relacao/consulta.seam>. Acesso em 28 de
janeiro de 2018.
TRIBUNAL SUPERIOR ELEITORAL (TSE). Sistema de Gerenciamento de
Informações Partidárias (SGIP). Disponível em:
<http://www.tse.jus.br/partidos/partidos-politicos/informacoes-partidarias>. Acesso em
28 de janeiro de 2018.
TRIBUNAL SUPERIOR ELEITORAL (TSE). Sistema de Prestação de Contas
Eleitorais (SPCE). Consulta aos doadores e fornecedores de campanha de Candidatos.
Eleições de 2012. Disponível em:
<http://inter01.tse.jus.br/spceweb.consulta.receitasdespesas2012/abrirTelaReceitasCand
idato.action>. Acesso em 28 de janeiro de 2018.
TRIBUNAL SUPERIOR ELEITORAL (TSE). Sistema de Prestação de Contas
Eleitorais (SPCE). Consulta aos doadores e fornecedores de campanha de Candidatos.
Eleições de 2014. Disponível em:
<http://inter01.tse.jus.br/spceweb.consulta.receitasdespesas2014/abrirTelaReceitasCand
idato.action>. Acesso em 28 de janeiro de 2018.
336
337
ANEXOS
Anexo 1 - Lista dos integrantes dos partidos que foram entrevistados103
CASO PARTIDO CARGO OU FUNÇÃO ENTREVISTADO
PT Presidente do Diretório Estadual Francisco de Assis Diniz
Vice-presidente do Diretório João Alves de Melo
PMDB
CEARÁ
PT
Vereador Jovanil Oliveira
PMDB Presidente da Comissão Provisória Willame Correia
103
Além desses colaboradores, outros integrantes dos três partidos deram entrevistas, mas preferiram não
serem identificados.
338
339
Desenvolvimento organizativo:
- Quais foram os presidentes do partido ao longo dos anos?
- Como se desenvolve o processo de eleição do presidente do partido?
- Já ocorreu algum conflito envolvendo a eleição para presidente do partido?
* (Em caso positivo): Como esse conflito foi solucionado? Algum órgão partidário de
nível hierárquico superior (estadual ou nacional) ou liderança partidária foram
mobilizados para intermediar o conflito?
- Já ocorreu alguma intervenção nesse órgão partidário?
* (Em caso positivo) Que órgão fez essa intervenção e por qual motivo?
- Você considera que exista uma liderança central, ou lideranças centrais, no partido?
- Quais os principais grupos (ou correntes) que compõem o partido?
- Alguma liderança política do partido orientou para a formação de coligação com algum
partido específico?
- Ocorreu algum conflito envolvendo essa coligação?
* (Em caso positivo) Como esse conflito foi solucionado? Algum órgão partidário de
nível hierárquico superior (estadual ou nacional) ou liderança partidária foram
mobilizados para intermediar o conflito?
Seleção de candidatos:
- Como ocorreu o processo de seleção de candidatos para o Executivo? E para o
Legislativo?
- As outras instâncias do partido (estadual, nacional) intermediaram essa seleção de
candidatos?
* (Em caso positivo): Ela ocorreu de igual forma para a seleção do Executivo e do
Legislativo ou o partido priorizou alguma dessas disputas?
- Para vaga do Executivo existiu mais de um candidato?
* (Em caso positivo): Como o partido procedeu para escolher o candidato? Existiu
algum tipo de prévia eleitoral? O partido seguiu o que previa no estatuto ou procedeu
informalmente a partir da orientação de alguma liderança partidária?
- Existiram critérios formais para selecionar os candidatos, como por exemplo: tempo de
filiação ao partido, participação nas decisões partidárias, competitividade eleitoral etc.?
- Alguma liderança política intermediou esse processo de seleção de candidatos?
- Ocorreu algum conflito envolvendo a seleção de candidatos?
* (Em caso positivo) Como esse conflito foi solucionado? Algum órgão partidário de
nível hierárquico superior (estadual ou nacional) ou liderança partidária foram
mobilizados para intermediar o conflito?
Financiamento eleitoral:
- Como ocorreu o processo de financiamento da campanha dos candidatos?
- Alguma instância do partido (municipal, estadual ou federal) financiou algum
candidato? Quais?
- Esse financiamento ocorreu mais para candidatos do Executivo ou também para
candidatos do Legislativo?
- As outras instâncias do partido (estadual, nacional) intermediaram esse financiamento?
Alguma liderança política intermediou esse financiamento?
- Existiram critérios formais para selecionar quais campanhas seriam financiadas, como
por exemplo: tempo de filiação ao partido, participação nas decisões partidárias,
competitividade eleitoral etc.?
- Ocorreu algum conflito envolvendo esse financiamento eleitoral?
* (Em caso positivo) Como esse conflito foi solucionado? Algum órgão partidário de
nível hierárquico superior (estadual ou nacional) ou liderança partidária foi mobilizado
para intermediar o conflito?
- Alguns desses recursos foram oferecidos para os candidatos, como: curso de preparação
para a campanha eleitoral, material de campanha, auxílio de militantes, suporte para a
organização de comício, visita de alguma liderança política?
- O partido em alguma instância (municipal, estadual ou federal) disponibilizou serviços
de técnicos, como: contador, advogado, jornalista, marqueteiro etc.?
Avaliação da eleição:
- Como você avalia essa eleição? A Comissão Executiva e/ou o Diretório se
reuniram/reuniu para debater sobre os resultados eleitorais dessa eleição?
- Alguma instância superior do partido (estadual ou federal) exigiu algum desempenho
eleitoral?
342
343
1982 1986 1990 1994 1998 2002 2006 2010 2014 TOTAL (%)
PARTIDO C A C A C A C A C A C A C A C A C A
CD AL
D L D L D L D L D L D L D L D L D L
46 99
PSDB — — — — 7 18 11 20 12 21 8 17 5 15 2 7 1 1 (23,2) (23,9)
50 72
PMDB 5 12 12 24 4 4 5 5 5 6 5 5 6 7 5 3 3 6 (25,3) (17,4)
PPB/ 55
17 34 3 5 3 6 2 4 1 2 1 2 2 0 1 0 0 2 30 (15)
(13,2)
PP
24
PT 0 0 0 2 0 1 1 3 1 3 2 5 4 3 4 5 4 2 16 (8)
(5,8)
24
PSB — — 0 0 2 1 0 1 1 1 0 2 2 8 4 11 0 0 9 (4,5)
(5,8)
PFL/ 24
— — 6 13 4 5 2 0 1 2 2 1 0 1 0 1 1 1 16 (8)
(5,8)
DEM
PDT — — 1 2 2 3 0 4 0 2 0 1 0 2 1 4 1 3 5 (2,5) 21 (5)
PROS — — — — — — — — — — — — — — — — 3 12 3 (1,5) 12 (3)
PCdoB — — 0 0 0 1 1 0 1 1 1 1 1 1 2 1 1 2 7 (3,5) 7 (1,7)
PR — — — — — — — — — — — — — — 2 2 2 2 4 (2) 4 (1)
PL — — 0 0 0 2 0 3 0 1 2 4 1 0 — — — — 3 (1,5) 9 (2)
PCB/
— — 0 0 0 0 0 0 0 4 1 4 0 0 0 0 1 1 2 (1) 9 (2)
PPS
PTB — — 0 0 0 2 0 1 0 2 0 0 1 0 1 1 1 0 3 (1,5) 6 (1,4)
PSN -
— — — — — — — — 0 0 — 2 0 2 0 1 1 1 1 (0,5) 6 (1,4)
PHS
PSL — — — — — — — — 0 0 0 1 0 2 0 1 1 1 1 (0,5) 5 (1,2)
PRB — — — — — — — — — — — — — — 0 2 1 1 1 (0,5) 3 (0,7)
PV — — — — — — — — 0 0 0 0 0 2 0 2 0 1 0 5 (1,2)
PSDC — — — — — — — — 0 0 0 0 0 2 0 1 0 1 0 4 (1)
SD — — — — — — — — — — — — — — — — 1 2 1 (0,5) 2 (0,5)
PSC — — 0 0 0 0 0 2 0 1 0 0 0 0 0 0 0 1 0 4 (1)
PTN -
— — — — — — — — — — 0 0 0 0 0 1 0 1 0 2 (0,5)
PODE
PMN — — — — — — 0 2 0 0 0 0 0 0 0 1 0 0 0 3 (0,7)
PRP — — — — — — — — — — — — 0 0 0 1 0 1 0 2 (0,5)
PSD² — — — — — — — — — — — — — — — — 0 2 0 2 (0,5)
PSD¹ — — — — 0 1 0 1 0 0 0 1 — — — — — — 0 3 (0,7)
PSOL — — — — — — — — — — — — 0 0 0 0 0 1 0 1 (0,2)
PEN — — — — — — — — — — — — — — — — 0 1 0 1 (0,2)
PTdoB/
— — — — 0 0 — — — 0 0 0 0 0 0 1 0 0 0 1 (0,2)
AVANTE
PAN — — — — — — — — 0 0 0 0 0 1 — — — — 0 1 (0,2)
PCN — — — — 0 1 — — — — — — — — — — — — 0 1 (0,2)
PRN/
— — — — 0 1 — — 0 0 — — — — — — — — 0 1 (0,2)
PTC
198 414
TOTAL 22 46 22 46 22 46 22 46 22 46 22 46 22 46 22 46 22 46
(100) (100)
Fonte: Elaboração própria a partir dos dados do TRE-CE.
OBS.: Partidos que disputaram eleições, mas não conseguiram representação no Parlamento: PPL, PRTB,
PCO, PTC, PRONA, PCB, PSTU, PTR e PGT.
344
345
SITUAÇÃO
NOME CARGO (VOTOS PROFISSÃO / CARGO / SITUAÇÃO POLÍTICA
NOMINAIS)
Empresário. Filho do ex-prefeito (PMDB-2012-2016;
PSDB-2005-2008) e ex-vice-prefeito (PSDB-1989-
José
1992) de Juazeiro do Norte, ex-deputado federal
Mauro Dep. Suplente
(PMDB-2011-2012), ex-deputado estadual (PSDB-
Gonçalves Federal (389)
1991-2004) — Raimundo Antônio de Macêdo. Irmão
de Macedo
do candidato a deputado estadual (PMDB) David
Macedo.
Francisco
Carlos de Dep. Suplente
Advogado. Militante do PMDB de Fortaleza.
Freitas - Federal (288)
Carlone
Maria
Valselena Dep. Suplente
Vendedora. Militante do PMDB de Fortaleza.
Nogueira Federal (118)
Felix
Francisca
Suely Dep. Suplente
Natural de Russas. Militante do PMDB de Fortaleza.
Nogueira Federal (27)
Lima
Ana
Dona de casa, natural de Lavras da Mangabeira. Ligada
Mirtes Dep. Indeferido
à facção política de Edenilda Lopes de Oliveira, irmã
Leite Federal (0)
de Eunício Oliveira.
Machado
Maria
Josélia Dep. Indeferido
Dona de casa. Militante do PMDB de Fortaleza.
Chagas da Federal (0)
Silva
Ex-deputado estadual (PMDB- 2003-2005; 2015-atual),
Agenor
Dep. Eleito por QP prefeito de Iguatu (PSDB — 2005-2008; PMDB- 2009-
Gomes de
Estadual (78.868) 2012). 2º vice-presidente do Diretório Estadual do
Araújo Neto
PMDB-CE (2011-atual).
Danniel Dep. estadual (2011-atual). Sobrinho do senador Eunício
Lopes de Dep. Eleito por QP Oliveira, 1º tesoureiro do Diretório Estadual do PMDB-
Oliveira Estadual (62.550) CE (2008-atual) e presidente da Juventude do PMDB
Sousa (JPMDB-CE) (2008-atual).
Silvana Médica e evangélica, deputada estadual (2010-atual).
Dep. Eleito por QP
Oliveira de Esposa do candidato a dep. federal Jaziel Pereira de
Estadual (41.449)
Sousa Sousa.
Carlomano
Dep. Eleito por QP Dep. estadual (PMDB 1998-2014; PPR 1994-1998; PDS
Gomes
Estadual (37.422) 1991-1994), vereador de Fortaleza (PDS 1989-1990).
Marques
Vereador de Fortaleza (PMDB 1997-2008; PHS 2008-
Walter 2011; PMDB 2013-) e presidente da Câmara Municipal
Dep. Eleito por QP
Lima Frota de Fortaleza (2013-2014). Presidente e diretor financeiro
Estadual (33.094)
Cavalcante da Cooperativa Habitacional dos Bancários do Estado do
Ceará (COHABECE) (1996).
Vereador de Tauá (2009-2014). Presidente da União dos
Audic Eleito por Vereadores e Câmaras do Ceará (UVC) (2013-2014).
Dep.
Cavalcante média Integrava anteriormente a base eleitoral de Domingos
Estadual
Mota Dias (28.509) Filho, o 2º vice-presidente do Diretório Estadual do
PMDB-CE (2008-2011).
349
SITUAÇÃO
NOME CARGO (VOTOS PROFISSÃO / CARGO / SITUAÇÃO POLÍTICA
NOMINAIS)
Leonardo Advogado. Conselheiro estadual da Ordem dos
Dep. Suplente
Araújo de Advogados (2009-2015). Secretário-geral da Associação
Estadual (24.040)
Sousa dos Jovens Advogados do Brasil (AJA) (2006-2009).
Prefeita de Caucaia (PMDB 2005-2008), Deputada
estadual (PSDB 1999-2004). Candidata do PMDB não
eleita ao Executivo de Caucaia nas eleições de 2010 e
Inês Maria 2012. Esposa do ex-deputado federal (PSDB-1995-1997;
Dep. Suplente
Correa de PMDB-2003-2011) e ex-prefeito de Caucaia (PSDB-
Estadual (23.787)
Arruda 1997-2000) — José Gerardo Oliveira de Arruda Filho.
Mãe dos candidatos em 2014: dep. federal José Gerardo
Corrêa de Arruda (PMDB) e dep. estadual Lívia Correa
de Arruda (PTB).
Ricardo
Dep. Suplente Empresário. Dep. estadual (PDT 1995-2002), vereador
Alves de
Estadual (10.507) de Acopiara (PFL 1989-1992; PDT 1993-1994).
Almeida
Jocélia Médica ginecologista em Itapipoca, município onde
Ligia da Dep. Suplente concentrou sua votação, 3.950 (57%). Candidata a
Cunha Silva Estadual (6.841) deputada estadual em 2010 pelo PHS, obteve 14.874
Castro votos, concentrando em Itapipoca 10.630 votos (71%).
João Empresário, natural de Massapê, município onde
Jacques concentrou sua votação, 4.464 votos (79%). Foi
Dep. Suplente
Carneiro candidato ao Executivo desse município em 2000 (7.970
Estadual (5.614)
Albuquerqu votos) e 2004 (8.583 votos) pelo PPS e 2008 pelo PSB
e (9.870 votos).
Carlos
Administrador. Militante do PMDB de Fortaleza.
Aurélio Dep. Suplente
Candidato a deputado estadual em 2010 pelo PSDB,
Oliveira Estadual (1.135)
obteve 421votos.
Gonçalves
Administradora. Militante do PMDB de Fortaleza, local
em que obteve 793 votos (86%). Criadora de uma página
Lara
Dep. Suplente nas redes sociais — “Ceará Apavorado”
Palmeira
Estadual (912) <https://www.facebook.com/ongcearaapavorado> —
Pinheiro
onde relata casos de criminalidade no estado e em
Fortaleza.
Maria Ieda
Dep. Suplente Sem ocupação definida. Candidata em 2012 e 2004 a
Ferreira
Estadual (647) vereadora em Caridade, mas não obteve votos.
Maia
Estudante. Militante do PMDB de Fortaleza. Candidato
George
Dep. Suplente a deputado estadual pelo PTC em 2010, obtendo 5 votos,
Marconi
Estadual (414) e a deputado federal em 2006 pelo PSDC, obtendo 1.065
Sousa Silva
votos.
SITUAÇÃO
NOME CARGO (VOTOS PROFISSÃO / CARGO / SITUAÇÃO POLÍTICA
NOMINAIS)
Empresário. Filho do ex-prefeito (PMDB-2012-2016;
PSDB-2005-2008) e ex-vice-prefeito (PSDB-1989-
David Ney 1992) de Juazeiro do Norte, ex-deputado federal
Dep. Suplente
Gonçalves (PMDB-2011-2012), ex-deputado estadual (PSDB-
Estadual (323)
de Macedo 1991-2004) — Raimundo Antônio de Macêdo. Irmão do
candidato a deputado federal (PMDB) José Mauro
Macedo.
Funcionária comissionada do governo estadual do
Gisele
Dep. Suplente Ceará- apoio administrativo. Militante do PMDB de
Felipe
Estadual (312) Fortaleza. Candidata em 2012 a vereadora em Fortaleza
Braga
obtendo 8 votos.
Arlindo
Augusto de Dep. Suplente Professor. Candidato em 2000 a vereador em Pacatuba
Araújo Estadual (186) pelo PPS, obteve 45 votos.
Filho
Zuíla Enfermeira. Candidata a vereadora em Guaiuba pelo
Dep. Suplente
Assunção PMDB em: 2012 (5 votos), 2008 (19 votos) e 2004 (33
Estadual (146)
da Silva votos).
Francisca
Sem ocupação definida. Candidata a vereadora pelo
Maria de Dep. Suplente
PMDB de Fortaleza em 2012 (93 votos) e em 2004 em
Jesus Estadual (127)
Milagres (0 votos).
Santos
Marco
Feitoza de Dep. Suplente Administrador. Militante do PMDB de Fortaleza. Aliado
Albuquerqu Estadual (65) político do deputado federal Mário Feitoza (PMDB).
e Freitas
Ênio
Dep. Suplente Vereador no município de Pacatuba pelo PMDB (2005-
Medeiros
Estadual (39) atual).
do Carmo
Antônio Vereador no município de Iguatu (2008-atual). Aliado
Dep. Suplente
Bandeira político do deputado estadual (2003-atual) e ex-prefeito
Estadual (36)
Junior de Iguatu (2005-2012) Agenor Neto (PMDB).
Francisca
Aurinete Dep. Suplente
Estudante. Militante do PMDB de Russas.
Vieira de Estadual (21)
Sousa
Talita
Dep. Suplente
Valentim Enfermeira. Militante do PMDB de Canindé.
Estadual (20)
Ximenes
Fonte: Elaboração própria a partir dos dados do DivulgaCand-TSE, portal do Câmara dos
Deputados, Assembleia Legislativa do Ceará e Dicionário Bibliográfico do CPDOC.
351
SITUAÇÃO
NOME CARGO (VOTOS PROFISSÃO / CARGO / SITUAÇÃO POLÍTICA
NOMINAIS)
Francisco
Antônio Costa
Emiliano (Sen. Dep. Suplente
Motorista de veículos de transporte de carga.
Pimentel e Dep. Federal (6.774)
Estadual Artur
Bruno)
Alba Cristina
Dep. Suplente
Nogueira Lopes Agente administrativo.
Federal (711)
(CNB)
Celia Romero
Gonçalves
Dep. Suplente
Rodrigues Professora de ensino fundamental.
Federal (359)
(Militante
Independente)
Presidente (2010-2013; 2005-2009), secretário de
Finanças (2001-2005) e coordenador regional
Eleito por (1993-1996) da Federação dos Trabalhadores e
Moises Braz Dep.
QP Trabalhadoras Rurais do Estado do Ceará
Ricardo (CNB) Estadual
(75.027) (FETRAECE), presidente do Sindicato dos
Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais (STTR) de
Massapê (1990-1993).
Presidente do PT de Fortaleza (2013-2017),
secretário municipal de Educação de Fortaleza
(2011-2012), coordenador da Comissão de
Elmano de Eleito por Participação Popular do Gabinete da Prefeita de
Dep.
Freitas da Costa QP Fortaleza (2009-2011), coordenador da campanha
Estadual
(DS) (44.292) de reeleição de Luizianne Lins a prefeita de
Fortaleza em 2008, coordenador da Rede Nacional
de Advogados e Advogadas Populares (RENAP)
(2001-2009).
Deputado estadual (2007-2014), Secretária do
Desenvolvimento Agrário (SDA) (2014-), assessor
Francisco José Dep. Suplente da Secretaria Especial de Aquicultura e Pesca
Teixeira (CNB) Estadual (37.110) (SEAP) (2005-2006), prefeito de Icapuí (1989-
1992), secretário de Comunicação e Turismo de
Icapuí (1987-1988).
Deputada estadual (2005-2014; 2016-atuando como
suplente), presidenta da Companhia Docas do Ceará
(2003-2004), secretária de Saúde e Assistência
Social de Quixadá (2001-2002), presidenta da
Rachel Ximenes
Dep. Suplente Fundação de Turismo de Fortaleza (FORTUR)
Marques
Estadual (35.955) (1999), presidenta da Fundação Municipal de
(CNB/MP)
Profissionalização e Geração de Emprego, Renda e
Difusão Tecnológica (PROFITEC) de Fortaleza
(1997-1998), secretária do Trabalho e Ação Social
de Quixadá (1993-1996).
Manoel
Raimundo de Dep. Suplente Prefeito de Juazeiro do Norte (2009-2012), vereador
Santana Neto Estadual (31.396) de Juazeiro do Norte (2001-2004).
(CNB)
353
SITUAÇÃO
NOME CARGO (VOTOS PROFISSÃO / CARGO / SITUAÇÃO POLÍTICA
NOMINAIS)
Deputado federal (2011-2015), deputado estadual
Artur José
Dep. Suplente (1995-2010), vereador de Fortaleza (1989-1994),
Vieira Bruno
Estadual (26.458) vice-Líder do PT na Câmara dos Deputados
(Reencantar)
(04/2011-03/2012; 03/2014).
Deputado estadual (2010-2014), secretário
municipal, ouvidor geral do município de Fortaleza,
Antônio Carlos assessor especial do gabinete da prefeitura (2005-
Dep. Suplente
de Freitas Souza 2010), secretário-geral (2008-2010) e 2º vice-
Estadual (16.286)
(DS) presidente (2010-2013) do Diretório Estadual do
PT-CE, assessor político dos mandatos de vereadora
e deputada estadual de Luizianne Lins (1996-2004).
Vice-governador (2007-2010), vereador suplente de
Fortaleza (2001-2004), secretário da Cultura do
Francisco José Dep. Suplente
Ceará (2011-2013), secretário-geral do Diretório
Pinheiro (EPS) Estadual (15.054)
Estadual do PT-CE (2010-2013), Secretário da
Regional IV (2005-2007).
Guilherme de
Figueiredo
Dep. Suplente
Sampaio (Muda Vereador de Fortaleza (2005-atual).
Estadual (11.550)
PT; Casa
Vermelha)
Alísio de
Dep. Suplente
Menezes Meira Representante comercial.
Estadual (2.607)
(CNB)
Ana Valeria
Escolástico
Dep. Suplente
Mendonça Agente administrativo.
Estadual (954)
(Militância
Independente)
Ana Maria
Ferreira da Dep. Suplente Funcionária pública estadual da secretaria da
Cunha Campos Estadual (637) Fazenda do Estado do Ceará (SEFAZ).
(OT/AP)
Luciantonio
Dep. Suplente
Almeida Falcão Advogado. Sindicato dos Bancários.
Estadual (618)
(Sem. Pimentel)
Maria do Carmo
Bezerra Alves
Dep. Suplente
Martins Odontóloga.
Estadual (128)
(Militante
Independente)
Joaquim
Dep. 1º vice-presidente (2010-2013) e presidente (2005-
Cartaxo Filho Renuncia
Estadual 2007) do Diretório Estadual do PT-CE.
(CNB)
Djanira Maria
Silva Mendes Dep.
Deferido Servidora pública federal.
(Militante Estadual
Independente)
Fonte: Elaboração própria a partir dos dados do DivulgaCand-TSE, portal do Câmara dos Deputados,
Assembleia Legislativa do Ceará, Dicionário Bibliográfico do CPDOC e entrevista com Sônia Braga
(Membro do Diretório Estadual do PT do Ceará) para coletar informações sobre as tendências.
354
355
SITUAÇÃO
NOME CARGO (VOTOS PROFISSÃO / CARGO / SITUAÇÃO POLÍTICA
NOMINAIS)
Empresário. Diretor da Granja Regina. Ocupou cargos
de direção em órgãos de representação empresarial,
como: coordenador-geral da Associação dos Jovens
Empresários do Ceará (AJE) em 1991, presidente da
Associação Cearense de Avicultura (ACEAV) (1992-
1998), vice-presidência do CIC (1996-1998), diretor
corporativo do Instituto de Desenvolvimento Industrial
Eleito por do Ceará (INDI), órgão ligado a Federação das
Carlos Dep.
QP Indústrias do Estado do Ceará (FIEC), (2012-2014). Foi
Matos Lima Estadual
(29.036) secretário da Agricultura Irrigada do Estado do Ceará
(1999-2002), secretário da Agricultura e Pecuária
(2003-2006), presidente do Fórum dos Secretários de
Agricultura do Nordeste e vice-presidente do Fórum
Nacional de Secretários de Agricultura (2002-2006). No
PSDB assumiu os cargos de presidente do Diretório
Estadual do Ceará (2007-2009) e presidente do Instituto
Teotônio Vilela (2012-2014).
Tomás
Antônio
Albuquerque
Advogado. Deputado estadual pelo PSDB(2007-2010) e
de Paula Dep. Suplente
deputado federal suplente em 2010, obtendo 53.918
Pessoa Filho Estadual (20.143)
votos.
- Tomás
Figueiredo
Filho
Antônio
Arnaldo Dep. Suplente
Empresário.
Forte dos Estadual (7.592)
Santos
Marcos
Dep. Suplente
Rodrigues Médico.
Estadual (2.722)
Cordeiro
João Batista Dep. Suplente
Jornalista e redator.
Gomes Mota Estadual (1.340)
Francisca
Gilmara Dep. Suplente Servidora pública estadual. Natural de Limoeiro do
Campelo Estadual (1.038) Norte.
Girão
Almir
Dep. Suplente
Antônio de Empresário.
Estadual (832)
Sousa
Inês Romero Dep. Suplente
Servidora pública estadual.
Lima Estadual (454)
Francisco
Dep. Suplente
das Chagas Sem ocupação definida.
Estadual (384)
Silva
Nixson Seigi Comerciante. Era militante do PSDB de Fortaleza, local
Dep. Suplente
Pedrosa em que obteve 128 votos. Em 2016 candidatou-se a
Estadual (273)
Nagaura vereador em Fortaleza pelo PV, obtendo 112 votos.
Empresário. Militante do PSDB de Fortaleza onde
Luiz Carlos Dep. Suplente
obteve 207 votos. Sem histórico anterior de cargos
Filho Estadual (248)
eleitos.
357
SITUAÇÃO
NOME CARGO (VOTOS PROFISSÃO / CARGO / SITUAÇÃO POLÍTICA
NOMINAIS)
Antônio
Dep. Suplente Professor, jornalista e redator. Candidatou-se em 2016
Elias da
Estadual (223) vereador de Maranguape pelo PTB, obtendo 17 votos.
Costa
Marcos
Antônio Dep. Suplente Advogado. Militante do PSDB de Camocim. Eleito em
Silva Veras Estadual (183) 2016 vereador de Camocim.
Coelho
Marcos
Heleno Dep. Suplente Sem ocupação definida. Militante do PSDB de
Barbosa dos Estadual (129) Fortaleza. Sem histórico anterior de cargos eleitos.
Santos
Maria
Pedagoga e professora universitária. Militante do PSDB
Mirian Dep. Suplente
de Fortaleza. Candidata a vereadora de Fortaleza pelo
Marinheiro Estadual (101)
PSDB em 2008 (88 votos) e 2012 (0 voto).
Paiva
Francisco da
Nobrega Dep. Suplente Sem ocupação definida. Militante do PSDB de
Vasconcelos Estadual (54) Pentecoste.
Junior
Maria José
Oliveira Dep. Candidatura Aposentada. Militante do PSDB de Fortaleza. Ex-
Lopes de Estadual indeferida vereadora de Itaiçaba (1989-1992).
Moura
Marcos
Aurélio Dep. Renúncia Vereador em Russas (2009-2016). Reeleito vereador de
Ferreira Estadual Russas em 2016, mas pelo PSD.
Estácio
Luiz Alberto Dep.
Renúncia Empresário. Presidente do Diretório Estadual.
Vidal Pontes Estadual
Fonte: Elaboração própria a partir dos dados do DivulgaCand-TSE, portal do Câmara dos
Deputados, Assembleia Legislativa do Ceará e Dicionário Bibliográfico do CPDOC.
358
359
VOTOS
CARGO COLIGAÇÃO PARTIDO CANDIDATO
NOMINAIS
* 1.062
Vice * André Félix Barbosa
Pref. PDS Antônio Taumaturgo de Magalhães
* 1.027
Vice * Maria Feitosa de Alencar Porfírio
Pref. PSDB José Alves de Lima
* 2.835
Vice * *
1992
PRP
Pref. PP / PT / Francisco Jucinê Sampaio de Oliveira
PMDB 3.277
Vice PMDB / PPS Humberto Moreira de Lima
Pref. PP/ PSDB/ PSDB Afonso Domingos Sampaio
5.350
Vice PMDB/ DEM PMDB Elízio Manoel Galdino
Pref. Fábia Brito Alencar Alves
2008
PHS/PRP/PMN
PSB 3.546
Vice /PSB Humberto Moreira de Lima
Pref. Antônio Roberto de Araújo Souza
(sem coligação) PT 150
Vice Maria do Socorro Alves de Matos
Pref. PP / PTB / PSD PSD Francisco Ronaldo Sampaio
PMDB / DEM / 4.978
Vice PRP / PSDB / PMDB Elízio Manoel Galdino
2012
33.768
Vice PV * José Maria Arruda Pontes
Pref. Pedro Augusto de Sales Gurjão
(sem coligação) PL 16.615
Vice Cláudio Marinho
Dalton Augusto Rosado de
Pref.
(sem coligação) PH Oliveira e Sousa 13.442
Vice Cristina Baldini
Pref. Marcos César Cals de Oliveira
(sem coligação) PSD 6.171
Vice Cyro Régis
Pref. José Ribamar Aguiar Júnior
(sem coligação) PJ 5.994
Vice Lalinha Pimentel
Pref. Antônio Elbano Cambraia
* PMDB 374.600
Vice Antônio Marcelo Teixeira Sousa
Pref. PSDB Francisco Assis Machado Neto
* 177.443
Vice * *
Pref. PDT Lúcio Gonçalo de Alcântara
* 81.284
Vice * *
Pref. PT Fernando Ayres Branquinho
1992
* 30.088
Vice * Francisco José Pinheiro
Pref. PRN Eliano Gino de Oliveira
* 5.925
Vice * *
Pref. PSC José Luciano Monteiro
* 4.359
Vice * *
Pref. PFS José Acrísio de Sena
* 2.829
Vice * *
364
VOTOS
CARGO COLIGAÇÃO PARTIDO CANDIDATO
NOMINAIS
Pref. PMDB Juraci Vieira de Magalhaes
PMDB / PL 520.074
Vice * *
Inácio Francisco de Assis Nunes
Pref. PCdoB / PT / PCdoB
Arruda 149.476
PSTU / PCB
Vice * *
Maria do Perpetuo Socorro França
Pref. PSDB / PTB / PSDB
Pinto 85.293
PPS / PSD
Vice * *
Pref. PPB Edson Queiroz Filho
PPB / PFL 50.444
Vice * *
Pref. Oscar Costa Filho
1996
PMDB 512.655
Vice PRTB / PSDC / Maria Isabel de Araújo Lopes
PSL
Inácio Francisco de Assis Nunes
Pref. PCdoB / PT / PDT PCdoB
Arruda 437.271
/ PSB / PCB
Vice PT Artur José Vieira Bruno
365
VOTOS
CARGO COLIGAÇÃO PARTIDO CANDIDATO
NOMINAIS
Pref. PFL Moroni Bing Torgan
PFL / PAN / PTC 296.063
Vice PAN Rosa Virginia Veras Frota
Pref. PT Luizianne de Oliveira Lins
PT / PSB 248.215
Vice PSB José Carlos Veneranda da Silva
Pref. PCB / PL / PPS / PC do B Inácio F.co de Assis Nunes Arruda
PMN / PRONA / 214.002
Vice PCdoB PPS Paulo Sérgio Bessa Linhares
Pref. PP / PTB / PSL / Antônio Elbano Cambraia
PSDC / PRP / PSDB Francisco de Assis Cavalcante 200.407
Vice
PSDB Nogueira
2004 - TURNO 1
VOTOS
CARGO COLIGAÇÃO PARTIDO CANDIDATO
NOMINAIS
Pref. PT / PTN / PSC / PT Elmano de Freitas da Costa
318.262
Vice PR / PV PR Antônio Mourão Cavalcante
PRB / PP / PTB / Roberto Claudio Rodrigues
Pref. PSB
PMDB / PSL / Bezerra
PSDC / PHS /
291.740
PMN / PTC / PSB
Vice PMDB Gaudêncio Gonçalves de Lucena
/ PRP / PSD /
PTdoB
2012 - TURNO 1
PSDC / PHS /
650.607
PMN / PTC / PSB
Vice PMDB Gaudêncio Gonçalves de Lucena
/ PRP / PSD /
PTdoB
Pref. PT / PTN / PSC / PT Elmano De Freitas da Costa
576.435
Vice PR / PV PR Antônio Mourão Cavalcante
Fonte: Elaboração própria a partir dos dados do TRE-CE.
* Sem informações
367
VOTOS
CARGO COLIGAÇÃO PARTIDO CANDIDATO
NOMINAIS
Sen. Pedro Augusto de Sales Gurjão
1ª supl. Galba Menezes 114.019
2ª supl. *
(sem coligação) PDT
Sen. Alberto Leite Teixeira
1ª supl. Francisco Gomes Pereira 19.668
2ª supl. *
Gov. PSDB Ciro Ferreira Gomes
1.279.492
Vice PDT Lúcio Gonçalo de Alcântara
PDT / PDC /
Sen. PSDB Benedito Clayton Veras Alcântara
PSDB
1ª supl. PSDB José Reginaldo Duarte 1.026.965
2ª supl. PDT Juarez Fernandes Leitão
Gov. PDS Paulo de Tarso Lustosa da Costa
871.047
Vice PDS / PMDB / PDS Luiza Morais Correia Távora
Sen. PFL / PTR / PSD PMDB Antônio Paes de Andrade
1990
VOTOS
CARGO COLIGAÇÃO PARTIDO CANDIDATO
NOMINAIS
1ª supl. * *
2ª supl. * *
Gov. José Evaldo Costa Lins
26.819
Vice Maria Edlene Costa Lins
Sen. (sem coligação) PRONA Ana de Castro Lins
1ª supl. * 162.404
2ª supl. *
Sen. Artur de Freitas Torres de Melo
1ª supl. (sem coligação) PMN * 95.226
2ª supl. *
Gov. Tasso Ribeiro Jereissati
PSDB 1.569.110
Vice Benedito Clayton Veras Alcântara
PPB / PPS / PTB
Sen. PSDB Luiz Alberto Vidal Pontes
/ PSD / PSDB
1ª supl. PSDB José Reginaldo Duarte 1.433.020
2ª supl. PPB José Valdomiro Távora de Castro
Gov. PMDB Luiz de Gonzaga Fonseca Mota
PMDB / PSC / 548.509
Vice * Júlio Ventura Neto
PFL / PAN /
Sen. PMDB Antônio Paes de Andrade
PRN / PSDC /
1ª supl. * Manuel Francisco Viana Neto 734.180
PST / PSL
2ª supl. * José Ricardo Barroso Prado
Gov. PDT / PT / PSB / PT José Airton Félix Cirilo da Silva
1998
PCdoB / PV / 347.671
Vice PDT Heitor Correia Férrer
PCB
Gov. Valdir Alves Pereira
18.239
Vice Jacinta Silva de Sousa
Sen. (sem coligação) PSTU Raimundo Pereira de Castro
1ª supl. Manoel de Farias Maciel 62.451
2ª supl. Francisco Francine Pereira Lima
Gov. Antônio Reginaldo Costa Moreira
(sem coligação) PMN 18.304
Vice Paulo Maciel
Sen. Francisco Tarciso Leite
PL / PSN /
1ª supl. PSN Francisco José Caminha Almeida 73.647
PTdoB
2ª supl. Eunizia Lopes Barroso
Gov. Lúcio Gonçalo de Alcântara
PSDB 1.625.202
Vice Francisco de Queiroz Maia Junior
PSDB / PPB /
Sen. PSDB Tasso Ribeiro Jereissati
PSD / PV
1ª supl. PSDB Francisco Assis Machado Neto 1.915.781
2ª supl. PPB *
Gov. José Airton Felix Cirilo da Silva
PT 924.690
2002 - TURNO 1
VOTOS
CARGO COLIGAÇÃO PARTIDO CANDIDATO
NOMINAIS
Gov. PSB / PSDC / PSB José Welington Landim
PSC / PSL /
PTdoB / PHS /
PSDC / PSC / 240.189
Vice PSB Pedro Augusto de Sales Gurjão
PSL / PTdoB /
PHS / PAN /
PGT / PRT
Sen. Eudoro Walter de Santana
1ª supl. (sem coligação) PSB * 773.027
2ª supl. *
Sen. Paulo de Tarso Melo Lima
1ª supl. (sem coligação) PHS * 23.224
2ª supl. *
Gov. Cláudia Maria Meneses Brilhante
(sem coligação) PTB 37.658
Vice Jorge Francisco Braz
Gov. Pedro de Albuquerque Neto
(sem coligação) PDT 31.102
Vice Raimundo José Arruda Bastos
Patrícia Lúcia Saboya Ferreira
Sen. PPS
PPS / PDT / PTB Gomes
1.864.404
1ª supl. / PTN * *
2ª supl. * *
Gov. Raimundo Pereira de Castro
9.707
Vice Nericilda Bezerra da Rocha
Sen. (sem coligação) PSTU Raimundo José Aguiar Ribeiro
1ª supl. * 9.810
2ª supl. *
TURNO 2
VOTOS
CARGO COLIGAÇÃO PARTIDO CANDIDATO
NOMINAIS
Francisco Horácio Marques
Gov.
Gondim 19.491
Vice Alzira Guerra Saldanha de França
(sem coligação) PSDC
Sen. Antônio Fernandes da Silva Filho
1ª supl. José Hélio Fiuza Leite 3.640
2ª supl. Antônio Sales dos Santos
Gov. PDT / PL / José Maria de Melo
PL 15.274
Vice PRTB / PTdoB Iranildo Pereira de Oliveira
Sen. Maria Nair Fernandes Silva
1ª supl. (sem coligação) PDT Tibúrcio Bezerra de Morais Neto 39.327
2ª supl. Francisco das Chagas Soares
Gov. Salete Maria da Silva
(sem coligação) PCO 4.165
Vice João Alves Duarte
Gov. PSB Cid Ferreira Gomes
2.436.940
Vice PMDB Domingos Gomes de Aguiar Filho
Sen. PSB /PT / PMDB Eunício Lopes de Oliveira
1º supl. PMDB / PRB / PT Waldemir Catanho de Sena Júnior 2.688.833
2º supl. PDT / PSC / PRB Miguel Dias de Souza
Sen. PCdoB PT José Barroso Pimentel
1º supl. PSB Aluísio Sergio Novais Eleutério 2.397.851
2º supl. PCdoB Luís Carlos Paes de Castro
Gov. Marcos César Cals de Oliveira
PSDB 775.852
Vice Pedro Cunha Fiuza
Sen. PSDB Tasso Ribeiro Jereissati
DEM / PSDB
Francisco Feitosa de Albuquerque
1º supl. DEM 1.754.567
Lima
2º supl. PSDB Francisco Holanda Guedes
Gov. PR Lúcio Gonçalo de Alcântara
654.035
Vice PPS Claudio Henrique do Vale Vieira
Sen. PR / PPS Alexandre Pereira Silva
1º supl. PPS Régis Nogueira de Medeiros 470.127
2010
VOTOS
CARGO COLIGAÇÃO PARTIDO CANDIDATO
NOMINAIS
Gov. PRB / PP / PDT PT Camilo Sobreira de Santana
/ PT / PTB / PSL Maria Izolda Cela de Arruda 2.039.233
Vice PROS
/ PRTB / PHS / Coelho
Senador PMN / PTC / PV PROS Carlos Mauro Benevides Filho
1º supl. / PEN / PPL / PP José Linhares Ponte
PSD / PC do B / 1.573.732
2º supl. PT do B / SD / PROS Francisco Honório Pinheiro Alves
PROS
Gov. PMDB Eunício Lopes de Oliveira
1.979.499
Vice PR Roberto Soares Pessoa
PMDB / PSC /
2014 - TURNO 1
Fonte: IPECE.