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Escola Superior de

Ciências da Saúde
(ESCS)

Médico, Doutor em Perinatologia pelo CLAP (Centro


Latinoamericano de Perinatología y Desarrollo
Humano) / OPS (Organização Panamericana de
Saúde) /OMS (Organização Mundial de Saúde),
Montevideo, Uruguai. Professor do Curso de Medicina

Assistência ao da Escola Superior de Ciências da Saúde


(ESCS)/Secretaria de Estado de Saúde do Distrito

Recém-Nascido Federal, Coordenador do Internato-6ª Série (Eixo


Saúde da Criança). Especialista em Neonatologia

de Risco (TEM) pela Sociedade Brasileira de Pediatria. Estágio


de Aperfeiçoamento em ecografia cerebral e Doppler
na Unité de Soins Intensifs de Port-Royal (Centre
Hospitalier Universitaire Cochin St Vincent de Paul,
Université René Descartes, Paris, France e na
Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP).
Coordenador do Programa de Residência Médica em
Neonatologia do Hospital Regional da Asa
Sul/HRAS/SES/DF (1990-2000). Chefe da Unidade
Neonatologia da Secretaria de Estado de Saúde do
Distrito Federal (1987-1996;1999-2002). Coordena-
dor da Neonatologia da Secretaria de Estado de
Saúde do Distrito Federal (1999-2002). Diretor de
Ensino Médico Continuado da Associação Médica de
Brasília (1999-2001). Neonatologista do Hospital das
Forças Armadas / EMFA (1981-2011).

Paulo R. Margotto
3a Edição/2013
Prefácio

PREFÁCIO

Não importa o quanto fazemos,


mas quanto amor colocamos naquilo que fazemos

Eis que chegamos à 3ª Edição! Mais do que uma necessidade, Agradeço o importante acolhimento recebido da FEPECS e
dada a constante evolução dos cuidados neonatais, considero tam- ESCS na realização desta 3ª Edição, nas pessoas dos Drs. Mou-
bém uma conquista, graças à consagração das Edições anteriores. rad Ibrahim Belaciano (Diretor da ESCS, 2001-2012; Professor
A nova Edição de Assistência ao Recém-Nascido de Risco, pu- do DSC-FS/UnB), ao Docente da ESCS, Dr. Élson R. Ribeiro Fa-
blicada em parceria com a Fundação de Ensino e Pesquisa em rias, ao Coordenador der Apoio Operacional da FEPECS, Dr. Paulo
Ciências da Saúde (FEPECS) e Escola Superior de Ciências da R. Menezes além de Adriana Jaccoud, Assistente da Direção da
Saúde (ESCS), da Secretaria de Estado de Saúde do Distrito Fe- ESCS, cujo empenho foi de transcendental importância na con-
deral, traz novos capítulos e autores, totalizando cerca de 86 ca- cretização desta obra.
pítulos, 75 autores e quase 3000 referências. A espinha dorsal deste trabalho sempre teve como alicerce a
Os capítulos constantemente “bombardeados” com informa- busca incessante da melhor evidência que, combinada com a
ções mais recentes foram alvo constante da nossa monitorização prática, torna a medicina uma arte. A medicina não é uma ciên-
até o final de novembro de 2012. Começamos a atualização des- cia exata, mas devemos procurar a sua exatidão diuturnamen-
ses capítulos desde o lançamento da 2ª Edição, em 2006, sendo te. “Lembrem-se que as evidências mudam com o decorrer do
que a nossa página www.paulomargotto.com.br teve importante tempo, pois se não validarmos nossas condutas podemos causar
participação, pois foi neste espaço virtual que disponibilizamos mais mal do que bem para o recém-nascido” (Guinsburg).
as informações (hoje com mais de 600 mil visitantes!). A aborda- Á Equipe Neonatal do Hospital Regional da Asa Sul/Hospital
gem dos resultados de pesquisas recentes foi sempre realizada Materno Infantil de Brasília (Médico/Enfermeiros/Fisioterapeu-
com bastante maturidade. tas/Técnicos), o reconhecimento pela importante contribuição
O objetivo deste trabalho permanece o mesmo proposto em nas discussões para a efetiva implantação de Normas de Assis-
Edições anteriores: proporcionar ao profissional o mínimo ne- tência ao Recém-nascido, sempre enriquecidas com o conheci-
cessário na compreensão da fisiopatologia do processo mórbido mento e a experiência de todos.
para melhor integração entre a propedêutica e a terapêutica, ao Que este árduo, mas simultaneamente prazeroso trabalho, que
invés de simplesmente focar na abordagem a terapêutica. fizemos com muito amor, possa ser útil na melhor assistência ao
Nesta 3ª Edição foi realizada a revisão completa dos capítulos neonato, fulcro em torno do qual girou todo o esforço ao escre-
anteriores, além de acrescentar novos, como Hidrocefalia neona- ver/coordenar todos esses capítulos (“o que é escrito sem esfor-
tal e fetal, Gemelaridade, Recém-Nascido febril, Sedoanalgesia ço é geralmente lido sem prazer”). 1
nos Recém-nascidos ventilados, Ventilação Não Invasiva, Traque- “Nada do que vivemos tem sentido, se não tocarmos o coração
ostomia, Imunologia Neonatal, Cirurgia Pediátrica (escrito pela das pessoas. Feliz é aquele que transfere o que sabe e aprende
saudosa cirurgiã pediátrica Dra. Jaísa Maria M. Moura), Drena- o que ensina.”
gem Torácica, Administração de Medicamentos, Uso do Curare
e Banco de Leite. Aos autores que participaram conosco nesta Paulo R. Margotto
Edição, o agradecimento pelo desprendimento em dividir o co- www.paulomargotto.com.br
nhecimento com todos nós (magnífica virtude médica) e por sem- pmargotto@gmail.com
pre acreditarem na concretização desta obra.

Paulo R. Margotto
Assistência ao Recem-Nascido de Risco

O homem faz a sua obra. A obra, faz o homem. E as sessões clínico-patológicas realizadas com seus compa-
Prefiro assim iniciar, com estas palavras, o prefácio solicitado nheiros da Unidade Neonatal e, quase sempre, enriquecida pela
para a 3ª. Edição do livro “Assistência ao Recém-Nascido de Ris- participação de seus jovens alunos médicos residentes. Sessões
co”, de autoria do Dr. Paulo R. Margotto. extremamente importantes ao aprendizado de todos, em espe-
Conheço o Dr. Paulo R. Margotto, há, acredito três décadas. cial aos jovens alunos e médicos residentes, que usufruíam do
Margotto além de estar sempre atuando na Unidade de Neona- conhecimento, dedicação de Margotto e de sua disponibilidade
tologia do Hospital Regional da Asa Sul/Hospital Materno Infantil em distribuir o conhecimento.
de Brasília, sempre via-o, frequentando, os Congressos de Pe- A obra aumenta: agora nos chega a 3ª. Edição, com 86 capítu-
diatria e de Perinatologia. E sempre lá estava participando como los, e mais de 600 páginas e uma grande relação de convidados
ouvinte dos convidados nacionais e internacionais e apresentan- especiais participando como colaboradores.
do trabalhos realizados com seus alunos-residentes. Margotto No entanto, o trabalho do homem Margotto vai muito além de
sempre estava publicando normas atualizadas, discutindo arti- suas publicações. A preocupação que ele tem com quem o cerca
gos internacionais e... enviando a seus amigos. E aí, a obra ar- no dia a dia do trabalho, com quem trabalha com recém-nasci-
mazenada, torna-se um livro, “Assistência ao Recém-Nascido de dos, continua, célere e incansável. A sua capacidade de trabalho
Risco” em sua primeira edição. só é suplantada pela sua capacidade de distribuir conhecimen-
O trabalho na Unidade hospitalar, crescia, fervilhava de alunos, tos, adquiridos aqui e ali e, sempre, compartilhados.
companheiros e colaboradores e tudo isso, mais os resumos co- Margotto lança mais uma edição de seu livro “Assistência ao
mentados dos Congressos, chegavam a todos nós, membros de Recém-Nascido de Risco”. Sua obra cresce para fazer jus ao
uma lista, trazendo as informações colhidas (escritas, gravadas, grande homem que ele é.
filmadas) didaticamente discutidas e comentadas.
E veio a 2ª. Edição do livro “Assistência ao Recém-Nascido RN José Dias Rego
de Risco” sempre com a preocupação de discutir todos os as- Membro da Academia Brasileira de Pediatria.
pectos ligados a essa assistência, desde seus aspectos mais ro-
tineiros e elementares, passando pelos grandes tópicos ligados
ao recém-nascido e à sua família, até as discussões bioéticas
envolvendo a mortalidade neonatal.

2
Prefácio

A teoria sem a prática é nula


A prática sem a teoria é cega

Este livro é um exemplo de produção de conhecimentos cientí- gestões de condutas próprias para a Assistência ao Recém-nas-
ficos e tecnológicos a partir de uma rede pública de serviços de cido de Risco. São produtos dos bons resultados da Unidade de
saúde: a rede da SES-DF. Exemplo também do que o Ministério Neonatologia do Hospital Regional da Asa Sul/Hospital Materno
da Educação e o Ministério da Saúde preconizam: através do tra- Infantil de Brasília, fruto dos esforços do conjunto dos profissionais
balho do dia a dia na rede assistencial do SUS, é possível produ- ali lotados. Úteis no cotidiano por dirigirem-se a profissionais que
zir conhecimentos voltados para a melhoria permanente dessa trabalham “na ponta”, aquelas publicações, aprimoradas e no seu
mesma rede assistencial. tempo natural, resultaram no livro “Assistência Ao Recem Nascido
O Professor Doutor Paulo Roberto Margotto pertence ao corpo De Risco,” que agora ganha nova edição.
docente de um novo curso de medicina que o GDF implantou em Fiel à Aprendizagem Baseada em Problemas – método de en-
2001, com a criação da Escola Superior de Ciências da Saúde sino adotado na ESCS, o arranjo didático-expositivo do livro pro-
(ESCS). Mantém ao mesmo tempo, assim como os demais do- blematiza toda a amplitude da temática desses conhecimentos e
centes dessa Escola, grande parte de sua carga horária de tra- das práticas sugeridas. Enquadra-se na denominada clínica am-
balho em serviços do SUS-DF. Esse grupo de docentes do qual pliada, uma vez que procura abordar os aspectos que envolvem
ele faz parte, guiados pelo Projeto Político Pedagógico da ESCS, o contexto de vida do recém-nascido grave como resultados que
procuram desenvolver novas abordagens de educação de profis- são, muitas vezes, das condições sociais, econômicas e culturais
sionais de saúde no contexto de uma rede de serviços. Eles são tanto dos pacientes como dos próprios serviços de saúde – tal
muito cientes de que uma rede de serviços para se desenvolver, como ocorre na maioria dos serviços brasileiros de neonatologia.
necessita ter uma escola em sua estrutura de funcionamento: É pro isso que o livro expressa o essencial das Diretrizes Cur-
rede e escola, com objetivos comuns, alcançando benefícios mú- riculares Nacionais/MEC que determinam que além de um sóli-
tuos, através da integração Ensino-Serviços. do conhecimento profissional específico, o profissional formado
O Professor Paulo Roberto Margotto vem realizando seus tra- deve adquirir também em sua formação outros domínios e com-
balhos para o desenvolvimento de habilidades profissionais que petências gerais tais como atenção à saúde, tomada de decisão,
garantam as competências necessárias a uma boa prática e ao comunicação, liderança, administração e gerenciamento de ser-
bom desempenho clínico, dirigidos para uma melhoria contínua viços e educação permanente. O livro expressa a própria evolu-
da qualidade da atenção e da assistência à saúde de recém- ção da especialidade e certamente sua leitura por estudantes,
nascidos de risco. residentes, estagiários e profissionais dessa área da saúde forta-
No desempenho dessa função assistencial–educadora, o pro- lece o domínio do novo paradigma da clínica atual.
fessor Paulo R. Margotto, sempre procurou garantir o domínio da
fisiopatologia e da consistência dos dados e análises epidemioló- Mourad Ibrahim Belaciano 3
gicas – bases da produção de seus conhecimentos. Direciona-os Diretor Geral da ESCS 2001-2012
ao mesmo tempo para os serviços que os originaram para as ativi- Professor do DSC-FS/UnB
dades educacionais correlatas. Nesse sentido, o livro é também o
auge de uma fértil e longa trajetória de divulgação de publicações
contendo artigos relevantes e relatórios estatísticos, além de su-

Paulo R. Margotto
Assistência ao Recem-Nascido de Risco

AUTORES

1. Vanessa Siano da Silva 8. Elisa de Carvalho

Pediatra Infectologista na Região Sul de Mato Grosso; Plantonis- Doutora e Mestre em Ciências da Saúde pela Universidade de
ta na UTI Neonatal da Santa Casa de Rondonópolis, MT; Médica Brasília; Especialista em Pediatria e Gastroenterologia Pediátri-
Responsável pelo Home Care Pediátrico em Rondonópolis; Forma- ca pela Sociedade Brasileira de Pediatria e Associação Médica
da pela UFMT; Residência em Pediatria e Infectologia no Hospital Brasileira; Chefe da Unidade de Pediatria do Hospital de Base do
Regional da Asa Sul/ Hospital Materno Infantil de Brasília. Distrito Federal (HBDF); Supervisora da Residência Médica em
Gastroenterologia Pediátrica do Hospital de Base de Brasília; Co-
2. Fabiano Cunha Gonçalves ordenadora Clínica do Hospital da Criança de Brasília; Membro
do Departamento de Gastroenterologia Pediátrica da SBP; Presi-
Título de Especialista em Neonatologia (TEN); Médico Assis- dente da Sociedade de Pediatria de Brasília.
tente da Unidade de Neonatologia Hospital Regional da Asa Sul/
Hospital Materno Infantil de Brasília e Hospital Santa Marta, DF. 9. Marta David Rocha de Moura

3. Jefferson Guimarães de Resende Mestre em Ginecologia / Obstetrícia com área de atuação


em Neonatologia pela Universidade Estadual Paulista - UNESP
Especialista em Pediatria pela UFRJ; Doutor em Ciências Médi- (2011); Docente da Escola Superior de Ciências da Saúde (ESCS);
cas pela UnB, Intensivista Neonatal do Hospital Regional da Asa Médica Assistente da Unidade de Neonatologia Hospital Regional
Sul/Hospital Materno Infantil de Brasília, de 1986 a 2009. da Asa Sul/Hospital Materno Infantil de Brasília.

4. Maria Rita Garbi Novaes 10. Carlos Moreno Zaconeta

Pós-doutorado em Ética em Pesquisa Clínica. Universidade do Mestre em Medicina pela Universidade de Brasília (UnB); Do-
Chile; Doutorado  na  área de  Terapia Nutricional- UnB; Mestrado cente da Escola Superior de Ciências da Saúde (ESCS); Preceptor
em Química Fina-UnB; Mestrado em Educação. Universidade de de Programa de Residência Médica em Neonatologia e Médico
Maastrich (Holanda); Especialista em Nutrição Parenteral e Enteral Neonatologista do Hospital Regional da Asa Sul/Hospital Mater-
pela Sociedade Brasileira de Nutrição Parenteral e Enteral-SBNPE; no Infantil de Brasília.
Especialista em Farmácia Hospitalar-SBRAFH, Especialista em Far-
4 mácia Oncologia- Sociedade Brasileira de Farmacêuticos em On- 11. Kátia Rodrigues Menezes.
cologia-SOBRAFO, Especialista em Gestão da Educação-FEPECS;
Aperfeiçoamento em Farmácia Clínica. Universidade do Chile Enfermeira especialista em Educação e Promoção da Saúde
(1997) e na Universidade da Flórida (2000), Aperfeiçoamento em pela UnB; Docente de graduação em Enfermagem da Escola
Farmácia Hospitalar. Instituto de La Veja-Peru (2007); Aperfeiçoa- Superior em Ciências da Saúde (ESCS); Lotada atualmente na
mento em Educação. Instituto Hyogo de Educação- Japão (2006); Comissão de Educação Continuada de Enfermagem do Hospital
Farmacêutica Hospitalar da SES-DF (desde 1988); Coordenadora Regional da Asa Sul/Hospital Materno Infantil de Brasília.
do Comitê de Ética em Pesquisa da SES-DF; Professora na Facul-
dade de Medicina da ESCS/FEPECS/GDF; Professora Associada 12. Evely Mirela S. França
da Universidade de Brasília e orientadora nos Programas de Mes-
trado e Doutorado em Ciências da Saúde e Nutrição Humana. Título de Especialista em Neonatologia (TEN); Supervisora do
Programa de Residência Médica de Neonatologia e Médica Assis-
5. Liu Campelo Porto tente da Unidade de Neonatologia Hospital Regional da Asa Sul/
Hospital Materno Infantil de Brasília.
Mestre em Ciências da Saúde (área de concentração em epide-
miologia) pelo Programa de Pós-graduação em Ciências da Saúde 13. Mércia Maria Fernandes de Lima Lira
da Universidade de Brasília; Docente da Escola Superior de Ciên-
cias da Saúde (ESCS); Neonatologista e Infectologista Pediátrica do  Mestre em Ciências da Saúde  pela Universidade de Brasília-
Hospital Regional da Asa Sul/Hospital Materno Infantil de Brasília.   UnB; Pediatra  com Habilitação em Terapia Intensiva Pediátrica
pela Associação de Medicina Intensiva Brasileira (AMIB);  Médica 
6. Lisliê Capoulade Nogueira Arrais de Souza. Chefe da Unidade de Terapia Intensiva Pediátrica do Hospital Re-
gional da Asa Sul/Hospital Materno Infantil de Brasília.
Doutor em Ciências Médicas pela Universidade de Brasília; Pro-
fessora do Curso de Medicina da Escola Superior de Ciências da 14. Maria Teresinha de Oliveira Cardoso
Saúde (ESCS); Preceptora da Pediatra  do Hospital Regional da
Asa Sul/ Hospital Materno Infantil de Brasília. Especialista em Genética Clínica; Mestrado em Imunologia e
Genética Aplicadas; Doutorado em Patologia Molecular, Chefe do
7. Márcia Pimentel de Castro Núcleo de Genética do Hospital de Apoio De Brasilia; Responsável
Técnica pela Genética Clinica dos Hospitais da Rede Hospitalar;
Mestre em Ginecologia / 0bstetrícia com área de atuação Preceptora da Residência em Genética Médica Da SES/DF; Gene-
em Neonatologia pela Universidade Estadual Paulista (UNESP, ticista da Equipe Multidisciplinar da Triagem Neonatal Ampliada do
2011); Especialização em Bioética pela Universidade de Brasília DF e do Ministério da Saúde /DF; Coordenadora do Departamento
- UnB (1999); Docente da Escola Superior de Ciências da Saúde de Genética da Sociedade Brasileira de Pediatria; Docente da Fa-
(ESCS); Médica Assistente da Unidade de Neonatologia do Hos- culdade de Medicina da Universidade Católica de Brasilia.
pital Regional da Asa Sul/Hospital Materno Infantil de Brasília.
Autores

15. Fabiana Márcia de Alcântara Morais 22. Caroline Walker de Medeiros do Nascimento

Preceptora do Programa de Residência Médica em Neonato- Residência Médica em Alergia e Imunologia Pediátrica do Hos-
logia e Médica Assistente da Unidade de Neonatologia Hospital pital Materno Infantil de Brasília; Pós-Graduada em Homeopatia
Regional da Asa Sul/Hospital Materno Infantil de Brasília. pelo Instituto Hahnemanniano do Brasil, em convênio com a
Universidade do Estado do Rio de Janeiro – UNIRIO; Residência
16. Martha Vieira de Pediatria do Hospital Regional de Taguatinga/SES/DF; Médi-
ca Pediatra concursada da emergência do Hospital Regional de
Coordenada da Neonatologia da Secretaria de Estado de Saúde Samambaia e Unidade de Pronto Atendimento de Samambaia
do Distrito Federal; Médica Assistente da Unidade de Neonatologia (Secretaria de Saúde do Governo do Distrito Federal), do ano de
Hospital Regional da Asa Sul/Hospital Materno Infantil de Brasília. 2008 a 2011; Médica Pediatra concursada da emergência do
Hospital Regional de Taguatinga (Secretaria de Saúde do Gover-
17. Alexandre Peixoto Serafim no do Distrito Federal).

Especialista em Terapia Intensiva Pediátrica pela AMIB/SBP;  23. Rozilene Bastos Cabral Muniz
Supervisor do Programa de Residência Médica em Terapia Inten-
siva Pediátrica e Médico da UTI Pediátrica do Hospital Regional Especialista em Pediatria (Residência pela Fundação Hospita-
da Asa Sul/Hospital Materno Infantil de Brasília. lar do Distrito Federal); Especialista em Alergia e Imunologia pela
Associação Brasileira de Alergia-Imunopatologia - ASBAI; Ambu-
18. Fernanda dos Reis Macri latório de Alergia e Imunologia do Hospital de Base de Brasília.

Fonoaudióloga, com área de atuação em recém-nascidos e lac- 24. Vanessa Gonzaga Tavares
tentes no Hospital Regional da Asa Sul/Hospital Materno Infantil
de Brasília. Especialista em Alergia e Imunologia pela Associação Brasilei-
ra de Alergia-Imunopatologia - ASBAI; Ambulatório de Alergia e
19. Rodolfo Alves Paulo de Souza Imunologia Pediátrica do Hospital Regional da Asa Sul/Hospital
Materno-Infantil de Brasília.
Mestrado em Oftalmologia pela Universidade de Brasília (UnB) –
Retinopatia da Prematuridade; Residência em Oftalmologia–Hos- 25. Wílleke Clementino Sleegers.
pital das Forças Armadas Brasília/DF; Título de Especialista em
Oftalmologia pela Comissão Nacional de Residência Médica do Mi- Mestre em Medicina Tropical, com área de atuação em Doenças
nistério da Educação e Cultura e pela Associação Médica Brasilei- Infecciosas e Parasitárias, pela Universidade de Brasília; Especia-
ra; Fellowship em Retina e Vítreo (clínico e cirúrgico) no Centro Bra- lista em Pediatria pela Sociedade Brasileira de Pediatria; Espe- 5
sileiro da Visão (CBV)–Brasília/DF; Fellowship em Retina e Vítreo cialista em Infectologia pela Sociedade Brasileira de Infectologia;
(clínico e cirúrgico) no Hospital de Base do Distrito Federal (HBDF) MBA em Gestão em Saúde e Controle de Infecção Hospitalar pela
pela Fundação de Ensino e Pesquisa em Ciências da Saúde (SES/ Faculdade INESP- SP; Chefe do Núcleo de Controle de Infecção
DF – FEPECS); Fellowship em Retina e Vítreo (clínico e cirúrgico) Hospitalar do Hospital Regional de Samambaia-SES-DF (lotação
no Centro Brasileiro da Visão (CBV), Brasília/DF; Fellowship em atual- Hospital Regional de Samambaia); Ambulatório UNIMISTA-
Retina e Vítreo (clínico e cirúrgico) no Hospital de Base do Distrito Hospital-Dia, SES-DF no Ambulatório de AIDS Pediátrica).
Federal (HBDF) pela Fundação de Ensino e Pesquisa em Ciências
da Saúde (SES/DF – FEPECS); Especialização em Medicina do 26. Miza Maria B.A.Vidigal
Tráfego – médico perito examinador pela Universidade de Brasília
(UnB / ABRAMET); Médico concursado do Hospital Regional da Asa Especialista em Pediatria e Neonatologia pela Sociedade de Pe-
Sul/Hospital Materno Infantil de Brasília, responsável pelo setor de diatria. Médica; Médica Assistente da Unidade de Neonatologia do
Retinopatia da Prematuridade; Médico orientador (preceptor) do Hospital Regional da Asa Sul/Hospital Materno Infantil de Brasília.
Fellowship em Retina e Vítreo do Centro Brasileiro da Visão (CBV) e
Hospital de Base do Distrito Federal (SES/DF – FEPECS); Médico 27. Cira Ferreira A. Costa
orientador (preceptor) da Residência Médica em Oftalmologia do
Hospital de Base do Distrito Federal (SES/DF – FEPECS). Especialista em Pediatria e Neonatologia pela Sociedade Bra-
sileira de Pediatria; Especialista em Terapia Intensiva Pediátrica
20. Marcia Cristina Mondaini Salazar pela AMIB; Especialista em Alimentação Enteral e Parenteral pela
Sociedade Brasileira de Nutrição Parenteral e Enteral.
Especialista em Alergia e Imunologia pela Associação Brasilei-
ra de Alergia-Imunopatologia - ASBAI; Especialista em  Pediatria 28.Fabiana M. Pontes
pela Sociedade Brasileira de Pediatria - SBP; Ex-coordenadora do
Programa de Asma do Distrito Federal - SES-DF; Especialista em Pediatria e Neonatologia pela Sociedade de Pe-
Ambulatório de Alergia e Imunologia Pediátrica do Hospital Re- diatria. Médica; Médica Assistente da Unidade de Neonatologia do
gional da Asa Sul/ Hospital Materno Infantil de Brasília. Hospital Regional da Asa Sul/Hospital Materno Infantil de Brasília.

21. Fabíola Scancetti Tavares 29. Jaisa Ma M. Moura (in memorian, 2012)

Pediatra, Alergista e Imunologista; Mestre em Ciências Aplica- Mestre em Ciências Médica pela Universidade de Brasília
das à Pediatria pela UNIFESP/EPM; Responsável pela Área de (UnB); Especialista em Cirurgia Geral pela Sociedade Brasileira
Imunologia Infantil do Hospital da Criança de Brasília; Respon- de Cirurgia; Especialista em Cirurgia Pediátrica pela Sociedade
sável pelo Ambulatório de Infecções de Repetição do Hospital Brasileira de Cirurgia Pediátrica; Cirurgiã Pediátrica do Hospital
Universitário de Brasília. Regional da Asa SUL/Hospital Materno Infantil de Brasília.

Paulo R. Margotto
Assistência ao Recem-Nascido de Risco

30. Maria Auxiliadora G. de Andrade 41. Patrícia Botelho de Souza

Especialista em Psicopatologia do Bebê (França), Mestrado em Fonoaudióloga; Enfermeira Assistente e Preceptora do Progra-
Primeiras Relações Pais-Bebês e Psicopatologia do Bebê e Psi- ma de Residência de Enfermagem na Unidade de Neonatologia
quismo Materno e Paterno (França). do Hospital Regional da Asa Sul/ Hospital Materno Infantil de
Brasília.
31. Mônica de Lima Lemos
42. M. Monset Couchard
Especialista em Terapêutica Ocupacional com área de atuação
em recém- nascidos e lactentes no Hospital Regional da Asa Sul/ Chargée de Recherche INSERM e Pediatre Attaché, Unidade de
Hospital Materno Infantil de Brasília. Cuidados
Intensivos de Port-Royal, Centro Hospitalar Universitário de
32. Nestor Sabatovicz Cochin Port- Royal, Universidade René Descartes, Paris, França.

Especialista em Terapia Intensiva. Membro da Sociedade Bra- 43. Laurista C. Filho


sileira de Cirurgia Cardiovascular. Médico do HBDF; Cirurgião Pe-
diátrico Cardiovascular do Hospital de Base de Brasília. Assistente Estrangeiro dos Hospitais de Paris.

33. Nilcéia Peclat Lessa 44. Rita de Cássia Dias

Médica Assistente da Unidade de Neonatologia do Hospital Re- Assistente Social do Núcleo de Apoio Terapêutico do Hospital
gional da Asa Sul/Hospital Materno Infantil de Brasília. Regional da Asa Sul/Hospital Materno Infantil de Brasília

34. Rosângela C. Marinho 45. Joseleide G. Castro

Especialista em Terapia Intensiva Pediátrica; Médica Assisten- Especialista em Pediatria e Neonatologia pela Sociedade Bra-
te da Unidade de Neonatologia do Hospital Regional da Asa Sul/ sileira de Pediatria; Médica Assistente da Unidade de Neonato-
Hospital Materno Infantil de Brasília. logia do Hospital Regional da Asa Sul/Hospital Materno Infantil
de Brasília.
35. Sérgio Henrique Veiga
46. Mauro P. Felipe Baças
Médico Pediatra, área de atuação em Neurologia Pediatrica,
6 trabalhando nas clínicas Pediátrica e Neonatal do Hospital Re- Especialista em Pediatria e Neonatologia pela Sociedade Brasilei-
gional da Asa Sul/Hospital Materno Infantil de Brasilia; Docente ra de Pediatria; Médico. Assistente da Unidade de Neonatologia do
e Coordenador de Módulo do 4° ano do Curso de Medicina da Hospital Regional da Asa Sul/Hospital Materno Infantil de Brasília.
Escola Superior de Ciências da Saúde l (ESCS-DF).
47. Maria Elisa C. P. Pixinine
36. Verônica Alves Corrêa de Oliveira
W-Médica Assistente da Unidade de Neonatologia do Hospital
Fisioterapeuta Assistente da Unidade de Neonatologia do Hos- Regional da Asa Sul/Hospital Materno Infantil de Brasília.
pital Regional da Asa Sul/Hospital Materno Infantil de Brasília
48. Giane M. César
37. Viviana I Intriago Sampietro
Especialista em Pediatria pela Sociedade Brasileira de Pedia-
Especialista em Pediatria e Neonatologia pela Sociedade Bra- tria; Médica Assistente da Unidade de Neonatologia do Hospital
sileira de Pediatria; Especialista em Terapia Intensiva Pediátrica Regional da Asa Sul/Hospital Materno Infantil de Brasília.
pela AMIB. Médica Assistente da Unidade de Neonatologia do
Hospital Regional de Taguatinga. 49. Olga Messias

38. Raulê de Almeida Especialista em Cirurgia Pediátrica pela Sociedade Brasileira


de Cirurgia
Especialista em Pediatria (Ministério da Educação); Especialista Pediátrica; MBA em Gestão Empresarial pela USP e Universi-
em Perinatologia e Desenvolvimento do Bebê pela Universidade de dade Unimed; Médica Assistente da Unidade de Neonatologia do
Brasília; Médico Assistente da Unidade de Neonatologia do Hospi- Hospital Regional da Asa Sul/Hospital Materno Infantil de Brasília.
tal Regional da Asa Sul/Hospital Materno Infantil de Brasília.
50. Maria Isabel de Souza Melo
39. Ana Lúcia Moreira do Nascimento
Enfermeira Coordenadora da Unidade de Cuidados Intensi-
Especialista em Pediatria pela Sociedade Brasileira de Pedia- vos Neonatais Externa da Unidade de Neonatologia do Hospital
tria; Chefe da Unidade de Neonatologia do Hospital Regional da Regional da Asa Sul/Hospital Materno Infantil de Brasília; Super-
Asa Sul/Hospital Materno Infantil de Brasília. visora da Residência de Enfermagem Neonatal.

40. Samiro Assreuy

Médico Assistente da Unidade de Neonatologia do Hospital Re-


gional da Asa Sul/Hospital Materno Infantil de Brasília.
Autores

51. Sandra Lins 61. Maristela Estevão Barbosa

Especialista em Pediatria e Neonatologia pela Sociedade Brasilei- Médica  Pediatra e Endocrinologista infantil; Preceptora da Re-
ra de Pediatria; Médica Assistente da Unidade de Neonatologia do sidência de Pediatria do  Hospital Regional da Asa Sul/Hospital
Hospital Regional da Asa Sul/Hospital Materno Infantil de Brasília. Materno infantil de Brasília;
Endocrinologista Infantil assistente do Hospital da Criança de
52. Albaneyde F. Formiga Brasília.

Especialista em Pediatria e Neonatologia pela Sociedade Brasilei- 62. Lady Maria C.A. de Andrade
ra de Pediatria; Médica Assistente da Unidade de Neonatologia do
Hospital Regional da Asa Sul/Hospital Materno Infantil de Brasília. Enfermeira Assistente da Unidade de Neonatologia do Hos-
pital Regional da Asa Sul/Hospital Materno Infantil de Brasília.
53. Adriana Kawaguchi
63. Renilde Barros Tavares
Especialista em Pediatria e Neonatologia pela Sociedade Brasilei-
ra de Pediatria; Médica Assistente da Unidade de Neonatologia do Especialista em Enfermagem em Neonatologia - ABENFO Na-
Hospital Regional da Asa Sul/Hospital Materno Infantil de Brasília. cional – 2005; Enfermeira Assistente da UTI Neonatal do Hospital
Regional da Asa Sul/Hospital Materno Infantil de Brasília. 
54. Emmanuelle S. Coutinho
64. Renata Belém Pessoa M. Seixas
Especialista em Audiologia Clínica. Fonoaudióloga da Uni-
dade de Neonatologia do Hospital Regional da Asa Sul/Hospital Mestre em Ciências da Saúde pela Universidade de Brasília;
Materno Infantil de Brasília. Preceptora da Residência Médica em  Gastroenterologia Pediátri-
ca do Hospital de Base do Distrito Federal; Especialista em Pedia-
55. Thereza Christina Correa Ribeiro tria pela SBP e AMB, Presidente do Centro de Estudos da Unidade
de Pediatria do Hospital de Base do Distrito Federal.
Médica pediatra com área de atuação em Infectologia pediátri-
ca desde 1997; Responsável pelo Ambulatório de HIV/AIDS Pedi- 65. Alessandra de Cássia Gonçalves Moreira
átrico da UNIMISTA/C. SAÚDE nº1 – BSB desde 1998.
Docente da Escola Superior de Ciências da Saúde (ESCS); Mé-
56. Carla Pacheco Brito dica Assistente da Unidade de Neonatologia do Hospital Regional
da Asa Sul/Hospital Materno Infantil de Brasília.
Especialista em Pediatria e Neonatologia pela Sociedade Brasilei- 7
ra de Pediatria; Médica Assistente da Unidade de Neonatologia do 66. Luciana Vilela
Hospital Regional da Asa Sul/Hospital Materno Infantil de Brasília.
Especialista em Pediatria e Neonatologia pela Sociedade Brasilei-
57. Vicência Soares de Almeida ra de Pediatria; Médica Assistente da Unidade de Neonatologia do
Hospital Regional da Asa Sul/Hospital Materno Infantil de Brasília.
Enfermeira Assistente da Unidade de Cuidados Intensivos
Neonatais Externa da Unidade de Neonatologia do Hospital Re- 67. Elysio Moraes Garcia
gional da Asa Sul/Hospital Materno Infantil de Brasília; Precepto-
ra das Residência de Enfermagem Neonatal. Docente do curso de medicina da ESCS; Especialista em car-
diologia com habilitação em Ecocardiografia pela Sociedade
58. Wandréia Marcinoni Varão Ribeiro Brasileira de Cardiologia; Médico Cardiologista da Unidade de
Neonatologia do Hospital Regional da Asa Sul/Hospital Materno
Especialista em Pediatria e Neonatologia pela Sociedade de Pe- Infantil de Brasília.
diatria. Médica; Médica Assistente da Unidade de Neonatologia do
Hospital Regional da Asa Sul/Hospital Materno Infantil de Brasília. 68. Amanda Torrezab Galigali Pereira da Luz (Ver
com Verônica)
59. Mariana de Melo Gadelha
Especialista em Fisioterapia Pneumofuncional pela Universida-
Pediatra com área de atuação em Endocrinologia Pediátrica; de de Brasília.
Trabalha como Endocrinologista Pediátrica e Preceptora da Re-
sidência Médica em Pediatria e Preceptora do Internato em Pe- 69. Maria Elizabeth Correa Santos
diatria no Hospital Regional da Asa Sul/Hospital Materno Infantil
de Brasília; Endocrinologista Pediátrica no Hospital da Criança Fisioterapeuta do Hospital Regional da Asa Sul; Especialista na
de Brasília e no Hospital das Forças Armadas / Ambulatório de Assistência Neonatal e Pediátrica pelo Conselho de Fisioterapia
Endocrinologia Pediátrica da ESCS.  e Terapia Ocupacional.

60. Tayana T. de Almeida 70. Geórgia Alencar

Especialista em Audiologia Clínica; Fonoaudióloga da Uni- Especialista em Pediatria e Neonatologia pela Sociedade Brasilei-
dade de Neonatologia do Hospital Regional da Asa Sul/Hospital ra de Pediatria; Médica Assistente da Unidade de Neonatologia do
Materno Infantil de Brasília. Hospital Regional da Asa Sul/Hospital Materno Infantil de Brasília.

Paulo R. Margotto
Assistência ao Recem-Nascido de Risco

71. Patrícia Cristina Monroe

Fonoaudióloga da Unidade de Neonatologia do Hospital Regio-


nal da Asa Sul/Hospital Materno Infantil de Brasília.

72. Ana Lilian B. Santos

Graduada em Nutrição pela Universidade Federal do Estado do


Rio de Janeiro; Especialista em Nutrição Clínica pela Fundação
de Ensino e Pesquisa em Ciências da Saúde do Governo do Dis-
trito Federal - FEPECS/GDF; Professora da Universidade Paulis-
ta – UNIP (DF); No ano de 2009, recebeu o II Prêmio Científico
Helena Feijó, na modalidade de Nutrição Clínica, do Conselho
Regional de Nutricionistas da 1ª Região (Distrito Federal/Goiás/
Mato Grosso/Tocantins).

73. Clara Campos

Mestre em Ciências da Saúde pela Universidade de Brasília;


Especialista em Pediatria pela Sociedade Brasileira de Pediatria
e AMB; Médica Pediatra da Secretaria de Estado de Saúde do
Distrito Federal.

74. Juliana Duarte Diniz

Cardiologista Pediátrica; Ecocardiografista Pediátrica e Inten-


sivista Pediátrica da Secretaria de Saúde do Distrito Federal; Ex
Médica assistente da Cardiologia Pediatrica do Instituto de Car-
diologia do Distrito Federal - ICDF.

8
Sumario

1.1 Como Exercer A Medicina/Neonatologia Baseado Em Evidências 16


Paulo R. Margotto
1.2 Uso De Corticosteróide Pré-Natal: Visão Do Neonatologista 19
Paulo R. Margotto
1.3 Transnatalidade E Primeiras Relações Pais/Bebê Pré-Termo 27
Capítulo 1 Maria Auxiliadora Gomes De Andrade
Assistência Perinatal 1.4 Assistência Ao Nascimento, Um Olhar Além Do Instrumental 38
Raulê De Almeida
1.5 Estatística Perinatal 41
Paulo R. Margotto, Marta D. Rocha Moura
1.6 Gestação Gemelar 50
Márcia Pimentel De Castro, Paulo R. Margotto Perinatal
Paulo R. Margotto, Marta D. Rocha Moura

2.1 Assistência Ao Recém-Nascido Na Sala De Parto 56


Paulo R. Margotto, Jefferson G. Resende
2.2 Exame Físico Neonatal/Exame Neurológico 65
Fabiana M. Pontes, Sérgio Henrique Veiga
2.3 Avaliação Da Idade Gestacional 72
Paulo R. Margotto, Alessandra De Cássia Gonçalves Moreira
Capítulo 2 2.4 Alojamento Conjunto Para Bebês Saudáveis 87
Assistência Ao E De Cuidados Especiais - Unidade Canguru
Recém-Nascido Nilcéia P. Lessa, Rosângela C. Marinho, Giane Maria Cezar,
Maria Isabel De Souza Melo, Miza Maria B.A.Vidigal
2.5 Aleitamento Materno 96
Nilcéia Peclat Lessa
2.6 Crescimento Pós-Natal Do Prematuro: Uso De Curvas 101
Paulo R. Margotto 9
2.7 Abordagem Do Recém-Nascido Febril 105
Carlos Alberto Moreno Zaconeta, Paulo R. Margotto

3.1 Recém-Nascido De Muito Muito Baixo Peso 110


Paulo R. Margotto, Jefferson G. Resende
3.2 Atendimento Humanizado Em 115
Unidade De Terapia Intensiva Neonatal
Mércia Maria Fernandes De Lima Lira
Capítulo 3. 3.3 Transporte Neonatal 117
Cuidados Ao Recém- Alessandra De Cássia Gonçalves Moreira, Paulo R. Margotto,
Nascido Criticamente Sandra Lins, Luciana Jatubá
Doente 3.4 Dor Neonatal 122
Paulo R. Margotto
3.5. Uso Da Sedoanalgesia Em Recém-Nascidos Ventilados/ 129
Pré-Medicação Para Intubação
Paulo R. Margotto, Marta David Rocha Moura
3.6 Fisioterapia 138
Verônica Alves Corrêa De Oliveira, Amanda Torrezan Galigali
Pereira Da Luz, Maria Elizabeth Corrêa Santos

4.1 Oximetria De Pulso/Capnografia 146


Paulo R. Margotto
Capítulo 4. 4.2 Avaliação Da Severidade Clínica Nos Recém-Nascidos Sob 152
Monitorização Do Paciente Assistência Respiratória/Escore Preditivo De Morbimortalidade
Criticamente Doente Paulo R. Margotto
4.3 Distúrbios Do Equilíbrio Ácido-Básico 156
(Interpretação Da Gasometria)
Paulo R. Margotto, Geórgia Alencar Quintiliano

Paulo R. Margotto
Assistência ao Recém-Nascido de Risco

5.1 Nutrição Enteral 166


Alessandra De Cássia Gonçalves Moreira, Paulo R. Margotto,
Ana Lúcia Do Nascimento Moreira, Emmanuelle S. Coutinho,
Capítulo 5. Patrícia Cristina Monroe, Tayana T. De Almeida
Nutrição Do 5.2 Nutrição Parenteral 172
Recém-Nascido Fabiana M. Pontes, Maria Rita C.G. Novaes,
Paulo R. Margotto, Cira F.Costa
5.3 Leite Humano Exclusivo Para O Recém-Nascido Pré-Termo: 182
Evidências Para A Sua Adição
Paulo R. Margotto

6.1 Distúrbios Metabólicos No Recém-Nascido: 188


Cálcio, Magnésio E Glicose
Paulo R. Margotto, Albaneyde F. Formiga
Capítulo 6. 6.2 Doença Metabólica Óssea Da Prematuridade 193
Distúrbios Metabólicos Miza Maria B. A. Vidigal
6.3 Hidratação Venosa 195
Paulo R. Margotto, Ana Maria C. Paula
6.4 Erros Inatos Do Metabolismo 199
Teresinha Cardoso De Oliveira

7.1 Causas Dos Distúrbios Respiratórios Nos Recém-Nascidos 208


Paulo R. Margotto
7.2 CPAP Nasal 218
Carlos Alberto Moreno Zaconeta
7.3 Ventilação Não Invasiva (Vni) 222
Carlos Alberto Moreno Zaconeta
7.4 Assistência Ventilatória Mecânica 224
Paulo R. Margotto, Jefferson Guimarães Resende
7.5 Terapia De Reposição Do Surfactante Pulmonar 234
10 Paulo R. Margotto
Capítulo 7. 7.6 Hipertensão Pulmonar Persistente 238
Distúrbios Respiratórios Paulo R. Margotto
7.7 Hemorragia Pulmonar 247
Paulo R. Margotto
7.8 Displasia Broncopulmonar 249
Paulo R. Margotto
7.9 Apnéia 259
Paulo R. Margotto, Adriana Fernandes Kawaguchi
7.10 Hérnia Diafragmática 262
Paulo R. Margotto, Martha G. Vieira,
Evely Mirela F. França, Samiro Assreuy
7.11 Traqueostomia 268
Vanessa Siano Da Silva, Lisliê Capoulate

8.1 Arritmias Cardíacas/Insuficiência Cardíaca Congestiva/ 274


Cardiopatias Congênitas
Elysio Moraes Garcia
Capítulo 8. 8.2 Persistência Do Canal Arterial 287
Distúrbios Cardiológicos Viviana I. Intriago Sampietro Serafim, Alessandra De Cássia
Gonçalves Moreira, Paulo R. Margotto
8.3 Cuidados No Pós-Operatório Em Cirurgia Cardíaca 294
Nestor Sabatovicz
9.1 Anemia 298
Paulo R. Margotto, Fabiana Márcia
9.2 Policitemia 303
Paulo R. Margotto
9.3 Distúrbios Hemorrágicos 305
Capítulo 9. Paulo R. Margotto
Distúrbios hematológicos 9.4. Trombocitopenia 310
Paulo R. Margotto
9.5. Hemoderivados 314
Samiro Assreuy
9.6. Trombose 317
Alexandre Serafim

10.1 Convulsões No Recém-Nascido 324


Paulo R. Margotto, Sérgio Henrique Veiga, Josileide G. Castro
10.2. Hemorragia Intraventricular No Rn A Termo 328
Paulo R. Margotto
10.3 Lesão Neurológica Isquêmica E Hemorrágica Do Prematu- 336
ro: Patogenia, Fatores De Risco, Diagnóstico E Tratamento
Paulo R. Margotto
10.4 Macrocrania 349
M. Monset-Couchard, Paulo R. Margotto, Laurista C. Filho
Capítulo 10. 10.5 Hemorragia Intraventricular No Recém-Nascido Pré-Termo 351
Distúrbios Neurológicos Paulo R. Margotto
10.6 Hidrocefalia Fetal E Neonatal 358
Paulo R. Margotto
10.7 Aspectos Ultrassonográficos Das Malformações Cerebrais 372
Paulo R. Margotto
10.8 Ultrassonografia Doppler Cerebral No Recém-Nascido 380
Paulo R. Margotto
10.9 Defeitos De Fechamento No Tubo Neural 390 11
Paulo R. Margotto
10.10 Asfixia Perinatal 393
Carlos A. M. Zaconeta, Fabiano Cunha Gonçalves,
Paulo R. Margotto
10.11 Retinopatia Da Prematuridade 399
Rodolfo Alves Paulo De Souza, Nilcéia P. Lessa,
Rosângela C. Marinho
10.12.Seguimento Do Recém-Nascido De Risco (Follow-Up). 410
Mônica De Lima Lemos, Rosângela C. Marinho, Rita De Cássia
Dias, Fernanda Dos Reis Macri, Sérgio Henrique Veiga

11.1 Infecções Bacterianas 414


Martha G. Vieira, Paulo R. Margotto, Martha David Rocha Moura
Capítulo 11. 11.2 Infecções Fúngicas 434
Infecções Adquiridas Paulo R. Margotto, Alessandra De Cássia Gonçalves Moreira
11.3 Instabilidade Hemodinâmica 439
Alexandre Peixoto Serafim, Juliana Duarte Diniz

Paulo R. Margotto
Assistência ao Recém-Nascido de Risco

12.1 Sífilis 446


Liú Campello Porto
12.2 Toxoplasmose 449
Liú Campello Porto
12.3 Síndrome De Imunodeficiência Adquirida 457
Thereza Christina Corrêa Ribeiro, Wílleke Clementino Sleegers,
Capítulo 12. Paulo R. Margotto, Olga Messias Alves De Oliveira
Infecções Perinatais 12.4 Rubéola 462
Crônicas Liú Campello Porto
12.5 Doença De Chagas 465
Liú Campello Porto
12.6 Herpes Simples 467
Paulo R. Margotto
12.7 Varicela 469
Mauro Proença Bacas
12.8 Tuberculose 472
Maria Elisa C. P. Pixinine
12.9 Tétano 476
Raulê De Almeida, Paulo R. Margotto
12.10 Hepatite B 478
Liú Campello Porto
12.11 Citomegalovirose 482
Liú Campello Porto

13.1 Refluxo Gastroesofágico 490


Capítulo 13. Raulê De Almeida
Distúrbios Do Trato 13.2 Enterocolite Necrosante 494
Gastrintestinal. Martha G. Vieira, Paulo R. Margotto
13.3 Síndrome Do Intestino Curto 500
Maria Rita C. G. Novaes, Paulo R. Margotto, Ana Lilian B. Santos
12
14.1 Hiperbilirrubinemia 506
Capítulo 14. Paulo R. Margotto, Liu Campello Porto, Ana Maria C. Paula
Síndromes Ictéricas 14.2 Colestase 519
Elisa De Carvalho, Renata Belém Pessoa M. Seixas,
Clara Campos

15.1 Injúria Renal Aguda 530


Capítulo 15. Paulo R. Margotto, Márcia Pimentel De Castro
Distúrbios Do Trato 15.2 Hidronefrose 538
Genitourinário Jaisa Maria M. Moura
15.3 Ascite 541
Paulo R. Margotto

Capítulo 16. 16.1 Hidropsia Fetal 550


Hidropsia Fetal Jefferson G. Resende, Paulo R. Margotto
17.1 Protocolo Para Acompanhamento Clínico Aos 554
Recém-Nascidos Submetidos À Cirurgia
Raulê De Almeida, Jaisa Maria M. Moura
17.2 Defeitos No Fechamento Da Parede Abdominal 556
(Onfalocele/Gastrosquise)
Jaisa Maria M. Moura
17.3 Obstruções Intestinais 560
Jaísa Moura
Capítulo 17. 17.4 Atresia De Esôfago 564
Urgências Cirúrgicas Jaísa Maria M. Moura
17.5. Acesso Vascular: Cateterismo De Vasos Umbilicais/ 567
Cateterismo Venoso Central Percutâneo/
Vias De Administração De Medicamentos
Paulo R. Margotto, Martha G. Vieira, Jefferson G. Resende,
Carla Pacheco Brito, Kátia Rodrigues Menezes,
Lady Maria C. A. De Andrade, Vicência Soares De Almeida
17.6. Drenagem Torácica 579
Wandréa Marcinoni Varão Ribeiro, Paulo R. Margotto

18.1. Distúrbios Do Desenvolvimento Sexual 584


Capítulo 18. Mariana De Melo Gadelha, Maristela Estevão Barbosa
Distúrbios 18.2. Hipotireoidismo Congênito 589
Endocrinológicos Mariana De Melo Gadelha, Maristela Estevão Barbosa,
Paulo R. Margotto

19.1 Imunologia Do Recém-Nascido 594


Fabíola Scancetti Tavares, Marcia Cristina Mondaini Salazar
19.2 Imunidade Das Mucosas 601
Vanessa Gonzaga Tavares
Caroline Walker De Medeiros Do Nascimento
Capítulo 19. 19.3 Imunologia Do Leite Materno 605 13
Imunologia Caroline Walker De Medeiros Do Nascimento,
Rozilene Cabral Muniz
19.4 Quando Suspeitar De Imunodeficiência Primária 608
No Recém-Nascido E Lactente
Marcia Cristina Mondaini Salazar, Fabíola Scancetti Tavares
19.5 Avaliação Laboratorial Da Resposta Imune 614
No Recém-Nascido E Lactente
Rozilene Cabral Muniz,Vanessa Gonzaga Tavares

Capítulo 20. 20.1 Uso do CURARE na UTI Neonatal 618


Uso do CURARE Paulo R. Margotto

21.1 Administração De Medicamentos No Recém-Nascido 632


Capítulo 21. Princípios De Administração De Medicamentos
Administração de Principais Medicamentos Em Neonatologia
Medicamentos Kátia Rodrigues Menezes, Renilde Tavares,
Vicência Soares De Almeida

Capítulo 22. 22.1 Banco de Leite 654


Banco de Leite Mauro Proença Bacas

Apêndice Transformação das Unidades Internacionais 664

Indice Remissivo Marta David Rocha, Paulo R. Margotto 666

Paulo R. Margotto
Capitulo 1 Assistência Perinatal

Capítulo 1

Assistência
Perinatal
Assistência ao Recém-Nascido de Risco

1.1 COMO EXERCER A MEDICINA/NEONATOLOGIA BASEADO EM EVIDÊNCIAS

Paulo R. Margotto

O novo paradigma para a prática clínica, ou seja, base para • Journal of Pediatrics: www.jpeds.com,
tomar decisões tem que incluir a evidência da pesquisa clínica. • Proquest: www.proquest.com/pqdweb,
Os nossos tratamentos que usamos para os bebês devem ter • BIREME: www.bireme.br
sempre mais benefícios do que prejuízos. Para isto, devemos ad-
quirir informação através da procura de evidências que isto seja (após realizar o cadastro podem ser solicitados artigos inte-
verdadeiro na literatura. Este é o novo paradigma da medicina: grais através do Acesso a Documentos -SCAD). Os artigos tam-
um esforço para tentar melhorar a situação do paciente base- bém podem ser solicitados diretamente ao autor por e-mail dis-
ado na evidência das pesquisas clínicas. Medicina baseada em ponível nos abstracts.
evidência é o uso consciencioso da melhor evidência disponível Conhecimento da Estrutura de um estudo da Avaliação de um
na tomada de decisões no cuidado do paciente. A prática da me- Tratamento:
dicina baseada em evidência significa integrar experiência clínica Resultados Total
individual com a melhor evidência clínica disponível de pesqui- Evento Não Evento
sas sistemáticas. Sem a experiência clínica as práticas correm o
Sim (Tratado) a b n1
risco de ser tiranizadas pela evidência, podendo esta evidência
ser inapropriadamente aplicada ou mesmo não aplicada ao pa- Não (controle) c d n2
ciente. Sem a evidência, as práticas logo tornar-se-ão obsoletas e
podem se tornar detrimentais ao paciente. Medidas do efeito de tratamento:
Já chegando ao novo milênio, a estratégia mais poderosa é a
procura eletrônica da informação. Temos que ter um modo siste- Risco Relativo (RR): é a medida da força da associação entre a
mático de estudar a literatura médica de uma maneira eficaz. A exposição e o evento (resultado)
evidência válida é apenas uma pequena parte da literatura que
está disponível. Temos que ter uma forma eficiente de busca. RR : a/n1 / c/n2
Somos médicos muito ocupados e temos que encontrar uma evi-
dência válida (artigos de alta qualidade). RRR (Redução do Risco Relativo): 1 – RR
Nos últimos 3 anos foi possível para qualquer parte do mundo
ter acesso à Internet gratuitamente, procurando o MEDLINE atra- DR (Diferença de Risco): a/n1 – c/n2
16 vés deste endereço: www.pubmed.com
(Só é permitido acesso apenas ao resumo do artigo/abstract Número necessário para tratamento (NNT): 1/Diferença de risco
tal como fora publicado, o que permite ao médico fazer uma
primeira seleção de artigos de maior relevância para questão Quando RR é igual a 1, significa que não há efeito com o tra-
clínica que motivou a pesquisa). tamento, ou seja, o efeito do tratamento é o mesmo nos dois
No exercício da medicina neonatal baseado em evidências, ci- grupos. Se o RR é < 1, significa que o risco do evento é menor
tamos um endereço da Internet (www.cochrane.org) que nos pos- no grupo tratado que no controle. A variabilidade amostral do
sibilita acessar metanálises de diversas situações colocadas em estudo pode ser avaliado através de testes de significância ou
ordem alfabética, como: cafeína versos teofilina no tratamento da via intervalo de confiança. Aqui daremos preferência à segunda
apnéia no RN pré-termo; CPAP versos teofilina para a apnéia do abordagem. Assim, desejando-se saber se um RR=0,40 para a
pré-termo; uso profilático de CPAP nasal em RN muito prematuros; redução de ductus arteriosus patente foi significativo no grupo
uso profilático de anticonvulsivante na asfixia perinatal do RN a ter- de RN exposto a um menor regime de oferta hídrica versos maior
mo e muitos outros temas polêmicos na prática clínica diária. O en- regime de oferta hídrica (restricted vs liberal intake in prematures:
dereço específico neonatal é: http://www.nichd.nih.gov/cochrane Bell EF, Acarregui MJ. Cochrane Liberay, 1999), pode-se calcular um
O nome Cochrane é uma homenagem ao Dr. Archibald Lemon intervalo de confiança para esta estimativa. Para um dado nível
Colchrane (1909-1988), pesquisador médico britânico que muito de significância (· = 0,05), o intervalo de confiança representa o
contribuiu para o desenvolvimento da epidemiologia como ciên- intervalo onde deve estar o parâmetro, ou seja, o risco relativo
cia. A biblioteca Cochrane é um compêndio de revisões sistemá- verdadeiro. Se o valor 1, que se refere à nulidade da associação,
ticas de estudos randomizados de todos os campos da medicina. não estiver contido no intervalo, temos uma confiança que na
Utilizando o site www.paulomargotto.com.br vamos ter a opor- população de onde nossa amostra foi extraída, o RR é diferente
tunidade de consultar casos clínicos selecionados, resumos de de 1, sendo, portanto significativo o achado da amostra. Para a
artigos neonatais, reprodução das mais importantes Conferên- realização dos cálculos do risco relativo e o intervalo de 95% de
cias de Congressos/Simpósios em Perinatologia, além de acesso confiança, assim como o seu significado, consulte www.paulo-
a importantes sites de busca como: margotto.com.br, em Entendendo Bioestatística e Exercício da Me-
dicina Baseado em Evidências.
• MEDLINE: www.pubmed.com , Uma vez calculado o intervalo de 95% de confiança para o nos-
• Mdconsult: www.mdconsult.com, so exemplo, temos:
• Journal of Perinatology: www.nature.com/jp, RR = 0,40 (95% IC: 0,26 – 0,63): a interpretação deste resul-
• New England Journal of Medicine: http://content.nejm.org tado é a de que o RR é significativo na redução do ductus arte-
• Cochrane Neonatal: www.nichd.nih.gov/cochrane. riosus patente no grupo exposto ao regime de menos líquido. O
• BIREME: www.bireme.br intervalo de confiança não contém o valor 1, que indica nulidade
• Pediatrics: http://pediatrics.aappublications.org, de associação, ou seja, a mostra estudada reflete um efeito real
• Neonatology on the Web: www.neonatology.org, da menor oferta hídrica na redução do ductus arteriosus patente.
• Jornal de Pediatria: www.jped.com.br.
Capitulo 1 Assistência Perinatal

Redução do Risco Relativo (RRR): determina, em termos per- NNT = 1 /-0,063 = 15,87 = 15,9
centuais, que redução o tratamento provoca na ocorrência da do- Vejam que há uma redução significativa de 48% de morte neona-
ença no grupo tratado quando comparado com o grupo controle. tal no grupo submetido à restrição hídrica e o número necessário
para o tratamento com restrição hídrica para evitar uma morte ne-
RRR: 1 – RR onatal é de 15,9.
No exemplo anterior; Ductus arteriosus patente: regime de me- Vejam a apresentação dos resultados: Forest Plot mostra visu-
nor x regime de maior oferta hídrica. almente os resultados de uma metanálise, além de fazer uma
estimativa visual da quantidade de variação entre os resulta-
RR: 0,40 dos. RR(95% IC)

RRR: 1 – 0,40= 0,60 x 100 = 60% (há uma redução de 60% Oferta Hídrica Restrita X Ingesta Liberal
do ductus arteriosus patente no grupo de menor oferta hídrica).
Diferença de Risco (DR): a/n1 – c/n2. No exemplo anterior do • Ductus arteriosus patente
ductus arteriosus patente com oferta hídrica menor ou maior, a • Hemorragia peri/intraventricular
DR foi de 0,190. • Morte neonatal

Número necessário para tratamento (NNT): 1/DR Quando a linha horizontal estiver à esquerda (RR<1) signi-
fica redução do evento; quando à direita, aumento do evento
A importância de se conhecer a DR é que nos possibilita calcu- e quando toda vez que a linha horizontal tocar a linha vertical
lar a NNT, que nos informa quantos indivíduos devem ser trata- significa que o RR não é significativo.
dos para que se possa evitar a ocorrência de um evento (quanto Veja agora um exemplo do RR localizado a direita: meta-análise
melhor o tratamento, menor o NNT). No caso do ductus arterio- revista por Halliday e Ehrenkranz para determinar se o uso de
sus patente frente a dois regimes, de oferta hídrica (maior x me- esteróide entre 7-14 dias de vida versos controle é benéfico na
nor), o NNT é: prevenção e/ou tratamento da Doença Pulmonar Crônica no pre-
maturo; foram observados como efeitos colaterais:
NNT = 1/DR
• Hiperglicemia: RR= 1,27, IC=0,99-1,63. Como interpre-
DR= - 0,190 ; NNT = 1/-0,190 = 5,26 = 5,3 tar: há um aumento da glicemia em 27% destes bebes
(1,27 x 100 = 127: aumento de 27%: 100 + 27), porém
Ou seja, o número necessário de indivíduos a serem tratados com não foi significativo (veja que o intervalo de confiança - IC
restrição hídrica para evitar um caso de ductus arteriosus patente - contém a unidade: 0,99....1....1,63).
é 5,3. • Hipertensão arterial: RR = 5,30. IC 95%: 1,59 - 21,29:
há um aumento significativo (o intervalo de confiança não
17
Mais 2 exemplos: contém a unidade) de 5,3 vezes mais.
• Hipertrofia do miocárdio: RR = 9. IC: 95%: 1,2 - 67,69:
Hemorragia intraventricular (todos os grupos): grupo com me- há um aumento significativo (o intervalo de confiança não
nor x maior oferta hídrica. contém a unidade : 1....1,2....67,69) de 9 vezes mais.

RR= 0,94 (95% IC: 0,52 – 1,72) Vejam como fica a apresentação dos resultados:
• Esteróide com 7-14 dias nos RN ventilados x controle
RRR= 1 – 0,94 = 0,06 x 100= 6% • Hiperglicemia
• Hipertensão arterial
DR= - 0,011 • Hipertrofia do miocárdio

NNT = 1/-0,011 = 90,9 Odds Ratio ou Razão das Chances

Interpretação Os estudos de casos-controles comparam a freqüência de ex-


postos a um determinado fator entre um grupo de indivíduos que
O risco de hemorragia intraventricular (todos os graus) não foi apresenta a doença – casos – e outro que não a tem – controle.
significativamente afetado pela oferta hídrica (veja, o intervalo de Nestes estudos se ingressa pelo dano, isto é, um grupo de indiví-
confiança do RR contem a unidade). A redução da hemorragia in- duos doentes se estuda a exposição ao(s) fator (es) é compara-
traventricular, que é 1-RR, é de 6%, ou seja, há uma diminuição de do contra um grupo de indivíduos sem esta patologia, expostos
6% na incidência desta patologia no grupo com restrição hídrica, ao(s) mesmo(s) fator (es). Aqui estamos lidando com grupos: um
mas esta redução não foi significativa. O NNT de 90,9 significa que portador da condição (doença) e outro não portador da condi-
é necessário restringir líquido em 90,9 RN para evitar a ocorrência ção (controle). Estes estudos também são chamados de estudos
de 1 caso de hemorragia. Lembramos que quanto melhor o trata- retrospectivos, pois a partir da doença-dano se busca para trás
mento, menor o NNT. fator (es) de exposição. Veja o esquema:
Morte neonatal: ingesta hídrica restrita x ingesta liberal
Fator Dano
RR= 0,52 (95% IC: 0,28 – 0,96) Sim Não
Sim a b
RRR= 1 – 0,52 = 0,48 x 100= 48%
Não c d
DR= - 0,063 a+b b+d n(a+b+c+d)

Assim, a soma horizontal não tem sentido (se pode conhecer

Paulo R. Margotto
Assistência ao Recém-Nascido de Risco

• Halliday HL, Ehrenkranz RA. Moderately early ( 7-14 days postnatal corticosteroids for pre-
todos os enfermos e só um número muito pequeno dos não doen- vention chronic lung disease in preterm infants. nichd.nih.gov/cochrane.htm, 1999
tes). Assim, torna-se impossível calcular o RR como aprendemos • Margotto PR. Entendendo Bioestatística Básica. Boletim Informativo Pediátrico (BIP)-
Brasília, N0 65, pg 6, 2002 (disponível em www.paulomargotto.com.br em Entendendo
anteriormente e então, usamos um estimador indireto do RR que Bioestatística (acessado em 8/3/2009)
é a razão dos produtos cruzados ou de chance (Odds Ratio:OR):

OR = a x d/b x c

Este é um bom estimador do RR sempre que a prevalência do


dano nos não expostos seja igual ou menor que 5%.
A expressão “odds” não possui equivalente em português; al-
guns epidemiologistas referem-se ao Odds Ratio (OR) como “ra-
zão de chances “, “razão de produtos cruzados” ou ainda “razão
de odds”. Usaremos o termo original.
A razão das chances (OR) é definida como a probabilidade de
que um evento ocorra dividido pela probabilidade de que ele não
ocorra. Quando o(a) é pequeno com relação a (b) e o (c) é peque-
no em relação a (d), os resultados entre RR e o OR são muitos
semelhantes
Como calcular a Odds Ratio:

Resultado
Evento Não Evento
Sim a b
Não c d

OR = a x d/b x c

Utilizando o mesmo grupo de dados, o valor obtido para a me-


dida de associação pela fórmula do OR é geralmente maior do
que se obtém através da fórmula tradicional do RR.
18 Do mesmo modo que o RR, avalia-se a variabilidade amostral
da OR através do cálculo do intervalo de confiança e a interpre-
tação é a mesma do RR, ou seja, se o intervalo de confiança da
OR contiver a unidade, significa ausência de associação. Para os
cálculos, consulte Margotto, PR. www.paulomargotto.com.br, em
Entendendo Bioestatística.

Antigo Paradigma Da Prática Clínica

Tomada de decisões se baseava em:


• Boa experiência clínica
• Bastante conhecimento de fisiopatologia
• Informação em bons livros
• Opinião de especialistas (professores)

Novo Paradigma Da Prática Clínica

Tomada de decisões se baseia em:


Evidências das pesquisas clínicas, evidentemente com emba-
samento na experiência clínica. A Medicina Baseada em Evidên-
cia é o uso consciencioso da melhor evidência na tomada de de-
cisões integrado com experiência. Sem a experiência, as práticas
correm o risco de serem tiranizadas pelas evidências

Bibliografia
• Margotto PR. Risco Perinatal. Boletim Informativo Pediátrico (BIP)- Brasília Nº52, pg 1,
1989
• Sackett DL. Evidence-based medicine. Semi Perinatol 21:3, 1997
• Wagner MB e Callegari-Jacques SM. Medidas de associação em estudos epidemiológicos:
risco relativo e odds ratio. J Pediatr (Rio J) 74: 247, 1998.
• Wagner MB. Aspectos da medicina embasada em evidências. J Pediatr (Rio J) 74:419,
1998
• Sinclair J. Como praticar medicina/neonatologia baseada em evidências. 1º Simpósio In-
ternacional de Neonatologia. RJ. 26 a 28/8/1999.
• Bell EF, Acarregui MJ. Restricted vs liberal water intake in prematures. www.nichd.nih.gov/
cochrane.htm ,1999
• Leite AJM. Medicina baseada em evidências: um exemplo no campo da pediatria. J Pediatr
(Rio J) 75: 215, 1999.
Capitulo 1 Assistência Perinatal

1.2 USO DO CORTICOSTERÓIDE PRÉ-NATAL: VISÃO DO NEONATOLOGISTA

Paulo R. Margotto

Tratamento e procedimentos instituídos sem avaliação de con- to materno (vida média de 5-6h; a vida média do cortisol é de
trole de resultados podem revelar efeitos inesperados. A história 2h). Assim, causa-nos estranheza em saber que há obstetras que
da medicina é repleta de adoção de intervenções antes de uma optam pela hidrocortisona (para obter efeitos com a hidrocortiso-
avaliação completa. A única forma que temos para prevenir ado- na na diminuição da incidência da doença da membrana hialina,
ções de condutas seguidas por falta de efetividade ou mesmo você deveria usar uma dose equivalente 13 vezes mais à da be-
com resultados funestos para depois abandonar, é esperar resul- tametasona/dexametasona).
tados de ensaios clínicos apropriadamente randomizados. A falta Os esteróides promovem uma indução de mudanças no tecido
destas medidas de controle tem sido uma verdade na neonato- conectivo do pulmão, indução de receptores beta adrenérgicos no
logia. O clássico exemplo é o uso de O2 em altas concentrações pulmão, efeito direto no gen da proteína do surfactante (SPA), au-
nos recém-nascidos (RN) prematuros, resultando na retinopatia mento do desenvolvimento antioxidante do pulmão, reduzindo o
da prematuridade. Muitas terapias podem resultar em desastres. risco de Doença da Membrana Hialina (DMH), tal como o surfac-
Apesar disto muitos profissionais ainda utilizam destas terapias tante administrado na sala de parto. Meta-análise de 3000 mulhe-
sem muito cuidado. Devemos manter-nos atento para a seguran- res de alto risco para prematuridade revelou: no grupo esteróide
ça de tratamentos que ainda usamos, mas que não foram sufi- em que os RN nasceram entre 24h até 7 dias após o uso de este-
cientemente testados. róide, a diminuição da DMH foi de 69% (OR: 0,31 – IC 95%: 0,23
Dos grandes acertos na perinatologia, vamos comentar sobre – 0,42), havendo menor necessidade do uso de surfactante (22%
o corticosteróide pré-natal: x 53% - p< 0,01) e diminuição significativa da mortalidade neona-
Provavelmente não há uma prova definitiva que uma interven- tal (41%: OR: 0,59- IC 95% de 0,47-0,75). Bunt e cl evidenciaram
ção seja ambas efetiva e segura, mas deve haver um momento que o corticosteróide pré-natal aumenta a síntese do surfactante
que diz que mais ensaios clínicos tornam-se antiéticos, ou melhor, pulmonar em 1,3mg/kg/dia por cada dose de esteróide.
ainda, uma perda de recursos. Nos últimos 30 anos, 18 ensaios
clínicos têm evidenciado consistentemente que um simples curso Displasia Broncopulmonar
de esteróide pré-natal dada à mulher que irá dar a luz a um RN pré-
termo reduz a morbimortalidade neonatal. Muitos perinatologistas A displasia broncopulmonar (DBP)é um grande problema na neo-
têm sido relutantes em abraçar esta simples intervenção. natologia; à medida que estes RN sobrevivem, maior é a evidência
O uso do esteróide pré-natal é um dos tratamentos melhor do- de problemas pulmonares crônicos. Com o não uso do esteróide,
cumentado quanto a sua efetividade em salvar vidas e na redu- segundo estudo de Van Marter e cl, o risco de ter a DBP no RN <
19
ção de custos na medicina perinatal. 1750g foi 3 vezes maior (OR: 3,0 – IC 95% : 0,4 – 4,3); um curso,
Na corticoterapia pré-natal existe uma data muito importante, mesmo incompleto, não aumentou o risco (OR: 1,3 – IC 95% : 0,4 –
que é o dia 28 de fevereiro a 2 de março de 1994, quando houve 4,3%). Onze anos depois, Van Marter e cl, em um estudo envolven-
a Conferência de Consenso do Instituto Nacional de Saúde. O obje- do 1454 RN de muito baixo peso evidenciaram que a taxa de DBP
tivo desta Conferência foi para aumentar, entre os obstetras, o uso (necessidade de O2 com 36 semanas de idade pós-concepcional)
dos esteróides pré-natal (no primeiro objetivo, até 60% e no se- não variou com o uso do esteróide pré-natal. Embora os autores
gundo objetivo, até 90-100%). Antes da Conferência, o uso do es- não saibam o número de cursos usados, a supressão adrenal por
teróide era de apenas 12-18% (peso ao nascer entre 500-1500g). múltiplos cursos pode ter contribuído, uma vez que há evidências,
Hoje, estudo recente evidenciou que 98% dos obstetras do Reino a partir dos estudos de Watterberg e cl , que menor nível sérico de
Unido usam esteróide pré-natal em doses múltiplas e 75% destes cortisol nos primeiros dias de vida associa-se com maior risco de
concordam que deva haver mais estudos controlados. Assim, não DBP. Esta é a razão pela qual Banks e cl, em 2002 relataram maior
devemos passar da realidade benéfica ao exagero prejudicial. risco de DBP no RN pré-termo cujas mães receberam mais de 3
Nesta visão do neonatologista vamos apresentar os efeitos pul- cursos (veja Cursos Múltiplos). No RN abaixo de 1000g, o efeito
monares (Doença da Membrana Hialina, Hérnia diafragmática, protetor do esteróide pré-natal é questionado. Estudo de 1999, re-
Doença Pulmonar Crônica), os efeitos não pulmonares (canal ar- alizado por Wells e cl envolvendo 670 RN < 1500g, houve aumento
terial, hemorragia intraventricular, leucomalácia periventricular, da freqüência de RN sobreviventes sem DBP.
balanço hidroeletrolítico, enterocolite necrosante), o uso do es-
teróide na pré-eclâmpsia, na rotura prematura de membranas, Canal Arterial Pérvio
tocólise, tempo de hospitalização, múltiplos cursos e follow-up.
Sempre que usar o esteróide pré-natal, considerar o pulmão, o O Canal Arterial Pérvio atrasa a saída do RN do respirador e uma
cérebro, coração e intestino. vez prolongando a assistência ventilatória, o risco de DBP torna-se
Ao optar pelo esteróide, é importante que se saiba que a inser- maior. Os RN cujas mães receberam esteróide pré-natal têm menor
ção de um flúor na posição 9 aumenta a potência e prolonga a probabilidade de ter canal arterial pérvio, pois o esteróide pré-natal
vida média do esteróide, tornando a betametasona (9-alfa-flúor diminui a sensibilidade corticosteróide-induzida a prostaglandina
16 beta-metilprednisolona) 33 vezes tão potente quanto à hidro- que mantém a patência ductular. É bastante significativa a menor
cortisona e a dexametasona (9-alfa-flúor 16-alfa metilprednisolo- incidência do canal arterial no grupo de RN cujas mães utilizaram
na) 25 vezes tão potente quanto à hidrocortisona. A prednisona esteróide, versus os RN cujas mães não utilizaram esteróide.
e a prednisolona são bastante inativadas na placenta, devido a
11-beta-hidroxiesteróide desidrogenase. O cortisol e a predniso- Enterocolite Necrosante
lona tem 67,4% e 51,4%, respectivamente de inativação versus
betametasona/dexametasona que apresentam uma porcenta- Quanto à enterocolite necrosante (ECN) Hallac e cl relataram
gem de 1,8% e 7,1% de inativação pela placenta, respectivamen- incidência de 14,45% no grupo sem betametasona versus 3,4%
te. A betametasona atinge a circulação fetal 1h após o tratamen- no grupo com betametasona que nasceu acima de 24h e nos

Paulo R. Margotto
Assistência ao Recém-Nascido de Risco

bebês que nasceram antes de 24h do uso, 6,9%. Metanálise que é o hidrocéfalo pós-hemorrágico. O esteróide pré-natal diminui
de Crowley evidenciou redução significativa da ECN (68%: OR: significativamente a ventriculomegalia em 70% com o curso comple-
0,32 – IC 95% 0,16-0,64). A incidência de ECN no grupo tratado to (OR: 0,3 IC a 95% de 0,3-0,96). O RN cuja mãe fez uso de esterói-
foi de 1,6% versus 51%. de, se ocorrer a HIV, a ventriculomegalia ocorrerá numa freqüência
Recentemente Guthrie e cl identificaram os fatores de riscos significativamente menor.
para a ECN em 98 Unidades de Cuidados Intensivos Neonatais Kari e cl com o uso da dexametasona (157 gestantes com ida-
nos Estados Unidos. O estudo compreendeu 15072 RN, dos de gestacional menor que 32 semanas) mostraram diminuição
quais 390 apresentaram ECN (2,6%). Entre os fatores de risco, significativa da HIV/LPV (13% x 33%). Maher e cl envolvendo
,em uma análise multivariada, o corticosteróide pré-natal este- 432 gestantes entre 26-31 semanas, utilizando betametasona
ve associado com a ECN (1,6 mais; 95% IC de 1,3-2,0). Os au- evidenciaram diminuição da HIV em 74% (OR: 0,26 – IC 95% de
tores relatam que 59% das pacientes receberam corticosterói- 0,08-0,90). Spinillo e cl com 302 gestantes entre 24-33 semanas
de pré-natal e algumas podem ter recebido cursos múltiplos. utilizando dexametasona, evidenciaram diminuição da HIV em
O uso de cursos múltiplos de corticosteróide pré-natal pode ter 76% (OR: 0,24- IC 95% de 0,09-0,61). Shanrakan e cl envolven-
diferentes efeitos morfológicoos no desenvolvimento gastrin- do 4665 RN com peso ao nascer inferior a 1500g, evidenciaram
testinal em comparação com curso simples. Infelizmente os significativa diminuição da HIV graus III e IV tanto com o curso
dados dos autores não permitiram a avaliação desta hipótese. completo quanto com o curso parcial de betametasona. Cateri-
no e cl, estudando 1161 RN com idade gestacional entre 24-34
Hemorragia Intraventricular e semanas e peso ao nascer de 500-1750g, evidenciaram o efeito
Leucomalásia Periventricular protetor do esteróide pré-natal para a leucomalácia periventricu-
lar HIV, LPV com HIV. O grupo com esteróide pré-natal apresentou
Quanto à hemorragia intraventricular (HIV) e leucomalácia peri- significativamente menos LPV (23% x 31% - p < 0,005), LPV com
ventricular (LPV): A HIV e a LPV constituem um grande problema HIV (5% x 11% - p < 0,009). Após análise logística controlando
nestes RN prematuros extremos sobreviventes. Interessante que variáveis de confusão, o esteróide pré-natal esteve associado
o uso do surfactante pulmonar não diminui a incidência de HIV e com 56% e 28% de menor probabilidade do RN apresentar LPV
LPV; combinando o uso do surfactante pulmonar com o esteróide com HIV (OR= 0,44 – 95% IC= 0,25 – 0,77) e LPV isolada (OR=
pré-natal há uma diminuição significativa da HIV e LPV. Os meca- 0,42 – 95% IC= 0,20 – 0,88), respectivamente. Assim, o maior
nismos citados incluem: estabilização da pressão arterial (primei- uso do esteróide pré-natal (reduziu em mais de 50% a LPV) pode
ros 3 dias), fechamento espontâneo do canal arterial, aceleração melhorar o prognóstico neurológico do RN pré-termos.
da diferenciação neuronal, aumento da maturação dos vasos da Verma e cl, estudando os antecedentes obstétricos para HIV
matriz germinativa. Interessante lembrar que nos RN com idade em 745 RN de peso ao nascer entre 500-1750, evidenciaram
gestacional menor que 32 semanas existe uma proeminência de significante aumento da HIV e LPV na presença de rotura pre-
sangue à matriz germinativa. matura de membranas. A corioamnionite clínica aumentou a
20 Estudo de Cooke, de 1999, envolvendo 1722 RN com peso de incidência e a severidade destas lesões.
nascimento inferior a 1500g, evidenciou que no grupo esteróide a Na determinação da influência das causas do nascimento do
sobrevivência foi 3 vezes maior (OR: 3,34 – IC 95%: 2,31-4,79), a recém-nascido muito prematuro sobre o prognóstico neonatal,
incidência de hemorragia cerebral parenquimatosa diminuiu 56% Baud e cl relataram, após regressão logística múltipla, que a ad-
(OR: 0,44 – IC 95% 0,28-0,71), O risco de paralisia cerebral dimi- ministração do esteróide no pré-natal foi associado com uma di-
nuiu 53% (OR: 0,47 – IC 95% 0,27-0,81). Demarini relatou que minuição significativa de LPV (OR de 0,36; 95% IC de 0,16-0,79).
no grupo esteróide, os RN apresentavam pressões arteriais média Agarwal e cl relataram que um curso completo de esteróide pré-
mais estáveis com 3, 6, 12,18 e 24h, menor necessidade de ex- natal foi associado com efeito protetor contra lesões na substância
pansores de volume e menor necessidade do uso de vasopres- branca cerebral nos RN <1500 gramas ao nascer (p<0.03).
sores de suporte. Estes achados conferem proteção contra a HIV. As infecções perinatais e condições inflamatórias têm sido recen-
Achamos muito importante enfatizar estes aspectos do pon- temente implicadas na patogênese da LPV, haja visto o aumento de
to de vista cerebral, pois quando o obstetra usa esteróide, ele citocinas proinflamatórias (TNF – alfa, interleucina–1β e interleuci-
o faz no sentido de evitar a doença da membrana hialina. Ao na–6) na corrente sanguínea, no líquido amniótico do RN com LPV.
usar esteróide pré-natal, raciocinar em termos de pulmão, in- Mais recentemente tem sido descrito receptores da interleucina-2
testino, coração e cérebro. nas lesões cerebrais, levando-se a crer que esta interleucina possa
O estudo de Leviton e cl, envolvendo 1604 RN com peso ao induzir a produção das citocinas proinflamatórias TNF-α (fator mie-
nascer menor que 1500g, evidenciou que nos RN cujas mães uti- lotóxico) e a interleucina 1β, que por sua vez induzem a degenera-
lizaram esteróide houve diminuição da ecolucência periventricular; ção da mielina e iniciam a apoptose (morte) dos oligodendrócitos.
esta ecolucência pode significar isquemia, congestão venosa e está Estudos epidemiológicos evidenciam que as infecções perinatais,
muito relacionado mais atualmente, com infecção feto-placentária, corioamnionite e sepses precoces são associadas com um aumento
principalmente na presença de vasculite fetal, nos casos com HIV de risco de LPV. A administração de corticosteróide pré-natal, um
e nos casos com hipotiroxinemia. Mais adiante vamos ver que as potente inibidor da síntese de citocinas pró-inflamatórias, associa-se
pacientes com bolsa rota prolongada e que têm vasculite fetal, apre- com a diminuição do risco de LPV. Assim, o corticosteróide pré-natal
sentam um aumento excessivo no risco de lesão cerebral no seu é o fator mais significativo na prevenção da HIV.
RN prematuro. Interessante que o esteróide pré-natal protege esta Analisando fatores de risco para HIV nos RN prematuros de
lesão cerebral nestes RN. Os RN com hipotiroxinemia têm o risco de muito baixo peso, Linder e cl, recentemente relataram menor ris-
2 vezes mais de ter lesões cerebrais e o esteróide pré-natal prote- co de HIV grave para cada dose de esteróide pré-natal (OR de
ge estes bebês das lesões cerebrais (um curso completo e parcial 0,52; 95% IC: 0,30-0,90).
diminui em 50% o risco de HIV: OR: 0,5 IC 95% de 0,2-0,98). Outro Tavares, estudando os fatores perinatais associados a HIV re-
fato muito importante é a ventriculomegalia; sabemos que 30% dos latou que os RN cujas mães não usaram esteróide pré-natal tive-
bebês com HIV vão ter dilatação ventricular e destes, 50% vão ter ram 15 vezes mais chance de apresentar HIV de graus 2 a 4 do
uma dilatação ventricular transitória ou a dilatação desaparece ou que os das mães que receberam esteróide pré-natal.
os ventrículos permanecem aumentados, mas sempre do mesmo Estudos recentes assinalam diferenças quanto ao efeito neuropro-
tamanho e 50% evoluem para uma dilatação ventricular progressiva tetor da betametasona em relação à dexametasona (vide adiante).
Capitulo 1 Assistência Perinatal

Balanço Hidreletrolítico Pré-Eclâmpsia Severa

Quanto ao balanço hidroeletrolítico no RN abaixo de 1000g: Estudo brasileiro publicado em 1999, com 218 gestantes entre
estudo realizado em 1999 e em setembro de 2000 por Omar e cl 26-34 semanas com pré-eclâmpsia, evidenciou diminuição signifi-
evidenciaram que nos RN cujas mães usaram esteróide apresen- cativa da doença da membrana hialina HIV, do Canal arterial, da
taram menor perda insensível de água (devido ao aumento da infecção perinatal, da mortalidade neonatal, havendo aumento do
maturação das células epiteliais da pele), menor hipernatremia, risco de diabetes gestacional. Não houve diferenças entre natimorto
maior diurese e natriurese, maior reabsorção do líquido pulmo- e pressão arterial média.
nar fetal devido ao aumento da atividade da Na-K-ATPase, levan- Em outro estudo de 1999 com 31 gestantes (28-33 sem), foi
do ao aumento da expansão do extracelular, ajudando a prevenir observado relação L/E ≥ 2 em 81% nas mães que usaram este-
a hipernatremia e previne a hipercalemia não oligúrica pela es- róide. A doença da membrana hialina ocorreu em 47% no grupo
tabilização da membrana celular que resulta em diminuição da de esteróide pré-natal x 100% no grupo controle. Assim, dizer que
saída de K+ do intracelular para o extracelular. A hipercalemia a pré-eclâmpsia amadurece o pulmão e o RN não tem doença
pode levar a arritmias cardíacas e a lesões cerebrais. da membrana hialina não é totalmente verdadeiro. O esteróide
Jain e cl, mais recentemente, estudando o efeito do sexo e pré-natal tem importância na prevenção da DMH em RN de mães
da exposição antenatal ao esteróide não evidenciaram efeito com pré-eclâmpsia.
do esteróide pré-natal na barreira epidérmica do recém-nascido
pré-termo (foram estudadas 137 crianças nascidas antes de 34 Tocílise x Hemorragia Intraventricular
semanas de idade gestacional, sendo que 87 foram expostas ao
esteróide pré-natal e 50 não receberam esteróide no pré-natal). Quando você faz a tocólise isolada, há o risco de aumentar a HIV
em 2 vezes mais. Também Pranikoff e cl relataram um aumento
Rotura Prematura de Membranas de HIV 3 vezes mais com a tocólise isolada. Atkinson e cl relataram
aumento de 2x de HIV grau III e IV quando a tocólise sem esteróide
A rotura prematura de membranas (RPM) ocorre em 30% dos foi realizada. Os tocolíticos afetam o padrão de fluxo sangüíneo
nascimentos pré-termos. Vermillion e cl com 374 RN entre 24-34 cardíaco fetal, cerebral e renal materno ou fetal e o esteróide pré-
semanas de gestação, divididos em 3 grupos (curso simples [99 natal alivia o impacto negativo dos tocolíticos pelo efeito no fluxo
RN], curso múltiplo [3 a 6: 72 RN] e controle [203 RN]), observaram sangüíneo cerebrovascular ou na integridade cerebrovascular.
que no grupo de curso múltiplo, houve aumento significativo da sep-
ses neonatal precoce (p<0,0002) e corioamnionite e endometrite Follow-Up
(p<0,004). Quando foi comparado curso múltiplo x curso simples,
não houve diferenças significativas em doença da membrana hiali- Estudo de Salokorp e cl avaliando o crescimento e desenvolvi-
na, HIV e ECN (provavelmente a corioamnionite teve influência nega- mento aos 2 anos de vida evidenciam menor incidência de pa-
tiva no efeito protetor, via citocinas). ralisia cerebral no grupo com esteróide pré-natal (10% x 22%).
21
Metanálise realizada por Alfirevic, incluindo 13 ensaios clíni- É importante que os colegas que fazem follow-up saibam se as
cos, evidenciou que o esteróide pré-natal na rotura prematura de mães fizeram ou não uso de esteróide e é importante anotar o
membranas melhorou o prognóstico do bebê (diminui o risco de número de cursos utilizados (veja a seguir).
doença da membrana hialina em 40%) sem aumento do risco de Estudo recente realizado por Arad e cl evidenciou que os RN que
infecção tanto para o RN como para a mãe. apresentaram maiores benefícios cognitivos na idade de 6-8 anos
Na RPM um grande problema é a lesão cerebral. Em 1999, Le- com o uso do esteróide pré-natal (1 curso com betametasona) fo-
viton e cl, como já citamos anteriormente, relataram um risco de ram aqueles com ventriculomegalia no ultra-som (vantagem de 23
6,9 de ecoluscência periventricular na infecção materna e 10,8 pontos no QI), evidenciando assim o efeito neuroprotetor do este-
vezes na vasculite fetal, sendo estes 2 fatores fortes predictivos de róide pré-natal.
ecolucência periventricular, sobretudo a tardia no RN pré-termo. Nos RN com ultrassom normal, o esteróide pré-natal foi asso-
Spinillo e cl relataram que os RN pré-termos que nascem após ciado com um aumento de 14,1 pontos no QI na idade 6-8 anos.
rotura prolongada das membranas (maior que 12 horas) são de Um follow-up de 20 anos nos bebês pré-termos cujas mães fize-
alto risco para deficiência severa no desenvolvimento neurocom- ram uso de um curso de esteróide, não foram observados efeitos
portamental (OR: 5,75; 95% IC de 1,22-22,18). adversos na vida adulta quanto à orientação sexual, capacidade
Em 1999, Burguet e cl relataram uma incidência de 4,3 vezes intelectual, crescimento e desenvolvimento. No grupo esteróide,
mais de paralisia cerebral quando estava presente a rotura pre- foi observado menor pressão arterial média.
matura de membranas (Risco Relativo: 4,3 ; IC 95%: 1,6-11,8). Lee e cl compararam o desenvolvimento de prognósticos ad-
No estudo de Chen e cl, de 1997 em 75 RN de mães com RPM verso na idade corrigida de 18-22 meses para RN de extremo
com idade gestacional entre 24-28 sem, foi observado diminuição baixo peso (<1000g) exposto no pré-natal a dexametasona,
significativa da HIV (grau III e IV) no grupo com esteróide antenatal. betametasona ou não esteróide. A exposição pré-natal a beta-
Elimian e cl, estudando 1148 RN de mães com RPM (peso ao metasona foi associada com melhor neurodesenvolvimento e
nascer < 1750g) relataram diminuição significativa da HIV severa reduziu significativamente o risco de deficiência auditiva, em
e LPV com o uso do esteróide pré-natal. Em 2000, estes autores relação à dexametasona ou ao não uso de esteróide pré-natal.
evidenciaram, nos RN cujas placentas apresentavam corioamnio- Embora os resultados do neurodesenvolvimento não tenham
nite histológica, redução significativa da doença da membrana alcançado diferença estatística significante, houve uma tendên-
hialina, da HIV e LPV, outras lesões cerebrais maiores, além de cia consistente de melhor prognóstico motor associado com o
menor mortalidade neonatal quando expostos ao corticosteróide uso da betametasona pré-natal
pré-natal em relação aos RN com corioamnionite histológica não
expostos ao corticosteróide pré-natal. Múltiplos Cursos
Assim, além do risco da infecção neonatal na RPM, pensar
também no alto risco da lesão cerebral. O esteróide pré-natal A efetividade comprovada do esteróide pré-natal na promoção
protege este RN da lesão cerebral minimizando as graves con- da maturação pulmonar e também na proteção cerebral pode
seqüências no amanhã destes bebês. também resultar em perda de células cerebrais com aumento de

Paulo R. Margotto
Assistência ao Recém-Nascido de Risco

problemas neurocomportamentais se usado de forma abusiva. McEvoy e cl não evidenciaram que cursos repetidos semanal-
Muito mais pode não ser melhor quando se lida com corticoste- mente de betametasona aumentam a capacidade residual fun-
róides, devido aos seus potentes efeitos biológicos. cional ou a complacência respiratória no RN pré-termo quando
Estudo experimental controlado em ovelhas por Ikegami e cl, comparado com RN pré-termos com curso simples dado numa
1997, evidenciou redução do peso ao nascer de 27% com 3-4 idade gestacional média de 29 semanas.
doses. Stewart e cl, também em estudo experimental controlado Giunn e cl concluíram que cursos semanais de esteróide pré-
relataram aceleração da maturação pulmonar com diminuição natal não diminuíam a mortalidade neonatal em relação ao curso
do peso do pulmão que persistiu na idade adulta no regime de simples e esta prática deveria ser abandonada.
múltiplos cursos. Em 1998, Jobes e cl, outro estudo experimental Questionário realizado no Reino Unido por Brocklehurst e cl,
controlado em ovelhas, mostrou que o peso fetal era inversamen- em 1999, constatou-se que 98% dos obstetras do Reino Unido
te proporcional ao número de cursos e que a supressão do cor- usam múltiplos cursos e entre as indicações principais estão a
tisol materno ocorreu após cada curso e a supressão do cortisol RPM (84,2%) e suspeita de trabalho de parto prematuro (81,8%).
fetal ocorreu após 3 cursos. Interessante que 75% concordam que deve haver mais estudos.
Em 1999, Banks e cl, envolvendo 710 RN entre 25-32 sema- Em 1994 o Instituto Nacional de Saúde dos Estados Unidos
nas de idade gestacional com 1, 2 e ≥ 3 cursos relataram não passou a recomendar o uso de esteróide em gestantes com o
haver diferenças na incidência de DMH, DPC (Doença Pulmonar risco de nascimento prematuro e deixa a incerteza quanto à se-
Crônica) e HIV (nascimentos 1-6 e 7-13 dias após o uso do este- gurança e a eficácia de doses repetidas.
róide); ≥ 2 cursos houve diminuição do peso ao nascer e com ≥ Quanto à gestação gemelar: como não é possível, na maioria
3 cursos aumentou o risco de morte (OR: 2,8 IC 95%: 1,3-5,9), das vezes, predizer com eficácia que gêmeos vão nascer prema-
além de diminuição do nível de cortisol com 2h. Em 2002, Banks turos, cursos repetidos de corticosteróide tem sido feito nas ges-
e cl relataram maior risco de doença pulmonar crônica severa tações gemelares. Recentemente Murphy e cl, do Reino Unido,
e precoce (OR= 3,3 – p < 0,001) no RN cujas mães receberam compararam 2 intervenções no tratamento do nascimento pre-
mais do que 3 cursos de esteróide pré-natal, além de maior risco maturo em gemelares; em 902 gestações gemelares o esteróide
de morte (OR= 3,2 – p < 0,003). Bradley e cl, em 1994 relataram foi usado como terapia de resgate (2 doses de 12mg de dexame-
Cushing Neonatal, com supressão do eixo hipotálamo-hipófise- tasona com 24 hs de intervalo quando havia o risco de tanto tra-
adrenal com 7 cursos betametasona. É o único estudo da lite- balho de parto como nascimento eletivo) e em 136 gestantes, o
ratura que relata esta potencial complicação. Ng e cl, apesar de esteróide foi realizado cada 2 semanas da 24ª a 32ª semana de
não terem observado severa supressão pituitária-adrenal com o gestação ou até o nascimento (esteróide profilático). Os autores
uso de múltiplos cursos de dexametasona pré-natal (média de relatam que o esteróide profilático não foi associado com redu-
11,6 cursos), um leve grau de supressão adrenal pode ocorrer ção na incidência de doença da membrana hialina (OR=0, 7-IC=
em uma pequena proporção destes RN tratados. Um curso pa- 95%: 0,2-2,0), havendo redução significativa no peso médio dos
drão não tem nenhum efeito supressor no eixo hipófise-adrenal. bebês a termo de 129g (p=0, 008). Os bebês que receberam 5
22 No RN de múltiplos cursos, é necessário que sejam monitoriza- cursos de esteróides tiveram redução estatisticamente significa-
dos (pressão arterial, eletrólitos e sinais de supressão adrenal), tiva no peso ao nascer. Os autores atribuem a não resposta da
pois estes RN podem ter reserva adrenal diminuída. gestação gemelar ao esteróide à redução da biodisponibilidade
Mckenna e cl relataram que repetidas doses de esteróide pré- do esteróide na gestante gemelar (aumento da massa fetal ou do
natal produziram insuficiência adrenal em todas as mulheres. volume de distribuição), havendo necessidade de mais estudos
Esta supressão adrenal materna pode ter sérias conseqüências, para confirmar esta hipótese. Com estes resultados, os autores
particularmente durante o trabalho de parto e nascimento. concluem que até que seja demonstrada a eficácia e a segurança
Em 1999, French e cl, estudando 652 RN com idade gestacional de múltiplas doses, é mais prudente utilizar a terapia de resgate
entre 20-32 sem, relataram redução do peso ao nascer de 9% e da e reservar os cursos múltiplos para casos selecionados de alto
cabeça em 4% (esta equivale a uma redução de 11% do volume risco. Para Alan Jobe (2003) esta explicação é insustentável, uma
craniano), além de maior tendência à doença pulmonar crônica. vez que a massa fetal no início da gestação é pequena em re-
Abbasi e cl, no ano de 2000 com 713 RN cujas mães receberam lação à massa materna, além de que a dose de dexametasona
de 1 a 12 cursos, relataram diminuição significativa da incidência que foi usada é o dobro da preconizada. Jobe acredita que a não
da doença da membrana hialina (45% x35%, a favor dos cursos resposta consistente dos gêmeos ao esteróide seja devido a que
múltiplos), canal arterial (20%x13% a favor dos cursos múltiplos) o trabalho de parto dos gêmeos serem diferente das causas do
e redução significativa do perímetro cefálico nos múltiplos cursos. trabalho de parto nas gestações únicas. Talvez as causas (mater-
Para os RN de gestação múltipla com idade gestacional maior ou na, uterina e fetal) do trabalho de parto prematuro nestas gestan-
igual a 35 semanas, e que nasceram 7 dias após a última dose, tes não “estressam” suficientemente o feto para responder aos
não foi observado diferenças no prognóstico neonatal indepen- esteróides (estudos experimentais evidenciaram que o estresse
dente do número de cursos. Os autores relataram aumento signifi- fetal aumenta a resposta aos corticosteróides).
cativo de endometrite pós-parto (p<0,013) para múltiplos cursos. Apesar das incertezas quanto à segurança e a eficácia dos múlti-
Metanálise de 8 estudos observacionais realizada por Agharajafari plos cursos, há autores que defendem. Terrone e cl, em 1999, com
e cl, em 2001, relatou que múltiplos cursos de esteróide pré-natal apenas 4 gestantes e 9 RN, relataram não haver supressão adre-
estiveram associados com aumento significativo do risco de en- nal com cursos semanais de betametasona (≥ 3 cursos). Elimian
dometrite (OR= 3,42, IC=95%, 1,92-6,11) (variáveis interferentes e cl em 2000, estudando 93 RN (≥ 2 cursos) x 261 RN (1 curso)
estavam presentes em todos os estudos). Ambos os autores con- relataram não haver diferenças no prognóstico perinatal além de
cluem que o benefício de cursos múltiplos deve ser estabelecido relatarem diminuição da incidência da doença da membrana hia-
através de um estudo prospectivo randomizado e controlado. lina e da necessidade do uso de surfactante nos múltiplos cursos.
Estudo experimental recente conduzido por Smith e cl eviden- Matthews, em 2000, em um estudo de revisão sobre o desen-
ciou que a resposta renal corticosteróide induzida foi comparável volvimento cerebral alerta para o uso de múltiplos cursos de es-
nos animais pré-termos submetidos à exposição simples versus a teróide pré-natal. O sistema límbico, constituído primariamente
exposição múltipla a esteróide pré-natal. Assim, a exposição múl- pelo hipocampo é sensível ao corticosteróide endógeno e exógeno
tipla ao esteróide pré-natal não melhora a função cardiovascular durante o seu desenvolvimento. O hipocampo tem funções com-
e renal (ovelha recém-nascida prematura). plexas no cérebro e incluem: cognição, comportamento, memória,
Capitulo 1 Assistência Perinatal

coordenação de atividade autônoma e regulação de inúmeros sis- • Todos os fetos entre 24 e 31 semanas de gestação com
temas endócrinos. Assim, pela complexidade das funções desen- risco de nascimento pré-termo deveriam receber o 1º cur-
volvidas pelo hipocampo, a programação das funções do sistema so (betametasona-2 doses de 12mg com intervalo de 24
límbico durante o desenvolvimento será de grande importância hs); 2) havendo o risco de nascimento prematuro sub-
na vida pós-natal e adulta. A exposição crônica do corticosteróide sequente, o próximo curso deveria ser feito 2 semanas
pode levar a uma redução do volume do hipocampo em aproxima- após; 3) não mais do que 2 cursos deveriam ser feitos.
damente 30% (os neurônios do hipocampo contêm alta densidade
de receptores de corticosteróides, podendo assim ser mais parti- Peltoniemi e cl investigaram se uma simples dose adicional de
cularmente afetados por doses farmacológicas de esteróide, dife- betametasona administrada no nascimento pré-termo iminente
rente). Há uma considerável degeneração neuronal no hipocampo antes de 34 semanas, >=7 dias após o curso completo de beta-
dose-dependente, com efeitos no comportamento e função neuro- metasona, melhoraria a proporção de recém-nascidos sobrevi-
endócrina. Múltiplas pequenas doses causam mais severa lesão ventes sem doença da membrana hialina ou severa hemorragia
hipocampal do que uma dose maior única (estudos experimentais intraventricular. O que se observou é que esta dose não aumentou
em macacos). Portanto, muita cautela ao usar múltiplos cursos. a taxa de sobrevivência intacta, isto é, sobrevivência sem doença
Wapner e cl avaliaram as crianças na idade corrigida de 2 e 3 da membrana hialina ou severa hemorragia intraventricular. No
anos cujas mães haviam recebido múltiplos cursos de esteróide entanto, o grupo que recebeu esta dose de betametasona tendeu
pré-natal ou simples curso. Houve aumento de paralisia cerebral a requerer mais surfactante para o tratamento da doença da mem-
nas crianças de múltiplos cursos (2.9%) em relação às crianças brana hialina do que no grupo placebo (o grupo que não recebeu
com curso simples (0.5%), embora não significativo (RR:5,7-IC a esta dose após 7 dias do curso simples). Este achado é consisten-
95%: 0,7-46,7-p=0,12). te com a falta de eficácia da repetição semanal da dose de beta-
Crowter e cl relatou igual frequência de desabilidades maiores metasona, contradizendo estudos anteriores.
entre os grupos de crianças na idade de 2 anos corrigida que re- O cortisol sérico fetal começa a diminuir 6 horas e encontra-se
cebeu múltiplos cursos versus curso púnico de esteróide pré-natal no menor nível 10 a 15 horas após uma dose de 12 mg de be-
(RR: 1.04-IC: 0.98-1,10). No entanto, único dado que demonstrou tametasona. Os níveis começam a se recuperar 24 horas após o
diferença significativa foi problema de atenção, no qual havia mais tratamento e a supressão desaparece 7 dias após o tratamento
crianças com essa alteração no grupo que recebeu dose repetida pré-natal com a betametasona. Uma hora após a administração de
de corticosteróide do que no grupo com curso simples(6.0% vs. betametasona a mãe, a droga foi detectada no sangue do cordão.
3.2%, risco relativo ajustado, 1.87; IC95%, 1.03 a 3.42; P=0.04). Alcança um pico com 6 horas e os níveis diminuem tornando-se
Kumar e Seshadri relataram uma percentagem significativamen- indetectáveis 20 horas após a administração de betametasona a
te alta dos neonatos nascidos após múltiplos cursos de esteróides mãe. Os recém-nascidos prematuros são capazes de responder
pré-natal com perímetro cefálico inferior ao percentil 10 à alta (23 ao estresse (asfixia, doença da membrana hialina) e o cortisol sé-
versos 9%, OR ajustado, 3,25, (95% IC, 1.4, 7.3); p = 0.015). Os au- rico aumenta após o nascimento. No entanto, a administração de
tores concluem que múltiplos cursos de esteróides pré-natal (mais
23
corticosteróide logo antes do nascimento pode suprimir transito-
de 2 cursos) podem predispor os neonatos de muito baixo peso a riamente o eixo hipotálamo-hipófise-adrenal durante a adaptação
prejuízo no crescimento somático pós-natal sem promover qual- precoce do recém-nascido. Portanto, o estresse fetal atribuído a
quer benefício adicional ao resultado neonatal imediato. doses repetidas de corticosteróides administradas a mãe pode ter
Por que dose semanal? Roger Lenke, em 2000, fez uma aná- conseqüências adversas a longo prazo, em termos de programa-
lise crítica do estudo original de Liggins e Howie, ocorrido há 28 ção do crescimento ou no aumento do risco de síndromes metabó-
anos. No grupo tratado que nasceu antes de 24h x controle, a licas e risco de anormalidades neurológicas.
incidência da DMH foi de 24,1% e 31,8%, respectivamente; nos No entanto, o estudo recente de Crowther e cl evidenciou diminui-
RN que nasceram dentro de 2-7 dias após o uso do esteróide ção da incidência da doença da membrana hialina no grupo exposto
pré-natal x controle, a incidência da doença da membrana hia- a dose semanal de betametasona (33% versus 41% no grupo place-
lina foi 3,6% x 33,3%, respectivamente; já para os RN que nas- bo), além de diminuição do requerimento de surfactante exógeno.
ceram após 7 dias do uso do esteróide pré-natal x controle, a As causas dos diferentes resultados este estudo e do Peltoniemi et
incidência da doença da membrana hialina foi de 2,2% e 9,4%, al permanecem especulativas.: no estudo de Crowther e cl, a du-
respectivamente (observem que a redução da incidência da do- ração da exposição fetal após a última dose foi consideravelmente
ença da membrana hialina foi menor em relação à < 24 hs e 2-7 maior; a idade gestacional ao nascer foi >=34 semanas em 36% em
dias, mas a incidência de doença da membrana hialina no grupo todos os casos (isto é, naqueles casos, a exposição fetal em relação
controle ≥ 7 dias foi baixa -9,4%). McNamara e Bottoms eviden- à última intervenção excedeu 2 semanas); um total de 18% dos re-
ciaram que a incidência da doença da membrana hialina não au- cém-nascidos nasceram a termo, enquanto no estudo de Peltoniemi
menta quando o nascimento pré-termo ocorre depois de 7 dias et al nenhum recém-nascido nasceu a termo e somente 23% dos
após a administração do esteróide. Estes autores acreditam que recém-nascidos foram expostos a intervenção >=24 horas. Provavel-
o processo de maturação pulmonar induzido pela administração mente no estudo de Crowther e cl, o nascimento pré-termo não era
do esteróide é permanente, mais do que transitório. Então, por eminente quando a dose de betametasona foi repetida. Isto pode ter
que propor um tratamento potencialmente perigoso se não há contribuído para o sucesso na prevenção da doença da membrana
evidência de eficácia? Por que a nossa abordagem médica tem hialina utilizando a estratégia de repetidas doses semanais de beta-
atualmente deteriorado tanto? metasona no estudo de Crowther e cl.
Caughey e Parer em 2002 reviram as evidências dos cursos Segundo Stiles devemos informar aos pais os dados limitados
múltiplos versus cursos simples de esteróide pré-natal para res- do seguimento a longo prazo quanto ao uso repetitivo de esterói-
ponder a questão, analisando 2 resultados neonatais que foram de pré-natal e os sobreviventes devem ser seguidos, do ponto de
a doença da membrana hialina e morte neonatal: que regime vista neurocomportamental, por um longo tempo.
de tratamento resultaria em melhores resultados neonatais, ou Os obstetras americanos esperaram mais de 20 anos após o pri-
seja, que esquema de esteróide pré-natal resultaria em menos meiro estudo com uma dose e avaliaram 15 estudos randomizados.
doença da membrana hialina sem aumentar o número de mortes Hoje, sem grandes estudos randomizados mostrando segurança ou
neonatais. Após análise dos dados (da literatura e do National benefício, rapidamente passou-se de 1 curso para múltiplos cursos.
Center for Health Statistics), os autores recomendam: É tempo para retornar para o curso simples e aguardar resultados

Paulo R. Margotto
Assistência ao Recém-Nascido de Risco

de mais estudos randomizados. Ao usar cursos múltiplos, informar à lar entre os grupos. Na verdade, a incidência de leucomalácia pe-
gestante que não há evidências seguras de eficácia. riventricular nos neonatos expostos a dexametasona foi menor em
relação aos recém-nascidos expostos a betametasona, embora o
Betametasona ou Dexametasona? presente estudo não tivesse suficiente poder para detectar diferen-
ças nas taxas de leucomalácia periventricular entre os dois grupos.
Estes dois agentes usados no pré-natal para gestantes em risco de Segundo Murphy, considerando os achados deste estudo con-
parto prematuro, diferem de outras formas de esteróides por serem flitantes com os da literatura, são necessários adicionais ensaios.
os mais estudados, apresentam atividade biológica idêntica e cruzam Feldman e cl avaliaram as taxas de morbidade e mortalidade
rapidamente a placenta. Não apresentam atividade mineralocorticói- nos recém-nascidos de muito baixo peso (334 RN) nascidos du-
de, têm fraca ação imunossupressora e apresentam longa duração rante um período de 6 anos, incluindo o período em que se usou
de ação em comparação com o cortisol e a metilpredinisolona. somente a dexametasona e comparar os resultados neonatais
A escolha entre betametasona e dexametasona é baseada na entre os recém-nascidos (RN) expostos a betametasona versus
facilidade de administração, nos custos, na disponibilidade e nos os RN expostos a dexametasona. Os autores relataram signifi-
resultados conflitantes de estudos observacionais. Na literatura cativamente menores taxas de doença da membrana hialina e
não há um consenso a respeito do tipo de corticosteróide que displasia broncopulmonar no grupo que fez uso da betametaso-
deve ser usado no pré-natal. na em relação ao grupo que fez uso da dexametasona. O número
Estudo retrospectivo realizado em 3 centros perinatais de Paris, médio de dias em ventilação mecânica foi semelhante, assim
envolvendo 883 RN com idade gestacional entre 24 e 31 sema- como as taxas de hemorragia intraventricular e grau, embora
nas, Baud e cl analisaram a incidência de leucomalácia periven- tenha sido observada uma tendência a maior severidade da he-
tricular (LPV) entre 3 grupos de RN: um grupo cujas mães usaram morragia intraventricular no grupo da betametasona. As taxas de
betametasona (2 dose de 12 mg IM 24 horas antes do parto; n= mortalidade neonatal e a média de permanência na UTI Neonatal
361), outro grupo cujas mães usaram dexametasona (4 doses de foram semelhantes.
6 mg IM 12/12 horas; n= 185) e um grupo cujas mães não usa- Lee e cl, usaram os registros do National Institute of Child Health
ram corticosteróides (n=357). A análise foi bivariada e multivaria- Development Neonatal Research Network, com o objetivo primário
da, após o ajuste dos fatores de confusão. A taxa de LPV foi de de determinar se há diferença de risco para o desenvolvimento de
4,4% entre os RN cujas mães receberam betametasona, 11% nos leucomalácia periventricular entre os RN expostos a dexametaso-
RN cujas mães usaram dexametasona. Entre os RN de mães que na versus os RN expostos a betametasona. O segundo objetivo foi
não fizeram o uso de esteróide pré-natal, a incidência de LPV foi de comparar a incidência de hemorragia intraventricular, retinopatia
8,4%. Após ajuste para a idade gestacional, tipo de parto, presen- da prematuridade e morte neonatal entre os RN que foram expos-
ça ou ausência de corioamnionite, presença de rotura prematura tos a dexametasona versus os RN expostos a betametasona.
de membranas mais de 24 horas, fatores estes que aumentam o Um total de 3600 RN com peso entre 401-1500g foram envol-
risco de LPV, a exposição à betametasona foi associada com me- vidos no estudo. Os autores não evidenciaram diferença de risco
24 nor risco de leucomalácia multicística (OR de 0,5-IC de 0,2-0,9), de ocorrência de leucomalácia periventricular com o uso da dexa-
enquanto a dexametasona foi associada com maior risco de leuco- metasona e betametasona. A dexametasona reduziu o risco de he-
malácia multicística periventricular, embora não significativo (OR morragia intraventricular, assim como a sua severidade em com-
de 1,5; IC a 95%: 0,8-2,9) . Assim, a exposição pré-natal a beta- paração com os recém-nascidos não expostos à corticoterapia. A
metasona, mas NÃO a dexametasona, esteve associada com a di- betametasona reduziu o risco para hemorragia intraventricular,
minuição significativa da leucomalácia periventricular multicística assim como a sua severidade e a morte neonatal em compara-
nos RN prematuros extremos. Apesar da sutil diferença entre estes ção com o grupo não exposto a corticoterapia. Comparando com
dois corticosteróides, já assinalada anteriormente (configuração betametasona , a dexametasona apresentou significativamente
do grupo metil na posição 16), o efeito neuroprotetor da betameta- maior risco de morte neonatal. Houve uma tendência a maior risco
sona não está totalmente esclarecido. associado com a dexametasona em comparação com a betameta-
Segundo Lee et al, . no estudo de Baud e cl não foi feito ajuste sona, para hemorragia intraventricular e severa retinopatia da pre-
para o Centro na análise de leucomalácia periventricular; o Centro maturidade .Quanto à retinopatia da prematuridade, houve uma
com a menor incidência de leucomalácia foi aquele com a taxa de tendência não significativa de aumento de 50% o risco para severa
maior uso de betametasona. retinopatia da prematuridade associada com o uso da dexameta-
Estudo experimental conduzido por Rayburn e cl, evidenciou sona em comparação com a betametasona. As causas para este
melhor desempenho neurocomportamental no grupo da betame- efeito retinotóxico potencial entre dexametasona e betametasona
tasona em relação ao grupo da dexametasona. permanece não esclarecidas e necessita de adicionais estudos.
Elimian e cl compararam betametasona com dexametasona em Estudos em animais não evidenciaram alterações no desenvolvi-
termos de efetividade na redução da morbimortalidade neonatal mento da retina associado com a dexametasona.
entre os recém-nascidos pré-termos, envolvendo 299 mulheres. A Apesar de resultados controversos na literatura sobre qual
taxa de doença da membrana hialina, necessidade de vasopresso- deve ser o melhor esteróide pré-natal, pode ser de melhor inte-
res, enterocolite necrosante, retinopatia da prematuridade, canal resse para os recém-nascidos que suas mães em risco de parto
arterial patente, sepse neonatal e mortalidade neonatal não foram prematuro recebam betametasona mais do que dexametasona
diferentes. No entanto, as taxas de hemorragia intraventricular quando houver condições de optar por um ou outro. Em muitos
(5,7%-6 de 105-comparada com 17%-17 de 100: risco relativo de países, a dexametasona antenatal é o único corticosteróide dis-
2,97 com IC a 95% de 1,22-7,24-p=0,02) e lesão cerebral (6,7%-7 ponível. São os países menos economicamente desenvolvidos,
de 105 comparada com 18%-18 de 100:risco relativo de 2,7 com com limitados recursos financeiros e neonatais que mais se be-
IC a 95% de 1,18-6,19-p=0,02) foram significativamente menores neficiam com a corticoterapia pré-natal.
nos neonatos expostos a dexametasona do que os neonatos ex- Estudo conduzido por nós no período de agosto/2007 a ju-
postos a betametasona. A redução do risco absoluto na taxa de lho/2007, 187 mães conceberam 219 RN com idade gestacional
hemorragia intraventricular foi de 11,3% e o número necessário entre 26 e 34 semanas mostrou:
para tratar foi de 9 a favor da dexametasona.
Quanto à leucomalácia periventricular o presente estudo não en-
controu qualquer diferença na taxa de leucomalácia periventricu-
Capitulo 1 Assistência Perinatal

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Capitulo 1 Assistência Perinatal

1.3 TRANSNATALIDADE E PRIMEIRAS RELAÇÕES PAIS/BEBÊ PRÉ-TERMO

Maria Auxiliadora Gomes de Andrade

Separamos o psiquismo, o intelectual, o sensorial e o emocional...


Entretanto, seria conveniente integrá-los,
para entender o ser humano,
o recém-nascido,
e antes dele o feto em sua integridade,
pois que este já é um ser humano...

Marie-Claire Busnel (2003).

Continuidade Entre a Vida Pré e Pós-Natal A Sensorialidade do Bebê Intraútero


como Suporte às Primeiras Relações
Freud 1926 escreveu “A vida intrauterina e a primeira infância
estão mais em continuidade do que a surpreendente cesura do A sensorialidade fetal e a comunicação pais-bebê - As com-
nascimento deixa crer. O feto e o bebê sentem gosto e cheiro; petências sensoriais do bebê intra-útero ajudam e até mesmo
escutam, memorizam e respondem à voz e às emoções de sua permitem as relações entre o bebê e seus pais.
mãe e de seu pai, bem como a voz de outras pessoas.” Por meio da ultrasonografia, da ressonância magnética, da fi-
Logo ao nascer o bebê busca marcos de referências que o ajudem bra ótica, de outras tecnologias inovadoras, bem como, por meio
a se lembrar do período uterino, tais como, a voz materna ou pater- da observação cuidadosa de bebês muito prematuros compre-
na, os batimentos cardíacos de sua mãe; o cheiro do líquido amnióti- endemos cada vez mais claramente a vida do bebê intra-útero.
co. Quando o bebê nasce antes do termo normalmente ele terá que Esses estudos e observações nos permitiram conhecermos me-
aprender sozinho, longe de sua mãe e de seu pai, a regular sua tem- lhor as competências sensoriais do bebê intra-útero, como ele
peratura, contando com a ajuda da incubadora. Ao contrário do bebê percebe, por exemplo, a luz e o som, como ele registra sensações
a termo, o bebê pré-termo ficará sem contenção regular, necessitando ou mensagens sensoriais.
para isso da atenção dos seus cuidadores. É importante facilitarmos a A pele - o sentido do tato - Desde suas primeiras diferencia-
aproximação entre o bebê pré-termo e seus pais o mais cedo possível. ções a pele permanece em íntima conexão com o sistema nervo-
Marie-Claire Busnel considera que o aprendizado do mundo exterior so. Tanto a pele quanto o sistema nervoso originam-se da mais
27
junto à mãe e ao pai é mais importante que a rotina de lavar, pesar e externa das três camadas de células, a ectoderme. Quando o em-
medir, as quais, segundo a autora, podem esperar um pouco. brião tem menos de seis semanas de vida, um leve acariciar do
lábio superior, ou das abas do nariz, fazem o pescoço se curvar
A Sensorialidade e o Desenvolvimento e o tronco se afastar da fonte de estímulo. Com nove semanas
Neurológico do Bebê Intra-Útero como Suporte de vida fetal, se a palma da mão é tocada, os dedos se curvam
aos Procedimentos em UTI Neonatal esboçando o gesto de agarrar. Em torno da 16ª semana de vida
uterina o feto apresenta sensibilidade em todo seu corpo.
O bebê que nasce antes do termo não é insensível ou tão imatu- Vários sentidos táteis - Existem vários sentidos táteis que
ro come se pensava, seu sistema sensorial permite-lhe perceber estão reunidos sob a denominação de tato; vários elementos
e sentir o mundo à sua volta. Os trabalhos sobre a sensorialidade participam do tato: pressão, dor, prazer, temperatura, movimen-
fetal servem de orientação às equipes de saúde com relação ao tos musculares da pele, fricção, etc.
controle do nível sonoro; intensidade luminosa; odores fortes; ao Sistema vestibular - Não somente o sistema vestibular é maduro
modo de segurar o bebê (holding físico); como devemos manipu- precocemente, mas também suas interações com os outros siste-
lar o bebê (handling) toca de fraldas e posicionamento do bebê. mas sensoriais. Normalmente devido ao estado do bebê o sistema
Os procedimentos em UTI Neonatal devem levar em considera- vestibular recebe pouca estimulação dentro da UTI Neonatal. A po-
ção não somente as competências sensoriais do bebê, mas tam- sição canguru (quando o bebê encontra-se estável) possibilita ao
bém o fato de que dentro do útero o bebê desconhecia os efeitos bebê receber a estimulação vestibular que ele necessita de forma
da gravidade e o peso de seu próprio corpo. Não devemos sus- adequada e natural (consulte o capítulo Alojamento Conjunto Para
pender ou deitar um bebê de forma muito rápida, ele encontra- Bebês Saudáveis e De Cuidados Especiais/ Unidade Canguru)
se em adaptação a um ambiente diferente ao que ele viveu até Audição - O bebê intraútero e a música – Experiências têm
então. Isso não significa que iremos recriar um ambiente uterino demonstrado que o bebê entre o quarto e quinto mês de vida in-
para o bebê, mas que devemos adaptar o ambiente, no qual ele tra-útero acalma-se quando escuta música de Vivaldi e Mozart e
se encontra, às suas necessidades. podem ficar agitados ao som de Brahms, Beethoven e rock . A exis-
Sabe-se atualmente, muito mais sobre o modo como as expe- tência de condicionamento pré-natal para a música foi constatada
riências e as atividades intra-uterinas servem como ensaio que em recém-nascidos cujas mães cantarolavam cantigas populares
prepara o bebê para a vida fora do útero. Sabe-se também que ao longo do período gestacional. Os bebês, nesses casos, eviden-
um bebê pré-termo possui competências sensoriais que devem ciavam preferência pelas melodias que haviam escutado durante
ser levadas em consideração durante a sua estada na UTI Ne- o período pré-natal, enquanto que um grupo controle de bebês não
onatal, no que diz respeito ao ambiente da UTI bem como du- evidenciava a mesma preferência.
rante os procedimentos, e, sobretudo, durante os procedimentos O recém-nascido permanece mais tempo com os olhos abertos
dolorosos. A atividade cerebral já pode ser observada com seis quando escuta a voz que expressa alegria e não se interessa pela
semanas. Na sétima semana as células nervosas conectam-se voz que demonstra tristeza ou cólera. Tal fato demonstra que o re-
ao longo de caminhos nervosos primitivos. cém-nascido de apenas um dia de vida pós-natal pode reconhecer

Paulo R. Margotto
Assistência ao Recém-Nascido de Risco

entonações de vozes e que ele prefere as entonações de alegria, e útero e da parede abdominal da mãe, o feto provavelmente já
que há um aprendizado intra-uterino de emoções expressas pelos tem a experiência do dia e da noite. O bebê prematuro de 30 ou
pais. Marie-Claire Busnel cita os trabalhos de DeCasper e Spence, 31 semanas de gestação já possui preferências visuais, Quan-
os quais demonstraram por meio da sucção não nutritiva que o do se mostram a ele listras largas e finas ele demonstra prefe-
recém-nascido de dois dias prefere escutar a voz humana a qual- rência pelas listras largas.
quer outro som; a voz de sua mãe dentre outras vozes femininas. A dor no feto – Michel Soulé remarca que atualmente a dor
Reações a ruídas - Pesquisas têm demonstrado que o bebê in- no feto é levada em consideração pelos profissionais da área de
traútero, entre 16 e 32 semanas de gestação reagem com um pis- saúde. A bradicardia no feto pode ser provocada pela dor que
car de olhos ou com um estiramento do corpo ou dos membros, a ele venha a sentir durante um procedimento médico ou pela
ruídos aplicados ao abdômen da mãe. Ultrasonografistas observa- dor que sua mãe venha a sentir. Michel Soulé acredita que não
ram que o feto pode reagir com sobressaltos a ruídos repentinos. devemos desconhecer a dor no feto tal qual aconteceu com a
A voz materna e paterna – O recém-nascido pré-termo se dor no recém-nascido, a qual foi negado por muito tempo, o que
interessa mais por uma voz dirigida a eles que por uma voz en- fez com que muitos procedimentos dolorosos tenham sido rea-
dereçada à outra pessoa, ou emitida sem endereçamento. Do lizados sem que a dor do bebê fosse levada em consideração.
mesmo modo, o bebê olha mais tempo para um objeto apresen-
tado a ele por uma voz, do que para um objeto apresentado sem Continuidade do Comportamento Pré e Pós-Natal
uma voz. Quando os pais dirigem-se ao bebê suas vozes são um
pouco diferentes do habitual. Eles utilizam uma freqüência mais Os trabalhos de Alessandra Piontelli e de Romana Negri são a
elevada, uma modulação mais acentuada e mais lenta (como favor de uma continuidade do comportamento pré e pós-natal.
por exemplo: “booom díía, bebêêê)”. Segundo Marie-Claire Bus- Os trabalhos de Piontelli e Negri foram realizados por meio de
nel o bebê prefere esse tipo de voz ao tom de voz normal dirigi- ecografias. Romana Negri relata o interesse que bebês, dentro
da a outro adulto. Essa voz utilizada para comunicar-se com o do útero, podem demonstrar pelo contato com seu meio e em
bebê é chamada de motherese, o que poderia ser traduzido em particular com a placenta. A autora observou que o bebê intra-
português como mamanhês. Quando a voz materna é dirigida útero mostra interesse em tocar e brincar com a placenta, ficar
a ele, o feto reage diminuindo a freqüência cardíaca. Quando o em contato estreito com a placenta, avançar a boca na direção
bebê está calmo a voz materna o alerta se dirigida para ele ou desta, tocá-la com a cabeça, esfregar seu rosto contra ela, acon-
não e o acalma quando está chorando. chegar-se à mesma, percorrê-la com suas pequeninas mãos. Al-
Olfato e paladar – Embora a sensorialidade fetal tenha sido guns bebês seguram o cordão umbilical mais tempo que outros
negada pela ciência porque o sistema nervoso ainda não estava bebês. Estas observações foram feitas por volta da décima-séti-
anatomicamente completo, sabe-se hoje que a partir da sétima ma / décima-oitava semana de vida uterina. Segundo a autora
semana de gestação aparecem o olfato e o paladar. os movimentos fetais são semelhantes aos realizados por bebês
Líquido amniótico e aleitamento – O bebê prefere o cheiro pré-termo. Romana Negri faz referência também à personalidade
28 e o sabor do líquido amniótico de sua mãe (o odor e o sabor do do bebê intra-útero. A autora pode observar que os bebês já apre-
líquido amniótico agem como elemento de ligação entre a vida sentam diferenças individuais, preferências e comportamentos
intrauterina e o leite materno). O líquido amniótico foi provado e diferentes ainda no útero materno, os trabalhos de Piontelli vão
cheirado, pelo bebê, abundantemente no útero. No início o bebê também na mesma direção. Trabalhos têm demonstrado que a
prefere o odor do líquido amniótico e depois ele não faz diferença lateralidade começa a desenvolver-se ainda no útero.
entre este e o colostro, para em seguida passar a preferir o leite Memorizações - Por meio de respostas cardíacas têm-se de-
materno que tem gosto e odor semelhante ao do líquido amni- monstrado que o feto já é capas de memorização. Como por
ótico. Existe, segundo Busnel uma continuidade de gosto e de exemplo, memória para músicas cantadas pela mãe ou histórias
cheiro entre o líquido amniótico, o colostro e o leite materno. A que os pais lêem para o seu bebê intraútero.
autora comenta ainda que o bebê aprende a mamar aquilo a que
estava habituado, aquilo que ele conhecia no útero e, se mudar- Transnatalidade e Atendimento
mos a nutrição da mãe, segundo a autora, mudamos também o ao Bebê Pré-Permo
odor do que o bebê conhecia (o odor do líquido amniótico) o que
faz com que alguns bebês se recusem a mamar até que a dieta Pensemos no bebê pré-termo como alguém que passa da vida
materna volte a ser a mesma. O bebê prefere o odor do seio ma- intrauterina diretamente para a UTI Neonatal. Pensemos no bebê
terno e do leite materno a qualquer outro odor, mesmo ao odor pré-termo como um ser que deixa atrás de si um meio aqueci-
do seio de outra mãe que esteja amamentando. Para verificar as do, onde ele não conhecia os efeitos da gravidade. Avaliemos
preferências do bebê pelo odor do seio materno e do leite ma- as condições de vida do bebê pré-termo a partir das condições
terno pesquisadores colocam em cada lado da cabeça do bebê intra-uterinas que ele deixa atrás de si ao nascer. Ele vivia em um
um chumaço de algodão com odores do leite ou do cheiro do ambiente onde predominava a obscuridade, onde o nível sonoro
seio materno, giram a cabeça do bebê nas duas direções, para era atenuado, o espaço que o bebê ocupava até então, tinha limi-
que este possa sentir os odores de cada lado. O bebê vai passar tes definidos, podendo, o bebê, tocar esses limites sem grandes
a girar a cabeça para o lado que tem o odor do seio ou do leite esforços. Ao nascer, ele deixa atrás de si os ritmos maternos e
materno. O tempo que o bebê passa virado para cada um dos os batimentos cardíacos de sua mãe. O que por si só já é muito
odores é medido pelos pesquisadores. estressante para o bebê.
A visão - A visão desenvolve-se alguns meses antes do final
da gestação. O sistema visual é o último a se desenvolver. Por O Acolhimento do Bebê Pré-Termo
volta da 26 a 30 semanas de vida uterina pode-se obter respos-
ta à luz. Se acendermos e apagamos uma luz brilhante diante O que acabamos de abordar, serve de base para o acolhi-
do ventre materno, pode-se observar, com a ajuda do ultra-som, mento do bebê a partir dos seus primeiros momentos dentro
que o feto pisca. O mesmo pode ser observado em bebês muito do Centro Obstétrico. Se o estado do bebê o permite, ainda no
prematuros, os quais podem nascer com as pálpebras fundi- centro obstétrico, busque, dentro do possível ajudar para que
das, mas fazem movimentos de piscar quando se acende uma os seguintes itens ocorram:
luz forte. Uma vez que a luz pode passar através da parede do
Capitulo 1 Assistência Perinatal

• A mãe ver o bebê - Mostrar o bebê à sua mãe. tem nos anos iniciais de sua vida afetam suas habilidades
• A mãe falar com o bebê - Encorajá-la a falar com ele, e comportamento ao longo da infância e da idade adulta.
explicando-lhe que o seu bebê já conhece sua voz desde L. Alan Sroufe e cl citado por R. Shore, em um estudo lon-
o útero materno. gitudinal, no qual 180 crianças e suas mães foram acom-
• Tocar o bebê - Permita que a mãe toque o bebê, é impor- panhadas até a idade de 20 anos, demonstrou que um
tante para o bebê começar a ter uma história de toques cuidado inicial que seja sensível e emocionalmente res-
positivos desde o seu nascimento, pois provavelmente ponsivo pode diminuir os efeitos de ambientes de alto ris-
ele terá uma longa jornada de cuidados dentro da UTI co. O posicionamento do bebê contribui para a diminuição
Neonatal. do estresse, além de ajudar no desenvolvimento motor.
• Cheirar o bebê – Os pais costumam cheirar seu bebê
desde que isso seja possível. Diminuindo o Estresse do Bebê e Ajudando
• Cuidar do bebê? - Fale para a mãe que ela pode ajeitar o a sua Adaptação ao Meio Extra-Uterino
lençol que envolve seu bebê. Ajeitar o paninho que envol-
ve o seu bebê pode ter para a mãe o significado de estar Além da diminuição do nível sonoro, da iluminação, do agru-
cuidando do seu bebê (agasalhando-o) é claro que todo pamento dos procedimentos, (que deve ser planejado de acordo
isso vai depender das condições do bebê. com a idade gestacional, o estado do bebê, etc.) formas adequa-
• Ver, tocar, cuidar do seu bebê fortalece os laços afetivos. das de pesar e banhá-lo (consulte o Manual Técnico do Método
• Apresentar o bebê aos pais - Aponte para as caracterís- Canguru do Ministério da Saúde, BNDES e Fundação Orsa) po-
ticas positivas de seu bebê. demos, também, ajudar o bebê a lutar contra o estresse com
• Tranqüilizar - Diga-lhe para onde o seu bebê está indo atitudes simples tais como:
e que ele (o bebê) ficará feliz em reencontrar sua mãe
e seu pai. Explique-lhe que a equipe de saúde estará fa- • Movimentar-se com o bebê nos braços - Quando estiver
zendo todo que for possível para ajudar o seu bebê, e que com o bebê nos braços evite movimentos muito rápidos,
eles, os pais são bem vindo à UTI Neonatal. como virar, ou girar seu corpo para pegar um objeto ou
• Quais itens são possíveis de serem aplicados? - Veja falar com alguém.
quais desses itens podem ser postos em prática em fun- • Levantar e descer o bebê - Evite suspender, ou descer o
ção do quadro clínico do bebê. bebê rapidamente.
• Segurar o bebê - Segure o bebê buscando organizá-lo
Os Pontos de Apoio e o Segurar-se do Bebê e retendo-o contra seu próprio corpo para transmitir-lhe
Pré-Termo – em Busca de Segurança segurança.
• Dar segurança ao bebê - Permita que o bebê possa segu-
Catherine Druon fala do interesse que tem o bebê pré-termo em rar algo e tenha aonde apoiar seus pés, um tecido sobre
buscar pontos de apoio no interior da sua incubadora, apoiando o corpo do bebê transmite-lhe segurança e confiança.
29
seu pé, sua cabeça ou sua mão na parede da mesma ou em ou- • Manuseio contingente - Quando estiver manuseando o
tra superfície de contato (rolinho, p.ex.). A autora considera que bebê observe os sinais que ele comunica com o objeti-
a busca de apoio pode ser uma forma do bebê sentir-se seguro, vo de ajustar o manuseio ao nível de estresse suportado
tentando reencontrar os limites das paredes uterinas que serviam pelo bebê, se necessário interrompa o procedimento e
de continente para ele. Druon lembra que o bebê pode também espere ou ajude o bebê a se organizar.
buscar pontos de apoio segurando um objeto - sonda, um tecido
ou pelos da pele de carneiro. Para a autora, do ponto de vista psí- O Bebê Pré-Termo E A Dor
quico, ter o corpo coberto (caso não exista contra indicações do
ponto de vista médico ou de enfermagem), ter um ponto de apoio, O principal neurotransmissor responsável pela dor aparece
segurar algo, pode significar para o bebê uma continuidade entre entre a décima segunda e a décima sexta semana de gestação.
a vida pré e pós-natal e que essa continuidade é importante para a Estima-se atualmente que as estruturas anatômicas e bioquí-
organização da vida psíquica do ser humano. A separação do bebê micas necessárias à percepção da dor estão presentes desde
de sua mãe é por si só um fator estressante. a vigésima quarta semana de gestação. Mas, a imaturidade do
seu equipamento neurobioquímico não possibilita ainda a insta-
O Estresse lação dos sistemas inibidores da dor, o que faz com que a dor
no bebê pré-termo seja mais intensa. O bebê pré-termo além de
Sabe-se que experiências adversas ou traumáticas podem ele- mais sensível aos estímulos dolorosos é incapaz de instalar um
var a taxa do hormônio cortisol no ser humano. Por sua vez o sistema de pára-excitação para aliviar a dor. Para Anand, citado
cortisol pode afetar o metabolismo, o sistema imunológico e o por Bernard Golse, o estresse no recém-nascido é três a cinco ve-
cérebro. Quanto ao cérebro, o cortisol torna-o mais vulnerável a zes maior que no adulto na ausência de anestesia durante uma
processos que destoem os neurônios e reduzem o número de intervenção cirúrgica.
sinapses em determinadas regiões do cérebro. Assim, experiên- Durante uma dor aguda ou uma dor prolongada, os sinais de
cias estressantes podem minar o desenvolvimento neurológico e estresse podem se fazer presentes tais como: taquicardia, fre-
deteriorar o funcionamento cerebral. Crianças que apresentam, qüência respiratória elevada, hipoxia, hipertensão arterial. Os
de forma crônica, altos níveis de cortisol têm demonstrado mais estudos de Anand, citado por A. Gauvain-Piquard, demonstraram
atraso no desenvolvimento cognitivo, motor e social, quando que esses sinais de dor no bebê podem ser acompanhados de
comparadas a outras crianças. O estresse emocional também perturbações biológicas por vezes severas e que comprometem a
está associado com alterações na fisiologia cerebral. melhora do bebê. Segundo A. Gauvain-Piquard, numerosas com-
plicações pós-operatórias podem ser em conseqüência dessas
• Proteção contra o estresse - Os bebês que recebem cui- reações causadas pela dor.
dados sensíveis e calorosos no primeiro ano de vida, são O bebê pode expressar sua dor por meio de sinais comporta-
menos propensos aos efeitos do estresses. As neurociên- mentais tais como: choro inconsolável; crispação do rosto; au-
cias têm demonstrado que as experiências que a criança sência do estado de consciência alerta inativo; diminuição dos

Paulo R. Margotto
Assistência ao Recém-Nascido de Risco

movimentos espontâneos de extremidades; aparecimento de sentimentos de outra pessoa e de importar-se com o que ela sente
movimentos desorganizados de extensão e flexão de membros; tem como base as experiências iniciais de interações afetuosas.
tremores; hipertonia axial; imobilização da região dolorosa. Be- O bebê necessita de um relacionamento, afetivo desde os seus
bês que estão no respirador podem apresentar o que M. Spar- primeiros momentos na UTI Neonatal. Estudos mostram que a
shott chama de choro silencioso diante da dor: o bebê abre sua estimulação cutânea, se adequada, tem efeitos benéficos sobre
boa e a sua língua fica em posição de taça. o sistema imunológico do bebê. O toque tem efeitos fisiológicos e
comportamentais sobre o organismo).
Necessidades Individuais do Bebê Pré-Termo, Evidências experimentais mostram que existem diferenças
o Trabalho de H. Als bioquímicas significativas entre os seres humanos que se bene-
ficiaram de uma estimulação adequada (contingente, ou seja, de
A psicóloga H. Als e cl desenvolveram um método sensível de acordo com os sinais dados pelo bebê) e os que não se benefi-
cuidados individualizados do bebê pré-termo; o qual leva em ciaram. Um ambiente inadequado pode afetar o crescimento e o
consideração o que é observado na vivência de cada bebê como peso de bebês e crianças pequenas.
sendo disruptivo ou tranqüilizador. Esse exame detalhado é feito
nos primeiros dias após o nascimento e torna-se a base do plano O Toque Contingente
de cuidados específicos de cada bebê.
Cada necessidade do bebê pré-termo relativa à luz, som, po- Ou seja, baseado nos sinais emitidos pelo bebê, o bebê pré-
sicionamento e cuidados especiais é satisfeita com uma prévia termo normalmente prefere um toque mais profundo, acolhedor
avaliação comportamental detalhada. Esses planos individualiza- e continente; você pode estar demonstrando para os pais esse
dos de cuidados do bebê de alto risco e baixo peso, envolvendo tipo de toque, é importante que evitemos as criticas. Os pais, por
suas necessidades comportamentais e ambientais, fazem uma vezes, devido ao estresse e por se encontrarem em um ambien-
considerável diferença na boa recuperação do bebê. te pouco familiar para eles, algumas vezes tendem a acariciar
Em dois trabalhos científicos utilizando essa abordagem, os seu bebê com as pontas dos dedos de modo rápido e superficial.
bebês que receberam manejo comportamental individualizado Na maioria das vezes percebemos que o bebê não aceita muito
necessitaram de menos dias no respirador e menos suplemento bem esse tipo de carícia. Podemos orientar os pais, buscando
de oxigênio. Eles receberam alta, dias antes dos outros bebês, e demonstrar o tipo de toque que o bebê pré-termo gosta mais,
tiveram uma baixa incidência de hemorragia intraventricular. De- ou seja, um toque mais profundo, acolhedor e continente. Como
pois da alta, seu desenvolvimento comportamental progrediu de podemos orientar sobre o toque?
forma mais normal. Com os cuidados individualizados os bebês
davam pistas mais claras, tornando mais fácil para os pais e os • Demonstrando sobre o nosso próprio braço.
profissionais perceberem as necessidades do bebê. • Se você sente que pode demonstre os dois tipos de to-
que sobre o braço da mãe, por exemplo, e pergunte-lhe
30 Interações Pais-Bebê e Amadurecimento qual o toque que ela gosta mais, geralmente ela dirá que
Neurológico do Bebê Pré-Termo prefere o toque mais profundo, acolhedor e continente,
podemos então lhe dizer que o bebê pré-termo também
O significado humano do toque - Interações sustentadoras har- prefere mais esse toque.
moniosas e afetivas ajudam no desenvolvimento adequando do • Outra forma de ajudar o toque dos pais é posicionando
sistema nervoso central. Escutar a voz humana, ajuda os bebês nossa mão sobre a mão do pai ou da mãe - enquanto o
a aprenderem a distinguir sons e a desenvolver a linguagem, por pai ou a mãe está acariciando o bebê de forma rápida –
exemplo. Experiências interativas contribuem para o recrutamento isso irá permitir aos pais vivenciarem um toque profundo,
de células cerebrais para fins particulares – células extras para a au- acolhedor e continente, nesses momentos os pais tendem
dição, por exemplo. Trocas afetivas entre o bebê e seus pais ajudam por si mesmos adequar o seu próprio toque ao toque que
o bebê a aprenderem, a perceber e a responder a indícios afetivos. eles sentem na sua mão – Mas, para que possamos fazer
Registros cerebrais de indivíduos mais velhos têm mostrado que isso devemos criar um ambiente descontraído e de con-
interações harmoniosas (adequadas, motivadoras e interessantes fiança. No final devemos dar um feed back para os pais: por
para o bebê) levam a uma melhor utilização dos centros de apren- exemplo – olha como o bebê está gostando do seu toque.
dizagem do cérebro diferentemente de estimulação excessivas ou Assim, eles aprenderão um pouco mais sobre o seu bebê
pouco estimulantes - ou seja, inadequadas.
Se um bebê pequeno e prematuro é acariciado diariamente; abra- Fase Oral do Desenvolvimento Infantil
çado; ou se conversarmos com ele durante sua permanência na e a UTI Neonatal
Unidade Neonatal; embalado (quando o seu estado o permite) ele
poderá apresentar menos pausas respiratórias, mais ganho de peso As imagens que dispomos atualmente do bebê intraútero nos
e progresso mais rápido em algumas áreas de maior funcionamento mostram que o bebê é visto freqüentemente com sua mão na
cerebral que pode persistir por meses depois da alta hospitalar. boca ou próxima a esta. O bebê já suga o dedo desde o útero
O simples ato de acariciar um bebê pré-termo por cinco minu- materno e deglute o líquido amniótico. Sendo assim, além da
tos a cada hora por duas semanas, melhora a motilidade intes- sucção não nutritiva o bebê apresenta sua cavidade oral cons-
tinal, a atividade e o crescimento; diminui o choro. É importante tantemente umedecida.
que observemos as pistas que o bebê nos fornece para saber- O bebê se reconfortando a si mesmo com a nossa ajuda
mos se a estimulação está sendo adequada ou não. - Busque propiciar ao bebê oportunidade de estar com suas
Em um nível mais básico, os relacionamentos propiciam o ca- mãos próximas à boca, bem como facilite a sucção não-nutriti-
lor, a intimidade e o prazer, fornecem estabilidade, segurança va. Mãos próximas à boca, sugar o dedo, flexionar as pernas são
física e proteção de doenças. mecanismos que o bebê utiliza para confortar-se. Além disso, a
As interações adequadas no início da vida são a base para o de- sucção diminui a agitação do bebê, melhora a oxigenação, aju-
senvolvimento, não apenas da cognição, mas da maioria das capa- da a estabiliza a pressão intracraniana, aumenta os períodos de
cidades intelectuais do ser humano, incluindo a criatividade e as sono profundo e prepara o bebê para o aleitamento materno.
habilidades de pensamento abstrato. A capacidade de entender os
Capitulo 1 Assistência Perinatal

Quando o bebê está ainda sendo alimentado por gavagem, de- luto do bebê imaginário para que os pais possam investir
vemos ver a possibilidade de umedecer a sua boca com o leite o seu bebê real.
materno, caso não exista nenhuma contra indicação do ponto de
vista médico e de enfermagem. Assim ele poderá associar a sen- Lembre-se: por vezes, os pais não são informados que podem
sação de sentir seu estômago pleno com o sabor do leite em sua tocar seu bebê; nesse caso, eles podem sentir-se intimidados,
boca e isso contribuirá para umedecê-la, ajudando mais tarde no confusos e não ousar fazê-lo. Mas podemos incentivá-los e orien-
aleitamento materno. tá-los para tocar seu bebê.
Umedecendo os lábios e a boca do bebê – Caso não exista No entanto, devemos evitar o oposto, pressionando-os a tocarem
contra indicação do ponto de vista médico e de enfermagem. e falarem com o bebê. Brazelton (1988) considera que isso pode
ser destrutivo e que eles estarão mais prontos se tiverem tempo e
Fortalecendo os Laços Afetivos apoio para realizar o “trabalho de luto”. Luto do bebê imaginário e
encontro com o bebê real que está diante de seus olhos.
Para os pais ver, tocar, contato pele a pele, cheirar e cuidar Devemos prever que a mãe, durante esse primeiro encontro,
do seu bebê contribui muito para o fortalecimento dos laços poderá ter tonturas. Se possível for, deixe uma cadeira disponí-
afetivos após o nascimento do bebê. Quando os pais sentem- vel. Lembre-se: ela pode sentir dores ou tontura e não comuni-
se como pessoas estranhas dentro da UTI Neonatal, os laços car isso à equipe.
afetivos podem ser perturbados. A equipe de saúde deve ter Evitar demonstrar desagrado com as perguntas repetidas dos pais.
uma atitude acolhedora para facilitar o fortalecimento dos laços Eles estão passando por um momento de crise e de muito estresse.
afetivos e o processo de maternalidade e paternalidade. O que acabamos de apresentar são somente sugestões. Por
outro lado, devemos lembrar que não existem receitas. Brazel-
• O bebê e seus pais - É no seio da interação que os laços ton considera que o ponto crítico é procura ajudar aos pais a se
afetivos surgem e se fortalecem. Os trabalhos de Bowlby sentirem importantes para seu filho.
mostram que o bebê e a criança pequena têm necessida-
de de uma relação calorosa, íntima e contínua com seus Contribuir para a Interação e para o
pais ou seus substitutos. Uma criança sofre de privação Fortalecimento dos Laços Afetivos Pais/Bebê
afetiva se por qualquer motivo fica afastada de seus pais.
Os efeitos prejudiciais da privação variam de acordo com Embora não existam fórmulas prontas e únicas, diferentes
o grau desta privação. trabalhos apresentam sugestões sobre como contribuir para o
fortalecimento dos laços afetivos, bem como para a prática da
O Primeiro Encontro Dos Pais Com Seu parentalidade: Brazelton, Klaus e Kennell, Nadia Bruschweiler-
Bebê Pré-Termo (Bebê Pré-Termo, Pais Prematuros) Stern, Klaus, e Kennell e Klaus.

Lembremos que não só o bebê é pré-termo, os pais também Nadia Bruschweiler-Stern considera que devemos:
31
são prematuros, pois a fase de desenvolvimento psicoafetivo que
ocorre durante a gestação foi interrompida bruscamente. Para a • Primeiramente, ofereça aos pais um ambiente de holding
maioria dos pais entrar na UTI Neonatal é uma experiência nova e (suporte); respeitando o ritmo dos pais que se encontram
angustiante, pois além da preocupação com o estado do seu bebê, em uma situação na qual eles não se sentem preparados
o ambiente da UTI Neonatal pode ser, por vezes, assustador para para assumir suas funções maternas e paternas.
eles. Para ajudarmos os pais nos primeiros contatos com o seu • Acompanhe os pais suavemente durante a metamorfose
bebê aconselham que: acelerada que eles deverão passar para estar em condições
de cuidar do bebê e de assumir os papéis de pai e de mãe.
Antes Do Primeiro Encontro Entre O Bebê E Seus Pais • Busque validar os pais no seu papel de pai e de mãe.
Isso implica, segundo a autora, medidas simples podem
ajudar muito, tais como:
• Visita a mãe por um profissional da equipe de saúde que • Instale os pais confortavelmente e dê-lhes as informa-
esta cuidando do bebê - O objetivo desta visita é explicar ções que eles desejam. Klaus e Kennel aconselham que
aos pais o estado do seu bebê; durante esta visita, é im- seja disponibilizado para os pais um banco alto (para que
portante ressaltar também os aspectos positivos do bebê, eles possam ficar no mesmo nível do bebê).
sejam quais forem, como, por exemplo, seus dedinhos per- • Ajude-os a tornar o seu bebê “real” (para eles mesmos),
feitos, sua luta pela vida, suas competências sensoriais permitindo que os mesmos tirem uma foto do bebê (caso
(ver mais acima) etc, e que, o bebê ficará feliz com sua eles o desejem); se possível (caso o seu hospital o permi-
presença reconfortante. ta) imprima uma marca de seu pezinho em um papel ou,
• Indo a Unidade Neonatal – A mãe e se possível o pai então, obtenha uma cópia do certificado de nascimento
também, deve ser acompanhada por um profissional da para que os pais possam mostrar aos avós, aos irmãos do
equipe da saúde até a Unidade Neonatal. bebê, aos seus parentes próximos ou a alguém emocional-
• O primeiro encontro dos pais com seu bebê - Esse mente importante para eles.
primeiro encontro jamais deve ser banalizado. Para os • Crie condições que facilitem o contato pele a pele.
pais é um momento no qual eles necessitam de apoio. • Oriente os pais para cantarem e falarem docemente ao
É o momento de encontro do bebê imaginário (o bebê seu bebê.
dos sonhos, dos devaneios dos pais) e o bebê real. Um • Peça aos pais para trazerem brinquedos, não muitos
profissional que esteja cuidado do bebê os receberá e grandes, nem muito pequenos, para que o seu bebê pos-
ficará à disposição destes para esclarecer suas dúvidas; sa segurar (caso não haja contra indicação do ponto de
devemos evitar dar informações em excesso, devemos vista médico e de enfermagem) ou pendure o brinquedo
também utilizar uma linguagem de fácil compreensão. dentro da incubadora.
As características positivas do seu bebê devem ser no- • Permita que os pais coloquem mensagens na incuba-
vamente lembradas, assim estaremos contribuído para o dora de seu bebê.

Paulo R. Margotto
Assistência ao Recém-Nascido de Risco

• Disponibilize para os pais um espaço onde possam con- sensibilidade tátil em toda a superfície do corpo, que ele
tar a experiência que estão vivendo. já sente diferentes odores, que ele escuta e reconhece a
• Mostre sempre para os pais os progressos do seu bebê, voz de seus pais e que ele já é capaz de ver. Essas são
os medos e angústias dos pais podem impedir que eles competências sensoriais do bebê (para uma visão mais
vejam as aquisições do seu bebê. aprofundada, ver Jean-Pierre Lecanuet, 1997 e Marie-
Claire Busnel, 1997, 2002, 2003). Quando você protege
Facilitando as Interações entre os olhos do bebê contra o excesso de luminosidade per-
o Bebê Pré-Termo e seus Pais mitindo assim que o bebê possa abrir seus olhos você
esta ajudando o bebê a maternalizar e paternalizar seus
Cramer sugere aos pais que copiem o comportamento do pais (conquistar seus pais), pois os pais são muito sensí-
bebê. O autor relata que, quando a mãe consegue ter atitudes veis ao olhar de seu bebê.
paralelas ou similares as do bebê (orientar os pais para acompa- • A interação pelo olhar - Se você percebe que os pais es-
nharem o ritmo do bebê), isso permite ao bebê se reencontrar. tão ansiosos para que o seu bebê abra os olhos e os veja,
e, você sabe que o bebê, devido as suas condições, não
Ajudando O Bebê A Melhor poderá fazê-lo por enquanto, explique-lhes em linguagem
Interagir Com Seus Pais simples que o seu bebê, no momento, está usando sua
energia para melhorar e, por isso, ele não está se movi-
A nossa experiência mostra que devemos tomar algumas me- mentando ainda, nem abrindo os olhos (para uma visão
didas para que a interação seja mais harmoniosa entre o bebê mais aprofundada ver M. Fabre-Grenet, 1997) mostre ou-
pré-termo e seus pais: tras formas de relacionar-se com o bebê: pelo toque, pela
fala, pelo olfato, etc.
• Posturar o bebê - Posturar o bebê confortavelmente e • A voz dos pais - Incentive os pais a falarem com seu bebê.
estando este organizado. • A comunicação com o bebê - Ajude os pais a conhece-
• A luz nos olhos do bebê - Proteger os olhos do bebê de rem a linguagem do seu bebê, para tornar mais fácil a
luz intensa. interação destes com o bebê.
• Transmitir segurança ao bebê - Se não houver contra • O nome do bebê - Se o bebê já tem nome, é importan-
indicação, envolver o bebê com um tecido, para que ele te chamá-lo pelo seu nome. Podemos incentivar os pais
se sinta seguro e confortável (sem, contudo dificultar os a escolher um nome para seu bebê, mas não devemos
movimentos do bebê) ou vesti-lo, se não houver contra- transformar isso em uma imposição.
indicação. • O bebê pré-termo na família e a família no bebê - Veja
• Nível sonoro - Controlar o nível sonoro em torno do bebê a possibilidade da equipe se organizar para permitir a vi-
durante a interação com seus pais. sita dos avós e dos irmãos (para maiores informações
32 • Dar limites para o corpo do bebê - Se o bebê estiver sem consulte o Manual Técnico do Método Mãe Canguru e o
uma proteção em torno do seu corpo, colocar um rolinho vídeo do Curso de Capacitação do Programa de Atenção
(de tecido p.ex.) contornando seu corpo da cabeça até os Humanizada ao Recém-nascido de Baixo Peso – Método
seus pés. Mãe Canguru, 2002).
• Aquecer as mãos - Orientar os pais para aquecerem
as mãos (friccionando-as uma contra a outra, p.ex.). As O Bebê E O Cuidador
mãos dos pais ficarão em uma temperatura que mais
agrada ao bebê.
• Estados de consciência ou comportamentais (em anexo) - • Conversando com o bebê - Explique ao bebê porque ele
Ajude os pais, se necessário a reconhecer os estados de está na UTI e que seus pais virão fazer-lhe companhia.
consciência do seu bebê. • Início dos cuidados - Avise ao bebê que você está come-
• Evitar que o bebê fique estressado antes do encontro com çando seu expediente na UTI e que irá se ocupar dele.
seus pais - Caso seja possível, evite que o bebê fique estres- • Aqueça as mãos, friccionando-as antes de tocar o bebê.
sado, próximo ao horário de encontro com os pais, para que • Fala e toque - Fale com o bebê antes de tocá-lo.
este possa estar disponível para interagir com eles. Essa • Sono profundo e choro - Não realize procedimentos nes-
interação é necessária para seu desenvolvimento. ses dois estados de consciência do bebê (caso os proce-
• Participação nos cuidados - Permita que os pais partici- dimentos possam esperar)
pem dos cuidados prestados ao seu bebê quando for pos- • Nível de maturidade e idade gestacional - Leve em con-
sível, incentive-os sem, contudo, pressioná-los ou julgá-los. sideração o nível de maturidade e idade gestacional do
• Evitar fracassos – É importante para os pais participa- recém-nascido ao planejar os cuidados de rotina, com-
rem dos cuidados do seu bebê, sem se sentirem fracas- preendendo sua linguagem e o que pode tolerar.
sados ou inadequados. • Avalie o estado de consciência do bebê antes de iniciar
• O cheiro do leite materno e dos pais - Pedir à mãe que um procedimento.
coloque um tecido junto aos seios por um certo período de • Converse com o bebê antes de iniciar um procedimento
tempo, para que este fique impregnado do odor materno – Diga-lhe, por exemplo, que você o está ajudando para
e de seu leite. Quando a mãe se retira da UTI Neonatal, que ele melhore (trabalhos mostram que a freqüência
esse tecido é colocado dentro da incubadora, próximo ao cardíaca ou a saturação de oxigênio melhora quando fa-
bebê, para que ele possa continuar sentindo o cheiro de lamos com o bebê antes de um procedimento).
sua mãe e de seu leite. Essa é uma forma de reconfortar o • Observando os sinais do bebê - Ouça primeiro o que o
bebê e contribuir para o aleitamento materno. bebê está comunicando antes de iniciar um procedimen-
• Conquistando os pais - Ajude o bebê a maternalizar e pa- to (em anexo, escalas de estresse e de dor). Lembrando
ternalizar seus pais (conquistar seus pais) explicado-lhes que, alguns sinais de estresse ocorrem entre cinco a dez
as competências interativas do bebê: que o seu bebê tem minutos mais tarde, tal como a bradicardia e a apnéia.
Capitulo 1 Assistência Perinatal

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O Bebê Pré-Termo Brinca?

Para que serve o brincar? O brincar facilita o desenvolvimento


dos processos cognitivo e social da criança. Mas quando o bebê
pré-termo começa o brincar? Como foi citado mais acima, R. Negri
no seu trabalho de observação de bebês intraútero cita que dentro
33
do útero materno o bebê mostra interesse pelo seu meio e interage
com este. A autora por meio de suas observações considera que o
bebê já dentro do útero apresenta atividades que a mesma deno-
minou de brincar (brinca com a placenta, por exemplo).
O conceito de brincar foi redefinido por E. N. Adamson-Macedo
com o objetivo de incorporar as competências e as necessidades
do bebê pré-termo que “mora” inicialmente em uma incubadora.
Análise de filmes mostra que o bebê pré-termo, quando sozinho
dentro de sua incubadora, brinca com suas mãos, seus dedinhos,
tocando em seu corpo e ao redor de si. Ele está brincando de des-
cobrir os limites de seu corpo e o lugar onde se encontra. Adam-
son-Macedo criou um novo nome para o brincar do bebê pré-ter-
mo: Neobrincar, o qual acontece primeiramente sem brinquedos.

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Ed. Escuta, 136, 1993
• Davis P K. O Poder do Toque, São Paulo, Editora Best Seller, 9ª ed, 1991
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et Syros, 93, 1998
• Druon C Á. l’écoute du bébé prématuré, Paris, Ed. Aubier, 1996

Paulo R. Margotto
Assistência ao Recém-Nascido de Risco

Anexo I - Compreendendo A Linguagem Estados de sono Estado de vigília/sono


Do Bebê Pré-Termo profundo e diferen- difusos
ciados Olhos no vazio, olhos
Choro forte e rítmico vidrados
Subsistemas e Estresse no Bebê Pré-termo segundo a Teoria Boa capacidade de Irritabilidade
Sinativa de H. Als se autoconsolar Comportamento de
Estado de vigília evitação ativo
alerta com olhos Estado de vigília em
Sinais de equilíbrio Sinais de estresse e Subsistema brilhantes e pânico (tensa como que
e organização estafa Vigília-sono expressão de rosto assustada)
rregularidade na respira- animada Mudanças rápidas entre
ção Franzir as sobran- os estados de vigília-
Apnéia celhas sono em um curto lapso
Diminuição da oxige- Bochechas rela- de tempo
nação xadas Comportamento irritável
Aumento da pressão Sorriso intencional e tenso
arterial Esforço de atenção Choro difuso
Respiração calma
Aumento ou diminuição Permanece em
da freqüência cardíaca estado de alerta
Pulso regular
Aumento da freqüência Seu olhar é vivo
Subsistema respiratória Interage pelo olhar
Coloração cutânea
Autônomo Soluços por um curto lapso
rosada, unida,
Perturbações digestivas Subsistema de de tempo
estável Não fixa o olhar e evita o
– Ex. resíduos Atenção e A expressão do seu
olhar do outro
Tremores, sobressaltos Interação social rosto é animada
Digestão eficaz
Tosse, fungação, Sua boca, por vezes
bocejos, espirros, ânsia, faz um ô, como
náusea, evacuação, se quisesse falar
vômito. no momento da
Mudança de cor da interação.
pele: marmóreo, cianóti-
34 co, cinza, ruborizado.
Nem sempre os sinais de estresse ocorrem de imediato após
Flacidez motora não um procedimento, muitas vezes leva de cinco a dez minutos para
patológica que alguns sinais de estresse se manifestem, tais como bradicar-
- Flacidez do tronco dia e apnéia. O estresse, além de comprometer o quadro clínico
Postura harmoniosa - Flacidez das extremi- do bebê, dificulta a interação com seus pais. A nossa experiência
com tônus equilibra- dades clínica mostra que os pais pensam que o bebê não quer interagir
do (nem hipo. nem - Flacidez do olhar porque não gosta deles, o que pode criar uma barreira à intera-
hipertônico). Dedos estendidos em ção; é importante esclarecer aos pais sobre o estresse e mostrar
leque a eles como ajudar o seu bebê a superar o estresse.
Movimentos dos Hipertonicidade motora
membros harmonio- não patológica Anexo Ii - Primeiras Relações Pais Bebê Pré-Termo
Subsistema
sos e sincrônicos, - Hiperextensão braços E Estados De Consciência (Ou Comportamentais)
Motor
com estratégias e/ou pernas
motoras eficazes: - Hiperextensão do Estado 1: Sono profundo
Segurar as mãos tronco Olhos firmemente fechados, respiração profunda e regular; pe-
Grasping de objetos - Resmungos quenos sobressaltos a intervalos regulares (separados por mui-
Levar a mão à boca - Língua para fora tos segundos). Serve para o repouso e organização do sistema
Sucção do dedo - Hiperflexão do tronco nervoso imaturo e facilmente sobrecarregado do bebê prematu-
Sucção não nutritiva e/ou das extremidades ro. É bom para o bebê que ele ocorra várias vezes ao dia.
(posição fetal rígida) Estado 2: Sono leve (sono REM)
Atividade motora desor- Movimentos rotativos lentos dos olhos; pequenas contrações;
denada o bebê pode espreguiçar-se; respiração regular, mais rápida e, às
vezes, mais curta. O bebê sorri às vezes, contrai a musculatura
facial, movimenta a boca, sucção não nutritiva. É considerado
como sendo ligado ao crescimento e a diferenciações cerebrais.
Estado 3: Sonolência
Capitulo 1 Assistência Perinatal

Olhos abrem-se e fecham-se, podendo permanecer parcial ou • Inércia: (durante o procedimento doloroso ou logo após). Não respos-
totalmente abertos, mas com aparência entorpecida. Ocasionais ta para o procedimento, inércia doloroso; flacidez /rigidez; imobilidade.
movimentos suaves de braços e pernas. Respiração regular, mais
rápida e curta que durante o sono. Anexo IV - Primeiras relações e idade gestacional
Estado 4: Alerta inativo
Corpo e face relativamente inativos, olhos brilhantes. O bebê res-
ponde aos estímulos visuais e auditivos. Este é o estado que mais Ajude os pais a fazerem a descoberta dos atrativos do seu bebê
recompensa os pais (o bebê está disponível para a interação) durante a interação de forma prazerosa e descontraída
Estados 5: Alerta ativo
Acordado, apresenta movimentos, é considerado como De 23 a 25 semanas
um estado de transição em direção ao choro. O bebê está • Ajude os pais a descobrirem como o seu bebê se comuni-
disponível aos estímulos externos e pode ser acalmado car. A interação olho a olho é significativamente limitada
ou trazido de volta para o estado alerta inativo com o uso para essa faixa de idade gestacional. Podemos orientar os
de estímulos adequados, se estes forem fortes em dema- pais, dizendo-lhes que o seu bebê já é capaz de escutar
sia o bebê tende a tornar-se novamente desorganizado. suas vozes, sentir o cheiro deles e o cheiro do leite materno;
Estado 6: Choro que o bebê já possui sensibilidade em todo o corpo e que
O choro do bebê apresenta vários propósitos (dor, fome, tédio, se sentirá reconfortado com a presença e o toque dos pais.
desconforto.) • Peça a mãe para colocar um tecido em contato com seus
seios e quando os pais se ausentarem coloque esse te-
Estados de consciência do bebê Pré-termo cido dentro da incubadora para o bebê sentir o cheiro
do leite materno. O pai também pode deixar um tecido
impregnado com o seu odor
Usados no NAPI - Neurobehavioral Assessment of Preterm • Explique aos pais a importância do sono profundo e do
Infant* sono leve (ver anexo) que o sono é importante para aju-
dar o seu bebê a se repousar, crescer e desenvolver-se,
Estado 1: Sono profundo mas que, a presença deles é importante ao lado bebê
Estado 1,5: Sono profundo com a respiração ligeiramente ir- mesmo quando ele dorme.
regular • Oriente os pais sobre os estados de consciência do bebê
Estado 2: Sono leve (ajude-os a reconhecê-los).
Estado 3: Sonolência • Se for possível manusear o bebê coloque-o com o rosto
Estado 3,5: Sonolência com momentos de alerta voltado para a direção dos pais, mesmo que ele esteja
Estado 4: Alerta inativo com os olhos fechados.
Estado 4.5: Alerta ativo com momento de alerta inativo • Quando possível remova os óculos que protegem os
35
Estado 5: Alerta ativo olhos do bebê, para que os pais possam ver todo o rosto
Estado 5.5: Alerta ativo com momentos de vocalizações de do seu bebê.
choro • Se você perceber que o bebê ainda não suporta ao mes-
Estado 6: Choro mo tempo a voz humana e o tocado, oriente os pais para
Estado 7: Inclassificável primeiro falar com o bebê e depois tocá-lo.
• Possa escutar as vozes de seus pais: evite outras vozes
* Esta escala é considerada como sendo mais indicada para o bebê pré-termo e ruídos ao lado do bebê, se possível, para que e mesmo
escute as vozes de seus pais.
Anexo III - Observação da Dor no Bebê Pré-termo pelo NFCS • Oriente os pais para falarem suavemente com o seu
bebê.
• Reduza o excesso de luminosidade sobre os olhos do
(Sistema de Codificação da Atividade Facial Neonatal) bebê, mesmo que estejam fechados.
• Ensine aos pais como observar os sinais de aproximação
Movimento Facial 0 Ponto 1 Ponto durante a interação. Ver a grade de sinais de auto-regula-
ção/estresse e estafa
Fronte saliente Ausente Presente
• Oriente os pais como minimizar os efeitos do estresse de
Fenda palpebral seu bebê, como organizar o bebê, interromper um pouco
Ausente Presente
estreitada a interação.
Sulco naso-labial • Ensine aos pais a contenção facilitada (ou posição de
Ausente Presente
aprofundado conforto, E. N. Adamson-Macedo, 2002).
Boca aberta Ausente Presente • Lembre aos pais que vê-los, interagir com eles, beneficia-
rá o desenvolvimento do bebê, inclusive em nível neuro-
Boca estirada (hori-
Ausente Presente lógico, como mostra trabalhos nessa área.
zontal ou vertical)

De 26 a 27 semanas
Reações do bebê pré-termo frente à dor • Siga as orientações que foram dadas antes e que pos-
sam ser úteis para essa faixa de idade gestacional.
• Com essa idade gestacional o bebê continua necessitan-
• Movimentos corporais exagerados: Posição anormal dos do de suporte para reduzir o estresse e promover o sono.
membros, /pescoço em extensão, dedos das mãos e/ou dos pés Explique aos pais a importância do sono para o bebê; que
afastados, debater-se ou dar “golpes” com os membros; dorso em no momento a principal ocupação do seu bebê é dormir e
arco; protege a região dolorosa ganhar peso e que isso é importante para o bebê. Relem-
bre aos pais as competências interativas do bebê: ouvir,

Paulo R. Margotto
Assistência ao Recém-Nascido de Risco

sentir o toque dos pais, sentir o cheiro destes. mas o seu quadro clínico.
• A interação olho-a-olho ainda é limitada, mas pode apare- • Uma gravação das vozes dos pais pode ser utilizada quan-
cer por curto lapso de tempo. do estes estiverem ausentes, mas deve ser usado com
• Reduza o excesso de luminosidade sobre os olhos do parcimônia e com uma pessoa presente para observar os
bebê. sinais do bebê, o volume sonoro deve ser observado.
• Quando o bebê der sinais de que está acordando oriente • Veja as outras orientações que foram dadas neste texto
os pais para falar docemente com o bebê. para facilitar a interação do bebê com seus pais.
• Quando o bebê abrir os olhos em resposta à voz dos pais
oriente-os para interromperem a interação vocal e ten- De 33 a 35 semanas
tar o contato olho-a-olho. Informe-lhes que nessa faixa • Siga as orientações que foram dadas antes e que pos-
de idade gestacional o bebê só consegue ter um contato sam ser úteis para essa faixa de idade gestacional em
olho-a-olho por um curto espaço de tempo. função do estado do bebê.
• Nessa idade gestacional é mais fácil para o bebê seguir
De 28 a 30 semanas um objeto, isso não significa que ele não o conseguirá com
• Siga as orientações que foram dadas antes e que pos- idade gestacional menor. Deve-se levar em consideração
sam ser úteis para essa faixa de idade gestacional em as diferenças individuais e o quadro clínico do bebê.
função do estado do bebê. • As orientações do item anterior são válidas para essa fai-
• Informe aos pais que o estado de consciência no qual o xa de idade gestacional.
bebê melhor interage e o estado 4: alerta inativo.
• Oriente os pais para ficarem no campo visual do bebê De 36 a 38 semanas
enquanto eles estão falando com ele, assim, o bebê co- • Siga as orientações que foram dadas antes e que pos-
meçará a fazer uma associação entre o rosto dos pais e sam ser úteis para essa faixa de idade gestacional em
as suas vozes. função do estado do bebê.
• Envolva o bebê em um tecido, deixando os braços e per- • Explique aos pais que nessa idade gestacional o seu
nas na linha média do corpo, as mãos próximas à boca bebê ficará mais tempo no estado de alerta inativo logo
do bebê, as pernas fletidas. após o aleitamento materno ou entre as mamadas.
• Se for possível coloque o bebê nos braços dos pais e em • O bebê segue melhor um objeto, isso não significa que
contato pele a pele (se o bebê estiver estável). ele não podia fazer antes.
• Oriente-os para primeiramente olhar para o seu bebê; em • Encoraje os pais a falarem com o seu bebê de dife-
seguida falar com ele e observar as pistas que o bebê for- rentes direções (mudando de posição) isso ajudará o
nece. Se os pais perceberem que o bebê tolera bem ficar bebê a vivenciar a voz dos pais vindo de várias direções
no colo e ouvir a voz deles ao mesmo tempo, oriente-os e ajudará no seu desenvolvimento.
36 para acrescentar mais um estímulo, como tocar o bebê.
Se o bebê apresentar sinais de estresse oriente os pais Nota: essas orientações destinam-se somente aos pais que
para diminuir um dos estímulos. necessitam de orientação. Para saber se os pais necessitam de
• Oriente os pais para observar sempre as pistas que o bebê orientação siga as dicas aqui apresentadas em seguida.Intera-
fornece para poderem acrescentar mais um estímulo. ções triádicas (pai-mãe-bebê)
• Peça aos pais para regular a interação de acordo com as Por vezes os pais tendem a interagir os dois ao mesmo tempo
capacidades do bebê no momento da interação, seguin- com o bebê, se você perceber que o bebê mostra sinais de estres-
do o ritmo ditado pelo bebê. se oriente os pais para que interaja um de cada vez. Oriente de
• Proteja os olhos do bebê do excesso de luz, isso ajudará forma natural, demonstrando empatia pelos pais. Se eles tendem,
o bebê a ficar com os olhos abertos. por vezes, a interagir os dois ao mesmo tempo, isso pode signifi-
• Veja as outras orientações que foram dadas neste texto car que eles estão contentes porque viram seu bebê com os olhos
para facilitar a interação do bebê com seus pais. abertos, ou souberam que ele está melhorando, por exemplo.

De 31 a 32 semanas Uma Interação É Feita De Fazes Interligadas Entre Elas

• Siga as orientações que foram dadas antes e que pos-


sam ser úteis para essa faixa de idade gestacional em
função do estado do bebê. Uma interação é feita Como podemos detectar dificuldades na
• Nesse estágio, verifica-se um aumento do estado de de várias fazes interação?
consciência alerta inativo.
• Encoraje os pais a falarem com seu bebê. Início Observe e não intervenha antes que os
• Utilize música (ver item sobre a música, lembrando que a Regulação pais usem seus próprios recursos para
música individualizada é mais indicada para o bebê pré- Manutenção regular o seu comportamento aos sinais
termo). Término do bebê.
• Oriente aos pais para colocarem o seu bebê na posição
vertical e proteger os olhos do mesmo do excesso de lu-
minosidade – nessa posição ficará mais fácil para o bebê
abrir os olhos.
• Estando o bebê na posição vertical com os olhos prote-
gidos do excesso de luz, se os pais movimentam o bebê
suavemente de um lado para o outro, ficará mais fácil
para o bebê abrir os olhos. Para essa orientação leve em
consideração não somente a idade gestacional do bebê,
Capitulo 1 Assistência Perinatal

Anexo VI – Vários Bebês Para Um Pai E Uma Mãe


– Os Bebês Dos Pais
Veja se os pais estão com dificuldade
para iniciar, regular, manter ou terminar •Bebê Mítico – É o bebê da cultura, cada cultura possui
a interação. seu bebê mítico. Quando você lembra, aos pais, das pos-
Se o bebê mostra sinais de estresse e sibilidades positivas que o seu bebê terá, você pode estar,
necessita sair da interação: explique- sem o saber, ajudando os pais a aproximarem o seu bebê
lhes que o bebê sente necessidade de real o máximo possível do bebê mítico, do bebê da cultura,
se repousar um pouco e que quando isso pode contribuir para tranqüilizar os pais e permitir que
ele estivar se sentindo disponível para eles possam, assim, melhor investir seu bebê real
(Essas fases podem interagir novamente ele o fará. •Bebê Fantasmático - É o bebê das profundezas do ser,
durar apenas alguns é o bebê do inconsciente materno e paterno. Sendo o
segundos). O estresse dos pais pode dificultar que bebê fantasmático inconsciente, os pais não percebem
estes entendam os sinais de seu bebê; que esse bebê fantasmático influencia o modo como eles
lembre-se os pais encontram-se em um vão cuidar do seu bebê. O bebê fantasmático é o bebê
ambiente pouco familiar para eles e por resultante dos cuidados que os pais receberam em sua
vezes eles se sentem intimidados. mais tenra infância: ele tem como base principal as vi-
vências dos pais como bebês e como crianças. Quando
Ajude-os discretamente.Veja as orienta- (por exemplo) colocamos o bebê na posição canguru, e a
ções que foram dadas nesse texto. mãe, mesmo sabendo que o bebê está bem seguro pela
faixa e, mesmo assim, ela busca com suas mãos dar um
suporte ca rinhoso para o seu bebê – como se o prote-
gesse com suas mãos - ela pode estar repetindo gestos e
carinhos que recebeu quando era bebê e que ela guarda
no seu inconsciente.
Anexo V - Ajudando O Bebê A •Bebê Imaginário – Os pais trazem também em suas cabe-
Parentalizar Seus Pais ças um outro bebê, é o bebê imaginário, o bebê de seus
sonhos e devaneios. O bebê que os acompanham também
há muito tempo dentro de suas cabeças. É o bebê do dese-
(contribuindo para o bebê conquistar seus pais e a fazer com jo de ter filhos. Quando apresentamos o bebê real aos pais
que eles se sentirem competentes como pais) (ou seja, falamos de suas qualidades, seus pontos fortes,
de suas competências interativas, sua luta pela vida, etc.,
37
Modelos de ficha que podem contribuir para uma intervenção no podemos estar contribuindo para ajudar os pais a fazerem
ambiente humano do bebê e ajudar no fortalecimento dos laços afe- o luto do bebê imaginário e, assim, poderem conhecer me-
tivos. Mas é importante que tenhamos em mente que os pais não lhor o seu bebê real e o investir).
devem ser forçados e, sim, encorajados a participar dos cuidados
ao seu bebê. As Mãos Que Sustentam O Bebê
Eu gostaria muito que meus
pais ficassem comigo depois de
um procedimento doloroso para
me reconfortarem. Você poderia
me ajudar para que isso acon-
teça?
Eu agradeço com um beijo
carinhoso

Quer me fazer feliz? Pelas mãos falamos ao bebê,


Deixe que minha mãe ou meu Nos comunicamos com ele.
pai me leve nos seus braços até O tato é a primeira linguagem,
a balança quando você for me pesar ou me dar banho. A que precede
Eu agradeço A outra linguagem
com todo meu carinho. Ver e compreender...
Ver e após, sentir...
Eu gostaria muito que minha mãe e meu pai começassem a
participar, aos poucos, do meu banho, da minha troca de fraldas F. Leboyer (1996)
e do meu aleitamento materno por gavagem.
Meu beijo carinhoso
para todos que estão cuidando de mim
“... converse comigo, estou com medo porque está muito escuro.’
- ‘ De que lhe servirá isso, já que você não pode me ver?’
- ‘Não faz mal, respondeu a crian ça, contanto que alguém fale,
fica claro.”

Sigmund Freud

Paulo R. Margotto
Assistência ao Recém-Nascido de Risco

1.4 ASSISTÊNCIA AO NASCIMENTO, UM OLHAR ALÉM DO INSTRUMENTAL

Raulê de Almeida

Cada bebê que assistimos em seu nascimento é uma experiên- muscular dele é bom. Se a resposta for favorável para todas as in-
cia primeira e única, que não se repete jamais. Outro nascimento dagações, o bebê deverá ser levado para a sua genitora e mantido
é outro nascimento, outro potencial genético, outro histórico sócio- junto dela e não mais ser separado dela, o que será um elemento
cultural e familiar, outra mãe, outro pai, outra experiência intra- facilitador da formação do apego, do vínculo, da amamentação
útero e ao nascer, enfim outra vida. O cuidador ao nascimento, e conseqüentemente da estruturação neurológica e psíquica do
estimulando e favorecendo a interação mãe bebê contribui com sujeito emergente. De forma semelhante, a portaria do Ministério
a formação do apego, do vínculo, com a estruturação neuronal e da Saúde que trata do aleitamento materno, estabelece no quarto
psíquica do sujeito emergente e sua cidadania. Façamos, portanto, dos dez passos para o sucesso do aleitamento que se deve au-
o melhor para cada bebê que nasce assistindo-o em sua estrutura xiliar a mãe, estimular e facilitar a amamentação nos primeiros
biológica e sujeito psicocognitivo emergente com todos os seus po- trinta minutos após o nascimento e que todo bebê recém-nascido
tenciais de intercâmbio com o mundo que o acolhe. deverá ser colocado junto dela para sugar durante a primeira hora
No mundo nascem 350.000 bebês por dia, 14.583 por minuto, de vida, sempre que ambos estiverem em boas condições, propor-
4 por segundo. Destes nascimentos, 12.000 bebês morrem no cionando assim contato olho a olho e pele a pele entre mãe e filho
período neonatal, o que equivale a mais de quatro milhões de recém-nascido. Para isto a equipe de saúde presente na sala de
óbitos de recém-nascidos por ano, ou seja, um óbito de recém- parto deverá manter um ambiente de apoio, com conforto físico e
nascido a cada oito segundos. Destes óbitos, 98%, ocorrem nos emocional, que facilite o contato íntimo mãe-filho recém-nascido,
países em desenvolvimento como o Brasil. Ressalta-se que qua- imediatamente ao nascimento. A aplicação de sedativos, analgési-
se dois terços dos óbitos neonatais no mundo ocorrem antes da cos e anestésicos às parturientes deve seguir uma rotina discutida
primeira semana de vida, e destes, quase dois terços durante as previamente com a equipe assistente composta pelo anestesista,
primeiras vinte e quatro horas. O risco de que um bebê morra obstetra, neonatologista e enfermeiro obstetra e definida após cui-
antes dos vinte e oito dias, é 15 vezes maior que em qualquer dadosa avaliação individual das necessidades e conseqüências
outro momento do primeiro ano de vida. para a mãe e o bebê. O cuidador deve limpar e secar o recém-
De forma semelhante no Distrito Federal, em 2003, dos 45.401 nascido junto de sua mãe e com a ajuda desta, facilitando que
bebês nascidos vivos residentes nesta unidade federativa, a mor- ela o segure e o leve ao seio. A equipe deve criar condições para
talidade infantil foi de 13,2/mil; já no grupo com menos de 28 dias que o bebê acompanhe sua mãe deste o nascimento e daí para o
(433 óbitos) a mortalidade foi 9,6/mil, equivalente a 72% da mor- alojamento conjunto.
38 talidade infantil e dentro deste grupo, 74% dos óbitos ocorreram Indaga-se com freqüência se o bebê possui psiquismo desen-
antes de uma semana de vida e subseqüentemente dentro deste volvido. Com resposta baseada em evidências científicas se tem
grupo 47% ocorreram antes de vinte e quatro horas. Portanto a re- afirmado que sua estruturação psíquica inicia-se antes mesmo
gra dos dois terços ocorreu também no DF no ano de 2003, segun- do nascimento, passa por este e segue ao longo de todo o seu
do o Núcleo de Neonatologia e SINASC – SIM / SES – DF / 2003. desenvolvimento. Para melhor compreensão desta afirmativa
Muito podemos fazer para evitar estes óbitos e garantir que os lembremos-nos de alguns dados históricos. Nos meados do sé-
bebês sobreviventes tenham uma realização plena como seres culo XX, o bebê era visto como um ser passivo, um tubo digestivo,
humanos. Em conferência proferida em 2003 em Brasília para uma massa plástica a ser moldada, uma lousa branca a ser escri-
a Rede Neonatal do DF, o Prof. Dr. Kaare E. Lundstrom, Chefe ta, uma tábula rasa sobre a qual se colocava o que se quisesse,
do Departamento de Neonatologia do Hospital Escola da Univer- um ser passivo a receber os estímulos do ambiente, enfim, um
sidade de Copenhagen, afirmou que “A monitoração eletrônica pepino pequenino a ser torcido. Hené Spitz, psicanalista ameri-
não invasiva e invasiva, equipamentos de ventilação pulmonar cano de origem húngara, pioneiro no estudo de bebês, observou
de última geração, membrana extracorpórea para troca de ga- após a Segunda Guerra Mundial, que bebês separados de seus
ses, tudo com tecnologia de ponta e alto custo, foram instituídos, pais, deixados em abrigos ou hospitais onde recebiam cuidados
mas o impacto na queda da morbimortalidade neonatal naquela físicos, mas pouco afeto ou atenção de forma constante, perdiam
instituição que ele dirige só teve relevância quando foram soma- o interesse pelo meio que os cercavam, tornavam-se apáticos,
das às aquisições citadas, programas de cuidados humanizados hipotônicos, recusavam o alimento, perdiam o seu desejo de vi-
e individualizados para os bebês, a partir do nascimento, sobre- ver e em caso extremo de privação materna, morriam de fato,
tudo para os prematuros. Segundo os Anuários Estatísticos do caso não fossem a tempo investidos de amor e atenção. A par-
Ministério da Saúde / Brasil, a partir de 2001, a queda de fecun- tir da observação dos efeitos da privação da figura materna no
didade na população brasileira e a queda da mortalidade infantil desenvolvimento das crianças, na década de 50 e em seguida
tiveram como conseqüência o aumento da esperança de vida e pelos seus estudos, Bowlby concluiu e postulou a sua teoria do
do progressivo envelhecimento da população. Isto nos conduz, Apego, segundo a qual um vínculo inicial seguro entre a mãe e
portanto à consciência de cuidar hoje do bebê vislumbrando o bebê proporciona a este um posterior sentimento positivo de
o ancião saudável do amanhã, com sua estrutura biológica e segurança em relação ao mundo. Os efeitos patológicos da au-
sujeito psicocognitivo integrados no mundo. sência dos pais nas crianças órfãs durante a Segunda Guerra
Em nosso país existem normas e portarias que determinam so- Mundial levaram os profissionais a repensar, a partir de então,
bre a conduta do cuidador durante a assistência ao nascimento de o bebê de forma diferente, como pessoa em desenvolvimento e
uma criança. Uma delas está contida no protocolo de reanimação com psiquismo em formação, mas com direito e dignidade. Se-
neonatal da Sociedade Brasileira de Pediatria, que é a mesma ins- gundo o Prof. Dr. Jairo Werner, psiquiatra infantil da Universidade
tituída pela American Academy of Pediatrics e pela American Heart Federal Fluminense, mesmo que se ofereçam nutrientes e medi-
Association. Esta norma orienta que ao nascimento de cada bebê o camentos à criança e com ela não for estabelecido um vínculo e
pediatra assistente deve indagar se o bebê é de termo, se o líquido com ela não for estabelecida uma cumplicidade e a ela não for
amniótico tem mecônio, se o bebê chorou ou respirou e se o tono oferecido afeto, ela perde a vontade de viver e deixa de produzir
Capitulo 1 Assistência Perinatal

hormônio de crescimento e imunoglobulinas para defender seu portância do cuidador na creche influenciando na estruturação
corpo contra as infecções, se definha e pode ir a óbito. A isto se psíquica do bebê, e assim também compreendemos a importân-
dá o nome de ”Síndrome da Carência Afetiva”. cia da ação do cuidador ao nascimento, pois este pode ser o
Segundo Winnicott, D W. Uma mãe suficientemente boa, mas elemento favorecedor do encontro e facilitador da formação
que não seja perfeita, a ponto de satisfazer todas as necessi- do apego e do vínculo mãe bebê e subseqüentemente da estru-
dades do Bebê, nem ser indiferente a elas, é importante para o turação do psiquismo, que se constitui por um processo lógico
desenvolvimento de um sentimento de segurança, e bem estar desde a entrada da criança em o mundo.
psíquico do bebê. Este ambiente “suficientemente bom” deve de- Esta estruturação psíquica se dá através de quatro modos de
sempenhar três funções fundamentais, a saber: relação entre o bebê e seus pais, que se combina em três fases
distintas, conhecidas como os três tempos do complexo de Édipo.
• Primeiro, o holding, que é a montagem do colo físico, e O cuidador ao nascimento já pode antever e facilitar este processo,
que antecipado do colo psíquico, dá a sustentação psí- onde falamos com a criança bebê e damos sentido à sua lingua-
quica e física ao bebê e denota a identificação de sua gem analógica, cuidamos dela, incluindo aí as trocas corporais in-
mãe com ele. vestidas de carinho e satisfação, reagimos à sua linguagem numa
• Segundo, o handling, que é a forma como o bebê é cuida- atitude semelhante ao espelho, repetindo o seu gesto, pedimos e
do e manipulado, e dá-lhe a noção do seu próprio corpo. oferecemos palavras e coisas, permitimos ou impedimos experi-
• Terceiro, a apresentação ao bebê de elementos substi- ências pelas quais o mundo lhe é apresentado e daí segue a Iden-
tutivos ao corpo materno, que auxilia- o na tomada de tificação formadora do EU, a filiação e a busca da solução para a
consciência do mundo externo. sexuação e complementação do ciclo da vida.
Primordialmente o parto ocorria no domicílio, no leito da mãe,
Alguns fatores são decisivos para o bebê. A ansiedade ou de- e então o acolhimento acontecia no lar, pela família. No hospital,
pressão da mãe no período pré-natal e o stress psicológico em nós os cuidadores, na maioria das vezes longe dos membros da
recém-nascidos constituem fatores de risco para o bebê e podem constelação familiar da mãe, a assistimos juntamente com seu
causar danos em suas estruturas cerebrais em desenvolvimento bebê e então esta díade passa a depender de nossa acolhida para
ou mesmo favorecer a instalação de doenças, dependências e fu- suprir as suas necessidades psíquicas e físicas, que seriam supri-
turos transtornos de personalidade. A neurociência em Repensan- das por aqueles que compõem sua rede de apoio familiar e social.
do o Cérebro, por Shore R., tem demonstrado a importância das A mulher acrescenta à sua condição de filha a condição de mãe
primeiras experiências da criança na configuração das conexões do bebê que nasce, e este já traz consigo necessidades peculiares
neuronais e no desenvolvimento do seu cérebro. Sendo assim, in- que seriam mais bem resolvidas no ninho primordial junto de sua
tervenções precoces são importantes instrumentos de prevenção constelação familiar. Neste momento o bebê se manifesta através
de patologias psíquicas e promoção de saúde. de sua linguagem analógica que é construída pelos sinais que ele
No princípio da vida as percepções sensoriais do bebê podem emite, através de expressões corporais, gritos e interações visuais,
ser dispersas e desintegradas, mas a partir da ação materna com
39
enfim uma linguagem comportamental.
os cuidados diários, o bebê vai adquirindo um senso de continui- O bebê responde aos estímulos do seu derredor, toma iniciativa,
dade e segurança e a partir daí, mediante as condições ambien- controla a interação e para isto chora, sorri, mira firme ou desvia
tais adequadas, mais o apego e o vínculo estabelecidos com o o olhar e é capaz de conduzir o cuidador. O bebê é social, recebe
sujeito da função primordial materna, ele vai construindo a per- e promove influências interpessoais, seu comportamento social
cepção de uma pessoa inteira e integrada. Por isto devemos es- possibilita sua sobrevivência, seu crescimento e sua estruturação
tar atentos a possíveis dificuldades na formação do vínculo mãe psíquica. Esta competência de comunicação que possui o bebê
bebê, já perceptíveis ao nascimento e que poderão se transfor- lhe possibilita interagir com sua mãe e com o cuidador logo após
mar em patologias psíquicas e somáticas futuras. A ação do cui- o nascimento, facilitando a formação do vínculo mãe filho que já
dador primordial, a mãe, constitui a base psíquica fundamental teve inicio muito antes da concepção, quando da imaginação da
para o desenvolvimento da criança, seguindo a importância da menina que embalando seu boneco de pano faz de conta que o
interação com o cuidador primordial paterno e outros cuidadores amamenta e o cuida, seguindo depois na intenção da concepção,
parentais não primordiais que é a constelação familiar e depois e depois no preparo do enxoval, passando para os primeiros mi-
com os cuidadores não parentais eleitos para auxiliar os pais, na nutos pós-nascimento, minutos estes que são de extrema sensi-
assistência ao bebê durante as suas primeiras horas, dias, me- bilidade e mesmo com o estresse fisiológico, se não ofuscarmos
ses e anos. Esses cuidadores também exercem papel importante a visão do bebê com excesso de luz, ele se mostra alerta, olha ao
no desenvolvimento da criança. Todas as competências (poten- derredor, explora e aprende o ambiente. Isto é comum e normal
ciais genéticos, histórico sócio-cultural e familiar, experiências da em todos os mamíferos, não seria diferente no mamífero humano,
vida intra-uterina e do nascimento) somadas à integridade neuro- e apenas nos casos médicos imperativos se admite a separação
lógica e à interação com os pais e cuidadores, formam o tripé do mãe filho ao nascimento, pois existe aí um momento espetacular,
desenvolvimento normal da criança segundo Brazelton. Enfim o extraordinário, extremamente rápido e sensível de aprendizagem e
cuidador não primordial, mas eleito pelos pais ou por uma insti- reconhecimento, onde o bebê vê, reconhece e aprende a imagem
tuição com a finalidade de ajudar o bebê, também desempenha de sua mãe como lhe sendo própria.
papel fundamental em sua constituição psíquica e física. Inicial- O recém-nascido tem todos os sentidos que nós adultos temos,
mente o bebê depende também deste cuidador e nesta relação os utiliza e se lembra de tê-los utilizado enquanto feto. É um ser
de cuidar e ser cuidado existe um comprometimento mútuo e sensorial, isto é magnífico. Percebe, sente gosto e cheiro, escuta,
nesta cumplicidade, bebê e cuidador se influenciam e aí começa memoriza, habitua, desabitua, prefere voz, prefere voz da mãe,
a socialização do bebê. prefere gosto e cheiro do leite do peito de sua mãe, prefere cheiro
O bebê é um sujeito em constituição e em sua especificidade, da mãe, responde às emoções maternas. A permanência do bebê
já possui singularidade, história e vivências, cujos primórdios se com a mãe e com seu pai após o nascimento lhe proporciona re-
encontram nas fantasias de sua mãe a respeito do bebê imagi- conhecer tudo que lhe era familiar dentro do útero. Nos dois dias
nado, nas experiências da gravidez, no encontro ao nascimento que seguem ao nascimento o bebê prefere ouvir voz que qualquer
e no estabelecimento das primeiras relações com o Bebê real. outro tipo de som. E entre as vozes prefere a voz da mãe. O conta-
Assim descreve Kelen Santana da Costa quando fala sobre a im- to pele a pele com a mãe, com seu cheiro, sua voz, seu arfar de

Paulo R. Margotto
Assistência ao Recém-Nascido de Risco

• Bowlby, J. - Apego e Perda. A natureza do vínculo Vol. 1 - Editora Martins Fontes, 1990
respiração, a contenção em seus braços como se fora o útero, • Bowlby, J. - Apego e Perda. Separação. Vol. 2 - Editora Martins Fontes, 1990
resulta em menos choro e estresse, em comparação aos bebês • Bowlby, J. - Apego e Perda. Angustia e Ravia. Vol. 3 - Editora Martins Fontes, 1990
• Bowlby, J. - Formação dos primeiros laços afetivos. Quarta edição 2006 – Editora Martins
separados de suas mães. Ao nascimento o bebê procura marcos Fontes.
de referência que o ajudem a se lembrar dos nove meses intraúte- • Bowlby, J. - Cuidados maternos e saúde mental. Primeira edição - 19981 – Editora Martins
Fontes.
ro quais sejam, o cheiro e o gosto do líquido amniótico no leite, a • Busnel, M. C. pesquisadora da Universidade René Descartes – Paris v - A sensorialidade
do feto in Novos olhares sobre a gestação e a criança até três anos - L. G. E. Editora, 2002.
voz do pai e da mãe, a freqüência e o ritmo cardíaco e respiratório • Brazelton, T.B.; Nugent, K.J. Neonatal Behavorial Acessement Scale. London: Mac Kheit
maternos, o jeito de andar e valsar da mãe e os sons que lhe são Press, 1995.
• Camarotti, M. C. / Organizadora. Atendimento ao bebê. Uma abordagem interdisciplinar
familiares e não raro, nós o colocamos distante de tudo que lhe – Segundo Encontro Nacional sobre o Bebê. Recife – 2000. Editora Casa do Psicólogo
era familiar desde antes do nascimento, num lugar frio, sem vida, • Cyrulnik, B. - Os Alimentos do afeto – Série Fundamentos, Título original: Les nourritures
affectives, tradução de Celso Mauro Parcionik. Editora Ática – 1995.
hostil e sem contenção. Se o bebê é separado de sua mãe ao nas- • Cyrulnik, B. – Los patitos feos – Título original: Les vilains petits canards. Tradução de
Tomás Fernández Aúz e Beatriz Eguibar. 2ª Edição 2002 Barcelona.
cimento, quanto maior o tempo de separação, maior o estresse • Christian Ingo Lens Dunker, Psicólogo e Psicanalista – Instituto de Psicologia USP – A
e proporcionalmente maior o nível de cortisona neonatal e o seu mente do Bebê, vol. 2 pag. 14,2008
• Coryat, L. F. ; Jerusalinsky, A. N. – Aspectos estruturais e instrumentais do desenvolvimen-
momento mágico será passado sozinho, longe dos cuidados pri- to. Escritos da Criança nº 4 – 2º Edição. Centro Lydia Coriat – Porto Alegre -2001.
• Golse, B. et Bursztejn C. - Dire entre corps et langage -1993. Módulo sobre o psiquismo
mordiais e diferente daquilo que a natureza lhe havia preparado. A infantil ministrado no Curso de Perinatologia – UNB / 2001 por B. Golse sobre o tema O
rotina que espere... A vida tem preferência. Busnel M. C. demons- desenvolvimento da linguagem.
• Golse, in Kelen Santana da Costa. Constituição Psíquica: O que a Creche tem a (ha) ver
trou em pesquisas que a freqüência e o ritmo cardíaco de fetos e com isso? – COGEAE PUC SP2007
• J. Laun e cll – The healthy newborn: a reference annual for program manager. In Nancy
recém-nascidos pré-termo ou de termo diminuem se suas mães V. Yinger y Elizabeth I. Ransom. Perspectivas Políticas sobre a Saúde Neonatal -. Save the
Children / Population Reference Bureau,2003
se comunicam com eles tanto em palavras como em pensamento. • Kaare E. Lundstrom - Depto of Neonatology - National University Hospital, Rigshospita-
Estas mesmas pesquisas demonstraram as evidências científicas let, Copenhagen: Monitoração otimizada dos parâmetros de gasometria em pacientes na
UTIN, em 09 de Setembro de 2003
das competências sensoriais e do inicio do desenvolvimento do • Kelen Santana da Costa (2007) - Constituição Psíquica: O que a Creche tem a (ha) ver com
isso? – COGEAE PUC SP
psiquismo do bebê, desde os primórdios de sua vida. É também • Klaus, M. H.; Kennell, J. H.; Klaus, P. H. – Vínculo construído as bases para um apego
demonstrado por Leboyer F. que existe um período muito sensível seguro e para a independência.
• Klaus, M. H. end Klaus, P. H.- Seu surpreendente recém-nascido, Artmed editora, 2001
de reconhecimento e aprendizado na vida do bebê, propício para • Leboyer F. Nascer sorrindo, 14ª edição,, Editora Brasiliense,1992
dar-lhe todo conforto e prazer durante e imediatamente ao nas- • Montgner, H. – A vinculação, a aurora da ternura. Epigênese e Desenvolvimento. Instituto
Piaget Editora - Lisboa 1993
cimento, pelo que não é nosso direito roubar-lhe este momento, • Shore R. – em Repensando o Cérebro (Novas visões sobe o desenvolvimento inicial do
cérebro), Editora Mercado Aberto,
separando-o de sua mãe. • Silvia Abu-Jamara Zornig, psicóloga clínica - psicanalista- PUC RJ - A mente do Bebê, vol.
Mães que tiveram contato precoce e mantido com seus bebês II, pg. 52, 2008
• Soulé, M., Cyrulnik, B. – A Inteligência anterior á palavra – Novos enfoques sobre o bebê
desde o nascimento estenderam a amamentação após a volta ao –Artmed Editora – 1999
trabalho, numa proporção bem maior àquelas que não tiveram • Thomas R. Verny – Psiquiatra, Professor Na Harvard e Univ. De To
• ronto - Mente e Cérebro Vol.II / 2008
contato precoce e mantido com seus bebês após o nascimento. • Souza (Brasil); Klaus (EUA), in Busnel M., pesquisadora da Universidade René Descartes
– Paris v - A sensorialidade do feto in Novos olhares sobre a gestação e a criança até três
Boris Cyrulnik, em Os alimentos do Afeto e em Los patitos feos, anos - L. G. E. Editora, 2002
nos faz recordar que não basta ajudar uma mulher a parir um • Vygotsky, L. S. – O desenvolvimento psicológico na infância. Editora Martins Fontes, 1999
40 bebê, é necessário ajudá-la trazer ao muno um novo ser humano
• Werner J. Univ. Fed. Fluminense. Módulo ministrado no Curso de Perinatologia – UnB /
2001.
• Wilhelm, J. – O que é psicologia pré-natal. Segunda edição. Casa do psicólogo Livraria e
e daí ajudá-lo a se inserir no mundo como cidadão e ser feliz. editora – 1997.
Os ensinamentos de Vygotsky, L. S. nos diz que “Um dia o cui- • Winnicott, D. W. – Os Bebês e suas mães – Terceira Edição 2006 Editora Martins fontes
• Winnicott, D. W. – Khan, M. M. R. - Da Pediatria à Psicanálise – Copyright 1958 - Editora
dador poderá fazer a diferença na vida de uma criança, desde Martins fontes
que este tenha estabelecido com ela uma interação tal que a • Winnicott, D W. In Kelen Santana da Costa. Constituição Psíquica: O que a Creche tem a
(ha) ver com isso? – COGEAE PUC SP,2007
tenha facilitado construir um instrumento psíquico, através do
qual ela poderá tomar atitudes definidas, positivas e confiantes.”
E para que o cuidador tenha esta competência de ser facilitador
na construção do sujeito emergente, ele deve se apropriar dos
conhecimentos aqui descritos.
Concluindo lembremos novamente de Shore R em, Repensan-
do o Cérebro, onde ficou demonstrado que o desenvolvimento ce-
rebral sofre influências das experiências que se tem a partir dos
primórdios da vida, e que estas ajudam a formar a arquitetura ce-
rebral, a natureza e a extensão das capacidades no adulto. As inte-
rações iniciais com os cuidadores, não apenas criam um contexto
favorável para o desenvolvimento e aprendizado iniciais, mas afe-
tam diretamente a forma como o cérebro se desenvolve. O desen-
volvimento cerebral não é linear e progressivo em direção à idade
adulta, existem períodos preciosos para se adquirir diferentes ti-
pos de conhecimentos e habilidades, um deles é o nascimento.
E segundo o mestre da psicanálise, Freud, 1926, “há muito
mais continuidade entre a vida intrauterina e a primeira infância
do que a impressionante caesura do nascimento permite saber.”
Eis aí, portanto, a importância do acolhimento ao bebê, com
sua história, sua família, seus potenciais genéticos, suas compe-
tências e dificuldades, ao nascimento, pois tudo isto vai influen-
ciar na formação do seu psiquismo, crescimento e integração
social saudáveis.

Bibliografia
• Almeida, R.; Silva, A. D.; Paula, AM, C. - O uso Clínico da Escala de Avaliação comportamen-
tal Neonatal de BRAZELTO /2001 – UnB, 2002
• Áries, P. – História social da criança e da família – LTC editora – Primeira edição brasileira
-1978
Capitulo 1 Assistência Perinatal

1.5 ESTATÍSTICA PERINATAL

Martha David Rocha de Moura, Paulo R. Margotto

Nos últimos 17 anos a mortalidade neonatal precoce (≤ 7 dias EUA (4,6/1000 em 2004) e o Chile (5,6/1000 em 2000) e a ve-
de vida), passou de 16,56/mil e 10,88/mil para 10,49 e 6,15/ locidade de queda das taxas de MN no Brasil tem sido lenta. São
mil, nos RN com peso ≥ 500g e ≥1000g, respectivamente, na Uni- importantes para avaliação de mortalidade em uma unidade ne-
dade de Neonatologia do Hospital Regional da Asa Sul, segundo onatal as construções dos seguintes indicadoras de mortalidade:
a análise de 133 019 nascimentos vivos (1985-2002) realizadas O coeficiente de mortalidade neonatal: óbitos de 0 a 27 dias
por nós. Nos RN com peso ao nascer abaixo de 1500g e abaixo em relação ao total de nascidos vivos (por 1000); que deve ser
de 1000g, a mortalidade de até 7 dias passou de 67,47% para subdividido em:
18,44% e 97,14% para 45,6% respectivamente neste período. A
mortalidade por Doença da Membrana Hialina no ano 2000 foi a • Coeficiente de mortalidade neonatal precoce (0 a 6 dias
menor registrada 17,34% - RN sob assistência respiratória > 6h). inclusive)
As 4 grandes causas de morte neonatal neste Serviço foram: as- • Coeficiente de mortalidade neonatal tardia (7 a 27 dias).
fixia perinatal, doença da membrana hialina, infecção perinatal e
malformações. A sobrevivência (na alta) no ano 2000 para os RN Essa divisão, relacionada à idade da criança quando morreu,
com peso ao nascer abaixo de abaixo de 1000g nas idades gesta- deve-se à observação de que no período neonatal predominam as
cionais de 26 semanas, 27 semanas, 28 semanas e 29 semanas causas ligadas a problemas da gestação e do parto (causas peri-
foram respectivamente, 50%, 78%, 67% e 100%. Os índices de natais e anomalias congênitas), e de que, no período pós-neonatal,
baixo peso (< 2500g), muito baixo peso (<1500g) e extremo baixo prevalecem às causas de morte relacionadas ao serviço de assis-
peso (<1000g) foram, respectivamente 11,53%, 2,28% e 0,74%. tência as patologias desenvolvidas na unidade e intercorrências da
É fundamental que cada Serviço de Neonatologia realize a sua própria prematuridade.
Estatística Perinatal, uma forma de avaliação da qualidade da as- Coeficiente de mortalidade perinatal: segundo a Classifica-
sistência perinatal prestada com o propósito de permitir conhe- ção Internacional de Doenças em vigor (a CID-10), o período pe-
cer as características dos pacientes atendidos sua morbidade e rinatal vai da 22ª semana de gestação até a primeira semana
taxas de mortalidade. De posses desses dados é possível ana- de vida. Dessa maneira, o coeficiente atualmente é dado pela
lisar a situação atual de saúde, fazer comparações com outras seguinte razão: óbitos fetais a partir da 22ª semana de gestação
unidades e avaliar mudanças ao longo do tempo. + óbitos de menores de 7 dias de vida / nascidos vivos + nasci-
Não basta que as fichas existam, é necessária a conscienti- dos mortos na mesma comunidade e ano.
zação da equipe no seu preenchimento. Temos a obrigação de Para o preenchimento do atestado de óbito, temos que seguir
41
avaliar o que fazemos para podermos exigir melhoras das nos- as definições do Ministério da Saúde:
sas autoridades de Saúde. Sem diagnóstico não há estatégia e
se houver, resultarão em tragédia. • Nascimento Vivo – nascimento vivo é a expulsão ou ex-
O compromisso de atendimento ao recém-nascido criticamen- tração completa do corpo da mãe, independentemente
te enfermo e a diminuição da sua morbimortalidade, é um com- da duração da gravidez, de um produto de concepção
promisso de toda a equipe de profissionais de saúde que atuam que, depois da separação, respire ou apresente qualquer
na Unidade Neonatal. O conhecimento das doenças e agravos outro sinal de vida, tal como batimentos do coração, pul-
que acometem este grupo de pacientes é imprescindível para sações do cordão umbilical ou movimentos efetivos dos
que o serviço avalie a qualidade da assistência prestada defina músculos de contração voluntária, estando ou não cor-
estratégias de ação, ao gestor financeiro da instituição permite tado o cordão umbilical e estando ou não desprendida
avaliar custos e estabelecer metas e definir orçamentos. da placenta. Cada produto de um nascimento que reúna
Cada serviço opta por um tipo de registro e analise estatística essas condições se considera como uma criança viva.
de seus dados que podem ser apenas descritivos ou analíticos,
mas para se ter acesso a dados estatísticos confiáveis que pos- • Óbito Fetal – Óbito fetal é a morte de um produto da
sam expressar as reais condições da assistência à saúde. A infor- concepção, antes da expulsão ou da extração completa
matização dos serviços torna-se imprescindível. do corpo da mãe, independentemente da duração da
gravidez: indica o óbito o fato de que, o feto, depois da
A Construção de Indicadores de Mortalidade separação, não respirar nem apresentar nenhum outro
sinal de vida, como batimentos do coração, pulsações do
A avaliação da mortalidade é o indicador mais simples de ser cordão umbilical ou movimentos efetivos dos músculos
construído e foi o primeiro indicador de saúde utilizado para ava- de contração voluntária
liar uma população. É fácil de operar: a morte é clara e objetiva-
mente e todo óbito hospitalar tem de ser registrado. Há numero- No Brasil observamos, um aumento da contribuição dos óbitos
sos indicadores baseados na mortalidade. Os dados Nacionais neonatais (0-27 dias) em todas as regiões do país, representan-
sobre o número de nascidos vivos, óbitos neonatais precoces e do entre 64 a 69% do total de óbitos infantis no período de em
fetais do registro civil encontram-se disponíveis na internet (www. 2003-2005, com maior aumento na Região Nordeste (de 33,6%
datasus.gov.br), assim como os dados provenientes do Sistema para 63,6%). Destaca-se a mortalidade neonatal precoce (0-6
de Mortalidade - SIM e do Sistema de Nascidos Vivos – SINASC. dias), correspondendo a 51% (região Nordeste e Sudeste) e 50%
O fato da mortalidade neonatal (MN) se tornar o principal com- (demais regiões) das mortes infantis em 2003-2005 e, de forma
ponente da Mortalidade Infantil no Brasil aproxima o país do particular, o aumento da concentração dos óbitos no primeiro dia
perfil de mortalidade de países desenvolvidos, onde é também o de vida, chegando à cerca de um quarto dos óbitos infantis em
mais importante. Entretanto, a magnitude da MN no Brasil é alta todas as regiões do país em 2003-20051
(14,2/1000 em 2005), comparada com outros países como os

Paulo R. Margotto
Assistência ao Recém-Nascido de Risco

No Brasil a elevação das mortes infantis no primeiro dia e na • Informações estatísticas em tempo real
primeira semana de vida verificada no Brasil em 2003-2005 de- • Tornar-se um registro de dados de valor legal.
monstra a estreita relação da MN com a assistência de saúde • Facilitar a investigação médica e colaborar na capacita-
dispensada à gestante e ao RN durante o período do pré-parto, ção da equipe de saúde.
parto e atendimento imediato à criança no nascimento e na uni-
dade neonatal e a importância de se considerar as ações dirigi- A seguir, os Livros e Fichas que podem ser utilizados na Unida-
das à melhoria desta assistência. de de Neonatologia para a coleta de dados:
Para compreender melhor a MN, entretanto, é necessário anali-
sar as causas dos óbitos, a distribuição por idade gestacional e o Livro do 1º exame (Sala de Parto)
peso ao nascer do RN. O grupo das afecções perinatais reúne cau-
sas que demandam intervenções bastante diferenciadas, algumas
delas consideradas com maior potencial de evitabilidade. Dessa Reg Nome IG D.Nasc HS
forma, uma abordagem mais detalhada das causas de óbitos ne-
onatais representa uma necessidade premente. A recomendação
proposta de Wigglesworth ampliada (do Confidencial Enquiry into
Maternal and Child Health - CEMACH, 2005), da OMS (WHO, 2007)
e de Lawn e cl. (2006), visa avaliar alguns grupamentos definidos T. de Sexo Apagar Peso Est PC
que permitem observar as causas relacionadas com os fatores Parto
maternos e gravidez e com as afecções respiratórias.
Foram então definidos os seguintes grupamentos de causas,
os quais podem ser relacionados a diferentes momentos da as-
sistência em saúde da mulher e da criança:
Classif Peso Placenta Classif Placenta TBR Procedência
• Prematuridade;
• Infecções; Congênitas e sepse neonatal
• Asfixia/hipóxia; subdivida em hipoxia intra –
uterina e asfixia ao nascer Livro de Feto Morto (Centro Obstétrico)
• Malformações congênitas;
• Fatores maternos e relacionados à gravidez
• Afecções respiratórias do RN. Doença de membrana, Reg Nome IG Morte Intra-Hospitalar
pneumotórax e displasia broncopulmonar.

42 Para a redução do óbito neonatal a integração dos serviços é


primordial vai desde a atenção pré-natal, o parto, a assistência
ao RN de médio e alto risco rotinas estabelecidas de cuidados
permitindo assim que cada profissional possa produzir o melhor Morte Extra-Hospitalar Peso Sexo
resultado possível, integrando-se aos esforços dos demais, de
maneira que se pense em conjunto e de maneira para que pos-
samos alcançar um objetivo comum de atender a população de
maneira qualificada oferecendo a melhor prática disponível.
Livro do Cuidado Intensivo
Avaliação Descritiva da Unidade
e Indicadores de Morbidade
Reg Nome IG D.Nasc HS
A utilização do prontuário estruturado e informatizado tem
a finalidade de oferecer à equipe da Unidade Neonatal, dados
quantitativos e estatísticos sobre o atendimento, permitindo que
o serviço seja avaliado e possa apoiar a tomada de decisões mé-
dicas e administrativas na busca contínua da qualidade no aten- T. de Sexo Apagar Peso Est PC
dimento ao paciente. Parto
Vários são os programas e empresas hoje no mercado que
realização a informatização de formulários utilizados na prática
diária. As criações de banco de dados digitais devem sempre ob-
servar as características de cada serviço. Permitindo ao médico
facilidade e rapidez no preenchimento das informações, facilitan- Classif Peso Placenta Classif Placenta TBR PN
do a coleta de dados de forma ampla e organizada. Preenchendo
as necessidades de:

• Registro da informação de maneira padronizada,


• Ganho de tempo no registro e busca de informações.
• Cruzamento de variáveis com facilidade Diagnostico Proc Óbito
• Permita a construção de relatórios e gráficos
• Baixo custo de implantação e fácil manutenção
• Preferencialmente sem necessidade licença de uso
• Arquivos exportáveis e importáveis para qualquer outro
banco de dados
Capitulo 1 Assistência Perinatal

Unidade de Neonatologia
Mês/Ano M. Fetal:

M. Neonatal:
Peso ao nascer 500g a 1.000g a 1.500g a
999g 1.499g 1.999g
Morte Neonatal
Nascidos vivos (tabela na pagina seguinte)

Nascidos mortos (mortes fetais)

Neomortos (≤7dias)

Mortalidade Neonatal/peso(%)

Contribuição Mortalidade Neonatal

Peso ao nascer 2.000g a ≥ 2.500g Total


2.499g

Nascidos vivos

Nascidos
mortos (mortes
fetais)

Neomortos
(≤7dias)

Mortalidade
Neonatal/
43
peso(%)

Contribuição
Mortalidade
Neonatal

Mortes Fetais:
• Inta-hospitalar
• Extra-hospitalar

Total de Nascimentos ≥ 500g =

Total de Nascimentos Vivos ≥ 500g =

Total de Mortes Fetais ≥ 500g =

Total de Mortes Neonatais ≥ 500g =


Precoce

Mortalidade Perinatal:

≥ 500g ≥ 1.000g

M. Perinatal

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Assistência ao Recém-Nascido de Risco

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Capitulo 1 Assistência Perinatal

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Assistência ao Recém-Nascido de Risco

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Capitulo 1 Assistência Perinatal

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Assistência ao Recém-Nascido de Risco

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Capitulo 1 Assistência Perinatal

49

Bibliografia
• Margotto PR. Mortalidade Perinatal. Boletim Informativo Pediátrico (BIP)-Brasília, N.º
44,1986
• Margotto PR. Atualização em Neonatologia/Mortalidade Perinatal no Hospital Regional da
Asa Sul no ano 2002. Boletim Informativo Pediátrico (BIP)-Brasília, N.º 66,2003
• Margotto PR. Mortalidade Perinatal/Limite da Viabilidade no RN pré-termo extremo o Hos-
pital Regional da Asa Sul - ano 2000.Boletim Informativo Pediátrico (BIP)-Brasília, N0 64,
pg 121, 2001
• Fiori MR, HH Fiori, Hentschel H. Mortalidade Perinatal no Rio Grande do Sul - Estudo Cola-
borativo de 16 maternidades. J Pediatr (Rio J) 65:72,1989
• Ministério da Saúde, Brasil. Pacto pela saúde 2006. Disponível em http://portal.saude.
gov.br/saude/area.cfm?id_area=1021.
• Ministério da Saúde, Brasil. Informações de saúde. Estatísticas vitais - mortalidade e nas-
cidos vivos. Disponível em http://tabnet.datasus.gov.br/tabnet/tabnet.htm#estatvitais.

Paulo R. Margotto
Assistência ao Recém-Nascido de Risco

1.6 GESTAÇÃO GEMELAR

Márcia Pimentel de Castro/Paulo R. Margotto

Francis Galton (1822-1911), que lançou as bases da Biome- pares MZ apresentam grandes diferenças fenotípicas. Segundo
tria cerca de 25 anos antes da redescoberta dos trabalhos do Benirschke (1994), cerca de 30% dos pares MZ se originam da
pai da Genética (Gregor Johann Mendel,1822-1884), já partici- separação dos blastômeros num período muito precoce, isto é,
para à Anthropological Society of London que os gêmeos podem até o terceiro dia após a fecundação, quando o zigoto segmen-
ser estudados com a finalidade de avaliar a contribuição do que tado ainda está no estado de mórula. Em conseqüência disso,
ele chamou de natura e nurtura na determinação dos caracteres formam-se dois blastocistos e os gêmeos resultantes mostrarão,
quantitativos (Galton, 1876). Esse binômio passou, mais tarde, a ao nascer, dois córions, dois âmnios (diamnióticos dicoriônicos)
ser designado por genótipo e ambiente, mas o princípio lógico es- e, dependendo da proximidade dos locais em que estavam im-
tabelecido por Galton para o estudo de gêmeos com a finalidade plantados no útero, duas placentas bem separadas ou unidas.
de investigar a participação do genótipo na variação fenotípica Os outros 70% de pares MZ são o resultado de alterações que
permaneceu, basicamente, o mesmo. Os fatores do ambiente ocorrem entre o quarto até o 14o dia após a fecundação do ovó-
que afetam as diferenças intrapar dos gêmeos monozigóticos, cito. Essas alterações podem provocar a divisão da massa celular
oriundos de um único zigoto, seriam comparáveis aos que afe- interna, o que propicia o nascimento de gêmeos com dois âmnios
tam as diferenças intrapar dos gêmeos dizigóticos, os quais, do e um córion (diamnióticos monocoriônicos) e uma placenta. No
mesmo modo que os pares de irmãos nascidos sucessivamente, caso de essas alterações serem mais tardias, elas provocam a
são oriundos de dois zigotos. divisão do disco embrionário, disso resultando o nascimento de
Atualmente se sabe que a gemelaridade é um campo im- gêmeos com um único âmnio e um único córion (monoamnióti-
portante do conhecimento da reprodução humana. A maior in- cos monocoriônicos) e placenta única. Essas alterações tardias
cidência de problemas neonatais em gêmeos comparado com também podem provocar uma repartição desigual do material
recém-nascidos de gestações únicas, dão suporte a noção de embrionário e, por conseguinte, a produção de maiores diferen-
que gestação múltipla é um desvio do padrão humano normal. ças entre os pares MZ.
Restrição do crescimento intrauterino, prematuridade, malforma- Dentre os partos múltiplos, os de trigêmeos são menos freqüen-
ções congênitas e mortalidade perinatal aumentada são mais tes que os de gêmeos, sendo mais raros, ainda, os de quadrigê-
comuns em gêmeos do que em fetos únicos. O conhecimento meos e de quíntuplos. A exemplo do que ocorre com os pares de
sobre a embriologia da gemelaridade auxilia a compreender a gêmeos, tem-se que a origem dos trigêmeos, tetragêmeos e quín-
ocorrência de algumas destas complicações. tuplos pode ser monozigótica ou resultar de mais de uma célula-
50 ovo. Assim, por exemplo, no caso de trigêmeos, eles podem ser
A Formação de Gêmeos trizigóticos, dizigóticos ou monozigóticos se oriundos, respectiva-
mente, de três zigotos, dois zigotos ou de um único zigoto.
Se no momento da ovulação forem expelidos dois ovócitos, ao
invés de um, e se ambos forem fecundados, os zigotos resultantes Embriologia, Zigosidade E Placentação
darão origem a gêmeos dizigóticos (DZ). Esses gêmeos, em mé-
dia, não apresentam maior similaridade genética entre si do que A gestação dizigótica é causada pela fertilização de dois óvu-
pares de irmãos gerados sucessivamente porque, tanto os pares los.Os blastocistos resultantes geram âmnios separados, córions
DZ quanto os pares de irmãos sucessivos são oriundos de pares e placenta. Se a implantação delas no útero é próxima, as placen-
de zigotos distintos. Os pares DZ são, por isso, considerados como tas podem se fundir, no entanto, a comunicação vascular entre
irmãos da mesma idade e, em conseqüência, também denomina- as duas circulações não ocorre e a placenta pertencente a cada
dos gêmeos fraternos (do latim, frater = irmão). Por terem origem feto é em geral facilmente identificada pela simples inspeção.
biovular, os pares DZ podem ter o mesmo sexo, isto é, serem am- A gestação monozigótica é causada pela divisão de um único
bos do sexo masculino (MM) ou ambos do sexo feminino (FF) ou, óvulo fertilizado em algum momento durante as duas primeiras
ainda, discordantes quanto ao sexo (MF). Nem sempre, porém, os semanas após a concepção. A divisão precoce resulta em gêmeos
pares DZ apresentam duas placentas distintas, pois, em decorrên- dicoriônicos. A divisão um pouco mais tardia dá origem a placen-
cia de uma eventual proximidade excessiva dos locais de implan- tação monocoriônica, porém diamniótica, que é o tipo mais comu-
tação dos blastocistos que dão origem aos gêmeos DZ, as placen- mente visto de gêmeos monozigóticos. Outra situação possível é a
tas podem, aparentemente, fundir-se em uma única. Quando isso divisão um pouco mais tardia do que a anterior que resulta em gê-
acontece, somente o exame microscópico na região de união das meos monocoriônicos e monoamnióticos. Uma divisão ainda mais
placentas mostrará a presença da chamada zona T, composta de tardia do que as anteriores resulta em gêmeos unidos por alguma
quatro lâminas (um âmnio de cada lado e dois córions no meio). parte do corpo, conforme veremos mais adiante.
Entre os dois córions será possível observar a presença do trofo- Gêmeos dicoriônicos monozigóticos têm diferentes placen-
blasto e vilosidades coriônicas atrofiadas (Benirschke, 1994). tas, que podem estar separadas ou fundidas. Assim como no
Um outro tipo de gêmeos, os pares monozigóticos (MZ), é for- caso de placentas fundidas dos gêmeos dizigóticos, a anasto-
mado no período entre um e 14 dias depois da fertilização, quan- mose vascular não ocorre e a identificação de cada placenta
do um único zigoto sofre desenvolvimento irregular, dando origem pode ser grosseiramente feita. Gêmeos monocoriônicos têm
a dois indivíduos que são considerados idênticos do ponto de uma placenta comum e, invariavelmente, existe comunicação
vista genético, pois possuem o mesmo patrimônio genético, visto vascular entre as duas circulações.
que são oriundos de uma única célula-ovo ou zigoto. Os gêmeos Assim, fica evidente que gêmeos monocoriônicos devem ser
MZ são do mesmo sexo, isto é MZMM ou MZFF, e, freqüentemen- sempre monozigóticos, são invariavelmente do mesmo sexo e
te são denominados gêmeos idênticos, apesar de essa denomi- têm o mesmo grupo sanguíneo. Nos EUA 1/3 dos pares de gême-
nação não ser muito apropriada, visto que a identidade, aqui, se os são monozigóticos, e destes, 60 – 70 % são monocoriônicos,
refere ao genótipo e não ao fenótipo, havendo casos em que os enquanto os dois terços restantes são dizigóticos.
Capitulo 1 Assistência Perinatal

Mortalidade Perinatal sibilidade seria a medida da velocidade do fluxo sanguíneo na


artéria umbilical com Doppler contínuo.
A mortalidade perinatal em gêmeos é 4 vezes maior do que em
produtos de gestação única. A mortalidade perinatal em gêmeos Síndrome de Transfusão Fetal
monocoriônicos é aproximadamente 2 a 3 vezes maior que em di-
coriônicos. Dados sugerem fortemente os efeitos da placentação, As maiores diferenças entre os elementos de um par MZ, ocor-
muito mais do que o da zigosidade, sobre a mortalidade perinatal rem naqueles que são monocoriônicos, porque neles é mais pro-
em gêmeos. Embora correspondam a apenas 1,5% de todos os vável a manifestação da síndrome da transfusão entre gêmeos
gêmeos, os monozigóticos e monocoriônicos têm uma mortalida- idênticos, em conseqüência de anastomoses placentárias arté-
de perinatal de aproximadamente 30 – 50%. Este risco pode ser rio-venosas, que podem permitir o estabelecimento de um fluxo
explicado por problemas envolvendo o cordão, incluindo: estrangu- sangüíneo preferencial de um gêmeo para outro. O feto receptor
lamento, nó de cordão e entrelaçamento ao redor do outro gêmeo. passa a ser hipervolêmico e a produzir um excesso de fluido am-
niótico, enquanto o doador, ao contrário, se torna hipovolêmico
Prematuridade, Baixo Peso E Desenvolvimento Intra-Uterino e com pouca quantidade de fluido amniótico. Se a síndrome da
transfusão entre os gêmeos MZ se iniciar antes de 26 semanas
Revisando a mortalidade perinatal em gêmeos, Chaurasia e cl no- de gestação haverá alto risco de mortalidade fetal. Atualmente
taram que 80% dos óbitos ocorriam em menores de 37 semanas, e o melhor recurso para enfrentar essa situação é a interrupção
90% estavam associados com baixo peso ao nascer (<2.500 g). Res- da comunicação circulatória placentária pela utilização de laser
trição do crescimento intrauterino (RCIU) também contribuiu para bai- durante fetoscopia (Ville e cl., 1992).
xo ao nascer e não apenas a prematuridade. A anastomose vascular encontrada exclusivamente e provavel-
Aproximadamente 40 – 50% dos partos gemelares ocorrem antes mente em todas as placentas monocoriônicas é responsável pe-
de 37 semanas. A alta incidência de prematuridade é largamente res- las altas taxas de morbidade e mortalidade associadas a gêmeos
ponsável pelo grande nº de morte entre gêmeos. monocoriônicos. O tipo de anastomose mais comum ocorre entre
A incidência de baixo peso entre gêmeos é da ordem de 50 as artérias das duas circulações. Quando um cotilédoco é supri-
– 60%, 5 a 7 vezes maior que a incidência de baixo peso em do pela artéria de um gêmeo e drena para a veia de outro, existe
gestações únicas. Gêmeos apresentam curvas de crescimento o risco potencial de transferência de quantidades significativas
normal para estatura e perímetro cefálico, sempre oscilando en- de sangue do gêmeo do lado arterial (“doador”), para o gêmeo
tre o percentil mais baixo normal para fetos de gestação única. do lado venoso (“receptor”). Os efeitos da transfusão feto-fetal
No entanto, o peso começa a se desviar da curva normal para fe- em cada gêmeo dependem, muito provavelmente, do período em
tos únicos a partir do 3º trimestre. O peso dos monocoriônicos é que a transfusão ocorreu.
consideravelmente menor que o peso dos dicoriônicos. Corney e Clinicamente, a síndrome da transfusão feto-fetal é diagnostica-
cl descreveram que a média de peso ao nascimento para gêmeos da quando existe uma diferença de hemoglobina > 5g/100 ml en-
monozigóticos sobreviventes, mono ou dicoriônicos, era similar,
51
tre os gêmeos.Pode ser suspeitada quando um dos gêmeos pare-
porém marcadamente menor em ambos os casos, quando com- ce pletórico e o outro pálido ao nascimento. Em alguns casos pode
parada com a média de pesos de gêmeos dizigóticos. Estes da- existir também discordância entre os PN, sendo o gêmeo receptor
dos sugerem o efeito da zigosidade, mais do que a placentação, bem maior, o que indica transfusão intra-uterina crônica, resultan-
sobre o peso ao nascimento entre gêmeos. Grandes variações de do em significativo RCIU no gêmeo doador. Quando a diferença de
peso ao nascimento foram demonstradas entre pares de gêmeos PN é pequena (<= 300g), tanto o doador como o receptor pode
monocoriônicos, mais do que entre os dicoriônicos. Erkkola e cl ser grande, o que significa que a transferência de sangue ocorreu
relataram que a mortalidade perinatal é 2,5 vezes maior em gê- agudamente, talvez durante o clampeamento precoce e tardio do
meos cuja diferença de peso ao nascimento é > 25%, do maior cordão do doador e do receptor, respectivamente.
para o menor. Na população estudada por Manlan e cl, a inci- Polidrâmnio associado ao feto receptor em casos de transfu-
dência de RCIU (definida como peso ao nascimento > 2 desvios são feto-fetal crônica pode ser tão importante que desencadeia
padrão abaixo da média para o feto único de mesma idade ges- o trabalho de parto prematuro. Os óbitos entre gêmeos com sín-
tacional) foi 10 vezes maior em gêmeos do que em fetos únicos. drome de transfusão feto-fetal são usualmente secundários a
RCIU ocorre mais freqüentemente entre gêmeos monocoriônicos prematuridade e a doença da membrana hialina
do que dicoriônicos. Citamos agora alguns achados de necropsia de pares de gême-
Corroborando a noção de que gestação múltipla é um desvio os com transfusão feto-fetal:
da normalidade humana, a maioria dos pesquisadores usa a cur-
va padrão para fetos únicos, mais do que curvas para gêmeos, Achado Doador Receptor
para avaliar crescimento intrauterino em gestações gemelares.
Peso do coração ↓ hipovolemia ↑ hipervolemia
Marivat et Norman definem RCIU quando o peso de nascimento
(PN) é < P10 para aquela idade gestacional, numa curva para Camada muscular
fetos únicos, ou quando o PN é menor que 85% do peso do outro média das arterío- ↓ ↑ (HPP antenatal)
gêmeo, mesmo que esteja acima do P10. las pulmonares
Anomalias congênitas são muito mais freqüentemente reportadas Alargamento glome-
em gêmeos do que em fetos únicos, com alta incidência em gêmeos rular e aumento do
rins ↓
monozigóticos. A taxa de anomalias congênitas, como foi demonstra- nº de glomérulos
do por Hendricks, é maior em gêmeos com PN < 1 desvio padrão da maduros.
média normal para IG, independente de pré-termo ou a termo. HPP: Hipertensão Pulmonar Persistente
Considerando-se alta taxa de mortalidade e anomalias congê-
nitas entre gêmeos, esforços têm sido feitos para detectar discre- A combinação de hipervolemia, hipertensão arterial e aumento
pância de tamanho entre pares de gêmeos e RCIU diagnostica- do débito urinário pode explicar o achado de polidramnia no saco
dos por exame de ultrassonografia antenatal. Estimativas podem amniótico do feto receptor. Ao contrário, o oligoâmnio encontrado
ser feitas como a medida dos diâmetros biparietal e abdominal, no feto doador pode ser explicado pela hipovolemia, hipotensão e
com apenas 62% de chance de firmar o diagnóstico. Outra pos- oligúria. Coração, fígado, rins, pâncreas e córtex adrenal são sig-

Paulo R. Margotto
Assistência ao Recém-Nascido de Risco

nificantemente menores no feto doador, de maneira semelhante para reduzir o comprometimento respiratório e cardíaco.O mane-
à encontrada em fetos com RCIU. Isso sugere que o feto doador jo na UTI inclui (Consulte o capítulo de Hidropsia Fetal): estimati-
é submetido a uma má nutrição intra-uterina, provavelmente se- va do volume intravascular circulante por meio da monitorização
cundária ao desvio de nutrientes para o receptor. da PVC, uso de diuréticos e fluidos de acordo com este indicador;
Alguns problemas encontrados nos RN com RCIU devido à in- dosagem de albumina e de hemoglobina, com transfusão para
suficiência placentária, especialmente a hipoglicemia, podem ser corrigir níveis baixos, ale, de medidas de suporte usualmente
vistos no gêmeo doador, secundária a transfusão feto-fetal crôni- empregadas para manter adequada ventilação, pressão arterial,
ca. Hidropsia fetal pode complicar o quadro de transfusão feto- glicemia e eletrólitos, bem como um controle térmico adequado.
fetal; é usualmente vista no doador, mas também já foi descrita Quando um dos fetos está macerado o sobrevivente deve ser cui-
isoladamente no receptor e nos dois gêmeos. Outro problema dadosamente investigado pelo risco de CIVD, sinais de necrose
que pode ser encontrado em gêmeos monocoriônicos com anas- renal, encefalomalácia cística e malformações estruturais ou-
tomoses vasculares é a passagem de substâncias tromboplás- tras.No caso de um dos fetos vir a ser acardíaco ou amorfo, o
ticas para o feto sobrevivente, em seguida à morte intra-uterina outro deve ser acompanhado de perto, pelo risco de descompen-
do outro gêmeo. Esta transferência pode iniciar um quadro de sação cardíaca e insuficieência cardíaca (ICC)
CIVD, com consequente trombose, infarto e necrose de órgãos
do receptor. Esta seqüência de eventos pode resultar em morte Malformações Congênitas
intra-uterina, anemia severa, necrose cortical renal, encefaloma-
lácia e defeitos estruturais disruptivos. O efeito mais devastador Muitos estudos têm demonstrado uma maior prevalência de
das anastomoses vasculares em placentas monocoriônicas é a anormalidades ao nascimento em gêmeos do que em fetos únicos.
formação de um feto acardíaco ou amorfo. Isto geralmente ocorre Estas são mais frequentes entre pares de gêmeos monozigóticos.
em associação a grandes anastomoses artério-arterial ou veno- Gêmeos dizigóticos apresentam taxas similares de malformações
venosa entre o feto anômalo e seu gêmeo usualmente normal. congênitas daquelas descritas para gestação única. As malforma-
O feto inicialmente doador deve perfundir ambas as circulações ções mais freqüentes são: anomalias do SNC, sistema cardiovas-
fetais e depois pode desenvolver hipertrofia e falência cardíaca, cular e defeitos do trato gastrintestinal. Melnick e Myrianthopoulos
bem como hidropsia fetal. A baixa pressão de perfusão, dessatu- demonstraram que a incidência de anomalias congênitas entre
ração e circulação reversa no receptor levam a múltiplos defeitos gêmeos monozigóticos com placenta dicoriônica é similar à ocor-
estruturais, produzindo um feto acardíaco ou amorfo. rência em gêmeos monozigóticos com placentas monocoriônicas.
A disponibilidade do diagnóstico ultrassonográfico possibilita o Então, a ocorrências de malformações congênitas tem uma signifi-
diagnóstico antenatal de transfusão feto-fetal crônica. Algumas cativa associação cm zigosidade, mas não com placentação.
evidências ecográficas incluem: Os defeitos estruturais foram divididos em 3 subgrupos:

• Gestação gemelar com placenta única e fetos de mesmo • Defeitos impostos tardiamente em decorrência do limi-
52 sexo; tado espaço intraútero. Exemplos: assimetria facial, tor-
• Medidas biométricas indicando diferença significativa en- cicolo congênito, pé torto congênito. Independente da
tre o tamanho dos fetos; zigosidade, após a 34ª semana os gêmeos “disputam”
• Volume de líquido amniótico discrepante entre os pares o espaço intrauterino. A incidência é similar tanto para
de gêmeos e atividade fetal; gêmeos monozigóticos como para dizigóticos.
• Presença de edema, efusões serosas, aumento de área • Disrupção do fluxo sanguíneo normal devido anastomo-
cardíaca e hepatomegalia, sugerindo ICC e feto hidrópico. ses vasculares na placenta. Algumas conseqüências des-
se tipo de anormalidade no fluxo sanguíneo placentário
O manejo de gêmeos com síndrome de transfusão feto-fetal vai já foram descritas anteriormente, quando tratamos da
depender da apresentação clínica ao nascimento. Em casos de síndrome da transfusão feto-fetal. Anormalidades do tipo
transfusão aguda, o receptor e o doador podem mostrar sinais feto acardíaco são secundárias ao fluxo reverso através
de sobrecarga de volume e choque, respectivamente. Exsanguí- das anastomoses placentárias desenvolvidas precoce-
neotransfusão parcial usando solução cristalóide é o tratamento mente. A transferência de substâncias tromboplásticas
de escolha para o receptor (Consulte o capítulo de Policitemia). do feto macerado, via conexões vasculares, pode causar
O tratamento apropriado para o doador inclui a expansão volu- CIVD ao nascimento no feto monocoriônico sobrevivente.
métrica rápida com solução cristalóide ou colóide, seguida por • Defeitos precocemente adquiridos na morfogênese, que
transfusão com concentrado de hemácias. Em casos de trans- serão discutidos mais abaixo.
fusão crônica, RCIU severo pode ser visto no doador, e pode cur-
sar com hipoglicemia. Se o bebê estiver estável e vigoroso, esta Em gestação múltipla com morte fetal precoce, o resultado fi-
complicação pode ser evitada pela alimentação enteral mínima nal da trombose ou embolização de material necrótico pode ser
com controles seriados de glicemia capilar. Quando o feto doador vista tardiamente, como por exemplo na oclusão de carótida ou
portador de severo CIUR estiver instável ou houver relato de hipo- de artéria cerebral média com consequente hidrocefalia ou po-
xia perinatal e/ou hipotensão, a alimentação enteral deverá ser rencefalia, secundárias provavelmente à reabsorção de tecido
adiada e prescrita solução com dextrose endoversa. cerebral necrosado.O envolvimento difuso de arteríolas cerebrais
Em ambos os casos de transfusão feto-fetal (aguda ou crônica) o pode ocasionar encefalomalácia multicística. As crianças afeta-
feto receptor poderá apresentar icterícia secundária ao aumento da das podem apresentar convulsões logo após o nascimento, mi-
produção de bilirrulina, consequente a um aumento das células ver- crocefalia, consequente retardo mental e paralisia cerebral. Pode
melhas. O controle seriado de bilirrubina sérica e o uso apropriado e ocorrer atresia ileal, supostamente secundária a obstrução pre-
precoce de fototerapia podem evitar exsanguíneotransfusão (EST). coce da artéria mesentérica, com infarto, reabsorção e atresia do
Raramente um ou os dois gêmeos envolvidos em transfusão segmento intestinal suprido por aquela artéria. Outros defeitos
feto-fetal podem desenvolver hidropsia. Bebês hidrópicos são de estruturais que podem ser encontrados em gêmeos monoco-
difícil manuseio e a mortalidade é alta. Geralmente nascem de- riônicos com morte intra-uterina de um dos fetos são: espinha
primidos, requerem manobras de reanimação em sala de parto bífida; rim em ferradura; microssomia hemifacial e defeitos das
e pode ser necessária a drenagem imediata de efusões serosas extremidades. Uma vez que anastomoses vasculares são vistas
Capitulo 1 Assistência Perinatal

exclusivamente em placenta monocoriônicas uma maior incidên- dois corações independentes (25%), uma intervenção cirúrgica
cia desses eventos deve ser esperada em gêmeos monozigóticos para separar os toracópagos pode dar esperança de sobrevida
e monocoriônicos do que em monozigóticos dicoriônicos. aos dois elementos do par. Nos casos restantes, tal intervenção
A terceira categoria de malformações estruturais engloba os significa, obrigatoriamente, a morte de um desses gêmeos para
defeitos precoces da morfogênese.A sua etiologia é atribuída ao que o outro, eventualmente, se salve.
próprio processo de gemelaridade monozigótica. O exemplo mais Concordância: gêmeos em geral são discordantes para malfor-
conhecido é o de gêmeos siameses, uma anormalidade provavel- mações congênitas, no entanto, as taxas de concordância para
mente secundária à divisão incompleta dos blastocistos.O fato de gêmeos monozigóticos são consideravelmente maiores do que
gêmeos fundidos terem uma elevada incidência de anomalias es- para gêmeos dizigóticos. Para uma desordem com a Síndrome de
truturais dá suporte à teoria que associa a gemelaridade com esse Down, com etiologia genética bem definida, a concordância para
tipo de defeito estrutural. Uma vez que a cisão dos blastocistos gêmeos monozigóticos se aproxima de 100%!
não é considerada um evento normal, a gemelaridade monozigóti-
ca em si deve ser considerada uma malformação congênita. Uma Outros Problemas Neonatais
outra explicação seria o fato de que a gestação gemelar monozi-
gótica interrompe a seqüência normal de eventos do desenvolvi- Os gêmeos nascem com menos semanas de gestação que os
mento, deixando estes fetos mais sensíveis a fatores ambientais recém-nascidos de parto único. Estudos anteriores comprovaram
cujo potencial teratogênico é extremamente baixo para embriões que o grupo racial das mães não exerce influência sobre a ida-
únicos. Exemplos de malformações incluídas nesse grupo: defeitos de gestacional dos recém-nascidos, o que permitiu estudar os
do tubo neural; holoprosencefalia; associação de VACTERR (ano- gêmeos e os nascidos de parto único sem distinção de raça e
malia vertebral, imperfuração anal, fístula traqueoesofágica, ano- constatar que, em média, os gêmeos tiveram idade gestacional
malia retal e de rádio), cardiopatias congênitas, extrofia de cloaca, de 36,6 semanas, ao passo que a idade gestacional dos nasci-
digenesia gonadal e sirenomelia. dos de parto único foi de 39,5 semanas, o que dá uma diferença
Gêmeos unidos: quando a gemelaridade monozigótica ocorre média de três semanas a menos para os partos gemelares. Es-
tardiamente na segunda semana depois da concepção, a divisão ses valores são muito semelhantes às estimativas obtidas na Eu-
incompleta dos embriões pode ocorrer, resultando em gêmeos ropa em diferentes épocas e países (McKewon e Record, 1952;
teratópagos. Estes são obrigatoriamente monoamnióticos e mo- Powers, 1973; Gedda e cl., 1981; Bonnelykke e cl., 1987). RN
nocoriônicos. Se a separação do material embrionário for incom- prematuros são de alto risco para doença da membrana hialina,
pleta durante a formação de um par monozigótico, os gêmeos retinopatia da prematuridade (ROP), septicemia pelo Streptococ-
resultantes poderão se apresentar ligados por intermédio de uma cus do grupo B e enterocolite necrosante (ECN). A alta incidência
estrutura comum, que permitirá a comunicação de seus sistemas de prematuridade e baixo peso ao nascer entre gêmeos aumen-
circulatórios. Tais tipos de gêmeos são denominados teratópagos, tam o risco para essas complicações.
o que não é um termo muito apropriado, pois, em grego, téras =
monstro; pagos = unido, mas é a designação mais freqüentemente Doença Da Membrana Hialina 53
utilizada para indicar a união física de gêmeos, que já foi notada
inclusive em trigêmeos e em quadrigêmeos (Schinzel e cl, 1979). Autores como De La Torre Verduzco e cl descrevem que gême-
Dentre os fatores associados à formação de teratópagos, des- os abaixo de 35 semanas têm duas vezes mais chance de desen-
tacam-se a história de patologia de tireóide e de tratamento para volver doença da membrana hialina (DMH) do que fetos de mes-
infertilidade das gestantes. Na Hungria notou-se também uma ma idade gestacional de gestação única. A incidência de DMH foi
associação entre o nascimento de teratópagos e o uso freqüente 2 vezes maior em gêmeos monozigóticos do que em dizigóticos,
de esteróides sexuais no início da gestação (International Clearin- mas não houve diferença significativa entre gêmeos monocori-
ghouse for Birth Defects Monitoring Systems, 1991). Os gêmeos são ônicos e dicoriônicos. Provavelmente essa maior incidência se
sempre unidos por pontos idênticos e são classificados em: deva a um maior grau de prematuridade entre gêmeos monozigó-
ticos. Norman e cl estudaram o grau de maturação pulmonar em
• Toracopagos (40%) – unidos pelo tórax 30 pares de gêmeos por meio de dosagem de fosfolipídeos no
• Xifópagos ou Onfalopagos (34%) – unidos pela parede líquido amniótico (LA). Verificaram que não houve diferença signi-
anterior do abdome ficativa quando a dosagem foi feita antes do início do trabalho de
• Pigopagus (18%) – unidos pelas nádegas parto. No entanto, quando o LA foi colhido durante o trabalho de
• Ischiopagos (6%) – unidos pelo ísquio parto, alguns valores obtidos no LA do 1º gêmeo foram significa-
• Craniopagos (2%) –unidos pela cabeça. tivamente maiores que os obtidos do 2º gêmeo.

Aproximadamente 70% dos afetados são do sexo feminino.A Retinopatia da Prematuridade


maioria dessas crianças nasce prematura. Em bebês a termo,
o prognóstico vai depender a extensão da área unida e, espe- Foi demonstrada maior incidência de ROP em gestações múlti-
cialmente, dos órgãos compartilhados. Por exemplo, o sucesso plas que únicas. ROP em estágio ativo ocorreu 1,25 vezes mais e
na separação de gêmeos toracopagus depende do tipo de co- a incidência de doença cicatricial foi 3 vezes maior entre gêmeos.
nexão cardiovascular. RN com conexão em pericárdio ou mes-
mo atrial podem potencialmente ser salvos, mas aqueles com Doença por Streptococcus do Grupo B
conexão ventricular apresentam múltiplos defeitos cardíacos e,
em geral, são inviáveis. A separação cirúrgica dos toracópagos, Pass e cl acompanharam e avaliaram 5.000 gestações únicas
que são os mais freqüentes e melhor estudada do ponto de vis- e múltiplas e a incidência de colonização e infecção pelo Estrep-
ta clínico-cirúrgico e radiológico, tem suscitado grandes debates tococo do Grupo B tanto nas gestantes como nos RN. As taxas de
entre médicos e teólogos de diversas religiões, tendo em vista colonização foram similares tanto em mães quanto em RN, no en-
os problemas éticos implicados em grande número de casos. De tanto, a taxa de sepse precoce pelo Estreptococo do Grupo B em
fato, uma alta proporção desses gêmeos apresenta um coração menores de 2.500g foi cerca de 5 vezes maior em gêmeos do que
muito complexo (62%) ou apenas duplicação dos ventrículos em RN de gestação única.
(13%). Em conseqüência disso, somente nos casos em que há

Paulo R. Margotto
Assistência ao Recém-Nascido de Risco

Enterocolite Necrosante Os Pais

A incidência de ECN foi 3 vezes maior em gestação dupla ou tri- Cuidar de um bebê pequeno consome tempo e pode ser exte-
pla, de acordo com estudos de Samm e cl. Neste estudo, apenas nuante. Satisfazer os desejos e as necessidades de dois bebês da
um dos gêmeos foi afetado, a IG foi significativamente maior para mesma idade pode ultrapassar o limite da capacidade humana
os RN de gestação única, mas a mortalidade foi similar. dos pais. O sentimento de ambivalência da mãe é comum e alguns
casos, a leva a atribuir qualidades negativas a um dos gêmeos e
Crescimento e Desenvolvimento positivas ao outro.A maioria das vezes a expressão do desespero e
apreensão é um passo para afetar a relação futura com ambos os
A alta incidência de prematuridade, baixo peso ao nascer e filhos. Algumas mães parecem satisfeitas com a atenção extra que
RCIU já foram abordadas anteriormente. Na maioria dos casos, recebem por estarem cuidando de gêmeos; para outras, essa mis-
o crescimento pós-natal inicial é rápido e os gêmeos atingem o são parece ser uma ferida que nunca sara. Por exº, algumas vão
percentil mais alto de peso x idade por volta do 1º ano de vida. alegar que amamentar gêmeos consome muito tempo e é pratica-
Embora gêmeos apresentem este maior ganho de peso em rela- mente impossível. De fato, é perfeitamente possível amamentar
ção ao peso de nascimento, o peso médio permanece leve, mas gêmeos exclusivamente ou parcialmente; já foi demonstrado que
significativamente menor que o peso dos RN procedentes de a produção deleite nessas mulheres é aproximadamente o dobro
gestação única. A altura média também é levemente menor em das mães que amamentam um único bebê.
gêmeos, mas a relação peso x altura é similar àquela encontrada
em crianças de gestação única. A média do PC não apresenta Conclusões
diferença significativa. Os autores concluíram que o maior cres-
cimento compensatório dos gêmeos ocorre nos dois primeiros Gêmeos têm alta taxa de mortalidade perinatal, prematuri-
anos de vida, e parece cessar por volta do 3º ano. dade e suas complicações, baixo peso ao nascimento, restrição
Entre gêmeos com grande discrepância de peso ao nascimen- do crescimento intrauterino, anomalias congênitas e morbidade
to, o crescimento pós-natal inicialmente acelerado do gêmeo neurocomportamental em longo prazo.
menor reduz a percentagem desta diferença de peso durante o Gêmeos monozigóticos apresentam menor peso ao nascer e
1º ano de vida. No entanto, essa diferença pode ser mantida, maiores taxas de anomalias congênitas do que os dizigóticos, o
dependendo do percentil do PN de cada gêmeo e da diferença de que sugere que a etiologia desses problemas pode estar relacio-
peso entre eles.Babson e Phillips acompanharam 8 pares de gê- nada ao processo de divisão monozigótica.
meos monozigóticos que tinham diferença de PN maior que 25%, Gêmeos monocoriônicos apresentam maior taxa de mortalida-
durante 18 anos. Eles notaram que a média de peso, estatura, de perinatal, discrepância de peso ao nascimento (fetos discor-
PC e testes comportamentais padrão permaneceram significati- dantes) e RCIU do que gêmeos dicoriônicos, o que sugere que
vamente menores para o gêmeo menor, mesmo na vida adulta. tais complicações podem estar relacionadas a anastomoses
54 Parece então que gêmeos com grandes diferenças de peso ao vasculares placentárias. A comunicação vascular monocoriônica
nascimento, o menor deles mostra um pior desenvolvimento/ também pode ser responsável pela síndrome de transfusão feto-
crescimento e ganho intelectual. Lamentavelmente, gêmeos fetal, CIVD ao nascimento e defeitos disruptivos estruturais.
parecem sofrer perdas tanto no desenvolvimento físico quanto Estudos de follow up indicam que gêmeos estão em desvantagem
mental. A incidência de paralisia cerebral é 4 vezes maior entre para crescimento físico subseqüente e aquisições intelectuais.
gêmeos do que na população em geral. Conclui-se que gêmeos O manejo de gêmeos é desafiador e fascinante, por causa dos
especialmente aqueles com baixo peso ao nascer e RCIU, são de variados problemas perinatal, neonatal, de desenvolvimento e
alto risco para morbidade neurocomportamental. parentais que podem ocorrer.

Mortalidade Perinatal Bibliografia


• Katharine D et al. Incidence, morbidity and mortality and diagnosis of twin gestations. Clin
Os óbitos perinatais incluem os natimortos, isto é, os concep- Perinatol 15;1, 1988
tos que ao nascimento, não manifestam qualquer sinal vital, e • Bardawil WA et al. Placental considerations in multiple pregnancy. Clin Perinatol 15;13,
1988
os óbitos neonatais precoces, isto é, os conceptos que nascem • Ghai V, Vidyasagar D. Morbidity and mortality factors in twins-an epidemiologic approach.
Clin Perinatol 15;123, 1988
com vida, mas que vão a óbito na primeira semana após o nasci- • McCulloch K. Neonatal problems in twins. Clin Perinatol 15;141, 1988
mento. Em todas as populações humanas estudadas, a taxa de • Bleker, OP & Huidekoper, BL. A study of birth weight, placental weight and mortality of
twins as compared to singletons. Br J Obstet Gynecol 1979; 86:111.
mortalidade perinatal de gêmeos é maior do que a de nascidos • Gruenwald, P. Growth of the human fetus. II. Abnormal growth in twins and infants of
mothers with diabetes, hypertension, or isoimmunization. Am J Obstet Gyneco11966;
de parto único No Brasil, essa situação não é diferente. De fato, 94:1120.
ao analisar dados a respeito de 116.699 partos (1.062 gemela- • Gruenwald, P. Environmental influences on twins apparent at birth: a preliminary study.
Biol Neonate 1970; 15:79
res e 115.637 únicos) ocorridos no período entre 1984 e 1996 • Beiguelman B. O Estudo de gêmeos.Disponível em PDF] O ESTUDO DE GÊMEOS . Aces-
sado em 01/03/2009
na maior maternidade da cidade de Campinas/ SP, Beiguelman • Margotto PR. Crescimento intra-uterino: Percentis de peso, estatura e perímetro cefálico
e Franchi-Pinto (2000) constataram que, a despeito da baixa inci- ao nascer de RN únicos de gestação normais e seus correspondentes pesos placentários
em diferentes períodos gestacionais. Tese de Doutorado. CLAP/OMS, 1991
dência de nascimentos gemelares (9 por mil partos), as taxas de • Margotto PR. Curvas de crescimento intra-uterino: uso de curvas locais (Editorial). J Pediatr
(Rio) 77: 153, 2001
óbitos neonatais precoces (55 por mil recém-nascidos) e de nati-
mortos (19 por mil recém-nascidos) entre os gêmeos foram res-
ponsáveis por 10,7% dos óbitos neonatais precoces e 3,5% dos
natimortos. Em relação aos recém-nascidos de parto único (8,4
óbitos neonatais precoces e 10 natimortos por mil nascimentos),
as probabilidades de mortalidade neonatal precoce e de natimor-
talidade foram, respectivamente, 6,5 e 1,9 vez maior. A taxa de
óbitos perinatais dos recém-nascidos do sexo masculino foi mais
alta do que a dos recém-nascidos do sexo feminino tanto entre os
gêmeos quanto entre os nascidos de parto único.
Capitulo 2 Assistência ao Recém-Nascido

Assistência ao
Recém-Nascido

Capítulo 2
Assistência ao Recém-Nascido de Risco

2.1 ASSISTÊNCIA AO RECÉM-NASCIDO NA SALA DE PARTO

Paulo Roberto Margotto, Jefferson Guimarães de Resende

Introdução

O desenvolvimento anormal, neurológico e intelectual afeta as vi- também teremos aumento da pressão arterial. A Pressão Venosa
das de estimadamente 10% das crianças na sociedade moderna, e Central (PVC) tende a aumentar desde a fase inicial em virtude do
entre as grandes causas, estão a síndrome hipóxico-isquêmica e a he- aumento de pressão em Átrio direito. Com a manutenção da asfixia,
morragia intraventricular, ambos relacionados com a asfixia perinatal. há consumo rápido de glicogênio miocárdico, e o coração começa a
A asfixia neonatal contribui muito para a morbimortalidade ne- mostrar sinais de insuficiência; aqui teremos diminuição da freqüên-
onatal, estando entre as três maiores causas de morte neonatal cia cardíaca e agravamento da PVC e queda da pressão arterial.
na Unidade de Neonatologia do Hospital Regional da Asa Sul. Inicialmente o RN apresenta-se com esforço respiratório, au-
O estabelecimento de uma respiração adequada na transição mento fugaz da Freqüência Cardíaca (FC) e pressão arterial, em
da vida intra-uterina para a extra-uterina é decisiva, para a adap- uma tentativa de aumentar o fluxo sanguíneo e, por via de conse-
tação satisfatória por parte do bebê. qüência, a oferta de oxigênio ao coração, cérebro e supra-renais.
O consciencioso manuseio perinatal baseado na antecipação Com o passar do tempo, sem que a oxigenação melhore, começa a
da asfixia está relacionado com a detecção dos fatores de risco, haver pausas respiratórias, queda da FC e da pressão arterial, bem
na melhor compreensão de suas atuações fisiopatológicas, para como aumento da PVC.
uma melhor conduta a nível profilático e terapêutico ao bebê as- Na reanimação é importante que o médico reconheça em que
fíxico na sala de parto. fase da asfixia o RN se encontra, já que, se houver insuficiência
miocárdica - FC baixa, PaO2 abaixo de 20 e pH abaixo de 7 - o
Fisiopatologia débito cardíaco deve ser mantido a custas de massagem cardía-
ca externa. Geralmente, com a melhoria da oxigenação e do pH,
Haverá asfixia sempre que houver bloqueio na troca dos a FC e a pressão arterial aumentam, com queda da PVC. É bom
gases sangüíneos. Isto poderá acontecer no ambiente intra- lembrar que nessa fase o RN se manterá hipertenso em virtude
uterino ou fora dele. da ainda persistente vasoconstrição em órgãos não vitais e isso
Intraútero, a asfixia poderá acontecer por compressão do cor- se mostrará através da intensa descoloração da pele. Com a re-
dão umbilical, por descolamento prematuro da placenta ou grave gularização do fluxo sanguíneo a essas áreas, se notará melhora
hipotensão materna. Poderá ocorrer também em caso de severa da cor da pele e diminuição concomitante da pressão arterial.
56 anemia no feto ou em caso de insuficiência placentária, levando Apnéia primária
a Retardo do Crescimento Intra-Uterino (RCIU), situações em que As respirações espontâneas podem, ainda, ser induzidas por
haverá diminuição da capacidade do feto suportar a hipóxia tran- estímulos sensoriais adequados.
sitória decorrente do trabalho de parto. Apnéia secundária
No recém-nascido, a asfixia advirá da dificuldade de expandir As respirações espontâneas não podem ser induzidas por es-
os pulmões. tímulos sensoriais.
No feto, o sangue oxigenado chega através da veia umbilical
até a cava inferior e se mistura ao sangue pouco oxigenado do Material Necessário para Reanimação
organismo fetal. Atinge a circulação sistêmica fetal através do fo-
rame ovale, atingindo assim, o átrio esquerdo, ventrículo esquerdo • Berço aquecido com fonte de calor radiante:
e aorta. O sangue que chega ao ventrículo direito sai através da • Aquecer a toalha ou o campo cirúrgico para receber o RN
artéria pulmonar em direção aos pulmões; encontrando em seus • fonte de oxigênio com fluxômetro
vasos uma resistência aumentada, deriva então, através do canal • Aspirador a vácuo com manômetro - fixar a pressão má-
arterial para a aorta descendente. xima em 100 mmHg.
Sob asfixia, o recém-nascido manterá este padrão de circulação • Sondas de aspiração traqueal no 6, 8 e 10
fetal já que com o sangue pouco oxigenado, será mantida esta re- • Caixa de reanimação contendo laringoscópio de lâmina
sistência vascular pulmonar, que criando uma dificuldade ao esva- reta 00, 0 e 1,
ziamento do ventrículo direito, retrocede pressão até o átrio direito, • CFR ou balão auto-inflável com reservatório de O2,
que manterá o shunt através do forame ovale. Situação idêntica • Tubos endotraqueais no 2, 2,5, 3 e 3,5 e 4,0
explicará a persistência do canal arterial, com shunt direito-esquer- • Estetoscópio
do. Tudo isto, agora, sem a placenta para fazer as trocas gasosas. • Cardiomonitor
É preciso ter em mente que este processo é reversível, mas que • Máscaras para o RN de termo e pré-termo
também é progressivo. Se conseguir promover troca gasosa, o san- • Seringas de 1,10 e 20 ml
gue oxigenado e o pH menos ácido farão com que diminua a resis- • Cânulas de Guedel
tência vascular pulmonar, com conseqüente melhor oxigenação, • Adaptador de aspiração meconial
e assim por diante, até atingir-se a otimização. Se, por outro lado, • Relógio com marcador de segundos
não se conseguir resolver o problema, este quadro asfíxico vai se
agravando com piora da resistência vascular pulmonar, queda Medicações
mais acentuada do pH, falência do coração e posterior deteriora-
ção de múltiplos órgãos. • Adrenalina 1:1000 (preparar 1 : 10.000 em seringa de 1 ml)
No RN asfixiado existirão alterações circulatórias importantes • Expansores de volume: soro fisiológico
objetivando privilegiar o fluxo sangüíneo ao coração, cérebro e su-
pra-renais. Neste sentido, haverá diminuição deste fluxo sangüíneo
para os intestinos, rins, musculatura e pele. Como conseqüência,
Capitulo 2 Assistência ao Recém-Nascido

Procedimentos ABC da Reanimação

É óbvia a necessidade de analisar cada caso em especial. Pre- A. Airway


ferentemente o neonatologista deve ser previamente avisado so- Estabelecer e manter a permeabilidade das vias aéreas, através de:
bre o nascimento de um bebê potencialmente asfixiado: prema- • Posicionamento adequado da cabeça e pescoço do RN
turo, retardo do crescimento intraútero, descolamento prematuro • Aspiração da boca e do nariz e, se necessário, da traquéia
de placenta ou placenta prévia, procedência de cordão, líquido • Intubação traqueal, se necessário.
amniótico meconial, pós-maturidade, eritroblastose fetal.
Condições que podem levar a anoxia perinatal: B. Breathing
Iniciar a respiração, através de:
Condições maternas • Estimulação tátil
• Primiparidade idosa (mais de 35 anos) • Ventilação com pressão positiva, através do CFR (Conti-
• Diabetes (qualquer classe) nuous Flow Reviver) e da máscara ou da cânula traqueal
• Hipertensão
• Toxemia C. Circulation
• Tratamento materno com as seguintes drogas: glicocorticóides, Manter a circulação, através de:
diuréticos, antimetabólicos, reserpina, lítio, magnésio, álcool, drogas • Massagem cardíaca
beta-adrenérgicas • Medicações
• Níveis anormais de Estriol
• Anemia (taxa de hemoglobina inferior a 10 g%) Em resumo, a abordagem do RN na Sala de Parto consiste em
• Isoimunização :
• Nascimento prévio de criança com doença hereditária • Passos iniciais para estabilização: secar e prover calor, po-
• Infecção materna: atual ou antenatal - rotura prematura sicionar, acessar as vias aéreas e estimular para respirar
e prolongada de membranas • Ventilação
• Placenta prévia • Compressão torácica
• Descolamento prematuro de membrana • Medicações ou expansão de volume
• Hemorragia anteparto
• História prévia de RN com icterícia grave, trombocitope- Recomendações Universais
nia, desconforto respiratório ou anomalias congênitas
• Alcoolismo ou vício em alguma outra droga • Utilizar sempre luvas estéreis e óculos para proteção
• História de morte neonatal anterior contra doenças como hepatite B, Sífilis, AIDS, etc. O uso
de gorro máscara, propé e avental se impõe quando se
Condições do trabalho de parto e do parto tratar de um ambiente cirúrgico. 57
• Emprego de fórcipe (que não seja de alívio) • É contra-indicada a limpeza da cavidade oral do RN com gaze
• Apresentação pélvica ou outras apresentações anormais • Não segurar o RN pelos pés, verticalmente, com a cabeça solta
• Cesárea • Clampeamento do cordão: existem maiores evidências
• Trabalho de parto prolongado do benefício de retardar a laqueadura do cordão por pelo
• Prolapso de cordão menos, 1 a 3 minutos em RN a termo e pré-termo que
• Desproporção céfalo-pélvica não necessitem de reanimação Após o clampeamento
• Hipotensão materna do cordão umbilical, recepcionar o RN em ligeiro céfalo-
• Drogas sedativas ou analgésicas administradas à mãe declive, em campos estéreis previamente aquecidos.
por via venosa, dentro de 1 hora antes do parto, ou de 2
horas, se usadas intramuscular Passos Iniciais

Condições fetais Prevenção da Perda de Calor


• Gemelaridade
• Polihidrâmnio O primeiro passo, após o nascimento, é a prevenção da perda
• Líquido amniótico meconial de calor pelo RN, colocando-o sob fonte de calor radiante e se-
• Freqüência ou ritmo cardíaco anormais cando toda a sua superfície corpórea (para os RN (29 semanas,
• Acidose (se controlada por sangue de scalp fetal) veja adiante). Lembrar sempre de remover os campos úmidos,
• Crescimento intrauterino restrito deixando-os longe do paciente. Este passo é de fundamental im-
• Parto prematuro portância no RN pré-termo extremo, nos quais deve ser mantida
• Imaturidade pulmonar 24 horas antes do parto (confor- a temperatura em torno de 36oC. Evitar a hipotermia e hiperter-
me análise do líquido amniótico) mia. Para diminuir a perda de calor nos neonatos prematuros, é
• Hidropsia importante pré-aquecer a sala na qual serão realizados os pro-
• Malformações (pulmonares, cardíacas, cerebrais, renais cedimentos de reanimação (de preferência até 27oC). Pode-se
e gastrintestinais) utilizar um colchão aquecido, posicionado abaixo dos campos
de recepção do paciente. Nos RN com idade gestacional infe-
Condições neonatais rior a 29 semanas, é necessário o emprego de filme plástico
• Asfixia de parto poroso e transparente de polietileno de 20x50cm. Assim, logo
• Peso de nascimento inadequado para a idade gestacional depois de posicionar o RN sob fonte de calor radiante e antes de
• Pele, unhas e cordão umbilical impregnados de mecônio secá-lo, envolver o corpo, exceto a face, com plástico e realizar as
• Sinais de desconforto respiratório manobras necessárias. Todos os procedimentos de reanimação,
• Adaptado de Gregory, G.A. - Resuscitation of the newborn incluindo a entubação, a massagem cardíaca e a inserção de ca-
- Anestesiology, 43: 225, 1975 teter vascular podem ser executados no paciente envolvido em
saco plástico, com o objetivo de manter a temperatura axilar em

Paulo R. Margotto
Assistência ao Recém-Nascido de Risco

aproximadamente 36,5oC. Deve ser evitada a hipertermia, pois Sinal 0 1 2


agrava lesões cerebrais em RN asfixiados. Frequência
Ausente <100 >100
Cardíaca
Estabelecimento Da Permeabilidade Das Vias Aéreas Respiração Ausente Irregular Choro forte
Alguma
Para manter as vias aéreas pérvias, posicionar a cabeça do Tônus Boa
Flacidez flexão de
RN com uma leve extensão do pescoço. Evitar a hiperextensão Muscular movimentação
extremidades
ou flexão exagerada do pescoço. Reflexos
Quando necessário, aspirar as vias aéreas, primeiro a boca Algum
(Estímulo Ausente Espirros
movimento
e depois o nariz, evitando o uso de pressões negativas exces- Nasal)
sivas (máximo de 100 mmHg) e a introdução brusca da sonda
Corpo róseo e
de aspiração, pelo risco dessas manobras provocarem apnéia Cianose e/ou
Cor extremidades Róseo
e bradicardia, por reflexo vagal. Na maioria das vezes, o RN palidez
cianóticas
nascendo bem, com bom tônus, respiração normal, freqüência
cardíaca acima de 100, o RN não deve ser aspirado logo ao Modificado de Apgar, 1953
nascer, seja porque é desnecessário, seja porque a aspiração
poderá provocar bradicardia, seja porque incomoda o RN. Conduta no Recém-Nascido Vigoroso
Na presença de mecônio, quanto ao papel do obstetra: não há
mais necessidade de aspiração de vias aéreas superiores antes Se após os PASSOS INICIAIS, o RN apresentar-se com respi-
do desprendimento dos ombros. A conduta no recém-nascido: se ração espontânea, FC maior 100 bmp, róseo ou somente com
este se encontra em hipotonia, respiração irregular, freqüência car- cianose de extremidades, iniciar os procedimentos de rotina do
díaca <100 bpm, deve ser colocado em calor radiante e aspirado a atendimento a um paciente normal.
boca e faringe com sonda traqueal no 10 sob visualização direta. A
aspiração da traquéia propriamente dita é feita através da cânula Estar preparado para recepcionar o RN
traqueal conectada a um dispositivo para a aspiração de mecônio PESSOAL e EQUIPAMENTOS
e ao aspirador a vácuo, com uma pressão máxima de 100mmHg.
A aplicação da pressão negativa durante o movimento de retirada Colocar RN sob CALOR RADIANTE.
da cânula traqueal não deve exceder 3-5 segundos. A aspiração Se mecônio e apnéia ou depressão respiratória,
traqueal é repetida até existir pouco mecônio residual em traquéia aspirar traquéia sob visualização
ou até que a avaliação da freqüência cardíaca aponte para a ne- SECAR e REMOVER os campos úmidos
cessidade de ventilação com pressão positiva, apesar da presença POSICIONAR (leve extensão do pescoço)
de mecônio residual em traquéia. ASPIRAR a boca e depois o nariz, somente se necessário
58
Iniciação da Respiração AVALIAR
Respiração
Finalmente, se necessário, iniciar a respiração através da esti- FC Cor
mulação tátil, com manobras delicadas no dorso do RN. Se, após
o estímulo tátil, o paciente não estabelecer um esforço respira- Resp. Presente
tório suficiente para manter a freqüência cardíaca (FC) acima de FC > 100
100 bpm, não insistir na manobra e iniciar imediatamente a ven- Róseo ou Acrocianose
tilação com pressão positiva.
ROTINA DA
Avaliação do Recém-Nascido SALA DE PARTO

Dos 3 parâmetros (freqüência cardíaca, freqüência respira-


tória e cor), a freqüência cardíaca é o principal parâmetro que Cuidados
determina a indicação das manobras de reanimação.Logo após
o clampeamento do cordão umbilical, ao invés de fazermos 5 Cuidados com o coto umbilical
perguntas, agora fazemos 4: 1-Gestação a termo? 2-Ausência de Laquear o cordão umbilical a uma distância de 2 – 3 cm do
mecônio? 3-Respirando ou chorando? 4-Tônus bom? A pergunta anel umbilical, envolvendo-o com gaze embebida em clorhexidina
em relação à cor logo após o nascimento não existe mais. A a 0,5% ou em álcool etílico a 70%. A presença das duas artérias e
oximetria de pulso deve ser usada para avaliar a oxigenação uma veia umbilical deve ser verificada, pois anomalias dos vasos
devido à avaliação da cor não ser confiável. umbilicais associam-se a malformações do trato gastrintestinal,
Quanto ao Boletim de Apgar (tabela abaixo) não deve ser usa- renais, cardíacas e a anencefalia.
do para indicar o início da reanimação. No entanto, ele é útil Manter a limpeza diária do coto umbilical com clorhexidina a
para avaliar a resposta do RN às manobras de reanimação no 0,5% ou em álcool etílico a 70%, até a sua queda
1º e 5º minutos de vida e, se necessário, no 10º, 15º e 20º minu- Recomenda-se atrasar o clampeamento do cordão por 1 minu-
tos. De igual modo, o Boletim de Apgar serve como um relatório to nos RN que não requeiram reanimação.
numérico e muito prático para descrever a condição de nasci- Profilaxia da oftalmia e da vulvovaginite gonocócica
mento e a recuperação do RN, quando reanimado. Instilar uma gota de nitrato de prata a 1% em cada olho e duas
gotas na vagina. O nitrato de prata a 1% deve ser conservado em
frasco escuro e a sua validade é de 24 horas, após a abertura
do frasco. Obs: a solução de Argyrol não é recomendada para a
profilaxia da oftalmia e da vulvovaginite gonocócica.
Profilaxia da doença hemorrágica do recém-nascido
Vitamina K IM- (1 mg)
Capitulo 2 Assistência ao Recém-Nascido

Verificação da permeabilidade nasal e do trato gastrintestinal Portanto, frente a um RN em apnéia na sala de parto, sempre
Após a estabilização do RN, introduzir delicadamente a sonda considerar que ele apresenta apnéia secundária e iniciar imedia-
gástrica Nº 08 através da narina. O comprimento da sonda a ser tamente a ventilação com pressão positiva e oxigênio a 100%.
introduzido corresponde à distância entre a base do nariz, o lóbu-
lo da orelha e o apêndice xifóide. Oxigênio Inalatório
A passagem da sonda nasogástrica visa, em primeiro lugar,
verificar a permeabilidade das coanas. Se a sonda não progredir Suplementação de oxigênio: o oxigênio inalatório não faz mais
além de 3-4 cm, em qualquer uma das narinas, deve-se suspeitar parte dos passos iniciais, estando recomendada uma maior tole-
da existência de atresia de coanas. Além disso, se a sonda não rância à cianose central. Evidências recentes indicam que o ex-
progredir até a distância pré-determinada, deve-se suspeitar da cesso de oxigênio tecidual pode levar a lesão oxidativa e deve ser
presença de atresia do esôfago. Se após, a passagem da sonda, evitado. Assim, deve-se desestimular o uso indiscriminado do
o conteúdo gástrico for superior a 20 ml, suspeitar de obstru- oxigênio inalatório em RN que estão bem, mas que demoram
ção intestinal alta. Se à aspiração do conteúdo gástrico, o liqui- um pouco para reverter a cianose. A presença de saturação de
do encontrado for hemorrágico, meconial ou purulento, deve-se oxigênio entre 80-90% nas primeiras horas de vida é fisiológica.
realizar a lavagem gástrica com água destilada ou SF 0,9% para Recomenda-se maior tolerância à cianose central em RN que esta-
evitar a irritação, regurgitação e, consequentemente, a aspiração beleceram de maneira adequada a respiração, a freqüência cardí-
pulmonar do conteúdo gástrico. aca e o tônus muscular na sala de parto.
E, finalmente, verificar a permeabilidade anal para detecção da Para RN a termo recebendo reanimação com ventilação por
imperfuração anal, introduzindo a mesma sonda, cerca de 2-3 pressão positiva, é melhor iniciar a reanimação com ar, em vez
cm, no orifício anal. de oxigênio a 100%. Considerar o uso de alta FiO2 se a FC ou a
Identificação oxigenação não melhorarem. A oximetria de pulso deve ser usa-
A identificação é realizada através da impressão digital da mãe da para avaliar qualquer necessidade de oxigênio suplementar.
e das impressões digital e plantar do RN. Colocar na mãe e no Para os RN <32 semanas que não alcançam a saturação alvo de
RN uma pulseira com os seguintes dados: nome da mãe, nº do O2, a administração de oxigênio suplementar deve ser regulada
registro hospitalar, data e hora do nascimento e sexo do RN. misturando-se oxigênio e ar (iniciar com 40%) e a quantidade a
Procedimentos finais ser administrada deve ter por guiada pelo oxímetro de pulso. Não
Realizar um exame físico simplificado no RN. Verificar peso, havendo blender para a mistura de ar e oxigênio, iniciar a reani-
estatura, perímetros cefálico, torácico e abdominal e a existência mação com ar e se não houver melhora passar para O2 a 100%.
de malformações. Sempre que possível, pesar, classificar seguin- O oxímetro de pulso deve ser colocado na palma da mão direita
do a idade gestacional e examinar a placenta. Recomenda-se, de (colocar inicialmente o sensor e depois, conectar no oxímetro), pois
rotina, a coleta de amostra de sangue materno e do cordão umbi- assim, a obtenção da leitura do oxímetro é mais rápida. A leitura con-
lical para a tipagem sangüínea e para as reações sorológicas (no fiável do oxímetro com esta técnica demora 1-2 minutos após o nas-
caso da Sífilis, colher sangue do RN). cimento, havendo débito cardíaco suficiente com perfusão periferia. 59
Realizar Sempre que possível encaminhá-lo o mais precoce- Usando o oxímetro, a saturação alvo em 5 minutos é de 70-
mente possível ao Alojamento Conjunto. 80%, de 5-10 minutos, 80-90% e a partir de 10 minutos, 85-95%
O oxigênio inalatório deve ser administrado através de másca-
Conduta no Recém-Nascido Deprimido ra (5 l/min). A máscara deve possuir orifícios laterais para evitar
a reinalação do ar expirado.
Apnéia Primaria versus Apnéia Secundária
As alterações do padrão respiratório, da freqüência cardíaca Estratégias Ventilatóras
(FC) e da pressão arterial (PA), na asfixia perinatal, seguem um
padrão bem definido e variam de acordo com a extensão e a du- Iniciar imediatamente a VPP quando o RN estiver em apnéia,
ração do insulto hipóxico com respiração do tipo “gasping” com respiração espontânea,
Após a agressão da asfixia, a fase inicial é marcada por respira- porém com FC inferior a 100 bpm.
ções rápidas e profundas, associadas ao aumento da FC e da PA. Respirações iniciais
Se o insulto persistir, os movimentos respiratórios cessam e a FC Frequência 40-60/minuto
começa a cair, mantendo-se, ainda, a PA elevada – é o período de Pressão Inspiratória Máxima
APNÉIA PRIMÁRIA. Nesta fase, a estimulação tátil e o oxigênio ina- A pressão inspiratória máxima (PIM) deve ser aquela que au-
latório revertem o quadro, na grande maioria das vezes. Com o pro- menta a FC ou o movimento da caixa torácica (deve ser individu-
gredir do processo hipóxico, aparecem movimentos respiratórios alizada para cada bebê). Quando possível a sua monitorização,
profundos e arrítmicos (gasping) e a FC continua a cair, juntamente 20cm H2O pode ser efetiva para os RN pré-termos e 30-40 cm H2O
com a PA. O padrão respiratório torna-se cada vez mais irregular e para os RN a termo Se não houver condições de monitorar a pres-
fraco até desaparecer (último gasping), iniciando-se o período de são, usar a menor necessária para aumentar a FC e o movimento
APNÉIA SECUNDÁRIA. Nesta fase, a estimulação tátil e o oxigênio da caixa torácica. A meta é manter a FC acima de 100bpm.
inalatório não revertem o processo, sendo necessária a aplicação Pressão positiva no final da expiração (PEEP)
de ventilação com pressão positiva e oxigênio a 100%, e às vezes, Pode ser de benefício na estabilização inicial nos RN pré-ter-
massagem cardíaca e medicações. mos apneicos que requerem ventilação por pressão psotiva e
Deve-se lembrar que o insulto hipóxico, na grande maioria das ve- dever ser usada se disponível.
zes, inicia-se antes do nascimento. Assim, toda a seqüência de even- Pressão positiva contínua nas vias aéreas (CPAP)
tos provocada pela asfixia pode ocorrer intra-útero, sendo impossível OS RN pré-termos com respiração espontânea com doença da
distinguir apnéia primária da secundária, logo após o nascimento. É membrana hialina podem receber CPAP ou intubação e ventilação
importante notar, também, que quanto maior o período de asfixia mecânica (VM). A escolha mais apropriada pode ser guiada pela
antes do inicio de uma reanimação efetiva, mais difícil se torna essa experiência local. Em RN >-25 semanas com sinais de doença da
reanimação, aumentando, assim, os riscos de lesão neurológica. membrana hialina não houve diferença significativa entre CPAP e
VM quanto a morte, displasia broncopulmonar (dependência de O2
com 36 semanas pós-concepção). Para os RN entre 25 e 28 sema-

Paulo R. Margotto
Assistência ao Recém-Nascido de Risco

nas, o uso do CPAP comparado com a VM, reduziu a necessidade • Adaptação da máscara à face do RN
de VM de 100% para 46%, uso de surfactante de 77% para 35%, • Permeabilidade das vias aéreas
porém, houve aumento significativo de pneumotórax (9% para o • Se a pressão é suficiente.
CPAP versus 3% para VM).
Decisão Segundo a FC
Quanto aos Dispositivos
Realizar a VPP, através do CFR e máscara ou CFR e cânula,
Dispositivos iniciando com FiO2 de 40% durante 30 segundos e reavaliar. A
A ventilação pode ser feita efetivamente com bolsa de fluxo au- grande maioria dos RN que necessita de VPP na sala de parto
toinflável (baixo custo, não precisa de fonte de gas para ventilar, apresenta recuperação dos parâmetros vitais, quando são venti-
manuseio simples-de cada 10 RN, 9 melhoram a ventilação se a lados com CFR e máscara.
ventilação com balão é máscara for bem feita ao nascimento) ou
reanimador com pressão limitada (T-piece resuscitator) principal- • Se o RN apresentar movimentos respiratórios efetivos e
mente para os RN pré-termos O reanimador com pressão limita- FC superior a 100bpm, suspender a ventilação
da necessita de uma fonte de gas e é possível administrar uma
mistura de O2 e ar comprimidos, possibilitando administrar dife- Quando o RN não melhora, rever a técnica!
rentes concentrações de O2). O fluxo inicial a ser usado é de 10 l/
minuto, PEEP por volta de 5cmH2O, pressões inspiratória por vol- • Se o RN não melhorar (continua bradicárdico) apesar do
ta de 20cmmH20 e FR em torno de 40-60/minuto e FiO2 de 40%, aumento de O2, está indicado intubação traqueal
havendo a possibilidade da mistura de ar e O2. Após as primeiras
ventilações, ajustar a pressão para se obter a insuflação torá- Intubação Traqueal
cica leve, assim como, ajustar a saturação de O2 como referido
anteriormente. Os estudos em modelos mecãnicos demonstram Indicações
que as pressões de inflação são mais consistentes com o uso do a intubação traqueal, na sala de parto, está indicada quando:
reanimador com pressão limitada em relação as bolsas, além de
manutenção da PEEP mais consistente e melhor habilidade para • A VPP com CFR e máscara é inefetiva ou prolongada
inflação sustentada. No entanto, não há estudos clinicos em RN • Há necessidade de aspiração traqueal sob visualização
que dão suporte ou refutem a superioridade do reanimador pres- direta em RN não vigoroso com líquido amniótico meconial
são limitada sobre a ventilação com bolsa. • Em qualquer suspeita de Hérnia Diafragmática, que ne-
Máscara laríngea: Considerar o uso de máscara laríngea se não cessite de VPP.
houver suscesso com a máscara facial e intubação traqueal, princi- • Quando há necessidade de massagem cardíaca
palmente nos RN com peso ao nascer >2000g ou idade gestacional • Quando se faz surfactante profilático na Sala de Parto
60 >-34 semanas (conduta individualizada para cada Serviço)
Dispositivos de interface nas vias aéreas superiores: As pron-
gas nasais tem sido mostradas serem superiores para adminis- Preparo
trar ventilação por pressão positiva via nasal em relação às más- Para que a intubação traqueal seja realizada de uma forma
caras faciais triangulares. As evidências são insuficientes para efetiva, recomenda-se a presença de duas pessoas na sala de
suportar ou refutar o uso de um ou outro tipo de máscara, exceto parto. Um profissional para inserir a cânula traqueal e realizar
que a máscara Rendell-Baker é subótima em obter um adequado a VPP e outro para auxiliá-lo na realização do procedimento e,
vedamento em recém-nascidos. Usar a interface disponível na após a intubação verificar a posição da ponta da cânula. Antes de
sua Instituição. iniciar a intubação, preparar e testar todo o material necessário:
Na Unidade de Neonatologia do HRAS administramos a VPP
através do CFR, um gerador de pressão baseado no controle de • Fonte e oxigênio com fluxômetro
um fluxo contínuo de gases proveniente de uma fonte externa • Aspirador a vácuo com manômetro
que permite administrar, além da pressão inflação máxima, tam- • Material para fixação da cânula
bém a pressão positiva no final da expiração. • Laringoscópio com lâminas retas nº 0 e 1
VPP com CFR: Como primeira opção, recomenda-se a apli- • Cânulas traqueais nº 2,5- 3,0- 3,5 e 4,0
cação da VPP através de máscara por se tratar de um método • CFR
eficiente, mais prático e simples do que a intubação traqueal. • Máscara para RN a termo e pré-termo
Dar preferência às máscaras de silicone de formato anatômico • Sondas para aspiração traqueal nº 6 – 8 e 10
e/ou com coxim, que melhor se adaptam à face do RN. Manter a • Fio-guia estéril
disposição dois tamanhos de máscara: para o neonato a termo
e para o pré-termo. Inserir a cânula usando a regra 7-8-9 de Tochen (1979): peso
Conectar o CFR à fonte de oxigênio (fluxo de 5 - 7 l/min.). A se- +6. No entanto, para os RN <750g, introduzir 6 cm
guir, aplicar a máscara sobre a face do RN, tomando-se o cuidado
de cobrir a boca, o nariz e a ponta do queixo do paciente. Evitar Cânula Traqueal
aplicar a pressão sobre os olhos e o pescoço. Utilizar freqüên- Recomenda-se, para o período neonatal, a cânula traqueal de
cias entre 40-60 mov./min. A pressão inicial deve ser de 30-40 diâmetro uniforme, estéril, com uma linha radiopaca e graduada
cmH2O e, em seguida, 15-20 cmH2O para pulmões normais e 20- em centímetros. Escolher o tamanho da cânula de acordo com o
40 cmH20 para pulmões com complacência baixa. É fundamen- peso ou a idade gestacional estimada do RN (tabela). É impor-
tal, durante a ventilação, observar continuamente a expansibi- tante deixar sempre à disposição cânulas de diâmetro inferior e
lidade torácica através da inspeção e da ausculta. A ventilação superior, em relação àquela escolhida.
efetiva deve elevar a caixa torácica em cerca de 0,5-1,0 cm.
Se não for notada uma expansibilidade torácica adequada, obser-
var os seguintes quesitos, em seqüência, e corrigí-los se necessário:
Capitulo 2 Assistência ao Recém-Nascido

Tamanho da cânula traqueal, de acordo com o peso e a idade Massagem Cardíaca


gestacional.
“A massagem cardíaca deve sempre ser acompanhada de ven-
Idade tilação com pressão positiva e oxigênio a 100%.” A grande maioria
Número da Cânula Peso
Gestacional dos RN reverte o curso clínico da asfixia através da ventilação efetiva.
(mm) (Kg)
(Semanas) No entanto, em cerca de 10% dos casos, há necessidade da massa-
2,5 <1 < 28 gem para manter o débito cardíaco. A massagem deve ser iniciada
3,0 1-2 28 – 34 sempre que a FC estiver abaixo de 80 bpm ou entre 60 e 80 bpm
3,5 2-3 34 – 38 sem tendência a aumentar, após 30 segundos de VPP com O2 a 100%
3,5-4,0 3-4 > 38
Técnica
4,0 >4 > 38

São descritas duas técnicas de massagem cardíaca: a dos po-


Pode-se cortar a cânula escolhida na marca dos 13 cm. Este pas- legares e a dos dois dedos. Posicionar os polegares ou os dedos
so opcional tem como objetivo diminuir o espaço morto e a resistên- indicador e médio no terço inferior do esterno, poupando-se o
cia da cânula, além de facilitar sua inserção na traquéia. Sempre re- apêndice xifóide. Comprimir cerca de 1-2 cm. Durante a com-
colocar o intermediário na cânula, antes da intubação. E finalmente, pressão, é importante aplicar a força na direção perpendicular,
se necessário, inserir o fio-guia, tomando-se o cuidado de deixar sua somente no esterno. Nunca comprimir os arcos costas. A massa-
ponta cerca de 0,5 cm antes do orifício terminal da cânula. gem cardíaca deve ser suave, com o tempo de compressão (sís-
tole) igual ao relaxamento (diástole), e os dedos não devem ser
Posicionar o RN corretamente retirados do esterno durante esta última fase.
Posicionar o RN, mantendo a sua cabeça centrada na porção A massagem cardíaca deve ser sempre acompanhada de ven-
média e o pescoço em leve extensão. Evitar a flexão, a hiperex- tilação com pressão positiva e O2 a 100%. No RN, recomenda-se
tensão ou a rotação do pescoço. Se necessário, utilizar um coxim que a ventilação e massagem cardíaca sejam realizadas de for-
sob as espáduas do paciente. ma interposta, mantendo-se a relação de 3:1 (três movimentos
de massagem para um de ventilação). Desse modo, realiza-se 90
Para visualizar a glote, sempre elevar a lâmina do laringoscópio movimentos de massagem e 30 ventilações a cada minuto ou,
Apreender o cabo do laringoscópio com o polegar e o indicador a cada 2 segundos, 3 compressões seguidas de 1 ventilação. A
da mão esquerda. Introduzir a lâmina na porção média da boca relação 3:1 para recém-nascidos facilita a administração do vo-
do RN e avançá-la cerca de 2-3 cm. Quando a lâmina do larin- lume-minuto adequada para a vasta maioria dos recém-nascidos
goscópio estiver entre a base da língua e a epiglote (valécula), que sofrem uma PCR Monitorizar a eficácia da massagem cardía-
procurar elevá-la delicadamente, a fim de expor a glote. Evitar o ca através da palpação do pulso femoral ou braquial.
pinçamento da epiglote. O movimento do laringoscópio para visu- Em Unidades de Terapia Intensiva Mista, o PALS recomenda for- 61
alização da glote deve ser o de elevação da lâmina e nunca o de temente a massagem cardíaca 30:1 ou 15:2. Esta recomendação
alavanca. Essa última manobra pode lesar os alvéolos dentários, NÃO SERVE PARA O RN, pois o nosso foco é a ventilação e, portanto,
além de dificultar a visualização da glote. por priorizarmos a ventilação, interrompemos a massagem a cada 3
Após a visualização da glote, aspirar a traquéia e, a seguir, in- movimentos de compressão para fornecermos a ventilação.
troduzir a cânula pelo lado direito da boca, empurrando-a delica- No entanto, na UTI Neonatal, quando o RN cardiopata apre-
damente para o interior da traquéia, até a distância predetermi- sentar parada cardíaca, está recomenda o uso da relação 3:1 e
nada, de acordo com o peso do RN. em mais nenhuma outra condição neonatal.
Obs: Com a VPP através do CFR, é possível manter a ventilação
Limitar o procedimento a 20 segundos durante a massagem cardíaca sem risco de aumento exagerado
Se após 20 segundos, não se conseguir a intubação, interromper da pressão intratorácica, já que o CFR é pressão-limitado.
o procedimento e iniciar a VPP com CFR e máscara até a estabili-
zação do paciente, antes de tentar novamente. É importante, além Decisão Segundo a Resposta da FC
de limitar a duração do procedimento em 20 segundos, oferecer
O2 inalatório durante a intubação para minimizar a hipoxemia. Após 30 segundos de VPP com O2 a 100% e massagem cardí-
aca, reavaliar a FC:
Confirmar a posição da ponta da cânula
Logo após a intubação, confirmar a posição da ponta da cânula • Se o RN apresentar FC superior a 80 bpm, suspender a
traqueal através da ausculta do tórax, na altura das axilas e da massagem cardíaca, mantendo a VPP com O2 a 100%;
região gástrica. Há forte evidência de que a verificação do CO2 • Se a FC continuar abaixo de 60 bpm, iniciar a administra-
exalado por método colorimétrico ajuda e facilita a ter certeza ção das medicações.
que a cânula está posicionada na traquéia. Se o RN permanecer
intubado, é obrigatória, logo após a chegada à Unidade neonatal, Medicações “O uso de medicações na reanimação da sala de par-
a confirmação radiológica da posição da cânula traqueal, princi- to, sem a ventilação e a massagem adequadas, será pouco efetivo.”
palmente nos RN bradicárdicos. A extremidade da cânula deve A necessidade de medicações na reanimação neonatal em sala
ser mantida entre a 2ª e a 3ª vértebras torácicas. de parto é excepcional, desde que a ventilação e a massagem
cardíaca sejam realizadas de forma efetiva. As drogas devem ser
Quanto à medida do volume corrente iniciadas quando a FC permanecer abaixo de 60 bpm, após 30 se-
Evitar a superinflação; não há suficiente evidência para reco- gundos de VPP com O2 a 100% e massagem cardíaca, ou quando
mendar o uso da monitoração do volume corrente nos RN rece- o RN estiver em parada cardíaca. Nesta última situação, as medi-
bendo ventilação por pressão postiva durante a ventilaçao cações devem ser logo administradas logo ao nascimento, sempre
acompanhadas de ventilação e massagem cardíaca.
A via preferencial para a administração de medicações na sala
de parto é a veia umbilical, através de um cateter com orifício

Paulo R. Margotto
Assistência ao Recém-Nascido de Risco

terminal (sonda de aspiração traqueal nº 6 ou cateter umbilical envolvimento dos pais é importante para evitar conflitos na reanima-
nº 8). Introduzir o cateter, previamente preenchido por água des- ção. Na maioria das vezes, o que os pais expressam com “fazer tudo
tilada, na veia umbilical, até que se obtenha o refluxo de sangue, pelo meu filho”, é fazer tudo que seja possível e bom e geralmente,
cerca de 1-2 cm após passagem pelo ânulo umbilical. Evitar a in- a atitude mais amorosa é interromper a reanimação. A família deve
trodução excessiva do cateter e sua localização no sistema porta. sentir que a estamos ajudando de uma forma mais amorosa.
É obrigatória a localização radiológica da posição do cateter, Na reanimação prolongada, verificar a efetividade das técnicas.
caso esse cateter vá permanecer na veia umbilical no período Se o RN persistir ruim, considerar malformação na via aérea, pneu-
posterior à reanimação. motórax, hérnia diafragmática e cardiopatia congênita. Após 10 mi-
A administração da adrenalina deve ser endovenosa: deve ser nutos de reanimação completa e efetiva, interromper a reanimação
usada, se após adequada ventilação e compressão torácica, a Para estes RN, fazemos as seguintes recomendações:
FC for inferior a 80 batimentos por minuto. A dose endovenosa
é: 0,01-0,03mg/kg (a adrenalina tem 1 mg/ml; pega-se 1 ml de • RN ≤ 23 semanas de gestação: não são reanimados; os
adrenalina + 9 ml de soro fisiológico; ficamos então com uma cuidados se restringem ao conforto (manuseio mínimo,
solução que contém 0,1 mg/ml; usamos a dose de 0,1 ml/kg, monitorização gentil, manutenção da temperatura).
o que daria 0,01 mg/kg). Não havendo melhora, repetir a cada • RN entre 23-24 semanas de gestação: o manuseio
3-5minutos. Em caso de necessidade (acesso venoso disponível), pode ser alterado na dependência de:
usar a via endotraqueal na dose de 0,05-0,1mg/kg uma única • Condição ao nascimento.
vez (deve ser uma exceção). A adrenalina milisemal não deve ser • Resposta à reanimação inicial à estabilização.
usada nem endotraqueal e nem endovenosa. • Se ingressar na UTI Neonatal: a assistência ventilatória
Não havendo resposta a reanimação, há sinais de perda de se restringirá ao CPAP nasal.
sangue, pulsos finos, está indicado o uso de expansão de volu- • A extensão contínua do suporte vai depender das con-
me, de preferência solução cristalóide (soro fisiológico, Ringer) dições e prognóstico do bebê, que devem ser discutidas
ou eventualmente sangue total. de forma clara e exaustiva com a família e a decisão final
O uso de bicarbonato de sódio e naloxone não estão mais indi- deve ser obtida em conjunto.
cados na Sala de Parto, não devendo estar mais preparados para • RN ≥ 25 semanas de gestação: reanimar sempre
uso. O uso eventual destas medicações só será feita após esta-
bilização do RN, quando houver indicação, já na UTI Neonatal Recém-Nascidos que Não Apresentam
Enfatizamos que a ventilação pulmonar é o procedimento Sinais de Vida ao Nascer
mais simples, mais importante e mais efetivo na reanimação do (Morte Aparente) ao Nascer
RN na Sala de Parto
PaCO2 (baixa)
Quanto ao uso da hipotermia terapêutica:
PaCO2 Influenciam
Recomenda-se que RN > 36 semanas de gestação com encefalo- pH
62 patia hipóxico-isquêmica de leve a moderada receba hipotermia te-
rapêutica. A hipotermia terapêutica deve ser administrada mediante
protocolos claramente definidos similares aos utilizados nos ensaios Menor que 7.0 7.2 Em torno de 7.0
clínicos publicados ((iniciar nas primeiras 6 horas de vida, por 72 ho-
Desaparece Hiperventilação Grau Máximo (fome de ar)
ras com reaquecimento em 4 horas) e nas Instituições com recursos
para tratamento multidisciplinar e acompanhamento longitudinal.
A fome de ar nem sempre está
Vários ensaios multicêntricos controlados sobre hipotermia induzi- presente em pacientes com acidose
da (33,5°C a 34,5°C) em recém-nascidos, com IG ≥ 36 semanas,
apresentando encefalopatia hipóxico-isquêmica de leve a modera-
da, demonstraram que os RN resfriados tiveram mortalidade signi- As normas de suporte de vida ao RN com asfixia não visam so-
ficativamente mais baixa e menor deficiência no desenvolvimento mente ao sucesso da reanimação, mas, também, se o RN ficará se-
neurológico no acompanhamento de 18 meses. Ao assistirmos um veramente lesado, principalmente nos países subdesenvolvidos. O
recém-nascido gravemente asfíxico, realizamos os procedimentos impacto de uma criança lesada pode ser devastador. No RN que se
com o berço aquecido desligado. apresenta com assistolia após 10 minutos, a reanimação deve ser
interrompida, pois é improvável a sobrevida sem seqüelas graves.
Quando Não Iniciar, RN com severas anomalias congênitas. A reanimação não
Quando Interromper a Reanimação deve ser iniciada para as malformações da Lista de Jones: hi-
dranencefalia, holoprosencefalia, anencefalia, trissomia do 18,
Não iniciar e/ou interromper a reanimação para os recém- nas- trissomia do 13, triploidia, agenesia renal bilateral, sirenomelia,
cidos pré-termos extremos, para os RN que não apresentam sinal síndromes de membros curtos: acondrogêneses tipo 1a e 1b,
de vida ao nascer (morte aparente) e para os RN que apresentam acondrogêneses, hipocondrogêneses tipo II, fibrocondrogenias,
graves malformações, é um dos maiores dilemas para o neonato- displasia tanatofórica e osteogênese imperfeita.
logista. A bioética não faz distinção entre não iniciar e interromper É importante que seja dado ao RN o benefício da dúvida, pois
as manobras de reanimação (interromper é moralmente o mesmo a sala de parto é o local mais inadequado para se decidir, devido
que não iniciar). Outros autores acreditam que seja eticamente à dificuldade da realização de um cuidadoso exame físico no es-
mais aceitável retirar a terapia do que não iniciá-la (se a terapia paço curto de tempo disponível para a tomada de decisão. Tão
não for iniciada, o paciente nunca se beneficiará dela). logo o RN esteja estabilizado na UTI Neonatal, o exame cuidado-
Recém-nascidos pré-termos extremos: a decisão de não iniciar so possibilitará identificar o distúrbio e os defeitos estruturais.
a reanimação na sala de parto deve ser baseada no conhecimento Iniciar a reanimação nestes casos não significa que é mandatória
do limite de viabilidade do Serviço, assim como o grau de seqüelas a manutenção do suporte. Aos pais devemos oferecer fortes ar-
presumíveis. A comparação com os resultados da literatura tem por gumentos relacionados à condição letal da criança.
objetivo buscar constantes melhorias. Esforços devem ser continua- Nenhum RN deve ir a óbito no leito. Quando o suporte médico
mente buscados no sentido de melhorar a sobrevivência destes RN for interrompido ou a morte é inevitável, um tempo deve ser da-
e, sobretudo, a qualidade de vida destes RN pré-termos extremos. O dos aos pais e aos demais membros da família para tocar o bebê,
Capitulo 2 Assistência ao Recém-Nascido

levá-lo aos braços e interagir com ele, se assim for o desejo da C.F.R.
família. A família deve ser tratada sempre com dignidade. (Continuous Flow Reviver)

Reanimação Neonatal É um gerador de pressão baseado no controle de um fluxo


Sociedade Americana de Cardiologia/ contínuo de gazes provenientes de uma fonte externa. Usa duas
Sociedade Brasileira de Pediatria, com modificações. válvulas: uma exalatória - válvula PEEP - (no 3) e outra limitadora
da pressão de insuflação máxima - válvula PI - (no 4).
Adrenalina A câmara tem ainda a via de entrada de gazes - (no 1) - e a via
de saída do paciente - (no 2). Tem também um orifício para se
Indicações: acoplar um monitor de pressão.
• FC < 60, após 30 seguidos de VPP com O2 100% e mas- Para regular o equipamento siga atentamente as instruções abaixo:
sagem cardíaca.
• FC = 0 • Conecte o látex proveniente da fonte de gazes na via de
Apresentação comercial: entrada - no 1;
• Adrenalina - 1 ampola = 1,0 ml (1:1000) • Conecte o monitor de pressão no orifício correspondente;
Diluição: • Defina no fluxômetro o fluxo adequado ao paciente. Suge-
• 1:10.000, diluir soro fisiológico e deixar preparado em rimos 5 a 7 litros/ minuto para recém-nascidos. Pacien-
seringa de 1,0 ml tes maiores poderão necessitar fluxos maiores;
Dose: • Mantenha a via de saída do paciente - no 2 - ocluída du-
• 0,1 a 0,3 ml/kg/dose (repetir a cada 3-5min, se ne- rante todo o processo de regulagem das duas válvulas;
cessário) • Regule a PEEP rosqueando para um lado ou para o outro
Via de administração: a tampa da válvula exalatória - no 3;
• EV sempre e eventualmente, endoc traqueal (ET): 0,5- • Para regulagem da pressão de insuflação máxima, man-
1ml/kg (única vez) tenha o botão da válvula no 3 pressionado, pois isso fará
Velocidade de Administração com que a única via de saída possível seja através da vál-
• Rápida vula reguladora de pressão máxima. Regule então, esta
Resposta esperada pressão, girando o botão desta válvula para um lado ou
• FC > 100 bpm em 30 segundos para o outro. Cicle algumas vezes pressionando e soltando
Não resposta o botão da válvula exalatória, certificando-se que ambas
• Repetir a adrenalina a cada 3-5 min as pressões - PI e PEEP - estão nos níveis desejados; volte
• Considerar uso do expansor de volume a manter pressionado o botão da válvula exalatória e ros-
Obs: no período neonatal NÃO se recomenda o uso da solução queie o anel fixador - no 5 - de encontro à tampa da válvula
milesimal ou doses mais elevadas de adrenalina, mesmo que a no 4, de sorte a fixar pressão nos níveis desejados. 63
via utilizada seja a ET. • Algumas vezes este movimento provocará alterações nos
níveis pressóricos; se necessário, regule novamente. En-
Expansor de Volume tenda que com o passar do tempo o processo de regula-
gem não despenderá mais que 30 segundos;
Tipos • Conseguidas as pressões, normalmente não haverá ne-
• Colóide: sangue total ou albumina 5% cessidade de novas regulagens, exceto se houver altera-
• Cristalóide: SF 0,9% ções no fluxo;
Indicações • Conecte o equipamento ao paciente através de máscara
• Evidências ou suspeita de sangramento agudo com si- facial ou através da conexão da cânula endotraqueal, se
nais de hipovolemia: palidez persistente, pulsos finos, o mesmo estiver intubado;
má-resposta à reanimação e hipotensão. • Cicle o aparelho pressionando o botão da válvula exalató-
Dose: 10 ml/kg ria de modo intermitente. Os tempos inspiratório e expira-
Via de Administração: EV, em 5 a 10 min. tório serão definidos pelo médico durante a assistência.
Resposta esperada: melhora do pulso, da palidez e aumento da PA
Não Resposta
• Repetir o expansor de volume
• Considerar uso de bicarbonato de sódio e/ou da dopamina

Medicação:
Dose Total
Apresentação Preparo Dose/Via Peso
(ml)
Comercial
1/ 10.000
0,1 - 0,3 ml/
0,1 ml de
kg da solução
adrenalina
preparada
Adrenalina + 0,9 ml de 1 0,1-0,3ml
EV, ET e IO
1 amp=1 Soro fisioló- 2 0,2-0,6ml
infusão rápida
ml=1mg gico= 1ml 3 0,3-0,9ml
pode ser repe-
1/1000 Para infusão 4 0,4-1.3ml
tida a cada 3 a
endotra-
5 minutos
queal, diluir
IO: intra-óssea
com SF

Paulo R. Margotto
Assistência ao Recém-Nascido de Risco

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Fig; O CFR. O ponto A é o local de inserção da mangueira com gases aferentes. O ponto B
corresponde à válvula reguladora do pico de pressão inspiratória. O ponto C corresponde
64 à válvula exalatória que permite a definição de pressão positiva em final da expiração e
acionamento da ciclagem. Não demonstrado, há um ponto para a conexão do manômetro
que acompanha o equipamento

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Capitulo 2 Assistência ao Recém-Nascido

2.2 EXAME FÍSICO NEONATAL/EXAME NEUROLÓGICO

Fabiana Moreira Pontes

Sérgio Henrique Veiga


Medidas Antropométricas
Antes de recepcionar ao recém-nascido (RN), na sala de parto, o
médico neonatologista deve levantar a história materna para ava- Aferir o peso, em balança digital e o comprimento com RN dei-
liar os riscos tanto da mãe quanto do feto e, sempre que possível, tado sobre superfície firme, utilizando a régua/toesa móvel, com
acompanhar sua evolução, estando atento às manobras obstétri- joelhos estendidos. Mensurar a circunferência torácica, tomando
cas e uso de medicamentos, oferecendo apoio emocional e efetivo os mamilos como ponto de referência e a circunferência abdomi-
à parturiente e seus familiares, se presentes na sala de parto. nal à altura do coto umbilical.
Logo após a assistência imediata (vide capítulo Recepção Medir o perímetro cefálico em sua maior circunferência (região
do recém-nascido), o neonato deverá ser mantido em ambien- frontal e occipital, passando por cima das orelhas). É cerca de 2
te aquecido até a estabilização da temperatura. Diminuir ao cm maior na apresentação pélvica. Até 32 semanas é maior que
máximo possível a separação mãe-filho, liberando o RN para o a circunferência abdominal, de 32 a 36 semanas aproximada-
Alojamento Conjunto tão logo as condições clínicas permitam. O mente igual e, após 36 semanas, menor.
objetivo é que o bebê seja encaminhado da sala de parto para o O perímetro cefálico é sempre maior que o torácico, em cerca
quarto, com a mãe. de 3 cm, nos primeiros meses de vida.
Neste período inicial, observar rigorosamente o neonato (ritmo
respiratório, palidez, cianose, tremores, gemidos, hipo ou hipertonia, O Exame Físico
malformações, tipo de choro, etc.). O médico avalia a idade gestacio-
nal, classifica o RN e a placenta, estimando o risco para patologias Providenciar iluminação e aquecimento adequados. Inspecionar
(monitorização da glicemia com fitas reagentes para RN Pequenos cuidadosamente o RN, avaliando: estado geral, fácies, atitude es-
para a Idade Gestacional – PIG - Grandes para a Idade Gestacional - pontânea, reatividade, postura, malformações grosseiras e choro.
GIG -, sorologia para infecção congênita, entre outros). Atenção especial para o padrão respiratório: ritmo, profundi-
Confirmar a aplicação de 1 mg IM de vitamina K1 (Kanakion) dade, utilização de músculos acessórios (tiragens), batimento de
para prevenção da doença hemorrágica do RN, nitrato de prata asa de nariz (BAN), sons emitidos (gemência). Caso necessário,
1%, (uma gota em cada um dos olhos) para prevenção da of- determinar o Boletim de Silverman Anderson (descrito adiante).
talmia gonocócica na sala de parto e vacina para prevenção da Aferir os sinais vitais: temperatura, frequência cardíaca, respi-
Hepatite pelo vírus B (Engerix B 0,5 ml IM), logo após. ratória e pressão arterial, com manguito adequado. 65
Fazer o exame físico completo após o nascimento, objetivando:
Pele
• Detectar anormalidades anatômicas
• Determinar estado de saúde do RN e avaliar riscos Sempre que possível realizar o exame da pele sob luz natural.
• Avaliar adaptação do RN à vida extra uterina Observar a textura, presença de cianose ou icterícia (Zonas de
Kramer), palidez, pletora (pele rosada, policitemia, hematócrito
Histórico Materno elevado). Os principais achados são:

Gestações e paridade, antecedentes maternos (uso de drogas • Descamação fisiológica em pós maturos (pés e mãos) e
ilícitas, tabagismo, álcool, cirurgias, doenças crônicas, medica- escamas endurecidas na ictiose congênita.
mentos, etc.), informações sobre gestações anteriores, abortos, • Epidermólise bolhosa: doença genética que determina
ocorrências no pré-natal. a formação de bolhas disseminadas, que se originam a
partir de qualquer lesão por pressão.
Histórico Familiar • Eritema tóxico: rash cutâneo com lesões eritemato-pa-
pulosas, regride espontaneamente.
Enfermidades atuais e significativas em membros da família, • Escleredema: edema endurecido, mais frequentemente
consanguinidade, malformações. observado em infecções neonatais graves e cardiopatias
com débito cardíaco diminuído. Não depressível.
Histórico Neonatal • Hemangioma: manchas vermelho-violáceas mais comu-
mente observadas na nuca, região frontal e pálpebras
Ocorrências no pré-parto e sala de parto, Boletim de APGAR, superiores. Desaparecem em alguns meses. Com o de-
necessidade de reanimação, amamentação. senvolvimento a pele torna-se espessa, opaca e querati-
nizada. Avalia-se a visibilidade dos vasos e sulcos.
Placenta • Lanugem: são pelos finos sobre o corpo, estão em menor
proporção em região de atrito. Surgem por volta da 19ª
Peso, coloração, odor, relação do peso da placenta com peso a 20ª semana e têm máxima aparição entre 27ª a 28ª
do RN (classificação da placenta e do RN com as respectivas cur- semana de vida intra uterina.
vas- consultar o capitulo Classificação do recém-nascido), avaliar • Linfomas císticos: presentes em qualquer parte do corpo.
o cordão umbilical (presença de duas artérias e uma veia). • Millium sebáceo: pontos claros em face, especialmente
no nariz, devido à hiperplasia de glândulas sebáceas.
Avaliação Da Idade Gestacional • Nevos pigmentosus (mancha mongólica): assemelha-se
(consultar o capítulo correspondente) à pequena equimose. Mais comum na região sacra. De-
saparece na segunda infância.

Paulo R. Margotto
Assistência ao Recém-Nascido de Risco

• Petéquias e púrpuras: não desaparecem a digito-pres- ou diminuição da distância), tamanho do queixo (micrognatia:
são. São de etiologia mecânica (tocotraumatismo), fra- diminuição da mandíbula inferior que pode afetar a amamenta-
gilidade capilar (infecção) e plaquetopenia. Localização ção), nariz e língua.
no pescoço e cabeça não tem maiores repercussões; em
tronco e membros deve-se investigar causa. Olhos
• Superfície plantar: avaliam-se as rugas que se dirigem
dos dedos para o calcanhar. Abrir as pálpebras, observar pregas epicânticas, verificar o re-
• Quando há oligoidrânmio, apresentam-se acentuada. flexo pupilar e vermelho normal usando oftalmoscópio, hemor-
ragia subconjuntival, estrabismo (frequente no RN), pupila bran-
Crânio ca (catarata congênita, retinoblastoma, fibroplasia retrolental),
opacificação da córnea (glaucoma congênito, rubéola congênita,
Sua circunferência varia entre 32 e 36 cm (vide gráfico no ca- rutura membrana de Descement, secreção ocular: se até 48 fre-
pítulo: Avaliação da Idade Gestacional); observa-se a simetria do quente até devido a credeização; após considerar hipótese de
crânio, na palpação se há cavalgamento de suturas (sagital, co- infecção. Avaliar icterícia.
ronárias, bregmáticas e lambdóide) e se há fechamento precoce
das fontanelas anterior e posterior, as únicas com possibilidade • Hipertelorismo: aumento da distância entre os olhos e acha-
de serem palpáveis. Um perímetro cefálico acima do percentil 90 tamento em da base nasal; presente em malformações.
indica macrocrania, em que as causas frequentes são a hidroce- • Enoftalmia; depressão dos olhos (encovados).
falia e a megaencefalia. O perímetro cefálico abaixo do percentil • Exoftalmia: olhos salientes.
10 indica microcrania que pode estar presente em malformações
cromossômicas, defeitos de migração neuronal e agenesias. Orelhas
Outras alterações observadas no exame do crânio são:
Forma, tamanho, implantação (na mesma linha dos olhos), testar
• Craniossinostose: fechamento precoce das suturas cra- reação a ruídos e confirmar aplicação de testes preconizados para
nianas geralmente isoladas ou em associações variáveis. identificar surdez neonatal; apêndices pré-auriculares. Alterações na
Observam-se assimetrias cranianas e as linhas de sutu- forma e implantação da orelha se relacionam à agenesia renal.
ras bem visíveis ou palpáveis. São a escafocefalia, turrin-
cefalia, braquicefalia e a plagiocefalia. Nariz
• Cefalohematoma: coleção sanguínea sub-periostal, de
consistência endurecida, delimitada pelas linhas de sutu- Avaliar forma, tamanho, testar permeabilidade obstruindo uma
ras cranianas, que ocorrem após um parto traumático, e narina de cada vez, canal nasolacrimal, secreção nasal (se seros-
desaparece em meses, de localização geralmente parietal. sanguinolenta, pesquisar sífilis congênita).
66 • Bossa serossanguínea (ou caput succedaneum): cole-
ção de líquido e sangue no subcutâneo, não respeitam Boca
as linhas de sutura, de limites imprecisos, cacifo positivo,
e que involuem em dias. Examinar coloração dos lábios e língua, presença de fissura
• Craniotabes: diminuição da consistência dos ossos do labial e fenda palatina (visualização e palpação do palato duro),
crânio. À palpação assemelha-se a compressão de uma dentes congênitos, rânula (tumoração cística no assoalho da
bola de ping-pong. boca, sem indicação de exerese e imediata), pérolas de Epstein
• Sopros intracranianos audíveis com o estetoscópio: (pontos brancos no palato), úvula bífida.
são raros no RN, geralmente associados a sinais de insu- A posição da mandíbula (retrognatia) e o arqueamento do pa-
ficiência cardíaca. Se presentes sugerem fístulas arterio- lato (ogival) dependem da não atividade motora na vida intra-
venosas ou aneurisma da veia de Galeno. uterina da língua contra o palato e o relaxamento da mandíbula.
• Encefalocele: Tumoração sob a pele que representa a exte-
riorização de tecido nervoso por defeitos nas linhas de sutura Pescoço
dos ossos crânio, com dimensões variáveis. Mais comuns na
região occipital, e depois na região frontal e fossa nasal. Pesquisar massas, fístulas, mobilidade, excesso de pele.

O neonato possui seis fontanelas, que são espaços entre os • Torcicolo congênito: contratura do músculo esternoclei-
ossos do crânio ocupados por membrana. Se abauladas, indica a domastóideo na segunda semana de vida. Resolução
possibilidade da ocorrência de meningite, hidrocefalia, hemorra- espontânea na maioria dos casos, podendo evoluir para
gia intracraniana, hiper hidratação, edema cerebral, insuficiência assimetria facial e posição viciosa da cabeça.
cardíaca. Ou se deprimem como na desidratação; duas delas são • Teratoma cervical: grande tumoração na porção media-
facilmente palpáveis: na do pescoço. Possibilidade para malignização. Pode
causar obstrução respiratória.
• Bregmática ou anterior, situada na porção central e alta • Higroma cístico: tumoração cística de tamanho variado,
do crânio, de formato losangular, medindo cerca de 2-3 com rápido crescimento, invadindo o assoalho da boca, o
cm (variação entre 1 e 5); fecha-se, por aproximação dos mediastino a as axilas; também pode obstruir a respiração.
ossos, em torno dos 18 meses de vida. • Bócio congênito: de causa idiopática ou ocasionada por
• Posterior ou lambdóide, situada na linha média posterior, de ingesta materna de iodo na gestação. Consistência elás-
formato triangular, medindo 0,5 cm; fecha-se aos 2 meses. tica em forma de colar cervical, pouco móvel.

Face Tórax

Observar simetria, aparência sindrômica, implantação das ore- O perímetro torácico em RN a termo é em média de 2 cm me-
lhas, distância entre os olhos (hiper ou hipotelorismo – aumento nor que o cefálico, como descrito anteriormente. Observar sua
Capitulo 2 Assistência ao Recém-Nascido

simetria, formato (geralmente arredondado) proeminência ou tein). Sua intensidade diminui na insuficiência cardíaca
afundamento esternal; sua maior dimensão é a ântero-posterior. congestiva (ICC) e condução atrioventricular prolongada.
Respiração predominantemente abdominal, com frequência • Bordo esternal esquerdo inferior. Aumenta de intensida-
em torno de 40-60 movimentos por minuto. de com o aumento de fluxo pela valva atrioventricular, em
Discretas retrações sub e intercostais são comuns em RN sa- presença de PCA, insuficiência mitral, retorno venoso pul-
dios pela elasticidade das paredes torácicas. Retrações supracla- monar totalmente anômalo (RVPTA), etc.
viculares são sempre patológicas.
Identificar B2:
Clavículas • No bordo esternal esquerdo superior. Hiperfonese sugere
hipertensão arterial sistêmica ou pulmonar. Desdobra-
Atentar para a ausência de clavículas (aplasia clavicular), di- mento amplo, pensar em estenose pulmonar, anomalia
sostose cleidocraniana (cleidocraniodisostose – doença autos- de ebstein, rvpta e tetralogia de fallot (t4f).
sômica dominante, caracterizada por aplasia clavicular, atraso
no fechamento de fontanelas, atraso na ossificação, alteração Identificar B3 e B4:
na dentição, etc), ou fraturas (a maioria do tipo galho-verde, que • Na base ou ápice. B3 surge com o aumento de fluxo
podem causar pseudoparalisia do plexo braquial). A conduta é pelas valvas átrio-ventriculares, pca e icc. B4 surge em
conservadora (não requer imobilização, atadura) a não ser nos miocardiopatias com menor elasticidade do ventrículo
casos de fratura completa com diminuição ou ausência de movi- esquerdo (ve).
mentação do braço no lado afetado.
Estalido:
Mamas É patológico após a fase de transição. Audível em dilatações
de grandes vasos: truncus arteriosus, T4F, obstrução na saída do
Verificar assimetria, a distância intermamilar (característica de al- ventrículo esquerdo ou direito (VD)
gumas doenças genéticas), presença de mamilos extranumerários.
Ao nascer é comum o aumento das glândulas mamárias com a Sopro:
secreção leitosa ou sanguinolenta. Identificar como sendo sistólico, diastólico ou contínuo. Quanti-
ficar de 1+ a 6+, de acordo com sua intensidade. Identificar se é
Exame Cardiovascular proto, meso, tele sistólico ou diastólico.
Quanto ao timbre, observar se é suave, rude ou aspirativo.
Inspeção: cianose, padrão respiratório (taquipnéia, dispénia, Poderão estar ausentes ao nascimento mesmo em cardiopatias
amplitude respiratória, BAN), abaulamento precordial, turgência graves; 60% dos RN normais terão sopro nas primeiras 48 h de vida,
jugular, ictus cordis (mais propulsivo em sobrecarga de volume e em decorrência do fechamento do ducto arterial e do forame oval.
persistência canal arterial (PCA). 67
Exame Pulmonar
Palpação: realizar palpação de pulsos nos quatro membros,
comparando-os (sincronia, ritmo e intensidade). Inspeção: avaliar o padrão respiratório quanto à frequência,
A presença de pulsos simétricos descarta presença de Coarc- amplitude dos movimentos, presença de tiragens e retração xifoi-
tação de Aorta (CoAo), cardiopatia congênita ocasionada por es- diana, batimentos de asas do nariz, estridor expiratório, gemido.
treitamento daquele vaso, geralmente na porção descendente, Utilizar o Boletim de Silverman-Andersen.
possibilitando fluxo aumentado para cérebro e braços (carótida e
subclávias) e fluxo diminuído para coxas e pernas.
Palpação do precórdio, verificando posição do íctus (entre ter- Parâmetros 0 1 2
ceiro e quarto espaço intercostal esquerdo), sua impulsividade,
presença de frêmitos. Frequência cardíaca entre 120-160 bati-
mentos por minuto. Audível Audível
Gemência Ausente
com esteto sem esteto

Pressão arterial (PA): deve ser realizada rotineiramente em


braço e perna direitos, preferencialmente com bebê tranquilo, Batimento
Ausente Discreto Acentuado
de asa de nariz
sem choro.
Utilizar manguito apropriado, neonatal, com cerca de 2-3,5 cm 3 últimas
de largura. A escolha deve ser realizada após mensuração do pe- Tiragem costal + de 3 intercostais
Ausente intercostais
Inferior Intensa
rímetro braquial. A largura do manguito ideal corresponde a 40% Leve
desta medida (exemplo: circunferência de 6cm x 40%= manguito
com largura de ~2,4). Retração ester-
Ausente Discreta Acentuada
nal/xifóide
O valor normal da PA sistólica e diastólica, em RN a termo, é de
75-80x50-55 mmHg e, em RN prematuro, 50-60x30-40 mmHg. Movimento de Discreto/
Consideramos o valor normal da pressão arterial média quando Ausente/ Acentuado/
tórax e declínio
sincronismo Balancim
maior ou igual à idade gestacional. Valores convergentes, estrei- abdome inspiratório
tados, significam falência miocárdica ou colapso vascular; valo-
res divergentes, alargados, indicam malformação arteriovenosa, Boletim de Silverman-Andersen adaptado
truncus arteriosus, PCA.
Ausculta Valores entre 1-5 indicam desconforto respiratório moderado
e acima de 6, grave.
Identificar B1: O Sinal da “dançarina do ventre” avalia a presença de paralisia
• Bordo esternal esquerdo superior (BEE). Definir sua inten- diafragmática unilateral. Pode ser investigado na expiração comple-
sidade e presença de desdobramento (anomalia de Ebs-

Paulo R. Margotto
Assistência ao Recém-Nascido de Risco

ta onde o umbigo toca uma caneta situada sobre o mesmo. Na ins- Observar comprimento do pênis (normal maior do que 3 cm),
piração o umbigo se deslocará para cima e para o lado paralisado. posição do orifício uretral centralizado na glande (hipospádia,
epispádia), fimose (aderência do prepúcio à glande), posição dos
Ausculta testículos na bolsa escrotal (criptorquidia: testículos locados fora
Realizada com estetoscópio neonatal, com campânula e dia- da bolsa: canal inguinal, abdome), presença de hérnia escrotal.
fragma. Deve ser bilateral e comparativa. Auscultar as regiões A hidrocele escrotal (acúmulo de líquido em volume anormal)
axilares. Avaliar a presença de creptos, sibilos, roncos e diminui- pode ser identificada pela técnica da transiluminação, que con-
ção do murmúrio vesicular. siste em escurecer o ambiente e aproximar uma lanterna da re-
A palpação para checar a expansibilidade e distensibilidade gião escrotal que ficará translúcida. A descida testicular para a
torácica também é realizada. Registrar a frequência ventilatória, bolsa escrotal ocorre por volta do 3º trimestre e a bolsa escrotal
que gira em torno de 40-60 movimentos por minuto. se toma mais enrrugada próximo ao termo.
A percussão nos espaços intercostais identifica o som claro
pulmonar. Genitália Feminina

Abdome Tamanho do clitóris, fusão dos grandes lábios (sinéquia labial), po-
sicionamento do orifício da vagina e da uretra, distância anovulvar e
Inspeção fístulas. Praticamente todas as recém-nascidas apresentam exces-
Observar a forma do abdome: geralmente globoso; pode apre- so de tecido himenal ao nascimento que desaparece em semanas.
sentar-se escavado (hérnia diafragmática, urgência cirúrgica), O tamanho final do clítoris é adquirido bem antes da deposição
com abaulamento supra-umbilical (atresia duodenal ou disten- de gordura nas estruturas vizinhas e por isso aparenta-se falsa-
são gástrica), abaulamento infra-umbilical (distensão de bexiga e mente hipertrofiado.
graves retardos de crescimento intra-uterino), presença de circu- Genitália externa com morfologia suspeita (genitália ambígua)
lação colateral e ondas peristálticas. necessita de investigação com ultrassonografia, genótipo, etc.
Pesquisar presença de hérnias umbilicais e inguinais.
As hérnias umbilicais são frequentes em bebês com peso in- • Hipospádia: meato uretral na face perineo-escrotal do
ferior a 2.500g, em meninas e em negros; podem variar entre 1 pênis; excesso de pele dorsal. Associa-se a alterações
e 5 cm; em geral, desaparecem antes dos 4 anos; a herniorrafia dos testículos como criptorquidia.
pode ser indicada em situações específicas. • Epispádia: falha no fechamento da uretra na parede dorsal.
Em neonatos, especialmente os prematuros, a herniação intes- Pode acometer toda a uretra, inclusive com extrofia vesical.
tinal para a região inguinal pode levar ao encarceramento, sendo • Ectopia testicular: 5% dos RN apresentam testículos não
necessária a avaliação da equipe cirúrgica. palpáveis ao nascimento. Verificar os canais inguinais.
O neonato pode apresentar malformações do tipo onfalocele • Imperfuração himenal: pode levar à retenção de secre-
68 (defeito da parede abdominal com exteriorização de vísceras re- ções uterinas e vaginais e causar abaulamento himenal
cobertas por âmnio, cordão e peritônio parietal) e gastrosquise e às vezes retenção urinária por compressão extrínseca.
(defeito da parede abdominal com exteriorização e exposição de • Anomalias anorretais: estenose anal, ânus perineal an-
alças e vísceras, à direita do cordão umbilical) evidentes à ultras- terior, fístula anocutânea, ânus vulvar, fístula anovulvar,
sonografia, durante a gestação. fístula anovestibular, fístula retrovestibular, atresia retal,
O coto umbilical deve ser cuidadosamente avaliado, em busca imperfuração anal, estenose anal membranosa.
de exsudato purulento e, posteriormente, granuloma.
Coluna
Ausculta
Procurar ruídos hidroaéreos, nos quatro quadrantes. Sua au- Coloca-se o RN em decúbito ventral, inspeciona-se e palpa-se
sência é significativa para íleo paralítico. região da coluna vertebral. Procura-se desvios, tumorações e
malformações ósseas, presença de tufos de pelos, hemangio-
Palpação mas e manchas hipercrômicas.
Verificar diástase de músculos reto-abdominais (separação ha- ‘
bitual da musculatura, na linha média; desaparece no primeiro • Espinha bífida: falha no fechamento dos ossos, princi-
ano de vida), presença de ascite, aumento no fígado (normal se palmente da coluna lombosacra. Podemos observar a ex-
em torno de 2cm do rebordo costal), baço, rins, bexiga. posição do tecido nervoso. Pode apresentar-se de duas
São 3 as principais causas de distensão abdominal no RN: as- formas: Meningocele e Mielomeningocele.
cite, visceromegalias e distensão gasosa. • Meningocele: Lesão cística composta por líquor, menin-
Pesquisar massas abdominais; cerca de metade são de origem ges e pele. Causas maternas: deficiência de ácido fólico
genitourinárias. Nos rins, massas palpáveis podem sugerir hidro- e uso de álcool.
nefrose, nefroblastoma, cisto solitário, rins policísticos e trombose • Mielomeningocele: Lesão da linha média contendo lí-
de veia renal. No fígado, hematoma, hemangioma, cisto hepático, quor, meninges e elementos da medula. Podendo ser
de colédoco, de ovário. No trato gastrointestinal, duplicação de aberta ou rota onde o tecido nervoso esta exposta ou
duodeno, de jejuno, ou de íleo, volvo, teratoma e neuroblastoma. fechada, quando o tecido nervoso esta recoberto pelas
Para palpação de rins: colocar o RN em posição semi-sentada membranas meníngeas ou pele. Neste caso, avalia-se a
e com a outra mão palpar o hipocôndrio, estendendo o polegar sensibilidade e motricidade de membros inferiores, que
anteriormente e os dedos na face posterior; elevar os membros alem de alteradas, na dependência da altura da mielo-
inferiores do bebê com a mão esquerda e com a direita palpar o meningocele podem apresentar vários graus de distro-
hipocôndrio realizando movimentos de báscula. fias e posturas típicas dos membros inferiores. O controle
esfincteriano deve ser avaliado estimulando-se a região
Genitália Masculina perianal e a musculatura controlada pelo nervo pudendo.
Fossetas ou hipertricose podem indicar espinha bífida
oculta, onde algumas vértebras estão ausentes, mas o
Capitulo 2 Assistência ao Recém-Nascido

tecido nervoso está protegido. sionar o grande trocanter. Observar o deslocamento da


• Teratoma sacrococcígeo: tumoração arredondada, de ta- articulação. Depois aplicar força contrária e observar
manho variado podendo ser gigante. Pele que o recobre deslocamento da cabeça do fêmur.
é, em geral, íntegra. Passível de malignização.
Mecônio e Urina
Membros Superiores
Aproximadamente 99% dos RN urinam nas primeiras 48 h de
Examinar com o RN em decúbito dorsal. Verificar simetria e vida, sendo que 23% o fazem na sala de parto. O volume urinário
proporções do braço e antibraço, examinar articulações à procu- nas primeiras 24 h de vida é de cerca de 15 ml.
ra de luxações, palpar ombros a procura de fraturas na clavícula, As causas mais comuns de incapacidade de urinar no primeiro
por tocotraumatismo. dia de vida são: prepúcio imperfurado, estenose de uretra, val-
As paralisias braquiais são divididas em três tipos: va de uretra posterior, bexiga neurogênica, ureterocele, tumores
renais, rins multicísticos, hipovolemia, baixa ingesta líquida, age-
1. Paralisia alta ou Erb-Duchenne (C5 a C7), onde o braço nesia renal bilateral (Síndrome de Potter), necrose tubular (se-
permanece em adução (junto ao corpo) e rotação interna cundária a hipóxia), trombose de veia renal, síndrome nefrótica
com punho levemente desviado para fora. Força do braço congênita e pielonefrite congênita.
e reflexo de preensão palmar preservados. A primeira evacuação, em 90% das vezes, também ocorre nas
2. Paralisia inferior ou Klumpke (C8 a T1), onde o bra- primeiras 24 h de vida, sob a forma de mecônio que são fezes
ço esta aduzido e o antebraço e a mão em supinação, escuras, preto-esverdeadas, pegajosas, presentes nos primei-
preensão palmar ausente e reflexos bicipital e triceptal ros dias, composto por muco, bile, líquido amniótico, lanugo.
presentes. Causas de atraso na eliminação são: obstrução intestinal, muco-
3. Paralisia total: braço imóvel, flácido, sem reflexos. viscidose, hipermagnesemia, doença de Hirschsprung/megacó-
4. Paralisia em membros inferiores é rara e se deve a to- lon congênito (denervação do cólon, em decorrência à falha de
cotraumatismos graves ou anomalia congênita da medu- migração crânio-podálica da crista neural do nervo vago, prejudi-
la espinhal. cando o peristaltismo com consequente constipação).

• Artrogripose (imobilidade articular): pode ser congê- Exame Neurológico


nita, devido a déficits musculares e a compressão fetal
por oligoidrâmnio, os distúrbios neurológicos parecem Recém-nascido a termo
ser uma causa comum, entre elas a meningomielocele,
a deficiência das células motoras da medula anterior,
espasticidade pré-natal, anencefalia, hidranencefalia e Utilizado para avaliar o grau de maturidade neurológica do RN.
holoprosencefalia. Levantar na história, presença de mo- Realizar busca ativa de patologias neurológicas ou sistêmicas 69
vimentos fetais e o oligoidrâmnio. que repercutem no Sistema Nervoso Central e/ou periférico no
período Peri natal.
• Pé torto congênito: é a anomalia congênita de membros Local do exame: Ambiente tranqüilo para o RN, com ilumina-
inferiores mais comum. Diferenciar entre pé torto congê- ção adequada, aquecimento da sala entre 24º e 27º Celsius.O
nito e posicional. melhor horário é entre as mamadas. Despir o RN gradualmente,
evitando reações indesejadas como o choro. Realizar as mano-
• Prega palmar única: uni ou bilateral, está presente em bras de forma gentil e suave.
2,5% dos nascimentos normais. Observar ciclo de sono e vigília (Prechtil, 1960) e os estados
comportamentais de Brazelton e Nugent (1995), examinar o
• Osteocondrodisplasia: evidente encurtamento dos bebê preferivelmente nos estados 3, 4, 5, as respostas obtidas
membros (nanismo distrófico). serão mais consistente; os estágios 4 e 5 refletem hiperexcitabi-
lidade; já nos prematuros os melhores estágios para realizar o
• Displasia Congênita de quadril (ou Luxação congênita exame físico são os 1, 2, 3.
do quadril): o diagnóstico deve ser o mais precoce pos- Os estados comportamentais:
sível, devido à boa resposta ao tratamento. Pesquisá-lo
em todas as oportunidades do exame físico do RN, pois 1. Olhos fechados, respiração regular, profunda, sem mo-
poderá estar ausente em alguns momentos. Verificar si- vimentos (sono quieto)
metria das pregas cutâneas. Se necessário radiografar. É 2. Olhos fechados, respiração irregular, rápida, movimentos
mais frequente em meninas. faciais suaves, sem movimentos grosseiros (sono ativo).
3. Olhos abertos, sonolência, movimentos suaves de bra-
As manobras de Ortolani e Barlow identificam anomalias no ços e pernas (despertar quieto).
quadril: 4. Olhos abertos, brilhantes, respiração regular, com mo-
vimentos grosseiros e sem choro, (despertar ativo).
• Manobra de Ortolani: realizada com o bebê em decúbito 5. Olhos abertos ou fechados, atividade corporal e chorando.
dorsal; mobilizar as articulações coxofemurais, em rota- 6. Outros estados, entre eles o coma.
ção, aduzindo e abduzindo-as, com os joelhos em flexão.
O sinal é positivo quando se percebe o deslocamento da O exame neurológico deve seguir uma sequência pré-determi-
articulação e um “click” com os movimentos. nada, porem esta sequência poderá sofres modificações aprovei-
tando-se a melhor oportunidade para a realização de manobras
• Manobra de Barlow: flexionar joelhos e quadris. Segurar mais suaves ou vigorosas.
pernas e coxas com as mãos colocando o dedo médio A escala de Glasgow adaptada é o instrumento para avaliar a
sobre o grande trocanter e o polegar na parte interna da consciência.
coxa, manter as articulações em abdução média, pres-

Paulo R. Margotto
Assistência ao Recém-Nascido de Risco

Em UTI neonatal o exame pode sofrer prejuízos devido à mo- • Manobra de propulsão ou reptação: Neonato em de-
nitorização, utilização de cateteres, prongas, tubos de ventilação cúbito ventral, flexionar os membros inferiores, em uma
mecânica, incubadoras etc. Em algumas situações conta-se ape- postura que lembra as pernas de um batráquio, manten-
nas com a observação dos movimentos espontâneos. do as plantas dos pés unidas, segura-se o RN pelos pés,
Inspeção do fácies, formação do crânio, pele, aspecto e postu- observa-se deslocamento do corpo para frente.
ra das mãos pés e dedos movimentações atípicas a observação • Marcha reflexa: Segura-se o bebê pela região axilar com
deve ser prolongada. seus pés apoiados sobre uma superfície firme, faz-se
Postura: Em flexão generalizada e lateralização da cabeça (até uma leve inclinação do corpo do RN para frente, com
o final do período neonatal); observar posturas plégicas (defici- uma leve propulsão simula-se uma caminhada; esta bem
tárias) dos membros, freqüentemente observada nas lesões de estruturada no 1º- mês, sendo observada até o 4º mês de
plexo braquial. vida de forma fragmentada. Esta manobra pode ser re-
Palpação: A musculatura apresenta uma consistência elásti- produzida mesmo com o RN de cabeça para baixo, desde
ca. A flacidez muscular é indicativa da síndrome do bebe flácido. que apoiando os pés em uma superfície.
Movimentação espontânea: É simétrica, em geral lenta, sem • Manobra do arrasto: RN em decúbito dorsal traciona-se
sincronia, às vezes brusca, neste caso não há relação com estí- os braços que estão fletidos, a cabeça que inicialmente
mulos táteis ou sonoros. está inclinada para trás desloca-se para a posição media-
A Emissão de sons: choro inarticulado até o final do 1º mês; na e após cai para frente. É reflexo até o 3º mes de vida.
O tônus: É avaliado observando-se a postura em semiflexão • Rotação da cabeça em prono: O RN eleva a cabeça ra-
generalizada, quando observamos o RN movimentando-se contra pidamente e faz rotação lateral, observada no 1º mes de
as forças gravitacionais. vida. O RN realiza este movimento para liberar as narinas
A sensibilidade a estímulos táteis e dolorosos: Onde observa- e realizar a respiração.
mos a retirada em bloco do membro estimulado ou a movimenta- • Manobra do xale ou cachecol (vide capítulo Avaliação da
ção em sentido contrário do estímulo do tronco. Idade Gestacional).
• Rechaço dos membros inferiores: avalia a postura flexo-
Escala de Glasgow ra; posiciona-se as pernas fletidas contra as coxas e es-
Escala de Glasgow adaptada para lactentes tas contra o abdome, liberando-as bruscamente, obser-
va-se projeção em extensão dos dois membros inferiores.
Avaliação Pontos Avaliação Pontos • Extensão cruzada: estimula-se a planta do pé do mem-
Abertura Ocular bro em extensão mantido pelo examinador, observa-se
Espontânea 4 Espontânea 4 flexão e abdução seguida de extensão e adução do mem-
bro oposto; presente durante o período neonatal.
Estímulo vocal 3 Estímulo vocal 3
• Apoio plantar: segurando-se o RN pelas axilas tocar com
Estímulo doloroso 2 Estímulo doloroso 2
70 a planta dos pés com leve pressão a mesa de exame
Sem resposta obtendo-se alinhamento e sustentação do corpo; obser-
1 Sem resposta 1
vado até o 3º- mês de vida.
Resposta Verbal      
• Reflexo de Galant: RN em decúbito ventral, cabeça cen-
Orientado 5 Balbucia 5 trada, faz-se um estímulo paravertebral de cima para baixo
Confuso 4 Irritado 4 e como resposta espera-se um encurtamento do tronco no
Palavras inapro- lado estimulado. Deverá ser pesquisado bilateralmente.
3 Chora a dor 3
priadas • Reflexo olho de boneca: com o RN inclinado nos braços
Sons inespecífico 2 Geme a dor 2 do examinador, fazemos rotação de sua cabeça, os olhos
Sem respostas não acompanham a manobra, permanecendo na posição
1 Sem resposta 1
original.
Resposta Motora   Movimentação   • Reflexo cócleo-palpebral: realizado com estímulo sono-
Obedece a coman- ro próximo a orelha, Normalmente observa-se uma res-
6 Espontânea 6 posta de piscamento.
dos
Localiza a dor 5 Reage ao toque 5
Reage à dor 4 Reage à dor 4
Reflexos Cutâneos Ou Superficiais
Flexão anormal 3 Flexão anormal 3
Extensão anormal 2 Extensão anormal 2
Reflexos abdominais: RN em decúbito dorsal estimula-se, com
Sem resposta 1 Sem resposta 1 um instrumento rombo, de cada lado do abdome alto, da linha
axilar para a linha mediana, com leve inclinação para baixo, se-
Escala de Glasgow adaptada. guindo os dermatomos, na linha das costelas (retos abdominais,
seguimento superior) ao nível da cicatriz umbilical (reto abdomi-
Os Reflexos E Reações Posturais nal, seguimento médio) e acima da região inguinal (reto abdo-
minal, seguimento inferior); observar presença de contração do
Asseguram a sobrevivência e favorecem a aquisição do desen- músculo subjacente. Aparecimento: 2-6 meses de vida
volvimento motor futuro. Auxiliam na avaliação da integridade do
sistema nervoso central. Reflexo cremasteriano: Apenas nos RN do sexo masculino.
Sua ausência ou sua persistência para além do período em Estimula-se face interna superior da coxa próximo a região ingui-
que deveriam não ser mais observados indicam disfunção neuro- nal; ocorre elevação do testículo do mesmo lado. Aparecimento:
lógica. (quadros neurológicos deficitários) aos 6 meses.
Alguns testes para avaliar a mobilidade e tônus muscular são:
Cutaneoplantar: estimula-se passando uma linha da borda
lateral do pé até a base dos cinco pododáctilos, obtendo-se a
Capitulo 2 Assistência ao Recém-Nascido

extensão do primeiro pododáctilo e/ou a abertura em leque dos • Voracidade,


demais. Obtido até o 9º mês de vida. Se persistir após 24 meses • Preensão palmar e plantar,
de idade é chamado de Sinal de Babinski e indica lesão do trato • Reflexo de Moro,
cortico-espinhal lateral ou da área cortical motora no encéfalo. • Reflexo de Galant,
• Retirada de membro à estimulação dolorosa,
Reflexos Arcáicos • Piscamento,
• Cutaneoplantar,
São transitórios, vão desaparecer em um período específico de • Tônus passivo e ativo.
tempo sendo substituídos pelo controle neurológico observados
no sistema nervoso maduro, representam o fenômeno da onto- Estes reflexos serão mais completos e constantes tanto mais
gênese que recapitula a filogênese. próximos da idade de 37 semanas de gestação (idade de termo)
Próprios do RN vigorosos e sadios englobam os reflexos de bus- eles forem pesquisados.
ca, sucção, preensão palmar e plantar, de Moro, Magnus e de
Kleijn, Landau e marcha automática. Bibliografia
Voracidade (de busca, ou dos pontos cardeais): Ao tocar o
• Escola Paulista de Medicina. Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP). Departamento
lábio superior, inferior e cantos da boca, o RN realiza rotação da de Pediatria. Semiologia Pediátrica. [acesso 2010 20 maio]. Disponível em: http://www.
cabeça, procurando o estímulo, com boca aberta. Observa-se virtual.epm.br/material/tis/curr-med/med3/2003/pediatria/matdid/semi_ped.doc
• Fletcher MA. Avaliação física e classificação. In: Avery GB, Fletcher MA, McDonald MG.
até o 2º mês de vida. Neonatologia- Fisiopatologia e tratamento do Recém-Nascido, 4ª. ed, Rio de Janeiro: Me-
dsi, p 269, 1999.
• Joaquim MCM, Correa Filho L, Jácomo AJD, Diniz EMA, Kopelman BI, Lopes JMA, Oliveira
Sucção: Vigoroso nos primeiros meses de vida; observado até ND, Nader PO, Margotto PR. Anamnese e Exame Físico do Recém-Nascido. Manual de
Assistência ao Recém-Nascido, Ministério da Saúde, p 25, 1994.
o 8º. Mês. Não devem ser pesquisados após as mamadas, pois • Margotto PR. Fratura de clavículas: experiência nacional e internacional. Boletim Informa-
tivo Pediátrico (BIP). Brasília, 60:121, 1997.
podem estar diminuídos. • Ministério da saúde (Brasil). Manual humanizada ao recém-nascido de baixo peso - Méto-
do Canguru. Manual técnico. 2ª. ed. Brasília (DF). 2008. [acesso em 2010 maio10]. Dis-
ponível em: http://portal2.saude.gov.br/portal/arquivos/pdf/ manual_ canguru_site.pdf
Preensão reflexa dos artelhos (dedos e pedartículos): Pressiona-
se a base dos artelhos com dedo indicador, em palma da mão e plan-
ta dos pés; observa-se a flexão destes (agarra o dedo do examinador).
Desaparece entre 4º e 12º mês, em mãos e pés, respectivamente.

Reflexo de Moro: Evidente até o 4º ao 6º mês; em posição dor-


sal, aproximar mãos do RN até a linha média, simulando suspen-
dê-lo e soltá-lo repentinamente ou promover ruído súbito (bater
palmas), observando abdução de braços, extensão de mãos e
flexão de polegares (“abraço, susto”). 71

Reflexo tônico do pescoço, do esgrimista ou de Magnus e de


Kleijn: RN em decúbito dorsal, virar face para lateral, observando
a extensão dos membros do mesmo lado e flexão do lado oposto;
presente até o final do 3º- mês de vida.

Reflexos de Landau I: Suspender o RN, em decúbito ventral,


flexionar rapidamente a cabeça e observar correspondente flexão
da pelve e das pernas; é obtido até o 12º mês de vida.

Marcha Reflexa: Já descrita nos parágrafos anteriores.

Finalizando a avaliação neurológica é importante obter as me-


didas da cabeça, avaliando a distância ântero-posterior (DAP),
biauricular (DBA) e o perímetro cefálico. Avalia-se a normalidade
por meio de gráficos, bem como se estabelece o índice cefálico,
obtido com a divisão do DBA pelo DPA, sendo constante durante
todo 1º- ano de vida o que demonstra a simetria do crânio.

Recém-Nascido Prematuro

Estudos demonstram que não se pode simplesmente transfe-


rir o exame do RN de termo para o prematuro. As característi-
cas específicas de imaturidade neurológica e a dificuldade em
estabelecer o nível de vigília adequado, assim como a intensa
manipulação do bebê em Unidades de terapia intensiva, devem
ser consideradas. Entretanto, por meio de testes, alguns refle-
xos presentes no neonato, independentemente da idade, mesmo
que de forma incompleta e inconstante, pode-se avaliar, junta-
mente com aspectos somáticos, o grau de maturidade neurológi-
ca e possíveis neuropatologias presentes.
Entre eles podemos destacar:

Paulo R. Margotto
Assistência ao Recém-Nascido de Risco

2.3 AVALIAÇÃO DA IDADE GESTACIONAL

Paulo R. Margotto, Alessandra de Cássia Gonçalves Moreira

Classificação Do Recém-Nascido

Para estimarmos com maior precisão o risco do RN apresentar Quando a mãe desconhece a DUM, ou tem dúvidas a respeito
determinadas patologias ou morrer, torna-se necessária a análi- da mesma, pode-se recorrer aos seguintes métodos:
se de duas grandes variáveis em conjunto, que são a idade ges- Durante a gestação: medição do fundo de útero, medição do
tacional e o peso. tamanho do feto pela ecografia (abaixo de 20 semanas);
Ao nascer: exame clínico-neurológico do RN: para os recém-nasci-
Avaliação Da Idade Gestacional dos com idade gestacional maior que 28 semanas, o método de Ca-
purro tem sido amplamente empregado, podendo ser realizado logo
A idade gestacional é o tempo transcorrido desde a concepção ao nascer (método somático). Para os RN saudáveis e com mais de
até o momento do nascimento. Por métodos clínicos é impossível 6 horas de vida, é feito o somático e neurológico, ambas as formas
determinar o momento da concepção, podendo ser inferido de têm apresentado alta correlação com DUM, sendo menor para os
forma indireta a partir da data da última menstruação (DUM). RN pequenos para a idade. Nestes RN tem sido observada uma su-
Este método, de uso universal, é tanto mais confiável quando a bestimação da idade gestacional a partir da 35a semana.
mãe se recorda das datas das suas menstruações e quanto mais
regulares sejam seus ciclos.
Método de Capurro: (Somático e Neurológico)

Mamilo puntiforme
Mamilo nítido; aréola lisa Mamilo puntiforme aré-
Formação mamilo Mamilo pouco visível aréola de borda não
diâmetro ola de borda elevada
sem aréola elevada
< 0,75 cm > 0,75 cm
A 0 > 0,75 cm
5 15
10
Algo mais grossa, com Grossa, com sulcos su-
Textura da pele Grossa, apergaminhada
Fina, gelatinosa Fina e lisa discreta descamação perficiais, descamação
com sulcos profundos
0 5 Superficial de mãos e pés
B 20
10 15
72 Forma da orelha Chata, disforme pavi- Pavilhão parcialmente
Pavilhão parcialmente
Pavilhão totalmente
encurvado em toda
lhão não encurvado encurvado na borda encurvado
borda superior
C 0 8 24
16
Tamanho da glândula
Ausência de Diâmetro Diâmetro Diâmetro
mamária
Tecido mamário < 5 mm 5 mm a 10 mm > 10 mm
0 5 10 15
D
Marcas bem definidas
Sulcos plantares Marcas mal definidas na Sulcos na metade Sulcos em mais da me-
Ausentes na metade anterior e
metade anterior da planta anterior da planta tade anterior da planta
0 no terço anterior
E 5 15 20
10
Sinal do Xale (posição Entre a linha axilar Entre a linha média e a
Na linha axilar do lado Ao nível da linha
do cotovelo) anterior do lado oposto e linha axilar anterior do
oposto média
a linha média mesmo lado
0 12
F 6 18
Posição da cabeça ao
levantar o RN (ângulo Totalmente deflexionada
 entre 180º - 270º  = 180º  < 180º
(Â)c érvico-torácico) Â = 270º
4 8 12
0
G

Idade Gestacional:
A. Somático: Somatório dos pontos em A, B, C, D, E + 204 /7
B. Somático-neurológico: Somatória dos pontos em B, C, D, E, F e G+200/7

Para os RN com peso de nascimento abaixo de 1500 g, utiliza-


se o método de Ballard e cl. modificado por Constantine e cl.
Constantine e cl, correlacionaram com a DUM. 3 métodos clíni-
cos na determinação da idade gestacional dos RN de baixo peso
(critérios físicos, neurológicos e físicos e neurológicos, pelo mé-
todo de Ballard e cl). Os autores observaram melhor correlação
(0,81) com a idade gestacional obtida por critérios físicos. O diag-
nóstico do RN PIG, utilizando esta idade gestacional, embora seja
menos sensível, é mais específico e com altos valores preditivos,
como pode ser observado:
Capitulo 2 Assistência ao Recém-Nascido

RN PIG Sensibilidade Especificidade Valor Preditivo Positivo Eficiência


Idade Gestacional

Critério físico 65 86 73 78
Critério Neurológico 79 54 51 63
Critério Combinado 78 71 62 74

Ballard Modificado Por Constantine:

Maturidade
0 1 2 3 4 5
Física
Descamação su-
Gelatinosa, verme- Lisa, rosa, veias Fenda superficial, Apergaminhada, Fenda profunda
Pele perficial e/ou rash,
lha, transparente visíveis raras veias fenda profunda enrugada
poucas veias
Pequena quanti- Praticamente sem
Lanugo (no dorso) Nenhum Abundante Delgado
dade lanugo
Aréola puntiforme, Aréola puntiforme, Aréola bem
Aréola chata, sem borda não elevada, borda elevada, glân- formada, Glândula
Seio Apenas perceptível
botão glândula mamária 1 dula mamária mamária
a 2 mm 3 a 4 mm 5 a 10 mm
Pavilhão levemente Pavilhão bem forma-
Pavilhão liso, perma- Pavilhão encurvado, Cartilagem grossa,
Orelha encurvado desdobra do e firme, desdobra
nece dobrado desdobra facilmente orelha rígida
lentamente imediatamente
Sulcos somente no Sulcos nos Sulcos em toda a
Sulcos plantares Sem sulcos Marcas
1/3 terço anterior 2/3 anteriores sola
Bolsa escrotal vazia, Testículos descen- Testículos na bolsa, Testículos na bolsa,
Genital masculino
sem rugas do, poucas rugas rugas rugas profundas
Pequenos e grandes Grandes lábios Clitóris e pequenos
Pequenos lábios,
Genital feminino lábios igualmente quase cobrindo os lábios completa-
clitóris proeminente
proeminentes pequenos lábios mente cobertos

TOTAL X 2

32 35 ± 3 2060 2610 3210


Escore 05 10 15 20 25 30 35 40 45 50
Semanas 26 28 30 32 34 36 38 40 42 44
33 36 ± 3 2320 2890 3510 73

CLAP (OPS/OMS), 1991


Para os RN extremamente pré-termos (<26 semanas) adota-
mos duas formas para a avaliação da idade gestacional: 2. Longitude da Espinha Dorsal (LED), medida a partir
de um RX de tórax: distância entre margem superior da
1. Segundo valores do perímetro cefálico ao nascer (me- 1ª vértebra torácica e margem inferior da 12ª vértebra
didas provenientes da população latino-americana sau- torácica. A correlação entre este método não se altera
dável - CLAP - Centro Latino Americano de Perinatologia e durante a 1ª semana de vida, permitindo um diagnóstico
Desenvolvimento Humano). A tabela, além de fornecer a retrospectivo da idade gestacional. Abaixo de 32 sema-
idade gestacional com o desvio padrão, mostra também nas, há uma superestimativa de 1 semana.
o peso médio ao nascer e os valores máximos(percentil
90) e mínimo(percentil 10). Longitude da Espinha Dorsal (LED) em mm:

PC(cm) IG (semanas) Peso(g) L.E.D I.GEST. L.E.D I.GEST. L.E.D I.GEST. L.E.D I.GEST.
Mínimo Médio Máximo 50 22.8 63 27.3 76 32.7 89 38.0
18 20 ± 1,5 180 380 580 51 23.1 64 27.6 77 33.1 90 38.6
19 21 ± 1,5 240 450 670 52 23.5 65 27.9 78 33.5 91 38.9
20 22 ± 1,5 320 530 740 53 23.8 66 28.3 79 33.8 92 39.3
21 23 ± 1,5 360 610 860 54 24.2 67 28.6 80 34.2 93 39.6
22 24 ± 1,5 420 700 980 55 24.5 68 29.0 81 34.5 94 40.0
23 25 ± 2 480 770 1070 56 24.8 69 29.3 82 34.8 95 40.3
24 26 ± 2 560 820 1160 57 25.2 70 29.7 83 35.2 96 40.7
25 27 ± 2 620 960 1350 58 25.6 71 30.0 84 35.5 97 41.0
26 28 ± 2,5 700 1100 1550 59 25.9 72 30.4 85 35.9 98 41.4
27 29 ± 2,5 840 1280 1800 60 26.3 73 31.0 86 36.2 99 41.7
28 30 ± 2,5 1000 1460 2000 61 26.6 74 32.1 87 36.6 100 42.0
62 26.8 75 32.4 88 37.0
29 31 ± 2,5 1160 1640 2200
30 32 ± 3 1300 1840 2370
31 33 ± 3 1510 2070 2590 Martell M e cl, 1997
31,5 34 ± 3 1770 2320 2900

Paulo R. Margotto
Assistência ao Recém-Nascido de Risco

3. New Ballard Score (NBS) - 1991: O NBS é um método Contagem Da Maturidade Neuro-Muscular
Sinal
de avaliação da idade gestacional (IG) de recém-nascido -1 0 1
(RN) através da análise de 6 parâmetros neurológicos
(postura, ângulo de flexão do punho, retração do braço,
ângulo poplíteo, sinal do xale, calcanhar-orelha) e 6 parâ-
Contagem
metros físicos (pele, lanugo, superfície plantar, glândula 2 3 4
Do Sinal
mamária, olhos/orelhas, genital masculino, genital femini- Postura
no), a cada um dos quais se atribui uma pontuação que na
somatória determinará a estimativa da idade gestacional.
Este é um método modificado da versão original sendo 5
agregados alguns itens, permitindo assim a avaliação de
RN com IG a partir de 20 semanas. A correlação entre o
NBS e a IG calculada pela amenorréia é de 0,97; para o
RN < 26 semanas, esta correlação foi mantida quando o
método foi aplicado nas primeiras 12 horas de vida.

Vantagens:

•Mais rápido que o método de DUBOWITZ.


•Pode ser realizado em RN doentes.
•Inclui RN com IG até 20 semanas.
•Pode ser realizado até 96 horas de vida.

Inconveniente:
O NBS superestima significativamente em 0,6 a 1,7 semanas a Angulo De Flexão Do Punho
IG de RN entre 32 e 37 semanas de IG, sendo atribuído ao stress
intra-uterino que acelera a maturação fetal. Flexionar a mão sobre o punho, exercendo pressão suficiente
Estudo recente de Donovan e cl, a cada semana (de 22 a 28 para obter o máximo de flexão possível. Medir o ângulo entre a
semanas de idade gestacional pela história menstrual precoce), iminência hipotenar e a face anterior do antebraço.
o NBS excedeu a idade gestacional por 1,3 a 3,3 semanas, ha-
vendo uma grande variabilidade (6,8 a 11,9 semanas). Vejam, Contagem Da Maturidade Neuro-Muscular
assim que, na ausência de pré-natal iniciado precocemente, deve Sinal
-1 0 1
74 ser suspeita a acurácia da avaliação da idade gestacional nos RN
pré-termos extremos.

Maturidade Neuromuscular Conta-


Ângulo de 2 3 4 gem Do
Flexão do Sinal
Postura
punho
Enquanto a maturação progride, o feto assume gradualmente o
tônus passivo dos flexores que progridem em um sentido centrípe- 5
to e caudal-cranial, com extremidades inferiores ligeiramente an-
tes das extremidades superiores. Conforme o termo se aproxima,
o RN apresenta progressivamente menos oposição ao tônus flexor,
assim a postura fletida é um indício de maturação cerebral.
Com o RN em repouso, observar a atitude dos 4 membros.

1. Deflexão total dos 4 membros.


2. Flexão ligeira dos quadris e joelhos.
3. Flexão moderada ou acentuada dos membros inferio-
res e discreta flexão do antebraço.
4. Membros inferiores em flexão, quadris abduzidos, com
membros superiores com alguma flexão (posição de ba-
tráquio).
5. Os quatro membros apresentam flexão igual e forte.

Retração Do Braço

Flexionar ao máximo o antebraço durante 5 segundos, em se-


guida estender ao máximo através de tração das mãos, soltan-
do em seguida observando o ângulo entre o braço e antebraço.
Atentar para não prender o braço na posição estendida por um
período prolongado, porque isto causa fadiga e os resultados se-
rão falsamente baixos devido ao pobre recolhimento do flexor.
Capitulo 2 Assistência ao Recém-Nascido

Contagem Da Maturidade Neuro-Muscular


Sinal
-1 0 1

Conta-
2 3 4 gem Do
Retração Sinal
do braço

Sinal Do Xale

Com o RN em supino, o examinador ajusta a cabeça na linha


média e segura a mão do infante, estabilizando o tórax com a
outra mão ao mesmo tempo em que o polegar é colocado no
cotovelo. O examinador conduz o cotovelo através da caixa torá-
cica, sentindo a flexão passiva ou a resistência à extensão dos
músculos flexores posteriores da cintura escapular, o ponto na
caixa torácica para que o cotovelo se move facilmente antes da
resistência significativa é anotado.

-1: cotovelo na linha axilar contralateral.


0: cotovelo na linha mamilar contralateral.
1: cotovelo no processo xifóide.
2: cotovelo na linha mamilar ipsilateral.
3: cotovelo na linha axilar ipsilateral.

Ângulo Poplíteo Contagem Da Maturidade Neuro-Muscular


Sinal
-1 0 1
Com o RN em supino, sem fralda e com a pelve apoiada na
superfície da mesa de exame, a coxa é colocada delicadamen- 75
te sobre o abdome com o joelho flexionado inteiramente. Depois
que o infante relaxou nesta posição, o examinador segura delica- Conta-
damente o pé pelos lados com uma mão e suporta lateralmente 2 3 4 gem Do
Retração Sinal
a coxa com a outra. Tomar cuidado para não exercer pressão nas do braço
extremidades, porque isto pode interferir com o exame. A perna
é estendida até que uma resistência definitiva à extensão seja
percebida. Neste momento o ângulo formado no joelho entre a 5
perna e a coxa é medido.

Contagem Da Maturidade
Sinal Neuro-Muscular
-1 0 1

Contagem
2 3 4
Do Sinal
Ângulo
Poplíteo

Manobra De Calcanhar-Orelha

O RN é colocado em supino e a extremidade inferior flexionada


é trazida para descansar no colchão ao lado do tronco do infante.
O examinador suporta a coxa lateralmente ao lado do corpo com
a palma de uma das mãos. A outra mão é usada para segurar
o pé e puxá-lo para a orelha ipsilateral. A posição do calcanhar
onde a resistência significativa é percebida deve ser anotada.

Paulo R. Margotto
Assistência ao Recém-Nascido de Risco

-1: Orelha
0: Nariz
1: Queixo
2: Mamilo
3: Umbigo
4: Linha femoral

Contagem Da Maturidade Neuro-Muscular


Sinal
-1 0 1

Conta- Lanugo
2 3 4 gem Do
Calcanhar Sinal
à Orelha
Lanugo é o cabelo fino que cobre o corpo do feto. No prematu-
ro extremo, a pele não apresenta lanugo. Ele começa a aparecer
5 aproximadamente na 24a a 25a semana e é geralmente abundan-
te, especialmente entre os ombros e na parte superior do dorso,
na 28a semana do gestação. A rarefação ocorre primeiro na parte
mais baixa do dorso, desgastando-se enquanto o corpo fetal se
curva para frente ao longo do processo de maturação, assumindo
a posição fletida. As áreas “calvas” surgem e tornam-se maiores
sobre a área lombo-sacra. No termo, a maioria do dorso é desprovi-
da de lanugo. Ao pontuar para o lanugo, o examinador seleciona o
quadrado que descreve melhor as quantidades relativas de lanugo
nas áreas superiores e mais baixas da parte traseira do infante.

Contagem Física Da Maturidade


Sinal
-1 0 1
nenhum Escasso Abundantes
Conta-
2 3 4
76 Maturidade Física gem Do
Na maior Sinal
Lanugo Lanugo fino Áreas calvas
parte calva
Pele
5
A maturação da pele fetal envolve o desenvolvimento de suas
estruturas intrínsecas simultaneamente à perda gradual de seu re-
vestimento protetor, o vérnix caseoso. Então ela engrossa, seca e
torna-se enrugada e/ou descamada, podendo-se desenvolver um
rash enquanto a maturação fetal progride. Para pontuar, o quadra-
do que descreve melhor o aspecto da pele deve ser selecionado.

Contagem Física Da Maturidade


Sinal
-1 0 1
Homoge-
Pegajosa, Gelatinosa,
neamente
friável, trans- vermelha,
rosa, veias
parente translúcida
visíveis
2 3 4
Aperga- Conta- Superfície Plantar
Rash ou gem Do
Descamação minhada,
descamação Sinal
Pele grosseira, fissuras Este tópico refere-se aos sulcos principais na planta do pé. Os
superficial
veias raras profundas, primeiros sulcos aparecem na porção anterior da planta do pé.
poucas veias
sem vasos Isto pode ser relacionado à flexão do pé intra-útero e à desidrata-
5 ção da pele. Os infantes muito prematuros e extremamente ima-
Coriácea, turos não têm nenhum sulco detectável no pé. Para auxiliar na
fissuras definição da idade gestacional destes infantes, usa-se a medida
profundas, do comprimento do pé.
enrugada
Capitulo 2 Assistência ao Recém-Nascido

Contagem Física Da Maturidade


Sinal
-1 0 1
Calcanhar-
dedo do pé >50 Milímetro Marcas
40-50mm: -1 sem marcas tênues
<40mm: -2 Conta-
Super- 2 3 4 gem Do
fície Sulcos Sinal
Sulcos na
Plantar Sulcos nos em toda a
superfície
2/3 anteriores superfície
anterior
plantar
5

Olhos E Orelhas

O pavilhão auricular fetal muda de configuração e aumenta


a quantidade de cartilagem enquanto a maturação progride. A
avaliação inclui a palpação da espessura da cartilagem, dobran-
do então o pavilhão para frente e soltando-a. O examinador ob-
serva a velocidade com que a orelha dobrada retorna à posição
de repouso quando liberada, selecionar então o quadrado que
descreve melhor o grau de desenvolvimento cartilaginoso. Em Rn
extremamente prematuros, anotar o estado de desenvolvimen-
to da pálpebra como um indicador adicional da maturação fetal:
frouxamente aderidas no caso de uma ou ambas poderem ser
separadas com leve tração e fortemente aderidas quando ambas
as pálpebras não são separadas por leve tração.
Glândula Mamária
Contagem Física Da Maturidade
A glândula mamária consiste no tecido do peito que é estimu- Sinal
-1 0 1
lado para crescer por estrógenos maternos e pelo tecido adiposo
Pavilhão
que é dependente do status nutritivo fetal. O examinador anota o pálpebras
pálpebras parcial-
tamanho da aréola e a presença ou a ausência de borda (criado fundidas 77
abertas pa- mente
frouxamen-
pelo desenvolvimento das papilas de Montgomery). O examinador vilhão plano encurvado,
te: -1
deve palpar o tecido mamário abaixo da pele prendendo-o entre permanece mole com
firmemente:
o polegar e o indicador, estimando seu diâmetro em milímetros, e dobrado recolhimen-
-2l
selecionando o quadrado apropriado na folha da contagem. to lento Conta-
Sub ou sobre-nutrição do feto pode afetar o tamanho do pei- 2 3 4 gem Do
Peito Pavilhão Sinal
to para a idade gestacional. O efeito materno do estrogênio Pavilhão com-
pode produzir a ginecomastia neonatal do segundo ao quarto comple-
pletamente
tamente cartilagem
dia de vida extra-uterina. encurvado,
encurvado, grossa
firme c/
mole c/ orelha firme
recolhimento
Contagem Física Da Maturidade recolhimento
Sinal instantâneo
-1 0 1 rápido
Aréola lisa 5
Pouco
Imperceptível sem
perceptível
glândula
2 3 4 Conta-
Aréola gem Do
Aréola Borda Sinal
Peito parcialmente
elevada elevada
elevada
Glândula Glândula
Glândula
3-4 mm 5-10 mm
1-2 mm
5

Paulo R. Margotto
Assistência ao Recém-Nascido de Risco

a restrição do crescimento intra-uterino e o pós-datismo, podem


resultar em grandes lábios hipodesenvolvidos e clitóris e pequenos
lábios relativamente proeminentes tardiamente na gestação.

Contagem Física Da Maturidade


Sinal
-1 0 1
Clitóris pro-
Clitóris proe-
Clitóris eminente
minente Lá-
proeminente Pequenos
bios menores
lábios planos lábios
pequenos
evidentes
Conta-
2 3 4
gem Do
Genital Masculino Genital Lábios Sinal
(fêmea) Lábios meno- Lábios maio- maiores
Os testículos fetais começam sua descida da cavidade perito- res e maiores res grandes recobrem
neal à bolsa escrotal aproximadamente na 30a semana de ges- igualmente e menores o clitóris
proeminentes pequenos e lábios
tação. O testículo esquerdo precede o direito e alcança o escroto
menores
geralmente durante a 32 a semana. Ambos os testículos são ge-
5
ralmente palpáveis ao longo dos canais inguinais ao fim da 33
a - 34 a semana. Simultaneamente, a pele escrotal engrossa e
desenvolve rugas mais profundas e mais numerosas.

Contagem Física Da Maturidade


Sinal
-1 0 1
Testículo Testículo
Escroto fora da bolsa no canal
plano, liso escrotal superior,
Sem rugas rugas raras Conta-
2 3 4 gem Do
Genital Sinal
Testículo Bolsa escro-
(macho) Testículos na
descendo, tal em pên-
bolsa rugas
poucas dulo rugas
bem visíveis
78 rugas‘ profundas
5
Resultado

Usar esta ficha da contagem avaliar a maturidade do gesta-


cional de seu bebê. Na extremidade do exame, a contagem total
determina a maturidade do gestacional nas semanas.

Genital Feminino

Para examinar a menina, os quadris devem ser parcialmente


abduzidos, isto é, a aproximadamente 45° da horizontal com o RN
em supino. A abdução exagerada pode fazer com que o clitóris e os
pequenos lábios pareçam mais proeminentes. Por outro lado, a adu-
ção pode fazer com que os grandes lábios cubra essas estruturas.
No prematuro extremo, os lábios são planos e o clitóris é muito
proeminente e pode assemelhar-se ao falo masculino. Enquanto
a maturação progride, o clitóris torna-se menos proeminente e os
pequenos lábios tornam-se mais proeminentes. Aproximando o
termo, o clitóris e os pequenos lábios retraem e podem ser envol-
vidos pelo desenvolvimento dos grandes lábios.
Os grandes lábios contem gordura e seu tamanho é afetado pela
nutrição intra-uterina. A Sobre-nutrição pode resultar no desenvol-
vimento precoce dos grandes lábios. Por outro lado, a subnutrição,
Capitulo 2 Assistência ao Recém-Nascido

Contagem Total De Neuromuscular


Sinal Contagem Do Sinal
-1 0 1 2 3 4 5

Postura

Ângulo de
Flexão do  
punho

Retração do
   
braço

Ângulo
Popliteo

Sinal do
 
Xale

Calcanhar à
 
orelha

Contagem Física Total Da Maturidade Contagem


Sinal
-1 0 1 2 3 4 5 Do Sinal
Rash ou
Pegajosa, gelatinosa, Homogenea- descama- Descamação Apergaminhada, Coriácea, fissu-
Pele friável, vermelha, mente rosa, ção superfi- grosseira, fissuras profun- ras profundas,
transparente translúcida  veias visíveis cial poucas veias raras das, sem vasos enrugada
veias

Na maior
79
Lanugo Nenhum Escasso   Abundante Lanugo fino Áreas calvas  
parte calva
 
 Calcanhar-
Super- >50 Sulcos na Sulcos nos Sulcos em toda
dedo do pé Marcas
fície Milímetro superfície 2/3 anterio- a superfície
40-50mm: -1 tênues
Plantar sem marcas anterior res plantar
<40mm: -2
Aréola
Aréola ele-
parcialmen- Borda elevada
Pouco Aréola lisa vada
Peito Imperceptível te elevada Glândula
perceptível sem glândula Glândula
Glândula 5-10 mm
3-4 mm
1-2 mm
Pavilhão Pavilhão
Pavilhão
Pálpebras comple- comple-
Pálpebras parcialmente
abertas pa- tamente tamente Cartilagem
Olho/ fundidas encurvado,
vilhão plano encurvado, encurvado, grossa  
orelha frouxamente: -1 mole com
permanece mole c/reco- firme c/ orelha firme
firmemente: -2 recolhimento
dobrado lhimento recolhimento
lento
rápido instantâneo
Testículo Testículo Testículo Bolsa escrotal
Testículos na
Genital Escroto fora da bol- no canal descendo, em
bolsa rugas  
(macho) plano, liso sa escrotal superior, poucas pêndulo rugas
bem visíveis
Sem rugas rugas raras rugas profundas
Lábios
Clitóris Clitóris
menores Lábios maio- Lábios maiores
Clitóris proemi- proeminen- proeminente
Genital e maiores res grandes recobrem o
nente, lábios te Lábios Pequenos  
(fêmea) igualmente e menores clitóris e lábios
planos menores lábios evi-
proeminen- pequenos menores
pequenos dentes
tes

Paulo R. Margotto
Assistência ao Recém-Nascido de Risco

Avaliação da Maturidade:

Total Score
Semanas
(Neuromuscular + Physical)
-10 20
-5 22
0 24
5 26
10 28
15 30
20 32
25 34
30 36
35 38
40 40
45 42
50 44

Classificação Do Recém-Nascido

Qualquer dos métodos usados para obter a idade gestacional


permite classificar os RN em:
Pré-termos: idade gestacional inferior a 37semanas
A termo: idade gestacional entre 37 e 41 semanas e 6 dias
Pós-termo: idade gestacional igual ou maior que 42 semanas
Quando associamos o peso à idade gestacional, o R.N. é classifica-
do segundo o seu crescimento intra-uterino em (veja figura a seguir):

•RN Grande para a Idade Gestacional (GIG):


Peso acima do percentil 90
80 •RN Adequado para a Id. Gestacional (AIG):
Peso entre o percentil 10 e 90
•RN Pequeno para a Idade Gestacional (PIG):
Peso abaixo do percentil 10

Margotto PR, 1995

Adotamos na Unidade de Neonatologia do Hospital Regional da


Asa Sul (HRAS) o padrão de crescimento intra-uterino elaborado
por Margotto PR, estudo este feito com uma população de RN
saudáveis entre 29 e 44 semanas nascidas na Maternidade do
HRAS (8.271 RN vivos entre 1/07/89 a 1/3/91) sendo reduzido
para 4.413 RN após a exclusão dos principais fatores interferen-
tes no crescimento intra-uterino (Figura 1 e Tabelas 1 a 7).
Capitulo 2 Assistência ao Recém-Nascido

81

Paulo R. Margotto
Assistência ao Recém-Nascido de Risco

82
Capitulo 2 Assistência ao Recém-Nascido

83

Paulo R. Margotto
Assistência ao Recém-Nascido de Risco

Restrição Do Crescimento Intrauterino (RCIU) •Insuficiente ganho ponderal materno


•Sangramento persistente no 2o trimestre de gestação
A freqüência do pequeno para idade gestacional (PIG) está •Consumo de álcool
entre 10 e 15% dos nascimentos. Nos países subdesenvolvidos, •Desnutrição materna.
2/3 dos RN do baixo peso (peso inferior a 2500 g), apresentam
restrição do crescimento intrauterino. Os fatores de risco mais De acordo com o tempo em que se teve início o insulto perina-
comumente associados são os seguintes: tal, poderá haver, também, comprometimento da estatura e do
perímetro cefálico (PC).
•Hábito de fumar Peso, estatura e PC:
•Hipertensão arterial crônica ou gestacional diferentes tempos em que ocorrem os picos de crescimento
•Gestação múltipla
•Antecedentes de RN PIG
•Infecções perinatais crônicas (Rubéola, Citomegalia,
•Oxoplasmose, Doença de Chagas) Estatura, PC: 20a semana Peso: 33a semana
(fenômenos do 2o trimestre) (fenômenos do 3o Trimestre)
•Anomalias congênitas

84
Capitulo 2 Assistência ao Recém-Nascido

Para o RN GIG:

ter atingido 40 semanas.


Exemplo: RN com idade gestacional de 29 semanas. Transcor-
Crescimento Da Placenta ridos 12 semanas, a sua Igpc é: 29 + 12 = 41 semanas e a IGc é
de 1 semana (é como se ele tivesse, 7 dias de vida se não tivesse
O crescimento placentário cessa quando o feto e a placenta nascido prematuro).
atingem, respectivamente 2300 g e 300g (sem cordão e mem- Então: IGc = IGpc – 40
branas), aproximadamente após a 36a semana da gestação.
O maior interesse em avaliar o peso da placenta consiste em Curvas De Crescimento Intra-Uterino
detectar discrepância entre o peso placentário e o fetal, em par-
ticular nos RN com RCIU: Margotto PR. - J Pediatr (Rio J)71:11, 1995 85
PIG e peso da placenta
Curva Da Placenta

Placenta pequena Placenta Adequada Placenta Grande


(<P10) (P10 e P90) (>P 90)

Insuficiência Placentária Malformações Infecção Congênita

Estudo realizado por Margotto PR, Rocha. MD e França EM em


200 RN no Setor de Terapia Intensiva da Unidade de Neonato-
logia do Hospital Regional da Asa Sul com as suas respectivas
placentas observamos associações significativas entre anemia
materna e placenta PIG (RR = 3,90 IC 95%: 1,42 - 10,69) RN PIG
com placenta PIG e doença hipertensiva especifica de gravidez
(RR = 4,16 IC 95%: 2,23 - 7,78), assim como com os achados
anátomo-patológico(RR = 8,7 IC 95%: 4,67 - 16,21). RN GIG com
placenta GIG e hipoglicemia (RR = 10,2 IC 95%: 4,94 - 20,32), RN
PIG com placenta GIG/AIG e infecção inespecífica (RR = 1,62 - IC
95%: 1,10 - 2,40).
Portanto, é necessário que o médico que assiste o RN, em es-
pecial na Sala de Parto, tenha o conhecimento das associações
de alterações do crescimento fetal e placentário para uma ade-
quada assistência destes RN e a correlação direta destas asso-
ciações com patologias perinatais.
Observações:
Idade Gestacional pós-concepcional:
(IGpc): Tempo transcorrido desde o nascimento do bebê (Idade
Gestacional + tempo em semanas de vida pós-natal).
Idade Gestacional Corrigida:
(IGc): Tempo transcorrido em semanas após o bebê prematuro

Paulo R. Margotto
Assistência ao Recém-Nascido de Risco

Curva De Crescimento

Bibliografia
Curva De Peso
• Margotto PR. Crescimento intra-uterino: Percentis de peso, estatura e perímetro cefálico
ao nascer de RN únicos de gestação normais e seus correspondentes pesos placentários
em diferentes períodos gestacionais. Tese de Doutorado. CLAP/OMS, 1991
• Capurro H, Korichzky S, Fonseca O, Caldeiro-Barcia R. A simplified method for diagnosis of
gestational age in the newborn enfant. J Pediatr 93:120,1978
• Dubowitz LMS, Dubowitz V, Goldberg C. Clinical assessment of gestational age in the new-
born infant. J Pediatr 77:1,1970
• Fescina RH, Lastra L GL, Martinez MHZ, Bertone AG, Schwarcz RC. Evaluación de deferen-
tes metodos para estimar la edad gestacional. Obstet. Ginecol Latin Amer. - Jul. 237,1984
• Martell M, Fescina RH, Martenez E, Bolívar N. Estimation of gestacional age by the length
of the dorsal spine. J Perinat Med 25: 168, 1997.
86 • Margotto PR. Curvas de crescimento intra-uterino: estudo de 4.413 recém-nascido únicos
de gestações normais. J Pediatr (Rio) 75: 11,1995
• Margotto PR, Rocha MD, França EM. Significado perinatal do peso da placenta e suas alte-
rações anátomo-patológicas. 3ª Jornada de Médicos Residentes do HMIB - 4-6/11/98. In:
Margotto PR. Boletim Informativo Pediátrico - BIP (Brasília), Nº 62, pg 186, 1999
• Constantine NA, Kraemer HC, Kendall - Tackett KA, Bennet FC, Tyson JE, Gross RT. Use of
physical and neurologic observations in assessment of gestational age in low birth weight
infants. J Pediatr 110: 921, 1987
• Donovan NA, Kraemer HC, Kendall-Tackett KA, Bennet FC, Tyson JE, Gross, RT. Use of phy-
sical and neurologic observations in assessment of gestational age in low birth weight
infants. J Pediatr 110: 921, 1987
• Margotto PR. Curvas de crescimento intra-uterino: uso de curvas locais (Editorial). J Pediatr
(Rio) 77: 153, 2001
• Ballard JN, Novak KK, Driver M. A simplified score for assessment of fetal maturation of
newborn infant. J Pediatr 95: 769-774, 1979.
• Ballard JN, Koury JC, Wedig K, Wang I, Eilers-Walsman BL, Lipp R . New Ballard Score ex-
panded to include extremely premature infants. J Pediatr 119: 417-423, 1991 Disponível
em www.paulomargotto.com.br (Idade Gestacional).
• Donovan ET, Tysan JE. Inacouracy of Ballard score before 28 week’s gestation. J Pediatr
135: 147-52, 1999.
• Pessoto MA, Marba STM. Apêndices (Método do New Ballard). IN. Marba STM, Filho Me-
zzacappa F. Manual de Neonatologia ,UNICAMP, Revinter, Rio de Janeiro, ,pg 372, 1998

Curva Ponderal
Capitulo 2 Assistência ao Recém-Nascido

2.4 ALOJAMENTO CONJUNTO PARA BEBÊS SAUDÁVEIS


E DE CUIDADOS ESPECIAIS/UNIDADE CANGURU

Nilcéia Peclat Lessa ,Rosângela Cândido Marinho, Giane Maria Ce-


zar, Maria Izabel de Souza Melo, Miza Maria B.A.Vidigal

Introdução Definição

Até o início do século passado, o lugar natural dos recém-nasci- Sistema de assistência hospitalar prestada a mãe e ao recém-
dos era junto de suas mães, já que nasciam em suas próprias ca- nascido, por uma equipe multidisciplinar, que consiste em colo-
sas. Os hospitais existentes tinham tão poucos recursos técnicos car o recém-nascido junto com sua mãe, 24 horas por dia, num
que faziam pouco a mais do que era feito na própria residência mesmo ambiente. Deve ser iniciado o mais precocemente pos-
dos pacientes. Neste contexto, mesmo os grandes hospitais que sível, desde o nascimento (sala de parto) até a alta hospitalar.
iam surgindo com o desenvolvimento das ciências médicas, eram
construídos sem locais destinados aos recém-nascidos. Objetivos
Crê-se que o primeiro berçário foi construído em 1893, em Paris,
destinado aos bebês “débeis”, por Madame Henry, enfermeira che- • Promover o aleitamento materno
fe da “Casa de Partos”, onde já se usava incubadoras rudimentares. O sistema de Berçário tradicional separa o RN de sua mãe im-
Este berçário tomou impulso anos mais tarde com o obstetra fran- pedindo o aleitamento em livre demanda, contribuindo para o
cês Pierre Budim, considerado um dos pais da Neonatologia. Um de aumento nos índices de desmame.
seus maiores legados foi a constatação de que crianças não ama- Em sistema de Alojamento Conjunto (AC), os RN mamam com
mentadas ao seio ficavam sujeitas a afecções do tubo digestivo e as mais freqüência o que leva à apojadura mais precoce e ao ple-
que não recebiam carinho da mãe eram mais sujeitas ao abandono. no estabelecimento da lactação antes da alta. É nos primeiros
No início do século XX, já havia promissoras fórmulas lácteas dias pós-parto que se evidenciam as dificuldades circunstanciais
para alimentar RN internados e progressos satisfatórios foram con- (fissuras, pega incorreta, mamilos planos, etc) as quais poderão
seguidos com as incubadoras, visando isolar e aquecer os recém- ser vencidas com o auxilio de pessoal especializado e o apto a
nascidos. Essas novas técnicas deram credibilidade às instituições, detectá-las.
havendo então, disseminação de medidas rigorosas de isolamento A amamentação precoce provoca a contração do útero e de
com o intuito de reduzir o manuseio, as visitas e, consequentemen- seus vasos, atuando como profilaxia nas hemorragias pós-parto,
te, a contaminação dos RN, o que levou a um definitivo afastamento diminuindo o risco de anemia e infecção poerperal. 87
entre mães e filhos, até mesmo dos considerados saudáveis.
Nos anos 40, a sociedade estava se voltando para a saúde • Supervisão da adaptação à vida extra-uterina
mental e, pediatras e psiquiatras, apresentaram trabalhos sobre A mãe é a pessoa mais atenta no que diz respeito ao seu RN,
distúrbios psicológicos da mãe e bebê, confirmando a suspei- sendo de grande auxilio na detecção precoce de distúrbios que o
ta de que a separação logo após o nascimento deixa as mães mesmo possa vir a apresentar, permitindo a pronta intervenção
despreparadas para cuidar e amamentar seus filhos, bem como médica (apnéia, taquipnéia, cianose, hipoglicemias, etc).
bebês insatisfeitos, levando a repercussão negativa em seu de-
senvolvimento emocional futuro. • Favorecimento do vínculo mãe-filho
Com o propósito de humanizar o nascimento, promover o alei- A mãe é o principal agente de estimulação do bebê, uma vez
tamento e trazer o bebê para junto da mãe foi criado em 1946 o que o contato entre os dois é intimo e freqüente. O AC permite
projeto “Alojamento Conjunto” por Edith Jackson, no Grace New essa interação favorecendo o estabelecimento de vínculos afe-
Haven Hospital. Esse experimento teve resultados positivos com tivos, indispensáveis para o desenvolvimento afetivo-emocional
grande repercussão entre os pais, a comunidade médica e a so- e social, ao longo de toda a infância.
ciedade em geral que, então, passou a insurgir contra os hospitais
que insistiam em manter os RN totalmente isolados, renegando a • Redução na incidência de infecção no RN
“promiscuidade” de mães e filhos. Estava instituído de forma defi- O AC retira o RN de dentro dos Berçários tradicionais, em ge-
nitiva o “Alojamento Conjunto”. ral muito populosos, diminuindo suas chances de colonização
No Brasil, a primeira experiência de implantação e utilização e infecção por germes hospitalares. Além disso, ao favorecer
do Alojamento Conjunto se deu em 1971 no Primeiro Hospital o aleitamento, contribui para a melhoria precoce de seu perfil
Distrital de Brasília (hoje HBDF) por Ernesto Silva, apesar de já imunológico graças à transmissão de agentes imunologicamente
existirem Santas Casas de Misericórdia nas cidades do interior competentes via leite materno.
que mantinham os bebês com as mães.
Em 1977, a 5ª Reunião de Perinatologia do Ministério da Saú- • Promoção do bem-estar familiar
de recomendou que os bebês sem risco deveriam ficar ao lado de Ao permitir visitas de outros membros familiares, o AC ajuda a
suas mães e não mais em berçários. inserir o novo membro, no contexto familiar, melhorando a qua-
Em 1982 foi realizado o I Encontro sobre Alojamento Conjunto lidade de seu acolhimento na chegada ao lar, e principalmente,
em Brasília, criando as normas básicas para a organização do a perfeita integração do trinômio pai-mãe-filho. Favorece o inter-
sistema de Alojamento Conjunto a serem cumpridas por todas as câmbio biopsicossocial entre a mãe, a criança e os demais mem-
unidades hospitalares do País. bros da família, reforçando a unidade familiar.
Finalmente em 1993, foi feita a portaria ministerial (MS/GM nº. Possibilita orientação à mãe e ao acompanhante (familiar) pela
1.016, de 26 de agosto) publicada no Diário Oficial da União nº. 167, Equipe Interdisciplinar.
de 01/09/1993 aprovando as normas básicas para a implantação É no AC que a mãe receberá orientações adequadas para que
do sistema de alojamento conjunto em todo o território nacional. se torne autoconfiante a fim de cuidar de seu bebê integralmente

Paulo R. Margotto
Assistência ao Recém-Nascido de Risco

(higienização, cuidados com o coto umbilical, alimentação, etc). Normas Gerais


Deverá também ser conscientizada a respeito do possível surgi-
mento de sentimentos dúbios (ansiedade, cansaço, medo, baixa Os cuidados ao recém nascido como exame físico, banho e
auto-estima, etc) e receber ajuda para saber como lidar com eles, higienização, devem ser realizados no próprio setor de AC. Pro-
eliminando quaisquer sentimentos de culpa. cedimentos como coletas de sangue e curativos serão realizados
Ao participar ativamente da visita médica para o exame do bebê, num local reservado.
a mãe tem a oportunidade de trocar informações com o pediatra, As mães serão gradualmente treinadas pela equipe quanto à
tirar dúvidas e compreender melhor o comportamento do mesmo. amamentação por livre demanda, higienização, cuidados com o
coto umbilical, etc..
• Favorece trocas de experiência entre as mães; A visita médica deve ser diária, pela manhã, com reavaliação
• Aumenta o número de crianças acompanhadas no serviço. dos bebês de risco à tarde e/ou noite (RN com risco para hipoglice-
• Para a equipe de saúde mia, icterícia precoce, mães com dificuldade para amamentar, etc.

Permite o treinamento da equipe favorecendo o conceito da Alta Hospitalar


superioridade da saúde familiar sobre os cuidados individuais;
diminui o risco de infecção hospitalar e otimiza a utilização das A alta deverá ocorrer no mínimo com 48 horas de vida, após es-
unidades de risco neonatal; permite uma melhor integração en- tabelecimento da lactação plena e sucção adequada. Nos casos
tre as equipes obstétricas e neonatais. em que houver incompatibilidade Rh ou ABO com Coombs direto
positivo a alta ocorrerá após 72 horas de observação.
Admissão RN pré-termo com peso em torno de 2350 g deverão aguar-
dar a curva de peso estabilizar ou iniciar ascensão, com boa
O binômio mãe-filho ingressará no setor de Alojamento Conjunto sucção e mão com boa lactação.
procedente da Sala de Parto ou do Setor de Cuidados Intermediários, É importante que na alta hospitalar a família esteja segu-
na ausência de patologia que contra indique seu contato imediato. ra quanto aos cuidados com o recém-nascido e que a equipe
interdisciplinar durante a sua internação hospitalar consiga
Mães Atendidas no Alojamento Conjunto transmitir suas orientações e cuidados da mesma forma para
que não gere dúvidas no futuro.
Mulheres que no pós-parto se encontram em boas condições Segundo MS, segue algumas atribuições da equipe de saúde:
de saúde física e mental.
A permanência do binômio em Alojamento Conjunto deve ser • Não dar ao recém-nascido nenhum outro alimento ou be-
dinâmica, permitindo que o Alojamento Conjunto seja iniciado, bida, além do leite materno, a não ser que seja indicado
suspenso e recomeçado a qualquer hora, dependendo das con- pelo médico;
88 dições físicas e emocionais da mãe e do recém-nascido. • Não dar bicos artificiais ou chupetas às crianças ama-
Ao ingressar no Alojamento Conjunto, a mãe deverá receber in- mentadas ao seio;
formações verbais e por escrito sobre o funcionamento deste setor. • Proibir que as mães amamentem outros recém-nascidos
que não os seus (amamentação cruzada);
RN Atendidos no Alojamento Conjunto Normal • Orientar a participação gradual da mãe no atendimento
ao recém-nascido;
• RN com boa vitalidade. • Realizar visita diária às puérperas, esclarecendo, orien-
• Peso ≥ 2000 g. tando, e dando segurança à mãe quanto ao seu estado
• Idade Gestacional ≥ 35 semanas. e ao de seu filho;
• Boa capacidade de sucção e deglutição. • Ministrar às mães palestras e aulas abordando conceitos
de higiene, controle de saúde e nutrição;
Estes critérios não são estáticos estando na dependência da • Participar do treinamento em serviço, como condição bá-
estrutura do serviço e das características do paciente. Se houver sica para garantir a qualidade da assistência;
pessoal devidamente treinado para dar assistência em situações • Na alta preencher o cartão da criança e orientação para acom-
especiais nada impede que um RN de menor peso, porém peque- panhamento no Centro de Saúde mais próximo de sua casa.
no para idade gestacional (PIG) permaneça ao lado de sua mãe,
assim como RN portadores de malformações congênitas que não Na alta deverá ser realizado dois testes;
impliquem em risco para sua vida. Esses RN e suas mães devem
ser colocados em enfermarias individuais, sempre que possível, • o Teste do pezinho
onde receberão atenção especial de médicos e psicólogos. • o Teste do coraçãozinho, através da realização da oxime-
De acordo com o Ministério da Saúde (MS), sugere-se que pe- tria de pulso. O tempo gasto na sua realização é inferior a
riodicamente sejam realizadas as seguintes avaliações: 4 minutos. Deve haver um treinamento dos profissionais
antes da sua implantação.
• Dos resultados quanto ao incentivo do aleitamento materno;
• Do desempenho da equipe; Cerca de 1 a 2 de cada 1000 recém-nascidos vivos apresentam
• Da aceitação do sistema pela mãe e familiares; cardiopatia congênita crítica.. Em torno de 30% destes recém-nas-
• Dos resultados quanto à morbi-mortalidade neonatal cidos recebem alta hospitalar sem o diagnóstico, e evoluem para
dentro do serviço; choque, hipóxia ou óbito precoce, antes de receber tratamento
• Dos conhecimentos maternos quanto aos cuidados das adequado.
crianças; Local de aferição: membro superior direito e em um dos mem-
bros inferiores
Para a adequada aferição, é necessário que o recém-nascido
esteja com as extremidades aquecidas e o monitor evidencie
uma onda de traçado homogêneo.
Capitulo 2 Assistência ao Recém-Nascido

Momento da aferição: Entre 24 e 48 horas de vida, antes da sultado se confirme, um ecocardiograma deverá ser realizado
alta hospitalar. dentro das 24 horas seguintes.
Resultado normal: Saturação periférica de O2 (SatO2) maior ou Limitações: Este teste apresenta sensibilidade de 75% e espe-
igual a 95% em ambas as medidas (membro superior direito e cificidade de 99%. Sendo assim, algumas cardiopatias críticas po-
membro inferior) e diferença menor que 3% entre as medidas do dem não ser detectadas através dele, principalmente aquelas do
membro superior direito e membro inferior. tipo coarctação de aorta. A realização deste teste não descarta a
Resultado anormal: Caso qualquer medida da SatO2 seja me- necessidade de realização de exame físico minucioso e detalhado
nor que 95% ou houver uma diferença igual ou maior que 3% em todo recém-nascido, antes da alta hospitalar
entre as medidas do membro superior direito e membro inferior,
uma nova aferição deverá ser realizada após 1 hora. Caso o re-

89

Alojamento Conjunto para RN Especiais

Definição

Área do Alojamento Conjunto específica para recém-nascidos • RN com IG ≥ 33 S.


necessitando de cuidados especiais, porém estáveis e em oxi- • RN com Peso ≥ 1450g (com ou sem dieta por sonda dro-
gênio sob cateter com oximetria de pulso nos casos de displasia gátrica).
broncopulmonar em fase de retirada gradual do mesmo. • RN em tratamento de distúrbios metabólicos.
• RN em tratamento de infecção inespecífica, porém já estável.
Admissão • RN em tratamento de infecção congênita específica (sífilis em
antibióticoterapia venosa, retinopatia da prématuridade, etc).
RN que estiveram moderada ou gravemente enfermos, mas que • RN portador de malformação que não permita sua per-
tiveram sua condição clínica estabilizada não mais necessitando de manência em AC normal.
UTIN, não devem ser privados da companhia diuturna de sua mãe, • Em uso de Oxigênio, oximetria de pulso
devendo ser transferidos para um AC especial onde receberão cui- • Cardiopatas
dados semi-intensivos de médico e de enfermagem especializada. • Pacientes cirúrgicos (gastrosquise, colostomias, hérnia
A participação ativa da mãe e do pai (enquanto visita não deve diafragmática, etc..)
ser restringida) em muito contribuirá para a pronta recuperação • Asfixicos e neurológicos
do RN, dando tranqüilidade à família e ao pediatra, no momento
da alta. E permitindo que a mãe seja treinada e supervisionada Grande é o número de bebês que podem e devem se tratados
pela equipe quanto ao cuidado de seu bebê (prematuros, colos- ao lado de suas mães na dependência da estrutura do serviço e
tomias etc...). Quando irá adquirir segurança para transição da a equipe não deve medir esforços para que a separação do binô-
UTIN até o domicílio. mio (mãe-filho) seja a mais breve possível.

Paulo R. Margotto
Assistência ao Recém-Nascido de Risco

Critérios de Alta • O estímulo ao reflexo de sucção ao peito, necessário para


o aleitamento materno e para estimular a contratilidade
Para Recém-nascidos pré-termos: uterina, logo que possível;
• A garantia de acesso aos cuidados especializados neces-
• Idade gestacional ≥35 semanas, sários para a atenção ao recém-nascido em risco.
• Peso ≥1800 g. (Embora, segundo as normas do Ministé-
rio da Saúde para o Atendimento Humanizado do RN de A promoção desses aspectos inclui o respeito às condições físi-
baixo peso/Método Canguru, o peso mínimo seja de 1600 cas e psicológicas da mulher diante do nascimento.
g, esse critério foi consenso entre os colegas do nosso Nessa linha de pensamento, desde o início dos anos 80, após expe-
serviço devido à nossa clientela ser do entorno e cidades riência pioneira realizada na Colômbia, vários pediatras têm atribuído
próximas de Brasília, podendo haver exceções a serem importância especial, no aspecto psicológico, ao contato pele a pele
avaliadas caso a caso) entre a mãe e seu bebê. Assim, espera-se que haja um vínculo mãe-fi-
• Curva ponderal ascendente com ganho superior à 15g lho muito maior, que auxilie o desenvolvimento psicomotor dos recém-
por quilo por dia por um período mínimo de 3 dias conse- nascidos, notadamente os de baixo peso, e promova o aleitamento
cutivos, preferencialmente em seio exclusivo. materno. Conhecido como Método Canguru, tal forma de atendimen-
• Bom controle térmico em berço comum to tem sido utilizada em unidades de saúde também em nosso país.
• Ausência de apnéia há pelo 5 dias do episódio em uso
ou não de cafeína Definição
• Estabilidade Clínica
• Ausência da necessidade de medicação endovenosa. “Método Canguru” é um tipo de assistência neonatal que impli-
• Tolerância alimentar adequada por via oral, sem cianose, ca contato pele a pele precoce entre a mãe e o recém-nascido de
engasgos ou dificuldade respiratória. Em casos excep- baixo peso, de forma crescente e pelo tempo que ambos enten-
cionais os bebês poderão ter alta com dieta por sonda derem ser prazeroso e suficiente, permitindo, dessa forma, uma
orogástrica, enteral, ou gastrostomia. maior participação dos pais no cuidado a seu recém-nascido.
A alta deve ser planejada pela equipe interdisciplinar da Uni- A posição canguru consiste em manter o recém-nascido de
dade de Risco Intermediário e requer o preparo dos familiares ou baixo peso, ligeiramente vestido, em decúbito prono, na posição
responsáveis pelo bebê. Preparo tal que garanta que RN tenha a vertical, contra o peito do adulto.
mesma qualidade de cuidado do hospital em seu domicílio. Assim, Só serão considerados como Método Canguru os sistemas
estes pacientes deverão receber o resumo de alta, tabela de peso, que permitam o contato precoce, realizado de maneira orienta-
resultados dos exames e do teste da orelhinha, cartão da criança da, por livre escolha da família, de forma crescente e segura e
devidamente preenchido, receita (medicação oral), orientações so- acompanhado de suporte assistencial por uma equipe de saú-
bre dieta, retorno agendado no ambulatório de prematuros/cangu- de adequadamente treinada.
90 ru, oftalmologia (segmento de ROP) e vacinação já em andamento.
Vantagens
Unidade Canguru
• Aumento do vínculo mãe-filho (diminuindo o risco de
Em todo o mundo, nascem anualmente 20 milhões de crianças abandono, negligência e maus tratos);
prematuras e com baixo peso. Destas, um terço morre antes de • Menor tempo de separação mãe-filho, evitando longos
completar 1 ano de vida. períodos sem estimulação sensorial:
No Brasil, a primeira causa de mortalidade infantil são as afec- • Estímulo ao aleitamento materno, favorecendo maior fre-
ções perinatais, que compreendem os problemas respiratórios, a qüência, precocidade e duração;
asfixia ao nascer e as infecções, mais comuns em crianças prema- • Maior competência e confiança dos pais no manuseio de
turas e de baixo peso. Além disso, muitos bebês são acometidos de seu filho de baixo peso, mesmo após a alta hospitalar;
distúrbios metabólicos, dificuldade em alimentar-se e para regular a • Melhor controle térmico;
temperatura corporal. • Menor número de recém-nascidos em unidades de cuida-
O Brasil hoje vem trabalhando com a visão paradigma, que é dos intermediários, devido à maior rotatividade de leitos;
a da atenção humanizada à criança, à mãe e à família, respei- • Melhor relacionamento da família com a equipe de saúde;
tando-as em suas características e individualidades (consulte o • Diminuição da infecção hospitalar;
capítulo Atenção Humanizada ao Recém-Nascido) • Menor permanência hospitalar.
A humanização do nascimento, por sua vez, compreende ações • Favorece o ganho de peso;
desde pré-natal, em que todo o esforço para evitar condutas intem- • Previne apnéia;
pestivas e agressivas para o bebê deve ser realizado. A atenção ao • Bebês mais calmos;
recém-nascido deverá caracterizar-se pela segurança técnica da • Funciona como medida anti-refluxo, uma vez que o bebê
atuação profissional e condições hospitalares adequadas, aliadas é favorecido pela posição:
à suavidade no toque durante a execução de todos os cuidados
prestados. Especial enfoque deve ser dado ao conhecimento do População a ser Atendida
psiquismo fetal, da mãe e da família. Trabalho importante também
deve ser desenvolvido com a equipe de saúde, oferecendo-lhe me- • Gestantes com situações clínicas ou obstétricas com
canismos para melhor qualidade no trabalho interdisciplinar. maior risco para o nascimento de crianças de baixo peso.
• Recém-nascidos de baixo peso, desde o momento de ad-
A equipe responsável pela assistência ao recém-nascido deve- missão na Unidade Neonatal até sua alta hospitalar, quando
rá ser habilitada para promover: deverão ser acompanhados por ambulatório especializado.
• Mães e pais que, com suporte da equipe de saúde, deve-
• A aproximação, o mais precocemente possível, entre a rão ter contato com seu filho o mais breve possível e re-
mãe e o bebê para fortalecer o vínculo afetivo garantindo ceber adequada orientação para participar do programa.
o alojamento conjunto, desde que possível;
Capitulo 2 Assistência ao Recém-Nascido

Aplicação do Método Da mãe:

O método é desenvolvido em três etapas: • Certeza de que quer participar desse tipo de assistência,
1º etapa ( Na UTI Neonatal) se tem disponibilidade de tempo e existência de um ser-
Período após o nascimento de um recém-nascido de baixo peso viço social de apoio;
que, impossibilitado de ir para o alojamento conjunto, necessita • Certeza de que a decisão seja tomada por meio de con-
de procedimentos deverão seguir os seguintes cuidados especiais: senso entre mãe, familiares e profissionais da saúde;
• Capacidade de reconhecer as situações de risco do re-
• Orientar a mãe e a família sobre as condições de saúde cém-nascido (mudança de coloração da pele, pausas res-
da criança, ressaltando as vantagens do método. Estimu- piratórias, regurgitações e diminuição de movimentação);
lar o livre e precoce acesso dos pais à Unidade Neonatal, • Conhecimento e habilidade para colocação da criança
proporcionando sempre que possível o contato tátil com em posição canguru.
a criança. É importante que essas visitas sejam acom-
panhadas pela equipe assistencial, para que orientações Da criança:
como medidas de controle de infecção (lavagem ade-
quada das mãos), informações sobre os procedimentos • Estabilidade clínica;
hospitalares utilizados e as particularidades ambientais • Nutrição enteral plena (peito, sonda gástrica ou copo);
possam ser mais bem compreendidas pela família. • Peso mínimo de 1.250g;
• Ganho de peso diário maior que 15g.
Nessa etapa deverão ser iniciadas as medidas para estímulo
à amamentação. Dessa forma, ensinam-se os cuidados com as Para que haja ganho de peso, deve-se garantir a amamenta-
mamas, a ordenha manual e a armazenagem do leite ordenhado. ção a cada duas horas no período diurno e a cada três horas no
Deve-se implantar a co-participação da mãe no estímulo à suc- período noturno.
ção e na administração do leite ordenhado, além dos adequados As crianças que não apresentarem ganho adequado de peso
cuidados de higienização. devem realizar complementação láctea com leite posterior da
Nas situações em que as condições clínicas da criança permi- própria mãe, via sonda gástrica ou copo.
tem, deverá ser iniciado o contato pele a pele direto entre mãe A utilização de medicamentos orais (complexo vitamínico,
e criançaprogredindo até a colocação do recém-nascido sobre o medicação contra o refluxo gastroesofágico, xantinas, etc.) não
tórax da mãe ou do pai. contra-indica a permanência nessa enfermaria.
A administração de medicação intravenosa intermitente, atra-
• Ressaltar sempre a importância da atuação da mãe e da vés de dispositivo intravascular periférico, também não contra-
família na recuperação da criança. indica a permanência em posição canguru.
• Após o parto, os primeiros cinco dias deverão ser utilizados São critérios para a alta hospitalar com transferência para 91
para prestar todos esses ensinamentos à mãe e à família. a 3ª etapa:
Portanto, deve ser assegurada à puérpera, a permanência
na unidade hospitalar pelo menos durante esse período, • Mãe segura e bem orientada e familiares conscientes
recebendo todo o suporte assistencial necessário. quanto ao cuidado domiciliar da criança;
• Mãe psicologicamente motivada para dar continuidade
Decorrido esse período, se a criança não preencher os cri- ao trabalho iniciado na maternidade;
térios de entrada na etapa seguinte e houver necessidade da • Compromisso materno e familiar para a realização do
volta da mãe ao domicílio, deverão ser assegurados a puérpera método por 24 horas/dia;
as seguintes condições: • Garantia de retorno freqüente à unidade de saúde;
• Condição de acompanhamento ambulatorial assegura-
• Vinda diária à unidade hospitalar, onde manterá contato da, sendo que na primeira semana a freqüência deve-
com seu filho, receberá orientação e manterá a ordenha rá ser de três consultas; na segunda semana, de duas
do leite; consultas; e na terceira semana e nas seguintes, de pelo
• Auxílio transporte para a vinda diária à unidade de saúde; menos uma consulta até o peso de 2.500g;
• Refeições durante a permanência diurna na unidade • Condição de recorrer à unidade hospitalar de origem a qual-
(lanche pela manhã, almoço e lanche à tarde); quer momento de urgência, quando ainda na terceira etapa
• Espaço adequado para a permanência, que permita des- • Além dos já descritos nos critérios descritos anteriormente
canso e possa ser utilizado para palestras. Esse espaço
servirá também para congraçamento entre mães o que 3ª etapa
propiciará maior confiança materna; Essa etapa consiste no adequado acompanhamento da crian-
• O pai terá acesso à unidade e será estimulada sua parti- ça no ambulatório após a alta.
cipação nas reuniões com a equipe de saúde. São atribuições do ambulatório de acompanhamento:

2ª etapa ( No Alojamento de Cuidados Intermediários) • Realizar exame físico completo da criança tomando como
O recém-nascido encontra-se estabilizado e poderá ficar com referências básicas o grau de desenvolvimento, o ganho
acompanhamento contínuo de sua mãe. Nessa etapa, após o pe- de peso, o comprimento e o perímetro cefálico, levando-
ríodo de adaptação e treinamento realizados na etapa anterior, a se em conta a idade gestacional corrigida;
mãe e a criança estarão aptas a permanecer em enfermaria con- • Avaliar o equilíbrio psicoafetivo entre a criança e a família;
junta, onde a posição canguru será realizada pelo maior tempo • Corrigir as situações de risco, como ganho inadequado
possível. Essa enfermaria funcionará como um “estágio” pré-alta de peso, sinais de refluxo, infecção e apnéias;
hospitalar da mãe e do filho. • Orientar e acompanhar tratamentos especializados,
São critérios de elegibilidade para a permanência nessa enfermaria: como exame oftalmológico, avaliação audiométrica e fi-
sioterapia motora;

Paulo R. Margotto
Assistência ao Recém-Nascido de Risco

• Orientar esquema adequado de imunizações. a vacinação é quando eles se apresentam em fase de ganho de
peso, sem apresentar distúrbios agudos ou patologias graves.
O seguimento ambulatorial deve apresentar as seguintes Bebês prematuros apresentam algumas particularidades
características: em relação à sua suscetibilidade a algumas doenças e ina-
dequada resposta a algumas vacinas. Há que se considerar a
• Ser realizado pela equipe interdisciplinar treinada e fami- aplicação de alguns imunizantes especiais nesses pacientes e
liarizada com o seguimento do recém-nascido de risco; um calendário personalizado deve ser utilizado.
• Observar a periodicidade já referida em item anterior; Uma importante medida de prevenção é vacinar todos os fun-
• Ter agenda aberta, permitindo retorno não agendado cionários da Unidade Neonatal, pais e cuidadores com a vacina
caso a criança necessite; para influenza e com uma dose de reforço da vacina tríplice ace-
• Levar em conta que é a criança que determinará o tempo de lular do tipo adulto, a fim de evitar a transmissão da influenza e
permanência em posição canguru, o que ocorre, de modo da coqueluche ao recém nascido.
geral, quando ela atinge o termo ou o peso de 2.000g; Outra estratégia importante, mas pouco lembrada e pratica-
• Após o peso de 2.500g, o acompanhamento passa a ser da, é a imunização da gestante contra influenza, pois protege
orientado de acordo com as normas para acompanhamento o bebê nos primeiros seis meses de vida, época que ele ainda
de crescimento e desenvolvimento do Ministério da Saúde. não pode receber a vacina.
• Além dos já descritos anteriormente. Essas vacinas, quase todas, estão disponíveis nos centros de
referência de imunobiológicos especiais (CRIE).
O Acompanhamento Ambulatorial Recomendações da Associação Brasileira de Imunizações
(SBIm) – 2010
A terceira etapa do Método Canguru dá continuidade à assis-
tência ao recém-nascido prematuro de baixo peso após a alta Vacinas, Recomendações e Cuidados Especiais
hospitalar. Apesar de, na segunda etapa, não se estipular obriga-
toriedade de tempo em posição canguru, na terceira, por motivo Vacina BCG ID
de segurança, recomenda-se essa posição em tempo integral. Deverá ser aplicada na maternidade, em recém-nascidos com
Portanto, a participação do pai e de outros familiares deverá ser peso maior ou igual a 2000 g. (Poucos estudos mostram eventual
estimulada na colocação da criança em posição canguru. São diminuição da resposta imune ao BCG em menores de 2000g)
emprestados kits cangurus para casa. Vacina Hepatite B (recombinante)
Essa etapa é mais simples em sua organização estrutural, mas Consulte o capítulo de Hepatite B
exige da equipe atenção cuidadosa para o reconhecimento de si- Prevenção da Transmissão perinatal em recém-nascido prema-
tuações de risco imediato (bebê-família) para que uma adequada turos com menos de 2 Kg
intervenção possa ser estabelecida.
92 Um grande desafio nessa fase é a manutenção do aleitamen- Recém-Nascidos de Mães AgHBs Positivas
to materno. Assim, a equipe deve estar adequadamente prepara- Vacina + HBIG Nascimento
da para lidar com as dificuldades que podem surgir. 1ª dose
(0,5 ml IM) (<12 horas)
Vacina 2ª dose 1 mês
Objetivo do Acompanhamento Ambulatorial
Vacina 3ª dose 2 meses
Atribuições do ambulatório Vacina 4ª dose 6 meses

• Garantir a continuidade da assistência ao bebê e a sua Recém-Nascidos de Mães Sem Triagem AgHBs
família.
Vacina + HBIG Nascimento
• Observar e incentivar a realização do método nesse período. 1ª dose
(0,5 ml IM) (<12 horas)
• Avaliar, incentivar, encorajar e apoiar o aleitamento materno.
Dar mais 3 doses
• Realizar exame físico do bebê tomando como referên- Mãe AgHBs positiva 1 mês
da vacina
cias básicas o grau de desenvolvimento, ganho de peso,
A 1ª dose pode ser
estatura e perímetro cefálico, levando em conta a idade Aguardar peso > 2
Mãe AgHBs retardada até 1 mês
gestacional pós-concepção Kg para completar
negativa de idade se a mãe
esquema;
• Realizar ecotransfontanelar / fundo de olho for AgHBs negativa
• Observar a administração dos medicamentos prescritos. HBIG: globulina hiperimune contra o vírus da hepatite B; IM: in-
• Avaliar o equilíbrio psicoafetivo entre o bebê e sua família. tramuscular; AgHBs: antígeno da superfície do vírus da hepatite B.
• Detectar e intervir em situações de risco, como ganho de
peso inadequado, sinais de refluxo gastroesofágico, in- Palivizumabe
fecções, apnéias, uso de O2 , etc. Durante o período de circulação do vírus sincicial respiratório
• Orientar e acompanhar tratamentos especializados que em nosso país (março a setembro).
o caso venha requerer É um anticorpo monoclonal contra o vírus sincicial respiratório
• Orientar esquema adequado de imunização. (VSR). É indicado para prematuros com idade gestacional menor
de 28 semanas com até um ano de idade, e para bebês com dis-
Vacinação do Prematuro plasia broncopulmonar e cardiopatas em tratamento clínico nos
últimos seis meses com até dois anos de idade. É recomendado
A sobrevida de bebês prematuros com idade gestacional abaixo para os demais prematuros até o sexto mês de vida, especial-
de 28 semanas tem sido cada vez maior. A hospitalização prolon- mente para aqueles com idade gestacional de 29 a 32semanas,
gada destes bebês, que às vezes permanecem hospitalizados por ou maiores de 32 semanas que apresentem dois ou mais fatores
três meses ou mais, não deve ser um fator limitante para o início de risco: criança institucionalizada, irmão em idade escolar, po-
da vacinação. Os prematuros devem receber suas vacinas segun- luição ambiental, anomalias congênitas de vias aéreas e doen-
do a sua idade cronológica. E o momento adequado para iniciar ças neuromusculares graves.
Capitulo 2 Assistência ao Recém-Nascido

Dose 15 mg/kg de peso, em cinco doses mensais consecuti- Sempre que necessário, a consulta deve ser interdisciplinar, soli-
vas, aplicadas por via intramuscular. citando o profissional em questão ou encaminhado informalmente.
 Vacina pneumocócica 10 (conjugada)
Iniciar o mais precocemente possível (aos dois meses). Res- Natureza das Consultas
peitando a idade cronológica. Bebês pré-termos e de baixo peso
apresentam maior incidência de doença pneumocócica invasiva, Há necessidades de estabelecermos uma sistematização nas
cujo risco aumenta quanto menor a idade gestacional e o peso consultas para que, mais uma vez, possamos anteceder possí-
ao nascimento. Três doses: aos dois, quatro e seis meses e um veis dificuldades ou desvios da normalidade.
reforço aos 15 meses. É importante ficarmos atentos aos seguintes aspectos:
Vacina Influenza (gripe) Sempre iniciar o primeiro contato de retorno à unidade per-
Respeitando a idade cronológica. Duas doses a partir dos seis guntando:
meses com intervalo de 30 dias entre elas.
Vacina Poliomielite • Como foi o primeiro dia de vocês?
Utilizar somente vacina inativada (injetável) em recém-nasci- • Que dúvidas você necessita esclarecer?
dos internados na unidade neonatal. • E o aleitamento, como está?
Vacina oral rotavírus humano G1P1 [8] (atenuada) • Como está o manejo canguru domiciliar?
Por se tratar de vacina de vírus vivos atenuados, a imunização • Não perder a oportunidade de estabelecer laços de con-
contra o rotavírus só deve ser realizada após a alta hospitalar, fiança, de demonstrar o quanto é importante a participa-
respeitando-se a idade limite para administração da primeira ção da família na terceira etapa do manejo canguru e a
dose. Primeira dose: 1 mês e 15 dias a 3 meses e 7 dias. Segun- vital importância do aleitamento exclusivo.
da dose: 3 meses e 7 dias a 5 meses e 15 dias. • Se houver oportunidade, visitar a residência da família
Vacina adsorvida difteria, tétano, pertussis e Haemophilus previamente e, se possível, orienta-la da melhor maneira,
influenzae b (conjugada) não se esquecendo de que se devem respeitar as condi-
Preferencialmente utilizar vacinas acelulares. A utilização de ções socioculturais de cada um.
vacinas acelulares reduz o risco de apnéias e episódios convulsi- • Lembrar-se de rever a realização de exames durante a
vos pós-aplicação da vacina tríplice bacteriana. internação, como TSH/PKU, ultra-som, transfontanela,
Vacina meningocócica C (conjugada) teste da orelhinha, entre outros.
Respeitar idade cronológica
Vacinas MMR e Febre Amarela Primeira consulta
Respeitar a idade cronológica Trabalhar com a demanda da família
Assistência ambulatorial na terceira etapa • Avaliação pondero-estatural
O objetivo principal da avaliação ambulatorial é manter a periodici- • Exame clínico sumário
dade das consultas individualizadas, de acordo com o fator de risco, • Avaliar o equilíbrio psicoafetivo mãe-bebê 93
para que a intervenção, quando necessária, ocorra precocemente, • Diagnóstico, tratamento e orientação
diminuindo a possibilidade de reinternação dos bebês observados. • Enfatizar o aleitamento exclusivo
Periodicidade das consultas • Imunização: anti-hepatite B
Devemos estabelecer critérios baseados no peso de alta da se- • Rever sumário de alta e atentar para controles especiais
gunda etapa, conforme o quadro a seguir, Retornos posteriores,
salvo situações especiais: Segunda consulta
Trabalhar com a demanda da família
Semanas Programação de Retorno • Avaliação pondero-estatural
Primeira semana Três consultas • Exame clínico sumário
• Avaliar o equilíbrio psicoafetivo mãe-bebê
Segunda semana Duas consultas
• Diagnóstico, tratamento e orientação
Terceira semana Uma consulta
• Prevenir risco de anemia da prematuridade
• Prevenir risco da doença metabólica óssea da prematu-
A primeira consulta deve ocorrer 48 horas após a alta ridade
O acompanhamento se dá até o bebê alcançar o peso de • Rever sumário de alta e atentar para controles especiais
2.500g ou ter inserção em ambulatório de seguimento de risco. • Avaliar risco de reinternação

Tipos de Consulta Terceira consulta


Trabalhar coma demanda da família
Devemos ter conhecimento de que não se trata de uma con- • Avaliação pondero-estatural
sulta de puericultura, e sim de um momento de troca, de uma • Exame clínico sumário
atividade na qual vamos pontuar o atendimento com base na • Avaliar o equilíbrio psicoafetivo mãe-bebê
demanda da família. • Diagnóstico, tratamento e orientação
A consulta pode ser individual, quando há apenas uma família- e • Enfatizar o aleitamento exclusivo
bebê – a ser avaliada e orientada, ou coletiva, quando trabalha- • Avaliação com nutricionista, assistente social e psicólogo
mos com mais de uma família – e bebês. O atendimento no primei- • Avaliar risco de reinternação
ro momento é coletivo, baseado nas situações apresentadas pelas
mães. Provocamos uma discussão em grupo sob nossa orienta- Quarta e quinta consultas
ção. Posteriormente, no mesmo ambiente, os bebês são submeti- Trabalhar coma demanda da família
dos a um exame clínico sumário, aferindo dados antropométricos
necessários, e informamos à família individualmente, de acordo
com suas necessidades.

Paulo R. Margotto
Assistência ao Recém-Nascido de Risco

• principal enfoque: consulta de enfermagem Recursos Mínimos para a


• Avaliação pondero-estatural Implantação da Terceira Etapa
• Avaliar o equilíbrio psicoafetivo mãe-bebê
• Enfatizar o aleitamento exclusivo Características do ambulatório
• Palestras educativas com folder explicativo • Ter uma norma escrita sobre o manejo do “bebê canguru”
• Avaliar risco de reinternação em cuidado ambulatorial de fácil acesso para toda a equipe.
• Realização do manejo preferencialmente por profissional
Sexta consulta e demais da equipe de assistência intra-hospitalar (etapa 2).
Trabalhar com a demanda da família • Ter a agenda aberta, permitindo que o bebê possa ser
• Principal enfoque: consulta de enfermagem trazido em caso de necessidade, mesmo que não esteja
• Avaliação pondero-estatural agendado.
• Avaliar o equilíbrio psicoafetivo mãe-bebê • Freqüência de retorno mínima de três consultas na pri-
• Enfatizar o aleitamento exclusivo meira semana; duas na segunda e uma a partir da tercei-
• Palestras educativas com folder explicativo ra semana até o peso de 2.500g (observar que o primeiro
• Realizar encaminhamentos necessários retorno deverá ser obrigatoriamente dentro das primeiras
• Avaliar risco de reinternação 48 horas pós-alta hospitalar).
• Ter um sistema de busca ativa para o bebê que não com-
Sinais de Alerta parece no retorno previsto (através do Serviço Social)
• Ter um sistema de referência / contra-referência com o
• Mudança de coloração da pele (cianose, pele marmórea, sistema de saúde da região.
palidez intensa, icterícia). • Ter em mãos o resumo de alta e evolução durante o pro-
• Pausas respiratórias. grama intra-hospitalar (etapas 1 e 2), além do cartão atu-
• Desconforto respiratório. alizado e últimos exames
• Hipoatividade.
• Irritação intensa. Recursos humanos
• Regurgitação freqüente.
• Vômitos. • Médico pediatra com treinamento no Método Canguru,
• Diminuição ou recusa do seio/dieta. em acompanhamento de bebês de risco, em aleitamento
• Ganho ponderal insuficiente ou perda de peso. materno e em alimentação de bebês prematuros/de bai-
xo peso ao nascer.
Algumas dessas situações clínicas (regurgitação freqüente, • Auxiliar de enfermagem com conhecimento do Método
vômitos, ganho ponderal insuficiente ou perda de peso leve/mo- Canguru e de aleitamento materno.
94 derada) poderão ser criteriosamente manejadas no ambulatório. • Enfermeira responsável com conhecimento do Método
Considerar sempre a reinternação do bebê (na dúvida, uma so- Canguru e de aleitamento materno.
lução intermediária pode ser a observação na unidade por algu- • Possibilidade de assistência dos Serviços de Psicologia e
mas horas enquanto se aguardam, por exemplo, resultados de Assistência Social.
exames laboratoriais).
Recursos físicos e matérias
Reinternação Sala de consulta ambulatorial que obedeça às normas já exis-
tentes para essa área, com:
Após a alta hospitalar e durante o programa ambulatorial (eta-
pa 3), o serviço deverá garantir à família assistência 24 horas por • Maca com possibilidade para elevar cabeceira.
profissional habilitados. • Pia.
Havendo necessidade de reinternação, ela deverá ser pre- • Cadeiras.
ferencialmente no hospital onde o programa é realizado. Não • Mesa.
existindo essa possibilidade, a equipe será responsável pelo • Balança.
adequado encaminhamento desse bebê para unidade de refe- • Estetoscópio.
rência. A família é orientada a procurar o Hospital Regional mais • Otoscópio.
próximo de sua residência. • Lanterna.
• Régua antropométrica.
Causas mais freqüentes de reinternação • Fita métrica.
• Apnéia. • Termômetro.
• Broncoaspiração. • Impressos para encaminhamento/solicitação de exa-
• Problemas respiratórios. (infecção de vias aéreas/pneu- mes/receituário.
monia) • Planilha de controle ambulatorial.
• Diarréias. • Material para avaliação oftalmológica/auditiva.
• Infecção do trato urinário.
• Ganho ponderal insuficiente ou perda de peso. Recomendações
• Anemias graves com necessidade de hemotransfusão. Idealmente, os Serviços que atendem bebês prematuros deve-
• Cardiopatias descompensadas. riam organizar um programa de acompanhamento follow-up com
retornos regulares aos 3,6,9,12,18,24 meses pelo menos. Assim
se poderia garantir, nessa fase mais precoce’ do bebê, um acom-
panhamento mais adequado de seu crescimento e desenvolvi-
mento global. Nesse acompanhamento deveriam ser incluídas
reavaliações oftalmológica e auditiva.
Capitulo 2 Assistência ao Recém-Nascido

Por ocasião da alta do programa, os Serviços que ainda não


possuem um programa de acompanhamento deverão encami-
nhar o bebê para ser acompanhado em outra unidade que possa
recebê-lo (centro de referência ou ambulatório da rede básica –
nesse caso, tentar sensibilizar e treinar um pediatra da rede para
que possa servir de referência para esses bebês).
Follow–up com Equipe multidisciplinar (Consulte O Capítulo
Seguimento Do Recém-Nascido De Risco)

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Paulo R. Margotto
Assistência ao Recém-Nascido de Risco

2.5 ALEITAMENTO MATERNO

Nilcéia Peclat Lessa

Introdução

A espécie humana parece ser geneticamente programada


para a prática da amamentação. Embora se tenham encontrado inclusive de água não sendo necessário complementar,
vasilhames próprios para alimentar crianças, datadas de 2.500 exceto em situações especiais como vomito, diarréia, etc.
a.C. no Egito e que o uso de leite animal para alimentar bebes, • Melhor digestibilidade: menos carga de solutos, melhor
tenha sido descrito já no século XVII, a alimentação artificial tinha relação lactoalbumina/caseína, presença de enzimas
pouco sucesso e as crianças morriam, ou de desnutrição ou de como lípase, protease e amilase. As proteínas do leite
diarréia. A verdade é que a humanidade se mantém quase 100% materno são a alfa-lactoalbumina, lactoferrina, lisozima,
de sua existência, amamentando seus descendentes, apesar de soroalbumina e imunoglobulina. IgA ,IgG e IgM. O leite
ter deixado de ser esta uma pratica universal a partir do século materno é pobre em fenilalanina e tirosina cuja metaboli-
XX devido a influências sócio-culturais. zação é limitada no RN. A leite de vaca tem 3 vezes mais
Há quem afirme que o uso de leite não humano para alimen- proteínas, que metabolizadas liberam altas concentra-
tar crianças “é o maior experimento não controlado envolvendo a ções de uréia o que sobrecarrega os rins relativamente
espécie humana”. Felizmente as transformações genéticas não imaturos do recém-nascido. A proteína predominante é
ocorrem com a mesma rapidez que as mudanças culturais e espe- a caseína (82%) a qual produz coalhos grandes e consis-
ramos mudar a situação da amamentação antes que estas trans- tentes de difícil digestão Contém também betalactoalbu-
formações ocorram. mina, ausente no leite humano, cuja hidrolise é lenta e
Nas últimas décadas (a partir de 70) iniciou-se um movimento altamente alergênica sendo responsabilizada pelas aler-
de resgate da pratica da amamentação na maioria dos paises, in- gias provocadas pelo leite de vaca.
clusive o Brasil, em resposta às denuncias freqüentes do aumento • Grande quantidade de ácidos graxos de cadeia longa (7 a 8
da mortalidade infantil decorrente das conseqüências nefastas vezes mais que o leite de vaca) inclusive o ácido araquidô-
do uso indiscriminado de leite de outras espécies. Estamos ain- nico derivado do acido linoleico e o acido ducosahexanóico
da longe de atender às recomendações da OMS no que concerne derivado do linolênico que entram na composição dos fos-
ao numero de recém-nascidos amamentados e pelo período ade- folipídios encontrados na retina e sistema nervoso central.
quado. No Brasil, a última pesquisa nacional sobre a situação do • Maior nível sérico de colesterol em crianças alimentadas
96 aleitamento natural, realizada pelo Ministério da Saúde em 1999, com leite materno que nas alimentadas com leite de vaca,
encontrou uma duração mediana de aleitamento materno de 7 o que favorece a indução de sistemas enzimáticos regula-
meses e uma duração mediana de amamentação exclusiva de dores da biossíntese e catabolismo do colesterol o que se
apenas 1 mês. Apesar de 96% das mães iniciarem a amamenta- acredita ser importante na prevenção da doença ateros-
ção, apenas 9,7% a mantém de forma exclusiva até os 4-6 meses clerótica do adulto.
e 44,2% continuam amamentando seus filhos até um ano de vida. • O ferro do leite materno é melhor absorvido provavelmen-
te devido à presença de vitamina C.
Fisiologia da Lactação • A concentração de cálcio no leite de vaca é bem mais ele-
vada que no leite materno, porém grande parte é excreta-
Durante a gestação há um estimulo intenso e continuo no de- da como palmitato não sendo aproveitada. A relação Ca/
senvolvimento alvéolo-lobular da glândula mamaria, sob ação do P do leite humano é mais adequada.
estrogênio, progesterona, prolactina e lactogenio placentário. Com a • A presença de vitaminas é pequena tanto no leite ma-
saída da placenta durante o parto, há uma queda brusca nos níveis terno quanto no leite de vaca, porém o RN sadio tem re-
plasmáticos de progesterona, desencadeando o inicio da lactação. servas adequadas com exceção da vitamina K o que é
A síntese do leite depende da prolactina e do esvaziamento compensado pela produção por sua flora intestinal e pela
das mamas (sucção ou ordenha). A não remoção do leite induz administração rotineira ao nascer.
à inibição de sua produção.
A sucção provoca, graças à estimulação de terminações ner- Composição do leite humano maduro em 100ml:
vosas areolares, liberação da prolactina pela adeno-hipófise e da
ocitocina pela neuro-hipófise. Esta ultima produz, alem da con- Calorias – Kcal 70
tração muscular uterina, contração das células mio-epiteliais da Proteínas – g 1,1
glândula mamaria com conseqüente liberação do leite – Reflexo
Carbohidratos – gr 7
de Ejeção (ou de descida do leite).
Lipídeos – g 4
O reflexo da prolactina decorre, obrigatoriamente, do estimulo
nervoso pela sucção; já o reflexo de ejeção tem também nature- Na – mEq 0,7
za psicossomática podendo ser inibido pela dor, stress, etc. ou Cl – mg mEq 1,1
estimulado simplesmente ao ouvir o choro, ver ou ate imaginar K – mEq 1,3
a presença do bebe.
Ca – mg 22
Importância do Leite Materno P – mg 14
Mg – mg 2,5
• Aspectos Nutricionais: O leite humano contem todos os Zn – mg 0,3
nutrientes necessários ao crescimento e desenvolvimen-
Cu – mg 60
to da criança até os 6 meses de vida, na proporção exata,
Vit A – mcg 190
Capitulo 2 Assistência ao Recém-Nascido

Vit D – mcg 2,2 • Reflexo de busca e apreensão → quando algo toca os


Vit E – mg 0,18 lábios ou a face, o bebê vira a cabeça para o lado tocado,
abre a boca, colocando a língua para baixo e para fora.
Vit C - mg 4,3
• Com 30 s de idade gestacional (IG) – reflexo lento e im-
Ferro –mg 0,05
perfeito.
Vit. K-mcg 1,5 • Com 32 s de IG – reflexo rápido e incompleto.
• Com 34 s de IG – reflexo rápido, completo e duradouro.
• Reflexo de sucção → Quando algo toca o palato o bebe
Aspectos Imunológicos começa a sugar.
• Reflexo de deglutição→ Desencadeado quando a boca
A quantidade de células de defesa presentes no leite materno, se enche de liquido.
nas duas primeiras semanas de lactação assemelha à encontra- • Todos estes reflexos podem estar presentes desde muito
da no sangue (aproximadamente 4 mil células por mm3 ). cedo na vida dos bebês (ainda intra-útero) porem para que
haja alimentação efetiva. É necessário que haja perfeita
• Leite materno contém uma série de componentes imu- coordenação entre sucção-deglutição-respiração, o que é
nológicos como macrófagos, linfócitos, lactoferrina, li- natural em bebes de termo e saudáveis, porém em prema-
sossomas, fator bífido e imunoglobulinas. Mãe que entra turos, por volta de 34 semanas de idade gestacional.
em contato com antígenos estranhos (como patógenos
presentes em uma UTI neonatal) produz anticorpos espe- Pega: Em uma pega adequada, o bebe deve estar com a boca
cíficos e as transfere ao RN, através de seu leite. bem aberta, queixo tocando o peito e o lábio inferior virado para
• A Enterocolite Necrosante (ECN) é seis vezes mais fre- fora (boquinha de peixe). Parte ou toda a aréola deve estar dentro
qüente em RN alimentados com formulas que com Leite da boca da criança.
materno. O fator ativador de plaquetas (PAF) parece atu- Sinais de pega inadequada:
ar na fisiologia da ECN e a enzima que metaboliza o PAF,
a acetilhidroxilase-PAF está presente no leite materno • Bochechas do RN encovadas.
sendo sua concentração 5 vezes maior no leite de mães • Mamilos achatados ao sair da boca.
de prematuros. • Ruídos da língua (a deglutição ode ser barulhenta).
• O leite humano, principalmente de mães de prematuros, • Dor e/ou fissuras nos mamilos.
tem efeito antiinflamatório conferindo proteção via matu-
ração da mucosa intestinal. Postura: Confortável e relaxada para a mãe e filho. É a dupla
• Na colonização intestinal de RN alimentados com leite hu- que decide qual a melhor posição. Atenção para:
mano, predominam os lactobacilos e as bífido bactérias for-
mando uma flora acidófila que evita o crescimento de ente- • Roupas adequadas-mama totalmente exposta e braços 97
robactérias patogênicas (RN alimentados com formulas são do bebe livres (não enrola-lo em mantas ou cobertores).
colonizados com enterobactérias, bacteróides e clostrídeos). • Mãe com apoio nas costas e não curvado (o bebe é leva-
do à mama e não a mama ao bebe).
Desenvolvimento • Corpo do bebê bem aconchegado ao da mãe, totalmente
voltado para ela (tórax com tórax) e em linha horizontal.
Estudo de metaanálise feito por Anderson e cl em 1999; evi- • Mãe apoiando a mama com a mão em forma de C (pole-
denciou melhor desempenho intelectual em crianças amamenta- gar na parte superior e os outros dedos na inferior). De-
das ao seio, parecendo haver inclusive uma relação na proporção dos em forma de tesoura devem ser desestimulados por
de ingesta de leite humano e o QI destas crianças. dificultar a “pega”.
A estrutura cerebral é composta em 60% de lipídeos. Durante
o ultimo trimestre da gravidez, há uma maior aquisição de ácidos Duração: Livre demanda. Bebe vigoroso, geralmente esvazia
graxos polinsaturados de cadeia longa (AA e DHA) transplacentá- a mama em 15 minutos, porem cada criança tem as suas pecu-
ria e no período pós-natal pelo leite materno. liaridades. A demanda tem que ser livre, inclusive à noite, pois é
quando ocorre maior produção de prolactina.
Técnicas de Aleitamento
Situações Especiais
A maioria das mães e bebes conseguem alimentar e serem
alimentados naturalmente, porém alguns necessitam de ajuda Bebês prematuros, doentes ou com malformação congênita:
em situações especiais. Promover a ordenha frequente (no mínimo 7 vezes nas 24 h) para
A melhor técnica é a que proporciona relaxamento, conforto manter a lactação.
e prazer à díade mãe-filho. Se isto é conseguido, mesmo que Mamilos planos ou invertidos: Promover autoconfiança na
fora dos “padrões técnicos estabelecidos”, devemos respeitar a mãe e ajudá-la com a “pega”, técnicas para protair o mamilo e
preferência da dupla e incentiva-la. ordenha mamária; Esta situação dificulta, mas não inviabiliza a
A mãe deve ser informada que a criança nasce preparada para amamentação desde que haja paciência e perseverança. Pode
enfrentar o período pré-lácteo nas primeiras horas pós-parto (hi- ser tentado o uso do protetor mamilar de silicone.
pogalactia fisiológica) e que, portanto não é necessário comple- Trauma mamilar:
mentar a alimentação a não ser que haja risco de distúrbios me- Correção da técnica da amamentação,
tabólicos e excesso de perda de peso em relação ao nascimento. Mudança de posição nas mamadas,
O RN de termo tem os três reflexos principais para efetiva Uso de TCM sobre a região com fissuras,
amamentação ao seio. Analgésicos sistêmicos se necessário, em casos de fissura im-
portante, às vezes é necessário dar repouso de 24 h no lado mais
afetado promovendo ordenha freqüente.

Paulo R. Margotto
Assistência ao Recém-Nascido de Risco

Ingurgitamento mamário: Falha no mecanismo de autorregu- Hepatite A → Amamentar.


lação da fisiologia da lactação. É mais freqüente em primíparas Doença diagnosticada 1 semana após o parto, proceder à ad-
e ocorre, geralmente, entre o terceiro e quinto dia de pós-parto. ministração de imunoglobulina no recém-nascido (0,02ml/kg)
Esvaziamento da mama, por sucção ou ordenha é fundamen- Hepatite B → Amamentar.
tal, pois evita o aparecimento de mastite e abscesso mamário. Fazer imunoglobulina especifica (IgHB) na dose de 0,5ml IM e a
Massagens delicadas nas mamas, fluidificam o leite facilitando primeira dose da vacina, nas primeiras doze horas de vida. Quando
a descida do mesmo. a IgHB não for disponível, usar a IgS (imunoglobulina Standard) na
Compressas frias por 15 min, a vasoconstrição reduz o fluxo dose de 2 ml IM.
sanguíneo e consequentemente a produção do leite. Não é preciso aguardar a imunização para o inicio da amamentação.
Anestésicos sistêmicos se necessário. Hepatite C → Amamentar.
Mastite: Infecção bacteriana de um ou mais segmentos ma- O CDC não contra-indica a amamentação, pois estudos epide-
mários; se apresenta dolorosa, quente, hiperemiada e edemacia- miológicos não comprovaram transmissão do HCV pelo leite ma-
da. O agente etiológico geralmente é o Staphylococcus aureus e terno, apesar deste conter Ac anti-HCV.
a porta de entrada são fissuras mamilares. Citomegalovirus → Amamentar.
Esvaziamento mamário freqüente; O RN possui Ac transplacentários, alem disso, se não amamen-
Antibióticos sistêmicos anti-estafilococos; tados, poderão adquirir o CMV por outras vias, já que é um vírus
Analgésicos ou antiinflamatórios não esteróides; de alta prevalência, e não ter a proteção dos anticorpos transmi-
Investigar presença de abscesso (e drená-lo cirurgicamente), tidos pelo leite materno.
se não houver melhora em 48 h. Para os bebes prematuros (imunologicamente incompetentes)
Não contra-indica a amamentação. considerar risco-benefício. Com 34 s de IG o nível de Ac via trans-
Tem sido indicado o uso de compressas frias (2/2 horas por placentaria é igual ao do RN a termo. Estudo recente de Crapetti
10-15 minutos) ao invés de compressas quentes, pelo efeito MG e cl que a infecção pelo CMV via leite materno fresco é leve,
anestésico das compressas frias e o risco de queimaduras com auto-limitada e sem seqüela. Os benefícios do aleitamento ma-
as compressas quentes terno superam os riscos da transmissão de CMV à RN de muito
Presença de sangue no leite: Deve-se a hemorragia ductal baixo peso. No entanto, Os RN abaixo de 28 semanas e com dis-
provocada pelo rompimento de capilares, devido ao aumento plasia broncopulmonar apresentaram sintomas. Para este, consi-
súbito da pressão osmótica nos ductos e alvéolos. Melhora nas derar a pausterização do leite humano. A pasteurização do leite
primeiras 48 hs, é mais freqüente em primíparas e não contra- humano inativa o vírus.
indica o aleitamento. Promover o esvaziamento mamário. Toxoplasmose → Amamentar.
Cirurgia redutora das mamas: A redução cirúrgica das mamas Nunca foi demonstrada transmissão via leite humano.
não interfere com a lactação desde que: a inervação do mamilo seja HTLV I e II (Human T Cell Lymphotropic Vírus) → A transmis-
preservada, os ductos permaneçam patentes e os seios lactíferos são vertical se dá principalmente pela amamentação e por se
98 não percam o contato com os poros mamilares, portanto técnica tratar de um retrovirus responsável por neoplasias malignas, pa-
cirúrgica que mantenha a aréola e mamilos presos à glândula não tologias neurológicas, uretrite e artrite em adultos, recomenda-se
afeta a lactação, porém na pratica, muitas mulheres com mamo- que mães HTLV positivas não amamentem.
plastia redutora não produzem leite em volume suficiente para as Herpes simples → Amamentar (cobrir as lesões)
demandas dos seus bebes. Rubéola → Amamentar.
Estudo de coorte realizado no Brasil mostrou que só 29% das Varicela → A transmissão direta pelo leite humano não está
mães com mamoplastia mantinham aleitamento exclusivo ao fi- bem estabelecido. O risco maior de infecção é por via respiratória
nal do primeiro mês, contra 77% das mães sem mamoplastia. e contato direto com as lesões. Separação da mãe e bebe só se
Só o acompanhamento rigoroso, poderá indicar ou não a ne- houver lesões ativas.
cessidade de complementação alimentar, pois é difícil predizer o Chagas → Amamentar.
sucesso ou insucesso do aleitamento exclusivo Há relato na literatura de 2 casos (Argentina, 1936 e Brasil –
Prótese mamária de silicone: Não impede a amamentação, DF 1988) em que se comprovaram presença de T. cruzi no leite
porém às vezes pode levar à hipogalactia relativa pela compres- humano, porém em ambos havia presença de fissura mamilar.
são da glândula mamária, principalmente quando este procedi- Em 1998, Bittencourt e cl estudaram 100 amostras de leite
mento é realizado em mulheres muito jovens. humano de 78 mulheres chagásicas crônicas por exame direto e
inoculação em camundongos. Não houve evidência de parasitismo
Aleitamento X Doenças Infecciosas Maternas nas amostras estudadas mesmo nas 5 mães que apresentaram
parasitemia documentado no momento da colheita do material.
HIV → Não amamentar. Dengue→Amamentar, uma vez que o vírus não é transmiti-
Risco de transmissão vertical, pelo leite humano é de 14 a 22% do pelo leite
se a mãe foi infectada antes do parto, subindo para 26% se a Caxumba→Amamentar e não há necessidade de isolar o re-
infecção se deu durante a lactação. Não aguardar resultado de cém-nascido da mãe
teste rápido para iniciar a amamentação, pois estatisticamente Sarampo→Amamentar. Isolar o recém-nascido da mãe duran-
não se justifica. te os primeiros 4 dias do exantema.
Tuberculose → Não contra-indica a amamentação em nenhuma Hanseníase contagiante (Virchowiana)→Amamentar com
circunstância e nem a separação da mãe e bebe, segundo a OMS. máscaras descartáveis, usar lençóis descartáveis
O comitê de Doenças Infecciosas da Academia Americana de Pe- Brucelose→ Evitar o aleitamento na fase aguda da doença grave na
diatria (AAP) recomenda que, no caso de Tuberculose contagiante, mãe,podendo ser utilizado o leite humano ordenhado e pasteurizado.
se aguarde 15 dias após o inicio do tratamento materno, para então Sífilis→ A nutriz com sífilis primária ou secundária com lesões
liberar a amamentação e o contato mínimo entre a mãe e o filho. acometendo a mama, sobretudo na aréola, pode infectar a crian-
Fazer quimioprofilaxia do RN com isoniazida (5 mg/kg VO 1x/dia) ça. Nesses casos, a amamentação ou o uso de leite ordenhado
por 6 meses e ao final, vacinação com BCG. Se o escarro da mãe se da própria mãe está contra-indicado até o tratamento e a regres-
tornar negativo por um período maior que 2 meses antes do parto, são das lesões. Com 24 horas após o tratamento com penicilina, o
não há necessidade de quimioprofilaxia, só BCG ao nascimento. agente infeccioso raramente é identificado nas lesões. Assim, não
Capitulo 2 Assistência ao Recém-Nascido

há contra-indicação à amamentação após o tratamento adequado. Os mais usados pela segurança e efetividade na iniciação e
Malária→ Amamentar, se a mãe tiver condições. Evitar o uso manutenção da lactação são:
de sulfonamidas durante o primeiro mês de lactação
• Domperidona: 10 a 15mg 3 x ao dia (comprimido de
Atentar para a presença de fissuras mamilares em qualquer 10mg). Deve ser dada preferência a esta droga por ter
doença materna infecto-contagiosa! menor efeito extrapiramidal, por ser menos permeável à
barreira hematoencefálica (devido ao maior peso mole-
Mães em Uso de Drogas cular e menor lipossolubilidade). Após 7 dias de uso, esta
droga aumentou o volume de leite em 44,5%.
Evitar administração de drogas a nutrizes sempre que possível • Metoclopramida: 10 a 15 mg 3 x ao dia
e quando for imperioso recomenda-se a administração de me- (comprimido=10mg). Apresenta o mesmo mecanismo de
dicamentos imediatamente após a mamada, pois 30 a 60 min ação da domperidona, produz maior efeito extrapirami-
após a ingesta são encontrados no leite humano. dal, principalmente na mãe.
Observar possíveis efeitos indesejados na criança tais como
cólicas, erupções cutâneas, sonolência, irritabilidade, etc. Obs: Usar estes galactogogos por um ou duas semanas e reti-
O Comitê de drogas da Academia Americana de Pediatria agrupa rar gradualmente, pois pode resultar em queda significativas da
as drogas em 5 categorias, de acordo com o risco para a criança: produção láctea. Exemplo de prescrição:

Drogas Contra-Indicadas na Lactação • 1 comp 6/6 as por 3-4 dia


• 1 com 8/8 as por 3 dias
Poucas drogas tem toxicidade bem documentada. São: anfeta- • 1 comp 12/12 as por 3 dias
mina, bromocriptina, ciclosfosfamida, ciclosporina, dexorrubilina, • 1 compr 24/24 as por 3 dias
ergotamina, feniciclina, fenindiona, lítio, metrotexate, cocaína,
heroína e maconha. Legislação Trabalhista

• Compostos radioativos – Suspender a amamentação por Licença Maternidade é de 120 dias, podendo se iniciar após o
um período equivalente a 5 meia-vida do composto. parto ou quatro semanas antes e doze após o mesmo.
• Drogas que devem ser usadas com cautela pelo efeito Por motivo de saúde da mãe ou da criança (caso de prematuros
adverso em algumas crianças acido acetilsalicilico, feno- extremos) o período de 120 dias pode ser ampliado em 2 semanas
barbital, primidona sulfazaladina. antes e 2 após o parto mediante apresentação de atestado medico.
• Drogas cujo efeito adverso é desconhecido em crianças Em casos excepcionais esta ampliação pode chegar a 6 meses.
amamentadas, porem exigem cautela pelo risco potencial Até que o bebe atinja 6 meses de idade, na volta ao trabalho,
– ansioliticos, antidepressivos, antipsicóticos, cloranfenicol. a mãe tem direito a 2 descansos de 30 min cada para que possa 99
amamentá-lo, podendo ser ampliado a critério medico.Recente-
Drogas Compatíveis com a Amamentação mente foi aprovado pelo Governo Federal Projeto de Lei (dezembro
de 2008) que amplia a licença maternidade para 180 dias, não
• Fumo: sendo obrigatória a adesão por parte das Empresas, porém ofere-
Não contra-indica o aleitamento, pois os benefícios sobrepu- cendo incentivos fiscais àquelas que assim procederem. Os órgãos
jam os possíveis malefícios da nicotina. públicos já adotaram esta prática.
Advertir a Mãe sobre os efeitos do cigarro no desenvolvimento
da criança e se não for possível ela prescindir do mesmo, orienta- Estimulando o Aleitamento
la a não fumar no ambiente onde se encontra a criança, fazer um
intervalo de 2 h entre o consumo do cigarro e a mamada e reduzir O sucesso do aleitamento não depende só da opção da mãe
o máximo possível o numero de cigarros. pelo aleitamento. Depende também da sua habilidade em levar
• Álcool: adiante esta opção e também do ambiente em que ela se encon-
Os efeitos do consumo de álcool pelas mães lactantes, em tra que pode favorecer ou desestimular completamente o aleita-
seus filhos não é bem documentado. O acetaldeido, metabólito mento materno. Nas sociedades mais antigas o papel de agentes
do etanol responsável por boa parte da toxicidade do álcool não estimuladores era desempenhado pelas mulheres mais velhas
se encontra no leite humano. do circulo familiar, hoje este papel esta ao encargo de profissio-
Estudo retrospectivo detectou atraso motor em crianças de 1 nais da área de saúde (médicos, enfermeiros auxiliares, etc...).
ano, cujas mães usavam álcool pesadamente porém não des- Quanto mais precoce e mais constante for a intervenção, maiores
cartou a possibilidade deste atraso ser devido à exposição intra- as chances do sucesso.
uterina, ao álcool. Pré-Natal → Momento mais adequado para motivar a mulher a
O comitê de drogas da AAP. recomenda que a ingestão de ál- amamentar, mostrando-lhe as vantagens do uso do leite humano.
cool não exceda 0,5 g/kg de peso da mãe ( 225gr de vinho ou 2 Preparação física das mamas durante a gravidez com fricções
latas de cerveja). nos mamilos Manobras para protraí-los, como a manobra de Ho-
ffman muito em voga no passado, não são indicadas, pois além
Galactogogos de não funcionarem podem desencadear parto prematuro o par-
to prematuro pela liberação de ocitocina. O apoio psicológico a
Usado em casos especiais, como no parto prematuro, doen- essas mães é muito mais eficaz e a própria evolução da gravidez
ças da mãe ou do RN, adoção, etc.. Agem bloqueando periferica- se encarrega de preparar as mamas para o aleitamento.
mente os receptores da dopamina (a dopamina é uma inibidora É nessa fase que se detecta mulheres em risco para o des-
fisiológica da produção de prolactina pela hipófise) o que resulta mame precoce as quais deverão receber maior atenção no pré,
em aumento dos níveis séricos de prolactina. Assim, não estão intra e pós-parto.
indicados para mulheres que tem altos níveis de prolactina ou
tecido mamário inadequado à amamentação.

Paulo R. Margotto
Assistência ao Recém-Nascido de Risco

• Adolescente;
• Mulheres que não amamentaram filho anterior;
• As que voltaram precocemente ao trabalho;
• Portadoras de psicopatias, sociopatias ou doenças crô-
nicas;
• Mulheres que sofreram procedimentos cirúrgicos ou trau-
máticos nas mamas;
• Portadoras de mamilos planos e/ou invertidos;
• Mulheres solteiras que não tem apoio familiar;
• Etc...

Durante o parto → Muitas são medidas tomadas durante o tra-


balho de parto e parto que deixarão a gestante tranqüila e autocon-
fiante, funcionando, portanto como facilitadoras da amamentação.

• Bom acolhimento pela equipe de saúde;


• Presença de acompanhante escolhido pela gestante;
• Apoio emocional;
• Respeito à privacidade;
• Uso de métodos não invasivos e não farmacológicos, da dor;
• Dar os primeiros cuidados ao RN, junto da mãe (se possí-
vel usando seu corpo como fonte de calor) para não que-
brar a interação mãe e filho.
• Levar o RN ao seio materno imediatamente após o parto
ou pelo menos dentro da primeira hora de vida.

Pós-parto → As primeiras 2 semanas pós-parto são de suma


importância para o sucesso do aleitamento. Idealmente todas as
puérperas deveriam receber visitas domiciliares de agentes de
saúde durante este período, para que pudessem vencer as dificul-
dades e dúvidas inerentes a ele. Como nosso sistema de saúde
ainda não nos faculta este privilegio, devemos estar atentos para
100 detectar e sanar problemas que podem acarretar o desmame pre-
coce, antes da alta hospitalar, postergando a mesma se preciso
for. É bem menos nocivo para mãe e filho é menos oneroso para o
sistema de saúde a permanência por mais um ou dois de interna-
ção até que o aleitamento se estabeleça com segurança.

Bibliografia
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Capitulo 2 Assistência ao Recém-Nascido

2.6 CRESCIMENTO PÓS-NATAL DO PREMATURO: USO DE CURVAS

Paulo R. Margotto

A maioria dos RN perde peso ao nascer (especialmente por Dancis e cl publicaram pela 1ª vez curvas de peso nos primei-
perda de água) e após certo tempo, inicia a recuperação. ros 50 dias de vida extrauterina nos RN prematuros em função
As curvas destinadas a acompanhar o crescimento pós-natal do peso de nascimento:
de RN prematuros foram publicadas pela 1ª vez em 1948. Qua-
se meio século após esta publicação, esta curva continua sendo
usada quotidianamente.

101

A faixa de peso varia de 750g a 2500g, com incrementos de Foi levado em consideração, como fator importante no cresci-
250 em 250 g durante 50 dias. mento do prematuro, o tipo de alimentação administrada, onde,
Estas curvas assemelham-se umas com as outras, sendo que, estes RN foram alimentados com fórmulas a partir do segundo
quanto menor o peso ao nascer, maior é a duração da perda de dia de vida em média de tal forma que no primeiro de vida, o
peso nos primeiros dias de vida e quando se atinge o peso do aporte calórico era de 120 cal/kg/dia (muito semelhante às reco-
nascimento, vemos que a ascensão de peso é bem menor e mais mendações que continuamos a seguir atualmente).
lenta do RN com peso inicialmente menor, como por exemplo, Assim, constatamos nesta publicação, o caráter simples e de
um de 1000g que atinge o peso ao nascer por volta dos 18 - 29 fácil utilização das curvas de Dancis e cl, onde não há nenhum
dias de vida. número, nem nenhum cálculo estatístico, embora isto não tenha
Quando lemos em detalhe a publicação de Dancis e cl, obser- impedido estes dados fossem comparados com outros estudos
vamos que estes autores estabeleceram estas curvas visualmen- posteriores, inclusive com grande sucesso.
te, através da superposição de curvas individuais de 100 RN, Em 1994, Adamkim e cl selecionaram uma amostra de 99 RN
não sendo feito qualquer cálculo. A maioria foi RN prematuros AIG (Curva de Lubchenco e cl) , e dividiram em dois grupos:
sadios com peso inicial entre 1000 - 2500g, visto que, durante
este período de 1948, poucos RN com peso menor de 750g so- 1. Grupo A: peso médio de 762 ± 35g
breviviam. Assim, a curva correspondente a 750g de peso inicial 2. Grupo B: peso médio de 1038 ± 89g
foi extrapolada, isto é, foi inventada pelos autores a partir das
outras curvas, uma vez que não tiveram RN suficientes com este Ambos tiveram suporte nutricional seguida de alimentação
peso para obterem a mesma. oral com leite materno fortificado e fórmulas para pré-termos

Paulo R. Margotto
Assistência ao Recém-Nascido de Risco

com suplemento vitamínico. Os resultados evidenciaram total ção enteral precoce no primeiro dia de vida e aminoácido endove-
paralelismo com a Curva de Dancis e cl para os RN de 1000g noso no primeiro dia de vida e lipídio, no segundo dia. Os autores
(Grupo B). Para os RN menores (peso de 750g), relataram que a relataram recuperação do peso ao nascer por volta do 11o dia
perda de peso não foi tanto quanto predicta pela Curva de Dan- de vida e por volta do 20o dia de vida, os RN já estavam com
cis, além destes RN ganharem peso mais rapidamente. nutrição enteral plena. A taxa calórica de 92 ± 11 cal/kg/dia:
Já em 1998, Pauls e cl, apresentaram curvas para RN de peso alcançada na primeira semana de vida.
ao nascer abaixo de 1000g, onde todos os RN receberam nutri-

102

Assim, as curvas propostas por Pauls e cl, para os RN abaixo de Evolução do peso nos primeiros dias de vida em RN menores
1000g são mais adequadas na avaliação do crescimento desses de 2500g.
prematuros, pois os seus valores são baseados em RN tratados Nesta tabela, observamos que o tempo de perda de peso, as-
de acordo com padrões nutricionais usados atualmente. sim como a percentagem de perda é diferente entre estes RN de
Assim, acreditamos que deveríamos usar a curva de Pauls e acordo com a sua classificação havendo menor tempo de perda
cl para os RN< 1000g nos primeiros 30 dias de vida, para acom- e menor percentagem de perda nos RN PIG.
panhamento diário de peso dos nossos RN prematuros, uma vez
que a curva de Dancis e cl para esta faixa ponderal é falha de RN Crescimento Pós-Natal do Perímetro Cefálico
sobreviventes nesta faixo do ano de 1948.
A importância de dispormos de curvas de referência no acom- O método mais simples para diagnosticar aumento anormal da
panhamento destes RN prematuros, relaciona-se com o nosso cabeça é a comparação dos incrementos do crescimento da ca-
interesse de vigiar o crescimento de peso da criança de forma beça com o padrão normal.
padronizada, no sentido de confirmar se seu crescimento está Em 1961, O’ Neill publicou um estudo longitudinal, (isto é, na
seguindo o corredor esperado para ela. mesma criança foi seguida a medida em diferentes idades) de
A tabela abaixo relaciona o tempo de perda de peso em dias e medidas pós-natais do perímetro cefálico em 225 RN prematuros
a percentagem da perda de peso para os RN com peso ao nascer e 676 RN a termo, envolvendo um total de 4639 medidas em 901
< 2500g de acordo com a Idade Gestacional, quando AIG e PIG. RN, (até 18 semanas nos RN a termo e 26 semanas nos RN pre-
Gestacional (PIG), está representado na tabela abaixo (CLAP/ maturos), as quais foram realizadas somente pelo autor e os RN
OPS/OMS): não apresentaram complicações no período de estudo.
Observamos que a curva representando a média nos RN pre-
Peso/Id. Tempo de perda maturos, não é colocada centralmente, como na curva dos RN a
Intervalo % da perda
Gest. (dias) termo presumivelmente devido a uma grande proporção de RN
P10 P50 P90 P10 P50 P90 grandes em relação aos pequenos como é de se esperar em uma
AIG 1000-1500 4 6 13 4 10 16 pesquisa de RN prematuros.
Abaixo, a superposição das curvas (RN a termo: linha contínua
1501-2025 2 5 8 2 9 14
e RN prematuro: linha descontínua), mostrando com bastante
PIG 1000-1500 0 3 4 0 3 10
evidência diferenças entre estes RN, o que não nos autoriza a
1501-2025 1 4 8 2 4 6 acompanhar o tamanho da cabeça do prematuro, comparando
Capitulo 2 Assistência ao Recém-Nascido

com standard do RN a termo. Assim, o seguimento do tamanho


do perímetro cefálico do prematuro tem que ser comparado com
a tabela standard do RN prematuro e não do RN a termo.

Recém-Nascido A Termo

Adaptado de O´Neill - Arch. Dis. Childhood 36: 241, 1961

103

Recém-Nascido Pré-Termo

Paulo R. Margotto
Assistência ao Recém-Nascido de Risco

Bibliografia
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Arch Dis Child 36:241, 1961.
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25-28 de novembro de 2007, Fortaleza. Disponível em www.paulomargotto.com.br em
Nutrição do Recém-Nascido

104
Capitulo 2 Assistência ao Recém-Nascido

2.7 ABORDAGEM DO RECÉM-NASCIDO FEBRIL

Carlos Moreno Zaconeta , Paulo R. Margotto

Introdução

O atendimento ao recém-nascido (RN) febril constitui um desa- • É um caso de febre por baixa ingesta de leite?
fio até para pediatras muito experientes. • O paciente tem uma infecção bacteriana?
A grande variabilidade de prováveis desfechos costuma gerar • O RN tem uma pneumonia viral/bronquiolite?
ansiedade e preocupação nos pediatras atendentes. • Trata-se de um caso de infecção por Herpes vírus?
O reconhecimento e intervenção precoces de algumas doen- • É um RN com cardiopatia congênita?
ças podem salvar a vida de um neonato.
Uma abordagem serena, sistematizada e atenta é necessária Como cada uma destas entidades demandaria por si mesma
e, na maioria das vezes, suficiente para resolver o problema do um capítulo à parte, abordaremos a seguir cada uma delas de
binômio mãe-filho. forma sucinta.

Objetivos RN Com Febre Por Baixa Ingestão De Leite

Discutir uma abordagem racional e organizada do RN que foi A baixa ingestão de leite é a causa mais freqüente de febre
de alta saudável e retorna com febre pelo Pronto Socorro (PS) ou em RN a termo em Bom Estado Geral, sem fatores de risco para
ambulatório. infecção e sem outras alterações no exame físico, fora sinais de
Incrementar a resolutividade dos pediatras em relação ao RN. desidratação, na primeira semana de vida. As características que
Incentivar a suspeita de doenças potencialmente fatais para o RN. fazem pensar nesta doença são:

Apresentação De Casos Cínicos • Febre que aparece nos primeiros dias de vida, mais fre-
qüente entre o segundo e o 2º e o 5º dia.
Caso Clínico Nº1 • Sem história sugestiva de infecção (ver tabela 1).
• Parto cesárea.
RN com 3 dias de vida, consultou no PS por febre de 38ºC. Bom • Mães inexperientes tem > risco.
estado geral, exame segmentar normal.Foi colhido hemograma • Mães com dificuldade de amamentação.
completo + VHS. Leucócitos 6500 (seg 60% bast 0% linf 30%). • Ao exame as mamas podem mostrar: pouco leite, mamilo 105
VHS= 1. Alta do PS no mesmo dia. invertido, mamas muito ingurgitadas (“peito empedra-
RN retornou após 48 horas, mal perfundido, desidratado, apático. do”), fissuras, cicatrizes cirúrgicas, etc.
Colhido novo hemograma + hemocultura. Recebeu fase rápida de • RN suga pouco ou suga mal.
expansão com solução glico - fisiológica 50 ml/Kg e HV 110 ml/kg. • RN com doenças que predispõem à dificuldade de suc-
Evoluiu com crise convulsiva prolongada e aprofundamento ção (Síndrome de Down, fenda palatina, micrognatia,
do coma. Encaminhado à Unidade de Terapia Intensiva Neonatal etc), tem maior risco.
(UTIN). Faleceu após algumas horas. O hemograma não apresen- • RN GIG tem maior risco
tava alterações e a hemocultura foi negativa. O laudo da necrop- • O RN urina pouco.
sia informou presença de edema cerebral importante e necrose • A incidência aumenta nos meses mais quentes.
tubular aguda provavelmente devido a choque por desidratação. • RN que perdeu > 10% do peso de nascimento.
• Exame segmentar normal ou desidratação de grau vari-
Caso Clínico Nº 2 ável.
• É freqüente que algum grau de icterícia acompanhe o
RN com 15 dias de vida, nasceu com 39 semanas, parto cesá- quadro clínico.
rea, Apgar 9 e 10. Consultou no pronto socorro por febre. Interna- • Hemograma normal.
do para observação. Hemograma normal. Na evolução apresen- • Os casos mais graves podem cursar com desidratação
tou persistência da febre, irritabilidade e crise convulsiva. Novo hipernatrêmica .
hemograma também sem alterações. O líquor mostrou pleocitose • A intensidade da febre está relacionada ao grau de hi-
com hiperproteinorraquia. Iniciado tratamento com Aciclovir. pernatremia.

Desenvolvimento Em relação ao tratamento da baixa ingesta:

A definição de RN febril é uma criança com menos de 30 dias • O paciente deve ficar internado para observação e tra-
de vida e temperatura retal ≥ a 38ºC. tamento.
A diferença do lactente e pré-escolar, onde um episódio febril • As desidratações leves podem ser tratadas no Alojamen-
é, na maioria das vezes sinal de um processo benigno, a febre to Conjunto (ALCON), com leite materno ordenhado ou
no RN indica prioridade na elucidação diagnóstica e a conduta leite humano de banco.
jamais deve limitar-se ao tratamento sintomático da mesma. • Os casos mais graves requerem de internação na UTIN.
Perante um RN que foi de alta saudável e que retorna com fe- • Nos casos de intensa desidratação hipernatrêmica, a
bre no ambulatório ou na emergência, o pediatra deve orientar solução de eleição para a expansão inicial é o soro fisio-
o seu raciocínio para responder às seguintes perguntas: lógico (20 ml/kg).
• Corrigir a hipernatremia DEVAGAR para evitar as compli-
cações 9.

Paulo R. Margotto
Assistência ao Recém-Nascido de Risco

• Considerar que se chegou a esse grau de hipernatremia conforto respiratório, crepitações, sibilos e até apnéia.
ao longo de alguns dias, portanto a correção do sódio • A apnéia pode ser precoce e se apresentar antes dos ou-
deve ser realizada em dias, não em horas. tros sintomas.
• As convulsões aparecem mais freqüentemente após a • O RN possui reflexo de tosse, mas não costuma tossir
instalação do tratamento de correção de hipernatremia, periodicamente como o lactente com processo viral de
principalmente com soluções hipotônicas. vias aéreas. Portanto, o menor de 30 dias com tosse per-
• Após a expansão a hidratação venosa de manutenção manente ao longo do dia deve ser internado, pois pode
deve ser feita com Na+ a 2-3 mEq/100 ml. evoluir para insuficiência respiratória em poucas horas.
• É muito importante a prevenção, identificando os fatores • O hemograma não mostra padrão compatível com infec-
de risco para problemas na amamentação no binômio ção bacteriana.
mãe-filho, no intuito de corrigí-los antes da alta. • No menor de 30 dias, qualquer sinal de desconforto
respiratório (batimento de asas do nariz, tiragem in-
Leia novamente o caso clínico Nº1 e faça uma análise crítica tercostal, retração esternal, taquipnéia ou gemência)
do mesmo. Isto ajudará a fixar conceitos importantes. indica a imediata internação.
• O Raio X de tórax pode ser normal ou evidenciar infiltra-
O RN Com Infecção Bacteriana dos, condensações ou hiperinsuflação pulmonar.
• Nestes casos, mesmo na suspeita de pneumonia viral é
• A base do diagnóstico é o tripé: Fatores De Risco Ma- aconselhável colher hemocultura e iniciar Ampicilina +
ternos, Manifestação Clínica Do Rn E Exames Labora- Gentamicina durante o período inicial de internação.
toriais 10. • No RN com tosse deve se atentar também para coque-
luche 12, uma vez que não acontece imunidade passiva
Rotura prematura de membranas > 12 horas via transplacentária e que a vacinação acontece só com
Febre materna intraparto dois meses de idade. O paciente apresenta a fase ca-
tarral, caracterizada por congestão nasal e febre baixa e
Corioamnionite
evolui depois para a fase de tosse paroxística, chamando
Taquicardia fetal (BCF > 160 bpm)
a atenção a bom estado geral nos períodos intercrise.
Fisometria positiva (Líquido amniótico fétido)
Parto prematuro O RN Com Infecção Por Herpes Virus
Colonização materna por Estreptococo do Grupo B
Gestação gemelar • Importante suspeitar, pois o prognóstico depende MUITO
Leucocitose materna da terapêutica precoce.
Qualquer infecção bacteriana na mãe • O diagnóstico fica dificultado, pois a maioria das mães
106 (Infecção do trato urinário, abscesso dentário, etc) tem infecção herpética subclínica e os sintomas neona-
tais iniciais são inespecíficos (39% dos RN jamais apre-
sentam vesículas na evolução).
Tabela 1. Fatores de risco maternos para sepse neonatal precoce. • O RN vai de alta em ótimo estado geral e retorna entre
a primeira e terceira semanas (incubaçao de 5-21 dias).
• As manifestações clínicas de infecção bacteriana neona- • Existem três formas de apresentação clínica:
tal são altamente inespecíficas e incluem: febre, hipoter- • Forma disseminada (25%):
mia, apatia, hipotonia, choro fraco, sucção débil, enchi- • Inicia na primeira semana
mento capilar > 3 segundos, desconforto respiratório, • Acomete mais fígado e pulmões, mas pode envolver múl-
distensão abdominal, vômitos, apnéias, etc. tiplos órgãos.
• Os neonatos podem apresentar infecção bacteriana se- • Pensar nos RN com quadro séptico, hemograma normal
vera, sem nenhum episódio de febre. e TGO e TGP muito aumentadas.
• Na suspeita de sepse neonatal, os exames necessários • Acometimento de pele, olhos e boca (40%):
incluem hemograma, PCR, hemocultura, raio x de tórax e • É a de menor mortalidade
abdome e, se a condição do paciente o permitir, punção • O RN apresenta vesículas em face ou couro cabeludo, ou
lombar e punção suprapúbica. ceratite e coriorretinite.
• Os pacientes com suspeita de infecção bacteriana devem • Acometimento do Sistema Nervoso Central (35%)
ser internados em UTI. • Inicia 2-3 semanas com sintomas inespecíficos (febre,
• O esquema antibiótico inicial no RN com suspeita de in- apatia,etc).
fecção bacteriana sem porta de entrada definida inclui • Convulsões, apnéias, fontanela abaulada, lesão de par
ampicilina associada a gentamicina. craniano.
• É importante garantir de imediato acesso venoso confiá- • No RN com convulsão, hemograma normal e líquor com
vel e suporte ventila tório se necessário. pleocitose e hiperproteinorraquia, a primeira hipótese
• Expansão y drogas vasoativas conforme necessidade. diagnóstica é infecção por herpes, não devendo se pro-
telar o tratamento com aciclovir.
RN Com Pneumonia Viral/Bronquiolite • A confirmação diagnóstica é realizada por meio de PCR
para HSV no sangue e no líquor (Sensibilidade 71-100%).
• O Vírus Sincicial Respiratório (VSR) é responsável por • O tratamento é realizado com Aciclovir 60 mg/kg/dia de
80% dos casos, mas outros como o adenovirus, influenza 8/8 horas durante 14-21 dias.
e parainfluenza podem causar a doença. • Leia novamente o caso clínico Nº2 para fixar conceitos
• Acontece mais nos meses frios, em surtos epidêmicos. relevantes.
• Freqüentemente têm alguém gripado na família.
• O RN começa com sintomas gripais: congestão nasal,
olhos vermelhos, etc. e pode evoluir com febre, tosse, des-
Capitulo 2 Assistência ao Recém-Nascido

O RN Com Cardiopatia Congênita • Tiragem intercostal? Retração esternal? Gemência? FR


> 60 ipm?
O presente capítulo não tem a pretensão de aprofundar no • Crépitos na ausculta pulmonar?
tema das cardiopatias congênitas. Contudo, devido a sua gra- • Ictus palpável? Sopro cardíaco? B2 hiperfonético?
vidade, as cardiopatias devem ser incluídas no diagnóstico di- • Enchimento capilar no tórax > de 3 segundos?
ferencial de RN que foram de alta em bom estado geral e que • Distensão abdominal? Hiperemia periumbilical? Onfalite?
retornaram ao pronto socorro ou ambulatório. Apenas algumas • Hepatomegalia?
considerações serão enunciadas: • Pulsos femorais presentes? (coarctação de aorta).
• Hérnia inguinal?
• Cardiopatias congênitas acianóticas abrem o quadro • Tônus muscular e atividade do RN.
como ICC de desenvolvimento progressivo (Taquipnéia, • Quando se trata de recém nascidos, o exame físico com-
taquicardia e hepatomegalia). pleto inclui o exame das mamas da mãe e a avaliação
• Cardiopatias congênitas cianóticas podem se manifestar da sucção.
tanto na primeira semana com 2-3 semanas de idade. • Qualquer alteração no exame físico indica internação em
• O RN que chega ao PS em choque deve sempre fazer pen- UTIN
sar em cardiopatia congênita como diagnóstico diferencial.
• Recém nascidos que chega ao PS com cianose, mas com Exames Complementares
raios-X de tórax normal, devem receber Prostaglandina E
(Prostín® ) até que se elucide melhor o diagnóstico. • Glicemia capilar assim que chegar. Se hipoglicemia, inter-
• A falta de ecocardiograma, não justifica o adiamento do nar para tratamento endovenoso.
inicio do tratamento com prostaglandina nestes pacientes. • Hemograma completo, sódio (desidratação hipernatrê-
• A ausência de sopro não exclui o diagnóstico de cardio- mica?), potássio, cálcio, magnésio, uréia, creatinina (IRA
patia congênita. pré-renal?), TGO, TGP (Herpes?).
• Em geral é muito difícil se conseguir ecocardiograma ou • É fundamental valorizar sempre o estado clínico do pa-
uti cardiológica em poucas horas. Contudo, a suspeição ciente, mais do que os exames complementares.
permanente e a avaliação clínico-radiológica são sufi- • 1% dos RN com febre apresentam meningite bacteriana.
cientes, na maioria das vezes, para autorizar o uso da Contudo, não existe consenso de que todo episódio febril
terapia salvadora com prostaglandina e (Prostín®). no RN requeira de punção lombar.
• RN febril na primeira semana de vida, em bom estado ge-
Roteiro Sugerido Para Atender O RN Que Foi De ral e com hemograma normal. Após receber tratamento
Alta Em Bom Estado Geral E Retorna Com Febre com leite humano de banco apenas, não apresenta mais
Pelo Ambulatório Ou Ps episódios febris. Este paciente muito provavelmente so-
fria de baixa ingesta de leite e dispensa a punção lombar. 107
História Clínica Completa • RN febril na primeira semana de vida, bom estado ge-
ral , hemograma normal. Após receber leite humano em
• Ecografia pré-natais alteradas? (malformação de vias uri- alguns horários, urinando bem, persiste com febre por
nárias predispõem a sepse). mais de 24 horas. Neste paciente a hipótese inicial de
• Existem fatores de risco maternos para infecção? (ver baixa ingesta deve ser revista e com certeza merecerá
tabela 1). punção lombar e punção vesical.
• Mãe inexperiente? Dificuldade na amamentação? • RN com suspeita de sepse tardia devem ser submetidos
• RN urina pelo menos três vezes no dia? A fralda fica bem à punção lombar e punção vesical.
molhada? • RN com suspeita de infecção por herpes vírus devem
• Qual o peso de nascimento? Foi GRANDE PARA A IDADE também ser submetidos à punção lombar.
GESTACIONAL? Perdeu mais de 10% do peso? • Os RN com infecção do trato urinário confirmada devem
• Esta tossindo? Alguém gripado na família? ser submetidos à ecografia de rins e vias urinárias pra
• Infecção por herpes no último trimestre? afastar malformações congênitas.
• Mudou o padrão comportamental do RN? Está diferente?
Está apático? Caso Clinico Nº3
• Qual a idade do RN?
• Primeira semana de vida, em bom estado geral e sem RN com 4 dias de vida, GIG (peso ao nascer 3950 gr), peso atu-
história sugestiva de infecção, mais provável baixa inges- al 3300gr, mãe primigesta sem história compatível com infecção.
ta. Se exame físico alterado, com sintomas inespecíficos, Consulta pelo PS por febre de 38ºC. BEG, exame físico normal.
mais provável tratar-se de sepse precoce. Glicemia capilar e Hemograma normais, eletrólitos normais.A hi-
pótese diagnóstica inicial é :
Exame Físico Completo
1. Febre por baixa ingesta.
• Retirar toda a roupa e realizar exame detalhado céfalo- 2. Infecção bacteriana
caudal. 3. Infecção viral inespecífica.
• Icterícia ou cianose? 4. Infecção por herpes vírus
• Tem vesículas em couro cabeludo, córnea ou boca?
• Fontanela funda? (desidratação) ou abaulada? (encefa- Resposta correta: a.
lite herpética).
• Batimento de asas do nariz?
• Boca com saliva espessa?
• Ingurgitação jugular?

Paulo R. Margotto
Assistência ao Recém-Nascido de Risco

Caso Clinico Nº4

• RN com 4 dias de vida, sexo feminino, mãe primigesta


sem história compatível com infecção. Consulta pelo PS
por febre de 38ºC, bom estado geral, exame físico nor-
mal. Mãe com pouco colostro. Glicemia capilar e Hemo-
grama normais, eletrólitos normais.A hipótese diagnós-
tica inicial é de baixa ingesta. Internado no espaço do
Alojamento Conjunto recebe leite humano de banco 30
ml 3/3 horas e auxilio a amamentação. Nas próximas
24 horas o RN continua a apresentar febre. Submetido a
punção lombar (normal) e punção vesical (15 piócitos e
nitrito +). Assinale Verdadeiro ou Falso:

1. Trata-se de uma virose da infância. O RN pode receber


alta em uso de paracetamol e retornar em 3 dias caso a
febre persista. (F)
2. A punção lombar foi mal indicada, mesmo com febre per-
sistente, uma vez que o RN tinha hemograma normal. (F)
3. O paciente não precisa de antibiótico, pois o hemogra-
ma é normal (F)
4. O paciente, pelo bom estado geral e pelo hemograma
normal, pode receber alta em uso de cefalexina via oral
(F)
5. O RN merece uma ecografia de rins e vias urinárias (V).

Conclusão

O RN que foi de alta em bom estado geral e retorna com febre


exige um exercício de raciocínio que não deve limitar-se a afastar
ou confirmar infecção bacteriana por meio do hemograma.
O leque de possibilidades deve incluir baixa ingesta de leite,
108 infecção bacteriana, pneumonia vira/bronquiolite, infecção por
herpes vírus e cardiopatias congênitas.

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Capítulo 3

Cuidados ao
Recém-Nascido
Criticamente
Doente
Assistência ao Recém-Nascido de Risco

3.1 RECÉM-NASCIDO DE MUITO MUITO BAIXO PESO

Paulo R. Margotto/Jefferson Guimarães Resende

Introdução

São recém-nascidos com peso ao nascer abaixo de 1000g • Homeostase do Potássio


com idade gestacional menor que 28 semanas e compreendem Os recém-nascidos de muito baixo peso apresentam balanço
0,98% da população nascida viva na Maternidade do Hospital positivo de potássio.
Regional da Asa Sul, com uma taxa de sobrevivência de 52,6%. O alto metabolismo, insensibilidade a aldosterona, excreção
O maior desafio terapêutico no manejo destes RN é o controle dos diminuída de potássio são características de uma imaturidade
desarranjos fisiopatológicos resultantes da marcada imaturidade. da função tubular; aumentando os riscos de hipercalemia no pré-
termo nos primeiros 3-4 dias de vida.
Transição Para A Vida Extrauterina
• Homeostase da água
1. Redistribuição da água corpórea Frente a uma carga de líquidos, mesmo os RN mais pré-termos
Diferença na água orgânica que ocorrem entre os períodos fe- têm capacidade de produzir uma urina diluída. Apesar desta ca-
tal e neonatal pacidade, quando submetidos a uma sobrecarga de água, ocorre
Mudança gradual em associação à maturação e ao crescimen- uma limitação da taxa de excreção de água, resultante de uma
to: a água corpórea total e o volume do líquido extracelular de- limitada taxa de filtração glomerular, limitada habilidade de
crescem com o progredir da idade gestacional. concentração (incapacidade de alcançar níveis de osmolaridade
O pré-termo está em estado de relativa expansão do volume acima de 700 mOsml/l, imaturidade morfológica da alça
extracelular e de um excesso de água corporal total. de Henle e acúmulo limitado de uréia no interstício medular devi-
Para excretar a sobrecarga de volume, o pré-termo se utiliza o do ao estado altamente anabólico do RN são fatores que contri-
balanço negativo do sódio e a urina diluída. buem para esta condição).
Expansão aguda do compartimento extracelular ao nascimen-
to: há um desvio de água e dos eletrólitos do compartimento in- 3. Ambiente e balanço hídrico durante a transição
tracelular para o espaço extracelular. Vida intra-uterina: perda por evaporação é nula
À medida que os pré-termos estabelecem sua diurese com as Com nascimento: grande perda de água por evaporação na
subsequentes perdas de peso e contração do compartimento ex- pele (100-200 ml/Kg/dia de água livre)
110 tracelular, este volume é perdido. No neonato maduro, o metabolismo em repouso gera, a cada
dia, uma quantidade fixa de calor, da qual 23% é dissipada atra-
2. Alteração na Função renal vés da evaporação da água.
(Vide Capítulo de Injúria Renal Aguda) No neonato de muito baixo peso: não existe uma relação fixa
O glomérulo e o fluxo sangüíneo renal: entre taxa metabólica e perda insensível de água.
Na vida intra-uterina, a placenta é o principal órgão regulador Há evaporação passiva de grande quantidade de água devido à
da composição de líquidos. A contribuição do rim na homeosta- imaturidade da superfície corporal em relação à massa do corpo.
se é mínima. O prematuro poderá não se ajustar a grandes perdas de calor
A população total de néfrons acontece por volta de 34 sema- ambiental com um apropriado aumento da taxa metabólica basal.
nas e a superfície glomerular para filtração, continua a se desen- No intuito de reduzir esta grande perda insensível de água,
volver após o termo, mas a maior limitação para a filtração renal esses RN devem ficar mantidos em incubadoras com a umidade
dentro do útero é a baixa proporção do fluxo sangüíneo renal, de 90% nos primeiros três dias de vida, 80% no quarto dia e 70%
resultado de uma alta resistência dos vasos renais. do quinto ao sexto dia de vida em diante. Para os RN que ficam
Após o nascimento, ocorre uma rápida diminuição da vaso- em incubadora convencional de parede única, cobrí-los com um
constricção da artéria renal, havendo aumento do fluxo sangüí- plástico fino e transparente (modo de ação: reduz tanto a per-
neo renal e filtração glomerular. da de calor irradiante para as paredes mais frias da incubadora,
Nos pré-termos, principalmente com idade gestacional menor como reduz a perda insensível de água.)
que 34 semanas, estas mudanças podem estar ausentes. Como
conseqüência de uma baixa filtração glomerular, teremos uma Prematuridade Extrema e Estado Hiperosmolar
inabilidade de excretar urina efetivamente, frente a uma sobre-
carga de líquidos e eletrólitos. No neonato com menos de 27 semanas de idade gestacional
e menos de 800 g ao nascer, os fatores fisiológicos e ambientais
• Homeostase do Sódio complicam o tratamento hídrico e eletrolítico
RN de termo tendem a manter um balanço positivo de sódio Nas primeiras 24-48 horas de vida: síndrome de desidratação,
devido a uma forte tendência de reabsorção do sódio filtrado. acompanhada de hipernatremia, hiperglicemia, hipercalemia,
Frente a uma sobrecarga de sódio, apresenta taxa de excreção sem oligúria, acidose ou colapso cardiovascular
limitada do soluto, com risco de hipernatremia. Diante desta situação, uma administração excessiva de fluidos
RN prematuro no período da 2a-5a semana de vida, existe uma ten- com eletrólitos poderá levar a uma aceleração da hiperglicemia e
dência à perda do sal, já que o túmulo distal parece ter uma resposta hipernatremia - risco da insuficiência cardíaca, edema pulmonar
diminuída aldosterona e uma resposta adrenal à renina é pobre. e lesão do SNC
No entanto, o pré-termo pode ser incapaz de aumentar a ex- Fator contribuinte mais importante para esta síndrome: evapo-
creção do soluto, devido a uma taxa de filtração glomerular dimi- ração transcutânea de água
nuída, associado a uma inabilidade de fluxo renal para néfrons Outros fatores contribuintes: limitada função renal e um com-
corticais perdedores de sal. partimento comparativamente expandido do fluido extracelular
Capitulo 3 Cuidados ao Recém-Nascido Criticamente Doente

O neonato extremo não tem capacidade de excretar o exces- que 27 semanas está pobremente desenvolvido e funcionalmente
so de sódio endógeno, em razão da filtração glomerular e fluxo incompetente. Por outro lado, mesmo o mais imaturo dos bebês,
plasmático renal, que são limitados, logo, a grande perda transe- quando exposto à vida extra-uterina, processará rápida maturação
pidérmica de água, isenta de sódio, leva a decréscimo do volume de sua pele de sorte que, em duas semanas ocorrerá a maturida-
circulatório e hipernatremia, azotemia e hipercalemia secundária de não somente da estrutura da pele como também de sua fun-
O pequeno neonato é relativamente insulino- insuficiente e in- ção, independente da idade gestacional pós-concepcional.
sulino- resistente Tem sido descrita alta PTEA nos RN extremamente prematuros.
Maior risco de hiperglicemia quando há administração de glico- Por exemplo, a perda de água através da evaporação aumenta em
se em concentrações superiores a 6 mg/Kg/min. 100% em um RN de 26 semanas quando a umidade relativa do ar
A hipernatremia pode ser um fator contribuinte para a intole- (UR) declina de 60% para 20%. Certamente este problema é signi-
rância de glicose. ficativo na cidade de Brasília que, nos meses de junho a setembro
Quando se tenta corrigir o estado hiperosmolar, aumentando a taxa experimenta umidade relativa do ar tão baixas quanto 16%.
de administração dos fluidos sem reduzir as concentrações de sódio e Para reduzir a perda trans-epidérmica de água
de glicose há agravamento na evolução clínica desses neonatos
Os RN pré-termos extremos cuja mãe fez uso do corticosteróide • Usar incubadora com dupla parede e que disponha de
apresentaram menor perda insensível de água (pelo aumento da mecanismo para controle interno da UR;
maturação das células epiteliais da pele), menos hipernatremia, • Manter a UR em 90% no primeiro dia, 80 % no segundo
maior diurese precoce e natriurese. Estes RN apresentam tam- dia e 70% até completar duas semanas;
bém maior reabsorção do líquido pulmonar devido ao aumento • As câmaras de umidificação deverão ser trocadas diaria-
da atividade da Na+-K+ ATPase. Com o aumento da expansão do mente para reduzir colonização da água do reservatório;
extracelular, ajuda a prevenir a hipernatremia e a hipercalemia foi descrito aumento de infecções por gram negativos em
não oligúrica pela estabilização da membrana celular que resulta RN submetidos a tratamento nessas incubadoras.
em diminuição da saída de K+ do intracelular para o extracelular. • Manter adequadas a temperatura e a umidade nos gases
ofertados ao RN.
Conduta • Manter a temperatura na incubadora na zona termo-neu-
tra, controlando a temperatura corporal do RN.
Este protocolo visa reunir orientações sobre a abordagem do • Aplicar TCM aquecido na pele do RN duas vezes ao dia,
pequeno prematuro na Unidade, considerando-se suas parti- sendo a primeira aplicação após o RN estar estável e
cularidades. Visa proteger a pele, primeira barreira natural de com os vasos cateterizados; as aplicações continuam até
proteção contra infecções e distúrbios hidro-eletrolíticos, o dano 14 dias de vida do RN.
pulmonar através de técnicas adequadas de suporte ventilatório, • Atenção: a temperatura da incubadora ficara sempre regu-
adequado equilíbrio hidro-eletrolítico e ácido-base, adequada nu- lada na temperatura mais alta da faixa termo-neutra, certa-
trição, proteção contra infecções hospitalares, além de fornecer mente sempre controlando a temperatura corporal do RN. 111
ambiente favorável a seu crescimento e desenvolvimento. • Existem outros Serviços que, ao invés de Incubadora com
dupla parede e umidificação ativa, mantém o prematu-
1. Fluidos e eletrólitos ro no berço aquecido e se utilizam tendas plásticas com
Manter estes RN em isolete com um umidificador extra para umidificação ativa através de termo-umidificador, man-
elevar a umidade a 80-90%; pelo risco da persistência do canal tendo, assim, a termo-umidificação do micro ambiente do
arterial e da doença pulmonar crônica, iniciar com 70-80 ml/Kg RN, com as facilidades do manuseio do RN geralmente
e nunca passamos de 150-160 ml/Kg (a não ser em casos de grave em berços de calor irradiante.
hipernatremia severa). Aceitar Na+ elevado (150-153 mEq/l). Ini-
ciar o Na+ 3o- 4o dia de vida (1 mEq% até 5 – 6 mEq% se Na+ Preservar a integridade da pele
abaixo de 140 mEq/Kg). Aceitar uma perda de peso de 15-18%. Para preservar a integridade da pele, que deve ser objetivo es-
Manusear a oferta de Na+ baseado na densidade urinária e no sencial no cuidado destes pequenos prematuros, serão adotadas
sódio sérico. Se o K+ estiver abaixo de 4,5 mEq/l e diurese pre- as seguintes medidas:
sente, iniciar o K+ com 0,5 mEq% no 3o-4o dia de vida, aumen-
tando até 2-3 mEq%. • Jamais afixar esparadrapo sobre a pele do RN;
Nota 1: Os eletrólitos devem ser dosados uma vez por semana • É essencial que o acesso venoso não lese a pele, bem
ou mais vezes, de acordo com a condição do RN. como é essencial que as coletas de sangue sejam fei-
Nota 2: Correção de hiponatremia (Na+ = 120 mEq/l) tas através da artéria umbilical. Assim, o primeiro acesso
eso x déficit x 0,7 (déficit: 130 - Na+ encontrado) vascular umbilical (venoso e arterial) será feito logo após
Usar o NaCl a 20% diluído 11 vezes Correr em duas horas (con- o nascimento e serão mantidos até 10 dias pós-natal;
sulte o capítulo Hidratação Venosa) não existem evidências definitivas de que o uso de ca-
teteres umbilicais por até 10 dias aumente a incidência
2. A redução da perda trans-epidérmica de água (PTEA) de Enterocolite Necrosante (ECN) ou infecção hospitalar;
e melhoria do controle térmico. Os objetivos são: • Na impossibilidade de acesso venoso, proceder apenas
acesso arterial, e vice-versa;
• Minimizar a ocorrência de lesões de pele; • É permitido infundir soluções no cateter arterial exceto
• Reduzir as taxas de infecção; soluções hipertônicas (cuidado com a correção de sódio),
• Melhorar a sobrevida e reduzir a morbidade. Fenobarbital, Gluconato de cálcio não diluído e drogas
vasoativas. As medicações através do cateter arterial re-
Preservar a integridade da pele é essencial no tratamento do querem sempre o uso de Bomba de Infusão; não podem
pequeno prematuro e todo o esforço deve ser empreendido nesse ser via de infusão de sangue e derivados.
sentido. As propriedades de barreira da pele são dependentes do • Na impossibilidade de acesso vascular umbilical, tentar
estrato córneo e, certamente, sua eficácia está na dependência acesso venoso através de PICC;
de sua integridade. Contudo, o estrato córneo dos RN menores

Paulo R. Margotto
Assistência ao Recém-Nascido de Risco

• Após 10 dias, retirar cateteres umbilicais e acessar vaso ser reduzida se o RN permanecer muito tempo na mesma;
através de PICC; se anterior há 10 dias, a decisão pelo • Os gases para reanimação e manutenção do RN até sua trans-
PICC será sempre decidida em grupo. Contra-indicações ferência para a UTI deverão estar umidificado e aquecido;
para uso do cateter arterial: doença hemorrágica, onfalo- • Cobrir o RN com plástico (pode ser filme de PVC) para
cele, onfalite, Peritonite, ECN, extrofia de bexiga. prevenir evaporação, se o RN tiver que permanecer muito
• Qualquer mudança de atitude em relação a cateteres de- tempo na Unidade de Calor Radiante;
verá ser discutida em equipe; • O CFR deverá ser mantido regulado em 30 cm H2O de
• A utilização de heparina nas soluções de infusão (0.25 PIP e 5 cm H2O de PEEP, FiO2 inicial de 40% (monitorizar
Unidades/ml) é importante para manter a patência do ca- com o oxímetro de pulso), como parâmetros iniciais de
teter, preservando assim as investidas na pele do RN no espera (stand by);
intuito de se conseguir acesso vascular; no entanto, em
nosso Serviço, não adotamos a utilização de Heparina, A ventilação com máscara facial em silicone, redonda e tama-
pois a mesma é incompatível com muitas drogas, trazen- nho prematuro é ideal e deve ser sempre a preferida; em nossa
do mais transtornos que solução para os RN. Não utilizar Unidade não seguimos a. De toda forma, a intubação endotra-
soluções apenas com água destilada nas infusões, pois queal está indicada para o RN abaixo de 1.000 gr se existirem as
provoca hemólise no sítio de liberação (ponta do cateter); seguintes condições:
• Ao colher sangue pelo cateter arterial, não fazê-lo em
tempo menor que 20 segundos para não alterar a velo- • Necessidade de succionar a traquéia devido mecônio ou
cidade de fluxo sangüíneo cerebral, com maior risco de sangue;
hemorragia intraventricular; • Falha em proporcionar adequada ventilação usando
• Aplicar cobertura hidrocolóide sobre a pele antes de afi- máscara facial, a despeito das manobras adequadas
xar micropore ou esparadrapo, no caso de fixação de ca- para se obter via aérea;
teteres, sondas, tubo orotraqueal, por exemplo; • Desconforto respiratório em que o (a) assistente julga
• Jamais afixar coletores de urina na pele destes RN; que será necessário manter ventilação pulmonar mecâ-
• Afixar o probe dos oxímetros de pulso apenas com tiras nica na UTI;
de pressão, que podem ser feitas com gaze e esparadra- • Anomalia congênita que deverá ser julgado caso a caso
po, desde que este não entre em contado com a pele, (exemplo da hérnia diafragmática, da hidropsia com hi-
ou ainda com peças de velcro desenvolvidas para tal e, drotórax ou ascite que limite a expansão torácica, etc.).
ainda, manter vigilância para que a posição do mesmo • Aplicação de surfactante quando indicada
não seja fator de lesão de pele; • É fundamental manter vigilância na expansão torácica
• Jelco será reservado para casos especiais em que não se durante a ventilação pulmonar, esteja ela sendo feita sob
conseguiu acesso profundo ou para transfusão de plaquetas; máscara ou sob TOT já que, havendo expansão torácica
112 • Probe de avaliação de temperatura somente será afixado exagerada, reduzir a PIP até 25 ou mesmo 20 cm de H2O;
com hidrogel, vigiando para que a posição dos mesmos por outro lado, se a PIP regulada não for suficiente para
não seja fator de lesão de pele; não sendo possível, me- promover expansão torácica satisfatória, aumentar a PIP
dir a temperatura com termômetro de mercúrio; até o nível necessário a uma adequada expansão, por
• Manipular o RN minimamente e com extremo cuidado exemplo, 35-45 cm de H2O. Mantenha a PEEP em 5 cm
para proteger sua pele. de H2O durante todo o tempo em que o RN necessitar de
• Fazer dextrostix com indicação precisa, aproveitando as cuidados ventilatórios.
coletas de sangue para se eliminar a necessidade de • Mantenha CPAP de 5 cm H2O, sob máscara facial, se o
perfurar a pele do RN; deve-se limitar a perfuração do RN esboçar qualquer desconforto respiratório, ainda que
calcanhar do RN para fazer dextrostix sem que haja uma o mesmo não tenha tido necessidade de ser reanimado;
razão muito clara para tal procedimento. vide adiante, Rotina de aplicação de surfactante.
• Jamais deixe o RN sem PEEP, ainda que para se proceder a
3. Monitorização dos gases sangüíneos limpeza do mesmo, durante a espera para sua transferên-
cia e também durante o transporte do mesmo para a UTI;
• Utilizar o Oxímetro de Pulso para monitorizar continua- • Reduza a FiO2, se possível, de acordo com o permitido
mente a saturação de oxigênio, objetivando faixas de 90- através de avaliação clínica ou, melhor ainda, se houver
95%; definir sempre os limites de alarme entre 88-96%. possibilidade, pela oximetria de pulso.
• Ao coletar sangue para gasometria, lembrar que o Radio-
meter 550 e o 735 necessitam somente 13 microlítros 5. Normas para a Aplicação de surfactante na Sala de Parto
para realizar o exame, não havendo necessidade de es- Consulte o capítulo Assistência Respiratória ao Recém-Nascido.
poliar mais o RN;
• Após surfactante: certamente aumenta a necessidade 6. Controle de infecção
de controles gasométricos, objetivando-se reduzir o vo- O controle de infecção nestes RN certamente é um dos capítu-
lume minuto, na maioria das vezes; mantenha o controle los mais importantes no cuidado com o prematuro extremo. Suas
da PaO2 pela via indireta da saturação. reservas são por demais escassas para permitir uma defesa efe-
tiva de sua integridade contra a invasão bacteriana.
4. Assistência ventilatória Não se inicia antibióticos a menos que existam argumentos de-
Na sala de parto fendidos por uma epidemiologia rica para tal (mãe com tempo de
bolsa rota > 24 horas, mãe com infecção bacteriana comprovada
• A preservação da pele começa nas manobras obstétricas ainda que clinicamente), pelas alterações do hemograma ou da PCR
e continuam no extremo cuidado durante as primeiras (consulte o capítulo Infecções Bacterianas); a utilização de antibióti-
ações com o RN; cos sem estas premissas deverá vir defendida por pelo menos três
• O aquecimento da Unidade de reanimação deve ser adequa- intensivistas e certamente poderá ser modificada na Visita.
do para manter sua temperatura (iniciar com 90%) devendo
Capitulo 3 Cuidados ao Recém-Nascido Criticamente Doente

Os cuidados com a pele, já enumerados, são os cuidados mais 9. Manuseio da dor e do stress (Manuseio Mínimo)
importantes para profilaxia contra infecções bacterianas que, • Evitar variações de pressão arterial e pressão venosa central,
quando existirem, serão tratadas com extremo rigor. fatores determinantes da hemoragia intraventricular
• Proteger o RN para que seu manuseio seja tal que proteja
7. Controles de diurese e glicemia o RN contra estímulos dolorosos;
O controle de diurese será feito pela pesagem de fraldas; ja- • Iniciar uso de Fentanil segundo protocolo da Unidade
mais afixe saco coletor na pele do RN a menos que isso seja refe- (consulte o capítulo Dor Neonatal);
rendado (assinado) por, pelo menos, três enfermeiras; • Não há indicação de midazolam;
O controle da glicemia continua sendo atribuição da auxiliar • Usar a técnica do holding para aconchegar o RN de modo
de enfermagem responsável pelo RN, porém utilizando-se san- mais confortável possível.
gue colhido na ocasião da execução de outros exames. Em não
havendo outros exames ou a perspectiva dos mesmos em curto 10. Manuseio do canal arterial
intervalo, fazer o “dextrostix” segundo a técnica habitual. Consulte o capítulo Persistência do Canal Arterial

8. Cuidados nutricionais 11. Displasia Broncopulmonar (DPB)


A nutrição parenteral com Aminoácidos e glicose começa no A displasia broncopulmonar deve ser prevenida. A adequada
primeiro dia em que o RN já esteja com um mínimo de estabilida- assistência ventilatória desde a sala de parto, com a utilização
de hemodinâmica, e segue o protocolo de nutrição parenteral da da PEEP em torno de 5 cm de H2O, a imposição de menores pi-
Unidade. No intuito inicial de fornecer calorias e nitrogênio para cos de pressão inspiratória (PIP) tem sido um dos pontos chaves
prevenir o catabolismo e balanço de nitrogênio positivo, iniciar na melhor resposta ao surfactante e na minimização das lesões
aminoácidos na primeira prescrição (1,5g/kg). Estes RN apre- pulmonares induzidas pela ventilação; assim, no atendimento na
sentam uma perda protéica de 0,5-1g/Kg/dia, causando signifi- sala de parto é essencial seguir a rotina estabelecida. A ventila-
cante retardo do crescimento e outras morbidades, importantes ção pulmonar mecânica na deve ser gentil, pelo menor tempo
como a hiperglicemia que resulta de uma diminuição da secre- possível, passando rapidamente o RN para o CPAP. A repetição
ção de insulina em resposta à queda da concentração plasmá- das doses de surfactante deve seguir protocolo já estabelecido
tica de aminoácidos responsáveis pela estimulação da insulina. (consulte o capítulo Surfactante Pulmonar), O RN deve ser retira-
Outra forma de entender como a administração precoce de do o mais precoce possivel do respirador
aminoácidos nestes RN previne a hiperglicemia: apesar da gran- O manuseio hidreletrolítico é fundamental já que se houver
de síntese protéica nesta idade, a adequação do aminoácido edema intersticial pulmonar, que se consegue, entre outras coi-
(AA) excede ao gasto para a síntese protéica e este excesso de sas, com excesso de infusão de líquidos de baixa osmolaridade,
AA é oxidado produzindo energia e esta oxidação é documen- enseja redução da complacência pulmonar, o que imporá maio-
tada pela identificação da uréia no metabolismo destes fetos. res PIP, favorecendo lesão alveolar.
Quando o cordão umbilical é ligado ao nascer, há um corte abrup- A presença de corioamnionite materna impõe maior vigilância 113
to de oferta de AA a esta criança e isto leva a um estado que já que tem sido descrita como fator predisponente de DBP no RN.
a literatura chama de inanição. Este estado de inanição neste Fechar o canal arterial, se hemodinamicamente significativo, é
RN prematuro provoca uma produção exagerada de glicose. Por outro elemento importante já que o canal arterial aberto propicia
muitos anos, a hiperglicemia foi interpretada como intolerância edema pulmonar, redução da complacência, do mesmo modo como
destes RN a infusões de glicose. descrito acima para excesso de infusão de líquidos. Ao sinal clínico
Em 2002, Sunehag AL e Haymond MW documentaram cienti- de sopro sistólico sugestivo, ao lado de pulsos arteriais amplos, ob-
ficamente que não havia um aumento de tolerância à glicose e ter a Ecocardiografia com urgência para instituir o tratamento rapi-
sim a não necessidade da produção exagerada de glicose, pois damente; se a ecocardiografia for impossível, discutir em equipe e
não havia inanição quando se acrescentava precocemente AA ao iniciar o tratamento apenas com as evidências clínicas.
esquema de nutrição parenteral do nosso RN pré-termo extremo. Um RN que passe mais que 24-48 horas em ventilação pulmo-
A nutrição enteral mínima (com leite materno ou leite humano nar deve receber atenção redobrada, com discussão ampliada de
do branco) deve ser iniciada o mais precoce possivel (diminui a seu caso para se avaliar alterações de conduta já que este é um
sepse e a eterocolite necrosante): iniciar com 1 ml de 6/6 horas; forte candidato a ter DBP, principalmente se foi muito imaturo,
para os que sofreram (fetos centralizados, dopplerfluxometria ce- a mãe tiver tido corioamnionite e tiver requerido manobras de
rebral evidenciando baixo índice de resistência, em condições po- reanimação mais fortes.
licitêmicas asfixia) iniciar dieta enteral após 72 horas. Certamen- Ninguém está autorizado a instituir tratamento com corticóide,
te é necessário estabelecer que os RN não tenham alterações decidido isoladamente. Essa é uma decisão de grupo. O uso de corti-
hemodinâmicas. Progredir a dieta lentamente, buscando atingir cóide inalatório – Budesonida ou Beclometazona- parece não ter os
a cota calórica total de 120 cal/Kg/dia nos primeiros 10 dias. efeitos teóricos esperados. A bem da verdade, a displasia broncopul-
Não utilize fortificante do leite humano antes de 14 dias de vida monar é uma doença alveolar e não bronquiolar, daí os resultados
(consulte o capítulo Nutrição Enteral). com os corticóides inalatórios serem pouco satisfatórios.
Com 14 dias de vida, colher Cálcio e Fósforo urinários (urina de Uso de diuréticos: apenas a furosemida tem papel na displa-
6 horas), além de Cálcio, Fósforo e Fosfatase alcalina no sangue sia broncopulmonar por seu efeito direto nos pulmões, reduzindo
(consulte o capítulo Doença Metabólica Óssea da Prematuridade) edema intersticial, além se seu efeito em alça. Lembramos que,
Ao primeiro sinal de enterocolite necrosante, refluxo duodeno- antes de usá-lo, garantir que a restrição hídrica já está sendo
gástrico e ainda que leve distensão abdominal suspeitar de es- bem realizada (consulte o capítulo Displasia Broncopulmonar)
tágio IA de Bell e o tratamento deve ser prontamente iniciado.
(consulte o capítulo Enterocolite Necrosante).

Paulo R. Margotto
Assistência ao Recém-Nascido de Risco

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lógica isquêmica e hemorrágica do prematuro:patogenia, fatores • Resende, JG. Características físicas e funcionais de um ventilador pulmonar mecânico
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Durante toda a permanência do RN na UTI a mãe deverá ser Nutrição do Recém-Nascido
estimulada a recolher seu leite, participar de todo o processo de • Woodward LJ e cl. Neonatal MRI to predict neurodevelopmental outcomes in preterm in-
fants. N Eng J Med 355:685, 2006
cuidados com seu RN, preparando os pais para todo o processo • Dammann O and Leviton A.Neuroimaging and the prediction of outcomes in preterm in-
fants. N Eng J Med 355, 2006
de tratamento e posterior cuidado de seu RN (consulte o capítulo • De Castro MP, Rugolo LMSS, Margotto PR. Sobrevida e morbidade em prematuros com
Transnatalidade e primeiras relações pais/bebê pré-termo) menos de 32 semanas de gestação na região central do Brasil. Rev Bras Ginecol Obstet
34:235, 2012
Assim que o RN estiver em condições clínicas adequadas – ge-
ralmente com 33 semanas de idade gestacional pós-concepção
(IgPC) e 1.300 gramas, deverá ser transferido para a Unidade
Canguru (consulte o capítulo Alojamento Conjunto para bebês
saudáveis e de cuidados especiais/Unidade Canguru ).

14. Seguimento
Ambulatório de Alto Risco/ Terapia Ocupacional (consulte o ca-
pítulo Seguimento do Recém-Nascido de Risco).

Bibliografia
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Capitulo 3 Cuidados ao Recém-Nascido Criticamente Doente

3.2 ATENDIMENTO HUMANIZADO EM UNIDADE DE TERAPIA INTENSIVA NEONATAL

Mércia Maria Fernandes de Lima Lira

Introdução

As Unidades de Terapia Intensiva Neonatal (UTIN) são locais onde zes. São muitos os fatores considerados como estressores para
se pratica medicina de excelência em pacientes extraordinários. os pacientes, familiares e equipe.
O local é em geral repleto de equipamentos e rico em tec- Para os recém-nascidos: Segundo Ricardo Silva,(2002), o am-
nologia. São muitos os profissionais envolvidos nos cuidados biente da UTIN pode ser considerado como um ambiente de exces-
como médicos, enfermeiros, fisioterapeutas, psicólogos, assis- sos. Há excesso de ruídos, de estímulos, muitos em geral inade-
tentes sociais entre outros.É contínuo o movimento de admis- quados. Estes fatores associados à prematuridade e ou patologias
sões, de intervenções no setor. No meio dessas atividades se apresentadas pelo bebe, à dor produzida pelos procedimentos, pe-
encontra o bebê. Alguns pesam menos de um quilo. Todos ne- los tubos, sondas, juntamente com a perda do contato com o útero
cessitam de cuidados especiais. Necessitam de incubadoras materno, com seus familiares, podem desencadear a síndrome do
para mantê-los aquecidos, de oxigênio para evitar asfixia, de estresse, interferências nos sistemas de auto-regulação dos be-
sondas ou cateteres para alimentá-los. Tudo isto é necessá- bês, acarretando desequilíbrio nos mecanismos de homeostase,
rio para mantê-los vivos.É inquestionável que a evolução da no desenvolvimento cognitivo e na aprendizagem da criança.
tecnologia modificou o prognostico e a sobrevida dos recém- A dor é uma das principais causas de estresse presentes na
nascidos. No entanto os mesmos sofrem em decorrência do UTI. Em estudo realizado com recém nascidos por Guinsburg, em
nascimento prematuro, das patologias congênitas, infecções 1998, foi observado que os pacientes quando intubados, sem
adquiridas. A fragilidade da pele,a presença de tubos, sondas receber analgesia apresentavam alterações fisiológicas, compor-
são causas de sofrimento. Eles não estão preparados para tamentais e endocrinologicas decorrentes da dor, comprovando
tantos estímulos. Já não estão protegidos pelo liquido amni- ser a dor uma causa de estresse . Anand (2001) em estudo ex-
ótico, não sentem os batimentos cardíacos da sua mãe, não perimental confirmou a hipótese que a exposição repetitiva à dor
escutam o som da voz costumeira. São outros os ruídos. São neonatal pode causar alterações permanentes ou a mudanças a
outras as vozes. Tudo é estranho, assustador. longo prazo, devido desenvolvimento da plasticidade do cérebro
Para os pais, a UTIN é um mister de esperança e de medo. imaturo. Relata também que a dor repetitiva durante o período
Esperança por saber que este é um local preparado para atender neonatal e a exposição prolongada a drogas analgésicas podem
melhor o seu filho e aumentar as chances de sobrevida. Medo alterar a organização neuronal e simpática permanentemente.
por saber dos riscos inerentes aos pacientes que vão para a Para os pais: pesquisa feita por Carter e Miles, em 1983, reve- 115
UTIN. Apresentam também sentimento de frustração, por não lou o que os pais consideram como estressores mais importan-
estarem em geral preparados para esta separação. Sonharam tes presentes na UTIN: a aparência dos filhos, ver tubos e sondas
em ter um filho a termo, saudável e levá-lo para casa logo após o na boca e narinas das crianças, não receber noticias claras sobre
nascimento. Poder cuidar do seu bebe. Estudo realizado por Sei- a evolução dos filhos, não conhecer a equipe, não poder partici-
dmann, em 1997, revelou ser um dos fatores mais estressantes par dos cuidados dos filhos, as visitas com tempo limitado, os
para os pais a perda da sua função ou relação com o filho, altera- equipamentos. Para a mãe dos pré-termos a situação é agravada
da pelos fatores que não permitem o manuseio, o toque, o cuidar. pelo fato dela não está em geral preparada para a interrupção
A equipe de profissionais que trabalha na UTIN também é sub- da gravidez. Há uma abrupta perda do contato mãe-filho, a inter-
metida a vários fatores estressantes. O ritmo do trabalho é in- nação na UTIN é prolongada e a interação fica mais prejudicada.
tenso, exaustivo. Há uma exigência crescente de eficiência, de Para a equipe: o trabalho na UTIN também é estressante para
atualização de conhecimento. É necessário ter habilidade no ma- a equipe. Fadiga pelo ritmo de trabalho em geral excessivo. Lidar
nuseio dos pacientes, na execução das técnicas. com questões de vida e morte continuamente. Questões éticas
Todos esses fatores têm acarretado conseqüências aos pa- que impõem decisões freqüentes e difíceis. Ambiente fechado,
cientes, familiares e equipes das UTIN. Pesquisas têm sido pu- alto grau de exigência dos demais profissionais do Hospital, da
blicadas sobre os efeitos da internação hospitalar em crianças, família dos pacientes, e dos próprios colegas da equipe pode
e nos seus familiares e sobre as relações estabelecidas entre acarretar desestruturação.
os profissionais das UTIs e as famílias dos pacientes internados,
entre os próprios profissionais, e com os pacientes. Alguns Efeitos Produzidos
A internação é sempre uma situação estressante, principal- Pela Internação Na UTIN
mente se ela ocorre em uma UTI, onde a associação com perdas
e morte é ainda hoje inevitável. É difícil caracterizar no paciente grave as alterações decorren-
O conhecimento da realidade de que as UTINs são causa de tes do estresse produzido pela internação considerando-se que as
estresse para os pacientes, seus familiares e as equipes está mesmas podem se manifestar através de respostas fisiológicas,
sendo responsável por uma mudança na forma da atenção pres- comportamentais e endocrinometabolicas semelhantes às alte-
tada aos pacientes, não se restringindo a tratar a doença, mas rações decorrentes das manifestações produzidas por distúrbios
cuidando para que o mesmo não tenha seqüelas físicas nem hemodinâmicos secundários as patologias, pela dor.
emocionais. Há hoje a consciência de ser essencial HUMANIZAR A resposta ao estresse no RN internado na UTIN pode se mani-
o nascimento ou o parto? e as UTINs. festar de várias formas.
Podem ser observadas alterações fisiológicas manifestadas pe-
Fatores Estressores las alterações de freqüência cardíaca que podem variar de < 120
a >160bpm, freqüência respiratória de<40 >60rpm, saturação de
A compreensão dos fatores que produzem estresse na UTIN é oxigênio (PSaO2) < 92%. Podem ocorrer alterações comportamen-
crucial para o planejamento das intervenções oportunas e efica- tais observadas pela fácies com músculos contraídos, olhos flutu-

Paulo R. Margotto
Assistência ao Recém-Nascido de Risco

ando sem fixação ocular, pela característica do choro, pela postura petências e dificuldades) e usar essas observações para
no leito que pode apresentar flacidez de braços, pernas, troncos oferecer-lhes cuidados individualizados. É a passagem dos
ou extensão ,contorcionamento ou arqueamento. Sustos bocejos cuidados do bebe para os cuidados com o bebe.
e espirros freqüentes, dedos afastados ou mãos cerradas. Altera- • Controlar a dor com terapêutica adequada. A dor é um dos
ções endócrinas metabólicas, observadas através de alterações maiores fatores estressores e responsável por muitas alte-
dos chamados hormônios do estresse como glicemia, cortisol, hor- rações comportamentais, fisiológicas e endocrinológicas,
mônio do crescimento. Devemos estar atentos aos sinais e sinto- e deve ser tratada de forma eficaz (consulte o capítulo Dor
mas apresentados pelo bebe, e principalmente tentar detectar os Neonatal) com o uso de Escalas de avaliação que devem
fatores que desencadeiam essas alterações para adotar medidas ser aplicadas pela equipe para um adequado tratamento.
preventivas e mais adequadas. Alterações psicoemocionais e Considerar também terapias não medicamentosas.
• Permitir permanência dos pais na UTIN (direito assegura-
Intervenções Que Devem Ser Adotadas Nas UTIN do pelo ECA) e ou visitas com horários mais flexíveis para
Para Humanizar O Atendimento fortalecimento dos laços afetivos, promoção de vínculo
mãe-bebê e seus familiares, promovendo contato físico,
É inquestionável que a atuação no âmbito da recuperação físi- ocular e sonoro, amamentando quando possível e parti-
ca do paciente na UTIN é prioridade, mas existe a consciência da cipando dos seus cuidados.
necessidade de se utizilar meios para combater o estresse em • Controlando ruídos e a luminosidade, a fim de respeitar
todo o seu contexto. Sabemos que o estresse, resposta não espe- os ciclos de sono e evitar estresse do bebê
cifica do corpo a uma demanda, desencadeia reações que inicial-
mente podem ser benéficas, mas se persistirem, serão respon- É importante entender que para Humanizar o atendimento
sáveis por aumento da morbidade e mortalidade dos pacientes. ao paciente é necessário ocorrer a melhoria do relacionamento
Por estas razões, medidas devem ser adotadas, de acordo com a entre o Hospital de maneira geral e seu usuário, e que isto não
realidade e possibilidade de cada UTIN, para diminuir os efeitos depende exclusivamente de técnicas, mas sobretudo de uma po-
negativos e ou problemas psicoemocionais, comportamentais, lítica de ação na qual não se omita o esforço da humanização de
motores, desencadeados pela doença e ou permanência na seus serviços, posto que a humanização é a característica funda-
UTIN. Citaremos medidas já adotadas em algumas unidades que mental de uma administração eficaz. A humanização não resulta
contribuem para tornar as UTIN mais humanas. apenas da aplicação de recursos materiais, mas essencialmente
da mudança de atitudes dos recursos humanos envolvidos no
Medidas Gerais processo. Daí a importância de que o trabalho possa abranger
todos os níveis de responsabilidades, ou seja a equipe técnica,
• Revisar o espaço físico destinado a UTIN, verificando pos- os próprios pacientes e seus familiares.
sibilidade de torná-lo mais agradável, funcional, dotando-
116 a de iluminação natural, climatização adequada, com Bibliografia
menos ruídos.
• Baldini SM, KrebesVLJ. Utilização do grupo de pais como recurso para o apoio psicológico
• Dotar a unidade de equipe multiprofissional, com o con- de pais de crianças internadas em UTI. Rev Neuropsiq da Inf e da Adol 9: 45, 2001
• Bedran JN. A UTI como Fonte de Estresse Psicológico. Anais da Faculdade de Medicina de
curso de fisioterapeutas, psicólogos, assistentes sociais, Minas Gerais 34: 43, 1985
terapeutas ocupacionais entre outros, para atender pa- • Carta dos direitos dos usuários da saúde / Ministério da Saúde. – 2. ed. –. Brasília: Minis-
tério da Saúde, 2007. 9 p. (Série E. Legislação de Saúde)
cientes, familiares e a equipe que também necessita de • Chrousos GP. Os Conceitos e Distúrbios do Sistema de Estresse. JAMA 3:1, 1993
apoio, ajuda nos momentos dificies • Denyse T. C. Lamego. Desafios para a humanização do cuidado em uma unidade de tera-
pia intensiva neonatal cirúrgica. Ciências e saúde coletiva .10 (3), 2005
• Instituir reuniões com os pais/ equipe multidisciplinar • Deslandes, Suely Ferreira. A ótica de gestores sobre a humanização da assistência nas
maternidades municipais do Rio de Janeiro Ciênc. Saúde Coletiva vol.10 no.3 Rio de Ja-
para debater as situações novas vivenciadas pela famí- neiro July/Sept. 2005
lia, as dificuldades existentes, compartilhar experiências, • Farias FL. Alterações Comportamentais Ocasionadas pela Separação Mãe-Filho durante a
Hospitalização da Criança. R. B. Enfermagem 41:107, 1988
e fornecer apoio psicológico aos pais e equipe. • Gomes de Andrade MA.Nascimento pré-termo e formação de laços afetivos. In: Atenção
Humanizada ao Recém-Nascido de Baixo Peso, Método Canguru, Brasília- Ministério da
• Ter uma sala de espera para os familiares (exigência con- Saúde, 2000
tida na PT/MS 3432), confortável, acolhedora. • Guinsburg R. Resposta fisiológica,comportamental e hormonal a uma simples dose de
fentanil em neonatos pretermos intubados e ventilados. J Pediatr (Rio J) 132:954, 1998
• Um profissional de referencia a quem o familiar possa re- • Hamelin KRN. Interviewing Mothers of High Risk Infants. The Canadian Nurse L´enfermiere
canadienne – 93 , n° 6, 1997
correr no esclarecimento de duvidas torna os pais mais • Jacob LS. Manifestações do Estresse na Infância-Pediatria Moderna 32: 765, 1996
confiantes na equipe e no tratamento do seu filho. • Seidmann RY. Parental Stress and Coping in NICU and PICU. J Pediatr Nurs 12:169, 1997
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bebe, proporcionado-os a prática da parentalidade. • Estatuto da criança e do adolescente. Ministério da Saúde, Brasília, 1991
• A infância brasileira nos anos 80. UNICEF, Brasília, 1998
• Fornecer informações aos familiares de forma clara, com- • Silva RNM. Aspectos comportamentais do Bebê Pré-termo na UTI neonatal. Novos olhares
preensível, em linguagem simples contribui para maior sobre a Gestação e a Criança até os 3 anos, pg 417, 2002
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compreensão sobre o estado e evolução do bebe, produzin- dade de Terapia Intensiva Pediátrica. Tese de Mestrado (Universidade de Brasília). Dispo-
nível em www.paulomargotto.com.br (Humanização UTI), 2005
do tranqüilidade aos pais. • 19. Anand KS. Importância da dor neonatal. XVII Congresso Brasileiro de Perinatologia,
10-14/11/2001 - Florianópolis (SC). Disponível em www.paulomargotto.com.br, (Dor Ne-
• Ser sensível às necessidades individuais do paciente, família. onatal)

• Para o bebe

• A atenção ao paciente deve ser individualizada.


• Preconiza-se o uso do Programa de Avaliação e Cuida-
dos Individualizados para o Desenvolvimento do Neonato
(NIDCAP) que constitui uma filosofia de cuidar que envolve
todas as pessoas e todos os fatores que direta ou indireta-
mente interagem com o bebe e promove o profundo rela-
cionamento entre cuidadores e o bebe. Significa aprender
como observar os comportamentos dos bebes (suas com-
Capitulo 3 Cuidados ao Recém-Nascido Criticamente Doente

3.3 TRANSPORTE DO NEONATAL

Alessandra de Cássia Gonçalves Moreira, Paulo R. Margotto,


Sandra Lins, Luciana Jatubá

No início do século XX a noção de que a transferência de •Obter o consentimento após esclarecimento, por escrito, as-
recém-nascidos gravemente enfermos a centros de tratamento sinado pelo paciente ou seu responsável legal (dispensável
especializado contribuía para maior sobrevida, desencadeou o se houver risco de morte – documentar no prontuário)
desenvolvimento de tecnologia destinada para este fim. •Encaminhar relatório completo, legível e assinado (com
número do CRM)
•A responsabilidade inicial da remoção é do médico trans-
ferente, assistente ou substituto, até que o paciente seja
efetivamente recebido pelo médico receptor.

A equipe de transporte deve ser composta sempre por dois ele-


mentos, usualmente um médico e uma enfermeira, treinados em
procedimentos de atendimento emergencial ao RN, a falta de pes-
soal treinado pode aumentar a mortalidade ao invés de diminuí-la.
Quanto veículo de Transporte: o veículo de transporte neona-
tal deve conter fonte de luz e calor junto ao paciente, fonte de
oxigênio e ar comprimido, sistema de vácuo, espaço mínimo para
manipulação do RN e cintos de segurança para a equipe.
Conforme portaria do Ministério da Saúde (1999), o neonato
Early Neonatal Transport Technology Dr Julius H. Hess – Chicago 1923 deve ser transportado em ambulância do tipo D (Ambulância de
Suporte Avançado - ASA), aeronave ou nave equipada com:
Usher (Canadá, 1977) verificou que a transferência de RN criti-
camente doentes para centros de maior complexidade de atenção •Incubadora de transporte de recém-nascido com bateria
significou aumento de 100% na sobrevida. O período neonatal en- e ligação à tomada do veículo (12 volts), suporte em seu
volve doenças de curso rapidamente progressivo e a organização próprio pedestal para cilindro de oxigênio e ar comprimi-
do sistema assistencial com Centros de Tratamento Especializado do, controle de temperatura com alarme. A incubadora
sagrou-se necessária e benéfica, desde que o transporte seja rea- deve estar apoiada sobre carros com rodas devidamente 117
lizado da forma mais planejada e segura possível. fixadas quando dentro da ambulância;
O melhor veículo de transporte neonatal é o útero materno, quan- •Respirador de transporte neonatal;
do a assistência perinatal é regionalizada e hierarquizada, é possí- •Nos demais itens deve conter a mesma aparelhagem e
vel a identificação do risco no pré-natal e o adequado planejamento medicamentos de suporte avançado, com os tamanhos e
para que o nascimento de risco ocorra em locais onde a assistência especificações adequadas ao uso neonatal.
neonatal é adequada. Nesta condição, o transporte neonatal passa
a ser apenas um complemento deste programa. A transferência ne- Modos de Transporte
onatal visa adequar o nível de assistência neonatal às condições do
RN. É importante um sistema de comunicação rápido. 1. Ambulância
As principais indicações de transferência para centros especia- O transporte terrestre é indicado para distâncias de até 200
lizados de atenção neonatal são: Km, tem menor custo e permite parar, se necessário, para pro-
cedimento. Não há necessidade de velocidades excessivas se o
•Insuficiência respiratória grave paciente estiver estabilizado, velocidade de 60 km/h, sem con-
•Asfixia perinatal grave tramão ou desrespeito aos sinais são seguros. Após colocar o RN
•Prematuridade : IG < 32-34 e/ou peso < 1500 na ambulância, utilizar a fonte de O2 e elétrica do veículo.
•Cardiopatia congênita suspeita
•Isoimunização Rh 2. Aéreo
•Malformações congênitas Tipo E - Aeronave de Transporte Médico. Apesar do custo extre-
•Patologias cirúrgicas mamente elevado, esse tipo de transporte deve ser utilizado para
•Sepse neonatal grave distâncias superiores a 200 km.
•Convulsão de difícil controle
•Quando o RN recuperou-se da patologia que determinou •Helicóptero: bons para o transporte urbano, porém
a transferência, este deve retornar ao hospital de origem apresentam um nível elevado de ruído e vibração, não
para o término do tratamento (é a contra-referência). há pressurização da cabine. Distância máxima = 300Km
•Avião: rápido, com pouca vibração e ruído, mas necessita
Aspectos Legais Que Antecedem O Transporte do apoio de ambulâncias ou de helicópteros para trans-
porte do paciente do hospital ao aeroporto e vice-versa.
Resolução CFM nº 1.672, de 09 de julho de 2003:
Lembrar que grandes altitudes implicam em redução da pres-
•Realizar diagnóstico médico, com obrigatória avaliação e são barométrica e conseqüente redução da pressão parcial de O2
atendimento básico respiratório e hemodinâmico (pode haver necessidade de FiO2 mais elevada) e expansão dos
•Contatar o médico receptor ou diretor técnico no hospital gases, agravando quadros de escape aéreo e distensão gasosa.
de destino, e ter a concordância do(s) mesmo(s) As forças de aceleração e desaceleração no transporte por avião

Paulo R. Margotto
Assistência ao Recém-Nascido de Risco

deve ser valorizada nos casos de edema/hemorragia cerebral e •Dois cadarços ou fita umbilical
hipotensão/choque. •Eletrodos
•Gel para eletrodos e Doppler
Material •Lâminas para depilar couro cabeludo
•Scalps nº 19-21-23-25-27
Grande Porte •Agulhas (vários calibres) e seringas descartáveis: 1-3-5-10 ml
•Seringa para abrir ampolas
•Misturador, aquecedor, umidificador e medidor de gases •Gases e compressas estéreis
(fluxômetro); •Tesoura e pinça para clampeamento (duas)
•Bomba de infusão a pilha ou microgotas; •Esparadrapo e micropores
•Suportes para frascos de soro; •Luvas: nº 7,5 e 8,0
•Tensiômetro Doppler com manguito para RN; •Pilhas: pequena, média e grande
•Material para ventilação manual: ventiladores manuais, •Fichas do RN e do transporte
entre os quais o Continous Flow Reviver-CFR: este a apa- •Aparelho para glicemia capilar
relho de ventilação manual possibilita o controle da pres- •Óculos, máscaras e aventais de proteção
são inspiratória e expiratória, aumentando a segurança
da ventiloterapia durante o transporte neonatal, prote- Medicamentos e Soluções
gendo o RN do barotrauma e da hipoventilação (consulte
o capítulo de Assistência ao Recém-Nascido na Sala de •Adrenalina 1:1000
Parto), máscaras e tubos endotraqueais adequados; •Adenosina
•Amiodarona
CFR de Transporte •Ampicilina ou Penicilina
•Amicacina ou gentamicina
•Naloxone
•Dopamina e Dobutamina
•Furosemida
•Prostaglandina (PGE2)
•Pancurônio
•Vitamina K
•Atropina
•Dexametasona
•Fenobarbital sódico
118 •Difenilhidantoína
•Midazolan
•Noradrenalina
•Heparina
•Xilocaína gel
•Água destilada
•Solução fisiológica
•Solução de glicose 5%
•Solução de glicose 10%
•Cloreto de sódio 20%
•Cloreto de potássio 10%
•Oxímetro a pilha; •Gluconato de cálcio 10%
•Saquinhos de areia (2); •Bicarbonato de sódio 8,4%
•Hood: pequeno
Estabilizando O RN para o Transporte
Pequeno porte
O RNestabilizado apresenta
•Caixa de material para drenagem pleural (frasco para
selo d’água, drenos nº 12, 14, 16, borracha de látex esté- 1. Via Aérea patente e Ventilação adequada
ril e um frasco de solução fisiológica) 2. Pele e lábios rosados
•Caixa para flebotomia e cateterização umbilical 3. FC = 120-160 bpm
•Estetoscópio 4. Temperatura axilar = 36,5 a 37°C
•Caixa de emergência: laringoscópio, lâminas retas nº 00, 5. Problemas metabólicos corrigidos
0 e 1, tubos endo-traqueais nº 2,0 - 2,5- 3,0 -3,5 – 4,0 6. Situações especiais controladas
•Borrachas (látex) para oxigenoterapia e aspiração: iden-
tificadas Prover a permeabilidade das vias aéreas: aspirar secreções da
•Relógios de segundos boca, nariz e faringe antes de iniciar o transporte, posicionar corre-
•Lanterna pequena tamente o RN evitando flexão da cabeça. Havendo dúvidas quanto a
•Termômetro intubação, é melhor fazer a intubação na Unidade antes do transpor-
•Sondas de aspiração traqueal nº 4 a 8 te, pelas melhores condições para a realização do procedimento. A
•Sondas gástricas nº 4 a 12 intubação/extubação durante o transporte são situações de grande
•Sondas vesicais nº 4 a 8 complexidade e exige da equipe muito habilidade e, sobretudo, cal-
•Almotolias com anti-séptico ma. A fixação da cânula deve ser realizada com atenção redobrada.
•Quatro braçadeiras para fixação do RN
Capitulo 3 Cuidados ao Recém-Nascido Criticamente Doente

Utilizar O2 suplementar em caso de cianose central: SatO2<


90%, manter PaO2 entre 50-80 mmHg. A ventilação assistida
está formalmente indicada nas seguintes situações:

•Respiração arrítmica, irregular ou superficial


•PaO2 < 50 mmHg e/ou PaCO2 > 45 mmHg (nas primeiras
72 horas de vida)
•FiO2 > 0,6 em HOOD e/ou CPAP para manter PaO2 normal
•RN < 1500 g com risco de fadiga respiratória

O uso de CPAP nasal para transporte tem se mostrado seguro


e eficiente, podendo ser utilizado em pacientes estabilizados do
ponto de vista respiratório e que estejam utilizando FiO2 < 60%.
Em caso de pneumotórax, obrigatoriamente praticar a drena- Durante O Transporte
gem torácica, sob selo d’água e fixação segura para prevenir piora
do barotrauma e compressão de estruturas mediastinais durante •Manter a homeostase
o transporte. É contra-indicado o transporte apenas com jelco (ris- •Observar permeabilidade das vias aéreas: posição do
co de perfuração pulmonar + drenagem ineficaz do escape). RN, presença de secreções, posição e fixação do TOT,
Sempre que possível, avaliar se há indicação de uso do Sur- ritmo respiratório, expansibilidade torácica, cianose e sa-
factante exógeno e administrá-lo o mais precocemente possível. turação de oxigênio
Estabelecer o equilíbrio ácido-básico antes do transporte, manter •Evitar resfriamento ou hiperaquecimento, medir TAX a
pH sangüíneo > 7,25 e corrigir eventual acidose metabólica se cada 15 minutos
pH < 7,2 e BE < -10, apesar de ventilação adequada. •Controlar a FiO2, aliviar a cianose
O risco iminente de PCR não será abreviado pelo transpor- •Anotar eliminações, colocar saco coletor
te. PCR durante o transporte é, quase sempre, fatal, portanto, •Monitorizar a respiração: freqüência respiratória e Bole-
é contra-indicado o transporte em bradicardia (FC< 100bpm). tim de Silverman-Anderson
Se houver diagnóstico de choque/hipovolemia, iniciar imediata- •Monitorização cardiocirculatória: freqüência cardíaca,
mente expansores de volume – 10 ml/Kg em bolus o quanto for pulsos, pressão arterial, Perfusão periférica e cor da pele
necessário, instalar drogas vasoativas (Dopamina/dobutamina) •Monitorização metabólica: Glicemia capilar
em bomba de infusão para assegurar condições hemodinâmicas •Monitorização neurológica: Estado de vigília, tônus, ativi-
adequadas durante o transporte e providenciar acesso venoso dade, reatividade, reflexos, tremores, abalos e convulsão
confiável (dois acessos periféricos ou cateterismo venoso umbi- •Controlar perfusão venosa: equipe de mede-mede com
lical com fixação adequada). Caso haja suspeita de Cardiopatia escala em ml/min (colocar a quantidade de líquido sufi- 119
Congênita Canal-Dependente , iniciar PGE1 na dose de 0,05 ciente para o transporte)
mcg/Kg/min e reduzir a oferta de O2. •Verificar fixação de tubos, sondas, cateteres, eletrodos
Assegurar acesso venoso para infusão de glicose - 4 -6 mg/ •Verificar a conexão adequada dos equipamentos à fonte
kg/min, em bomba de infusão, com controle capilar periódico se de energia
RN de risco p/ hipoglicemia (30-30 min). Corrigir eventuais dis- •Prevenir infecção: material descartável, material não
túrbios metabólicos e hidroeletrolíticos antes do transporte. Em descartável esterilizado (borracha de aspiração, oxige-
caso de suspeita de sepse, colher hemocultura e iniciar antibioti- noterapia, frascos e soluções), mãos limpas, uniformes
coterapia de largo espectro o mais rápido possível, dar preferên- adequados, material de grande porte limpo)
cia aos esquemas simples (penicilina/Ampicilina e gentamicina). •Orientar o motorista para um transporte calmo e seguro
Controlar a convulsão, se existente. (verificar a qualidade do veículo, solicitar ao motorista
É fundamental transportar RN normotérmico, com TAX = 36,5 uma condução regular, sem solavancos ou curvas repen-
a 37°C. Evitar a perda de calor no RN através de radiação, con- tinas; o conforto e a regularidade se colocam antes da
vecção, evaporação e condução e mantê-lo em ambiente de tem- velocidade)
peratura neutra, para isso, secar adequadamente o RN e manter •Se houver intercorrência, parar a ambulância e realizar
a incubadora de transporte ligada à rede elétrica até o momento os procedimentos com calma
do transporte e somente utilizar a bateria a partir desse momento. •Ocorrendo o Óbito durante o transporte: o RN retorna ao
Ajuste da Temperatura da Isolete Hospital de origem. Para fins estatísticos, o óbito do RN
transferido pertence ao Hospital de origem)
Peso (g) Limites °C
<1200g 34 - 35,4 Situações Especiais De Transporte
1201 - 1500 33,9 – 34,4
•Hérnia diafragmática
1501 - 2500 32,8 – 33,8
evitar utilização de máscara com pressão positiva, dar priorida-
> 2500 e > 36 s 32,9 – 33,8 de à intubação e ventilação mecânica, providenciar esvaziamen-
to gástrico e manter SOG aberta, cabeceira elevada, transportar
Fonte: Zonas de Temperatura Neutra SCOPES & AHMED, 1966 em decúbito lateral (lado da hérnia)

Um recém-nascido despido exposto a uma temperatura ambiental •Atresia de esôfago


de 23◦C sofre a mesma perda de calor que um adulto despido em 0◦C Posição semi-sentada, aspiração buco faringea freqüente, se-
dar se necessário para evitar refluxo gástrico p/ traquéia e ins-
talar sonda (replogue) no coto proximal sob aspiração contínua
(vácuo ou aspirar c/ seringa 5-5 min)

Paulo R. Margotto
Assistência ao Recém-Nascido de Risco

• Malformações exteriorizadas Variável TRIPS Coeficiente β IC 95% Pontuação


(onfalocele, gastrosquise, mielomeningocele, espina bífida): Temperatura (°C)
Envolver a lesão com gases úmidas em solução fisiológica mor-
na, envolver o RN em campos aquecidos e esterilizados e evitar < 36.1 ou > 37.6 0.83 1.01 5.22 8
compressão da zona de malformação: uso de antibióticos profi-
36.1-36.5 ou 37.2-
láticos, se rotas. Em caso de gastrosquise, manter Taxa hídrica 0.08 0.44 2.65 1
37.6
venosa entre 120 a 140 ml/kg/dia até a correção do defeito
36.6-37.1 0
• Síndrome oclusiva Padrão respiratório
controlar a permeabilidade da SOG(utilizar sonda calibrosa), Grave(apnéia, gas-
1.44 1.91 9.35 14
aspirar antes e durante o transporte e anotar o volume de líquido ping, VM)
aspirado; hidratação adequada Moderado (FR > 60
0.50 0.43 6.37 5
e/ou SatO2 < 85)
Avaliação Do Transporte Nenhum (FR < 60 e/
0
ou SpO2 > 85)
Embora o transporte infantil seja um componente chave no PA Sistólica(mmHg)
cuidado neonatal/perinatal, há uma falta de instrumentos ade-
< 20 2.56 2.88 57.67 26
quados para avaliar o cuidado no transporte.
20–40 1.63 2.31 11.30 16
O SNAP-II (Score for Neonatal Acute Physiology - Version II) não
é adequado para o transporte porque requer coleta de dados pro- > 40 0
longados por mais de 12h. Resposta a estímulo
Lee e cl examinaram todas as crianças, nascidas externamen- Nenhum, convulsão,
1.74 2.46 13.30 17
te, que foram transportadas por 8 Unidades de Cuidado Intensivo relaxamento muscular
Canadense (N=2437 crianças), com uma proposta de criar um Resposta letárgica,
0.64 0.72 5.01 6
sistema baseado na fisiologia, validado e prático para a avaliação ausência de choro
dos resultados de transporte de RN. Retirada vigorosa,
O estudo incluiu 1723 crianças (71%) que tenham dados com- 0
choro
pletos do transporte.
O TRIPS compreende 4 itens: temperatura, pressão arterial,
status respiratório e resposta ao estímulo álgico. Para a mortalidade na UTI Neonatal nos primeiros 7 dias e para
Os dados foram colhidos imediatamente antes da saída do a mortalidade total, o TRIPS discriminou mortalidade de sobrevi-
Hospital de origem e imediatamente na chegada ao Hospital de vência com a área sob a curva (Curva ROC) de 0,83 e 0,76 res-
120 referência (dentro de 15 minutos). Assim, a mudança na pontu- pectivamente.
ação TRIPS medida antes e após o transporte inclui o efeito do O aumento e diminuição do escore TRIPS após o transporte foi as-
cuidado proporcionado à criança pela equipe de transporte. sociado com aumento e diminuição da mortalidade respectivamente.
Os autores usaram a Curva ROC para avaliar o desempenho O TRIPS pode ser usado para avaliar os aspectos não relacio-
do TRIPS na predicção dos critérios padrões da mortalidade no nados ao transporte; por exemplo: variações inter-hospitais no
7º dia (idade gestacional ≤ 32 semanas e > 32 semanas). Para TRIPS do pré-transporte pode proporcionar subsídios no cuidado
as crianças ≤ 32 semanas de gestação e com idade dentro de oferecido às crianças antes da chegada da equipe de transpor-
72h de vida, o TRIPS foi avaliado para a predicção de hemorragia te, podendo ser útil na identificação de intervenções potenciais,
intraventricular - HIV severa (≥ grau 3 da classificação de Papile como, treinamento de ressuscitação, melhorando assim a esta-
e cl). A HIV é mais provável ser afetada pelo transporte do que bilização das crianças antes da chegada da equipe de transpor-
qualquer outra morbidade maior na UTI Neonatal. te. Assim, o TRIPS pode ser usado para monitorizar a qualidade
Para a predicção de HP/HIV: a área sob a curva (Curva ROC) do cuidado em Hospitais da comunidade antes do transporte da
foi de 0,74. criança e seguir decisões para melhorar os recursos.
O TRIPS é um escore de transporte neonatal baseado no risco, Os autores não encontraram diferenças significantes entre o
sendo útil na predicção da mortalidade no 7º dia, da mortalidade TRIPS e o SNAP-II na predicção da mortalidade no 7º dia, na morta-
total da UTI Neonatal e HP/HIV severa. Houve um prognóstico lidade total na UTI Neonatal e na HP/HIV severa. Assim, o TRIP po-
correto da mortalidade no 7º dia quando o status do paciente deria até ser usado para avaliar a severidade da doença no tempo
mudou após o transporte. Assim, o TRIPS pode ser usado para de admissão na UTI Neonatal, mas isto requer validação separada
examinar as possíveis razões para a mudança no status do pa- em crianças nascidas no mesmo Hospital da UTI Neonatal.
ciente durante o transporte e para identificar soluções potenciais O TRIP não é dirigido para a tomada de decisão ética e não
(exemplo: hipotermia - identificar intervenções, como, melhor deve ser usado como um substituto para o julgamento clínico.
monitoramento da temperatura e regulação melhor da incuba- O transporte intra-hospitalar, apesar das distâncias menores
dora de transporte). Muitas vezes a diminuição do TRIPS após o deve seguir as mesmas determinações aqui colocadas para o
transporte pode ser devido à deterioração da criança em função transporte entre hospitais.
da gravidade do seu quadro clínico. Uma vez terminado o transporte, deverá ser feito a reposição do
material gasto e preparo do equipamento para novo transporte.
É importante que seja mantida a educação continuada do pes-
soal envolvido com a assistência ao RN no transporte.
O transporte deve ser seguro para o RN e para a equipe.
Capitulo 3 Cuidados ao Recém-Nascido Criticamente Doente

Bibliografia
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• Conselho Federal De Medicina. Resolução n.° 1.672, de 29 de julho de 2003. Dispõe
sobre o transporte inter-hospitalar de pacientes e dá outras providências. Diário Oficial da
União, Brasília, DF, 29 jul. 2003b.
• Ministério Da Saúde. Portaria n.º 2048/GM Em 5 de novembro de 2002. Regulamenta o
atendimento das urgências e emergências.

121

Paulo R. Margotto
Assistência ao Recém-Nascido de Risco

3.4 DOR NEONATAL

Paulo R. Margotto

Importância Da Dor Neonatal

A dor é extremamente freqüente na UTI Neonatal. Nos primeiros É mais objetivo perguntar se o RN tem substrato neurológico
14 dias de vida numa avaliação de 151 pacientes avaliados, são para a percepção da dor e se há consequências fisiológicas e
feitos 14 procedimentos dolorosos ao dia/por bebê e apenas 1/3 comportamentais da estimulação noceptiva.
destes procedimentos foram feitos sob analgesia (até 488 proce- Uma das causas freqüentemente colocada para justificar que o
dimentos dolorosos foram realizados em um RN de 23 semanas!). RN (prematuro e a termo) não tem percepção da dor é a falta de
A maioria destes procedimentos ocorre no primeiro dia de vida. mielinização. É importante lembrar que mesmo no adulto, 75%
O nascimento prematuro desvia para UTI o crescimento do cé- dos impulsos noceptivos são carreados através de fibras perifé-
rebro fetal (período rápido e crítico do desenvolvimento cerebral) ricas não mielinizadas. Dados neuroanatômicos recentes mos-
rompendo a progressão do desenvolvimento das estruturas ce- tram que a mielinização está presente nas vias tálamo-corticais
rebrais , afetando várias áreas críticas do crescimento cerebral: a partir da 22a - 23a semana de idade gestacional, estando com-
Migração celular, Sinaptogênese, Mielinização e Organização do pletamente mielinizado na 37a semana de gestação (com 30 se-
cérebro.Os neurônios corticais aumentam 10x mais entre 17- manas, as vias noceptivas até o tálamo já estão completamente
32sem (pico entre 28-32sem). mielinizadas) e já tem conexão tanto com o sistema límbico como
A UTI Neonatal é um ambiente caótico, barulhento e estressante. com o sistema cortical.
A questão da percepção da dor no recém-nascido (RN) é difícil Assim, o RN, incluindo o RN pré-termo extremo possui subs-
de responder, uma vez que dor é definida como um fenômeno trato neurológico para a nocicepção, ou seja, o RN está apto a
subjetivo, com forte componente emocional. integrar e responder ao estímulo doloroso.
Dor não é uma identidade homogênea. Há diferentes catego-
rias de dor: fisiológica, inflamatória, neuropática. Toda criança Repercussões A Longo Prazo Da Dor Neonatal
tem diferentes receptores e diferentes mecanismos que ajudam
na propagação do estímulo doloroso. As mudanças seqüenciais Em relação ao adulto, o RN apresenta maior sensibilidade à
que ocorrem no sistema de dor após o estímulo são: ativação dor; um estímulo doloroso no adulto, por exemplo, dedo na porta
de macroreceptores periféricos que são transdutores para estí- do banheiro, por exemplo, a dor no adulto dura 3 a 10 minutos;
mulos específicos; por exemplo: o calor ativa alguns receptores, já no RN, um estímulo doloroso dura 30 a 90 minutos - período
122 a dor mecânica é transmitida por canais iônicos, dor química é prolongado de hipersensibilidade seguindo à lesão, devido aos
transmitida dor por outros canais iônicos sensíveis ao ácido. As- fatores de stress ambiental (manuseio físico, tirar a temperatura,
sim, há diferentes tipos de ação no cortex sômato-sensor, através troca de fraldas). Esta foi uma conclusão de um estudo contro-
do tronco cerebral e o tálamo. lado. Estes estímulos levam a respostas neurofisiológicas, prin-
Nós sabemos que este sistema é bem desenvolvido no bebê a cipalmente estímulos dolorosos crônicos que terão impacto no
termo, gerando vários tipos de respostas comportamentais, como, desenvolvimento neurocomportamental e cognitivo na infância.
retirada do membro, expressões faciais, choro, reações estas ob- Estudo experimental conduzido por Anand e cl confirmou a hipó-
servadas clinicamente. Além disto, eles apresentam respostas fi- tese que a exposição repetitiva à dor neonatal pode causar altera-
siológicas, como queda da pressão arterial, queda da oxigenação. ções permanentes ou a mudanças a longo prazo, devido desenvol-
Nos últimos 5-10 anos descobrimos que os recém-nascidos vimento da plasticidade do cérebro imaturo. Os dados obtidos por
(RN) prematuros são mais susceptíveis à dor que os RN a ter- estes autores sugerem que a exposição repetitiva à dor pode levar
mo. Os prematuros têm limiares mais baixos para o reflexo de a um desenvolvimento alterado do sistema de dor associado com
retirada do membro (reflexo flexor vaso-cutâneo) que tem uma diminuição do limiar da dor durante o desenvolvimento. O aumen-
porção aferente medida pelas fibras C, fibras que mediam estí- to da plasticidade neonatal pode permitir estas e outras mudanças
mulos neurológicos. Também há uma maturação retardada das no desenvolvimento cerebral aumentando a sua vulnerabilidade
fibras inibitórias descendentes (a porção excitatória deste siste- aos distúrbios de stress e ansiedade quando adultos. Alterações
ma se desenvolve cedo, não havendo inibição descendente que comportamentais semelhantes têm sido observadas durante a in-
se desenvolve mais tarde). Há 3 estudos evidenciando que os fância tardia destes RN pré-termos que foram expostos a períodos
bebês têm um limiar mais alta de dor nas extremidades supe- prolongados de internação na UTI neonatal.
riores em comparação com as extremidades inferiores, porque Estudo experimental controlado com ratos recém-nascidos
as fibras inibitórias descendentes alcançaram a porção cervical com 1-7-14 dias de vida usando injeção de formalina na pata
da coluna dorsal e ainda tem que crescer para a porção lombar. anterior direita evidenciou que dor repetitiva leva à lesão neuro-
Assim, existem diferentes níveis de dor (muito mais dor será pro- nal, devido à excessiva ativação de N-Metil-D-aspartato que leva
duzida nas extremidades inferiores que nos braços e mãos). a uma morte cerebral citotóxica. Estas alterações promovem dois
Os RN prematuros carregam respostas muito mais agudas e ro- comportamentos1 distintos caracterizados pelo aumento da an-
bustas à dor, tais como alterações cardiovasculares, hormonais siedade, sensibilidade alterada a dor, distúrbios de stress, dis-
e metabólicas, necessitando estes RN de níveis mais elevados túrbio de atenção, levando deficiente habilidade sociais e padrão
de analgésico no plasma para produzir o mesmo efeito clínico do de comportamento autodestrutivo. A importância clínica destes
que nas crianças mais velhas ou no adulto. O estresse no recém- mecanismos implica na prevenção de insultos precoces, trata-
nascido é três a cinco vezes maior que no adulto na ausência mento efetivo da dor neonatal e stress e talvez a descoberta de
de anestesia durante uma intervenção cirúrgica Assim, os RN novas modalidades terapêuticas que limita a apoptose neuronal.
pré-termos são mais sensíveis à dor. Os estudos experimentais A experiência com a dor repetitiva durante o período neonatal
comprovam estes fatos (consulte o capítulo Transnatalidade e e a exposição prolongada a drogas analgésicas podem alterar a
Primeiras Relações Pais/Bebês Pré-termos) organização neuronal e simpática permanentemente.
Capitulo 3 Cuidados ao Recém-Nascido Criticamente Doente

Assim, os eventos que ocorrem na UTI Neonatal não somen- e intubação em RN prematuros acordados requerendo
te induzem alterações agudas (reações fisiológicas e comporta- anestesia para cirurgia)
mentais nos RN, mesmo aqueles mais prematuros), mas tam- •Alterações metabólicas: estresse com liberação de hor-
bém causa alterações estruturais e funcionais. Os ratos adultos mônios (cortisol, hormônio de crescimento e resposta
expostos à dor repetitiva não tratados tornaram-se mais ansio- catabólica - aumento do lactato).
sos, têm uma preferência maior para o álcool e limiar de dor •Mudanças no fluxo sanguíneo da pele: este fluxo aumen-
alterado, além de respostas alteradas a analgesia por morfina. tou 27 a 134% com procedimentos como, manuseio físi-
Espero que não saiam daqui para as festas e dizer que vão to- co, fisioterapia, aspiração do tubo, punção de calcanhar.
mar mais álcool porque quando RN foram prematuros e sentiram
muita dor. É surpreendente este achado, principalmente nas ra- Comportamento
tas fêmeas expostas à estimulação dolorosa no período neonatal
(reflexo do seu alto nível de ansiedade). •Choro: é um método primário de comunicação nos RN.
Adolescentes ex-pré-termos, principalmente meninas apresen- As mães, com frequência, sabem diferenciar vários tipos
taram maior sensibilidade a dor somática. Os pré-termos podem de choro nos seus bebês (dor, fome, desconforto, estres-
ser mais pronos a desenvolveram síndromes dolorosas no futuro. se). O choro é mais agudo, mais energia espectral, me-
As repostas comportamentais e fisiológicas pode aumentar a nos melodioso e mais áspero. Observamos a língua ten-
extensão da hemorragia intraventricular ou contribuir diretamen- sa. O choro como medida de dor deve ser acompanhado
te, devido produzir hipercapnia, assincronia com o respirador, e de outras medidas de avaliação da dor.
pneumotórax, causas sabidamente associadas com a ocorrência •Atividade motora: é um método sensível na avaliação da dor
da hemorragia intraventricular. •Expressão facial: método sensível útil e não invasivo: fron-
Portanto, assinalando os pontos mais importantes: te saliente, olhos espremidos, sulco naso labial aprofunda-
do e lábios entreabertos estão presentes em mais de 90%
1. A estimulação dolorosa repetitiva acentua a ativação dos RN submetidos a estímulos dolorosos. A análise da
do n-metil-d-aspartato (nmda) que leva a uma morte ce- expressão facial permite informações válidas, sensíveis e
rebral citotóxica. específicos a respeito da natureza e da intensidade da dor.
2. A falta de estimulação sensorial diminui o nmda levan-
do a uma regulação aberrante da apoptose neuronal.

Assim não somente à exposição a procedimentos invasivos re-


petitivos, mas também, a falta de estimulação tátil que normal-
mente um RN a termo recebe (é o olhar da mãe para o RN, e esta
interação é linda) também pode levar a morte neuronal.
123
3. A exposição ao amor materno, principalmente nos primei-
ros períodos de vida quando há um aumento da plasticida-
de cerebral, melhora os resultados neurológicos dos bebês
ex- pré-termos, além de melhora da sobrevida e do desen-
volvimento e aumenta a habilidade de lidar com o stress.

A dor repetitiva ocorre comumente em RN, predispondo-o a


uma cognição menor e ao dano neuronal medido pelo NMDA que
pode levar a efeitos a longo prazo quanto ao desenvolvimento
cognitivo e comportamental a longo prazo.

Formas De Resposta Ao Estímulo Doloroso

Quando o RN recebe estímulo doloroso, aumenta a freqüência Fonte: WONG, D.L.; e cl. Enfermagem Pediátrica: Elementos Essencias
cardíaca, ocorre a hipóxia, tanto pelos movimentos do diafragma à Intervenção Efetiva. 5 ed, Rio de Janeiro:
como por vasoconstrição pulmonar, mudanças no volume san- Guanabara Koogan 1999. p.548
güíneo cerebral, dor repetida e prolongada pode ocasionar mu-
danças no metabolismo energético e levar alterações no status Como Avaliar A Dor
de coagulação (diminuição do nível de antitrombina 5 e de outros
fatores da coagulação que vão causar maior chance de sangra- É difícil reconhecer a presença da dor e é mais difícil ainda é
mento, principalmente no cérebro) dimensioná-la e pior ainda, são as opções de tratamento disponí-
Estas alterações são suficientes para produzir sangramento sú- veis. A identificação e a avaliação são pontos chaves. A literatura
bito intracraniano, principalmente nas primeiras 24horas de vida, nos apresenta mais de 40 Escalas e estas foram validadas para
momento este em que há maior intervenção invasiva no bebê. dor aguda. Mesmo para esta situação, não existe uma escala
Alguns RN podem, inclusive, desencadear convulsões por dor. ouro, pois a Escala ouro seria se bebê nos informasse que está
Bebês que estão no respirador podem apresentar o que M. doendo muito. Assim, temos que nos capacitar para decodificar a
Sparshott chama de choro silencioso diante da dor: o bebê abre linguagem da dor própria desta faixa de idade.
sua boa e a sua língua fica em posição de taça. É muito importante que avaliemos a dor prolongada, devido a
repetição dos procedimentos dolorosos. Temos usados medidas
•Aumento da frequência cardíaca, respiratória e pressão arterial respostas fisiológicas, como pressão arterial, queda de satura-
•Flutuação dos níveis de paO2 e PaCO2 ção, níveis de cortisol, No entanto, estudos tem evidenciado uma
•Aumento da pressão intracraniana (aumento significativo dissociação entre a resposta fisiológica e a comportamental nos
da pressão da fontanela anterior durante a laringoscopia

Paulo R. Margotto
Assistência ao Recém-Nascido de Risco

RN muito doentes. A resposta comportamental é a que mais indi- o procedimento. Este achado parece ser explicado pela liberação
ca a presença da dor nestas situações. de opióides endógenos levando a uma ação analgésica. O Método
Assim, é importante que se avalie não somente a dor aguda, Canguru pode ter uma grande vantagem para evitar a dor neona-
mas também como vai estar o RN ao longo do tempo, possibili- tal, além das outras vantagens sabidamente conhecidas.
tando assim, adequar a terapêutica necessária. Para este obje- Estudo recente de Gray e cl evidenciou que a amamentação é
tivo, há a Escala EDIN (Échelle Douleur Inconfort Nouveau-Né) que analgésico aos RN saudáveis. O estudo foi prospectivo, randomiza-
leva em conta a atividade facial, o movimento corporal e eleva do e controlado (grupo submetido a procedimento doloroso, como
em conta também se a criança dormiu, se reagiu, se foi consolá- punção de calcanhar e coleta de sangue enquanto amamentava
vel, ou seja, como foi o comportamento desta criança num tempo e outro grupo submetido ao mesmo procedimento, porém não
mais prolongado. Deve ser aplicada pela Enfermagem 2 vezes ao estava amamentando durante o procedimento). Os autores ob-
dia. A avaliação da dor deve constituir o 5º sinal vital servaram que o choro e as caretas foram reduzindo em 91% e
84%, respectivamente durante o procedimento no grupo que es-
tava amamentando em relação ao grupo controle (11 de 15 RN
enquanto amamentavam não choraram ou não fizeram caretas na
coleta de sangue) A freqüência cardíaca reduziu também substan-
cialmente. Os autores concluem que a amamentação é um poten-
te analgésico durante a coleta de sangue nos RN.
Portanto, a dor que o bebê sente se traduz em desconforto e
sofrimento, podendo ter repercussões a longo prazo como já as-
sinalado, em termos de interação com a sua família e em termos
de cognição e aprendizado.

Abordagem Da Dor

Prevenção

A abordagem da dor no recém-nascido inicia com a prevenção:


através de uma assistência mais humanizada aos RN internado
na UTI, como, diminuir o ruído ao seu redor, diminuir a incidência
Por Quê Tratar A Dor Do Recém-Nascido de luz forte sobre o RN, agrupar as coletas de sangue, ou seja,
racionalizando a manipulação do RN.
• Para aliviar a dor
124 • Para propiciar conforto ao RN Tratamento Não Farmacológico
• Para propiciar satisfação aos pais
• Facilitar a recuperação do RN A administração glicose 2 minutos antes do procedimento do-
• Diminuir o tempo de internação Hospitalar loroso diminui o tempo de choro. Os efeitos parecem ser media-
• Evitar as repercussões a curto e longo prazo dos tanto pelo sistema endógeno opióide como o não opióide.
Assim, recomenda-se o emprego de soluções glicosadas (1 ml
A dor do RN tem repercussões a curto e médio prazo, com alte- a 25% ou 2 ml a 10%), oralmente, cerca de 2 minutos antes de
rações fisiológicas e comportamentais que levam ao aumento da pequenos procedimentos cirúrgicos (há uma redução significati-
morbidade e mortalidade neonatais, com repercussões a longo va do choro nos 3 minutos após o procedimento com o aumento
prazo com alterações noceptivas, talvez cognitivas, comporta- da concentração de glicose), podendo-se manter uma gaze em-
mentais e até psiquiátricas. bebida na solução glicosada na boca do bebê durante o proce-
É importante prevenir a dor do RN: dimento. Não é recomendado o uso de solução a 50%. Estudo
recente mostrou não haver mais necessidade de estudo contro-
• Tornar o ambiente da UTI mais acolhedor possível lado quanto ao uso de soluções adocicadas para dor aguda (dor
• Manipulação mínima ligada a procedimentos) em RN a termo e prematuros saudáveis.
• Controlar a incidência de luzes sobre o RN O uso de glicose e o contato pele-pele como intervenção anal-
• Diminuir o ruído em volta do RN gésica mostrou maior eficácia do que o uso isolado de glicose e
• Posicionar o RN com equilíbrio entre posturas flexoras e pele-pele. Os estudos evidenciam que a sucção não nutritiva (pro-
extensoras duz analgesia através da liberação de serotonina) é mais efetiva
• Racionalizar a manipulação do RN (agrupar coletas de que o uso de soluções açucaradas, podendo ser feita através do
sangue) dedo enluvado ou chupeta. Em RN submetidos a procedimentos
• Evitar duplicação de tarefas repetitivos, malformados, RN no pós-operatório em vários dias
• Usar o mínimo de fitas adesivas em dieta zero, está indicado o uso da chupeta com o apoio do
• Otimizar a monitoração não invasiva Hospital Amigo da Crianças, desde que sob prescrição médica.
• Deslocar o profissional mais habilitado para o cuidado do
RN mais instável Tratamento Farmacológico
• Estimular o contato com os pais.
• Contato pele-pele É importante que saibamos quais são as fontes produtoras de
dor no neonato. A dor aguda é a mais experimentada pelo RN, sen-
Estudo avaliando 30 RN que foram submetidos a uma punção do causada por vários procedimentos diagnósticos terapêuticos,
capilar, 15 ficaram em contato pele-pele antes, durante o procedi- como, retirada de amostra sangüínea no calcanhar, intubação,
mento e 3 minutos após e os 15, coleta padrão com o RN no berço; circuncisão; dor estabelecida, continuada e prolongada causada
os RN do grupo 1 (pele-pele), choraram menos durante a coleta e por cirurgia, por processos inflamatórios (enterocolite necrosante,
tiveram menos expressão facial de dor durante a punção e após meningite, etc); dor crônica, recidivante ou recorrente.
Capitulo 3 Cuidados ao Recém-Nascido Criticamente Doente

O uso de analgésicos deve ser considerado em todos os RN porta- Morfina


dores de doenças potencialmente dolorosas e/ou submetidos a pro- potente analgésico e bom sedativo.
cedimentos invasivos, cirúrgicos ou não, entre os quais se destacam: doses EV : ≥ 37 semanas :
dores moderadas: 5-10 µg/kg/h
• Drenagem torácica, intubação traqueal, colocação de dores intensas: 10-20 µg/kg/h
cateteres centrais, punção liquórica, múltiplas punções < 37 semanas:
arteriais e/ou venosas e/ou capilares (venopunção é me- dores moderadas : 2-5 µg/kg/h
nos dolorosa que punção de calcanhar) dores intensas : 5-10 µg/kg/h
• Procedimentos cirúrgicos de qualquer porte • Efeitos colaterais: depressão respiratória, íleo intestinal,
• RN com enterocolite necrosante retenção urinária, broncoespasmo (liberação de hista-
• RN com tocotraumatismos (fraturas em lacerações extensas) mina, que leva ao broncoespasmo, especialmente em rn
com displasia broncopulmonar; a liberação de histamina
Para os RN em ventilação mecânica, as evidências mostram e a supressão do tônus adrenérgico são responsáveis
que opióides só devem ser usados seletivamente, quando in- pelo aparecimento de hipotensão arterial mais prevalen-
dicado pelo julgamento clínico e pelas avaliações dos indi- te em pacientes hipovolêmicos)
cadores de dor, apesar da ventilação mecânica constituir uma • Hemorragia intraventricular
intervenção dolorosa e desconfortante. Devemos reservar as • Leucomalácia periventricular
intervenções farmacológicas, tanto para a analgesia e sedação
para recém-nascidos selecionados onde a presença da dor pode Apresentação comercial
ser razoavelmente ser predita, quando a dor e o estresse estão Sulfato de morfina :
interferindo com o efetivo manuseio do ventilador ou outro su- DimorfR: 1ml = 10 mg = 10.000µg
porte vital e quando as medidas ambientais mostraram-se falhas 1ml = 5 mg = 5.000µg
(consultem o capítulo Analgesia e sedação no recém-nascido em Antagonista : naloxone : 0.001 mg/kg quando se quer minimi-
ventilação mecânica/sequência rápida de intubação). zar o prurido e 0,01mg/kg para reverter a depressão respiratória
e a analgesia.
Analgésicos Não-Opióides Apresentação comercial : NarcanR: 0.4 mg/ml (usar 0.25 ml/
kg/dose sem diluição).
Inibem a ação das prostaglandinas e do tromboxane, liberados (contra-indicado nos RN com uso de mais de 5 a 7 dias de mor-
durante a agressão tecidual. Indicado nos casos de tocotrauma- fina, pois pode desencadear a síndrome de abstinência).
tismo. O início da ação analgésica é lento (cerca de 1hora). É
mais efetivo nos processos causados por lesão tecidual e menso Fentanil
efetivo naqueles processos dolorosos muito intensos e/ou causa- Opióide sintético 50 a 100 vezes mais potente que a morfina.
dos por inflamação. São contra-indicados nos RN portadores de tem sido de escolha como analgésico opióide devido à pequena 125
deficiência de G6PD. duração da ação e porque não estimula a produção de histamina,
Paracetamol: (via oral) resultando e uma maior estabilidade cardiovascular. Tem menor
10-15 mg/kg- RN a termo (cada 6-8hs) efeito sedativo e dá menos tolerância. É incompatível com a so-
10 mg/kg - RN prematuro (cada 8-12hs) lução de Nutrição Parenteral. Compatível com o soro fisiológico.
Apresentação comercial : TylenolR gts:200mg/ml Doses
DôricoR gts: 100 mg/ml EV ≥ 37 semanas: dores moderadas : 0,5-1 µg/kg/h
Obs: a dipirona não deve ser usada no período neonatal (fal- dores intensas : 1-2 µg/kg/h
tam estudos farmacológicos e clínicos). < 37 semanas: dores moderadas : 0.5 µg/kg/h
dores intensas : 1µg/kg/h
Analgésicos Opióides Para os RN intubados, não está indicado o seu uso de rotina.
As metanálise do fentanil em ventilação mecânica demonstraram:
Os analgésicos opióides se ligam aos 3 maiores grupos de re- diminui o escore de dor, leva à discreta bradicardia e aumenta a
ceptores de membrana na medula espinhal e cérebro: mu, kappa necessidade de parâmetros ventilatórios. Usar com cuidado, sa-
e delta. A morfina é o analgésico opióide protótipo. A estimulação bendo a hora de começar e sabendo a hora de retirar com o uso
destes receptores leva a diminuição do disparo neuronal e do das Escalas de dor e com o bebe sempre estável do ponto de vista
influxo noceptivo ao cérebro. Ela é um agonista dos receptores hemodinâmico (consulte o capítulo Analgesia e Sedação)
mu e kappa (se liga a eles e os ativa). A meperidina, fentanil e A infusão contínua é preferível em relação a doses repetidas
alfentanil são referidas como “agonistas like-morfina”. na dor severa e prolongada, devido a evitar flutuação na concen-
Os opióides atuam através de receptores opióides espalhados tração sanguínea, diminuindo assim a risco de toxicidade asso-
pelo SNC, cuja ativação inibe a transmissão do estímulo noci- ciada com altas concentrações e inadequada analgesia em con-
ceptivo aos centros superiores de processamento e associação, centrações sanguíneas subterapêuticas.
além de ativar as vias corticais descendentes inibitórias da dor, Não é recomendado o uso IM (Intramuscular), pois: adiciona
levando a analgesia. A interação com outros tipos de receptores mais dor, absorção errática e imprevisível, possível formação de
opióides causa a depressão respiratória, graus variáveis de se- abscesso e hematoma.
dação, íleo, retenção urinária, náusea, vômitos e dependência Efeitos colaterais: discreta bradicardia, rigidez muscular da cai-
física (esta ocorre em geral nos RN sob uso de opióides por 2 se- xa torácica (dose acima de 5 чg/kg/h e injeção rápida). A rigidez
manas e se houver retirada abrupta, observam-se 8 às 72h após dos músculos abdominais e fechamento da glote podem ocorrer
a última dose: irritabilidade, tremores, choro de tonalidade alta, com todos os opióides, embora esteja mais associado com o fen-
hiperatividade, taquipnéia, recusa alimentar, hipertermia,e até tanil. A deficiente motilidade gastrintestinal ocorre menos com o
convulsões; para evitar a abstinência: retirar a droga em 10 dias). fentanil em relação à morfina. Podem ocorrer outros efeitos cola-
Os opióides só devem ser usados após a estabilização hemo- terais dos opióides já descritos com a morfina; após o uso acima
dinâmica do paciente. de 3 dias, retirar gradualmente.

Paulo R. Margotto
Assistência ao Recém-Nascido de Risco

Tolerância Ao Fentanil Rigidez Muscular Da Caixa Torácica

A tolerância ao fentanil ocorre após a dose acumulada de No caso de rigidez muscular da caixa torácica, usar o antago-
1,6mg/kg a 2,5 mg/kg ou após 5-9 dias de infusão contínua. nista naloxone : 0,01 mg/kg . Não usar o naloxone nos pacientes
O principal sistema afetado com a retirada do opióide é o SNC que estão recebendo fentanil há mais de 3-5 dias, pois a sua
(Sistema Nervoso Central), o sistema autônomo e o sistema gas- administração pode desencadear a síndrome de abstnência.
trintestinal. Os mais freqüentes sintomas relatados foram irrita- Apresentação comercial: Fentanil: 1 ml = 50 µg/1ml = 78.5 µg
bilidade, hipertonicidade, hipertermia, vômitos com alimentos e Exemplo: RN com 1,5kg-dose de 1mcg/Kg/h:
sudoreses Interessante que o fentanil foi associado com maior 1,5 x 1 x 24 divididos por 50 = 0,72 ml de Fentanil (1 ml = 50 mcg)
duração da sintomatologia da retirada (3,9dias em média) em
comparação com a morfina (2,3dias). Os opióides são capazes de suprimir os efeitos fisiológicos da
dor e pode prevenir algumas consequências clínicas da dor não
Retirada Dos Opióides tratada. Há dados suficientes na literatura para a recomendação
do uso dos opióides analgésicos no tratamento da dor do RN
Quanto à estratégia de retirada dos opióides, não há dados
na atualidade que respaldam um método ou outro de retirada, Anestésicos Locais
devendo ser avaliado em cada paciente:
Indicado para procedimentos como punção lombar, inserção de
• o uso por 3 dias, pode ser retirado abruptamente cateter central, drenagem torácica, eventualmente, punção arte-
• >3 dias, retirar 20% da dose inicial a cada dia (por exem- rial e na realização do fundo de olho (para esta situação, o RN deve
plo: se está usando 1ug/kg/hora, retiramos 0.2ug no pri- receber solução açucarada com chupeta e estar enrolado).
meiro dia e em 5 dias, o fentanil é suspenso. Lidocaína a 0.5% sem adrenalina: bloqueia os canais de só-
• >7 dias: retirar mais lentamente (retirar 20% da dose ini- dio nas terminações nervosas nociceptivas, responsáveis pela
cial a cada 2-3 dias aferência do estímulo doloroso ao SNC. Dose: infiltrar 5 mg/kg
• >15 dias: retirar 10% da dose inicial a cada 2-3 dias subcutâneo (o efeito dura 30 a 60 minutos).
Para realização do fundo de olho: AnestalconR (cloridrato de
Atenção: não é para retirar da dose imediatamente anterior e proximetacaína* 0,5% (1 gota em cada olho 3 min antes)
sim da dose inicial
É necessária contínua avaliação das reações de retirada du- Sedação No Recém-Nascido
rante o processo de desmame do opióide.
Os sedativos diminuem a atividade, ansiedade, a agitação do
Síndrome De Abstinência paciente, podendo levar à amnésia de eventos dolorosos ou não,
126 mas não reduzem a dor. É inaceitável sedação para aliviar a dor
Na ocorrência da síndrome de abstinência, voltar para a dose sem analgesia (é como por a criança em uma camisa de força;
imediatamente anterior na qual o RN não apresentou a síndrome não pode reagir a dor). Este medicamentos são empregados
de abstinência. Se o RN estiver apenas no processo de retirada para acalmar o paciente, diminuir a sua movimentação espon-
do opióide, se encontra em nutrição enteral plena, sem mais ne- tânea e induzir o sono. As indicações da sedação são: acalmar
cessidade de acesso venoso, passar para a metadona, respeitan- o paciente, reduzir a atividade espontânea e induzir o sono na
do a equivalência das medicações (0,001mg/kg/dia de fentanil realização de procedimentos (tomografia computadorizada, EEG,
endovenoso=0,1 mg/kg/dia de metadona).   Na transformação etc.), em RN que necessitam ficar imobilizados por longos perío-
inicial do fentanil para a metadona, calcular a dose equivalente dos de tempo (defeitos de fechamento da parede abdominal), em
e prescrever 50% da dose calculada, dividida em uma (24/24 RN com suporte ventilatório agressivo por hipoxemia persistente
horas) ou duas (12/12 horas) tomadas por via oral. Diminuir gra- (hipertensão pulmonar persistente).
dativamente as doses da metadona oral (20% da dose inicial a O prognóstico de RN que recebem sedativos de forma prolonga-
cada 3 dias) até retirá-la.  A metadona tem alto poder sedativo da é desconhecido, havendo indicação de que sua aplicação não
que dura 48-72 horas (a criança dorme muito). Doses excessivas só aumenta o peródo de ventilação mecânica dos pacientes, como
de metadona também estão associadas à depressão respirató- pode levar o risco de hemorragia intraventricular nos prematuros
ria e à obstipação intestinal. O fentanil pode ser substituído pela Portanto, antes da aplicação de sedativos na UTI neonatal,
metadona quando a criança só está mantendo o acesso venoso pesquisar todas as possíveis causas de agitação e tratá-las ade-
por causa do esquema de retirada do fentanil, caso contrário, quadamente, o que inclui a presença da dor,de hipoxemia, de
o fentanil deve ser retirado gradativamente sem substituição. A hipertermia, de lesões inflamatórias e outras.
dose usada é por equivalência, como descrito acima.
Apresentação da metadona: MytedomR – injetável com 10mg/ml/ Hidrato de cloral
compr com 5 e 10mg (a diluição é péssima; é preferível manipular)
Exemplo: RN de 1,5kg, recebendo 1µg/kg/min, deve receber quan- • Para procedimentos terapêuticos/diagnósticos de curta duração.
to de metadona, em caso de Síndrome de abstinência? Este RN está • Efeito paradoxal no paciente com dor hiperexcitabilida-
recebendo 36 µg de fentanil/dia= 0,036mg de fentanil=0,024mg/ de/agitação)
kg/dia de fentanil.Realizando regra de três, temos: • Dose: 25-100 mg/kg por via oral após dieta cada ( hidra-
to de cloral a 10%: 1 ml=100 mg).
• 0,001→0,1 • Início da ação: 30 a 60 minutos com término em 2h.
• 0,024 →x mg de metadona, ou seja:2,4mg • Eliminação mais lenta em prematuros: tem sido observados
• 1µg=0,001mg efeitos residuais até 64h após. Cuidado com doses múltiplas
• Efeitos colaterais: obstrução de vias aéreas por sonolên-
cia e flexão do pescoço.
Capitulo 3 Cuidados ao Recém-Nascido Criticamente Doente

Midazolam Premedicação Para Intubação


Semi-Eletiva Ou Eletiva
• 2 a 4 vezes mais potente que o diazepam
• Solúvel em água (consultem o capítulo Analgesia e sedação no recém-nascido
• Droga de rápida eliminação em ventilação mecânica/sequência rápida de intubação)
Riscos de: A intubação é um procedimento potencialmente doloroso, es-
tressante e é associado com efeitos fisiológicos adversos.
• Depressão respiratória e hipotensão potencializadas Serão eleitos para intubação eletiva:
com o uso de opióides. O uso concomitante de fentanil 1. Pacientes que serão submetidos a cirurgia,
com midazolam requer 2. Sinais indicativos de falência respiratória, onde o risco
• Muita Atenção, Principalmente Acima De 4 Dias (Há Relatos de parada cardiorrespiratória seja iminente,
De Encefalopatia, Diminuição Da Interação Social, Posturas 3. Hipoventilação, choque séptico ou cardiogênico, coma,
Distônicas, Corioatetose, (Redução Da Atenção Usual ). pós-operatório e politraumatismo.
• Convulsões (Infusão Rápida De Doses Elevadas).
• Dependência Física Após 48 H , Havendo Necessidade A intubação traqueal deve ser sempre procedida por pessoal
De Retirada Gradual. habilitado e experiente.
Na Unidade de Neonatologia do HRAS usamos a seguinte combi-
O uso precoce e contínuo de midazolam em rn prematuros este- nação como pré-medicação na intubação eletiva e semi-urgente:
ve associado a maior ocorrência de prognóstico neurológico des-
favorável, caracterizado por hemorragia intraventricular graus iii 1. Período de oxigenação a 100% ventilação com pressão
e iv, leucomalácia periventricular e/ ou óbito no período neonatal positiva sob máscara
Metanálise recente não evidenciou nenhuma vantagem do 2. Atropina: 0,01mg/kg
uso deste medicamento de forma rotineira nas uti neonatais. A 3. Bloqueador neuromuscular de ação rápida e curta
sua efetividade e segurança necessitam de comprovação. (rocurônio: 0,5mg/kg ou vecurônio: 0,1mg/kg segui-
Muita atenção ao usar midazolam associado ao fentanil: da por um analgésico com as mesmas características,
O uso de sedativos com analgésicos potencializa os efeitos da (fentanil:2,5µg /kg)
depressão respiratória e hipotensão, desencadeados pelos se- 4. Aplicação de pressão na cartilagem cricóide (manobra
dativos, em especial os diazepínicos, havendo a necessidade de de Sellick), para realizar rapidamente e nas melhores con-
redução das doses de ambas as medicações. O uso prolongado dições a laringoscopia seguida da intubação orotraqueal.
leva a intolerância, o prognóstico é desconhecido, pode levar a
depressão respiratória e cardiocirculatória, principalmente com Medicação Ação Dose Via Efeito Adverso
o uso combinado do chamado pacotinho DORMONID+ FENTANIL, 0,01 a
são descritas síndromes neurológicas, havendo potencialização Atropina
Anticolinér-
0,02 mg/ EV
Taquicardia, tremo- 127
dos efeitos adversos com mais hipotensão e esta está associada gico res e inquietação
kg/dose
à leucomalácia e óbito. Há relatos do aparecimento de encefalo-
patia, com redução da atenção visual, posturas distônicas e co- Rigidez torácica,
rioatetose em crianças que utilizaram a combinação de fentanil e depressão respira-
Analgésico, 1-3чg/kg/
midazolam por via endovenosa contínua. Fentanil EV tória, aumento da
narcótico dose
Na Unidade de Neonatologia do HRAS, utilizamos o midazolam pressão craniana e
em RN com suporte ventilatório agressivo por hipoxemia persis- hipotensão
tente (hipertensão pulmonar persistente). 0,5 mg/kg/
Rocurônio Curarizante EV
dose
• Compatível com a solução de nutrição parenteral, solução Efeitos colaterais
• Glicosadas, água destilada e soro fisiológico. Bloqueador 0,03 a
Vecurônio EV cardiovasculares
• Dose: 0.1-0.6 mcg/kg/min. Não fazer a dose de ataque. muscular 0,15 mg/
mínimos
Pode ser usado via nasal (mesma preparação ev): 0.2-
0.3 mg/kg. (Início de
• Ação 5-10 minutos, durante 1-2 h). A mais óbvia e efetiva estratégia para diminuir a dor do RN na
• Apresentação comercial : dormonidR 15mg/3ml UTI Neonatal é restringir a freqüência de procedimentos dolorosos,
• 1 Ml = 5mg = 5000 µg especialmente àqueles que são mais comumente relatados, como
• Peso x dose x 1440/5000 as punções de calcanhares e a aspiração do tubo endotraqueal.
• Antídoto: flumazenil : inibe de forma competitiva o complexo Estes procedimentos nos RN mais criticamente doentes deveriam
• Receptor gaba-diazepínico no snc. Indicado nos casos de ser realizados pelos profissionais mais experientes da Unidade. Li-
excitação paradoxal, depressão respiratória, hipotensão mitar os procedimentos que documentadamente tem efeito positi-
e coma. vo na evolução do bebê criticamente doente. Evitar a hipoxemia, a
• Dose: 0.01 mg/kg/dose podendo ser repetido a cada 2 agitação e a “briga com o respirador”. Fixar com maior segurança
minutos até 1mg (dose total). Os efeitos colaterais são o tubo endotraqueal, assim como os cateteres para prevenir os
revertidos em 1-3 minutos e a duração do efeito do flu- seus deslocamentos e reinserções. Agrupar a coleta de exames
mazenil é de 45 a 60 minutos após o uso da droga. Pode para minimizar as punções. Estratégias não farmacológicas são
desencadear convulsões em rn que receberam diazepíni- essenciais na prevenção e manuseio da dor neonatal. Vejam que
cos para o controle de convulsões. há muita coisa que podemos fazer, mesmo sem drogas. Deixar o
• Apresentação comercial: LanexatR (ampolas de 5 ml: 0.1 bebê confortável. As drogas que usamos (morfina, midazolam) pa-
mg/ml). recem apresentar problemas, especialmente a morfina.
Do ponto de vista médico, ético e humanitário, a dor do RN deve
ser considerada e tratada sempre. Pensamos que há uma obrigação
ética no alívio da dor e do sofrimento do nosso pequenino bebê.

Paulo R. Margotto
Assistência ao Recém-Nascido de Risco

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Capitulo 3 Cuidados ao Recém-Nascido Criticamente Doente

3.5 USO DA SEDOANALGESIA EM RECÉM-NASCIDOS


VENTILADOS/PRÉ-MEDICAÇÃO PARA INTUBAÇÃO

Paulo R. Margotto, Martha David Rocha Moura

Ai, meus olhos, que claridade! Socorro! Estão colocando um A intubação e ventilação mecânica são as maiores causas de
tubo na minha garganta! Ah! Eu estou respirando melhor... Mas dor e estresse nos RN. A ventilação mecânica e os procedimen-
é horrível este tubo! tos invasivos relacionados são associados com várias alterações
Puxa, eu não sei onde mais vão colocar tubo em mim: tem um na bioquímicas, fisiológicas e comportamentais, indicando que a dor
garganta, um na boca, dois no umbigo. Meu corpo está cheio de e o estresse no RN podem levar a instabilidade clínica e a um
adesivos, esparadrapos e fios. Mas o pior são estas agulhadas que prognóstico clínico adverso. Nos RN ventilados, a dor pode levar
dão nos meus pés... Isto tudo dói tanto! Porque me tiraram da bar- a agitação e assincronia entre ventilação e respirações espontâ-
riga da minha mãe? Lá era tão bom. Eu estava tão livre e tão quen- neas, resultando em uma inadequada ventilação.
tinho... Sua respiração me embalava e a batida do seu coração me Os RN pré-termos são capazes de desencadear resposta hor-
acalmava (Diário de um bebê na Unidade Neonatal, de Ceci Men- monal ao estresse através do aumento da concentração de ca-
donça de Menezes, Médica do Hospital Maternidade Praça XV/RJ). tecolaminas. As concentrações de adrenalina e noraderenalina
correlacionam-se com a severidade da doença nos RN pré-ter-
Os avanços dos cuidados perinatal e neonatal dos recém-nas- mos ventilados. A despeito da sedação, os RN pré-termos ventila-
cidos (RN) de baixo peso, especialmente aqueles RN abaixo de dos que não sobreviveram tiveram altos níveis de noradrenalina,
1000g requereram muitos processos invasivos. Entre estes, es- em contraste com os que sobreviveram (estes tiveram diminui-
tão a intubação endotraqueal e a ventilação prolongada, devido ção dos níveis de noradrenalina com a sedação). A queda da
à severa imaturidade pulmonar, doença da membrana hialina e noradrenalina com a sedação foi menor nos RN que morreram
displasia broncopulmonar. (2%) do que nos RN que sobreviveram (40%). Portanto, os RN
Dados da rede Vermont Oxford mostram que mais da metade dos pré-termos são capazes de dar resposta hormonal adequada ao
RN de peso ao nascer entre 401-1500g foram 1ntubados na sala estresse conforme a severidade da sua doença. Respostas extre-
de parte e 70% destes RN com peso menor que 1500g ao nascer mas (maiores níveis de catecolamina) nos RN pré-termos doen-
receberam em algum momento ventilação mecânica durante a sua tes foram associadas com pior prognóstico.
hospitalização. Os RN com idade gestacional abaixo de 28 sema- Estudo subseqüente de Evans e cl evidenciou que os RN que
nas, entre 64-100% receberam ventilação mecânica em média por morreram ou que tiveram desabilidade aos 5-6 anos apresen-
25 dias em 17 das UTI Neonatais do Canadá, de janeiro de 1996 a taram no segundo dia de vida maiores níveis de noradrenalina 129
outubro de 1997. Mesmo os RN maiores e menos imaturos (28-32 (morte: 3,27-IC 95%%: 1,48-7,23) e morte mais desabilidade
semanas), 47-93% também receberam ventilação mecânica. (RR: 3,55-IC 95%%: 1,77-7,10). Não houve correlação entre cate-
A dor oriunda de procedimentos ocorre com muita freqüência du- colaminas no período neonatal e deficiência cognitiva ou motora
rante a permanência do RN na UTI (estes RN são expostos a mais ou aos 5-6 anos de idade. Assim, estes RN pré-termos que vão a UTI
menos 14 procedimentos ao dia na UTI Neonatal), incluindo coleta Neonatal são capazes de montar uma resposta hormonal ao es-
de exames para hemograma, hemocultura e realização de punção tresse da sua doença e tratamento. A expressão desta resposta
lombar. Todos estes procedimentos são extremamente dolorosos. é o alto nível de catecolaminas.
Será que existem evidências acumuladas de que os RN po- Nos RN submetidos à cirurgia cardiovascular, a mortalidade foi
dem sentir dor? A partir de 16a semana ocorre conexão entre 27% naqueles que receberam analgesia pós-operatória intermi-
neurônio sensorial e células cuniformes da coluna. Com 12 a tente comparada com 0% nos que receberam fentanil contínuo
16 semanas foram demonstradas a substancia P e os opiáce- ou terapia com sufentanil. Este estudo foi realizado por Anand e
os endógenos dos gânglios nestas áreas cuniformes. Com 24 cl que randomizaram dois grupos de bebês em halotano em pe-
semanas as conexões sinápticas do córtex estão completas. quenas doses e sufentanil em altas doses (1000 vezes mais ativo
Assim, os bebes tem a capacidade de transmissão de dor. Com que a morfina). Estes bebês tiveram uma boa analgesia. Estuda-
30 semanas, existe a mielinização quase que completa com ram estes bebês durante a cirurgia cardíaca neonatal. Nos bebês
as vias de dor completamente prontas para serem ativadas no com sufentanil, a resposta a epinefrina, noreprinefrina, cortisol,
tálamo, onde ocorre o processamento da dor. glucagon e aldosterona foi muita mais baixa em relação aos RN
O efeito dor é codificado no cingulado anterior e não na parte que receberam halotano e morfina (este grupo teve mais severa
somatosensória do córtex Estudos usando o PET evidenciaram hiperglicemia e acidose láctica; o lactato e o acetoacetado foram
estrutura límbica no cingulado anterior que reage da mesma significativamente maiores durante a cirurgia). Também demons-
forma Estes bebês desenvolvem muito cedo um pouco destas traram que o cortisol não se elevou no grupo do sufentanil; já nos
estruturas límbicas e elas estão praticamente formadas neste RN que receberam doses baixas de halotano e morfina, o nível de
período de vida. Então uma codificação central para a dor talvez cortisol (hormônio do estresse) era muito maior. Quanto à mor-
seja o evento que se desenvolve precocemente. talidade, esta foi menor nos bebês que tinham maior controle da
A dor é um grande estressor que pode aumentar a morbidade dor. O que ocorria com estes bebês que tinham menor controle
e mortalidade nos RN criticamente doentes. No entanto, a dor da dor: estes bebês desenvolviam com maior freqüência hipoten-
é subjetiva, não havendo um método padrão da sua estimação. são, acidose metabólica, CID e sepses, enterocolite necrosante.
A necessidade para a sedação e analgesia tem sido amplamen- Portanto, há várias razões para considerar o tratamento da
te usada nos RN, com o intuito de reduzir o estresse e evitar dor e do estresse do neonato. Assim, é humano e ético dar
complicações durante procedimentos tais como a ventilação conforto e aliviar a dor.
mecânica. Apesar do amplo uso da analgesia e sedação nesta
condição, as evidências clínicas são limitadas quanto à eficiên-
cia e segurança das drogas usadas.

Paulo R. Margotto
Assistência ao Recém-Nascido de Risco

Abordagem Não Farmacológica a estabilidade hemodinâmica (causa mínima produção de his-


tamina), bloqueia a resposta endócrina ao estresse e previne o
Os tipos de abordagem não farmacológica da dor neonatal in- aumento da resistência vascular pulmonar dor induzida. A anal-
cluem: físicas, cognitivas, maternas e ambientais. gesia e sedação induzida pelo fentanil têm início rápido e tem
Para a parte física: posicionamento, o falar, música. Aconche- menor duração do que a morfina. O fentanil tem 80-100 vezes
gar o bebê dá um estado de quietude (tentamos fazer isto nos maior potência analgésica do que a morfina em pacientes adul-
RN ventilados), posição supina, embalar (os RN a termos se be- tos (em pacientes pediátricos, 13-20 vezes mais). O fentanil é al-
neficiam, mas nem todos os pré-termos). A música facilita a esta- tamente lipofílico, cruza a barreira hematoencefálica rapidamen-
bilidade fisiológica; se parar a música, o PaO2 diminui. A música te, acumula-se nos tecidos gordurosos e causa menor liberação
somente, melhora a freqüência cardíaca do neonato. Juntamente de histamina em relação à morfina. A tolerância se desenvolve
com a sucção não nutritiva, melhora a PaO2 e reduz a dor. Toque mais rapidamente com o fentanil em relação à morfina, requeren-
o bebê, converse com ele ao lancetar o calcanhar. A chupeta li- do freqüente escalonamento da dose durante a administração
bera serotonina. Uso de sucrose: à medida que se administra a prolongada. Pelo fato de aumentar a pressão intracraniana em
sucrose, o bebê se atrai pelo sabor e numa segunda fase, há adultos, requer maior vigilância quando usado em pacientes com
liberação de endorfinas (o naloxone pode reverter este efeito da anormalidades intracranianas.
sucrose, como foi demonstrado em ratos). Aparentemente é o A analgesia para o RN em ventilação mecânica pode requerer
sabor doce que é eficaz. Não adianta administrar por sonda oro- infusão endovenosa de 0,5 a 2 mcg (micrograma) /kg/hora, em-
gástrica. Adoçantes artificiais têm uma leve reposta. É o sabor bora alguns estudos tenham usado altas doses. A dor/descon-
doce em si que tem o efeito analgésico. Se mergulhar a chupeta forto associados com a ventilação mecânica através do tubo en-
em sacarose, vamos ter 0,1ml. O pico de efetividade é de 2 mi- dotraqueal tem sua origem bem definida, embora a sua duração
nutos e quando repetido, 2 minutos a cada 3 vezes (é uma curva seja variável e não preencha os critérios sugestivos de dor aguda.
de dose resposta que fica muito evidente). Para os próximos do A rigidez da caixa torácica pode ocorrer após rápida infusão do
termo, usar 1-2 ml de sacarose. Para os bebês muito pequenos fentanil (acima de 2mcg/kg). A ocorrência deste efeito adverso
(27 semanas), usar com cautela, pois as coisas não estão muito requer urgente ventilação mecânica, relaxação neuromuscular
bem estabelecidas nestes RN. e/ou administração de naloxone.
Conforto materno: as endorfinas são acionadas pelo contato O fentanil é metabolizado no fígado e excretado pelos rins, com
físico; a ocitocina promove esta conjugação e a regulamentação, uma vida média acima de 5 horas nos recém-nascidos pré-termos.
além de potencializar a excreção de opiáceos endógenos. A mãe Mesmo com altas doses de fentanil (25mcg/kg) tem mínimo efei-
segurando o bebê é um fator proeminente na analgesia. Adminis- to na pressão arterial média, não afetando a freqüência cardíaca e o
trar leite materno antes da venopunção mostrou efeitos marginais índice cardíaco1. Após a administração do fentanil ao RN, tem sido
na redução dos sintomas devido à dor nos RN a termo. A lactose observada potente inibição da resposta ao estresse, além da estabi-
não é doce o suficiente para ser eficaz. O cuidado chamado Can- lização da pressão arterial e redução dos episódios de hipóxia.
130 guru, desenvolvido por Ray e Matinez na Colômbia (o bebê fica em Uma dose média de fentanil de 0,64mcg/kg/hora produz anal-
contato direto com a pele da mãe), reduz o choro em até 82% e gesia e sedação apropriada nos RN com severa doença da mem-
as caretas faciais em 65%. A voz da mãe é muito interessante. brana hialina (RN com idade gestacional menor que 34 sema-
Eles conseguem diferenciar as suas mães. As mães reconhecem nas). Os RN com idade gestacional acima ou igual a 34 semanas
o choro de seus bebês. No entanto, a voz da mãe não é eficaz na requerem uma dose maior (0,75mcg/kg/h). O grupo do fentanil
redução da dor. A posição prona confere aos RN maior saturação requereu menos sedativo e menos inotrópicos.
de O2, menor episódios de saturação de oxigênio e menos ativi- O estudo de Lago e cl (randomizado e controlado com grupo
dade motora do que quando na posição supina. Assim, a posição placebo) envolvendo 27 RN pré-termos ventilados que recebe-
prona pode diminuir a atividade motora e estabilizar a oxigenação ram, em média 1,1mg/kg/hora (variou entre 0,5 a 2,0 mg/Kg/h)
nos RN pré-termos ventilados, embora não dão conforto suficiente por 75 horas versus 28 RN pré-termos controles, evidenciou sig-
para uma intervenção dolorosa, como punções capilares. nificativamente menores escores de estresse comportamental,
menos freqüente dessaturação de oxigênio, não encontrando di-
Abordagem Farmacológica ferenças nas variáveis ventilatórias ou na duração da ventilação
(o fentanil foi desmamado 24 horas antes da extubação), assim
Não há consenso universal entre as UTI Neonatais quanto ao como na tolerância alimentar.
tipo de intervenção que deve ser adotada. Um questionário res- Metanálise de ensaios randomizados e quase randomizados do
pondido pelo telefone mostrou que, em 239 Unidades Neonatais uso endovenoso de fentanil nos RN ventilados com idade gesta-
do Reino Unido, 37% delas usavam sedação antes da intubação cional maior ou igual a 28 semanas de idade gestacional realizado
e somente 14% tinham norma escrita. A morfina foi a droga mais pelo grupo de Aranda1 e apresentada no Pediatric Academic Meeting
comumente usada (66%), enquanto outros opióides e benzodia- (2004), evidenciou que o fentanil reduziu as medidas fisiológicas e
zepínicos (associado com atividade mioclônica quando dado em comportamentais da dor e estresse nos RN ventilados, podendo re-
bolus) foram usados menos freqüentemente. O uso da sedação sultar em um aumento dos parâmetros do ventilador.
com relaxante muscular foi feito por 22% das Unidades e as do- A infusão de fentanil pode levar a dependência, resultando na
ses das drogas tiveram uma ampla variedade13. síndrome de abstinência após a descontinuação da drogas. No
estudo de Katz e cl, os sintomas da retirada do opióide ocorreram
Opióides em 57% dos RN ventilados e crianças (1 semana-22 meses) que
receberam fentanil endovenoso por mais de 24 horas. As crian-
Vários opióides (fentanil, morfina, dimorfina) e sedativos tem ças com síndrome de abstinência receberam alta dose total de
sido usados em RN ventilados. Há limitado dados comparando fentanil endovenosos por longo tempo. A tolerância ao fentanil
vários opióides com ou sem sedativos. ocorreu após dose acumulada de fentanil de 1,6mg/kg a 2,5mg/
kg ou após 5-9 dias de infusão contínua. A síndrome de absti-
Fentanil nência pode ser minimizada por uma desmame lento do fentanil
O fentanil é um analgésico opióide sintético freqüentemente (consulte o capítulo de Dor Neonatal).
usado em neonatologia por prover rápida analgesia; mantém
Capitulo 3 Cuidados ao Recém-Nascido Criticamente Doente

Morfina não mostraram diferenças na pressão arterial ou na incidência


A morfina é usada amplamente em RN ventilados devido o seu de hipotensão (p=0,14 e p=0,28, respectivamente). Concluem os
potente efeito analgésico e sedativo, ação prolongada e menor autores que o impacto da hipotensão como efeito colateral da
potencial para a tolerância. A morfina endovenosa é associada baixa dose de morfina nos RN é negligenciável.
com início da ação mais lento, devido os seus sais sulfato e hi- Dados experimentais de Hu e cl in vitro indicam que a morfina
droclorido serem menos lipofílicos do que a citrato de fentanil. aumenta a apoptose da micróglia fetal humana e de elementos
A morfina tem um clearance atrasado nos RN prematuros e a neuronais (aproximadamente 4 vezes mais em relação às célu-
termo (vida média de 9 horas e 6,5 horas nos RN a termo, com- las controles não expostas a morfina). Os astrócitos são comple-
parado com 2 horas em crianças e adultos). tamente resistentes a apoptose morfina induzida. O naloxone
O ensaio de Simons e cl, comparando morfina com placebo, bloqueia esta ação da morfina, sugerindo haver o envolvimento
não deu suporte ao uso de rotina de morfina nos RN ventilados de um mecanismo via receptor de opiáceo, havendo também a
pela falta de efeitos analgésicos mensuráveis e ausência de efei- possibilidade do envolvimento da caspase-3. Segundo Anand,
to benéfico no prognóstico neurológico ruim. as concentrações de morfina que levaram estes resultados in
Há atualmente uma preocupação com o uso da morfina na vitro são muito superiores às concentrações de morfina obtidas
analgesia e na ventilação dos RN pré-termos. Por que esta pre- no ensaio clínico NEOPAIN.
ocupação? Anand e cl publicaram em 2004 estudos envolvendo No entanto, McGregor e cl não evidenciaram qualquer efeito
898 RN (23 a 32 semanas de gestação). Doze Centros nos EUA e adverso na inteligência, função motora ou comportamental aos
4 Centros na Europa participaram deste ensaio randomizado. É o 5-6 anos nas crianças que receberam morfina no período neona-
maior número de RN que se tem estudado abordando esta área. tal (<34 semanas; sob ventilação mecânica). Comparando com o
A morfina foi usada como analgésico nestes RN pré-termos venti- grupo que não recebeu morfina, houve uma tendência a melhor
lados. Este ensaio foi chamado de NEOPAIN (Neurologic Outcomes desempenho no grupo exposto à morfina no período neonatal.
and Preemptive Analgesia in Neonates). Os objetivos avaliados fo- Segundo Aranda2 houve mudança do seu grupo para o fen-
ram: óbito neonatal e hemorragia intraventricular e leucomalácia tanil. Alguns já fazem isto. Estamos tratando quem? Como cita
periventricular. Houve diminuição da dor nestes bebês. Não hou- Levene, estamos tratando os nossos bebês com dor ou estamos
ve diferença entre os grupos quanto ao óbito, hemorragia intra- tratando a nós mesmos, acreditando que estamos fazendo algu-
ventricular e leucomalácia periventricular. Houve uma tendência, ma coisa boa para estes bebês? Não tenho respostas neste mo-
em determinadas idades gestacionais ao aumento da leucomalá- mento, mas o fato é que muitos agora estão mudando de morfina
cia periventricular no grupo morfina. A morfina, então não foi exa- para fentanil. Por que dá a morfina?
tamente boa neste caso. Os RN pagaram para ter o alívio da dor: O pequeno estudo de Wood e cl. não evidenciou diferenças sig-
os que receberam morfina tiveram mais hipotensão (após uma nificativas na mortalidade, dias de ventilação, doença pulmonar
dose-carga, ou mesmo durante a infusão da droga, principalmen- crônica ou lesões intracranianas, quando foram comparados os
te nos neonatos entre 23-26 semanas de idade gestacional). O RN que receberam morfina e diamorfina. Foram estudados 88
que mais preocupou foi o uso de morfina de “rótulo aberto” (a RN, 44 em cada grupo. A diamorfina é a 3,6-diacetilmorfina, que 131
morfina era administrada, independente do grupo morfina ou pla- é como a heroína. Em segundos, após a administração vai ao cé-
cebo se o médico percebesse que o RN estivesse sentindo dor; rebro, pois é altamente lipofílica, dando um rápido alívio da dor.
é uma dose adicional de morfina). Os RN que estavam no grupo O estudo de Saarennnaa e cl demonstrou a superioridade do
de morfina receberam menos reforço de morfina, pois já esta- fentanil (menor complicação cardiovascular em comparação com
vam recebendo. Ao se observar o resultado foi assustador: os RN a morfina, além de diminuição da motilidade gastrintestinal me-
do grupo morfina que receberam dose adicional apresentaram nos freqüente do que com a morfina).
significativamente maior incidência de severa hemorragia intra- Metanálise realizada pelo grupo de Aranda apresentada no
ventricular (19% versus 9% -p=0,0024), ou seja, uma duplicação: Pediatric Academic Meeting (2004) comparou a eficácia e a se-
a hemorragia intraventricular grave no grupo placebo foi de 4% gurança da morfina EV e grupo placebo em RN prematuros
versus 16% no rótulo aberto ventilados (idade gestacional >23 semanas e <37 semanas)
Hall e cl relataram maior duração da ventilação, tempo maior em termos de marcadores fisiológicos e comportamentais da
de utilização de nutrição parenteral com o uso da morfina. A mor- dor e estresse em RN pré-termos ventilados. Os autores con-
fina diminui o escore de dor, mas aumenta a hipotensão, prolon- cluíram que a infusão de morfina reduz a dor e o estresse nos
ga a ventilação e aumenta a intolerância alimentar. RN pré-termos ventilados, mas pode aumentar o número de
Analisando o resultado pulmonar a curto prazo do ensaio NEO- dias de ventilação.
PAIN (449 pacientes do grupo morfina e 449 pacientes no grupo Recentemente Danilyn e cl evidenciaram que os neonatos
placebo), Bhandari e cl evidenciaram: os RN do grupo morfina re- asfixiados que receberam opióides (morfina ou fentanil) duran-
quereram significantemente mais tempo em ventilação, principal- te a primeira semana de vida demonstraram significativamente
mente para os RN entre 27-29 semanas e 30-32 semanas de ida- menos injúria cerebral em todas as regiões cerebrais estudadas
de gestacional e os RN que requerem doses adicionais de morfina com ressonância magnética. Uma segunda ressonância magné-
(eram RN mais doentes) apresentaram maior incidência de escape tica obtida na segunda semana de vida nos RN que receberam
de ar, maior duração de ventilação de alta freqüência, CPAP nasal opióides apresentou melhor prognóstico a longo prazo. Os au-
e terapia com oxigênio. Assim, a infusão de morfina nos RN pré- tores concluem que os opióides nestes RN podem aumentar a
termos extremos não melhora os resultados pulmonares a curto resistência do cérebro aos insultos hipóxico-isquêmicos. O meca-
prazo nos RN pré-termos ventilados. Doses adicionais de morfina nismo de ação parece envolver a diminuição do cálcio intracelu-
foram associadas com pior evolução respiratória nestes RN. lar como resultado da hiperpolarização opióide-induzida. O baixo
Simons e cl em 2006 estudaram os efeitos da infusão con- cálcio intracelular previne a ativação das proteases destrutivas
tínua de morfina na pressão arterial dos RN ventilados, sendo cálcio - dependentes, endonucleases e lipases, diminuindo assim
observado a ocorrência de hipotensão arterial em 70% dos RN a lesão neurológica. Estes resultados devem ser interpretados
que usaram morfina versos 44% no grupo controle (p=0,004). com cuidado, devido às importantes limitações do estudo, como
No entanto, não houve diferença entre os grupos quanto ao amostra muito pequena (52 neonatos), estudo retrospectivo e
uso de expansores de volume e o uso de drogas vasopressoras reduzido número de crianças para um follow-up longo, além de
(p=0,87). Os pacientes com ou sem hemorragia intraventricular possíveis seleções de variáveis interferentes.

Paulo R. Margotto
Assistência ao Recém-Nascido de Risco

Reações adversas limitada informação para o uso do midazolam nos RN devido à


Entre os efeitos adversos dos opióides no período neonatal falta de medidas apropriadas de importantes resultados clínicos.
incluem; síndrome de abstinência após a infusão contínua de O escore comportamental usado foi desenvolvido sem o estabele-
morfina ou fentanil, rigidez da caixa torácica induzida pelo fenta- cimento da validade ou confiabilidade tanto em RN a termo como
nil e laringoespasmo em RN a termo e pré-termos, íleo paralítico pré-termo. O escore foi feito por enfermeiras e médicos residentes
no RN ventilados, retenção urinária e hipotensão e bradicardia somente 4 vezes por dia durante a infusão contínua do midazolam
associada com morfina. O uso de fentanil ou morfina nos RN pré- e somente o maior escore do dia foi usado para análise. Embora
termos ventilados prolonga a necessidade do suporte ventilatório pareça que a infusão de midazolam possa ter algum efeito na re-
devido à depressão respiratória. A depressão respiratória pode dução do nível de consciência, freqüência cardíaca média e pres-
ocorrer com o uso de qualquer opióide em RN não ventilados, são arterial, medidas de conforto e ventilação sincrônica podem
mas pode ser minimizado com a diminuição da dose e adminis- alcançar os mesmos objetivos. No entanto, uso de analgésico é
tração menos freqüente. ainda requerido se a dor está presente ou se for suspeita.
da Silva e cl relataram convulsões e alterações eletroencefalo- Estudo randomizado e cego realizado por Anand e cl avaliaram o
gráficas em 2 RN (um pré-termo e outro a termo) com o uso de uso da morfina e midazolam nos RN ventilados, sendo os resultados
morfina e fentanil, que responderam ao uso do naloxone. Assim, comparados com o grupo placebo. Foram estudados 67 RN com
estes achados indicam um potencial dos opióides para anormali- idade gestacional entre 24 e 32 semanas que requereram ventila-
dades neurológicas, sugerindo muito cuidado quando usar opiói- ção mecânica por pelo menos 8 horas e foram incluídos no estudo
de para sedação e/ou controle da dor no período neonatal. dentro de 72 horas de nascidos. Os resultados neurológicos ruins
(morte, hemorragia intraventricular grau III e IV e leucomalácia peri-
Sedativos/Hipnóticos ventricular) ocorreram em 24% no grupo placebo, 4% no grupo mor-
fina e 32% no grupo do midazolam. Não houve diferença de sedação
Benzodiazepínicos, como o midazolam, tem sido usados em- entre o grupo do midazolam e o grupo da morfina.
piricamente em várias Unidades Neonatais a despeito de dados Metanálise realizada por Ng e cl, incluindo estudos randomi-
limitados que dão suporte ao seu uso generalizado. Foi introdu- zados e quase randomizados, controlados de uso de midazolam
zido na UTI Neonatal nos anos 80 e pouca informação tem sido endovenoso como sedativo em RN com idade gestacional <28 se-
publicada quanto à sua efetividade e segurança nos RN critica- manas, incluiu três ensaios clínicos. Dois estudos mostraram nível
mente doentes. Os benzodiazepínicos são comumente combina- mais alto de sedação no grupo do midazolam comparado com o
dos com o opióides devido estudos em animais e em humanos grupo placebo (estatisticamente significativo). O terceiro estudo,
sugerirem interação aditiva opióide-benzodiazepínico para a se- de Anand e cl, comparando o grupo do midazolam com o grupo
dação e sinergismo para efeitos hipnóticos. No entanto, há pou- da morfina e com o grupo placebo não encontraram diferença
cos estudos que dão suporte para a segurança e eficácia da com- significativa na sedação. Devido à escala de sedação usadas nos
binação destas drogas na população neonatal33. O midazolam é 3 estudos não terem sido validadas em RN prematuros, a efetivi-
132 solúvel em água e tem um clearance rápido. No entanto, a sua dade do midazolam como sedativo permanece não esclarecida.
eliminação é retarda nos RN pré-termos em comparação com os Jacqz-Aigrain e cl relataram que a pressão arterial foi significativa-
outros RN a termo e crianças. A imaturidade funcional hepática mente menor no grupo do midazolan em comparação com o gru-
e o sistema renal do prematuro provavelmente somam-se para po placebo, embora não tenha ocorrido diferença significativa no
menor eliminação do midazolam. tratamento da hipotensão arterial. Metanálise dos dados de dois
Os benzodiazepínicos são usados para prover sedação, mas não destes estudos encontrou que a duração da permanência na UTI
analgesia, não devendo ser usados no lugar dos analgésicos, de- Neonatal foi significativamente maior no grupo do midazolam. Me-
vido o seu efeito supressor das respostas comportamentais a dor. tanálise de outros resultados secundários não mostrou diferença
Esta classe de sedativos atua em receptores específicos do siste- significativa entre os grupos midazolam e placebo. Baseado nos
ma nervoso central. Estes receptores estão presentes no feto des- dados desta metanálise parece que os dados são insuficientes
de a sétima semana de gestação (há um aumento abrupto entre para indicar o uso da infusão de midazolam como sedativo nos RN
8-11 semanas de gestação; no córtex frontal, o aumento é gradual na UTI Neonatal. O uso extensivo de midazolam para a sedação
entre 12 e 26 semanas de gestação) e potencializam as vias inibi- de RN permanece empírico e são necessários futuros estudos que
tórias neuronais mediadas pelo acido gamaaminobutírico (GABA). buscam efetividade e segurança do midazolam nos RN ventilados,
Três ensaios clínicos randomizados (Arya e cl, Jacqz-Aigrain e cl antes de considerar o seu uso rotineiro na prática clínica.
e Anand e cl) provêem evidência inconclusiva quanto à seguran- Efeitos adversos neurológicos associados com o uso do midazo-
ça e a efetividade do midazolam na sedação dos RN. lam em RN prematuros e a termo têm sido relatados na literatura.
Arya e cl estudaram 33 recém-nascidos com peso <2000g, Estes efeitos incluem, deficiente nível de consciência, movimentos
sendo 17 no grupo midazolam e 16 no grupo placebo (ambos discinéticos, mioclonia e atividade epileptiforme. Bergman e cl des-
os grupos receberam morfina). O grupo do midazolam teve sig- creveram posturas distônicas, deficiente atenção visual, deficiente
nificante melhor sedação em relação ao grupo da morfina entre interação social e coreoatetose em crianças que fizeram uso de mi-
18-24 horas, mas não houve diferença significativa com 48 ho- dazolam com fentanil por 4-11 dias (os sintomas reverteram entre
ras. Assim os autores concluíram que a sedação provista pela 5 dias a 4 semanas). Revisão retrospectiva realizada por Bergman
infusão contínua do midazolam e morfina nos RN ventilados pa- e cl dos registros de crianças tratadas na terapia intensiva com
receu ser comparável aquela provista pela morfina sozinha, sem infusão prolongada de midazolam revelou seqüela neurológica em
efeitos adversos significativos. A sedação com a infusão contínua 11,1% de crianças que receberam infusão prolongada de midazo-
de midazolam e morfina foi comparável à morfina isolada, sem lam. Em todos estes casos os efeitos foram transitórios, embora
efeitos adversos. não tem sido relatado follow-up destes RN.
Estudo realizado por Jacqz-Aigrain e cl englobou 46 RN em ven- Dois estudos têm relatado significante diminuição da velocidade
tilação mecânica, sendo que 22 RN receberam placebo. Os auto- do fluxo sangüíneo na artéria cerebral média nos RN prematuros
res relataram que os escores de sedação foram significativamente com a administração de um simples ataque de midazolam (12% no
menores nos RN recebendo midazolam, assim como a freqüên- estudo de Harte e cl e 25-43% no estudo de van Straaten e cl) Este
cia cardíaca e a pressão arterial nos dois primeiros dias de vida. efeito durou 1 hora e esteve diretamente relacionado com a queda
Comentando o estudo, Franck cita que o presente estudo oferece da pressão arterial (esta caiu entre 8-23% no estudo de van Straa-
Capitulo 3 Cuidados ao Recém-Nascido Criticamente Doente

ten e cl). Assim, parece que os efeitos neurológicos do midazolam rotineiro nos RN prematuros, por falta de avaliação dos efeitos do
podem estar primariamente relacionados com hipoperfusão cere- uso prolongado de ketamina em grandes ensaios randomizados.
bral transitória. Não têm sido conhecidos os efeitos a longo prazo. Muitos dos relatos de ketamina nos RN prematuros advêm de
Waisman e cl descreveram acentuados espasmos mioclônicos, pequeno número de pacientes, muito dos quais receberam uma
lembrando convulsões clônicas, dentro de 5 minutos após terem única dose durante um procedimento. O bloqueio dos receptores
recebido um lento bolus de 0,1mg/kg de midazolam para sedação. NMDA por somente poucas horas durante o período fetal tardio
A idade gestacional era de 24, 25 e 26 semanas, com a média de ou neonatal precoce pode iniciar uma ampla neurodegeneração
peso de 671g. A droga foi administrada nas idades de 28, 32 e 2 apoptótica no cérebro do rato em desenvolvimento, sugerindo que
dias, respectivamente. O movimento anormal melhorou dentro de o neurotransmissor excitatório glutamato atuando nos receptores
5-10 minutos. Provavelmente estes achados se devam a mudan- NMDA controlam a sobrevivência neuronal. Embora seja discutido
ças descritas na hemodinâmica do fluxo sanguíneo cerebral transportar estes resultados em estudo animal para o humano,
O mecanismo da hipotensão relacionado com o midazolam foi no mínimo nos servem para levantar bandeiras vermelhas. Portan-
pensado ser devido à vasodilatação relacionada aos níveis de to, segundo Perlman, as evidências demandam cuidadoso estudo
prostanóide extravascular e cálcio (Modanlou e Beharry, citados prospectivo para avaliar o papel potencial da ketamina no controle
por Ng e cl). Mais recentemente Ahmad e cl, em estudo experi- da dor dos recém-nascidos prematuros doentes.
mental, evidenciaram que após uma dose de ataque de midazo-
lam houve alteração na produção de prostanóide sistêmico e no Devemos Usar, Então Analgésico De Rotina
seio sagital. Também relataram alterações na sangüínea do seio Em Todo RN Ventilado?
sagital e extração fracional de oxigênio cerebral. Estas alterações
podem refletir diminuição da perfusão e do metabolismo cere- Segundo Hall e cl, para algumas terapias como drogas anti-
bral durante a infusão de midazolam. Burtin e cl relataram hipo- canceres, o benefício a longo prazo do tratamento é superior aos
tensão arterial em 6 RN com doença da membrana hialina após efeitos adversos. É este o caso para a analgesia em todo recém-
o uso da dose de ataque do midazolam (5 casos) ou durante a nascido ventilado? A análise de importantes resultados de morte
administração concomitante com o fentanil (5 casos). Portanto, e evidências ultrassonográficas de lesão cerebral não mostrou
dose de ataque de midazolam em RN prematuro, assim como melhora na morbimortalidade ou morbidade com o uso de opiói-
a associação com o fentanil deve ser feita com muito cuidado, de. Metanálise realizada por Bellú e cl (Cochrane) não demons-
especialmente no RN prematuro ou no RN com instabilidade da trou diferença entre os grupos com uso e não uso de morfina
pressão arterial. acqz-Aigrain e cl relataram hipotensão arterial quanto a displasia broncopulmonar, enterocolite necrosante ou
em 4 RN recebendo infusão contínua (após ataque) de midazo- duração de internação hospitalar. Os recém-nascidos mais pre-
lam, sendo que 3 destes estavam recebendo fentanil. maturos que receberam morfina demoraram significativamente
Da metanálise de Ng e cl, não podem ser feitas conclusões mais tempo para atingirem a nutrição enteral plena em relação
definitivas a respeito da efetividade e segurança da infusão de aos controles. Inclusive dados de longo follow-up (5-6 anos) não
midazolam como sedativo em RN prematuros. A ocorrência de mostrou diferença significante no neurodesenvolvimento entre 133
eventos adversos neurológicos, embora possa ser de etiologia as crianças que receberam e as que não receberam morfina. No
multifatorial, foram mais frequentemente observados nos RN entanto, de Graaf e cl mostraram evidência de efeitos negativos
tratados com midazolam nos estudos revistos. Estes efeitos não da morfina na função cognitiva nas crianças aos 5 anos de ida-
podem ser desprezados em vista de prévios relatos sérios de de que receberam morfina na ventilação mecânica no período
efeitos neurológicos e hemodinâmicos em estudos não randomi- neonatal. Portanto, os opióides nos RN em ventilação mecâ-
zados e não controlados e dos estudos do efeito do midazolam nica devem ser usados seletivamente, quando indicado pelo
na velocidade do fluxo sangüíneo cerebral. julgamento clínico e pelas avaliações dos indicadores de dor e
Segundo Gulczynska, o midazolam produz efeitos adversos que somente após a estabilização do paciente, apesar da ventilação
podem piorar tão precoce como tardiamente o prognóstico. Parece mecânica constituir uma intervenção dolorosa e desconfortan-
racional ser mais crítico no uso da sedação com midazolam e ser te. A terapia com narcóticos para os RN ventilados só pode ser
mais atencioso com o uso do midazolam no período neonatal. considerada provada e eticamente mandatória somente se o seu
Assim, o uso de infusão endovenosa de midazolam não pode valor estiver estabelecido em um ou mais ensaios randomizados
ser recomendado para a população de RN pré-termos. e cegos com número suficiente de RN para avaliar todos os bene-
fícios potenciais e efeitos adversos.
Ketamina Qual é a evidência para que todo RN ventilado devesse ser tra-
A ketamina (derivado fenciclidina) é um potente analgésico em tado aceitando-se que a ventilação causa dor? A avaliação da dor
doses baixas e é frequentemente usado em rápidos procedimentos neste RN foi realizada utilizando-se de uma variedade de escores
dolorosos em crianças na Emergência ou UTI, podendo ser usado de dor e em diferentes tempos de procedimentos invasivos. Alguns
endovenoso, por via oral ou por via intramuscular. Devido aumen- mostraram melhora significativa nos escores de dor, outros apre-
tar as secreções e possíveis efeitos disfóricos, frequentemente é sentaram resultados inconsistentes em diferentes pontos e com
usada com agentes anticolinérgicos e um benzodiazepínico. Os diferentes métodos de avaliação. Portanto, diferentes escores en-
efeitos analgésicos da ketamina são mediados pelo antagonismo tre os estudos com diferentes resultados, metanálises de todos os
aos receptores N-metil-D-aspartato (NMDA) e possivelmente pelo resultados para avaliação da dor foram incapazes de demonstrar
antagonismo ao receptor μ. Dose endovenosa de 0,25-0,5mg/kg efeito convincente para a redução da dor nestes recém-nascidos.
pode produzir intensa analgesia por 10-15 minutos (1-2mg/kg EV A recente revisão da Cochrane apresentada anteriormente con-
pode ser necessário para procedimentos mais dolorosos, como clui que a evidência é insuficiente para recomendar o uso rotinei-
uma redução de fratura). ro de opióides em todo recém-nascido em ventilação mecânica.
Segundo Perlman, o uso de ketamina no recém-nascido pre- Devemos reservar as intervenções farmacológicas, tanto para
maturo, como agente alternativo ao opióide, deveria ser evitado, a analgesia e sedação para recém-nascidos selecionados onde
por falta de dados a respeito dos riscos e /ou benefícios. Apesar a presença da dor pode ser razoavelmente ser predita, quando
de evidências de que a ketamina mantém a estabilidade hemodi- a dor e o estresse estão interferindo com o efetivo manuseio do
nâmica com efeitos mínimos no fluxo sanguíneo cerebral dos RN ventilador ou outro suporte vital e quando as medidas ambien-
prematuros ventilados, Anand também não recomenda o seu uso tais mostraram-se falhas.

Paulo R. Margotto
Assistência ao Recém-Nascido de Risco

Os clínicos devem equilibrar os efeitos adversos do tratamento a partir de revisão padronizada de prontuários e entrevista com
farmacológico, incluindo hipotensão com a morfina e a rigidez da os médicos responsáveis, relataram que medicações para a se-
caixa torácica com o fentanil. A tolerância, dependência ocorrem dação e analgesia foram utilizadas em 89,5% das intubações re-
com todos os opióides e benzodiazepínicos. alizadas na UTI Pediátrica e em apenas 23,3% das realizadas nas
A mais óbvia e efetiva estratégia para diminuir a dor do RN na UTI Neonatais (p<0,001). O uso de sedativos foi feito em 35,6%
UTI Neonatal é restringir a freqüência de procedimentos dolorosos, versos 2,3%-(p<0,001), respectivamente nas UTIs Pediátricas
especialmente àqueles que são mais comumente relatados, como e Neonatais. Nenhum RN recebeu atropina previamente. Outra
as punções de calcanhares e a aspiração do tubo endotraqueal. evidência mostrada pelo estudo é a que a taxa de sucesso na
Estes procedimentos nos RN mais criticamente doentes deveriam intubação traqueal obedece a uma curva de aprendizado, sen-
ser realizados pelos profissionais mais experientes da Unidade. Li- do menor entre os residentes de pediatria do primeiro ano e se-
mitar os procedimentos que documentadamente tem efeito positi- gundo ano (56%) e, atingindo níveis seguros e satisfatórios entre
vo na evolução do bebê criticamente doente. Evitar a hipoxemia, a os residentes do terceiro ano (93,9%). Os autores concluem que
agitação e a “briga com o respirador”. Fixar com maior segurança parece óbvio que o currículo médico deve se adequar a esta ne-
o tubo endotraqueal, assim como os cateteres para prevenir os cessidade (o treinamento para a obtenção da via aérea deveria
seus deslocamentos e reinserções. Agrupar a coleta de exames ser priorizado no início da residência). Igualmente o esquema de
para minimizar as punções. Estratégias não farmacológicas são fármacos (sedativos, analgésicos, relaxantes musculares) usado
essenciais na prevenção e manuseio da dor neonatal. Vejam que na intubação traqueal no nosso meio necessita de revisão, a fim
há muita coisa que podemos fazer, mesmo sem drogas. Deixar o de propiciar ao paciente maior conforto e segurança, além de
bebê confortável. As drogas que usamos (morfina, midazolam) pa- maior facilidade na execução do procedimento.
recem apresentar problemas, especialmente a morfina. Pesquisa realizada com os diretores de 100 programas de trei-
namento em Medicina Perinatal-Neonatal nos Estados Unidos em
Premedicação Para Intubação 2006 por Sarkar e cl (78 responderam) evdienciou que somente
Semi-Eletiva Ou Eletiva 43,6% dos que responderam sempre usam premedicação antes
da intubação eletiva. (24,4% tinham normas escritas). A morfina
A intubação é um procedimento potencialmente doloroso, es- ou o fentanil isolados foram as drogas mais usadas (57,1%). A
tressante e é associado com efeitos fisiológicos adversos. Mui- combinação de opióides com midazolam ou outros benzodiaze-
tas intubações são feitas sob condições emergenciais, como pínicos foi usada menos frequentemente. O uso de sedação com
parte da reanimação inicial ou em condições de apnéia. Para miorelaxante foi usado em 23%. Apenas 9% usou miorelaxante
estas condições, o uso das premedicação pode ser secundá- em combinação com atropina e sedação.
rio devido nem sempre estar estabelecido o acesso venoso. Em Portugal através de inquérito telefônico foi encontrado em
No entanto, muitos RN são entubados eletivamente durante a 2008 por Eusébio e Fernandes que em 40 (73%) de 55 unidades
sua internação na UTI Neonatal por obstrução do tubo, piora do participantes utilizam sedação/analgesia, antes da intubação tra-
134 desconforto respiratório, extubação acidental, ou antes, de um queal do recém-nascido, 18 por rotina e 22 de modo ocasional, sen-
procedimento cirúrgico. Estes pacientes na maioria das vezes já do o fármaco utilizado mais frequentemente o midazolam, apesar
têm estabelecido um acesso venoso. da sua ausência de ação analgésica. O relaxamento muscular foi
Em 1992, pesquisa realizada em UTIs Neonatais dos EUA re- utilizado em 12 unidades (22%) sendo o vecurônio o mais usado.
velou que 84% nunca e 97% somente raramente usaram sedati- A atropina é administrada em 36% das unidades. Entretanto a exis-
vos ou relaxantes musculares para facilitar a entubação. Nas UTI tência de protocolo definido de uso em apenas 6 unidades (11%).
Neonatais do Canadá, em 1994, 88% raramente e 84% nunca Muitas intubações na UTI Neonatal continuam serem feitas
usaram analgésico para intubação, seja eletiva ou emergencial em estado acordado, isto é, sem analgesia pré-procedimento. Há
(os percentuais para sedativos foram 85 e 73% respectivamen- evidências na literatura que mostram que a intubação realizada
te). Estudo recente proveniente do Reino Unido evidenciou que com o bebê acordado é associada com aumento da pressão in-
somente 37% das UTI Neonatais usaram qualquer sedativo antes tracraniana (parece ser devido ao aumento do volume sangüíneo
da intubação e somente 14% das UTI Neonatais tinham proto- cerebral conseqüente à redução da saída do fluxo venoso do crâ-
colos para premedicação e somente 8% das UTI Neonatais usa- nio), aumento da pressão arterial sistólica (resposta observada
ram drogas para intubações eletivas ou reintubações. Pesquisa em 47% de 10 pré-termos intubados), maior variabilidade da fre-
mais recente no Canadá evidenciou que os médicos são mais qüência cardíaca do que os bebês intubados com pré-medicação,
propensos a usarem premedicação para a intubação dos RN de além do maior tempo gasto na intubação e o maior número de
maior idade gestacional e quase que exclusivamente em intuba- tentativas de intubação nos RN acordados. As alterações fisioló-
ções eletivas. Pesquisa realizada nas UTI Neonatais e Pediátricas gicas provocada pela intubação em RN acordados são suficientes
da França por Simon e cl revelou que a premedicação foi usada para produzir lesão de reperfusão e congestão venosa associada
antes da intubação para 37,1%, 67.3% e 91,7% dos neonatos, com hemorragia intraventricular e leucomalácia periventricular.
crianças e crianças maiores, respectivamente. Entre os RN, o Em comparação aos controles (intubados acordados), Stow e cl e
uso da premedicação foi raro entre os menores e a pesquisa não cl evidenciaram menor pressão intracraniana, maior estabilidade
evidenciou que a premedicação melhora as condições de intu- na freqüência cardíaca, menor pressão arterial e menor número
bação. Entre as drogas, o midazolam não parece ser a droga de de tentativa de intubação, além do menor tempo para intubação
escolha pelos riscos (quando associado ao fentanil, há risco de nas crianças que receberam tiopental e curare (ambos os grupos
parada cardíaca, hipotensão arterial e pela falta de propriedades receberam atropina). Estudo, randomizado de Pokela e Koivis-
analgésicas). Quando administrado em bolus, pode estar asso- to envolvendo 20 RN requerendo intubação eletiva mostrou no
ciado à atividade mioclônica. Attardi e cl relataram maior risco grupo que usou opióide pré-intubação significativamente menor
de dessaturação da oxihemoglobina durante a intubação nos RN pressão arterial e menor duração da hipoxia durante a intubação,
pré-termos que receberam midazolam (86% versos 0% no grupo além de menor duração do tempo para a intubação em relação
placebo), havendo também uma tendência a maior necessida- ao grupo controle. O estudo randomizado de Lemyre e cl com 34
de de reanimação cardiopulmonar nestes RN (29% versos 0% RN (média de peso de 989g e idade gestacional de 28 semanas)
no grupo placebo). Os autores alertam para o uso de midazolam não evidenciou efetividade da morfina como pré-medicação na
como premedicação na intubação de RN prematuros. Bonow e cl, intubação na redução da instabilidade fisiológica ou no tempo
Capitulo 3 Cuidados ao Recém-Nascido Criticamente Doente

necessário para a realização do procedimento. O início da ação O uso do fentanil (dose de 2,5 µg/kg – 1 a 3µg/kg) não causa
da morfina é cerca de 5 minutos, com um pico de ação ocorrendo produção de histamina, não ocorrendo assim o broncoespas-
entre 15 a 30 minutos, período muito longo para um procedi- mo. O débito cardíaco, a resistência vascular sistêmica, a re-
mento como a intubação endotraqueal, não levando a suficien- sistência vascular pulmonar e a pressão de oclusão da artéria
te relaxação para permitir adequada visualização da via aérea. pulmonar são preservadas.
Houve uma tendência a hipoxemia ser maior no grupo tratado. O Há vantagens em associar ao analgésico um miorelaxante
uso do fentanil associado ao miorelaxante evita a rigidez de caixa muscular? Estudos evidenciaram menos episódio de hipóxia, as-
torácica. É inaceitável o uso do miorelaxante sem analgesia. Ne- sim como maior sucesso da intubação (menor tempo e menor
nhum outro estudo relatou eventos adversos quando um opióide número de tentativa s de intubação) com esta associação.
foi usado com miorelaxante. No entanto, o papel do miorelaxante Administrar inicialmente a atropina, seguido do curare que
precisa melhor ser definido. tem início de ação por um a dois minutos e o fentanil . A ad-
Quanto às drogas: a revisão sistemática de Shah e cl mos- ministração do fentanil lentamente em 30 segundos evita a
trou uma variabilidade no uso de drogas como premedicação na ocorrência de rigidez da parede torácica, após a ventilação com
intubação dos RN: anticolinérgicos, analgésicos, agentes anes- máscara,
tésicos, relaxantes musculares, sedativos, usados isoladamen- O midazolam não é um analgésico, é um sedativo e o seu uso
te ou em várias combinações. A combinação mais comumente está associado com aumento de alguns efeitos adversos sérios
avaliada foi a da atropina, fentanil e succinilcolina. A maioria durante a intubação: diminui o débito cardíaco, diminui ao ve-
destes estudos foi conduzida sob circunstâncias relativamente locidade do fluxo sanguíneo, e tem cinética muito variável (tem
controladas, tais como intubação eletiva ou semi-eletiva (cirurgia uma meia vida de 22 horas e nos casos de doses repetidas, até
ou troca de tubo endotraqueal). Devido os estudos usarem dife- 7 dias!). O uso de midazolam durante a ventilação mecânica está
rentes drogas e medidas de prognósticos, Shah e cl foram inca- associado com aumento de efeitos adversos neurológicos e não
pazes de identificar dois estudos dos quais os dados pudessem deve ser usado na intubação do neonato. Não usar o “pacoti-
ser sumarizados usando a técnica de metanálise. Portanto, a nho” MIDAZOLAM+FENTANIL (descritas síndromes neurológicas,
evidência disponível a respeito da eficácia e efetividade das dife- havendo potencialização dos efeitos adversos com mais hipoten-
rentes drogas para a premedicação nos RN é limitada (pequeno são e esta está associada à leucomalácia e óbito)
número de RN estudados). Os resultados de alguns dos estudos Na Unidade de Neonatologia do Hospital Regional da Asa Sul
sugerem uma atenuação das respostas fisiológicas nos RN que usamos a seguinte combinação como pré-medicação na intuba-
recebem premedicação para a intubação. Nenhum estudo traz ção eletiva e semi-urgente:
informações relevantes do prognóstico a curto prazo, como du- O termo sequência rápida de intubação (SRI) surgiu na década
ração da ventilação mecânica, desenvolvimento neurocomporta- de 1980 como extensão da seqüência rápida de indução anes-
mental, estenose subglótica. As Unidades Neonatais necessitam tésica. Foi observado que o uso de pré-medicamentos facilitava
desenvolver específicos guias práticos a respeito da premedica- e tornava o procedimento mais seguro e com maior índice de
ção para a intubação e assegurar que todos os médicos estejam sucesso. Em 1990, Yamamoto relatou o uso com sucesso da se- 135
familiarizados com os efeitos das drogas usadas. Em situações qüência rápida de intubação em 19 pacientes pediátricos que
como anormalidade da anatomia da via aérea superior (severa necessitaram de intubação traqueal de emergência.
micrognatia, estenose subglótica), a intubação do RN acordado Os procedimentos SRI consistem na utilização da seguinte se-
parece ser aceitável. Havendo a decisão do uso de premedica- quência de ações:
ção, estas devem ser feitas com atenção e com monitorização do
estado cardiorespiratório por profissionais competentes. Futuros 1. Período de oxigenação a 100% ventilação com pressão
estudos deverão ser realizados para documentar a segurança e positiva sob máscara,
eficácia da premedicação na intubação de RN pré-termos e a ter- 2. Atropina: 0,01mg/kg
mo instáveis e estáveis. Um segmento de longo prazo destes RN 3. Bloqueador neuromuscular de ação rápida e curta
deve ser incluído no desenho destes ensaios. 4. (Rocurônio: 0,5mg/kg ou vecurônio: 0,1mg/kg). Na
Portanto, a extrapolação de informação de adultos e da lite- falta, usar succinilcolina:1-1,5mg/kg/dose (complica-
ratura pediátrica nos sugere que a intubação do neonato acor- ções: fasciculação muscular, aumento da pressão arte-
dado é provavelmente inapropriada. Devido à atenuação das rial, intracraniana, hiperpotassemia
respostas fisiológicas, o uso da premedicação na intubação dos 5. Seguida por um analgésico com as mesmas caracte-
RN está indicado, devendo esta premedicação ser administrada rísticas,
por médicos qualificados. 6. (Fentanil:2,5µ/kg)
Quais são estas drogas ou combinação de drogas que deve- 7. Aplicação de pressão na cartilagem cricóide (manobra
ríamos usar: de sellick), para realizar rapidamente e nas melhores con-
Atropina: inibe a bradicardia em resposta a estimulação vagal; dições a laringoscopia seguida da intubação orotraqueal.
sem efeitos colaterais
O relaxamento muscular (succinilcolina/rocurônio/vecurônio) O propofol não está indicado na SRI nos RN por falta de mais
reduz o aumento da pressão intracraniana e reduz o tempo para estudos farmacocinéticos
a intubação e não tem efeitos adversos (consulte o capítulo de
Uso de Curare na UTI Neonatal.
É importante lembrar que como a intubação é um processo
doloroso, devemos fazer a analgesia e não sedação. A melhora
droga no momento é o fentanil. No futuro, o análogo do fentanil,
o alfentanil poderá se tornar o melhor agente, devido a sua dura-
ção de ação ser de alguns minutos, pois é metabolizada de for-
ma diferente (o fentanil tem uma meia vida em prematuro de 10
horas). Assim, o análogo do fentanil é a melhor escolha do que
o fentanil. No entanto, o fentanil é melhor do que a morfina, pois
esta leva 10 minutos para ter um bom efeito analgésico.

Paulo R. Margotto
Assistência ao Recém-Nascido de Risco

Medicação Ação Dose Via Efeito Adverso Buscando então uniformizar a conduta e estabelecer uma rotina na
0,01 a assistência propomos para a Unidade de Terapia Intensiva Neonatal
Anticolinér- Taquicardia, tremo- do Hospital Regional da Asa Sul a utilização de uma seqüência rápida
Atropina 0,02 mg/ EV
gico res e inquietação de ações e fármacos para intubação eletiva dos RN aqui atendidos.
kg/dose
Rigidez torácica, Serão eleitos para intubação eletiva:
depressão respira-
Analgésico, 1-3чg/kg/
Fentanil EV tória, aumento da 1. Pacientes que serão submetidos a cirurgia,
narcótico dose
pressão craniana e 2. Sinais indicativos de falência respiratória, onde o risco
hipotensão de parada cardiorrespiratória seja iminente,
0,5 mg/kg/ 3. Hipoventilação, choque séptico ou cardiogênico, coma,
Rocurônio Curarizante EV
dose pós-operatório e politraumatismo.
Efeitos colaterais
Bloqueador 0,15 mg/ A intubação traqueal deve ser sempre procedida por pessoal
Vecurônio EV cardiovasculares
muscular Kg habilitado e experiente.
mínimos
Será oferecida ao recém nascido fonte segura de oxigênio sob
máscara com pressão positiva (CFR).
Planilha para o cálculo de doses:
Para um recém-nascido de 3kg Conclusões

Apresen- O cuidado intensivo é uma experiência dolorosa para o recém-


Droga Dose Diluir nascido com importantes repercussões no futuro (nos prematuros o
tação
limiar da dor diminui após repetido estímulo sensorial e mesmo es-
0,5 mg/ 1 ml em AD 9 ml
Atropina 0,01 0,6ml tímulo não doloroso pode ser percebido como estresse). Embora os
ml e fazer
médicos estimem que muitos procedimentos na UTI Neonatal são
50 mcg/ 1 ml em AD 9 ml dolorosos, acima de 65% dos pacientes do estudo de Simons e cl
Fentanil 2 1,2ml
ml e fazer não receberam terapia analgésica apropriada. O número de proce-
Succinil- 1 ml em AD 9 ml dimentos é significativamente maior nos RN que requerem suporte
20mg/ml 1 1,5ml
colina e fazer ventilatório, principalmente no primeiro dia de internação, devido à
Vecurô- 1 ml em AD 9 ml estabilização inicial, monitorização e a avaliação diagnóstica. Assim,
4 mg/ml 0,1 0,75ml para estes RN considerar a infusão endovenosa de opióide.
nio e fazer
Aranda chama atenção para o uso de morfina em neonatos
Rocurô- 1 ml em AD 4 ml
136 nio
10 mg/ml 1
e fazer
0,75ml pré-termos ventilados (o seu grupo passou a usar o fentanil, mas
existe aquela preocupação, pois o fentanil é um opiáceo e pode-
ria produzir os mesmos efeitos da morfina).
A SRI tem o propósito de evitar tentativas mal sucedidas, ven- A despeito dos efeitos adversos, os opióides são usados em
tilação manual com bolsa e máscara, diminuindo o risco de dis- muitas UTIs Neonatais e os benefícios da analgesia quando usa-
tensão, regurgitação, vômito e aspiração. da cuidadosamente podem suplantar os riscos destas drogas.
Alguns estudos indicam ainda que a partir da 26ª semana de O grupo do Aranda está examinando o papel do ibuprofeno en-
gestação, os recém- nascidos têm considerável maturidade do dovenoso: este tem 50% de efeito que poupa o opiáceo. São bons
sistema de condução da dor periférico, espinhal e supraespi- para o tratamento da dor. Possivelmente teremos no futuro drogas
nhal, reagindo a injúrias teciduais com respostas autonômicas, não opióides no controle da dor. Isto ainda deverá ser estudado.
teciduais e hormonais de estresse. É sabido que a experiên- A evidência presente sobre o uso de analgesia nos RN ven-
cia da dor e a tensão a ela associadas levam a danos físicos e tilados de forma rotineira não mostra claros benefícios em ter-
emocionais prejudiciais, que podem atrasar a recuperação e, mos de melhora do prognóstico neurológico a curto prazo dos
inclusive, aumentar a mortalidade. RN pré-termos ventilados e benefícios marginais nos RN a termo
São descritos também que intubação em recém nascidos ventilados. Dor prolongada e estresse são difíceis de medir nos
promove hipoxemia, bradicardia, hipertensão intracraniana e RN prematuros criticamente doentes, particularmente nos RN
hemorragia intracraniana. extremamente prematuros. Assim é difícil estabelecer a eficácia
Os estudos são poucos conclusivos quanto ao uso da SRI com clínica da analgesia e sedação prolongada nestes RN.
facilitador do procedimento e reduzindo os riscos para o recém Os efeitos a longo prazo da exposição a dor/estresse repetitivo
nascido em especial os pré-termos. ou a drogas analgésicas e sedativas nos primeiros dias de vida
Em metanálise de 2002 de 9 ensaios clínicos casualisados e continua inexplorado. Mais pesquisas em diversas populações de
2 coortes concluíram que a premedicação parece ser benéfica, RN prematuros e RN a termo ventilados são necessárias antes de
seja em atenuar as respostas fisiológicas adversas à intubação se colocar a analgesia e a sedação no RN em uma base científica.
ou diminuir a duração do procedimento e seu uso é recomen- Segundo Linda Frank, comentando o estudo de Jacqz-Aigrain
dado. O grupo International Evidence-Based Group for Neonatal e cl, preocupação teórica a respeito da provisão de agentes am-
Pain conclui que a intubação sem sedoanalgesia só deve ser rea- nésticos durante o período crítico do desenvolvimento do cérebro
lizada na sala de parto e em situações de risco de morte. deve também ser bem pensado antes do uso generalizado de
Sem dúvidas está descrito na literatura que a dor é um grande infusão prolongada de midazolam. Até que possamos definir me-
estressor que pode aumentar a morbidade e mortalidade nos RN didas apropriadas da eficácia de sedativo e toxicidade a curto e
criticamente doentes. Sendo a intubação e ventilação mecânica longo prazo para esta população, o uso de infusão contínua de
as maiores causas de dor e estresse nos RN. Apesar do amplo midazolam nos neonatos parece prematuro.
uso da analgesia e sedação nesta condição, as evidências clínicas Até que seja determinada a relação risco/benefício por fu-
são limitadas quanto à eficiência e segurança das drogas usadas. turos estudos e uma vez que a administração de benzodiaze-
pínicos frequentemente foi associada com efeitos adversos, o
Capitulo 3 Cuidados ao Recém-Nascido Criticamente Doente

• Burtin P, e cl. Population pharmaclkinetics of midazolam in neonates. Clin Pharmacol Ther


seu uso na vulnerável população de recém-nascidos deve ser 56:615, 1994
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Paulo R. Margotto
Assistência ao Recém-Nascido de Risco

3.6 FISIOTERAPIA

Verônica Alves Corrêa de Oliveira, Amanda Torrezan Galigali


Pereira da Luz; Maria Elizabeth Corrêa Santos.

Fisioterapia Respiratória

Tem por objetivo manter vias aéreas pérvias, prevenir as com- de vias aéreas observa-se a persistência dos seguintes
plicações pulmonares e melhorar a função respiratória nas pato- sinais clínicos e laboratoriais:
logias que acometem o período neonatal. • Secreção visível em vias aéreas ou na cânula traqueal
O neonato apresenta algumas peculiaridades estruturais e fun- • Presença de roncos ou estertores grossos localizados ou
cionais que prejudicam a eliminação de secreção das vias aére- difusos na ausculta pulmonar
as, tais como mecânica respiratória pouco eficiente na manuten- • Imagens radiológicas sugestivas de retenção de secre-
ção do volume pulmonar, vias aéreas mais estreitas, deficiência ção em vias aéreas inferiores como atelectasias
de ventilação colateral (menor quantidade de poros de Lambert • Deteriorização aguda da função pulmonar (hipoxemia e/
e Kohn) e imaturidade do mecanismo da tosse. ou hipercapnia), acompanhada de sinais clínicos de au-
Uma série de fatores pode comprometer a depuração das vias mento do trabalho respiratório ou da diminuição do vo-
aéreas, esgotando a capacidade dos mecanismos de mantê-las lim- lume corrente efetivo, se disponível a monitorização da
pas, causando a retenção de secreções. Entre as principais causas mecânica respiratória.
destacam-se aquelas que aumentam a produção ou alteram as ca-
racterísticas do muco e as que prejudicam o movimento mucociliar. Deve-se ressaltar que na maioria dos recém-nascidos uma boa
posição e a manutenção do volume pulmonar são mais bené-
Alteração da permeabilidade de vias aéreas ficas do que o uso de manobras estressantes. Antes de iniciar
• Intubação traqueal qualquer intervenção é fundamental estabelecer um programa
• Traqueobroncomalácia de atendimento fisioterápico, que inclui a definição clara dos ob-
• Estenoses traqueais jetivos terapêuticos, determinação das prioridades e a aplicação
• Estenoses ou edema subglótico rigorosa das técnicas escolhidas. Além disso, o programa deve
prever a reavaliação contínua da efetividade e da eficácia das
Aumento da quantidade de secreção pulmonar técnicas utilizadas e a ocorrência de complicações, no sentido de
• Processos inflamatórios modificar as estratégias de atendimento de acordo com a evolu-
138 • Pneumonias ção do quadro. Tal programa se inicia com a avaliação cuidadosa
• Doença pulmonar crônica do paciente. É de suma importância que se conheça:
• Baro/volutrauma
• Uso de gases com umidificações e aquecimento inade- • História obstétrica e materna do RN;
quado • Idade gestacional;
• Uso de altas concentrações de oxigênio • Peso ao nascimento;
• Oferta hídrica inadequada: hiper ou hipohidratação • Boletim de Apgar;
• Tipo e condições do parto;
Inibição ou diminuição do reflexo de tosse • Doença pulmonar de base.
• Uso de drogas sedativas e/ou analgésicas
• Lesão do sistema nervoso central A avaliação do RN consta de:
• Distúrbios músculo esqueléticos
• Dreno torácico Inspeção
• Pós-operatório de cirurgia abdominal e torácica
Na inspeção devemos observar:
Indicação
• Postura e tônus muscular;
Indicam-se manobras de higiene brônquica para auxiliar a re- • Comportamento e estado do sono:
cuperação dos problemas respiratórios associados aos pós-ope-
ratórios, às lesões neurológicas e a própria doença dos pulmões, Na avaliação do quadro respiratório interessa o reconhecimen-
sempre que a secreção em vias aéreas for um fator agravante e to de um estado em particular do sono, o ativo, em que ocorre o
que leve às alterações na função pulmonar. As doenças ou condi- movimento ocular rápido (REM), caracterizado pela diminuição ge-
ções nas quais a fisioterapia respiratória pode ser indicada são: neralizada do tônus muscular, incluindo os músculos respiratórios,
propiciando o aparecimento de distorções da caixa torácica, que di-
• Síndrome do desconforto respiratório do recém-nascido minuem a efetividade dos movimentos respiratórios e predispõem
• Síndrome da aspiração de mecônio a ocorrência de fadiga muscular. Sabe-se que os bebês prematuros
• Displasia broncopulmonar permanecem cerca de 80% do tempo de sono neste estado.
• Pneumonias neonatais
• Pós-operatório Condições da pele
• Doenças neuromusculares
• Não há um consenso na literatura sobre o melhor critério Devem ser observadas sua integridade, presença de contusões,
para indicar as manobras de higiene brônquica. Inicia- lacerações e presença de drenos torácicos que geralmente causam
se a fisioterapia respiratória se, mesmo após a aspiração dor e podem limitar a expansibilidade torácica.Verificar, ainda, se há
alterações na coloração da pele, tais como palidez e cianose.
Capitulo 3 Cuidados ao Recém-Nascido Criticamente Doente

Temperatura Devem ser observados os parâmetros iniciais do respirador,


tais como:
O recém-nascido deve ser mantido em ambiente térmico neu- • Frequência respiratória, o tempo inspiratório e expiratório
tro, no qual as demandas metabólicas são mínimas. A tempe- e a relação i/e.
ratura axilar deve ser mantida entre 36,5 e 37 C. O manuseio • Pressão inspiratória máxima;
deve ser rápido e cuidadoso para evitar variações acentuadas na • Fluxo de O2;
temperatura e os efeitos adversos da hipotermia. • Fração inspirada de O2;
• Pressão positiva expiratória final (peep);
Avaliação do Quadro Respiratório • Modalidade ventilatória - a/c –simv – imv;
• Temperatura do aquecedor (entre 32°c e 34°c).
Cianose: Pode estar presente sob duas formas: periférica
ou central. Técnicas Fisioterapêuticas
Configuração da caixa torácica: A expansibilidade deve ser
simétrica e apresentar um deslocamento satisfatório da caixa to- Drenagem Postural
rácica, cerca de 0,5 cm de elevação em nível do esterno.
Padrão respiratório: Observar o ritmo e a profundidade das Tem como pré-requisito o conhecimento da conformação da
respirações, como a presença de taquipnéia, pausas respirató- árvore brônquica, pois para cada área específica do pulmão há
rias ou episódios de apnéia. uma postura de drenagem correspondente a ação da gravidade
Retrações da caixa torácica: As retrações intercostais, sub- que, aliada ao posicionamento do bebê, facilita a drenagem das
costais, xifóideas e esternais são manifestações clínicas obser- secreções de regiões mais periféricas para brônquios de maio-
vadas nos neonatos com insuficiência respiratória. Os neonatos res calibres de onde podem ser mais facilmente removidas. Tal
apresentam uma péssima dinâmica respiratória, com costelas manobra pode ser utilizada isoladamente ou em associação a
situadas horizontalmente em relação ao diafragma, predomí- vibrocompressão. A postura de drenagem para neonatos, além
nio de estruturas cartilaginosas. Além disso, o diafragma se fixa de restrições com a presença de drenos torácicos ou cateter um-
perpendicularmente nas costelas. Junto a isso, o recém-nascido, bilical, deve ser adaptada a cada caso específico:
apresenta maior quantidade de sono tipo REM. Assim, recomendam-se os seguintes princípios:
Batimento de asa nasal: O recém-nascido apresenta uma Procurar inserir as manobras de higiene brônquica dentro de
respiração basicamente nasal e por um mecanismo reflexo nos um protocolo de manipulação mínima.
períodos de dificuldade respiratória, observa-se uma dilatação Está contra-indicada a posição de Trendelenburg, já que no re-
das narinas. Tal mecanismo ocorre na fase inspiratória do ciclo cém-nascido, em particular no prematuro, o controle do fluxo san-
respiratório e tem o intuito de diminuir a resistência de vias aé- güíneo cerebral é limitado e nesta posição, ocorrem variações no
reas em nível nasal. fluxo sangüíneo sistêmico e cerebral, predispondo a ocorrência
Palpação: A palpação da caixa torácica é importante para veri- tanto de lesões isquêmicas (leucomalácia periventricular) como 139
ficar a presença de edema, enfisema subcutâneo e eventualmen- das hemorrágicas (hemorragia intraventricular). Esta posição
te fraturas de costelas. Atentar para os músculos acessórios da está contra-indicada nas situações que cursam com aumento da
respiração (esternocleidomastóideo e trapézio) que podem ser pressão intracraniana, como na encefalopatia hipóxico-isquêmi-
palpáveis nas situações em que a atividade do diafragma torna- ca, hemorragias intracranianas graves, hidrocefalias não trata-
se insuficiente para manter a ventilação. das, pós-operatório de cirurgias intracranianas e oculares. Além
Ausculta: Procurar auscultar as áreas correspondentes a todas disso, essa manobra não é recomendável nos recém-nascidos de
as regiões pulmonares, mantendo sempre que possível a cabe- extremo baixo peso, na hemorragia pulmonar e devido ao risco
ça do bebê na linha média. É fundamental o reconhecimento de de aspiração do conteúdo gástrico nos pacientes que apresen-
sons que indicam a presença de secreção na árvore respiratória, tam refluxo gastroesofágico.
com roncos e estertores grossos e médios, e sons que apontam O decúbito ventral está contra-indicado nos pacientes com disten-
para um possível estreitamento de vias aéreas, como são abdominal grave (íleo infeccioso, enterocolite necrosante), no
expiração prolongada e sibilos inspiratórios e expiratórios. pós-operatório de cirurgias abdominais ou cardíacas e nos defeitos
Além disso, devem ser identificadas as anormalidade quantita- de fechamento da parede abdominal onfalocele e gastrosquise).
tivas, com diminuição ou abolição ou, ainda, assimetria de sons A duração de cada posição de drenagem depende da tolerân-
Gemido expiratório: É um sinal característico do período neo- cia do paciente. De uma forma geral, o recém-nascido é mantido
natal, podendo ser audível com ou sem o auxílio de estetoscópio em cada posição durante 2 a 5 minutos, quando associado às
na fase expiratória da respiração. Tal sinal ocorre em conseqüên- manobras de compressão e/ou vibração, ou cerca de 15 minutos
cia da constrição ao nível da laringe (cordas vocais) e tem como se a manobra é aplicada isoladamente.Durante o procedimento,
objetivo aumentar a capacidade residual funcional, diminuindo, os sinais vitais devem ser monitorados continuamente.
assim, as alterações da relação ventilação, perfusão. A alternância periódica dos decúbitos, além de ser benéfica
Avaliação de outros sistemas: O sistema cardio vascular inter- na melhora da função pulmonar e favorecer o desenvolvimento
relaciona-se com o pulmonar, tanto anatômica como fisiologica- neurossensorial e psicomotor, propicia maior conforto ao bebê e
mente. Assim, o pulso, a freqüência cardíaca, a pressão arterial previne a formação de escaras de decúbito. Por exemplo, vários
e a perfusão periférica devem ser monitoradas cuidadosamente, estudos demonstraram vantagens da postura prona com rela-
já que as manobras fisioterápicas podem afetar o estado hemo- ção à supina no sentido de otimizar a mecânica ventilatória de
dinâmico. Quanto ao sistema músculo-esquelético, é importante neonatos com insuficiência respiratória .Nessa posição, a caixa
reconhecer a presença da osteopenia da prematuridade, que re- torácica torna-se mais estável e observa-se melhor acoplamento
quer cuidado redobrado durante o manuseio. Quanto ao sistema tóraco-abdominal, favorecendo os músculos respiratórios a ex-
neuromuscular é importante saber se há hemorragia intraventri- pandir o tórax, além de minimizar as distorções da caixa torácica
cular e leucomalácia periventricular. que podem ocorrer durante o sono REM. Estes fatos proporcio-
nam aumento do volume corrente com melhora da oxigenação
arterial e da complacência pulmonar.

Paulo R. Margotto
Assistência ao Recém-Nascido de Risco

Evitar que o neonato fique na mesma posição por período pro- mas costelas, formam um pilar. A ausência do apoio abdominal
longado. Por exemplo, normalmente o RN é mantido em decúbito permite que a pressão torácica se dissipe via abdominal impe-
dorsal por dias. Nesta posição somente a porção anterior dos dindo a transmissão dessa pressão via arteriovenosa para o fluxo
segmentos superiores é drenada e, com o tempo, progressiva- sanguineo cerebral. Essa técnica pode ser usada em crianças in-
mente, os lobos inferiores sofrem hipoventilação. tubadas e no pós-extubação. A pressão gerada é leve, não produz
A decisão de qual segmento ou lobo pulmonar deve ser drena- desconforto ou agitação.
do e conseqüentemente a escolha da postura correta é baseada
na avaliação clínica cuidadosa e na análise dos raios X de tórax. Drenagem Autógena Assistida - DAA
No decúbito lateral em recém-nascidos observa-se diminuição
da ventilação no pulmão dependente. Tal recurso tem sido utili- A drenagem autógena assistida (DAA) é uma adaptação da dre-
zado para promover a hipoventilação localizada, colocando o ne- nagem autógena (DA), em que, após um esvaziamento pulmonar
onato em decúbito lateral com o lado comprometido na posição máximo, acompanha-se a expiração e depois mantém-se uma
dependente, nos casos de enfisema intersticial localizado, pneu- pressão leve, fazendo inicialmente com que a criança respire
motórax unilateral não hipertensivo, enfisema lobar congênito dentro do volume de reserva expiratório com o objetivo de desco-
unilateral, e para diminuir o fluxo de gases na fistula bronco-pleu- lar as secreções. Essa técnica foi adaptada para recém-nascidos
ral. Além disso, nas situações de atelectasia pode-se posicionar prematuros com a colocação da própria fralda para sustentação
o bebê em decúbito lateral com a região comprometida do lado do abdome e a mão torácica entre a fúrcula esternal e a linha
não dependente para favorecer a ventilação e insuflar o pulmão intermamária, que é a mão que realiza a pressão.
ou segmento pulmonar atelectático.
Reequilíbrio Tóraco-Abdominal – Método RTA
Vibrocompressão
Quando se refere a um distúrbio respiratório, freqüentemente
A vibração manual consiste em posicionar a mão espalmada aborda-se a doença pulmonar em primeiro plano. Porém, deve-se
na parede do tórax sobre o segmento pulmonar a ser drenado. estar atento ao fato de que o tórax é uma “bomba” e o pulmão é
A seguir, iniciam-se as contrações isométricas dos músculos do pouco efetivo sem esta “bomba” para movê-lo
antebraço e mão que produzirão a energia cinética sob forma de Dentro das técnicas de fisioterapia respiratória, é reconheci-
movimentos vibratórios, a qual será transmitida para o interior do do um método que incentiva a ventilação pulmonar por meio da
tórax. E, por fim, desliza-se a mão em direção ao brônquio fonte normalização do tono, comprimento e força dos músculos respi-
correspondente respeitando a anatomia das costelas. Durante ratórios. O método reequilíbrico torácico abdominal apóia-se no
a realização de tal manobra, procurar manter a mão em conta- entendimento de que as disfunções respiratórias resultam em
to com a parede torácica. A vibrocompressão deve ser aplicada alterações musculares, posturais e sensoriomotoras.
somente na fase expiratória do ciclo respiratório espontâneo ou Este método foi assim denominado porque as alterações me-
140 mecânico. Esta manobra está contra-indicada nos recém-nasci- cânicas resultantes de doenças pulmonares demonstram um de-
dos de extremo baixo peso, na presença de enfisema intersticial sequilíbrio de forças entre os músculos acessórios da inspiração
não drenado e na hemorragia pulmonar. e expiração. Essas disfunções musculares modificam a configu-
ração do tronco, alteram a geometria do tórax e do abdome bem
Manobra Que Interfere No Fluxo Expiratório (AFE) como dificultam o funcionamento normal do diafragma e múscu-
los acessórios, inspiratórios e expiratórios.
Está fundamentada no princípio da Aceleração do Fluxo Expi-
ratório (AFE), baseadas na fisiologia da tosse, ou seja, o objetivo Técnica:
principal é o de gerar uma alta velocidade de fluxo de gás na A técnica deste método consiste de um manuseio dinâmico
fase expiratória com intuito de desprender as secreções aderidas sobre o tronco, em que o terapeuta deve atuar no sentido de su-
na parede da árvore respiratória. Utiliza-se a insuflação pulmo- prir as falhas dos músculos respiratórios oferecendo pontos fixos,
nar fisiológica durante a respiração espontânea ou a mecânica apoios e alongamento muscular para facilitar o funcionamento
durante a ventilação pulmonar mecânica. O aumento do fluxo muscular normal.
expiratório é alcançado através de um movimento tóraco-abdo- O método RTA aborda a desobstrução brônquica por meio de
minal sincronizado. Tal manobra inicia-se ao final da inspiração incremento ventilatório, movimentação fina e qualitativa do tórax
e estende-se pela fase expiratória, não ultrapassando os limites e normalização da tonicidade abdominal.
fisiológicos do recém-nascido. Esta técnica é uma alternativa Evitar:
para os pacientes debilitados e instáveis que necessitam da re-
moção de secreção das vias aéreas, pois dispensa as mudanças • Flexão de pernas sobre tronco, Hiperextensão e hiperfle-
de decúbito, como acontece com as outras manobras convencio- xão cefálica
nais.Além disso, este recurso fisioterápico pode ser utilizado em • Fraldas apertadas (dificultando a projeção das vísceras
crianças com refluxo gastroesofágico, desde que seja realizado para frente com conseqüente diminuição da expansibili-
na posição prona e longe das mamadas. A manobra está contra- dade diafragmática)
indicada nos casos de instabilidade hemodinâmica, hipertensão • Rotação do pescoço Em decúbito dorsal, manter a cabe-
intracraniana, hemorragia intraventricular grave, osteopenia da ça na linha média e elevada a 30°, pois nesta situação
prematuridade e distúrbios hemorrágicos. a pressão intracraniana é menor. Rotação abrupta da
cabeça para o lado causa obstrução da veia jugular ipsi-
Técnica Da Ponte lateral e aumento na pressão intracraniana.

Essa técnica já foi adaptada para o período neonatal, onde não Considerando-se a imaturidade da árvore brônquica dos RN
se utiliza a contrapressão. Realiza-se apenas um apoio abdomi- prematuros, pode-se, através da estimulação global do RN, pro-
nal e a mão torácica para uma pressão expiratória. Ela ainda foi mover uma resposta a nível de tono muscular, principalmente
readaptada para o recém-nascido prematuro e foi denominada dos músculos inspiratórios e pela conseqüente estimulação
técnica da ponte. O polegar e o indicador, posicionados nas últi- dos centros bulbares, incrementar a atividade respiratória. A
Capitulo 3 Cuidados ao Recém-Nascido Criticamente Doente

estimulação do diafragma mecanicamente através da mobili- Como proceder ante os sinais de estresse:
zação passiva de sua inserções a nível da coluna lombar, ar-
cos costais internos e externos é amplamente conhecido pelos • Fazer uma pausa, de modo a aguardar que o próprio bebê
médicos neonatologistas em casos de apnéias transitórias dos dê um sinal para continuar a interação ou o procedimento;
recém-nascidos pré-termos. • Instituir manobras de organização, observando as res-
Também a estimulação sistemática dos reflexos nos RN pré- postas do bebê diante delas;
termos promove uma maior atividade das estruturas encefálicas, • Suspender a interação ou o procedimento, caso o bebê
contribuindo para sua maturação. Assim um reflexo de preensão não responda adequadamente às duas manobras ante-
palmar , quando estimulado, estabelece uma sucção mais eficaz riores e continue a apresentar sinais de estresse.
e vice-versa, por exemplo, sempre que se quer estimular a motri-
cidade residual de grupos musculares ou músculos específicos, o Aspiração
fisioterapeuta pode dirigir as respostas motoras do RN para esta
finalidade, através da estimulação reflexa. Em alguns casos de As alterações fisiológicas induzidas pela aspiração ainda são
paralisia facial, utilizam-se os reflexos de procura e sucção por pouco conhecidas. Sabe-se, no entanto, que decorrem da interrup-
estimulo tátil, térmica ou proprioceptiva nos territórios afetados ção da ventilação mecânica e da presença do cateter em vias aé-
com resultados visíveis, pela abordagem precoce já na Unidade reas. A desconexão entre o paciente e o aparelho leva à perda da
de Neonatologia e, na continuidade, ao se orientar as mães. capacidade residual funcional e do volume pulmonar que resultam
em hipoxemia hipercapnia. Esses efeitos podem ser minimizados
Estimulação Tátil e Cinestésica com uso do sistema fechado para aspiração traqueal. Com relação
aos efeitos cardiovasculares, admite-se, atualmente, que não se-
A intervenção por meio de estímulo táteis suaves ao longo do jam somente uma resposta fisiológica à hipoxemia. As alterações
corpo do bebê e da estimulação cinestésica com movimentos da pressão arterial e do ritmo cardíaco parecem ser mediadas pelo
passivos articulares pode ser benéfica ao RNPT, propiciando um sistema nervoso autônomo através da estimulação dos recepto-
maior ganho de peso diário, uma melhor qualidade do estado de ressimpáticos e parassimpáticos localizados nas vias aéreas proxi-
alerta, habituação e tono muscular. Field e cl (12) verificaram que mais pelo cateter de aspiração. A ativação dos primeiros resultaria
a estimulação tátil e cinestésica podem facilitar o crescimento e em vasoconstrição periférica e aumento da pressão arterial, en-
a organização comportamental em RNPTs. quanto que as bradarritmias seriam decorrentes da estimulação
A estimulação tátil parece ser benéfica quanto à redução na do sistema parassimpático. Essas respostas podem ser críticas no
incidência de episódios de apnéias e bradicardia. período neonatal, em particular nos recém-nascidos pré-termos e
O toque suave pode ter apenas o objetivo de proporcionar ao naqueles que cursam com encefalopatia hipóxico-isquêmica, já
bebê uma experiência não dolorosa. Em um estudo realizado que nesses pacientes a irrigação do cérebro torna-se “pressão-
com bebês mecanicamente ventilados, foi verificado que a sim- passiva” em conseqüência da perda da auto-regulação do fluxo
ples colocação das mãos sobre o abdome e a cabeça do bebê sangüíneo . Nessa condição, a perfusão cerebral fica exposta às 141
proporcionou melhoras nas respostas da atividade motora e in- flutuações da pressão arterial sistêmica, aumentando os riscos
terferiu no período de duração da ventilação mecânica, reduzin- do aparecimento de lesões tanto isquêmicas como hemorrágicas.
do o período de intubação. Vários estudos relatam aumento do fluxo sangüíneo cerebral e da
Entretanto é necessário ressaltar que essas intervenções se- pressão intracraniana durante a aspiração traqueal.
jam realizadas respeitando-se o estado comportamental em que A aspiração das vias aéreas tornou-se de tal maneira rotineira
o bebê se encontra. Há bebês, principalmente RNPRs extremos em UTI, que existe uma tendência a esquecer suas complica-
em situação clínica instável que podem não tolerar o manuseio, ções e riscos. Mesmo quando realizada apropriadamente, a as-
apresentando respostas fisiológicas negativas, tais como hipoxe- piração é um procedimento que envolve cuidados e obediências
mia, bradicardia, apnéia e irritabilidade. e certos rigores técnicos. Sua indicação baseia-se na evidência
Os pais devem ser incentivados a tocar o seu bebê e visita-lo de sinais diretos ou indiretos de acúmulo de secreção nas vias
com freqüência, sendo isto benéfico para se reestabelecer o vín- aéreas ou tubo endotraqueal.
culo na relação pais/bebê e acelerar a sua recuperação. Com base nesses sinais é que se vai determinar a freqüência
das aspirações. A aspiração remove não só a secreção como tam-
Teoria Síncrono – Ativa bém os gases na árvore traqueobrônquica e alveolar, dependendo
da maneira como é realizada. A quantidade de oxigênio disponível
Desenvolvida pela Doutora Heidelise Als, mostra que nosso à circulação arterial pode ser severamente reduzida se a aspiração
funcionamento compreende vários níveis, os subsistemas auto- se prolongar por mais de 10 segundos. Baseado nisto devemos
nômico, motor, de estados comportamentais, de atenção/intera- aumentar em 20% ou 100% (FiO2) antes de cada aspiração. Aspi-
ção. Cada um desses sistemas está estreitamente relacionado rações prolongadas e repetidas na ausência de secreção traqueal
com os outros e com o meio, ou seja, trata-se de um funciona- determinam freqüentemente a ocorrência de traqueíte. Isto ocorre
mento sinático onde os subsistemas não somente existem lado a principalmente quando a aspiração é desnecessária. Durante a as-
lado, mas interagem entre si, dando suporte e reforçando um ao piração, a pressão negativa gerada pode fazer com que a mucosa
outro em busca do estado de equilíbrio (homeostase) seja sugada através dos orifícios do catéter e com a movimentação
A tarefa primária do bebê pré-termo é a obtenção da homeosta- do catéter, esses pequenos fragmentos de mucosa são desloca-
se, apesar da ampla variedade de estímulos que são lançados em dos da parede traqueal. A oclusão da via aérea pela presença de
subsistemas que não estão prontos para tal estimulação. Esses es- calibre exagerado da sonda de aspiração é causa de hipoxemia e
tímulos estão alterando, para melhor ou para pior, a real estrutura microatelectasias. Existe o risco de infecção por contaminação ou
do cérebro. O cuidador, na UTI neonatal, poderá usar as respostas bacteremia decorrente da falta de cuidado com assepsia durante
do pré-termo em cada um dos subsistemas, por meio da modulação a realização da técnica.
dos estímulos e da facilitação das respostas do bebê, de forma a
adequar o “gasto energético” e favorecer o desenvolvimento.

Paulo R. Margotto
Assistência ao Recém-Nascido de Risco

Cuidados antes do procedimento: termos. Nesta postura, a musculatura recebe maior estímulo tátil
e proprioceptivo, tornando-o mais efetivo. Quanto ao desenvolvi-
• Falar suavemente antes de tocar, observando como o mento neuropsicomotor, o posicionamento em prono facilita uma
bebê reage a essa estimulação; postura mais flexora pela ação da gravidade, e o RN permanece
• Posicionar e dar contenção elástica; mais tempo em estado de sono quieto, desorganiza-se menos
• Evitar mudanças súbitas de postura; e chora com menor freqüência. O decúbito ventral minimiza os
• Respeitar o estado comportamental do bebê, se estiver efeitos do reflexo gastroesofágico e reduz os riscos de aspiração.
protestando ou chorando, consolá-lo completamente No entanto, a posição da cabeça pode alterar a resistência ao
antes da realização do procedimento. Quando um pro- fluxo aéreo por deformação das vias aéreas superiores e do tubo
cedimento que causa diminuição da oxigenação é logo endotraqueal além de limitar a excursão abdominal por tempo
seguido por outro, o período de hipoxemia é maior, e a prolongado podendo aumentar o trabalho respiratório.
habilidade de recuperação espontânea fica diminuída.
Posicionamento Em Decúbito Dorsal
Material
O RN fica mais desorganizado, sendo este posicionamento
Todo material a ser utilizado deverá ser separado no início do mais freqüente, no momento da aspiração, ou quando alguma
tratamento fisioterápico. Serão necessários: patologia não permite que se coloque o RN em prono, como nos
primeiros momentos da colocação do catéter umbilical ou cirur-
• Aspirador a vácuo com manômetro de parede ou elétrico; gia recente. Pode trazer efeitos não desejados ao bebê, como
• Látex para cada RN (individual); hiperextensão de pescoço, elevação de ombros, retração esca-
• Luvas estéreis descartáveis; pular, achatamento da cabeça. Não promove flexão, permitindo
• Sonda de aspiração traqueal (correspondente ao tubo); maior efeito da gravidade, dificultando as atividades de linha
• Medida da sonda (para aspiração do tubo) – obrigatório. média, sendo mais estressante (mais alterações de sono, mais
sustos e maior agitação).
Técnica de Aspiração
Posicionamento Em Decúbito Lateral
Esta técnica é um procedimento realizado com rigor assépti-
co, sendo necessárias duas pessoas para realizar aspiração no É uma postura vantajosa sob o aspecto do desenvolvimento
tubo endotraqueal. Durante a aspiração, deve-se monitorizar neuropsicomotor, pois facilita a flexão ativa ao nível do tronco e
continuamente a freqüência cardíaca e a saturação de O2, quan- quadril, a melhor orientação entre mão e a linha média e entre
do for possível. Os efeitos deletéricos da aspiração podem ser a mão e a boca, que favorecem desenvolvimento da auto-orga-
minimizados aumentando-se a fração inspiratória de oxigênio nização e simetria. Além disso, o decúbito lateral direito auxilia
142 (FiO2) em 20% de seu valor inicial, ou em 100%, previamente a no esvaziamento gástrico pós-gavagem. O decúbito lateral es-
realização da técnica. Para neonatos, recomenda-se o uso de querdo parece favorecer a redução na duração dos episódios
pressões negativas entre 7 cm H2O a 12 cm H2O. O bebê deve de refluxo gastroesofágico.
estar posicionado em decúbito dorsal com o pescoço na posição
neutra. Para aspirar o brônquio fonte direito, deve-se virar a ca- A Fisioterapia na Displasia Broncopulmonar
beça para o lado esquerdo e vice-versa. Introduzir a sonda com
o vácuo fechado, não ultrapassando a medida previamente mar- Algumas manifestações clínicas justificam a fisioterapia respi-
cada na sonda. A duração desta manobra deve ser mínima, não ratória na displasia broncopulmonar (DBP) tais como:
ultrapassando 10 segundos. Depois disso, retirar a sonda com
movimentos rotatórios suaves. Aspirar cavidade nasal e boca a • Presença de anormalidades do controle respiratório;
seguir. Recomenda-se atualmente que a temperatura dos gases • Aumento na produção de secreção;
inspirados na entrada do tubo endotraqueal deva se situar entre • Infecções respiratórias;
32°C e 34°C e 100% de umidade relativa equivalente a uma • Alterações na mecânica pulmonar, principalmente altera-
umidade absoluta de 34 a 37 mg H2O/L. A umidificação inade- ções do gradiente de pressão entre o tórax e o abdome;
quada dos gases inalados pode causar disfunção e destruição ci- • Alterações posturais e alterações no desenvolvimento
liar, ulcerações , inflamações nas vias aéreas, e ressecamento da neuromotor.
mucosa e do muco, levando a uma maior retenção de secreções.
A fisioterapia respiratória atua na remoção de secreções de
Posicionamento vias aéreas superiores e inferiores assim como na mecânica
respiratória utilizando-se de exercícios de membros superiores e
Alternar os decúbitos com certa freqüência (de 2 a 4 horas) e inferiores assim como de alongamentos.
posicionar corretamente o bebê, podem ser procedimentos bené- Os objetivos da fisioterapia respiratória consistem em: preve-
ficos tanto para o aparelho respiratório, prevenindo a estase de nir/diminuir as complicações da obstrução por secreção que le-
secreções, funcionando com um estímulo para a parede torácica e vam aos mecanismos de válvula, principalmente as hiperinsufla-
facilitando a reexpansão pulmonar em áreas atelectasiadas, quan- ções e as atelectasias; má distribuição da ventilação; alterações
to para o desenvolvimento neurosensorial e psicomotor do bebê, na relaçãoV/Q e aumento do trabalho respiratório.
além de propiciar um maior conforto e evitar escaras de decúbito. A remoção de secreções infectadas das vias aéreas reduz os me-
diadores inflamatórios e a atividade proteolítica oxidativa das vias
Posicionamento em Decúbito Ventral aéreas, prevenindo/reduzindo as lesões teciduais decorrentes.
A partir de 1990 surgiram técnicas atuais que se baseiam na
Posicionar o bebê em decúbito ventral significa oferecer me- variação do fluxo aéreo. Essas técnicas melhoram a mecânica
lhor estabilidade à caixa torácica e conseqüentemente, maior respiratória e a saturação de O2, apresentam mais eficiência em
acoplamento torácico abdominal, facilitando aos músculos respi- menor tempo de terapia, não provocam alteração na saturação
ratórios a expansão do tórax altamente complacente dos RN pré- de O2 ou outras alterações hemodinâmicas.
Capitulo 3 Cuidados ao Recém-Nascido Criticamente Doente

São elas: desobstrução rinofaríngea retrógrada, AFE (aumento máximo por volta da 23ª e 24ª semana de gestação e involuindo
do fluxo expiratório), técnica da ponte, expiração lenta e prolon- progressivamente até desaparecer por volta da 36ª semana.
gada e a DAA (drenagem autógena assistida). Baseado nessas considerações sobre a fisiopatologia da he-
morragia cerebral, conclui-se que o papel da fisioterapia nas al-
terações do fluxo sanguineo cerebral pode ser tanto um fator de
Desobstrução Rinofaríngea Retrógrada amenização quanto desencadeante.
Um programa de fisioterapia bem elaborado, respeitando a fi-
A desobstrução rinofaríngea retrógrada consiste na elevação da siologia do fluxo sanguineo cerebral e suas possíveis alterações,
mandíbula inferior com fechamento da boca para que a criança faça pode prevenir alguns dos fatores que causam o sangramento,
uma nasoaspiração. Pode ser associada à instilação de soro fisioló- uma vez que diminui os episódios de hipoxemia causados pelo
gico ou substância medicamentosa sob prescrição médica. Pode ser acúmulo de secreções e suas complicações, bem como reduz o
usada em crianças pequenas e produz pouco desconforto. É bastan- tempo de ventilação assistida.
te utilizada no pós-extubação onde a secreção está mais espessa A avaliação deve ser constante. Essas crianças com DBP, devi-
e aderida liberando a via nasal e promovendo uma nasoaspiração. do à perda de arquitetura das vias aéreas periféricas, perda de fi-
Esta técnica reduz a necessidade de aspiração freqüente. bras de colágeno e de elastina e por apresentarem um volume de
reserva expiratório baixo tendem ao colapso dinâmico das vias
Aumento Do Fluxo Expiratório - AFE aéreas ao final da expiração, conduzindo a um broncoespasmo
com sibilância e aprisionamento de ar.
A AFE é uma técnica usada para desobstrução das vias aéreas Se a criança está fazendo uso de oxigenoterapia, aumentamos
e utiliza como princípio o aumento do fluxo expiratório. Foi des- em 10% visando a manutenção da SpO2 entre 92-95%.
crita em 1970 como uma pressão tóraco-abdominal simultânea Alterações posturais e atrasos no desenvolvimento neuromo-
utilizando-se uma mão torácica colocada entre a fúrcula esternal tor frequentemente estão presentes nos pacientes com DBP. O
e a linha intermamária e uma mão abdominal colocada sobre a posicionamento corporal restrito e as compressões articulares
cicatriz umbilical e as últimas costelas. prolongadas predispõem às deformidades, aos encurtamentos
articulares e musculares. As manifestações clínicas são: predo-
Técnica da Ponte (Já Descrita Anteriormente). mínio da musculatura extensora sobre a flexora, hiperextensão
da cabeça, hiperextenção de tronco, retração escapular e de om-
Expiração Lenta E Prolongada bro e hipertonia global. Instala-se, muitas vezes o falso torcicolo
congênito. Esse falso torcicolo leva a uma alteração da postura
A expiração lenta e prolongada foi uma técnica descrita em da cabeça impedindo o seguimento visual de um lado devido ao
1980 na Bélgica por Guy Postiaux. Apesar da mesma colocação encurtamento muscular e diminuição da mobilidade.
das mãos, ela tem uma diferença fundamental da AFE. Ela não Nessas crianças realizamos alongamentos mesmo com a criança
pode ser adaptada para crianças mais novas. Deve ser utilizada intubada, fazendo o relaxamento da cintura escapular, alongamento 143
uma pressão torácica e uma pressão abdominal esvaziando to- da musculatura do pescoço, trabalhamos com mobilização intra-
talmente o pulmão e permitindo que a criança realize algumas articular de ombro produzindo um relaxamento, exercícios de mem-
incursões respiratórias próximas ao volume de reserva expirató- bros superiores e inferiores, exercícios globais que nós só iniciamos
rio, fazendo com que as secreções se mobilizem das vias aéreas quando a criança consegue manter uma saturação de oxigênio ade-
mais distais. É indicada a partir do primeiro mês de vida e quan- quada sem aumento do gasto energético, relaxamento de tronco
do não há diagnóstico de refluxo gastroesofágico. e por último, posicionamento terapêutico que sempre foi utilizado
como mecanismo não invasivo para melhora da oxigenação.
Drenagem Autógena Assistida – DAA Do nascimento até o primeiro ano de vida o sistema músculo-
(Já Descrita Anteriormente). esquelético é plástico e responsivo ao posicionamento. O posi-
cionamento terapêutico promove a flexão e o comportamento na
As técnicas atuais baseiam-se na aceleração ativa ou passiva linha média, diminui a rotação externa de quadril e a retração
do fluxo expiratório, com melhores resultados para o clearan- escapular, reduzindo a desorganização e promovendo a melhora
ce mucociliar, oxigenação e função pulmonar, proporcionando no crescimento ósteo-muscular.
melhor qualidade de vida e autonomia para os pacientes. Para A posição prona ainda hoje é a mais utilizada visto que ela aumen-
prematuros, lactentes ou crianças pequenas que necessitam de ta a SaO2, a PaO2, melhora o índice de oxigenação, melhora a sin-
técnicas passivas, a AFE parece o “elo” de ligação entre as técni- cronia tóraco-abdominal e diminui os episódios de queda de SaO2.
cas convencionais e as atuais, proporcionando a esses pequenos
pacientes os mesmos benefícios. Bibliografia
Algumas precauções devem ser tomadas para a aplicação das
• Procianoy SR. Oxigenoterapia inalatória. IN: Kopelman B, Myoshi M, Guinsburg R. Distúr-
técnicas, a idade gestacional do RN é um fator relevante para a bios Respiratórios no Período Neonatal. Atheneu, São Paulo, pg 397, 1998.
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utilização de apoios e contra apoios. Em recém-nascidos abaixo Respiratórios no Período Neonatal. Atheneu, São Paulo, pg 401, 1998.
de 36 semanas sujeitos a variação do fluxo sanguíneo cerebral, • Dominguez SS, Komiyana S. Cuidados fisioterápicos ao recém-nascido em ventilação
mecânica. IN: Kopelman B, Myoshi M, Guinsburg R. Distúrbios Respiratórios no Período
não devemos usar o contra apoio abdominal. Este contra apoio Neonatal. Atheneu, São Paulo, pg 327, 1998.
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pode transmitir a pressão torácica para o cérebro via venosa. PCR. Terapia Intensiva em Pediatria, Medsi, Rio de Janeiro, pg 163, 1990.
A hemorragia periventricular e intraventricular tem sido consi- • Murahovschi J. Emergências em Pediatria, Sarvier, 4ª Edição, pg 125, 1983
• Murahovschi J. Drenagem postural e fisiatria respiratória, Sarvier, 4ª Edição, pg 27, 1983
derada uma doença de origem multifatorial. Vários determinantes • Lisboa AC, Margotto PR. Morbimortalidade no tratamento da Doença da Membrana Hiali-
atuam em diferentes combinações na matriz germinativa, origem na na Unidade de Neonatologia do HRAS - 1992/1997. IN: Margotto PR. Boletim Informa-
tivo Pediátrico (BIP) -Brasília, Nº 62, pg 182, 1999.
preferencial do sangramento cerebral no RN prematuro. A matriz • Margotto PR. Doença da Membrana Hialina: CPAP Nasal, Ventilação Mecânica e Surfac-
tante. IN: Margotto PR. Boletim Informativo Pediátrico (BIP) - Brasília, Nº 60, pg 91, 1997.
germinativa é uma estrutura embrionária localizada ínfero-lateral- • Kinsella J. Hipertensão Pulmonar Persistente. IN: Margotto PR. Boletim Informativo Pediá-
mente à linha ependimária do assoalho do ventrículo lateral, cami- trico (BIP)-Brasília, Nº 62, 1999
• Sanches M.C. Hemorragia Periventricular-Intraventricular: Alterações do fluxo sangüíneo
nhando até a cabeça e o corpo do núcleo caudado. Esta região é o cerebral e sua relação com técnicas fisioterápicas In: Ferreira ACP, Troster EJ. Atualização
em terapia intensiva pediátrica (State of Art II). Interlivros, 333, 1995.
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pg20, 1996.

Paulo R. Margotto
Assistência ao Recém-Nascido de Risco

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ratórias neonatais. Clínica de Perinatologia 1/1: 145 2001.
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• Sanches M. C. Assistência Fisioterapêutica da Broncodisplasia; XIX Congresso Brasileiro
de Perinatologia.

144
Capítulo 4

Monitorização
do Paciente
Criticamente
Doente
Assistência ao Recém-Nascido de Risco

4.1 OXIMETRIA DE PULSO/CAPNOGRAFIA

Paulo R. Margotto

Oximetria De Pulso

É de suma importância a avaliação da oxigenação arterial no Podemos observar que a Curva de Dissociação da Hemoglobi-
manuseio do RN de Alto Risco. Tem sido usada a avaliação trans- na tem a forma de um “s” itálica quase horizontal nos extremos
cutânea da PaO2 (TcPO2) e a saturação de O2, ambos métodos e muito empinada na parte média. Considere a simples equação:
não invasivos. Devido a monitorização transcutânea de O2 estar
associada a lesões de pele, principalmente nos pequenos prema- Hb + O2 → Hb (O2)
turos e a valores questionáveis em estados de má perfusão, tem Desoxihemoglobina + Oxigênio → Oxihemoglobina
sido valorizada a avaliação da saturação de O2, pois:
O O2 ligado a Hemoglobina (Hb (O2) e dissolvido no plasma (O2)
•É fácil de ser medida estão em equilíbrio dinâmico, sendo a Hb (O2) a forma favorável
•Correlaciona-se bem com as medidas de saturação da na reação; por volta de 98 a 99% do O2 no sangue está ligado à
hemoglobina. Hemoglobina e o restante está dissolvido no plasma, que é me-
•Indica adequado suprimento de O2 aos tecidos dido como PaO2 (assim a PaO2 reflete o O2 dissolvido no plasma
•Pode indicar o “status” do fluxo sanguíneo aos órgãos vi- e não o O2 ligado à Hemoglobina); teoricamente deveríamos ob-
tais e capacidade de carrear do sangue. servar uma queda na PaO2 antes de uma queda na saturação;
no entanto, o equilíbrio é estabelecido instantaneamente após
Assim, pela facilidade de ser avaliada e as vantagens fisiológi- ocorrer uma mudança em ambos os lados da equação; logica-
cas, a monitorização da saturação de O2 (oximetria de pulso) está mente, se mais O2 é adicionado ao sistema, mais O2 se ligará a
sendo muito usada nas Unidades de Terapia Intensiva Neonatais. Hemoglobina; também, se mais O2 dissolvido está sendo usado
pelos tecidos ou não está sendo reposto pelas adequadas trocas
Princípios Do Transporte De O2 pulmonares, mais O2 será deslocado da Hemoglobina, aumen-
tando assim a dessaturação.
Para compreender e aplicar a oximetria de pulso na prática, A saturação da Hemoglobina é igual à quantidade de Hemo-
devemos recordar os princípios do transporte de O2 e a curva de globina combinada com o O2, dividida pela capacidade total da
dissociação da Hemoglobina. Hemoglobina de combinar-se com ele.
146 Expondo a Hemoglobina a tensões de O2 crescentes, resultará Ao analisarmos a Curva de Dissociação da Hemoglobina, ob-
em saturação da oxihemoglobina crescente até que eventual- servamos duas partes distintas:
mente toda Hemoglobina esteja saturada com O2 (Sat. = 100%
=> PaO2 = 150 mmHg). A linha que descreve graficamente a 1. parte superior (horizontalizada)
correlação entre PaO2 e saturação de Hemoglobina se conhece 2. parte inferior (verticalizada)
com o nome de Curva de Dissociação da Hemoglobina e mostra
o modo pelo qual a Hemoglobina e o O2 se combinam em diferen- 1. Parte Superior: saturação acima de 80% (grandes va-
tes PaO2 (Figura 1). riações na PaO2 sanguínea quase não alteram a satura-
ção da Hemoglobina), vejam:
Curva de Dissociação da Hemoblobina
•PaO2 de 100 mmHg → Sat. de 97,5%
•PaO2 de 70 mmHg → Sat. de 92,7%

Para uma variação na PaO2 de 30 mmHg, temos uma variação


na saturação de somente 4,8%.
Este comportamento da Hemoglobina de variar muito pouco a
sua saturação mesmo diante de grandes variações da PaO2 no
seu segmento horizontal, constitui uma das maiores proteções
contra a hipoxia (raciocinar em termos de conteúdo de Oxigênio
do sangue arterial - veja a frente.

2. Parte Vertical: saturação entre 10 e 70% (PaO2 de 10


a 40 mmHg).
Esta parte vertical da Curva de Dissociação da Hemoglobina
protege os tecidos, permitindo que captem grandes quantidades
de O2 do sangue com pequenas quedas de PaO2.
Há vários fatores que podem desviar a Curva de Dissociação de
Hemoglobina para a direita (indica diminuição da afinidade pelo
O2, o que leva a uma quantidade aumentada de O2 disponível para
Fig 1 o tecido; é mais fácil o O2 se desprender da Hemoglobina) e para
a esquerda (indica um aumento da afinidade pelo O2, o que leva a
A curva A representa a curva feto-neonatal P50 = 19 mmHg uma diminuição da quantidade de O2 libertada para o tecido, devi-
que está desviada à esquerda. A curva B representa a curva do do a mais favorável ligação do O2 com a Hemoglobina).
adulto normal P50 = 27 mmHg, que está desviada para a direita.
Capitulo 04 Monitorização do Paciente Criticamente Doente

Entre os fatores que afetam a afinidade da Hemoglobina com


o O2 são:
Tipo de Hemoglobina a Hemoglobina fetal (HbF) desvia a cur- RN A TERMO
va para a esquerda, enquanto que a Hemoglobina do adulto des- NORMAL
via para a direita (Figura 4).

TENSÃO DE OXIGENIO Fig 3


FIGURA 3 - Curvas de dissociação de Hemoglobina em
RN a termo em diferentes idades pós-natais.
Fig 2 Delivoria- Papadopoulos M, Roncevic NP.
Oski FA. Pediatr. Res. 1971: 5: 235-45

Hipotermia
Desvia para a esquerda (razão pela qual o bebê hipotérmico
tem uma cor vermelho vivo, podendo inclusive desorientar o mé-
dico, pensando que o RN está bem (Figura 2)
Hipertermia
Desvia para a direita (Figura 2.)
Alcalose
Desvia para a esquerda (figura 2.)
Acidose
Desvia para a direita (figura 2.) 147

Sob circunstâncias normais, estes fatores trabalham para o


benefício fisiológico do organismo. Por exemplo: o metabolismo
dos tecidos produz mais Hidrogênios e CO2 que resultam num
discreto desvio da curva de disssociação para a direita, resul-
tando assim quantidades aumentadas de O2 aos tecidos. Agora, FIGURA 4 - CURVAS DE DISSOCIAÇÃO DA OXI-
um desvio súbito e grave para a direita , ocorre uma diminuição HEMOGLOBINA
EM DIFERENTES IDADES
resultante no O2 disponível ao tecido, devido a uma diminuição
do teor de O2 (veja a frente). Fig 4
O aumento da afinidade da Hemoglobina pelo O2 é controlado
por uma enzima, a 2, 3 - Difosfoglicerato (2, 3 - DPG) que modula Uma correta interpretação da Saturação de O2 no RN requer
a afinidade pelo O2 através da ligação com a Desoxihemoglobina, uma melhor compreensão dos fatores fisiológicos que influenciam
reduzindo, assim, a quantidade de Hemoglobina disponível para a relação da PaO2 e Saturação de O2 (SaO2). No adulto, SaO2 maior
ligação com o O2. que 95% corresponde a uma PaO2 de 70 mmHg (confirme esta
Quando há um aumento no 2, 3 - DPG intraeritrocitário, a curva afirmação observando a figura 1). Um RN com menos de 24 horas
desvia para a direita, facilitando a liberação de O2 aos tecidos de vida com a SaO2 por volta de 90% pode ter PaO2 por volta de 50
(tem sido encontrado aumento de 2, 3 - DPG na anemia, doença a 60 mmHg. Este bebê se apresenta rosado, a despeito de menor
cardíaca e doença pulmonar). PaO2, devido à alta afinidade de O2 associada a HbF. Uma menor
A Hemoglobina fetal (HbF) possui pouco ou nada de 2,3 -DPG, PaO2 nesta situação, não necessariamente indica hipoxia tecidual.
razão pela qual a curva é desviada para a esquerda. Este fato é A menor PaO2 no RN a termo ou as mudanças na PaO2 não reflete
importante para a oxigenação fetal a partir da circulação materna com certeza a quantidade de O2 disponível aos tecidos, uma vez
(a transferência de O2 deve ocorrer rápida e eficientemente). A que pequenas mudanças na PaO2 dificilmente vão afetar o conte-
PaO2 venosa umbilical é de aproximadamente 35 a 40 mmHg. údo de O2 no sangue. Quando a Curva de Dissociação do O2 está
Após o nascimento, a HbF constitui aproximadamente 75% da desviada para a esquerda, como no caso da HbF, a porção superior
Hemoglobina total no RN a termo, sendo ainda maior no prema- da curva indica extração de grande quantidade de O2, com a míni-
turo. Durante os primeiros meses de vida, a Curva de Dissociação ma queda na PaO2, assim:
de Hemoglobina desvia-se gradualmente para a direita (figura 3),
com diminuição da afinidade pelo O2 (os prematuros apresentam • Um RN pode apresentar queda na sua PaO2 de 80 para
um desvio mais gradual). Em 1988, no CLAP, Montevideo (Uru- 40 mmhg, sem afetar drasticamente a saturação de O2.
guai), Granzoto demonstrou que a afinidade do O2 pela Hemoglo-
bina diminui em função da idade gestacional (Figura 4.)

Paulo R. Margotto
Assistência ao Recém-Nascido de Risco

Portanto: Aplicações No RN

• A saturação de O2 é um indicador do conteúdo do O2 do É um método fácil e simples de assessorar o estado de oxige-


sangue, que é o fator fisiológico mais importante. nação do RN (fornece o resultado dentro de segundos); nos esta-
dos de má perfusão tem sido de confiança quando a frequência
Antes de vermos os princípios e a aplicação clínica, como as cardíaca do monitor eletrocardiográfico correlaciona-se com a
limitações da oximetria de pulso, vejamos: p50 e o teor de O2. frequência cardíaca do monitor de saturação de O2.
P50: PaO2 onde o O2 satura em 50% a Hemoglobina, sendo É benéfico no manuseio do RN com displasia broncopulmonar
a quantidade de Hemoglobina reduzida igual à oxigenada (Hb = (nestes RN é difícil a retirada de sangue para gasometria). uma
HbO2); é utilizada para determinação da afinidade da Hemoglo- aplicação relativamente nova é na sala de parto, para qualquer RN
bina pelo O2. A P50 do adulto é 27 mmHg; um aumento na P50, de risco para hipoxia (RN nascidos de parto cesária demonstram
significa que é necessário maior PaO2 para saturar 50% da He- maiores períodos de baixa saturação logo após o nascimento, em
moglobina (há uma diminuição da afinidade pelo O2). comparação com os RN de parto normal). Devido ao resultado da
Na Figura 4. , vemos as curvas de dissociação constituídas Sat.O2 ser dado em questões de segundos, pode ser de valor no
mediante regressão da saturação em função da PaO2. Observem assessoramento da resposta a ressuscitação na sala de parto.
que para alcançar 50% da saturação da Hemoglobina na 40a Com o uso do oxímetro de pulso na cirurgia, tem sido dimi-
semana, é necessário 28,8 mmHg de PaO2, enquanto que para nuída a incidência de eventos hipotensivos e hipovolêmicos na
as 28 semanas, se alcança com somente 16,3 mmHg de PaO2 sala de cirurgia, bem como eventos arrítmicos e hipovolêmicos
(GRANZOTO, CLAP, Montevideo, 1988). Portanto: na sala de recuperação.
Há um crescimento linear da p50 em função da idade gestacio- Nota: Ao usar o oxímetro de pulso durante a fototerapia, proteger
nal.Com o aumento da idade gestacional a hemoglobina possui me- o sensor da fonte de luz, com gaze coberta com folha metálica.
nor capacidade de captação e maior capacidade de liberação de O2.
Limitações
Teor De O2
1. A eficácia é menor em estados de má perfusão.
Representa a soma do O2 ligado a Hemoglobina e aquele dis- 2. O sinal pode ser afetado pela fototerapia, assim como
solvido no plasma: a luz cirúrgica.
Como calculá-lo 3. A eficácia diminui com saturações arteriais menores
que 70%.
1. O2 ligado a Hemoglobina: Hg (g%) X 1,34 X sat. Hb 4. A eficácia pode ser afetada pela administração de dro-
2. O2 dissolvido no plasma: PaO2 X 0,003 gas vasoconstritoras ou corantes.
3. Etapas 1 + 2 = teor de O2 (Vol%)
148
Vejam Quando a Hemoglobina não está totalmente saturada, RN Sob Uso De Dopamina
grandes aumentos no teor de O2 são vistos com pequenos au- (2,5 A 7,5 Mg/Kg/Min)
mentos na PaO2, pois assim, todo aumento no teor de O2 é devido
à união do O2 à hemoglobina. Agora, quando a hemoglobina está Utilizando grupo controle, os autores Dziedzic e Vidyasagar ob-
saturada ao máximo, grandes aumentos na PaO2, são acompa- servaram que a correlação entre a saturação de O2 avaliada pela
nhados por pequenos aumentos no teor de O2, porque somente oximetria de pulso (PSaO2) e a saturação de O2 avaliada pelos
O2 dissolvido é possível. gases sanguíneos (SaO2) no grupo com Dopamina foi de 0,75,
Qual é a importância do cálculo do teor de O2? enquanto que no grupo sem Dopamina foi de 0,96. No grupo com
Observe Um RN pode apresentar hipoxia anêmica com PaO2 Dopamina, a PSaO2 foi maior que a SaO2. Portanto, analisar com
normal (ou seja, a oxigenação tecidual está comprometida): cautela a PSaO2 nos RN que estejam recebendo drogas vasoati-
vas, como a Dopamina.
Analise os resultados (12 RN - 24 a 32 sem. de Idade Gesta-
cional; não hipotensos Idade menor que 2 semanas):
Grupo com dopamina grupo sem dopamina

PSaO SaO PSaO SaO


2 2 2 2
90,7 + 5,1 85,4 + 7,6 94 + 6,9 94 + 6,1
R = 0,75 r = 0,96
Se a Hemoglobina for elevada para 20%, o teor de O2 passa a
ser 24,27 Vol%. Desta quantidade, 24,12 ml (20 X 1,34 X 0.90)
são transportados pela Hemoglobina, ou seja, para a mesma r = correlação varia de 0 a 1
saturação, a quantidade de O2 transportada pela Hemoglobina
dobrou, sem mudanças na quantidade dissolvida. 0,8 a 1,0 correlação forte
0,5 a 0,8 Correlação moderada
Princípios Da Oximetria De Pulso 0,2 a 0,5 correlação débil
0 a 0,2 Insignificante
A oximetria de pulso é um método de medir a SaO2 (Satura-
ção da Hemoglobina) continuamente, de forma não invasiva; usa
técnicas baseadas nos princípios da Plestimografia (determina a
amplitude do pulso e a forma de onda de pulso) e da Espectrofo-
tometria (analisa transmissão de luz através dos tecidos).
Capitulo 04 Monitorização do Paciente Criticamente Doente

Implicações Práticas para RN>=32 semanas e 85-92% para RN<32 semanas, com
O2 quando a Sat de O2 estava entre 93-95%), diminuíram a inci-
Oxigenação ótima dência do retinopatia da prematuridade de 4,5% para 1,5% em 1
Joseph Priestly, o descobridor do oxigênio, escreveu em 1775: ano. Na Sala de Parto e no transporte foram utilizados blenders e
”Talvez o oxigênio não seja o mais apropriado para nós, assim como oxímetros de pulsos. A meta de saturação de O2 na UTI Neonatal
as velas se consomem mais rapidamente no oxigênio que em ar passou a ser 85-93%. Não calibrar o monitor de O2 tendo como li-
comum, isto pode ocorrer conosco”. Lavoisier, em 1785, escreveu mite superior 100%. Calibrar entre 80-95%. Esta mudança resul-
“Quando há excesso de oxigênio, o animal adoece gravemente e tou queda dramática de qualquer retinopatia da prematuridade
quando se escasseia, a sua morte ocorre quase instantaneamente”. ou retinopatia com cirurgia a laser.
O oxigênio é a molécula mais abundante do planeta e a se- Houve uma década para que os clínicos pudessem entender
gunda molécula mais abundante do corpo humano. O seu nome que o O2 podia causar dano aos olhos dos prematuros. Está le-
significa: oxi=ácidos e geno=formadora. Não é um nome correto, vando 50 anos para que os neonatologistas entendam que breve
mas é esta a etiologia do nome desta molécula. exposição à hiperoxia pode ser danosa.
O uso do oxigênio deve ser feito com rigoroso controle, dadas
as complicações que podem ocorrer, como: Como Avaliar A Hipoxemia/Hiperoxemia

• Câncer Infantil O monitor de saturação de O2 deve ser considerado um adjunto


o primeiro estudo retrospectivo feita na Europa envolvendo essencial na Unidade de Terapia Intensiva Neonatal. No entanto,
500 pacientes demonstrou que as crianças quer foram subme- ele não deve abolir a monitorização da PaO2, principalmente nos
tidas à reanimação com 100% de oxigênio tinham maior risco casos de severa hipoxemia, como na hipertensão pulmonar per-
para a malignidade (RR:2,57-IC a 95%: 1.21-6.82) Muitos não sistente que requer tanto o monitor de saturação de O2 como a
prestaram muito atenção a este estudo, por ser retrospectivo e avaliação da PaO2, devido ao estado hemodinâmico e a oxigena-
por ser a mostra pequena. O segundo estudo foi publicado pelos ção estarem muito comprometidos.
japoneses evidenciou que os bebês que tinham saturações mais A seleção do oxímetro de pulso tem-se mostrado importante no
altas (>95%) em comparação com os bebês com saturação en- manuseio dos recém-nascidos críticos. Entre estes, selecionar os
tre 95-94%, tinham maior incidência de câncer de fígado. Outro que usam a tecnologia de extração do sinal, como o Masimo (me-
estudo que realmente fez que com que abríssemos os olhos foi nos alarmes falsos, melhor desempenho em situações críticas,
o estudo de Spector, LG e cl. Estes autores seguiram 60 mil RN como baixa perfusão).
por 8 anos (é um dos maiores estudos que se conhece nos EUA). Qual é a saturação de oxigênio? A saturação de oxigênio no pri-
Removendo todas as variáveis interferentes, ficou claro que os meiro minuto de vida, em média, é 65%; no 5º minuto de vida,
RN expostos a 100% de oxigênio por 3 minutos ou mais aumen- 70-80%%. Querer obter uma saturação de oxigênio igual a que se
tava o risco de câncer em 3 vezes mais (RR: 2,87;IC a 95%: IC obtém na UTI neonatal levaria ao uso inapropriado do oxigênio na
95% 1.46- 5.66). Portanto existe uma relação entre a exposição Sala de Parto. Os nascidos de cesariana, para terem uma satura- 149
ao O2 por 3 minutos ou mais e câncer na infância. Não estamos ção em média de 85% levam em média 8 minutos (provavelmente
dizendo que todo RN exposto ao O2 vai ter câncer (igual ao fumo: isto se deva ao atraso no clearance do líquido pulmonar nos RN
nem todos que fumam vão ter câncer, mas os que têm câncer de cesariana sem prévio trabalho de parto). Os pré-termos com 5
apresentam alto percentual de fumo); 6 de 10.000 crianças sem minutos tendem a ter saturação de O2 mais baixa que a RN a termo
exposição ao O2 ao nascer desenvolvem câncer. No entanto, 18 e com maior variabilidade A seguir, manter entre 88 e 93%.
de 10.000 crianças expostas ao oxigênio ao nascer desenvolvem É importante saber que existe um limite para uma boa corre-
câncer. Assim, pode-se evitar 1 de cada 7 cânceres na infância. lação entre PaO2 e a Saturação de O2 medida pelo oxímetro, que
está por volta de 92%. Acima de 92%, a correlação é muito ruim.
• Infecção Com saturação entre 92-93%, posso ter uma PaO2 por volta de
as ratas expostas ao O2 (100%) de forma constante tiveram 50-70% ou 100%.
aumento significativo nos glóbulos brancos no 4º dia de vida;os
radicais livres interferem com alguns códigos genéticos essen- Aceitável PSaO2 (saturação de O2 pelo oxímetro de pulso): 88
ciais para a defesa humoral nas ratas em estudo. a 93% (média de 90%)

• Crescimento Assim que a Curva da Hemoglobina se achata, como ocorre


as ratas expostas às saturações entre 85-94% cresciam me- na porção superior da curva, hiperoxemia pode ocorrer quando
lhor do que as expostas às saturações altas. É algo muito prelimi- a saturação excede 95%. Outros estudos citam que o ponto de
nar. Não quer dizer que todos que recebem O2 vão ter deficiente corte deve ser 92% (a sensibilidade para hiperoxemia aumenta e
crescimento, mas temos que ter precaução. assim diminui o número de casos falso-negativos).
Quando a PSaO2 está constantemente acima de 93%, iniciar
• Alterações Gênicas desmame de O2. A necessidade para aumentar a FiO2 geralmente
em estudo realizado em nosso laboratório verificamos que a ocorre quando a PSaO2 está constantemente abaixo de 85% e a
hiperoxia causou a saída de 8 genes da banda esperada. O que análise dos gases sanguíneos indica a necessidade de O2. Agora,
pode significar a saída destes 8 genes de um total de 10.000 quando a dessaturação é dramática e o exame clínico revela hi-
genes nos cérebros destas ratas? Nada vai ocorrer? Lembrar que poxia, não é necessário fazer gasometria. Nos RN com patologia
para produzir a anemia drepanocítica é necessário que apenas pulmonar crônica, manter a PSaO2 entre 90 e 95% .
um gene seja afetado. No entanto, estas são informações em Observe a tabela a seguir:
ratas, mas a mensagem que deixo é que a hiperoxia não e tão
inofensiva como se pensava anteriormente.

• Retinopatia Da Prematuridade
o estudo de Chow e cl ,adotando um protocolo mais restrito de
saturação de oxigênio nos nos RN entre 500 e 1500g (85-95%

Paulo R. Margotto
Assistência ao Recém-Nascido de Risco

Guia prático para a monitorização de O2 nhuma reanimação (são recém-nascidos normais), a média de
saturação é 65% e vai subindo. Se com 5 minutos o bebê apre-
Agudo Crônico senta uma saturação abaixo de 60-70%, provavelmente está
Limites baixo demais e vai precisar de oxigênio.
87 a 93% 92 a 95% A oximetria de pulso na Sala de Parto nos possibilita ver a dinâmica
aceitáveis
Desmamar do O quando o Desmamar do O quando da variabilidade. Com o controle da freqüência cardíaca, o RN des-
2
RN está estável e a PSaO
2
o RN está estável e a lancha. Obviamente, um bebê que não respira tem que ser intubado.
Manuseio 2
O oxímetro de pulso deve ser colocado na palma da mão direita
está constantemente acima PSaO está constante-
do O 2
(colocar inicialmente o sensor e depois, conectar no oxímetro), pois
2 de 93% cada 15 minutos a mente acima de 93%
meia hora cada 12 a 24 horas. assim, a obtenção da leitura do oxímetro é mais rápida. A leitura con-
Quando a PSaO menor
fiável do oxímetro com esta técnica demora 1-2 minutos após o nas-
2
que 85% ou maior que 93%
cimento, havendo débito cardíaco suficiente com perfusão periferia.
constantemente por 15 min. Quando a PSaO menor
Usando o oxímetro, a saturação alvo em 5 minutos é de 70-
Quando colher 2 80%, de 5-10 minutos, 80-90% e a partir de 10 minutos, 85-95%
a 1/2 hora. que 85% ou maior que
sangue para
Ausência de correlação entre 93% constantemente por
gasometria
a FC. do EG. e a FC. do moni- mais de 1 hora.
Capnografia
tor da PSaO nos estados de
2
má perfusão.
Na administração do suporte ventilatório ao RN, é necessária
cuidadosa atenção ao equilíbrio entre a quantidade do suporte
(oxigênio, pressão e volume) e suas toxicidades.
Vemos assim que para utilizar a oximetria de pulso na sua tota- Como vimos, a oximetria de pulso tem sido de grande ajuda na
lidade é fundamental entender os princípios fisiológicos envolvi- avaliação da oxigenação arterial, indicando adequado suprimen-
dos, bem como as suas limitações. De extraordinária importância to de O2 aos tecidos, além de poder indicar o “status” do fluxo
é o entendimento dos princípios envolvidos no transporte de Oxi- sangüíneo aos órgãos vitais e capacidade de carrear sangue.
gênio. É um avanço não invasivo, benéfico e aplicável na assis- O controle do dióxido de carbono (CO2) nestes RN tem sido
tência respiratória do RN pela sua facilidade de uso e rapidez em mais difícil de ser obtido. O melhor controle de CO2 é de grande
fornecer resultados continuamente. importância na assistência ventilatória mecânica, uma vez que
Segundo Tin W, a terapia com o O2 deve ter sido dada a bebês a hipocapnia está associada a maior risco de doença pulmonar
mais do que qualquer outro produto médico nos últimos 60 anos. crônica, hipoacusia, retinopatia da prematuridade e leucomalá-
Apesar disto sabemos muito pouco quanto os bebês precisam de cia periventricular. Igualmente maiores níveis de CO2 podem au-
fato ou quanto é sóbrio dar a eles. A profundidade da nossa ig- mentar o fluxo sangüíneo cerebral, com maior risco de hemorra-
norância realmente uma coisa que os deixa muito embaraçados. gia intraventricular.
150 Com o uso do surfactante, a melhora da mecânica pulmonar
Oximetria De Pulso Na Sala De Parto que ocorre nas primeiras horas, poderia levar a hipocapnia, com
os seus riscos subsequentes.
A oximetria de pulso não deve ser usada em todos os parto. A co- A monitorização do CO2 nestes RN críticos pode ser realizada
locação do sensor já nos dá leitura em menos de 1 minuto a partir de forma não invasiva ou pela monitorização transcutânea (não
do nascimento. O sensor deve ser colocado no pulso direito. Ma- bem tolerada, nos RN mais imaturos devido à frágil pele e pela
riani e cl avaliaram a saturação de O2 (SatO2) pré e pós-ductal nos interferência da acidose e hipoxía, além, da baixa correlação com
primeiros 15 minutos de vida em recém-nascidos (RN) a termos a PaCO2) ou pela medida da concentração de CO2 no gás exalado
saudáveis, utilizando a oximetria de pulso. A média de SatO2 pré- (End-Tidal CO2 - ETCO2), embora a análise sangüínea do CO2 seja
ductal (pulso direito) aos 5 minutos de vida foi de 89% e a média o método mais acurado (a freqüente coleta de sangue neste RN
de SatO2 pós-ductal no mesmo período foi de 81%, mantendo-se contribui para maiores taxas de transfusões sangüíneas).
esta diferença significativa nos primeiros 15 minutos de vida. Inte- Se o objetivo da ventilação mecânica é evitar a hipocapnia ou
ressante que a média de SatO2 foi menor nos RN de cesariana. En- a hipercapnia, mais do que se obter um nível específico de CO2, a
tão, sempre preferir a leitura pré-ductal, ou seja, no pulso direito. monitorização contínua não invasiva pelo capnógrafo é relevante
Ambos níveis de SatO2, pré- e pós-ductal, aumentam gradualmente no manuseio clínico.
e geralmente não alcançam 90% nos primeiros 5 minutos de vida. Níveis de PaCO2 menores de 30-35 mmHg devem ser evitados,
Mais provavelmente esta diferença se deva a maior pressão na mas o tempo em que o RN fica sob estes valores críticos de PaCO2
artéria pulmonar e o shunt através do canal arterial. é mais importante no desenvolvimento da leucomalácia periven-
A oximetria de pulso na Sala de Parto é de grande auxílio na tricular. O limite superior de PaCO2 (hipercapnia permissiva) não
reanimação neonatal, pois além da saturação de oxigênio, ele está bem esclarecido no RN, sendo aceito um limite de 55 mmHg.
fornece informação sobre a frequência cardíaca, o sinal chave na Rozycki e cl, estudando 45 RN sob ventilação mecânica, dos
reanimação neonatal; há uma grande inacurácia da avaliação da quais 26 com peso menor que 1000g e que haviam recebido
freqüência cardíaca contanto por 6 segundos e multiplicando por surfactante, relataram uma correlação entre ET -CO2 e PaCO2 de
10, além da ausculta intermitente interferir na ventilação. 0,83 (diferença de ± 6,9 mmHg: PaCO2 = 46,2 ± 12 versus ETCO2
É importante que saibamos como o PaO2 muda depois do nas- = 39,3 ± 11,8 mmHg)
cimento. Todos os RN têm uma SatO2 baixa nos primeiros mi- Um ponto de corte para o menor valor da ETCO2 < 29 teve uma
nutos de vida ( ficam com 60% no útero). Durante o parto esta eficiência de 93,7% na identificação das vezes em que a PaCO2
saturação cai para 30 a 40%. Assim, o bebê está acostumado esteve menor que 34mmHg. O ponto de corte para o maior va-
a ter esta experiência em torno de 60%. Então se no começo da lor (ETCO2 > 45) teve uma eficiência de 87,3% na identificação
vida a SatO2 é baixa, é porque ele está acostumado. O problema do valor da PaCO2 > 54 mmHg. Assim, ETCO2 entre 29 a 44, a
é que nós médicos estamos acostumados a ter uma SatO2 de PaCO2, em 91% dos casos,esteve dentro dos limites de segu-
90% na UTI Neonatal e todos querem que os RN tenham logo ao rança (PaCO2 = 34 a 54 mmHg). O capnógrafo identifica em mais
nascer uma SatO2 de 90%. Deixe que o bebê faça a sua própria de 80% a hipercapnia ou hipocapnia.
transição. Logo após o nascimento em RN que não recebeu ne-
Capitulo 04 Monitorização do Paciente Criticamente Doente

• Castillo A, Deulofeut R, Critz A, Sola A. Prevention of retinopathy of prematurity in preterm


Durante o metabolismo tecidual normal e com a função cardio- infants through changes in clinical practice and SpO2 technology. Acta Pædiatrica 100:
vascular normal, o pulmão é o único compartimento do corpo em 188, 2011. Disponível em www.paulomargotto.com.br, em Distúrbios Respiratórios (aces-
sados em 15/2/2011)
que a CO2 acumula continuamente. Assim, a presença de CO2 exa-
lado confirma a patência da via aérea e a ventilação pulmonar. A
capnografia descrimina com habilidade uma entubação traqueal
da esofageana. O seu uso permite a detecção precoce de even-
tos críticos como a entubação esofageana, desconexão do circuito
do respirador, avaliação da posição do tubo endotraqueal, a não
patência da via aérea, falha ventilatória, colapso cardiovascular e
aberrações na ventilação/perfusão. O uso do capnógrafo é impor-
tante no transporte de pacientes ventilados manualmente, princi-
palmente naqueles nos quais é necessário um rigoroso controle de
PaCO2, como nos pacientes com aumento de pressão intracrania-
na (a diminuição da PaCO2 acarreta diminuição do fluxo sanguíneo
cerebral, diminuindo a pressão intra-craniana) e nos RN com hiper-
tensão pulmonar persistente (a PaCO2 é um potente mediador da
resistência vascular pulmonar), permitindo assim uma ventilação
mais efetiva durante o transporte.
A capnografia é menos sensível em paciente com severa do-
ença pulmonar , principalmente enfezem pulmonar, sendo uma
técnica afetiva na monitorização de RN com proporção a/A ≥ 0,3,
podendo ser usada no desmame da ventilação mecânica.
Uma capnografia normal implica em perfusão tecidual normal
e produção normal de CO2, além de função cardiovascular e pul-
monar normal e patência da via aérea.

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Paulo R. Margotto
Assistência ao Recém-Nascido de Risco

4.2 AVALIAÇÃO DA SEVERIDADE CLÍNICA NOS RECÉM-NASCIDOS


SOB ASSISTÊNCIA RESPIRATÓRIA/ESCORE PREDITIVO DE MORBIMORTALIDADE

Paulo R. Margotto

É útil avaliar e quantificar a severidade clínica da condição do • Cardiopatia congênita cianótica (aumento do “shunt” com
RN para monitorizar o seu progresso ou a resposta a um trata- o esforço e a ventilação com pressão positiva contínua).
mento específico, para tentar predizer o prognóstico, para decidir • Shunts atrioventriculares pulmonares (“shunts” pré-capi-
a necessidade de uma intervenção mais agressiva e para compa- lares desde artéria pulmonar a veias pulmonares que se
rar diferentes modalidades terapêuticas. abrem em estado patológico discutido).
Para alcançar estes objetivos, têm sido propostos os seguin-
tes índices: Desequilíbrio na relação Ventilação/Perfusão (V/Q)
• Flui mais sangue através de alvéolos hiperperfundidos
Gradiente Alvéolo-arterial de O2: P(A-a)O2 ou hipoventilados do que através dos hipoperfundidos
ou hiperventilados. No RN com Doença da Membrana
O P(A-a)O2 que é muito usado como um índice de troca gasosa Hialina, 80% do volume circulatório são desviados da di-
reflete os efeitos do gradiente de difusão, o desequilíbrio na ven- reita para a esquerda; atelectasia, infecção pulmonar e
tilação perfusão e o “shunt” verdadeiro. pulmão hemorrágico.
O fato do P(A-a)O2 não ser zero (8 mmHg no jovem; 17 mmHg aos
75 anos; 24 mmHg na 7a e 8a década), é explicado por dois fatores: P(A-a)O2 próximo de zero ou com valor negativo indica erro la-
boratorial (ou o paciente está respirando uma mistura enriqueci-
1. Shunt anatômico para o sangue venoso pulmonar de da de O2 ao invés de ar ou a PaCO2 está falsamente alta; nunca
uma pequena quantidade de sangue sistêmico venoso interprete o valor do P(A-a)O2 sem conhecer a FiO2.
das veias de Thebesian do ventrículo esquerdo e das O P(A-a)O2 tem sido utilizado para avaliar o progresso da doen-
veias brônquicas (2,5% do débito cardíaco retorna ao ça pulmonar, assim como um guia na instituição da assistência
coração esquerdo sem penetrar nos vasos pulmonares respiratória ou desmame do respirador.
numa pessoa normal).
2. Sub-ventilação de alguns alvéolos normalmente per- Cálculo Do P(A-a)O2
fundidos resulta em um pouco de sangue venoso pulmo-
152 nar com baixa PaO2. P(A-a)O = PaO - PaO
2 2 2
PaO = PIO - PaCO /R
O efeito da gravidade na circulação pulmonar de baixa pres- 2 2 2
PIO = FiO (PB - PH O)
são é um mecanismo importante, resultando numa desigualdade 2 2 2
= 760mmHg(nível do mar)
ventilação-perfusão (V/Q) no homem normal. PB
= 682mmHg (Brasília)
Nas doenças há três fatores que podem causar um aumento
na P(A-a)O2:
(segundo Snider, GL)
1. Aumento do “shunt” anatômico;
2. Aumento da desigualdade ventilação-perfusão (V/Q); PaO2 - pressão parcial de O2 arterial
3. Difusão limitada de transferência de O2, através da barrei- PB - pressão barométrica
ra alvéolo-capilar (a P(A-a)O2 provê uma completa avaliação PH2O - pressão do vapor d’água
da efetividade do transporte de O2 através dos pulmões). PaO2 – pressão parcial de O2 alveolar
P(A-a)O2 = [(FiO2 X 6,35) - (PaCO2 X 1,25)] - PaO2
Qualquer P(A-a)O2 maior que o esperado pelo grau normal do \-------^-------/
“shunt” anatômico, é atribuído a um “shunt” anatômico excessi- PIO2
vo, através dos pulmões, resultante da perfusão de alvéolos não \----------------^------------------------------/ - \---^---/
ventilados. Estas duas formas de “shunt” são denominadas de PaO2 PaO2
“shunt” absoluto ou verdadeiro.
Em um paciente com hipercapnia e hipoxemia que apresenta Valores normais: desde que a P(A-a)O2 aumenta com o aumen-
P(A-a)O2 normal, indica que a hipoxemia é toda devida a hipoven- to da FiO2 o limite superior da faixa de normalidade deveria ser
tilação alveolar; havendo um anormal P(A-a)O2, há indicação de conhecido para todo o incremento da FiO2 entre 21 e 100%. No
presença de doença pulmonar. Quando a hipoxemia é provocada entanto, esses valores intermediários raramente têm sido relata-
por um desequilíbrio V/Q, por um “shunt” intracardíaco ou intra- dos. Newth aceita como normal 5 a 15 mmHg, podendo chegar
pulmonar ou por uma perturbação da difusão, o P(A-a)O2 aumenta. até 60 mmHg no RN. Outros, como Nelson, citado em Avery e cls,
Assim, os principais fatores que influenciam no P(A-a)O2 são aceita como normal 28 + 10 mmHg sob FiO2 de 21% e 311 + 70
os seguintes. mmHg sob FiO2 de 100%.
Nos RN com persistência da hipertensão pulmonar (PHP), Beck
Shunt direita-esquerda e cl relataram uma mortalidade de 100% em um P(A-a)O2 de 630
• Drenagem venosa tebesiano e bronquial (esta última mmHg por 24 horas. Um P(A-a)O2 de 610 ou mais por 8 horas
pode estar consideravelmente aumentada na bronquiec- esteve associado com uma mortalidade de 78 a 79%, sendo este
tasia e no enfisema). o critério que os autores utilizaram para submeter estes RN à
oxigenação por membrana extracorpórea, pela precocidade da
predicção da alta mortalidade.
Capitulo 04 Monitorização do Paciente Criticamente Doente

Ormazabal e cl citado por Stork estudaram o P(A-a)O2 de 19 vez que a relação a/A melhorou, a FiO2 é diminuída para manter
RN com severa PHP antes de entrar no programa de circulação a normoxia. Ótima insuflação pulmonar é considerada quando a
extracorpórea e observaram que, a despeito do uso de tolazolina FiO2 é menor que 30%.
e de todo o suporte ventilatório, nenhum RN sobreviveu com o
P(A-a)O2 maior que 620 mmHg por 12 horas. Índice de Oxigenação (IO)
Raphaely e Downes, citados por Beck e cl, observaram uma di- O IO é definido como:
ferença significante no P(A-a)O2 após o reparo cirúrgico da hérnia MAP X FiO2% / PaO2
diafragmática entre os sobreviventes (P(A-a)O2 = 260 mmHg) e MAP (Mean airway pressure):
os não sobreviventes(P(A-a)O2 = 614 mmHg). Os RN com valores Pressão média das vias aéreas.
pré-operatórios de 500 ou mais, não sobreviveram. Um IO igual ou maior que 40 em 3 de 5 gasometrias, com inter-
Em um estudo conduzido por Bohn e cl no Toronto Hospital valo de 30 minutos, correlaciona-se com 80 a 90% de mortalida-
for Sick Children, de 66 RN com hérnia diafragmática congênita, de. Um IO de 25 a 40 nestas condições prediz uma mortalidade
observaram-se grandes diferenças na oxigenação entre sobrevi- de 50 a 80%. Ortiz e cl utilizaram o IO para saber quais os pa-
ventes e não sobreviventes, antes e após a cirurgia. O P(A-a)O2 cientes que se encontram sob o risco de morrer ou desenvolver
pré-operatório nos sobreviventes foi de 236 + 28, enquanto que displasia broncopulmonar. Todo centro neonatal deve calcular o
nos não sobreviventes, foi de 477 + 33 mmHg. Esta diferença foi seu próprio índice de mortalidade através da revisão da experi-
mantida no pós-operatório (183 + 22 mmHg nos sobreviventes ência prévia. No estudo de Ortega e cl, IO > 40 correlacionou-se
e 535 + 24 mmHg nos não sobreviventes). Observem que repa- com 82% de mortalidade.
ro cirúrgico não resultou em melhora significativa na oxigenação Hallman e cl observaram a diminuição significativa do IO du-
dos não sobreviventes (saltou de 477 + 33 no pré-operatório para rante as primeiras 48 horas no grupo de RN com DMH que rece-
535 + 24 mmHg no pós-operatório). Um P(A-a)O2 maior que 300 beu surfactante pulmonar intratraqueal.
mmHg no pós operatório foi associado com 90% de mortalidade;
por outro lado, todos os pacientes com P(A-a)O2 menor que 300 Cálculo da MAP
mmHg no pós-operatório, sobreviveram. A MAP é a área abaixo da curva de pressão em cada ciclo respira-
Krummel e cl observaram que um P(A-a)O2 maior que 600 tório (é a medida da pressão média, à qual os pulmões estão expos-
mmHg acima de 12 horas esteve associado com uma mortalida- tos durante o ciclo respiratório). Os fatores que influenciam a MAP
de de 100% no RN com PHP. Determinação seriada do P(A-a)O2 são a PIM, a relação I/E, a PEEP, a forma da onda e a ventilação de
identifica melhor o RN hipóxico com PHP, com alto risco de morte. alta frequência. A MAP necessária para uma adequada oxigenação
Stork relatou uma taxa de mortalidade de 80% nos RN com parece indicar a severidade da doença pulmonar. Uma MAP mui-
PHP com um P(A-a)O2 maior que 620 mmHg por 8 horas. Um P(A- to elevada pode provocar super distensão dos alvéolos, induzindo
a)O2 menor que 600 teve um bom prognóstico. shunt intrapulmonar direita-esquerda. Idealmente, a MAP deve ser
sempre medida e não calculada, devido a diferentes formas e cons-
Relação artério-alveolar a/A (PaO2/PaO2) tantes de ondas respiratórias. A melhor correlação entre a MAP me- 153
dida e a calculada foi obtida com a curva quadrada.
É a relação entre pressão parcial de O2 arterial e pressão par-
cial de O2 alveolar. MAP(cm d e água)=[PIM X (t.insp + PEEP+t.exp)/(t.insp + t.exp)]xK
A relação a/A, como índice de troca gasosa é mais estável do
que o gradiente alvéolo – arterial frente a alterações na FiO2. K = 1 (curva quadrada)
O Rourke e cl utilizaram a relação a/A como critério preditivo de K = 2/pi = 0,63 (curva em sino)
mortalidade nos RN com Persistência da Hipertensão Pulmonar. K = constante da forma da onda
Uma relação menor ou igual a 0,15 com 12 a 72 horas de vida K = 0,5 (curva triangular)
foi altamente preditiva de morte precoce. De 13 RN com uma PIM = pressão inspiratória máxima
relação a/A menor que 0,15 com 12 horas de vida, 11(85%) mor- t.insp = tempo inspiratório
reram, enquanto somente 6 de 21 com uma relação a/A maior t.exp = tempo expiratório
que 0,15 com 12 horas de vida (29%), morreram. Resultados PEEP = pressão positiva no final da expiração
semelhantes foram obtidos quando esses bebês foram classifi- Harkavy e cl utilizaram MAP X FiO2 para estimar a severidade
cados pela relação a/A com 24, 36, 48, 60 e 72 horas de vida. da doença pulmonar crônica.
Portanto, com 12 horas de vida, um bebê com HPP com re-
lação a/A menor que 0,15 tem uma chance de 85% de morrer, Fórmulas:
enquanto o bebê com a relação a/A maior que 0,15 tem uma
chance de sobreviver de 71%. 1. P (A-a ) = PaO2 – PaO2
Halman e cl observaram que a relação a/A foi significativa- • P (A-a)O2 = [(FiO2 x 6,35) – (PaCO2 x 1,25)] – PaO2
mente maior durante a primeira semana nos RN que receberam • Normal: FiO2 de 21% - até 60mmHg
surfactante, em relação nos RN que não receberam surfactante. • FiO2 de 100% - até 311 mmHg
No Women`s College Hospital, a relação a/A para RN com ida-
de gestacional menor que 30 semanas, foi, em média, 0,35. No 2. a/A = PaO2/PaO2 = PaO2/P(A-a)O2 + PaO2
estudo Enhorning e cl, realizado nesse hospital, observou-se que
a melhora da oxigenação se confirmou no aumento da relação 3. IO = MAP x FiO2 x 100 / PaO2
a/A no grupo que recebeu surfactante antes da primeira respira-
ção, sendo 0,15 maior que no grupo controle. 4. MAP = K x ( PIM x t insp + PEEP x t exp) / t total
Clark e Gerstmann utilizam a relação a/A na ventilação de
alta frequência para acessar empiricamente a área pulmonar e K = 1,0 (curva quadrada)
assim, adequar o volume pulmonar. Medir o volume pulmonar K = 0,5 (curva triangular)
durante a ventilação de alta frequência é difícil. A pressão de dis- K = 0,63 (curva em sino)
tensão contínua é aumentada 1 a 3cm H2O até que a relação a/A
melhore ou apareçam sinais de comprometimento cardíaco. Uma

Paulo R. Margotto
Assistência ao Recém-Nascido de Risco

Prognóstico Grave que faleceram (a mortalidade aumentou progressivamente com


o aumento do CRIB, chegando a 90% quando o escore CRIB foi
P(A-a)O2 MAP
superior a 15. Entre os RN com hemorragia intraventricular III-
a/A IO IV, retinopatia da prematuridade e displasia broncopulmonar, os
mmHg (cmH2O)
que apresentaram desabilidade permanente ativerem significati-
> 600 vamente maior escore CRIB.
≤ 0,15 ≥ 20 ≥ 40
(a nível do mar) Fowlie e cl, do Reino Unido, evidenciaram que o CRIB é uma
medida válida de risco e severidade da doença além de 12h de
vida no RN de muito baixo peso e RN abaixo de 31 semanas de
idade gestacional. O ΔCRIB (delta CRIB) foi obtido subtraindo o
Escore Preditivo De Morbimortalidade CRIB 168h (CRIB de 7 dias) do CRIB 12h (CRIB de 12h de vida)
com a finalidade de estimar a mudança na severidade da doen-
A Unidade de Neonatologia do Hospital Regional da Asa Sul ado- ça na 1ª semana de vida: ΔCRIB positivo, significa redução da
ta o CRIB (Clinical Risk Index for Babies) como escore preditivo de severidade da doença (menor risco para a morte, menor risco
morbimortalidade pela sua facilidade de aplicação e precisão (não para requerimento de suplementação de O2 e menor risco para
requer recursos diagnósticos e terapêuticos mais sofisticados). severa desabilidade aos 2 anos de vida. Para cada ponto que
A idade gestacional e o peso ao nascer isolados devem ser é diminuído no CRIB nas primeiras semanas, a Odds Ratio (OR)
substituídos por um conjunto de variáveis que leve em conside- para não receber O2 suplementar na Idade Gestacional Pós-Con-
ração a avaliação da gravidade clínico-laboratorial dos recém- cepção (IGPc) de 36 semanas aumento para 1,37 (95% IC=1,12-
nascidos nas primeiras 12hs (há necessidade de considerar a 1,69). Para a não suplementação de O2 aos 28 dias de vida, a
gravidade clínica do paciente na avaliação do risco de mortalida- OR aumentou para 1,31 (95% IC: 1,03-1,66). Os autores tam-
de). Assim, o peso ao nascer e a idade gestacional não captam bém evidenciaram a associação do ∆CRIB de 3 dias e 12h com
adequadamente a dimensão da severidade da doença. a finalidade de detectar alterações na severidade da doença nos
O CRIB é muito mais simples do que o Score for Neonatal Acu- primeiros 3 dias de vida, havendo significante associação com
te Physiology (SNAP). Comparando o CRIB com o SNAP e SNAP-PE risco de morte, necessidade de O2 na IGPc de 36 semanas e com
(SNAP – Perinatal Extension), em 186 RN com peso ao nascer 28 dias de vida. Não houve associação significativa com severa
abaixo de 1500g e/ou idade gestacional menor que 32 semanas desabilidade aos 2 anos de idade.
admitidos na UTI Neonatal, Bastos e cl, em Portugal, determina- Parry G e cl desenvolveram o CRIB-II para RN de 32 semanas
ram a área sob a curva ROC (consulte neste site, em Distúrbios após 1 hora de admissão na UTI sendo excluída a FiO2, uma vez
Respiratórios o Escore de Avaliação da Severidade da Doença Neo- que esta não representa uma medida fisiológica verdadeira por
natal – SNAP II e SNAP –II-PE para melhor entender a interpretação ser determinada pelo cuidador. Assim, o CRIB II foi calculado a
da curva ROC) na predição de mortalidade intra-hospitalar: para o partir de 5 itens: SEXO, peso ao nascer, idade gestacional, pior
154 CRIB 0,90, para o SNAP 0,88 e para o SNAP-PE 0,88. base excess e temperatura na admissão A área sob a curva
O CRIB pode ser realizado em 5 minutos. Assim, os autores (Curva ROC) pra morte ou graves anormalidades cerebrais foi de
concluem que o CRIB é um método adequado, acurado e de fácil 0,82, maior do que 0,79 pra o CRIB, 0,80 para a idade gesta-
aplicação clínica. cional e 0,77 para o peso ao nascer. Os autores desenvolveram
No estudo de Sarquis e cl, a distribuição dos recém-nascidos uma planilha com 4 itens para o sexo masculino e feminino que
quanto aos graus do CRIB e respectiva mortalidade foi: possibilita calcular a taxa de morte (veja no final).
Gagliardi I e cl, comparando CRIB, CRIB-II e SNAPE-II, rela-
Classificação N % Mortalidade taram maior grau de descriminação para o CRIB e CRIB II em
Grau 1 76 76,0 5 ( 6,6% )* relação ao SNAPPE-II (área sob a Curva ROC de 0,90 e 0,91
versus 0,84-p <0,0004).
Grau 2 13 13,0 6 ( 46,2% )
Lodhra A e cl relataram que um escore de 13 ou mais para o
Grau 3 7 7,0 6 ( 85,7% )
CRIB II na primeira hora de vida pode predizer deficiente desen-
Grau 4 4 4,0 4 (100,0% ) volvimento neurocomportamental aos 3 anos de idade (sensibili-
*p<0,01 dade de 83%; especificidade de 84%).
Pela sua facilidade de realização e precisão, o CRIB e o ΔCRIB
Coscia e cl, na Itália, relacionaram o CRIB com mortalidade, devem ser adotados nas nossas UTI Neonatais, onde os recursos
morbidade e sequela a longo prazo. Para o grupo com CRIB DE diagnósticos e terapêuticos mais sofisticados são limitados.
0-5, 6-10 e > 10, as mortalidades foram, respectivamente 5,6%,
32,4% e 93,8%; para os RN que sobreviveram mais de 28 dias, a Escore CRIB
incidência de retinopatia da prematuridade e de doença pulmo-
nar crônica foram mais altas, 18,4% e 40,7%, respectivamente Variável Pontuação
no grupo 2 (CRIB de 6-10) do que no grupo 1, de CRIB 0-5( 1,9% Peso de nascimento (g)
e 7,4% respectivamente; a incidência de deficiente desenvolvi-
> 1.350 0
mento neurocomportamental com 1 e 2 anos de idade corrigida
851-1.350 1
foi respectivamente 6,8% e 6,0% para as crianças com CRIB de
0-5 (grupo 1) e 29,4% e 21,4% para as crianças com CRIB de 701-850 4
6-10(grupo 2) Portanto, segundo os autores, o CRIB está forte- 700 7
mente associado com mortalidade, identificando inclusive maior Idade gestacional (semanas)
risco de retinopatia da prematuridade, doença pulmonar crônica >24 0
e sequelas neurológicas no grupo de 6-10 em relação ao grupo <=24 1
0-5. No grupo > 10, não se pode fazer a determinação para estas Malformação congênita
complicações, pois só houve um sobrevivente neste grupo.
Ausente 0
Achados semelhantes foram encontrados por Vakrilova L e cl,
na Bulgária: o escore CRIB foi significativamente maior nos RN Sem risco de vida imediato 1
Capitulo 04 Monitorização do Paciente Criticamente Doente

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Temperature
at admission (°C)
Base excess
(mmol/L)
Total CRIB II
Predicted
score :
Death Rate :
Total CRIB II score
Logit = -6.476 + 0.45
. = Sum (points)
* CRIB II
The range of pos-
Predicted death rate
sible CRIB II score
= eLogit/ (1+eLogit)
is 0 to 27

G. Parry e cl. CRIB II : an update of the


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Paulo R. Margotto
Assistência ao Recém-Nascido de Risco

4.3 DISTÚRBIOS DO EQUILÍBRIO ÁCIDO-BÁSICO


(INTERPRETAÇÃO DA GASOMETRIA)

Paulo R. Margotto, Geórgia Quintiliano Carvalho da Silva

O perfeito equilíbrio entre ácidos e bases depende de uma sé- HCl + NaHCO3→H2CO3 + NaCl
rie de reações que procuram corrigir os desvios da homeostase. ↓
A manutenção da concentração de hidrogênio nos líquidos do CO2 + H2O
organismo dentro da estreita faixa de normalidade é essencial
para o pleno desenvolvimento das funções biológicas, uma vez Assim, os ácidos não voláteis são tamponados evitando gran-
que o rendimento das reações bioquímicas depende do pH; esse des desvios no pH até que haja a excreção renal de ácidos e re-
objetivo é alcançado graças à contribuição de sistemas e órgãos generação dos tampões (vide à frente sobre o mecanismo renal
diferentes atuando de maneira conjunta. na regulação do pH).
Para a melhor compreensão do equilíbrio ácido-base, o conhe- Devido à importância do bicarbonato e do CO2 na regulação
cimento dos seguintes conceitos faz-se necessário: do pH, o pH sanguíneo depende da relação bicarbonato/ácido
carbônico no plasma e no líquido extracelular. Em condições nor-
• Ácido e base mais, a relação bicarbonato/ácido carbônico é 20/1 e o pH é 7.4
Ácido é uma substância doadora de íons hidrogênio (H+); base A determinação do pH do sangue é assim feita:
é uma substância receptora de íons H+
Equação De Henderson-Hasselbalch
• pH
Representa o logaritmo negativo da concentração de H+ e é pH = pK + log [ HCO3- ] / [H2CO-3]
expresso em moles por litros de solução. O seu valor normal varia
de 7,35 a 7,45. axa de H2CO3 = 1.20 mEq/l. O ÁCIDO CARBÔNICO (H2CO3)
encontra-se no plasma quase todo como gás carbônico (CO2). A
• Sistemas tampões, regulação renal e respiratória proporção é:
Para a manutenção do pH em níveis normais, o organismo re-
corre aos referidos mecanismos. Como isso acontece? CO2/H2CO3: 500/1
Os sistemas tampões (químicos) que neutralizam ácidos e ba-
156 ses, produzidos ou introduzidos no organismo. Ou seja:
O mecanismo respiratório regula a concentração de CO2.
O mecanismo renal corrige o excesso de ácidos e bases. CO2 + H2O←H2CO3
↑ → ↑
A concentração normal de hidrogênio (H+) no fluido extracelular 500 1
é continuamente ameaçada pela carga de íons H+ liberada pelo
metabolismo normal. Diariamente o metabolismo acrescenta ao Esta proporção é mantida pela Lei Da Ação Das Massas (a
organismo ácidos de duas espécies: voláteis (ácido carbônico) e velocidade de uma reação é proporcional à concentração dos
fixos. Essa carga ácida deverá ser neutralizada com o objetivo de reagentes), ou seja, caindo teor de H2CO3, mais CO2 combina-se
manter o pH e esse trabalho pode ser, didaticamente, dividido com a água para restabelecer esta relação e vice-versa.
em três etapas básicas: ação dos tampões do organismo, regula- Por sua vez a quantidade de CO2 dissolvida no plasma é função
ção respiratória do pH e regulação renal. do CO2 alveolar (PaCO2: veremos a frente) com o qual se mantém
em equilíbrio tensional; a PaCO2 (lê-se pressão parcial de CO2 no ar
Sistemas de Tampões alveolar) é de 40 mmHg, assim como é a PaCO2 (lê-se: pressão par-
cial de CO2 no sangue arterial). A concentração do CO2 no sangue
Um par conjugado (ácido-base) capaz de absorver ou doar pró- em mEq/l pode ser obtida multiplicando a PaCO2 pelo deu índice
tons conforme a necessidade para manter o pH do organismo é de solubilidade na água, que é 0.03 e assim temos:
um sistema tampão.
São quatro os principais tampões: [CO2]( lê-se: concentração do CO2) = PaCO2 X 0.03
Assim: [CO2] 40 X 0.03 = 1.20 mEq/l
1. Sistema-tampão ácido carbônico-bicarbonato (45%
da capacidade tampão total do sangue) Ora sendo a quantidade de H2CO3 insignificante (a relação CO2/
2. Sistema-tampão de fosfato (glóbulos vermelhos, célu- H2CO3 é 500) podemos escrever a equação de Henderson-Has-
las dos túbulos renais) selbalch da seguinte maneira:
3. Sistema-tampão de proteínas (células dos tecidos)
4. Sistema-tampão de hemoglobina dos glóbulos ver- pH = pK+ log [ HCO-3] / PaCO2 x 0.03
melhos (5% do CO2 é transportado pelo plasma; 20%
pela hemácia como compostos carbamínicos e os 75% Componente Metabólico/Componente Respiratório
restantes circulam no sangue como bicarbonato).
Nota: pK = 6.1 - taxa de HCO3 no plasma (bicarbonato) : 24mEq/l
O tampão ácido carbônico-bicarbonato age da seguinte manei- Portanto, temos: pH = 6.1 + log24/1.20 = 6.1 + log 20 = 6.1 + 1.3 = 7.4
ra: os ácidos orgânicos e inorgânicos que se formam durante as
atividades metabólicas normais causam a seguinte reação:
Capitulo 04 Monitorização do Paciente Criticamente Doente

Logo: • PaCO2: pressão parcial do CO2 no ar Alveolar



• Aumentando o teor de bicarbonato sangüíneo ou dimi- Importância da PaCO2:
nuindo a PaCO2, a relação bicarbonato/H2cO3 aumenta A PaCO2 espelha os acontecimentos a nível alveolar; reflexo da
e o pH torna-se maior que o normal (7.35-7.45) : Alcalose função respiratória.
• Diminuindo a concentração de bicarbonato do sangue ou
aumentando a PaCO2, a relação bicarbonato/H2CO3 dimi- O Centro Respiratório do Bulbo é sensível à:
nui e o pH torna-se menor que o valor normal : acidose • PaCO2
• PaO2
Regulação Respiratória do pH • pH sangüíneo

Inicialmente, vejamos o que vem a ser PCO2 (lê-se: pressão par- A falta ou excesso de CO2 estimula o centro respiratório (uma
cial do CO2) : é a pressão que este gás exerceria se ocupasse so- PaCO2 maior que 65 mmHg: há depressão do SNC - (narcose
zinho todo o recipiente em que se encontra: as ações químicas e pelo CO2).
fisiológicas de um gás dependem da pressão que este gás exerce. A freqüência e profundidade dos movimentos respiratórios:
são influenciados pelos receptores químicos do arco aórtico e do
• PaCO2: pressão parcial do CO2 no sangue arterial
seio carotídeo.
PaCO2 (baixa)
PaCO2 Influenciam
pH

Menor que 7.0 7.2 Em torno de 7.0

Desaparece Hiperventilação Grau Máximo (fome de ar)

A fome de ar nem sempre está


presente em pacientes com acidose
157

A PaCO2 está em equilíbrio com a PaCO2 e esta, em equilíbrio Notas


com o teor de ácido carbônico (H2CO3). Qualquer elevação da
PaCO2 causará alteração da PaCO2 e no teor de H2CO−3. • Como a PaCO2 e teor de H2CO−3 no sangue diminuem a
Em condições normais: PaCO2 = 40 mmHg despeito de se manter inalterada a freqüência respirató-
Como as alterações primárias da concentração do bicarbonato ria? A pressão parcial de um gás é inversamente propor-
do sangue podem ser reguladas pelos mecanismos respiratórios? cional ao volume em que esteja contido; o volume do pul-
mão pode aumentar por meio de respirações profundas
pH = pK + log [ HCO-3 ] / PaCO2 X 0.03 e, portanto, teremos diminuição da PaCO2 a despeito de
↓ inalterada a freqüência respiratória.
↑HCO3− → Centro Respiratório • O declínio da PaCO2 é predicto pela fórmula : 1.5 X HCO−3
↓ plasmático + 8.( para cada 1 mEq/l na diminuição do
↓Freqüência ← Movimentos Respiratórios → Profundidade HCO−3 plasmático , a PaCO2 diminui 1 a 1.3 mmHg).
↓ • Para cada aumento de 1 mEq/l no HCO3− plasmático, a
Resultado PaCO2 aumenta 0.7-0.8 mmHg.
↓ • Para cada 10 mmHg de aumento na PaCO2, o HCO−3 dimi-
↑PaCO2 (e PaCO2 e H2CO3) nui de 1(caso agudo) a 3.5 mEq/l (caso crônico).
↓ • Para cada 10 mmHg de diminuição da PaCO2 , o HCO−3
A relação HCO−3/H2CO3se mantém • Aumenta de 2 (caso agudo) a 4 mEq/l (caso crônico).

pH se mantém Voltando à Equação de Henderson-Hasselbalch a nossa linha
básica de raciocínio diagnóstico, na prática temos que:
↓HCO3− → Centro Respiratório
↓ • pH = 6.1xRim/Pulmão
↑Freqüência ← Movimentos Respiratórios → Profundidade • Rim → Responsável pela concentração do HCO3-
↓ • Pulmão → Responsável pela concentração do CO2
Resultado
↓ Enquanto:
↓PaCO2 (e PaCO2 e H2CO3)
↓ • O pulmão mantiver a concentração do CO2
A relação HCO−3/H2CO3se mantém • O rim mantiver a concentração do HCO−3-

pH se mantém O pH será mantido

Paulo R. Margotto
Assistência ao Recém-Nascido de Risco

Em Resumo Diagrama da troca de H+ pelo sódio fosfato básico (Na2PO4) do


filtrado que desce pelos túbulos do néfron.
A pressão parcial de CO2 alveolar (PaCO2), a pressão parcial
de CO2 arterial (PaCO2) e o ácido carbônico estão sempre em 3. Secreção de amônia:
equilíbrio. Assim, se houver alteração em um deles, a equação
se ajusta e haverá alterações nos demais, sempre buscando um
equilíbrio. Levando em consideração um valor de PaCO2 ideal
em torno de 40 mmHg temos que: se a concentração de ácido
carbônico se elevar, haverá aumento de PaCO2 que, por sua vez
vai estimular o centro respiratório produzindo hiperventilação. Tal
fato ocasionará queda da PaCO2 por maior eliminação do CO2.
As alterações do bicarbonato também levam a uma alteração
respiratória. Se houver aumento da concentração de bicarbo-
nato (por excesso de infusão por exemplo) o centro respiratório
reage com diminuição da frequência e profundidade dos movi- Diagrama do intercâmbio de H+ pelo Na+ do cloreto de sódio
mentos respiratórios, elevando a PaCO2 . Em conseqüência ha- (NaCl) urinário com a ajuda da amônia (NH­3).
verá um aumento do ácido carbônico equilibrando novamente a Em presença de acidose, estes mecanismos reguladores es-
reação. Se ocorrer o contrário e o bicarbonato diminuir, o centro tão exacerbados; Na urina:
respiratório aumenta a frequência e a profundidade respirató-
ria, levando a uma diminuição da PaCO2 e do ácido carbônico • pH vem a 4.5
tentando equilibrar a equação. • Excreção de HCO3- diminui ou desaparece
É importante lembrar aqui que os mecanismos compensado- • Excreção de sais de amônio (nh4cl) aumenta
res respiratórios são temporários enquanto que o mecanismo • Excreção de Na+ e K+ diminuem
renal é mais duradouro.
Em presença de ALCALOSE, estes mecanismos reguladores di-
Regulação Renal do pH minuem ou cessam; Na urina:

O rim compensa o excesso de ácidos produzidos durante o me- • pH: 7.8


tabolismo normal promovendo a excreção de ácidos e o retorno • Excreção de HCO-3 aumenta
do bicarbonato ao plasma. O pH urinário é habitualmente ácido • Excreção de sais de amônio diminui
(pH: 5.5 a 6.5). Como ocorre esta compensação: • Excreção de Na+ e K+ aumenta

158 1. Reabsorção do bicarbonato Após termos visto de que meios o organismo lança mão para
“acalmar” H+ que não podem vagar livres pelo organismo, é impor-
tante que se frise que há um trabalho em CONJUNTO para se con-
seguir tal objetivo. Acompanhe a seqüência do seguinte raciocínio:

Infusão experimental ev de solução de HCl (ácido clorídrico)

• 1ª linha de defesa: sistemas tampões químicos (ação ime-


diata célula: difusão do H+ para as células (2 a 4 horas).
• 2ª linha de defesa: pulmões, ajuda em 50% (10 a 30 minutos)
• 3ª linha de defesa: rins: depende da modificação do intra-
Diagrama da permuta de H+ pelo Na+ do bicarbonato do filtrado celular (1 a 2 dias)
urinário.
A-C: anidrase carbônica.
Medida Clínica Do Equilíbrio Ácido Básico
2. Acidificação dos sais tampões de fosfato:
1. pH
É o logaritmo do inverso da concentração hidrogeniônica.por-
tanto, o quanto mais alta for a concentração hidrogeniônica, mais
baixo é o pH (ACIDOSE).A determinação do pH deve ser feita o
mais rápido possível, devido haver formação de ácido láctico
pelo desdobramento da glicose.O valor normal do pH do sangue
é 7.35 a 7.45. IDEAL: 7.4. O pH isoladamente apenas quantifica o
fenômeno, não o qualificando

pH = log 1 / H+

2. PaCO2
A pressão parcial do gás carbônico mede a fração dissolvida
não combinada do CO2 total, dependendo basicamente da ven-
tilação pulmonar. VALOR NORMAL: 35 a 45 mmHg. IDEAL: 40
mmHg. No RN < 1500g, sob ventilação mecânica, deve-se tolerar
PaCO2 até 55 mmHg (hipercapnia permissiva neonatal). Níveis
Capitulo 04 Monitorização do Paciente Criticamente Doente

associados de PaCO2 abaixo de 40 mmHg estiveram associados de modo que possa respirar ar ambiental para realização da ga-
com aumento da doença pulmonar crônica. sometria? É lógico que NÃO. Portanto, para interpretar a PaO2, é
A PaCO2 espelha a ventilação pulmonar: uma elevação da necessário que conheçamos a inter-relação entre PaO2 e FiO2:
PaCO2 indica hipoventilação e acidose respiratória; uma diminui- O aumento da concentração de O2 em 10% significa um au-
ção da PaCO2 indica hiperventilação e alcalose respiratória. mento na PaO2 de 50 mmhg (basta multiplicar a FiO2 por 5). Por
exemplo: uma criança com FiO2 de 30%, a PaO2 mínima pressu-
Não esqueçamos: posta é 150 mmhg (isto é: 30 x 5 = 150 mmhg). Outros utilizam
a relação PaO2 = FiO2 x 3.
3. Bicarbonato standard e real A única informação que a PaO2 nos fornece é a indicação da
• Bicarbonato real: representa a determinação do bicar- existência ou não da Hipoxemia Arterial; a hipoxemia arterial não
bonato plasmático quaisquer que sejam os valores de assegura a presença de hipoxia tecidual, embora haja esta possi-
PaCO2 do indivíduo. bilidade. Lembremos que a hipoxia pode ser a causa de distúrbios
• Bicarbonato standard: representação da determinação ventilatórios e metabólicos. A avaliação do estado hipoxêmico deve
do bicarbonato plasmático após o sangue ter sido equili- seguir-se à avaliação das condições ventilatórias e metabólicas.
brado a uma PaCO2 de 40 mmhg. Embora o diagnóstico real de hipoxemia deva ser feito quando
o paciente respirar ar ambiente (FiO2 de 21%), a hipoxemia pode
Havendo acúmulo de CO2 (acidose respiratória) por comprome- ser avaliada quando o paciente estiver respirando ar enrique-
timento respiratório, haverá: cido de O2 (daí a importância do conhecimento da FiO2). Assim
temos, de acordo com a resposta a administração de oxigênio:
CO2 → sangue (Hb) + a . c → H2O → H2CO3→H+ + HCO-3+ Hb→
→HHb+HCO3→Plasma • Hipoxemia não corrigida: PaO2 MENOR que o limite sa-
tisfatório no ar ambiente, apesar do aumento da FiO2.
a .c : anidrase carbônica • Hipoxemia corrigida: PaO2 MAIOR que o limite mínimo
CO2 = (alveolar) satisfatório no ar ambiente; a oxigenoterapia restituiu a
Sangue Hb = (na hemácia) PaO2 a um limite satisfatório; neste caso, a hipoxemia
deve existir ao ar ambiente, porque PaO2 está abaixo do
Qual é a explicação da interdependência entre PaCO2 e Bicarbona- nível normal pressuposto para oxigenoterapia
to? Isto se deve ao efeito tamponante da Hb (reveja a reação acima), • Hipoxemia excessivamente corrigida: PaO2 maior que
havendo formação de HCO3 que se difunde para o plasma. Portanto, 100 mmHg com a administração de O2; a hipoxemia deve
em indivíduos normais, os valores do bicarbonato standard e bicar- existir ao ar ambiente, pois a PaO2 não está tão alta quan-
bonato real são iguais (ambos medidos a uma PaCO2 de 40 mmHg). to se poderia esperar com FiO2 administrada. Nunca in-
valor normal: 24 mEq/l (22 a 26). Nos RN < 1500g, devido ao menor terprete o valor da PaO2 sem conhecer a FiO2.
limiar renal de HCO3 considerar anormal valores abaixo de 14 mEq/l. 159
Consulte o capítulo Avaliação da Severidade Clínica no RN sob
• Havendo acúmulo de CO2 o bicarbonato real é maior que Assistência Respiratória para o cálculo do gradiente alvéolo-arterial
o standard (fácil de entender; reveja a reação apresen- P(A-a)O2 e da proporção artério-alveolar- PaO2/PaO2.
tada acima) Uma vez vistos estes parâmetros que a gasometria nos fornece,
• Havendo diminuição do CO2 o bicarbonato real é menor temos condições de entender os distúrbios do equilíbrio ácido-básico.
que o standard (não memorize: corre-se o risco fatal de A faixa normal do pH sanguíneo vai de 7.35 a 7.45. A faixa ex-
tudo cair no labirinto do esquecimento) trema compatível com a vida situa-se entre 6.7 a 7.9

4. Excesso de Base (BE) Distúrbios Do Equilíbrio Ácido Básico


Expressa o que teria de acrescentar (be negativo) ou subtrair
(BE POSITIVO) de bases para que o organismo mantenha o seu Acidose
pH, corrigindo a anormalidade. Tem um valor de 0(zero) em um
pH de 7.4. Este termo, embora insatisfatório, é usado para definir o au-
Valor normal: -2.5 a + 2.5 (nos RN, se aceita níveis até – 8 mEq/l) mento da concentração do íon H+ no sangue. O aumento da
O que significa, por exemplo, um BE = - 8 ? concentração de H+ pode ocorrer em conseqüência de uma al-
teração respiratória primária (excesso de ácido carbônico): ACI-
• O excesso de ácido mobilizou certa parte do HCO-3 do DOSE RESPIRATÓRIA ou de uma alteração metabólica primária
sistema-tampão. OU (esta pode ser devida a um excesso de ácidos orgânicos ou
• Depleção de líquidos orgânicos ricos em bicarbonato inorgânicos ou a diminuição de bases do organismo): acidose
metabólica.
Logo: Então temos:
Significa queda do bicarbonato com queda do pH (vejam: sig-
nifica que há 8 mEq de base a menos em relação a uma PaCO2 • Acidose
de 40 mmHg). Metabólica: presença de excesso de ácido ou perdaMde base
PaCO2 normal:
5. PaO2 ↓a relação HCO-3/ H2CO3
A pressão parcial do oxigênio no RN deve-se manter entre 50-70 ↓o pH
mmHg. Ao interpretarmos a PaO2, devemos sempre fazê-lo com o Respiratória: acúmulo do CO2 (acúmulo de H2CO3)
conhecimento da FiO2. Vejamos a definição de FiO2: é mensurável Devido à hipoventilação
ou calculável concentração de O2 distribuída ao paciente. Vimos ↑a PaCO2
anteriormente que a HIPOXEMIA é definida como uma PaO2 abaixo ↓a relação HCO-3/H2CO3
do limite aceitável quando o paciente estiver respirando ar am- ↓o pH
biental, na qual a FiO2 é 21%.,devemos retirar o O2 do paciente

Paulo R. Margotto
Assistência ao Recém-Nascido de Risco

Alcalose Acidose Metabólica

Termo usado para definir uma concentração de íons H+ no As principais causas no RN são:
sangue inferior ao normal. A diminuição da concentração do
H+ pode ocorrer em conseqüência de uma alteração respiratória • Excesso de produção ou de aporte de H+ (hipoxia tissular;
primária (perda de ácido carbônico): alcalose respiratória ou de jejum, erro inato do metabolismo dos glicídios, proteínas
uma alteração metabólica primária (aumento do teor de bases e lipídeos)
ou a perda de ácidos no organismo): alcalose metabólica. • Deficiente contratilidade do miocárdio (a hipotensão arte-
Então temos: rial e a acidose metabólica ocorrem em aproximadamen-
te 40% dos RN ventilados, particularmente nas primeiras
• Alcalose 24 h de vida e estão associados em quase 50% com de-
Metabólica: excesso de base ou perda de ácido. ficiente contratilidade do miocárdio, sendo que 90% res-
PaCO2 - ↑ da relação HCO-3 / H2CO3 pondem à dopamina).
↑ do pH • Alteração na excreção de H+: como na insuficiência renal
Respiratória: perda de CO2 (e do H2CO3) aguda, acidose tubular renal distal
devido à hiperventilação • Perda de bicarbonato: diarréia, oclusão intestinal, perito-
↓da PaCO2 nite, acidose tubular renal proximal
↓da relação HCO-3/H2CO3
↑pH Correção: usando a fórmula:
mEq de HCO-3 = peso x déficit BE x 0.3 (para – 5)
O que vimos acima (acidose e alcalose respiratórias e me- Diluir em água destilada 1:5 (correr em 2h)
tabólicas) foram distúrbios descompensados. Como estes dis-
túrbios são compensados ou pelo menos parcialmente com- Acidose Respiratória
pensados pelo organismo? Para isto, basta aplicar a equação
de Henderson-Hasselbalch. Citaremos o que ocorre na acidose As principais causas no RN estão relacionadas ao pulmão,
metabólica descompensada, como exemplo. Vejamos: acidose como síndrome de aspiração meconial, doença de membrana
metabólica descompensada: - queda do pH. hialina, broncoespasmo, pneumotórax, edema pulmonar, derra-
(excesso de ácido ou, mais - queda da relação HCO-3/H2CO3 co- me pleural, depressão do SNC
mum na prática pediátrica, atenção: PaCO2 normal perda de bases)
Correção:
Acidose Metabólica Compensada • tratar a causa básica
• NaHCO3: nos casos de acidose metabólica concomitante
160 Equação de Henderson-Hasselbalch: pH= 6.1 + log HCO3−/H2CO3 e com controle das condições ventilatórias.

• Queda da PaCO2 (o pulmão entrou em ação hiperventi- Alcalose Metabólica


lando) e assim, queda de H2CO3 e assim.
• Aumento da relação HCO-3/H2CO3 e o pH se normaliza. No RN, as causas mais comuns são: perda de líquido gástrico
pelo vômito (estenose hipertrófica de piloro), condições que expo-
Para ficar mais claro: liam potássio (furosemide) e excesso de NaHCO3.
Relação HCO-3/H2CO3: 24/1.2 = 20 → normal Correção: tratar a causa básica; dar ao rim condições de excre-
Acidose metabólica descompensada, temos: 12/1.2 = 10 tar o excesso e NaHCO3 (aporte adequado de cloreto, Na+ e K+).
(exemplo: diarréia)
Acidose metabólica compensada, temos: 12/0.6 = 20 Alcalose Respiratória

Nota No RN as principais causas são: encefalite, meningite, febre, doen-


Neste exemplo, só comentamos o efeito pulmonar, para fins ças pulmonares, localizadas, alterações no SNC, ventilação mecânica.
didáticos; nós sabemos que o pulmão ajuda até 50% e é o que
ocorre na grande maioria das vezes na prática, levando então a Correção:
uma acidose metabólica parcialmente compensada, (o pH, neste • Nos casos de pH > 7.60, está indicado ventilação mecâ-
caso, não voltaria ao normal). nica com o objetivo de aumentar o espaço morto para
Com este mesmo raciocínio, sempre pensando na Equação de reter CO2
Henderson-Hasselbalch, podemos imaginar o que ocorre com os • Tratar a causa básica.
demais outros distúrbios. • Quanto à relação entre pH e PaCO2: para todo aumento
Portanto, fundamentalmente temos dois tipos de distúrbios do de 20 mmHg na PaCO2, o pH diminui 0.1 unidade; para
equilíbrio ácido-básico: toda diminuição de 10 mmHg na PaCO2, o pH aumenta
0.1 unidade
• Distúrbio metabólico - ganho ou perda de ácidos ou bases
• Distúrbio respiratório - diminuição ou aumento da venti- Correlação Entre K+, Cálcio,
lação pulmonar às custas da elevação ou baixa, respec- O Equilíbrio Ácido-Básico
tivamente da PaCO2.
Na prática, não podemos separar o distúrbio do equilíbrio ácido-
básico e o distúrbio hídro-eletrolítico. Vejamos a correlação com K+:
Se o K+ (íon potássio) abandona a célula, outros íons com igual
carga elétrica terão de nela penetrar; para cada 3 partes de K+
que saem da célula, entrarão 2 partes de Na+ (íon sódio) e 1 de
H+ (íon hidrogênio).
Capitulo 04 Monitorização do Paciente Criticamente Doente

A concentração de K+ no meio extracelular pode-se alterar de- Quando a clínica nos sugere um distúrbio respiratório, analise-
vido às modificações primárias do H+: mos inicialmente a PaCO2 (esta mede a magnitude deste distúr-
Relação entre pH-K+ sérico: bio) e em seguida, os parâmetros metabólicos que refletirão ou
O aumento ou diminuição de 0.1 unidade do pH causaria alte- não a resposta dos mecanismos compensatórios (raciocinemos
ração de 0.6 mEq/l da calemia no sentido oposto. Veja o exemplo: em ternos de RINS).
Uma criança com pH de 7.1 e com K+ de 4.8 mEq/l: qual é o Muitas vezes o distúrbio é misto. Veja o exemplo: um doen-
seu K+ real? Vejamos: o pH abaixou de 7.4 para 7.1, isto é abaixou te com umabroncopneumopatia crônica que apresenta, devido
3 vezes 0.1 (ou seja 0.3) e portanto a calemia aumentou de 3 x uma diarréia, um quadro de acidose metabólica primária; é lógico
0.6 = 1.8. LOGO, o nível sérico real de K+ desta nossa criança é: que o seu aparelho respiratório lesado será incapaz de hiperven-
4.8 – 4.8 = 3.0 (vejam que ela está em níveis hipocalêmicos: eis tilar e assim, eliminar o CO2 o suficiente para elevar o pH a níveis
a importância do conhecimento deste fato). normais. Assim temos uma acidose metabólica descompensada
Como a hipocalemia leva a alcalose metabólica? O paciente ou uma acidose metabólica e respiratória.
pode apresentar hipocalemia secundária a uma terapia diuréti-
ca, diarréia, hidratação venosa com recolocação inadequada de Casos Clínicos
K+. A hipocalemia pode levar a alcalose metabólica pelo seguinte
mecanismo: a célula socorre o extracelular cedendo-lhe K+ e com 1. Criança (lactente) com diarréia e desidratação do II grau
isso entra na célula Na+ e H+.
A célula sentindo-se ácida, envia ordens para que o rim eco- pH: 7.20
nomize bases e elimine o H+ e assim o bicarbonato sanguíneo PaCO2: 23.0
aumenta no extracelular e a urina sai ácida (alcalose metabólica HCO-3: 9.0
hipocalêmica com urina paradoxalmente ácida); chama-se para- BE: - 17.0
doxal porque, na vigência da alcalose, era de se esperar que o
organismo eliminasse bases e a urina fosse, consequentemente (acidose metabólica parcialmente compensada é parcial por-
alcalina, isto é, básica. que o pH não está normal)
Quanto ao cálcio Usando o índice de 95% de confiança para a acidose metabóli-
A acidose aumenta o fluxo de cálcio do osso para o espaço ex- ca (consulte a figura n º. 1 no final), veremos que o encontro entre
tracelular, enquanto a alcalose diminui ou reverte este fluxo. Com duas linhas traçadas, uma partindo da ordenada (PaCO2) no nível
base na relação homeostática existente entre o equilíbrio ácido- da PaCO2 que marca 25 e a outra da abscissa (Base excess) no
básico e o cálcio, espera-se que a correção de acidose através do nível de –17, dar-se-á dentro das faixas de confiança demons-
uso de álcali resulte numa diminuição do cálcio total e do cálcio trando a função pulmonar normal do paciente.
ionizado. Cada aumento no pH de 0.1 unidade, eqüivale a uma 2. Lactente com diarréia + desidratação II grau
queda na calcemia iônica de 0.46 mg%.
pH: 7.35 161
Diferença de aniontes: anion gap PaCO2: 25.0
A diferença de aniontes é a maneira mais simples de mostrar HCO-3: 14.0
o acúmulo de aniontes anormais (aniontes residuais ou não me- BE: -11
didos: fosfatos, sulfatos, aniontes proteínas de ácidos orgânicos,
como o lactato). Acidose metabólica compensada (o pH normalizou às custas
Fórmula: (Na+ + K+) – (HCO-3 + Cl-) ou Na+– (HCO-3 + Cl-) da hiperventilação pulmonar)
Valor normal: Na presença de acidose metabólica, ânion gap
maior que 16 mEq/l é altamente predictivo de acidose láctica; 3. RN em um Respirador
ânion gap menor que 8 mEq/l é altamente predictivo de ausência
de acidose lática; valor entre 8-16 mEq/l não é útil no diagnósti- pH: 7.52
co diferencial de acidose metabólica no RN criticamente doente. PaCO2: 28.0
Quando há ACIDOSE com uma diferença de aniontes anormal, o HCO-3: 22.0
valor desta diferença é habitualmente maior que 22 mEq/l, como BE: +1
por exemplo, na acidose láctica, em que há acúmulo de lactato
não medido na cetoacidose (acúmulo de ácido ceto-acético) e etc. O pH é alcalótico; o bicarbonato está normal; estaalcalose só
Como interpretar os gases sangüíneos de um modo sensato pode ser explicada pela hiperventilação alveolar e portanto, te-
e de fácil raciocínio: tratamento e índice de 95% de confiança mos uma alcalose respiratória descompensada
Em primeiro lugar o paciente. É imprescindível a história clíni-
ca que nos permitirá a formulação de uma explicação dos fatos Observem que nos exemplos 1 e 2 , a hiperventilação alveolar
que desencadearam o quadro em análise. O médico deve usar os é secundária à acidose metabólica. Este paciente apresenta uma
valores da gasometria com a descrição do doente. Quando assim alcalose respiratória aguda, por quê aguda? Não houve tempo de
ele o faz, será capaz de tratar o seu paciente satisfatoriamente, entrar em ação os mecanismos renais e como agiriam? Pense na
pois assim, ele não está usando apenas uma medida de alte- equação de Henderson-Hasselbalch e veremos que agiriam atra-
ração ácido-básica. A habilidade do médico está justamente na vés da diminuição do bicarbonato de sódio e é exatamente o que
capacidade de reunir todos os fatos (clínicos e laboratoriais) num vemos no exemplo seguinte, caso o fator causal desta alcalose
conjunto harmônico e lógico. respiratória persistisse:
pH: ACIDOSE (o mais comum na clínica) ou ALCALOSE
Em seguida, verifiquemos os parâmetros metabólicos (bicarbonato pH: 7.44
real e o BE) para caracterizarmos, juntamente com os dados clínicos PaCO2: 24.0
em mente, um distúrbio metabólico. Se todos os dados nos orientam HCO-3: 16.0
para um distúrbio metabólico, verificamos em seguida a PaCO2. BE:-6.0
PaCO2: nos fornecerá uma idéia de como está sendo a respos-
ta pulmonar.

Paulo R. Margotto
Assistência ao Recém-Nascido de Risco

Agora estamos diante de uma alcalose respiratória compen- HCO-3:10.0


sada. esta compensação foi graças aos mecanismos renais que BE: -13.0
agiram perdendo bicarbonato.
Nota: se compararmos o exemplo no 4 e o exemplo no 2, pare- Acidose mista (Respiratória em função do do comprometi-
ce, à primeira vista que são iguais. Realmente, MAS lembremos mento pulmonar e metabólica do comprometimento pulmonar e
do doente; são dois pacientes diferentes; um paciente, o n º 2 metabólica devido a formação de ácido lático pelo metabolismo
tem um fator desencadeante primário da acidose metabólica que anaeróbio da glicose consequenteà hipoxia) Este bebê apresenta
é a diarréia e a resposta pulmonar é secundária, a esta acidose, uma hipoxemia não corrigida (PaO2 menor que 50 mmHg )
ou seja, temos, no paciente n º 2, uma alcalose respiratória SE-
CUNDÁRIA. Já o paciente n º 4: há um fator desencadeante para 8. Paciente com história de que ingeriu uma superdosa-
a hiperventilação (como exemplo escolhemos o fator respiratório) gem de opiáceos gases:
e a queda do bicarbonato foi secundária e então temos uma aci-
dose metabólica secundária. pH: 7.16
PaCO2: 85.0
4. pH:7.24 Lactente com diarréia + broncopneumonia PaO2: 30.0
HCO-3:24.0
PaCO2:44.0 BE: -3.0
HCO-3: 18.0
BE: -7 (indicado respirador) : insuficiência ventilatória aguda ou aci-
dose respiratória descompensada com hipoxemia severa não
Acidose metabólica descompensada ou acidose respiratória corrigida ( observe a PaCO2). Para haver a compensação , como
(veja no índice de 95% de confiança para a acidose metabólica agiria o mecanismo renal? Raciocine com a Equação de Hender-
e verá que as linhas encontrar-se-ão bem acima da faixa de con- son-Hasselbalch: retendo bicarbonato.’
fiança).Trata-se de uma acidose metabólica (história de diarréia-
perda de bicarbonato pelas fezes) descompensada (os mecanis- 9. Agora vejamos a seguinte gasometria de uma criança
mos, respiratórios não foram eficientes pelo fato do pulmão estar que apresenta fibrose pulmonar, por exemplo:
comprometido. veja bem: há uma acidose respiratória, apesar
do PaCO2 estar em nível normal, mas lembremos que este nível pH: 7.36
normal corresponderia a um bicarbonato de 22 mEq/l e um BE PaCO2: 85.0
de –2.5 a + 2.5. HCO-3: 47.0
BE: +15
5. pH: 7.56 Acidose respiratória compensada (ou insuficiência ventilatória
162 PCO: 40.0 crônica ). Observe o BE. Observem que a alcalose metabólica é
HCO-3: 34.0 - secundária à acidose respiratória (raciocine com a Equação de
BE: +11 Handerson-Hasselbalch) . Esta gasometria é muito semelhante a
de n º 7 , mas naquela, a acidose respiratória é secundária à alca-
RN em uso de furosemide e com K+ de 2.0 alcalose (veja o pH) lose respiratória. Mais uma vez frisamos a importância de se co-
metabólica (veja o bicarbonato e o BE) descompensada (ve já o nhecer a história clínica na inter relação dos gases sangüíneos.
pH). A causa é a hipocalemia. Observe que é descompensada
porque o pH não está normal; o mecanismo respiratório de com- 10. Neste último exemplo, comentário sobre um dos mais
pensação ainda não se efetuou e como seria? Pense na Equação freqüentes distúrbios do equilíbrio ácido-básico na prática
de Henderson-Hasselbalch e verá que a compensação (isto é , a pediátrica: Lactente com diarréia e desidratação do III grau :
correção do pH) dar-se-á por uma hipoventilação. É o que veremos
no exemplo seguinte, se o fator desencadeante persistir: Inicialmente prescrevemos uma fase rápida (40 ml/Kg) em 2
horas; persistindo sinais de acidose metabólica (freqüência res-
6. pH: 7.44 piratória elevada ou freqüência respiratória normal, mas com
PaCO2: 65.0 incursões respiratórias profundas), colhemos sangue (de prefe-
HCO-3: 34.0 rencia radial) para gasometria:
BE: +11.0
pH: 7.14
Agora temos uma alcalose metabólica compensada. Peso: 6 Kg
Este caso não poderia ser uma acidose respiratória compen- PaCO2:15.1
sada ? Poderia , se não conhecêssemos a história do nosso K+: 6.0 mEq/l
paciente. Este paciente não tem nenhum fator pulmonar que pO2: 105.9
responsabilize pela hipoventilação e, portanto, esta hipoventi- HCO-3real: 5.0
lação é secundária à alcalose metabólica desencadeada pela HCO-3: 6.5
hipopotassemia. Logo, nunca se esqueça dos dados clínicos BE:-22.5
ao analisar uma gasometria. As conclusões serão errôneas e a FiO2 :21%
terapêutica, evidentemente, um fracasso.
Análise Completa
7. Analisemos agora a seguinte gasometria de um RN
prematuro com Doença de Membrana Hialina: 1. Acidose: pH menor que 7.3
pH: 7.11 2. Metabólica: história clínica: diarréia (perda de HCO3-)
FiO2 100% parâmetros metabólicos HCO-3 e BE.
PaCO2: 45.0 3. Parcialmente compensada: vejam a resposta
PaO2: 48.0 pulmonar:PaCO2.
Capitulo 04 Monitorização do Paciente Criticamente Doente

Se o pulmão não desse esta ajuda, veja como ficaria a situação: deve apenas melhorar; nunca corrigir completamente a concen-
tração do bicarbonato, pois concomitantemente está sendo feito
• pH= pKa + log HCO-3/PaCO2 x 0.03 o tratamento da causa básica (isto é, hidratando), o que irá di-
• pH= 6.1 + log 5/1.2 minuir o grau de acidose. A correção total da acidose poderá ser
• pH=6.7 feita nas 12-36 h posteriores a dose inicial do bicarbonato.
para o caso prescreveríamos a metade, uma vez que a res-
Então o pulmão deu uma valiosa ajuda, auxílio este já percep- posta pulmonar é bastante eficiente (como comprovamos na fig.
tível dentro de 10 minutos e máximo com 30 minutos. Observem 1). O restante, o organismo se encarregaria (muitas vezes, basta
que a ajuda do pulmão tornou irrisória a queda de quase 80% do hidratar para que a maioria dos casos de acidose se resolva, mas
bicarbonato sanguíneo. Consultando a fig. n º 1,veremos que a quando o bicarbonato estiver abaixo de 10, principalmente 3 pri-
relação BE-PaCO2 está dentro da faixa de segurança, ou seja, o meiros meses de vida, o rim agradecerá o que se fizer por ele. O
pulmão exerceu seu papel. auxílio é feito com bicarbonato de sódio.
Como prova da eficiência pulmonar, o cálculo da P(A-a)O2 re- No nosso meio, temos o Bicarbonato de Sódio a 8.4%; usamos
vela: 11.8 mmHg (valor normal: ausência do shunt patológico). numa proporção de 1:5,tornando-se isotônico com o plasma e
Portanto: acidose metabólica parcialmente compensada infundi-lo em 60 minutos.
Conduta: Com a fase rápida. Iniciamos a terapêutica da acido- E os eletrólitos? Comentaremos apenas sobre o K+ e cálcio. O
se metabólica: com a fase rápida há melhora da perfusão renal, potássio real de nosso paciente é 4.2mEq/l, não devendo retirar
oferecendo aos rins melhores condições para que ajam com efi- totalmente o potássio da hidratação venosa, pois com a persis-
ciência retendo bicarbonato. tência do quadro diarréico, correção da acidose, a criança poderá
Dose de bicarbonato: fórmula: peso x BE x 0.3 desenvolver hipocalemia.
Diferencial (absoluta) entre o BE real (da gasometria do pacien- Com relação ao cálcio, após a infusão do bicarbonato, o lac-
te) e o BE normal (2.5) tente poderá desencadear um quadro convulsivo (o cálcio estava
Para o caso temos: baixo e a acidose protegia. Na prática, após o uso de bicarbonato,
6 x (22.5-2.5) x 0.3 = 36 mEq/l de NaHCO3 introduzimos na hidratação venosa o gluconato de cálcio (1.5 a 2
Quanto prescrever? Para isto, antes gostaríamos de frisar que mEq/Kg) ou (3 a 4 ml/Kg a 10%).
as fórmulas são secas, não tomando em consideração a totalida- Nota: nesta gasometria o bicarbonato padrão é maior que
de dos fatores envolvidos no equilíbrio ácido-básico. Não devemos o bicarbonato real um sinal de alcalose respiratória (evidente-
tratar a doença diferenças de bases e sim o fator causal. mente secundária). Na prática, não tem muito valor, na interpre-
Ensina-nos a prática (dotados de bastante prudência) que se tação da gasometria.

163

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Paulo R. Margotto
Assistência ao Recém-Nascido de Risco

164
Capitulo 05 Nutrição do Recém Nascido

Capítulo 5

Nutrição do
Recém-Nascido
Assistência ao Recém-Nascido de Risco

5.1 NUTRIÇÃO ENTERAL

Paulo R. Margotto, Ana Lúcia do Nascimento Moreira, Alessan-


dra de Cássia Gonçalves Moreira, Emmanuelle S. Coutinho, Pa-
trícia Cristina Monroe, Tayana T. de Almeida

Objetivos

A alimentação adequada do recém-nascido tem como fina- 500- 700- 900- 1200- 1500-
Peso
lidade promover um crescimento semelhante ao intrauterino, 700g 900g 1200g 1500g 1800g
tendo como resultado um crescimento e neurodesenvolvimento Ganho de
normais. A despeito da melhora contínua, o crescimento do re- peso fetal
cém-nascido (RN) de muito baixo peso ocorre consideravelmente g/dia 13 16 20 24 26
abaixo da taxa intrauterina. A causa deste déficit de crescimento g/kg/dia 21 20 19 18 16
é a nutrição inadequada e parece ser responsável por déficits Proteína(g)
cognitivos no desenvolvimento em longo prazo, já que ocorre
Necessidade
num período em que o desenvolvimento do sistema nervoso é
requerida
particularmente sensível à privação nutricional,
Parenteral** 3,5 3,5 3,5 3,4 3,2
De fato, o retardo de crescimento pós-natal é um problema uni-
versal e surge devido à baixa ingesta calórica e protéica, o cres- Enteral*** 4,0 4,0 4,0 3,9 3,6
cimento neonatal deficiente dos RN pré-termo está diretamente Energia(kcal)
relacionado a um deficiente crescimento e neurodesenvolvimen- Necessidade
to nas idades de 1 a 3 e aos 7 anos. Não está muito claro, no en- requerida
tanto, se o atraso no desenvolvimento pós-natal destes bebês é Parenteral 89 92 101 108 109
causa ou conseqüência deste fato, ou seja, eles não são bem ali- Enteral**** 105 108 119 127 128
mentados porque são pequenos e clinicamente comprometidos
Proteína/
ou são pequenos e doentes porque não são bem alimentados?
energia
(g/100kcal)
Algumas Particularidades Da Digestão
Parenteral 3,9 4,1 3,5 3,1 2,9
E Absorção Dos Prematuros
166 Enteral 3,8 3,7 3,4 3,1 2,8
1. Coordenação sucção/deglutição incompleta até 34
semanas *Há uma perda de nitrogênio urinário de 133mg/Kg/dia e uma
2. Esvaziamento gástrico retardado perda pela pele de 27mg/Kg/dia
3. Menor tônus do esfíncter esofágico inferior **Soma de perdas e acréscimos
4. Atividade motora imatura do intestino ***O mesmo que a parenteral, assumindo 88% de absorção
5. Capacidade gástrica reduzida da dieta proteica
6. Secreção ácida gástrica deficiente nas primeiras semanas ****Assumindo 85% da absorção da energia (caloria) da dieta
7. Limitada capacidade de digestão e absorção de gordu-
ras (deficiência da lipase pancreática e lingual; síntese Calorias
de sais biliares relativamente baixa)
8. Atividade das enzimas proteolíticas é boa O RN pré-termo precisa, em média de 120 Kcal/kg/dia para cres-
9. Lactose que é o principal carboidrato da dieta é bem cer satisfatoriamente, variando entre 110 – 150 kcal/kg/dia, man-
digerida e absorvida. tidas as condições de termoneutralidade. As necessidades podem
10. Limitada função renal não permitindo sobrecargas hí- aumentar na vigência de infecções, estresse cirúrgico ou esfriamento.
dricas, eletrolíticas e de proteínas.
Proteínas
Necessidades Nutritivas
A grande característica metabólica do pré-termo extremo é a
As necessidades nutricionais dos prematuros são variáveis de intensa proteólise (catabolismo intenso), o grande desafio é su-
acordo com a idade gestacional, idade pós-natal, peso de nasci- primir esta proteólise e implementar a síntese protéica e assim
mento, condições ambientais, método de alimentação emprega- alcançar um balanço protéico capaz de promover o crescimento.
do e doenças concomitantes relativas a prematuridade. Os pré-termos extremos, no entanto, têm uma grande resistên-
O crescimento geralmente se inicia após a segunda semana de cia de resposta à oferta endovenosa de aminoácidos no que diz
vida, depois da resolução dos problemas médicos agudos e das respeito à redução da proteólise (embora o uso precoce de ami-
mudanças iniciais da distribuição de água corporal. noácidos seja seguramente um avanço). Portanto, para se alcan-
Nos recém-nascidos extremamente prematuros a preocupação çar os objetivos propostos com a nutrição, temos que investir na
inicial não é com a alimentação, e sim manter uma boa hidra- nutrição enteral, muito mais efetiva na diminuição da proteólise
tação, homeostase da glicose e normalização dos eletrólitos e e aumento da incorporação protéica.
minerais no soro. Necessidades básicas diárias:
A tabela abaixo lista as melhores estimativas das necessidades
nutricionais segundo Ziegler EE e cl (Agressive nutrition of the • RN a termo: 2,0 –2,5 g/kg/dia
very low birthweight infant. Clin Perinatol 29:225,2002). • RN pré-termo: 3,0 – 4,0 g/kg/dia
Capitulo 05 Nutrição do Recém Nascido

O excesso de proteínas acima de 4,0 g/kg/dia pode levar a Necessidades dos prematuros:
alterações metabólicas, estrabismo, retardo mental, letargia, hi-
pertermia e aumento da mortalidade. A taxa de proteínas abai- • Cálcio: 200-250 mg/kg/dia
xo de 2,0 g/kg/dia leva a um déficit ponderal, hipoalbuminemia • Fósforo: 110-125 mg/kg/dia
com edema, comprometimento do crescimento das células neu- • Magnésio: 5,0-10 mg/kg/dia. O Leite Humano têm quan-
ronais, da mielinização, do crescimento dos órgãos com dano tidade suficiente de magnésio.
cerebral irreversível.
A quantidade de proteínas no leite mateRNo de mães de pre- Oligoelementos
maturos é bastante variáveis, consideramos de 1,5g/100ml,
enquanto no leite de mães de RN a termo é 1,1g/100ml. Esta O Leite Humano suplementa adequadamente as necessidades
diferença desaparece por volta de 15 dias. destes elementos. No entanto o recém-nascido pré-termo em
Nutrição Parenteral prolongada ou que apresentem diarréia, são
Lipídios grupos de risco para deficiência destes micronutrientes, devendo
ser suplementado por via parenteral.
É a maior fonte calórica do leite, representam até 50% do total
calórico. O conteúdo de gorduras do Leite Humano varia entre as Vitaminas
mulheres, diminui durante o dia, aumenta no final da lactação
com a expressão do leite final. A gordura é o item que mais varia • Deve ser iniciada a partir do 7o dia de vida
no LH, havendo preocupação constante quanto à sua disponibili- • Vitamina K deve ser administrada ao nascimento em
zação efetiva ao RN. dose única 1 mg IM.
É importante também lembrar a importância da homogeneiza- • Na vigência de jejum prolongado, com alimentação pa-
ção antes das dietas, evitando a aderência a plásticos ou vidros. renteral exclusiva repetir 2 vezes por semana.
Ao infundir o LM não homogeneizado,se perde 52% da gordura,
crianças que recebem LM homogeneizado cresceram mais por- Suplementação de vitaminas
que aproveitaram mais a gordura e conseguiram digeri-la melhor. recomendadas para prematuros
É recomendado que 40-50% do aporte calórico seja sob a
forma de gorduras, das quais 3% na forma de ácido linolêico. Termo Pré-termo
Os ácidos graxos essenciais são necessários para formação da dose/dia dose/kg/dia
membrana celular, sobretudo no cérebro e na retina, onde sua Vit. A (UI) 2300 932
deficiência pode provocar perturbações cognitiva e visual. O ser
Vit. E (UI) 7 2,8
humano necessita de 2 ácidos graxos principais: o linoleico e o
Vit. K (µg) 200 80
alfa linoleico. O ácido linoleico se transforma em ácido aracdôni-
Vit. D (UI) 400 160
co que forma as prostaglandinas. O ácido alfa-linoleico é o pre- 167
Ácido ascórbico (mg) 80 32
cursor do DHA (ácido docosahexanóico), um dos elementos mais
pesquisados no LH por exercer papel fundamental na função vi- Tiamina B1 (mg) 1,2 0,48

sual e no desenvolvimento neuromotor, sendo apontado como o Riboflavina B2 (mg) 1,4 0,56
responsável pela fluidez dos impulsos nervosos através da mem- Piridoxina B6 (mg) 1,0 0,4
brana celular. Os RN que não tem uma boa fonte de DHA não Niacina B3 (mg) 17 6,8
terão uma função visual tão boa quanto àqueles que receberam Ácido pantotênico B5 (mg) 5 2,0
DHA do leite da mãe. O leite mateRNo tem um teor de ácido lino- Biotina B7 (µg) 20 0,8
leico de 7,2%, ácido alfa-linoleico de 0,8% e DHA de 0,6%. O bebê Folato B9 (µg) 140 56
que recebe fórmulas artificiais tem uma composição de ácidos
Vit. B12 (µg) 1,0 0,4
graxos no cérebro muito instável e o DHA diminui 5 a 6 semanas
após o nascimento, pois somente após 15 semanas de vida eles
serão capazes de sintetizá-lo. Protovit : 1 ml = 24 gotas

Hidratos De Carbono Vit A 5.000 UI


B1 4 mg
O excesso pode causar perda fecal, e se a oferta de lactose B2 1mg
exceder a capacidade limite da lactase intestinal pode resultar PP 10 mg
em diarréia fermentativa. B6 1 mg
B5 10 mg
Cálcio, Fósforo E Magnésio
H 0,1 mg
C 50 mg
A quantidade de cálcio e fósforo no leite humano é insuficien-
D 1000 UI
te para suprir as necessidades dos RN pré-termo. No último tri-
mestre da gestação ocorre uma elevada transferência de cálcio E 3 mg
e fósforo, ficando o recém-nascido prematuro com falta desta
deposição, além do maior ritmo de crescimento ósseo e menor Ferro
grau de absorção intestinal. O leite humano tem um teor muito
baixo de Ca (24 mg/ 100ml) e P (14 mg/ 100ml) e não muda ao A suplementação de ferro é indicada para todo RN pré-termo,
longo da lactação. O feto retém 100-180mg/kg/ dia de Ca e os visto que seus depósitos são insuficientes para manter a síntese
RN alimentados com LH retem apenas 19mg/kg/dia. de hemoglobina em níveis adequados.
Inicio: Com 4 semanas, devendo-se manter até 12-15 meses.

Paulo R. Margotto
Assistência ao Recém-Nascido de Risco

Suplementação de ferro para prematuros, de acordo com o Oferece a vantagem de prover maiores volumes a RN com capa-
peso de nascimento: cidade gástrica muito reduzida e crianças com refluxo gastroeso-
fágico grave. A alimentação transpilórica, devido as suas compli-
Peso Dose de Fe elementar cações, é pouco usada.
(gramas) (mg/kg/dia) Para os RN com síndrome do intestino curto, os dados mostram
< 1000 4 que se deve usar a dieta em forma de infusão contínua lenta.
1000<1500 3
1500<2000 2 Quanto Ao Posicionamento Do RN

O decúbito lateral direito leva a um esvaziamento gástrico mais


Início Da Via Digestiva rápido. Em situações de refluxo gastroesofágico, está indicado o
decúbito lateral esquerdo, devido à posição atingida pelo antro e
A dieta deve ser iniciada o mais precoce possível, uma vez que piloro com redução da ocorrência do refluxo.
seu adiamento pode levar a uma desnutrição rápida, podendo o
dano causado ser irreversível. O início precoce da alimentação Sucção Não Nutritiva
oral acelera o tempo de transição da sonda para a alimentação
oral, assim como a estimulação das estruturas orais. A sucção não nutritiva (SNN) é descrita como um padrão orga-
RN a termo iniciar a sucção ao seio na sala de parto, devendo nizado e repetitivo de sugadas curtas e estáveis, com pausas lon-
ser encaminhado para o alojamento conjunto com a mãe. RN pré- gas ou irregulares, podendo haver alguma variação dependendo
termo > 1500g sem patologia, início com 2h, após avaliação do do estado comportamental do bebê. Nessa sucção, o bebê faz
estado clínico e reflexo de sucção/ deglutição adequados sugar os movimentos, sem ter a introdução de líquido na cavidade oral,
seio mateRNo. sem o intuito de promover nutrição.
Não é recomendado qualquer tipo de diluição da dieta, seja
LH ou fórmula. Indicações
Levar sempre em consideração:
Vários fatores podem causar alterações na sucção do bebê,
• Estabilidade hemodinâmica tais como intercorrências clínicas, baixo peso ao nascer, prema-
• Ausência de disfunção respiratória grave turidade, distúrbios metabólicos, alterações neurológicas, sín-
• Ausência de distensão abdominal dromes e anomalias congênitas (fissuras labiopalatais, fissuras
• Presença de ruídos hidroáereos submucosas, anquiloglossia e laringomalácia). Algumas práticas
• Eliminação de mecônio clínicas relacionadas ao tratamento de bebês prematuros, como
intubação prolongada e uso sondas oro ou nasogástricas tam-
168 Métodos De Alimentação bém podem interferir no desenvolvimento normal da coordena-
ção sucção/deglutição/respiração, bem como ocasionar proble-
A escolha do método de alimentação deve ser baseada na mas respiratórios, devido ao refluxo gastroesofágico e aspiração.
idade gestacional, peso de nascimento, estado clínico e experi- Além dos fatores mencionados, podem ocorrer transtoRNos de
ência do Serviço. sucção mais específicos em bebês a termo e sem intercorrências
clínicas, denominados disfunções oromotoras. Estas são conse-
Alimentação Por Via Oral qüências de imaturidade neurológica do RN, dor facial (como a de-
corrente do uso de fórceps), características anatômicas individuais
Recém-nascido normal de termo e prematuro estável com e fatores iatrogênicos, como o uso de bicos artificiais. Também po-
peso de nascimento > 1500g e idade gestacional > 33semanas, dem ocorrer alterações de natureza anatômica no funcionamento
com reflexo de sucção/deglutição adequados. oral tanto do bebê (palato mais alto, mandíbula mais retraída ou
No RN pré-termo que vem recebendo dieta por SOG, deve-se freio lingual encurtado ou totalmente fixo, apresentando, assim,
atentar para o início do reflexo de sucção e, tão logo atinja ali- maior dificuldade de pega), e dificuldades referentes à mãe (mami-
mentação completa, iniciar tentativas de alimentação por via oral los pouco elásticos, planos, invertidos ou excessivamente longos).
com progressão de 1 tentativa por dia com o objetivo de estimu- No serviço fonoaudiológico realizado no Alojamento Conjunto
lar as estruturas oro-motoras. do Hospital Regional da Asa Sul (HRAS) utilizamos a técnica da
SNN com o objetivo de desenvolver a organização do padrão de
Alimentação Gástrica Intermitente sucção do RN visando a transição gradativa da alimentação por
sonda gástrica para via oral.
Na prática é a mais utilizada, tem indicação em crianças com
capacidade de deglutição/sucção inadequada (menos de 32-34 Benefícios
semanas), disfunção neuro-muscular (hipotonia e perda do refle-
xo de sucção) desconforto respiratório com frequência respirató- Muitos estudos têm descrito as vantagens/benefícios da rea-
ria > 60ipm, RN em ventilação mecânica. lização da estimulação da SNN em recém-nascidos pré-termos
Nos RN < 1000g e < 28 semanas há evidência de que a admi- quando associada aos horários da amamentação, tais como:
nistração da dieta em “bolus” levou a um maior ganho de peso adequação da musculatura orofacial, maior oxigenação, transi-
comparado à administração contínua. Outra vantagem desta mo- ção da gavagem para via oral mais rápida, maior ganho de peso,
dalidade de foRNecimento da dieta é que há menor perda de associação da sucção com a saciedade gástrica, facilita a diges-
gordura do leite administrado. tão, altera os estados de vigília e alta hospitalar mais precoce.

Alimentação Gástrica Contínua E Alimentação Transpilórica Como É Realizado O Procedimento

Usada em recém-nascidos com intolerância à alimentação Primeiramente, inicia-se o trabalho de SNN para depois o bebê
por sonda gástrica intermitente e com hipomotilidade intestinal. passar para a sucção nutritiva (SN). Quando o desempenho do
Capitulo 05 Nutrição do Recém Nascido

bebê está dentro do esperado na SNN, é possível iniciar a SN, É necessário rígido controle do tempo e da quantidade de es-
porém ele ainda deve permanecer com a sonda gástrica. Essa tímulos, mediante a observação criteriosa das respostas e do
transição pode levar de 1 a 5 dias aproximadamente. A evolução comportamento do bebê. Exercícios orofaciais utilizados indiscri-
é individual e depende do progresso do bebê, para que seja ini- minadamente podem agravar as disfunções orais, gerando ainda
ciada a alimentação por via oral até que se consiga obter toda a mais desorganização no funcionamento oral dos bebês.
quantidade necessária de alimento exclusivamente por essa via.
Os estímulos estão divididos em: Início E Progressão Da Alimentação Enteral

1. Extra-oral: massagens com toques leves na região pe- A nutrição do RN pré-termo é uma urgência, sendo a admi-
rioral e bochechas, eliciando o reflexo de busca. nistração enteral a via indicada para RN prematuros < 1500g,
2. Intra-oral: merece atenção as suspensões da nutrição enteral durante as
intercorrências clínicas, não devendo ser mais prolongadas do
Avaliação Do Padrão De SNN que o necessário, quando a dieta for suspensa, deve-se pensar
sempre na possibilidade de retoRNá-la o mais rápido possível.
Feito com dedo mínimo envolvido por luva, embebido no leite, Usamos como regra para progressão da dieta o aumento de
sendo introduzido na boca do bebê a fim de eliciar, inicialmente, 20 ml/kg/dia (valor maior pode aumentar o risco de enterocolite
o reflexo de sucção e assim examinar como acontece a dinâmi- necrosante-consulte o capítulo Enterocolite Necrosante).
ca de sucção, como os movimentos e postura da língua, força e O estudo de Berseth Cl e cl trabalhou com 2 grupos, envolven-
ritmo de sucção, número de sugadas, duração das pausas etc. do 141 RN pré-termos: um grupo foi mantido com 20ml/kg por
10 dias e outro grupo, 20 ml/kg no primeiro dia e aumentan-
Estimulação da SNN do 20ml/kg por dia até 140ml/kg/dia que foi mantido até o dia
10. Os autores verificaram que no grupo com aumento diário de
Realizada conforme as necessidades específicas do RN com 20ml/kg/dia, o número de ECN foi exagerado (10% versus 1,4%
a finalidade de estabelecer o desenvolvimento motor-oral ade- é difícil acreditar que eles tenha tido tanta ECN!). Logo, deve-se
quado e tratamento das disfunções orais. De modo geral a esti- ter bom senso ao aumentar a dieta e a tendência hoje é restrin-
mulação promove: o canolamento da língua, o vedamento labial, gir um pouco esta velocidade de aumento. Na fase inicial, en-
estabelecimento de maior ritmo, força de sucção (aumento da trar com a enteral mínima (até 20ml/kg). Observar a tolerância
pressão intra-oral) e coordenação dos movimentos da língua. (poderá ficar 2 ou 3 dias sem aumento); no final da 1ª semana,
depois que o trato gastrintestinal estiver bem estimulado, au-
Rotina Fonoaudiológica no Alcon-HRAS mentar 20ml/kg/dia diariamente. Em revisão da Cochrane, os
autores consideraram os resultados dos estudos disponíveis são
A intervenção da Fonoaudiologia no alojamento conjunto insuficientes sobre segurança no uso de maiores velocidades de
(HRAS) consiste no atendimento a bebês, principalmente os pré- aumento da dieta e não permitem a sua indicação. 169
termos, que apresentam dificuldade para se alimentar por via
oral de forma eficiente e segura. Nutrição Enteral Mínima (NEM)
As características mais encontradas nestes bebês são: incoor-
denação de sucção, deglutição e respiração; sucção ineficiente e A NEM deve ser instituída em recém-nascidos impossibilitados
movimentos incoordenados de língua e mandíbula; fadiga exces- de receber alimentação por via enteral no sentido de estimular
siva durante as mamadas; história de regurgitações e/ou aspira- e preparar o trato gastrointestinal para alimentação posterior,
ções frequentes e curva descendente de peso. Estas alterações evitando a atrofia e achatamento da mucosa intestinal. Utilizar
ocorrem devido à imaturidade do sistema sensório-motor-oral ou preferencialmente o leite mateRNo cru.
malformações anatômicas das estruturas orais envolvidas duran- A literatura é farta quanto aos apontamentos relacionados aos
te a sucção e deglutição. benefícios da alimentação enteral mínima, como o aumento da
Considerando estes aspectos, a finalidade da assistência fono- atividade coordenada das camadas musculares, o aumento de
audiológica é promover uma condição de alimentação adequada hormônios (gastrina, enteroglucagon e motilina), o aumento das
quanto à nutrição, ganho de peso, sem riscos de aspiração ou dissacaridases intestinais, além de fatores biológicos ( os RN não
stress excessivo para o bebê. alimentados retardam a colonização, favorecendo a translocação
Os bebês são avaliados pela fonoaudióloga que analisa a ne- bacteriana sempre de flora gram-negativa).
cessidade do tipo de estimulação a ser estabelecida, levando em O volume vai de 5-25m/kg/dia, iniciar nas primeiras 24h de
consideração o quadro clínico do paciente. vida, se houver condições clínicas. A revisão da Cochrane, utili-
Após a avaliação os bebês recebem acompanhamento diário zando 8 ensaios clínicos randomizados e controlados, utilizando
dando seguimento às etapas do tratamento: volumes iniciais 12-24ml/kg/dia em idades de 1-8 dias e manti-
das por 5-10 dias mostrou que a introdução da NEM resultou em
1. Estimulação da motricidade orofacial (preparação da nutrição enteral plena mais precocemente (quase 6 dias antes)
sensibilidade e da musculatura); e redução do tempo de hospitalização, sem o aumento de ente-
2. Estimulação dos reflexos orais (reflexos de busca, suc- rocolite necrosante. Portanto, a NEM é uma arma importante no
ção e deglutição); manuseio da tolerância alimentar dos prematuros.
3. Estimulação da sucção nutritiva (seio mateRNo). A estratégia colocada na Conferência do Childrens’Hospital of
Philadelphia (Clohertg JP, Stark,1998) para prematuros extremos
A segunda etapa descrita está relacionada à estimulação da suc- foi a seguinte: logo ao nascimento dieta enteral mínima de 10-
ção não nutritiva com o objetivo de atuar diretamente no processo de 20ml/kg/dia, manter 7-14 dias dependendo se o RN está ou não
transição da alimentação por sonda gástrica para via oral exclusiva. em estado crítico (má perfusão, ventilação, etc). Se estável clini-
Os estímulos são realizados por curtos períodos nos horários camente, nos <800g aumentar 10 ml/kg/dia e nos RN com peso
da dieta, considerando o quadro cardiorrespiratório, o estado de >800g, aumentar ↑ 20ml/kg/dia.
alerta e organização, os níveis de stress e saturação de oxigênio
e as respostas oromotoras do RN.

Paulo R. Margotto
Assistência ao Recém-Nascido de Risco

Nos RN pré-termos, caso haja diagnóstico pré-natal de fluxo quenos volumes, por via gástrica e de modo contínuo, juntamente
sanguíneo arterial umbilical alterado (diástole reversa ou diás- com pequenos volumes oferecidos por via oral, estimulando assim
tole zero): iniciar a NEM com 48-72 horas de vida o aporte oral. Não existe uma fórmula ideal, alguns sugerem o leite
Benefícios: mateRNo, outros sugerem uma fórmula elementar como o Neoca-
te® em combinação com triglicerídeos de cadeia media e longa.
• Níveis mais altos de hormônios intestinais O tratamento da SIC é um desafio e requer atenção a cada
• Melhor tolerância alimentar detalhe. É importante restringir os líquidos orais e oferecer
• Ganho de peso mais rápido soluções hipotônicas, são importantes as maneiras criativas
• Tempo de hospiltalização mais curto de promover a alimentação enteral, evitando a perda de peso
• Diminuição dos níveis de bilirrubinas e o desequilíbrio eletrolítico. (Consulte o capítulo Perspectivas
terapêuticas da Síndrome do intestino curto em recém-nascidos).
Alimentação Enteral Plena
Tipos De Leite
Definição: oferta de 150ml/kg/dia, com uma oferta energéti-
ca concomitante de 120kcalkg/dia (110-175kcal/dia), com uma O melhor leite para o recém-nascido é o leite da sua própria mãe.
relação protéica/calórica de 2,5 a 3,6g/100 kcal. O leite da mãe de prematuros contém mais calorias, mais proteínas
Segundo alguns autores, até 10 dias de vida é um prazo impor- e mais sódio do que o “leite a termo”. Entretanto esta adaptação,
tante para atingir a nutrição enteral plena, no entanto, ter esta não abrange as necessidades aumentadas de cálcio, fósforos e ou-
meta em mente não significa colocar o RN em risco. Nutrição, tros nutrientes. Este efeito só se mantém por 15 dias a 1 mês.
como tudo em Neonatologia, deve ser apoiada no bom senso: O Leite Humano (LH) é o leite específico para a nossa espécie
avaliar as condições clínicas do RN e avaliar o quanto ele pode e apresenta a hidrolase (PAF-acetilhidrolase) que antagoniza as
tolerar. O estabelecimento da alimentação enteral plena preco- ações do Fator Ativador Plaquetário que é o desencadeante da
cemente tem sido apontada como responsável por grandes be- enterocolite necrosante.
nefícios a curto e médio prazo para os RN prematuros, como, por Os fatores bioativos do LH que ficam no trato intestinal são
exemplo, menores taxas de sepse tardia e aumento dos escores importantes porque evitam a entrada de patógenos para o bebê,
mentais e de desenvolvimento aos 30 meses de vida. Assim, é como a IgA secretória, lactoferrina, citocinas ( com propriedades
desejável que o RN esteja em nutrição enteral plena com 14 dias anti-inflamatórias), fatores de crescimento, nucleotídeos que po-
de vida, tendo alcançado 100-120cal/kg/dia. tencializam o sistema imune, além de vitaminas e taurinas que
são tróficas para o trato intestinal. O leite mateRNo tem uma con-
Sinais De Intolerância Alimentar centração enorme de probióticos, uma das razões pelas quais o
leite mateRNo é um bem tolerado, os probióticos são capazes de
• Resíduo gástrico de 50% ou mais do volume administra- reduzir de forma significativa o tempo para se atingir a nutrição
170 do ou até 5ml : 2 a 3 vezes enteral plena, além de diminuírem significativamente a incidên-
• Resíduos biliosos, vômitos, distensão abdominal, dimi- cia de enterocolite necrosante.
nuição dos ruídos hidroaéreos
• Sangue oculto ou macroscópio nas fezes, presença de Uso De Leite Humano + Suplementação
substâncias redutoras nas fezes (em 3 ou mais evacu-
ações) Têm como objetivos acelerar a taxa de crescimento, melhorar
• Significante apnéia ou bradicardia a mineralização óssea e diminuir o tempo de hospitalização. Usar
• Significante instabilidade cardiopulmonar em recém-nascidos prematuros de muito baixo peso (< 1500g).
• Sinais de perfuração Com o uso da suplementação são mantidos os benefícios ine-
quívocos do leite humano, sobretudo quando da própria mãe do
Obs: Resíduo gástrico esverdeado não tem sido correlacionado prematuro, mantendo-se o crescimento e a incorporação de nu-
com o volume de dieta no dia 14 e não deve diminuir a velocida- trientes em níveis mais próximos aos intrauterinos. A quantidade
de do avanço dos volumes da dieta na ausência de outros sinais diária mínima de proteína preconizada para o desenvolvimento
e sintomas clínicos (Mihatsh e cl, 2003) adequado do RN prematuro, por exemplo, dificilmente é atingida
quando se utiliza o LH puro e o princípio fundamental do suporte
Alimentação Enteral No RN Com nutricional é que a ingesta capaz de atender as necessidades
Síndrome Do Intestino Curto (SIC) diárias é que garante melhores resultados.
A revisão de Schanler e cl, em 1999, evidenciou que o grupo
SIC ocorre devido a uma diminuição da superfície absortiva que usou LM fortificado teve menos enterocolite necrosante que
do intestino, resultando em um aporte nutricional insuficiente e o grupo que fez o uso de fórmulas, indicando que, mesmo que
fazendo com que o paciente precise de nutrição artificial. Os sin- possa haver alteração no equilíbrio de defesa do LM, o LM fortifi-
tomas comumente ocorrem após a ressecção de mais da metade cado ainda é melhor do que a fórmula. Metanálise avaliando LH
do intestino delgado. Na dependência da porção retirada, ocor- fortificado x LH não fortificado mostrou efeitos positivos no ganho
rem mudanças na fisiologia da absorção, secreção ou motilidade de peso e comprimento nos RN pré-termos não havendo maior
intestinal. As ressecções jejunais comprometem mais a absorção incidência (significativa) de enterocolite necrosante e nem uma
de nutrientes. As ressecções ileais levam a diarréia e deficiência intolerância à medicação, ou seja, foi demonstrada uma seguran-
de vitaminas. A perda da válvula ileocecal propicia sobrecresci- ça dos fortificantes do LH.
mento bacteriano e má absorção. Na ausência do cólon, o RN Início: indicado principalmente para RN < 1500g, a partir de
evolui com desidratação devido à diarréia, com baixos níveis de 15 dias de vida ou quando a ingesta oral atingir 100ml/kg/dia.
potássio, sódio, cálcio e magnésio. A quantidade do suplemento será de 1g/20ml de leite mateRNo.
A nutrição enteral deve ser iniciada assim que possível, já que Término: quando o RN estiver mamando predominantemen-
ela constitui um potente estímulo para a adaptação intestinal, di- te no seio mateRNo fazer a suplementação com cálcio e fós-
minuindo a dependência de NPT. Geralmente é oferecida em pe- foro até completar 40-45semanas de idade pós-concepcional.
Capitulo 05 Nutrição do Recém Nascido

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Paulo R. Margotto
Assistência ao Recém-Nascido de Risco

5.2 NUTRIÇÃO PARENTERAL

Fabiana Moreia Pontes, Maria Rita Carvalho Garbi Novaes


Cira Ferreira Antunes Costa, Paulo Roberto Margotto
Marina Ramthum do Amaral

O início da nutrição clínica contemporânea é talvez melhor iden- Contra-Indicações


tificado com a descoberta da nutrição parenteral NPT, na Universi-
dade da Pensilvânia, em 1968, por Stanley Dudrick. Nesta mesma Como contra-indicações podem ser destacados os casos de: pa-
época foi observado que a vida humana pode ser totalmente man- cientes hemodinamicamente instáveis; anúria sem diálise; graves
tida com o uso de alimentação intravenosa completa, conforme distúrbios hidreletrolíticos ou metabólicos; pacientes terminais.
realizado em uma criança sem o trato gastrointestinal funcionante.
Estas informações foram o início do subseqüente uso mundial de Vias De Administração
nutrição parenteral em pacientes hospitalizados. A composição ini-
cial das dietas parenterais foi extrapolada das referências das ne- A NP pode ser administrada por via central ou periférica.
cessidades nutricionais e adultos normais mantendo dietas orais. A via periférica é utilizada para infusão de soluções hiposmola-
Um dos grandes avanços na alimentação intravenosa foi a res (até 600 mOsm/L), hipotônicas (concentrações de glicose <
identificação de um método de acesso para infundir fórmulas hi- 12,5%) e por período inferior a 14 dias.
pertônicas sem produzir flebite. A despeito de que no começo o Quando a via central for necessária, dá-se preferência por aces-
acesso pela veia subclávia associou-se a morbidade moderada, so venoso através da via percutânea pelo menor risco de infecção.
toRNou-se aparente que a inserção adequada e supervisionada A via de acesso da emulsão de NP deve ser exclusiva para esta
desses cateteres poderia permitir a infusão de nutrição parente- finalidade.
ral com um mínimo de morbidade.
Durante os anos 80 ocorreu o advento das formulações paren- Composição Da Nutrição Parenteral
terais especializadas. Uma das primeiras foi a dieta enriquecida Em Recém Nascidos
com aminoácidos de cadeia ramificada. Maior atenção foi dirigida
à sensibilidade e especificidade destes estudos em adição à im- O suporte nutricional ótimo, tanto para a manutenção como
portância do controle apropriado a cada população de pacientes. para a repleção da composição corporal normal, depende de
Começou-se um estudo da freqüência de complicações sépticas uma provisão adequada deve prever água, carboidratos, gordu-
nos pacientes submetidos à nutrição parenteral pré-operatória. ras, aminoácidos, eletrólitos, micronutrientes e vitaminas.
172 A nutrição parenteral (NP) total ou parcial constitui parte dos cui- A formulação de solução de NPT deve ser adaptada às neces-
dados de assistência ao paciente que está impossibilitado de rece- sidades individuais de cada paciente, devendo sofrer alteração
ber os nutrientes através do sistema digestório, em quantidade e em sua composição na medida da variação das condições mór-
qualidade que atendam às suas necessidades metabólicas. A NPT bidas do paciente.
é indicada na profilaxia e tratamento da desnutrição aguda, me-
diante o foRNecimento de energia e proteínas para prevenir o cata- Necessidades hídricas
bolismo protéico do paciente, em regime hospitalar ou domiciliar.
Esta modalidade de terapia nutricional exige o comprometi- As necessidades hídricas dos RN são variáveis, dependendo
mento e a capacitação de uma equipe multiprofissional visan- da idade gestacional (IG) e pós-conceptual e das condições clíni-
do à garantia da sua eficácia e segurança. Esta equipe deve ser cas associadas (Figura 1).
constituída por médicos, farmacêuticos, nutricionistas, enfermei- Para uma racional fluidoterapia ao RN é necessário o valor da
ros, psicólogos, fisiatras, entre outros, resultando em ações mais composição renal da água corporal e as vias pelas quais a água
especializadas ao paciente. e solutos são perdidos do corpo.
Este capítulo visa discutir estudos publicados em revistas in-
dexadas no Brasil e no exterior, descritos nas bases dados: Me- • Água fecal: 7 mL/Kg/dia
dline, Lilacs e Scielo, sobre os aspectos principais da nutrição • Urina: 1 a 2 mL/Kg/dia
parenteral em neonatologia, considerando a composição e a • Insensível: (perda de água da árvore respiratória durante
manipulação da nutrição parenteral, problemas relacionados à a respiração e evaporação da pele). RN a termo: 20-25
NPT em neonatos e a gestão, a avaliação e a informatização dos mL/Kg/dia (nos primeiros 3 dias).
protocolos, prescrições e serviços.
Em RN prematuros é sugerido a administração de 45-55 mL/Kg/dia.
Indicações As perdas insensíveis no RN em 24h variam com o peso de
nascimento
A nutrição parenteral é necessária nos casos em que a ali-
mentação oral normal não é possível, quando a absorção de nu- • 700-1000g: 82 mL/kg
trientes é incompleta, quando a alimentação oral é indesejável e • 1001-1250g: 56 mL/kg
principalmente quando as condições acima estão associadas ao • 1251-1500g: 46 mL/kg
estado de desnutrição. • > 1500g: 26 mL/kg
Entre as indicações clássicas em recém nascidos (RN) podem
ser destacados os seguintes casos: RN desnutridos; RN em estado
hipercatabólico; RN PT < 1.500g que não tenham expectativa de re-
ceber nutrição enteral em 3 dias; RN com obstrução no trato gastrin-
testinal (TGI); quando TGI é insuficiente para suprir as necessidades
do paciente; quando a dieta enteral for suspensa por mais de 3 dias.
Capitulo 05 Nutrição do Recém Nascido

Hiperatividade ↑ 30-50% Os AA essenciais são: cisteína, taurina, tirosina e glutamina. As


Pré-termos ↑ 100-300% soluções disponíveis no mercado não contêm glutamina e con-
tém quantidades insuficientes de cisteína.
Calor radiante ↑ 50-100%
Para os pacientes com insuficiência renal, usamos o Nefroa-
Fototerapia ↑ 30-50%
minoR a 6,9% (1g = 2.7cal) (contém 8 aminoácidos essenciais
Hipertermia ↑ 30-50%
e histidina, que é essencial no pacientes urêmicos). O Nefroami-
Taquipnéia ↑ 20-30% noR ajuda a melhorar o balanço nitrogenado por reduzir a uremia
Incubadora c/ umidificação ↓ 50-100% graças à formação específica da sua mistura.
Uso de Hood na incubadora ↓ 30-50% Para os pacientes com hepatopatias, usar o HepatoaminoR a
Uso de cobertor plástico 8% (1g=3.8cal)
↓ 30-50%
sob calor radiante
Intubação traqueal com umidificação ↓ 20-30% Lipídios

São importantes para o fornecimento de ácidos graxos essen-


Figura 1. Fatores ambientais que afetam ciais (AGE) quando o RN não está recebendo alimentação enteral.
a perda de líquidos: Existem soluções contendo apenas triglicerídeos de cadeia longa
(TGCL) e soluções mistas com 50% de triglicerídeos de cadeia média
Outros fatores que podem aumentar as necessidades líquidasdo RN: (TCM). A vantagem das soluções com TCM é que não há necessida-
de de caRNitina para sua oxidação. A caRNitina facilita o transporte
• Uso de diurético dos triglicerídeos para dentro da mitocôndria para oxidação.
• Glicosúria As soluções disponíveis atualmente para nutrição parenteral
• Diarréias, vômitos, aspiração, fístulas intestinais não contêm caRNitina, e seu uso ainda é controverso.
Quanto à concentração, existem soluções de lipídios com 10 e
Fatores que podem diminuir as necessidades líquidas do RN: 20%. As soluções a 20% são preferíveis, pois têm quantidade caló-
rica maior em menor volume e principalmente, pela menor relação
• Hipotermia fosfolipídios/triglicerídeos o que facilita a depuração plasmática.
• Insuficiência renal Tem osmolaridade baixa próxima à do plasma. Cada 1 mL de
• Asfixia lipídio a 10 ou 20% têm 0,28 mOsm a 0,35 mOsm.
• Secreção inapropriada do hormônio antidiurético Das soluções disponíveis no mercado o “Lipofundim” contém TCM.
• Insuficiência cardíaca Não se comprovou a relação dos lipídios com diminuição da
coagulação e imunidade. Com uso do lipídio pode ocorrer coleli-
Oferta de fluidos (ml/kg) tíase e colecistite.
Iniciar com 60-80 mL/Kg/dia de solução glicosada que foRNe- Quanto à hiperbilirrubinemia indireta com níveis próximos aos in- 173
cerá ao RN prematuro 4-6mg/kg/min e ao RN a termo, 5-8mg/ dicativos de exsanguíneotransfusão: para os RN <1000g usar uma
kg/min de glicose. A concentração de glicose assim usada não dose máxima de 0,5g/Kg; nos RN entre 1000 e 1500g, dose máxi-
deve ultrapassar de 12,5% quando usada em veia periférica e ma de 1g/Kg e nos RN >1500g, usar dose máxima de 2g/Kg/dia.
20% na veia central. Aumentar o volume líquido em 10 mL/Kg/ Os lipídios podem aumentar a pressão na artéria pulmonar via
dia (o máximo 150 mL/Kg/dia). produção de tromboxane (3g/Kg/dia de lipídio pode aumentar
em 45% a pressão da artéria pulmonar).
Condições que afetam os requerimentos de fluidos Devem ser iniciadas no 2º dia na dose de 0,5g/kg/dia com
• RN sob fototerapia: + 20 mL/kg/dia aumentos diários de 0,5g/kg/dia até dose máxima de 3g/kg/dia.
• RN com distúrbio de concentração renal: - 60 mL/kg + A velocidade de infusão deve ser respeitada para facilitar o clea-
volume urinário rance, não excedendo 0,16g/kg/hora.
• RN com insuficiência cardíaca: - 30 mL/kg
• RN em ventilação mecânica: - 10 mL/kg • Cada 1mL de Lip. 10% contém 0,1g de Lipídio.
• Cada 1mL de Lip. 20% contém 0,2g de Lipídio
Aminoácidos • Cada 1g de lipídio foRNece 9 Kcal

A administração de aminoácidos (AA) tem como objetivo mini- Carboidratos


mizar o catabolismo protéico existente nos recém-nascidos, prin-
cipalmente nos RN pré-termos extremos. É a principal fonte energética durante a NP, sendo responsável
Schutzman (2008), Rua JL e cl (2006) e Kuzma-O’Reilly (2003), por 40 a 55% do suporte calórico total e em toRNo de 60% das
em estudos realizados em recém nascidos prematuros, sugerem calorias não protéicas.
que o início precoce de aminoácidos na NPT juntamente com os Deve-se iniciar com infusão de 4 a 6 mg/kg/min e aumentan-
demais macronutrientes podem melhorar a ingestão calórica e do-se conforme a tolerância até máximo de 12mg/kg/min.
ganho de peso de prematuros. Um fator limitante à infusão de carboidratos (CH) é a concen-
As soluções de AA tentam assemelhar-se ao aminograma plas- tração que não deve exceder 12g% em veia periférica.
mático de RN alimentados com leite humano. As necessidades A ocorrência de hiperglicemia é freqüente, principalmente no
de AA para o RN variam de 2 a 3g/kg/dia e para uma melhor prematuro, devido à sensibilidade diminuída à insulina.
retenção nitrogenada são necessárias em toRNo de 24 kcal não A oferta excessiva de CH (> 7mg/kg/min) leva à sua conversão
protéicas por grama de AA (relação nitrogênio/calorias não pro- em gordura (lipogênese) com maior quociente respiratório resul-
téicas ao redor de 1:150). tando em maior consumo de 02 e maior produção C02.
Os AA são iniciados no 1º dia de via na dose de 1g/kg/dia com au-
mentos sucessivos de 0,5g/kg/dia até dose máxima de 3g/kg/dia. • Cada 1g de CH foRNece 3,4 Kcal.
Das soluções existentes de AA a 10%, cada 1 ml equivale à
aproximadamente 1 mOsm e contém 0,1g de proteína.

Paulo R. Margotto
Assistência ao Recém-Nascido de Risco

Necessidades calóricas de carboidratos Produto Cátion Ânion


A taxa metabólica basal no RN é de 55 Kcal/kg/dia. Para um mEq/ml Mg/ml mEq/ml mg/ml
crescimento adequado são necessários 120 Kcal/kg/dia.
Acetato de sódio 10% 0,7 16,9 0,7* 43,4
Para melhor retenção protéica, são necessários 24 kcal não
Acetato de sódio 2
protéicas para cada grama de AA. 2,0 46,0 2,0 118,1
mEq/ml
De forma ideal, os CH devem corresponder a 60% das calorias
não protéicos e os lipídios. à 40%. Do aporte calórico total (ACT) Acetato de potássio 2
2,0 78,2 2,0* 117,9
as calorias devem ser distribuídas dessa forma: meq/ml
Bicarbonato de sódio
1,2 27,4 1,2 72,6
• 30 – 40%: Lipídios 10 %
• 15% :AA Cloreto de sódio 3 % 0,5 13,1 0,5 20,2
• 45 – 50%: CH Cloreto de sódio 10 % 1,7 39,3 1,7 60,7
Cloreto de sódio 20 % 3,4 78,6 3,4 121,4
Iniciar desmame na NP quando a taxa calórica oral atingir 60 a Cloreto de sódio 4
80 Kcal/kg/dia e suspender NP quando se atingir 100 Kcal/kg/dia. 4,0 92 4,0 141,8
mEq/ml
Cloreto de potássio
Eletrólitos 2,6 100,1 2,6 90,9
19,1%
Cloreto de potássio 2
São elementos importantes na NP para evitar distúrbios hidrele- 2,0 78,2 2,0 70,9
mEq/ml
trolíticos, uma das complicações mais freqüentes na NP (Figura 2).
Fosfato diácido de
1,8 71,8 1,8*# 57,0#
potássio 25 %
Sódio
Inicia-se no 2º dia de vida na dose de 1 mEq%, com aumentos Fosfato monoácido de
2,9 112,3 1,9*# 44,5#
diários até a dose de 3mEq% no 4º dia de vida. potássio 25 %
NaCl 20% - 1ml = 3,4 mEq. Fosfato de Sódio 2
2,0 46,0 1,1*# 34,2#
Para os RN abaixo de 1000g, sugere-se iniciar o sódio após 72h de mEq/ml
vida, depois de estabelecida a diurese e a avaliação do nível sérico. Fosfato de potássio 2
2,0 96 1,1*# 34,2#
mEq/ml
Potássio Gluconato de cálcio
0,5 8,9 0,5 87,0
Inicia-se no 2º dia de vida, pós-diurese, na dose de 0,5 mEq%, 10 %
com aumentos sucessivos na ordem de 0,5 mEq% atingindo de- Sulfato de magnésio
pois de 3º dia, 2 mEq% até o máximo de 4 mEq%. 0,8 9,9 0,8 39
10 %
174 KCl 10% - 1ml = 1,4 mEq. Sulfato de magnésio
Para os RN abaixo de 1000g, sugere-se iniciar o potássio após 72h 1,6 19,8 1,6 78,0
20 %
de vida, depois de estabelecida a diurese e a avaliação do nível sérico
Sulfato de magnésio
(Consulte o capítulo Recém-Nascido Prematuro Extremo) 4,0 49,5 4,0 195,0
50 %
Sulfato de magnésio
Cálcio 1,0 12,2 1,0 48,1
1 mEq/ml
Inicia-se desde o 1º dia de vida na dose de 200 a 800mg/kg/
dia, na forma de gluconato de cálcio 10% (2 a 4 mEq/kg).
Para o recém nascido, sugere-se prescrever o gluconato de cálcio Tabela 2. Soluções eletrolíticas utilizadas na
de 10% EV lento de 6/6h, diluído em um volume de 2,3 vezes de água nutrição parenteral do recém nascido
destilada. Em RN < 1500g, sugere-se 400mg/kg (4ml/kg) por dia.
Gluconato de cálcio a 10%: 1mL = 0,5 mEq = 100mg de gluc. Micronutrientes
de cálcio = 9,6mg de cálcio.
O cálcio (Ca), fósforo (P) e magnésio (Mg) deverão estar pre- Os micronutrientes são essenciais na manutenção da fun-
sentes dando preferência atualmente às formulações de fósforo ção cardíaca, mineralização do esqueleto, função dos sistemas
orgânico (glicero-fosfato de cálcio) pelo fato de que formulações nervoso, muscular e enzimático. São metais que fazem parte
contendo sais de cálcio e fósforo poderem precipitar. A solubilida- do núcleo das chamadas metaloenzimas. A deficiência desses
de do Ca e P dependem das relações de concentração de ambos, elementos pode estar presente especialmente no recém nascido
pH, temperatura e concentração de aminoácidos. pré-termo RNPT durante a NP. Na tabela 3 são destacadas as
Devido às limitadas doses de Ca e P, os RN prematuros exclusi- soluções de micronutrientes disponíveis no mercado.
vamente em NP podem desenvolver osteopenia. A deficiência de zinco causa um quadro semelhante à acro-
dermatite enteropática, devendo suplementar esse elemento na
Magnésio dose 400ηg/kg/dia para todos RNPT.
Recomenda-se a administração em RN na dose de 0,5 mEq/kg/dia Se o jejum se prolongar por mais de 2 semanas outros micro-
• Sulfato de Magnésio 12,4% - 1ml = 1 mEq. nutrientes são necessários como cobre, manganês, selênio, cro-
• Sulfato de Magnésio 50% -1ml = 4 mEq. mo, molibdênio e iodo.
Os pacientes com NP prolongada podem acumular alumínio,
Fósforo sobretudo se houver insuficiência renal, com possível apareci-
Inicia-se no 1º dia de NP na dose de 0,5mL/kg/dia de fósforo mento de leucomalácia e encefalopatia.
Ac. que equivale a 1,0met/kg/dia de Fósforo (50mg/kg/dia) e de Entre as soluções disponíveis no mercado estão o Oligoped, na
Potássio. Procura-se manter relação Cálcio/Fósforo de 2:1. concentração sugerida a RN de 1,0mL/Kg/dia e o Ped Element na
Existem no mercado, muitas opções de eletrólitos na forma de concentração sugerida a RN de 0,2 mL/Kg/dia. Os oligoelementos
sais de cloreto, acetato, gluconato, fosfato e sulfato, com estabili- devem ser iniciados quando a NP se prolongar por mais de 7 dias.
dade e solubilidades variadas (vide tabela a seguir).
Capitulo 05 Nutrição do Recém Nascido

Oligoelementos Tabela 4. Recomendações diárias de


Oliped 4®* Ped. Element ®* vitaminas para neonatos a termo e prematuros.
pediátrico ®*
Zinco 100 μg 100 μg 500 μg Fonte: American Society for Clinical Nutrition

Cobre 20 μg 20 μg 100 μg
Apesar de estudos evidenciarem que a presença dos lipídios
Manganês 6 μg 2,0 μg 10 μg
na solução inibem a fotoxidação das vitaminas, sugerimos a uti-
Cromo 0,17 μg 0,2 μg 1 μg lização separadamente de polivitaminas (A,B,C,D,E), na dose de
1mL/dia e protegidos da luz.
Tabela 3. Soluções de micronutrientes disponíveis no mercado.
*Composição por 1 ml. Vitamina K
É utilizado 0,5mg- 2x/semana.
Neozinc ® (acetato de zinco): cada ml contém 200 mcg de zinco.
O Cromo é um cofator para a insulina, facilitando a sua ação nos Vitamina B12
receptores periféricos. Necessidade: 0,2μg/kg/dia. Por ser elimi- É utilizada na dose de 50mcg 1x/mês/IM (apresentação
nado pelo rim, não suplementar o cromo na insuficiência renal. 2mL=1000mcg – diluir 2mL em 8mLde água destilada e fazer 0,5mL).
O Manganês é um cofator para muitos sistemas enzimáticos e
por ser a bile a sua maior fonte de excreção, deve ser evitada a Ácido Folínico
sua suplementação na presença de colestase. A exposição crô- É administrado via EV 1x/semana na dose 1mg.
nica ao manganês leva a severa doença neurológica extrapira-
midal. Dose: 1μg/kg/dia. Suspender quando houver colestase. Polivitamínico
O Zinco tem importante papel na estrutura e função da mem- Usado diariamente em infusão direta lenta. Usamos separada-
brana. Deve ser suplementado desde o nascimento. Necessida- mente na dose de 1mL/dia EV.
des: 400 μg /kg (RN prematuro) e 250 μg/kg (RN a termo).
O Cobre é um componente essencial de muitas enzimas oxi- Outros
dativas. O RN tem estoques hepáticos adequados para manter
a necessidade pós-natal por muitas semanas. Suspender o uso Heparina
quando houver colestase. Necessidades: 20μg/kg/dia. A heparina deve ser utilizada com objetivo de ativar lipase lipopro-
téica acelerando a lipólise e para minimizar a presença de trombos na
Vitaminas dose de 0,5U/mL de solução quando a NP for usada por cateter central.

Brion LP; Bell EF; Raghuveer TS, 2005, estudaram a impor- Insulina
tância da vitamina E é necessária na nutrição do baixo peso ao Devido às complicações e dificuldades de ajustes de dose, não
nascer (VLBW) e em bebês para evitar a deficiência de vitamina é recomendado a utilização em soluções de nutrição parenteral. 175
E. No entanto a prolongada ingestão intravenosa de vitamina E >
de 4 unidades inteRNacionais (UI)/kg/dia freqüentemente pode Complicações Da Nutrição Parenteral
ter níveis potencialmente tóxicos de tocoferol. Em Recém Nascidos
Níveis adequados de vitaminas A, C e E são importantes na
estabilização de ácidos graxos poliinsaturados das membranas Relacionadas ao acesso venoso:
celulares, diminuindo a gravidade das doenças pulmonares. Não • Embolia gasosa
há formula ideal de polivitamínicos para RN em nosso meio, ape- • Arritmias cardíacas (cateter mal posicionado)
sar de ser evidente a necessidade das vitaminas (Tabela 4). • Trombos no cateter
• Flebite
• Quilotórax
Vitaminas Termo Pré-Termo
• Perfuração e/ou escapes de infusão (pleura, pericárdio,
Dose/Dia Dose/Kg/Dia mediastino)
• Extravasamento para o canal raquimedular (quando se
Vitamina A (UI) 2300 932
usa cateter venoso femoral)
Vitamina E (UI) 7 2,8
Infecciosas
Vitamina K (UI) 200 80

Vitamina D (UI) 400 160 Bactérias


Estafilococos coagulase negativa, Bactérias gram-negativas.
Ácido ascórbico (mg) 80 32

Tiamina B1 (mg) 1,2 0,48 Fungos


Cândidas sp, Malassezia furfur
Riboflavina B2 (mg) 1,4 0,56

Piridoxina B6 (mg) 1,0 0,4 Metabólicas

Niacina B3 (mg) 17 6,8 • Hiper e hipoglicemia


Ácido pantotênico B5 (mg) 5 2,0 • Hiperamonemia
• Hipertrigliceridemia
Biotina – B7 (μg) 20 0,8 • Colestase
Folato B9 (mcg) 140 56
• Distúrbios hidreletrolíticos (sódio, potássio, cálcio, mag-
nésio e fósforo).
Vit B12 (mcg) 1,0 0,4 • Acidose metabólica
• Doença Metabólica Óssea da Prematuridade

Paulo R. Margotto
Assistência ao Recém-Nascido de Risco

Situações Especiais maior que o RN saudável. Embora este RN tenha um gasto ener-
gético maior, a oferta calórica não deve tentar atingir este gasto
RN com SEPSE aumentado. O aporte calórico não deve ultrapassar as necessi-
dades basais de energia adequadas para a idade pósconcepcio-
A sepse é uma situação grave e particular, que gera uma agres- nal, modificando-as segundo a resposta metabólica da criança. A
são orgânica, com uma conseqüente resposta metabólica e infla- oferta de calorias em excesso agrava o hipermetabolismo, oca-
matória. O suporte nutricional adequado pode atuar modulando sionando sobrecarga do sistema retículoendotelial, com prejuízo
a resposta inflamatória sistêmica, contribuindo para reduzir a da imunidade e provoca distúrbios metabólicos como hiperglice-
morbimortalidade destes RN. mia, hipertrigliceridemia, acidose metabólica e cetose.
Os efeitos dos macro e micronutrientes no sistema imunológico Os RN utilizando nutrição parenteral têm necessidades ener-
em desenvolvimento são bem documentados e a presença de géticas menores que aqueles com nutrição enteral, devido às
desnutrição no período perinatal afeta gravemente as defesas do menores perdas intestinais, exclusão de processos de digestão,
organismo, além de causar danos neurológicos irreversíveis. absorção e da ação dinâmico-específica dos alimentos. A oferta
Após uma agressão o organismo responde com um quadro ini- de 60 Kcal/kg/dia não proteicas, associada à infusão adequada
cial de instabilidade hemodinâmica, denominada fase “EBB” (flu- de aminoácidos, pode suprir as necessidades metabólicas em re-
xo), quando o metabolismo energético tende a diminuir. Quando as pouso, uma vez que em vigência de sepse em fase aguda espera-
condições circulatórias melhoram, ocorre a fase “FLOW” (refluxo), se obter equilíbrio metabólico e não crescimento.
caracterizada por intenso catabolismo, hipermetabolismo e con-
seqüente aumento do consumo de oxigênio. Ocorre ativação do 1. Carboidratos
eixo neuroendócrino, com aumento dos hormônios catabólicos: Durante um quadro de sepse, há uma resistência periférica à
glucagon, adrenalina e cortisol, e também a produção de citocinas ação da insulina, com tendência à hiperglicemia. A infusão au-
e eicosanóides (prostaglandinas e leucotrienos) devido à ação da mentada de glicose provoca aumento de catecolaminas, com
endotoxina bacteriana sobre o sistema retículo endotelial. aumento do consumo de oxigênio, elevação da PaC02 com au-
Este quadro de hipermetabolismo compromete a resposta imu- mento do volume corrente e volume minuto, e também infiltração
ne, provoca um quadro de autocanibalismo, devendo ser inter- gordurosa no fígado.
rompido com a introdução da terapia nutricional. Devemos evitar a hiperglicemia, que prejudica a resposta
Objetivos da terapia nutricional na sepse: imune, provocando inibição da fagocitose e glicação das prote-
ínas imunológicas.
• Modular as respostas hipermetabólica e imunológica A infusão deve ficar em toRNo de 4 a 7 mg/Kg/min, dependen-
• Preservar as massas celulares somática e visceral do da tolerância do RN; com uma oferta em toRNo de 50 a 60%
• Manter a integridade e função da mucosa gastrointesti- do aporte calórico total.
nal, evitando agressão da barreira mucosa e transloca-
176 ção bacteriana 2. Proteínas
• Proteger a função hepática e retículoendotelial A oferta deve ficar em toRNo de 15-20% do aporte calórico to-
• Manter a síntese das proteínas de fase aguda, coadju- tal. Devemos iniciar com 1,0 g/Kg/dia de aminoácidos, e ir au-
vantes da resposta imunológica mentando 0,5g/Kg/dia chegando a 3,0 g/Kg/dia. Podemos tole-
• Garantir a cicatrização rar a relação de calorias não proteicas mais baixa (1/20), devido
• Restabelecer o bom estado nutricional ao estado hipermetabólico.
• Melhorar os resultados clínicos As soluções para RN pré-termo devem Ter aumento das concen-
trações de aminoácidos de cadeia ramificada e menor quantidade
Início Da Terapia Nutricional de glicina, metionina e fenilalanina. Devem conter mais cisteína,
No Recém Nascido Com Sepse taurina e tirosina, que promovem melhor retenção nitrogenada e
poucas complicações metabólicas. Alguns estudos sugeriram que
Em paciente hipermetabólico com estabilidade hemodinâmica a adição de cisteína pode aumentar a síntese proteica em RN,
e transporte de oxigênio garantidos, a terapia nutricional deve além de aumentar a solubilidade dos íons cálcio e fósforo.
ser iniciada o mais precocemente possível, entre 12-72h após a Com este aporte proteico adequado, procuramos também evi-
agressão orgânica inicial. Deve-se dispor de um meio metabólico tar depleção muscular esquelética que origina fadiga muscular e
adequado, com boa oxigenação visceral, controle de pH e das dificuldade no desmame da ventilação mecânica.
perdas hidreletrolíticas.
A via preferencial para a terapia nutricional é a enteral, pois 3. Glutamina
tem menos complicações, mas nos RN esta é limitada devido à Aminoácido condicionalmente essencial, isto é, se toRNa es-
intolerância gastrointestinal e risco de Enterocolite necrosante, sencial nas situações de estresse orgânico, quando os seus es-
devendo então ser complementada com NP. toques são rapidamente consumidos. É um combustível funda-
É importante manter a alimentação enteral mínima, mesmo mental para as células de proliferação rápida como enterócitos,
que não se consiga progredir esta dieta enteral até alimentação colonócitos, linfócitos, pneumócitos e outros,, tendo uma impor-
enteral plena, pois o jejum prolongado causa efeitos deletérios tância fundamental na manutenção do trofismo intestinal em
no epitélio intestinal ( atrofia da mucosa, diminuição da absor- ocasiões de nutrição parenteral exclusiva, prevenindo a atrofia
ção e ausência de competição da flora intestinal), propiciando a intensa da mucosa intestinal que esta situação provoca. Pode ser
translocação bacteriana, aumentando a chance de ocorrer ente- administrada por via enteral ou parenteral, tendo sua ação mais
rocolite necrosante e sepse. Além deste efeito protetor à mucosa, ampla e eficaz sob forma parenteral.
a nutrição enteral melhora a tolerância à glicose. Barbosa (1999), verificou que lactentes criticamente enfer-
mos freqüentemente apresentam desnutrição calórico-protéica
Aporte Calórico No Recém Nascido Com Sepse em decorrência de demandas aumentadas por sepse e falência
respiratória. Foi incluído nos métodos de determinações antropo-
O RN com um quadro de sepse encontra-se em um estado métricas e bioquímicas, duração da hospitalização geral na UTI
hipermetabólico, com um gasto energético cerca de 20 a 30% e sob ventilação mecânica, assim como a morbidade e mortali-
Capitulo 05 Nutrição do Recém Nascido

dade infecciosa. O grupo glutamina (n=5) foi suplementado com nam-se à ocorrência de colestase associada a nutrição parenteral.
0,3 g/kg/dia daquele aminoácido, sendo que os controles (n=4) A nutrição enteral trófica, iniciando com pequenos volumes consti-
receberam igual dose de caseína. Ocorreram complicações sépti- tui um fator protetor pela ativação das enzimas digestivas.
cas em 75% dos controles(3/4) versus 20% do grupo glutamina. Os achados clínicos são insidiosos. Alterações nas provas de
Conclui-se que a suplementação de glutamina foi bem tolerada e função hepática são inicialmente observadas na 2a semana
tendeu a se associar a menos complicações infecciosas e menor após introdução da NP. Dentre os marcadores, a bilirrubina di-
mortalidade nesta população de alto risco. reta foi a primeira a alterar. As transaminases aumentaram em
Em estudo de Pacífico (2005), a análise dos resultados mos- torno da 4a semana.
trou que nos pacientes suplementados com glutamina, houve Após evidenciada a colestase, deve-se diminuir e se possível,
redução do tempo de nutrição parenteral em recém-nascidos, suspender NP o mais rápido possível. A substituição do lipídio
tempo de inteRNação, custos hospitalares e mortalidade. Con- convencional por óleo de peixe Diminuir infusão de AA para 1,5g/
tudo, os estudos controlados nesta faixa etária pediátrica, não kg/dia. O uso do acido ursodeoxicólico têm desempenhado im-
permitem que se adote o uso rotineiro da glutamina em crianças portante papel. Devido à diminuição da absorção de vitaminas
gravemente enfermas. O número reduzido de pacientes e a hete- lipossolúveis, elas devem ser repostas e também é necessário o
rogeneidade quanto ao grupo etário, doenças e via de adminis- uso de TCM pela má absorção das gorduras.
tração são fatores que limitam a interpretação dos resultados.
Efeitos da Nutrição Parenteral suplementada com glutamina: Displasia Broncopulmonar

• Mantém as reservas de Glutamina intra e extra-celular A capacidade de reparo e crescimento pulmonar está relacio-
• Reduz a perda muscular durante o estresse e melhora a nada ao grau em que o suporte nutricional pode estabelecer um
retenção de nitrogênio estado anabólico É importante aporte calórico adequado visto as
• Reverte a atrofia da GALT (tecido linfóide ligado à mucosa necessidades energéticas serem maiores: 50% na forma de CH,
gastrointestinal) induzida pela NP, mantendo o trofismo 30% na forma de lipídio e 20% na forma de AA. Excesso de glico-
intestinal. Impede ainda a redução da imunidade do trato se pode causar aumentar a produção de C02, além do aumento
respiratório do consumo de O2, aumentando a demanda da função respirató-
• Atenua a resposta inflamatória sistêmica, com menor pro- ria já comprometida.
dução de citocinas próinflamatórias ( IL6, IL8, FNT alfa ) e
maior produção de citocinas antiinflamatórias (IL10) Prematuros Extremos (< 28 Semanas)
• Aumento na contagem total de linfócitos circulantes e au-
mento na síntese de linfócitos T. As necessidades protéicas podem ser maiores chegando até 3,8
g/kg/dia. Os lipídios devem representar 40 a 50% das calorias to-
Dose: 0,3 – 0,4g/Kg/dia do dipeptídeo na NP = 1,5 a 2,0ml/ tais. São necessários 0,5 a 1,0g/kg/dia de lipídios para prevenir
Kg/dia. deficiência de Ácidos graxos essenciais. Os AA essenciais são: cis- 177
• Não ultrapassar 20% da oferta proteica na NPT. teína, taurina, tirosina, histidina arginina, glicina e glutamina,
• APRESENTAÇÃO: “DIPEPTIVEN” a 20% - N(2)-L-alanil-L- Para um ganho de peso próximo ao intrauterino, deve-se fazer
glutamina nutrição agressiva que inclui NP precoce e nutrição enteral mínima.

4. Lipídios Monitorização Do Recém


A oferta de lipídios visa foRNecer nutrientes de alta densidade Nascido Em Nutrição Parenteral
calórica e ácidos graxos essenciais, e também modulação da res-
posta inflamatória sistêmica. Deve ser feito perfil bioquímico que inclui: eletrólitos, glicose,
Devemos iniciar precocemente com 0,5 a 1,0g/Kg/dia e au- albumina, função renal e hepática, bilirrubinas (soro hiperlipêmi-
mentar 0,5g/Kg/dia até chegar a 2,0g/Kg/dia. As soluções de- co aumenta a bilirrubina direta), triglicerídeos (suspender a NP
vem ser a 20%, com mistura de triglicerídeos de cadeia longa e por 4hs); hemograma e gasometria antes do início da NP. Con-
média, que parecem ser combustível mais eficiente, com menor siderar níveis normais de triglicerídeos até 200mg/dl para os
dependência da função hepática e menor ação depressora no RN >1500g e até 150mg/dl para os RN <=1500g. Diminuir o
sistema imune. aporte de lipídios quando os triglicerídeos excederem 200mg/dl
As emulsões lipídicas mais específicas para o período neonatal e suspender temporariamente o fornecimento de lipídios pela NP
são as preparadas a partir de óleo de soja, girassol e peixe, por quando os triglicerídeos excederem 275mg/dl.
apresentarem concentrações adequadas de ácido graxo ômega Diariamente, enquanto houver ajustes na NP deve-se obter
3 ( ác. Linolênico ). peso, balanço hídrico, eletrólitos e triglicerídeos. A seguir, após
Ômega 3: ácido graxo essencial com ação basicamente antiin- estabilização dos parâmetros, avaliação semanais dos mesmos
flamatória, pois é precursor de eicosanóides menos potentes e ci- incluindo-se também albumina, estatura e perímetro cefálico.
tocinas antiinflamatórias, como a interleucina 10. Também ajuda
a manter a integridade do epitélio intestinal nos RN infectados. Informatização Da Nutrição Parenteral
Devemos monitorizar os triglicerídeos séricos semanalmente,
colhidos após uma pausa de 4 horas na infusão da NP: Informatização

COLESTASE (Consulte o capítulo de Colestase Neonatal) Devido às características nutricionais apresentadas pelos RN
de muito baixo peso, tais como intolerância aos lipídios e a glico-
A duração da NP, o excesso de calorias (a ingesta calórica exces- se, necessidades hídricas variáveis, grande número de distúrbios
siva do carboidrato e gordura tem sido associado com esteatose metabólicos e imaturidade renal, são necessárias modificações
hepática e colestase), recém-nascidos de baixo peso, infecção, diárias no aporte de componentes da nutrição parenteral, deter-
cirurgia gastrintestinal (pode ser um fator de confusão, pois estes minando prescrição extremamente individualizadas.
RN permanecem mais tempo em jejum) e a ausência prolongada Devido à grande demanda de pacientes graves em nosso servi-
de nutrição enteral (sendo este o fator mais importante) relacio- ço e à necessidade de se prescrever em curto espaço de tempo,

Paulo R. Margotto
Assistência ao Recém-Nascido de Risco

a literatura oferece-nos uma alternativa a este problema, que é são inseridos na planilha de cálculos em total de ml por dia, e a
a utilização de programas de informática no cálculo e prescrição planilha calculará automaticamente o volume disponível para nu-
dos constituintes da nutrição parenteral com resultados satisfa- trição parenteral, assim como a taxa hídrica oferecida ao RN por
tórios. O seu uso tem sido associado à diminuição de incidência cada um dos componentes acima em ml/Kg/dia. Esta planilha
de distúrbios metabólicos em unidades Neonatais, e melhor utili- calcula ainda a taxa hídrica oral (THO) recebida pelo RN, conside-
zação do tempo do profissional médico junto ao paciente. rando para cálculo que cada ml de leite apresenta cerca de 80%
A Unidade de Neonatologia do Hospital Regional da Asa Sul de água. Todos os dados referentes à taxa hídrica venosa total
(HRAS) utiliza uma tabela em software Excel para auxílio na pres- (THVT) e por cada componente, assim como a taxa hídrica oral
crição da nutrição parenteral. A planilha de cálculos da tabela são foRNecidos automaticamente. A planilha calcula ainda a taxa
em Excel foi desenvolvida pela Dra. Marina Ramthum do Ama- calórica oral recebida, considerando que o leite humano utilizado
ral, com a colaboração da Equipe de Neonatologia do Hospital no HRAS apresenta em média 67 kcal/100ml, e a concentração
Regional da Asa Sul, com a finalidade de simplificar os cálculos de glicose da solução de Nutrição Parenteral final, permitindo
anteriormente realizados de forma manual na Unidade de Neona- que seja respeitada a concentração máxima de 25% para infusão
tologia, utilizando simplesmente fórmulas matemáticas básicas, em veia central e 12,5% em veia periférica.
incluindo além das quatro operações fundamentais, porcenta- Finalmente, a planilha permite ao usuário que configure o volume
gens e médias ponderadas. a ser utilizado como acréscimo do equipo de infusão, que varia em
Esta tabela permite que o usuário configure a Nutrição Pa- média entre 25 a 40 ml, com os aumentos proporcionais de todos
renteral a ser prescrita determinando a quantidade de lipídios e os constituintes da nutrição parenteral. Garante-se assim que não
aminoácidos em gramas por quilo de peso, a taxa de infusão de haja desperdício de solução de Nutrição Parenteral e que a infusão
glicose (TIG) em mg/Kg/min, além de componentes como sódio, não seja interrompida antes do previsto. O acréscimo do equipo
potássio, magnésio e fósforo. de infusão é especialmente importante para bebês de muito baixo
Na Unidade de Neonatologia do HRAS, calcula-se a quantidade peso, cuja Nutrição Parenteral possui pequeno volume total.
de sódio e potássio da solução em mEq%. A planilha é configu- Ao final há uma planilha configurada especificamente para im-
rada para soluções de NaCl 20% e KCl 10%. O usuário insere a pressão, conforme imagens abaixo (Figura 2)
quantidade de sódio e potássio desejada em mEq% e a planilha Esta planilha de cálculos foi desenvolvida com o objetivo de
realiza o cálculo automaticamente considerando por base a taxa agilizar os cálculos realizados diariamente pelos neonatologis-
hídrica venosa total do paciente. A quantidade de magnésio é tas da unidade, buscando da melhor forma possível meticulosa
calculada em ml/Kg, sendo possível utilizar dois tipos de apre- precisão dos cálculos, às vezes essencial para um RN menor de
sentação: Sulfato de Magnésio 12,4% (1ml = 1 mEq) e Sulfato 1000g. Ela vem sendo utilizada rotineiramente na unidade des-
de Magnésio 50% (1ml = 4 mEq). Considerando a administração de o maio de 2008, com bom aproveitamento. Trata-se de uma
de rotina de 0,5 mEq/Kg/dia, preenche-se a planilha abaixo com planilha personalizada para as necessidades da Unidade de Neo-
0,5 ml/Kg se for utilizada a apresentação de Sulfato de Magnésio natologia do HRAS. Por se tratar de um programa de fácil acesso
178 12,4% ou 0,125 ml/Kg se for utilizada a apresentação de Sulfato como o software Excel, poderia ser adaptada com alguns ajustes
de Magnésio 50%. O fósforo é utilizado na apresentação de Fos- de cálculos a outras unidades.
fato Ácido de Potássio, na dose de 0,5mL/kg/dia, que equivale Exemplo de uma Prescrição Informatizada da Nutrição Paren-
a 1 mEq/Kg/dia de Fósforo (50mg/Kg/dia) e 1 mEq/Kg/dia de teral da UTI Neonatal do HRAS:
Potássio. A planilha calcula automaticamente a quantidade de
potássio fornecida na apresentação de Fosfato Ácido de Potássio
e considera esta oferta ao calcular a quantidade final de KCl 10%
que será utilizada na solução. Os oligoelementos são calculados
em ml/Kg. Podem ser utilizadas diversas soluções disponíveis no
mercado, sendo que no HRAS utiliza-se o Ped Element na con-
centração sugerida a RN de 0,2 mL/Kg/dia.
A planilha considera como base o uso da nutrição parenteral
com associação em um mesmo frasco de glicose, aminoácidos e
lipídios. A administração em um único frasco dos três constituintes
dificulta o uso de grandes quantidades de cálcio e fósforo, em de-
corrência de precipitação em solução de pH alcalino. Desta forma,
a planilha é configurada para que o cálcio seja oferecido à parte
na prescrição. Na Unidade de Neonatologia do HRAS, utiliza-se o
gluconato de cálcio 10% (2 a 4 ml/kg/dia, que equivale a 1-2 mEq/
Kg/dia). Considerando a necessidade de rigoroso controle de vo-
lume em bebês de muito baixo peso, a planinha calcula automati-
camente a quantidade de cálcio que será administrada, o volume
de cada dose diária, a diluição em água destilada e o soro que
será utilizado para lavar o equipo (1 ml antes e 1 ml depois da
administração do gluconato de cálcio). Todos estes volumes serão
automaticamente incluídos na taxa hídrica total diária do bebê.
A planilha tem o objetivo de auxiliar não apenas a prescrição
da nutrição parenteral, mas também de tornar mais eficiente o
manejo da taxa hídrica do RN que necessita de cuidados inten-
sivos. Assim, os cálculos de volume da NPT são realizados com
base na taxa hídrica total (THT) diária desejada. O usuário deve,
portanto, preencher os dados referentes à THT desejada, bem
como os volumes utilizados para infusão de sedo-analgesia, dro-
gas vasoativas, antibióticos e outras medicações. Estes volumes
Capitulo 05 Nutrição do Recém Nascido

Figura 1 - Planilha onde são inseridos os dados e onde o usuário pode visualizar como ficará a solução final de Nutrição Parenteral 179

Figura 2 - Planilha configurada para impressão

Paulo R. Margotto
Assistência ao Recém-Nascido de Risco

Novos Substratos Em Nutrição Parenteral Brasil e as recomendações para a gestão da qualidade descri-
tas na ABNT NBR ISO 9001:2000 (InteRNational Organization
Novos substratos em nutrição parenteral vêm sendo buscados for Standarization); Programa de Compromisso com a Qualidade
a fim de se minimizar os problemas de incompatibilidades entre Hospitalar - CQH, Fundação Nacional para Qualidade, Organiza-
os nutrientes, bem como trazer benefícios terapêuticos. ção Nacional de Acreditação - ONA e Joint Comission.
Na tentativa de solucionar o grave problema da incompatibili- A Resolução 272/98-SVS/MS normatizou os requisitos estru-
dade entre fosfato e cálcio nas formulações parenterais de recém turais e ambientais nas boas práticas de manipulação, armaze-
nascidos, foram estudadas fontes alteRNativas dos dois íons. Des- namento e transporte da nutrição parenteral, além de recomen-
tes estudos, os melhores resultados foram obtidos com o uso de dar que a assistência ao paciente fosse realizada por uma equipe
sais orgânicos de fósforo, os quais são solúveis com sais de cálcio multiprofissional, composta por especialistas em terapia nutricio-
em qualquer concentração, tornando estável a nutrição parenteral. nal, entre eles o farmacêutico que possui atribuições específicas.
Outros substratos, como a arginina, glutamina, ácidos graxos Ω3 A manipulação da nutrição parenteral é um processo que utiliza
e Ω6, ácidos graxo de cadeia longa (PUFA) e nucleotídeos, vem sen- procedimentos padronizados e validados pelo farmacêutico, a fim
do utilizados como suplementos no suporte nutricional de pacientes de assegurar a qualidade, esterilidade e estabilidade físico-quími-
recém-nascidos a termo ou prematuros, portadores de câncer, sín- ca da nutrição parenteral até a sua administração ao paciente.
drome do intestino curto, entre outros usos terapêuticos. A formulação de solução de NP deve ser adaptada às necessi-
A arginina tem apresentado múltiplas ações tais como: precur- dades calórico-protéicas do paciente, metas do suporte nutricio-
sor metabólico da creatina, creatinina, poliaminas, óxido nítrico e nal e a via de acesso adequada à situação clínica. O suporte nu-
importante participação no ciclo da uréia. É descrito como estimu- tricional ótimo, tanto para a manutenção como para a repleção
lador do hormônio de crescimento hipofisário, e tem sido relacio- da composição corporal normal, em um indivíduo normal ou por-
nado ao aumento da atividade das células killer e células T-helper tador de algum tipo de enfermidade, depende de uma provisão
e ao estímulo da produção das citocinas: interleucina-1 (IL-1), inter- adequada. Deve-se incluir carboidratos, gorduras, aminoácidos,
leucina-2 (IL-2), receptor IL-2, interleucina-6 (IL-6), e o fator alfa de eletrólitos, minerais e vitaminas.
necrose do tumor (TNF-alfa), que são importantes mediadores na A formulação de solução de NPT é um procedimento que deve ser
gênese da caquexia. Tem se apresentado como condicionalmente adaptado às necessidades individuais de cada paciente beneficiá-
essencial em neonatologia. Pacientes prematuros que apresenta rio. Assim a solução de NPT deve sofrer alteração em sua compo-
enterocolite necrosante têm apresentado decréscimo na concen- sição na medida da variação das condições mórbidas do paciente.
tração de arginina plasmática. Estudos em modelos de enterocoli- Os pacientes que recebem a NP devem ser submetidos a um
te necrosante têm apresentado benefícios na profilaxia com argini- rígido controle clinico e laboratorial, antes e durante a adminis-
na, porém estudos adicionais são necessários para determinar os tração da NP, para identificar as anormalidades metabólicas que
benefícios em recém nascidos prematuros. requeiram tratamento.
Em recém nascidos os estudos utilizando quantidades suple- A obtenção e manutenção da esterilidade na nutrição paren-
180 mentares destes nutrientes são promissores, porém não foram teral e preparações estéreis são dependentes da qualidade dos
estabelecidas as condições para o emprego terapêutico. componentes aditivados, da técnica de manipulação rigorosa-
Ácidos graxos polinsaturados de cadeia longa (PUFA), Ω3 e Ω6 mente asséptica e das condições ambientais sob as quais o pro-
estão sendo utilizados na modulação do processo inflamatório. cesso é realizado.
Estudos experimentais em recém nascidos a suplementação com O farmacêutico deve garantir o fornecimento de nutrição paren-
PUFA ocasionou a redução na incidência de morte, enterocolite ne- teral estável, contendo nutrientes quimicamente compatíveis, nas
crosante e inflamação intestinal em ratos recém-nascidos, quando dosagens adequadas, estéreis e apirogênicas. A possibilidade de
comparado ao grupo controle. Estudos clínicos estão sendo con- interação entre componentes é bastante alta na nutrição parenteral
duzidos nesta área e apresenta-se com resultados promissores. devido à sua complexidade e multiplicidade e deve ser avaliada pre-
Os Nucleotídeos também tem sido utilizado como suplementos viamente em todas as soluções nutritivas. As interações entre nu-
nutricionais em recém nascidos na estimulação do sistema imu- trientes podem ocorrer na forma pré-absortivas ou pós-absortivas.
nológico, apresentando resultados promissores. A prescrição inicial baseia-se na determinação das necessida-
des calórico-protéicas do paciente, e metas do suporte nutricio-
Cuidados De Enfermagem nal. Deve-se fazer um requerimento diário de todos os macro e
micronutrientes para obter uma indicação adequada.
• Inspecionar cada frasco quanto à cor, precipitação e se- No estômago, dietas com osmolaridade elevada reduzem os movi-
paração de fases. mentos de propulsão dificultando o esvaziamento gástrico, enquanto
• Administrar NP à temperatura ambiente. Nunca aquecer que mais distalmente, no duodeno e jejuno, alimentos hiperosmola-
e nunca congelar. res aumentam o peristaltismo e ativam a propulsão da dieta.
• Verificar rótulo, observando nome do paciente, goteja- Fatores relacionados à Nutrição Parenteral, tais como: osmo-
mento. laridade, concentração dos aditivos, pH, temperatura, tempo e
• Colocar horário de início no rótulo e no prontuário. modo de estocagem determinam a estabilidade das mesmas.
• Antes de conectar o equipo ao paciente, efetivar assepsia A osmolaridade sugerida pela literatura, em nutrição parente-
rigorosa. ral, varia em toRNo da osmolaridade plasmática. Assim, confor-
• Controlar gotejamento. me os mOm/l, as dietas podem ser: isotônicas, moderadamente
• Não permitir contato solar direto com a solução. hipertônica e hipertônicas.
• Trocar diariamente de frascos Os componentes que influenciam a osmolaridade de uma so-
• Curativos com uso de povidine. lução são principalmente os açúcares mais simples (monossaca-
rídeos, dissacarídeos), cloreto de sódio (NaCl) e os aminoácidos
Aspectos Da Manipulação cristalinos. Os lipídios não influenciam a osmolaridade dada a
Da Nutrição Parenteral sua insolubilidade em água.
As incompatibilidades se dividem em três grupos: físicas, quími-
As Boas Práticas na manipulação da nutrição parenteral esta- cas e terapêuticas. Elas dependem da ordem de adição, Ph, tem-
belecem as orientações e obedecendo à legislação vigente no peratura, concentração, luz, tipo de envase, ordem de aditivação.
Capitulo 05 Nutrição do Recém Nascido

• Margotto, PR - Nutrição Parenteral Total. Boletim Informativo Pediátrico(BIP)-Brasília, NO


A evidência de uma incompatibilidade nem sempre é visível, o 49, 1987.
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O farmacêutico deve verificar se a dieta foi precisamente for- MH, Fanaroff AA. Alto Risco em Neonatologia, Guanabara Koogan,Rio de Janeiro,pg 98,
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Todos estes cuidados são realizados visando à garantia da • Szkudlarek J, Jeppsen PB & Mortensen PB. Effect of high dose growth hormone with gluta-
qualidade da solução final e consequentemente o bem-estar do mine and no change in diet on intestinal absorption in short bowel patients: a randomized,
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paciente. De acordo com a Resolução 272/98/SVS, a validade • Zhu W, Li N, Ren J, Gu J, Jiang J & Li J. Rehabilitation therapy for short bowel syndrome.
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da nutrição parenteral é de 24 horas, podendo se estender por • Ziegler EE. Meeting the nutrient needs of the very preterm infants. Biol Neonate 82:271,
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períodos maiores, dependendo das condições e características • Zlotkin, SH, Atkinson S, Lockitch G. Oligo elementos na nutrição de neonatos prematuros.
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A garantia da qualidade tem como objetivo assegurar que os • Pacifico, SL, Leite, HP, Carvalho WB. A suplementação de glutamina é benéfica em crian-
ças com doenças graves? Rev Nutr, 18(1), 2005.
181
produtos e serviços estejam dentro dos padrões de qualidade exi- • Federal Standard nº 209E, General Services Administration, Washington, DC, 20407 (US
FS 209E, 1992).
gidos. Para atingir esses objetivos, a farmácia deve possuir um • Novaes MRCG. Terapia nutricional parenteral. In: Gomes MJVM, Reis AMM. Ciências far-
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Paulo R. Margotto
Assistência ao Recém-Nascido de Risco

5.3 LEITE HUMANO EXCLUSIVO PARA O RECÉM-NASCiDO PRÉ-TERMO:


EVIDÊNCIAS PARA A SUA ADIÇÃO

Paulo R. Margotto

Introdução

O Leite Humano (LH) é o alimento ideal para o RN humano são mais pesados na gestação a termo do que as meninas. A
tanto a termo como pré-termo pelas suas indiscutíveis qualida- taxa de depósito de proteínas é muito rápido entre a 26-32 sema-
des, entre as quais destacamos do ponto de vista nutricional (a nas, já a taxa de depósito de gordura só depois de 30 semanas. É
presença de ácido ducosahexanóico, é importante na acuidade por isto que a gordura total de um neonato seria de 2-6%. É tudo
visual e inteligência aos 3 anos), imunológico (proteção das in- estruturado. Não é armazenado. O feto visa ter proteína que é o
fecções de um modo geral e particularmente contra as diarréias elemento fundamental de tudo do que se tem.
infecciosas: a mãe que amamenta transfere ao seu filho, na O enriquecimento do LH que provê uma oferta de 3,3g/Kg/dia
fase em que ele ainda não desenvolveu seu sistema imune, a de proteína ao RN com peso ao nascer médio de 1,4kg produ-
memória imunológica adquirida nos seus 20 -25 anos de vida; ziu taxas intrauterinas de crescimento linear e de peso. Há forte
favorecimento da resposta ao esquema de vacinação; o LH é a correlação entre ingesta protéica (por volta de 3g/Kg/dia) e cres-
primeira vacina e a vacina é um reforço), assim como os efeitos cimento em peso e comprimento. Comparando três grupos de
psicológicos materno. RN entre 28 e 32 semanas (LH puro, LH com adição e fórmulas
Os RN pré-termos em uso do LH apresentam melhor score inte- para pré-termos), Nicholl e Gamsu observaram que os RN com LH
lectual aos 8 anos (entre os RN pré-termos alimentados com LH adicionado apresentaram aumento no tamanho da peRNa seme-
e fórmula, o grupo do LH apresentou QI significativamente mais lhante ao grupo com fórmula.
elevado, chegando a 8,3 de vantagem). A retinopatia da prematu- O enriquecimento do leite humano do RN pré-termo com prote-
ridade ocorreu 2,3 vezes mais nos RN pré-termos com fórmula do ína resulta em ganho de peso, crescimento do perímetro cefálico
que com RN com LH e pouco destes RN com LH evoluíram para o e do comprimento. O aumento da uréia observado pode refletir
estágio III da retinopatia da prematuridade e nenhum necessitou adequado, mais do que ingesta protéica excessiva.
de crioterapia ou cirurgia a laser. Por não ser possível a comparação entre LH enriquecido e LH
A incidência de enterocolite necrosante é menor nos RN pré-ter- não enriquecido, por razões éticas, Schanler e cl conduziram um
mos alimentados com LH (6 a 10 vezes maior nos RN pré-termos estudo randomizado em um total de 100 RN (idade gestacional
182 com fórmula), uma vez que este estimula o crescimento e o desen- média de 28± 1 semana e peso ao nascer médio de 1,07 ± 0,17
volvimento do intestino do RN pré-termo e a presença de fatores kg), comparando resultados entre os grupos com LH enriquecido
imunológicos,macrófagos, imunoglobulinas protegem da infecção. e com fórmulas específicas. Os autores observaram significativa-
Os RN pré-termos estão sob grande risco para hemorragia in- mente menos sepses tardia e enterocolite no grupo de RN com
traventricular, doença pulmonar crônica, retinopatia da prematu- LH enriquecido x fórmula, além de menor tempo de hospitaliza-
ridade, leucomalácia periventricular (lesão isquêmica com alto ção, apesar de menor taxa de crescimento global. Esta compa-
risco para paralisia cerebral). Nas últimas três décadas, apesar ração demonstra que a adição do LH promove adequado status
dos avanços obstétricos e pediátricos, a paralisia cerebral tem nutricional (a retenção pós-natal superou a taxa de acréscimo
aumentado. Um elo comum entre estas complicações é a pero- intrauterino de nitrogênio, fósforo, magnésio, zinco e cobre no
xidação lipídica. Os RN pré-termos alimentados com LH tiveram grupo com LH adicionado) sem comprometer as defesas do RN
proteção antioxidante adequada. ou a tolerância alimentar. A menor incidência de enterocolite
Os dados relativos aos efeitos protetores do leite humano para o necrosante e sepses tardia no grupo com LH enriquecido, duas
RN de baixo peso são estimulantes. Pela proteção que confere, a complicações freqüentes nestes RN, principalmente nas Unida-
alimentação com leite humano deve ser encorajada. O uso do leite des Neonatais brasileiras, foi comparável com outros relatos dos
da própria mãe para estes RN é acompanhado de uma maior veloci- efeitos protetores do LH nos pré-termos (o efeito protetor está
dade de crescimento do que o uso de LH pasteurizado de doadoras. relacionado com o alto teor de IgA do LH). A proteção conferida
ao grupo LH enriquecido também se deve ao mais freqüente con-
Leite Humano Exclusivo para o RN pré-termo: tato pele-pele entre a mãe e o bebê no grupo do LH enriquecido
O Enriquecimento (este contato pode estimular a produção de anticorpos mateR-
Nos para produzir o LH contendo anticorpos contra patógenos
No entanto, a nutrição do RN de muito baixo peso (< 1500g nosocomiais equivalente à circulação enteromamária de células
e especialmente < 1200g) na ausência do seu enriquecimento, imunocompetentes). Apesar da maior retenção de nitrogênio no
não alcança o objetivo nutricional que proporciona taxas de cres- grupo de LH adicionado, o crescimento foi menor (os RN do grupo
cimento intrauterino e retenção de nutrientes. O crescimento li- LH adicionado tinham menor peso que os RN do grupo fórmu-
near e do peso são menores nos RN pré-termos alimentados com la). Esta menor taxa de crescimento poderia ser detrimental se
leite de sua própria mãe não enriquecido, em comparação com a hospitalização fosse prolongada, o que não ocorre neste gru-
LH adicionado ou fórmula. po com LH enriquecido. Os autores concluem que os benefícios
Crescimento neonatal dos RN pré-termo deficiente está direta- observados (menos enterocolite necrosante e sepses tardia e
mente relacionado a um deficiente crescimento na idade de 1 a menor hospitalização), superam a menor taxa de crescimento
3 e 7 anos e deficiente neurodesenvolvimento. observada e sugerem que o LH enriquecido deve ser promovido
Segundo Cooker R, o crescimento é constante durante a gesta- ativamente no RN pré-termo.
ção, diminuindo entre a 36-38 semanas. Meninos e meninas são Hay Jr relata haver grande diferença no QI entre os RN pré-
diferentes. A velocidade e crescimento nos meninos são consi- termos alimentados com baixo teor de proteínas (menor QI) em
deravelmente mais rápidos do que nas meninas. Os meninos relação aos prematuros com teor adequado de proteína (a dife-
Capitulo 05 Nutrição do Recém Nascido

rença na escala chega até 2-3 níveis). A adição ao LH melhora receberam fortificação no leite humano. No entanto, não houve dife-
bastante o QI, assim como o desenvolvimento destas crianças. renças entre os pesos e os valores da fosfatase alcalina. Os autores
As deficientes ingestas de cálcio e fósforo pelo LH através de não diferenças significativas entre os grupos quanto à enterocolite
toda a lactação, constitue um sério problema para os RN de mui- necrosante (o leite com aditivo foi imediatamente administrado), in-
to baixo peso alimentados com LH. As concentrações de cálcio tolerância alimentar, distensão gástrica, infecção e icterícia.
(25mg%) e de fósforo (14mg%) são geralmente semelhantes,
tanto no leite pré-termo, como a termo e tanto na lactação inicial Propriedades Imunológicas
como tardia. Estas quantidades estão muito abaixo das necessi- do Leite Humano Adicionado
dades de ingesta mineral para estes RN, acarretando deficiente
mineralização óssea, raquitismo e fraturas. Os requerimentos de Estudos evidenciaram que a concentração de IgA não foi afeta-
Ca, P e Mg são inversamente proporcional à idade gestacional da pelo enriquecimento do LH. A concentração total de IgA pode
nos RN de muito baixo peso (devido ao alto acréscimo que ocorre ser usada como um determinante da integridade do LH. Em rela-
no último trimestre de gestação). Para administrar a quantidade ção aos RN alimentados com fórmulas, Schanler e cl observaram
suficiente de cálcio e fósforo, segundo Martinez, seria necessário aumento significativo de lactoferrina, lisozima e IgA (95% foi IgA
prescrevermos 500ml/Kg/dia e 300ml/Kg/dia de leite mateR- secretória) nas fezes do RN (idade gestacional 28 - 30 semanas)
No, respectivamente. Se o leite humano é inadequado, ao invés alimentados com LH adicionado na idade entre 2,5 e 6 sema-
de substituí-lo por fórmulas, seria melhor complementá-lo e esta nas. Interessante foi a detecção da IgA secretória para o antígeno
idéia data desde 1956, quando se adiciou sódio ao leite humano E.coli nas fezes de do 90% dos RN alimentados com LH enrique-
e o sódio, segundo este autor. cido versus em nenhum alimentado com fórmulas. Igualmente
O melhor indicador do estado do cálcio e do fósforo no RN de entre 2,5 e 5 semanas de idade, Goldblum e cl detectaram au-
muito baixo peso alimentados com LH são as concentrações de mento destes fatores imunes na urina dos RN alimentados com
fósforo no soro. A deficiência prolongada LH adicionado (7 a 150 vezes maior quantidade em relação aos
destes minerais tende a estimular a reabsorção óssea com no- RN com fórmula). Provavelmente a absorção gastrintestinal com
malização do cálcio sérico. Esta atividade óssea correlacion-se a subsequente excreção renal seja a possível explicação.
com o aumento da fosfatase alcalina no soro (o crescimento line- O enriquecimento do leite humano com ferro tem um efeito di-
ar foi significativamente menor no grupo de RN com níveis mais reto na lactoferrina. A lactoferrina é a maior glicoproteína no leite
elevados de fosfatase alcalina na idade de 18 meses). mateRNo que se liga ao ferro. O leite mateRNo do prematuro tem
O enriquecimento da dieta dos RN de muito baixo peso com grande quantidade de lactoferrina, em relação ao RN a termo, da
cálcio e fósforo aumentou significativamente o conteúdo mineral segunda a décima segunda semana pós-parto. Uma das pro-
do osso rádio durante a hospitalização. Após a alta nos RN de priedades antibacterianas importantes da lactoferrina está rela-
muito baixo peso alimentado com LH, a rapidez da mineralização cionada à sua alta afinidade para se ligar ao ferro. A lactoferrina
óssea foi menor em relação ao RN de muito baixo peso com fór- pode privar a bactéria ou o fungo do seu nutriente essencial
mula. Nestes RN com LH sem adição foram necessários 2 anos para o seu crescimento. A ação da lactoferrina depende de um 183
para que o conteúdo mineral dos seus ossos competisse com os ambiente pobre em ferro.. A saturação da lactoferrina com ferro
dos RN semelhantes alimentados com fórmulas. endógeno abole esta atividade. A lactoferrina do leite humano é
Segundo Pereira, a literatura mostra que todos os menores de saturada com ferro em somente 5 a 8%. Quando adicionamos
1500g se beneficiam em termos de mineralização óssea com a ferro ao leite humano ou quando se adiciona ao leite humano
adição de LM. fortificante contendo ferro, estamos saturando a lactoferrina e
Assim, a taxa de secreção mineral equivalente à intrauterina assim, diminuindo a ação antibacteriana do leite humano.
deveria ser alcançada durante a hospitalização e que a falta des- Portanto, o leite mateRNo para o prematuro tem atividade
ta ocorrência implicaria num déficit acumulativo de cálcio e do contra a E.coli, Sthaphylococcus, Enterobacter e Streptococcous do
fósforo durante 8 ou 12 semanas de hospitalização. Grupo B. esta atividade pode ser afetada pela adição do ferro ou
Apesar da literatura registrar evidências de que uma ingestão fortificantes que contém quantidade significante de ferro.
sub-ótima de Ca e P no período crítico da vida poderia programar
uma melhor mineralização mais tarde,os estudos recentes mos- Tolerância Alimentar do
tram que o uso da adição do LH faz uma diferença em termos de Leite Humano adicionado
ganho de peso mineralização óssea, perímetro cefálico e compri-
mento, além de possibilitar que este RN saia mais precocemen- O esvaziamento gástrico é importante no sucesso da nutrição
te do hospital, minimizando os riscos que estes RN apresentam enteral, sendo que o seu retardo tem implicações importantes no
quando inteRNados por longo tempo. manuseio do RN com intolerância alimentar. Ao contrário do estu-
O sódio é raramente avaliado nos estudos de enriquecimento do do de Ewer e cl realizado na Austrália que evidenciou significante
leite humano. O estudo de Tanak e cl avaliou a fração de excreção retardo no esvaziamento gástrico com o enriquecimento ao LH,
de sódio, a osmolaridade e densidade urinárias em dois grupos McClure e Newell evidenciaram que o enriquecimento do LH não
recém-nascidos pré-termos (<34 semanas e >34 semanas) com afetou o esvaziamento gástrico, sugerindo que esta prática que
leite humano de banco enriquecido. Os autores não demonstra- passou de 5% em 1987 para 72% em 1994 no Reino Unido, não
ram variabilidade da osmolaridade urinária entre os dois grupos (o afetou a tolerância alimentar no RN de baixo peso. Estes autores
aumento observado na osmolaridade do leite humano com o forti- atribuem a estes diferentes resultados a variabilidade fisiológica
ficante não acarretou aumento da carga real de solutos, pois cerca do esvaziamento gástrico.
da metade do que é oferecido pela dieta é incorporado em tecido O uso da proteína de origem bovina versus de origem humana
novo). A densidade urinária teve valor semelhante à osmolaridade (3g/kg/dia) na adição ao LH foi recentemente estudado por um
e não se alterou em função da dieta. Segundo Baumgart S, não há grupo sueco. Ambos adicionadores foram bem tolerados, sendo
evidências de efeitos indesejáveis na função renal dos prematuros semelhante entre os dois grupos os ganhos de peso, comprimen-
que recebem leite humano enriquecido. to e de perímetro cefálico.
O estudo de Martins e Krebs, o primeiro no Brasil a usar fortifican- A indução de sintomas alérgicos em crianças alimentados ex-
te no leite humano cru da própria mãe, evidenciou maior crescimen- clusivamente ao seio não parece ser devido à presença de beta-
to em comprimento e perímetro cefálico nos recém-nascidos que lactoglobulina no LH devido à reatividade cruzada entre proteínas

Paulo R. Margotto
Assistência ao Recém-Nascido de Risco

do leite de vaca e proteínas do LH, uma vez que Restani e cl não O crematócrito é uma medida fácil podendo ser realizado pela
confirmaram a presença de proteínas bovinas no LH. Provavel- mãe com o seu próprio leite na Unidade de Neonatologia, prática
mente outros componentes que não a betalactoglobulina ou ca- que maximiza o envolvimento mateRNo e satisfação.
seína estejam envolvidos na indução de sintomas alérgicos nas Estudo longitudinal do crematório do LH e ganho de peso nas
crianças com LH exclusivo. crianças alimentadas exclusivamente com LH realizado na Índia
por Chartterjee e cl não evidenciou relação entre crematócrito do
Osmolalidade do Leite Humano Adicionado LH e crescimento da criança. O crematócrito aumentou até 16
semanas pós-parto, declinando a seguir
Curtis e cl estudaram a osmolalidade do LH logo após o enri-
quecimento e 24h depois utilizando cinco diferentes adicionado- Fórmula do Crematócrito
res de LH, sendo observado aumento da osmolalidade do LH 10
minutos após a adição. Os autores explicam este fato pela ativi- % C = C x100 ÷ C.T C = Creme
dade da amilase do LH, que induzindo hidrólise da dextrina que % G = % C - 0,59 ÷ 1,46 CT = Coluna Total
contém nos adicionadores do LH, leva a produção de pequenas Kcal/l = % C x 66,8 + 290 G = Gordura
moléculas de oligossacarídeos osmoticamente ativas. A adição
de gordura nos novos adicionadores do LH reduziu a osmolalida- Vide Exemplo:
de e esta redução pode melhorar a tolerância A coluna total foi de 47mm. A coluna de creme foi de 3mm.
Segundo Schanler, os aditivos do leite humano aumentam a osmo- Percentagem do creme 3x100 ÷ 47 = 6,38
laridade do leite, mas não contribui com a intolerância (a osmolarida- Percentagem de gordura 6,38 - 0,59 ÷ 1,46 = 3,96%
de em média do leite humano é de 230-335mOsml/l; com a adição, a Kcal/l = 6,38 x 66,8 + 290 = 716 cal/l
osmolaridade vai para 400mOsm/l; a osmolaridade do trato gastrin-
testinal está na faixa de 600mOsm/l). Devido a este fato, aumentar o
aditivo do leite humano lentamente, num período de 2-3 dias.
O relato de maior incidência, embora não significativa de en-
terocolite necrosante no estudo de Lucas e cl comparando RN
alimentados com LH enriquecido versus fórmula, pode ser devido
à grande proporção de uso de fórmula nos dois grupos.
Ao iniciarmos o enriquecimento do leite humano, devemos
fazê-lo lentamente, iniciando com a metade preconizada e au-
mentando após a verificação da tolerância (resíduo gástrico, dis- Conclusões
tensão sbdominal, vômitos),
O enriquecimento do LH tem-se toRNado uma prática quase
184 Crematócrito do Leite Humano universal. Entre 1987 e 1994, o uso do LH adicionado, passou de
5% para 72% nas Unidades Neonatais do Reino Unido.
O crematócrito (tamanho da coluna de creme separada do leite Os enriquecedores ajudam a aumentar o conteúdo nutritivo e
pela centrifugação e expresso como a percentagem do tamanho aumentar a ingesta de cálcio, fósforo e de sódio melhorando a
da total coluna de leite) varia com a concentração de lipídio no taxa de crescimento e mineralização óssea comparáveis aos RN
LH. Wang e cl, recentemente relataram forte correlação entre com fórmulas especiais com alto conteúdo de Ca, P e proteínas.
o crematócrito com a concentração lipídica (r = 0,82) e o con- Uma mistura imprópria pode causar preciptação e sedimentação
teúdo energético (r = 0,86) do LH fresco, não sofrendo inclusi- dos sais minerais. A retenção de Ca e P evidenciada pelo conte-
ve alterações com o congelamento e descongelamento do LH, údo mineral ósseo do rádio foi maior nas preparações contendo
uma prática muito comum nos Bancos de Leite. Os autores não gluconato-glicerofosfato de cálcio do que nas preparações com
observaram correlação significativa entre o crematócrito e a fosfato de cálcio. As preparações comerciais para o enriqueci-
concentração de carboidrato e proteína. A contribuição ener- mento de LH são benéficas porque proporcionam suspensões
gética do carboidrato e proteína é praticamente constante. Por mais estáveis dos nutrientes. Os adicionadores são disponíveis
outro lado, o conteúdo lipídico do LH provê a maior quantidade na forma de pó e líquido. Os enriquecedores líquidos diminuem o
de energia do LH (aproximadamente 50%) e é o constituinte mais conteúdo de gordura do LH.
variável. Assim, a variação do conteúdo energético do LH é devi- O enriquecimento do LH deve ser prescrita a partir de 15 dias
do à sua variação da concentração lipídica. de vida ou quando a ingesta oral atingir 100ml/kg/dia de leite
Segundo Valentine e cl, leite posterior contém significativamen- humano para RN com peso <1500g e idade gestacional <30-
te mais energia e gordura (embora menos zinco e cobre) do que 32 semanas, principalmente em RN com complicações médicas,
o leite anterior. A gordura provê 42% de calorias no leite anterior como nutrição parenteral por longo tempo,displasia broncopul-
e 55% no leite posterior, enquanto a proteína provê 12% e 9% de monar (“temos que alimentar o pulmão”), terapia com esteróide,
calorias respectivamente. O ganho de peso aumentou durante o restrição hídrica. O enriquecimento deve ser introduzido lenta-
tempo que o RN recebeu LH posterior (média de 7g/dia). O uso mente até chegar à quantidade total O tratamento com dexame-
da adição ao LH posterior evidenciou a continuação do ganho tasona pode aumentar o risco de osteopenia pelo aumento da
de peso, mesmo quando houve diminuição da produção do leite. excreção de fosfato. O enriquecimento do LH deve ocorrer no mo-
Assim, o LH posterior adicionado provê mais gordura endógena e mento em que for administrado. O término deve ocorrer quando
promove o maior ganho de peso. o RN estiver mamando predominantemente ao seio, devendo se
O uso do leite humano posterior (leite mateRNo gordo) tem adicionado ao LH a seguir com cálcio e fósforo até completar 45
mais caloria, a quantidade, porém a quantidade de cálcio e fósfo- semanas de idade pós- concepcional, com a finalidade de sal-
ro é a mesma, podendo levar a uma preocupação: estas crianças vaguardar a mineralização e impedir fraturas no 1º ano de vida,
crescem mais rapidamente e se oferece o mesmo teor de cálcio e assegurando um crescimento linear nestas crianças.
fósforo, há maior risco de distúrbio ósseo-metabólico. Concluindo, a nutrição num período vulnerável do desenvol-
vimento do cérebro pode ter efeitos permanentes no tamanho
do cérebro, comportamento, memória, número de células e no
Capitulo 05 Nutrição do Recém Nascido

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Paulo R. Margotto
Assistência ao Recém-Nascido de Risco

186
Capitulo 06 Distúrbios Metabólicos

Capítulo 6

Distúrbios
Metabólicos
Assistência ao Recém-Nascido de Risco

6.1 DISTÚRBIOS METABÓLICOS NO RECÉM-NASCIDO: CÁLCIO, MAGNÉSIO E GLICOSE

Paulo R Margotto/Albaneyde F Formiga

Juntamente com os distúrbios respiratórios, infecção e prematuri-


dade, os distúrbios metabólicos desempenham importante frequên-
cia de internação nas UTI Neonatal

Cálcio Patologia Neonatal

O cálcio desempenha papel fisiológico importante, sendo es- Cálcio sérico menor que 8 mg%./ cálcio iônico < 3,0 – 4,4 mg%
sencial na integridade funcional dos nervos e músculos, onde tem A diferenciação da forma precoce e tardia nem sempre é fácil
influência na excitabilidade e produção de neurotransmissores. É de ser feita, devido à presença de fatores que podem causar as
necessária para contração muscular, função cardíaca, manuten- duas formas, como o hiperparatireoidismo materno (as convul-
ção da integridade das membranas e na coagulação sangüínea. sões por hiperparatireoidismo no RN têm ocorrido aos cinco dias
de vida e com duas semanas de vida).
Aspectos Fisiopatológicos
Hipocalcemia precoce (primeiras 24 – 48 horas de vida)
No último trimestre, a troca materno-fetal do íon cálcio chega a
aproximadamente 100 a 150 mg/kg de peso fetal ao dia (350 mg/ • 1/3 dos RN prematuros (50% nos RN < 1.500 g)
dia no último mês). Nas semanas finais da gestação, a calcemia do • 1/3 dos RN com asfixia ao nascimento (secundário à
feto é aproximadamente 2 mg% acima dos níveis maternos. liberação de cortisol e catecolaminas com aumento da
Ao nascimento, o suprimento de cálcio materno é retirado abrup- calcitonina sérica)
tamente do RN, resultando numa baixa de cálcio extracelular. • 20,7 – 60% dos RN filhos de mães diabéticas insulino-
Os níveis de Cálcio sérico nos 3 primeiros dias de vida correla- dependentes (com o melhor controle glicêmico a incidên-
cionam-se com a idade gestacional. cia é menor: 12,5%)
Grau de maturação da paratireóide neonatal • Exsangüíneotransfusão (combinação do Citrato com o
Inabilidade da paratireóide para responder ao “stress” hipocal- cálcio iônico)
cêmico: hipoparatireoidismo funcional, devido aos altos níveis de • Traumatismo obstétrico
íons cálcio no sangue do cordão. Ocorre melhora da função da • Sepse
188 paratireóide depois de 2 a 4 dias de vida • Hiperparatireoidismo materno (devido ao hiperparatireoi-
Elevados níveis de calcitonina ao nascimento dismo secundário no feto)
Provável resistência à ação do PTH (parathormônio) nos ór- • Pseudo-hiperparatireoidismo: (hiperfosfatemia, aumento
gãos alvos. do PTH com resistência aos órgãos alvos a sua ação)
• Hipoparatireoidismo congênito: Síndrome de Di George
Interação Do Cálcio Com O Magnésio (cardiopatia, ausência de timo e paratireóides)

• Aumento do Cálcio no túbulo renal leva a um aumento na Hipocalcemia tardia (Após os primeiros dias de vida a sema-
excreção do Magnésio. nas após o nascimento)
• A hipomagnesemia leva a Hipocalcemia por vários meca- Associada com grande ingestão de fósforo quando o RN é ali-
nismos: mentado com muito leite de vaca (as relações P:Ca e P:Mg no
• Diminuição da produção do PTH leite de vaca são quatro vezes maiores que as do leite humano)
• Resistência do órgão alvo ao PTH Na idade de 2 a 5 anos, essas crianças apresentam severa
• Diminuição da absorção intestinal do Cálcio com ou sem hipoplasia do esmalte dentário.
alteração no metabolismo da Vitamina D Distúrbio da vitamina D: aumento do catabolismo hepático da vi-
• Diminuição da troca interiônica do cálcio pelo magnésio tamina D secundário ao uso materno de fenobarbital ou fenitoína.
do osso. Uso de bicarbonato de sódio, hiperventilação (alcalose respiratória).

Na hipocalcemia intratável com apenas o uso de cálcio, pen- Clínica


sar em hipomagnesemia. A insistência com altas doses de cálcio Tremores, hiperexcitação, tônus aumentado, abalos, convul-
agrava ainda mais a hipomagnesemia, por haver sítios de absor- sões (os RN estão geralmente alertos entres as convulsões;
ção comuns ao cálcio e ao magnésio no intestino e túbulos re- as convulsões são freqüentemente multifocais e migratórias),
nais; um aumento do cálcio, apresentado a esses sítios, resultará cianose, vômitos, intolerância alimentar, choro estridente e in-
numa diminuição da absorção intestinal de magnésio ou num au- suficiência cardíaca.
mento de sua perda urinária. Os RN com hipocalcemia precoce podem apresentar hipotonia
generalizada a estupor. Na hipocalcemia tardia: reflexos profun-
Interação Do Cálcio Com O Equilíbrio Ácido-Básico dos hiperreativos, clônus, hipertonicidade, aumento da resposta
muscular a estimulação, estado hiperalerta entre as convulsões
A acidose aumenta o fluxo de cálcio do osso para o espaço (freqüentemente multifocais e migratórias).
extracelular, enquanto a alcalose diminui ou reverte este fluxo.
A calcemia iônica começa a cair 30 a 60 minutos após o uso do Tratamento
Bicarbonato de Sódio. Cada aumento do pH de 0,1, a calcemia Com clínica: Gluconato de Cálcio a 10% - 2 ml/Kg diluído ao
iônica cai 0,46 mg%. meio em água destilada, E.V., na velocidade de 1 ml/min. Inter-
Capitulo 06 Distúrbios Metabólicos

romper a administração quando a frequência cardíaca. cair abai- Prednisona: 2mg/Kg/dia (inibe a reabsorção de cálcio nos
xo de 110 a 120 b.p.m. e/ou quando a clínica de hipocalcemia ossos, intestino e nos rins), principalmente nas adiponecrose e
desaparecer. Ter sempre ä mão o Bicarbonato de Sódio (antído- hipervitaminose A e D.
to). Lavar o cateter antes da infusão de Bicarbonato de Sódio.
Magnésio
Manutenção
2 ml/Kg/dia na perfusão venosa, perfazendo o total de 4 ml/ O magnésio desempenha papel importante na excitabilidade
Kg/dia. cardíaca, na contração muscular, na irritabilidade neuronal, no
Manter o cálcio sérico total entre 8 – 10 mg% e o cálcio ioniza- controle do tônus vasomotor e canais de cálcio, além da regula-
do entre 3 – 4 mg%. ção da adenilato-ciclase e proteção da injúria oxidativa.
Patologia neonatal:
Observação Hipomagnesemia: Magnésio total < que 1.6 mg%/ magnésio
1. O “push” só se justifica com clínica evidente, principal- ionizado < que 0,97mg% (somente 41% dos RN com hipomagne-
mente convulsão, caso contrário, 4 ml/Kg/dia na perfu- semia total apresentam magnésio iônico baixo; o magnésio iôni-
são venosa e controlar a calcemia 6 a 12 horas depois. co é dependente de outros fatores, como pH sangüíneo, albumi-
2. Ao administrar o cálcio EV pelo cateter umbilical, certi- na sérica, concentração sérica de fosfato, cálcio e bicarbonato).
ficar-se que a ponta do cateter não esteja em localização
intracardíaca. Causas

• RN filho de Diabética Insulino-Dependente (aumento da


Prognóstico excreção renal de magnésio)
Na maioria das vezes, a hipocalcemia por si só não é responsá- • Coexistência com a hipocalcemia resistente;
vel pelo quadro neurológico, estando quase sempre associada a • Exsangüíneotransfusão (o Citrato forma quelato com o mag-
outras causas. Parece não haver dano neurológico pela hipocal- nésio);
cemia apenas (prognóstico excelente). • Hiperfosfatemia neonatal (ingesta de grande quantidade
de Fósforo do leite de vaca);
Hipercalcemia: Cálcio total > 10,5 a 11 mg %/cálcio iônico > • Uso de aminoglicosídeos.
4,5 a 5 mg %. • Hipoparatireoidismo neonatal;
• RN de baixo peso, especialmente se a mãe teve Pré-eclâmp-
Causas sia (mães com pré-eclâmpsia grave que usaram Mg, podem
dar à luz RN com Hipermagnesemia + hipercalcemia secun-
• Deficiência de fosfato: uso de nutrição parenteral pro- dária à troca interiônica de Ca por Mg no osso).
longada • Síndrome de má-absorção. 189
• RN de baixo peso com aleitamento materno exclusivo
(aumenta a dihidroxi-vitamina D, com maior absorção in- Clínica
testinal de cálcio e uma maior reabsorção óssea)
• Adiponecrose: devido ao aumento da produção de 1,25 Os sinais clínicos estarão mais presentes quando o magnésio
– dihidroxi-vitamina D pelas células granulomatosas da sérico estiver abaixo de 1,2 mg% e são semelhantes à hipocalce-
adiponecrose e devido ao aumento da protaglandina E mia, mas não responsiva ao cálcio; as convulsões são tônicas,
que aumenta a reabsorção óssea de cálcio focais ou mesmo generalizadas.
• Hiperparatireoidismo primário: hipercalcemia (< 25
mg% de cálcio total), hiperfosfatemia, hiperfosfatasia, Tratamento
hipercalciúria e fosfatúria
• Hiperparatireoidismo secundário: Há hipoparatireoidis- Sulfato de Magnésio a 50%: 0,25 ml/Kg/dose IM; repetir 8 ho-
mo materno: devido à crônica estimulação da paratireói- ras após, se persistir a clínica ou a dosagem de Mg estiver ainda
de fetal pela hipocalcemia fetal conseqüente á hipocal- baixa; há perigo de bloqueio neuromuscular (hipotonia). Antídoto:
cemia materna Gluconato de Cálcio.
• Hipervitaminose D: (aumento da ingesta pela mãe ou RN): Nota: Sulfato de Magnésio 50% = 4 mEq/ml
aumenta a absorção intestinal e a reabsorção de cálcio. Sulfato de Magnésio 12,5% = 1 mEq/ml
• Diurético tiazídicos: diminui a excreção de cálcio. 0,8 ml/Kg/dose
• Deficiência congênita de lactase: (devido ao um efeito di-
reto da lactose não hidrolisada no aumento da absorção de Hipermagnesemia
cálcio no íleo; a hipercalcemia cessa com uma semana de
dieta livre de lactose. O RN pode apresentar nefrocalcinose Magnésio sérico > 2,5 mg%.
e nefrolitíase, sendo importante realizar ultrassom renal.
Causas
Clínica
Hipotonia letargia, perda de peso ou ganho insuficiente, consti- Administração de sulfato de magnésio à mãe para tratamento
pação, vômitos convulsões, poliúria, apnéia. da pré-eclâmpsia (devido à supressão da produção do hormônio
da paratireóide e da 1,25 (OH) 2 D, cálcio sérico pode estar baixo
Tratamento e inclusive resultar em raquitismo se a terapia materna é prolon-
Diminuir a ingesta de cálcio e vitamina D. gada (como na tocólise), mas a hipermagnesemia pode deslocar
Expansão com soro fisiológico a 0,9%%: 10- 20 ml/Kg + Furo- o cálcio do osso, resultando em aumento do cálcio sérico.
semide 2 mg/Kg EV. Pode repetir a cada 4 – 6 horas (monitorizar Administração neonatal de magnésio: nutrição parenteral, an-
balanço hídrico e eletrólito). tiácidos e enemas.

Paulo R. Margotto
Assistência ao Recém-Nascido de Risco

Para a compreensão do quadro clínico, as ações do magnésio são: manter os valores da glicose mais elevados (glicose sangüínea
> 50 mg%, que equivale a uma glicemia plasmática de 60mg%)
• Gastrintestinal: pode diminuir o peristaltismo intestinal garantindo um nível seguro para prevenir possível comprometi-
afetando as células musculares lisas ou diminuindo exci- mento do SNC (a hipoglicemia está associada com aumento do
tabilidade fibras nervosas musculares. fluxo sanguíneo cerebral em 2 a 3 vezes).
• Neuromuscular: inibe a liberação de acetilcolina na
junção neuromuscular, levando a fraqueza e hipotonia Patologia Neonatal
(hipomagnesemia) e paralisia e hiporreflexia (hipermag-
nesemia) Hipoglicemia
• Causa depressão respiratória por provocar fraqueza ou Glicose sanguínea < 50mg ou glicose plasmática <60mg (a
paralisia dos músculos respiratórios. glicemia plasmática é aproximadamente 10%-15% maior que
• Cardiovascular: bloqueadora dos canais de cálcio. dimi- a sangüínea).
nui condução elétrica do coração → Hipotensão. Pacientes de risco para apresentar hipoglicemia:
• Supressão da produção de paratormônio e da 1,25(OH)2D,
levando ao raquitismo e aumento do cálcio sérico. • Retardo do crescimento intrauterino
• O menor dos gêmeos discordantes
Clínica • Filhos de mães com Pré-eclâmpsia
• Prematuros
• Hipotensão • Asfixia perinatal
• Retenção urinária • Hipotermia
• Depressão do Sistema Nervoso Central • RN de Diabética
• Hiporeflexia e letargia (devido ao bloqueio da produção • Erros Inatos do Metabolismo: deficiência da glicose 6-
de acetilcolina nos membros) fostato, frutose 1-6- difosfatase, galactosemia
• Aumento no tempo de condução átrio-ventricular e ventricular • Síndrome de Beckwith-Wiedemann: (hiperplasia das cé-
• Depressão respiratória lulas beta-pancreáticas)
• Anormalidades ósseas (RX) em 11,4 %: relacionadas à • Doença Hemolítica pelo sistema Rh (Hipoglicemia hipe-
duração do uso do sulfato de magnésio na mãe rinsulinêmica)
• Diminuição do trânsito intestinal; • RN cuja mãe fez terapêutica tocolítica com beta-simpa-
• Retenção de resíduos gástricos com distensão abdominal; ticomimético para inibir o trabalho de parto prematuro
• Atraso na liberação de mecônio (síndrome do tampão (2/3 dos casos).
meconial);
• Perfuração intestinal; Clínica
190 • Arritmias.
Tremores, convulsões, apatia, recusa alimentar, apnéia com bra-
Relação entre as concentrações de magnésio e a clínica dicardia, cianose, hipotonia, hipotermia, insuficiência cardíaca no
Concentração Magnésio Sérico (mg%) RN - PIG (devido ao insuficiente substrato energético cardíaco).

Eritema, náuseas, vômitos, bradicardia, prolongamento Tratamento


3,64 a 10,9 intervalo QT no ECG, hipotensão, sedação,
hiporreflexia, hipotonia Triagem: Fita-reagente para os RN de risco - esta mede a glice-
mia sanguínea
Paralisia muscular, hipoventilação, estupor, hipotensão, RN PIG e prematuros 6 – 12 – 24 horas
12,16 a 17
condução AV anormal, disritmias ventriculares RN de Diabética:1 – 2 – 3 – 6 – 12 – 24 horas
RN com Doença Hemolítica pelo fator Rh: 6 – 12 – 24 horas e
Coma, depressão respiratória, bloqueio AV total, parada 6 horas após exsangüíneotransfusão.
> 17 Nos RN de risco iniciar precocemente, quando possível a alimen-
cardíaca em assistolia
tação enteral. Na profilaxia com soro glicosado VO, usar a 10%.
Nos RN com Desconforto Respiratório Leve, iniciar a perfusão
Tratamento venosa com TIG (Taxa de infusão de glicose) de 4 mg/Kg/dia,
Notas: O nível de Glicose sangüínea cai 18 mg/hora quando o
Hidratação adequada sangue fica em temperatura ambiente.
Gluconato de cálcio 10%: 1ml/Kg EV (dosar cálcio serico an-
tes): o cálcio é um antagonista direto do magnésio. Hipoglicemia Sintomática Aguda
Furosemide: (1 - 2 mg/Kg EV): acelera a excreção de magnésio.
Casos graves (depressão hipermagnesêmica grave): exsan- Push somente na presença de clínica, principalmente apnéia,
güíneotransfusão com sangue contendo citrato/forma complexo convulsão: 200 mg/kg de Glicose em 1 minuto, que é igual a
com o magnésio, acelerando a sua remoção). 2 ml de Glicose a 10% diluído em água destilada; manutenção:
Casos refratários: diálise peritonial. com Glicose a 10%, na velocidade de 5 a 8 mg/Kg/min: 0,05 a
0,08 X peso (kg) X 1440 = quantidade de ml de glicose a 10% que
Glicose deverá correr em 24 horas.

A glicose é o maior substrato para o metabolismo cerebral e o Hipoglicemia Assintomática


cérebro é o órgão primário na utilização da glicose, sendo que o
tamanho do cérebro é o principal determinante da produção da Perfusão venosa com Glicose, na velocidade de 4-8 mg/Kg/
glicose. Existem controvérsias a respeito dos limites de euglice- min (RN prematuro: 4-6mg/Kg/min
mia. Atualmente, mais importante que definir um nível crítico, é
Capitulo 06 Distúrbios Metabólicos

Importante: no tratamento da Hipoglicemia reduzir os gastos raro (1/400.000 nascidos vivos) e está associado a anormalida-
energéticos (tratar a septicemia, corrigir a acidose, propiciar am- des no cromossomo 6q.
biente térmico neutro). Diabetes Neonatal Permanente (DNP): A maioria não tem cau-
Se a glicemia sanguínea persistir menor que 50 mg% após 6 sa definida. A mutação KCNJ11, gene que codifica a sensibilida-
horas do início da infusão de glicose, não obrigatoriamente im- de ao ATP nos canais de potássio, é a forma mais comum, e pode
plica na necessidade de aumentar a concentração de Glicose, e ser espontânea. Njolstad e cl descreveram 5 casos com muta-
sim a taxa de infusão da mesma. Se a glicemia persistir menor ções GCK (gene Glucoquinase) e ocorre mais em famílias asiá-
que 50 mg%, 6 horas após, introduzir Hidrocortisona (aumenta a ticas e européias com consanguinidade. A GCK é uma enzima
glicemia por indução das enzimas gliconeogênicas), na dose de reguladora da glicólise nas células ß pancreáticas, funcionando
10mg/kg/dia –12/12 horas, EV, durante 2 a 3 dias ou Predniso- como um sensor de liberação de insulina. Os homozigotos para
na: 2 mg/kg/dia – VO, podendo ser suspenso abruptamente. Não GCK apresentam alto limiar para a liberação da insulina, sendo
havendo resposta, Glucagon (aumenta a glicemia por mobilizar proporcional a severidade da mutação. Em 6 casos de mutação
glicogênio hepático): ataque: 0,2 mg/kg - EV ou IM (máximo: 1 da GCK foi verificado um grau de consangüinidade.
mg) e manutenção: 2 a 10 mcg/kg/h. O uso do glucagon pode Uso de drogas, como teofilina, cafeína, dexametasona.
fazer com que a glicose suba muito rapidamente, com aumento Consequências: Desequilíbrio osmótico (18 mg% de glicose
da produção de insulina e o problema não se resolve. Há risco de aumenta a osmolaridade sangüínea em 1 mOsm/l), levando a
hiponatremia e trombocitopenia. Se persistir a hipoglicemia: Dia- alteração do volume cerebral devido a deslocamento de líquido,
zóxido: 10 – 15mg/kg/dia – VO – 8/8 horas (suprime a secreção podendo ocasionar hemorragia intraventricular (aumenta a mor-
pancreática de insulina): indicado nos casos de hiperinsulinismo talidade nos prematuros).
grave, como adenoma de pâncreas. Geralmente o RN é assintomático. A principal implicação clíni-
Desmame: fazer em 12 a 24 horas, na dependência do risco ca é a restrição do fornecimento de calorias.
e de acordo com a aceitação da dieta: sucção ou gavagem sem Diurese osmótica com perda de água e eletrólitos, levando a
resíduo gástrico. Para os RN onde a taxa hídrica venosa não esteja desidratação.
influenciando a cota hídrica diária, este desmame poderá ser feito Aumento do risco de enterocolite necrosante (7,4 vezes com
por gotejamento (utilizando regra de três simples), por exemplo: glicemia superior a 185mg%) e mortalidade (13 vezes mais).

13,7ml/h → TIG = 5,5 Tratamento


X ← TIG = 4,5
X = 11,2ml/h O uso precoce de aminoácidos, já no primeiro dia de vida nos
RN abaixo de 1250g, previne a hiperglicemia (consulte o capítulo
Prognóstico de Recém-Nascido de Muito Muito Baixo Peso)

A convulsão na hipoglicemia é um verdadeiro “divisor de 1. Glicemia > 150 mg%, reduzir TIG 191
águas”, identificando os RN com pior prognóstico, embora não 2. Glicemia > 200 mg%, reduzir TIG mais rapidamente a
haja evidências de que a hipoglicemia assintomática seja menos 2 mg/kg/min.
perigosa ao cérebro. 3. Glicemia > 250 mg% persistente: Infusão contínua de
insulina: 0,05 – 0,1 U/kg/h (controlar glicemia cada 1 a
Hiperglicemia:Glicemia sanguínea maior que 150 mg%, com gli- 2 horas)
cosúria positiva. 4. {10 UI/kg em 100 ml SF 0,9% e infundir 1 ml/h da so-
Fatores de importância: RN com idade gestacional menor que lução = 0,1 UI/kg/hora}
30 semanas (peso < 1000 g). Esses RN apresentam tanto hiper- 5. {5 UI/kg em 100 ml SF 0,9% e infundir 1 ml/h da solu-
glicemia como hipoglicemia: A incidência de hiperglicemia nestes ção = 0,05 UI/kg/h}
RN varia de 40 – 80% (ocorre 18 vezes mais no RN < 1000 g em 6. Acompanhar o potássio sérico (risco de hipocalemia).
relação ao (RN > 2000 g). Entre os mecanismos, são citados: 7. O uso da insulina permite a manutenção da ingesta
calórica, enquanto o tratamento com apenas a redução
• Alta de secreção de hormônios glicorreguladores da oferta de glicose, associa-se com deprivação calórica
• Resposta lenta à secreção de insulina para a troca de prolongada.
glicose 8. Suspender terapêuticas, se não essenciais, como ami-
• Resistência à insulina: as catecolaminas acentuam esta nofilina ou fototerapia e berço de calor radiante (estes
resistência. (A resistência a insulina é provavelmente de- exigem maior quantidade de líquidos contendo glicose).
vido à persistência da gliconeogênese na presença de
hiperglicemia) Bibliografia
• Pode ser um sinal precoce de septicemia (grande produção
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de catecolaminas que antagonizam a ação da insulina) • Meetze W, Bowsher R, Compton J, Moorehead H. Hyperglycemia in extremely-low-birth-
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genital lactase deficiency. J Pediatr 127:920,1995
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Hipóxia: devido à estimulação alfa adrenérgica e diminuição effect on ionized magnesium. J Pediatr 132:652,1998
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• Kruse K, Irle U, Uhlig R. Elevated 1, 25-dihydroxyvitamin D serum concentrations in infants
são RN-PIG e o quadro é geralmente transitório (em geral dura 3 with subcutaneous fat necrosis. J Pediatr 122:460,1993
meses), necessitando de tratamento de diabetes padronizado. É

Paulo R. Margotto
Assistência ao Recém-Nascido de Risco

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192
Capitulo 06 Distúrbios Metabólicos

6.2 DOENÇA METABÓLICA ÓSSEA DA PREMATURIDADE

Miza Maria B.A.Vidigal, Paulo R. Margotto

Definição

Conjunto de condições que determinam alterações no pro- • Colestase com má absorção intestinal da vitamina D e
cesso de mineralização óssea levando a fragilidade do suporte fator limitante na oferta de aminoácidos quando em NPT
estrutural deste (osteopenia)e nos casos mais graves, podendo e para que haja mineralização, deve haver síntese de co-
ocasionar o aparecimento de fraturas espontâneas (raquitismo). lágeno da matriz óssea, o que resulta em necessidades
A incidência é maior em prematuros com peso ao nascer abaixo de ingestão elevada de proteínas.
de 1000g nos e naqueles com peso abaixo de 1500g (50% e • Imobilização-hospitalização prolongada dos prematuros
30%, respectivamente) sem estimulação física (a tensão mecânica é um podero-
so estimulador de formação e crescimento ósseo).
Fisiopatologia • Defeitos congênitos ou adquiridos: alteração tubular renal, al-
teração no metabolismo da vitamina D ou do parathormônio.
A transferência de Cálcio (Ca) e fósforo (P) através da placen-
ta ocorre durante toda a gestação. O período de maior desenvol- Quadro Clinico
vimento esquelético e a mineralização óssea ocorre no terceiro
trimestre, quando o feto incorpora altas quantidades de Ca (120- A Doença Metabólica Óssea (DMO) não tem um quadro clinico
150mg/kg/dia) e P ( 60-75mg/Kg/dia).Os níveis de incorporação característico, sendo um indicio, mais frequentemente observa-
mineral aumento exponencialmente entre 24 e 37 semanas de do, de um déficit de crescimento apos a sexta semana de vida.
gestação, resultando em 80% de acúmulo de minerais no terceiro A hipomineralizacão óssea pode se desenvolver já nas primeiras
trimestre. Sendo assim, prematuros nascidos com idade gestacio- semanas apos o nascimento, sendo geralmente subclínica. Si-
nal entre 24 e 34 semanas ficarão privados da oferta intrauterina nais radiológicos aparecem somente quando já ocorreu redução
de Ca, afetando a mineralização óssea intrauterina e pós-natal. da densidade óssea com perda de 40% dos minerais do osso.
Caracteristicamente estes prematuros têm hipofostatemia, hipo- O diagnostico clinico ocorre entre 2 e 4 meses de vida e carac-
fosfatúria, hipercalcemia, hipercalciúria, níveis normais ou baixos teriza-se por sinais de raquitismo: achatamento posterior do crâ-
de parathormônio (PTH)e níveis elevados de 1,25-(OH)-D calcitriol, nio, espessamento das junções condrocostais,alargamento das
que, por sua vez, aumenta a absorção intestinal de Ca, alem de porções distais do radio e da ulna, aumento da fontanela anterior.
aumentar a reabsorção óssea com maior liberação de Ca e P. No 193
entanto, na presença de hipofosfatemia, uma quantidade limitada Diagnóstico
de Ca pode ser depositada no osso, resultando em hipercalcemia e
hipercalciúria. A hipercalcemia inibe a produção do PTH. Rx simples: impreciso e depende da gravidade e da duração da
deficiência de minerais. As alterações radiológicas são:
Etiologia
GrauI: rarefação da metáfise e adelgaçamento da cortical
Multifatorial Grau II: irregularidade matafisária com imagem em forma de
1. Fatores intrauterinos: taça e alargamento da epífise/diagnóstico diferencial com sífilis
• Deficiência materna severa de Ca e Vitamina D Grau III: fraturas (estas ocorrem de forma geral entre 6-12 semanas)
• Hipo ou hiperparatireoidismo materno.
• Tratamento materno prolongado com Magnésio ou fosfato. • Padrão ouro: determinação da medida do conteúdo mi-
neral ósseo por densitometria óssea com aparelho de
2. Fatores pós-natais absorção de fótons duplo (absorciometria por duplo Rx).
• Prematuridade • Ultrassom quantitativo (QUS) que mede a velocidade do
• Baixa oferta na dieta de Ca e P que ocorre em prematuro som no osso e mede além da densidade óssea e outras
em aleitamento materno exclusivo, pois este apresenta propriedades do osso como espessura cortical, elastici-
concentrações de Ca e P mito abaixo das necessidades dade e microarquitetura.
diárias ideais. (24mg% e 14mg%, respectivamente). • Bioquímica
• Nutrição parenteral total prolongada(NPT) que é a
maior fonte de nutrição para prematuros extremos nos Ca sérico níveis normais (N=8-11mg/dL)ou baixo
primeiros dias. Não se consegue, com a NPT, ministrar Ca urinário elevado(>6mg%,sinal precoce)
quantidades suficientes que se equiparem às necessi- P sérico baixo (N= 6,6-9,4mg/dL)
dades intrauterinas. Fatores limitantes: Dificuldade na P urinário baixo (<1mg%)
solubilidade do Ca na presença do P. As soluções mais
empregadas consistem em gluconato de Ca associados Fosfatase Alcalina (FA) elevada, usar como ponto de corte va-
a sais de fosfato mono ou dibásico. A solubilidade me- lores 5 vezes maior ao de referência para adultos normais(N= 45-
lhora adicionando-se os sais de P antes dos sais de Ca e 150Ui). Tem sido evidenciado ser mais preditiva no diagnóstico
empregando-se maiores concentrações de aminoácidos. precoce do que o fósforo e cálcio (indicadores mais tardios)
• Uso de diuréticos, anfotericina, corticosteróides, meti- Osteocalcina elevada.
lxantinas que levam a perda renal de Ca. 1,25(OH) vit D normal ou alta; se baixa significa deficiência
de vitamina D

Paulo R. Margotto
Assistência ao Recém-Nascido de Risco

A nossa conduta consiste em iniciar seguimento de todo pre- Exemplos: Bebe com1330g e recebendo dieta 20mlx8
maturo nascido com menos de 32 semanas de idade gestacional Necessidade /dia Ca 156mg..Na dieta recebe 38mg. Os
(em alimentação parenteral ou oral) com 2 semanas de vida do- 118mg que faltam de Ca será suplementado com 2,3ml de fosfa-
sando Ca e P sanguineos e urinários e a FA. As dosagens serão to tricálcico 12,9% divido em 4 tomadas 0,5ml/vez.
repetidas a cada 21 dias até completar 40 semanas de idade Bebe com 2000g e sucção ao seio exclusivo calcular a capaci-
gestacional pós-concepção e depois mensalmente ate 48 sema- dade gástrica em torno de 30ml/Kg.
nas ( 2 meses de idade corrigida). Necessidade /dia Ca 240mg. Na dieta recebe,em media,115mg
Ca. Suplementar o restante de Ca com 2,3ml de Fosfato tricálcico
Profilaxia 12,9% dividido em 4 tomadas.

A profilaxia é imperativa no bebe prematuro. Bibliografia


Recém nascidos com peso ao nascer abaixo de 1500g forne-
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Deficiência de vitamina D – dose total para repor 660000UI. - 47:131, 2011
Aderogyl D3 frasco ampola com 66000UI - 2 vezes por semana
durante 5 semanas.
Quantidade de Ca e P nas medicações, no leite humano, nas
formulas lácteas e fortificantes do leite humano

• Leite humano 24mg de Ca e 14mg de P em 100ml leite (


valores não variam no leite da mãe com bebe prematuro
e termo)
• Fosfato ácido de potássio 1ml=96mg de P
• Gluconato de Ca 10%%: 1ml=9,6mg de Ca elementar
• Fosfato tricalcico 12,9% suspensão: 1ml 50mg de Ca e
25mg de P
• Pré-Nan: 100 mo preparado contém 70mg de Ca e 46mg
de P Enfalac 95mg de Ca e 53mg de P para cada 100ml
preparado
• FM85 51mg de Ca e 34mg de P cada 5g do pó (dissolu-
ção 1g em 20ml leite humano)
• Enfamil e Similac 85mg Ca e 45mg P para cada 100ml
de solução.

Alguns serviços adicionam o Gluconato de Ca e o Fosfato acido


de potássio no leite humano para reposição destes minerais. No
HRAS usamos o fosfato tricálcico 12,9% na impossibilidade de
usar um fortificante do leite humano ou quando o prematuro já
esta com adieta toda ao seio.
Fazemos o calculo da taxa de aquisição intrauterina Ca
120mg/kg/dia e P 60mg/Kg/dia, descontamos o que vai no leite
ingerido (capacidade gástrica 30ml/Kg) e o volume total é dividi-
do em 4 tomadas ao dia.
Capitulo 06 Distúrbios Metabólicos

6.3 HIDRATAÇÃO VENOSA

Paulo R. Margotto/Ana Maria C. Paula

Uma das maiores aquisições da medicina perinatal nas últimas • Água fecal : 7ml/kg/dia
décadas tem sido a considerável melhora na sobrevivência dos • Urina : 1 a 2ml/kg/dia
RN de muito baixo peso. • Insensível: (perda de água da árvore respiratória duran-
Em relação aos distúrbios hidroeletrolíticos destes RN, são ne- te a respiração e evaporação da pele). RN a termo : 20-
cessárias várias modificações em comparação ao que se preconiza 25ml/kg/dia (nos primeiros 3 dias). RN prematuros 45-
para os RN a termo. O princípio básico visa restaurar as perdas e 55ml/kg/dia.
suprir a quantidade necessária para o aumento da massa corporal.
As perdas insensíveis no RN em 24h variam com o peso de
Indicação da Hidratação no RN nascimento
• RN com peso < 1500g
• RN que não suportam a via enteral • 700-1000g: 82ml/kg
• RN com desconforto respiratório • 1001-1250g: 56ml/kg
• RN com enterocolite necrosante • 1251-1500g: 46ml/kg
• RN com asfixia grave • > 1500g: 26ml/kg
• RN com patologias cirúrgicas
Fatores Ambientais Que
Mudança Da Composição Corporal Afetam A Perda Líquida Insensível
Na 1ª Semana De Vida
Para mais
Os RN de baixo peso entre 28-32 semanas de gestação têm • Hiperatividade 30-50%
um alto conteúdo de água corporal (83% do peso sendo 53% no • Prematuros extremos 100-300%
extracelular). Pelo 6º dia de vida estes valores caem para 73% e • Fototerapia 30-50%
39%, respectivamente. Este fato se deve à contração dos com- • Hipertermia 30-50%
partimentos flúidos do corpo como resultante da adaptação à • Taquipnéia 20-30%
vida extra-uterina. Observem no quadro a seguir:
Para menos
RN a 1 ano de • Incubadora c/ umidificação 50-100% 195
Prematuros • Uso de Hood na incubadora 30-50%
termo idade
• Uso de cobertor plástico sob calor radiante 30-50%
Água orgânica total* 80% 78% 65% • Intubação traqueal com umidificação 20-30%

Líquido extracelular* 50% 45% 25% Outros fatores que podem aumentar as necessidades líquidas do RN:

Líquido intracelular* 30% 33% 40% Para mais:


• Uso de diuréticos
• Glicosúria
Quadro 1 *% do peso corporal • Diarréias, vômitos, aspiração, fístulas intestinais

Mecanismo De Diluição E Para menos:


Concentração Do Rim Neonatal • Hipotermia
• Insuficiência renal
O rim neonatal tem uma habilidade limitada para diluir e con- • Asfixia
centrar, em face de uma carga e restrição hídrica. A máxima os- • Secreção inapropriada do hormônio antidiurético
molaridade urinária que o rim do RN alcança é 800mOsm/l (= • Insuficiência cardíaca
1027 de densidade urinária), em contraste com o rim do adulto
que pode alcançar até 1500mOsm/l (=1050 de densidade uriná- Deverá ser subtraída a água endógena diária produzida pelo
ria).Portanto, se aos RN são administradas quantidades inade- metabolismo (9 ml/kg).
quadas de líquidos, o mecanismo limitado de concentração renal
pode resultar em inabilidade para conservar a água, podendo Oferta De Flúidos (ml/kg)
torná-los mais propensos à desidratação.
Nota: transformação de densidade em mOsm/l Iniciar com 60-80ml/kg/dia de solução glicosada que fornece-
Exemplo 1: densidade de 1012 (multiplica os dois últimos alga- rá ao RN prematuro 4-6mg/kg/min e ao RN a termo, 5-8mg/kg/
rismos por 30) 12X30 = 360 mOsmol/l min de glicose com controle de glicemia (fita reagente) na frequ-
Exemplo 2: densidade de 1020= 20X30 = 600mOsm/l. ência que o caso requeira. A concentração de glicose assim usa-
da não deve ultrapassar de 12% quando usada em veia periférica
Administração De Fluídos e 20% na veia central. Aumentar o volume líquido em 10ml/kg/
dia (o máximo 150ml/kg/dia).
Para uma racional fluidoterapia ao RN é necessário saber o
valor da composição real da água corporal (vide quadro 1) e as
vias pelas quais a água e solutos são perdidos do corpo.

Paulo R. Margotto
Assistência ao Recém-Nascido de Risco

Condições que afetam estes requerimentos O termo hipercalemia não oligúrica tem sido usado para des-
• RN sob fototerapia: +20ml/kg/dia crever RN que apresentam hipercalemia sem redução no fluxo
• RN com distúrbio de concentração renal: - 60ml/kg +vo- urinário nos primeiros 2-3 dias de vida. Entretanto, estudo reali-
lume urinário zado pelo grupo do Kluckow, na Austrália, verificou que o débito
• RN com insuficiência cardíaca: - 30ml/kg urinário diminui apenas nas primeiras 24 horas e depois ocorre
• RN em ventilação mecânica: -10ml/kg a diurese nos 2-3 dias de vida. Se você analisar o débito urinário
médio nos 2-3 primeiros dias, talvez você não detecte esta fase
Para os RN prematuros extremos, consulte capítulo específico. oligúrica inicial seguida pela fase diurética. Esta é uma falha dos
estudos, que descreveram a hipercalemia não oligúrica porque
Administração de Eletrólitos não quantificaram o débito urinário dia a dia. Outro mecanismo
Sódio: inicia-se no 2º dia de vida e na dose de 1mEq%, aumen- potencial para a hipercalemia seria a redução do débito cardíaco
tando gradualmente até atingir 3mEq% no 4º dia em diante que prejudicaria o fluxo renal, resultando em hipercalemia, se-
Potássio: inicia-se no 2º dia de vida após a diurese, na ordem guido de recuperação nas 24 horas. Redução do fluxo sangüíneo
de 0.5mEq%, atingindo depois do 3º dia, 2 mEq%. sistêmico pode ser um fator importante na filtração e excreção do
Cálcio: 1mEq/kg/dia (2ml/kg de gluconato de cálcio a 10%) K+ nos RN pré-termos.
Noventa e três por cento dos RN urinam nas primeiras 24h de vida Outro achado importante foi a associação observada entre hi-
e há um grupo de 7% que não urinam. A colocação de K+ na hidrata- percalemia e hemorragia intraventricular (HIV); os RN com maior
ção venosa deve ser guiada pela diurese e pela densidade urinária nível de K+ foram os que mais tiveram significante HIV grau 2 ou
(mantê-la entre 1008-1012, o que equivale a 240-360 mOsm/l). mais. A HIV ocorreu após o pico de K+ ter sido alcançado em muitos
Homeostase de Na+: Os RN de peso menor 1500g podem ne- RN. Assim, a HIV e a hipercalemia são ambos consequência de um
cessitar de maior oferta de Na+, principalmente a partir da 2ª estado precedente de baixo fluxo.
semana de vida, devido à maior perda urinária deste eletrólito Aumento do fluxo urinário espelha o aumento espontâneo no
pelos seguintes motivos: fluxo sanguíneo sistêmico, com a melhora da função cardíaca e
renal e a hipercalemia começa a se resolver.
• Superfície tubular inadequada para a reabsorção (pre- A hipercalemia pode levar a arritmias cardíacas e a lesões ce-
ponderância da função glomerular no RN com idade rebrais. O Corticosteróide pré - natal, previne a hipercalemia não
gestacional menor que 32 semanas): desproporcional oligúrica pela estabilização da membrana celular que resulta na
balanço glomérulo-tubular. diminuição da saída de K+ do intracelular para o extracelular. Por-
• Deficiente reabsorção tubular distal de Na+: deficiente tanto, monitorizar o K+ sérico nas primeiras 72 horas de vida nos
resposta a aldosterona (adequada resposta a aldostero- RN com idade gestacional abaixo de 32 semanas pelo risco de
na ocorre a partir da 3ª semana de vida.). arritmia cardíaca e colapso cardiocirculatório.
• Contração do compartimento extracelular: na 1ª semana
196 de vida, há uma redução de 100ml/kg de líquido extrace- Monitorização do RN em Hidratação Venosa
lular, contribuindo com uma carga de aproximadamente
15mEq de Na+ ao rim. • Peso: uma ou mais vezes ao dia, respeitando a perda
• Produção limita da de H+ para a troca tubular com o Na+ ponderal fisiológica.
• Heterogenicidade anatômica e funcional do néfron (né- • Pele e mucosa: turgor, umidade e edema (pele e muco-
frons corticais imaturos/néfrons justamedulares maturos: sas secas: 5% de desidratação; diminuição do turgor e
14ª-20ª semana de vida, o padrão é mais homogêneo. elasticidade: 10% de desidratação)
• Cardiovascular: enchimento capilar, FC e pressão arterial
Portanto, monitorizar a oferta de sódio neste RN, principalmente a • Diurese: 1 a 3ml/kg/h (acima de 4ml/kg/h: poliúria)
partir da 1ª semana de vida, devido ao risco de hiponatremia. Usar • Densidade urinária : 1005 –1010 (150-360mOsm/l)
sempre o leite materno compatível com a idade gestacional (o teor de • Glicosúria negativa (se + glicemia está geralmente >
Na+ do leite materno da mãe do prematuro se iguala ao teor de Na+ 150mg%)
do leite materno da mãe do RN a termo somente no 2º mês de vida). • Glicemia: 70-140 mg%
Incluir no diagnóstico diferencial da hiponatremia do RN a secre- • Eletrólitos: Na+ - 135-145 mEq/l
ção inapropriada do hormônio antidiurético que se caracteriza por: • K+ - 3.5-5.5mEq/l
• Ca++ - 7.0-11 mg%
• Hiponatremia com hiposmolaridade sérica • Gasometria, uréia, creatinina, proteínas: quando necessário
• Perda renal contínua de Na+ • Desidratação:
• Ausência de evidência clínica de depleção de volume • Manifestações clínicas
• Maior osmolaridade urinária em relação à do plasma
• Função renal, adrenal e tireoidiana normal. Perda de Peso

A secreção inapropriada do hormônio antidiurético tem sido 5% 5 - 10% 10 - 15%


associada com: Diminuição Diminuição mais Todos os anteriores e
Ligação do ductus arteriosus patente, síndrome, hipóxico-is- do turgor acentuada do turgor e mais: sinais da falên-
quêmica e hemorragia intracraniana, doença da membrana hia- da elasticidade da pele cia da circulação
lina, pneumotórax, meningite, ventilação por máscara, deteriora-
Redução do Fontanela deprimida Palidez
ção da doença respiratória (a hipercapnia aumenta a secreção
volume urinário
do hormônio antidiurético).
Elevação discreta Diminuição da Enchimento capilar
Homeostase do K+: A hipercalemia (>6,5mEq%) ocorre em 30%
da temperatura tensão ocular deficiente e lento
nos RN extremamente prematuros. A hipercalemia tendo sido atri-
buída à imaturidade tubular, deficiente resposta tubular a aldos- Mucosas secas Pele fria
terona, deficiência enzimática (Na-K-ATPase) tubular, eritrocitária
e transferência do K+ do espaço intracelular para o extracelular
Capitulo 06 Distúrbios Metabólicos

Temperatura Taquicardia K+: 25 x 0,02 = 0,5 mEq


alta ou baixa (200bpm) * 25 ml na forma de secreção intestinal:
Taquicardia -Pulso periférico Na+: 25 x 0,12 = 3 mEq
débil K+: 25 x 0,01 = 0,25 mEq
Pulso fino
Adicionar 50% do volume calculado que é a previsão de perdas
Enchimento capilar
nas próximas 6 horas, apenas na primeira reposição do dia:
normal

Na = 1,75 mEq + 3 mEq + (50%) =


Tratamento 7,125 mEq Na+ ÷ 0,15 (soro fisiológico) = 46,3 ml
Os objetivos são: expansão, administração rápida de Na+, com- K+ = 0,5 mEq + 0,25 mEq + (50%) =
pensação das perdas contínuas de água, manutenção e reposi- 1,125 mEq K+ ÷ 1,3 = 0,9 ml KCl a 10 %
ção das perdas posteriores.
Expansão e administração rápida de sódio e compensação das Solução a ser prescrita:
perdas contínuas de água: (8ml/kg/h) • Soro fisiológico: 46,3 ml
• KCl 10%: 0,9 ml
• Fase rápida: • Água destilada: 28 ml
20ml/kg – de soro fisiológico a 0,9% em Y com a hidratação • Infundir 12,5 ml/hora em Y com a
venosa em 2 horas. • Hidratação venosa.
Com isto administramos 1.5mEq de Na+/kg(a célula aproveita
0.5-1mEq/kg/h de Na+) e mantemos a infusão contínua de glico-
se (a célula aproveita 0,5 g/kg/h de glicose) Correção do Distúrbio Eletrolítico
Após a fase rápida, o RN é reavaliado para a verificação da res-
posta ao tratamento (o restabelecimento da diurese é importante). Hiponatremia:

• Manutenção: usa a manutenção hidroeletrolítica confor- Hiponatremia com hipovolemia, associada com depleção de
me discutido anteriormente. sódio pelo rim ou outros órgãos:
Nota: para agregar 20 ml no Equipo, fazemos como no exem-
plo abaixo: peso(kg) X Na+ desejado (125) – Na+ encontrado X 0.7

SG 5% → 150ml (usar esta fórmula para correção de sódio menor ou igual a


KCl 10% → 1 ml 120mEq/l)
NaCl 20 % → 1 ml Valor encontrado: infundir em 2h como NaCl a 1,8%(transfor- 197
Gluc. Ca 10% → 2 ml mar NaCl a 20% em 1,8% diluindo-o em 11X). Não usamos o NaCl
a 3% (este se obtém diluindo o NaCl a 20% em 7X), como usa-
Calcular 13% de cada componente e a solução fica: do nas crianças maiores, devido a alta osmolaridade da solução
SG 5% → 150ml + 13% = 169,5 ml (veja a seguir).
KCl 10% → 1 ml + 13% = 1,13 ml
NaCl 20 % → 1 ml + 13% = 1,13 ml Ex: RN com peso de 1200g
Gluc.Ca 10% → 2 ml + 13% = 2, 26 ml 9º dia de vida – Na+= 120mEq%
1.2 X (125-120) X 0.7 = 4,2 mEq de Na+ = 1,2 ml NaCl 20%
• Reposição de perdas: todo líquido retirado (perdas anor- (1 ml de NaCl 20% = 3.4 mEq de Na+)
mais) deverá ser medido e reposto com o seu respectivo 1,2 X 11 = 13,2 ml. A solução fica:
teor de eletrólitos usando para isto a tabela, abaixo: Água destilada 13,2ml
NaCl 20% 1,2ml
Concentração de Eletrólitos em mEq/ml
(osmolaridade desta solução: 567mOsm/l; com o NaCl a 3%:
Sódio Potássio Cloro 850mOsm/l. Correr 14,4ml em 2h em Y com a hidratação venosa)
Suco Gástrico 0,07 0,02 0,12 Devido à alta osmolaridade da solução 3%, na Unidade de Ne-
onatologia do Hospital Regional da Asa Sul, diluímos em 11 ve-
Secreção Intestinal 0,12 0,01 0,10
zes, com o objetivo de oferecer MENOR osmolaridade da solução.
Urina 0,12 0,05 0,15
Lógico que se diluirmos mais, a osmolaridade será ainda menor,
Sangue 0,14 0,005 0,11 mas ao se corrigir uma hiponatremia de instalação aguda, é im-
Plasma 0,14 0,004 0,05 portante que seja feita sem um excesso de líquido, pois o orga-
Suspensão de glóbulos 0,02 0,08 0,05 nismo só vai aproveitar deste sódio depois de se livrar da água
Secreção de Queimados 0,14 0,005 0,15 administrada concomitantemente. E por isto que não se faz uma
correção desta hiponatremia aumentando o sódio na solução e
também não se usa o soro fisiológico.
A reposição deverá ocorrer de 6/6 horas se as perdas supera- Segundo José de Magalhães Carvalho (Distúrbios Hidreletro-
rem 10% da taxa hídrica devendo ser feita uma previsão de 50 % líticos extra e intracelulares em Pediatria, Guanabara Koogam,
da perda reposta (metade na forma de suco gástrico e metade na 1974), a natremia só cai a valores tão baixos quando o organismo
forma de suco intestinal). Exemplo: sofre uma espoliação aguda de sódio maior do que o de água,
1200 gr. - 2 dias - 1º de DPO de gastrosquise. ou quando se lhe administra muito mais água do que sódio. O
Como repor uma perda de 50 ml em 6 horas: único meio de corrigir com presteza é inverter as condições de
25 ml na forma de suco gástrico: instalação, dando ao paciente mais sódio que água em relação
Na+: 25 x 0,07 = 1,75 mEq com a composição do fluido extracelular. Se a proporção normal

Paulo R. Margotto
Assistência ao Recém-Nascido de Risco

é de 152mEq/l de H2O de sódio no plasma, a solução a ser dada Osmolaridade da Solução


deverá conter pelo menos o dobro de sódio em relação com o
solvente, a fim de se colocar sódio “livre” a disposição do organis- Osmolaridade De Algumas Soluções
mo. Se usarmos soro fisiológico, não reverteremos o processo em
curso e o organismo só poderá contar com o sódio “livre” quando Soluções % mEq/ml mOsm/ml
conseguir eliminar a parte da água com que foi administrado. 0,9 0,154 0.308
Enquanto isto estaremos perdendo tempo.
17,55 2.98 5,96
NaCl
20 3.4 6,8
Hiponatremia Com Hipervolemia
7,5 1.05 2,1
insuficiência cardíaca congestiva. Secreção inapropriada do 10 1.35 2,7
hormônio antidiurético. O tratamento consiste na restrição hídri- KCl 14,9 2.1 4,2
ca e às vezes com furosemide na dose de 1-2 mg/Kg/dia. NaCl 20 2.7 5,4
a 3% ( 1ml=0.5mEq) 1,4 0,17 0.34
NaHCO3 7.5 0,9 1,8
Hipernatremia
8,4 1 2
Gluconato
(sódio sérico maior que 150mEq/l) 10 0,5 1
de cálcio
• Correção gradual do sódio para evitar convulsões e morte.
• Redução gradual da concentração de Na+ sérico de 1 a 50 4 8
1.5 Meq /100 ml de líquido infundido diariamente. MgSO4 12.5 1 2
10 0,8 1,6
Hipocalemia
Fosfato
2 4
Ácido de K
Aumento da concentração K+ até 8 mEq% da solução infun-
dida/dia. Em situações de emergência ( potássio inferior à
2,5mEq/l. como em uma intoxicação digitálica), fazer uma infu- Glicose 5%- mOsml/ml: 0,29
são de potássio de 0,4mEq/Kg/h por um período de 4-6 horas. Glicose 10% - mOsml/ml: 0,58
Exemplo: Exemplo: SG 5% 30 ml (130 X 0.29=37.7mOsm)
K+= 2,3mEq%, peso=1,78kg. AD ml
Correção com KCl a 10% \(1 ml = 1,34 mEq) NaCl 20% 1.76ml (1.76 X 6.8=11.97 mOsm)
0,4 x 1,78 x 6/1,34= 3,1 ml de KCl a 10% (4,2mEq de K+) KCl 15% 2ml ( 2X 4.2=8.4mOsml)
198 Gluc. de Ca 10% 2 ml (2 X 1=2 mOsml)
Solução a ser usada: Total = 37.7+11.97+8.4+2=60.07 mOsml
80mEq - 1000 ml Osmolaridade da Solução em mOsm/l
4,2mEq - X 200 ml 60.07 mOsm
X=53,4 ml. 1000 ml x x = 300.35 mOsm/l
Manter sempre a osmolaridade básica da solução em relação
Prescrição: ao sódio entre 40 e 60 mOsm/l. No exemplo acima, a osmolari-
KCL a 10% - 3,1 ml dade do Na+ em mOsm é:
Água destilada: 53,4 ml. 200ml 11.97 mOsm de Na+
Correr 8,4 ml/hora (em 6 horas) 1000ml x=59.85 mOsm/l

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• suspender a oferta de K+ • Margotto, PR. Distúrbios Metabólicos do RN – Água, sódio, potássio, cálcio, plano de hidra-
• gluc. de Ca 10% : 2.4ml em 1h tação parenteral, plano de hidratação oral. Boletim Informativo Pediátrico (BIP)-Brasília, Nº
19, 1982.
• NaHcO3 8.4% : 2.4ml + 10ml de AD em 15 min. • Comitê de Perinatologia da SOPERJ – Hidratação no RN: Manual de Perinatologia. Miranda
LEV e Lopes JMA, p. 113, 1990.
• 19ml SG 25% (15min) + 4.8 unidades insulina 1U/g glicose • Gallaci CB, Sanches AJ. Sódio, potássio e Equilíbrio Ácido-Básico. In: Diniz EMA. Manual de
Neonatologia. Rio de Jneiro-Editora Revinter Ltda, pg 185, 1994
• Casarteli C, Brugger E. Distúrbios hidreletrolíticos. In Piva JP, Garcia PC. Terapia Intensiva em
4g glicose/kg = 1.2X4=4.8g Pediatria. Rio de Janeiro-Editora Médica e Científica Ltda, 3ª Edição, pg 477, 1992
• Omar SA, De Cristofaro JD, Agarwal BI, La Gamma E F. Effect of prenatal steroids on potas-
(1ml SG 25%=0.25g) sium balance in extremely low birth weight neonates. Pediatrics 106: 561, 2000.
4.8 x 0.25 = 19.2 ml SG 25% • Carvalho MJ. Distúrbios Hidreletrolíticos extra e intracelulares em Pediatria, Guanabara
Koogam, 1974
• Gruskay e cl. Nonoliguric hyperkalemia in the premature infant weighing less than 1000g. J
Pediatr 113:381, 1988
Salbutamol: consulte capítulo de Insuficiência Renal Aguda. • Kuckow M, Hipercalemia no RN pré-termo extremo: uma das complicações do baixo fluxo
sanguíneo sistêmico. Disponível em www.pauomargotto.com.br, em Distúrbios Metabólicos
(acessado dia 8/3/2009)
• Vemgal P, Ohlsson A. Interventions for non-oliguric hyperkalaemia in preterm neonates..Co-
chrane Database Syst Rev 2007
Capitulo 06 Distúrbios Metabólicos

6.4 ERROS INATOS DO METABOLISMO

Maria Teresinha de Oliveira Cardoso

Garrot, em 1908, criou a expressão Erros Inatos do Metabolis- degeneração. Entre os distúrbios de síntese ou catabolismo de
mo (EIM) para descrever doenças determinadas geneticamente, moléculas complexas estão:
causadas por um defeito enzimáticos específico que leva a um
bloqueio em vias metabólicas específicas, com conseqüente acú- • Doenças Lisossomais
mulo de substrato ou deficiência de um produto. • Doenças Peroxissomais
Cerca de 10% das patologias genéticas decorrem de EIM cuja • Defeitos De Glicosilação
base bioquímica envolve defeitos de uma ampla variedade de • Deficiência De Alfa1 Antitripsina
proteínas, receptores de membrana, proteínas do colágeno, pro- • Defeitos Na Síntese Do Colesterol.
teínas de transporte, hormônios peptídicos, imunoglobulinas,
fatores de coagulação e defeitos nos processo de glicosilação Sintomas Agudos No Período Neonatal
protéica. A grande maioria dos EIM envolve anormalidades nas
enzimas e proteínas de transporte. O Recém nascido (RN) apresenta repertório limitado de respos-
Embora individualmente raras, doenças metabólicas hereditá- tas a quadros nosológicos severos e os EIM podem se apresentar
rias (EIM) como grupo afetam 1 a 2% de todos os recém-nasci- com sintomas não específicos freqüentemente atribuídos a qua-
dos, percentual que se eleva em grupos de risco. dros infecciosos como:
Um grande número de defeitos metabólicos hereditários são
tratáveis e a evolução do quadro depende do rápido diagnósti- • Desconforto respiratório/apneias
co e precoce instituição do tratamento. Mesmo em casos não • Hipotonia
tratáveis o diagnóstico permitirá o aconselhamento familiar com • Sucção débil
orientação do risco de reincidência em próximas gestações. • Vômitos
• Diarréia e desidratação
Classificação Dos Erros Inatos • Letargia /coma
Do Metabolismo • Convulsões

Do ponto de vista da fisiopatologia, esses distúrbios po- Frequentemente há relato de óbito infantil anterior na irmanda-
dem ser divididos em três (3)grandes grupos diagnósticos de, falsamente atribuído à quadro séptico,insuficiência cardíaca
Fernades,Saudubray e cl,2006): ou hemorragia intraventricular. 199
No grupo I: o quadro clínico extremamente sugestivo é aquele
Grupo I: Erros inatos do metabolismo intermediário que culmi- de um RN a termo, nascido de parto vaginal sem intercorrências,
nam em intoxicação aguda ou crônica; que após um período livre de sintomas, de horas ou semanas, na
As doenças metabólicas enquadradas no grupo I compreendem as: dependência da intensidade do bloqueio metabólico, inicia um
quadro progressivo de deterioração sem causa aparente não res-
• Aminoacidopatias, ponsivo às terapias convencionais
• Acidemias orgânicas No grupo II: a apresentação clínica é menos característica, com
• Defeitos do Ciclo da uréia severidade variável, sem intervalo livre de sintomas. A hipotonia do-
• Intolerâncias aos açúcares. mina o quadro com envolvimento cardíaco e hepático. A Hiperlacti-
cemia com ou sem acidose metabólica é o achado mais freqüente.
Caracterizam-se por apresentarem intervalos livres de sinto- No grupo III a maioria das doenças desse grupo como as Do-
mas e relação evidente com o aporte alimentar. As manifesta- enças Peroxissômicas e os Defeitos de Glicosilação apresenta
ções levam, de maneira geral, à intoxicação aguda e recorrente dismorfias, hipotonia, severo comprometimento neurológico,
ou crônica e progressiva. visceromegalias e alterações hematológicas.As raras doenças
lisossomais que se manifestam no período neonatal cursam com
Grupo II: Deficiência na produção ou utilização de energia. dismorfias, visceromegalias, alterações ósseas e hidropsia fetal.
O grupo II inclui doenças cuja clínica decorre de alterações de
produção ou consumo energético. Em sua maioria, comprome- Quadro Clínico Geral
tem fígado, miocárdio, músculos em geral e cérebro. Manifes-
tam-se, em especial, com retardo de crescimento, hipoglicemia, Nos neonatos, as principais apresentações são (Scriver e cl,1995)
hipotonia generalizada, miopatia, insuficiência cardíaca e morte
súbita. Exemplos desse grupo são: 1. Deterioração Neurológica -é a apresentação mais co-
mum na Leucinose, no Ciclo da Uréia..O tratamento ini-
• Glicogenoses, ciado imediatamente evita seqüela cerebral
• Hiperlacticemias congênitas 2. Insuficiencia Hepática- Ictericia prolongada - na
• Doenças mitocondriais da cadeia respiratória Galactosdemia,na intolerância à frutose e Tirosinemia
• Defeitos na beta oxidação de ácidos graxos tipo I. Seu controle é emergencial
3. Hipoglicemia – presente especialmente nos três gru-
Grupo III: Distúrbios de síntese ou catabolismo de molécu- pos de doenças: Hiperinsulinismo, - Glicogenosis e Defei-
las complexas. tos da Beta oxidação mitocondrial
Os distúrbios do grupo III apresentam sintomas permanentes 4. Insufuciencia Cardíaca - doença cardíaca tratável no
que tendem a se acentuar ao longo do tempo, como face gros- recém nascido,é caracteristica marcante nos defeitos da
seira, visceromegalias, alterações ósseas progressivas e neuro- beta oxidação mitocondrial

Paulo R. Margotto
Assistência ao Recém-Nascido de Risco

5. Hiperlacticemia primária–associada ao deficit ener- • Alterações Hematológicas (Anemia, Leucopenia, Trom-


gético celular, pode apresentar resposta com uso de Vita- bocitopenia)
minas/Cofatores em alguns defeitos
6. Convulsões intratáveis- nesses casos deve-se sitema- A Acidemia metilmalônica, acidemia propiônica e isovalérica, as
ticamente tentar o uso de Piridoxina ou piridoxal fosfato, mais freqüentes acidemias orgânicas do recém-nascido, manifes-
acido folínico ou biotina tam-se com cetoacidose, alterações hematológicas com discrasias.
7. Distúrbio do equilíbrio Acido-básico, nas Acidemias A terapêutica básica consiste de restrição protéica específica, ad-
orgânicas e Ciclo da Uréia. ministração de L-Carnitina na dose de 50 a 100 mg/Kg/dia; uso de
vitamina B12→0,5mg/dia no caso da Acidemia metilmalônica.
Além dos sintomas gerais inespecíficos, manifestações especí- O uso de formulas especiais está indicado após diagnóstico
ficas são características dos grandes grupos de EIM : laboratorial.
Pacientes com Acidemia metilmalônica têm uma semelhan-
Quadro Clínico Específico ça chamativa entre eles,que inclui fronte ampla,ponte nasal
alargada,pregas epicanticas, filtro nasolabial longo e liso, boca
A maioria dessas patologias manifestam–se com descompen- triangular(Nyhan, e cl, 2005).
sação metabólica aguda, precipita pelo jejum prolongado, do-
enças infecciosas, febre elevada e sua incidência coletiva é em Defeitos Da Beta Oxidação De Ácidos Graxos
média 1/500 recém-nascidos (Applegarth e cl,2000).
Recém nascido a termo, com poucos dias ou semanas de vida A oxidação de ácidos graxos desempenha importante papel na
podem apresentar sintomas e sinais como alterações metabóli- produção de energia mitocondrial. Durante o jejum eles são res-
cas, letargia, recusa alimentar, vômitos, taquipneia pela acidose, ponsáveis por 80% da energia necessária através da síntese de
diminuição da perfusão, crises convulsivas, coma com hipo ou corpos cetonicos hepáticos ou da oxidação direta em outros teci-
hipertonia, opistótono, movimentos mastigatórios e mioclonias dos.Acidos graxos de cadeia longa são a principal fonte energéti-
Quadro semelhante à síndrome Reye,encefalopatia hepática ca para o tecido cardíaco e também serve como fonte de energia
não específica com hipoglicemia pode se manifestar secundá- para os músculos estriados.
ria à alteração na Gliconeogênese, na Beta oxidação de ácidos O fenótipo clínico da maioria das formas manifesta-se com sinais
Graxos,defeito no transporte de elétrons mitocondrial ou no me- de envolvimento cardíaco, hepático e da musculatura esquelética.
tabolismo de ácidos orgânicos. O mais comum dos defeitos de beta oxidação, Acil-coA desi-
Acidemias orgânicas e Defeitos de beta oxidação de Ácidos drogenase de Cadeia Média (MCAD), com elevada freqüência da
graxos são os mais comuns EIM com risco de vida.A elevada mutação A9856 em crianças européias, pode manifestar-se com
freqüência de mortalidade e a alta morbidade, aliadas à possi- hipoglicemia, vômitos, convulsões e letargia após jejum prolonga-
bilidade de tratamento, torna obrigatório seu diagnóstico. Defei- do ou stress físico ou orgânico.O tratamento básico consiste em se
200 tos da desidrogenase de ácidos graxos de cadeia média (MCAD) evitar o jejum prolongado, com dieta fracionada em intervalos me-
representa o mais freqüente defeito de beta oxidação e um das nores que 3 horas e administração de Amido cru 0,25gr/kg nos in-
principais causas de morte súbita na infância. (.Klose e cl,2002) tervalos das refeições e á noite(Fernandes, Saudubray e cl, 2006).
As acidemias orgânicas cerebrais manifestam–se com ca-
racterísticas neurológicas progressivas e crises epilépticas em Aminoacidopatias
geral após um quadro de descompensação aguda, como na aci-
demia glutárica tipoI. Os aminoácidos desempenham papel fundamental na constru-
Com quadro clinico altamente diverso em suas manifestações ção das proteínas com funções estruturais, enzimáticas e hormo-
pode-se associar disfunção do Sistema Nervoso Central, com en- nais. Dos 20 aminoácidos existentes, 10 são essenciais, tendo
cefalopatia aguda ou crônica e disfunção de Fígado, Rins, Olhos, como fonte os alimentos.
Ossos, sangue, músculos, Sistema Gastrointestinal e Pele. A Defeitos em seu metabolismo embora não apresentem ceto-
avaliação metabólica torna-se imperativa com determinação de: acidose evoluem com Encefalopatias progressiva e Crises epi-
Amônia, Glicemia, Lactato, Gasometria e eletrólitos. lépticas. Entre elas:
Assim o perfil bioquímico associado a achados multissistêmicos e
dismorfológicos permite formulação de um padrão de reconhecimento. • Tirosinemia
• Leucinose
Acidúrias Orgânicas Clássicas • Ciclo da Uréia

Acidemias ou Acidúrias orgânicas são geneticamente determi- O catabolismo de Aminoácidos produz amônia livre altamente
nadas por deficiência de enzimas do Metabolismo Intermediário tóxica ao Sistema Nervoso Central (SNC) que deve ser detoxifica-
com acúmulo de ácidos Carboxílicos. da pelo ciclo da Uréia, e defeitos em um de seus passos enzimá-
Em países desenvolvidos,apresenta-se em 1/2200 nascimen- ticos causam sintomas que em geral se iniciam com a introdução
tos, sendo um dos grupos mais freqüentes de EIM da alimentação protéica levando ao quadro de:
As manifestações clínicas são variáveis, em geral de início sú-
bito, no período neonatal, com sintomas graves simulando um • Recusa alimentar/Vômitos
quadro séptico, evoluindo para o óbito. • Taquipnéia
Apresentam: • Letargia/Coma

• Acidose metabólica Tirosinemia tipo I ou Tirosinemia Hepatorenal – apresenta ma-


• Anion-gap >20 Hiperamonemia nifestações clínicas variáveis.A forma aguda manifesta-se antes
• Lactacticemia dos 6 meses de idade com disfunção hepática aguda,septicemia,
• Hipotonia hipoglicemia e disfunção renal. Na cromatografia de aminoáci-
• Convulsão dos detecta-se aumento de Tirosina e Metionina. Os valores de
• Coma
Capitulo 06 Distúrbios Metabólicos

Alfa-Fetoproteina encontram-se elevados. Na urina, o achado de Sintomas inespecíficos como hipotonia, taquipneia, dificuldade de
Succinilacetona elevado tem valor diagnóstico. alimentação e de crescimento, manifestações hepáticas, cardía-
Deve–se fazer o diagnóstico diferencial com cas e neurológicas com crises convulsivas são as mais freqüentes
Galactosemia,Intolerância à Frutose e Defeitos de Cadeia Respi Do ponto de vista bioquímico, marcadores como elevação do
ratória (Zschocke e Hoffmann, 2007). Lactato plasmático e urinário assim como dos ácidos orgânicos
Deve - se iniciar dieta restrita em Tirosina e Fenilalanina com do Ciclo de Krebs, são característicos do bloqueio da função de
formulas especiais. Oxiredução mitocondrial.
O uso de Nitisinona (NTBC), bloqueia o acumulo de metabolitos O Tratamento inicial se faz com uso de cofatores (Tiamina,
tóxicos,diminuindo o risco de hepatocarcinoma.O transplante he- Riboflavina, L Carnitina e Coenzima Q10) ; para alguns deve se
pático está indicado em casos específicos. administrar Bicarbonato de Sódio e dieta cetogenica.(Garcia-
Carzola, e cl, 2005).
Leucinose ou Doença do Xarope de Bordo (Maple Syrup Di- Como rotina para investigação de citopatias mitocondriais deve
sease: MSUD), causada pela deficiencia do Complexo de Deso- se solicitar:
drogenases dos cetoacidos de cadeia ramificada. Recém-nascido
com o quadro clássico, já no pos-parto cursam com progressivo • Hemograma, Glicemia, Lactato
aumento dos aminoácidos de cadeia ramificada, leucina, isoleu- • Enzimas Hepáticas e Musculares
cina e valina, independente da ingestão protéica, em decorrência • Determinação dos Aminoácidos plasmáticos
do catabolismo protéico endógeno. Em 48hs após o parto, o re- • Determinação dos ácidos orgânicos
cém-nascido apresenta cetonuria, tornando-se irritado,distônico, • Avaliação da função Renal
letargico com dificuldade de sucção.Concomitante aos sintomas, • Avaliação Cerebral, Ocular e Audiológica
surge o característico odor doce, caramelado do xarope de bordo.
(Morton, e cl, 2001). Distúrbios do Metabolismo de Carbohidratos
Com 04 dias de vida, os sinais neurológicos incluem disto-
nia, letargia alternando com irritabilidade, apneia, convulsões e Destacam se neste grupo de início neonatal as Glicogenoses, a
sinais de dano cerebral focal. Apesar desse comprometimento Galactosemia e os Distúrbios do Metabolismo do Piruvato.
sistêmico, não se detecta grandes alterações nas avaliações Das 9 formas de Glicogenoses, apenas uma apresenta heran-
bioquímicas de rotina. Praticamente não se evidencia acidose, ça ligada ao X, as demais são autossômicas recessivas, e divi-
hiperamonemia ou hiperlacticemia dem se em formas hepáticas e formas musculares.
A principal conduta visa o controle de edema cerebral, ava- Uma vez que o metabolismo de Carbohidratos no fígado é o
liação da tensão fontanelar, do perímetro cefálico e dos sinais responsável pela homeostasia da glicose no plasma, as glicoge-
vitais, com minimos processos invasivos.Manter a osmolarida- noses hepáticas tipicamente causam :
de plasmática em torno de 300mosm/L, a Natremia acima de
140mEq/L e a produção urinária de 2 a 4 ml/kg/h com densida- Hipoglicemia e Hepatomegalia 201
de inferior a 1010.Se necessário administrar Furosemida.Manitol
só deve ser administrado se houver sinais de hipertensão intra- Os pacientes com Glicogenose tipo I, apresentam no período
craniana. (Morton, e cl, 2002). neonatal ou nos primeiros 6 meses de vida :
Deve se no mínimo fazer diariamente o teste da Dihidrofenihi-
drazina para controle da concentração dos aminoácidos de ca- • Hepatomegalia sem esplenomegalia e Nefromegalia
deia ramificada;leucina, isoleucina e valina.Está indicado o uso • Hipoglicemia, acidose metabólica com hiper lactice-
de fómulas especiais após confirmação específica. mia e convulsões

Defeitos do ciclo da ureia - Os distúrbios do ciclo da uréia A Galactosemia representa uma grave patologia de iní-
manifestam-se com alcalose respiratória em decorrência da hi- cio neonatal, com incidência de 1/18000, variando com a
peramonemia que estimula o centro respiratório e cursam com população(Zschocke e Hoffmann,2007)
Encefalopatias progressivas e Crises epilépticas. Na forma clássica, por deficiência de galactose–1–uridil
A Deficiência de Ornitina transcarbamilase (OTC) é a deficiên- transferase, ocorre acúmulo de galactose–1-fosfato, com lesão
cia mais comum do Ciclo da Uréia, que se manifesta com vômi- renal,hepática e cerebral de início pré-natal, decorrente da ga-
tos, alcalose respiratória, encefalopatia e hiperamonemia, após lactose transplacentária materna e por produção fetal endógena.
um intervalo livre de sintomas em recém nascido a termo, sem Este diagnóstico sempre deve ser considerado quando o RN
intercorrencia perinatal. apresentar:
Patologia de herança ligada ao cromossomo X,pode também
se manifestar no sexo feminino de forma mais leve, com sinais de • Icterícia
intolerância proteica.O tratamento preconizado visa diminuir os • Hepatomegalia
níveis de Amônia que é neurotóxica, com restrição da carga pro- • Hipoglicemia
téica e uso de substâncias removedoras da amônia sanguinea • Vômitos
como Benzoato de Sódio, Fenilacetato de sódio e complemen- • Convulsões
tação com Arginina. Em casos graves está indicado transplante • Irritabilidade
hepático (.Raghuveer, e cl, 2006). • Perda de peso
• Dificuldade de sucção
Doenças Mitocondriais • Quadro séptico Neonatal por Escherichia coli

Citopatias mitocondria is são consideradas um das mais preva- O principal tratamento consiste na restrição dietética de todo
lentes doenças metabólicas, apresentando uma grande variabili- alimento contendo lactose (Raghuveer e cl, 2006).
dade fenotípica e muitas vezes um curso rapidamente progressivo.
A apresentação neonatal é freqüente em decorrência da alta
taxa metabólica requerida pelo crescimento do Recém–nascido.

Paulo R. Margotto
Assistência ao Recém-Nascido de Risco

Distúrbios Do Metabolismo Do Piruvato O diagnóstico de certeza das várias formas de doença peroxis-
sômica se faz pela dosagem de Ácidos graxos de Cadeia muito
O piruvato é metabolizado através de 04 sistemas enzimáticos: longa, elevação de Ácido fitânico e Ácido pipecólico.

1. Lactato desidrogenase Defeitos na Biosintese do Colesterol


2. Alanina amino-transferase
3. Piruvato carboxilase A Síndrome de Smith Lemli-Optiz, uma das mais comuns sín-
4. Piruvato desidrogenase dromes dismórficas, com freqüência de 1/20000 a 1/40000,
decorrente de um erro inato no metabolismo do Colesterol.Este
Deficiências do complexo piruvato cursam com um amplo es- está envolvido em vias de sinalização embriônica, interferindo
pectro de apresentações. com a expressão do gene Sonic Hedgehog.Crianças afetadas
No período neonatal : apresentam defeitos cerebrais, incluindo defeito de corpo ca-
loso, hipoplasia de lobos frontais, hipoplasia cerebelar e várias
• Acidose láctica letal formas de holoprosencefalia.Niveis plasmáticos de Colesterol
• Lesões císticas da substância branca, são baixos,com elevação de seu precursor,7-dehidrocolesterol,
• Agenesia de corpo caloso. em decorrencia de um defeito na enzima 7-dehidrocolesterol-d-
reductase (DHCR7).
Em geral esse complexo apresenta prognóstico severo a não Ocorre melhora significativa do desenvolvimento neurológico
ser nos casos associados à afinidade alterada para tiamina-piro- com dieta de alta concentração do Colesterol (Lyon,Kolodny e
fosfato nos quais a suplementação com altas doses de TIAMINA cl,2006).
apresentam melhora do quadro.
Deficiência do Cofator Molibdenium
Doenças Lisossômicas de Depósito (DLD)
A deficiência isolada de sulfito oxidase e a deficiência do cofa-
As DLD são EIM causados por deficiência de enzimas lisossô- tor Molibdenium são patologias de etiologia autossômica reces-
micas envolvidas na degradação de macromoléculas, levando ao siva, com manifestações idênticas e lesões cerebrais.Em geral
acúmulo progressivo de seus substratos, com ação tóxica e de- são recém-nascidos a termo, sem intercorrências perinatais,que
sorganizadora dos componentes celulares. entre a primeira e segunda semana de vida passam a apresentar
Dividem se em 5 principais grupos,de acordo com a substância crises convulsivas refratárias às terapias convencionais.O perí-
acumulada: Esfingolipidoses, Mucopolissacaridose, Glicoprotei- metro cefálico é normal ao nascimento e o RN pode apresentar
noses e Mucolipidoses. dismorfias como enoftalmia e telecanto, narinas antevertidas,
Em geral as DLD iniciam se após o período neonatal; nos casos face triangular com ponte nasal alargada e palato mole fendido.A
202 de Sialidose tipo II o RN pode apresentar fácies grosseira altera- luxação do Cristalino pode estar presente ao nascimento. Ima-
ções ósseas com fraturas e ascite. gens neuroradiológicas cerebrais mostra Leucoencefalopatia
multicistica.(Lyon,Kolodny,2006).
Doenças Peroxissômicas Para que se faça um diagnóstico correto é preciso suspeitar,
levantar hipóteses, e para tal, é preciso conhecer.
Peroxissomos são organelas citoplasmáticas onde ocorrem Embora os sintomas de um EIM possam ocorrer horas, meses
as reações: ou anos após o nascimento,.grande parte dos defeitos se mani-
festam no período neonatal.
1. Síntese De Plasmalogenos, Colesterol,Ácidos Suspeitar de EIM em RN de risco é essencial e constitui o pri-
Biliares,Transaminação Do Glioxalato Em Glicina; meiro passo para o diagnóstico.A obtenção minuciosa de sua his-
2. Beta- Oxidação Dos Ácidos Graxos, Ácidos Dicarboxíli- toria familiar e as intercorrencias obstétricas materno-fetais são
cos De Cadeia Longa E Cadeia Lateral Do Colesterol; fundamentais uma vez que a maioria dessas patologias são de
3. Oxidação Do Ácido Pipecólico. etiologia autossômica recessiva e o fator consangüinidade pode
estar presente.
Entre as doenças Peroxissômicas, de início neonatal, temos a Assim aos sinais e sintomas devem se somar a história clínica
Síndrome de Zellweger cursando com: e familiar.conforme quadro I

• Dismorfismos característicos Movimentos fetais


• Hipotonia severa Historia gestacional Síndrome HELLP
• Crises epilépticas
• Catarata/ Glaucoma /Opacificação de Córnea Consanguinidade
• Retinopatia pigmentar Historia Familiar Óbitos neonatias ou infantis
• Displasia do nervo Óptico Dados de 03 gerações
• Hepatomegalia
Hipoglicemia inexplicada
Encefalopatia
Pacientes com Adrenoleucodistrofia neonatal apresentam pou-
Aversão protéica
cos dismorfismos e manifestam:
Comportamento automutilante
Outra criança com Sintomas psiquiátricos
• Crises epilépticas
Crises epilepticas
• Hepatomegalia
Hipotonia
• Retinopatia pigmentar
Regressão neurológica
• Disfunção Adrenocortical
Atraso na fala

Quadro I - Dados da História sugestivos de EIM


Capitulo 06 Distúrbios Metabólicos

À história clínica e obstétrica deve se somar os achados do cerebrais associadas como na deficiência do complexo piruvato
exame física do recém-nascido. desidrogenase.
Deficiência de Carboxilases Múltiplas responsiva a Biotina
Alterações de cabelos apresenta se com acidemia láctica e a administração de Biotina
Alterações de pele está indicada em todos os pacientes com acidose láctica.A admi-
Dismorfias Hepatomegalia nistração deve se iniciar imediatamente após coleta de amostras
Cardiomiopatia de sangue e urina para estudo da patologia específica.
Odor
Distonias • Tipo 4a - Distúrbio neurológico com Hiperamonemia
Macrocefalia sem Cetoacidose representa um dos mais importantes
Sinais neurológicos grupos de EIM no RN
Microcefalia
Atraso de crescimento Hiperamonemia primária por defeito do Ciclo da Uréia apre-
senta um período variável livre de sintomas. Um breve período de
Quadro II - Achados sugestivos ao Exame físico hipertonia com tremores ou repuxos precede o coma hipotônico
profundo, rapidamente comprometendo as funções cardio-circu-
Quando Suspeitar De Erro Inato Do Metabolismo latórias.Ocorre depleção dos fatores de coagulação, elevação da
aminotansferases (transaminases), hepatomegalia. Hiperamo-
Sintomas agudos no período neonatal são denominados dis- nemia com alcalose respiratória, pH>7,40 e ausência de ce-
túrbios metabólicos neonatais e apesar de um grande número de tonúria faz o diagnóstico diferencial das acidemias orgânicas. A
EIM ser observado neste período, didaticamente podemos listar retirada imediata do leite materno e introdução de dieta com baixa
os pacientes em uma de 5 síndromes bioquímicas (Scriver,1995): concentração protéica, em torno de 1mg /Kg /dia é imperativo.
Distúrbios da oxidação de ácidos graxos também se apresen-
• Tipo 1 - Distúrbios neurológicos com cetose ta com hiperamonemia no período neonatal, hipoglicemia, dis-
A mais freqüente aminoacidopatia aguda tóxica, a Doença do função hepática, sintomas cardíacos, musculares e morte súbita.
xarope de bordo ou Leucinose,manifesta se após período de 4
a 5 dias livre de sintomas, quando surge dificuldade de alimen- • Tipo 4b - Distúrbios neurológicos sem cetoacidose e
tação, episódios de hipertonia com opistótono, movimentos de sem hiperamonemia é típico de Hiperglicinemia não ce-
pedalar que evoluem para o coma. tótica que cursa com hipotonia, mioclonias,aparecendo
No teste de triagem, aparece na urina Dinitrofenilhidrazina ao nascimento ou poucas horas após,com história de
(DNPH), pH em torno de 7,30 e a cromatografia de aminoácidos hipóxia perinatal,evoluindo para o coma.O EEG mostra
no plasma mostra elevação dos aminoácidos de cadeia ramifica- sempre padrão de surto-supressão.
da : Leucina, Isoleucina e Valina. O diagnóstico se faz pela presença de níveis elevados de gli-
cina no plasma e principalmente no Liquor, com relação LCR/ 203
• Tipo 2 - Distúrbios neurológicos com Cetoacidose e Hi- plasma aumentada.
peramonemia O espectro clínico da Deficiência de sulfito oxidase inclui hi-
Este tipo inclui as Acidemias Orgânicas que se manifestam potonia, crises convulsivas com mioclonias, microcefalia e dis-
entre o 1º e 4º dia de vida com recusa alimentar e queda agudo morfismos, com deslocamento de cristalino no período neonatal
de estado geral. Hipotonia truncal, hipertonia apendicular com sendo frequentemente sub-diagnosticada.
tremores de grande amplitude representado o tipo dominante de Doenças peroxissomicas se apresentam no período neonatal
alteração de movimento. O RN apresenta desidratação, acidose, com hipotonia generalizada severa, crises epilépticas de início
hipotermia, evoluindo para o coma em poucas horas ou dias. precoce, e dismorfismos cranio-faciais.
Na acidemia Isovalérica, o cheiro forte de pés suados está presente.
A urina apresenta corpos cetônicos. A presença de neutro- • Tipo 4c - Doenças de Depósito sem alterações metabólicas
penia e trombocitopenia é comum, simulando quadro séptico. Poucas doenças de depósito se expressam clinicamente no
Hiperamonemia é achado constante, ás vezes em níveis seme- período neonatal e podem estar associadas à hidropsia fetal, as-
lhantes aos defeitos do ciclo da uréia. cite, edema como GM1 Gangliosidose, Doença de Gaucher, Mu-
Acidemia Metilmalônica, Acidemia Propiônica e Acidemia Iso- copolisacaridose tipo VII, Sialidose, Sialúria, Niemann-Pick tipo C.
valérica são as mais freqüentes.
Acidúria glutárica tipo II, deficiência de Múltiplas Acil CoA desi- • Tipo 5 - Hipoglicemia com Hepatomegalia e Disfunção
drogenases, deficiência de hidroximetilglutaril CoA liase cursam Hepática
com hipoglicemia sem cetose. a) Quadro hipoglicêmico com crises epilépticas, hepatomega-
O diagnóstico de certeza dessas acidúrias orgânicas se faz por lia, cetose e acidemia láctica estão presentes e o RN melhora
cromatografia gasosa e espectrometria de massa no sangue e urina. sensívelmente com administração de glicose. Pertencem a esse
grupo : Glicogenoses, deficiência de frutose 1, 6 difosfatase.
• Tipo 3 - Distúrbio Neurológico com Acidose Láctica b) Tirosinemia, Galactosemia, Deficiência de alfa 1 antitripsina,
Predomina nesse grupo a Acidose com Anion gap elevado. Ceto- Doença de Wilson, Hemocromatose neonatal, cursam com icte-
se está presente nas acidemias lácticas primárias e ausente nas se- rícia e hipoglicemia
cundárias por hipóxia, devendo se iniciar terapia com bicarbonato. Dos aspectos aqui discutidos depreende–se que EIM apresen-
Acidemias lácticas primárias constitui um grupo complexo, sen- tam quadros clínicos e laboratoriais diversos, porém sintomas ge-
do os defeitos do metabolismo do piruvato os mais freqüentes. rais inespecíficos atribuídos a insultos ainda no período pré-natal;
Deficiência de piruvato carboxilase apresenta relação lacta- quando presentes, representam valiosas pistas diagnosticas.
to/piruvato elevada com disfunção hepática. Assim, suspeitar sempre de EIM quando o RN apresentar:
Distúrbios das cadeias respiratórias são freqüentes no RN
com hipotonia severa, cardiomiopatia dilatada tipo hipocinético,
insuficiência respiratória,severa acidemia láctica com rápida de-
terioração neurológica.Pode haver dismorfismos e malformações

Paulo R. Margotto
Assistência ao Recém-Nascido de Risco

Diagrama 1 (Raghuveer e cl,2006) Diagrama II


Embora as alterações metabólicas muitas vezes se manifes-
Abordagem clínica do Recém-nascido com acidemia orgânica
tam inicialmente associadas a quadros infecciosos, deve se
descartar infecção isolada para passar ao Diagrama 2 Obter pH e HCO3 sanguíneos

Diagrama 2 Acidose Sem acidose


1. a) Amônia elevada + pH normal ou elevado + paCO2
Obter ácidos orgânicos
normal = Defeitos do ciclo da uréia Obter Aminoácidos
Plasmáticos
1. b) Amônia elevada ou normal + Acidose + ânion -gap Acidemias Orgânicas
>20 = Organoacidopatias
1. c) Amônia normal + gasometria normal = Aminoacido- Elevação específica
de aminoácidos
Elevação inespecífica
de aminoácidos
patias ou Galactosemia
Sind H H H
Obter ácido orótico
Citrulinemia
Diagrama 3 Argininemia
1. a) Ausência de cetose dentro do quadro de acidose = Acidemia Argininosuccinica Alto Normal ou
Acidúria 3-hidroxi-3-metil-glutárica Baixo
Deficiência OTC
Deficiência de Acil-coA desidrogenases
Obter Citrulina
1. b) Cetose + acidose com manifestações de pele = Plasmática

Deficiência de múltiplas carboxilases (Holocarboxilases)


1. c) Cetose +acidose com odor e sem manifestações de Baixa Normal ou
pele= Doença do Xarope de Bordo, Acidemia Isovalérica elevada

1. 3d) Cetose + acidose sem odor e sem manifestações Deficiência de CPS


ou de NAG - sintetase Hiperamonemia
de pele= Acidemia metil-malônica, Acidemia Propiônica, Transitória do RN
Deficiência de3-Ketothiolase

Diagrama I Diagrama III

Abordagem Clínica do RN suspeito de Distúrbio Metabólico


Diante do quadro de Acidose metabólica avaliar cetose:
Sucção fraca Abordagem clínica do Recém-nascido com Cetose
Recusa alimentar
Vômitos Recusa alimentar
Letargia Vômitos
Convulsão Acidose

204
Desidratação
Neutropenia

Distúrbio Metabólico Infecção


Cetose Sem cetose

Obter amônia Acidente 3-hidroxi-


plasmática Sem manifestações Manifestações 3-metilglulárica
cutâneas cutâneas
Deficiência de desidrogenase
acil-Coa múltipla*
Deficiência de
Alta Normal Odor típico Sem odor Carboxilases múltiplas *

Obter pH e paCO2 Obter pH e paCO2 Acidemia metilmatônica Doença do xarope


Acidemia propiônica de bordo (leucinose)
sanguíneos sanguíneos Deficiência de cetotiolase Acidemia Isovalérica

Normal Acidose Normal Condutas

Defeitos do Acidemias Amnoacidopatias ou Frente a um RN gravemente enfermo com as características


ciclo da uréia orgânicas Galactosemia
citadas anteriormente, suspeitar de EIM.O tratamento deve ser
iniciado mesmo antes do diagnóstico definitivo. As primeiras 48 a
72 horas representam um período crítico em que se deve instalar
um tratamento agressivo para se evitar as seqüelas neurológicas
e mesmo o óbito. A principal conduta para correção de defeitos
metabólicos visa evitar as conseqüências fisiopatológicas do de-
feito genético em vias metabólicas específicas.
As principais estratégias visam :

• Controle do acúmulo de substrato: Aminoacidopatias,


Organoacidopatias, Galactosemia com retirada do ami-
noácido específico ou da galactose da dieta.
• Controle da produção: distúrbio do ciclo da uréia com
suspensão temporária da alimentação proteica.
• Aceleração da remoção : Hiperamonemia removida com
diálise peritonial ou hemodiálise nos casos mais graves.
• Reposição de Produto deficiente: nas Hiperplasias adre-
nais e no Hipotireoidismo.
Capitulo 06 Distúrbios Metabólicos

• Reposição de Vitamina ou Co-fator deficiente: na defici- • L-Carnitina =50 a 100mg/kg/dia


ência de Biotinidase, o uso de biotina, co-fator das Holocar- • Cianocobalamina = 500ug /dia ou 2 vezes por semana IM
boxilases reverte o quadro convulsivo, as lesões cutâneas • Piridoxina =600 a 900 mg/dia
e a acidose. O uso de vitamina B12, cianocobalamina por
deficiência de enzimas mitocondriais dependentes de B12 Acido fólico 10mg/dia ou Ácido folínico, nos casos de crises
reverte o quadro. O uso de Piridoxina ou vitamina B6 é usa- epilépticas do período neonatal não responsivas a Piridoxina e
da tanto para os casos de homocistinúria quanto para as Piridoxal fosfato.
convulsões neonatais dependentes de Piridoxina Uso de Coenzima Q10 nos defeitos mitocondriais de transporte
• Reposição de produto gênico: por reposição enzimática de elétrons.
específica como na doença de Gaucher, nas Mucopolis- Nas acidemias orgânicas: restrição protéica, hidratação, adminis-
sacaridoses. tração de glicose e correção da acidose com Bicarbonato de Sódio.
Portanto:
No período de descompensação metabólica há maior probabi- Todo RN grave com acidose ou alcalose, crises convulsivas,
lidade de se fazer o diagnóstico e deve ser colhido material para hipoglicemia, plaquetopenia, vômitos e estado comatoso:
exames de investigação especializada:
1. Colher sangue com heparina, separar imediatamente o
No Sangue determinar : plasma e congelar antes da introdução de qualquer tera-
• Hemograma completo pia, para triagem de eim.
• Glicemia 2. Congelar imediatamente urina para triagem de eim
• Gasometria 3. Quantificar lactato imediatamente no sangue coleta-
• Eletrólitos (Na,K, Cl, Ca, Mg) do sem garroteamento e sem hemólise
• Determinação do Anion-gap 4. Quantificar amônia imediatamente após coleta de
• Ácido Láctico sangue heparinizado
• Amônia 5. Determinar glicemia, uréia, gasometria, sódio, patás-
• Provas de função hepática sio, cloreto, cálcio, magnésio, lactato, creatinofosfoquina-
• Quantificação de Aminoácidos plasmáticos se, total e fração mb
6. Suspensão da ingesta protéica
Na Urina determinar : 7. Infusão de soro glicosado 10%
• pH 8. Iniciar coquetel de megavitaminas
• Corpos cetônicos 9. Contactar o serviço de genética para avaliação do qua-
• Substâncias redutoras (Benedict e Glicose Oxidase) dro específico e orientação do coquetel de megavitaminas
• Pesquisa de cetoácidos (Dinitrofenilhidrazina) 10. Encaminhar família ao ambulatório de genética para
• Pesquisa de sulfitos (Sulfitest) orientação e aconselhamento genético. 205
• Cromatografia de aminoácidos 11. Neuroimagem:
• Quantificação de ácidos orgânicos
A neuroimagem faz parte da investigação dos RN com erros ina-
Portanto antes do inicio de qualquer terapia, congelar 5ml de tos do metabolismo. A ressonância magnética é uma ótima técnica,
plasma heparinizado e 10ml de urina para essas determinações. mas nem sempre é possível, devido o recém-nascido (RN) apresen-
Nos quadros de distúrbio metabólico como acidose, cetose ou tar-se instável para ser transportado e sedado. O ultrassom pode
alcalose iniciando após a introdução da amamentação pensar em: ser feito ao lado do leito, é seguro e pode ser repetido. Nas mãos
de profissionais experientes e usando modernos aparelhos, é muito
• Aminoacidopatia bom na detecção de anormalidades estruturais, lesões destrutivas e
• Organoacidopatia frequentemente, anormalidades estruturais sutis (consulte Neuros-
• Defeito no Ciclo da Uréia sonografia Neonatal, editado por Paulo R. Margotto)

Com o objetivo de remover os metabólitos acumulados inter- Bibliográfia


romper a ingesta protéica por 24 a 48horas.
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Reiniciar alimentação com 05gr/kg/dia, e manter ingesta en- Columbia . Pediatrics 105:10,2000.
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tre 1 a 2 gr/kg/dia até o diagnóstico definitivo. nostic and treatment .4 ed ,Alemanha, Springer ED., 2006
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Manter o aporte energético acrescentando lipídeos de 0,5 a ment of Maple Syrup Disease: A Study of 36 Patients Pediatrics109;999,2001
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Am J Neuroradiol 28: 1223, 2007
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ESCS, Brasília 2013
• Tiamina = 600mg /dia
• Biotina = 40mg/dia
• Riboflavina =50mg/dia

Paulo R. Margotto
Assistência ao Recém-Nascido de Risco

206
Capitulo 07 Distúrbios Respiratórios

Capítulo 7

Distúrbios
Respiratórios
Assistência ao Recém-Nascido de Risco

7.1 CAUSAS DOS DISTÚRBIOS RESPIRATÓRIOS NOS RECÉM-NASCIDOS

Paulo R. Margotto

A grande causa de internação na Unidade de Cuidados Intensi- dade aumenta 3 vezes mais. No aparelho respiratório, é importante
vos Neonatais é a Dificuldade Respiratória, seguida pela prema- destacar a laringotraqueomalácia, secundária a compressão do coto
turidade, pelos distúrbios metabólicos e pelas infecções. proximal (o superior) sobre a laringe e a traquéia na vida intrauterina.
São inúmeras as patologias que se expressam no período ne- A EA deve ser suspeita quando há história de polihidrâmnio ma-
onatal sob a forma de Dificuldade Respiratória. Assim, é comu- terno (ocorre em 80% dos casos de AE sem fístula e em 32% em AE
mente agrupá-los em categorias. com fístula). A ultra-sonografia realizada no 3º trimestre pode sugerir
AE dilatação do coto superior do esôfago e ausência do conteúdo
1. causas mecânicas ou mecânica-cirúrgicas gástrico. A taxa de detecção pré-natal tem variado de 9,2 a 24%.
2. causas cardiovasculares Na sala de parto, o diagnóstico pode ser sugerido pela impos-
3. causas neuromusculares sibilidade de passagem da sonda orogástrica calibre 8 (a mesma
4. causas metabólicas se enrola no coto proximal; evitar usar sondas de material muito
5. causas pulmonares flexível, pois se dobram com facilidade, dando a impressão que
chegou ao estômago).
Manifestações Clínicas Não havendo feito o diagnóstico, o recém-nascido (RN) passa a
apresentar salivação excessiva, aerada pela boca e nariz, surgin-
•Taquipnéia do roncos pulmonares (aspiração da saliva). Se o RN for alimen-
•Bradipnéia ou apnéia tado, apresentará cianose, tosse e sufocação.
•Gemido respiratório Havendo fístula traqueoesofágica, observamos distensão ab-
•Batimento de asas do nariz dominal (devido à passagem de ar ao estômago pela fístula); nos
•Tiragens, retrações intercostais, esternal, xifoidéia, supra casos sem fístula, o abdômen é escavado.
e infraclaviculares e fúrcula O diagnóstico é confirmado pela injeção de 10-20ml de ar pela
•Hipo ou hipereatividade sonda orogástrica (“contraste” inócuo), seguida da realização do
Rx de tórax e abdome (Fig 1), que evidenciará o coto superior do
Causas Da Dificuldade Respiratória esôfago cheio de ar, a presença de ar no abdômen (indicativo de
fístula), além de detecção de outras anomalias associadas.
Causas Mecânicas ou Mecânica –Cirúrgicas
208
Atresia de esôfago com fístula traqueoesofágica, pneumotórax,
pneumomediastino, pneumopercárdio, hérnia diafragmática, pa-
ralisia ou eventração diafragmática, deformidade congênita do
tórax, displasia do gradil torácico, distensão abdominal (impedi-
mento do movimento do diafragma), malformação adenomatóide
cística do pulmão, enfisema lombar, quilotórax, obstrução de vias
aéreas superiores (atresia de coanas), estenose congênito da
traquéia ou hipoplasia da traquéia, estridor congênito da laringe,
higroma cístico, teratoma, anomalia vascular com compressão
da traquéia. Entre estas, abordaremos a Atresia de Esôfago, a
Hérnia Diafragmática, a Malformação Adenomatóide Cística do
Pulmão, o Enfisema Lobar Congênito, o Quilotórax, a Atresia de Fig 1
Coana e o Teratoma Cervical Congênito
O não diagnóstico precoce leva a aspiração de saliva para a
•Atresia de esôfago: árvore traqueobrônquica. O refluxo do suco gástrico a arvore tra-
A Atresia de Esôfago (AE), com ou sem fístula traqueoesofá- queobrônquica pela fístula distal é a maior agressão pulmonar
gica ocorre entre 1:3000 a 1:4000 nascimentos. Em 85% dos que ocorre nesta malformação. O RN ao chorar, ocluindo a glote,
casos, está presente a fístula traqueoesofágica distal (coto proxi- força a entrada de ar ao estômago pela fístula e este distendido,
mal termina em fundo cego e o distal é fistulado na traquéia). O exerce pressão no esôfago, forçando a passagem do suco gástri-
coto proximal é dilatado e hipertrofiado devido aos movimentos co à árvore traqueoesofágica, com instalação imediata de pneu-
de deglutição do liquido amniótico na vida intrauterina. A porção monia química e posterior contaminação bacteriana. A distensão
distal é bastante fina em virtude do desuso e se comunica com a de alças intestinais e do estômago causa compressão diafragmá-
traquéia a nível da porção flácida posterior, em geral 1 a 1,5cm tica com desconforto respiratório.
acima da carina. A distância entre os cotos é variável podendo A conduta clínica no RN com AE e fístula traqueoesofágica dis-
chegar até 4-5cm. Estas anomalias resultam de um defeito de di- tal consiste na colocação do bebê em posição semi-sentado (para
ferenciação do intestino anterior primitivo em traquéia e esôfago. evitar o refluxo gástrico), aspiração contínua no coto proximal do
O defeito do crescimento das células endodérmicas leva a atresia esôfago (sonda de Reploge), evitar ventilação com pressão posi-
e uma fusão incompleta das paredes laterais do intestino ante- tiva, incluindo CPAP ou ambú (risco aumentado de distensão ou
rior durante separação da traquéia do intestino anterior resulta rotura gástrica; se necessário, posicionar a cânula orotraqueal
na fístula traqueoesofágica. além da fístula, lembrando que esta se localiza geralmente 1 a
Em 50% dos casos a AE está associada a outras malformações 1,5 cm acima da carina) e gastrostomia.
sendo as anomalias cardiovasculares as mais importantes (15-20% A AE é uma emergência cirúrgica e consiste na ligadura da fís-
dos casos). Quando há outras malformações associadas à mortali- tula e anastomose das duas porções do esôfago. Havendo ten-
Capitulo 07 Distúrbios Respiratórios

são na sutura, usamos o curare (VecurônioR na dose de 0,1mg/


kg de ataque e 0,1mg/kg/hora; frasco de 10mg; diluir 1 frasco
em 5ml de água destilada e 1ml=2mg), sedoanalgesia contínua
e antibioticoterapia de largo espectro. A saída de saliva pelo dre-
no torácico é indicativa de deiscência da anastomose esofágica.
Embora menos freqüente (1%), havendo a fístula que conecta
o esôfago proximal a traquéia, a primeira tentativa de alimenta-
ção resultará em uma maciça aspiração traqueobrônquica.
Nos casos de fístula sem atresia (Tipo H-4%), o sinal clínico co-
mum é a aspiração recorrente e o diagnóstico é frequentemente
retardado (esta variante não cursa com polihidrâmnio). Na clíni-
ca observam-se tosse, asfixia e cianose às mamadas; além da
distensão abdominal (passagem de ar da traquéia para as vias
digestivas pela fístula). Muitas vezes o diagnóstico é feito devido
a pneumonias de repetição. Ao alimentar a criança com sonda
orogástrica e os sintomas melhoram (suspeitar de fístula em H).
Quanto ao tratamento, veja capítulo correspondente.
Fig 2B
•Hérnia Diafragmática Congênita
A Hérnia Diafragmática Congênita (HDC) é um defeito de nascimen- A hérnia diafragmática congênita associa-se com outras mal-
to letal; 30 a 50% da mortalidade se deve a hipoplasia pulmonar. Es- formações em 44 a 66% dos casos e incluem anormalidades
forços têm sido centralizados na cirurgia fetal, avanços nos cuidados cromossômicas (4-16%), malformações do sistema nervoso
intensivos e nascimentos eletivos em centros especializados. central e genitourinárias.
A incidência da HDC é aproximadamente 1 em 3000 nascimentos e A gravidade da insuficiência respiratória, assim como o prog-
ocorre devido ao não fechamento dos canais pleuroperitoneais duran- nóstico depende diretamente do grau de hipoplasia pulmonar e
te o desenvolvimento embrionário, na 8ª a 10ª semana de gestação. de hipertensão pulmonar associada. O diagnóstico de hérnia dia-
A Hérniação ocorre mais comumente nos segmentos póstero- fragmática fetal até a 25% semana de gestação está associado
laterais do diafragma com uma freqüência maior no lado esquer- com 100% de mortalidade.
do do que no direito (Forame de Bochadelek: diâmetro em geral A HDC deve ser pensada no pré-natal através da ultrassonogra-
de 2 a 3 cm) com uma taxa de aproximadamente 8:1. fia que revela vísceras abdominais na cavidade torácica, desvio do
O efeito de massa do intestino Hérniado (Fig 2A e 2B) pode mediastino e polihidrâmnio (este geralmente aparece no 3º trimes-
comprometer a ramificação e a proliferação das vias aéreas em tre e está associado a um prognóstico ruim em alguns estudos)
desenvolvimento e dos vasos da 5ª a 17ª semana tanto no pul- e no pós-natal; abdômen escavado (ausência das alças intesti- 209
mão do lado da hérnia como no pulmão contra-lateral. Dados de nais), insuficiência respiratória grave, ruídos hidroaéreos no tórax,
autopsia têm revelado que ao invés de 20 milhões de alvéolos bulhas cardíacas abafadas, ictus cardíaco desviado para o lado
normalmente encontrados, o pulmão adjacente à hérnia pode ter contralateral. Através do Doppler nas artérias pulmonares fetais,
5% do número esperado de alvéolos (1 a 2 milhões), e o pulmão pode-se predizer no pré-natal a presença de hipoplasia pulmonar.
contra-lateral, 10% ou menos, se severamente comprometido O RN com HDC apresenta logo ao nascer insuficiência respira-
pelo desvio do mediastino. Embora a relação número de alvéolos tória, cianose, palidez com piora progressiva devido à deglutição
para cada brônquio seja constante, a diminuição da via aérea de ar que vai distender as alças intestinais e comprimir o pulmão.
distal resulta em poucos alvéolos. A diminuição do desenvolvi- O Rx de tórax (Fig 3) evidencia um hemitórax preenchido com
mento vascular pulmonar distal leva a um menor volume vascu- estruturas semelhantes a cistos (alças intestinais), desvio do me-
lar pulmonar com aumento da resistência vascular pulmonar. O diastino e abdome sem gás. O diagnóstico diferencial deve ser
fato de que outras lesões com efeito de massa não afetar o pul- feito com a malformação adenomatóide cística do pulmão (con-
mão da mesma magnitude descrita na HDC, há sugestão de que siderar esta condição nos casos de achados radiológicos ocorre-
a anormalidade primária teratogênica no pulmão leva a falha do rem no lado direito ou quando a posição do estômago está abaixo
pulmão para a indução do fechamento diafragmático. O impacto do diafragma, além da distribuição normal de gases no abdome).
do desenvolvimento anormal do pulmão nestes RN tem estimula-
do pesquisa na biologia do desenvolvimento da HDC.

Fig 3

A despeito de intensa investigação e terapêutica agressiva,


Fig 2A estes RN continuam com uma inaceitável alta mortalidade: a hi-

Paulo R. Margotto
Assistência ao Recém-Nascido de Risco

poplasia pulmonar e a hipertensão pulmonar frustram esforços


para manter a troca gasosa.
Quanto ao tratamento, consulte o capítulo de Hérnia Diafragmática.
Fig. 4: Moura MJ, 2009(HRAS)
•Malformação Adenomatóide Cística do Pulmão
A malformação adenomatóide cística congênita (MACC) do pul-
mão, acredita-se, que seja causada pela falha do mesênquima
pulmonar em progredir para o desenvolvimento alveolar, sendo
considerado um defeito do desenvolvimento embrionário dos
bronquíolos terminais e respiratórios e dos ductos alveolares. Su-
pridas pela circulação pulmonar, estas lesões exibem dilatação
anormal e proliferação dos bronquíolos distais, contendo mús-
culo liso e com aparência de hamartomas do pulmão. Os cistos
comunicam-se entre si e com os bronquíolos normais, através
de canais malformados e sem suporte cartilaginoso, os quais
podem manter-se ocluídos (neste caso os cistos contêm líquido)
ou abertos (casos em que os cistos contêm ar). Casos os canais Fig 5: Moura MJ, 2009(HRAS)
colapsarem na expiração, os cistos se tornam expansivos. A inci-
dência na Austrália é de 1/10.000 nascimentos. Ocorrem mais Complicações: pneumonia que não responde bem aos antibióticos,
no lobo inferior esquerdo, podendo envolver mais do que um lobo. pneumotórax, hemotórax, abscesso pulmonar e desenvolvimento de
São descritos, originalmente por Stocker, 3 tipos de MACC do malignidade, como carcinomas e blastomas pleuropulmonares.
pulmão: O tratamento baseia-se na ressecção do lobo pulmonar aco-
metido pelo cisto (Fig 6, Fig. 7) nos RN com clínica. Nos assinto-
1. grande cistos (> 10cm), cercado por pequenos cistos máticos, Reiss e cl recomendam que a cirurgia deva ser realizada
que lembram bronquíolos. Os cistos se assemelham a entre 3 e 6 meses de idade.
cisto congênito. E o tipo mais freqüente (ocorre em 60
a 70% dos casos). Maior possibilidade de recuperação
total
2. de origem brônquica (15-20% dos casos). Há múltiplos
cistos de 0,5cm e microscopicamente tem aparência
bronquiolar. O prognóstico é menos favorável, devido à
gravidade das malformações associadas
210 3. ocorre em 8-10% dos casos; é considerado derivar das
estruturas bronquiolar-alveolar, sendo observados exclu-
sivamente em RN do sexo masculino. Há volumosas le-
sões com múltiplos cistos de 0,5-1,5cm de parede fina,
lembrando bronquíolos e estruturas alveolares. O prog-
nóstico é mais grave, devido ao tamanho da lesão. Fig 6 :Moura MJ, 2009(HRAS)

Os RN podem desenvolver severo desconforto respiratório ao


nascer, com persistente hipertensão pulmonar. Em alguns casos,
a hipoplasia pulmonar coexiste devido à compressão exercida
durante o desenvolvimento embrionário. Este fato pode explicar
a persistência da dificuldade respiratória em alguns RN, mesmo
após a ressecção do parênquima pulmonar acometido.
O diagnóstico pode ser feito no pré-natal com 18-20 semanas
de gestação evidenciando as lesões císticas no pulmão fetal. Em
19% dos casos, em gestantes < 22 semanas, Duncombe e cl re-
lataram regressão dos cistos.
No pó-natal, os sintomas são decorrentes da compressão do
cisto, de infecção do próprio cisto ou do parênquima comprometi-
do. O Rx de tórax (Fig 4) mostra hipertransparência e ausência de Fig 7: Nicolai T, 2009
trama correspondente ao cisto. A lesão caracteriza-se pela pre-
sença de múltiplos cistos ou massa sólida, melhor evidenciada Prognóstico da malformação adenomatóide do pulmão está
na tomografia computadorizada. (Fig 5). muito relacionada com a precocidade do diagnóstico e da inter-
venção cirúrgica.

•Enfisema Lobar Congênito


Enfisema Lobar Congênito (ELC) consiste na hiperinsuflação ou
grande distensão de um determinado lobo pulmonar na ausência
de infecção ou corpo estranho na luz brônquica. Geralmente esta
hiperinsuflação ocorre juntamente com o desenvolvimento de um
mecanismo valvular a nível brônquico que permite a entrada de
ar, mas dificulta a saída de ar dos alvéolos. Como o lobo não
desinsufla normalmente, ocorrerá compressão e atelectasia dos
outros lobos, desvio do mediastino e hérnia do pulmão para o
Capitulo 07 Distúrbios Respiratórios

lobo contralateral. O lobo superior esquerdo é o mais acometido


(50% dos casos), seguido dos lobos superiores ou médio direito
em 40% dos casos. Os 10% restantes correspondem aos lobos
inferiores. Há um predomínio no sexo masculino. Fig 6
Por volta da metade dos casos não se sabe a etiologia do ELC, Na etiologia, é citada a rotura do ducto torácico pelo aumento
mas o mesmo pode resultar de anomalia do desenvolvimento de brusco da pressão da veia cava superior, conseqüente às ma-
um brônquio lobar ou segmentar entre a quarta e a sexta semana nobras vigorosas de reanimação ou parto traumático. Devido à
do desenvolvimento embrionário. alteração na embriogênese podem formar-se pequenas fístulas
A ocorrência familiar tem sido relatada. Os sintomas geralmen- linfático-pleurais.
te são aparentes no período neonatal, mas em 5% dos casos po- No estudo de Echeverria, 6 trissomas do 21(Síndrome de Down)
dem não aparecer até a idade de 5-6 meses. foram identificados em 8 cariótipos de quilotórax congênito.
Em muitos casos, a obstrução não é demonstrada, mas se Ibrahim e cl descreveram um RN de 29 semanas com tireotoxi-
aceita que seja produzida por um mecanismo tipo valvular, como cose que apresentava ao nascer severo desconforto respiratório
já comentado. Há evidências de distribuição desordenada das devido a um maciço quilotórax bilateral (a mãe tinha Doença de
cartilagens brônquicas e aumento de tecido fibroso em torno dos Graves e foi submetida a uma terapia de ablação com I ¹³¹ e tera-
alvéolos distendidos que seriam os responsáveis pela permanen- pia de reposição com levotiroxina). Com 28 semanas, foi detectada
te insuflação alveolar, mesmo durante a expiração. taquicardia fetal (> 180) e a mãe estava com tireotoxicose. Os au-
O Rx de tórax mostra um lobo radioluscente com uma delicada tores explicam a ocorrência do quilotórax via insuficiência cardía-
trama vasobrônquica e desvio do mediastino. Se a distensão é con- ca: nesta condição, o quilotórax pode ser produzido pelo aumento
siderável, o enfisema pulmonar comprime a porção não afetada do da produção de linfa secundário a um aumento da filtração capilar
pulmão de mesmo lado e hérnia para o lado oposto. Cuidado para pulmonar associada com uma obstrução do fluxo linfático causado
não confundir com pneumotórax. Interessante que nos primeiros pelo aumento da pressão na veia subclávia esquerda. A resposta
dias de vida, o Rx de tórax (Fig 5) revela opacificação do lobo aco- dramática ao propiltiouracil e ao propranolol sugere que a tireoto-
metido, pois a reabsorção de líquidos é retardada (o lobo pulmonar xicose fetal possa ser realmente a causa do quilotórax. A criança
enfisematoso retém líquido da mesma forma que retém ar). teve alta com 6 semanas. O quilotórax não recorreu.
O quilotórax pode ocorrer como complicação de cirurgia to-
rácica (cirurgia reparadora de hérnia diafragmática) e cardíaca
(anastomose de Blalok – Taussig) devido à lesão acidental do
ducto torácico.
O diagnóstico do quilotórax no RN (e paciente pediátrico) pode
ser feito quando a análise do fluído pleural mostrar nível de trigli-
cérides maior que 1,1mmol/litro (96mg%) com dieta, contagem
absoluta de células > 1000 células/mm³, com uma fração de 211
Fig 5 linfócitos > 80%.
O tratamento baseia-se em punções pleurais para esvaziamento
O diagnóstico diferencial deve ser feito com enfisema compen- (geralmente 3 a 5 punções são suficientes no quilotórax espontâ-
sador por atelectasia (pulmão vicariante), enfisema por corpo neo). Nos casos de quilotórax secundário a cirurgia torácica e cardía-
estranho, malformação adenomatóide cística do pulmão, hérnia ca, é necessária a instituição de drenagem torácica em selo d’água.
diafragmática e pneumotórax. O octreotide, análogo da somastostatina, tem sido usado no
A cirurgia imediata é a ressecção do lobo afetado que pode controle do débito da fístula do ducto torácico. Ela tem ação
salvar a vida do bebê, quando a cianose e o severo desconforto bloqueadora das secreções gástrica, biliar, pancreática e intes-
respiratório estão presentes. tinal. Uma vez que o volume das secreções digestivas se reduz,
é esperada a redução no fluxo do ducto torácico, facilitando o
•Quilotórax fechamento da fístula. Apresenta alguns efeitos colaterais ad-
É a causa mais frequente de efusão pleural fetal. O quilotórax é versos, como dor abdominal e diarréia, náuseas, hiperglicemia
definido como a presença de linfa no espaço pleural. É uma cau- e, em adultos, colelitíase. A dose recomendada tem sido iniciar
sa comum de derrame pleural em RN, iniciando, o quadro clínico com 0,1 a 1 μg/kg/dia com um aumento de 1-2μg/kg/dia a um
(desconforto respiratório) em metade dos casos, já nas primeira máximo de 10 μg/kg/dia, divididos em duas a três doses diárias
24 hs de vida. A gravidade dos sintomas respiratórios está rela- por via subcutânea. Após a resolução do quilotórax, o fármaco
cionada com a intensidade do derrame. Ocorre duas vezes mais pode ser desmamado em 3-5 dias. No entanto, faltam estudos
em meninos e em 60% dos casos, ocorre no lado direito do tórax. controlados e randomizados para verificar época para o início,
O Rx de tórax (Fig 6)revela derrame pleural no lado acometido. A dose, frequência e duração.
drenagem pleural revela líquido de aspecto leitoso, se o RN já foi No suporte nutricional deve ser oferecida dieta hiperprotéica,
alimentado; caso contrário, o líquido é claro, amarelo e transpa- rica em hidratados de carbono e com triglicérides de cadeia mé-
rente. Sem a dieta oral, a distinção entre efusão quilosa e efusão dia (estes são absorvidos diretamente no sistema porta, não pas-
não quilosa é difícil e às vezes, impossível. Assim, no RN, uma sam pelo ducto torácico e assim, não aumentam o fluxo linfático).
dieta oral mínima e mandatória para o diagnóstico do quilotórax. Em outros casos, a nutrição parenteral é necessária. Na Unidade
de Neonatologia do Hospital Regional da Asa Sul/SES/DF, utiliza-
mos o leite humano na dieta após modificação da dieta materna
em um caso de quilotórax, havendo resolução total do mesmo.
Em um RN de 41 semanas de idade gestacional com quilotórax
refratário complicado por hipertensão venosa central secundária
a cirurgia cardíaca de transposição dos grandes vasos da base, o
óxido nítrico (NO) mostrou-se eficaz e seguro. Mais estudos con-
trolados são necessários antes de usar o NO de rotina no manu-
seio de quilotórax pós-operatório.

Paulo R. Margotto
Assistência ao Recém-Nascido de Risco

A efusão quilosa geralmente permanece por um longo tempo, Os grandes teratomas podem causar severo desconforto respi-
no entanto, após 6 semanas a maioria das efusões cessam. ratório devido à obstrução da via aérea. A intubação nestes be-
Não se recomenda atrasar a abordagem cirúrgica do quilotórax bês pode ser difícil e às vezes, até impossível (Fig 7).
mais de 4 semanas.
• Atresia de Coana
A atresia de coana (septo membranoso que oclui a coana) é
uma malformação das vias aéreas superiores relativamente rara,
que pode resultar em grave desconforto respiratório no RN. É
frequentemente associada com outras malformações, especial-
mente a associação CHARGE (Coloboma; Heart disease- doença
cardíaca; Atresia de coana; Restrição do crescimento intrauteri-
no e desenvolvimento e/ou anomalias do sistema nervoso cen-
tral, anomalias Genitais e/ou hipogonadismo e anomalias na
orelha- Ear- e/ou surdez).
A atresia de coana ocorre em 1/8000 nascidos vivos, podendo
ser completa ou incompleta, unilateral (60%) ou bilateral (40%) e Fig 7. Margotto. PR (Unimed, Brasília)
membranosa (10%) ou óssea (90%), ocorrendo duas vezes mais
comum em meninas. Há uma falha na perfuração da placa me- O Rx do pescoço mostra uma massa de tecido mole com calcifi-
senquimal, levando a obliteração completa ou incompleta das cação em 50% dos casos. A excisão cirúrgica completa e precoce
aberturas nasais posteriores. Apesar da atresia de coana ter sido representa o ótimo manuseio. Uma vez completamente retirado,
descrita em 1755 por Roedener, o seu padrão de herança é pou- o prognóstico é bom, não havendo relato de ocorrência em 6 RN
co conhecido. Brenner e cl recentemente descreveram a recor- que tiveram a excisão com um follow-up de 3-14 anos. Ocasional-
rência da atresia de coana bilateral em irmãos de pais não con- mente os teratomas podem causar injúria pré-natal a hipofaringe
sangüíneos, sugerindo haver um padrão genético para atresia de e laringe. A determinação seriada de alfa-feto-proteína tem sido
coana bilateral. Ocorre em associação com outras anomalias em útil, não somente no pré-natal, como no follow-up pós-cirúrgico.
43 a 72%. A associação CHARGE deve ser sempre lembrada. Mas recentemente, grupo de Israel coordenado (Sickel e cl)
O RN com atresia de coana apresenta severo desconforto respi- tem proposto 2 procedimentos para estes casos, quando o diag-
ratório imediatamente ao nascer, que é aliviado com o choro. De- nóstico é feito intraútero:
vido à alta posição da epiglote e laringe, a língua é forçada contra
o palato mole pela pressão negativa na faringe, levando a apnéia 1. Tratamento intra-parto ex-útero (após a incisão intraú-
obstrutiva nos RN com atresia/estenose coanal bilateral. Dave as- tero transversa baixa, apenas a cabeça e uma das mãos
sinala que a ausência do batimento de asas nasais associada com são retiradas; este procedimento permite o exame da via
212 significante desconforto respiratório caracterizado por retrações aérea com o laringóscopio e o broncoscópio, intubação
intercostais, subcostais e supraesternal são sinais diagnósticos ou traqueostomia, se necessário, além da monitorização
específicos. A dificuldade em passar a sonda nasogástrica é alta- com o oxímetro de pulso.
mente sugestiva. O diagnóstico pode ser confirmado por imagem, 2. Operação com o suporte placentário (o RN só tem o
sendo a tomografia computadorizada a melhor modalidade. cordão umbilical clampeado após ter sido entubado ou
O tratamento consiste em assistência respiratória, aspiração traqueostomizado). Em ambos os procedimentos é im-
de secreção e colocação de “chupeta” oral com orifício largo para portante a manutenção do máximo relaxamento uterino
permitir a respiração bucal. A dieta deve ser feita pela sonda oro- para evitar a separação da placenta do útero.
gástrica. A cirurgia consiste na perfuração sob visão direta.
O tratamento através da ressecção cirúrgica precoce de todo o
• Teratoma Cervical Congênito tumor constitui-se na abordagem mais adequada, uma vez que a
Apesar destas lesões serem histologicamente benignas, os tera- degeneração maligna ocorre em até 90% dos casos não tratados
tomas cervicais congênitos são geralmente muito grandes, poden- até a adolescência ou na vida adulta. A excisão cirúrgica é geral-
do causar obstrução da via aérea. Histologicamente são tumores mente curativa.
de células germinativas, havendo predomínio de tecidos neurais.
Geralmente o diagnóstico é feito ao nascimento. Usualmente os te- Causas Cardiovasculares
ratomas são encontrados na região sacrococcigeana e em apenas
5% são localizados na cabeça ou pescoço. Os teratomas cérvico- O desconforto respiratório é devido à insuficiência cardíaca
faciais em RN representam 3% de todos os teratomas neonatais. congestiva (ICC).
Os teratomas cérvico-faciais em RN ocorrem numa frequência de Um RN com ICC usualmente tem cardiopatia congênita, mas
1 para cada 20.000 a 40.000 nascimentos vivos. pode ter distúrbio cardíaco não estrutural, com disfunção do
O diagnóstico também pode ser feito no pré-natal (a ultra-sono- miocárdio (isquemia, miocardite) ou distúrbio da freqüência car-
grafia evidência uma massa semicística e semi-sólida). É impor- díaca. Pode ter anormalidade metabólica ou hematológica, como
tante este diagnóstico, pois se pode programar o tratamento pre- pode estar hiper-transfundido ou hiper-hidratado. Pode simular
coce da obstrução da via aérea mediante intervenção cirúrgica. quadros como pneumonia, meningite, sepse, bronquitite. Consul-
O polidrâmnio tem sido descrito em mais da metade dos casos te o capítulo de Distúrbios Cardiológicos.
(55%) e resulta, provavelmente, de pressão exercida pela tumo-
ração no esôfago, evitando que o feto engula o líquido amniótico. Causas Neuromusculares

Os distúrbios neuromusculares podem causar dramática inca-


pacidade no período neonatal. A característica dominante destes
distúrbios são a fraqueza muscular e a hipotonia. Volpe conside-
ra como distúrbios neuromusculares aqueles que predominante-
Capitulo 07 Distúrbios Respiratórios

mente envolvem o sistema motor desde a sua origem no córtex


cerebral a sua terminação nos músculos.
Uma forma de melhor compreender os grandes distúrbios do
sistema motor neonatal é organizar a abordagem destes distúr-
bios sob a base do sítio anatômico afetado no sistema motor:

1. a nível do 1º neurônio
2. a nível do 2º neurônio
3. a nível de nervo periférico e craniano
4. a nível de junção neuromuscular
5. a nível do músculo

Aqui vamos comentar os níveis 1 e 2.


• A Nível Do 1º Neurônio
Nestas causas ditas centrais, a hipotonia é geralmente mais
severa do que a fraqueza. Entre as causas, temos: síndrome
hipóxico-isquêmica, hemorragia intracraniana, infecção intracra- Fig 8 (Volpe, 1995)
niana, distúrbios metabólicos (eletrolíticos; acidemia; hipoglice-
mia; hiperbilirrubinemia; aminoacidopatias; intoxicação fetal por O envolvimento dos nervos cranianos é menos evidente, princi-
administração de drogas analgésicas e sedativas ou analgésicas palmente na fase inicial do curso clínico. A sucção e a deglutição
a mãe, geralmente no período intraparto) sepse, hipotireoidismo, são precocemente afetadas em metade dos casos.
aberrações no desenvolvimento cerebral (como distúrbios na mi- A média de sobrevivência destes pacientes é aproximadamen-
gração neuronal, encefalopatias degenerativas, principalmente te 2-4 anos. Morte destes pacientes geralmente ocorre por com-
as relacionadas aos distúrbios dos lipídios) plicações respiratórias. Estas complicações são causadas pela
aspiração, devido a dificuldades na deglutição, hipoventilação
• Nivel Do 2º Neurônio devido à deficiente função dos músculos intercostais e deficiente
Os distúrbios afetando o neurônio inferior constituem as mais tosse devido à fraqueza da musculatura abdominal.
frequentes causas de severa hipotonia e fraqueza no período A biópsia muscular revela atrofia panfascicular (atrofia de todas
neonatal. Destes distúrbios, a Doença de Werdnig-Hoffmann é a as fibras de ambos os tipos). Há um aumento do tecido conectivo,
mais comum e a mais importante. que está consistentemente associado com severa atrofia muscular.
O sítio do defeito genético está na região q11,2-13,3 do cro-
Doença de Werdnig-Hoffmann mossoma 5.
Em aproximadamente 98% destes pacientes é possível detec- 213
Esta doença refere-se à forma infantil e hereditária de dege- tar deleção no gene SMN (Survival Motor Neuron ou Sobrevida do
neração celular do corno anterior da medula. Este distúrbio é Neurônio Motor) através de técnicas de Biologia Molecular, utili-
uma herança autossômica recessiva. É também conhecido como zando a técnica de PCR (polymerase chain reaction ou reação em
atrofia muscular espinhal infantil (forma severa, aguda ou Tipo I). cadeia da polimerase). Através desta metodologia são amplifica-
para distinguir de outras variedades menos severas, de origem dos os exons 7 e 8 do gene SMN separadamente. Em seguida,
mais tardia. Esta doença foi descrita na Áustria por Werdnig e os produtos de PCR são fracionados por eletroforese em gel de
Hoffmann na Alemanha entre 1891 e 1900. poliacrilamida de acordo com a técnica de SSCP (Single-strand
A doença se manifesta ao nascimento ou nos primeiros meses conformation polymorphism ou Polimorfismo de conformação da
de vida (antes de 6 meses). O início no útero é sustentado pelo rela- hélice simples de DNA).
to de que em aproximadamente todos os pacientes com a doença No manuseio destes RN a aspiração da orofaringe é mandató-
que se apresenta ao nascimento ou no período neonatal imediato ria, assim como a administração da dieta pela sonda orogástrica.
a mães destes pacientes relatam que os movimentos fetais eram Cuidados especiais com as infecções respiratórias são mandató-
fracos no último trimestre da gravidez. Nos RN severamente afe- rios. É fundamental provê suporte emocional aos pais e assegu-
tados, ocorrem severa asfixia perinatal e desconforto respiratório rar o maior e melhor conforto ao paciente. Volpe não recomenda
logo ao nascer. O Rx de tórax revela deformidade da caixa torácica ventilação mecânica por um longo tempo.
costelas finas, característico da severa doença neuromuscular.
As características neurológicas incluem hipotonia severa e ge- Causas Metabólicas
neralizada, assim como a fraqueza generalizada, havendo uma
distribuição mais proximal que distal. As extremidades inferiores Entre as causas metabólicas se destacam a hipoglicemia (ap-
são mais severamente afetadas do que as extremidades superio- néia, insuficiência cardíaca no RN pequeno para a idade ges-
res. O envolvimento da musculatura axial do tronco e do pesco- tacional), hipocalcemia (insuficiência cardíaca), erros inatos do
ço é severo, sendo evidente o déficit ao se realizar manobras de metabolismo (defeitos do ciclo da uréia, acidemias orgânicas,
suspensão ventral. A atrofia muscular é também severa e gene- aminoacidopatias ou galactosemia). Consulte os capítulos cor-
ralizada, podendo ocorrer. tremores finos e rítmicos dos dedos respondentes capítulos.
(”poliminimioclonia”). A arreflexia total é a regra. Os pacientes
assumem a postura de pernas de rã (Fig 8). Causas Pulmonares

• Doença da Membrana Hialina


Doença da Membrana Hialina (DMH) ou também conhecida
por Síndrome de Angustia Respiratória do RN ocorre devido a
uma deficiência de surfactante, substância que reduz a tensão
superficial nos alvéolos. A ausência do surfactante teria como

Paulo R. Margotto
Assistência ao Recém-Nascido de Risco

consequência aumento da tensão superficial alveolar, diminuição Diferente da Pneumonia Intraútero (veja a seguir), estes RN
da distensibilidade dos alvéolos, culminando como difuso colap- não têm história de que suas mães apresentaram rotura prema-
so e atelectasia alveolares. tura de membranas, infecção urinária nos últimos 15 dias não
É um quadro exclusivo do RN pré-termo (a prematuridade é o tratada, febre intraparto, bacteriúria ou RN anterior com infecção
fulcro em torno do qual gera todo o processo fisiopatológico). Veja por Streptococcus do Grupo B. Os RN com DMH geralmente não
o esquema a seguir: necessitam de drogas vasoativas e respondem bem a 1 ou no
máximo a 2 doses de surfactante.
A terapêutica consiste do surfactante pulmonar (Consulte o
capítulo Surfactante Pulmonar) de preferência nas primeiras
2hs de vida (nos RN < 1.250g ao nascer, fazemos o surfactante
pulmonar nos primeiros 15 minutos de vida e a seguir, o RN é
imediatamente colocado em CPAP nasal para evitar o colaba-
mento alveolar aumentando assim a capacidade residual fun-
cional). Do ponto de vista clínico, observa-se instantaneamente
após o uso do CPAP que os gemidos praticamente desaparecem
e a respiração fica mais regular.
Usamos o CPAP nasal com a velha coluna de água, ocorrendo
a produção de uma onda parecida com a ventilação de alta fre-
quência. Entre o CPAP tradicional com a coluna de água e o sis-
tema de CPAP pelo ventilador, convencional, foi evidenciado que
se obtinha a mesma PaC02 e a mesma saturação de 02 com um
volume corrente menor, com uma freqüência respiratória menor
(por um buraco se produz um efeito similar ao da ventilação de
alta freqüência).
A indicação da ventilação mecânica se faz na presença de
PSa02 < 90 ( oximetria de pulso) ou Pa02 < 80 em Fi02 > 45%.

•Pneumonia Intrauterina
O Streptococcus do Grupo B (GBS) é o agente mais importan-
te na pneumonia intrauterina, cuja mortalidade está entre 20-
50 % e 15% a 30% de sequelas neurológicas nos sobreviventes
que apresentaram meningite. A incidência da doença é cerca de
214 1,8/1000 nascimentos vivos. A infecção precoce é responsável
por aproximadamente 80% das infecções pelo GBS.
Na microbiota da Unidade de Neonatologia do Hospital Regio-
nal da Asa Sul/SES/DF, o Streptococcus do Grupo B foi responsá-
vel por 4,7% das infecções no ano de 2001.
Entre os fatores de risco, temos: a prematuridade, a corioamnio-
O Rx de tórax evidencia padrão granular difuso com broncogra- nite, a rotura prematura de membranas > 18 hs, cepas virulentas,
ma aéreo (devido à pressão positiva que distende as vias aéreas mães com bacteriúria pelo GBS (o GBS está presente no trato gêni-
terminais) até opacidade total dos pulmões (Fig 9) to–urinário em 15-25% das gestantes; a erradicação da bacteriú-
ria com o uso de antibiótico reduz o nascimento prematuro), idade
menor que 20 anos, raça negra e RN previamente infectado.
O trato gastrointestinal é o reservatório humano mais prová-
vel, constituindo o trato gênito-urinário o foco secundário de dis-
seminação. Em algumas populações, a taxa de colonização na
vagina ou reto varia de 10 a 30% (gestantes). De todos os RN de
gestantes colonizadas, aproximadamente 1-2% desenvolveram a
infecção precoce.
Os critérios de gravidade na infecção precoce pelo GBS in-
cluem segundo Payne cl: peso < 1.500g, efusão pleural ao Rx
inicial, total de neutrófilos < 1.500g/mm³, apnéia (estes 4 sinais
recebem 5 pontos), hipotensão (3 pontos) e a acidose (1 ponto).
Um escore de pontos > 10 e < 10 corresponde respectivamente,
Fig 9. Aspecto histológico do pulmão, evidenciando a uma taxa de mortalidade e sobrevivência de 93%.
a membrana hialina (seta) O diagnóstico diferencial deve ser feito com a Doença da
Membrana Hialina. O Rx de tórax na grande maioria das vezes
A época em que ocorre maturação pulmonar está em torno de apresenta o mesmo padrão; a evolução é rápida com hipotensão
35 semanas. Havendo imaturidade pulmonar após 35 semanas necessitando de agentes inotrópicos e vasoativos; a presença
chamamos de maturação pulmonar retardada, como pode ocor- de acidose metabólica, de sinais de hipotensão pulmonar e res-
re no RN de mãe diabética com deficiente controle na gestação posta ruim ao surfactante sugerem o diagnóstico de pneumonia.
(estes RN com 37 – 38 semanas de mãe diabética nas classes A história materna é importante (“diagnósticos aparentemente
iniciais de Priscila White, tem geralmente um pulmão de RN de insolúveis em neonatologia são feitos com cinco minutos de
31 – 32 semanas); havendo maturação pulmonar antes de 35 conversa com a mãe”) para a evidência de rotura prolongada de
semanas, chamamos de maturação pulmonar acelerada. membranas, febre materna, ausência de uma causa obstétrica
para a prematuridade. No leucograma, valorizá-lo quando alte-
Capitulo 07 Distúrbios Respiratórios

rado. O leucograma normal não exclui infecção. Raciocinar com sedados e em nascimentos precipitados. O desconforto respira-
a Proteína C Reativa (esta aumenta 24-48 horas após o início tório é leve ou moderado, sem cianose, iniciado logo ao nascer.
de sepses, porque existe primeiro a invasão bacteriana e pos- O Rx de tórax (Fig 10) varia dependendo da quantidade de flui-
terior liberação de citocinas e estas é que vão produzir a libera- do pulmonar presente. O achado mais comum é uma leve hipo-
ção hepática da PCR; a sua vida média é cerca de 19 horas). No aeração, leve cardiomegalia, e proeminentes estrias perihilares
leucograma valoriza a leucopenia (leucócitos abaixo de 5000ml/ intersticiais, congestão hilar e espessamento das cisuras.
mm³), a neutropenia total (anormal em 87% dos casos:78% nos
RN pré-termos e 36% nos RN a termo) e a relação imaturos/to-
tal de neutrófilos (elevada em 91% dos casos). Interessante que
neutrófilos imaturos aumentados estiveram presentes em 42%
(falha diagnóstica em 58%). Assim, no leucograma, valorizar a
neutropenia total e a relação I/T (imaturos/total de neutrófilos).
Quanto ao uso do surfactante pulmonar exógeno: como comen-
tamos, é difícil distinguir, nas primeiras horas de vida a pneumo-
nia pelo Streptococcus do Grupo B e doença da membrana hialina
( inclusive ocorre deficiência de surfactante na pneumonia pelo
Streptcoccus do grupo B). Por volta de 25% dos RN infectados Fig 10
não tem uma boa resposta ao surfactante, como foi observado
no estudo de Herting e cl, mas vejam que muitos RN respondem. Ambos os pulmões são acometidos, embora o direito seja mais
Aqueles que não respondem, segundo Jobe, se deve a presença opacificado que o esquerdo. A TTRN pode apresentar-se ao RN
de disfunção do miocárdio e hipertensão pulmonar persistente. com uma aparência granular difusa da Doença da Membrana
Interessante que o surfactante natural contém fatores inatos de hialina, mas geralmente sem subaeração pulmonar. A resolução
defesa, como defensinas e lisozimas, assim como as proteínas radiográfica ocorre em 48 a 72 hs. O tratamento convencional
SP-A e SP-D que têm a capacidade de se ligar a endotoxina, a consiste na apropriada administração de 02 e em alguns casos, o
bactéria e vírus, promovendo assim a fagocitose. Estas proteínas uso de pressão positiva contínua. Não há dados que confirmem a
também modulam a resposta inflamatória ao estímulo infeccio- recomendação do uso de furosemida neste RN. A metanálise da
so, diminuindo o recrutamento de granulócitos e ao aumento da Cochrane/2002) evidenciou maior perda de peso nas primeiras
expressão das citocinas pró-inflamatórias no pulmão. As proteí- 24 hs no grupo tratado com furosemida sem evidências de dife-
nas hidrofóbicas do surfactante SP-C e SP-B também têm algu- rença entre os grupos na duração da hospitalização.
mas funções de defesa. Uma atrativa linha de pesquisa seria a
produção de surfactante com funções de defesa que seriam úteis •Síndrome de Aspiração Meconial
no tratamento de RN com infecção pulmonar, aumentando assim A presença de líquido amniótico tinto de mecônio é um sinal
a resposta pró-inflamatória pulmonar que sem dúvida alguma potencialmente sério de comprometimento fetal e está associado 215
contribuiria na diminuição da displasia broncopulmonar. com aumento da mortalidade perinatal.
A infecção pelo GBS em RN nos RN gemelares com peso me- Muitos autores acreditam que a causa da passagem de mecô-
nor que 2500g ao nascer ocorreu aproximadamente 5 vezes nio para o líquido amniótico (LA) seja devido à hipoxia que leva ao
mais em relação aos RN únicos. Em RN pré-termos gemelares relaxamento do esfíncter anal.
< 1000g com quadro radiológico de DMH, o antibiótico é intro- O comprometimento do bem estar fetal pode levar ao LA tinto
duzido (ampicilina x gentamicina), após a coleta de hemocultura de mecônio e este comprometimento pode ser devido à infecção,
e PCR, sendo feito PCR diário nos primeiros 3 dias de vida. No evidenciado pela corioamnionite. A infecção poderia aumentar a
4º dia de vida, RN com PCR negativo, hemocultura, hemograma sensibilidade a hipóxia e poderia ser um fator contribuinte de so-
normal, sem instabilidade hemodinâmica, boa resposta ao sur- frimento fetal durante o trabalho de parto.
factante, o antibiótico é suspenso. A decisão mais difícil na anti- Rao e cl recentemente relataram incidência de LA tinto de mecô-
bioticoterapia neonatal não deve ser a sua introdução e sim a sua nio significativamente maior no grupo com corioamnionite aguda/
retirada. Temos que brigar para retirar o antibiótico o mais rápido funisite, independente do sofrimento fetal como fator de risco. O
possível, devido ao risco de emergir cepas multirresistentes na mesmo foi observado quanto à admissão na UTI Neonatal, des-
Unidade de Neonatologia, com conseqüências desastrosas. Con- conforto respiratório, síndrome de aspiração meconial e sepses (o
sulte o capítulo de Infecções Bacterianas. risco de sepses neonatal foi 6 vezes maior nos RN com síndrome
de aspiração meconial grave, segundo Ghidini e Spong ). Assim, os
•Taquipnéia Transitória do Recém-Nascido autores alertam que a presença de mecônio no LA deveria alertar
Durante a vida fetal, os pulmões são expandidos com fluido, ao médico o potencial para a infecção (isto não implica que todo
um ultrafiltrado do soro fetal que contribui com o volume do líqui- bebê com LA tinto de mecônio esteja infectado).
do amniótico (LA). Durante e após o nascimento, o fluido deve ser O mais importante predictor de severa Síndrome Aspiração Meco-
removido e trocado por ar. A passagem pelo canal de parto provê nial (SAM) na monitorização fetal é a taquicardia (esteve associada
um importante mecanismo de prensa que ajuda na expulsão do com 26 vezes o aumento da necessidade de ventilação mecânica).
líquido do pulmão fetal. O restante é removido pelos capilares e Taquicardia fetal é uma indicação de infecção intrauterina na ausên-
linfáticos pulmonares. A taquipnéia transitória do Recém-Nascido cia de arritmia fetal/ou administração de drogas simpaticomiméti-
(TTRN) representa uma retenção do fluido pulmonar fetal, sendo cas a mãe e tem sido mostrado preceder à febre materna.
conhecida também como doença do pulmão úmido. A TTRN ocor- A síndrome de aspiração meconial ocorre em 2 a 3% dos nasci-
re quando há uma remoção lenta ou incompleta do líquido do mentos (o LA tinto de mecônio ocorre em 7 a 22% dos nascimen-
pulmão fetal. Ocorre em situações de nascimento por cesariana tos sendo mais frequente em RN de cor negra, peso ao nascer
(principalmente cesariana eletiva), em RN hipotônicos ou muitos 4 kg/ maior paridade). A SAM ocorre 3x mais em RN pós-termo
(Idade gestacional ≥ 42 semanas) em RN pequenos para a idade
gestacional (RN abaixo do percentil 10 na curva de crescimento
intrauterino de peso/idade gestacional). Dos RN com LA tinto de
mecônio em torno de 11% (2-36%) apresentam SAM.

Paulo R. Margotto
Assistência ao Recém-Nascido de Risco

Na fisiopatologia da SAM, a obstrução das vias aéreas por par- venção, como aspiração endotraqueal (a incidência de SAM não
tículas de mecônio desempenha papel importante. A obstrução diferiu entre os RN entubados e aspirados e os RN não entuba-
parcial das vias aéreas terminais produz um mecanismo de vál- dos). No estudo de Sedaghation e cl, nenhum RN com LA tinto de
vula (na expiração, o ar permanece aprisionado devido ao colap- mecônio fluido apresentou SAM, ao passo que o RN com LA com
so das vias aéreas em torno da obstrução); este ar aprisionado mecônio espesso, a SAM ocorreu em 5%.
pode alcançar o interstício, levando ao enfisema intersticial, sen- A oxigenoterapia nestes RN é realizada com o objetivo de ser
do o pneumotórax outra complicação freqüente. obter uma Pa02 entre 50 e 70 mmHg e usamos colocá-los no
Associado a este quadro obstrutivo mecânico, a presença de Hood até 80% (o uso de 100% de oxigênio pode aumentar a res-
mecônio nos alvéolos leva a uma inibição do surfactante pulmo- posta contrátil das pequenas artérias pulmonares). Considerar
nar devido ao alto teor de ácidos graxos livres no mecônio, agra- alguma forma de pressão positiva, se for necessário aumentar a
vando mais ainda o colapso alveolar. Na SAM não há evidencia Fi02 acima de 80%. Se Pa02 <50mmHg, PaC02 >60mmHg ou pH
de diminuição de surfactante e sim aumento de vários inibidores <7,25 são candidatos a ventilação mecânica.
do surfactante, razão pela qual estes RN respondem mal ao sur-
factante em bolus. A alternativa seria o uso de lavagem bronco- •Síndrome de Aspiração de Sangue
alveolar com surfactante diluído, pelo fato deste procedimento O desconforto respiratório do RN pode ocorrer após a aspira-
remover os inibidores do surfactante. As possibilidades terapêu- ção de diferentes contaminantes do líquido amniótico (LA), in-
ticas futuras seria o emprego de inibidores do surfactante. cluindo mecônio, vernix caseosa e debris celulares. Há mais de
Este conhecimento é importante na ventilação mecânica des- 3 décadas tem-se relatado que a inalação de sangue ou LA tinto
tes RN: na SAM a constante de tempo (a constante de tempo de sangue causa síndrome de aspiração do RN. Esta síndrome
produz a velocidade com que uma unidade pulmonar se enche de aspiração de sangue como entidade diagnóstica não têm sido
ou se esvazia) é maior, devendo ser proporcionado um tempo ins- muito valorizada, recebendo pouca atenção nos livros textos.
piratório prolongado para que o equilíbrio pressórico seja atingi- Gordon e cl, na Austrália, relataram 3 casos de RN com carac-
do entre a via aérea e os alvéolos; é difícil ventilar estes RN, pois terísticas clínicas de síndrome de aspiração de sangue, incluindo
como alguns alvéolos estão mais obstruídos (constante de tempo início precoce do desconforto respiratório e alterações radiológi-
maior) do que outros (constante de tempo menor), ao propiciar- cas muito semelhante à síndrome de aspiração meconial (SAM).
mos um tempo inspiratório curto, estaremos ventilando apenas Em cada caso, era evidente a inalação (aspirado traqueal san-
áreas não obstruídas. Também é necessário que seja usado tem- guinolento logo após a intubação e a presença de sangue e coá-
po expiratório maior, pois o esvaziamento alveolar e mais lento, gulos no aspirado gástrico, sugerindo que o sangue foi deglutido
pois caso contrário, vamos ter aprisionamento de ar-air trapping- assim como inalado, análogo ao que ocorre na SAM em que fre-
com risco maior de pneumotórax. quentemente observamos mecônio no aspirado gástrico).
Outra complicação da SAM é a hipertensão pulmonar persisten- O sangue está presente na nasofaringe ou hipofaringe em mais
te (Consulte o capítulo de Hipertensão Pulmonar Persistente); a de 25% dos RN de parto vaginal, sendo altamente provável que o
216 hipertensão pulmonar persistente ocorre principalmente devido a sangue seja inalado ocasionalmente dentro dos primeiros gasps
um quadro de hipoxia crônica intrauterina que levaria a alterações de vida pós-natal. Nos casos de LA tinto de sangue com baixo
estruturais na vasculatura pulmonar (66% do RN com SAM apre- Apgar, a aspiração de sangue provavelmente ocorre durante o
sentam HPP, sendo o risco maior, até 6,7 vezes, na SAM severa). trabalho de parto como resultante de gasp fetal. Este é inclusive,
Os RN com SAM desenvolvem desconforto respiratório caracteriza- o mecanismo provável de inalação em muitos casos de SAM.
do por taquidispnéia, principalmente nos RN que nascem com asfixia A hemorragia pulmonar é um importante diagnóstico diferen-
grave, restrição do crescimento intraútero e impregnados de mecônio. cial nestes RN (veja capítulo correspondente), embora os fatores
No exame clínico chama a atenção o abaulamento do tórax. de risco conhecidos de hemorragia pulmonar estavam ausentes
O Rx de tórax (Fig 11) revela, nos casos graves, áreas extensas nestes RN, como: severo comprometimento respiratório asfixia
de infiltrados nodulares grosseiros (áreas de atelectasias) e difu- perinatal grave e fluxo de sangue das vias aéreas, coagulopatia,
sos, alternando com áreas hiperaeradas e de hipertensão alveolar. trombocitopenia, sepses e hipotermia. A ausência destes fatores,
associado a uma concentração normal de surfactante nestes 3
casos, afasta hemorragia pulmonar. O Rx de tórax em ambos os
casos difere: na hemorragia pulmonar (Fig 12), o Rx de tórax se
assemelha a um quadro de Doença da Membrana Hialina e na
aspiração de LA tinto de sangue, o Rx se assemelha a SAM.

Fig 11

Na terapêutica, é importante a atuação na sala de parto, prin-


cipalmente no RN com mecônio espesso: este mecônio deve ser
retirado através da intubação endotraqueal imediata. A cânula
endotraqueal é conectada a uma peça intermediária ligada di-
retamente ao sistema de aspiração. A ventilação por pressão Fig 12: Rx de tórax de um RN com hemorragia pulmonar
positiva só deve ser realizada após a remoção do mecônio. O es-
tômago também deve ser aspirado (diminui risco de vômitos). No •Hipertensão Pulmonar Persistente (Consulte o capítulo
RN vigorosos, tintos de mecônio, segundo estudo multicêntrico correspondente)
coordenado por Wiswell, não há necessidade de qualquer inter- •Displasia Broncopulmonar (Consulte o capítulo corres-
Capitulo 07 Distúrbios Respiratórios

989, 2002
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Paulo R. Margotto
Assistência ao Recém-Nascido de Risco

7.2 CPAP NASAL

Carlos Alberto Moreno Zaconeta

O CPAP nasal é um sistema que fornece pressão positiva de gestacional, o que incrementaria o risco de DBP.
maneira continua nas vias aéreas do paciente. • Antigamente se recomendava que todos os pacientes em
O principio teórico de funcionamento é o seguinte: CPAP nasal fossem intubados em caso de necessidade de
transporte. Na atualidade está comprovado que RNs está-
• O ar entra nos pulmões devido a uma diferença de pressões, veis, cuidadosamente selecionados podem sim ser trans-
desde o lugar de maior pressão para o lugar de menor pressão. portados em CPAP nasal. Nestes casos deve usar-se um
• Como os recém-nascidos (RN) respiram preferencial- aparelho de ventilação mecânica ou um resistor mecânico
mente pelo nariz, o ar oferecido sob pressão nas narinas para gerar PEEP, ao invés do sistema de selo de água.
é deslocado através das vias aéreas e essa pressão é
transmitida aos alvéolos pulmonares, aumentando o seu Complicações Do Uso De CPAP Nasal: As complicações in-
diâmetro e evitando que se colapsem. cluem pneumotórax, distensão gástrica e lesões nasais. Contu-
do, aderindo as recomendações de uso de modo rigoroso, as
Efeitos Do CPAP NasaL: aumento da pressão transpulmonar, complicações são minimizadas.
incremento da capacidade residual funcional, aumento da área Diretrizes De Uso De CPAP Nasal Neonatal: O serviço de neo-
de troca gasosa, prevenção do colabamento dos alvéolos instá- natologia que utilize CPAP nasal, deve se organizar de modo que
veis com diminuição do shunt intrapulmonar, melhora da com- possa cumprir uma série de normas antes, durante e após a apli-
placência pulmonar, reduz a resistência vascular pulmonar pela cação de CPAP nos neonatos.
melhora da oxigenação, otimiza a relação V/Q, protege o surfac- Diretrizes Para Antes De Montar O Sistema De CPAP Nasal:
tante, diminui a resistência da via aérea pelo aumento do seu Deve se atentar basicamente para:
diâmetro e estabiliza o do diafragma e a caixa torácica.
Indicações Do CPAP Nasal: Doença da membrana hialina, • A equipe: Enfermeiras, fisioterapeutas e médicos devem
TTRN, Síndrome de aspiração de mecônio, pneumonia, cardiopa- estar bem treinados e trabalhar em conjunto.
tia, apnéia da prematuridade, no desmame da ventilação mecâ- • O aparelho: Existem aparelhos específicos para a aplica-
nica e em praticamente todas as causas pulmonares de descon- ção de CPAP nasal neonatal, inclusive no Brasil. A vanta-
forto respiratório neonatal. gem é que já vem tudo pronto, não precisa de montar nem
Contraindicações Do CPAP Nasal: Hérnia diafragmática con- improvisar acoples e não ocupa um aparelho de ventilação
218 gênita, defeitos de face e palato, atresia de esôfago e no pneu- mecânica para esse fim. Pode se usar também o apare-
motórax não drenado. lho de ventilação mecânica ou, em última instancia os flu-
Cabe aqui fazermos algumas considerações em relação a al- xômetros de parede, como fonte de gases. Em qualquer
guns pontos que em algum momento suscitaram controversas, caso, o importante é que os aparelhos e sistemas (incluin-
mas que hoje estão bem definidos. do mangueiras e prongas) estejam em perfeitas condições
de manutenção e uso, evitar improvisações e acoples com
• A síndrome de aspiração meconial não contra-indica esparadrapos. Não acoplar mangueiras e prongas de fa-
o uso de CPAP nasal. Antigamente se dizia que o RN bricantes diferentes. Não confundir, o CPAP deve ser um
com esta patologia deveria ser colocado no hood ou em sistema simples, mas não precário. A inobservância desta
ventilação mecânica convencional (VMC), pois o CPAP recomendação pode acarretar prejuízos para o paciente.
aumentaria o risco de pneumotórax. Este argumento é • O tempo de montagem do sistema: Tem tudo a ver com o tó-
facilmente rebatível uma vez que consideramos que se pico anterior. Deve estar tudo preparado com antecedência,
colocarmos o paciente em VMC ele receberá PEEP igual de modo que o recém nascido não demore a ser colocado
que no CPAP, mas receberá concomitantemente pressão no CPAP, o que aumentaria o risco de precisar de ventilação
inspiratória máxima ((PIM) e frequência respiratória (FR), mecânica. O ideal é que os enfermeiros ou fisioterapeutas
aumentando mais o risco de pneumotórax. responsáveis confiram sempre no começo e fim do turno,
• Houve um momento em que se preconizava que todos os de modo que tenham tudo preparado para montar 3 apare-
menores de 1000 gramas deviam ser intubados. Sabe-se lhos de CPAP nasal em um lapso de aproximadamente 15
na atualidade que RNs prematuros extremos (com idade minutos. A maneira de exemplo, a possibilidade de nasce-
gestacional em torno de 27-28 semanas) podem receber rem emergencialmente trigêmeos de 32 semanas em um
CPAP nasal como única forma de assistência ventilatória. serviço de neonatologia não é improvável. O serviço então
O COIN Trial (ensaio CPAP ou intubação), desenhado e exe- tem que estar preparado para fornecer CPAP de imediato a
cutado por Morley em 2008, com prematuros com idade cada bebê. Por outro lado, não é infrequente que nasçam
gestacional entre 25 e 28 semanas evidenciou que a ten- mais de um prematuro em um mesmo dia.
tativa de se colocar estes pacientes em CPAP nasal como
primeira alternativa de tratamento não incrementa o risco Me diga quanto demora a montar um aparelho de CPAP e eu te
de morte ou de displasia broncopulmonar (DBP). Podemos direi a qualidade do serviço em que trabalhas.
recomendar então que no prematuro extremo com respi- Diretrizes Para Montar O Sistema De CPAP Nasal: O sistema
ração espontânea, a primeira opção de assistência ven- de CPAP nasal consta básicamente de três componentes: uma
tilatória deve ser o CPAP nasal. Igualmente, aqueles que fonte de fluxo contínuo de gases (pode ser o fluxômetro do apa-
precisaram de ventilação mecânica, devem ser colocados relho de ventilação mecânica ou os fluxômetros de parede), uma
em CPAP nasal ou ventilação não invasiva (VNI) assim que peça de conexão com o paciente (são as prongas nasais) e um
os parâmetros ventilatórios forem diminuídos, não deven- resistor gerador de pressão (pode ser a válvula exalatória do apa-
do esperar por ganho de peso nem por ganho em idade relho de ventilação mecânica ou o sistema de selo d agua).
Capitulo 07 Distúrbios Respiratórios

CPAP Nasal Com O Aparelho De Ventilação 5. Numerar um esparadrapo de 0 a 9 centímetros em sen-


E Com Selo De Água. tido descendente e colocar o zero ao nível da água da
garrafa. Depois, mergulhar a mangueira exalatória 5 centí-
1. O ventilador mecânico fica desligado, com as chaves metros e fixa-la com esparadrapo na boca da garrafa.
de oxigênio e de ar abertas até que a agulha atinja as
faixas verde e amarela.

FIg 8 FIg 9
FIg 1
6. Utilizar fluxo de 5-8 litros por minuto e iniciar com Fi02
2. A mangueira que sai do fluxômetro deve ser desconecta- de 40%. Para se regular o fluxo e a Fi02 usar os botões do
da da lateral e conectada diretamente no copo umidificador. ventilador normalmente.

CPAP Nasal Com Fluxômetros De Parede


E Com Selo De Água.

1. Acoplar com peça em Y as mangueiras provenientes


dos fluxômetros de ar comprimido e oxigênio a uma ter-
ceira mangueira.

FIg 2 FIg 3 219

3. Colocar o adaptador de 22 mm no outro orifício do


copo e ligar nele a mangueira corrugada inspiratória.

FIg 10 FIg 11

2. Essa mangueira se acopla a um dos orifícios do copo umi-


dificador por meio de um adaptador de 22 mm (ver figura
4). Depois a seqüência continua como mostrado acima.

Para montar CPAP nasal usando o aparelho de ventilação me-


cânica e a válvula exalatória do mesmo como dispositivo gerador
FIg 4 FIg 5 de pressão, ver o capítulo de Ventilação não invasiva(VNI), pois a
montagem é idêntica.
4. Colocar a pronga no nariz do bebê. Fixar as mangueiras
na toca com esparadrapo. Recomendações Para Se Aumentar A Eficiencia
Do CPAP Nasal E Se Evitar As Complicações

•Evitar o fluxo excessivo, este pode aumentar a resistência


ao fluxo de ar, gerar turbulências e também aumentar a
pressão oferecida. Manter o fluxo em 5-8 litros por minuto
ou o menor fluxo que consiga fazer borbulhar o sistema.
•Utilizar as mangueiras corrugadas próprias que por serem
mais leves e flexíveis evitam a tração e o deslocamento
freqüente da pronga, responsável por lesões nasais.
FIg 6 FIg 7 •Aliviar o peso da tubulação para que não exerça tração
no nariz do RN.
•Escolha a pronga adequada, não pode ficar frouxa nem
apertada. Prongas pequenas podem incrementar a resis-
tência ao fluxo de ar e aumentar a pressão inadvertidamen-

Paulo R. Margotto
Assistência ao Recém-Nascido de Risco

te (PEEP inadvertida) ou propiciar escape de ar, enquanto Diretrizes Após O Uso De CPAP Nasal
que pronga demasiado grandes ferem as narinas e o septo,
podendo necrosá-lo. A pronga é considerada do tamanho Os serviços de neonatologia que usam CPAP nasal devem ter
adequado quando não fica frouxa dentro do nariz nem aper- um registro dos pacientes atendidos onde deve constar: número
tada ao ponto de distender as narinas (Ver tabela 1). de pacientes por mês que usaram CPAP nasal, número de bebês
• Distender as narinas suavemente, com cotonete embebi- que usaram CPAP como forma exclusiva de assistência ventila-
do em soro fisiológico antes de adaptar a pronga ao RN. tória (dividir por faixas de idade gestacional), número de pron-
A pronga deve entrar apenas alguns milímetros, não deve gas mais usadas, quantidade de pacientes com insucesso na
tocar o septo nasal e deve estar bem fixada. extubação para CPAP ou VNI, freqüência e grau de lesão nasal,
• Observar atentamente o nariz do RN. Não deve ter as- etc. As reinvindicações ficam mais fáceis apoiadas em números
simetrias nem sulcos no dorso. Examinar o septo nasal concretos.
frequentemente. “Um serviço que não conhece a sua realidade, voa às cegas
• A lesão nasal por CPAP tem 3 estágios: inicia com palidez na tentativa de melhorar a saúde” (CLAP).
por pressão, evolui para hiperemia e finalmente para ero-
são. Detectar e corrigir precocemente, ainda no estado Referencias Bibliográficas
de palidez, para evitar a progressão do dano.
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Capitulo 07 Distúrbios Respiratórios

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221
Respiratórios (acessado em 26/1/2011)

Paulo R. Margotto
Assistência ao Recém-Nascido de Risco

7.3 VENTILAÇÃO NÃO INVASIVA (VNI)

Carlos A. Moreno Zaconeta

A intubação endotraqueal em neonatologia é uma manobra po- Quais As Indicações De VNI?


tencialmente salvadora de vidas, pois permite colocar o pacien-
te em ventilação mecânica. Contudo, apresenta alguns efeitos A principal indicação é para aumentar o sucesso pós extubação
adversos como estenose subglótica, infecção respiratória, lesão de RN <1500 gramas, sendo discutível o seu uso na prevenção e
pulmonar induzida pela ventilação, e aumento do risco de doen- tratamento da apnéia da prematuridade. No momento atual do co-
ça pulmonar crônica (DBP). nhecimento, não existe suporte científico suficiente que recomen-
Neste contexto, o CPAP nasal vem sendo usado desde 1971, de o uso de VNI como primeira alternativa de suporte ventilatório.
ou como forma exclusiva de assistência ventilatória para prema-
turos em insuficiência respiratória, ou como parte seqüencial do Quais As Contra-Indicações E Efeitos Adversos?
tratamento de prematuros submetidos à ventilação mecânica,
que são extubados e colocados em CPAP nasal. As mesmas contra-indicações e efeitos adversos que o CPAP nasal
Contudo, alguns RN tratados com CPAP nasal desenvolvem in- (ver capítulo específico), portanto requer dos mesmos cuidados. O uso
suficiência respiratória devido à progressão da doença pulmonar, à de PI muito elevada pode incrementar o risco de lesão gástrica.
apnéia da prematuridade ou às atelectasias progressivas. Por outro
lado, estudos mostraram que 25-40% dos RN com muito baixo peso Quais Os Parametros Iniciais?
de nascimento apresentam insucesso na extubação para CPAP.
Os esforços para melhorar estas taxas de insucesso induziram No nosso serviço o protocolo orienta iniciar com : PEEP:
a procurar alternativas para prover suporte ventilatório evitando, 5-6cmH2O; PI: 2 cmH2O a mais da que estava na VMC (espera-se
contudo a intubação endotraqueal. que na pronga exista uma queda de ± 2cmH2O entre a pressão
A ventilação não invasiva (VNI) consiste no fornecimento de oferecida e a que chega ao pulmão), TI: 0,4 seg; FR: 20-25 ipm;
pressão positiva em ambas as fases do ciclo respiratório, sem a Fluxo: 8-10 L/min; Fi02: a mesma que estava na VMC. Posterior-
presença de um tubo orotraqueal. mente, na dependência da clinica, da gasometria e dos raios-X,
Como na atualidade é maior a probabilidade dos RN muito pe- alguns casos precisam modificar parâmetros.
quenos não serem intubados ou serem extubados precocemen-
te, a VNI nasal está sendo usada como uma técnica que poderia Como Desmamar Da VNI?
melhorar a função respiratória, reduzir as taxas de reintubação e
222 tratar a apnéia da pré-maturidade. Com base em critérios clínicos e, se necessário gasométricos e ra-
Em neonatologia, a maneira mais comum de se oferecer VNI é diográficos, diminuir parâmetros. Para evitar se oferecer tratamento
através das prongas nasais (as mesmas utilizadas para CPAP na- e riscos a mais do que o paciente precisa, (over treatment), sugeri-
sal). Portanto, a VNI nasal é o acréscimo ao CPAP de insuflações mos que, caso a evolução clinica seja muito satisfatória, os RN entre
sobrepostas, com pico de pressão definido. 1000-1500 gramas sejam desmamados para CPAP e posteriormen-
A Fi02, a pressão no final da expiração (PEEP), o pico de pres- te Hood, tão pronto quanto possível. Nos pacientes prematuros ex-
são (PIP), a freqüência respiratória e o tempo inspiratório podem tremos ou aqueles que ficaram mais instáveis, deixar 72 horas em
todos ser pré-definidos. VNI e depois tentar colocar em CPAP convencional.

Como Funciona A VNI? Quando Considerar Que Houve Insucesso


Na VNI E Que O RN Deve Voltar Para
A VNI tem os mesmos benefícios do CPAP (ver capítulo especí- Ventilação Mecânica Invasiva?
fico) e mais os benefícios de fornecer picos de pressão inspirató-
ria a intervalos pré-definidos. Estes picos de pressão inspiratória pH<7,25; Fi02> 60%; PaC02 > 60mmHg; mais de 6 episódios
atuariam aumentando o volume minuto e também recrutando os de apnéia que precisem de estimulo táctil ou mais de um episó-
alvéolos mais distais à via aérea, que são mais passíveis de atelec- dio que precise de ventilação com máscara, em 6 horas e estan-
tasiar. Isto produziria aumento da capacidade residual funcional e do em uso de aminofilina. O insucesso na VNI não indica que não
diminuição do trabalho respiratório. Por outro lado, a VNI estimula possa se tentar de novo posteriormente.
o reflexo paradoxal de Head, que consiste em que, ao receber uma
insuflação pulmonar, o RN desencadeia uma inspiração forçada. Como Montar O Sistema De VNI Neonatal

Qual O Melhor Dispositivo Para Se Fornecer VNI? Montar um sistema de VNI neonatal é bastante simples. Precisa
apenas de um sistema de CPAP nasal e de um ventilador conven-
Em neonatologia, as máscaras faciais associaram-se a maior cional de fluxo contínuo, ciclado a tempo e limitado a pressão, que
incidência de deformidades cranianas e hemorragias cerebrais. A são a imensa maioria de ventiladores neonatais (Inter 3, Inter 5,
interface mais utilizada e melhor são as prongas bi-nasais curtas, Inter neo, Dixtal,etc)..
as mesmas usadas para CPAP nasal. Pode se também usar um Quem faz CPAP nasal no aparelho de ventilação mecânica, sem
tubo oro traqueal inserido por uma narina e localizado na faringe. usar frasco de selo de água, deve montar de maneira idêntica para
Em relação ao aparelho utilizado, é o mesmo usado para ventila- fornecer VNI.
ção mecânica com tubo orotraqueal. Os aparelhos podem, ou não, Aqueles que nunca usaram o ventilador para fornecer CPAP, po-
sincronizar o pico inspiratório com a inspiração espontânea do pa- dem montar o sistema de VNI da seguinte forma:
ciente. No momento atual do conhecimento não existe evidencia de O ventilador mecânico é conectado nas fontes de ar comprimido
que a VNI sincronizada seja mais eficiente que a não sincronizada. e oxigênio como é habitual. Do copo umidificador, ao invés de sair
o ramo inspiratório usado em ventilação mecânica, sai a manguei-
Capitulo 07 Distúrbios Respiratórios

ra inspiratória do CPAP. Para adaptar a mangueira inspiratória com A linha de monitoração de pressão vem inclusa nos kits de
o copo, é necessário um conector de 22 mm (ver figura 1). prongas nasais. Uma extremidade desta linha deve ser conecta-
da no local específico do ramo exalatório do circuito (ver figura 5).
A outra extremidade é conectada no local de medida da pressão
do aparelho de ventilação mecânica (ver figura 6).

Fig 1: Mangueira inspiratória corrugada adaptada ao


frasco umidificador por conector de 22mm.
Figura 5. Linha de monitoração de pressão conectada
A mangueira inspiratória ira conectada a pronga nasal como é no local específico do ramo exalatório do circuito.
habitual. Da pronga nasal sairá a mangueira exalatória do siste-
ma ( ver figuras 2 e 3)

Figura 6. Linha de monitoração de pressão conectada no local


Figura 2 de medida da pressão do aparelho de ventilação mecânica. 223

Finalmente, se coloca o ventilador mecânico no modo de venti-


lação habitual no serviço.

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Figura 4. Mangueira exalatória corrugada adaptada


à entrada da válvula PEEP por meio de conector de 22mm

Paulo R. Margotto
Assistência ao Recém-Nascido de Risco

7.4 ASSISTÊNCIA VENTILATÓRIA MECÂNICA

Jefferson Guimarães de Resende/Paulo R. Margotto

O suporte ventilatório em neonatologia, mediante o uso de • Pa02 < 50 com FiO2 alta; se Doença da Membrana Hia-
ventiladores pulmonares mecânicos, foi e continua sendo um lina (DMH), Saturação de 02 abaixo de 90% em Fi02, na
dos pilares do tratamento intensivo neonatal, responsável com CPAP, de 60%.
enorme parcela, pela melhoria das taxas de sobrevivência nes- • PaC02 maior que 60 mmHg, principalmente se pH menor
ta faixa etária. A base destes instrumentos, idealizados por Ro- que 7.25
bert Kirby em 1972, se utiliza amplamente até os dias atuais.
Trata-se de um instrumento que permite que um fluxo de gases É necessário prestar muita atenção durante a assistência ven-
circule através do circuito de ventilação, e basicamente duas tilatória ao RN considerando-se que esta se faz atendendo as
válvulas definem, primeiramente, a pressão máxima que estes peculiaridades únicas, e envolve elevado risco para o bebê. O RN,
gases exercerão dentro do mesmo, quando a válvula exalatória com as suas vias aéreas estreitas, freqüência respiratória eleva-
é fechada, e qual pressão existirá ao final da expiração, quando da e alterações fisiológicas importantes, na dependência da en-
a válvula correspondente se abrir. Assim, a ventilação pulmonar fermidade que o acomete, impõe uma atenção especial no ajuste
mecânica no período neonatal segue sendo de fluxo contínuo, dos parâmetros do respirador, pois ajustes para RN de mesmo
pressão-limitada, ciclada a tempo. peso poderão ser distintos na dependência da doença e até com
Aperfeiçoamentos foram conquistados desde o começo e vál- o estágio da mesma que o tenha levado a ventilação pulmonar
vulas mais sofisticadas substituíram as primeiras, permitindo mecânica. Achamos prudente mantermos atenção a determina-
velocidade de resposta muito mais adequada aos bebês, preste- dos conceitos de fisiologia pulmonar e de como o respirador se
za nos ajustes feitos nas mesmas e também, a incorporação de inter-relaciona com a mecânica ventilatória do RN.
sensores que denunciassem o início do esforço inspiratório dos
bebês, deu causa à sincronização dos equipamentos ao ritmo Conceitos Da Fisiologia Respiratória
respiratório dos bebês, inclusive os pequenos prematuros.
Mas esta evolução no conhecimento nos mostrou que a tera- Complacência
pêutica com estes equipamentos tinha efeitos adversos. A lesão
induzida pela ventilação inicia nos primeiros ciclos do ventilador É a propriedade de distensibilidade pulmonar e da parede torá-
e hoje, nos paises mais avançados, a doença provocada pela cica (expressa a variação de pressão necessária para permitir o
ventilação mecânica lidera a mortalidade nos prematuros. Certa- acesso de determinado volume gasoso nos pulmões). Um RN sem
224 mente a Displasia Bronco-pulmonar é uma doença multifatorial, doença pulmonar tem complacência que varia de 3 a 6 ml/cm H2O
mas a base da enfermidade é a distensão alveolar. ou seja, após encher o pulmão, cada vez que colocarmos mais 3
O evoluir do conhecimento demonstrou que aperfeiçoamentos a 6 ml de gás no seu interior haverá incremento de 1 cm água
nos aparelhos deveriam ser instalados para minimizar a ocor- na pressão de distensão. Por outro lado, em um RN com Doença
rência da lesão pulmonar. Daí surgiu a sincronização dos ciclos Da Membrana Hialina (DMH), que caracteristicamente apresenta
ventilatórios, a ventilação de alta freqüência (HFV), a ventilação uma diminuição da complacência pulmonar (0,5 ml a 1 ml/ cm
a volume, a utilização de pressão-suporte. Muitos destes aper- H2O), se quisermos aumentar o volume pulmonar em 6 ml, deve-
feiçoamentos frustraram os profissionais de saúde encarregados mos aumentar a pressão de distensão em 6 a 12 cm de água.
de sua utilização. A lógica, muitas vezes, foi vencida pela reali-
dade e, até os dias atuais, a sincronização dos equipamentos, Resistência
por exemplo, conseguiu reduzir a incidência de escapes de ar e
do tempo de ventilação pulmonar, porém sem redução da taxas É uma medida da capacidade, inerente das vias aéreas, de
de Displasia Bronco-pulmonar ou de mortalidade. Também a HFV resistir à entrada de ar. O RN, principalmente o prematuro, com
não contribuiu significativamente com a redução da mortalidade, suas vias aéreas estreitas, impõe significativa resistência à circu-
quando comparada à ventilação convencional, além de agregar lação de gases. A necessidade de intubá-los com tubos de 2 a 2,5
novas lesões, incluindo a leucomalácia periventricular, por exem- mm de diâmetro interno impõe grande dificuldade de fazermos
plo. Esperanças têm sido depositadas na modalidade volume-ga- com que a pressão de distensão imposta pelo respirador atinja
rantido, porém a literatura ainda aguarda trabalhos consistentes os alvéolos, no tempo reservado à inspiração; assim, devemos
comprovando sua melhor eficácia comparada à convencional. usar o tubo endotraqueal de maior diâmetro interno possível, o
O que tem sido utilizado amplamente é a ventilação convencio- menor comprimento do tubo, reduzir ao máximo a velocidade do
nal, sincronizada ou não. No serviço de neonatologia do Hospital fluxo de gases no interior do tubo através da redução do fluxo de
Regional da Asa Sul, onde trabalhamos desde 1986 com ventilação admissão de gases (FAG) de gases no circuito do respirador.
mecânica, não tivemos a oportunidade de utilizar outra modalidade A resistência é expressa em cm de água /L/seg. RN intubados
que não fosse a ventilação convencional e a ventilação de alta fre- têm resistência entre 50 e 150 cm de água/L/seg. (sem o tubo:
qüência, motivo pelo qual trataremos apenas destas modalidades. 20 a 40 cm H2O/L/seg.). Quanto maior a resistência, menor a
possibilidade do volume esperado atingir o alvéolo (o pulmão se
Ventilação Convencional enche lentamente).

Indicações da Ventilação Mecânica Como interpretar a Resistência


No RN consegue-se passar l litro de gás através de sua via
• Marcadas retrações intercostais aérea em 1 segundo, desde que seja exercida uma pressão de
• Apnéias freqüentes até 40 cm de H2O (RN sem tubo) ou até 150 cm H2O (RN com o
• Sepse, choque tubo endotraqueal).
Capitulo 07 Distúrbios Respiratórios

Constante de tempo mento do “air trapping”, gera aumento da PEEP inavertida


É o tempo requerido para equilibrar as pressões entre a via e, por conseqüência, pode gerar redução do VC). Pode
aérea e o alvéolo (por definição, uma constante de tempo é o ser necessário reduzir o TI se o mesmo for tal que propi-
tempo necessário para que a pressão intra-alveolar atinja 63% cie condições de air trapping.
da pressão da via aérea), sendo definida como o produto da com- • Aumento do fluxo inspiratório (se este estiver menor que
placência pela resistência. A constante de tempo traduz a velo- aquele necessário para atender à “regra de Ayre” (FAG =
cidade com que uma unidade pulmonar se enche ou se esvazia; 3X VM), ou redução do mesmo, se estiver muito alto, po-
quando atingida esta pressão de equilíbrio (o que ocorrerá entre dendo ocorrer turbulência na via aérea, com conseqüen-
3 a 5 constantes de tempo), não haverá mais a modificação no te aumento da resistência.
fluxo ou no volume. Quanto maior a complacência, maior o tempo
necessário para encher o pulmão; quanto maior a resistência, Não se descuidar dos efeitos adversos da ventilação pulmonar
maior a dificuldade para o gás passar através das vias aéreas; mecânica sobre a hemodinâmica; por exemplo, aumentos exage-
ambas interferem na velocidade com que a pressão dentro do rados do PIP e, principalmente da PEEP, podem criar obstáculos
alvéolo se iguala àquela existente no circuito de ventilação. à circulação do sangue, comprometendo a relação ventilação/
Na doença da membrana hialina a constante de tempo é pe- perfusão, trazendo prejuízos à troca gasosa. Radiografias de tó-
quena, pois a complacência é pequena (assim podemos distri- rax devem ser realizadas a cada alteração para mais nos parâme-
buir o gradiente de pressão para dentro dos pulmões em um tros da ventilação, ou, ao menos, 1X ao dia na fase de alteração
menor tempo do que numa situação de complacência normal). fisiológica da complacência (primeiros dias de tratamento) para
Na Aspiração Meconial a constante de tempo é maior, devendo monitorar a ocorrência de hiper-insuflação (mais que 9 costelas
ser proporcionado um tempo inspiratório prolongado para que o visíveis no campo radiográfico).
equilíbrio pressórico seja atingido entre a via aérea e os alvéo-
los. A dificuldade em ventilar um RN com Aspiração Meconial se 2. Redução do EM: pode ser conseguido através de:
deve ao fato de que, como alguns alvéolos estão mais obstruídos • Uso de tubos (TOT) de menores comprimentos (pouco efetivo)
(constante de tempo maior), do que outros (constante de tempo • Conexões de TOT menores
menor), ao propiciarmos um tempo inspiratório curto, estaremos • Inversão da conexão do TOT (possível no circuito de ventilação
ventilando apenas áreas não obstruídas e ao propiciarmos um TI do ventilador Bourns BP 200, pouco utilizado atualmente).
longo, estaremos correndo o risco de hiper-distender as unidades
alveolares desobstruídas. 3. Aumento da FR (Freqüência Respiratória)
Aplicando os mesmos conceitos de constante de tempo, sabe- [Se esta estiver já alta (> que 60 com), o RN se beneficiará
mos que devemos permitir um tempo adequado para que haja melhor com o aumento do PIP e com a redução do TI]
esvaziamento do alvéolo. Quando há diminuição da complacên- Lembramos que estratégias ventilatórias que levam a hipocap-
cia pulmonar (maior tendência retrátil pulmonar) como na DMH, nia durante o curso precoce da doença resultam em aumento do
o esvaziamento alveolar é mais rápido; já na condição em que se risco de Displasia Broncopulmonar (DBP). A hipercapnia permissi- 225
observa aumento da resistência, como na Aspiração Meconial, va é uma estratégia usada no manuseio destes RN sob ventilação
o esvaziamento alveolar é mais lento e, neste caso, é necessá- mecânica em que a hipocapnia é prevenida e níveis de PaC02 rela-
rio um tempo expiratório maior, caso contrário se cria condições tivamente altos são aceitáveis (45 a 55 mmHg - pH de 7,20) para
para haver aprisionamento de ar nos alvéolos (air trapping). evitar altos VC, hiperinsuflação pulmonar e injúria pulmonar.
Assim, levando-se em consideração os conceitos expostos, de-
vemos calibrar os parâmetros do ventilador baseados nas neces- Correção da hipoxemia:
sidades de troca do RN, e em acordo com a doença que o levou à A elevação do conteúdo arterial de O2 aumenta com:
ventilação pulmonar mecânica.
• Aumento da Fi02
Assim, na correção da hipercapnia consideramos o seguinte • Aumento da área de troca
A eliminação do CO2 da corrente sangüínea se relaciona com o • O tempo em que o 02 inspirado se mantém em contato
volume corrente e com a freqüência com que gases novos (com com a parede alveolar (TI)
baixos teores de CO2) chegam e saem dos alvéolos em uma uni- • A otimização da perfusão alveolar
dade de tempo que, geralmente, consideramos o minuto (daí, vo-
lume minuto - VM). Não podemos esquecer, também, que existe Para conseguir este objetivo
o espaço morto na via aérea, de aproximadamente 30% do VC, e • Aumento da MAP (Mean Air Pressure: Pressão Média
que não participa das trocas. Assim: das Vias Aéreas) com o conseqüente aumento da área de
troca. (Pode não ser verdadeiro que o aumento da MAP
VM = (VC - EM) X FR (freqüência respiratória, em 1 min). eleve a PaCO2 se a elevação da MAP reduzir a circula-
ção de sangue junto aos alvéolos). Podemos aumentar
Portanto para reduzir a PaCO2, podemos fazer: a MAP através de:
• Aumento do PIP
1. Aumentar o VC o que pode ser conseguido: • Aumento da PEEP
• Pelo aumento do PIP (Pico de Pressão Inspiratória); pode • Aumento do tempo inspiratório.
não resolver se a capacidade pulmonar total já tiver sido
atingida. O aumento do PIP pode ser conseguido pelo aumento puro e
• Redução da PEEP (Pressão positiva no final da expira- simples da pressão ou pela redução da resistência (assim aumen-
ção), o que aumenta a pressão de ventilação (produto do ta da probabilidade da pressão definida no respirador seja equi-
PIP menos a PEEP). valente nos alvéolos). O aumento do PIP aumenta melhor a PaO2
• Aumento da PEEP (se existirem áreas alveolares recrutá- do que o aumento do tempo inspiratório provavelmente por menor
veis, o VC total resultar em aumento) repercussão hemodinâmica que o aumento do T.Insp enseja.
• Aumento do tempo inspiratório (TI), desde que este au- Se a PEEP estiver baixa (menor que 4 e não houver hiperin-
mento não produza inversão de relação I: E, que, pelo au- suflação) o aumento da PEEP poderá ser bastante efetiva no

Paulo R. Margotto
Assistência ao Recém-Nascido de Risco

aumento da MAP. Por outro lado, deve se evitar que pressão de • Provoca menos alterações no fluxo sangüíneo cerebral.
ventilação (a diferença entre a PEEP e o PIP) fique muito pequena • Reduz o tempo de ventilação pulmonar mecânica, favore-
(raramente menor que 5 a 6 cmH2O), pois reduzirá o VC, podendo cendo o desmame.
aumentar a PaCO2.
Na ventilação sincronizada os ciclos ventilatórios coincidem com
MAP = K (PIP x TI+ PEEP x TE)/TI+TE o esforço inspiratório de RN, a depender da sensibilidade do sensor
(K: constante que depende do fluxo, complacência e resistência) de disparo e do desempenho do equipamento (ventilador) utilizado.
A ventilação sincronizada pode utilizar-se como sincronizada
Alterações Hemodinâmicas Devido A Variações De IMV (SIMV) ou como ventilação assistida/controlada (A/C). Na
Pressão Da Ventilação Mecânica SIMV, o paciente recebe o número de ciclos definidos com o ajus-
te da freqüência respiratória (FR), porém disparados pelo RN; re-
• Aumento da pressão em ventrículo direito ceberá ciclos não disparados pelo mesmo apenas se estiver em
• Aumento da pressão venosa central apnéia, quando os ciclos serão disparados pelo próprio aparelho,
• Aumento da pressão intracraniana na FR definida previamente. Na ventilação assistida/controlada
• Maior possibilidade de PCA (persistência do canal arterial) é o RN quem determina a freqüência do respirador; o RN que
• Redução do débito cardíaco, da perfusão cerebral e renal. desencadeia cada ciclo ventilatório: cada vez que o RN faz um
esforço respiratório, o ventilador cicla. Assim, nesta modalidade,
Objetivos da ventilação mecânica: a freqüência respiratória mecânica poderá ser muito alta ou mui-
• PaCO2: 50-55mmHg to baixa, porém nunca menor que a FR definida pelo profissional
• pH: > 7.20 assistente. Atente para o fato de que os disparos acontecerão
• Pa02: 50-70 mmHg na medida em que a sensibilidade do sistema estiver regulada
de modo que o sensor “perceba” o início do esforço respiratório
Na definição dos parâmetros iniciais da VPM, utilizamos si- do paciente. Assim, se a sensibilidade estiver alta, ou seja, mui-
nais de gravidade do caso, muito mais que o peso do RN. to sensível, pequenos esforços serão suficientes para disparar o
Parâmetros iniciais para RN que não necessitaram manobras ciclo ventilatório; ao contrário, se a sensibilidade estiver baixa,
agressivas de reanimação na sala de parto: o paciente terá que fazer um esforço maior para disparar o sis-
FiO2: a menor possível para manter a oxigenação tema. Esta regulagem da sensibilidade poderá ser utilizada, en-
PIP: 20 cm H2O tão, para treinar a musculatura respiratória do paciente que ficou
PEEP: 5 cm H2O muito tempo em ventilação pulmonar (muitas vezes recebendo
Tempo inspiratório: 0.30-0.35 segundos sedoanalgesia mais intensa), preparando-o para a extubação
FR: 40 ipm próxima. Outra atenção especial deverá ser dispensada durante
Fluxo: 3 x VM a aquisição dos ventiladores do serviço; assim, os respiradores
226 VM = VC x FR: considerar, para este cálculo, o VC em 10 ml/kg que têm válvulas ou sistemas que demoram demais a responder
aos estímulos podem trazer enorme estresse ao paciente que
Parâmetros Iniciais Para RN Que poderá já ter iniciado o esforço ventilatório e o aparelho, ao de-
Necessitaram Manobras Agressivas morar a “atender” à ordem, possibilita a ocorrência de “esforço
De Reanimação Na Sala De Parto sem resposta” criando grande desconforto ao bebê. Ou seja, a
velocidade da resposta que propiciará um ciclo do ventilador está
FiO2: a menor possível para manter a oxigenação na dependência do ajuste da sensibilidade (decisão da equipe
PIP: 25 cm H2O de saúde) e/ou da capacidade de resposta do equipamento
PEEP: 5 cm H2O (tecnologia). Outro detalhe muito importante: em situações de
Tempo inspiratório: 0.30-0.35 segundos ajuste “muito sensível”, o próprio movimento da água acumulada
FR: 60 ipm dentro do circuito do respirador pode disparar ciclos ventilatórios
Fluxo: 3 x VM criando condições de MAP muito elevada e relação I/E invertida,
VM = VC x FR: considerar, para este cálculo, o VC em 5 ml/kg obrigando, muitas vezes, a constantes esvaziamentos da água
do circuito e, outras vezes, a alterações na sensibilidade de modo
Lembre-se que estes parâmetros são de instalação, ou seja, são a proibir a ocorrências de FR indesejáveis.
definidos antes de se conectar o paciente na VPM; o ajuste a parâ- Atenção: a PEEP não deve ser reduzida de 5 cm de H2O (o
metros adequados ao bebê, ainda que clínicos, devem ser realiza- mesmo se aplica ao CPAP) exceto se houver hiperinsuflação, que
dos tão logo o paciente seja conectado ao aparelho de ventilação. definimos como a condição em que, diante de uma radiografia de
Na seleção das pressões, usar os conceitos de complacência, tórax, conseguimos verificar que a 10a. costela está nos campos
gasometria, o volume corrente desejado. Uma maneira prática pulmonares. É preciso lembrar que a PEEP protege o pulmão de
para saber se a ventilação está com parâmetros adequados para lesões induzidas pela ventilação pulmonar, além de preservar a
cada doença é a simples observação dos movimentos de expan- função do surfactante.
são torácica (ainda que este conceito varie de profissional para
profissional) e análise oximétrica. Ventilação dirigida a volume
A desvantagem em usar a ventilação limitada por pressão é
Ventilação Sincronizada que se as características mecânicas pulmonares mudarem, man-
A ventilação sincronizada é a estratégia ventilatória onde o iní- tendo a mesma pressão, você acaba tendo um volume corrente
cio dos ciclos ventilatórios com pressão positiva coincide com a totalmente diferente (o RN fica mais rígido porque está brigando
ocorrência do esforço inspiratório espontâneo do paciente, tendo com o ventilador, ou porque o pulmão desenvolve edema pul-
como resultado: monar e você mantém a mesma pressão e o volume será muito
menor). Por outro lado, se você der surfactante, a complacência
• Melhora da oxigenação melhora muito rapidamente e mantendo a mesma pressão, o vo-
• Aumento do volume corrente lume corrente (VC) será muito maior. Esta é a principal desvanta-
• Diminuição da incidência de barotrauma/volutrauma gem de usar uma estratégia de limite de pressão. Assim há um
Capitulo 07 Distúrbios Respiratórios

esforço em desenvolver um sistema que pode usar a ventilação Aspiração


dirigida a volume no neonato. • Introduzir a sonda correspondente ao tamanho do tubo
O que o sistema faz basicamente é: medir o fluxo, integrar o si- endotraqueal. (Controlar a pressão de sucção (100-
nal com o volume (então você mede VC constantemente e depois 120mmhg).
se o RN fica mais rígido porque briga com o ventilador ou porque
as características do pulmão mudaram, o VC cai e o ventilador Desmame
detecta a diminuição do VC expiratório e com base nesta queda, • Usar a ventilação pulmonar mecânica pelo menor tempo
começa aumentar a pressão inspiratória máxima (PIM) para ten- possível e os parâmetros do respirador devem ser reduzi-
tar restabelecer o VC mais uma vez). Então vejam aqui que se o dos tão logo as condições clínicas do paciente e os exa-
VC cair, a pressão aumenta e o VC restabelecido e depois a MAP mes gasométricos permitirem; fuja da premissa de que
(mean airway pressure - pressão média das vias aéreas) começa o RN é muito pequenino para agüentar CPAP, da idéia
a baixar automaticamente. Portanto o ventilador basicamente faz de que extubar à noite é pior para o paciente; a equipe
o trabalho, ajustando a pressão inspiratória máxima (PIM) para deve ser treinada para que a ventilação pulmonar seja
tentar manter um VC constante. interrompida tão imediatamente quanto possível. O me-
Singh e cl, no Reino Unido, compararam a eficácia e a seguran- lhor suporte ventilatório que existe ainda é CPAP NASAL!!!
ça da ventilação controlada a volume versus ventilação limitada a • Sempre que possível o desmame deve começar pelo pa-
pressão nos RN de muito baixo peso (600 e 1500g, com idade ges- râmetro de maior risco (pressão inspiratória), devendo-se
tacional entre 24 a 31 semanas) com doença da membrana hiali- reduzir não mais que 2-3 cm-H2O/vez ou pelo parâmetro
na. Observem que os RN abaixo de 1000g alcançaram os critérios que estiver mais distante do valor fisiológico, por exem-
de extubação muito mais cedo quando ventilados com controle de plo, uma FIO2 muito elevada.
volume em comparação com a ventilação limitada a pressão. En- • Ainda que esta seja uma conduta muito debatida na litera-
tão, isto demonstrou de maneira eficaz que com o uso da ventila- tura, usamos iniciar aminofilina 24 horas antes da extuba-
ção controlada a volume podemos retirar o RN mais rapidamente ção prevista, para os bebês menores que 34 semanas de
da ventilação mecânica. Assim, a justificativa deste tipo de ventila- IGPC: 6 mg/Kg/dose de ataque e 1,5 mg/kg/dose - 12/12
ção voltada para volume é que oferece um VC mais consistente e horas; para bebês menores de 1250 g, temos introduzido
produz uma redução da duração de episódios de hipoxemia a aminofilina desde a primeira prescrição, mesmo para
A ventilação automatizada dirigida para volume permite for- aqueles em ventilação pulmonar mecânica, para tentar
necer ao recém-nascido um volume corrente relativamente reduzir o tempo de VMC e de incidência de DBP.
constante, de acordo com as mudanças da mecânica pulmonar, • Reduzir a FR e manter o RN em SIMV por 6 h, numa fre-
permitindo um desmame mais rápido. Todos nós sabemos que qüência de 20 ciclos/min.
a displasia broncopulmonar é uma doença que ocorre principal-
mente nos pré-termos extremos e a duração da ventilação me- Critérios Para Extubação
cânica está claramente associada com a sua ocorrência. Outra 227
vantagem da ventilação dirigida para volume foi a diminuição da • Respiração espontânea e regular
duração dos episódios hipoxêmicos que ocorre nos RN no venti- • Pulmões bem ventilados, sinais vitais e gases normais
lador (estes episódios originam da briga do recém-nascido com o • Fi02 de 30%; SIMV de 20/min; PIP máximo = 15 cm H2O;
respirador, causando uma queda do volume corrente). Portanto, PEEP = 5 cm H2O
à medida que a função pulmonar melhora, a máquina consegue • Esvaziamento gástrico
gerar um volume corrente constante, reduzindo as pressões de • Aspirar vias aéreas superiores e tubo endotraqueal
forma automática. A associação da ventilação dirigida para volu- • Extubar e colocar na CPAP nasal no mínimo por 15 horas;
me com a ventilação minuto mandatória, demonstrou ser efetiva as cordas vocais levam 15 horas para retornar ao normal
na redução dos episódios hipoxêmicos e na menor duração da após a extubação. Esta estratégia melhora a estabilidade
ventilação mecânica nos recém-nascidos pré-termos. da caixa torácica, dimimui a possibilidade de atelectasia
pós-extubação, reduzindo o risco de re-intubação. Esta
Cuidados Com O Tubo Endotraqueal estratégia tem enorme valor principalmente nos bebês
menores de 1500 g.
• Medir previamente a distância a ser inserida, a fim de • Fisioterapia imediata dando ênfase aos lobos superiores
evitar a intubação seletiva (fórmula: peso + 6. Ex. Rn com e o médio direito, que são mais propícios a colapsar (pos-
peso de 1kg, introduzir 7 cm). No entanto, para os rn suem menos vias aéreas colaterais e os brônquios médio
<750g, introduzir 6 cm. e direito são menores).
• Utilizar o diâmetro do tubo de acordo com o peso do • Ao retirar a cânula, a CPAP nasal deverá estar preparada
rn:<1kg: 2.5Mm; com FiO2 de 50% (avaliar pelo oxímetro).
• 2Kg: 3.0mm; 2-3kg: 3.5mm; >3kg: 3.5 A 4.5mm • Fisioterapia 3/3 hs durante 12 horas (de acordo com a
• Sempre verificar a posição do tubo através de rx (deve clínica e o RX de tórax; este deverá ser feito 2 horas após
ficar entre T2 e T3 e a 1cm da carina) a extubação).
• Manter o pescoço do rn ligeiramente estendido • Vigilância rigorosa.
• Não succione o tubo muito freqüentemente (a sucção • Gasometria 2 h após a extubação
altera sensivelmente a pressão arterial e o fluxo sangüí- • Mudar de decúbito 2/2 h: Dorsal, dorsal proclive,
neo cerebral com risco de hemorragia intraventricular); lateral direito e lateral esquerdo.
por exemplo, observe que o rn com dmh não apresenta • Iniciar dieta 6 h após a extubação.
muita secreção nas primeiras 48 hs!
• Manter temperatura em 35ºC ao nível de vias aéreas (a Segundo Bancalari e Claure, os preditores de sucesso na ex-
maioria dos circuitos tem um termômetro acoplado na tubação são:
conexão-paciente).
• Não troque o tubo desnecessariamente
• Fixe o tubo corretamente - evite aglomerado de esparadrapos.

Paulo R. Margotto
Assistência ao Recém-Nascido de Risco

• nível de FiO2 e suporte ventilatório o mesmo não tenha tido necessidade de ser reanimado;
• FiO2: 30 – 40% vide adiante, Rotina de aplicação de surfactante.
• FR< 15 • Jamais deixe o RN sem PEEP, ainda que para se proceder a
• PIP: 15 cmH2O limpeza do mesmo, durante a espera para sua transferên-
• Níveis de gases aceitáveis cia e também durante o transporte do mesmo para a UTI;
• Reduza a Fi02, se possível, de acordo com o permitido
Nota: a dexametasona reduz a necessidade de re-intubação através de avaliação clínica ou, melhor ainda, se houver
entre os bebês que passaram várias semanas em ventilação possibilidade, pela oximetria de pulso.
pumonar mecânica, devendo ser usada somente em RN de alto
risco para re-intubação: 0,25mg/kg/dose 8/8h (3doses), ini- Normas Para A Aplicação De Surfactante
ciando 4h antes da extubação. Pulmonar Exógeno Na Sala De Parto.

Particularidades Na Assistência Ventilatória De 1. RN no CPAP nasal selo d`água que necessite de


Prematuros De Muito Baixo Peso. Fi02>45%
2. O atendimento será realizado pelo staff ou médico Re-
Na sala de parto sidente de terceiro ano;
3. Haverá, sempre, enfermeira treinada no preparo do
• Os gases para reanimação e manutenção do RN até sua surfactante;
transferência para a UTI deverão estar umidificado e 4. intubar o RN, solicite que a enfermeira encha a seringa
aquecido e a Fi02 deve ser regulável, orientada por oxi- de 10 ml com todo o conteúdo do frasco de surfactante;
metria de pulso; 5. Previamente à intubação, o (a) médico (a) deverá aspi-
• Cobrir o RN com plástico (pode ser filme de PVC) para rar a traquéia do RN;
prevenir evaporação, se o RN tiver que permanecer muito 6. Imediatamente após a intubação, posicionar o TOT no
tempo na Unidade de Calor Radiante; lábio superior do RN de sorte que o número que coincidir
• O CFR ou outro aparelho similar deverá ser mantido regu- com o bordo externo do lábio seguirá a regra do peso + 6;
lado com PIP em 30 cm H2O e 5 cm H2O de PEEP, além de o (a) médico (a) deverá atentar para o fato de que alguns
Fi02 de 40%, como parâmetro inicial de espera (stand by); TOT não têm todos os números impressos e deverá se
• A ventilação com máscara facial em silicone, redonda e esforçar para que o posicionamento do TOT seja o melhor
tamanho prematuro é ideal e deve ser sempre a preferi- possível; para os RN <750g, introduzir 6 cm
da; em nossa Unidade não seguimos a conduta de intu- 7. Imediatamente após o posicionamento do TOT, afixar
bar todo RN abaixo de 1.000 gr que necessitar reanima- bigode de esparadrapo com micropore, previamente pre-
ção; nenhum trabalho foi feito determinando diretamente parado, no TOT;
228 se a ventilação sob máscara é mais efetiva que aquela 8. Instilar a quantidade de surfactante, à razão de 100 mg/g
conseguida sob intubação endotraqueal e vice-versa. de peso (o RN deverá ser pesado), em bolus, e iniciar ven-
Admite-se, no entanto, que a ventilação sob TOT, nas tilação com PIP de 30 cm de H2O e PEEP de 5 cm de H2O;
mãos de profissional altamente treinado em intubação 9. A critério médico, o surfactante poderá ser administra-
endotraqueal, seja provavelmente mais efetiva. De toda do em 2 a 4 alíquotas menores;
forma, a intubação endotraqueal está indicada para o RN 10. Idealmente, o procedimento de iniciar a instilação de sur-
abaixo de 1.000 gr se existirem as seguintes condições: factante deverá ser realizado nos primeiros minutos de vida;
• Necessidade de succionar a traquéia devido mecônio ou
sangue; Após completar a instilação da droga, ventile o RN o mínimo
• Falha em proporcionar adequada ventilação usando necessário para conseguir sua estabilização, sempre mantendo
máscara facial, a despeito das manobras adequadas PEEP de 5 cm de H2O; remova para a UTI em VPM conforme rotina
para se obter via aérea; e somente extube-o quando indicado (quando possível, dentro de
• Desconforto respiratório em que o (a) assistente julgue 1 hora) se : drive respiratório; Fi02 <40%, MAP <7cmH2O, PaC02
que será necessário manter ventilação pulmonar mecâ- <60mmHg e pH>7,20, FR <15pm; PIP de 15cmH2O
nica na UTI;
• Presença de anomalia congênita em que a situação do 11. Todas as ações deverão ser descritas pormenorizada-
paciente será julgada caso a caso (exemplo da hérnia mente, incluindo data e hora do início da aplicação do
diafragmática, da hidropsia com hidrotórax ou ascite que surfactante, se ocorreu algum evento adverso durante a
limite a expansão torácica, etc.). aplicação, etc.
• Aplicação de surfactante, de acordo com Rotina adiante
especificada. Observações
• É fundamental manter vigilância na expansão torácica • O surfactante SurvantaR deve ser aquecido na mão do
durante a ventilação pulmonar, esteja ela sendo feita sob profissional durante 8 minutos, situação que deverá
máscara ou sob TOT já que, havendo expansão torácica acontecer antes do nascimento do RN;
exagerada, o PIP deverá ser reduzido até 25 ou mesmo • Na hipótese do SurvantaR não ser utilizado, este poderá
20 cm de H2O; por outro lado, se o PIP regulado não for ser novamente refrigerado uma única vez e utilizado até
suficiente para promover expansão torácica satisfatória, a data de seu vencimento, não podendo ser novamen-
aumentar o PIP até o nível necessário a uma adequada te aquecido e novamente refrigerado; nesse caso, esse
expansão, por exemplo, 35-45 cm de H2O. Mantenha a frasco deverá ser marcado, informando em sua caixa que
PEEP em 5 cm de H2O durante todo o tempo em que o RN não poderá mais ser utilizado em situação profilática, já
necessitar de cuidados ventilatórios. que essa condição de não uso poderá se repetir, causan-
• Mantenha CPAP de 5 cm H2O, sob máscara facial, se o do desperdício do medicamento.
RN esboçar qualquer desconforto respiratório, ainda que • As sobras de surfactante que não foram utilizadas devem
ser desprezadas.
Capitulo 07 Distúrbios Respiratórios

Assistência Respiratória Imediata Aos Pré-Termos • Na hipótese da dúvida se um RN deve ou não ser intuba-
(25 semanas a 32 semanas) do para ser colocado em ventilação pulmonar mecânica
(geralmente a dúvida aparece entre os menores de 700
Surfactante seletivo nas primeiras 2 horas de vida gr), o bebê deverá receber todos os cuidados à sua esta-
Normas de Reanimação-Academia bilização e sua transferência para a UTIN para posterior
Americana de Pediatria-2010 debate em equipe;
• O Respirador deverá ser regulado segundo as sugestões
Para os RN <29 semanas: todos os procedimentos de reani- do (a) assistente da sala de parto; em não havendo esta
mação (ventilação com pressão positiva, intubação, a massagem sugestão, regular o respirador em SIMV 40 (back up), PIP
cardíaca e a inserção de cateter vascular podem ser executados de 20 cm de H2O, PEEP de 5 cm de H2O, Tempo Inspira-
no paciente envolvido em saco plástico, com o objetivo de man- tório (T.Insp) de 0.3, fluxo de 4 L/min. Lembre que, se as
ter a temperatura axilar em aproximadamente 36,5oC. Deve ser manobras de reanimação foram intensas, regule o PIP em
evitada a hipertermia, pois agrava lesões cerebrais em RN asfi- 25 cm de H2O e a FR (back up) em 60. Ao instalar o respi-
xiados. Iniciar com Fi02 a 40% com oximetria de pulso. rador no RN, é essencial observar se a expansão torácica
Para os RN com respiração espontânea: está adequada e ajustar o PIP para mais ou para menos.
CPAP nasal em selo d`água: pressão de +5cmH2O;fluxo de 5 • Após os ajustes iniciais, procure manter um volume cor-
l/min; Fi02 de 40% rente (VC) inspiratório de 5 ml/Kg, que deverá ser sufi-
Solicitar a realização do Rx de tórax imediatamente. ciente para manter a PaC02 entre 45-55 mmHg. Lembre-
Surfactante: necessidade de aumento da Fi02 acima de 45% se que quanto maior o VC maior o dano pulmonar;
para manter PSa02 (Saturação de Oxigênio) entre 88-93% ainda • Não altere a PEEP a menos que existam sinais de hi-
nas primeiras 2h de vida. Não aguardar resultado do Rx. perinsuflação pulmonar, denunciado pela presença de
Intubação: mais que 10 costelas visíveis no campo pulmonar ao Rx;
lembre-se que a PEEP protege os pulmões contra lesões
• Inserir a cânula (2,5mm para RN <1000g) usando a regra pulmonares, porém seu exagero produz imediatos efeitos
7-8-9 de Tochen (1979): peso +2. No entanto, para os RN hemodinâmicos indesejáveis;
<750g, introduzir 6 cm • Imediatamente após a instalação do RN no leito, haven-
• Iniciar ventilação com PIP de 20-25 cm de H2O e PEEP do necessidade de qualquer assistência ventilatória,
de 5 cm de H2O obter uma radiografia na primeira hora de vida, se o RN
• Remover para a UTI Neonatal em incubadora de trans- estiver grave;
porte aquecida • Após a obtenção da radiografia, obter acesso vascular
através dos vasos umbilicais, equivale dizer que não é
Extubar (quando possível, dentro de 1 hora) se: drive respi- permitido puncionar veia periférica, exceto em casos ur-
ratório; Fi02 <40% (para PSa02 88-93%), MAP <7cmH2O, PaC02 gentes autorizados pelo (a) médico (a); 229
<60mmHg e pH>7,20, FR <15pm; PIP de 15cmH2O.* • Repetir o surfactante a cada 6 ou 12 horas (dependendo
do surfactante em uso na UTIN), em um máximo de 4 do-
• A gasometria para esta avaliação pode ser venosa ou arterial. ses, se existirem evidências da doença (DMH), como, por
exemplo, necessidade de Fi02 de 45% ou mais. Por outro
Durante o transporte lado, se o RN estiver com bom Volume Corrente, pulmões
• Avise à UTI para preparar o leito para o RN, informando o com insuflação tendendo a exagerada e radiografia que
peso e sugira os parâmetros de ventilação a serem defi- não lembra mais DMH, não deve ser essa a doença que
nidos no Respirador (vide adiante); estará mantendo o RN no Ventilador, e provavelmente
• Jamais inicie o transporte se não houver certeza de que não haveria razões para supor que o surfactante benefi-
as condições de recepção na UTI já estão garantidas, da ciasse o RN; na dúvida, discutir.
mesma forma que jamais inicie o transporte sem que as • A HFV será instalada nos casos de Enfisema Intersticial
condições para o mesmo sejam adequadas. Lembre que Pulmonar, HPPN documentada, falha na Ventilação Con-
as condições na Unidade de Reanimação serão melhores vencional e pneumotórax intratável. Apenas os RN maio-
que os imprevistos de um transporte mal organizado, ou res que 750 gr deverão ser colocados no aparelho de
de um leito não preparado na UTI. Aqui faça sempre o HFOV. Considera-se falha na ventilação convencional se
raciocínio do piloto do avião já que você é o (a) principal houver necessidade de usar PIP acima de 25 cm de H20
responsável pela qualidade da assistência; para manterem-se bons gases arteriais.
• O RN deverá ser transportado sob incubadora de trans- • A utilização da modalidade Assisto/Controlada (AC) será
porte aquecida; reservada para casos muito graves, em que a retenção
• manter o RN coberto com filme de PVC para reduzir perda de C02 é a tônica já que seu manuseio é mais complexo
de calor e umidade, se o transporte ocorrer em berço; e suas vantagens em relação à SIMV (mais seguro) não
• O RN, conforme especificado na Rotina de aplicação de estão totalmente estabelecidas.
surfactante deverá ser transportado intubado. • As alterações nos parâmetros do ventilador deverão ser
• Mantenha as pressões de ventilação utilizadas para es- feitas de acordo com a lógica de “reduzir primeiro os pa-
tabilizar o RN, e de preferência, transporte o RN com o râmetros mais deletérios para os pulmões”. São mais
“CFR de transporte” ou similar; deletérios o PIP e o tempo inspiratório. Jamais deixe
• Em havendo necessidade de infusão durante o transpor- que o T.Insp seja maior que o tempo expiratório (T.Exp.):
te, deve-se ficar muito atento na vigilância do gotejamen- esse é um dos perigos da modalidade AC. Nesse caso
to e da via de infusão. de AC, lembre-se de ajustar o T.Insp quando a FR do RN
ultrapassar um número tal que o T.Insp seja maior que a
Na Unidade de Terapia Intensiva metade do tempo respiratório total (T.Insp+T.Exp); obte-
• Fica estabelecida a idade gestacional mínima de 25 se- nha esse tempo pela divisão do número 60 (60 minutos)
manas para colocar o RN no respirador; pela FR do RN. Por exemplo, o T. Insp. está definido em

Paulo R. Margotto
Assistência ao Recém-Nascido de Risco

0.4, o RN está em AC com back up de 45, porém fazendo Na Ventilação Convencional


uma FR própria de 90. Ora, 60 dividido por 90 é igual a • A fórmula de Volume Minuto (VM) é: VM = FR x VC
0,66. Como o T.Insp definido está em 0.4, sobra somente • A fórmula na Ventilação de Alta Frequência é: VM = FR x VC2
0.26 seg para a fase exalatória, uma relação I/E inverti-
da, favorecendo o aparecimento de PEEP intrínsica; isto Importância deste fato:
faz com que o RN retenha C02, reduzindo seu pH, o que Hipercapnia na Ventilação Convencional → Aumentar a FR
fará com que aumente mais ainda a FR, invertendo mais Hipercapnia na Alta Frequência→Diminuir a FR
a relação I: E, retendo mais C02, promovendo um previsí- Com isto, aumenta-se muito o VC que é mais importante que a
vel desfecho contrário ao interesse do RN, incluindo pro- frequência respiratória na ventilação convencional
vavelmente um enorme stress. Neste caso, reduzir o T. No Hospital Regional da Asa Sul, onde trabalhamos, não te-
Insp. é a melhor idéia. Outra opção é colocá-lo em SIMV. mos equipamentos osciladores de alta freqüência; utilizamos o
Com relação ao PIP, este é mais eficaz que a FR para se ventilador InfantStar 950 que é um interruptor de fluxo, porém
reduzir o C02 sangüíneo; porém é mais lesivo. Se neces- que utiliza um sistema venturi para promover expiração ativa,
sitar reduzir a PaC02 (lembre-se de manter a PaC02 em funcionando, então, à semelhança dos osciladores. Este apare-
45-55 mmHg) aumente a FR até um máximo de 60. Por lho tem também um mecanismo de funcionamento conjunto com
outro lado, se em AC com a FR do RN maior que aquela ventilação convencional de modo a permitir a concomitância dos
definida no back up, em nada adiantará aumentar a FR dois sistemas de ventilação, ou seja, se ajustado pelo operador,
de back up a nível menor que aquela que o RN já está o aparelho pode ser regulado para que, durante alguns segundos
fazendo; aqui é necessário aumentar o PIP (ou até o T. (definidos pelo operador) o paciente possa ficar em alta freqüên-
Insp. em alguns casos). Por outro lado, se a PaC02 e a cia e em outros segundos possa receber ciclos em ventilação
Pa02 permitirem, reduza o quanto antes o PIP ao menor convencional, a saber, fluxo continuo, pressão limitada, com os
nível possível para se obter um VC de 5 ml/kg. tempos ins e expiratórios definidos pelo operador.
• Retire o RN da Ventilação Pulmonar mecânica o mais
precocemente possível, passando-o para CPAP nasal ou Estratégia para uso do InfantStar 950:
NIPPV (ventilação não invasiva (vide capítulo específico). 1. Regular o equipamento em IMV, com os mesmos parâme-
Esta possibilidade acontecerá quando o RN estiver sendo tros que estão sendo utilizados no ventilador convencional;
ventilado com SIMV de 15-20 (o tempo nessa FR depen- 2. Ajustar o botão da Amplitude, girando 3 voltas no sen-
derá da evolução do RN), VC de 5 ml/Kg, Fi02 de 30% e tido anti-horário;
tiver boa mecânica ventilatória; 3. Ajustar a válvula pop-off mecânica no sentido horário
• Iniciar xantina ao nascer (aminofilina). Ver capitulo de até o final;
Apnéia 4. Definir a freqüência entre 10-15 Hertz(Hz);
• O CPAP nasal deverá ser instalado antes da retirada do 5. Selecionar o modo HFV-IMV;
230 TOT de sorte a que ao extubar, o RN não “zere sua PEEP”, 6. Conectar o paciente ao ventilador;
ainda que durante alguns segundos. A pressão do CPAP 7. Aumentar a Amplitude até que visualize vibração torá-
N será de 5 e, após RX, deverá ser ajustada apenas e tão cica (alguns serviços sugerem que a vibração seja visuali-
somente se houver hiperinsuflação pulmonar. zada nos pés) – usualmente entre 24 e 34 cmH2O;
8. Transferir o modo de ventilação para HFV only;
A vigilância ao paciente de todo seu ambiente deve ser obses- 9. Ampliar a PEEP/CPAP para que a MAP seja semelhante
siva, valendo dizer que os detalhes são fundamentais. Assim, o àquela que vinha sendo utilizada na VMC;
aquecimento do circuito, a ausência de água no circuito de ven- 10. Obter imediatamente uma radiografia de tórax para ava-
tilação, as pressões de ventilação, o ajuste da sensibilidade do liar a insuflação pulmonar; observe que, se houver hiperin-
sincronizador, o tempo menor que 10 segundos para aspirar TOT, suflação (mais de 9 costelas visíveis nos campos pulmona-
a aspiração do TOT de modo estéril (é impossível o TOT ser aspira- res) a MAP deverá ser reduzida; se houver hipoinsuflação
do de forma estéril por apenas um profissional e utilizando sonda a MAP pode ser aumentada, se necessário clinicamente;
não estéril ou que perdeu a esterilidade no manuseio), o ajuste 11. Manejar a Amplitude para manter níveis adequados
dos alarmes do oxímetro, enfim, tudo é essencial. de PCO2 sanguíneo e a MAP para manter adequada PO2
no sangue.
Ventilação de Alta Freqüência
Consiste em processo de ventilação em que a coluna de gás Observação: nos casos de doença com baixa complacência, o
é submetida a uma oscilação transmitida por um mecanismo de passo número 8 deverá ser implementado apenas após os se-
pistão ou diafragma oscilante. Esta oscilação é transmitida às vias guintes ajustes para a definição da MAP:
aéreas, permitindo que haja troca alvéolo-capilar de 02 e C02.
A pressão média nas vias aéreas (MAP: mean air pressure) 1. Reduzir a FR do IMV até 40, se estiver maior;
pode ser regulada através do controle dos fluxos de entrada e 2. Reduzir a FR do IMV em 5 pontos, ao tempo em que se
de saída do gás e a frequência da oscilação, pela regulagem do amplia a PEEP em 1 cmH2O, passo a passo, até atingir
pistão do diafragma. IMV de 4 ciclos por minuto e a PEEP ser igual à MAP de-
Neste tipo de ventilação, o Volume Corrente (VC) é baixo (menor sejada – lembrar que a MAP inicial desejada é aproxima-
que o espaço morto) e a insuflação pulmonar se mantém relativa- damente igual ou 1 cmH2O maior que aquela que vinha
mente constante durante a ventilação de alta frequência. A MAP sendo utilizada na VMC; o intervalo de tempo entre cada
é alta, tem efeito hemodinâmico não desejado de diminuição do ajuste será aquele necessário à estabilização do parâme-
retorno venoso e conseqüentemente do débito cardíaco, situação tro, vigiada a estabilidade clinica do paciente.
que irá piorar se o paciente estiver com uma volemia inadequada. 3. Estes cuidados objetivam não haver queda brusca da
Na ventilação de alta frequência com uma MAP maior, temos MAP, que poderia promover derecrutamento, favorecen-
pouquíssima oscilação na distensão dos pulmões (já na ventila- do o aparecimento de atelectasia e conseqüente queda
ção convencional existe uma grande alteração de pressão nos na oxigenação.
pulmões, com grande risco maior de barotrauma).
Capitulo 07 Distúrbios Respiratórios

Particularidades da HFV. • Insuficiência respiratória intratável com indicação de


ECMO (Oxigenação por membrana extracorpórea).
Manejo da Amplitude:
O manejo da Amplitude se presta a conseguir níveis adequa- Extubação:
dos de CO2 no sangue. De modo geral, altera-se a Amplitude em • Respiração espontânea e regular
~3 cmH2O para alterar a PaCO2 em 2-4 mmHg; se a alteração pre- • Pulmões bem ventilados, sinais vitais e gases normais
tendida for entre 5 e 9 mmHg na PaCO2, a Amplitude deverá ser • Esvaziamento gástrico
alterada em ~6 cmH2O, mas, se a alteração na PaCO2 pretendida • Aspirar vias aéreas superiores e tubo endotraqueal
for entre 10 e 14 mmHg, então alterar a Amplitude em ~9 cmH2O. • Fisioterapia imediata dando ênfase aos lobos superiores
e ao médio direito, que são os mais propícios a colapsar
Manejo da MAP: (possuem menos vias aéreas colaterais e os brônquios
A alteração deste parâmetro visa à oxigenação e, de modo ge- médio e direito são menores).
ral, aumentar a MAP provoca aumento da PaO2. Atenção, no en- • Ao retirar a cânula, o CPAP nasal deverá estar preparado
tanto, aos efeitos da MAP no débito cardíaco, pois o aumento da com FiO2 de 50%.
pressão reduz o débito cardíaco, reduzindo a perfusão pulmonar, • Fisioterapia 3/3 h durante 12 horas (de acordo com a
alterando a relação V/Q, reduzindo o conteúdo arterial de O2. A clínica e o RX de tórax: este deverá ser feito 2 horas após
regra básica é avaliar a insuflação pulmonar por meio de radio- a extubação).
grafias de tórax, sempre que houver alteração na MAP ou sempre • Vigilância rigorosa.
que manobras realizadas (exemplo, o uso de surfactante pulmo- • Gasometria 2 h após a extubação
nar exógeno) puderem provocar alteração na complacência pul- • Mudar de decúbito 2/2 h: dorsal, dorsal proclive, lateral
monar. Geralmente a MAP inicial fica próximo de 12 cmH2O. Se direito e lateral esquerdo.
houver hiperinsuflação, não insista, reduza a MAP e comprove, • Iniciar dieta 6 h após a extubação.
com radiografia, que a redução provocou a alteração desejada;
se não, reduza novamente e peça nova radiografia, e assim por Nota: A dexametasona reduz a necessidade de re-intubação,
diante. Lembre que este cuidado é essencial. mas recomendamos sua utilização somente em RN de alto risco
Se precisar aumentar a PaO2, e a FIO2 estiver entre 60-70%, para re-intubação: 0,25mg/kg/dose 8/8h (3doses), iniciando 4h
aumentar a MAP em 2 cmH2O; se estiver em 100%, aumentar a antes da extubação.
MAP em 4 cmH2O. Outra estratégia (que apenas o InfantStar 950
permite) é utilizar “suspiros de IMV”, colocando o equipamento Complicações da ventilação artificial
no modo HFV-IMV, com freqüência de IMV de 4-5 ciclos/min. Se 1. Via aérea:
não resolver, avaliar radiograficamente os pulmões buscando • Extubação
hipo ou hiperinsuflação. Ajustar se for o caso. • Oclusão
• Edema 231
Desmame: • Estenose
1. Reduzir a Amplitude, objetivando PaCO2 45-65 mmHg; • Granuloma
2. Reduzir a FiO2 até 50% e depois a MAP;
3. Quando menor a FIO2 em uso, mais rapidamente a 2. Pulmonares
MAP pode ser reduzida; • Secreções (gás seco)
4. MAP mínima de 3-6 cmH2O, se insuflação adequada; • Atelectasia
5. Em bebês <1.000 g, uma vez que a FIO2 esteja em 40% • Pneumonite
e a Amplitude abaixo de 20 cmH2O, reduzir a freqüência • Toxicidade do 02
da HFV para reduzir riscos de air trapping. • Hiperinsuflação
• Enfisema interstical
Em casos de Enfizema Intersticial Pulmonar e/ou Pneumotórax: • Pneumotórax
1. Se possível, usar HFV only; • Pneumomediatismo
2. Aceitar PaCO2 entre 55-70 mmHg, atentando para o
pH; 3. Infecção (fonte de infecção: mãos, cuidados com a via
3. Utilizar freqüência respiratória do HFV menores para aérea, linhas vasculares, conexões, umidificador, nebuli-
reduzir riscos de “air trapping”; zador, ambiente, pele do paciente):
4. Reduzir a MAP, mesmo que se requeira maior FIO2. • Traqueíte
• Broncopneumonia
Indicações de Ventilação de Alta Frequência: • Septicemia
• Falha da ventilação convencional:
RN em ventilação convencional necessitando de altas pres- 4. Mecânicas:
sões inspiratórias como: • Desconexão
1000 g. PIP maior que 25cm de H2O • Tubo dobrado
1001 - 1500 g. PIP maior que 28 cm de H2O • Deficiente funcionamento valvular
1501 - 2000 g. PIP maior que 30 cm de H2O • Falta de energia
• Hipertensão pulmonar persistente em conjunto com o • Vazamento
óxido nítrico: o óxido nítrico para agir, necessita de che- • Nível de água no umidificador
gar ao alvéolo, ou seja, que haja recrutamento do alvéo- • Água condensada na tubulação
lo, o que é conseguido com a ventilação de alta freqüên-
cia (é a otimização do óxido nítrico) 5. Miscelânea
• Enfisema intersticial pulmonar • Circulatória
• Hemorragia pulmonar • Retorno venoso
• Fluxo sangüíneo pulmonar

Paulo R. Margotto
Assistência ao Recém-Nascido de Risco

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233

Paulo R. Margotto
Assistência ao Recém-Nascido de Risco

7.5 TERAPIA DE REPOSIÇÃO DO SURFACTANTE PULMONAR

Paulo R. Margotto

O Surfactante Pulmonar (SP) é um complexo lipoproteico que surfactante (seta) no espaço alveolar sobre o pneumócito II (ve-
age diminuindo a Tensão Superficial (TS) ao nível da interface ar- jam a projeção dos microvilos do pneumócito II no filme de sur-
líquido dos alvéolos e tem a função de estabilizar os alvéolos, im- factante; aumento de 56000 vezes). Na Fig D, com um aumento
pedindo o seu colabamento ao final da expiração, reduzindo assim de 160000 vezes, observamos o conteúdo dos corpos lamelares
o trabalho respiratório com aumento da complacência pulmonar. sendo entregue no espaço alveolar (de Morgenroth K, 1998).
Avery observou que nos RN normais a TS é de 7 dyn/cm e os RN
com DMH (Doença da Membrana Hialina), acima de 30 dyn/cm. Componentes

Síntese O SP é constituído em mais de 90% por fosfolípides, sendo o


componente primário responsável pela diminuição da TS. A fosfati-
O epitélio alveolar é composto de células escamosas, tipo I dilcolina é o lípide mais abundante do surfactante, dos quais 70%
(cobrem mais de 90% da superfície alveolar) e de células cuboi- está presente como dipalmitoilfosfatidilcolina (DPPC), sendo este o
dais tipo II (cobrem somente 7% da superfície alveolar). As célu- responsável direto pela diminuição da TS do complexo surfactante.
las tipo II sintetizam e secretam o surfactante (por volta da 22ª As proteínas específicas do SP compreendem quatro tipos dis-
semana de gestação, aparecem os grânulos de estocagem do tintos, sendo o mais abundante a SP-A (cerca de 5%: aumenta
surfactante, os corpúsculos lamelares). A única célula no alvéolo a resistência do SP contra inibidores; forma a mielina tubular;
que tem uma função metabólica importante, é a célula tipo II (é importante na reciclagem do SP; facilita a renovação de patóge-
fundamental no transporte eletrolítico no alvéolo, previne o va- nos do pulmão); SP-B (cerca de 1% importante na adsorsão dos
zamento de proteínas para dentro do alvéolo - mantém o epitélio fosfolípides na interface ar-líquido; sendo essencial na atividade
do alvéolo uniforme, selado) e ela é responsável pela integridade fisiológica das preparações de surfactante natural; participa na
do epitélio alveolar, pela proliferação e diferenciação em células reciclagem do surfactante); SP-C (opera em conjunto com a SP-B
tipo I. A secreção do surfactante ocorre após a 20ª semana de no espalhamento dos lípides do surfactante); SP-D (sugere ter
gestação. Uma vez eliminados da célula (processo de exocitose) funções semelhantes a SP-A, porém não participa na reciclagem
os fosfolípides são reorganizados em forma de mielina tubular do surfactante e não contribui na diminuição da TS). Através de
(estrutura especializada para uma rápida entrega de fosfolípides modelos em animais, você pode eliminar as proteínas do surfac-
na interface ar-líquido). A duração da síntese e secreção para o tante e observar os resultados: eliminando a SP-A não se forma-
234 interior do alvéolo dura 30 a 48 hs em animais RN. Após um ou vam os filamentos de mielina, mas os RN não tinham nenhum
mais ciclos ventilatórios, o surfactante retorna ao compartimento problema; eliminando a SP-C, também não causava nada para
aquoso na forma de vesículas bilaminares, podendo ser fagocita- o RN; agora, eliminando a SP-B, observou-se o desaparecimento
do pelos macrófagos (10-30%), retirados das vias aéreas (3-7%) dos corpúsculos lamelares nas células tipo II, além dos filamen-
ou retornados para o interior da célula tipo II (reciclagem). tos de mielina e todos os RN morreram (a deficiência congênita
do SP-B na espécie humana é letal).
As revisões sistemáticas evidenciaram que os surfactantes
que não contém proteínas pareceram ser inferiores na melhora
da função pulmonar e clínica, diferença esta atribuída à ausência
da SP-B e SP-C nos produtos sintéticos. Das 4 conhecidas SPs
(SP-A, SP-B, SP-C, SP-D), as proteínas hidrofóbicas SP-B e SP-C
atuam de maneira crítica na estabilização e na diminuição da
tensão superficial. Das duas, a SP-B parece ter um papel domi-
nante, uma vez que os RN com deficiência congênita da SP-B
desenvolvem um quadro de insuficiência respiratória letal logo
Fig A Fig B após o nascimento, enquanto aqueles com deficiência congêni-
ta da SP-C desenvolvem um quadro de insuficiência respiratória
crônica na vida adulta.

•Surfactantes exógenos
Todos os surfactantes usados na prática clínica tem DPPC
como principal componente. As propriedades ideais de um sur-
factante exógeno são eficácia, segurança, imunogenicidade míni-
ma, boa resistência à biodegradação e baixo custo.
•Surfactante Natural: i
Solado do líquido amniótico. Contém todas as proteínas do sur-
Fig C Fig D factante. Não disponível no país. Risco de contaminação viral.
•Surfactantes Naturais Modificados: i
Observamos na Fig. A o espalhamento do surfactante na su- Solado de pulmões de animais.
perfície alveolar; o surfactante é sintetizado no pneumócito II e é SurvantaR (30g/l) e AlveofactR (45g/l): pulmão bovino
injetado na superfície alveolar, espalhando-se como uma cama- CurosurfR (80g/l): pulmão porcino
da monomolecular sobre o epitélio alveolar. Na Fig B observamos Todos contêm por volta de 1% de proteínas SP-B e SP-C. A SP-A
a estrutura de um pneumócito II com secreção do surfactante está ausente.
(seta) em um aumento de 8300 vezes. Na Fig C, observamos o
Capitulo 07 Distúrbios Respiratórios

• Surfactate Sintético: Interessante citar que o CurosurfR contém mais SP-B do que o
1. ExosurfR -livres de proteínas SurvantaR e ambos contem menos do que o SurfaxinR.
2. SurfaxinR (Lucinactant) é um surfactante que contém Em conclusão, o presente ensaio clínico indica que um surfac-
sinapultide, o KL4, peptídio que mimetiza a proteína B do tante sintético contendo apenas fosfolipídeos pode ser melho-
surfactante. Em dispersão aquosa, o KL4 (peptídeo sin- rado pela adição de peptídeos, tais como a sinapultide, que mi-
tetizado quimicamente) é combinado com os fosfolípides metizam a função da SP-B. O lucinactante representa o primeiro
DPPC e o oleosil-palmitoil fosfatidilglicerol, assim como o surfactante desta nova classe de surfactante que contém proteí-
ácido palpídico, para formar o Surfaxin. na funcional análogo a SP-B, consistindo uma opção terapêutica
efetiva na prevenção e tratamento dos RN pré-termos de risco
O reconhecimento da importância da SP-B levou ao desen- para desenvolver doença da membrana hialina. Os resultados
volvimento do lucinactante, um novo surfactante que contém, da comparação do SurfaxinR com o CurosurR alfa evidenciaram
não somente fosfolipídios, mas também altas concentrações que ambos surfactantes são semelhantes na eficácia e segu-
de sinapultide, um peptídeo de 21-aminoácidos sintéticos, con- rança quando usados na prevenção e tratamento da doença da
sistindo de lisinas (K) e leucinas (L) organizados na seqüência membrana hialina nos RN pré-termos. Ambos os ensaios não evi-
KLLLLKLLLLLKLLLLKLLLLK, que mimetiza as ações da SP-B hu- denciaram diferenças significativas quanto aos riscos descritos
mana. A sinapultide é mais resistente do que a SP-B natural à previamente dos produtos derivados de animais, como de sepse,
inibição pelas proteínas séricas e pelos radicais livres de oxigê- hemorragia intraventricular e leucomalácia periventricular. Tam-
nio. O lucinactante reduz a tensão superficial tão bem quanto os bém não foram evidenciadas complicações relacionadas ao volu-
surfactantes naturais, tendo sido mostrado que melhora a oxi- me da dose (5,8ml/Kg de SurfaxinR (175mg/Kg de fosfolipídios);
genação e a ventilação entre os RN pré-termos com doença da 5,0 ml/Kg de ExosurfR (67,5mg/Kg de fosfolipídios); 4,0 ml/Kg
membrana hialina. de SurvantaR (100mg/Kg de fosfolipídios) e 2,2 ml/Kg de Curo-
O ensaio multicêntrico conduzido por Moya e cl, no qual a Unida- surfR (175mg/Kg de fosfolipídios).
de de Neonatologia do HRAS também participou, comparou o Sur- Os surfactantes do grupo natural modificado são efetivos, tan-
faxinR X ExosurfR X SurvantaR X CurosurfR.Este ensaio evidenciou to como profilaxia, como tratamento da DMH. As propriedades de
o papel central da proteína B do surfactante (SP-B) na melhora superfície e os efeitos fisiológicos dos surfactantes livres de pro-
da função pulmonar e nos resultados clínicos nos recém-nascidos teínas (sintéticos) são menos evidentes do que aqueles surfac-
pré-termos com risco de desenvolver doença da membrana hiali- tantes do grupo natural (humano) e natural modificado (pulmão
na. O maior teor de SP-B pode provê adicionais benefícios tanta de animais). O padrão de resposta com o ExosurfR é caracteri-
na prevenção como tratamento da doença da membrana hialina. zado pôr uma lenta melhora de oxigenação e da pressão média
O lucinactante (SurfaxinR) é um surfactante sintético que contém das vias aéreas, claramente diferentes das mudanças fisiológi-
quantidade relativamente maior de peptídeo que mimetiza a fun- cas dramáticas observadas após o tratamento com os surfac-
ção da SP-B. Quanto comparado com o palmitato de colfosceril tantes naturais. Estas informações poderiam especular que os
(ExosurfR), um surfactante sintético desprovido de SP-B, o lucinac- surfactantes sintéticos seriam menos útil no tratamento da DMH 235
tante reduziu significativamente a doença da membrana hialina, do que as preparações contendo SP-B e SP-C. Não é verdade.
além da mortalidade relacionada a doença da membrana hialina Estudos recentes evidenciaram que a eficácia dos surfactantes
aos 14 dias e com 36 semanas de idade pós-concepção e inci- sintéticos deve-se em parte a combinação do DPPC exógeno com
dência significativamente menor de displasia broncopulmonar na as proteínas do surfactante endógeno.
idade pós-concepção de 36 semanas. Estes achados estão em O surfactante exógeno estimula a síntese do surfactante en-
concordância com estudos anteriores comparando o surfactante dógeno nos RN com DMH, havendo uma relação direta com o
sintético desprovido de proteínas com os surfactantes de origem número de doses usadas (1,3mg/kg/dia por dose de Survanta®).
animal, embora apenas um ensaio clínico usou a abordagem profi-
lática, como foi feito neste estudo. • Inibição do Surfactante
Em relação ao surfactante de origem bovina (SurvantaR) os Um dos grandes problemas da terapia com o surfactante na
autores relataram não haver diferenças significativas quanto à DMH é que pôr volta de 1/3 da RN tratados não respondem
incidência da doença da membrana hialina, no entanto, o luci- dentro de 12-24 hs (65% tem uma resposta imediata e manti-
nactante reduziu significativamente a mortalidade por doença da da; 10-20% apresentam relapso e 15-20% não respondem). Os
membrana hialina aos 14 dias e a mortalidade por todas as ou- inibidores do surfactante diminuem a atividade de superfície,
tras causas na idade pós-concepção de 36 semanas. Os autores sendo muito deles proteínas plasmáticas que entram no espa-
atribuem esta diferença nos resultados a maior concentração de ço alveolar como resultado da maior permeabilidade do pulmão
sinapultide no lucinactante do que a concentração de SP-B no edematoso. Os surfactantes com proteínas apresentam maior
surfactante de origem bovina, que além de baixa, é variável. O resistência aos inibidores.
fato de a sinapultide ter sido desenhada sem os resíduos de tiro- • Mecânica Pulmonar
sina torna-a mais resistente à inativação endógena pelos radicais O mais impressionante efeito de uso do surfactante no RN
livres de oxigênio e proteínas séricas. com DMH necessitando de ventilação mecânica é a significativa
Em relação ao surfactante de origem porcina (CurosurfR), o e imediata melhora da troca gasosa associada com uma rápida
ensaio demonstrou que o lucinactante foi semelhante ao sur- redução das necessidades de oxigênio.
factante de origem porcina na redução da incidência de morte Estudo da Mecânica Pulmonar utilizando Curosurf em doze RN
ou displasia broncopulmonar entre os pré-termos de risco para evidenciou paralelamente melhora na troca gasosa e na mecâ-
desenvolver doença da membrana hialina. Além do mais, a fre- nica pulmonar (a relação Pa02/Fi02 dobrou e a resistência ins-
qüência de complicações da prematuridade não foram signifi- piratória diminuiu após o surfactante, sendo atribuído à maior
cativamente diferentes entre os dois grupos. No entanto, mais reabsorção do fluído pulmonar intersticial, melhora na relação
RN vivos sem displasia broncopulmonar com 28 dias de vida foi ventilação/perfusão conseqüente à resolução da atelectasia pul-
observado com o uso do lucinactante (37,8% versus 33,1%). A monar). A resistência expiratória aumentou após a terapia com o
taxa de mortalidade por todas as causas foi também menor com surfactante (não significativo). Esta tendência associada ao pro-
o uso do SurfaxinR (11,8% versus 16,1%) aos 28 dias de vida. longamento da constante de tempo expiratório implica no possí-
Nenhuma destas diferenças alcançaram significação estatística. vel desenvolvimento de uma PEEP inadvertida que associada ao

Paulo R. Margotto
Assistência ao Recém-Nascido de Risco

PEEP do respirador, pode aumentar o risco de pneumotórax e de As várias concentrações dos surfactantes disponíveis no Brasil
enfisema intersticial. Estes achados implicam que não é suficien- variam de 13,5 a 80mg/ml, correspondendo a uma variação de
te, após a terapia com o surfactante, rapidamente ajustar a Fi02 volume administrada de 1,2 a 5ml/Kg
para evitar a hiperoxemia; é necessário também reduzir a pres-
são do respirador e o fluxo e prolongar o tempo expiratório para Surfactante Dose Volume
evitar o barotrauma. Outros ajustes que se fazem, necessários AlveofactR 50mg/Kg 1,2ml/Kg
são: diminuir o tempo inspiratório e a PEEP.
SurvantaR 100mg/Kg 4ml/Kg
Estudo controlado da mecânica pulmonar realizado em 32 RN
CurosurfR 100mg/Kg 1,25ml/Kg
que receberam surfactante sintético (ExosurfR), não evidenciou be-
nefícios 2 horas após a terapia, sendo evidente 24 horas após a do-
sagem (a complacência dinâmica foi 36% maior em relação ao gru- • Modo de Administração
po controle; resistência pulmonar total diminui 48 e 72 horas após). Todos os surfactantes são administrados via endotraqueal em
Stenson e cl analisaram a complacência respiratória estática um ou mais frações. Setenta a 95% do surfactante natural admi-
em dois grupos de RN que receberam CurosurfR e ExosurfR. Com nistrado como bolus alcança as vias aéreas distais e alvéolos.
três e doze horas após a terapia, a complacência estática no gru- Estudo recente avaliou vários procedimentos de administração
po CurosurfR aumentou 18% e 39% respectivamente, o que não do Survanta: duas frações de doses após a remoção do RN do
ocorreu no grupo do ExosurfR. respirador, duas frações de dose através da válvula de sucção
Estudo de Merchak e cl (2002) concluiu que a modalidade de neonatal sem remoção RN do respirador e quatro frações de
ventilação seja ventilatória de alta freqüência, seja ventilação dose durante a remoção do RN do respirador. Estes procedimen-
convencional, o metabolismo do surfactante foi semelhante. tos foram igualmente seguros e eficazes.
• Idade para o início do tratamento Os efeitos agudos do surfactante tem sido observados após a
A administração precoce resulta numa distribuição mais homogê- instilação da fração de dose. Experiências em animais demons-
nea do surfactante nos espaços aéreos que estão livres de inibido- traram que efusão lenta de surfactante natural (Curosurf) por 5
res protéicos do surfactante, os quais se acumulam nos primeiros minutos, levou a uma distribuição não homogênea nos pulmões e
dias de vida. Vários estudos randomizados evidenciaram que a ad- uma grande redução dos efeitos nas trocas gasosas pulmonares.
ministração precoce diminui a necessidade de ventilação mecânica, A instilação de grandes volumes de surfactante (3-5ml/kg) em
com melhora a sobrevivência neonatal. Por estas razões, utilizamos RN com parâmetros baixo de pressão pode causar obstrução
na Unidade de Neonatologia do HRAS o surfactante (100mg/kg) nas aguda das vias aéreas.
primeiras 2 horas de vida nos RN pré-termos extremos. • Possíveis complicações
O ideal é que use a primeira dose com menos de 2 horas de vida, Pneumotórax: a sua ocorrência nos RN que recebem surfac-
no entanto, se necessário, pode ser usado com 72 horas de vida. tante reflete inadequados parâmetros do respirador após a tera-
Para os recém-nascidos pré-termos extremos (<1000g ao nas- pêutica (com o uso de um surfactante efetivo, ocorrem rápidas e
236 cer), quanto à assistência ventilatória imediata, INTUBAR todos significantes mudanças em Mecânica Pulmonar).
para o surfactante, intubar-surfactante-CPAP nasal todos e CPAP Hemorragia intraventricular (HIV): Metanálise não evidenciou au-
nasal com surfactante seletivo em todos, as evidências mostram mento da HIV no RN tratados com surfactante. No entanto, a análise
que a conduta melhor no momento é iniciar imediatamente ao de dados de dados de uma grande série de RN recebendo surfac-
nascer o CPAP nasal em selo d água; se o RN apresentar neces- tante para a DMH, revelam maior incidência de HIV, grau I e II nos RN
sidade de 02 acima de 45%, deverá ser intubado e receber o sur- que durante os primeiros 30 min. após o tratamento desenvolveram
factante (surfactante seletivo). Os ensaios não demonstraram di- hiperoxemia (a combinação da hiperoxemia arterial e altos níveis
ferença quanto ao desfecho primário (displasia broncopulmonar/ de hipoxantina é prejudicial devido à liberação de radicais livres em
morte com 36 semanas pós-concepção) entre os grupos subme- muitos órgãos, incluindo o cérebro)
tidos a estas 3 estratégias. No entanto, os RN que iniciaram com Hemorragia pulmonar/Persistência do Canal Arterial (PCA):
CPAP nasal tiveram menor necessidade de uso de corticosteróide A hemorragia pulmonar pode ocorrer, neste RN tratados com o
pós-natal, menor índice de intubação e menos dias em ventilação surfactante devido ao aumento da complacência pulmonar e di-
mecânica. Estes achados permitem-nos considerar o uso inicial minuição da resistência vascular, ocorrendo shunt D-E pelo PCA.
do CPAP para estes RN como uma alternativa a rotina de intuba- Os fatores envolvidos: sobrevivência do RN muito imaturos e ven-
ção e surfactante. Cientes de que nem sempre podemos extrapo- tilação do RN com baixas pressões. A estratégia consiste no diag-
lar resultados de ensaios internacionais para a nossa realidade nóstico e tratamento precoce do ductus e diminuir inicialmente a
devido a diferenças nas populações, é importante que avaliemos Fi02. A dopamina modifica o risco de hemorragia pulmonar nos RN
os resultados das nossas condutas (morbimortalidade) para sa- com PCA: os RN que receberam surfactante como tratamento de
bermos, a luz das evidências quando e como podemos mudar as resgate e que não estavam usando dopamina tiveram maior risco
nossas estratégias. Como já se referiu Guinsburg, as evidências para a hemorragia pulmonar se a PCA foi detectado clinicamente.
mudam em decorrer do tempo, pois se não validarmos nossas Portanto, o Surfactante exógeno contendo fosfolípides apro-
condutas podemos causar mais mal do que bem para o recém- priados e proteínas específicas, é uma droga poderosa que pode
nascido. desmamar um RN severamente doente e dependente do ventila-
• Dose dor numa Fi02 de 100% para ar ambiente em menos de 1 hora.
O pool de surfactante endógeno nos espaços alveolares é em Esta rápida e proeminente mudança na função pulmonar impli-
torno de 100mg/kg nos RN saudáveis. Nos RN com DMH, a mé- cam ajustes apropriados no respirador para evitar problemas re-
dia está em torno de 10mg/kg. lacionados à hipoxemia e hiperdistensão pulmonar.
Embora a ótima dose não tem sido claramente definida há uma A aparente superioridade das preparações naturais sobre os sin-
evidência que maiores doses são mais efetivas que as menores. Uma téticos torna necessário um amplo estudo comparativo entre estes
dose inadequada é rapidamente eliminada das vias aéreas ou apri- surfactantes. Este estudo comparativo envolveria vários centros.
sionada nos espaços atelectásicos. Com o desenvolvimento da DMH, Por exemplo, um estudo de 7500 RN (3750 por grupo) seria ne-
a saída para o alvéolo de proteínas séricas inibe o surfactante, sendo cessário para verificar diferença significativa na taxa de morte ou
necessária maior quantidade de surfactante para vencer a inibição. A doença pulmonar crônica com um surfactante versus outro.
maioria dos investigadores recomenda 100mg/kg para tratamento.
Capitulo 07 Distúrbios Respiratórios

Quanto mais precoce o tratamento melhor o prognóstico e uma lavagem pulmonar, utilizando surfactante diluído; a lavagem das
dose de 100mg/Kg é recomendado para todas as preparações. vias aéreas poderia renovar material nocivo dos pulmões, como
O surfactante exógeno parece ser uma droga segura, sem pro- mecônio, neutrófilos, debris proteináceos), hemorragia pulmonar,
blemas e sem efeitos colaterais imunológicos, mesmo após trata- pneumonia pelo Streptococcus do grupo B e hipertensão pulmo-
mento com material contendo proteína de origem animal. nar persistente.
Outros possíveis usos: síndrome da aspiração meconial (a O tratamento da DMH com surfactante natural ou sintético é
nova abordagem da síndrome de aspiração meconial é o uso da agora uma realidade clínica.

237

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Paulo R. Margotto
Assistência ao Recém-Nascido de Risco

7.6 HIPERTENSÃO PULMONAR PERSISTENTE

Paulo R. Margotto

Hipertensão Pulmonar Persistente (HPP) no RN caracteriza-se acidose. A infecção pelo Streptococcus do grupo B leva a
pela ausência da diminuição fisiológica da pressão da artéria HPP devido ao aumento do tromboxane e leucotrieno, po-
pulmonar ao nascimento, com conseqüente manutenção de um derosos vasoconstritores derivados do ácido aracdônico.
shunt D-E pelo canal arterial e pelo foramen ovale, provocando Belik tem evidenciado nesta condição uma incapacidade
hipoxemia refratária a oxigenioterapia. de relaxamento da musculatura arteriolar pulmonar (4
A pressão na artéria pulmonar do feto está em torno de 60-80 vezes pior) e frisa que o problema não é o excesso de
mmHg caindo para 18-20mmHg (começa a cair a partir da 6ª a contração e sim a inabilidade para relaxar.
8ª hora de via) ao final do 1º dia de vida e continua caindo por •Remodelação da vasculatura pulmonar (excessiva mus-
um certo período de tempo. No RN com HPP, a pressão na artéria cularização): como citado anteriormente, esta excessiva
pulmonar está ao redor de 70-80mmHg, superior a pressão sis- muscularização das arteríolas pulmonares que se esten-
têmica, que está ao redor de 50-55mmHg. de até a zona intra-acinar, ocorre intraútero, tornando
Acredita-se que um em cada 500-1.500 nativivos desenvolve estes bebês incapazes de se adaptarem à vida pós-natal.
HPP e 1 a 4% das admissões na UTI neonatal tem a HPP como Condições que levam a esta remodelação da vasculatura
diagnóstico principal. pulmonar incluem:
1. Stress intrauterino crônico e hipóxia;
Fisiopatologia 2. Fechamento intraútero do canal arterial (pelo uso de
salicilatos pela mãe);
A HPP pode ocorrer secundariamente a alterações na estrutura 3. Idiopático.
vascular, com hiperplasia e hipertrofia da camada muscular, na vi- •Artérias em número diminuindo: Esta condição é obser-
gência de redução do leito vascular pulmonar e, principalmente, vada nas síndromes dos pulmões hipoplásicos:
devido à manutenção do tônus vascular aumentado, que represen- 1. Hérnia diafragmática;
ta a maior parte dos casos. Do ponto de vista anatomopatológico, 2. Hipoplasia pulmonar primária (S. de Potter);
se observa no RN com HPP uma extensão da musculatura lisa ao •Displasia alvéolo capilar (DAC): descrita em 1981 e se
longo das artérias pulmonares, indo até a zona intra-acinar, incluin- caracteriza por vênulas dilatadas e distribuídas em posi-
do alvéolos, ducto alveolar e início dos bronquíolos respiratórios, ções anômalas, diminuição dos capilares peri-alveolares,
com conseqüente aumento da resistência pulmonar e relativa obs- hipertrofia muscular arteriolar. Clinicamente estes RN
238 trução do fluxo sanguíneo. Observe a figura a seguir: parecem ter a tradicional HPP, mas, no entanto, esta do-
ença é fatal, não respondendo a nada, inclusive a ECMO
(oxigenação por membrana extracorpórea) e está asso-
ciada a várias anomalias em mais de 75% dos casos. A
DAC deve ser pensada nos casos de HPP idiopática do
RN, particularmente se houver a necessidade de ECMO
(oxigenação por membrana extracorpórea). O diagnóstico
em vida é possível pela biópsia pulmonar. Uma vez es-
tabelecido o diagnóstico, terapias de alto custo e prova-
velmente inefetivas, como a ECMO podem ser evitadas.
•Obstrução do fluxo: Esta condição ocorre em:
1. Policitemia (aumento da viscosidade sangüínea);
2. Hipertensão venosa pulmonar;
3. Estenose da veia pulmonar;
4. Retorno anômalo total;
5. Estenose mitral congênita;
6. Coarctação da aorta;

Recentemente, Park e cl descreveram severa PHP em um RN


com infecção congênita pelo citomegalovírus, havendo necessida-
de do uso de óxido nítrico, ventilação de alta freqüência e sulfato
de magnésio; os autores sugerem que a PHP foi devido à doença
Murphy J, Rabinovitch M, Goldstein J, e cl. J Pediatr 98:964, 1981 parenquimatosa severa pela pneumonite pelo citomegalovírus.
Resumindo a patogenia da HPP: existindo alguma situação de
Devido a uma diversidade de condições que cursam com HPP, stress tanto pré-natal ou perinatal ou mesmo neonatal, ocorre a
é útil subclassificar esta síndrome nas seguintes categorias pro- liberação de fatores humorais com conseqüente vasoconstricção
postas por Geggel e Reid: (estes são o RN que responderam aos vasodilatadores). Os RN
que apresentam HPP por remodelação da vasculatura pulmonar
•Má-adaptação: caracteriza-se por uma vasoconstricção são os mais graves.
pulmonar com desenvolvimento estrutural e anatômico É muito importante entender a fisiopatologia, pois a terapia
normais, sendo causada por substâncias mediadoras para cada um é diferente. Vejamos, segundo Belik:
que alteram a vasoreatividade pulmonar. Esta condi-
ção reversível tem sido observada nos casos de stress •Vasoconstricção: é a mais simples, ou seja, a muscula-
perinatal agudo: hipoxia, sepse, aspiração de mecônio, tura ao redor da artéria pulmonar uma vez que se contrai
Capitulo 07 Distúrbios Respiratórios

reduz o lúmen do vaso levando a um aumento da resis- modelo animal, mas a histologia humana mostra que o
tência vascular pulmonar e com isso acontece o shunt fenômeno é parecido a um modelo que se obtêm atra-
da direita para a esquerda; neste caso, não existe nada vés exposição do animal a hiperoxia 60 a 95% de oxigê-
de errado com a vasculatura; tudo o que ocorre é uma nio por 1 ou 2 semanas): há uma diminuição do alvéolo
constrição do vaso e esse é o tipo de patologia que res- como ocorre na nova displasia broncopulmonar como to-
ponde a vasodilatadores pulmonares; é a única forma de dos vocês já sabem, mas existe também uma diminuição
HP que responde a vasodilatadores pulmonares. da vasculatura pulmonar e isso leva a esse quadro de
aumento da resistência vascular pulmonar simplesmen-
A impressão que temos é que a vasoconstricção única atu- te porque a trama vascular está diminuída ;isso também
almente representa um 1/3 dos casos de HP, ou seja, não é a não responde a vasodilatadores
forma de HP mais comum do RN e é por isso que é tão difícil
tratar a HP. Os RN não respondem aos vasodilatadores como a Quadro Clínico
gente acha que eles deveriam responder e a razão tem haver
com o fato de que não é só a vasoconstricção que está presente. Nos sintomas, o que se evidencia é a cianose, causada pelo
shunt D_E extrapulmonar (canal arterial patente e/ou forame
•Remodelação vascular: tem a ver com a anatomia vas- ovale). A flutuação na Pa02 (40mmHg e depois 100-120mmHg)
cular; as artérias, à medida que se aproximam ao nível descarta cardiopatia congênita.
de alvéolo, a túnica muscular começa a diminuir; a ar- A HPP ocorre em RN de termo e pós-maturos, com história de
téria tem um tecido conectivo; a camada media da ar- complicações perinatais, líquido amniótico tinto de mecônio e as-
téria é muscular e o endotélio é a parte interna do vaso. fixia perinatal. Geralmente estes RN mostram dificuldade respi-
No processo normal de desenvolvimento da vasculatura ratória desproporcional ao quadro hipoxêmico. Pode-se observar
pulmonar, à medida que o vaso se aproxima do alvéolo sopro em decorrência da insuficiência tricúspide.
tem menos e menos músculo a ponto de que ao nível do A HPP ocorre também em RN pré-termo (hoje se sabe que estes
alvéolo os capilares não tem músculo nenhum. No caso RN têm força para fazer uma vasoconstricção na artéria pulmonar).
da HP quando existe a remodelação vascular um dos fe-
nômenos que acontece é a migração ou proliferação de Diagnóstico
músculo a nível de capilares e de vasos muito próximos
do alvéolo e isso levaria a um aumento da capacidade 1. Rx de tórax: não se observam anormalidades caracterís-
de vasoconstricção. A remodelação vascular não é só a ticas. Nos casos graves, podemos observar hipofluxo pulmo-
migração de músculo a nível de periferia; se fosse assim, nar, secundário a vasoconstricção arteriolar pulmonar.
este processo de remodelação vascular também respon- 2. Ecocardiograma bidimensional com Doppler colorido: é
deria a vasodilatadores; o problema é que a histologia o padrão ouro no diagnóstico. Permite a visualização direta
de RN com HP, a camada muscular na remodelação vas- do shunt, bem como avalia a magnitude da hipertensão. 239
cular esta aumentada, existe uma deposição enorme de
colágeno e elastina nesses vasos, obstruindo o lúmen do É importante para o diagnóstico diferencial com as cardiopa-
vaso; este tipo de vaso não vai responder ao óxido nítri- tias congênitas, principalmente com a drenagem anômala total
co porque na verdade o que está diminuindo o lúmen do das veias pulmonares, coarctação da aorta (o diagnóstico é difí-
vaso é o colágeno e elastina; então este tipo de patologia cil, pois o canal arterial está muitas vezes patente e muito aber-
não responde ao vasodilatador to, sendo difícil definir a coarctação da aorta), estenose venosa
pulmonar congênita (raro e pode-se apresentar como um retorno
anômalo do sangue).

3. Gradiente pré e pós-ductal não muito útil para o diag-


nóstico, mas útil para analisar a resposta à intervenção.

Gasometria: diferença de Pa02 ≥ 20mmHg entre a pré-ductal


(membro superior direito) e pós-ductal (cateter arterial, membro
inferior) sugere shunt Direita-Esquerda pelo canal arterial paten-
te. A ausência de diferença não exclui HPP, pois o shunt Direita-
Esquerda pode ocorrer apenas através do foramen ovale. Através
Figura: Observem o aspecto histológico do vaso pulmonar (grave remo- da oximetria de pulso na mão direita e no pé: útil quando o shunt
delação vascular pulmonar) em um caso grave de hipertensão é predominantemente pelo canal arterial.
pulmonar persistente do recém-nascido que não respondeu ao
óxido nítrico, ocorrido na da Unidade de Neonatologia do HRAS/SES/DF 4. Hiperventilação/Hiperoxemia: não é mais usado hi-
(2001). Dr. Paulo R. Margotto perventilação agressiva, devido ao risco de volutrauma e
comprometimento hemodinâmico quando não existe do-
•Diminuição da vasculatura pulmonar: o crescimento da ença pulmonar. Havendo doença pulmonar, há melhora
vasculatura depende de um processo de angiogênese na Pa02, devido ao recrutamento dos alvéolos.
que é complementar à formação dos vasos (vasculogê-
nese é a formação de vasos e a angiogênese é a continu- Tratamento
ação, com a formação de ramos cada vez mais finos des-
ses vasos). À medida que o pulmão vai se desenvolvendo Cuidados básicos
novos alvéolos estão sendo formados, sendo necessário
que novos capilares se formem a partir do extremo des- Devido à intensa labilidade destes RN com HPP, evitar o manu-
ses vasos, fazendo com que esses novos capilares se seio desnecessário, principalmente nos primeiros 3 dias de vida.
aproximem dos alvéolos. O que ocorre na HP (esse é um Corrigir os distúrbios metabólicos (hipocalcemia, hipoglicemia),

Paulo R. Margotto
Assistência ao Recém-Nascido de Risco

a policitemia, a acidose. Cateterizar vasos umbilicais. Manter RN e mínimas quantidades de fosfoglicerol em relação ao RN
exposto a menos luz (cobrir cúpula superior da isolete) e barulho. a termo normal). Assim parece que a HPP está associada
com deficiência de surfactante tanto quanto à inativação
• Assistência Respiratória: O objetivo é manter a pa02 em associação com a Síndrome de Aspiração Meconial.
entre 50-80mmHg, a PaC02 entre 40-60mmHg e o pH ≥ Dose: 200mg/kg e se necessário, uma segunda dose de
7,25. No RN respirando espontaneamente iniciar a oxi- 100mg/kg 12h após.
genioterapia com Fi02 de 100% no Hood. Nos RN com
pa02 < 50 estará indicada a ventilação mecânica com os • Vasodilatador: Óxido Nítrico (NO): A base fisiológica para
seguintes parâmetros iniciais: a queda na resistência vascular pulmonar observada com
o uso do NO reside no fato que o NO é um gás produzido
PIM: 20cmH2O no endotélio vascular através da conversão da arginina
PEEP: +2cmH2O para citrulina por uma enzima chamada NO-sintetase. O
FR: 40mpm NO se difunde pela musculatura lisa do endotélio vascu-
I/E: 1: 2 (insp. 0,5 Seg.; exp. 1 Seg.) lar aumentando o nível intra-celular de GMP (guanidina
mono-fosfato) e promovendo a dilatação da musculatura
Se a pão persistir abaixo de 50mmHg, antes da hiperventila- endotelial. O NO uma vez na corrente sanguínea se com-
ção devemos proceder à alcalinização, pelos riscos da hiperven- bina com a hemoglobina, formando a metahemoglobina,
tilação (volutrauma). sendo assim inativado, esta a razão porque o NO tem
efeito vasodilatador exclusivamente pulmonar.
• Alcalinização: baseia-se no fato de que os vasos pul-
monares diminuem o tônus quando submetidos a pH ≥ Hoje entendemos porque alguns RN não respondem bem ao
7,25. Utilizamos o NaHCO a 8,4%, na razão de 0,5-1,0 NO, sendo a principal explicação a existência de doença parenqui-
mEq/Kg/hora, devendo ser descontado o sódio da hidra- matosa que dificulta a distribuição do NO na periferia do pulmão.
tação venosa. O pH deve ser mantido entre 7,50-7,55. O Havendo um grande shunt intra-pulmonar, a resposta ao NO será
limite máximo de paco aceitável para a alcalinização no boa com o recrutamento pulmonar. A ventilação de alta frequência
RN com HPP deve estar ao redor de 60mmHg. (HFV) tem sido usada no recrutamento do pulmão atelectásico e
tem sido mostrado ser mais eficaz do que a ventilação mecânica
Sedação e Analgesia: para evitar o assincronismo com o respi- convencional na insuficiência respiratória neonatal severa. Outra
rador: fentanil e midazolam. Nos casos em que o bebê não res- causa de má-resposta é a disfunção ventricular esquerda com in-
ponde aos parâmetros convencionais está indicado: suficiência mitral levando a hipertensão venosa pulmonar. O uso
do NO nesta situação seria como se fosse administrar um push de
• Aumentar a PIM para 35cm H2O volume para um paciente com insuficiência cardíaca congestiva.
240 • Aumentar a FR até 75rpm. Portanto, ao fazer uso do NO, é de vital importância que esteja-
mos associados ao cardiologista para obter melhor compreensão de
É da mais alta importância frisar que as mudanças nos parâme- um problema subjacente: o ecocardiograma com Doppler se impõe,
tros ventilatórios devem ser feitas sempre com uma única mudan- sendo útil na determinação do efeito da terapia no shunt extrapul-
ça de cada vez observando a resposta gasométrica e da PSa02. monar. Os pacientes que melhor respondem ao NO são aqueles com
Ao proceder a diminuição dos parâmetros ventilatórios, estes um ecocardiograma anormal (HPP com shunt extrapulmonar).
devem ser feitos de forma gradual (Fi02 de 1% a cada vez) quan- Em alguns RN prematuros com Doença de Membrana Hialina
do a pa02 estiver ≥ 100mmHg. Ao atingir Fi02 de 70% iniciar a tem sido evidenciado deterioração progressiva após terapia com
diminuição das PIM e FR lentamente. surfactante, levando a severa hipertensão pulmonar com shunt
D-E pelo ductus arteriosus, com aumento da mortalidade. A cir-
• Drogas vasoativas: devido à magnitude do shunt Direita- culação pulmonar imatura é responsiva ao NO e baixas doses de
Esquerda estar relacionado com o equilíbrio da resistên- NO inalado podem desempenhar um papel no manuseio do RN
cia vascular sistêmica e pulmonar, está indicado o uso prematuro com severa insuficiência respiratória não-responsiva ao
de droga para aumentar o débito cardíaco e a pressão surfactante, através da melhora da ventilação/perfusão e redução
sistêmica. As drogas mais indicadas são a dopamina e a da resistência vascular pulmonar. No entanto, segundo Aschner,
dobutamina, devendo esta estar sempre associada à do- temos que ter cautela com o uso do NOi pelos riscos potenciais nos
pamina na presença de asfixia severa (a menor resposta RN prematuros, como: -prolongamento do tempo de sangramento
cardíaca a dopamina se deve exaustão das reservas en- (dose dependente) com risco de hemorragia intracraniana; a dimi-
dógenas de noradrenalina que é a via pela qual a dopa- nuição rápida da resistência vascular pulmonar na presença de
mina exerce seus efeitos indiretos cardiovasculares). canal arterial pérvio poderia levar ao aumento da circulação pul-
monar, edema e hemorragia pulmonares; efeitos adversos sobre
Doses: o surfactante. A revisão sistemática de Barringhton incluindo 11
Dopamina 2,5ug/kg/minuto ensaios randomizados e controlados com o uso do NOi em prema-
Peso x dose x 1.440/5.000 turos mostrou: tratamento precoce de resgate com base no crité-
rio de oxigenação não afetou a mortalidade ou as taxas de DBP e
Dobutamina 5ug/kg/minuto mostrou uma tendência ao aumento da hemorragia intracraniana.
Peso x dose x 1.440/2.500 Embora o óxido nítrico seja importante no crescimento pulmonar,
há no momento pouca evidência que o NOi alcance este objetivo.
• Surfactante Pulmonar: há evidência de que a deficiência O uso do NO no prematuro deve ser feito com muito critério, de-
do surfactante contribui para diminuir a complacência vido ao risco de sangramento e da possibilidade de hemorragia
pulmonar e a atelectasia em alguns pacientes com HPP intraventricular (talvez o NO interfira na agregação plaquetária, po-
(os fosfolipídios no aspirado traqueal de 7 RN com HPP dendo piorar o quadro de distúrbio de coagulação). Portanto mais
foram semelhantes àqueles encontrados nos RN com ensaios são necessários para determinar quais prematuros prova-
DMH e ambos os grupos tiveram redução da relação I/E velmente seriam beneficiados ou prejudicados com a terapia pelo
Capitulo 07 Distúrbios Respiratórios

NOi. No momento, o uso do NOi em prematuros para prevenir a utilizando altas doses de NO, segundo Pearl e cl, é devido à es-
displasia broncopulmonar só deve ser utilizado como parte de um timulação da produção de agentes vasoconstrictores como a
estudo controlado randomizado e com consentimento informado ET-1(endotelina-1) pelo óxido nítrico mesmo utilizando doses tão
dos pais e com capacidade de avaliação neurológica a longo prazo. pequenas, como 2ppm. A formação de peroxinitrito (este resulta
da combinação do NO com o 02) que inativa a eNOS (sintetase do
Critérios Para Administração Do Óxido Nítrico NO endotelial) pode ser um outro mecanismo explicativo. O me-
canismo pelo qual o NO estimula a produção da ET-1 é obscuro,
RN com Hipertensão Pulmonar Persistente diagnosticada pela mas tem sido demonstrada indução de expressão gênica.
clínica e ecocardiografia com Doppler colorido evidenciando Metanálise realizada por Oliveira e cl, avaliando o uso do NO
shunt D-E pelo ductus arteriosus e/ou foramen ovale e medida no manuseio da HPP do RN evidenciou: para os RN sem hérnia
da pressão da artéria pulmonar através da regurgitação tricúspi- diafragmática congênita, o NO inalatório não alterou a mortalida-
de com níveis supra-sistêmicos. de (OR:1,04 ; IC; 0,6-1,8), mas a necessidade do uso de ECMO
Índice de Oxigenação (IO) maior que 25 foi significativamente reduzida (OR: 0,73; IC: 0.60-0,90), assim
IO= MAP x Fi02/Pa02 como a melhora da oxigenação. Para todos os RN, não houve
MAP: Mean Air Pressure (Pressão média das vias aéreas) alterações quanto a complicações do SNC e doença pulmonar
crônica. Os estudo avaliados foram os publicados entre janeiro
Administração Do Óxido Nítrico de 1990 a março de 1998. Christou e cl relataram diminuição
da ECMO entre os RN recebendo NO que estavam em ventila-
• Dose inicial: 10 ppm (partes por milhão) em fluxo contí- ção de alta frequência (esta aumenta a efetividade do NO nestes
nuo com o gás conectado ao circuito inspiratório do respi- RN). Clark e cl relataram diminuição significativa do uso de ECMO
rador em Y. Aumentar até no máximo 40 ppm caso o RN com o uso de baixas doses de NOi, mas não houve diferença
não apresente melhora. no follow-up com 1 ano de idade quanto à mortalidade, necessi-
• Avaliação clínica e laboratorial 30 minutos após: me- dade de medicações para doença pulmonar ou necessidade de
tahemoglobina (oxidação do ferro da molécula heme do suplementação de oxigênio e desenvolvimento neurológico. Com
estado ferroso para o férrico e a hemoglobina torna-se o uso de NOi em baixas doses, os autores relataram redução sig-
incapaz de se ligar e transportar o oxigênio, ocasionando nificativa da necessidade de ECMO sem aumento de prognóstico
importante cianose; manter abaixo de 2 mg%: na pre- adverso com 1 ano de idade.
sença de metahemoglobinemia, usar azul de metileno a Objetivo: pa02 50-80; PaC02 40-60; pH ≥ 7,25
1% na dose de 1-2mg/kg endovenoso em 5 minutos) e
dióxido de nitrogênio - N02 (NO em contato com o 02 se Análogos Da Prostaciclina (PGI2).
transforma em N02 que é tóxico, não devendo passar de
2-2,5 ppm), com medições a cada 6 horas no 1o dia e a A prostaciclina (PGI2) é um metabólito do ácido aracdônico,
cada 24 horas nos dias seguintes. formado pela prostaciclin sintetase no endotélio vascular. A PGI 241
estimula a adenilciclase no músculo liso, aumentando o cAMP
Retirada Do Óxido Nítrico intracelular, resultando em vasodilatação. Os RN com HPP com
inadequada resposta ao NO (estes RN podem ter deficiente va-
• Iniciar o desmame 24h após quando a Fi02 estiver entre sodilatação mediada pelo cGMP) podem se beneficiar da PGI
60-70% e pressão inspiratória < 20 cmH2O, diminuindo inalada que atua através do cAMP. A prostaciclina é um vasodi-
de 20 ppm para 15 (em 4h) e para 10 (em 4h). PIM < 25 latador sistêmico e pulmonar potente de ação prolongada. Inibe
cm H2O, PEEP < 5cm H2O e freq resp < 30, reduzir para a agregação plaquetária (é um dado positivo em adultos com
5ppm mantendo por 12h. HP, mas talvez não seja para o RN pelo aumento do risco de
• Alguns autores aumentam a Fi02 ao fazer o desmame para hemorragia intracraniana).
evitar o rebote (aumento do IO com a diminuição do NO): A prostaciclina é a mais nova das terapias para os pacientes com
aumentar a Fi02 para 80-90% e começar a reduzir o NO. HP, sendo que a experiência é maior com a infusão endovenosa
• Para os RN que mantém pa02 < 80mmHg, aumentar NO de epoprostenol (FlolanR). Estudos randomizados têm evidenciado
para 40ppm ou associar Ventilação de alta frequência melhora mantida dos sintomas e mortalidade, mesmo em pacien-
(VAF) com NO a 20ppm. tes sem imediata resposta hemodinâmica. Com o uso desta droga,
aproximadamente 70% dos pacientes com HP foram removidos da
Quanto A Resposta Ao Óxido Nítrico lista de transplante. No entanto, são grandes as dificuldades com
epoprostenol: custo alto, difícil de administrar, vida média de ape-
• 40%, em geral. respondem bem, elevando a 65% quan- nas 3-5 minutos, necessitando de infusão endovenosa contínua.
do associado à alta frequência (esta melhora se deve à Deve ser reconstituída em solução alcalina tampão diariamente
abertura dos alvéolos). e estocada em reservatórios de congelamento, além da necessi-
• 1/3 com resposta parcial e fica dependente do NO (5 dade de acesso venoso central. Os efeitos colaterais incluem: dor
ppm), por vezes, mais de uma semana. na maxila, hipotensão, dor de cabeça, náusea e anorexia. Os pa-
cientes necessitam de doses crescentes da droga para manter a
Estudo experimental recente realizado no Alabama demons- resposta terapêutica. Há estudos evidenciando que a prostaciclina
trou que a administração de NOi (óxido nítrico inalado) pelo Hood inalada pode piorar o shunt intrapulmonar, devido à redistribuição
produziu diminuição da pressão da artéria pulmonar em mais de do fluxo sanguíneo pulmonar de áreas não ventiladas para regiões
50%, assim como a resistência vascular. Ensaios clínicos estão acessíveis ao aerossol. No entanto, esta droga pode salvar vida.
ocorrendo para investigar se esta técnica simples e não invasiva Kelly LK e cl usaram FlorlanR inalado em 4 bebês com HP grave
de administrar o NO é efetiva em RN humanos com HPP. que não responderam ao NOi (óxido nítrico inalatório). A resposta
Grandes estudos randomizados têm evidenciado que apro- foi imediata, sendo que 3 de 4 tiveram uma resposta sustentada
ximadamente 40% dos RN com HPP severa não respondem com queda acentuada do índice de oxigenação (o que não respon-
adequadamente ao NO. Uma explicação do rebote, ou seja, deu foi levado a ECMO-oxigenação por membrana extracorpórea;
piora da oxigenação após a retirada do NO ou a não melhora este morreu 6 dias após e o diagnóstico anatomopatológico foi de

Paulo R. Margotto
Assistência ao Recém-Nascido de Risco

displasia alvéolo-capilar). Os dados são preliminares com número Os resultados com o uso dos inibidores da PDE5, entre os quais
muito pequeno de pacientes, mas é um campo que vale a pena ser o sildenafil, no tratamento da hipertensão pulmonar primária e
pesquisado. A retirada aguda da droga pode levar à morte. A sepse hipertensão pulmonar seguindo a cirurgia cardíaca em adultos e
relacionada ao cateter é outra complicação potencialmente fatal. crianças maiores, com ênfase no seu sinergismo com o óxido ní-
trico inalatório, levaram a possibilidade o uso do sildenafil no tra-
Inibidores Das Fosfodiesterases tamento da hipertensão pulmonar persistente do recém-nascido.
Com base na atual compreensão da base molecular da ação
Sildenafil do sildenafil, mais estudos são necessários para melhor compre-
ensão da ação do sildenafil na HPP do RN. A rota de administra-
O NOi produz, como vimos, a ação vasodilatadora específica ção pode ser um fator-chave determinante do seu uso no RN críti-
pulmonar através do aumento da concentração de 5-monofos- cos (a absorção gastrintestinal pode ser impraticável nestes RN).
fato de guanosina clínica (cGMP) no músculo liso das artérias, Estes RN apresentam riscos de isquemia intestinal secunda-
sendo útil no tratamento da hipertensão pulmonar persistente riamente à hipoxia. A terapia aerossol pode constituir uma dificul-
(HPP) do RN, hipertensão pulmonar primária e hipertensão pul- dade do RN com severa aspiração meconial, não somente pela
monar precoce seguindo a cirurgia cardíaca. Através da ativação necessidade de tratamento contínuo dado a curta ação do silde-
da proteína quinase pela cGMP, há aumento da abertura dos ca- nafil administrado por esta via, mas também devido à limitada
nais cálcio sensíveis ao potássio, havendo hiperpolarização da distribuição na presença de mecônio e exsudato inflamatório. A
membrana com inibição do influxo de cálcio através dos canais formulação endovenosa (EV), no entanto parece mais apropriada
de cálcio tipo- L, ocasionando o relaxamento da musculatura lisa para estes pacientes.
arterial. A cGMP é subseqüentemente inativada pelo fosfodies- Shekerdemian e cl estudaram os efeitos do uso EV do sildenafil
terase tipo 5(PDE 5). na hemodinâmica pulmonar e oxigenação e compararam estes
O uso do NOi tem constituído uma terapia padrão, mas até 30- efeitos com o NOi em um modelo animal (leitões) de hipertensão
40% dos casos falham na resposta, não constituindo assim uma pulmonar neonatal secundária à aspiração de mecônio. Os auto-
simples bala mágica no tratamento da HPP do RN. A vasodila- res instilaram mecônio via traqueal, em 18 leitões; 6 subseqüen-
tação que ocorre com o NOi é transitória, uma vez que o NOi é temente receberam sildenafil EV por 2 horas, 6 receberam NOi
rapidamente (<10seg) degradado na presença de 02, perdendo por 2 horas e 6 animais não receberam intervenção adicional. A
sua bioatividade. A extrema vida média curta do NOi assegura aspiração de mecônio aumentou a resistência vascular pulmo-
que não apresente efeitos adversos sistêmicos. A não resposta nar em 70% e o índice de oxigenação em 100%. Os leitões que
ao NOi se deve a doença parenquimatosa, disfunção cardíaca ou receberam NOi tiveram queda da resistência vascular pulmonar
problemas na sinalização NO-cGMP. em 40% após 2 horas de tratamento; os leitões que receberam
As PDE são enzimas que catalizam a clivagem hidrolítica da sildenafil reverteram por completa à alta resistência vascular
ligação 3’ fosfodiester dos nucleotídeos cíclicos, controlando dentro de 1 hora de infusão. Os animais controles mantiveram
242 os seus níveis intracelulares. Entre as 11 distintas famílias de alta resistência vascular durante todo o estudo. Não se observou
PDE, há um predomínio de PDE5 nas células musculares lisas efeito na hemodinâmica sistêmica. O sildenafil aumentou o débi-
da vasculatura pulmonar, razão pela qual há vários estudos que to cardíaco em 30% mas não prejudicou a oxigenação. Assim, os
exploram o potencial terapêutico dos inibidores da PDE5 na hi- autores concluíram que o sildenafil é um vasodilatador pulmonar
pertensão pulmonar. seletivo e altamente efetivo (tão efetivo quanto o NOi) no presen-
Estudo de Hanson e cl em modelo animal da hipertensão pul- te modelo de hipertensão pulmonar neonatal.
monar fetal tem evidenciado o aumento da atividade da PDE5 e A farmacocinética do sildenafil EV não está determinada. A
que este aumento contribui com a reatividade vascular na hiper- dose usada no modelo de Shekerdemian e cl foi extrapolada de
tensão pulmonar perinatal. doses orais (1-2mg/kg) em pacientes pediátricos e de um pe-
Assim, uma abordagem alternativa ou auxiliar no manuseio queno estudo usando 1mg/kg EV, mas os autores enfatizam a
da HPP do RN pode ser o aumento endógeno da concentração importância de estudos farmacocinéticos na determinação de
da cGMP usando inibidores específicos a PDE5. (esquema a uma dose ideal. Apesar das evidências do sinergismo entre o
seguir): sildenafil e o NOi na potencialização da vasodilatação pulmonar
em crianças maiores com hipertensão pulmonar primária e hi-
NO → ↑ cGMP na musculatura lisa arterial pertensão pulmonar seguindo a cirurgia cardíaca, tal fato não foi
[fosfodiesterase 5 (PDE5) inativa a cGMP] evidenciado no estudo 2004 de Shekerdemian e e cl. Os auto-
↓ res estudaram a interação entre hipertensão pulmonar aguda e
ativa cGMP proteína quinase lesão pulmonar secundária a aspiração meconial em 12 leitões
↓ recém-nascidos: 6 animais (controles) não receberam interven-
↑ abertura dos canais cálcio sensíveis ao potássio inibidores ção após a instilação de mecônio e 6 animais receberam NOi
da PDE5 (20ppm) com sildenafil endovenoso (2mg/kg). Este é um mode-
↓ lo de hipertensão pulmonar aguda com injúria pulmonar aguda
hiperpolarização da membrana sem shunt intracardíaco. O NOi reduziu a pressão média da ar-
↓ téria pulmonar e a resistência vascular pulmonar sem influen-
inibição do influxo de cálcio através dos canais de cálcio tipo- L ciar na oxigenação. A adição do sildenafil reduziu ainda mais a
↑ cGMP que mantém → relaxamento da musculatura lisa pressão média da artéria pulmonar, tendeu a aumentar o débito
arterial. cardíaco e reduziu a resistência vascular pulmonar. No entanto,
os autores relataram que o sildenafil diminuiu a pressão arte-
Figura: Representação esquemática da ação do óxido nítrico na muscula- rial sistêmica e a resistência vascular sistêmica, produzindo uma
tura lisa arterial, ocasionando o relaxamento da musculatura e a ação dos profunda hipoxemia arterial, reduzindo a Pa02de 69 ± 23mmHg
inibidores da fosfodiesterase 5. Shekerdemian LS, Ravn HB, et. Al. Intrave- para 49 ± 15 mmHg, a despeito do aumento do Fi02 e pressão
nous sildenafil lowers pulmonary vascular resistence in a model of neonatal média de vias aéreas. Assim, o índice de oxigenação aumentou
pulmonary hypertension. Am J. Resp. Crit. Care. Med. 2002: 165: 1098-1102. significativamente(p=0,01).
Capitulo 07 Distúrbios Respiratórios

O sinergismo entre o sildenafil e o NOi no tratamento da hiper- de Kleinsasser e cl (após a alta dose de sildenafil) foi atribuída em
tensão pulmonar no modelo de Thusu e cl, nas crianças com hiper- parte à relativa hipoxemia com o uso do sildenafil neste modelo.
tensão pulmonar nos estudos de Atz e Wessel e nos adultos, ocor- Juliana e Abbad relataram imediata melhora da oxigenação
reu sem a concomitância da injúria pulmonar. A interação entre o com subseqüente recuperação completa com o uso de sildenafil
sildenafil e o NOi na presença de lesão pulmonar tem sido pouco (1,5mg/kg) via sonda nasogástrica em um RN com severa HPP.
relatada na literatura. O estudo de Thebaud e cl evidenciou a me- Apesar do RN a termo ter sido ventilado com altas pressões
lhora da vasodilatação pulmonar em RN com HPP por hérnia dia- e ter recebido altas doses de pressores cardiovasculares, a
fragmática congênita não responsiva ao NOi associando o NOi ao Pa02 persistiu baixa com um gradiente alvéolo-arterial de 02 de
dipiridamol, embora a melhora tenha sido transitória e ambos os 651mmHg. Os autores discutem o uso potencial dos inibidores
pacientes tenham falecido (estes autores relataram posteriormen- da PDE5, como o sildenafil, em situações onde não se dispõe do
te que a não-resposta ao NOi na hérnia diafragmática congênita se óxido nítrico e da oxigenação por membrana extracorpórea
deve a uma atividade alterada da guanilil-ciclase). Recentemente, Namachivayam e cl investigaram o papel do sildenafil na pre-
Keller e cl relataram estabilização e a retirada do NOi com o uso do venção do rebote (aumento de 20% ou mais da pressão na arté-
sildenafil em uma criança com 7 semanas de idade com hiperten- ria pulmonar ou falha na descontinuação do NOi) em pacientes
são pulmonar por hérnia diafragmática congênita. em que não se havia feito ainda tentativa de desmame do
Bigatello e cl relataram diminuição do shunt intracardíaco D-E NOi. O estudo foi randomizado para receber sildenafil na dose de
em um paciente adulto (52 anos) com severa fibrose intersticial 0,4mg/kg ou placebo uma hora antes da descontinuação do NOi
pulmonar e hipertensão pulmonar que estava em uso de NOi. A e envolveu 29 crianças e RN. O rebote ocorreu em 10/14 pacien-
Pa02 aumentou em 76% com o NOi, 40% com o sildenafil isolado tes do grupo placebo versus 0/15 pacientes do grupo do sildena-
e 112% com o sildenafil associado ao NOi. No entanto, Adrie e cl fil. (p<0,001). A pressão da artéria pulmonar aumentou em 25%
evidenciaram piora da resposta ao NOi com o uso do zaprinast no grupo placebo versus 1% no grupo do sildenafil (p<0,001).
em um modelo animal de lesão pulmonar aguda, sugerindo que Todos os RN do grupo sildenafil foram desmamados do NOi. No
o inibidor da fosfodiesterase induz vasodilatação difusa em regi- grupo placebo, 4 não puderam ser desmamados devido à severa
ões pobremente ventiladas, abolindo assim os efeitos benéficos instabilidade cardiovascular (p=0,042). A duração da ventilação
observados com o uso do NOi isolado. também foi menor no grupo do sildenafil (98 versus 28,2 horas;
O mecanismo pelo qual o uso de um inibidor da fosfodiesterase p<0,024). Com estes resultados, os autores levantam a possibi-
associado ao NOi piora a oxigenação nos casos de hipertensão lidade de uso do sildenafil no desmame dos pacientes do NOi.
pulmonar aguda e injúria pulmonar sem shunt intracardíaco, pro- Em 2006, Baquero e cl realizaram um estudo randomizado e
vavelmente se deva à redireção do fluxo sangüíneo de regiões cego envolvendo 13 RN com severa HPP e índice de oxigenação
ventiladas e seletivamente dilatadas pelo NOi para regiões não (IO) >25 com menos de 3 dias de vida e idade gestacional acima
ventiladas. A conseqüência deste fato é o aumento do shunt in- de 35,5 semanas, dos quais 7 RN receberam sildenafil e 6 rece-
trapulmonar, com exarcebação da hipoxemia arterial. beram placebo, com uma idade média de 25 horas. A solução
Shekerdemian e cl atribuíram a este mecanismo a piora da de sildenafil foi preparada a partir de comprimidos de 50mg. A 243
oxigenação observada no modelo de hipertensão pulmonar ne- primeira dose (1mg/kg) ou placebo foi administrado por sonda
onatal seguindo a aspiração meconial tratado com sildenafil e orogástrica com menos de 30 minutos após a randomização e
NOi. Tais fatos não ocorreram no idêntico modelo destes autores, a cada 6 horas. No grupo tratado, o IO melhorou em todos no
quando o sildenafil foi usado isoladamente, não sendo observa- período de 6 a 30 horas e nenhum apresentou efeito na pressão
das mudanças significativas na hemodinâmica. arterial sistêmica. Do grupo tratado, 6 de 7 sobreviveram e no
Segundo Belik, esta incongruência aparente do sildenafil tem grupo placebo, 1 de 6 sobreviveu.
a ver com a resposta à hipoxia. O que acontece em um quadro
de membrana hialina e em um quadro de aspiração de mecônio Interação Com Outras Drogas
é que existem áreas que estão cheias de mecônio ou seja, não
estão sendo ventiladas, são hipóxicas, quer dizer, não é porque Devido à habilidade do sildenafil em inibir a atividade enzimá-
se está administrando concentrações baixas de oxigênio para o tica do citocromo P3A4, esta droga não deve ser administrada
RN. O fato de que certos alvéolos estão cheios de mecônio faz com antifúngicos azoles, claritromicina, eritromicina e inibidores
com que esse alvéolo seja hipóxico, com relação a outros alvéo- da protease, como o indinavir, ritonavir e saquinavir. A adminis-
los, adequadamente ventilados. O que nossa fisiologia vascular tração com a cimetidina, um inibidor enzimático não específico,
pulmonar faz para aumentar a oxigenação é contrair ou fechar aumenta as concentrações plasmáticas do sildenafil em aproxi-
ou diminuir o fluxo de sangue para essas áreas hipóxicas e au- madamente 50%. A rifampicina, um indutor do citocromo P3A4,
mentar o fluxo de sangue pra essas áreas não hipóxicas. Então diminui os níveis de sildenafil. A administração concomitante com
a vasoconstricção pulmonar em resposta a hipoxia tende a outros agentes antihipertensivos, incluindo nitratos, agentes blo-
aumentar o fluxo para áreas que realmente podem permitir a queadores alfa e bloqueadores de canais de cálcio tais como a
oxigenação de sangue. amlodipine e nifedipine, pode resultar em hipotensão excessiva.
Em situações clinicas crônicas, muitos trabalhos mostrando
que o sildenafil melhora, o que provavelmente acontece, e já exis- Efeitos Adversos
tem dados animais bem recentes, de que com displasia pulmo-
nar ou quadros crônicos, essa resposta vasoconstrictora é dimi- Entre os efeitos colaterais, do sildenafil, se destacam os efeitos
nuída ou está quase ausente. Em um quadro desses o sildenafil oculares como o risco potencial de lesão da retina (retinite pig-
levaria a uma melhora da Pa02, porque já não existe mais essa mentosa), sobretudo nos indivíduos com mutação nos genes que
vasoconstricção a nível de áreas que estão sendo pouco ventila- codificam a fosfodiesterase. Os efeitos da sildenafil na circulação
das, porém agudamente levaria a uma piora. Isto talvez explique ocular têm sido controversos, tendo sido evidenciado aumento
porque em certos estudos terapêuticos mostram melhora e em do fluxo sanguíneo na vasculatura ocular (aproximadamente 1/3
outros estudos mostram piora. em relação à linha de base) e outros não evidenciando alterações
A diminuição da pressão arterial sistêmica no 2° estudo de do fluxo sanguíneo coroidal, além de não ter sido demonstrado
Shekerdemian e cl, também relatada nos estudos de Weimann e qualquer efeito no calibre vascular retinal. Em 2004, Marsh e cl
cl (queda de 12% após dose acumulativa máxima do sildenafil) e relataram um caso de severa retinopatia da prematuridade (RP)

Paulo R. Margotto
Assistência ao Recém-Nascido de Risco

em um RN pré-termo de 26 semanas com peso ao nascer de há várias considerações que necessitam de esclarecimento an-
525g com hipertensão pulmonar persistente que fez uso de sil- tes da sua indicação no recém-nascido, como:
denafil. O RN fez uso de 16 dias da droga, a partir de 31semanas
e 5 dias de idade gestacional até 38ª semana de idade gesta- 1. Falta de dados a respeito das interações da PDE5 e
cional pós-concepção, em conjunto com o NOi. O RN apresentou sua distribuição nos tecidos não pulmonares nos RN;
melhora, havendo redução da necessidade de 02 de 100% para 2. Há necessidade de avaliação dos efeitos do sildenafil
30-40%. O exame oftalmológico (realizado semanalmente a par- na função cardíaca, trocas gasosas e na hemodinâmica
tir de 31 semanas) não detectou retinopatia da prematuridade, sistêmica, principalmente no RN com sepse;
inclusive na 33ª semana de gestação, sendo a RP detectada com 3. O sildenafil pode não ter papel na terapia de resgate
34 semanas de gestação (RP-III). O tratamento foi realizado com quando o NOi falhar, principalmente na severa doença
fotocoagulação a laser, havendo regressão da RP. Os autores re- parenquimatosa pulmonar;
lataram ainda, ter observado um recente aumento da RP na sua 4. Os efeitos colaterais, principalmente na circulação ocu-
Unidade, coincidindo com o uso do sildenafil. O acúmulo de NO e lar com maior risco de lesão retinal, como a retinopatia
cGMP causados pela inibição da fosfodiesterase 5 tem sido pro- da prematuridade, devem ser melhor esclarecidos.
posto exercer um efeito proliferativo nas vênulas pós-capilares
da retina. Outro efeito relatado com o uso do sildenafil, em pa- Assim, os ensaios clínicos randomizados e controlados são ne-
cientes adultos, tem sido a dor de cabeça. Os efeitos centrais cessários para determinar a segurança, a eficácia e o prognóstico
do sildenafil têm sido atribuídos ao relato recente da presença dos RN com HPP recebendo sildenafil.
de PDE5 no tecido cerebral, principalmente no cerebelo e hipo- Estudos farmacocinéticos são necessários na definição da me-
campo e no gânglio cervical superior. Interessante que os autores lhor dose e a via de administração. Os estudos clínicos devem ser
não detectaram dilatação da artéria cerebral média (o aumento desenhados no sentido de avaliar a eficácia do sildenafil como
da cGMP nas células musculares lisas das artérias cerebrais não um agente sinérgico com o NOi no tratamento da HPP do RN.
foi suficiente para uma resposta vasodilatadora, provavelmente Outros objetivos devem ser buscados, como a melhora da oxige-
pelos baixos níveis de produção de cGMP nas artérias cerebrais nação, a efetiva dose do NOi, a duração do desmame do NOi e a
ou devido a sua rápida eliminação pelas outras fosfosdiesterase incidência do rebote da hipertensão pulmonar.
não PDE5 ou a PDE5 nas artérias cerebrais pode ser uma isofor-
ma que não é suficientemente inibida pelo sildenafil ou ainda, Milrinona
o sildenafil pode não ter uma boa distribuição nas células mus-
culares lisas das artérias cerebrais). Assim, os autores propõem A milrinona, inibidor seletivo da fosfodiesterase tipo 3 (PDE 3)
que o local de ação do sildenafil na indução de dor de cabeça nos miócitos cardíacos e musculatura lisa vascular têm mostrado
ocorra nos terminais sensoriais das fibras nervosas perivascula- reduzir a resistência vascular pulmonar e a pressão da artéria
res (sensibilização e hiperexcitabilidade dos terminais sensoriais pulmonar em modelos experimentais de hipertensão pulmonar,
244 perivasculares ou dos neurônios sensoriais de primeira ordem). em adultos humanos e em RN pós-cirurgia cardíaca. A milrinona
Esta hipótese parece consistente com estudos prévios eviden- é um composto bipiridinico que seletivamente inibe a PDE III. No
ciando que o sildenafil atua não somente nas células musculares pós-operatório de cirurgia cardíaca a milrinona profilática é alta-
lisas vasculares, mas também nas fibras nervosas sensoriais na mente efetiva na reversão da síndrome do baixo débito e melhora
estimulação da ereção peniana. a hemodinâmica pulmonar nestas crianças. Tradicionalmente os
A dor de cabeça é tipicamente bilateral, frontotemporal, pulsátil médicos são relutantes para tratar HPP com agentes redutores
ou agravada pela atividade física, começando tipicamente dentro da pós-carga devido à preocupação com a hipotensão sistêmica
de 5 horas e dura em torno de 72 horas após a exposição à droga. e o desejo de mantê-la acima da pressão arterial normal na ten-
O uso do sildenafil deve ser feito com cuidado nos pacientes tativa de reverter o shunt ductal. Esta abordagem não focaliza o
com altos níveis circulantes de cGMP, tais como aqueles com sep- distúrbio fisiológico primário do leito vascular pulmonar levando
se, nos quais pequenas concentrações de inibidor de PDE5 podem ao aumento da pós-carga ventricular direita que pode resultar em
precipitar significante hipotensão. Pacientes com disfunção hepáti- prejuízo por várias razões. Primeiro a hipertensão pulmonar pode
ca, podem apresentar redução do clearance do sildenafil, uma vez ser assim tão severa que a tentativa de super excedê-la pode
que esta droga é eliminada primariamente pelo fígado. exigir altas doses de vasopressores. Agentes usados para este
fim, como dopamina e epinefrina causam tanto vasoconstricção
Recomendações De Doses periférica como pulmonar, podendo assim exacerbar a hiper-
tensão pulmonar. Segundo, estes agentes induzem taquicardia
Baseado nos casos relatados e nos estudos conduzidos com o e alteram o equilíbrio do metabolismo celular, em particular do
sildenafil até a presente data, dose inicial por via oral de 0,5mg/ miocárdio, aumentando a demanda de 02 ao mesmo, aumentan-
kg/dose de 8/8 horas, aumentando para 1-2mg/kg/dose de do potencialmente a probabilidade de apoptose e necrose das
4/4 horas para o efeito desejado é recomendada para os pacien- células do miocárdio. Finalmente, em alguns pacientes, o ductus
tes pediátricos com hipertensão pulmonar.. Embora a dose máxi- pode não estar patente.
ma não tem sido determinada, dose acima de 2mg/Kg/dose de McNamara e cl conduziram um estudo retrospectivo na Unida-
6/6 horas pode não provê benefícios adicionais. Não havendo de de Terapia Intensiva Neonatal do Hospital for Sick Children,
resposta ou ocorrência de hipotensão arterial, descontinuar o Toronto, Canadá. Entre janeiro de 2002 e abril de 2004 os RN
tratamento após 6-8 doses. com severa HPP que respondiam mal ao NOi foram tratados com
Recentemente, Mourani e cl usaram estas doses em 25 crian- um vasodilatador alternativo que foi a milrinona endovenosa.
ças no tratamento de hipertensão pulmonar por displasia bron- A milrinona (milrinone lactato- 10mg/10 ml-NovopharmR) foi
copulmonar com início médio aos 184 dias (14 a 673 dias), com usada na dose de 0,33micrograma/Kg/minuto. Não foi feita
média de duração de 241 dias (28 a 950 dias). Aos 40 dias de dose de ataque pelo risco de hipotensão sistêmica. A dose foi
uso, 88% apresentaram melhora hemodinâmica, com redução controlada de acordo com a resposta clínica, com aumento de
significativa da hipertensão pulmonar. 0,33 a no máximo 0,99 microgramas/Kg/minuto.
Portanto, o sildenafil parece constituir um dos mais promisso- O IO foi significativamente reduzido após o tratamento com a
res inibidores de PDE5 no tratamento da HPP do RN. No entanto, milrinona, principalmente nas primeiras 24 horas de tratamento
Capitulo 07 Distúrbios Respiratórios

(média de 8,0 +-6,6 – p<0,001.Houve uma significante melho- são pulmonar que o uso do bosentan pode oferecer uma opção
ra na freqüência cardíaca. Os RN que receberam milrinona não terapêutica para pacientes com hipertensão pulmonar grave.
desenvolveram hipotensão arterial, havendo inclusive uma ten- Estudo recente (2011) de Mohamed e Ismail, (randmizado,
dência não significante, deles apresentarem melhora da pressão cego e controlado com grupo pacebo) mostrou que o bosentan
arterial. Com estes resultados os autores concluem que a o uso é seguro e eficaz no tratamento da hipertensão pulmonar (houve
de milrinona endovenosa melhora a oxigenação sem comprome- uma resposta favorável no grupo tratado em 87,5% versus 20%
ter a pressão sangüínea sistêmica. no grupo placebo). A solução bosentam foi preparada a partir de
Os resultados favoráveis encontrados neste estudo não pos- um comprimido de 125 mg, que foi dividido em um quarto e en-
sibilita-nos afirmar que é um resultado de um efeito direto da tão dissolvido em água estéril de 10 ml (3 mg em 1 ml). Foram
milrinona no leito vascular pulmonar ou pelo seu potencial siner- administrados por sonda orogástrica aos RN bosentan (1mg/kg
gismo com o NOi ou pela melhora no desempenho do miocárdio. duas vezes ao dia) ou volume igual de solvente (grupo placebo),
Teoricamente, pela redução da pós-carga pulmonar, melhorando seguido da administração de 1 ml
a complacência do ventrículo direito e aumentando a contratilida- De água estéril para assegurar que a dose chegou efectiva-
de do miocárdio, a milrinona melhora o enchimento passivo ven- mente ao estômago. O recipiente de drogas e a sonda oro-gás-
tricular esquerdo e por conseqüência, aumenta o débito cardíaco trica foram cobertos por uma cobertura opaca. Não há estudos
e a estabilidade da pressão arterial sistêmica. sobre a farmacocinética do bosentan na população neonatal, e
há apenas uma experiência limitada com doses e intervalo tem-
Bloqueadores Da Endotelina pos de bosentan em recém-nascidos com HPP. Portanto, a dose e
o intervalo utilizado neste estudo foram com bases em em doses
A endotelina é uma família de peptídeos produzidos pelo en- utilizadas com suscesso em estudos anteriores.
dotélio vascular e que tem ação predominante vasoconstritora Em 2006 foi demonstrado que o uso de antagonista seletivo
e provavelmente é um dos mais potentes vasoconstritores da do receptor da endotelina-A em adultos com hipertensão pulmo-
musculatura pulmonar; tem ação mitogênica, ou seja, aumen- nar melhora as condições clínicas (as alterações das enzimas
ta a proliferação muscular. Existem 2 receptores nas células do hepáticas foram menores com o sitaxsentan em relação ao bo-
músculo liso que são o receptor A (leva a constrição dos vasos sentan). O sitaxsentan só bloqueia a endotelina-A que pode ser
pulmonares) e os receptores B: o B1 leva a dilatação dos vasos vantajoso, mas há poucos dados sobre esta droga.
pulmonares e o B2 leva a vasoconstrição pulmonar. Estudamos o É importante que saibamos que o NOi é a terapêutica mais usada
que bloqueia o receptor A da endotelina e deixamos o receptor B e efetiva, sendo considerado o tratamento padrão. As novas drogas
livre. Nós sabemos que a parte mais importante da vasculatura discutidas (bloqueadores de endotelina, inibidores das fosfodieste-
pulmonar é a vasodilatação. O receptor B2 da endotelina existe rases e bloqueadores da endotelina) estão em fase de estudo.
pouco na vasculatura pulmonar; existe muito mais na vasculatu- Como novas fronteiras continuam sendo exploradas no manu-
ra sistêmica. A endothelin-converting enzyme media a conversão seio da HPP do RN, os análogos da prostaciclina, os inibidores
da pró-endotelina de baixa potência para a potente endotelina- das PDE III e V, entre os quais a milrinona e o sildenafil, respec- 245
1(ET-1) que vai atuar nos dois receptores A e B como falamos. tivamente, podem vir a constituir mais uma opção no manuseio
Têm sido descritos aumentos dos níveis de ET-1 na hipertensão do RN com HPP, doença que tem sido rotulada por Walsh-Sukys,
pulmonar de várias etiologias nas crianças. Existe ainda a função como uma caixa preta.
da endotelina atuando no receptor B que pode ser outra via que
vai levar a uma vasodilatação e uma endoproliferação. Usamos Bibliografia
primeiro o inibidor da endothelin-converting enzime (phospho-
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Paulo R. Margotto
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Capitulo 07 Distúrbios Respiratórios

7.7 HEMORRAGIA PULMONAR

Paulo R. Margotto

A hemorragia pulmonar é definida pela presença de secreção pulmonar em 20%) com aumento do shunt E-D pelo canal arterial
tinta de sangue na sucção do tubo endotraqueal, acompanhado pérvio (PCA) e desenvolvimento de edema pulmonar hemorrági-
por um aumento no índice de oxigenação maior que 100% do va- co. A presença do canal arterial pérvio em RN que recebeu sur-
lor imediatamente antes da ocorrência da hemorragia pulmonar. factante pulmonar esteve significativamente associado com o iní-
Maciça hemorragia pulmonar no RN freqüentemente está as- cio da hemorragia pulmonar, sendo esta associação modificada
sociada à Doença da Membrana Hialina, podendo ser, freqüente- pelo uso da dopamina (menor incidência de hemorragia nos RN
mente indistinguível desta do ponto de vista radiológico. A incidên- com PCA em uso de dopamina), o que sugere que a hipotensão
cia no período neonatal varia de 0.8 a 1.2/1000 nascidos vivos. arterial produzida pela presença da PCA podendo atuar como um
A mortalidade após a hemorragia pulmonar é alta (75 –90 fator causal da hemorragia pulmonar; por outro lado, a PCA sin-
%), embora a hemorragia pulmonar não aumenta significativa- tomático e a hipotensão poderiam simplesmente ser indicadores
mente o risco de alterações tardias, pulmonar e desabilidades da presença de citocinas e outros mediadores vasoativos respon-
neurocomportamentais. sáveis pela alteração da integridade da vasculatura pulmonar.
O uso profilático de indometacina, iniciado nas primeiras 24h
Fisiopatologia de vida nos RN < 1250g que recebem surfactante diminuiu signi-
ficativamente a incidência de shunt E-D pela PCA e a hemorragia
Pelo fato do hematócrito do sangue proveniente do pulmão pulmonar severa (OR = 0.54, 95% IC: 0.30-0.96: ou seja, diminui
acometido na hemorragia pulmonar ser mais baixo que o hema- a incidência de hemorragia pulmonar em 46%).
tócrito do sangue (geralmente < 10 %) fortalece o conceito de que
a maioria destas crianças tem edema pulmonar hemorrágico. As- Clínica
sim, imagina-se que a hemorragia pulmonar neonatal resulte de
choque, hipóxia e acidose que levam a insuficiência ventricular O curso clínico envolve rápida deterioração da função respira-
esquerda com aumento da pressão capilar e conseqüentemente, tória, com hipoxemia progressiva, hipercapnia, bradicardia, ap-
edema pulmonar hemorrágica. O aumento da tensão superficial néia, palidez ou choque podendo sucumbir rapidamente.
causada pela hiperinsuflação e anormalidades na matriz de su- Em muitos RN, o diagnóstico pode ser suspeito por um infiltra-
porte destes capilares, associado ao aumento da pressão a que do difuso com opacificação dos campos pulmonares ao RX (Fig
são submetidos, tornam os capilares pulmonares pronos a rutu- 1), sem evidência de sangue no tubo endotraqueal. Na autópsia
ra. Fatores que predispõem ao aumento da pressão capilar nos destes bebês, os pulmões aparecem grosseiramente hemorrá- 247
RN com edema hemorrágico incluem aqueles que favorecem a gicos e pesados e histologicamente é evidenciado hemorragia
filtração de fluídos, como a hipoproteinemia, a excessiva trans- intra-alveolar, principalmente nos RN prematuros extremos que
fusão e aqueles que causam lesão do tecido pulmonar, como a receberam surfactante pulmonar.
infecção, a Doença da Membrana Hialina, a ventilação mecânica
é a excessiva administração de oxigênio.

Fatores De Risco

Entre os principais fatores de risco associados estão a asfixia,


a prematuridade extrema, o retardo de crescimento intrauterino
grave, a infecção, a hipotermia, o tratamento com oxigênio, a do-
ença hemolítica Rh grave, coagulopatia (interessante que a maio-
ria dos RN com hemorragia pulmonar não tem coagulopatia),
apresentação pélvica, cesariana, persistência do canal arterial,
uso precoce de lipídeos e a hipotensão. Quando ocorre em RN a
termo anteriormente saudáveis, a hemorragia pulmonar esteve
associada a erro inato do ciclo da uréia com hiperamonemia.
Quanto ao papel do Surfactante Pulmonar, os estudos clínicos Fig 1
identificaram a hemorragia pulmonar como uma complicação em
potencial da terapia com o surfactante pulmonar, principalmente Prevenção/Tratamento
com o uso de surfactante profilático, embora o aumento do risco
para hemorragia pulmonar seja pequeno, comparado com os be- 1. O pronto fechamento do canal arterial, principalmente
nefícios da terapia com o surfactante na Doença da Membrana após a administração de surfactante pulmonar desempe-
Hialina. Avaliação recente da incidência de severa hemorragia nha papel significativo na redução da severa hemorragia
pulmonar (severo sangramento endotraqueal com queda aguda pulmonar. Consulte Persistência do Canal Arterial no ca-
do hematócrito e o desenvolvimento de infiltrados multilobares pítulo Distúrbios Cardiológicos
ao RX ) nas eras pré e pós – surfactante, concluíram que a tera- 2. Corrigir a hipotensão arterial (drogas vasoativas), a hi-
pia com surfactante pulmonar não alterou a incidência de seve- poxemia e a acidose.
ra hemorragia pulmonar e que o severo retardo do crescimento 3. Após surfactante pulmonar:
intrauterino é um importante fator de risco. O exato mecanismo •diminuir inicialmente a Fi02
permanece não bem esclarecido, mas postula-se que a adminis- •evitar ventilar com baixas pressões
tração do surfactante exógeno resulta em diminuição da resis-
tência vascular pulmonar (diminui a pressão sistólica na artéria

Paulo R. Margotto
Assistência ao Recém-Nascido de Risco

4. Estratégia ventilatória:
• ventilação convencional: aumento da PEEP (≥ 6 cm H2O)
• ventilação de alta frequência (jato ou oscilação), quando
Pa02/PA02 < 0.2, PEEP ≥ 8 cmH2O, PaC02 ≥ 60 mmHg
com pH < 7.25 sob ventilação convencional.

Outros autores tem preconizado o uso imediato da ventilação


de alta freqüência nestes pacientes, havendo significativa res-
posta em 30 minutos.

5. Uso do surfactante pulmonar natural:

A razão do seu uso se deve ao fato da hemoglobina e componen-


tes plasmáticos (proteinas) inibirem o surfactante pulmonar, inibi-
ção esta reversível pelo aumento da concentração do surfactante
pulmonar. O uso de 100 mg/kg de surfactante natural diminuiu o
Índice de Oxigenação (IO) de 24.6 para 8.6 três a seis horas depois
e a hemorragia pulmonar não recorreu em nenhum recém-nascido.

6. Restaurar o volume sangüíneo com transfusão sanguí-


nea (20ml/kg).
7. Anormalidades da coagulação devem ser corrigidos
com plasma fresco congelado (10-15 ml/kg) de 8/8 ho-
ras e Vit K.
8. Diuréticos e drogas vasoativas são indicados se insufi-
ciência cardíaca congestiva.
9. Fator VII recombinante ativado dose de 120 µg/kg (al-
ternativa eficaz de agente panhemostático para o contro-
le de hemorragias pulmonares agudas graves no recém-
nascido que não responde às manobras ventilatórias e
ao uso de concentrados de hemocomponentes.

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Acesso em 20/11/11.
Capitulo 07 Distúrbios Respiratórios

7.8 DISPLASIA BRONCOPULMONAR

Paulo R. Margotto

A displasia broncopulmonar (DBP) constitui um dos mais importan-


tes desafios e um problema persistente na moderna medicina neona-
tal. Nos Estados Unidos por volta de 5000 a 12000 recém-nascidos
(RN) desenvolvem DBP cada ano e esta está associada com aumento
do risco de paralisia cerebral e atraso neurocomportamental.
A displasia broncopulmonar (DBP) foi inicialmente descrita por
Northway e cl em 1967 como uma injúria pulmonar em prematu-
ros submetidos ao oxigênio e a ventilação mecânica. Os achados
patológicos que predominavam eram a lesão da via aérea, seve-
ra fibrose do parênquima e inflamação. Com o uso do esteróide
pré-natal, o uso do surfactante pulmonar e o uso de ventilação
mecânica mais “gentil”, a DBP tornou-se infrequente nos RN com
mais de 1.200g ou maiores de 30 semanas de gestação. Os prematuros de risco para displasia broncopulmonar são aqueles
No entanto, nos RN prematuros extremos (RN < 1.000g) a in- que nascem durante o estágio canalicular tardio ou
cidência de DBP, definida com a necessidade de 02 às 36 se- na fase sacular precoce (24-28 semanas) do desenvolvimento pulmonar
manas de gestação pós-concepção está em torno de 30% (às (Megan O’Reilly, Bernard Thébaud, 2012)
vezes necessitam de 02 por meses ou anos). Interessante que o
pulmão destes RN com a nova displasia broncopulmonar (N-DBP) A interferência neste processo de rápida formação de alvéolos
não apresenta as lesões descritas no passado e apresentam pri- causará um grave prejuízo no desenvolvimento alveolar.
mariamente uma diminuição da septação alveolar e diminuição A dependência de 02 com 36 semanas de idade gestacional foi
do desenvolvimento vascular, ou seja, o houve uma parada no sugerida como capaz de prever melhor o prognóstico respiratório
desenvolvimento pulmonar. O achado patológico consistente nos a longo prazo. Essas definições são limitadas pela variedade de
RN pré-termos que receberam suporte ventilatório é a diminuição administração de oxigênio de acordo com a prática clínica nos
da alveolarização. Comparando-se com as descrições antigas de diferentes centros. Na tentativa de achar uma definição melhor
DBP, os novos pré-termos com DBP não têm metaplasia esca- Ehrenkranz analizou o banco de dados do NICHD Neonatal Ne-
mosa das vias aéreas, nem fibrose peribrônquica, nem severa twork de todos os lactentes com peso de nascimento menor de 1
fibrose septal alveolar e nem mudanças vasculares hipertensi- kg e idade gestacional menor do que 32 semanas nascidos entre 249
vas. No entanto, o espessamento da musculatura das vias aé- janeiro de 1995 até dezembro de 1997. A administração de oxigê-
reas e o desarranjo da arquitetura fibro-elástica persistem como nio durante os primeiros 28 dias de vida resultou em maior sensi-
anormalidades na nova DBP. O achado mais consistente inclui bilidade, especificidade e valores preditivos positivos e negativos
a hipoplasia alveolar, a fibrose sacular variável e mínima lesão para a necessidade de oxigênio com 36 semanas. Com relação
das vias aéreas. Este novo achado indica uma interferência no a prever a necessidade de oxigênio na alta, a administração de
desenvolvimento anatômico normal do pulmão que pode evitar o 02 com 36 semanas de idade gestacional mostrou os maiores va-
crescimento e desenvolvimento pulmonar subsequente. lores para sensibilidade, especificidade e o maior percentual de
A nova DBP difere da velha DBP pela localização da injúria e pe- crianças corretamente classificadas. Reinternação por causas res-
las alterações histopatológicas no sistema respiratório (a nova DBP piratórias e o uso de medicações para o pulmão após a alta foram
resulta em uma injuria pulmonar mais distal; a lesão brônquica é previstas de modo similar tanto pela necessidade de 02 aos 28
mínima). Com base neste novo conceito, Makhoul sugere trocar o dias e com 36 semanas de idade gestacional pós-concepção
nome de displasia broncopulmonar para pneumopatia crônica da
prematuridade ou doença pulmonar crônica da prematuridade, omi- Critérios Para A Definição Da
tindo assim o termo “bronco” e enfatiza a cronicidade desta doença Displasia Broncopulmonar
e sua relação direta com o grau de prematuridade.
O pulmão fetal não começa alveolarizar até por volta de 32 se- Do ponto de vista prático, devemos ter critérios para definição
manas de idade gestacional e a alveolarização contínua até por da DBP (fazer a histopatologia não é uma maneira correta de
volta de 18 meses de idade, quando a criança passa a ter 300 diagnosticar) para podermos identificar estas crianças. Segundo
milhões de alvéolos. Entre 32 semanas e a termo, por volta de Baraldi E e Filipone M, a DBP é agora definida como a neces-
1/3 do número de alvéolos da fase adulta se forma nesta janela sidade de oxigênio suplementar aos 28 dias de vida e a sua
de tempo. Veja a figura: severidade é graduada de acordo com o suporte respiratório re-
querido a termo (36 semanas de idade pós-concepção para os
recém-nascidos que nasceram abaixo de 32 semanas ou 56 dias
de vida para os nascidos maior ou igual a 32 semanas)

• Leve: Fi02 0,21 (ar ambiente)


• Moderada: Fi02 entre 0,22-0,29
• Severa: Fi02 maior ou igual a 0,30 ou em pressão positi-
va contínua ou em ventilação mecânica

Paulo R. Margotto
Assistência ao Recém-Nascido de Risco

Displasia Broncopulmonar Atípica promoção da DBP, os RN de maior risco para apresentar DBP
foram àqueles expostos a corioamnionite e a ventilação mecâni-
Na classificação da displasia broncopulmonar, deve incluir a ca acima de 7 dias (OR de 3,2; IC a 95%: 0,9-11) ou a infecção
Displasia broncopulmonar atípica que se caracteriza por descon- pós-natal (OR de 2,9; IC a 95%:1,1-7,4). Ou seja: a infecção pré-
forto agudo, período assintomático e depois necessidade de oxi- natal ou a inflamação reduz o risco de DBP somente se o RN pré-
gênio suplementar até no mínimo 28 dias de vida. termo não for ventilado por vários dias ou não apresentar sepse.
Muitos bebes pré-termos não desenvolvem a doença da mem- A corioamnionite isolada protege da DBP, mas corioamnionite
brana hialina, no entanto, vão apresentar displasia broncopulmo- juntamente com a ventilação mecânica prolongada parece ser
nar. Por quê? Qualquer infecção neonatal é uma parte da expli- pior do que a ventilação mecânica isolada. A duração da ventila-
cação do que ocorre. ção mecânica é o marcador da efetividade da corioamnionite em
O estudo de Charafeddine e cl teve como objetivo determinar, reduzir o risco da displasia broncopulmonar.
na era pós-surfactante, a incidência e características clínicas dos Uma vez que a ventilação mecânica é iniciada, estudos em
RN com displasia broncopulmonar atípica, chamada displasia animais indicam que a inflamação é inevitavelmente iniciada.
broncopulmonar do “desenvolvimento” (ocorre sem doenças da Esta inflamação é caracterizada pela ativação de granulócitos
membrana hialina prévia ou após a melhora da doença da mem- e macrófagos que atingem a via aérea, havendo produção de
brana hialina) versus os RN com displasia broncopulmonar clás- mediadores pró-inflamatórios (interleucinas 6 e 8 e TNF-alfa) pe-
sica (o RN requer suplementação de oxigênio desde o nascimen- las células e tecidos pulmonares. Este processo inflamatório é
to até 28 dias de vida), entre 232 RN com peso ao nascer menor evidente dentro de horas após o início da ventilação mecânica
que 1251g ao nascer. Entre os 177 RN que sobreviveram aos 28 em ovelhas prematuras, podendo esta inflamação persistir por
dias, os autores relataram que 27 RN (15%) apresentaram displa- semanas. Os pulmões destas ovelhas apresentaram completa
sia broncopulmonar do “desenvolvimento”. Entre estes RN com parada de septação alveolar e impressionante inibição do desen-
displasia broncopulmonar atípica, 4% não apresentaram doença volvimento vascular.Estas alterações ocorreram tanto na venti-
da membrana hialina e requereram suplementação de oxigênio lação com alto volume corrente, como na ventilação com baixo
com 6 ou mais dias de vida e subseqüentemente desenvolve- volume corrente.O conceito corrente é que os mediadores pró-
ram um RX de tórax anormal; 11% recuperaram-se da doença da inflamatórios interferem com a septação alveolar.
membrana hialina, permaneceram em ar ambiente por 72 horas, Muitos RN recebem ventilação mecânica ma sala de parto de
mas requereram oxigênio até 28 dias de vida e apresentaram um maneira não controlada. Nos EUA, a taxas de intubação na sala de
RX de tórax anormal. Segundo Jobe, clinicamente, muitas vezes, parto varia de 15 a 75% entre os RN de 5001 a 1000g (interessan-
não diagnosticamos pneumonia em recém-nascidos de muito te que nos Centros em que ocorre mais intubação, a incidência de
baixo peso ao nascer, (ou tem doença da membrana hialina ou displasia broncopulmonar é maior). O uso do CPAP nasal precoce
tem pulmões normais e estes, provavelmente foram expostos à permite o pulmão fazer a transição da vida intrauterina para a ex-
inflamação). Estes não vão ter pneumonia, porque se acredita tra-uterina sem iniciar a resposta pró-inflamatória, embora sejam
250 que eles aprenderam a suprimir a resposta inflamatória. necessários mais estudos para esta confirmação.
O uso de ventilação com altos volumes correntes sem PEEP ou
Patogênese com PEEP muito altas resultou em volubarotrauma (volutrauma)
e com conseqüente iniciação da resposta inflamatória.
O Papel Das Citocinas Pró-Inflamatórias Se um RN necessita de ser entubado, devemos sempre nos
perguntar: quais são os objetivos da ventilação. Aceitar PaC02 en-
As citocinas pró-inflamatórias promovem o amadurecimento tre 50-55 mmHg (hipercapnia permissiva) é uma forma de ven-
pulmonar por um efeito direto no trato respiratório em desenvol- tilar estes RN menos agressivamente, além do papel protetor da
vimento, atuando como sinalizadoras durante o desenvolvimento hipercapnia sobre o dano pulmonar.
pulmonar. A corioamnionite modifica o perfil da resposta do pul- A estabilidade alveolar inadequada e atelectasias (atelectrau-
mão do pré-termo quando este receber um segundo estímulo, ma: perda do recrutamento alveolar) assim como o volutrauma
principalmente a ventilação mecânica, 02 e sepse pós-natal. Es- são grandes causas de injúria pulmonar. O recrutamento de vo-
tas respostas são acompanhadas de um aumento da expressão lumes pulmonares protege contra a injúria induzida pela ventila-
de citocinas pró-inflamatórias (IL-6, IL-8, IL-1- β). Bohrer e cl evi- ção, além de reduzir a necessidade de altas Fi02. A maior causa
denciaram aumento de citocinas pró-inflamatórias com 2 horas da injúria induzida pela ventilação é a distensão regional de alvé-
de ventilação mecânica (interleucina 1-8, 2 vezes; interleucina olos ou de vias aéreas. O aumento excessivo de volume e não de
1-β 7,5 vezes; TNF-α, 10 vezes e diminuição da interleucina-10, pressão é que promove a injúria. Altos volumes correntes causam
interleucina antiinflamatória, em 90%). O pulmão inflamado pode danos ao endotélio dos capilares pulmonares, ao epitélio alveolar
liberar mediadores inflamatórios para a circulação sistêmica. e de vias aéreas e as membramas basais, causando extravasa-
A infecção pré-natal ou a inflamação reduz o risco de displasia mento de flúidos, proteínas e sangue para as vias aéreas, alvé-
broncopulmonar, mas somente se o recém-nascido não for ven- olos e interstício. Assim, há interferência na dinâmica pulmonar,
tilado por vários dias ou não apresentar sepse. O conhecimento inibição do surfactante e promoção da inflamação pulmonar.
dos eventos pré-natais é importante para que se possa minimi- Medidas na prevenção do atelectrauma podem restabelecer e
zar a agressão pulmonar na fase inicial da vida destes recém- manter a capacidade funcional residual, reduzindo assim o risco
nascidos pré-termos extremos, evitando assim a ocorrência da de uma injúria pulmonar aguda causada pelo atelectrauma. Entre
displasia broncopulmonar. estas medidas citamos, o uso do CPAP nasal precoce para evitar
a ventilação mecânica, já na sala de parto e o uso do CPAP nasal
Ventilação Mecânica/Surfactante/CPAP Nasal Precoce após a terapia com o surfactante. Estudos animais evidenciam
que os pulmões de animais tratados com CPAP tiveram menor
O preditor dominante para o desenvolvimento da DBP é o uso quantidade de células inflamatórias do que os pulmões de ani-
da ventilação mecânica durante o primeiro dia. Segundo van mais ventilados (a ventilação de ovelhas pré-termos a partir do
Marter, o risco de DBP aumenta em 13,4 vezes. No estudo de nascimento inicia a resposta inflamatória, caracterizada pelo re-
2002 conduzido por van Marter e cl, avaliando a interação da co- crutamento de neutrófilos aos pulmões, aumento do peróxido de
rioamnionite com a ventilação mecânica e sepses neonatal na hidrogênio e a expressão de citocinas pró-inflamatórias. O uso do
Capitulo 07 Distúrbios Respiratórios

CPAP resulta em menores indicadores de lesão pulmonar aguda ção definitiva do efeito benéfico do CPAP nasal precoce na DBP e
nas primeiras 2 horas de vida. O número de linfócitos e monócitos no desenvolvimento neurológico destes RN.
nos lavados alveolares foram equivalentes aos encontrados nos la- Resultados semelhantes foram observados por Klerk e Klerk
vados alveolares dos RN não ventilados (os RN ventilados tiveram na Nova Zelândia. Estes autores estudaram 116 crianças com
6,6 vezes mais neutrófilos nos lavados alveolares do que os RN de peso entre 1000-1499g ao nascer, comparando dois períodos
ovelhas sob CPAP). A maior PaC02 e acidose respiratória associada que diferiram quanto ao uso do CPAP nasal precoce com bor-
ao CPAP pode minimizar a inflamação (maiores níveis de PaC02 bulhamento como proposto por Wung, do Columbia. Os autores
têm efeitos protetores nos pulmões ventilados). Portanto, o CPAP observaram os seguintes resultados: 65% versus 14% quanto ao
nasal pode diminuir a ocorrência de DBP pela diminuição da ven- número de RN ventilados; 6 dias versus 2, quanto aos dias de
tilação mecânica que é o principal fator para o desenvolvimento ventilação; 11 x 0% quanto à doença pulmonar crônica aos 28
da doença. O CPAP protege da via aérea da injúria mecânica e da dias de vida. Inclusive os autores relataram diminuição do uso do
colonização bacteriana relacionada com o tubo endotraqueal. suporte vasopressor (34% para 7%), incidência da enterocolite
O surfactante pulmonar é uma ferramenta de recrutamento necrosante (11% para 0%), tempo para alcançar a dieta plena
alveolar que quando usado precocemente parece reduzir a in- (17,3 para 13,2 dias) e dias de internação (61 para 52,9 dias).
júria pulmonar (o surfactante, em estudos animais, protege os Segundo os autores, estes resultados devem ser interpretados
pulmões da injúria induzida pela ventilação). Quando um RN com cuidado, mas a falta do aumento de qualquer morbidade
prematuro de coelho respira espontaneamente, os pulmões per- não respiratória sugere que estudos prospectivos com estratégia
manecem virtualmente não aerados e o pequeno volume de ar baseada no CPAP podem ser feita com segurança sem aumento
que entra com a inspiração é expelido quase que totalmente na dos riscos complicações adversas não respiratórias.
expiração. Uma adequada capacidade funcional residual que é Morley C e cl investigaram se o CPAP nasal ou a intubação e
essencial para a respiração normal, não pode ser estabelecida. ventilação logo ao nascer reduziriam a taxa de mortalidade ou de
A necrose e descamação do epitélio bronquiolar aparecem logo DBP em prematuros extremos (ensaio COIN:CPAP Ou Intubação).
após o nascimento. A ventilação mecânica acelera e agrava os Seiscentos e dez recém-nascidos (RN) com idade gestacional (IG)
danos. Quando o pulmão é lesado com ou sem ventilação, há entre 25-28 semanas foram envolvidas aleatoriamente para CPAP
um influxo de proteínas para o espaço alveolar que inativa o ou intubação e ventilação no 5º minuto de vida. Os resultados foram
surfactante alveolar. O pulmão pode ser lesado pela ventilação acompanhados com 28 dias, 36 semanas de IG e antes da alta.
mecânica quando a insuflação excede a capacidade pulmonar Com 36 semanas de IG 34% dos 307 do grupo CPAP tinham
total ou quando o pulmão é ventilado com baixo volume, abaixo morrido ou apresentavam DBP comparados com 39% do grupo in-
da capacidade funcional residual e isto pode ser prevenido pela tubação/ventilação (Odds ratio favorecendo o CPAP, 0,8; 95% de
aplicação de uma pressão positiva no final da expiração. intervalo de confiança, 0,58-1,12; p=0,19). Com 28 dias havia um
Ensaio multicêntrico randomizado e controlado realizado por risco menor de morrer ou de precisar de oxigênio no grupo CPAP
Thomson estudou o uso do CPAP nasal precoce combinado com (Odds ratio, 0.63; 95% CI, 0,46-0,88; p=0,006). Houve uma pe-
administração profilática de surfactante (237 RN, 27 a 29 sema- quena diferença, principalmente na mortalidade. No grupo CPAP 251
nas de idade gestacional) com o objetivo de avaliar a eficácia e 46% foram intubados nos primeiros 5 dias de vida e a necessidade
segurança no manejo do RN com risco de doença da membrana de surfactante foi a metade em relação ao outro grupo. A incidên-
hialina. Os autores observaram menor necessidade de ventilação cia de pneumotórax foi de 9% no grupo CPAP e 3% no outro grupo
mecânica no grupo que recebeu surfactante profilático e CPAP na- intubação/ventilação (p<0,001). Não houve outros efeitos adver-
sal precoce e que o aumento da idade gestacional e o uso profi- sos sérios. O grupo CPAP teve menos dias de ventilação.
lático do surfactante pulmonar estiveram associados com menor Em RN com 25-28 semanas de IG o CPAP precoce não diminuiu
duração da ventilação mecânica, mas, no entanto não houve di- significativamente a taxa de morte ou de DBP quando comparado
ferença significativa entre os grupos quanto à dependência de 02 com o grupo intubado. Embora o grupo CPAP tivesse maior inci-
aos 28 dias ou com 36 semanas de idade pós-concepcional. O dência de pneumotórax, poucos RN recebiam 02 aos 28 dias e
autor conclui que a DBP é uma condição complexa que resulta da este grupo usou menos dias de ventilação.
interação de muitos fatores. Assim, mais estudos sobre estes fato- Como a ventilação pode lesar os pulmões foi aventada a hipó-
res são necessários para prevenções futuras e tratamento da DBP. tese de que ao se evitar a intubação poderia se diminuir a DBP,
O acesso a um modelo experimental animal para a avaliação do cuja incidência vem aumentado mesmo contra todos os esfor-
CPAP nasal permitirá que estas estratégias sejam desenvolvidas. ços. Estudos observacionais tem sugerido que o tratamento com
Narendran e cl avaliaram a aplicação precoce do CPAP nasal CPAP durante a reanimação é possível e que isto poderia diminuir
com coluna d´água (borbulhamento) na sala de parto em RN de a taxa de intubação e de DBP, sem aumento da morbidade, mes-
alto risco para o desenvolvimento de DBP, isto é, RN abaixo de mo em bebês > de 25 semanas de IG.
1000g. Os resultados respiratórios foram comparados com um pe- Segundo Morley C, em sua Conferência no Rio de Janeiro, em
ríodo anterior, em que o CPAP nasal foi introduzido um pouco mais 2008: o que aprendemos como este ensaio? RN muito prematu-
tarde. Neste estudo foi observado que o uso do CPAP nasal por ros, 25-26-27-28 semanas podem ser tratados com CPAP desde o
borbulhamento, utilizando sistema semelhante ao do Dr. Jen-Tien nascimento. Metade vai falhar. Se fosse eu, não preferiria intubar,
Wung do Columbia, foi associado com uma diminuição significati- a menos que precisasse, O grupo CPAP teve resultados semelhantes
va da intubação na sala de parto, do uso de esteróide pós-natal ou melhores que os RN intubados em vários aspectos, com exceção
e dias de ventilação mecânica, quando comparado com o grupo do pneumotórax. O pneumotórax pode inclusive ter um tratamento
histórico (59,8% x 31,6 quanto à intubação na sala de parto; 28 x expectante (consulte o capítulo Drenagem Torácica).
13 dias quanto à média de dias em ventilação mecânica; 4 x 16 No momento, é importante ter o conceito de que a ventilação
dias quanto à média de dias em CPAP; 42,4 x 13,9% quanto ao leva a injúria pulmonar inevitavelmente. O início da ventilação é a
uso de esteróide pós-natal No entanto, a dependência de 02 com chance que tem o clínico de lesar o pulmão do pré-termo. É me-
36 semanas de idade pós-concepção não se modificou. Os autores lhor ter paciência. É melhor que a respiração espontânea recrute
concluem que o uso precoce de CPAP nasal com borbulhamento, os alvéolos, mesmo à custa de uma menor Pa02 e maior PaC02
iniciando na sala de parto, é seguro, não gera gastos, sendo uma do que recrutar os alvéolos através da ventilação mecânica, pois
forma efetiva de evitar intubações na sala de parto. Mais ensaios neste caso, o dano é inevitável. Ao ventilar estes bebês, fazê-lo
randomizados e controlados são necessários para a demonstra- com o menor tempo possível e o mais gentil possível, programando

Paulo R. Margotto
Assistência ao Recém-Nascido de Risco

sempre a sua extubação: usar tempo inspiratório < 0,4 seg, usar Persistência do Canal Arterial
pressão inspiratória máxima baixa, oferecer uma PEEP um pouco
mais alta (5cm H2O), usar volumes correntes baixos (4 -5ml/kg), A persistência do canal arterial aumenta 3 a 4 vezes mais o
aceitar Pa02 entre 50 e 70mmHg, aceitar PaC02 de 50-55mmHg risco de DBP, devido ao aumento do fluxo sanguíneo pulmonar
(pH de 7,2) a chamada hipercapnia permissiva (RN pré-termo com havendo necessidade de maiores parâmetros no ventilador. Os
PaC02 menor que 29mmHg tem um risco de 5,6 vezes maior de RN sépticos com canal arterial pérvio apresentam o risco de 30
apresentar DBP, além do maior risco de leão isquêmica cerebral). vezes maior de apresentar DBP (estes RN apresentam pobre res-
É importante ter em mente que o objetivo da ventilação não é uma posta a indometacina devido ao maior nível de prostaglandinas).
gasometria arterial normal O uso da ventilação sincronizada dimi-
nui o barotrauma, a depressão cardiovascular, a diminuição da flu- Edema Pulmonar
tuação da pressão arterial e facilita a retirada do RN do respirador.
O desmame da ventilação deve ser iniciado tão logo a venti- Estes RN têm predisposição para acúmulos de flúidos no pul-
lação é iniciada e a função respiratória é estabelecida. Além do mão. As alterações funcionais na resistência vascular pulmonar,
mais, segundo Aly H, cada 10 dias de terapia ventilatória associa- pressão oncótica plasmática e permeabilidade capilar favorecem
se com um aumento de 20% na incidência paralisia cerebral. As- o acúmulo de líquido extravascular. Há uma associação entre
sim, é necessário que o RN saia o mais rapidamente possível do ingesta hídrica mais liberal e DBP; maior ingesta hídrica causa
respirador, limitando assim a progressão para a DBP e evitando abertura do canal arterial com conseqüente edema pulmonar,
desabilidades a longo prazo. ocasionando maior necessidade de suporte ventilatório
É importante que, ao ventilar estes recém-nascidos, que o fa-
çamos com o menor grau possível de agressão pulmonar, como Cursos Múltiplos De Esteróide Pré-Natal (>=3Cursos)
ventilando com o conhecimento do volume corrente administrado
(5ml/kg) e PEEP adequada com base no conhecimento da patolo- Banks e cl relataram maior risco de displasia broncopulmonar
gia em curso. Não basta apenas intubar o nosso bebê e seguir o severa e precoce (OR= 3,3 – p < 0,001) no RN cujas mães re-
que se preconiza em toda ventilação mecânica para recém-nasci- ceberam mais do que 3 cursos de esteróide pré-natal, além de
do. A abordagem destes bebês deve ser iniciada na Sala de Parto, maior risco de morte (OR= 3,2 – p < 0,003). A supressão adre-
não permitindo que recebam ventilação com altos volumes corren- nal por múltiplos cursos pode ter contribuído, uma vez que há
tes e PEEP zero (uso de ambus!), pois são estes bebês que não evidências, a partir dos estudos de Watterberg e cl, que menor
vão responder ao surfactante e que exigirão maiores parâmetros nível sérico de cortisol nos primeiros dias de vida associa-se com
ventilatórios. Enfatizamos que a forma de melhor fazer a transição aumento de interleucinas (1 beta e 8) e persistência do canal
da vida intrauterina para e extra-uterina sem promover a resposta arterial, ambos os fatores altamente associados à DBP.
pró-inflamatória pulmonar é o uso do CPAP nasal logo ao nascer.
Tratamento/Prevenção
252 Infecção Intrauterina/Nosocomial
• Esteróide pré-natal: o uso do corticosteróide pré-natal
A infecção intrauterina/nosocomial aumenta 3 vezes mais o ris- (um curso: 12mg de betametasona 24/24 horas, duas
co de DBP. A inflamação é fundamental na DBP. Muitos fatores pró- doses) previne a ocorrência da doença da membrana hia-
inflamatórios e quimiotácticos estão presentes no espaço aéreo de lina, assim como a resposta melhor ao surfactante, dimi-
animais prematuros ventilados e os mesmos fatores são achados nuindo a necessidade de ventilação mecânica; também
em elevadas concentrações em crianças que posteriormente irão aumenta as enzimas antioxidantes do pulmão.
desenvolver DBP. Fatores inflamatórios como a proteína inflama- • Uso de cafeína(iniciar já no primeiro dia, mesmo no
tória dos macrófagos e interleucina-8 (IL8) persistem no espaço CPAP nasal): No estudo multicêntrico internacional de
aéreo, enquanto citocinas contrarreguladoras como a IL-10 podem Schmidt e cl, a cafeína reduziu de maneira significativa
diminuir, resultando num processo inflamatório desregulado e per- a displasia broncopulmonar na idade pós-concepção de
sistente. RN expostos a infecção/inflamação pré-natal ou coloni- 36 semanas (OR: 0,63; IC a 95%:0,52-0,76) (36% no gru-
zação fetal por Ureaplasma urealyticum têm indicadores pró-infla- po cafeína versus 47% no grupo placebo), assim como
matórios no espaço aéreo ao nascer. Células inflamatórias estão a patência do canal arterial (foi reduzida de maneira
presentes no espaço aéreo e no interstício e ainda as células epite- substâncial de 40% para 30%- OR:0,62;IC a 95% 0,53-
liais pulmonares podem sintetizar mediadores inflamatórios. Been 0,82). Interessante o efeito sobre o fechamento cirúrgico
e cl evidenciaram que a exposição pré-natal à inflamação alterou do canal arterial, foi mais eficaz do que a indometacina
a resposta à administração de surfactante pós-natal. A corioam- profilática (13% do grupo placebo versus 5% no grupo da
nionite histopatológica com envolvimento fetal foi associada com cafeína). Em termos econômicos, o uso de cafeína para os
maior exigência de Fi02 após surfactante, além de maior tempo em RN abaixo de 1250g, há uma redução atraente dos custos
ventilação mecânica, sugerindo que estes RN possam necessitar no seguimentos entre 18-21 meses. Segundo Schimidt, o
de maiores doses de surfactante. É importante que saibamos ra- s efeitos da cafeína encontrados neste estudo poderiam
ciocinar o que ocorreu antes de recebermos o bebê às mãos. Pre- ser estendidos a teofilina. Os efeitos sobre os receptores
cisamos dos dados pré-natais para interpretar o que pode ocorre de adenosina são iguais tanto usando a cafeína como te-
depois. A variável pré-natal é importante. Guarde como reflexão. ofilina. O efeito da cafeína na freqüência da apnéia é com-
Quantos de nós solicitamos a histologia da placenta? Na sala de parável a teofilina. Neste estudo, a cafeína oral também
parto, minimizar a ocorrência da agressão pulmonar. Pensar no foi usada, quando possível. Doses: 20 mg/kg EV de citrato
que ocorreu no período pré-natal que pode estar criando a opor- de cafeína-10mg/Kg de cafeína base) e manutenção de
tunidade do RN ter a DBP, não importando o tipo de ventilação 5mg/Kg (2,5mg/Kg/dia de cafeína base). Consulte o capí-
que usamos, seja convencional, seja de alta freqüência. O uso do tulo Apnéia da Prematuridade
CPAP na fase inicial da vida, como já referimos, é a melhor forma • Terapia de reposição precoce de surfactante pulmonar:
de fazer a transição da vida intrauterina para a extra-uterina sem a (consulte o capítulo Surfactante Pulmonar)
produção da resposta inflamatória.
Capitulo 07 Distúrbios Respiratórios

• Ventilação de alta freqüência: a maioria dos estudos em • Tratar o canal arterial persistente: consulte o capítulo
animais demonstrou menos lesão pulmonar e melhor troca Persistência de Canal Arterial.
gasosa na presença de vazamento de ar, melhora de oxige- • Diagnosticar e tratar precocemente a infecção: consul-
nação. Em RN, a comparação destes estudos com ventila- te capítulo Infecções Bacterianas
ção convencional e ventilação de alta freqüência não foram • Diuréticos: A análise de 14 estudos com furosemide, 8
tão conclusivos como nos animais. Há uma grande variação usando via sistêmica e 6 via inalatória, não evidenciou
de conclusão entre os estudos. Não é muito confortável em eficácia com o furosemide de uso sistêmico em RN com
termos de medicina baseada em evidências. Quanto aos DBP abaixo de 3 semanas de idade. Em outras crianças,
desfechos neurológicos são mais preocupantes: alguns há uma melhora transitória na mecânica pulmonar e após
estudos mostram aumento de hemorragia intraventricular uma semana, melhora também na oxigenação. São neces-
e leucomalácia periventricular. Uma clássica metanálise sários mais estudo que demonstrem efeitos a longo prazo,
não mostrou diferença entre os estudos para hemorragia como sobrevivência, duração da oxigenação, duração da
intracraniana. Em 2002 temos dois grandes estudos, o de dependência do ventilador, duração da internação. Quanto
Johnson e cl e o de Courtney e cl com conclusões diferentes ao furosemide inalatório, não há espaço para o seu uso
(aparelhos diferentes, diferentes gravidade dos pacientes, na prática clínica atual (os dados são muito limitados). O
tempo de ventilação). A metanálise da Cochrane realizada uso da associação hidroclorotiazida + espironolactona não
por Henderson-Smart DJ, Cools F, Bhuta T, Offringa M, em mostrou melhora na função pulmonar, além de não reduzir
2007, utilizando diferentes estratégias, não mostrou dife- o requerimento de suplementação de potássio. A inefeti-
renças na hemorragia intracraniana, no desenvolvimento vidade da espironolactona, um antagonista da aldostero-
neurológico e sem melhoria na DBP, quando a VAF foi usada na, em preservar o potássio, pode estar relacionado ao
como estratégia inicial. desenvolvimento renal destes pequenos prematuros. A
• CPAP nasal precoce (Consulte o capítulo Uso do CPAP função renal no prematuro antes de 34 semanas é limi-
nasal) tada durante semanas pós-natal. A hiponatremia da pre-
• Retirar o mais precoce possível do respirador maturidade pode ser devida à resposta parcial do nefron
• RN com peso ao nascer < 1000g: Vitamina A na dose distal a aldosterona (a função da aldosterona é aumentar
de 5000UI intramuscular 3 vezes por semana por 4 se- a reabsorção de sódio e excretar potássio). A espirono-
manas: a suplementação com Vitamina A tem sido asso- lactona age somente na presença de aldosterona. Se o
ciado com redução da morte ou dependência de oxigênio nefron distal não reponde a aldosterona, especula-se que
com 1 mês de vida (RR= 0,93; IC 95%: 0,88-0,99) e a este também não reponde ao antagonista da aldosterona,
necessidade de suplemtação de oxigênio na idade pós- resultando assim, numa perda de potássio.
concepção de 36 semanas (RR=0,87; IC 95%:0,77-0,99)
nos RN com peso menor que 1000g. Os dados sugerem Os diuréticos devem ser reservados para casos de edema pul-
uma tendência a menos retinopatia da prematuridade. monar (o furosemide diminui o edema pulmonar, diminuindo a 253
Os benefícios do uso de Vit. A endovenoso versus intra- resistência vascular pulmonar: furosemide:1m/kg/dia). Ao usar o
muscular necessitam de comprovação. Apresentação: diurético, analise a resposta. Não havendo resposta, suspender.
Aquasol AR - 50.000 UI/ml (proteger da luz ; estocar na As complicações da terapêutica diurética são: hipocalemia, hipo-
temperatura entre 2 e 8oC, não congelar). natremia, alcalose metabólica, hipercalciúria, nefrocalcinose, rea-
• Redução de fluido pulmonar: os RN com DBP toleram mui- bertura do canal arterial. O uso prolongado de hidrocolotiazida as-
to mal uma ingesta normal ou exagerada de líquidos, devido sociado com espironolactona aumenta o risco de nefrocalcinose.
ao aumento do edema pulmonar e piora do quadro respira-
tório. Iniciar, para os RN com peso abaixo de 1000g, taxa • Óxido nítrico: Segundo Ann R. Stark, em Editorial ao New
hídrica de 70mg/kg/dia. Manter estes RN em isolete umi- England Journal Medicine (2006), em muitos RN pré-ter-
dificada (umidade de 90-95%, inicialmente), principalmente mos com peso extremamente baixo, o NOi parece não
nos primeiros 7 dias de vida (os RN em isolete umidificada melhorar a sobrevivência ou a displasia broncopulmonar.
necessitam de menor aporte hídrico e apresentam menos Uma vez que este tratamento pode estar associado com
hipernatremia, hipercalemia e azotemia). lesão cerebral ou aumento da mortalidade em alguns
• Nutrição: a má nutrição arrasa o crescimento somático grupos, não é recomendado o seu uso nos recém-nas-
e o desenvolvimento de novos alvéolos, tornando o des- cidos pé-termos. Os dois ensaios clínicos publicados no
mame da ventilação mecânica menos provável. Frente N Eng J Med do dia 27/7/2006 sugerem benefícios aos
a um suporte nutricional inadequado existe pequena RN menos criticamente doentes, mas permanecem vá-
possibilidade de que ocorram reparo funcional efetivo e rios questionamentos, como: a dose efetiva, a duração,
reposição de células lesadas, ou que a síntese de defe- o tempo do início do tratamento e a seleção de RN que
sa antioxidante e o crescimento pulmonar normal con- mais se beneficiariam. O achado do estudo de Kinsella e
tinuem. Para o RN com peso ao nascer <1000g, iniciar cl de não progressão e talvez redução do risco de anor-
aminoácido nas primeiras 12-24hs de vida com 1 a 1,5g/ malidades no ultra-som craniano é promissor; a patoge-
Kg/dia endovenoso. A taxa de infusão de glicose deve ser nia da lesão cerebral é complexa e os RN de extremo bai-
4-6mg/Kg/min (aceitar glicemias maiores). Iniciar a dieta xo peso com ultra-sons cranianos normais permanecem
enteral tão logo as condições cardio-respiratórias permi- em alto risco para paralisia cerebral e atraso do desen-
tam. As necessidades energéticas de um RN com DBP volvimento mental.
são 25% superiores as de um RN normal, em decorrência
do aumento do trabalho respiratório. Assim é necessário O estudo multicêntrico europeu recente (36 Centros em 9 paí-
o uso do leite humano suplementado com o objetivo de ses) conduzido por Mercier e cl, envolvendo 800 RN entre 24 e 28
ofertar maior aporte protéico-calórico (no máximo 3,5- semanas e 6dias, o uso do NOi iniciado precocemente e usado por
4g/kg/dia de proteína).Consulte o capítulo Nutrição Pa- 7-21 dias, não melhorou a sobrevivência sem displasia broncopul-
renteral e Nutrição Enteral monar ou lesão cerebral.

Paulo R. Margotto
Assistência ao Recém-Nascido de Risco

Sosenko e Bancalari comentaram que os clínicos, a partir des- cerebral (29% x 7%) no RN exposto ao esteróide pós-natal. Aos 2
te estudo multicêntrico, não podem tomar uma decisão com base anos, Yeh e cl relataram maior incidência de significante atraso no
na evidência. Embora o NOi possa ser promissor em subgrupos desenvolvimento neurocomportamental (40% x 31%) e disfunção
específicos, mais trabalhos ainda são necessários para definir a neuromotora (24% x 17%) no RN exposto aos esteróides versus
ótima dose e duração, a população alvo em termos de maturidade, placebo. Shinwell e cl relataram aos 4,4 anos, maior incidência
severidade da doença, raça e idade no momento do envolvimento de paralisia cerebral (49% x 15%) no RN exposto aos esteróides
O follow-up a longo prazo é essencial, principalmente pelos en- com início na idade de 12 hs de vida versus os controles (OR=
sinamentos que tivemos com o uso da dexametasona pós-natal 4,62; 95% IC= 2,38-8,98) sendo a diplegia espástica a forma
(esta mostrou benefícios a curto prazo, mas aumentou o risco de mais comum de paralisia cerebral. O atraso no desenvolvimento
deficiência neurocomportamental posteriormente). foi significativamente maior no grupo da dexametasona (OR= 2,0;
Ao usarmos NOi, estamos usando uma das drogas disponí- 95% IC= 1,53–5,38). Houve mais leucomalácia periventricular e
veis mais caras na UTI Neonatal (3000 dólares/dia e acima de hemorragia intraventricular no grupo da dexametasona, embora
12.000 dólares por um período de 30 dias), sendo difícil justificar não significativo. Com 18-22 meses, Stark e cl relataram índice
o seu uso até que os seus benefícios sejam provados. de retardo mental < 70 em 51% do RN expostos aos esteróides
Portanto, para a obtenção do sim para o uso do NOi nos RN pós-natal versus 43% dos controles.
pré-termos, são necessários mais dados, especialmente do Metanálise destes estudos de follow-up (O’Shea e cl, Yeh e cl e
follow-up a longo prazo dos RN dos dois ensaios discutidos, o de Shinwell e cl) evidenciou significância na OR para a ocorrência de
Kinsella e cl e o de Ballard e cl. paralisia cerebral ou um exame neurológico nos RN expostos aos
No momento, o uso do NOi em prematuros para prevenir a DBP esteróides pós-natal (OR= 4,86; IC 95%: 2,73-8,65; OR= 3,88; IC
só deve ser utilizado como parte de um estudo controlado rando- 95%: 2,42-6,23). Para cada 3 a 4 RN sobreviventes, 1 apresenta-
mizado e com consentimento informado dos pais e com capaci- rá um deficiente desenvolvimento neurológico.
dade de avaliação neurológica a longo prazo. Murphy e cl relataram redução de 35% do volume da subs-
tância cinzenta cortical nos RN tratados com dexametasona
• Esteróides: Os corticosteróides constituem uma das em comparação aos RN tratados com dexametasona (foram
mais potentes classes de drogas usadas na medicina pe- estudados 7 RN no grupo da dexametasona e 11 RN não tra-
rinatal e constituem uma das mais controversas medica- tados, com idade gestacional entre 23 e 31semanas e 11RN a
ções nas Unidades de Cuidados Intensivos Neonatais. Os termo, com idade gestacional entre 38 e 41 semanas). Os RN
neonatologistas gostam de resultados e os corticosterói- com evidência de lesão na substância branca foram excluídos,
des têm imediatos efeitos fisiológicos na função pulmo- devida aquela estar associado com deficiente desenvolvimento
nar do RN, pré-termo que é clinicamente aparente (até da substância cinzenta a termo.
os pais notam). Barrington, a partir de metanálise de 8 estudos compreenden-
do 1052 RN, concluiu que o RR (Risco Relativo) para paralisia
254 Na corticoterapia pós-natal no RN pré-termo com doença pul- cerebral associado ao uso do esteróide pós-natal foi de 2,86 (IC
monar progressiva, termos as seguintes perguntas: a 95%: 1,95-4,19) e o RR para distúrbio neurológico foi de 1,66
(IC a 95%: 1,26-2,19). O número de prematuros que necessita de
1. Em que momento o esteróide deveria ser uma opção ser tratado para ter uma criança com paralisia cerebral é 7 e para
viável de tratamento? ter deficiente desenvolvimento neurológico é 11.
2. Qual corticosteróide deveria ser usado? O esteróide também diminui o nível de osteocalcina plasmática
3. Qual seria a dose a ser administrada? e a densidade mineral do fêmur. Com o uso da dexametasona,
4. Qual a duração da terapia? Shrivastava e cl evidenciaram que o uso da dexametasona foi
associado, em comparação ao pré-tratamento, com a quedas na
Os efeitos adversos podem ocorrer em dias a semanas ou até absorção do cálcio e retenção do cálcio e fosfato. Concluem os
1-2 anos. Os corticosteróides na medicina perinatal seriam com- autores que o início do esteróide é associado com rápida e signi-
parados a mísseis teleguiados (não se sabe onde e como vão ficante queda na velocidade de crescimento, absorção de cálcio
cair) segundo Jobe. e retenção de cálcio e fósforo nestes RN com DBP.
Ensaios clínicos randomizados com o uso precoce de esterói- Segundo Jobe, a dose da dexametasona (0,5mg/kg) que usamos
de pós-natal para a prevenção da displasia broncopulmonar têm é muito maior que a taxa de secreção fisiológica de cortisol (15-20
evidenciado aumento nas taxas de prognósticos adversos nos RN vezes maior à secreção fisiológica estimada de cortisol nos RN: a
que receberam esteróide versus aqueles RN que não receberam. produção basal de cortisol nas 24 hs é por volta de 0,5mg no RN
O uso do esteróide pós-natal aumentou de 43%, em 1990, pré-termo com peso de 1000g e em condições de estresse 1,5mg/
para 84% entre 1993 e 1995. As taxas de paralisia cerebral mos- dia). A dexametasona tem uma longa vida média no plasma além de
traram um aumento de 10% para 16% e a taxa de função cogniti- conter sulfetos que são potencialmente tóxicos ao cérebro.
va subnormal aumentou de 20% para 48%. Enquanto, precisamos aprender as lições do passado, ser me-
Há evidências cada vez maiores que os esteróide pós-natais nos invasivos, usar mais precocemente o CPAP e diminuir o máxi-
são associados com complicações, tanto a curto como a longo mo a intubação nos RN que recebem surfactante na sala de parto.
prazo. A curto prazo: hemorragia gastrintestinal e perfuração in- A Academia Americana de Pediatria e a Sociedade Canadense
testinal requerendo cirurgia. Garland e cl, utilizando um curso de de Pediatria recomendam: o uso rotineiro de dexametasona sistê-
3 dias de dexametasona na prevenção da DBP, relataram alta mica para profilaxia e o tratamento da DBP não é recomendado,
incidência de perfuração intestinal no grupo tratado. Gordon e devendo este uso reservado para ensaios cuidadosamente dese-
cl, a partir de metanálise de ensaios randomizados com grupo nhados, duplo-cegos e controlados, tendo como objetivo final a
placebo com o uso de dexametasona precoce relataram risco sig- sobrevivência sem déficit no desenvolvimento a longo prazo. Para
nificativo de perfuração focal no intestino curto (OR=1, 91; IC a casos individuais, reservou a dexametasona para RN em circuns-
95%: 1,21-3,07-p=0, 004). Outras complicações relatadas: maior tâncias clínicas excepcionais (RN no respirador com máximo su-
incidência de sepses nasocomial, meningite e hiperglicemia. porte ventilatório) e com consentimento dos pais após informação
O estudo de O’Shea e cl de 1999, com 1 ano evidenciou maior dos riscos a curto e a longo prazo. Semelhante recomendação tem
incidência de exame neurológico anormal (45% x 16%) e paralisia sido feita pela Associação Européia de Medicina Perinatal.
Capitulo 07 Distúrbios Respiratórios

O benefício do uso de esteróides inalatórios (budesonida ou diferença na produção de IL- 4 e IL- 10. Não houve diferença na
beclometasona) tem sido demonstrado, em pequenos estudos produção de citocinas entre o grupo da hidrocortisona e o contro-
(melhora nas trocas gasosas e na mecânica pulmonar), mas os le. Não houve diferença na produção do fator de necrose tumoral
benefícios s longo prazo não são aparentes, havendo necessi- α e IL- 6 ou na composição das células periféricas sangüíneas9.
dade de mais estudos para definir o seu papel na prevenção e As crianças prematuras tratadas no período neonatal com de-
tratamento da displasia broncopulmonar. É importante frisar que xametasona apresentaram menor performance de cognição e
na nova displasia broncopulmonar não existe comprometimento desenvolvimento motor. Assim, os neonatologistas devem limitar
de vias aéreas e sim um atraso no desenvolvimento alveolar. o uso de glicocorticóides somente para situações excepcionais
Quanto ao uso de doses menores de dexametasona, Parikh NA e em doses baixas. Entretanto, em várias situações seu uso não
e cl, utilizando a ressonância magnética a termo com equivalente pode ser evitado.
idade gestacional, evidenciaram diminuição dos volumes cerebral O estudo de Karemaker R e cl (2008), mostrou, pela 1ª vez,
nos RN tratados com doses moderadamente baixas de dexame- que crianças tratadas com dexametasona no período neonatal
tasona após 28 dias de vida. (8,7% do volume tecidual cortical, tiveram o eixo hipotálamo-hipófise-adrenal afetado. Não se ob-
19,9% da substância cinzenta subcortical e 20,6% do cerebelo). servaram mudanças nas crianças tratadas com hidrocortisona.
Por causa destas publicações alarmantes, vários grupos ten- Crianças que foram tratadas com dexametasona mostraram
taram achar um corticosteróide alternativo para tratar os pré- uma diminuição significativa do cortisol durante e após exposi-
termos com DBP. ção a um teste estressante comparados a crianças tratadas com
André e cl publicaram estudo com 45 prematuros com risco de hidrocortisona no período neonatal e comparadas ao grupo con-
doença pulmonar crônica que foram tratados com metilpredniso- trole. Além disso, o nível de ACTH tende a ser menor no grupo que
lona. Esta droga tem menor ação antiinflamatória que a dexame- usou dexametasona em comparação aos outros 2 grupos.
tasona e 5x mais que a hidrocortisona. Eles tiveram aumento do Os distúrbios no eixo hipotálamo-hipófise-adrenal estão impli-
ganho de peso e diminuição na incidência de intolerância à glico- cados no desenvolvimento das dificuldades de aprendizado.
se e de leucomalácia periventricular cística, comparados com 45 Existe um aumento do risco de desenvolvimento de doenças au-
que usaram dexametasona. to-imunes após a puberdade, no grupo que fez tratamento com de-
De Castro e cl observaram que doses menores de betametaso- xametasona, portanto precisam-se de mais estudos prolongados.
na tinham a mesma ação antiinflamatória que a dexametasona, Estudos em animais (ratos) o tratamento com dexametasona re-
mas sem efeitos indesejáveis a curto prazo. sultou em severo curso de encefalomielite autoimune experimen-
No entanto, não há dados de follow-up de longo prazo destes tal, um modelo animal para a esclerose múltipla na idade adulta.
estudos usando esteróides alternativos no pós-natal. Para os humanos, significa que existe maior risco do desenvol-
Em 2003, van der Heide-Jalving M e cl divulgaram os resul- vimento de doença autoimune na idade adulta após o tratamento
tados de um estudo retrospectivo comparando a eficácia e os no período neonatal com dexametasona.
efeitos a longo prazo do tratamento neonatal com hidrocortisona Em 2006. utilizando a ressonância magnética por espectros-
e dexametasona no desempenho escolar. Não foram observadas copia, Rademaker KJ et avaliaram o metabolismo hipocampal e 255
diferenças na eficácia, mas as crianças que usaram dexametaso- a memória de curto prazo e o prognóstico neurocomportamen-
na tiveram desempenho menor dos 7 aos 10 anos comparadas tal na idade escolar das crianças que receberam hidrocortiso-
às crianças que usaram hidrocortisona. na durante o período neonatal para o tratamento da displasia
O estudo de Rademaker KJ e cl foi realizado com 226 crianças broncopulmonar. Oito crianças receberam hidrocortisona e 19,
de idade gestacional menor que 32 semanas e peso inferior a nunca receberam. Os autores relataram que a hidrocortisona na
1500 g. Aos 7 e 8 anos, elas retornaram ao Hospital por 1 dia dose usada no período neonatal não teve efeitos a longo prazo na
para fazerem vários testes. Das 226 crianças, 62 fizeram trata- memória e ou no metabolismo hipocampal. Estudos em animais
mento com hidrocortisona e 164 não fizeram tratamento. Quan- demonstraram que a dexametasona causa perda neuronal no hi-
do houve piora do padrão respiratório antes da redução da dose, pocampo e déficit de memória de curto tempo.
o tratamento com corticóide era prolongado ou repetido. O estudo de Watterberg e cl envolvendo 360 RN de peso ao
Quanto à imagem da ressonância magnética não houve dife- nascer entre 500-999g com 12 e 48 horas de vida, evidenciou di-
rença nas lesões cerebrais dos 2 grupos. A memória e a incidên- minuição significativa na mortalidade e aumento da sobrevivência
cia da paralisia cerebral também foram proporcionais em ambos sem displasia broncopulmonar nos RN expostos a corioamnionite
os grupos. Não houve diferença neurocognitiva e de performance confirmada histologicamente. Aos 18-22 meses de idade corrigida,
motora entre o grupo tratado com hidrocortisona e o não tratado. os autores12 demonstraram que o uso da hidrocortisona precoce
Karemaker R e cl, em 2008, utilizaram uma coorte retrospec- não se associou com aumento de paralisia cerebral, inclusive, os
tiva, incluídos ex-prematuros de 7 a 10 anos que foram tratados tratados apresentaram indicadores de melhor desenvolvimento.
com dexametasona e comparados com grupo tratado com hi- Rademaker KJ e cl revisaram a literatura do uso da hidrocorti-
drocortisona e grupo controle (nunca recebeu corticosteróide). A sona no tratamento da displasia broncopulmonar nos pré-termos
resposta ao estresse e o nível de ACTH foram menores no grupo com particular enfoque no seguimento destes RN. Comparando
da dexametasona em comparação aos outros grupos. O aumen- com os pré-termos não tratados com hidrocortisona, não foram
to máximo do ACTH induzido pelo estresse foi significativamente evidenciadas diferenças nos resultados neurocognitivos e moto-
menor no grupo da dexametasona. O nível do cortisol plasmático res, assim como na incidência de lesões cerebrais na ressonân-
foi significativamente menor no grupo da dexametasona durante cia magnética em um seguimento de 5-8 anos de idade. Estas
todo o período de mensuração. Não houve diferença entre o gru- crianças foram tratadas exclusivamente com hidrocortisona e
po da hidrocortisona e o grupo controle. não sofreram contaminação com tratamento posterior com dexa-
Os achados sugerem que a hidrocortisona é mais segura que a metasona. O início da hidrocortisona foi acima de 7 dias.
dexametasona para tratar prematuros com DBP. Dexametasona Há várias explicações pelas quais o tratamento com a hidro-
é 25 a 30x mais potente que a hidrocortisona. A meia-vida da cortisona pode não estar associado déficit neurológico a longo
hidrocortisona é de 8 a 12 h em contraste com a dexametaso- prazo, enquanto a dexametasona está. A dexametasona é um
na que é de 36 a 72 h, reduzindo assim, o risco de acumulação8. glicocorticóide sintético com 25-30 vazes mais ação antiinflama-
A produção de interferon (IFN- γ) foi aumentada no grupo da tória do que a hidrocortisona, a dose da hidrocortisona é muito
dexametasona em comparação aos outros grupos. Não houve menor em relação à dexametasona.No cérebro a dexametasona

Paulo R. Margotto
Assistência ao Recém-Nascido de Risco

se liga preferencialmente aos receptores de glicocorticóide e a de resgate dos RN com severa displasia broncopulmonar.
hidrocortisona, aos receptores de mineralocorticóide. Estudos A terapêutica da displasia broncopulmonar nos recém-nascidos
em animais têm evidenciado que a ativação dos receptores de de extremo baixo peso com esteróides, deve ser realizada nos ca-
glicocorticóide levou a efeitos neurológicos adversos. A vida mé- sos selecionados (recém-nascidos no respirador após 3-4 semanas,
dia da hidrocortisona é menor do que a da dexametasona, favore- necessitando de altas Fi02 e pressões). A literatura não respalda o
cendo uma menor acúmulo da medicação com a hidrocortisona. uso precoce de esteróide tanto para profilaxia como tratamento da
O agente preservativo da dexametasona é o bissulfito e este tem displasia broncopulmonar nestes recém-nascidos de risco.
mostrado ser tóxico in vitro a culturas de neurônios e in vivo aos Devido a várias publicações evidenciando o risco do compro-
cérebros de ratos de 3-5 dias de vida. metimento do neurodesenvolvimento com o uso de dexameta-
Peltoniemi e cl relataram o seguimento de 2 anos de 26 recém- sona, mesmo em baixas doses e alterações no sistema imune,
nascidos randomizados para receber hidrocortisona precoce por propiciando o desenvolvimento de doenças auto-imunes na vida
10 dias comparados com 26 RN que receberam placebo (soro adulta, a literatura acena para o uso da hidrocortisona. As ca-
fisiológico) na idade de 36 horas. Não foram detectadas diferen- racterísticas da hidrocortisona (menor dose, menor efeito antiin-
ças no status neurológico, crescimento entre o grupo que usou flamatório, não comprometimento do eixo hipotálamo-hipófise-
hidrocortisona e o grupo placebo. RN com alto risco para displa- adrenal, não contém o preservativo bissulfito lesivo ao cérebro,
sia broncopulmonar e que apresentam baixos níveis de cortisol ligação aos receptores mineralocorticoides no cérebro) podem
podem ser beneficiados com o uso precoce de hidrocortisona. explicar a ausência dos resultados adversos relatados com o
No entanto, mesmo pequenas doses de hidrocortisona pode ser uso da dexametasona. Os resultados a curto prazo com o uso da
detrimental nos RN com moderado a baixo risco de displasia hidrocortisona foram semelhantes aos da dexametasona (dimi-
broncopulmonar ou que apresentem altos níveis de cortisol ao nuição da necessidade de oxigênio, extubação), não sendo de-
nascer. Portanto, a eficácia e a segurança do tratamento pre- monstrado aumento da paralisia cerebral e comprometimento
coce com hidrocortisona são ainda controversos. Mais estudos do eixo hipotálamo-hipófise-adrenal.
são necessários com maior follow-up para confirmar a eficácia, Doyle cl, em 2006, usando doses menores de dexametasona
segurança e a falta de conseqüências adversas do tratamento (dose total de 0,89mg/kg/ em 10 dias), em pré-termos extremos
precoce com hidrocortisona (<28 semanas), depois de 7 dias de ventilação mecânica, em
Karemaker R e cl avaliaram os efeitos do tratamento neonatal comparação com o grupo controle (placebo), 60% foram retirados
com a dexametasona na resposta cardiovascular ao estresse em do respirador aos 10 dias versus 12% nos controle. Não houve
crianças na idade escolar. Na idade escolar a resposta cardio- diferenças nas taxas de mortalidade, paralisia cerebral ou da com-
vascular ao estresse foi suprimida nas crianças tratadas com binação morte ou paralisia cerebral entre os grupos. No entanto,
dexametasona, o que não ocorreu com as crianças tratadas com sem diferenças entre os grupos quanto à incidência de DBP. Em
hidrocortisona. Os autores sugerem que a hidrocortisona pode uma meta-regressão, Doyle e cl, em 2007, evidenciaram que o ris-
ser uma alternativa segura à dexametasona para o tratamento co de morte ou paralisia cerebral diminuiu no grupo de pré-termos
256 da displasia broncopulmonar do recém-nascido pré-termo. extremos que apresentam risco >65% de apresentar DBP.
Devido a evidências da segurança no RN com o uso da be- Segundo Baucalari, o problema, como tudo em medicina, foi
tametasona no pré-natal, De Castro e cl compararam o uso de que aprendemos a ir de um extremo a outro. Como foi eficiente,
baixa dose e curto período de uso da betametasona com o uso começamos a usar quase em todos e até de forma profilática (o
convencional da dexametasona. Os autores relataram que a be- estudo de Doyle e cl, usando dexametasona na primeira semana
tametasona pode aumentar a complacência pulmonar mais efe- de vida, mostrou que os benefícios não foram superiores aos efei-
tivamente do que a dexametasona, efeito semelhante ao obser- tos adversos). Isto obviamente não é forma mais adequada de se
vado com o uso da betametsona no pré-natal. Os RN recebendo fazer um tratamento, que até certo ponto, era profilático. Se usar-
betametasona tiverem menos sepse em relação aos que recebe- mos o esteróide em crianças nas quais o risco de desenvolver
ram dexametasona (10% x 32%), assim como menos leucomalá- DBP é mais baixo, vamos aumentar o risco de paralisia cerebral
cia periventricular (0% x 7%), embora não houvesse diferenças e óbito, pois estamos administrando um medicamento que tem
significativas entre os dois grupos quanto a estes achados. No efeito secundário a um grupo de pacientes que não necessitaria
entanto, não se conhecem o prognóstico das crianças que rece- de tal medicação. Agora, se administrarmos o esteróide a crian-
beram betametasona. ças com risco >50% de apresentar DBP, a incidência de óbito
Em 2006. um questionário realizado a nível nacional mostrou e paralisia cerebral é menor nos que receberam esteróide em
que 91% dos neonatologistas franceses usam betametasona relação aos que receberam placebo, demonstrando mais uma
para o tratamento da displasia broncopulmonar. vez, de forma elegante que toda vez que usamos uma estratégia
Cambonie G e cl relataram diminuição acentuada da velocida- profilática, existe um efeito secundário, por isso temos que to-
de do fluxo sanguíneo cerebral com o uso da betametasona (1/4 mar cuidado na seleção dos pacientes que vamos tratar. Para os
destes pacientes apresentaram aumento do espaço subaracnói- RN com grande risco de DBP, a incidência de déficit neurológico
deo aumento ventricular, sugerindo deficiente desenvolvimento foi menor no grupo que recebeu dexametasona em relação ao
cerebral). Este achado fez com que fosse trocada a betametaso- que recebeu placebo. Então, o uso de corticóide pós-natal ainda
na para hidrocortisona, naqueles RN na quarta semana de vida é confuso, está claro que não podemos usar sem critérios bem
dependente de oxigênio (Fi02 >50%, em uso de óxido nítrico, alta definidos, mas há um subgrupo de pacientes de alto risco que
freqüência). Os autores não relataram as alterações anterior- pode se beneficiar.
mente descritas com a betametasona. Mesmo com uso de doses Ao usar o esteróide, devemos sempre optar pela menor dose,
farmacológicas da hidrocortisona por 6 dias,iniciando com 5 mg/ menor tempo e pelo esteróide menos tóxico com o objetivo de
kg/dia 4 vezes ao dia Segundo os autores, esta diminuição do facilitar o desmame do respirador.
fluxo sanguíneo cerebral poderia ser um dos mecanismos envol- Quanto à recomendação do Comitê de Pediatria da Academia
vidos nos efeitos deletérios dos corticosteróides sintéticos no de- Americana: alta dose de dexametasona (0,5mg/kg/dia) não
senvolvimento cerebral. Do ponto de vista hemodinâmico, estes confere benefício terapêutico adicional e não é recomendada. A
resultados sugerem o uso da hidrocortisona para o tratamento evidência é insuficiente para recomendar outro glicocorticóide.
O clínico deve usar o julgamento clínico para pesar os possíveis
efeitos adversos do tratamento com glicocorticóides e aqueles
Capitulo 07 Distúrbios Respiratórios

da displasia broncopulmonar. desacelera o crescimento pulmonar. Já temos o conhecimento


Há vários ensaios (controlados, randomizados, com grupo con- dos mecanismos moleculares, mediadores que estão ou aumen-
trole) sendo conduzidos comparando os efeitos da hidrocortiso- tados ou diminuídos nestes RN que acabam inibindo o desenvol-
na com os da dexametasona com um follow-up maior. À luz das vimento do pulmão. Outra possibilidade está no uso de células
evidências atuais, os clínicos devem decidir por um curto curso tronco, instilando-as na traquéia destes RN, regenerando a alve-
de corticosteróide (dexametasona) naqueles RN com grande ris- olarização e formação de vasos.
co de desenvolver displasia broncopulmonar ( >50%). Os esfor- Será que vamos conseguir prevenir ou nunca a DBP? Segundo
ços deveriam ser direcionados em busca de novas estratégias Baucalari se pegarmos um RN com 23-24-25  semanas, acredito 
de proteção pulmonar, como o uso de mais esteróide pré-natal, que nunca vamos conseguir fazer com que estes  pulmões res-
surfactante precoce, CPAP nasal precoce, limitar o volume cor- pirando gás tenham um desenvolvimento totalmente normal. En-
rente na ventilação mecânica, aceitar maiores PaC02 (ventilando tretanto,  com base nestas pesquisas, no futuro vamos  conseguir  
com PaC02 > 52mmHg versus <48mmHg houve diminuição sig- ter uma certa melhoria no desenvolvimento destes pulmões.
nificativa do suporte ventilatório na 36a semana de idade pós-
concepção),limitar a oferta de 02 (aceitar Saturação de 02 entre Bibliografia
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extremos, como a superexpressão do CTFG, fator profibrótico que • Jacobs HC, Chapman RL. Premature conclusions on postnatal steroids effects (Letters to the
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www.paulomargotto.com.br, em Distúrbios Respiratórios) (15/11/2012)
Capitulo 07 Distúrbios Respiratórios

7.9 APNÉIA

Adriana Kawaguchi, Nilcéia Peclat, Paulo R. Margotto

Definição

Apnéia é definida como uma interrupção do fluxo de ar nas vias reas mais finas e propensas ao colabamento; caixa torácica mais
respiratórias por um período igual ou superior a 20 segundos, ou complacente; diafragma com maior número de fibras sensíveis
por período de menor duração, se acompanhado de bradicardia, a fadiga; não apresentam boa coordenação entre os músculos
cianose ou palidez. respiratórios e os músculos que controlam a permeabilidade das
É necessária a diferenciação entre apnéia e respiração perió- vias aéreas superiores.
dica. Esta última é caracterizada pela presença de movimentos Inibição do centro respiratório por neurotransmissores secre-
respiratórios por um período de 10 a 15 segundos, intercalados tados durante a hipóxia. O mais relevante é a adenosina. A admi-
por pausa respiratória de 5 a 10 segundos, sem cianose ou bra- nistração de metilxantinas, antagonistas da adenosina, previne a
dicardia. A respiração periódica ocorre em cerca de 25% dos depressão respiratória como resposta à hipóxia.
recém-nascidos prematuros e em 2 a 6% dos bebês a termo. Tem
bom prognóstico e não necessita de tratamento específico. Causas De Apnéia No Período Neonatal

Classificação Existem diversas causas de apnéia no período neonatal que


devem ser afastadas antes de atribuir a apnéia à prematuridade:
• Apnéia Central: interrupção do fluxo aéreo e do esforço
respiratório simultaneamente (10 a 25% dos casos) • Oxigenação deficiente: Doença de membrana hialina,
• Apnéia Obstrutiva: interrupção do fluxo de gazes por pneumonia, atelectasia, displasia broncopulmonar, per-
obstrução das vias aéreas com movimentos respiratórios sistência do canal arterial, anemia, hipovolemia;
ativos (10 a 20%) • Distúrbios metabólicos e hidreletrolíticos: hipoglicemia,
• Apnéia Mista: apnéia central, seguida de episódio obs- hipocalcemia, hipomagnesemia, hipo e hipernatremia,
trutivo ou vice-versa (50 a 75% dos casos). erros inatos do metabolismo;
• Infecções: sepse, meningite, enterocolite necrosante;
Incidência • Condições neurológicas: encefalopatia hipóxico-isquêmica,
hemorragia intracraniana, malformações cerebrais, encefa-
A incidência e severidade são inversamente proporcionais à lopatia bilirrubínica, doenças neuromusculares, convulsões; 259
idade gestacional: • Refluxo gastresofágico (RGE)

• 84% dos recém pré-termos (RNPT) com peso menor que A relação entre RGE e apnéia em prematuros ainda é contro-
1000 g versa. Muitos autores mostram associação entre estas duas pa-
• 50% dos RNPT com peso entre 1000 g-1500g tologias; outros excluem relação temporal entre RGE e apnéias
• 25% dos RNPT com peso entre 1500 g-2500g no prematuro. Dois estudos recentes são divergentes. Corvaglia
e cl analisaram a relação entre apnéia da prematuridade e RGE
Geralmente se inicia no 2º ao 7º dia de vida. É rara no 1º dia através da monitorização do pH esofágico e da polissonografia.
Os episódios cessam por volta de 34 a 36 semanas de idade Os dados encontrados sugerem que apnéias podem ser desen-
gestacional pós-concepcional, podendo persistir até ou após o cadeadas por episódios de RGE em RN muito prematuros. O es-
termo, especialmente nos prematuros extremos. tudo de Omari T contradiz esta hipótese, já que foi observada a
Episódios de apnéia em RN a termo é sempre secundária a redução do tônus do esfíncter esofágico inferior (EEI) posterior
alguma patologia de base. a apnéia, e não o inverso Nos RN prematuros há o relaxamento
do EEI durante os episódios de apnéia, o que pode levar a RGE,
Fisiopatologia Da Apnéia Da Prematuridade que pode ocorrer com a obstrução de vias aéreas (há aumento
da pressão gástrica). Assim o seu estudo não corrobora com a
Imaturidade do sistema nervoso central do prematuro carac- hipótese de que é o RGE que inicia esse reflexo e que conse-
terizada por menor número de sinapses neuronais, arborização quentemente causaria apnéia, já que foi observado a redução do
dendrítica escassa e mielinização incompleta, levando a retardo tônus do EEI posterior a apnéia, e não o inverso. Alguns pacientes
na propagação do estímulo nervoso. com apnéia resistente ao uso de xantinas recebem terapêutica
Resposta atenuada ao C02 (menor sensibilidade dos quimior- antirefluxo. Porém, se é a apnéia que leva ao refluxo, e não o
receptores no RN prematuro) e uma resposta paradoxal à hipoxe- contrario, a indicação destes medicamentos precisa ser melhor
mia (no RN a hipóxia deprime a respiração, ao contrário do que é avaliada. Segundo Suguihara, os fatores de risco para apnéia e
observada no adulto). RGE podem ser sobreporem, mas não existe nenhuma relação
Influência do sono: O RN prematuro dorme cerca de 80% de temporal entre estes dois eventos. Na nossa Unidade hoje só se
seu tempo e o RN a termo cerca de 50%. Durante o sono REM trata RGE em casos excepcionais. Não há evidência de que o uso
(cerca de 90% do sono do prematuro de 30 a 31 semanas) ob- farmacológico tenha efeito na apnéia da prematuridade.
servam-se irregularidades no padrão respiratório, diminuição do
tônus da musculatura intercostal e menor atividade diafragmá- • Instabilidade térmica: hipo ou hipertermia;
tica. Com o aumento da idade gestacional nota-se aumento na • Drogas: uso materno de opióides ou uso neonatal de dro-
proporção de sono não-REM. gas depressoras do centro respiratório;
O prematuro apresenta algumas características anatômicas • Pós-anestésico: A apnéia no período pós-operatório aco-
das vias aéreas e caixa torácica que favorecem a apnéia: vias aé- mete cerca de 12 a 37% dos prematuros, geralmente nas

Paulo R. Margotto
Assistência ao Recém-Nascido de Risco

12h seguintes após a cirurgia (72% ocorrem nas primei- Investigação Diagnóstica
ras 2h). Esta incidência é inversamente proporcional à
idade gestacional. Os anestésicos inalatórios diminuem Ao contrário do RN de termo, em que todo episódio de apnéia deve
o tônus da musculatura das vias aéreas, da parede to- ser investigado, no prematuro, recomenda-se a investigação diagnós-
rácica e do diafragma favorecendo a apnéia. Também tica quando ocorrerem duas ou mais apnéias em um período de 24h.
alteram a resposta ventilatória à hipercapnia e à hipóxia.
Esta susceptibilidade à apnéia persiste até cerca de 50 a • Anamnese materna
60 semanas de idade gestacional pós-concepcional. • Exame clínico detalhado
• Pós-imunização, principalmente nos RN com história de • Condições ambientais: posicionamento do RN
apnéia (risco de 25 vezes mais) podendo estar relaciona- • Radiografia de tórax
da a uma resposta inflamatória geral. • Hemograma e PCR
• Anemia: Estudos tem mostrado associação conflitante • Eletrólitos e bilirrubinas
entre apnéia e transfusão. Estúdo recente, com rigoro- • Glicemia
sa monitorização de apnéia, mostrou correlação entre • Gasometria
as transfusões e a diminuição da frequência de apnéia • Ecografia transfontanelar
(probabilidade futura de apnéia foi inversamente propor- • Ecocardiograma na suspeita de cardiopatia
cional ao hematócrito). • Hemocultura e análise do líquor cefalorroquidiano em
casos de infecção
Apnéia No Recém-Nascido A Termo • Eletroencefalograma se houver suspeita que a apnéia
seja de origem convulsiva
No RN a termo a apnéia pode ser a única manifestação de
uma convulsão. Tramonte e Goodkin relataram um caso de um Tratamento
RN a termo com 3,9kg, filho de mãe de 36 anos, G III P II, pro-
duto de uma gestação não complicada e parto normal induzido Medidas gerais
por Misoprostol e Ocitocina. O Apgar foi de 9 (1o) e 9 (5o) minu-
tos. Eritromicina e Vitamina K foram administradas rapidamente 1. Tratamento da causa subjacente, se esta for identifica-
após o parto. Dentro das primeiras seis horas de vida, foram ob- da (correção de hipoglicemia, tratamento de infecção...).
servados recorrentes períodos de apnéia de 20 a 165 segundos Lembrar que apnéia sem bradicardia pode ser a única
de duração. Oximetria de pulso demonstrou saturação de 02 a manifestação de convulsão.
nível de 50% durante o período de apnéia. Nenhuma mudança 2. Em geral, manter saturação de 02 entre 88 e 92%, se
na freqüência cardíaca foi observada durante estes eventos. necessário com fornecimento de 02 suplementar. A hipó-
Não foi notado nenhum movimento sugerindo convulsões focais xia leva a liberação de adenosina ocasionando depres-
260 ou multifocais tônicas, clônicas, mioclônicas ou súbitas. Nenhum são do SNC.
movimento ocular consistente foi apreciado.Durante estes even- 3. Posicionamento: corrigir posicionamento do pescoço –
tos, recebeu 02. O RN foi submetido à monitorização contínua evitar a hiperextensão acentuada e a flexão, prona (barri-
no leito com EEG, havendo demonstração de numerosas convul- ga para baixo): esta posição favorece a estabilização da
sões eletroencefalográficas, emanando predominantemente da caixa torácica, a sincronia dos movimentos respiratórios,
região centro-temporal direito, caracterizado por rápida atividade o aumento da resposta ventilatória à hipercapnia e o au-
alfa, evoluindo com ondas periódicas e atividade de ondas lentas mento da proporção de sono não-REM com melhora no
seguidas por atividade delta rítmica. A convulsão mais longa re- controle do ritmo respiratório e da mecânica ventilatória.
gistrada durou 205 segundos.Cada convulsão no EEG era acom- A posição prona do lado esquerdo, segundo estudo de
panhada por manifestações clínicas de apnéia e diminuição da Ewer AK e cl reduz significativamente a severidade do
saturação de 02. Nenhuma atividade clínica convulsiva foi notada RGE em comparação com a posição prona do lado di-
durante a observação direta dos autores e sob revisão do vídeo. reito. Não há vantagem do uso de bebê conforto, pois
Não houve alteração da freqüência cardíaca. Os episódios de aumentas a freqüência do RGE. A posição lateral direita
apnéia e dessaturação foram acompanhados por mudanças ele- acelera o esvaziamento gástrico e aumenta o RGE.
troconvulsivas. O RN foi submetido a tratamento com fenobarbi- 4. Evitar aspirações vigorosas de orofaringe
tal, suprimindo em 90% as atividades convulsivas. A ecografia 5. Manter temperatura ambiente em zona térmica neutra
cerebral demonstrou uma massa ecogênica, larga e compacta 6. Correção da anemia
no lobo temporal direito, medindo 3.0 x 2.5 x 2.9cm, semelhan- 7. Nutrição adequada
te a uma hemorragia. A ressonância magnética confirmou uma
hemorragia no lobo temporal direito, intraparenquimatosa com Tratamento medicamentoso
adjacente hematoma subdural na fossa média craniana e he-
morragia subaracnóidea. Este é um caso raro e não usual de Metilxantinas
hemorragia no lobo temporal direito num recém-nascido a termo Reduz os de episódios de apnéia e a necessidade e ventilação
apresentando convulsões associadas à apnéia recorrente, sem mecânica através da estimulação do centro respiratório (aumen-
outras manifestações clínicas. Não havia alterações no exame ta a sensibilidade dos quimiorreceptores ao C02), da inibição da
clínico (por exemplo: hemiparesia ou preferência de olhar) que adenosina (neurotransmissor inibitório secretado durante a hipó-
sugerisse a presença de uma hemorragia lobar ou outra causa xia) e da fosfodiesterase (elevando os níveis de AMPc, estimulan-
estrutural de disfunção focal cerebral. Portanto, a suspeita de do o centro respiratório) e melhora da contratilidade diafragmáti-
convulsões associadas à apnéia poderia ser aventada em recém- ca. Tem sido utilizada na prevenção de apnéia nos RN com peso
nascido a termo quando outras causas de apnéia (por exemplo: abaixo de 1500g. A medicação é suspensa com 34 semanas de
refluxo gastroesofágico, doença pulmonar, arritmias cardíacas) idade gestacional pós-concepção ou após 7 dias após o último
tivessem sido excluídas. Assim, no recém-nascido a termo, epi- episódio de apnéia (se IGpc>34semanas).
sódios de apnéia devem ser vistos como uma manifestação po-
tencial de convulsão e adequadamente avaliadas.
Capitulo 07 Distúrbios Respiratórios

Aminofilina Ventilação mecânica


Ataque: 4 a 6mgkg EV em 30 minutos é indicada quando todas as medidas anteriores falham. Deve-
Manutenção: 1,5 a 3mgkg EV ou VO a cada 8 a 12h se lembrar que a mecânica ventilatória usualmente está preser-
Efeitos colaterais: Taquicardia, sinais de disfunção gastrintes- vada. Usar parâmetros mínimos com o objetivo de diminuir o ris-
tinal (intolerância alimentar, vômitos, distensão abdominal), irri- co de displasia broncopulmonar e retinopatia da prematuridade.
tabilidade, tremores, convulsões, hiperglicemia. Pode estar asso-
ciada a calcificações renais quando associada à furosemida e/ou Bibliografia
dexametasona. Aumenta a incidência de refluxo gastresofágico
• Lopes JMA. Recentes avanços em farmacologia perinatal: Xantinas. IN Margotto PR. Bole-
(provoca relaxamento do esfíncter esofágico inferior). Promove tim Informativo Pediátrico- BIP (Brasília), Nº 54, pg 17, 1991.
• Margotto PR. Apnéia Neonatal. Boletim Informativo Pediátrico. BIP (Brasília) Nº 13, 1981.
aumento do débito cardíaco (devido ao aumento da sensibilidade
• Miller MJ, Martin RJ. Apnea of prematurity. Clin Perinatol 19: 789, 1992.
das catecolaminas). Há diminuição do fluxo sanguíneo cerebral • Filho Mezzacappa F. Apnéia do recém-nascido. IN. Marba STM., Filho Mezzacappa F. Manual de Neonatolo-
gia – UNICAMP-Revinter. Pg 111, 1998.
após administração de aminofilina (21% após 60minutos e 17% • Costa MTZ – Tratamento farmacológico da apnéia do pré-termo. Boletim Informativo Pedi-
com 120h), sendo esta diminuição provavelmente secundária a átrico (Brasília). BIP. No 58, pg 22, 1995.
• Rugolo LMSAS. Papel do CPAP nasal na apnéia do pré-termo. IN: Margotto PR. Boletim
diminuição da PaC02 e não por um efeito direto da aminofilina na Informativo Pediátrico. BIP (Brasília), Nº 58, pg 24, 1995.
• Carlo WA, Martin JR, Floren GA e cl. The effect of respiratory distress síndrome on Chest
vasculatura cerebral. wall movements and respiratory pauses in preterm infants. Am Rev Resp Dis 126: 103,
1982
• Shannon DC, Gotay F, Stem IM e cl. Prevention of apnea and bradycardia in low-birth-
Cafeína weigth. Pediatrics 55: 589, 1975.
• Davis PG, Doyle LW, Richards AL e cl. Methylxanthines and sensorineural outcome at 14
Citrato de Cafeína: ataque 20mg/kg VO Manutenção: 5mg/ years in children < 1501g birthweight. J Paediatr Child Health 36:47, 2000.
kg 1x ao dia • Vain, N. Apnéia no Prematuro. V Congresso Latino - Americano de Perinatologia. Rio de
Janeiro, 30 de novembro a 2 de dezembro de 2000. Disponível em www.paulomargotto.
Cafeína Anidra: ataque 10mg/kg VO Manutenção: 2,5mg/kg com.br em Distúrbios Respiratórios
• Darnall R, Kattwinkel J, Robinson M. Margin of safety for discharge after apnea in preterm
1x ao dia infants. Pediatrics 100: 795, 1997
Segundo Schimidt e cl, o uso da cafeína reduz de maneira sig- • Schmidt B. Methylxanthine therapy in premature infants: sound practice, disaster or fruit-
less byway? J Pediatr 135: 526, 1999
nificativa a incidência de displasia broncopulmonar. É observado • Dany C, Bertini G, Realy MF e cl. Brain hemodynamic changes in preterm infants after
maintenance dose caffeine aminophylline treatment. Biol Neonate 78: 27, 2000
um ganho insatisfatório de peso nas primeiras três semanas de • Henderson-Smart DJ, Steer P. Prophylactic methylxanthine for the prevention of apnea in
uso da cafeína (efeito que é recuperado nas semanas seguin- preterm infants. Cochrane Database Sits Rev, 1999
• Ewer AK e cl (Prone and left lateral positioning reduce gastro-oesophageal reflux in preterm
tes). Não há aumento da mortalidade, de lesões cerebrais nem infants. Arch Dis Child Fetal Neonatal Ed 81: F201, 1999
• Hoeckerr C, Nelle M, e cl. Caffeine impairs cerebral and intestinal blood velocity in preterm
de enterocolite necrosante. Estudo se segmento, realizado por infants. Pediatrics 109:784, 2002. Disponível em www.paulomargotto.com.br em Distúr-
estes autores mostrou que a cafeína, na idade corrigida de 18 bios Respiratórios
• Barros MCM. Apnéia. Clinica de Perinatologia 2/1:317, 2001
a 21 meses, melhorou a taxa de sobrevida sem desabilidade • Barriington Kj, Tan K, e cl. Apnea at discharge and gastro-esophageal reflux in the preterm
infant. J Perinatol 22:8, 2002. Disponível em www.paulomargotto.com.br em Distúrbios
neurocomportamental com forte evidência que os beneficio da Respiratórios
metilxantina sobrepõem a qualquer isco potencial aos 2 anos nos • Jeffrey J.Tramonte J, Goodkin H. Temporal lobe hemorrhage in the full-term neonate pre-
senting as apneic seizures. J Perinatol 24:726, 2004. Disponível em www.paulomargotto.
recém-nascidos muito pré-termos. A cafeína reduziu a incidência com.br em Distúrbios Respiratórios
de paralisia cerebral e o atraso cognitivo, mas não teve efeitos • Aranda JV. Apnéia neonatal-novos conceitos. 4o Simpósio Internacional de Neonatologia
do Rio de Janeiro, 26-28 de agosto de 2005. Realizado por Paulo R. Margotto. Disponível 261
significativos nas taxas de morte, severa surdez ou cegueira bi- em www.paulomargotto.com.br em Distúrbios Respiratórios

lateral. Os dados do presente estudo indicam que seriam neces- • Schimidt B, Robersts RS, Davis P e cl. Long-term effects of caffeine therapy for apnea of
prematurity. N Engl J Med 357:1893, 2007. Disponível em www.paulomargotto.com.br em
sárias que 16 crianças recebessem cafeína para prevenir um Distúrbios Respiratórios
resultado adverso aos 18 meses. A cafeína reduziu a incidência • Schmidt B. Methylxanthine therapy for apnea of prematurity: evaluation of treatment ben-
efits and risks at age 5 years in the international Caffeine for Apnea of Prematurity (CAP)
da severa retinopatia da prematuridade, provavelmente devido trial. Biol Neonate 88:208, 2000
• Schmidt B. Cafeína e apnéia neonatal-estudo colaborativo internacional. 5o Simpósio Inter-
à menor exposição à pressão positiva e ao menor tempo do uso nacional de Neonatologia do Rio de Janeiro, 28 a 30 de setembro de 2006. Realizado por
Paulo R. Margotto. Disponível em www.paulomargotto.com.br em Distúrbios Respiratórios
de oxigênio. • Suighara C.Controvérsias no manuseio do refluxo gastroesofageano no pré-termo. 5o
Vantagens da cafeína: maior efeito estimulante do centro respi- Simpósio Internacional de Neonatologia do Rio de Janeiro, 28-30 de setembro de 2006.
Realizado por Paulo R. Margotto. Disponível em www.paulomargotto.com.br em Distúrbios
ratório, efeitos colaterais menos intensos, maior limiar entre nível Respiratórios
• Kein NP, Massolo ML e cl. Risk factors for developing apnea after immunization in the neo-
terapêutico e tóxico, administração mais fácil (VO 1x ao dia). natal intensive care unit. Pediatrics 121;463, 2008. Disponível em www.paulomargotto.
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Doxapran apnoeas in very preterm infants. Arch Dis Child Fetal Neonatal Med Ed 94:F188,2009
• Omari T. Apnea-associated reduction in lower esophageal sphincter tone in premature in-
Uso restrito. Estimulante respiratório que pode reduzir os epi- fants. J Pediatr 154:374, 2009. Disponível em www.paulomargotto.com.br em Distúrbios
Respiratórios
sódios de apnéia se o tratamento com metilxantinas e CPAP na- • Zhao J, Gonzalez F, Mu D. Apnea of prematurity: from cause to treatment. Eur J Pediatr.
sal falhar. Atua tanto ao nível dos quimiorreceptores periféricos 170:1097,2011
• Valieva OA, Strandjord TP, Mayock DE e cl. Effects of transfusions in extremely low birth
quanto no SNC. Iniciar com 0,5mg/kg/h e aumentar 0,5mg/kg/h weight infants: a retrospective study. J Pediatr 155:331, 2009
a cada 12h até 2,5mg/kg/h. Efeitos colaterais incluem hiperativi- • Zagol K, Lake de et al. Anemia, apneia of the premature and blood transfusions. J Pediatr
161: 417,2012
dade, tremores, convulsões, hiperglicemia, hipertensão, arritmia
e disfunção hepática. Segundo alguns autores, a infusão de do-
xapran induz aumento de consumo cerebral de 02 associado à di-
minuição do fluxo sanguíneo cerebral. Ainda faltam de evidências
de segurança para seu uso.

Suporte ventilatório

CPAP nasal
Previne intubações traqueais, mantendo a permeabilidade das
vias aéreas, regularizando o ritmo respiratório, estabilizando a
caixa torácica e aumentando a capacidade residual funcional.
Seu uso está indicado nas apnéias obstrutivas e mistas. O uso
adequado do CPAP é aquele que resulta numa boa oxigenação do
RN, sem hiperinsuflação pulmonar e retenção de C02. Geralmen-
te pressões em torno de 3 a 5cmH2O são suficientes.

Paulo R. Margotto
Assistência ao Recém-Nascido de Risco

7.10 HÉRNIA DIAFRAGMÁTICA

Paulo R. Margotto, Jefferson G. Resende, Martha G. Vieira,


Samiro Assreuy, Evely Mirela F. França

A partir da 6ª semana, ocorre formação do diafragma pela fusão de 61%.. No estudo de Lipshutz e cl, citado por Moya F, nenhum
de 4 componentes embrionários: as membranas pleuroperitoneais paciente com LHR menor que 1 sobreviveu, a despeito do uso da
estendem-se para se fundirem com o mesentério dorsal do esôfa- oxigenação por membrana extra-corpórea (ECMO); entre 1 e 1,4,
go e do septo transverso, separando as cavidades pleurais da pe- a sobrevivência foi de 38%, dos quais 75% requereram ECMO. No
ritoneal; o fechamento das aberturas é completado pela migração estudo de Laudy e cl, a sobrevivência foi de 100% com LHR >1,4
de mioblastos para dentro das membranas. A abertura pleuroperi- e 100% de mortalidade com LHR <1. Assim, quanto maior esta
toneal do lado esquerdo fecha-se mais tardiamente que a direita, relação melhor será a sobrevida.
onde ocorre mais freqüentemente o defeito de fechamento (85 a A presença de hérnia diafragmática no feto já antes da 25ª
90%), levando a Hérniação dos intestinos, estômago e baço para a semana de gestação está associada a 100% da mortalidade.
cavidade torácica; deslocando os pulmões e o coração.
A hérnia diafragmática congênita decorre do não fechamento Crescimento Pulmonar Fetal Na
dos canais pleuroperitoneais, resultando em uma grande abertu- Hérnia Diafragmática Congênita
ra (Forame de Bochdalek) na região póstero-lateral do diafragma,
tornando as cavidades peritoneal e pleural contínuas. Assim, a Por mais de 20 anos, significantes progressos tem sido obti-
hérnia diafragmática congênita combina um defeito muscular dos no manuseio da hérnia diafragmática congênita (HDC). No
entre o abdômen e a cavidade torácica com hipoplasia pulmonar. entanto, o prognóstico dos recém-nascidos (RN) permanece ruim
Ocorre em 1 em cada 2000 a 5000 nascimentos. Corresponde a nas formas em que grande parte do fígado está dentro do tórax.
8% das malformações dos neonatos. A severidade da HDC se deve a hipoplasia pulmonar, devido à
De todas as hérnias diafragmáticas, 85% a 90% são hérnias compressão do pulmão e ao seu deficiente desenvolvimento pe-
de Bochdalek. Destas, 80% são do lado esquerdo, 15% do lado las vísceras deslocadas para o tórax; nesta situação, o fígado é
direito e 2% bilateral (habitualmente fatais). Há uma leve prepon- particularmente nocivo ao crescimento do pulmão. Os efeitos da
derância do sexo masculino. compressão afetam tanto o parênquima alveolar como o aumen-
A hérnia diafragmática congênita é freqüentemente associada to da espessura da parede dos vasos distais conforme já descri-
com anomalias cardíaca (hipoplasia do arco aórtico, tetralogia de to. Novas técnicas estão em estudo para melhorar o tratamento
Fallot, transposição de grandes vasos ou coarctação da aorta), dos casos mais severos.
262 gastrintestinal, geniturinária, esquelética (membros curtos ou Bargy Fe cl avaliaram o padrão das lesões pulmonares dos fe-
defeitos costovertebrais), estenose traqueal ou neural (esta as- tos com HDC ao longo da gestação. Para o clínico é mandatório
sociação ocorrem entre 10 a 40%) e com trissomias. conhecer a evolução do padrão das lesões para definir o melhor
A hérnia diafragmática congênita é caracterizada pela presen- momento para o tratamento. Este estudo morfológico foi condu-
ça de vísceras abdominais na cavidade torácica, sendo a causa zido em 134 fetos humanos com idade gestacional entre 22 a
mais comum de hipoplasia pulmonar (devido à compressão que 40 semanas. Cada feto foi dissecado dentro de 2 horas de pós-
sofreu durante o seu desenvolvimento), que é o determinante da morte. Ambos os pulmões, direito e esquerdo foram removidos,
mortalidade. O achado de hérnia diafragmática fetal por volta da pesados e fixados em formalina a 10% por no mínimo 15 dias e
25ª semana de gestação está associado a 100% de mortalidade. embebidos em parafina. Foram construídas curvas de crescimen-
A hipoplasia pulmonar e a severidade da hipertensão pulmo- to do pulmão direito e esquerdo dos fetos sem comprometimento
nar (há uma redução no total de ramos arteriais e um aumento pulmonar e comparado com os fetos com HDC (Figura).
do músculo liso das artérias pulmonares, arteríolas pré-acinares
e intra-acinares, tanto por extensão em direção à periferia quan-
to na espessura) são os maiores determinantes da mortalidade;
causando alterações na complacência pulmonar, falência respi-
ratória ao nascimento, hipoxemia, shunt extrapulmonar da direita
para esquerda (se houver hipertensão pulmonar), acidose pro-
gressiva e falência cardíaca. Na ausência de anomalias associa-
da, a mortalidade tem sido descrita entre 13 e 65%, podendo
chegar a 90% na presença de anomalias severas. A sobrevida é
maior quando ocorre à esquerda (68% versus 63%).
No diagnóstico pré-natal, a ultra-sonografia mostra vísceras
abdominais na cavidade torácica, levando o desvio do medias-
tino e polihidrâmnio.
Há muitos marcadores que correlacionam com pior prognóstico.
Atualmente, a relação pulmão/perímetro cefálico fetal (LHR – lung
head ratio) é o mais utilizado. Um RN com HDC que apresenta
LHR de 0,4 ou 0,5 (ou seja, o pulmão não é tão pequeno) a taxa de
sobrevivência é muito boa. A mortalidade é elevada quando o pul-
mão é extremamente pequeno em relação ao perímetro cefálico.
Dados mais atualizados sobre o LHR e mortalidade evidencia-
ram que todos os neonatos com LHR menor que 0,6 morreram; a
sobrevivência foi de 100% para aqueles com LHR maior que 1,35
e aqueles com LHR entre 0,6 e 1,35, a taxa de sobrevivência foi
Capitulo 07 Distúrbios Respiratórios

Pulmão direito Pulmão esquerdo

Figura: Comparação entre os grupos com


Hérnia diafragmática congênita e o grupo controle.
Na cor cinza, os fetos com hérnia diafragmática congênita.

Observem que não foram observadas diferenças entre os pesos •Vísceras abdominais na cavidade torácica
dos pulmões entre os dois grupos entre 22-26 semanas se idade •Desvio do mediastino
gestacional. Entre 27-30 semanas de gestação, o peso do pul- •Polihidrâmnio
mão esquerdo foi significantemente menor no grupo com hérnia •No pós-natal
diafragmática congênita do que no grupo controle sem patologia •Abdome escavado
pulmonar, não havendo diferença significativa entre os dois grupos •Insuficiência respiratória
em relação ao pulmão direito. No entanto, a partir de 30 semanas •Ruídos hidroaéreos no tórax
de gestação, o peso do pulmão direito tornou-se significativa- •bulhas cardíacas deslocadas
mente menor no grupo com HDC em relação ao grupo controle.
Os resultados do presente estudo, realizado ao longo de 15 Quanto ao uso de corticosteróide pré-natal: estudo clínico ran- 263
anos, reforçam a teoria da compressão pulmonar pelas vísceras domizado e controlado projetado por Moya F não mostrou diferen-
Hérniadas como sendo a origem da hipoplasia pulmonar. Com o ça significativa entre os grupos quanto à sobrevida (59% versus
avançar da idade gestacional há piora progressiva. Interessante 69% no grupo com esteróide). Foram recrutadas apenas 32 ges-
é o fato de que as lesões são bilaterais e ocorrem com o tempo. tantes. A evidência no momento é que: se a mãe entrar em traba-
Antes de 26 semanas a histologia do pulmão é normal, incluin- lho de parto prematuro (antes de 34 semanas) o esteróide é reco-
do o componente vascular. Mais tardiamente, a compressão mendado. Após 34 semanas parece não haver qualquer benefício.
exercida pelas vísceras Hérniadas, especialmente o fígado, ex- RX de tórax evidencia um hemitórax preenchido com estruturas
pressa seu efeito nocivo tanto no desenvolvimento alveolar como semelhantes a cistos (alças intestinais), desvio do mediastino e
vascular. Isto é observado inicialmente no pulmão esquerdo e abdome relativamente sem gás. O diagnóstico diferencial deve ser
posteriormente no pulmão direito. As lesões pulmonares pioram feito com a malformação adenomatóide cística do pulmão (consi-
assim que a gestação progride. Em outras palavras, a hipoplasia derar esta possibilidade nos casos dos achados radiológicos ocor-
pulmonar seria relativamente menos severa com 34 semanas rerem no lado direito ou quando a posição do estômago está abai-
do que com 40 semanas para a mesma forma anatômica. xo do diafragma) e pneumonia com formação de pneumotoceles.

Diagnóstico

•Ultrassonografia pré-natal com Doppler pode avaliar a po-


sição da veia umbilical e dos vasos hepáticos. Em 2000,
Suda demonstrou o fator mais significante para o prognós-
tico, o índex modificado de McGoon, no qual o diâmetro da
artéria pulmomar proximal é ajustado conforme a aorta
descendente: um index menor ou igual a 3 sugere a morta-
lidade com uma sensibilidade de 85% e uma especificidade
de 100%.
•A Ressonância magnética realizada no pré-natal pode ser
importante para avaliar a posição do fígado, avaliar o volu- Hérnia diafragmática congênita a esquerda
me dos pulmões, ou para distinguir de outras malformações
como a doença adenomatosa cística, seqüestro pulmonar, Reanimação
cisto broncogênicos, cisto entérico ou teratoma mediastinal.
Intubação imediata: Ventilação por pressão positiva a 100% (a
O diagnóstico pré-natal da hérnia diafragmática (HDC) é um gran- asfixia piora a hipertensão pulmonar). É contra-indicado o uso de
de desafio para o perinatologista, assim como o seu manuseio cons- máscara. Tentar não usar pressão de insuflação máxima maior
tituí um grande desafio para neonatologista e cirurgião pediátrico. que 25 cm H2O e a freqüência respiratória devem estar entre 30-

Paulo R. Margotto
Assistência ao Recém-Nascido de Risco

40/min. Objetivar saturação pré-ductal de oxigênio entre 85% e insuficiência cardíaca direita frequentemente torna-se eminente
95% e pós-ductal >70%. Em situações individualizadas, manter a no momento do fechamento do canal arterial. Sinais e sintomas
saturação pré-ductal >80%, desde que se mantenha boa perfu- de insuficiência ventricular direita, aumento da desaturação pré-
são tissular. Manter a PaC02 entre 45-60mmHg. Vigorosa hiper- ductal com ou sem estreitamento da diferença pré e pós ductal
ventilação para induzir redução da resistência vascular pulmonar e hipotensão arterial sistêmica e sinais de deficiente perfusão,
via alcalose respiratória não é recomendada devido à injúria pul- podem ser indicativos que o canal arterial está se tornando res-
monar relacionada ao respirador. tritivo e após a confirmação pela ecocardiografia justificaria o uso
Surfactante pulmonar: deve ser usado quando indicado; não da prostaglandina E-1 para reabrir o canal arterial e diminuir a so-
está indicado de forma rotineira para todo recém-nascido: a ad- brecarga ventricular direita. Portanto, shunt ductal em uma crian-
ministração do surfactante não traz benefícios (a mortalidade ça com significante hipertensão pulmonar e disfunção ventricular
tem sido maior no grupo com o uso de surfactante). O pool de direita, diminuiria a pós-carga ventricular direita, com melhora da
surfactante no pulmão de pacientes com hérnia diafragmática geometria do septo interventricular e com melhora do débito car-
não estava diminuído, segundo estudo recentes de Janssen e cl: díaco, melhorando a perfusão tecidual percebida pela melhora da
73mg/kg, ao passo que a média de surfactante no pulmão do RN pressão arterial sistêmica e do débito urinário.
com doença da membrana hialina é 10mg/kg Estes recém-nascidos apresentam relativa hipoplasia do ven-
Elevação do decúbito, colocando-se o paciente de preferência trículo esquerdo (os pulmões hipoplásicos levam a uma falta
sobre o lado afetado (facilita a expansão do lado normal). de pré-carga ventricular esquerda e subseqüentemente, inibe o
Descompressão do estômago e alças intestinais: aspirar o desenvolvimento ventricular), sendo provavelmente o maior de-
conteúdo gástrico com SOG nº 8 e a seguir, deixá-la aberta para terminante de hipertensão pulmonar (venosa) e a falta de res-
descompressão do estômago e alças intestinais que estão na posta ao óxido nítrico. Esta importante disfunção do ventrículo
caixa torácica. Havendo necessidade, ou seja, se houver ar den- esquerdo pode levar a dependência do ventrículo direito para a
tro do estômago, manter aspiração contínua. adequada perfusão sistêmica. Neste contexto, a manutenção da
Cateterismo de vasos umbilicais: a Pa02 obtida do cateter arterial patência ductal com o uso da prostaglandina E-1 aumenta a con-
umbilical reflete a oxigenação do sangue pós-ductal. É essencial a mo- tribuição do ventrículo direito para o fluxo sistêmico.
nitorização da Pa02 pré-ductal (oxímetro no membro superior direito). A prostaglandina E-1 pode levar a hipotensão sistêmica, sendo
Monitorização da pressão arterial: a hipoxemia, a hipercap- prontamente revertida com a sua suspensão, devido a sua curta
nia e a acidose decorrem, basicamente, do shunt D-E pelo canal vida média.
arterial e/ou foramen oval, devido à intensa vasoconstricção pul- ProstinR (Prostaglandina E1) EV contínua na dose de 0,05 até
monar (hipertensão pulmonar), sendo este quadro agravado com 0,1mcg/kg/min; dose máxima: 0,4mcg/kg/min. Obtendo-se au-
a presença de hipotensão arterial sistêmica. Manter a PAM (pres- mento da Pa02 e do pH, deve-se diminuir a dose até 0,01 mcg/
são arterial média) em níveis normais, de acordo com a idade kg/min para evitar efeitos colaterais como apnéia (12%) febre
gestacional. Se hipotensão arterial (de forma geral <30mmHg em (14%) rubor (15%). Os efeitos colaterais menos comuns são ta-
264 pré-termos e <50mmHg em RN a termo) associada à saturação quicardia ou bradicardia, hipotensão arterial e parada cardíaca.
pré-ductal <80%, avaliar função cardíaca com ecocardiografia e Monitorizar acidose metabólica.
em caso de hipovolemia, aplicar 10-20ml/kg de soro fisiológico Prostin: 1 m l= 500mcg - Como usar: peso x dose x 1440/500
a 0,9% até 3 vezes e considerar drogas vasoativas: dopamina:
2,5 µg/Kg (peso x 1440 x dose/5000), dobutamina: 5µg/kg/min Estratégias Ventilatórias
(peso x 1440 x dose/12500)
Analgesia/sedação/manipulação mínima: estes RN apresen- Ao nascer, o RN deve ser prontamente entubado para venti-
tam grande labilidade na oxigenação arterial (punções arteriais lação e uma sonda orogástrica deve ser introduzida, para esva-
e venosas): o exame clínico e a aspiração traqueal aumentam ziamento gástrico. Nunca usar máscara para reanimar estes RN.
o shunt D-E, agravando a hipoxemia. Manipular o estritamente Ventilar o RN com pressões menos agressivas, devido ao maior
necessário. Manter calmo e silencioso o ambiente ao redor do risco de barotrauma.
paciente; recomenda-se o uso de drogas analgésicas e sedativas:
Fentanil e Midazolam (vide Capítulo de Dor Neonatal) 1. Ventilação com pressão controlada e parâmetros iniciais:
Paralisia muscular: não deve ser usado, devido a conseqüên- PIP 20-25 cm H2O e PEEP de 2-5 cm H2O, FR 40-60/min;
cias indesejáveis na mecânica ventilatória. 2. Para os RN com grave hipóxia e/ou hipercapnia refra-
Diuréticos: considerar uso de diuréticos em caso de balanço tária (falha da ventilação convencional) empregar ventila-
hídrico positivo, objetivando diurese entre 1-2 ml/kg/h; ção de alta frequência com MAP 13-17, FR 10Hz, amplitu-
Ecocardiograma (inicial com 24 horas de vida e seriado): avalia- de 30-50, em acordo com a vibração torácica, se houver
ção da hipertensão pulmonar e da função ventricular direita. Ventrí- necessidade de PIP > 25 na ventilação convencional. A
culo esquerdo pequeno complica a evolução destes pacientes. ventilação de alta frequência por usar menor volume cor-
Uso de Prostaglandina E-1: Em situações de hipertensão rente pode ser menos deletéria aos pulmões do que uma
pulmonar refratária associada com disfunção ventricular direita ventilação convencional com alto volume corrente.
(avaliação ecocardiográfica) 3. Após estabilização, reduzir Fi02 se saturação pré-duc-
A hipoplasia pulmonar, a resistência vascular pulmonar e a tal >95%;
insuficiência cardíaca determinam a fisiopatologia da hérnia dia-
fragmática congênita. A insuficiência cardíaca pode surgir devido A pressão deve permitir uma boa oxigenação, isto é, uma sa-
à excessiva pós-carga do ventrículo direito (demonstrada pelo turação pré-ductal > 90%. De preferência, a pressão inspiratória
aumento do ventrículo direito e desvio para a esquerda do septo máxima não deve ultrapassar 25 cm H2O, e a freqüência respira-
interventricular). Esta situação pode levar a um insuficiente enchi- tória deve se manter entre 30 e 40 ipm.
mento do ventrículo esquerdo e deficiente perfusão sistêmica. O Não se aconselha hiperventilação (que busca reverter a hiper-
canal arterial patente pode servir como um escape para o ventrí- tensão pulmonar às custas de alcalose respiratória e hiperoxia,
culo direito, permitindo que o sangue ignore os pulmões particular- causando alterações no pulmão remanescente com formação de
mente nos picos de hipertensão pulmonar, à custa de desaturação membranas hialinas e áreas hemorrágicas, possibilitando o sur-
sistêmica. Assim, na presença de severa hipertensão pulmonar a gimento de barotrauma) e deve ser tolerada a hipoxemia (tolerar
Capitulo 07 Distúrbios Respiratórios

uma saturação pré-ductal de 02 de 85%), tolerar certo grau de de Pa02 maior que 100mmHg (100% de mortalidade) e aqueles
hipercapnia (manter a PaC02 entre 45-60mmHg), evitar sempre a que apresentaram Apgar menor ou igual a 6 no 50 minuto de vida.
ocorrência de hipocapnia (ocorre uma diminuição de 50% do flu- Estudo recente de Yoder evidenciou que a maior saturação de
xo sanguíneo cerebral quando a PaC02 cai de 50 para 20 mmHg, 02<85% nas primeiras 24 horas de vida não é universalmente
além de que ocorre maior afinidade da hemoglobina por oxigênio fatal (houve 23% de sobrevivência, sendo que a taxa aumentou
durante a alcalose, exacerbando ainda mais a hipoxia tecidual). para 44% quando realizou reparo cirúrgico).

O Uso Do Óxido Nítrico Estabilização Pré-Operatória:


Quando Indicar A Cirurgia

Historicamente a HDC foi considerada uma emergência médi-


ca. Os RN sintomáticos eram operados imediatamente.
No entanto, a regra na maioria dos centros é atrasar a cirurgia o
controle da crise hipertensiva pulmonar nos recém-nascidos com
O óxido nítrico (NO) é uma substância endógena produzida HDC. Este período de adaptação ao nascimento permite a estabili-
primariamente no endotélio vascular a partir do aminoácido L- zação da lábil hemodinâmica e fisiologia pulmonar. Assim, a hérnia
arginina; se difunde para o órgão efetor (células da musculatura diafragmática congênita está longe de ser um problema meramen-
lisa vascular), onde ativa a guanilase-cliclase, estimulando a pro- te cirúrgico, com uma solução cirúrgica direta. Os determinantes
dução de monofosfato de guanosina 3´, 5´cíclica (cGMP), que re- mais importantes dos resultados são os fatores pré-natais que
sulta no relaxamento da musculatura lisa (e consequentemente, influenciam o desenvolvimento do parênquima pulmonar, do leito
no relaxamento vascular). vascular pulmonar e do sistema surfactante pulmonar.
O NOi (óxido nítrico inalado) deve alcançar os alvéolos para Antes dos anos 80, a abordagem era de se proceder à cirurgia
produzir seus efeitos sobre o músculo liso vascular, razão pela de urgência, no sentido de descomprimir o pulmão do conteúdo
qual a resposta ao NOi na hérnia diafragmática com hipoplasia abdominal e melhorar a complacência pulmonar.
pulmonar não é boa (de cada 10 RN, 2 respondem), não sendo Recentemente se mostrou que em muitos casos há diminuição
uma contra-indicação. Seu uso é defendido como estratégia de da complacência pulmonar após a cirurgia. Dois fatores podem
transição para o paciente que será encaminhado à ECMO; todo estar envolvidos:
RN com hérnia diafragmática merece uma tentativa de NOi.
Na presença de disfunção do ventrículo esquerdo, o NO não • O deslocamento para baixo do diafragma e a distorção da
será eficiente (fazendo vasodilatação pulmonar com o NOi, maior parte superior da parede do tórax, associadas à incorpo-
quantidade de sangue chegará ao pulmão, com maior retorno ração do músculo oblíquo interno na correção.
venoso ao coração esquerdo, com risco de edema pulmonar). • A pressão intra-abdominal elevada e a pressão intratorácica
Considerar uso de NOi se houver evidências de shunt D-E aumentada que acompanham o fechamento abdominal. 265
extrapulmonar, com IO >20 e/ou diferença de saturação pré e
pós-ductal >10%; considerar o uso de sildenafil, na ausência de Metanálise de Moyer F, Moya F e cl não permitiu uma resposta
NOi (Consulte o Capítulo de Hipertensão Pulmonar Persistente). definitiva, mas os dados, segundo Moya F nos dizem que não
há vantagem alguma em submeter esses RN a cirurgia precoce.
Definição Da Severidade E Predicção Pela Interpretamos esses dados como indicativo de estabilizar esses
Gasometria E Parâmetros Ventilatórios bebês, descobrindo se existem outras anomalias associadas an-
tes de levá-los a cirurgia (muitas outras anomalias podem não
Por ser uma doença de difícil manuseio e com alto índice de mor- ser diagnosticadas no pré-natal). Por isso os RN não devem ser
talidade a despeito das mais variadas abordagens, sempre houve operados num esquema de emergência. A hérnia diafragmática
interesse em se prever o desfecho mais provável a partir de dados é uma emergência fisiológica e não cirúrgica.
clínicos precoces. Associa-se a um mau prognóstico nas primeiras O objetivo é uma boa estabilização pulmonar pré-operatória,
24h de vida uma Pa02 pós-ductal sempre < 100mmHg em uma Fi02 com medidas adequadas como abordado anteriormente. O mo-
de 100%, não se conseguindo nem por um momento uma Pa02 aci- mento da correção cirúrgica depende do grau da estabilidade ou
ma de 100mmHg no RN sob ventilação mecânica convencional. labilidade do leito vascular pulmonar: recém-nascidos tolerando
O índice Ventilatório Modificado (Butt e col) tem sido usado no bem a ventilação gentil, sob mínima quantidade de NOi, PAM
prognóstico destes bebês: igual a IG, saturação pré-ductal 85-95 sob Fi02 <50%, lactato <3
mmol/l e débito urinário >2ml/kg/h
IVM = FR x PIM X PaC02 (<40: bom prognóstico e > 80: prog- Não aplicar dreno torácico de rotina. Sabe-se que o espaço
nóstico ruim) será preenchido aos poucos e imperceptívelmente, por líquido.
no paciente que não tinha desvio de mediastino, estável e apre-
Outro indicador é o Índice de Oxigenação: senta piora clinica associada a velamento de hemitórax com des-
vio de mediastino, temos que pensar que não é derrame fisioló-
IO = MAP x Fi02/Pa02 gico e sim derrame descompensador (quilotórax na maior parte
dos casos. Aqui se impõe,não dreno, mas a punção evacuadora
Um IVM > 70 e um IO > 30% prevêem 94% de mortalidade com e diagnóstica. Só depois de três punções que se colocaria  o dre-
96% de especificidade e 82% de sensibilidade. Já um IVM < 40 e no. Segundo Casaccia e cl, o quilotórax pode aparecer sem lesão
um IO < 8% prevêem chance de sobrevivência de 91%, com espe- cirúrgica do ducto, mas por pequenos linfáticos que se rompem
cificidade de 86% e um sensibilidade de 94%. (Para o cálculo do quando a pleura se expande.
IO, consulte o capítulo de Avaliação da Severidade Clínica do RN Aqueles pacientes que podem ser tratados com ventilação con-
sob Assistência Respiratória). Na experiência de Santos e cl, os vencional com oxigenação adequada e sem shunt ductal, podem
RN com HDC com prognóstico ruim foram aqueles RN que neces- ter a correção feita entre 12 a 48hs. A maioria das correções hoje
sitaram de intubação antes de 6 horas de vida, a não obtenção é feita entre o primeiro e o quinto dia de vida (um número con-
siderável de bebês sofrem a correção após o quinto dia de vida.

Paulo R. Margotto
Assistência ao Recém-Nascido de Risco

Os pacientes com shunt ductal devem adiar sua correção e a 9. Não usar surfactante, exceto se indicado;
decisão é reavaliada numa base diária. 10. Adaptar o tratamento para obter saturação pré-ductal
Isso pode adiar a decisão de operar até uma semana em al- entre 85-95% e pós-ductal >70%;
guns casos. 11. Em situações individualizadas, manter saturação pré-duc-
tal >80%, desde que se mantenha boa perfusão tissular;
Dieta 12. Buscar PaC02 entre 45-60 mmHg;
13. Ventilação com pressão controlada e parâmetros iniciais:
Quando iniciar a nutrição enteral, associar medidas antirefluxo PIP 20-25 cmH2O e PEEP de 2-5 cm H2O, FR 40-60/min;
Critérios Para Uso De ECMO (Oxigenação Por Membrana Ex- 14. Opção: Ventilação de alta frequência com MAP 13-17,
tracorpórea) FR 10Hz, amplitude 30-50, em acordo com a vibração
torácica, se houver necessidade de PIP > 25;
1. Inabilidade de manter saturação pré-ductal >85% ou 15. Após estabilização, reduzir Fi02 se saturação pré-duc-
pós-ductal>70%; tal >95%;
2. Aumento da PaC02 e acidose respiratória <7.15; 16. Se surgirem sinais de hipoperfusão e/ou queda da PAM
3. PIP > 28 ou MAP>17 na ventilação de alta frequência <idade gestacional, associado à saturação pré-ductal
para obter saturação >85%; <80%, avaliar função cardíaca com Ecocardiografia e, em
4. Acidose metabólica mantida, com lactato >5mmol/l e caso de hipovolemia, aplicar 10-20 ml/kg de SF até 3 vezes,
pH<7.15; se necessário, em 2 horas, e considerar uso de inotrópicos;
5. Hipotensão sistêmica resistente e débito urinário 17. Considerar uso de diuréticos em caso de balanço hídri-
<0,5ml/kg/h durante 12-24h; co positivo, objetivando diurese entre 1-2 ml/kg/h;
6. IO ≥40 persistente. 18. Fazer Ecocardiografia nas primeiras 24 h de vida;
19. Considerar uso de NOi se houver evidências de shunt
Segmento A Longo Prazo D-E extrapulmonar, com IO >20 e/ou diferença de satura-
ção pré e pós-ductal >10%; considerar o uso de sildenafil
Estas crianças necessitam de acompanhamento multidiscipli- ou alcalinização química com bicarbonato de sódio para
nar com pediatras especializados em pneumologia, neurologia, reduzir a pressão na circulação pulmonar, na ausência
gastroenterologia e em patologias musculoesqueléticas. de NOi.
Estes problemas podem ser: recorrente Hérniação, atrasos no 20. Em caso de pressão arterial pulmonar > que pressão
crescimento, doença pulmonar crônica, complicações alimen- arterial sistêmica, com shunt D-E (foramen oval ou canal
tares, refluxo gartroesofágico, fraqueza, surdez e deformidade arterial) e disfunção cardíaca direita, considerar uso de
músculo-esqueléticas. Prostaglandina E1;
No estudo de seguimento doas crianças com HDC por 1 a 3 21. Cirurgia somente após estabilização clínica, ou seja,
266 anos, FriedmanS e cl relataram a ocorrência de problemas pul- a PAM igual à IG, saturação pré-ductal 85-95 sob Fi02
monares em 34 e 33% nas idades de 1 e 3 anos. Os problemas <50%, lactato <3 mmol/l e débito urinário >2ml/kg/h;
de linguagem e motores ocorreram em 6 e 18% e em 73 e 60% 22. Não aplicar dreno torácico de rotina; fazê-lo somente
nas idades de 1 e 3 anos. Na análise multivariada, o tempo de se houver pneumotórax hipertensivo ou em caso de der-
ventilação mecânica foi o único preditor independente para pro- rame pleural hipertensivo (geralmente quilotórax princi-
blemas motores (OR:1,12 -IC a 95%: 1.05 – 1.20). Devido à ob- palmente havendo aplicação de tela durante a cirurgia).
servação de discrepância entre as observações dos pais e de Se houver dreno torácico, deve haver controle sistemáti-
especialistas, é importante que estas crianças sejam acompa- co para que não haja exagero no desvio do mediastino
nhadas com especialistas em desenvolvimento. para o lado afetado. Muita atenção deve ser dada nas ra-
Conforti A e Losty P relataram a ocorrência de refluxo gastroe- diografias de tórax para evitar hiperinsuflação pulmonar;
sofágico em 89%, provavelmente relacionado à disfunção do dia- o lado contralateral deve ser mantido com, no máximo, 8
fragma, sendo que a maioria requereu correção. A insuficiência costelas visíveis no campo pulmonar.
respiratória crônica ocorreu em mais de 48% dos casos, devido à 23. Evitar bloqueador neuromuscular;
hipoplasia pulmonar e a lesão pulmonar. 24. Quando iniciar dieta oral associar medidas antirefluxo.
Mais de 40% dos sobreviventes apresentam deformidades da
parede torácica como pectus excavatum e deformidades da colu- Bibliografia
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mente; sem ventilação por máscara facial; trico –BIP (Brasília), N0 62, 1999.
4. Na sala de parto, objetivar saturação pré-ductal entre • Lopes J M A. Como utilizar o NO. IN: Margotto PR. Boletim Informativo Pediátrico –BIP
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80-95%; • Nelin L D, Hoffman G M. The use of inhaled nitric oxide in a wide variety of clinical prob-
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5. Ventilação na sala de parto deve impor PIP baixos, se • Wilcox DT e cl. Pathophysiology of congenital diaphragmatic Hérnia. V. Effect of exogenous
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7. Manter pressão arterial sistêmica média em nível nor- • Sakai H e cl. Effect of surgical repair on respiratory mechanics in congenital diaphragmatic
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8. Aplicar sedo-analgesia;
Capitulo 07 Distúrbios Respiratórios

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267

Paulo R. Margotto
Assistência ao Recém-Nascido de Risco

7.11 TRAQUEOSTOMIA

Vanessa Siano da Silva, Lisliê Capoulade

A história da traqueostomia remonta desde os tempos do antigo Escoliose com pneumopatia


Egito (3600 a.C.), porém só passou a ser prática médica a partir restritiva
do século XIX, quando os médicos começaram a realizar o procedi- Paresia diafragmática pós-
mento para estabelecer alívio imediato no caso de obstrução alta operatória
de vias aéreas, na época em sua maior parte secundária a difteria.
Com o advento da vacina contra difteria, a realização de tra- Cardiopatia congênita
queostomias de urgência diminuiu consideravelmente, manten- Doença neuromuscular/
do-se por décadas como procedimento raramente utilizado. Distrofia muscular Duchenne
neurológica
Em função da falta de técnica e cuidados de antissepsia, a rea- Atrofia muscular espinhal tipo 1
lização da traqueostomia era cercada de alta mortalidade, e isso
Síndrome de hipoventilação
só mudou no começo do século XX, quando Chevalier Jackson
congênita central
padronizou o procedimento e os cuidados inerentes reduzindo a
Paralisia cerebral
morbi-mortalidade da intervenção.
Trauma cerebral e raquimedular
Devido aos esforços no sentido de aprimorar a técnica bem
como modernizar o equipamento utilizado, o rol de patologias Espinha bífida
com indicação de traqueostomia aumentou consideravelmente
e, em conseqüência aumentaram a sobrevida e a qualidade de Tabela 1 – Indicações de traqueostomia correlacionadas a exemplos de
vida dos traqueostomizados. condições clínicas relativas à grande grupo de indicações
As indicações de traqueostomia, porém, se resumem em criar Fonte: TRACHSEL, 2006.
um bypass para casos de obstrução alta ou instituir suporte ven-
tilatório e higiene pulmonar prolongados. Dentro de uma unidade de terapia intensiva, o paciente é vi-
Mesmo lactentes e neonatos podem apresentam indicação de giado por 24 horas, mas como fazer para oferecer segurança
traqueostomia em função do uso prolongado de ventilação mecâ- quando tais pacientes têm condições de alta da unidade? Com
nica, que na grande maioria é secundária a seqüelas pulmonares o conseqüente aumento no número de pacientes traqueostomi-
ou neurológicas decorrentes da prematuridade extrema e neces- zados, bem como o tempo prolongado do uso da cânula em de-
sidade de métodos invasivos – tais como altas concentrações de terminadas condições, houve necessidade crescente de ampliar
268 02, levando a displasia broncopulmonar e até mesmo hemorragia e modernizar os cuidados, no sentido de diminuir o número de
intraventricular. internações, complicações e morbidade, bem como aumentar a
Em todas as faixas etárias pediátricas o que realmente mudou taxa de sobrevida dos pacientes que porventura sejam depen-
ao longo das décadas foi o leque de condições clínicas que levam dentes do procedimento.
às indicações supracitadas, que estão referidas na tabela 1. Por isso, esforços no sentido de estabelecer padrões quanto à
higiene pulmonar e do traqueostoma, cânula adequada bem como
Indicações de traqueostomia Exemplos tempo de vida útil da mesma, cuidados com aspiração e acompa-
1 Obstrução de via aérea alta nhamento rigoroso, principalmente em crianças, cujo controle de-
pende de seus cuidadores, devem ser buscados para que se tenha
Congênita
melhora na qualidade de vida deste grupo de pacientes.
Estenose subglótica Adquirida

Como Dinamizar A Indicação De Traqueostomia


Congênita
Traqueomalácia Adquirida
A decisão de traqueostomizar uma criança deve passar por
um processo interdisciplinar envolvendo intensivistas, pneumo-
Congênita logistas, cirurgiões pediátricos, psicólogos e enfermeiros além
Estenose traqueal Adquirida da família, uma vez que não existe na literatura atual um tempo
padrão de intubação a partir do qual uma criança deve ser sub-
Síndromes crânio-faciais Seqüência de Pierre robin metida à traqueostomia, sendo essa importante decisão avaliada
Associação CHARGE individualmente e exaustivamente discutida.
Síndrome de Treacher-Collins Em lactentes e, principalmente em neonatos, incluindo pré-
Síndrome Beckwith-Wiedemann termos, geralmente a necessidade de se realizar traqueostomia
Tumores cranio-faciais e Higroma cístico precoce é bastante restrita, pois a maleabilidade da árvore tra-
laríngeos Hemangioma queal permite longos períodos de intubação orotraqueal, sem
danos notáveis às vias aéreas.
Paralisia de corda vocal
Hidrocefalia interna Alguns estudos consideram a traqueostomia em neonatos
bilateral
quando há falhas sucessivas nas tentativas de extubação ou
Síndrome de moebius
quando se prevê uma intubação que se prolongue por mais de
Apnéia obstrutiva do sono 8-10 semanas.
Trauma de laringe Queimadura, fratura Já outros autores indicam traqueostomia quando provavelmen-
2 Ventilação prolongada/ te o recém-nascido necessitará de ventilação mecânica, indepen-
higiene pulmonar dente da causa, por 4-6 meses.
Doenças pulmonares Displasia broncopulmonar No entanto, há relato de neonatos que permaneceram entuba-
dos por meses antes de se optar pela traqueostomia.
Capitulo 07 Distúrbios Respiratórios

O que se tem colocado, é a realização de broncoscopia em ne- As traqueostomias recentes devem receber umidificação contí-
onatos que apresentem dificuldade de extubação ou de desma- nua até a primeira troca para prevenir obstrução.
me ventilatório, a fim de se detectar possíveis danos traqueais Outras complicações precoces são enfisema subcutâneo,
congênitos ou adquiridos em virtude da intubação prolongada, pneumotórax e pneumomediastino.
possibilitando uma indicação mais precisa da traqueostomia. Algumas das complicações tardias mais freqüentes são o apa-
A atitude dos pacientes e de seus cuidadores influencia na es- recimento de granulomas, estenose laríngea e estenose traqueal.
colha do tratamento, assim como os fatores sócio-econômicos e a É importante salientar que granulomas geralmente são comuns e
disponibilidade do profissional em oferecer um suporte domiciliar. em muitas descrições não são consideradas como complicação,
Algumas questões que podem ajudar na decisão de submeter sendo mencionadas apenas quando complicações mais sérias de-
uma criança a traqueostomia estão disponíveis no quadro 1. correm de sua existência. A estenose laríngea é rara e usualmente
ocorre como conseqüência de uma lesão involuntária da cricóide.
A criança com obstrução de via aérea alta A decanulação acidental é a segunda causa de morte relacio-
Baixa chance de resolução definitiva e espontânea nada à traqueostomia, atrás apenas da obstrução. Ocorre por
com um tempo razoável (semanas) exemplo, quando a cânula é impropriamente posicionada duran-
te a traqueostomia inicial ou suas trocas subseqüentes.
Baixa probabilidade de a cirurgia corrigir definitivamente a causa
Mesmo em recém-nascidos pré-termo de muito muito baixo
Alto risco de obstrução crítica das vias aéreas com uma simples
peso, embora apresentando maior incidência de comorbidades,
infecção do trato respiratório ou
a traqueostomia pode ser realizada com mínima morbidade.
pequenos sangramentos (epistaxes)
Alto risco de ou história prévia de dificuldade de manejo de vias Mortalidade
aéreas em situações de emergência
Dificuldade de controle do refluxo gastro-esofágico A taxa de mortalidade total dos pacientes pediátricos traque-
A criança requerendo ventilação ostomizados é cerca de 40% em média nos estudos levantados,
mecânica prolongada/higiene pulmonar e a taxa de mortalidade relacionada à traqueostomia sofreu va-
Baixa idade com alto risco de deformidade riações nos estudos avaliados, variando de 0 a 6%., sendo as
facial pelo uso de máscara de pressão causas relacionadas à morte a decanulação acidental e obstru-
Dependência de ventilação na maior parte ção do tubo.
do dia (mais que 12 horas por dia) Embora as taxas de complicação e mortalidade geral sejam
Impossibilidade de acoplar a máscara (facial ou nasal) maiores em lactentes menores de 1 ano em relação as faixas pe-
diátricas subseqüentes, essa mortalidade se deve às patologias
Aspirações recorrentes (refluxo gastro-esofágico, incompetência
de base associadas e não à existência da traqueostomia, sendo
laríngea com benefício para higiene pulmonar).
a mortalidade específica semelhante em todas as faixas etárias.
Medidas seguras e experiência local alta
A taxa total de mortalidade parece ser maior em crianças com 269
em favor da ventilação invasiva
cardiopatias ou doenças do sistema nervoso central, e menor
nas crianças com anomalias craniofaciais ou obstrução aguda
Quadro 1 – Critérios favorecendo a traqueostomia em crianças de vias aéreas.
Fonte: TRACHSEL, 2006.
Tipos De Cânula
Complicações
A seleção do tubo adequado deve ser tomada com bases indi-
As complicações podem ser divididas entre aquelas que ocor- viduais, considerando a indicação da traqueostomia; diâmetro,
rem no intra e pós-operatório, sendo estas classificadas em ime- curvatura e comprimento da traquéia; resistência das vias aére-
diatas, precoces e tardias. as; mecânica pulmonar; necessidade da criança em falar e respi-
As imediatas incluem apnéia por perda do drive respiratório hi- rar e de higiene pulmonar.
póxico, sendo esse fato muito importante em pacientes acordados
em que o suporte respiratório nesses casos deve ser avaliado. Tamanho E Curvatura Da Cânula De Traqueostomia
Já o edema pulmonar pós obstrutivo, embora raro, pode ser
transitório e ocorrer após a traqueostomia, o qual é proveniente Na maioria dos casos, o tubo escolhido deve se estender pelo
da resolução abrupta da obstrução alta das vias aéreas. menos 2 cm abaixo do estoma, e a pelo menos 1 a 2 cm acima
O sangramento pode ocorrer no pós-operatório precoce se a da carina. O diâmetro do tubo deve ser selecionado no sentido de
hemostasia no intra-operatório não foi bem feita ou se existe evitar danos à parede traqueal, minimizar o trabalho respiratório
uma discrasia sanguínea ou coagulopatia não diagnosticada. e, quando possível, promover um fluxo translaríngeo.
Além disso, a cânula pode causar irritação e inflamação locais No que diz respeito à curvatura do tubo, o mesmo deve ser concên-
resultando em hemorragia. Esse risco pode ser minimizado com trico e colinear à traquéia. Para escolha de uma curvatura adequada
cuidados apropriados e umidificação adequada. são necessárias radiografia cervical e torácica, ou broncoscopia.
Os tubos metálicos podem causar erosão do traqueostoma e Todos os tubos devem ter um adaptador universal para ambú
até mesmo da parede anterior da traquéia e, se não tratada, essa para situações de emergência, sendo que tubos metálicos são
erosão pode se estender até a artéria inominada, resultando em geralmente produzidos sem essa capacidade.
hemorragia potencialmente fatal. A maioria das cânulas metálicas tem um tubo interno que re-
A infecção local pode ocorrer como em qualquer procedimento duz o diâmetro da cânula. Em crianças pequenas, principalmente
cirúrgico e é facilmente tratada com antibiótico oral. em prematuros, isso pode causar uma resistência excessivamen-
A decanulação acidental e obstrução da cânula podem ser te alta das vias aéreas.
evitadas com cuidados adequados da traqueostomia, e todos os As cânulas com tubo interno podem ser úteis em pacientes que
cuidadores devem ser treinados para manejar uma decanulação tem secreção copiosa que adere à parede do tubo. A limpeza da
acidental, incluindo trocas de cânula quando de emergência e cânula interna evita a necessidade de trocas freqüentes.
ressuscitação cardiopulmonar

Paulo R. Margotto
Assistência ao Recém-Nascido de Risco

Já os tubos plásticos (PVC ou silicone) são fáceis de limpar e Enquanto tubos de silicone não se tornam rígidos, dificilmen-
trocar. São preferidos na maioria das instituições e por serem mais te apresentam rachaduras e podem ser usados após esteriliza-
largos promovem uma menor resistência nas vias aéreas. Além ção e desinfecção.
disso, permitem maior conforto na movimentação cervical por se- Tubos de metal podem ser reutilizados indefinidamente e de-
rem flexíveis, porém lembrar que os tubos de PVC com o passar do vem ser inspecionados para possíveis rachaduras ou defeito.
tempo podem se tornar mais rígidos e sofrer rachaduras.
Nos pacientes em que a cânula de PVC não promove uma ade- Fixação Do Tubo
rência ótima, um tubo de silicone pode adquirir a conformação
da via aérea e ser uma melhor opção. Vários materiais, como gravatas de velcro, adesivos, elásticos
entre outros, estão disponíveis para fixar o tubo.
Cânulas Com Balonete A tensão correta para fixação do tubo é dada quando um dedo
pode ser colocado entre a gravata e a parte posterior do pescoço,
Tubos com balonete podem ser usados para diminuir o risco de sem forçar e com o pescoço flexionado.
aspiração ou para pacientes que requerem ventilação mecânica, O ponto mais importante na escolha da gravata para fixação
inclusive ventilação noturna. O balonete é insuflado à noite para não é o material do qual é feita e sim se ela é segura em estabe-
ventilação e desinsuflado durante o dia para facilitar a fonação. lecer a fixação adequada.
No emprego de um tubo com balonete deve-se fazer distinção
entre alta pressão e baixo volume/baixa pressão e alto volume. Aspiração
Quando um tubo de baixa pressão e alto volume é empregado,
a pressão no balonete deve ser mantida o mais baixo possível. Assegurar uma via aérea por meio da aspiração é um compo-
Geralmente pressões abaixo de 20 cm de água são bem tolera- nente vital no manejo da criança com traqueostomia.
das. Em pacientes que recebem ventilação com pressão positiva As recomendações quanto à aspiração de vias aéreas de pa-
a técnica de mínima oclusão deve ser usada. cientes criticamente enfermos não são específicas para crianças
Já quando um tubo de baixo volume e alta pressão é emprega- com traqueostomia, porém são consideradas apropriadas para
do, a pressão do balonete deve ser mais alta do que a pressão de este grupo de pacientes.
perfusão capilar do epitélio da via aérea. Nesses casos, o máxi-
mo diâmetro do tubo de traqueostomia com o balonete insuflado • Técnica limpa x estéril: técnica estéril é definida como
deve ser mantido menor do que o mínimo diâmetro da traquéia. o uso de luvas e cateteres estéreis para o procedimento
de aspiração. Já técnica limpa é definida como o uso de
Cuidados Com A Traqueostomia cateter limpo não estéril, luvas de procedimento ou lava-
gem das mãos antes do procedimento. A técnica estéril é
Desde que as traqueostomias em crianças têm sido realiza- o método mais utilizado no ambiente hospitalar, embora
270 das, em sua maioria devido à ventilação mecânica, conceitos de essa prática sofra variações, como uma “técnica limpa
cuidados em longo prazo tiveram de ser desenvolvidos, e em mui- modificada” (luvas de procedimento e cateter estéril). A
tos casos, esse manejo depende da indicação da traqueostomia. técnica limpa é o procedimento habitualmente utilizado
No caso de uma obstrução crônica das vias aéreas, a traque- em domicílio. Todos os cuidadores devem lavar bem as
ostomia é utilizada como uma passagem para estenose. Já na mãos antes e após o procedimento e as luvas de proce-
presença de traqueomalácia, a cânula de traqueostomia pode dimento podem ser usadas para proteção do cuidador.
ser usada como um suporte para via aérea. • Freqüência de aspiração: a rotina de aspiração é feita
A maioria das traqueostomias realizadas com uma indicação de acordo com as necessidades de cada paciente, que
formal pode ser removida, uma vez que a patologia de base seja pode variar de acordo com características individuais,
corrigida cirurgicamente ou ocorra uma melhora com o cresci- incluindo idade, status muscular e neurológico, nível de
mento e desenvolvimento da via aérea. atividade, capacidade de tossir, viscosidade e quantida-
As traqueostomias que são realizadas para fornecer suporte de de muco e maturidade do estoma.
ventilatório podem ser removidas, uma vez que este suporte pos- • Tamanho do cateter de aspiração: a literatura recomenda o
sa ser fornecido de maneira não invasiva. uso de um cateter de aspiração que tenha metade do diâme-
O manejo em longo prazo difere nestes dois grupos em termos tro do tubo de traqueostomia. Isso permite um fluxo de ar ao
de protocolos de decanulação. No entanto, a seleção do tubo, redor do cateter para evitar atelectasia durante a aspiração.
os cuidados com o manejo da cânula e estoma, e a educação e • Pressão de aspiração: pressões de 80 a 100 mmHg são
treinamento dos cuidadores é praticamente a mesma. tipicamente usados para pacientes pediátricos. O vácuo
aplicado ao cateter de aspiração é variável e baseado
Troca De Cânula em múltiplos fatores como, por exemplo, a viscosidade
das secreções. A aspiração deve ser aplicada durante a
A freqüência das trocas depende do material do qual é feito o inserção e retirada do cateter, e deve ser adequada para
tubo, e não se têm estudos representativos sobre o tempo ideal de remover eficazmente as secreções com rápida passagem
permanência da cânula relacionado à diminuição de complicações. do catéter. Antes da alta, a máquina que será utilizada
Segundo a Sociedade Torácica Americana (ATS), tubos flexíveis para aspiração em domicílio deve ser usada para asse-
de polivinil cloride (PVC), que atualmente são os mais utilizados gurar que esta seja adequada para manter o paciente
na população pediátrica, se tornam progressivamente mais rígi- livre de secreções.
dos e podem desenvolver rachaduras. Já experiências clínicas • Duração da aspiração: a literatura tipicamente sugere um
sugerem que estes tubos podem ser usados por até 3 a 4 meses limite de aspiração de 15 segundos. Uma técnica rápida,
antes de apresentar rachaduras. que seja executada em menos de 5 segundos é recomenda-
É necessário considerar que alguns pacientes necessitam de tro- da. Isso é vital quando é usado um catéter largo em relação
cas mais freqüentes devido ao grande acúmulo de secreção e alguns ao diâmetro da traqueostomia para prevenir atelectasia.
fabricantes (p ex: SHILEY) recomendam a troca com 30 dias de uso.
Capitulo 07 Distúrbios Respiratórios

Educação Dos Cuidadores quadamente, o paciente pode ser decanulado naquele momento.
A vantagem desta técnica é que ela permite um reconhecimen-
Um protocolo estruturado de treinamento, baseado nas necessida- to de fatores anatômicos, como granuloma na via aérea, o que
des de cada criança e no equipamento utilizado, tem se mostrado útil. reduz as chances de falha de decanulação.
A educação é preferencialmente iniciada antes da traqueosto- Quanto às complicações que podem acarretar dificuldade e até
mia eletiva, e os tópicos incluem indicações de traqueostomia, mesmo impedimento no momento da decanulação, citamos:
aspectos relevantes de anatomia e fisiologia e diferenças em re-
lação à respiração normal. • Granuloma supra estomal: os granulomas são uma com-
Durante o pós-operatório, os pais são encorajados a passar o plicação comum e costumam ocorrer na borda superior
máximo de tempo possível com a criança para ganhar confiança do traqueostoma, onde a mucosa é irritada e inflamada
e obter a destreza necessária para lidar com o desafio que é ter pela presença da cânula. Granulomas grandes e obstruti-
uma criança traqueostomizada em casa. vos devem ser tratados antes da decanulação.
Todas as crianças devem receber cuidados de enfermagem • Colapso supra estomal: algum grau de colapso da pare-
em domicílio por um período de transição após a alta. A duração de anterior da traquéia superior ao traqueostoma é qua-
deste cuidado deve ser prescrita pelo médico baseado em dados se inevitável em pacientes com traqueostomia de longa
individuais, com visitas periódicas aos especialistas do serviço data. Isso resulta da pressão que o tubo de traqueosto-
terciário. Cuidados como alimentar, dar banho e colocar para dor- mia exerce no anel traqueal, com conseqüente inflama-
mir são demonstrados e gradualmente assimilados pelos pais. ção, condrite e até mesmo erosão da cartilagem do anel.
A criança traqueostomizada, tanto dentro da instituição quanto O grau de colapso que geralmente ocorre não requer cor-
no ambiente domiciliar, deve ser cuidada por indivíduos que se- reção antes da decanulação. Colapso causando mais de
jam treinados em passar uma cânula de traqueostomia. Esses 50% de oclusão da luz traqueal requer uma cirurgia de
pacientes devem ser hospitalizados de preferência em institui- decanulação aberta ou até mesmo cirurgia de reconstru-
ções cujos seus cuidadores – tanto médicos quanto os cuidado- ção do estoma. A incisão horizontal para traqueostomia
res domiciliares - estejam disponíveis 24 horas por dia. está mais associada ao colapso supra-estomal.
O médico responsável pela decisão de realizar a traqueosto-
mia é também responsável por garantir um adequado treinamen- Com relação aos tipos de decanulação quando há complica-
to aos pais ou outros cuidadores quando estes existirem. ções citamos:

Decanulação • Decanulação cirúrgica: procedimento realizado em um


único tempo e consiste em retirada do tubo e fechamen-
As taxas de decanulação da traqueostomia pediátrica relatadas to cirúrgico do sítio estomal. Após o procedimento cirúr-
na literatura variam de 29% a 78%, dependendo das indicações de gico, o paciente deve permanecer entubado por 24 a 48
traqueostomia e com a incidência de complicações do procedimento. horas para manter a reconstrução traqueal. Esse tipo de 271
Existem dois critérios fundamentais para decanulação de procedimento é geralmente reservado para casos sele-
crianças com traqueostomia: a necessidade original da cânula cionados em que há colapso moderado do estoma.
de traqueostomia não estar mais presente e o paciente estar • Reconstrução do estoma: pacientes com colapso grave
apto a manter uma via aérea segura e adequada independente ou estenose do estoma necessitam de um procedimento
da traqueostomia. de reconstrução estomal para obter sucesso na decanu-
Na maioria dos casos, a cânula de traqueostomia é retirada lação. Neste procedimento há necessidade de se manter
e o estoma se fecha espontaneamente. Em cerca de 40% dos um dreno de Penrose por 48 horas e o paciente deve per-
casos ocorre falha no fechamento, e um fechamento cirúrgico manecer entubado por 5 a 7 dias.
de fístula traqueocutânea é necessário, caso essa persista por
6 meses ou mais. Conclusão
A técnica tradicional de decanulação envolve uma seqüência
de redução do calibre do tubo em um período que varia de dias Estudos em crianças traqueostomizadas a nível nacional são
a várias semanas e, quando o paciente está apto para tolerar o escassos e as referências quanto a cuidados, utilização e acom-
menor tubo, este é removido. panhamento são baseadas em estudos feitos na população nor-
A vantagem potencial dessa técnica é que ela pode ser realizada te americana, bem como em suas necessidades.
na clínica, não precisa de instrumentação ou sedação e permite ao O número de crianças que permanecem com traqueostomia
paciente se adaptar à respiração através da via aérea alta normal. em longo prazo cresceu nas últimas décadas e, com isso, a ne-
Uma possível desvantagem dessa técnica inclui o fato que ela fre- cessidade na melhoria do acompanhamento no sentido de mini-
quentemente pode falhar devido a problemas anatômicos inespera- mizar complicações e reduzir a mortalidade.
dos, além do risco de obstrução progressiva da via aérea do paciente. Para isso, faz-se necessário a organização de pontos funda-
Em crianças pequenas, o uso dessa técnica é ainda mais com- mentados na literatura e nas necessidades dos pacientes, a fim
plicado porque a redução progressiva no calibre do tubo aumen- de se promover assistência adequada a esse grupo crescente de
ta muito a resistência na via aérea quando comparado a uma pacientes pediátricos.
criança maior, além de maior risco de obstrução da cânula por
acúmulo de secreções. Bibliografia
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272
Capitulo 08 Distúrbios Cardiológicos

Capítulo 8

Distúrbios
Cardiológicos
Assistência ao Recém-Nascido de Risco

8.1 ARRITIMIAS CARDÍACAS/INSUFICIÊNCIA CARDÍACA CONGESTIVA/


CARDIOPATAIAS CONGÊNITAS

Elysio Moraes Garcia

O Coração do Recém-nascido

O coração do recém-nascido apresenta algumas peculiarida- pelo ducto arterial (terceiro desvio) atingindo a aorta descen-
des anátomo-fisiológicas, que diferem do coração da criança dente. Este trajeto privilegia o pólo cefálico fetal com um sangue
maior, cujo conhecimento é útil para a compreensão das altera- mais saturado de oxigênio.
ções cardíacas que podem ocorrer nesta fase da vida.
Vamos sumarizar estes conceitos enfocando o essencial para o
entendimento do presente capítulo.

Introdução

A embriogênese do coração estará completa a partir da quarta se-


mana do desenvolvimento fetal, quando todas as estruturas cardía-
cas estarão formadas como no adulto. Durante o restante da gesta-
ção, o coração do feto crescerá pelo ganho de massa. Desta forma,
o primeiro mês de gestação é a fase onde os agentes teratogênicos
têm maior importância na gênese das cardiopatias estruturais.
O coração é um órgão vital que podemos representar esque-
maticamente como duas bombas hidráulicas funcionando em sé-
rie (Figura 1). O lado direito, átrio e ventrículo direito, recebendo o
sangue venoso das veias cavas e direcionando para os pulmões
através da artéria pulmonar e o lado esquerdo, átrio e ventrículo
esquerdo, recebendo o sangue, oxigenado nos pulmões, pelas
quatro veias pulmonares e encaminhando-o para distribuição no
274 organismo através da artéria aorta.

Figura 2 – representação esquemática da circulação fetal

Transição Da Circulação Fetal


Para A Do Recém-Nascido

Ao nascimento, com a interrupção do fluxo da veia umbilical e a


expansão dos pulmões, ocorre um aumento do fluxo pulmonar e
consequente incremento do retorno de sangue ao átrio esquerdo
através das veias pulmonares, aumentando a sua pressão o que
levará ao fechamento fisiológico do forame oval. O fechamento
anatômico ocorrerá posteriormente com a fusão da membrana do
forame oval à parede do átrio esquerdo. Paralelamente o aumento
da saturação de oxigênio no sangue e algumas substâncias va-
soconstritoras, estimularão a contração e o fechamento do ducto
arterial, que ocorrerá durante a primeira semana de vida.
A constatação de sopro cardíaco nos primeiros dias de vida
Figura 1 – Representação esquemática do coração geralmente deve-se a patência do canal arterial, não constituindo
como duas bombas hidráulicas. em patologia. Os mecanismos responsáveis pela manutenção do
canal arterial aberto serão discutidos posteriormente.
Circulação Fetal
Diferenças Entre O Coração Do
No feto a placenta é o órgão responsável pela oxigenação san- Recém-Nascido E Das Crianças Maiores
guínea e como os pulmões não estão funcionando, o sangue fetal
deverá percorrer um trajeto diferente, com alguns desvios neces- Macroscopicamente comparando o coração do recém-nascido
sários (Figura 2). com o de uma criança com mais de um ano de vida, observa-se
O sangue oxigenado na placenta, passa pela veia umbilical um maior volume do átrio direito e uma hipertrofia relativa das
em direção a veia cava inferior, sendo grande parte desviado do paredes do ventrículo direito, que ocorre devido às característi-
sistema porta através do ducto venoso (primeiro desvio). Ao che- cas da circulação fetal.
gar ao átrio direito a maior parte é direcionada ao forame oval No feto tanto o ventrículo esquerdo como o direito está em
(segundo desvio), átrio esquerdo, ventrículo esquerdo e aorta. A contato direto com a aorta torácica, ambos trabalhando contra
outra parte irá misturar-se ao sangue proveniente da veia cava a pressão sistêmica ocasionando uma simetria das paredes e
superior, seguindo para o ventrículo direito, artéria pulmonar e cavidades destas câmaras.
Capitulo 08 Distúrbios Cardiológicos

O átrio direito é o responsável pela distribuição de todo o volume O traçado do eletrocardiograma reflete a seqüência dos even-
sanguíneo das duas circulações. Para o ventrículo direito através tos elétricos do coração. De forma simplificada podemos dividi-
da valva tricúspide, e para o ventrículo esquerdo através do forame lo em: (Figura 4)
oval, átrio esquerdo e valva mitral. Este fato explica a sobrecarga
volumétrica do átrio direito observada em recém-nascidos. •Onda P – ativação atrial
Há também diferenças microscópicas. Durante a vida fetal o •Complexo QRS – ativação ventricular
coração ganha massa muscular principalmente devido à multi- •Onda T – despolarição ventricular
plicação celular com aumento do número de miócitos (fase hi- •Espaço PR – retardo da onda de ativação no nó atrioven-
perplásica). Com a proximidade do termo há uma tendência à tricular.
redução da atividade mitótica, com o ganho de massa ocorren-
do também por crescimento celular (hipertrofia). Nos primeiros
cinco dias de vida observa-se crescimento tanto por hiperplasia
quanto hipertrofia celular (fase intermediária). A partir do décimo
quarto dia de vida instala-se a fase definitiva (fase hipertrófica),
quando o coração só crescerá por aumento do tamanho dos mió-
citos, não ocorrendo mais multiplicação celular.

Atividade Elétrica Do Coração

As células cardíacas têm a capacidade de gerar atividade elé-


trica através da despolarização ocasionada pelo movimento de Figura 4
íons através das membranas celulares.
Alguns grupos de células possuem características que as possi- Leitura eletrocardiográfica: A interpretação do ECG requer
bilitam comandar a geração e a propagação do impulso elétrico e uma abordagem ordenada passo a passo, evitando-se que deta-
compõe um tecido especializado de geração e condução elétrica. lhes importantes passem despercebidos. Sugerimos a seqüência
São eles: o nó sinoatrial, localizado na região póstero-superior abaixo de leitura:
do átrio direito, próximo à entrada da veia cava superior, as fibras Ritmo: O ritmo é a origem do batimento cardíaco e a sua regu-
internodais, o nó atrioventricular, localizado próximo à valva tri- laridade. A maioria dos traçados demonstra ritmo sinusal, quan-
cúspide, o feixe atrioventricular com seus ramos direito e esquer- do o estímulo tem origem no nódulo sinoatrial, nesses casos o
do e as fibras de Purkinje nos ventrículos (Figura 3). ECG apresenta onda P precedida de QRS, com eixo médio nor-
O impulso elétrico origina-se no nó sinoatrial (1), dirige-se ao mal (“P” positiva em D1 e aVF).
nó atrioventricular (2), onde ocorre um retardo de condução e Freqüência Cardíaca: Calcula-se a FC dividindo-se 1500 pelo
desce para os ventrículos através do feixe átrioventricular (3) e número de quadrados pequenos entre dois complexos QRS. 275
fibras de Purkinje (4). Onda “P” - A onda P normal é formada pela soma das despola-
rizacões dos átrios direito e esquerdo.
Valores normais - duração < 0,10 s amplitude < 2,5 mm.
Segmento PR - Representa a despolarização atrial mais o tem-
po necessário pra o impulso atravessar o tecido de condução AV.
Valores normais:

•RN = 0,11s
•Criança = 0,14s
•Adolescente = 0,16s

QRS - Representa a ativação ventricular. O intervalo deve ser


menor que 0,10 segundos. A duração aumentada sugere condu-
ção ventricular retardada.
Cálculo Do Eixo Do QRS ( ÂQRS ): As forças elétricas repre-
sentadas pelo QRS apresentam uma magnitude e uma direção,
podendo desta forma serem representadas por um vetor. Quando
Figura 3 construído a partir das seis derivações do plano frontal (D1, D2,
D3, aVL, aVR e aVF), teremos o eixo do QRS médio. Na prática
Eletrocardiograma clínica, a localização do quadrante é suficiente para a orientação
diagnóstica, para tanto basta que sejam analisadas as deriva-
O eletrocardiograma é o registro periférico dos impulsos elétri- ções D1 e aVF conforme esquema abaixo: (Figura 5).
cos gerados no coração. Esses impulsos podem ser registrados
em qualquer região do corpo e dependendo do local do registro •D1 positivo aVF positivo - quadrante 1(inferior esquerdo)
terão um traçado diferente. •D1 negativo aVF positivo - quadrante 2 (inferior direito)
Principais derivações de registro do eletrocardiograma. •D1 positivo aVF negativo - quadrante 3 (superior esquerdo)
•D1 negativo aVF negativo - quadrante 4 (superior direito)
•Periféricas
•bipolares - D1, D2, D3
•unipolares - aVR, aVL, aVF
•Precordiais – V4R, V3R, V1, V2, V3, V4, V5, V6

Paulo R. Margotto
Assistência ao Recém-Nascido de Risco

1. Padrão rR (onda r pequena seguida de r’ maior) ou r puro


2. R > 20mm
3. Padrão qR
4. No rn normal a onda t é positiva em v1 até aproximada-
mente o terceiro dia de vida, quando as mesmas tornam-
se negativas. A persistência de onda t positiva em v1 no
rn com mais de 72 hs pode ser um sinal de HVD.

Figura 5 – representação dos eixos das derivações periféricas do ECG.


No recém-nascido normal, o eixo do QRS (ativação ventricular) Figura 9 – exemplo de ECG no RN com sinais de HVD.
geralmente encontra-se no quadrante inferior direito, com o D1 Hipertrofia Ventricular Esquerda (Hve)
negativo e aVF positivo como no exemplo abaixo (Figura 6) A HVE causa aumento das forças esquerdas e posteriores do
QRS. Essas alterações são refletidas no ECG pela presença de
ondas S mais profundas nas derivações precordiais direitas ( V1
) e ondas mais altas nas esquerdas ( V6 ).

Valores Normais No RN
Os valores abaixo foram baseados no “guideline ECG neonatal”
da Sociedade Européia de Cardiologia-2002.

Figura 6 – ECG de um RN normal. Freqüência


Idade ÂQRS P QRS
Cardíaca
Reconhecimentos Das Principais Alterações (dias) grau ms ms
bpm
No ECG Do Recém-Nascido 0-1 93-154 +59/+192 2.8 0,02-0,08
1-3 91-159 +64/+197 2.8 0,02-0,07
Aumento Atrial
3-7 90-166 +77/+187 2.9 0,02-0,07
276 A onda P é formada pela soma das despolarizações do átrio
direito e esquerdo Deste modo, quando ocorre aumento do átrio 7-30 107-182 +65/+160 3,0 0,02-0,08
direito à onda P aumentará a amplitude tomando um formato Tabela 1. Guidelme ECG neonatal, 2002
apiculado, enquanto que no aumento do átrio esquerdo a onda
P estará aumentada em sua duração, podendo estar entalhada Principais Distúrbios Do Ritmo Cardíaco
(Figura 7 e 8). Dos Recém Nascidos E Conduta

A maioria dos distúrbios do ritmo na infância tem um bom prog-


nóstico não necessitando de nenhum tratamento. No entanto, em
determinadas situações as arritmias envolvem um alto risco e torna-
se essencial o conhecimento das peculiaridades destes distúrbios.
Na criança a freqüência cardíaca apresenta ampla variação
com diversos fatores, como a idade, sono, atividade física, choro,
anemia e temperatura corporal (tabela 2)
Figura 7 – onda P apiculada em D1 e D2 por sobrecarga atrial direita.
Freqüência Cardíaca Normal
(em batimentos/min )

Idade Minima Média Máxima


Menos
93 123 154
de 1 dia
1-2 dias 91 123 159
3-6 dias 91 129 166
Figura 8 – onda P entalhada em D1 e D2 por sobrecarga atrial esquerda
1-3 semanas 107 148 182
Hipertrofia Ventricular Direita (HVD) 1-2 meses 121 149 179
A análise das forças geradas pelos ventrículos é melhor reali- 6-11 meses 109 134 169
zada nas derivações precordiais. As derivações V3R e V1 estão
mais próximas do VD e por isso ilustram melhor a presença de Tabela 2 Manual de Urgências em Cardiologia - Marco Túlio Pires 1992
hipertrofia do ventrículo direito (HVD). No RN normal o padrão do
QRS é um R > S (Rs) em V1. O diagnóstico de HVD pode ser suge- Arritmia Sinusal
rido quando ocorre, na derivação V1, o seguinte em V1: (Figura 9)
Alteração do ritmo, de ocorrência normal em crianças. O diag-
nóstico baseia-se na variação cíclica dos intervalos R-R, geral-
Capitulo 08 Distúrbios Cardiológicos

mente ocorrendo um aumento da FC no final da inspiração e uma Apresentação: AdenocardR: ampola de 2ml com 6mg (diluir
lentificação durante a expiração. Não exige nenhum tratamento. 1 ml que corresponde a 3000mcg em 9 ml de soro fisiológi-
Ocasionalmente a fase lenta propicia o aparecimento de ritmos co a 0,9%, formando uma solução final com 300mcg/ml.Não
de escape atrial. No RN os ritmos de escape ocorrem especial- refrigerar(ocorre cristalização). As metilxantinas são antagonis-
mente durante o sono, são comuns e tendem a desaparecerem tas específicos da adenosina)
espontaneamente nos primeiros meses de vida.
Amiodarona
Marcapasso Mutável Dose de ataque = 5mg/Kg em 30-60min EV com monitoriza-
ção cardíaca e controle rigoroso durante toda a infusão devido ao
Qualquer fator que propicie a diminuição de FC, por exemplo, risco de assistolia.
efeito vagal, uso de drogas, hipertensão intracraniana, arritmia Dose de manutenção a 10 a 15mg/Kg/dia EV em infusão con-
sinusal, favorece o aparecimento do marca-passo mutável. tínua ou 5 a 7 mg/kg/dose cada 12 horas VO por 5 dias. Reduzir
O diagnóstico se faz pelo achado de ondas P com morfologias gradativamente até 2 a 5 mg/Kg/dia
e/ou orientações diversas em uma mesma derivação do ECG. Apresentação: AtlansilR :ampola de 3ml com 150mg (50mg/ml)
Não exige tratamento. compr. de 200mg
Procainamida
Extrassístoles Atriais 3 a 6 mg/kg EV em 5 minutos de ataque. Pode ser repetida a
cada 10 minutos até uma dose máxima de 15 mg/kg. Manter 20
É o impulso precoce que despolariza os átrios em uma seqüência a 80 µg/kg/min em infusão contínua.
anormal. O ECG evidencia ondas P prematuras, com morfologias
e/ou orientação diferentes das ondas P sinusais. O QRS é normal, • Cardioversão Elétrica – Quando houver sinais de baixo débi-
a não ser que ocorra condução aberrante para os ventrículos. São to deverá ser a conduta de escolha ou quando as outras me-
comuns no RN, em conseqüência da imaturidade do sistema adre- didas não tiveram sucesso. 0,25 a 1 joule/kg após sedação.
nérgico e tendem a desaparecerem nas primeiras semanas de vida.
Síndromes De Pré-Exitação
Taquicardias Supra-Ventriculares
Nestas síndromes o ventrículo é ativado precocemente através
É o ritmo resultante de um mecanismo anormal que se origina de via de condução acessória.
em um ponto do coração próximo à bifurcação do feixe de HIS. Na síndrome de Wolff-Parkinson-White (WPW) o ECG mostra
Admite-se que existam três mecanismos básicos na gênese dessas um intervalo PR curto (menor que 0,08 s), com um QRS anormal-
arritmias, automatismo anormal (foco ectópico), por reentrada e arrit- mente prolongado. A porção inicial alargada é chamada de onda
mia deflagrada. Na criança o mecanismo mais envolvido parece ser delta, devida a ativação dos ventrículos através da via anômala.
a reentrada por uma conexão anômala (síndromes de pré-exitação). Cerca de metade dos pacientes com WPW evoluem com episó- 277
É a arritmia sintomática mais comum na criança, com dios de taquicardia atrial paroxística.
maior freqüência no primeiro ano, especialmente no primeiro Na síndrome de Lown-Ganong-Levine o intervalo PR também é
semestre de vida. encurtado, porém o QRS é normal, sem onda delta.
Mais da metade das crianças com esta arritmia não apresen- O diagnóstico é realizado através do ECG, com os achados des-
tam nenhuma anomalia estrutural do coração predisponente. De critos acima.
20 a 30% apresentam evidências de pré-exitação (Wolff-Parkin- O RN portador desta anomalia deverá ser encaminhado para
son-White e Lown-Ganong-Levine). acompanhamento especializado devido ao risco do desenvolvi-
O ECG durante os episódios revela frequência cardíaca (FC) mento de taquiarritmias.
entre 150 e 300 bpm, sendo que no RN os valores encontrados
situam-se acima de 200 bpm. O QRS apresenta morfologia nor- Flutter Atrial
mal (QRS estreito) e as ondas P podem ser visíveis.
O Flutter é uma condição rara em crianças. Caracteriza-se pela
Tratamento forma de despolarização atrial anômala, rápida e regular. O ECG
mostra características ondas em forma de dente-de-serra, com
Quando as crises são esporádicas de curta duração e com re- freqüência atrial média de 300 bpm. O tratamento imediato está
versão espontânea, geralmente não necessitam de tratamento. indicado pela alta incidência de insuficiência cardíaca congestiva
Entretanto ao depararmos com RN com TSV mantida deveremos (ICC). O digital é a droga mais utilizada, com boa resposta sinto-
realizar os seguintes procedimentos: mática e redução da freqüência cardíaca, porém com baixo índice
de reversão ao ritmo sinusal. A cardioversão elétrica é um método
• Manobra Vagal - Deve ser a primeira tentativa de reverter a eficaz para a restauração do ritmo. Outras possibilidades incluem
taquicardia. Tais manobras retardam a condução AV e pro- o propranolol, a quinidina e a estimulação transesofágica.
longam seu período refratário, e no RN consiste em coloca-
ção de saco plástico com água gelada sobre a face, durante Extrassístoles Ventriculares
10 a 15 segundos. Em crianças maiores pode-se tentar a
massagem do seio carotídeo ou manobra de Vasalva. As extrassístoles ventriculares podem se reconhecidas no ECG
da seguinte forma:
• Drogas
• QRS prematuro, ou seja, ocorre mais que 0,08s antes do
Adenosina próximo QRS
0,1 a 0,2 mg/Kg EV rápido ( 1 a 2 segundos) em bolus, máxi- • O QRS é alargado ( >0,08s ), com morfologia diferente e
mo 12mg. Poderá ser repetida a cada 2-4 minutos. Não exceder sem onda P.
0,25mg/kg ou 12mg no total. • A onda T geralmente tem orientação oposta a do QRS
prematuro.

Paulo R. Margotto
Assistência ao Recém-Nascido de Risco

Causas Agudas De Extrassístoles Ventriculáres Reconhecimento E Tratamento Do


Recém-Nascido Com Insuficiência Cardíaca
• Hipóxia
• Acidose Definição
• Digita
• Aminas Insuficiência cardíaca é a incapacidade do coração manter
• Cafeína uma oferta sanguínea suficiente às necessidades metabólicas
• Nicotina do organismo.
• Hipoglicemia
• Cateter intracardíaco Fisiopatologia
• Hiper/hipocalemia
• Miocardites Pode ser classificada quanto a sua gênese em quatro tipos:
• Cirurgia Cardíaca
• Anestésicos 1. Comprometimento da função miocárdica, ou seja, al-
teração da contratilidade, como nos casos das miocar-
Tratamento diopatias.
2. Sobrecarga do trabalho imposto ao músculo cardíaco
Quando a extrassístole é de aparecimento recente, a simples seja por aumento da pressão ventricular, como nos ca-
retirada dos fatores listados acima pode interromper a arritmia. sos de estenose aórtica e coarctação da aorta, ou au-
Em raros casos em que haja comprometimento hemodinâmico mento do volume, como nos casos das cardiopatias com
estará indicado o tratamento medicamentoso que deverá ser “shunt” como as comunicações interventriculares.
prescrito por especialista. 3. Comprometimento do enchimento ventricular, ou seja,
disfunção diastólica, como nas miocardiopatias hipertró-
Taquicardia Ventricular ficas onde não há alteração da contratilidade, mas difi-
culdade no enchimento do ventrículo devido à hipertrofia
Trata-se de uma série de 3 ou mais extrassístoles ventricula- e conseqüente redução do débito cardíaco.
res, com maior que 120 bpm, em crianças. Ao ECG os QRS duram 4. Distúrbios do ritmo.
mais que 0,08s e a morfologia é diferente dos complexos nor-
mais. É rara em recém- nascidos. O coração do recém-nascido apresenta diferenças em relação
às crianças maiores, que o torna mais suscetível ao desenvol-
Tratamento vimento de insuficiência cardíaca. As principais diferenças são:

278 1. Cardioversão Elétrica 0,5 a 1,5 joules/kg • Há um menor número de miofibrilas e maior quantidade
2. Tratar as causas agudas possíveis de tecido conjuntivo.
3. Lidocaína EV 1mg/kg/dose bolus • As miofibrilas estão em arranjo não linear.
4. Apresentação: 20mg/ml (adicionar 6ml de lidocaina a • Os retículos endoplasmáticos do miocárdio neonatal
44ml de soro glicosado a 5%, formando uma solução de apresenta menor capacidade de estocagem de cálcio,
50 ml, contendo 2,4mg/ml) ion essencial à contração do músculo cardíaco.

Bloqueio Atrioventricular Total (BAV) Manifestações Clinicas

Implica em contração dos átrios independente dos ventrículos. Nos recém-nascidos devido à imaturidade miocárdica, confor-
Pode se congênito ou adquirido. me foi descrito acima, a insuficiência cardíaca é mais grave e de
As colagenoses materna parecem ser o fator etiológico mais instalação mais aguda que nas crianças maiores.
importantes do BAV congênito. Admite-se que nessas doenças, Os sinais de insuficiência cardíaca nos neonatos refletem basica-
especialmente o Lupus, anticorpos maternos atravessam a pla- mente a congestão venosa sistêmica, congestão pulmonar e dimi-
centa e afetam o sistema de condução fetal em desenvolvimento. nuição da perfusão sistêmica. Listamos abaixo os mais importantes:
A associação de BAV congênito com cardiopatias estruturais é
freqüente, ocorrendo em 50% dos casos. • Taquipnéia e dispnéia – São sinais presentes em todos
O BAV adquirido pode ser secundário a cirurgia cardíaca e mio- os casos de ICC e denotam a congestão pulmonar.
cardites (especialmente a diftérica). • Ruídos pulmonares – Podem ser encontrados estertores
O ECG do bloqueio atrioventricular total (BAVT), revela disso- crepitantes, subcrepitantes, roncos e sibilância.
ciação entre as despolarizações atrial e ventricular. Nos RN a FC • Taquicardia – Normalmente os recém-nascidos têm fre-
situa-se abaixo de 100 bpm. qüências cardíacas que podem variar de 100 a 160 bpm.
Valores acima de 160 bpm, geralmente acima de 200
Tratamento Todo BAV Sintomático bpm, podem representar um mecanismo compensatório
(Com Sinais De Baixo Débito) Tem Indicação De Marca-Passo da falência circulatória ou sua própria causa como nas
taquiarritmias.
Alguns recém-nascidos podem suportar freqüências de até 55 • Pulsos periféricos diminuídos – Sinal de baixo débito cardíaco
bpm sem a necessidade de marca-passo. • Edema – Menos comum em recém-nascidos como causa
Algumas drogas podem ser utilizadas na tentativa de aumento de insuficiência cardíaca e quando presente geralmente
da freqüência, como o Salbutamol e Atropina, entretanto geral- é generalizado sugerindo uma maior gravidade do caso.
mente com resultados limitados.
Capitulo 08 Distúrbios Cardiológicos

Tratamento baixas podem levar a ativação dos receptores alfa, precedendo


a ativação dos receptores beta. Por ter menos terminações sim-
1. Medidas gerais: páticas no miocárdio, pode não secretar noradrenalina suficiente
• Aporte nutricional. para efeito beta desejado.
• Ventilação adequada com suprimento de oxigênio se ne-
cessário. Dopamina = peso X dose X 1440/5000
• Correção de anemia, distúrbios hidroeletrolíticos e ácidos
básicos. 2. Dobutamina: É uma amina sintética. Difere da dopami-
• Manutenção de ambiente térmico adequado para reduzir na por não liberar noradrenalina endógena e ter pouca
a demanda metabólica. ação nos vasos periféricos. Aumenta o débito cardíaco e
reduz a resistência vascular sistêmica. Tem efeito crono-
2. Drogas: trópico positivo elevando a freqüência cardíaca.
Digital – É um glicosídeo que atua na bomba de sódio, inibindo Efeitos indesejados:
a ATP-ase sódio-potássio com diminuição da saída de sódio celular
e conseqüente acúmulo de cálcio intracelular favorecendo a contra- • Aumenta a freqüência cardíaca.
ção miocárdica. Está indicado nas situações em que há comprome-
timento da contratilidade. Está contra-indicado na miocardiopatia Doses:
hipertrófica, pois piora a obstrução da via de saída ventricular es- Dose entre 2 a 25 mcg/kg/min em infusão IV contínua. Co-
querda Em recém-nascidos o seu uso é controverso já que, devido à meçar comdoses baixas e titular, monitorando os efeitos. Usar
imaturidade miocárdica, há uma resposta inotrópica limitada, além acessos centrais de preferência.
de ter uma dose terapêutica próxima ao limiar de intoxicação.
Doses: Dobutamina = peso X dose X 1440/12500

• Nos recém-nascidos a termo a dose é de 0,01 mg/kg/dia 3. Adrenalina: É uma catecolamina endógena, liberada
VO, dividida em duas tomadas. da medula adrenal e derivada da noradrenalina. Atua em
• Em pré termos de 0,005 mg/kg/dia dividida em duas to- receptores alfa, beta-1 e beta-2, aumentando a freqüên-
madas VO. cia cardíaca, pressão arterial sistólica, diminue a pressão
• Quando utilizado por via parenteral a dose deverá ser arterial diastólica e vasodilata o leito vascular periférico.
75% da oral. Efeitos indesejados:
• As doses de ataque não são mais utilizadas devido ao
alto índice de intoxicações. • Arritmias.
• Vasoconstrição periférica.
Apresentação: 279
Doses:
• Digoxina WelcomeR: Elixir Pediátrico: 0,05mg/ml
• Digoxina WelcomeR: Solução: 0.5mg/ml • 0,03 a 0,1 ug/kg/min – efeitos beta-1 e beta-2.
• Digoxina injetável: (ampola de 2ml com:0,25mg/ml • 0,1 a 0,2 ug/kg/mim – efeito beta e alfa.
• Lanatosídeo C (CedilanideR): ampola de 2 ml com 0,2mg/ • Acima de 0,2 ug/kg/mim – predomínio do efeito alfa.
ml. Diluindo 2 ml em 8 ml de água destilada, 1 mL =
0,04mg) 4. Isoproterenol: É um análogo sintético da norepinefrina,
um beta agonista que estimula os receptores beta-1 mio-
Catecolaminas – Atuam através da estimulação dos recepto- cárdicos, com efeito inotrópico positivo, e os receptores
res beta-adrenérgicos miocárdicos. São as principais drogas utili- beta-2 periféricos com vasodilatação. Pode ser usado em
zadas nas situações de insuficiência cardíaca, quando se deseja neonatos nos casos de baixo débito secundário a hiper-
um efeito rápido (consulte o capítulo de Choque Séptico) tensão arterial persistente.
Efeitos indesejados.
1. Dopamina:
Age estimulando os receptores beta-1-adrenérgicos pós-sináp- • Aumento da freqüência cardíaca.
ticos miocárdicos, aumentando a contratilidade. Atua também • Aumento do consumo de oxigênio miocárdico com isquemia.
como vasoconstrictor sistêmico e pulmonar, através da ação em • Arritmias.
receptores alfa-1 e alfa-2 pós sinápticos. Pela ação em recepto-
res dopaminérgicos promovem vasodilatação em território renal, Doses:
esplâncnico, coronariano e cerebral. Aumenta o débito cardíaco,
a freqüência e a pressão arterial sistêmica. • 0,01 a 0,05 mcg/kg/mim, para bradicardia sintomática.
Efeitos indesejados: • 0,05 a 0,1 mcg/kg/mim, como inotrópico positivo
• Apresentação: 0,2mg/ml: adicionar 3ml de isoproterenol
• Aumenta a resistência vascular pulmonar. Não deve ser a 47 ml de soro glicosado a 5%, formando uma solução
usada em pós-operatório cardíaco com 12mcg/ml
• Aumento do consumo de oxigênio pelo miocárdio.
• Pode causar necrose por extravasamento quando usado Inibidores da Fosfodiesterase – Inibem seletivamente a nu-
em veia periférica. cleotídeo-fosfodiesterase cíclica, aumentando o AMPc vascular e
no miocárdio, independente dos receptores beta. Indicados nos
Doses: casos de insuficiência cardíaca por disfunção miocárdica com
Dose entre 2 e 8 mcg/kg/min em infusão IV contínua. Come- elevação da resistência vascular sistêmica.
çar com doses baixas e titular, monitorando os efeitos. Usar aces-
sos centrais de preferência.Nos RN pré-termos, mesmo doses

Paulo R. Margotto
Assistência ao Recém-Nascido de Risco

1. Amrinona: Nos últimos anos com o aperfeiçoamento dos métodos diag-


Dose: nósticos e das técnicas cirúrgicas houve uma melhora dos índi-
ces de morbimortalidade.
• Ataque 3 a 4,5 mg/kg O reconhecimento das manifestações clínicas das cardiopatias
• Manutenção – 5 a 15 mg/kg/mim. congênitas no recém nascido, com o diagnóstico da síndrome clí-
nica, na maioria das vezes é suficiente para o inicio da terapia e
Apresentação: Primacor® (1 mg/1ml-frasco de 20 ml) o encaminhamento para serviço especializado.
Podemos resumir as apresentações das diversas cardiopatias
Vasodilatadores – Usados na insuficiência cardíaca com o ob- congênitas em três grupos principais:
jetivo de melhorar a performance cardíaca, reduzindo a impedân-
cia à ejeção ventricular (pós-carga), pela vasodilatação arteriolar 1. Com Cianose:
e ou reduzindo o retorno venoso (pré-carga), pela venodilatação. A cianose é uma observação clínica da cor azulada da pele e
mucosas e ocorre quando a concentração de hemoglobina redu-
1. Inibidores da ECA – Inibem a formação de angiotensina zida atinge valores acima de 5g/100ml.
II, que é um potente vasoconstritor, promovendo a redução A cianose pode ocorrer por causa de fluxo lento sanguíneo,
da resistência periférica e aumento da capacitância venosa. que permite maior extração de oxigênio, como na acrocianose,
ou mãos e pés azuis. Pode ocorrer se o sangue não for eficien-
Dose: temente oxigenado pelos pulmões, sendo freqüentes as causas
pulmonares no neonato. E finalmente devido a malformações
• Captopril – 0,5 a 3mg/kg/dia VO divididos em 2 a 4 to- congênitas do coração.
madas. Diante de um recém nascido com cianose o neonatologista de-
verá seguir os seguintes passos:
Apresentação: CapotenR: 1 comp=12.5, 25 e 50mg
• Avalie se a cianose é periférica (acrocianose) ou central.
2. Nitroprussiato de sódio – Produz vasodilatação arterio- • Monitorize a saturação de oxigênio com oxímetro de pul-
lar e venosa, agindo através do GMPc. Com ação rápida e so ou gasometria arterial.
efeitos em poucos minutos. • Realize o teste de hiperóxia, que consiste em ofertar oxi-
Efeitos indesejados: gênio a 100% durante 10 minutos. Em bebês portadores
de pneumopatias, geralmente há um aumento da pa02
• Intoxicação pelo cianeto e tiocianato, que são seus me- acima do 150 mmHg já nos portadores de cardiopatia
tabólitos. congênita cianogênica não deverá ocorrer aumento signi-
• Hipotensão arterial. ficativo da saturação de oxigênio.
280 • Observe o padrão respiratório. Nas cardiopatias congê-
Dose: nitas cianóticas em que não há insuficiência cardíaca,
Dose inicial entre 0,25 e 0,5 mcg/kg/min em infusão IV contí- geralmente há uma leve taquipnéia diferentemente das
nua. Começar com doses baixas e aumentar a cada 20 minutos pneumopatias com quadro de evidente dispnéia.
para o efeito desejado. Pode ser aumentada até 10 mcg/kg/min. • Avalie os pulsos dos membros superiores e inferiores. A
A dose de manutenção em geral é < 2 mcg/kg/min. Usar acessos dificuldade na palpação dos pulsos dos membros inferio-
centrais de preferência 9consulte o capítulo de Choque Séptico) res sugere presença de coarctação da aorta, que embo-
Apresentação: NiprideR : fraco-ampola(2ml)= 50mg ra isoladamente não curse com cianose, mas com ICC,
pode vir acompanhada de cardiopatias complexas.
Diuréticos : São usados para promover a excreção de sal e • Observe a presença de sopros cardíacos, que podem
água, cuja retenção é uma conseqüência dos mecanismos adap- sugerir a presença e o tipo de cardiopatia. A ausência
tativos da insuficiência cardíaca. de sopro não afasta o diagnóstico. Freqüentemente as
cardiopatias congênitas cianóticas graves cursam com
1. Furosemida – É o mais usado e tem ação nas porções precórdio silencioso
distais da alça de Henle, inibindo a reabsorção ativa de • Providencie Rx de coração e vasos da base.
cloretos e passiva de sódio e água. Ocorre também a per- • Caso haja suspeição de cardiopatia, providencie eletro-
da de potássio. cardiograma e ecocardiograma.
Dose – 0,5 a 4 mg/kg/dia IV ou VO, divididos em 2 a 4 tomadas.
As principais cardiopatias congênitas cianóticas no período ne-
2. Espironolactona – É um antagonista específico da al- onatal são:
dosterona. Reduz a reabsorção de sódio e a secreção de
potássio sendo considerada com retentora deste íon. Não 1. Por circulação pulmonar e sistêmica independentes –
promove a perda de água livre. Geralmente é usada em as- cianose severa, pa02 entre 20 e 50 mmHg.
sociação com a furosemida objetivando a potencialização • Transposição dos grandes vasos da base sem comunica-
dos seus efeitos e minimização das perdas de potássio. ção intraventricular (CIV).
Dose - 1 a 3 mg/kg/dia VO, divididos e 2 tomadas.
Apresentação: Aldactone –AR: comprimidos com 25mg 2. Por fluxo sanguíneo pulmonar inadequado – cianose
severa.
Principais Manifestacões Das Cardiopatias • Atresia da valva tricúspide.
Congênitas No Recém-Nascido • Atresia da valva pulmonar sem CIV.
• Tetralogia de Fallot com estenose pulmonar crítica.
As cardiopatias congênitas são responsáveis por 3 a 5 % das • Anomalia de Ebstein.
mortes no período neonatal e isoladamente constituem a anoma-
lia congênita mais comum.
Capitulo 08 Distúrbios Cardiológicos

3. Por mistura de sangue venoso com arterial – cianose Com alta mortalidade, 25% na primeira semana, até há poucos
moderada, pa02 entre 50 e 80 mmHg. anos era considerada inoperável e fatal. Hoje com o aperfeiçoa-
•Drenagem anômala total das veias pulmonares. mento das técnicas cirúrgicas, em alguns centros especializados,
é possível a realização de cirurgias que transformam o ventrículo
2. Com Insuficiência Cardíaca. direito no ventrículo sistêmico permitindo o aumento da sobrevi-
As cardiopatias congênitas que se apresentam no período da e redução da mortalidade.
neonatal sem cianose e com quadro de insuficiência cardíaca
geralmente são devidas à obstrução a ejeção ventricular ou a so- Diagnóstico
brecarga volumétrica devido à “shunts” com hiperfluxo pulmonar. Geralmente são bebês que nascem bem, com Apgar 9/10 e
A precocidade no aparecimento dos sintomas sugere uma maior bom peso, uma vez que as características da circulação fetal per-
gravidade do quadro. mitem um desenvolvimento fetal normal. Iniciam quadro de insu-
As principais causas são: ficiência cardíaca, na primeira semana de vida, com baixo débito
importante, insuficiência renal por baixa perfusão e insuficiência
1. Obstrutivas coronariana. Evoluem com deterioração progressiva do quadro e
•Síndrome do coração esquerdo hipoplásico. êxito fatal se nenhuma medida for tomada.
•Coarctação da aorta. No exame físico apresenta sinais de baixa perfusão periférica
•Estenose aórtica com palidez cutânea, hipotermia, hipotensão e pulsos finos. A
•Interrupção do arco aórtico. ausculta revela segunda bulha única e um sopro sistólico ejetivo
2. Por “shunts”. em borda esternal esquerda.
•CIV grande A confirmação diagnóstica é feita com a realização de ecocar-
•PCA (persistência do canal arterial) diograma, que é capaz de definir toda a anatomia.
•Drenagem anômala total das veias pulmonares
Tratamento
3. Mistas. •Medidas de Suporte:
Algumas cardiopatias congênitas se apresentam com cianose e •Prostaglandina E na dose de 0,05 a 0,1 mcg/kg/min visa
insuficiência cardíaca. Nesse grupo geralmente estão as cardiopa- a manutenção do canal arterial aberto já que toda a cir-
tias complexas em que há a presença de mistura de sangue veno- culação sistêmica depende dele.
so com arterial que levaria a cianose, e fluxo pulmonar aumentado •Uso de drogas vasoativas com Dopamina e Dobutamina
ocasionando o quadro de insuficiência cardíaca. São elas: se necessário.
•Correção dos distúrbios ácido-básicos.
•Transposição dos grandes vasos da base com CIV •Ventilação adequada
•Ventrículo único.
•Dupla via de saída do ventrículo direito. ProstinR (Prostaglandina E1) EV contínua 0,05 até 0,1mcg/Kg/min; 281
•Drenagem anômala total das veias pulmonares. dose máxima: 0,4mcg/kg/min. Obtendo-se aumento da Pa02 e do
pH, deve-se diminuir a dose até 0,01 mcg/Kg/min para evitar efei-
Cardiopatias Congênitas Cujo Reconhecimento tos colaterais como apnéia (12%) febre (14%) rubor (15%).Os efeitos
É Importante No Período Neonatal colaterais menos comuns são taquicardia ou bradicardia, hipotensão
arterial e parada cardíaca. Monitorizar acidose metabólica.
Abaixo estão listadas as principais cardiopatias congênitas
com importância no período neonatal, devido à precocidade do ProstinR: 1 ml=500mcg - Como usar: peso x dose x 1440/500
aparecimento dos sintomas e gravidade.
•Cirurgia: Alta mortalidade.
Síndrome Do Coração Esquerdo Hipoplásico (Figura 10) •Operação de Norwood com primeiro estágio em neona-
tos.
•Cirurgia de Hemi-Fontan aos seis meses de vida.
•Cirurgia de Fontan com 18 meses.

Transposição Das Grandes Artérias (TGA): Figura 11

Figura 10

Definição
Conjunto de malformações congênitas caracterizadas pela hi-
poplasia das estruturas esquerdas com estenose ou atresia das
valvas aórtica e mitral, hipoplasia do ventrículo esquerdo e da Figura 11
aorta ascendente. Sua incidência é alta, representando 7 a 9%
das cardiopatias congênitas.

Paulo R. Margotto
Assistência ao Recém-Nascido de Risco

Definição •Cirurgia de Mustard e Senning – Correção funcional a ní-


Cardiopatia congênita cianótica, produzida por um defeito vel atrial, com redirecionamento do sangue venoso para
embrionário isolado, resultado da septação anormal do tronco o ventrículo esquerdo e do sangue arterial para o ven-
arterial. Os grandes vasos estão transpostos com a aorta origi- trículo direito. Menos utilizada na atualidade e realizada
nando-se no ventrículo direito e a artéria pulmonar no ventrículo após os 3 meses de vida.
esquerdo. Isso resulta em uma circulação paralela com o sangue
venoso que vem das veias cavas, átrio direito e ventrículo direito Tetralogia De Fallot (Figura 13)
retornando à circulação sistêmica sem passar pelos pulmões, e o
sangue oxigenado nos pulmões para o átrio esquerdo, ventrículo
esquerdo, retornando aos pulmões. Esta anomalia não é um pro-
blema para o feto, quando a circulação é em paralelo, mas não
pode persistir após o nascimento sendo incompatível com a vida,
a menos que uma mistura seja possível através da existência de
forame oval permeável, CIA, CIV ou PCA.

Apresentação clínica
Os neonatos com TGV apresentam cianose ao nascimento, peso
normal e discreta taquipnéia. Este quadro confunde-se com a maio-
ria dos RN normais no período de transição. Com a contração do
canal arterial a cianose se agrava com desenvolvimento de severa
hipoxemia e acidose metabólica progressiva. A ausculta cardíaca de-
monstra uma segunda bulha única e geralmente sem sopros. Caso Figura 13
não seja ministrado a prostaglandina E, para manter o canal arterial Definição
aberto, haverá deterioração do quadro e evolução para o óbito. Descrita em 1888 por Fallot com observações clínicas relacio-
Nos casos em que há defeitos associados, com uma CIV gran- nadas à cardiopatia constituída por quatro defeitos:
de a hipoxemia não será tão acentuada, com um quadro menos
dramático, podendo ser constatado sopro cardíaco da CIV. Nes- •comunicação interventricular.
tes casos, a medida que a resistência pulmonar for caindo surgi- •estenose pulmonar infundibular.
rão sinais de insuficiência cardíaca. •dextroposição da aorta.
•hipertrofia do ventrículo direito.

Hoje se sabe que esses defeitos derivam do deslocamento


282 anterior do septo infundibular que divide os tratos de saída dos
ventrículos.

Apresentação clínica
É variável e depende do grau de obstrução da via de saída do
ventrículo direito (estenose infundibular), com neonatos acianóti-
cos nos casos leves até com importante hipoxemia logo ao nascer.
Sopro sistólico do tipo ejetivo é achado freqüente, com intensi-
dade variável, e a segunda bulha é única.
Nos casos mais graves, com hipoxemia severa, haverá a ins-
Figura 12 talação progressiva de acidose metabólica, com necessidade de
intervenção precoce.
RX de tórax: O tamanho do coração é normal com um formato Rx de tórax:: O tamanho do coração é normal com o ápice le-
típico que lembra um ovo deitado (Figura 12) vantado, devido a hipertrofia do ventrículo esquerdo, e com o arco
ECG : Geralmente é normal. médio escavado, lembrando o formato de uma bota (Figura 14)

Tratamento
Medidas iniciais:
•Prostaglandina E1.
•Correção dos distúrbios ácidos-básicos.
•Evitar a administração de oxigênio em altas concentrações,
já que o mesmo estimula o fechamento do canal arterial.
•Atrioseptostomia com cateter balão, que constitui na intro-
dução no átrio direito de cateter com balão desinflado em
sua extremidade, passando pelo forame oval para o átrio
esquerdo onde o balão é inflado e recua-se o mesmo para
o átrio direito rompendo-se o septo interatrial e formando-
se uma grande CIA aumentando a mistura sanguínea.
Figura 14
Cirurgia:
•Cirurgia de Jatene – Correção anatômica com reposicio- Eletrocardiograma
namento das grandes artérias e coronárias. Atualmente é Sinais de hipertrofia do ventrículo direito é o achado mais fre-
realizada em centros especializados no período neonatal. qüente.
Capitulo 08 Distúrbios Cardiológicos

Ecocardiograma Tratamento
Confirma o diagnóstico, define a anatomia e a gravidade da Os neonatos com circulação pulmonar canal-dependente de-
obstrução da via de saída do ventrículo direito. vem ser tratados com prostaglandina E, enquanto esperam re-
alização de cirurgia paliativa, geralmente confecção de “shunt”
Tratamento tipo Blalock-Tausing.
A maioria dos casos não necessitará de tratamento no período Para os recém-nascidos com grandes artérias colaterais e clí-
neonatal, apenas encaminhamento a serviço especializado para nica de insuficiência cardíaca, deverá ser instituída terapia espe-
acompanhamento. cífica para a ICC, com discutido no item 9. O tratamento cirúrgico
Os recém-nascidos com hipoxemia importante e acidose me- nestes casos é complexo e poderá requerer estudo hemodinâmi-
tabólica serão tratados como cardiopatia congênita cianótica de- co para traçar a estratégia cirúrgica que geralmente consiste na
pendente de canal arterial com Prostaglandina E1 para manter o união das colaterais (cirurgia de unifocalização).
canal arterial aberto e encaminhados para avaliação da cirurgia
cardíaca quanto à necessidade de realização de “shunt” sistêmi-
co-pulmonar do tipo Blalock-Tausing. Atresia Pulmonar Com Septo Íntegro (Figura 16)

Atresia Pulmonar Com CIV (Figura 15)

Figura 16

Definição
Figura 15 Cardiopatia congênita cianótica complexa que se caracteri-
za pela ausência da continuidade entre o ventrículo direito e a 283
Definição artéria pulmonar. Freqüentemente associado a variados graus
Cardiopatia congênita cianótica com atresia da valva pulmo- de hipoplasia da valva tricúspide e do ventrículo direito, sendo
nar e comunicação interventricular. Era também conhecida como também chamada Síndrome do Coração Direito Hipoplásico. É
Fallot extremo devido a semelhanças anatômicas com esta en- obrigatório a presença de comunicação interatrial ou forame oval
tidade. O fluxo pulmonar é dependente do canal arterial ou de patente, pois é a única via possível do sangue proveniente das
artérias colaterais que suprem segmentos pulmonares. veias cavas. Na ausência de CIA e com forame oval restritivo apa-
A presença da CIV, geralmente grande, faz com que a pressão recerão sinais de congestão venosa sistêmica e baixo débito. O
de ambos os ventrículos seja igual com grande mistura sanguínea. fluxo pulmonar é dependente exclusivamente do canal arterial.

Apresentação clínica Apresentação clínica


O quadro clínico é dependente do tipo de suprimento sanguíneo Cianose após algumas horas ou dias, dependendo do tamanho
aos pulmões. Se há apenas o canal arterial o quadro predominan- e fechamento do canal arterial. Quando ocorre o fechamento do
te será de hipoxemia com piora se o canal se fecha. Se há colate- canal, os bebês apresentam hipoxemia severa com acidose me-
rais grandes suprindo parte ou todos os pulmões, o quadro será de tabólica e síndrome de baixo débito.
pouca cianose e em alguns casos poderá ser observado o apareci- A segunda bulha é única, e pode-se auscultar sopro sistólico ou
mento de sinais de insuficiência cardíaca por hiperfluxo pulmonar. contínuo do canal arterial.
A primeira bulha pode estar desdobrada por clique aórtico, de- Quando há insuficiência tricúspide importante há sinais de car-
vido à dilatação da raiz aórtica. Podem ser auscultados sopros diomegalia, devida ao aumento do átrio direito, e sinais de insufi-
sistólicos ou contínuos, produzidos pelo canal arterial. ciência cardíaca. Nestes casos, é possível ouvir sopro holossistó-
lico baixo em borda esternal esquerda da insuficiência tricúspide.
Rx de tórax
O aspecto radiológico é semelhante à tetralogia de Fallot. RX de tórax
Pode apresentar discreta cardiomegalia devida ao aumento do
Eletrocardiograma átrio direito e hipofluxo pulmonar. Nos casos de insuficiência tri-
Os achados freqüentes são sobrecarga atrial direita e hipertro- cúspide importante observa-se cardiomegalia acentuada devido
fia ventricular direita. a grande aumento do átrio direito.

Ecocardiograma ECG
Confirma o diagnóstico, define a anatomia o tamanho da PCA e Eixo QRS entre 30 e 90 graus, com sinais de sobrecarga atrial
a presença de colaterais. direita

Paulo R. Margotto
Assistência ao Recém-Nascido de Risco

Ecocardiograma Tratamento
Define a anatomia, mede o anel da valva tricúspide. A relação A escolha do tratamento deve ser levado em conta os seguin-
entre o diâmetro da valva tricúspide e da valva mitral define o tes aspectos:
grau de hipoplasia do ventrículo direito e é importante para a
definição do tipo de cirurgia a ser realizado. 1. Fluxo pulmonar:
•Se diminuído com hipoxemia iniciar prostanglandina E
Hemodinâmica e encaminhar para cirurgia para colocação de Blalock-
O cateterismo é importante nesta patologia para complemen- Tausing.
tar o estudo da anatomia feito pelo ecocardiograma, e define se •Se aumentado – tratamento da ICC e cerclagem da arté-
há e o tamanho de sinusóides. ria pulmonar.
2. Avaliar fluxo através da CIA; se restritivo, encaminhar para
Tratamento ampliação da CIA, que poderá ser feita através de cateterismo
•Clínico: Prostaglandina E e correção da acidose metabólica cardíaco com atrioseptostomia com cateter balão ou cirurgia.
•Cirúrgico: O objetivo do tratamento cirúrgico é proporcio- 3. Posteriormente estas crianças serão encaminhadas para
nar um fluxo pulmonar suficiente para manter o bebê vivo a realização de cirurgia univentricular do tipo Glenn e Fontan.
sem prostaglandina, visando uma correção definitiva no
futuro. Geralmente a confecção de derivação sistêmico- Coarctação Da Aorta (Figura 18)
pulmonar tipo Blalock-Tausing.

Atresia Tricúspide (Figura 17)

Figura 18

284 Definição
Estreitamento congênito da aorta descendente, com localiza-
Figura 17 ção geralmente abaixo da artéria subclávia esquerda, ou da re-
gião do canal arterial.
Definição
É a terceira cardiopatia cianótica mais freqüente, e consiste na Apresentação Clínica
agenesia completa da valva tricúspide, e ausência de comunica- A apresentação clínica é variável e depende da idade, do grau
ção entre o átrio direito e ventrículo direito. de obstrução e outras anomalias cardíacas associadas.
A CIA é obrigatória, pois é a única via possível do sangue prove- Nos neonatos as manifestações são de insuficiência cardíaca.
niente das veias cavas e quando restritiva produz uma dilatação Estas manifestações geralmente são conseqüência de obstru-
do átrio direito e congestão venosa sistêmica. ções importantes e presença de defeitos associados, como CIV.
Dependendo dos defeitos associados a atresia tricúspide pode A palpação dos pulsos dos membros superiores e inferiores é
ser classificada em 3 tipos, dependendo da presença de CIV, es- de grande importância.
tenose pulmonar ou transposição das grandes artérias. Um dado muito importante no exame físico é a palpação dos pul-
sos periféricos. A constatação de pulsos diminuídos ou ausentes nos
Apresentação clínica membros inferiores é fortemente sugestiva de coarctação da aorta.
Há um grande espectro de apresentações, dependendo dos Na ausculta geralmente observa-se sopro sistólico suave, mais
defeitos associados, ou seja, na presença de grande CIV sem audível no dorso. A segunda bulha pode estar hipofonética.
estenose pulmonar haverá quadro de insuficiência cardíaca pre-
dominante. Nos casos de CIV pequena e estenose pulmonar, o ECG
predomínio será da hipoxemia. É inespecífico, com variações do normal até sinais de impor-
tante sobrecarga biventricular ou hipertrofia do ventrículo direito.
RX de tórax
O quadro radiológico é variável, dependendo do tipo de defeito RX de tórax
associado. Desde corações pequenos com hipofluxo pulmonar, No recém-nascido não são observados os sinais clássicos de
até cardiomegalia com hiperfluxo pulmonar. coarctação da aorta como corrosão dos arcos costais. Nos bebês
com insuficiência cardíaca, há aumento global da área cardíaca
ECG e sinais de congestão venosa pulmonar.
Característico com eixo do QRS desviado para esquerda e ausên-
cia de potenciais de ventrículo direito nas derivações precordiais. Tratamento
•Tratamento da insuficiência cardíaca.
Ecocardiograma •Nos neonatos com sinais de baixo débito e comprometi-
Define a anatomia mento da função renal por baixo fluxo, iniciar prostaglan-
dina E1 para manter o canal arterial aberto.
Capitulo 08 Distúrbios Cardiológicos

Comunicação Intraventricular (Figura 19) A clínica: depende da severidade (taquipnéia transitória, na for-
ma mais leve, e se deve à retenção de fluido e edema pulmonar
levando à diminuição da complacência pulmonar.
A insuficiência tricúspide/insuficiência mitral transitórias resul-
tam de infarto nos músculos papilares (nestes casos há aumento
do nível da fração MB da creatina fosfoquinase). A ICC grave com
choque ocorre em casos mais severos.

Clínica

RN a termo com Apgar < 6 no 1º minuto usualmente desenvol-


ve taquipnéia e cianose leve.
Ausculta: Sopro sistólico em foco tricúspide ou foco mitral
Figura 19 com ICC e galope ocorre em 1/3 dos pacientes. Raramente há
hipotensão e choque.
Definição ECG: Ondas T achatadas e segmento ST deprimido (reflexo de
Solução de continuidade do septo interventricular. Pode ter isquemia subendocárdica).Estas alterações também podem ser
várias localizações, sendo as mais freqüentes nas regiões peri- vistas em RN normais. Onda Q anormal sugere infarto anterior ou
membranosa e muscular. inferior (vistas em membros e derivações precordiais).
RX: Cardiomegalia variável, congestão venosa pulmonar (pul-
Apresentação clínica mão úmido) em casos mais severos.
Geralmente não apresenta sintomas nos neonatos devido à resis- ECO: Aumento do átrio esquerdo e do ventrículo esquerdo, dimi-
tência pulmonar elevada. Nas grandes comunicações interventricula- nuição da contratilidade do ventrículo esquerdo principalmente da
res, sugirão sintomas de insuficiência cardíaca com a queda de resis- parede posterior, com diminuição da fração de encurtamento, insu-
tência pulmonar, que ocorrerá em torno da quarta semana de vida. ficiência mitral (estas alterações melhoram entre 1 a 2 semanas).

Conduta Laboratório
Encaminhar para acompanhamento especializado.
Diminuição discreta da pa02 e pH sem retenção da PaC02
Comunicação Interatrial (Figura 20) Hipoglicemia
Aumento da CKMB e Troponina.
Perfusão miocárdica (teste do Gálio 201) revela distribuição
irregular 285
O teste do Gálio 201 deve ser realizado em casos onde mio-
cardite é suspeita (neste caso a perfusão miocárdica é normal).

Tratamento

Casos leves: 02, corrigir a acidose e hipoglicemia (a lesão é


auto limitada).
Ventilação mecânica em casos severos.
Restrição hídrica e diuréticos são benéficos.
Agentes inotrópicos como Dopamina ou Dobutamina e vasodi-
latador devem ser considerados em casos severos:
Captopril (CapotenR): 0,1 - 0,4 mg/kg/dia VO - 2 a 3 doses
Figura 20 Comprimido de 12,5 - 25 - 50 mg.

Definição Prognóstico
Solução de continuidade do septo interarial. Pode ter várias
localizações, sendo a mais freqüente nas região do forame oval. Os RN usualmente se recuperam a menos que haja acidose
severa, lesão em sistema nervoso central ou sepse. A melhora
Apresentação clínica clínica ocorre com poucos dias de tratamento. A insuficiência tri-
Isoladamente não apresenta sintomas. cúspide e alterações ECG regridem em poucos meses. Não está
claro se estes pacientes desenvolvem cardiomiopatia, arritmias e
Conduta prolapso da válvula mitral tardiamente.
Encaminhar para acompanhamento especializado.
Recém-Nascido De Diabética
Isquemia Miocárdica Transitória Do RN.
Patologia
Ocorre necrose subendocárdica nos músculos papilares e ou-
tras áreas dos ventrículos do RN com hipóxia perinatal. Causa: Ocorre efeito teratogênico em vários sistemas. A prevalência
ocorre vasoconstricção pulmonar hipóxica levando a um desequi- de cardiopatia congênita é de 6-9% (3 a 4 vezes maior que na
líbrio entre a oferta e a demanda de 02 para o miocárdio. Estes população em geral). O grupo de maior risco são os RN de mães
RN usualmente têm hipertensão pulmonar, shunt bidirecional a insulino-dependentes. Mães não insulino-dependentes parecem
nível atrial e ductal + insuficiência tricúspide com vários graus de não ter risco para malformação congênita.
disfunção ventricular no Ecocardiograma.

Paulo R. Margotto
Assistência ao Recém-Nascido de Risco

• Supapannachart S, Limrungsikul A, e cl.Oral ibuprofen and indomethacin for treatment of


Os RN têm maior prevalência de cardiopatia congênita, cardio- patent ductus arteriosus in premature infants: a randomized trial at Ramathibodi Hospital.
miopatias e padrão pulmonar fetal. J Med Assoc Thai 85 (Suppl4):S1252, 2002
• Lago P. Safety and efficacy of ibuprofen versus indomethacin in preterm infants treated for
O risco de cardiopatia congênita é 3-4 vezes maior do que na patent ductus arteriosus: a randomized controlled trial.
• Lago P - Eur J Pediatr 161: 202, 2002
população geral (CIV, D-TGA, CoAo) • Margotto PR. RN Filho de mãe diabética: hoje e amanhã. Boletim Informativo Pediátrico
(BIP)-Brasília, N0 32, 1983
• Pereira CMX, Margotto PR. Distúbios Cardiológicos. In. Margotto. Assistência ao Recém-
Cardiomiopatia Hipertrófica Nascido de Risco, Editora Pórfiro, Brasília, pg 196, 2002
• Bart Chernow. The Pharmacologic Approach to the Critically Ill Patient. Third Edition, 1994.
• Paret G, Streinmetz D, Kuint J e cl. Adenosine for the treatment of paroxysmal supraventri-
Causa obstrução na via de saída do ventrículo esquerdo em 10 cular tachycardia in full-term and preterm newborn infants. Am J Perinatol 13: 346, 1996
a 20% dos casos. Há aumento do tamanho e do nº de miócitos;
não há excesso de glicogênio como se pensava.
A hipertrofia ocorre devido à hiperinsulinemia. O septo inter-
ventricular é mais hipertrofiado do que a parede posterior do ven-
trículo esquerdo (hipertrofia septal assimétrica)
Há risco maior para a persistência do padrão de circulação fe-
tal devido a maior incidência de hipoglicemia, asfixia perinatal,
dificuldade respiratória e policitemia nestes RN.

Clínica da Cardiomiopatia hipertrófica

Taquidispnéia desde o nascimento, pletora, cianose discreta,


taquicardia (>160bpm), ICC em 5-10%, sopro sistólico em borda
esternal esquerda baixa (obstrução da via de saída ventricular
esquerda ou por cardiopatia congênita associada).
RX: Cardiomegalia variável, trama vascular pulmonar normal
ou discretamente aumentada por congestão venosa pulmonar.
ECG: Normal ou com QT longo (devido ao aumento do ST) devido
a hipocalcemia. Ocasionalmente: há sobrecarga ventricular direita,
sobrecarga ventricular esquerda, sobrecarga biventricular.
ECO: Hipertrofia septal assimétrica relacionada com a severida-
de do Diabete materno. Há contratilidade aumentada do ventrículo
esquerdo, obstrução da via de saída do ventrículo esquerdo (por
movimento sistólico do folheto anterior da válvula mitral em 50%
286 dos casos e ondulação na valva aórtico). Raramente há dilatação do
ventrículo esquerdo com diminuição da contratilidade do mesmo.

Tratamento

Suporte geral: Hidratação venosa, corrigir hipoglicemia, hipo-


calcemia, suporte ventilatório se indicado.
A hipertrofia do ventrículo esquerdo se resolve em 6 a 12 meses.
Agente β-bloqueador (Propranolol): melhora a obstrução da via
saída ventricular esquerda. Dose do Propanolol: ORAL: 1 a 5 mg/
kg/dia divididos de 6/6 horas ou 8/8 horas
Apresentação: Inderal: 1 comprimido = 10 mg = 1mg
Nota: em situações emergenciais, usar endovenoso: Metropro-
lol (SelokenR):0,1-0,2mg/kg e 2x com aumento progressivo até
0,9mg/kg/dia. Apresentação: ampola de 5 ml com 5mg.
Digital é contra-indicado (piora a obstrução da via saída ventri-
cular esquerda)

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ductus arteriosus. - Pediatr Res 47:36, 2000
Capitulo 08 Distúrbios Cardiológicos

8.2 PERSISTÊNCIA DO CANAL ARTERIAL

Viviana I. Sampietro Serafin, Alessandra, Alessandra de Cássia


Gonçalves Moreira, Paulo R. Margotto

Definição e Incidência Fisiologia

O fechamento funcional do canal arterial do recém-nascido de ter- O ducto arterioso (DA) conecta a artéria pulmonar com a aorta
mo ocorre em 48 horas após o nascimento e até em 72 horas em descendente. Durante a vida fetal a resistência elevada das arte-
90% dos recém-nascidos com mais de 30 semanas de idade gesta- ríolas pulmonares direciona 90% do débito do ventrículo direito
cional. Quando o ducto permanece aberto após 72 horas podemos através do ducto para aorta e desta, de volta para a placenta; o
considerar a Persistência do Canal Arterial (PCA). Vinte e cinco por restante do fluxo perfunde os pulmões em desenvolvimento.
cento dos neonatos com peso entre 1000 e 1500 g apresentarão
PCA com 72 horas de vida e 70 % destes requerem tratamento.
Sessenta e cinco por cento dos neonatos com peso < 1000 g apre-
sentam PCA com 72 horas de vida e 85% precisam de tratamento.

287

Moore & Persaud, 2004

A maior parte do sangue oxigenado que chega ao coração pela quirem camadas musculares que deixam o DA menos sensível à ação
veia umbilical e pela veia cava inferior é desviada através do fo- da PGE2 e mais sensível ao efeito vasoconstritor do oxigênio.
rame oval e bombeada da aorta para a cabeça, ao passo que a
maior parte do sangue desoxigenado que retorna pela veia cava Nascimento
superior é bombeada, através da artéria pulmonar e do ducto
arterial, para os pés e para as artérias umbilicais Após o nascimento as arteríolas pulmonares se dilatam com a
O DA permanece patente graças aos elevados níveis de prostaglan- oxigenação levando a uma queda da pressão da pulmonar e de
dinas circulantes, principalmente PGE2. Durante o último trimestre de ventrículo direito, As pressões de coração esquerdo aumentam,
gestação e em preparação para o nascimento as paredes do DA ad- trocando a baixa resistência ao fluxo da placenta pela elevada
resistência da circulação sistêmica.

Paulo R. Margotto
Assistência ao Recém-Nascido de Risco

288

Moore & Persaud, 2004

A Pa02 aumenta dramaticamente na transição da vida fetal permanece relativamente resistente a desenvolver hipóxia pro-
(30-40 mmHg) para a vida extra-uterina e o músculo da pare- funda, que é o sinal preliminar que conduz à necrose e à cascata
de do DA responde ao aumento da oxigenação com contratura inflamatória, culminando com a remodelação. O vasa vasorum
muscular e fechamento do vaso (vasoconstrição) com fechamen- (pequenos vasos sanguíneos encontrados ao redor de paredes
to funcional do canal, que pode permanecer vasoconstrito, mas de grandes vasos, na camada adventícia, que servem para sua
não fechado em recém nascidos de termo durante as primeiras nutrição) entra na parede exterior do ducto e cresce em direção
24 h a 48h de vida. A vasoconstrição leva a necrose da íntima do ao lúmen, parando de crescer aproximadamente 400-500 μm do
vaso e fechamento anatômico do canal. lúmen. A distância entre o lúmen e o vasa vasorum é chamada
Em neonatos prematuros a imaturidade do DA determina uma de zona avascular. No canal do RN a termo, a zona avascular é
resposta pobre à oxigenação devido à diminuição de quantida- de aproximadamente 500 μm (aproximadamente 1,2 mm). Quan-
de de músculo existente e labilidade à ação de prostaglandinas, do isto ocorre, o centro da parede do ducto sofre uma profunda
liberadas na corrente sangüínea do neonato durante processos isquemia, iniciando o processo de remodelação. No prematuro
inflamatórios decorrentes de hipóxia e sepse. No prematuro a de 24 semanas de gestação, a parede do vaso tem apenas 200
resposta aos fatores que levam ao fechamento do canal é inver- μm de espessura e a nutrição da parede vascular depende uni-
samente proporcional à idade gestacional. camente dos nutrientes presentes no lúmen do vaso. Assim, du-
Imediatamente após o nascimento, há uma resposta inflama- rante o processo de fechamento ductal no prematuro, não há re-
tória dentro da parede do canal. Esta resposta é associada com gião vulnerável à necrose na parede do ducto e o espessamento
o influxo de monócitos e macrófagos na parede do ducto e a in- de sua parede é bem menor que no RN a termo. A remodelação
dução de diversas citocinas como γ-Interferon e o FNT-α. Diver- fundamental ao fechamento anatômico do canal no prematuro,
sas destas citocinas são vasodilatadores poderosos que atuam portanto, é um processo bem mais lento e vulnerável que no RN a
através de mecanismos independentes das PGs ou do NO. Deve- termo. Esta informação é especialmente importante para a com-
se notar que mesmo quando o ducto prematuro faz constricção, preensão do manejo hídrico destes pacientes.
Capitulo 08 Distúrbios Cardiológicos

Para definir se a repercussão hemodinâmica da PCA é significa-


tiva podemos medir a relação Qp:Qs.da seguinte forma: quando
há aumento do shunt Esquerda – Direita (E-D), o fluxo sanguíneo
pulmonar está aumentado quando comparado com o fluxo sistê-
mico; este shunt é quantificado pela relação Qp:Qs. Medimos o
fluxo sistêmico, aferindo o débito cardíaco de Ventrículo Direito
(VD) e o fluxo pulmonar pelo débito de Ventrículo esquerdo (VE),
assumindo que o volume que sai de VE é o mesmo que voltou
do pulmão para aurícula esquerda pelas artérias pulmonares e
em VD é a soma do retorno venoso sistêmico que veio pela veia
cava superior e inferior e o volume desviado pela PCA. Porém, em
prematuros que tem forame oval patente ou CIA com shunt E-D,
este método não é fidedigno.
Evans e Iyer estudaram neonatos com shunt atrial mínimo que
teriam relação Qp:Qs confiável e relacionaram com o diâmetro do
canal (PCA).Os autores concluíram que em neonatos com peso me-
Canal Arterial no Feto e em Recém-nascidos a termo e pré-termo nor que 1500gr se o diâmetro do PCA for< 1,5 mm, o shunt foi usu-
almente insignificante. Nos pacientes com PCA > 1,5 mm o shunt foi
Clínica e Métodos de Diagnóstico significativo hemodinâmicamente e nos casos em que o diâmetro da
PCA foi > 2 mm a relação Qp:Qs foi maior que 2:1, o que significa que
O diagnóstico clínico da PCA no prematuro nas primeiras ho- o fluxo sanguíneo pulmonar era o dobro que o sistêmico.
ras de vida é prejudicado já que os sintomas clássicos podem Przemko e cl, em estudo prospectivo em prematuros de muito
estar ausentes: por exemplo, quando o shunt é balanceado pela baixo peso, concluíram que o diâmetro interno do canal no eco-
presença de hipertensão pulmonar ou persistência do padrão cardiograma precoce pode predizer a necessidade de fechamento
de circulação fetal, o que dificulta a ausculta de sopro cardíaco; cirúrgico do canal. Portanto, pacientes com ecocardiogramas que
porém o shunt esquerda- direita aumenta nos primeiros dias de mostraram canal arterial de diâmetro maior que 1,5 mm e com peso
vida o que levará a apresentar sinais clínicos evidentes após 72 igual ou menor que 1000g precisaram de fechamento cirúrgico.
horas de vida, reforçando a necessidade de realização precoce
(primeiras 48 de vida) do ecocardiograma. Hemodinâmica da PCA e suas Complicações
No terceiro dia de vida, os sinais clínicos que podem ser obser-
vados são o sopro cardíaco (18% dos RN), impulsões precordiais A persistência do ductus arterioso em prematuros traz impor-
visíveis (13,1%), pressão de pulso maior que 30 mmHg (3,3%) e tantes consequências, particularmente pacientes em recupe-
pulsos amplos. Os sinais são mais freqüentes nos neonatos que ração de desconforto respiratório, com a piora da ventilação e 289
não apresentam fechamento espontâneo. oxigenação, a resistência vascular pulmonar diminui de maneira
As evidências sugerem que os sinais clínicos têm acurácia li- precoce e rápida especialmente em prematuros de muito muito
mitada principalmente nos 3 a 4 primeiros dias de vida. Skelton baixo peso, levando a shunt esquerda – direita a través do canal
e cl estudaram uma coorte de prematuros na primeira semana arterial, aumentando o fluxo sanguíneo pulmonar provocando
de vida e verificou-se que nos primeiros 3 a 4 dias de vida, tanto edema pulmonar e piora da ventilação.
pulsos amplos, como precórdio agitado e sopro sistólico tiveram A PCA pode desviar até 30% do fluxo sistêmico para o pulmão,
especificidade razoável e baixíssima sensibilidade para PCA sig- elevando a velocidade de fluxo de artéria pulmonar e aumentan-
nificativo ao ecocardiograma. Assim, se os sinais clínicos são pre- do o risco de hemorragia pulmonar. Este roubo diastólico de fluxo
sentes frequentemente há PCA associada, no entanto, PCA mais deixa áreas da circulação sistêmica com déficit como é o caso
significantes não produzem sinais clínicos. Por exemplo, no pri- do plexo mesentérico, aumentando o risco de enterocolite; assim
meiro dia de vida, sopro tem 0% de sensibilidade e especificidade como isquemia dos músculos papilares dos ventrículos (coroná-
e no terceiro dia 3 tem 99% de especificidade, mas apenas 31% rias se nutrem em diástole); alterações da velocidade do fluxo
de sensibilidade. Após o quarto dia, a sensibilidade dos sinais sangüíneo cerebral, predispondo a hemorragia intraventricular, e
clínicos aumenta e ao sétimo dia de vida apresentam 94% de levando o risco de morte destes pacientes
especificidade e 79% de sensibilidade. Estudos realizados nes- Existe uma relação significativa entre o maior diâmetro da PCA
tes moldes revelam que depender apenas dos achados clínicos e diminuição do fluxo sanguíneo sistêmico.
atrasa o diagnóstico, em média, em 2 dias. O impacto hemodinâmico da PCA acontece nas primeiras 24
Aproximadamente 35% dos prematuros nascidos com idade a 48 horas de vida. O fechamento do canal nas primeiras horas
gestacional menor que 30 semanas desenvolvem sinais clínicos após o nascimento determina as conseqüências hemodinâmicas
de PCA; estudos comparando diagnóstico clínico e ecocardiográ- e a persistência do ducto
ficos mostram que existe em média um retardo de 2 dias (entre Em ecografias feitas em 124 prematuros na 5ª hora de vida
1-4 dias) no diagnóstico clínico de PCA Assim, se tivermos sinais com idade gestacional menor que 30 semanas, 97% tinham PCA;
e sintomas podemos diagnosticar clinicamente a PCA, porém destes, 52% tinham shunt E-D e 43% shunt bidirecional e ape-
este diagnóstico pode ser tardio. nas 2% apresentaram shunt D-E. Neste mesmo estudo se obser-
O Ecocardiograma com Doppler colorido precoce deverá definir va que o fluxo da veia cava superior (VCS) era muito baixo em
se o ducto está patente (diâmetro do canal), se está em processo pacientes com PCA de diâmetro maior quando comparado com
de fechamento, se há shunt e qual a direção do shunt (direita- neonatos com PCA de diâmetro menor, porém com 48 horas de
esquerda, esquerda-direita ou bidirecional) e qual a repercussão vida não houve diferença no fluxo da VCS entre ambos os grupos.
hemodinâmica da persistência do canal, e posteriormente a res- Em conclusão os efeitos hemodinâmicos da PCA na circulação
posta ao tratamento instituído. Há uma variedade de definição sistêmica podem ser mais significativos nas primeiras horas de
de canal arterial hemodinamicamente significativo em ensaios vida e na circulação pulmonar podendo influenciar no desenvol-
randomizados avaliando o tratamento ductal. vimento de displasia broncopulmonar e hemorragia pulmonar,
principalmente nas primeiras 48 horas de vida. É um problema

Paulo R. Margotto
Assistência ao Recém-Nascido de Risco

de coração esquerdo, uma vez que ocorre uma transferência de presença de PCA com repercussão hemodinâmica. Quanto mais
1/3 do débito cardíaco para a circulação pulmonar. tarde iniciarmos tratamento menor será a resposta à terapêutica,
por isso, além de identificar os grupos de risco é importante o
Tratamento diagnóstico precoce. Os sintomas clínicos são pobres nas primei-
ras horas de vida, especialmente em recém nascidos em venti-
Nos RN <32 semanas o fechamento espontâneo do canal ar- lação mecânica, a importância da manifestação destes sintomas
terial ocorreu entre 3-7 dias em 44% Dani e cl relataram o fecha- depende do tamanho do shunt e da capacidade do pulmão e do
mento espontâneo do canal arterial em 24% dos recém-nascidos coração de se adaptarem da sobrecarga de volume.
com idade gestacional entre 23-27 semanas. A resposta é melhor nos RN com Idade Gestacional pós-con-
Nemerofsky e cl relataram fechamento espontâneo do canal cepcional de 33 semanas ou menos, e idade cronológica abaixo
arterial em 31% nos RN com peso menor ou igual a 1000g, no 7º de 10 dias.
dia e em 67% naqueles com peso acima de 1000g. A repercussão hemodinâmica deve ser definida pelo cardiolo-
Em um novo estudo observacional de 2009, Herrman K e cl de- gista conforme o efeito da presença da PCA sobre os parâme-
monstraram o fechamento espontâneo do canal arterial em 100% tros ecocardiográficos.
dos RN com peso <1500g (66% antes e 34 após a alta hospitalar).
Segundo Benitz, embora os dados não provem que o tratamen- 1. Canal sem sintomas: Deve ser seguido clinicamente
to do canal arterial prévio nunca seja necessário, mas, no entan- por 6 meses; não necessita cirurgia fechamento espon-
to indica que muitos RN com persistente canal arterial pérvio, tâneo.
particularmente aqueles com peso acima de 1000g podem ter 2. Canal sintomático: Deve ser instituído tratamento far-
um conduta expectante, porque evoluem bem, sem tratamen- macológico, reservando a cirurgia aos RN que não res-
to especificamente intencionado para o fechamento do canal pondem a 2 ciclos de indometacina e RN com ICC que
arterial. Muitas das complicações relacionadas ao canal arterial não responde ao medicamento.
pérvio podem ser devidas à prematuridade por si só ou devido
a antecedentes, como infecção intrauterina e nestes, o fecha- Dosagem da Indometacina (IV):
mento do canal arterial poderá ser esperado alterar o resultado. Apresentação: Indocid® - ampola com 1 mg de indometacina
Nemerofsky e cl têm sugerido uma excelente estratégia inicial: liofilizada para diluir em 1 mL de água bidestilada. Infundir EV em
frear o tratamento completo nos RN com peso ao nascer> 1000 30 minutos. Usar imediatamente e não reaproveitar a diluição.
g e adiar o tratamento até pelo menos a segunda semana após
o nascimento para os bebês menores. Os dados disponíveis indi- Diluição:
cam que isso vai reduzir substâncialmente o número de crianças 0,1mg/0,1ml (água bidestilada ou soro fisiológico 0,9%)
submetidas a potenciais efeitos adversos do tratamento, sem 3 doses em intervalos de 12 horas
incorrer em um maior risco de resultados adversos a longo pra-
290 zo. Segundo Benitz, seria irrealista pensar que uma prática tão • Peso de Nascimento > 1250 g: 3 doses de 0,2 mg/kg;
profundamente enraizada na cultura da medicina neonatal será administrar a segunda dose 12 horas após a primeira e a
imediata ou rapidamente abandonada. O pragmatismo dita au- terceira dose 24 horas após a segunda.
mento de movimento naquela direção. • Peso de Nascimento entre 1000 e 1250 g: primeira dose
Segundo Kaempf e cl, a terapia agressiva de fechamento da de 0,2 mg/kg; administrar 0,1 mg/kg após 12 h e a ter-
PCA é em grande parte desconhecido sem claros benefícios para ceira dose 0,1 mg/kg 24 horas após a segunda.
o bebê prematuro. O uso de indometacina e a ligadura cirúrgica
podem ser reduzidos, sem aumento significativo da mortalidade Contraindicações ao uso da Indometacina:
ou morbidades individuais.
• Sangramento ativo: gastrointestinal ou outro (Hemorra-
Considerações Gerais gia Intraventricular não é uma contra-indicação)
• Creatinina ≥ 2 mg/dL
O tratamento convencional da insuficiência cardíaca conges- • Débito urinário < 1 mL/kg/h
tiva (restrição de fluidos, diuréticos, inotrópicos) não é eficaz e • Plaquetas < 50.000/mm3
pode atrasar o tratamento específico. A não ser que a PCA não • Cardiopatia congênita
seja hemodinamicamente significativo, os prematuros com PCA • Malformação intestinal ou renal
deverão permanecer em jejum. • Manejo durante o Tratamento com Indometacina:
Estudos como o de Stephens e cl, no entanto, revelam que a • Como a indometacina reduz o fluxo sanguíneo gastrointes-
oferta excessiva de líquidos é um preditor significativo de PCA no tinal, manter dieta zero por 48 horas após a última dose.
segundo e terceiro dia de vida, ofertas hídricas superiores a 170
ml/Kg/dia no terceiro dia de vida elevaram o risco de PCA entre Fechamento Cirúrgico:
os RN < 1250g, sendo que aporte calórico semelhante pode ser Indicado em casos de:
oferecido com taxas hídricas inferiores a 126 ml/Kg/dia durante Falência do tratamento medicamentoso
a primeira semana de vida. A oferta hídrica diárias aos RN de Repercussão hemodinâmica com contra-indicação ao uso de
risco, portanto, deve ser alvo de constante vigilância e controle. indometacina
Presença de PCA e Enterocolite
Indometacina Estudo francês retrospectivo envolvendo RN < 28 semanas
conduzido por Jaillard e cl, evidenciou que naqueles submetidos
O uso de indometacina profilática nos RN <28 semanas sem a à intervenção cirúrgica precoce, ou seja, com menos de 21 dias
confirmação daa PCA é discutido na literatura. A diminuição sig- de vida, tiveram menor retardo na instituição de dieta oral plena
nificativa da hemorragia intraventricular, assim como a sua gravi- (p<0,01) e maior ganho ponderal com idade gestacional pós-
dade, não correspondeu a um melhor prognóstico com 36 meses concepção de 36 semanas (p<0,05) em comparação aos que ti-
de vida (e não há respaldo na literatura para sua utilização de veram fechamento tardio (> 21 dias). Os critérios para indicação
forma rotineira).Os neonatos só devem ser tratados se houver de correção cirúrgica foram: falha de tratamento medicamen-
Capitulo 08 Distúrbios Cardiológicos

toso, repercussão hemodinâmica e PCA > 3 mm. Os autores (89%) A concentração plasmática média de ibuprofeno foi de
não mostraram diferença significativa quanto à incidência de 28,05 micrograma/ml 1 hora após a terceira dose. Apesar de
displasia broncopulmonar. No entanto estudo recente de Clyman melhor diurese no grupo dos RN que receberam ibuprofeno, não
e cl, houve maior necessidade de oxigênio além das 36 semanas houve diferenças quanto aos níveis plasmáticos de uréia e crea-
pós-concepção nos RN tratados com ligação cirúrgica profilática tinina. Não houve diferenças significativas entre os dois grupos
versus ligação cirúrgica com indicação clínica. Kabra e cl relata- quanto à duração do suporte ventilatório, assim como o número
ram maior risco de deficiente desenvolvimento neurossensorial, de RN que apresentaram displasia broncopulmonar, hemorragia
18-22 meses, no RN sintomáticos submetidos a ligação cirúrgica intraventricular, enterocolite necrosante e morte. Os autores con-
versus os RN submetidos ao tratamento farmacológico, além do cluíram que o uso do ibuprofeno oral é tão efetivo quanto à indo-
mais DBP e severa retinopatia da prematuridade. Portanto, a liga- metacina para o tratamento da PCA em prematuros
ção cirúrgica profilática do canal arterial pérvio aumenta o risco de Em setembro de 2003, Sharma e cl, da Índia, estudaram a far-
displasia broncopulmonar. macocinética do ibuprofeno oral, utlizando uma simples dose de
A ligação cirúrgica da PCA hemodinamicamente significativa 10mg/Kg entre 4 e 72 horas de vida em 20 RN prematuros com
ocasionou deficiente autorregulação cerebral nas primeiras 6 idade gestacional média de 30,4 semanas e peso médio ao nas-
horas após a cirurgia. Todo o esforço deve ser realizado para mi- cer de 1262g. As amostras de sangue foram coletadas do cateter
nimizar esta situação, como controle rigoroso da pressão arterial vascular nos tempos 0, 1, 2, 4, 8, e 24 horas. As concentrações
média, da glicose e da PaC02. plasmáticas do ibuprofeno foram avaliadas através da cromatogra-
fia líquida de alta performance. Os autores relataram uma grande
Ibuprofeno variabilidade interindividual para as concentrações plasmáticas,
vida-média de eliminação (15,72+/-3,76h) e área sob a curva
Uma alternativa à indometacina sem os seus efeitos indesejá- tempo-concentração plasmática (9402.60+/-79,67microgramas
veis, como redução dos fluxos sanguíneos cerebral, renal e me- h/ml) nestes bebês. Variáveis como idade gestacional, peso ao
sentérico é o Ibuprofeno (embora permaneçam as complicações nascer e sexo não afetaram significantemente a farmacocinética.
da indometacina referentes ao sangramento gastrintestinal) na Não houve correlação entre vida-média de eliminação e idade ges-
dose de 10mg/Kg EV (2-3mim) e 5mg/Kg com 24hs e 48hs. Vida tacional (r=0,002). Assim, os autores indianos evidenciaram uma
média: 30,5 ± 4,2hs. O ibuprofeno, como a indometacina, perten- grande variabilidade na farmacocinética nos RN recebendo ibu-
ce ao grupo dos antiinflamatórios não esteroidais e inibidores da profeno oral. Os resultados desse estudo justificam a revisão dos
ciclo-oxigenase, prevenindo a conversão do ácido aracquidônico esquemas de dose oral para que se alcancem as concentrações
em PGE2 e prevenindo assim a patência do canal arterial plasmáticas comparáveis aos estudos do ibuprofeno associadas
Metanálise da Cochrane evidenciou maior risco de dependên- com sucesso no fechamento do canal arterial.
cia de 02 aos 28 dias de vida no grupo do ibuprofeno (RR: 1,37; Em 1 de novembro de 2003, o grupo israelense de Heyman
IC: 1,01-1,86), porém sem diferenças significativas quanto à de- publicou resultado de um estudo piloto, prospectivo utilizando
pendência de 02 com 36 semanas de idade pós-concepcional ibuprofeno oral em 22 pré-termos com PCA e doença da mem- 291
(OR: 1,5; IC: 0,83-281). A única diferença significativa favorável brana hialina. A idade gestacional média foi de 27,5 semanas. O
ao ibuprofeno entre os dois grupos foi a redução do risco de oli- peso médio era de 979g. Os RN receberam, no segundo dia de
gúria. O uso profilático do ibuprofeno endovenoso resultou em vida, 10mg/Kg/dia de uma solução oral de ibuprofeno, seguida
diminuição significativa na incidência de canal arterial patente de mais 2 doses de 5mg/Kg, se necessário com intervalo de 24
(RR: 0,36; IC: 0,26-0,49), no entanto, um ensaio clínico relatou horas. A ecocardiografia foi realizada antes e 24 horas após cada
3 casos de hipertensão pulmonar persistente que respondeu ao dose. Todos RN tiveram ultra-som craniano antes e depois do ibu-
óxido nítrico. A ocorrência de hipertensão pulmonar persistente profeno oral. Os autores relatam que 95% dos RN responderam à
do RN, no entanto, foi relatada após a administração de ibupro- terapêutica (apenas 1 RN manteve persistência do canal arterial
feno tamponado com THAM (trishydroxy aminomethane). Tal fato clinicamente significativo). Nenhum RN necessitou de tratamen-
não foi observado com o ibuprofeno lysine. No entanto, esta com- to cirúrgico. Não houve reabertura do canal arterial após o seu
plicação também tem sido relatada com o ibuprofeno lysine. fechamento. Com apenas 1 dose de ibuprofeno oral, 14 RN res-
Na Unidade de Neonatologia do Hospital Regional da Asa Sul ponderam; 6 RN necessitaram de 2 doses e 2 RN necessitaram
(HRAS) usamos o ibuprofeno oral na dose de 10mg/kg-ataque de 3 doses. A taxa de sobrevivência com 1 mês foi de 86,4%
e mais 2 doses de 5mg/kg com intervalo de 24 horas. (19 de 22 RN). Os 3 RN que faleceram foi devido a complica-
Em abril de 2002, o grupo indiano de Hariprasad e cl avaliaram a ções da extrema prematuridade (peso de 380g: 1 caso) e sepse
resposta ao ibuprofeno oral em 13 RN pré-termos com persistência por Candida e Klebsiella. (2 casos). A hemorragia intraventricular
do canal arterial (10mg/Kg-dose de ataque e 5mg/Kg- 2 doses com ocorreu em 7 RN (32%) e os autores não atribuem esta complica-
intervalo de 12 horas); 11 crianças mostraram fechamento do canal ção à terapia pelo ibuprofeno e sim a historia natural da PCA em
arterial nos ecocardiogramas após o tratamento, não sendo observa- recém-nascidos. Não foi observada tendência ao sangramento e
dos efeitos colaterais significativos como oligúria ou sangramentos. nem aumento da incidência de displasia broncopulmonar nos RN
Ainda em 2002, mais precisamente em novembro, o grupo tai- que receberam ibuprofeno. Não houve diferenças significativas
landês de Supapannachart investigou a possibilidade do uso do nos níveis de creatinina sérica antes e após o uso do ibuprofeno
ibuprofeno oral no tratamento dos RN pré-termos com PCA; 18 oral. Os autores concluem que a suspensão de ibuprofeno pode
RN com idades gestacionais abaixo de 34 semanas e que apre- ser uma alternativa efetiva e segura para o fechamento do ca-
sentavam PCA sintomático foram randomizados para o uso de nal arterial em RN com PCA, além da via oral apresentar muitas
indometacina oral ou endovenosa na dose de 2mg/Kg/dose por vantagens sobre o ibuprofeno endovenoso ou indometacina en-
3 doses com intervalo de 12hs e para o uso de ibuprofeno oral na dovenosa, incluindo a disponibilidade e a redução de custos. No
dose de 10mg/Kg/dose por 3 doses com intervalo de 24 horas. entanto, são justificados estudos comparativos grandes.
Não houve diferenças entre os dois grupos quanto ao peso ao Em 2007, Cherif e cl utilizaram o iburofeno oral em 40 recém
nascer, idade gestacional, raça, idade de início do tratamento e o nascidos muito prematuros (idade gestacional: 29,4 +/- 1 a 2
número de RN que apresentaram doença da membrana hialina semanas [intervalo: 26 a 31,5 semanas]; peso:1237,2 +/- 198 g
foi similar. O PCA fechou em 7 de 9 RN que receberam o ibupro- [intervalo: 650-1770 g]) com canal arterial e doença respiratória
feno oral (78%) e em 8 de 9 RN que receberam indometacina Os RN receberam, entre 48 e 96 horas de idade, o ibuprofeno

Paulo R. Margotto
Assistência ao Recém-Nascido de Risco

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foram realizadas antes do tratamento e após cada dose admi- nates with patent ductus arteriosus. J Pediatr (Rio J) 81:454,2005
nistrada. Foram registrados os primeiros (uma semana após o • Couser RJ, Ferrara TB, Wright GB, Cabalka AK, Schilling CG, Hoekstra RE, e cl. Prophylac-
tic indomethacin therapy in the first twenty-four hours of life for the prevention of patent
tratamento) e os últimos resultados do fechamento do canal: 38 ductus arteriosus in preterm infants treated prophylactically with surfactant in the delivery
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paulomargotto.com.br em Farmacologia Neonatal
Uma revisão do Cochrane publicada em Abril de 2010 que tem • Oliveira FM, Moreira A, Margotto PR. Avaliação do uso do ibuprofeno oral em recém-nasci-
como objetivo determinar a efetividade e segurança do Ibupro- dos prematuros com persistência do canal arterial. Monografia apresentada ao Supervisor
do Programa de Residência médica em Neonatologia da Secretaria de Estado de Saúde do
feno venoso comparado com placebo ou conduta expectante no Distrito Federal, como requisito parcial para obtenção do título de especialista em Neona-
tologia, 2008. Disponível em www.paulomargotto.com.br em Monografias.
fechamento de PCA em prematuros e neonatos de muito baixo • Moore, K.; Persaud, T. Embriologia Clínica. 5ª. Ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan,
2000.
peso, conclui que Ibuprofeno é tão efetivo quanto à Indometacina • Hermes-DeSantis ER, and Clyman RI.Patent ductus arteriosus: pathophysiology and mana-
como tratamento clínico do canal arterial, porém diminui o risco gement. J Perinatol 26, S14, 2006
• Skelton R, Evans N, Smythe J. A blinded comparison of clinical and echocardiographic eva-
de enterocolite e insuficiência renal. luation of the preterm infant for patent ductus arteriosus. J Paediatr Child Health 30:406,
1994
Estudo recente de Gokmen e cl evidenciou melhor efetividade do • Davis P, Turner-Gomes S, Cunningham K, Way C, Roberts R, e cl. Precision and accuracy of
ibuprofeno oral em relação ao venoso em pré termos de muito bai- clinical and radiological signs in premature infants at risk of patent ductus arteriosus. Arch
Pediatr Adolesc Med 149:1136, 1995
xo peso (absorção mais lenta, vida média maior possibilitaria maior • Stephens BE, Gargus RA e cl.Fluid regimens in the first week of life may increase risk of
patent ductus arteriosus in extremely low birth weight infants. J Perinatol 28, 123, 2008
tempo de contato com o ductus). Os RN com função renal bordeline • Jaillard S, Larrue B e cl. Consequences of Delayed Surgical Closure of Patent Ductus Arte-
deveria ser avaliados e ter melhor acompanhamento, uma vez que riosus in Very Premature Infants. The Annals of Thoracic Surgery 81: 232, 2006
• Ohlsson A, Walia R, Shah SS. Ibuprofen for the treatment of patent ductus arteriosus in
houve aumento do nível de cistatina-C no grupo que recebeu ibupro- preterm and or low birth weight infants. Cochrane Database Syst Rev. 2010 Apr 14;(4)
CD003481
feno oral em relação ao antes, embora, não houvesse diferenças en- • Sola A. Controvérsias no tratamento da PCA (Persistência do canal arterial). 7o Simpósio
Internacional de Neonatologia do Rio de Janeiro, 24 a 26/6/2010. Disponível em www.
tre o grupo oral e venoso. paulomargotto.com.br, em Distúrbios Cardiológicos. Acesso em 01/11/2011
Apresentação: NeoprofenR (Ibuprofeno lysina)10mg/3ml de • Hamrick SE, Hansmann G. Patent ductus arteriosus of the preterm infant. Pediatrics,
125:1020,2010
diluente (não disponível no Brasil). No Brasil: Ibuprofeno oral – • Clyman R, Cassady G, Kirklin JK, e cl. The role of patent ductus arteriosus ligation in bronchopul-
monary dysplasia: reexamining a randomized controlled trial. J Pediatr 154: 873, 2009
DoretrinR e DalsyR 100mg/5ml (1ml-20mg ou 1gta-1mg) • Nemerofsky SL, Parravicini E, Bateman D, e cl. The ductus arteriosus rarely requires treat-
ment in infants >1000 grams. Am J Perinatol 25: 661,2008
• Herrman K, Bose C, Lewis K, Laughon M. Spontaneous closure of the patent ductus arte-
Referências riosus in very low birth weight infants following discharge from the neonatal unit. Arch Dis
Child Fetal Neonatal Ed 94: F48,2009
• Skelton R, Evans N, Smythe J. A binded comparison of clinical and echochardiographic • Benitz WE. Treatment of persistent patent ductus arteriosus in preterm infants: time to
evaluation of the preterm infant for patent ductus arteriosus. J Paedriatr child health accept the null hypothesis? J Perinatol 30:241, 2010. Disponível em www.paulomargotto.
30:406,1994 com.br, em Distúrbios Cardiológicos. Acesso em 6/11/2011
• Davis P, Turner-Gomes S, Cunningham K, Way C, Roberts R, Schmidt B. Precision and • Zonnenberg I, de Waal, K. The definition of a hemodynamic significant duct in randomized
accuracy of clinical and radiological signs in premature infants at risk of patent ductus controlled trials, a systematic literature review. Acta Paediatr. 2011 Sep 13 (publicação
arteriosus. Arch Pediatr Adolesc Med 149; 1136,1995 online)
• Kluckov M, Evans N, Low superior vena cava flow and intraventricular haemorrhage in
preterm infants. Arch Dis Child Fetal Neonatal Ed 82:F188,2000
Capitulo 08 Distúrbios Cardiológicos

• Gokmen T, Erdeve O, Altug N, Oguz SS, Uras N, Dilmen U. Efficacy and safety of oral versus
intravenous ibuprofen in very low birth weight preterm infants with patent ductus arterio-
sus. J Pediatr. 2011 158:549, 2011. Disponível em www.paulomargotto.com.br, em Distúr-
bios Cardiológicos. Acesso em 6/11/2011
• Erdeve O, Yurttutan S, Altug N, Ozdemir R, Gokmen T e cl.Oral versus intravenous ibupro-
fen  for patent ductus arteriosus closure: a randomised controlled trial in extremely low
birthweight infants.
• Arch Dis Child Fetal Neonatal Ed. 2011 Dec 5. Disponível em www.paulomargotto.com.br,
em Distúrbios Cardiológicos. Acesso em 6/3/2012
• Neumann R, Schulzke SM, Bührer C. Oral Ibuprofen versus Intravenous Ibuprofen or Intra-
venous Indomethacin for the Treatment of Patent Ductus Arteriosus in Preterm Infants: A
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• Chock VY, Ramamoorth C e cl. Cerebral autoregulation in neonates with a hemodynami-
cally significant patent ductus arteriosus. J Pediatr 160:936, 2012
• Kluckow M. Persistência do canal arterial da fisiolofgia ao tratamento. IX Congresso Ibero-
americano de Neonatologia-SIBEN, Belo Horizonte, 20 23/06/2012 disponível em www.
paulomargotto.com.br. Acesso em 10 de stembro de 2012

293

Paulo R. Margotto
Assistência ao Recém-Nascido de Risco

8.3 CUIDADOS NO PÓS-OPERATÓRIO EM CIRURGIA CARDÍACA

Nestor Sabatovicz

O grande avanço no tratamento cirúrgico das cardiopatias intra-abdominal e sendo via auxiliar na retirada de líquidos e con-
congênitas nos neonatos promoveu um significativo aumento na trole da volemia.
complexidade das necessidades pós-operatória destes pacientes. O acompanhamento de eletrólitos, hemograma, gasometria,
Desde o fechamento cirúrgico do canal arterial em prematuros até metabólitos renais e Raios-X de tórax, que devem ser feitos se-
complexos reparos cirúrgicos (Norwood, Jatene, etc,) são realiza- quencialmente, ou no caso de qualquer alteração. (Tabela – 1).
dos no período neonatal sendo necessário ambientes adequada- Uma avaliação completa da coagulação deve ser feita na che-
mente equipados com equipes multidisciplinares treinadas. gada à UTI e repetida sempre que necessário.

Monitorização Exames PO imediato 1° DPO 2° DPO


Gasometria 6/6 h 12/12 h 1x ao dia
É de extrema importância uma monitorização adequada e efi-
Eletrólitos 6/6 h 12/12 h 1x ao dia
ciente para o sucesso do acompanhamento pós-operatório dos
Hemograma 6/6 h 12/12 h 1x ao dia
neonatos. Estes pacientes têm uma labilidade hemodinâmica ím-
par, e uma monitorização correta permitem um acompanhamento Uréia /creatinina 1x ao dia 1x ao dia 1x ao dia
seguro e prevenção de complicações graves. Toda a equipe multi- Rx tórax 12/12 h 12/12 h 1x ao dia
disciplinar envolvida no acompanhamento destes pacientes deve
estar familiarizada com os equipamentos, bem como treinada no
seu manuseio. A monitorização básica presente na maioria das ci- Tabela 1 – Controle laboratorial pós-operatório.
rurgias inclui cardioscópio, oximetria de pulso, temperatura, sonda
vesical de demora (SVD), sonda orogástrica (SOG), pressão venosa Aporte hídrico e eletrolítico
central (PVC), pressão arterial invasiva contínua (PAM), e em casos
mais complexos podemos ainda ter cateter peritoneal, pressões de 1. Dieta zero. Manter SOG aberta nas primeiras 12 h. Tão
átrio esquerdo (PAE) e artéria pulmonar (PAP). logo seja possível inicia-se o suporte nutricional.
Cardioscópio – deve-se ter um eficiente monitor da freqüência e 2. A taxa hídrica básica em pacientes submetidos à circu-
ritmo cardíaco, se possível com múltiplos canais para que uma ava- lação extracorpórea (CEC) deve ser de 30% das necessi-
liação precisa e veloz possa ser feita na vigência de uma arritmia. dades básicas no PO imediato, e 50% no 1° DPO. Deve-
294 Oximetria de pulso – deve-se ter cuidado na instalação e se utilizar o cálculo básico de 100 ml/kg até 10kg.
manipulação dos sensores oximétricos, tendo sempre em men- 3. Glicose: infusão inicial cerca de 2mg/Kg/min com SG
te que estes estão sujeitos a alterações às condições de baixa 10%.
perfusão periférica (vasoconstricção severa, baixa temperatura 4. Eletrólitos repostos de acordo com a necessidade bá-
corporal, etc.). sica e corrigidos caso necessário. Potássio 2,5 mEq/kg/
Temperatura – atenção especial na chegada da criança do dia; Cálcio 1,0 mEq/kg/dia; Magnésio 1,0 mEq/Kg/dia.
centro cirúrgico quando comumente estão hipotérmicas devido O sódio só deve ser reposto em caso de hiponatremia.
à circulação extracorpórea.
SVD – é fundamental um acompanhamento contínuo da diure- Condutas Básicas Complementares
se. Deve-se ter sempre em mente uma diurese mínima de 1ml/
kg/h, e não deve ser medida em espaços prolongados (>2h), pois Antibióticos - profilaxia antibiótica de rotina com Cefuroxima
pode mascarar períodos de oligúria.. 50mg/kg/dose a cada 12 h ou Cefazolina 30 mg/kg/dose a cada
SNG – monitorizar hemorragias digestivas, bem como aliviar 8h. Em prematuros pode ser feito profilaxia com Nistatina pela SOG.
distensões gástricas que possam ocorrer no pós-operatório pro- Reposição de colóides - com o intuito de manter hemodinâmi-
veniente de uma ventilação não invasiva ou mesmo íleo prolon- ca e em pacientes acianóticos com Hb de 12g% e Htc de 35% e
gado. É importante ressaltar as alterações de ventilação em neo- em pacientes cianóticos com Hb de 15 g% e Htc de 40%.
natos devido à distensão abdominal. Analgesia/Sedação - contínua com morfina a 40 mcg/Kg/h
PVC – conectada a um acesso venoso central, sendo um im- em bomba de infusão. Esta deve ser diminuída para a extuba-
portante auxílio na avaliação da volemia. Deve ser ressaltado que ção e a dose reajustada em torno de 10 mcg/Kg/h. Pode-se adi-
esta pode estar alterada em pacientes com baixa complacência cionar Midazolam 0,2 mg/Kg/dose a cada 4 horas. Em caso de
do ventrículo direito -VD- (hipertrofia de VD) ou mesmo hiperten- necessidade de sedação por períodos prolongados a associação
são arterial pulmonar. de Midazolam (1mg/kg/h) e Fentanil (5mcg/kg/h) torna-se uma
PAM – deve-se usar solução de heparina e solução salina na excelente opção (consulte o capítulo de Dor Neonatal)
concentração de 1ui/ml.s Para mantê-la pérvea deve-se “lavá- Proteção gástrica - ranitidina 2 a 4 mg/kg/dia em duas doses.
las” periodicamente ou com infusões contínuas. Deve-se obser- Apresentação: AntakR: ampola de 2ml com 50mg
var sempre o volume e a quantidade de heparina administrados.
PAE – é primordial uma manipulação segura desta monitoriza- Condições Específicas
ção, pois em contato direto com as câmaras sistêmicas do cora-
ção, a entrada de ar nesta linha pode ser catastrófica. Baixo débito cardíaco – a manutenção de um débito cardíaco
PAP – normalmente utilizada em casos com grave hipertensão adequado no pós-operatório de cirurgia cardíaca é de fundamen-
arterial pulmonar. tal importância para a recuperação destes pacientes. Associado
Cateter Peritoneal – demonstrada ser via de eliminação de to- ao exame físico a beira do leito outros parâmetros servem como
xinas, e local de acúmulo de líquidos, o peritônio é drenado pas- auxiliares na avaliação do débito cardíaco como pressão arterial,
sivamente por cateter de diálise peritoneal, diminuindo a pressão diurese, pressões de enchimento atriais e pulmonar, avaliação
Capitulo 08 Distúrbios Cardiológicos

da função pulmonar e parênquima através dos raios-X de tórax. Hipertensão arterial pulmonar – as crises de hipertensão ar-
Recentemente o acompanhamento do lactato e a diferença A-V terial pulmonar podem ocorrer no pós-operatório de cirurgia car-
na saturação de oxigênio tem sido utilizados como parâmetros no díaca cursando com baixo débito cardíaco e hipóxia, acometendo
acompanhamento destes pacientes, uma vez que um aumento principalmente aqueles pacientes com grande hiperfluxo pulmo-
no lactato sérico e uma diferença A-V 02 maior que 30% são indí- nar no pré-operatório, ou por lesões vasculares decorrentes da
cios de baixo débito cardíaco. CEC. A monitorização da pressão arterial pulmonar deve ser feita
Um estado de hipocontratilidade miocárdica transitória é fre- nestes pacientes suscetíveis e esta deve permanecer entre 50%
qüentemente visto após a CEC, mas vários fatores podem contri- a 75% da pressão sistêmica.
buir para o baixo débito no pós-operatório de cirurgia cardíaca em As medidas a serem adotadas compreende sedação e anal-
neonatos como lesões anatômicas residuais, disfunção ventricular gesia adequadas, manuseio na ventilação ou administração de
persistente do pré-operatório ou devido a fatores transoperatórios bicarbonato a fim de manter o pH sérico elevado 7,5-7,6 (alcali-
(proteção miocárdica, hipotermia, lesão de reperfusão do miocár- nização), redução da PaC02, aumento da Fi02. Devemos associar
dio, etc.), arritmias, hipertensão pulmonar, infecção entre outros. drogas vasodilatadoras pulmonares como nitroprussiato de só-
O débito cardíaco nos neonatos é primariamente dependente dio, nitroglicerina, milrinona, prostaglandina E1, e instalação de
da freqüência cardíaca devido a vários fatores intrínsecos da fi- óxido nítrico ao sistema ventilatório ((10ppm a 40ppm).
bra miocárdica neonatal, bem como imaturidade do sistema sim- Distúrbios da coagulação – a exposição do sangue aos ma-
pático. Os níveis de cálcio ionizado desempenham papel funda- teriais da CEC, hemodiluição, hipotermia concorrem para altera-
mental na contratilidade miocárdica neonatal sendo outro fator a ções nos diversos níveis da cascata de coagulação, alteração no
ser considerado em pacientes nesta situação. número e função das plaquetas, fribrinólise acentuada, podem
A otimização do débito cardíaco pode ser feita atuando ao nível ser causas de diátese hemorrágica no pós-operatório de cirurgia
da pré-carga, contratilidade miocárdica e pós-carga. A volemia do cardíaca. Entretanto sangramento acima de 10ml/kg/h deve ser
paciente pode ser avaliada diretamente pelas pressões de enchi- indicativo de revisão cirúrgica. O tratamento consiste na correção
mento dos átrios e diurese, bem como exame físico cuidadoso. da anemia, e utilização de plasma fresco, transfusão de plaque-
As drogas simpaticomiméticas são a primeira escolha neste tas criopreciptado para repor os fatores de coagulação.
paciente e devido a suas características dose-dependentes, a
Dopamina é a primeira escolha. As drogas inibidoras da fosfo- Bibliografia
diesterase são utilizadas em casos selecionados, sendo escolha
• Castañeda A, Jones R, Mayer J, Hanley F. Cardiac Surgery of the neonate and infant. Phila-
naqueles pacientes com hipertensão arterial pulmonar. A tabela delphia: WB Saunders, 1994.
• Chang AC, Hanley F, Wernovsky G, Wessel DL. Pediatric Cardiac Intensive Care: Lippincott
2 sumariza as doses destas drogas (consulte os capítulos de Dis- Williams & Wilkins, 1998.
túrbios Cardiológicos e Choque Séptico) • Ferrero CR, Romano ER, Bosisio IEJ. Pós-operatório nas cardiopatias congênitas. Rev Soc
Cardiol Estado de São Paulo 5:776, 2002

Droga Dose
Dopamina 2 a 20 mcg/kg/min 295
Dobutamina 2 a 25 mcg/kg/min
Noradrenalina 0.05 a 1.0 mcg/kg/min
Adrenalina 0.05 a 1.0 mcg/kg/min
Isoproterenol 0.05 a 1.5 mcg/kg/min
1 a 3mg/kg bolus
Milrinona
3 a 20 mcg/kg/min
50 mcg/kg/min bolus
Amrinona
0.25 a 0.75 mcg/kg/min

Tabela 2 – Doses das drogas inotrópicas positivas.


Apresentação: consulte o capítulo de Choque Séptico

As drogas vasodilatadoras podem ser muito úteis na dimi-


nuição da pós-carga, promovendo um significativo aumento do
débito cardíaco, devendo ser associadas às drogas inotrópicas
positivas. Tabela 3.

Droga Dose
0.1 a 0.4 mg/kg a cada 4 ou
Hidralazina
6h
Nitroglicerina 0.3 a 5.0 mcg/kg/min
Nitroprussiato 0.3 a 10.0 mcg/kg/min

Tabela 3 – Drogas vasodilatadoras utilizadas no


pós-operatório de cirurgia cardíaca.

Apresentação:
Nitroglicerina: TridilR: ampola de 10mg com 50mg
Nitroprussiato: NiprideR; frasco-ampola (2ml) com 50mg
Hidralazina injetável 2ml cm 50mg

Paulo R. Margotto
Assistência ao Recém-Nascido de Risco

296
Capitulo 09 Distúrbios Hematológicos

Capítulo 9

Distúrbios
Hematológicos
Assistência ao Recém-Nascido de Risco

9.1 ANEMIA

Paulo R Margotto, Fabiana Márcia de Alcântara Morais

Conceito

O valor médio de hemoglobina (Hb) obtido em sangue de cor- 1.3 Transfusão feto - materna:
dão é de 16,8 g%, com limite inferior de 13,5 g%, enquanto o he- • Uma das formas mais comuns de anemia
matócrito (Htc) apresenta uma média de 52%, com limite inferior • Devida ao uso freqüente de instrumentos (fórceps) ou
de 40%. Estes valores diminuem progressivamente até a 8a a outras manipulações obstétricas (versão externa da ca-
12a semana de vida, durante o período de anemia fisiológica do beça, retirada manual da placenta, compressão do fundo
lactente (Hb: 11,4 ± 0,9g%). Definimos anemia com os valores de do útero).
Hb < 12g% no sangue venoso e < 13g% no sangue capilar nas • amniocentese traumática.
primeiras duas semanas de 1.4 Transfusão feto - fetal: - gestações gemelares monoco-
riônicas
Fatores De Influência Nos • Doador anêmico/ receptor policitêmico;
Valores Hematológicos • Diferença de hb de sangue venoso > 5g%

Local de coleta: 2. Depois do nascimento:


2.1 Hemorragia feto placentária
• Hb capilar é de 2 a 3g% maior que a venosa - hematócrito • Associada a circular de cordão apertada ou manutenção
capilar é 3% maior que o do venoso; do rn em plano superior ao da placenta antes de ligar o
• Momento da ligadura dos vasos umbilicais: cordão em cesariana
• Ligadura tardia - aumento da Hb acima do normal; • Neomorto ou rn com sinais de hemorragia aguda
• Posição do RN após o parto: 2.2 Hemorragia por ligadura inadequada do cordão ou por
• RN de cesárea segurado, acima do nível da placenta, inserção de cateter umbilical
pode sangrar para ela. 2.3 Rotura do cordão umbilical normal ou anormal ( parto
rápido, tração exagerada, varizes, aneurisma)
2.4 Hemorragia interna:
História Materna/Obstétrica • Anemia que aparece nas primeiras 24 - 72 horas de vida,
298 sem icterícia
Pesquisar: • Intracraniana: rn abaixo de 1500 g, queda do htc e mu-
danças abruptas nos sinais vitais do rn;
• Anemias em outros familiares; • Subaponeurótica: partos difíceis, rn de negros: edema
• Episódios inexplicáveis de icterícia ou colelitíase; pastoso desde a região frontal até a nuca
• Ingestão de drogas no final da gravidez; • Cefalohematoma gigante ou múltiplo
• Hemorragias vaginais; • Hemorragia adrenal
• Ocorrência de placenta prévia (se localização anterior, • Rotura do baço: parto traumático ou secundário a eritro-
maior risco: 2,39;ic:1,15-4,96) ou descolamento prema- blastose fetal
turo de placenta • Rotura do fígado ( hemorragia subcapsular do fígado)
• Tipo de parto (se normal ou traumático, se único ou múltiplo); 2.5 Distúrbios da coagulação:
• Condições de assistência ao parto, etc. • deficiência dos fatores da coagulação, trombocitopenias, CID.
2.6 Latrogênica:
Etiologia • Devido à colheita de sangue para exames;
• Retirada de mais de 20% do volume sangüíneo no perío-
Três grandes causas: do de 24-48 horas.

• Hemorragia; Anemias Hemolíticas


• Hemólise;
• Deficiência na produção de células vermelhas. Característica essencial: redução da vida média das hemácias,
presença de icterícia
Lembrar que profunda anemia, desde o nascimento ou duran-
te as primeiras 24 horas, geralmente, deve-se à hemorragia ou 1. Incompatibilidade sangüínea materno fetal;
hemólise por isoimunização e após 24 horas, hemorragias inter- 2. Defeitos congênitos da hemácia;
nas ou externas e distúrbios hemolíticos não imunes. 3. Acidose prolongada ou recidivante (metabólica ou res-
piratória);
Hemorragia 4. Medicamentos recebidos pela mãe ou pelo RN, vitami-
na K3, sulfonamidas, penicilina;
1. Antes do nascimento: 5. Infecções congênitas:
1.1 Causas placentárias: placenta prévia, DPP, Rotura do • rubéola, citomegalia, toxoplasmose, sífilis, malária, her-
seio marginal, incisão de placenta durante a cesárea; pes, sepses, doença de Chagas.
1.2 Causas ligadas ao cordão: hematoma do cordão, vasos
aberrantes, inserção velamentosa
Capitulo 09 Distúrbios Hematológicos

Inibição Da Eritropoese 3. Na transfusão feto-fetal:


• RN doador com evidência de desconforto respiratório;
Pouco freqüente no período neonatal • RN receptor pletórico - exsanguíneotransfusão parcial

1. Síndrome de Diamond Blackfan - acentuada diminui- 4. Anemia em outras situações:


ção dos elementos precursores das hemácias, associa- Hematócrito (Htc) ≤ 40%.
das a malformações físicas (baixa estatura, anormalida- • Doença cardíaca severa que leva a cianose ou insuficiên-
des do polegar, fenda palatina, cardiopatia congênita, cia cardíaca congestiva.
deformidades oculares) • Se 02 > 35% no Hood.
2. Deficiência de Transcobalamina II - Anemia megaloblás- • Se em CPAP ou ventilação mecânica com pressão média
tica associada à pancitopenia e déficit de crescimento. das vias aéreas > 6 cm H2O.
• Enterocolite necrosante.
Quadro Clínico/Laboratorial
Htc ≤ 30%.
• Se em 02> 21% sob qualquer forma.
1. Hemorragia aguda (feto-materna, fetoplacentária, feto- • Se em CPAP ou ventilação mecânica ( com MAP < 6 cm
fetal) H2O)
doador: palidez intensa, respiração irregular e do tipo “Gasp”, • Se apnéia significante e bradicardia (> 6 episódios em 12
mínima cianose que não melhora com 02, pulsos periféricos fra- horas ou 2 em 24 horas, requerendo uso de ventilação
cos e rápidos e pressão arterial baixa, ausência de edema e he- pulmonar positiva ) na vigência de doses terapêuticas de
patoesplenomegalia, queda nos níveis de Hb (pode estar normal teofilina.
nas primeiras horas), anemia normocrômica, normocítica. • Se freqüência > 180 batimentos por minutos ou frequên-
Diferencial de: cia respiratória > 80 irpm persistente por 24 hrs.
• Se ganho ponderal < 10g/ dia por mais que 4 dias com
• Asfixia: pulso lento, pode haver apnéia, cianose, palidez, ingesta > 100 cal/Kg/dia.
melhora dramaticamente com 02 e ventilação artificial, • Se submeter-se à cirurgia (considerar estabilidade clinica
hemoglobina em geral normal. do RN e natureza da intervenção cirúrgica)
• Doença hemolítica: hepatoesplenomegalia, icterícia,
edema e aumento da pressão venosa, Coombs Direto(+) Htc < 25%
• Todos
2. Hemorragia crônica (feto-materna, fetoplacentária)
Palidez intensa em desproporção ao grau de sofrimento, às Não transfundir
vezes a pressão venosa é normal, Hb baixa ao nascer, hemácias • Para repor sangue removido para exames de laboratório, 299
hipocrômicas e microcíticas, ferro sérico baixo logo após o nasci- a não ser que ultrapasse 10% da volemia em 1 semana
mento, presença de hemácias fetais no sangue materno. no RN < 1000gr, na primeira semana.
• Pelo simples motivo de que o hematócrito está baixo
Diagnóstico Concentrado de hemácias:
• Dose recomendada : 10 - 15 ml/Kg (em 2 h)
Vide quadro final
5. Ferroterapia:
Tratamento • Profilática - em todos os pré-termo a partir de 6 semanas,
devendo-se manter até 12-15 meses(consulte o capítulo
1. RN severamente anêmico, deprimido, sem hepatoes- nutrição enteral).
plenomegalia: • Em todos os outros casos que pode ter havido expoliações
• Manutenção das condições cárdio-respiratórias férricas (hemorragia feto-materna, feto-fetal, hemorragias
• Obter amostra da veia umbilical para Hb e prova cruzada, internas e externas, hemorragias obstétricas, etc) - 2 - 4
se possível, medir PVC mg/kg/dia de ferro elementar por pelo menos 3 - 4 meses.
• Sangue do grupo Rh negativo, plasma, albumina ou solu-
ção salina devem estar disponíveis Anemia Do RN Pré-Termo
• Injetar 20 ml/Kg de fluido disponível rapidamente no ca-
teter umbilical - Observar resposta: Nos RN pré-termo a queda da Hb e Htc nas primeiras semanas
Boa: hemorragia ou grande hemorragia feto-materna. de vida ocorre mais precocemente (Hb de 7-10 mg% entre a 3ª e 7ª
Não boa ou fraca: hemorragia interna secundária à injúria semana de vida). O nível mínimo de Hb será tanto mais baixo quanto
• Uma injeção de 10-20 ml/Kg de sangue fresco, pode ser menor tiver sido o peso ao nascer: nos lactentes que nascem com
dado logo após a primeira injeção do fluido, particularmen- 1000 a 1500g, o nível médio de Hb por volta de 2 meses é 9 g%.
te se não foi usado o sangue total nesta primeira injeção Estas alterações foram chamadas de “Anemia Fisiológica” do Pré-
• Enquanto o RN é tratado, examinar cuidadosamente a termo, apesar de que algumas crianças possam vir a ter sintomas.
placenta e o cordão umbilical, se nenhuma anormalidade Quando se aborda a anemia do recém-nascido (RN) prematuro é
for encontrada, deve ser pesquisado o sangue fetal na preciso deixar claro a diferença entre a Anemia Precoce e a Anemia
circulação materna Tardia. A Anemia Precoce é aquela que ocorre nas duas primeiras
semanas e está relacionada à perda sanguínea e caracteriza uma
2. Se o RN apresentar insuficiência cardíaca congestiva: anemia não fisiológica (não prevista) que evolui para a necessidade
• Furosemida 1 mg/Kg EV antes da transfusão de uma correção. A Anemia Tardia é aquela muito mais relaciona-
da com a evolução fisiológica do RN, às condições de nascimento,
devido a uma menor vida média das hemácias, falta de produção
em conseqüência da prematuridade; muitas vezes esta anemia é

Paulo R. Margotto
Assistência ao Recém-Nascido de Risco

só fisiológica e, portanto autolimitada, mas em algumas situações ção) x Hb.


quando se associa a outras causas como excesso de coleta sanguí- (RN com I. Gest. < 32 sem., não transfundidos)
nea, ou perda sanguínea, ela se torna não fisiológica.
Quando se fala em Anemia Fisiológica é importante lembrar • Taquicardia persistente - FC > 160 bpm
que ela é decorrente de uma mudança de oferta de 02 nos teci- • Taquipnéia persistente - FC > 60/min (sem pneumopatia)
dos em decorrência de mudanças de afinidade da hemoglobina • Sonolência - na ausência de afecções do snc ou distúrbio
ao oxigênio. Durante os três primeiros meses de vida, a curva de metabólicos
dissociação da hemoglobina se desvia gradualmente para a di- • Fadiga fácil após mamadas
reita, facilitando a entrega de oxigênio aos tecidos em um menor • Aumento insatisfatório do peso (25 g/dia)
nível de hemoglobina. A anemia fisiológica do RN corresponde à • Recusa alimentar
queda dos níveis de hemoglobina, hematócrito, eritropoetina e • Não há evidência para indicar a transfusão no recém-
reticulócitos, atingindo níveis mínimos entre 8-12 semanas no nascido pré-termo com apnéia
RN a termo e entre 6-8 semanas no RN pré-termo e isto ocorre
em função dos processos de adaptação perinatal. Quanto menor Uso de Eritropoietina Recombinante Humana (EPO)
a idade gestacional terá menor nível de hemoglobina, tendendo A eritropoese fetal típica ocorre primariamente no fígado. E
a chegar a torno de 7g% em RN < 1000g. secundariamente no baço entre 6-8 semanas de gestação. Ao
longo do desenvolvimento intrauterino, o órgão efetor inicial-
Etiologia mente é o fígado; passa para o rim, em segunda (a partir do
3o trimestre). Estes prematuros extremos podem nascer em
Aumento rápido da massa corporal, vida das hemácias diminu- um período de transição do órgão efetor. Não se sabe exata-
ída (60 - 80 dias), atraso no início da eritropoese (a produção de mente quando ocorre esta transição. Quando o órgão efetor
eritropoetina no período neonatal, além de ser menor, é predomi- é o fígado, existe uma sensibilidade muito menor a hipoxia
nantemente hepática, passando a ser renal a partir da 4a – 5a para a produção de eritropoese em relação ao rim (o fígado
semana de vida; a síntese renal de eritropoetina é mais sensível tem uma sensibilidade a hipoxia diminuída, através da com-
à queda de Hb do que a síntese de eritropoetina hepática), pe- paração das quantidades de EPO produzidas entre ele e os
quena reserva de ferro. rins, sendo apenas 10% da produção renal mediante o mesmo
O pré-termo se adapta à queda dos níveis de Hb, graças à faci- estímulo hipóxico). Além disso, o fígado requer maior tempo de
lidade com que a molécula de 02 é liberada da Hb (desvio gradu- exposição ao estímulo.
al da Curva de Dissociação da Hb para a direita). Esta adaptação Com base em grande número de ensaios clínicos e metaná-
nem sempre é suficiente para atender as necessidades da criança lises destes ensaios, claramente a EPO é eficaz na estimula-
e assim, os tecidos recebem quantidades adicionais de 02 graças à ção da eritropoese nos recém-nascidos pré-termos.
melhor extração do mesmo (este fenômeno se traduz com a queda O seu uso determina aumento da contagem de reticulócitos
300 da tensão de 02 no sistema venoso central, chegando a 25 mmHg). (uma semana após), estabilização ou aumento dos níveis de
Os lactentes com esta tensão de 02 < 25 mmHg apresentam maio- Htc (duas a três semanas após), aumento do consumo de ferro
res níveis de eritropoetina e freqüência cardíaca. e redução da transfusão de concentrado de hemácias, causa
desvio da curva de dissociação da hemoglobina para a direita
Fatores Contribuintes Nutricionais (aumenta o 2,3-DPG. No entanto, a eliminação ou significante
redução da necessidade de transfusão não sido demonstrada
• Ferro: a deficiência não parece ser importante nos dois pri- de forma definitiva.
meiros meses de vida, a não ser que haja perda sangüínea A dose recomendada tem sido de 400 a 800 UI/Kg/semana
perinatal ou iatrogênica acentuada (cada g de Hb contém (3 x/semana), via subcutânea na primeira semana de vida,
0,34 g de ferro). Quando 5-10% do volume sangüíneo tiver por 6 semanas ou até a idade gestacional pós - concepção
sido removido, repor com concentrado de hemácias. de 36 semanas. Aumentar a oferta protéica: 3,1-3,5 g/kg/dia,
• Vitamina E: deficiente no pré-termo. A deficiência está ferro na dose de 3 a 15 mg/Kg/dia (dosar ferro sérico)
associada à anemia hemolítica, pois a vitamina E previne Os efeitos adversos descrito tem sido neutropenia, trombo-
a oxidação dos fosfolípides insaturados. O ferro catalisa citose (tem sido detectada em 31% dos RN < 800g recebendo
a oxidação dos lipídeos celulares através da geração de eritropoetina iniciada nas primeiras 72 hs de vida), morte sú-
radicais livres e assim, pode agravar a anemia hemolíti- bita, hipertensão, infarto intestinal e infecções e mais recen-
ca. O ferro intercepta a absorção de vitamina E a partir do temente, retinopatia da prematuridade, principalmente após
intestino e assim, a suplementação de ferro aumenta as a 34ª semana de idade pós-concepção, quando inicia a fase
necessidades de vitamina E. vascular da retinopatia da prematuridade
A última revisão da Cochrane realizada por Ohlsson A e Aher
Indicações De Transfusão SM, envolveu 23 estudos (2074 crianças prematuras de 18
países) mostrou que o uso precoce de EPO (antes de 8dias) e
Não se basear apenas na Hb; raciocinar com todas as variáveis tardia (8-28 dias) não interferiu no número de transfusão san-
envolvidas. Em condições estáveis, não transfundir. guínea, aumentando o risco de retinopatia da prematuridade
Clínica: Os achados clínicos refletem as conseqüências da li- grau III (RR; 1.71 (95% CI 1.15, 2.54).Devido aos limitados
beração inadequada de 02 aos tecidos, com sinais e sintomas benefícios e ao aumento da retinopatia da prematuridade, a
inespecíficos que refletem modificações na função cardiorrespi- administração precoce de EPO não é recomendada.
ratória, perfusão e taxa metabólica (pressão venosa central de No entanto são necessários mais estudos randomizados
02< 25mmHg). Como este cálculo é complexo, adotamos o cálcu- para demonstrar se existe uma causa e efeito entre tratamen-
lo do oxigênio disponível < 7 ml de 02/100 ml de sangue nos RN to e morbidade. Analisando o metagráfico se observa que so-
com menos de 32 semanas de gestação: na maioria das vezes mente um estudo evidenciou aumento significativo da retino-
está associado a sinais e sintomas de anemia. patia com o uso da EPO em comparação com o uso tardio (Von
O2 disponível = (0,54 + 0,005 x semanas a partir da concep- Kohorn I, Ehrenkranz RA e Bishara N, Ohls RK, 2009).
Assim, a recomendação quanto a EPO :
Capitulo 09 Distúrbios Hematológicos

• Não existe recomendação internacional aceita para o uso • Os, RN <1000g, nem sempre respondem ao uso da epo
de epo no prematuro; (a maior resposta foi com 150-400ui/kg subcutânea 3x
• A EPO estimula a medula óssea; semana, usando ferro nos primeiros dias por 6-8 sema-
• A dimensão do efeito sobre a restrição de transfusão é de- nas, com controle de coleta sanguínea
sapontadora (não tem sido definitivamente demonstrada a
redução da necessidade de transfusões com ouso da epo) Portanto, o uso de EPO é muito questionado; devemos controlar as
• Nos rn pré-termo>1000g, existe uma necessidade menor coletas sanguíneas para diminuir as transfusões sanguíneas e assim,
de transfusão reduzir as complicações decorrentes da transfusão sanguínea.
• Sanguínea; (é importante racionalizar a flebotomia)

O Risco Da Transfusão, Demanda Cuidadosa,


Razão Da Transfusão.

301

Paulo R. Margotto
Assistência ao Recém-Nascido de Risco

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Capitulo 09 Distúrbios Hematológicos

9.2 POLICITEMIA

Paulo R. Margotto

Conceito Cromossopatia ( Down, Trissomia do 13, Trissomia do 18).

A policitemia é definida por um hematócrito venoso (HTC) aci-


ma ou igual a 65% (O Htc capilar do RN geralmente é 10% mais
elevado que o Htc venoso correspondente).

Incidência

Depende de vários fatores, como porcentagens de gestações


de alto risco, da altitude, ligadura do cordão. Ao nível do mar,
2,7% e em altas altitudes, pode chegar até a 5%.

Causas

1. Hiper-transfusão placentária:
• transfusão de gêmeo a gêmeo Figura 1: Policitemia e hiper- viscosidade. (Patogenia proposta 1)
• transfusão materno-fetal
• ligação tardia do cordão
(proposital, partos domiciliares sem assistência)
• ordenha do cordão.

2. Insuficiência placentária:
• PIG (Pequeno para Idade Gestacional)
• pós-maturidade
• Toxemia gravídica Figura 2: Policitemia e hiperviscosidade. (Patogenia proposta 2).
• placenta prévia.
Sinais/Sintomas 303
3. Problemas endócrinos e metabólicos:
• Hiperplasia da supra-renal congênita Os sintomas estão relacionados com a elevada viscosidade sanguí-
• Tireotoxicose neonatal nea (a acidose aumenta a viscosidade sanguínea); a partir de um Htc
• diabetes materno. de 50%, a viscosidade sanguínea aumenta rapidamente, de modo
que um Htc de 60%, a viscosidade sanguínea é de 4 vezes maior que
4. Causas Diversas: um Htc de 40%. Acima de 60-65%, qualquer aumento de Htc resul-
• Síndrome de Down, trissomia 13 e trissomia 18 ta em aumentos exponenciais da viscosidade sanguínea. A clinica
• Síndrome de Beckwith - Wedmann praticamente inclui todos os órgãos de sistema: cianose, insuficiên-
• Drogas: uso materno de propanolol cia cardíaca congestiva, agitação, irritabilidade, convulsões, apnéia,
desconforto respiratório, intolerância alimentar, regurgitação, vômitos
As causas em A atuam através de uma transfusão excessiva de ou aumento do aspirado gástrico, várias horas após a alimentação/
hemácias (Fig 2) enquanto as causas em B, C, D atuam através enterocolite necrosante (esta tem sido maior nos recém-nascidos
de hipóxia intrauterina ou eritropoese excessiva (Fig 1). nos quais foi realização a exsanguíneotransfusão parcial, mais pro-
vavelmente pelo uso com plasma fresco), insuficiência renal aguda.
RN de risco Estes RN apresentam, com maior freqüência, hipoglicemia (12-40%),
hipocalcemia (devido ao aumento dos níveis de peptídeo relaciona-
RN de diabéticas dos ao gene da calcitonina; a hiperviscosidade pode interferir com a
Retardado do crescimento intrauterino habilidade dos rins para converter 25-hidroxivitamina D para os seus
metabólitos ativos dihidroxil), hiperbilirrubinemia, trombocitopenia. As
Transfusão gêmeo - a gêmeo (receptor)
possíveis explicações da ocorrência de trombocitopenia na policite-
Grande transfusão placentária (retardado do ligamento do cordão)
mia (ocorre entre 19 a 38,8%) são: deficiente produção de plaquetas
aumenta 25 - 30 do volume sanguíneo do RN
causada pela hipoxia ou consumo de plaquetas na mircrocirculação,
Síndrome de Beckwith Wedmann agregação dos eritrócitos que ocorre com altos valores do hematócrito
(macrossomia, hipoglicemia, hérnia umbilical, macroglossia) tende a ocupar a região central dos pequenos vasos e as plaquetas
Asfixia intrauterina ou intraparto aguda (devido à perda hídrica são forçadas a fluir para a parede dos vasos, podendo ser lesadas,
do intravascular para o extra, o extravascular aumenta em tornando-se capazes de ativar o mecanismo da coagulação via in-
conseqüência da vasoconstricção ou trínseco lenta circulação no baço pode possivelmente aumentar o
devido à transfusão placenta - fetal) desaparecimento de plaquetas devido ao contato prolongado com os
macrófagos. Importante: assim que os níveis de hemoglobina retor-
nam gradualmente ao normal, nas primeiras semanas de vida, há um
aumento recíproco na contagem de plaquetas.
É importante lembrar que muitos RN são assintomáticos e que
têm um débito cardíaco diminuído devido à elevada viscosidade.

Paulo R. Margotto
Assistência ao Recém-Nascido de Risco

Tratamento

Tem o objetivo de reduzir o hematócrito e a viscosidade sanguí-


nea, enquanto mantém o volume circulatório

1. RN assintomáticos:
îHidratação adequada com alimentação precoce, monitorizar
glicemia (fita reagente) e a evolução da icterícia, observação do
surgimento de sinais e sintomas

2. RN sintomáticos: baixar o Htc para 50-55%


Exsanguineotransfusão parcial com soro fisiológico 0,9 %
î Fórmula:
Volume = Volemia (Htc achado - desejado)/Htc achado
Volemia = 80-90 ml/Kg

Exemplo
RN com 2 Kg - Htc = 70% (sintomático)
Vol. = 200 x (70-55)/70 = 43 ml

Controlar Htc 6 hrs. após (Htc desejado: 50-55%). Uma 2a ex-


sanguíneotransfusão parcial pode estar indicada; técnica: (entra-
da: Veia; saída: artéria)
A exssanguineotransfusão parcial não melhora o prognóstico a
longo prazo. Tem sido mostrado que ela diminui a resistência vas-
cular pulmonar e aumenta o fluxo sanguíneo cerebral. No entan-
to, não corrige anormalidades neurológicas no período neonatal
e não previne disfunção neurológica a longo prazo. Mesmo assim
tem sido considerado o tratamento padrão de policitemia para
os RN sintomáticos com hematócrito superior a 65% e superior a
70% para os assintomáticos. As complicações são semelhantes
as da exssanguíneotransfusão com duas volemias.
304
Notas

• Flebotomia não está indicada (agravamento do débito


cardíaco, que já está diminuído)
• Plasma retirado de um doador adulto possui viscosidade
mais elevada que o do RN; o seu uso pode resultar em
aumento da viscosidade plasmática o que poderia, por
sua vez, afetar a própria viscosidade sanguínea.
• RN assintomáticos com Htc 70%: infusão de fluidos.

Prognóstico

O prognóstico depende muito da causa primária da policitemia


e retardo do crescimento intrauterino tende a ter complicações
perinatais, como asfixia, acidose e insuficiência respiratória que
podem afetar, independentemente, o prognóstico do bebê. A poli-
citemia pode desempenhar um papel adicional quando o sistema
nervoso é afetado. A associação de hipoglicemia e hiperviscosi-
dade, resulta, provavelmente, em piora do prognóstico.

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Capitulo 09 Distúrbios Hematológicos

9.3 DISTURBIOS HEMORRÁGICOS

Paulo R. Margotto

Durante o período neonatal nos defrontamos com uma varieda- asfixia temos significante diminuição do fator XIII e evi-
de de problemas hematológicos que ameaçam a vida, serias he- dência de coagulação intravascular disseminada, além
morragias ocorrem particularmente no Setor de Terapia Intensiva, do aumento dos níveis de tromboxano, indicando ativa-
onde se encontram os RN de muito baixo peso. Neste setor, os san- ção plaquetária (piora com o uso de altas concentrações
gramentos respondem por aproximadamente 1% das internações. de oxigênio na reanimação) e destruição plaquetária.
O RN é particularmente susceptível a sangramentos por várias
razões que incluem: Uma razão apontada na falha de na prevenção ou controle do
sangramento neonatal é o pouco conhecimento que temos da he-
• Insuficiência fisiológica dos fatores da coagulação (em mostasia perinatal normal. Qualitativamente, a hemostasia do RN
quantidade e função) difere em muitos aspectos da hemostasia do adulto. Quantitativa-
• Imaturidade do desenvolvimento dos vasos sanguíneos mente, estas diferenças não tem sido completamente padroniza-
fetais e estruturas de suporte. das, dificultando a interpretação dos resultados dos exames.
• Exposição a trauma durante o nascimento. Na figura a seguir a fisiologia da hemostasia normal, para uma
• Aumento das incidências de condições freqüentemente melhor compreensão dos distúrbios hemorrágicos do RN.
associadas com sangramentos como sepse e asfixia. Na

305

Intravascular clotting cascade. Components of normal hemostasis. Gross S, Sharon S B, Gordon E M.


The blood and hematopoietic system in Fanaroff AA, Martin R J, eds. Behrman’s
Neonatal-perinatal medicine-disease of the fetus and infant 3th ed. 1983.

Paulo R. Margotto
Assistência ao Recém-Nascido de Risco

Os fatores da coagulação, em número de 13, são essenciais As deficiências dos fatores XII e XI são raras devendo somente
no processo de coagulação (hemorragias ocorrem quando suas serem dosados se os fatores VIII (a sua deficiência leva a hemo-
concentrações estão inferiores a 50% do normal) Os fatores da filia A) e IX (a sua deficiência leva a hemofilia “B”) forem normais.
coagulação são designados por um algarismo romano (a letra “a”
indica estado ativado). O sangue coagula quando o fibrinogênio é • Análise da fase final da coagulação: TT (Thrombin time = Tem-
convertido à fibrina através da ação de uma enzima proteolítica, a po de trombina): estuda a formação da fibrina. Está prolon-
trombina que por sua vez resulta da protrombina por um processo gado na deficiência do fibrinogênio, uso da heparina e PDF.
enzimático resultante da interação do fator VII, fator X e do fator V.
De posse destes princípios básicos, podemos compreender melhor
Coagulação Sanguínea o desenvolvimento da hemostasia no RN prematuro e RN a termo

• Via intrínseca: requer os fatores XII, XI, IX, VIII, X e V Exames Laboratoriais de Triagem para Avaliar os Distúrbios
(acompanhe pela figura). O fator XIII estabiliza a fibrina, do Sangramento no Recém - Nascido
formando um coagulo sangüíneo firme. A seqüência da
reação lembra a formação de uma cascata, uma atuando Condições em que
como enzima e outra como substrato. Valores o Exame é mais
• Via Extrínseca: Muitos tecidos, particularmente a parede Teste Comentários a
Normais Comumente
dos vasos sanguíneos contem complexos lipoprotéicos cerca do Exame
Anormal
(Tromboplastina tecidual) que na presença do fator VII é Trombocitopenia
capaz de ativar diretamente o fator X. Número de 150.000 de consumo
plaquetas a (imunológica ou
A formação da protrombinase enzima capaz de declivar a protrom- por mm3 400.000 mecânica) com ou
bina em trombina, pode ser formada por dois mecanismos diferentes: sem CID**
Via extrínseca requer os fatores VII, X e V
Efetuada pela
Via intrínseca requer os fatores XII, IX, XI, VIII, e o fator plaque-
Tempo de CID, deficiência de microscopia de
tário 3 (F3P) e o X.
protrombina 11 - 15 vitamina K, insufi- fase ou pelo con-
Observamos assim que os fatores X e V apresentam um traço
(seg.) ciência hepática. tador de células
comum aos do sistema de formação da protrombinase.
eletrônica
Quanto ao sistema fibrinolítico: existe no plasma uma proteína, o
Tempo CID, efeito da
plasminogênio que dá origem a plasmina, sendo responsável pela
parcial de heparina, recém
lise da fibrina, assim como do fibrinogênio (PDF) e estes possuem 30 - 40
tromboplas- - nado prematuro
ação inibitória sobre a hemostasia primária e a coagulação.
tina (seg.) "doente", hemofilia
306
1. Provas Clínicas Da Hemostasia: Valores variam
• Hemostasia Primária: Contagem De Plaquetas: Conside- Fibrinogênio extremamente
175 - 350
rar Anormal < 150.000/mm3 (Quase 10% Dos RN Peque- (mg/dl) CID nos bebês prema-
nos Para A Idade Gestacional (PIG) Apresentam Trombo- turos
citopenia Na Primeira Semana De Vida) Produtos de
• Tempo De Sangramento (Ts): É Prolongado Na Trombo- desdobra-
citopenia, Tromboastenia, CID (Coagulação Intravascu- mento da < 10
CID
lar Disseminada). É O Método Mais Sensível E De Maior fibrina
Confiança Na Avaliação Da Função Plaquetária). Pode Ser (g/ml)
Normal Na Hemofilia. Inespecífico, não
tão útil quanto
Tempo de
2. Provas Clínicas Da Coagulação: Consulte Sempre A ao fibrinogênio
protrombina 15 - 20
“Cascata” CID e ao produto de
(seg.)
• Prova Da Coagulabilidade Global: _Tc (Tempo De Coagu- desdobramento
lação): pode está prolongado na hemofilia severa, fibri- da fibrina
nogenia, trombocitopenia e na doença hemorrágica do
RN por deficiência da vitamina K. Não é específico por Hemofilias No Lactente
ser um teste insensível, nunca indicá-lo na triagem dos
distúrbios congênitos da coagulação. São doenças que apresentam deficiência dos fatores VIII e IX
• Análise do Sistema Intrínseco: PTT (partial thromboplas- da coagulação, chamadas, respectivamente, de hemofilia A (he-
tine): Tempo de tromboplastina parcial. Avaliação dos mofilia clássica) e hemofilia B (doença de Christmas).
fatores XII,XI,IX,VIII,X,V,II e I. Está alterado na deficiência A hemofilia A (hemofilia clássica) e a B tem caráter hereditário
destes fatores e na presença de PDF. recessivo ligado ao X. a doença se manifesta no sexo masculino,
• Análise do Sistema Extrínseco: PT (Prothrombin Time): enquanto a mulher apresenta um dos cromossomos X marca-
Tempo de protrombina avalia os fatores V,VII,e o X.(Os fa- do com o gene hemofílico é apenas “portadora”. Em cerca de
tores II,VII e o X são sintetizados pelo fígado na presença 1/3 dos casos, não há história familiar (mutações). Deve-se, no
da vitamina k).Assim podemos teoricamente localizar a entanto, fazer uma anamnese completa com estudo de várias
deficiência do fator inválido: - PT e PTT prolongados: Defi- gerações anteriores antes de se admitir esta possibilidade. A in-
ciência dos fatores II, V ou X cidência da hemofilia A é 1/5000 nascimentos masculinos e da
• PT Prolongado e PTT normal: deficiência do fator II hemofilia B é 1 em 30.000.
• PT normal E PTT Prolongado: deficiência dos fatores No Brasil, há cerca de 4.700 casos registrados de hemofilia,
XII,XI,IX ou VIII.(Observem que há uma exclusão de uma sendo 4.000de hemofilia A e 700 de hemofilia B.
anomalia na via comum)
Capitulo 09 Distúrbios Hematológicos

O quadro clínico pode iniciar logo após o nascimento se a crian- X = 50 UI x kg peso/2 = 25 x 60 = 1.500 unidades de fator VIII
ça for submetida à circuncisão ou a algum ato cirúrgico. Geralmen-
te o sangramento começa após os 06 meses de vida. Quando co- A administração deve ser a cada 12 horas, devido à vida média
meça a deambulação, surgem os sangramentos, os equimoses e curta do fator VIII. Para o fator IX deve ser a cada 24 horas.
hematomas, às vezes volumosos, que levam à procura do médico. Nos casos de grandes cirurgias são mais indicados os concen-
As hemartroses (o sangramento articular chega a corresponder trados de fator VIII que levam menor quantidade de fibrinogênio.
a 80% de todas as hemorragias) são dolorosas, causam deformi- Para a hemofilia B os níveis do fator IX para pequenos sangramen-
dades anatômicas nas articulações e conseqüentemente déficits tos, hemartoses e hematomas é de 8 a 16UI/dl; para os sangramen-
funcionais e paresias ou paralisias do membro atingido. Ordem de tos médios e pequenas cirurgias é de 16 a 32UI/dl e para grandes
freqüência: joelhos, tornozelos, cotovelos, ombros, punho, quadris. cirurgias é de 40 a 60UI/dl. O cálculo para estes casos é o seguinte:
Hematomas profundos musculares (flexores de antebraço, ile- 1 unidade de F IX/kg --- eleva 1%
opsoas) podem ocorrer e comprimir nervos e vasos sanguíneos Para o mesmo exemplo o cálculo será:
permanentes; aqueles que envolvem o ilíaco e o psoas são impor-
tantes (simulam abdome agudo ou apendicites). A sintomatologia X = 50 UI x kg/1 peso 50 x 60 = 3.000 unidades de fator IX
caracteriza-se por dor, tumefação, calor, diminuição da motilidade.
A hematúria é relativamente freqüente, vindo logo após as he-
morragias de articulações e músculos. Doenças Secundárias em
As hemorragias após extração dentária iniciam-se 1-2 horas Pacientes com Hemofilia
após, porque o inicio da hemostasia que envolve o comprimento
vascular e plaquetário, está presente, mas o segundo estágio, Antes do advento de procedimentos de inativação do vírus,
que requer a geração da trombina e fibrina para consolidar o co- muitos pacientes com hemofilia que foram tratados com plasma
águlo plaquetário é anormal. tornaram-se cronicamente infectados com o vírus da hepatite B
O quadro clínico hemorrágico depende da quantidade do fator (VHB), hepatite vírus C (HVC) e vírus da imunodeficiência (HIV).
VIII ou IX presente no paciente. Os casos mais sangrantes apresen- Uma coorte de pacientes infectados hemofílicos infectados
tam concentração do fator VIII ou IX inferior a 2% do normal (apre- com o HIV mostrou uma freqüência de sarcoma de Kapose de
sentam uma média anual de 20 a 30 episódios de sangramento 200 vezes em relação á população geral. A freqüência do linfoma
espontâneo ou excessivo, após leve trauma, particularmente nos não—Hodgkin foi de 29 vezes em relação à população geral.
joelhos e músculos). Os de gravidade média apresentam concen- A cirrose, que ocorre em 10% a 20% dos pacientes hemofíli-
tração do fator entre 2% a 5% e os mais leves, entre 6% e 20%. cos com HVB ou HVC, aumenta em 30 vezes o risco de carcino-
Em 1/3 dos portadores pode-se encontrar fator entre 25% e 30%, ma hepatocelular.
enquanto nos não portadores, o nível é normal (50% a 200%). Nos hemofílicos com HIV, o uso de inibidores da protease pa-
Em resumo, o diagnóstico clínico pode ser feito diante do rece aumentar a susceptibilidade destes pacientes aos sangra-
quadro hemorrágico característico no sexo masculino, história mentos espontâneos. 307
hemorrágica familiar, comprometimento principalmente das ar- Em 5% dos pacientes com severa hemofilia B tem sido rela-
ticulações, hemorragias à circuncisão, extrações dentárias ou tados sintomas graves de anafilaxia, após a infusão do fator IX
grandes traumas e cirurgias. (broncoespasmo, angioedema, hipotensão).
A Doença de von Willebrand caracteriza-se por deficiência
Quanto Ao Diagnóstico Laboratorial quantitativa ou qualitativa do fator de von Willebrand (FvW) que
pode ser transmitida por herança autossômica dominante (sub-
Encontra-se o tempo de sangramento, a contagem de plaque- tipo I, IIa, IIb) ou recessiva (IIc, III). É subdividida em vários subti-
tas e o tempo de protrombina normais. pos, de acordo com as alterações encontradas: subtipo I: altera-
O tempo de coagulação é normal nos casos leves, e pouco ou ção quantitativa leve; subtipo II: alterações qualitativas; subtipo
muito prolongado nos casos mais graves. O consumo da protrom- III: alterações quantitativas, severa. O sangramento mucocutâ-
bina e o tempo de recalcificação do plasma são em geral altera- neo é o mais comum dos sintomas (epistaxe, gengivorragia, san-
dos. É importante para o diagnóstico a determinação do tempo gramento gastrintestinal, menorragias, equimoses, hematomas).
de tromboplastina parcial, que ativado pelo caolim, em geral, O diagnóstico é laboratorial: TS (tempo de sangramento) prolon-
mostra-se alongado. A dosagem do fator VIII e IX é indispensá- gado, Tempo de Tromboplastina Parcial prolongado, dosagem do
vel para o diagnóstico, mesmo quando os anteriores estão nos fator VIII, FvW, cofator de ristocetina (que avalia a função do fator
limites normais, pois fazem o diagnóstico e diferenciam as hemo- de von Willebrand). O tratamento é realizado nos episódios de
filias A e B. os casos são considerados graves quando o nível do sangramento utilizando antifibrinolíticos, crioprecipitado e mais
fator A ou B (FVIII ou FIX) for igual ou abaixo de 1%. recentemente o fator liofilizado contendo FvW.

Tratamento Doença Hemorrágica Do RN

O tratamento básico de um hemofílico com sangramento é o (Deficiência da Vitamina K)


da reposição do fator deficiente. Este deve estar em concentra-
ção adequada para manter a hemostasia. O nível terapêutico do A vitamina K (Vitamina da coagulação), é necessária para a sínte-
fator VIII desejável para manter boa hemostasia varia conforme a se hepática de protrombina (fator II) e fatores VII, IX e X (fatores do
localização e a intensidade do sangramento. Praticamente, para complexo protombínico), além das proteínas C e S inibidoras da coa-
os pequenos sangramentos, hemartroses e hematomas, o nível gulação e de outras proteínas presentes nos ossos, rins e pâncreas.
terapêutico de fator VIII deve ser de 15 a 20 UI/dl. O cálculo que
se usa para manter esse nível é o seguinte: cada unidade de fator Apresenta-se sob 3 formas isoladas:
VIII por kg de peso eleva 2% o nível do fator plasmático. Para um
paciente de 60 kg de peso com 10% de atividade do fator VIII, • Vit. K1 (filoquinona) - Kanakion (suspensão aquosa coloi-
deve-se atingir, por exemplo, 60% de atividade (diferença de 50% dal); é a vitamina natural, lipossolúvel encontradas nas
para mais), com o seguinte cálculo: folhas verdes dos vegetais, sementes, tubérculos e frutas;

Paulo R. Margotto
Assistência ao Recém-Nascido de Risco

• Vit. K2 (menaquinona): é a forma sintetizada pelas bac- caracterizando-se esta forma pela complicação mais freqüente e
térias intestinais; grave que é a hemorragia intracraniana (mais de 60% dos casos)
• Vit. K3 (menadiona): representa os derivados hidrossolú- com graves seqüelas neurológicas. No estudo de Danielsson N e
veis, tais como, o Fosfato (SynkavitR) e o sulfato (HykinoneR). cl, a maioria das crianças apresentou início súbito de convulsões,
sendo os seguintes os outros sintomas: letargia (89%), palidez
Existem 3 fatores importantes no desencadeamento da defici- 997%), fontanela abaulada (92%), equimoses extensas (11%) e
ência da Vit. K: coma (10%). A mortalidade foi de 9%.
Ocorre duas vezes mais no sexo masculino. No estudo de Pooni
• Diminuição da ingestão de Vit. K; e cls, a hemorragia intracraniana ocorreu em 71% dos casos (a
• Diminuição da absorção intestinal; hemorragia subdural foi o tipo mais comum, seguido pela hemor-
• Diminuição da produção de Vit. K pelas bactérias do có- ragia subaracnóide;75% dos casos tinham hemorragia em múl-
lon (modificação da flora pelos antibióticos) tiplos. No estudo de D´Souza e Rao, a ocorrência de hemorragia
intracraniana foi de 93%, sendo que 57% morreram da doença e
Há evidência que a Vit. K, seja deficientemente transportada 36% ficaram com sequela neurológica. Cerca de 90% dos casos
pela placenta até o feto: os estoques hepáticos de Vit. K do feto tem sido relatados na literatura ocorrerem nos lactentes ama-
humano são baixos, com concentrações por volta de 1/5 da en- mentados ao seio. A profilaxia com uma única dose oral do pre-
contrada nas crianças mais velhas e nos adultos. parado parenteral parece ser incapaz de evitar a forma tardia da
doença hemorrágica, principalmente nos lactentes amamentado
Anticonvulsivante Materno X ao seio (com um mês de vida o RN apresenta uma significante
Doença Hemorrágica Do RN deficiência bioquímica da Vit. K), sendo preconizado esquema de
duas doses orais (ao nascer e no 4º dia de vida) de um preparado
Drogas anticonvulsivantes (primidona, carbamazepina, hidan- novo de vitamina K1 oral, que é o Kanakion MM (nesta formula
toína e especialmente barbitúricos) administrados à mãe, dimi- a vitamina K1 é preparada com um ácido biliar – o ácido glico-
nuem os níveis de fatores dependentes da Vit. K. Estes anticon- cólico – é um fosfolipídio). A Academia Americana de Pediatria
vulsivantes podem gerar enzimas microssômicas no fígado fetal, recomenda 1mg IM e continuar o seio materno. O uso da forma
o que aumentaria a degradação da vitamina K fetal, cujos níveis intramuscular da vitamina K gerou controvérsias após a publica-
circulantes já são baixos. ção de Golding e cl, relacionando maior incidência de câncer na
O sangramento nesses RN é mais precoce (primeiras 24 horas) e infância (leucemia linfocítica aguda: OR= 1.97, IC: 1.3 to 3.0) em
mais graves (tendem sangrar em cavidade pleural, cérebro e fígado). crianças que havia recebido a vitamina por via parenteral após o
A profilaxia com Vit. K, na gestante é discutido, devido ao defi- nascimento. Publicações posteriores, entretanto, não confirma-
ciente transporte da vitamina K através da placenta (os níveis dos ram essa associação, recomendando manter a via intramuscular
fatores dependentes da vitamina K estão abaixo de 50% dos valo- para a prevenção das formas clássica e tardia da doença hemor-
308 res nos adultos); no entanto tem sido proposto o uso de Vit. K na rágica do recém-nascido. Há relatos de RN prematuros que rece-
gestante como forma de profilaxia da doença hemorrágica do RN. beram Vit K1 endovenoso ao nascer e que apresentaram doença
Considerar cesariana nestes pacientes (um parto traumático pode hemorrágica tardia (a via IM confere maior duração do efeito do
levar a maciça hemorragia subdural). É questionável o uso no pré- que a vida endovenosa) A via endovenosa é menos efetiva que a
natal da vitamina K como profilaxia da hemorragia intraventricular. via IM na prevenção da doença hemorrágica tardia. Outra forma
de evitar a doença hemorrágica do RN consiste em aumentar a
Administração De Vit. K E Hiperbilirrubinemia ingestão da Vit. K1 em lactentes amamentados exclusivamente
ao seio, por suplementos maternos de 5mg/dia por 12 semanas.
A hiperbilirrubinemia, anemia hemofílica e Kernicterus, asso-
ciadas à Vit. K pertencem aos análogos sintéticos da Vit. K, não Diagnóstico
devendo esses agentes serem usados no período neonatal.
Clínico
Vitamina K E Sepse Laboratorial:

Os microrganismos gram-negativos ou seus produtos podem piorar • Teste de Apt (sangramentos gastrintestinais): sangue do
a reação de carboxilação da Vit. K no fígado. Assim, os testes anor- RN ou sangue da mãe aspirado pelo RN.
mais da coagulação na sepse por gram-negativo não são específicos • 1 volume de fezes ou vômitos com 5 volumes de água
para CID e que um número significante de pacientes pode ter uma • Centrifugue a mistura e separe o sobrenadante róseo - claro
coagulopatia não relacionada a CID, podendo ser responsiva à Vit. K • Adicione 1 ml de NaOH a 1% a 5 ml do sobrenadante
(NaOH a 1% = NaOH a 0,25 N);
Clínica • Misture e observe a modificação da cor após 2 min.:
1. se permanecer róseo: Hb fetal
O sangramento pode ocorrer no lº dia de vida (associado com 2. róseo para amarelo - amarronzado; HbA (sangue da mãe)
o uso materno de anticonvusivantes, tuberculostáticos e antico- • Contagem de plaquetas: (normal > 150.000/mm3,
agulantes), mas é mais freqüente ocorrer no 2º - 3º dia de vida: • tempo de protrombina (PT) e tempo de Tromboplastina
trato gastrointestinal (2/3 dos casos), cordão umbilical (1/4 dos parcial (PTT) prolongados
casos), local da circuncisão, local da retirada de sangue fetal
para a realização de pH, equimoses generalizadas (1/3 dos ca- Frisando: PT - Prothrombin Time: mede a formação da trombina
sos), exsudação sanguínea prolongada de punção venosa. a partir da protrombina em presença dos fatores V, VII e X (prova
Nas crianças que não recebem Vit. K1 ao nascimento, e ali- da via extrínseca a partir de fator tecidual).
mentadas exclusivamente no seio (leite materno 1-2mg/l de Vit PTT - Partial Thromboplastin Time (avalia o sistema intrínseco
K1; o leite de vaca contem 6mg/l de Vit K1) têm sido descrito da coagulação: XII, XI, IX, VIII, X, V, II e I).
sangramento entre a 2a e 12a semana de vida (forma tardia),
Capitulo 09 Distúrbios Hematológicos

ria) ou reativa (secundária). A trombocitose essencial é uma de-


sordem mieloploriferativa clonal com uma incidência anual es-
timada de dois casos por milhão de indivíduos. Pacientes com
trombocitose essencial correm risco de sofrerem complicações
trombóticas e/ou hemorrágicas, e muitos recebem tratamento
antiplaquetário e citorredutivo afim de baixar a contagem pla-
quetária e portanto reduzir esses riscos. Neste estudo, apenas
um paciente recebeu AAS por ter doença cardíaca. Em contraste,
trombocitose reativa (secundária) é mais comum, e geralmente
benigna, condição autolimitada. O termo “reativa” é usado para
ilustrar o fato de que a produção plaquetária está aumentada
em reação a uma condição paralela em curso, geralmente uma
desordem infecciosa ou inflamatória.
As complicações tromboembólicas e hemorrágicas são raras
na trombocitose reativa e tratamento antiplaquetário e citorredu-
tivo geralmente não é necessário, a não ser que outros fatores de
risco sejam identificados.
O mecanismo responsável pela trombocitose reativa é a me-
gacariocitopoiese aumentada. A trombopoetina é o principal re-
gulador humoral do processo, mas outras citocinas e fatores de
crescimento hematopoiéticos (como IL-3, IL-6 e IL-11), também
No RN Que Sangra, Considerar: participam. A produção aumentada desses fatores durante perío-
dos de infecção ou inflamação estimula a produção de megacari-
1. Somente PT prolongado: deficiência congênita do fator ócitos, resultando em contagens elevadas de plaquetas.
II (protombina) ou do fator VII; A trombocitose extrema é raramente encontrada na prática da
2. Somente PTT prolongado: deficiência congênita dos fa- neonatologia. Com base neste 25 pacientes acometidos os au-
tores VIII, IX, XI, ou XII tores especulam que a grande maioria dos neonatos que desen-
3. PT, PTT, contagem de plaquetas normais: deficiência volvem trombocitose extrema apresenta a forma reativa e não a
do fator XIII ou defeito na função plaquetária primária. O desenrolar dos casos levou aos autores concluir que se
4. RN com doença hemorrágica gravemente enfermo: diag- trata de uma condição benigna e autolimitada, e que o tratamento
nóstico diferencial com CID: PT, PTT e TT prolongados, pre- antiplaquetário e citorredutivo geralmente não são necessários.
sença de PDF, hemácias fragmentadas, hipofibrinogenemia. Nota: Trombocitopema (vide capitulo especifico)
309
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pia-Fundamentos de Morfologia, Fisiologia, Patologia e Clínica, Atheneu,p.199, 2002
8 haviam sido submetidos à cirurgia (a trombocitose ocorreu em • Verrastro T. Coagulopatias. In.Verrastro T., Lorenzi TF, Neto SW. Hematologia e Hemoterapia-Fun-
média 13 dias após), 4 com anemia da prematuridade. damentos de Morfologia, Fisiologia, Patologia e Clínica, Atheneu,p.211, 2002
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Paulo R. Margotto
Assistência ao Recém-Nascido de Risco

9.4 TROMBOCITOPENIA

Paulo R. Margotto

Conceito

É a contagem do número de plaquetas inferior a 150.000/mm3 A hipoxia crônica intrauterina é a mais freqüente causa de
(sangue colhido com EDTA). Ocorre em 18 a 35% dos RN na UTI trombocitopenia de início precoce (dentro das primeiras 72 horas
Neonatal (80% ocorre na primeira semana de vida), sendo mais de vida nos recém-nascidos pré-termos. A fisiopatologia parece
comum nos RN com peso ao nascer <1000g (prematuros extre- ser devido à diminuição da produção de plaquetas. Estes RN não
mos). A classificação da trombocitopenia,segundo Christensen sangram devido não ocorrer alteração na função da plaqueta.
é:abaixo de 50.000/mm3 é considerada trombocitopenia grave Nesta condição, geralmente a contagem de plaquetas está entre
(38% dos pré-termos extremos); entre 51 e 100.000/mm3 é con- 50 e 100.000/mm3. Um número menor que 50.000/mm3 sugere
siderada moderadamente severa (RN com restrição do cresci- outras causas, como trombocitopenia imune, infecção, distúrbios
mento intrauterino, RN de mães hipertensas); trombocitopenia genéticos). Normalmente a trombocitopenia por hipoxia crônica
leve: 101.000 a 149.000/mm3 (23% dos pré-termos extremos). intrauterina dura em torno de 7 a 10 dias; além disto, avaliar
Com a contagem de plaquetas acima de 100.000/mm3 não au- outras causas envolvidas.
mento o risco de sangramento (não há aumento do tempo de A sepse e a enterocolite necrosante são as principais causas
sangramento nesta faixa de número de plaquetas). de severa trombocitopenia nos recém-nascidos. Alteram tanto o
número como a função plaquetária.
Patogenia OS RN com HIV e citomegalovirus frequentemente apresentam
trombocitopenia. Quanto ao HIV, a trombocitopenia pode ocorrer em
A trombopoetina (TPO) é amplamente reconhecida como o mais 47%, podendo servir como marcador da exposição do neonato ao HIV.
potente estimulador da produção de plaquetas; atua promovendo Em 48% dos casos, a causa da trombocitopenia é desconhecida.
a proliferação dos progenitores dos megacarióticos (células que
se multiplicam e dão origem aos megacariócitos). As concentra- Diagnóstico
ções plasmáticas de TPO são maiores nos RN normais em relação
aos adultos saudáveis, mas os RN com trobocitopenia apresentam 1. Dados maternos:
menores concentrações de Tpo em relação aos adultos com seme- História:
lhantes graus e mecanismo de trombocitopenia. Os progenitores
310 de megacarióticos são mais sensíveis a Tpo no RN. Pelo fato dos • sangramento prévio (Púrpura Trombocitopênica Idiopática?);
RN não apresentar capacidade de aumentar o tamanho dos me- • uso de drogas que causem trombocitopenia na mãe e RN
gacarióticos e sim o tamanho, os RN doentes são mais predispos- (quinina, quinidina, sulfonamidas, diuréticos tiazídicos,
tos a desenvolver trombocitopenia. A concentração plasmática de metildopa, espironolactona, AAS, ampicilina, cefalexina,
Tpo, juntamente com os progenitores de megacarióticos e a per- trimetropim-sulfametoxazol, penicilina, cefalotina, digito-
centagem de plaquetas reticuladas (esta já disponível em algumas xina, difenilhidantoína, clonazepan, primidona, rifampici-
Instituições) e a concentração de glicocalicim tem sido usados na na, tetraciclina, sulfisoxazol );
avaliação da produção de plaquetas nos recém-nascidos. • mãe fumante;
O nível de plaquetas no sangue reflete o balanço entre a sua • prévios RN afetados com púrpura;
produção e a sua destruição. A avaliação do tamanho de plaque- • doença febril, rash cutâneo, exposição e rubéola nas pri-
tas fornece uma idéia do mecanismo da trombocitopenia: meiras 8 semanas de gestação, herpes genital, sífilis, LES.
• Hipertensão materna (maior risco de trombocitopenia ne-
• Predomínio de plaquetas grandes no sangue periférico onatal para os prematuros, especialmente os que apre-
sugere destruição periférica de plaquetas, havendo pro- sentam retardo de crescimento intrauterino);
dução de plaquetas jovens; • Mães HIV positivas (como a trombocitopenia é imunome-
• Predomínio de plaquetas normais ou pequenas, sugere diada, o RN está teoricamente em risco).
deficiência de produção
Placenta: (infecções, corangioma, hipoxia crônica)
Classificação Etiológica Contagem de plaquetas maternas
• Baixa: Trombocitopenia idiopática, lupus eritematoso
1. Trombocitopenia Neonatal Isoimune; (raro o RN apresentar trombocitopenia), Drogas.
2. Trombocitopenia Neonatal Associada à Trombocitope-
nia Idiopática Materna (causa imunológica); 2. Dados do RN:
3. Trombocitopenia Neonatal Associada à Trombocitope- Exame físico
nia Materna Induzida por Drogas ;
4. Trombocitopenia Neonatal e Infecção Bacteriana; • Petéquias e manchas purpúricas (no rn normal são loca-
5. Trombocitopenia Neonatal e Infecção Não Bacteriana lizadas na cabeça e parte superior do tórax);
6. Trombocitopenia em RN de Alto Risco • Presença ou ausência de hepatoesplenomegalia;
7. Trombocitopenia por outras causas (fototerapia, cate- • Icterícia;
ter umbilical, exssanguíneotransfusão, enterocolite ne- • Anomalias congênitas (síndrome da rubéola congênita,
crosante, policitemia neonatal, RN de diabética, elo uso hipoplasia megacariocítica congênita: trissomia 13 e 18,
de heparina, leucemia, hemangioma gigante ou múltiplo, anemia fanconi e ausência bilateral dos rádios)
eritroblastose fetal, hipoplasia megacariocítica congêni- • Hemangiomas (grandes ou múltiplos);
ta, lúpus eritematoso disseminado materno) • Sinais de hic (tremores, apnéia, cianose)
Capitulo 09 Distúrbios Hematológicos

Exames laboratoriais: 30 a 35 semanas, levando à formação de cistos porencefálicos e


hidrocefalia obstrutiva.
• Hemograma: a anemia associada pode ser devido à perda O diagnóstico é sugerido quando o RN, dentro de poucas horas
de sangue, hemólise (nos processos infecciosos), insufici- de vida exibe petéquias e púrpura, tem trombocitopenia e res-
ência da medula óssea devido à leucemia congênita. Leu- ponde mal a uma transfusão de plaquetas de multidoadores.
cocitose de leve grau pode ocorrer em infecção, hemólise
ou perda de sangue, mas quando excede 40 a 50 mil/mm3, Estudo Laboratorial
pensar em leucemia ou síndrome da ausência do rádio.
• Contagem de plaquetas: em amostra de sangue periféri- • Contagem de plaquetas: geralmente é variável (5 a 25
co com EDTA ( de preferência sangue venoso, contagens ml/mm3) podendo cair ainda mais dentro das primeiras
falsamente baixas podem ocorrer em amostras de san- 24 hrs de vida. A contagem de plaquetas retorna ao nor-
gue capilar, devido à retenção de plaquetas na ferida, e mal lentamente nas semanas subsequentes. Monitorizar
em sangue venoso com micro coágulos devido à dificul- a cada 2 dias. -Megacariócitos normais e/ou aumenta-
dade de coleta) dos, Reticulócitos aumentados.
• Esfregaço. • Sorologia: pesquisa de anticorpos antiplaqueta (PlA1 e
• Sorologia para infecções específicas: PlA2). o PlA1 é o antígeno sensibilizante mais comum,
• T.O.R.C.H.S. ocorrendo em 80% dos casos. De todas as gestantes, 2 a
• Pesquisa de anticorpos antiplaqueta: 3% são PlA1 negativo, com 85% da probabilidade de que
• Soro materno + plaquetas do RN (fixação de complemen- todo feto seja PlA1 positivo)
to, aglutinação e imunofluorescência indireta)
Tratamento
Trombocitopenia Neonatal Isoimune
Trombocitopenia Aloimune Geral: observação rigorosa para sangramentos (em isolete); evitar
manipulação excessiva; ultrassonografia cerebral
Conceito Transfusão de plaquetas maternas lavadas e irradiadas: 1 U
normaliza a contagem do RN por 5 a 7 dias.( No. de plaquetas <
É uma causa incomum de púrpura no período neonatal. Esta 10.000/mm3 ou sintomas neurológicos )
doença é devida à incompatibilidade plaquetária materno - fetal, Não sendo possível, considerar:
semelhante à doença hemolítica do RN por incompatibilidade
feto - materna de Ag eritrocitários. De modo semelhante à doen- • Exsanguíneotransfusão: sangue fresco compatível com o
ça Rh, a mãe é carente do antígeno-alvo nas suas plaquetas e o grupo sanguíneo do RN e PlA1 negativo.
feto herda os antígenos do pai. O evento imunizante mais comum • Gamaglobulina: 1g/kg/dia por 2 dias consecutivos( o au-
é a gestação.Os alo-anticorpos produzidos na mãe são transpor- mento das plaquetas ocorre 12-36 horas após) 311
tados através da placenta e causa destruição das plaquetas do • Metilprednisolona: 1 mg/kg/dia de 8/8 horas nos dias
seu próprio bebê. Os antígenos estão presentes nas plaquetas a em que a gamaglobulina é administrada
partir da 16ª semana de gestação. Os anticorpos então cruzam • A esplenectomia é contra-indicada
a placenta, produzindo trombocitopenia. Diferente da incompa-
tibilidade Rh, a trombocitopenia aloimune pode ser severa na Prognóstico
primeira gestação( provavelmente devido à maior habilidade das
plaquetas cruzarem a placenta). É bom se não houver hemorragia intracraniana. Geralmente a
trombocitopenia se resolve em duas semanas.
Incidência Seguimento:
1000 a 3000 nativivos
• Clínico e laboratorial por 3 meses
Características • Não há recorrência nem cronicidade
• Trombocitopenia em RN saudável;
• Mãe com contagem de plaquetas, história e exames físi- Trombocitopenia Neonatal Associada À Púrpura
cos normais; Trombocitopênica Idiopática Materna Ou Púrpura
• Afeta o filho primogênito em 33 a 50% dos casos iden- Trombocitopênica Autoimune.
tificados, e pode ocorrer em gestações subseqüentes,
(estima-se que 75% das gestações subsequentes produ- Conceito
zem RN afetados).
• Doença benigna, desaparece espontaneamente em pou- A Púrpura Trombocitopênica Idiopática é o distúrbio hemato-
cas semanas, sempre nos três primeiros meses; lógico mais comum encontrado na gestante, causado por anti-
• Isoanticorpos maternos (IgG) contra “Ag” plaquetário fe- corpo antiplaquetário (IgG) para o qual a placenta é permeável,
tal ausente nas plaquetas da mãe. podendo levar a trombocitopenia ao feto e RN. É um distúrbio de
mulheres jovens.
Manifestações Clínicas Não há correlação entre a contagem de plaquetas maternas e
do RN (a severidade da trombocitopenia fetal é relacionada não
Dependendo das circunstâncias do parto, pode haver peté- somente com a quantidade de anticorpos antiplaquetários liga-
quias até sangramento exagerado em áreas submetidas a trau- dos às plaquetas fetais, como também a função reticulo-endote-
ma: cefalohematoma, equimoses extensas, hematúria, hemorra- lial do feto e à sua capacidade para produzir plaquetas)
gia gastrintestinal, sangramento no coto umbilical ou locais de Mães com história de Púrpura Trombocitopênica Idiopática e
punção venosa e hemorragia intracraniana- 10-20% ( principal persistindo a trombocitopenia podem dar a luz e a contagem de
complicação - 12% mortalidade). Pode ocorrer intraútero desde a plaquetas do RN poderá ser normal.
16ª semana de idade gestacional, porém, a maioria ocorre com

Paulo R. Margotto
Assistência ao Recém-Nascido de Risco

Manifestação Clínica Trombocitopenia Devida A Anticorpo Materno

• Geralmente são inexistentes ao nascimento Púrpura trombocitopênica Trombocitopenia


• Principalmente os rn de parto normal podem apresentar diopática materna (PTI) neonatal isoimune
sangramento logo após o nascimento: o mais freqüente Provável Incerta, 1 em 1 em 5.000
é petéquias e manchas purpúricas que tendem a progre- incidência 3.000 nascimentos? nascimentos
dir rapidamente nas primeiras horas de vida, podendo
Provavelmente parte dos PlA1 (Zwa) ou HLA;
ocorrer outros tipos de sangramento (epistaxe, melena,
complexos glicoprotéicos nas plaquetas do
hemotórax, cefalohematoma, hematúria, sangramento Antígeno
IIb-IIIa, da membrana da pai e do recém-nado
do cordão umbilical e da venopunção) até o mais grave causador
plaqueta; sobre todas (porém
(hemorragia intracraniana) se não forem tomadas medi-
as plaquetas não nas da mãe)
das para elevar o nível de plaquetas.
Aloanticorpo materno
• Não há hepatoesplenomegalia
Tipo de (isoanticorpo) dirigi-
• Pode ocorrer icterícia Auto-anticorpo materno
anticorpo do contra antígeno
• Na maioria dos RN, a trombocitopenia resolve em uma a
plaquetário estranho
duas semanas, embora haja relato de casos com trom-
bocitopenia persistindo até 1-3 meses, à medida que o Número de Reduzido (a menos que
nível e IgG materna decliva. Não há contra-indicação do plaquetas tenha sido efetuada Sempre normal
aleitamento materno, embora a IgG anti-plaquetária seja na mãe esplenectomia)
excretada pelo leite materno podendo ser ingerida em Não pode ser avaliado com 50 - 85% (dependen-
pequena quantidade pelo RN. Risco de segurança a partir do do antígeno ofen-
recidiva da contagem das sor e da zigosidade
Estudo Laboratorial plaquetas maternas do pai)

• Contagem de plaquetas no cordão umbilical: 10% apre- As semelhanças entre os bebês com trombocitopenia devida a
sentam uma contagem de plaquetas de 20 a 50.000/ TPI e a trombocitopenia isoimune, são: a “boa” aparência, ausên-
m3 e menos de 2%, contagem de plaquetas inferior a cia de hepatoesplenomegalia, riscos de grave hemorragia, abor-
20.000/mm3. Quando normais ou pouco diminuídas, re- dagem geral do tratamento e a duração da trombocitopenia após
petir, pois pode ocorrer uma queda nas primeiras horas o nascimento (3-12 semanas).
de vida, alcançando menor valor no 3º ao 5º dia. Conta- As causas de plaquetopenia no recém-nascido são numerosas.
gem diária por uma semana. Os fatores mais importantes para o diagnóstico etiológico dessa
• Lâmina para esfregaço: grande número de plaquetas e condição podem ser sumarizados no esquema a seguir, segundo
312 agrupadas, exclui trombocitopenia. Oski & Naiman.
• Hemoglobina; Abordagem diagnóstica das trombocitopenias (modificado de
• Bilirrubinas; Oski & Naiman, 1972).
• Mielograma: aumento do número de megacariócitos ima-
turos Criança com Criança Criança com
• Contagem de plaquetas no feto - abaixo de 50.000/ mm3 exame com hepatoes- anomalias
- indicação de cesariana físico normal plenomegalia congênitas
PTI materna
Tratamento Mãe com Lupus materno
plaquetas Ingestão de drogas
Além das medidas gerais comentadas anteriormente: diminuídas Trombocitopenia
hereditária
• Gamaglobulina: nº. de plaquetas < 50.000 ou sangra-
Septicemia
mento clínico:
Sífilis congênita
• Dose: 1g/kg/dia por 2 dias consecutivos. (em 75% dos Púpura isoimune
Herpes
pacientes se observa um aumento marcante na conta- Tiazídicos, Hemangio-
Citomegalia
gem de plaquetas dentro de 24 a 48h. Mãe com tolbutamida, ma gigante
Rubéola
• A gamaglobulina aumenta a sobrevida das plaquetas re- plaquetas Trombocitopenia Rubéola
congênita
vestidas de anticorpos pela indução de um bloqueio tem- normais hereditária congênita
Toxoplasmose
porário do sistema reticuloendotelial. Anemia aplástica Trissomias
congênita
Aminoacidúrias
Leucemia
Se não houver respostas, considerar:
congênita

• Exsanguíneotransfusão (para remover auto-anticorpos ma-


ternos adquiridos passivamente): no sangramento agudo e/
ou nível de plaquetas inferior a 10.000/mm3. O sangue ma-
terno está contra-indicado como fonte doadora, ao contrário
do que ocorre na trombocitopenia isoimune do RN.
• Corticosteróides: prednisona 2- 4 mg/kg/dia com rápida
diminuição tão logo a contagem de plaquetas aumente
acima de 50.000/mm3.

A esplenectomia no RN é contra-indicada devido o caráter au-


tolimitado desta doença.
Capitulo 09 Distúrbios Hematológicos

Causas mais freqüentes de Trombocitopenia do Consumo, no Bibliografia


Recém - nascido
• Andrew M, Kelton J. Neonatal thrombocytopenia. Clin Perinatol 11:359,1984
Destruição De Plaquetas Produzidas Mecanicamente • Oski FA, Naiman JL.Alterações nas plaquetas.IN: Oski FA, Naiman JL. Hematologia do
Infecção bacteriana ou viral, sistêmica* Recém-nascido, 3ª Edição, São Paulo, Editora Manole, pg 181, 1984
• Burrows RF, Kelton JG. Trombocitopenia perinatal. Clin Perinatol 3:781, 1995
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Informativo Pediátrico (BIP)- Brasília, No. 35, 1984
Policitemia • Phibbs RH, Shannon KM. Problemas Hematológicos. In Alto Risco em Neonatologia. Klaus
Síndrome da angústia respiratória MH, Fanaroff AA. 4ª Edição, Guanabara Koogan, pg 296, 1995.
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Hipertensão pulmonar devida à respiração maciça autoimune thrombocytopenia. J Pediatr 112: 789, 1988
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tratamento do RN. Avery GB, Fletcher MA, Macdonald MG. 4ª Edição. Editora Médica e
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Lesão pelo frio • Christensen RD, E Henry e cl. Thrombocytopenia among extremely low birth weight neo-
nates: data from a multihospital healthcare system. J Perinatol 26, 348, 2006
Hemangioma cavernoso
• Roberts I, Murray N. Neonatal thrombocytopenia. Semin Fetal Neonatal Med 13:256,
Destruição Das Plaquetas Provocadas Imunologicamente 2008
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Púrpura trombocitopênica idiopática materna cytopenia in neonates. Semin Perinatol 33:43,2009
Trombocitopenia neonatal isoimune • Bussel JB, Sola-Visner M, M. Current approaches to the evaluation and management of the
fetus. and neonate with immune thrombocytopenia. Semin Perinatol 33:35,2009
Infecção bacteriana ou viral (complexo antígeno - anticorpo)
* Muitas vezes associada à coagulação
intravascular disseminada

Quanto a Transfusão de plaquetas na sepse ou enterocolite


necrosante: o mecanismo do efeito detrimental da transfusão de
plaquetas nos RN não tem sido investigada.Para os RN com sep-
se e enterocolite necrosante, parece que a transfusão repetida
de plaquetas pode perpetuar a ativação das cascatas inflamató-
ria e/ou coagulação observadas nestas condições,contribuindo
para um resultado deficiente da transfusão..De forma mais espe-
cificamente, a transfusão repetida de plaquetas pode perpetuar
a necrose de coagulação observada dentro do intestino dos RN
com enterocolite necrosante, aumentando o risco de morte ou
do desenvolvimento de síndrome do intestino curto (Consulte o
capítulo de Hemoderivados).

Paulo R. Margotto
Assistência ao Recém-Nascido de Risco

9.5 HEMODERIVADOS

Samiro Assreuy

Apesar dos avanços no processamento e na seleção do sangue mais de assepsia, sobretudo quando o equipo utilizado
e derivados, a terapêutica transfusional ainda não é isenta de para a transfusão contiver uma bureta graduada inter-
problemas. A indicação de hemoderivados requer uma análise calada ao sistema (esse tipo de equipo é ideal para a
criteriosa do rico-benefício para o paciente. transfusão em recém-nascido)
Várias complicações hematológicas, imunológicas, infeccio-
sas, cardiovasculares e metabólicas podem ocorrer trazendo sé- Critérios
rias repercussões no período neonatal. Hematócrito (Htc ≤ 40%)
Basicamente, as transfusões têm por finalidade: • Doença cardíaca severa com cianose ou insuficiência
cardíaca congestiva.
• Restaurar a volemia, a capacidade de transporte de oxi- • Se Fi02 > 35% no HOOD.
gênio ou a hemostasia. • Se em CPAP ou ventilação mecânica com pressão média
das vias aéreas (MAP: mean air pressure) > 6cm H2O.
Produtos Sanguineos • Enterocolite necrosante.

Sangue Total Htc ≤ 30%


• Se em Fi02 > 21% sob qualquer forma.
Fresco • Em CPAP ou ventilação mecânica (com MAP < 6cm de
• Quando preservado, processado e utilizado até 6 horas H2O).
após a sua coleta. • Se apnéia significante e bradicardia (> 6 episódios em 12
• Contém elementos celulares e fatores de coagulação (IV horas ou 2 em 24 horas, requerendo uso de ventilação
e VIII) ativos e estáveis. pulmonar positiva) na vigência de doses terapêuticas de
teofilina.
Estocado • Se freqüência cardíaca > 180 batimentos por minuto em
• Armazenado até 35 dias. freqüência respiratória > 80 rpm persistente por 24 horas.
• Diminuição progressiva do pH, aumento de K+ e amônia, • Se ganho ponderal < 10g/dia por mais que 4 dias com
diminuição de 2,3 DPG. ingesta > 100 cal/kg/dia.
314 • Fator V E VIII – Após 24h – inviáveis. • Se for submetido à cirurgia (considerar estabilidade clíni-
ca do RN e natureza da intervenção cirúrgica).
Indicações
• Exsangüíneotransfusão. Htc ≤ 25%
• Reposição ou manutenção de volemia, quando houver • Todos.
sinais clínicos de choque.
• Anemia que acompanha processos infecciosos graves. Não Transfundir
• Reposição de mais de 1 volemia em menos de 24h. • Para repor sangue removido para exames de laboratório,
• Dose: 20ml/Kg a não ser que ultrapasse 10% da volemia em 1 semana
• Tempo = +/- 2 horas. no RN < 1000g, na 1º semana.
• Pelo simples motivo de que o hematócrito está baixo.
Concentrado De Hemácias
O concentrado de hemácias lavadas (produto obtido por meio de
• Obtido por sedimentação ou centrifugação e retirada do lavagens sucessivas com soro fisiológico a 0.9%, a uma tempera-
plasma, diminuindo assim, a incidência de reações ad- tura de 40C, removendo-se assim proteínas plasmáticas e a quase
versas pós-trnsfusionais. Em geral, obtém-se um concen- totalidade das plaquetas e leucócitos, com importante diminuição
trado com hematócrito entre 70 e 80%. de antígenos plaquetários, plasmáticos, leucocitários e do sistema
• Contém a mesma massa eritrocitária que o sangue total, HLA). Esta indicada nas seguintes situações: 10ml/Kg
preservando sua capacidade de transporte de oxigênio,
porém, em um volume menor, elevando o nível de hemo- • Na forma anêmica da incompatibilidade sanguínea ma-
globina com o mínimo aumento da volemia. terno-fetal Rh e ABO
• Volume: 10 a 15ml/kg em 2 horas. • Hb <=12g% e reticulócitos >= 0.5g% nos primeiros dias
• O uso de 10ml/Kg proporciona um rendimento de 3,3g/ de vida
dl de hemoglobina. • Hb <11g% e reticulócitos >= 0.5% até o final do primeiro
mês de vida
Indicações
• Afora as indicações para transfusão de sangue total rela- Plaquetas
cionadas anteriormente, usar em todas as outras situa-
ções que exijam transfusão de concentrado de hemácias. Obtida por dupla centrifugação a partir de sangue total.
• Pode-se acrescentar 20% do volume original em solução
fisiológica se o fluxo do concentrado de hemácias estiver • 1 unidade contém aproximadamente 5,5 x103 plaquetas
muito limitado pela via de acesso para diluição, a fim de em 20 a 50ml de volume (a vida média das plaquetas,
facilitar seu fluxo. Este procedimento pode ser realizado estocadas a 20-240C, é de 5 dias após a coleta)
pela enfermagem abeira do leito, com os cuidados nor-
Capitulo 09 Distúrbios Hematológicos

Indicações A transfusão de plasma deve ser ABO compatível com o san-


As plaquetas devem ser ABO ou Rh compatíveis como sangue gue do RN.
do receptor. Portanto, a compatibilidade ABO na transfusão de
plaquetas para o RN deve ser respeitada sempre que possível.. Outros Produtos Sanguineos
Os antígenos do sistema do grupo sanguíneo ABO estão presen-
tes nas plaquetas e a transfusão de plaquetas incompatíveis im- Crioprecipitado: indicado na Hemofilia A, Doença de Von Wille-
plica prejuízo de seu rendimento. brand, hipofibrinogenemia grave, afibrinogenemia congênita
• Preparado mediante descongelamento do plasma fresco
• RN com hemorragia grave e/ou plaquetas abaixo de congelado à temperatura de 4ºC, recuperando-se o fator VIII.
10.000mm3. • 1 pacote (20ml) contém 100 a 120UI de fator VIII e de
• Uso: 10ml/kg (quando 1U: 50ml de plasma): A infusão 170 a 250mg de fibrinogênio.
deve durar por volta 20-30 minutos, não ultrapassando • Dose: 10 a 20 U/kg em +/- 2 horas.
nunca 4 horas após a abertura do sistema. podendo ser
usado equipos de sangue comuns. Fibronectina.
• Ainda em fase de avaliação clínica.
O risco de contaminação bacteriana em concentrados de plaquetas • Estimula a aderência endotelial, aumentando a fagoci-
é bem maior que em concentrados de hemácias, pois o estoque entre tose do material opsonizado nos neutrófilos no local do
22 e 240C favorece a proliferação espontânea de bactérias em con- processo inflamatório e estimula a depuração reticuloen-
centrados de plaquetas. A transfusão de plaquetas contaminada com dotelial das bactérias e complexos imunes.
bactérias pode levar ao choque séptico e distúrbio de coagulação. • Pode ser promissora para o tratamento de sepses neo-
natal.
Albumina Humana
Imunoglobulina (Ig G).
• Extraída de um pool de plasma humano; tratada termica- • Imunoglobulina intravenosa: não há evidências para o
mente para inativação de vírus. seu uso tanto como profilático, como na sepse suspeita
e comprovada
Indicações • Neutropenias severas e refratárias.
• Hipoalbuminemia grave. • Uso: consulte o capítulo de Infecções Bacterianas.
• Hipoalbuminemia com distúrbios hidreletrolíticos.
• Edema generalizado (forte efeito oncótico). Técnicas para diminuição da exposição ao doador
• Doenças com comprometimento cutâneo extenso no • Diminuição das coletas para exames;
quais há perdas de proteínas pela pele, como queimadu- • Rastreamento para infecção no doador particularmente
ras e em pacientes com epidermólise bolhosa congênita. para o citomegalovírus. 315
• Executar filtração dos leucócitos.
Uso: deve ser usado como expansor plasmático e, como tal, as- • Irradiação gama.
sociada a um cristalóide e com furosemide a seguir: • Uso de uma única unidade de concentrado de eritrócitos
para cada neonato, independentemente da duração da
• Albumina (20%) – 2,5 a 5ml/kg (0,5 a 1g/kg). estocagem do produto.
• Soro fisiológico 0,9%: 3 x a quantidade de albumina. • Usar concentrado de hemácias leuco depletado.
• Furosemida – 1 a 2mg/kg.
• Duração = 2 a 3 horas. Uso Da Furosemida

Sempre que usar albumina nos RN prematuros. Deverá ser confir- Não há evidências para o uso da furosemida tanto antes como
mada a hipoalbuminemia. Veja os valores normais na Tabela (final) depois da hemotransfusão. O estudo recente de Balegar e Klu-
ckow M demonstrou que em um grupo de prematuros hemodi-
Plasma namicamente estáveis e transfundidos de forma eletiva, além da
primeira semana de vida, o uso da furosemida teve benefício clí-
• Plasma preservado:extraído através da centrifugação ou nico mínimo. A administração de uma dose única de furosemida
sedimentação espontânea do sangue total antes da transfusão nestes recém-nascidos impediu um aumen-
• Não contém os fatores lábeis da coagulação. to pequeno, mas estatisticamente significativa na FiO2 e ganho
• Isosmolar ao plasma, portanto tem baixo poder oncótico. de peso, além de produzir pequena diminuição, porém significati-
• Plasma fresco congelado: extraído por centrifugação em me- va, no sódio sérico e não teve efeito sobre varáveis ventilatórias.,
nos de 6 horas após a coleta do sangue e conservado na tem- hemodinâmicas, ecocardiograficas, eletrolíticas e clínicas por 24
peratura de –200C. Contém os fatores II, VII, IX, X, V e VIII, além horas após a transfusão. Os pequenos benefícios clínicos do uso
de gamaglobulina e outras proteínas Não contém plaquetas. rotineiro da furosemida no momento da transfusão eletiva preci-
sa ser equilibrado com os efeitos potencialmente adversos.
Indicações
• Expansor de volume (substância colóide).
• Coagulação vascular disseminada, coagulopatias por do-
ença hepática e coagulopatias por déficit de fatores V, VII
e X (quando não se dispõe de fatores purificados): plasma
fresco congelado – 10ml/kg, repetindo cada 6-8h (20ml/
kg), guiando-se pelos exames laboratoriais (TP, TTP).
• Volume: 10ml/kg.
• Infusão não deve exceder 2 horas.

Paulo R. Margotto
Assistência ao Recém-Nascido de Risco

Bibliografia
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Capitulo 09 Distúrbios Hematológicos

9.6 TROMBOSE

Alexandre Peixoto Serafim

Introdução/Conceito Quadro Clínico/Exames Complementares

A trombose neonatal pode resultar na morte ou em grave mor- Clínica


bidade para o bebê por causa de lesões irreversíveis aos órgãos.
No entanto, a relativa raridade e a heterogeneidade das doenças Os sinais e sintomas encontrados na TVR incluem hematúria,
trombóticas nos neonatos dificultam a avaliação científica das massas abdominais e trombocitopenia. Metade dos pacientes
modalidades diagnósticas e terapêuticas de uso corrente. com outros tipos de trombos apresentam edema do membro afe-
A incidência estimada de tromboembolismo venoso sintomá- tado, da cabeça, região cervical ou tórax. Insuficiência respirató-
tico em neonatos é de 0,24/10.000 crianças admitidas. Trom- ria, apnéias e bradicardia, trombocitopenia e sepse persistente
bos ocorrem em cerca de 30% de todos os cateterismos venosos são sintomas menos comuns. A trombose arterial leva a diminui-
umbilicais, mas em sua grande maioria são assintomáticos. A ção de pulsos e descoloração do membro afetado. A trombose
trombose venosa renal é a modalidade de trombose mais fre- da aorta pode levar a hipertensão sistêmica ou a uma clínica de
quentemente diagnosticada nas UTI neonatais. Geralmente é redução dos pulsos e da perfusão que mimetiza uma coarctação
diagnosticada nos primeiros 2 dias de vida, o rim mais frequen- de aorta, mas com ecocardiograma normal.
temente acometido é o esquerdo e em 30% dos casos o envol- Os distúrbios específicos da coagulação são raros e a sua in-
vimento é bilateral. As complicações agudas da trombose renal vestigação está além do alcance destas normas (consulte as re-
incluem hemorragia adrenal e extensão do trombo para a veia ferências 8 e 12 para maiores detalhes).
cava inferior. Das outras modalidades de trombose, 89% estão
associadas com a presença de cateter venoso central e 29% com Diagnóstico
infecção sistêmica. Os outros sítios que podem ser envolvidos in-
cluem a veia cava inferior, a veia cava superior e o átrio direito, A ultrassonografia com Doppler é o método mais usado para
com ou sem trombose de uma das cavas. As veias femorais são o diagnóstico (68% dos casos) por ser não invasiva e poder ser
o segundo sítio mais comum de trombose associada a cateter ve- realizada a beira do leito. A sensibilidade do Doppler é operador
noso. Vasos afetados mais raramente incluem a braquiocefálica, dependente e variou de 20 a 40% em um estudo realizado por
subclávia, jugular e ilíacas. Roy e cl. Na trombose venosa renal, sinais sonográficos incluem
As tromboses arteriais são em sua maioria iatrogênicas e afe- rins aumentados e hiperecogênicos e atenuação ou perda da di-
tam tipicamente a aorta ou as artérias ilíacas e femorais. Artérias ferenciação corticomedular. Segundo o Subcomitê Neonatal da 317
raramente afetadas são as pulmonares e renais. Quando é feito Sociedade Internacional de Trombose e Hemostasia, a angiogra-
cateterismo arterial umbilical, a trombose pode ser encontrada fia com o uso de contraste é o padrão ouro para diagnóstico, mas
em 23% dos bebês, mas a maioria é assintomática e não requer só é realizada em cerca de 14% dos casos.
tratamento. Sintomas observados na trombose aórtica incluem O exame para diagnóstico da TVC é a Difusão por ressonância
isquemia mesentérica, hipertensão, disfunção renal, isquemia com venografia.
de membros e insuficiência cardíaca congestiva. Sua incidência
pode chegar a 1-3% e é potencialmente letal. Tratamento
A trombose venosa cerebral (TVC) é um capítulo à parte. Os ne-
onatos constituem 43% dos casos de TVC em crianças. Os fatores As seguintes recomendações são derivadas do oitavo consen-
de risco incluem o estado de hipercoagulabilidade materna asso- so da ACCP (American College of Chest Physicians), que têm sido
ciado à gravidez ou ao lúpus, os estresses mecânicos associados atualizadas anualmente, segundo Monagle e cl.
ao nascimento, shunts intracardíacos direita-esquerda, policitemia
e o risco de desidratação nos primeiros dias de vida. Além disso, Neonatos com Tromboembolismo Venoso:
meningite e cardiopatias congênitas podem levar a TVC. É preciso Os cateteres venosos centrais e os ‘cateteres umbilicais venosos
um alto índice de suspeita porque sinais focais e hemiparesias são associados com trombose confirmada devem ser removidos,
infrequentes. O seios venosos superior e lateral são os mais comu- se possível, após 3 a 5 dias de anticoagulação, com o objetivo
mente afetados. Até 30% dos casos são seguidos de hemorragia de evitar a liberação de êmbolos (essa recomendação não tem
subsequente. A abordagem geralmente é expectante e o risco de evidência em estudos clínicos).
recorrência é mínimo, mas a mortalidade é de 8% e 77% dos neo-
A conduta inicial pode ser expectante, com monitorização radioló-
natos têm algum grau de sequela neurológica.
gica; se houver aumento da extensão da trombose,
iniciar anticoagulação.
Mortalidade
A anticoagulação deve ser feita com: (1) enoxaparina duas vezes
ao dia, ajustada para obter uma atividade anti-FXa de 0,5 a 1 U/
Quatro de cada 5 neonatos afetados sobrevivem até a alta hos-
mL; ou (2) heparina convencional por 3 a 5 dias ajustada para
pitalar. A mortalidade é de 5% para trombose venosa renal (TVR),
obter uma atividade anti-FXa de 0,35 a 0,7 U/mL ou intervalo de
18% para outros tipos de tromboses, 21% para as tromboses
TTPa de 60 a 85 segundos, seguida por enoxaparina. A duração
arteriais e 25% para as tromboses mistas (venosas e arteriais).
total da anticoagulação deve ser entre 6 semanas e 3 meses.
A trombose de aorta ou de átrio direito e veia cava tem a morta-
lidade mais alta (33%). Presumivelmente nem todos os casos de A trombólise não está recomendada para o tromboembolismo
óbito podem ser atribuídos à doença trombótica, uma vez que venoso, a não ser que exista oclusão de vaso de grande porte com
muitas tromboses ocorrem como complicações secundárias em comprometimento crítico da perfusão de órgãos ou membros.
bebês muito prematuros e doentes.

Paulo R. Margotto
Assistência ao Recém-Nascido de Risco

Se houver indicação de trombólise, ela deverá ser realizada pre- Pré-termos Termos
ferencialmente com o uso Actilyse ®, com transfusão de plasma 2 mg/kg/dose 1,7 mg/kg/dose
Dose
fresco congelado antes do início da terapia. cada 12 horas SC cada 12 horas SC
Trombose da Veia Renal:
Para neonatos com trombose da veia renal unilateral, que não se
SC: subcutâneo
estende para a veia cava inferior, a conduta é expectante, com
Devido à alta concentração da enoxaparina, a administração
monitorização da extensão da trombose.
de doses decimais é sujeita a grande incidência de erros.
Para a trombose unilateral com extensão para a veia cava inferior,
A enoxaparina pode ser diluída para uma concentração de 20
iniciar anticoagulação com heparina convencional (3-5 dias) segui-
mg/mL em cloreto de sódio a 0,9% e permanece estável por até
da de enoxaparina, ou enoxaparina por 3 meses.
43 dias em temperatura ambiente (22-26ºC) ou sob refrigeração.
Para trombose de veia renal bilateral com insuficiência renal, iniciar
anticoagulação com heparina e terapia trombolítica Monitorização
comativador do plasmenogênico tPA seguida por anticoagulação com O tempo de tromboplastina parcial (TTP) NÃO pode ser usado
heparina convencional/enoxaparina. para monitorizar os níveis terapêuticos de enoxaparina. A monito-
(A terapia com enoxaparina requer monitorização rização deve ser feita com o nível de atividade antifator Xa entre
cuidadosa na presença de insuficiência renal grave.) 0,5 a 1,0 U/ml em uma amostra colhida de 4 a 6 horas após
Cateter Umbilical Arterial: a injeção subcutânea. Esse teste é caro e raramente disponível
Para manter a patência do cateter umbilical arterial, manter infu- na maior parte dos serviços clínicos atualmente. O mais comum
são de dose baixa de heparina convencional (0,25 a 1 U/mL). tem sido o uso empírico das doses propostas. Quando possível,
Em caso de trombose associada a cateter umbilical arterial, esse nomograma é utilizado para ajuste das doses na faixa etária
iniciar terapia com heparina ou enoxaparina pediátrica.
por pelo menos 10 dias e remover o cateter.
Para neonatos com trombose relacionada a cateter umbilical Nível Anti Suspender Modificar
Repetir exame
arterial com comprometimento grave da perfusão de membros ou Xa U/ml próxima dose? dose?
órgãos, iniciar trombólise com tPA. Se a trombólise for contraindi- 4 horas após
<0,35 Não + 25%
cada, realizar trombectomia cirúrgica. próxima dose
Manter o cateter arterial umbilical em 4 horas após
0,35-0,49 Não +10%
posição alta em vez de baixa. próxima dose
Trombose de seio venoso cerebral: Próximo dia, depois
Para neonatos com trombose de seio venoso cerebral sem he- 0,5-1,0 Não não após 1 semana e de-
morragia intracraniana significativa, iniciar heparina convencional pois mensalmente
318
ou enoxaparina e depois manter enoxaparina por pelo menos 6 1,1-1,5 Não - 20% Antes da próxima dose
semanas, mas durante não mais que 3 meses. Antes da próxima dose
1,6-2,0 3 horas - 30%
Para neonatos com trombose nos seios venosos cerebrais com e depois 4 horas após
hemorragia significativa, manter monitorização radiológica duran- Antes da próxima dose
te 5 a 7 dias e usar até exame
> 2,0 - 40% e a cada 12 horas até
anticoagulante se houver propagação do trombo. 0,5 U/ml
exame < 0,5 U/ml
Cirurgia está recomendada para os neonatos com hidrocefalia ou
hematomas cerebrais grandes com efeito de massa. Uso Endovenoso
Acidente vascular cerebral isquêmico: A administração subcutânea de enoxaparina já foi descrita como
Na ausência de origem cardioembólica, não está indicada anticoagu- não confiável em populações de pacientes internados em UTI de-
lação nem terapia com aspirina para neonatos vido ao edema subcutâneo ou à vasoconstrição periférica em pa-
com primeiro episódio de acidente vascular cerebral (AVC) isquêmico. cientes recebendo vasopressores. Além disso, neonatos (especial-
Em neonatos com acidente vascular cerebral (AVC)isquêmico recor- mente prematuros) com pouco tecido subcutâneo podem sofrer
rente, iniciar anticoagulação ou aspirina. necrose ou hemorragia após aplicações repetidas da droga.
Há dois breves relatos sobre a administração de enoxaparina in-
travenosa para prematuro (um paciente cada). Esses dados limita-
Anticoagulação dos sugerem a administração de 1 mg/kg cada 8 horas. Um estudo
em 7 crianças publicado por Crary e cl mostrou um pico de ação
Heparina de Baixo Peso Molecular (Enoxaparina) mais precoce (1-2 horas) e as doses terapêuticas para crianças com
< 1 ano foram de 2,4 mg/kg/dose (administradas cada 8 horas).
Heparina de baixo peso molecular é a forma de anticoagulação O uso de enoxaparina intravenosa é um uso ainda não aprova-
mais usada nas UTI neonatais atualmente. As vantagens supos- do, que não consta na bula. Esse uso ainda tem evidências publi-
tas incluem farmacocinética previsível, administração subcutâ- cadas incompletas. Há relatos de risco aumentado de hemorra-
nea, ausência de interferência por outras drogas ou dieta, risco gia com o uso intravenoso. O Instituto de Cardiologia em Brasília
diminuído de trombocitopenia e de osteoporose. No entanto, é acumula alguma experiência com essa via de administração (uso
preciso citar que a previsibilidade do efeito anticoagulante das chamado “off-label”, isto significa que a medicação é feita para
doses ajustadas pelo peso é reduzida quando comparadas com administração subcutânea e a bula contraindica a administra-
as de adultos, presumivelmente devido à alteração das ligações ção intravenosa) em crianças cuja administração subcutânea é
plasmáticas. As doses recomendadas de Enoxaparina (Clexane® dificultado pela instabilidade hemodinâmica, edema extenso ou
- seringa pré-enchida 0,2ml=20mg ou 0,4ml=40mg) são basea- pouco tecido subcutâneo.
das em uma revisão do uso em 240 neonatos reportados em 8
estudos publicados, segundo Malowany e cl.
Capitulo 09 Distúrbios Hematológicos

Complicações Monitorização
O risco de sangramentos menores é de 17%. Sangramentos Crianças necessitando de heparina frequentemente têm do-
maiores ocorrem em 0,7 a 2% dos pacientes. Se necessário, fa- enças que influenciam o TTP de base e a resposta a heparina.
zer punção lombar, suspender pelo menos duas doses da droga Ao nascimento, o TTP é prolongado, refletindo a imaturidade do
e, se possível, determinar o antifator Xa. Em animais o sulfato de sistema de coagulação. Os níveis de heparina podem ser mais
protamina reverte o efeito da heparina de baixo peso molecular. confiáveis do que TTP para monitorizar os recém-nascidos e al-
Usar as mesmas instruções para reversão da heparina conven- gumas crianças (desejável de 0,5 a 1 unidade/ml após 4 horas
cional (1mg Enoxaparina =100U). de injeção). Também pode ser usado o nível de atividade do anti-
fator Xa entre 0,3 e 0,7 U/ml (valores extrapolados de trabalhos
Heparina Convencional com adultos). No entanto, o mais importante grupo de pesquisa
na área, liderado por Fiona Newall e Paul Monagle, advoga que
A heparina é um mucopolissacarídeo aniônico. A heparina age nenhum teste clínico existente atualmente pode ser recomenda-
como anticoagulante formando um complexo com a antitrombina do para medir o efeito da heparina em termos de eficácia ou se-
(AT). Esse complexo inibe diversos fatores ativados da coagula- gurança. Esses autores recomendam que seja utilizado o conhe-
ção sanguínea: XIIa, XIa, IXa, Xa e trombina. O início de ação da cimento do mecanismo de ação da heparina em conjunto com
heparina é imediato. Mais frequentemente é utilizada em condi- variáveis individuais de cada paciente para determinar a dose e
ções agudas e deve ser administrada por via parenteral. duração ótimas do tratamento.
A terapêutica com heparina em crianças é diferente da terapia
em adultos; a depuração de heparina é mais rápida nos mais Complicações
jovens. Ao nascimento, os níveis de antitrombina são 50% dos Sangramento é o efeito adverso mais comum da heparina. Se
valores em adultos. Durante toda a infância, os níveis são 25% ocorrerem grandes sangramentos, interrompa a heparina. A ad-
menores. Os níveis de AT também estão reduzidos na criança a ministração de sulfato de protamina endovenoso pode ser usada
termo (0,5 U/ml) e nos prematuros (0,2 a 0,37 U/ml) e normali- para neutralizar os efeitos da heparina. Em sangramentos meno-
zam aos 3 meses de vida. O uso de heparina no período neonatal res, as doses devem ser ajustadas.
é complicado, portanto, pelos baixos níveis de AT resultando em
relativa resistência à medicação. Tempo desde Dose de protamina mg/100 U
última dose em min heparina
Regras práticas < 30 1,0
1. Realize hemograma, Tempo de protrombina (TP) e Tem-
30-60 0,5-0,75
po de tromboplastina parcial (TTP) antes do tratamento
60-120 0,375-0,5
(consulte o capítulo Distúrbios Hemorrágicos para a com-
preensão da fisiologia da hemostasia normal) >120 0,25-0,375
319
2. Dose: *Dose máxima de 50 mg. Velocidade de infusão de uma so-
Manutenção lução a 10mg/ml não exceder 5 mg/min. Reações de hipersen-
Ataque
< 28 semanas IG 25 UI/kg IV em 10 minutos 15 UI/kg/h sibilidade podem ocorrer em pacientes alérgicos a proteínas de
28 -37 semanas IG 50 UI/kg IV em 10 minutos 15 UI/kg/h peixe ou naqueles que receberam protamina previamente. Seja
> 37 semanas IG 100 UI/kg IV em 10 minutos 28 UI/kg/h conservador com a administração da protamina porque níveis
elevados também provocam sangramento.

3. Monitorize TTP a cada dia, se possível • Osteoporose é um efeito colateral grave porém raro, asso-
ciado com o uso prolongado de altas doses de heparina.
4. Após 3 a 5 dias de heparinização com a medicação con- • Anafilaxia é um efeito secundário a contaminação que pos-
vencional, troque a anticoagulação pelo uso de enoxaparina sa ocorrer durante o processo de manufatura da droga.
• Trombocitopenia associada ao uso de heparina (“HIT”) –
Ajustes de Dosagem Não há consenso sobre a frequência em crianças, mas é
Assim como para adultos, o uso de um nomograma de dosa- bem mais rara que a incidência em adultos (3-5%). Pode
gem ajuda a atingir e manter o TTP no intervalo terapêutico. O ser assintomática ou associada à trombose venosa ou ar-
nomograma seguinte foi validado para manter o TTP no intervalo terial fatal. Geralmente aparece entre 3 e 15 dias após
de 60-85 segundos em pacientes pediátricos. o início do tratamento. Desconfie se ocorrer queda das
plaquetas < 70 a 100.000 por mm3. Se ocorrer, pode ser
TTP Bolus Suspenda a infusão Mudança da Controle necessária a suspensão da heparina. Seja cauteloso ao fa-
(seg) (U/kg) por (min) infusão % de TTP zer esse diagnóstico em crianças: há controvérsias sobre
os critérios. Os níveis de plaquetas retornam ao normal em
< 50 50 0 + 10% 4h.
4 dias da suspensão da terapêutica. Se necessário, inicie
50 - 59 0 0 + 10% 4h.
hirudina (lepirudina) na dose de 0,03 a 0,05 mg/kg/h e a
Dia monitorização é com o tempo de coagulação da heparina
60 - 85 0 0 0
seguinte (há riscos significativos). Consulte um hematologista.
86 - 95 0 0 - 10 % 4h.
96 - 120 0 30 - 10% 4h Outra Medicações
120 0 60 - 10% 4h Melagatran é uma droga potencialmente útil em neonatolo-
gia, mas ainda faltam estudos. Warfarin não está indicado em
Na nossa experiência, a eficácia da anticoagulação pode ser recém-nascidos. Aspirina na dose de 1-5 mg/kg/dia é comumen-
imprevisível em neonatos, sendo possível atingir níveis terapêuti- te prescrita para evitar trombos em crianças submetidas aos pro-
cos do TTP em apenas uma fração dos pacientes, mesmo com o cedimentos de Blalock-Taussig, Glenn, Fontan ou Norwood após
aumento das doses da heparina. profilaxia intra-operatória com heparina convencional.

Paulo R. Margotto
Assistência ao Recém-Nascido de Risco

Terapia Trombolítica 4. Armazenamento: pode ser guardada em temperatura am-


biente até o máximo de 30º C ou sob refrigeração 2-8º C
Contraindicações 5. Manter heparina durante a infusão de t-PA. Se ainda
1. Grande cirurgia nos últimos 10 dias não foi iniciada, começar infusão na dose de 10 UI/kg/
2. Hemorragia intracraniana nos últimos 10 dias hora, mas não fazer dose de ataque.
3. Grandes procedimentos nos últimos 3 dias 6. Dose: 0.06 mg/kg/h IV durante 6 horas. A dose pode
4. Sangramento ativo ser aumentada até 0,24 mg/kg/h, lentamente.
5. Convulsões nos últimos 10 dias 7. Reavaliar clinicamente ou, se necessário com exames
6. Asfixia radiológicos, Doppler ou ecocardiografia após 6 horas da
7. Coagulopatia apesar de transfusões infusão do t-PA. Manter heparinização durante as próxi-
8. Plaquetas <=100 000/mm3 se intubado, com sepse mas 24 horas, antes de fazer nova dose de t-PA, se não
ou prematuridade extrema houve resposta clínica.
9. Plaquetas <=50 000/mm3 se criança estável
10. Fibrinogênio <=100 mg/dl Monitorização
1. Dosar TP, INR, PTT e fibrinogênio 4 horas após a infu-
Precauções são
1. Não fazer injeções intramusculares 2. O fibrinogênio deverá ter diminuído pelo menos 25-
2. Manipulação mínima; não dar banho; suspender fisio- 50%. Manter nível acima de 100 mg/dL com infusão de
terapia. crioprecipitado 1U/5kg.
3. Não fazer cateterização urinária nem punção arterial. 3. Se não houve alteração do fibrinogênio, checar D-díme-
4. Colher sangue de veias superficiais ou de cateter ro para verificar se um estado trombolítico foi alcançado
4. Manter plaquetas > que 50.000
Preparação Para Infusão
1. Hemograma, INR (International Normalized Ratio; TP Complicações
do paciente/PT do “pool” normal e o valor normal vai de 1. Sangramentos maiores ocorrem em 40% dos pacien-
0,91 a 1,25), PTT, Fibrinogênio, Amostra para transfusão tes. Sangramentos menores ocorrem em 30% (tratar
com compressão local e suporte). Os restantes 30% não
Exame Laboratorial Níveis Desejados apresentam complicações. O sangramento é em locais
Mínimo 100 mg/100 mL de punção em 58%, mucosas em 5% e interno em 9%. O
Fibrinogênio risco de hemorragia cerebral é de cerca de 1,2% em ter-
(transfundir crio)
mos, 13,8% em pré-termos. No entanto, no maior estudo
Plaquetas Mínimo 50.000
descrito em prematuros a incidência de hemorragia in-
Plasminogênio/D-dímero Adequados para atingir trombólise
320 tracraniana foi igual no grupo que recebeu trombolíticos
e no braço controle que não recebeu. Um análise retros-
Realizar dosagens antes do tratamento, 4-6 horas após o início pectiva de 16 neonatos relatou 1 morte por sangramen-
e em seguida diariamente. to. Alguns autores consideram os trombolíticos contra-
indicados abaixo de 32 semanas de idade gestacional.
1. Considerar sedação do paciente, dependendo das cir- Trata-se de uma terapia de alto risco em crianças e só
cunstâncias clínicas (Criança muito agitada) deve ser considerada em casos extremos.
2. Colocar aviso no leito, indicando terapia trombolítica e 2. Em caso de sangramento grave, interromper as infu-
cuidados a serem tomados sões e administrar crioprecipitado e plasma
3. Transfundir Plasma Fresco Congelado (10 mL/kg) 30 3. Se ameaça à vida, administrar crioprecipitado e ácido
minutos antes do início da terapia para assegurar níveis tranexâmico (Transamin® 5ml=250mg) 10 mg/kg IV em
adequados de plasminogênio bolus. pode ser repetido em 8 horas. Considerar sulfato
4. Verificar existência de ácido tranexâmico (Transamin®) de protamina.
na Unidade 4. A depuração da t-PA ocorre em cerca de 5 minutos
5. Providenciar acesso venoso adequado 5. As chances de sucesso são maiores quando o trombo
tem menos de 7 dias de evolução
Doses e Infusão 
1. Ativador de Plasminogênio Tecidual (Tromboplastina Outros Trombolíticos
tecidual ativada: t-PA). ACTILYSE®: 1 frasco = 50mg de
pó liofilizado) A streptokinase tem efeitos alérgicos em crianças e eficácia bastante
2. Actilyse®: A substância liofilizada deve ser dissolvida reduzida em neonatos devido aos mínimos níveis de plasminogênio.
com o diluente que acompanha o produto (água esterili- Recentemente a SES-DF padronizou o uso de METALYSE ®
zada para injeção) numa proporção de 1 mg de ACTILYSE (tenecteplase) nos seus hospitais. Trata-se de uma medicação
para 1 ml de água. A reconstituição deve ser efetuada desenvolvida para trombólise no infarto agudo de miocárdio. Não
introduzindo-se primeiro uma das extremidades da cânu- existem dados publicados até esta data sobre a sua eficácia ou
la de transferência no frasco-ampola contendo a água; segurança de uso em crianças, muito menos em neonatos. Nova-
a seguir, introduzir a outra extremidade da cânula no mente, o Instituto de Cardiologia do DF tem alguma experiência
frasco-ampola contendo o liofilizado. empírica no seu uso em crianças com cardiopatia congênita.
3. A solução reconstituída de ACTILYSE pode ser ainda
mais diluída em solução fisiológica de NaCl (0,9%), até Bibliografia
uma proporção de 1:5. Água destilada ou soluções con-
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321

Paulo R. Margotto
Assistência ao Recém-Nascido de Risco

322
Capitulo 10 Distúrbios Neurológicos

Capítulo 10

Distúrbios
Neurológicos
Assistência ao Recém-Nascido de Risco

10.1 CONVULSÕES NO RECÉM-NASCIDO

Sérgio Henrique Veiga, Paulo R. Margotto, Joseleide G Castro

As convulsões representam uma emergência neurológica Exemplo:


que podem refletir significante lesão no cérebro imaturo. Ocor- Os tremores que fazem parte da síndrome da Hiperexcitabilida-
rem numa freqüência de 2,5/1000 recém-nascidos (RN) vivos. de são comumente confundidos com crises clônicas. A hiperexita-
Nos RN abaixo de 1500g a freqüência de convulsões chega a bilidade não é acompanhada de movimentação ocular anormal,
57,5/1000 nascidos vivos. é sensível a estímulos externos, cessam com a mudança de posi-
A mortalidade relatada no RN com convulsão tem sido de 40% ção do membro, é caracterizado com flexão/extensão, enquanto
e 1/3 dos RN sobreviventes apresentam seqüelas (a mortalidade a crise clônica tem componente flexor seguido de relaxamento.
por convulsões nos RN com síndrome hipóxico-isquêmica perma-
nece acima de 50%). Esta crise apresenta correlação clínico-eletroencefalográfica?
A crise convulsiva ocorre devido a uma descarga elétrica sín- Alguns eletroencefalogramas (EEGs) realizados durante a ocor-
crona e excessiva de um grupo de neurônios. A maior ocorrência rência de manifestações críticas não apresentam descargas epi-
de convulsões no período neonatal deve-se a uma maior excitabi- leptiformes. Ocorrem geralmente em crises tônicas generaliza-
lidade do cérebro neste período da vida extra-uterina. das, sutis, mioclonicas focais e multifocais. Já as manifestações
clônicas focais ou multifocais (migratórias ou não), tônicas focais
Fisiopatologia e desvios oculares são as crises que apresentam forte associa-
ção com descargas ictais no EEG.
Aumento de mecanismos excitatórios (excitação)
1. Elevada voltagem de input da membrana neuronal; pe- Como se classifica esta crise?
quenas correntes implicam grandes flutuações do poten- Classificação das crises neonatais segundo Volpe:
cial da transmembrana;
2. Glia imatura levando a estado de hiperexcitação por • Crises Sutis, Mínimas Ou Fragmentadas
maior acúmulo de potássio extracelular decorrente da Formas mais freqüente de crises, de difícil identificação, poden-
lentidão nos sistemas enzimáticos da membrana glial, do se apresentar com movimentos de deglutição, mastigação, suc-
com conseqüente menor depuração de neurotransmis- ção, posturas anormais com movimentos fragmentados do corpo
sores exitatórios do meio extracelular; (abalos únicos, migratórios, clonias breves, postura focal de um
3. Maior proporção de sinapses exitatórias que inibitórias; membro, automatismos orais ou de membros),movimentos de pe-
324 4. Maior desenvolvimento de receptores sinápticos para dalar, nadar, fixação do olhar, desvio tônico dos olhos, tremores
neurotransmissores exitatórios; palpebrais, nistagmo, manifestações autonômicas (discreto au-
5. Substância negra que funciona, nesta fase, como pro- mento da pressão arterial e da freqüência cardíaca, palidez, ciano-
pagadora de descargas para a periferia em vez de inibi- se, ou apnéia central). São mais freqüentes no RN pré-termos com
dora, como habitualmente; encefalopatia hipóxico-isquêmica ou hemorragia intracraniana.

Redução dos mecanismos inibitórios (desinibição) • Crises Tônicas


1. Menor proporção de sinapses inibitórias; Apresentam-se como movimentos de extensão das extremida-
2. Menor desenvolvimento de receptores sinápticos para des e podem ser focais ou generalizadas. As focais são estereo-
neurotransmissores inibitórios; tipadas e se manifestam como posturas tônicas dos membros
3. Neurotransmissores inibitórios com papel excitatório e/ou do tronco ou dos olhos que podem ser breves, lentas ou
em certas áreas do encéfalo (ex subst. negra) durante o abruptas. Freqüentemente são acompanhadas de apnéias, rubor
período neonatal. ou cianose leve e, ocasionalmente, breves componentes clônicos.
Não são alteradas pelo toque ou estímulo, procedimentos que
Assim os prováveis mecanismos geradores de crises epilépti- influenciam a postura focal frequentemente encontrada em RN
cas no RN são: pré-termo normais e termo anormais. Geralmente cursam com
anormalidades no EEG. As generalizadas raramente constituem
• Falência da bomba de sódio e potássio decorrente da crises epilépticas verdadeiras, não tendo representação eletro-
diminuição de ATP, o que ocorre na hipóxia, isquemia e encefalográfica. Manifestam-se por posturas tônicas simétricas,
hipoglicemia; do tipo decorticação ou descerebração transitórias, podendo ser
• Excesso de neurotransmissores exitatórios que ocorre na desencadeadas por estímulos. Frequentemente acompanham
hipóxia, isquemia e hipoglicemia; hemorragia intracerebral. No entanto, flexão ou extensão tônica
• Deficiência de neurotransmissores inibitórios-ocorre na abrupta dos membros com abdução ou adução podem represen-
dependência de piridoxina; tar crises de espasmos de natureza epiléptica, mais freqüentes
• Alteração na membrana neuronal, com aumento na per- em prematuros com distúrbios metabólicos, encefalopatia hipó-
meabilidade ao sódio – ocorre na hipocalcemia e na hi- xico-isquêmica ou hemorragia intracraniana.
pomagnesemia.
• Crises Clônicas
Que tipo de paroxismo estou observando? São as mais freqüentes, apresentando-se como sacudidas
A observação prolongada à beira do leito e a experiência no musculares rítmicas e lentas. Podem ser multifocais (migram de
reconhecimento dos fenômenos críticos são importantes aliados, um membro para outro membro, alternando os lados; são me-
principalmente se o médico assistente não dispõe de monitoriza- nos mantidas que as focais e frequentemente envolvem a face,
ção eletroencefalográfica adequada. pálpebras, a língua; se rápidas, podem mimetizar crises gene-
ralizadas) ou focais (facilmente diagnosticadas, exibem relação
Capitulo 10 Distúrbios Neurológicos

única com o EEG, porém nos RN pré-termo não necessariamente automatismos não ictais) tornam os estudos videopoligráficos
implicam a existência de patologia focal). As hemiconvulsivas são importante (quase obrigatória) no apoio diagnóstico das crianças
raras no RN, pois o padrão jacksoniano observado em crianças com risco para crises epilépticas. Estudo recente de van Rooij e
maiores não é comum nesta faixa etária. As crises clônicas po- cl evidenciou que o tratamento imediato tanto das crises clínicas
dem traduzir hemorragia intracraniana, acidente vascular cere- como subclínicas reduz o tempo de duração das convulsões, su-
bral ou doença metabólica. gerindo possível redução na lesão cerebral.

• Crises Mioclônicas Quais são os métodos de diagnóstico complementar que dis-


São sacudidas musculares rápidas e intensas, erráticas, frag- ponho para ter certeza da crise?
mentadas ou generalizadas, frequentemente bilaterais, podendo
se associar a espasmos tônicos, com padrões tônicos ou clôni- 1. Observação prolongada do RN
cos multifocais, ou com mistura dos diferentes tipos de crises. 2. Monitorização poligráfica em UTINs
Frequentemente persistem durante a infância como espasmos 3. EEG digital
infantis. Ocorre em crianças afetadas gravemente com malfor- 4. Vídeo-EEG
mações cerebrais, defeitos enzimáticos congênitos, encefalopa-
tias hipóxico-isquêmicas graves, mas podem ser criptogênicas. Achados no EEG sofrem mudanças de acordo com a idade do RN.
Síndromes distintas têm sido propostas. Estas mioclônicas são Os padrões de anormalidade devem ser considerados dentro
facilmente diferenciadas dos tremores ou da mioclonia benigna de cada faixa etária
do sono no período neonatal. Variável mais importante = idade pós-concepcional (IGpc) =
idade gestacional + idade cronológica após o nascimento
Classificação de Mizrahi e Kellaway (correlação eletroclínica): A persistência de padrões característicos de determinada IGpc
Vários tipos de atividades encontradas nos RN poderiam não além do período normal deve ser considerada anormalidade.
ser efeitos ictais, mas representar fenômenos reflexos ou de libe-
ração do tronco encefálico, sendo necessária a correlação eletro- Técnica
clínica para tal confirmação. Em sono espontâneo e vigília
Estes padrões deveriam ser acrescidos à classificação das cri- Tempo mínimo de uma hora, observando os diferentes perío-
ses neonatais, mesmo não se tratando de crises epilépticas. Esta dos do sono e o ciclo sono-vigília.
proposição é questionada por outros autores. Parâmetros importantes (quando tecnicamente viável) na poli-
grafia neonatal: eletrocardiograma, movimentação ocular, avalia-
1. Crises com correlação eletrográfica consistente: ção respiratória, atividade muscular, saturação de C02.
As manifestações desaparecendo até dois semanas da fase
2. Crises clônicas focais: aguda da encefalopatia correlacionam-se a bom prognóstico.
• Unifocal Após várias semanas o EEG pode ocorrer normalização do tra- 325
• Multifocal çado mesmo que a evolução do paciente seja grave.
• Hemiconvulsão São alterações observadas no EEG no RN:
• Axial Atividade rítmica nas faixas delta, teta, alfa ou beta em uma
ou mais faixas de freqüência em uma ou mais regiões corticais,
3. Crises mioclônicas: com envolvimento progressivo ou flutuante com duração igual ou
• Generalizada ou bilateral maior que 10 segundos
• Focal BIRDs: Breves descargas rítmicas interictais, com duração me-
nor que 10 segundos – não definem um fenômeno critico porem
4. Crises tônicas focais quando associado a quadro clínico torna-se fortemente sugestiva.
• Flexão assimétrica do tronco Ondas pontiagudas transitórias com freqüência maior ou igual
• Desvio dos olhos 3 por minuto têm forte relação com crises epilépticas.
Atividades ictais:
5. Crises Apnéicas Em freqüências rápidas ou lentas, chegam à teta e delta (mais
lentas que de crianças e adultos). Podem ter a morfologia da
6. Crises não relacionadas ou relacionadas de forma in- onda mantida durante toda a crise ou ter diminuição de sua fre-
consistente a descargas eletrográficas: qüência com aumento de amplitude.
• Automatismos motores
• Movimentos oro-buco-linguais Tenho como determinar a etiologia?
• Sinais oculares História clinica muito bem feita, historia gestacional, história de
• Movimentos progressivos – natatórios ou rotatórios parto, período expulsivo, historia familiar, consangüinidade, exame
• Movimentos propositados complexos físico com fácies, perímetro cefálico,avaliação da musculatura (tro-
fismo, tônus), dismorfias, disrrafias, pares cranianos, fundoscopia.
7. Crises tônicas generalizadas
• Alguns fatores etiológicos devem ser sempre lembrados
8. Crises mioclonicas durante a investigação, (busca ativa):
• Encefalopatia hipóxico–isquêmica;
9. Espasmos infantis • Hemorragia intracraniana (periventricular, intraventricu-
lar e parenquimatosa subaracnóidea, subdural);
10. Crises eletrográficas não acompanhadas de manifes- • Acidentes vasculares cerebrais (trombose arterial, embo-
tações clínicas. lia arterial, trombose venosa);
• Infecções (meningites, meningoencefalites, abscesso ce-
As dissociações eletroclínicas das crises neonatais, pelos vá- rebral);
rios fenômenos que podem representar (motores, autonômicos,

Paulo R. Margotto
Assistência ao Recém-Nascido de Risco

• Infecções congênitas (toxoplasmose, citomegalovirose, É ineficaz no RN que apresenta EEG com atividade de base
rubéola, sífilis, herpes); significativamente anormal.
• Encefalopatia hiperbilirrubinica; Eficiência isolada: 45%
• Erros inatos do metabolismo (aminoacidopatias, organo-
acidopatias, peroxissomopatias, mitocondriopatias); • 2ª droga: Difenilhidantoina – deve ser utilizada após 30
• Malformações do SNC (cromossomopatias, disgenesias do minutos da 1ª,caso a crise não tenha cessado. A dose de
SNC); ataque é de 20 mg/kg EV, em infusão lenta (até 1mgkg-
• Síndromes neurocutâneas (Esclerose tuberosa, Sturge-We- min), diluída em água destilada ou soro fisiológico, a
ber, etc.); dose de manutenção é de 3 a 7 mg/kg/dia.
• Piridoxina (dependência); Eficiência isolada=45%
• Abstinência de drogas; 1ª+2ª drogas associadas = 57% de eficiência.
• Anestésicos utilizados no parto;
• Distúrbios metabólicos (hipoglicemia, hipocalcemia, hi- • 3ª droga: Midazolam - em infusão contínua vem sendo
pomagnesemia, hiponatremia ou hipernatremia); utilizado como terceira droga, pois é rapidamente elimi-
• Síndromes epilépticas benignas (convulsões neonatais nada após sua suspensão (até 2horas). O midazolam é
benignas familiares, convulsões neonatais benignas); 1,5 a 2 vezes mais potente que o diazepam. Difere dos
• Encefalopatias epilépticas (Síndrome de Ohtahara, Ence- outros benzodiazepínicos pelo seu caráter básico, esta-
falopatia mioclônica precoce); bilidade em solução aquosa, solubilidade em lipídios em
um pH fisiológico, metabolismo muito rápido e menor
Como posso confirmar minha hipótese etiológica? vida-média de eliminação (6,5h). Devido as suas proprie-
Determinar a suspeita etiológica é fundamental, pois contri- dades químicas, tem boa absorção após a administração
bui na determinação do tratamento. Podem contribuir os exa- intramuscular e oral, rápido metabolismo hepático, início
mes complementares. rápido de ação (1,5 a 5 min) e de curta duração (1 a 5 h)
e tem escassos efeitos residuais. Usualmente a droga é
• Glicemia retirada em 3-4 dias.
• Eletrólitos O midazolam é essencialmente um agonista específico do ácido
• Hemograma completo com índice leucocitário gamaaminobutírico, o mesmo ocorrendo com os demais benzodia-
• Gasometria com anion gap zepínicos, havendo uma diferença que explica porque o midazolam
• Líquido cefaloraquidiano é efetivo quando agentes convencionais falharam: o midazolam
• Sorologias para infecções perinatais crônicas atinge os receptores (ácido gamaaminobutírico) mais rapidamente
• Ultrassonografia cerebral e estes receptores são críticos para cessar o estado epiléptico.
• Tomografia computadorizada Tem sido descrita hipotensão arterial com o uso de midazolam
326 • Ressonância magnética (após bolus) ou durante o co-tratamento com o fentanil. Assim,
• Doppler transcraniano recomenda-se muita cautela ao usar midazolam em pacientes
• Colher armazenar adequadamente o soro e a urina para hipovolêmicos ou hipotensos, devido ao seu efeito na diminuição
triagem de erros inatos do metabolismo da resistência vascular periférica.
Dose: ataque: 0.15 mg/Kg (diluir 2 ml de DormonidR em 18 ml
Qual é o prognóstico do quadro? de SG 5% e fazer 0.3 ml/Kg= 0.15mg/KG
Depende fundamentalmente da precocidade do diagnóstico, Manutenção: 1g/Kg/min, podendo ser aumentado 1g/Kg/min a
controle adequado da crise e da etiologia. cada 5 min, até no máximo 18g/kg/min. Não retirar abruptamente.
Exemplo: RN com quadro grave de convulsão, apesar do uso
Quais são as possibilidades terapêuticas? de fenobarbital+difenil-hidantoína.
Inicialmente é fundamental assegurar ventilação e perfusão Peso= 3Kg
adequadas; se glicemia pela fita reagente – baixa, “push” de gli- Dormonid® Ataque : diluir 2 ml em 18 ml de SG 5% e fazer :
cose de 200 mg/kg (2 ml de SG 10%); manutenção: TIG de 6-8 0.3X3 = 0.9 ml EV agora
mg/kg/min. Manter a glicemia em torno de 70 a 120 mg% Manutenção 3X1X1440/ 5000 = 0.86 ml na perfusão venosa (24h)
O tratamento da causa de base depende das possibilidades Nota: antagonista do Midazolam: Flumazenil (Lanexat®)- 1
diagnósticas etiológica: amp. = 5 mg em 5 ml. Dose: 0,01mg/Kg/dose, podendo ser re-
Se for possível tratar a causa base em algumas ocasiões é o petido a cada 2 min. Até 1 mg.
suficiente e não será necessária a utilização de drogas antiepilé- Administração nasal de 0,2 a 0,3mg/kg em cada narina na im-
tpticas (DAEs) ou então o período de uso é curto. possibilidade da via EV atingindo concentração sérica após1a 3 min.
Caso a etiologia não seja rapidamente descoberta deveremos
utilizar as DAEs • 4ª droga: Tionembutal - também deve ser lembrada, no
As drogas consagradas, bem estudadas e freqüentemente uti- status eplilepticus neonatal. A dose de ataque é de 1 a 5
lizadas que são: mg/kg EV, e manutenção de 0,5 a 5 mg/kg/hora, inician-
do com a menor dose e lentamente elevando conforme
• 1ª droga: Fenobarbital – ataque de 20 mg/kg EV, poden- resposta terapêutica. O paciente deve estar em unidade
do chegar à complementação até a dose de 40 mg/kg de terapia intensiva e com monetarização cardio-respira-
caso seja necessário. A manutenção pode ser iniciada de tória, em ventilação mecânica.
12 a 24 horas após com doses de 3 a 5 mg/kg/dia e Durante a administração das drogas acima a piridoxina deve
em casos excepcionais 7 mg/kg/dia, pois o metabolismo ser administrada na dose de 50 a 100mg EV, concomitantemen-
desta droga é errático. te com a monitorização do EEg; em RN dependentes observa-se
rápida normalização do EEG e controle de crise.
É interessante colher o controle do nível sérico devido a meta-
bolização errática desta droga. Os níveis de 15 a 40microgramas
são terapêuticos
Capitulo 10 Distúrbios Neurológicos

• Jardim LB, Ashlon - Prolla P. Erros Inatos do Metabolismo em crianças e recém-nascidos


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estamos limitados pelo reconhecimento do tipo de crise, peque-
na disponibilidade de monitorização adequada, do conhecimen-
to etiológico e sobretudo da limitada possibilidade terapêutica.
Devemos aumentar o período de observação de um RN e fazer
uma descrição minuciosa do quadro melhorando as chances de
um diagnóstico e tratamento precisos. Segundo Rennie e Boylan,
o único caminho a seguir, nessa área por tanto tempo negligen-
ciada, é a melhora ao acesso ao EEG e à monitorização, com
relatórios especializados de neurofisiologia de alta qualidade e
alterações rápidas de conduta. A falta de especialistas na inter-
pretação do EEG neonatal inibe o amplo uso desta técnica.

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Paulo R. Margotto
Assistência ao Recém-Nascido de Risco

10.2 HEMORRAGIA INTRAVENTRICULAR NO RECÉM-NASCIDO A TERMO

Paulo R. Margotto

A hemorragia intraventricular (HIV) é observada com muito síndrome hipóxico-isquêmica (7%). As complicações neonatais,
maior freqüência nos recém-nascidos (RN) pré-termos, originan- se superpondo às complicações perinatais, ocorreram em 48%
do o sangue da matriz germinativa subependimária. Já nos RN (ECMO: 48%; Doença Cardíaca Congênita: 17%; Coagulação Intra-
a termo, a HIV pode resulta do plexo coróide ou do tálamo. A vascular Disseminada: 7% e outras, como hemorragia pulmonar,
trombose dos seios venosos cerebrais desempenha importante insuficiência hepática fulminante, síndrome Vacterl e aspiração
papel. meconial em 14%). No entanto, nove recém nascidos (31%) não
Uma grande HIV no RN a termo parece ser um evento raro tinham nenhum evento desfavorável ao nascimento ou qualquer
associado com hipoxia e trauma. No entanto, uma considerável outra doença sistêmica que pudesse predispor a HIV. Estudos
proporção de casos de HIV no RN a termo fica sem fatores pato- trombofílicos ocorreram em três de quinze pacientes testados.
genéticos definidos. A origem mais comum do sangue intraventricular nestes 9 RN
com trombose venosa nos seios cerebrais foi a tálamo. Muitos
Incidência destes RN com esta trombose apresentaram coágulos no siste-
ma venoso profundo (veia de Galeno, seio reto ou sigmóide) e um
A estimativa da incidência da HIV do RN a termo é de 0,36/1000 recém nascido teve trombose em todos os seios, (seio transver-
nascidos vivos, segundo estudo de Jocelyn e cl (1992). Em uma so, seio sagital superior) e veia medular.
população de RN a termo saudáveis, Hayden e cl detectaram Bergman e cl citam que a trombose venosa profunda geral-
uma surpreendente incidência de 3,8% (19 de 500 recém nasci- mente causa infarto extensivo do centro semioval, tálamo e nú-
dos) de hemorragia na matriz subependimal. Heibel e cl detecta- cleo caudado e produz HIV pela oclusão de veias coroidais.
ram uma incidência de 3,5% de hemorragia intracraniana (35 de Assim, neste estudo de Wu e cl de HIV em recém-nascidos a
1000 RN a termo saudáveis, incluindo hemorragia periventricu- termo, a trombose nos seios venosos cerebrais foi a causa mais
lar, plexo coróide e intraventricular). Ambos os autores realizaram comum de HIV em recém-nascidos a termo e esta trombose é
a Ultrassonografia cerebral nas primeiras 72 horas de vida. Wu associada com presença de hemorragia talâmica.
e cl, em uma coorte de 2.397 recém nascidos com idade ges-
tacional média de 38,3 semanas e peso médio ao nascer de 3 Causas
Kg, determinaram a causa e a apresentação clínica da HIV. A HIV
ocorreu em vinte e nove recém nascidos (1,2%). Os estudos anteriores de HIV nos RN a termo são limitados
328 por falta de dados da moderna imagem, como ressonância mag-
Origem Do Sangramento nética, venografia por ressonância magnética e por tomografia
computadorizada e Ultrassonografia Doppler de alta resolução.
Na revisão de 19 recém-nascidos a termos com HIV feito por A causa subjacente da hemorragia nas estruturas profundas
Roland e cl, a hemorragia talâmica esteve presente em doze do cérebro permanece desconhecida. No estudo de Bergman e
recém nascidos (a HIV foi secundária, devido à proximidade de cl, 50% (09 de 18) dos RN a termo com hemorragia cerebral não
canais venosos com a parede ventricular). Três casos ocorreram apresentavam riscos médicos identificáveis. Dos seus 18 RN a
na matriz germinativa residual e quatro casos, possivelmente no termos com HIV, 12 apresentaram HIV primária (as causas foram
plexo coróide. Estudos de autópsia têm confirmado que o sangra- trombose venosa profunda em um recém-nascido, provável injú-
mento ocorrendo na persistente matriz germinativa na eminência ria hipóxico-isquêmica em três recém nascidos, possível trauma
ganglionar entre a cabeça do núcleo caudado e o tálamo anterior, de parto em 2 RN e em 6 RN não foram identificadas causas).
pode ocasionar hemorragia intraventricular no RN a temo. Nos estudos de Jocely e Casiro e de Mao e cl, a trombocitopenia
No estudo de Wu e cl, a origem do sangramento pareceu ori- aloimune foi a causa mais importante de severa HIV e de pior prog-
ginar-se do plexo coróide em 10 RN (34,5%), do tálamo 7 RN nóstico. A identificação e o tratamento destes RN devem ser ini-
(24,1%), do parênquima periventricular em 4 RN (13,8%), do ciados intrauterino para a prevenção da HIV e suas complicações.
núcleo caudado em 3 RN (10,3%) e da matriz germinativa su- O papel dos distúrbios protrombóticos na trombose dos seios
bependimária em 2 RN (6,9%). Em 3 RN (10,3%) não foi pos- venosos cerebrais tem recebido grande atenção (estes distúrbios
sível estabelecer a fonte do sangramento. A HIV foi leve em 16 ocorrem em 20% dos recém nascidos com trombose nos seios
recém-nascidos (55,2%), 5 RN (17,2%) tiveram grau moderado venosos cerebrais, segundo de Veber e cl, 2001, como será des-
e 8 RN (27,5%) tiveram grau severo de HIV. Os recém-nascidos crito mais adiante).
com hemorragia talâmica tiveram maior probabilidade de ter HIV Grow e cl descreveram 1 RN de 42 semanas de idade gesta-
moderada a severa do que os recém-nascidos que tiveram he- cional, 3700g de peso ao nascer, com convulsões tônico-clônicas
morragia plexo coróide (6/7 versos 3/10 –p <0,049). A hemorra- generalizadas na 6ª hora de vida, com trombose no seio venoso
gia intraparenquimatosa coexistente ocorreu em 11 RN (38%); 6 cerebral associado a homozigoto termolábil metilenotetrahidrofo-
RN (20,7%) exibiram hemorragia subcortical e em 4 RN (13,8%) lato redutase (termolábil MTHFR), tanto no recém-nascido como
ocorreu grande hemorragia lobar. A trombose no seio venoso na mãe. A literatura adulta cita que 12 a 21% da população geral é
cerebral foi diagnosticada em 9 de 29 RN com HIV, dando uma homozigoto para este defeito e 35% da população tem o genótipo
incidência de 31% (6 RN pela ressonância magnética e 3 RN pela heterozigoto. A termolátil MTHRF resulta em hiperhomocisteínemia
venografia, sendo 1 RN pela ressonância magnética e 2 RN pela que tem sido associada à trombose (níveis elevados de homocis-
tomografia computadorizada). teína intraútero podem levar a injúria oxidativa com conseqüentes
Dos vinte e nove recém-nascidos a termo com HIV descritos anormalidades no endotélio dos seios cerebrais). Os autores enfa-
por Wu e cl, em 48% foram identificadas complicações perinatais, tizam que atividade convulsiva inexplicada deve orientar para a in-
como sofrimento fetal (28%), cesariana (24%), Apgar < 7 no 5º mês vestigação de fatores de risco protrombóticos (considerar a análise
(28%), intubação ao nascer (34%), trauma ao nascimento (7%) e do DNA para mutação da MTHFR, tanto na mãe como no neonato).
Capitulo 10 Distúrbios Neurológicos

Heineking e cl relataram um caso de severa HIV ocorrendo em


1 RN de 6 dias de vida sem fatores clássicos predisponentes.
Posteriormente foi identificada trombose venosa no seio sagital
superior e uma predisposição protrombótica genética. O RN peso
ao nascer 3530g, 39semanas de idade gestacional, gravidez
sem complicações, sexo masculino, Apagar de 10 e 10 no pri-
meiro e quinto min. Com 6 dias de vida, o RN tornou-se irritado
com postura de opistótono e revirando os olhos. Rapidamente a
seguir, teve início convulsões tônico-clônicas generalizadas. Ao
exame, o RN apresentava fontanela anterior cheia, postura de
opistótono e desvio persistente dos olhos para baixo. Eletrólitos,
glicose, bilirrubina, creatinina, gasometria arterial mostraram-se
normais, assim como o hemograma e a osmolaridade sérica e
urinária. O ecocardiograma foi normal, assim como a Proteína C-
Reativa, tanto na admissão como 24 horas após. Um EEG mos-
trou descargas de espículas multifocais. Fig.3. Angiografia por ressonância magnética aos 25 dias de idade,
O ultrassom mostrou hemorragia subependimária bilateral demonstrando trombose também na parte posterior do seio sagital
extendendo-se para a cabeça do núcleo caudado no lado direito superior com recanalização parcial (Heineking)
e severo sangramento para ambos os ventrículos laterais (Fig 1).
Doppler de alta resolução não demonstrou fluxo na parte anterior A investigação laboratorial para distúrbios trombóticos revelou
do seio sagital superior (Fig 2). A ressonância magnética feita 19 resultados normais para o tempo de tromboplastina parcial, fibri-
dias após o evento revelou trombose da parte posterior o seio nogênio, antitrombina, atividade da proteína S, atividade da pro-
sagital superior com recanalização parcial (Fig 3) teína C. A homocisteína foi normal e foram excluídos anticorpos
maternos anti-fosfolipídicos.
A história familiar revelou heterozigosidade para a mutação do
fator V e para a mutação da protrombina. O RN em questão foi
heterozigoto para a mutação C677T do gene metilenotetrahidro-
folato redutase (MTHFR)-veja a seguir- e homozigoto para o gene
4G/4G (promotor de polimorfismo do gene inibidor-ativador-1 do
plasminogem (gene PAI-I).
As convulsões foram controladas com anticonvulsivantes habitu-
ais. Dilatação progressiva pós-hemorrágica e aumento despropor-
cional do perímetro cefálico fizeram com que fosse colocado shunt 329
ventriculoperitoneal no dia 30 após a admissão. Quatro semanas
após o evento agudo, foi iniciado heparina de baixo peso molecu-
lar (ClexaneR-1mg/Kg-Laboratório Aventis) via subcutânea 1 vez ao
Fig.1. US no plano coronal aos 22 dias de idade, evidenciando hemorra- dia por 6 meses. A criança recebeu alta 1 semana após a coloca-
gia subependimária bilateral e à direita, estendendo-se para o forame de ção do shunt com deficiências neurológicas aparentes.
Monro direita e coágulos já em coalescência em ambos os ventrículos Os autores explicam a associação do ocorrido com este RN e
cerebrais (setas) (Heineking) a predisposição protrombótica genética: o potencial fibrinolítico
das vasculatura é modulada primariamente pela disponibilidade
e atividade dos ativadores do plasminogem, que converte este
em plasmina ativa que degrada a fibrina; as atividades destas
duas enzimas chaves reguladoras são diretamente neutralizadas
pelo inibidor endógeno primário, o ativador inibidor do plasmino-
gem-1 (PAI-I). Embora a concentração do PAI-I está sob controle
genético, a expressão do PAI-I pode aumentar dramaticamente
após o estresse e leve hipóxia. Mesmo um parto vaginal sem
complicações, leve hipóxia pode ocasionar aumento na concen-
tração do PAI-I em RN com predisposição genética.
Os autores enfatizam a importância do Doppler de alta resolu-
ção na identificação de trombose dos seios venosos cerebrais na-
queles RN a termo com HIV sem fatores clássicos. O presente rela-
to enfatiza a importância do aumento da coagulabilidade, mais do
que a deficiência dos fatores da coagulação no desencadeamento
da HIV nos RN a termo e inclusive esta observação pode ser ex-
tendida também aos RN pré-termos. A investigação sistemática de
Fig.2. Ultrassom Doppler (reproduzido em preto e branco) com fatores de riscos genéticos associados a eventos trombóticos, jun-
Transdutor linear de 7,5MHz do paciente em discussão (A) e de um RN a tamente com a Ultrassonografia de alta resolução, angiografia por
termo saudável controle para comparação (B). Observe em (A) a falta do ressonância magnética devem fazer parte do arsenal propedêutico
fluxo venoso na parte anterior do seio sagital superior (seta) e em (B), o dos RN a termo saudáveis com hemorragia intraventricular.
RN a termo saudável (seta) (Heineking) Baud e cl relataram um caso de um RN do sexo masculino a
termo com hemorragia cerebral fatal envolvendo o tálamo es-
querdo e os ventrículos e com trombose venosa. O RN nasceu
com 2840g, Apgar de 10 no primeiro e quinto min. de vida; no
sétimo dia de vida, apresentou piora clínica súbita, com irritabili-

Paulo R. Margotto
Assistência ao Recém-Nascido de Risco

dade, choro agudo, tônus periférico anormal e convulsão. O LCR


foi normal. Não houve evidência de infecção materna ou fetal.
A tomografia computadorizada (TC) revelou maciço sangramento
nos ventrículos e tálamo esquerdo, consistente com trombose ve-
nosa, que foi visualizado pela ressonância magnética (figura 4).
O recém nascido faleceu com 24 horas de vida. Os seguintes
exames feitos no 10º dia foram normais: tromboplastina parcial,
fatores V, VII,VIII, X fator van Willebrand e fibrinogênio No 16º dia
a atividade plasminogênica, o antígeno livre da proteína S e o
co-fator heparina antitrombina foram normais. No dia 24, hou-
ve um grande aumento nos níveis de plasminogênio e proteína
S, enquanto os níveis de antitrombina e atividade da proteína C Fig 5. Em (A)Tomocrafia computadorizada de crânio mostrando a he-
permaneciam no nível inferior do normal. A deficiência assinto- morragia intraventricular e talâmica esquerda com leve hidrocéfalo e a
mática de antitrombina foi detectada na mãe, irmã e avo mater- trombose no seio venoso cerebral (seta). Em (B), Ressonância magnética
no. A determinação da seqüência completa de nucleotideos na cerebral mostrando trombose do seio sagital superior e seio reto (seta).
seqüência de códigos antitrombina, tanto no recém nascido que Também mostra a hemorragia talâmica esquerda e a hemorragia intra-
faleceu como na sua família, evidenciou uma mutação pontual ventricular (cabeça de seta) (Klein)
no exon 3b responsável por uma simples substituição de serina
por prolina na posição 191 na hélice F. A serina está envolvida A causa subjacente da HIV nos RN a termo é pouco compre-
na estabilidade da antitrombina e a sua substituição pode afetar endida, embora a trombose nos seios venosos cerebrais parece
a estrutura da hélice, a conformação geral da antitrombina e a exercer papel na patogenia. A formação de coágulo nas estrutu-
secreção da antitrombina. ras venosas profundas pode ser acompanhada de hemorragia
nos ventrículos devido ao sistema venoso profundo drenar as
veias coroidal, atrial e tálamo-estriata.
Quanto à trombose dos seios venosos cerebrais: de Veber e cl,
estimaram a incidência de trombose nos seios venosos cerebrais
em pacientes pediátricos de 0,67/100000 crianças, sendo que
43% dos casos pediátricos ocorrem no período neonatal.
Baud e cl relatam que a trombose no sistema nervoso central
constitui 27% dos casos de trombose neonatal.
Nos recém nascidos, 84% apresentam doença sistêmica aguda
e 51% tem relato de complicação perinatais, como hipóxia, rotura
330 prematura de membranas, sepses, infecção materna, policitemia,
Fig.4. Ressonância magnética parassagital (A) e transversal (B) eviden- descolamento prematuro de placenta, doença cardíaca, cateter
ciando hemorragia no tálamo esquerdo (*) e trombose no seio sagital venoso central e diabetes materna e 30% tem desidratação. A
(seta) (Baud) presença de convulsões ou infartos venosos ditam o prognóstico.
A distorção mecânica dos seios cerebrais durante o processo
O nível médio de antitrombina no RN a termo é 0,63 IU/ml de nascimento pode contribuir para a trombose nos seios veno-
(0,39 – 0,87 IU/ml ao nascimento), aumentando gradualmente sos cerebrais nos recém nascidos, segundo Grow e cl.
para 0,78 IU/ml (0,48 – 1,08 IU/ml) pelo 30º dia de vida. Das 31crianças com trombose venosa cerebral, 19 (61%) eram
A deficiência da antitrombina é uma das causas hereditárias de RN, no estudo de Carvalho e cl. Entre as causas, são citadas: mastoi-
hipercoagulação. A prevalência relatada varia de 0,2 a 7/1000 na dite, hipertensão pulmonar persistente, malformação cardíaca e de-
população geral e 01 em 20 pacientes com tromboembolismo ve- sidratação. A característica clínica mais importante foi a convulsão.
noso. Frente a um recém nascido com uma inexplicável trombose, Wu e cl citam a oxigenação por membrana extracorpórea
deve ser pensado em anormalidade do gene da antitrombina. (ECMO) como um fator de risco muito importante de trombose
Screening para a deficiência e outras anormalidades asso- nos seios venosos cerebrais (a explicação mais provável é a trom-
ciadas à trombose deveriam ser feitas nos casos de trombose. bose retrógrada do sistema venoso seguido à oclusão iatrogênica
Quando os resultados forem inconclusivos, deve ser feito estudo da veia jugular interna direita, uma vez que a maioria destes re-
familiar incluindo análise genética. cém nascidos demonstrou trombose jugular direita ou trombose
Klein e cl descreveram recentemente um RN com 7 dias de no seio sigmóide). Todo RN submetido à ECMO deve ser realizado
vida que apresentou uma extensa trombose venosa cerebral ressonância magnética cerebral após o procedimento para a bus-
(seio transverso direito e seio sigmóide) com hemorragia intra- ca de trombose em seios venosos cerebrais.
ventricular e talâmica esquerda com leve hidrocefalia (figura 5). Quanto ao papel da Vitamina K na hemorragia intraventricular
A avaliação da trombofilia revelou que o RN era homozigoto para tardia do RN a termo:
a mutação do gene G20210A da protrombina e mutação hetero- Pooni e cl têm descrito a ocorrência de HIV em recém nascido
zigota C677T para o gene MTHFR (metilenotetrahidrofolatoredu- com doença hemorrágica tardia (DHT) conseqüente ao não uso
tase). A mutação G20210A da protrombina é uma substituição da de Vit K1 IM ao nascimento e aleitamento materno exclusivo. A
GUANINA (G) pela ADENINA (A) na posição do nucleotídeo 20210A HIV ocorreu em 7 de 30 crianças com doença hemorrágica tardia.
do gene da protrombina do cromossomo 11. A DHT pode ocorrer em crianças que receberam Vit K1 ao nascer.
Estudo epidemiológico realizado na Alemanha mostrou uma taxa de
falha, isto é, ocorrência da DHT no RN, de 0,25/100.000 crianças
que recebem Vit K1 ao nascer, em comparação com 6,4/10.000
nos casos em que se usa a Vit K1 oral. Há relatos de ocorrência de
DHT em recém nascidos com o uso de EV de Vit K1 ao nascer (a via
IM confere maior duração do efeito do que a via endovenosa).
Capitulo 10 Distúrbios Neurológicos

Diagnóstico Diferencial Com Malformação Schum e cl e Heafner e cl descreveram malformação arteriove-


Arteriovenosa No Plexo Coróide nosa comprovada com angiografia no plexo coróide que se apre-
sentaram com HIV em RN termo saudáveis. Ambas as malfor-
Interessante é a descrição de Heck e cl de malformação arte- mações ocorreram no teto do terceiro ventrículo com suprimento
riovenosa no plexo coróide que se apresentou com HIV em um arterial coroidal posterior (em um RN, se apresentou aos quatro
recém nascido a termo saudável. O recém nascido pesou ao dias e em outro com duas semanas).
nascer 2450g, teve Apgar de 8 e 9 no 1º e 5º minuto de vida, O tratamento ideal da malformação arteriovenosa cerebral é a
apresentou apnéia com queda de saturação e postura de desce- ressecção cirúrgica total.
rebração. O EEG demonstrou um padrão de surto de supressão A malformação arteriovenosa cerebral no plexo coróide é uma
com ondas polisharp muito proeminentes no hemisfério direito. causa rara de HIV. No recém nascido a termo com HIV sem causa
As convulsões resolveram-se com o uso de fenobarbital. A Ultras- estabelecida, as malformações arteriovenosas devem ser conside-
sonografia e a tomografia computadorizada de crânio cerebrais radas, estando indicada, segundo Heck e cl a angiografia cerebral.
demonstraram HIV (maior no ventrículo lateral direito) e hidrocé- A angiografia não é desprovida de risco, devendo ser feita em
falo. Observem a centros com experiência em angiografia pediátrica.

Clínica

No quadro clínico, Roland e cl relataram início súbito de altera-


ções neurológicas (convulsão, baixo nível de consciência e desvio
dos olhos para baixo). A convulsões tônico-clônicas generaliza-
das, irritabilidade, postura em opistótono tem ocorrido entre a 6ª
hora de vida até 7 dias de vida. No estudo de Wu e cl, compreen-
dendo 29 RN a termo, a média de idade na apresentação da HIV
foi de 36 horas (máximo 13 dias). Entre os sinais clínicos, as con-
vulsões ocorreram em 13 RN (44,8%), instabilidade da tempera-
tura levando à punção lombar com LCR hemorrágico em 3 RN e
apnéia em 2 RN. Onze recém nascidos (37,9%) não tinham sinais
específicos, sendo o diagnóstico feito pelo ultrassom (US) de ro-
Fig. 6. US no plano coronal evidenciando hemorragia intraventricular e tina na vigência de doença sistêmica, incluindo 6 RN que foram
um hematoma centrado no foramen de Monro à direita (seta) (Heck) submetidos a ECMO (oxigenação por membrana extracorpórea).
Nos 9 RN a termo de Wu e cl com HIV e que apresentavam
trombose no seio venoso, 7 (77,8%) apresentaram convulsões.
Estudos da coagulação foram normais. A ressonância magné- 331
tica cerebral confirmou o achado de HIV. Um angiograma feito no Classificação Da Hemorragia Intraventricular
terceiro dia de vida evidenciou pequena malformação arteriove-
nosa no plexo coróide lateral do ventrículo lateral (observe a Fig Com a utilização da ressonância magnética, tomografia de crâ-
9). O Doppler não identificou a lesão. nio e Ultrassonografia Doppler de 8,8 MHz, Wu e cl determinaram
a severidade da HIV nos RN a termo da seguinte forma:

•Leve: sangue limitado ao corno oPICCital;


•Moderada: sangue estendendo-se ao longo dos ventrí-
culos laterais;
•Severo: sangue estendendo-se ao 3º ou 4º ventrículos.

Se a hemorragia estivesse presente no parênquima adjacente


ao ventrículo (tálamo, lobo temporal), Wu e cl aceitaram que a
hemorragia estendeu-se do parênquima ao ventrículo e não vice-
versa. Se não foi evidenciado sangue no parênquima e foi identi-
ficado sangue no plexo coróide, foi aceito que o plexo coróide foi
a fonte do sangramento.
O estudo de Wu e cl confirma a necessidade de separar a HIV do
recém-nascido a termo da tradicional HIV do recém-nascido pré-
termo, dado as diferenças nos mecanismos patogênicos. Segundo
Scher e cl, o sistema de graduação da HIV desenvolvida para o
recém nascido pré-termo, como indicador da severidade da hemor-
Fig 7. Angiograma cerebral demonstrando malformação arteriovenosa ragia, não prediz o prognóstico clínico nos recém nascidos a termo.
no plexo coróide com aumento da largura da artéria coroidal posterior Os autores recomendam a ressonância magnética e venogra-
lateral (1) e a drenagem precoce para a veia cerebral interna (2) (Heck) fia por ressonância magnética nos recém nascidos a termo com
inexplicada HIV ou hemorragia no núcleo cinzento profundo para
O angiograma foi feito pela necessidade de excluir rotura de excluir trombose nos seis venosos cerebrais. No estudo de Wu e
aneurisma que requer tratamento imediato. A instrumentação cl, a RM foi realizada em 22 RN (76%), sendo a Ultrassonografia
do cérebro para a drenagem ventricular e possível colocação de feita em 3RN e a tomografia computadorizada de crânio em 4 RN.
shunt, requer a exclusão de malformação arteriovenosa. Interessante que a ressonância magnética tem que ser re-
Após drenagem ventricular inicial, foi colocado shunt ventrícu- alizada no início para detectar os coágulos nos seios venosos
lo-peritoneal. Um novo angiograma será feito dentro de um ano cerebrais, uma vez que os mesmos se dissolvem rapidamente,
antes da terapia definitiva. escapando da detecção.

Paulo R. Margotto
Assistência ao Recém-Nascido de Risco

Propedêutica VE=7mm) com presença de coágulos à esquerda (figura 8.B. O


RN teve alta hospitalar com 13 dias de vida sem a anomalidades
Os exames a serem solicitados para o possível esclarecimento ao exame. A terceira ultrassonografia realizada 20dias após, com
da causa da HIV diagnosticada pela Ultrassonografia cerebral (é 1 mês e 4 dias de vida evidenciou dilatação biventricular (corte
o primeiro exame mais exeqüível que dispomos inicialmente) nos sagital: VD: 11 mm e VE: 6 mm)(figura 8.C). Com 5 meses e meio
RN a termo incluem, de forma sucinta: de vida, a criança retornou sem apresentar déficits neurológicos,
e a 4ª ultrassonografia evidenciou a manutenção da dilatação
•Ressonância magnética biventricular (corte sagital: VD:10 mm e VE: 10 mm) (figura. 8.D)
•Doppler cerebral de alta resolução
•Venografia cerebral por ressonância magnética
•Angiografia cerebral
•Investigação laboratorial para distúrbios trombóticos:
tempo de tromboplastina parcial, tempo de atividade de
protrombina, fibrinogênio, antitrombina, atividade da pro-
teína S, atividade da proteína C, fatores V, VII, VIII, X e
fator Von Willebrand
•Níveis de plasminogênio
•Homocisteína
•Anticorpos maternos anti-fosfolipídicos
•Análise genética para as deficiências associadas à trom-
bose, incluindo a análise do DNA para a mutação da ter-
molábil metilenotetrahidrofolato redutase

Prognóstico

O prognóstico a longo prazo dos RN a termo com HIV não está Fig. 8 (vide texto) (Margotto/Castro)
bem definido. Na ausência de fatores predisponentes, os estu-
dos iniciais relatam substâncial percentagem de RN com evolu- •Caso 2 :UNIMED-Brasília
ção normal. No entanto, o período do follow-up destes estudos foi Recém nascido de cesariana, no dia 09/10/03, 38 semanas
raramente maior do que um ano. 5 dias de idade gestacional, peso ao nascer 3.150g, compri-
A presença de hemorragia talâmica foi associada com prognós- mento de 51cm, perímetro encefálico de 36cm, Apgar de 9 no
tico ruim, segundo estudo de Roland e cl:10 recém nascidos de 1º e 5º minuto. Alta com a mãe com 4 semanas de vida. Com
332 18 (55,5%) tiveram paralisia cerebral aos dezoito meses. 18 dias de vida, o RN foi trazido à Emergência de Pediatria com
Monteiro e cl descreveram ondas espiculadas contínuas du- histórico de vômitos e fraqueza, não sugando o seio. O recém
rante o sono em paciente de dezessete anos que teve hemor- nascido deu entrada na Emergência com quadro de hipertonia,
ragia talâmica no período neonatal (distúrbio das interações opistótono, estrabismo divergente e pele marmórea. A fontanela
tálamo-cortical poderia desempenhar papel). estava abaulada. O RN estava desidratado. Feito anticonvulsivan-
A presença, o tamanho e a localização do infarto venoso de- te (fenobarbilal). A punção lombar revelou LCR hemorrágico. O
vem ser importantes para o prognóstico. A severidade da injúria hematócrito foi de 34% (série branca normal). Feito vitamina K1
no parênquima cerebral, mas do que a HIV, deve ser importante IM. Com 5 horas de internação, o RN apresentou hipertonia ge-
determinante do follow-up. neralizada, sendo introduzido midazolam. Nova punção lombar
revelou LCR hemorrágica. O hematócrito caiu para 30,6%. Dois
Relato De 4 Casos dias após, no dia 29/10/03, foi realizada tomografia de crânio
que revelou maciça hemorragia intraventricular (figura 9-A-B).
Passamos agora ao relato de três casos de hemorragia intraven- O RN teve alta no dia 31/10/03 com boas condições clínicas.
tricular em recém nascidos a termo, 2 ocorridos na Unidade de Ne- No dia 4/11/2003, 8 dias após o evento, a ultrassonografia ce-
onatologia do Hospital Regional da Asa Sul (HRAS-SES/DF) e outro rebral realizada por nós revelou HIV grau III com maior evidência
ocorrido na Unidade de Neonatologia do Hospital Unimed-Brasília. no ventrículo esquerdo (figura 8-C-D). A ultrassonografia cerebral,
feita 14 dias após, revelou hidrocefalia pós-hemorrágica, sen-
•Caso 1: Hospital Regional da Asa Sul do indicado derivação ventrículoperitoneal (figura 8-E-F), o que
Recém-nascido a termo (40 semanas), parto normal, período foi realizado 2 dias após. A tomografia computadorizada do dia
expulsivo prolongado (½ hora), Apgar de 6 e 8. Com uma hora 20/11/03 revelou moderada hidrocefalia não comunicante, com
de vida, eupneico, hemodinamicamente estável, foi encaminha- evidência de cateter de derivação ventricular e hemorragia em VE
do para o Alojamento Conjunto. Com vinte horas de vida, apre- com melhora em relação ao exame do dia 29/10/03 (figura 9)
sentou episódio de cianose, palidez e tremores. Raios-X de tórax
foi normal, glicemia de 63mg%, gasometria arterial com alcalose
respiratória, hemograma normal, cálcio pouco baixo. Com 38 ho-
ras de vida apresentou convulsões com hipertonia de membros;
nova crise convulsiva de caráter focal (membro inferior direito)
ocorreu três horas após. Iniciado anticonvulsivante. Punção lom-
bar evidenciou LCR hemorrágico. Fontanela anterior abaulada.
A ultrassonografia cerebral realizada por nós, no 6o de vida re-
velou hemorragia intraventricular, grau III (figura 8.A). No 50 dia
de vida, exame neurológico não evidenciou sinais neurológicos.
Nova ultrassonografia cerebral realizada com intervalo de 7 dias
evidenciou dilatação biventricular (no corte sagital: VD=10mm e
Capitulo 10 Distúrbios Neurológicos

Fig.11. Drenagem ventricular externa (Margotto)

•Caso 4: Unidade de Neonatologia do Hospital Regional


da Asa Sul/Hospital das Forças Armadas de Brasília
RN de ECB, registro.180704, de parto cirúrgico por parada de
progressão, Apgar de 9/10, 40semanas3dias de idade gestacional,
peso ao nascer de 3640g, 7 consultas pré-natais, sem intecorrên-
Fig. 8. Em (A) e (B), tomografia computadorizada de crânio demonstrando cias na gravidez. No 4º dia de vida apresentou convulsão tônica,
maciça hemorragia intraventricular. Em (C) e (D), 1ª ultrassonografia cerebral seguida de irritabilidade. Na internação, a punção lombar revelou
realizada 8 dias após o evento evidenciando hemorragia intraventricular líquido céfalo-raquidiano hemorrágico. Usou ampicilina e gentamici-
Grau III. Em (E) e (F), ultrassonografia realizada 2 semanas após a 1ª na por 4 dias, sendo suspenso quando se afastou infecção. Usado
demonstrando hidrocéfalo hemorrágico (interessante que a dilatação do VD fenobarbital endovenoso para o controle das crises convulsivas.
foi maior que a do VE, onde a hemorragia foi mais intensa e podemos ver o A primeira ecografia cerebral Doppler com transdutor de 5Mhz
coágulo em coalescência assumindo a forma do ventrículo)(Margotto) foi realizada no 8º dia de vida revelou hemorragia intraventricular
grau III bilateral, além de hemorragia talâmica á esquerda(figura
12-A-B). A 2ª ecografia cerebral Doppler com transdutor de 5MHz,
foi realizada 7 dias após (com 15 dias de vida) revelou coágulos 333
em ambos os ventrículos e cisto porencefálico no tálamo esquerdo
(figura C-D). A ressonância magnética, realizada no dia13/8/04,
22 dias após a ocorrência da hemorragia intraventricular, revelou:
lesão hemorrágica de 2,5 x 2cm no tálamo esquerdo de compor-
tamento hipertenso em todas as seqüências obtidas, traduzindo,
portanto, fase subaguda (acima de duas semanas). Observa-se ex-
Fig.9. Tomografia de crânio realizada 2 dias após a derivação ventrículope- tensão da hemorragia para a região da matriz germinativa, situada
ritoneal demonstrando, moderada hidrocefalia não comunicante, com evi- na região caudo-talâmica esquerda. Grande dilatação simétrica
dência do cateter de derivação ventricular e hemorragia em VE (Margotto) dos ventrículos laterais, terceiro e quarto ventrículos. Conclusão:
hemorragia da matriz germinativa, ocupando o tálamo esquerdo
•Caso 3. e região caudo-talâmica ipsilateral; moderada hidrocefalia comu-
RN de CMV, 37 semanas, 2600g ao nascer, cesariana (cesaria- nicante provavelmente por obstrução da drenagem liquórica nas
na anterior), Apgar de 9/10, AIG, pré-natal sem intercorrências. granulações aracnóides (figura 13).
Com 12h de vida, no Alojamento Conjunto, desenvolveu palidez
perioral. Com 15 horas de vida, apresentou convulsão tônica. To-
mografia computadorizada de crânio revelou maciça hemorragia
intraventricular (Fig. 10). Com 53 horas de vida, foi transferida ao
Hospital de Base de Brasília, onde foi submetida a uma deriva-
ção ventricular externa de urgência (figura 11), retornando a UTI
Neonatal do HRAS para posterior derivação ventrículo-peritoneal.

Fig 12.. Em (A) e (B) primeiro US nos planos sagital e coronal realizado no 8o
dia de vida, evidenciando hemorragia intraventricular grau III bilateral (1) e
Figura 10. Tomografia computadorizada de crânio evidenciando maciça hemorragia talâmica à esquerda (2). Em (B) e (C) 2º US 7 dias após: planos
hemorragia intraventricular (Margotto) coronal e sagital evidenciando coágulos em coalescência (4) em ambos os
ventrículos e cisto porencefálico talâmico esquerdo (3) (Margotto)

Paulo R. Margotto
Assistência ao Recém-Nascido de Risco

dade plasminogênica, antígeno livre da proteína S, atividade da


proteína C e antitrombina, além da não realização de estudo ge-
nético do gene da antitrombina e análise do DNA para a mutação
da MTHFR, tanto no RN como na mãe.
No caso 4, a hemorragia intraventricular também ocorreu em
um RN sem fatores perinatais clássicos. A realização dos exa-
mes evidenciou anticoagulante lúpico positivo e elevado nível de
anticorpos anticardiolipina, fatores estes possivelmente relacio-
nados com o evento hemorrágico. Anticorpos antifosfolipídicos
consistem de ambos, anticorpos anticoagulante lúpico e anticar-
diolipina e são um grupo heterogêneo de anticorpos que reagem
com proteínas ligadas aos fosfolipídios e interfere com os testes
de coagulação. Como esta alteração foi observada em pacientes
com lúpus eritematoso sistêmico, recebeu a denominação ina-
propriada, porém consagrada, de anticoagulante lúpico. Na ver-
dade ele não atua como anticoagulante e está associado a fenô-
menos trombóticos, sendo uma causa importante de trombofilia
Fig. 13. Ressonância magnética realizada 22 dias após a ocorrência da adquirida. O mecanismo pelo qual o anticorpo antifosfolipidico
hemorragia intraventricular do caso descrito na figura 2.28, evidencian- causa trombose não está totalmente estabelecido (a interação
do em (A) lesão hemorrágica 2,5 x 2 cm no tálamo esquerdo (1) de com- dos anticorpos anticardiolipina com a beta2-glicoproteína I, le-
portamento hipertenso (fase subaguda, acima de 2 semanas). Em (B) vando a inibição da proteína C, proteína S, plaquetas e outros
hemorragia da matriz germinativa, ocupando o tálamo esquerdo e região fatores da coagulação e a interação dos anticorpos lúpicos com
caudotalâmica do mesmo lado (2). Em C, grande dilatação simétrica dos lipídeos ligados a protrombina, levando a inibição da proteína C,
ventrículos laterais (4), 3º (5) e 4º ventrículos (6). cria um estado hipercoagulante). Os dados laboratoriais para o
diagnóstico incluem a presença de anticardiolipina do tipo IgG
A investigação laboratorial incluiu: plasminogênio, Fator VIII, Fa- em título maior que 10 Unidades GPL ou presença de anticoa-
tor IX, Fator VII, Tempo de tromboplastina parcial, Tempo de Ativi- gulante lúpico ou ainda a presença de anticardiolipina IgM asso-
dade de Protrombina, contagem de plaquetas (valores normais), ciada ao anticoagulante lúpico. Em adultos, a presença destes
Fator V Leiden (negativo), Anticoagulante Lúpico Positivo, Antitrom- anticorpos antifosfolipídicos representa o estado protrombótico
bina III (68%-normal de 80 a 120%), Proteína S (normal), Homocis- adquirido mais comum na trombose tanto cerebral como não ce-
teína (normal, Anti-cardiolipina IgG (normal), Auto-anticorpos anti- rebral. Os anticorpos anticardiolipina podem ser detectados em
cardiolipina IgM (elevado) e Teste do pezinho Plus normal (17-OH adultos com acidente vascular cerebral sem doença autoimune.
334 progesterona, TSH neonatal, Toxoplasmose IgM, ácido fenilpirúvico Estes anticorpos aumentam o risco de trombose venosa e arte-
ou fenilalanina, T4 neonatal, galactose, biotinidasee, galactose e rial (50% no sistema nervoso central e o risco é 5 vezes maior
cromatografia de aminoácidos). Foram realizadas pesquisas da em relação aos anticorpos lúpicos).No estudo de deVeber e cl,
mutação do gene da protrombina, do gene da antitrombina III e do envolvendo 92 crianças (RN a 18 anos de idade) com trombo-
gene da tetrahidrofolatoredutase, tanto no RN como na mãe, sen- embolismo cerebral, o anticorpo anticardiolipina esteve presente
do negativas. Os anticorpos antifosfolípides (anticardiolipina IgG e em 33% dos casos (23 pacientes), constituindo a mais freqüente
anticardiolipina IgM) na mãe estavam elevados. anormalidade protrombótica. Assim, o aumento da prevalência
dos anticorpos antifosfolipídicos nesta coorte confirma a asso-
Conclusão ciação entre estes anticorpos e a doença cerebrovascular na
criança. Neste estudo de deVerber e cl, os anticorpos antifosfoli-
Nos quatro casos que relatamos, a hemorragia intraventricular pídicos foram encontrados em crianças de todas as idades que
ocorreu em RN a termo, sem fatores perinatais clássicos de risco. não tiveram o diagnóstico de lúpus eritematoso sistêmico como
No primeiro caso, o único fator perinatal que poderia estar diagnóstico primário.
relacionado seria o período expulsivo prolongado. No entanto, o O papel dos anticorpos antifosfolipídicos adquiridos por passa-
Apgar no 5º minuto foi de 8. Poderia a hipóxia ocorrida no período gem transplacentária no desencadeamento de trombose, segun-
intraparto ter ocasionado perda da Autorregulação que ocasiona- do Ravelli e Martini, não está ainda totalmente esclarecido. Há
ria grande aumento do fluxo sanguíneo aos vasos imaturos da necessidade de estudos multicêntricos para a sua melhor defi-
persistente matriz germinativa a nível da eminência ganglionar nição do papel destes anticorpos. Excetuando a trombose renal,
entre a cabeça do núcleo caudado e tálamo anterior e produzido a trombose de forma geral é rara nestes pacientes com estes
a hemorragia intraventricular? anticorpos adquiridos via transplacentária. Na maioria das vezes
No segundo caso, também não se registram fatores de risco está associada a cateteres (fator trombofílico).
perinatais clássicos. No dia da apresentação clínica do evento, A trombose dos seios venosos cerebrais parece exercer papel
há relato de vômitos e parada de sucção. O recém nascido che- na patogênese da HIV dos RN a termo saudáveis, não diagnos-
gou ao hospital com o quadro neurológico descrito e estava de- ticada outrora devido a não disponibilidade de dados da moder-
sidratado (conseqüência da HIV que levou ao vômito e parada na imagem. O fato do sistema venoso profundo drenar as veias
de sucção ao seio ou a desidratação seria a causa de possível coroidal, atrial e tálamo-estriata, o coágulo ali, primariamente
trombose de seios venosos levando a HIV?). formado, pode levar a hipertensão venosa e hemorragia acima
No terceiro caso, também não se registraram fatores de risco do coágulo. No estudo de Wu, em 31% dos recém nascidos a
perinatais clássicos e a hemorragia intraventricular maciça ocor- termo com HIV, tinham trombose dos seios venosos cerebrais,
reu com 12 h de vida, estando o bebê no Alojamento Conjunto. diagnosticado pela ressonância magnética e pela venografia
A não detecção de outras possíveis causas nestes 3 primeiros cerebral. Neste estudo, a origem mais comum do sangramento
casos, principalmente as de origem protrombótica, se deveu a intraventricular foi o tálamo. Nos nossos quatro bebês evidencia-
não realização dos exames mais sofisticados, tais como a dosa- mos hemorragia talâmica em um. A ressonância magnética reali-
gem de fatores de coagulação, dosagem da homocisteína ativi- zada no quarto caso, após 22 dias da ocorrência da hemorragia
Capitulo 10 Distúrbios Neurológicos

intraventricular, não evidenciou trombose nos seios venosos ce-


rebrais. Segundo Wu e cl, coágulos nos seios venosos cerebrais
podem se dissolver muito rapidamente, escapando a detecção
se a ressonância não é feita inicialmente Em nenhum dos nossos
recém- nascidos foi venografia cerebral.
A deficiência tardia da Vit K1 parece-nos improvável, uma vez
que os recém nascidos receberam Vit K1 IM ao nascer.
Portanto, a propedêutica do RN a termo com hemorragia intra-
ventricular sem fatores de risco clássicos, como asfixia perinatal
grave, deve incluir, sempre que possível, a ressonância magné-
tica e o Doppler de alta resolução no diagnóstico de trombose
de seios venosos cerebrais, além de angiografia cerebral para
excluir malformação arteriovenosa. Também deve ser feita uma
investigação laboratorial para distúrbios protrombóticos, incluin-
do estudos genéticos.

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Paulo R. Margotto
Assistência ao Recém-Nascido de Risco

10.3 LESÃO NEUROLÓGICA ISQUÊMICA E HEMORRÁGICA DO PREMATURO:


PATOGENIA, FATORES DE RISCO, DIAGNÓSTICO E TRATAMENTO

Paulo R. Margotto

Devido ao aumento da sobrevivência nos recém-nascidos (RN) escrever e na matemática (sem problemas na leitura). Os autores
de peso ao nascer abaixo de 1.500g (taxa de sobrevivência de 73% atribuem estes problemas às disfunções de integração e mielini-
na América Latina), particularmente os RN < 1.000g, a compreen- zação das conexões, características de lesão cortical.
são da lesão cerebral nestes RN, principalmente a sua prevenção, A mielinização expressa a maturidade funcional do cérebro.
é de alta relevância no moderno cuidado intensivo neonatal. Há uma grande interdependência entre neurônio e mielina: um
No Hospital Regional da Asa Sul (SES/DF), as taxas de sobrevi- distúrbio afetando um, inevitavelmente afetará o outro. Os RN
vência, no ano 2000, d e RN abaixo de 1.000g com idade gesta- pré-termo com severa lesão cerebral hipóxico-isquêmica apre-
cional de 26 semanas, 27 semanas, 28 semanas, 29 semanas sentam severo atraso e menor progressão da mielinização, se-
foram, respectivamente, 50%, 77,77%, 66,66% e 100%. Anali- gundo os estudos com ressonância magnética, com conseqüen-
sando por faixa ponderal, as taxas de sobrevivência foram de te maior déficit neurológico.
60% e 83,87% para os RN de 800g – 899g e 900g-999g. Assim, Inder e cl. recentemente demonstraram, utilizando a ressonân-
definimos o nosso limite de viabilidade (taxa de sobrevivência cia magnética, que a presença de lesão na substância branca é
maior que a mortalidade) como sendo 26 semanas e 800g. seguida por um deficiente desenvolvimento cortical a termo.
A presença de cistos na substância branca invariavelmente A lesão aos axônios e mielina da região periventricular ocorre
está associada à significativa morbidade a longo prazo. A identifi- em um período vulnerável do desenvolvimento do cérebro, po-
cação precoce dos RN pré-termos de maior risco para o desenvol- dendo estar associado com lesões cerebrais devastadoras e se-
vimento destas lesões é fundamental, pois pode facilitar futuras qüelas neurológicas.
estratégias preventivas. Assim, para a prevenção das manifestações da lesão cerebral
Segundo Volpe, 5 a 15% dos RN abaixo de 1.500g que sobre- no RN pré-termo, requer-se o conhecimento da patogênese de
vivem apresentam déficits motores espásticos, sendo agrupados cada lesão. A prevenção da lesão cerebral deve constituir o prin-
em paralisia cerebral, e um adicional de 25 a 30% exibe desabi- cipal objetivo de todo neonatologista.
lidades menores que envolvem não somente a morbidade, mas
também a cognição e o comportamento, com distúrbios escolares. Anatomia E Desenvolvimento
Hack e Fanaroff relataram a morbimortalidade dos RN pré- Da Área Periventricular
336 termos extremos (< 800g; < 26 semanas) (tabela 1)
Os autores concluem que apesar de os limites de viabi-
lidade terem sido alcançados, a morbidade e o prognóstico neuro
comportamental constituem um sério problema.

Quadro 1. Morbimortalidade dos


recém-nascidos pré-termo extremos
Seqüelas
Idade Sus
Sobrevivência DPC SDNC
Gestacional anormal
23 semanas 2-35% 10,83% 57-86% 34%
24 semanas 17-62% 9-64% 33-89% 22-45%
25 semanas 35-72% 7-22% 16-71% 12-35%

As regiões periventriculares dos hemisférios cerebrais são


Tabela 1 - DPC – doença pulmonar crônica; SUS anormal – severas anorma- compostas pelo núcleo profundo e pelas fibras do centro semi-
lidades na Ultrassonografia cerebral; SDNC – severa disabilidade neurocom- oval. O desenvolvimento desta região cerebral é importante para
portamental (função cognitiva anormal, paralisia, cegueira ou surdez). as conexões cerebrais e o tamanho dos ventrículo. É através des-
Fonte: Hack M, Fanaroff AA. Outcomes of Children of extremely low bir- ta região que os axônios de projeção cursam da gânglia basal ao
tweigth na gestatinoal age in the 1990s. Semin Neonatol 2000; 5:89-106. córtex cerebral e do córtex à gânglia basal, ao tronco cerebral e à
medula espinhal. Esta região contém axônios de associação e co-
Vohr e cl. resumiram os dados para a Rede de Pesquisa Neona- missural, que conectam giros adjacentes ao córtex de cada lado
tal: a incidência de paralisia cerebral nos RN abaixo de 1.000g foi ou que conectam sistemas funcionalmente relacionados através
duas vezes maior em relação ao RN entre 1.000 e 1.500g, e a taxa da linha média. O sistema límbico, o sistema visual, o sistema au-
de disabilidade foi de 49% na idade de 18-22 meses de vida, que é ditivo, o motor primário e o sistema somatossensorial são todos
o dobro da encontrada na outra faixa ponderal assinalada. dependentes da integridade destas conexões.
Saigal e cl. relataram que os RN com peso ao nascer abaixo Lesões que ocorrem nesta área cerebral do RN pré-termo são
de 1.000g, à idade escolar (oito anos), necessitaram cinco ve- geralmente destrutivas, havendo assim uma dilatação ventricular
zes mais de educação especial em relação ao RN a termo. Os para compensar a perda tecidual.
RN de extremo baixo peso, na adolescência, apresentaram pior No desenvolvimento do cérebro, há um aumento do peso cere-
desempenho, particularmente em matemática. Grunau e cl. re- bral assim que avança a idade gestacional (Quadro 2).
lataram semelhante taxa de disabilidade nos RN com peso ao Este aumento do peso cerebral está relacionado ao número de
nascer abaixo de 800g, sendo as anormalidades mais freqüen- neurônios, células gliais, vasos e ao desenvolvimento da arbori-
tes a precária coordenação motora, problemas na capacidade de zação dendrítica e da mielina. Na formação de uma zona periven-
Capitulo 10 Distúrbios Neurológicos

tricular normal são necessárias a diferenciação de um apropria- sítio de contato sináptico de “espera” tálamo-cortical e
do número e tipos de neurônios e células gliais, a migração das cortiço-cortical, ligação funcional de “espera” aferente
células gliais aos sítios requeridos, a formação de sinapses e dos e alvos corticais; guia axonal no córtex cerebral para os
sistemas neuronais e a iniciação da mielinização. aferentes ascendentes; pioneiros no guia para projeções
A zona periventricular imatura está em ativa mudança e con- do córtex aos alvos subcorticias.
tém células gliais imaturas e maturas, micróglia, neuroblastos,
neurônios e vasos sangüíneos. Com o avanço da idade e matu- Interessante que o período que estes neurônios devem operar
ração, ocorrem mudanças histológicas nesta área: a densidade na organização do cérebro corresponde ao período de ocorrên-
e a variabilidade das células diminuem, ocorre a formação da cia de uma variedade de lesões isquêmicas ou hemorrágicas
mielina e os vasos amadurecem. periventriculares, prejudicando as funções citadas e acarretando
A localização de muitas lesões nesta área periventricular do grande impacto no desenvolvimento neuronal cortical.
RN pré-termo pode relacionar-se a vulnerabilidades específicas
desta zona de intenso metabolismo. 2. Laminação: alinhamento, orientação e distribuição em
O número de axônios nesta região é dependente da produção camadas dos neurônios corticais.
apropriada do número de neurônios e da sobrevivência durante 3. Elaboração de ramificações dendríticas e axonais.
a morte celular programada. Por exemplo, na microcefalia seve- 4. Estabelecimento de contatos sinápticos.
ra, a quantidade de tecido periventricular está diminuída devido 5. Morte celular e eliminação seletiva do processo neural
a células inadequadas na matriz germinativa para produzi-lo. O e das sinapses.
desenvolvimento de adequada mielina é dependente de uma 6. Proliferação e diferenciação da glia.
apropriada e oportuna função oligodendroglial.
Manifestações Neurológicas Da Lesão Cerebral
Idade Gestacional Peso cerebral No Recém-Nascido Pré-Termo
20 semanas 50g
As grandes manifestações neurológicas da lesão cerebral no
25 semanas 100g
RN pré-termo são os déficits motores espásticos tendo as seguin-
30 semanas 150g
tes associações:
35 semanas 250g
40 semanas 350g • Quadriparesia espástica: afeta mais membros inferiores
do que superiores (diplegia espástica).
Quadro 2. Média de peso cerebral segundo a idade gestacional • Hemiparesia espástica (quadriparesia assimétrica): afeta
Fonte: Armstrong DL. Preterm periventricular axonal and myelin injury. tanto membros inferiores como superiores.
Semin Perinatol 17:342-50,1993
Os déficits intelectuais são comuns. 337
A mielinização, que é a aquisição de membrana de mielina As anormalidades neurológicas resultantes da lesão das fibras
altamente especializada ao redor dos axônios, começa quando de projeção periventricular (de associação e comissural) podem
os axônios alcançam um certo diâmetro e iniciam-se com rápida ser variáveis e dependentes da lesão e do estado de maturação
proliferação das células da glia, algumas das quais se diferen- quando ocorre a injúria.
ciam em oligodendrócitos e alinham-se ao longo dos axônios; a As mais freqüentes e óbvias deficiências geralmente envolvem o
mielinização ocorre numa seqüência específica, iniciando-se nas sistema motor, ocorrendo manifestações no tônus, postura, choro,
raízes motoras e sensoriais e ocorrendo mostralmente através do reflexo e movimentos espontâneos. Axônios do sistema visual ou
tronco cerebral e cerebelo, a gânglia basal e cérebro, particular- auditivo podem estar envolvidos e produzem distúrbios na recepção
mente nas regiões envolvidas nas funções associativas e discri- cortical de som e luz (para detectar essas deficiências sensoriais
minações sensoriais de mais alto nível; os hemisférios cerebrais especiais, requerem-se testes de respostas corticais evocados).
dos RN pré-termos normalmente têm pouca mielina: o período de As lesões cerebrais mais associadas com déficits motores são
tempo de mielinização começa no segundo trimestre de gesta- a leucomalacia periventricular, o infarto hemorrágico periventri-
ção e continua até a vida adulta, mas a maior parte do processo cular e o hedrocéfalo pós-hemorrágico. Neste capítulo, comenta-
ocorre logo após o nascimento. remos os dois primeiros.
A migração neuronal refere-se a uma série de eventos em que
milhões de células nervosas movem-se dos seus sítios de origem Etiologia Da Lesão
nas zonas ventricular e subventricular para locais dentro do sistema
nervoso central, onde ficarão por toda a vida (esta migração, tendo Leucomalacia Periventricular
como guia as células gliais radiais, ocorre do terceiro ao quinto mês
de gravidez: por volta da 20ª à 24ª semana de gestação, o córtex A leucomalacia periventricular (LPV) refere-se à necrose da
cerebral tem essencialmente o número completo de neurônios). substância branca, com uma distribuição característica: substân-
No cérebro, a migração radial de células das zonas de origem cia branca dorsal e lateral aos ângulos externos dos ventrículos
(ventricular e subventricular) é o mecanismo primário para a for- laterais, envolvendo particularmente o centro semioval (corno
mação do córtex e estruturas nucleares profundas. frontal e corpo) e as radiações óticas (trígono e corno oPICCital) e
Os eventos organizacionais ocorrem do quinto mês de gravidez a acústica (corno temporal).
vários anos após o nascimento e compreendem as seguintes etapas:
Incidência
1. Estabelecimentos e diferenciação dos neurônios da • A incidência varia de um centro médico a outro, mas três
placa subcortical: a zona destes neurônios é proeminen- fatores são clarosMais freqüentes em RN pré-termos.
te entre 22 e 24 semanas de gestação (de tal forma que • Em RN que sobrevivem por mais dias.
90% destes neurônios desaparecem após o sexto mês • RN com distúrbios cardiorrespiratórios.
de vida). Estes neurônios estão envolvidos na organiza-
ção cortical. Entre as sua funções potenciais citamos:

Paulo R. Margotto
Assistência ao Recém-Nascido de Risco

A incidência de LPV nos estudos patológicos varia de 7 a 34%, Patogênese


chegando a 88% se forem analisados somente os RN que estive- A LPV ocorre nas áreas de circulação terminal descritas por
rem em ventilação mecânica e sobrevivem por mais de sete dias. DeReuck e cl. e Takashima e Tanaka. Como vemos na Fig. 2, os
Paneth e cl. relataram uma incidência de 68% (15/22 RN) de vasos penetrando no cérebro provenientes da pia, as longas e
algum grau de necrose da substância branca nos RN de muito bai- pequenas penetrantes, são derivados da artéria cerebral média
xo peso (média 948g) que sobreviveram no mínimo por seis dias. e, em menor extensão, da artéria cerebral anterior ou posterior.
Nos RN ≤ 32 semanas (o estudo incluiu 753 RN de 24-32 se- Os vasos suprindo as regiões bem próximas dos ventrículos são
manas) que sobreviveram mais de sete dias. Zupan e cl. relata- provenientes das artérias penetrantes basais (estas terminam na
ram uma incidência que variou de 4,3% (32 semanas) a 16% (28 região da matriz germinativa, que fica na cabeça do núcleo cau-
semanas); 9,2% apresentaram leucomalacia cística. dado) e das artérias coroidais.

Patologia
As características patológicas da LPV consistem em: necrose
periventricular focal e lesão difusa da substância branca cerebral.
A necrose focal da LPV ocorre mais comumente ao redor dos
cornos anteriores e trígonos dos ventrículos laterais (substância
branca ao redor do forame de Monro e da radiação oPICCital no
trígono dos ventrículos laterais, respectivamente).
Estes locais correspondem a zonas fronteiriças entre ramos
penetrantes da artéria cerebral média e a artéria cerebral pos-
terior (radiação opiccital) ou artéria cerebral anterior (substância
branca frontal).
A lesão difusa da substância branca menos comumente leva a
grandes lesões císticas, podendo não ser detectada pela Ultras-
sonografia (ocorre perda de oligodendrócitos com conseqüente
aumento de astrócitos hipertróficos). Fig.2. Suprimento vascular cerebral no RN pré-termo. Observem que as
A evolução dos aspectos celulares da LPV caracteriza-se por penetrantes terminam profundamente na substância branca periventri-
necrose de coagulação (perda da arquitetura), podendo ser en- cular, isto é, na zona vascular terminal. As interconexões das penetrantes
contrada dentro de 5-8 horas, seguindo a lesão. Poucos dias longas não completamente desenvolvidas na substãncia branca inter-
mais tarde, astrócitos, microglia (24-48h), macrófagos (5dias) mediária podem criar zonas vasculares fronteiriças e que as penetrantes
enchem a periferia da necrose. O centro da área necrótica pode pequenas que terminam na substância branca superficial, podem criar
liquefazer, resultando em pequenas cavidades que geralmente zonas vasculares terminais. As penetrantes basais terminam na região
338 não se comunicam com os ventrículos (1-3 semanas). Já na lesão da matriz germinativa (Volpe)
difusa da substância branca, a célula-alvo é a oligodendróglia,
havendo um aumento dos astrócitos em resposta à lesão difusa. As zonas limítrofes e terminais que resultam têm uma distri-
A conseqüência da perda dos oligodendrócitos e da deficiente buição característica na região periventricular e é precisamente
mielinização é a diminuição do volume de substância branca dentro destas zonas que ocorre a necrose focal da LPV. Os locais
cerebral com aumento do tamanho ventricular. A LPV e a dila- mais freqüentes para a ocorrência da LPV estão dentro de duas
ção ventricular podem romper o processo essencial para a or- distintas zonas periventriculares limítrofes e terminais, anterior
ganização do cérebro, isto é, destruição dos neurônios da placa e posterior. Estas zonas arteriais limítrofes e finais são campos
subcortical, como já nos referimos anteriormente, prejudicando distais, isto é, watershed áreas (divisor das águas); estas zonas
as funções importantes destes neurônios, explicando assim os periventriculares são mais suscetíveis à queda na pressão de
déficits cognitivos e os das funções corticais na infância. perfusão e do fluxo sangüíneo cerebral.
A Fig. 1 mostra corte coronal do cérebro de um RN que faleceu Observem que as penetrantes longas terminam na substância
com oito semanas de idade; observem as múltiplas áreas de ne- branca profunda (zona vascular terminal) e as penetrantes pe-
crose cística focal na substância branca periventricular, rodeada quenas se estendem somente até a substância branca subcor-
de palidez difusa mais intensa, indicativa de perda difusa celular tical. As interconexões não completamente desenvolvidas entre
(oligodendróglia). ambas as penetrantes criam zonas de circulação terminal.
Recentemente, Borch e Greisen, medindo o fluxo sangüíneo ce-
rebral (FSC) com tecnécio 99, relataram que à substância branca
do RN pré-termo (idade gestacional média de 27,7 semanas) o
FSC e muito baixo (23% do fluxo sangüíneo ao cerebelo e gânglia
basal e por volta de 50% do fluxo sangüíneo ao córtex), predis-
pondo esta área cerebral à hipotensão.
O deficiente desenvolvimento das vasculaturas cerebrais pene-
trantes e periventriculares coloca os RN mais imaturos em maior
risco para a LPV. Com 24-28 semanas de gestação, as longas
penetrantes têm poucos ramos colaterais, sendo infreqüente a
anastomose com as pequenas penetrantes, que, por sua vez,
estão em menor número. De 32 semanas em diante, ocorre au-
mento da anastomose entre as longas e pequenas penetrantes,
Fig.1. Corte coronal do cérebro de um RN que faleceu com oito semanas diminuindo assim as zonas vasculares fronteiriças e terminais.
de idade, onde observamos múltiplas áreas de necrose cística na O período entre o sétimo e o décimo mês de gestação é de
substância branca periventricular rodeadas por palidez difusa (setas), intenso desenvolvimento da vasculatura periventricular, podendo
indicativa de perda difusa de oligodendrócitos (Volpe) este desenvolvimento ser utilizado como um índice de maturi-
dade cerebrovascular. Assim, o grau de isquemia referido para
Capitulo 10 Distúrbios Neurológicos

produzir LPV pode depender do desenvolvimento dos vasos pe- Outros Fatores: O Papel das Citocinas
netrantes e dos vasos periventriculares, e este estado está na
dependência da idade gestacional. Na lesão oligodendroglial, as citocinas exercem papel de gran-
de importância. Yoon e cl. Evidenciaram aumento na concen-
Autorregulação Deficiente Do Fluxo Sangüíneo Cerebral tração de várias citocinas no líquido amniótico (interleucina-1β,
interleucina 6 e o fator de necrose tumoral alfa) de RN pré-termo
O fluxo sangüíneo cerebral (FSC) nos RN pré-termo instáveis, com lesões na substância branca.
particularmente, é pressão-passiva, ou seja, quando a pressão Há evidências, principalmente em estudos com animais, de
arterial cai, o FSC também cai; com uma Autorregulação intacta, que a infecção de endotoxina leva à lesão na substância branca,
o FSC não é pressão-passiva, e permanece constante com as va- provavelmente por um efeito direto na mielinização periventricu-
riações da pressão arterial (vasodilatação e vasoconstrição com lar das células gliais ou devido a efeito no endotélio vascular, com
a queda e aumento da pressão arterial sistêmica, respectiva- impacto secundário nas células gliais. A endotoxina estimula a
mente). A deficiente Autorregulação do FSC nestes RN pré-temo produção, a partir dos leucócitos e de células endoteliais, de vá-
relaciona-se em parte a uma ausência da muscular ao redor das rias citocinas, como o fator de necrose tumoral alfa e a interleu-
artérias cerebrais penetrantes e arteríolas no terceiro trimestre cina-2, que são altamente tóxicos à oligodendróglia. As citocinas
do desenvolvimento cerebral. Outros fatores que contribuem são são polipeptídeos de baixo peso molecular produzidas por uma
hipoxemia e hipercapnia. variedade de células e comunicam-se com uma variedade de
A queda da pressão arterial sistêmica ocorrendo no período células-alvo via receptores de superfície na célula (as citocinas
pós-natal, secundário a sérias patologias (asfixia perinatal, he- dizem às células como devem se comunicar). Um pequeno nú-
morragia pulmonar severa, insuficiência miocárdica, sepse, per- mero de citocinas é considerado antiinflamatório (p. ex., fatores
sistência do canal arterial, apnéia) é o fator crítico de maior im- de crescimento, alguns dos quais protegem o desenvolvimento
portância para LPV. dos oligodendrócitos). Citocinas que aumentam a inflamação são
Distúrbios circulatórios como anafilaxia, arritmia cardíaca fetal, identificadas como pró-inflamatórias (como vimos, estão muito
descolamento prematuro de placenta, prolapso de cordão tam- aumentadas no líquido amniótico e cordão umbilical de mães
bém podem levar a LPV intraútero. que deram à luz RN pré-termo com lesão na substância branca).
Shortland e cl. relataram uma incidência de LPV duas vezes Entre as citocinas pró-inflamatórias, as mais importantes são: o fa-
maior no RN com persistência do canal arterial, devido ao fluxo tor de necrose tumoral alfa (TNF – alfa e a interleucina-2, interleucina-
sangüíneo retrógrado na diástole. 1β e interleucina-6). O TNF – alfa (fator mielotóxico) induz a degenera-
Estudo com Doppler cerebral realizado por Perlman e Volpe ção da mielina e apoptose oligodendrócita, exercendo também efeitos
evidenciou deficiente velocidade do fluxo sangüíneo cerebral com na maturação dos precursores dos oligodendrócitos, pela inibição da
moderada (freqüência cardíaca de 80 a 120bpm) a severa bradi- sua diferenciação, explicando assim a hipomielinização nos cérebros
cardia (freqüência cardíaca < 80 bpm), havendo diminuição da ve- dos RN com lesão na substância branca.
locidade do fluxo diastólico na apnéia com bradicardia moderada Assim, há evidências atuais de que as citocinas podem ser me- 339
sem afetar o fluxo sistólico e intensa queda da velocidade do fluxo diadoras da lesão neuronal e da substância branca. Kadhim e cl.
diastólico (cai na linha da base) e queda progressiva da velocidade detectaram alta expressão de TNF-alfa nos cérebros dos RN com
do fluxo sistólico na apnéia com bradicardia intensa. Estes acha- LPV, principalmente no grupo com infecções bacterianas, assim
dos sugerem efeitos deletérios hipóxico-isquêmicos no cérebro do como alta expressão de interleucina-2, que por sua vez poderia
RN pré-termo com apnéia, acompanhado de severa bradicardia. induzir a produção de citocinas pró-inflamatórias neurotóxicas
Estudando 35 RN pré-termo nas primeiras horas de vida por (TNF-alfa e interleucina -1β).
meio de espectroscopia infravermelha, Volpe detectou altíssima Estudos têm evidenciado a relação entre LPV, infecção e citoci-
incidência de LPV (100%) nos RN com Autorregulação deficiente nas. Perlman e cl. relataram, numa análise de 632 RN < 1.750g
do fluxo sangüíneo cerebral versus nos RN sem a Autorregulação (14-2,3% com LPV cística), que a ruptura prolongada de membra-
deficiente do fluxo sangüíneo cerebral (23%). nas (OR = 6,9 – IC 95%: 1,96-22,10) e a corioamnionite (6,77 –IC
95%: 1,77-25,93) foram preditores significativos de LPV.
Vulnerabilidade Intrínseca Da Substância Nos RN com histologia de corioamnionite que nasceram dentro
Branca Cerebral No RN Pré-Termo de uma hora da ruptura de membrana, a vasculite fetal foi asso-
ciada com um aumento de 11 vezes no risco de ecolucência pe-
A vulnerabilidade intrínseca da substância branca no RN pré- riventricular (cistos ou cavidades na substância branca). Isto su-
termo parece ter importante papel na patogênese da LPV, junta- gere o papel da resposta inflamatória crônica da corioamnionite
mente com a característica da vasculatura periventricular e da (isto é, presente antes da ruptura das membranas) na produção
Autorregulação deficiente do fluxo sangüíneo cerebral. Esta vul- da ecolucência periventricular, particularmente a tardia. A inci-
nerabilidade deve-se fundamentalmente a: dência de corioamnionite histológica no estudo de De Felice e cl.
foi um preditor significativo de hiperecogenicidade periventricular
• Fatores locais metabólicos e hemodinâmicos: a substância (OR = 2,4 IC 95%: 1,8-3,2), ecolucência (OR = 3,3 IC 95%: 1,9-
branca cerebral tem uma capacidade limitada de vasodi- 3,6), ventriculomegalia (OR = 2,7 IC 95%: 1,81,42) e hemorragia
latação frente a fatores tais como hipotensão, hipoxemia, intraventricular grau ≥ 3( OR = 3,5 IC 95%: 2,4-5,2).
hipercapnia e glicólise anaeróbica relativamente ativa. No estudo francês de Burguet e cl. a ruptura prematura de
• Sensibilidade da oligodendróglia: a oligodendróglia na membranas (RN com idade gestacional ≤ 32 semanas) esteve
substância branca do RN pré-temo é especialmente associada com paralisia cerebral em 4,3 vezes mais (IC 95%: 1,6-
vulnerável ao ataque de radicais livres. O ataque dos ra- 11,8). No estudo de Dammann e Leviton, compreendendo 753
dicais livres leva a morte celular por apoptose (grandes RN, a prevalência de ecolucência periventricular, uma expressão
quantidades de radicais são formadas sob condição de tardia da lesão da substância branca, esteve associada com um
isquemia-reperfusão, que parece ser central na patogê- aumento maior do que três vezes entre os RN pré-termo de mães
nese deste distúrbio vascular, devido a fatores regulató- com corioamnionite.
rios vasculares e cerebrovasculares). No estudo recente de Yoon e cl., a exposição fetal à inflamação
intra-amniótica e a resposta inflamatória fetal sistêmica (funisite)

Paulo R. Margotto
Assistência ao Recém-Nascido de Risco

foram associadas com o desenvolvimento de paralisia cerebral Corticosteróide


na idade de três anos (funisite: OR = 5,5 - IC 95%: 1,2-24,5; in-
terleucina-6: OR = 6,4 - IC 95%: 1,3-33,0; interleucina-8: OR = Os corticosteróides são essenciais em muitos aspectos no de-
5,9 - IC 95%: 1,1-30,7). senvolvimento do cérebro normal, no entanto, no cérebro em de-
Spinillo e cl. relataram aumento de 5,75 vezes na incidência de senvolvimento, há crescentes evidências de que a exposição ao
deficiência neurocomportamental severa nos RN de mães com excesso de esteróide pode ser danosa, levando a efeitos a longo
ruptura prematura prolongada de membranas (idade gestacio- prazo no comportamento e na função neuroendócrina.
nal entre 24-34 semanas), havendo inclusive significativa rela-
ção entre a duração da ruptura de membranas e a ocorrência de Uso Pré-Natal
hemorragia intraventricular severa, leucomalacia periventricular
cística e deficiência neurocomportamental moderada a severa. Estudo experimental recente tem evidenciado que a exposição
Em outro estudo, estes autores relatam uma associação signi- fetal repetida aos corticosteróides atrasa a mielinização dos axô-
ficativa entre infecção do trato urinário materno na admissão e nios óticos, podendo esta prática ser detrimental ao sistema ner-
leucomalácia cística (OR = 5,71 - IC 95%: 1,91-17,07). voso central. Segundo a revisão de Mathews, a exposição crônica
The Developmental Epidemiology Network Investigators rela- aos corticosteróides pode levar a uma redução de volume do hipo-
taram um risco três vezes maior de hemorragia intraventricular campo em aproximadamente 30%. Baud e cl. relataram que o uso
nos RN (500 – 1.500g) cujas placentas exibiam pelo menos um da dexametasona pré-natal (6mg, 12/12h – 4 doses) aumentou
componente de inflamação do saco amniótico. a incidência de LPV em relação ao uso da betametasona (12mg,
Recentemente, Kumazaki e cl. relataram que o desenvolvimen- 24/24h – 2 doses); a taxa de incidência de LPV foi de 4,4% no gru-
to da LPV nos casos de infecção intrauterina requer outros fato- po da betametasona, 11% no grupo da dexametasona e 8,4% no
res aditivos, como distúrbio na circulação útero-placentária. grupo sem corticosteróide. Jobe não acredita que o sulfito seja res-
Zupan e cl.relataram que a infecção intrauterina, em combina- ponsável pelo aumento na incidência de LPV, e, devido à evidência
ção com a ruptura prematura de membranas, esteve associada de que a betametasona seja o esteróide pré-natal preferido, ques-
com leucomalácia periventricular em 22%, sendo considerada tiona a nossa escolha no pós-natal pela dexametasona.
fator de risco muito elevado.
Grether e Nelson relataram, em RN de peso normal ao nascer, Uso Pós-Natal
maior risco de paralisia cerebral (PC) espástica quando ocorreu
exposição intrauterina à infecção materna (em 22% das crianças Murphy e cl. recentemente relataram diminuição de 35% da
com paralisia cerebral espástica, a PC foi relacionada a infecção. substância cinzenta cortical nos RN tratados com dexametasona
para doença pulmonar crônica, utilizando a ressonância magné-
Hipotiroxinemia da Prematuridade tica (média de tratamento: 28 dias ± 22 dias – 6 a 57 dias; dose
média: 0,25mg/kg/dia). A ressonância foi realizada na idade
340 Os RN de muito baixo peso freqüentemente apresentam bai- pós-concepção de 38 a 41 semanas. Como a lesão da substância
xos níveis de tiroxina na primeira semana de vida, aumentando branca leva ao deficiente desenvolvimento da substância cinzen-
a seguir, condição que caracteriza a hipotiroxinemia transitória ta cortical cortical a termo, estes RN foram excluídos do estudo.
da prematuridade. Nos RN de 27-28 semanas, importante tiroxi- Papile e cl. relataram redução do crescimento do perímetro
nemia pode refletir um transitório hipotireoidismo hipotalâmico- cefálico no RN pré-termo dependente do respirador, recebendo
hipofisário, não requerendo tratamento, a menos que o TSH ex- esteróide por duas semanas, iniciando com dose de 0,25mg/kg/
ceda 20µgU/ml. Há evidências de que esta hipotiroxinemia não dia, duas vezes ao dia IV ou Oral, por cinco dias e, em seguida,
seja benigna, podendo ser um marcador de grande risco para em esquema de diminuição.
adversidades no neurodesenvolvimento. Jobe cita que, se escolhermos o uso de esteróide, devemos
Paul e cl. relataram aumento do risco de hemorragia intraven- usar por um curto tempo para a obtenção de um resultado clínico
tricular neste RN (OR = 1,2 IC - 95% 1,05-1,4). Reuss e cl. descre- (talvez a extubação). A dose inicial de 0,5mg/kg/dia (equivale a
veram aumento da paralisia cerebral no RN com hipotiroxinemia 12mg de cortisol) é muito alta (a produção basal para 24h é por
severa (11 vezes mais) e, após ajuste para a idade gestacional e volta de 0,5mg de cortisol no RN pré-temo com peso de 1kg e,
variáveis outras de confusão, a hipotiroxinemia severa foi asso- em condições de estresse, 1,5mg/dia).
ciada a 4,4 vezes mais o risco de paralisia cerebral.
A hipotiroxinemia transitória do RN pré-termo pode ser um Correlações Clínico-Patológicas/Prognóstico
importante problema de saúde pública. Leviton e cl. relataram
aumento de duas vezes mais no risco de ecolucência periventri- A maior seqüela em longo prazo da leucomalácia periventricu-
cular nos RN com hipotiroxinemia (T4 abaixo de 5,3µg%). lar é a diplegia espástica, o maior déficit motor no RN pré-termo.
O hormônio da tireóide pode ser considerado oligotrófico de- Este distúrbio motor caracteriza-se por uma paresia espástica,
vido a sua habilidade de suprimir a morte celular e promover o afetando principalmente membros inferiores.
crescimento e maturação dos oligodendrócitos, células que ca- Observando a fig. 3 vemos que a LPV afeta particularmente as
racterizam a substância branca. O hormônio da tireóide estimula fibras descendentes do trato cortiço- espinhal para os membros
a expressão gênica da mielina. inferiores, ou seja, a topografia da lesão inclui a região da subs-
Apesar dos relatos da associação entre hipotiroxinemia da prema- tância branca cerebral na qual atravessa as fibras descendentes
turidade e lesão cerebral, a administração de T4 a estes RN é de valor do córtex motor. Severas lesões se estendendo à corona radiata
duvidoso. Estudo controlado recente de Van Wassenaer e cl. com RN e ao centro semi-oval podem levar ao comprometimento das ex-
entre 25 e 29 semanas de idade gestacional indicou melhor situação tremidades superiores, assim como das funções intelectuais. A
no QI no grupo tratado (aumento de 18 pontos no QI no grupo que lesão aos neurônios da placa subcortical ou uma tardia migração
recebeu 8µg/kg/dia de T4 por seis semanas, iniciando com 12-24h de astrócitos na organização das camadas corticais superficiais
de vida- RN com idade gestacional menor que 27 semanas). podem explicar os possíveis papéis da LPV na deficiente organi-
Até novos estudos, a terapia com T4 não deve ser feita nos RN zação neuronal cortical, o que por as vez traduz impacto subse-
pré-termo. qüente na função cognitiva.
Capitulo 10 Distúrbios Neurológicos

Diagnóstico

Ultrassonografia

No corte coronal, as lesões agudas aparecem, bilateralmen-


te, como ecogenicidades adjacentes aos ângulos externos dos
ventrículos laterais; ainda no corte coronal, mais posteriormente,
as lesões ecogênicas são mais bem observadas por ser possível
visualizar a região peritrigonal. A fig. 4 mostra uma ecografia ce-
rebral de um RN pré-termo com 10h (A) e com 25 dias de vida (B),
Fig.3. Tratos corticoespinhais a partir da origem no córtex motor, des- onde pode-se observar a evolução da ecogenicidade periventri-
cendo pela região periventricular. O local da leucomalácia periventricular cular para múltiplas ecolucências (cistos) na substância branca
está marcado por um quadrado; espera-se afetar particularmente as
fibras descendentes das extremidades inferiores mais do que as fibras
mais lateralizadas dos membros superiores e face (Volpe)

Confirmando estes achados, Inder e cl., utilizando-se da resso-


nância magnética, detectaram deficiente desenvolvimento corti-
cal a termo quando ocorreu a lesão na substância branca.
Segundo Whitaker e cl., anormalidades na Ultrassonografia
cerebral consistentes com lesão na substância branca são os Fig.4. US nos planos coronais voltado para a região peritrigonal de um
mais importantes determinantes da função intelectual geral, sen- RN pré-termo para visualizar a leucomalácia multicística. Em (A), aos
do responsáveis por metade dos casos de retardo mental. Nas dez dias de vida, onde observamos hiperecogenicidade periventricular
crianças com inteligência normal, a lesão da substância branca (setas) já com dilatação biventricular e em (B), aos 25 dias de vida, com
esteve relacionada com deficiente organização perceptual visu- múltiplos pequenos cistos na substância branca periventricular (leuco-
al, podendo ter significado no desempenho escolar mais tarde. A malácia multicística, aspecto de queijo suíço) (setas) (Volpe)
prevenção da lesão da substância branca reduziria substâncial-
mente os déficits cognitivos nos RN pré-temo. A figura. 5 mostra RN com idade gestacional de 27 semanas,
Ment e cl. relataram que a ventriculomegalia a termo, para peso ao nascer de 975g e que esteve em ventilação mecânica por
RN pré-termo, secundária à redução da substância branca, foi 24 dias, com o diagnóstico de LPV multicística aos 84 dias de vida.
o mais importante preditor de QI < 70 (OR = 19 – IC 95%: 4,5-
80,6). Ventriculomegalia sem macrocefalia reflete lesão difusa
da substância branca, resultando na sua diminuição ou numa 341
inadequada densidade de neurônios.
A ultrassonografia cerebral é de valor na predição do RN com
lesão na substância branca: ecogenicidade periventricular, eco-
lucências (cistos) e dilatação ventricular.
Em geral, a ocorrência de ecolucência é um indicativo de dis-
solução tecidual e cistos; a dilatação ventricular indica atrofia da Fig.5. US nos planos coronais de dois recém-nascidos pré-termos, com
substância branca, com uma significativa correlação com subse- 30 (A) e 23 (B) dias onde observamos leucomalácia periventricular multi-
qüente diplegia espástica (60 a 90% dos RN com estes achados cística (setas) (Margotto/Castro)
exibem déficits subseqüentes).
Mais do que o tamanho do cisto, segundo Fujimoto e cl., a A hiperecogenicidade pode expressar congestão vascular ou
presença de cistos na região parietal ou opiccital foi o achado infarto hemorrágico conseqüente a lesões cerebrais isquêmicas.
neurossonográfico mais confiável na predição da paralisia cere- A detecção de cistos na região periventricular ao nascer faz o diag-
bral (seguimento de 5,7 anos de RN ≤ 2.500g com leucomalácia nóstico de lesão antenatal; severa hipotensão aguda durante a gra-
periventricular cística). videz, desaceleração variável na cardiotocografias, anormalidades
Kakebeeke e cl., estudando a qualidade dos movimentos a ter- no cordão umbilical, podem causar lesão cerebral fetal semelhante
mo entre crianças pré-termo e a termo, relataram que as crianças à lesão hipóxico-isquêmica que ocorre no período perinatal.
com hemorragia e leucomalácia evidenciadas ao ultrassom tive- As ecogenicidades podem desaparecer em dias ou semanas.
ram significativamente mais movimentos de qualidade anormal. Dammann e Leviton chamam de flares as imagens hiperecogê-
Prechtl e cl., detectaram anormalidades neurológicas em 95% dos nicas; estas podem resolverem-se completamente sem nenhu-
RN com movimentos de qualidade anormal (57/60 RN: 49 com ma anormalidade local. Um flare é chamado de “curto” quando
paralisia cerebral e oito com retardo do desenvolvimento ou sinal se resolve em seis dias; “intermediário”, se desaparece entre 7
neurológico mínimo). Alberts e Jorch relataram que a quantidade e 13 dias após o início, e “prolongado”, se desaparece no 14º
normal do movimento pode predizer o prognóstico neurológico dia ou mais. Flares que duraram menos de duas semanas não
normal com a probabilidade de 90-100%; já um movimento com tiveram impacto no status neurológico e na competência moto-
qualidade anormal pode predizer prognóstico anormal na terceira ra na idade de seis anos.
semana de vida em 82%. Assim, a análise dos movimentos espon- A paralisia cerebral foi diagnosticada em 8,3% das crianças
tâneos contribui para o diagnóstico precoce de disfunção neuro- com 18 meses de vida, que tiveram flares prolongados versus
lógica, podendo a observação dos movimentos espontâneos ser 62% nas crianças que tiveram LPV cística. Em estudo de Vries e
aplicada no RN pré-termo extremo na UTI neonatal, onde o exame cl., em 53 RN com hiperecogenicidade periventricular, 4 (7,5%)
neurológico, muitas vezes, não é possível ser feito. desenvolveram diplegia espástica e 24 (45%) distonia transitó-
ria. As densidades foram resolvidas no sexto dia em 29%, entre
o sexto e o nono, em 27% e após o nono dia em 44%. Em 8%
das crianças com flares que desenvolveram paralisia cerebral, as

Paulo R. Margotto
Assistência ao Recém-Nascido de Risco

ecodensidades persistiram por mais de dez dias. Os flares podem cística. Os RN com persistentes flares apresentavam significativo
representar um espectro de leve LPV. aumento no IR na artéria cerebral anterior e na artéria cerebral
Jongmans e cl., estudaram o impacto dos flares em RN pré-temo média. Os autores concluem que a Ultrassonografia Doppler ce-
em relação ao estado neurológico e à capacidade motora aos seis rebral pode ser utilizada na identificação do RN com patologia
anos de vida; não foram observadas diferenças nas habilidades cerebral isquêmica (consulte o capítulo Ultrassonografia Doppler
cognitivas em relação ao RN com Ultrassonografia normal, mas na Cerebral no Recém-Nascido).
avaliação motora houve significativa diminuição no desempenho
daqueles RN em que os flares duraram mais de 14 dias. Ressonância Magnética
Appleton e cl., detectaram no seguimento diplegia espástica
em dois de 15 RN (13,3%) com hiperecogenicidade periventricu- A sensibilidade da Ultrassonografia cerebral na detecção de pe-
lar ou flares detectados na primeira semana de vida que persisti- quenas áreas de necrose ou lesão celular difusa é relativamente
ram por 21 a 35 dias. Os autores frisam que os lares transitórios baixa. A ressonância magnética (RM) prevê imagens cerebrais de
podem representar leve LPV com disfunção neurológica leve. alta resolução sem usar radiação ionizante, podendo ser de valor
Outros autores, no entanto, não confirmaram os achados des- na detecção de anormalidades na substância branca. Maalouf e
critos acima quando os flares não são acompanhados de lesões cl., realizando RM em 29 RN com idade gestacional entre 23 e 29
císticas ou hemorragia intraventricular. A localização dos flares é semanas, detectaram dilatação dos ventrículos laterais (22/29 –
importante no prognóstico, havendo pior prognóstico quando as 7,9%), alterações dos cornos anteriores e posteriores dos ventrícu-
ecodensidades localizam-se na região frontoparietal ou frontopa- los laterais (24/29 – 82,76%), afastamento da cisura inter-hemis-
rieto-oPICCital. férica ou espaço extracerebral (11/29 – 37,4%) e 22/29 (75,86%)
Todos estes estudos implicam que as hiperecogenicidades tiveram sinal de alta intensidade difuso e excessivo na substância
transitórias periventriculares ou ecogenicidades parenquimatosa branca, achado este associado com desenvolvimento de atrofia
não cavitárias são menos preditivas para lesão cerebral, mas não cerebral, podendo ser indicativo de doença na substância branca.
devem ser tratadas com indiferença, pois provavelmente repre- De Vries e cl., demonstraram uma forte correlação entre RM e
sentam leve leucomalácia periventricular. o prognóstico clínico. Por volta de 40 semanas pós-concepção, os
Na Fig. 6, podem ser observados os ultrassons de um RN de cistos da LPV não são mais visíveis, enquanto que a RM eviden-
32 semanas, 1835g, que mostram hiperecogenicidade periven- cia atraso da mielinização ao redor dos cornos opiccitais dilata-
tricular prolongada aos 15 dias de vida e evoluiu para leucomalá- dos irregularmente dos ventrículos laterais.
cia multicística aos 29 dias de vida Recentemente, Maalouf e cl., comparando achados no ultras-
som com os achados na ressonância magnética em RN pré-ter-
mos, relataram alto valor preditivo do ultrassom no diagnóstico
de hemorragia peri ou intraventricular, hemorragia na gânglia
basal, severa hiperecogenicidade periventricular, principalmente
342 com duração ≥ 7 dias de vida. No entanto, os autores relataram
que uma ecogenicidade periventricular normal não foi altamente
preditiva de ressonância magnética normal.
Skranes e cl., relataram que, na idade de seis aos, dez de 20
Fig.6. (A) US no plano coronal de um RN com 32 semanas, 1835g, com 15 RN entre 27 e 31 semanas apresentaram glicose periventricular,
dias de vida, evidenciando hiperecogenicidade prolongada (setas). Em (B), principalmente no centro semi-oval (nove crianças) e na substân-
no plano coronal (b1) e no plano sagital (b2), o mesmo RN com 28 dias de cia branca central opiccital (seis crianças). A gliose no centro se-
vida, com leucomalácia periventricular multicística (Margotto/Castro) mi-oval foi relacionada a menores escores nos testes de sistema
motor grosso para locomoção, indicando envolvimento do trato
Monset-Couchard e cl., chamam a atenção para a espessura corticoespinhal. Igualmente, gliose na substância branca opicci-
da lesão no ultrassom devido à sua importância no prognósti- tal foi relacionada com deficiência nos sistemas motores fino e
co cerebral: espessura de ¼ a 1/3 do parênquima foi associa- grosso. Os autores acreditam que a gliose periventricular neste
da com seqüela menor; 1/3-1/2, seqüela moderada; e seqüela RN pode envolver tanto fibras motoras visuais quanto fibras de
maior com espessura de ½-2/3. associação do tipo visomotoras, e sugerem nova RM na idade de
Na leucomalácia periventricular, a evolução característica da oito anos, para comparar problemas acadêmicos com os acha-
ecogenicidade é a formação de múltiplos cistos ecoluscentes, dos na idade de seis anos.
lembrando, às vezes, o aspecto de queijo suíço, uma a três se-
manas após. A média de aparecimento dos cistos esteve em tor- Eletroencefalograma (EEG)
no de 20 dias no estudo de Fujimoto e cl. e 18 dias (10-39 dias)
no estudo de Kubota e cl. Nos RN que apresentavam múltiplos A LPV cística é quase sempre associada com diplegia espásti-
cistos, a época da formação do cisto foi significativamente mais ca; suspeita-se de LPV cística quando a hiperecogenicidade pe-
precoce em relação aos RN com cistos localizados. Os cistos po- riventricular dura mais de três semanas e quando ocorre algum
dem desaparecer após um a três meses, geralmente cistos cir- grau de dilatação ventricular com distorção dos contornos nor-
cunscritos, levando ao aumento dos ventrículos com diminuição mais dos ventrículos, na ausência de hemorragia intraventricular.
da mielina cerebral. A ultrassonografia pode ocasionalmente falhar no reconheci-
Rodrigues e cl., descreveram um caso de um RN com 34 se- mento de microcavitações ou áreas de gliose astrocítica, explican-
manas de gestação em que foram visualizados ecogenicidade do a ocorrência de paralisia cerebral em RN pré-termos, a despeito
periventricular com três semanas e cisto periventricular de 9mm, da Ultrassonografia normal (os achados da Ultrassonografia que
com sete semanas, não sendo mais visíveis com 15 semanas mais se relacionam com a necrose da substância branca são a
de idade, e não foi observada dilatação ventricular; a necropsia hiperecogenicidade periventricular e a dilatação ventricular).
revelou uma cicatriz glial. A correlação neuropatológica do desa- Segundo o estudo francês de Baud e cl., a detecção de ondas
parecimento do cisto é glicose e o colapso das paredes do cisto. sharp rolândicas positivas no EEG de RN pré-termo foi altamen-
No ultrassom Doppler, Mires e cl. descreveram aumento do ín- te específica e sensível marcador do deficiente desenvolvimento
dice de resistência (índice de Pourcelot) no RN com leucomalácia (84% e 98%, respectivamente). A presença de ondas rolândicas
Capitulo 10 Distúrbios Neurológicos

positivas no EEG destes RN é quase que patognomônica de le- faleceram com evidências de lesão na substância branca tinham
são na substância branca, havendo forte correlação com severa maiores níveis de citocinas pró-inflamatórias em relação aos
diplegia espástica. Estes autores relataram um valor preditivo cérebros dos RN sem lesão na substância branca. Deste modo,
positivo de 98% e um valor preditivo negativo de 989% na pre- a administração de citocinas antiinflamatórias, como a interleu-
sença de ondas sharp rolândicas positivas com LPV cística e não- cina-10, que regula para menos a produção das citocinas pró-
cística, além de as ondas sharp rolândicas positivas precederem inflamatórias (interleucina-1 e o TNF-alfa), pode prover neuropro-
o aparecimento da LPV cística e não-cística na Ultrassonografia. teção, tanto antes como após instalada a lesão, já que alguns
Utilizando o EEG, Hayakawa e cl., determinaram a época em componentes da ativação inflamatória persistem por dias.
que a lesão cerebral ocorre; de 172 RN abaixo de 33 semanas, A hipotiroxinemia é um marcador da vulnerabilidade da subs-
26 (15,1%) apresentaram LPV cística (cistos > 3mm) e, destes, tância branca e, assim, a administração de T4 reduziria esta vul-
em 20 (76,9%) a lesão foi pré-natal ou próxima do nascimento. nerabilidade, como já comentado anteriormente. Interessante
Segundo Monset-Couchard e cl., a adição do EEG à Ultras- citar que a administração de tiroxina pode não somente prote-
sonografia permite avaliar um prognóstico mais acurado para ger os oligodendrócitos, mas também adiantar a sua maturação,
as formas maiores e menores de LPV cística, mas não para as além de estimular diretamente a expressão do gene da mielina.
formas moderadas. O uso de corticosteróide pré-natal (importante inibidor da
A presença de ondas sharp rolândicas constitui um índice pre- síntese de citocinas pró-inflamatórias) reduziu o risco de para-
coce de LPV; há uma significativa correlação da presença destas lisia cerebral com hemiplegias e quadriplegias espásticas no
ondas (> 2/min: sugere severa lesão da substância branca) com estudo prospectivo de Cooke, que avalia os efeitos das mudan-
seqüelas motoras; assim, juntamente com o ultrassom, o uso ças na prática perinatal.
de EEG tem grande potencial para antecipar o desenvolvimento Recentemente, Canterino e cl., numa análise retrospectiva de
neurológico dos RN muito pré-termo (< 28 semanas) e dos RN 1.161 RN com idade gestacional entre 24 e 34 semanas e peso
pré-termo (≥ 28 semanas). ao nascer de 500 a 1.750g, observaram que o uso do esteróide
pré-natal foi associado com uma probabilidade 56% menor para
Contagem de Eritroblastos LPV com hemorragia peri ou intraventricular e 58% menor para
LPV isolada.
Buonocore e cl., relataram aumento significativo na contagem Leviton e cl. relataram diminuição da hemorragia peri ou intra-
de eritroblastos (células vermelhas nucleadas) ao nascer e Do- ventricular nos RN abaixo de 29 semanas em 40 a 50% (a he-
ppler cerebral alterado, feito 48-72h após o nascimento (índice morragia peri ou intraventricular contribui com maior risco de
de resistência ≤ 0,5, fluxo diastólico reverso, velocidade do fluxo ecolucência periventricular) com o uso de um curso completo de
sistólico ≤ 0,2m/s), em relação aos RN saudáveis; assim como esteróide pré-natal (betametasona 12mg de 24/24 – 2 doses e o
nos RN com seqüelas de encefalopatia hipóxico-isquêmica, aos nascimento ocorreu entre 7 e 14 dias após); também relataram
seis meses e três anos de idade. Green e cl., relataram, nos RN ≤ diminuição do risco de ecolucência periventricular (especialmente
32 semanas deidade gestacional, maior aumento no número de no RN com hemorragia intraventricular e RN com hipotiroxinemia 343
eritroblastos nos primeiros seis dias de vida dentre os que desen- e vasculite fetal), tanto com curso completo como com curso par-
volveram hemorragia peri ou intraventricular. Assim, a contagem cial. Um curso completo ou mesmo parcial de esteróide pré-natal
de eritroblastos pode não só refletir uma resposta adaptativa ao teve efeito protetor nos RN cujas placentas tiveram vasculite fetal,
sofrimento perinatal, mas também ser de valor preditivo para o ambos fatores relacionados com lesão na substância branca. O es-
maior risco de lesão cerebral. teróide pré-natal reduziu a necessidade de drenagem ventricular,
havendo sugestão do que o esteróide pré-natal reduza o risco de
Prevenção distúrbio na reabsorção do líquido cefalorraquidiano.

A compreensão da patogenia da LPV leva-nos à conclusão de Neurodesenvolvimento


que a prevenção da isquemia cerebral é crítica na prevenção
da LPV; atenção cuidadosa com a pressão arterial, evitando a Do ponto de vista de desenvolvimento neurocomportamental,
hipotensão arterial; no controlo de gases, evitar a hipocapnia; segundo O´Shea, a habilidade do US em prever um MDI (índice
detectar o RN com autorregulação deficiente do fluxo sanguíneo de desenvolvimento mental) menos de 70 (um índice de desen-
cerebral, estabilizando esta anormalidade circulatória através da volvimento mental de menos 70, indica um RN com escore dois
correção da severa hipercapnia ou hipoxemia ou respiração as- desvio padrões abaixo da média, sendo um indicativo de retardo
sincrônica (RN no respirador). do desenvolvimento mental) aumenta com a localização da eco-
Estudos sugerem que o sulfato de magnésio administrado no lucência no que diz respeito à lateralidade e a localização ante-
período antenatal pode diminuir o risco de paralisia cerebral e de rior e posterior.
hemorragia peri ou intraventricular. O mecanismo preciso desta
proteção não está totalmente explicado; efeitos antioxidantes, • Ecolucência bilateral confere 57% de MD <70 enquanto
antiexcitóxicos ou vasculares do magnésio (a inibição da síntese unilateral aumenta o risco não tão grande em compara-
dos óxido nítrico diminui a formação de radicais livres da isquemia ção com os RN que não tiveram qualquer anomalia ao
neuronal; no entanto, a inibição da síntese do óxido nítrico pode US. Veja tabela.
comprometer as funções vasorregulatórias medidas pelo óxido • Localização posterior da ecolucência, a localização pos-
nítrico, levando a distúrbio na resposta hiperêmica à hipoxemia). terior aumenta o risco de 3 vezes em relação aos que não
Todavia, outros estudos recentes não evidenciaram proteção apresentavam esta lesão; a anterior, 1,4 de risco relativo
do sulfato de magnésio de uso materno na incidência de LPV, de desenvolver um MDI menor que 70 na escala Bayley.
hemorragia peri ou intraventricular e dilatação ventricular nos RN
pré-termo, bem como na incidência de paralisia cerebral. Assim, Infarto Hemorrágico Periventricular
mais estudos são necessários para avaliar o papel do magnésio
na proteção da lesão isquêmica cerebral nos RN pré-termo. O infarto hemorrágico periventricular (IHP) refere-se à necro-
Como vimos, as citocinas pró-inflamatórias exercem papel im- se hemorrágica da substância branca periventricular; na grande
portante na lesão da substância branca: os cérebros dos RN que maioria dos casos, a lesão é assimétrica; em 80% dos casos,

Paulo R. Margotto
Assistência ao Recém-Nascido de Risco

está associada a uma grande hemorragia intraventricular, sendo Observe o esquema patogênico do infarto hemorrágico peri-
erroneamente descrita como “extensão” da hemorragia intra- ventricular:
ventricular. O IHP tem sido considerado a mais severa forma de
hemorragia na matriz germinativa, tendo sido chamado por ou- Hemorragia na matrix germinativa/intraventricular
tros de hemorragia grau IV. Aproximadamente 15% dos RN com ↓
hemorragia intraventricular apresentam IHP e, em metade dos Congestão venosa periventricular
casos, o infarto hemorrágico é extenso, envolvendo a substância ↓
branca frontoparietal. Isquemia periventricular

Neuropatologia Infarto hemorrágico periventricular

Estudos microscópicos da lesão evidenciam que esta é um Kuban e cl. relataram recentemente que a hemorragia intra-
infarto hemorrágico. Este tipo de lesão ocorre mais comumente ventricular foi associada a aumento de cinco a nove vezes mais
próximo do ângulo ventricular, onde as veias medulares que dre- de lesão da substância branca cerebral; os Rn com hemorragia
nam a substância branca confluem para a veia terminal na região intraventricular e ventriculomegalia tiveram um risco de 18-29
subependimária. Assim, é provável que esta necrose hemorrági- vezes maior de lesão na substância branca em relação aos RN
ca periventricular, ocorrendo associada com a hemorragia peri sem ambas as condições.
ou intraventricular, constitua um infarto hemorrágico (figura 7). A associação entre infarto hemorrágico periventricular e leuco-
malácia periventricular (lesão simétrica geralmente não hemor-
rágica de localização nas zonas fronteiriças arteriais, particular-
mente na região próxima aos trígonos dos ventrículos laterais)
pode ocorrer (a freqüência desta associação é desconhecida).
Às vezes pode tornar-se hemorrágica quando a HIV subseqüen-
temente causa obstrução venosa. Do ponto de vista neuropato-
lógico, é possível distinguir o IHP da hemorragia que ocorre na
leucomalácia periventricular. Distinguir estas duas lesões in vivo
é difícil (às vezes, impossível).

Diagnóstico

Fig. 7: Em A, infarto hemorrágico periventricular com hemorragia O ultrassom é o principal método para o diagnóstico in vivo.
intraventricular (corte coronal). Observem o infarto hemorrágico (setas) No corte coronal, visualizamos uma lesão uni ou bilateral, cla-
344 do mesmo lado de uma grande hemorragia intraventricular. Em B, a dre- ramente assimétrica, de forma triangular ou piramidal (formato
nagem venosa da substância branca cerebral. As veias medulares com de leque), de alta ecodensidade, radiando-se do ângulo externo
distribuição em forma de leque drenam sangue da substância branca do ventrículo lateral. Veja na figura. 8-A-B o ultrassom de um RN
cerebral para a veia terminal, que cursa através da matriz germinativa ( com infarto hemorrágico periventricular ipsilateral à hemorragia
Volpe JJ. Brain injury in the preterm infant. Clin Perinatol 24:567, 1997) intraventricular grau III, em RN com 27 semanas e seis dias de
idade gestacional, aos quatro dias de vida (A) e aos 28 dias de
Patogênese vida (B). Observem a hemorragia na matriz germinativa e uma
ecogenicidade periventricular crescente consistente com infarto
Uma relação direta da hemorragia intraventricular (HIV) e o IHP, hemorrágico periventricular, que está evoluindo com um único e
parece provável, segundo Guzetta e cl., a saber: grande cisto porencefálico no sítio do infarto.

1. Oitenta e um por cento das lesões parenquimatosas


foram associadas com grande HIV (grau III).
2. A lesão parenquimatosa ocorreu invariavelmente no
mesmo lado onde ocorreu a grande HIV.
3. A lesão parenquimatosa ocorreu e progrediu após a
instalação da HIV. O pico da ocorrência da lesão paren-
quimatosa foi no quarto dia de vida, quando 90% dos ca-
sos de HIV já ocorreram.

Os RN que desenvolveram infarto hemorrágico periventricular


são aqueles que apresentam mais instabilidade hemodinâmica
e mais severa doença respiratória na primeira semana de vida.
Estes dados, mais os estudos de Gould e cl. e Takashima e cl.,
levaram a possibilidade de que HIV leva a obstrução das veias
medulares terminais e a infarto venoso hemorrágico. Fig.8. Ultrassom de um RN de 27 semanas e seis dias, peso ao nascer de
Taylor e cl., utilizando-se do Doppler colorido, demonstraram 1100g, com história de sangramento materno há uma semana, infecção
obstrução do fluxo sanguíneo na veia terminal do mesmo lado no trato urinário em tratamento e leucocitose no hemograma, Apgar de
em que ocorreu a hemorragia na matriz germinativa (a completa 8/9, uso de CPAP nasal a 40%. Em A, aos quatro dias de vida, evidencian-
oclusão da veia terminal foi mais comum na hemorragia da ma- do hemorragia intraventricular e ecogenicidade periventricular crescente à
triz germinativa com lesão parenquimatosa periventricular (82%) esquerda, consistente com infarto hemorrágico periventricular. Em B, aos
do que na hemorragia da germinativa sem lesão parenquimatosa 28 dias de vida, onde observamos a evolução do infarto hemorrágico pe-
periventricular (16%). riventricular para um único e grande cisto periventricular (Margotto/Castro)
Capitulo 10 Distúrbios Neurológicos

Na figura 9 um exemplo de ultrassonografia, tomografia e res-


sonância magnética em um RN com infarto hemorrágico periven-
tricular. Trata-se de um RN com idade gestacional de 28 sema-
nas, 1140 de peso ao nascer, apresentou doença da membrana
hialina, recebeu 2 doses de surfactante pulmonar, ficou sob ven-
tilação mecânica por 8 dias, apresentou persistência do canal ar-
terial e infecção; com 14 dias de vida apresentou choque séptico
(S. haemoliticus), retornando a ventilação mecânica por 3 dias.
Com 19 dias, foi realizado por nós a ecografia transfontanelar
(A), evidenciando hemorragia intraventricular grau III bilateral e
extenso infarto hemorrágico periventricular à direita em evolução
(cisto porencefálico se comunicando com o ventrículo). Em (B) a
tomografia computadorizada de crânio revelando aumento difuso
dos ventrículos laterais, maior do esquerdo, aspecto compatível
com hipoxia, ficando a critério clínico a realização da ressonância
magnética. Em (C) e (D) ressonância magnética revelando gran-
de hemorragia parenquimatosa a direita frontal, hemorragia peri- Fig.11. Pelas anatômicas correspondentes aos planos ultrassonográficos do
ventricular com componente intraventricular (achado igual ao da caso da figura 2.16, evidenciando a hemorragia intraventricular Grau III (2)
ultrassonografia cerebral) com o correspondente infarto hemorrágico periventricular ipslateral (1)

345

Fig.12. RN de 28 semanas, com asfixia perinatal grave. Em (A) US no


plano sagital e em (B) US no plano coronal evidenciando hemorragia
Fig.9. (vide texto) intraventricular Grau III à direita (2) e Infarto hemorrágico periventricular
ipsilateral (1). Em (C) e (D), peças anatômicas com os respectivos acha-
No corte sagital, visualizamos a extensão da lesão: localizada dos ultrassonográficos
(envolve somente a região frontal, parietal ou parieto-oPICCital)
ou extensa (frontoparieto-oPICCital). Correlações
A evolução característica da grande ecogenicidade periventri-
cular é a formação dos cistos; diferente da leucomalácia periven- Clínico- Patológicas/Prognóstico
tricular, os cistos são únicos e grandes e raramente desapare-
cem com o tempo, podendo se comunicar com o ventrículo. As hemiparesias espásticas (ou quadriparesias assimétricas)
Vejamos a correspondência dos achados do ultrassom com a e déficits intelectuais são as seqüelas do infarto hemorrágico
anatomia clínica (figuras 10, 11 e 12). periventricular. As hemiparesias espásticas caracteristicamente
afetam tanto as extremidades inferiores quanto as superiores,
devido à localização do foco da lesão, que afeta as fibras descen-
dentes para as extremidades inferiores e superiores. (figura 13).

Fig.10. RN com peso ao nascer de 710g, idade gestacional de 26 sema-


nas. Apresentou doença da membrana hialina, sepse, insuficiência renal.
Faleceu com 11 dias de vida. US realizado com 4 dias de vida, eviden-
ciando hemorragia intraventricular grau III bilateral (1) com hiperecoge-
nicidade periventricular à esquerda (infarto hemorrágico periventricular)
(2). Abaixo, os corte cerebrais evidenciando a hemorragia intraventricular
e o infarto hemorrágico à esquerda.

Paulo R. Margotto
Assistência ao Recém-Nascido de Risco

Fig.14. US no plano coronal em (A) mostrando o IHP focal à esquerda


(seta). Em (B) US no plano coronal mostrando IHP com desvio da linha
média (Bassan)

No estudo de Bassan e cl (2006), envolvendo 58 RN pré-termos


com IHP evidenciou o envolvimento mais freqüentemente dos ter-
ritórios parietal e frontal e com característica de cisto único ou múl-
tiplos; ¼ dos casos, o IHP foi bilateral e foi extenso em aproxima-
damente 70% dos casos (quando envolveu mais de 2 territórios) e
quase metade apresenta desvio da linha média (figura 15).

Fig.13. Localização do infarto hemorrágico periventricular (área sombrea-


da) e fibras do trato corticoespinhal motor. Observem que a topografia
da lesão implica em uma subseqüente hemiparesia espástica, com
um envolvimento proeminente tanto das extremidades inferiores como
extremidades superiores (Volpe)

Interessante citar que o infarto da artéria cerebral média que


ocorre nos RN a termo asfíxicos afeta mais os membros supe-
riores do que os inferiores, devido ao fato de estar localizado
mais lateralmente.
A severidade do prognóstico relaciona-se com a extensão da le-
são: o acontecimento frontoparieto-opiccital, no estudo de Guzzeta
e cl., correspondeu a uma mortalidade de 81%, e entre os sobrevi- Fig.15. Distribuição das ecogenicidades parenquimatosas de todos os
ventes, todos tiveram déficits motores; já para as lesões localizadas pacientes em vista parassagital (Bassan)
(região frontal, parietal, ou parieto-oPICCital), a mortalidade foi de
346 37%; dos 15 sobreviventes, três não apresentaram déficit motor e A severidade do escore para o IHP foi desenvolvido com base
sete tinham escores psicométricos acima de 80% do normal. de 3 fatores associados com a severidade do IHP: IHP bilateral,
Nos estudos de Mcmenamin e cl., os RN sobreviventes com desvio da linha média e extensão do IHP (isto é, ecogenicida-
grande lesão periventricular tiveram déficits neurológicos mode- de envolvendo 2 ou mais territórios [baseado no pior lado, se
rados a severos. No entanto, os 70% com lesões pequenas fica- bilateral]).O escore ficou assim definido (figura 16).
ram livres de déficits neurológicos no seguimento.
Os RN com lesão unilateral tiveram melhor prognóstico cogniti- •0: sem IHP
vo, no entanto, Blackman e cl. relataram déficits motores espás- •1:lesão de 2 ou mais territórios
ticos em quatro de nove RN com lesões localizadas, e estes au- •2: IHP bilateral
tores enfatizam que, apesar dos déficits motores serem comuns •3: IHP com desvio da linha média
nestes RN, o prognóstico cognitivo pode não ser tão desfavorável.
Bass e cl. relataram a média do quociente de desenvolvimento
dentro da normalidade nos RN pré-temo com IHP localizado.
Os RN com envolvimento parenquimatoso que cursam com
ventriculomegalia apresentam déficits significativos nas medidas
de funções cognitivas aos seis anos.
O IHP é uma complicação da hemorragia da matriz germinativa
e tem sido associada com significante prognóstico neurocompor- Fig.16. Severidade do escore do IHP derivado do ultrassom craniano com
tamental adverso. o máximo tamanho do IHP com base em: extensão da lesão em 2 ou
A despeito dos avanços da medicina perinatal, o IHP continua mais territórios (A); IHP bilateral (B) e desvio da linha média (C). O escore
sendo uma importante complicação da prematuridade, com é zero na ausência destes fatores e com a presença dos 3 fatores, o es-
grande impacto no neurodesenvolvimento. core é 3. Em A: Corte parassagital com divisão em 5 territórios; 3 linhas
Diferente da leucomalácia periventricular, o IHP é unilateral imaginárias na fronteira do tálamo. B: Corte coronal. A seta indica o IHP
e se bilateral, é claramente assimétrico. Quando a hemorragia no hemisfério esquerdo e direito. C: corte coronal de maciço IHP. A seta
intraventricular é bilateral, geralmente é maior no lado em que indica o desvio da linha média da direita para esquerda (Bassan)
ocorreu o IHP.
Bassan e cl (2006) categorizaram a topografia do IHP (frontal Não houve predominância do lado esquerdo, sendo a incidên-
anterior e frontal posterior {corpo}, parietal, temporal ou oPIC- cia em ambos os lados igual. O diagnóstico usualmente é feito no
Cital), a extensão (localizado, isto é, limitado a um território ou 4º dia de vida, mas em 1/5 dos seus casos, foi feito no primeiro
extensivo, isto é, envolvendo 2 a 5 territórios) e a presença de dia de vida (provavelmente o uso de ultrassom de menor frequên-
desvio da linha média. (figura 14). cia não detecta a leve apresentação). A ocorrência precoce levan-
ta a possibilidade do início do processo intraparto ou anteparto.
No estudo de Bassan H e cl (2006) não houve associação sig-
nificativa entre fatalidade e topografia do IHP.
Capitulo 10 Distúrbios Neurológicos

A evolução mais comum do IHP é para um único e largo cisto Portanto, no presente momento, 2/3 dos sobreviventes do
periventricular que pode ou não se comunicar com o ventrículo. A IHP desenvolvem anormalidades significantes motoras e/ou na
outra evolução possível é a coexistência do cisto grande com de cognição, enquanto habilidades adaptativas são relativamente
múltiplos cistos e a terceira forma de evolução e menos comum, poupadas. O maior grau de escore do IHP obtido a partir do ul-
(ocorreu em 9% dos casos no estudo de Bassan e cl, 2006) é trassom cerebral prediz prognóstico ruim em várias modalidades,
para múltiplos pequenos cistos (esta forma é mais vista na zona podendo ser uma prova útil para a determinação prognóstica.
final arterial de leucomalácia periventricular). Uma alta propor-
ção de pacientes apresentou na evolução ventriculomegalia, atri- Prevenção
buída a perda de tecido periventricular e deficiente dinâmica do
LCR com o aumento da pressão ventricular ou ambos. A prevenção do infarto hemorrágico periventricular está direta-
Murphy BP e cl (2002) al recentemente relataram ventriculo- mente relacionada à prevenção da hemorragia intraventricular.
megalia nos sobreviventes de IHP em mais de 70%. Com a melhor assistência neonatal e com o maior uso do esterói-
No estudo de Bassan H e cl (2006), a análise univariada de de pré-natal, a HIV tem diminuído e, conseqüentemente, o infarto
fatores de risco revelou que o mais alto escore de IHP esteve hemorrágico periventricular também.
associado com baixos níveis de bicarbonato nos primeiros 2
dias de vida (p<0,02). A regressão logística múltipla de 3 predi- Referências
tores (hemorragia pulmonar, baixos níveis de bicarbonato e baixo
• Tapia JL, Gonzáles H, Cifuentes J. Very-low birth weight infant outcomes in 11 South Ame-
Apgar no 5o minuto) mostrou que a hemorragia pulmonar é um rican NICUs. Perinatol 22:2, 2002
preditor independente para maior severidade do IHP (p=0,014), • Margotto PR. Estatística Perinatal. In: Margotto PR. Assistência ao Recém-Nascido de Ris-
co, Brasília, Editora Pórfiro, pg 33, 2002
enquanto o baixo Apgar no 5o minuto apresentou uma significân- • Jongmans M, Henderson S e cl. Duration of periventricular densities in preterm infants and
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cia limite (p=0,049) e o baixo bicarbonato não foi estatisticamen- • Volpe JJ. Brain injury in the premature infant neuropathology: clinical aspectys, pathogene-
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de idade ajustada: houve associação com o escore de gravida- (≤ 800g) children at 8 ½ years. Pediatr Res 45:245A, 1999
• der Knaap, Valk J e cl. Myelination as on expression of the functional maturity of the brain.
de proposto por Bassan H e cl (2006): Houve uma associação Develop Med Child Neurol 33:849, 1991
significante entre a severidade do escore de IHP e fatalidade (de- • De Vries LS, Connell JA e cl. Neurological eletrophisiological and MRI abnormalities in in-
fants with extensive cystic leukomalacia. Neuropediatrics 18:61, 1987
cisão para retirar o suporte), convulsões precoces e exame neu- • Inder TE Huppi PS e cl. Periventricular white matter injury in the premature infant is follo-
wed by reduced cerebral cortical gray matter volume at term. Ann Neurol 46:755, 1999
romotor anormal aos 12 meses. Regressão logística de exame • Armstrong D. Preterm periventricular axonal and myelin injury. Semin Perinatol 17:342, 347
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neuromotor anormal e escore mostrou relação estatisticamente • Paneth N.Classifying brain damage in preterm infants. J Pediatr 134:527, 1999
significativa (p=0,011) com uma Odds Ratio de 4,1 para exame • Volpe JJ. Neuronal proliferation, migration, organization, and myelination 3 ed. Philadel-
phia: W.B. Saunders Company, pg 43, 1992
neurológico anormal aos 12 meses por unidade de aumento do • Shuman RM, Selednik LJ. Periventricular leukomalácia: a one year autopsy study Neurol
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O envolvimento dos territórios frontal anterior e posterior foi logic and ultrasonographic findings in infants six days or longer. J Pediatr 116:975, 1990
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significativamente associado com escores anormais visuais, al- Neurol 38:1.061, 1996
terações do motor fino, com exame neurológico anormal e com • Volpe JJ. Hipoxic-ischemia encefalopathy: neuropathology and pathogenesis. Philadelphia:
W.B. Sanders Company, pg 279, 1995
hipertonia. O envolvimento do território frontal posterior foi signi- • DeReuck J, Chatta AS, Richardson EP. Pathogenesis and evolution of periventricular leuko-
malacia in infancy. Arch Neurol 27:229, 1972
ficativamente associado com escores anormais do motor grosso. • Takashima S, Tanaka K. Development of cerebrovascular architecture and its relationship
O envolvimento dos territórios parietal, opiccital e temporal não teve to periventricular leukomalacia, Arch Neurol 35:11, 1978
• Borch K. Greisen G. Blood flow distribution in the normal human preterm brain. Pediatr
associação significativa com nenhum dos fatores estudados (uma ex- Res 1998;43:28-33.
plicação deste resultado que contrasta com outros autores poderia • Luciano R, Zuppa AA e cl. Fetal encephalopathy after maternal anaphylaxis. Biol Neonate
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ser devido diferenças metodológicas na topografia e na definição do • Ito T, Kadowaki K e cl. Clinical features of and cardiotocographic findings for premature
infants with antenatal periventricular leukomalacia. Early Human Development 74:195,
prognóstico utilizado; esperam-se outros estudos para validação). 1997
• Shortland DB, Gibson NA e cl. Patent ductus arteriosus and cerebral circulation in preterm
IHP no lado esquerdo foi preditor de anormalidades no tônus, infants. Dev Med Child Neurol 32:386, 1990
assim como a sua evolução para microcistos. • Perlman JM, Volpe JJ. Episodes of apnea and bradicardia in the preterm newborn; impact
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A evolução da ecogenicidade para múltiplos cistos, versus cisto • Yoon BH, Jun JK e cl. Amnniotic fluid inflamatory cytokines (interleukin-6, interleukin-1 beta
and tumor necrosis factor-alpha), neonatal brain white matter lesions, and cerebral palsy.
único teve associação significativa com habilidades motor fino, Am J Obstet Gynecol 117:19, 1997
motor adaptativo e com hipertonia. • Dammann O, Leviton A. Brain damage in preterm newborns: might enhancement of de-
velopmentally regulated endogenous protection open a door for prevention? Pediatrics
O estudo de Bassan H e cl evidenciou que o IHP nos recém- 104:541, 1999
• Damman O, Leviton A. Brain damage in preterm newborns: biological response modifica-
nascidos prematuros representa o maior risco para um desenvol- tion as a strategy to reduce disabilities. J Pediatr 136:433, 2000
vimento neurocomportamental adverso, a despeito dos avanços • Damman O, Leviton A. Maternal intrauterine infection, cytokines, and brain damage in the
preterm newborn. Pediatr Res 42:1, 1997
no cuidado aos recém-nascidos prematuros críticos nas últimas • Kadhim H, Tabarki B, Verellen G e cl, Inflammatory cytokines in the pathogenesis of peri-
ventricular leukomalacia. Neurology 22:1278, 2001
2 décadas. Este quadro provavelmente se deva a maior sobrevi- • Kadhim H. Tabarki B, De Prez C e cl. Iterleukin-2 in the pathogenesis of perinatal white
vência dos recém-nascidos pré-termos doentes, os quais apre- matter damage. Neurology 58:1125, 2002
• Margotto, PR. Lesão neurological isquêmica e hemorrágica do prematuro:patogenia, fato-
sentam grande risco para o IHP. No geral, 2/3 dos sobreviventes res de risco, diagnóstico e tratamento. Clínica de Perinatologia 2/3:425, 2002
• Perlman JM, Risser R, Broyles S. Bilateral cystic periventricular leukomalacia in the prema-
tiveram atraso motor e metade apresentou déficit cognitivo; 13 ture infant: associated risk factors. Pediatrics 94:822, 1996
apresentam déficit no campo visual e ¼, convulsões. No entan- • Leviton A. Maternal infection, fetal inflamatory response, and brain damage in very low
birth weight infants. Pediatr Res 46:566, 1996
to, habilidades adaptativa e comunicação foram preservados em • De Felice C, Toti P, Laurini RN e cl. Early neonatal brain injury in histologic chorioamnioni-
tes. J Pediatr 138:101, 2001
2/3. De importância deste estudo, é que aproximadamente 1/3 • Burguet A. Monnet E e cl. Some risk factors for cerebral palsy in very premature infants:
dos sobreviventes do presente estudo não demonstraram seqüe- importance of premature rupture of membranes and monochorionic twin placentation,
Biol Neonate 75:177, 1999
las neuromotora e cognitiva.

Paulo R. Margotto
Assistência ao Recém-Nascido de Risco

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Capitulo 10 Distúrbios Neurológicos

10.4 MACROCRANIA

M.Monset–Couchard, Paulo R. Margotto,


Laurista Correa Filho

As relações entre o volume do crânio e o do cérebro são em terais, e da cisterna magna, é possível distinguir quatro combina-
geral simples: um cérebro normal preenche uma caixa craniana de ções de constatações.
volume normal. As relações podem se tornar mais complexas uma
vez que a caixa craniana seja de volume inferior ao normal, condi- 1. Em um grande crânio, um grande cérebro preenche
ção que caracteriza as microcefalias: microcefalias do desenvolvi- todo o espaço.
mento quando o cérebro preenche uma pequena caixa craniana Os espaços pericerebrais são normais, ou seja, invisíveis ou
e microcefalia por anomalias estruturais graves quando a massa muito pouco visíveis na ETF, e sua espessura máxima não ul-
cerebral é ainda muito menor do que a caixa craniana. Do con- trapassa 6mm6.
trário, o volume do crânio pode ser superior ao normal, condição Os espaços subaracnóideos (cisterna magna, cisterna pré-
que denominamos macrocranias (ou macrocefalias). O problema pontina, cisterna cerebelo - pontina, cisterna supracerebelar,
consiste em determinar se um volume normal do cérebro ocupa cisura inter-hemisférica, sulcos corticais, cisura de Sylvius) são
o do crânio. Torna-se então necessário examinar as espessuras distinguíveis, mas não aumentados em particular a cisura inter-
dos espaços pericerebrais, dos espaços subaracnóideos, da cisura hemisférica com dois bordos bem fechados, ou se ela está au-
Inter-hemisférica, dos ventrículos laterais e da cisterna magna. En- mentada, a sua espessura não ultrapassa 8mm. Uma estimativa
quanto a fontanela estiver aberta a ecografia transfontanelar (ETF) mais estrita da normalidade retém 5 mm como espessura e não
é o exame de escolha (rápido, pouco oneroso, não constrangedor) ultrapassa entre o osso e o parênquima, da mesma forma que
para avaliação de base, reservando a tomografia computadorizada para a cisura interhemisférica.
(TC) e a Ressonância magnética (RM) caso alguma anomalia vista Os ventrículos laterais são normais, que sejam invisíveis ou
na ETF exija uma avaliação mais detalhada. pouco distinguíveis no recém-nascido, distinguíveis e depois bem
visíveis após 4-6 meses pós-natal, mas o diâmetro ao nível dos
A Macrocrania orifícios de Monro não ultrapassa 2 mm no recém-nascido, 5mm
antes de 1 ano e os carrefour ventriculares não são dilatados8.
O diagnóstico positivo da macrocrania é fácil se os pediatras, Em resumo trata-se então de uma megaloencefalia.
examinando os recém-nascidos e seguindo os lactentes, avaliem Certas megaloencefalias isoladas se acompanham de um de-
o perímetro cefálico (PC) a cada exame, anotem e coloquem em senvolvimento e de uma inteligência normais e o diagnóstico a
curvas de PC publicadas com desvio padrão ou percentis. Em lac- posteriori será o de “megaloencefalia familiar benigna” ou “me- 349
tente normal a cada mês, Saint - Anne Dargassies insistiu sobre a galoencefalia essencial”.
dispersão dos PC em torno da média (±1cm). Na 40ª semana de De qualquer maneira é prudente manter uma suspeita obstina-
gestação, Margotto relata um PC de 36cm no percentil 90 para da até a demonstração normal da normalidade da criança, porque
RN normais. De qualquer maneira, o crescimento do PC pode ser um grande número de megaloencefalias são o reflexo de uma pa-
irregular, apresentando crescimentos rápidos seguidos de pata- tologia subjacente seguindo os 5 grupos definidos por Baraitser9.
mares, e uma apreciação evolutiva deve então recair sobre dois,
ou melhor, ainda três meses (salvo urgência com outros sinais • As perturbações do crescimento cerebral do gênero gi-
clínicos preocupantes). gantismo cerebral (Síndrome de Soto)
Alguns recém-nascidos já apresentam um PC elevado. Esta cons- • As displasias ósseas como a acondroplasia, picnodisos-
tatação deve ser seguida de uma medida do PC dos pais e pesquisar tose, e a displasia crânio-metafisária.
seu próprio PC de nascimento em sua caderneta de saúde • As síndromes neuro-cutâneas do tipo neurofibromatose
Uma ETF imediata permite, na maioria dos casos, demonstrar • As doenças de sobrecarga neurometabólicas (gangliosi-
a ausência de anomalia intracraniana. Em seguida, o PC cresce dose, mucopolissacaridose, leucodistrofias).
permanecendo acima do normal, mas sempre o mesmo parale- • As doenças cromossômicas, em particular a Síndrome do
lo deste. Em um pequeno número de casos (cada vez mais raro X frágil.
devido à prática sistemática de ecografia pré-natal), a ETF de-
monstra uma anomalia mais ou menos importante que leva a um O seguimento da evolução do PC e da pesquisa sistemática
exame completo com TC e/ou RM. dos sinais neurológicos e/ou de um retardo mental deve permitir
Outras crianças têm um PC normal ao nascimento (ou mesmo separar cada vez mais cedo casos patológicos. Além do mais,
pequeno), mas os exames de seguimento do lactente mostram o desenvolvimento espetacular da genética molecular elucidará
um aumento do PC superior ao normal, e a curva de PC “cruza” cada vez mais os mecanismos etiológicos dessas doenças.
as curvas sucessivas de desvio padrão ou de percentis.
Ainda mais uma vez, é necessário verificar o PC dos pais, mas 2. Em um grande crânio, o cérebro parece preencher
a suspeita de uma anomalia cerebral subjacente é muito maior, todo o espaço, mas existem cavidades com líquidos
e é necessário, em geral, recorrer a uma ETF imediata, sobretudo anormais em seu interior.
se essa macrocrania se acompanha de uma grande fontanela, ou Os espaços cerebrais são em geral, normais, ou mesmo esma-
de outro sinal evocador de hipertensão intracraniana. gados, sob o aumento da distensão interna.
Os ventrículos cerebrais são dilatados, ou seja, os ventrículos
O Interior De Um Crânio Grande laterais arredondados e de um diâmetro em geral muito superior
ao normal ao nível dos orifícios de Monro, com sinais de reab-
Segundo o estado dos espaços pericerebrais, dos espaços sorção do líquido cefalorraquidiano, às vezes uma ventriculite ou
subaracnóideos, da cisura inter-hemisférica, dos ventrículos la- uma ependimite. O 3º ventrículo está aumentado uma vez que a
fossa posterior (ao menos os orifícios de Magendie e Luschka)

Paulo R. Margotto
Assistência ao Recém-Nascido de Risco

é obstruída. A ETF é um exame particularmente de boa quali- 4. Em um grande crânio, o conteúdo é misto.
dade para o diagnóstico e o seguimento dessas dilatações. Um Certas megaloencefalias se acompanhava de uma pequena di-
bom corte sagital mediano coloca facilmente em evidência uma latação dos ventrículos laterais. Em algumas series, às vezes está
obstrução do aqueduto de Sylvius e/ou uma obstrução da fossa associado a retardos mentais, mas não de maneira constante.
posterior, sobretudo nas hidrocefalias pós-hemorrágicas. Com Os espaços pericerebrais podem variar em espessura de ma-
efeito, trata-se em geral de uma hidrocefalia, seja isolada por es- neira fisiológica antes da idade de dois anos. A vigilância do PC,
tenose do aqueduto de Sylvius, seja freqüentemente por malfor- desta espessura, e do desenvolvimento neurológico e mental
mações cerebrais associadas (Síndrome de Dandy-Walker, spina torna-se necessários até a estabilização.
bífida com malformação de Arnold-Chiari tipo II, Lisencefalia tipo Algumas “hidrocefalias externas” podem se acompanhar inva-
Walker10). Excepcionalmente pode se tratar de um excesso de riavelmente ou secundariamente de uma pequena dilatação ven-
produção de LCR por papiloma de um ou dos dois plexos corói- tricular. A vigilância é necessária, porque algumas dentre elas re-
des. Em caso de aneurisma de veia de Galeno ou de um tumor presentam o início de verdadeiras “hidrocefalias comunicantes”
vascular mais complexo, a ETF fará ao mesmo tempo a detecção que poderão exigir mais tarde um acompanhamento.
desta anomalia vascular e pode mesmo precisar os afluentes Algumas lesões hemorrágicas maiores ocasionam em seguida
(utilização da técnica de Doppler colorido). A avaliação detalhada uma hidrocefalia e uma atrofia seguida de destruição parenqui-
exige freqüentemente que se faça uma RM. matosa; apesar de macrocrania, e mesmo levando em conta a
Em um antigo prematuro vítima de uma hemorragia intraven- hidrocefalia, existe uma atrofia cerebral maior.
tricular importante (estágio III bilateral, às vezes maciça), a hidro- Esta associação hidrocefalia - atrofia observada antigamente
cefalia não deve em nenhum caso constituir uma “descoberta”, após toxoplasmose no primeiro trimestre da gravidez, com vigi-
mas ela deve ser prevenida por uma vigilância cuidadosa com lância em seguida, e tratamento em caso de viragem sorológica,
ETF, permitindo tratar mais cedo a dilatação pós-hemorrágica, fez desaparecer quase completamente este problema.
em seguida decidir a colocação de uma válvula ventrículo-peri- Algumas “hidrocefalias comunicantes” após hemorragia intra-
toneal desde que se detecte um bloqueio completo a um ou dois craniana ou meningite podem também se tornar secundariamen-
estágios esteja instalado11. Em poucos casos uma hidrocefalia te hidrocefalias bloqueadas.
tardia pode se instalar secundariamente12.
Conclusão
3. Em um grande crânio, um cérebro de tamanho normal
ou reduzido está separado do osso por uma espessura Do ponto de vista prático é possível, na maioria dos casos:
de líquido, mas os ventrículos laterais são normais.
Trata-se então do diagnóstico de aumentos pericerebrais • Confirmar a macrocrania
O diagnóstico positivo pode ser suspeito com a ETF se o au- • Seguí-la para caracterizá-la como “não evolutiva” ou
mento está situado sobre a linha média ou ultrapassa a linha “evolutiva”
350 média. A precisão é melhor com um transdutor de 7,5 MHz (ou • Julgá-la, graças à imagem da ETF inicialmente, depois TC
mesmo 10 MHz) com bolsa d’água, permitindo uma medida mui- e/ou RM, de adequação do conteúdo no continente, e da
to precisa do aumento. qualidade do volume do cérebro observado.
Em caso de suspeita não elucidativa pela ETF, é preciso pes-
quisar um aumento estável, sobretudo através da RM que indica Os resultados permitem em geral se dirigir para o conjunto dos
também a idade das lesões hemorrágicas ou mostra a sucessão diagnósticos coerentes, mas certo tempo de evolução é freqüen-
de várias camadas de aumento (hematomas subdurais, Síndro- temente necessário.
me de Silverman, criança maltratada, pode ser discutida).
O exame ecográfico permite raramente diferenciar uma cole- Bibliografia
ção subaracnóidea de uma coleção subdural, sobretudo se o au-
• Mamelle N, Munoz F, Grandjean H. Fetal growth from the AUDIPOG study. I. Establishment
mento é pouco volumoso. Além do mais, existe freqüentemente of reference curves. J Gynecol Obstet Biol Reprod 1996;25:61
• Margotto PR. Curvas de Crescimento intrauterinas. J Pediatr (Rio) 1995; 11
uma “mistura topográfica dos aumentos pericerebrais”.
• Lubchenco LO, Hansman C, Boyd E. Intrauterine growth in length and head circumference
A Hidrocefalia externa é o acúmulo do LCR nos espaços su- as estimated from live births at gestational ages from 26 to 42 weeks. Pediatrics 1996;
37:403
baracnóideos. O Hematoma subdural é uma coleção sangüínea • Saint-Anne Dargassies S. Le développement neurologique do noveau-né a terme et prema-
turé, 2e édition, Paris: Masson; 1979.
entre a dura-máter e a aracnóide, menos difusa, dando um efeito • Saint-Anne Dargassies S. Le développement neuro-moteur et psycho-affectif du nourisson.
de massa esmagando o hemisfério contralateral, com desloca- Paris: Masson, 1982.
• Fukuyama Y. Miyao M, Ishgu T, Marujama H. Developmental changes in normal cranial
mento da cisura inter-hemisférica. measurements by computed thomography. Dev Med Child Neurol 1979; 21:425
Os higromas subdurais são coleções que se seguem a um he- • Carriere JP. Hydrocéphalie externe. Arch Pédiatr 1995; 2:603
• Monset-Couchard M, Sciot C, Dubois B, Relier JP. Mesure des ventricules lateraux par
matoma subdural e passando a cronificação. Mas esta classifica- l´echographie cerebrale chez le nouveau-né. Ann Radiol 1984; 27: 37
• Baraitser M, The genetics of neurological disorders, 2nd edition, Oxford University Press,
ção teórica é freqüentemente falha na prática, por causa das in- Oxford), 1990.
ter-relações com hematomas, higroma e hidrocefalias externas10. • Lyon G, Evrard P. Hidrocéphales, colections Péricérébrales. In: Lyon G, Evrard P, ed. Neuro-
pédiatrie, Paris: Masson; pg 67, 1987.
Em resumo, a atitude de bom senso é recorrer à drenagem • Monset - Couchard M, Lima GV, Swalkiewicz-Warowicka E, Bethmann O. Prognóstico e evo-
lução cronológica das hemorragias periventriculares. J Pediatr (Rio)1998; 74: 31
uma vez que a pressão intracraniana estiver aumentada: dre- • Perlman JM. Late hydrocephalus after arrest and resolution of neonatal post- hemorrhagic
nagem subdural externa por alguns dias, com passagem a uma hydrocephalus. Dev Med Child Neurol 1990; 32:725.

derivação subduroperitoneal em caso de resistência incontro-


lável da dilatação. As hidrocefalias externas não exigem senão
raramente este tratamento, graças a uma evolução freqüente-
mente favorável com desaparecimento espontâneo entre 1 ano
e 18 meses. As combinações etiológicas levam a discutir as indi-
cações terapêuticas caso a caso, essencialmente em função da
repercussão desta dilatações
Capitulo 10 Distúrbios Neurológicos

10.5 HEMORRAGIA INTRAVENTRICULAR NO RECÉM-NASCIDO PRÉ-TERMO

Paulo R Margotto

A despeito dos avanços nos cuidados perinatais nas últimas A MG é irrigada por um rico e frágil leito vascular (existe uma
décadas, o recém-nascido (RN) pré-termo continua de alto ris- pletora sangüínea à MG entre as idades gestacionais 24 e 32
co para o desenvolvimento de hemorragia intraventricular (HIV) semanas). O leito capilar da MG é facilmente rompível, imaturo
e lesão da substancia branca adjacente. Ambas as condições com vasos cuja morfologia é composta de apenas uma camada
constituem o maior problema no cuidado neonatal moderno e endotelial sem tecido muscular elástico ou colágeno.
contribuem significativamente para a morbimortalidade nestes Associado a estas características da MG existe uma flutuação
RN, assim como déficits neurocomportamentais a longo prazo. do fluxo sangüíneo cerebral conseqüente a uma deficiência de
A HIV é estudada há mais de 25 anos. A sua incidência está auto regulação, na qual a hipercapnia, a acidose láctica, a asfixia
relacionada à prematuridade, ao aumento da sobrevivência nos perinatal grave e as prostaglandinas desempenham papel impor-
RN com peso ao nascer abaixo de 1000g e, sobretudo às práti- tante (Figura 2)
cas neonatais e a gerência dos serviços obstétricos e neonatais.
Em 1978, Papile e cl relataram uma incidência de 35 - 45 % (1
⁄ 3 a 1 ⁄ 2 das autópsias ) nos RN com peso ao nascer abaixo de
1500g. Atualmente, as formas mais severas de HIV ocorrem nos
RN abaixo de 1000g: aproximadamente 26% nos RN entre 501
e 759g e 12% nos RN com peso ao nascer entre 751 e 1000g. A
importância desta informação se deve por duas razões: a sobre-
vivência dos RN nestas faixas de peso aumenta cada vez mais
e tanto a mortalidade como os déficits neurocomportamentais
ocorrem com maior probabilidade nos RN com severa HIV. Nos
RN <32 semanas, Inder e cl relataram uma incidência entre 15-
25% e Brower e cl, 5,6%
Na Unidade de Neonatologia do HRAS, no ano de 2008, a HIV
ocorreu em 11.6% nos RN entre 26 e 34 semanas de idade ges-
tacional Em 1989, a incidência descrita por Volpe em bebês com
peso abaixo de 2000g foi de 29 %.
351
Neuropatologia

O sítio da hemorragia ocorre na matriz germinativa (MG) su- Figura 2.Padrão do fluxo sanguíneo cerebral (Volpe, 1997)
bependimária, uma região celular ventrolateral ao ventrículo la-
teral que serve como fonte de neuroblastos (entre a 10a e a 20a O aumento da pressão venosa cerebral pode contribuir para a
semana de gestação) e gliobastos (3o trimestre) que se tornarão ocorrência da HP ⁄ HIV e a sua importância se deve à anatomia na
oligodendróglios e neuroblastos. A MG diminui progressivamente região da MG: a junção da veia coroidal tálamo-estriada e medu-
de tamanho ( de uma largura de 2,5 mm entre 23 e 24 semanas lares para formar a veia cerebral interna é particularmente angu-
a 1,4 mm com 32 sem, involuindo completamente por volta de lada nos prematuros e isto ocorre na região a nível do forame de
36 sem). Ela é mais proeminente no sulco caudotalâmico ao nível Monro, que é o sítio mais comum de HP ⁄ HIV. Esta anatomia pe-
da cabeça do núcleo caudado, sendo este o local mais comum de culiar predispõe à estase e à formação de trombos com aumento
ocorrência da HIV. Veja a Figura 1. sangüíneo retrógrado nos capilares da MG(Figura 3).

Figura 3: Anatomia da Drenagem Venosa Volpe,1997)

O plexo coróide também pode ser fonte de sangramento porém


mais raramente e em RN a termo (Consultem o Capitulo de He-
morragia Intraventricular no RN a termo)
Fig.1. Ultrassom no plano sagital lateral.1:núcleo caudado 2:cisura cau- Mais atualmente os dados de Ment e cl, de 1983, obtidos no
dotalâmica; 3: tálamo;4:plexo coróide (Margotto, Castro ) modelo de cachorrinho da raça beagle estão sendo resgatados

Paulo R. Margotto
Assistência ao Recém-Nascido de Risco

pelo grupo australiano de Kluckow para explicar a ocorrência da tal (OR:2,16-IC :1,65-2.83). Não houve associação com o tipo de
HIV. Os cachorrinhos foram exsanguinados em 5% do volume, parto. A hipertensão materna foi um fator protetor.
ocorrendo uma injúria isquêmica seguido de reposição, havendo Estudo realizado por nós na Unidade de Neonatologia do HRAS
então uma reperfusão da circulação nestes filhotes, resultando com RN entre 26 e 34 semanas, os fatores com associação signi-
hemorragia na matriz germinativa. Os prematuros sofrem essen- ficativa com a HIV foram a idade gestacional 2 semanas (RR: 4,28-
cialmente um episódio de lesão isquêmica nas primeiras 12-24 IC:1,29-14,21), peso ao nascer 1000g (3.30-IC: 1,25-12,37),além
horas de vida e à medida que o miocárdio se adapta a esta vida da doença da membrana hialina, ventilação mecânica mais de 24
pós-natal ou quando se inicia o tratamento efetivamente deste horas, apnéia, persistência do canal arterial e sepse.
baixo débito cardíaco, existe um aumento deste fluxo e é neste
momento que ocorre a HIV. Assim, ocorre um insulto isquêmico, Em resumo
seguido de uma lesão de reperfusão nos bebês que apresentam
HIV, tal como no modelo experimental de Laura Ment. Patogenia Da HIV Observações E Hipóteses
Kluckow e cl, avaliando o fluxo da veia cava superior (VCS) atra-
vés do Doppler (este fluxo representa a metade superior do cor- Fatores associados à prematuridade
po, do qual 80% vem do cérebro) evidenciaram que a HIV ocorreu Observação A incidência de HIV varia inversamente à idade ges-
após a melhora do fluxo na VCS. O grau de HIV e o desenvolvi- tacional, sugerindo que os fatores maturacionais são importantes.
mento neurológico dos bebês correlacionaram com a duração e Hipótese Uma rede vascular imatura, mal apoiada na matriz
a severidade do baixo fluxo da VCS. Estes achados enfatizam a germinativa, é o sítio da hemorragia e, com o amadurecimento,
importância de se minimizar precocemente a pressão das vias desaparece.
aéreas e o fechamento farmacológico do canal arterial nas pri- Observação A asfixia e a hipotensão ao nascer são comuns em
meiras horas de vida, condições estas associadas com baixo flu- prematuros com hemorragia.
xo na veia cava superior. Hipótese A matriz germinativa e a substância branca periven-
tricular estão em uma linha divisória arterial, tornando-as vulne-
Fatores De Risco ráveis às lesões isquêmicas e formando o estágio para a HIV.
Observação Em recém nascidos asfixiados, a auto-regulação
Baseado nos conhecimentos fisiopatológicos mencionados, do fluxo sangüíneo cerebral está perturbada.
são inúmeros os fatores de risco que podem levar a ruptura dos Hipótese Os recém-nascidos são “pressão passiva” e não res-
vasos da MG. pondem as alterações da pressão sistêmica piorando a isquemia
( baixa pressão sangüínea ) ou por hemorragia capilar ( alta pres-
1. Pré-natais são sangüínea).
• Ausência do uso de corticosteróide Observação Em RN prematuros com HIV, os fatores de coagu-
• Infecção intrauterina lação são deficientes.
352 • Rotura prematura de membranas Hipótese Os RN tem perturbação das interações trombocitoca-
• Parto pélvico (RN com peso < 2000g) pilares, que contribuem para a hemorragia.
• Nascimento fora de centro neonatal
• Fertilização in vitro Fatores associados à doença de Membrana Hialina

Uma condição médica materna associada à baixa incidência Observação Hipoxia, hipercapnia, ventilação mecânica, pneu-
de HIV é a doença hipertensiva específica da gravidez OR:0.43;IC: motórax, ductus arteriosus patente, prostaglandinas e terapias
o.33 a 0,61.Mais importante que a via de nascimento é a infla- (por exemplo, bicarbonato de sódio, reexpansão flúida e agentes
mação da placenta e de particular importância, a vasculite fetal. hipertensores) têm mostrado associação com HIV.
Hipótese As alterações bruscas nas pressões sistêmica arte-
2. Pós-natais rial e/ou venosa são transmitidas diretamente ao leito capilar da
• Peso ao nascer (< 1500g) matriz germinativa e resultam em uma combinação de isquemia
• Idade gestacional (< 32 sem) e hemorragia. A vasodilatação local é produzida por fatores me-
• sepse precoce tabólicos e agrava isquemia e a hemorragia.
• Asfixia Perinatal com necessidade de reanimação
• Ventilação mecânica (respiração fora de sincronia com o Quadro Clínico
respirador e pneumotórax )
• Procedimentos na UTI Neonatal: Os RN com HIV são na maioria das vezes assintomáticos (cer-
• Fisioterapia respiratória inadequada ca de 8º%) ou apresentam quadro clínico inespecífico, comum a
• Sucção da cânula orotraqueal outras patologias relacionadas à prematuridade.
• Palpação abdominal O RN pode apresentar a Síndrome catastrófica (hemorragias
• Nascimento fora de centro neonatal intensa com evolução em minutos a horas): Coma, convulsões tô-
• Convulsão nicas generalizadas, pupilas não reativas, quadriparesia flácida,
• Pneumotórax abaulamento de fontanela, hipotensão sistêmica e bradicardia.
• Queda do hematócrito Ocorrem também apresentações mais leves (síndrome saltan-
• Exposição à hipoxia e hipercapnia te: hemorragia menor): hipotonia, alteração no nível de vivaci-
• Canal arterial pérvio dade com estupor ou estado de irritabilidade, desvio obliquo e
vertical dos olhos ( para baixo) e queda da atividade espontânea.
Recentemente Riskin e cl relataram em uma análise multiva- A queda inexplicável do hematócrito com incapacidade de subir
riada após controle para a idade gestacional nos RN com peso após a transfusão sangüínea, rigidez de ângulo poplíteo e imo-
abaixo de 15oog ao nascer, únicos e apresentação cefálica, uma bilidade ocular são achados encontrados nestes RN que fazem
associação significativa com a HIV os seguintes fatores: o não hemorragia silenciosa (quase 80% deles).
uso de esteróide pré-natal (OR:2,7º-IC: 2,12-3.45), Apgar no 1º
minuto entre 0-3 (OR: 1,72-IC: 1,33-3,21) e reanimação neona-
Capitulo 10 Distúrbios Neurológicos

Diagnóstico

A ultrassonografia cerebral (US) é o método de modalidade por


imagem mais sensível e específica no diagnostico da HIV. A US
deve ser realizada em aparelhos portáteis (pode ser feita a beira
do leito sem alterar a hemodinâmica circulatória do bebê, man-
tendo-o em equilíbrio com o seu meio térmico, não sendo neces-
sário a sedação do RN), com transdutores de 5 MHz, utilizando-
se da fontanela anterior com janela acústica nos planos coronais
anteroposteriores e sagitais laterais. Por não usar irradiância o Fig.3. RN com peso ao nascer de 710g, idade gestacional de 26 sema-
exame pode ser repetido varias vezes. nas. Apresentou doença da membrana hialina, sepse, insuficiência renal.
Todos os RN que apresentam os riscos assinalados anterior- Faleceu com 11 dias de vida. US realizado com 4 dias de vida, eviden-
mente devem ser submetidos à ecografia cerebral nos primeiros ciando hemorragia intraventricular grau III bilateral (1) com hiperecoge-
3-4 dias de vida; se anormal, repetir semanalmente para acom- nicidade periventricular à esquerda (infarto hemorrágico periventricular)
panhar a evolução e identificar as complicações precocemente; (2). Abaixo, os corte cerebrais evidenciando a hemorragia intraventricular
se normal, repetir com 14 dias e 21 dias. Deve realizar a última e o infarto hemorrágico à esquerda.
ecografia na 40ª semana de idade pós-concepção.
A identificação da hemorragia respeita o principio físico da eco-
densidade resultante da malha de fibrina formadora de coágulo
sangüíneo (a HIV é observada como uma massa altamente eco-
gênica em contraste com o parênquima cerebral mais hipoecóico)
.
•Grau I Hemorragia na MG (hemorragia subependimária)
•Grau II Hemorragia intraventricular sem dilatação ventri-
cular (o sangue ocupa <=50% do ventrículo)
•Grau III Hemorragia intraventricular com dilatação ventri-
cular (sangue ocupa >50% do ventrículo)
•Grau IV Hiperecogenicidade periventricular que pode sig-
nificar (figura 2.).
Infarto hemorrágico (assimétrico) ou leucomalácia (simétrico).

353
Fig.4. Pelas anatômicas correspondentes aos planos ultrassonográficos do
caso da figura 2.16, evidenciando a hemorragia intraventricular Grau III (2)
com o correspondente infarto hemorrágico periventricular ipsialetal (1)

Hemorragia Grau I (Hemorragia na Matriz Germinativa; He-


morragia Subependimária) observamos uma massa ecogênica
circular limitada ao nó caudotalâmico (aspecto de “cabeça de
cobra” no plano sagital) (figura 5).

Fig.2. Significado da hiperecogenicidade periventricular


(leucomalácia/infarto hemorrágico).

Observem a seguir a correspondência anátomoclinica em um


RN com infarto hemorrágico periventricular (consulte o capítulo
Lesão neurológica isquêmica e hemorrágica do prematuro: pato-
genia, fatores de risco, diagnóstico e tratamento)
Fig 5. US no plano coronal (A) e em (B) no plano sagital,
evidenciando a hemorragia Grau I (setas) (Margotto/Castro).

Hemorragia Grau II em mais de 80% dos casos, a hemorragia


subependimária rompe-se para o ventrículo. Quando o ventrículo
não se dilata, dizemos que a hemorragia é grau II. A hemorragia
ocupa 10-50% da área do ventrículo lateral no plano sagital e inclui
o plexo coróide. O plexo coróide pode servir de local para a forma-
ção de coágulo, tornando o seu contorno mais irregular, diferente
do plexo coróide normal, que tem bordos finos e bem definidos.
Ás vezes o trombo pode despreender-se e gravitar em direção aos

Paulo R. Margotto
Assistência ao Recém-Nascido de Risco

cornos occipitais. Por volta de 7-10 dias, o sangue se torna iso- Organograma De Diagnóstico
denso; 14 dias após pode ser observado um halo subependimário
de densidade aumentada (esta ventriculite pode ser devida a um
aumento da ecogenicidade das paredes ventriculares) (figura 6)

Outros recém-nascidos:
•Asfixia
•Aumento do peímetro cefalico (PC)
•Meningite
•Infecção congênita
•Outras alterações neurológicas
•Malformações
Fig. 6. US nos planos sagitais laterais evidenciando hemorragia intraven-
tricular Grau II e sua evolução (setas) (Margotto/Castro) Doppler (Consulte o capítulo Ultrassonografia cerebral Doppler)
Permite estudar o fluxo sanguíneo cerebral. A análise da velo-
Hemorragia Grau III é uma hemorragia mais extensa, ocupan- cidade do fluxo sanguíneo cerebral se baseia principalmente no
do mais de 50% do ventrículo lateral no plano sagital, com di- cálculo do índice de resistência (IR) ou Índice de Pourcelot.
latação ventricular, moldando o ventrículo; por volta do 7º - 10º
dia, este molde torna-se isodenso, podendo ser visível na US IR = (S - D)/S
até 3 semanas; torna-se progressivamente menos ecogênico no
354 centro, desaparecendo totalmente, no entanto, as paredes dos S = Velocidade máxima da sístole
ventrículos permanecem muito ecogênicas, devido provavelmen- D = Velocidade máxima da diástole
te a uma ependimite (o sangue pode induzir a uma proliferação
glial subependimal). Estes RN devem ser acompanhados para a Este índice se correlaciona com o aumento da resistência vas-
avaliação do tamanho dos ventrículos, para a detecção do hidro- cular (com o aumento da resistência vascular, há uma diminuição
céfalo pós-hemorrágico (vide adiante) (figura 7). da velocidade diastólica com aumento do IR), sendo importante
o seu valor nos casos de hipertensão intracraniana, por exemplo,
nas hidrocefalias
Nas hidrocefalias pós-hemorrágicas é proposto a realização do
Doppler após leve compreensão do transdutor sobre a fontanela por
3 a 5 segundos (comprimir a fontanela apenas uma vez): o IR não se
modifica durante a compressão da fontanela em RN normais sem
hipertensão intracraniana, ao contrário, ocorrendo com os RN com
hipertensão intracraniana (o IR se altera significativamente).
Em RN normais, o IR está em torno de 0,75 ± 0,08. Estudo do
fluxo sanguíneo cerebral evidenciou relação entre hemorragia in-
traventricular e variação do fluxo sanguíneo cerebral em RN pré-
termos (padrão estável: picos sistólicos e diastólicos constantes
e padrão flutuante: importantes variações dos picos sistólicos e
diastólicos), ocorrendo significativamente mais hemorragia intra-
ventricular no padrão flutuante.
Nas asfixias perinatais, o IR é significativamente menor. Como
consequência de uma asfixia perinatal, ocorre uma hiperperfu-
Fig.7. US nos planos sagitais laterais mostrando são reacional facilitado pela perda da autorregulação vascular
hemorragia intraventricular Grau III bilateral (1) e sua evolução (2) do cérebro. O Doppler registra estas alterações hemodinâmicas
para hidrocéfalo pós-hemorrágico (3) (Margotto, Castro) com a queda das resistências cerebrais, mostrando um aumento
do fluxo diastólico, portanto uma queda no IR. Os valores IR <
0,67 indicam anormalidades e tornam-se predictivos quando <
0,60 (quando < 0,55 indica asfixia grave). Estas alterações são
melhores vistas após as primeiras 24 horas de vida.
Capitulo 10 Distúrbios Neurológicos

Tratamento/Prevenção Tratamento Da Dilatação Ventricular


Pós-Hemorragica
Intervenção pré-natal
• Prevenção do parto prematuro (identificar as mulheres (Consulte o capítulo Significado Hidrocefalia Fetal e Neonatal|)
de risco/tocolíticos) Aproximadamente 30% dos bebês com HIV vão ter dilatação
• Transporte intrauterino (o nascimento no centro terciário ventricular (DV) e 10 %, porencefalia. Dos 30% com DV, 50% vão
minimiza os problemas decorrentes do manejo do parto, ter uma DV transitória ou a dilatação desaparece ou os ventrícu-
reanimação neonatal e suporte adequado nas primeiras los permanecem aumentados, mas sempre do mesmo tamanho.
horas e vida) Os outros 50 % vão ter uma DV de forma progressiva (hidrocéfalo
• Intervenção farmacológica: pós-hemorrágico) : ocorre em semanas, sendo secundário a coá-
Fenobarbital, vitamina K: sem consenso quanto a sua impor- gulos no sistema ventricular. Aqueles bebês com hidrocefalia im-
tância. portante são aqueles RN que têm araquinoidite química na fossa
Corticosteróide: é o mais significante fator na prevenção da HIV posterior com obstrução do fluxo.
por vários mecanismos entre os quais a estabilização da pressão Classificação da dilatação ventrículo segundo Volpe:
arterial, maturação dos vasos sangüíneos da MG, sendo efetivo,
mesmo com um curso parcial. • Dilatação ventricular lenta
Doses: 2 doses de betametasona (12mg ) IM com intervalo de Duração menor que 4 semanas,
24h ou 4 doses de Dexametasona (6mg) IM de 12/12 h. Sem sinais de aumento da pressão intracraniana
É importante citar que o risco de HIV aumenta 2 vezes mais Dilatação ventricular moderada
com o uso apenas de terapia tocolítica, (provavelmente devido ao Conduta: vigilância com US, PC e clínico
aumento do débito cardíaco fetal e do fluxo sangüíneo cerebral).
• Dilatação ventricular lenta persistente:
Intervenção pós-natal: Dilatação ventricular ultrapassa 4 semanas
• Reanimação neonatal
• Evitar rápida infusão de expansores/ soluções hipertôni- É discutida a efetividade de drogas que diminuem a produção
cas (NaHCO3) liquórica, principalmente nas hidrocefalias não comunicantes.
• Evitar hipotermia, hipercapnia A acetazolamida é um inibidor da anidrase carbônica, diminui
• Correção da velocidade do fluxo sangüíneo cerebral flu- a produção do LCR por volta de 5º%. O furosemmide, um diu-
tuante: rético de alça, também diminui a produção do LCR. Devido aos
• Corrigir a assincronia efeitos colaterais, como distúrbios do equilíbrio hidreletrolítcos,
• Correção de distúrbios hemodinâmicos distúrbios gastrintestinais, nefrocalcinose, letargia, dois estudos
• Prevenir o excessivo manuseio, aspiração traqueal, in- controlados e randomizados foram analisados pela Biblioteca
fusão rápida de sangue ou colóide, exsanguíneotransfu- Cochrane. Nenhum dos estudos evidenciou diminuição do risco 355
são, apnéia, convulsões, pneumotórax, hipercapnia para a derivação ventrículoperitoneal ou morte no grupo que fez
• Controle rigoroso da pressão arterial, pronto atendimento o uso da terapia diurética. No grupo do diurético do maior ensaio
da Insuficiência cardíaca no RN asfíxico. clínico, ocorreu um leve aumento do déficit motor no primeiro ano
• Intervenção Farmacológica: de vida (OR: 1,27- 1.O2-1.58), assim como maior risco para nefro-
Fenobarbital: Reduz mudanças abruptas do fluxo sangüíneo cere- calcinose (OR: 5.31-IC:1,0-14,84). Portanto, a terapia com a ace-
bral, reduz a formação de radicais livres, conferindo certa proteção a tazolamida e furosemide não é nem segura e nem efetiva para o
uma lesão isquêmica. Não há consenso quanto a sua eficácia. tratamento da dilatação ventricular pós-hemorrágica e, portanto,
Vitamina E: proteção dos capilares da MG da injúria hipóxica não podem ser recomendadas como terapia para o hidrocéfalo
(ação antioxidante). Não há consenso quanto a sua eficácia. hemorrágico. Punções lombares também não resultaram na re-
Indometacina: Diminui em 20–30 % o fluxo sangüíneo cerebral dução da necessidade de derivação ventrículo-peritoneal ou de
através da inibição prostraglandina, estimulando a vasocontric- desabilidade neurológica (houve aumento de infecção). A terapia
ção cerebral; inibe a formação de radicais livres lesivos à MG e fibrinolítica intraventricular também diminuiu a necessidade de
tem ação na maturação dos vasos sangüíneos da MG. Dose : shunt ventrículoperitoneal.
0,1mg/Kg EV 6-12 h de vida, seguindo de duas doses cada 24h O estudo de Whitelaw empregando wash out blood and cytokines
para o RN com peso ao nascer < 1250g sem evidência de HIV (drenagem, irrigação e terapia fibrinolítica), conhecido como brain
(Ment LR e cl,1996) walsh, em 34 RN e comparado os resultados com 36 RN em tra-
Follow-up dos RN que receberam indometacina não eviden- tamento padrão de hidrocéfalo pós-hemorrágico, mostrou um au-
ciou efeitos adversos tanto do ponto de vista cognitivo como mento de 4 vezes mais de hemorragia intraventricular secundária
motor aos 36 meses. São necessários mais estudos para a in- no grupo do brain wash (35% versus 8%) (figura. 8).
dicação do o uso rotineiro da indometacina na prevenção da
hemorragia intraventricular.
Obladen M e cl, através de uma vigilância interdisciplinar, en-
volvendo neonatologistas e obstetras (esteróide pré-natal, uso
precoce de surfactante) relataram diminuição da HIV de todos
os graus de 33,7% para 13,5% (p=0,007) e GRAU III e IV, de 20@
para 3,4% (p= 0,0006). Portanto é importante o estabelecimento
das melhores práticas na UTI Neonatal.

Paulo R. Margotto
Assistência ao Recém-Nascido de Risco

de anormalidades neuromotoras). Estes resultados podem relacio-


nados com a destruição da matriz germinativa, ocasionando defi-
ciente desenvolvimento cortical. Entre 10-24 semanas de gesta-
ção, a migração neuronal se completou, mas a matriz germinativa
provê precursores gliais que se tornarão oligodentrócitos e astró-
citos. Neste estágio tardio da gliogênese, os astrócitos migram às
camadas superiores corticais e são cruciais para a sobrevivência
neuronal e o desenvolvimento do córtex cerebral. Estes achados
são consistentes com as publicações na literatura a respeito dos
Brain wash possíveis efeitos da perda astrocítica no desenvolvimento cortical.
Esta destruição leva a perda destes percussores gliais neces-
sários para a mielinizaçãoie o desenvolvimento cortical.Segundo
Leviton e Gresse os astrócitos migram às camadas corticais atra-
vés de um campo minado. A destruição da matriz germinativa
pode ocasionar deficiente desenvolvimento de astrócitos que fo-
ram destinados para as camadas supragranulares (superiores).
Assim, mesmo leve HIV sem dilatação ventricular pode resultar
em grande lesão cerebral, especialmente neste período precoce
da vida. Vasileiadis e cl demonstraram à ressonância magnética
uma redução de 16% do volume da substância cinzenta na idade
corrigida a termo em uma coorte de RN de muito baixo peso com
HIV não complicada. A perda da organização cortical pode refletir
Fig.8. HIV secundária com o brain wash na perda do volume da substância cinzenta e consequentemen-
te, deficiente desempenho cognitivo. Segundo Inder, a substân-
•Dilatação ventricular rapidamente progressiva: cia branca cerebral é o sítio comum do impacto neuropatológico
•aumento ventricular severo para a hemorragia intraventricular.
•sinais de aumento da pressão intracraniana (abaulamen-
to da fontanela e disjunção de suturas)
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ventrículo lateral): > 15mm
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Capitulo 10 Distúrbios Neurológicos

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357

Paulo R. Margotto
Assistência ao Recém-Nascido de Risco

10.6 HIDROCEFALIA FETAL E NEONATAL

Paulo R. Margotto

A paralisia cerebral (PC) é uma das mais comuns e severas se- Goldstein et a avaliaram as características clínicas e ultrassono-
qüelas do nascimento do pré-termo extremo, constituindo mais gráficas, assim como o prognóstico dos fetos com moderada ven-
de 25% de todos os casos de PC na Suécia. Desde os anos 90, as triculomegalia. Os autores estudaram 34 fetos consecutivamente
taxas de sobrevivência dos RN pré-termos extremos vem aumen- com moderada ventriculomegalia (largura atrial dos ventrículos
tando, em decorrências de inovações como: maior uso de corti- laterais de 10-15mm) entre 18-35 semanas de gestação. Em 7
costeróide no pré-natal, uso cada vez mais precoce de surfactan- dos 34 fetos foi realizado o cariótipo e este foi normal. Em 4 dos
te pulmonar exógeno, novas técnicas de ventilação, transferência 34 fetos, a gravidez foi interrompida, sendo que em 2 havia evidên-
in utero. No entanto, os efeitos destas inovações na desabilidade cia de hidrocefalia. Oito fetos que nasceram tiveram malformações
tardia destas crianças são muito controversos e constituem ma- congênitas, 3 dos quais morreram no período neonatal precoce.
téria de discussão. Dos 8 com malformações, 6 apresentaram no cariótipo aberra-
O estudo francês de Ancel e cl mostrou uma prevalência de PC ções cromossômicas. A moderada ventriculomegalia resolveu-se
aos 2 anos de idade de 20% nos recém-nascidos (RN) com idade espontaneamente em 10 de 30 (33,3%). Das 26 crianças dispo-
gestacional entre 24 a 26 semanas (corresponde a mais do que níveis para o seguimento, 16 (61,1%) eram normais com 1 mês e
2/3 dos casos de PC entre os RN pré-termos), comparado com aos 2 anos de idade. Assim, os dados dos autores confirmaram
4% na idade gestacional de 32 semanas. Na população total das relatos anteriores do prognóstico de moderada ventriculomegalia:
crianças que foram muito pré-termos ao nascer, este estudo mos- na ausência de malformações e com um cariótipo normal. Assim, o
trou que 1 de cada 12 crianças teve PC (esta taxa corresponde a prognóstico da moderada ventriculomegalia parece favorável.
quase 80 vezes mais do que as crianças nascida a termo). Drugan e cl, analisando 43 casos de ventriculomegalia fetal,
Com base nos resultados dos ultra-sons cerebrais no período ne- evidenciaram que o prognóstico é ruim para os fetos que apre-
onatal, o estudo de Ancel e cl evidenciou que 17% das crianças com sentam malformações, bom para aqueles com ventriculomegalia
hemorragia intraventricular grau III e 25% das crianças com lesão isolada e não progressiva e variável para aqueles com ventriculo-
da substância branca (ventriculomegalia, hiperecogenicidade per- megalia isolada progressiva.
sistente ou leucomalácia periventricular cística) tiveram PC, compa- A etiologia da ventriculomegalia permanece desconhecida.
rado com 4% das crianças com ultra-sons cerebrais normais. Provavelmente é multifatorial e freqüentemente encontra-se as-
Outros estudos estimaram a prevalência de PC nos RN abaixo sociada com anomalias do sistema nervoso central, aberrações
de 27 semanas entre 11% a 35%. cromossômicas, infecção fetal ou hemorragia intracerebral.
358 A lesão cerebral no RN pré-termo consiste de múltiplas le- O encontro de uma dilatação ventricular intraútero levanta
sões, principalmente a hemorragia intraventricular (HIV), a leu- uma série de questões que podem ajudar na determinação da
comalácia periventricular (LPV) e a ventriculomegalia (VM). Estas etiologia, como: aumento da ecogenicidade da parede ventricular
constituem as maiores complicações neuropatológicas dos RN que é um forte indicador de etiologia hemorrágica, espessamen-
pré-termos e são associadas com alta mortalidade e com um to e irregularidade da parede ventricular pode sugerir distúrbios
desenvolvimento neurológico adverso, principalmente nas mais na migração neuronal (heterotopias periventriculares, onde neste
tenras idades gestacionais. caso, a ressonância magnética é a técnica de escolha na confir-
A hemorragia intraventricular e a leucomalácia periventricular mação diagnóstica), agenesia do corpo caloso, agenesia septal
já foram discutidos em outros artigos. Neste artigo, vamos discu- (a falta de visibilidade do septo pelúcido, fusão dos cornos fron-
tir a ventriculomegalia e a hidrocefalia fetal e neonatal, revisando tais e ventriculomegalia, sugerem agenesia septal).
o conceito, a etiologia e a fisiopatologia que envolve a lesão cere- As alterações cromossômicas foram relatadas em 9% dos fetos
bral. Assim será possível a melhor compreensão do prognóstico, com moderadas ventriculomegalia (no estudo de Goldstein e cl, a
com o objetivo de identificar os fatores de risco envolvidos, pre- incidência foi de 23%-3/13 casos examinados).
venindo seqüelas nestes RN de muito baixo peso. Este objetivo As anomalias do sistema nervoso central nos casos de mode-
deve constituir o papel de todo neonatologista na Unidade de rada ventriculomegalia estiveram presentes e mais de 50% dos
Cuidados Intensivos. casos, incluindo espinha bífida, malformação de Dandy-Walker
e agenesia de corpo caloso. Na série de Goldstein e col., 12%
Ventriculomegalia Cerebral Fetal dos fetos (4/33) com moderada ventriculomegalia apresentaram
anomalias do sistema nervoso central (2 com hidrocéfalo e 2
A dilatação ventricular representa a mais freqüente anormali- com cisto no plexo coróide)
dade cerebral observada nos fetos. Em 60% dos casos, a dilata- Quanto ao prognóstico, é interessante citar que pode haver re-
ção ventricular é isolada. gressão espontânea da moderada ventriculomegalia, ocorrendo em
Pilu e cl, mostraram que a largura atrial dos ventrículos late- 33,3% na série de Goldstein e cl, estando de acordo com os relatos
rais de fetos normais permanece constante durante a gestação, na literatura (29%). Estudo de Kelly e cl citado por Garel e col. 10, a
com um diâmetro médio de 6,9+-1,3mm., sendo considerada partir de uma análise de 295 fetos com ventriculomegalia isolada,
moderada ventriculomegalia um diâmetro entre 10-15mm e se- demonstrou resolução espontânea da ventriculomegalia moderada
vera ventriculomegalia acima de 15mm. O ponto de corte para em 29% dos casos, permanecendo estável em 57% dos casos e,
a ventriculomegalia na ressonância magnética foi largura atrial porém, progressão em 14% dos casos. Goldstein e cl explicam a re-
>10mm. Wyldes e Watkinson usam o termo hidrocéfalo quando o gressão observada da ventriculomegalia pelo atraso parcial ou tran-
diâmetro atrial é maior que 15mm e com rápido aumento. sitório na drenagem ou superprodução do fluido espinhal.
Devido ao aumento da espessura do córtex durante a gesta- A completa resolução in utero da ventriculomegalia, embora
ção, o tamanho relativo dos ventrículos laterais diminui de 70% globalmente favorável, não é sempre acompanhada de prog-
com 18 semanas a 30% com 28 semanas de gestação e perma- nóstico favorável.
nece constante a seguir.
Capitulo 10 Distúrbios Neurológicos

Quanto ao seguimento das crianças que apresentaram ventri- Hidrocefalia Congênita


culomegalia moderada na vida fetal, os dados disponíveis na lite-
ratura são insatisfatórios. No estudo de Goldstein e cl, 61,6% (16 A hidrocefalia é definida como um acúmulo excessivo de líquor
de 26 crianças) tiveram crescimento e desenvolvimento normais cefalorraquidiano (LCR) acompanhado de excessivo crescimento
na idade de 2 anos. do perímetro cefálico (já a ventriculomegalia descreve o aumento
O estudo de Gaglioti e cl mostrou que quando a ventriculomega- dos ventrículos sem aumento do perímetro cefálico; a ventricu-
lia constituía um achado insolado, 97,7% dos fetos com leve ven- lomegalia pode ser o primeiro estágio da hidrocefalia, antes do
triculomegalia (10-12 mm), 80% com moderada ventriculomegalia aumento do perímetro cefálico).
(12,1-14,9mm) e 33,3% dos fetos com severa ventriculomegalia Aproximadamente 3 a 4 recém-nascidos de cada 1000, nas-
(>15mm) estavam vivos aos 24 meses ou mais de vida. O prog- cem com hidrocefalia. A hidrocefalia acompanha 80-90% dos RN
nóstico neurocomportamental correspondente a essas crianças foi que nascem com defeitos no tubo neural19.
normal em 93% (leve ventriculomegalia), 75% (moderada ventricu- A prevalência do hidrocéfalo fetal é difícil de determinar devido
lomegalia) e 62,5% (severa ventriculomegalia). Com estes resulta- à inacurácia diagnóstica e a subdetecção, mas tem sido relatada
dos, os autores estabeleceram um limite abaixo de 12 mm para a uma prevalência de 0,3 a 1,5/1000 nascidos vivos. Um hidrocé-
largura ventricular na definição de ventriculomegalia boderline. Os falo isolado é raro, tendo sido associado a anomalias intracra-
casos com medidas acima deste valor são aqueles mais freqüen- nianas em 37% dos casos e extracranianas em 63% dos casos,
temente associados a malformações e menos freqüentemente te- sendo o dirrafismo espinhal a mais comum.
rão um desenvolvimento neurocomportamental normal. Oi e cl 21 classificaram 61 casos de hidrocéfalos; 84% tiveram
A presença de malformações associadas é considerada um uma ou mais anormalidades no SNC (63%) ou anomalias extra-
fator de prognóstico ruim. Também a presença do 3o ou 4o ven- cranianas (49%).
trículos dilatados têm sido considerado um marcador de prog-
nóstico ruim, assim como severas dilatações (acima de 15mm). • Primário (31%; média de QI:74,2): hidrocéfalo comuni-
No estudo de Pilu e cl, o risco de prognóstico neurológico ruim cante, estenose do aqueduto, atresia do foramen e ou-
nos fetos com moderada ventriculomegalia (10-15 mm) foi maior tras formas de hidrocéfalo obstrutivo.
no sexo feminino (22,6%) em relação ao sexo masculino (4,6%: • Disgenético (56%; média de QI: 52,4) associado com
RR= 4,89; IC a 95% de 1,35-17,65). No caso da largura atrial espinha bífida, crânio bífido, malformação de Dandy-
maior que 12 mm ou mais, os resultados foram 13,9% para o Walker, holoprosencefalia, hidranencefalia, lisencefalia,
sexo feminino e 3,8% para o sexo masculino com RR=3,6; IC a cisto congênito e outros.
95% de 1,035-12,84. • Secundário (13%; média de QI 26); tumor cerebral, doen-
Uma vez identificado ventriculomegalia fetal deve ser realizada ças hemorrágicas e vasculares, infecção, trauma, cole-
uma busca de malformações, incluindo ecocardiograma e carióti- ção de fluido subdural e outros.
po. Na ausência de malformações associadas e aberrações cro-
mossômicas, uma moderada ventriculomegalia isolada não pro- Tipos De Hidrocefalias 359
gressiva permite um favorável prognóstico neurocomportamental.
O neonatologista ao receber um RN com história de ventricu- O equilíbrio da produção e absorção do LCR é de importância
lomegalia fetal deve se informar se a ventriculomegalia foi apa- vital. Havendo alteração na produção ou na inibição do seu fluxo,
rentemente isolada ou associada com outras anormalidades e se origina-se a hidrocefalia. Quando não se absorve o LCR, denomi-
foi transitória, unilateral ou leve. O ultrassom deve ser realizado na-se Hidrocefalia Comunicante, a circulação do líquor encontra-
para a detecção de malformações cerebrais, entre as quais a hi- se bloqueada após sair dos ventrículos e mesmo circulando entre
poplasia ou aplasia de corpo caloso, Síndrome de Dandy-Walker, eles, não há absorção, havendo acúmulo e provocando aumento
lisencefalia, holoprosencefalia, esquisencefalia e estenose de da pressão intracraniana (obstrução no espaço subaracnóide
aqueduto de Sylvius. Investigar erros inatos do metabolismo. na convexidade do crânio impede que o LCR seja absorvido nos
Muitas malformações são diagnosticadas intraútero, mas em 16- corpúsculos de Pachioni). Havendo um bloqueio na circulação
25% dos bebês com ventriculomegalia aparentemente isolada do LCR ou algum conduto ou orifício estreito, se conhece como
haviam malformações associadas somente diagnosticadas após Hidrocefalia Não Comunicante ou Hidrocefalia Obstrutiva (obstru-
o nascimento como: lesões cardíacas, atresia de esôfago e renal ção do foramen de Monroe, aqueduto de Sylvius e nos foramens
e anormalidades genitais. Aneuploidia tem sido relatada em 3% de Luschka e Magendie).
das ventriculomegalias isoladas e em 36% quando associada a Há duas outras formas de hidrocefalia que não se encaixam
malformações. A trissomia do 21 tem sido associada com ventri- nas descritas anteriormente: Hidrocefalia ex-vácuo (atrofia corti-
culomegalia isolada em 3,8%. cal) e/ou de pressão normal (crianças com macrocefalia em que
Ventriculomegalia moderada não progressiva unilateral de 11- há aumento do espaço subaracnóide que melhora por si só).
13mm foi relatada como uma variante do normal da anatomia fe- É importante frisar que nem todas as dilatações ventriculares
tal com um prognóstico neurológico favorável. Senat e cl 17 relata- são hidrocefalias. A ventriculomegalia pode se apresentar secun-
ram um desenvolvimento cognitivo normal nestes casos em 88%. dário a perda de volume cerebral (atrofia cerebral). A atrofia cere-
Os fetos com ventriculomegalia isolada devem ser acompanhados bral deve ser diferenciada de uma hidrocefalia. A atrofia cerebral
com ultrassom até ao final do terceiro trimestre. Achiron e cl relata- apresenta-se com um aumento das circunvoluções corticais (es-
ram desenvolvimento neurológico normal em 80% dos casos com pessamento giral) e da cisterna magna. Ao contrário, a hidrocefalia
ventriculomegalia unilateral (diferença maior do que 2,4mm na lar- se acompanha de aumento da pressão intracraniana e o aumento
gura dos ventrículos). Segundo estes autores israelenses, algum ventricular provoca um efeito de massa no cérebro e o apagamento
grau de assimetria dos ventrículos laterais existe no cérebro fetal das circunvoluções cerebrais (Figura 1) Na hidrocefalia se observa
humano. Assimetria ventricular lateral isolada provavelmente não um edema periventricular que não se observa na atrofia cerebral.
é clinicamente significativa e pode ser considerada uma variante
do normal, mais do que um achado patológico.

Paulo R. Margotto
Assistência ao Recém-Nascido de Risco

Das quatro maiores etiologias do hidrocéfalo congênito, a mé-


dia do QI foi maior nos RN com hidrocéfalo comunicante (QI de
109) e mielomeningocele (QI de 108) e menor para os RN com
estenose do aqueduto de Sylvius (QI de 71) e malformação de
Dandy-Walker (QI de 45). O pior prognóstico nas duas últimas
categorias pode estar relacionado a anormalidades cerebrais as-
sociadas, especialmente na malformação de Dandy-Walker (de-
feitos de migração neuronal e agenesia do corpo caloso).
Fig. 1. Hidrocefalia congênita. US em (A) no plano coronal e em (B) no Portanto, a hidrocefalia apresenta riscos para o desenvolvi-
plano sagital e em (C) tomografia computadorizada no plano axial de um mento cognitivo, como para o físico. No entanto, muitas crianças
recém-nascido a termo, sexo feminino, com hidrocéfalo congênito diagnos- diagnosticadas se beneficiam de reabilitação e intervenções edu-
ticado ao nascer, observando-se extrema atenuação do manto cerebral cacionais que os ajudam a levar uma vida normal com poucas
na região oPICCital. O RN foi encaminhado à neurocirurgia do Hospital de limitações. No tratamento, deve estar incluído uma equipe multi-
Base de Brasília para derivação ventrículo-peritoneal. As sorologias para disciplinar (médicos, especialistas em reabilitação, educadores).
infecções perinatais crônicas foram não reagentes (Margotto, Castro). A atuação desta equipe multiprofissional é vital para o resultado
positivo e deverá ser iniciado o mais precoce possível.
A causa mais comum de hidrocefalia congênita é a obstrução
do aqueduto de Sylvius (33%) secundário a um bloqueio, infecção Manuseio
(varicela congênita), hemorragia na matriz germinativa/intraventri-
cular (oclusão do aqueduto de Sylvius ), tumor ou cisto subaracnói- Decisões a respeito do manuseio não devem ser baseadas so-
de19 e angioma de plexo coróide 24. Entre outras causas, estão a mente no tamanho ventricular. Há uma correlação limitada entre
Malformação de Arnold-Chiari com mielomeningocele (28%), hidro- o tamanho ventricular e o tamanho do manto cortical com o de-
cefalia comunicante (22%), Malformação de Dandy-Walker (7%). senvolvimento neurológico. O reaparecimento dramático do cór-
A estenose do aqueduto de Sylvius, estrutura estreita que permite tex cerebral (figuras 3-A-B e 4-A-B) após a drenagem ventricular
a comunicação entre o terceiro e o quarto ventrículo, (Figura 2) resul- atesta o potencial da plasticidade do cérebro hidrocefálico.
tando em hidrocéfalo pode ser de origem genética (ligado ao X), por
infecção, por teratogenia ou por origem neoplásica. A forma heredi-
tária é conhecida como Síndrome de Bickers-Adams e se apresenta
aproximadamente em 2% dos pacientes com estenose aqueductal.
Estes pacientes têm polegares aduzidos. É a forma mais comum de
hidrocefalia congênita com uma incidência de 1/30.000 nascimen-
tos do sexo masculino. Estas crianças evoluem com retardo mental,
360 geralmente grave com paraplegia (ou quadriplegia) espástica. A hi-
drocefalia pode deter-se e o paciente apresentar somente as mani-
festações de deficiência mental e paraplegia espástica, assim como
a hipoplasia e a contratura do polegar. Caracteriza-se pela dilatação Fig. 3 Hidrocéfalo congênito. Tomografia computadorizada (TC) no plano
do ventrículo lateral e terceiro ventrículo (o quarto ventrículo é nor- axial realizada no primeiro dia de vida, mostrando grave hidrocéfalo
mal) sem outras anormalidades. congênito, em que não vemos o manto cerebral na região oPICCital e ex-
trema atenuação do manto anteriormente (A) Em (B) TC no plano axial da
mesma criança aos 11 meses após a colocação do shunt em que vemos
o grande aumento na espessura do manto cerebral (Volpe)

Fig. 2. Estenose do aqueduto de Sylvius


(o 4o ventrículo não está dilatado).

Prognóstico

(consulte Ventriculomegalia Cerebral Neonatal a seguir)


O prognóstico do hidrocéfalo fetal é ruim e os resultados da
descompressão intrauterina não tem sido satisfatórios. Oi e cl es-
tudaram morfologicamente a maturação neuronal em fetos com
hidrocéfalos não tratados. Os autores evidenciaram alteração na
proliferação e migração neuronal nos casos de hidrocéfalo rapi-
damente progressivo. O hidrocéfalo por si só causou mais lesão
ao lento desenvolvimento neuronal. O hidrocéfalo secundário re- Fig 4.Tomografia computadorizada de um RN com hidrocéfalo congênito.
flete prévia deficiência da maturação neuronal e assim, a hidro- Em (A) observa-se total ausência de reconhecível manto cerebral na re-
cefalia, por si só, compromete o potencial para a continuação do gião oPICCital e extrema atenuação do manto anteriormente. Em (B), TC
desenvolvimento neuronal. aos 11 meses após a derivação ventrículo-peritoneal, onde observa-se
grande aumento da espessura do manto cerebral (Volpe)
Capitulo 10 Distúrbios Neurológicos

Ventriculomegalia Cerebral Neonatal

Os RN pré-termos, incluindo alguns com hemorragia HIV têm


risco de desenvolverem ventriculomegalia. Embora tal fato pode
ser conseqüente ao deficiente fluxo do LCR ou sua deficiente
absorção, muitos casos de ventriculomegalia sem macrocefalia
concomitante refletem uma lesão difusa da substância branca
resultando em diminuição desta ou na densidade inadequada
dos axônios. Há sugestão que, em alguns RN, ventriculomegalia
e a mielinização atrasada sejam conseqüências de distúrbios da
mielogênese. Assim, a ventriculomegalia que pode parecer um
hidrocéfalo, não é devido a um distúrbio da dinâmica do LCR e Fig. 5. Medição dos ventrículos. US no plano coronal em (A) e em (B) no
sim um reflexo de ampla lesão da substância branca28. sagital. Utilizamos as medidas C e D (setas) (Levene)
O hidrocéfalo pós-hemorrágico (HPH) é reconhecido como uma
ventriculomegalia causada por distúrbios no fluxo do líquor cefalo- A maior descoberta com o uso do ultrassom foi a evidência de
raquidiano ou na sua absorção. Embora a ocorrência do HPH mui- que a dilatação ventricular que se segue à hemorragia intraventri-
tas vezes esteja relacionada à gravidade da hemorragia intraven- cular pode resolver-se espontaneamente. A tomografia computa-
tricular, ambas as condições podem ocorrer independentemente. dorizada demonstrou que a dilatação ventricular ocorre antes da
A baixa idade gestacional aumenta o risco de hemorragia intraven- mudança no perímetro cefálico nestes recém-nascidos. Assim, a
tricular (imaturidade dos vasos da matriz germinativa) e também dilatação sempre precede e eventualmente leva a um aumento
predispõe à lesão da substância branca (isquemia secundária a anormal do perímetro cefálico e hidrocéfalo clínico. A realização
deficiente Autorregulação do fluxo sangüíneo cerebral). de ultra-sons seqüenciais nos RN com hemorragia intraventricu-
A hemorragia intraventricular não é a única causa de ventricu- lar mostra com clareza que nem todos os RN que desenvolveram
lomegalia. A ventriculomegalia pode ocorrer devido à perda de dilatação ventricular vão evoluir para hidrocéfalo. Antes da ocor-
tecido cerebral, mais comumente devido à destruição ou a falha rência do rápido aumento do perímetro cefálico, a pressão intra-
do desenvolvimento da substância branca, principalmente as craniana aumenta 1 a 2 dias antes. Com estas informações, po-
ventriculomegalia não acompanhadas de macrocefalia. A ventri- demos dividir a dilatação ventricular que se segue à hemorragia
culomegalia associada à perda de tecido cerebral se desenvolve intraventricular em dois grupos: (1) hidrocéfalo pós-hemorrágico:
gradualmente em várias semanas sem sinais clínicos ou radio- dilatação progressiva e associada com aumento do perímetro ce-
lógicos de aumento da pressão intracraniana (abaulamento de fálico maior do que 2cm/semana e com sinais neurológicos de au-
fontanela, afastamento de suturas, aumento do perímetro cefáli- mento da pressão intracraniana e (2) ventriculomegalia: dilatação
co e disfunção do tronco cerebral). Muitas crianças afetadas são que eventualmente se estabiliza ou reverte, sem aumento rápido
normocefálicas ou microcefálicas e podem exibir uma diminuição do perímetro cefálico. Usando esta definição com bases em crité- 361
da taxa de crescimento da cabeça. rios clínicos, Allan e Phillip agregaram “um ponto de corte” ao ul-
A distinção entre hidrocéfalo hemorrágico e a ventriculomega- trassom para a diferenciação das duas condições para direcionar
lia por perda de tecido cerebral (“hidrocéfalo ex-vácuo”) pode não uma intervenção: 15mm. Uma medida acima de15mm (medida
ser fácil, uma vez que a definição do hidrocéfalo pós-hemorrágico de Levene, Figura 5) requer monitorização mais rigorosa do RN.
pode atrasar várias semanas. De fato, ambos os processos que Na Unidade de Neonatologia do Hospital Regional da Asa Sul, o
causam ventriculomegalia podem coexistir. O atraso do desen- RN com dilatação ventricular pós-hemorrágica com medidas que
volvimento do aumento da pressão intracraniana se deve a alta ultrapassam 15mm, encaminhamos a neurocirurgia para avaliar
complacência do tecido cerebral no cérebro do RN prematuro a possibilidade de derivação. As figuras. 6 e 7 evidenciam dois ca-
(alto conteúdo de água, pobreza relativa de fibras mielinizadas e sos, um de dilatação ventricular (resolução espontânea) e outro
relativos grandes espaços subaracnóideos). de hidrocéfalo pós-hemorrágico (drenagem ventricular). A Figura 8
Observações que podem ser de auxílio na distinção entre hi- mostra o ponto de corte entre as duas situações.
drocéfalo e ventriculomegalia por perda de tecido cerebral (hidro-
céfalo ex-vácuo) incluem a rápida taxa de aumento do tamanho
ventricular, proeminente dilatação dos cornos temporais dos ven-
trículos laterais ou 3o ou 4o ventrículos, o contorno periventricu-
lar hiperecóico (resultado do acúmulo de LCR transependimal)
e identificação de hidrocéfalo comunicante pela diminuição do
tamanho ventricular após a remoção do LCR. Há sugestão que a
evidência ecogênica de hemorragia subaracnóidea nas cisternas ‘
basais, fissura silviana e espaço espinhal subaracnóideo pode
ser um predictor independente de ventriculomegalia progressiva
necessitando de derivação.
Na figura 5 as medidas do crescimento dos ventrículos laterais
nos RN pré-termos utilizando o ultrassom na fontanela anterior
no corte coronal a nível do foramen de Monroe.

Fig.6. Resolução espontânea da dilatação ventricular. US no plano coro-


nal em (A) e no plano sagital em (B) mostrando hemorragia intraventri-
cular Grau II (setas). US no plano sagital em (C) mostrando a dilatação
ventricular (setas) e em (D) US no plano sagital mostrando a resolução
espontânea da dilatação ventricular com 3 semanas. (Levene)

Paulo R. Margotto
Assistência ao Recém-Nascido de Risco

A seguir um exemplo de um RN com hemorragia intraventricu-


lar grau III (figura 9) que apresentou dilatação ventricular, atingin-
do diâmetro ventricular máxima de 20 e 14 mm (VE e VD) com
21 dias (figura 10) e regressão espontânea com 30 dias (VE=12
e VD de 9,0mm) e 2 meses de vida (VE e VD de 9mm) (figura 11).
Este RN encontra-se em acompanhamento por nós.

Fig.9. US, aos 14 dias de vida, no plano sagital mostrando hemorragia


Fig. 7. Hidrocéfalo pós-hemorrágico. US no plano coronal em (A) mostran- intraventricular Grau III bilateral (setas) em um RN de 28 semanas, com
do hemorragia intraventricular Grau II (setas). Em (B) US no plano sagital peso de 955g (Margotto/Castro)
evidenciando sangue no ventrículo (setas). Em (C), US no plano sagital
mostrando severa dilatação ventricular (setas), sendo indicado derivação Fig.9 (vide texto). Margotto PR, Castro J. HRAS/SES/DF.
ventrículo externa. Em (D), US no plano sagital mostrando o tamanho
ventricular 1 semana após (setas) (Levene)

362

Fig.10. US no plano coronal em (A) e sagital em (B) aos 21 dias de


vida (7 dias após o US da figura 5.9), mostrando coágulos em coasles-
cência (setas) e tamanho ventricular que define hidrocéfalo pós-
hemorrágico,(Margotto/Castro)

Fig.11. US no plano sagital em (A) com 30 dias de vida (9 dias após o US


da figura 5.10) mostrando regressão do tamanho ventricular (as setas
mostram coágulos me coalescência). Em (B) US no plano sagital aos 2
meses mostrando a regressão espontânea (ventrículos direito e esquer-
do com 9mm-seta grossa) Margotto/Castro).
Fig. 8. Gráfico do diâmetro ventricular na posição mostrada pelas setas
no ultrassom no corte sagital. Cada ponto representa o diâmetro na Hidrocéfalo Pós-Hemorrágico
época da máxima dilatação. Os pacientes com ventriculomegalia (VM)
e hidrocéfalo pós-hemorrágico (HPH) são colocados separadamente. A Aproximadamente 65% dos RN com hemorragia intraventricu-
linha representa a média de cada grupo. Os grupos são significativamen- lar exibem dilatação ventricular não progressiva (inclui a maioria
te diferentes (p<0,01) (Levene) dos RN com leve a moderada hemorragia intraventricular; tama-
nho ventricular ou leve dilatação ventricular na época do diag-
nóstico da hemorragia intraventricular e a minoria dos RN com
severa hemorragia intraventricular). Os restantes 35% dos RN
com hemorragia intraventricular desenvolvem dilatação ventricu-
Capitulo 10 Distúrbios Neurológicos

lar progressiva lenta (ocorre em semanas, sendo secundário a Classificação Da Dilatação Ventricular
múltiplos pequenos coágulos através dos canais do LCR, impe-
dindo a circulação e reabsorção do LCR). Segundo Volpe:
Na experiência de Murphy e cl envolvendo 248 RN com idade Grupo A: Início Da Dilatação Progressiva Lenta (<4 Semanas)
gestacional média de 26,8+/-2,6 semanas com HIV (incidência Grupo B: Persistente Dilatação Progressiva Lenta (>4 Semanas)
de 25%), ¼ apresentou dilatação ventricular pós-hemorrágica; Grupo C: Dilatação Rapidamente Progressiva (5%)
38% apresentaram uma parada da dilatação; dos 62% restante, Grupo D:resolução Espontânea Da Dilatação (65%)
48% não necessitou de intervenção cirúrgica e 34% recebeu ou Os RN com dilatação ventricular progressiva lenta, aproxima-
drenagem ventricular externa ou derivação ventrículo-peritoneal; damente 65% apresentam parada espontânea da dilatação, ge-
18% morreram. O maior predictor de prognóstico adverso foi a ralmente com total ou parcial resolução da dilatação ventricular
severidade da hemorragia. (dentro de 4 semanas do seu início). Os outros 35% continuam
A seguir, exemplo de um RN que apresentou hemorragia intra- a progressão da dilatação por mais 4 semanas e se não trata-
ventricular grau III bilateral, acompanhada de infarto periventri- dos, desenvolverão uma dilatação rapidamente progressiva, com
cular à esquerda com formação de cisto porencefálico que evo- severa dilatação ventricular (5% do grupo inicial podem desen-
luiu para hidrocéfalo pós-hemorrágico, sendo transferido para a volver dilatação ventricular rapidamente progressiva). Os RN que
neurocirurgia do Hospital de Base de Brasília, onde foi realizada desenvolvem dilatação ventricular rapidamente progressiva apre-
derivação ventrículo-peritoneal (figura 12). sentam rápido crescimento da cabeça (acima de 2 cm/semana).
e freqüentemente com sinais de apnéia, diminuição do nível de
alerta, fontanela cheia, afastamento das suturas cranianas e
anormalidades oculomotoras. Neste grupo, a pressão intracra-
niana aumenta acima de 150cm H2O.
A severidade da hemorragia intraventricular é o determinante
mais crítico da probabilidade do RN apresentar uma dilatação
ventricular rapidamente progressiva. Na moderada hemorragia, o
início da dilatação ventricular progressiva lenta ocorre geralmente
após 2 a 3 semanas e a probabilidade de resolução espontânea
é alta. Com a severa hemorragia intraventricular, o início da dila-
tação pode ocorrer dentro de dias, a fase da progressão lenta é
breve e a probabilidade de resolução espontânea é muito baixa.

Mecanismo

Fig. 12. Hemorragia grau III com infarto hemorrágico periventricular O mecanismo do hidrocéfalo pós-hemorrágico se relaciona, em 363
(IHP). Em (A) US no plano sagital linha média mostrando hemorragia parte, ao tempo e a taxa de progressão. Havendo uma maciça
intraventricular grau III bilateral (setas). Em (B) US no plano sagital mos- hemorragia intraventricular, ocorrerá rápida distensão ventricu-
trando hemorragia grau III (seta longa) e IHP à direita (seta curta). Em lar, aumento da pressão intracraniana, hipotensão sistêmica e
(C), US no plano sagital mostrando a hidrocéfalo hemorrágico a esquerda deficiente perfusão cerebral, com deterioração clínica. Devido à
(seta longa) e cisto porencefálico (seta curta) à direita comunicando-se deficiente circulação do líquor cefaloraquidiano por debris ou co-
com o ventrículo lateral (Margotto/Castro) águlos sanguíneos, o hidrocéfalo pós-hemorrágico pode ocorrer
em dias. Hidrocéfalo subagudo crônico pode ocorrer em sema-
Na figura 13, ultrassonografia cerebral de um recém-nascido nas, sendo secundário a araquinoidite na fossa posterior com
de 26 semanas que mostra hidrocéfalo pós-hemorrágico aos obstrução do fluxo do líquor cefaloraquidiano do quarto ventrí-
21 dias de vida. culo ou por obstrução do aqueduto por coágulos sanguíneos ou
por debris. Devido ao pobre desenvolvimento das granulações
aracnóides no período pré-natal, parece que uma via alternativa
linfática, perivascular e vias na dura possam estar envolvidas.
É possível que fatores de crescimento tais como o fator-beta 1
(está elevado nos LCR após a hemorragia intraventricular, sendo
mais alta nos pacientes que necessitaram de derivação), junta-
mente com outros fatores presentes no LCR como conseqüência
da hemorragia, tais como a trombina, promovam o crescimento
de tecido conectivo dentro das leptomeninges, levando a uma
aracnoidite e contribuindo para a redução da absorção do LCR.
Um fator contribuinte pode ser a ineficiente fibrinólise do líquor
cefaloraquidiano devido aos baixos níveis de plasminogênio e al-
tos níveis de inibidor do ativador de plasminogênio.
Fig. 13.Hidrocéfalo pós-hemorrágico. Recém-nascido de 26 semanas, RN No modelo experimental de Shobha e cl, o hidrocéfalo pós-he-
apresentou piora clinica, com quadro séptico com 12 dias de vida. O US morrágico ocorreu somente quando houve uma distensão aguda
craniano foi repetido com 21 dias de vida, sendo evidenciado hidrocéfalo do ventrículo. Os autores também sugeriram uma obstrução fun-
pós-hemorrágico (podemos observar coágulos em coalescência-setas) cional em nível dos ventrículos laterais.
(Margotto/Castro)
Manuseio Do Hidrocéfalo Pós-Hemorrágico

Devido ao aumento da sobrevivência dos RN de muito baixo


peso o número absoluto de casos de hemorragia intraventricular
e hidrocéfalo pós-hemorrágico tem aumentado. A prevenção e o

Paulo R. Margotto
Assistência ao Recém-Nascido de Risco

manuseio do hidrocéfalo pós-hemorrágico, embora constituam


mais importante tópico na Terapia Intensiva Neonatal, tem per-
manecido inalterado ou mesmo aumentado.
Evidentemente, que a melhor abordagem do hidrocéfalo pós-
hemorrágico é a prevenção do nascimento prematuro ou a pre-
venção da severa hemorragia intraventricular. A efetividade das
intervenções propostas na prevenção do hidrocéfalo pós-hemor-
rágico é muito discutida, como a efetividade de drogas que dimi-
nuem a produção liquórica, principalmente nas hidrocefalias não
comunicantes. A acetazolamida é um inibidor da anidrase carbô- Fig.14. Derivação subgaleal (A). Em (B), o reservatório e a saída da
nica, diminui a produção do LCR por volta de 50%. O furosemide derivação ficam no espaço subgaleal. O plug é removido se o cirurgião
também diminui a produção do LCR. Devido aos efeitos colate- pretende usar o dispositivo como uma derivação. O plug pode ser manti-
rais, como distúrbio do equilíbrio ácido-básico/hidreletrolítico, do e o dispositivo pode ser usado como simples reservatório ventricular,
distúrbios gastrintestinais, nefrocalcinose e letargia, dois estudos o assim chamado “dispositivo de acesso ventricular” (Roland/ Hill)
controlados e randomizados foram analisados pela Biblioteca Co-
chrane39. Nenhum dos estudos evidenciou diminuição do risco
para a derivação ventrículo-peritoneal ou morte no grupo que fez
o uso da terapia diurética. No grupo do diurético do maior ensaio
clínico, ocorreu um leve aumento do déficit motor no primeiro ano
de vida (OR: 1,27; IC: 1,02-1,58), assim como maior risco para ne-
frocalcinose (OR: 5,31; IC: 1,9-14,84). No estudo do International
PHVD Drug, a mortalidade foi maior no grupo do diurético (20%
versos 12%), assim como maior necessidade de colocação da de-
rivação (48% versus 45%) e maior desabilidade neurológica com Fig. 15. Em (A) US evidenciando hidrocéfalo pós-hemorrágico (hemor-
um ano de idade (77% versos 60%) Assim, a terapia com a ace- ragia intraventricular grau III e infarto hemorrágico). Em (B), derivação
tazolamida e furosemide não é nem segura e nem efetiva para subgaleal (Margotto/Castro)
o tratamento da dilatação ventricular pós-hemorrágica e, portan-
to, não pode ser recomendada como terapia para o hidrocéfalo Kazan e cl, recentemente analisaram os fatores de risco para
pós-hemorrágico. Punções lombares também não resultaram na a derivação ventrículo-peritoneal nos RN de muito baixo peso
redução da necessidade de derivação ventrículo-peritoneal ou de pré-termos (peso médio 1164g; idade gestacional média de 28,9
desabilidade neurológica (houve aumento de infecção). A terapia semanas). O mais importante fator de risco para a derivação nes-
fibrinolítica intraventricular também não diminuiu a necessidade tes RN com hidrocéfalo pós-hemorrágico foi a severidade da he-
364 da derivação ventrículo-peritoneal e não diminuiu a mortalidade. morragia intraventricular, assim como a época em que ocorreu a
O único tratamento estabelecido para o hidrocéfalo pós-hemor- hemorragia intraventricular. Neste estudo os autores detectaram
rágico persistente e progressivo com aumento da pressão intra- uma incidência de 26% de hidrocéfalo pós-hemorrágico.
craniana é a derivação ventrículo-peritoneal. Olischar e cl. evidenciaram alterações na atividade no EEG de
A decisão de usar terapia definitiva para o hidrocéfalo pós- amplitude-integrada (aEEG) nos RN pré-termos com hidrocéfalo
hemorrágico através da colocação de uma derivação ventrículo- pós-hemorrágico progressivo. Assim, a monitorização neurofi-
peritoneal é difícil no RN prematuro. Devido, pois estes RN apre- siológica contínua pelo aEEG pode ser de valor no diagnóstico
sentarem peso abaixo do mínimo requerido para a intervenção, e manuseio terapêutico dos RN pré-termos com hidrocéfalo pós-
coágulos sanguíneos residuais intraventriculares e debris, há hemorrágico progressivo (um RN mostrou início abrupto de um
aumento o risco de obstrução recorrente, além do alto risco de padrão quase isoelétrico sem qualquer alteração na condição
sepse, infecção e ventriculite com prognóstico neurológico ruim. clínica; em outro paciente, as alterações eletroencefalográficas
Na experiência de Roland e Hill, a colocação nestes RN de um retornaram ao normal após a colocação da derivação e redução
shunt ventriculosubgaleal (figuras 14 e 15) é uma opção tempo- da pressão intracraniana).
rária, especialmente nos RN com peso abaixo de 1500g, poden- Recentemente tem sido realizada uma nova abordagem com a
do ser transformado em derivação ventrículo-peritoneal quando o finalidade de remover sangue e citocinas do sistema ventricular
RN ganhar peso suficiente (em 20% dos casos pode servir como com o objetivo de prevenir o hidrocéfalo pós-hemorrágico. No es-
procedimento definitivo). Um potencial contra-indicação é a apa- tudo piloto de Whitelaw e cl o ativador tecidual de plasminogênio
rência cosmética de uma grande coleção de fluido subgaleal. foi administrado intraventricular 8 horas antes dos ventrículos
Willis e col. recentemente descreveram uma associação inaceita- serem irrigados com LCR. Os resultados preliminares mostraram
velmente alta de infecção no LCR com o uso do shunt ventriculo- que 74% dos pacientes com dilatação ventricular progressiva
subgaleal (taxa total de infecção de 66,6%). A potencial causa de pós-hemorrágica não requereram derivação e que 42% foram
infecção é a estase do LCR sob a pele fina do prematuro, promo- normais. Mais estudos são necessários para validar este método
vendo colonização pela flora da pele. Todas as infecções foram inovador para a prevenção da ocorrência ou progressão da he-
causadas pela espécie Staphylococcus. morragia intraventricular, com o objetivo de melhorar o prognósti-
co das crianças com hidrocéfalo pós-hemorrágico.
O estudo de Whitelaw empregando wash out blood and cytoki-
nes (drenagem, irrigação e terapia fibrinolítica), conhecido como
brain walsh, em 34 RN e comparado os resultados com 36 RN
em tratamento padrão de hidrocéfalo pós-hemorrágico, mostrou
um aumento de 4 vezes mais de hemorragia intraventricular se-
cundária no grupo do brain wash (35% versus 8%).
Volpe propõe a seguinte conduta no hidrocéfalo pós-heme-
morrágico
Capitulo 10 Distúrbios Neurológicos

RN, 32 (20%) morreram. Aos 30 meses, 127 crianças foram ava-


liadas, sendo que 90% tinham deficiência motora e 76% tinham
grave desabilidade e 56% apresentavam deficiências múltiplas.
Paneth sugere incluir a ventriculomegalia no espectro da lesão
da substância branca, podendo alguns destes RN com ventriculo-
megalia apresentar espectro de leucomalácia tipo II (densidades
periventriculares transitórias evoluindo para pequenos cistos lo-
calizados). Tradicionalmente a ventriculomegalia e o hidrocéfalo
tem sido interpretados como seqüela de hemorragia intraventri-
cular, mas há uma evidência cada vez maior que a ventriculo-
megalia quase sempre reflete algum grau de lesão da substân-
cia branca. Esta evidência é patológica (a lesão da substância
branca freqüentemente está presente nas crianças que morrem
com ventriculomegalia) e prognóstica (o risco de desenvolvimen-
to anormal nas crianças com ventriculomegalia é semelhante às
crianças com lesão da substância branca).
O artigo de Leviton e cl resume as evidências de que a ventricu-
lomegalia é melhor vista como uma forma de lesão da substância
branca. O estudo de Kuban e col. dá suporte a este ponto de vis-
ta. Neste estudo, os RN com ventriculomegalia apresentam um
risco quase 50 vezes maior de ter ecogenicidade ou ecolucência
parenquimatosa, em relação aos RN sem hemorragia intraven-
tricular e ventriculomegalia. A hemorragia intraventricular pode
contribuir de alguma forma na patogênese da lesão da substân-
cia branca, mas não tanto quanto a ventriculomegalia. Segundo
Kuban e cl, embora a ventriculomegalia possa ser um marcador
indireto da lesão da substância branca, muitos RN neste estudo
Fig. 16. Drenagem ventricular externa. Hemorragia intraventricular (tomo- com ventriculomegalia foram identificados precocemente (dentro
grafia computadorizada)(Margotto) de semanas de nascimento), tornando assim improvável a hipó-
tese que a lesão da substância branca levaria a algum grau de
atrofia, resultando no hidrocéfalo ex-vácuo. Embora a maioria dos
Lesão Cerebral Associado Ao Hidrocéfalo Pós-Hemorrágico RN com ventriculomegalia apresente hemorragia intraventricular,
isto não é universalmente verdadeiro. A persistente ventriculo- 365
O principal determinante do prognóstico neurológico anormal megalia nos RN que não apresentam hemorragia intraventricular
dos RN com hemorragia intraventricular e hidrocéfalo pós-hemor- sugere ter ocorrido injúria pré-natal ou a falta de um desenvolvi-
rágico é a presença concomitante da lesão parenquimatosa, es- mento normal da substância branca. A ventriculomegalia, evento
pecialmente o infarto hemorrágico periventricular,. que ocorre mais nos RN de menores idades gestacionais, per-
Do estudo de Brouwer e col, os RN com idade gestacional <-34 mite a entrada de entidades tóxicas ao cérebro, possivelmente
semanas com hemorragia grau III que necessitaram de shunt, citocinas, para a substância branca, devido o rompimento do
apresentaram 0% de paralisia cerebral versus 80% daqueles epêndima da parede ventricular.
com hemorragia parenquimatosa com shunt. Adans-Chapman Na coorte de RN com LPV, no estudo de Pierrat e cl a ventri-
relatou que a inserção do shunt foi um fator adicional com prog- culomegalia foi um bom predictor de paralisia cerebral (29 de
nóstico adverso neurocomportamental aos 18-22 meses, nos RN 30 RN com ventriculomegalia ao redor do termo desenvolveram
abaixo de 1000g com hidrocéfalo pós-hemorrágico, com apenas paralisia cerebral). No entanto, é importante ter em mente que
14% apresentando neurodesenvolvimento normal. A hidrocefalia ventriculomegalia pode estar presente ao redor do termo em RN
pós–hemorrágica ocorre com maior frequência nas HIV grau III. que apresentaram hemorragia intraventricular durante o período
Vários estudos têm evidenciado maior risco para seqüelas neuroló- neonatal. Nestes RN, a ventriculomegalia pode ser devida a leve
gicas nos RN com hidrocéfalo pós-hemorrágico, especialmente aque- dilatação ventricular pós-hemorrágica que improvavelmente leva
les que necessitaram de colocação de derivação ventrículo-peritoneal. a déficit neurológico. Há sugestão de que o aumento dos ventrí-
Reshch, em um período de 5 anos, de 1984-1988, 299 RN culos, quando pertencente à lesão da substância branca, é mais
prematuros desenvolveram hemorragia intraventricular, dos irregular no que diz respeito à forma.
quais 68 (22,7%) desenvolveram hidrocéfalos pós-hemorrágicos A ventriculomegalia sem evidência de aumento da pressão in-
e destes, 23 (34%) morreram e 35 foram seguidos. Com 1 ano de tracraniana pode também representar um predictor sensível de
idade corrigida, 15% (25% no follow-up de 5 anos) eram normais; deficiência tanto cognitiva como motora. No estudo de Whitaker
35% (25% aos 5 anos) mostraram leve atraso no desenvolvimen- e cl, aproximadamente metade dos casos de retardo mental aos
to, 32,5% (28% aos 5 anos) tiveram moderado retardo mental e 6 anos em RN de muito baixo peso foi atribuída a lesões paren-
17,5% (22% aos 5 anos) tiveram severo retardo mental. O pior quimatosas/ventriculomegalia independente de outros fatores.
prognóstico foi no grupo que necessitou de derivação ventrícu- No estudo de Ment e cl, aos 4,5 anos de idade nos RN pré-ter-
lo-peritoneal, assim como nos RN que necessitaram de maior mos com ventriculomegalia (figura 16) a termo (moderada ven-
número de revisão da derivação. Portanto, 50% tiveram leve a triculomegalia: 10-15 mm e severa ventriculomegalia: >15 mm,
moderado atraso e 50% com severa atraso aos 5 anos de vida. medida realizada a nível no corpo médio do ventrículo lateral em
Outro estudo randomizado e controlado envolvendo 157 RN corte sagital) foi o mais importante predictor de QI abaixo de 70
com dilatação ventricular progressiva pós-hemorrágica, eviden- (OR de 19; 95% IC: 4,5-80,6). Das crianças com ventriculomega-
ciou que a drenagem precoce não resultou na melhora do prog- lia a termo, 55% tiveram um QI <70 em comparação com 13%
nóstico em relação aos controles, apesar de ter reduzido a taxa das crianças sem ventriculomegalia a termo, a despeito de maior
de expansão dos ventrículos e do perímetro cefálico. Destes 157 vantagem educacional das mães das crianças com ventriculo-

Paulo R. Margotto
Assistência ao Recém-Nascido de Risco

megalia. Os déficits nas crianças com ventriculomegalia a termo apresentaram significantes diferenças no desenvolvimento nas
eram mais pronunciados nos testes de avaliação da habilidade idades corrigidas de 6,12,18 e 24 meses em relação aqueles RN
visual motora. Das crianças com ventriculomegalia, a paralisia sem estes achados; 55% destes RN apresentaram hiperecogeni-
cerebral ocorreu em 45% comparado com 7% das crianças sem cidade periventricular transitória versos 35% no grupo controle
ventriculomegalia. Estes dados sugerem que, para o RN pré-ter- de semelhante idade gestacional e peso ao nascer. Muitos des-
mo, a ventriculomegalia a termo é conseqüência da vulnerabili- tes RN com aumento do corno oPICCital apresentaram resolução
dade do cérebro em desenvolvimento. nas ecografias posteriores (88%) e os autores acreditam que este
achado pode ser uma variante normal do desenvolvimento cere-
bral. No entanto, o estudo sonográfico tem suas limitações na
detecção de lesão cortical e lesões difusas da substância branca.
A colpocefalia (desproporcional aumento do trígono, corno oPIC-
Cital e geralmente temporal) tem sido descrita como a persistência
da configuração fetal dos ventrículos laterais (figura 17). Este qua-
dro patológico é caracterizado por diminuição ou atraso do desen-
volvimento do cérebro que resulta em diminuição da espessura da
Fig. 17. Ultrassom no plano sagital evidenciando ventrículo lateral normal substância branca na porção posterior do centro semioval, ocasio-
(imagem superior) e ventriculomegalia a termo (imagem inferior). As nando o aumento dos cornos oPICCitais. Nem todos os casos de
setas indicam o ponto de referência na medida dos ventrículos colpocefalia se acompanham de distúrbios de migração neuronal
e deficiente neurodesenvolvimento. Nos casos de distúrbios de mi-
Os fatores de risco associados à ventriculomegalia no estudo gração neuronal, a parede e a forma ventricular são irregulares.
de Ment e cl incluíram não somente o envolvimento parenquima-
toso da hemorragia intraventricular, mas também a hemorragia
intraventricular de baixo grau e a displasia broncopulmonar. Os
RN com hemorragia intraventricular apresentam severa depres-
são do fluxo sanguíneo cerebral. A displasia broncopulmonar tem
sido considerada uma causa de deprivação de oxigênio para o
desenvolvimento cerebral (25-40% dos RN com displasia bronco-
pulmonar apresentam déficits neurocomportamentais).
O desenvolvimento cerebral do feto humano caracteriza-se por
períodos seqüenciais de proliferação celular, pela migração da
glia e neurônios para apropriadas posições corticais e pela ela-
boração de conexões sinápticas com outras regiões corticais e
366 subcorticais do cérebro. Por volta de 25 semanas de gestação
quase todo o desenvolvimento dos neurônios corticais tem sido
gerado, a elaboração da árvore axonal e dendrítica está em um
estágio ativo e muitos contatos sinápticos estão sendo formados
no córtex em desenvolvimento.
Estudos experimentais conduzidos pelo grupo de Ment e cl em
ratos submetidos a insulto hipóxico crônico subletal no 7o dia de
vida (nos primeiros 20 dias destes ratos recém-nascidos ocorre Fig18. RN com 7 dias, 39 sem 5 dias, com diagnóstico de hidrocefalia in-
uma rápida diferenciação dos axônios e dendritos), evidenciou traútero. A ultrassonografia (A) no plano coronal e em (B) no plano sagital
no 7o dia de vida diminuição do volume cortical e do volume e a correspondente tomografia computadorizada (C) mostram despro-
hemisférico da substância branca com significante ventriculome- porcional aumento do ventrículo direito (colpocefalia). A regularidade
galia e evidência de severo comprometimento na corticogênese da parede ventricular não sugere a presença de distúrbios de migração
neste modelo animal de desenvolvimento cerebral. neuronal. (Margotto, Castro).
Assim, a ventriculomegalia secundária a redução do volume da
substância branca, sugere um profundo efeito no padrão e nível da Publicação recente de Reinprecht e cl, compreendendo 76
conectividade córtico-cortical e córtico-fugal. Os estudos clínicos crianças com hemorragia intraventricular que foram tratadas
informam que estas crianças com ventriculomegalia sofrem não primariamente pela drenagem ventricular externa e 42 crianças
somente anormalidades nos testes de resposta evocada visual, que necessitaram de derivação permanente, o segmento entre
como também no desempenho motor visual. Os dados do presen- 15 meses e 15 anos (média de 92 meses) evidenciou, nas crian-
te estudo de Ment e cl provêem adicional evidência da associação ças com derivação permanente: mortalidade de 7% (3 pacien-
das anormalidades visuais com ventriculomegalia a termo nos RN tes); a média de revisões da derivação foi de 1,57 por paciente
de muito baixo peso ao nascer aos 4,5 anos de idade corrigida. e que as principais causas das revisões foram infecção (7,1%)
Stewart e Kirkbride, citados por Ment e cl, relataram deficiente e bloqueio (45,2%). O seguimento evidenciou que o desenvolvi-
desempenho escolar em crianças com 14 anos de idade com his- mento foi normal em 13 pacientes (33,3%), atraso menor em 12
tória de nascimento pré-termo e que apresentaram ventriculome- pacientes (30,8%) e atraso maior em 14 pacientes (35,9%). Nes-
galia detectada pela ressonância magnética. As anormalidades en- te período de seguimento, o resultado neurológico foi normal em
contradas na substância branca em seus pacientes representam 15 pacientes (38,4%), leve desabilidade em 8 pacientes (20,5%),
alterações subjacentes na conectividade hemisférica, provendo moderada desabilidade em 9 pacientes (23%) e severa desabili-
assim base para a deficiência cognitiva nos pacientes estudados. dade em 7 pacientes (18%).
Tang e cl relataram recentemente que os RN de muito baixo O prognóstico ruim destes RN pode estar relacionado a complica-
peso ao nascer (idade gestacional média de 30 semanas; peso ções com a derivação, tais como infecção ventricular, desconexão,
médio de 1290g) com desproporcional aumento do trígono ou fratura, migração, superdrenagem obstrução da derivação. Segun-
corno oPICCital (>=15 mm no corte sagital, mais a esquerda e do Bergsneider e col., mais de 30% das novas derivações falham
em RN do sexo masculino, parede ventricular lisa e regular) não com um ano. Com 2 anos de idade a falha chega a 50%. Menos que
Capitulo 10 Distúrbios Neurológicos

1/3 das novas derivações sobrevivem a 10 anos sem revisão. mento do corpo caloso e compressão ou atrofia da substância
Brouwer e cl relataram significantemente menos infecção, com- branca são achados consistentes dos cérebros hidrocefálicos.
parando dois períodos (1992 e 2003):4% versus 19,2% (p=0.029). Algumas destas lesões calosas são causadas por estiramento.
Estudos neuropatológicos de hidrocéfalo pós-hemorrágico em Estes insultos podem resultar em desconexão hemisférica.
animais e humanos têm demonstrado estiramento axonal e glio- A perda dos axônios periventriculares é evidente nos casos de
se, permitindo a infusão de líquor cefaloraquidiano na substância hidrocefalia e tem sido observadas alterações degenerativas nas
branca causando atenuação vascular e lesão cerebral isquêmi- porções descendentes dos tratos corticoespinhais.
ca. Dados de estudos em animais sugerem haver nos modelos Os axônios periventriculares e a mielina são os alvos primários
de hidrocéfalo, significante alterações na maturação dendrítica, da lesão. A degeneração axonal é a maior alteração patológica
nos neurônios corticais, distúrbios no desenvolvimento de neu- nas regiões cerebrais envolvidas nas funções motoras e apren-
rotransmissores e na sinaptogênese que podem afetar o desen- dizado durante o hidrocéfalo, correlacionando-se com o aumento
volvimento organizacional do córtex cerebral. Estas alterações dos ventrículos cerebrais. Del Bigio e cl evidenciaram, em estudo
podem ser reversíveis com a correção precoce do hidrocéfalo experimental que o atraso da mielinização é potencialmente re-
(melhora tanto a sinaptogênese, como o déficit de aprendizado). versível com o uso precoce da derivação, o que não ocorre com
Em estudo experimental, da Silva avaliou a lesão da substância a perda da mielina acompanhando a lesão axonal. Os autores
branca no hidrocéfalo neonatal. Dentro de poucos dias do início atribuem o atraso da mielinização no hidrocéfalo a algum fator
do hidrocéfalo, o edema extracelular e a lesão axonal estavam metabólico produzido pelos astrócitos reativos ou do epêndima
presente na substância branca periventricular, sendo seguido por lesado ou a um efeito tóxico de metabólitos acumulados que nor-
gliose, atrofia e em alguns animais, cavitação da substância bran- malmente seriam eliminados pelo fluxo do LCR ou ainda como
ca. A despeito da melhora clínica com a derivação, as alterações conseqüência da atividade axonal alterada.
da substância branca persistiram. Estas alterações na substância A lesão axonal que ocorre na substância branca com a severa ven-
branca são muito semelhantes às observadas na leucomalácia pe- triculomegalia tem sido mediada pelo cálcio (a lesão do epêndima
riventricular, sugerindo que a isquemia desempenha papel impor- pelo hidrocéfalo permite que haja um aumento de Ca++ no LCR que
tante na lesão cerebral neonatal causada pelo hidrocéfalo. alcança os vulneráveis axônios e glia, onde se acumula gradualmen-
Knaap e cl investigaram a relação entre a progressão da mie- te nos axônios estirados com subseqüente lesão). Este fato ocorre
linização e o desempenho neurocomportamental, utilizando a em um período de dias a meses. Isto explicaria a disfunção oligoden-
ressonância magnética e o desenvolvimento psicomotor. A depo- droglial observada nos cérebros hidrocefálicos73. Com este conhe-
sição de mielina é um dos maiores processos de maturação cere- cimento, foi testado, experimentalmente, o uso de nimodipine, um
bral. A mielinização do sistema nervoso central inicia no segundo agente bloqueador do canal de cálcio tipo-L para melhorar os efeitos
trimestre de gestação, mas a maior parte do processo ocorre adversos da hidrocefalia, sendo observado maior espessamento ca-
após o nascimento, especialmente durante os primeiros anos de loso nos animais tratados (este efeito protetor deste bloqueador do
vida. Durante este período, ocorre rápido desenvolvimento psico- canal de cálcio provavelmente tenha resultado da melhora do fluxo
motor. Com relação ao hidrocéfalo, houve uma tendência a me- sanguíneo, embora não possa ser excluída a prevenção do influxo de 367
nor desempenho neurocomportamental e atraso da mielinização cálcio mediado por processo proteolítico).
em pacientes com maior volume de LCR. O grau do hidrocéfalo Em estudo experimental, da Silva e cl evidenciaram uma sema-
é o fator menos importante na lesão parenquimatosa intrínse- na após a indução do hidrocéfalo, redução global do fluxo sanguí-
ca. No entanto, o nível e a duração do aumento da pressão do neo cerebral (FSC) no córtex, na substância branca, assim como
LCR podem ser importante na determinação da severidade da nas estruturas subcorticais profundas (a máxima redução, 37%
lesão parenquimatosa intrínseca e atraso da maturação do cére- dos níveis dos controles, foi na substância branca parietal). Com
bro. Com a colocação precoce da derivação, o desenvolvimento 3 semanas após a derivação, a redução do FSC persistiu signi-
psicomotor e a mielinização foram mais severamente atrasados ficativa (42% em relação aos controles) apenas na substância
nas crianças com hidrocéfalo progressivo em relação às crianças branca (parietal, oPICCital e corpo caloso). Na substância cinzen-
derivadas e com hidrocéfalo não progressivo. ta cortical e estruturas subcorticais profundas, o FSC retornou
A falha na derivação é associada com destruição da mielina. espontaneamente ao normal com 3 semanas.
O conteúdo total de mielina pode se aproximar do normal em Estudos experimentais confirmam que o hidrocéfalo pode
alguns casos, particularmente se os axônios não tenham sido le- causar redução do fluxo sanguíneo cerebral e alteração no me-
sados permanentemente. O estabelecimento das sinapses pode tabolismo oxidativo nas regiões cortical e subcortical. Estas al-
ser completamente restabelecido, desde que não tenham sido terações são mais pronunciadas nos estágios precoces do hidro-
perdidos axônios, uma vez que a perda do contato sináptico re- céfalo enquanto os ventrículos estão expandindo ativamente. A
sulta da axotomia que ocorre na substância branca. conseqüência do diminuído fluxo sangüíneo é a lesão aos oligo-
A mielinização expressa a maturidade funcional do cérebro. dendrócitos e aos axônios na substância branca.
Há uma grande interdependência entre neurônios e mielina (um Kempley e cl avaliaram a velocidade do fluxo sangüíneo na ar-
distúrbio afetando um dos dois, inevitavelmente também leva téria cerebral anterior de 6 prematuros com hidrocéfalo pós-he-
a distúrbio no outro). Oi, em 1989 evidenciou que a maturação morrágico antes e após a drenagem do líquor cefalo-raquidiano
neuronal é atrasada no hidrocéfalo, enquanto no período fetal a em 23 ocasiões. Houve um significante aumento da velocidade
mielinização dos hemisférios cerebrais ainda não tenha começa- do fluxo sangüíneo cerebral após a drenagem (reflexo da diminui-
do. A possibilidade de que o hidrocéfalo por si só exerça um efeito ção do volume de sangue cerebral).
independente negativo na mielinização não pode ser excluído, A seguir, a evidência à luz da ressonância magnética das alte-
mas é também possível que o atraso na mielinização seja secun- rações cerebrais em um RN de 27 semanas, com peso ao nascer
dário ao atraso da maturação neuronal. de 980g que desenvolveu hemorragia intraventricular grau III. A
Del Bigio, em modelos animais, evidenciou edema e lesão axo- dilatação ventricular foi acompanhada por nós. Com 2 meses os
nal dentro de dias após início do hidrocéfalo, sendo seguido por ventrículos direito e esquerdo mediam, respectivamente 4,7mm
gliose, atrofia da substância branca, e em alguns animais, grande e 8,3mm, respectivamente. (figuras 17). Com 3 meses, estes va-
cavitação da substância branca. Estas alterações são semelhan- lores passaram para 5,0mm e 11,3mm. Com 5 meses os valores
tes às vistas na leucomalácia periventricular, sugerindo o papel foram 5,5mm e 13,0mm (figura 18). A ressonância magnética
da isquemia na lesão cerebral causada pelo hidrocéfalo. O afina- aos 5 meses de idade (47 semanas pós-concepção ou 7 sema-

Paulo R. Margotto
Assistência ao Recém-Nascido de Risco

nas de idade gestacional corrigida) revelou redução volumétrica Fig.19. Recém-nascido da figura 5.14 aos 5 meses (47 semanas pós-
do hemisfério cerebral esquerdo, especialmente dos gânglios concepção).Ressonância magnética mostrando redução volumétrica
basais e da substância branca com conseqüente dilatação do hemisfério cerebral esquerdo, especialmente dos gânglios basais
compensatória do ventrículo esquerdo. Ainda há atrofia do trato e da substância branca com conseqüente dilatação compensatória do
cortico-espinhal traduzida por hemiatrofia esquerda das estrutu- ventrículo esquerdo (setas em C), afilamento do corpo caloso (seta)
ras do tronco cerebral (ponte, mesencéfalo e bulbo), afilamento em (A), degeneração walleriana (seta) em (B).Em resumo: hemiatrofia
do corpo caloso. Em conclusão: seqüela de insulto isquêmico no cerebral esquerda, leucomalácia periventricular esquerda degeneração
hemisfério cerebral esquerdo, hemiatrofia cerebral esquerda, walleriana à esquerda, comprometimento das fibras de associação, com
leucomalácia periventricular esquerda degeneração walleriana atrofia do corpo caloso
à esquerda, comprometimento das fibras de associação, com
atrofia do corpo caloso, não há sinais de hidrocefalia (figura 19). Quanto Às Desabilidades Cognitiva E Motora

Vasileiadis e cl estudaram os efeitos da hemorragia intraventri-


cular não complicada (sem envolvimento parenquimatoso e sem
hidrocéfalo pós-hemorrágico) no volume cortical, utilizando-se da
ressonância magnética, sendo evidenciada uma redução de 16%
na substância cinzenta cortical a termo. Os autores atribuem
este achado à perda das células precursoras astrocíticas causa-
da pela hemorragia intraventricular e pela destruição da matriz
germinativa. A matriz germinativa representa o remanescente da
Fig.19. Recém-nascido de 27 semanas, 980g que desenvolveu hemor- zona germinativa. Entre 10-24 semanas de gestação, esta região
ragia intraventricular grau III. US no plano sagital em (A) mostrando o celular é a fonte de precursores neuronais. Após 24 semanas de
ventrículo direito e em (B), o ventrículo esquerdo aos 2 meses, medindo, gestação, a migração neuronal se completou, mas a matriz ger-
respectivamente 4,7mm e 8.3 mm minativa provê precursores gliais que se tornarão oligodendróci-
tos e astrócitos. Neste estágio tardio da gliogênese, os astrócitos
migram às camadas superiores corticais e são cruciais para a
sobrevivência neuronal e o desenvolvimento normal do córtex
cerebral. Estes achados são consistentes com as publicações na
literatura a respeito dos possíveis efeitos da perda astrocítica no
desenvolvimento cortical.
Nos últimos anos o desenvolvimento do cérebro tem recebido
uma grande atenção, principalmente em duas áreas. A primei-
368 ra se refere às células troncos cerebrais encontradas no tubo
neural e na zona ventricular do córtex cerebral e os mecanismos
envolvidos na sua proliferação e diferenciação em neurônios e
glia. A segunda área de atenção da pesquisa se refere aos sinais
hierárquicos envolvidos na migração dos neurônios do epitélio
germinativo para o córtex ao longo da glia radial. O papel vital
das células Cajal-Retzius tem sido elucidado. Estas células se
localizam na zona marginal, secreta reelina (uma glicoproteina
extracelular envolvida na migração neuronal e laminação) que
por sua vez estimula receptores do sistema de sinalização intra-
Fig. 20. Recém-nascido da figura 5.14 aos 3 meses. US no plano sagital em celular em resposta a precursores neurais e mediam a migração
(A) do ventrículo direto e em (B) ventrículo esquerdo medindo, respectiva- e a estratificação destes no córtex cerebral.
mente 5.mm e 11.3 mm. Em (C) US no plano coronal e sagital aos 5 meses No passado, pelo efeito óbvio do hidrocéfalo não tratado, pen-
(ventrículos direito e esquerdo medindo, respectivamente 5,5mm e 13mm) sava-se que o aumento da pressão intracraniana com o acúmulo
de LCR no cérebro seria o responsável pela lesão cerebral. Assim,
a maioria dos estudos se concentrou na avaliação da eficácia da
derivação do LCR, como colocação de derivação. No entanto, o
hidrocéfalo de início fetal resulta em uma grande variedade de
deficiências nas crianças afetadas que são prevenidas ou recu-
peradas pelo tratamento através da colocação de uma derivação.
Os dados recentes dão suporte que estas deficiências resultam
de um deficiente desenvolvimento cortical devido à obstrução do
LCR nos estágios fetais. Há um corpo de evidências sugerindo o
papel fisiológico do LCR no desenvolvimento do cérebro. O LCR
contém fatores de crescimento e citocinas secretadas do plexo
coróide e do órgão subcomissural, que são moduladores conhe-
cidos da neurogênese e diferenciação. Constituintes do LCR mu-
dam durante o desenvolvimento e são capazes de contactar célu-
las no parênquima cortical. Manipulação experimental do volume
do LCR ou do conteúdo do fator de crescimento pode resultar em
falha do desenvolvimento cortical e/ou hidrocéfalo.
Jones e cl, à luz da microscopia evidenciaram em estudo ex-
perimental a grave redução do volume cortical aos 30 dias de
vida dos animais com do hidrocéfalo congênito (já com 10 dias,
Capitulo 10 Distúrbios Neurológicos

havia pequena redução). feração celular na zona subependimal foi significativamente re-
Segundo Bigio, o hidrocéfalo severo pode causar grande afina- duzida. A camada de neurônios da subplaca cortical foi rompida.
mento do córtex, mais pronunciadamente nas regiões oPICCitais Com 21 dias, os estudos histológicos evidenciaram redução do
quando a ventriculomegalia inicia no útero ou precocemente na espessamento do corpo caloso, poucos oligodendrócitos madu-
infância. A atrofia dos núcleos da base também tem sido relata- ros, lesão dos axônios e reação astroglial/microglial.
da, tanto em animais como seres humanos. Massicotte e cl evidenciaram, a partir de hidrocéfalo experi-
Boillat e cl evidenciaram que as alterações patológicas na mental em ratos adultos compressão da substância cinzenta,
substância cinzenta cortical no hidrocéfalo infantil variam com talvez associada com redução na água total que piora a difusão
a idade em que teve início e pode não ser reversível após a co- da água no tecido. A compressão da substância branca e a hipo-
locação de derivação. Os efeitos foram mais severos no córtex perfusão precede o desenvolvimento do edema cerebral.
visual. Com 3 semanas de hidrocéfalo, os neurônios mostraram
alterações degenerativas. A colocação precoce de uma derivação Ultrassom Doppler Na Hidrocefalia
pode prevenir a lesão progressiva neuronal.
O LCR é secretado continuamente pelo plexo coróide, localiza- O ultrassom Doppler, pode ser de auxílio na identificação de RN com
do nos ventrículos laterais, 3o e 4o ventrículo. O volume total do aumento da pressão intracraniana, assim como na determinação da
LCR é de 125 a 150 ml. A pressão normal em repouso está entre necessidade e o melhor momento para realizar uma derivação.
150 e 180mmH2O. Calcula-se que o LCR seja produzido na velo- Seibert e cl relataram, inicialmente em animais que o índice de
cidade de 0,2-0,7ml/min ou de 500 a 700 ml/dia. O LCR escoa resistência (IR) ou índice de Pourcelot (velocidade máxima da sís-
através do sistema ventricular, passando por todas as regiões de tole-velocidade máxima da diástole/velocidade máxima da sístole)
atividade germinativa 19,72. As funções do LCR são: manter flu- correlaciona-se linearmente com o aumento da pressão intracra-
tuante o tecido cerebral, atuando como amortizador, serve como niana. Assim que a pressão intracraniana aumenta, o fluxo tende
veículo para transportar os nutrientes ao cérebro, assim como a ser afetado mais durante a diástole do que na sístole, resultando
para eliminar escórias, circula entre o crânio e a espinha dorsal em maior IR. A colocação da derivação diminui significativamente
compensando as mudanças no volume de sangue intracraniano. o IR. Em RN normais, o IR está em torno de 0,75 ± 0,0887.
Estudos experimentais evidenciaram que seguindo a obstru- Segundo Hill e Volpe, o aumento da resistência ao fluxo na arté-
ção do fluxo do LCR, a neurogênese do epitélio germinativo torna- ria cerebral anterior no hidrocéfalo infantil é mais provavelmente
se anormal, alterando a atividade das células do epitélio germi- pelo estiramento e compressão destas artérias pelos ventrículos
nativo do córtex em desenvolvimento. Uma vez removidas do seu dilatados. A diminuição dos ventrículos pela ventriculostomia ou
ambiente in vivo, as células corticais proliferaram normalmente. derivação ventrículo-peritoneal foi acompanhado de queda do IR.
LCR extraído dos ventrículos dilatados dos cérebros afetados foi Pople e cl. correlacionaram o IR com o aumento da pressão
capaz de inibir a proliferação de células normais. Assim, os auto- intracraniana em crianças com bloqueio da derivação ventrículo-
res levantaram a hipótese que o LCR tem um papel potencial no peritoneal e um IR elevado, com uma sensibilidade de 56% e es-
processo do desenvolvimento cerebral. O acúmulo de LCR pode pecificidade de 97% na predicção deste bloqueio. 369
resultar em um anormal desenvolvimento cortical através do acú- Goh e cl relataram significante correlação entre pressão intra-
mulo de fatores inibitórios a proliferação neuronal normal. craniana e IR, com queda significante do IR após ventriculosto-
Os autores Mashayekhi e cl evidenciaram, a partir de estudos ex- mia e derivação ventrículo-peritoneal.
perimentais de hidrocéfalo fetal em ratos, o papel crítico do LCR no Taylor e Madsen relataram significante correlação entre alte-
desenvolvimento cortical. Se o fluxo é rompido, o desenvolvimento ração no IR durante a compressão da fontanela e elevada pres-
do córtex é seriamente afetado, resultando em deficiências neuroló- são intracraniana: o IR aumentou significativamente nos RN com
gicas significantes nos indivíduos afetados. O desenvolvimento corti- aumento da pressão intracraniana e já no RN sem hipertensão
cal normal é provavelmente dependente não somente da presença intracraniana, o IR se alterou muito pouco. Estes autores não de-
do LCR, mas também do seu correto fluxo e composição. tectaram alteração no IR após remoção do LCR, assim como não
Mais recentemente, em 2006, Krueger e cl relataram que os detectaram correlação entre IR e hipertensão intracraniana. Se-
progenitores neurais podem ser recuperados do LCR dos RN pré- gundo Taylor92, a explicação desta resposta baseia-se na hipóte-
termos com hidrocéfalo. Este acúmulo de progenitores neurais se de Monro-Kellie, segunda a qual o volume do cérebro, o líquido
no LCR poderia confundir a interpretação clínica da contagem de cefaloraquidiano, o conteúdo vascular e outros componentes in-
células do LCR dos RN com hidrocéfalo. Estas células entram no tracranianos são constantes. Durante a compressão (compres-
LCR através do rompimento do epêndima, comumente encontra- são leve do transdutor sobre a fontanela por 3 a 5 segundos), em
do nos casos de hidrocéfalo. Não se conhece a causa desta ro- crianças normais, o líquor e o sangue se distribuem em outros
tura, mas especula-se que pode não ser devido a elevadas pres- compartimentos para compensar o aumento de volume resultan-
sões, mas a freqüente expansão/contração do ventrículo que te da compressão com conseqüente aumento da pressão intra-
ocorre com o acúmulo e remoção do LCR. Outra causa, poderia craniana (nestes casos, o IR muda muito pouco); já nas crianças
ser a presença de mediadores inflamatórios que estão presentes com hidrocefalia e hipertensão intracraniana, esta compensação
no LCR dos pré-termos com hidrocéfalo. É possível que células não ocorre, havendo aumento importante, da hipertensão intra-
troncos migrem para a área do parênquima lesado e entrem no craniana com alteração da perfusão cerebral e aumento do IR.
LCR através do epêndima rompido. Esta perda celular de progeni- Os autores concluem que a mudança do IR durante a com-
tores neurais para o LCR pode contribuir para o deficiente recupe- pressão da fontanela é um melhor predictor de hipertensão in-
ração do manto cortical após a colocação do shunt com repercus- tracraniana do que o IR obtido sem a compressão da fontanela,
sões importante no desenvolvimento. A exposição destas células podendo esta técnica ser usada na monitorização da efetividade
ao ambiente ventricular nestes RN com altas concentrações de de terapias não cirúrgicas nas crianças com hidrocefalia.
mediadores inflamatórios pode interferir com a proliferação apro- A presença de diástole reversa sem compressão da fontanela é
priada, migração e diferenciação celular. fortemente sugestiva de aumento da pressão intracraniana e para
Recentemente Khan e cl, evidenciaram 7 dias após a indução estes pacientes, não se recomenda a compressão da fontanela92.
de hidrocéfalo em ratos de 1 dia, variável aumento ventricular
com edema da substância branca, lesão de axônio, astrogliose
reativa e acúmulo de macrófagos no severo hidrocéfalo. A proli-

Paulo R. Margotto
Assistência ao Recém-Nascido de Risco

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Paulo R. Margotto
Assistência ao Recém-Nascido de Risco

10.7 ASPECTOS ULTRASSONOGRÁFICOS DAS MALFORMAÇÕES CEREBRAIS

Paulo R. Margotto

Os recém-nascidos com grandes lesões cerebrais podem estar


em grande risco de apresentarem desabilidade no neurodesen-
volvimento. A detecção precoce das grandes lesões pode alertar
tanto aos clínicos como os pais e referendar para uma interven-
ção apropriada e precoce.

Agenesia Do Septo Pelúcido


(Displasia Septo-Ótica: Síndrome De Morsier)

A displasia septo-óptica é uma rara anomalia (2-3/100.000)


de etiologia desconhecida caracterizada pela ausência do septo
pelúcido e hipoplasia do disco óptico. Os indivíduos afetados têm Fig. 2. Recém-nascido pré-termo, 725g, 29 semanas, com aspecto eco-
deficiência visual (às vezes cegueira) e disfunção do eixo hipotála- gráfico sugestivo de displasia septo-óptica. Em (A), US no plano coronal
mo-hipófise. Outros achados podem ser encontrados: anomalias com aspecto quadrangular dos cornos frontais. Em (B), no plano sagital,
crânio-faciais, como hipotelorismo e lábio leporino, ventriculomega- mostrando o corpo caloso fino. (Margotto/Castro)
lia, retardo mental, hemiparesia. Este termo foi devido a Morsier que
associou a hipoplasia do nervo óptico a ausência do septo pelúcido.
Para o diagnóstico, a ressonância magnética é de grande importân-
cia, assim como a oftalmoscopia do nervo óptico (a presença da
hipoplasia óptica é decisiva para o diagnóstico: a papila é pequena,
pálida e muitas vezes com duplo contorno). As convulsões e o retar-
do mental são freqüentes, assim como a hemiplegia, atetose, autis-
mo, epilepsia, déficit no aprendizado e déficits de atenção.
Á ecografia transfontanelar (figuras 1 e 2) e à ressonância mag-
nética (figuras 3 e 4) visualizamos a ausência do septo pelúcido
e uma aparência quadrangular dos cornos frontais fundidos; no
372 plano sagital, vemos um corpo caloso hipoplásico (adelgaçado).A
ultrassonografia não permite avaliar os canais e nervos ópticos, Fig 3. Ressonância magnética evidenciando a ausência do septo pelúci-
embora seja possível em alguns casos, demonstrar a dilatação do (ventrículos laterais em forma quadrangular). A seta mostra o fórnix
dos recessos ópticos e das cisternas supra-selar e quiasmática. ocupando uma posição caudal anormal (Scoffings, Kurian)

No entanto, pode ocorrer ausência do septo pelúcido indepen-


dente da Síndrome de Morsier, constituindo um achado de autóp-
sia, um elemento que se acompanha da agenesia do corpo calo-
so (o desenvolvimento do septo pelúcido está bem ligado aquele
do corpo caloso), ou conseqüência de hidrocefalias progressivas.
Pode ocorrer uma deficiência isolada do hormônio do crescimen-
to e um panhipopituitarismo global (figura 4)

Fig.1. A ecografia transfontanelar mostra a ausência do septo pelúci-


do. No plano sagital (A), observamos o corpo caloso hipoplásico fino
(seta). No plano coronal (B) observamos uma aparência quadrangular
típica dos cornos frontais fundidos (seta). Observe o cavum do septo
pelúcido (Margotto/Castro)

Fig.4. Ressonância magnética no corte coronal evidenciando ausência


do septo pelúcido, hipoplasia do corpo caloso, hipoplasia bilateral das
vias ópticas, e hipófise de pequeno tamanho (Diaz-Rubio).

Agenesia do corpo caloso

O corpo caloso é a mais larga comissura conectando os he-


misférios cerebrais. É uma placa extensa de densas fibras mieli-
Capitulo 10 Distúrbios Neurológicos

nizadas, localizadas profundamente na fissura longitudinal, que


reciprocamente interconecta regiões do córtex a todos os lobos
com correspondentes regiões do hemisfério oposto. O seu desen-
volvimento é um evento mais tardio na ontogênese cerebral (12-
18 semanas de gestação). O corpo caloso está muito relacionado
anatômica e embriologicamente com o septo pelúcido
A agenesia do corpo caloso pode ser completa ou parcial
(neste último caso, é conhecido como disgenesia do copo calo-
so, na qual a porção caudal (esplênio e o corpo) está faltando. Fig.7. Agenesia do corpo caloso em um recém-nascido com cromossopa-
A agenesia do corpo caloso distorce a arquitetura intracraniana. tia. No plano coronal (A), observamos afastamentos dos cornos frontais
Os ventrículos laterais tendem a serem maiores que o normal, dos ventrículos laterais (setas) com aspecto de “chifre de touro”. Em
principalmente a nível do átrio e dos cornos opiccitais. Os cornos B, no plano coronal posterior observamos os plexos coróides paralelos
frontais dos ventrículos laterais são de tamanho normal, mas são (setas). Em C, plano sagital, observamos o aspecto em raios de sol dos
mais separados do que o normal (aspecto de “chifre de touro”). giros (seta) (Margotto/Castro)
O terceiro ventrículo e freqüentemente alongado superiormente.
Os sulcos cerebrais médios se dispõem radialmente em torno do Há uma alta frequência de malformações associadas à ausên-
teto do 3o ventrículo (disposição tipo “raios de sol”). Sob condi- cia do corpo caloso, sugerindo que a agenesia do corpo caloso
ções normais, o ramo da artéria calosa anterior corre ao longo faça parte de um distúrbio do desenvolvimento mais generali-
da superfície superior do corpo caloso, delineando uma alça zado. A anomalia mais freqüentemente encontrada é a Malfor-
semicircular. Quando o corpo caloso está ausente, esta alça é mação de Dandy-Walker. A agenesia do corpo caloso tem sido
perdida e os ramos da artéria cerebral anterior são observados encontrada em 3% de todos os fetos com ventriculomegalia e
ascendendo linearmente (figuras 5,.6 e 7). quase em 10% dos fetos com leve ventriculomegalia.
Anomalias no cariótipo podem ser encontradas em 20% (a Tris-
somia do 18 foi relatada ocorrer em 30%, a trissomia do 8 e do
13 em 20% cada). Postula-se que os cromossomos 8, 13 e 18
influenciam diretamente o desenvolvimento do corpo caloso.
Glass e cl relataram uma prevalência de agenesia do corpo
caloso e hipoplasia do corpo caloso de 1,8/10.000 nascidos vi-
vos. A prematuridade esteve associada 4 vezes mais e a idade
materna maior ou igual a 40 anos, 6 vezes mais.. A cromossopa-
tia ocorreu em 17,3% Na ecografia transfontanelar observamos
o corpo caloso, no plano sagital, como uma banda sonoluscente
demarcada superior e inferiormente por duas linhas ecogênicas. 373
Uma distinção deve ser feitas em agenesia completa e parcial
do corpo caloso. A agenesia completa resulta de uma embrio-
gênese defeituosa e a agenesia parcial, pode representar uma
verdadeira malformação como resultado de um evento que inter-
rompeu o seu desenvolvimento em qualquer tempo da gestação.
A agenesia parcial da porção anterior do corpo caloso provavel-
mente se deve a encefalomalácia focal, enquanto quer a agene-
sia parcial da porção posterior provavelmente decorre de forma-
Fig.5. Aspectos anatômicos do corpo caloso. Em (A), ressonância magné- ção incompleta do corpo caloso. Os eventos cerebrais associados
tica. Em ((B) US no plano sagital na linha média, imagem correspondente com a agenesia do corpo caloso parcial são mais sutis.
a (A): as setas mostram o rostro, joelho, tronco e esplênio. Em (C), A Quanto ao neurodesenvolvimento dos recém-nascidos com
ressonância magnética mostra a ausência do corpo caloso (Rede Sara, agenesia do corpo caloso: o seguimento de 30 RN com diagnós-
Margotto/Castro) tico pré-natal isolado de agenesia do corpo caloso (ou seja, sem
outras malformações demonstradas e com cariótipo normal),
mostrou na idade de 11 meses, um desenvolvimento normal ou
boderline em 26 de 30 RN, ou seja, 87%, Nos casos com severo
comprometimento do desenvolvimento, outras malformações es-
tavam associadas.
Deve ser lembrado que a agenesia do corpo caloso é a única con-
dição que, mesmo na presença de inteligência normal, é associada
com achados neurológicos peculiares e déficits cognitivos sutis.
O diagnóstico de agenesia de corpo caloso no feto aumenta a pre-
ocupação quanto à presença de outras síndromes genéticas e erros
inatos do metabolismo. No entanto, não requer qualquer modifica-
ção do cuidado obstétrico padrão. A falha de progressão do traba-
lho de parto, requerendo cesariana pode estar relacionada à alta
freqüência de macrocrania nestas crianças com agenesia calosa.

Avaliação Do Crescimento Do Corpo Caloso


Fig.6. Peça anatômica no corte sagital na linha média, evidenciando
agenesia completa do corpo caloso; observamos a disposição dos giros Anderson e cl avaliaram o crescimento do corpo caloso e do
em forma de raios de sol que terminam no teto do 3º ventrículo (setas); vermix cerebelar (figura 8) e um estudo longitudinal de 61 RN de
1: fórnix; 2: 3º ventrículo (para cima e para frente) (Atlas) muito baixo peso e examinaram o desenvolvimento neurocom-

Paulo R. Margotto
Assistência ao Recém-Nascido de Risco

portamental destes RN aos 2 anos de idade corrigida, correlacio- •Tipo II: pronunciado deslocamento caudal do cerebelo (do
nando com a taxa de crescimento do corpo caloso. O corpo calo- segmento inferior do vermis), do bulbo, da região inferior da
so foi medido do joelho ao esplênio, como na figura 4.8. O corpo ponte e do 4º ventrículo para o interior do canal vertebral
caloso cresce 0.2 a 0,27 mm/dia. Os autores relataram diminui- •Tipo III: deslocamento anormal de todo o cerebelo para
ção do crescimento do corpo caloso após 2 semanas de vida, nos uma grande espinha bífida cervical encefalocele cervical
RN entre 23-35 semanas de idade gestacional. O crescimento do •Tipo IV: hipoplasia cerebelar sem a ocorrência do deslo-
vermix cerebelar correlacionou-se fortemente com o crescimento camento significativo do conteúdo da fossa posterior para
do corpo caloso (r2=0,68-o o crescimento do corpo caloso expli- o interior do canal vertebral (hipoplasia cerebelar severa.
ca o crescimento do vermix cerebelar em quase 70%). Na idade
de 2 anos, sério atraso motor e paralisia cerebral associaram-se Mais atualmente não tem sido incluído o Tipo III e IV na catego-
com deficiente crescimento do corpo caloso (comprimento) entre ria de Malformações de Arnold-Chiari.
2 e 6 semanas após o nascimento. A presença de hidrocefalia é muito comum, ocorrendo com fre-
qüência desde o nascimento. A causa, na grande maioria dos
casos, a obstrução se deve a estenose (40-75% dos casos), atre-
sia (10%) ou compressão do aqueduto de Sylvius (estiramento
e posteriormente estreitamento pelo deslocamento caudal do
cerebelo). Em uma menor percentagem de casos, a hidrocefalia
pode ocorrer após a correção da mielomeningocele, devido à mo-
dificação da dinâmica liquórica.
Estas crianças, com Malformação de Arnold-Chiari tipo I podem
apresentar mais tarde cefaléia, distúrbios do sono e apnéia central
(esta pode ocorrer devido à compressão ou isquemia do centro
respiratório, disfunção da ativação do sistema reticular medular
ascendente). Estas anormalidades podem ocorrer sem sintomas
neurológicos e normalizaram rapidamente após a cirurgia (des-
compressão da fossa posterior). Estudos sugerem haver um com-
ponente hereditário (Szewka AJ e cl descreveram 3 famílias com
pelo menos 2 casos de Arnold Chiari tipo I sintomáticos).
No ultrassom (figuras 9 e 10) observamos a posição bastante
baixa do cerebelo e a perda da sonoluscência normal da cister-
na magna em sua superfície inferior. No corte sagital se consegue
demonstrar o cerebelo se estendendo através do forame magno
374 profundamente na coluna cervical superior. Os ventrículos laterais
mostram-se aumentados mais nos cornos opiccitais do que nos
cornos anteriores (colpocefalia). O plexo coróide mostra-se gran-
de e muitas vezes lobulado. O 3º ventrículo mostra-se aumentado,
mas a sua região posterior pode ser encoberta pela proeminente
massa intermédia. O aspecto é de “asas de morcego”.

Fig. 8. Em (A) US no plano sagital na linha média evidenciando a medi-


ção do corpo caloso (setas finas) e do vermix cerebelar (setas grossas)..
A forma do gráfico para o corpo caloso e vermix cerebelar é seme- Fig. 9. Malformação de Arnold-Chiari Tipo II. Em A, plano sagital colpo-
lhante. Em B, a evolução de 2 RN de 23 semanas : RN de 23semanas cefalia, dilatação desproporcional da porção do ventrículo lateral (seta).
que desenvolveu paralisia cerebral e severa deficiência no escore de Em B, plano sagital, proeminente massa intermédia (M) no 3º Ventrículo
Bayley (escore de desenvolvimento mental e psicomotor): outro RN que dilatado (cabeça de seta)) (Cohren).
desenvolveu leve paralisia cerebral com moderado escore de Bayley. A
taxa esperada de crescimento do corpo caloso é de 0,2 a 0,27mm/dia, a
partir de dados pré-natais (Anderson)

Malformação De Arnold-Chiari

Nesta anomalia (descrita por Arnold-Chiari nos anos de 1890)


observa-se o deslocamento caudal do cerebelo e do quarto ven-
trículo para dentro do canal vertebral, havendo concomitante-
mente certo grau de displasia cerebelar.

•Tipo I: Msimples alongamento e discreto deslocamento


inferior das tonsilas cerebelares
Capitulo 10 Distúrbios Neurológicos

Fig.11. Em A, plano coronal evidenciando Malformação de Dandy-Walker.


Observamos uma proeminente área cística posteriormente (C) na região
da cisterna magna. A área cística representando flúido cerebroespinhal
Fig.10. Aspectos ultrassonográficos no plano sagital da Malformação de em um 4º ventrículo obstruído pode ser visto extendendo-se a porção
Arnold-Chiari Tipo II. Observamos em (A), a colpocefalia (seta). Em (B), a mais anterior do 4º ventrículo (4) via um defeito no vermis cerebelar (H.,
dilatação do 3º ventrículo (seta) e proeminente massa intermédia (M). que faz parte da anomalia. Não há significante ventriculomegalia neste
(Margotto/Castro) momento, mas o hidrocéfalo se desenvolverá poucas semanas mais
tarde (B, plano sagital) V-vermix disgenético (Cohen)
Complexo Dandy-Walker
Aumento Da Cistena Magna

O complexo Dandy-Walker inclui a malformação clássica Dandy-


Wlaker, a variante Dandy-Walker e mega cisterna magna, cada
uma associada com defeito no desenvolvimento do teto do 4º
ventrículo e está frequentemente associada com outras anoma-
lias intracranianas (agenesia do corpo caloso-figura 4.14), holo-
prosencefalia, esquisencefalia e cefaloceles posteriores.
Esta anormalidade consiste na dilatação cística do quarto ven-
trículo, conseqüente a atresia dos foramens de Magendie e de
Luschka e pode ocorrer algum grau de disgenesia verminiana.
Ocorre também aumento do 3º ventrículo e dos ventrículos laterais,
além do aumento do 4º ventrículo. Outras malformações podem ser Fig. 12. Plano sagital evidenciando mega cisterna magna –asterisco (Correa)
encontradas (50 a 70% dos casos), como a agenesia do corpo ca-
loso, cistos porencefálicos, encefaloceles e holoprocencefalia, rins 375
policísticos, defeitos cardiovasculares, lábio leporino. A Ultrassono-
grafia cerebral revela nitidamente grande fossa posterior, pequeno
resquício cerebelar e um exuberante 4º ventrículo (figura 11 e. 13). A
estimativa de incidência é de 1/30.000 nascidos, sendo responsá-
vel por 4-12% dos hidrocéfalos infantis. Os fatores genéticos desem-
penham importante papel. A recorrência é de 1-5%.
A malformação de Dandy-Walker dever ser distinguida da Va-
riante de Dandy-Walker (caracteriza-se por pequeno defeito no
vermis cerebelar sem dilatação da cisterna magna; ocorre duas
vezes mais do que a forma clássica; difícil diagnóstico) e da Mega-
cisterna Magna (grande cisterna magna, maior que 10 mm sem
disgenesia cerebelar; representa 54% das malformações císticas
posteriores); tem sido ligada a Trissomia do 18) (figura 12)
A manifestação clássica refere-se aos sintomas de hidrocéfalo
que ocorre geralmente no primeiro ano de vida. O desenvolvimen-
to intelectual destes pacientes é controverso: 40 % morrem no
período neonatal e 70% dos sobreviventes apresentam déficits
cognitivos. O prognóstico da variante de Dandy-Walker e Mega
Cisterna Magna é incerto, não havendo dados disponíveis. Am-
bas as condições podem ser assintomáticas.
Ao nascimento, deve ser feita cuidadosa procura de malforma- Fig. 13. Em (A), plano coronal e em (B), plano sagital evidenciando forma-
ções associadas, assim como cuidadoso seguimento destes RN ção cística na fossa posterior (setas) e dilatação biventricular (Margotto,
com suspeita de variante de Dandy-Walker ou com Cisterna Mag- Castro). Em (C), tomografia computadorizada mostrando fossa posterior
na maior que 10 mm. aumentada e quase totalmente ocupada por formação cística que deter-
No manuseio neurocirúrgico, a colocação de shunt no 4º Ven- mina a elevação do tentório; os hemisférios cerebelares são hipoplásicos
trículo não tem sido efetivo, devido o aqueduto não permitir ade- e há agenesia do vermix cerebelar, permitindo a livre comunicação entre o
quado fluxo do líquor cefalorraquidiano. quarto ventrículo e o cisto de fossa posterior; discreta hidrocefalia supra-
tentorial; parênquima encefálico com coeficiente de atenuação normal;
sulcos cerebrais com dimensões e aspectos normais; tronco encefálico
sem anormalidades. O aspecto é compatível com malformação de Dandy-
Walker associada a discreta hidrocefalia supratentorial.

Paulo R. Margotto
Assistência ao Recém-Nascido de Risco

Na ultrassonografia: na forma alobar, não se visualiza a foice


do cérebro e há um único ventrículo central e volumoso. Os tála-
mos são fundidos.
Na forma semilobar, o ventrículo único costuma ser um pouco
menor em relação à forma alobar (o 3º ventrículo é praticamente
incorporado ao ventrículo único).
Na forma lobar, observa-se um desenvolvimento variável dos
lobos cerebrais e os cornos frontais exibem conformação com
base achatada. O septo pelúcido está ausente.

Fig.14. US evidenciando a presença de agenesia calosa (setas curtas


demonstrando as características ultrassonográficas da agenesia calosa)
e Malformação Dandy Walker, tanto no plano sagital (A), como no plano
coronal (B) (seta longa e seta grosa) (Margoto/Castro)

Holoprosencefalia

A holoprocencefalia (ocorre em 1/11000 a 1/20.000 nascidos


vivos) se deve a uma falha parcial ou completa do procencéfalo
primitivo em formar o telencéfalo (hemisférios cerebrais) e o dien-
céfalo (tálamo, hipotálamo). A clivagem do prosencéfalo não ocorre
e os hemisférios cerebrais não se desenvolvem.. O início destes dis-
túrbios ocorre entre a 5ª e 6ª semana de gestação Nos casos mais Fig. 15. US em (A) no plano coronal mostrando holoprosencefalia alobar
extremos podemos ter deformidades como ciclopia e nos casos (único ventrículo e fusão dos tálamos-seta) (Margotto/Castro). Em (B),
mais brandos, hipotelorismo. Muitas destas crianças também apre- tomografia computadorizada mostrando a malformação holoprosencefalia
sentam anomalias na linha média (fenda palatina, narina única). em que observamos ventrículo lateral único e fusão talâmica (seta) (Volpe)
A principal causa da holoprocencefalia é o distúrbio cromossô-
mico, ocorrendo entre 40 a 50% dos casos. A trissomia do 13 Esquisencefalia
isoladamente ocorre em 75% dos cariótipos anormais. (participação do neuropediatra Sérgio Henrique Veiga)
Vários casos familiares sugerem uma etiologia mendeliana com
transmissão autossômica dominante (risco de recorrência de 6%). É uma rara anomalia congênita da migração neuronal ca-
A holoprosencefalia se subdivide basicamente nas formas alo- racterizada pela presença de fendas que se estendem da mar-
376 bar, semilobar e lobar. gem ventricular a superfície cortical. É uma malformação do
•Na forma alobar (64%), a mais severa, há um único ven- SNC relacionada à organização cortical. É descrita como fendas
trículo, os tálamos são fundidos na linha média e há uma hemisféricas na região primárias de fissuras, particularmente
ausência do 3º ventrículo. a fissura de Sylvius com envolvimento da substância cinzenta.
•Na variedade semilobar (24%), os dois hemisférios são Geralmente está associada com outras malformações cerebrais,
parcialmente separados posteriormente, mas há ainda como agenesia calosa, displasia septo-óptica, ventriculomegalia,
uma simples cavidade ventricular. polimicrogiria, pachigiria, hetetopia e lisencefalia.
•Na holoprocenfalia lobar (12%), a desorganização do cé- Normalmente, após a migração neuronal da região periventri-
rebro é mais sutil. O cérebro é dividido em dois distintos cular, para a região cortical, local de seu destino final, através
hemisférios, com a única exceção que é a ocorrência de das ligações interneuronais (sinaptogênese) estes neurônios
variável grau de fusão a nível do girus cingulado e dos devem-se relacionar com outros neurônios semelhantes em es-
cornos frontais dos ventrículos laterais. O septo pelúcido trutura e função. Durante esta migração e organização ocorre
é sempre ausente. a apoptose (morte neuronal programada), para que os demais
•Na ultrassonografia e tomografia (figura 15) o diagnóstico neurônios possam ter espaço suficiente para emitir o maior nú-
diferencial da holoprosencefalia lobar com hidrocefalia mero de prolongamentos possíveis e relacionar-se com o maior
associada com lesão secundária do septo pelúcido. Na número de células semelhantes; finalmente com o processo de
holoprosencefalia lobar podemos observar o fórnice na mielinização (formação de uma capa protetora) teremos o pleno
linha média, visualizado dentro do 3º ventrículo. funcionamento cerebral.
Na esquisencefalia, observa-se a formação de fendas que vão
Tanto a forma alobar como a semilobar apresentam prognóstico desde a superfície do cérebro, até sua região mais interna ou
ruim, sendo oferecida a gestante a opção da interrupção da gesta- central, chamada de ventrículos e como a substância cinzenta
ção antes do limite de viabilidade. Para as gestações que continu- (local final dos neurônios) nos hemisférios cerebrais é externa,
am, recomenda-se o tratamento estritamente conservador. esta substância cinzenta (córtex) cobre a fenda. Esta substância
Quanto ao prognóstico da holoprosencefalia lobar, é incerto; os cinzenta (córtex) nesta situação não está em seu lugar correto
indivíduos afetados podem ter vida normal, mas o retardo mental (neste caso ela está heterotópica, isto é, fora do lugar), portanto
e seqüelas neurológicas ocorrem com freqüência. sua função não será normal.
A displasia do aqueduto de Sylvius presumivelmente está pre- A esquisencefalia é classificada em 2 tipos: tipo 1 (lábios fe-
sente em muitos casos, levando a hidrocefalia. chados): fenda pequena e simétricas, com seus lábios fundidos,
O manto cortical frequentemente apresenta heterotopias e não contendo líquor céfaloraquididano; tipo II (lábios abertos):
outros sinais distúrbios na migração neuronal. O corpo caloso é defeito cortical maior, permitindo a comunicação do ventrículo
geralmente ausente. lateral com o espaço subaracnóideo (as fendas geralmente ocor-
O cariótipo deve ser sempre realizado nestes casos, sendo impor- rem nos lobos parietal e temporal, sendo mais freqüentemente
tante na formulação do risco de recorrência em futuras gestações. simétrica e bilateral) (figuras 16, 17 e 18).
Capitulo 10 Distúrbios Neurológicos

A migração neuronal ocorre entre 7 e 16 semanas. Evento, como Na figura 4.18, outro exemplo da literatura de esquisencefalia
insulto vascular, interrompe a migração dos neuroblastos da matriz de lábios abertos.
germinativa ao córtex cerebral, dando origem a esquisencefalia.
A clínica dos pacientes inclui a epilepsia, microcefalia, distúrbio
motores. Na dependência da quantidade do envolvimento corti-
cal, a inteligência pode varia do normal a severo retardo mental.
O diagnóstico diferencial deve ser feito com holoprocencefalia
(como vimos esta se caracteriza por uma cavidade ventricular
única e tálamos fundidos), hidrancencefalia (ausência total do
cérebro), cisto aracnóide (não se comunicam com os ventrículos
laterais e são assimétricos).
O diagnóstico pós-natal com a ultrassonografia cerebral é feita
raramente devido à dificuldade em avaliar a periferia do cérebro, po-
dendo ser avaliado com maior precisão pela ecografia transfontane-
lar 3D. (Araújo Junior e cl, 2006). A demonstração da comunicação
do ventrículo lateral com o espaço subaracnóideo é essencial na Fig. 4.18. US no plano coronal demonstrando esquisencefalia tipo II de
confirmação do diagnóstico (esquisencefalia de lábios abertos). lábios abertos (S) comunicando com o ventrículo lateral direito (V) (Barr)

No geral a criança pode ter um desenvolvimento variável: ter


algum grau de retardo mental, deficiências motoras variáveis, hi-
drocefalia e, mais comum, devido à heterotopia, uma “epilepsia”
que tem seu grau de controle variável de acordo com a extensão,
local da e grau da heterotopia e alteração da arquitetura do córtex.
Para os pais, são feitas as seguintes sugestões: aos que queiram
aumentar a família, fazer um estudo profundo das causas, incluin-
do a genética; trabalhar o melhor possível o controle das crises
convulsivas e a qualidade de vida do filho (a), investindo em terapia
ocupacional, nas várias formas de fisioterapia (equoterapia, hidro-
terapia, musoterapia, fisioterapia etc.), cuidar do ambiente familiar
e social do filho e do envolvimento social e emocional, independen-
Fig.16 Esquisencefalia de lábios abertos te do grau de comprometimento e ser feliz.

A seguir, ecografia transfontanelar e tomografia de crânio (Figu- Lesões Cerebelares 377


ra 4.16) de um recém-nascido de 34 semanas, nascido no HRAS
com suspeito de malformação cerebral intraútero (“dados suges- Segundo Bodensteiner e Johnsen, o cerebelo é um tecido
tivos de Holoprosencefalia lobar + Dandy-Walker”). O diagnóstico particularmente vulnerável entre 25-28 semanas de gestação,
foi compatível com esquisencefalia de lábios abertos. podendo ser mais predisposto a lesão isquêmica ou hipóxico-
isquêmica em relação a outras partes do cérebro. Grave lesão
cerebelar como complicação da prematuridade tem sido descrita
em crianças com o diagnóstico de paralisia cerebral. As carac-
terísticas clínicas incluem marcante comprometimento motor e
variados graus de ataxia e atetose ou distonia, que representa
um tipo distinto de paralisia cerebral. Várias crianças são severa-
mente lesadas, com distúrbios de linguagem, distúrbios cogniti-
vos e atrasos motores. Os estudos de neuroimagem demonstram
ausência de grandes porções do cerebelo que envolve o vermix
cerebelar inferior e os hemisférios.
•Entre as lesões cerebelares, Messerschmidt e cl desta-
cam (figuras 19 e 20redução simétrica do volume dos
hemisférios cerebelares que estavam flutuando imedia-
tamente abaixo do tentório, e um vermix pequeno, com
forma preservada
•Redução simétrica do volume dos hemisférios cerebela-
res com aumento do 40 ventrículo e vermix deformado
•forma normal do cerebelo com dimensões reduzidas

Fig.17. Em (A) e (B) US no plano coronal mostrando dilatação biventricular,


ausência do septo pelúcido; comunicação do ventrículo com o córtex (corno
frontal direito e oPICCital esquerdo). Em (C), tomografia computadorizada do
mesmo recém-nascido evidenciando comunicação do espaço subaracnóide
com o espaço subependimário do corno frontal direito e corno oPICCital es-
querdo compatível com esquisencefalia. Os giros corticais dos lábios frontais
tem um padrão espinado, com pobreza de sulcos intergirais compatível com
paquigiría/ lisencefalia e ausência do septo pelúcido (Margotto/Castro)

Paulo R. Margotto
Assistência ao Recém-Nascido de Risco

Malformação Da Veia De Galeno

De todas as malformações arteriovenosas no período neona-


tal, as que envolvem a veia de Galeno são as mais comuns. Um
aneurisma da veia de Galeno pode levar a insuficiência cardíaca
(95% dos casos apresentam-se como insuficiência cardíaca con-
gestiva) e hidropsia fetal não imune;
O US Doppler revela significativo aumento da velocidade do flu-
xo sanguíneo cerebral. Deeg e Scharf descreveram esta malfor-
Fig. 19. US no plano coronal (A) evidenciando cerebelo normal. Em (B), US no mação em um RN com insuficiência cardíaca, como uma grande
plano coronal, mostrando reduzido volume cerebelar (Messerschmidt e cl) estrutura cística atrás do 3º ventrículo e a placa quadrigeminal; o
cisto comprimia a parte posterior do 3º ventrículo e o aqueduto,
Embora a redução do volume cerebelar represente a caracte- causando hidrocefalia obstrutiva. Com a ultrassonografia Dop-
rística mais comum, a ressonância magnética evidencia diferen- pler colorida, foi evidenciado fluxo dentro do aneurisma, assim
tes partes envolvidas do cerebelo (figura 20). como artérias originando das artérias cerebrais posteriores e mé-
dia. Tessler e cl relataram excelente correlação entre a ultrasso-
nografia Doppler colorida com a angiografia na detecção destas
malformações arteriovenosas (figura.22).

Fig. 22. Doppler colorido no plano sagital evidenciando em (A) vasos


alimentadores (setas).LV: ventrículo dilatado. Em (B), transdutor angulado
Fig. 20. US no plano sagital linha média de um RN pré-termo de 26se- mais posteriormente mostrando a veia de Galeno dilatado (totalmente pre-
m3dias evidenciando desaparecimento do vermix cerebelar com sucessivos enchida com cor); a cor amarela indica jato de alta velocidade dos ramos
378 alargamento do 4º ventrículo (setas): em (A) (57 dias), em (B) (86 dias) e (C) alimentadores. Em (C), projeção lateral do angiograma da carótida interna
(106 dias). Em (D), ressonância magnética com 15 semanas de vida (cere- direita, mostrando os ramos coroidais posteriores alimentando a veia de
belo visto como uma pequena estrutura longitudinal-seta (Messerschmidt). Galeno (setas); os jatos de alta velocidade (cabeça de seta) correspondem
a zona amarela vista no US Doppler colorido visto em (A) (Tessler)
Na figura 21 observamos o desaparecimento do vermix cerebe-
lar com alargamento do 4º ventrículo em um RN pré-termo com No ano de 2001, deu entrada na Unidade de Neonatologia do
diagnóstico intraútero de atrofia cerebelar. Hospital Regional da Asa Sul recém-nascido a termo com quadro
de insuficiência cardíaca congestiva e uma informação de um
“grande cisto em plexo coróide” no US pré-natal. Realizamos o
US cerebral, sendo detectado uma estrutura cística na região da
veia de Galeno. A adição do Doppler mostrou turbilhonamento do
fluxo sanguíneo, evidenciando o caráter vascular da lesão (figura
23). A ausculta do crânio evidenciou sopro contínuo, mais eviden-
te na região posterior do crânio. A tomografia computadorizada
confirmou o achado.

Fig. 21. US de RN pré-termo evidenciando em A (plano coronal) e em


B (plano sagital) ausência de vermix cerebelar com alargamento do 4º
ventrículo (Margotto,Castro)

A hipoplasia cerebelar consiste de um pequeno vermix com Fig. 23. Malformação da veia de Galeno. Em (A) US no plano sagital
estrutura normal e hemisférios cerebelares hipoplásicos ou mais. mostrando uma estrutura cística na região da veia de Galeno (seta). Em
Não há aumento da fossa posterior e o 4º ventrículo é normal. A (B) Doppler mostrando o turbilhonamento do fluxo sanguíneo, caracteri-
hipoplasia cerebelar pode ocorrer esporadicamente ou associa- zando a lesão como vascular (seta) (Margotto)
da com uma variedade de síndromes, podendo ser encontrada
em pacientes com agenesia calosa. No ano de 2003, tivemos outro caso de aneurisma da veia de
Galeno: RN 2º gemelar, “hidrocefalia intraútero”; nasceu no dia
7/2/03, cesariana, 38 semanas de gestação; peso ao nascer de
2155g; Apgar de 9 e 10. Alta em boas condições, no terceiro dia de
Capitulo 10 Distúrbios Neurológicos

vida. Com 9 dias de vida, deu entrada na Unidade de Neonatologia


do HRAS com grave quadro de insuficiência cardíaca congestiva.
Realizado o US cerebral que revelou grave dilatação biventricular,
hemorragia bilateral em plexo coróide e malformação na veia de
Galeno (24). A tomografia computadorizada e a ressonância mag-
nética confirmaram a malformação da veia de Galeno, sendo indi-
cada a embolização da referida veia. Com 23 dias de vida, o RN foi
transferido para o Alojamento Conjunto. Alta com 38 dias de vida,
estável, sem a realização, ainda, da embolização.

Fig. 24. Malformação da veia de Galeno em um dos RN gêmeos. Em (A)


US cerebral no plano sagital na linha média dos RN gêmeos, eviden-
ciando no gêmeo B estrutura cística a nível da veia de Galeno (seta). Em
(B) Doppler no gêmeo B mostrando a malformação da veia de Galeno
(turbilhonamento do fluxo sabguíneo-seta), com a reprodução em cores
em (C) (Margotto). 379

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Paulo R. Margotto
Assistência ao Recém-Nascido de Risco

10.8 ULTRASSONOGRAFIA DOPPLER CEREBRAL NO RECÉM-NASCIDO

Paulo R. Margotto

A imagem do ultrassom em tempo real combinado com sistema Todas as artérias do ciclo de Williams podem ser insonadas,
de Doppler pulsado constitui um exame não invasivo e de beira de havendo uma preferência na literatura pela artéria cerebral an-
leito, de relativo baixo custo, seguro, de rápida execução, permitindo terior na região em frente ao 3º ventrículo, utilizando a fontanela
a quantificação de velocidade de fluxo sangüíneo cerebral (VFSC) anterior como janela ultra-sônica (corte medial).
em recém–nascido (RN), com extrapolação das medidas de volu- Nas figura.2 e 3 US no plano sagital na linha média, eviden-
me. A velocimetria Doppler não representa mensuração do volume ciando a artéria pericalosa, ramo da artéria cerebral anterior.
absoluto de fluxo sangüíneo para a área perfundida pela artéria em
estudo, mas é útil para quantificar variações relativas do fluxo san-
güíneo cerebral (FSC) em determinado período de tempo

Princípios Básicos

A medida VFSC pelo ultrassom utiliza o efeito Doppler, descrito por


Christian Johann Doppler (1803 – 1853): a freqüência das ondas so-
noras refletidas por um objeto (nos vasos sangüíneos representado
pelas hemácias) em movimento é desviada em quantidade proporcio-
nal a velocidade deste objeto. O sinal de Doppler é dependente não só
da velocidade das hemácias, mas também do ângulo de insonação
(ângulo entre o transdutor que emite o ultrassom e o eixo longitudinal
do vaso e este ângulo deve ser próximo de zero) e da velocidade do
ultrassom no tecido cerebral (valor constante de 1540m/s).
No estudo do RN, tem sido utilizado dois tipos de instrumento Dop- Fig. 2. US cerebral no plano sagital na linha média, mostrando a artéria
pler: ultrassom Doppler contínuo e ultrassom Doppler pulsado. Quan- pericalosa (seta), ramo da artéria cerebral anterior (Couchard)
do a transmissão ultra-sônica e a recepção por um segundo cristal é
contínua, temos o Doppler contínuo (todos os alvos situados sobre a
trajetória do feixe ultra-sonográfico produzem sinais Doppler, confun-
380 dindo seus efeitos e determinando falta de resolução espacial). Nos
Doppler ultra-sônicos repetidos, também recebe os ecos de uma área
específica vascular; assim o volume de amostragem pode ser posicio-
nada em vaso preciso, com uma profundidade conhecida; o melhor
sinal relaciona-se com a dimensão axial do vaso, pois um grande nú-
mero de glóbulos sangüíneos percorre este volume.
O ultrassom Doppler pulsado é a técnica mais preferida pela
sua excelente resolução espacial e boa sensibilidade.
O uso do efeito Doppler colorido facilita a visualização do vaso Fig.3. US cerebral Doppler na artéria pericalosa (seta), mostrando um
sangüíneo e indicia a direção do fluxo sangüíneo: vermelho indica índice de resistência (IR) normal (0,71) (Margotto)
fluxo para o transdutor e azul indica fluxo se afastando do trans-
dutor; mosaico indica turbulência, freqüentemente vista ao redor A patogênese de várias condições neuropatológicas do RN,
das valvas cardíacas e em malformações cerebrais. está relacionada com distúrbios no fluxo sangüíneo cerebral. Há
uma grande dificuldade em acessar a circulação cerebral. Assim,
Técnica De Realização Do Ultrassom Doppler o ultrassom Doppler é uma técnica de grande interesse.
A quantificação da velocidade da VFSC é baseada principal-
O importante efeito de variação no ângulo de insonação pode ser mente no cálculo do índice de resistência (IR) ou índice de Pour-
minimizado por técnica específica de insonação. Uma vez localizado celot, e da área sob a curva de velocidade. Veja a figura 4.
a pulsação arterial, ajustar o transdutor de tal forma que se obtenha
o máximo de pulsação arterial (auditivo e visual). Na figura 1 o máxi-
mo de pulsação é obtida com A e C. A base destas observações está
relacionada ao curso anatômico da artéria pericalosa

R = (S – D)/S

Fig.4. Índice de resistência (Volpe)

Fig. 1. Efeito da variação do ângulo de insonação. 1: artéria pericalosa (Volpe)


Capitulo 10 Distúrbios Neurológicos

A medida em que o índice de resistência aumenta a velocidade Aplicações Clínicas


diastólica diminui tendendo a zero e assim, o IR tende a 1.
Alterações no ângulo de insonação afeta tanto os valores para Várias condições clínicas cursam com alterações na velocida-
S e D de forma semelhante; portanto, o uso do IR é útil para mini- de do fluxo sangüíneo cerebral entre as quais:
mizar o efeito do ângulo de insonação e facilita comparações de
determinações seriadas da VFSC. • Encefalopatia Hipóxico-Isquêmica
Embora o uso do IR seja de valor na avaliação da resistência O ultrassom Doppler cerebral tem-se mostrado útil como índi-
cerebrovascular, é importante que se saiba que alterações na ce prognóstico no RN com síndrome hipóxico-isquêmica. Os RN
velocidade do fluxo diastólico (D), estão mais relacionadas com severamente asfixiados apresentam menor IR que permanece
alterações na resistência e que alterações no fluxo sistólico (S) baixo por vários dias. A ultrassonografia Doppler seriada é um
também podem alterar o IR,como veremos mais adiante. método útil não invasivo na precoce detecção e follow-up das con-
O valor do IR denota o grau de resistência do FSC, sendo suge- seqüências da severa asfixia perinatal.
rido como índice clínico de resistência cerebrovascular. Estudos, Segundo Bada e cl, um baixo IR nestes RN é sugestivo de au-
tanto em animais, como em RN, têm evidenciado boa correlação mento da velocidade diastólica final e este aumento da amplitu-
entre as medidas da VFSC por ultrassom Doppler e as medidas de diastólica indica vasodilatação provavelmente devido a hipó-
do FSC por outras técnicas. Portanto: xia, acidose ou hipercapnia. A persistente vasodilatação após a
recuperação da asfixia ou hipóxia, reflexo da deficiente Autorregu-
• Baixo IR = diminuição da resistência/ alta velocidade do lação da FSC, mantém o IR persistentemente baixo (perfusão de
fluxo sangüíneo cerebral. luxúria) A persistência da vasodilatação leva ao aumento do FSC,
• Alto IR = aumento da resistência/ baixa velocidade do resultando em rotura dos frágeis capilares da matrix germinativa
fluxo sangüíneo cerebral. e do plexo coróide, com conseqüente hemorragia. Veja a figura 5.
• Vejamos dois exemplos: na asfixia perinatal grave, o baixo Estudo controlado de Low e cl sobre a VFSC em RN a termos
IR é devido ao aumento da velocidade do fluxo sangüíneo com asfixia perinatal, evidencia significante aumento da VFSC
diastólico, pela vasodilatação secundária às alterações após 24h, devendo estes RN terem a VFSC monitorizada por mais
bioquímicas induzidas pela asfixia; seguindo à hemorra- de 24h de vida, para determinar o efeito da asfixia perinatal.
gia intraventricular, o padrão do fluxo diastólico mostra Segundo Van Bel e Walther, o IR na artéria cerebral provê uma
um valor de zero, devido à vasoconstricção que ocorre estimativa de resistência vascular cerebral estando relacionado ás
após a hemorragia intraventricular. mudanças na velocidade de fluxo diastólico. Um IR anormalmente
baixo nos dias 2-4 sugere extrema vasodilatação cerebral, dando
Valores Normais Do IR Ou Índice De Pourcelot suporte à deficiente Autorregulação do FSC. O alto IR no dia 1 nos
RN com dano no miocárdio não contradiz esta conclusão, sendo
Deeg e Rupprecht estudaram 121 RN pré-termos e RN a termo reflexo da incidência de canal arterial no RN com dano miocárdico:
saudáveis com ultrassom Doppler pulsado, utilizando transdutor o escape diastólico causado pelo canal arterial aumenta o IR. 381
de 5MHz e determinaram os valores normais do IR: na artéria ce- Nos casos de asfixia perinatal grave, com aumento do IR, se-
rebral anterior: 0,73±0,8; artérias carótidas internas: 0,77±0,08; gundo Stark e cl, corresponde aos casos de edema cerebral, he-
artéria basilar: 0,72±0,09. Perlman e Volpe relacionaram valores morragia, persistência do canal arterial, isquemia miocárdica ou
de 0,66±0,06 em RN de 30 a 40 semanas sem evidência de descompensação. Neste caso, o IR é elevado devido à diminui-
doença cardíaca, respiratória ou intracraniana. ção da pressão de perfusão cerebral. O RN com anoxia cerebral
pode ter tido isquemia cardíaca e este pode produzir aumento do
IR com diminuição do fluxo diastólico.
Relação Entre Velocidade Do Fluxo Sangüíneo Stark e cl têm evidenciado severo atraso neurocomportamen-
Cerebral (VFSC), Fluxo Sangüíneo Cerebral (FSC) tal na idade de 3 meses a 32 meses em RN com asfixia perinatal
e Resistência Cerebrovascular com IR < 60.
Levene e cl relataram alta VFSC com IR de 0,55 e acreditam
Os dois determinantes da VFSC são o FSC e a resistência ce- que a alta VFSC representa vasoplegia de artérias cerebrais e
rebrovascular e assim, a medida da VFSC podem nos fornecer que representa uma forma irreversível de injúria cerebral.
informação tanto do fluxo volêmico como resistência. A área sob Rosenbaum e cl tem observado significante correlação entre
a curva é a medida que melhor correlaciona com o FSC. Certos FSC e QI na infância, estando o alto FSC associado com menor
aparelhos de ultrassom determinam eletronicamente a velocida- QI (follow-up de 4 - 12 anos). O maior FSC nos pacientes com pior
de média, que também reflete a área sob a curva de velocidade. prognóstico neurológico e intelectual pode ser o reflexo de maior
Volpe cita como principal dificuldade em usar a velocidade mé- perda da Autorregulação cerebrovascular.
dia para estimar alterações no FSC, a inabilidade para medir a No estudo de Archer e cl, a acurácia da predicção do prognós-
área do corte transversal dos vasos sangüíneos usados. Segundo tico do RN com asfixia perinatal utilizando a Ultrassonografia Do-
Bada, a determinação da velocidade média é afetada pelo ângulo ppler foi de 86%.
de insonação. Assim o IR passa a ser o indicador mais apropria-
do para alterações relativas no FSC. A velocidade média e o IR
não representam valores absolutos de FSC. Greisen e cl e Bada
e Summer demonstraram boa correlação entre o IR, velocidade
média, fluxo diastólico e FSC em comparação a outras medidas
de avaliação do FSC, como o clearance de Xenônio 133. A corre-
lação tem sido melhor com o uso do ultrassom Doppler pulsátil
em relação ao contínuo.
Embora o FSC relaciona-se inversamente à resistência, é pos-
sível alterações no FSC com alterações mínimas na resistência,
principalmente em RN pré-termos, devido a deficiente Autorre-
gulação do FSC.

Paulo R. Margotto
Assistência ao Recém-Nascido de Risco

eficiente controle das arteríolas cerebrais. Esta redução de FSC e a


demora para retornar ao normal nos RN pré-termos pode estar asso-
ciado com maior risco de retinopatia da prematuridade.

•Policitemia/Hiperviscosidade/Exsanguíneotransfusão
Estudando 11 RN com policitemia e hiperviscosidade, antes e
após exsanguíneotransfusão, Rosenkrantz e Oh relataram redu-
ção da resistência vascular e aumento significativo da VFSC após
a exsanguíneotransfusão (ET) voltando aos valores normais de
controle. Este estudo evidenciou que a policitemia e a hipervisco-
sidade cursam com diminuição da VFSC e aumento da resistên-
Fig.5. Síndrome hipoxico-isquêmica. RN a termo com grave asfixia perina- cia vascular cerebral. Nos estudos de VFSC pela Ultrassonografia
tal. US cerebral Doppler evidenciando IR de 0,429 (muito baixo, devido Doppler, o hematócrito deve ser sempre analisado.
ao aumento do fluxo sanguíneo cerebral evidenciado pelo aumento da van der Bor e cl relataram alterações no VFSC durante a ET em
diástole-seta (Margotto/Castro RN estáveis,a termo e próximo do termo com doença hemolítica
pelo Rh, sendo secundário a alterações da pressão arterial (di-
•Hipercapnia/Hipocapnia minui na retirada do sangue e aumenta na infusão do sangue).
O C02 é um vasodilatador cerebral e a hipercapnia, portanto,
aumenta o FSC independente da elevação da pressão arterial. •Anemia
O IR diminui em função do aumento do fluxo diastólico. O FSC Younkin e cl relataram inversa relação entre hematócrito e
aumenta 7-8% por cada mmHg de aumento da paC02. A acidose FSC, estudando 15 RN pré-termos estáveis com a técnica do
respiratória ou hipóxia e acidose em conjunto, resultam em sig- Xenônio 133 na determinação do FSC: para cada 5% da dimi-
nificante vasodilatação, efeito reversível com correção dos gases nuição do hematócrito, houve um aumento de FSC na ordem de
arteriais. A diminuição da resistência vascular cerebral parece 11ml/100g/min. Os autores atribuem esta inversa relação entre
ser devido a uma tentativa do leito vascular cerebral preservar o hematócrito e FSC à alterações no conteúdo arterial de 02 e a vis-
FSC durante o estresse. Veja a figura 6. cosidade sanguínea, sendo mais provável, o primeiro mecanismo
Por outro lado a hipocapnia reduz significativamente o FSC, na ( o FSC aumenta para manter a entrega de 02 ao cérebro). Nos
ordem de 0,6ml/100g/min por cada mmHg de redução da PaC02. RN pré-termos, este aumento no FSC pode ser de considerável
O estudo experimental de Gleason e cl evidenciou queda do FSC importância no desencadeamento de hemorragia intraventricular
significante nas primeiras 6h; a atenuação do declínio no FSC pro-
vavelmente está relacionado com o aumento da concentração de •Hipoglicemia
íons H+ perivascular, secundário a um aumento dos níveis de lac- Quando a glicemia atinge níveis menores de 30mg% ocorre
382 tato (este fato explica o significativo aumento - maior que 200% no significativo aumento do FSC na ordem de 2 a 3 vezes mais; 30
FSC após a restauração da normocapnia); esta acentuada hipere- minutos após o tratamento da hipoglicemia, o FSC diminui em
mia cerebral que durou no mínimo 90 minutos após a interrupção média 11,3% mais ainda foi 37,5% maior que nos controles. Skov
da hiperventilação pode ser de importância no desenvolvimento sugere que capilares cerebrais previamente não perfundidos são
de hemorragia no RN com hipertensão pulmonar persistente no recrutados para manter oferta de glicose ao cérebro; o rápido
qual, após a hiperventilação é restaurada a normocapnia. ajuste às alterações nos níveis de glicose indica a existência de
um sensor cerebral para a glicose.Veja a figura 7.

Fig.7. RN com hipoglicemia de 30mg%. US cerebral Doppler evidencian-


do baixo IR (0,47) (Margotto/Castro)
Fig.6. US Doppler de um RN com hérnia diafragmática. Em (A) com hiper-
capnia evidenciando IR de 0,288( muito baixo devido ao aumento do fluxo •Doença da Membrana Hialina (DMH)
sanguíneo cerebral evidenciado pelo aumento da diástole-seta) Em (B), 12 Analisando 50 RN com DMH sob ventilação mecânica nos pri-
dias depois, em normocapnia (IR normal de 0.837) (Margotto/Castro) meiros dias de vida, Perlman e cl detectaram significante relação
entre flutuação da VFSC, assim como da pressão arterial e o sub-
•Hiperoxemia sequente desenvolvimento da hemorragia intraventricular. Rela-
Niijima e cl detectaram queda do FSC em 15 de 17 RN pré-termos, taram também a conversão do padrão flutuante da VFSC para o
sem significantes alterações na paC02 ou pressão arterial, assim estável da VFSC. Observem a figura 8.
como em todos os RN a termo. Interessante foi a demora observada
nos RN pré-termos em retornar o FSC ao normal após o período de
hiperoxemia, sendo esta demora provavelmente atribuída a menor
Capitulo 10 Distúrbios Neurológicos

Taylor e Madsen relataram significante correlação entre alte-


ração no IR durante a compressão da fontanela e elevada pres-
são intracraniana: o IR aumentou significativamente nos RN com
aumento da pressão intracraniana e já no RN sem hipertensão
intra-craniana, o IR se alterou muito pouco. Estes autores não
detectaram alteração no IR após remoção do liquor, assim como
não detectaram correlação entre IR e hipertensão intracraniana.
Segundo Taylor, a explicação desta resposta se baseia na hipóte-
se de Monro-Kellie, segunda a qual o volume do cérebro, o líqui-
do céfalo-raquidiano, o conteúdo vascular e outros componentes
intracranianos são constantes. Durante a compressão (compres-
são leve do transdutor sobre a fontanela por 3 a 5 segundos), em
crianças normais, o líquor e o sangue se distribuem em outros
compartimentos para compensar o aumento de volume resultan-
te da compressão com conseqüente aumento da pressão intra-
craniana (nestes casos, o IR muda muito pouco); já nas crianças
com hidrocefalia e hipertensão intracraniana, esta compensação
Fig.8. Padrão do fluxo sanguíneo cerebral (Volpe) não ocorre, havendo aumento importante, da hipertensão intra-
craniana com alteração da perfusão cerebral e aumento do IR.
A variabilidade da VFSC foi significativamente maior nos RN Os autores concluem que a mudança do IR durante a com-
que respiravam fora de sincronia com o respirador, no estudo de pressão da fontanela é um melhor predictor de hipertensão in-
Rennie e cl. Quando o RN está assincrônico com o respirador, tracraniana do que o IR obtido sem a compressão da fontanela,
ocorre maiores alterações nas pressões intratorácicas. Durante podendo esta técnica ser usada na monitorização da efetividade
a assincronia, ocorre queda das pressões intratorácicas e conse- de terapias não cirúrgicas nas crianças com hidrocefalia.
quentemente queda das pressões sistêmicas arterial ou venosa,
quando o RN respira durante a fase de deflação do ventilador •Sono
e altas pressões intratorácicas e consequentemente altas pres- Lopes e Pellitteri estudaram as alterações do FSC nos RN pré-
sões sistêmicas arterial e venosa, quando o RN respira enquanto termos durante o sono e observaram aumento do FSC em 19%
o ventilador está tentando inflar os pulmões. Se o RN respira sin- (avaliado pela área sob a curva de velocidade de fluxo) no sono
cronicamente com o respirador (respiração espontânea coincide REM (sono de movimentos rápidos dos olhos) em comparação ao
com a inflação) as alterações nas pressões intratorácicas são sono não-REM e este aumento não esteve associado à mecânica
menores. Assim, ventilação assincrônica leva a grandes flutua- da respiração e nem de alterações na PaC02
ções na VFSC e como vimos no estudo de Perlman e cl, a flutu- 383
ação da VFSC aumenta o risco de hemorragia intraventricular. •Convulsões
Cowan e Thoresen relataram alterações na VFSC com o uso de Perlman e Volpe relataram importante aumento da VFSC em
diferentes pressões de insuflação pulmonar (PIP): não ocorreram 12 RN com convulsões utilizando a Ultrassonografia Doppler,
alterações ventilando o RN com PIP de 14cm H2O e alterações primariamente relacionado com aumento na velocidade do flu-
entre 5,6 a 12,3%, com o aumento da PIP para 18cm H2O; seme- xo diastólico, com significante queda no IR durante a convulsão,
lhantes variações foram observadas a nível venoso. Os autores retornando a valores normais dentro de 5 minutos após. Os pos-
sugerem manter a PIP em níveis menores possíveis, principal- síveis mecanismos do aumento do FSC com convulsões são: au-
mente nestes RN pré-termos extremos nos primeiros dias de vida mento da produção de lactato (e consequentemente aumento da
quando o risco de hemorragia intraventricular é maior e o uso da concentração de H+ perivascular) pela excessiva atividade neu-
Ultrassonografia Doppler regularmente para verificar se a VFSC ronal das convulsões com conseqüente vasodilatação,aumento
está sendo afetada pela PIP. da pressão arterial sistêmica (a pressão arterial pode aumentar
dramaticamente, mesmo com componente motor insignificante).
•Hidrocefalia Em RN pré-termos, este aumento da VFSC pelas convulsões
O ultrassom Doppler, pode ser de auxílio na identificação de RN com pode ocasionar rotura dos frágeis vasos da matrix germinativa
aumento da pressão intracraniana, assim como na determinação da levando à hemorragia intraventricular ou infarto hemorrágico.
necessidade e o melhor momento para realizar uma derivação.
Seibert e cl relataram, inicialmente em animais que o IR corre- •Aspiração do Tubo Traqueal
laciona-se linearmente com o aumento da pressão intracraniana. Perlman e Volpe relataram aumento da VFSC utilizando a Ul-
Assim que a pressão intracraniana aumenta, o fluxo tende a ser trassonografia Doppler com a aspiração do tubo traqueal pri-
afetado mais durante a diástole do que na sístole, resultando em mariamente relacionado com o aumento da velocidade do fluxo
maior IR. A colocação de shunt diminui significativamente o IR. diastólico, havendo grande aumento na pressão arterial sistêmi-
Segundo Hill e Volpe, o aumento da resistência ao fluxo na ar- ca. Exemplificando com um RN: o IR passou de 0,65 para 0,46
téria cerebral anterior no hidrocéfalo infantil é mais provavelmen- durante a aspiração do tubo endotraqueal, para 0,56 com 2 mi-
te pelo estiramento e compressão destas artérias pelos ventrícu- nutos de aspiração e 0,62 após a aspiração. Esta resposta pres-
los dilatados. A diminuição dos ventrículos pela ventriculostomia sora sistêmica pode ocorre na hipoxemia (comum durante a as-
ou shunt ventrículo - peritoneal foi acompanhado de queda do IR. piração). Devido a deficiente Autorregulação do fluxo sangüíneo
Pople e cl correlacionaram o IR com o aumento da pressão intra- cerebral nos RN pré-termos, este aumento da pressão arterial
craniana em crianças com bloqueio no shunt ventrículo- peritoneal sistêmica leva a um aumento do fluxo sangüíneo cerebral, expon-
e um IR elevado, teve uma sensibilidade de 56% e especificidade do os frágeis vasos capilares da matrix germinativa à rotura, com
de 97% na predicção de bloqueio de shunt ventrículo- peritoneal. desencadeamento da hemorragia intraventricular.
Goh e cl relataram significante correlação entre pressão intra-
craniana e IR, com queda significante do IR após ventriculosto-
mia e shunt ventrículo- peritoneal

Paulo R. Margotto
Assistência ao Recém-Nascido de Risco

•Fototerapia
Utilizando a Ultrassonografia Doppler, Amato e Donati e Ama-
to e cl relataram não haver comprometimento de FSC durante e
após a fototerapia com luz azul (30uW/cm2 e comprimento de
onda entre 400 –800 mm) colocada a 50cm do RN tanto a termo
como pré-termo apesar do aumento do fluxo sangüíneo periférico
com a fototerapia (efeito vasodilatador da irradiação).

•Morte Cerebral
McMenamin e Volpe relataram as alterações na VFSC na artéria
pericalosa em RN com critérios de morte cerebral, definindo uma ca-
racterística seqüência da deterioração da VFSC na artéria cerebral
anterior. Vejam: inicialmente há perda do fluxo diastólico seguido do
aparecimento do fluxo retrógrado durante a diástole e por fim, dimi-
nuição do fluxo sistólico até não ser mais detectado (figura 9).

Fig.10. RN de 30 semanas, em ventilação mecânica.US cerebral Doppler


em (A) evidenciando fluxo sanguíneo flutuante (setas). Apesar de ser
realizadas correções necessárias no respirador e gases sanguíneos, RN
evoluiu com hemorragia intraventricular grau III (setas curtas) bilateral
e infarto hemorrágico periventricular a direita (seta longa) em (B), no US
cerebral no plano sagital (Margotto/Castro

Bada e cl descreveram nos RN com HIV, aumento do IR com flu-


xo diastólico zero, isto é, vasoconstricção tal como tem ocorrido em
adultos com hemorragia intracraniana, traduzindo servera isque-
mia cerebral, podendo ser um indicador prognóstico. (figura 11)
Mires e cl relataram significativamente maior IR no RN com
HIV grau III ou IV, mas sem diferença nos RN com HIV grau I ou II.

384

Fig. 11. RN pré-termo com hemorragia intraventricular grau III. US cere-


Fig. 9. Alterações na velocidade do fluxo sanguíneo na artéria pericalosa bral Doppler mostrando um IR alto (0.92) (Margotto/Castro
em RN com critérios de morte cerebral. Em (A), desaparecimento do
fluxo diastólico (seta); em (B) aparecimento do fluxo diastólico retrógra- Do estudo de Argollo e cl, dos 35,7% dos RN com IR baixo que
do (seta); em (C) diminuição do fluxo sistólico (seta) até não ser mais evoluíram desfavoravelmente, 11,9% apresentaram hemorragia
detectado(D) (setas) (McMenamin e Volpe) intraventricular; dos 4 RN com IR alto (0,85), 3 apresentaram he-
morragia intraventricular (75%)
Os autores atribuem estes achados ao aumento progressivo da
resistência cerebrovascular e em conseqüência, uma progressiva •Pneumotórax
diminuição da pressão cerebral secundária a necrose cerebral di- Hill e cl descreveram grandes alterações na VFSC usando a
fusa e edema, documentados pós- morte. Assim, a ultrassonogra- ultrassonografia Doppler na artéria cerebral anterior com a
fia Doppler é um complemento útil, juntamente com a clínica e EEG ocorrência e resolução do pneumotórax em RN pré-termos sob
(eletroencefalograma) na determinação da morte cerebral do RN. ventilação mecânica. A diminuição do IR quando ocorreu o pneu-
motórax reflete grande aumento da velocidade do fluxo diastó-
•Hemorragia Intraventricular (HIV) lico que por sua vez é o reflexo dos efeitos hemodinâmicos do
Na evolução de um RN pré-termo com distúrbio respiratório, pneumotórax (aumento da pressão arterial sistêmica, principal-
sob assistência ventilatória, a constatação do VFSC flutuante mente diastólica). Na presença de deficiente Autorregulação do
pode, assinalar risco aumentado para hemorragia intraventricu- FSC, a chegada de grande quantidade de sangue aos capilares
lar (figura 10). imaturos, da matrix germinativa, associado ao deficiente retorno
venoso com aumento da pressão venosa cerebral, coloca estes
RN em alto risco para HIV. O IR em um RN, passou de 0,63 (antes
do pneumotórax) para 0,32 por ocasião do penumotórax e 0,66
Capitulo 10 Distúrbios Neurológicos

com a resolução do pneumotórax. A HIV ocorreu entre meia hora cerebral tanto hemorrágica (devido a flutuação da VFSC, acom-
até 24h após a ocorrência do pneumotórax. panhando a abertura e o fechamento do PCA; aumento da ampli-
Batton e cl, em estudo experimental, evidenciaram que a rá- tude de cada pulso ou seja, diferença entre velocidades do fluxo
pida evacuação de um grande pneumotórax leva a um rápido sistólico e diastólico) como isquêmica (devido ao “steal pheno-
aumento da pressão arterial sistêmica que é transmitido direta- mena”: escape diastólico). Os RN com leucomalácia periventricu-
mente à circulação cerebral, podendo este ser um fator desenca- lar tem significantemente maior incidência de fluxo retrógrado na
deante de HIV. artéria cerebral anterior.Com o fechamento do PCA, houve rápido
aumento da VFSC, retornando a valores normais.
•Leucomalácia Periventricular Outros autores, utilizando a ultrassonografia Doppler, descre-
Mires e cl descreveram aumento do IR na artéria cerebral veram fluxo diastólico retrógrado, inclusive em RN a termo nor-
média entre 48-72h de idade nos RN que desenvolveram leu- mal, enfatizando a vulnerabilidade da perfusão cerebral em to-
comalácia cística. Os RN com persistente hiperecogenicidade dos os RN face aos eventos hemodinâmicos.
periventricular apresentaram significante aumento do IR na ar- Juntamente com a ultrassonografia Doppler cerebral, obser-
téria cerebral anterior e na artéria cerebral média. Os autores var nestes RN a relação átrio esquerdo/aorta (relação AE/AO):
concluem que a Ultrassonografia Doppler pode ser utilizado na o shunt E –D aumenta o volume de sangue no lado esquerdo do
identificação do RN com patologia cerebral isquêmica. No entan- coração e assim, o átrio esquerdo (AE) dilata em relação ao arco
to, Argollo e cl, relataram que 35,7% dos RN com baixo IR (0,61), aórtico que não seria afetado pela carga de volume (tamanho do
evoluiu para ecolucência e ou ventriculomegalia e 23,8% para AE = 5,6,7 e 8mm para o RN com os respectivos peso de nasci-
atrofia cerebral; os 4 RN com IR alto (>0.85), todos tiveram evo- mento: 500g, 1000g,1500g e 2000g ). Uma relação > 1,5mm é
lução desfavorável e 1 (25%) evoluiu para atrofia cerebral. Shor- anormal (sensibilidade de 29% e especificidade de 91% no diag-
tland e cl relataram alta incidência de fluxo retrógrado na artéria nóstico do canal arterial pérvio).
cerebral anterior durante a diástole nos RN com leucomalácia Observam a ultrassonografia Doppler cerebral no caso a se-
periventricular, colocando os RN com canal arterial pérvio em guir que realizamos no Hospital Port-Royal de Paris com Dra.
alto risco para o desenvolvimento de leucomalácia periventricu- Michell Mouset – Couchard (figura 13). Vejam a diástole reversa
lar. Veja a figura 12. detectada na artéria pericalosa e o retorno ductal positivo (Do-
ppler na artéria pulmonar)

385

Fig.12. Recém-nascido com 960g, 10 dias de bolsa rota, sepse fúngica.


US cerebral no plano sagital em (A) evidenciando cistos na substância
branca (setas). Em (B), US cerebral Doppler mostrando alto IR (0.90) Fig. 13. US Doppler craniana na artéria pericalosa em (A)
(Margotto/Castro) evidenciando a diástole

•Persistência do Canal Arterial (PCA) No exemplo a seguir (figura 14) RN de 29 semanas com 975g,
A PCA e o seu tratamento tem profundo efeito na VFSC. A PCA apresentou fluxo diastólico reverso no US Doppler na artéria peri-
aumenta o IR (o fluxo diastólico praticamente cessa). A diminui- calosa e o ecocardiograma confirmou a presença de canal arterial
ção do fluxo diastólico é devido aos efeitos hemodinâmicos sis- pérvio. O RN foi tratado com ibuprofeno na dose de 10mg/kg e
têmicos da PCA. Na presença da PCA, shunting de sangue da 5mg/kg com 24h e 48h via oral (não dispomos de ibuprofeno en-
aorta para a circulação pulmonar através do ductus, resulta na dovenoso) e observem o retorno da velocidade do fluxo diastólico
queda da pressão sangüínea diastólica; devido a circulação ce- final 72h após o uso do ibuprofeno (figura 9.6); contrário ao que
rebral ser um sistema de baixa resistência (tem um importante ocorre com a indometacina (veja a seguir) o ibuprofeno não tem
componente diastólico do fluxo sangüíneo), ocorre a diminuição efeito adverso na hemodinâmica cerebral, assim como na renal
da velocidade do fluxo sangüíneo diastólico na artéria cerebral
anterior na presença da PCA, e esta diminuição, decorre da falha
dos mecanismos compensatórios da circulação cerebral para di-
minuir a resistência nos vasos cerebrais distais e assim manter
a velocidade do fluxo sangüíneo. Esta falha reflete a deficiente
Autorregulação do FSC no RN pré-termo, predispondo-o a injúria

Paulo R. Margotto
Assistência ao Recém-Nascido de Risco

A ultrassonografia Doppler foi realizada na artéria pericalosa.

Fig. 15. US Doppler na artéria pericalosa mostrando o efeito da indome-


tacina no fluxo sanguíneo cerebral (vide texto) (Van Bel)

É importante assinalar que estas mudanças no FSC com a injeção


Fig. 14. Em (A) US Doppler evidenciando fluxo diastólico reverso (seta). rápida da indometacina pode aumentar a probabilidade de infarto
Em (B) observem o retorno da velocidade do fluxo diastólico final 72h isquêmico no RN pré-termo com a já prejudicada perfusão cerebral.
após o uso do ibuprofeno (Margotto)
•Apnéia
•Uso de Indometacina As apnéias acompanhadas de bradicardia provocam queda na
A indometacina tem um profundo efeito na VFSC. Evans e cl, velocidade diastólica; se a bradicardia for intensa, a velocidade
utilizando a Ultrassonografia Doppler, detectaram redução signifi- do fluxo diastólico pode cair a zero e a velocidade sistólica decai
cativa na velocidade média do fluxo sangüíneo (área sob a curva) progressivamente
de 40% 2 minutos após a administração da indometacina endo-
venosa e permaneceu 35% abaixo dos níveis pré-dose por 1 hora. •Uso de Aminofilina
386 No estudo de Colditz e cl, a infusão lenta (20 minutos) versus Rosenkrantz e Oh, utilizando a Ultrassonografia Doppler, rela-
a rápida (5 minutos) não ocasiona redução do FSC com a infusão taram diminuição da VFSC de 21% (com 60 minutos) e 17% (com
lenta; a mesma conclusão foi obtida no estudo de Hammerman e 120 horas) após a administração de aminofilina, sendo esta
cl com a infusão lenta (36h) diminuição provavelmente secundária à diminuição da PaC02 e
Van Bel e cl insonaram a artéria cerebral anterior antes, 2 e não por um efeito direto da aminofilina na vasculatura cerebral.
10 minutos e 2 e 12h após a administração da indometacina A diminuição do FSC pela aminofilina em RN pré-termos está-
(0,1mg/kg/EV por 10 a 20 segundos) para o fechamento do PCA. veis não afetou o potencial evocado visual, o que sugere que esta
No 10º minuto após a indometacina, os autores observaram redução do FSC não induza efeitos adversos na função cerebral.
dramática queda na velocidade máxima sistólica e o desapareci- Interessante, que com a cafeína o mesmo não ocorreu. Saliba e
mento da velocidade final da diástole; com 12 h após a indome- cl, utilizando a Ultrassonografia Doppler em 7 RN pré-termos está-
tacina, não havia diferença na VFSC em relação ao registrado na veis com apnéia, relataram que usando cafeína na dose de 20mg/
pré-infusão da droga ( neste momento, não havia sinais clínicos Kg, como é a dose preconizada, não se observou efeitos no FSC.
de PCA). A indometacina reduz o fluxo sangüíneo cerebral possi-
velmente através da inibição da produção prostaglandina. Este •RN Pequeno para a Idade Gestacional(PIG)
tem sido o mecanismo pelo qual a indometacina tem diminuído Nos fetos com retardo do crescimento intrauterino, tem sido
a incidência de hemorragia intraventricular nos RN pré-termos, evidenciado a redistribuição circulatória: IR reduzido na artéria
embora sejam incertas as repercussões a longo prazo desta sua cerebral anterior e maior IR na aorta descendente e artéria um-
ação (os estudos sugerem que a administração precoce de bai- bilical, sugerindo uma redução compensatória de sangue aos
xas doses de indometacina não está associado com déficit neu- outros órgãos e placenta, com um aumento do suprimento san-
rocomportamental na idade corrigida de 54 meses). güíneo ao cérebro fetal: interessante que o IR na artéria cerebral
Observem a seqüência na figura 15: (A): antes da indometa- anterior não se altera quando o retardo do crescimento foi asso-
cina (B) com 10 minutos © com 2 horas e (D) com 12 horas, e ciado com anormalidades estruturais ou cromossômicas
vejam a diminuição da velocidade do fluxo sistólico final com um Uma vez nascido, as alterações cerebrovasculares persistem; no
mínimo de fluxo reverso em (C ) e o retorno ao normal com 12 1º dia de vida, há um significante menor IR nestes RN (figura 16),
horas em (D). sugerindo aumento de FSC. Os autores especulam que estes acha-
dos sejam devidos a continuação da situação fetal em que a hipoxia
crônica possivelmente causa vasodilatação prostaglandina induzida
Esta redistribuição circulatória pode predispor o RN com retar-
do do crescimento intrauterino a complicações como enterocolite
necrosante com maior mortalidade neonatal, como evidenciado
por Hackett e cl comparando 2 grupos de RN com equivalente
idade gestacional e peso abaixo de 2000g (um grupo com ausên-
cia de diástole e outro com diástole na aorta fetal).
Capitulo 10 Distúrbios Neurológicos

Em Campinas no CAISM (Centro de Assistência Integral à Saú- nio evidenciou sopro contínuo, mais evidente na região posterior do
de da Mulher), Neto evidenciou FSC significativamente menor crânio. A tomografia computadorizada confirmou o achado.
no RN PIG, atribuindo provavelmente a diversidade de padrão
encontrado na literatura à influência da idade gestacional, even-
tos perinatais, tipo de RN com retardo do crescimento intraute-
rino (simétrico/assimétrico), etiologia ou até mesmo pela artéria
onde se realizou a mensuração.

Fig. 18. Malformação da veia de Galeno. Em (A) US no plano sagital


mostrando uma estrutura cística na região da veia de Galeno (seta). Em
(B) Doppler mostrando o turbilhonamento do fluxo sangúineo, caracteri-
zando a lesão como vascular (seta) (Margotto)

No ano de 2003, tivemos outro caso de aneurisma da veia de


Galeno: RN 2º gemelar, “hidrocefalia intraútero”; nasceu no dia
7/2/03, cesariana, 38 semanas de gestação; peso ao nascer de
Fig. 16. RN pequeno para a idade gestacional centralizado (pré-eclâmp- 2155g; Apgar de 9 e 10. Alta em boas condições, no terceiro dia de
sia). US cerebral Doppler mostrando IR baixo (0,31). Observe o tamanho vida. Com 9 dias de vida, deu entrada na Unidade de Neonatologia
da diástole (Margotto/Castro) do HRAS com grave quadro de insuficiência cardíaca congestiva.
Realizado o US cerebral que revelou grave dilatação biventricular,
•Malformação Arteriovenosa da Veia de Galeno hemorragia bilateral em plexo coróide e malformação na veia de
De todas as malformações arteriovenosas no período neona- Galeno (figura 19). A tomografia computadorizada e a ressonância
tal, as que envolvem a veia de Galeno são as mais comuns. Um magnética confirmaram a malformação da veia de Galeno, sendo
aneurisma da veia de Galeno pode levar a insuficiência cardíaca indicada a embolização da referida veia. Com 23 dias de vida, o
(95% dos casos apresentam-se como insuficiência cardíaca con- RN foi transferido para o Alojamento Conjunto. Alta com 38 dias de
gestiva) e hidropsia fetal não imune; vida, estável, sem a realização, ainda, da embolização.
O US Doppler revela significativo aumento da velocidade do flu-
xo sanguíneo cerebral. Deeg e Scharf descreveram esta malfor-
mação em um RN com insuficiência cardíaca, como uma grande
estrutura cística atrás do 3º ventrículo e a placa quadrigeminal; o 387
cisto comprimia a parte posterior do 3º ventrículo e o aqueduto,
causando hidrocefalia obstrutiva. Com a ultrassonografia Dop-
pler colorida, foi evidenciado fluxo dentro do aneurisma, assim
como artérias originando das artérias cerebrais posterior e mé-
dia. Tessler e cl relataram excelente correlação entre a ultrasso-
nografia Doppler colorida com a angiografia na detecção destas
malformações arteriovenosas (figura 17).

Fig. 19. Malformação da veia de Galeno em um dos RN gêmeos. Em (A) US


cerebral no plano sagital na linha média dos RN gêmeos, evidenciando no
gêmeo B) estrutura cística a nível da veia de Galeno (seta). Em (B) Doppler
no gêmeo B mostrando a malformação da veia de Galeno (turbilhonamento
Fig. 17. Doppler colorido no plano sagital evidenciando em (A) vasos do fluxo sabguíneo-seta), com a reprodução em cores em (C) (Margotto).
alimentadores (setas).LV: ventrículo dilatado. Em (B), transdutor angulado
mais posteriormente mostrando a veia de Galeno dilatado (totalmente pre- •Infarto Cerebral
enchida com cor); a cor amarela indica jato de alta velocidade dos ramos Messer e cl descreveram a VFSC em 2 RN com infarto cerebral
alimentadores. Em (C), projeção lateral do angiograma da carótida interna usando a Ultrassonografia Doppler: uma diminuição da VFSC foi
direita, mostrando os ramos coroidais posteriores alimentando a veia de observada na artéria cerebral anterior e artéria carótida interna
Galeno (setas); os jatos de alta velocidade (cabeça de seta) correspondem do lado afetado. A realização precoce do exame permitiu des-
a zona amarela vista no US Doppler colorido visto em (A) (Tessler) tinguir entre o infarto perinatal (sinal Doppler completamente
ausente nos primeiros dias de vida) do pré-natal (sinal Doppler
No ano de 2001, deu entrada na Unidade de Neonatologia do reduzido, mas presente)
Hospital Regional da Asa Sul recém-nascido a termo com quadro de
insuficiência cardíaca congestiva e uma informação de um “grande Velocidade do Fluxo Sangüíneo Cerebral
cisto em plexo coróide” no US pré-natal. Realizamos o US cerebral, e Prognóstico
sendo detectado uma estrutura cística na região da veia de Galeno.A
adição do Doppler mostrou turbilhonamento do fluxo sanguíneo, evi- Van Bel e cl relataram os resultados de 2 anos de follow-up em
denciando o caráter vascular da lesão (figura 18). A ausculta do crâ- 47 RN com idade gestacional menor que 34 semanas, em rela-

Paulo R. Margotto
Assistência ao Recém-Nascido de Risco

ção ao IR: os RN com deficiência neurocomportamental tinham Fototerapia S/altera-


IR maior nos primeiros 7 dias de vida versus crianças com desen- ↓
com luz Azul ção
volvimento normal. O maior IR nestes RN foi devido ao aumento Morte Cerebral ↓ -
de fluxo sistólico, que pode estar associado com congestão e
Hemorragia intra-
edema da substância branca. ↓ ↑
ventricular
Deeg e cl relataram grave prognóstico em 6 RN com edema
Pneumotórax ↑ ↑
cerebral que apresentavam diminuição do fluxo diastólico (4 fale-
ceram, 2 com déficit severo por leucomalácia policistica e atrofia Leucomalácia Peri-
↓ ↓
cerebral e 1 com problemas psicomotores menores) ventricular
Hiperecogenicida-
Em resumo de Periventricular ↓ ↑
("flares")
Apesar das medidas de VFSC não representarem mensurações Canal Arterial Pérvio ↓ ↑
do volume absoluto do FSC, os estudos evidenciam que a análise Indometacina ↓ ↑
da VFSC é útil para quantificar variações relativas do FSC em um Apnéia ↓ -
determinado período de tempo. Aminofilina ↓ -
A tabela a seguir resume várias situações que comentamos nas S/altera-
quais a ultrassonografia Doppler pode ser clinicamente útil ; esta Cafeína -
ção
técnica pode ser útil na demonstração da cessação do FSC (morte
RN PIG (pequeno
cerebral) ou na distribuição para uma artéria cerebral maior (infar-
para idade ↑ -
to cerebral). A medida do IR é de valor no prognóstico de RN com
gestacional)
encefalopatia hipóxico isquêmica e no manuseio de alguns casos
Infarto Cerebral ↓↓ a 0 ↓
de hidrocéfalo pós-hemorrágico (principalmente a Ultrassonografia
Doppler com compressão da fontanela). A detecção de um fluxo Malformações
↑ -
diastólico retrógrado (meio de detecção da persistência da PCA artério-venosas
com grande desvio esquerda-direita) no PCA é de grande impor-
tância na definição do risco da injúria isquêmica cerebral. Bibliografia
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Paulo R. Margotto
Assistência ao Recém-Nascido de Risco

10.9 DEFEITOS DE FECHAMENTO DO TUBO NEURAL

Paulo R. Margotto

A partir da 3ª semana do desenvolvimento embrionário, inicia- tipo 1 ou aquelas que usam drogas antiepilépticas, especialmente
se a formação da placa neural que dará origem ao tubo neural, ácido valpróico ou carbamazepina, têm chances aumentadas de
estrutura embrionária que dá origem ao sistema nervoso central gestações afetadas, o que ocorre também quando a mulher mes-
(encéfalo e medula espinhal), através dos processos de indução, ma, seu parceiro ou outros parentes próximos apresentam DTN.
proliferação, diferenciação celular e apoptose (morte celular pro- Os defeitos no fechamento do tubo neural podem fazer parte de
gramada); estes processos são controlados em geral por genes inúmeras síndromes dismórficas de etiologia gênica ou cromossô-
de origem materna e genes que controlam a especificação do mica, o que requer diagnóstico correto para o adequado aconse-
uso crânio-caudal, segmentos corpóreos, organogênese, atuan- lhamento do casal para futuro planejamento familiar. Consistente
do nos diversos campos do desenvolvimento embrionário. com o modelo multifatorial, o risco de recorrência aumenta quan-
Defeitos durante o fechamento do Tubo Neural (este fecha- do há irmãos afetados. Os defeitos isolados do tubo neural surgem
mento ocorre entra 3ª e 4ª semana de vida pós-concepcional) de uma interação de fatores genéticos e ambientais, com risco de
produzirão uma série de malformações, dependendo do mo- recorrência de 2-5%, caracterizando um modo de herança multifa-
mento, extensão e altura da falha. Anencefalia, encefalocele e torial (agentes teratogênicos como a hipertermia, acido retinoico e
espinha bífida são os exemplos mais importantes de Defeitos do diabetes materno favorecem o seu aparecimento).
fechamento do Tubo Neural (DTN).
O defeito mais rostral e grave é a anencefalia, na qual a calota O Ácido Fólico E Os Defeitos Do Tubo Neural
craniana não se forma e o tecido nervoso malformado é exposto,
o que invariavelmente produz dias de vida. A encefalocele é a A relação entre o uso peri-concepcional do ácido fólico e a redu-
Hérniação de tecido encefálico através de falhas ósseas. É habi- ção da incidência de DTN tem sido sugerida nos últimos 30 anos.
tualmente recoberta de pele íntegra e sua severidade é determi- Estudos metodologicamente convincentes foram publicados na úl-
nada pelo volume de tecido nervoso extracraniano. Os defeitos tima década. Não há dúvidas sobre a eficácia da suplementação
envolvendo coluna e medula espinhal, como raquisquise, me- de ácido fólico, tanto na prevenção de recorrências de DTN (em
ningocele, mielomeningocele são os mais freqüentes e recebem mulheres com gestações previamente afetadas) como na preven-
também a denominação de espinha bífida. A gravidade também ção da primeira ocorrência de um DTN promovida pela suplemen-
depende da altura e extensão da lesão. Meningoceles que não tação de ácido fólico varia em diferentes estudos e gira em torno
contêm tecido nervoso podem ser operadas sem deixar disfun- de 70%. A proteção também é alta na prevenção das recorrências.
390 ção neurológica. Infelizmente as mielomeningoceles são as mais A patogenia dos DTN ainda não é bem compreendida e por isso
freqüentes e, mesmo quando adequadamente tratadas, produ- os mecanismos através dos quais o ácido fólico reduz a incidên-
zem diferentes graus de paraplegia. cia destes defeitos também não o são. Possivelmente a origem
Transtornos esfincterianos com bexiga neurogênica estão quase destas malformações é multifatorial, envolvendo fatores ambien-
sempre presentes e, especialmente quando mal manejados, podem tais e genéticos. A primeira hipótese que surge é de que a suple-
produzir infecções repetidas do trato urinário com hidronefrose e in- mentação com ácido fólico trataria uma deficiência na mãe. No
suficiência renal. Disfunção sexual também será um problema. entanto, alguns estudos têm mostrado que os níveis de ácido fó-
Habitualmente as funções mentais como cognição, comporta- lico no sangue e eritrócitos não são significativamente diferentes
mento e linguagem estão conservados nas crianças com espinha em mães que tiveram e que não tiveram seus filhos afetados por
bífida. Entretanto, a infecções do sistema nervoso central não são DTN. Outros estudos mostram diferenças pequenas nestes dois
incomuns por contaminação antes ou durante o fechamento cirúr- grupos. Uma segunda possibilidade é a de que a suplementação
gico do defeito. Nestes casos pode haver atraso severo envolvendo com ácido fólico pudesse compensar necessidades aumentadas
também funções mentais. A espinha bífida esta associada à mal- de algumas mulheres por transtornos geneticamente determina-
formação de Arnold Chiari, na qual porções do tronco encefálico e dos no aproveitamento do ácido fólico. Estes transtornos afetariam
cerebelo, que normalmente são intracranianas, durante sua for- a estrutura molecular de enzimas envolvidas no metabolismo do
mação passam os limites do forame magno e ocupam os primeiros ácido fólico. Estudos de genética molecular têm identificado, em
segmentos da coluna cervical. Esta anormalidade pode compro- casos isolados, mutações que determinam disfunção de uma des-
meter o fluxo normal de líquido cefalorraquideo e, por isso, a espi- tas enzimas, a 5,10-metilenotetrahidrofolato redutase.
nha bífida está quase sempre associada à hidrocefalia, que requer Estes conhecimentos têm gerado debate a respeito das es-
derivação ventrículo-peritoneal e não raramente produz problemas tratégias de Saúde Pública visando aumentar o aporte de ácido
como obstrução e infecção ao longo da vida. fólico, especialmente nas mulheres em idade fértil. Nos anos 90,
A freqüência destas malformações varia em diferentes países os países ocidentais começaram a promover ativamente o uso do
e regiões. São escassas as publicações no Brasil sobre a preva- ácido fólico na prevenção dos DTN. Em 1999, a Academia Ameri-
lência dos DTN, que varia de 0,83: 1000 a 1,87: 1000. O Estudo cana de Pediatria e outras entidades nos Estados unidos publica-
Latino Americano de Malformações Congênitas (ECLAMC) abran- ram as recomendações relativas à suplementação com ácido fó-
ge 173 hospitais na América Latina, muitos deles no Brasil, onde lico visando especialmente à prevenção dos DTN. Recomendam
todos os nascimentos com malformações são notificados. De que toda mulher em idade fértil consuma 0,4mg de ácido fólico
1967 a 1995 ocorreram mais de 4 milhões de nascimentos nes- diariamente. Quando há antecedente de gestação afetada por
tes hospitais e a prevalência de DTN foi de 1,5: 1000. A espinha DTN, deve-se consumir 4mg por dia. Quando existem outros fa-
bífida é o defeito mais freqüente na maioria das regiões, seguida tores de risco como a mulher mesma, seu parceiro ou outros pa-
da anencefalia e depois da encefalocele. rentes próximos com DTN, diabetes mellitus tipo I, uso de ácido
As mulheres que já tiveram gestações cujo feto apresentava valpróico ou carbamazepina, deve-se considerar a possibilidade
DTN têm 2 a 3% de chances de recorrência (20 a 30:1000), muito de aumentar a dose para 4mg/dia no período per-concepcional.
maior que nas mulheres em geral. Mulheres com diabetes mellitus
Capitulo 10 Distúrbios Neurológicos

Grupo Dose Diária (1x/Dia) Espinha Bífida Cística


Todas as mulheres em idade
fértil 0,4mg, mesmo que não se Mielomeningocele
sem antecedente de gestação planeje engravidar. • Apresentação mais comum (75%)
afetada por DTN • O saco Hérniado contém, além das meninges (duramáter
e aracnóide), tecido nervoso.Localizado 80% dos casos
Todas as mulheres em idade fér-
4mg, mesmo que não se na região lombar ou lombossacra
til com antecedente de gestação
planeje engravidar. • Associado com malformações neurológicas: hidrocefalia,
afetada por DTN
Arnold- Chiari, Estenose do Aqueduto de Sylvius.
A mulher mesma, seu parceiro ou
Considerar a possibilidade de
algum parente próximo com DTN.
aumentar a suplementação Meningocele
diabetes mellitus tipo I
de 0,4 para 4mg no período • 25% dos casos
Uso de ácido valproíco ou
periconcepcional. • O saco Hérniado é recoberto com pele e contém somente
carbamezapina
as meninges
• Função motora preservada
Recomendações da Academia Americana de Pediatria a respeito da • Rara associação com outras malformações do SNC
suplementação com ácido fólico na prevenção dos DTN
Conduta
A suplementação deve ser feita para toda a mulher em idade • Examinar o saco Hérniado (forma asséptica)
fértil. Não é apropriado iniciá-lo ao perceber a gestação, porque • Observar se há rotura da membrana com saída de LCR,
neste momento o tubo neural já está se formando ou já teria sinais de infecção ou hemorragia
completado seu fechamento. Também não é adequado iniciar a • Ventilação: em caso de apnéia, estridor laríngeo secun-
suplementação apenas quando se planeja engravidar, já que a dário a paralisia de cordas vocais e hipoventilação cere-
maioria das gestações não é planejada. bral (geralmente ocorre após o fechamento da mielome-
É imperativo o seu uso em mulheres com história familiar de ningocele).
DTN, iniciando 16 semanas antes da concepção até 16 sema- • Se o recém-nascido em posição supina, proteger a le-
nas após a concepção. são da pressão externa (fazer uma coroa de compressa
Na América Latina, o Ministério da Saúde do Chile determinou e centrar o saco Hérniado) Temperatura: devido a maior
que a farinha de trigo seja enriquecida com ácido fólico desde janei- perda de calor pela lesão exposta, realizar os procedi-
ro de 2000. Lá, cada 100g de farinha de trigo contém 0,2mg da vi- mentos sob fonte de calor radiante (evitar a radiação di-
tamina, o que resulta na suplementação média de 0,364mg por dia reta sobre a lesão).
para cada adulto. Esta poderia ser uma estratégia adotada também • Proteger conteúdo Hérniado
no Brasil, onde, assim como no Chile, o consumo de pão é habitual. • Hidratação venosa: 100-150ml/Kg, devido ao aumento 391
Considerando que a prevalência média dos DTN no Brasil seja a das perdas insensíveis de líquido pela lesão.
mesma da América Latina, 1,5:1000 nascimentos, então anualmen- • Antibiótico: amplo espectro (agentes mais frequentes são
te no Brasil nascem cerca de 4000 bebês com este tipo de mal- o S. aureus e o S. epidermidis).
formação. Recentemente Aguiar e cl relataram, na Maternidade do • Exame neurológico: o prognóstico está relacionado com o
Hospital das Clínicas da Universidade Federal de Minas Gerais, uma nível da lesão na medula espinhal
prevalência de 4,73: 1000 partos (89/ 18807), tendo sido maior en-
tre os natimortos (23,7: 1000) do que nos RN vivos (4,16: 1000). Os Prognóstico Risco de
autores relataram maior incidência entre os RN com peso <=2500g. Comportamento Função do
Raízes para Hidro-
As crianças afetadas por DTN, suas famílias e os profissionais en- Motor Esfíncter
Deambular cefalia
volvidos no seu manejo, como pediatras, neurocirurgiões, neuro- Mau prognósti-
logistas, enfermeiros, são os que sentem a real magnitude deste co. Movimento
problema. É responsabilidade destes profissionais e das sociedades Ll–L2 Paraplegia Anormal somente em 96%
que os representam divulgar junto à população e as autoridades da cadeira de
Saúde a importância da suplementação de ácido fólico para mu- rodas
lheres em idade fértil. Medidas coletivas como a adição de ácido
L3: mau
fólico a alimentos industrializados deve ser considerada, já que, à
prognóstico.
luz dos conhecimentos atuais, os DTN podem ser encarados como
Movimentação
uma “epidemia” passível de prevenção, assim com a poliomielite.
somente em
Para tanto, estudos que determinem com maior precisão a prevalên- Envolvimento
L3-L4 Anormal cadeira de 86%
cia atual dos DTN no Brasil são urgentes. Á luz dos conhecimentos do quadríceps
rodas
atuais, os defeitos do tubo neural devem ser encarados como uma
L4: deambula-
“epidemia” passível de prevenção.
ção somente
com muletas
Espinha Bífida Oculta
Bom prognós-
Dorsiflexão e
tico; às vezes
• É o defeito mais comum flexão
dependendo
• A alteração ocorre somente nas vértebras LS-S1 Plantar dos pés Anormal 60%
de um peque-
• Não há protusão externa das meninges Hipotonia do
no apoio nos
• Localização: L5 ou S1 (maioria dos casos) glúteo
pés
• Suspeitar quando:
• Lesões cutâneas na região lombossacra (hemangioma, Hipotonia dos Conser- Movimentação
S2-S4 -
nevo piloso, seios cutâneos ou lipomas) dedos dos pés vada sem auxílio

Paulo R. Margotto
Assistência ao Recém-Nascido de Risco

Malformações associadas
• Hidrocefalia: 65% dos RN com mielomeningocele sem
macrocefalia apresentam ventriculomegalia que se ma-
nifesta apenas após o fechamento da lesão espinhal.
Realizar o ultrassom precoce nestes RN
• Alterações urológicas: 85% das mielomeningoceles
localizadas acima da S2 apresentam alterações neu-
rológicas da bexiga. (realizar o ultrassom renal e a cis-
touretrografia miccional). Na presença de bexigoma é
contra-indicada a manobra de Crede (pode acentuar o
refluxo vésico-ureteral): esvaziar a bexiga através da son-
dagem vesical intermitente

Correção Cirúrgica Ou Conduta Expectante


Recomenda-se tratar todos os pacientes, exceto nas seguintes
situações:

• Presença de anomalias cerebrais graves


• Hidrocefalia extrema ao nascimento
• Lesão hipóxica-isquêmica grave
• Infecção do SNC de difícil controle
• Outras malformações incompatíveis com a vida

A decisão final sempre deve ser tomada em conjunto com os


pais. Se a decisão for pela cirurgia esta deve ser o mais precoce
possível (< 1 semana de vida), devido aos riscos de infecção (ven-
triculite, meningite) e do agravamento da função neurológica.
Estudo randomizado recente evidenciou que a cirurgia pré-natal
da mielomeningocele antes de 26 semanas de gestação reduziu a
morte fetal ou neonatal (RR=0,70; IC: 0,58-0,84) e a necessidade
para a colocação de shunt (RR=0, 48; IC:0,36-0,64) e melhora do
desenvolvimento mental e motor com 30 meses (p=0,007), além
392 da melhora da deambulação e da Hérniação do rombencéfalo. No
entanto, a cirurgia pré-natal foi associada com maior risco de nas-
cimento pré-termo e deiscência uterina ao nascimento.

Bibliografia
• Miyoshi MH, Guinsburg R, Almeída MFB, Kopelman BI. O pediatra na sala de parto. Temas
de Pediatria Nestlé – Nº 65, 1997.
• Volpe JJ. Neural tube formation and prosencephalic development. IN: Volpe JJ. Neurology
of the Newborn, Third Edition, Wb Saunders Philadelphia, pg 3, 1995.
• American Academy of Pediatrics. Committee on Genetics. Folic acid for the prevention of
neural tube defects. Pediatrics 104:325, 1999
• GrilloE. Prevenção dos defeitos do tubo neural. O papel do ácido fólico.Correios da SBP,Ano
8, pg 5 Abril/Maio/Junho/2002
• Aguiar MJB, Campos AS, e cl. Defeitos de fechamento do tubo neural e fatores associados
em recém-nascidos vivos e natimortos. J Pediatr (Rio) 79:129, 2003
• Grillo E, da Silva RJM. Defeitos do tubo neural e hidrocefalia congênita. Por quê conhecer
suas prevalência. J Pediatr (Rio J): 79:105, 2003
• Adzick NS, Thom EA, Spong CY e cl. A randomizided trial of prenatal versus postnatal repair
of mielomeningocele. N Engl J Med 364:993, 2011. Disponível em www.paulomargtto.
com.br (Distúrbios Neurológicos). Acesso em 10/3/2011
Capitulo 10 Distúrbios Neurológicos

10.10 ASFIXIA PERINATAL

Carlos A. M. Zaconeta, Fabiano Cunha Gonçalves


Paulo R. Margotto

Asfixia perinatal é uma injúria sofrida pelo feto ou pelo recém- 4. Disfunção orgânica multisistêmica (ex: sistemas cardio-
nascido devida à má oxigenação (hipoxia) e/ou má perfusão (is- vascular, gastrintestinal, hematológico, pulmonar ou renal).
quemia) de múltiplos órgãos. Associa-se a acidose láctica e, na
presença de hipoventilação, a hipercapnia. Incidência
Realizar um diagnóstico de asfixia perinatal bem fundamenta-
do é de extrema importância pois cada vez com mais freqüência A incidência de asfixia perinatal varia em torno de 1-1,5% em
este diagnóstico traz consigo repercussões médico-legais tanto vários centros e está correlacionada diretamente com a idade
para obstetras como para pediatras. gestacional e o peso ao nascer. Acontece em 9% dos RN <36
Contudo, definir asfixia não é simples e isto faz com que seja semanas e em 0,5% dos > 36 semanas. A incidência é maior em
difícil comparar todos os trabalhos clínicos existentes, uma vez que RN a termo de mães diabéticas ou toxémicas. Independendo da
com freqüência, as definições utilizadas são diferentes. Vários es- idade gestacional, o RCIU e a apresentação pélvica aumentam a
tudos têm evidenciado que o escore de Apgar é insuficiente, como incidência de asfixia. Os RN pós-termo também são de alto risco.
critério único, para o diagnóstico de asfixia perinatal. Uns dos cri-
térios mais usados para caracterizar a presença de asfixia são os Etiologia
da Academia Americana de Pediatria que reserva o termo asfixia
para pacientes que apresentam os seguintes fatores associados: Asfixia pode acontecer antes, durante ou após o parto; 90%
dos casos ocorrem no período ante ou intraparto como conse-
1. Acidemia metabólica ou mista profunda (pH<7,0) em qüência de uma insuficiência placentária. Os casos restantes,
sangue arterial de cordão umbilical; pós-parto, são secundários a doenças pulmonares, cardiovascu-
2. Escore de apgar de 0-3 por mais de 5 minutos; lares ou neurológicas (Tabela 1).
3. Manifestações neurológicas neonatais (ex: convulsões,
coma ou hipotonia);

Causas Maternas Causas Intraparto Causas Fetais Causas neonatais

Primiparidade idosa
Drogas que causam depressão
Malformações.
Imaturidade pulmonar e 393
respiratória (anestesia, narcóti- outros
(mais de 35 anos) Congênitas
cos, Sulf. de Mg) distúrbios respiratórios
Primiparidade adolescente Apresentação pélvica ou
Gemelaridade Tumores intratorácicos
(menor de 16 anos) outras anormais
Diabetes Trabalho de parto prolongado RCIU Anemia
Hipertensão Prolapso de cordão Prematuridade Hemorragia
Toxemia DCP Pósmaturidade Distúrbios metabólicos
Doenças crônicas Hipotensão materna Hidropsia fetal
Anemia Descolamento prematuro
Freqüência e ritmo anormais
(Hb≤10gr/dl) de placenta
Isoimunização Ruptura de cordão RN/GIG
Infecção atual ou antenatal Circular e nó de cordão Poli-hidrâmnio
Ruptura prematura ou
Cabeça derradeira Líquido amniótico meconial
prolongada de membranas
Placenta prévia
Hemorragia anteparto
História prévia de RN com
anomalia congênita ou
doença neonatal grave
História de morte
neonatal anterior
Álcool/droga

Tabela 1. Condições que podem levar a asfixia perinatal

Paulo R. Margotto
Assistência ao Recém-Nascido de Risco

Fisiopatologia Embora as seqüelas sejam mais freqüentemente neurológicas,


jamais devemos esquecer que na asfixia perinatal o acometimento
Durante o trabalho de parto normal as contrações uterinas é multiorgânico e que muitas vezes os pacientes morrem de cau-
produzem diminuição do fluxo sangüíneo para a placenta num sas extra-neurológicas como insuficiência renal aguda ou hiperten-
momento em que o consumo de oxigênio da mãe e do feto está são pulmonar persistente. Perlman e cl. publicaram um trabalho
incrementado. A desidratação e a alcalose respiratória por hiper- acerca de RN asfixiados mostrando: 34% sem evidência de lesão
ventilação, freqüentes neste período, podem também propiciar orgânica, 23% tinham a injúria limitada a um único órgão, 34%
diminuição do fluxo sangüíneo placentário. A convergência destes apresentavam dois órgãos atingidos e 9% evidenciava acometi-
fatores considerados normais leva a uma queda da saturação fe- mento de três órgãos. O alvo mais afetado foi o rim (50%) seguido
tal de oxigênio, porém o feto saudável resiste bem a este stress. pelo SNC (28%), aparelho cardiovascular (25%) e pulmões (23%).
Desacelerações tardias começam a acontecer quando a Pa02 e a
saturação fetal caem abaixo de 20mmHg e 31% respetivamente. Acometimento Multiorgânico Da Asfixia Perinatal
Em fetos de macacos, a bradicardia devida a este grau de asfixia
pode-se manter por varias horas sem produzir encefalopatia. Encefalopatia Hipóxico-Isquêmica
Contudo, alterações ocorrentes neste período crítico, podem
levar à asfixia fundamentalmente via quatro mecanismos: 1) Al- A hipoxia cerebral prejudica o metabolismo oxidativo, obrigan-
terações da oxigenação materna 2) Diminuição do fluxo mater- do a lançar mão da glicólise anaeróbica com o conseqüente in-
no-placentário ou placento-fetal. 3) Alterações na troca gasosa cremento nos requerimentos de glicose, aumento na produção
a nível placentário ou a nível tecidual fetal. 4) Incremento nos de ácido láctico e queda local do pH. Por outro lado, esta via é
requerimentos fetais de oxigênio. menos eficiente na formação de compostos de alta energia (ATP)
Na vigência de hipoxemia e isquemia o feto e o RN reagem e a depleção deste “paralisa” as bombas específicas de íons o
inicialmente produzindo uma centralização do fluxo sangüíneo que leva a um acúmulo intracelular de Na+, Cl-, H2O e Ca++ e a um
visando priorizar o aporte sangüíneo para o cérebro, o coração incremento de K+ e aminoácidos neurotransmissores exitatórios
e as supra-renais, em detrimento dos pulmões, intestino, fígado, (glutamato, aspartato) no extracelular. O incremento de cálcio,
rins, baço, osso, músculo esquelético e pele. Se o insulto per- sódio e água nos neurônios leva, via vários mecanismos, à morte
siste, cessam os movimentos respiratórios, acontece uma queda celular. Se acontecer a re-perfusão de uma área previamente is-
da freqüência cardíaca e um leve aumento na pressão arterial quemiada, a formação de radicais livres contribuirá também à le-
para manter a perfussão cerebral. Este período se conhece como são das membranas neuroniais e da barreira hemato-encefálica.
apnéia primária. A administração de oxigênio suplementar e o es- A apresentação e evolução clínicas vão depender do grau de
tímulo tátil durante este período, levam ao reinicio da respiração acometimento cerebral e da idade gestacional do RN e, embora
espontânea na maioria dos pacientes. não exista um padrão único definido, é útil lembrar a evolução
Persistindo a asfixia, o feto ou RN desenvolve movimentos cronológica sugerida por Volpe:
394 respiratórios profundos, semelhantes a suspiros (gasping), a Nas primeiras 12 horas após o insulto asfíxico os sinais neurológi-
freqüência cardíaca continua a diminuir, a pressão arterial cai cos são de um comprometimento difuso do sistema nervoso. O RN
e o paciente se torna quase flácido Fig 1). Os movimentos res- está comatoso, com respiração irregular ou periódica, hipotônico e
piratórios tornam-se cada vez mais fracos, até o último suspiro, com motilidade espontânea ausente. Os reflexos arcaicos abolidos
quando o RN entra em um período de apnéia chamado de ap- ou hipoativos (Moro, sucção, etc) e reage pouco ou nada a estímu-
néia secundária. Neste período a freqüência cardíaca, a pressão los dolorosos. Embora com movimentos desconjugados do olhar, as
arterial e a Pa02 continuam a cair cada vez mais. Nesta fase o pupilas são isocóricas, em geral mióticas e fotorreagentes. As crises
RN não responde à estimulação tátil e não reinicia a respiração convulsivas podem acontecer já nas primeiras horas.
espontânea. Quanto mais tempo ficar nesta fase maior o risco de Entre 12 e 24 horas de vida, há uma melhora aparente do esta-
lesão cerebral. Este período culmina com o óbito, a menos que a do comatoso e a criança dá a impressão de estar mais alerta (cui-
reanimação efetiva seja iniciada imediatamente (consulte o capí- dado, não se apressar no prognóstico). Entretanto, esta é a fase
tulo de Assistência ao RN na Sala de Parto). em que as crises convulsivas são mais freqüentes, podendo levar
inclusive a um estado de mal epiléptico. Apnéias convulsivas fre-
qüentemente levam o RN ao ventilador mecânico. Os tremores
característicos da síndrome de hiperexitabilidade são comuns e
geralmente confundidos com movimentos convulsivos clônicos.
Pode existir déficit motor nos membros sendo que os membros
superiores são mais acometidos nos RN a termos e os membros
inferiores no RN pré-termos.
Entre 24 e 72 horas de vida acontece, nos quadros mais se-
veros, um aprofundamento do coma e aparecem sinais de com-
prometimento do tronco cerebral, com anormalidades da reati-
vidade pupilar, da motricidade ocular extrínseca, da respiração
(apnéias) e da pressão arterial. Pode ocorrer abaulamento da
fontanela por hipertensão intracraniana. A evolução para o óbito
nestes casos é freqüente.
Após as 72 horas iniciais os sobreviventes mostram regressão
do quadro neurológico. A motilidade espontânea e os reflexos ar-
cáicos estão diminuídos, e a hipotonia muscular é freqüente (a
hipertonia se instala posteriormente). A dificuldade para sugar
incrementa a necessidade de alimentação por sonda e predispõe
a infecções nesta fase.
É importante portanto, chamar a atenção que em um RN com
diagnóstico de asfixia perinatal, deve se aguardar no mínimo 72
Capitulo 10 Distúrbios Neurológicos

horas para esboçar um prognóstico inicial. Não infrequentemen- Metabólicas


te pacientes que “melhoraram” entre 12 e 24 horas de vida evo-
luem com piora significativa posterior. • Hiperglicemia devida à descarga adrenérgica ou hipogli-
cemia por depleção das reservas de glicogênio durante o
Aparelho Cardiovascular processo de asfixia com glicólise anaeróbia.
• Hipocalcemia: Provavelmente decorrente do aumento da car-
• Isquemia miocárdica transitória é freqüente, com sinais ga de fosfato endógeno secundário à lesão celular hipóxica.
de insuficiência cardíaca predominantemente direita e • Hipomagnesemia: causa freqüente de hipertonia, convul-
insuficiência tricúspide (sopro de regurgitação). sões e hipocalcemia persistente.
• A incidência de disfunção miocárdica pós-asfixia é de 24-
60%. Manuseio Do Paciente Com Asfixia Perinatal
• Choque cardiogênico: decorrente de isquemia miocárdica
global ou de necrose e ruptura dos músculos papilares. • Identificação dos fatores de risco mediante cuidadosa
Clinicamente vemos sinais de choque com pulsos débeis, história clínica antes do parto.
bulhas hipofonéticas, enchimento capilar pobre, dificul- • Conhecer os métodos obstétricos de detecção do sofri-
dade de acesso venoso, taquicardia ou bradicardia, etc. mento fetal: retardo do crescimento, perfil biofísico fetal,
eco-Doppler dos vasos do feto e da placenta, monitoriza-
Aparelho Respiratório ção da freqüência cardíaca fetal nas contrações uterinas,
pH fetal, etc. Isto tem por finalidade estar capacitados para
Os efeitos pulmonares incluem redução da síntese de surfac- participar ativamente das discussões com os obstetras.
tante, hemorragia pulmonar e, como causa importante de óbito, • Reanimação na sala de parto seguindo as diretrizes do
a hipertensão pulmonar persistente (HPPN) (diagnóstico diferen- Capítulo Assistência ao RN na Sala de Parto: evitar a hi-
cial com cardiopatia congênita cianótica). Na atualidade, sabe-se pertermia.
que a asfixia por si mesma é capaz de levar a HPPN, sem a pre- • Cabeceira elevada (edema cerebral), evitar a manipulação
sença de aspiração de mecônio. da cabeça (não acessar veias do couro cabeludo). Manter
Lembrar que devido à insuficiência cardíaca direita o pulmão a cabeça na linha média, sem lateralizações forçadas que
mesmo bem ventilado pode estar mal perfundido e levar a insufi- podem diminuir o retorno venoso unilateralmente.
ciência respiratória por desequilíbrio da relação V/Q. • Oferecer um ambiente calmo, com o menor barulho pos-
sível. Embora poucas vezes considerado, o stress sonoro
Aparelho Urinário produz taquicardia, hipertensão e queda da saturação.
• Evitar a manipulação desnecessária.
Insuficiência renal por necrose tubular aguda devida a hipoper- • Acesso venoso central que permita medir a PVC se neces-
fusão e hipoxia renal. Oligúria, anúria ou ainda hematúria. Pode sário. Embora o cateterismo arterial umbilical possa au- 395
haver bexiga neurogênica. mentar o risco de enterocolite, é extremamente útil não
Nos dias subseqüentes deve se atentar para o aparecimento só para coleta de sangue arterial como para a aferição de
de trombose de veia renal ( massa abdominal, imatura, palidez, e pressão arterial média invasiva, muitas vezes necessária
às vezes hipertensão e oligúria). nestes pacientes onde a aferição de PAM com manguito
Embora de origem central, cabe considerar também aqui a sin- fica dificultada e pouco confiável.
drome de secreção inadequado de hormônio antidiurético (SIHAD). • Dieta zero por 72 horas devido ao risco de enterocolite
necrosante. Iniciar alimentação via oral apenas com o
Gastrintestinais quadro cardiopulmonar estabilizado e quando o paciente
tiver eliminado mecônio, estiver com ruídos hidroaéreos
A isquemia e/ou hipoxemia da região mesentérica podem levar presentes e na ausência de distensão abdominal.
a distensão gástrica, resíduo gástrico bilioso ou sanguinolento, • Segundo The Cochrane Database of Systematic Reviews
intolerância à alimentação, melena ou enterorragia. A complica- 2005, não existe evidencia de que a restrição hídrica inicial
ção principal é a enterocolite necrosante. Pode acontecer insufi- seja benéfica. Por um lado estes pacientes podem evoluir
ciência hepática de grau variável. com Sindrome de Secreção Inapropriada do Hormônio Anti-
diurético (SIHAD), mas por outro lado a restrição pode levar
Hematológicas a hipotensão e a piora da insuficiência renal. Por tanto, cada
caso deve ser manejado de maneira individual neste sentido.
Coagulação intravascular disseminada que ocorre por lesão • Monitorizar frequência cardíaca, pressão venosa central,
do endotélio dos vasos sangüíneos, diminuição da produção de pressão arterial, temperatura corpórea, oxímetro de pul-
fatores da coagulação por acometimento hepático e por plaque- so, diurese de horário, densidade urinária. Peso diário ou
topenia decorrente de isquemia da medula óssea. duas vezes por dia.
• Na vigência de oligúria ou anúria passar sonda vesical e
Pele prescrever uma ou duas expansões de 20 ml/kg com soro
fisiológico. Caso não urine, prescrever furosemida 1mgr/kg
A pele é a primeira a ser comprometida na hipoperfusão por dose que pode ser repetida na ausência de diurese. Caso
redistribuição de fluxo e às vezes ajuda no diagnóstico já na sala a anúria persista, não demorar em inicia furosemida contí-
de parto. Pode apresentar palidez intensa, frialdade, enchimen- nua (6mg/k/dia). Lembrar que se o paciente está com boa
to capilar diminuído, áreas rosas de reperfusão enquanto outras quantidade de líquido no intravascular o uso da furosemida
áreas permanecem pálidas ou cianóticas. pode evitar que a insuficiência renal se auto-pepetue.
• Levar registro rigoroso da pressão arterial média (PAM).
• Manter uma adequada perfusão cerebral:

Paulo R. Margotto
Assistência ao Recém-Nascido de Risco

Lembrar que a pressão de perfusão cerebral (PPC) é igual à di- A hipotermia terapêutica pode ser realizada através de duas
ferença entre a pressão arterial média e a pressão intracraniana formas, como a seguir mostram as figuras 2A e 2B: resfriamento
(PIC): PPC = PAM - PIC; portanto se a PIC estiver elevada devido ao seletivo da cabeça (9A ou do corpo inteiro 9B)
edema cerebral, a pressão arterial média deve ser mantida (com
drogas vasoativas) um pouco acima dos valores normais para atin-
gir uma boa PPC. Os valores desejáveis são exibidos na tabela 2.

PAM
RN a termo 45-50 mmHg
RN de 1000-2000 gr 35-40 mmHg
RN < 1000 gr 30-35 mmHg

Tabela 2. PAM desejável no RN asfixiado

Por outro lado, devido à lesão asfíxica, o cérebro perde o meca-


nismo de autorregulação de fluxo, de maneira que a PPC refletirá Fig A
mais fielmente as mudanças da PAM. Aumentos excessivos levam a
hemorragias em áreas com vasos danificados e quedas da pressão
podem levar a perpetuar a isquemia. Evitar portanto, as infusões
rápidas com expansores ou bicarbonato (risco de hemorragia intra-
ventricular). Se o paciente apresentar hipertensão arterial mesmo
tendo suspendido as drogas vasoativas e na vigência de sedação
adequada, não tentar diminuir a pressão, pois pode ser necessária
para manter uma adequada PPC devido ao aumento da PIC.

•A hipotensão arterial severa que não responde às drogas


vasoativas, pode responder a administração de corticói-
de (hidrocortisona 1mg/kg/dose de 8/8 horas).
•Suporte ventilatório. Iniciar com FR: 40 pm; PIM: 20 cm Fig B
H2O; PEEP:4 cm H2O; Tempo insp: 0,35 seg. Fi02 de acor-
do com o oxímetro. Manter a PaO2 e a PaCO2 em valores Sabemos o quão é devastador a ocorrência da encefalopatia hi-
396 normais. A hiperoxia causa diminuição do fluxo sangüí- póxico-isquêmica nos nossos recém-nascidos. Á luz das evidências
neo cerebral e incrementa as lesões por radicais livres. mais atuais, o uso da hipotermia terapêutica para estes recém-
A hipocapnia também diminui o fluxo sangüíneo cerebral, nascidos, iniciando dentro das primeiras 6 horas de vida, melhora
enquanto a hipercapnia leva a vasodilatação cerebral a sobrevida sem incapacidade motora, com menores taxas de pa-
com risco de hemorragias e lesões de re-perfusão. ralisia cerebral e maiores índices de desenvolvimento mental e psi-
•Corrigir alterações eletrolíticas e da glicemia. comotor. a Academia Americana de Pediatria recomenda que RN
•Tratar as convulsões (ver Capítulo de Convulsões Neona- > 36 semanas de gestação com encefalopatia hipóxico-isquêmica
tais). Lembrar que durante a convulsão o cérebro aumen- de leve a moderada receba hipotermia terapêutica. A hipotermia
ta 5 vezes as demandas de glicose. terapêutica deve ser administrada por profissionais capacitados,
•Neuroprotetores: mediante protocolos claramente definidos similares aos utilizados
No estado atual do conhecimento e segundo The Cochrane Da- nos ensaios clínicos publicados (iniciar nas primeiras 6 horas de
tabase of Systematic Reviews 2007, não existe evidencia de que os vida, por 72 horas com reaquecimento em 4 horas) e nas Insti-
anticonvulsivantes, como o fenobarbital, devam ser usados roti- tuições com recursos para tratamento multidisciplinar e acompa-
neiramente nos pacientes asfixiados. Estudo recente mostrou que nhamento longitudinal. A hipotermia apresenta complicações
o fenobarbital profilático associado com o resfriamento de corpo como hipotensão arterial, bradicardia severa, obstrução da cânula
inteiro associou-se com melhores resultados. Parece que é mais traqueal por secreções secas e trombocitopenia Vários ensaios
útil, identificar e tratar as causas que podem levar a convulsões multicêntricos controlados sobre hipotermia induzida (33,5°C a
(distúrbios eletrolíticos, hipoglicemia, hipóxia, hipoperfusão cere- 34,5°C) em recém-nascidos, com idade gestacional ≥ 36 sema-
bral, etc), e tratar as convulsões se aparecerem. nas, apresentando encefalopatia hipóxico-isquêmica de leve a mo-
Também segundo The Cochrane Database of Systematic Reviews derada, demonstraram que os RN resfriados tiveram mortalidade
2008, não existe evidencia de que o uso de alopurinol melhore o significativamente mais baixa e menor deficiência no desenvolvi-
prognóstico destes pacientes. mento neurológico no acompanhamento de 18 meses.
O mais promissor dos neuroprotetores é a hipotermia: Enquanto não dispomos dos dispositivos para aplicar a hipo-
termia terapêutica, nos recém-nascidos a termo e próximo do
Estudos em animais (espectroscopia, histologia) mostram que termo com encefalopatia hipóxica-isquêmica, é importante que:
a hipotermia tem um efeito protetor em nível celular e em áreas ao atendermos os bebês gravemente asfíxicos, o façamos com
vasculares, tanto em modelo neonatal como fetal. A hipotermia o berço de calor irradiante desligado e que se evite a ocorrência
reduz o metabolismo cerebral, previne edema, diminui a utiliza- de hipertermia, devido ao maior risco de morte e incapacidade.
ção de energia documentada pela espectroscopia, reduz a acu- No estudo de Hall e cl sobre hipotermia nos recém-nascidos pré-
mulação de aminoácidos citotóxicos e também do óxido nítrico, termos com enterocolite necrosante, a hipotermia foi alcançada
inibe as caspases inflamatórias, suprime a atividade de radicais em 87% dos casos com apenas o controle ambiental(diminuição
livres, atenua a segunda falha energética, inibe a morte celular e da temperatura da isolete/berço de calor irradiante).
reduz a extensão da lesão cerebral.
Capitulo 10 Distúrbios Neurológicos

Exames Complementares Acometimento Cardiaco

Acometimento Renal Solicitar creatinina fosfoquinase fração MB (CK-MB) e Cardio


Troponinas I e/ou T de rotina em todo paciente asfixiado. Shastri
Solicitar de rotina EAS em todo paciente asfixiado. Quando e cl tem mostrado recentemente uma forte correlação entre os
existe lesão renal evidencia hematúria, proteinúria e cilindrúria. níveis de troponina I com o grau clínico da encefalopatia hipóxico-
Na presença de edema ou oligúria solicitar eletrólitos, uréia, isquêmica e a duração do suporte inotrópico nas primeiras 36
creatinina. Na necrose tubular aguda pode ocorrer hiper, hipo ou horas de vida (custa 1,6 Euros/teste e pode estar disponível rapi-
normonatremia; o potássio, a uréia e creatinina estão elevados. damente). A CK-MB tem sensibilidade de 75,7% e especificidade
A uréia e a creatinina urinarias são utilizadas para calcular a ex- de 56,5%. É detectável após 6 horas do insulto, com pico entre
creção fracionada de sódio (EFNa). Se a excreção fracionada de 12-18 horas, diminuindo rápidamente após 24 horas. Já as tro-
sódio for maior que 2,5, a oligúria é de causa renal. Se a excreção poninas, tem sensibilidade de 97,3% e especificidade de 82,6 %.
fracionada de sódio for menor que 2,5, a oligúria é de causa pré- São detectáveis após 6 horas do insulto, com pico entre 12-18
renal (consulte o capítulo de Injúria Renal Aguda) tabela 3 horas, mas permanecem detectáveis em sangue por 6 a 10 dias.
O incremento das enzimas marcadoras de lesão miocárdica faz
Na urinário/Na sérico pensar em isquemia miocárdica e se possível deve se confirmar
EFNa+ X 100 com ECG. Na insuficiência cardíaca, o RX mostra cardiomegalia.
Uréia urinária/uréia sérica
O eco-Doppler é útil na suspeita de insuficiência tricúspide e é pa-
drão ouro no diagnóstico de hipertensão pulmonar persistente.
Densidade
Peso EFNa+ EAS Acometimento Neurológico
Urinária
Necrose Tubular
↑ ↓ >2,5 Alterado A ecografia transfontanela deve ser realizada precocemente a
Aguda
procura de hemorragias (fundamentalmente em RN pré-termos–
SIHAD ↑ ↑ <2,5 Normal
consulte o capítulo de Hemorragia Intraventricular) e durante a
Desidratação ↓ ↑ <2,5 Normal
evolução da doença com fins prognósticos (cistos porencefálicos,
hidrocefalia,”tálamo brilhante” etc), devendo ser realizada a dop-
Tabela 3. Diagnóstico diferencial de oligúria no RN asfixíco plerfluxometria cerebral para a avaliação prognostica (consulte o
capítulo Ultrassonografia Doppler Cerebral no Recém-Nascido) A
Não demorar 72 horas para solicitar uréia e creatinina do RN em oli- tomografia computadorizada e a ressonância nuclear magnética
gúria, uma vez que o argumento de que os valores refletem os valores mostram melhor a magnitude do edema e as áreas de isquemia.
maternos é valido apenas quando estes valores estão dentro da norma-
lidade. Se um RN asfixiado com 30 horas de vida tem uréia e creatinina Prognóstico Na Asfixia Perinatal 397
elevadas, não há duvida de que se trata de lesão renal do RN.
Para os RN com idade gestacional maior que 36 semanas é
útil aplicar os critérios de Sarnat & Sarnat que classificam a en-
cefalopatia hipóxico – isquêmica em três estágios (ver Tabela 4)

Paulo R. Margotto
Assistência ao Recém-Nascido de Risco

Nível 1 (leve) Nível 2 (moderado) Nível 3 (severo)


Nível de consciência Hiperalerta; irritado Letárgico Comatoso; estupor
Diminuição dos movimentos Diminuição ou ausência dos
Controle neuromuscular Desinibido, hiperreativo
espontâneos movimentos espontâneos
Tono muscular Normal Leve hipotonia Flácido
Postura Leve flexão distal Intensa flexão distal Descerebração intermitente
Reflexos Hiperativos Hiperativos Hipoativos ou ausentes
Mioclonias Presentes ou ausentes Presentes Ausentes
Reflexos primitivos Normais Deprimidos Ausentes
Sucção Débil Débil ou ausente Ausente
Moro Potente, baixo limiar Fraco, incompleto, alto limiar Ausente
Oculovestibular Normal Hiperativo Ausente ou débil
Tonus cervical Regular Evidente Ausente
Sistema Autonómico Mais simpático Mais parasimpático Ambos deprimidos
Respiração Espontânea Espontânea/apnéias Periódica/apnéias
FC Taquicardia Bradicardia Variável
Secreção bronquial e salivar Pobre Profusa Variável
Indiferente, às vezes anisocoria,
Pupilas Midríase Miose
reflexo lumínico pobre
Motilidade gastrointestinal Normal ou diminuída Aumentada/diarréia Variável
Convulsões Ausentes Freqüentes Incomuns
Padrão periódico com fases
Achados no EEEG Normal Precoce: ↓ voltagem generalizado
isoelétricas
Tardio: Padrão periódico convul-
Tardio: Totalmente isoelétrico
sões focais ou multifocais

Tabela 4. Estágios da Síndrome Hipóxico – isquêmica Segundo Sarnat & Sarnat


Fonte: Sarnat & Sarnat. Neonatal encephalopathy following fetal distress: a clinical and electroencephalografic study. Arch. Neurol. 33:696, 1976

• Perlman J. Encefalopatia hipóxico-isquêmica-uso da hipotermia. I Simpósio Internacional


398 De acordo com Sarnat e Sarnat virtualmente 100% dos RN do de Reanimação Neonatal, Belo Horizonte, 17 a 20 de março de 2004. Disponível em www.
paulomargotto.com.br em Asfixia Perinatal. Acesso em 8/9/2008
estágio 1 terão follow- up neurológico normal; 80% dos perten- • Perman J. Prognóstico a longo prazo do recém-nascido asfixiado. I Simpósio Internacional
de Reanimação Neonatal, 17 a 20 de março de 2004, Belo Horizonte. Disponível em www.
centes ao estági02 serão neurologicamente normais; os anor- paulomargotto.com.br em Asfixia Perinatal. Acesso em 10/10/2010
mais serão os que ficaram neste estágio por mais de 5-7 dias. • Legido A. Encefalopatia hiopoxico-isquêmica perinatal. Simpósio Internacional de Neona-
tologia e Neurologia Neonatal, Curitiba/PR 21-23/11/2003. Disponível em www.paulo-
Daqueles com encefalopatia grave (estágio 3) morrerão 50% en- margotto.com.br em Asfixia Perinatal. Acesso em 10/11/2010
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( paralisia cerebral, retardo mental, epilepsia, microcefalia, etc) margotto.com.br em Asfixia Perinatal. Acesso em 4/5/2011
• Evans DJ, Levene MI, Tsakmakis M. Anticonvulsants for preventing mortality and morbidity
Esta avaliação pode ser realizada ao nascer, mas deve ser re- in full term newborns with perinatal asphyxia. Cochrane Database of Systematic Reviews,
2007
petida com 72 horas, com o RN mais estável. Deve também se • Delivoria-Papadopoulos M. Encefalopatia hipóxico-isquêmica:evolução da agressão cere-
bral. XVIII Congresso Brasileiro de Perinatologia, São Paulo, 13 a 16/11/2004. Disponível
atentar para o fato de que a sedação e o uso de anticonvulsivan- em www.paulomargotto.com.br em Asfixia Perinatal. Acesso em 3/62011
tes podem mascarar os resultados desta avaliação. • Chaudhari T, McGuire W. Allopurinol for preventing mortality and morbidity in newborn
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Capitulo 10 Distúrbios Neurológicos

10.11 RETINOPATIA DA PREMATURIDADE

Rodolfo Alves Paulo de Souza, Nilcéia Peclat Lessa,


Rosângela Cândido Marinho, Paulo R. Margotto

Introdução

A retinopatia da prematuridade (ROP) é uma doença vasoprolifera- também é importante para o desenvolvimento normal da vascu-
tiva da retina, de etiologia multifatorial, relacionada principalmente à latura retiniana. Ao sair do ambiente uterino para outro relativa-
prematuridade, oxigenioterapia prolongada e ao baixo peso ao nascer. mente hipóxico, ocorre um down regulation do VEGF, cessando o
No Brasil, recentemente com o desenvolvimento de equipa- crescimento normal dos vasos.
mentos modernos em UTI neonatais vem aumentando a sobrevi- O VEGF, contudo, não é o único no processo de desenvolvi-
da de RN com idades gestacionais cada vez menores e pesos de mento vascular, havendo outros fatores envolvidos. O uso suple-
nascimento cada vez mais baixos. A falha de encaminhamento mentar controlado de oxigênio, apesar de provocar a inibição do
precoce e a falta de preparos de muitos oftalmologistas para fa- VEGF, não impede que a doença se manifeste.
zer o diagnóstico correto e indicar o tratamento apropriado são O fator de crescimento insulino-símile ou insulin-like growth factor
provavelmente os fatores responsáveis pela enorme quantidade (IGF-1) também tem seu papel no desenvolvimento normal da vas-
de crianças cegas anualmente por retinopatia da prematuridade, culatura retiniana. Logo após o nascimento prematuro, as fontes de
que atualmente é a segunda maior causa de cegueira em nosso IGF-1, a placenta e o líquido aminiótico, são perdidas. Na ausência
país, perdendo apenas para o glaucoma congênito. A incidência do IGF-1, o crescimento vascular cessa. Como a demanda metabó-
de ROP no Hospital Regional da Asa Sul (HRAS) é de 32%. lica do olho em desenvolvimento é crescente, ocorre hipóxia, que
estimula a produção de VEGF e conseqüente neovascularização.
Epidemiologia Da Retinopatia Da Prematuridade O efeito do oxigênio sobre esta retina imatura induz à vasoconstri-
ção que, se mantida, produz áreas de oclusões vasculares. O calibre
Segundo a OMS, a principal causa de cegueira no Brasil é a vascular é reduzido em 50%, após poucos minutos de exposição ao
catarata, com aproximadamente 40% dos casos. Em seguida, oxigênio, 4 a 6 horas de exposição reduzem em 80% o calibre vas-
aparecem como maiores causas o glaucoma com 15%, a reti- cular, ainda reversível, porém, após 15 horas de exposição, alguns
nopatia diabética com 7% e a cegueira na infância com 6,4%. vasos periféricos se manterão ocluídos definitivamente.
Dentre as causas de cegueira infantil no Brasil destacam-se a to- Após a remoção do ambiente de hiperoxia, há acentuada pro-
xoplasmose ocular como a principal causa (21-40%). Em seguida liferação endotelial e produção de neovasos, secundária à ação
aparecem o glaucoma congênito (11-18%), a catarata congênita de substâncias vasoativas, produzidas devido ao estímulo da is- 399
(7-19%) e a retinopatia da prematuridade com variação de 3 a quemia retiniana. Condição necessária, mas não suficiente para
21%. As causas de cegueira variaram de acordo com a região o desenvolvimento de neovascularização retiniana, quando ana-
avaliada e com nível sócio-econômico. lisada isoladamente na patogênese da retinopatia, sendo essen-
A organização mundial de saúde estima que existam mais cial a imaturidade retiniana.
de 50.000 crianças cegas por retinopatia da prematuridade no A falta dos antioxidantes tem sido estudada relacionando com
mundo. Dessas 50.000 crianças cegas no mundo, cerca de 48% risco aumentado para ROP, à fisiopatologia ainda é controversa.
(24.000) estão na América Latina. A ROP é uma das mais im- O transporte da vitamina E da circulação coroidea até as célu-
portantes causas de deficiência visual ou cegueira em crianças las fusiformes é feito pelo espaço sub-retiniano através de uma,
nascidas prematuramente. a proteína de ligação intersticial retiniana (PLIR), produzida pe-
Nos últimos anos, tem-se observado aumento no percentual de los fotorreceptores. Acompanhando a vascularização da retina,
crianças com risco de desenvolver retinopatia em razão da introdu- a secreção da PLIR só ocorre após a 22ª semana de gestação.
ção e aperfeiçoamento das técnicas de cuidados neonatais que per- Uma quantidade mínima de PLIR deve ser secretada para suprir
mitem a sobrevivência de crianças cada vez mais prematuras, bem a retina com vitamina E. Em crianças com menos de 27 sema-
como avanços na atenção obstétrica, incluindo maior freqüência de nas a quantidade de vitamina E encontrada não é suficiente para
gestações múltiplas em decorrência das atuais técnicas de auxílio à prevenir a formação de junções lacunares nas células fusiformes
reprodução, bem como aumento na média da idade materna, favo- após estímulo oxidante.
recendo o aumento no nascimento de crianças prematuras. Recentemente, o gene “Tubedow I” foi clonado em laboratório
e possui importante papel na regulação da neovascularização
Patogênese associada a esta retinopatia, constituindo um potencial tera-
pêutico para o futuro.
A fisiopatologia da ROP ainda não está completamente elucida-
da. O desenvolvimento dos vasos sanguíneos retinianos se inicia no Fatores De Risco
quarto mês de gestação. Os vasos crescem a partir do nervo óptico,
alcançando a periferia da retina nasal no oitavo mês e temporal ao A etiologia da ROP permanece obscura, porém vários estudos
termo. Assim, a retina do prematuro encontra-se avascular na pe- sugerem ser multifatorial. Considerar o exame em RN com pre-
riferia por ocasião do nascimento. Após o nascimento prematuro, sença de fatores de risco:
o crescimento vascular normal é interrompido, havendo, também,
obliteração de alguns vasos. À medida que o recém-nascido cresce, 1. Síndrome do desconforto respiratório;
aumenta a demanda metabólica da retina e, como resultado da não 2. Sepse;
vascularização, a retina torna-se hipóxica. Em modelos animais, foi 3. Transfusões sangüíneas;
comprovada a associação entre hipóxia e oclusão vascular. 4. Gestação múltipla;
A hipóxia estimula o fator de crescimento endotelial (VEGF). 5. Hemorragia intraventricular.
Esse fator é angiogênico e provoca a neovascularização. O VEGF 6. Hiperglicemia

Paulo R. Margotto
Assistência ao Recém-Nascido de Risco

Classificação Internacional •Estágio 2: a linha de demarcação observada anterior-


mente cresce em extensão e volume, torna-se rosada e
A Classificação Internacional da ROP leva em consideração a surgem pequenos vasos no plano da retina, posterior-
localização ântero-posterior da retina (zonas I, II e III), extensão mente à linha.
circunferencial da doença (em horas do relógio) e severidade das
alterações retinianas (estágios 1 a 5). A dilatação das veias e
tortuosidade das arteríolas no polo posterior indica doença mais
agressiva “plus”. Mais recentemente foi publicada uma atuali-
zação dessa classificação, sendo reconhecida uma forma grave
de doença posterior, a delimitação da Zona I e a existência da
doença pré-plus.

A localização é feita dividindo-se a retina em três zonas:


•Zona I: Corresponde ao pólo posterior que abrange a área
da papila e 30° ao seu redor;
•Zona II: limites da zona I até a “ora serrata” nasal e equa- Retinografia e representação esquemática do fundo do olho – Estágio 2
dor temporal;
•Zona III: limites da zona II até a “ora serrata” da retina •Estádio 3: representado por proliferação fibrovascular
temporal. extraretiniana. O tecido proliferativo localiza-se continua-
mente à linha de demarcação espessada, causando uma
aparência de ‘’ponte’’ crescendo para o espaço vítreo,
perpendicularmente ao plano da retina. Esta proliferação
fibrovascular pode ser focal ou difusa na transição entre
a retina vascularizada e a avascular.

Representação esquemática do fundo do olho

400

Retinografia e representação esquemática do fundo do olho – Estágio 3

•Estádio 4: caracterizado pela presença de descolamento


de retina, causado por efusão exsudativa, tração ou am-
bos. É dividido em estádio 4a, quando o descolamento
de retina não acomete a área macular. Geralmente estes
descolamentos se localizam na zona II ou III. Podem ser
Retinografia e representação esquemática do fundo do olho normal circunferenciais, quando se estendem em 360 graus, ou
segmentares, ocupando somente a porção periférica da
Estadiamento retina. O estadio 4b caracteriza-se pelo descolamento de
retina acometendo a área foveal, geralmente ocupando
A Classificação Internacional da ROP definiu a doença de acor- as zonas I, II e III.
do com sua gravidade:

•Estágio 1: representado pela presença de uma linha de


demarcação fina, branco-acinzentada, que separa a reti-
na posterior vascularizada da retina periférica avascular,
contida essencialmente no plano da retina

Representação esquemática do fundo do olho – Estágio 4

•Estádio 5: é representado pelo descolamento de retina


total, sempre em forma de funil, sendo subdividido em
funil aberto anterior e posteriormente, fechado anterior
e posteriormente ou menos freqüente, aberto anterior,
Representação esquemática do fundo do olho – Estágio 1 mas fechado posteriormente ou fechado anterior e aber-
to posteriormente. A configuração do funil retiniano pode
ser evidenciada por meio de Ultrassonografia.
Capitulo 10 Distúrbios Neurológicos

O ICROP (International Classification for ROP) definiu a doença Grupo ROP Brasil
limiar pela presença de ROP estágio 3, localizado nas zonas I
ou II com extensão de pelo menos 5 horas contínuas ou 8 horas
intercaladas e com identificação da dilatação arteriolar e venosa
conhecida como doença “plus”.

Exame de RN prematuro no ambulatório de ROP (HRAS)

Retinografia – doença plus Prevenção

Regressão O estudo de Chow e cl, adotando um protocolo mais restrito


de saturação de oxigênio nos RN entre 500 e 1500g (85-95%
Cerca de 80% dos casos de ROP regridem parcial ou totalmen- para RN>=32 semanas e 85-92% para RN<32 semanas,com
te, podendo permanecer alterações na retina periférica ou no desmame do O2 quando a Sat de O2 estava entre 93-95%), dimi-
pólo posterior. nuiu a incidência de retinopatia da prematuridade de 4,5% para
1,5% em 1 ano. Na Sala de Parto e no transporte foram utilizados
Exame blenders e oxímetros de pulsos.. A meta de saturação de 02 na
UTI Neonatal passou a ser 85-93%. Não calibrar o monitor de 02
As diretrizes utilizadas nos Estados Unidos, Canadá e Reino tendo como limite superior 100%. Calibrar entre 80-95%. Esta
Unido podem não ser adequadas para a detecção dos prematu- mudança resultou queda dramática de qualquer retinopatia da
ros em risco de desenvolver ROP grave e conseqüente deficiência prematuridade ou retinopatia com cirurgia a laser. Houve uma
visual em países nos quais os níveis de cuidados neonatais não década para que os clínicos pudessem entender que o 02 podia
sejam equivalentes. Com o objetivo de delinear o perfil dos RN causar dano aos olhos dos prematuros. Está levando 50 anos
de risco que apresentam ROP limiar em nosso país foi realizado para que os neonatologistas entendam que breve exposição à
o I Workshop de ROP, no Rio de Janeiro, em outubro de 2002, hiperoxia pode ser danosa.
com o suporte do Programa Visão 2020 - Agência Internacional de Os estudos mais recentes tem proposto um alvo de Saturação 401
Prevenção da Cegueira (IAPB). Foi organizado pela IAPB, Instituto de 02 entre 88-93%, havendo diferença entre os tipos de oxíme-
Vidi, Conselho Brasileiro de Oftalmologia (CBO), Sociedade Bra- tros de pulsos, sendo preferíveis aqueles que usam tecnologia de
sileira de Oftalmologia Pediátrica (SBOP) e Sociedade Brasileira extração de oxigênio, como o Masimo.
de Pediatria (SBP). Sessenta e sete participantes de 17 cidades
compareceram, entre pediatras e oftalmologistas, com o intuito Preparo Para O Exame Oftalmológico
de discutir a situação da ROP no Brasil.
Países com economias em desenvolvimento e que estão im- Protocolo de exame
plementando ou expandindo serviços de tratamento intensivo
neonatal nos setores público e privado parecem apresentar um •O exame deve ser realizado por oftalmologista com experi-
maior percentual de cegueira infantil em função da falta de ade- ência em exame de mapeamento de retina em prematuros
quada triagem neonatal na busca da doença, estimando-se que e conhecimento da doença para identificar a localização e
das 100.000 crianças cegas na América Latina, 24.000 assim o as alterações retinianas seqüenciais, pois reduz o tempo
são em decorrência da ROP. do exame e conseqüentemente o desconforto do paciente.
De acordo com os dados expostos recomendam as seguintes di- •Midríase por meio da utilização de uma gota de Fenilefri-
retrizes a serem adotadas em todas as unidades neonatais do país: na a 2,5% e uma gota de Tropicamida a 1%, instiladas no
Critérios de exame: fórnice inferior de cada olho, com intervalo de 5 minutos
em cada olho 40 minutos antes do exame.
PN ≤ 1.500g e/ou IG 32 ≤ semanas •Anestesia tópica ocular por meio de colírio cloridrato de
proximetacaína 0,5%.
Considerar o exame em RN com presença de fatores de risco:
•Deve-se ter atenção no sentido de reduzir o desconforto
Síndrome do desconforto respiratório; e efeitos sistêmicos causados pela realização do exame:
Sepse; instilação de colírio anestésico até 3 minutos antes do
Transfusões sangüíneas; exame ( a partir de 5 minutos do início do exame a ação
Gestação múltipla; do anestésico tópico é limitada), auxílio de uma enfermei-
Hemorragia intraventricular ra ou auxiliar de enfermagem para conter o prematuro
(enrolar o bebê), assim como considerar o uso de glicose
Primeiro exame: entre a 4ª e 6ª semana de vida; durante o exame (sucrose) e sucção não nutritiva (chupe-
ta) são métodos utilizados para diminuir a dor.
Para unidades com menores taixas de sobrevivencia um novo •Equipamentos necessários para o exame: oftalmoscópio
criterio está em estudo: binocular indireto (OBI), lente de 28 ou 20 dioptrias, ble-
PN≤1500g e/ou IG≤35 semanas farostato e depressor escleral;
•Avaliação das pálpebras, segmento anterior, cristalino e
segmento posterior, utilizando-se blefarostato neonatal,

Paulo R. Margotto
Assistência ao Recém-Nascido de Risco

oftalmoscópio binocular indireto, lente condensadora de O procedimento deve ser realizado em centro cirúrgico, com
28 D e depressor escleral. os prematuros sob anestesia geral e sendo monitorizado por um
•Sala escurecida. anestesista. A recuperação pós-tratamento deve ser feita na UTI
•Monitorização dos sinais vitais. neonatal como também, realizados os exames semanais subse-
•Avaliação retiniana, iniciando-se pela zona I, zona II e qüentes, retornando à seqüência de avaliação para os estágios
após, a zona III. da doença.
•Registro, por meio do formulário padrão de exame das Tratamento em até 72 horas está indicado:
“Propostas de diretrizes brasileiras do exame e tratamen-
to de retinopatia da prematuridade (ROP)” do grupo ROP Pré-limiar tipo 1:
Brasil; (ANEXO) Zona 1: qualquer estágio com plus
Zona 1: estágio 3
Zona 2: ROP 2 ou 3 com plus
Doença limiar:
Retinopatia estágio 3, em zona I ou II, com pelo menos 5 horas
de extensão contínuas ou 8 horas intercaladas, na presença de
doença plus

Lente de 28 D, depressor escleral, blefarostato neonatal, OBI

Grupo ROP Brasil


Laser de diodo indireto e oftalmoscópio indireto

Tratamento – Novidades

402 A terapia com antiVEGF pode fazer parte do tratamento da re-


Exame de RN prematuro na UTI NEO (HRAS) tinopatia da prematuridade (ROP), mas são necessários mais es-
tudos controlados para avaliar o risco de possíveis complicações.
Protocolo de Seguimento O VEGF está envolvido em todas as etapas do desenvolvimento
vascular retiniano. Ele também está envolvido nos processos me-
O agendamento dos exames subseqüentes deverá ser determi- tabólicos e inflamatórios que levam à formação da neovasculari-
nado pelos achados do primeiro exame: zação extrarretiniana e, finalmente, ao descolamento da retina
em estágios mais avançados da ROP.
•Retina madura (vascularização completa): seguimento Os efeitos sistêmicos do tratamento com anti-VEGF em prema-
com 6 meses (avaliação do desenvolvimento visual fun- turos ainda são desconhecidos, e o risco potencial de complica-
cional, estrabismo, ametropias). ções imprevisíveis não devem ser subestimados. Não existem da-
•Retina imatura (vascularização não completa) ou presen- dos sobre a farmacocinética dessas substâncias em organismos
ça de ROP < pré-limiar: avaliação de 2/2 semanas; em desenvolvimento. O VEGF está envolvido no desenvolvimento
•Retinopatia em regressão: avaliação de 2/2 semanas; de vários órgãos do organismo e constitui, por exemplo, um fator
•Retina imatura, zona I: exames semanais; essencial para a maturação pulmonar, fundamental em bebês
•ROP pré-limiar tipo 2: exames 3-7 dias; pré-termo. A dosagem, o momento adequado e a frequência das
•ROP pré-limiar tipo 1 (zona 1, qualquer estágio com injeções também são questões em aberto.
“plus”; zona I, estágio 3; zona II, estágio 2 ou 3 “plus”) e Atualmente, dois estudos estão sendo realizados. O BEAT-ROP (o
limiar: tratamento em até 72 horas; bevacizumab elimina a ameaça angiogênica da retinopatia da pre-
•Os exames podem ser suspensos quando a vasculariza- maturidade) avalia a segurança da injeção anti-VEGF em olhos trata-
ção da retina estiver completa, idade gestacional corri- dos com fotocoagulação a laser, e o BLOCK-ROP (bloqueio panVEGF
gida de 45 semanas e ausência de ROP pré-limiar, ROP para o tratamento da retinopatia da prematuridade) comparam a
completamente regredida. eficácia da injeção anti-VEGF e a fotocoagulação a laser.

Tratamento Exame Ocular Na Unidade De Neonatologia Do


Hospital Regional Da Asa Sul
Pela possibilidade de complicações anestésicas e oftalmoló-
gicas futuras deve ser obtida autorização dos pais/responsáveis O exame oftalmológico, incluindo a Pesquisa do Reflexo Ver-
para realizar o procedimento, utilizando-se um folheto informati- melho, incorporado ao exame do recém-nascido, permitirá o
vo simples e de fácil compreensão. diagnostico precoce de patologias como a catarata congênita
Método utilizado: Fotocoagulação a laser (ablação) da retina e o glaucoma congênito, que tratados antes do período critico
periférica avascular 360º, anterior a qualquer ROP, utilizando-se (primeiros 3 meses de vida) têm resultados muito melhores. O
laser de diodo indireto. pediatra deve examinar os olhos como faz com deformidades físi-
cas ou como realiza uma manobra de Ortolani. Uma lanterninha
Capitulo 10 Distúrbios Neurológicos

e um oftalmoscópio direto é tudo o que o pediatra necessitará


para realizar o exame. O oftalmoscópio deve ser usado para a
pesquisa do Reflexo Vermelho simultaneamente nos dois olhos
e a lanterna será utilizada para examinar os reflexos fotomotores
e a face, observando assimetrias nas hemifaces. Inspecionar os
supercílios, margens orbitárias, pálpebras, fenda palpebral, cí-
lios, conjuntiva, pontos lacrimais, saco e glândula lacrimal. Con-
siderando-se os olhos propriamente ditos, devem-se observar as
estruturas anatômicas do olho e se existem diferenças no seu
tamanho ou posição. A perda da transparência corneana pode
significar a presença de trauma de parto ou glaucoma congênito.
O teste do Reflexo Vermelho é um exame simples e rápido
(Fig 1). A grande importância do exame é a detecção precoce
de doenças que comprometem o eixo visual. O exame deve ser
feito em penumbra e com oftalmoscópio colocado a aproxima-
damente 1 metro dos olhos da criança, observando-se o Reflexo
Vermelho dos dois olhos simultaneamente. Se for notado um re-
flexo diferente entre os olhos ou a presença de um reflexo branco-
amarelado, esta criança deverá ser avaliada com urgência pelo
oftalmologista (Fig 2). Um reflexo diferente entre os olhos pode
significar grandes diferenças no poder refrativo dos olhos. Ao re-
flexo branco-amarelado visto através da pupila damos o nome de
leucocoria. As mais importantes causas de leucocoria são a ca-
tarata congênita, retinoblastoma, retinopatia da prematuridade
e infecções intra-oculares. O teste do Reflexo Vermelho deve ser
realizado em crianças de qualquer idade, e não só no Berçário,
pois muitas doenças passíveis de diagnostico pelo método po-
dem aparecer mais tardiamente.
Quando houver duvida ou dificuldade em realizar o exame,
uma gota de tropicamide a 0,5% (colírio Mydriacyl 0,5%) 30 minu-
tos antes facilitará o exame por aumentar o tamanho da pupila.

403

Todo o processo de desenvolvimento da visão está na depen-


dência do estimulo visual. A criança necessita “ver” para desenvol-
ver sua visão. Até que a acuidade visual esteja totalmente estabe-
lecida, qualquer obstáculo à formação de imagens nítidas em cada
olho pode levar a um mau desenvolvimento visual, que se tornará
irreversível se não tratado em tempo hábil e uma boa acuidade
visual é importante no desenvolvimento físico e cognitivo normal
da criança. Uma criança com visão subnormal tem seu desenvolvi-
mento motor e a capacidade de comunicação prejudicada porque
gestos e condutas sociais são aprendidos através da visão.
A participação conjunta de pediatras e oftalmologistas nesta
luta para a prevenção da cegueira infantil é fundamental. Levan-
te esta bande ra em sua Unidade Neonatal.

Paulo R. Margotto
Assistência ao Recém-Nascido de Risco

Anexos

Formulário de exame - ROP - Grupo ROP Brasil

404
Capitulo 10 Distúrbios Neurológicos

405

Paulo R. Margotto
Assistência ao Recém-Nascido de Risco

406
Capitulo 10 Distúrbios Neurológicos

407

Paulo R. Margotto
Assistência ao Recém-Nascido de Risco

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Paulo R. Margotto
Assistência ao Recém-Nascido de Risco

10.12 SEGUIMENTO DO RECÉM-NASCIDO DE RISCO (Follow-up)

Mônica de Lima Lemos, Sérgio Henrique Veiga, Rosângela Cândi-


do Marinho, Rita de Cássia Dias, Fernanda dos Reis Macri

O seguimento do recém-nascido (RN) de risco é uma especiali- O programa de Follow-up do HRAS busca acompanhar todas os
dade estabelecida na maioria dos serviços de saúde dos países egressos da UTI neonatal dos grupos acima citados, e alguns encami-
desenvolvidos. No Brasil, os primeiros ambulatórios de Follow-up nhamentos de outras Regionais de Saúde da rede pública hospitalar.
surgiram na década de 80. Neste primeiro momento os cuidados
eram voltados principalmente para os aspectos clínicos dos be- Fluxo De Pacientes
bês acompanhados.
Com o desenvolvimento dos programas, foram ampliados os Os RN mais graves são avaliados ainda durante o período de
objetivos do seguimento, dos quais podemos citar: detecção e in- internação, onde são agendadas as consultas posteriores.
tervenção das alterações do desenvolvimento neuro-psico-motor O maior grupo é encaminhado ao ambulatório pela equipe de
da criança, suporte à família e realização de pesquisas com gru- neonatologia após a alta hospitalar; um terceiro grupo é enca-
pos específicos de RN. minhado após passar pelo exame de ecografia transfontanelar.
Com a ampliação dos objetivos do programa tornou-se neces- Temos também os pacientes egressos de outras UTI neonatais
sária a formação de equipes interdisciplinares para melhor aten- da Rede Hospitalar do DF e Entorno.
dimento da clientela. O ambulatório funciona uma vez por semana, tendo cinco con-
No Hospital Regional da Asa Sul (HRAS), o ambulatório inter- sultas de primeira vez e agenda de retorno aberta.
disciplinar de Follow-up do RN de Risco surgiu em 1999, com o O agendamento das consultas subseqüentes é realizado de
objetivo inicial de triar as crianças com seqüelas neurológicas e acordo com cada caso e de sua necessidade.
acompanhá-las. Atualmente acompanhamos todos os RN pré- A cada consulta é realizado o exame clínico, exame neurológi-
termo abaixo de 1000g, os com alterações neurológicas, dentre co, avaliação visual, avaliação auditiva, avaliação neuro-motora e
outros. Os nossos registros contam com 287 crianças acompa- funcional, e avaliação social.
nhadas, 24 altas e 13 encaminhadas a outros Serviços. Os pacientes são acompanhados até 7 (sete) anos de idade
cronológica, quando então recebem alta ou são encaminhados
Organização Do Atendimento a outros Serviços se fôr necessário.

O programa seleciona os RN de maior risco e estabelece crité- Equipe Interdisciplinar


410 rios para o seguimento:
São priorizados os seguintes grupos: A equipe do ambulatório interdisciplinar de Follow-up do RN de
risco do HRAS é composta pelo neonatologista, neurologista, te-
• Peso ao nascer inferior a 1000g; rapeuta ocupacional, fonoaudióloga e assistente social.
• Asfixia perinatal;
• RN com alterações neurológicas (convulsões, altera- Rotinas De Avaliação
ções tônicas);
• Infecções congênitas; Inicialmente é feita uma ficha de identificação do paciente
• Malformações no tubo neural; com os dados pessoais e as informações colhidas no resumo
• Síndromes genéticas. de alta do mesmo.
• RN com alterações na substância branca cerebral de- As crianças são então avaliados pela equipe interdisciplinar em
tectadas na ecografia cerebral. um mesmo espaço (físico e de tempo) onde cada um colhe as
informações necessárias para uma semi-discussão de caso pos-
Os marcadores da lesão da substância branca incluem: terior. É conversado com a mãe sobre as dificuldades apresen-
tadas ou não pelo bebê, sobre a medicação em uso, e sobre os
• Ecolucência periventricular acompanhamentos necessários para um bom desenvolvimento
• Ecodensidade periventricular (hiperecogenicidade peri- do bebê, tais como fisioterapia, terapia ocupacional, fonoaudiolo-
ventricular) gia, estimulação precoce, etc.
• Ventriculomegalia Após a avaliação, são determinados a periodicidade dos retornos,
os encaminhamentos necessários a outras especialidades, as provi-
As incidências de paralisia cerebral (PC) e retardo mental (RM) dências sociais cabíveis e acompanhamentos extras (da terapia ocu-
estão associados com a extensão do acometimento da substân- pacional e serviço social) que serão realizados no próprio Hospital.
cia branca. Vejam:
Avaliação Da Neonatologia
Frontoparieto-oPICCital – PC: 91% ­- RM: 49%
Opiccital – PC: 67 – RM:23% O objetivo do neonatologista na equipe é o exame clínico do
paciente, visualização do cartão de vacinas, curva de desenvolvi-
Parieto-oPICCital – PC: 91% - RM: 35%
mento, avaliação de peso, estatura, perímetro cefálico.
Parietal – PC: 60% - RM: 23%
È realizada a orientação nutricional, onde há o estímulo ao aleita-
Fronto-parietal – PC: 60% - RM: 8% mento materno exclusivo até o 6o. mês, introdução de frutas, sucos,
Frontal – PC: 6% - RM: 12% sopas, e manutenção do aleitamento até o 2o. ano de vida. Os ali-
PC: paralisia cerebral/RM: retardo mental mentos são sempre oferecidos com colher e os líquidos com copo.
Há um esforço da equipe para se evitar o uso de mamadeiras e
quando a mãe já está usando, é feito um trabalho de orientação
Capitulo 10 Distúrbios Neurológicos

• Azevedo MF, Vieira RM, Vilanova LCP. Desenvolvimento auditivo de crianças normais e de
e convencimento com a Fonoaudiologia e Pediatria, mostrando alto risco. São Paulo, Plexus, 1995.
os riscos e prejuízos para o desenvolvimento da musculatura oro- • Andrade CLR. Fonoaudiologia em Berçario Normal e de Risco. São Paulo, Lovise, 1996.
• Basseto MCA, Brock R, Wajnzetejn. Neonatologia – Um convite á fonoaudiologia. São Pau-
facial e sistema sensório-motor oral. lo, Lovise, 1998.
• Zorzi JL. A aquisição da linguagem infantil. Rio de Janeiro, Pancast, 1993.
• Alisson, J. elliot – A linguagem da criança.Zahar Editores, Rio de Janeiro, 1982
Avaliação Neurológica • Neurologia Infantil,3ª Edição. Diament A, Cypel S, Livraria Atheneu,1996
• Problemas Neurológicos do Recém Nascido, Costa Vaz F.A., Ed.Savier, 1985
• Neurologia Pediátrica,2ª Edición. Fejerman N, Álvarez EF, Editorial Médica Panamericana
Tem sua importância em considerar o exame neurológico normal S.A. 1997.
• Pediatric Neurology, 2ª Edition. Swaiman K F, Ed. Mosby,1994.
para determinada idade. É realizado para identificar anormalidades e • Neuropediatria, Rosenberg S, Ed Savier, 1992.
classificar de acordo com os tipos clínicos, síndromes e intensidade. • Neurociência Básica, 2ªEdição. Guyton AC, Ed.Guanabara Koogan, 1991.
• O’Shea M. Prognóstico do prematuro de extremo baixo peso. follow-up do prematuro ex-
O exame se constitui por observação, teste de reflexos arcai- tremo: como e quando fazer?3º Simpósio Internacional de Neonatologia do Rio de Janeiro,
cos, miotáticos, pares cranianos e medida de perímetro cefálico 30/8 a 1/9/2002.Disponível em www.paulomargotto.com.br em Recém-Nascido de muito
baixo peso(consultado em 10/12/2008)
(consulte o capítulo Exame Físico Neonatal/Exame Neurológico).
È feito também o acompanhamento do paciente após os mé-
todos de estimulação utilizados (terapia ocupacional, fonoaudio-
logia, fisioterapia, etc), para se observar a evolução do mesmo.
O estabelecimento do diagnóstico e plano de ação se dão através
do planejamento do acompanhamento, introdução de outros refle-
xos de acordo com a idade, observação do desaparecimento dos
reflexos arcáicos e tratamento medicamentoso quando necessário.

Avaliação Da Terapia Ocupacional

Cabe ao Terapeuta Ocupacional avaliar junto aos médicos ne-


onatologista e neurologista o desenvolvimento neuro-psico-motor
do bebê, e caso haja disfunção em qualquer uma das áreas, acom-
panhá-lo em sessões semanais objetivando a estimulação global.
Até as quarenta semanas de idade pós-concepcão os bebês
são avaliados pelo Prechtl´s Method on Qualitative Assessment
of General Movements, que consiste na avaliação qualitativa dos
movimentos globais do bebê. Á partir das quarenta semanas de
idade pós concepcão, é utilizado o Alberta Infant Motor Scale
(AIMS), que é uma escala de desenvolvimento de 0 a 18 meses.
411
Avaliação Fonoaudiológica

Pesquisa-se o desenvolvimento da audição, cognição verificando


a necessidade de estimulação, assim como da sucção não-nutriti-
va e nutritiva. É oferecido orientação e auxílio ás mães, e quando
necessário, encaminhamento para tratamentos específicos.

Avaliação Social

Trata-se de anamnese do grupo familiar com vistas a avaliar


os aspectos sociais, relacionais e estruturais que poderão dificul-
tar a adesão ao tratamento do RN. Após o diagnóstico, faz-se os
encaminhamentos necessários para acessar os serviços (passe
livre, benefício do portador de deficiência, apoio social, etc) e me-
didas protéticas cabíveis junto ás autoridades competentes (Vara
da Infância, Conselhos Tutelares). Há casos em que a família con-
tinua o tratamento no sentido de fortalecer as figuras parentais,
tanto na interação com o RN, como na promoção de uma rede
comunitária de apoio familiar.

Alta

A alta é dada aos sete anos de idade, quando são realizadas


avaliações de nível de desenvolvimento.Com os resultados em
mãos é decidido a alta do paciente ou o encaminhamento a outro
serviço, caso se mostre necessário.

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Paulo R. Margotto
Assistência ao Recém-Nascido de Risco

412
Capitulo 11 Infecções Adquiridas

Capítulo 11

Infecções
Adquiridas
Assistência ao Recém-Nascido de Risco

11.1 INFECÇÕES BACTERIANAS

Paulo R. Margotto, Martha Gonçalves Vieira, Marta David Rocha

Introdução

Quando o germe entra no organismo, há estimulação de uma sé- Incidência: 0,1 - 0,4%
Curso fulminante
rie de células a liberar os agentes inflamatórios (citocinas). O agente nascidos vivos
infeccioso e as citocinas ativam a coagulação através da liberação Sequelas neurológicas: Sequelas neurológicas
do fator tecidual pelos monócitos. A endotoxina ou a exotoxina ata- risco de 10 -25% (quando há meningite)
ca os monócitos e o endotélio e estes liberam os interleucinas (IL)
- Interleucina 6, Interleucina 1β, Interleucina 8 e Fator de Necrose Os achados clínicos são fundamentais no diagnóstico de infec-
Tumoral α (TNF-α). Por sua vez, as próprias interleucinas também ção no período neonatal; o grande problema é a inexistência de
agem sobre o endotélio e os monócitos fazendo com que haja libe- dado clínico com certeza de infecção no RN; os sinais clínicos são
ração do fator tecidual. As interleucinas agem sobre os neutrófilos inespecíficos, o que dificulta muito o diagnóstico de infecção com
liberando proteases. O fator tecidual vai atuar sobre os fatores de bases clínicas; assim, necessitamos de uma série de dados. O cri-
coagulação ativando a coagulação. As IL inibem a fibrinólise. tério que usamos para o diagnóstico suspeito de infecção é pelo
O resultado final deste processo é a lesão endovascular difusa, menos 3 sinais clínicos de sistemas diferentes ou 2 sinais clínicos
trombose microvascular, isquemia dos órgãos e falência de múl- de sistemas diferentes (por exemplo: RN com instabilidade térmi-
tiplos órgãos com morte ca, taquipnéia, icterícia precoce, são 3 sinais clínicos de sistemas
diferentes) com um fator de risco materno, como febre, infecção
Fatores De Risco urinária não tratada, bolsa rota maior ou igual a 48 horas.

Maternos Características Dos Agentes Mais Comuns


• Colonização materna pelo Streptococcus do Grupo B (SGB)
• Rotura de membranas > 24 h 1. Streptococcus do Grupo B ( SGB ): 8 a 25% dos RN de
• Febre mães colonizadas se encontram colonizados até cerca
• ITU não tratada de 30 dias.
• Sinais de corioamnionite 2. Staphylococcus Coagulase Positivo (aureus): 40 - 90%
• Leucograma alterado das crianças são colonizadas até o 5° dia de vida, 85%
414 • Vulvovaginite resultante de contatos com os profissionais de saúde.
• Líquido amniótico fétido/purulento Septicemia secundária a foco primário (furúnculo, abs-
cesso, adenite, conjuntivites, pneumonia, osteomielite)
Recém-nascido 3. Staphylococcus Coagulase Negativa (S. epidermidis):
• Prematuridade 83% dos RN são colonizados até o 4º dia de vida, cau-
• Baixo peso sa 10 - 20% das sepse nosocomiais. Clinicamente mais
• Asfixia perinatal importante no período neonatal, é parte da flora normal
• Dificuldade respiratória da pele e mucosas (nasal e umbilical). Fatores de Risco:
• Procedimentos invasivos (intubação traqueal, RN<1500g (6 vezes mais),cateteres umbilicais, nutrição
• Cateterismo de vasos umbilicais, suporte ventilatório) parenteral, derivação ventrículo-peritoneal, suporte ven-
Uso de ranitidina aumenta 5 vezes mais o risco de infecções ( tilatório, inclusive prongas nasais (a presença de corpo
a acidez gástrica pode se um mecanismo protetor contra a coloni- estranho aumenta a infecção em 4,4 vezes mais), anti-
zação respiratória e gastrintestinal com patógenos nosocomiais bioticoterapia prévia (5,4 vezes mais). infecções mais
e subsequente bacteremia; diminui a diapedese dos neutrófilos) comuns: Meningite, enterocolite necrosante, pneumo-
nia, osteomielite, onfalite, abscesso de tecido mole e
Condições do parto couro cabeludo, endocardite (cateter em átrio direito
• Trabalho de parto prolongado, muitos toques vaginais -bacteremia-trombocitopenia persistente - sopro cardía-
• Parto em condições sépticas, domiciliar ou em veículos co). Segundo Miura, a fisiopatotogenia da infecção do S.
• Uso de material não estéril para clampear o cordão epidermidis relacionada à presença de corpo estranho se
• Contaminação com fezes maternas deve à aderência que se estabelece entre a bactéria e o
biopolímero do cateter, com a formação de um biofilme
Características Clínicas E e a produção copiosa de um muco viscoso e exopolissa-
Evolutivas Do RN Com Sepse Neonatal carídeo. Este muco viscoso cobre a bactéria e a protege
contra o antibiótico, imunoglobulinas e a opsoninofagoci-
Precoce Tardia tose. A produção deste muco é significativamente maior
Início< 1 semana, em geral < na criança infectada e pode aumentar se a dose do anti-
Início variável: > 72hs biótico (vancomicina e teicoplanina) for subinibitória.
72 h
65% são prematuros Incidência 5 -25%
Validação da hemocultura do S. epidermidis
Início súbito Mortalidade 10 - 20%
Foco primário: pulmões Cateter venoso central Hemoculturas Consideradas Positivas para Staphylococcus
Mortalidade: 20-50% coagulase negativo (ScoN), segundo Cordeiro GND:
(inversamente proporcional Nutrição parenteral >14dias
ao peso)
Capitulo 11 Infecções Adquiridas

Se os recém-nascidos apresentam Exames Complementares Para


1. três ou mais dos seguintes critérios: Rastreamento De Infecção
• Procedimentos invasivos presentes até duas semanas
antes e depois da coleta da hemocultura: CAVU (cateter • Hemograma (APÓS 12h)
arterial ou venoso umbilical), CVC (cateter venoso cen- • Plaquetas
tral), PICC, dissecção venosa, VM (ventilação mecânica), • Velocidade de hemossedimentação
CPAP nasal, NPT, procedimentos cirúrgicos, drenagem; • Gasometrial arterial
• Quadro clínico (na semana que antecedeu e na sema- • Histopatologia de placenta
na que sucedeu o isolamento do SCoN): taquipnéia e/ou • Interleucinas
episódios de apnéia, hipertermia ou hipotermia e outros • Proteína C Reativa (PCR)
sintomas como hipoatividade, letargia, baixa digestibili-
dade, vômitos, icterícia, distensão abdominal; Interpretação Dos Exames
• Alterações hematológicas e de resposta inflamatória: leu-
cocitose, leucopenia, neutrofilia ou neutropenia, neutrófi- Hemograma/Plaquetas/Gasometria Arterial/Histopatológico
los imaturos e índice I/T aumentados, fração de neutrófi- De Placenta
los dos polimorfonucleares aumentada, plaquetopenia e
proteína C reativa aumentada e • Hemograma com contagem de plaquetas
• uso de antibioticoterapia prévia e de antibióticos especí-
ficos para tratamento do SCoN. A contagem de leucócitos não deve ser realizada imediatamen-
2. Presença de dois sinais clínicos alterados de sistemas te ao nascimento, pois freqüentemente será NORMAL, pois são
orgânicos diferentes (respiratório, circulatório, instabilida- necessárias várias horas para que se desenvolva a resposta in-
de da temperatura, dificuldade na alimentação, alteração flamatória. Havendo sepse, obter a contagem de leucócitos com
hematológica) e um procedimento invasivo. 12 horas de vida (vai ser muito mais informativa).
3. Envolvimento de um ou dois sistemas orgânicos e que Alterações na dinâmica dos neutrófilos (critérios de Manroe):
não receberam antibioticoterapia específica e foram a óbito. vide gráficos

Hemoculturas consideradas contaminadas para Staphylococcus • Leucopenia < 5000/mm3


coagulase negativo (ScoN): • Leucocitose >25000/mm3
• Contagem de plaquetas:<150000mm3
Se os recém-nascidos apresentam
1. Apenas fatores de risco para infecção (CAVU, CVC, PICC, Levar em consideração que existem várias situações clínicas
dissecção venosa, VM, CPAP nasal, NPT, procedimentos que por si só alteram a dinâmica dos neutrófilos (tabela junto aos
cirúrgicos, drenagem) e/o u apenas um dos sistemas or- índices de Manroe) 415
gânicos acometidos ou Para os RN de peso ao nascer abaixo de 1500g, têm sido des-
2. Evolução satisfatória do quadro infeccioso sem o uso crita diferença no número de neutrófilos totais no limite inferior
de antibióticos específicos ou o isolamento concomitante em relação aos outros RN maiores, sendo preconizado para es-
de outro agente etiológico em hemocultura. tes RN o gráfico de Mouzinho e cl. (tabela no final do capítulo)
3. Listeria: Contaminação: transplacentária ou canal do
parto. Manifestações clínicas precoces associadas à do- • Gasometria: acidose metabólica persistente nas 24 h
ença materna. Tardias: RN de termo, bom estado geral, (pH < 7,25 e HCO3 < 15)
ocorre febre, irritabilidade e meningite (96%).
4. Enterococos: 20% dos enterococos encontrados no • Histopatológico Da Placenta: corioamnionite
sangue são contaminação da pele. Infecção tardia: disse-
minação rápida, acomete RN pré-termo submetido a pro- • Interleucinas
cedimentos invasivos - 17% dos casos são enterocolite As citocinas são glicoproteínas de baixo peso molecular, produzi-
necrosante (ECN). Sepse precoce: leve, bom prognóstico. das pelos monócitos, macrófagos e células endoteliais; são media-
5. Enterobactérias: E. coli, Klebsiella, Enterobacter, Pseu- dores da resposta inflamatória e agem através da ligação de recep-
domonas, Serratia: Colonização antes ou após o parto. Na tores nas células alvo. São mediadores muito precoces da resposta
grande maioria causam doença tardia. Pneumonias, abs- inflamatória. O TNF-α tem o seu pico em torno de 1h após o início
cessos pulmonares, empiema, artrite séptica, infecção do processo e cerca de 3 horas, desaparece da circulação. A IL-1β
do trato urinário. alcança o pico com mais ou menos 2hs após o início do processo
6. Anaeróbios: 1 a 25% das hemoculturas positivas no infeccioso e desaparece com 4hs. A IL-6 alcança um pico com
RN. Flora normal da pele, boca, intestino e trato genital. 3hs e desaparece 6hs depois. Assim, as interleucinas (IL) aumen-
Colonização: durante ou imediatamente antes do nasci- tam precocemente e desaparecem rapidamente. Vejam vocês a difi-
mento. Germes mais frequentes: Bacteroides sp (fragilis), culdade em usar estes mediadores inflamatórios para o diagnóstico
Clostridium( perfrigens, septicum). de infecção. Por outro lado, as IL podem aumentar por outros moti-
7. Fungos: 26% da colonização via canal de parto; 5% dos vos que não necessariamente sejam infecção.
RN muito baixo peso tem infecção fúngica. Infecção preco- Assim, podemos dizer que as IL, se coletadas precocemente
ce: antes de 2 semanas: Candida albicans, Candida. tropicais. são altamente sensíveis no diagnóstico de infecção, porém pou-
Infecção tardia: Candida. parapsilosis, Candida. lusitaniae, Can- cos específicas (temos muito falso -positivo).
dida. glabatra. Fatores predisponentes: antibioticoterapia de
largo espectro ou prolongada, peso ao nascer < 1500 g, • PCR (Proteína C Reativa)
cateter central, NPT (nutrição parenteral total) prolongada, A PCR está sendo ressuscitada no diagnóstico da infecção no
ECN ( enterocolite necrosante), intubação orotraqueal.(con- período neonatal e como guia de tratamento. A primeira coisa
sulte o capítulo Infecções Fúngicas). que devemos saber é que a PCR é sintetizada no fígado em res-
posta às citocinas pró-inflamatórias; aumenta 24-48hs após o

Paulo R. Margotto
Assistência ao Recém-Nascido de Risco

início do quadro de sepse, porque existe primeiro a invasão bac- ção confirmada, no ponto de corte de 0,5ng/ml a sensibilidade no
teriana, a posterior liberação das citocinas, e estas é que vão diagnóstico da sepse foi de 94% para PCT versus 78% para a PCR
produzir a liberação hepática da PCR (o seu nome é derivado da no ponto de corte de 0,8mg%). A PCT diminuiu mais rapidamente
capacidade de interagir com o polissacarídeo C do pneumococo). que a PCR, com a introdução da antibioticoterapia.
Já com 12-24 hs, a PCR tem alta sensibilidade no diagnóstico da
infecção e alto valor preditivo negativo (2 PCR normais, excluindo Exames Laboratoriais Ao
a colhida ao nascimento, têm um valor preditivo negativo de 99%). Se Decidir Iniciar O Antibiótico
A PCR não é precoce (a sua elevação ocorre após a instalação
da infecção). Não vamos querer fazer o diagnóstico precoce de Na sepse precoce, procuramos testes diagnósticos com alta
infecção com o uso da PCR. A vida média da PCR é mais lon- sensibilidade e alto valor preditivo negativo. Quando solicita-
ga (cerca de 19hs); a PCR pode aumentar significativamente na mos exames laboratoriais, não é para dizer que esta criança está
fase aguda da infecção. infectada; o que queremos caracterizar é que aquela criança não
Quanto à utilização da PCR para a suspensão do antibiótico: está infectada e você quer parar o antibiótico ou não iniciar.
já que não temos condição de realizar um diagnóstico preciso de
infecção, que pelo menos possamos evitar tratar por 7-10 e até • Hemocultura : colher 1 ml de sangue
14 dias estes RN. Hemoculturas com adequado volume de sangue têm maior pro-
No estudo de Bomela e cl, realizado na África do Sul envolven- babilidade de tornarem-se positivas em relação às culturas com ina-
do 100 RN com suspeita de sepses, o antibiótico foi suspenso se dequado volume de sangue; na prática clínica grande proporção de
PCR ≤ 10mg/l e apenas 1 retornou ao antibiótico (hemocultura). hemoculturas é negativa devido a inadequado volume de sangue
O valor predictivo negativo foi de 99%, ou seja, a PCR repetida colhido: quanto mais sangue, maior será a probabilidade da hemo-
estimou corretamente 99 de 100 RN neste estudo como não re- cultura ser positiva (0,5 ml: 80% de probabilidade de ser positiva; 1
querendo antibioticoterapia posterior. ml: 97% de probabilidade de ser positiva e 2 ml de sangue: 100% de
No estudo de Ehl S e cl, duas PCR abaixo de 10mg/l, hemogra- probabilidade de ser positiva; 0,5 ml de sangue é inadequado quan-
ma normal, clínica discutível, o antibiótico foi suspenso no 4º/5º to à sensibilidade e o tempo na detecção da bacteremia)
dia de vida (RN acima de 1500g ao nascer, não intubados e sem Quanto tempo esperar para declarar uma hemocultura negati-
cateteres centrais). PCR menor que 10mg/l determinada 24 hs va? Basicamente, 99% das culturas (sistema automatizado) para
após o início do antibiótico identificou corretamente 120 de 121 bactérias torna-se positiva em 36 horas, sendo este tempo mais
RN como não necessitando do antibiótico posteriormente. Levar do que suficiente para excluir sepse nos recém-nascidos assinto-
em consideração se é uma sepse precoce ou sepse tardia (adqui- máticos, e 3 dias de incubação são suficientes para detectar todas
rida no hospital) ou sepse tardia comunitária. as infecções clinicamente importantes . No estudo de Garcia-Prats
A PCR persistentemente negativa em um RN com sepse com- JA e cl virtualmente todas as hemoculturas para microrganismos
provada indica prognóstico ruim. Isto ocorre em consequência à gram-positivos e gram-negativos foram positivas após 24 a 36 ho-
416 falência hepática que acompanha a sepse grave. Em pacientes ras de incubação; culturas crescendo S .epidermidis foram virtual-
cuja resposta inflamatória foi suprimida com o uso do esteróide, mente todas positivas após 36-48 horas de incubação.
o nível de PCR pode tornar-se indetectável. A PCR parece ser útil
como um dado adjunto no processo decisório. Em muitas oca- • Líquor: A punção lombar deverá ser realizada quando:
siões, quando as culturas persistem negativas, uma elevação 1. Quadro instalado de infecção
do número de leucócitos associada a alterações na dinâmica 2. Na troca do antibiótico
dos neutrófilos e elevação da PCR, é motivo suficiente para se 3. Nos RN procedentes de outras Unidades Hospitalares.
iniciar a antibioticoterapia. Mesmo sem infecção confirmada Há evidências de que a realização da punção lombar acarreta
por cultura os autores notam com frequência que a PCR vol- efeitos adversos na frequência cardíaca e na saturação de oxigê-
ta aos níveis normais depois do início do tratamento. Deve-se, nio. Também há evidências da falta de benefícios diagnósticos
porém ter cautela ao se decidir interromper um tratamento (não foram encontrados casos de meningite em 244 RN a termo
apenas baseado nesse indicador indireto. Ao avaliar o seu nível, assintomáticos com fatores de riscos obstétricos; em 799 RN,
considerar o valor preconizado no kit que o laboratório utilizou. foram encontrados meningite em 2,5% quando estavam presen-
Várias condições não infecciosas influenciam os valores da PCR tes sintomas clínicos, com ou sem fatores de riscos; em 238 RN
nos primeiros dias de nascimento como,asfixia perinatal, síndrome pré-termo com membrana hialina, não se encontrou meningite
de aspiração meconial, trabalho de parto prolongado, aplicação do em nenhum deles, devendo a punção lombar ser realizada nes-
surfactante, hemorragia intraventricular, pneumotórax. tes RN na presença de sintomas ou outros riscos, além do des-
conforto respiratório; em mais de 177 RN com Doença da mem-
• Procalcitonina brana hialina avaliados para meningite, Weiss e cl detectaram
Numerosos estudos clínicos têm evidenciado que a procalcito- patógenos no LCR em apenas 4 RN e três destes apresentavam
nina (PCT) pode ser melhor na identificação de infecção. Estudos bacteremia pelo mesmo patógeno). Embora não haja evidências
em adultos, crianças e RN têm evidenciado que a PCT aumenta de efeitos neurológicos, há consenso para se evitar este proce-
na inflamação sistêmica, especialmente na infecção bacteriana. A dimento nos RN, principalmente pré-termo extremos, nas pri-
procalcitonina gera a calcitocina nas células C da glândula tireóide. meiras 72 horas.
A origem da PCT relatada durante a sepse é extratireoidea e pen- Bioquímica, citologia, bacterioscopia, pesquisa de agente bac-
sa-se que a sua secreção seja induzida pelas toxinas bacterianas. teriano e cultura. A punção lombar é contra-indicada no bebê com
Vazzalwar R, e cl compararam a sensibilidade e especificidade da contagem de plaquetas abaixo de 50.000/mm3 ou instabilidade
PCT com a da PCR na predição da sepse tardia nos RN pré-termo cardiovascular. Não retardar o tratamento caso não seja realizada
de muito baixo peso. No ponto de corte de 0,5ng/ml, a PCT foi
mais sensível que a PCR na detecção da sepse tardia (neste pon- • LCR na meningite:
to de corte para todos os grupos, infecção confirmada, infecção deve ser feito imediatamente
provável, infecção possível, a sensibilidade para o diagnóstico da células > 15/mm3 suspeito
sepse foi de 97%; para a PCR no ponto de corte de 0,8mg%, a > 20/mm3 meningite
sensibilidade foi de 72%.; analisando somente o subgrupo infec- glicose: 80 % de glicemia
Capitulo 11 Infecções Adquiridas

proteína: >100mg% → Hemograma e PCR com 12-24-48h


No caso de acidente (considerar punção atraumática quando ≤ Considerar para estes RN uso do antibiótico empírico frente
1000 hemácias/mm3) aos seguintes achados clínicos:

• Descontar hemácias do número células 1. Doença da Membrana Hialina que não corresponde a
nº de hemácias ÷ 700 ou quando possível, surfactante e que cursa com hipotensão necessitando de
Nº de hemácias do hemograma ÷ Nº de leucócitos do hemogra- drogas vasoativas
ma e dividir o Nº de hemácias do LCR por este quociente 2. Acidose metabólica que persiste mesmo após a correção
3. Hiperglicemia
• Descontar proteínas 4. Distermia (não aceitar mais do que 1ºC entre uma tem-
Para cada 1000 hemácias, descontar 1,5mg% peratura e outra)
5. Má perfusão
• Cultura de urina
Só por punção supra-púbica e após 72 h de vida. Antes disso a po- Após resultados de cultura, PCR diário (3 dias) e conforme evo-
sitividade é incomum, salvo em casos de malformações congênitas. lução clínica/laboratorial, suspender o antibiótico.
A decisão mais importante está na retirada do antibiótico. Se a tria-
gem for positiva e a cultura for positiva, considerar como infecção
Acompanhamento Dos RN
Em Tratamento De Sepse Neonatal Tratamento

No 4º dia de tratamento: Se a triagem for negativa e o RN tem boa aparência, usar o


• Hemograma controle para nova pontuação hematológica antibiótico por 48 horas. (Lembrar que após 36 horas, 99% das
• Proteína C reativa hemoculturas para bactérias tornam-se positivas; culturas cres-
cendo s epidermidis foram virtualmente todas positivas após 36-
Avaliação Clínica Objetiva: 48 horas de incubação).
Coloração cutânea alterada Se a triagem for positiva e a hemocultura for negativa, tratar
Bradicardia ou taquicardia por 7 dias se a mãe não recebeu antibióticos intraparto e 48
Enchimento capilar horas se a mãe recebeu antibióticos intraparto.
Desconforto respiratório O uso prolongado de antibioticoterapia empírica, além de pro-
Hipoatividade piciar o risco de surgimento de cepas resistentes, nos recém-nas-
Sintomas gastrintestinais cidos de extremo baixo peso (<1000g) pode aumentar o risco de
Apnéia sepse tardia (2,45 com IC de 1,28-4,67) enterocolite necrosante
Distúrbios hematológicos e morte (1,30 com IC de 1,1-1,54 – p>0,01) e a combinação de 417
Hepatomegalia sepse tardia, enterocolite necrosante ou morta (2,66, com IC de
Hipotermia ou hipertermia 1,12-6,3). Estudos realizados em animais demonstraram que o
Distermia (diferença maior que 1º C entre uma e outra temperatura) tempo prolongado de antibióticos altera o desenvolvimento fi-
siológico e imunológico intestinal, podendo estar associado com
Antibioticoterapia aumento do risco de enterocolite necrosante. Além disso, a redu-
ção da flora bacteriana pode predispor a colonização por fungos
Critérios para uso da antibioticoterapia precoce: RN de risco aumentando o risco de candidíase neonatal.
RN Assintomático com IG ≤ 34 semanas com os seguintes fa-
tores clássicos: 1. SEPSE precoce

• Bolsa rota >= 24h Ampicilina+Gentamicina


• Corioamnionite
• Infecção urinária não tratada ou tratada < 72h do parto Aguardar resultado de hemocultura

• Febre materna
• Leucocitose materna
• Líquido amniótico fétido ou purulento Hemocultura negativa Hemocultura positiva
+
• Colonização materna pelo Streptococcus do grupo b Evolução ruim
• Gemelaridade (risco de infecção pelo Streptococcus au- Ajustar (antibiótico sensível)
menta 5 vezes): < 1000g
Observar as condições clínicas e
optar por drogas mais específicas
A prematuridade sem causa aparente não deve constituir uma segundo o perfil hospitalar
causa determinante para o uso de antibiótico
→ Hemograma, PCR( Proteína C Reativa), Hemocultura: cefepime + amicacina
iniciar Antibioticoterapia vancomicina + meropenem
→ Fazer PCR diário (3 dias) Outros: piperacilina + tazobactan(TazocinR),
ciprofloxacin, trimetoprim, astreonam
A delimitação da IG ≤ 34 semanas provavelmente corresponde
à idade gestacional na qual se inicia o aparecimento de substân-
cias protetoras no líquido amniótico: peptídeos catiônicos, betali- Antes de iniciar ou trocar o esquema de antibiótico, devem ser
sina, complexo de zinco, transferrina, peroxidase e também todas colhidas as culturas (no caso de troca do esquema de antibióti-
as classes de imunoglobina. cos, recomenda-se colher material para cultura 30 minutos an-
RN Assintomático com IG ≤ 34 semanas sem os fatores de tes da próxima dose de antibiótico, ou seja, no nível mínimo).
riscos clássicos e RN com IG > 34 semanas com ou sem os Evitar o uso de cefalosporinas, entre as quais cefoxitina (deve
fatores de risco clássicos: ser usada apenas na profilaxia de cirurgia e por apenas 3 dias:

Paulo R. Margotto
Assistência ao Recém-Nascido de Risco

a resistência é induzida para ela e para todo o grupo de cefa- dade de Cuidados Intensivos Neonatal. A incorporação de fatores
losporina ou betalactâmicos) e as cefalosporinas de 3ª geração adicionais, como tempo de ventilação, cirurgia, hipertensão ma-
(cefotaxima/ceftazidima). A cefalosporina de 4ª geração (cefepi- terna, melhora o desempenho do escore.
me) tem o mesmo espectro, induz menos resistência e o custo é Temos valorizado o seguinte escore de três pontos, significan-
basicamente o mesmo. do um rastreamento laboratorial positivo para o diagnóstico da
O surgimento de S. aureus completamente resistente a vancomi- sepse tardia:
cina-VRSA- (descrito em adultos) e de beta lactamases de espectro
ampliado (BLEA), produzidas por algumas cepas de germes gram- • Hemograma alterado: 2 pontos ( leucopenia ou leucocito-
negativos multirresistentes (como Klebsiella, E. Coli) aponta para se, granulações tóxicas ou ao menos duas alterações nos
maior cautela no uso de antibióticos de largo espectro, e ressalta critérios de Manroe)
a necessidade de programas para prevenir a propagação de mi- • Plaquetopenia : 1 ponto
crorganismos resistentes a antibióticos e controlar o uso de drogas • Acidose metabólica persistente : 1 ponto
antimicrobianas no ambiente de assistência à saúde.
O esquema inicial de antibióticos deve ser baseado no conhe-
2. SEPSE tardia cimento epidemiológico de resistência bacteriana da Unidade;
A sepse nosocomial ocorre frequentemente na UTI Neonatal e considerar a possibilidade de rodízio de esquema de antibióticos,
necessita de diagnóstico e tratamento rápido. Na sepse preco- principalmente as cefalosporinas de 3ª geração.
ce os critérios clínicos e laboratoriais e os fatores de risco estão Proceder ao seguimento como na sepse precoce.
bem estabelecidos.
Mahieu e cl investigaram quais sinais e sintomas estão asso- Duração Do Tratamento
ciados com sepse nosocomial, particularmente sepse associada
ao cateter, e quais dados hematológicos podem ser usados como Depende da gravidade e presença de foco infeccioso. Não ha-
marcadores para a sepse nosocomial. Finalmente os autores in- vendo, manter por 7-10 dias no mínimo.
vestigaram se estes dados, clínicos e laboratoriais no RN podem
ser usados para o diagnóstico de sepse nosocomial. Assim, os 1. Pneumonias
autores avaliaram o valor diagnóstico de um escore global (esco- S. aureus - Oxacilina mínimo 21 dias
re NOSEP), combinando estes itens. Vancomicina (MRSA: methicillin resistant Staphylococcus au-
Os autores mostraram que a presença do cateter venoso cen- reus): 21 dias
tral, hospitalização prolongada e o uso da nutrição parenteral S. epidermidis - Vancomicina 14 dias
> 14 dias estiveram fortemente associados com sepse nosoco- Pseudomonas - Meropenem ou Ceftazidime + aminoglicosídeo,
mial, sendo que a nutrição parenteral foi o único fator indepen- mínimo de 14 dias.
dentemente associado. Klebsiellas - Cefepime + aminoglicosídeo, 10 a 14 dias.
418 O episódio de febre (>38,2ºC) foi o melhor sinal clínico associa-
do com sepse nosocomial, mesmo em prematuros (valor prediti- 2. Celulites -
vo positivo de 65%). Oxacilina + aminoglicosídeo ou cefalosporina de 3ª geração,
O maior valor do NOSEP é a sua habilidade no auxílio clínico na 7 dias.
tomada de decisão para o tratamento clínico dos RN com sepse
nosocomial presumida. O escore contém 5 itens, é fácil de apli- 3. Abscesso mamário -
car à beira do leito sem necessidade de técnicas laboratoriais Oxacilina 5 - 7 dias, adaptar com resultado de cultura.
complexas ou cálculos. O escore NOSEP é baseado em critério
objetivo e é independente da experiência dos médicos. 4. Osteomielite/ Artrite séptica - mínimo de 21 dias
S. aureus – Oxacilina*/Vancomicina (MRSA). A oxacilina tem
ESCORE NOSEP : Sen: sensibilidade; VPN: boa penetração articular.
valor preditivo negativo Agente desconhecido : oxacilina + cefotaxima
A avaliação ortopédica mandatória, fazer controle do tratamen-
to com VHS
Item Diagnóstico Pontos Curva ROC
5. Meningite: Na sepse precoce: Ampicilina+ Gentamicina
PCR ≥ 14 mg% 5 0,68
Na sepse tardia: Usar o esquema antibiótico para sepse tardia
(cobertura para patógenos predominantes na Unidade). Deve-se
Plaquetas ≤ 150.000/mm³ 3 0,61
garantir cobertura para:
S. aureus e S. coagulase negativa (Oxacilina ou Vancomicina)
Fração de Neutrófilo > 50% 5 0,60 Gram -negativos - Aminoglicosídeo ou cefalosporinas de 3a ou
4a geração
Febre (> 38,2C) 6 0,61
Pseudomonas - Meropenem ou Ceftazidime ou Astreonan ( am-
bos associados a um aminoglicosídeo)
Nutrição Parenteral ≥ 14 dias 5 0,66
Stenotrophomonas maltophilia: sulfametoxazol+ trimetoprim
Flavobacterium meningocetico: frequentemente sensível à ri-
Sens:95% fampicina e rifocina
ESCORE NOSEP ≥8
VPN:93% Duração do tratamento na meningite: 2 semanas após a este-
rilização do líquor

Os autores sugerem que cada centro que deseje usar o esco- • Gram positivos = 14 dias
re NOSEP identifique os níveis ótimos das 5 variáveis do escore • Gram negativos= 21 dias
NOSEP e faça modificações antes da sua implementação na Uni-
Capitulo 11 Infecções Adquiridas

Praticamente existe um consenso de que a terapêutica deva Principais Antimicrobianos


ser estendida pelo menos duas semanas após a esterilização do
líquor. Os germes gram-negativos são mais difíceis de serem er- CEFEPIME (Maxcef): cefalosporina de 4ª geração
radicados (alguns destes RN apresentam cultura do líquor positi- A forma mais utilizada para classificar as cefalosporinas é
va 3-4 dias após o início do antibiótico) aquela em que os diversos compostos são agrupados em gera-
Se a resposta clínica é adequada, não é necessário controle li- ções. Essa classificação baseia-se na cronologia da introdução
quórico. Se a evolução não for boa, fazer nova punção. Se houver das drogas no mercado e na sua atividade antibacteriana.
alteração quimiocitológica ou crescimento bacteriano após 48h As cefalosporinas de primeira geração apresentam boa atividade
de tratamento a terapêutica precisa ser reavaliada. Não existe contra bactérias gram-positivas e ação muito menos expressiva con-
consenso na literatura a respeito da repetição do líquor próximo a tra os germes gram-negativos. Exceção feita ao enterococo, Staphylo-
término do tratamento. Não usamos dexametasona como terapia coccus aureus meticilinorresistente e Staphylococcus epidermidis, a
adjunta, uma vez que não se demonstrou melhora no prognóstico. maioria dos cocos gram-positivos é suscetível a elas.
Complicações: Grande parte dos anaeróbios encontrados na cavidade oral
também é sensível, mas Bacteroides fragilis é resistente. A ativi-
• Efusão subdural dade contra Moraxella catarrhalis, E. Coli, Klebsiella pneumoniae e
• Abscesso cerebral: letargia, persistência da febre, con- Proteus mirabilis é boa.
vulsões e às vezes sinais de lateralização - LCR: 18 -100 As cefalosporinas de segunda geração têm maior atividade
cel (predomínio de linfócitos). Uma das mais devastado- contra microrganismos gram-negativos, embora bem menos in-
ras complicações da meningite bacteriana tem sido a for- tensa que a apresentada pelas cefalosporinas de terceira gera-
mação de abscesso (ocorre entre 1% e 18% dos RN com ção. Alguns representantes deste subgrupo são ativos contra B.
meningite), com significante mortalidade (15% a 75%) e fragilis: é o caso da cefoxitina.
mais de 66% dos sobreviventes apresentam seqüelas Já as cefalosporinas de terceira geração geralmente são menos
neurológicas. As espécies mais envolvidas na formação ativas contra germes gram-positivos, se comparadas às cefalospo-
de abscessos são as espécies Citrobacter e Enterobacter. rinas de primeira geração. Contudo, são bem mais eficazes contra
Em mais de 77% dos pacientes com Citrobacter koseri germes da família Enterobacteriaceae, incluindo as cepas produ-
(antigamente C. diversus). A maior característica patoló- toras de betalactamase. Alguns destes agentes (ceftazidima e ce-
gica da meningite por Citrobacter é a vasculite seguida foperazona) são também ativos contra Pseudomonas aeruginosa,
pelo infarto com necrose e liquefação de grande parte embora menos ativos que outros agentes deste mesmo subgrupo
da substância branca dos hemisférios, podendo ocorrer contra cocos gram-positivos.Interessante que as bactérias do gru-
também necrose hemorrágica e liquefação po CESP (Citrobacter, Enterobacter, Serratia, Proteus) podem induzir
• Ventriculite: (73 a 100%) Uma inadequada resposta tera- a produção de uma betalactamase cromossomial (ampi C) durante
pêutica, sugere esta possibilidade; na maioria dos casos, a terapêutica com cefalosporinas de terceira geração, devendo-se
leva a hidrocefalia precoce com sinais de hipertensão in- neste caso usar uma cefalosporina de quarta geração. 419
tracraniana: apnéia, pulso lento e aumento do perímetro As cefalosporinas de quarta geração têm espectro aumentado
cefálico; o diagnóstico é feito com punção ventricular e o de ação quando comparadas às de terceira geração. Apresentam,
LCR mostra o número de células igual ou maior que 50 além disso, maior estabilidade diante da hidrólise mediada por be-
ou cultura positiva. talactamases transmitidas por plasmídeos ou cromossomos.
A cefepime é utilizada no tratamento de pacientes pediátricos com
Preditores de prognóstico adverso são: convulsões, coma, uso infecção adquirida na comunidade ou, sobretudo em hospitais; a ce-
de inotrópicos e leucopenia. fepime assegura uma configuração antibiótica com três vantagens
As anormalidades no US craniano estão presentes por volta principais: a) rápida penetração na membrana externa das bactérias
de 65% das crianças com meningite bacteriana, chegando, no gram-negativas, b) alta potência bactericida contra agentes gram-
entanto a 100% com 48 horas de vida nos casos de deterioração negativos e gram-positivos e c) excelente tolerabilidade tanto por via
tanto clinica como laboratorialmente. Há recomendações de um IM como por via IV. Por ser estável diante de diversas betalactama-
exame ultrassonográfico inicial ao diagnóstico da meningite e re- ses, é ativa contra muitas enterobactérias que se mostram resisten-
petir semanalmente se forem detectadas alterações no exame tes a outras cefalosporinas. Observa-se também que a cefepime é
inicial (anormalidades parenquimatosa ou ventricular) ou se o particularmente mais ativa contra Enterobacter spp, Serratia spp e
paciente apresentar deterioração clínica (aumento do perímetro Staphylococcus aureus suscetível a oxacilina. Em relação à Pseudo-
cefálico, achados neurológicos, falta de resposta ao tratamento). monas aeruginosa, a cefepime é tão ativa quando a ceftazidima e 8 a
16 vezes mais ativa que a ceftriaxona; entretanto é menos ativa que
1. Enterocolite Necrosante: a ceftazidima diante de outras espécie de Pseudomonas e contra
Usar o esquema antibiótico para sepse tardia. Deve-se garan- Xanthomonas maltophilia. Em relação à cefotaxima, tem maior ativi-
tir cobertura para anaeróbios (consulte o capítulo de Enteroco- dade in Vectra contra H. influenzae, N. gonorrhoeae e N.miningitidis. É
lite Necrosante) mais ativa que a ceftazidima e tão ativa quanto a cefotaxima contra
Estreptococos e Staphylococcus aureus meticilinossensível. Não é
2. Endocardite Bacteriana: Vancomicina + amicacina ativa contra Staphylococcus aureus meticilinorresistentes, pneumo-
cocos penicilinorresistenes, enterococos, B. fragilis, L. monocytoge-
3. RN de mãe com infecção gonocóccica (Neisseria go- nes, M. avium ou M. tuberculosis. Sua meia-vida plasmática é de 2
norrhrorae): Cefotaxima (50 mg/kg EV ou IM, não exceder horas, devendo ser administrada a cada 12 horas. É excretada em
125mg). No caso de RN com infecção gonocóccica: cefota- sua totalidade pelos rins. Tem excelente penetração no líquor.
xima na dose de 25-50mg/Kg/dia EV ou IM uma vez ao dia
ou 25mg/Kg EV ou IM cada 12 hs por 7 a 14 dias. Tazobactam + Pieperacilina (Tazocin):
Inibidor Da Betalactamase.
É importante ressaltar que o fator mais importante no desenvol-
vimento da resistência antimicrobiana é o uso do antimicrobiano. Logo após o advento da penicilina, as bactérias já mostraram
mecanismos de resistência mediados pela produção de betalac-

Paulo R. Margotto
Assistência ao Recém-Nascido de Risco

tamases. Essas são enzimas presentes em bactérias geralmente complexo, parecendo atuar na redução da síntese protéica bacte-
dotadas de plasmídeos, elementos extracromossômicos, poden- riana. Têm baixíssima absorção por via oral e devem ser usados
do sua produção ser também mediada por cromossomos. Os por via intravenosa em gotejamento lento, de 30 a 60 min, devi-
plasmídeos que transportam genes de betalactamases podem do ao risco de bloqueio neuromuscular, depressão miocárdica e
ser transferidos para diferentes cepas ou espécies, facilitando a nefrotoxicidade aguda. Sua excreção é renal, podendo haver acú-
disseminação da resistência aos antibióticos. mulo no córtex do rim por reabsorção tubular, levando a nefroto-
As betalactamases ocorrem em uma grande variedade de mi- xicidade. Há também ação ototóxica, cujo risco aumenta com o
crorganismos, incluindo gram-positivos produtores das mesmas. uso prolongado e no déficit da função renal. Os aminoglicosídeos
Um grande número dessas enzimas tem sido identificado, sendo ligam-se pouco às proteínas plasmáticas e são muito solúveis em
a penicilinase a mais comumente encontrada na prática clínica. água, o que resulta em distribuição livre nos espaços vasculares
De acordo com o tipo de antibiótico sobre o qual atuam ou com a e bastante ampla no interstício da maioria dos tecidos. Recém-
espécie bacteriana produtora, as diferentes betalactamases são nascidos, especialmente prematuros, além de possuírem maior
caracterizadas como: OXA, PSE, TEM etc. volume de distribuição devido à maior superfície corporal, têm
O mecanismo de ação das betalactamases é o de inativação taxa de filtração glomerular diminuída, o que requer ajuste de
dos antibióticos betalactâmicos através da hidrólise da ligação acordo com a idade pós-concepção corrigida. Têm baixa penetra-
amida do anel betalactâmico, com a perda da atividade da droga. ção no líquor, mas atingem concentrações adequadas no osso,
Apesar do desenvolvimento de novos betalactâmicos, conti- líquido sinovial e peritoneal.
nuou-se à procura de substâncias que pudessem resistir à ação Os aminoglicosídeos são usados no tratamento de infecções
das betalactamases através da inativação ou inibição da produ- graves por gram-negativos e por enterococos. Agem também con-
ção dessas enzimas, pesquisando-se ainda a possibilidade de tra gram–positivos e micobactérias, mas não contra anaeróbios.
associação desses inibidores com um antibiótico betalactâmico Têm ação sinérgica com os antibióticos betalactâmicos.
para preservar sua atividade. A resistência aos aminoglicosídeos ocorre por meio de vários
Os primeiros inibidores naturais de betalactamases foram iso- mecanismos, tais como alteração da permeabilidade celular, mu-
lados de espécies de Streptomyces em 1972, porém sem eficácia tação de ribossomos ou produção de enzimas que modificam o
antibacteriana. Prosseguindo-se as pesquisas nessa área, des- aminoglicosídeo. A resistência pode ser adquirida por meio cro-
cobriu-se, em 1976, o ácido clavulânico, extraído de culturas de mossômico ou por plasmídeos, que conferem aos germes resis-
Strepotmyces clavuligerus, sucedendo-se outros como o sulbac- tência múltipla, que se estende aos demais antibióticos da classe.
tam e o tazobactam. Esses agentes são considerados inibidores A gentamicina é indicada principalmente nas infecções gra-
suicidas das betalactamases, uma vez que são destruídos após ves por bacilos gram-negativos, especialmente enterobactérias e
a sua interação com a enzima. P.aeruginosa, associada a um betalactâmico. Como penetra mal nas
Os três inibidores atualmente em uso clínico encontram-se asso- células dos mamíferos, apesar de ser ativa contra o estafilococo
ciados com betalactâmicos, a saber: o ácido clavulânico associado pode não atingi-lo quando ele se localiza intracelularmente. Tam-
420 com a amoxicilina ou a ticarcilina; o sulbactam associado com a ce- bém age mal contra cocos gram-negativos (meningococo e gonoco-
foperazona ou com a ampicilina, e o tazobactam com a piperacilina. co) e não age sobre o H. influenza. Associada à ampicilina, penicilina
ou vancomicina é usada contra os enterococos e nas infecções cau-
Tazobactam Associado Com Piperacilina sadas por S. aureus é associada a oxacilina ou a vancomcina.
A amicacina é indicada nas infecções graves por bacilos gram-
A piperacilina/tazobactam é uma associação antibacteriana de negativos resistentes a gentamicina. Associada a cefalotina ou oxa-
uma penicilina semi-sintética de amplo espectro do grupo das ureido- cilina é usada nas estafilococcias graves, pelo menos nos primeiros
penicilinas e de um inibidor da betalactamase, a tazobactama sódica. três a cinco dias. Seu uso extenso e continuado nos últimos anos
Essa associação apresenta algumas características desejá- não resultou em aumento da resistência, como ocorreu com os
veis, como a ampliação do espectro de ação da piperacilina con- demais aminoglicosídeos, entretanto já se registra um aumento da
tra as bactérias produtoras de betalactamases, maior atividade resistência a amicacina por bacilos gram-negativos hospitalares em
antimicrobiana quando comparada a certas cefalosporinas de algumas instituições brasileiras, o que reforça a necessidade de se
terceira geração e sinergismo in vitro com os aminoglicosídeos, conhecer o perfil microbiológico prevalente em cada serviço.
incluindo Pseudomonas aeruginosa.
Tem, portanto, excelente atividade contra Estreptococos, Es- Imipenem E Meropenem
tafilococos meticilinossensíveis, Hemófilos, Moraxela, Listeria,
Enterobactérias, incluindo Pseudomonas e anaeróbios, particu- Pertencem ao grupo das carbapenemas, uma classe de antibi-
larmente os do grupo Bacteroides. óticos betalactâmicos que se caracteriza por atividade bacterici-
A associação do tazobactam com a piperacilina é utilizada por via da de amplo espectro e melhor estabilidade perante as betalac-
parenteral, intramuscular e intravenosa, sendo mais comum está tamases. Seu mecanismo de ação é a lise osmótica da bactéria,
última. Possui boa distribuição tecidual, com eliminação pelos rins. através da ligação às proteínas fixadoras de penicilina existentes
Sua indicação clínica inclui principalmente as infecções hos- em sua parede celular (PBP1 e PBP2).
pitalares respiratórias, urinárias, intra-abadominais cirúrgicas, Seu espectro de ação é amplo, incluindo os cocos e bacilos
celulites e abscesso causadas por germes resistentes aos anti- gram-positivos e gram-negativos, aeróbios e anaeróbios, agindo
bióticos betalactâmicos, como Pseudomonas aeruginosa Acineto- inclusive em germes tornados resistentes pelo uso de cefalospo-
bacter, Proteus, E.coli, outros gram-negativos e anaeróbios, pos- rinas de 2ª e 3ª geração ou de associações de betalactâmicos/
sui, portanto, bom potencial como monoterapia no tratamento de inibidores de betalactamase.
infecções polimicrobianas. Tem sido utilizada ainda como opção Ainda que possuam o mesmo espectro de ação, observa-se
terapêutica empírica no paciente granulocitopênico febril. melhor potência de ação do imipenem contra os cocos gram-
positivos, como o S. aureus sensível a oxacilina, S. epidermidis,
Aminoglicosídeos pneumococo, Enterococcus faecalis. O meropenem tem melhor
ação contra H. influenzae, M. catharralis, Enterobacterias (E. Coli,
Os aminoglicosídeos são antibióticos naturais e semi-sintéticos Klebsiella, Proteus, Citrobacter, Salmonella), gonococos, meningo-
de ação bactericida e bacteriostática. Seu mecanismo de ação é cocos, P. aeruginosa, Burkholderia cepacia e Clostridium. Ambos
Capitulo 11 Infecções Adquiridas

antibióticos têm boa atividade contra Streptococcus pyogenes, S. que interfere na divisão da cadeia de DNA. Resistência adquirida
agalactiae, Acinetocacter baumanii, Listeria monocytogenes, Pseu- por origem cromossômica relaciona-se a mutações nessa enzi-
domonas fluorescens e contra os anaeróbios ( PeptoeStreptococ- ma, observando-se alguns casos de resistência em P. aeruginosa,
cus, Peptococcus, Fusobacterium, Veillonella, Bacteróides). Não Serratia marcescens, S. aureus e S. epidermidis. É indicada em in-
são ativos contra S. aureus oxacilinorresistentes e Enterococcus fecções graves por bacilos gram-negativos (septicemia, meningi-
faecium. te, pneumonias hospitalares), quando há insucesso terapêutico
São antibióticos potentes e têm excelente penetração nos lí- com outras drogas.
quidos e compartimentos orgânicos, inclusive líquor, mas seu A via de administração é endovenosa, embora possua uma
uso indiscriminado deve ser evitado. As carbapenemas induzem boa absorção oral. Tem meia vida prolongada, eliminação renal e
produção de betalactamases cromossômicas em bacilos gram- atinge boa concentração terapêutica nos tecidos e líquidos orgâ-
negativos, o que leva a uma resistência cruzada entre antibió- nicos, inclusive no líquor.
ticos monobactâmicos, cefalosporinas de 2ª e 3ª geração, urei-
dopenicilinas (piperacilina) e entre os próprios carbapenêmicos. Vancomicina/Teicoplanina (Glicopeptídeo)
Além disso, algumas cepas de Pseudomonas cepacea, Aeromonas
hydrophila, Legionella e Bacteróides fragilis têm apresentado resis- A vancomicina é um antibiótico da classe dos glicopeptídeos,
tência às carbapenamases, através da produção de penicilinases que atuam fixando-se à membrana citoplasmática das bacté-
de origem cromossômica. Há ainda a resistência desenvolvida rias, modificando sua permeabilidade e interferindo na síntese
pela alteração dos canais de entrada da droga na parede bacte- dos peptideoglicanos, constituintes estruturais da parede celu-
riana, impedindo sua ação, desenvolvida por algumas Enterobac- lar bacteriana. Age contra germes gram-positivos, gonococos e
terias e algumas cepas de P. aeruginosa. alguns anaeróbios. Sua principal indicação é no tratamento de
São infundidos por via venosa lentamente; a via intramuscular infecções estafilocóccicas multirresistentes, como também nas
é franqueada apenas ao imipenem. O uso de imipenem associa- infecções por Enterococcus e Pneumococcus resistentes às peni-
se a maior neurotoxicidade e convulsões em lactentes, devendo- cilinas. É indicada por via oral na enterocolite pseudomembra-
se optar pelo meropenem em casos de infecção do SNC. nosa causada pelo anaeróbio Clostridium difficile. No tratamento
O surgimento de bactérias produtoras de carbepenamase, de infecções por enterococos deve-se associar à gentamicina,
como em cepas de Klebsiella pneumoniae, vem requerendo maior pela ação sinérgica. Não há resistência cruzada com outros an-
cautela no uso dos antibacterianos carbapenêmicos, e cuidado tibióticos, com exceção da teicoplanina, outro glicopeptídeo. Há
redobrado no para vigilância e isolamento de novos casos. relatos de algumas amostras de Enterococcus faecalis, E. faecium,
Staphylococcus haemolyticus e S. epidermidis resistentes à van-
Aztreonam comicina e mais recentemente, relato de S.aureus resistente a
vancomicina (VRSA).
É um antibiótico monolactâmico e pertence à classe dos beta- A via de administração é intravenosa, em infusão diluída devi-
lactâmicos. Age na síntese da parede celular, ligando-se à PBP do à sua ação altamente irritante aos músculos e serosas. Deve 421
3, localizada na membrana citoplasmática das bactérias gram- ser infundida lentamente, pois pode levar a febre, calafrios e for-
negativas, possuindo ação bactericida. Seu mecanismo de ação migamento e, em casos extremos, a prurido, eritema, angioede-
não é eficaz contra gram-positivos, que são naturalmente resis- ma e raramente ao choque. Nesses casos, suspender a infusão
tentes à droga. Não induz resistência cruzada a outros betalactâ- e usar anti-histamínicos. Sua distribuição pelos tecidos e líquidos
micos pela produção de betalactamases, mas há um mecanismo orgânicos é boa, inclusive no osso, líquido sinovial e no interior
de resistência ao aztreonam induzido por modificação na mem- de abscessos. Por ser uma molécula grande, atravessa com di-
brana externa da bactéria, o que impede a penetração do antibi- ficuldade a barreira hematoencefálica, só atingindo boa concen-
ótico e sua ligação à PBP3. tração no líquor em meninges inflamadas. Sua excreção é renal,
O aztreonam é muito resistente à inativação pelas betalac- como droga ativa, e tem seus efeitos nefrotóxicos e ototóxicos
tamases . É ativo contra a maioria das enterobactérias (E. Coli, potencializados pela associação com os aminoglicosídeos.
Klebsiella, Proteus, Salmonella), mas tem menor atividade contra A Teicoplanina é um glicopeptídeo com espectro de ação idên-
P. aeruginosa do que as cefalosporinas de 3ª geração e os carba- tico ao da vancomicina, apenas mais ativa contra o C. difficile e
penêmicos. Sua principal indicação é na falência do tratamento o S. faecalis. Tem meia-vida mais longa e menos efeitos tóxicos,
de infecções por bacilos gram-negativos multirresistentes e indu- podendo inclusive ser usada via intramuscular. Não é absorvida via
tores de betalactamases, especialmente após falha com uso de oral, atinge boas concentrações nos ossos, mas não atinge concen-
cefalosporinas de 3ª geração. trações adequadas no líquor, mesmo em pacientes com meningoen-
A via de administração é apenas parenteral (intramuscular ou cefalites. É excretada pelos rins, em forma ativa, lentamente.
intravenosa), apresentando boa distribuição orgânica, inclusive
no líquor. Tem excreção predominantemente renal e não possui Sulfametoxazol + Trimetoprim
nefrotoxicidade nem ototoxicidade.
O sulfametoxaxol é uma sulfonamida de rápida absorção oral,
Ciprofloxacin (Quinolonas) mantendo níveis terapêuticos por 12 horas e de excreção renal
lenta. O Trimetoprim é um derivado pirimídico cujo poder antibac-
A primeira quinolona usada clinicamente foi o ácido nalidíxico, teriano se potencializa ao ser associado ás sulfonamidas. A clás-
ainda na década de 60. Nos anos 80, foi sintetizada a norfloxa- sica associação de sulfametoxazol e trimetoprim, chamada de
cina, primeira quinolona fluorada, que apesar de maior potência Co-trimoxazol, baseia-se numa proporção ótima de 1 parte de tri-
contra bactérias gram-positivas e gram-negativas restringia-se ao metoprim para 5 de sulfametoxazol. É ativa contra aeróbios gram-
uso em infecções urinárias e intestinais. A ciprofloxacina, atual- positivos, gram-negativos, alguns protozoários e fungos. Atinge
mente usada em neonatologia, é uma quinolona de terceira gera- altas concentrações urinárias, sendo uma medicação de escolha
ção, ativa contra enterobactérias e Pseudomonas. Também age, nas infecções urinárias comunitárias. É muito usado na profilaxia
embora em menor escala, contra os estreptococos e estafiloco- e tratamento das infecções por Pneumocystis carinii, inclusive em
cos (inclusive meticilino-resistentes) e contra os anaeróbios. Sua recém-nascidos. Os efeitos colaterais do uso de sulfonamidas são
ação é bactericida, através de inibição da enzima DNA-girase, variáveis, sendo os mais comuns náuseas, dor abdominal e vômi-

Paulo R. Margotto
Assistência ao Recém-Nascido de Risco

tos. Pode ainda ocorrer cristalização das sulfas nas vias urinárias, A princípio o uso de sulfonamidas é contra-indicado em pacien-
devendo ser usado com cautela em pacientes com uropatias obs- tes com menos de quatro semanas de vida, devido à imaturidade
trutivas. Recomenda-se também aumentar a ingesta hídrica para enzimática na sua metabolização e consequente acúmulo da dro-
facilitar sua eliminação pelos rins. Manifestações tóxicas neuroló- ga no organismo.Porém, quando houver indicação do uso desse
gicas (tremores, confusão mental, distúrbios visuais, tontura, de- quimioterápico recomendam-se doses menores e monitorização
pressão) decorrem de uso prolongado de altas doses. Há risco,em para os efeitos tóxicos no período neonatal.
0,1% dos pacientes, de alterações hematológicas como agranulo-
citose e plaquetopenia, que são reversíveis.

Doses dos antibióticos mais usados na neonatologia


NEOFAX-2008

Ampicilina
Dose 50 - 100 mg/Kg/dose IM ou IV

IG (sem) Idade pós-natal (dias) Intervalo em horas


0 a 28 12
≤ 29
> 28 8
0 a 14 12
30 a 36
> 14 8
0a7 12
37 a 44
>7 8
> 45 Todos 6
Concentração final de infusão máxima IV 100mg/ml

Infusão em push venoso

Amicacina
422

IG (sem) Idade pós-natal dose mg/kg Intervalo


0a7 18 48
≤ 29 8 a 28 15 36
≥ 29 15 24
0a7 18 36
30 a 34
≥8 15 24
≥ 35   15 24
Concentração máxima IV 5 mg/ml
Infusão lenta em push venoso

Anfotericina B
Dose 0,5 a 1 mg/Kg a cada 24 h tempo de infusão de 2 a 6 horas
Usa-se modificar a dose nos casos de insuficiência renal creatinina > 0,4mg/dL
aumenta-se o intervalo de infusão para 2 a 5 dias
Concentração final de infusão de 5mg/ml Diluir em soro glicosado

Anfotericina B Lipossomal
Dose 5 mg/Kg a cada 24 h tempo de infusão de 2 horas
Concentração final de infusão de 1 a mg/ml Diluir em soro glicosado

Azitromicina
Tratamento de Infecção por Bordetella Pertussi Dose de 10mg/Kg/dose VO 1 vez por dia por 5 dias
Tratamento de Infecção por C. trachomatis conjuntive ou pneumonia Dose de 20mg/Kg/dose 1 vez os dia por 3 dias
Dose venosa sugerida : 5mg/kg/dose 1 vez ao dia
Infusão lenta em 1 hora concentração fina 1 a 2 mg/ml
Capitulo 11 Infecções Adquiridas

Aztreonam
Dose 30 mg/kg/dose em push 5 a 10 minutos IV ou IM
IG ao nascimento (em semanas) Idade pós-natal em dias Intervalo em horas
0 a 28 12
≤ 29
> 28 8
0 -14 12
30 a 36
> 14 8
37 a 44 0a7 12
  >7 8
≥ 45 Todas 6
Concentração maxima para ifusão venosa 100mg/ml

Caspofungin
Dose 1 a 2mg/Kg por dose a cada 24 h lento em 1 hora
Concentração máxima par infusão 0,2 mg/ml
Não deve ser diluido em soluções com dextrose

Cefazolina
Dose 25mg/kg EV em push ou IM
IG ao nascimento (em semanas) Idade pós-natal em dias Intervalo em horas
0 a 28 12
≤ 29
> 28 8
0 -14 12
30 a 36
> 14 8
37 a 44 0a7 12
  >7 8
≥ 45 Todas 6
Concentração máxima para infusão 20mg/ml
423

Cefepime
RNT ou RNPT com > 14 dias 50mg/Kg por dose a cada 12 h
Dose
RNT ou RNPT ≤ 14 dias 30mg/kg por dose a cada 12 h
Em casos de meningite ou sepse por Pseudomonas aeruginosa ou Enterobacter usa-se a cada 8 horas
Concentração máxima para infusão 160mg/ml

Cefotaxime
Dose 50 mg/kg por dose em push venoso ou IM
IG ao nascimento (em semanas) Idade pós-natal em dias Intervalo em horas
0 a 28 12
≤ 29
> 28 8
0 -14 12
30 a 36
> 14 8
37 a 44 0a7 12
  >7 8
≥ 45 Todas 6
Obs.: Nos casos de infecção gonocócica Usa-se a dose de 25 mg/kg IV em push venoso 30 min ou IM
Nos casos de profilaxia de infecção oftálmica gonocócica em mães com gonorréia durante o parto recomenda-se
100mg/kg IV ou IM em dose única (nestes casos o tratamento tópico isolado é edificas e não deve ser usado
Concentração máxima para infusão 50mg/ml

Cefoxitina

Paulo R. Margotto
Assistência ao Recém-Nascido de Risco

Dose 25 a 33mg/kg por dose em infusão venosa por 30 minutos


IG ao nascimento (em semanas) Idade pós-natal em dias Intervalo em horas
0 a 28 12
≤ 29
> 28 8
0 -14 12
30 a 36
> 14 8
37 a 44 0a7 12
  >7 8
≥ 45 Todas 6
Concentração máxima para infusão 40mg/ml

Cefotazidima
Dose 30mg/kg por dose em push venoso 30 min ou IM
IG ao nascimento (em semanas) Idade pós-natal em dias Intervalo em horas
0 a 28 12
≤ 29
> 28 8
0 -14 12
30 a 36
> 14 8
37 a 44 0a7 12
  >7 8
≥ 45 Todas 6
Concentração máxima para infusão 50mg/ml

Ceftriaxone
Sepse ou Infecção por gonococo 50 mg/kg a cada 24 h
Meningite 100mg/kg a cada 24 h
Infecção gonocócica oftálmica 50mg/kg máximo de 125 mg em dose única
(nestes casos o tratamento tópico isolado é infecaz e não deve ser usado)
424 Não deve ser utilizado em RN com hiperbilirrubinemia assim como infusões com cálcio até 48 h após

Cloranfenicol
Dose Ataque de 20mg/kg IV em push de 30 minutos
RNPT < 1 mês 2,5 mg/kg por dose a cada 6 h
RNT < 1 semana e prematuros com mais
5 mg/kg a cada 6 horas
de 1 mês
RNT com mais de 1 semana 12,5 mg/kg por dose a cada 6 h
Obs: a absorção oral do cloranfenicol é errática em rn
Concentração máxima para infusão 100mg/ml

Clindamicina
Dose 5 a 7,5 mg/kg por dose IV em push de 30 minutos
IG ao nascimento (em semanas) Idade pós-natal em dias Intervalo em horas
0 a 28 12
≤ 29
> 28 8
0 -14 12
30 a 36
> 14 8
37 a 44 0a7 12
  >7 8
≥ 45 Todas 6
Concentração máxima para infusão 18mg/ml

Fluconazol
Capitulo 11 Infecções Adquiridas

Dose 12 mg/kg em dose de ataque e


  6 mg/kg por dose IV em push de 30 minutos
Dose profilatica 3mg/kg por dose IV a cada duas semanas
IG ao nascimento (em semanas) Idade pós-natal em dias Intervalo em horas
0 a 14 72
≤ 29
> 14 48
0 a 14 48
30 a 36
> 14 24
37 a 44 0a7 48
  >7 24
≥ 45 Todas 24
Concentração máxima para infusão 10mg/ml

Ganciclovir
Dose 6mg/Kg por dose a cada 12 h IV correr em 1 hora
Supressão crônica oral 30 a 40 mg/kg por dose a cada 8 horas VO

Gentamicina
IG ao nascimento (em semanas) Idade pós-natal em dias Dose Intervalo em horas
0a7 5 48
≤ 29* 0 a 28 4 36
≥ 29 4 24
0a7 4,5 36
30 a 34
≥8 4 24
≥ 35 Todas 4 24
* Usar está dose para RN com asfixia importante, PCA ou em uso de indometacina
Concentração máxima para infusão 10mg/ml 425

Imipenem/Cilastatina
Dose 20 a 25 mg/kg por dose IV correr em 30 min

Linezolida
10mg/kg por dose a cada 8 horas IV em 120 minutos
Dose
RNPT com < de 1 semana 10mg/Kg por dose a cada 12 horas

Meropenem
Dose Sepse : 20mg/kg por dose a cada 12 h IV em 30 minutos
40mg/kg a cada 8 horas correr em 30 minutos
Meningite ou infecção por Pseudomonas
 

Metronidazol
Dose de ataque 15mg/kg VO ou IV correr em 1 hora
Manutenção 7,5 mg/kg por dose VO ou IV correr em 1 Hora
IG ao nascimento (em semanas) Idade pós-natal em dias Intervalo em horas
0 a 28 48
≤ 29
> 28 24
0 a 14 24
30 a 36
> 14 12
37 a 44 0a7 24
  >7 12
≥ 45 Todas 8
Concentração máxima para infusão 15mg/ml

Oxacilina

Paulo R. Margotto
Assistência ao Recém-Nascido de Risco

Dose usual 25 mg/Kg por dose IV correr em 10 minutos


Dose meningite 50 mg/kg por dose
IG ao nascimento (em semanas) Idade pós-natal em dias Intervalo em horas
0 a 28 12
≤ 29
> 28 8
0 a 14 12
30 a 36
> 14 8
37 a 44 0a7 12
>7 8
≥ 45 Todas 6
Concentração máxima para infusão 40 mg/ml

Penicilina G
Dose para meningite 75000 a 100000 unidades por Kg por dose IV correr em 30 minutos ou IM
Bacteremia 25000 A 50000 unidades por dose IV correr em 15 minutos
IG ao nascimento (em semanas) Idade pós-natal em dias Intervalo em horas
0 a 28 12
≤ 29
> 28 8
0 a 14 12
30 a 36
> 14 8
37 a 44 0a7 12
  >7 8
≥ 45 Todas 6

426 Piperacilina
Dose 50 a 100 mg/Kg por dose IV correr em 30 minutos
IG ao nascimento (em semanas) Idade pó- natal em dias Intervalo em horas
0 a 28 12
≤ 29
> 28 8
0 a 14 12
30 a 36
> 14 8
37 a 44 0a7 12
  >7 8
≥ 45 Todas 6
Concentração máxima para infusão 200 mg/ml

Piperacilina e Tazobactam
Dose 50 a 100 mg/Kg por dose correr EV em 30 minutos
IG ao nascimento (em semanas) Idade pós-natal em dias Intervalo em horas
0 a 28 12
≤ 29
> 28 8
0 a 14 12
30 a 36
> 14 8
37 a 44 0a7 12
  >7 8
≥ 45 Todas 6
Concentração máxima para infusão 20 mg/ml

Quinopristina/Dalfopristina
Dose 7,5 mg/kg por dose a cada 12 h correr EV em 1 hora
O uso de acesso central para infusão é recomendado

Rinfampicina
Dose IV : 5 a 10 mg/kg por dose a cada 12 horas correr em 30 minutos
vo: 10 A 20 mg/kg a cada 24 h pode ser administrada durante a dieta
Capitulo 11 Infecções Adquiridas

Não de ser administrada IM ou SC


Dose profilática para contato de risco
5 mg/kg por dose VO a cada 12 horas por 2 dias
para doença meningocócica
Dose profilática para contato de risco
10mg/kg por dose VO a cada 24 horas por 4 dias
H Influenzae tipo b

Tobramicina
Pode se feito venoso correndo em 30 minutos
IG ao nascimento (em semanas) Idade pós-natal em dias Dose
0a7 5
≤ 29* 0 a 28 4
≥ 29 4
0a7 4,5
30 a 34
≥8 4
≥ 35 Todas 4
* Usar está dose para RN com asfixia importante, PCA ou em uso de indometacina
Concentração máxima para infusão 10mg/ml

Vancomicina
Dose para meningite 15 mg/kg/dose correr em 60 minutos 427
Dose para bacteremia 10 mg/kg/dose
IG ao nascimento (em semanas) Idade pós-natal em dias Intervalo em horas
0 a 14 18
≤ 29
> 14 12
0 a 14 12
30 a 36
> 14 8
37 a 44 0a7 12
  >7 8
≥ 45 Todas 6
Concentração máxima para infusão 50 mg/ml

Paulo R. Margotto
Assistência ao Recém-Nascido de Risco

Tratamento De Suporte sinfecção considerado adequado. As mãos não devem ser conta-
minadas com secreção e sangue. As unhas das mãos devem ser
( consulte os capítulos específicos) bem curtas. Não usar nenhuma jóia e unhas artificiais (associam-
se a infecções fúngicas). Portanto, unhas curtas, sem unha artifi-
• Correção de distúrbios metabólicos e ácido-básicos cial e fazer uma desinfecção correta com álcool.
• vigorosa atenção para o controle da pressão arterial Segundo Richtmann, evitar o uso abusivo de antibióticos (o
(para manter boa perfusão cerebral e evitar lesão secun- melhor antibiótico é a prevenção: melhor é não usar o antibi-
dária) nos casos com meningite ótico. As bactérias levam vantagens pela rapidez e agilidade no
• manejo equilibrado de líquidos para minimizar o edema desenvolvimento da resistência:
cerebral e a resposta inapropriado do hormônio antidiu- É obrigatória a Lavagem das Mãos ao ENTRAR na Unidade,
rético nos casos de meningite ANTES e APÓS cada procedimento (”Mãos sujas são mãos as-
• Suporte calórico adequado sassinas!”). As mãos dos cuidadores tem sido responsáveis por
• Alimentação precoce ( tão logo as condições clínicas per- surtos de Serratia marcescens.
mitam) Enquanto na Unidade de Neonatologia, retire anéis, pulseiras,
• Assistência ventilatória relógios e outros
• Imunoglobulina intravenosa: não há evidências para o Atenção estrita aos protocolos de uso de cateteres venoso e
seu uso tanto como profilático, como na sepse suspeita arterial . A utilização de cateter percutâneo venoso central (PICC)
e comprovada para os RN de muito baixo peso, além de permitir o seu uso pro-
• Hemoderivados quando necessário: longado de 80 dias ou mais, o índice de infecção é inferior a 10%
• Plasma fresco 10 ml/ kg (consulte o capítulo de Acesso Vascular).
• Sangue fresco 20/ml/kg
• Vitamina K1(Kanakion) na coagulopatia de consumo.

Medidas De Prevenção

Enfatizamos que as medidas mais importantes são a preven-


ção. Segundo Duara, é surpreendente que ainda haja pessoas
tão preparadas que não se lembram que não lavar as mãos,
tocar o nariz, tocar os bebês em seguida é uma violação de
técnica. Um conceito simples de lavar as mãos antes e depois
de tocar um bebê deve ser muito difícil para algumas pessoas
entenderam, mas é fato. Como é difícil implantar estas técnicas
428 na UTI Neonatal! É impressionante! Quando temos um paciente
com microrganismo resistente é tão ruim como deixar um cateter
ou outra coisa na barriga de alguém após uma operação. Temos
que combater estas violações. Há prescrição exagerada de an-
tibiótico. Ao tratar o paciente e as culturas chegam, temos que
adequar o antimicrobiano para não sermos generosos demais.
Muito cuidado com a prescrição de antimicrobianos. Nós médi-
cos adoramos dar antibiótico.A enfermeira da Infecção deveria
fornecer aos médicos uma lista de todos os bebês que estão re-
cebendo antibióticos sem uma causa justificada. É um imenso
desafio. É fácil dizer: ele não está com uma carinha boa, então
vamos continuar com o antibiótico e esta decisão pode ser pés-
sima. A higiene das mãos é simples, mas é difícil a adesão das
pessoas. É preciso reformar os estofados velhos, renovar plantas
antigas, limpar as superfícies planas, limpar ar condicionado. Al-
guém tem que controlar vigiar tudo que está sendo prescrito na
sua Unidade. Resgatar as culturas colhidas. Mudar a cultura da
Unidade. Higiene das mãos e do ambiente. Evite procedimentos
invasivos. Aumentar a conscientização, mostrando que o contato
casual com o paciente (um tapinha na bochecha) ou superfície
pode contaminar as mãos por horas. Se você tocar um prontuá-
rio ou a mesa antes de lavar as mãos você criou uma situação
naquele momento em que as pessoas inocentes que tocarem
aquele prontuário naquele momento poderão prosseguir com a
contaminação.Otimize o uso de antibióticos. Use espectros mais
estreitos. Tente evitar a terapia empírica e se usar, no máximo até
48-72 horas. Se você continuar usando o antibiótico, você terá
que ter uma boa Razão para fazê-lo. Tentar evitar os bloqueado-
res H2. A higiene das mãos é crítica. As luvas não substituem,
a lavagem das mãos. a não remoção das luvas após o contato
com o paciente facilita em muito a disseminação da infecção.
Segundo o CDC o uso de álcool é tão bom quanto lavar as mãos
com desinfetante por 3 minutos. Temos que espalhar entre os
dedos, no antebraço e ser secado até chegar a um nível de de-
Capitulo 11 Infecções Adquiridas

429

Paulo R. Margotto
Assistência ao Recém-Nascido de Risco

430
Capitulo 11 Infecções Adquiridas

431

Paulo R. Margotto
Assistência ao Recém-Nascido de Risco

432
Capitulo 11 Infecções Adquiridas

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Paulo R. Margotto
Assistência ao Recém-Nascido de Risco

11.2 INFECÇÕES FÚNGICAS

Paulo R. Margotto, Alessandra de Cássia Gonçalves Moreira

As infecções fúngicas têm sido cada vez mais descritas, princi- • Derivações ventriculoperitoneais
palmente nos recém-nascidos (RN) de muito baixo peso internados • Jejum prolongado
no Setor de Terapia Intensiva. Estima-se que ocorra em 1,2% dos
RN que ficam internados na UTI por mais de 3 dias( RN <1500g: As manifestações clínicas na forma sistêmicas são inespecífi-
4-15%) e a taxa de mortalidade seja de 30-75%. A nível mundial, cas, semelhantes às da sepse bacteriana a piora clínica é insidio-
10% dos recém-nascidos com peso ao nascer < 1000g apresen- sa, podendo-se observar:
tam infecção fúngica. Nos RN <750g, acima de 20% apresentam
infecção fúngica invasiva.Elas podem estar presentes ao nasci- • Instabilidade térmica, devendo ficar atento a hipertermia
mento ou serem adquiridas mais tardiamente. em pré-termo de risco (febre em pré-termo> 38ºC ocorre
A Candida albicans é o fungo mais frequentemente isolado (75% em 42,8% X 1% Infecção bacteriana)
das infecções fúngicas neonatais). Espécies não-albicans podem • Hiperglicemia/glicosúria
estar envolvidas, porém, com menos freqüência: Candida tropicalis • Apnéia
(10%), Candida parapsilosis (6%), sendo que alguns estudos apon- • Hipotensão
tam a Candida parapsilosis como um agente importante de infecção • Bradicardia ou taquicardia
em pré-termos de muito baixo peso (25%). A Malassezia furfur está • Insuficiência respiratória
associada à infusão de nutrição parenteral contendo lipídios atra- • Resíduo Gástrico
vés de cateter central e tende a ser epidêmica. Outros fungos não • Distensão abdominal
pertencentes ao gênero Candida são muitos raros. • Hipoatividade

Transmissão Vertical Geralmente envolvem um dos focos mais evidentes: sistema


nervoso central/rins/pulmões/trato gastrintestinal.
Durante a gestação acredita-se que possa ocorrer infecção Pulmões: pneumonia inespecífica.
ascendente capaz de acometer o RN. A infecção pode se mani- Rins: abscessos renais, hidronefrose, fungomas vesicais ou na
festar logo após o nascimento de forma sistêmica e/ou cutânea junção pielocalicial, anúria, hipertensão arterial.
com rash eritematoso máculo-papular, podendo haver vesículas, Trato gastrintestinal: intolerância alimentar, distensão abdo-
pústulas, abscessos cutâneos ou pneumonia por aspiração de minal, vômitos, sangue nas fezes, abscesso hepático e entero-
434 líquido amniótico infectado, que tende a ser muito grave. São colite necrosante.
considerados fatores de risco reconhecidos para candidíase con- Sistema nervoso central: meningite, abscesso cerebral.
gênita, principalmente em prematuros muito pequenos, a pre- Ósseoarticular: artrite, osteomielite.
sença de dispositivo intrauterino e a cerclagem do colo uterino. A Olhos: retinopatia da prematuridade (3,4 vezes para todos os
Candida albicans é a espécie mais comumente transmitida por via graus e 4 vezes para a retinopatia severa), provavelmente devido
vertical, o que não ocorre com a Candida parapsilosis. à indução de citocinas e fatores angiogênicos.
Na candidíase congênita, a transmissão pode ocorrer por con- Coração: endocardite (suspeitar no RN que evolui com hepato-
tato direto com a vagina infectada no canal de parto ou por via esplenomegalia, petéquias, abscessos cutâneos, artrite ou sopro
ascendente a partir do trato genital materno durante a gestação cardíaco na vigência de quadro séptico).
e manifesta-se na forma cutânea/ mucocutânea ou sistêmica ao Cutâneo-mucosa: boca e orofaringe (surgem com 7-10 dias de
nascimento ou na primeira semana de vida. A forma sistêmica é vida), onde se observam placas esbranquiçadas, ulceradas com
grave nos menores de 1000g com mortalidade superior a 60%. base inflamada sem sangramento (dermatite cutânea na região
perineal, axilar, regiões intertriginosas e ao redor do umbigo).
Transmissão Horizontal Esta forma predispõe o desenvolvimento de infecção sitêmica
em RN de muito baixo peso, o que não pode ser evitado com o
Na candidíase neonatal sistêmica, a infecção ocorre após tem- uso de nistatina.
po prolongado de internação, sendo diagnosticada em geral por
volta da segunda ou terceira semana de vida; os fungos mais Diagnóstico
freqüentemente envolvidos são a Candida sp e Malassezia sp.
Os principais fatores predisponentes são: O diagnóstico de certeza baseia-se no isolamento do fungo no
sangue, urina ou líquor.
• RN com menos de 32 semanas de idade gestacional: A investigação diagnóstica inclui:
grande crescimento de Candida no trato gastrintestinal Coleta de culturas sempre que houver suspeita de comprome-
com facilidade de disseminação. timento sistêmico
• Colonização fúngica prévia.
• Uso prolongado de antibiótico de largo espectro. • Sangue periférico. Pode-se colher concomitantemente
• Uso de cateter venoso central ou arterial. sangue do cateter venoso ou arterial se houver suspeita
• Intubação prolongada (> ou = 7 dias). de infecção relacionada a esse dispositivo. Se positiva,
• Nutrição parenteral total: soluções hipertônicas de glico- colher hemocultura a cada 2 dias até que as mesmas
se e lipídeos. tornem-se negativas.
• Drogas: Corticóides, Bloqueadores H2, Aminofilina, Heparina • Urocultura: por punção suprapúbica ou sonda vesical
• Cirurgias gastrintestinais: o intestino é o reservatório da (14,87% fungo isolado).
Candida.
• Anomalias congênitas: onfalocele, cardiopatias congênitas.
Capitulo 11 Infecções Adquiridas

• Líquor: realizar punção lombar mesmo que a terapia an- Com esta abordagem, verificou-se diminuição da mortalida-
tifúngica iniciada seja empírica. Alterações cito/bioquími- de e melhor neurodesenvolvimento.
cas são variáveis (33% com alterações). O líquor pode ser Quanto aos antifúngicos
normal por volta de 50% dos RN com meningoencefalite
por Candida. Podemos encontrar meningite (pleiocito- • Anfotericina B
se, hipoglicorraquia), ventriculite e abscessos cerebrais. A Anfotericina B deoxicolato: é um polieno que age diretamente
Contra-indicado se Plaquetas ≤ 50.000/mm3 no ergosterol da membrana citoplasmática do fungo, aumentando
a permeabilidade e causando lise e morte celular. Tem ação fungi-
A positividade de todas essas culturas é relativamente baixa, a cida ou fungostática a depender da concentração sérica e padrão
probabilidade de detectar o microorganismo em 1 ml de sangue de sensibilidade do fungo. É o fármaco de escolha no tratamento
pode ser de 65% ou menos e os resultados demoram (acima de da sepse fúngica, tem amplo espectro de atividade e, embora seja
36 horas), não se devendo esperar exames para que o tratamen- tóxico, é melhor tolerado pelo RN que pelo adulto. Apresenta baixa
to seja iniciado, principalmente quando há forte suspeita clínica. penetração no líquor, vítreo e líquido amniótico. Há evidências de
Hemograma que apresenta, com maior freqüência, plaqueto- que concentrações de 40-90% das concentrações plasmáticas se-
penia e leucocitose e aumento das formas jovens (59,1% com jam alcançadas no líquor nos RN de muito baixo peso.
alterações). A administração é endovenosa na dose inicial de 0,5mg/ kg/dia,
Raios-X de tórax e de ossos conforme a manifestação clínica doses subseqüentes de 1,0mg/kg/dia (tempo de infusão de 2 a 6
Pesquisa de possíveis focos profundos, que podem ocorrer na horas). Sempre diluir em solução glicosada na concentração de
candidíase invasiva, através de: 0,1mg/ml. Não há necessidade de proteção da luz fluorescente.
Novas formulações de anfotericina B foram desenvolvidas com
• Ultrassom: renal, hepático, cardíaco e do sistema nervo- o objetivo de diminuir a nefrotoxicidade, enquanto se mantém a
so central (detecção de abscesso cerebral) melhor eficácia. A primeira destas formulações lipídicas é a anfo-
• Tomografia computadorizada: pode ser útil para o diag- tericina B em dispersão coloidal (ABCD, Amphotec®). A segunda
nóstico de massas fúngicas em tecidos mais profundos. formulação é a anfotericina lipossomal B (L-AMB, Ambisome®). A
• Fundo de olho. terceira formulação é o complexo lipídico de anfotericna B (ABLC,
Abelcet®). As preparações lipossomais têm grandes vantagens:
A disseminação de Candidas pode acometer mais de dois lo- a bicamada lipídica pode proteger as drogas de serem destruídas
cais, gerando preferencialmente endoftalmites e bolas fúngicas por degradação enzimática, pode-se aumentar em 10 vezes a
renais e/ou implantes peritoneais. dose diária, permitindo alta concentração tecidual com diminui-
ção dos efeitos relacionados à infusão e diminuição da toxicidade
Tratamento renal. As formulações lipídicas têm como desvantagem o elevado
custo em comparação com a anfotericina B original.
É mandatória a retirada do catéter central que o RN estiver A atividade antifúngica destes preparados lipídicos da anfoteri- 435
usando no momento do diagnóstico da infecção, pois sua manu- cina B é comparável àquela da anfotericina B original. O uso dos
tenção está associada à candidemia persistente, altas taxas de preparados lipídicos de anfotericina deve ser reservado para os
falha terapêutica, além do risco de complicações metastáticas pacientes refratários ao tratamento com anfotericina B original
e morte (36% mais chances de êxito letal comparado com 0% (conforme U.S. Food and Drug Administration - FDA), nos pacien-
quando houve a retirada do cateter). tes com insuficiência renal prévia e naqueles que apresentam
alterações renais (aumento da creatinina) durante o tratamento
Tratamento Empírico Precoce com a anfotericina convencional. Outra situação seria associação
de drogas nefrotóxicas, como os aminoglicosídeos que apresen-
O tratamento empírico precoce muitas vezes se impõe uma tam sinergismo na ação tóxica. Todas as três formulações são
vez que o resultado definitivo da hemocultura é demorado e a geralmente menos nefrotóxicas que a Anfotericina B, porém, ain-
instituição precoce da terapêutica específica pode modificar o da causam aumento dos níveis séricos de creatinina e distúrbios
prognóstico nas populações de alto risco para candidemia sistê- eletrolíticos, devendo se manter a monitorização laboratorial nos
mica, portanto, o benefício (redução da mortalidade) é maior do pacientes que recebem qualquer forma desta droga.
que o risco (complicações da anfotericina B). Quando há suspeita As doses dos preparados lipídicos da anfotericina variam de
de sepse neonatal tardia, o tratamento antifúngico empírico está 1 a 5mg/kg/dia 1 vez ao dia por 4 a 6 horas. Dose cumulativa:
indicado nos seguintes casos, conforme estudo de Benjamin e cl 20-30mg/kg/dia
e Procianoy e cl:
Nome genérico Nome comercial
1. Peso ao nascer menor que 1500g ou RN muito doente Anfotericina B Fungizone®
2. Sinais clínicos de infecção e/ou neutropenia e trombo-
Anfotericina B liposomal Ambisome®
citopenia
Anfotericina B dispersão Amphotec®
3. Uso de antibióticos de amplo espectro (vancomicina, car-
bapenêmicos e/ ou cefalosporina de terceira geração) por Coloidal (ABCD) Amphocil®
7dias ou mais em associação com um dos seguintes fatores: Anfotericin B complexo Abelcet®
Lipídico (ABLC)
• nutrição parenteral
• ventilação mecânica Toxicidade: como interage também com o colesterol da mem-
• uso de corticosteróide pós-natal, brana celular dos mamíferos, causa efeitos adversos em 80%
• uso de bloqueadores H2 dos pacientes, principalmente a nefrotoxicidade, em geral rever-
• candidíase mucocutânea. sível no neonato. A alteração da função glomerular manifesta-se
com oligúria e aumento da uréia e creatinina. A lesão tubular com
Iniciar com Anfotericina B na dose de 1 mg/Kg/dia após a hipocalemia (perda urinária de potássio conseqüente à injúria
coleta de hemocultura e líquor. no epitélio tubular) pode ser profunda exigindo uma reposição

Paulo R. Margotto
Assistência ao Recém-Nascido de Risco

agressiva de potássio; pode ocorrer também perda de sódio, e fungicida aos fungos filamentosos. É metabolizado pelo fígado
magnésio e acidose tubular renal. através do complexo enzimático P450.
Os efeitos colaterais também incluem: hepatotoxicidade, mie- Estudos clínicos têm mostrado que o voriconazol é o único an-
lotoxicidade (anemia e plaquetopenia) e menos frequentemente, tifúngico efetivo no tratamento de infecções invasivas por Asper-
a cardiotoxicidade relacionada principalmente a doses excessi- gillus resistente a Anfotericina B. Além do espectro de ação am-
vamente elevadas. Febre, náuseas, vômitos, cefaléia, calafrios e pliado, tem como vantagem a possibilidade de uso por via oral, a
flebite no sítio de infusão. Convulsões e arritmia podem ocorrer ausência de efeitos colaterais renais e no número de plaquetas e
se a droga for administrada rapidamente ou se a concentração o menor custo em relação à Anfotericina B lipossomal.
exceder 0,1mg/ml da diluição. Dose: (Kohli 2008 e cl) 4 a 6mg/kg/dose de 12/12 horas por 2
Controles: Antes de iniciar terapêutica realizar: hemograma, EAS, a 3 semanas. Faltam estudos farmacocinéticos em RN. Esta dose
função hepática, K+, Mg++, Cl– e creatinina. Monitorar eletrólitos é maior do que a usada em adultos, devido ao clearance mais rápi-
(principalmente K+) e função renal 2 a 3 vezes por semana inicial- do da droga (os pacientes pediátricos tem maior capacidade para
mente, e, depois, semanalmente. Enzimas hepáticas 15/15 dias. a eliminação do voriconazol por quilograma de peso do que adul-
Duração do tratamento: A dose acumulativa recomendada é tos voluntários) e ao volume de distribuição diferente.
30mg/kg. Na infecção fúngica com cultura positiva, realizar he- Efeitos Colaterais: Distúrbios visuais, rash cutâneo, reações
mocultura cada 2 dias até negativarem. Manter o tratamento até de fotossensibilidade, elevação das transaminases (2 a 3 vezes),
14 dias após a última cultura negativa. O ecocardiograma deve alucinações, náuseas, vômitos.
mostrar o desaparecimento da vegetação.A resistência a anfote-
ricina deve ser considerada se depois de 10-14 dias a hemocultu- • Equinocandinas
ra para fungo continua positiva. Quando a anfotericina é iniciada Lipopeptideo semi-sintético derivado do fungo Glarea lozoyen-
de forma empírica (pelos fatores de risco) e a hemocultura se sis que inibe a síntese do 1,3-β- D-glucano que é um componente
mostra negativa, tratar por 14 dias. da parede celular de muitos fungos filamentosos e de leveduras.
Resistência à Anfotericina: se após 14 dias a hemocultura São drogas que agem, diferentemente de outros antifúngicos,
continua positiva, associar Fluconazol. Considerar o uso dos no- na parede celular e não na membrana celular do fungo. Assim,
vos antifúngicos nestes casos (Caspofungina e Voriconazol) não ocorrem os efeitos na membrana celular do hospedeiro, tor-
nando a tolerância melhor. In vitro e in vivo, as Equinocandinas
• Azoles são rapidamente fungicidas contra muitas Candidas spp (todas
Estes compostos exercem seu efeito inibindo o citocromo P450 as espécies de Candida respondem, inclusive as resistentes ao
fúngico com conseqüente redução do ergosterol (estrutura lipí- fluconazol) e fungistática contra Aspergillus spp.
dica que confere estabilidade à membrana), comprometendo a Todas as equinocandinas apresentam alta taxa de ligação às pro-
integridade da membrana celular fúngica. teínas (>95%) e se distribuem em todos os grandes órgãos, incluin-
Fluconazol: antifúngico de ação fungostática. Pode ser admi- do o cérebro, a concentração no LCR não infectado, porém, é baixa.
436 nistrado via oral ou endovenosa. Os Guidelines para o Manuseio da Candidíase em 2009 publi-
Dose: 12mg/kg/dia (ataque) e 6mg/kg/dose em infusão por 30 cados pela Sociedade Americana de Doenças Infecciosas, reco-
minutos 1 vez ao dia (RN ≤ 29 semanas até 14 dias, o intervalo é mendam as equinocandinas para o tratamento de candidíase em
de 72 horas e acima de 14 dias, de 48 horas) para o tratamento da recém-nascidos em situações em que a toxicidade ou resistência
infecção sistêmica. Recomenda-se manter o tratamento até que impedem o uso de anfotericina B ou fluconazol.
as culturas mantenham-se negativas por 1 semana e até constatar
evidência clínica e laboratorial de resolução da infecção. • Caspofungina (CancidasR)
Comparado à Anfotericina B, o Fluconazol tem como vantagens Frasco ampola de 70 e 50mg [77,7 e 55mg de acetato de
a menor toxicidade, a possibilidade de administração por via oral caspofungina];diluir em soro fisiológico a (10 ml: cada ml passa
e o fato de atingir bom nível em vários tecidos e fluidos (inclusive a ter 7mg e 5mg, respectivamente de caspofungina sódica), po-
sistema nervoso central e globo ocular). dendo ser armazenado até 1 hora na temperatura >25oC; infun-
Espectro de Ação: Um fator limitante ao uso do fluconazol é o dir em 1 hora. Não diluir em soro glicosado.
espectro antifúngico mais restrito, havendo espécies de Candida Espectro de Ação: Indicada no tratamento de aspergilose in-
não-albicans resistentes como a Candida glabrata (30-40%) e vasiva e candidemia, é a droga de escolha no tratamento empíri-
Candida Krusei que possui resistência intrínseca ao fluconazol. Há co em pacientes neutropênicos febris. A sua ação é discutida na
relato de resistência também às espécies tropicalis (5%) e guiller- Candida parapsilosis e o Criptococos neoformans possui resis-
mindi. Para a espécie lusitaniae, o fluconazol é a droga de escolha tência intrínseca à caspofungina.
devido à resistência intrínseca deste fungo à Anfotericina B. Resultados de estudos de caspofungina na candidíase invasiva
Controles: O seu metabolismo é renal, devendo-se adequar a e na candidemia sugerem equivalente eficácia a anfotericina B,
dose em paciente com insuficiência renal. Recomenda-se moni- mas com efeitos tóxicos substancialmente menores. Não é re-
torizar durante o tratamento: funções hepática (em torno de 5% lacionada à resistência cruzada, mas como desvantagem tem
dos RN de muito baixo peso podem apresentar leve e transitório custo bastante elevado.
aumento das enzimas hepáticas, além de hiperbilirrubinemia di- A caspofungina é disponível apenas por via endovenosa, é meta-
reta) renal e hemograma. bolizada pelo fígado e excretada lentamente pela urina e fezes. Na
presença de insuficiência renal não é necessário ajustar a dose.
• Voriconazol (V Fend®) Dose: 25 mg/m2 (aproximadamente 2mg/kg/dose a cada 24
Dose:comprimidos de 50 e 200mg; frasco-ampola de 200mg. horas endovenoso
Derivado sintético do fluconazol,é um agente triazólico antifún-
gico de segunda geração, a adição de um grupo α-metil confere SC (m2) = (Peso x 4) + 7 / Peso + 90
maior potência e atividade antifúngica.
Espectro de Ação: É ativo contra fungos filamentosos como Ex: 2kg: 2 x 4 + 7/2 + 90 = 0,16m2.
Aspergillus sp, Candida com resistência intrínseca ao fluconazol Dose: 0,16x25= 4mg (equivale a 2mg/kg)
e Cryptococcus neoformans. Ele tem até 60 vezes a concentra-
ção inibitória mínima para Candida. É fungistático para leveduras
Capitulo 11 Infecções Adquiridas

Efeitos colaterais: Febre, náuseas, vômitos, rubefação e + : 85% (ou mais) suscetibilidade
complicações associadas à administração EV, flebites/ trom- - : 50% (ou menos) suscetibilidade
boflebites. Há relato na literatura de ocorrência de hipocalemia +/- : Suscetibilidade mista (50%-90%)
importante (1,7mEq%) e hipercalcemia, hipermagnesemia e hi- *Suscetibilidade controversa in vivo e in vitro
perfosfatemia (16,8mg%, 3,6mg% e 9,3mg%, respectivamente, O Guideline, publicado pela Infections Disease Society of Amé-
retornando ao normal após a suspensão da caspofungina por 72 rica (IDSA), 2004 traz as seguintes recomendações para recém-
horas; neste espaço de tempo foi usado o voriconazol). nascidos, quanto à duração do tratamento:

• Micafungina • Candidemia - 14 dias após a última hemocultura positiva.


Nome comercial da MycamineR. A retirada de cateteres venosos profundos é obrigatória.
Dose: 7 a 10 mg/kg/dose cada 24 hora endovenoso (em Usar Anfotericina B, Anfotericina B Lipossomal ou Equino-
caso de infecção no SNC: 10 a 15mg/kg/dose cada 24 horas). candina (Caspofungina) quando associada à neutropenia.
Apresentação: frasco com de 50mg e 100mg de micafungina • Meningite - deverá ser tratada por no mínimo 4 semanas
sódica. Após a reconstituição com 5 ml de soro fisiológico, cada após a resolução de todos os sinais e sintomas associa-
1 ml contém 10 mg ou 20 mg de caspofungina sódica. Proteger dos à infecção devido à alta tendência de recidiva. A an-
da luz. A solução diluída pode se estocada a temperatura am- fotericina B (0,7 a 1 mg/kg/dia) associada ao fluconazol
biente por 24 horas antes do uso. é a terapêutica inicial mais apropriada. Retirar válvula de
derivação se houver.
Compatibilidades • Endocardite - Anfotericina B em dose máxima por no
mínimo 6 semanas. A endocardite por Candida tem pro-
Tal como anfotericina B, os agentes antifúngicos equinocandinas pensão à recidiva e requer seguimento cuidadoso por pe-
são administrados por via intravenosa. Devido a potencial proble- ríodo prolongado (> 1ano). O fluconazol pode ser empre-
mas de compatibilidade, isso pode ser problemático em recém-nas- gado como terapêutica de longo prazo após o tratamento
cidos recebendo outros medicamentos intravenosos e/ou nutrição inicial. O tratamento clínico isolado, sem cirurgia, tem se
parenteral total (NPT). A anfotericina B, incluindo as formulaçoes mostrado efetivo em recém-nascidos de baixo peso.
lipídicas, é incompatível com soluções contendo sódio. A caspofun- • Endoftalmite - Anfotericina B em dose máxima até a com-
gina não é estável em soluções com dextrose e, portanto, é incom- pleta resolução da doença ou estabilização. Geralmente,
patível com a NPT. Por outro lado, a micafungina e anidulafungina cursos de 6 a 12 semanas são necessários. O fluconazol
são estáveis ​​quando diluidas em soluções salinas normais contendo pode ser usado para completar tempo de tratamento se
dextrose, tornando o uso de micafungina mais atraente em recém- o perfil de sensibilidade permitir. Alternativa - Voriconazol
nascidos recebendo NPT. No que diz respeito a interações medica- • Osteomielite e artrite - Debridamento cirúrgico + Anfote-
mentosas, as equinocandinas oferecem uma vantagem significati- ricina B por 2 a 3 semanas, seguida de fluconazol por 6 a
va sobre antifúngicos azoles. Os antifúngicos azoles dependem do 12 meses. Não existe indicação para o uso de medicação 437
sistema do citocromo 450 e P-Glicoproteins para o metabolismo, intra-articular.
enquanto que o sistema do citocromo 450 e P-glicoproteínas são mi- • Candidíase cutânea congênita - RN de muito baixo peso
nimamente envolvidos na metabolismo da equinocandinas. A falta ao nascer e prematuros deverão ser tratados com terapia
de envolvimento destas vias metabólicas limita o número de drogas sistêmica (Anfotericina B ou Fluconazol). Para os recém-
que interragem com as equinocandinas. Embora o metabolismo da nascidos a termo sem evidências de candidemia, somen-
caspofungina é induzido quando administrado com fenitoína, carba- te tratamento tópico (Nistatina: 100.000U/ml – 1 a 2ml
mazepina, dexametasona, rifampicina, efavirenz e nevirapina, esses VO 6/6h ou pomada 100.000U/g na pele até o desapa-
medicamentos, com exceção da dexametasona, raramente são ad- recimento das lesões).
ministrados em recém-nascidos. O requerimento de dose de ataque • Intra-abdominal – Remover cateteres,. Anfotericina B ou
pode também influenciar na escolha da equinocandina a ser usada Fluconazol p/ 2 a 3 semanas. Alternativa – Caspofungina.
em recém-nascidos. Ao contrário de caspofungina e anidulafungina, • Infecção urinária – No RN de baixo peso ao nascer, a candi-
a micafungina não requer uma dose de ataque. Juntamente com dúria deve ser valorizada. A infecção urinária isolada poderá
dados farmacocinéticos, estas conconsiderações práticas devem ser tratada com anfotericina B ou fluconazol por 7 a 14 dias.
ser levadas em conta quando se escolher uma equinocandina a ser A substituição do cateter de demora é recomendada.
adicionada ao formulário das instituições pediátricas.
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Capitulo 11 Infecções Adquiridas

11.3 INSTABILIDADE HEMODINÂMICA

Alexandre Peixoto Serafim, Juliana Duarte Diniz

O equilíbrio hemodinâmico do recém-nascido, particularmente 70 % correlacionou-se com maior sobrevivência. Mesmo quando
o do prematuro, é complexo e envolve a interação de uma série os valores no início da intervenção situam-se dentro da faixa de
de fatores: normalidade, é comum observar-se aumento da saturação após
o início de inotrópicos. Esse dado pode ser interpretado de duas
• Miocárdio imaturo ou doente formas: aumento do shunt esquerda-direita através do forame
• Volume Intravascular oval ou adequação do fluxo sanguíneo e do aporte de oxigênio
• Alteração sistêmica da pós-carga como resultado do tratamento com vasopressores.
• Alteração da pós-carga pulmonar
• Shunts da circulação sistêmica Hipotensão Permissiva
• Perda do tônus vascular
• Interações respiratórias e ventilatórias Keith Barrington é um defensor do conceito de “hipotensão
permissiva”. Para o Dr. Barrington, muitos prematuros que estão
Existem vários cenários diferentes caracterizados pela instabi- hipotensos apresentam fluxo sistêmico normal, estão bem perfun-
lidade hemodinâmica no recém-nascido. Cada um deles deve ser didos por parâmetros clínicos e podem ter boa evolução sem inter-
abordado de acordo com suas particularidades. São eles: venção. Na sua UTI (Royal Victoria Hospital, Montreal), só ocorrem
intervenções para hipotensão quando os recém-nascidos apresen-
• A instabilidade do prematuro com muito baixo peso, que tam sinais clínicos de má perfusão. Isso resulta em uma frequên-
caracteristicamente ocorre nas primeiras 24 horas de vida cia de intervenção em apenas 16% dos RN com baixo peso.
• O prematuro com muito baixo peso com persistência do Por outro lado, o grupo australiano de Nick Evans e Kluckow
canal arterial (PCA) com repercussões hemodinâmicas observou uma correlação muito baixa entre os parâmetros clíni-
• O recém-nascido hipotenso prematuro ou a termo com cos e a presença de baixo fluxo sistêmico. Esse grupo defende
depressão perinatal que o diagnóstico não pode ser feito por parâmetros clínicos, que
• O prematuro hipotenso com insuficiência adrenal relativa alteram-se apenas tardiamente.
e resistência a vasopressores/inotrópicos Batton e cl estudaram retrospectivamente uma coorte de 182 pre-
• Qualquer recém-nascido hipotenso com síndrome da respos- maturos entre 23 e 25 semanas de idade gestacional, internados du-
ta inflamatória sistêmica secundária a sepse (choque sépti- rante um período de 6 anos (1999 a 2004). Observaram que foram
co) ou outra causa de injúria com enterocolite necrosante. tratados 81 neonatos (44,5%, 81/182), dos quais 11 não atendiam 439
os critérios de hipotensão (PAM < 25 mmHg), 31 neonatos hipotensos
Pressão Arterial não foram tratados (17%, 31/182) e 67 tinham PA normal (36,8%,
67/182). De uma forma geral, nesta UTI (Cleveland, OH), 7 em cada
Geralmente se admite que o limite inferior da pressão arterial 10 prematuros com hipotensão recebem tratamento.
média para recém-nascidos prematuros no primeiro dia de vida
seja igual a sua idade gestacional. No entanto, após o terceiro Ecocardiografia na Avaliação
dia de vida, mais de 90% dos prematuros têm uma pressão ar- Hemodinâmica do Recém-Nascido
terial média ≥ 30 mmHg. Para o recém-nascido a termo, > 90%
têm uma pressão arterial média ≥ 43- 45 mmHg imediatamente O ecocardiograma pode ser útil na avaliação da função cardía-
após o nascimento e a pressão arterial média aumenta para > 50 ca, estimativa do débito cardíaco e da volemia do recém-nascido.
mmHg no terceiro dia de vida. Podemos estimar a função cardíaca através da contratilidade
O padrão ouro para medida da pressão arterial é a medida ventricular, que é medida pela fração de encurtamento (Deta D) ou
invasiva. O método mais utilizado na prática clínica é a aferição pela fração de ejeção (FE). Ambas medidas são obtidas na janela
não-invasiva por métodos oscilométricos, que tem limitações parti- paraesternal eixo curto através do modo M, sendo o valor normal
cularmente em prematuros hipotensos. Ribeiro e cl estudaram os da fração de encurtamento > 30% e da FE > 58%. Em um estudo e
métodos de flush e oximetria de pulso como alternativa não-invasi- Gill e Weindling em 1993 foi demonstrado que em recém-nascidos
va válida para verificação da pressão arterial em recém-nascidos. pré-termos hipotensos, com peso próximo a 1000g, a fração de en-
curtamento foi significativamente menor que em recém nascidos
Pressão Venosa Central com o mesmo peso, que não apresentavam hipotensão.
O débito ventricular esquerdo, na circulação transicional, onde
A PVC é uma medida indireta do volume sanguíneo aceita em UTI existe um shunt da esquerda para a direita significativo, superes-
que lidam com adultos e crianças maiores. A medida da PVC tem tima o fluxo sanguíneo sistêmico. Portanto, a melhor estimativa
enfrentado recentemente o ceticismo da comunidade médica com do fluxo sistêmico pelo ecocardiograma é através da medida da
respeito a sua utilidade como preditor do volume intravascular do velocidade de fluxo da valva pulmonar (MPA) pelo Doppler pulsa-
paciente. O valor médio da pressão venosa central para prematuros do, estando normal > 0,45m/seg. Na circulação normal, o fluxo
em torno de 27 semanas é de 5 mmHg (4,4 -6,1, IQR). Diferenças na pulmonar reflete o fluxo sanguíneo sistêmico, porém na circula-
resistência vascular pulmonar podem influenciar a PVC. A PVC pode ção transicional, particularmente em recém nascidos pré-termos
ser medida através de uma linha umbilical venosa. extremos, o shunt através do PCA e do forame oval podem causar
aumento do fluxo da valva pulmonar e superestimar o fluxo san-
Monitorização da Saturação Venosa Central guíneo sistêmico no primeiro dia de vida. Por isso foi desenvolvi-
da a medida do fluxo da veia cava superior (VCS) como estimativa
Estudos em adultos e crianças maiores determinaram que a parcial do fluxo sistêmico (seguimento corpóreo superior e cére-
manutenção da saturação venosa central de oxigênio acima de bro), pois este fluxo não é alterado pelos shunts intracardíacos. O

Paulo R. Margotto
Assistência ao Recém-Nascido de Risco

fluxo da VCS pode ser calculado através da medida da velocidade Fluxograma para Avaliação da Instabilidade Precoce do Prematuro
na VCS usando-se o Doppler pulsado através do corte subcostal
Monitorização nas primeiras 48 horas de vida
e do diâmetro pela janela paraesternal. O fluxo normal em RN
pré-termo é entre 50 a 110 ml/Kg/min. Em estudos prospecti-
Pressão Arterial Média Fluxo sanguíneo
vos realizados pelo grupo de Nick Evans, observou-se que ocorre (Velocidade na AP ou Fluxo na VCS)

baixo fluxo na veia cava superior (VCS) em 35% dos bebês nas-
Velocidade na AP < 0,35 m/s
cidos antes de 30 semanas. O nadir ocorre previsivelmente nas Quando considerar
Hipotensão Permissiva?
PAM < Idade

primeiras 12 horas de vida e é seguido por recuperação do fluxo NaCL 0,9% 10 mL/kg
NaCL 0,9% 10 mL/kg em 20 minutos
em 20 minutos
a valores normais entre 24 e 48 horas. O baixo fluxo na VCS está Avaliar clinicamente a
perfusão periférica (normal?) Velocidade na AP < 0,35 m/s
associado com desfechos adversos como hemorragia intraven- Considerar a presença
de fatores de risco (ver tabela)
PAM < Idade
Dobutamina 10 mcg/kg/min
tricular e alteração do desenvolvimento neuropsicomotor. Existe Dobutamina 10 mcg/kg/min
pouca correlação entre o fluxo na VCS e a pressão arterial média, ou

sendo que muitos bebês com baixa PA têm fluxo na VCS normal e PAM < Idade
alguns bebês com PAM normal têm baixo fluxo na VCS.
Hidrocortisona 1-2 mg/kg/dose
Resumindo: o screening do baixo fluxo sistêmico pode ser feito cada 8-12 horas,
pela determinação da velocidade na valva pulmonar (PA Vmax). entre 2 a 8 doses no total

Há 3 faixas: < 0,35 m/s, 0,35 – 0,45 m/s, e > 0,45 m/s. Se a PA
Vmax é < 0,35, a maioria dos bebês têm baixo fluxo sanguíneo Pontos chaves
sistêmico e se a velocidade é maior que 0,45, o fluxo sanguíneo • Evitar administrar mais que 2 ou 3 expansões nas primei-
sistêmico é normal. Assim, a necessidade de determinação do ras 48 horas de vida (total até 30 mL/kg)
fluxo em VCS ou do cálculo completo do débito ventricular direito • -Em caso de hipotensão ou baixo fluxo refratário ao uso
ficaria para os casos situados na faixa intermediária. da primeira droga, tentar associar a droga subsequente
Podemos ainda estimar a volemia do recém nascido através do ou aumentar as doses utilizadas, mas lembrar que um
enchimento ventricular, que pode ser medido pelo volume dias- estudo demonstrou tendência à deterioração da contrati-
tólico final do VE (VDFVE). Este volume é habitualmente medido lidade cardíaca tanto com dopamina quanto com dobuta-
na janela paraesternal eixo longo através do modo M. O VDFVE mina em altas doses (20 mcg/kg/min)
normal aumenta de 12mm entre 26 a 28 semanas de nascimen- • A dobutamina é melhor para aumentar o fluxo sanguíneo
to para 17mm no RN a termo. Este, porém não é um método e a dopamina para aumentar a pressão arterial
confiável na estimativa da volemia, já que existem outros fatores
que afetam o enchimento ventricular. Além disso, o volume ven-
tricular só estará diminuído em casos de hipovolemia grave. Choque Séptico Ou Hipotensão Associada À Sín-
drome Da Resposta Inflamatória Sistêmica (SIRS)
440 O Prematuro com Instabilidade no
Período Pós-Natal Imediato Nos recém-nascidos com choque séptico, o principal fator pa-
togenético do comprometimento circulatório é a redução da resis-
A instabilidade circulatória do recém-nascido prematuro ca- tência vascular periférica e a hipovolemia relativa e absoluta. A in-
racteristicamente ocorre nas primeiras 24 horas de vida. Pelo tervenção clínica inicial mais aceita é a ressuscitação com volume
menos três estudos associaram a baixa pressão arterial média precoce. Além disso, recomenda-se também o uso precoce e a es-
neste período com anormalidades no ultrassom cerebral. calada, se necessário, de vasopressores. Inicia-se com dopamina
e, se forem necessárias doses acima de 15 mcg/kg/min, a admi-
Variáveis associadas com instabilidade nistração de epinefrina está indicada. Se a ecocardiografia mostra
hemodinâmica refratária ao tratamento função cardíaca ruim, pode estar indicado o uso de dobutamina e,
Pior atendimento pré-natal se a função diastólica é deficiente, deve-se considerar milrinona.
(isto é, ausência de corticóide pré-natal) Hidrocortisona em baixas doses pode ser administrada no cho-
que resistente a vasopressores. Alternativamente, pode-se dosar o
Ressuscitação difícil ao nascimento / Baixos escores de Apgar
nível sérico do cortisol e considerar arbitrariamente insuficiência
Menor peso ao nascer
adrenal relativa se o cortisol for menor que 5 mg/dL em um ne-
Baixo escore CRIB II ou SNAPPE II onato em uso de dopamina e/ou epinefrina. Estudos clínicos de-
Canal aberto monstraram de forma consistente que a hidrocortisona aumenta a
Grau de prematuridade pressão arterial e reduz a necessidade de inotrópicos. Ainda não
Maior pressão média de vias aéreas está claro se a administração de hidrocortisona pode estar asso-
ciada a alterações do desenvolvimento neuromotor, embora dados
neste momento sugiram que não. É fundamental a administração
imediata de antibióticos adequados. Dosar e corrigir níveis de ele-
trólitos e da glicemia. Observar o equilíbrio acido-base e o estado
da coagulação. O lactato altera-se com um atraso em torno de 4-5
horas em relação à deterioração ou melhora hemodinâmica. A ten-
dência dos níveis da dosagem seriada auxilia na monitorização da
resposta ao tratamento. Em neonatos com hipertensão pulmonar,
o manejo ventilatório adequado e o uso de óxido nítrico inalatório
auxiliam também na estabilização cardiovascular.
Capitulo 11 Infecções Adquiridas

Fluxograma de Avaliação do RN com Choque Séptico superior (10 mL/kg). No entanto, há evidências de que o excesso
de volume pode ser prejudicial aos prematuros. Ewer e cl, em um
Monitorização estudo de caso-controle, observaram que prematuros entre 27
e 28 semanas que morreram receberam mais que o dobro da
expansão de volume comparados com controles sobreviventes
Pressão Arterial Média Perfusão periférica (38,2 vs. 18,2 mL/kg, P = 0.007). Os dados desse estudo suge-
rem que a administração de > 30 mL/kg de volume nas primeiras
PAM < 30 mmHg (Prematuros) ou Alterada
48 horas está associada com o aumento da mortalidade em pre-
< 50 mmHg (termo)
maturos (OR 4.5 [95% CI 1.2, 17.2]).
É provável que o uso de maiores volumes e maiores alíquotas
(isto é, 10 a 20 mL/kg em 10 minutos, de 3 a 6 expansões) possa
NaCL 0,9% 10 mL/kg em 20 minutos (Prematuros) ou
em 10 minutos (Termos), até 6 fases, se necessário
ser necessário no recém-nascido a termo ou no cenário da SIRS.
Não há evidências de que a administração de colóides (isto é,
Não Melhora
albumina) seja superior ao uso de cristalóides (NaCl 0,9%).

Dopamina 5 - 15 mcg/kg/min Drogas Vasoativas

Epinefrina 0,05 – 0,5 mcg/kg/min Dopamina

PAM < 30 mmHg (Prematuros) ou < 50 mmHg (termo) Vários estudos recomendam a dose de 2-10 mcg/kg/min para
tratar prematuros Entre os efeitos colaterais da dopamina vemos
Hidrocortisona 1-2 mg/kg/dose que ela altera a resposta hipofisária e tem efeito sobre o desen-
cada 8-12 horas, entre 2 a 8 doses no total volvimento cortical, alterando a arborização dendrítica. Não sa-
bemos quais os efeitos da administração de dopamina exógena
Norepinefrina 0,05 – 0,5 mcg/kg/min sobre a formação dos circuitos neuronais.
A secreção de prolactina ocorre como resposta ao aumento do
Não Melhora cortisol e bloqueia a linfopenia associada ao aumento daquele
hormônio. A hipoprolactinemia pode ocorrer como parte da sín-
Vasopressina?
drome de disfunção hipofisária associada à doença crítica, mas
também pode ser iatrogênica. Dopamina estimula o receptor DA2
Hipotensão Associada À Persistência que bloqueia a secreção de prolactina.
Do Canal Arterial (PCA)
Dobutamina 441
O objetivo primário da abordagem deste quadro clínico é o fe-
chamento do canal arterial com um inibidor da cicloxigenase. No Essa droga é um agente inotrópico eficaz, que também causa
entanto, o suporte ao paciente em caso de falha do tratamento vasodilatação e taquicardia leve. Roze e cl compararam o débito
clínico, enquanto aguarda o fechamento cirúrgico, é um grande ventricular esquerdo em um ensaio clínico em bebês e demons-
dilema. Empiricamente, como a função do miocárdio em princí- traram aumento com o uso de dobutamina enquanto a dopamina
pio não está comprometida, a administração de um inotrópico provocou a sua redução. O grupo de Nick Evans fez um estudo
como a dobutamina não melhorará a hipotensão e, por causa randomizado comparando dopamina e dobutamina para aumen-
dos seus efeitos imprevisíveis sobre a resistência vascular sis- tar o fluxo sanguíneo (avaliado pela ecocardiografia) e observou
têmica e pulmonar, a perfusão sistêmica pode piorar. O uso de que na dose de 10 mcg/kg/min não houve diferença entre as
um vasopressor como a dopamina pode aumentar ainda mais medicações, que aumentaram o fluxo de forma similar. Naqueles
o fluxo sanguíneo pulmonar e o shunt esquerda-direita porque, bebês que necessitaram de doses até 20, a dobutamina produ-
na maior parte dos pacientes, essa droga aumenta mais a resis- ziu mais benefício que a dopamina. Talvez a observação mais
tência vascular sistêmica do que a pulmonar. Embora a pressão importante é que 40% dos prematuros com instabilidade precoce
arterial possa melhorar, aumentam as chances de edema pul- não respondem ao tratamento com essas drogas.
monar hemorrágico devido ao desvio do fluxo sanguíneo para o
pulmão, especialmente quando são utilizadas baixas pressões Epinefrina
expiratórias finais (PEEP). Apesar dessa preocupação teórica, o
grupo de Tourneux e cl na França não observaram aumento no A infusão de epinefrina está associada a um maior efeito cro-
shunt com uso de dopamina nesses pacientes. notrópico. A epinefrina está associada com maiores níveis de
Provavelmente as manobras recomendáveis para a redução do lactato sérico e menores níveis de base excess e bicarbonato, o
shunt cardíaco esquerda-direita devem ter por objetivo o aumento que pode vir a provocar uma maior administração de bicarbonato
da resistência vascular pulmonar. Elas incluem reduzir a FiO2, es- exógeno. Também está associada a maiores níveis de glicemia
tabelecer uma hipoventilação controlada moderada e aumentar a sérica. Esses efeitos são secundários a estimulação dos recep-
PEEP. A ecocardiografia pode ser utilizada para monitorizar os efeitos tores β-adrenérgicos, que aumentam a gliconeogênese muscular
dessas manobras sobre o débito cardíaco, shunt e fluxo sanguíneo. junto com a glicogenólise e gliconeogênese hepática.

Fluidoterapia Norepinefrina

A expansão com volume é a intervenção inicial mais comum Pierre Tourneux e cl estudaram com seu grupo em Lille, na
para tratamento da hipotensão nas primeiras 72 horas de vida. França, o uso de norepinefrina em 22 recém-nascidos > 35 se-
No estudo de Beau Batton, 97 % dos prematuros com hipotensão manas, com choque séptico refratário ao tratamento com expan-
foram tratados com volume em primeiro lugar. Nick Evans ob- sões e dopamina ou dobutamina. A noradrenalina foi diluída em
serva que a expansão com volume melhora o fluxo na veia cava soro glicosado a uma concentração de 1 mL = 100 mcg e infun-

Paulo R. Margotto
Assistência ao Recém-Nascido de Risco

dida em cateter central a uma taxa de 0,2 a 0,5 mcg/kg/min. O seu uso deve ser considerado de “resgate” nos casos de cho-
Houve aumento da pressão arterial, do débito urinário e redução que séptico refratário e como droga em investigação
dos níveis séricos de lactato. Quatro recém-nascidos morreram
apesar da correção da hipotensão. Esse grupo não observou efei- Efeitos Cardiorrespiratórios da Pressão Pulmonar
tos deletérios do uso da norepinefrina sobre a pressão pulmonar.
Um aumento modesto na PEEP (5 ->8) produz queda no débito
Milrinona cardíaco direito, mas sem repercussões sobre o fluxo sistêmico.
Os recém-nascidos com melhora da complacência pulmonar em
A milrinona foi estudada pelo grupo australiano de Evans e resposta a uma PEEP mais alta apresentam melhora do fluxo san-
Kluckow no tratamento da instabilidade de prematuros nas pri- guíneo sistêmico. Esforços devem ser feitos para otimizar o volume
meiras 24 horas de vida. A dose utilizada foi de 0,75 mcg/kg/min pulmonar, reduzindo o grau de colapso ou hiperinsuflação.
por 3 horas e depois reduzida para 0,2 mcg/kg/min até 18 horas
de vida. Esses autores não observaram benefício no uso da milri- Disfunção de Múltiplos Órgãos e Sistemas
nona com essa finalidade e notaram uma redução na constrição
ductal no grupo tratado. A disfunção de múltiplos órgãos e sistemas é uma síndrome ca-
A milrinona então permanece como recurso terapêutico de racterizada por um continuum de anormalidades fisiológicas como
exceção para casos selecionados de choque após SIRS ou em resultado da evolução do choque cardiovascular ou da instabilida-
crianças cardiopatas, onde a pressão arterial seja normal, a re- de hemodinâmica do recém-nascido. Os escores de disfunção de
sistência vascular periférica esteja aumentada e haja suspeita múltiplos órgãos ainda não têm um bom desenvolvimento na área
de baixo débito cardíaco. Preferencialmente utilizar monitoriza- de medicina intensiva neonatal, embora tenham sido estudados
ção ecocardiográfica e da saturação venosa central. extensivamente nas UTI para adultos e pediátricas.
O NEOMOD (Neonatal Multiple Organ Dysfunction Score) é o úni-
Vasopressina co escore desenvolvido para ser utilizado em neonatos, descri-
to no artigo de Janota e cl. Foi validado após o estudo de 142
A vasopressina é um peptídio liberado na hipófise posterior nas prematuros de muito baixo peso e é baseado na pontuação da
fases iniciais do choque como resposta ao aumenta da osmola- disfunção de 7 sistemas orgânicos (sistema nervoso central, car-
ridade plasmática e a hipovolemia. Em recém-nascidos prematu- diovascular, renal, respiratório e gastrintestinal, além da hemoco-
ros extremos, Meyer e cl relataram 6 casos em 2006, utilizando agulação e balanço ácido-base).
vasopressina para choque séptico refratário e insuficiência renal A neonatologia tem escores de gravidade comumente utilizados
aguda (peso médio ao nascimento 600g) e para duas crianças para avaliar o risco de mortalidade, que usam dados colhidos nas
com choque cardiogênico e uma com insuficiência cardiovascu- primeiras horas de vida, como o SNAPPE II e o CRIB II. No entanto,
lar secundária a uma doença primária. Os pacientes com cho- a sua acurácia preditiva para avaliar o risco envolvido na evolução
442 que séptico receberam vasopressina em doses de 0,035 a 0,36 da sepse tardia pode ser prejudicado, porque eles não descrevem
U/kg/h, com boa resposta, apresentando aumento da pressão adequadamente o curso clínico da evolução do choque.
arterial e melhora da diurese. A infusão da vasopressina durou Existe uma relação entre o número de disfunções orgânicas e
em média 70 horas e duas crianças sobreviveram. Infusões de a mortalidade. No entanto, a mortalidade também é uma função
epinefrina e norepinefrina foram mantidas durante a administra- do grau de disfunção de cada sistema. Além disso, a importância
ção da vasopressina. Dois gemelares com choque cardiogênico de cada disfunção não é equitativa para predizer a mortalidade
morreram com 8 e 21 horas de administração da medicação. O sendo, por exemplo, as disfunções neurológica e cardiovascular
recém-nascido com choque não-séptico secundário a uma doen- de maior peso para mortalidade do que a hepática ou renal.
ça primária morreu com 61 horas da administração e apresen- O desenvolvimento de escores específicos para neonatologia
tava sinais de necrose hepática à autópsia que foram atribuídas possivelmente terá um papel importante no ajuste de risco em
possivelmente à vasopressina. estudos observacionais e para estratificação de pacientes recru-
Bidegain e cl relataram a evolução de 20 neonatos abaixo de tados para participação em ensaios clínicos.
1000 g que receberam vasopressina intravenosa na dose de
0,01 U/kg/h a 0,04 U/kg/h para hipotensão refratária. A droga Prognóstico
foi administrada em torno do 10º dia de vida (mediana 10 dias; 1
a 240), com duração de infusão de 20 horas (mediana 20 horas; A mortalidade por choque séptico em neonatos é elevada e atin-
de 1 a 171 horas), levando ao aumento da pressão sanguínea giu 40% em um estudo publicado por Kermorvant-Duchemin e cl.
média de 26 mmHg para 41 mmHg após 12 horas de infusão. Dados divulgados pelo ILAS (Instituto Latino-Americano da Sepse)
Os pacientes tinham o diagnóstico de sepse (15) e enterocolite mostram que a mortalidade por sepse e choque séptico ainda é
necrosante (5). Estavam em uso de dopamina, hidrocortisona e maior no Brasil do que em outros países do mundo. Faltam dados
epinefrina antes do início da vasopressina e a dose dessas me- publicados sobre a mortalidade específica no período neonatal. No
dicações pode ser reduzida durante a infusão da vasopressina. estudo francês citado, o óbito foi mais comum nas primeiras 72
Houve 13 óbitos (65%). Hemorragia intraventricular foi observa- horas de evolução e esteve associado à menor idade gestacional,
da em 5/9 crianças que receberam vasopressina nos primeiros 3 menor peso e infecção por bactérias gram-negativas.
dias de vida. Nenhum paciente apresentou complicações isquê-
micas de membros. Houve 4 óbitos por enterocolite, dos quais 3 Bibliografia
tinham o diagnóstico previamente ao início da droga. A vasopres-
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Paulo R. Margotto
Assistência ao Recém-Nascido de Risco

444
Capitulo 12 Infecções Perinatais Crônicas

Capítulo 12

Infecções
Perinatais
Crônicas
Assistência ao Recém-Nascido de Risco

12.1 SÍFILIS

Liu Campello Porto

A sífilis congênita é uma infecção causada pela disseminação • lesões pulmonares em 7 a 22%
hematogênica do Treponema pallidum no concepto transmitida • lesões renais em 3 a 17%
pela gestante infectada.
A infecção na gestante pode resultar em abortamento espontâ- Sífilis Congênita Tardia
neo, morte fetal, prematuridade, feto hidrópico, recém-nascidos Sinais e sintomas surgem após os dois anos de vida, são pro-
sintomáticos ou assintomáticos. gressivos e prejudicam o desenvolvimento. Ocorrem quando o tra-
tamento não é iniciado até o terceiro mês de vida. As lesões são:
Epidemiologia
• Ósseas e articulares: tíbia em sabre, fronte olímpica, na-
Infelizmente, os casos de sífilis congênita continuam a ocorrer, riz em sela
apesar do tratamento com penicilina ser conhecido há mais de • Cavidade oral: dentes de hutchinson, mandíbula curva,
meio século, de fácil acesso, de baixo custo e sem relato de re- palato em ogiva
sistência pela bactéria. • Neurológica: surdez, dificuldade no aprendizado.
As estratégias de controle da sífilis não são eficientes em man- • Oftalmológica: ceratite intersticial
ter a meta do Ministério da Saúde de a eliminação da sífilis con-
gênita no nosso país (o que significa até 1 caso de sífilis congêni- Natimorto Por Sífilis
ta/1000 nascidos vivos/ano).
O óbito fetal ocorre após 22 semanas de gestação ou peso
Transmissão acima de 500 gramas, cuja mãe não foi tratada ou foi inadequa-
damente tratada.
A sífilis pode ser transmitida para o concepto em gestações
sucessivas, em qualquer período da gestação e em qualquer fase Definição De Caso
da doença. O tratamento não confere imunidade.
Quanto mais recente a sífilis materna, maior é a taxa de trans- 1. Toda criança cuja mãe teve sífilis não tratada, ou inade-
missão para o concepto. quadamente tratada, independentemente da presença
A transmissão vertical (mãe-concepto) faz-se através da disse- de sinais e sintomas ou resultados laboratoriais;
446 minação do microorganismo através da placenta, das membra- 2. Toda criança que apresentar um teste de VDRL positivo
nas e fluidos amnióticos ocorrer em. Contrariamente ao que se para sífilis e uma ou mais das seguintes condições:
pensava no passado, a infecção acomete o feto antes do quarto
mês de gestação. Ocasionalmente o recém-nascido pode ser in- • Evidência de sintomatologia sugestiva (dois ou mais si-
fectado pelo contato com lesão genital materna. nais clínicos) de sífilis congênita.
A taxa de transmissão vertical é variável conforme o tempo de • Título de VDRL no RN ≥ 4 vezes o título materno na oca-
doença e tratamento maternos: em mulheres não tratadas é de sião do parto
70 a 100% em caso de doença primária ou secundária e 30% na • Teste confirmatório positivo para anticorpos IgM (FTA-abs
fase latente. A OMS estima em 85% a taxa média de transmis- ou TPHA)
são. Em mães adequadamente tratadas, a transmissão é reduzi- • Teste confirmatório positivo para anticorpos IgG (FTA-abs
da a aproximadamente 1,5%. ou TPHA) após os 18 meses de vida.
A morte perinatal ocorre em 40% das crianças infectadas.
3. Todo caso de morte fetal ocorrido após 20 semanas de
Quadro Clínico gestação e/ou feto com peso superior a 500g, cuja mãe,
portadora de sífilis, não tenha sido tratada, é definido
A infecção intra-uterina pode resultar em aborto, parto prema- como natimorto sifilítico.
turo, natimorto e morte neonatal em até 40% dos casos. A maio-
ria dos RN é assintomática. Isso pode atrasar o diagnóstico e pio- Diagnóstico
rar o prognóstico. Daí a importância de uma história materna e
pré-natal bem feitos e anotação detalhada no cartão da gestante. Baseia-se no quadro clínico e em exames complementares.
O quadro clínico pode ser dificultado pela escassez de sinto-
Sífilis Congênita Precoce mas. Quando a infecção ocorre no terceiro trimestre, aproximada-
mente 60% das crianças poderão ser assintomáticas, apresen-
Os sinais e sintomas podem estar presentes ao nascimento ou tando sintomatologia meses ou anos após o nascimento.
surgirem ao longo dos dois primeiros anos. e podem ser: Os exames complementares compreendem os testes soroló-
gicos para IgG (VDRL), hemograma completo, estudo do líquido
• Prematuridade cefalorraquidiano (LCR) e radiografia de ossos longos.
• Baixo peso
• Lesões ósseas (osteocondrite, osteíte e periostite) em 47 Exames Complementares
a 95%
• Hepatoesplenomegalia em 33 a 91% 1. Pesquisa em campo escuro
• Acometimento do SNC em 40 a 60% O treponema pode ser pesquisado em raspado de lesão muco-
• Lesões cutâneo-mucosas em 15 a 60% sa ou cutânea ou no aspirado de punção de nódulo linfático sa-
• Lesões de mucosa nasal em 4 a 50% télite à lesão primária através de microscopia de campo escuro.
Capitulo 12 Infecções Perinatais Crônicas

2. Testes sorológicos dias) e glicose baixa.VDRL positivo no LCR deve ser diagnostica-
do como portador de neurossífilis, independentemente da pre-
• Testes não treponêmicos sença de outras alterações liquóricas (assim, um exame do líquor
VDRL (Veneral Diseases Research Laboratory) e RPR (Rapid normal não afasta o diagnóstico de neurossífilis). As alterações
Plasma Reagin): estão presentes em 8% das crianças assintomáticas e 86% das
Por serem testes não treponêmicos, eventualmente, podem crianças sintomáticas.
ocorrer resultados falso-positivos.
É um excelente teste de triagem e seguimento pós-tratamento. 5. Hemograma
Leucocitose ou leucopenia (> 25000 leucócitos/mm3 e < 5000
Interpretação leucócitos/ mm3) são evidências adicionais para confirmação
Resultados são apresentados em títulos e é considerado po- diagnóstica em crianças suspeitas
sitivo título ≥ 1/1. O tratamento é considerado eficaz caso haja
queda de 4 vezes os títulos durante o seguimento. Tratamento
Anticorpos (Ac) passivos (passagem transplacentária de anti-
corpos maternos): o RN não está infectado e os títulos devem É baseado em esquema penicilínico obedecendo a 3 esque-
diminuir e se negativar até os 3 meses de vida. Caso estes títulos mas. Não há relato de resistência do treponema à droga e, dentre
permaneçam positivos após os 3 meses, o RN deve ser conside- as infecções congênitas, a sífilis é a que tem condições de ser
rado infectado e tratado. erradicada.
Ac ativos (produzidos pelo RN infectado) O manejo clínico adequado do RN depende do conhecimento
A negativação do VDRL após o tratamento de pacientes infec- do tratamento materno. Deve-se concluir se a gestante foi ade-
tados não é imediata. Portanto, não se deve esperar resultado quada ou inadequadamente tratada.
negativo logo após o tratamento e sim queda dos títulos. A ne-
gativação dos títulos de pacientes infectados após tratamento Mãe Adequadamente Tratada
ocorre entre 1 e 2 anos e meio, conforme quadro abaixo:
1. Tratada com penicilina benzatina na dose adequada à
1 ano 50% fase da sífilis
2 anos 75% 2. Tratamento realizado até 30 dias que antecederam o
parto
2,5 anos 90%
3. Realização de VDRL mensal após o tratamento.
4. Tratamento do parceiro concomitante ao da gestante.
• Testes treponêmicos (confirmatórios)
FTA-abs IgG (Fluorescent Treponemal Antibody-Absortion), Mãe Inadequadamente Tratada
TPHA IgG (Treponema pallidum Hemaglutination) e ELISA IgG (En- 447
zime Linked Immunosorbent Assay): 1. Tratada com qualquer droga que não seja penicilina ou
São testes que utilizam o treponema como antígeno com alta tratamento incompleto (< 7.200.00 UI penicilina benza-
sensibilidade (99 a 100%) e especificidade (96 a 99%). Os resul- tina) ou
tados são qualitativos (positivo ou negativo) e, uma vez positivos, 2. Instituição de tratamento dentro do prazo de 30 dias
permanecem por toda a vida. Devem se reservados apenas para anteriores ao parto ou
confirmação do teste não treponêmico não sendo útil para segui- 3. Não houver comprovação do tratamento mediante Car-
mento de tratamento nem para confirmação diagnóstica de sífilis tão da Gestante.
congênita, pois resultados positivos podem significar presença 4. Quando o parceiro não foi tratado ou foi tratado inade-
de anticorpos maternos e não infecção no RN. Testes positivos quadamente e manteve contato sexual com a gestante
no recém-nascido refletem anticorpos da mãe até 15 a 18 meses após o tratamento da mesma.
de idade. Somente após essa idade o teste confirmatório pode
ser realizado para confirmação diagnóstica de sífilis congênita. Tratamento de RN de mães com sífilis não tratada ou ina-
FTA-abs/IgM pode ser útil no diagnóstico de sífilis congênita, dequadamente tratada, independentemente do resultado do
porém, pela baixa sensibilidade (20%) não são utilizados rotinei- VDRL do recém-nascido, realizar:
ramente. Resultados negativos não excluem sífilis congênita.
A – VDRL, Raio X de ossos longos, estudo do LCR (com pesqui-
3. Radiografia de ossos longos sa de VDRL), e outros exames dependendo da clínica apresenta-
Demonstra o acometimento de tíbia, fêmur e úmero por oste- da pelo recém-nascido.
ocondrite, osteíte e periostite que estão presentes em 70 a 90% A1 – se houver alterações clínicas e/ou sorológicas e/ou radio-
dos casos sintomáticos. A incidência em recém-nascidos assinto- lógicas, mas não liquóricas:
máticos é de 4 a 20%, o que justifica a realização do exame para
o diagnóstico. As anormalidades metafisárias (bandas translúci- • Penicilina Cristalina – 100.000 UI/Kg/dia, EV, dividida
das) são patognomônicas da infecção. A resolução das lesões se em 2 doses (menos que 7 dias de vida) ou 3 vezes (se
dá independentemente do tratamento dentro de três meses o tiver mais de 7 dias), por 10 dias; ou
que justifica o não aparecimento de lesões nos recém-nascidos • Penicilina G Procaína – 50.000 UI/Kg/dia, IM, por 10 dias;
infectados pela cura ainda durante a gestação.
A2 – se houver alteração liquórica, o tratamento deverá ser
4. Exame do líquido céfalorraquidiano (LCR) feito com Penicilina G Cristalina, na dose de 150.000 UI/Kg/dia,
A escolha do tratamento a ser seguido dependerá do diagnós- EV, em 2 vezes por dia (se tiver menos de 1 semana de vida) ou 3
tico de neurossífilis, sendo, portanto, recomendado o estudo do vezes (se tiver mais de 1 semana de vida), por 10 dias;
LCR em todos os recém-nascidos incluídos na definição de caso. A3 – se não houver alterações clínicas, radiológicas e/ou li-
Pode haver aumento de células a custa de linfócitos, hiperpro- quóricas, e a sorologia for negativa no recém-nascido: Penicilina
teinorraquia (> 100mg% até 28 dias de vida e 40 mg% após 28 G Benzatina, IM, na dose única de 50.000 UI/Kg/dia. O segui-

Paulo R. Margotto
Assistência ao Recém-Nascido de Risco

mento ambulatorial é obrigatório. Caso não seja possível garantir • Caso o teste confirmatório seja positivo aos 18 meses de
o acompanhamento, o recém-nascido deverá ser tratado como vida, confirma-se, retrospectivamente, o diagnóstico de
esquema A1. sífilis congênita
• O retratamento deve ser feito conforme esquemas já
Obs: na impossibilidade de se realizar a análise liquórica, tratar apresentados.
como neurossífilis.
Bibliografia
RN De Mães Adequadamente Tratadas

• Margotto PR. Rubéola/Sífilis. Boletim Informativo Pediátrico (BIP)-Brasília, N0 24, 1982


B - Realizar o VDRL de amostra de sangue periférico do recém- • Yamamoto A Y, Mussi-Pinhata M M. Infecções congênitas e perinatais. Ramos F L P, Holan-
nascido. da G D A. Sífilis congênita: incidência em recém-nascidos. J Pediatr (Rio J) 75: 119, 1999
• Sífilis Congênita. Recomendação do MS. 1999
B1- se o título for maior que o materno e/ou na presença de • Sífilis Congênita. Manual de vigilância epidemiológica. Secretaria de Saúde do Estado de
São Paulo, 1998
alterações clínicas, realizar Rx de ossos longos e análise do LCR. • Risser W L, Hwang LY. Problems in the current case definitions of congenital syphilis. J
Se não houver alterações liquóricas: seguir esquema A1. Pediatr 129: 499,1996
• Beerame e cl. Lumbar puncture in the evaluation of asymptomatic congenital syphilis in
B2- se houver alteração liquórica: seguir esquema A2. neonates. J Pediatr 128:125,1996
B3- se o título do RN for não reagente ou titulação menor ou • Zenker P N, Rolfs R T. treatment of syphilis. Reviews of infectious Diseases. 12 (Supl. 6):
S590, 1989
igual à da mãe e assintomático e Rx de ossos longos sem al- • Ikeda M K, Jenson HB.Evaluation and treatment of congenital syphilis. J Pediatr 117: 843,
1990.
terações, deve-se fazer seguimento ambulatorial. Caso não seja • Stoll BJ. Congenital syphilis: evaluation and management of neonates born to mothers with
reactive serologic tests for syphilis. Pediatr Infect Dis J 13:845, 1994.
possível, tratar como em A3. • Ingall D, Sanches PJ, Musher DM. Syphilis. In: Remington J S, Klein J O Infectious Diseases
of the fetus and Newborn Infant. W.B Saunders Company,pg 644,, 2000
• Abreu TF. Infecções perinatais crônicas e o sistema nervoso central do recém-nascido.
Período Pós-Natal (Após 28º Dia De Vida) Clinica de Perinatologia 2:481, 2002.

As crianças sintomáticas deverão ser investigadas e tratadas


conforme esquemas anteriores. A diferença está no intervalo en-
tre as doses: deverá ser de 4 horas para Penicilina G Cristalina e
12 horas para Penicilina G Procaína.
Observações
Caso o tratamento seja interrompido por mais de um dia, de-
verá ser reiniciado.
Deverá ser realizada fundoscopia em todas as crianças sintomáticas.

Seguimento
448
Quando iniciamos o seguimento do paciente podemos estar
diante de duas situações:

1. O VDRL estava positivo ao nascimento, porém tratava-


se de anticorpos maternos (passivos) e o recém-nascido
não estava infectado;
2. O VDRL era positivo porque o recém-nascido estava
infectado.

Em ambos os casos, o acompanhamento clínico inicial deverá


ser mensal.
Caso o RN não tenha sido tratada após o nascimento, o resul-
tado do VDRL deverá ser negativo aos 3 meses. Caso seja posi-
tivo, interpreta-se como sífilis congênita e faz-se o tratamento.
Caso o RN tenha sido tratado após o nascimento, o exame de
VDRL deverá ser realizado com 1, 3, 6,12 e 18 meses e os resul-
tados devem ser descendentes.
Deverá ser feito acompanhamento oftalmológico, neurológico
e audiológico nos casos confirmados de sífilis congênita.

Observações
1. O objetivo de se repetir o exame de VDRL é acompa-
nhar os títulos, que devem ser descendentes. Em caso
de elevação dos títulos, o paciente deverá ser retratado.
2. É considerada elevação ou queda de títulos valores 2
vezes maiores ou menores (exemplo: ½ e 1/8). Títulos de
½ e ¼ são considerados iguais.
3. O exame de VDRL pode ser positivo até 2 anos e meio
após tratamento, mesmo com tratamento adequado.
(memória imunológica ou cicatriz sorológica)
• Em caso de alteração liquórica, a punção lombar deverá
ser repetida a cada 6 meses.
Capitulo 12 Infecções Perinatais Crônicas

12.2 TOXOPLASMOSE

Liú Campello Porto

A infecção pelo Toxoplasma gondii distribui-se mundialmente Formas Clínicas


com prevalências que variam de 10 a 80%. No Brasil, a preva-
lência aproxima-se dos 60%. Atualmente, estuda-se as diferentes Didaticamente as manifestações clínicas podem ser conside-
cepas do parasito, com tentando-se estabelecer uma correlação radas de acordo com o tipo de manifestação e a época de apare-
clínica. As cepas mais virulentas são as do tipo I e III, presentes cimento. As manifestações clínicas apresentam-se, basicamente,
na América Latina, enquanto que as cepas identificadas na Euro- em duas formas: infecção generalizada (hepatoesplenomegalia,
pa e Estados Unidos são do tipo II. icterícia, linfadenopatia, petéquias); alterações de SNC; ou lesões
A infecção não causa doença grave nos indivíduos infectados de oculares que podem ocorrer meses ou anos após o nascimen-
exceto em gestantes e pacientes imunossuprimidos no quais as to. Pesquisas recentes identificaram crianças mais resistentes à
conseqüências da doença podem ser graves. Quando a gestan- doença, com menos cistos cerebrais e menos reação inflamató-
te é infectada primariamente durante a gestação, pode ocorrer a ria ocular, fato associado à presença de CD 40, que ativa os ma-
transmissão transplacentária (transmissão vertical) resultando em crófagos na destruição do toxoplasma. Com relação à época de
infecção fetal com diferentes graus de manifestações clínicas. aparecimento a doença pode ser classificada como:
O termo Toxoplasmose Congênita refere-se às formas clínicas
e subclínicas da doença. Doença neonatal (Quadro1)

O Organismo Sinais e sintomas presentes ao nascimento.Usualmente severa.


Sinais e sintomas de doença generalizada podem predominar
O Toxoplasma gondii possui três formas durante o seu ciclo e os sinais neurológicos estão sempre presentes. Raramente
evolutivo: evoluem sem seqüelas

• Taquizoíto (a forma invasiva encontrada na infecção aguda). Forma subclínica


• Cisto (contém os bradizoítos; encontrados nos tecidos)
• Oocisto (contém os esporozoítos; encontrados no solo e Normalmente o diagnóstico é feito baseado em primoinfecção
fezes exclusivamente na família dos felinos) materna
RN assintomáticos ou oligossintomáticos. O diagnóstico é ba-
Transmissão seado na história de primoinfecção materna ou persistência de 449
títulos no lactente. A prematuridade (em 50%) ou a restrição do
Os gatos excretam os oocistos após a ingesta de uma das três crescimento intrauterino é considerados sinais clínicos.
formas (podem ser excretados por 7 a 20 dias e podem perma- Os sinais mais freqüentes são: alterações liquóricas (hiperpro-
necer no solo até 18 meses-reservatório de toxoplasma). Alguns teinorraquia e linfocitose), calcificações, anemia, icterícia, hepa-
alimentos, como legumes, verduras, frutas, são contaminados toesplenomegalia e coriorretinite.
pelos oocistos. Alguns animais que se alimentem no solo conta- Podem desenvolver coriorretinite, estrabismo, cegueira, hidroce-
minado (boi, porco, carneiro, rato) ingerem os oocistos que per- falia ou microcefalia, retardo mental e psicomotor, epilepsia ou sur-
manecem nos músculos na forma de cistos. O homem é infecta- dez meses ou anos depois (frequentemente entre 3 e 12 meses).
do ao se alimentar de legumes, verduras e frutas crus (oocistos) Doença ocorrendo nos primeiros meses de vida
e carne mal-cozida (cistos). Os oocistos e cistos transformam-se Os RN são assintomáticas ao nascer. Os sintomas se manifestam
em taquizoítos ganham a circulação sanguínea encistam-se em semanas ou meses após o nascimento. Caracteriza-se por manifes-
músculos esqueléticos e cardíaco, cérebro e olhos. tações isoladas de coriorretinite e ou calcificações intracranianas.
Da cadeia de transmissão, fazem parte o gato (como hospe- As manifestações tardias da doença podem ser severas (lesões
deiro definitivo), outros animais que se alimentem de alimento oculares e do SNC) e ocorrem mais freqüentemente em prematu-
contaminados com oocistos excretados pelo gato. ros nos 3 primeiros meses de vida. Nos recém-nascidos a termo os
Obs o cão e o pássaro não são importantes nessa cadeia sinais e sintomas tardios ocorrem nos primeiros 2 meses de vida.
O sinal isolado mais freqüente é a cicatriz de coriorretinite
Transmissão Vertical
Sequelas
Considera-se que a toxoplasmose só pode ser transmitida ao
concepto se adquirida pela gestante primariamente durante a ges- As seqüelas são na maioria oculares, mas, em alguns casos
tação. Portanto, não haverá transmissão em gestações sucessivas são neurológicas: calcificações cerebrais, hidrocefalia, microce-
e a paciente não deve ser aconselhada a postergar ou evitar outras falia, retardo mental e psicomotor, cegueira e surdez. Convulsões
gestações nem tampouco deverá ser tratada após o parto. podem levar a descoberta de calcificações intracranianas e cica-
A transmissão durante o primeiro trimestre de gestação é me- trizes oculares de coriorretinite). As lesões oculares podem ocor-
nos frequente (em torno de 30%), porém resultando em formas rer na infância, adolescência ou vida adulta.
mais graves da doença. No segundo trimestre, a taxa de trans-
missão é de 30 a 70%, podendo chegar a 100% no último mês, Sinais E Sintomas
porém com menos chance de forma neurológica da doença. Ses-
senta por cento dos fetos infectados antes das 16 semanas de A maioria (cerca de 90%) dos recém-nascidos é assintomática.
idade gestacional tem evidência de infecção diagnosticados pela Em muitos casos não é a doença que se manifesta tardiamente; o
Ultrassonografia (ascite, pericardite, dilatação ventricular). diagnóstico, sim, é tardio. Cerca de 33% dos RN considerados as-
sintomáticos tinham 1 ou mais sinais da doença sendo que o mais

Paulo R. Margotto
Assistência ao Recém-Nascido de Risco

freqüente foi alteração do exame do LCR. Alguns sinais e sintomas Órgãos Endócrinos
são semelhantes aos relatados em outras infecções de transmis-
são vertical, porém algumas particularidades e a frequência em As alterações endócrinas são inespecíficas, pois refletem a
que ocorrem podem ser úteis no diagnóstico diferencial. severidade do acometimento cerebral. Há reato de diabetes in-
sipidus e mixedema.
Prematuridade
Síndrome Nefrótica
Prematuridade e baixos índices de Apgar são comuns entre os
RN sintomáticos. Ascite e anasarca podem ser sinais de nefrose. Há proteinúria,
hipoproteinemia, hipoalbuminemia e hipercolesterolemia.
Gemelaridade
Estudo Radiológico
Entre os gêmeos monozigóticos as manifestações clínicas fre-
qüentemente são similares. O mesmo não ocorre com os gêmeos Cérebro
dizigóticos. Hidrocefalia é característica de acometimento periductal. Obs-
trução do Aqueduto de Sylvius leva à dilatação de 3o e 4o ventrí-
Patogênese e Resposta Imune culos e, do forame de Moro leva à hidrocefalia unilateral.
As calcificações podem ser únicas ou múltiplas e, surpreen-
O trato GI é a principal rota pela qual o T. gondii infecta o hospe- dentemente, desaparecerem com tratamento no primeiro ano de
deiro. Os bradizoítos (dos cistos) e os esporozoítos (dos oocistos) vida. Não apresentam distribuição característica. Predominam
penetram nas células do intestino disseminando-se primeira- em região occipito-parietal e temporal.
mente para os linfonodos mesentéricos e a seguir, para órgãos Os aspectos do US na toxoplasmose congênita incluem calcifi-
mais distantes via rede linfática ou sangue. Os anticorpos IgG, cações intracranianas, hidrocefalia, microcefalia, atrofia cerebral
IgM, IgA e IgE são produzidos em resposta à infecção e, os taqui- e hidrocefalia. As calcificações intracranianas na toxoplasmose
zoítos são lisados quando se ligam aos anticorpos específicos, são multifocais e se apresentam em muitas áreas do cérebro,
com subseqüente ativação do complemento. como gânglia basal,área periventricular, substância branca, cór-
tex cerebral, diferente da infecção pelo citomegalovirus, que tem
Sistema Nervoso Central uma predileção para as calcificações periventriculares (figura 1).
As lesões da toxoplasmose no cérebro começam com uma vascu-
Uma das manifestações mais comuns é a hidrocefalia obstru- lite, subsequentemente seguida por necrose e infiltração celular
tiva (usualmente progressiva) e que pode se manifestar ao nasci- no córtex, meninges, substância branca, gânglia basal e tronco
mento ou logo após; convulsões; acometimento medular ou bulbar cerebral. A necrose é seguida por calcificação (figura 2).
450 (dificuldade de deglutição e distúrbio respiratório). Com relação à
microcefalia, não há evidência significativa de correlação com to-
xoplasmose. Quando presente significa dano cerebral severo, mas
existe relato de pacientes com desenvolvimento normal.

Olhos

Coriorretinite
Toxoplasmose é uma das maiores causas de coriorretinite, sen-
do que a sua presença em crianças maiores ou adultos é, na sua
maioria, considerada congênita. Em mais de 80% dos casos é bi-
lateral . O risco de aparecimento de coriorretinite aumenta com a
idade do paciente, nos primeiros anos de vida. A incidência na for-
ma subclínica é de aproximadamente 30% a 50% e na forma sinto-
mática é de 70 a 94%.Devido ao risco de reativação e surgimento
de novas lesões, deve-se repetir a fundoscopia trimestralmnente
em pré-escolares e semestralmente após esse período durante
toda a vida. Não há necessidade de se repetir fundoscopia caso
haja placa cicatrizada de coriorretinite bilateral e macular.
Associados a coriorretinite, observam-se atrofia de nervo ópti- Fig. 1. Tomografia computadorizada de um RN com toxoplasmose con-
co, baixa acuidade visual, estrabismo e microftalmia. gênita confirmada, mostrando múltiplas calcificações periventriculares
Com relação ao diagnóstico, os títulos sorológicos não são pre- associadas à hidrocefalia ex-vácuo. Há também calcificações na fossa
ditivos de lesão ocular. posterior, situadas na substância branca cerebelar (Margotto)

Retardo Mental

A correlação entre doença clínica e forma subclínica e retardo


mental ainda é incerta. A doença subclínica não está necessaria-
mente relacionada com retardo mental, mas com algum grau de
dificuldade intelectual.
Capitulo 12 Infecções Perinatais Crônicas

Fig. 2..Aspectos histológicos da região periventricular de um recém-nascido com


toxoplasmose congênita que apresentou ao nascer importante hidrocefalia (Segura)

Alterações Ósseas Surdez

Podem ser observadas metafisite em costelas e vértebras. Pe- Não há dados satisfatórios para se afirmar que a toxoplasmo-
riostite não está presente. se congênita seja uma causa importante de surdez. Parece estar
mais relacionada aos casos severos. Há um estudo (Wilson e cl) re-
Fígado latando 17% de pacientes com surdez, na forma subclínica, porém
no estudo de Chicago não houve surdez nos pacientes tratados.
Apesar da afirmação de que não são encontradas calcificações
fora do SNC, três casos foram descritos de calcificações hepáti- Frequência da ocorrência (%)
cas. Icterícia pode refletir acometimento hepático e/ou hemólise. Sinais e sintomas Doença neurológica Doença generalizada
Coriorretinite 94 66
Pele 451
Alteração LCR 55 84
Petéquias, equimoses e hematomas correlacionam-se a trom- Anemia 51 77
bocitopenia. Convulsões 50 18
Calcificações
50 4
Malformações intracranianas
Icterícia 29 80
Os estudos realizados são ainda inconclusivos para confirmar Hidrocefalia 28 0
ou rejeitar a hipótese de correlação entre toxoplasmose congêni- Febre 25 77
ta e malformações.
Esplenomegalia 21 90
Linfadenopatia 17 68
Eritroblastose E Hidropsia Fetal
Hepatomegalia 17 77
O quadro pode ser confundido com eritroblastose consequente Vômitos 16 48
a isoimunização. Um teste de Coombs negativo pode ser útil no Microcefalia 13 0
diagnóstico diferencial. Diarréia 6 25
Catarata 5 0
Ascite Eosinofilia 4 18
Sangramento
Há casos relatados de ascite devido à toxoplasmose congênita 3 18
anormal
Hipotermia 2 20
Sinais Cardiovasculares
Glaucoma 2 0
Miocardite toxoplásmica severa pode se manifestar como edema. Atrofia óptica 2 0
Microftalmia 2 0
Sinais Gastrintestinais Rash 1 25
Pneumonite 0 41
Os primeiros sinais da doença podem ser vômito e diarréia.

Dificuldade Respiratória Quadro 1-principais sinais e sintomas em RN com

È frequentemente consequente a pneumonite toxoplásmica,


infecção viral ou bacteriana concomitante ou lesão do SNC que
acomete centros respiratórios.

Paulo R. Margotto
Assistência ao Recém-Nascido de Risco

Diagnóstico 6. Detecção de antígenos próprios do parasita


Especialmente do antígeno P30, indicando infecção aguda. De-
O diagnóstico, tanto da gestante, quanto da criança, depende, tectados no soro, urina, LCR e em cortes de tecidos.
quase sempre, de exames sorológicos devido à ausência de si-
nais e sintomas em cerca de 90% em ambos os casos. 7. Teste de avidez
Extremamente útil no diagnóstico de infecção da gestante,
Métodos Diagnósticos quando realizado no primeiro trimestre da gestação.
É um teste ELISA-IgG modificado que avalia a afinidade ou avi-
Pesquisa de parasitos e seus componentes isolamento do dez que os anticorpos do paciente têm pelos antígenos do to-
toxoplasma xoplasma. A avidez do anticorpo na primoinfecção é baixa mas
eleva-se posteriormente. O teste baseia-se na dissociação antí-
1. Inoculação em camundongos. geno-anticorpo. Os anticorpos mais recentes dissociam-se com
Sangue do paciente, LCR, líquido amniótico podem ser inocula- mais facilidade pela sua baixa afinidade e o inverso ocorre com
dos por via intra peritonial em camundongos e a infecção é confir- os anticorpos mais antigos. O resultado é dado em porcentagem
mada pela presença de taquizoítos no líquido peritonial. (valor de referência é dado pelo laboratório). Alta avidez significa
infecção superior a 3 meses. Portanto, resultado de alta avidez
2. Isolamento em Cultura de Células no primeiro trimestre de gestação exclui infecção materna recen-
O material suspeito pode ser cultivado em fibroblastos huma- te e, consequentemente, infecção fetal. Porém, resultado de bai-
nos e evidenciado por teste de imunofluorescência. xa avidez não pode ser interpretado como infecção recente pois
a avidez dos anticorpos pode permanecer baixa por mais de 5
3. Reação de Polimerase em Cadeia (PCR) meses após a primo-infecção.
Mesmo um número extremamente reduzido de toxoplasmas
pode ser identificado pela detecção de segmentos característi- Diagnóstico De Infecção Materna
cos de seus ácidos nucléicos pela reação de PCR. Daí sua alta
sensibilidade. Em estudo de Grover e cols. não houve resultados Quanto à infecção pelo toxoplasma, a gestante pode ser classi-
falso-positivos. Resultados falso-negativos foram observados, ficada em suscetível, infectada recentemente ou imune, de acor-
mas ainda com dificuldade de comprovação. Pode ser realizado do com o perfil abaixo:
em sangue, líquido amniótico, urina, LCR, tecidos (placenta e cé-
rebro), lavado bronco-alveolar. Teste de
Pefil IF–IgG IF-IgM ELISA-IgG ELISA-IgM
avidez
4. Testes sorológicos Não
Os testes sorológicos são realizados por métodos manuais e Suscetível < 1/16 Negativo Negativo negativo
realizar
452 automatizados. O teste manual mais sensível e específicos no
Infcção
diagnóstico da toxoplasmose é o de Imunoflorescência (IF). São >1/16a Positivo Positivob Positivoc Baixad
recente
identificados anticorpos IgG e IgM e seu resultado é dado em
Imune >1/16 Negativo Positivo Negativof Altag
títulos. O menor título considerado positivo é 1/16. Os testes
automatizados mais úteis ao diagnóstico são os testes de ELISA
(Enzime-Linked Immunosorbent Assay) e os métodos de Microi- a – Títulos > que 1/1024
munopartículas (MEIA) e Quimioluminescência. São identificados d – Níveis séricos > 300
anticorpos IgG e IgM e os resultados são em índices (a interpreta- c - Níveis séricos > 3,0 (ELISA) e 12 (quimioluminescência)
ção dos resultados depende dos valores de referência fornecidos d - g– O resultado do Teste de Avidez é considerado baixo se <
pelo laboratório). Segue-se um breve comentário sobre eles: 30% e alto se >30%
Teste de imunofluorescência indireta f- Os valores podem ser positivos (baixos) por até 3 anos, não
Substitui o Teste do Corante (Sabin e Feldman), sendo mais caracterizando infecção aguda
prático, sensível e possibilitando identificação de anticorpos IgG Deve-se ressaltar que os níveis séricos de IgM podem perma-
e IgM. Os resultados de IgG são dados em títulos ou Unidades necer positivos por mais de 18 meses, e por isso, a presença des-
Internacionais (UI/ml). Cada laboratório deve determinar o fator ses anticorpos não pode ser considerada marcador de infecção
de conversão entre as duas formas de expressão. O menor título aguda. Todos os resultados de IgM positivo devem ser quantifica-
de IgG considerado positivo é de 1/16. Os resultados de IgM são dos e confirmados em laboratório de referência. Resultados aci-
dados em títulos, porém o teste não é tão sensível na sua detec- ma de 3,0 UI/ml parecem estar associados com maior incidência
ção sendo a positividade de apenas 25% a 50%. de toxoplasmose congênita, o mesmo não ocorrendo com níveis
Para diagnosticarmos toxoplasmose congênita são necessários mais baixos, embora positivos.
2 amostras positivas de sangue do RN. Há a possibilidade de pas-
sagem transplacentária de IgM materno e, nessa situação, o IgM Diagnóstico De Infecção Fetal
deverá negativar-se até o sétimo dia de vida e a infecção, excluída.
1. Ultrassonografia fetal
5. Testes imunoenzimáticos (enzime-linked immunoso- Podem ser evidenciadas calcificações intracranianas e dilata-
bent assay-elisa) ção ventricular.
O teste de ELISA tem substituído amplamente outros métodos
na rotina laboratorial. Difere dos anteriores na técnica pois utiliza 2. PCR
espectofotômetro para a leitura dos resultados. Detecta anticor- O diagnóstico de infecção fetal pode ser confirmado pelo resul-
pos IgM, IgA, IgE e IgG com alta sensibilidade e especificidade tado de PCR positivo no líquido amniótico, lembrando-se que a
com resultados dados em níveis séricos. sensibilidade e especificidade variam de acordo com a qualidade
dos testes comprados por cada laboratório.
Capitulo 12 Infecções Perinatais Crônicas

Diagnóstico No RN Outros Exames

1. Testes Sorológicos 1. Histopatológico de placenta


A presença de IgM no sangue do RN pode indicar toxoplasmose A identificação do parasita é fortemente sugestiva de infecção
congênita, exceto nos casos de IgM falso-positivo, IgM anti-IgG fetal devendo-se iniciar o tratamento do RN.
materno, “escape placentário”. A ausência de IgM não exclui a
infecção devido à possibilidade de resultado falso-negativo. Tratamento
Um único resultado de IgG em títulos elevados não comprova a
infecção. O aumento dos níveis séricos sugerem infecção aguda, Tratamento pré-natal
ou seja, anticorpos produzidos pela própria criança.
Não há consenso na literatura mundial sobre a eficiência do tra-
2. Hematológico tamento pré-natal na transmissão da toxoplasmose congênita. O
Hemograma completo com A presença de leucocitose, anemia, tratamento parece diminuir a ocorrência de sequelas, porém não
eosinofilia e plaquetopenia no hemograma completo são sinais há estudos randomizados que confirmem esses dados. Estudo
de toxoplasmose congênita. realizado com 524 pacientes acompanhados no ambulatório do
HRAS ao longo de 15 anos, mostrou que o tratamento foi eficiente
3. Liquórico na diminuição da transmissão da doença quando iniciado no pri-
A presença de hiperproteinorraquia (proteína acima de 1 g/dl) meiro trimestre de gestação, continuado até o parto. Porém, não
é indicativa de reação inflamatória do SNC. houve diferença quanto ao esquema de drogas utilizado.
A toxoplasmose é a infecção congênita com os maiores valores Embora não haja consenso, a maioria das publicações orienta
de proteína no líquor (valores de proteína superiores a 1g/dl). que o tratamento da toxoplasmose congênita deve ser iniciado
o mais precocemente possível, ainda na fase fetal. O número de
4. Bioquímica fetos que apresentam lesões neurológicas (principalmente hipe-
Hiperbilirrubinemia a custa de bilirrubina direta e elevação de recogenicidade periventricular) e doença ocular é maior quanto
transaminases. maior o tempo entre diagnóstico materno e início do tratamento.
O tratamento da gestante só será iniciado em caso de infec-
5. Radiológico ção aguda na gestação. Gestantes com sorologia positiva para
RX de crânio: é um exame inespecífico, de triagem. Deve ser toxoplasmose anterior à gestação são consideradas imunes e
solicitada tomografia computadorizada de crânio para confirma- não serão tratadas.
ção diagnóstica. A ausência de calcificações ao Rx não exclui a As drogas de escolha são pirimetamina associada à sulfadiazi-
doença. A presença de calcificação como único sinal, não está na (cuja associação resulta em uma ação sinérgica com eficácia
associada a atraso do desenvolvimento. oito vezes maior que cada droga isoladamente) e espiramicina.
A escolha do esquema de tratamento dependerá da idade ges- 453
6. Tomografia computadorizada de crânio (TC) tacional. O esquema pirimetamina e sulfadiazina associada ao
Exame de escolha para diagnóstico de dano cerebral pela ácido folínico (esquema tríplice) deve ser evitado até as 18 sema-
alta sensibilidade de detecção das alterações cerebrais resul- nas de IG, sendo usada a espiramicina nesse período. Apesar da
tantes da infecção. espiramicina diminuir a transmissão do parasita da mãe para o
feto, ela não ultrapassa a barreira placentária, não sendo eficaz
7. Ultrassonografia de crânio no tratamento do feto infectado. Por isso, o “esquema tríplice”
É mais sensível à presença de lesão de parênquima cerebral deve ser escolhido em caso de infecção fetal comprovada com
e dilatação ventricular sendo menos sensível para detecção intuito de diminuir a inocorrência das sequelas da doença no RN
de calcificações. (cerca de 86% dos RN tratados intra-útero apresentam forma
subclínica da doença). O ácido folínico deve ser prescrito pois a
8. Oftalmológico pirimetamina é um anti-fólico. O esquema de tratamento da ges-
Como visto anteriormente, a incidência de coriorretinite na for- tante está resumido na Tabela 1.
ma assintomática é de aproximadamente 30% a 50% e na forma
sintomática é de 70 a 94%. Portanto, é imprescindível a realiza-
ção do exame fundoscópico nos casos diagnosticados e suspei-
tos. São observados, especialmente, uveíte e coriorretinite.

Paulo R. Margotto
Assistência ao Recém-Nascido de Risco

Período
Tratamento Duração
Gestacional
Rovamicina®
De forma contínua até o final
1º Trimestre (Espiramicina)
do 1º trimestre
500mg 2 compr. VO de 8/8 horas
Tratamento Alternado: 3/3 semanas:
Daraprin®
(Pirimetamina)
Dose de ataque
4 compr. VO uma vez ao dia durante 2 dias
A seguir:
2 compr. VO uma vez ao dia
+ Suspender por 4 semanas
Sulfadiazina® o tratamento com Daraprin,
(Sulfadiazina) Sulfadiazina e Leucovorin
2º e 3º trimestres
500mg 2 compr. VO de 6/6 horas caso apareçam anemia e
Dose máxima 4g pancitopenia, substituindo por
+ Espiramicina.
Leucovorin®
(Ácido Folínico)
15mg 1 compr. VO 3 vezes por semana (idealmente em jejum)
Alternado com:
Rovamicina®
(Espiramicina)
500mg 2 compr. VO de 8/8 horas

Tabela 1- Tratamento da Gestante com Toxoplasmose na Fase Aguda

•Sendo a Pirimetamina um antifólico, é indispensável contro- Tratamento pós-natal


lar o tratamento com hemograma completo com contagem de
plaquetas quinzenalmente. Deve-se administrar Ácido Folínico na Novamente, as drogas indicadas são pirimetamina e sulfadiazi-
454 dose de 15 mg/dia, 3 vezes por semana até uma semana após o na associadas ao ácido folínico.
tratamento com Pirimetamina. O tratamento deve ser instituído para todas as crianças cujas
•Reações Adversas da Pirimetamina: depressão da medula mães tiveram toxoplasmose aguda confirmada na gestação por no
óssea (efeito gradual, reversível e dose-dependente), discrasias mínimo 2 meses. Se a infecção pelo toxoplasma for descartada
sangüíneas, deficiência do ácido fólico, anemia megaloblástica, ao longo do acompanhamento, o tratamento deverá ser suspenso.
e, raramente, exantema, vômitos, convulsões, choque e eosinofi- O tempo de tratamento com cada uma das drogas varia em di-
lia pulmonar. Reações Adversas da Sulfadiazina: cristalúria, ane- ferentes centros de estudo de toxoplasmose, porém grande parte
mia hemolítica, agranulocitose (reversível na maioria dos casos), preconiza o tratamento até 12 meses de vida, conforme quadro 2.
reações de hipersen­sibilidade e kernicterus ao atingir a circula- A associação ao corticóide deve ser feita na presença de rea-
ção fetal, se utilizado em gestantes próximo ao termo. Reações ção inflamatória do SNC (identificada pela hiperproteinorraquia)
Adversas da Espiramicina: dis­túrbios gastrintestinais (diarréia, ou ocular (uveíte e lesão de coriorretinite em atividade).
vômitos, náuseas, dor abdominal) e reações alérgica. O tratamento das crianças assintomáticas deverá ser instituído
Caso seja confirmada a infecção fetal, deve ser usado o es- no intuito de prevenir o alto índice de seqüelas. O parasita nunca
quema tríplice continuamente até o parto, porém não deve ser é eliminado completamente pelo tratamento. Ele é eficaz contra
iniciado antes da 18ª semana de gestação pelos possíveis efeitos a forma de taquizoíto (infecção aguda), mas não erradica as for-
teratogênicos da pirimetamina. mas encistadas, especialmente no SNC e olhos.
Capitulo 12 Infecções Perinatais Crônicas

Manifestação Da Doença Medicação Dose DURAÇÃO DO TRATAMENTO


Dose inicial: 2 mg/Kg/dia (dose
única) por 2 dias, após 1 mg/Kg/
dia (dose única) por 2 a 6 meses.
Toxoplasmose Congênita Pirimetamina 1 ano a
Após 6 meses, a mesma dose
toda segunda, quarta e sexta-
feiras
associado a
100mg/Kg/dia (dividido em 2
Sulfadiazina 1 ano a
doses)
associado a

Durante o uso da Pirimetamina


Leucovorin 10 mg 3 vezes/semana e 1 semana após cessado o
tratamento com a Pirimetamina

Até a resolução da hiperprotei-


Proteína do LCR > 1g% e na
Corticosteróides b (prednisona) 1mg/Kg/d (dividida em 2 doses) norraquia ou da atividade da
presença de coriorretinite ativa
coriorretinite
Dose inicial: 2 mg/Kg/dia (dose
Coriorretinite Ativa em Crianças única, máximo 50 mg) por 2 dias, 1-2 semanas após a resolução
Pirimetamina
Maiores após, manutenção de 1 mg/Kg/ do quadro.
dia (dose única, máximo 25 mg)
associado a
Dose inicial: 75 mg/Kg/dia (dose
1-2 semanas após a resolução
Sulfadiazina única) e manutenção com 50 mg/
do quadro.
Kg dia (dividido em 2 doses)
associado a
Durante o uso da Pirimetamina
Leucovorin d 10-20 mg 3 vezes/semana d e 1 semana após cessado o
tratamento com a Pirimetamina
= Até a resolução da hiperpro-
455
Corticosteróide b 1mg/Kg/d (dividida em 2 doses) teinorraquia ou da atividade da
coriorretinite
Quadro 2 – Guia de Tratamento da Toxoplasmose Congênita (casos confirmados)

A. A duração do tratamento ainda é discutível, especialmente Concentra-


Droga Forma Quantidade Validade
as crianças com AIDS. ção
B. Corticosteróides devem ser usados somente em associação Suspensão 50 ml
Pirime- 7 dias sob
a pirimetamina, sulfadiazina e leucovorin e deve ser mantido até 2mg/ml de açúcar necessários 4
tamina refrigeração
que os sinais inflamatórios tenham desaparecido. A droga pode 2% comprimidos
ser suspensa abruptamente se até 5 dias de uso. Após, deve-se Suspensão 50 ml
Sulfa- 7 dias sob
fazer diminuição gradativa das doses até a suspensão. 100mg/ml de açúcar necessários 10
diazina refrigeração
C. Sendo a Pirimetamina um antifólico, é indispensável con- 2% comprimidos
trolar o tratamento com hemograma completo com contagem de
plaquetas quinzenalmente
D. O ácido folínico deve ser usado sempre em associação a Tabela 4- Fórmulas das Suspensões Orais
pirimetamina, pois a pirimetamina inibe indiretamente síntese a
Pirimetamina (Daraprim ):1 comprimido = 25 mg
de ácido folínico pela inibição da síntese de ácido fólico. O ácido
fólico não deve ser usado em substituição ao ácido folínico pois Manejo Clínico Do RN
o ácido fólico não evita a anemia megaloblástica e ainda inibe a
ação da pirimetamina sobre a forma proliferativa do toxoplasma. Todas as crianças nascidas de mães com diagnóstico de toxo-
plasmose aguda na gestação devem ser investigadas com : exa-
Vimos o tratamento das gestantes e das crianças infectadas. me clínico, hemograma completo, testes sorológicos para IgG e
Mas existe um grupo de RN com suspeita de infecção que deve- IgM para toxoplasmose, estudo do LCR, exame de fundo de olho,
rá receber medicação durante os primeiros 30 dias de vida, ini- ultrassonografia cerebral e radiografia de crânio. Em casos sinto-
cialmente. A continuação do tratamento será decidida durante o máticos ou assintomáticos e confirmados por testes sorológicos,
acompanhamento ambulatorial. O tipo de tratamento é baseado deve ser realizada a tomografia de crânio.nessas crianças
na história materna e está resumido na Tabela 3. O tratamento tríplice deve ser iniciado ao nascer.
As drogas usadas não são comercializas na forma de suspen-
são para crianças devendo ser manipuladas. As formulação está Manejo Clínico Da Criança Suspeita
resumida na Tabela 4
O acompanhamento clínico deve ser mensal até que se con-
firme o caso de toxoplasmose. Os testes sorológicos serão rea-

Paulo R. Margotto
Assistência ao Recém-Nascido de Risco

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O tratamento com esquema tríplice iniciado ao nascer é continua- 2010.
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res realizados ao nascimento sem alterações e resultados de IgG from areas with a high infection rate can determine the risk of mother-to-child transmis-
sion. Rev. Inst. Med. trop. S. Paulo. 48:93,2006
descendentes e IgM negativo, a medicação será suspensa. O acom- • Patel DV, Holfs EM, Vogel NP, Boyer KM, Mets MB, Swisher CN e cols. Resolution of intra-
cranial calcifications in infant with treated congenital toxoplasmosis. Radiology, 433,1996
panhamento clínico é mantido mensalmente e os testes sorológicos • Toxoplasmose Gestacional e Congênita, Brasília, Distrito Federal: Secretaria de Estado de
são repetidos aos 3, 5, 8 e 12 meses ou até a negativação. Saúde do Distrito Federal/Departamento de Saúde Pública. 2000.
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de vida, acompanhamento por toda a vida, com intervalo mensal • Martin, FC. Toxoplasmosis congénita. Una enfermedad con demasiados interrogantes. An
Pediatr (Barc) 61:115,2004
no primeiro ano de vida e bimestral no segundo ano e semestral, • Gratzl R, Hayde M, Kohlhauser M, e cl. Follow-up of infants with congenital toxoplasmosis
detected by polimerase chain reaction analysis of amniotic fluid. 17:853,1998
posteriormente. Devem, ainda, ser realizadas provas de funções • Caiaffa W T, Chiari C A, Figueiredo A R P, Orefice F, Antunes C M F: Toxoplasmosis and Men-
renal e hepática e tomografia computadorizada de crânio. A fun- tal Retardation – Report of Case Control Study. Mem. Inst. Oswaldo Cruz 88: 253,1993
• Kankova S, Flegr J.Longer pregnancy and lower fetal development in woman with latent
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• Hill D, Dubey P. Toxoplasma gondii: transmission, diagnosis and prevention. Clin Microbiol
quando passará a ser semestral por toda a vida pelo risco de re- Infect 8:634,2002
cidiva das lesões de coriorretinite. O tratamento é acompanhado • Reis M M, Tessaro M M, D’Azevedo P A. Toxoplasma-IgM and IgG-avidity in single samples
from areas with a high infection rate can determine the risk of mother-to-child transmis-
com hemograma completo e contagem de plaquetas quinzenal- sion. Rev. Inst. Med. Trop. S. Paulo. 48:93,2006
• Pinard JA, Irvine PJ. Maternal serologic screening for toxoplasmosis. J Midwifery Wo-
mente, pois a pirimetamina pode causar neutropenia. Deve-se, mens Health 48:308,2003
também, administrar o ácido folínico durante o tratamento e uma • Manual de Toxoplasmose Gestacional e Congênita. Brasília, FD. Secretaria de Estado de
Saúde do DF, 2010
semana após o término do mesmo. • Lebech M, Joynson DHM, Seitz HM e cl. Classification system and case definitions of To-
xoplasma gondii infection in immunocompetent pregnant women and their congenitally
Os casos graves que cursam com deficiência visual ou retardo men- infected offspring. Eur. J. Microbiol. Infect. Dis 15:799,1996
tal são acompanhados, também por equipe multidisciplinar contando • Wallon M  ,  C Liou, Garner P,  Peyron Congenital toxoplasmosis: systematic review of
evidence of efficacy of treatment in pregnancy. BMJ 318:1511,1999
com neuro-pediatras, terapeutas ocupacionais e psicopedagogos. • Foulon W, Villena I, Stray-Pedersen B, Decoster A, Lappalainen M, Pinon JM, Jenum PA,
Hedman K, Naessens A. Treatment of toxoplasmosis during pregnancy: a multicenter study
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• Gilbert RE, Gras L. European Multicentre Study on Congenital Toxoplasmosis. Effect of
timing and type of treatment on the risk of mother to child transmission of Toxoplasma
gondii. BJOG 110:112,2003
A prevenção da toxoplasmose congênita é classificada em pri- • Jones J, Lopez A, Wilson M. Congenital Toxoplasmosis. Am Fam Physician 67:2131,2003
mária, secundária e terciária. Os estudos mais recentes referem • Montoya J G, Rosso F. Diagnosis and Management of Toxoplasmosis. Clin Perinatol
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a prevenção primária com a mais eficaz e a única capaz de dimi- • Boyer K M, Holfels E, Roizen N, Swisher C, Mack M, Remington J. e al. Risk factors for Toxo-
plasma gondii infection in mothers of infants with congenital toxoplasmosis: Implications
nuir a incidência da doença. for prenatal management and screening. Am J Obstet Gynecol 192:564,2005
• Elsheika HM. Congenital Toxoplasmosis: Priorities for further health promotion action. Pu-
A prevenção primária consiste em orientar as gestantes sus- blic Health 122: 335,2008
cetíveis, ou seja, soronegativas a não ingerir carne mal passada, • The SYROCOT (Systematic Review on Congenital Toxoplasmosis) study group. Effectiveness
of prenatal treatment for congenital toxoplasmosis: a meta-analysis of individual patients’
ovo quente ou cru, água não potável, verduras cruas, frutas que data. The Lancet 369: 115,2007
• Durlach R, Kaufer F, Carral L e cl. Consenso Argentino de Toxoplasmose Congénita. MEDI-
não sejam lavadas com detergente. Também não deverá mani- CINA (Buenos Aires) 68:75,2008
pular carne crua, fezes de gato ou horta sem o uso de luvas. O • 36.Mombrò M, Perathoner C, Leone A, Buttafuoco V, Zotti C, Lievre M A, Fabris C. Conge-
nital toxoplasmosis: assessment of risk to newborns in confirmed and uncertain maternal
ideal é que seja realizada a sorologia pré-natal para que as orien- infection. Eur J Pediatr 162:703,2003
• Dunn D, Wallon M, Peyron F, Petersen E, Peckham C, Gilbert R. Mother-to-child transmis-
tações sejam feitas antes da concepção, no caso de suscetibili- sion of toxoplasmosis: risk estimates for clinical counselling. Lancet 353:1829,1999
dade à doença. • Flori P, Bellete, Crampe C, Maudry A, Patural H, Chauleur C, Hafid J, Raberin H,Tran M S
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A prevenção secundária é feita pela instituição do tratamento toxoplasma IgG avidity test Clin Microbiol Infect 14: 242,2008
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nas gestantes com infecção aguda, no intuito de evitar a trans- from:http://www.cdc.gov/mmwr/preview/mmwrhtlm/rr4902a5.htm 2010, November 1st
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A prevenção terciária resulta da perda da oportunidade das ou- cohort study in 13 European centres. Acta Pediatr 94:1721,2005
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Capitulo 12 Infecções Perinatais Crônicas

12.3 SÍNDROME DE IMUNODEFICIÊNCIA ADQUIRIDA

Thereza Christina Corrêa Ribeiro, Wílleke Clementino Sleegers,


Paulo R. Margotto, Olga Messias Alves de Oliveira

Introdução

A AIDS, Síndrome da Imunodeficiência Adquirida (sigla do in- O (outlier) e N (não M-não O) com variabilidade genética de até
glês: Acquired Immune Deficiency Syndrome) é a manifestação 30%. Os vírus do grupo M são a forma mais comum em todo o
mais grave e avançada da infecção pelo retrovírus humano HIV mundo, sendo subdivididos em vários subtipos, nomeados de A a
(Vírus da Imunodeficiência Humana, o HIV, da sigla do inglês - Hu- K. Nos grupos N e O, apenas um. Em relação ao HIV-2 descrevem-
man Immunodeficiency Vírus).  Foi inicialmente registrada pelo se cinco subtipos: A, B, C, D, e E. Embora ainda não conhecida,
CDC (Centers for Disease Control) de Atlanta (EUA) em 1981. No especula-se a possibilidade de variantes virais possuírem dife-
Brasil, os primeiros adultos afetados foram notificados ao Minis- rentes índices de transmissibilidade e/ou patogenicidade.
tério da Saúde em 1982 e a primeira criança em 1984. No Brasil, o subtipo prevalente é o HIV-1 e a cepa mais freqüen-
te é a B, assim como na América do Norte e na Europa. Atualmen-
Etiologia te, o subtipo C é o que se propaga com maior velocidade em todo
o mundo, estando presente na Índia, na Etiópia e no sul da África.
Em 1983, o HIV-1 foi isolado de pacientes com AIDS pelos pes-
quisadores Luc Montaigner, na França, e Robert Gallo, nos EUA, Patogenia
recebendo os nomes de LAV (Lymphadenopathy Associated Virus ou
Virus Associado à Linfadenopatia) e HTLV-III (Human T-Lymphotro- A infecção aguda pelo HIV-1 em adultos é caracterizada por um
phic Virus ou Vírus T-Linfotrópico Humano tipo lll) respectivamente alto pico de carga viral que declina rapidamente durante aproxi-
nos dois países. Em 1986, foi identificado um segundo agente madamente 3 a 4 meses após a infecção até alcançar a estabi-
etiológico, também retrovírus, com características semelhantes lidade. Este declínio da viremia coincide com a emergência da
ao HIV-1, denominado HIV-2. Nesse mesmo ano, um comitê in- resposta mediada por células T citotóxicas (CTL). Em contraste,
ternacional recomendou o termo HIV (Human Immunodeficiency a carga viral das crianças é muito alta e o declínio da viremia
Virus ou Vírus da Imunodeficiência Humana) para denominá-lo, é mais lento. Esta elevada carga viral encontrada em crianças
reconhecendo-o como capaz de infectar seres humanos. recém-nascidas pode estar relacionada com a alta produção de
O HIV é um retrovírus com genoma RNA, da Família Retroviridae partículas virais no timo, uma vez que crianças possuem um ele-
(retrovírus) e subfamília Lentivirinae. Pertence ao grupo dos retro- vado número de células T CD4 circulantes e porque a resposta de 457
vírus citopáticos e não-oncogênicos que necessitam, para mul- CTL ocorre somente após 6 meses de idade. Além disso, estudos
tiplicar-se, de uma enzima denominada transcriptase reversa, demonstraram que a sobrevida das crianças infectadas é menor
responsável pela transcrição do RNA viral para uma cópia DNA, do que a dos adultos infectados, o que pode ser explicado por
que pode, então, integrar-se ao genoma do hospedeiro. alguns fatores: imaturidade do sistema imune, falha na aquisição
Embora não se saiba ao certo qual a origem do HIV-1 e 2, sabe- da imunidade materna, momento da transmissão ou carga viral
se que uma grande família de retrovírus relacionados a eles está materna, taxa de replicação viral, indução de sincício, diminuição
presente em primatas não-humanos, na África Sub-Sahariana. de células T CD4 e a infecção no timo.
Todos os membros desta família de retrovírus possuem estrutu- A dinâmica da infecção pelo HIV-1 em crianças parece ser mui-
ra genômica semelhante, apresentando homologia em torno de to distinta daquela observada em adultos. Em crianças observa-
50%. Além disso, todos têm a capacidade de infectar linfócitos se que a carga viral do HIV- 1 declina muito mais lentamente
através do receptor CD4. Aparentemente, o HIV-1 e o HIV-2 pas- após a infecção inicial. A média da carga viral se mantém em
saram a infectar o homem há poucas décadas; alguns trabalhos níveis elevados durante os três primeiros anos de vida, depois
científicos recentes sugerem que isso tenha ocorrido entre os declina gradualmente para níveis semelhantes aos observados
anos 40 e 50. Numerosos retrovírus de primatas não-humanos em adultos infectados. Em adição, a resposta CTL é raramente
encontrados na África têm apresentado grande similaridade com observada antes do sexto mês de idade na infecção materno in-
o HIV-1 e com o HIV-2. O vírus da imunodeficiência símia (SIV), fantil. Nessas crianças, a resposta CTL geralmente tende a ser
que infecta uma subespécie de chimpanzés africanos, é 98% si- menos restrita e menos intensa do que a observada em adultos
milar ao HIV-1, sugerindo que ambos evoluíram de uma origem infectados. O atraso no desenvolvimento da resposta imune celu-
comum. Por esses fatos, supõe-se que o HIV tenha origem africa- lar contra os epítopos do HIV-1 observados em crianças infecta-
na. Ademais, diversos estudos sorológicos realizados na África, das pode induzir tolerância a alguns peptídeos virais.
utilizando amostras de soro armazenadas desde as décadas de Visto que o sistema imunológico em crianças não está comple-
50 e 60, reforçam essa hipótese. tamente desenvolvido como nos adultos, o curso natural da in-
O HIV-1 é o subtipo mais comum e responsável pela infecção fecção pediátrica pelo HIV- 1 apresenta algumas peculiaridades.
de milhões de pessoas no mundo todo. O HIV-2 é encontrado Notadamente a resposta imune em crianças com idade entre 0
principalmente na África, sua transmissão é menos eficaz e re- e 3 anos é pouco eficiente à infecção pelo HIV-1, contudo crian-
sulta em doenças de curso mais indolente. ças com idade superior a 4 anos são capazes de montar uma
O HIV é bastante lábil no meio externo, sendo inativado por resposta bastante eficaz contra as proteínas. Essa diferença na
uma variedade de agentes físicos (calor) e químicos (hipoclorito intensidade da resposta imune ao HIV-1, observada em crianças,
de sódio, glutaraldeído). sugere que o processo de diversificação dos genes virais pode
Têm sido descritas variantes genômicas (subtipos), tanto de ser mais lento durante a infecção pediátrica. Vários estudos
HIV-1 quanto de HIV-2, em pacientes infectados procedentes de abordaram a relação entre a diversidade do HIV-1 e a progressão
diferentes regiões geográficas. Com base na análise genética, o para AIDS. Existe consenso nesses estudos no sentido que quan-
HIV- 1 pode ser dividido em três subgrupos designados M (major), to mais intensa a resposta imune (celular e humoral) dirigida às

Paulo R. Margotto
Assistência ao Recém-Nascido de Risco

proteínas virais, mais diversificada a população viral no hospe- Os pacientes com AIDS também apresentam profundas anorma-
deiro. No entanto não se sabe se a diversificação do HIV-1 afeta lidades no funcionamento das células B. Paradoxalmente, esses
a progressão para a AIDS ou se é simplesmente uma decorrên- pacientes apresentam hipergamaglobulinemia e imunocomplexos
cia direta do tempo de infecção. Assim, adultos infectados pelo circulantes, decorrentes da ativação policlonal das células B. Isso
HIV- 1 que apresentam progressão rápida para AIDS possuem pode resultar de múltiplos fatores que interagem entre si: a rein-
uma população viral mais homogênea e pouco diversificada, en- fecção ou a reativação por citomegalovírus e EBV podem ocorrer,
quanto que em adultos que progridem lentamente possuem po- sendo ambos ativadores policlonais das células B; a gp 41 pode
pulação viral mais heterogênea. Igualmente, em crianças infec- por si só promover o crescimento e a diferenciação das células B;
tadas pelo HIV-1 observou-se que em pacientes que progridem macrófagos infectados pelo HIV podem produzir elevadas quanti-
lentamente para AIDS, as proteínas virais sofrem mais pressão dades de IL-6, o que estimula a proliferação das células B.
seletiva. Assim, as taxas evolutivas do HIV-1 nesses pacientes
são mais elevadas que em crianças com progressão mais rápida. Epidemiologia
Outra análise feita em pares mães-filhos mostrou que a taxa de
diversificação do HIV-1 ao longo todo tempo em crianças é similar O padrão epidemiológico da AIDS mudou dramaticamente desde
àquela observada em adultos. Esses achados indicam que ape- a descrição dos primeiros casos em 1981 nos EUA até os dias de
sar de que durante a infecção pediátrica a dinâmica da resposta hoje. Restrita inicialmente a alguns grupos de indivíduos nos EUA,
imune às proteínas virais é mais lenta que em adultos, o proces- Europa e África subsaariana, hoje a doença afeta todas as partes do
so de diversificação do HIV-1 é idêntico. mundo e se transformou em uma importante causa de morbimor-
Acredita-se que o HIV pode provocar a perda das células T CD4 por talidade, particularmente entre adultos jovens. Na primeira década
diversas maneiras que não incluem o efeito citopático direto do vírus: do reconhecimento da doença, a transmissão ocorria predominan-
temente por contato homossexual, mas as pessoas infectadas por
• No início do curso da doença, o HIV coloniza os órgãos transmissão heterossexual foram aumentando com o tempo, en-
linfóides (baço, linfonodos, tonsilas), sendo estes re- quanto o controle da qualidade do sangue e de seus derivados levou
servatórios das células infectadas. O vírus pode causar à diminuição dos casos secundários às hemotransfusões.
destruição progressiva da arquitetura e da composição As mulheres estão representando um contingente cada vez
celular dos tecidos linfóides; maior entre os casos de AIDS no mundo. No Brasil, a relação en-
• A ativação crônica das células não-infectadas, respon- tre homens e mulheres com AIDS vem caindo progressivamente,
dendo ao próprio HIV ou a infecções que são comuns em de 40:1 em 1983 para 1,5: 1 em 2007.
pacientes, provoca a apoptose dessas células por meio O crescimento progressivo do número de casos entre mulheres
de processo de morte celular induzida por ativação; jovens tem aumentado paralelamente os casos em crianças atra-
• Perda dos precursores imaturos de células T CD4, por vés da transmissão vertical. Entre 1980 e junho de 2008, foram
infecção direta das células progenitoras tímicas ou por notificados ao Ministério da Saúde 13.728 casos de AIDS em
458 infecção das células acessórias que secretam citocinas crianças menores de 13 anos de idade, sendo que 11.607 (84,5
essenciais para a maturação das células T CD4; %) foram adquiridas através da transmissão vertical. Em 2006
• Fusão de células infectadas com células não-infectadas, foram identificados 561 casos de AIDS em menores de cinco
havendo a formação de sincícios; anos, correspondendo a uma taxa de incidência de 3,1/100.000
• Apoptose das células T CD4 não infectadas induzida pela habitantes. O indicador taxa de incidência em menores de cinco
ligação de gp 120 solúvel com a molécula de CD4 e se- anos foi pactuado entre o Ministério da Saúde, estados e municí-
guida pela ativação do receptor das células T por antíge- pios na “Programação das ações de Vigilância em Saúde” (PAVS-
nos; essa reação cruzada das moléculas CD4 e a ativa- 2008) da Secretaria de Vigilância em Saúde. Esse indicador será
ção das células T provocam uma sinalização aberrante e utilizado para monitorar os progressos do “Plano Operacional
ativação de vias de morte. para Redução da Transmissão Vertical do HIV e da Sífilis”.
Um estudo multicêntrico (localizado em 14 estados do Brasil
Ainda que a marcante redução das células T CD4, um emblema e no Distrito Federal) realizado por Succi e colaboradores e pela
da AIDS, possa responder pela maior parte da imunodeficiência no Sociedade Brasileira de Pediatria em 2003 e 2004 avaliou as
final do curso da infecção pelo HIV, há fortes evidências de defeitos taxas de transmissão vertical do HIV (TMI do HIV) em todo país.
qualitativos nas células T, que podem ser detectados mesmo em Nesse estudo a TMI do HIV foi de 7,01%, havendo diferenças en-
indivíduos assintomáticos infectados pelo HIV. Os defeitos relata- tre as regiões estudadas.
dos incluem uma redução na proliferação das células T induzidas
por antígenos, uma diminuição nas respostas do tipo Th1 com re- Transmissão
lação às do tipo Th2, defeitos na sinalização intracelular e muitos
outros. O desequilíbrio entre as respostas Th1 e Th2 resulta em A maior parte dos casos de transmissão vertical do HIV (cerca
uma profunda deficiência na imunidade mediada por células, le- de 65%) ocorre durante o trabalho de parto e no parto propria-
vando a uma elevada suscetibilidade a infecções por vírus e a ou- mente dito; em torno de 25% da transmissão se dá intra-útero,
tros micróbios intracelulares. Além da infecção e perda das células principalmente nas últimas semanas de gestação, mas pode,
T CD4, a infecção dos monócitos e macrófagos é também extrema- eventualmente, acontecer no início, como comprovado através
mente importante na patogênese da infecção pelo HIV. Primeiro, de exames de abortos, havendo ainda um risco variando de 14 a
os monócitos e macrófagos representam uma verdadeira fábrica 22% por meio da amamentação.
e reservatório de vírus, cujos produtos permanecem amplamente A taxa de transmissão vertical do HIV, sem qualquer interven-
protegidos das células de defesa. Segundo, os macrófagos forne- ção, situava-se em torno de 25% no Brasil.
cem um veículo seguro para a migração do HIV para as diversas Em 1994, os resultados do Protocolo 076 do Pediatrics Aids Cli-
partes do corpo, incluindo o sistema nervoso. Terceiro, nos está- nical Trial Group (PACTG 076) que preconizou Zidovudina (AZT) oral
gios tardios da infecção por HIV, quando ocorre um enorme declí- para a gestante, endovenoso para a parturiente e oral para o recém-
nio nos números de células T CD4, os macrófagos podem ser um nascido, evidenciaram uma redução de 67,5% na transmissão verti-
local relevante de replicação viral continuada. cal, acrescido da alimentação através de fórmulas lácteas.
Capitulo 12 Infecções Perinatais Crônicas

Na evolução dos estudos, foi reconhecido que carga viral eleva- 3. Iniciar por via oral e por 6 semanas, Zidovudina (AZT) +
da tem valor preditivo na transmissão devido sua alta concentra- Nevirapina (NVP) nos RN >= 35 semanas de mães infec-
ção nas secreções cérvico-vaginais e no leite materno. tadas pelo HIV que não receberam antiretroviral na ges-
Assim, ficou amplamente comprovado que o uso de terapia tação, mesmo que a mãe tenha recebido AZT injetável
antirretroviral combinada é capaz de reduzir significativamente no momento do parto. Não há estudos que comprovem
a carga viral plasmática do HIV para níveis indetectáveis. A par- benefício do início do AZT após 48 horas de vida
tir desses dados a recomendação atual da terapia antirretroviral
para a gestante é feita com esquema de alta potência, evitando- Doses:
se medicações teratogênicas, como o Efavirenz. A terapia deve AZT: Solução oral: 1m = 10 mg
ser iniciada após o primeiro trimestre, caso as condições de saú- 4mg/kg/dose cada 12h
de da gestante permitam, com manutenção da Zidovudina endo- NVP: Solução oral: 1m = 10 mg
venosa intraparto e oral para o RN até 6 semanas de vida. Peso ao nascer: 1,5 a 2kg: 0,8mg (0,8ml)/dose
Peso ao nascer: >2kg: 1,2mg (1,2ml)/dose
Estratégias Para Prevenção Da Transmissão Vertical Do HIV
Nota:
1. Permitir acesso universal ao pré-natal para todas as 1a dose nas primeiras 48h de vida
gestantes. 2a dose 48h após a 1a dose
2. Realizar teste anti-HIV, com aconselhamento e consen- 3a dose 96h após a 2a dose
timento, para todas as gestantes, no 1º trimestre.
3. Recomendar a repetição do teste anti-HIV no 3º trimes- Atenção:
tre para todas as gestantes com teste negativo no 1º tri- Para a gestante que recebeu AZT durante a gestação, continua
mestre e principalmente para mulheres de alto risco. ser apenas o AZT para o recém nascido, em solução oral, 4mg/
4. Realizar teste rápido anti-HIV para mulheres que che- kg/dose, via oral por 6 semanas.
gam em trabalho de parto e não têm testagem documen- Para os RN com idade gestacional <35 semanas ou peso ao
tada, podendo a profilaxia ser iniciada antes do parto nascer <1,5kg, continua sendo apenas o AZT.
para as mulheres infectadas. Para o RN grave, sem condições de receber dieta ou medica-
mento por via oral ou sonda orogástrica até 48h de vida, usar
AZT injetável IV (frasco-ampola de 200 mg) apenas o AZT intravenoso na dose de 1,5mg/kg/dose a cada 6h,
Iniciar com 2 mg/kg na primeira hora, seguindo-se de infusão mesmo que a mãe tenha recebido antiretroviral durante a gesta-
contínua com 1 mg/kg/hora até o final do parto (a concentração ção, retornando ao uso oral de AZT+NVP como indicado.
não deve exceder 4 mg/ml). A OR (odds ratio) ajustada e não Os RN saem de alta com ambas as drogas e com orientação
ajustada para a relação entre uso de zidovudine e o status HIV para o Ambulatório e AIDS. Devem retornar para controle labora-
no RN foi de 0,19 (IC a 95% de 0,05-0,84) e 0,15 (IC a 95%: torial com 15 dias de vida 459
0,02-0,96). Respectivamente, a taxa de transmissão diminuiu Cotroles laboratoriais: hemograma (anemia, neutropenia-con-
para menos de 2%. tagem de neutrófilos abaixo de 500mm3 é de alto risco para abs-
cessos cutâneos e celulite pelo S. aureus, E. coli e Pseudomas) e
5. Fazer teste rápido anti-HIV para parturientes que che- enzimas hepáticas mensais
gam em período expulsivo, sem testagem documentada,
permitindo, para as positivas, iniciar a profilaxia de seus 4. Recomendar a não amamentação com fornecimento de
conceptos, o mais precoce possível. fórmulas infantis. O aleitamento misto é totalmente contra
6. Desestimular a amamentação – a transmissão varia indicado e nos casos de RN pré-termo ou PIG pode-se usar
de 14 a 22% com a freqüência, sendo que em uma única leite materno pasteurizado proveniente de Banco de leite.
oferta, o risco gira em torno de 0,001 a 0,004%.
Quanto ao aleitamento materno: é o meio predominante de
Fatores Associados À Transmissão Perinatal Do HIV transmissão pós-natal, tendo sido estimado com um adicional de
14%-22% de risco de transmissão: o HIV é encontrado em maior
1. Fatores virais: Carga viral materna, resistência aos an- quantidade no colostro.
tirretrovirais. Elaborado pelo Comitê de Aleitamento Materno e pela Divisão
2. Fatores maternos: Estado clínico, imunológico e nutri- de Doenças Sexualmente Transmissíveis:
cional, presença de DSTs e outras co-infecções, tempo de
uso de antirretrovirais na gestação. 1. Desestimular a prática indiscriminada do aleitamen-
3. Fatores comportamentais: Promiscuidade sexual, uso to cruzado. Diante da impossibilidade da mãe biológica
de drogas injetáveis. amamentar e optando-se por uma mãe substituta, cui-
4. Fatores obstétricos: Via de parto, duração da ruptura dados especiais devem na seleção da nutriz ser tomados
das membranas amnióticas, hemorragia intraparto. 2. Evitar o aleitamento natural nos casos de mães infec-
5. Fatores relacionados ao RN: Prematuridade, baixo tadas pelo HIV assintomáticas ou doentes de AIDS
peso ao nascer. 3. Em relação às mulheres com fatores predisponentes à
infecção pelo HIV, o aleitamento materno deve ser man-
Cuidados Imediatos Com o RN tido, considerando que os benefícios desta prática são
indiscutivelmente maiores que os riscos do lactente vir a
1. Limpeza delicada de todo sangue e secreções, imedia- se infectar pelo HIV
tamente após o nascimento, com banho em água corren- 4. Submeter ao processo de pasteurização todo o produto
te. utilizado em Banco de Leite Humano.
2. Se necessário aspirar vias aéreas, fazê-lo delicada-
mente, evitando traumatismo.

Paulo R. Margotto
Assistência ao Recém-Nascido de Risco

Diagnóstico Laboratorial Da Infecção Nascimento prematuro tem sido reportado em 19%, não ha-
Pelo HIV na Criança vendo diferença entre mães usuárias de drogas, daquelas conta-
minadas por outras formas.
Crianças menores de 18 meses requerem testes virológicos Apresentações clínicas usuais, vistas durante o curso da infecção
para detecção da presença do vírus. Testes sorológicos não de- pelo HIV são: linfadenopatia, febre, fraqueza, hepatoesplenomega-
vem ser utilizados neste período devido à persistência de anticor- lia, infecções do trato respiratório, principalmente otites e sinusites.
pos maternos nesta população; Outros eventos comuns são distúrbios de crescimento e desenvolvi-
Testes virológicos diagnósticos em filhos de mães HIV (+) devem mento neuropsicomotor, algumas vezes associados à diarréia crôni-
ser recomendados de 14 a 21 dias, 1 a 2 meses e 4 a 6 meses. ca e presença ou persistência de monilíase mucocutânea.
Preferencialmente esses testes incluem Reação de cadeia de A pneumonia por Pneumocystis jiroveci (anteriormente P. ca-
polimerase PCR-DNA (qualitativo) ou PCR-RNA (quantitativo). A rinni) – PCP foi, no início da epidemia um indicador de AIDS em
cultura viral tem sensibilidade similar ao PCR-DNA, entretanto a mais de 40% dos casos pediátricos; o pico da incidência dessa
realização é mais complexa e dispendiosa e o resultado definitivo patologia, na infância, ocorre durante os primeiros 3 a 6 me-
demora de 2 a 4 semanas. ses de vida, podendo ser o primeiro sintoma da infecção pelo
No Brasil preconiza-se a realização de dois exames de PCR- HIV. Desde a introdução da profilaxia para PCP na rotina das
RNA (carga viral), um a partir do primeiro mês de vida e um se- crianças expostas ao HIV, houve uma queda dramática nesse
gundo exame após o 4º mês. Se houver positividade em um des- tipo de infecção. Na criança comprovadamente infectada, a
ses exames, realiza-se um 3º exame. O PCR-DNA encontra-se em profilaxia será mantida até 12 meses e a partir daí, se houver
fase de registro para ser utilizado a nível de saúde pública. deficiência imunológica severa.
Assim, duas cargas virais indetectáveis e um teste de detec- A partir de estudo clínico recente em crianças menores de 3
ção de anticorpos anti-HIV não reagente, após os 18 meses, meses de idade, assintomáticas e com CD4 > 25%, ou seja, sem
exclui a infecção. deficiência imunológica, foi observado que o tratamento preco-
Nas crianças de 18 meses ou mais, testes sorológicos podem ce revelou redução de 75% na mortalidade, quando comparado
ser usados para o diagnóstico. São realizados testes de triagem com início baseado em critérios clínicos e imunológicos.
anti-HIV 1 e 2 e se positivo, um teste confirmatório é realizado Assim, a recomendação atual, é instituir tratamento em todos
(Imunofluorescência ou Western Blot). os menores de 12 meses, independentemente de sintomatolo-
Acompanhamento clínico e laboratorial da criança exposta gia clínica, classificação imunológica ou carga viral, com terapia
ao HIV até definição de exclusão da infecção de alta potência. A criança deverá ser acompanhada em Centro
Após a alta da maternidade, o RN deverá ser encaminhado especializado onde será instituído o tratamento adequado. Para
para acompanhamento especializado. aquelas crianças infectadas em que a mãe recebeu tratamento
Manter AZT oral até completar 42 dias de vida; como nessa no pré natal e/ou parto e as mesmas receberam AZT no período
fase o diagnóstico ainda é incerto e frente ao risco de pneumonia pós-natal, deverão preferentemente ser submetidas à genotipa-
460 por P. jiroveci nas crianças infectadas, iniciar Sulfametoxazol + gem (teste de resistência) pelo fato de seu vírus circulante já ter
Trimetoprin profilático após término do AZT sofrido influência de algum(s) antirretroviral(is).
Dose: 750 mg/m2/dia (da Sulfa), dividido em duas doses, 3x/ A Imunização das crianças infectadas, segue esquema normal
semana – Deverá ser mantido até exclusão diagnóstica (2 cargas acrescido de algumas vacinas especiais dos CRIES.
virais indetectáveis);
Acompanhamento mensal até o 6º mês de vida e depois bi- • BCG – Deve ser administrada ao nascimento ou o mais
mensal, com avaliação rigorosa do crescimento, desenvolvimento rápido possível, quando ainda não há alteração imuno-
neuropsicomotor, perímetro cefálico e presença de co-infecções; lógica.
Devido à mielotoxicidade do AZT realizar hemograma ao nasci- • Vacina contra poliomielite: dar preferência à vacina ina-
mento e durante o acompanhamento, assim como provas hepá- tivada (VIP); caso essa não esteja disponível e a criança
ticas e glicemia devido ao risco potencial de alterações metabó- não apresente nenhum sinal de imunodeficiência, pode-
licas conseqüentes à exposição a esquemas antirretrovirais de rá ser fornecida a vacina oral (VOP).
alta potência na vida intra-uterina; • Vacinas especiais: Pneumo 7 valente, Pneumo 23 valen-
Após exclusão da infecção através de duas cargas virais inde- te, Meningococo C, Influenza, Hepatite A – seguir esque-
tectáveis, o acompanhamento é feito, conforme citado anterior- ma dos CRIES.
mente, até 18 meses quando será realizado exame sorológico • Vacinas de vírus vivos atenuados não devem ser aplica-
final. A partir daí o acompanhamento será anual avaliando provas das em crianças sintomáticas ou com imunodepressão
hepáticas e hematológicas até a adolescência; isso é uma reco- grave (Tríplice viral, Febre Amarela, Varicela).
mendação dos diversos consensos e revisões mundiais até que
os dados acerca da exposição intra-uterina aos antirretrovirais de História Natural e Prognóstico
alta potência estejam disponíveis;
A Imunização das crianças expostas ao HIV segue a recomen- Modelos estatísticos do “período de incubação” de AIDS en-
dação das crianças comprovadamente infectadas, segundo ca- tre crianças com infecção perinatal, sugerem que pode haver
lendário dos Centros de Referência de Imunobiológicos Especiais dois padrões distintos de progressão da doença, com um pico
(CRIES), até a idade de 18 meses. A partir daí devem seguir o aos 4 meses de vida e um segundo em torno de 6 anos. Muitas
Calendário Oficial do Ministério da Saúde. crianças com diagnóstico de AIDS nos primeiros 6 meses de vida,
se apresentam com Pneumonia por Pneumocystis jiroveci (PCP)
Acompanhamento Das Crianças enquanto em crianças mais velhas outras condições definidoras
Infectadas Pelo HIV são mais prevalentes.
Dados clínicos prospectivos, dão suporte à hipótese de uma
A criança nasce em geral assintomática e a sintomatologia inicial manifestação bimodal para a infecção perinatal do HIV, com uma
pode ser súbita e muitas vezes difícil de distinguir das manifesta- forma precoce, severa e de alta mortalidade e outra com sinto-
ções causadas por drogadição materna, dos problemas causados mas leves a moderados e longa sobrevida. Uma hipótese sugere
por prematuridade ou outras infecções congênitas que não HIV. que as crianças de baixa sobrevida podem representar aquelas
Capitulo 12 Infecções Perinatais Crônicas

que adquiriram infecção intra-útero e as de longa sobrevida, re-


fletir transmissão intraparto.

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Paulo R. Margotto
Assistência ao Recém-Nascido de Risco

12.4 RUBÉOLA

Liú Campello Porto

Doença causada pelo vírus da rubéola (VR) do gênero Rubivírus e 2. Manifestações permanentes: surdez (80 a 90%), do-
da família Togaviridae, causando infecção intra-uterina ou pós-natal. ença cardíaca congênita (persistência do canal arterial
- 30%; estenose de artéria pulmonar), microftalmia, ca-
Epidemiologia tarata ( 6 a 45%), glaucoma, retinopatia pigmentar (“sal
e pimenta”), retardo mental e psicomotor, microcefalia;
A infecção predomina na primavera e no inverno 3. Manifestações tardias: Diabetes mellitus, panencefa-
A eliminação de vírus pelos RN infectados é importante pela lite progressiva, hipo e hipertireoidismo.
manutenção do vírus na comunidade entre períodos epidêmicos
(podem eliminar o vírus 6-12 meses após o nascimento); Diagnóstico
Reinfecção pode ocorrer após a rubéola natural ou nos já vaci-
nados. A reinfecção raramente origina doença congênita. Suspeita-se do diagnóstico de rubéola congênita após diagnós-
tico de infecção materna ou sinais sugestivos da doença no RN.
Rubéola Congênita
Laboratorial
Resulta da infecção fetal pelo VR por passagem transplacentária.
• Intrauterino
Síndrome Da Rubéola Congênita Identificação do vírus em material de biópsia de vilo coriônico,
amniocentese e através de cultura e de técnicas como imuno-
Caracteriza-se por infecção crônica que se inicia no primeiro tri- histoquímica e PCR.
mestre de gestação e prolonga-se por meses ou anos após o nasci-
mento. O VR causa inibição da mitose celular, o que explica o retar- • Pós-natal
do do crescimento (RN PIG) e a desorganização da organogênese. Testes sorológicos
A infecção maciça do feto no resulta em recém-nascido com A detecção de anticorpos IgG e IgM por métodos automatiza-
uma ou múltiplas anomalias como catarata, surdez e cardiopa- dos têm sido mais usado na prática clínica
tias congênitas. O vírus pode continuar infectando todos os ór- Interpretação dos testes sorológicos
gãos e tecidos do recém-nascido resultando em hepatite, pneu- Os anticorpos IgM estão presentes ao nascimento. Os anticor-
462 monia, pancreatite, miocardite, meningite e outros. Portanto, pos IgG são detectáveis após os 6 meses de vida.
poderá haver a coexistência de lesões antigas e recentes.
Síndrome da Rubéola Congênita (SRC)
Transmissão
Protocolo de Acompanhamento dos
Apresentam as seguintes taxas, de acordo com o período Recém-Nascidos Suspeitos de SRC
gestacional:
Berçário
1. 67 a 90% no primeiro trimestre
2. 25 a 67% no segundo trimestre • Isolar o recém-nascido (RN) durante o período da interna-
3. 35 a 100% no terceiro trimestre ção hospitalar, até que os exames afastem o diagnóstico;
• Coletar a 1ª amostra de sangue do RN ao nascimento e
Quando a infecção fetal ocorre nas primeiras 8 semanas de gesta- enviar junto com o formulário individual de encaminha-
ção, 75% apresentam infecção clínica nos 4 primeiros anos de vida. mento de amostras para o Laboratório Central (LACEN)
• Realizar exame clínico minucioso do RN, avaliando a exis-
Quadro Clínico tência de qualquer malformação. Caso haja alguma suspei-
ta, encaminhar para diagnóstico nos serviços de referência;
Varia desde recém-nascidos aparentemente normais a severa- • Fazer notificação do RN ao Núcleo de Vigilância Epide-
mente acometidos com múltiplas anomalias. miológica e Imunizações (NVEI);

Formas subclínicas Obs Caso o nascimento ocorra fora do município de residên-


cia da gestante, proceder à notificação a exantemáticas/SES/DF
As manifestações ausentes ao nascimento e que tornam-se que repassará a Secretaria Municipal de Saúde de residência. O
aparentes posteriormente. recém nascido deverá ser encaminhado à unidade (hospitalar e
ambulatorial) de referência.
Manifestações clínicas
Ultrassom
São classificadas em 3 categorias: Patologicamente, as lesões intracranianas da rubéola congêni-
ta caracterizam-se por lesão vascular, mas podem ser demons-
1. Manifestações transitórias do RN: RCIU (retardo do cres- trados retardo da mielinização e a microcalcificação. Carey e cl
cimento intrauterino), púrpura trombocitopênica neonatal, descreveram um RN com rubéola congênita confirmada que se
anemia hemolítica, hepatite, colestase, rarefação metafi- apresentou ao ultrassom (US) com aspecto de típica ventriculite
sária, que regridem espontaneamente em 2/3 dos casos; (material intraventricular em forma de cordões de baixa ecogeni-
cidade, debris ecogênicos e áreas de aumento de ecogenicidade
Capitulo 12 Infecções Perinatais Crônicas

periventricular), além de plexo coróide irregular e áreas densa- Identificação do Vírus


mente ecogênicas na gânglia basal (em US aos 3 meses-figuras
1 e 2). Assim como os ventrículos, o plexo coróide tornou-se in- Secreção de nasofaringe – Coletar um swab de cada narina e
fectado, com acúmulo de exsudato inflamatório; posteriormente, um swab de orofaringe. Colocar os três swabs em meio próprio.
cordões de gliose reativa projetam-se para os ventrículos a partir Não congelar, manter entre +2 a + 8ºC. Enviar ao LACEN no má-
da lesão do epêndima. Os focos hiperecogênicos periventricula- ximo em 48 h após a coleta em caixa isopor com gelo reciclável.
res podem representar microcalcificações ou áreas de necrose
isquêmica de etiologia vasculopática. Estas alterações de ventri- Interpretação dos Resultados
culite não são patognomônicas de rubéola, pois tem sido descri-
tas em infecção por citomegalovirus e na meningite bacteriana. •Identificação do vírus selvagem: caso confirmado de SRC
ou de infecção congênita (RN com resultado IgM positivo
ou reagente para rubéola, mas sem sinais compatíveis
com SRC).
•Identificação do vírus vacinal: caso confirmado de SRC ou
de infecção congênita pelo vírus vacinal (Gestante Vaci-
nada Inadvertidamente).

Obs A não identificação viral não descarta o caso. O RN deve


ser reavaliado. Quanto mais precoce a coleta maior a chance de
se identificar o vírus.
Obs Com vistas ao processo de certificação de eliminação da
rubéola e SRC devemos comprovar a não excreção de vírus nos
Fig.1 US em (A) no plano sagital através do ventrículo lateral esquerdo RN com SRC. Sendo assim, todos os casos de RN com resultado
evidenciando cordões intraventriculares (setas) plexo coróide irregular (C). de sorologia reagentes ou positivos deve-se coletar material para
Em (B) US no plano sagital através do ventrículo lateral direito mostrando identificação viral e amostras subseqüentes (material para iden-
debris de ecogenicidade mista ao longo do ventrículo (setas) (Carey) tificação viral) a cada três meses, até obtermos duas amostras
negativas consecutivas.

Todo caso confirmado de SRC deve ser acompanhado em


consultas regulares aos 3, 6 e 12 meses.

Rubéola Pós-Natal
463
É, em geral, benigna, autolimitada e altamente contagiosa ca-
racterizada por exantema máculopapular. Pode ser subclínica em
½ a 1/3 dos casos.
O diagnóstico é confirmado pela presença de anticorpos IgM
Fig.2. Em (A) US no plano sagital através do ventrículo lateral mostrando anti-rubéola no soro. A identificação de casos de rubéola adquirida
plexo coróide irregular (setas) e debris ecogênicos na cavidade ventricu- é relevante pela possibilidade de infecção de gestantes a partir
lar (cabeça de seta). Em (B), aos 3 meses, US no plano sagital mostran- desses casos, o que pode resultar em casos de rubéola congênita.
do áreas densamente ecogênicas na gânglia basal (setas) (Carey)
Diagnóstico Laboratorial (Testes Sorológicos)
Exames Laboratoriais E Avaliação
Dos Casos Suspeitos De SRC 2ª amostra
Caso Anticorpos 1ª amostra Conclusão
(2 semanas após)
Os exames deverão ser realizados para TODOS os casos sus- 1 IgM Negativo Inalterado Susceptível
peitos de SRC. A interpretação/classificação dos casos e condu-
2 IgM Negativo Positivo Primoinfecção
tas em relação ao RN também poderá ser feita de acordo com o
Imune e sem
estado imunológico da mãe. Será coletada amostras para iden- 3 IgG Positivo Positivo estável
reinfecção
tificação viral e para sorologia, para pesquisar anticorpos IgM e
IgG específicos para rubéola. Além dos exames específicos para Positivo com
o diagnóstico da SRC também deverá ser realizados exames ines- resultados ascen-
4 IgG Positivo Reinfecção
pecíficos, que poderão auxiliar na classificação dos casos, tais dentes
como: hemograma com dosagens de plaquetas, dosagens de en-
zimas hepáticas e renais, entre outras.
Prevenção
Sorologia
Vacinação
Coletar sangue do caso suspeito – O sangue deverá ser cole-
tado, centrifugado e o soro separado. Não deverá ser congela- RA 27/3 (AlmevaxR): isolada ou associada às vacinas anti-
do. Enviar ao laboratório em frasco próprio, no máximo em 48 sarampo e anticaxumba (MMR2) - é a cepa que confere maior
horas após a coleta. Manter a +2 a +8ºC. As amostras devem proteção contra a reinfecção.
ser encaminhadas ao LACEN. Eficácia
produz rara conversão em cerca de 95% dos indivíduos sus-
ceptíveis.

Paulo R. Margotto
Assistência ao Recém-Nascido de Risco

Indicação
1. Crianças de 1-12 anos de ambos os sexos

2. Adolescentes do sexo feminino e mulheres em idade


fértil (de preferência após resultados negativos da RIH
(menor ou igual a 1/8)
• Quando vacinadas devem evitar gravidez durante o prazo
mínimo de 30 dias
• Mulheres grávidas e susceptíveis deverão receber a vaci-
na nos primeiros dias após o parto
• Não há necessidade de reforço
• Recomenda-se a imunização de filhas de grávidas
• Não constitui contra-indicação o relato de rubéola ante-
rior (confusão com echoviroses)

Imunização Passiva (Gamaglobulina Comum):

• Não evita a viremia e nem as embriopatias;


• Uso restrito para mulheres que estiveram em contato
com rubéola e não desejam interromper a gestação (pro-
teção fetal não é garantida). A gamaglobulina não impe-
de a viremia
• Dose: 20 ml IM

Bibliografia
• Margotto PR. Rubéola/Sífilis. Boletim Informativo Pediátrico (BIP)-Brasília, N0 24, 1982
• Cooper LZ, Prelud SR, Alford CA. Rubella. IN: Remington JS, Klein JO. Infectious Diseases of
the Fetus and Newborn Infant. Fourth Edition, W.B. Saunders. pg 268, 1995
• Ferreira AW, Ávila SLM. Rubéola. Diagnóstico laboratorial das principais doenças infeccio-
sas e auto-imunes. pg 67, 1992
• Hwa HL, Shyu MK e cl. Prenatal diagnosis of congenital rubella infection from maternal
rubella in Taiwan. Clin Obstet Gynecol 84:415, 1994
• Bosma TJ, Corbett KM. PCR for Detection of rubella virus in clinical samples. J Clin Micro-
biol 33:1075, 1995
• Bosma TJ, Corbett KM. Use of PCR for prenatal and postnatal diagnosis of congenital ru-
bella. J Clin Microbiol 33:2881, 1995
464 • Kaplan MK, Cochi SL. A profile of mothers giving birth to infants with congenital rubella
syndrome. AJDC 144:118, 1990
• Phillips G, Urquhart GED. Rubella IgM. Detection in pregnancy. Lancet 335:1524, 1990
• Carey BM, Arthur RJ, Houlsby WT. Ventriculitis in congenital rubella: ultrasound demonstra-
tion. Pediatr Radiol 17:415, 1987
• Evangelho PM, SantAnna L. Guia da Vigilância Epidemiológica da
• Eliminação do Sarampo, Rubéola e Síndrome de Rubéola Congênita no Brasil. Versão 4,11
fevereiro 2009
• 11. Margotto PR. Infeccções/Macrocrania. In. Neurossonografia neonatal, ESCS, Brasília,
2013.
Capitulo 12 Infecções Perinatais Crônicas

12.5 DOENÇA DE CHAGAS

Liu Campello Porto

Doença causada pelo Trypanosoma cruzi que requer dois hos- Sinais Neurológicos
pedeiros: um invertebrado (Triatomíneo) e um vertebrado ( o ho-
mem, animais silvestres e domésticos) • Tremores finos generalizados, crises convulsivas (focais
ou generalizadas)
Transmissão • Meningoencefalite (hipotonia, hiporreflexia, apnéia, hi-
percelularidade com predomínio de linfócitos
A transmissão ocorre, habitualmente, através do triatomíneo, • Retardo mental, calcificações intracranianas
podendo também ocorrer por transfusão de sangue, pela via di-
gestiva e, acidentalmente, em laboratório. Lesões Oftálmicas
A transmissão materno infantil pode ocorrer por via transpla-
centária (mais comum), pela geléia de Wharton, pelo líquido • Coriorrenite, uveíte, opacificação corneana
amniótico, através do contato do sangue materno com as mu-
cosas do recém-nascido (intra-útero, durante ou após o parto). A Alterações Cardio-Vasculares
transmissão através do aleitamento materno pelo leite, colostro
e fissura mamária foi demonstrada por, duas vezes (pela sua rari- • Taquicardia (devido à miocardite e anemia)
dade, não se contra-indica o aleitamento materno). • Insuficiência cardíaca, raramente
Órgãos mais afetados na fase aguda: coração, SNC, tubo digestivo, • Alterações no ECG (baixa voltagem do QRS, extrassístoles
músculo esquelético e pele. Na fase crônica: coração, esôfago e cólon. ventriculares, bloqueio atrio-ventricular 1º grau)

Incidência Alterações Respiratórias

• Entre gestantes: varia de 2 a 11% nos centros urbanos e • Dispnéia, pneumonite, pneumonia
de 23 a 58% nas áreas rurais
• Nos recém-nascidos pode variar de 0,7% até 8%. Estu- Alterações Trato Digestivo
do realizado em Brasília demonstrou transmissão de 1%
entre as chagásicas crônicas e 7,7% entre prematuros • Inapetência, vômitos, diarréia, regurgitação
filhos de chagásicas • Megaesôfago congênito (disfagia e vômitos), megacólon, 465
em raríssimos casos
Quadro Clínico
Hepatoesplenomegalia
1. Na mãe
• A maioria das gestantes chagásicas é assintomática (fase). • Presente em quase todos os casos
indeterminada ou período assintomático da fase crônica) • Hepatomegalia: geralmente ao nascimento, persiste du-
• Nas gestantes sintomáticas predominam as manifesta- rante vários meses; geralmente é discreta e moderada
ções cardíacas • Esplenomegalia: menos freqüente, aumenta progressiva-
2. No recém-nascido (com infecção congênita) mente no decorrer do 1º mês de vida
• Exuberância das manifestações clínicas não se correlacionam
com a intensidade da parasitemia. A maioria é assintomática. Alterações Genito-Urinárias

Os Sinais E Sintomas Podem Ser • Edema de genitália externa


• Piúria, hematúria, proteinúria, cilindrúria
• Precoces: do nascimento até 30 dias de vida (31%)
• Tardios: após 30 dias de vida (37%) Alterações Hematológicas E Bioquímicas
• Exuberância das manifestações clínicas não se correla-
ciona com a intensidade da parasitemia. • Anemia, hiperbilirrubinemia direta e indireta, leucocitose
com linfocitose, plaquetopenia
Sinais E Sintomas Gerais • Hipoalbuminemia e hipergamaglobulinemia

• Prematuridade, baixo peso Alterações Radiológicas


• Febre: pouco freqüente
• Palidez (constante, geralmente discreta) • Calcificações intracranianas
• Icterícia, geralmente há aumento da bilirrubina indireta. • Metafisite (ossos longos)
Ambas as frações podem estar aumentadas
• Lesões: púrpura, petéquias ou equimoses No Recém Nascido Infectado
• Hidropsia Após O Nascimento

Lesões Cutâneo Mucosas • Por hemotransfusão: difere apenas pelo período de incu-
bação: mais prolongado 20 a 40 dias
• Chagomas metastáticos cutâneos - extremidades inferiores • Por aleitamento materno: quadro clínico semelhante à
• Abscessos cutâneos múltiplos forma congênita

Paulo R. Margotto
Assistência ao Recém-Nascido de Risco

Diagnóstico Deve Ser Suspeitado Em Caso De • Efeitos colaterais: inapetência, náuseas, tremores, exci-
tação, insônia, crises convulsivas, dermatite
• Aborto, natimorto, prematuro, PIG
• RN com clínica de infecção congênita Benzonidazol (Rochagan, Rodaniz) - 1 comp.= 100 mg
• Filhos de mulheres procedentes ou residentes em área • Dose: 10 mg/kg/dia por 5 dias. Após isso, reduzir para 7,5
endêmica para Doença de Chagas e/ou hemotransfun- mg/Kg/dia até completar 60 dias de tratamento
didas no passado • Negativação da parasitemia: por volta do 6º e 20º dia de
• Filhos de chagásicas, mesmo as assintomáticas tratamento
• RN que tiveram contato com Triatomíneos • Efeitos colaterais: Dermatite (9º dia de tratamento), febre,
• RN que receberam transfusão de sangue ou derivados. enfartamento ganglionar, dores articulares e musculares, neutro-
penia, vômitos e diarréia
Diagnóstico Laboratorial
Seguimento
• Através de métodos histopatológicos, parasitológicos ou
imunológicos • Crianças infectadas: exame físico mensal. Exames com-
plementares: hemograma completo, prova de função he-
Parasitológicos: pática, quinzenalmente, durante o tratamento
(Métodos Diretos E Indiretos) • Crianças não infectadas: sorologia trimestral enquanto
criança for amamentada ao seio e dois meses após ces-
• Demonstração do parasita (depende da parasitemia) sada a amamentação
• RN com doença cardíaca congênita - parasitemia em ge-
ral baixa ao nascer. Pico máximo com 1 a 2 meses de Bibliografia
idade declina lentamente dos 5 a 8 meses
• Medina-Lopes MD. Transmissão materno infantil da Doença de Chagas. Tese de Mestrado.
• Forma adquirida: parasitemia só demonstrada por volta Universidade de Brasília, 1983.
de 2 a 4 meses • Medina-Lopes M D. Transmissão do Trypanosoma cruzi em um caso durante aleitamento
materno em área não- endêmica. Revista da Sociedade Brasileira de Medicina Tropical
21:151,1988
• Bittencourt ACL. Doença de Chagas congênita na Bahia. Revista Baiana de Saúde pública
Métodos Diretos 11:165, 1984
• Garcia-Zapata MTA, Marsden PD. Chaga’s disease. Clinics in Tropical Medicine and Com-
municable Diseases 1:557, 1986.
• Esfregaço sangue periférico • Teixeira MGCL. Doença de Chagas. Estudo da forma aguda inaparente. Tese de Mestrado.
Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Rio de Janeiro, 1977.
• Gota espessa • Nagaiassu M, Picchi M e cl. Doença de Chagas congênita: relato de caso com hidropsia em
recém-nascido. Pediatria (São Paulo) 22:168, 2000
• Técnica do microhematócrito
• Método de Strout
466 • Técnica da Tríplice centrifugação com sangue coagulado

Métodos Indiretos

• Xenodiagnóstico - alta positivadade


• Hemocultivo - cerca de 60% de positividade
• Inoculação em animais de laboratório

Para afirmar que se trata de infecção congênita é necessária


a demonstração do tripanossoma no rn até 5 dias após o nasci-
mento e antes da primeira mamada.
Obs: o método de Strout associado ao xenodiagnóstico tem
sensibilidade e especificidade de 100%. Para a realização do
Strout deverão ser colhidos 3 a 5 ml de sangue do recém-nascido
(de preferência sangue de cordão), sem anticoagulante e manti-
do em temperatura ambiente.

Sorológicos

• Fixação de complemento (Machado-Guerreiro): pouco


específico
• Imunofluorescência Indireta: IgG e IgM específica

Elisa: IgG e IgM. Alta sensibilidade e especificidade

Tratamento

Nifurtimox (Lampit)- comprimidos de 120 mg


• Dose: 15 mg/Kg/dia dividido em três doses - 3 meses
• Negativação da Parasitemia - entre o 7º e 33º dia de tra-
tamento
• Negativação sorológica: alguns meses após a parasitológica
Capitulo 12 Infecções Perinatais Crônicas

12.6 HERPES SIMPLES

Paulo R. Margotto

Etiologia

O vírus do Herpes simples (HSV), é um DNA vírus, pertencente transmissão de uma criança a outra no Berçário. Finalmente nos
à família Herpesviridae, que congrega mais de 70 espécies, em- casos congênitos, a infecção se dá por via transplacentária, e
bora cinco tenham interesse humano: citomegalovirus, varicela é possível a contaminação do RN mesmo com infecção mater-
zoster, herpes simples I e II e o vírus Epstein Barr. na totalmente assintomática, porém com eliminação de vírus.
Diferenças entre o Herpes Simples I (infecção “acima da cintura”) e II: Os anticorpos neonatais recebidos da mãe pode não proteger o
recém-nascido da infecção, pois havendo lesão de pele causada
HSV I HSV II por fórceps, pode facilitar o acesso do vírus ao sistema nervoso
via transporte axonal.
Infecta primariamente Infecta primariamente
sítios não genitais sítios genitais
Clínica
Transmissão primariamente Transmissão primariamente
não genital genital
1. Infecções Disseminadas,
Menos neurotrópico Mais neurotrópico Com ou sem acometimento do SNC. Os órgãos mais freqüen-
temente afetados são: fígado, supra-renais; outros: rins, pulmão,
As infecções neonatais são, na grande maioria dos casos, tubo digestivo e coração. O acometimento do SNC é comum, mas
causadas pelo HSV tipo 2. Ambos as espécies são neurotrópicas muitas vezes o óbito ocorre antes que isso se expresse clinica-
(após se ligarem às células da epiderme e mucosa do hospedei- mente. Lesões de olho, pele e mucosa oral nem sempre chegam
ro, os vírus envelopados são transportados via axônios aos nú- a aparecer. O exantema vesicular é considerado patognomônico
cleos das células neuronais). O virus HSV I também pode causar da infecção pelo HSV, porém surge mais tardiamente, podendo
a rara, mas severa encefalite herpética neonatal. Embota o vírus estar ausente em 20 a 30% dos casos. A meningoencefalite está
HSV II é o agente mais comum causador do herpes genital,, tan- presente em 60 a 75% dos casos.
to sintomático como assintomático, em alguns países, tem sido As manifestações iniciais surgem geralmente após a 1ª semana
relatado que o HSV I pode causar herpes genital em 20-40%.. No de vida e são, geralmente, inespecíficas: anorexia, vômitos, letar-
adulto, o vírus HSV II é responsável pela meningite recorrente. No gia e febre. Outras vezes se iniciam com acontecimento sistêmico
período neonatal, o vírus HSV II é ainda o principal agente das in- importante (icterícia, petéquias, apnéias) ou do SNC (convulsão, 467
fecções herpéticas neonatais, tanto da forma disseminada como irritabilidade). A hepatoesplenomegalia é comum, muitas vezes
a que acomete o SNC. acompanhada de icterícia, que pode regredir rapidamente ou
persistir até o óbito. Uma forma clínica grave se caracteriza por
Epidemiologia diátese hemorrágica (sangramento gastrointestinal, hemoptise,
hematúria) acompanhada de choque e rápida evolução fatal, com
A prevalência do HSV I está em torno de 70-75% dos adultos, evidências laboratoriais de CIVD. A mortalidade é elevada (82%)
mesmo em países desenvolvidos. O HSV II raramente existe na com duração média de 7 dias (alguns morrem em poucas horas,
infância, mas é comum em ambos os sexos a partir da adoles- mas, muitos sobrevivem por várias semanas). A morte decorre da
cência e início da vida sexual e tem sido relatado ocorrer em 20- progressão da doença neurológica (quando presente), pneumonite
25% das mulheres férteis, sendo responsável por 75-85% das grave, ou choque (coagulação intravascular disseminada).
infecções neonatais. A incidência de herpes neonatal varia entre Os sobreviventes podem exibir sequelas, sendo o retardo neu-
os diferentes países (nos Estados Unidos; 1300 e nos Reino Uni- ropsicomotor e coriorretinite as mais freqüentes.
do:1,6/100.000). A infecção por um dos tipos não protege da
infecção pelo outro tipo. 2. Infecções Localizadas,
Onde há evidências clínicas ou laboratoriais de acometimento vis-
Transmissão Ao Bebê ceral. Estão comprometidos (isoladamente ou em conjunto) o SNC,
pele, olhos, ou cavidade oral, conhecido como skin-eye-mouth.
O risco de infecção para o RN é maior quando a mãe apre- SNC: O início das manifestações clínicas é mais tardio (período
senta infecção primária adquirida no 3º trimestre (40 a 50%), de incubação de 2-4 semanas), sendo que em 50% dos casos a
especialmente nos partos prolongados, e com rotura precoce de doença começa pelo aparecimento de lesões da pele, boca ou
membranas, visto que o canal de parto infectado é a principal olhos. O exame do LCR revela geralmente pleocitose e hiperpro-
via de transmissão, no RN. Isto pode ser explicado pela maior teinorraquia, eventualmente com hemácias.
viremia na infecção primária, pelo maior número de lesões e pela O EEG quase sempre se mostra alterado. A mortalidade é de
ausência de proteção imunológica; 25% tem origem não genital 40%, e a grande maioria dos sobreviventes têm sequelas neuro-
e freqüentemente não materna. Se a mãe com infecção primá- lógicas, eventualmente oculares.
ria recebeu tratamento antiviral durante o nascimento e este vir Olhos: Ocorre isoladamente ou em associação com comprome-
ocorrer por cesariana, o risco de transmissão é bem menor, po- timento do SNC. Freqüentemente queratoconjuntivite ou coriorre-
rém ainda existe. Mães com herpes genital recorrente, a trans- tinite; menos freqüente: microftalmia, uveíte, displasia de retina
missão ao recém-nascido é muito menor, porém, deve ser evitado (catarata e cegueira podem surgir como sequelas).
lesões de pele, devido ao maior risco do vírus entrar no sistema Pele: mais comum. As lesões aparecem na segunda semana de
nervoso central. Também pode ser transmitida por adultos que vida- erupção vesicular isolada ou não, até lesões bolhosas com ten-
manipulam crianças no Berçário, os quais podem apresentar um dência rápida a laceração, diminuindo a especificidade diagnóstica.
ou mais episódios anuais de Herpes não genital. Já foi descrita

Paulo R. Margotto
Assistência ao Recém-Nascido de Risco

Cavidade Oral: mais raro - lesões ulceradas de boca e língua, (preparações oftálmicas de iodoxuridina a 0,1%, trifluridina a 1%:
mais comumente associada com acometimento de outros órgãos. encaminhar ao oftalmologista).
A doença pode recorrer nos 6 a 12 primeiros meses de vida, Aciclovir: Apresentação Comercial - Zovirax ® :
independente do tratamento e evoluir com doença neurológica Pomada oftálmica: 1 gr = 0,03 gr
progressiva, com quadriplegia espástica, microcefalia e distúr- Frasco com 500mg e 1g: dissolver o conteúdo de 500mg em
bios visuais graves. 10 ml de água destilada estéril; a solução reconstituída é estável
a temperatura ambiente por 12 horas; não refrigerar
Diagnóstico
Profilaxia
1. Morfológicos: lesões de pele, boca e olhos facilitam
o diagnóstico. A análise de esfregaço obtido dessas le- • Lesões genitais do HSV no início do trabalho de parto:
sões revelam em 60-70% dos casos, alterações típicas indicação de cesariana
incluindo células gigantes multinucleadas e inclusões • História de infecção genital pregressa: parto normal e
intranucleares. colher material para cultura da cérvix uterina (o risco de
2. Virológico: isolamento do vírus em cultura de tecido ou herpes neonatal é baixo, cerca de 3%)
técnica de imunofluorescência, imuno peroxidase ou mi- • RN de mães com lesões ativas de parto normal ou cesaria-
croscopia eletrônica (Não disponíveis em nosso meio).É na com rotura das membranas mais de 4 hs, isolar o RN:
o melhor método diagnóstico (180 hs a 5 dias já se evi- • Após o primeiro dia: colher material do orofaringe e secre-
dencia o efeito citopático). ção conjuntival para cultura; exame clínico semanal até
3. Imunológico: Os anticorpos contra HSV podem ser 6 semanas de vida: se aparecer clínica, como letargia,
detectados por fixação do complemento, enzima-imuno- recusa alimentar ou cultura positiva, iniciar aciclovir
ensaio (ELISA) e a imunofluorescência. Dificuldade: di- • Herpes labial: mãe: orientação quanto aos mecanismos
ferenciar os anticorpos transmitidos passivamente pela de contágio; profissionais de saúde: máscara ou se afas-
placenta, dos produzidos pela criança, sendo importan- tar temporariamente.
te detectar os Ac IgM que não são de origem materna, • A mãe e o RN não devem ser separados após o parto,
indicando a presença de infecção na criança, surgindo mesmo que a mãe tenha infecção em atividade pelo HSV.
dentro das primeiras 2-3 semanas após o nascimento e No entanto, devem ser recomendados cuidados de higie-
persistindo por 6 meses a 1 ano. ne rigorosos no trato com o RN.

O exame do líquor deve ser feito nos casos suspeitos, podendo Bibliografia
revelar pleocitose e hiperproteinorraquia. O encontro de hemá-
• Margotto PR.Hepatite Vírus B - Herpes Simplex.Boletim Informativo Pediátrico (BIP)- Bra-
cias no líquor ocorre em 75a 85% dos casos de encefalite herpé- sília, Nº 25, 1982.
468 tica, sendo um achado muito sugestivo de envolvimento do SNC. • Whitley RJ, Arvin AM. Herpes simplex virus infections. IN: Remington JS, Klein JO. Infectious
diseases of the fetus and newborn infant. 4th Ed, WB Saunders, pg 354, 1995
• Whitley RJ. Neonatal herpes simplex infections: is there a role for immunoglobulin in dise-
ase prevention and therapy. Pediatr Infect Dis J 13:432, 1994
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Aciclovir: é um análogo ao nucleosídeo DNA, inibindo a replica- • Whitley RJ, Kimberlin DW.Treatment of viral infections during pregnancy and the neonatal
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• Arvin AM, Whitley RJ. Herpes simplex virus infections. IN: Remington JS, Klein JO. Infectious
ser administrada exclusivamente endovenoso. A biodisponibili- diseases of the fetus and newborn infant. 5th Ed, WB Saunders, pg 425, 2001
dade da droga por via oral é ruim e não atinge concentrações • Abreu TF. Infecções perinatais crônicas e o sistema nervoso central do recém-nascido.
Clinica de Perinatologia 2/3:481, 2002
terapêutica no líquor. Cerca de 70% das crianças com doença • Malm G. Neonatal herpes simplex vírus infection. Semin Fetal Neonatal Med 14:204, 2009
limitada a pele, olho ou boca vão evoluir com encefalite ou do-
ença disseminada, se não tratadas.O aciclovir é fosforilado em
seu composto ativo, o trifosfato de aciclovir, após penetrar nas
células infectadas pelo Herpes. Dose: 60mg/kg/dia EV, dividido
em 3 aplicações (duração:14 dias para casos com doença limi-
tada a olho,pele, boca e boca-skin-eye-mouth e 21 dias para os
casos em que houve encefalite ou doença disseminada). Dose
de 30mg/Kg por 14 a 21 dias, como usado anteriormente não
melhorou a mortalidade e um grande número de crianças apre-
sentava sequelas tardias. O aciclovir é mais benéfico quando ad-
ministrado no início dos sintomas; se administrado 1-2 dias após
o início da infecção, pode ser inefetivo e a mortalidade pode che-
gar até 80%. Uma hidratação adequada deve ser mantida para
diminuir a nefrotoxicidade da droga.Há o risco de neutropenia,
devendo ser realizado acompanhamento do leucograma (se gra-
ve neutropenia, diminuir a dose) O uso é exclusivamente endove-
noso. Estudos recentes têm mostrado benefício do uso de imu-
noglobulina combinada com a terapia antiviral, principalmente
nos bebês com formas disseminadas da doença. Como a maioria
das infecções no RN são conseqüentes de infecção primária com
ausência de anticorpos neutralizantes, estes são encontrados
em títulos elevados nos lotes de gamaglobulina. Dose: 0,2-0,5
ml /Kg IM. Para as formas oculares: tratamento tópico específico
Capitulo 12 Infecções Perinatais Crônicas

12.7 VARICELA

Mauro P. Bacas

Considerações Gerais

Doença provocada por um alphaherpevirus, vírus Varice- Não há necessidade de isolamento do RN com a Síndrome de
la Zoster (VVZ), podendo ocorrer lesões na pele como: lesões Varicela Congênita, pois a replicação viral ocorre provavelmente
cicatriciais,hipopigmentação, no sistema nervoso : encefalite em fase precoce da gestação, não persistindo a presença do ví-
intra uterina,atrofia cortical e porencefálico,convulsão,retardo rus varicela-zoster por ocasião do nascimento.
mental nos olhos: coriorretinite,catarata,microftalmia,anisocoria
,na musculatura esquelética:hipoplasia dos membros e muscu- Indicações Da Imunoglobulina Humana Antivaricela Zoster,
lar, sistêmica : retardo do crescimento intra uterino,baixo desen- Dentro Das 72 A 96 Horas Pós-Contági0
volvimento, defeitos cardíacos, trato gastrintestinal:refluxo gas-
trintestinal, trato urinário: hidroureter e hidronefrose . Em geral 1. RN pré-termo com idade gestacional igual ou superior
são crianças pequenas para a idade gestacional (PIG). a 28 semanas, hospitalizado, cuja mãe não tenha tido
varicela.
Transmissão 2. RN pré-termo com menos de 28 semanas de idade
gestacional (ou menos de 1000g ao nascimento), hospi-
A varicela é incomum na gravidez. Atualmente acredita-se que talizado, independente de haver ou não relato de antece-
a Síndrome da Varicela congênita (SVC) possa ocorrer durante os dentes materno para varicela.
dois primeiros trimestres da gravidez. A incidência da síndrome é 3. RN de mães em que a varicela tenha se manifestado
cerca de 2% se a infecção materna ocorrer entre 13ª e 20ª sema- nos 5 dias imediatamente anteriores ao parto ou até 48
nas de gestação, comparando-se com aquela acometendo a ges- horas após.
tante entre 0 e 12 semanas, 0,4%. Embora o feto possa ser infec- 4. Grávidas, particularmente, no primeiro trimestre de
tado quando a varicela materna ocorrer de forma tardia(terceiro gestação. Estas pessoas receberão a imunização passiva
trimestre), a única evidência é, em geral, título de anticorpo con- somente se tiverem contato domiciliar contínuo ou se ti-
tra VVZ positivo, entretanto a criança pode desenvolver Herpes verem permanecido junto ao caso índice por pelo menos
Zoster durante o primeiro e segundo ano de vida. Infecção ma- 1 hora em ambiente fechado.
terna imediatamente antes ou após o parto pode causar varicela 5. Dose: 125 UI (1,25 ml) via intramuscular.
disseminada no recém nascido. Herpes materno não resulta em 6. A imunoglobulina não evita necessariamente a varicela 469
resultados adversos para o feto ou recém nascido. ou as suas complicações e prolonga o período de incuba-
ção por cerca de 1 semana. A dose deve ser repetida se
Exames Laboratoriais houver nova exposição 2 semanas ou mais após o rece-
bimento de dose anterior
No diagnóstico sorológico, os dados são insuficientes para ava-
liação do significado de resultados negativos com emprego de Tratamento
técnicas como detecção de IgM no sangue fetal ou pesquisa do
DNA viral em material obtido por amniocentese.Os resultados po- Nos casos de varicela perinatal usar Aciclovir na dose de 20
sitivos não revelam acometimento do feto. Nem mesmo criança mg/kg/dose, de 8/8 hora, infundido durante 1 hora
em que foi detectado o DNA do VVZ, pela técnica de reação em
cadeia de polimerase, evidenciou malformação. Prevenção

Varicela De Acometimento Neonatal Enviar o soro para diagnóstico em laboratório para determina-
ção dos anticorpos para varicela. O pessoal de saúde poderá conti-
A varicela materna de ocorrência dentro dos 21 dias preceden- nuar trabalhando 8 dias após a exposição, aguardando o resultado
tes ao parto, associa-se ao aparecimento de doença neonatal em sorológico,pois não são potencialmente infectados neste período.
aproximadamente 25 – 50% dos recém-nascidos. Há maior gravi- Anticorpos anti varicela > 1:4 provavelmente são indicativos
dade da doença do RN quando a doença materna tiver início 05 de imunidade.
dias antes ou 48 horas após o parto. VZIG dose para recém nascido- 1,25 ml e para gestante 6,25 ml.
Esta é a razão de se indicar imunização passiva nestas crian- Considerar não infectante quando nenhuma nova vesícula
ças, empregando-se a Imunoglobulina Humana Hiperimune Anti- aparecer dentro de 72 horas e todas as lesões estiverem na
Varicela Zoster (VZIG). fase de crosta.
Contrastando com a aquisição transplacentária do VVZ, há Se a exposição ocorrer antes dos 6 dias que antecedem ao
pouca evidência de que a infecção adquirida no período pós-na- parto, a mãe poderá não estar infectada até 72 horas.
tal, definida como varicela de início após 10 dias de vida, seja de
maior gravidade no RN quando comparada a infecção de crian- Vacina Contra Varicela
ças com mais idade.
A imunidade materna pode não garantir proteção absoluta É uma vacina de vírus atenuado, originalmente isolada de uma
para o RN contra varicela, entretanto, como os anticorpos IgG criança japonesa chamada Oka, portadora de varicela natural.
atravessam a placenta, os RN de mães imunes devem estar, pelo Dessa cepa originaram-se as atuais, que hoje são utilizadas. No
menos, parcialmente protegidos. Mesmo em RN pré-termos e PIG Brasil existem 3 produtos licenciados, contendo a própria cepa
podem ser detectados anticorpos contra o VVZ. Oka(Aventis Pasteur-AP), cepa Oka /Merck(Merck, Sharp Dohme-

Paulo R. Margotto
Assistência ao Recém-Nascido de Risco

MSD) e cepa Oka/RIT(Glaxo Smith Kline-GSK). A vacina foi libera- ricela com Tríplice,oral ou inativada contra Poliomielite, Hepatite
da pelo FDA em 1995. A ou B, Hemophilus Influenza tipo B. É provável que brevemente
O índice de soroconversão em crianças com idade entre 12 seja licenciada vacina conjugada quadrivalente, Sarampo, Ca-
meses e 12 anos é de 97 %. Acima de 13 anos, a administração xumba, Rubéola e Varicela.
de segunda dose, 4 a 8 semanas após, eleva o índice se sorocon- A Academia Americana de Pediatria recomenda a administra-
versão para 99 %. ção da vacina nas primeiras 72 horas e possivelmente 120 horas
A imunidade induzida pela vacina é de longa duração,havendo após a exposição a um caso de varicela para impedir ou atenuar
comprovação até 20 após a exposição. Pessoas imunizadas significativamente a doença.
podem desenvolver a doença, embora quase sempre de forma A vacina é contra indicada na gravidez, embora não tenha sido
atenuada. Nas crianças vacinadas, a doença além de benigna, é relatado Síndrome da Varicela Congênita em gestantes inadverti-
menos transmissível. damente vacinadas durante o primeiro ou segundo trimestre da
A vacina é recomendada a partir de 1 ano de idade sempre gestação. Ao se vacinar as mulheres,em idade fértil, devem evitar
pela via sub cutânea. Para crianças entre 1 ano e 12 anos, indi- a gravidez por 3 meses. A vacina pode ser administrada a crianças
ca-se apenas 1 dose, a partir de 13 anos sempre recomenda-se ou adultos que residam no mesmo domicílio das grávidas.
segunda dose, com intervalo de 4 a 8 semanas da dose inicial.
Os dados disponíveis no momento indicam que não se espera
nenhum problema na administração simultânea da vacina da Va-

Prevenção De Varicela Em Berçários E Maternidades

Tipo de exposição ou doença Presença de lesões Conduta


Mãe RN
Mãe: se tem história de varicela, pode retornar para casa. Se não
A. Contactantes domiciliares
tem história, deverá receber a VZIG e ter alta para casa.
têm varicela em atividade e Não Não
Neonato: pode ir para casa com a mãe se a mesma tem história de
mãe e RN estão de alta
varicela. Se mãe não é imune, usar VZIG e ir para casa com a mãe.
Mãe e criança expostas: alta para casa o mais rápido possível. Se
contactantes domiciliares estiverem doentes, seguir conduta A.
Outras mães e crianças: nenhum manejo especial está indicado.
Profissionais de saúde: se houver história de doença, não há neces-
B. Mãe sem história de varicela,
sidade de precaução.Se não houver história de doença, o estado
exposta no período de 06 a 20 Não Não
de imunidade deverá ser determinado e, se não houver anticorpos,
470 dias antes do parto.(d)
deverá ser excluído do contato com o paciente até 21 dias após a
exposição.
Se a mãe desenvolver varicela 1 a 2 dias após o parto,
o RN deverá receber VZIG.
Mãe infectada: isolar durante manifestação clínica.
Se doença grave, usar aciclovir. (e)
RN de mãe infectada: administrar VZIG (b) ao RN se mãe iniciou
doença 5 dias antes do parto e separá-lo da mãe. Dar alta se não
C. Doença pré- ou pós-parto. (d) Sim Não houver aparecimento das lesões até o momento em que a mãe se
tornar não-infectante (fase de crostas, sem vesículas).
Outras mães e crianças: dar alta o mais precocemente possível.
VZIG deverá ser administrada aos RN expostos.
Profissionais de saúde: como em B-3.
Mãe: isolamento desnecessário.
D. Doença materna RN: isolar de outros RN, mas não da mãe.
antes do parto Outras mães e crianças: o mesmo na exposição.
Pessoal de saúde: mesmo que em B-3.
RN e mãe infectados: mesmo que em D-2.
E. Varicela congênita Não Sim Outras mães e RN: mesmo que em C-3.
Pessoal de saúde: mesmo que em B-3.

1. Enviar o soro para diagnóstico em laboratório para 3. Considerar não-infectante quando nenhuma vesícula
determinação dos anticorpos para varicela. Pessoal de nova aparecer dentro de 72 horas e todas as lesões esti-
saúde poderá continuar trabalhando 08 dias após a ex- verem na fase de crosta.
posição aguardando o resultado da sorologia, pois não 4. Se exposição ocorrer antes dos 06 dias que antece-
são potencialmente infectados durante esse período. An- dem o parto, a mãe poderá não estar infectada até 72
ticorpos antivaricela > 1:4 provavelmente são indicativos horas após o parto.
de imunidade.
2. VZIG: dose para RN 1,25 ml. Para gestante: 6,25 ml.
Capitulo 12 Infecções Perinatais Crônicas

Bibliografia
• Carvalho SE, Martins RM. - Varicela: aspectos clínicos e prevenção. J Pediatr (Rio J) 75
(Sup 1); SI 26, 1999.
• Freire LMS, Freire HBM. - Infecção pelo vírus Varicela-Zoster: Considerações diagnósticas
e terapêuticas. Programa Nacional de Educação Continuada em Pediatria. PRONAP, Nº
Extra - 1, pg 55, 1999.
• Chickenpox, Measles and Mumps. Anne A G. In: Remington JS, Klein JO. Infectious Disea-
ses of the Fetus and Newborn Infant. Fourth Edition. WB. Saunders Company, Philadelphia,
pg 565, 1995.
• Smith CK, Arvin AM. Varicella in the fetus and newborn. Semin Fetal Neonatal Med 14:209,
2009

471

Paulo R. Margotto
Assistência ao Recém-Nascido de Risco

12.8 TUBERCULOSE

Maria Elisa C. Pazos Pixinine

A Tuberculose é um problema de saúde pública crescente em 2. Tuberculose primária ocorrendo precocemente a infec-
todo o mundo, principalmente nos países em desenvolvimen- ção e provavelmente sempre acompanhada de dissemi-
to, com aumento importante da sua incidência nos últimos dez nação linfohematogênica e que pode ser silenciosa ou
anos, inclusive entre as mulheres em idade reprodutiva. Contri- sintomática, como a tuberculose miliar.
buem para tal, a epidemia de HIV- (vírus da imunodeficiência ad- 3. Endometrite tuberculosa: raro em humanos.
quirida), a resistência às drogas, a desobediência ao tratamento,
a desnutrição, a dificuldade de acesso aos serviços médicos nas Frequentemente mães que dão a luz a RN com verdadeira tu-
classes desfavorecidas, etc... berculose congênita, sofreram, durante a gestação ou logo após
Com isso, a freqüência da tuberculose congênita, apesar de o parto, de alguma das manifestações de infecção primária como
rara é provavelmente subestimada. Seu diagnóstico precoce é efusão pleural, tuberculose miliar ou meningite tuberculosa.
essencial, mas comumente muito difícil. Muitos desses RN evo- Parece que a intensidade da disseminação linfohematogêni-
luem para o óbito como infecção bacteriana inespecífica e o ver- ca durante a gestação é um dos fatores a favor da tuberculose
dadeiro diagnóstico só é alcançado com a necrópsia. congênita. Essa disseminação pode levar à infecção da placenta,
A tuberculose congênita tem alta letalidade (50%) devida prin- com transmissão do bacilo para o feto por via sanguínea ou por
cipalmente à falha de suspeição diagnóstica. ruptura da lesão caseosa para o âmnion.
Entretanto, mesmo ocorrendo uma extensa tuberculose mater-
Definições Importantes na, com envolvimento maciço da placenta nem sempre há riscos
para o feto. Outras vezes a bacilemia pode ser tão severa com
• Exposição grave envolvimento fetal levando ao óbito.
se refere ao paciente com contato recente com tuberculose Endometrite e salpingite tuberculosa podem começar na épo-
pulmonar suspeita ou confirmada, cujo PPD é negativo, o exame ca da menarca, ter um curso muito longo, crônico, atingindo os
físico e radiológico são normais. Desse grupo, alguns desenvolve- ovários, ser relativamente assintomático e levar à esterilidade.
rão infecção, com PPD positivo e outros não.
Diagnóstico
• Infecção tuberculosa
paciente assintomático, com exame físico normal e RX normal 1. PPD deve ser realizado em toda gestante suspeita de
472 ou com apenas granulomas ou calcificações no pulmão ou linfo- exposição ao Bacilo de Kock ou com maior suscetibili-
nodos regionais. dade de adquiri-lo (HIV+, diabéticas, gastrectomizadas,
população de alta incidência, profissionais de saúde e
• Doença tuberculosa prisões, etc.)A gestação não altera sua resposta e o teste
paciente com infecção sintomática e/ou RX anormal. Pode ser não traz efeitos adversos à mãe ou ao feto.
pulmonar ou extrapulmonar. Pacientes HIV + com PPD > ou = a 5 mm é considerado posi-
Em adultos, a distinção entre infecção e doença é mais clara, tivo. No entanto falso PPD negativo pode ocorrer devido a sua
mas em crianças principalmente em neonatos, é muito difícil. imunossupressão.
O período de incubação para desenvolver PPD positivo é de 2
a 12 semanas. O risco de desenvolver doença é maior durante 2. RX de tórax deve ser realizado somente na gestante
os primeiros 6 meses após a infecção e continua alto por 2 anos. PPD +, para determinar se existe doença pulmonar ativa.
Entretanto, vários anos podem se passar entre a infecção e o de- Lembrar que não afasta a possibilidade de tuberculose
senvolvimento da doença. Em muitas circunstâncias, a infecção extrapulmonar.
fica “adormecida” e nunca progride para doença. Amostras de escarro devem ser obtidas para esfregaço, cultura
e determinação da sensibilidade.
Tuberculose Materna
3. Para as formas extrapulmonares podem ser indicadas
Existe uma longa, antiga e controversa discussão sobre os culturas de urina e secreções ou biópsias de linfonodos, etc.
possíveis efeitos adversos da gestação e puerpério sobre a tu-
berculose. Seu manuseio deve ser avaliado caso a caso. Sua Observações
identificação e tratamento é a forma mais eficiente de prevenir a • O achado de exsudato fibrinoso peritoneal durante cesa-
tuberculose congênita e perinatal. riana ou uma placenta infectada pode levar ao diagnósti-
A maioria dos casos é assintomática ou com doença mínima: co de tuberculose na mãe e RN.
tosse, febre, perda de peso, palidez, hemoptise, são os sinais • Na ausência de PPD + se a história ou clínica forem su-
mais comuns, mas também pode haver mastite, tuberculose mi- gestivas, toda investigação deve ser levada adiante e o
liar, meningite e mais tardiamente, manifestações na pele, arti- tratamento deve ser considerado. Tuberculose não tra-
culações, rins e ossos. tada representa um risco muito maior para a gestante e
Existem 3 formas de tuberculose materna que representam seu feto do que os riscos do tratamento.
uma ameaça para o feto:

1. Tuberculose pulmonar crônica ativa, frequentemente com


cavitação. Forma sintomática mais comum em adultos.
Capitulo 12 Infecções Perinatais Crônicas

Tratamento 2. Via líquido amniótico


A lesão caseosa se desenvolve na placenta e rompe diretamen-
1. Doença ativa te para a cavidade amniótica, onde o feto pode inalar e/ou ingerir
o bacilo durante a gestação ou no parto.
Este tipo de ruptura já foi descrita em autópsia e já observado
liquido amniótico com muitos bacilos.
O foco primário no pulmão não permite a identificação da via
de infecção. Entretanto a presença de múltiplos focos primários
no pulmão, intestino ou ouvido médio, assim como comprometi-
mento de linfonodos brônquicos, mesentéricos ou ambos, é su-
gestivo de infecção por essa via.
Tuberculose do ouvido médio tem sido descrita por vários autores.
A trompa de Eustáquio no RN permite fácil acesso do fluido faríngeo
e do vômito, propiciando a disseminação do bacilo. Múltiplas perfu-
rações ou total destruição da membrana timpânica, otorréia, adeno-
Estreptomicina, Pirazinamida, Cicloserina e Etionamida devem megalia cervical e paralisia facial são sequelas possíveis.
ser evitadas na gestação e cogitadas apenas nos casos de re-
sistência do microorganismo, impondo escolhas difíceis para o Características Clínicas
médico e a mãe devido a seus graves efeitos teratogênicos.
A suspeita clínica é muito difícil e geralmente retardada, uma vez
2. Gestante assintomática com PPD +, RX normal e nunca que a sintomatologia além de muito variável e inespecífica pode co-
tratada para tuberculose meçar desde o período pós-natal imediato até 8 semanas de idade.
São freqüentes a prematuridade, baixo peso, desconforto res-
piratório, anorexia, febre, hepato e/ou esplenomegalia, linfoade-
nopatia, distensão abdominal, letargia e irritabilidade. Menos co-
mumente pode se encontrar lesões de pele, convulsões, icterícia,
nódulos subcutâneos, tosse, apnéia, efusão pleural, cavitação
pulmonar e trombocitopenia. Raramente poder ser vista calcifica-
ção hepática ou esplênica. A ausculta pulmonar pode ser muito
pobre com RX muito alterado.

Diagnóstico
473
Ter certeza se a infecção é congênita ou perinatal não é real-
mente necessário já que enquanto corre a investigação, terapia
adequada é iniciada e ao mesmo tempo é indicada, também, a
investigação dos contactantes.
Observação Gestante HIV + com PPD > ou = 5 mm tem indica- Uma vez suspeito o diagnóstico, rapidamente todos os recur-
ção de tratamento para tuberculose mesmo que tenha recebido sos devem ser tentados para o isolamento do bacilo e determina-
vacinação BCG no passado. ção da sua sensibilidade às drogas. Devem ser feitos esfregaço
e cultura de lavado gástrico, aspirado traqueal, urina, sangue,
Tuberculose Congênita líquor, secreção de ouvido médio e histopatológico de biópsia de
linfonodos, fígado, pele e medula óssea.
Tuberculose congênita é rara. Gestantes com infecção somen- PPD faz parte da investigação diagnóstica, mas não podemos
te pulmonar geralmente não infectam seus fetos até o pós- parto. esquecer que ele só se tornará positivo em até 12 semanas após
A infecção intra-uterina pode ocorrer: a infecção, e, portanto com alto índice de falso negativo. Não
existe transferência intra-uterina ou pelo leite de reatividade ao
1. Via cordão umbilical PPD da mãe para o feto ou RN.
Por esta via os bacilos chegam ao feto decorrentes da bacile- Ainda que todos os esfregaços sejam negativos, se o RN está
mia materna. Alguns podem ser seqüestrados pelo fígado onde doente e existe suspeita clínica, terapia antituberculosa deve ser
se desenvolverá o foco primário com o envolvimento dos linfono- iniciada e mantida até que o diagnóstico possa ser afastado.
dos periportais. Se, no entanto, os bacilos passarem livremente Todo paciente com tuberculose deve ser investigado para HIV.
pelo fígado, podem atravessar o forame oval para o átrio esquer-
do e daí para a grande circulação, atingindo todos os órgãos. Tuberculose Adquirida No Período Pós-Natal
Alternativamente, podem passar do ventrículo direito para o pul-
mão onde, pela baixa tensão de O2 fetal e pelo pequeno volume aí Pode ocorrer por via pulmonar, intestinal ou pele e membranas
circulante, se mantém sem multiplicação até o nascimento quan- mucosas.
do o aumento da tensão de O2 e da circulação pulmonar favorecem A via pulmonar é a forma mais comum de aquisição de tu-
o desenvolvimento do bacilo e surge o foco primário no pulmão, berculose pós-natal, tanto pela mãe infectada como por outros
com envolvimento dos linfonodos brônquicos e mediastinais. contactantes, domiciliares ou nosocomiais. A sintomatologia é
Com isso, lesões já foram descritas em vários órgãos como: predominantemente pulmonar e não difere da forma congênita.
cérebro, ventrículos, meninges e adrenais, nem sempre sendo A via intestinal é ainda mais rara e decorre da ingestão de go-
possível determinar se representam foco primário ou secundário tículas de saliva ou escarro contaminado ou por lesão de mastite
a uma lesão primária do pulmão ou fígado. materna. Nesse caso, são encontrados um ou vários complexos
A única lesão do RN que é inquestionavelmente decorrente de primários no intestino delgado (98%), pulmão (20%), estômago
infecção congênita é o complexo primário no fígado. (18%), faringe e ouvido médio (8%) e esôfago (3.5%).

Paulo R. Margotto
Assistência ao Recém-Nascido de Risco

No último caso, via pele e membranas mucosas, a infecção meningite tuberculosa (exceto corticóide que só será administra-
decorre de pequenas lesões traumáticas infectadas pelo beijo do após confirmação).
contaminado. Essa lesão primária geralmente é insignificante e A sensibilidade do bacilo é usualmente a mesma da mãe (ou
o que chama a atenção é a adenomegalia satélite. Uma forma do infectante).
antiga desse tipo de lesão é descrita na genitália masculina após O tratamento deve incluir duas drogas bactericidas sensíveis.
circuncisão, quando é sugado o sangue ao redor da incisão (por Piridoxina é recomendada para todos RN, lactentes, mães e ges-
hábito cultural). O foco primário ocorre no pênis e em 1 a 4 sema- tantes em uso de INH.
nas sofre ulceração, supuração e adenomegalia inguinal. Na meningite tuberculosa fazer Prednisona 1 a 2 mg/kg/d por
6 a 8 semanas.
Tratamento Regimes terapêuticos recomendados, a seguir

Uma vez que os RN estão sob grande risco de desenvolver tu-


berculose extrapulmonar, eles são inicialmente tratados como

Infecção ou doença Regime Observações


Infecção assintomática Se a terapia diária não for
(PPD +, sem doença) possível, pode ser usada
INH - sensível 6 – 9 m de INH 1x/dia 2x/semana por 6 – 9 m.
INH - resistente 6 – 9 m de RIF 1x/dia Crianças HIV + devem ser
INH – RIF resistente Múltiplas drogas, Etambutol, Pirazinamida, (consultar especialista) tratadas por 12 m.

Tuberculose pulmonar Regime de 6 meses Se houver possibilidade de


resistência, outra droga
2 m de INH(isoniazida) + RIF(rifampicina) + pirazinamida(PRZ) 1x/dia (Etambutol ou Estreptomicina) é
seguido de 4 m de INH + RIF diário adicionada durante os
3 primeiros meses
Ou de terapia até que a
2 m de INH + RIF + PRZ| diária seguido de 4m de INH + RIF 2x/
sensibilidade seja determinada.
semana
Regime alternativo de 9 m (para adenopatia hilar somente)
9 m de INH + RIF 1x/dia
474 Ou
1m de INH + RIF 1x/dia seguido de 8 m de INH + RIF 2x/semana
Estreptomicina é dada na
Tuberculose extrapulmonar (mi- 2 m de INH + RIF + PRZ + Estreptomicina 1x/dia
terapia inicial até que se saiba
liar meningite óssea articular) seguido de 10 m de INH + RIF 1x/dia
a sensibilidade.
Ou
2 m de INH + RIF + PRZ + Estreptomicina 1x/dia seguido de 10 m de
INH + RIF 2x/semana

Dose diária Dose 2x/semana


Droga Dose máxima Reações adversas
(mg/kg/d) (mg/kg/d)
Neurite ótica (geralmente reversível), diminui-
Etambutol ção da acuidade visual, diminuição da discrimi-
15 – 25 50 2.5 g
(1 comp.= 100 e 400 mg) nação das cores verde e vermelho, distúrbios
gastrointestinais, hipersensibilidade
Isoniazida
Diariamente 300 mg,
(1 comp.= 100 e 300 mg) 10 – 15 20 – 40 Hepatite, neurite periférica, hipersensibili-dade
2x/semana 900 mg
xarope =b10 mg/ml
Rifampicina
Cápsula = 300 mg
10 – 20 10 – 20 600 mg Vômitos, hepatite, trombocitopenia
Suspensão: 41gts = 150 mg
(Rifaldin®)
Toxicidade vestibular e auditiva,
Estreptomicina IM 20 – 40 20 – 40 1g
nefrotoxicidade, rash
Pirazinamida
(1 comp.= 500 mg) 20 – 40 50 2g Hepatotoxicidade, hiperuricemia
cada ml = 30 mg
15 – 20
Etionamida Distúrbios GI, hepatotoxicidade,
em 2 ou 3 - 1g
(1 comp.= 250 mg) reações de hipersensibilidade
doses diárias
Cicloserina
10 – 20 - 1g Psicoses, convulsões, rash
1 cápsula = 250 mg
Capitulo 12 Infecções Perinatais Crônicas

Manuseio Do RN De Mãe Com Tuberculose RN Expostos À Tuberculose No Berçário

Esse manuseio vai depender da categoria da infecção materna O risco é baixo, mas existe a possibilidade de disseminação
(ou contactante). através de outras crianças ou pelos profissionais.
A separação do binômio RN / Mãe deve sempre que possível Conduta: fazer PPD
ser evitada, principalmente nas classes sócio-econômicas desfa-
voráveis, quando quase nunca está indicada, devendo-se manter • Se positivo, tratar.
a amamentação e manuseio do RN com uso de máscara, asso- • Se negativo, fazer INH por 3 meses, repetindo o PPD.
ciado à profilaxia. As máscaras para isolamento aéreo devem
conter poros que filtram partículas maiores ou iguais a 1 mm. Bibliografia
É considerado não bacilífero o paciente que tiver 3 amostras
• Committee of Infections Disease American Academy of Pediatrics. Petter G, editor. Red
de escarro negativas e não apresentar mais tosse. Apesar disso Book: Report of the Committee of Infections Disease. 24th ed, Elk Grove Village, IL: Ameri-
can Academy of Pediatrics, 1997
ocorrer geralmente com poucas semanas ( em torno de 3 sema- • Smith MHD, Teele DW. Tuberculosis. IN: Remington SJ, Hlein JO. Infections Diseases of the
nas) de tratamento, a infectividade pode ser mais longa especial- fetus and Newborn Infart. Fourth edition Philadelphia: WB Saunders Company, pg 1074,
1995
mente quando o paciente não adere adequadamente à terapia • Hageman JR. Congenital and perinatal tuberculosis: discussion of difficult issues in diag-
nosis and management. J Perinatol 18: 389, 1998
medicamentosa ou está infectado com cepa resistente. • Instituto de Puericultura e Pediatria Martagão Gesteira. Departamento de Pediatria da
No caso do infectante ser um contato domiciliar, seu afasta- Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Rio de Janeiro. Amamentação em situ-
ações especiais. Rotina de Pediatria, pg 36, 1995.
mento do RN já é mais permissível e as demais condutas são as • Cloherty JP. Tuberculosis IN: Cloherty JP, Stark AH. Manual of Neonatal Care. Lippincott -
Raven, Philadelphia, Fourth Edition, pg 300, 1998
mesmas recomendadas para a mãe infectante. • Ferlin MLS, Bissani C, Jorge SM e cl. Tuberculose Congênita. J Pediatr (Rio J) 74: 239, 1998

1. Mãe com qualquer tuberculose cuja infectividade não


pode ser afastada e sem condições de afastamento do RN.
• Manter amamentação com máscara.
• Iniciar ou continuar tratamento materno.
• INH por 3 meses e em seguida PPD.

PPD + PPD -
Mãe não bacilífera e
Continua INH por mais 3 meses
respeitando o tratamento.
Se HIV +, por 1 ano Suspende INH
Aplicar BCG
475
2. Mãe com tuberculose extrapulmonar ou pulmonar não
tratada (sempre considerada bacilífera).ou com doença
ativa em tratamento mais ainda bacilífera Separar RN da
mãe até que esta se torne não bacilífera. INH por 3 meses

PPD + PPD -
Continua INH por mais 3 meses Aplicar BCG
Se HIV +, por 1 ano

3. Mãe com diagnóstico recente, doença mínima não


tratada ou tratamento de menos de duas semanas, mas
não bacilífera.
• Amamentar com máscara + INH, PPD e BCG como no
exemplo anterior

4. Mãe sem doença ativa, em tratamento, não bacilífera.


• Ainda assim há algum risco para o RN.
• RN fica com a mãe usando INH por 3 meses, seguido de
PPD e BCG como nos exemplos anteriores.
• Mãe com história de tratamento completo e adequado.
• Pela remota possibilidade de haver uma exacerbação na
gestação deve ser feito PPD no RN. Se positivo continuar
a investigação. Se negativo aplicar BCG.

5. Mãe com apenas PPD positivo, RX normal, não bacilífe-


ra e sem doença ativa.
• Apenas aplicar BCG.

Paulo R. Margotto
Assistência ao Recém-Nascido de Risco

12.9 TÉTANO

Raulê de Almeida/Paulo R. Margotto

Generalidades Diagnóstico Diferencial

Doença de caráter agudo, tendo como agente etiológico o “Clos- •Lesão intracraniana secundária ao trauma do parto
tridium tetani” (BACILO NICOLAIER), que vive em meio anaeróbico •Hemorragia cerebral
e se caracteriza por elaborar toxinas: tetanolisina (Hemolisina, •Meningite
que não desempenha papel na patogenia do tétano); exotoxina •Tetania hipocalcêmica
(Tetanoespasmina, que age nas placas motoras terminais dos •Poliomielite
músculos esqueléticos, na medula, no cérebro e no sistema ner- •Encelalite
voso simpático). Admite-se que a toxina aja inibindo a liberação •Sepse
de acetilcolina dos terminais nervosos no músculo, perturbando •Raiva
a transmissão neuromuscular, Na medula, a toxina produz dis-
função dos reflexos polissinápticos, que resulta em uma falta de Tratamento
oposição à contração dos músculos. As convulsões podem ser
secundárias à fixação da toxina pelos gangliosídeos cerebrais. Tão logo o RN dê entrada à Unidade de Cuidados Intensivos, colo-
A manipulação séptica do coto umbilical provoca iatrogenica- cá-lo em ambiente silencioso, pouco iluminado, instalação precoce
mente a entrada de esporos tetânicos: corte do cordão com fa- da nutrição parenteral (dissecção venosa se impõe) e deixar disponí-
cas sujas, bambu e curativo do mesmo com pó de café, ervas de vel todo o instrumental para entubação e ventilação mecânica.
banana verde, fuligem, fezes de animais, lama, teia de aranha,
urina, fumo queimado e etc. 1. Eliminar o foco da bactéria produtora da toxina:
•tratar o coto com substâncias oxidantes: Água Oxigenada
Clínica e Permanganato de Potássio 1/5000 (um comprimido
/500 ml. de água); não é necessário onfalectomia
•Período de incubação: três dias (os sintomas geralmente •Penicilina cristalina: 200.000 UI/kg/dia
atingem o máximo em seis a sete dias: “Mal dos sete dias”)
•Primeira manifestação clínica: recusa alimentar (trismo) 2. Impedir novas ligações da toxina circulante ao Sistema
•Espasmos generalizados Nervoso:
476 •Contraturas tônicas (freqüentemente desencadeadas •Tetanogama ou Tetanobolin: 750 U IM, 12/12 horas
por estímulos sonoros, luminosos e táteis) (duas doses -1500U); níveis séricos duram 28 dias
•Hiperflexão dos membros superiores junto ao tórax, hi- •Apresentação: frascos de 2 ml com 250 U
pertensão dos membros inferiores, flexionamento total •Riscos: os mesmos dos derivados do sangue
das mãos e pés, opistótono, lordose acentuada, trismo, •Soro antitetânico: 10.000 a 50.000 U, dose única, IM ou EV,
mímica facial alterada, com os olhos serrados, preguia- níveis séricos durante 14 dias; deve ser administrado após
mento da pele e região frontal, a boca entreaberta e os o teste (se necessário deve ser feito dissensibilazação)
lábios contraídos como se o bebê estivesse pronuncian- •Apresentação: frascos com 2 ml, contendo 5.000 U e
do a letra “M” e o aspecto de um sorriso sardônico frascos com 10 ml, contendo 30.000 U
•Se hipertemia presente, excluída a presença de compli-
cações bacterianas, denuncia extrema gravidade 3. Impedir os Espasmos, Hipertonia ou Contraturas Musculares
•O comprometimento da musculatura respiratória pode
provocar a morte por apnéia e hipoxia 4. Diazepam sedativo, ansiolítico, miorrelaxante e mini-
•Os sintomas não desaparecem durante o sono mizador da atividade simpática do tetânico (taquicardia,
hipertensão arterial, sudorese, hipertemia e hiperglice-
mia),
•Dose 0,5 mg/Kg/dose, repetida até controlar as contra-
turas nos casos leves, a cada quatro ou seis horas; nos
casos mais graves: 10 mg/Kg/dia em infusão contínua
em 72 ml de SG 5% a 3 mcgtas/min. ou 3 ml/hora.

Observação
Descontar este volume do volume de manutenção das 24 ho-
ras, riscos para icterícia e depressão respiratória; apresentação:
Amp de 2 ml com 5 mg/ml, Valium susp. oral com 2 mg/5 ml.

5. Clorpromazina (Amplictil) sedativo e miorrelaxante,


•Dose 2 - 4 mg/Kg/dose, de 6/6 horas, intercalado com
o Diazepam.
•Apresentação: amp. de 5 ml contém 25 mg; sol. 1 gta
contém 1 mg.

Recém-nascido com riso sardônico e com espasticidade


(Rengel e Patel. Indian Pediatr 38:1316, 2001).
Capitulo 12 Infecções Perinatais Crônicas

6. Fenobarbital Endovenoso sedativo e miorrelaxante, Período de progressão


• Dose 10 mg/Kg/dia de 12/12 horas. Apresentação: Fe- Intervalo de tempo entre o 1º sintoma clínico e o aparecimento
nocris: Ampola com 200 mg/2 ml das contraturas.

7. Curare Como último dos recursos, para os casos muito Bibliografia


graves, que não responderam ao tratamento anterior (re-
• Focaccia R. Tétano. IN: Kolpeman BI, Farhat CK. Infecções Perinatais. Livraria Atheneu,
duz de 100% para 30% o índice de óbito), usar o Curare, pg 333, 1995.
lembrando que o RN deve estar sedado (Midazolam-vide • Harrys J. Doenças Infecciosas: Tétano. IN: Vayghan VC, Mckay RJ, Berkman RE, Nelson.
Tratado de Pediatria 11ª Edição. Interamericana, pg 765,1983.
Capítulo de Dor Neonatal) e em ventilação mecânica, sob • Murahovisch J. A criança com convulsão (Emergência Neurológica) em Pediatria 4ª Edição.
Sarvier, pg 179, 1983.
vigilância rigorosa. Nível sérico dura 1 hora • Galeano A, Bogado N, Doldán O, Jimenez J, Arbo A. Manejo del tétanos neonatal em uma
Unidade de Cuidados Intensivos Pediátricos. J Pediatr (Rio J) 75: C41, 1999
• Efeitos colaterais taquicardia e liberação de histamina • Narchi H. Index suspicio.Case 2. Hyperexplexia. Pediatr Rev 21: 173, 2000
• Dose Vecurônio (Norcuron) - frasco de 10 mg (pó) • Rengel RL, Patel AB. Neonatal tetanus. Indian Pediatr 38:1316, 2001
Ataque: 0,1 mg/Kg
Manutenção: 0,1 mg/Kg/hora
Exemplo RN com 3,8 kg - 0,1 mg/kg/h = 0,1 x 3,8 x 24 = 9,12 mg
Diluir 1 frasco em 5ml água destilada
1ml = 2mg: retirar 4,5ml e infundir com 20ml soro glicosado
5% a 1 ml/h.
0,1 mg/Kg/dose, (pode fazer até 1/1 hora, se necessário).
• Apresentação 1 ampola contém 2 ml com 2 mg/ml. Di-
luir 1 ampola em 8 ml de água destilada, 1 ml da diluição
contém 0,4 mg

8. Analgésicos São úteis, para quebrar o ciclo: dor - con-


tratura – dor (Vide Capítulo de Dor Neonatal)

9. Vigiar e tratar o choque (vasogênico), que pode ocorrer


pelo esgotamentodas catecolaminas (dopamina: 2,5 a 5
mcg/Kg/min.)

10. Tratar a anemia (quando existente, causada por hemó-


lise devido às toxinas)
477
11. Vigiar e tratar a apnéia, causada pelos sedativos, con-
traturas ou exaustão do cálcio (4 ml/Kg/dia de Gluc. de
cálcio 10%)

12. Cuidados gerais: evitar o barulho, aumentar a FiO2,


evitar escaras, alimentação parenteral, antitérmicos, fi-
sioterapia com luz infra-vermelha para combater a hiper-
tonia muscular, evitar injeções IM e cuidar da retenção
urinária, vitamina K EV

13. Vacina Antitetânica (esquema completo): a dose letal


de toxina tetânica é de menos da metade da dose imu-
nizante, o que pode explicar porque a infecção tetânica
natural não confere imunidade

A maioria das mortes ocorre entre 4-14 dias; se a criança so-


breviver mais que isso, os espasmos geralmente diminuem ao fi-
nal da 2ª semana, porém podem persistir até 4 semanas. Pacien-
te afebril possui um prognóstico melhor. Vejam o quadro a seguir.

Tétano Brando Tétano Médio Tétano Grave


Período De
10 dias 7 dias 4 dias
Incubação
Período De
24 horas 12-24 horas 12 horas
Progressão*
Contraturas
- Freqüência 1-5/dia 60-80/dia 200/dia
- Intensidade + ++ +++
- Duração + ++ +++

Paulo R. Margotto
Assistência ao Recém-Nascido de Risco

12.10 HEPATITE B

Liu Campello Porto, Raulê de Almeida, Ana Lúcia do N. Moreira

Introdução

A hepatite viral neonatal é freqüentemente confundida com • Icterícia: pode surgir nas primeiras 24 horas de vida ou pode
icterícia obstrutiva prolongada. O termo hepatite viral neonatal surgir após o período anictérico à custa da bilirrubina direta
deveria ser reservado à hepatite que ocorre ao nascimento ou • Prurido não ocorre nesta idade
durante os primeiros 3 meses de vida, resultante de uma infec- • Sintomas gastrointestinais (vômitos e diarréia), irritabili-
ção comprovada, podendo ser adquirida nos períodos pré-natal, dade podem preceder a icterícia. Crianças com hepatite
pós-natal ou perinatal ( transmissão vertical). neonatal AgHBs positivo tiveram curso mais prolongado,
doença mais severa e prognóstico mais grave (morte e
Epidemiologia cirrose) em comparação com crianças com hepatite neo-
natal AgHBs negativo
A infecção pelo Vírus da Hepatite B (VHB) ocorre na infância em • Uma conseqüência da hepatite na gravidez é a prematurida-
40% dos casos e é assintomática em 90%. Quando a infecção é de e baixo peso independente da infecção do bebê, causada
adquirida no período perinatal, o risco de cronicidade é de 70 a provavelmente por uma doença aguda na mãe ou placenta.
95%. Quase 40% das crianças de mães positivas para AgHBe (an- • Hepatite fulminante: pode ocorrer no período neonatal,
tígeno “e” da HVB-veja adiante) que não se infectaram ao nascer, embora raramente Autores chamam atenção para a ne-
infectar-se-ão antes de cinco anos, devido ao contato com a mãe. cessidade de rastreamento na gestante para detectar
AgHBs positivos (portadores crônicos assintomáticos)
Transmissão Vertical para aconselhamento e indicação de Imunoprofilaxia,
para HVB nos seus bebês.
Há quatro vias pelas quais o VHB pode ser transmitido ao RN:
Diagnóstico
• Transplacentária
• Durante o parto A história e resultados de exames sorológicos da gestante são
• Fecal pós-parto de importância para a investigação da doença no recém-nascido
• Pelo colostro que é assintomático na maioria dos casos.
478
É menos frequente no início da gravidez (10 a 30%) e mais fre- Diagnóstico Sorológico
quente quando há exposição perinatal ao sangue materno. Mães
AgHBe positivas têm um risco de transmissão de 70 a 90% no pe- O complexo imunológico da Hepatite vírus B tem provado ser
ríodo perinatal, enquanto que mães AgHBe negativa têm 0 a 19% um excelente marcador para a avaliação da infectividade e prog-
de chance de transmitir a doença ao concepto. Estudos mostram nóstico da doença hepática. Os marcadores sorológicos mais
que todas as crianças que se tornaram portadoras crônicas do utilizados são:
VHB eram filhas de mulheres AgHBe positivas e quase todas as
crianças tornaram-se infectadas no primeiro ano de vida. AgHBs – (antígeno de superfície do VHB): é o primeiro marca-
As taxas de transmissão vertical também sofrem influência das dor sorológico a ser detectado e os títulos são elevados na fase
raças: na raça branca a taxa de transmissão é menor do que nas aguda da doença. Em caso de cura, o AgHBs desaparece em até
raças negra e amarela (observou-se alta proporção do AgHBe en- seis meses. Se persistir além desse período considera-se a forma
tre as mães chinesas e afro-caribenhas). crônica da doença. Em caso de transmissão vertical pode per-
Quanto à transmissão em gestações sucessivas, a Hepatite manecer positivo por longos períodos (4 a 36 meses, média de
Vírus B pode ser transmitida mais de uma vez, por mães assinto- 18 meses). Alguns nunca se negativam.
máticas portadoras do vírus. Quadros neonatais severos e fatais
são mais comuns quando a mãe é portadora assintomática ape- Anti-HBs – (anticorpos contra o AgHBs): é o último anticorpo a
sar da transmissão ocorrer com maior frequência quando a mãe ser detectado; significa recuperação e imunidade contra o vírus.
tem infecção aguda no final da gestação e no período pós-parto. Sua detecção é indicativa de cura, passagem passiva de anticor-
Apesar das crianças poderem se contaminar por via fecal-oral pos maternos ou estado de imunidade pós-vacinal.
ou por aleitamento materno essa via de transmissão não é signi-
ficativa e o aleitamento materno não está contra-indicado. Ag HBc - (antígeno central da HVB): não é habitualmente detectado

Quadro Clínico Anti-HBc - (anticorpo correspondente ao AgHBc) :

Cerca de 90% dos infectados são assintomáticos. Observa-se • Anticorpo anti-HBc IgM significa infecção recente e desa-
alta incidência de prematuridade: 35% dos recém-nascidos de parece 4 a 6 meses. Não passa a barreira placentária
mães infectadas, independentemente da presença de infecção • Anticorpo anti-HBc IgG começam a ser detectados no iní-
nos mesmos. Pode haver quadro de icterícia com rápida recupe- cio da infecção e persistem por toda vida indicando infec-
ração e elevação de transaminases. ção pregressa. Pode passar a barreira placentária

• Surgimento na 1ª semana de vida (precoce) ou aos 2 ou AgHBe - (antígeno “e” da HVB): é o segundo marcador a ser
3 meses de vida (tardio) detectado e indica alto grau de replicação viral. Somente detec-
tados em soros que contém AgHBs, não sendo detectados na-
Capitulo 12 Infecções Perinatais Crônicas

queles que possuem anti-HBs ou anti-HBc. Sua detecção após • Gestantes que não sabem informar sobre a realização
seis meses, juntamente com o AgHBs, significa pior prognóstico. de vacinação e não trouxeram o cartão para confirmação
Pode ser encontrado em RN não infectados, pois atravessam a • Pacientes pertencentes ao grupo de risco e não foram
barreira placentária imunizadas
Anti-HBe - anticorpo correspondente ao AgHBe surgindo logo • Falta de realização de sorologias para hepatite B no pré-natal
após o desaparecimento do antígeno.
Imunoprofilaxia para prevenção da transmissão perinatal
Profilaxia
Recém-Nascidos De Mães AgHBs Positivas
Como 90% destas crianças adquirem o VHB no período perina- Vacina + HBIG Nascimento
tal e são geralmente assintomáticas, porém podem evoluir para 1ª dose
(0,5 ml IM) (<12 horas)
cirrose hepática e hepatocarcinoma. A infecção do RN pode ser
Vacina 2ª dose 1 mês
prevenida por meio da imunoprofilaxia adequada, uma vez que
3ª dose 2 meses
ainda não existe tratamento eficaz para a hepatite crônica.
O Programa Nacional de Imunizações recomenda atualmente a Vacina 4ª dose 6 meses
vacinação universal das crianças contra a hepatite B.
Tabela 01- Prevenção da Transmissão perinatal em recém-nascidos de termo
A Vacina E A Imunoglobulina Específica
Recém Nascidos De Mães Sem Triagem AgHBs
Composição E Apresentação
Teste rápido da mãe
Estudos nos EUA e na França de vacina utilizando virus purifi- Resgatar resultado
Fazer Triagem ou sorologia do
cado de portadores crônicos têm sido feitos com taxa de sorocon- dentro de 7 dias
sangue do cordão
versão significativa e baixo índice de efeitos colaterais. No Bra-
Nascimento
sil, as vacinas são obtidas por engenharia genética. São de uso Vacina 1ª dose
(<12 horas)
adulto e pediátrico dependendo do fabricante e as dosagens em
Administrar dentro
ml ou microgramas devem seguir orientação da bula e as normas
HBIG de 7 dias, se a mãe for
estabelecidas pelo programa nacional de Imunizações.
AgHBs +
A globulina hiperimune contra o vírus da hepatite B (HBIG) é
obtida de plasma de doadores selecionados, submetidos recen- Vacina 2ª dose 1 mês
temente à imunização ativa com altos títulos de anticorpos espe- 3ª dose 2 meses
cíficos (anti-AgHBs) Vacina 4ª dose 6 meses
479
Via De Administração Tabela 02 - Prevenção da Transmissão perinatal em recém-nascido
prematuros com menos de 2 Kg
As vacinas devem ser administradas por via intramuscular no
vasto lateral da coxa. A imunoglobulina deve ser aplicada por via Recém-Nascidos De MãeS AgHBs Positivas
intramuscular incluindo a região glútea. Quando a aplicação de Vacina + HBIG Nascimento
ambas é simultânea, deve ser feita em sítios diferentes. 1ª dose
(0,5 ml IM) (<12 horas)
Vacina 2ª dose 1 mês
Indicações
Vacina 3ª dose 2 meses

Prevenção da infecção perinatal. Vacina 4ª dose 6 meses


A vacinação nas primeiras 12 horas de vida é altamente eficaz na
prevenção da transmissão vertical da hepatite B. A precocidade da Recém Nascidos De Mães Sem Triagem AgHBs
aplicação é essencial para que seja evitada a transmissão vertical. Vacina + HBIG Nascimento (<12
1ª dose
(0,5ml IM) horas)
Estratégias de prevenção da transmissão materno infantil
Dar mais 3 doses
Mãe AgHBs positiva
da vacina
• Triagem Universal de gestantes para infecção pelo VHB
A 1ª dose pode ser
• Vacinação universal de todos os RN ao nascimento (Pro- Aguardar peso > 2
retardada até 1 mês
filaxia pré-exposição) Mãe AgHBs negativa Kg para completar
de idade se a mãe
• Imunoprofilaxia seletiva (Profilaxia pós-exposição) em RN esquema;
for AgHBs negativa
de mães AgBHs positivas): Vacina + HBIG nas primeiras
12 horas pós-nascimento
• Vacinação de crianças e adolescentes previamente não HBIG: globulina hiperimune contra o vírus da hepatite B; IM:
imunizados intramuscular; AgHBs: antígeno da superfície do vírus da hepatite B.
• Vacinação dos grupos de risco não imunizados (profilaxia
pré-exposição) Triagem

Falhas detectadas na triagem da gestante Toda gestante internada na Obstetrícia do Hospital Regional da Asa
Sul deverá ser investigada com relação à imunização para Hepatite B:
• Gestante que não realizou pré-natal
• Pré-natal incompleto com número de consultas inferior a • Informação da mãe e verificação no cartão do pré-natal
7 (recomendação do Ministério da Saúde) da realização da vacina contra Hepatite B - proceder à
rotina – realizar Vacina 1ª dose no recém-nascido.

Paulo R. Margotto
Assistência ao Recém-Nascido de Risco

• As gestantes que não foram imunizadas ou não sabem de realização do teste rápido para Hepatite B, colher sangue
informar da realização de vacinação contra hepatite B e do cordão e encaminhar exame para o LACEN, neste caso
que durante o pré-natal não realizaram sorologias para não esperar o resultado, aplicar Vacina 1ª dose + HBIG.
a triagem – colher sangue da mãe para a realização do
teste rápido para hepatite b ou na ausência deste teste, Observação: Se o recém-nascido receber alta antes da libe-
colher sangue do cordão para realização de sorologias ração do exame, anotar na Caderneta da criança sobre a coleta
para hepatite B e encaminhar para o Laboratório Central do exame e dar orientação a mãe com relação à importância de
(LACEN) e proceder à rotina (Vacina 1ª dose) e aguardar buscar este resultado dentro de 7 dias, uma vez que dentro deste
o resultado se recém-nascido de termo. período poderá se beneficiar com o uso da HBIG.
• Se a mãe não foi imunizada e o recém-nascido for prematu-
ro com peso de nascimento menor que 2 Kg - na ausência

Fluxograma De Prevenção Da Hepatite B Recém-Nascido De Termo

480

Prevenção Da Hepatite B Recém-Nascido Prematuro < 2 Kg


Capitulo 12 Infecções Perinatais Crônicas

Observação O AgHBs tem sido encontrado em saliva, urina, sêmen, secre-


Todo recém-nascido de termo e/ou > 2kg de mãe que não foi ções e leite humano.
imunizada ou não realizou sorologias para hepatite B no pré- Deve-se ter em mente:
natal, fazer o teste rápido, ou na ausência do teste rápido co-
lher sangue do cordão e encaminhar para o Laboratório Central 1. Ser escrupuloso no hábito de lavar as mãos quando
(LACEN). Realizar vacina e buscar resultado em até 7 dias para lidar com pacientes
decisão do uso de HBIG. 2. Usar luvas descartáveis no manuseio do paciente com
hvb
Observação(2): 3. Usar roupa do hospital
1. Todo recém-nascido pré-termo < 2kg de mãe que não 4. Proteger todas as aberturas (lesões) da pele ao manu-
foi imunizada ou não realizou sorologias para hepatite b sear o paciente
no pré-natal, fazer o teste rápido e adotar a conduta de 5. Evitar usar agulhas
acordo com o resultado. 6. Quando usar agulhas usá-las com técnicas apropria-
2. Na ausência do teste rápido, colher sangue do cordão das.
para diagnóstico e proceder a realização de vacina e HBIG. 7. Colocar agulhas usadas em recipientes próprios e de-
pois incinerá-las
Profilaxia Para A Equipe De Neonatologia 8. Se alguém for furado com agulha, deverá ser testado
para AgHBs e Anti-HBs:
A Hepatite B é contagiosa. A presença de um bebê AgHBs • Se a pessoa já for AgHBs+ ou se tiver AntiHBs não será
positivo em berçário apresenta riscos ao corpo médico, para- beneficiado com a IGHAHB.
médico e outras crianças, como também crianças e cônjuges
de mulheres AgHBs positivo.

Imunoprofilaxia Pós-Exposição

. Situação Sorológica do Caso Índice


Vacina contra hepatite B HbsAg-Positivo HbsAg Negativo Desconhecida
Iniciar vacina e 1 dose Iniciar vacina e 1 dose
Não vacinada Iniciar vacina
de IGHAHB. de IGHAHB.
Vacinação ncompleta Completar 3 doses vacina e 1 Completar 3 doses vacina e 1
Completar 3 doses vacina
(menos de 3 doses) dose de IGHAHB. dose de IGHAHB.
Vacinada com 3 doses 481
Nada Nada Nada
e sorologia (+)
1 dose de vacina e 1 dose de 1 dose de vacina e 1 dose de
Vacinada com 3 doses sem
IGHAHB. Fazer sorologia sorologia IGHAHB. Fazer sorologia
sorologia ou sorologia (−)
30 dias após. 30 dias após.

Bibliografia
• Margotto PR. Hepatite Vírus B/Herpes Simplex. Boletim Informativo Pediátrico (BIP)-Bra-
sília, Nº 25, 1982.
• Zeldis JB, Crumpacker CS. Hepatites. IN: Remington JS, Klein JO. ed, Philadelphia, WB
Saunders, pg 805, 1995
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1980
• Mussi-Pinhata MM, Yamamoto AY. Infecções congênitas e perinatais. J Pediatr (Rio J) 75:
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• Ferreira AW, Ávila SLM. Hepatites IN: Diagnóstico Laboratorial das Principais Doenças In-
fecciosas e Auto-Imunes, Guanabara Koogan, pg. 37, 2001.
• Crumpacker CS. Hepatitis. In: Remington JS, Klein J. Infectious Diseases of the Fetus and
the Newborn Infant. Philadelphia, W.B. Saunders, Co., pg828, 2000
• Manual dos Centros de Referência de Imunobiológicos Especiais Ministério da Saúde –
FUNASA - Brasília, 2001.
• Sáfadi MAP. Prevenção de hepatite B em Unidade Neonatal. In.Rodrigues FPM, Magalhães
M. Normas e condutas em neonatologia, Atheneu, São Paulo, pg.159, 2008

Paulo R. Margotto
Assistência ao Recém-Nascido de Risco

12.11 CITOMEGALOVIROSE

Liu Campello Porto

A citomegalovirose é causada por um grupo de agentes da famí- tavo par craniano é responsável por uma complicação freqüente
lia herpesvirus resultando em alterações citopatológicas caracte- da doença congênita: a surdez.
rísticas: células citomegálicas contendo inclusões nucleares e cito- A imunidade materna protege apenas 40% das crianças expos-
plasmáticas. É, hoje, considerada doença de transmissão sexual. tas, porém, a vasta maioria permanece com doença subclínica,
O homem é o único reservatório dessa doença endêmica cuja mostrando que a os anticorpos maternos são mais eficazes na
maior prevalência se observa na adolescência, quando o contato proteção da virulência que da transmissão. A infecção adquirida
íntimo interpessoal é maior. Após infecção primária a excreção por transfusão sanguínea é mais virulenta em RN soronegativos.
viral através da saliva, urina, secreção cervical e sêmen pode
persistir por meses ou anos. Infecção Materna

Transmissão O tipo de infecção materna é o fator mais importante para


transmissão congênita. A transmissão intra-uterina após infec-
A transmissão ocorre de forma direta ou indireta pelo contato ção materna primária é de 30 a 40%. A idade gestacional não
interpessoal, transmissão transplacentária, transplante de ór- influencia no risco de transmissão, mas a infecção no início da
gãos e transfusão sanguínea. Os reservatórios do vírus incluem gestação tem prognóstico pior. A infecção fetal pode resultar de
urina, secreção orofaríngea, cervical e vaginal, sêmen, leite, lágri- infecção materna crônica por reinfecção ou reativação da doença
mas, sangue e órgãos para transplante. e a infecção fetal é menos freqüente.
A forma congênita ou de transmissão vertical resulta da trans-
missão transplacentária da doença podendo haver infecção pla- Infecção Perinatal
centária sem a infecção fetal. A transmissão ocorre com a mes-
ma freqüência durante toda a gestação, resultando em sequelas A infecção perinatal resulta de exposição à secreção genital
neurológicas quando a infecção é adquirida no primeiro trimes- (responsável por 30 a 50% das infecções perinatais) ou leite ma-
tre. Dentre as infecções de transmissão vertical, a citomegalo- terno (30 a 70% se a amamentação dura mais que 1 mês) nos
virose é a de maior prevalência entre os recém-nascidos (RN). primeiros meses de vida. A presença de CMV nesses sítios resul-
Cerca de 1% dos RN nascem infectados pelo vírus. Para que haja ta de infecção materna primária ou recorrente. Infecções iatrogê-
transmissão ao concepto não é necessária a infecção aguda na nicas resultam de transfusão de sangue e derivados (geralmen-
482 gestação, ou seja, mães com infecção crônica (adquirida antes te em transfusões múltiplas) e de doadoras de leite infectadas.
da gestação) também podem transmitir a doença. Apesar da ex- Após a transfusão, o CMV que estava no sangue na sua forma
creção viral ser um evento comum durante e após a gestação, latente é reativado.
estudos têm mostrado que o simples isolamento do vírus durante Ocasionalmente a infecção perinatal e, raramente, a infecção con-
a gestação é um pobre indicador de risco para infecção intra- gênita, estão associadas à pneumonite. O CMV replica-se na muco-
uterina e questionável a postergação de gravidezes posteriores. sa respiratória após aspiração de secreções ou leite materno.
A taxa de transmissão da citomagalovirose é de 40 a 50% na
infecção materna aguda e 0,5 a 1% na infecção crônica Persistência Da Excreção Viral
Quanto à infecção perinatal, a prevalência é maior em países
de baixo nível sócio-econômico, em locais em que a prática da A infecção por CMV, tanto congênita quanto adquirida, carac-
amamentação é freqüente, entre crianças que freqüentam cre- teriza-se pela excreção viral crônica (mais prolongada do que em
ches (transmissão por saliva nas mãos e em brinquedos, pois o infecções adquiridas por crianças maiores e adultos). O vírus é
vírus permanece infectante por horas em superfícies plásticas). excretado na urina por até 6 anos e na saliva por 2 a 4 anos. As
Não há comprovação de transmissão por via respiratória. As duas crianças sintomáticas excretam uma quantidade de vírus muito
fontes de transmissão de infecção perinatal mais importantes maior que as assintomáticas e a maior quantidade de vírus é ex-
são leite materno e trato genital da gestante com taxas de trans- cretada nos primeiros 6 meses de vida.
missão de 63% e 45%, respectivamente. Uma questão importan-
te é que crianças excretando vírus são uma fonte importante de Transmissão Entre Profissionais De Saúde
infecção para as pessoas que cuidam delas, especialmente ges-
tantes (assistentes de creche, parentes). Estudos soro-epidemio- A preocupação com a transmissão do CMV entre as profissio-
lógicos mostram que os pais freqüentemente adquirem a doença nais de saúde em idade reprodutiva não encontrou justificativa
dos filhos infectados fora de casa. nos estudos realizados na última década. Quando comparada a
Quanto ao risco de transmissão para profissionais de saúde, população geral com as profissionais de saúde, a soroconversão
não há diferença significativa entre a população geral. entre os dois grupos não mostrou diferença.

Patogênese Quadro Clínico

O endotélio vascular é o alvo da infecção viral. A deficiência de Anualmente, aproximadamente 1% de todos os nascidos vivos
suprimento sanguíneo causada pela replicação viral e a respos- nasce com infecção congênita por CMV.
ta inflamatória do hospedeiro resultam em danos em diversos A infecção congênita pelo citomegalovirus (CMV) resulta em
órgãos. O acometimento vascular concorre para a disseminação 90% de crianças assintomáticas. Dessas, 10 a 15% terão alte-
da infecção em diversos órgãos como o sistema nervoso central rações tardias, como surdez e graus variáveis de alterações neu-
(SNC). O tropismo do vírus por células localizadas na cóclea e oi- rológicas. As crianças assintomáticas com evolução neurológica
normal até um ano de vida não apresentam maior risco de de-
Capitulo 12 Infecções Perinatais Crônicas

senvolver anormalidades tardias. Somente 10% dos RN são sin- Defeitos Oculares
tomáticos e metade desses tem a doença generalizada.
Estudos recentes mostram que a gravidade da doença parece A manifestação principal é a coriorretinite (em 14% das crian-
estar relacionada ao genótipo do CMV, tendendo a ser menos ças com doença congênita sintomática) com estrabismo e atrofia
graves quando decorrentes da infecção pelo genótipo gB1 e mais óptica. Embora a coriorretinite ocorra em ambas as doenças, to-
graves, para os genótipos gB2 e gB3. xoplasmose e CMV, a lesão não pode ser diferenciada com base
A doença clinicamente aparente é caracterizada pelo envol- no aspecto ou localização. A diferença está na progressão pós-
vimento de múltiplos órgãos, particularmente sistema retículo- natal da coriorretinite que é incomum na CMV. Microftalmia, ca-
endotelial e SNC com ou sem acometimento ocular ou auditivo. tarata, necrose e calcificação da retina, cegueira, malformações
As crianças sintomáticas ao nascer (10%) podem apresentar; do globo ocular e vestígio de membrana pupilar são descritos em
associação à forma congênita generalizada. A presença de mi-
1. Prematuridade, crescimento intrauterino retardado; croftalmia e catarata é forte evidência de que a doença em curso
2. Hepatoesplenomegalia (sinal mais comum podendo não é causada pelo CMV.
ser a esplenomegalia o único sinal);
3. Anemia, icterícia (pode ser intermitente) por aumento Restrição Do Crescimento Intrauterino
da bilirrubina indireta ou bilirrubina direta (colestática);
4. Petéquias*, plaquetopenia Muitas vezes severa, está presente em 50% dos RN sintomá-
5. Pneumonite intersticial (somente na aquisição perinatal); ticos. A prematuridade ocorre em 34%. Os RN assintomáticos
6. Manifestações neurológicas: microcefalia, calcifica- usualmente não apresentam nenhum dos sinais não sendo ao
ções intracranianas, crises convulsivas; CMV considerado causa importante de RCIU ou prematuridade.
7. Coriorretinite (semelhante à da toxoplasmose), estra-
bismo, atrofia ótica, microftalmia e catarata (manifesta- Pneumonite
ção rara) e deficiência de acuidade visual e auditiva.
Usualmente não faz parte do quadro de infecção congênita em
Obs: * manifestações mais comuns RN (menos de 1% mesmo nos casos mais graves). Ocorre mais
freqüentemente em crianças com a doença perinatal adquirida.
Hepatoesplenomegalia
Surdez
Em alguns casos, somente esplenomegalia e petéquias estão
presentes. Esplenomegalia normalmente persiste por mais tem- Surdez neurossensorial é, provavelmente, a seqüela mais co-
po que a hepatomegalia (até 1 ano). mum nas crianças congenitamente infectadas, tanto na doença
clínica quanto na doença subclínica. A freqüência e a severidade
Icterícia são maiores na doença manifesta. Além da surdez neurossenso- 483
rial, multiplica-se em diferentes estruturas do ouvido interno. O
O quadro de icterícia freqüentemente ultrapassa o de icterícia fi- CMV é hoje considerado um dos maiores responsáveis pela sur-
siológica podendo se arrastar até 3 meses de vida. Raramente são dez na infância (58% dos pacientes sofrem de diferentes graus
indicadas exsanguíneotransfusões. As bilirrubinas são elevadas nas de acometimento auditivo).
suas frações direta (BD) e indireta podendo a BD ser 50% da total.
Anomalias Congênitas
Petéquia E Púrpura
Com exceção de hérnia inguinal em meninos, anomalias de pri-
São a evidência do efeito direto do CMV sobre os megacarió- meiro arco branquial e defeito dentário, existem poucas evidên-
citos da medula óssea, resultando em plaquetopenia e rash pe- cias de que o CMV possa ser considerado teratogênico.
tequial ou purpúrico. Raramente as petéquias estão presentes
ao nascimento, surgindo horas após. Podem ser transitórias e Sequelas
desaparecer em 48 horas. A contagem das plaquetas está entre
10.000 e 125.000 (média de 20.000 a 60.000) Algumas vezes Cerca de 90% dos RN sintomáticos evoluem com sequelas. As
não se observa plaquetopenia A gravidade da doença pré-natal mais comuns são retardo mental e surdez, que podem ser diag-
é evidenciada pela presença de microcefalia (com ou sem cal- nosticados anos após o nascimento.
cificações), crescimento intrauterino retardado e prematuridade. O quadro de surdez pode estar presente em mais de 50% des-
Manifestações menos comuns são: hérnia inguinal em meninos, sas crianças e parece ser mais frequente em crianças que apre-
coriorretinite, hidrocefalia, anemia hemolítica e pneumonite. A sentam petéquias, hepatoesplenomegalia e com crescimento
mortalidade em crianças severamente acometidas é de 30% intrauterino retardado.
(maioria no período neonatal com disfunção hepática severa, Já os RN assintomáticos têm um prognóstico bem melhor, po-
sangramento, coagulação intravascular disseminada e infec- rém, 10% deles está em risco de desenvolver sequelas graves,
ção bacteriana secundária). O óbito que ocorre após o período sendo a surdez presente em cerca de 20%.
neonatal é, geralmente, por doença hepática severa e, após o A frequência das sequelas varia conforme o RN seja sintomáti-
primeiro ano, resulta de acometimento neurológico severo. co ou assintomático ao nascer, como mostrado na tabela 1

Microcefalia Sequela % Sintomático % Assintomático


Perda auditiva neuro-sensorial 58 7,4
É definida como medida da circunferência abaixo do percentil
QI < 70 55 3,7
5. Pode estar presente em até 50% das crianças nascidas assin-
Microcefalia, convulsão,
tomáticas. A presença de calcificações indica que a criança terá 51,9 2,7
paresia/paralisia
retardo mental moderado a severo.
Microcefalia 37,5 1,8

Paulo R. Margotto
Assistência ao Recém-Nascido de Risco

Perda auditiva bilateral 37 2,7 O teste de Avidez para anticorpos IgG, tem especificidade de
Convulsões 23,1 0,9 100% em detectar infecção aguda na gestante quando realizado
nas primeiras 18 semanas de gestação (baixa avidez).
Coriorretinite 20,4 2,5
Não existe consenso na literatura mundial sobre a obrigatorieda-
Paralisia/paresia 12,5 0
de de realização de testes sorológicos para detecção de anticorpos
Morte (>28 dias de vida) 5,8 0,3 IgG e IgM para CMV nas gestantes. A realização da ultrassonogra-
fia gestacional pode auxiliar o diagnóstico precoce dos fetos infec-
Tabela 1 – Sequelas após CMV congênita tados, com detecção de achados anormais em 78% dos casos.

Além das diferenças de frequência de sequelas entre RN sinto- Diagnóstico Da Infecção Fetal
máticos e assintomáticos, a frequência também varia de acordo
com o tipo de infecção materna, conforme Tabela 2 O ultrassom (US) pode detectar anormalidades relacionadas à
infecção pelo CMV, embora muitos achados sejam inespecíficos.
Sequelas Tipo De Infecção Materna A sensibilidade diagnosticar a infecção é baixa, considerando-se
% Primária % Recorrente que a maioria das crianças é assintomática.
Os achados sonográficos da infecção pelo CMV são a ventri-
Perda auditiva
15 5,4 culomegalia, cistos periventriculares (inferolateral ao corpo do
neurosensorial
ventrículo lateral), hiperecogenicidade periventricular devido à
QI < 70 13,2 0
microcalcificações (figura 1) e polimicrogiria. Estes achados tam-
Perda auditiva bilateral 8,3 0 bém são encontrados em outras infecções, como a rubéola.
Outras seq. Neurológicas 6,4 1,6 Tomà e cl descreveram em um RN com infecção pelo CMV ao
Microcefalia 4,8 1,6 US no 4º dia de vida (o primeiro ultrassom foi normal) áreas de
Convulsões 4,8 0 aumento da ecogenicidade no tálamo assemelhando-se a um
Paralisia/Paresia 0,8 0 “castiçal ramificado” ao longo das artérias tálamoestriadas. Este
Morte (> 28dias) 2,4 0 achado só foi descrito na infecção por rubéola.
As arteríolas e vênulas dos plexos leptomeníngeos que supre
Tabela 2 o centro semi-oval e os núcleos cinzentos são afetados na ru-
béola congênita. Há uma destruição de uma ou mais camadas
Infecção Perinatal da parede vascular com reposição de substância amorfa rica em
mucopolissacarídeos que inclui sais de cálcio. Assim, o padrão ul-
Sintomas trassonográfico caracteriza-se pela hiperecogenicidade na forma
de um “candelabro ramificado” como descrito (figuras 2 e 3). Es-
484 Para que se estabeleça o diagnóstico de infecção perinatal, tes achados foram descritos originalmente na rubéola congênita,
deve-se excluir infecção congênita excluindo a excreção viral cardiopatia congênita cianótica, trissomia do 18, trissomia do 21,
nas primeiras 2 semanas de vida. O período de incubação da síndrome fetal-alcoólica e hidropsia não imune.
forma perinatal é de 4 a 12 semanas sendo também caracteri-
zada como uma infecção crônica com excreção viral por anos. A
maioria permanece assintomática: os RN a termo e sadios não
apresentam restrição do crescimento ou desenvolvimento. Pode
ocorrer pneumonite em lactentes menores que 4 meses. Clini-
camente esses pacientes apresentam-se afebris, com dispnéia,
taquipnéia, apnéia, tosse (às vezes paroxística), obstrução nasal
e broncoespasmo. Já os RN prematuros o quadro é mais severo.
Frequentemente desenvolvem hepatoesplenomegalia, neutrope-
nia, linfocitose e trombocitopenia e necessitam de oxigenoterapia
por um período maior. Os achados laboratoriais incluem aumento
de IgM (66% dos casos), leucocitose (59%) e eosinofilia.
A infecção adquirida por transfusão sanguínea tem morbimor-
talidade significativa, especialmente em prematuros com peso
de nascimento menor que 1500g nascidos de mães soronega-
tivas. A síndrome pós-transfusão consiste em deterioração da
função respiratória, heparoesplenomegalia, cor acinzentada
(aparência séptica), linfocitose, trombocitopenia e anemia hemo-
lítica e ocorre entre 4 a 12 semanas após a transfusão quando
os RN estavam evoluindo bem. O óbito ocorre em 20% dos casos.
A prevenção consiste em transfundir RN soronegativos com san-
gue de doadores também soronegativos.

Diagnóstico De Infecção Materna

A infecção é confirmada pela soroconversão de anticorpos IgG, Fig. 1 US em (A) plano parassagital, no 4º dia de vida evidenciando
porém, a maioria das gestantes não tem resultados de testes soro- estrias hiperecogênicas, lembrando um castiçal ramificado, com a
lógicos prévios à gestação para a comparação. A presença de an- topografia das artérias tálamoestriatas (cabeça de setas). Em (B), o
ticorpos IgM pode não confirmar a infecção aguda, pois: i) podem Doppler confirma a forma de onda típica arterial na posição das estrias
permanecer detectáveis por mais de 9 meses após infecção aguda; hiperecogênicas (seta) (Tomà)
ii) podem estar presentes em reativação e recorrência de infecção.
Capitulo 12 Infecções Perinatais Crônicas

Fig. 2. Recém-nascido com infecção por citomegalovirus (vasculopatia Fig. 4. US em (A) no plano coronal mostrando múltiplas calcificações
mineralizante). US no plano sagital em (A) demonstrando linhas periventriculares (setas) e dilatação biventricular em um RN com
ecogênicas em formato de candelabro (cabeça de setas). Em (B) US parvovirose confirmada. Em (B) e (C) US no plano sagital evidenciando
no plano coronal com múltiplos focos ecogênicos na gânglia basal sem calcificações subependimárias (cabeça de seta) e múltiplas calcificações
sombreamento (setas) (Barr) periventriculares (seta) no mesmo RN (Margotto)

Outros achados da infecção pelo citomegalovirus no neonato


incluem: microcefalia, hidrocefalia, calcificações intracranianas, 485
hipoplasia cerebelar, cistos paraventriculares e lesões isquêmicas
destrutivas tais como a porencefalia, hidranencefalia e polimicrogi-
ria. O achado mais marcante é hiperecogenicidade periventricular
bilateral (calcificações). Estas calcificações ou focos hiperecóicos,
embora sejam altamente refletivas, pode não produzir uma som-
bra acústica. (figura 3). As calcificações periventriculares parecem
resultar de inflamação necrosante da área periventricular dos ven-
trículos laterais com subseqüente calcificação. Este achado deve
fazer o diagnóstico diferencial com parvovirose congênita ((infec-
ção pelo subtipo B-19, família Parvoviridae (figuras 4 e 5) cujos as-
pectos no US do crânio são ventriculomegalia, calcificações peri-
ventriculares e dos gânglios da base).

Fig. 5. Tomografia computadorizada do mesmo RN da figura 4 (parvoviro-


se), evidenciando em (A), (B) e (C) no plano axial e em (D) e (F) no plano
coronal e em (F) no plano sagital múltiplas calcificações periventriculares
(setas longas) e subependimárias (cabeça de seta) e inclusive nos hemis-
Fig.3. Calcificações periventriculares em um paciente com infecção férios cerebelares (seta curta). Alteração do padrão giral com pobreza de
por citomegalovirus (áreas ovóides de intensa ecogenicidade com sulcos e giros, sendo o aspecto de parênquima compatível com malforma-
sombreamento-setas) (Barr) ção do SNC do tipo anomalia de migração neuronal. O aspecto tomográfico
foi fortemente sugestivo de infecção por citomegalovirus. (Margotto, PR)

Paulo R. Margotto
Assistência ao Recém-Nascido de Risco

A infecção pode ser confirmada pelo teste de PCR no líquido ras 20 semanas de gestação (sensibilidade de 80 a 100% após
amniótico. O teste deve ser oferecido a todas as gestantes com a 21a semana de gestação). O tempo decorrido entre infecção
infecção aguda confirmada e ou alterações ultrassonográficas materna e fetal pode variar de semanas a meses.
compatíveis com CMV congênita.
Diagnóstico Da Infecção Perinatal
Diagnóstico
Cultura viral ou PCR feitos na urina ou saliva são os melhores
É feito na presença de sinais e sintomas sugestivos, após a métodos diagnósticos, mas a excreção viral não se inicia antes
exclusão de outras infecções congênitas com clínica semelhante de 3 a 12 semanas após a exposição. O diagnóstico diferencial
e na presença de vírus na urina ou outra amostra clínica durante com a forma congênita é muito importante, pois a morbidade e
as duas primeiras semanas de vida. a ocorrência de sequelas são bem diferentes nos dois grupos.

1. Diagnóstico laboratorial Isolamento de vírus em cultu- Diagnóstico Diferencial


ra de fibroblastos – método convencional. Realizado na
urina e saliva com resultado entre 3 a 5 dias; A presença de hepatoesplenomegalia, petéquias e hiperbilir-
2. Reação em cadeia de polimerase (PCR): detecção do rubinemia direta são comunas a várias doenças especialmente
DNA viral na urina, sangue, LCR e material de biópsia ou as infecções congênitas tais como: rubéola, toxoplasmose, sífilis,
outros sítios com sensibilidade e epecificidade semelhan- herpes simples e, menos comumente, hepatite e varicela. A cito-
te ao anterior com maior rapidez do resultado (24 horas). megalia congênita tem, caracteristicamente, presença de pneu-
3. Detecção da resposta imune A produção de anticor- monite, microcefalia e anormalidades oculares e neurológicas,
pos inicia-se no útero e se mantém pós-natalmente. mas que não são patognomônicas da doença. Outras doenças
que entram no diagnóstico diferencial são: sepse bacteriana e
Detecção de IgG: doenças não infecciosas como doença hemolítica, desordens
metabólicas (galactosemia e tirosinemia) e leucemia congênita.
Os anticorpos da classe IgG quando presentes no RN têm inter- Vale lembrar que infecções podem coexistir no mesmo paciente.
pretação dificultada pela presença de anticorpos maternos. Os anti- Consequentemente, recursos laboratoriais devem ser utilizados.
corpos passivos maternos, presentes em RN não infectados, devem
estar ausentes entre 4 a 9 meses de idade. Quando o RN se infec- Avaliação Do RN Infectado
ta, seja a forma congênita ou perinatal, os anticorpos IgG tendem a
permanecer estáveis por meses. Portanto, não há como distinguir a A avaliação é importante na determinação do grau de acome-
forma congênita da perinatal somente pelos títulos de IgG. timento do RN, principalmente com relação ao acometimento do
SNC. Os exames que permitem essa avaliação constam a seguir:
486 Testes Sorológicos (IgG)
1. Ultrassonografia de crânio
1. fixação de complemento: resultado é dado em título 2. Tomografia computadorizada de crânio: deverá ser re-
sendo considerado positivo título acima de 1/8. alizada mesmo nas crianças assintomáticas, pois a ra-
2. ELISA, radioimunoensaio: rotineiramente utilizados. São diografia simples de crânio tem baixa sensibilidade para
métodos automatizados com resultados dados em índices a visualização de calcificações intracranianas e outras
e valores de referência indicados pelo laboratório. alterações. As calcificações são, na grande maioria dos
casos, periventriculares, e não distribuídas no córtex.
Detecção De Anticorpos IgM 3. Rx de ossos longos (radiotransparências longitudinais
epifisárias) e RX de crânio (pouco utilizado, atualmente,
O feto infectado normalmente produz anticorpos IgM específi- pela baixa correspondência com TC de crânio).
cos que não são transferidos pela placenta. A presença desses 4. Exame oftalmológico e audiológico: periodicamente
anticorpos no cordão ou sangue do neonato significa resposta para detecção de alterações tardias.
fetal à infecção, exceto nos casos de “escape placentário” de IgM 5. Hemograma completo e contagem de plaquetas;
materna, fator reumatóide (IgM anti-IgG materno) e resultados 6. Prova de função hepática.
falso-positivos previstos pela sensibilidade do teste utilizado.
Tratamento
Testes sorológicos (IgM)
Existem apenas quatro drogas licenciadas para o tratamento
Nenhum teste sorológico ainda atingiu a especificidade e sen- sistêmico da infecção pelo CMV: ganciclovir, valganciclovir, cido-
sibilidade dos testes virológicos. Para se firmar diagnóstico de in- fovir and foscarnet. O ganciclovir e valganciclovir (produto oral do
fecção congênita, o clínico não deve se basear em um único teste. ganciclovir) são as únicas drogas empregadas no tratamento da
CMV congênita e são efetivas em reduzir a ocorrência de perda
1. RIA (radioimunoensaio): está entre os melhores com auditiva e melhorar o desenvolvimento das crianças tratadas ao
sensibilidade de 89% e especificidade de 100% para nascimento. O valganciclovir oral parece ser tão eficiente quanto
diagnóstico de infecção congênita. o ganciclovir no tratamento da CMV congênita, embora ainda não
2. ELISA: a especificidade desse teste está em torno de disponível comercialmente.
95% e a sensibilidade de 70%.
Ganciclovir (CytoveneR)
Diagnóstico prenatal
O uso do ganciclovir deve ser restrito a crianças sintomáticas,
O diagnóstico prenatal é possível pelo isolamento do vírus e devido aos efeitos mutagênicos, teratogênicos e carcinogênicos da
PCR no líquido amniótico. O resultado positivo confirma infecção, droga, e a ocorrência de neutropenia durante o seu uso. O tratamen-
porém o resultado negativo não exclui especialmente nas primei- to deve ser intravenoso por 6 semanas, na dose de 6 mg/kg/dia.
Capitulo 12 Infecções Perinatais Crônicas

Tem como contra-indicação: gestantes e pacientes com conta- Bibliografia


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uso seja útil no tratamento da CMV congênita, pois os casos são
identificados semanas ou meses após o contato.

Vacinas

Vacinas com vírus atenuado têm sido estudadas em pacientes


submetidos a transplantes e mulheres jovens antes de engravidar
e seus conceptos, mas ainda não há conclusão quanto à eficácia.
487
Prevenção

Existem inúmeras discussões sobre a necessidade de se reali-


zar exames sorológicos na gestante e tempo que deve ser poster-
gada uma gestação. A triagem sorológica da gestante é de pouco
valor na prevenção da doença congênita. Podem ser realizados
testes em mulheres em idade reprodutiva para conhecimento
do seu estado sorológico e riscos de transmissão vertical. PCR e
cultura viral do líquido amniótico após 20 semanas de gestação
são úteis no diagnóstico, mas ainda não temos informações se-
guras para aconselhamento de interrupção de gestação. Da mes-
ma forma, não há informação sobre quanto tempo uma gravidez
deva ser adiada após primo-infecção. A excreção viral não é um
bom parâmetro, pois pode ocorrer por meses ou anos. Infecção
materna preexistente não previne a reativação do vírus, mas a
imunidade materna protege o feto significativamente.
A principal fonte de CMV são as crianças infectadas e conta-
to sexual. As gestantes suscetíveis que trabalham em contato
íntimo com crianças (creches) formam um grupo de alto risco.
Porém, medidas de higiene recomendada em hospitais como a
simples lavagem de mãos devem ser instituídas. Os profissionais
de saúde não têm maior risco de adquirir a doença, pois estão
protegidos pela lavagem rotineira das mãos e demais normas de
controle de infecção hospitalar.
A transmissão pelo leite materno não é uma questão preocu-
pante, especialmente com relação ao RN a termo que são ama-
mentados por suas mães. Os RN prematuros que não receberam
quantidade suficiente de anticorpos transplacentários estão em
maior risco de morbidade. Deve-se ter cuidado com leite humano
de banco, pois pode ser oferecido leite infectado de doadoras a
RN nascidos de mães soronegativas. O armazenamento do leite
infectado a -20°C reduz, mas não elimina a infectividade.

Paulo R. Margotto
Assistência ao Recém-Nascido de Risco

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Capítulo 13

Distúrbios
do Trato
Gastrointestinal
Assistência ao Recém-Nascido de Risco

13.1 REFLUXO GASTROESOFÁGICO

Raulê de Almeida

O Refluxo Gastroesofágico (RGE) é melhor definido como uma anti-refluxo. Metade deste esfíncter localiza-se no tórax e
passagem involuntária e intermitente do conteúdo gástrico em metade no abdômen (no RN está localizado predominan-
direção ao esôfago, freqüentemente causada pelo relaxamento temente tórax). No recém nascido tem extensão de 1,0
do esfíncter esofagiano inferior. A composição do conteúdo gás- cm, atingindo 2,5 a 3,5 cm, dos 4 aos 6 anos, a mesma
trico refluído pode variar desde saliva, alimentos e secreções gás- extensão do adulto, o que justifica em parte, a incidên-
tricas, pancreáticas ou biliares que passaram (fluriram) para o cia da doença ser inversamente proporcional à idade da
estômago para o daí retornaram (refluíram) para o esôfago. criança. A pressão positiva intra- abdominal, desde que
não exerça pressão extrínseca no estômago, contribui
Considerações Gerais com o aumento do tônus do EEI.
• Ligamento Frenoesofágico: Os dois folhetos da fáscia
O material regurgitado pode ser considerado a ponta do “ice- subdiafragmática, fixam o esôfago distal, tracionando-o
berg” do refluxo gastresofágico (RGE). Na criança está quase sem- para o abdômen, durante a inspiração, o que impede a
pre associado à presença de regurgitações que ocorrem principal- ação da pressão negativa intratorácica.
mente nos primeiros quatro meses de vida, constituindo-se em • Diafragma crural: As fibras musculares do diafragma for-
importante causa de visita ao pediatra. A doença do RGE é causa mam o hiato diafragmático, por onde passa o esôfago.
freqüente de mortalidade infantil. Aqui abordaremos os conceitos A contração do diafragma durante a inspiração auxilia o
do RGE, na criança em geral, dando ênfase no que se refere ao RN. tônus do EEI
• Ângulo de HIS: Formado pela porção abdominal do esô-
Classificação Do RGE fago e o fundo do estômago. No RN é obtuso, tornado-
se agudo posteriormente. O fundo do estômago cheio
RGE Fisiológico: Presença de regurgitação e ou vômito sem exerce pressão extrínseca sobre o esôfago abdominal,
outra manifestação clínica, a criança tem bom desenvolvimento aumentando o tônus do EEI.
e não apresenta sintomas clínicos de sofrimento por dor. • Roseta Gástrica: Pregas concêntricas da mucosa gástri-
RGE Patológico: Disfunção esofagogástrica. Doença do refluxo. ca próxima à cárdia dificultam o refluxo.
RGE Secundário: Existe uma causa subjacente que predis-
põe à doença. Fisiopatologia Do RGE
490
• Obstrução da saída gástrica O RGE ocorre por aumento da pressão intragástrica que supera
• Obstrução duodenal: má rotação, estenose do diafrag- a pressão do EEI, devido enchimento gástrico excessivo. Também
ma, pâncreas anular. a compressão externa do abdômen, mesmo diante da norma-
• Pós-correção cirúrgica de fístulas, atresia e estenose do lidade anatômica e funcional do estômago e do esôfago, pode
esôfago. contribuir com a ocorrência do RGE. Assim, pois, a obesidade, a
• Alergia às proteínas do leite de vaca. constipação, a inspiração profunda, por aumentarem a pressão
• Asma intragástrica, contribuem para o RGE, em indivíduos sem altera-
• Fibrose cística ções patológicas anatômicas ou funcionais.
• Lesões do Sistema Nervoso Central
• Outras. • Disfunção do EEI. A diminuição do tônus do EEI é funda-
mental para desencadear o RGE PATOLÓGICO. O EEI pode
RGE Oculto: Quando o material regurgitado não se exterioriza estar hipotônico de maneira contínua ou intermitente, nes-
pela boca. Pode ser fisiológico se não cursa com alteração clínica e te caso definindo o relaxamento inadequado do esfíncter,
do bem estar da criança, ou patológico quando cursa com manifes- independente de deglutição e das ondas peristálticas eso-
tações de sofrimento e alterações no desenvolvimento da criança. fágicas, com duração maior que 5 segundos. O relaxamen-
to intermitente ou transitório do esfíncter esofágico inferior
Mecanismos De Defesa Anti-Refluxo (RTEEI) é o principal causador do RGE em crianças.
• Distúrbio da Motilidade do esôfago. Motilidade esofági-
Podem ser intrínsecos ou extrínsecos ao esôfago. ca diminuída, com conseqüente retardo no clareamento
Peristaltismo do esôfago podem levar a inflamação da mucosa, (ESOFAGITE), cuja
gravidade dependerá da composição do material refluído,
• Ondas Peristálticas primárias: desencadeadas pela de- bem como do tempo de exposição da mucosa ao material.
glutição propulsionam o alimento até o estômago. • Hérnia de Hiato. Não é condição fundamental, mas agra-
• Ondas Peristálticas secundárias: desencadeadas pela va a esofagite. Segundo alguns autores, a presença da
distensão esofágica, ou pelo material refluído. Promovem hérnia é fundamental para a doença do refluxo.
o clareamento esofágico. • Retardo do esvaziamento gástrico. Presente em mais
• Epitélio estratificado e muco esofágico: protegem o ór- de 50% dos portadores de RGE. Facilita o aparecimento
gão da possível (ação lesiva do material refluído). de novos episódios de refluxo.
• Esfíncter Esofágico Inferior (EEI): camada de muscu- • Efeito do refluxo ácido sobre o trato respiratório. O ma-
latura circular que envolve a porção distal do esôfago, terial ácido poderá causar hiperreatividade no trato res-
adaptado para gerar zona de alta pressão que pode va- piratório, tosse, bronco espasmo, crises de apnéia (esta
riar de 15 a 40 mmHg; impede o retorno do conteúdo do associação é discutida; consulte o capítulo de APNÉIA) e
estômago para o esôfago. É o mais efetivo mecanismo até morte súbita.
Capitulo 13 Distúrbios do Trato Gatrointestinal

• Efeito da altura do RGE no esôfago. Se o material de néia, o bronco espasmo e a cianose podem ocorrer por
conteúdo ácido chegar até a porção mais alta do esôfa- estímulo vagal (Síndrome de SANDIFER), ou pela migra-
go, pode ocorrer aspiração para a laringe, traquéia, brô- ção do material refluído para as vias aéreas.
nquios, ouvidos, e seios da face. O próprio esôfago, uma • Repercussão no bem estar da família. Cansaço e stress
vez lesado, facilita a retro difusão de íons hidrogênio, que noturnos.
poderá agravar os quadros de esofagite.
Metodologia Diagnóstica
Diagnóstico Diferencial
Anamnese, observação clínica e interação do médico com a fa-
Com as patologias obstrutivas ou semi-obstrutivas do trato di- mília. È necessário que o médico conheça todas as prováveis mani-
gestivo que cursam com vômitos. festações clínicas do bebê de tenra idade que seja portador de RGE
Exames complementares: para os casos patológicos, com re-
Incidência Do RGE percussão no bem estar do bebê, suspeita de RGE oculto com
manifestação clínica importante. Necessidade de correlação
Atinge 7 a 8 % da população infantil, sendo mais freqüente nos lac- com outras manifestações clínicas.
tentes jovens. Está presente em cerca de 50% das crianças nos pri- Estudo radiológico contrastado do trânsito esôfago, estômago,
meiros quatro meses de vida e em mais de 60 % dos RN pré-termos. duodeno, (eed): sensibilidade e especificidade baixas (50 a 70
%). Este método diagnóstico usando o bário, permite avaliar a
Manifestações Clínicas deglutição, a mobilidade, a anatomia, esvaziamento esofágico
e gástrico e obstruções gastroduodenais em que se verifica o
RGE Fisiológico trânsito esofagogastroduodenal e permite avaliar os períodos de
refluxo. A limitação é o fato de ser um período determinado curto
Não ocorre sintomatologia, além de regurgitação e eventuais e nesta fase às vezes não vemos o refluxo.
episódios de vômitos. Não há dor, stress, sofrimento nem com- Cintilografia esofagogástrica para pesquisa de RGE e migração
prometimento do déficit pôndero-estatural ou neuropsicomotor. É o conteúdo gástirico para as vias aéras superiores e infereiores.
a criança chamada de vomitadora ou regurgitadora. Pouco invasivo, baixa irradiação, sensibilidade e especificidade
É mais comum nos primeiros meses de vida dos lactentes e baixas. Bom para verificar o tempo de esvaziamento gástrico e
tem resolução espontânea no primeiro ano de vida (pode ocorrer possíveis aspirações para o trato respiratório.
duas ou mais vezes ao dia em aproximadamente 50% nas crian- Ecografia com dopller colorido para diagnostico de RGE. É exa-
ças aos dois meses, caindo para somente 1% na idade de um me simples, de melhor sensibilidade, porém de pouca especifici-
ano), melhora com a postura, maneira adequada de amamenta- dade. Assim como no eed, o período curto de observação é um
ção, e nos bebês maiores com alimentação alternativa ao leite limitante, pois o refluxo pode não ser visto durante a observação.
materno, adequados em qualidade, volume, consistência e nú- Já existe um padrão de avaliação que associa o número episódios 491
mero de refeições. Raramente o conteúdo ácido no esôfago pode de refluxo em um determinado período de tempo com o grau de
causar estímulo do reflexo vagal, causando broncoespasmo, cia- severidade da patologia. Este medo diagnóstico associado com a
nose, apnéia (Consulte o Capítulo Apnéia Neonatal) e mais ra- clínica apresenta pelo bebê é muito útil para a tomada de conduta.
ramente ainda, a síndrome da morte súbita ou da quase morte Endoscopia digestiva alta, com ou sem biópsia: importante
súbita, exceto se o conteúdo refluído chegou ao trato respirató- para o estudo macroscópico das possíveis alterações esofágicas.
rio. é difícil distinguir os casos de RGE fisiológico e patológico, Reservada para os casos graves com suspeita de esofagite devi-
uma vez que o primeiro pode ser a predisposição para o segundo. do ao rge oculto, controle de tratamento clínico, pré e pós- opera-
tório e controle do tratamento do esôfago de barret.
RGE Patológico Phmetria intra-esofágica: considerada como padrão ouro para
o diagnóstico de rge. Tem sensibilidade e especificidade maior
Comprometimento do esôfago: que 95 %. Detecta refluxos de ph < 4 (índice de refluxo:4,5) e
• Dor por esofagite ou espasmo. De maneira cíclica. Choro, permite estudo por 24 horas; é o exame de maior sensibilidade
distúrbio do sono, irritabilidade, recusa do seio ou outro e especificidade (92,9% e 97%, respectivamente), permite deter-
alimento. Piora com o decúbito. Às vezes, odinofagia. minar o percentual de tempo de refluxo, a duração por episódio
• Disfagia. Para alimentos sólidos, pastosos ou líquidos. e a intensidade. Através de escores, auxilia na diferenciação de
Decorre do processo inflamatório esofágico ou mais tar- RGE patológico e fisiológico. É bom para controlar resultados
diamente, de estenose cicatricial do esôfago. No primeiro terapêuticos clínicos ou cirúrgicos, para correlação patológica e
caso, passível de tratamento clínico, no segundo caso, diagnóstico em rn pré-termos em uti neonatal. A phmetria: de-
tratamento cirúrgico. tecta refluxos ácidos, mas nem todos os refluxos são totalmente
• Esofagite de Barret. ácidos. O ph do leite é geralmente é alcalino. Para que se tenha
um ph ácido, ocorrerá um certo tempo após a alimentação do
Acometimento Do Estado Nutricional rn. O índice de refluxo é a percentagem de tempo em que o ph
gástrico é menor que 4. A desvantagem dos prematuros é que
• Perda sanguínea de volume variável, por hematêmese, eles apresentam ph gástrico maior do que 4 em 90% do tempo e
sangue oculto nas fezes ou melena. Perda crônica de conseqüentemente pode-se perder todos os refluxos que são áci-
sangue associada à falta de ingesta e vômitos cursam dos, se existirem. Assim, como os refluxos não são todos ácidos,
com anemia ferropriva. Desnutrição com déficit pôndero- a pHmetria não detecta todos os refluxos.
estatural e outras manifestações carenciais. Manometria: Sem relato de estudos no RN. Bom para estudo
• Manifestações Respiratórias devido à ação irritativa do funcional. Não diagnostica a presença de RGE, pois uma zona de
material refluído: Laringe, faringe, traquéia, brônquios, alta pressão do EEI não assegura a ausência de refluxo.
ouvidos e seios da face, levando a patologias repetidas Teste de acidez na secreção da orofaringe: provavelmente vai
ou crônicas referentes a cada um destes órgãos. Está ser uma maneira muito prática e clínica de fazer o diagnóstico
bem estabelecida a relação com crises de asma. A ap- clinicamente (pH <4 na secreção da orofaringe determina que o

Paulo R. Margotto
Assistência ao Recém-Nascido de Risco

refluxo é suco gástrico). Necessita de 2 ou mais testes positivos minutos antes de uma refeição. Estudos realizados por
para considerar o tratamento, mas nem todos os refluxos che- Djeddi D e cl, demonstraram que a domperidona pode
gam à orofaringe, Somente em torno de 3-3,5% deles. causar alterações no intervalo QTc do ECG nos RN com IG
Micromanometria intraluminal: um cateter que passa através > 32 sem, mas não sobre os prematuros extremos com IG
do esfíncter esofagiano e isto pode a aumentar os casos de RGE. ≤ 32 sem, sendo uma droga segura no tratamento do RGE
A técnica mais moderna é a impedância intraluminal múltipla nesses prematuros. Foi considerado prudente e seguro
que detecta a impedância elétrica durante a passagem do bolo ali- um ECG nas primeiras 48hs de tratamento.
mentar pelo esôfago. Esta técnica é baseada na medida intralumi- • Bromoprida: Na apresentação de 4 mg/ml de 24 gotas,
nal da impedância elétrica entre o número de eletrodos colocados na dose de uma gota/kg/vez (8/8h: RN pré-termo e
próximos um dos outros durante a passagem do bolo alimentar. A 6/6h: RN a termo).
impedância elétrica é definida como a razão entre a voltagem e a
corrente e é inversamente proporcional a condutividade. O princí- Fármacos Inibidores Da Ação Ácida
pio desta nova técnica consiste em registrar alterações na impe-
dância do lúmen gastrintestinal que são causadas pela passagem • Antiácidos: Em desuso, não existe consenso sobre a dose
do bolo alimentar, com o ar que tendo uma baixa condutividade ideal e segura, tem curto período de ação e são neces-
e leva a um aumento da impedância ao contrário do líquido que sárias várias doses durante o dia. Não serve como trata-
tendo alta condutividade leva a uma diminuição da impedância. mento, mas eventualmente pode ser usado como medida
Com base na seqüência temporal destas alterações na impedân- de alívio nos momentos críticos de sofrimento do bebê.
cia pode ser identificado se a alteração é causada pela direção do • Antagonistas dos receptores H2 da Histamina: A Raniti-
movimento anterógrado (engolir) ou retrógrado (refluxo). dina tem sido utilizada com mais freqüência na dose de
Esta técnica é tão sensível que pode detectar volumes tão pe- 5 -10mg/ kg/dia, dividido em 2 a 3 tomadas, via oral.
quenos quanto 0,1ml. Toda vez que houver RGE vamos ter diminui- • Inibidores da bomba de prótons: Nos casos de insuces-
ção da impedância. É uma técnica é altamente sensível e detecta so com os antagonistas dos receptores H2 da histamina,
a altura do refluxo, que pode chegar até a altura da orofaringe em nos casos de esofagite muito grave, nos pacientes com
3-3,5% dos casos. A Impedância intraluminal múltipla é a mais manifestação respiratória ligadas ao RGE e que não res-
moderna e a melhor forma de e fazer o diagnóstico, mas a grande ponderam a droga anterior. Omeprazol tem sido usado
maioria dos Serviços não tem o aparelho para executá-la. Está em na dose de 0,7 a 3,3 mg/kg/dia (dose média de 1,9
fase experimental e ainda existem poucos estudos para validação mg/kg/dia) em dose única diária, via oral. O omeprazol é
desta técnica, para diferenciar RGE fisiológico do patológico. um benzimidazólico que inibe a enzima responsável pelo
transporte de íons de hidrogênio para a luz do estômago.
Tratamento Uma única dose pode suprimir mais de 90% da secreção
ácida em vinte e quatro horas. O tempo de tratamento
492 Conservador farmacológico é de meses, na maioria das vezes, no en-
tanto tempos menores como duas semanas podem ser
• Esclarecimento aos pais sobre o que é o RGE e como suficientes. Às vezes, se diminui a dose do fármaco e se
tratá-lo. Alimentação da mãe lactante, técnica de ama- mantém o efeito desejado. Avaliações seriadas são im-
mentar, evitando a deglutição de ar. Colocar o bebê para portantes para a segurança do bebê e da família. O ome-
arrotar depois das mamadas. prazol pode ser encontrado no comércio com o nome co-
• Medidas posturais: cabeceira elevada, decúbito lateral. mercial de Losec mups, na apresentação de comprimidos
Questionável o decúbito ventral, devido a Síndrome da contendo 10mg, que pode ser dissolvido. Existe também
Morte Súbita. Rolinho de cobertor, para evitar que o bebê a disponibilidade da fórmula manipulada em suspensão
role cama abaixo com o decúbito elevado. Mezzacapa de- estabilizada, que pode ser preparada na quantidade de
monstrou que o decúbito ventral, em relação ao dorsal, mg/dose desejada, o que permite usar volumes peque-
reduz de forma significativa o número e a duração dos nos por dose, como um ml por vez. Omari T e cl estuda-
episódios de refluxo ácido; Propõe-se que a posição ven- ram o efeito do esomeprazol, um dos isômeros ópticos
tral seja utilizada como importante medida terapêutica do composto racêmico omeprazol, utilizado em adultos
nos recém-nascidos de muito baixo peso com doença do que não respondem ao omeprazol, em neonatos a termo
refluxo gastroesofágico durante a internação na Unidade e pré-termo com sintomas de DRGE, tratados oralmen-
Neonatal, desde que o bebê tenha demonstrado ao exa- te com esomeprazol 0,5 mg/kg/dia; relataram redução
me clínico o reflexo de fuga à asfixia de forma viva. Para da exposição esofágica a ácido e do ácido intragástrico,
o diagnóstico de DRGE, recomenda-se que os RN sejam sem alteração significante na característica do refluxo,
mantidos apenas em decúbito dorsal horizontal. ou seja, não afetou freqüência, tipo e volume do refluxo,
• Medidas dietéticas: leite materno exclusivo para os ama- achado consistente com o encontrado em adultos.
mentados ao seio. Leite Humano do banco de leite para • A disponibilidade do médico para atender a família, nas
os demais bebês internados. Para os maiores e já des- eventuais dúvidas e crises de dor e sofrimento apresen-
mamados, existem fórmulas adequadas anti-refluxo. Re- tados pelo bebê é sem dúvidas um dos pilares que sus-
feições fracionadas. Para os lactentes maiores, nutrição tenta o êxito do tratamento conservador e farmacológico
balanceada, evitando líquidos nas refeições. do REG no bebê.
• Evitar fraldas ou roupas apertadas, movimentos bruscos
e chacoalhar o bebê. Tratamento Cirúrgico

Fármacos Prócinéticos Não há um consenso entre os neonatologista e cirurgiões


quanto à indicação do tratamento cirúrgico. Está indicado para
• Domperidona: Indicada para tratamento de refluxo gastre- os casos graves, com complicação como estenose cicatricial do
sofágico; a forma de apresentação é l mg/ml, por na dose esôfago, concomitante com gastrostomia, insucesso nos trata-
de 1 mg/kg por dose, três ou quatro vezes por dia, 15-20 mentos conservador e medicamentoso com evolução desfavorá-
Capitulo 13 Distúrbios do Trato Gatrointestinal

vel. A cirurgia anti-refluxo (fundoplicatura gástrica), além do custo


elevado, apresenta altas taxas de recidiva.
O tratamento clínico exige adesão e compreensão da família,
além de ter efeitos colaterais associados. Com a finalidade de
prevenir complicações, a opção terapêutica deve ser sempre in-
dividualizada e o acompanhamento prolongado.

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Paulo R. Margotto
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13.2 ENTEROCOLITE NECROSANTE

Martha G. Vieira/Paulo R. Margotto

A Enterocolite Necrosante (ECN) é uma patologia multifatorial associa-se com aumento da incidência de ECN com perfuração
determinada fundamentalmente por isquemia intestinal, lesão intestinal. A indometacina tem um efeito vasoconstritor seletivo
da mucosa, edema, ulceração e passagem de ar ou bactérias na vasculatura mesentérica, diferente do ibuprofeno, que é outro
pela parede da víscera. Caracteriza-se pela distensão abdominal, inibidor não seletivo da cicloxigenase. O uso de bloqueadores H2
vômitos biliosos e hematoquesia, capaz de evoluir para perito- também aumenta o risco para ECN (até 6,6 vezes mais!).
nite, pneumoperitôneo e choque. Pode ser considerada doença A prematuridade e a colonização bacteriana do trato gastrin-
dos sobreviventes, uma vez que ocorre com maior frequência em testinal por bactérias patogênicas parecem ser os fatores mais
pacientes que sobreviveram às várias intercorrências iniciais do comumente associados à ECN. A imunodeficiência sistêmica e
período neonatal, como episódios de hipóxia e quadros infeccio- local permite o supercrescimento bacteriano e a invasão da mu-
sos, e já se encontravam num período de reabilitação. cosa. Dentre as muitas variedades de defesa existentes no trato
Com base de dados de grandes estudos multicêntricos do Ca- digestivo, as células de Paneth do prematuro têm atividade di-
nadá e Estados Unidos, a prevalência média está em torno de 7% minuída e produzem menos produtos antibacterianos. Há ainda
entre os RN de 500 a 1500g, com estimativa de taxa de morte pouca IgA, além das deficientes ações dos leucócitos polimor-
entre 20-30%, sendo maior nos RN que necessitam de cirurgia. fonucleares e linfócitos B e T Entre os mecanismos bacterianos
Não há preferência quanto a sexo, raça ou época do ano. O tem- da lesão intestinal, são citadas a ação das endotoxinas sobre os
po de aparecimento é inversamente proporcional à idade gesta- macrófagos, com a liberação do fator de necrose tumoral-alfa,
cional ao nascer, em média nos menores de 32 semanas ocorre estímulo à produção do fator de ativação plaquetária (PAF), além
na 3ª semana de vida, nos de 32-36 semanas, na 2ª semana e da fermentação intraluminal de lactose, com aumento de H2 e is-
nos maiores de 36 semanas, na 1ª semana de vida. A mortali- quemia relativa da mucosa. Os microorganismos isolados não se-
dade varia de 10 a 50%, mas a forma de progressão rápida tem riam obrigatoriamente os agentes primários da doença. Qualquer
mortalidade de praticamente 100%. Em 37% dos casos é neces- fator que provoque a perda da integridade da mucosa intestinal
sário tratamento cirúrgico, 40-50%, podem apresentar gangrena pode determinar a bacteremia.
intestinal ou perfuração. A necessidade de cirurgia aumenta para Após o nascimento inicia-se a colonização bacteriana do intes-
61% nos menores de 1000g. tino previamente estéril, a qual ocorre segundo variações indivi-
Os custos financeiros da ECN são altos, com estimativa de cus- duais. A colonização primária de bebês de termo nascidos por via
tos para as crianças afetadas, nos Estados Unidos, entre 500 vaginal é similar à microflora vaginal e fecal da mãe. Os nascidos
494 milhões e 1 bilhão de dólares ao ano. de cesariana têm retardada a diversificação de sua flora intestinal,
Este panorama complexo tem levado ao surgimento de uma que reproduz a do ambiente em geral e apresenta menos anaeró-
gama maior de diagnósticos frente a suspeita de enterocolite ne- bios estritos (bifidobacterium e Bacteroides) e mais Clostridium diffi-
crosante (ECN), tendência já presente nos primórdios do estudo cile. Bebês internados tendem a ter mais coliformes, Bacteróides e
da doença. Desde o final dos anos 70, quando surgiram os crité- Clostridium. Bebês em casa têm mais bifidobacteria, lactobacilos,
rios de Bell, já se falava na ECN como um espectro de doenças e estafilococos e estreptococos. Prematuros apresentam um padrão
não como uma entidade específica. Esse espectro caberia sob o anômalo de colonização, que tende a persistir por muito tempo. A
mesmo “guarda chuva” dos critérios de Bell, e se beneficiaria de imaturidade da glicolisação em sua mucosa intestinal diminui a
sua aplicação. A ECN naquela época atingia preferencialmente aderência de comensais, favorecendo as bactérias patogênicas.
recém nascidos maiores do que 30 semanas. Na era do surfac- Em sua flora predominam enterococos, enterobacter, E. coli, estafi-
tante, o perfil da ECN mudou: bebês menores sobreviveram, e lococos, estreptococos, clostridium, bacteroides. Além de serem ex-
apresentaram-se mais suscetíveis ao supercrescimento bacte- postos precocemente à flora hospitalar, os pequenos prematuros
riano intestinal. Nesse período, ferramentas importantes para a em geral demoram a ser alimentados e fazem uso de antibióticos
prevenção da ECN foram desenvolvidas, como o uso preferencial de largo espectro, que propiciam a colonização por klebsiella sp e
de dietas com leite humano e medidas criteriosas para o início e estafilococos, retardo na instalação dos lactobaccilus e decréscimo
progressão da alimentação enteral no prematuro, incluindo uma na variedade de anaeróbios. A Klebsiella sp tem sido um microor-
fase de dieta trófica, cuja duração ainda é objeto de controvér- ganismo isolado com muita freqüência.
sias. Uma tendência emergente é a administração de probióticos A terapia com os antibióticos coincide com a colonização ini-
para os recém nascidos prematuros. cial gastrintestinal. Sabemos que os pré-termos tem uma micro-
flora intestinal diferente dos RN a termo saudáveis. Há várias
Fisiopatologia evidências da importância da colonização gastrintestinal dos
RN pré-termos. A terapia empírica inicial prolongada de antibi-
Os eventos causais são multifatoriais e incluem história de evo- óticos associa-se a uma incidência duas vezes maior de sepse
lução neonatal precoce complicada, com ambiente intrauterino ou precoce, enterocolite necrosante ou morte e quase 3 vezes a
transição perinatal ruins. Os principais fatores fisiopatológicos são de sepse tardia sozinha. Mais importante ainda: estas asso-
a imaturidade da barreira mucosa, a isquemia intestinal, a dieta ciações persistiram após ajuste para a severidade da doença.
nutritiva precoce e a colonização intestinal. Está freqüentemente A antibioticoperapia empírica inicial prolongada pode ser indi-
associada à prematuridade, apnéia, baixo peso, asfixia choque cada para recém-nascidos pré-termo quando a probabilidade de
endotóxico ou hipovolêmico, persistência do canal arterial, todos sepse é alta, porém, a ampla utilização prolongada de antibióti-
os fatores que levam à má irrigação mesentérica. O sofrimento cos pode prejudicar importantes eventos de transição necessá-
mesentérico crônico nos RN que apresentaram centralização fetal rios para a homeostase intestinal.
intra-uterina solicita maior cautela no início e progressão da dieta. Antibioticoterapia é conhecida por alterar a colonização do
O uso de indometacina precoce (nas primeiras 48 horas de vida), trato gastrintestinal e predispõe ao surgimento de patógenos e
principalmente em RN abaixo de 27 semanas ou abaixo de 800g organismos resistentes. Os estudos em animais sobre o desen-
Capitulo 13 Distúrbios do Trato Gatrointestinal

volvimento intestinal mostraram uma interação anormal entre o recem: cardiopatia congênita cianótica, hiperviscosidade
epitélio intestinal e o microbioma luminal quando a colonização é sanguínea, crescimento intrauterino retardado e eventos
interrompida com antibióticos de amplo espectro A ativação dos hipóxicos perinatais.
receptores toll-like por bactérias comensais parece ser crítica para • Enterite Viral da Infância (EVI): há relatos de séries de
a proteção contra lesões do intestino e mortalidade associada. surtos de rotavírus e adenovírus em berçários, cujos sin-
A falta de diversidade de espécies bacterianas e a abundância de tomas simulam a ECN. Tem morbidade alta, e chega a
espécies Proteobacteria associadas com o uso amplo de antibió- causar sepse e morte porque facilita a entrada de micro-
ticos podem predispor à estimulação inflamatória que pode aju- organismos patogênicos na parede intestinal. Pode cau-
dar a explicar a susceptibilidade dos recém-nascidos prematuros sar necrose e necessitar cirurgia, como em outras ECN.
a sepse tardia e a enterocolite encrosante. Há relato de serem responsáveis por 30% dos casos de
A dieta tem papel importante na patogênese da doença. O au- “ECN” em um estudo, mas seu desfecho em RN de muito
mento rápido do volume alimentar, o uso de fórmulas artificiais baixo peso é bem melhor do que o da ECN.
e de dietas hiperosmolares favorecem a ECN, mas a dieta trófica • Alergia à Proteína do Leite de Vaca: Rara em bebês me-
precoce apresenta-se como fator protetor da mucosa, facilitando nores de 2 kg e de 6 semanas, mas sua clínica mostra
a colonização por microorganismos comensais, o amadurecimen- sangue vivo nas fezes, distensão abdominal e pneuma-
to dos sistemas enzimáticos e o crescimento do tubo digestivo. tose. A evolução é mais benigna. Acontece também com
O início, volume e progressão da dieta são temas discutidos. O fórmulas de soja e fortificantes à base de proteína de LV.
aumento da dieta maior que 20 ml/kg/dia, embora controver- • Intolerância Alimentar da Prematuridade (IAP): Devida à
so, parece estar associado com maior incidência de ECN. O leite imaturidade intestinal distal e peristalse incoordenada do
humano diminui significativamente a incidência, embora não a feto. Ocorre principalmente em RN de extremo baixo peso.
previna 100%. O leite cru da própria mãe deve ser o preferido na É uma dismotilidade fisiológica para aquela idade gesta-
alimentação destes prematuros. cional, e não propriamente um íleo. Devido à retenção do
Outros fatores associados à ECN: hiperviscosidade sanguínea, bolo alimentar, favorece o supercrescimento, migração e
baixo débito cardíaco, doença pulmonar, parto gemelar, cateteri- translocação bacteriana, que podem levar à ECN.
zação da artéria umbilical, uso de cateteres venosos centrais, ex-
sanguineotransfusão, bacteremia e outros. As diferentes formas Acompanhamento E Tratamento Clínico
de apresentação da doença apontam para importância do fator
patogênico em cada caso. Na ECN, é fundamental o acompanhamento radiológico seria-
do do abdome a cada seis horas, que além dos evidentes sinais
Quadro Clínico de distensão e edema das alças intestinais pode apresentar
pneumatose (gás hidrogênio na parede intestinal, produto do
Os aspectos clínicos são múltiplos. Geralmente se inicia com metabolismo bacteriano), podendo estender-se para dentro da
distensão abdominal, aumento de resíduos gástricos, vômitos circulação venosa portal (é um sinal de gravidade, 70% de mor- 495
biliosos, queda do estado geral, sinais toxêmicos e presença de talidade), pneumoperitônio e/ou evidentes sinais de peritonite.
sangue nas fezes (oculto ou mesmo como enterorragia); é co- Embora a pneumatose intestinal não faça o diagnóstico, é um
mum a presença de fleimão periumbilical, que se estende pelo sinal importante.
abdômen na instalação da peritonite, a qual geralmente se as- O tratamento clínico de um quadro de ECN ou suspeito funda-
socia com septicemia, coagulação intravascular disseminada, menta-se em:
choque séptico e acidose metabólica persistente.
Sua clínica se confunde com muitas outras entidades, e até a 1. Esvaziamento gástrico contínuo através de sonda oro-
pneumatose, sinal radiológico tido como patognomônico, pode gástrica aberta.
ocorrer também na enterocolite por megacólon ou na gastren- 2. Cobertura antibiótica de amplo espectro; associação
terite severa. Esta multiplicidade deu origem à nova tendência de agentes eficazes contra bactérias anaeróbicas (Metro-
diagnóstica, que remete ao espectro de condições intestinais co- nidazol EV, nas doses habituais, vide capítulo de Infec-
bertas pelos critérios de Bell. Tais entidades foram reunidas sob ções Bacterianas).
o nome de Doenças Intestinais Neonatais Adquiridas (DINAs), 3. Manutenção adequada da perfusão por expansão in-
classificadas a seguir: travascular com solução cristalóide, plasma ou sangue
total e/ou uso de drogas vasoativas.
Doenças Intestinais Neonatais Adquiridas 4. Correção dos distúrbios hidreletrolíticos e ácido-
básico.
• Perfuração Intestinal Espontânea (PIE). A primeira cita- 5. Tratamento da coagulação intravascular disseminada,
ção consistente na literatura foi em 1988, por Aschner, quando instalada, com uso de hemoderivados. Em casos de
mas só 10 anos depois passou a chamar atenção. A as- hemorragias importantes com trombocitopenia severa, po-
sociação de esteróide pós-natal e indometacina aumenta de-se usar de concentrado de plaquetas, embora ainda fal-
o risco da lesão. A mucosa intestinal na PIE é robusta, e tem evidências clínicas para certificação de seu benefício.
não necrótica; a submucosa está afinada, com ausência 6. O suporte nutricional depende da severidade da ECN.
ou necrose asséptica da muscular no sítio da perfuração. Para o RN com “suspeita clínica”, manter nutrição paren-
Não há pneumatose. São RN que receberam surfactante, teral e cessar a nutrição enteral por 2-3 dias e então rea-
propensos a receber tratamento para PCA e drogas vaso- valiar: Se não há pneumatose intestinal nem sangue nas
ativas. Isso torna a PIE uma entidade diferente da ECN. fezes e houve melhora da distensão abdominal, pode-se
• ECN do RN pré-termo: os fatores predisponentes são reiniciar a nutrição enteral com leite humano, avançando
uma progressão descuidada da dieta, o supercrescimen- em torno de 20 ml/kg/dia e desmamar a nutrição pa-
to bacteriano e o comprometimento das barreiras inatas renteral. Nos casos de ECN avançada (pneumatose intes-
da parece intestinal; não são muito ligados à isquemia. tinal/peritonite/perfuração), a dieta zero é mantida por
• ECN do RN a termo: surge precocemente e tem uma fi- pelo menos 10 dias e a nutrição parenteral por 10-14
siopatologia isquêmica. As seguintes condições a favo- dias, ou até que se atinja a nutrição enteral satisfatória.

Paulo R. Margotto
Assistência ao Recém-Nascido de Risco

As peculiaridades de cada DINA (Doença Intestinal Neona- DINAs Em >1250g


tal Adquirida) solicitam abordagens terapêuticas específicas,
agrupadas em categorias de acordo com o peso: 1. ECN Isquêmica: Os pacientes de risco apresentam
condições clínicas que implicam em diminuição da cir-
DINAs Em <1250g culação e oxigenação mesentéricas: RN portadores
de cardiopatia congênita, hiperviscosidade sanguínea,
1. Intolerância Alimentar Da Prematuridade: Os princi- crescimento intrauterino retardado, asfixia perinatal. Sur-
pais sintomas são resíduos gástricos, distensão ou pleni- ge em geral após avanço rápido da dieta, os sintomas
tude abdominal, ausência de evacuações, apnéias. É um são distensão abdominal, fezes sanguinolentas, acidose
diagnóstico de exclusão, após serem descartadas outras moderada e coagulação intravascular disseminada nos
hipóteses diagnósticas, como ECN, íleo infeccioso. O ma- casos de evolução catastrófica. Rx de abdome mostra
nejo indicado é manter dieta trófica e progressão caute- pneumatose focal.
losa da dieta, enemas glicerinados quando necessário e 2. Enterite ViraL: É um quadro com menor severidade nes-
vigilância clínica. ta categoria de peso. As fezes são sanguinolentas e mais
2. ECN Do Pré-Termo: Na avaliação diagnóstica, excluir freqüentes. Há distensão abdominal, devido ao acúmulo
os critérios de Bell IIA menos específicos e valorizar a dis- de líquido no terceiro espaço, e tendência a sepse secun-
tensão abdominal, a pneumatose, os resíduos freqüen- dária nos RN <2500g. Ocorre geralmente em surtos.
tes com parada de evacuações, a acidose e a coagulo- 3. Alergia À Proteina Do LV: É um quadro mais raro. Os
patia. Fezes sanguinolentas são incomuns nessa fase, critérios diagnósticos incluem exposição à proteína do lei-
devido ao peristaltismo lento do prematuro. Pode haver te de vaca, distensão abdominal, aumento da freqüência
aumento de episódios de apnéia. Há pouca chance do de evacuações, progredindo para fezes sanguinolentas.
quadro ocorrer com menos do que 80ml/kg/dia de dieta Pode haver pneumatose intestinal. Responde bem à sus-
e sem pneumatose, e após atingir 120 ml/k/dia e um pensão da dieta e do leite de vaca, e é rara antes de 6
bom padrão de evacuações. A exceção fica por conta das semanas de vida.
ECN fulminantes, que podem ocorrer nos RN prematuros 4. Perfuração Intestinal Espontânea: É rara nesta cate-
em qualquer período ou volume de dieta, na forma de goria de peso, não se associa a pneumatose, e o pneu-
sepse grave. moperitônio ocorre nas primeiras 72h de vida. Indepen-
3. Enterite Viral: É iatrogênica, veiculada pelos cuidado- de de ter havido alimentação enteral, o aspecto geral
res. As culturas de vírus nas fezes são importantes, mas do RN é bom e responde bem à cirurgia intestinal com
ainda pouco utilizadas. Os critérios diagnósticos sugeri- anastomose primária.
dos incluem associação com sangramento fecal precoce
e múltiplo, embora não ocorra íleo inicialmente. Há gran- Indicação Cirúrgica (40 - 50% dos casos)
496 de distensão abdominal (líquido no 3º espaço) e associa-
se com volumes de dieta >120ml/k/d. A pneumatose é 1. Deterioração clínica
incomum, há tendência a ocorrer em surtos, e associa- 2. Choque endotóxico/sepse persistente (apesar do tra-
ção com sepse, ITU, meningite. tamento);
4. Perfuração Intestinal Espontânea: Não se associa à 3. Pneumoperitônio, gás no sistema venoso portal
pneumatose. Está associada ao pneumoperitônio nas 4. Paracentese com líquido pardacento ou bacterioscopia
duas primeiras semanas de vida. PIE oculta ocorre em positiva (método de GRAM)
idades gestacionais <24sem, entre as 2ª e 4ª semanas 5. Alça fixa em estudo radiológico seriado
de vida, após um período longo de ausência de imagem 6. Sinais clínicos de peritonite avançada / gangrena, hipe-
radiológica de gás no abdome. Ocorre com dietas míni- remia da parede abdominal, massas palpáveis
mas ou ainda em dieta zero, após uso de indometacina 7. Severa hemorragia digestiva
e corticóide pós-natal ou presença de altos níveis de cor- 8. Severa trombocitopenia
tisol endógeno (stress). É rara em RN > 1000g e, nesses
casos, é precoce (primeiras 72h de vida). Localiza-se Nas cirurgias, tenta-se preservar a válvula ileocecal. As medi-
preferencialmente no íleo. A isquemia intestinal também das terapêuticas baseiam-se nos critérios de estadiamento de
se deve ao controle da vascularização intestinal ausente Bell modificados, apresentados no quadro abaixo. Embora todo
ou não totalmente desenvolvido. O uso da indometacina o progresso no tratamento da ECN tenha ocorrido graças ao ma-
(tratamento do canal arterial) e o uso de cocaína pela nejo orientado pelos critérios de Bell, o surgimento das outras
mãe podem levar à constrição da vasculatura intestinal. DINAs na nova era da neonatologia originou críticas a estes crité-
Drogas como cafeína, usada no tratamento da apnéia, rios, sugeridas a seguir.
diminuem o fluxo sanguíneo mesentérico em 30% 1 a 2
horas após a sua administração. A PIE ocorre mais fre-
qüentemente no íleo terminal e cólon proximal, área de
irrigação terminal da artéria mesentérica superior. A injú-
ria de isquemia-reperfusão é possível no cólon devido ao
seu extenso plexo de vasos colaterais extra e intramurais
e à presença da enzima aldeído-oxidase como rica fonte
de radicais livre. A junção entre os ramos distais das arté-
rias mesentéricas inferior e superior (Ponto do Griffith) é
uma área considerada como divisor de águas, muito sen-
sível à isquemia. O comprometimento vascular seletivo
nesta área, possivelmente devido a diferenças regionais
na auto-regulação, pode explicar esse tipo de lesão.
Capitulo 13 Distúrbios do Trato Gatrointestinal

Critérios De Estagiamento De Bell,


Modificado Para A Enterocolite Necrosante

Estágio Sinais Sistêmicos Sinais Intestinais Sinais Radiológicos Tratamento


Muitos resíduos, pré-
Nada por via oral, antibió-
IA Temperatura instável, distensão abdominal leve, Instestino normal
ticos por 3 dias, na depen-
Suspeita de ECN bradicardia. êmese, fezes guáiaco ou dilatado, íleo leve.
dência das culturas
positivas.
IB Sangue vermelho-vivo
O mesmo que acima O mesmo que acima O mesmo que acima
Suspeita de ECN pelo reto
O mesmo que acima mais Nada por via oral, antibi-
IIA
ruídos abdominais diminu- Dilatação abdominal, íleo, óticos por 7-10 dias se
ECN definida: Mode- O mesmo que acima
ídos ou ausentes com ou pneumatose intestinal o exame for normal em
radamente enfermo
sem dor abdominal 24-48 horas.
O mesmo que acima, mais
dor abdominal definida
IIB Como acima, mais acidose com ou sem celulite Nada por via oral, antibió-
O mesmo que o estágio IIA
ECN definida: Mode- metabólica e trombocito- abdominal ou massa ticos por 14 dias, NaHCO3
com ou sem ascite
radamente enfermo penia leve no quadrante inferior para acidose
direito, ruídos intestinais
ausentes
O mesmo que acima, mais
O mesmo que IIB mais
200 ml/kg/dia de fluídos,
hipotensão, bradicardia,
plasma fresco congela-
IIIA graves apnéias, acidose Como acima mais sinais
O mesmo que o estágio IIB, do, agentes inotrópicos;
ECN avançada: respiratória e metabólica de peritonite generalizada,
ascite definida intubação, ventilação, se o
gravemente enfermo, combinadas, coagulação dor acentuada, distensão
paciente não melhorar em
intravascular disseminada
24 a 48 horas, intervenção
(CID), neutropenia, anúria
cirúrgica.
IIIB
ECN avançada: O mesmo que o estágio O mesmo que o estágio O mesmo que o estágio IIB, O mesmo que acima, mais
gravemente enfermo, IIIA IIIA mais pneumoperitônio intervenção cirúrgica. 497
perfuração intestinal

Fonte: Walsh MC, Kliegman RM. Necrotizing enterocolitis: Treatment based on staging criteria. Ped Clin North Am, 1986.

Críticas Aos Estágios De Bell

Estágio I: Nos RN de extremo baixo peso e muito baixo peso os sin- ressecar o mínimo de intestino possível. Após a ressecção é dei-
tomas desse estágio estão presentes em qualquer suspeita de sepse, xado um estoma; é menos comum fazer anastomose primária.
sendo muito inespecíficos. Em casos de acometimento extenso, fechar sem agir e voltar a
Estágio IIA: É incomum haver fezes sanguinolentas no RN< 30 abrir 24 - 48h após (“second look”). Quando há grande instabi-
semanas, porque com a afecção do íleo terminal, as fezes com lidade clínica, fazer a drenagem peritoneal para descompressão
sangue não progridem através de todo o cólon. abdominal até atingir condição para cirurgia. Para os raros casos
Estágio IIB: Pode ser mantido sem ressalvas. de PIE nessa faixa de peso, o mesmo procedimento cirúrgico é
Estágio IIIA: A ausência de perfuração não implica em doença recomendado, e não uma anastomose primária.
mais branda, porque pode estar ocorrendo necrose intestinal maciça.
Estágio IIIB: É o estágio em que se diagnosticam muitas PIE Opções Cirúrgicas Em < 1500g : Drenar ou não drenar?
como ECN, porque maior valor é dado aos achados de pneumo-
peritônio e perfuração, a despeito dos demais sintomas. Não é A drenagem peritoneal (DP) foi inicialmente feita em 1977. Pos-
uma avaliação acurada. tulou-se que permitia o alívio da pressão intra-abdominal, dre-
nagem da secreção intestinal presente na cavidade peritoneal e
Considerações Sobre O Manejo Cirúrgico Das tempo para a estabilização e otimização cirúrgica. Hoje é ampla-
Doenças Intestinais Neonatais Adquiridas mente feita, como medida pré-cirúrgica ou como tratamento úni-
co para RN EBP com ECN estágio III de Bell. Estudo comparando
O prognóstico dos pacientes com PIE é melhor do que os de DP primária versus laparotomia em ECN<1500g, não encontrou
ECN, e a despeito do diagnóstico e tratamento no tempo certo, diferença em mortalidade, dependência de nutrição parenteral
30% dos pacientes com ECN e praticamente todos pacientes ou duração da hospitalização entre os grupos, mas 38% das
com PIE precisam ser operados. DP necessitaram laparotomia posteriormente. Avaliação caso a
caso, por um cirurgião experiente, é o recomendado.
Opções Cirúrgicas Em RN >1500g
Complicações
Laparotomia com ressecção do intestino necrótico é geralmen-
te a abordagem preferida. A necrose é uni ou multisegmentar, São relacionadas à síndrome do intestino curto (5-10% dos ca-
entremeada por áreas de viabilidade questionável. O objetivo é sos), aos estreitamentos (há estenose cicatricial em 10-35% dos

Paulo R. Margotto
Assistência ao Recém-Nascido de Risco

casos, com os sintomas iniciando 3-12 semanas após a ECN) e às Sinais E Sintomas Iniciais Da Enterocolite Necrosante
conseqüências da nutrição parenteral, como a colestase. Problemas
no neurodesenvolvimento chegam a ocorrer em 50% dos casos. Sinais Porcentagem De Pacientesx
A ECN é a maior causa de síndrome do intestino curto nos pacien- Distensão abdominal 73
tes pediátricos. A média total de custos para os cuidados por um pe-
Fezes sanguinolentas 28
ríodo de 5 anos para uma criança com síndrome do intestino curto
Apnéia, bradicardia 26
tem sido estimada em aproximadamente 1,5 milhões de dólares.
Hiperestesia abdominal 21
Prevenção Retenção do conteúdo gástrico 18
Fezes guáiaco-positivas 17
O leite materno, especialmente o da própria mãe, e administrado "Aspecto séptico" 12
cru, é a dieta de escolha para minimizar a incidência das doenças Choque 11
intestinais adquiridas no neonato. O conhecimento do padrão mul-
Vômitos biliosos 11
tiforme e multifatorial dessas doenças permite a adoção de con-
Acidose 10
dutas mais adequadas para cada caso. Manter acompanhamento
clínico e laboratorial criterioso. As medidas profiláticas incluem Letargia 9
minimizar a associação do uso de indometacina e corticóide pós- Celulite da parede abdominal 6
natal, cuidado no uso de drogas com ação na circulação mesen- Diarréia 6
térica, de antibioticoterapia empírica precoce e de bloqueadores Tumoração na Fossa ilíaca direita 2
H2 nos prematuros extremos. Os benefícios da alimentação en-
teral mínima são inegáveis, mas é preciso avaliar individualmente Excede de 100%, já que muitos pacientes apresentam mais de
cada recém-nascido, iniciando precocemente a dieta trófica, mas um sinal. (Modificado de Kliegman, R. M. e Fanaroff, A.A.: Neona-
respeitando a tolerância alimentar do prematuro, especialmente tal necrotizing enterocolitis: A nine-year experience. Epidemiology
aquele que apresentou centralização fetal, com progressão caute- and uncommon observations. Am. J. Ids Child 135:603, 1981)
losa da dieta nos pacientes incluídos nos grupos de risco
Fatores De Risco
O Papel Dos Probióticos 1- Prematuridade
2- Asfixia pré-natal
Os probióticos são microorganismos vivos que, administrados
3- Doença de Membrana Hialina
em quantidades adequadas, conferem benefícios à saúde do
4- Cateterização umbilical
hospedeiro. São, por natureza, não patogênicos, resistem ao pro-
5- Hipotermia
cessamento técnico e à passagem pelo estômago e bile; são ca-
6- Choque
498 pazes de aderir ao epitélio intestinal, colonizar por algum tempo
7- Hipoxia
o trato digestivo, produzir substâncias antimicrobianas, modular
a resposta imune e influenciar atividades metabólicas humanas 8- Persistência do canal arterial (PCA)

(assimilação de colesterol, síntese de vitaminas...) 9- Cardiopatia cianótica


A maioria dos probióticos estudados pertencem aos gêneros 10- Policitemia
Lactobaccilus, Bifidobacteria e Sacharomyces, além do Streptococcus 11- Trombocitose
thermophilu. Tem sido demonstrado que seu uso em prematuros 12- Anemia
aumenta a resposta da mucosa à IgA e a produção de citocinas 13- Exsangüíneotransfusão
anti-inflamatórias, melhora a barreira protetora e diminui a perme- 14- Anomalias gastrintestinais congênitas
abilidade da mucosa intestinal. 15- Diarréia crônica
O padrão de colonização pode ser favoravelmente influenciado 16- Mamadeira
pelos probióticos, que excluem competitivamente os microorga- 17- Alimentação nasojejunal
nismos patogênicos do trato digestivo. Estudos vêm apontando 18- Mamadeira hipertônica
para seu benefício na prevenção da ECN e na menor intensidade 19- Volume excessivo de mamadas – progressão muito rápida
do quadro, quando ocorre. Embora seu efeito benéfico nos pa-
20- Hospitalização durante epidemia
cientes neonatais tenha sido demonstrado em recentes metaná-
21- Colonização com bactérias "necrogênicas"
lises, há estudos que demonstram efeitos nulos, e até nocivos
22- Uso de bloqueadores H2
do uso de probióticos. Portanto, maiores estudos garantindo a
eficácia de probióticos específicos e a segurança do seu uso a
curto e longo prazo nos recém nascidos prematuros necessitam
ser feitos. As indicações, doses e tempo de uso dos probióticos
ainda estão em fase experimental. Estuda-se também o uso de
produtos inativados de probióticos, ao invés dos microorganis-
mos vivos, com resultados promissores.
Capitulo 13 Distúrbios do Trato Gatrointestinal

Esquema dos fatores importantes na patogenia da ECN (modificado de Brown, E.G., in Brown, E.G.,
e Sweet, A.Y. [Eds.]: Neonatal Necrotizing Enterocolitis. New York, Grune e Stratton, 1980)

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Paulo R. Margotto
Assistência ao Recém-Nascido de Risco

13.3 SÍNDROME DO INTESTINO CURTO

Maria Rita Carvalho Garbi Novaes, Paulo R. Margotto,


Ana Lilian B. Santos

Segundo Goday PS, qualquer definição de síndrome do intesti- correlaciona com mais de 50% de ressecção. Atualmente, a defini-
no curto (SIC) deve incluir dois conceitos: a redução no tamanho ção é uma definição funcional, isto é, a presença da má absorção
do intestino e a necessidade de nutrição parenteral. A Associação seguida por uma ressecção significante do intestino delgado.
Canadense de Cirurgiões Pediátricos define SIC como a necessi- A SIC é caracterizada clinicamente por má-absorção, diarréia,
dade do uso de nutrição parenteral por mais de 42 dias após a perda de eletrólitos, mobilização dos depósitos de gordura e
ressecção do intestino ou um tamanho residual do intestino curto proteínas musculares, podendo desencadear desequilíbrios me-
menor que 25% do esperado para a idade gestacional. tabólicos e hidreletrolíticos graves, além de desnutrição. O fator
Os recém-nascidos (RN), especialmente os prematuros possuem etiológico comum em todos os casos de SIC é a perda funcional
uma vantagem distinta quanto à adaptação intestinal. O compri- ou anatômica de grandes segmentos do intestino curto de forma
mento do intestino delgado do RN com 35 semanas é o dobro da- que a capacidade absorvida é drasticamente reduzida.
quele entre 19 e 27 semanas, sugerindo que o intestino residual Algumas das condições clínicas que podem resultar nesta sín-
pode ter maior potencial de aumento no seu tamanho nos RN pre- drome incluem isquemia mesentérica, trauma, doença inflamató-
maturos em relação aos RN a termo. O intestino delgado aumenta, ria intestinal, câncer, enterite causada por radioterapia, intestino
em média, de 114,8cm entre a 19ª e a 27ª semana gestacional curto congênito, entre outras. Contudo, nem todos os pacientes
para 172,1cm entre a 27ª e a 35ª semana gestacional, chegando que sofrem perda significativa do intestino desenvolvem a síndro-
a 248cm nos neonatos acima de 35 semanas gestacionais. Com 1 me. Os fatores que determinam a possibilidade de ocorrência da
ano, o intestino delgado atinge, aproximadamente, 380cm. SIC incluem o comprimento original do intestino do paciente, a
Wales PW encontrou em seu estudo a incidência de Síndrome extensão e o local do segmento ressecado, a idade do paciente à
do Intestino Curto (SIC) de 22,1 por 1.000 admissões na unida- época do ocorrido e a presença ou ausência da junção ileocecal.
de neonatal de cuidados intensivos e de 24,5 por 100.000 nas- Neste capítulo são discutidos aspectos relacionados à etiolo-
cidos vivos, sendo estes valores muito maiores em prematuro. gia, alterações metabólicas, evolução clínica, perspectivas tera-
Estima-se que esse problema clínico afete 20.000 americanos, pêuticas e o prognóstico de recém nascidos acometidos com SIC.
incluindo crianças e adultos.
As ressecções intestinais podem ser divididas em três catego- Etiologia
rias com base no tamanho residual do intestino delgado. As res-
500 secções podem ser curtas (intestino delgado residual entre 100- A maioria dos pacientes pediátricos desenvolve a SIC durante
150cm), grande (intestino delgado residual entre 40-100cm) e o período neonatal. A causa mais comum é a enterocolite necro-
maciça (intestino delgado residual <40cm). sante. Estima-se que aproximadamente 50% dos pacientes com
No passado, a síndrome do intestino curto na infância foi defini- enterocolite necrosante e submetidos à ressecção cirúrgica de-
da como tendo menos de 75 centímetros do intestino delgado re- senvolvem a SIC. Outros casos de SIC incluem gastrosquise, onfa-
sidual após a ressecção do intestino. Pelo fato do intestino delgado locele, atresia jejunal ou ileal, deformidades da artéria mesenté-
do RN ter aproximadamente 200 a 300 cm de extensão, isso se rica superior e doenças secundárias do intestino curto (Tabela 1).

Pré-natal Neonatal Pós-natal


Volvo do intestino intermediário Volvo do intestino intermediário
Atresia (única ou múltipla)
(intestino intermediário ou segmentário) (ausência de rotação, fita ou tumor)
Síndrome de Apple peel Enterocolite necrosante Intussuscepção complicada
Volvo do intestino intermediário
Trombose arterial Trombose arterial
(ausência de rotação)
Volvo segmentário (com duto umbigo-mesen-
Trombose venosa Doença inflamatória intestinal
tério ou fita intra-abdominal)
Defeitos da parede abdominal Resseção pós-trauma
Gastrosquise/onfalocele Angioma extensivo
Doença de Hirschsprung

Tabela 1. Etiologia da síndrome do intestino curto.


Fonte: Duro D, Kamin D. Overview of short bowel syndrome and intestinal transplantation. Colomb Med 38 Supl1: 71, 2007.

Metabolismo Do Paciente Com SIC

Depois de significativa ressecção intestinal, o intestino rema- composição da terapia nutricional, dando atenção à lactose, uma
nescente tem a habilidade para adaptar-se anatômica e funcio- vez que logo após a cirurgia são observados níveis reduzidos
nalmente a fim de aumentar as funções absortivas e digestivas. de lactase nos enterócitos. Entre os lipídios, os triglicerídios de
Ocorre hiperplasia epitelial e hipertrofia muscular e de criptas, cadeia média são os preferidos porque teoricamente eles não
sendo a resposta adaptativa maior no íleo do que no jejuno. requerem ácidos biliares e formação de micelas para a sua com-
A absorção e digestão protéica permanecem eficientes em pa- pleta absorção, embora o uso contínuo esteja associado à mani-
cientes com SIC. Porém os carboidratos normalmente não são festação de deficiências de ácidos graxos essenciais.
bem absorvidos, necessitando, constantemente, de ajustes na
Capitulo 13 Distúrbios do Trato Gatrointestinal

Quadro Clínico preditivos da capacidade de descontinuação da NP. Crianças com


menos de 30cm de intestino delgado têm cerca de 40% menos
Dorina Barbieri, Ana Abad-Sinden e Dürks citam 3 fases, de chance de independência da NP; 90% das crianças que não conse-
limites e características pouco precisas: guem independência da NP morrem. A observação clínica sugere
1ª fase: do pós-operatório imediato até 1 a 3 meses. que a maioria dos pacientes que se tornam NP-independentes al-
Características: ocorre diarréia mesmo em jejum, tendência a cança esta adaptação em torno de 3-4 anos de idade.
desidratação e lesões perineais. Tannuri concluiu em seu estudo que o uso da NP domiciliar é
2ª fase: dura 3 a 6 meses ou mesmo 2 anos. uma boa opção terapêutica para crianças portadoras de síndro-
Características: volume fecal discretamente diminuído; esta- me do intestino curto com perspectiva de longo tempo de terapia
bilização do estado nutricional; permite tentativas de suprir via endovenosa. Visto que a possibilidade de tratamento domiciliar
oral e/ou enteral. e a alta hospitalar trazem benefícios à criança e aos familiares,
3ª fase: esta fase é alcançada, evidentemente, pelos sobrevi- conseguindo-se em alguns casos, a adaptação funcional do in-
ventes da fase anterior. testino remanescente.
Características: os pacientes continuam com diarréia, mas já Cabe ressaltar que a prescrição da nutrição parenteral deve
toleram maiores quantidades de nutrientes por via oral, dispen- atender às necessidades e recomendações estimadas para cada
sam nutrição parenteral. paciente e ser balanceada, contendo quantidades de fluidos,
O RN tolera mal as ressecções intestinais na primeira e segunda macronutrientes (aminoácidos, glicose e emulsões lipídicas) e
fase, mas ultrapassadas estas, poderá com o crescimento, atingir micronutrientes (eletrólitos, vitaminas e elementos-traço) dentro
área absortiva adequada para as suas necessidades nutritivas. das recomendações para cada faixa etária5. Silva10 faz as se-
guintes recomendações para pacientes neonatos:
Complicações
• Oferta calórica
As complicações mais significativas em recém nascidos com Recém-nascidos prematuros: 120 – 140 kcal/kg/dia
SIC estão relacionadas à morbidade e mortalidade. O desenvol- < 6 meses: 90 – 120 kcal/kg/dia
vimento de colestase é frequente em pacientes pediátricos com
SIC que recebem nutrição parenteral, quando associada à sepse, • Distribuição das calorias totais
levam ao óbito. A causa é multifatorial, estando relacionada à 40 – 50% de carboidratos
presença de endotoxinas bacterianas, hepatotoxidade e hepato- 30 – 40% de lipídios
megalia. A colestase normalmente cessa com início da nutrição 8 – 20% de proteínas
enteral e término da nutrição parenteral.
As deficiências nutricionais ocorrem com freqüência em pa- • Recomendação de fluidos
cientes pediátricos com SIC. Destacam-se os pacientes com este- < 1.500g: 130 – 150 ml/kg
atorréia que devem ter monitorados os níveis de zinco, magnésio 1.500 – 2.000g: 110 – 130 ml/kg 501
e cálcio, e as vitaminas lipossolúveis (A, D, E, K) que se encon- 2,5 – 10kg: 100 ml/kg
tram em quantidades insuficientes em pacientes com significati-
va ressecção do íleo e que apresentam má absorção de lipídios. A maior preocupação durante o período de terapia nutricional
Outra complicação observada em pacientes pediátricos com SIC parenteral é a colestase. Para evitá-la, deve-se iniciar a Terapia
está relacionada à desconjugação de ácidos biliares e inflamação Nutricional Enteral (TNE) e evoluí-la logo após a fase do íleo pa-
da mucosa com perda da área absorvida, resultando na invasão ralítico, no pós-operatório, para promover a adaptação intestinal.
bacteriana. Alguns sintomas podem estar relacionados às com- Em caso de colestase, recomenda-se diminuir em 25% os oligo-
plicações relatadas como dificuldade de adaptação enteral, má elementos (manganês e cobre são excretados na bile e podem
absorção de nutrientes, perda de peso ou distensão abdominal. acumularem-se no soro).

Tratamento Nutrição Enteral (NE)

Pacientes com SIC necessitam de terapia nutricional adequa- Entende-se como NE o conjunto de procedimentos terapêuti-
das ao seu estágio clínico, envolvendo as vias parenteral, enteral cos empregados com o objetivo de manter ou recuperar o es-
e oral. A atenção inicial no pós-operatório de pacientes com SIC tado nutricional mediante a oferta de nutrientes por sondas de
deve estar voltada para a manutenção de fluidos e eletrólitos, alimentação (nasogástricas ou orogástricas) ou via oral. Ela é
principalmente nos pacientes com ostomias (a perda de eletróli- recomendada para promover a adaptação intestinal e diminuir
tos e fluidos é maior). as complicações associadas à NP, permitindo ao paciente viver
o tempo requerido para a adaptação intestinal se completar. Ge-
Nutrição Parenteral (NP) ralmente é oferecida em pequenos volumes, por via gástrica e de
modo contínuo, juntamente com pequenos volumes oferecidos
A NP trata-se de uma solução estéril de nutrientes que é infun- por via oral, estimulando assim o aporte oral.
dida por via intravenosa por meio de um acesso venoso perifé- O início da alimentação oral será após no mínimo, 3 semanas
rico ou central, de forma que o trato digestivo é completamente nas ressecções médias e 3 meses nas grandes. Constará ini-
excluído no processo. No período pós-operatório, recomenda-se cialmente de solução a 3% de frutose ou glicose (no máximo de
administrar no paciente esse tipo de nutrição, com o objetivo de 10mg/kg/refeição de 3/3s).
mantê-lo hidratado e sem perdas eletrolíticas. O leite humano, em razão de suas propriedades protetoras
A duração do tempo de permanência da NP dependerá do com- deve ser oferecido inicialmente, em pequenas quantidades.
primento do intestino na primeira cirurgia, da porcentagem da die- Os hidrolisados protéicos representam outra opção para a
ta enteral tolerada após 3 meses do início da adaptação, do sobre- alimentação destes pacientes. Devem ser oferecidos de forma
crescimento bacteriano e da inflamação intestinal. O comprimento diluída e aumentados lentamente de acordo com a aceitação
do intestino delgado residual e a porcentagem de calorias diárias e tolerância digestiva, combinados com triglicerídeos de ca-
recebidas via enteral na 12º semana após a ressecção podem ser deia média e longa.

Paulo R. Margotto
Assistência ao Recém-Nascido de Risco

Theyskens C utilizou em seu estudo uma solução com 3,5g de A utilização de glutamina suplementada na nutrição parenteral
cloreto de sódio, 2,5g de bicarbonato de sódio e 20g de glicose, tem demonstrado bons resultados em pacientes portadores de
que era oferecida ao paciente em pequenos volumes durante o alterações funcionais no intestino. Pacientes muito debilitados
dia. Associada ao Neocate® e ao Imodium®, um fármaco a base são mais susceptíveis a desenvolver sepse de origem intestinal,
de loperamida, opiáceo que em adultos é utilizado para diminuir susceptibilidade esta pode ser diminuída se forem adotados tra-
a motilidade intestinal e aumentar a absorção de água e eletró- tamentos adequados que possam apoiar o funcionamento e o
litos. E obteve ganho de peso significativo, sendo possível alta metabolismo intestinal, melhorando a função de barreira.
hospitalar sem NP e com bom equilíbrio eletrolítico. Os dados na literatura são limitados quanto aos possíveis me-
O pesquisador sugere que esta solução enteral deve ser con- canismos de ação da glutamina e podem estar relacionados à
siderada em casos especiais de neonatos com SIC, quando a alteração na fisiologia celular, regulação metabólica ou regulação
terapia convencional fracassa na tentativa de suspender a NP e na expressão gênica. Outros autores sugerem que os efeitos es-
evitar o desequilíbrio eletrolítico. tão associados com o aumento da proliferação e decréscimo da
apoptose nas células epiteliais. A produção local de IGF-1 apre-
Perspectivas Farmacoterapêuticas senta importante função na adaptação do intestino curto.
Na Síndrome Do Intestino Curto
Prognóstico
Muitas pesquisas têm sido conduzidas no intuito de se desco-
brir tratamentos coadjuvantes, além dos cirúrgicos e farmacoló- O prognóstico a médio e longo prazo depende da presença ou
gicos tradicionalmente utilizados, que possam agir de maneira não da válvula ileocecal, da área do cólon residual e das eventuais
mais eficiente que os tradicionais, principalmente na correção complicações da NP. Além da idade gestacional na época da ci-
da permeabilidade intestinal alterada em pacientes com doen- rurgia e da integridade funcional do intestino curto remanescente.
ça inflamatória intestinal, resposta imunológica e melhora da
qualidade e tempo de sobrevida dos pacientes recém nascidos, • Delgado residual < 15 cm: caso inviável
observando-se menores efeitos colaterais. • 40 cm de delgado sem válvula ileocecal: 100% de mortalidade
Nas últimas décadas, os pacientes submetidos às ressecções • 40 cm de delgado com válvula ileocecal: 95% de sobrevida.
extensas do intestino delgado têm apresentado melhor prognóstico
devido aos progressos nas técnicas cirúrgicas, anestésicas e nos Quanto ao quociente de desenvolvimento (QD) em um grupo de
procedimentos pós-operatórios. Aliada a estes avanços, a manuten- pacientes com SIC, foi encontrado um QD de 59 em 10 casos na
ção nutricional através da terapia nutricional enteral e parenteral idade média de 6 meses e nova avaliação em 6 casos na idade
trouxe novas perspectivas na qualidade de vida aos pacientes porta- média de 3 meses, um QD médio de 87 (62-105), com 3 normais,
dores de SIC. Entretanto, o uso crônico de soluções de nutrição pa- 2 limítrofes e um retardado com hemiparesia.
renteral está associado ao desenvolvimento de deficiências nutricio- Estes resultados justificam o uso de todos os meios para o tra-
502 nais, complicações sépticas, falência de órgãos vitais e ao alto custo tamento destes pacientes, mesmo com alto custo operacional.
terapêutico. Sob esta perspectiva, estudos estão sendo desenvolvi- Cada nova tentativa terapêutica serve de base para futuras técni-
dos com intuito de encontrar possibilidades terapêuticas de restabe- cas de suporte nutricional a estes pacientes.
lecimento da autonomia enteral, incluindo alterações morfológicas O trato gastrintestinal é um dos órgãos mais envolvidos na imu-
no intestino remanescente que possibilitem o aumento da área de nologia do ser humano, pois apresenta uma grande extensão de
superfície de absorção e produção colônica de ácidos graxos de ca- tecido linfóide (os linfócitos são responsáveis pela rejeição). Além
deia curta. A adaptação intestinal é influenciada pela presença de disto, a flora bacteriana do intestino delgado e grosso represen-
nutrientes intraluminais e peptídeos tróficos e hormônios. ta um reservatório potencial de patologias, aumentando muito o
Glucagon, semelhante ao peptídeo 2, é um peptídeo progluca- risco de infecção após o transplante e acarretando significativas
gon, secretado primariamente no íleo e cólon após ingestão de taxas de morbimortalidades.
alimentos. Estudos clínicos têm demonstrado a estimulação do Indicações absolutas: intestino ultracurto (<10cm); perda de
crescimento da mucosa intestinal, diminuição da mobilidade e se- 80% de área funcional.
creções do intestino curto, aumento da absorção intestinal e peso Acompanhamento evolutivo: até 40cm com válvula ileocecal:
corpóreo, sendo que o seu uso apresentou-se promissor na síndro- 10 a 30cm para válvula ileocecal; insuficiência hepática; perda
me do intestino curto em adultos. Dietas contendo Lactobacilos de 50% de acessos vasculares; sepse de repetiçãO33. A sobrevi-
também propiciaram a estimulação da função absortiva intestinal. da ao transplante intestinal de 1 ano chega a 70%, caindo para
Estudos experimentais têm demonstrado os efeitos benéficos 55% aos 3 anos de evolução.
da suplementação nutricional com glutamina na recuperação A taxa de sobrevida geral dos pacientes com SIC é de 80 a
da permeabilidade normal, na manutenção da integridade intes- 94%. Interessante que nos pacientes com NP por mais de 25
tinal, na diminuição da ocorrência de sepse e da mortalidade, anos, a sobrevida é de 94%. Assim, a sobrevida após o transplan-
porém os estudos clínicos têm apresentado resultados menos te intestinal é significativamente, menor do que a da NP.
convincentes em crianças.
Resultados benéficos em RN de peso ao nascer entre 500 e Considerações Finais
1250g, idade gestacional entre 24 e 32 semanas, foram obtidos
administrando-se glutamina por via enteral (a glutamina foi ad- A SIC caracteriza-se por situações clínicas que cursam com
ministrada à fórmula para pré-termo, iniciando com 0,08g/Kg/ distúrbios nos processos de digestão e absorção, acarretando
dia, chegando a 0,31g/Kg/dia no 13º dia). Os autores atribuíram importantes prejuízos na homeostase orgânica, e ocasionando
a este aminoácido a diminuição de sepse (a sepse ocorreu 3,8 grande impacto no estado nutricional do indivíduo. O paciente
vezes mais nos controles) e o aumento da imunidade em pré- pediátrico que sofre dessa síndrome enfrenta um grande desafio
termos. Considerando o intestino como órgão de entrada para nutricional, devido as suas limitadas reservas adiposa e muscu-
infecções, estes efeitos benéficos provavelmente refletem uma lar, além do requerimento energético extra para o crescimento.
maturação aumentada do intestino, com melhoria na função de Sendo assim, o principal objetivo do tratamento deve ser a garan-
barreira, indicando que a glutamina enteral pode agir no trato tia do desenvolvimento da criança, por meio da promoção de um
gastrintestinal sem exercer efeitos sistêmicos diretos. estado nutricional adequado.
Capitulo 13 Distúrbios do Trato Gatrointestinal

Cabe ressaltar, que estudos demonstram sucesso na correção


da permeabilidade intestinal com tratamentos coadjuvantes,
além dos cirúrgicos e farmacológicos tradicionalmente utilizados,
como o uso terapêutico do glucagon semelhante ao peptídeo 2,
dos lactobacilos e da glutamina.
A média total de custos para os cuidados por um período de 5
anos para uma criança com síndrome do intestino curto tem sido
estimada em aproximadamente 1,5 milhões de dólares.

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Paulo R. Margotto
Assistência ao Recém-Nascido de Risco

504
Capitulo 14 Sindromes Ictéricas

Capítulo 14

Sindromes
Ictéricas
Assistência ao Recém-Nascido de Risco

14.1 HIPERBILIRRUBINEMIA

Paulo R. Margotto, Liu Campelo Porto Ana Maria C. Paula

Icterícia é a coloração amarelada da pele, mucosas e escle- envelhecidas é depurada através da placenta para a circulação
róticas devido a uma elevação da concentração de bilirrubinas materna onde é conjugada no fígado da gestante. Para ser trans-
séricas que surge em decorrência da incapacidade do fígado em portada através da placenta a bilirrubina deve permanecer em
conjugar toda bilirrubina produzida. sua forma não conjugada
Apresenta etiologias diversas, sendo a manifestação clínica O feto produz duas vezes mais bilirrubina que o adulto; e as
mais freqüente do período neonatal, e as conseqüências podem produz precocemente em torno da 24.ª semana, a biliverdina é
ser graves uma vez que pode levar a lesão SNC. encontrada na vida fetal em torno 16.ª semana de vida. Como no
feto a excreção no feto da bilirrubina é completamente diferente
Metabolismo Da Bilirrubina da do adulto não há interesse por parte do organismo fetal no
desenvolvimento do sistema de glicuronização, assim como na
A bilirrubina forma-se essencialmente pela degradação da he- produção de proteínas Y e Z e ligandina.
moglobina (Hb). Do produto desta degradação surge o heme que Assim muitos bebês apresentam um acúmulo transitório de BI
passa por um processo catabólico em duas etapas resultado na nos primeiros dias de vida.
formação da bilirrubina. Então podemos compreender que a etiopatogenia da hiperbilir-
rubinemia pode ser esquematizada como se segue:

Aumento Da Produção
• Isoimunização Rh, ABO e subgrupos;
• Esferocitose hereditária;
• Deficiência enzimática do eritrócito: G-6 PD; piruvatoqui-
nase e outras;
• Hematomas;
• Policitemia;
• Drogas (Vitamina K 3)

Aumento Da Circulação Êntero-Hepática


506 • Jejum prolongado
• Sangue deglutido
• Obstrução intestinal
• Íleo paralítico (induzido por drogas)

Diminuição Da Conjugação
• Deficiência congênita da glucoronil-transferase;
• Hipotireoidismo congênito;
Nos mamíferos, a beliverdina é metabolizada pela beliverdina • Inibição enzimática;
redutase para formar a bilirrubina; para ser excretada precisa ser • Drogas e hormônios (novobiocina e pregnanediol);
transportada até o fígado e conjugada para ser excretada pela bile. • Galactosemia  (inicial);
Sabemos que 1g de hemoglobina forma 35mg de bilirrubina. • Síndrome de Lucey-Driscol;
A bilirrubina que chega à circulação Bilirrubina indireta (BI) ou • Leite humano;
não conjugada liga-se a albumina e assim não atravessa a barrei- • Recém-nascido (RN) de diabética;
ra hematoliquórica, mas a bilirrubina livre, não ligada à albumina • Prematuridade;
pode penetrar no sistema nervoso central. • Síndrome de Down.
A bilirrubina para ser excretada deve ser conjugada com o aci-
do glicurônico sob a ação da glicuroniltransferase formando o Classificação E Fisiopatologia 
glicuronídio de bilirrubina.
Icterícia Fisiológica
 
1. Características
Fisiológica
• Inicia-se após as 24 h de vida.
• No RN a termo 
níveis séricos até 13mg%
pico entre 3º e 5º
duração de 1 semana. 
• RN pré-termo 
níveis séricos até 15 mg%
O intestino do feto não funciona, assim a via de excreção da pico entre o 5º e 7º dia de vida
bilirrubina é a placenta, e apenas 40mg de bilirrubina é encon- duração até 2 semanas. 
trada no mecônio. Normalmente a bilirrubina não conjugada (bi-
lirrubina indireta) resultante da destruição das hemácias fetais
Capitulo 14 Sindromes Ictéricas

Hemolítica kernicterus não receberam um tratamento rápido para reduzir


  a hiperbilirrubinemia de forma rápida. O número de casos vem
1. Características crescendo, principalmente em bebês nascido no início e final dos
• Inicia-se antes de 24 horas de vida, com valores de bi- anos 90. Estudos mostram que todos os recém-nascidos com ní-
lirrubina que ultrapassam 13 mg% nos RN a termo e veis de bilirrubina total acima de 35mg% passaram a ter danos
15mg% nos RN pré-termo e com formas eritrocitárias jo- irreversíveis no cérebro. A taxa de elevação nestes RN antes dos
vens (reticulócitos) e anormais (eliptócitos e esferócitos). 5 dias de vida foi de 0,2 mg%/hora (taxa que corresponde ao
  percentil 95 do Bilimapa).]
2. Tipos
Anemias hemolíticas adquiridas: por incompatibilidade mater- Fototerapia
no-fetal (ABO, Rh, grupos raros) ou associadas a infecções. A fototerapia vem sendo extensivamente usada como modalidade
• Incompatibilidade ABO terapêutica de escolha para Hiperbilirrubinemia Indireta Neonatal
• Incompatibilidade Rh:
• Há risco menor de sensibilização materna se houve incom- 1. Mecanismo De Ação
patibilidade ABO concomitante: passa de 16% para 2%.  Consiste na aplicação de luz de alta intensidade a qual promo-
ve transformação fotoquímica da bilirrubina nas áreas expostas
3. Outras Causas a luz. Essas reações alteram a estrutura da molécula de bilirru-
• Icterícia  induzida pelo leite materno bina e permite que os fotoprodutos sejam eliminados pelos rins
• Policitemia ou pelo fígado sem sofrerem modificações metabólicas. Contu-
• Sangue no extravascular do, a molécula de bilirrubina absorve energia luminosa emitida
• Defeito de conjugação de bilirrubina no comprimento de onda entre 400-500 nanômetros (nm), a luz
• Patologias que retardam o trânsito intestinal. emitida nesta faixa penetra na epiderme e atinge o tecido subcu-
tâneo, entretanto somente a bilirrubina que estiver próxima da
Quadro Clínico superfície da pele será afetada diretamente pela luz e a eficácia
da fototerapia dependerá da quantidade de energia luminosa li-
O RN deverá ser avaliado quanto à intensidade (expressa em berada no comprimento de onda citado.
cruzes) e a abrangência da icterícia (zona de Kramer). 
• Utilização de energia luminosa na transformação da bilir-
rubina em produtos mais hidrossolúveis, através da fotoi-
somerização e fotooxidação
• Fotoisomerização: é a mais importante; causando a
transformação de bilirrubina em lumirrubina: solúvel em
água, rapidamente excretada pela bile e urina sem ne- 507
cessidade de conjugação
• A molécula de bilirrubina absorve energia luminosa
emitida no comprimento de onda entre 425-475 nm.  A
eficácia da fototerapia dependerá da sua irradiância no
comprimento de onda citado
• Irradiância: é a quantidade de energia luminosa liberada.
A irradiância ideal ainda é discutível, mas a mínima con-
Diagnóstico siderada eficaz é de 4 µw/cm2/nm
 
Dosagem de bilirrubinas (total e frações); 2. Eficácia
• Determinação de grupo sanguíneo e Rh maternos e do RN;
• Teste de Coombs direto do sangue do RN; Dependerá de:
• Determinação do hematócrito; • Dose terapêutica mínima de irradiância que corresponde
• Contagem de reticulócitos (caso hematócrito normal ou a 4 µw/cm2/nm
baixo). • Ideal que a irradiância seja superior a 16 µw/cm2/nm (a
irradiância média dos aparelhos de fototerapia encon-
Controle Laboratorial tram-se muito abaixo da recomendada na literatura).
• Irradiância do aparelho: quantidade de energia luminosa
• Nos casos de icterícia precoce e hemólise acentuada: emitida na faixa de comprimento de onda entre 425-475
dosagem de bilirrubinas e hematócrito de 6 em 6 horas. (lâmpadas azuis são as que têm maior irradiância nes-
• Nos casos de icterícia tardia, controlar de 12/12 horas se comprimento de onda).A bilirrubina absorve luz entre
ou de   24/24h conforme a gravidade do caso 400-500 nm (pico máximo: 460nm que corresponde à
luz azul); 
Tratamento • Nível sérico inicial de bilirrubina: quanto maior, mais rá-
pida a queda. A eficácia é mínima com níveis < 5mg%; 
O tratamento da hiperbilirrubinemia na verdade não se modi- • Superfície corporal exposta à luz: redução significativa
ficou. Devemos promover uma diminuição da circulação entero- de bilirrubina iluminando-se todo o corpo;
hepática, através do aumento da ingesta enteral  e uso da fo- • Tipo de nutrição: livre demanda auxilia na queda dos ní-
toterapia intensiva e exsanguineotransfusão e há um interesse veis de bilirrubina. 
crescente hoje na quimioprevenção (diminuição da produção • distância entre a fonte luminosa e o paciente
de bilirrubina, prevenção da reabsorção da bilirrubina, aumento • características intrínsecas do recém nascido como peso
da eliminação enteral da bilirrubina). O que esperamos prevenir e patologias associadas
são os casos de kernicterus. Muitos neonatos que apresentaram

Paulo R. Margotto
Assistência ao Recém-Nascido de Risco

Como melhorar a eficácia: Fototerapia De Fibra Óptica (Biliblanket)


Das Fototerapias Comuns • Consiste num colchão de 13 x 10 cm, no qual a luz trafega em
Iniciar fototerapia com níveis séricos de bilirrubina mais elevados um cabo de fibra óptica se espalhando através do mesmo.
• Irradiância em torno de 35 µw/cm2/nm
• Envolver a fototerapia com pano branco: a  irradiância au- • Mais eficaz em RN pequenos, pois o tamanho do colchão
menta em 20% (exige mais atenção aos cuidados com o RN); é um fator limitante para RN com peso maior que 2500g.
• Posicionar foto comum à distância de 30-35 cm do RN; Constitui-se de um foco de 20 cm de diâmetro com uma
• Manter limpos os acrílicos da incubadora e do aparelho lâmpada de halogênio-tungstênio e filtro para ultravioleta
de fototerapia. e infravermelho.
• Verificar se todas as lâmpadas estão acesas; • Mais eficaz em RN < 2500g.
• Posicionar o foco luminoso a uma distância ideal,
• Trocar as lâmpadas quando  a irradiância medida por ir- Bili-Berço
radiômetro ou dosímetros for menor que 4 µw/cm2/nm • Trata-se de um berço de acrílico com 5 lâmpadas flu-
(ideal) ou após 2000h de uso ou a cada 3 meses, caso orescentes brancas no fundo. O RN deita-se sobre um
não haja irradiômetro; colchão de silicone e são colocados filmes refletores nas
• Utilizar 7 ou 8 lâmpadas brancas. Se possível substituir paredes internas do berço e da cúpula curva que o cobre.
as duas do centro por lâmpadas azuis;    • Irradiância é de 19µw/cm2/nm
• RN despido com proteção ocular;
• uso de superfícies refletoras colocadas abaixo ou lateral- Fototerapia Do Tipo Halógena
mente ao paciente, tais como espelho parabólico, filme re- • foco luminoso contendo uma lâmpada halógena com um
fletor, folha de alumínio ou tecido branco ao redor da foto- filtro de vidro especial
terapia aumentam em até 35% a área corporal iluminada. • propriedade de filtrar os raios infravermelhos que produ-
• Utilizar fototerapia dupla nos RN com hiperbilirrubinemia zem aquecimento, e os raios ultravioletas, lesivos a pele
mais grave. • emite irradiância de 33 µw/cm2/nm quando colocada a
uma distância de 45cm do recém- nascido e de 25 a 30
A mudança de posição do RN, embora seja prática comum, não µw/cm2/nm na distância de 50cm
auxilia na eficácia da fototerapia. A queda dos níveis de bilirrubi-
na foi maior nos RN mantidos em posição supina do que nos RN Bilitron
que eram mudados de posição,  num estudo israelense de 2002.  No Brasil, a FANEM lançou o BILITRON que utiliza uma nova
fonte de luz, chamada Super Led (Light Emitting Diode), com lâm-
3. Tipos De  Aparelho De Fototerapia  padas eletrônicas já focadas no espectro azul que não necessi-
Como todo e qualquer tipo de luz que emita luz na faixa de 400 tam de filtros para o uso neonatal. O equipamento utiliza uma
508 a 500 nm será capaz de promover a fotodegradação da bilirru- bateria com 5 Super Leds azuis composta por nitreto de índio e
bina, diversos tipos de fontes de luz têm sido utilizados em foto- gálio. O Bilitron permite controlar a irradiância entre 4 até 50μw/
terapias, dentre elas: lâmpadas fluorescentes brancas e azuis, cm2/nm a uma distância central de 30 cm. A sua faixa de luz visí-
halógenas, de fibra óptica, entre outras. vel varia entre 400 e 550 nm com o pico do espectro em 450nm
e grande atenuação de radiação ultravioleta e infravermelha e
Fototerapia Comum produz um mínimo de calor irradiante. Toda luz emitida pela fo-
• Aparelho com 6 a 7 lâmpadas fluorescentes brancas (day toterapia LED é teoricamente utilizada na fotoisomerização da
light) na           bilirrubina, o que não acontece com a lâmpada halógena (espec-
• Maioria dos Serviços, sendo que o ideal é 7 a 8 lâmpa- tro amplo entre 380 e 600nm) Enquanto uma lâmpada halógena
das. dicróica tem vida média de 2 mil horas, o sistema de Super Leds
• Irradiância de 3-4 µw/cm2/nm (50% menor que similares dura dez vezes mais. Em uso contínuo, o super Led tem uma vida
importadas), emitindo doses subterapêuticas. de 1 ano. A superfície corporal exposta à luz é maior do que a
conseguida com a fototerapia halógena.
Fototerapia Com Lâmpadas Azuis
• Maior irradiância no comprimento de onda ideal: 425- Cuidados Com O RN
475 nm. • RN totalmente despido;
• Irradiância = 22 µw/cm2/nm (7 lâmpadas “special blue”). • Usar protetor ocular;
• Irradiância 2 a 3 vezes maior que lâmpadas brancas. • Aumentar a ingesta, se possível, oral;
• Absorvida muito rapidamente. • Temperatura deverá ser medida de 4/4h;
• Similares nacionais emitem 25% menos irradiância que • Proteção da genitália é discutível.
as importadas.
• RN deve ser monitorizado com monitores cardíacos e Indicação
respiratórios, pois a avaliação da cianose é prejudicada. A indicação de fototerapia dependerá dos níveis séricos de bi-
lirrubina, do tipo de icterícia (hemolítica ou não) e das caracterís-
Fototerapia Com Lâmpadas Verdes ticas do RN (idade gestacional, peso de nascimento e fatores de
• A maior eficácia das lâmpadas verdes deve-se ao seu risco para Kernicterus).
maior comprimento de onda o que garante penetração A grande discussão, atualmente, é quando colocar sob foto-
mais profunda na pele e, conseqüentemente, a maior pe- terapia ou optar pela  exsanguineotransfusão em RN de termo,
netração nos vasos sanguíneos da derme. saudáveis, sem doença hemolítica. Com relação aos demais RN,
• Mais eficaz que a fluorescente branca e semelhante à as indicações vêm sendo pouco alteradas, na literatura mundial. 
fototerapia com luz azul Na indicação do tratamento, fototerapia e/ou exsanguineo-
transfusão, considerar a bilirrubina total.
Na ausência de icterícia obstrutiva, a concentração sérica da
bilirrubina indireta (BI) é melhor estimada pela medida da bilirru-
Capitulo 14 Sindromes Ictéricas

bina total (BT). Calculando a fração indireta diminuindo a bilirru- Fototerapia Profilática
bina direta (BD) da BT, pode ser enganoso em muitos RN, devido Sabemos que a fototerapia é eficaz na modificação das moléculas
altos níveis de BI podem produzir elevação da fração direta (cerca de bilirrubina que estão acumuladas no tecido subcutâneo, caracte-
de 10% da BT) que não representa a BD (Wennberg e cl, 2006). rizando a pele ictérica e níveis de bilirrubina indireta > 5-6 mg%. Se
Segundo Maisels (1999), nunca foi totalmente resolvido de for- não há icterícia não há sentido em se fazer fototerapia profilática. 
ma satisfatória o problema de como lidar com um ocasional RN que Fototerapia Precoce
apresenta alto nível de BT associado a uma elevação da BD. Mais re- Indicada em RN com peso de nascimento < 1000g e níveis
centemente a maioria das diretrizes adota a BT como critério para o séricos de bilirrubina indireta de 5-6 mg%. 
tratamento. Tem sido relatado kernicterus em RN com BT de 18mg%
e BD de 4,1mg% e em RN com BT de 27,6mg% d BD de 8,7mg%. Fototerapia Intensiva 
Gartner e Lee recomendaram que a BD não fosse subtraída da Fototerapia intensiva implica no uso de altos níveis de irra-
BT, a menos que seja superior a metade da BT. Segundo Maisels, diância no comprimento de onda de 430-490nm (usualmente
apesar deste conceito ser puramente empírico, parece ser razoável. 30μw/cm2 /nm ou mais), envolvendo a maior área possível. A
A Academia Americana de Pediatria (AAP, 2004) cita que em si- distância da fonte de luz do RN tem um efeito dramático no es-
tuações em que o nível da BD é 50% ou mais da BT, não há dados pectro da irradiância e este efeito é mais significativo quando são
bons para proverem uma guia para terapia sendo recomendada usadas luzes special blue. Para tirar vantagens deste efeito, as
uma consulta a um especialista neste campo. luzes fluorescentes devem ser colocadas o mais próximo possível
Nos RN com hiperbilirrubinemia direta (mais de 3-4mg%), pela do RN (10 cm), devendo o RN estar em um berço e não em uma
sua capacidade de forte ligação com as garras da albumina, incubadora. RN a termo despidos não ficam superaquecidos sob
pode haver competição com a ligação da BI sérica, levando ao estas luzes. No uso de spot halógeno, estes não podem ficar po-
aumento de bilirrubina livre (BL), contribuindo potencialmente sicionados muito próximos aos bebês, além do que é recomenda-
para a sua toxicidade para o sistema nervoso central (Filho NA, do pelos fabricantes. Veja na Figura 2 a seguir, o efeito da fonte
Júnior RB, 2006). de luz e a sua distância do RN na irradiância espectral média.
Segundo AAP (2004), a medida laboratorial da bilirrubina dire- A special blue provê maior irradiância em relação à azul regu-
ta não é precisa e valores entre laboratórios podem variar muito. lar porque provê luz predominantemente no espectro azul-verde.
Nas diretrizes da AAP, a bilirrubina usada é a bilirrubina total, Nestes comprimentos de onda, a luz penetra muito bem na pele
não devendo ser descontada a bilirrubina direta. Segundo Bu- e é absorvida o máximo pela bilirrubina (AAP, 2004).
thani (2006), em mais de 5000 estudos de bilirrubina, os dados Existem casos em que o RN tem níveis de bilirrubinas indicativos
coletados para a neurotoxicidade foram da bilirrubina total. de exsanguiatransfusão ET e optamos por colocá-lo sob fototerapia
intensiva (dupla ou tripla) na tentativa de evitar a exsanguiatransfu-
Diretrizes Para Fototerapia são (ET). A fototerapia intensiva associada à alimentação em livre
demanda foi realizada em alguns centros enquanto se aguardava
Indicações De Fototerapia o sangue para a realização da ET na tentativa de diminuir os riscos 509
(RN A Termo Saudáveis Sem Doença Hemolítica) de neurotoxicidade. Em 2 e 6 horas foram verificados novamente
os níveis de bilirrubinas que muitas vezes estavam abaixo dos ní-
Horas De Vida Fototerapia veis indicativos de ET, que era suspensa. Porém, se a fototerapia
24 – 48 >15 intensiva não era eficaz em diminuir os níveis de bilirrubinas, a ET
era realizada. Portanto, se optarmos por fazer fototerapia inten-
> 48 >18
siva em RN com níveis indicativos de ET, devemos ter resultados
de bilirrubinas nas próximas 6 horas e, optar pela ET, caso os
Obs: RN ictéricos com peso de nascimento < 2500 g  e < 24 h níveis ainda sejam indicativos. 
de vida não são considerados saudáveis. Para os RN com doen-
ça hemolítica, considerar a tabela de peso na faixa entre 2001- Exsanguineotransfusão
2500g. RN com níveis de bilirrubina direta que ultrapassem 15- Exsanguíneotransfusão (ET) é recomendada imediatamente
20% do valor de bilirrubina não serão colocados sob fototerapia. se o recém-nascido mostra sinais de encefalopatia bilirrubínica
(hipertonia, opistótono, febre e choro agudo).
Indicação De Fototerapia Em Recém Nascidos Com Peso Fatores de risco: doença hemolítica isoimune, deficiência de
De Nascimento Inferior A 2500 Gramas (Bilirrubina Total) glicose 6-fosfato desidrogenase (G6PD), letargia significante,
sepses, acidose, asfixia, instabilidade da temperatura, albumina
24 – 48 48 - 72 72 - 96 menor que 3g%
Peso de > 96 horas
horas de horas de horas de
nascimento de vida Relação Bilirrubina Total/Albumina (B/A)
vida vida vida
<1500 6 8 8 8 A bilirrubina é transportada no plasma em forma de um diânion
ligado reversivelmente à albumina (A) sérica. Como cada molé-
1501-2000 8 10 10 0
cula de albumina é capaz de se combinar fortemente com uma
2001-2500 12 14 14 14
molécula de bilirrubina no ponto principal de ligação, uma razão
molar bilirrubina-albumina igual a 1 representa aproximadamen-
Na presença de qualquer um dos seguintes fatores, considerar te 8,5mg de bilirrubina por grama de albumina. Assim, um RN a
níveis menores (veja adiante os Gráficos da Academia Americana termo que apresente uma concentração sérica de albumina de
de Pediatria, 2004): prematuridade, doença hemolítica isoimu- 3 a 3,5g% deve poder combinar aproximadamente 25 a 28mg%
ne, deficiência de glicose 6-fosfato desidrogenase (G6PD), letar- de bilirrubina. Nos RN doente, RN prematuros, a capacidade de
gia significante, sepse, acidose, asfixia, instabilidade da tempera- ligação da albumina com a bilirrubina é menor, assim como apre-
tura, albumina menor que 3g%. sentam níveis séricos mais baixos de albumina.
Para a previsão da capacidade de ligação de bilirrubina, Ste-
venson e Wennberg (1990) sugeriram para uso, de um fator igual
a 7 vezes o nível de albumina nos RN a termo saudáveis (para um

Paulo R. Margotto
Assistência ao Recém-Nascido de Risco

RN com albumina de 3,4mg%, corresponderia a uma BT de risco • A bilirrubina direta não deve ser subtraída da bilirrubina total
de 24,5mg%) e 5 ou 6 vezes a concentração de albumina para os na tomada de decisão para realizar exsanguineotransfusão
RN doentes, com baixo peso ao nascer. • Se o RN estiver bem e apresentar entre 35-37 semanas
Nas diretrizes da AAP (2004) contém referências ao nível sé- (médio risco), pode-se individualizar os níveis de exsan-
rico de albumina e da relação B/A como fatores que podem ser guíneotransfusão baseando-se na idade gestacional atual
considerados na decisão de iniciar a fototerapia ou na realização • Para os RN internados, a ET é recomendada se os níveis de
de uma exsanguineotransfusão. A medida da BL (a bilirrubina bilirrubina total aumentam a despeito da fototerapia intensiva
não ligada à albumina) não está rotineiramente disponível nos • Para os RN readmitidos, se o nível de bilirrubina total
Estados Unidos. A relação B/A correlaciona-se com a medida de está acima do nível para ET,   repetir a bilirrubina total
BL nos RN podendo ser usada em substituição à medida da BL. cada 2 a 3 horas e considerar  ET se  a bilirrubina total 
No entanto, deve ser reconhecido tanto os níveis de albumina permanecer acima dos níveis indicados para ET  após fo-
como a sua capacidade de ligar-se à bilirrubina varia significati- toterapia intensiva por 6 horas 
vamente entre os RN. A ligação da albumina com a bilirrubina é
deficiente nos RN doentes, havendo um aumento desta ligação Os mecanismos  responsáveis pela sua eficácia são
com o aumento da idade gestacional, assim como com a idade 1. Bilirrubina é removida da circulação e dos tecidos;
pós-natal. O risco de encefalopatia bilirrubínica é improvável es- 2. O sangue removido do paciente está revestido de anticor-
tar simplesmente em função da BT ou da concentração de BL, pos maternos que tem possibilidade de ser hemolisado. A
mas provavelmente, em função da combinação de ambas, ou remoção dessas células remove a “bilirrubina potencial”;
seja, BT disponível e a sua tendência em entrar nos tecidos (ou 3. O sangue que retorna ao paciente é rh negativo  não
seja, concentração de BL). Assim, o uso da relação B/A é uma será hemolisado e terá tempo de vida mais prolongado;
opção clínica, não em substituição ao nível de BT, mas como 4. Durante o procedimento algum anticorpo materno é
um fator adicional na determinação da necessidade de exsan- removido;
guineotransfusão. Segundo Ahlfors (2003), há uma necessida- 5. Outros subprodutos da hemólise, desconhecidos, po-
de de interpretar a bilirrubina total no contexto da concentra- dem também ser removidos;
ção de albumina sérica. 6. Melhora do hematócrito em pacientes anêmicos;
Relação B/A que deveria ser considerada para a exsanguineo- 7. Hemoglobina fetal substituída pela do adulto tem a
transfusão (AAP, 2004) vantagem de ter menor afinidade pelo oxigênio, aumen-
tando a liberação da molécula ao nível dos tecidos
Relação B/A  
Categoria de Risco (BT em mg% / Albumina em g%) Complicações
Alterações dos níveis de antioxidantes e alteração do volume
RN >=38 0/7 semanas 8,0 sanguíneo cerebral. 
510 RN 35 0/7 – 36 6/7 semanas
Indicação 
e sem risco ou >=38 0/7 se
7,2 A indicação de exsanguineotransfusão (ET) está sendo mun-
alto risco paraDoença isoimune
dialmente reconsiderada para aqueles RN saudáveis (a termo,
ou deficiência de G6PD
peso de nascimento > 2500 g, sem doença hemolítica): bilirrubi-
RN 35 0/7 – 37 6/semanas se
na total ≥ 22 mg%. Com hemólise ou doente: 20 mg%
alto risco ou doença hemolítica
6,8 Esses RN têm chance muito pequena de desenvolver kernicterus,
isoimune ou deficiência de
pois a sua instalação dependerá do aumento da permeabilidade da
G6PD
barreira hematoencefálica, o que geralmente não ocorre nesse grupo.
Antes da indicação de exsanguineotransfusão devemos levar
A hiperbilirrubinemia é um risco para a neurotoxicidade e este em consideração:
risco depende da habilidade da albumina se ligar com a bilirru-
bina. A bilirrubina livre, a relação bilirrubina total/albumina (B/A) • idade gestacional do RN
estão associados com anormalidades nas respostas auditivas • peso de nascimento
evocadas nos RN prematuros.O uso da B/A com a bilirrubina total • Fatores de risco para aumento de permeabilidade da
no RN com hiperbilirrubinemia pode fornecer critérios concretos barreira hemato-encefálica (hemorragia intracraniana,
para acompanhamento de RN ictéricos. anóxia, hipoalbuminemia, infecção, hipercapnia)
• tempo de fototerapia
Recém-Nascido Com Sinais De Encefalopatia Bilirrubínica
• Devera ser submetido à exsanguineotransfusão, inde- Alguns Serviços consideram, além dos níveis de bilirrubina as
pendente do nível de bilirrubina total. seguintes condições: (não considerados em nosso serviço)
• Considerar o uso de albumina 1g/kg (tratamento de choque
na fase aguda). Há diminuição significativa dos níveis de bi- • Dosagem de bilirrubina livre, quando possível (ver adian-
lirrubina livre com 6 e 24 horas após o uso da albumina. te relação bilirrubina total/albumina)
• Métodos eletrofisiológicos: potencial evocado auditivo do
Considerar A Bilirrubina Total tronco cerebral  (BAER)
• Descontar a Bilirrubina Direta somente nos casos em que • Ressonância magnética: sinal de alta intensidade no glo-
esta for > = 50% da bilirrubina total. bo pálido e núcleos subtalâmicos
• Se há necessidade de fototerapia, a presença de hiperbilir-
rubinemia direta não deve constituir uma contra-indicação.
• RN com Síndrome do Bebê Bronzeado cuja bilirrubina
total está no nível de fototerapia intensiva e a fototera-
pia não está diminuindo o nível rapidamente, considerar
exsanguineotransfusão.
Capitulo 14 Sindromes Ictéricas

Exsanguíneotransfusão  Muito Precoce  Manuseio Da Hiperbilirrubinemia No Recém-Nascido Pré-Termo


Realizada até 12 h de vida nas seguintes condições: Para os RN com 35-37 semanas pode ajustar os níveis de bilir-
rubina total em torno da linha de risco médio. É uma opção inter-
• hemoglobina < 12,5g% vir com níveis de bilirrubina total menor para RN mais próximos
• Htc < 40% de 35 semanas e para níveis maiores para RN mais próximos de
• Coombs direto + 37 semanas e 6 dias. 
• Bilirubina total > 5 mg% no sangue de cordão Assim, em um RN de 35-37 semanas de gestação e que  não
• Elevação dos níveis de bilirrubina total de 0,5 mg%/h, na apresenta quaisquer uns destes sinais para neurotoxicidade da
doença hemolítica pelo fator Rh  bilirrubina, vamos nos preocupar quando a bilirrubina total atinge
Realizada desde o nascimento até 24 horas de vida de acordo a 15mg% se tiver com 4 dias de vida e níveis menores, como
com os níveis de bilirrubina 11mg% se tiver 48 horas de vida. Observe a tabela a seguir: 

Precoce Os níveis de Bilirrubina Total Sérica que definem


Aumento da bilirrubina totaL 0,5 mg% / h   ou: intervenção em RN pré-termo (>=35 semanas)

Horas De Vida Bilirrubina Total Nível de Bilirrubina Nível de Bilirrubina


<12 >10   Total Plasmática até Total Plasmática ≥ 96
<18 >12 48 h (mg%) h (mg%)
<24 >14 Risco para DNIB* Fototera- Exsangui- Fototera- Exsangui-
(segundo AAP**) pia neo pia neo
Alto Risco (presen-
Tardia 
ça de risco para
DNIBem RN 11 18 15 19
RN Sem Complicação Com Complicação de 35 – 37
< 1000 10 10 sem IG)
1000-1249 13 10 Moderado Risco
1250-1499 15 13 (35 – 37 sem IG
1500-1999 17 15 13 20 18 22,5
sem risco
2000-2499 18 17 de DNIB)
>2500 22 20
Baixo Risco (RN
De uma forma geral, para os RN pré-termos, a ET deve ser de termo sem 15 22 21 25
realizada quando a bilirrubina sérica atingir  a metade da ida- risco para DNIB) 511
de gestacional. (Não realizar ET com nível abaixo de 10 mg%). 
 Em Caso De Doença RN Considerar Níveis Com Complicação  DNIB* : Disfunção Neurológica induzida pela Bilirrubina

Obs: Fatores de Risco: História familiar de icterícia ou hemólise, pre-


• os RN serão considerados com complicação se os fatores maturidade tardia (34-38 sem), policitemia, hemorragia interna
anteriormente mencionados estiverem causando a insta- ou externa, elevação de bilirrubina (> 0,5 mg%/h), anemia hemo-
bilidade do paciente. Paciente já estável será considera- lítica isoimune, deficiência de G6PD, letargia significativa, sep-
do sem complicação; ses, acidose, asfixia, instabilidade da temperatura e nível sérico
• os RN deverão já estar sob fototerapia intensiva. Devem de albumina < 3.0 g%
ser dosados  os níveis de bilirrubina, após 6 horas de  fo- AAP** : Academia Americana de Pediatria
toterapia intensiva e, caso os níveis tenham caído 3 mg%, (Buthani VK, Johnson L. Kernicterus in late preterm infants ca-
a exsanguineotransfusão não será indicada;  red for as term heath infants. Semin Perinatol 2006;30:89-97) 
De acordo com a Academia Americana de Pediatria (2004), es-
Imunoglobulina tas são as diretrizes para Fototerapia e Exsanguineotransfusão:
O seu uso diminuiu significativamente a indicação de exsan-
guineotransfusão e de fototerapia, tanto na incompatibilidade Rh
como ABO.
A gamaglobulina reduz a taxa de hemólise pelo bloqueio de
receptores Fc dos macrófagos do sistema retículo-endotelial neo-
natal, sítio de destruição dos eritrócitos. Indicação:
O uso da globulina hiperimune pode estar indicado tanto como
profilático (nas primeiras horas de vida, antes da ocorrência da hi-
perbilirrubinemia), como nos casos de icterícia precoce/ anemia
por incompatibilidade ABO/Rh com Coombs Direto +  (como pre-
coniza a Academia Americana de Pediatria. Há relato de ocorrên-
cia de enterocolite necrosante com o uso de imunoglobulina, devido
a alta hiperviscosidade da solução, com aumento do risco de trom-
bose intestinal, devendo ser administrada com pelo menos 4 horas.
Observou-se que quanto mais tardio o uso da globulina mais
tempo de fototerapia foi necessário. 
Dose: 0,5-1 g / kg  EV por 4-5 horas. repetir a dose 24-48 horas
após ( a dose de 1g/kg mostrou-se mais eficaz na redução da
indicação da exsanguineotransfusão).

Paulo R. Margotto
Assistência ao Recém-Nascido de Risco

Fototerapia
Fatores de risco: prematuridade, doença hemolítica isoimune, rubina total em torno da linha de risco médio. É uma opção inter-
deficiência de glicose 6-fosfato desidrogenase (G6PD), letargia signi- vir com níveis de bilirrubina total menor para RN mais próximos
ficante, sepses, acidose, asfixia, instabilidade da temperatura, albu- de 35 semanas e para níveis maiores para RN mais próximos de
mina menor que 3g%). Na presença de qualquer um destes dados, 37 semanas e 6 dias
nos leva a preocupação quanto à neurotoxicidade pela bilirrubina
Para os RN com 35-37 semanas pode ajustar os níveis de bilir-

Exsanguineotransfusão

512 •A linha apagada nas primeiras 24 horas indica a incerte- •Usar a bilirrubina total
za devido à grande variação de circunstâncias clínicas e •Se o RN estiver bem e apresentar entre 35-37 semanas
resposta à fototerapia (médio risco), pode-se individualizar os níveis de exsanguí-
•Exsanguíneotransfusão (ET) é recomendada imediata- neotransfusão baseando-se na idade gestacional atual
mente se o recém-nascido mostra sinais de encefalo- •Para os RN internados, a ET é recomendada se os níveis de
patia bilirrubínica (hipertonia, opistótono, febre e choro bilirrubina total aumentam a despeito da fototerapia intensiva
agudo) ou se o nível de bilirrubinas é maior ou igual a •Para os RN readmitidos, se o nível de bilirrubina total está
5mg% acima destas linhas acima do nível para ET, repetir a bilirrubina total cada 2
•Fatores de risco: doença hemolítica isoimune, deficiência a 3 horas e considerar ET se a bilirrubina total permane-
de glicose 6-fosfato desidrogenase (G6PD), letargia signi- cer acima dos níveis indicados para ET após fototerapia
ficante, sepses, acidose, asfixia, instabilidade da tempe- intensiva por 6 horas
ratura, albumina menor que 3g%
Capitulo 14 Sindromes Ictéricas

Quanto aos recém-nascidos abaixo de 35 semanas: a AAP re- Para os RN internados, a ET é recomendada se os níveis de
conhece a necessidade de tabela específica para estes RN, no bilirrubina total aumentam a despeito da fototerapia intensiva
entanto, faltam ainda mais evidências. A análise retrospectiva de Para os RN readmitidos, se o nível de bilirrubina total está aci-
RN de muito baixo peso ao nascer, nascidos entre 1994-1997, ma do nível para ET, repetir a bilirrubina total cada 2 a 3 horas e
com picos de BT entre 5 e 12 mg% foram diretamente correlacio- considerar ET se a bilirrubina total permanecer acima dos níveis
nados com o risco de: (1): morte ou disfunção do desenvolvimen- indicados para ET após fototerapia intensiva por 6 horas
to neurológico (OR: 1,068; IC=95%: 1,03-1,11); (2): comprometi-
mento auditivo (OR: 1.138; IC 1,00-1,30); Avaliação De Risco Na Alta Hospitalar
(3): índice de desenvolvimento psicomotor <70 (OR: 1,057; IC
1,00-1,12). No entanto: outros estudos não sugerem neurotoxi- Dados recentes mostram aumentam da incidência de kernicte-
cidade com baixos níveis de bilirrubina. Estes dados conflitantes rus nos RN com alta precoce. Um nomograma realizado  em RN
levaram a Rede de Pesquisa Neonatal a realizar um ensaio clíni- normais a termo, mostra a zona de alto risco (>percentil 95: a
co randomizado em bebês com muito baixo peso ao nascer, en- probabilidade dos RN nesta zona apresentar hiperbilirrubinemia
volvendo 2 grupos: (1)-fototerapia profilática (agressiva, iniciado grave foi de 14,08), a zona intermediária (zona intermediária alta:
com 23±9 hs); (2): fototerapia conservadora (BT≥8mg%). Entre bilirrubina  entre o percentil de 75 e 95: A probabilidade de hiper-
os sobreviventes, quando comparado com fototerapia conser- bilirrubinemia de 3,2) e zona intermediária baixa (bilirrubina en-
vadora, a (5%) nos RN entre 501g a750g, com probabilidade tre o percentil de 40 e 75; a probabilidade de hiperbilirrubinemia
de 89% de incremento na mortalidade nesse grupo. Para estes de 0,48) e a zona de baixo risco (bilirrubina abaixo de percentil
RN deveríamos usar menor irradiância (os neonatos imaturos e 40; a probabilidade de hiperbilirrubinemia foi de  0) Na alta hos-
muito pequenos possuem pele gelatinosa e fina, onde a luz vai pitalar o nomograma (Bilimapa) pode predizer que RN está nas
penetrando facilmente e alcançando mais profundamente o sub- zonas de alto, intermediário e baixo risco para hiperbilirrubinemia 
cutâneo, podendo causar injuria oxidativa nas membranas celu- além de permitir a individualização do seguimento do RN. 
lares e DNA do prematuro). Segundo Keren e cl, RN com  idade gestacional menor que 38
A recomendação de fototerapia e exsanguineotrasnfusão para semanas teve a  probabilidade de apresentar bilirrubina acima do
os RN abaixo de 35 semanas é baseada em consenso, 4 dos percentil 95 do Bilimapa  2,6 vezes maior (IC a 95% de 1,5 a 4,5).
maiores especialistas mundiais em icterícia neonatal fizeram su-
gestões para o manejo dessa condição em neonatos <35 sem
(Drs. Maisels, Watchko, Bhutani e Stevenson, 2012). Os autores
deixam claro que os conhecimentos nessa área ainda são muito
escassos, não permitindo a formulação de uma diretriz baseada
em alto grau de evidência. No entanto, precisamos começar a
pensar na fototerapia como uma droga que deve ser administra-
da na dose adequada. Em neonatos <750g, começar fototerapia 513
com menor irradiação e aumentar somente se houver falha na
manutenção da bilirrubina em níveis adequados.

Fototerapia Transfusão
Idade Bilirrubina Total Sérica
Bilirrubina Total
Gestacional Para O Início De
Sérica (mg/%)
(semanas) Fototerapia (mg/%)
< 28 0/7 5-6 11-14
28 0/7 – 29 6/7 6-8 12-14
30 0/7 - 31 6/7 8-10 13-16
32 0/7 - 33 6/7 10-12 15-18
34 0/7 - 34 6/7 12-14 17-19

Descontinuar a fototerapia quando BT estiver 1–2 mg/mg%


abaixo do nível que estava no início.

Avaliação De Risco Na Alta Hospitalar

A linha apagada nas primeiras 24 horas indica a incerteza de-


vido à grande variação de circunstâncias clínicas e resposta à
fototerapia
Exsanguíneotransfusão (ET) é recomendada imediatamente
se o recém-nascido mostra sinais de encefalopatia bilirrubínica
(hipertonia, opistótono, febre e choro agudo) ou se o nível de bilir-
rubinas é maior ou igual a 5mg% acima destas linhas
Fatores de risco: doença hemolítica isoimune, deficiência de glicose
6-fosfato desidrogenase (G6PD), letargia significante, sepses, acido-
se, asfixia, instabilidade da temperatura, albumina menor que 3g%
Usar a bilirrubina total
Se o RN estiver bem e tem entre 35-37 semanas (médio ris-
co), pode-se individualizar os níveis de exsanguíneotransfusão
baseando-se na idade gestacional atual

Paulo R. Margotto
Assistência ao Recém-Nascido de Risco

Bilimapa: Buthani VK e cl. Pediatrics 1999;103:6-14


A recomendação, no momento da alta, é que os recém-nascidos
sejam reavaliados com 5 dias de vida.

Complicações Da Hiperbilirubinemia

1. Hidropsia Fetal endógenos que atuam como competidores da bilirrubina com a


Causada pela hipoalbuminemia devido à redução da capaci- albumina, como o lactato, o piruvato, acetona, acetoacetado, a
514 dade de síntese do fígado pela distorção do cordão de células betahidroxibutirato. Agentes estabilizadores que também reali-
hepáticas. A intensa hemólise resulta em aumento das ilhotas zam esta competição: N-acetiltriptofano, caprilato de sódio, man-
de eritropoiese que causam alteração da arquitetura hepática. delato de sódio.
2. Kernicterus (Encefalopatia bilirrubínica) Manifestações Clínicas
Fisiopatologia Quanto às manifestações clínicas da disfunção neurológica
Como a bilirrubina causa apoptose (mata o neurônio)? Sabe- induzida pela bilirrubina: muitos bebês morrem ou apresentam
mos que há uma morte celular tanto in vivo ou in vitro. O me- encefalopatia aguda, convulsões, episódios de apnéia, hiper-
canismo desta morte celular se baseia no nível de cálcio que é tensão, taquicardia, anormalidades eletrolíticas (talvez devido a
composto dentro da célula para depois levar o apoptose que é a Síndrome de Secreção Inapropriada do Hormônio Antidiurético)
morte celular programada. A bilirrubina atua prejudicando a ho- e alterações nas respostas auditivas do pedúnculo cerebral. Me-
meostase do cálcio intracelular, que é o principal mecanismo da canismos de defesa podem se bem frágeis nos RN prematuros.
morte celular em modelos de isquemia Há sempre um receptor Apresenta-se em quatro fases:
que permite a entrada da bilirrubina nas células, mas também
ela é bombeada para fora. Se há ruptura deste influxo e efluxo •Fase I: hipotonia, letargia e reflexo de sucção débil nos
podemos ter a neurotoxicidade. A MDRI (energy dependent mul- primeiros 2 a 3 dias;
tidrug resistant transporter) ou P-glicoproteina é um dos trans- •Fase II: espasticidade, opistótono e febre;
portadores envolvidos no efluxo; ela é expressa nas células en- •Fase III: aparente melhora, instalando-se, geralmente, no
doteliais dos capilares da barreira hematoencefálica, astrócitos fim da primeira semana, com diminuição da espasticidade;
e no plexo coróide. A bilirrubina livre é um fraco substrato para a •Fase IV: incide, geralmente, aos 2 a 3 meses de vida, com
MDRI. A inibição da P-glicoproteína potencializa a apoptose indu- sinais sugestivos de paralisia cerebral.
zida pela bilirrubina.
A entrada da bilirrubina no cérebro pode ser aumentada em 3. Bilirrubina e audição
condições como: alterações da permeabilidade da barreira he- A maturação do tronco cerebral pode ser avaliada pela progres-
matoencefálica (hiperosmolaridade, severa asfixia - havendo são da resposta auditiva evocada do tronco cerebral. Esta resposta
rompimento desta barreira, o complexo bilirrubina-albumina mo- nos RN prematuros consiste de uma seqüência de ondas, onda I,
ve-se rapidamente para o espaço extracelular do cérebro); tempo III e V. A onda I representa a atividade a nível do nervo auditivo,
de trânsito prolongado, como no aumento da pressão venosa; enquanto as ondas III e V representam a atividade a nível de tronco
aumento do fluxo sanguíneo, como na hipercapnia; aumento da cerebral. Nos RN entre 28 – 32 semanas, a resposta auditiva do
taxa de dissociação (alteração na ligação bilirrubina-albumina), tronco cerebral amadurece na primeira semana de vida.
como ocorre nos RN doentes. A bilirrubina tem uma predileção específica para as vias neu-
Outros mecanismos de defesa celular que o cérebro possui rais auditivas. Assim, a detecção precoce de injúria neuronal in-
que ajuda a uma certa reversibilidade destas alterações da duzida pela bilirrubina pode ser feita usando a resposta auditiva
encefalopatia induzida pela bilirrubina incluem: outros transpor- evocada do tronco cerebral. As mudanças nestas respostas indu-
tadores, incluindo MDRI e fatores anti-apoptóticos. Há agentes zidas pela bilirrubina progridem de uma prolongação reversível
Capitulo 14 Sindromes Ictéricas

das latências absolutas das ondas III e V, para a perda da am-


plitude da onda até finalmente a inabilidade de detectar a onda.
Alterações reversíveis podem persistir por 24hs após a diminui-
ção da bilirrubina sérica. A toxicidade prolongada da bilirrubina
pode ocasionar perda irreversível da audição neurosensorial. A
progressão anormal da resposta auditiva do tronco cerebral (en-
cefalopatia bilirrubínica transitória) durante a 1ª semana de vida
é associada com o grau de hiperbilirrubinemia, sendo melhor
predicta pela bilirrubina livre do que a bilirrubina total.
O sistema auditivo não pode ser analisado do ponto de vista
de imagem e sim do ponto de vista neurofisiológico. A bilirrubina
tem preferência pelo trajeto nervoso auditivo, assim sendo, uma Tratamento
injúria neuronal bilirrubínica precoce pode ser detectada pelo po- •Devera ser submetido à exsanguineotransfusão, inde-
tencial evocado auditivo. pendente do nível de bilirrubina total.
Sempre que possível todo recém-nascido com níveis elevados de •Considerar o uso de albumina 1g/kg (tratamento de
bilirrubina deveria ser submetido ao Potencial Evocado auditivo (me- choque na fase aguda). Há diminuição significativa dos
dida neurofisiológica não invasiva da neurotoxicidade da bilirrubina) níveis de bilirrubina livre com 6 e 24 horas após o uso
No follow-up, vemos que estes RN têm neuropatia auditiva da albumina.
(perda auditiva), muito mais comum aos sinais clássicos de ker-
nicterus que leva a distonia e atetose. Uma característica desta Profilaxia
neurotoxicidade é a dificuldade de diferenciar entre sons e tons. Os preditores clínicos que estamos buscando são: a bilirrubi-
Porém, não há retardo mental. Ao se tornarem adolescentes, con- na sérica total, relação bilirrubina total/albumina e a bilirrubina
seguem controlar o tônus muscular e a atetose. Parecem crian- livre. É importante que se conheçam os competidores da bilirru-
ças com retardo do desenvolvimento. bina com a albumina que deslocam a bilirrubina da albumina,
aumentando os níveis de bilirrubina livres: sepses, hipotermia,
4. Bilirrubina e visão acidose, hipoxia, hipercapnia, hemólise.
A bilirrubina pode entrar nos olhos dos pacientes ictéricos a Quanto à quimioprevenção para a hiperbilirrubinemia deve-se
partir do sangue ou pode ser produzida localmente de hemorra- diminuir a produção da bilirrubina, prevenir a reabsorção enteral
gia intra-ocultar. A bilirrubina é um composto citotóxico às células da bilirrubina, aumentar a eliminação enteral da bilirrubina. Para
neurais que atua para desacoplar a fosforilação oxidativa na mi- a neuroproteção: aumentar a habilidade da ligação bilirrubina-
tocôndria. A barreira hemato-vítrea é mais permeável às proteí- albumina e facilitar a proteção neuronal da bilirrubina.
nas do plasma (albumina) do que a barreira hematoencefálica. Temos que nos preocupar com a idade abaixo de 72 horas,
Uma vez que a bilirrubina indireta liga-se a albumina, esta pode asfixia, hemorragia intracraniana, hipercapnia, hipoalbuminemia, 515
estar em contato com as células retinianas. hemólise (rápido aumento da bilirrubina), competidores da bilir-
Hurzel B e Heinrikson L relataram pigmentos amarelos no hu- rubina pela albumina e aumento do fluxo sanguíneo cerebral
mor aquoso de RN prematuros. Os autores sugerem captação da (hipercapnia). Além disso, examinar detalhadamente as drogas
bilirrubina pelas células neuro-retinais. que usamos na UTI Neonatal que exerçam competição da bilirru-
Silver S e cl, em estudo experimental em ratos expostos a altos bina com a albumina, como ibuprofeno, benzoato, ceftriaxona.
níveis de bilirrubina livre, relataram marcado prolongamento da O kernicterus é somente prevenível, mas severa hiperbilirrubi-
latência (11-20%) e reduzidas amplitudes (20-64%) foram tam- nemia é prevenível e tratável (Buthani VK, Johnson L, 2006).
bém observadas nos diferentes componentes da onda do Poten-
cial Evocado Visual (reflexo da lesão do córtex visual). Também Prevenção
não pode ser excluída possível lesão da via neural entre a retina e
o córtex visual (tem sido relatada em autópsias de crianças com •Em linhas gerais, os tópicos importantes responsáveis
kernicterus degeneração e atrofia do nervo óptico). No eletrorre- pelo reaparecimento do kernicterus são:
tinograma, os autores relataram significante prolongamento da •nível de preocupação com o quadro de icterícia
onda b (devido ao efeito da bilirrubina nas células gliais da retina, •limitação do reconhecimento visual da icterícia.
onde a onda b é gerada). Estes resultados sugerem que, apesar •não reconhecimento da gravidade da hiperbilirrubinemia
de algumas alterações ocorrerem na retina após uma entrada •avaliação do risco com auxílio do Bilimapa.
maciça de bilirrubina no sistema nervoso, os danos na via prin- •atenção aos níveis de bilirrubina acima de 25%
cipal de exposição visual de bilirrubina provavelmente está além •não garantia do seguimento 24-48 h após a alta,
da retina. •atraso na intervenção intensiva
Segundo Silver e cl, as mudanças pronunciadas no Potencial •não há razão para preocupação quando o valor de bilirru-
Evocado Visual, incluindo o completo desaparecimento das on- bina estiver abaixo do percentil 40.
das, sugere que a Potencial Visual Evocado é a modalidade com
maior sensibilidade para a detecção de mudanças na dinâmica Bibliografia
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Paulo R. Margotto
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Capitulo 14 Sindromes Ictéricas

14.2 COLESTASE

Elisa de Carvalho, Renata Belém Pessoa M. Seixas,


Clara Campos, Paulo R. Margotto

Introdução

A icterícia por predomínio da bilirrubina indireta em recém-nas- células epiteliais dos dutos biliares (colangiócitos), que mantêm
cidos é comum e, na maioria das vezes, fisiológica; entretanto, o continuidade com os dutos biliares extra-hepáticos. A secreção
aumento da bilirrubina direta traduz a presença de doença hepa- biliar através dos dutos biliares é um processo dinâmico, regu-
tocelular ou biliar e necessita exploração clínica urgente. Nestes lado pelos ácidos biliares e por outros componentes da bile. O
casos, o esclarecimento precoce do diagnóstico etiológico e a processo inicia-se com a captação de solutos do sangue pelos
instituição do tratamento adequado exercem influência decisiva hepatócitos, continuando com o transporte intracelular entre as
na sobrevida e na qualidade de vida de muitos pacientes. Sendo organelas e a secreção de novos substratos formados através
assim, podemos considerar a colestase neonatal uma urgência da membrana canalicular. Dessa forma, o processo de formação
em Gastroenterologia Pediátrica. da bile requer transporte ativo através da membrana basolateral
Colestase é o termo utilizado para descrever os estados pato- (sinusoidal) do hepatócito, seguido de movimento transcelular
lógicos que cursam com a redução do fluxo biliar, por alterações por uma variedade de mecanismos, tendo como evento final o
anatômicas ou funcionais do sistema biliar. Conseqüentemente, transporte ativo para o espaço canalicular entre os hepatócitos
os pacientes colestáticos apresentam concentrações séricas ele- e em seguida para a luz duodenal por meio dos ductos biliares.
vadas de substâncias que habitualmente são excretadas na bile, A membrana canalicular, de modo diferente da membrana ba-
como a bilirrubina conjugada (direta), os sais biliares e o coleste- solateral, é rica em colesterol, esfingomielina e transportadores
rol. Os principais achados clínicos são a icterícia, a hipocolia ou ATP-binding cassette (ABC), que funcionam como bomba de expor-
acolia fecal, a colúria e o prurido; e os laboratoriais são o aumen- tação dos ácidos biliares e de uma variedade de solutos. Dois im-
to sérico dos sais biliares, do colesterol e da bilirrubina direta portantes membros da superfamília de transportadores ABC são a
(BD > 2,0 mg% ou > 20 % da bilirrubina total). bomba de transporte de sais biliares (bile salt export pump - BSEP,
A freqüência da colestase neonatal é difícil de ser avaliada, ABCB11) e a proteína de resistência multi-drogas 3 (MDR3, ABCB4),
situando-se por volta de 1:2.500 nascidos vivos, e seu diagnósti- envolvida no transporte dos fosfolipídeos. O papel essencial des-
co diferencial inclui um grande número de doenças. Para melhor sas moléculas recentemente identificadas na secreção biliar nor-
entendimento das causas de colestase, é importante entender, mal destaca a relação entre os diferentes passos metabólicos e
mesmo que de modo resumido, os mecanismos de formação e propicia a identificação de síndromes colestáticas específicas em 517
secreção biliar. crianças e adultos. O principal mecanismo das diferentes formas
Dessa forma, os objetivos deste capítulo são: abordar os meca- de colestase intra-hepática hereditária é a alteração do transporte
nismos de formação e secreção biliar; descrever o diagnóstico di- canalicular dos ácidos biliares ou fosfolipídeos. Mutações do BSEP
ferencial da colestase neonatal; e revisar processos patológicos e do MDR3 resultam em entidades que cursam com colestase,
específicos que se manifestam com colestase neonatal. denominadas colestase intra-hepática familiar progressiva (PFIC,
do inglês Progressive familial intrahepatic cholestasis) tipos 2 e 3,
Formação E Secreção Da Bile respectivamente. Outra proteína cuja mutação é responsável pelo
desenvolvimento da colestase intra-hepática familiar progressiva
A formação e a secreção da bile são essenciais para a manu- tipo 1 é a FIC1 (ATP8B1) . A Figura 1 descreve de modo esquemáti-
tenção da função hepática normal. Ambos os processos são regu- co os mecanismos de formação e excreção biliar.
lados pela unidade funcional formada pelos hepatócitos e pelas
Figura 1 - Sistema de transporte hepatobiliar no fígado e nos
tecidos extra-hepaticos. O sal biliar é capturado pelos hepatócitos
via NTCP (basolateral Na_/taurocholate cotransporter) e OATs
(organic anion transporting proteins). Os sais biliares monovalentes
são excretados pela bomba de exportação do sal biliar canalicular
(bile salt export pump - BSEP), enquanto o sal biliar bivalente junto
com conjugados aniônicos (AO-) são excretados pela bomba de
exportação conjugado canalicular (MRP2). A bomba de exporta-
ção de fosfolipídeo (MDR3) facilita a excreção de fosfatidilcolina
(PC), o que forma micelas na bile com o sal biliar e o colesterol.
Drogas catiônicas (OC-) são excretadas pela bomba de exportação
de multidrogas (MDR1). Outra isoforma basolateral de MRP1 and
MRP3 (multidrug resstance-associated protein) fornece uma rota
alternativa para a eliminação do sal biliar e do sal não-biliar OA- dos
hepatocitos para a circulação sistêmica. O sal biliar é reabsorvido
no íleo terminal ISBT (Ileal Na_-dependent bile salt transporter)
e excretado pelo MRP3. Mecanismos semelhantes existem nos
túbulos renais proximais e nos colangiócitos onde uma adicional
t-ISBT (truncated isoform) pode estar envolvida na excreção do sal
biliar dos colangiócitos. MRP2 também está presente na membrana
apical dos enterócitos e nos túbulos renais proximais, enquanto o
MRD1 também é encontrado no intestino e nos ductos biliares.

Paulo R. Margotto
Assistência ao Recém-Nascido de Risco

Abordagem Diagnóstica

O recém-nascido apresenta uma reconhecida propensão coles- uma manifestação clínica freqüente e o seu diagnóstico diferen-
tática, por imaturidade dos mecanismos relacionados à produ- cial é amplo, englobando doenças com diferentes prognósticos,
ção da bile, especialmente no que se refere ao metabolismo dos como demonstrado na Tabela 1.
ácidos biliares. Dessa forma, no período neonatal, a colestase é

Causas intra-hepáticas Não classificadas


Colestase associada à infecção Síndrome de McCune Albright
Vírus (citomegalovírus, hepes vírus simples, vírus da hepatite B, HIV, Defeito funcional da Villin
parvovírus B19, outros) Cirrose infantil indiana
Bactérias (infecção do trato urinário, sepses, listeria, sífilis e outros)
Protozoários (toxoplasmose) Síndromes endócrinas
Hipotireoidismo
Doenças metabólicas Panhipopituitarismo
Defeito no ciclo da uréia (colestase neonatal associada à deficiência
de citrina, deficiência de arginase) Síndromes genéticas
Desordens do metabolismo de metais (hemocromatose neonatal, Síndrome de Down
sobrecarga infantil de cobre – não Wilsonina). Outras trissomias
Desordens do metabolismo de lipídios (doença de Niemann-Pick tipo Síndrome de Turner
C, doença de Wolman, doença de depósito de éster de colesterol). Síndrome de Zellweger
Desordens do metabolismo do carboidrato (galactosemia, frutose-
mia, glicogenose tipo 4).
Desordens do metabolismo de aminoácidos (tirosinemia). Doenças de depósito
Hepatopatias mitocondirais. Doença de Gaucher

Formas hereditárias da colestase intra-hepática Drogas e toxinas (tóxicas)


Desordens do transportadores de membrana ou de secreção Endotoxemia, colestase associada à nutrição parenteral, hidrato de
Deficiência dos transportadores dos ácidos biliares – deficiência de BSEP cloral, antibióticos, outras drogas.
(progressiva e persisteste: PFIC2; benigna e recorrente: BRIC2)
Deficiência dos transportadores de fosfolípides – deficiência do Hipóxia/hipoperfusão
MDR3 (PFIC3)
518 Deficiência do transportador de íons - CFTR (Fibrose cística) Outras
Deficiência de FIC1 Lúpus neonatal, Doença de Caroli, síndrome da bile espessa,
(progressiva e persisteste: PFIC1 e doença de Byler; benigna e histiocitose X, síndrome de ativação macrofágica (linfohistiocitose
recorrente: BRIC1) hemofagocítica).
Ictiose neonatal – síndrome da colangite esclerosante
Artrogripose Idiopáticas
Síndrome de Aagenaes (síndrome da colestase com linfedema) Hepatite neonatal idiopática, ductopenia não-sindrômica.
Deficiência de alfa-1-antitripsina
II. Causas extra-hepáticas
Desordens da biosíntese ou conjugação dos ácidos biliares Atresia de vias biliares extra-hepáticas
Deficiência da 3β-hidroxiesteróide Δ5-C27 esteróide desidrogenase/ Cisto de colédoco
isomerase Perfuração espontânea das vias biliares
Deficiência da 3-oxosteróide 5β-redutase Coledocolitíase
Deficiência da oxisterol 7 α-hidrolase Colangite esclerosante neonatal
Hipercolanemia familiar Estenose das vias biliares
Deficiências secundárias (distúrbios peroxissomais: síndrome de Compressão externa das vias biliares (massas ou tumores)
Zellweger)

Desordens da embriogênese
Síndrome de Alagille (defeito de Jagged 1)
Malformação da placa ductal (ARPKD, ADPLD, doença de Caroli)

Tabela 1 - Diagnóstico diferencial da colestase neonatal


BSEP: bomba de transporte dos sais biliares; MDR3: proteína de resistência multidrogas 3;
PFIC: colestase intra-hepática familiar progressiva; BRIC: colestase intra-hepática benigna recorrente; CFTR: regulador transmembrana da fibrose
cística; ADPLD: doença hepática policística autossômica dominante; ARPKD: doença renal policística autossômica recessiva.
Fonte: Balistreri e cl., 2006, modificado.5
Capitulo 14 Sindromes Ictéricas

Importantes progressos na descoberta de muitas doenças e na principal ácido biliar do urso: o urso quando hiberna não se alimenta
elucidação de seus mecanismos fisiopatológicos ocorreram nas úl- por vários meses e não desenvolve colestase hepática e nem cálcu-
timas três décadas. Na década de 70, o diagnóstico diferencial do lo biliar devido a este ácido; o uso do ácido ursodeoxicólico com a
recém nascido com aumento da bilirrubina direta se limitava à atresia alimentação faz com que ele seja bem absorvido e que se torna no
biliar, que era responsável por 25% dos casos; às infecções, como paciente o principal ácido biliar e é mais colerético e estimula o fluxo
toxoplasmose, rubéola, citomegalovírus, herpes e outros vírus (3%); e biliar; não há disponibilidade para o seu uso endovenoso). O seu uso
a algumas doenças genético-metabólicas, como galactosemia, tirosi- na colestase por nutrição parenteral parece ser seguro e leva a uma
nemia, fibrose cística e miscelâneas (7%). Nesta época, a maioria dos precoce diminuição dos níveis de bilirrubina com duas semanas de
pacientes (65%) era designada como portadora de hepatite neonatal terapia. Dose: 15 a 30 mg/kg/dia VO por 1 mês (Apresentação: Ur-
idiopática, um termo conveniente para definir os pacientes portado- sacolR em comprimidos de 50mg e 150mg)
res de colestase, sem causa específica ou diagnóstico etiológico. Nas Na abordagem etiológica, deve-se avaliar a história clínica comple-
últimas décadas, uma grande mudança deste perfil ocorreu graças ta, o exame físico minucioso e os exames complementares.
aos avanços da genética molecular, que permitiu o reconhecimento Do ponto de vista clínico, a colestase se manifesta por icterícia,
de muitas doenças que antes eram classificadas como hepatite ne- hipocolia/acolia fecal, colúria, prurido e xantomas. Quando a icte-
onatal idiopática. Os maiores progressos ocorreram no campo dos rícia está presente, a doença é facilmente reconhecida. Entretanto,
erros inatos do metabolismo e nas alterações genéticas de proces- em alguns lactentes colestáticos, as conseqüências da deficiência
sos fundamentais do metabolismo ou da função excretora hepática, das vitaminas lipossolúveis podem ser os únicos sinais/sintomas da
como: alteração da fisiologia da membrana (transporte); biossíntese presença de colestase. Nestas crianças a hiperbilirrubinemia pode
de ácidos biliares; ou disfunção de organelas. Atualmente, a atresia não ser clinicamente evidente e o atraso no diagnóstico pode causar
biliar continua sendo responsável por 25% dos casos de colestase graves problemas, como a hemorragia intracraniana decorrente da
neonatal, enquanto a hepatite neonatal idiopática por apenas 15%. deficiência de vitamina K.
Os demais pacientes apresentam: deficiência de alfa-1-antitripsina Reposição das vitaminas lipossolúveis:
(10%); doenças metabólicas (20%); infecções virais (5%); e causas
hereditárias de colestase intra-hepática como síndrome de Alagille, Vitaminas Lipossolúveis
colestase intra-hepática familiar progressiva e erro inato do metabolis- Via Oral Via IM
mo dos ácidos biliares (25%); lembrando que a prevalência das infec-
0,5-1mg/kg-15/15
ções virais varia entre as diferentes regiões. Dessa forma, os avanços Vitamina K*
dias
ocorreram, especialmente, no esclarecimento das doenças metabóli-
cas e das causas hereditárias da colestase intra-hepática. Vitamina A 10000 UI/kg/d
A prioridade na avaliação é investigar se a colestase é secundária Vitamina D 5000 UI/kg/d
a causas intra-hepáticas, como infecções e doenças genético-me- Vitamina E 200 mg 3x/semana (dias alternados)
tabólicas, que necessitam tratamento clínico urgente; ou se é de-
corrente de causas extra-hepáticas, como a atresia de vias biliares 519
extra-hepáticas, que exige correção cirúrgica precoce. Ad-tilR - 25 gotas - 50000u/10000 VO Vit. D2 - 2 gotas 2x/dia
Quanto às causas infecciosas, a sífilis, a toxoplasmose, a rubéola EphynalR (Vit. E) - 1 cápsula: 400 mg
e a citomegalovirose podem cursar com colestase. Além disso, as
infecções bacterianas podem resultar em icterícia colestática, mere- Enfatizamos que a coloração das fezes e da urina faz parte da
cendo destaque a infecção do trato urinário por Escherichia coli. Nos avaliação do paciente ictérico, pois a detecção da hipocolia/aco-
pacientes com sepse, o comprometimento hepático pode ser ape- lia fecal pode contribuir para o diagnóstico precoce dos pacientes
nas um componente do envolvimento de múltiplos órgãos. Nestes, colestáticos. Por este motivo, alguns países já estão utilizando a
a antibioticoterapia adequada e o tratamento de suporte intensivo escala colorimétrica das fezes para seguimento dos recém-nasci-
propiciam a possibilidade de recuperação. De modo diferente, se dos e lactentes7 (Figura 2).
estiverem presentes aumento do INR (International Normalized Ratio)
e o lactente não estiver séptico, distúrbios que se apresentam com
insuficiência hepática fulminante no neonato devem ser considera-
dos, como a hemocromatose, a tirosinemia, a galactosemia, a fru-
tosemia e as citopatias mitocondriais. Apesar dos transtornos que
cursam com insuficiência hepática fulminante serem incomuns, um
alto grau de suspeição deve ser mantido, já que o início imediato do Figura 2 - Escala cromática das cores das fezes.
tratamento é a única esperança de sobrevivência. Estabelece as cores de fezes normais e as suspeitas em relação
Nos recém-nascidos, especialmente nos prematuros, que reque- à presença de colestase neonatal.
rem nutrição parenteral prolongada, alteração hepática que cursa
com colestase representa um importante problema. A etiologia ain- Devido à diminuição do fluxo biliar, substâncias excretadas
da não está totalmente elucidada, mas parece ser decorrente de: na bile, como ácidos biliares e colesterol, elevam-se na corrente
jejum prolongado com ausência do estimulo enteral; efeitos tóxicos sanguínea e devem ser dosadas na avaliação laboratorial dos pa-
dos componentes da nutrição parenteral ou falta de nutrientes es- cientes colestáticos.
pecíficos; e os relacionados à doença do paciente. Nestes casos,
deve-se, se possível, iniciar nutrição enteral (uso de triglicerídeos de Abordagem Terapêutica
cadeia média: 1ml/kg/dose 2 x/dia); rever as soluções parenterais
(diminuir proteína e lipídeos;usar cálcio na dose de 400mg/kg/dia, As complicações relacionadas à colestase crônica são graves e
utilizar nutrientes específicos como taurina e colina); na dieta, pres- independem da etiologia. A retenção dos constituintes da bile e a
crever fármacos, como o ácido ursodesoxicólico; e tratar a doença redução da concentração intraluminar (intestinal) dos sais biliares
de base. Se houver progressão da doença hepática, o transplante desencadeiam uma série de eventos, como a icterícia, o prurido, a
hepático pode ser considerado deficiência de vitaminas, a desnutrição e a progressão da hepatopa-
Quanto ao ácido ursodeoxicólico (ácido biliar hidrofílico que tia, como demonstrado na Figura 3.
substitui os ácidos biliares endógenos; o ácido ursodeoxicólico é o

Paulo R. Margotto
Assistência ao Recém-Nascido de Risco

520 Figura 3 – Complicações da colestase crônica.


Fonte: Carvalho e cl, 2007.8 (Modificado)

Dessa forma, a abordagem terapêutica da colestase envolve mesmo os casos tratados necessitam, em sua maioria, do trans-
um tratamento inespecífico, direcionado para as conseqüências plante hepático. A divulgação de conhecimentos que facilitem o
da colestase, de modo independente do que a esteja ocasionan- diagnostico da AVBEH é de extrema importância, pois o prognós-
do, bem como específico, conforme a doença em questão. tico é melhor se a criança for submetida ao tratamento cirúrgico
O tratamento inespecífico tem como objetivo atenuar as compli- (portoenterostomia) dentro dos primeiros dois meses de vida.
cações da colestase, como a má absorção. A avaliação nutricional A AVBEH é uma patologia que acomete recém-nascidos e lac-
do paciente, as recomendações dietéticas e a reposição de vita- tentes, e sua incidência é um pouco maior no Japão [1:9.600
minas revestem-se de grande importância, pois manter o paciente nascidos vivos (nv)] do que nos Estados Unidos (1:14.000 nv) e
em bom estado nutricional influencia no estado geral da criança, no Reino Unido (1:15.000 nv)11, com pequeno predomínio do
no índice de infecções e na evolução pós-transplante hepático. sexo feminino (1,2:1).
A avaliação nutricional deve incluir a medida de peso, estatura, A obstrução do lúmen dos ductos biliares pode acometer qual-
circunferência braquial e prega triciptal. Em vista da retenção hí- quer ponto da árvore biliar extra-hepática, sendo o sítio da obli-
drica e da presença de visceromegalias comumente observadas teração a base para a classificação dos tipos de atresia13, como
nos pacientes hepatopatas, a avaliação isolada do peso não é demonstrado na Tabela 2.
um bom indicador nutricional nesses pacientes.
O tratamento específico depende da entidade envolvida. Neste Tipo Prevalência Características
capítulo, abordaremos a atresia de vias biliares extra-hepáticas, Acomete o ducto biliar comum (colédoco), e
por constituir a principal indicação de transplante hepático na Tipo
~ 5% os ductos proximais são pérvios. A vesícula,
faixa etária pediátrica; as colestases intra-hepáticas familiares 1
em geral, contém bile.
e as doenças metabólicas. Estes dois últimos grupos, por terem
Acomete os ductos hepáticos, a vesícula
apresentado grandes avanços nas últimas décadas.
Tipo não contém bile e a transecção dos rema-
~ 3%
2 nescentes proximais demonstra dois lumens
Atresia De Vias Biliares Extra-Hepáticas biliares distintos.
Atresia envolvendo os ductos hepáticos
A AVBEH, definida como ausência ou obliteração dos ductos
Tipo direito e esquerdo. A obstrução se estende
biliares extra-hepáticos, constitui, ainda hoje, a principal causa > 90%
3 ao porta hepatis e não existem lumens pro-
de transplante hepático em crianças1. Apesar dos inúmeros es-
ximais para anastomose no porta hepatis.
forços mundiais, o único tratamento disponível continua sendo
o cirúrgico, a portoenterostomia de Kasai e suas modificações.
Crianças não tratadas vão a óbito na totalidade, por complica- Tabela 2 - Classificação da AVBEH, conforme o local da
ções relacionadas à hipertensão portal e à cirrose hepática, e obliteração dos ductos biliares extra-hepáticos.
Capitulo 14 Sindromes Ictéricas

Conforme a época em que ocorre a obliteração das vias bilia- A ecografia, avaliando as características da vesícula biliar,
res, a atresia pode se apresentar em duas formas: a embrionária apresentou sensibilidade de 91,9%, especificidade de 96,7%, va-
ou fetal e a clássica ou perinatal. A embrionária é responsável por lor preditivo positivo de 89,5%, valor preditivo negativo de 97,5%
20% dos casos14. Nesta, a árvore biliar extra-hepática pode não e acurácia de 95,6%, para o diagnóstico de atresia. Outro sinal
ter sido formada e a associação com más-formações estruturais ecográfico importante é a presença do cordão triangular. Ana-
são comumente observadas15. A anomalia mais freqüente é a lisando a presença desse cordão nos pacientes atrésicos, Tan
síndrome da poliesplenia, uma alteração da lateralidade obser- Kendrick e cl. observaram baixo percentual de falso-negativo e
vada em 8% a 12% dos portadores de atresia e caracterizada nenhum caso de falso-positivo para o diagnóstico de atresia, e
pela presença de poliesplenia ou asplenia associada a fígado Park e cl. demonstraram alta especificidade e valor preditivo po-
na linha média, interrupção da veia cava inferior, veia porta pré- sitivo de 95%. Apesar da alta especificidade, é importante enfati-
duodenal, situs inversus e/ou má rotação intestinal14. Outras zar que a ausência deste sinal não é suficiente para descartar o
más-formações congênitas podem ser observadas, como anor- diagnóstico de AVBEH.
malidades cardíacas, pâncreas anular, síndrome dos cílios imó- A cintilografia hepatobiliar com ácido iminodiacético marcado
veis, atresia duodenal, atresia esofágica, rins policísticos, fissura com tecnécio (Tc-99m DISIDA) tem valor limitado. Nos casos em
palatina e atresia jejunal16. que se detecta a presença do radiotraçador no intestino, pode-se
Na forma perinatal, os ductos biliares são pérvios ao nasci- afirmar que as vias biliares estão pérvias, o que exclui a possibilida-
mento, mas uma reação inflamatória e esclerosante, decorrente de de obstrução das vias biliares. Entretanto, a falha da excreção
de algum dano perinatal, resulta na obliteração da árvore biliar. do isótopo para o intestino, com eliminação urinária deste, apre-
É responsável por 80% dos casos de atresia e, em geral, não se senta 50% a 75% de especificidade para o diagnóstico de atresia,
associa às más-formações. a despeito da alta sensibilidade (95%). Isto porque as doenças co-
Os sinais clínicos que caracterizam a AVBEH são a icterícia, a aco- lestáticas parenquimatosas podem demonstrar o mesmo padrão.
lia fecal, a colúria e a hepatomegalia. Estes são observados tanto na A biópsia hepática tem papel de destaque no diagnóstico da
forma embrionária, quanto na perinatal. Entretanto, quanto à idade AVBEH. Os aspectos observados no estudo histopatológico são:
de início e os sintomas associados, essas duas formas podem se expansão dos espaços portas, por proliferação ductular e infiltrado
manifestar de diferentes maneiras, como descrito a seguir. inflamatório, plugs biliares nos dúctulos biliares, formação de pon-
As crianças portadoras da forma embrionária, em geral, apre- tes porto-porta, balonização e transformação gigantocitária dos
sentam icterícia de início precoce, nas primeiras três semanas de hepatócitos. O principal papel da histologia é, na verdade, definir
vida. Como a icterícia fisiológica pode ser continuada com a co- se o quadro é obstrutivo ou não. Para tal, a proliferação dos ductos
lestática é comum que o paciente não relate período anictérico. biliares e a presença de plugs nos dúctulos são os achados mais
Estes pacientes apresentam, usualmente, baixo peso ao nasci- específicos para o diagnóstico de atresia. Com esses parâmetros,
mento e a investigação adicional pode revelar a associação com a acurácia, a sensibilidade e a especificidade são de 90,5%, 100%,
outras más-formações. Na forma perinatal, os pacientes apre- e 75,9%, respectivamente. É importante ressaltar que quando a
sentam bom peso de nascimento, fezes coradas nos primeiros biópsia é realizada em idade precoce, o resultado pode ser falso- 521
dias de vida e aspecto saudável, apesar da icterícia, que se inicia, negativo, pois os achados característicos, especialmente a proli-
tipicamente, entre a segunda e a sexta semanas de vida. Nessa feração ductular difusa, podem se instalar apenas após nove se-
fase, as fezes, que estavam inicialmente pigmentadas, tornam-se manas de idade. Assim, a biópsia hepática deve ser repetida se
progressivamente acólicas, e a urina escura (colúria)16. Deve-se o paciente não apresentar melhora clínica, até que o diagnóstico
enfatizar que a icterícia pode ser leve, apesar da obstrução das seja estabelecido ou a possibilidade de atresia descartada.
vias biliares. Principalmente em pacientes com pele escura, a al- O diagnóstico definitivo consiste na demonstração da obstru-
teração da cor da pele pode não ser muito evidente, podendo ser ção fibrosante da árvore biliar extra-hepática durante laparotomia
observadas apenas esclerótidas discretamente ictéricas. Assim, exploradora com colangiografia, pois nenhuma das modalidades
como no início do quadro a criança encontra-se, habitualmente, diagnósticas disponíveis apresenta sensibilidade e especificida-
em bom estado geral e com peso adequado, muitas vezes a icte- de de 100% para o diagnóstico da atresia.
rícia leve é negligenciada e o diagnóstico feito tardiamente. Em resumo, se a biópsia é sugestiva de obstrução, está indi-
Nas fases mais adiantadas da doença, pode-se observar esple- cada a laparotomia com colangiografia operatória, pois apenas
nomegalia, circulação colateral, ascite, hemorragia digestiva alta esse procedimento pode confirmar ou afastar, definitivamente, a
por rotura de varizes esofagogástricas e outros sinais e sintomas possibilidade de atresia naquele momento. Na realidade, a defi-
decorrentes da hipertensão porta e da cirrose hepática12. nição do diagnóstico continua sendo um desafio, diante do qual a
Do ponto de vista laboratorial, os pacientes apresentam ele- análise de todas as informações permite maior índice de acerto.
vação da bilirrubina total, com predomínio da bilirrubina direta Quanto ao tratamento, ainda hoje, a única alternativa continua
ou conjugada. Todavia, de modo interessante, a BT é raramente sendo a portoenterostomia, introduzida por Kasai e Suzuki, em
maior que 12 mg%, podendo ser tão baixa como 5 mg% a 8 mg%; 1959. Nesse procedimento cirúrgico, a drenagem biliar é estabe-
e a BD é usualmente menor que 8 mg%, a despeito da obstru- lecida por meio da anastomose de um conduto intestinal à super-
ção completa das vias biliares. Quanto às enzimas hepáticas, em fície do hilo hepático (porta-hepatis), tipo Y-de-Roux, com alça em
geral, as canaliculares, gamaglutamiltransferase (GGT) e fosfata- torno de 40 cm2. Para se obter fluxo biliar satisfatório, o impor-
se alcalina (FA), encontram-se mais elevadas que as tissulares, tante, segundo Schweizer e cl., é que a dissecção seja realizada
alanina aminotransferase (ALT) e aspartato aminotransferase além da bifurcação dos ramos da veia porta.
(AST). Merece destaque especial a GGT, pois a fosfatase alcalina Quanto ao prognóstico, se a portoenterostomia não for reali-
também tem origem óssea. A elevação dos ácidos biliares é uni- zada, ocorre implacavelmente a progressão da fibrose, com in-
versal nesses pacientes. A função hepática, avaliada pelo nível suficiência hepática e óbito, com 1 ano de idade em 50% a 80%
de albumina e dos fatores da coagulação, encontra-se dentro da das crianças, e até os 3 anos em 90% a 100% dos pacientes. De
normalidade, nas fases iniciais da doença, podendo-se detec- modo diferente, os pacientes submetidos ao tratamento cirúrgico
tar hipoalbuminemia e coagulopatia nos pacientes cirróticos. É podem apresentar, basicamente, três diferentes evoluções:
importante lembrar que o INR pode estar alterado apenas pela
deficiência de vitamina K.

Paulo R. Margotto
Assistência ao Recém-Nascido de Risco

• Resposta satisfatória, na qual o paciente tem boa evo- dos fármacos imunossupressores, o transplante hepático tornou-
lução clínica, embora possa apresentar discretas altera- se um tratamento efetivo na faixa etária pediátrica.
ções das enzimas hepáticas. Novas perspectivas relacionadas ao tratamento se baseiam es-
• Resposta parcial, na qual o paciente apresenta drenagem bi- pecialmente no papel da disfunção imune na obstrução das vias
liar satisfatória, mas evolui com fibrose hepática progressiva. biliares, o que ainda hoje não é completamente entendido, apesar
• Falha terapêutica, situação em que a criança apresenta de constituir o foco de várias pesquisas32. Investigações a respei-
evolução igual ou mesmo pior à dos pacientes não tratados. to do interferon gama, das células CD8+, bem como das células T
regulatórias, que inibem a resposta imunomediada pelas células
Os fatores que influenciam o prognóstico são: a idade do pa- T efetoras (células CD4+CD25+, atuam de modo dependente do
ciente no momento da cirurgia; a extensão da fibrose hepática contato; células TH3, agem por meio da liberação do TGF-β; e as
nesse momento; o grau de destruição dos ductos biliares intra- células TR1, atuam pela produção da IL-10) são necessárias, tanto
hepáticos; o número de episódios de colangite ascendente; a ex- no modelo animal quanto em humanos, para avaliar se esses as-
periência do cirurgião; o local da obliteração das vias biliares; e a pectos seriam potenciais alvos de intervenção terapêutica.
forma da atresia, se embrionária ou fetal.
Um ponto fundamental é a idade do paciente, pois a drenagem Erros Inatos Do Metabolismo
biliar satisfatória é observada em até 80% daqueles submetidos
à portoenterostomia precocemente, enquanto essa taxa situa-se Galactosemia
entre 10% a 20% nos lactentes operados com quatro meses de
idade. Quando o paciente chega tardiamente, com mais de três Existem alterações distintas no metabolismo da galactose,
meses de idade, a realização da cirurgia de Kasai se justifica, conseqüentes à deficiência de diferentes enzimas envolvidas no
pois mesmo que o percentual de cura seja menor, existe a possi- metabolismo da galactose e classificadas como: galactosemia
bilidade de adiar a necessidade do transplante hepático. Entre- tipo 1 (deficiência de galactose-1-fosfato uridil transferase); tipo
tanto, esses pacientes precisam ser selecionados. A avaliação 2 (deificiência de galactoquinase); tipo 3 (uridil difosfo galactose-
pré-operatória deve identificar as crianças com doença hepática 4-epimerase); e a Duarte. As manifestações clínicas são diferen-
avançada, nas quais a cirurgia de Kasai não teria bons resulta- tes para cada uma delas. Neste capítulo, abordaremos apenas a
dos e o adiamento do transplante seria prejudicial. forma clássica ocasionada pela deficiência de galactose-1-fosfa-
Quanto ao local da obstrução da árvore biliar, os pacientes com to-UPD-transferase, que catalisa a segunda etapa na conversão
ductos biliares proximais pérvios e obliteração distal (atresia tipo hepática da galactose em glicose (Figura 4).
1) têm melhor prognóstico do que aqueles que apresentam atre-
sia proximal, estendendo-se para o porta hepatis.
Os portadores das formas embrionárias parecem apresentar
pior prognóstico quando comparados àqueles da forma perina-
522 tal. A evolução insatisfatória das crianças que são submetidas
ao Kasai com idade inferior a 30 dias reflete, provavelmente, a
diferente patogênese da forma embrionária ou fetal.
Quanto aos fatores preditivos, o nível de bilirrubina no pós-ope-
ratório é excelente preditor de sobrevida em longo prazo. Níveis
menores que 1,0 mg%, após três meses da cirurgia, associam-se
a bom prognóstico, sendo pouco provável a necessidade futura de
transplante. Esta observação tem um valor prático significativo, pois
tem o potencial de identificar pacientes que necessitam maior apoio
medicamentoso e nutricional durante o período de progressão da
doença. Entretanto, enfatizamos que o seguimento dos pacientes
deve ser rigoroso, pois pode haver progressão da lesão hepática e
instalação da cirrose, a despeito da drenagem biliar satisfatória.
Apenas 11% dos adolescentes e adultos jovens portadores de Figura 4 - Sítios de deficiências enzimáticas no metabolismo dos car-
atresia e submetidos à portoenterostomia não apresentam evidên- boidratos. Síntese de glicogênio: (1) glicose-6-fosfatase, (2) glicogênio
cias de doença crônica hepática, sendo considerados “curados”. Do sintetase, (3) amilo-1,6-glicosidase (ramificadora), (4) 1,4-glican-6-glico-
total de crianças portadoras de AVBEH, 70% a 80% necessitam do siltransferase (desramificadora), (5) fosforilase, (6) fosforilase quinase.
transplante hepático durante as primeiras duas décadas de vida, o Metabolismo da galactose: (7) galactoquinase. (8) galactose-1-fosfato-
que torna essa entidade a principal indicação do transplante na fai- UDP-transferase. Metabolismo da frutose: (9) frutoquinase, (10) frutose-
xa etária pediátrica, sendo responsável por 50% dos transplantes re- 1-fosfato aldolase, (11) frutose-1,6-difosfatase.
alizados em crianças. Nenhuma outra patologia, nem na idade adul- Fonte: Bezerra, 2003.
ta, é responsável por essa monta de indicação para o transplante.
É importante mencionar que o momento do transplante e o Trata-se de um erro inato do metabolismo dos hidratos de carbono,
estado nutricional do paciente são fatores que influenciam na de transmissão autossômica recessiva, muito grave, que põe em risco
evolução pós-transplante. Não se deve esperar que o paciente a vida do paciente, pois apresenta efeitos tóxicos, agudos e crônicos,
apresente desnutrição e insuficiência hepática terminal para que no fígado e em outros órgãos. As manifestações da doença são devi-
este seja indicado. Os progressos relacionados ao transplante e das ao acúmulo da galactose-1-fosfato (Gal-1-P) e do galactitol.
o encaminhamento adequado dos pacientes proporcionaram um Trata-se de um erro inato do metabolismo dos hidratos de car-
aumento substancial na taxa de sobrevida. Atualmente, a sobre- bono, de transmissão autossômica recessiva, muito grave, que
vida em longo prazo das crianças transplantadas portadoras de põe em risco a vida do paciente, pois apresenta efeitos tóxicos,
atresia atinge 80% a 90%. Se, por um lado, não houve muita evo- agudos e crônicos, no fígado e em outros órgãos. As manifesta-
lução nas possibilidades terapêuticas direcionadas à atresia, por ções da doença são devidas ao acúmulo da galactose-1-fosfato
outro, em vista das melhores técnicas cirúrgicas e da evolução (Gal-1-P) e do galactitol.
Capitulo 14 Sindromes Ictéricas

Nessa situação, os sinais e sintomas iniciam-se nos primeiros revela a presença de frutosúria. O diagnóstico é confirmado pela
dias de vida após a ingestão de leite materno ou fórmula infantil determinação da atividade da frutose-1-fosfato-aldolase em ma-
com lactose; podendo-se observar sinais de hipoglicemia, vômi- terial da biópsia hepática ou intestino delgado, pela pesquisa da
tos, letargia, diarréia, icterícia, hepatomegalia, sinais de insufici- mutação ou pelo teste intravenoso de tolerância à frutose. Este
ência hepática aguda grave, tubulopatia renal, catarata, aumento último, se possível, deve ser evitado. Os achados laboratoriais, re-
da pressão intracraniana, edema cerebral e hemólise. A criança versíveis com uma rigorosa exclusão da frutose da dieta, incluem
pode apresentar-se cirrótica, já ao nascimento. Além disso, alte- hipoglicemia (após ingestão de frutose), hipofosfatemia, eleva-
rações na capacidade bactericida e fagocítica dos neutrófilos são ção das aminotransferases séricas, hiperbilirrubinemia, hiperuri-
comuns, sendo a sepse por E. coli muito freqüente. cemia, aumento da excreção dos uratos, acidose hiperclorêmica,
O retardo mental, leve a moderado, é comum; e nas meninas ex- hiperlactatemia, hipocalemia, hipermagnesemia, anemia e trom-
postas continuamente à excessiva quantidade de galactose, pode bocitopenia. Os altos níveis de F-1-P encontrados nos pacientes
haver lesão permanente dos ovários, causando o hipogonadismo hi- com deficiência de aldolase inibem tanto a gliconeogênese como
pergonadotrófico do adulto. É curioso observar que a função gonadal a glicogenólise, contribuindo, dessa forma, para a hipoglicemia.
masculina não é alterada nos pacientes portadores de galactosemia. A histologia hepática revela presença de esteatose associada à fi-
Do ponto de vista laboratorial, observa-se aumento da galacto- brose portal não inflamatória e acentuada formação pseudo-acinar,
se sérica e urinária; presença de substâncias redutoras na urina que ocasiona a ruptura dos cordões de hepatócitos. Cilindros bilia-
devido à presença de galactose (negativa pelo teste da glicose res e fibrose portal e lobular podem estar presentes. A cirrose se
oxidase); sinais de disfunção hepática, como hipoalbuminemia e desenvolve caso não seja instituída a dieta com exclusão de frutose.
coagulopatia; elevação sérica das bilirrubinas e das aminotrans- O tratamento consiste em dieta de exclusão de frutose, sacaro-
ferases; acidose metabólica hiperclorêmica e síndrome de Fan- se e sorbitol, pois este último é metabolizado em frutose.
coni associada. Assim, a pesquisa de substâncias redutoras na
urina é positiva e a cromatografia de glicídios demonstra excre- Tirosinemia Hereditária Tipo 1
ção aumentada de galactose. O diagnóstico é confirmado apenas
pela dosagem da atividade da enzima galactose-1-fosfato-UPD- A tirosinemia hepatorrenal ou tirosinemia hereditária tipo 1
transferase nos eritrócitos, pois a presença de galactose na urina (TH1) é um distúrbio grave do metabolismo da tirosina, de heran-
pode relacionar-se a qualquer doença hepática grave. ça autossômica recessiva, ocasionada pela deficiência da fumari-
A histopatologia hepática demonstra a presença de colestase, va- lacetoacetato hidrolase (FAH), que impede o metabolismo da tiro-
cuolização gordurosa difusa e alterações pseudoductulares, com pou- sina e ocasiona o acúmulo de metabólicos tóxicos (Figura 5) 35.
ca inflamação nos hepatócitos. Nos estágios avançados da doença, Destes, o fumarilacetoacetato e seus metabólitos secundários,
pode haver nódulos de regeneração e a cirrose se torna evidente. succinilacetoacetato e succinilacetona, são compostos hepatotó-
O tratamento baseia-se na exclusão definitiva da galactose da xicos e ocasionam doença hepática grave, enquanto o acúmulo
dieta, o que pode resultar na reversão de condições que amea- do maleilacetoacetato ocasiona lesão tubular e pode estar envol-
çam a vida do paciente, desde que a dieta seja instituída preco- vido na lesão renal observada nos pacientes com TH1. Outro pro- 523
cemente. Caso contrário, o paciente pode evoluir com seqüelas duto secundário tóxico que se acumula, denominado acetoaceto-
permanentes, como complicações neurológicas, hormonais ou na, inibe a enzima porfirina sintética ácido delta-aminolevulínico
até mesmo óbito por insuficiência hepática. (δ-ALA) dehidratase, que é responsável pela conversão de δ-ALA
Apesar da dieta adequada, podem ser observados deficiência em porfobilinogênio. Esta inibição secundária leva ao aumento
ovariana e déficit intelectual, pela exposição intra-útero à galactose. dos níveis de δ-ALA, que é neurotóxica e provoca crises neurológi-
O diagnóstico pré-natal é possível, sendo recomendada a exclusão cas da tirosinemia hepatorrenal.
da lactose da dieta materna durante a gestação. O início precoce da
dieta de restrição parece correlacionar-se com uma evolução favo-
rável, já que essa tem o potencial de prevenir o acúmulo de Gal-1-P
no feto em desenvolvimento. A catarata regride, mas em geral não
desaparece completamente com a dieta livre em galactose. Pode
persistir uma fibrose portal ou perilobular residual, mas a cirrose é
um evento raro nos casos tratados precocemente.

Frutosemia

Atualmente, três distúrbios do metabolismo da frutose já são bem


conhecidos: a deficiência da frutose-1-fosfato aldolase (intolerância
hereditária à frutose), a diminuição da atividade da frutoquinase (fru-
tosúria essencial) e a deficiência da frutose-1,6-difosfatase (Figura 4) .
A deficiência da frutose-1-fosfato aldolase, transmitida por
caráter autossômico recessivo, cursa com acúmulo de frutose-1-
fosfato no fígado, rim e epitélio de intestino delgado.
O início da doença ocorre quando alimentos contendo sacarose/
frutose são introduzidos na dieta. As manifestações clínicas da do-
ença são náuseas, vômitos (recorrentes e persistentes), diarréia,
icterícia, hepatomegalia, hipoglicemia, hipodesenvolvimento, tubu-
lopatia renal, anemia, trombocitopenia, insuficiência hepatocelular
e cirrose hepática. É muito importante a relação cronológica obser-
vada entre a introdução da frutose na dieta e o início das manifesta-
ções clínicas. A aversão aos alimentos doces também é freqüente.
Do ponto de vista laboratorial, observa-se pesquisa de subs-
tâncias redutoras na urina positiva, e a cromatografia de glicídios

Paulo R. Margotto
Assistência ao Recém-Nascido de Risco

O tratamento consiste em orientações dietéticas, uso de dro-


gas e transplante hepático. A dieta deve ser restrita em tirosina e
fenilalanina. A dieta é especialmente útil na diminuição da doen-
ça tubular renal, mas tem pouco efeito na prevenção da doença
hepática e neurológica. Quanto à farmacoterapia, recomenda-se
o uso do 2-(2-nitro-4-trifluorometilbenzoil)-1,3-ciclohexanodione
(NTBC), produto que bloqueia o metabolismo da tirosina impe-
dindo a formação de seu metabólico tóxico (succinilacetona). A
administração desse composto melhora a função hepática e im-
pede a ocorrência das crises neurológicas.
Apesar dos grandes avanços no tratamento de pacientes com
tirosinemia, obtidos graças ao desenvolvimento do NTBC, o trans-
plante de fígado continua sendo a única terapia definitiva para
esta enfermidade. A doença hepática ligada à tirosina e a disfun-
ção renal são eliminadas após o transplante.

Colestase Intra-Hepática Hereditária


Figura 5 - Metabólicos intermediários da via de degradação da
fenilalanina-tirosina. As enzimas representadas por números são: (1) As diferentes causas genéticas da colestase intra-hepática
fenilalanina hidroxilase, (2) tirosina aminotransferase, (3) p-hidroxifenil- representam um grupo heterogêneo de doenças, por definição
piruvato dioxigenase, (4) homogentisato oxidase, (5) maleilacetoacetato crônicas, que em geral se manifestam na infância com colesta-
isomerase, e (6) fumarilacetoacetato hidrolase. Na ausência de fumari- se neonatal, apresentando características clínicas semelhantes,
lacetoacetato hidrolase (tirosinemia hereditária tipo 1), fumarilacetoa- mas com patogênese e implicações prognósticas diferentes. Em
cetato é metabolizado por via acessória do metabolismo, ocasionando relação à patogênese, podem ser decorrentes de alterações na
a produção de succinilacetoacetato e succinilacetona. O acúmulo de embriogênese, no transporte canalicular (ácido biliar ou fosfolipí-
succinilacetona induz um bloqueio secundário na biossíntese do heme deo) ou na biosíntese dos ácidos biliares. Estas entidades isola-
por meio da inibição da ácido δ-aminolevulínico dehidratase (7). O NTBC damente são raras, mas em conjunto são comuns. Neste capítulo
bloqueia a via de degradação da tirosina pela inibição da p-hidroxifenilpi- abordaremos a síndrome de Alagille, a deficiência de alfa-1-anti-
ruvato dioxigenase (3), impedindo, dessa forma, o acúmulo de precurso- tripsina, as colestases intra-hepáticas familiares progressivas e
res metabólicos tóxicos. os erros inatos do metabolismo dos ácidos biliares.
Fonte: Bezerra, 2003.35
Síndrome De Alagille
524 Sugerem o diagnóstico da doença a presença de icterícia, co- (Defeito Do Jagged 1, Ductopenia Sindrômica)
agulopatia, insuficiência hepática, hepatomegalia, raquitismo,
vômitos, diarréia, hipodesenvolvimento, anemia, hipoglicemia, A síndrome de Alagille tem padrão de herança autossômica
edema, ascite e sintomas urinários. As manifestações da TH1 dominante, com penetrância reduzida e expressividade variável,
podem ser de forma aguda ou crônica. sendo decorrente de mutações do gene JAGGED-1, localizado no
A forma aguda tem início geralmente no primeiro mês de vida braço curto do cromossomo 20. Curiosamente, parece não haver
e se manifesta com uma disfunção progressiva do fígado e pela correlação entre o fenótipo e o genótipo hepático, podendo haver
síndrome renal de Fanconi. Os sinais clínicos e os sintomas in- variabilidade fenotípica entre os pacientes portadores da mes-
cluem retardo no ganho pôndero-estatural, anorexia, hepatoes- ma mutação. Em geral observa-se icterícia colestática de início
plenomegalia, ascite e diátese hemorrágica. O sangramento é precoce, acompanhada de hipocolia ou acolia fecal transitória,
freqüentemente desproporcional à magnitude da disfunção he- baixo peso ao nascer, déficit de crescimento e intensa hipercoles-
pática. A icterícia é pouco freqüente na fase inicial da doença terolemia. O prurido e os xantomas são proeminentes nas fases
e, quando presente, o seu grau é variável. Se não tratados, os mais avançadas da doença. Os pacientes apresentam diferentes
lactentes geralmente falecem durante o primeiro ano de vida. fenótipos, podendo apresentar-se com diferentes combinações
A forma crônica tem início mais gradual e os achados clínicos dos achados descritos a seguir:
são de menor gravidade. As principais manifestações são o raqui-
tismo resistente à vitamina D e as crises neurológicas, as quais • Colestase crônica, conseqüente à rarefação dos ductos
são muito mais freqüentes nesta forma do que na forma aguda. biliares interlobulares (ductopenia);
Podemos encontrar ainda dor abdominal intermitente, baixo ganho • Cardiopatia congênita (especialmente estenose pulmo-
pôndero-estatural, vômitos, diarréia e, eventualmente, cirrose. nar periférica);
Uma complicação importante da tirosinemia é o desenvolvi- • Alterações vertebrais, como vértebras em borboleta, au-
mento do carcinoma hepatocelular que foi relatado em até 37% mento da distância interpeduncular e outras;
dos pacientes, com mais de dois anos de idade, atingindo princi- • Embriotóxon posterior, pupilas ectópicas e outras anor-
palmente os portadores da forma crônica da doença. malidades oculares;
O diagnóstico de tirosinemia é sugerido pela presença de ní- • Fácies características (fronte alargada, queixo pontiagudo e
veis séricos aumentados de tirosina e metionina, elevação im- proeminente, aparência triangular da face, hipertelorismo).
portante da alfafetoproteína sérica e coagulopatia; sendo confir-
mado pela presença de succinilacetona e succinilacetoacetato O diagnóstico clínico baseia-se no achado de pelo menos três
na urina. O déficit enzimático pode ser detectado em fibroblastos. das características descritas, mas cardiopatias mais graves
Na histologia hepática, inicialmente, observa-se micronódulos, como a tetralogia Fallot, alterações renais, pancreáticas e cere-
que progridem para cirrose macronodular. Há deposição de ferro brovasculares podem ser observadas. As alterações hepáticas e
e alterações gordurosas com formações pseudoglandulares dos cardíacas são, na maioria das vezes, responsáveis pela morbi-
hepatócitos e ocasional transformação gigantocelular. mortalidade dos pacientes. Complicações decorrentes da coles-
Capitulo 14 Sindromes Ictéricas

tase como deficiência de vitaminas lipossolúveis e doença óssea Colestase Intra-Hepática Familiar Progressiva
também podem estar presentes.
O prognóstico é variável. A progressão para cirrose ocorre em As patologias classificadas como colestase intra-hepática fa-
10% a 20% dos casos. Nestes, o tratamento se dirige às complica- miliar progressiva envolvem um grupo de doenças hereditárias,
ções da hipertensão porta, devendo ser avaliada a necessidade de autossômicas recessivas, caracterizadas por doença hepática
transplante hepático. Nos demais pacientes, as estratégias do ma- colestática, sem anormalidades estruturais hepatobiliares. Os
nejo terapêutico incluem a prevenção e o tratamento das compli- mecanismos fisiopatológicos dessas patologias envolvem altera-
cações da colestase crônica e das manifestações extra-hepáticas. ções na função de excreção hepática, especificamente, na gera-
ção do fluxo biliar.
Deficiência De Alfa-1-Antitripsina Atualmente, três entidades são classificadas como colestase
intra-hepática familiar progressiva: PFIC 1, PFIC 2 e PFIC 3. A des-
A alfa-1-antitripsina (A1AT) é uma glicoproteína sintetizada, peito de algumas diferenças clínicas, laboratoriais e histológicas,
principalmente, pelos hepatócitos e, em menor grau, pelos mo- elas são caracterizadas por:
nócitos e macrófagos. Sua principal função é a inibição das pro-
teases a nível tissular, em particular a elastase liberada pelos • Colestase hepatocelular crônica;
neutrófilos durante o processo inflamatório. A sua deficiência • Ausência de distúrbios anatômicos identificáveis;
manifesta-se, em geral, com doença hepática em crianças e enfi- • Padrão de ocorrência consistente com herança autossô-
sema pulmonar de início precoce em adultos. mica recessiva;
Mais de 90 variantes genéticas da A1AT já foram descritas.
Esse polimorfismo é o resultado de diversas e múltiplas muta- Combinação característica de aspectos clínicos, bioquímicos e
ções do gene, sendo as variantes estruturais classificadas de histológicos que serão discutidos a seguir.
acordo com o fenótipo do inibidor de proteases (Pi) e definidas
por focalização isoelétrica no plasma. A variante alélica normal, PFIC 1 (deficiência de FIC1)
denominada M (M1, M2 e M3), associa-se à concentração sérica A colestase intra-hepática familiar progressiva tipo 1 é uma
e atividade funcional normais da A1AT. De modo contrário, nas doença autossômica recessiva complexa, com envolvimento de
variantes nulas (α-1-AT null) não se detecta a presença de A1AT múltiplos órgãos, decorrente da mutação do gene ATP8B1 (FIC1),
no soro. Das variantes que cursam com deficiência de A1AT, a localizado no cromossoma 18q21-22, que codifica um membro
mais comum associa-se ao fenótipo PiZZ. Essa forma (Z) é de- da família das ATPases tipo P envolvido no transporte de amino-
vida a uma mutação pontual no exon V do gene, que faz com fosfolipídeos dependente de ATP.
que uma lisina substitua um ácido glutâmico na posição 342 da O FIC1 é expresso predominantemente no intestino e nos colan-
seqüência dos aminoácidos da forma M. Relaciona-se à falha na giócitos. Como os pacientes portadores de PFIC1 apresentam bai-
excreção da A1AT, com conseqüente retenção e acúmulo dessa xa concentração de ácidos biliares na bile, é provável que o FIC1
proteína no retículo endoplasmático dos hepatócitos. Na variante esteja envolvido, mesmo que indiretamente, na secreção biliar dos 525
S, as proteínas sintetizadas são degradadas e desta forma, não ácidos biliares. Especula-se que estes pacientes apresentam au-
se acumulam no interior das células. mento da expressão dos transportadores de ácidos biliares (api-
Apenas 20 a 30% dos pacientes PiZZ desenvolvem hepatopa- cal sodium-dependent bile acid transporter - ASBT) no íleo, e baixa
tias, sendo o quadro clínico de evolução e gravidade variável. A expressão do ileal bile acid binding protein (IBABP). Estes aspectos
criança pode apresentar icterícia colestática de início precoce, são interessantes, apesar de ainda não comprovados, pois a fisio-
que em geral desaparece nos meses seguintes. Alguns pacientes patologia da PFIC1 parece estar relacionada com o aumento da
apresentam evolução para cirrose hepática, em geral insidiosa. absorção ileal dos ácidos biliares, conseqüente ao aumento da ex-
Entretanto, quadros caracterizados pela persistência de icterícia pressão intestinal do ASBT e à diminuição da secreção canalicular
e evolução rápida e progressiva para a cirrose e insuficiência he- destes. Esta última decorrente, provavelmente, da expressão dimi-
pática também são relatados. nuída do BSEP (Figura 1) e de uma alteração na via FXR (farnesoid
Em relação aos exames laboratoriais, níveis baixos de alfa-1- X receptor), importante na homeostase dos ácidos biliares.
globulina na eletroforese de proteína convencional são sugestivos A PFIC1, tradicionalmente conhecida como “doença de Byler”,
da doença, pois a A1AT representa, em média, 90% dessa fração. pois foi inicialmente descrita nos membros de uma família Amish
Além disso, a dosagem específica da alfa-1-antitripsina sérica, americana, descendentes de Jacob Byler, caracteriza-se do ponto
em geral, encontra-se diminuída (< 100 mg%). Vale lembrar, no de vista clínico pela presença de icterícia, no período neonatal ou
entanto, que os níveis séricos da alfa-1-antitripsina aumentam mais tardiamente (lactentes), hipocolia ou acolia fecal, hepato-
em estados inflamatórios e, sendo assim, níveis normais da mes- megalia, esplenomegalia e prurido. Estes sinais e sintomas po-
ma não excluem a possibilidade do diagnóstico. A determinação dem estar associados à diarréia e desnutrição, pois o gene FIC1
do fenótipo (fenotipagem) é o exame que estabelece o diagnósti- apresenta expressão em vários tecidos, incluindo fígado, intes-
co definitivo da deficiência de alfa-1-antitripsina. tino, pâncreas e rim. Assim podemos dizer que se trata de uma
Do ponto de vista histológico, os achados podem ser similares doença com envolvimento de múltiplos sistemas.
aos da AVBEH, com fibrose portal e proliferação ductular, ou com Do ponto de vista laboratorial, sugerem o diagnóstico dessa
rarefação dos ductos biliares intra-hepáticos. Após doze semanas entidade a GGT dentro da normalidade, apesar do quadro coles-
de vida, podem ser observadas inclusões globulares citoplasmá- tático, com hiperbilirrubinemia moderada, elevação das concen-
ticas PAS-positivas e diastase-resistentes, especialmente nos he- trações das aminotransferases e concentrações aumentadas
patócitos periportais. Os depósitos de alfa-1-antitripsina nos he- dos ácidos biliares séricos.
patócitos podem ser detectados por meio da imuno-histoquímica. No estudo histológico do fígado, em geral são observadas alte-
A terapia de reposição pode, eventualmente, ser muito eficaz rações discretas como leve colestase canalicular e balonização de
para evitar a progressão da doença pulmonar, mas ela não está hepatócitos. A fibrose portal é leve ou ausente nos pacientes mais
indicada para prevenir ou retardar a evolução da doença hepá- jovens, sendo mais acentuada, com formação de pontes, nos pa-
tica. Atualmente, o transplante hepático é a melhor opção de cientes mais velhos. A microscopia eletrônica demonstra presença
tratamento nos casos de cirrose, devendo ser indicado antes da de material granular e amorfo na luz canalicular dos canalículos,
instalação da insuficiência hepática. que se encontram dilatados, achado característico da PFIC13.

Paulo R. Margotto
Assistência ao Recém-Nascido de Risco

Em relação ao prognóstico, esta é uma doença que evolui progres- ácido biliar. As mutações do MDR3 alteram o transporte de fosfoli-
sivamente para cirrose e falência hepática na infância ou no começo pídeos para os canalículos, induzindo a formação de bile com teor
da adolescência. O carcinoma hepatocelular pode se desenvolver. habitual de ácidos biliar e baixa concentração de fosfolipídeo. Des-
O tratamento clínico baseia-se no suporte nutricional, na re- sa forma, a quantidade proporcionalmente alta de ácido biliar, na
posição de vitaminas e nas medidas direcionadas ao prurido. ausência de fosfolipídeo na bile, confere efeito tóxico a esta, o que
Os progressos relacionados ao tratamento do prurido não são justifica os achados laboratoriais e histológicos descritos a seguir.
evidentes na prática clínica, apesar dos avanços ocorridos nos O curso clínico é semelhante ao dos pacientes portadores de de-
conhecimentos do transporte biliar. As medicações disponíveis ficiência de BSEP (PFIC2). Quanto aos achados laboratoriais, apre-
mais utilizadas atualmente são o ácido ursodeoxicólico e a rifam- sentam elevação da bilirrubina conjugada e das aminotranferases,
picina, mas estas apresentam sucesso limitado, sendo comum a como os portadores de PFIC 1 e 2. Entretanto, de modo diferente
presença de prurido refratário ao tratamento clínico nos pacien- destes pacientes, os portadores de PFIC3 apresentam elevação da
tes portadores de PFIC1. Nestes casos, a derivação biliar externa concentração sérica de GGT. O aspecto característico da histologia
ou a exclusão do íleo terminal são opções terapêuticas que po- hepática é a proliferação ductal, associada à infiltrado inflamató-
dem melhorar a qualidade de vida destes pacientes, lembrando rio, fibrose portal e periportal com progressão para cirrose.
que se deve proceder a reposição das vitaminas B6 e B12 nos Vale mencionar que outras manifestações descritas são: co-
pacientes submetidos à exclusão do íleo terminal. lelitíase (com baixo teor de fosfolipídeo), colestase induzida por
Como a expressão do FIC1 é maior no intestino do que no fíga- drogas; colestase da gravidez (pacientes heteroxigotos).
do, alterações na absorção intestinal podem estar envolvidas na O tratamento é similar ao descrito para os portadores de PFIC2.
patogênese desta doença e podem explicar os resultados obtidos
na derivação biliar externa, na qual a vesícula é externalizada por Erros Inatos Do Metabolismo Dos Ácidos Biliares
de um estoma feito com alça de intestino delgado. Nesta condi-
ção, postula-se que haveria diminuição da reabsorção dos ácidos As alterações da síntese dos ácidos biliares são classifica-
biliares, com conseqüente redução do pool dos ácidos biliares das em primárias e secundárias. As primárias são decorrentes
intra-hepáticos, o que preveniria algumas das conseqüências da de deficiências congênitas das enzimas envolvidas na síntese
colestase, como o prurido. Os resultados desta técnica são me- dos ácidos cólico e quenodeoxicólico, como a deficiência da
lhores se a cirurgia é realizada antes da progressão da fibrose e 3β-hidroxi-c27-esteróide oxidoreductase (3βHSD) e a deficiência
desenvolvimento da cirrose hepática. da ∆4-3-oxosteróide 5β-redutase (3O5βR). Em relação às secun-
dárias, podemos citar as desordens peroxisomais como a síndro-
PFIC 2 (deficiência de BSEP) me de Zellweger e a síndrome de Smith-Lemli-Opitz, ocasionada
Nos pacientes portadores de PFIC 2, foram identificadas mu- pela deficiência da D7-desaturase.
tações no gene ABCB11, localizado no cromossomo 2q24, que Os erros inatos da biosíntese dos ácidos biliares foram recen-
codifica a bomba de excreção dos sais biliares (BSEP)3. A BSEP é temente identificados e relacionados à patogênese de algumas
526 expressa preferencialmente no fígado, localiza-se na membrana formas de colestase intra-hepática familiar. O papel exato dos
canalicular e funciona como um transportador de ácidos biliares ácidos biliares em iniciar e perpetuar a lesão hepática ainda não
dependente de ATP (Figura 1). A conseqüência da mutação da foi estabelecido, mas sabe-se que uma falha em qualquer um dos
BSEP é a diminuição do transporte de ácidos biliares dependente 14 passos enzimáticos envolvidos na síntese dos principais áci-
da BSEP, o acúmulo dos ácidos biliares no interior dos hepatóci- dos biliares primários (ácido cólico e quenodeoxicólico), a partir
tos e a lesão hepatocelular progressiva. do colesterol, pelo fígado, ocasiona bloqueio da produção destes e
Do ponto de vista clínico observa-se: prurido, icterícia, hipode- acúmulo dos metabólitos intermediários. Dessa forma, a colestase
senvolvimento, hepatomegalia e esplenomegalia. Assim, estes pode ser decorrente da diminuição do fluxo biliar conseqüente à
pacientes se assemelham aos portadores de PFIC1, com exceção diminuição dos ácidos biliares primários e da provável hepatoto-
dos sintomas extra-hepáticos, apresentados pelos portadores de xicidade dos metabólitos intermediários (ácidos biliares atípicos) .
PFIC1 e não apresentados pelos portadores de PFIC2. Essa entidade é observada em pacientes com características
Do ponto de vista laboratorial, como os pacientes portadores de semelhantes aos apresentados pelos portadores de colestase in-
PFIC1, apesar do quadro colestático, a GGT encontra-se normal. tra-hepática familiar progressiva, mas com uma importante dife-
A característica histológica que potencialmente diferencia os pa- rença, que é a ausência de prurido na presença de icterícia coles-
cientes com deficiência da BSEP daqueles com alteração no FIC1 tática. Sugere o diagnóstico, a presença de hepatopatia, icterícia
é a presença de células gigantes, que persiste durante a infância. por predomínio da bilirrubina direta, ausência de prurido e ácido
Outras alterações observadas são: colestase canalicular proemi- biliar sérico dentro da normalidade. Além disso, a diminuição da
nente; balonização de hepatócitos; fibrose perivenular, pericelular concentração intestinal dos ácidos biliares induz a diminuição da
e periportal, com progressão para cirrose; e discreta colangiopatia. absorção da gordura e das vitaminas lipossolúveis, o que pode
O tratamento é de suporte, e relaciona-se às conseqüências da resultar em má absorção. O tratamento requer administração de
colestase e da hepatopatia progressiva. A derivação biliar externa ácidos biliares, e se o paciente não receber tratamento adequa-
parcial e a exclusão do íleo terminal podem ser consideradas nos do, a doença hepática pode progredir.
pacientes com prurido de difícil controle. O transplante hepático Em relação ao diagnóstico, do ponto de vista bioquímico ob-
é necessário em muitos casos. serva-se redução ou completa ausência dos ácidos cólico e que-
PFIC 3 (deficiência da MDR3) nodeoxicólico no sangue, na bile e na urina. A confirmação do
O terceiro tipo de colestase intrahepática familiar progressiva diagnóstico é realizada com a cromatografia dos ácidos biliares
(PFIC 3) é decorrente de mutação no gene ABCB4, localizado no na urina, na qual se observa aumento dos ácidos biliares atípicos
cromossoma 7q21, que codifica a proteína de resistência multi- ou seja dos metabólitos intermediários relacionados ao bloqueio
drogas-3 (MDR3), que funciona como um transportador de fosfolipí- da síntese dos ácidos biliares.
deos (flippase) e está presente na membrana canalicular (Figura 1). O tratamento consiste na administração de ácidos biliares (có-
Em condições normais, o transporte de fosfolipídeos para a lico e ursodeoxicólico). Estes oferecem concentrações intestinais
bile dependente de MDR3, induz a formação de micelas e, con- adequadas de ácidos biliares e inibem a formação dos metabóli-
seqüentemente, proporciona um papel citoprotetor para o epitélio tos tóxicos. Dessa forma, evitam a desnutrição, impedem a pro-
dos ductos biliares contra o efeito detergente lesivo induzido pelo gressão da doença hepática e a necessidade do transplante he-
Capitulo 14 Sindromes Ictéricas

• Balistreri WF, Bezerra JA. Whatever happened to “neonatal hepatitis”? Clin Liver Dis.
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Paulo R. Margotto
Assistência ao Recém-Nascido de Risco

528
Capítulo 15

Distúrbios
do Trato
Genitourinário
Assistência ao Recém-Nascido de Risco

15.1 INJÚRIA RENAL AGUDA

Paulo R. Margotto, Márcia Pimentel de Castro

Introdução

A injúria renal aguda (IRA), definida como um súbito “déficit” da O desafio do manuseio da IRA no neonato só pode condu-
função renal, resulta na retenção de produtos “tóxicos” do metabo- zir ao êxito quando consideramos um contexto multidisciplinar,
lismo corporal. No recém-nascido, definimos IRA quando a creatini- com infra-estrutura hospitalar adequada, conhecimento técni-
na sérica é igual ou superior a 1,5mg%, podendo ou não ser oligú- co, dedicação e respeito mútuo entre as equipes e para com o
rica (débito urinário inferior a 0,5ml/kg/hora). Nos poucos relatos paciente e seus familiares.
disponíveis sobre sua incidência nesta faixa etária, a doença parece
ocorrer em torno de 3% a 8% das internações em UTI neonatais. Função Renal Do Recém-Nascido
Freqüentemente são bebês prematuros e/ou gravemente enfermos.
O recém-nascido é mais suscetível à injúria renal aguda, pro- Na vida intrauterina, a placenta é o principal regulador da com-
vavelmente pelas alterações volêmicas que ocorrem no período posição de líquidos; a contribuição do rim na manutenção da
neonatal, pelo aumento das perdas insensíveis e, no prematuro, homeostase é mínima, sendo apenas responsável pela manuten-
deve-se considerar também a imaturidade do desenvolvimento ção de um volume adequado de líquido amniótico.
do sistema urinário, uma vez que a embriogênese renal termina Com o nascimento, o rim passa a atender às necessidades nor-
por volta da 35ª semana gestacional. mais do recém-nascido, sendo que suas funções se aperfeiçoam
A IRA está associada a causas multifatoriais, mas hipotensão, à medida que se processa o crescimento.
hipovolemia, hipoxemia e septicemia são as mais comumente re- Frente às situações em que ocorre desequilíbrio da homeos-
lacionadas com mecanismos pré-renais (85%). Causas renais e tase, conseqüente a fatores patogênicos ou iatrogênicos, o rim
condições pós-renais causadoras de IRA são muito mais raras, e pode não responder de forma adequada, como acontece em
correspondem a 11% e 3% dos casos, respectivamente. crianças maiores e em adultos. Essas limitações refletem uma
A doença caracteriza-se por alterações no equilíbrio hidreletro- “imaturidade” ainda observada nesse período. São elas:
lítico e ácido básico, descontrole hormonal, elevação da creatini-
na e uréia sangüíneas, oligúria, embora em alguns casos possa • Taxa de filtração glomerular (TFG) baixa, secundária a
haver poliúria desde o início do quadro. A IRA frequentemente uma resistência vascular aumentada ao nível das artérias
está vinculada a hiponatremia, hipercalemia, acidose metabólica glomerulares. Enquanto 2% a 3% do débito cardíaco, vai
530 e outras alterações metabólicas. A hipervolemia pode ser signifi- para os rins na vida intrauterina (esses órgãos não têm a
cativa nos neonatos anúricos. função de controlar o meio interno, função esta desempe-
O diagnóstico no recém-nascido se faz por meio da creatinina nhada pela placenta), ao nascimento este percentual do
sérica em ascensão (0,2 - 0,3 mg%/ dia) ou >1,5mg%, geralmen- débito cardíaco como fluxo sanguíneo renal deve ser sex-
te associada à oligo-anúria (ausência de débito urinário após 48 tuplicado em poucos dias, atingindo 12% a 18% no RN a
horas de vida ou débito urinário inferior a 0,5 ml/kg/hora). Vale termo, aproximando-se de 25% que é o nível de adultos. A
lembrar que 97% dos recém-nascidos (RN) urinam nas primeiras taxa de filtração glomerular é de aproximadamente 26ml/
24 horas de vida, e que 4% a 22% dos RN apresentam a 1a. min/1.73 m² com 34 semanas de idade gestacional. Com
micção na sala de parto. 25 semanas, a TFG é de 2 ml/min/1.73 m², alcançando
Na avaliação e condução do neonato com IRA é preciso con- níveis de maturação na idade de 9-12 meses (aproxima-
siderar: história e exame clínico cuidadoso, urinálise, avaliação damente 125 ml/min/1.73 m²). Podemos calcular a TFG
hematológica, dosagem e/ou taxa de excreção de sódio urinário pela fórmula: K x comprimento do RN ÷ creatinina sérica
(não fidedigna se obtida sob uso de agentes inotrópicos ou diu- (fórmula de Schwartz), sendo K uma constante, cujo valor
réticos), ultrassonografia com Doppler de vias urinárias, eventu- é 0.33 para RN de baixo peso e 0.45 para RN a termo
almente uretrocistografia miccional e cintilografia radioisotópica. (K representa a creatinina urinária por unidade de peso
Uma vez firmado o diagnóstico, o tratamento deve ser pronta- corporal). Existe, então, limite da capacidade do RN para
mente instituído, compreendendo o tratamento etiológico, res- resistir ao stress de uma sobrecarga de água.
tabelecimento do equilíbrio hidreletrolítico, suporte nutricional e • Desenvolvimento glomerular mais avançado que o tu-
até dialítico, se necessário. bular, resultando em desequilíbrio glomérulo-tubular.
Diálise algumas vezes é inevitável e, embora seja um tratamen- Esta assertiva induz a um julgamento injusto: embora
to disponível quando os demais recursos falham, trata-se de um a taxa de reabsorção tubular seja ainda pior do que a
procedimento tecnicamente difícil, sempre complicado e que pode TFG, a função tubular de reabsorção ou excreção por su-
falhar. Prevenção e atenção especial aos fatores de risco devem perfície quadrada de túbulos é melhor do que a função
ser os objetivos, quando se trata de pacientes de alto risco. glomerular propriamente dita. Existem poucos túbulos e
Fatores relacionados com mortalidade incluem: falência de múlti- estes são pequenos; a nefrogênese que se dá de modo
plos órgãos, hipotensão que exige uso de suporte inotrópico, insta- centrífugo (da pelve para o córtex) só se completa na 34ª
bilidade hemodinâmica e necessidade de ventilação mecânica ou semana. Os primeiros néfrons a surgir são os justa-me-
diálise. O prognóstico e recuperação da IRA são altamente depen- dulares, que têm o glomérulo no córtex ou próximo à me-
dentes da doença de base, com excelente prognóstico da função dula, cuja alça de Henle é profunda (atinge a medula) e
renal quando a condição clínica inicial for passível de tratamento. representam 15% da população total de néfrons na vida
É fundamental o contexto de uma UTI neonatal/pediátrica com adulta. Estes são os mais eficientes para a manutenção
“expertise” no manuseio de neonatos gravemente enfermos, pos- do meio interno. Os outros 85% dos néfrons são corti-
sibilitando toda complexa estrutura que se faz necessária para cais, menos eficazes (têm a alça de Henle mais curta) e
recuperação desses pacientes. surgem por volta da 34ª semana de gestação. Assim sen-
Capitulo 15 Distúrbios do Trato Genitourinário

do, não é justo afirmar que os RN têm uma imaturidade


tubular tão exagerada quando comparada com a função na veia cava superior (reflexo da redução do fluxo sanguíneo sistê-
glomerular; a superfície dos túbulos é pequena, de modo mico e, consequentemente, da taxa de filtração glomerular)
que a função final fica diminuída.
• Deficiente concentração: incapacidade de alcançar ní- • Papel da Aldosterona
veis de osmolaridade urinária acima de 700 mOsm/1. Níveis elevados de aldosterona são insuficientes para promo-
Os túbulos têm uma capacidade limitada de concentrar e ver a absorção adequada do excesso de sódio que chega ao tú-
de diluir urina, e esta capacidade freqüentemente é agre- bulo distal, que deixou de ser reabsorvido em segmentos anterio-
dida por situações relacionadas a outras enfermidades res do néfron. Desta forma, o RN se torna incapaz de manter o
que o RN apresenta, especialmente a hipóxia, quando a balanço do íon. Altas concentrações plasmáticas de aldosterona
reabsorção de Na+ do ultrafiltrado, que consome energia, podem refletir uma compensação fisiológica para menor respos-
fica extremamente prejudicada, em decorrência do pro- ta dos túbulos renais a este hormônio (a partir da 3ª semana de
cesso oxidativo comprometido.Há imaturidade morfológi- vida, os túbulos renais respondem bem a aldosterona).
ca da alça de Henle e disponibilidade limitada de uréia
nesta faixa etária. Fisiopatologia
• Limitada habilidade de diluir frente a uma sobrecarga
de água. Limitação da taxa de excreção de água resulta Várias teorias apontam uma combinação de mecanismos atu-
de uma limitada taxa de filtração glomerular (TFG). Con- ando na gênese da IRA:
dições em que o líquido do espaço extracelular está au-
mentado, como nas situações de excesso de hormônio 1. Vasoconstrição renal:
antidiurético ou situações que se associam à secreção O evento fisiopatológico final comum que resulta na IRA é
inapropriada de hormônio antidiurético (meningite, asfi- uma nefropatia vasomotora, que leva a Necrose Tubular Agu-
xia e hemorragia intra ventricular, entre outras), provo- da (NTA) e IRA estabelecida. A nefropatia vasomotora pode ser
cam aumento de peso, diminuição da diurese e aumen- descrita como uma intensa vasoconstrição das arteríolas afe-
to da densidade urinária (para mais informações sobre rentes e eferentes, e parece ser o evento dominante na pato-
SSIHAD: consulte o capítulo de Hidratação Venosa). gênese da IRA no período neonatal, resultando em diminuição
• Baixa capacidade de tampão do rim: concentrações bai- da filtração glomerrular e oligoanúria.
xas de bicarbonato sanguíneo. Um fluxo sanguíneo renal menor acarretaria lesões às células
epiteliais tubulares, resultando em um aumento na concentração
Homeostase Do Sódio do sódio no fluído que chega à mácula densa. Uma quantidade
maior de soluto no túbulo distal estimularia a liberação de com-
Recém-nascidos de termo tendem a manter um balanço positi- ponentes vasoativos do aparelho justaglomerular (ativação do
vo de sódio, devido a uma forte tendência de reabsorver o sódio sistema renina-angiotensina). 531
filtrado. Frente a uma sobrecarga de sódio, apresentam taxa de A angiotensina II, ativada pela renina, provocaria vasoconstric-
excreção limitada do soluto, com risco de hipernatremia. A habili- ção da arteríola pré-glomerular, com aumento da resistência vas-
dade máxima do RN a termo excretar sódio está em torno de 12 cular cortical e diminuição da TFG .
mEq/kg/dia de Na+. Esse “feed-back” túbulo glomerular conservador de água e ele-
Em recém-nascidos pré-termo, no período de 2 - 5 semanas de trólitos tem a desvantagem de ser não seletivo, retendo também,
vida, observa-se uma inadequada reabsorção tubular de sódio, catabólitos nitrogenados e outras substâncias. À medida que acon-
provocando uma resposta natriurética (a hiponatremia é mais tece a recuperação gradual tubular, melhora a absorção de sódio,
severa entre a 2ª e 3ª semanas de vida). A hipernatremia pode desestimulando progressivamente o mecanismo compensador.
ser observada em duas situações especiais: perdas renais au- Estudos recentes têm investigado o papel da adenosina como
mentadas de água (diurese osmótica – vale lembrar os efeitos da potente vasoconstrictor renal, razão pela qual a teofilina, um anta-
hiperglicemia) ou perdas insensíveis aumentadas. Neste último gonista da adenosina, pode prevenir a IRA induzida pela hipoxemia.
caso, a hipernatremia ocorre com o espaço extracelular normal
ou levemente diminuído. Sinais / sintomas: perda de peso acen- 2. Fatores relacionados ao Néfron:
tuada, tendência à hipotensão, com densidade urinária aumenta- A lesão do túbulo proximal poderia levar à necrose das células
da, aumento da frequência cardíaca, diurese diminuída e algum epiteliais, que seriam eliminadas para dentro da luz tubular e fica-
grau de acidose metabólica. Esta é a situação mais comum nas riam impactadas causando obstrução principalmente na curva da
Unidades de Cuidados Intensivos Neonatais, em virtude da pou- alça de Henle. A obstrução causaria aumento da pressão no espa-
ca valorização que se costuma dar às perdas insensíveis através ço de Bowman, e aboliria completamente a formação do filtrado.
da pele (imaturidade dos extratos córneos). É preciso lembrar Segundo fator relacionado ao néfron seria a perda retrógrada
que um RN pré-termo tem aproximadamente 85% a 90% de seu do filtrado glomerular (tubular “backleak”). A perda da integri-
peso corporal representado por água, enquanto que no RN a ter- dade estrutural tubular, com exposição da membrana basal, o
mo esta proporção cai para 75% e no lactente de 3 meses é de tornaria permeável a substâncias que normalmente não penetra-
aproximadamente 60%. riam pela membrana, como inulina e creatinina, além de fluidos
e solutos acumulados no ultra filtrado que passariam para o in-
Homeostase Do Potássio terstício renal e, eventualmente, para o plasma.

Recém-nascidos muito baixo peso: apresentam balanço positivo Causas Da Insuficiência Renal Aguda
de K+ durante todo o período neonatal. O risco de hipercalemia é
grande, mesmo na ausência de oligúria, devendo a calemia ser • Insuficiência pré-renal: ocorre quando se instala fluxo
monitorizada precocemente. Hipercalemia não oligúrica tem sido sangüíneo renal insuficiente. Não havendo lesão renal,
relatada em 50% nestes RN na primeira semana de vida, secun- a reversibilidade do processo dependerá da correção
dária a deficiência da Na-K-ATPase e ao grande desvio de K+ para hemodinâmica, pois a persistência da condição anormal
o extracelular. Mais recentemente tem sido atribuída ao baixo fluxo poderá significar causa importante da IRA intrínseca.

Paulo R. Margotto
Assistência ao Recém-Nascido de Risco

• Insuficiência renal: implica em lesão do parênquima re- ga ou uretra. Resultam de malformações congênitas ou
nal. Inclui causas congênitas e adquiridas. A NTA pode de- pressões extrínsecas, como tumores, hidronefrose e vál-
rivar de lesão anóxica e/ou isquêmica ou de nefrotoxinas. vula de uretra posterior; bexiga neurogênica, estenose da
• Insuficiência pós-renal: Incomum. Ocorre por obstrução junção ureteropélvica bilateral.
do fluxo urinário depois de formada a urina e, para que
resulte em oligúria, deve afetar ambos os ureteres, bexi-

Pré- renais Obstrução pós-renal Insuficiência renal intrínseca


Anomalias congênitas
Displasia cística
Hipoplasia
Agenesia
Obstrução ureteral
Rins policísticos
Hipotensão causada por: Válvula de uretra posterior
Inflamatórias
Choque séptico Imperfuração prepucial
Sífilis ou toxoplasmose congênitas
Hemorragia materna anteparto Estreitamento uretral
Pielonefrite
Hemorragia gêmeo a gêmeo Divertículo uretral
Vasculares
Hemorragia neonatal Megauretra
Trombose venosa
Cirurgia cardíaca Ureterocele
Necrose cortical
Insuficiência cardíaca congestiva Obstrução ureteropélvica ou ureterovesical
Trombose arterial
Asfixia perinatal Tumores extrínsecos
CID
Desidratação comprimindo a saída da bexiga
Necrose Tubular Aguda
Bexiga neurogênica
Asfixia perinatal
Desidratação
Choque
Nefrotoxinas

Quadro 1 Principais causas de Insuficiência Renal no Neonato*


* Segundo Rahman, N., Boinear, F. G. e Lewy, J. E.: Renal failure in the perinatal period. Clin Perinatol 8: 241, 1981.

A asfixia perinatal é a causa mais comum de IRA intrínseca no RN, cia de diurese nas primeiras 24 horas (93% urinam dentro deste
podendo também ser pré-renal, uma vez que a asfixia contribui com período, débito urinário < 15 a 20 ml/kg/24h).
532 a hipoperfusão renal, além de ocorrer um desvio de sangue dos rins
para melhorar a circulação ao nível de coração e cérebro. Estudos Exame Físico
recentes demonstraram que falência renal, definida por aumento de
nível de creatinina sérica, tem uma prevalência de 61% em associa- Investigar estado de hidratação, jato urinário, sinais de choque
ção com severa asfixia em RN a termo e, neste caso, encontramos ou hipovolemia, pressão arterial em membros superiores e infe-
predominantemente IRA não oligúrica. Uma vez que RN a termo sa- riores, pulsos, pressão venosa central, freqüência cardíaca.
dios apresentam valores de creatinina sérica de 0,89mg%, (+- 0,02 Massas tumorais na região do flanco e hipogástrio, malforma-
mg%) no primeiro dia de vida e 0,50 mg% (+- 0,02 mg%) a partir do 5o ções da parede abdominal. Anormalidade do trato urinário inferior.
dia, IRA pode ser definida como níveis de creatinina sérica superiores
a 1,5mg% associado com uma função renal materna normal.(deve-se Exames Laboratoriais
determinar o nível de creatinina sérica materna na hora do parto). IRA
não oligúrica pode ser definida como débito urinário maior que 1ml/ 1. Sangue:
kg/h depois do primeiro dia de vida. Em casos de asfixia, os autores • Sódio e Potássio
observaram a presença de IRA não oligúrica em 61% dos RN a termo Pode ocorrer hiponatremia dilucional ou por disfunção tubular
que sofreram asfixia grave; IRA oligúrica, em 25% e anúrica em menos e/ou hipercalemia;
de 15%. Foi proposto um escore de morbidade, capaz de determinar, • Uréia e creatinina
com uma hora de vida, a probabilidade do RN desenvolver falência re- São produzidas endogenamente e excretadas na urina prima-
nal com 100% de sensibilidade e 72% de especificidade. Este escore riamente por filtração glomerular. A uréia é produzida no fígado
baseia-se na escala de Apgar no 5o minuto (menor que 6) e valor do como produto final do ciclo ornitina-arginina-uréia e novamente é
déficit de base (aferido através da gasometria arterial) na 1a hora de reabsorvida a nível tubular na proporção de 30% da concetração
vida (menor que 10).Taxas de filtração glomerular persistentemente filtrada. A creatinina é produto final da degradação da creatina
baixas e disfunção tubular têm sido relatadas em 40% dos sobrevi- encontrada no músculo esquelético sendo, portanto, proporcio-
ventes de insuficiência renal aguda no período neonatal, na ausência nal à massa muscular. A excreção por filtração é igual à produ-
de malformações do trato genitourinário. ção, mantendo-se constante o nível sérico.
Quanto à nefrotoxicidade dos antibióticos, estima-se que 10 a 30% Ao nascimento refletem os valores maternos, até por volta de
dos pacientes em uso de aminoglicosídeos apresentam IRA transitó- 48 horas de vida. Na IRA a uréia está em níveis superiores a 28
ria, geralmente de natureza não oligúrica. mg%, e a creatinina acima de 1 mg% (níveis médios normais de
creatinina: 0,75 mg% e a partir dos 7 dias de vida: 0,68 mg%: nos
Diagnóstico RN abaixo de 29 semanas e peso <1000g, existe um retardo do
decréscimo da creatinina sérica, em relação aos RN de 29 a 32
História Clínica semanas que se estende até por volta do 6º dia de vida, segundo
Auron A e MJ Mhanna-vide figuras a seguir).
Deve dar enfoque a condições clínicas que potencialmente po-
dem levar a dano renal. Suspeitar de oligúria nos RN com ausên-
Capitulo 15 Distúrbios do Trato Genitourinário

A excreção fracionada de Na+ (EFNa ) figura com o melhor teste


para avaliar lesão renal propriamente dita. Na IRA renal a EF Na
é quantitativamente superior a 1% e, freqüentemente, tão alta
quanto 2 a 5%. Na IRA pré-renal a EF Na < 1%.

EF Na = UNa/Ucr x Pcr/PNa x 100

Onde:
U Na = sódio urinário
Pcr = creatinina plasmática
Ucr = cretainina urinária
P Na = sódio plasmático

Para os RN com menos de 31-32 semanas, valores maiores da


EFNa, tem sido proposto (5%), tornando difícil a interpretação do
ENaF nestes RN com IRA
Sedimento urinário: presença de hematúria, cilindros, leucocitú-
ria, indicam lesão renal; Uréia, creatinina, sódio e potássio urinários.

3. ECG
Alterações observadas na hiperpotassemia.

4. Ultrassonografia
Avaliação de massas renais e alterações morfológicas na es-
trutura do parênquima renal.

5. Urografia excretora
Pouco utilizado - risco de maior toxicidade do contraste.
Alguns fatores podem determinar o aumento de uréia: dieta rica
em proteínas, oferta aumentada de proteínas na Nutrição Paren- 6. Biópsia renal
teral Total (NPT), hemorragia gastrintestinal e desidratação, por
exemplo. Portanto, não é o melhor indicador para avaliar a fun- 7. Cintilografia radioisotópica
ção renal. A creatinina expressa a função tubular, uma vez que 533
é secretada pelo túbulo e não mais reabsorvida. O aumento de Diagnóstico Diferencial
creatinina da ordem de 0,5mg%/dia indica uma redução severa
da TFG. Quando a creatinina sérica dobra, a TFG cai 50%.Quando Diante de um paciente com oligúria e azotemia, torna-se impor-
a relação uréia/creatinina é maior que 20, deve-se suspeitar de tante a distinção entre IRA pré-renal e renal propriamente dita,
um aumento da produção de uréia ou aumento de sua reabsorção pois a abordagem terapêutica será diferente.
a nível tubular. Condições que resultam em diminuição do volume Testes diagnósticos para a diferenciação:
intravascular acarretam um aumento da reabsorção tubular de Suspeita clínica de depleção de volume: administrar solução
água e de uréia, sem alteração significativa da função glomerular. fisiológica ou plasma, num volume de 20ml/Kg durante 60 a 20
•Hemocultura min; podendo-se chegar até 40 ml/kg. Se persistir oligúria :- furo-
pesquisar infecção semide 2mg/Kg/dose; se não houver diurese (> 2 ml/Kg/hora),
•Gasometria após 60-120 min = IRA intrínseca). Atualmente dá-se preferência
acidose metabólica à solução de cristalóide.
•Hipocalcemia, Hiperfosfatemia e hipomagnesemia. Relação uréia plasmática/creatinina plasmática
IRA pré-renal (aproximadamente 85% dos casos): aumento des-
2. Urina proporcional da uréia em relação à creatinina. Proporção > 10:1.
•Densidade urinária IRA renal intrínseca (aproximadamente 11% dos casos): au-
normal 1005 – 1010; valores acima destes são considerados mento proporcional de uréia e creatinina. Proporção <10:1
anormais. (multiplicando-se os dois últimos números da densi- IRA pós-renal: menos de 5% dos casos.
dade urinária por 30 pode-se calcular a osmolaridade urinária: Osmolaridade urinária (mOsml/l): IRA pré-renal > 400 e IRA
ex: DU = 1010; Osmolaridade urinária = 1030). Osmolaridade intrínseca: < 400
urinária máxima: RN pré-termo = 600 mOsm/l; RN a termo = 800
mOsm/l; adulto = 1.200 mOsm/l. Tratamento
Na IRA pré-renal a urina é hipertônica e relativamente isenta
de Na+ (UNa< 20 mEq/l). A intensa avidez por Na+ e a função tu- Uma vez diagnosticada a IRA, torna-se necessário uma mo-
bular ainda preservada, resultam em reabsorção de 99% do Na+ nitorização cuidadosa para prevenir ou tratar precocemente
filtrado. Além disso, o baixo fluxo renal condiciona a reabsorção as complicações.
da uréia filtrada, mas não da creatinina, resultando num aumen-
to desproporcional da uréia em relação a creatinina sérica (Uréia Tratamento Geral
/P creat > 10).
Na lesão parenquimatosa, a concentração de Na+ urinário ten- 1. Administração de líquidos e eletrólitos
de a ser elevada (U Na > 40 mEq/l), a capacidade de concentrar A reposição de volume deverá se limitar às perdas insensíveis
urina e excretar creatinina está diminuída e a reabsorção prefe- e às perdas de fluído externo (urina, SOG, drenos). Deverá ser
rencial de uréia está perdida. subtraída a água endógena diária produzida pelo metabolismo

Paulo R. Margotto
Assistência ao Recém-Nascido de Risco

(9ml/Kg/peso). As perdas insensíveis/24 horas variam com o Dobutamina: Sintetizada com o intuito de se criar um 1 agonista
peso de nascimento e, nos 3 primeiros dias, são da ordem de: seletivo. É um efetivo agente inotrópico, que causa também vaso-
dilatação e moderada taquicardia. Em doses muito elevadas pode
700-1000g: 82ml/kg aumentar a PA e provocar um aumento da resistência vascular sis-
1001-1250g: 56ml/kg têmica. Possui poucos efeitos tóxicos, sendo a taquicardia o princi-
1251-1500g: 46ml/kg pal evento observado em lactentes jovens, mas pode ser facilmen-
> 1500g: 26ml/kg te revertida com a redução da dose. Em pacientes com choque
cardiogênico, ela aumenta o débito cardíaco, diminui a pressão
Em uso de fototerapia ou calor irradiante, acrescentar 20 ml/Kg/dia. capilar pulmonar e a resistência vascular sistêmica. Dobutamina
A criança deverá perder de 0,5 a 1% de peso por dia, por cata- é mais efetiva em aumentar a perfusão sistêmica que a dopami-
bolismo tecidual. na, mas não a PA. O tratamento da IRA secundária ao choque, na
Na fase de oligúria a administração de eletrólitos limitar-se-á ausência de hipotensão, deve ser visto sob uma abordagem fisio-
a proporção de eletrólitos previstos para o volume das perdas patológica, e direcionado para o aumento do Débito Cardíaco (DC)
extra-renais calculadas. A hiponatremia durante a fase de mane- e diminuição da resistência vascular sistêmica e pulmonar. Com
jo da IRA oligúrica indica superestimativa das perdas e deve ser isso, sugerimos dar preferência a dobutamina, com baixas doses
tratada com restrição hídrica mais rígida. A concentração de Na+ de epinefrina, como uma alternativa razoável. Deve ser avaliado o
sérico deverá ser mantida entre 135 – 145 mEq/l. A administra- seu uso após identificação da causa da IRA (baixa perfusão renal
ção de Na+ só será feita quando ocorrer hiponatremia acentuada secundária a falência de bomba cardíaca). Dose: 5 a 20 microgra-
(Na+ < 120 mEq/l) ou quando houver sintomatologia clinica (tor- ma/kg/minuto. Apresentação: frascos 12,5 mg/ml.
por, convulsões). Neste caso, pode ser indicada a administração Epinefrina (consulte o capítulo de Choque Séptico): é uma
de sódio hipertônico (solução a 3%). Na fase de poliúria será ba- catecolamina potente que age mais diretamente nos receptores
seada no balanço hídrico diário e controle laboratorial seriado. adrenérgicos do que através da liberação de norepinefrina arma-
zenada. Estimula os receptores e tem ação relacionada à dose.
2. Manutenção da temperatura: Causa vasodilatação em doses muito baixas; o efeito inotrópico
Manter zona de temperatura neutra aumenta conforme a dose aumenta, e começa a causar vaso-
constricção importante em altas doses. Neste caso, a vasocons-
3. Dietético tricção se sobrepõe ao efeito inotrópico positivo e o débito cardí-
O paciente com IRA é freqüentemente hipermetabólico e evolui aco começa a cair. Então: baixas doses aumentam o DC; doses
para desnutrição aguda. O catabolismo acentuado leva a instala- moderadas aumentam a PA e doses muito altas podem diminuir
ção acelerada de uremia, hiperpotassemia e acidose, antecipan- o DC. A infusão de doses baixas (menos que 0,3 microgramas/
do a necessidade de tratamento dialítico. Ingesta calórica deve kg/minuto) está primariamente associada com efeitos beta adre-
ser, no mínimo 100 cal/kg /dia e o aporte protéico aproximado nérgicos, incluindo: aumento da contratilidade cardíaca, freqüên-
534 de 1g/kg/dia. Os pacientes em diálise não toleram a via digestiva cia cardíaca, pressão de pulso e pressão sanguínea sistólica. Em
devido ao aumento da pressão intra-abdominal. doses maiores que 0,3 microgramas/kg/minuto, os efeitos adre-
Dar preferência sempre ao Leite Materno; nérgicos predominam, produzindo aumento da pressão sistólica
Nutrição Parenteral Total: encontra-se no mercado produto e diastólica e diminuição da pressão de pulso. Toxicidade: age
com formulação especial de aminoácidos. diretamente no metabolismo do lactato, causando um aumento
em sua produção, levando a um aumento na concentração sérica
4. Manutenção da pressão arterial de lactato. Está indicada em casos de choque com hipotensão,
Expansão volumétrica (já descrita anteriormente) em na presença de sinais de perfusão ruim em pacientes com
Uso de drogas vasoativas: indicadas quando se tem certeza de volume intravascular adequado e ritmo estável, e na bradicar-
que não há depleção de volume circulante, e o paciente se man- dia com repercussão hemodinâmica. Deve ser administrada em
tém- hipotenso. Deve-se procurar manter uma PA aceitável, a fim cateter venoso central, com equipo fotoprotetor, para garantir
de garantir uma pressão de perfusão adequada em nível de ar- uma via segura de administração e minimizar o risco de extra-
térias renais, possibilitando e favorecendo a filtração glomerular. vasamento. Como a adrenalina tem uma meia vida curta (2 mi-
Dopamina: Estimula receptores e dopaminérgicos. O mito de nutos), a infusão deve ser ajustada a cada 5 minutos, até ser
que baixas doses de dopamina causam vasodilatação renal se- alcançado o efeito clínico desejado. Dose: 0,1 a 1 micrograma/
letiva, doses médias causam vasodilatação geral e aumentam o kg/minuto. Apresentação: frascos 1 mg/ml (1:1000).
inotropismo e altas doses causam vasoconstricção precisa ser Norepinefrina: não foi muito estudada em modelos neonatais,
desmentido. Esta informação deriva de cães adultos e sadios devido a sua menor afinidade por receptores muito provavelmente,
e não podem ser generalizadas para RN criticamente doentes. causa mais vasoconstricção do que a epinefrina; por esta razão,
Para receptores a dopamina é 30 a 40 X menos potente que tem sido amplamente usada em adultos com sepse por Gram-ne-
a epinefrina ou a norepinefrina. Possui farmacocinética muito gativo e choque quente, nos quais parece melhorar a oferta de O2
variável no RN. No entanto a taquicardia pode ser significan- aos tecidos e o débito urinário. Uma vez que choque séptico acom-
te e problemática, uma vez que diminui o tempo diastólico e, panhado por vasodilatação (choque quente) não é comumente
conseqüentemente, o enchimento coronário. Além disso, a do- visto em RN, norepinefrina provavelmente tem um papel limitado.
pamina estimula receptores do seio carotídeo, levando a uma Inotrópico não catecol/agentes pressores: Agentes que blo-
diminuição da ventilação e da dinâmica ventilatória. Estudos queiam a ação da fosfodiesterase III têm sido usados em adul-
randomizados têm demonstrado que o aumento da PA com o tos e crianças mais velhas, com algum efeito. Estas drogas, au-
uso da dopa é freqüentemente acompanhado por uma diminui- mentam o AMPc intracelular, o que leva a um efeito inotrópico
ção da fração de ejeção do VE (aumento da pós-carga), uma di- e vasodilatação. (Consultem o Capítulo de Hipotensão Pulmonar
minuição ou nenhum efeito sobre o débito do VD e fluxo na Veia Persistente).Em modelos mamíferos neonatais a PDE III tem efei-
Cava Superior, nenhum aumento da contratilidade cardíaca ou tos mínimos ou nenhum efeito, e até mesmo efeito inotrópico ne-
na perfusão cerebral. O principal mecanismo de ação sobre a gativo. As conseqüências sobre o miocárdio dos RN pré-termos
PA parece ser a vasoconstricção (efeitos e. Dose: 5 – 15 mcg/ são desconhecidas e não podem ser previstas a partir de estudos
kg/min. Apresentação: frascos 5 mg/ml. em animais. Milrinona pode ter outros efeitos adversos: lesões
Capitulo 15 Distúrbios do Trato Genitourinário

musculares podem ser vistas sempre que o trabalho cardíaco uma baixa liberação da droga aos rins. Em RN com IRA, os áci-
está aumentado, e isto pode exceder qualquer oferta de O2 ou dos orgânicos acumulados competem com a droga na secreção
substrato ao músculo cardíaco. tubular, e apenas 10 a 20% dela é secretada no lúmen. Assim
Choque séptico: é uma das causas mais freqüentes de choque sendo, pode-se preconizar o uso de doses maiores (2 – 5 mg/Kg,
no RN, que pode, entre outros fatores, levar a um quadro de IRA. in bolus, numa velocidade que não ultrapasse 4 mg/Kg/min). Na
Além do tratamento preconizado do choque (consulte o capítu- ausência de resposta ao tratamento, não existe justificativa
lo de Choque Séptico), alguns autores citam o uso de corticói- para o uso de doses adicionais.
de em casos em que a pressão arterial não responde às drogas Obs: Para RN com IG >= 32 semanas, a droga deve ser admi-
vasoativas, especialmente se acompanhado de hipoglicemia (se nistrada a cada 12 horas
possível, dosar o cortisol [<(<5µg/dL caracteriza a insuficiência Para RN < 32 semanas, a droga deve ser administrada de
adrenal relativa]). Hidrocortisona: dose de 1 mg/kg/dose, de 8/8 24/24 horas, devido a meia vida longa. Assim, o risco de ototoxi-
horas ou 20 a 40 mg/m2/dia por 5 dias em infusão venosa. Área cidade pode ser evitado.
corporal (m2) = (0,05 x kg) + 0,05. Em RN, prognóstico com al- Infusão contínua ou de horário?
tas doses de glicocorticóides é substancialmente pior. Se estas Estudos em PO de cirurgia cardíaca em RN demonstraram que
drogas têm ou não um papel no tratamento do choque séptico e infusão contínua é segura e melhora o débito urinário. Em pa-
outras formas de choque no RN e qual a dose a ser usada, ainda cientes com IRA não há indicação para infusão contínua a menos
não está estabelecido. que haja resposta depois de uma dose inicial de furosemida in
bolus. Dose inicial: 0,1 mg/Kg/hora. Considerando-se o conheci-
5. Uso do diurético mento sobre a liberação e ação da droga na IRA, a administração
Furosemida possui uma base fisiopatológica para ser usada na in bolus é mais comumente utilizada.
IRA. É uma sulfonamida, cujo sítio de ação primário é o ramo Toxicidade
ascendente da alça de Henle. A droga se liga fortemente às prote- Hiponatremia; hipocalemia; instabilidade hemodinâmica (é
ínas (98%), e apenas uma pequena parte é filtrada pelo gloméru- preciso controlar o BH rigorosamente); seu uso prolongado está
lo. O seu efeito farmacológico não é percebido até que ela atinja associado com alcalose metabólica hipoclorêmica e hipercalci-
o túbulo proximal (seja secretada). No interior do túbulo (lúmen) úria, podendo levar a nefrocalcinose. Ototoxicidade é bem esta-
ela age inibindo a reabsorção ativa de Na+, K+ e Cl-. O acúmulo belecida, embora o mecanismo exato seja ainda desconhecido.
desses íons afeta a carga ao nível de membrana, inibindo a re- Pode ser prevenida evitando-se o acúmulo da droga, adminis-
absorção passiva de potássio, cálcio e magnésio. Ela também tração rápida in bolus, uso concomitante de outras drogas oto-
atua inibindo a reabsorção de NaCl a nível de túbulo proximal tóxicas, como os aminoglicosídeos (uso simultâneo aumenta a
e distal por mecanismos indeterminados envolvendo a anidrase incidência de surdez neurosensorial), vancomicina.Outras asso-
carbônica. Uma vez reduzindo o transporte ativo, furosemida tem ciações perigosas: indometacina e inibidores da enzima conver-
um efeito protetor, pois reduz o consumo de O2 e a energia gasta sora de angiotensina (Captopril).
pelas células tubulares, que estão vulneráveis ou já danificadas. 535
O fluxo sanguíneo renal aumenta após administração de furo- Tratamento Das Complicações
semida, provavelmente secundária a vasodilatação mediada por
prostaglandina (por estimular a via renina-angiotensina). Esta 1. Hiponatremia
propriedade da droga torna o seu uso racional no tratamento da • Origem iatrogênica (sobrecarga hídrica
IRA secundária a hipóxia, hipovolemia, hipotensão e nefropatia • Se Na+ plasmático >120 ou sem sintomas - Restrição
vasomotora, onde existe um período crítico anterior à instalação Hídrica.
da NTA, quando prostaglandinas exercem um papel vital na ma- • Se Na < 120 ou se houver manifestação neurológica, ad-
nutenção do fluxo sanguíneo e na filtração glomerular. ministrar NaCl- 3% . Cálculo: (0,5 mEq = 1 ml, diluir NaCl
O aumento de sal e água na luz tubular resulta num acréscimo 20% 11x em água destilada) Correção Sódio para = 125
do fluxo urinário intratubular, o que parece ser intuitivamente ne- mEq Na = (Na desejado - Na inicial) x 0,7 x Peso (2 ho-
cessário para deslocar células e debris do bordo em escova, acu- ras). Consulte o capítulo de Hidratação Venosa.
mulados na luz após injúria isquêmica, provocando obstrução.
Portanto, furosemida é um diurético de alça que tem um me- 2. Hipercalemia
canismo direto que provoca aumento na excreção de sal e de • K+ 5.5 a 7.0 mEq/l com ECG normal
água e, em decorrência, possui benefícios indiretos na IRA, con- Diminuir aporte VO ou EV, correção da acidose.
tribuindo para a recuperação celular reduzindo o gasto energéti- • K+ > 7 mEq/l, com alterações no ECG (ondas T elevadas,
co, promovendo a secreção de prostaglandina e provocando um Fibrilação)
clearance de debris tubulares. Gluconato de cálcio 10% - 0,5 a 1 ml/Kg/ (2-4 min) monitorização
Administrada em uma fase adequada, furosemida pode con- Glicose + insulina regular (solução polarizante): 1 U insulina /
verter IRA oligúrica em não-oligúrica, em casos em que a IRA 4g glicose
parece inevitável. IRA não oligúrica está associada a um melhor Ex: RN c/ 1.2 kg e 7 mEq/l de potássio: 19.2ml SG 25% + 4.8
prognóstico, e tem sido sugerido que pacientes que respondem U de insulina regular
a furosemida devem ter uma IRA menos grave. Antes do seu uso, 4g glicose x 1.2 kg = 4.8g de glicose e 1ml SG 25% = 0.25g de
especial atenção deve ser dada à correção da hipotensão e da glicose. Então, 4.8g de glicose equivale a (4.8 ÷ 0.25) = 19.2 ml
acidose importante. Cateterismo vesical está indicado para aferi- SG 25% (consulte o capítulo de Hidratação Venosa).
ção rigorosa do débito urinário. Se não houver resposta: salbutamol – 5 mcg/kg em 15 min
A droga deve ser administrada preferencialmente por via endo- (o K+ sérico cai significantemente em 15 minutos; o salbutamol,
venosa, e a resposta diurética pode ser vista em 2 –5 minutos que é um estimulador beta 2, induz a entrada do K+ para a cé-
após a infusão, com pico de 30 minutos (com função renal pre- lula. Alguns centros utilizam o salbutamol como a primeira linha
servada). Na IRA, depois de uma dose adequada, a resposta pode de tratamento da hipercalemia (1 ml de salbutamol = 0.5mg =
ocorrer em 2 – 4 h. Dose recomendada in bolus: 0,5 a 1 mg/Kg . 500mcg). Manutenção: 0,2mcg/Kg/min
Como descrito acima, a droga só age uma vez atingindo a luz Correção da acidose metabólica com bicarbonato de sódio:
do túbulo proximal; portanto, com baixa perfusão renal haverá O metabolismo celular produz cerca de 2 mEq/kg/dia de ácido

Paulo R. Margotto
Assistência ao Recém-Nascido de Risco

fosfórico, sulfúrico e ácidos não voláteis. Estes ácidos são tampo- Contra-indicações:
nados pelo bicarbonato extracelular, gerando CO2, água e sais de •Peritonite, enterocolite necrosante ou cirurgia abdominal
ânion ácido. A homeostasia é preservada pelos rins, que excre- •Coagulopatia
tam ácidos e regeneram o bicarbonato, consumido na reação de •Derivação ventrículo-peritoneal
tamponamento. A correção da acidose metabólica na IRA deve •Íleo paralítico
ser cuidadosa, pelo risco de desenvolver hipocalcemia e sobre- •Insuficiência respiratória (vigiar expansibilidade pulmonar).
carga hídrica. Na verdade, esta correção deve ser secundária à Na presença de contra-indicação da diálise peritoneal, indica -
correção da causa base; quando não for possível, através s de se a Hemofiltração Artério-venosa contínua (tem o inconveniente
meios dialíticos. da necessidade de heparinização contínua e reposição de fluidos).
Diálise peritoneal. A hemodiálise é dificilmente empregada no período neonatal.

3. Hipertensão arterial Método


Restrição hídrica ou diálise peritoneal
Elevações agudas = administração de drogas como: Realizar a omentectomia e usar o catéter neonatal Tenkoff:
Hidralazida 0.1-0.5 mg/kg/dose, 6/6 horas EV e por VO, 0.25
- 1mg/kg/dose cada 6-12h (Apresolina R) 1 amp.= 20 mg/ml. 1 1. Realizar dois ou três banhos de prova, com tempo de
comp = 25 mg e 50 mg permanência zero (banhos contínuos).
Efeito adverso: taquicardia. Iniciar propanolol na dose de 0.1 2. Iniciar os banhos com solução a 1,5%
mg/kg/dose de 6/6/ ou 8/8 h, em 10 min. EV. se VO: 0,25 mg/ 3. Volume de troca: 10-20 ml/kg
kg/dose de 6/6/ ou 8/8h (Inderal R; 1 ampola = 1 ml = 1 mg e 4. Tempo do ciclo: primeiras horas ( Infusão: 5 minutos,
comp. = 10 mg) tempo de permanência: 45 minutos, drenagem: 10 minu-
Metildopa: 2.5 - 10. mg / Kg/ dose, 12/12h - VO Inconveniente: tos). Tempos de permanência menores melhoram a troca
nem sempre é possível utilizar a via oral. de solutos de baixo peso molecular.
AldometR; 1 comp= 250mg e 500 mg 5. Heparina: usar 250 UI por litro de dialisado
Captopril : 0,1-0,4 mg/Kg/dose (1 a 4 vezes/dia). Iniciar com 6. Temperatura 38ºC
0,1 e aumentar semanalmente - CapotenR : 1 comp. = 12, 5, 25 7. Banhos: Isotônicos: 1,5%, Hipertônicos: 4,25%. Depen-
e 50 mg. de da quantidade de volume a ser retirada (banhos hiper-
tônicos causam maior irritação peritoneal, porém retiram
4. Anemia maior volume).
Quando severa: concentrado de hemácias 10 ml/Kg (2 horas) 8. Potássio: acrescentar nos banhos na concentração de
4mEq/l, quando o potássio sérico cair abaixo de 4mEq/L
5. Hipocalcemia 9. Infecção: em caso de suspeita, colher líquido peritone-
536 Suplementação de cálcio ou derivados da vitamina D al e enviar para análise e cultura. Peritonite ≥ 100 leucó-
ciots/mm3
6. Convulsões 10. Acidose: o dialisado contém lactato como tampão.
Correção dos distúrbios metabólicos Bebês e pacientes com insuficiência hepática não con-
Anticonvulsivantes (Consultar capítulo de Convulsões Neonatais) seguem converter lactato em bicarbonato. Não se deve
acrescentar bicarbonato à bolsa, porque ela contém clo-
7. Acidose metabólica reto de cálcio, que formará cristais com o bicarbonato.
RN <= 1500 g: manter pH > 7.20 Corrigir cm bicarbonato quando necessário.
RN > 1500 g: manter pH > 7.25 11. Bolsa com solução iso ou hipertônica.
Atenção para risco de tetania, convulsões, pela diminuição do
cálcio ionizado, após correção da acidose.

8. Infecções
Uso do antibiótico dependendo da sensibilidade da bactéria,
tendo a dose ajustada ao grau de distúrbio renal

9. Diálise
Diálise peritoneal é preferível em relação à hemodiálise (difi-
culdades técnicas).
Indicações:

•Acidose intratável
•Hipercalemia intratável;
•Hipernatremia

Expansão anormal do fluído extracelular com hipertensão e in- 1. Med-med


suficiência cardíaca congestiva. Rápida deterioração na condição 2. Bolsa pequena com solução aquecida para o paciente.
clínica geral (convulsão, coma) 3. Bolsa pequena para drenagem.
Solução de Diálise a ser usada deve conter bicarbonato, pois 4. Med-med
solução com lactato aumenta o risco de acidose lática). Usar: 5. Bolsa grande
volume: de 25-50 ml/kg por ciclo, com tempo de permanência
entre 30-60 minutos.
Capitulo 15 Distúrbios do Trato Genitourinário

Diálise Peritoneal • Kluckow M. Avaliação do fluxo sanguíneo sistêmico no recém-nascido pré-termo, Compli-
cações do baixo fluxo sistêmico e Tratamento da hipotensão arterial ou fluxo sanguíneo
baixo no recém-nascido prematuro. In. Margotto PR. Suporte cardiovascular no recém-
nascido pré-termo extremo. Boletim Informativo Pediátrico (BIP), N° 66, pg 140, 2003.
1. Transferir da bolsa número 1 (solução isotônica) ou da Disponível em www.paulomargotto.com.br em Farmacologia Neonatal
• N E Moghal NE, Shenoy M. . Furosemide and acute kidney injury in neonates. Arch Dis Child
bolsa número 2 (solução hipertônica) para o Microfix a Fetal Neonatal Ed 93:F313, 2008
quantidade de solução conforme prescrição. • Barrington KJ. Hypotension and shock in the preterm infant. Semin Fetal Neonatal Med.
13:16, 2008
2. Clampear a pinça após transferência. • Barrington KJ. Hipotensão permissiva no recém-nascido. VI Simpósio Internacional de Ne-
onatologia do Rio de Janeiro (28 a 30 de agosto de 2008). Realizado Márcia Pimentel
3. Transferir a solução do microfix para bolsa intermediá- e Paulo R. Margotto. Disponível em www.paulomargotto.com.br, em Choque no Recém-
Nascido.
ria (bolsa n. 03 )fechar clamp. • Pimentel M, Margotto PR. Insuficiência adrenal relativa no choque séptico: um problema
4. Após aquecimento da solução, abrir o clamp e infundir identificável que requer tratamento (01/08/2007). Disponível em www.paulomargotto.
com.br em Choque no Recém-Nascido.
a solução na cavidade abdominal do recém nascido. Fe- • AAuron and MJ Mhanna. Serum creatinine in very low birth weight infants during their first
days of life. J Perinatol 26:755, 2006.
char o clamp. • Belik J. Avaliação do débito cardíaco e novas terapias de suporte hemodinâmico. XIX Con-
5. Anotar o início e o término da infusão. gresso Brasileiro de Perinatologia, 25 a 28 de novembro de 2007. Realizado por Paulo
R. Margotto. Disponível em www.paulomargotto.com.br em Choque no Recém-Nascido.
6. Deixar a solução na cavidade o tempo determinado na
prescrição (tempo de perfusão).
7. Abrir o clamp na extremidade de saída do circuito e deixar
drenar para bolsa pequena (número 3), que está na parte
inferior do carrinho. Fechar o clamp após a drenagem.
8. Anotar o início e o término da drenagem.
9. Transferir a solução drenada (bolsa número 4) para o
microfix . 2, fechar o clamp anotar o volume e Transferi-lo
para a bolsa número 4 ( final ) . No ítem observações re-
gistrar o aspecto da solução drenado e/ou intercorrências.
Obs : Ao terminar a infusão da solução para o recém nas-
cido e fechar o clamp, voltar a preencher a bolsa interme-
diária ( número 2) com a solução prescrita e deixá-la na
placa em aquecimento.
10. Anotar no ítem balanço, a diferença entre o volume
infundido(solução ) e o volume drenado(total).Registrar o ba-
lanço como negativo quando a drenagem for maior que a in-
fusão e positivo quando a infusão for maior que a drenagem.

537

Prognóstico

Mortalidade: 33 - 78%; depende da natureza e severidade da


lesão renal inicial e habilidade com que os distúrbios bioquímicos
são manuseados.
Critérios de mau prognóstico:
• Anúria de 4 dias ou mais
• Falta de visualização renal pela cintilografia.
• Falência múltipla de órgãos.

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Paulo R. Margotto
Assistência ao Recém-Nascido de Risco

15.2 HIDRONEFROSE

Jaisa Maria M Moura

Hidronefrose Pré-Natal Graus De Hidronefrose

A hidronefrose é a malformação mais identificada durante o Society of Fetal Urology (SFU) para classificação da gravidade da
pré-natal, uma em cada 100 gestações apresenta dilatação do dilatação da pelve (FERNBACH; MAIZELS; CONWAY, 1993):
trato urinário, entretanto apenas uma em cada 500 terá proble-
mas urológicos significativos.
A proporção é maior em meninos que meninas (1:4), e o lado
esquerdo é em geral, mais acometido que o direito.
A identificação pré-natal da dilatação do trato urinário não signifi-
ca presença de obstrução. Muitos casos de hidronefrose diagnosti-
cada no pré-natal se resolverão espontaneamente ou sem qualquer
intervenção cirúrgica. Entretanto, o diagnóstico deve ser claramente
explicado aos pais e o acompanhamento pós-natal adequadamen- Grau 0: sem dilatação;
te realizado. Os benefícios do diagnóstico precoce da hidronefrose
fetal são: a preservação da função renal, a prevenção de infecção
urinária e o tratamento da obstrução do trato urinário.
A nefrogênese está completa ao nascimento no recém-nascido
(RN) a termo, mas a formação de néfrons continua após o nasci-
mento nos prematuros. Ao final do segundo ano, quando o ritmo
de filtração glomerular atinge os valores de adulto, é que a matu-
ração renal se completa.
Existem várias causas de hidronefrose fetal que podem ser iden- Grau I: somente a pelve renal é visibilizada;
tificadas durante o período gestacional, mas todas que devem ser
efetivamente diagnosticadas e confirmadas após o nascimento.

Ultrassonografia Pré-Natal
538
15 semanas de idade gestacional (IG) – visualização da bexiga fetal
17 sem. IG - visualização dos rins
20 sem. IG – visualização da anatomia genital
A urina começa a ser produzida á partir da décima semana de Grau II: visibilizada pelve renal e alguns cálices;
gestação e á partir da décima quinta constitui o principal compo-
nente de formação do líquido amniótico.
As características que devem ser sempre analisadas nas ul-
trassonografias seriadas do sistema urinário, durante o período
gestacional são: parênquima renal (ecogenicidade, presença de
cistos, afilamento, diferenciação corticomedular, tamanho dos
rins), pelve renal (diâmetros ântero-posterior maior que 10-15
mm é altamente preditivo de obstrução do trato urinário), grau de
hidronefrose (classificado segundo a sociedade fetal de urologia), Grau III: hidronefrose com quase todos os cálices visibilizados;
ureteres ( dilatação, tortuosidade, implantação na bexiga), bexi-
ga (espessamento de parede vesical, presença de ureteroceles,
volume vesical, esvaziamento, formato vesical), uretra (verificar
se existe imagem sugestiva de dilatação da uretra posterior), ge-
nitália (sexo, criptorquia, tamanho peniano).
Apesar da freqüente identificação das malformações urinárias
durante a gestação, a intervenção intrauterina ainda é extrema-
mente controversa, estando indicada em apenas raros e muito
selecionados casos que cursam com hidronefrose bilateral, oli- Grau IV: hidronefrose com quase todos os cálices visibilizados,
goâmnio, marcadores prognósticos (Na+, Cl-,Osm, β2 microglo- acompanhada de atrofia do parênquima renal.
bulina, Ca) normais, cariótipo normal e com rins sem alterações
displásicas evidentes. E mesmo assim para melhora da função Dentre as principais causas de hidronefrose no período fetal
pulmonar, pois a melhora da função renal não conseguiu ser efe- destacam-se: as funcionais (cursam com resolução espontânea),
tivamente comprovada por estes procedimentos. O número de a estenose da junção ureteropélvica (JUP), o refluxo vesicoure-
complicações, após procedimentos de derivação urinária no perí- teral (RVU), a válvula de uretra posterior (VUP), a estenose da
odo fetal é maior que 45% dos casos. junção ureterovesical (JUV), o rim multicístico, o megaureter obs-
trutivo primário, a Síndrome de Prune-Belly e as ureteroceles com
ou sem duplicação renal.
Capitulo 15 Distúrbios do Trato Genitourinário

Conduta No Recém Nascido

Em geral, instituímos o tratamento com antibióticoprofilaxia


em todos os pacientes com dilatação significativa do trato uriná-
rio identificada durante o período pré-natal.
A ultrassonografia pós–natal deverá ser realizada apenas após
72h de vida, devido á oligúria transitória do recém-nascido. A
conduta irá variar conforme o grau da hidronefrose.
Em geral na nossa instituição encaminhamos para seguimen-
to pela nefrologia os casos mais graves, para a urologia/cirurgia
pediátrica os casos que podem vir a ter procedimentos cirúrgicos
e os demais casos são em geral acompanhados pela pediatria.

Ultrassonografia Pós-Natal Com Hidronefroses Graus I E II Bilateral ou rim único

• Seguimento pode ser feito apenas com a pediatria. Conduta instituída ainda no hospital, antes da alta
• Pode ser mantido sem antibióticoprofilaxia se cistouretro- • Antibioticoprofilaxia (cefalexina:20mgkg 12/12 hs-
grafia miccional (CUM), realizada com 4 a 6 semanas de 5ml=250g)
vida for normal. • CUM no hospital.
• A CUM, deve ser solicitada, com base em estudos que • Função renal (creatinina, uréia, eletrólitos e gasometria)
indicaram que dentre os pacientes com RVU, 40 a 70% após 72 horas de vida.
apresentavam exames ultrassonográficos normais ou • Cintilografia com MAG3, se necessário, para esclareci-
com dilatação piélica leve. mento antes da alta.
• Repetir ultrassonografia com 4 a 6 semanas.
• Acompanhamento pela pediatria, uroculturas de 3/3 Se diagnóstico de válvula de uretra posterior (VUP) - sondagem
meses no primeiro ano enquanto a ultrassonografia de vesical antes da alta médica.
controle mostrar alteração. Se função renal muito alterada – considerar derivação urinária
• Caso haja no seguimento episódio de infecção do trato antes da alta e/ou diálise conforme indicação clínica, acompa-
urinário – completar a investigação do trato urinário. nhamento concomitante do nefrologista pediátrico.

Conduta após alta


• Controle da função renal com maior periodicidade confor-
me grau de alteração. 539
• Uroculturas mensais
• Repetir ultrassonografia após 6 a 8 semanas.
• Solicitar cintilografia com DMSA ou DTPA ou MAG3 com
sonda vesical, após 4 a 6 semanas.
• A critério médico solicitar outros exames complementa-
res (Urografia excretora, Tomografia etc.).

Após o diagnóstico definitivo, o acompanhamento e indicações


cirúrgicas deverão ser diferenciados conforme a malformação
urinária apresentada pelo paciente. (Ver rotina específica).

Ultrassonografia Pós-Natal Com Hidronefroses Graus, Iii E Iv:

Seguimento deverá ser feito também pela urologia ou cirurgia


pediátrica e se possível pela nefrologia.

Unilateral
• Alta hospitalar com uso de antibióticoprofilaxia.
• Urocultura mensal até esclarecimento do diagnóstico
(depois a critério clínico).
• Cistouretrografia miccional (CUM), após 4 a 6 semanas.
• Repetir ultrassonografia após 6 a 8 semanas.
• Solicitar cintilografia estática com ácido dimercaptosuc-
cínico (DMSA) / cintilografia dinâmica com ácido dietile-
notriaminopentacético (DTPA) ou com MAG3. Realizadas
sempre com sonda vesical, após 4 a 6 semanas.
• A critério médico solicitar outros exames complementa-
res (Urografia excretora, Tomografia etc.).

Paulo R. Margotto
Assistência ao Recém-Nascido de Risco

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Capitulo 15 Distúrbios do Trato Genitourinário

15.3 ASCITE

Paulo R. Margotto

A ascite neonatal é conceituada como sendo a presença de lí-


quido livre na cavidade abdominal do feto ou recém-nascido (RN),
podendo fazer parte do espectro da hidropsia fetal não imune ou
pode estar presente como um achado isolado. Segundo Moore e
Tipton, a hidropsia fetal não imune é uma condição que pode ser
diagnosticada pelo ultrassom, demonstrando edema generalizado
da pele maior que 5mmm com duas ou mais dos seguintes: ascite,
efusão pleural, efusão pericárdica ou espessamento da placenta
maior que 6 mm. Devido a uma diminuição tanto na incidência
como na severidade da doença hemolítica pelo sistema Rh, torna-
se importante o conhecimento e manuseio de outras causas de
hidropsia fetal. Causas não imunológicas são bem conhecidas e
entre estas, salientam-se as de origem infecciosa, como toxoplas-
mose, citomegalia, sífilis e anormalidades cardíacas.
Neste capítulo vamos comentar as principais causas de ascite
neonatal (que são muitas) e apresentaremos, de Griscom e cl,
um quadro diagnóstico a ser seguido frente ao bebê com ascite.
Herman TE, Siegel MJ. J Perinatol 29:178, 2009
Reconhecimento (ascite quilosa)

Quando for observada a distensão abdominal no bebê, a pal- Sinais Radiológicos De Ascite (De Franken, Jr.).
pação ajuda muito no sentido de determinar se a distensão é
devido à massa(s) ou se é causada por ascite.
Já desde o nascimento, a atenção é chamativa pelas dificulda-
des que tem o obstetra para o nascimento do bebê. A distensão
abdominal por qualquer causa pode estar associada a grandes
dificuldades respiratórias, sendo este o maior problema para o 541
atendimento médico; a paracentese na sala de parto pode salvar
a vida do bebê, aliviando a pressão no diafragma e veia cava.
As causas de distensão do abdome fetal incluem:

•Massa tumoral ou cística (geralmente envolve fígado ou rim);


•Dilatação do trato urinário ou genital;
•Obstrução do trato intestinal: pode causar distensão em
poucas horas, especialmente se associado com peritoni-
te ou íleo meconial;
•Ascite

Exame Clínico Do Abdome

Ao nascimento, o abdome do bebê é plano, mas em poucas


horas, torna-se levemente arredondado, devido ao ar deglutido.
Havendo ascite, não somente o contorno é aumentado, mas tam-
bém os flancos são cheios e salientes. A palpação para a verifica-
ção da presença de massas pode não ser revelada devido à resis-
tência da parede abdominal estirada. Distinção entre líquido livre •Logo: estes sinais podem indicar ascite, mas outras do-
de conteúdo de uma grande estrutura dilatada pode também não enças devem ser incluídas no diagnóstico diferencial.
ser possível. Dilatação das veias superficiais é freqüente em to-
das as formas de ascite, indiferente da causa fundamental e di-
latação das veias hemorroidais tem sido relatado. Ânus imperfu-
rado sem outras lesões reconhecidas pode ser notado. Hidrocele
comunicante e hérnias inguinais são freqüentes.

Aspectos Radiológicos

O RX de tórax e abdome pode revelar distensão abdominal,


opacificação difusa e saliência dos flancos. A falta de alças in-
testinais distendidas exclui obstrução intestinal. O estômago e o
jejuno são centralmente desviados. Os pulmões são pobremente
aerados devido ao efeito da compressão do abdômen distendido.

Paulo R. Margotto
Assistência ao Recém-Nascido de Risco

Sinais Mais Específicos De Fluído Intraperitoneal:

Um sinal adicional notado pelo autor foi o desvio da borda he- peritoneal e peritôneo posterior, sugere que estes tecidos possam
pática lateral da parede abdominal. atuar como uma membrana semipermeável para diálise.
Urinoma pode resultar da rotura da bexiga ou rim ou transuda-
Causas De Ascite ção de urina; em 1-8,5% dos casos, a válvula de uretra posterior
542 está associada com o urinoma, podendo chegar até 15% dos ca-
A causa do acúmulo de líquido livre na cavidade abdominal do sos. Não foi evidenciada diferença na função renal entre os pa-
feto e RN é considerada sobre 3 condições: cientes com e sem urinoma. Lee e cl definem o urinotórax como
resultado da transudação de urina retroperitoneal ou da coleção
1. Uropatia Obstrutiva; urinária intraperitoneal para o espaço pleural. Esta condição deve
2. Distúrbios Porto-hepáticos; ser sugerida quando ocorre efusão pleural em pacientes com obs-
3. Condições variáveis: trução do trato urinário (a relação da creatinina da efusão para a
4. Infecções intrauterinas {toxoplasmose, citomegalia, sí- creatinina sérica >1, confirma o diagnóstico de urinotórax).
filis, parvovirose B19, Doença de Chagas} Segundo Krane e cl, o extravasamento perirrenal, como a
5. Ascite quilosa ascite urinária, parece resultar da pressão aumentada no trato
6. Ascite cardíaca urinário. Estas condições não parecem ser secundárias à rutura
7. Eritroblastose fetal tecidual. Quando significante refluxo vesicoureteral estiver pre-
8. Malposição de cateter umbilical venoso sente, o extravasamento parece emanar de um ponto do sistema
calicial. Moncada e cl, mostraram evidências radiológicas para
Uropatia Obstrutiva a comunicação entre o sistema calicial, o espaço perirrenal e a
cavidade peritoneal. A urina provavelmente entre na cavidade
Patogenia peritoneal pela transudação através do retroperitôneo, embora
É a causa mais freqüente de ascite neonatal, sendo responsá- em 1 caso, um claro gotejamento no retroperitônio foi relatado.
vel por 60-70% dos casos de ascite fetal. Uma via alternativa (e mais direta) para a produção da ascite uri-
Segundo Snyder Jr, todo bebê com distensão abdominal, au- nária é a rotura da bexiga, que pode ocorrer espontaneamente
sência de massas palpáveis, RX revelando líquido livre na cavi- ou pode ser devida a rotura neurogênica da bexiga, secundária
dade abdominal confirmada por aspiração, tem uma Uropatia a neuroblastoma, como descrita por Mann e cl. Smith relatou ro-
Obstrutiva até prova contrária. tura do parênquima renal por parto traumático em um RN com
Quanto ao mecanismo: é incerto. Desde que Lord propôs a teo- diagnóstico intra-útero de grave hidronefrose sem ascite com se-
ria de que a obstrução na vida fetal produz exsudação de urina da vera obstrução na junção ureteropélvica. Tran H e cl descreveram
bexiga, ureteres ou rins, este conceito ainda permanece viável; até um caso de rotura da bexiga secundária a necrose da parede
1976, em 29 casos, foram bem descritos os diferentes pontos de devido à severa infecção do trato urinário em um RN de 27 dias.
saída de urina, dos quais 23 encontram-se no rim. Moncada e cl, Em caso ocorrido na Unidade de Neonatologia do Hospital Re-
demonstraram gotejamento peritoneal posterior em três bebês gional da Asa Sul (Registro 295742-DN: 17/11/81) detectamos
com ascite urinária e explicaram a ascite urinária na base de uma válvula de uretra posterior com refluxo vesicouretral esquerdo e
comunicação aberta entre o sistema coletor rompido e a cavidade extravasamento renal esquerdo para cavidade peritoneal. Em
peritoneal. Nos casos de Barry e cl, mudanças nos eletrólitos e muitos casos de ascite urinária, o extravasamento perirrenal não
uréia da urina para o urinoma subcapsular e para o peritônio, jun- tem sido descrito (1/3 dos casos o sítio não foi identificado):
tamente com a ausência de perfuração na cápsula renal e fáscia
Capitulo 15 Distúrbios do Trato Genitourinário

• Displasia renal, e pode haver: estenose ureteral, úraco


patente (umbigo que não fica seco no bebê);

Ainda no abdome, ao exame físico, qualquer bebê com massas


bilaterais e em muitos casos, massa suprapúbica, deve ser pen-
sado em válvula da uretra posterior.
A junção ureteropélvica é a região mais comum das uropatias
obstrutivas no RN e geralmente apresenta-se como uma massa
abdominal palpável que na ultrassonografia é vista como uma
área livre de eco e pela pielografia venosa pode ou não demonstrar
função. Estes rins hidronefróticos podem ser bilaterais (20 a 30%
dos casos), pode ter grandes dimensões, chegando a ocupar toda
a cavidade abdominal e causando dificuldade no nascimento e na
É também possível que o ureter nestas crianças não superdisten- respiração pós-natal (a dificuldade respiratória pode ser resolvida
dem, mas simplesmente hipertrofiem em resposta ao aumento de pela inserção de um catéter de drenagem no rim hidronefrótico.
pressão secundária à obstrução do trato urinário baixo (válvula de
uretra posterior é causa mais comum) havendo uma transmissão Guarde bem
de pressão para o sistema coletor renal, a área com maior probabi- Metade de todas as massas do abdome do bebê provém do
lidade de permitir extravasamento (haveria uma rotura hidrostática trato urinário. Qualquer massa abdominal no bebê, a sua avalia-
do sistema coletor). Segundo Krane e cl, o extravasamento perir- ção deve ser iniciada pela investigação do rato urinário.
renal é diretamente relacionado com aumento de pressão dentro Genitália: hipospádia, a estenose do meato não é incomum as-
do trato urinário (um fenômeno de pressão). Uma vez a urina, no sociada com hipospádia; todos os meninos com hipospádia devem
espaço perirrenal, ela pode então, entrar na cavidade peritoneal ser examinados cuidadosamente para assegurarmos que o meato
diretamente (através de dilaceração) ou pela transudação (Scott). é de adequado calibre. Se diurese ocorrer durante o exame, deve
ser observado cuidadosamente, não colocar uma fralda imediata-
Diagnóstico mente sobre o pênis para bloquear o fluxo urinário. Se a urina se
apresenta com um fluxo forte, isto fala fortemente contra a pro-
1. Clínico: babilidade de bexiga neurogênica, válvula da uretra posterior ou
estenose congênita da uretra. Por outro lado, crianças com menor
História Clínica grau de obstrução pode ainda urinar com um bom fluxo, desde que
• História Familiar: verificação de problemas no trato uriná- a hipertrofia do destrusor possa sobrepor à obstrução presente.
rio em parentes e irmãos do bebê (pode sugerir a possi-
bilidade de malformação) Logo 543
• História da Gestação: uso de drogas, fumo, álcool, san- A presença de um fraco, intermitente ou gotejante fluxo pode indi-
gramento durante o 1° Trimestre, restrição do cresci- car uropatia obstrutiva e um aceitável fluxo não eliminar a possibili-
mento intrauterino, idade da mãe (acima de 35 anos, dade de um problema obstrutivo. No nosso caso (REG. 295742-DN:
grande incidência de malformações no bebê), rubéola ou 17/11/81) – válvula da uretra posterior com refluxo vesicoureteral
diabetes materno. esquerdo e extravasamento renal esquerdo para a cavidade peri-
• História do Parto: apresentação pélvica, trabalho de par- toneal com conseqüente ascite urinária, foi observado, durante o
to prolongado, traumatismo, conseqüência de hidrone- exame físico, micção descontínua com gotejamento urinário.
frose maciça ou ascite urinária (rotura de bexiga).
Nota
Exame Físico 92% dos bebês urinam nas primeiras 21hs de vida e 99%, o
Fundamental importância para o diagnóstico. fazem no final de 48hs; falha para urinar por 48hs, não necessa-
• Clássica Face de Potter: orelhas largas, implantação bai- riamente significa uropatia obstrutiva ou séria insuficiência renal,
xa, hipertelorismo, face senil; mas certamente levanta a hipótese.
• Cordão Umbilical: presença de artéria umbilical única
(recentemente estudos têm indicado que não há grande 2. Laboratorial
incidência de anormalidades genitourinárias no RN); • A uréia e a creatinina sérica: podem ser normais imediata-
• Tórax: RN com pneumomediastino e pneumotórax com mente após o nascimento, se a mãe tem uma função renal
dificuldade respiratória e que não tenha aspirado me- normal. Estes valores podem aumentar após o nascimento,
cônio e que não tenha sofrido ressuscitação artificial ou se um processo obstrutivo bilateral existe. Havendo uma
ventilação assistida, deve ser reavaliado urologicamente; significante uropatia obstrutiva unilateral, os valores perma-
• Ausculta Cardíaca: se indicativo de doença cardíaca con- necem normais.
gênita, principalmente cianótica, aumenta a probabilida-
de de anormalidade no trato urinário. Nota: Ureia = BUN (blood urea nitrogen) x 2,14
• Abdome: no sexo masculino, massas bilaterais no flanco Agora, veja bem: A absorção da urina da cavidade peritoneal leva
com bexiga distendida são mais provavelmente associa- a um aumento da creatinina sérica e uréia, segundo Nann e assim, a
das com válvula da uretra posterior. Qualquer massa pal- função renal pode ser muito melhor do que indica os exames.
pável deve ser imediatamente transiluminada. Fraqueza • Urografia excretora imediata: desde que a obstrução do
ou ausência da musculatura abdominal pode ser notada, trato urinário seja uma causa importante de ascite uri-
a bem conhecida S. de Prune-Belly é caracterizada por: nária, a urografia excretora não deve ser jamais omitida,
• Bexiga grande e hipotônica ; pois esta geralmente demonstra a obstrução e pode de-
• Uretra prostática dilatada; monstrar o sítio de extravasamento da urina.
• Criptorquidia
• Refluxo maciço bilateral com hidroureteronefrose;

Paulo R. Margotto
Assistência ao Recém-Nascido de Risco

Vejamos dois sinais: Distúrbios Porto-Hepáticos


• Sinal Perirrenal C e Sinal Perirrenal P de Dockray: um des-
vio medial do rim pode representar um urinoma subcapsu- Segundo Snyder Jr. a ascite é freqüentemente associada com
lar. Se o fluxo urinário é obstruído, o extravasamento uri- cirrose hepática e hipertensão portal no adulto e criança maior.
nário ocorrerá no ponto mais fraco do sistema coletor, em Liauvado e Plaja relataram estenose ou hipoplasia da veia porta
rins anteriormente saudáveis, é no fórnix calíciano. Outros e pressão externa por um pâncreas alargado ou tumor adrenal
sítios podem extravasar, se o rim estiver doente antes do como causa intrauterina de hipertensão portal e ascite.
insulto obstrutivo. Como o espaço subcapsular enche-se Diagnóstico: a icterícia não está regularmente presente, embora
de urina, o rim é desviado medialmente e inferiormente, a presença desta e um aumento do fígado e baço podem ser suges-
A urografia excretora resulta então do sinal perirrenal C. O tivos. Embora veias abdominais colaterais estejam dilatadas, não
sinal perirrenal P de Dackray é formado pelo halo do con- são distintivos de origem hepática da ascite, embora, a presença de
traste extravasado para o dentro da cápsula renal e que se veias anais engurjitadas provavelmente o seja. Medidas de suporte,
extende ureter abaixo dentro da fáscia de Gerota. como, muitas vezes a administração de albumina endovenosa são
• Cistouretrografia miccional: esta pode revelar evidência importantes. Cirurgia não tem sido de ajuda resolutiva, exceto como
direta de válvula de uretra posterior, dilatação da bexiga, uma ajuda diagnóstica através da biópsia hepática.
refluxo e extravasamento de contraste, segundo Dockray.
Causas Variadas
3. Conduta
Devido às péssimas conseqüências do extravasamento uriná- 1. Ascite Biliar
rio perirrenal neonatal com conseqüente ascite urinária, é impor- Treze casos de ascite biliar na infância foram apresentados
tante que seja proposta uma conduta: por Calver em 1964. O mais jovem paciente tinha a idade de 2
semanas e meia, quando os sintomas desenvolveram. Todos os
• Segundo Mann: uma precoce e adequada drenagem pacientes tinham saída de bile do canal biliar (perfuração) devido
urinária é o mais importantefator do sucesso, uma dre- a cálculo ou estenose. O principal sintoma abdominal agudo foi a
nagem proximal pela ureterostomia ou nefrostomia foi distensão, mais indicativa de ascite biliar do que peritonite biliar.
sucesso em 8 de 9 casos. Quando um fluido contendo bile é aspirado, a cirurgia é neces-
• Segundo Dockray: de 10 casos, 9 sobreviveram após o sária. Uma das causas mencionadas acima foi de uma criança
desvio do trato urinário alto e 11 de 19 casos morreram de 6 semanas de idade com cálculo biliar e perfuração opera-
após a drenagem baixa do trato urinário e outras mani- do com sucesso no Children Hospital of Los Angeles, em 1952.
pulações. Se o catéter ou drenagem suprapúbica não der Ocasionalmente, o escape de bile não produz peritonite biliar na
resultados dentro de um curto tempo, é aconselhável infância. Dois destes casos foram relatados.
imediata intervenção do trato urinário alto. Ureterostomia
544 cutânea e nefrostomia são um paliativo que pode salvar 2. Ascite Gastrintestinal
a vida do bebê. Nefrostomia percutânea ou aberta é pre- Segundo Snyder Jr, a ascite gastrintestinal no feto, como resul-
ferível à ureterostomia cutânea, conforme cita Tank. tado de peritonite foi a causa predominante desta condição no
passado. Em, 1951 foi descrito um caso de um RN que nasceu
Nota: segundo Krane e cl, muitos casos de válvula da uretra com abdome distendido, 5hs após o parto foram removidos 500
posterior não estão associados com extravasamento ou ascite ml de um líquido amarelo claro pela paracentese, culturas foram
(nestes casos, a falta de sucesso com uma imediata uretroval- estéreis, uma operação foi realizada para a correção da obstru-
vulostomia parece mais estar relacionada à inabilidade do trato ção intestinal, exame pós-morte revelou um abscesso hepático e
urinário alto para drenar bem no pós-operatório (são ureteres tor- tecido fibroso espessado no peritôneo. Não foi encontrado perfu-
tuosos, muito distendidos e incapazes de atividade peristáltica, ração do intestino. A causa da obstrução não foi pela peritonite
o que não ocorre quando há extravasamento urinário perirrenal meconial. Esta condição tardia é acompanhada por líquido claro.
(ureteres moderadamente dilatados; com o extravasamento há No estudo de 26 casos de pacientes com peritonite meconial no
uma descompressão do ureter). Childrens Hospital of Los Angeles, somente em um foi achado ter
Portanto: o tratamento cirúrgico deve ser o mais simples possí- uma grande quantidade de líquido livre (600 ml). Peritonites em
vel. Na experiência de Krane e cl.; feto e RN, como resultado de infecção piogênica, têm sido rela-
tadas, mas esta pode ser distinguida de outras formas de ascite
• Drenagem no trato urinário baixo com melhora clínica pela aparência escura do líquido e pela cultura. Vários tipos de
do paciente; se função renal deficiente, planejar outra anomalias intestinais, incluindo volvo, imperfuração anal, bridas,
cirurgia, derivação supravesical se necessário ou direta hérnias internas, tem sido consideradas como causa de ascite.
abordagem da causa da obstrução; Em resumo, segundo Herman e Siegel, as causas hepatobiliar
• Laparotomia exploradora e paracenteses repetidas no e intestinal são responsáveis por 15 a 30% dos casos de ascite
RN agudamente doente não estão indicadas; fetal. As mais comuns destas causas são a hepatite, atresia bi-
• Monitorização das condições pulmonares; liar, perfuração intestinal e a peritonite meconial.
• Correção das anormalidades eletrolítica e ácido-básica:
hipocalemia, hiponatremia (pode ocorrer em 70%, cujo 3. Ascite Quilosa
provável mecanismo seja a autodiálise com urina intra- A ascite quilosa pode ser responsável por 4 a 20% das causas
peritoneal contendo progressivamente menor concentra- de ascite fetal e neonatal, segundo Herman e Siegel. A paracen-
ção secundário ao aumento da renina e aldosterona; a tese é necessária para o diagnóstico do fluido quiloso. O flúido as-
urina que entra na cavidade peritoneal equilibra com o cítico é rico em linfócitos, proteínas e pode conter quilomícrons,
plasma) e acidose metabólica dependendo da dieta. Muitas vezes, a ascite quilosa pode apare-
cer semanas ou meses após o nascimento.
Pressão localizada nos linfáticos do mesentério tem sido prova-
da ser a causa de ascite quilosa em várias crianças. Todas foram
curadas por cirurgia, exceto em um caso, relatado por Gross e cl,
Capitulo 15 Distúrbios do Trato Genitourinário

em que a cirurgia não foi tolerada. Gribetz descreveu obstrução 4. Malformações, principalmente cardíaca
do ducto torácico, com formação cística e rutura. Desde que esta Segundo Feeney, Allan e cl e Beischer e cl, embora a patogenia
forma de ascite quilosa não pode ser diferenciada de defeitos da hidropsia fetal seja pobremente compreendida, a associação
incorrigíveis no sistema de drenagem linfática pelo exame ou por com a incompatibilidade sanguíneo materno fetal pelo sistema
estudos laboratoriais, a cirurgia é indicada em todos os pacientes Rh está bem estabelecida. Devido à diminuição da incidência e
que não respondem as medidas conservadoras. severidade desta incompatibilidade, a hidropsia fetal tem-se tor-
Ocasionalmente um RN com linfedema de extremidades (Doen- nado menos comum. Em 18-21% de todos os casos de hidropsia
ça de M. Milroy) pode ter ascite quilosa mais tarde.Cinco destes fetal em população caucasiana são devidas as causas não imu-
casos foram descritos por Warwick e cl. Um defeito no sistema de nológicas. Beischer e cl, estudaram 44 RN com hidropsia não
coletor linfático foi demonstrado na autópsia em alguns destes imunológica e revelaram uma associação em 47,7% com malfor-
casos. Todos os pacientes tiveram uma exploração abdominal, mação (21 bebês) e nascimento gemelar em 18,1% (8 bebês).
mas o restabelecimento da drenagem linfática não foi possível Quanto às malformações cardíacas, a incidência de hidropsia
em nenhum. Dois recuperaram-se da ascite e linfedema. fetal não imunológica foi aumentada em 100 vezes quando es-
Segundo Gross e cl, é necessário distinguir esta síndrome da do- tas estavam presentes. O tipo de malformação variou, em 15,9%
ença de Milroy, que é caracterizada pelos sintomas de linfangite, fre- malformação menor e 31% malformação maior.
qüentemente associada com anormalidades cutâneas e vasculares. Segundo Allan e cl, um defeito cardíaco deve ser suspeito nos
Os autores e apresentou um caso de um RN com ascite quilosa no casos de ascite idiopática. O autor relatou um caso de ascite fetal
qual o total de líquido removido durante toda a sua hospitalização como resultante da estenose aórtica levando à insuficiência car-
foi de 3.500 ml (o total de proteínas deste fluído foi de 90 gramas). díaca. Ultrassom realizado na 28º semana de gestação mostrou
Como causas, citam: ascite fetal e aumento de área cardíaca. Na 34º semana, a ul-
trassonografia mostrou novamente a ascite, grande dilatação de
• Falha de comunicação dos linfáticos periféricos com os átrio esquerdo e hipertrofia de ventrículo esquerdo. Com duas se-
grandes vasos coletores; manas de vida, o bebê apresentou cianose e insuficiência cardía-
• Oclusão congênita do ducto torácico com formação de ca, falecendo dentro de 24hs. A necropsia confirmou os achados.
cisto e conseqüente rotura; • Vejam o mecanismo:
• Adesão após cirurgia gastrintestinal (6 dias após); O RN era normal sob outros aspectos.
• Obstrução do mesentério do íleo em um paciente com 5
semanas de vida;
• Defeito na rotação do mesentério;

Portanto, segundo Gross e cl, a presença de efusão quiloperito-


neal geralmente implica em processo obstrutivo ou distúrbio cen-
tral ou periférico nos linfáticos. A exploração cirúrgica parece jus- 545
tificável quando a sintomatologia clínica é persistente. No caso de
Gross e cl, foi constatado na necropsia uma brida que pressionou o
íleo terminal, cólon transverso e o mesentério do intestino delgado,
causando obstáculo ao trânsito intestinal e circulação sanguínea
e linfática, resultando em ascite quilosa (a brida era um remanes-
cente venoso congênito) e conseqüente desnutrição. A obstrução
intestinal e a peritonite foram os eventos finais.

• O prognóstico é bom, com resolução espontânea na maio-


ria dos casos. Em 1/ 3dos casos a ascite resolve no primei-
ro mes de vida com tratamento conservador. O tratamento
mais freqüente é o manuseio da dieta, que envolve o uso
de triglicerídeos de cadeia média. Estes triglicérideos ultra-
passam o sistema linfático, diminuindo o fluxo de bile. No
entanto, o tratamento prolongado pode levar a anormali-
dades na mielinização do sistema nervoso central (Con-
sultem o capítulo de Causas do Distúrbios Respiratórios).

Paulo R. Margotto
Assistência ao Recém-Nascido de Risco

546

Segundo Feeney, quando ascite fetal for detectada na ultrasso- recuperação após o uso da penicilina. Geralmente a as-
nografia, a associação com defeito cardíaco dever ser suspeito. cite aparece por volta do 2° ou 3° mês devida, segundo
Quando a ascite for demonstrada e aparentemente de origem Ingall e Norins.
idiopática, o bebê deveria nascer em um Hospital onde houvesse
uma assistência cardiológica imediata, permitindo assim, uma • Citomegalia (CMV):. Albano N e H. V. Simões apresenta-
cirurgia precoce nos casos viáveis. ram um caso de ascite neonatal por citomegalia no XXI
Congresso Brasileiro de Pediatria (1979). O RN era pre-
5. Causas Infecciosas maturo e foi submetido à exsanguineotransfusão por hi-
perbilirrubinemia e teve alta. Ao ser admitido no Hospital
• Toxoplasmose: Em 1974, Shain e cl, descrevera um das Clínicas apresentava icterícia +/4, ascite, hérnia um-
caso de síndrome nefrótica congênita (edema generali- bilical, circulação colateral. Durante a evolução apresen-
zado, assim como grande ascite) devido à toxoplasmose tou uma intercorrência de infecção respiratória. Foram
congênita, que respondeu muito bem à corticoterapia, feitas punções abdominais. Veio a falecer com 53 dias
pirimetamina e sulfadiazina e ácido folínico por 3 sema- de vida. A necropsia revelou peritonite fibrosa, hepatopa-
nas. O quadro histológico é variável e inclui doença re- tia colestática, varizes esofagianas, hemorragia digestiva
nal microcística, síndrome nefrótica por lesões mínimas, e o exame microscópico revelaram a presença de células
glomeruloesclerose focal com proliferação endocapilar. A de inclusão citomegálica nos pulmões e fígado.
biópsia deste caso revelou depósitos de imunoglobulinas
no glomérulo em associação com o Ag da toxoplasmose Costa MAM e Margotto PR apresentaram um caso de ascite
O depósito de Complemento foi identificado na 2º biópsia neonatal por citomegalia na 1° Jornada de Pediatria de Brasília
(7 meses após o tratamento com prednisona e adminis- (1980), caso ocorrido no Berçário do Hospital L-2 Sul (Registro
tração de 3 semanas de pirimetamina e sulfadiazina). A 231296-DN:29/05/79), RN prematuro, de peso 1 kg, sexo mas-
2° biópsia não mostrou evidências de complexos Ag-Ac culino, Apgar de 14:1 e 3’:3, abdome ascítico (piparote positivo),
glomerulares para toxoplasmose notados antes. Esta fígado a 3 cm RCD e baço a 2 cm da RCE, ausência de muscu-
criança desenvolveu este quadro aos 4 meses. latura abdominal, criptorquidia bilateral, bolsa escrotal hipoplá-
sica, pênis hipoplásico, VDRL não reagente, urografia excretora
• Sífilis: Yampolskyj e Mullins, assim como Taitz e cl, normal, RX de abdome revelando velamento completo do abdo-
descreveram severa glomerulonefrite proliferativa com me, placenta com calcificações generalizadas e pigmentos. Com
formação de crescente epitelial em dois casos de sífi- 17hs de vida, apnéia, crise convulsiva e óbito. Na autópsia, com-
lis congênita, mas a lesão renal não é assim tão grave. provou-se ascite (líquido peritoneal amarelo citrino) e Citomegalia
Pollner relatou leve proliferação endotelial e um pequeno (foram encontradas células de inclusão citomegálica em quase
espessamento da membrana basal, havendo completa todos os órgãos, principalmente rins). Juntamente com Albano
Capitulo 15 Distúrbios do Trato Genitourinário

N e HV Simões, chamamos a atenção para a inclusão no diag- Bibliográfia


nóstico diferencial da ascite no primeiro mês de vida a pesquisa
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Griscom, e cl. apresentaram um quadro diagnóstico para o survivor and a review of therapy for those living and dead. J Urol 112:840, 1974.
bebê suspeito de apresentar ascite (consulte a figura adiante): • Evans B B.Obstrutive uropathy in neonate. Clin Perinatol 8:1981.
• Shahin B, Papadopoulou Z L, Jenis E H. Congenital nephrotic syndrome associated with
O RX de abdome geralmente distingue ascite de obstrução in- congenital toxoplasmoses. J Pediatr 85:366, 1974.
testinal e de tumores não detectados. Se o RX indica ascite e o • Ingall D, Norins L. Syphilis. IN: Remington J S, Klein J O N. Infections diseases of the fetus
and newborn, Fourth edition, W B Saunders Company, pg. 529, 1995.
bebê está muito doente, paracentese deverá ser feito em lugar • Torok TJ. Human parvovirus B19. IN: Remington J S, Klein J O N. Infections diseases of the
fetus and newborn, Fourth edition, W B Saunders Company, pg. 668, 1995.
da cistografia e urografia excretora por dois motivos; melhora do • (Fisiopatologia e tratamento do recém-nascido). Avery G B, Fletcher M A, MacDonald M G,
4ª Edição. Editora Médica Científica Ltda., pg. 887, 1999.
desconforto respiratório e diagnóstico.
• Clarke Jr HS, Milsss ME e cl. The hyponatremia of neonatal urinary ascites:clinical observa-
Se o fluído peritoneal assemelha-se com conteúdo intestinal, tions, experimental confirmation and proposed mechanism. J Urol 150)Suppl e):778, 1993
• Rejjal AR, Galal MO. Complications of parenteral nutrition via an umbilical vein catheter.
laparotomia para o reparo da perfuração intestinal é necessário Eur J Pediatr 152:624, 1993
urgentemente. Se o fluído é hemorrágico, considerar rutura de • Coley BD, Segun J e cl. Neonatal nutrition ascites from liver erosium by umbilical vein
catheters. Pediatr Radiol 28:923, 1998
um cisto ovariano, toxoplasmose ou outro distúrbio hemorrágico, • Sampath V, Narendran V. Nonimune hydrops fetalis and fulminant fatal disease due to
congenital cytomegalovirus infection in a premature infant J Perinatol 25: 608. 2005
rutura de víscera sólida. Se o fluído assemelha-se ao soro, cisto- • Lee CC, Fang CC e cl. urinothorax associated with VURD syndrome. Pediatr Nephrol
grafia e urografia excretora deverão ser feitas. 20:543, 2005
• Heihhilã J, Taskinen S, Rintala R. Urinomas associated with posterior uretral valves. J Urol
18o;1476, 2008
• Smith DP. Can perinatal events cause neonatal urinary ascites. J Urol 159:1652, 1998
• Dos mesmos autores, Pontos Diagnósticos Diferenciais: • HermanT,Siegel MJ. Congenital chylous ascite. J Perinatol 29:178, 2009
• Se uma bexiga grande ou mielomeningocele estiverem • Tran H, Nguyen N e cl. Neonatal bladder rupture. Indian J Pediatr 76:429, 2009
• Basu S, Chandra PK e cl. Fetal ascites owing to congenital cytomegalovirus: response to
presentes, a ascite é provavelmente urinária; ganciclovir. Ann Trop Paediatr 28: 235, 2008
• Se ocorrer vômitos ou as alças intestinais é anormal, embo- • Vasdev N, Coulthard MG e cl. Neonatal urinary ascites secondary to urinary bladder ruptu-
re. J Pediatr Urol 5:100, 2009
ra não distendidas, causas gastrintestinais são prováveis; • Limas C, Soultanidis C e cl. A case of spontaneous rupture of the bladder. Turk J Pediatr 547
49:196, 2007
• Se houver um importante edema periférico ou generali-
zado, considerar infecção, doença cardíaca, doença he-
pática, eritroblastose e outras causas de Hidropsia Fetal
(Consulte o capítulo de Hidropsia Fetal)
• Se hepatomegalia estiver presente, as causas infeccio-
sas, cardíacas, hepáticas são as mais prováveis.

Na experiência destes autores, o uso do sistema proposto (mos-


trado na figura a seguir) constitui um plano diagnóstico eficiente e
o seu uso ocasionalmente evitará desnecessária laparotomia.

Paulo R. Margotto
Assistência ao Recém-Nascido de Risco

548

(Modificado de Griscom N T, Colodny A H Flow chart illustrating propose diagnostic approach.


Am. J Roentgenol 128:961,1997. Boletim Informativo Pediátrico (BIP)-Brasília,
Nº 21 - Ascite Neonatal - Margotto P R, 1982.)
Capitulo 16 Hidropsia Fetal

Capítulo 16

Hidropsia
Fetal
Assistência ao Recém-Nascido de Risco

16.1 HIDROPSIA FETAL

Jefferson G. Resende / Paulo R. Margotto

A hidropsia é definida como excesso de líquidos em duas ou 2. Todos os bebês tem hipoalbuminemia (devido a uma
mais áreas corporais, como tórax, abdômen ou a pele. Ocorre em redução da capacidade de síntese do fígado, secundária
1/1500 a 4000 partos. à distorção do cordão de células hepáticas pela hemólise
e aumento do parênquima hepático pelas ilhotas de eri-
Hidropsia Fetal Isoimune tropoese), levando a baixa pressão coloidosmótica, que
pode explicar a hidropsia.
Identificação do feto de risco para hidropsia
Este fato tem implicações terapêuticas importantes, pois a infu-
A equipe médica e de enfermagem, bem como o Banco de San- são de plasma ou sangue total, aumentando esta pressão coloi-
gue, deve estar avisada, sempre que possível e com antecedên- dosmótica aumentará muito o volume circulante por transferência
cia, do nascimento de um RN isoimunizado. do líquido do extra para o intracelular, piorando a insuficiência car-
Na identificação do feto de risco para Hidropsia, são considera- díaca geralmente preexistente, podendo o RN morrer rapidamente
das condições pelo obstetra segundo Bowman.
3. Pressão Venosa Central (PVC) - Não reflete somente o
1. História prévia de RN afetados volume sanguíneo circulante, reflete, também, a resistên-
(O risco de uma subseqüente morte fetal por hidropsia é, no cia arterial pulmonar e a função do ventrículo direito. A
mínimo 90%) asfixia deve ser evitada a todo custo, pois a hipoxia, hiper-
capnia e acidose, além da anemia já existente, agravará
2. Títulos de anticorpos maternos: Coombs indireto. todo o quadro de hipoxia tecidual e de hipertensão pul-
monar; além disso, piorará ou precipitará a insuficiência
cardíaca iminente.
4. É esperada alta incidência de Doença da Membrana
Hialina.
5. O óbito se dá, geralmente, por progressiva insuficiência
cardíaca e respiratória. A mortalidade relatada na litera-
Havendo historia precedente de hidropsia ou severa eritroblas- tura varia de 50 a 90%.
550 tose que requereu exssangüíneotransfusão, considerar títulos
baixos como 1/4 ou 1/8. Exames Laboratoriais

3. Espectrofotometria do líquido Amniótico Exames laboratoriais (que podem ser realizados em sangue de
É o meio seguro e digno de confiança para predizer a gravidade cordão): Tipagem e Coombs direto, série vermelha, bilirrubinas,
e o progresso da hemólise fetal. Somente usando os títulos de proteínas totais e frações. Eletroforese de hemoglobina, sorologias
anticorpos Rh e a história materna podem-se predizer com certe- para toxoplasmose, citomegalia, rubéola, doença de Chagas, sífilis,
za os fetos severamente afetados em apenas 62%. cariótipo e pesquisa de lupus materno, podem ser necessário em
Não somente a incompatibilidade Rh, como também a incom- casos de hidropsia não imune. Pedir histopatológico da placenta.
patibilidade ABO, pode causar hidropsia fetal, especialmente
em pacientes com o tipo O ou com história prévia de incompati- Diagnóstico diferencial com hidropsia não imune
bilidade ABO no RN. A incompatibilidade ABO raramente resulta Alguns dados:
em doença neonatal severa por várias razões, entre as quais:
células outras, além dos eritrócitos fetais possuem antígenos Hidropsia Imune Hidropsia Não Imune
A e B, provendo sítios adicionais de ligação com o anticorpo; Não primigesta Pode ser primigesta
muitos anticorpos anti-A e anti-B são do tipo IgM e não cruzam
Mãe Rh negativo Pode ser positivo
a placenta, mas alguns pacientes com o tipo O podem produzir
Coombs indireto positivo Pode ser negativo
preferencialmente auto-anticorpos anti-A e anti-B do tipo IgG
que cruzam a placenta. Filhos anteriores com história
Sem relato de filhos
de exssangüíneotransfusão,
anteriores com icterícia
Clínica icterícia ou mesmo hidropsia
Sem malformações Presença de malformações
A apresentação habitual é anemia, edema e sinais hipóxicos Hepatoesplenomegalia Pode não ocorrer
ao nascimento.
Alterações esperadas em maior ou menor intensidade, depen- Tratamento
dendo do caso:
Deve ser imediato e intensivo, visando corrigir a hipoxia, acido-
1. O mais freqüente é que o volume circulatório esteja se, hipoglicemia e anemia.
dentro do habitual para a idade gestacional (70 a 79 ml/
Kg); é raro que seja maior ou menor. Ventilação Mecânica
É freqüentemente necessária, pois, além da asfixia e da acido-
se intraparto que por si só já poderão impor a ventilação mecâ-
nica, é freqüente a ocorrência de Doença da Membrana Hialina,
edema pulmonar e derrame pleural (hidrotórax). Ascite muito
Capitulo 16 Hidropsia Fetal

intensa, pode promover restrição à expansão torácica e impor evidencia a literatura: o tratamento do hipertireoidismo materno
paracentese. Adequada oxigenação e ventilação pode requerer com propiltiuracil levou a resolução da hidropsia fetal não imune
maiores parâmetros ventilatórios (FR :40 - 60/min. - PIM: 25 - 30 por essa causa, assim como o tratamento intraútero de severa
cm H2O PEEP: 4 a 6 cm H2O) anemia fetal possibilitou o controle da hidropsia fetal.
Exssangüíneotransfusão (ET) Durante o pré-natal suspeita-se de hidropsia quando houver
A normalização da Hb e do Htc deverá ser alcançada inicialmen- hidropsia em gestações anteriores, casos relatados na família,
te por uma ET parcial usando-se concentrado de hemácias (40 ml/ além de polihidrâmnio. Geralmente, no entanto, o feto hidrópico
kg- tipo O, Rh negativo não perigoso). O objetivo é obter um Htc o é um achado de ecografia.
mais satisfatório e mais tarde, uma ET de uma volemia com san- Um pré-natal bem feito pode ajudar no esclarecimento da cau-
gue de Htc normal. Além de outros dados clínicos, a ET deve ser sa, além de fornecer informações sobre as condições do bebê. Se
realizada em geral, com níveis de Hb no cordão de 8 a 10g %. a hidropsia for diagnosticada antes de 24 semanas de idade gesta-
cional, o risco de morte é maior (95%), assim como maior risco de
Transfusões de sangue ou sangrias anormalidades no cariótipo (1/3); após a 24ª semana a causa mais
Os RN com doença Rh e hidropsia têm volumes sangüíneos provável é a idiopática ou devido a anormalidades cardiotorácicas.
normais, não sendo recomendadas transfusões sangüíneas ou Entre as principais causas temos as alterações cromossômicas
sangrias, pois o habitual é o nascimento em condições normo- (Síndrome de Turner é a mais comum), hipoplasia pulmonar, hér-
volêmicas (assim, a insuficiência cardíaca como causa primária nia diafragmática, disfunção cardíaca, quilotórax fibrose cística
da hidropsia não pode ser aceita); tais procedimentos somente do pâncreas, obstruções do trato urinário, síndrome nefrótica,
seriam feitos com medida eficiente da PVC. (com ressalvas já doenças do metabolismo, hemoglobinopatias (a mais comum é
mencionadas); o cateter radiopaco pode ser introduzido pela veia a talassemia alfa homozigótica). Vários tipos de nanismo e infec-
umbilical, com a ponta na veia cava inferior (controlar). ções perinatais crônicas, como Doença de Chagas, Parvovirose
B19, Citomegalovírus podem levar a hidropsia. Anormalidades
Albuminoterapia cardiovasculares e a alfa-talassemia homozigótica tem sido rela-
a hipoalbuminemia se correlaciona com a severidade da doen- tados como sendo as causas mais freqüentes, seguido de anor-
ça, mas não há evidências que o uso de albumina seja benéfico. malidades cromossômicas. Em 44% dos casos não se consegue
determinar as causas. O prognóstico é ruim, principalmente se
Monitorizar a glicemia, diagnosticada antes de 24 semanas de gestação e principalmen-
diurese, pressão arterial e, se possível, a PVC. te se associada com cariótipo normal (cursa com uma mortali-
dade perinatal de 70 a 90%). Fukushima e cl, em uma série de
Tanto a hidropsia imune como a não imune apresentam volu- 214 casos, avaliados em um período de 27 anos, relataram uma
me sanguíneo normal ou reduzido; se, no entanto for necessária mortalidade de 41,4% e sobrevivência intacta de 50%.
expansão (indicado quando a perfusão periférica está compro- O acompanhamento ecográfico é absolutamente necessário. Co-
metida), optar por sangue total aplicado lentamente (2 horas) leta de líquido amniótico e de sangue fetal para estudos genéticos 551
monitorizando a hemodinâmica do RN e metabólicos podem elucidar a etiologia, ainda no pré-natal. Além
do mais, informações ecográficas poderão rastrear malformações
Em Resumo cardíacas e renais, por exemplo, como apoio importante aos cui-
dados do recém-nascido na UTI neonatal. Também a ecografia no
• Aquecer; pré-parto imediato poderá informar à equipe neonatal se deverá
• Corrigir a hipoxia com aumento da FiO2 ou ventilação me- ou não haver necessidade de esvaziamento torácico e/ou abdomi-
cânica; nal, se houver dificuldades de reanimação na sala de parto.
• Corrigir a acidose com ventilação mecânica ou uso cuida- Esses bebês devem nascer em unidades que contam com
doso de bicarbonato’ UTI neonatal.
• Exsangüíneotransfusão com concentrado de hemácias: O atendimento em sala de parto deverá ser feito com o máximo
40 ml/Kg de previsibilidade. Isso quer dizer, que a equipe será múltipla, já
• Corrigir o edema pulmonar: Ventilação mecânica com que a maioria requererá intensa ressuscitação cárdio-respirató-
PEEP adequada, furosemide, restrição hídrica, digitálicos. ria, com freqüente necessidade de infusão de drogas. É também
• Lembrar que a PEEP aumentada, que poderá restringir o freqüente a necessidade de toracocentese e paracentese, para
edema pulmonar poderá de outro lado, impor dificuldade aliviar cavidades, possibilitando melhor expansão torácica. É pre-
ao ventrículo direito; paracentese em casos de ascite res- ciso cuidado na paracentese já que é comum a presença de he-
tritiva à respiração; drenagem de tórax em alguns casos. patomegalia (aqui também a ecografia poderá ajudar).
Colher sangue do cordão umbilical para pesquisar as anoma-
Nos casos de hidropsia fetal não imune (o mesmo não se pode afir- lias já citadas, além de avaliação bioquímica e hematológica.
mar para isoimune), relata-se que a melhor diurese ocorre entre 7 e Quase sempre esse bebê irá à ventilação mecânica. Avaliar a
12 dias de vida e que a perda de peso pode variar de 28% a 43%. função cardíaca, assim como toda a hemodinâmica é impositivo
para possibilitar um melhor manuseio. Assim, cardiomonitor com
Hidropsia Fetal Não Imune ECG, pressão venosa central, pressão arterial, débito urinário,
etc, permitirão melhor manuseio da hemodinâmica.
Com a melhora da terapia pré-natal, a hidropsia fetal devido à isoi- O habitual é o bebê nascer com bom hematócrito (46% em
munização Rh tornou-se menos comum (nas séries iniciais era 80% média) e com hipoalbuminemia. O uso de restrição hídrica, utili-
de 1976-1988, caiu para 20% e hoje, provavelmente é mais baixa), zação de sangue e derivados, albumina, etc será quase sempre
evidenciando, portanto, a importância do conhecimento e manuseio necessário e, obrigatoriamente, sob monitorização.
de outras causas de hidropsia fetal (hidropsia não imune). Muitos casos têm pulmão hipoplásico, desenvolvem doença da
A abordagem da hidropsia não imune difere, em muitos pontos, membrana hialina (DMH) e hipertensão pulmonar persistente. A
do exposto para hidropsia isoimune. ventilação mecânica é quase sempre agressiva, e os cuidados
Da mesma forma, o pré-natal bem feito pode esclarecer o diag- decorrentes, mais atentos.
nóstico e até, em alguns casos, possibilitar o tratamento, como

Paulo R. Margotto
Assistência ao Recém-Nascido de Risco

As avaliações pós-natais incluem estudos ecográficos (cora-


ção, sistema urinário, transfontanela), radiográficos (crânio, tó-
rax, ossos longos), além dos já citados.
Estudos genéticos são imprescindíveis, uma vez que, além de
possibilitar-nos conhecer a causa básica, em muitos casos, per-
mitirá aconselhamento genético à família.
Apesar da mortalidade alta, dependendo da época da gesta-
ção em que o diagnóstico for feito, alguns RN sobrevivem, inclu-
sive sem anormalidades.

Bibliografia
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of non-immune hydrops fetalis. Early Human Development 87: 571, 2011

552
Capitulo 17 Urgências Cirúrgicas

Capítulo 17

Urgências
Cirúrgicas
Assistência ao Recém-Nascido de Risco

17.1 PROTOCOLO PARA ACOMPANHAMENTO CLÍNICO


AOS RECÉM-NASCIDOS SUBMETIDOS À CIRURGIA

Raulê de Almeida / Jaisa Maria M. Moura

1. Todo recém-nascido (RN) deverá ter um pré-operatório No Centro Cirúrgico


que deverá compor de:
• Radiografias de tórax e/ou abdome do dia; 1. Preparar o seguinte material:
• Hemograma(com plaquetas): • Campos aquecidos (os da cirurgia e outros mais), soro
Manter hematócrito >35% e plaquetas > 50000 mm³ nos pa- quente, povidine morno, lâmpada de infravermelho, col-
cientes que serão submetidos á operações ; chão térmico (quando houver), ou bolsas de água quente
Solicitar reserva de sangue (20ml/kg), nos pacientes que se- ou elétrica como o colchão;
rão submetidos á operações de grande porte;
Solicitar reserva de plaquetas para pacientes plaquetopênicos 2. Tomar os seguintes cuidados:
que serão submetidos á operações de emergência. • Nunca descobrir o RN desnecessariamente;
• Provas de função hepática e renal (opcional, dependendo • Manter o rn sob aquecimento da incubadora ligada na
do caso). rede elétrica do Centro Cirúrgico;
• Antibióticos: • Quando da transferência do RN da incubadora para a
Terapêutico: verificar o horário da próxima dose e avisar ao mesa de operação, o colchão térmico deverá estar pronto,
anestesista; os campos quentes recém-colocados e a lâmpada de infra-
Profilático: iniciar ao encaminhar o paciente para o centro ci- vermelho ligada (esta deverá permanecer assim, direcio-
rúrgico. nada para a cabeça da criança, que terá os olhos protegi-
• Bioquímica: sódio, potássio, cloro, cálcio e glicose): dos, durante todo o tempo que estiver fora da incubadora);
Repor perdas, antes da operação e colher controle. • Todos os procedimentos após a colocação da criança na
Gasometria (até uma hora antes): mesa devem ser rápidos;
No caso de acidose metabólica, repor bicarbonato e colher o • Durante a cirurgia muito soro morno deverá estar à dis-
controle. posição do cirurgião;
• Ao retirar os campos, outros novos (quentes) devem ser
2. Preparar o RN para o transporte uma hora antes da colocados sob e sobre o RN;
554 hora marcada pra a cirurgia: • Durante o tempo da cirurgia a incubadora para transpor-
• Dar banho; tar o RN deve permanecer ligada.
• Dieta zero de no mínimo 4 horas (para leite materno).
Caso esteja alimentado, fazer lavado gástrico e deixar a Observações
sonda orogástrica aberta;
• Aquecimento da incubadora de transporte ou berço A perfusão venosa, sua velocidade de infusão, bem como as
aquecido; doses de medicamentos no pré-operatório, serão da responsabi-
• Envolver os membros e a cabeça com algodão ortopédico lidade do neonatologista conjuntamente com o anestesista:
e faixa de crepon;
• Medir a temperatura retal ao sair e anotar; • Gasometria deverá ser avaliada no transoperatório, a in-
• Encaminhar o paciente com hidratação venosa de ma- tervalos a discutir com o cirurgião e anestesista e corre-
nutenção (de preferência sem o potássio e mantendo a ções devem ser feitas, se necessárias;
mesma taxa de infusão de glicose da nutrição parenteral); • Reposições sanguíneas deverão ser feitas com sangue
• Encaminhar o RN com o mínimo de bombas de infusão e fresco ou plasma fresco congelado + concentrado de he-
outros medicamentos contínuos. mácias, no total de 20ml/kg, imergindo-se o equipo em
recipiente com soro aquecido;
3. O neonatologista deverá acompanhar o RN e levar o
seguinte material: cânulas para entubação traqueal Obs.: Quando do preparo da cirurgia, o neonatologista deve en-
(vários diâmetros), sondas para aspiração traqueal (de caminhar amostra de sangue do RN ao banco de sangue, e soli-
calibre adequado), ambú e máscara, respirador, monitor citar que o sangue seja preparado e guardado. Durante a cirurgia
(no caso de não haver no centro cirúrgico), estetoscópio o sangue deve estar no Centro Cirúrgico.
e equipamento de mede-mede com microgotas (caso não
haja no centro cirúrgico). Deverá sempre verificar se o ní- • As infusões serão feitas via contador de microgotas (me-
vel do oxigênio da bala de transporte está adequado. de-mede), com absoluto controle do volume perfundido
(ml/hora), pelo neonatologista;
4. O neonatologista deverá fazer um pequeno relatório onde • No caso de prematuros muito pequenos, ou RN com di-
deve constar: identificação, diagnóstico, idade, cirurgia pro- fícil acesso venoso periférico deve sempre ser providen-
posta, peso, temperatura, e resultado nos últimos exames. ciado um acesso venoso central, principalmente em ope-
rações prolongadas ou de grande porte.
5. Enviar o RN para o Centro Cirúrgico, imediatamente à
chamada do Centro Cirúrgico, logo após a chegada do
anestesista.
Capitulo 17 Urgências Cirúrgicas

Após Retorno Do Paciente


Para A Unidade De Neonatologia:

1. Avaliar clinicamente o RN (verificar perfusão, ventila-


ção, diurese etc...) e monitorizá-lo adequadamente.
2. Para os pacientes que estiverem sob ventilação mecâni-
ca, os prematuros e todos aqueles submetidos á cirurgias
de grande porte, os respiradores devem ser montados e
regulados antes do retorno do RN do centro cirúrgico;
3. Verificar posição da cânula orotraqueal e refixar se ne-
cessário;
4. Verificar, identificar e se preciso, refixar os drenos, son-
das e cateteres, testando sua permeabilidade e anotan-
do o volume drenado.

Bibliografia
• Suckhran R. Anestetic management of the newborn. Clin Perinatol 16:43, 1989

555

Paulo R. Margotto
Assistência ao Recém-Nascido de Risco

17.2 DEFEITOS NO FECHAMENTO DA PAREDE ABDOMINAL:


(ONFALOCELE/GASTROQUISE)

Jaisa Maria Magalhães de Moura

Cuidados Pós-Natais
Onfalocele

Embriologia

Existe uma falha na migração e fusão das pregas laterais. A


herniação do intestino médio para dentro do cordão umbilical
ocorre entre a 6ª e 10ª semanas. Nos casos de onfalocele o intes-
tino e outras vísceras permanecem dentro do cordão umbilical.

Incidência •Proteção do saco peritoneal com compressas úmidas e


mornas e recobertas por filme plástico (de PVC), para evi-
1:3000 a 1: 10000 nascimentos vivos. tar perda de calor e umidade.
Malformações associadas (30 a 80% casos): •Hidratação venosa (80ml/kg/dia)
•Sonda orogástrica
•Cardiovascular (35%) •Verificar diurese (sonda vesical de demora)
•Cromossômicas (20%) •Antibióticoterapia (amplo espectro)
•Trato gastrintestinal (80%). •Ecocardiograma e ecografia renal, como existem várias
malformações associadas, inclusive cromossômicas,
Diagnóstico Pré-Natal elas devem ser investigadas.

Observa-se na ultrassonografia fetal parte do conteúdo da cavi- Tratamento Cirúrgico


dade abdominal herniado para dentro do cordão umbilical.
O tratamento cirúrgico pode ser:
556
•Fechamento primário
Quando a onfalocele é pequena e o fechamento primário da
aponeurose não causa síndrome compartimental.
•Fechamento estagiado
Colocação de tela de silicone sobre o defeito, confeccionando
uma “chaminé de silástico”, isso permite a redução gradual das al-
ças intestinais para a cavidade abdominal. Em geral essa redução
é realizada a cada 24/48 h até que seja possível fechar a aponeu-
rose sem aumento significativo da pressão intra-abdominal.
•Tratamento conservador
Só é utilizado nos raros casos em que não são possíveis os ou-
tros dois tipos de fechamento. O saco herniário é pincelado com
uma substância anti-séptica (álcool a 70%). Até que se torne uma
Características Gerais Da Onfalocele “carapaça” e seja gradualmente epitelizado, resultando em uma
E Diagnóstico Diferencial Com Gastrosquise grande hérnia ventral que será corrigida posteriormente.

Características Onfalocele Gastrosquise Gastroquise


lateral ao cordão
Localização anel umbilical
umbilical Durante as duas últimas décadas, a prevalência de gastros-
Tamanho do defeito 3 a 10 cm <4cm quise tem aumentado na maioria dos países. Nos trabalhos mais
Membrana de recentes, realizados de 2004 a 2006, apresentou-se uma taxa
presente ausente de prevalência de até 4,4 a 7 por 10.000 nascimentos vivos.
revestimento
Alças intestinais normais edema e exudato Dentre os fatores de risco, o único comprovado é a idade ma-
Fígado herniado presente raro
terna. Mulheres jovens, abaixo dos 20 anos de idade, têm 11
vezes mais possibilidade de gerar um feto com gastrosquise do
Malrotação presente presente
que mulheres acima dessa idade.
Cavidade abdominal pequena > que na onfalocele.
Sobrevida com taxas superiores a 90% são conseguidas em
Anomalias associadas 40 – 80% rara
diversos serviços.
Atresia intestinal rara 10%

Conduta No Período Pré-Natal

Após a confirmação do diagnóstico, as ultrassonografias ges-


tacionais são realizadas, de forma seriada, conforme a idade
Capitulo 17 Urgências Cirúrgicas

gestacional e a presença de alterações ultrassonográficas, em


intervalo de duas a quatro semanas até o termo da gestação.
Em todos os exames, são feitas medidas antropométricas do
feto, descritas as características da gastrosquise, bem como a
pesquisa de outras anomalias associadas.
A via de parto adotada para os fetos com diagnóstico de gas-
trosquise é a cesariana, após 37 semanas de gestação, ou antes, ‘
caso a mãe inicie trabalho de parto prematuro.
As imagens de alterações identificadas durante a ultra-sonogra-
fia pré-natal, que estão relacionadas com um pior prognóstico são:

Imagens ultrassonográficas
•Puncionar acesso venoso periférico para a reposição
hidroeletrolítica (120ml/kg) e antibióticos (ampicilina e
gentamicina).

Dilatação de alça intestinal Exame Das Alças Intestinais Expostas


extra-abdominal
As principais características analisadas ao exame físico, quan-
to ao aspecto das alças intestinais são edema, espessamento
e consistência da parede intestinal, intensidade das aderências
entre as alças, vascularização e presença de camadas de fibrina.
De acordo com as características citadas acima, as gastros-
Dilatação de alça intestinal
quises são classificadas segundo o aspecto das alças intestinais
intra-abdominal:
expostas, em três graus crescentes de gravidade:

Edema leve do intestino


Grau 1
Ausência de espessamento de
parede intestinal
Ausência de aderências entre
Espessamento do mesentério:
as alças intestinais
Parede intestinal compressível
Ausência de fibrina recobrindo 557
Espessamento da parede as alças intestinais
intestinal. (Considerado quando Ausência de sofrimento vas-
as alças intestinais extra-abdo- cular
minais apresentavam-se com
paredes espessadas, aumento Edema moderado do intestino
Grau 2
da refringência (esbranquiça- Presença de espessamento da
das) e aglomeradas. parede intestinal
Aderências frouxas entre as
alças intestinais
Conduta Ao Nascimento Parede intestinal compressível
Presença de fina camada de
Após o nascimento todos os recém-nascidos são internados na fibrina
Unidade de Terapia Intensiva Neonatal (UTI-NEO) recobrindo as alças
Recepção do RN, pelo pediatra, de modo estéril, com campos Ausência de sofrimento vas-
esterilizados, capote e luva. A proteção das alças intestinais ex- cular
postas é realizada com compressas estéreis, úmidas e mornas,
envolvidas por filme plástico. O modo de proteção das alças visa
sobretudo proteger e envolver as alças, evitando-se a compres-
são vascular e impedindo a perda significativa de calor ou líqui-
dos por evaporação.É importante que o intestino seja mantido na Edema intenso do intestino
Grau 3
linha média e que seja observado continuamente para assegurar Presença de espessamento da
a perfusão adequada, para evitar a torção do mesentério. parede intestinal
O posicionamento do paciente com gastrosquise em decúbito Aderências firmes entre as
lateral direito, visa melhorar o retorno venoso e a perfusão das alças intestinais
alças intestinais antes e depois do procedimento cirúrgico. Parede intestinal enrijecida
Presença espessa camada de
•Descompressão gástrica por sonda de Nelaton número 10. fibrina recobrindo as alças
Presença de sofrimento vas-
cular

Paulo R. Margotto
Assistência ao Recém-Nascido de Risco

Tratamento Cirúrgico 48h, para diminuir o edema pós-operatório. O recém-nascido com


gastrosquise tem albumina sérica baixa e, ao contrário, no líquido
• Depois da estabilização clínica, os recém-nascidos são amniótico apresenta alto nível de proteína. Alguns autores, em es-
encaminhados ao centro cirúrgico, de preferência de 1 tudos clínicos e experimentais, comprovaram a perda de proteína
até no máximo 6 horas após o nascimento, onde são fetal e sugeriram que a hipoalbuminemia e a hipogamaglobuline-
anestesiados e operados. mia apresentadas por esses pacientes poderiam ser responsáveis
• As técnicas utilizadas são a redução primária ou a redução tanto pela alta incidência de infecções, como pelo baixo peso apre-
estadiada, escolhidas conforme a gravidade de cada caso. sentado em grande parte dos casos com gastrosquise.
• A ordenha das alças é realizada após a injeção de soro
fisiológico morno via sonda retal, com ordenha suave até • A analgesia do paciente nos primeiros dias de pós-opera-
total esvaziamento do intestino delgado e grosso. Pode- tório é feita com fentanil.
se optar por injetar soro fisiológico com fluimucil, para • A sonda gástrica calibrosa é mantida no pós-operatório
facilitar a ordenha do mecônio muito espessado.O estô- até que a drenagem diminua substancialmente.
mago deve ser aspirado constantemente durante o pro- • Após o terceiro ou quinto dia de PO é iniciado estímulo
cedimento, para minimizar o risco de aspiração pulmonar retal com solução glicerinada (10ml), 2 x dia, até que o
do conteúdo gástrico. paciente comece a evacuar normalmente.
• Se for detectada área de atresia, pode ser feito o reparo • A bromoprida ou domperidona é iniciada ao ser retirada
primário, com anastomose da alça, se esta estiver em a sonda gástrica, antes da introdução da dieta, para me-
boas condições, caso contrário opta-se por reintervenção lhorar o esvaziamento gástrico.
depois de 3 a 4 semanas. • A dieta oral é introduzida, conforme as condições do
• Após o total esvaziamento das alças intestinais é iniciada paciente, após o décimo dia de pós-operatório (PO). Em
a tentativa de fechamento primário. alguns casos, com boa evolução, pode-se tentar introdu-
• A medida da pressão intra-vesical é realizada através de zir a dieta após o sétimo dia de PO. Entretanto o peris-
uma sonda vesical acoplada a um sistema de medida taltismo eficiente e as condições clínicas dos pacientes
de PVC. A pressão intra-vesical reflete a pressão intra- devem sempre serem observadas antes da introdução ou
abdominal deve ser medida antes, durante e depois do da progressão da dieta.
procedimento operatório. Medidas acima de 20 cm de • Em caso de suspeita de obstrução intestinal, deve ser
H2O estão associadas a altos índices de incidência de mantida dieta zero e solicitado trânsito intestinal após o
síndrome compartimental. décimo dia de PO.
• Em geral, o bom senso é importante ao se optar pelo • Os pacientes obstruídos devem ser reoperados quando
fechamento primário, as medidas de pressão antes e estiverem bem compensados clínicamente.
após o procedimento não devem ser tão discrepantes, a
558 ventilação da criança deve ser observada atentamente, Complicações E Prognóstico
a tensão da parede abdominal ao fechamento também.
Sempre que possível evitar fazer a dilatação manual da A taxa de complicações nos casos com gastrosquise é muito
parede abdominal. alta, e varia de 67 a 46%.
• Ao se optar pelo fechamento estagiado, a tela de silicone No período pós-operatório imediato, a complicação mais grave
deve ser fixada na aponeurose abdominal tomando-se o é a síndrome compartimental, que causa deterioração rápida do
cuidado de não torcer ou comprimir o pedículo vascular quadro clínico, devendo ser detectada precocemente
durante o fechamento do silo. Outras complicações precoces tais como desidratação gra-
• O curativo sobre o silo deve ser feito com gazes e faixas ve, distúrbios eletrolíticos e insuficiência pré-renal podem advir
estéreis, evitando-se ao máximo a contaminação da tela. de grandes perdas hídricas e eletrolíticas, tanto no período pré
• O RN deve ser mantido nas primeiras 12 horas após a co- quanto no pós-operatório. Por outro aspecto, deve-se ter em con-
locação do silo em posição de decúbito lateral. O silo só ta, que esses pacientes respondem mal à sobrecarga hídrica vis-
deverá ser mantido em posição ortostática após a total to como apresentam, em geral, algum grau de hipoalbuminemia,
estabilização do paciente. podendo, nesse caso, manifestar quadro clínico de anasarca ou
de insuficiência cardíaca congestiva
Conduta No Pós-Operatório A infecção é outra complicação relativamente comum. Os fa-
tores de risco vão desde a exposição e contaminação das alças
• Todo RN, operado por gastrosquise, deverá sair do centro intestinais até o uso de cateter venoso central, nutrição parente-
cirúrgico com um acesso venoso profundo, uma vez que ral prolongada e a imaturidade do sistema imunitário neonatal. A
o tempo estimado de NPT é de 10 a 15 dias e o tempo de septicemia é responsável por 71% da mortalidade nestes casos.
internação médio é de 20 a 30 dias. Os trabalhos que descrevem o acompanhamento dessas crian-
• No pós-operatório imediato é mantido antibiótico profilá- ças até a vida adulta, consideram o prognóstico geral e o desen-
tico ou terapêutico dependendo do aspecto das alças e volvimento somático, psicomotor e neurológico como excelentes
das condições clínicas do paciente. na maioria dos casos.
• No caso de tratamento estagiado, com o uso da tela de
silástico o antibiótico é sempre terapêutico, pois serão Bibliografia
feitas várias manipulações até o total fechamento da pa-
• Babcock CJ, Hedrick MH, Goldstein RB, Callen PW, Harrison MR, Adzick NS. Gastroschisis:
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Capitulo 17 Urgências Cirúrgicas

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559

Paulo R. Margotto
Assistência ao Recém-Nascido de Risco

17.3 OBSTRUÇÕES INTESTINAIS

Jaisa Maria Magalhães de Moura

Os principais tipos de obstrução intestinal observados no perí- Etiologia


odo neonatal são:
Obstrução extrínseca
•Atresias digestivas 80% •Malrotação
•Esôfago 30% •Brida de Ladd
•Ano-retal 30% •Compressão:
•Delgado 20% •Duplicação duodenal
•Duodeno 50% •Veia porta pré-duodenal
•Ileal 35%
•Jejunal 15% Obstrução intrínseca
•Megacólon congênito 10% •Pâncreas anular
•Malrotação intestinal 6% •Membrana duodenal
•Íleo meconial 2%
•Outras 2% Anomalias Associadas

Obstrução Duodenal •Síndrome de Down- (25-40%)


•Anomalias esqueléticas – ( 36%)
Diagnóstico Pré-Natal •Anomalias das costelas e vértebras, agenesia sacral, etc.
•Malformações gastrointestinais – (26%)
•Poliidrâmnio •Atresia de esôfago, malrotação intestinal, anomalia ano-
•Dupla bolha (estômago e duodeno) retal, etc
•Anomalias cromossômicas (25% apresentam trissomia •Cardiopatias- (20%)
do 21) •Malformações genito-urinárias – (18%)
•Cardiopatia (malformação que pode estar associada)
Conduta No Pré-Operatório

560 •Passar SOG e repor débitos


•Compensar desequilíbrio hidroeletrolítico e ácido-básico
•Antibiótico profilático

Tratamento Cirúrgico

•Sempre que possível – anastomose duodeno-duodenal


(“diamond shaped”)
•Sonda transanastomótica (possibilita a alimentação precoce)

Conduta No Pós-Operatório
Diagnóstico Pós-Natal
Dieta zero por 7 dias a 10 dias, caso tenha sido deixada sonda
•Aspiração de grande volume de secreção biliosa do estô- enteral transanastomótica a dieta pode ser feita assim que hou-
mago logo após o nascimento. ver bom peristaltismo.
•Vômitos biliosos precoces. Inicialmente o uso de procinéticos pode ajudar.
•Distensão apenas do andar superior do abdome. Manter cabeceira elevada.

Diagnóstico Radiológico Obstruções De Jejuno E Íleo

Injetar 20 a 40 ml de ar pela SOG e fechar antes da radiografia. Diagnóstico Pré-Natal


Imagem de dupla bolha (estômago e duodeno dilatados).
Alças intestinais dilatadas (múltiplas bolhas)
Poliidrâmnio
Capitulo 17 Urgências Cirúrgicas

Anomalias Associadas Conduta Pós-Operatório

Ao contrário das obstruções duodenais, as obstruções de Retardo no esvaziamento gástrico é esperado, principalmente
delgado têm pouca incidência de malformações associadas (< nos casos em que existe a dilatação do estômago e duodeno,
10% dos casos). considerar também a desproporção entre as alças anastomosadas.
Dieta zero por 5 a 10 dias
Diagnóstico Pós-Natal Cabeceira elevada
Procinéticos
•Vômitos biliosos ou fecalóides Estímulo retal (quando necessário)
•Distensão abdominal tanto maior quanto mais baixa for
a obstrução. Malrotações Intestinais
•Ausência de gás no reto
•Retardo ou não eliminação de mecônio Embriologia

Diagnóstico Radiológico Sexta semana - intestino cresce mais rápido que a cavidade
abdominal – hérnia fisiológica dentro do cordão umbilical
Alças intestinais dilatadas, ausência de gás no reto. O intestino roda 270 graus durante o retorno para a cavidade
Quanto mais distal for a obstrução maior a distensão das alças abdominal na décima semana.
intestinais
Manifestação Clínica

Sintomas de obstrução intestinal que podem ser precoces ou tar-


dios, 50% dos pacientes apresentam sintomas no período neonatal.
No caso de volvo os sintomas aparecem subitamente e com
rápida deterioração do quadro clínico, nestes casos o diagnósti-
co de volvo deve sempre ser aventado e o paciente rapidamente
compensado e submetido ao tratamento cirúrgico.

Diagnóstico radiológico

Poderá ser pedido trânsito intestinal e/ou clister opaco.


Pode ser observado mal posicionamento do duodeno, do colon
ou imagem de espiral no caso dos volvos. 561

Classificação Das Atresias De Jejuno E Íleo

•Tipo I - diafragma (membrana intra-luminar)


•Tipo II - cordão fibroso (atresia intestinal com porções dis-
tal e proximal ligadas por um cordão)
•Tipo IIIa - defeito no meso (atresia intestinal com as duas
porções separadas)
•(Tipo IIIb - “Apple piel (casca de maçã) ou Christmas Tree
(pinheiro de natal)”: é o tipo de atresia intestinal mais
grave, atresia proximal com restante do intestino com ro-
tação em torno da mesentérica).
•Tipo IV - atresias intestinais múltiplas

Tratamento Cirúrgico

•Antibióticoprofilaxia
•Sempre que possível - anastomose primária termino termi-
nal ( com ou sem remodelagem da alça proximal dilatada)
•Quando não é possível fazer a anastomose – jejunosto-
mia ou ileostomia

Tratamento Cirúrgico

A operação vai depender do tipo de malrotação e do aspecto


das alças intestinais. No caso da brida de Ladd, só a secção da
brida é necessária, outros casos podem requerer anastomoses
ou confecção de ostomias.

Paulo R. Margotto
Assistência ao Recém-Nascido de Risco

Íleo Meconial Megacólon Congênito


( Doença De Hirschsprung)
Etiologia
Etiologia
A quase totalidade dos pacientes com íleo meconial apresenta
fibrose cística, no entanto apenas 15% dos pacientes com muco- Crianças portadoras de aganglionose apresentam defeito na
viscidose apresentam íleo meconial. inervação entérica distal, caracterizada pela ausência de células
ganglionares nas camadas.
Manifestação clínica Submucosa e muscular e aumento das fibras neurais colinérgi-
cas; mais freqüentemente, o retossigmóide está envolvido.
•Distensão abdominal
•Vômitos biliosos Diagnóstico Clínico
•Ausência ou retardo na evacuação
•Abdome tenso e eritema indicam presença de complicações A apresentação clínica mais comum é de retardo de eliminação
de mecônio por mais de 48 horas após o nascimento, com neo-
Diagnóstico Radiológico nato evoluindo com quadro clínico de obstrução intestinal distal.
O toque retal, feito com a introdução de uma sonda número 10
•Distensão de alças intestinais ou 12, revela saída explosiva de gases e fezes.
•Nível líquido só no estômago
•Imagem de mecônio misturado com ar, simulando “vidro Diagnóstico Radiológico
moído” – sinal de Neuhauser.
•O clister opaco – revela um microcolon A radiografia simples de abdome evidencia distensão de alças
com ausência de ar nos segmentos distais, na maioria dos casos.
Tratamento O enema baritado, obrigatoriamente realizado sem preparo de
colo, e com as radiografias tardias de 24, 48, 72 e até 96 horas,
Nos casos não complicados o tratamento pode ser feito ape- classicamente revela imagem de “cone de transição”, geralmen-
nas com a irrigação do colon com contraste hidrossolúvel, que te ao nível do retossigmóide, que separa o segmento espástico
tem um índice de sucesso de 16 a 50% dos casos. de intestino agangliônico da zona dilatada a montante, melhor
Nos casos complicados pode ser necessário operação com irri- visualizada na radiografia em perfil.
gação, ressecção anastomoses ou derivações.

Diagnóstico Diferencial
562
Quando se fala em peritonite meconial costuma-se fazer confu-
são entre três essas três formas de apresentação:

1. Íleo meconial – já descrito anteriormente e está sem-


pre associado à mucoviscidose.
2. Peritonite meconial - significa que houve uma perfura-
ção intestinal na fase intrauterina, seja espontânea, seja
secundária a uma atresia. Quando a criança nasce bem
e tem uma perfuração intestinal que extravasa mecônio Nos casos em que o estudo radiológico não for conclusivo,
após o nascimento, isso não é mais chamado de “perito- devem-se utilizar outros meios diagnósticos.
nite meconial”. A manometria anorretal mede alterações na pressão do canal
anal durante e após a distensão retal. Quando as células gan-
A peritonite meconial deve ser pensada em todo recém-nas- glionares estão presentes, a distensão retal com balão inibe o
cido que nasce com uma obstrução intestinal e que nas primei- esfíncter anal interno, resultando em queda da pressão anal, re-
ras 6 ou12 horas apresenta uma grande distensão. Ás vezes a flexo reto-esfincteriano. O reflexo está ausente nos pacientes com
perfuração que ocorreu intraútero não foi totalmente bloqueada, doença de Hirschsprung. Entretanto este meio diagnóstico não é
então, após o nascimento, com a deglutição de ar, pode haver um de fácil realização ou interpretação no período neonatal.
pneumoperitôneo localizado. Assim, a peritonite meconial pode Na dúvida diagnóstica, deve-se sempre confirmar com biópsia
se apresentar de várias formas diferentes, uma das dificuldades retal de sucção ou com a biópsia clássica, retirando-se uma fita
da operação nestes casos é a grande quantidade de aderências muscular. A biópsia mostrará ausência de células ganglionares,
e calcificações que ocorreram no período neonatal devido ao ex- com a coloração de hematoxilina-eosina, e a pesquisa da ativi-
travasamento do mecônio na cavidade peritonial. dade de acetilcolinesterase resultará positiva, devido a aumento
das fibras neurais dentro da muscularis mucosae e lâmina própria.
3. Rolha meconial - existe um retardo na eliminação do
mecônio, e em geral após estímulo retal a criança elimina Tratamento Cirúrgico
mecônio espessado que é chamado de “rolha meconial”,
nestes casos convém observar a criança e descartar Do- A cirurgia, para remoção do segmento intestinal agangliônico,
ença de Hirschsprung ou hipotireoidismo. é necessária. Na maioria dos neonatos, realiza-se colostomia no
segmento normal para descompressão, seguida da cirurgia de-
finitiva em três a nove meses. Mais recentemente, tem sido re-
alizado abaixamento do colon via endoanal como procedimento
primário no período neonatal.
Capitulo 17 Urgências Cirúrgicas

Anomalia Anoretal

Definição

Tem anomalia anorretal todo paciente que tem a abertura anal


localizada fora do complexo esfincteriano ou aqueles que não
têm abertura anal no períneo.

Classificação

1. Anomalia anoretal no sexo feminino Malformações Associadas


A anomalia mais comum é a fístula vestibular. A segunda e
mais simples é a fístula perineal. A terceira e mais complexa é As malformações urogenitais estão presentes em 20 a 54%
a cloaca. A cloaca é uma malformação na qual o reto, a vagina dos casos e devem sempre ser investigadas.
e o trato urinário unem-se e terminam num único canal comum. Outras malformações estão associadas em 25 a 54% dos ca-
2. Anomalia anoretal no sexo masculino sos e devem ser sempre investigadas:
O defeito mais comum é a fístula reto-uretral. O segundo é a
fístula reto perineal. As fístulas retovesicais representam apenas •Anomalias do esqueleto (sacro) - 6-27%
10% das anomalias. •Anomalias urogenitais - 20-54%
O ânus imperfurado sem fístula representa apenas 5% em am- •Anomalias cardiovasculares - 7-20%
bos os sexos e, por motivos desconhecidos, é mais freqüente em •Atresia de esôfago - 10%
crianças portadoras de síndrome de Down. •Outras anomalias gastrintestinais - 15%
•Miscelânea - 18%
Diagnóstico Clínico

O diagnóstico é facilmente realizado pelo exame físico adequa- Tratamento Cirúrgico


do - ectoscopia!
Fístulas perineais podem ser muito pequenas e a visualização Quando o paciente tem fístula perineal ou ás vezes nos casos de
da saída de mecônio só deve ser esperada após 24 horas de vida. fístula vestibular o tratamento é feito em tempo único (anoretoplas-
Procurar a presença de malformação em alça de balde que tia sagital posterior em um só tempo “mini-Peña” ou “cut-back”).
também sinaliza uma anomalia anorretal baixa. Em todos os demais casos é realizada primeiramente uma
Ao nascimento, em meninos, colocar um algodão sobre o pênis colostomia em “dupla boca” – após nascimento. Depois de 3 a
para verificar se há fístula do reto com o sistema urinário. 6 meses estes casos são operados e realizada a anoretoplastia 563
sagital posterior – Operação de Pena. Após 3 a 6 meses é feito o
fechamento da colostomia.

Prognóstico

Depende do tipo de anomalia. Quanto mais alta for a anomalia


anorretal maior a chance de incontinência. As anomalias baixas
têm maior chance de constipação.
De um modo geral, 37,5% ficam totalmente continentes e até
25% dos pacientes apresentarão incontinência total.

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• Kimura K, Tsugawa C, Ogawa K, Matsumoto Y. Multiple jejunoileal atresias: a successful
reconstruction by six end-to-end anastomoses. J Pediatr Surg 16:200,1981 15 Peña A. The
surgical management of persistent cloaca: results in 54 patients treated with a posterior
approach. J of Pediatr Surg 24:590,1989

Paulo R. Margotto
Assistência ao Recém-Nascido de Risco

17.4 ATRESIA DE ESÔFAGO

Jaisa Maria Magalhães de Moura

Introdução Malformações Associadas

A atresia de esôfago é uma malformação em que a parte pro- As malformações seguintes devem sempre ser pesquisadas, es-
ximal do esôfago termina em fundo cego. É a malformação mais tando associadas em 50 a 70% dos casos de atresia de esôfago:
comum do esôfago.
A primeira descrição foi feita em 1670, sendo que a primei- •Cardíacas – 35%
ra sobrevida de um caso operado em um só tempo ocorreu em •Geniturinária – 20%
1941 (Haight e Towsley) •Gastrintestinal – 24%
No Brasil a primeira sobrevida em um só tempo ocorreu em •Neurológica – 13%
1953. (Carvalho Pinto)
Hoje a sobrevida na maioria dos serviços de cirurgia pediátrica Associação VACTERL – 25% (V= vertebral / A=anorectal / C=
chega a 60-90% dos casos. cardiac / T=tracheo / E= esophageal/ R= renal / L = limbs)
Acomete 1:4000 nascidos vivos, sendo que 35% são prematu-
ros. Não há predomínio em relação ao sexo masculino ou feminino. Diagnóstico Clínico Pós-Natal

Classificação Apresentação típica:


•Salivação espumosa e aerada
Classificação segundo o prognóstico (1994) •Tosse, cianose, dispnéia.
•Abdome escavado (casos sem fístula)
Grupo Peso (g) Malformações Sobrevida(%) •Sintomas respiratórios
cardíacas graves •Dificuldade de passagem da SOG.
1 >1500 Não 96
2 <1500 ou Sim 60 Conduta no pós-natal
3 <1500 e Sim 18
Cabeceira elevada para evitar pneumonia química por refluxo
Classificação segundo os tipos de atresia de esôfago (figura 01): do suco gástrico para a àrvore traqueobrônquica. Manter RN em
564 posição semi-sentada, em cadeira de “bebê conforto”.
Sonda de aspiração no coto esofágico – replogue, para evitar
aspiração de saliva.
Não ventilar sob máscara! Pois não há como descomprimir o
estômago! Evitar ventilação com pressão positiva, inclusive CPAP
ou bolsa autoinflável: risco aumentado de distensão ou rotura
Tipo I ou A Tipo III ou C Tipo II ou B Tipo IV ou D Tipo V ou E gástrica. Se necessário, posicionar a cânula oro-traqueal além
da fístula ;
Figura 1 – classificação segundo os tipos As principais complicações estão associadas á pneumonia por
•Atresia sem fístula (8%) – Tipo I (A) aspiração (ver figura abaixo).
•Atresia com fístula distal com a traquéia (86%)- Tipo III (C)
•Atresia com fístula proximal com a traquéia (2%) - Tipo II (B)
•Atresia com fístula proximal e distal com a traquéia (1%)
– Tipo IV (D)
•Fístula traqueoesofágica sem atresia (3%) – Tipo V (E)

Diagnóstico Pré-Natal

Presença de polidrâmnio e ausência de visualização da bolha


gástrica em 56% dos casos. Em alguns casos é possível visualiza-
ção do côto esofágico superior dilatado (figura 02).

Figura 03 – Principais complicações da


atresia de esôfago com fístula distal

Conduta Na UTI Neonatal

•Radiografia (corpograma) com sonda contrastada no


coto esofágico proximal
•Vitamina k
•Antibióticoterapia ( profilaxia em casos de atresia de esô-
Figura 02 –Ecografia Pré-Natal fago sem fístula)
Capitulo 17 Urgências Cirúrgicas

•Avaliar função respiratória •Casos sem FTE – sempre fazer só a gastrostomia ini-
•Aporte venoso: 70 a 80ml/kg/dia (1º dia de vida), man- cialmente e tentar anastomose primária em um segun-
tendo uma TIG de 5 a 8mg/kg/min do tempo se a distância entre os côtos proximal e distal
•Dieta oral zero for menor que dois corpos vertebrais. Caso contrário, a
•Avaliar malformações associadas (ecocardiograma, eco- criança será submetida posteriormente a uma operação
grafia renal, corpograma). com transposição de colon.

Diagnóstico Radiológico Conduta No Pós-Operatório

A Sonda contrastada ou radiopaca, passada pela boca deve AE com FTE (com anastomose esofágica e com ligadura
ser introduzida até o final do côto esofágico. Não injetar contraste da fístula):
no côto esofágico para evitar aspiração! Solicitar corpograma, a
presença da sonda enrolada no côto proximal comprova a pre- •Evitar manuseio do RN
sença da atresia do esôfago proximal (figura 04). •O RN tem que estar com sedação e/ou analgesia contínuas.
•Não mobilizar e não tentar recolocar SOG
•Iniciar nutrição parenteral precocemente
•Iniciar dieta após peristaltismo eficiente (pela sonda tran-
sanastomótica)
•Antibióticoterapia
•Manter todos os cuidados contra o RGE:
Ranitidina
Bromoprida
Cabeceira elevada
•Manter curarizado, entubado e sedado por 3 a 5 dias,
(3 dias se a anastomose não tiver tensão e 5 dias se a
anastomose foi feia com tensão)
Vecurônio (Norcuron®) – frasco de 10mg (pó)
•Ataque: 0,1 mg/kg;
Figura 04 – sonda contrastada em esôfago proximal •Manutenção: 0,1 mg/kg/hora.

Se o corpograma mostrar presença de gás dentro das alças Exemplo: RN com 3,8 kg – 0,1 mg/kg/h = 0,1 x 3,8 x 24 =
intestinais, o diagnóstico é de atresia de esôfago proximal com 9,12 mg
fístula traqueo-esofágica distal. Se o corpograma não mostrar Diluir 1 frasco em 5 ml de água destilada 565
gás no abdome (velamento difuso), o diagnóstico é de atresia de 1 ml = 2 mg: retirar 4,5ml e infundir com 20ml de soro glico-
esôfago(AE) sem fístula traqueo-esofágica (FTE) distal. (figura 05) sado 5% a 1ml/h
•Não hiperextender o pescoço
•Aspiração do coto proximal até o quarto DPO
•Fazer esofagograma após 10 dias de pós-operatório:
•Se tiver fístula da anastomose manter dieta pela sonda e
repetir após 10 dias
•Se não tiver fístula – iniciar dieta via oral

AE sem FTE (gastrostomia):


•Aspiração do coto proximal
•Chupeta obrigatória!
•Dieta pela sonda da gastrostomia quando tiver peristal-
tismo
•Antibióticoprofilaxia
•Se o RN apresentar sinais de esofagite – iniciar ranitidina

Figura 05 – Atresia de esôfago com FTE e sem FTE Complicações No Pós-Operatório

Conduta Cirúrgica Pós-Natal Complicações precoces


Fístula da anastomose esofágica (15 a 20%) – a maioria fecha
O tratamento cirúrgico varia com a malformação: espontaneamente.
Fístula traqueal (rara) – drenagem com aspiração ou reoperação.
•Casos com FTE – sempre tentar anastomose primária. Complicações tardias
È realizada anastomose esofágica termino-terminal e Estenose da anastomose (40%) – dilatações endoscópicas
fechada a FTE, sendo deixado dreno de Penrose para Refluxo gastro-esofágico (60 a 80%) destes (30 a 40%) são
orientar uma fístula esofágica (caso haja deiscência da submetidos á fundoplicatura
anastomose) e dreno de tórax caso a abordagem não te- Alterações do peristaltismo esofágico
nha sido feita totalmente extrapleural. Traqueomalácea (5% dos casos) estridor/cianose – geralmen-
te se resolve entre 2 e 4 meses de idade.
Sintomas respiratórios até os primeiros 5 anos de idade.

Paulo R. Margotto
Assistência ao Recém-Nascido de Risco

Referências
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review. Pediatr Surg Int 16:546,2000.
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medical problems: a family study. Am J Med Genet 85:31, 1999
• Hitchcock RJI, Pemble MJ, Bishop AE, e cl. Quantitative study of the development and
maturation of human oesophageal innervation.J Anat 180:175,1992.
• Bayston R, Leung TSM, Spitz L. Faecal flora in neonates with oesophageal atresia. Arch
Dis Child 59:126.1984.
• Stringer MD, McKenna KM, Goldstein RB, e cl. Prenatal diagnosis of esophageal atresia. J
Pediatr Surg 30:1258,1995
• Chittmitrappap S, Spitz L, Kiely EM, e cl. Oesophageal atresia and associated anomalies.
Arch Dis Child 64:364,1989
• Iuchtman M, Brereton RJ, Spitz L, e cl. Morbidity and mortality in 46 patients with the
VACTERL association. Israel J Med Sci 28: 281.1992.
• Waterston DJ, Bonham Carter RE, Aberdeen E. Oesophageal atresia: tracheo-oesophageal:
a study of survival in 218 infants. Lancet 1:819.1962.
• Spitz L, Kiely EM, Morecroft JA, e cl. Oesophageal atresia. At-risk groups for the 1990s. J
Pediatr Surg 29:723.1994
• Lopes PJ, Keys C, Pierro A, e cl. Oesophageal atresia: improved outcome in high risk
groups? J Pediatr Surg 41:331,2006
• Spitz L, Kiely EM, Drake DP, e cl. long-gap oesophageal atresia.Pediatr Surg Int
11:462,1996
• Spitz L. Esophageal atresia: past, present and future. J Pediatr Surg 31:19,1996.

566
Capitulo 17 Urgências Cirúrgicas

17.5 ACESSO VASCULAR

Cateterismo De Vasos Umbilicais


Cateterismo Venoso Central Percutâneo
Vias De Administração De Medicamentos

Paulo R. Margotto, Martha G. Vieira, Jefferson G. Resende, Carla


Pacheco Brito, Kátia Rodrigues Menezes, Lady Maria C. A. de An-
drade, Vicência Soares de Almeida

A inserção de Cateteres Intravasculares é um dos procedimen- • Gaze estéril


tos mais comuns em UTI Neonatal. O uso de dispositivos intravas- • Clorexidina alcoólica a 0.5%
culares centrais em neonatologia é indispensável, pois são utiliza- • Clorexidina degermante a 2% ou 4%
dos principalmente para a infusão de fluidos, eletrólitos, nutrição • Solução de heparina 0,25 U/ml de SF 0,9%
parenteral, hemoderivados, exsangüíneotransfusão (ET), para
administração de drogas e monitorização dos pacientes graves. A Bandeja com Material de Cateterismo propriamente dito
sua utilização, muitas vezes necessária por períodos prolongados, • Tesoura reta
é devido às características próprias dos pacientes, que freqüen- • Pinça
temente apresentam impossibilidade de via oral para nutrição e • Fórceps de íris
medicamentos, disponibilidade limitada de vasos periféricos e • Porta agulha
pela gravidade inerente destes pacientes. É um acesso vascular • Bisturi com lâmina reta
imprescindível, mas que coloca os pacientes em risco de compli- • Pinça tipo hartman reta
cações mecânicas e complicações infecciosas locais e sistêmicas: • Cadarço umbilical
Complicações mecânicas: infiltração dos solutos infundidos, • Fio de sutura de seda 4 – 0
oclusão, fraturas, deslocamentos, migração ou exteriorização • Seringas de 5 e 10 ml
acidental do cateter, perfuração do miocárdio, derrame pericárdi- • Torneiras de três vias
co, tamponamento cardíaco, derrame pleural e arritmia cardíaca, • Cateteres adequados para o paciente
embolia ou trombose; • Água destilada ou solução fisiológica a 0,9%
Complicações infecciosas locais e sistêmicas:
Durante a inserção do cateter venoso ou arterial central utilizar
• Infecção do local: celulite peri-orifício, flebite; sempre técnica asséptica com emprego de máximas precau- 567
• Infecções Sistêmicas: Infecção Primária da Corrente San- ções de barreira estéreis:
guínea associada a Cateter Venoso Profundo e infecções
metastáticas (abscessos pulmonares ou cerebrais, pneu- • Usar gorro, máscara (até 1 metro de distância ao redor
monia, endocardite, endoftalmite, artrite). do procedimento), roupão estéril de mangas longas, lu-
vas estéreis, grandes cortinas estéreis;
Todos os cateteres centrais e periféricos são fontes potenciais • Usar solução degermante de clorexidina a 2% ou 4% na
de infecção, embora o risco seja maior com os cateteres centrais. anti-sepsia das mãos e braços por 3 min. Enxaguar com
O risco de infecção aumenta com o aumento do tempo da utiliza- água corrente e secar mãos e antebraços com compres-
ção do cateter e é inversamente proporcional à idade gestacional sas estéreis. Complementação da anti sepsia com solu-
e ao peso do RN. O aumento do risco de infecção também está ção alcoólica de clorexidina a 0,5%;
associado com o grau de manipulação do cateter, com a que- • Para degermação da pele do paciente usar clorexidina
bra na manutenção do sistema fechado para administração de degermante (tempo de exposição de 1 min.) fazendo mo-
drogas e hemoderivados e curativos, bem como a duração da vimentos centrífugos a partir do coto umbilical, limpeza
hiperalimentação com fluidos e emulsões lipídicas. desta com gaze estéril, seguida de anti sepsia com clo-
Apesar das suas muitas utilizações, cada tipo de cateter carrega um rexidina alcoólica a 0,5% (antes da inserção do cateter,
significativo potencial de risco de danos substanciais. A boa téc- aguardar a ação e permanência mínima de 2 min. do
nica de inserção, o rápido reconhecimento das complicações e a anti-séptico ou até que tenha secado por completo).
adequada gestão dos cuidados com o cateter irão minimizar os
prejuízos e as complicações relacionadas com o cateter central. Cateterismo Venoso Umbilical

Cateterismo De Vasos Umbilicais Se o cateterismo visa a realização de exsanguíneotransfusão


(ET) separar duas torneiras de três vias. CATETERES que podem
Preparo Do Paciente ser utilizados são:
• Medir a distância entre o ombro e o umbigo
• Aquecimento adequado • Polivinil Argyler nº 05 ou 08 para os neonatos menores e
• Monitorização contínua maiores que 03 kg, respectivamente.
• posicionar o paciente em decúbito dorsal e fazer conten- • Sonda traqueal com orifício terminal 06 ou 08 respectiva-
ção dos membros mente para crianças com peso inferior ou superior a 3 kg.

Material Caso o Cateterismo vise a realização de ET o cateter deve ter


• Mesa auxiliar obrigatoriamente pelo menos 01 orifício lateral além do terminal
• Campos estéreis amplos; utilizar dois se necessário para evitar a lesão endotelial durante o puxa-empurra.
• Gorro, luvas estéreis, máscara

Paulo R. Margotto
Assistência ao Recém-Nascido de Risco

O coto umbilical tem duas artérias geralmente localizadas as de 1,5 a 2 cm imediatamente após a passagem pelo anel umbi-
05 e 07 horas e uma veia situada às 12 horas; além disso, a veia lical, que o cateter se localizará na própria veia umbilical antes da
apresenta uma forma ovalada e parede fina, enquanto as arté- veia porta. Evitar deixar a ponta do cateter no sistema porta.
rias têm a luz estrelada e a parede mais espessa. Após o preparo do paciente e determinação da distância da
Após o anel umbilical a veia dirige-se cranialmente juntando- inserção do cateter, checagem do material, e sempre utilizando
se ao sistema porta que se comunica com a veia cava inferior técnica asséptica com o emprego das máximas precauções de
através do ducto venoso. barreira estéril iniciar a inserção do cateter venoso central. Co-
locar o cadarço estéril ao redor do coto umbilical, apertando o
Localização suficiente para evitar o sangramento, porém não em excesso.
Cortar o coto paralelo e horizontal em relação à superfície abdo-
É necessário que a sua extremidade esteja adequadamente minal, cerca de 1 cm distante da pele; pode-se visualizar então,
localizada na veia cava inferior, um pouco acima do diafragma. A os vasos, as duas artérias e a veia; com o fórceps íris retirar deli-
ponta do cateter deve ser posicionada na junção da veia cava cadamente o coágulo sangüíneo existente na luz do vaso. Antes
inferior com o átrio direito. O cateter deve ser instalado, não só de introduzir o cateter, preenchê-lo com soro fisiológico; caso este
fora da silhueta cardíaca, mas também fora da porção intrape- passo não tenha sido realizado, deve-se logo após a cateteriza-
ricárdica da veia cava inferior e superior (1 cm fora da silhueta ção, aspirar o sangue venoso até que este preencha completa-
cardíaca em pré-termos e 2 cm em RN a termo mente o cateter para evitar a embolia gasosa.
Para atingir a localização correta e determinar o comprimento Introduzir o cateter perpendicularmente até encontrar uma re-
do cateter a ser introduzido, deve-se medir a distância entre o sistência distante 01 a 02 cm da entrada, correspondendo ao
ombro e o umbigo, e jogar o valor encontrado no quadro relativo anel umbilical. Nesse momento, retificar o coto em direção cau-
à cateterização venosa. A avaliação desta distância varia entre dal e orientar o cateter cranialmente para evitar falsos trajetos
os neonatologistas, segundo estudo recente de Lopriore E e cl, até a distância pré-determinada e aspirar delicadamente. Quan-
sendo a mais correta a preconizada por Peter Dunn, que é a dis- do o cateterismo não for bem sucedido, não refluiu sangue ou o
tância entre o topo do ombro na face lateral da clavícula e o pon- cateter não progrediu até a distância pré-determinada duas são
to vertical de uma linha traçada no umbigo (Método A, na Figura as hipóteses mais prováveis: ou o cateter fez um falso trajeto ou
1). A discrepância entre o Método A e D pode resultar em uma ele não ultrapassou o ducto venoso. Em caso de falso trajeto,
diferença de até 1.5cm. retirar imediatamente o cateter.
Quando o cateter está no sistema porta, puxá-lo cerca de 2 a 3
cm e reintroduzí-lo após uma rotação delicada. Sempre que a veia
permanecer cateterizada por um período prolongado é obrigatória
a sua confirmação radiológica, recomendando-se a realização do
Raio-X em perfil, pois nessa posição visualiza-se melhor se houve
568 ou não passagem do cateter pelo ducto venoso. Após a localização
deve-se fazer uma sutura em bolsa no cordão tomando-se o cuida-
do de não transfixar as artérias ou o cateter. Fixar o cateter através
do fio de sutura e depois fazer o curativo em ponte.
As principais complicações do cateterismo venoso são os fenô-
menos tromboembólicos ou mau posicionamento do cateter que
pode desencadear arritmias cardíacas, efusões pleural e pericár-
dica (deve ser considerado quando o recém-nascido apresentar
deterioração aguda, mesmo com o correto posicionamento do
cateter), enterocolite necrosante e perfuração do trato gastrin-
testinal. Além disso, eventualmente pode ocorrer perfuração do
peritônio e processos infecciosos.
As contra-indicações ao cateterismo venoso são os defeitos de
fechamento da parede abdominal, a presença de onfalite ou de
Distância peritonite, além de enterocolite necrosante e CIVD.
Distância da inserção do cateter (cm) Em casos de deterioração aguda (súbito aumento da demanda de
Ombro-Umbigo (cm)
Localização Arterial alta Localização Venosa oxigênio, instabilidade hemodinâmica, apnéias recorrentes) a efusão
9 9,0 5,7 pericárdica deve ser considerada e a realização de uma pericardio-
10 10,5 6,5
centese abaixo do apêndice xifóide pode reverter o quadro clínico.
11 11,5 7,2
12 13,0 8,0
13 14,0 8,5
14 15,0 9,5
15 16,5 10,0
16 17,5 10,5
17 19,0 11,5
18 20,0 12,5

Ahmanson Pediatric Center/ Cedars-Sinai Medical Center.


Duncan@csmc.edu

Quando o cateterismo visar à infusão de drogas na sala de parto


não há necessidade de se medir o cateter, basta introduzí-lo cerca
Capitulo 17 Urgências Cirúrgicas

Pericardiocentese imediata é procedimento de eleição em tam- cateter, preenchê-lo com soro fisiológico para evitar embolia ga-
ponamento cardíaco detectado. sosa. Dilatar o orifício da artéria delicadamente com o fórceps
O cateter venoso umbilical deve ser mantido no máximo por 10 íris, evitar movimentos grosseiros ou repeti-los em excesso para
dias, exceto se complicações, embora haja evidências que pos- que não haja formação de falsos trajetos.
sam permanecer por 14 dias. Antes de remover o cateter umbi- Após dilatar o vaso introduzir o cateter perpendicularmente até
lical em uso, planejar a colocação de um cateter venoso central encontrar uma resistência distante 1 a 2 cm da entrada, corres-
de inserção percutânea (PICC) naqueles bebês que requerem pondendo ao anel umbilical. Nesse momento, retificar o coto em
acesso venoso prolongado. Os RNs que devem receber cateter direção cranial e orientar o cateter caudalmente para evitar falso
umbilical venoso são aqueles com peso ao nascer menor que trajeto até a distância pré-determinada, aspirar delicadamente.
1500g, com a finalidade de preservar a pele. Quando o cateterismo não for bem sucedido, e você sentir uma
resistência logo no início da introdução do cateter, então afrouxe
o cadarço, retire o cateter, dilate a artéria um pouco mais e tente
novamente. Quando o cateterismo não for bem sucedido e na
introdução do cateter você sentir algo rompendo, então provavel-
mente você criou um falso trajeto.
Retire o cateter e tente a outra artéria. Quando o cateterismo
não for bem sucedido e você sentir uma resistência após ter inse-
rido cerca de 6 a 8 cm do cateter, então você deve estar no nível
da bexiga, com dificuldade para avançar o cateter através da ilía-
ca interna. Para ultrapassar esta resistência aplicar uma pressão
delicada por 30 a 60 segundos no cateter. Se mesmo assim este
não progredir, infundir no cateter 0.5 ml de lidocaína sem adre-
nalina, para tentar dilatar o vaso. Não force o cateter. Se você in-
troduzir o cateter facilmente até a distância pré-determinada, po-
rém o sangue não refluir então você deve ter introduzido o cateter
fora do vaso, remova-o e observe algum sinal de complicação.
Após a localização deve-se fazer a sutura em bolsa no cordão
Cateterismo Arterial Umbilical tomando-se o cuidado de não transfixar as artérias ou o cateter.
Fixar o cateter através do fio de sutura.
Cateteres que podem ser utilizados são: É obrigatória a confirmação radiológica da posição do cateter.
Polivinil Argyler n.º 3.5 ou 05 de silicone médio ou fino para Quando mal localizado pode-se puxar o cateter, nunca introdu-
os neonatos menores e maiores que 1.200 g. respectivamente. zí-lo. Após a localização, fazer o curativo em ponte.
O cateter deve ter um orifício terminal para reduzir a incidência É importante manter o cateter sempre livre de sangue. Após a 569
de formação de trombos e para permitir a medida de pressão coleta de qualquer amostra sangüínea, limpá-lo com 0.5 ml de
arterial invasiva, além disso, o cateter deve apresentar uma linha soro fisiológico a 0.9% e manter infusão contínua de líquido com
radiopaca para sua localização radiológica. fluxo mínimo de 1 ml/h no intervalo das coletas. Na presença de
O coto umbilical tem duas artérias geralmente localizadas as obstrução, não forçar a infusão de soluções para desobstruí-lo.
05 e 07 horas e uma veia situada às 12 horas. Além disso, a veia Nesse caso, retirar o cateter imediatamente.
apresenta uma forma ovalada e parede fina, enquanto as arté- O cateter deve ser retirado quando houver isquemia persisten-
rias têm a luz estrelada e a parede mais espessa. te do membro inferior, na suspeita de enterocolite necrosante ou
Após o anel umbilical a artéria se dirige caudalmente circun- de insuficiência renal, na presença de obstrução total ou parcial
dando a bexiga e juntando-se a artéria ilíaca interna que desem- do cateter, ou quando não houver mais necessidade de colheitas
boca na artéria ilíaca comum e posteriormente na aorta. A dis- repetidas de amostras de sangue arterial.
tância do cateter a ser inserida deve ser calculada para que a As principais complicações do cateterismo arterial estão re-
sua extremidade fique na posição alta (entre T6 e T1). Quando lacionadas ao mau posicionamento do cateter, aos acidentes
se opta pela posição alta ou baixa, após a medida da distância vasculares com a presença, por exemplo, de tromboembolismo,
entre ombro e o umbigo, determina-se o comprimento do cateter vasoespasmo, hipertensão arterial, insuficiência renal ou de em-
a ser introduzido no quadro relativo à cateterização arterial. Na bolia gasosa, aos acidentes com o cateter, como sua quebra ou a
situação de urgência introduzir 6 (+) o peso (+) coto umbilical. A sua desconexão acidental, a infecção e a possibilidade de apare-
posição alta está associada à menor incidência de complicações cimento de enterocolite necrosante. As contra-indicações ao ca-
vasculares clínicas (RR: 0.53-95% IC: 0.44-0.63), sem aumento teterismo arterial são evidências de comprometimento vascular
de quaisquer complicações, como hemorragia intraventricular, em ramo aórtico distal, presença de onfalite, peritonite, ou de
enterocolite necrosante e morte. enterocolite necrosante ou ainda de insuficiência renal, além de
Após o preparo do paciente, determinação da distância da in- defeitos de fechamento da parede abdominal. Nos RN com his-
serção do cateter arterial, checagem do material sempre utilizan- tória de diástole reversa (grave sofrimento fetal), evitar, quando
do técnica asséptica com o emprego das máximas precauções possível, o cateterismo de vasos umbilicais.
de barreiras estéreis, iniciar a inserção do cateter arterial cen- A patência do cateter umbilical deve ser mantida com soro fisioló-
tral. Colocar o cadarço estéril ao redor do coto umbilical, aper- gico e heparina 0.25U/ml (embora não haja consenso na literatura).
tando o suficiente para evitar o sangramento, porém não em ex- O cateter arterial umbilical deve ser mantido enquanto o recém-
cesso. Cortar o coto paralelo e horizontal em relação à superfície nascido estiver grave (para controle de gases), até no máximo por
abdominal, a cerca de um 1 cm distante da pele. Pode se visua- 10 dias, exceto se complicações inerentes ao mesmo (Idealmente,
lizar então, os vasos, as duas artérias e a veia. Fazer dois pontos evitar manter o cateter arterial umbilical por mais de 5 dias)
de reparo na geléia do cordão para que se possa apresentar as Drogas que não devem ser infundidas pelo cateter umbilical
artérias de maneira adequada para a sua cateterização. Tomar arterial incluem; fenobarbital endovenoso, gluconato de cálcio,
cuidado para não perfurar nenhum vaso. Antes de introduzir o NaCl a 3%, drogas vasoativas. Não fazer transfusão de sangue.

Paulo R. Margotto
Assistência ao Recém-Nascido de Risco

Ao colher sangue, não fazê-lo além de 20 segundos (alteração • Capote estéril


na velocidade do fluxo sanguíneo cerebral com maior risco de • Luva estéril, gorro e máscara
hemorragia intraventricular) • Cateter PICC de 1.0 a 1.9 fr com introdutor
Quanto à dieta: segundo Davey AM e cl, não há diferença na • Mesa auxiliar
freqüência de problemas alimentares e enterocolite necrosante • 02 seringas de 10 ml
entre um grupo de RN prematuros estáveis que recebeu alimen- • SF 0,9%
tação enteral precocemente enquanto tinha cateter arterial bai- • 02 pacotes de gaze estéril
xo e outro grupo que só foi alimentado 24 horas após remoção • Clorexidine degermante 4%
do cateter. Crianças que foram alimentadas precocemente evo- • Clorexidina alcoólica a 0,5%
luíram com menos freqüência para septicemia, tiveram menor • 01 curativo transparente estéril
tempo de permanência de cateteres venosos centrais e menos • Micropore
tempo de dieta zero. Havranek T e cl demonstraram que a pre- • Estensor neonatal e tree way
sença do cateter arterial umbilical não afetou a velocidade do Termo de consentimento livre esclarecido devidamente assina-
fluxo sanguíneo na artéria mesentérica superior após a alimen- do pelo responsável pelo paciente.
tação enteral mínima. Os autores sugerem que as preocupações Protocolo aprovado pela instituição e formulários de registro de
a respeito do fluxo sanguíneo da artéria mesentérica não devem utilização do cateter.
limitar o uso de dieta enteral mínima em RN de muito baixo peso
com cateter arterial umbilical. 2. Pacientes elegíveis
Os cateteres umbilicais arteriais estão indicados em situações Em neonatologia podemos citar como indicações:
de gravidade, independente do peso ao nascer (exemplo: RN com crianças que requeiram terapia IV por médio ou longo período;
hipertensão pulmonar persistente).
Havendo dificuldades na cateterização da veia umbilical quan- • Neonatos necessitando de um dispositivo umbilical há
to à correta posição do cateter, o catater pode permanecer na mais de 10 a 14 dias e/ou com necessidade de outros
“veia umbilical periférica” (2-4 cm) por algumas horas ou uma acessos vasculares contínuos;
noite ou mesmo 48 horas, enquanto se aguarda a colocação do • Terapias hiperosmolares;
cateter central de iserção periférica (PICC-vide a seguir). Nesta • Soluções com um ph não fisiológico e soluções com pro-
situação, usar a parenteral calculada para uso periférico, ou seja, priedades irritantes ou vesicantes;
com baixa osmolaridade. • Prematuros com peso < ou = 1.500G;
• Crianças que receberão nutrição parenteral;
Cateterismo Venoso Central Percutâneo • Crianças que irão receber medicamentos antivirais iv;
• Crianças com acesso vascular pobre (com aumento de gor-
Protocolo – Cateter Venoso Central de Inserção Periférica dura no subcutâneo); com múltiplas tentativas prévias de
570 (PICC) acesso periférico; presença de anomalias em membros;
• Crianças com desordens gastrintestinais (enterocolite
Introdução necrosante, onfalocele, gastrosquise);
• Crianças com doenças cardíacas congênitas e cirúrgicas.
O PICC vem sendo utilizado desde 1970 em Unidades de Te- • Neonatos que apresentem intercorrências com o cateter
rapia Intensiva Neonatal. O seu uso se popularizou na década umbilical, com menos de 04 dias de terapia iv, após ava-
de 80 e no Brasil ele foi introduzido na década de 90 (Camargo, liação de duas enfermeiras do plantão.
2007). Ao longo dos anos o PICC tem se mostrado uma forma se-
gura e eficaz de acesso venoso, com inúmeras vantagens quando 3. Técnica de inserção
comparado a outros métodos por ser de fácil introdução, com
múltiplas escolhas para o local de inserção, menos traumático e Avaliação do acesso
de pouco estresse para o paciente. Evita o sofrimento associado Os acessos venosos preferenciais e mais adequados para in-
a inúmeras punções e facilita a interação dos pais com o RN. serir um PICC são: veia basílica (braquial e antebraquial), veia
Alguns estudos de prevalência de infecções relacionadas e asso- basílica mediana, veia basílica acessória, veia cefálica (braquial
ciadas a cateteres venosos apontam que pacientes sob cateteris- e antebraquial), veia cefálica mediana, veia cefálica acessória,
mo por PICC apresentam menos risco de infecções relacionadas veia antebraquial mediana. E também a v.safena, v.poplítea,
ao cateter quando comparado com outros acessos venosos cen- v.femoral, v. temporal, v. retroauricular e v.jugular interna.
trais, chegando essa diferença a ser quatro vezes maior nesses
últimos (ALENCAR, 2007). Considerações especiais
Como desvantagem, é via de acesso central que não pode ser • Não escolher acesso venoso em local edemaciado ou
utilizada para monitorização hemodinâmica, não permite a infu- com malformação;
são de sangue e hemoderivados, e é um acesso difícil em locais • Não escolher a punção por PICC a pacientes instáveis
anteriormente puncionados. hemodinamicamente, que necessitem de verificação
Cabe ao enfermeiro, treinado e capacitado, a inserção, mani- de pressão venosa central (pvc), pois nesses casos, os
pulação e remoção do PICC, e a orientação da equipe técnica pacientes serão mais beneficiados por acessos centrais
quanto ao seu manejo. mais calibrosos, como punções de veia subclávia ou dis-
secções venosas;
1. Estrutura • Não escolher a punção por PICC com a finalidade de ad-
ministrar hemoderivados;
Kit PICC: • Não escolher acesso venoso em membro superior onde
• bandeja estéril com 01 tesoura reta, 02 backaus, 01 já exista um acesso venoso central, mesmo que seja o
pinça anatômica, 01 pinça Adson sem dente e curva, 01 membro contralateral;
pinça Allis, 01 campo fenestrada, 01 campo cirúrgico pe-
queno e 01 cuba redonda.
Capitulo 17 Urgências Cirúrgicas

• Não escolher acesso venoso de membros inferiores em até a região inguinal, prosseguir até a região umbilical e cul-
rns com distúrbios gastro-intestinais, centralização fetal minar a mensuração um pouco acima do apêndice xifóide;
ou em vigência de cateterismo umbilical. • Mensurar diâmetro do membro, acima do local escolhi-
do para a punção. Alguns autores sugerem, que também
Escolha do cateter seja mensurado o diâmetro do membro, abaixo do local
A qualidade do cateter é fundamental. escolhido para a punção. Tais mensurações servirão de
O tipo e o tamanho do cateter hoje são apresentados em vários parâmetros para detecção de qualquer anormalidade
comprimentos e calibres. Os calibres mais utilizados em pacien- posterior a inserção;
tes pediátricos e neonatos são os de 1.0 Fr a 3.0 Fr, com único • Em caso de punção de membros superiores, posicionar a
lume, de acordo com a necessidade da terapia IV prescrita e ca- cabeça voltada para o lado do membro a ser puncionado,
libre da veia. Para a utilização em neonatologia utilizam-se os antes de iniciar o procedimento;
calibres de 1.0 Fr a 2.0Fr (vide tabela). Alguns pacientes podem • Lavar as mãos com anti-sépticos clorexidina degermante
necessitar de um PICC valvulado, devido a grandes discrasias a 4% durante dois minutos;
sanguíneas apresentadas. • Proceder a paramentação;
• Preparar o campo de trabalho com todo material neces-
Calibre do PICC em French Indicação sário para inserção (bandeja para passagem do PICC, se-
1 a 2 Fr Recém-nascidos e lactentes ringas de 10 ml, agulhas, solução fisiológica estéril, gaze
estéril, curativo de película transparente, adesivo estéril,
2.6 a 3 Fr Crianças maiores
plug adaptador macho ou extensor) e o PICC de calibre
3 Fr Crianças de 2 a 15 kg
adequado ao vaso escolhido para punção;
4 Fr Crianças de 15 a 30 kg • Calçar um par de luvas cirúrgicas estéreis (quando outro
5 Fr Crianças > 30 kg profissional for auxiliar na realização da técnica) ou dois
pares das mesmas (“técnica de dupla-luva”, quando rea-
Tabela – especificação da utilização do PICC. lizar a técnica sozinho);
• Preparar o PICC para a inserção (vide item “c”);
• Proceder à anti-sepsia da pele do paciente clorexidina
Técnica de anti-sepsia das mãos. Para a inserção do cateter degermante a 4%;
utilizar sempre técnica asséptica com emprego de máximas pre-
cauções de barreira estéreis: Preparo do PICC
• Através do seu conector em “y”, preencher o PICC com solu-
4. Técnica de inserção através de punção venosa perifé- ção salina (os estiletes dos PICC são, em sua maioria, hidro-
rica simples fílicos, necessitando de irrigação prévia para sua liberação);
• Conferir o comprimento anteriormente mensurado do tra- 571
Considerações Especiais jeto venoso;
• O paciente deve estar hemodinamicamente estável, sem • Tracionar o estilete (quando houver) até 1 cm abaixo do
edema ponto, no PICC, compatível com o comprimento do trajeto
• Realizar o procedimento com monitorização de oximetria venoso previamente mensurado, adicionando 1cm;
de pulso • Reduzir o PICC no comprimento correto;
• Manter material para ressuscitação cardio-pulmonar pró- • Dobrar a porção exteriorizada do estilete (evitar sua mi-
ximo ao leito gração para o interior do cateter e perfuração da veia);
• O paciente deve estar normotérmico para a realização do
procedimento Inserção do PICC
• Indicar membro da equipe para auxiliar no procedimento • Proceder à anti-sepsia da pele do local de inserção do
PICC com anti-séptico adequado (clorexidina degerman-
Preparo do Paciente te a 4%); iniciando em movimentos circulares sempre do
• Propiciar conforto ao paciente; centro para as bordas (repetir por três vezes).
• Posicionar o paciente em decúbito dorsal com o membro su- • Colocar o campo cirúrgico simples sob o braço do paciente;
perior escolhido estendido a um ângulo de 90º com o corpo; • Garrotear o membro a ser puncionado;
• Aplicar o garrote na parte superior do braço do paciente • Trocar de luva cirúrgica estéril ou, quando utilizando a
para escolha e avaliação da veia. técnica de dupla luva, remover a luva contaminada;
• Liberar o garrote; • Colocar campo cirúrgico fenestrado sobre o local da punção;
• Membros superiores: mensurar a extensão da veia, se- • Realizar a punção venosa com o introdutor do PICC a um
guindo seu suposto trajeto, do local escolhido para pun- ângulo de 35º;
ção até a junção manúbrio esternal com a cabeça da • Remover a câmara de refluxo (se introdutor do tipo agu-
clavícula direita; após descer paralelamente ao externo lha com asas) ou a agulha metálica (se introdutor do tipo
até o terceiro espaço intercostal. Esta mensuração indi- cateter curto sobre agulha);
cará o comprimento da veia escolhida até o 1/3 inferior • Exercer pressão sobre a veia, logo à frente do introdutor
da veia cava superior, local ideal para posicionar a ponta inserido (visa minimizar refluxo sangüíneo excessivo);
do PICC; quando o local da punção for do lado esquerdo, • Soltar o garrote (solicitar para soltar o garrote);
mensurar do local escolhido até a junção manúbrio ester- • Iniciar a inserção do PICC no vaso, através do introdutor,
nal com a cabeça da clavícula direita, após descer até o com o auxílio de uma pinça;
terceiro espaço intercostal; • Avançar o cateter até a medida pré-estabelecida;
• Ou se em cabeça e pescoço: do local de punção, seguin- • Remover o introdutor quebrando-o ou rasgando-o, sepa-
do pela região cervical lateral, até a cabeça da clavícula rando as duas aletas.
direita e daí até o 3º espaço intercostal direito;
• Ou se em membros inferiores: do local de punção, seguir

Paulo R. Margotto
Assistência ao Recém-Nascido de Risco

Avaliação do funcionamento Em hipótese alguma poderá ser realizada coleta de sangue


• Aspirar o PICC para se certificar de que há bom refluxo san- bem como transfusão sanguínea através do PICC. Também não
güíneo e após injetar solução salina, avaliando a presença poderá ser realizada punção venosa periférica no mesmo mem-
ou não de fluxo lentificado ou impedimento do mesmo. bro onde está o PICC. E nunca usar seringas de 1 ml, 3 ml ou 5
• Se o PICC não possui extensor ou plug adaptador macho, ml diretamente no conector do cateter.
conectar um dos dispositivos para vedá-lo ao meio externo.
• Proceder à salinização do PICC. Técnica de manutenção da perfusão do PICC
Higienização das mãos com anti-séptico. Usar técnica asséptica.
Fixação do PICC à pele (curativo) As trocas de soro e a administração de medicamentos devem
• Limpar o local da inserção com Soro Fisiológico 0,9%, re- ser planejadas de forma a reduzir o número de vezes que a linha
movendo resíduos de sangue; de infusão é violada.
• Fixar PICC à pele utilizando-se de fita adesiva estéril, pro- Antes de abrir a linha para medicações, aplicar solução de clo-
piciando a formação de um pequeno arco do mesmo com rexidina alcoólica a 0,5% no conector e deixar secar.
a pele (permite limpeza ao redor do óstio com solução Troca imediata do equipo e conexões caso ocorra quebra
anti-séptica, sem entrar em contato direto com o PICC); de técnica.
• Aplicar gaze estéril seca sobre o óstio, sem cobri-lo totalmente; O PICC deverá ser lavado sob baixa pressão antes e após cada
• aplicar curativo adesivo transparente; administração de medicamento ou solução intravenosa, utilizan-
• fixar a porção externa do cateter com fita adesiva, empre- do 1 mL de solução fisiológica 0,9% em uma seringa de 10 ml
gando dobradura do tipo chevron. para realizar tal procedimento, pois a administração de solução
fisiológica com equipo não irá remover as partículas, cristais ou
Confirmação do Posicionamento do cateter células sangüíneas aderidas às paredes do PICC. Esta lavagem
• Antes de se utilizar o PICC, o enfermeiro deve solici- deverá ser realizada administrando-se 2 “flushs” com 0,5ml de
tar a realização do RX (conforme RESOLUÇÃO COFEN solução fisiológica 0,9% cada.
195/1997) e confirmar, através da radiografia, o trajeto e A manutenção da perfusão do PICC deve ser prescrita e realiza-
que a ponta do cateter encontra-se adequadamente ins- da pelo enfermeiro no intervalo de 8/8 horas.
talada na veia cava superior (preferencialmente no 1/3
inferior) em casos de punção em membros superiores, Troca de extensões do PICC (A cada 72 horas)
regiões cervical e temporal. Para punções nos membros • utilizar técnica asséptica;
inferiores, a ponta do cateter deverá estar localizada na • utilizar conexões próprias para pacientes neonatais
veia cava inferior (preferencialmente no 1/3 superior). • nunca utilizar clamps, tesouras ou pinças;
Somente com a ponta do PICC nessas veias, poderemos • conhecer o volume das extensões;
considerá-lo central. Manter a ponta do cateter 1cm (RN identificar a data da próxima troca das extensões.
572 prematuro) e 2 cm (RN a termo) fora da silhueta cardía-
ca, porém na veia cava Execução de curativos
• Cabe ao enfermeiro avaliar as situações clínicas que exi- Devem-se seguir as Regras Básicas para Curativos em Catete-
jam a permanência do PICC mesmo não estando central. res Venosos Centrais, ou seja, ser estéril, oclusivo, fácil aplica-
Em alguns casos é aceitável que a ponta do cateter não ção e remoção, boa adesividade, manter o sítio do cateter seco,
fique central devendo deverá estar localizada ao raio x não possibilitar ocorrência de dobras do cateter e ser confortável
em veia subclávia em punções nos membros superiores para o paciente. O primeiro curativo deverá permanecer durante
e regiões cervical e temporal, ou em veia braquiocefálica 24 horas, oclusivo utilizando gazes. Os demais deverão perma-
nas punções de membros superiores. necer oclusivos com filme transparente por no máximo 7 dias,
• Em casos de punções em membros inferiores o cateter podendo ser trocados antes deste prazo caso haja necessidade.
deverá sempre permanecer central. Trocas rotineiras de curativo são contra indicadas pelo risco de
infecção e de deslocamento acidental do cateter. Estas trocas de
5. Cuidados e manutenção curativo requerem a presença de duas enfermeiras bem treina-
Escolha da seringa apropriada das na técnica para evitar tração do cateter.
As seringas a serem utilizadas na manutenção do PICC deve- Procedimento estéril: realizar a limpeza local com solução fi-
rão ser as seringas de 10 ml e 20ml, pois as seringas pequenas siológica 0,9%, secar com gaze estéril e realizar a anti-sepsia do
criam pressões menores à aspiração e maiores à infusão, com membro com clorexidine alcoólica 0,5% ou álcool a 70%.
um risco potencialmente sério de rotura do cateter, conforme de- Observar aspectos do curativo, tais como: sangramentos, fi-
monstra o quadro a seguir: 1 PSI = 50 mmHg xação, edema, hiperemia local e comunicar ao enfermeiro que
(seringas de 1ml geram pressão de até 150 psi=7500 mmHg) tomará as devidas providências.
Realizar a troca do curativo semanalmente. O enfermeiro deve
Força aplicada Pressões geradas pelas seringas (em PSI) avaliar a necessidade de trocas em tempos mais curtos e realizar
(PSI) 3 ml 10 ml 20 ml o procedimento, se necessário.
1,0 9,8 3,1 1,4
• Identificar O Curativo Colocando: Data Da Troca, Nome
3,0 28,5 10,2 6,4
Do Profissional Que Fez O Curativo.
5,0 48,5 18,3 9,7 • Anotar O Procedimento Realizado No Formulário Próprio
Conforme Anexo E Colocá-Lo No Prontuário Do Paciente.
A empresa Vygon estabelece que seus cateteres suportam:
6. Parâmetros clínicos para a remoção do PICC
• Pressão contínua de 14,5 psi (750 mmHg) • ruptura ou quebra do cateter
• Pressão de infusão em bolo de até 17,4 psi (900 mmHg) • posicionamento inadequado do cateter
• Podem se romper entre 58-72 psi (3000 – 3700 mmHg) • presença de processo infeccioso ou inflamatório
• suspensão da terapia intravenosa
Capitulo 17 Urgências Cirúrgicas

7. Técnica de remoção do PICC corrência da maior sobrevida dos RNMBP e da maior utilização
A remoção do PICC deverá ser feita pelo enfermeiro, deven- dos Cateteres Venosos Centrais, contribuindo para o aumento da
do seguir os seguintes passos: morbidade, da hospitalização e dos custos. O tempo médio de
hospitalização de um RN menor de 1000 g é de cerca 80 dias.
• Ser Lenta E Cuidadosa (Nunca Utilizar Força Para Remo- Segundo dados do CDC, a unidade hospitalar com maior ris-
ver O Cateter); co de aquisição de IPCS-CVC é a UTI Neonatal nos menores de
• Posicionar O Braço Do Paciente Abaixo Do Nível Do Coração. 1.000 gramas, quando comparados com qualquer outra unidade
• Aplicar Curativo Oclusivo Após Término Da Remoção Em hospitalar, incluindo UTI de queimados e UTI cirúrgica.
Caso De Sangramento Excessivo; A taxa média agrupada de infecção primária da corrente san-
• Certificar-Se De Que Todo O Cateter Foi Removido, Confe- guínea associada a cateter venoso central em recém-nascidos
rindo A Sua Medida E Anotar Em Formulário Próprio Anexo. tem sido relatada pelo NNISS (National Nosocomial Infections
Study System), de 1995 até 2000, para UTIs Pediátricas de 7,7
Dificuldade de remoção do PICC por 1000 cateteres-dia, sendo esta mesma taxa em UTIs Neo-
• Pode Ocorrer “Vasoespasmo” Durante A Retirada Do natais de 11,3 por 1000 cateteres-dia em pacientes menores
PICC. Caso Tal Fato Ocorra, O Enfermeiro Deverá: de 1000 gramas e 4,0 por 1000 cateteres-dia para maiores de
• Interromper O Procedimento; 2500 g. Até o momento não temos dados nacionais consolidados
• Tentar Nova Remoção. sobre a incidência de infecções relacionadas à assistência à saú-
• Se Houver “Resistência” Do PICC No Interior Da Veia, O de em neonatologia em UTIs Neonatais, temos somente dados de
Enfermeiro Deverá: estudos regionais. E todos os nossos índices são maiores que os
• Aplicar Compressas Mornas, Por Aproximadamente 15 A relatados pelo sistema NNISS. Segundo Pessoa da Silva e cols.
30 Minutos, Sobre A Área De Inserção, O Mais Abrangen- a densidade de incidência de IPCS-CVC variou de: 17,3 IPCS por
te Possível, Respeitando A Esterilidade Do Local. A Vaso- 1000 CVC- dia em RN entre 1501 a 2500 gramas até 34,9 IPCS
dilatação Induzida Permitirá A Remoção Do Mesmo. por 1000 CVC-dia em RN menores de 1000 gramas. Importan-
• Se O Problema Persistir Mesmo Após Todas As Tentativas: te salientar que INFECÇÕES SÃO DECORRENTES DE FALHAS NA
• Interromper O Procedimento De Extração Do PICC; ASSISTÊNCIA e a prevenção das infecções associadas ao acesso
• Aplicar Novo Curativo Estéril Sobre O Mesmo; venoso é possível com o adequado manejo. Vários estudos mos-
• Aguardar De 12 A 24 Horas Para Nova Tentativa, Durante tram que é possível diminuir os índices de IPCS associada ao CVC
Este Período Aplicar Compressas Mornas A Cada 6 A 8 Horas. e IPCS em até 70% se protocolos forem implantados e atividades
de educação médica e de enfermagem forem reforçadas.
8. Complicações relacionadas à inserção do PICC
Fisiopatogenia Da Infecção
Complicações relacionadas à inserção do PICC
• Dificuldade de progressão A disseminação de microorganismos de um cateter vascular 573
• Mau posicionamento do cateter para a corrente sangüínea é o resultado de um processo que en-
• Hemorragia/Hematoma volve a contaminação do dispositivo com a formação dos biofil-
• Arritmia cardíaca (cateter intracardíaco) mes (a adesão do microrganismo à superfície externa ou interna
• Punção arterial do cateter, sua multiplicação) e posterior desagregação de micro
• Dano /Estimulação de nervos colônias com a posterior passagem à corrente sangüínea. As vias
de acesso para contaminação dos dispositivos vasculares são:
Possíveis complicações pós-inserção do PICC
• Embolia do cateter 1. Extraluminal
• Embolia aérea - Encefalopatia anóxica a partir da colonização da pele do paciente, pelas mãos dos
• Flebite: profissionais de saúde e por via hematogênica. É precoce, pode
• Flebite Mecânica ocorrer em até 24 horas nos CVU, e no geral ocorre em 48 horas.
• Flebite Química Colonização freqüente por Gram positivos.
• Flebite Bacteriana 2. Intraluminal
• Infecção do local de inserção (celulite) tardia, 10 a 14 dias após inserção. Colonização por Gram ne-
• Infecção sistêmica relacionada ao cateter gativos. Migração pelas conexões e sistema de infusão, pelas
• Fratura do cateter com potencial de embolia mãos dos profissionais e soluções contaminadas (mais raro).
• Oclusão do cateter
• Trombose A formação do biofilme está diretamente relacionada ao tipo e
• Migração do cateter qualidade do material, ao tipo de microorganismo e suas proprie-
dades de aderência. Bactérias gram positivas, gram negativas e
9. Aspectos éticos e legais as leveduras podem compor o biofilme e podem também ocorrer
Fornecer aos familiares orientação verbal e por escrito sobre os biofilmes mistos, contendo mais de 1 gênero ou espécie de bac-
benefícios e potenciais riscos do procedimento e solicitar assinatura térias ou mesmo contendo bactérias e leveduras. A resistência
dos responsáveis de termo de consentimento livre e esclarecido. dos microorganismos aos antibióticos está muito aumentada na
presença do biofilme.
Infecção Primária Da Corrente Sangüínea
Associada A Cateter Venoso Central (IPCS-CVC) Medidas De Prevenção

Estima-se que no Brasil 60% da mortalidade infantil ocorra O controle da Infecção Hospitalar depende da somatória de
no período neonatal, sendo a sepse uma das principais causas. ações desenvolvidas por todos os profissionais que atuam direta
A Infecção Primária da Corrente Sanguínea (IPCS) associada a ou indiretamente no cuidado do paciente.
Cateter Venoso Central (CVC) é a principal infecção em UTI neo- São medidas básicas de prevenção para redução dos fatores
natal, e vem aumentando sua incidência principalmente em de- de risco: o planejamento do Acesso Venoso, a seleção do cateter

Paulo R. Margotto
Assistência ao Recém-Nascido de Risco

apropriado, a inserção do CVC por pessoal treinado, com técnica


asséptica e com o emprego de máximas precauções de barreira • Hemoculturas quantitativas
estéreis, anti-sepsia adequada, a verificação do preparo e o con- não estão disponíveis
trole de qualidade das infusões. Abrir o sistema de infusão o mí-
nimo possível e checar o tempo de infusão de fluidos parenterais, • Diferencial do tempo de positividade
verificar trocas de equipos e conexões, vigilância das conexões. quando o diferencial do tempo de positividade for maior que 2
Vigilância das taxas de infecção: busca ativa pela Comissão de Con- horas (sangue colhido do CVC com crescimento mais rápido que
trole de Infecção hospitalar, com feedback para a equipe assistencial. do sangue periférico) com amostras colhidas com intervalos de
Assegurar adequada relação enfermagem/RN. no máximo 15 min. este método mostra-se sensível (94% sen-
Revisão sistemática do processo de trabalho com reavaliação sibilidade) e específico (91% especificidade) para o diagnóstico
em equipe das rotinas assistenciais. de ICS-CVC. Provavelmente com acurácia melhor para os CVC de
longa permanência em virtude da via endoluminal ser a via de
Microbiologia acesso predominante de colonização destes cateteres, enquanto
nos de curta permanência há o predomínio da superfície externa
O agente etiológico mais comum nas IPCS-CVC em neonato- do cateter como via de colonização e infecção.
logia e na pediatria é o Estafilococo Coagulase Negativo, res-
ponsável por 37,7% das infecções na UTI pediátrica e 51% em Definição
neonatologia. São infecções menos graves, de início insidioso e (Management Guidelines for Catheter Infections-2001):
progressivo, com prognóstico bom e 90% de sobrevida. Em segui- Infecção primária da corrente sangúinea
da vêem os bacilos gram negativos (25%), os Enterococos (10%) associada a cateter venoso central
e os Fungos (9%). Infecções por gram negativos e fungos são gra-
ves, com progressão rápida, e muitas vezes fatais. É a Infecção Primária da corrente sanguínea onde os sinais,
sintomas e achados laboratoriais positivos não estão relaciona-
Diagnóstico Microbiológico dos à infecção em outro sítio, se CVC presente no momento do
diagnóstico ou até 48 horas após sua remoção e acompanhada
1. Técnicas que envolvem a retirada do cateter de uma das seguintes características abaixo:

• Técnica semi-quantitativa 1. Hemocultura central e periférica com o mesmo micro-


(de Maki ou por rolamento do segmento do cateter em placa, organismo, espécie e antibiograma e crescimento da
colher 5 cm da ponta do cateter e colocar em tubo estéril): positivo amostra central mais rápido (maior que 2 horas);
quando crescimento >15UFC (Unidades Formadoras de Colônias). 2. Ponta do Cateter venoso central com o mesmo microor-
(+ sensível para cateter < 1 semana, 96% especificidade – co- ganismo da hemocultura periférica e maior que 15 UFC/
574 lonização extraluminal) campo pela técnica semi-quantitativa;
Quando retirado o cateter enviar ponta do cateter para cultura 3. Presença de IPCS e purulência no sítio de inserção do CVC.
apenas se purulência no sítio de inserção ou na suspeita de IPCS-
CVC ou de febre associada a cateter. Manejo Do Cateter Na Suspeita De IPCS-CVC

• Técnica quantitativa Observar local de inserção do cateter:


não disponível Sem sinais flogísticos
Colher hemoculturas*, PCR, hemograma completo e iniciar
2. Técnicas conservadoras uso de antibióticos, aguardar resultado de hemoculturas, obser-
var a evolução clínica.
• Hemoculturas pareadas Com sinais flogísticos
Colher duas amostras sendo uma pelo CVC e outra por punção Remover o cateter imediatamente, colher hemoculturas* e cul-
venosa periférica. Enquanto um resultado positivo de uma hemo- tura da ponta do cateter, PCR, hemograma completo e iniciar uso
cultura colhida pelo CVC necessita de uma interpretação clínica de antibióticos.
muito cautelosa, o resultado negativo pode auxiliar na exclusão *Central e periférica – 1ml de sangue por amostra
do diagnóstico de ICS-CVC.
VPP (valor preditivo positivo): CVC 63%, Punção Venosa Peri- Dilemas Clínicos Com Resultados Dissociados
férica 73% De Hemoculturas Pareadas
VPN (valor preditivo negativo): CVC 99%, Punção Venosa Pe-
riférica 98% Resutados pareados e recomendações de manejo
Foi observado que 93% das culturas colhidas pelo cateter são
contaminadas com organismos que colonizam as conexões ou o 1. Se hemocultura central negativa e hemocultura perifé-
lúmen do cateter e não refletem infecção (Bryant e Strand). Tratar rica negativa: observar
infecção e não colonização. 2. Se hemocultura central negativa e hemocultura peri-
Em caso de isolamento do estafilococo coagulase negativo em férica positiva: IPCS não relacionada ao CVC: Tratar e
somente 01 hemocultura periférica de paciente com cateter vas- manter o CVC.
cular central, valorizar a evolução clínica, exames complementa- 3. Se hemocultura central positiva e hemocultura periféri-
res (hemograma e Proteína C reativa – valor preditivo negativo ca positiva: CVC envolvido. Tratar bacteremia.
destes exames é de 99%) e crescimento do microrganismo nas
primeiras 48 horas de incubação. O crescimento após este perí-
odo sugere contaminação. Se a amostra positiva colhida for so-
mente de CVC não valorizar como agente etiológico da infecção.
Para Estafilococo Coagulase Negativo 01 cultura colhida de CVC
tem VPP de 4,1 a 26,4%.
Capitulo 17 Urgências Cirúrgicas

A Espécie De Bactéria Deve Ser Um Componente


Essencial Na Decisão De Remover O Cateter.

Na Suspeita De Ipcs-Cvc Não Complicada

1. Estafilococo coagulase negativo: remover CVC e tra-


tar ATB 5-7 dias; se RN estável e CVC mantido, tratar com
ATB 14 dias, hemocultura controle em 48 a 72 horas e
desviar NPT
2. Estafilococo aureus: remover CVC e tratar ATB 14
dias; se RN estável e mantiver CVC, nova hemocultura
em 24 horas
3. Bacilo gram negativo: remover CVC e tratar ATB por
10-14 dias; se RN estável e mantiver CVC, nova hemo-
cultura em 24 h
4. Cândida: remover sempre CVC e tratar com antifún-
gicos por 14 dias a partir da 1ª hemocultura negativa.
Aguardar 24 a 48 antes de novo acesso venoso profundo.

Na Suspeita De IPCS-CVC Complicada

Bactérias gram positivas ou gram negativas com deteriora-


ção clínica e/ou persistência de hemoculturas positivas e outras
complicações como trombose séptica, endocardite, osteomielite:
remover CVC e tratar;
• Na trombose séptica, endocardite: ATB 4-6 sem;
• Na osteomielite: ATB 6-8 sem.

Prescrição De Drogas Incompatíveis


Em Uma Mesma Via De Infusão

O médico assistente deverá conhecer se seu paciente tem uma


ou mais vias de acesso de drogas, e se há prolongadores na via 575
(habitualmente quando se trata de jelco, o prolongador é o polifix,
que tem 1,6 ml de volume interno, o PICC tem 0,5 ml e o cateter terá,
sempre, um three-way). Vide tabela de incompatibilidade de drogas.
Decidida a medicação contínua, a exemplo da Nutrição Paren-
teral Total, das drogas vasoativas e sedoanalgésicas, observar a
necessidade de “lavar” a via de infusão com água destilada e,
prescrever o procedimento a ser adotado pela enfermagem.
A NPT deverá ser prescrita dentro do tempo que resta para
completar 24 horas. Assim, se ficarem estabelecidas duas inter-
rupções de 30 minutos para infusão de medicações a NPT terá
seu gotejamento calculado para correr em 23 horas. Computar
todas as infusões de AD no cálculo da taxa hídrica diária, além de
considerá-las no cálculo dos eletrólitos.
Não prescreva o medicamento se houver dúvidas sobre a for-
ma de administração.
A prescrição de medicamentos é um ato médico e, como tal,
sua inteira e intransferível responsabilidade.

Paulo R. Margotto
Assistência ao Recém-Nascido de Risco

576

Vias De Administração De
Medicamentos Em Neonatologia

A administração de medicamentos é entendida como um cuidado Dependendo do tempo de ação pretendida, do tipo de formulação
de enfermagem. Entretanto, tem um caráter multidisciplinar, pois en- química e das condições do cliente, os medicamentos podem ser ad-
volve outras categorias profissionais, como a equipe médica, no tocan- ministrados de várias formas. As principais categorias de administra-
te à prescrição da terapia medicamentosa, e a equipe de farmácia, ção de medicamentos são: via percutânea, via enteral e via parenteral.
concernente ao armazenamento e dispensação dos medicamentos.
Capitulo 17 Urgências Cirúrgicas

Via Percutânea dicamento, a sonda deve ser mantida fechada a fim de favorecer
a absorção da droga. Outra particularidade da administração de
A via percutânea compreende a aplicação de medicamentos medicamentos por sondagens é a necessidade de que, após o
na pele e em mucosas. Com ação normalmente de curta dura- procedimento, seja introduzida água pela sonda, pois este é o
ção, sua importância reside no fato de ter efeito local, reduzindo, veículo mais indicado para ingestão de drogas, além de represen-
assim, as chances de reações colaterais sistêmicos. Como des- tar prevenção de obstruções na sonda e por conseqüência nova
vantagem, apresenta a necessidade de reaplicações freqüentes, técnica de sondagem, muitas vezes desconfortável.
podendo prejudicar a adesão ao tratamento por parte do cliente. A via retal, como discutido anteriormente, apresenta maior ve-
Medicamentos tópicos devem ser aplicados na pele com téc- locidade de absorção por se tratar de uma mucosa e tem a van-
nica de pincelamento ou espalhando-se o medicamento sobre a tagem de evitar o efeito de primeira passagem. Entretanto, varia
área. Também utiliza-se a técnica de aspersão através de banhos de acordo com o produto da droga, das condições esfincterianas
ou molhando partes do corpo com a solução prescrita. do paciente e da presença de material fecal.
Caracterizadas pela presença de muitos capilares sanguíneos,
as mucosas representam uma via de administração cuja absor- Via Parenteral
ção é mais acelerada que na pele. Por não passar pelo efeito de
primeira passagem (no fígado), tem rápida absorção e pode até Definida como qualquer outra via de administração que não
mesmo apresentar efeitos sistêmicos, dependendo da concen- tópica ou enteral, a via parenteral inclui métodos invasivos, os
tração da droga. As diversas membranas apresentam condições quais exigem técnicas específicas e preparo técnico do profissio-
específicas, possuindo seletividade diferenciada aos medica- nal. Possui a vantagem de melhor absorção, pois além de ter efei-
mentos, além de possuírem sensibilidade diferente entre elas. to sistêmico, não sofre ação das enzimas gástricas nem o efeito
As principais mucosas utilizadas nesta via são: sublingual, nasal, de primeira passagem. Por isso, o início dos efeitos se dá mais
ocular, auricular, vaginal e anal. Dentre estas, as mucosas ocular rapidamente, necessitando de doses geralmente menores, po-
e nasal são consideradas mais sensíveis que as demais. rém representam maior custo.
Fazem parte da via parenteral as vias intradérmica, subcutânea,
Via Enteral intramuscular e intravenosa, também chamada de endovenosa.
Todas utilizam como instrumento a seringa e agulha ou outros dis-
Nesta categoria inclui-se a administração de medicamentos por via positivos como no caso de infusão contínua do medicamento. A
oral, nasogástrica e retal, sendo esta última considerada por algumas escolha do equipamento a ser utilizado leva em consideração a
literaturas também como método de administração por via percutânea. via prescrita, o volume, bem como a constituição física do cliente.
Amplamente conhecida e utilizada, a via oral utiliza a admi- Os medicamentos para administração parenteral podem ser
nistração direta na boca, sendo considerada a mais fácil e os apresentados na forma líquida ou em pó, sendo embalados em
medicamentos utilizados geralmente têm custos abaixo de ou- recipientes estéreis. Quando em forma de pó, o medicamento deve
tras apresentações, como as drogas parenterais, por exemplo. A ser reconstituído à forma líquida através de adição de solvente. Os 577
desvantagem desta via está em sofrer o efeito de primeira pas- solventes mais comuns são a água destilada e a solução fisiológica
sagem, o qual ocorre durante o metabolismo da droga no fígado. a 0,9%, porém alguns medicamentos requerem soluções próprias
Além disso, sofre interferência da alimentação, da ação de enzi- e cabe ao fabricante a indicação do diluente a ser empregado na
mas gástricas e até mesmo de atividade física. técnica. Muitas vezes faz-se necessário um volume maior do que
Quando o paciente não consegue deglutir, a via enteral se aquele resultante da reconstituição. Nestes casos, é preciso diluir
dá por sondagem gástrica por técnica de sondagem orogástri- a solução, ou seja, diminuir a concentração da solução mediante
ca ou nasogástrica ou nasoenteral. Outra situação comumente adição de mais solvente. A seguir apresentamos uma tabela com
encontrada em Unidades de Terapia Intensiva Neonatal é o uso as principais características de cada tipo de via parenteral.
de sondagem para drenagem; neste caso, o recurso utilizado é
também as sondagens já descritas com a particularidade de que
durante os trinta minutos que sucedem a administração do me-

Volume de
Características e locais de aplicação Ângulo da agulha
solução
Intradérmica

Derme (local de pouca vascularização). Partes do corpo onde a pilosidade e pigmen-


0,1 a
Via

tação são menores: face ventral ventral do antebraço, parte superior do tórax e região 15º
0,5 mL
escapular.
Subcutânea

Tecido subcutâneo (indicada para medicamentos que precisam ser absorvidos lenta-
0,5 a
Via

mente). Partes do corpo com fácil acesso e razoável volume subcutâneo: braço, face Entre 45 e 90º
1,5 mL
anterior e externa das coxas, abdome, região escapular.

Camada muscular (maior absorção comparada às vias intradérmica e subcutânea


Via Intramus-

45 a 90º
por ser uma região bem vascularizada). Partes do corpo onde a massa muscular seja
0,5 a Deve-se observar
cular

suficiente para reter e absorver o medicamento, estar afastado de nervos e vasos


2 mL o volume muscu-
sanguíneos, ser de fácil acesso. Nos lactentes as regiões indicadas são: ventro-glútea e
lar do lactente
face ântero-lateral da coxa.

Paulo R. Margotto
Assistência ao Recém-Nascido de Risco

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Capitulo 17 Urgências Cirúrgicas

17.6 DRENAGEM TORÁCICA

Wandréa Marcinoni Varão Ribeiro, Paulo R. Margotto

Qual é a taxa considerada aceitável em prematuros? A Rede


Vermont com 362 Hospitais publicou nos anos 90 uma série de
dados em qualidade do cuidado em RN e a taxa de pneumotó-
rax entre 1991-1999 variou entre 7,3-8,6% em prematuros com
peso médio de 1 kg e idade gestacional média de 28 semanas.
Interessante observar que o uso do CPAP aumentou de 36% para
62% e a taxa de pneumotórax diminuiu de 81% para 73%. Por
faixa de peso, os RN entre 750 a 1000g, a taxa de pneumotó-
rax vem diminuindo progressivamente, o mesmo para RN entre
1000g-1500g. A faixa de peso que não mostrou melhoria foi en-
tre 500-750g (14%). No McMaster, entre 2004-2006, em 301
pacientes, com idade gestacional média de 27 semanas, peso
médio de 870g, a taxa de pneumotórax foi de 5,1%.
A drenagem torácica é um procedimento cirúrgico por meio
do qual um dreno é inserido na cavidade pleural e conectado a
um recipiente preenchido com líquido, formando um sistema de Figura 1. Local de drenagem.
drenagem fechada em “selo d’agua”. Neste caso a extremidade
distal do dreno torácico deverá ser introduzida cerca de 1 cm Outro fator importante a ser levado em consideração é que
abaixo da coluna de líquido. A drenagem pleural aberta é utiliza- quando da drenagem torácica em crianças do sexo feminino: Rai-
da com menor freqüência em casos onde há formação de empie- ner C e cl relataram a deformidade da mama na adolescência
mas com lojas delimitadas por aderências. A drenagem pleural como resultado da drenagem do pneumotórax durante o período
tem como indicações mais freqüentes quadros de pneumotórax neonatal. Observem na Figura 2 e 3, meninas ex-prematuras in-
hipertensivo, empiemas, hemotórax e quilotórax. ternadas na UTI Neonatal que tiveram drenagem torácica.

Material

Na Unidade de Neonatologia do HRAS, fazemos uso de bande- 579


ja cirúrgica composta por: campo fenestrado, tesoura reta ponta
fina, pinça Halsted reta, pinça mixter baby, porta agulha, cabo de
bisturi no. 3 e pinça tipo Allis. A esse material associamos lâmina
de bisturi n. 15, seringa e agulha descartáveis, fio de sutura ina-
bsorvível 4.0, lidocaína a 2% sem adrenalina, dreno de silicone e
frasco para a conexão em sistema fechado.

Técnica E Manejo

O recém-nascido é posicionado em decúbito dorsal, com um


coxim sob o tórax e com elevação do membro superior homola-
teral. O dreno torácico deverá ser introduzido entre o terceiro e
quarto espaços intercostais no nível da linha axilar média. Evite
a região do mamilo. Costuma-se utilizar o mamilo como ponto de
referência para o quarto espaço intercostal. A área de inserção é
submetida à assepsia e anestesia. A anestesia compreende pele, Figura 2. Garota de 16 anos que foi prematura com múltiplos PTX.
tecido celular subcutâneo e pleura parietal. A incisão deve ser de
pequeno diâmetro, em média ≤ 0.75 cm, com o objetivo de evitar
escape de ar. Todos os planos são divulsionados com o auxílio
de uma pinça curva e ao atingir a pleura parietal o dreno é ra-
pidamente inserido na cavidade pleural. A dissecção por planos
deverá ser realizada junto à borda superior da costela inferior
desviando assim do feixe vásculo-nervoso intercostal. O dreno é
então, conectado a um sistema fechado em “selo d’água” e fixa-
do à pele com fio de sutura inabsorvível.
É questionável o melhor local para a incisão: damos preferên-
cia à via lateral tanto para o pneumotórax como para a drenagem
de secreções e líquidos (Figura 1)
Figura 3. Garota de 13 anos com deformidade bilateral do seio após
tratamento de múltiplos PTX com drenagem de tórax.

Paulo R. Margotto
Assistência ao Recém-Nascido de Risco

Observe a extensão do tecido mamário em um cadáver de uma


recém-nascida. Notem a extensão caudal da borda inferior da 6a
costela (Figura 4)

Figura 61. Sistema de drenagem passiva.

Figura 4. Demarcação do tecido mamário em necropsia.

Na Figura 5 estão as recomendações dos autores: incisão na


linha axilar anterior 5 cm abaixo do mamilo e a inserção do dreno
de tórax devem ser feita através do 5º -6º espaço intercostal; ob-
servem que a inserção é feita bem fora do tecido mamário.

Figura 7. Sistema de drenagem ativa.

CPAP X Ventilação Mecânica

A ocorrência de pneumotórax pode ser evidenciada tanto em


580 recém nascidos em CPAP nasal quanto em ventilação mecânica,
porém parece haver uma maior incidência em pacientes submeti-
dos à ventilação pulmonar artificial. Estudo retrospectivo, realiza-
do por Narendran V e cl, demonstrou que o uso precoce do CPAP
nasal pós-administração de surfactante cursou com ausência de
pneumotórax. Estudo realizado na universidade de Columbia evi-
denciou risco duas vezes menor de evoluir com pneumotórax nos
recém nascidos em CPAP nasal quando comparados com recém
nascidos submetidos à ventilação mecânica.

Manejo Conservador Do Pneumotórax

O pneumotórax (PTX) tem maior incidência no período neona-


tal que em qualquer outro período da vida. É consenso na litera-
tura que recém nascidos com pneumotórax assintomático não
necessitam de drenagem torácica, uma vez que a realização do
Figura 5 procedimento induziria riscos desnecessários ao paciente. Em
contrapartida, a drenagem torácica em pacientes com pneu-
Sistemas De Drenagem motórax hipertensivo é universalmente aceita. A grande dúvida,
entretanto, ocorre em casos onde há poucas manifestações clíni-
A drenagem torácica é mais comumente realizada em sistema cas, um certo desvio mediastinal que não se encaixa no conceito
fechado em selo d’água, caracterizando um sistema de drena- de pneumotórax benigno ou hipertensivo clássico. Para a maioria
gem passiva, onde a extremidade distal do dreno é inserida em dos autores, o mais correto seria a monitorização intensiva dos
um recipiente preenchido por líquido. A coluna de água do frasco pacientes, clínica e gasometricamente e em alguns centros es-
permite a formação de um mecanismo de válvula unidirecional, pecializados com medidas de pressão médias das vias aéreas
onde o ar é drenado e não retorna à cavidade pleural. e PCO2 transcutânea. Caso a estabilidade clínica se mantiver, a
O sistema de drenagem ativa é utilizado mais frequentemente conduta expectante poderia ser adotada.
em casos de pneumotórax hipertensivo, com escape de ar vo- Ita Limanovitz e Waldemar A. Carlo realizaram um estudo para
lumoso, excedendo a capacidade de drenagem do sistema. Na avaliação da conduta expectante no manejo do pneumotórax
drenagem ativa, fazemos uso de dois frascos de drenagem, onde em neonatos sob ventilação mecânica. Tratou-se de um estudo
o dreno proveniente do paciente é conectado ao primeiro frasco e retrospectivo, onde recém nascidos com pneumotórax foram
este a um segundo frasco acoplado a uma válvula de vácuo com identificados por meio de pesquisa em banco de dados da UTI
pressão negativa em torno de 15 a 17 cm de água e pressão de neonatal da Universidade do Alabama. Os pacientes foram divi-
aspiração de 10 a 20 cm de água (Figuras 6 e 7) didos em dois grupos de estudo: aqueles com inserção de dreno
Capitulo 17 Urgências Cirúrgicas

torácico e aqueles sem inserção de dreno pleural. De um total de


136 RN com pneumotórax enquanto ventilados 101 (74%) foram
tratados inicialmente com a colocação de um dreno no tórax e
35 (26%) sem drenagem torácica. Dos que inicialmente não re-
ceberam dreno de tórax, 14 foram tratados com aspiração com
agulha e 21 tiveram um tratamento expectante. Os RN tratados
inicialmente sem dreno torácico tinham menores parâmetros
no respirador (pressão média de vias aéreas e FiO2) e tinham
melhores resultados da gasometria (PaCO2, PaO2 e pH) em com-
paração com aqueles que foram tratados com dreno de tórax.
Interessante que aqueles tratados inicialmente com aspiração
com agulha tiveram maior probabilidade de requererem inserção
de dreno de tórax em relação aos tratados de forma expectante
(43% versus 100%). Não é claro, a partir de dados da literatura,
como o pneumotórax progride rapidamente e como resolve-se
espontaneamente nos recém-nascidos em ventilação mecânica.
Os dados da literatura são limitados quanto à segurança do tra-
tamento expectante do PTX em RN ventilados. Nesta coorte, o su-
cesso do tratamento expectante foi significativamente maior do
que aqueles com aspiração com agulha. É possível que a aspira-
ção com a agulha por si só causa lesão pulmonar que resulta na
piora do pneumotórax. O manuseio conservador do pneumotórax
pode ter benefício particular quando o pessoal médico tem expe-
riência limitada com a colocação de um dreno de tórax ou com
aspiração com a agulha. Através deste estudo conclui-se que é
possível adotar conduta expectante, sem necessidade inicial de
drenagem torácica em um grupo seleto de neonatos com pneu-
motórax em ventilação mecânica. Nos casos em que o RN não
apresenta descompensação hemodinâmica adota uma conduta
conservadora parece ser mais sensata.

Complicações
581
Dentre as complicações secundárias à drenagem pleural, te-
mos mais comumente: enfisema subcutâneo, lesão pulmonar
(estudo realizado em adulto, que é muito mais fácil de drenar
o tórax, pois é muito maior, a ressonância magnética durante a
internação mostrou que 70% das drenagens torácicas estão no
parênquima pulmonar, apesar da melhora clínica de paciente.
Imagine isto em um RN de 500-600g), lesão do nervo frênico
com conseqüente paralisia diafragmática e empiema. Alguns es-
tudos avaliaram a ocorrência de hemorragia intraventricular em
recém nascidos com pneumotórax, sugerindo que a instabilidade
hemodinâmica secundária ao evento catastrófico resultaria em
sangramento da matriz germinativa em prematuros. Porém, as
ecografias transfontanelares foram realizadas após a drenagem
torácica, não ficando bem claro se a hemorragia seria secundária
ao pneumotórax ou ao procedimento invasivo.

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Paulo R. Margotto
Assistência ao Recém-Nascido de Risco

582
Capítulo 18

Distúrbios
Endocrinológicos
Assistência ao Recém-Nascido de Risco

18.1 DISTÚRBIOS DO DESENVOLVIMENTO SEXUAL

Mariana de Melo Gadelha, Maristela Estevão Barbosa,


Paulo R. Margotto

A definição de Distúrbio Do Desenvolvimento Sexual (DDS) DDS 46, XX


nem sempre é fácil, pois o termo engloba um espectro muito am- • DDS ovotesticular (hermafroditismo verdadeiro);
plo, que varia desde genitálias “quase normais”, com discretas • DDS testicular (homem XX);
alterações morfológicas até situações que oferecem extrema di- • Disgenesia Gonadal;
ficuldade para se definir o sexo da criança. Por esta razão, em • Fetal (Hiperplasia Congênita de Supra-Renal – HCSR);
1982, Danish propôs alguns critérios para se definir o que é uma • Fetoplacentária (deficiência de aromatase);
genitália ambígua1, os quais são utilizados ainda hoje. São eles: • Materna (andrógenos exógenos, tumores)

Genitália de aparente aspecto masculino DDS 46,XY


• Gônadas não-palpáveis; • DDS ovotesticular;
• Tamanho peniano esticado abaixo de -2,5DP da média • Disgenesia Gonadal Parcial;
de tamanho peniano normal para a idade (vide tabela 1); • Disgenesia Gonadal Pura XY;
• Gônadas pequenas, ou seja, maior diâmetro inferior a 8 mm; • Regressão Testicular;
• Presença de massa inguinal que poderá corresponder ao • Deficiência ou anormalidade do LH ou do seu receptor
útero e trompas rudimentares; (aplasia ou hipoplasia das células de Leydig);
• Hipospádia. • Defeitos da síntese de testosterona;
• Defeitos do receptor androgênico;
• Persistência dos Ductos de Müller;
• Interferência transplacentária da biossíntese de testoste-
rona por ingestão materna;

DDS Cromossômica
• 45,X0 (Síndrome de Turner);
• 47,XXY (Síndrome de Klinefelter);
• 45,X0/ 46,XY (Disgenesia Gonadal Mista, DDS ovotesticular);
584 • 46,XX/46,XY (DDS ovotesticular).

Os DDS que englobam as situações de ambigüidade genital com


gônadas normais (testículos ou ovários, conforme o cariótipo 46XY
ou 46 XX, respectivamente), atualmente são divididos em:

1. DDS 46,XY: (Antigamente denominado pseudo-herma-


froditismo masculino). Caracteriza indivíduos com carió-
tipo 46XY e virilização ausente ou deficiente dos genitais
externos e, eventualmente, também dos internos. Suas
gônadas são palpáveis, representadas por testículos;
quando estes não estão presentes, como na Síndrome
de Regressão Testicular, sua existência prévia é deduzida
Tabela 1: Tamanho peniano em cm para diferentes idades pela inibição do desenvolvimento dos ductos de Müller. O
sexo de criação será determinado pelo grau de virilização
da genitália externa, possibilidade de puberdade espon-
Genitália de aparente aspecto feminino tânea e de fertilidade. Inúmeras são as causas de DDS
• Diâmetro clitoriano superior a 6 mm; 46, XY. As principais, pela maior incidência, são:
• Gônada palpável em saliência labioescrotal; • Deficiência da enzima 5-α-redutase tipo 2 que faz a con-
• Fusão labial posterior; versão da testosterona (T) em dihidrotestosterona (DHT).
• Massa inguinal que possa corresponder a testículos. A deficiência desta enzima ocorre por herança autos-
sômica recessiva, na qual a conversão da T em DHT é
Sabe-se que os processos de determinação e diferenciação nula ou defeituosa. A DHT induz a virilização da genitália
sexual são complexos e estão sujeitos a “falhas”, que podem ser externa para formar pênis, uretra, próstata e bolsa escro-
conseqüentes a mutações/ alterações genéticas, bem como a hi- tal durante a vida fetal e atua no desenvolvimento dos
perexposições hormonais e/ou fatores ambientais. Quando estas caracteres sexuais secundários durante a puberdade. A
“falhas” acontecem, ocorrem as situações de DDS, sexo reverso afinidade da DHT pelo receptor androgênico é quatro ve-
ou disgenesias como a Síndrome de Turner. zes maior que a T, além da dissociação DHT-receptor ser
Em 2006, foi organizado o último consenso de classificação cinco vezes mais lenta que a T-receptor. Estas diferenças
dos DDS3. Assim, atualmente, considera-se: demonstram a relevância da DHT na virilização fetal.
• Insensibilidade Androgênica: O gene do receptor andro-
gênico (AR) está localizado no braço longo do cromosso-
mo X, entre os fragmentos Xq11-12. A resistência hormo-
nal é uma “falha” genética neste receptor, que pode ser
Capitulo 18 Distúrbios Endocrinológicos

parcial ou completa. A forma completa de insensibilidade essencial a presença de uma pessoa que represente o elo entre
androgênica é relativamente rara. Quando ocorre, há pre- esta equipe e a família, ou seja, funcione como “porta-voz”, pois
sença de genitália externa feminina normal ao nascimen- pessoas diferentes exercendo este papel podem tornar a comuni-
to. O diagnóstico geralmente é feito após a puberdade, cação truncada ou mal-entendida, facilitando o aparecimento de
por amenorréia primária. A insensibilidade parcial aos desequilíbrios emocionais e/ou situações angustiantes.
andrógenos tem sua prevalência ainda desconhecida,
devido à variabilidade da expressão clínica e à existência Hiperplasia Congênita De Supra-Renal (HCSR)
de formas atípicas, como a síndrome do homem infértil,
atualmente classificada como insensibilidade leve aos CID10= E25.0 (Transtornos adrenogenitais congênitos asso-
andrógenos6. A opção sexual dependerá do grau de viri- ciados à deficiência enzimática)
lização e da resposta clínica ao uso de testosterona exó- As supra-renais são responsáveis pela produção de mais de
gena de depósito: genitálias pouco virilizadas devem ser cinqüenta tipos diferentes de esteróides derivados do colesterol.
levadas ao sexo de criação feminino, enquanto as muito Essa bissíntese hormonal exige a presença de uma vasta gama
virilizadas, ao sexo masculino. de enzimas íntegras e funcionais. A eficiência do controle endó-
• Hipopituitarismo (Hipogonadismo Hipogonadotrófico): A crino desses passos metabólicos depende, em última instância,
deficiência de LH pode ser isolada (herança autossômica tanto da regulação da transcrição quanto da síntese das enzimas
recessiva) ou associada a outras deficiências hormonais envolvidas na esteroidogênese, que devem apresentar 100% de
hipotálamo-hipofisárias e/ou malformações de linha mé- atividade. Dessa forma, garantem-se o controle nos ritmos de
dia. O hipogonadismo hipogonadotrófico pode se associar produção e secreção dos glicocorticóides, mineralocorticóides e
ainda à hiposmia ou anosmia (com hipo ou aplasia dos andrógenos, os três tipos de hormônios esteróides.
lobos olfatórios), caracterizando a síndrome de Kallmann. A figura 1 esquematiza a esteroidogênese adrenal normal.
Visto que a produção de testosterona pelas células de A HCSR engloba um grupo de síndromes caracterizados por
Leydig na primeira metade da gestação é estimulada pelo defeitos hereditários em alguns desses passos enzimáticos na
hCG (Gonadotrofina Coriônica Humana) e não pelo LH (que biossíntese do cortisol. São desordens genéticas de transmissão
passa a ser produzido pela hipófise fetal a partir da segun- autossômica recessiva. O decréscimo da produção do cortisol
da metade), em geral a genitália se forma adequadamen- leva a um aumento do ACTH, estimulando a produção de este-
te, porém falta estímulo para o crescimento das estruturas róides adrenais. As manifestações clínicas refletem uma ou mais
(que geralmente ocorre na segunda metade). Isto faz com das seguintes condições:
que a maioria das crianças nasça com micropênis, criptor-
quidia e hipoplasia da bolsa escrotal. • Diminuição da síntese de cortisol;
• Diminuição da síntese de aldosterona;
2. DDS 46,XX: (Antigamente conhecido por pseudo-her- • Síntese excessiva de precursores esteróides, devido ao
mafroditismo feminino). Ao contrário da DDS 46, XY, que estímulo do ACTH, o que pode resultar em um aumento 585
possui uma grande variedade de causas, a ampla maioria de andrógenos, (com conseqüente virilização), e de de-
dos casos de DDS 46, XX tem uma etiologia: a Hiperplasia soxicorticosterona, um mineralocorticóide (com conse-
Congênita de Supra-Renal (HCSR) por deficiência da enzi- qüente desenvolvimento de hipertensão).
ma 21α-hidroxilase. A HCSR é considerada um erro inato
do metabolismo dos esteróides supra-renais transmitido
geneticamente por herança autossômica recessiva. A bai-
xa concentração de cortisol plasmático leva ao aumento
da secreção de ACTH que, estimulando cronicamente as
adrenais, provoca uma hiperplasia funcional destas, com
superprodução de metabólitos intermediários pré-bloqueio
enzimático, subprodução dos metabólitos pós-bloqueio e
conseqüente desvio na produção hormonal, com excessi-
va secreção de androgênios, levando à virilização dos geni-
tais externos, causando ambigüidade genital nas meninas
afetadas2. Devido à sua alta incidência em comparação
às demais etiologias de DDS e à sua importância como
urgência neonatal e pediátrica, o restante deste capítulo
se dedicará ao seu estudo.

Como exposto, inúmeras são as etiologias que podem levar ao


nascimento de uma criança com DDS. Entretanto, independente,
da causa, é de importância fundamental o manejo inicial destas
crianças, pois informações inadequadas ou não transmitidas de
forma clara a pais já emocionalmente abalados pelas circuns-
tâncias podem levar a conseqüências gravíssimas na formação O defeito enzimático mais comum, responsável por 90% dos
psicológica destas crianças, às vezes irreversíveis. Além disso, casos, é a deficiência da CYP21A2 (21αhidroxilase), responsável
situações como a HCSR podem implicar em risco de vida por pela conversão da 17-hidroxiprogesterona em 11-desoxicortisol e
insuficiência adrenal, caso não seja reconhecida e tratada nos da progesterona em 11-desoxicorticosterona. O segundo defeito
primeiros dias de vida. Assim, é essencial que a criança seja en- mais comum, responsável por 5-8% dos casos é a deficiência da
caminhada o mais precocemente possível a um serviço de refe- CYP11B1 (11βhidroxilase). Esta deficiência resulta na diminui-
rência para que as medidas necessárias, médicas, psicológicas ção da conversão de 11-desoxicortisol e 11-desoxicorticosterona
e legais sejam iniciadas. O ideal é que a avaliação seja realizada para cortisol e corticosterona respectivamente.
por equipe multidisciplinar, sempre que possível. No entanto, é

Paulo R. Margotto
Assistência ao Recém-Nascido de Risco

‘A incidência de HCSR varia de acordo com o grupo étnico. Em mais comum da espécie humana.8 Sua incidência pode chegar
algumas regiões, como no sudeste do Alasca, habitado pelos a 1:100 nascidos vivos. A ocorrência de carreadores heterozigóti-
esquimós Yupik, a incidência chega a 1:500 nascidos vivos, na cos assintomáticos é de 1:60 a 1:80.
forma clássica. A incidência mundial é estimada em 1: 14 000. A tabela 2 abaixo resume as características das diversas for-
Já a forma não-clássica tem incidência muito maior, sendo con- mas de defeitos enzimáticos que levam à HCSR9.
siderada por alguns autores a doença autossômica recessiva

586

Devido à sua maior freqüência (cerca de 90% dos casos), a de- • Forma Perdedora de Sal (FPS): Mais de dois terços das
ficiência de 21-hidroxilase assume importância crítica na investi- crianças afetadas pela forma clássica apresentam esta
gação diagnóstica, na vigência de casos de DDS e mais especifi- forma. Além do DDS apresentado pelas crianças com a
camente, na suspeita de distúrbios de esteroidogênese adrenal. FVS, os RNs apresentam clínica de “perda de sal”, pela
A deficiência de 21α hidroxilase é didaticamente classificada em: secreção diminuída de aldosterona. A crise de “perda de
sal” é caracterizada por hipotensão, depleção de volume,
• Forma Virilizante Simples (FVS): RN que apresentam so- hiponatremia severa, hipercalemia e aumento da ativida-
mente sinais de excesso de androgênios, sem clínica de de de renina plasmática. Estes achados são comumen-
perda de sal. Crianças do sexo feminino afetadas apre- te aparentes em torno de duas semanas de vida. A FPS
sentam DDS: aumento do clitóris, fusão labial e formação ocorre quando há a combinação de duas mutações gené-
de seio urogenital em decorrência do hiperandrogenismo ticas que causam a perda total da atividade enzimática.
intraútero. Genitália externa completamente virilizada • Forma Não-Clássica (FNC) (ou de início tardio): A maioria
pode ocorrer. Crianças do sexo masculino têm o desen- dos indivíduos é assintomática ao nascimento, apresen-
volvimento sexual normal ou aumento do tamanho do pê- tando manifestações de hiperandrogenismo tardiamente
nis e hiperpigmentação da bolsa escrotal ao nascimento. (infância ou adolescência). As meninas podem apresentar
O crescimento linear está aumentado na infância, porém aumento clitoriano, pubarca precoce e acne; os meninos,
ocorre fechamento precoce das epífises ósseas, com al- aumento do pênis e dos músculos, além da pubarca preco-
tura final diminuída. Assim, os indivíduos afetados são ce e acne. Na adolescência, as meninas podem ter diminui-
crianças altas que tornam-se adultos baixos. A FVS ocor- ção das glândulas mamárias. Além disso, as altas concen-
re quando há a combinação de duas mutações genéticas trações de androgênio e progesterona resultam em inibição
que mantêm a atividade enzimática da 21αhidroxilase da função hipotalâmica-pituitária-gonadal, causando ciclos
em 1 a 4%. Esta pequena atividade enzimática já é su- menstruais anovulatórios ou amenorréia e hirsutismo, cli-
ficiente para garantir a biossíntese de aldosterona, pre- nicamente indistinguíveis da síndrome de ovários policísti-
venindo a perda de sal, embora não consiga garantir a cos. Nos homens, podem ocorrer massas testiculares, que
síntese adequada de cortisol, o que resulta em hiperestí- correspondem a resquícios adrenais. A maioria dos homens
mulo de ACTH e conseqüente hiperandrogenismo. é fértil, ocorrendo oligospermia e infertilidade em poucos.
Capitulo 18 Distúrbios Endocrinológicos

Este fenótipo é decorrente de mutações que determinam com ACTH. Esse teste consiste na dosagem dos níveis de 17-OHP
alterações menos graves à proteína da 21αhidroxilase, le- nos tempos 0 (basal) e 60 minutos após a administração endove-
vando a uma perda moderada da atividade enzimática, va- nosa de 0,25mg de corticotrofina (ACTH) sintética. O valor basal
riando entre 20 e 60% da atividade normal. da 17-OHP >5 ng/mL ou 500ng/dL e/ou pós-estímulo de ACTH
>10ng/mL ou 1000ng/dL em geral são usados como “pontos de
Em relação às manifestações clínicas da deficiência da corte” para o diagnóstico, embora atualmente, estudos molecu-
CYP11B1 (11hidroxilase), serão decorrentes do excesso de an- lares mostrem uma zona de sobreposição entre heterozigotos e
drogênios adrenais e da ação mineralocorticóide da 11-desoxi- a forma não-clássica para valores entre 10 e 17ng/mL (1000 e
corticosterona. Em neonatos, os sinais de virilização podem apre- 1700ng/dL) pós-estímulo. Neste caso, a clínica, somada ao estu-
sentar-se como genitália ambígua em meninas e aumento do do molecular, poderá auxiliar no diagnóstico e no tratamento ou
pênis em meninos. Na infância e adolescência, a manifestação não do paciente.
pode ser puberdade precoce e acne em meninos e hirsutismo e Em pacientes com deficiência de 11βhidroxilase, são encon-
irregularidades menstruais em meninas. Os efeitos mineralocor- tradas altas concentrações séricas de 11-desoxicortisol e 11-de-
ticóides (decorrentes do acúmulo de 11-desoxicorticosterona e soxicorticosterona e de andrógenos (DHEA, DHEA-S, androstene-
11-desoxicortisol) são hipertensão e hipocalemia. diona e testosterona).

Diagnóstico Clínico Tratamento

O diagnóstico da forma clássica em meninas é realizado, em Se a criança estiver em crise de perda de sal, deve-se fazer a
geral, precocemente, pela presença de genitália ambígua. Em reposição do volume intravascular e iniciar a administração IV de
meninos, a época do diagnóstico depende do grau de deficiência hidrocortisona. Costuma-se usar a dose de 50mg/m2 de superfí-
mineralocorticóide. Os meninos com a FPS (bem como as meni- cie corporal), em “bolus”, seguida da mesma dose infundida nas
nas não identificadas ao nascimento) apresentam-se entre o sé- 24 horas subseqüentes (fracionando-se em 4/4h ou 6/6h). A te-
timo e o décimo quarto dias de vida com vômitos, perda de peso, rapia poderá ser repetida caso não haja completa compensação
letargia, hiponatremia e hipercalemia. As crianças com a FVS se dos distúrbios metabólicos e hidroeletrolíticos.
apresentam com pubarca precoce e crescimento acelerado entre Obs.: Para o cálculo da superfície corporal (SC), pode-se esti-
dois e quatro anos de idade. má-la através da fórmula:
Deve-se pensar em HCSR nas seguintes situações:
SC (m2) = (Peso x 4) + 7 / Peso + 90
1. RNs com ambigüidade genital;
2. RNs com genitália masculina, mas com criptorquidia A reposição mineralocorticóide é comumente realizada com
bilateral, com ou sem hipospádia; 9-αfludrocortisona (Florinefe), via oral, na dose de 0,05 a 0,1 mg/dia
3. Lactentes com hiponatremia e hipercalemia com ou Nos pacientes com a FPS, há a necessidade de se acrescentar à 587
sem desidratação; dieta pelo menos 0,5 a 1g de NaCl para conseguir a normalização
4. Lactentes do sexo masculino, com quadro semelhante dos eletrólitos, que pode ser diluído em água ou nas mamadas. Em
ao refluxo gastroesofágico acompanhado de desnutrição crianças maiores, isso pode não ser necessário, mas elas devem
grave e com episódios freqüentes de desidratação; ter livre acesso ao sal, principalmente em dias quentes.
5. Crianças com pubarca e virilização precoces; Para a manutenção, quando o paciente já está estável, deve-se
6. Crianças hipertensas. fazer a supressão da hipersecreção de andrógenos com glicocor-
ticóides por via oral. Há grande controvérsia quanto ao glicocorti-
Enquanto não se estabelece o diagnóstico, todo RN com DDS cóide de escolha: para a maioria dos autores, o glicocorticóide de
deve ter acompanhamento cuidadoso do seu ganho de peso e, se escolha é a hidrocortisona, que interfere menos no crescimento.
possível, determinações seriadas de sódio e potássio no primeiro Entretanto, não há apresentação comercial de hidrocortisona oral
mês de vida, numa tentativa de se evitar uma inesperada, e mui- disponível no Brasil. Assim, utiliza-se acetato de hidrocortisona
tas vezes fatal, crise de perda de sal. preparado em farmácias de manipulação, na dose de 10 a 25mg/
O diagnóstico da FNC deve ser considerado em meninas com m2, a depender da idade, fracionado em três tomadas (25% da
sintomas e/ou sinais de hiperandrogenismo, ou seja, por distúr- dose às 8:00h, 25% às 16:00h e 50% às 23:00h, para suprimir o
bios do desenvolvimento dos caracteres sexuais, alterações mens- pico de ACTH noturno). Para estes autores, glicocorticóides mais
truais e outros. Pacientes masculinos apresentam como principais potentes, como a prednisona e a dexametasona só devem ser utili-
manifestações clínicas acne e infertilidade, ou são assintomáticos zados após a puberdade, para diminuir o risco de inibição do cres-
(identificados em famílias que estão sendo investigadas). cimento, que levaria a prejuízo de altura final. Para outros autores,
o uso de prednisona/prednisolona pode ser justificado mesmo em
Diagnóstico Laboratorial crianças, pela sua fácil disponibilidade comercial. Neste caso, a
dose é de 4-5mg/m2 fracionado em duas tomadas.
A anormalidade bioquímica mais característica da deficiência Em ocasiões de stress (infecções, vacinação, cirurgias, etc...) a
da 21αhidroxilase é a presença de níveis elevados de 17hidro- dose de hidrocortisona deve ser aumentada (dobrada ou triplica-
xiprogesterona (17-OHP), o principal substrato da CYP21, locali- da) por um a quatro dias (enquanto durar o período de stress) e
zado imediatamente “acima” do bloqueio enzimático. Na forma deve ser administrada IM ou IV se o paciente apresentar vômitos.
clássica, os níveis basais de 17-OHP encontram-se aumentados Os pacientes com HCSR em geral portam uma “carta de urgên-
aproximadamente 100 vezes em relação aos valores normais; cia” que deve ser apresentada ao pediatra ou clínico nas situações
geralmente estão acima de 50ng/mL ou 5000 ng/dL. A altera- emergenciais, informando a necessidade deste aumento de dose.
ção na via mineralocorticóide (FPS), por sua vez, pode ser docu- A correção cirúrgica inicial da ambigüidade genital (clitoroplastia
mentada por aumento da atividade de renina plasmática (ARP). e introitoplastia) dever ser realizada precocemente, até cerca de 24
Na forma não-clássica, porém, os valores basais de 17-OHP po- meses, para evitar prejuízos à identidade sexual. Algumas vezes, há
dem não ser suficientemente elevados para definir o diagnóstico, necessidade de novas intervenções cirúrgicas, na época da puber-
que poderá então ser estabelecido através do teste de estímulo dade, principalmente se houver algum grau de hipoplasia vaginal.

Paulo R. Margotto
Assistência ao Recém-Nascido de Risco

O controle clínico do tratamento é realizado pelo acompanha- uma emergência aguda médica da aferição do sexo até o trata-
mento do crescimento do clitóris e pênis e do aparecimento e/ mento do paciente e da sua família a longo prazo.
ou aumento de pilificação pubiana, que podem indicar excesso Quanto à escolha do sexo: orientar, usando o desempenho do
de produção de andrógenos. O crescimento em altura deve ser indivíduo na vida sexual adulta para uma perfeita integridade psí-
mantido dentro dos padrões normais para a idade e padrão fa- quica e social do doente.
miliar (a falta de glicocorticóides provoca aumento da velocidade Poucos distúrbios na criança oferecem ao médico um maior
de crescimento, enquanto seu excesso, diminui). O controle labo- desafio e poucos propiciam maior gratificação para uma tera-
ratorial, com acompanhamento da 17-OHP, androstenediona e se pêutica bem sucedida...
possível ARP, deve ser realizado a cada três a seis meses. A idade
óssea deve ser determinada anualmente. Bibliografia
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Em alguns países e em alguns estados brasileiros, bem como


em estudos realizados em laboratórios particulares (“teste do
pezinho ampliado”), é realizada a triagem neonatal para a HCSR
por deficiência de 21αhidroxilase, baseada nos seguintes argu-
mentos2:

1. Incidência significativa - 1:14 000 nascidos vivos (a fe-


nilcetonúria, para comparação, que faz parte do “teste do
588 pezinho” no Brasil, tem incidência de 1:12 000);
2. Evita o erro de definição de sexo em meninas intensa-
mente virilizadas;
3. Evita a morte por crises de perda de sal.

Diagnóstico E Tratamento Pré-Natal

O diagnóstico e o tratamento pré-natal vem sendo utilizado


desde 1990 em gestações de risco (mães que já possuem uma
criança afetada), com o objetivo de evitar a virilização da genitália
externa em fetos femininos.
A identificação das mutações no gene da 21αhidroxilase e o
aprimoramento da técnica de biópsia do vilo corial permitiram a
aplicação do estudo molecular no diagnóstico pré-natal, melho-
rando a sensibilidade e a precocidade diagnóstica. A extração de
DNA obtido de vilo coriônico é possível a partir de 10 a 12 sema-
nas de gestação. Entretanto, a diferenciação da genitália externa
inicia-se antes deste período. Desse modo, o tratamento deve ser
iniciado logo no começo da gestação (4ª ou 5ª semanas).
O protocolo seguido mundialmente sugere que após a con-
firmação da gestação pela β-gonadotropina coriônia humana
(β-hCG) positiva, deve ser iniciada a terapia com dexametasona,
na dose de 20µg/kg/dia, dividida em três vezes. A partir da 10ª
semana de gestação deve ser realizada a biópsia de vilo cori-
ônico para a determinação do sexo e para o estudo do gene
CYP21A2. Em caso de sexo masculino, como não há riscos de
alteração da genitália, a terapia deve ser suspensa. Em caso de
sexo feminino, prossegue-se o tratamento, aguardando-se a pes-
quisa de mutações no DNA fetal. A presença de mutações em
ambos os alelos indica que o feto apresenta a doença e que a
terapia deve ser mantida até o nascimento; caso contrário, o tra-
tamento é interrompido.
O médico que tratar da criança com ambiguidade genital deve
estar preparado para lidar com um problema que varia desde
Capitulo 18 Distúrbios Endocrinológicos

18.2 HIPOTIREOIDISMO CONGÊNITO

Mariana de Melo Gadelha, Maristela Estevão Barbosa,


Paulo R. Margotto

A deficiência na produção ou na atuação dos hormônios tireoi- Disgenesia


dianos (HT) leva ao quadro de hipotireoidismo, que é uma das Agenesia
1:4000
doenças hormonais mais freqüentes em pediatria. Os quadros Hipoplasia
clínicos resultantes da deficiência dos HT dependerão do grau Ectopia
e do tempo desta deficiência, afetando praticamente todos os Disormonogênese
tecidos em maior ou menor intensidade. Entretanto, é importante Ausência de resposta ao TSH
ressaltar que já na vida intrauterina, a falta de produção de HT Defeito no transporte ou captação do iodeto
1:30 000
determina conseqüências danosas no desenvolvimento cerebral Defeito de organificação
normal do feto. O Hipotireoidismo Congênito (HC) é uma das cau- Defeito de síntese da tireoglobulina
sas mais comuns de retardo mental preveníveis, e, portanto, seu Defeito na iodotirosinase deiodinase
diagnóstico precoce é essencial. Hipotalâmico-Hipofisário
Para uma produção adequada do HT, é importante que o eixo Anomalia hipotálamo-hipofisária
hipotálamo-hipófise-tireóide esteja íntegro, garantindo a seqüência Pan-hipopituitarismo 1:100 000
das atuações do hormônio liberador hipotalâmico (TRH) sobre a Deficiência isolada de TSH
hipófise, produzindo hormônio tireotrófico hipofisário (TSH), o qual, Resistência ao HT
por sua vez atua na tireóide, produzindo os HT, que atuarão no hi- Hipotireoidismo Transitório
potálamo fechando a alça de feedback. Deficiências nessas etapas Induzido por drogas
levam respectivamente a um hipotireoidismo terciário ou hipotalâ- Induzido por anticorpos maternos
mico, secundário ou hipofisário e primário ou tireoidiano (Figura 1). 1: 40 000
Gestantes tratadas com drogas
antitireoidianas ou irradiação
Idiopático

A tabela 1- Mostra a classificação e prevalência do HC.

Classificação CID10 589


•E03.0 Hipotireoidismo Congênito com Bócio Difuso
•E03.1 Hipotireoidismo Congênito sem Bócio

Situações Especiais

1. Função tireoidiana em crianças prematuras: As con-


centrações dos hormônios tireoidianos no cordão são
proporcionais ao peso do RN e à idade gestacional. Após
o nascimento, em comparação aos RN de termo, os pre-
maturos exibem alterações qualitativamente similares,
mas quantitativamente menores nas concentrações de
TSH, T4 e T3. Assim, as concentrações de TSH elevam-se
próximo de 40 mcUI;ml e os picos de T4, T4 livre e T3
são 20 a 30% inferiores. Isso decorre provavelmente da
imaturidade do eixo hipotálamo-hipófise-tireóide. Após a
primeira semana de nascimento, os níveis de T4 e T3 ele-
Fig. 1 vam-se gradualmente. Embora os valores médios sejam
discretamente inferiores aos normais, usualmente entre
O hipotireoidismo primário ou tireoidiano é sem dúvida o mais a terceira e a sexta semanas de vida sobrepõem-se aos
comum. Na maioria dos casos, a desordem é permanente e re- encontrados nos RN a termo.
sulta tanto de uma anormalidade no desenvolvimento da glân- 2. Hipotiroxinemia transitória: Essa alteração pode estar
dula (cerca de 80% dos casos - agenesia, hipoplasia ou disgene- presente em RN pré-termos pequenos (25 a 29 semanas
sia), como de um defeito direto na hormonogênese do tireócito de idade gestacional) submetidas ao estresse da transi-
(disormonogênese). A disormonogênese (cerca de 15% do total ção extra- uterina e tireóide imatura. A produção e a se-
de casos) ocorre por herança autossômica recessiva, sendo as- creção do TRH hipotalâmico são reduzidas, assim como
sim, mais freqüente em filhos de pais consangüíneos. Menos a resposta da tireóide ao TSH, além da baixa incapacida-
comumente, a função tireoidiana neonatal pode estar alterada de de converter a Tiroxina (T4) em Triiodotironina (T3). Os
transitoriamente (3%), devido à passagem transplacentária de níveis de tiroxina ligado a TBG estão baixos. Assim, estes
anticorpos maternos, medicações em uso pela gestante ou ex- pré-termos são relativamente hipotiroxinêmicos com ní-
cesso ou deficiência de iodo. Em casos mais raros, o HC resultará veis séricos normais a baixos de TSH e T3, apresentando
de anormalidades centrais (2%), hipotalâmicas ou hipofisárias. baixos níveis de tiroxina livre. Tem sido descrito uma inci-
dência de 85% nos RN de muito baixo peso (a incidência
varia de acordo com o nível de T4 usado para o diagnós-

Paulo R. Margotto
Assistência ao Recém-Nascido de Risco

tico- menor que 3 mcg/dl a 6.5 % mcg/dl). Nos RN de cebendo anormalidades na sua criança, são mais susceptíveis
27-28 semanas, importante hipotiroxinemia pode refletir à omissão da medicação.
um hipotireoidismo transitório hipotalâmico - hipofisário, Alguns estudos têm evidenciado retardo mental com redução
não requerendo tratamento, a menos que o TSH esteja do quociente de inteligência de 6,3 (IC95% 4,7-7,8), mesmo em
elevado (20 mui/l). Tem sido relatado aumento do risco pacientes tratados. Este prognóstico pode depender, principal-
de hemorragia intraventricular (OR: 1.2 95% IC : 1.05-1.4) mente da intensidade do hipotireoidismo intra-uterino e ao nas-
nestes RN de muito baixo peso, provavelmente devido a cimento. Assim, pacientes com agenesia de tireóide tendem a
um maior grau de não resposta hipotalâmica à injúria ce- apresentar pior prognóstico.
rebral neonatal adquirida. Não há dados consistentes na
literatura que nos autorize administrar T4 aos RN com hi- Diagnóstico Laboratorial
potiroxinemia transitória com TSH normal, apesar de rela-
tos de que severa hipotiroxinemia transitória nos RN possa O momento ideal para o diagnóstico do HC é o período neona-
estar associada com paralisia cerebral e retardo mental e tal, pois a partir de quatro semanas de vida, a deficiência de HT já
distúrbios visuais aos 3 meses de idade. Pesquisa recen- pode causar lesão neurológica. Portanto, é fundamental que os
te relata que aproximadamente 1/3 dos neonatologistas recém-nascidos sejam submetidas à triagem neonatal.
americanos usam hormônio tireoidiano no tratamento de No Brasil, a triagem neonatal para HC é realizada conforme a
RN com HTTP e 20% destes parece fazê-lo com um certa portaria GMMS nO 822 de 06 de junho de 2001, por meio de:
regularidade. A variação na prática neonatal, no entanto,
sugere a necessidade de um ensaio controlado e randomi- 1. Medida do hormônio estimulante da tireóide (TSH) em
zado de suplementação de hormônio tireoidiano aos RN amostras de sangue colhidas em papel filtro (“teste do
com HTTP, ensaio este com poder suficiente para analisar pezinho”), medida da tiroxina (T4) em amostra sérica
se o tratamento pode reduzir o risco de desabilidades neu- quando o TSH é superior a 20mcUI|L em radioimunoen-
rocomportamentais tardias. saio ou superior a 15 em ensaios imunométricos.
3. Filhos de mães com doenças tireoidianas: Doenças 2. Alternativamente pode ser realizada medida de T4 em
tireoidianas maternas podem comprometer transitoria- amostra de papel filtro (que deverá apresentar valor su-
mente a função tireoidiana do neonato. Por esta razão to- perior a 6UG|dl), seguida de medida de TSH quando o T4
dos estes RNs, filhos de mãe com doenças tireoidianas, é inferior ao percentil.
necessitam coleta de sangue de cordão para dosagem
de TSH e T4 livre na sala de parto. Particular atenção A Figura 2 mostra o aumento fisiológico que sofre o TSH desde os
deve ser dada a RNs de mães com hipertireoidismo, que 30 primeiros minutos de vida, variando de 70 a 100mcUi|ML. Desta
podem permanecer assintomáticos até 7—10 dias de forma, a coleta muito precoce do “teste do pezinho” poderá resultar
vida e posteriormente desenvolver tireotoxicose neonatal em um grande número de falsos-positivos. Assim, idealmente, a co-
590 transitória, por passagem transplacentária de anticorpos leta deve ser feita entre as pri-meiras 48hs de vida (se possível no
tireoestimulantes ou, por outro lado, também podem alojamento conjunto). Se houver alta precoce do RN (em menos de
desenvolver hipotireoidismo induzido pelas drogas antiti- 48h), é importante orientar a família a levá-lo a um posto de saúde
reoidianas usadas pela mãe (propiltiouracil e metimazol). ainda na primeira semana de vida para realização do teste.
Portanto estas crianças devem ser acompanhadas rigoro-
samenre para sinais de tireotoxicose ou hipotireoidismo,
no mínimo durante a primeira semana de vida. Crianças
cujas mães foram tratadas com drogas anti-tireoidianas
ou iodetos na gestação devem ser monitorizadas até que
os níveis de T4 total e TSH tenham normalizado. Desta
forma a alta hospitalar deve estar condicionada a uma
consulta na endocrinopediatria previamente agendada.

Quadro Clínico

As manifestações clínicas do HC mais comuns são: hipotonia


muscular, dificuldades respiratórias, cianose, icterícia prolongada,
constipação, bradicardia, anemia, sonolência excessiva, livedo re-
ticularis, choro rouco, hérnia umbilical, alargamento de fontanelas,
mixedema, sopro cardíaco, macroglossia, dificuldade na alimenta-
ção com deficiente crescimento pôndero-estatural, atraso na den-
tição, retardo na maturação óssea, pele seca e sem elasticidade,
atraso do desenvolvimento neuropsicomotor e retardo mental.
Na maioria das vezes, o HC não cursa com bócio. Quando este
estiver presente, deve-se suspeitar de disormonogênese, passa-
gem transplacentária de anticorpos antitireoidianos ou excesso
ou falta de iodeto durante a gestação.
As crianças com diagnóstico precoce, feito pela triagem ne- Fig. 2
onatal, podem não apresentar qualquer sintomatologia clíni-
ca, desde que a terapia de reposição hormonal seja iniciada A punção deve ser executada numa das laterais da região plan-
precocemente. Nestes casos, é importante ressaltar que as tar do calcanhar, locais com pouca possibilidade de se atingir o
mães destas crianças devem ser bastante orientadas no sen- osso, prevenindo assim a ocorrência de osteomielite (Figura 3).
tido de não abandonarem o tratamento, uma vez que não per- Deve-se evitar o uso de agulhas. Preferir lancetas.
Capitulo 18 Distúrbios Endocrinológicos

Idade Dose (µg;kg;dia)


0-28 dias 10-15
1-6meses 8-10
7-11meses 6-8
1-5anos 5-6
6-10anos 3-4
11-20anos 2-3
Adultos 1-2

A Tabela 3 mostra as doses preconizadas para a


reposição de levotiroxina conforme a faixa etária:

Obs.: Em prematuros extremos, quando houver necessidade


de tratamento, é aconselhável iniciar com uma dose menor, equi-
Figura 3 valente e 8µg;kg;dia.

A gota de sangue que se forma deve ser encostada na região de- Tempo De Tratamento
marcada para a coleta no papel filtro (círculos), fazendo movimen-
tos circulares com o papel até o preenchimento de TODO o círculo. O tratamento preconizado deverá ser mantido por toda a vida,
Após os resultados positivos iniciais no Programa de Triagem Ne- exceto para os casos de HC transitório. Para diferenciar as duas
onatal, deve ser sempre realizada a dosagem de T4 (total e livre) situações, deverá haver uma interrupção da terapêutica aos 24
e TSH em amostra de sangue venoso para CONFIRMAÇÃO do HC. meses de vida com reavaliação da função tireoidiana e cintilogra-
Com este protocolo, a média de detecção dos casos de HC é de fia (quando não realizada ao nascimento).
90%. Os 10% restantes são menos severamente afetados e não
se tornam detectáveis por TSH até a idade de 2 a 6 semanas. Monitorização
Os níveis séricos normais de TSH, T4total e T4livre encontram-
se dispostos na Tabela 2, conforme faixa etária. O tratamento é monitorizado laboratorialmente pelas dosa-
gens de T4 livre ou total e TSH, os quais devem ser realizados
Idade TSH (µUi;ml) T4 (µg;ml) T4livre (ng;ml) conforme o cronograma:
1-3 dias 1--20 11--21,5 --------
•Segunda e quarta semanas após o início do tratamento;
4-7dias 1--10 8,1—20,1 1,84—2,62
•A cada 1-2 meses até o primeiro anos de vida; 591
Prematuros
1--20 1—13,4 -------- •A cada 2-3 meses entre o primeiro e terceiro anos de vida;
(23-33semanas)
•A cada 6 meses após esta idade.
1-4semanas 0,5—6,5 8,2—17,2 --------- •Duas semanas após cada ajuste de dose.
1 a 12 meses 0,5—6,5 5,9—16,3 ---------
1 a 5 anos 0,6—6,3 7,3—15 0,94—1,34 O objetivo do tratamento no primeiro ano de vida é a manu-
Maiores 6 anos 0,6—6,3 6,4—13,3 0,94—1,34 tenção do T4 total entre 10-16mg/dl e o TSH inferior a 5mcUi/l.

Tabela 2. Dados adaptados de Fisher, Fisher e Vanderschueren-Lo-


deweyckx, Walfish e Tseng, Delange e cl.

Para que seja determinada a etiologia do processo, que na


maioria das vezes, tem origem na própria glândula tireóide, é in-
dicada a realização de exames de ultrassonografia da tireóide e
cintilografia com captação tireóidea de iodo radioativo. Quando a
espera para a realização destes exames vier a retardar o início da
terapia de reposição hormonal, os mesmos devem ser feitos so-
mente após os dois anos de vida da criança, quando se pode sus-
pender transitoriamente a medicação sem risco de dano neuro-
lógico. Nos casos mais raros de etiologia secundária ou terciária,
indicam-se também testes laboratoriais com estímulo de TRH.

Tratamento

O Tratamento do HC é baseado na terapia de reposição hormo-


nal com levotiroxina sódica. Este fármaco só se encontra disponí-
vel na apresentação comprimidos (25, 50, 75, 88, 100, 112, 125,
150, 175 e 200 µg). A administração é feita em dose única diária
pela manhã, necessitando respeitar um jejum de 30 minutos para
a completa absorção da droga. Sua meia-vida sérica é de sete dias.
Existe boa tolerabilidade gástrica e os efeitos colaterais em geral
estão relacionados a superdosagem ou subdoses, caracterizando
hiper ou hipotireoidismo iatrogênico, respectivamente.

Paulo R. Margotto
Assistência ao Recém-Nascido de Risco

Algoritmo De Triagem Neonatal Para HC


Baseado Na Dosagem De TSH

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Capitulo 19 Imunologia

Capítulo 19

Imunologia
Assistência ao Recém-Nascido de Risco

19.1 IMUNOLOGIA DO RECÉM-NASCIDO

Fabíola Scancetti Tavares, Marcia Cristina Mondaini Salazar

O sistema imunológico detém os mecanismos pelos quais nos- quando adequada, impede a colonização local por microorganis-
so organismo, de forma geral, responde a antígenos, reconhece mos deletérios. Ainda nas vias aéreas, as proteínas associadas
a si mesmo e ao que é estranho a si. ao surfactante são capazes de interagir com microorganismos e
Ele é composto por várias células e moléculas especializadas. modular a resposta inflamatória local.
Tais componentes atuam em conjunto, seja desempenhando as Um segundo exemplo são as enzimas com ação bactericida, como
funções de defesa contra infecções, de tolerância (isto é, reconhe- lisozima, lactoferrina e fosfolipases, encontradas na saliva e nas lá-
cimento dos tecidos próprios do corpo), bem como rejeição de en- grimas. Destaca-se que a quantidade de lisozima produzida na 18ª
xertos não compatíveis.12 Além disso, é da competência do sistema semana de vida fetal é semelhante à produzida por adultos normais.
imunológico a vigilância contra o desenvolvimento de tumores. Um terceiro exemplo são as enzimas digestivas e outros fatores
A infância é definida como o intervalo de tempo transcorrido locais que exercem proteção no trato gastrintestinal.6 Ainda, fa-
desde o nascimento até por volta do décimo primeiro ano de zem parte das barreiras mucosas peptídeos de ação antimicrobia-
vida. De todo esse período, o nascimento é um marco especial. na como as defensinas e catelicidinas, entre outras substâncias.
Com ele iniciam-se mudanças na fisiologia do organismo huma-
no, causadas principalmente em função do novo ambiente ao Fagócitos
qual o neonato, a partir de agora, ficará exposto. No que diz res-
peito ao sistema imunológico, a transição entre o ambiente intra- Os fagócitos podem ser mononucleares (macrófagos) ou po-
uterino e o ambiente externo, rico em antígenos estranhos, exige limorfonucleares (neutrófilos). Os macrófagos originam-se dos
diversas adaptações. Tais ajustes, deflagrados ao nascimento, monócitos circulantes e sobrevivem nos tecidos por cerca de 8 a
prosseguem durante a infância, na verdade por toda a vida. 12 semanas. Já os neutrófilos têm vida mais curta, permanecem
Abordar o desenvolvimento do sistema imunológico na infân- na circulação sangüínea por algumas horas e mantêm-se ativos
cia proporciona melhor compreensão da susceptibilidade a infec- nos tecidos por cerca de 2 dias.
ções nos primeiros anos de vida, sobretudo no período neonatal. O desenvolvimento dos fagócitos na medula óssea sofre influ-
Particularmente, compreender a evolução do sistema de defesa ência de alguns fatores de crescimento, como: fator estimulador
contra diferentes patógenos pode ser muito útil na assistência ao de colônias de granulócitos (“G-CSF - granulocyte colony-stimu-
recém-nascido de risco.34 Em especial nos dias de hoje, quando lating factor”), fator estimulador de colônias de macrófagos (“M-
nos deparamos com o aumento da sobrevida de indivíduos nas- CSF - macrophage colony-stimulating factor”), e fator estimulador
594 cidos com idade gestacional cada vez menor.5 de colônias de granulócitos -macrófagos (“GM-CSF - granulocyte–
macrophage colony-stimulating factor”).
Sistema Imunológico Inato O nascimento, divisor de águas no que diz respeito ao sistema
imunológico, tem impacto significativo sobre os fagócitos. Nesse
Didaticamente, o sistema imunológico é dividido em inato e momento, ocorre imediatamente aumento no número absoluto de
adaptativo. O primeiro é de resposta imediata e inespecífica às neutrófilos, com pico por volta das 12h de vida. Essa neutrofilia
infecções. Já o segundo tem ações específicas contra os germes transitória persiste até cerca de 3 dias de vida, seguindo-se então
que nos desafiam diariamente, mas tem ação mais lenta (pode de- uma queda no número dessas células durante as próximas 3 se-
morar dias para se desenvolver), pois depende do processamento manas pós-nascimento. Uma explicação para esse fenômeno nas
e apresentação de antígenos. Tal sistema será apresentado mais primeiras horas de vida seria o recrutamento de neutrófilos margi-
adiante. Por enquanto, nos ocuparemos apenas com o primeiro. nais e não o aumento de sua produção, uma vez que cerca de 50%
O sistema imunológico inato é a primeira linha de defesa contra dos neutrófilos circulantes encontram-se próximos ao endotélio
infecções. É constituído por: barreiras físicas, fagócitos, sistema vascular. O recrutamento dos neutrófilos desse estado de margina-
complemento, receptores para moléculas de microorganismos, ção é ocasionado por estímulos como infecções, corticosteróides e
células Natural Killer, entre outros. epinefrina. Disso resulta um aumento extremamente significativo
Dentre as barreiras físicas, destacam-se a pele e barreiras no número absoluto de neutrófilos na circulação sangüínea.
mucosas. É esperado um aumento do número desses fagócitos na vi-
gência de infecções. A ocorrência de neutropenia durante epi-
Pele e Barreiras Mucosas sódios infecciosos está correlacionada com desfechos desfavo-
ráveis no período neonatal.
A pele é uma barreira física importante no bloqueio da en- Pode-se pensar que apenas o número adequado de fagócitos
trada de germes. Quando ocorre perda de sua integridade (por garante a eficiência deles como defensores. Isso não é verda-
exemplo, como conseqüência de queimaduras, inflamação, etc), de. Para que a eficiência seja garantida, também é necessária
há prejuízo nessa primeira linha de defesa. Nos recém-nascidos a ocorrência de uma série de ações desenvolvidas em conjunto
(RN), notadamente prematuros, o adelgaçamento da pele resulta com outros efetores do sistema imune. A primeira delas é a qui-
numa maior susceptibilidade a piodermites. Além disso, a vernix miotaxia, que consiste numa migração específica e direcionada
caseosa é uma substância rica em lipídios que recobre o feto du- das células até o sítio da inflamação. A chegada dos fagócitos
rante o terceiro trimestre da gestação. Ela constitui uma barreira nos órgãos alvo depende da interação entre moléculas expressas
física contra infecções e também possui substâncias com ação em sua superfície e mediadores proinflamatórios. É necessária
antibacteriana. Não é raro que prematuros nasçam com ausên- também a interação com proteínas expressas na superfície das
cia de vernix caseosa, o que parece aumentar a possibilidade de células endoteliais. Essa habilidade interativa está diminuída
infecções nesses indivíduos. nos fagócitos dos neonatos, independentemente da idade gesta-
No que diz respeito às barreiras mucosas, temos vários exem- cional. Ainda, a quimiotaxia é semelhante em recém-nascidos a
plos. O primeiro é a atividade mucociliar das vias aéreas que, termo e em prematuros, apesar de estar reduzida se comparada
Capitulo 19 Imunologia

aos adultos. Já a capacidade de fagocitar e matar bactérias é um “gatilho” para diversas reações químicas que culminam na
similar em recém-nascidos e adultos saudáveis. produção de citocinas proinflamatórias. Então, há o início de uma
Outro aspecto para garantir a eficiência da fagocitose é a opso- cascata de eventos necessários para a defesa inespecífica e es-
nização (palavra cujo sentido é “tornar apetitoso”). O que ocorre é pecífica do organismo. Os TLR constituem uma ligação entre a
que as bactérias encapsuladas não interagem diretamente com imunidade inata e imunidade adaptativa, daí sua grande impor-
os receptores dos fagócitos para serem englobadas. Elas preci- tância. Esses receptores estão presentes em várias células: linfó-
sam ser recobertas por imunoglobulinas ou proteínas do sistema citos T regulatórios, células apresentadoras de antígenos, células
complemento do hospedeiro antes de serem reconhecidas e fago- “Natural Killer”, entre outras
citadas (como se as imunoglobulinas ou as proteínas do sistema Defeitos na via desses receptores resultam em susceptibili-
complemento fossem uma espécie de “tempero para abrir o ape- dade aumentada a infecções piogênicas (principalmente por es-
tite”). Assim, a interação adequada entre vários compartimentos treptococos ou estafilococos) durante a infância. Porém, há me-
do sistema imune é necessária para a eficiência do processo de lhora com o decorrer da vida. Análises de macrófagos de cordão
fagocitose. Apenas a deficiência de qualquer um desses efetores de recém-nascidos de termo mostrou expressão de receptores
pode trazer prejuízo significativo para as defesas do organismo. tipo Toll semelhante aos adultos.
Já a avaliação específica da expressão dos receptores tipo Toll
Sistema Complemento de número 2 – em fagócitos de neonatos - mostrou valores um
pouco menores que os de adultos sadios. Ainda, a expressão des-
O sistema complemento – assim chamado porque no momen- ses receptores aumenta precocemente frente a uma septicemia.
to de sua descoberta foi considerado como um sistema comple- É aventada a possibilidade desses receptores serem utilizados
mentar às imunoglobulinas – é composto por mais de 30 pro- como marcadores para septicemia no futuro
teínas. Tais proteínas podem ser encontradas no plasma ou na
superfície de determinadas células. Elas funcionam como um sis- Células Natural Killer
tema enzimático em cascata, o qual pode ser ativado por 3 dife-
rentes vias: via clássica, via alternativa, ou via das manoses. A via As células Natural Killer (NK) constituem uma subpopulação de
clássica é ativada por imunocomplexos – então interage com a linfócitos que se origina na medula, oriunda de progenitores dife-
imunidade específica. A via alternativa pode ser ativada por meio renciados daqueles das células T e B. Tais células não expressam
de ligação direta à superfície de microorganismos – atividade CD3 em sua superfície, nem fazem rearranjo do TCR (receptor de
inespecífica. Além dessas duas vias, existe ainda uma terceira, célula T). As células NK têm capacidade de eliminar células tumo-
a qual é iniciada com a ligação da lecitina ligadora de manose rais ou infectadas por vírus, sem a necessidade de interação com
às manoses ou fucoses presentes na superfície de bactérias ou o MHC (Complexo Maior de Histocompatibilidade) classe I ou II.
vírus, favorecendo a fagocitose. É característica das células Natural Killer expressar CD16 e/ou
As principais ações do Sistema Complemento incluem: defen- CD56 em sua superfície.Elas representam cerca de 10% dos lin-
der o organismo contra bactérias piogênicas, interligar o sistema fócitos circulantes de um adulto. E já estão presentes no feto por 595
imune inato com o sistema imune adaptativo, descartar imuno- volta da 9ª semana de gestação. Uma das ações das células NK
complexos e resíduos de processos inflamatórios. é a citotoxicidade celular mediada por anticorpo (ADCC) – lise de
As proteínas do Sistema Complemento não atravessam a pla- células recobertas por anticorpos específicos – marcando a inte-
centa, então os níveis encontrados no feto e no neonato refletem gração entre o sistema de defesa específico e inespecífico. Essa
a produção do próprio indivíduo. Os componentes do Comple- atividade pode ocorrer tanto no feto quanto no neonato, já que os
mento podem ser encontrados bem cedo na circulação fetal. No anticorpos IgG maternos passam da mãe para o feto através da
entanto, seus níveis permanecem baixos até o terceiro trimestre placenta. A ADCC parece ser um mecanismo de defesa importan-
de gestação. No final da gestação, as concentrações séricas de te contra vírus e bactérias nos primeiros meses de vida, quando a
C3 correspondem a 60-80% dos valores de um adulto. Já os com- imunidade celular mediada por linfócitos T ainda não é eficiente.
ponentes finais da via clássica do Complemento estão em núme- A evolução do número absoluto de células NK no sangue peri-
ro reduzido ao nascimento, apenas 10% dos valores maternos. férico da população brasileira, conforme a faixa etária, pode ser
Quanto à via alternativa no neonato, seus níveis séricos podem observada na Tabela 1. A atividade das células NK é menor nos
corresponder a até 70% dos níveis de adulto. Prematuros, geral- RN com idade gestacional inferior a 32 semanas do que nos nas-
mente, têm níveis mais baixos de Complemento sérico do que cidos com 32 semanas ou mais. A ADCC encontra-se diminuída
recém-nascidos de termo. Quanto menor a idade gestacional, mesmo nos nascidos a termo, atingindo os níveis de adultos após
menores os níveis de Complemento encontrados, sem influência os primeiros 6 meses de vida. Já os prematuros cujas mães re-
do peso ao nascer ou via de parto. Os níveis séricos do Comple- ceberam corticóide no final da gestação tiveram a maturação de
mento se aproximam mais dos valores dos adultos por volta de suas células NK acelerada.
1 ano de idade. A diferença quantitativa dos níveis de Comple-
mento neonatal, em comparação com adultos, pode ser respon- Sistema Imunológico Adaptativo
sável por menor atividade de opsonização em recém-nascidos.
Consequentemente, há menor capacidade em lisar bactérias e Até esse momento nos ocupamos apenas com o sistema imu-
vírus, menor geração de processo inflamatório e prejuízo da qui- nológico inato, uma forma de resposta imediata e inespecífica às
miotaxia para fagócitos no período neonatal. Atividade reduzida infecções. A partir de agora apresentaremos o sistema imunoló-
do Complemento Hemolítico Total em neonatos com septicemia gico adaptativo. Ele possui ações específicas contra os germes
está relacionada com maior índice de mortalidade. que nos desafiam diariamente, embora tenha ação mais lenta
(pode demorar dias para se desenvolver), pois depende do pro-
cessamento e apresentação de antígenos.
Receptores para Patógenos – Receptores Tipo Toll Podemos dizer que o sistema imunológico adaptativo é a segun-
da, mas não menos importante, linha de defesa contra infecções.
Os receptores do tipo Toll (TLR – Toll-like receptors) reconhecem As principais características dessa imunidade são:
padrões moleculares associados a determinados patógenos. A
partir da ligação com microorganismos, os TLR funcionam como • Especificidade: resultante da grande diversidade de re-

Paulo R. Margotto
Assistência ao Recém-Nascido de Risco

ceptores antigênicos existentes plasmócitos produtores de IgM são encontrados por volta da 15ª
• Memória imunológica: a capacidade de responder rápida e semana, enquanto os produtores de IgG aparecem por volta da
efetivamente a microorganismos previamente encontrados. 20ª semana e os plasmócitos produtores de IgA na 30ª.
Ao nascimento, o sangue do cordão umbilical é dotado de um
As células efetoras da imunidade adaptativa são os linfócitos B e T. grande número de linfócitos pré-B e B propriamente ditos. Esse
sangue tem cerca de 10 vezes o número absoluto de células pré-
Linfócitos B B do sangue periférico de um adulto saudável. Na vigência de
interação adequada com linfócitos T, a atividade desses linfócitos
Os linfócitos B possuem imunoglobulinas (Igs) em sua superfí- B pode ser semelhante à dos adultos.
cie, as quais funcionam como receptores para antígenos solúveis. Na Tabela 1 encontramos os valores de referência, em núme-
Quando uma ligação receptor/antígeno ocorre, o linfócito B se dife- ros absolutos, para linfócitos em sangue periférico de indivíduos
rencia em plasmócito – célula produtora de imunoglobulinas. saudáveis, da população brasileira. Nela, podemos observar que
As fases de desenvolvimento dos linfócitos B são marcadas o número de linfócitos B no cordão – identificados pela molécula
pelo rearranjo dos genes das porções variáveis (pesadas e leves) de superfície CD19 – é praticamente o dobro do valor encontra-
das imunoglobulinas. O amadurecimento dessas células ocorre do em adultos. Na verdade, os valores absolutos de linfócitos B
na seqüência: pro-B → pré-B (que sintetizam apenas cadeias circulantes vão aumentando desde o nascimento até os 6 meses
pesadas de Igs) → linfócito B imaturo (que expressam IgM em de vida. A partir de então, esses valores seguem uma diminuição
sua superfície) → linfócito B maduro (que expressam IgM e IgD gradativa até os valores habitualmente encontrados em adultos.
em sua superfície) → plasmócito. Ainda, os linfócitos B maduros Outros autores encontraram uma evolução semelhante em po-
podem ser identificados por meio de marcadores de superfície – pulação americana urbana, sem influência de sexo, cor ou etnia.
CD19, CD20, CD21 – via cirtometria de fluxo. Porém, há relatos de diferenças de maturação e ativação de lin-
Na vida intrauterina, os linfócitos pré-B já podem ser detecta- fócitos B de neonatos, conforme o meio ambiente ao qual suas
dos no fígado fetal por volta da 8ª semana de gestação. Já os mães estão expostas.

cordão 0-3m 3-6m 6-12m 1-2a 2-6a 6-12a 12-18a 19-44a


p10 798 2438 1919 2156 1969 1515 1280 1161 844
CD3 p50 1532 3352 3404 3413 3209 2180 1845 1505 1331
p90 2994 5247 5368 5004 4392 3701 2413 2077 1943
p10 485 1686 1358 1360 957 780 618 630 476
CD4 p50 1115 2282 2248 2064 1620 1178 907 837 813
p90 2263 3417 3375 3066 2727 2086 1348 1182 1136
p10 264 486 523 560 563 453 390 332 248
596 CD8 p50 421 877 881 1108 1030 730 612 449 418
p90 982 1615 1798 1803 1753 1700 1024 776 724
p10 278 395 955 811 711 631 471 460 138
p50 548 1053 1795 1278 1184 962 728 690 234
CD19
p90 1228 1697 2596 1792 1553 1283 1031 1143 544
p10 279 239 199 164 153 135 127 114 134
NK p50 674 499 379 416 318 269 236 228 235
p90 2151 1020 731 801 703 601 515 446 545

Tabela 1 - Valores de referência de linfócitos/mm3 em população brasileira sau


Fonte: MORAES-PINTO e cl.

Imunidade Passiva via Transplacentária

A produção adequada de Igs depende da apresentação de substancialmente no terceiro trimestre de gestação, prematuros
antígenos às células efetoras do sistema imune, bem como da possuem valores de IgG sérica bem menores que RN de termo.
interação entre linfócitos T e linfócitos B. Como o período fetal A meia-vida dessa IgG gira em torno de 20 dias. Em prematuros,
se caracteriza por uma exposição limitada a antígenos, a produ- a queda nos níveis de IgG pode ser acelerada por complicações
ção própria de anticorpos também fica limitada. O mesmo vale neonatais, devido a consumo e espoliação.
para o período neonatal. Resulta daí a importância da imunidade A Tabela 2 mostra uma comparação de valores séricos de IgG
passiva via transplacentária, constituída pela transferência dos entre lactentes nascidos prematuros e a termo. Os níveis baixos
anticorpos maternos ao feto. de IgG nos prematuros parecem ser compensados pelos outros
Essa passagem de anticorpos maternos via placenta se res- elementos efetores do sistema imunológico. No entanto, frente a
tringe ao isotipo IgG. Na gestação, o transporte de IgG se inicia um lactente de 6 meses em vigência de uma septicemia, a histó-
em torno da 17ª semana e vai aumentando com o decorrer do ria prévia de prematuridade é de grande relevância para subsidiar
tempo. Os níveis de IgG do feto tornam-se semelhantes ao da iniciativas terapêuticas, como a infusão de imunoglobulina endo-
mãe por volta da 33ª semana intraútero. venosa, por exemplo. Revisões sistemáticas sugerem benefício
No termo, os neonatos têm IgG em número igual ou 5-10% quanto ao uso de imunoglobulina endovenosa como adjuvante no
superior ao materno. Como a passagem transplacentária ocorre tratamento de septicemia neonatal, notadamente em prematuros.
Capitulo 19 Imunologia

Idade Gestacional (IG) / níveis séricos


médios de IgG (mg%)
IG 25-28 IG 29-32
Thermo
seminars seminars
Idade
pos-natal
1 seaman 251 368 1031
3 messes 60 104 430
6 messes 159 179 427

Tabela 2 - Concentração sérica de IgG em lactentes nascidos


prematuros e de termo.

As imunoglobulinas maternas protegem os RN contra doenças


infecciosas cujos anticorpos são duradouros (rubéola, sarampo,
estreptocócicas, etc). Pode haver alguma proteção para varicela,
tétano e difteria, caso a gestante tenha sido infectada ou imuni-
zada recentemente. Dessa forma, a atualização vacinal de mu-
lheres em idade fértil traz grande benefício para sua prole. No
que diz respeito a germes Gram. negativos, muitos deles neces-
sitam de anticorpos da classe IgM para opsonização eficiente.
Como a IgM não ultrapassa a barreira placentária, os neonatos fi-
cam mais suscetíveis a infecções por Gram negativos. Em alguns
casos, o fato da IgM não ser transferida via placenta constitui
vantagem. Por exemplo, a passagem de IgM anti-A e/ou anti-B
pela placenta resultaria em doença hemolítica ABO em todos os
casos de incompatibilidade materno-fetal.
No caso de mães com deficiência de anticorpos, recebendo re-
posição regular de imunoglobulina, a passagem transplacentária
de IgG é eficiente para neonatos de termo.1 Já neonatos nascidos
de mães com deficiência de anticorpos, mas sem reposição de
imunoglobulina, permanecem hipogamaglobulinêmicos nos 4 597
primeiros meses de vida.

Imunidade Ativa via Produção Anticorpos

A vida extra-uterina estimula o desenvolvimento do sistema


imune. A capacidade de produção de Igs depende não somen-
te da maturação de linfócitos B, mas também da maturação de
outras células envolvidas nesse processo. Como a maturação do
sistema imune não acontece ao mesmo tempo para todos os efe-
tores, um padrão adulto de produção de anticorpos só ocorre por
volta dos 5-7 anos de idade. Os níveis circulantes de anticorpos
podem ser mantidos por um número reduzido de plasmócitos,
uma vez que essas células são capazes de produzir milhares de
moléculas de anticorpos por segundo. Em compensação, esses
anticorpos não possuem vida prolongada. A Tabela 3 mostra a
evolução dos níveis séricos das diferentes imunoglobulinas, con-
forme a faixa etária, na população brasileira.

Paulo R. Margotto
Assistência ao Recém-Nascido de Risco

598

Tabela 3 - Níveis séricos de imunoglobulinas conforme faixa etária, na população brasileira.

Já vimos que a IgG transferida via transplacentária tem uma cemente que a de anticorpos contra antígenos polissacarídicos.
meia vida de 20 dias e que a produção própria da IgG depen- Especificamente, a capacidade adequada para responder a antí-
de da exposição aos antígenos do meio ambiente. Dessa forma, genos polissacarídicos é atingida somente depois dos 2 anos de
o lactente vive um período de Hipogamaglobulinemia Fisiológi- idade.Daí uma maior incidência de infecções por gemes encap-
ca entre o 3º e o 6º mês de vida. Nesse intervalo de tempo, há sulados, nessa faixa etária. Isso explica também a necessidade
queda dos valores de IgG recebidos via placentária e a produção de imunizações repetidas e uso de vacinas conjugadas (polissa-
própria ainda não atingiu níveis ótimos. Esse momento é carac- carídeo + proteína) nos primeiros anos de vida, para se atingir
terizado por maior susceptibilidade a infecções. Em prematuros níveis protetores de anticorpos para germes encapsulados.
e RN que tiveram alguma complicação neonatal, o período de Por outro lado, a produção de IgM leva a aumento rápido em
Hipogamaglobulinemia Fisiológica pode ser mais prolongado. E suas concentrações séricas já nos primeiros 20 dias após o
os níveis de IgG, nesses indivíduos, podem ainda ser mais baixos nascimento. Ela não ultrapassa a barreira placentária, mas é
que em RN de termo sem agravos perinatais. a principal imunoglobulina produzida pelo lactente. Nos casos
A produção de IgG aumenta gradativamente após o nascimen- de infecção perinatal, seus níveis ficam ainda mais elevados.
to. A produção de suas subclasses IgG1 e IgG3 atinge níveis de Níveis circulantes semelhantes aos de adultos são atingidos por
maturidade antes da IgG2 e IgG4. Consequentemente, a produ- volta dos 2 anos de idade.
ção de anticorpos contra antígenos protéicos ocorre mais preco-
Capitulo 19 Imunologia

O último isotipo a atingir concentrações séricas semelhantes da uma diminuição da função das células T em sangue de cordão
aos adultos é a IgA – somente na adolescência. Ela também não de prematuros (com idade gestacional > 26 semanas) nascidos
atravessa a placenta. Raramente é detectada em sangue de cor- de mães que usaram corticosteróides sistêmicos, no intuito da
dão e começa a ter concentrações evidentes por volta do 15º acelerar a maturação pulmonar. Além disso, reações cutâneas
dia de vida no neonato. A produção diária dessa imunoglobulina de hipersensibilidade tardia estão diminuídas em neonatos. Por
supera significativamente a produção de IgG. Porém, é pouco en- outro lado, caso ocorra transmissão de agentes infecciosos via
contrada na circulação sangüínea. Já o componente secretor da transplacentária, os fetos têm demonstrado capacidade em ge-
IgA é o isotipo de imunoglobulinas mais presente nas superfícies rar resposta imune adaptativa específica para se defender.
mucosas. Há evidências de produção aumentada dessa imuno- Existe uma população específica de linfócitos T CD4+, os quais
globulina em prematuros com infecção do trato gastrintestinal. também expressam CD25 em sua superfície. Esses linfócitos
Vale ressaltar que a transferência de IgA materna, via aleitamen- (TCD4+CD25+) são denominados regulatórios (Treg) e estão rela-
to, influencia a colonização do trato gastrintestinal dos lactentes. cionados com o controle da auto-imunidade. Tais células já estão
Outras imunoglobulinas produzidas são a IgD e a IgE. Elas não presentes no timo fetal por volta da 13ª semana de gestação.
atravessam a placenta e dificilmente são encontradas em sangue Disso decorre que, a timectomia incidental após o nascimento
de cordão. Especialmente quanto à IgE, ela pode estar em níveis (devido à cirurgia cardíaca, por exemplo) não está relacionada a
aumentados na circulação sangüínea de neonatos com anteceden- maior incidência de auto-imunidade.
tes familiares de atopia, mas sem traduzir algum agravo específico.
Considerações Finais
Linfócitos T
O nascimento é um desafio, principalmente do ponto de vista
Os linfócitos T desempenham papel crucial na regulação da imunológico. O indivíduo sai de um ambiente fetal praticamente
imunidade específica. Eles modulam as funções das células estéril, para um meio ambiente repleto de microorganismos que
apresentadoras de antígenos, dos linfócitos B e até mesmo de põem suas defesas a prova. O sistema imune não está pronto ao
outros linfócitos T. Para tanto, as diversas células comunicam-se nascimento, porém sua variedade de efetores e sua especificida-
entre si, via citocinas ou por meio de moléculas expressas em de desempenham importante papel nos primeiros dias de vida.
sua superfície. Conforme a expressão de moléculas, e as citoci- Enquanto a maturação do sistema imune ocorre gradativamente
nas produzidas, os linfócitos T desempenham diferentes funções com o avançar da idade, o neonato e o lactente contam com al-
e são classificados em subpopulações. Quando há expressão de gumas armas na luta diária contra infecções:
CD4 em sua superfície o linfócito T age como auxiliar, secretando
várias citocinas, as quais podem estimular células B. Quando há 1. a passagem transplacentária do repertório imunológi-
expressão de CD8 em sua superfície, ele possui ação citotóxica co materno via IgG;
contra tumores ou células infectadas por vírus. 2. o aleitamento materno, que confere proteção diferen-
Os precursores dos linfócitos T são produzidos na medula ós- ciada para as mucosas; 599
sea e migram para o timo, onde vão completar sua maturação e 3. a vacinação adequada, que estimula o sistema imune
diferenciação. O timo já é um órgão linfóide ativo por volta da 8ª para a produção própria de anticorpos.
semana de vida. Linfócitos T maduros são identificados no san-
gue do cordão a partir da 20ª semana gestacional. Num primeiro olhar, a imaturidade do sistema imune ao nas-
Os linfócitos T constituem a maioria dos linfócitos circulantes. cimento pode ser classificada como uma imunodeficiência tran-
Logo após o nascimento, ocorre uma diminuição no número ab- sitória. Entretanto, essa pode ser a tradução de um mecanismo
soluto de linfócitos, que chegam ao seu mínimo no 3º dia de vida. de adaptação. Afinal, a tolerância imunológica é predominante
A partir daí, esse número aumenta até o 10º dia de vida. O pre- no período fetal. E é absolutamente adequado que assim seja.
domínio de linfócitos em sangue periférico se mantém, tanto em O sistema imune exerce suas funções por meio da interação
prematuros quanto em RN de termo, até o 3º ano de vida. entre células, anticorpos, enzimas, proteínas, mediadores infla-
A porcentagem de linfócitos expressando CD2, CD3 e CD8 em matórios, etc. Essa rede interligada de mecanismos efetores é
sua superfície é menor no cordão umbilical do que em adultos. responsável pela proteção contra agentes infecciosos, reconheci-
Entretanto, não há diferença em números absolutos, já que o mento do que é próprio (regulação da auto-imunidade) e vigilân-
número absoluto de leucócitos está elevado ao nascimento. No cia contra o surgimento de tumores.
que diz respeito aos linfócitos T CD4+, tanto seu número absoluto Não há dúvida de que o conhecimento sobre o desenvolvimen-
quanto sua porcentagem são maiores no sangue de cordão, se to do sistema imune é de grande utilidade para a compreensão
comparado com o sangue periférico de adultos. de vários eventos aos quais os recém-nascidos, notadamente os
A Tabela 1, apresentada anteriormente, mostra a evolução de risco, estão sujeitos.
do número desses linfócitos na população brasileira, confor-
me a faixa etária. Bibliografia
A média de linfócitos T no RN é de 3000 células/mm3, enquan-
• DELVES, P. J.; ROITT, I. M. Advances in immunology: the immune system (first of two parts).
to no adulto é de 1400/mm3. A relação CD4+/CD8+ pode chegar New England Journal of Medicine, 343:37, 2000.
a 31 no período neonatal. As células T CD4+ de cordão não são • COSTA-CARVALHO, B. T.; NUDELMAN, V.; CARNEIRO-SAMPAIO, M. M. S. Mecanismos de
defesa contra infecções. Jornal de Pediatria (Rio de Janeiro)74:S3, 1998.
muito eficientes. Na ausência de ação adequada de linfócitos T • EDWARD, M. S.; BAKER, C.J. Bacterial infections in the neonate. In: LONG SS. Principles
and practice of pediatric infectious diseases. 3rd ed. New York: Churchill Livingstone, Cap.
CD4+, os linfócitos B não conseguem secretar Igs contra antí- 94., 2008
• PAULSEN, F.; PUFE, T.; SCHAUDIG, U.; HELD-FEINDT; LEHMANN, J.; SCHRÖDER, J.; TILL-
genos solúveis adequadamente. Ainda, a diferenciação de lin- MANN, B. Detection of natural peptide antibiotics in human nasolacrimal ducts. Investiga-
fócitos B, via estímulo por linfócitos T, necessita da atuação da tive Ophthalmology & Visual Science. 42: 2157, 2001.
• XANTHOU, M. Leucocyte blood picture in healthy full-term and premature babies during
interleucina-4 (IL-4). A produção dessa citocina está diminuída no neonatal period. Archives of Disease in Childhood, 45: 242, 1970.
• ALAM, R.; GORSKA, M. Lymphocytes. Journal of Allergy and Clinical Immunology 111:
período neonatal, consequentemente, a produção de anticorpos S476, 2003.
também fica reduzida. Os linfócitos T CD4+ do neonato vão ama- • JORNAL BRAGID. n. 3, 2006. Disponível em: <http://www.imunopediatria.org.br/inst_jor-
nal.php>. Acesso em: 20 jul. 2009.
durecendo e melhorando sua função com o evoluir da idade. Há
predominância de atividade supressora sobre atividade auxiliar
de linfócitos T em sangue de cordão. Adicionalmente, foi observa-

Paulo R. Margotto
Assistência ao Recém-Nascido de Risco

• SHEARER, W.; ROSENBLATT, H.; GELMAN, R.; OYOMOPITO, R.; PLAEGER, S.; STIEHM, E.;
WARA, D.; DOUGLAS, S.; LUZURIAGA, K.; MCFARLAND, E.; YOGEV, R.; RATHORE, M.; LEVY,
W.; GRAHAM, B.; Spector, S. Lymphocyte subsets in healthy children from birth through 18
years of age: the pediatric AIDS clinical trials group P1009 study. Journal of Allergy and
Clinical Immunology 112: 973, 2003.
• PALMEIRA, P.; COSTA-CARVALHO, B. T.; ARSLANIAN, C.; PONTES, G.; NAGAO, A. T.; CAR-
NEIRO-SAMPAIO, M. M. S. Transfer of antibodies across the placenta and in breast milk
from mothers on intravenous immunoglobulin. Pediatric Allergy and Immunology. No prelo
2009.

600
Capitulo 19 Imunologia

19.2 IMUNIDADE DAS MUCOSAS

Vanessa Gonzaga Tavares


Caroline Walker de Medeiros do Nascimento

O tecido linfóide associado às mucosas (MALT) é considerado o Fonte: Modificado de Neurath, MF, Finotto S, Glimcher LH
maior órgão imunológico do corpo hum ano, compreendendo uma TheAs células dendríticas também captam antígenos tanto nos
rede extensa e integrada de tecidos linfóides que são responsáveis folículos linfóides isolados como na lâmina própria das mucosas,
em manter o equilíbrio e a defesa imunológica frente aos constan- e migram para os linfonodos mesentéricos, onde apresentam
tes estímulos provenientes do meio interno e do ambiente externo. o antígeno processado aos linfócitos virgens desencadeando a
O MALT recebe denominações diferentes de acordo com o te- resposta imune. Estudos também demonstraram que as células
cido onde aparece: tecido gastrointestinal (GALT), tecido bronco- dendríticas dos linfonodos periféricos podem processar antíge-
pulmonar (BALT), tecido nasal (NALT) e geniturinário. nos provenientes da absorção no epitélio intestinal.

Estrutura e Função • Produção de anticorpos pelos linfócitos B.


Na mucosa intestinal 80% dos linfócitos B são produtores de
O sistema imune associado às mucosas compreende tecidos IgA e 15% de IgM. A IgA secretória previne a entrada de microor-
organizados (Placas de Peyer no intestino, e as tonsilas no trato ganismos e antígenos estranhos na mucosa, neutraliza toxinas
respiratório superior) que atuam como sítios indutores e células e patógenos além de regular a composição da flora intestinal e
dispersas na lâmina própria (linfócitos T e B, plasmócitos, macró- limita a inflamação local. O subtipo de IgA mais freqüente na mu-
fagos, células dendríticas eosinófilos, basófilos e mastócitos) que cosa intestinal é a IgA secretória 2 (defesa contra antígenos po-
são as células efetoras da resposta imunológica. lissacarídeos) enquanto no plasma 90% é a IgA sérica do subtipo
O mecanismo principal de captação dos antígenos do lúmen IgA1 (defesa contra antígenos protéicos).
é feito através da célula M, porém não é o único. Os antígenos
encontrados luz do intestino são captados pela célula M nos sí- • Ativação dos linfócitos T:
tios indutores e transportados para as células apresentadoras de 90% possuem TCRαβ e 10% TCRγδ. Na lâmina própria predo-
antígenos, processados e então expressos nas moléculas de do minam os linfócitos T CD4+ (auxiliares Th1 ou Th2 e de memó-
complexo principal de histocompatibilidade (MHC) (classe I ou II). ria), enquanto 70 a 90% dos linfócitos intraepiteliais são CD8+
Estas células migram para as placas de Peyer (GALT) e tonsilas (supressores e citotóxicas que promovem proteção epitelial con-
(NALT) e apresentam o antígeno aos linfócitos T ou B que ficam tra células infectadas ou alteradas)
ativados. Os linfócitos B, os linfócitos T CD4+ e CD8+ primaria- 601
mente ativados vão para vasos linfáticos eferentes, linfonodos • Linfócitos T regulatórios:
mesentéricos, ducto torácico e entram na corrente sanguínea, Compreendem as células Tr1 produtoras de IL-10, linfócitos
retornando aos sítios efetores das mucosas (lâmina própria do Th3 que produzem TGFβ (citocina de ação antiinflamatória e re-
intestino, trato respiratório inferior e superior; glândulas mamá- lacionada à produção de IgA) e linfócitos T regulatórios naturais
ria, salivares e lacrimais) onde vão completar sua diferenciação e (CD4+CD25+) produtores de FOXP3, fator de transcrição que inibe
iniciar a resposta imunológica (Figura 1): a resposta Th1 e Th2. Esses linfócitos têm função importante na
indução da tolerância imunológica das mucosas através de meca-
nismos de anergia, deleção ou supressão (Figura 2) que vai depen-
der da dose, do tipo e da via de entrada do antígeno no organismo.

Figura 1 – Sítios indutores e efetores da resposta imune no GALT e NALT.


Fonte: Modificado de Neurath, MF, Finotto S, Glimcher LH The Role of TH1/
TH2 polarization in mucosal immunity. Nat Med. 2002 Jun; 8(6): 567-73

Paulo R. Margotto
Assistência ao Recém-Nascido de Risco

Altas doses de antígenos


A) Anergia; ocorre quando a célula dendrítica através do MHC apre-
senta o antígeno ao receptor do linfócito T (TCR) e este não pode ser
ativado porque falta a ligação entre as moléculas coestimulatórias.

Altas doses de antígenos


B) Deleção: Através da interação entre Fas (CD95) da célula T e seu
ligante CD95L (Fas-L) na célula apresentadora de antígeno, induzindo
a apoptose no linfócito T. Por este mecanismo tanto os linfócitos T
apoptóticos como os macrófagos que ingerem células em apoptose,
secretam TGFβ na mucosa intestinal.

- Baixa dose de antígenos


C) Supressão: As células Th3 e Tr1 secreta, respectivamente TGFβ
e IL-10 solúveis, enquanto a célula Treg natural CD4+CD25+ age
através de contato celular, possuindo em sua superfície TGFβ que
irá se ligar ao seu receptor expresso no linfócito T efetor, inibindo a
atividade desta célula.

602

Figura 2 – Mecanismos de tolerância oral


Fonte: Traduzido e Modificado de Burks e cl. Oral tolerance food allergy, and immunotherapy:
Implications for future treatment. J Allergy Clin Immunol 121:134,2008

O GALT é o tecido de mucosa mais bem estudado até hoje, Tabela 1 – Imunidade Inata e Adaptativa do Intestino
sendo considerado o maior tecido linfóide do corpo humano, com Fonte: Modificado de Mayer L. Mucosal Immunity. Pediatrics
uma extensão de mais de 300m. É composto por uma flora mi- 111:1595,2003.
crobiana de 1014 microorganismos com mais de 500 espécies de
bactérias, e possui defesa inata e adaptativa conforme a Tabela As células de Paneth fazem parte da imunidade inata e são encon-
1. No adulto, cerca de 2% dos antígenos, oriundos da dieta atra- tradas no intestino delgado. Estas células possuem peptídeos antimi-
vessam a mucosa intestinal de forma intacta. crobianos como α-defensinas, lisozimas e fosfolipase A2 que atuam
contra bactérias gram-positivas e gram-negativas e alguns vírus.
Imunidade Inata Imunidade As células epiteliais absorvem nutrientes (enzimas presen-
Físico-química Celular Adaptativa tes na borda em escova), funcionam como barreira (junções
firmes) e transportam IgA secretória. Além destas funções já
Linfócitos Linfócitos
Muco conhecidas, atuam como células apresentadoras de antígenos
intraepiteliais Intraepiteliais
não profissionais, podendo reconhecer através de receptores
Junções intercelulares Citocinas
Macrófagos semelhantes ao Toll (TRL) partículas de bactérias e vírus. Essas
firmes regulatórias
células também podem produzir citocinas, e participar do me-
Membranas canismo de tolerância imunológica modulando a expansão de
Leucócitos IgA secretória
epiteliais células T regulatórias e promovendo o controle da inflamação
Receptores se- local ao regular a ativação dos linfócitos.
Enzimas da borda
melhantes ao Toll Placas de Peyer
em escova
(TRLs)

Sais biliares Células epiteliais


Células apresenta- Desenvolvimento do Sistema Imune das Mucosas
doras de Antígenos
Alterações pH Células NK Linfócitos T CD4+ Desde a vida fetal até depois do nascimento o MALT está em
Linfócitos T processo constante de maturação. Dentro do útero, sob ambien-
Somatostatina Células de Paneth te estéril, predomina o desenvolvimento das estruturas mucosas,
regulatórios
Fatores trefoil Células M Linfócitos T CD8+ enquanto que a ativação ocorre após o nascimento com o estí-
mulo proveniente do meio externo.
Linfócitos B
Capitulo 19 Imunologia

Vida Intrauterina com aumento de linfócitos B IgA2, possivelmente pela exposição


aumentada aos polissacarídeos.
As estruturas do GALT estão completas com 19 semanas de Nas tonsilas há aumento de IgA e IgM entre 2ª e a 4ª semana.
gestação e são funcionais com 28 semanas de vida intrauteri- Após alguns meses há aumento de IgG na lâmina própria corres-
na. Os prematuros com mais de 28 semanas são capazes de pondendo a 50% dos plasmócitos.
ter resposta da mucosa de forma eficaz ao nascimento e apesar Os anticorpos secretores são provenientes principalmente da
da maturação completa se dar somente após o nascimento, há IgG transplacentária e do leite materno (IgM e IgA) que se ligam
evidências de ativação da mucosa fetal por infecção intrauterina. aos patógenos e neutralizam suas toxinas.
No intestino os linfócitos B aparecem por volta de 100 dias e
expressam IgA com 120 dias de gestação. Os sítios indutores sur- • Linfócitos T:
gem por volta de 130 a 140 dias, entretanto na lâmina própria os Os linfócitos intra-epiteliais (LIEs), aumentam logo após o nas-
linfócitos B produtores de IgA e IgG só estarão presentes ao nas- cimento atingindo níveis de adulto com dois anos de vida. A expo-
cimento. Ao contrário, no tecido respiratório, o desenvolvimento sição antigênica aumenta 10 vezes o número de linfócitos TCRαβ
da mucosa depende do estímulo antigênico, que acontece após e de 2 a 3 vezes os TCRγδ, com maior número sendo de linfócitos
o nascimento. Apesar disso, linfócitos IgM + e IgA + podem ser T supressores (CD8) responsáveis pela tolerância oral aos antí-
vistos com 110-140 e 180 dias de gestação, respectivamente. genos alimentares.
O componente secretor (responsável pela estabilização da IgA As moléculas de adesão endoteliais já estão presentes ao nas-
na luz das mucosas) já pode ser visto com 40 dias de gestação, cimento.
e expresso tanto no BALT como no GALT com 200 dias de vida in- As células dendríticas só aparecem após o nascimento e as
trauterina, mas sua síntese atingirá pico semelhante ao do adulto moléculas do complexo principal de histocompatibilidade II (MHC-
com uma semana após o nascimento. II), são expressas entre o nascimento e a 2ª semana de vida.
As células T aparecem na lâmina própria do intestino entre a
12ª. a 14ª. semana de gestação, com predomínio de formas ima- • Flora Intestinal:
turas (CD3-CD7+). O intestino é considerado imaturo até o nascimento e neste
período há estimulação do GALT com antígenos provenientes da
Período Pós-Natal flora comensal que são responsáveis pela maturação total dos
linfócitos e pelo mecanismo de tolerância oral. A interação entre
Fatores determinantes como: as influências hormonais ao nas- antígenos da flora comensal e a mucosa intestinal é o principal
cimento, os efeitos imunossupressores da IgG materna transpla- sinal para ativação do linfócito T no período neonatal.
centária e IgA do colostro, a imaturidade das células apresentado- Estudos demonstraram que animais livres de germes não de-
ras de antígenos, a deficiência na produção de IgA, a imaturidade senvolvem tolerância na ausência de flora intestinal, possuem
da barreira epitelial e aumento da permeabilidade aos antígenos, placas de Peyer reduzidas, número de linfócitos B produtores de
a função alterada dos linfócitos T (predomínio de padrão Th2) e IgA e células intra-epiteliais diminuídas e resposta retardada a 603
a produção deficiente de citocinas antiinflamatórias como TGFβ provocação com antígeno.
pelos linfócitos neonatais, corroboram para imunodeficiência da A microflora intestinal do neonato é proveniente da mãe, com
mucosa do recém-nascido. predomínio inicial de Escherichia coli, e ao final da 1ª semana de
Logo após o nascimento a mucosa intestinal é permeável, vida com anaeróbios: Bacterioides, Bidfidobacterium, Clostridium.
sendo os fatores reguladores presentes no colostro responsá- Há uma diferença, entretanto, quanto ao tipo de bactérias que
veis pela maturação da membrana e fechamento desta mucosa colonizam o intestino, que estão relacionados ao tipo de parto e
dentro de 48 horas de vida. Além disso, há uma queda acentu- a alimentação da criança. Estudos demonstraram que crianças
ada das enzimas salivares (amilase, lisozima e lactoferrina) que nascidas de parto vaginal e em aleitamento materno exclusivo
só voltam a aumentar entre a 6ª. a 20ª. semana, estabilizando possuíam uma flora intestinal considerada ótima, com mais bifi-
seus níveis por volta do 7º mês de vida. Desta forma ao nascer o dobactérias, e menos C. difficile e E. coli.
RN fica sem a proteção da barreira mucosa e destas enzimas e Através do parto vaginal, há colonização intestinal por bacté-
sendo por isso susceptível a infecções e à alergia. O aleitamento rias Streptococcus grupo B, E. coli, Listeria monocytogenes e ana-
materno precoce compensa esta deficiência inicial prevenindo a eróbios facultativos e pela cesárea há estabelecimento de flora
exposição sistêmica aos antígenos, infecções e atopia. com predomínio inicial de Klebsiella, Enterobacter e Clostridium e
com atraso na colonização por bactérias bacteróides e bifidobac-
• Linfócitos B e Imunoglobulinas térias. A colonização por Bacterioides, Lactobacillus, Bifidobacte-
As células B amadurecem desde o nascimento até 12 sema- rium propicia um ambiente para tolerância imunológica.
nas de vida, os centros germinativos do GALT e componentes se- O leite materno estimula a microbiota intestinal através dos
cretores aumentam rapidamente e atingem níveis de adulto com seus carboidratos complexos e através do componente CD14
oito semanas de vida. solúvel. Estudos in vitro demonstraram que este componente
No 1º. mês predominam os linfócitos B IgM+, e depois os linfó- tem a capacidade modular o reconhecimento da flora intestinal
citos B IgA + que continuam a aumentar até atingir os níveis de neonatal por aumento na expressão do TRL4 nas células epite-
adulto por volta dos sete anos de vida. liais intestinais e diminuição da expressão de TRL2 e TRL3. A
Na parede dos brônquios os linfócitos IgA+ aparecem com 10 concentração do CD14 solúvel é 20 vezes maior no leite humano
dias, as células produtoras de IgM+ com um mês, porém é raro que no sangue, o que favorece a proteção da glândula mamária
encontrar linfócitos B IgG+. e do intestino neonatal contra infecções, no período da lactação.
Nas glândulas parótidas a IgA e IgD aumentam com quatro se- A flora intestinal tem importante função em prevenir a coloni-
manas de vida e a IgG tem um pico com 12 semanas, diminuindo zação por microorganismos patogênicos, competindo tanto pelos
depois e atingindo um platô por volta dos seis meses. A IgA nas nutrientes como pelos seus sítios de adesão, além de produzir
glândulas salivares atinge valores próximos aos do adulto com antimicrobianos (bacteriocinas). Atua também como barreira físi-
15 meses, mas no período perinatal predomina linfócito B IgA1, ca contra entrada de antígenos, mantém a tolerância oral e esti-
e durante os 3 primeiros meses após o nascimento há inversão, mula aumento de produção de IgA pelos linfócitos B.

Paulo R. Margotto
Assistência ao Recém-Nascido de Risco

No período neonatal, o GALT será considerado eficaz, quando


houver o fechamento das membranas epiteliais das mucosas e o
aparecimento de imunoglobulinas secretoras.
Qualquer fator (Tabela 2) que altere a imunidade desta mucosa
pode gerar doença tanto no neonato (infecções e alergia) como
na vida adulta (doença inflamatória intestinal).
Fatores Pré-natais
Fatores genéticos (polimorfismo genético de citocinas)
Nutrição materna
Infecções intrauterinas
Uso de substâncias tóxicas (álcool, cigarro, drogas)
Tabela 2 – Fatores que influenciam o desenvolvimento
Fatores Perinatais
do sistema imune das mucosas na infância.
Influências hormonais ao nascimento (imunossupressão)
Fonte: Baseado em Gleeson M, Cripps AW. Development of mucosal
Alimentação do neonato
immunity in the first year of life and relationship to sudden infant death
Tempo de fechamento da barreira mucosa
syndrome. FEMS Immunology and Medical Microbiology 2004; 42:21-33.
Colonização bacteriana (flora comensal)
Aumento de células T regulatórias ao estímulo antigênico
Uso de antibióticos
O estresse crônico leva a diminuição da IgA na saliva que está
relacionado com aumento das infecções de vias aéreas superio-
Fatores Pós Natais
res. O uso de antibióticos tem grande impacto principalmente
Nível de anticorpos protetores maternos e no leite humano
nas bifidobactérias e bacteróides.
Imunização
O GALT está em contato direto e freqüente com antígenos
Exposição a novas infecções
oriundos da dieta, do meio ambiente e do meio interno (flora
Cigarro
bacteriana). Como nos outros órgãos do sistema linfóide, a mu-
Deficiência de IgA (primária ou secundária)
cosa intestinal apresenta resposta ativa contra microorganismos
Estado nutricional
patogênicos, mas sua principal função é a de manter tolerância
Estresse
e supressão imunológica. A quebra destes mecanismos leva o
Uso de antibióticos
indivíduo a doenças alérgicas e inflamatórias. (Figura 3)

604

Em condições normais o intestino mantém o estado de hiporres-


ponsividade ou de tolerância aos estímulos externos e internos,
entretanto uma vez que as células dendríticas produzam citocinas
inflamatórias como INF-γ ou IL-4, os linfócitos T irão se diferenciar
respectivamente em células Th1 e Th2.

*CAA – Célula apresentadora de antígeno


** CD – Célula Dendrítica.

Figura 3 – Ativação da Resposta Imunológica no GALT


Fonte: Traduzido de Neurath, MF, Finotto S, Glimcher LH The Role of TH1/TH2
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Capitulo 19 Imunologia

19.3 IMUNOLOGIA DO LEITE MATERNO

Caroline Walker de Medeiros do Nascimento,


Rozilene Cabral Muniz

A Organização Mundial de Saúde recomenda o aleitamento Água, Sais Mine-


materno por dois anos ou mais, sendo exclusivo nos primeiros rais E Vitaminas
seis meses de vida, diminuindo assim a incidência de doenças Interferon-gama, TNF-alfa, TGF-beta, fatores
Outros
infecto-contagiosas que constituem uma das principais causas estimuladores de colônias, interleucinas
de morbidade e mortalidade infantil nos países em desenvolvi-
mento, como as gastrenterites, sepse, meningites, infecções do Fonte: baseado em Ferreira, 1998 com modificações.
trato urinário e trato respiratório, entre outras. Neonatos e lac-
tentes têm maior susceptibilidade às infecções, pois possuem O colostro humano é o leite produzido nas glândulas mamá-
o sistema imunológico ainda imaturo. Sabe-se que crianças em rias nos primeiros cinco dias do pós-parto, com volume aproxi-
aleitamento materno contraem menos infecções do que aquelas mado de 100 ml/dia, muito rico em IgA, lactoferrinas e fatores
que recebem outras fórmulas lácteas e também apresentam me- de crescimento que estimulam o intestino imaturo da criança a
nores taxas de desnutrição infantil. se desenvolver e absorver o leite maduro, além de impedir a ab-
sorção de proteínas não digeridas. Possui menor teor de gordura,
O Leite Materno lactose e vitaminas, é mais denso que o leite maduro e possui cor
amarelada. O colostro é capaz de oferecer a primeira imunização
Os recém-nascidos são protegidos pelos anticorpos que recebem contra a maioria dos patógenos e contém 2 a 4 x 106 células/ml,
através da placenta materna e do leite humano materno após o nas- número que diminui rapidamente nos quatro dias do pós-parto
cimento. Pela placenta há uma transferência ativa de anticorpos da e de forma mais gradual posteriormente. Tem um efeito laxativo
classe IgG, principalmente nos últimos três meses de gestação. que ajuda a eliminar o mecônio e a diminuir a icterícia neonatal.
O organismo materno é capaz de produzir anticorpos especí- Se a criança receber leite de vaca ou outro alimento antes de
ficos contra microorganismos de seu próprio ambiente. Através receber o colostro, poderá desenvolver reações alérgicas.
da amamentação a criança recebe a proteção contra os agentes O leite de transição é o leite produzido entre o 6º até 15º dia
infecciosos que ela tem maior possibilidade de entrar em contato do pós-parto. Contém menos proteínas e mais lactose e lipídios
nas primeiras semanas de vida, uma vez que esses anticorpos (torna-se mais calórico para atender as necessidades fisiológicas
protetores irão se ligar aos microorganismos no seu tubo gastrin- e nutricionais do lactente). A produção materna diária de leite
testinal e impedir que estes se fixem na mucosa e atravessem o tende a aumentar, estimulada pela sucção do recém-nascido. 605
epitélio do sistema digestivo. Também ocorre uma diminuição de Nos dez primeiros dias, há mais células brancas por mililitro de
vitaminas e sais minerais específicos que as bactérias piogênicas leite do que na corrente sanguínea.
necessitam para sobreviver no trato gastrintestinal. O leite maduro aparenta ser um leite ralo, levando as mães
Após o nascimento, os níveis de IgG que foram transferidos a pensarem que seu leite é fraco e que não sustenta a criança,
pela placenta vão sofrendo queda e em torno dos três a seis porém este leite é constituído por todos os nutrientes que a crian-
meses de vida há uma hipogamaglobulinemia fisiológica transi- ça necessita para crescer e se desenvolver. Neste leite há uma
tória, havendo uma grande importância do aleitamento materno diminuição das concentrações de sódio, cloro e proteínas e há
nesta fase, tendo o leite humano uma função preventiva contra um aumento de citrato, lipídeos e lactose. O leite anterior é mais
infecções neste período. A proteção imunológica se dá através de fluido, com maior quantidade de proteínas do soro, água e lacto-
fatores solúveis específicos, que agem após a exposição prévia se. O leite posterior é rico em gorduras, favorecendo a saciedade
aos patógenos (representados pelas imunoglobulinas), fatores e o ganho ponderal.
inespecíficos, que não necessitam desta exposição (como o fa- A amamentação ao seio materno também inibe ou neutraliza o
tor bífidus, lactoferrina, lisozima) e fatores não-solúveis, como os desenvolvimento dos patógenos através de:
neutrófilos, macrófagos e linfócitos.
1. Estabelecimento de uma flora intestinal com ph baixo
Componentes Do Leite Materno (entre 4,0 e 5,0 - que impede o crescimento bacteriano
intraluminal);
Lactoalbumina 2. Manutenção da composição, da osmolaridade e de tempe-
Caseína ratura adequadas, que permitem a aceleração do peristaltis-
Lactoferrina mo intestinal e conseqüente expulsão precoce do mecônio;
Protéicos Seroalbumina 3. Impedimento do refluxo gastroesofágico irritativo.
Lisozima
Imunoglobulinas Imunoglobulinas
Enzimas (lipases)
Cistina Os anticorpos do leite materno apresentam as seguintes clas-
Aminoácidos ses: IgA, IgM, IgG, IgE e IgD. Há quantidades apreciáveis de IgA, IgG
Taurina
e IgM e pequenas quantidades de IgD e IgE. Os anticorpos IgG, IgM
Ácidos linoléico, palmítico, oléico
Lipídicos e IgD no leite podem mediar a citotoxicidade celular dependente
Colesterol
de anticorpos (destruição de bactérias revestidas de anticorpo).
Lactose
A classe de anticorpos mais abundante é a IgA secretora (80 a
Galactose
Hidratos De 90% do número total de imunoglobulinas), produzida e armaze-
Glicose
Carbono nada nas glândulas mamárias e também encontrada em grande
Oligossacarídeos
quantidade no trato respiratório e gastrintestinal dos adultos.
Glicoproteínas

Paulo R. Margotto
Assistência ao Recém-Nascido de Risco

Está presente em sua maior concentração nos primeiros dias do Os leucócitos agem combatendo diretamente a infecção e
pós-parto (no colostro) e então diminui progressivamente para ativando outros mecanismos de defesa. Estão em quantidade
um nível basal de 0,2 a 0,3 g/l abundante no colostro e há autores que relatam níveis em torno
A IgA secretora possui uma estrutura diferente em relação aos de 8 a 28% de neutrófilos no leite de mães lactantes e outros
anticorpos séricos. A IgA sérica é um monômero e a IgA secretora relatam valores tão elevados quanto 40 a 60%. Os macrófagos
é um dímero, ou seja, duas moléculas de IgA unidas pela cadeia constituem cerca de 40% ou mais de todos os leucócitos do co-
J e ao componente secretor, que é sintetizado na membrana ba- lostro e são mais ativos que os neutrófilos, fabricando lisozimas
solateral das células epiteliais da glândula mamária, formando o no leite materno, lactoferrina, C2, C3, C4, IL-1, fatores supresso-
complexo IgA secretora (IgAs). Esse processo é conhecido como res de leucotrienos e prostaglandinas (PGE2).
ciclo enteromamário ou bronco-mamário, associando a glândula Os linfócitos constituem 10% do leite, e destes 10%, cerca de
mamária ao sistema imune comum de mucosas. Assim, as molé- 20% são linfócitos B produtores de anticorpos (principalmente
culas de IgAs não são degradadas pelo ácido gástrico e enzimas IgA) e o restante são linfócitos T (em torno de 50 a 80%), que
digestivas, podendo bloquear a adesão e entrada de diversos exterminam as células que estão infectadas ou fazem a mobiliza-
microorganismos, agindo localmente e protegendo as superfí- ção de outros componentes do sistema imunológico, além de pro-
cies mucosas do lactente. A síntese de IgAs é influenciada por moverem uma transferência de imunidade celular sistêmica da
diversos fatores, tais como a experiência imunológica da mãe ou mãe para o filho. Os linfócitos do leite proliferam na presença de
infecções maternas recentes, por exemplo. Escherichia coli e são capazes de produzir Interferon-gama para
A atividade protetora da IgAs é diferente das outras imunoglo- reforçar a resposta imunológica da criança. A grande maioria das
bulinas. Sua ação principal é bloquear a ade­são de microorga- células T expressa antígenos envolvidos na adesão intercelular
nismos às células epiteliais intestinais. A produ­ção de IgAs pelo (LFA-1, ICAM-1) e ativação de células T (HLA-DR). A escassez de
lactente se inicia em torno dos dois a três meses de idade e, até células T de memória no período neonatal e na primeira infância
este momento, o aporte de imunoglobulinas se faz através do é compensada, pelo menos parcialmente, pela transferência ma-
leite materno. Níveis próximos aos dos adultos são encontrados terna de linfócitos T de memória pela amamentação.
entre os seis e oito anos de idade. Os basófilos raramente são encontrados no leite materno (0,1%
A especificidade da IgAs estende-se a diversos agentes, como: de células) e o seu número é positivamente correlacionado com o
Salmonella, Shigella, Escherichia coli, Vibrio cholerae, Campylo- número de eosinófilos no sangue periférico, ou seja, há uma tendên-
bacter, Giardia lamblia, Entamoeba histolytica, Bordetella pertus- cia para níveis maiores de basófilos no leite de mulheres atópicas.
sis, Staphilococcus aureus, Neisseria meningitidis, Haemophilus As citocinas são glicoproteínas secretadas predominantemente
influenzae e Streptococcus pneumoniae, vírus (Poliovirus 1, 2 e 3, por células T ativadas, monócitos e macrófagos e têm efeitos so-
Echovírus, Coxsackie, Influenzae e Rotavírus). A proteção contra bre uma variedade de células do sistema imunitário e também em
infecções fúngicas se faz através de linfócitos T. muitas outras células e sistemas em todo o corpo. O leite humano
Os níveis de IgM no leite materno chegam a 2,5mg/dl, sendo contém citocinas, como interleucina IL-1, IL-4, IL-5, IL-6, IL-8, IL-10, IL-
606 o segundo anticorpo mais abundante. Os níveis de IgG e IgE são 12, IL-13, IL-16, IFN-γ, fator de necrose tumoral alfa (TNF-α) e TGF-β.
baixos no colostro e leite materno. A IgE pode combinar com an- Os oligossacarídeos se ligam inespecificamente às bactérias
tígenos no lúmen intestinal e liberar mediadores químicos que e assim impedem que haja interação com a mucosa intestinal.
podem aumentar a permeabilidade vascular. Mesmo em mães Ao contrário da IgAs, são absorvidos e podem ser eliminados
alérgicas há pouquíssima passagem de IgE pelo leite. pela urina, sendo uma das explicações do porquê crianças ali-
Poucos estudos mostram as possíveis alterações na composi- mentadas com ao seio materno apresentam índices mais bai-
ção do leite humano dependendo do tipo e do número de partos. xos de infecções urinárias.
De acordo com esses estudos, as primíparas têm concentrações A lisozima é um componente protéico que está presente no lei-
mais altas de IgAs e IgM que as multíparas, provavelmente por te materno em concentrações 5000 vezes maior que no leite de
apresentarem uma lentidão no enchimento da mama em relação vaca e é um conhecido agente anti-infeccioso. O fator bífidus no
às multíparas. As mães submetidas a parto cesárea (mas que leite materno humano promove o crescimento de bacilos Gram-
entraram em trabalho de parto) tinham níveis de IgAs mais altos positivos na flora intestinal (Lactobacillus bifidus), que inibem a
no colostro do que aquelas que optaram pelo parto vaginal. Não multiplicação de agentes patogênicos. Os recém-nascidos que
houve diferença significativa nos níveis de IgG em relação à pa- são amamentados com fórmula láctea a base de leite de vaca
ridade e tipo de parto e nos níveis de IgM em relação ao tipo de têm maior proliferação de Gram-negativos (potencialmente pato-
parto. Provavelmente o estresse cirúrgico aliado ao trabalho de gênicos) e coliformes na sua flora intestinal.
parto torna as concentrações de IgAs mais altas no colostro entre As células citotóxicas naturais (células Natural Killer - NK) têm
48 e 72 horas pós-parto. Também foi observado que quanto mais atividade citotóxica para células tumorais e células infectadas
precoce a coleta do colostro, maior a concentração de IgAs, daí a por vírus.
importância do aleitamento materno precoce do recém-nascido,
se possível ainda na sala de parto. Ações Dos Principais Componentes
Do Leite Materno
Outros Componentes Do Leite Materno
Produção de anticorpos
Linfócitos B
A concentração dos componentes do leite materno varia con- contra patógenos específicos.
forme progride a lactação, ou seja, as concentrações de lactofer- Eliminam microorganismos
rina, IgAs e leucócitos diminuem nas primeiras semanas de lac- do intestino da criança.
tação. Já os níveis de lisozima são baixos no pós-parto imediato Produzem lisozima, lactoferrina, C3 e C4,
e posteriormente aumentam, mantendo estes níveis estáveis em PGE2 e ativador do plasminogênio.
Macrófago
torno de 6 a 24 meses de lactação. Possuem atividade antitumoral
As células epiteliais mioepiteliais e luminais têm caracte­rísticas e quimiotática.
de células secretoras e parecem produzir micelas de caseína no Ativam outros componentes
estroma da glândula mamária. do sistema imune.
Capitulo 19 Imunologia

Realizam fagocitose (ingerindo Bibliografia


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para os tecidos do corpo • Kuschel CA, Harding JE. Leche materna reforzada con componentes múltiples para la pro-
moción del crecimiento en recién nacidos prematuros. La Biblioteca Cochrane Plus, 2008.
(impermeabilização antisséptica). • Urbano MG, Goñi I. Oligosacáridos de la leche humana. Papel en la salud y en el desarrollo
del lactante. ALAN v.51 n.4 Caracas dic. 2001.
Promove o crescimento • Friedman NJ, Zeiger RS. The role of breast-feeding in the development of allergies and
do Lactobacilus bifidus. asthma. J Allergy Clin Immunol 115:1238,2005.

Fator Bífidus Reduz o pH das fezes.


Inibe o crescimento de bactérias
Gram negativas.
Aumenta a atividade
Fibronectina
antimicrobiana dos macrófagos.
Aumenta a atividade antimicrobiana 607
Interferon-Gama das células imunológicas.
Modula a integridade da barreira epitelial.
Hormônios E Fatores Estimulam a maturação to trato digestivo.
De Crescimento Efeitos sobre a glicemia e crescimento.
Reduz a quantidade de ferro disponível,
impedindo o crescimento de bactérias de-
Lactoferrina pendentes do ferro (ação bacteriostática).
Atividades antivirais, anti-inflamatórias
e imunomoduladoras.
Rompe as paredes celulares das bacté-
Lisozima
rias (lise bacteriana – ação bactericida).
Adere a vírus e bactérias, impedindo suas
Mucina
ligações em superfícies mucosas.
Propriedades antiinflamatórias.
Oligossacarídeos Ligam-se a microorganismos, impedindo
suas ligações em superfícies mucosas.
Inibe a adesão de microorganismos
na mucosa.
Caseína
Promove o crescimento de Bifidobacte-
rium bifidium (Lactobacillus bifidus).

Fonte: baseado em Newman, 1995 com modificações

O aleitamento materno, por todas as suas características, deve


ser sempre incentivado por toda a equipe médica que acompa-
nha a mãe, incluindo o pediatra e o obstetra, desde o pré-natal.
A identificação e o estudo das funções dos componentes do leite
humano mostram que este é um alimento completo que oferece
às crianças muito mais do que uma simples nutrição, protegendo
principalmente contra infecções.

Paulo R. Margotto
Assistência ao Recém-Nascido de Risco

19.4 QUANDO SUSPEITAR DE IMUNODEFICIÊNCIA PRIMÁRIA


NO RECÉM-NASCIDO E LACTENTE

Marcia Cristina Mondaini Salazar, Fabíola Scancetti Tavares

Aspectos Gerais

As interações intercelulares que estabelecem e mantêm a Algumas ID primárias que podem ocorrer em RN ou lactentes
resposta imune (RI) são intimamente organizadas e altamente Síndrome de DiGeorge
complexas. E as bases para a imunidade no desenvolvimento do Síndrome de Griscelli
organismo estão bem estabelecidas antes mesmo do nascimen- Síndrome de Omenn
to. Embora os componentes do sistema imune (SI) se diferenciem Síndrome de desregulação imune, poliendocrinopatia, enteropa-
precocemente na vida fetal, a maturidade funcional levará alguns tia, ligada ao X (IPEX)
anos para ser completada.
Neutropenia congênita grave (Síndrome de Kostmann)
A despeito da imaturidade relativa do SI ao nascimento, o re-
Síndrome da imunodeficiência combinada grave (IDCG)
cém-nascido (RN) é capaz de apresentar uma grande variedade
da resposta imunológica efetiva para o seu novo ambiente e os Deficiência de adesão leucocitária (LAD)
fatores maternos supridos pela transferência através da placen- Síndrome de hiper IgM ligada ao X
ta, pelo colostro e pela amamentação ao seio contribuem para
complementar e aumentar as defesas provendo proteção adicio- Síndrome de DiGeorge
nal até que a maturação seja completada.
O SI atua promovendo a sua defesa contra vírus, bactérias, fun- Etiologia
gos, protozoários e outros agentes que tenham o potencial para
produzir infecção e doença. De forma geral, esses sistemas con- A Síndrome de DiGeorge (SDG) foi descrita inicialmente em
sistem de imunidade mediada por célula (célula T), imunidade 1965 como uma doença caracterizada por hipoplasia tímica, hi-
mediada por anticorpo (célula B), fagocítico (polimorfonuclear e poparatireoidismo com conseqüente hipocalcemia, doença cardí-
mononuclear) e complemento. aca congênita e dismorfismo facial. Esta desordem cromossômi-
As imunodeficiências (ID) formam um grupo diverso de doen- ca é uma das mais comuns e com uma prevalência estimada de
608 ças que, como resultado de uma ou mais anormalidades do SI, 1 em cada 4000 a 6000 na população.
aumenta a susceptibilidade para a infecção. Estes defeitos podem ser variáveis e associados dentro de um
Como a maioria das ID primárias é transmitida por herança espectro de manifestações que também é denominado como
recessiva ligada ao X ou autossômica recessiva, as crianças tor- síndrome CATCH22 (defeitos cardíacos, hipoplasia tímica, palato
nam-se o grupo alvo destas patologias e o neonatologista tem fendido, hipocalcemia e anormalidades do cromossomo 22).
um importante papel em reconhecer precocemente os sinais e A maioria dos pacientes portadores da SDG, entre 90 a 95%
sintomas dessas doenças para prover a melhor abordagem tera- dos casos, apresenta deleção do cromossomo 22q11, aproxima-
pêutica, antes que as infecções graves ou dano tecidual perma- damente 5 a 10% são isentos desta deleção e somente em pou-
nente possam ocorrer. cos casos as deleções do cromossomo 10p têm sido identifica-
Estima-se que a incidência das ID primárias ocorre na pro- das. As duplicações deste cromossomo também podem ocorrer,
porção de 1:2000 nascidos vivos, embora possa ser mais ele- levando ao fenótipo similar ao do cromossomo 22q11 SD.
vada devido a muitas crianças morrerem de infecção antes da A anomalia completa da SDG ocorre em menos de 1% desses
suspeição diagnóstica. pacientes, que são atímicos e apresentam deficiência grave das
A primeira doença de ID descrita foi reportada por Bruton há células T circulantes (< 50 células/mcL). Os pacientes com SDG
mais de 50 anos e, desde então, mais de 150 ID primárias têm parcial têm hipoplasia tímica como evidenciada pela presença
sido descritas. de células T circulantes com resposta proliferativa a mitógenos.

História Clínica e Exame Físico Diagnóstico

A história clínica de uma criança com suspeita de ID deve abran- Os casos típicos de SDG devem ser suspeitados precocemente
ger dados como doença materna, duração da gestação, peso e ao nascimento devido à associação de anomalia cardíaca com
condições do nascimento, relato da queda do coto umbilical (> 21 hipocalcemia. A tetania secundária à hipocalcemia pode ocorrer
dias), a natureza e a gravidade de doenças infecciosas pregressas. dentro das primeiras 24 a 48 horas de vida devido à hipoplasia
A presença de alguns sinais e sintomas durante o exame fí- das glândulas paratieróides.
sico podem ser observados e chamar a atenção para possível A maioria desses pacientes é reconhecida por apresentar ca-
diagnóstico de ID, como: anomalia facial, dermatite, rash maculo- racterísticas externas como: micrognatia, orelhas chanfradas e
papular, fígado e baço aumentados, massa muscular diminuída, de implantação baixa, hipertelorismo, inclinação antimongolóide
hiperemia perianal devido à diarréia, abscessos, febre de origem dos olhos e nariz em sela. Outros achados clínicos também po-
indeterminada e infecções graves ou de curso prolongado que dem ser encontrados como: tetralogia de Fallot, defeito no arco
dependam da utilização de antibióticos. aórtico, alterações no palato, anomalias renais e esqueléticas,
A história familiar deve constar dados a respeito de consangüi- além de atraso no desenvolvimento durante a infância.
nidade dos pais, morte precoce, infecções graves ou repetidas e Atualmente, o diagnóstico é feito com o método de fluorescên-
ocorrência de doenças autoimunes ou neoplasias em parentes cia em hibridização in situ (FISH), o qual é extremamente acura-
próximos ou distantes. do, mas demorado e caro. Esforços para desenvolver um método
Capitulo 19 Imunologia

mais rápido, baseado na reação de cadeia polimerase (PCR), po- Síndrome de Griscelli
derá estar disponível em breve para uso comercial.
A maioria dos pacientes com a síndrome da deleção 22q11.2 e Etiologia
com alterações imunológicas apresenta diminuição leve a mode-
rada na contagem de células T, o que pode levar a uma incidência Em 1978, Griscelli descreveu uma síndrome que apresentava
elevada de infecções e doenças autoimune. A imunodeficiência - se com albinismo parcial associada à imunodeficiência e infec-
nesses pacientes não resulta da ausência do timo e, sim, da sua ções piogênicas freqüentes, sendo clinicamente semelhante à
migração anormal. A contagem de células B é freqüentemente síndrome de Chediak-Higashi, porém com ausência de grânulos
normal, embora possam ocorrer anormalidades nas células B gigantes (azurófilos) em granulócitos.
de memória CD27+. Estudos têm demonstrado que os níveis de A Síndrome de Griscelli (SG) é uma doença rara, autossômica
imunoglobulinas e resposta específica a anticorpos são relativa- recessiva, que se manifesta com hipopigmentação variável do
mente normais, embora Finocchi tenha observado que 43% dos cabelo (cinza prateado) e da pele, podendo ser acompanhada de
pacientes com evidência de deficiência de anticorpos (IgA, IgM, algumas alterações, como: anormalidades neurológicas (SG tipo
subclasses de IgG ou anticorpos específicos) apresentavam cor- 1), imunodeficiência e síndrome hematofagocítica (SG tipo 2) e
relação significativa entre a presença de infecções recorrentes e somente anormalidades dermatológicas (SG tipo 3).
as anormalidades humorais.
Diagnóstico
Manejo e Tratamento
A SG é classificada em três tipos distintos baseados em caracte-
As anormalidades cardíacas têm sido vistas em aproximada- rísticas moleculares e genéticas: SG tipo 1, SG tipo 2 e SG tipo 3.
mente 75% de todos os pacientes com a síndrome da deleção A SG tipo 1 é causada pela mutação no gene miosina Va
do cromossomo 22q11.2 e são a principal causa de morte. Uma (MYO5A), localizado no cromossomo 15q21, o qual regula o
avaliação inicial precoce ecocardiográfica é importante para es- transporte de organelas tanto nas células neuronais quanto nos
sas crianças, logo após o nascimento, pois nem todas as anoma- melanócitos. Esses pacientes, além de apresentarem as altera-
lias cardíacas são óbvias. ções de pigmentação do cabelo (grânulos pigmentares distribu-
O número baixo de células T ocorre em 75 a 80% dessas crian- ídos irregularmente ao longo do cabelo) e da pele (melanócitos
ças e ainda não se sabe se as infecções pós-operatórias estão basais hiperpigmentados com esparsamento de queratinócitos
aumentadas nesta população. Clinicamente, 40% dos pacientes pigmentados adjacentes) também tinham retardo neuropsicomo-
apresentam-se bem e 60% têm episódios recorrentes de sinusi- tor severo, mas com SI sem alterações.
te, otite média e pneumonia. A realização do RX de tórax poderá A SG tipo 2 é causada pela mutação no gene RAB27A, localizado
revelar ausência da sombra tímica. no cromossomo 15q21, que promove hiperativação descontrolada
Em adição à disfunção imunológica, as anormalidades anatômi- de macrófagos e linfócitos T, resultando em síndrome hematofa-
cas, incluindo broncomalácia com conseqüente aspiração, podem gocítica. Esta é caracterizada por infiltração celular em linfonodos 609
contribuir para a freqüência aumentada das infecções do trato res- e em outros órgãos como cérebro, fígado, baço e medula óssea,
piratório. Estudos clínicos demonstram que a maioria dos pacien- além de ocorrer a ativação policlonal de células T (principalmente
tes não apresenta susceptibilidade para infecções oportunistas. CD8) e ativação dos macrófagos que fagocitam as células sanguí-
Preconiza-se irradiar os derivados do sangue para prevenir a neas, resultando em alterações multissistêmicas. Os pacientes
doença enxerto-versus-hospedeiro e também é necessário re- apresentam alteração da pigmentação do cabelo e da pele, assim
querer proteção contra infecção para os pacientes que necessi- como infecções piogênicas freqüentes e precoce, além de febre,
tam de cirurgia cardíaca antes da obtenção dos resultados da anemia, neutropenia, trombocitopenia, linfocitose, linfohistiocitose
avaliação do SI. hematofagocítica com fase acelerada e defeitos neurológicos na
A hipocalcemia está freqüentemente presente no período neona- ausência de doença neurológica primária. Hepatoesplenomegalia
tal e pode ser exacerbada pela cirurgia cardíaca, sendo requerida e infiltração pulmonar são comuns.
a suplementação de Cálcio no período pós-operatório imediato. A A SG tipo 3 é causada pela mutação no gene MLPH, localizado
hipocalcemia persistente requer um acompanhamento mais cuida- no cromossomo 2q37.3 que codifica a melanofilina.
doso para promover um equilíbrio entre vitamina D, Cálcio e Fósforo.
A falta de coordenação da língua e dos músculos faríngeos e eso- Manejo e Tratamento
fageanos parecem aumentar os distúrbios com a amamentação.
A maioria dos pacientes com a síndrome da deleção do cro- O tratamento e o prognóstico são dependentes do tipo da sín-
mossomo 22q11.2 apresenta diminuição do número de células T drome. A SG tipo 1 não apresenta cura definitiva e a abordagem
(< 1200/mcL) em conseqüência da hipoplasia tímica, aproxima- depende da severidade das manifestações neurológicas. A SG tipo
damente 20% não apresentam evidências de diminuição das cé- 2 tem prognóstico grave e o transplante de medula óssea deve ser
lulas T e somente menos de 1%, com aplasia tímica verdadeira, o mais precoce possível. Doses elevadas de corticosteróides e ou-
necessitará de transplante. tros imunossupressores podem retardar a hiperativação dos linfó-
O transplante de timo fetal, o transplante de medula óssea citos e macrófagos, reduzindo os sintomas atribuídos a infiltração
(MO) ou o transplante de células T são requeridos para os pa- dos órgãos, até que o transplante de medula óssea seja realizada.
cientes que apresentam aplasia tímica verdadeira. A SG tipo 3 não necessita de intervenção ativa.
A terapia com imunoglobulina intravenosa (IGIV) deve ser uti- O aconselhamento genético deve ser oferecido a essas famí-
lizada para os pacientes que apresentam deficiência de anticor- lias e o diagnóstico pré-natal poderá ser feito através do exame
pos e para o controle de infecções recorrentes. do cabelo do feto.
As reações enxerto-versus-hospedeiro, após transfusão san-
guínea, têm sido observadas em pacientes com SDG cuja suspei-
ção diagnóstica não foi realizada antecipadamente.

Paulo R. Margotto
Assistência ao Recém-Nascido de Risco

Síndrome de Omenn Síndrome Da Desregulação Imune,


Poliendocrinopatia E Enteropatia Ligada Ao X
Etiologia
Etiologia
A combinação de características clínicas e laboratoriais em
crianças que apresentam eritrodermia exudativa generalizada, A Síndrome da Desregulação Imune, Poliendocrinopatia e En-
linfoadenopatia, eosinofilia e imunodeficiência foi inicialmente teropatia ligada ao X (IPEX) foi descrita por Powell em 1982, sen-
descrita por Gilbert Omenn em 1965. do caracterizada por enteropatia, endocrinopatia e infecções em
A Síndrome de Omenn (SO) é uma herança autossômica re- crianças do sexo masculino.
cessiva e deve ser considerada como um processo inflamatório É uma herança recessiva rara ligada ao X, que ocorre devido a
distinto que pode estar associada a múltiplas anormalidades ge- mutações encontradas no gene FOXP3, que em última análise,
néticas que significativamente reduz, mas não elimina, o desen- vai promover um importante papel na produção de citocinas e
volvimento das células T. proliferação de células T, com conseqüente supressão do desen-
volvimento e da função das células T reguladoras naturais CD4+
Diagnóstico CD25+ (Treg CD4+ CD25+). Estas células são importantes para o
desenvolvimento e a manutenção da tolerância imunológica peri-
A maioria dos casos de SO foi encontrada em mutações hipo- férica a antígenos próprios e supressão da resposta autoimune.
mórficas nos gene RAG1 ou RAG2, os quais prejudicam, mas não
interrompe a combinação V(D)J, que é o processo requerido para Diagnóstico
o rearranjo e expressão dos receptores das células T e B. Outros
genótipos também podem estar associados a essa síndrome. Atualmente é reconhecido que a maioria dos pacientes apre-
O diagnóstico laboratorial pode ser realizado através da biolo- senta um quadro clínico básico com enteropatia autoimune, en-
gia molecular. docrinopatia (diabetes ou doença da tireóide) e dermatite. Esta
A SO pode ser observada precocemente na infância, nos pri- tríade está freqüentemente associada a doenças autoimunes e
meiros 3 meses de vida, com quadro de eritrodermia severa ge- pode ser considerada letal nos primeiros meses de vida.
neralizada, que pode causar alopecia, perda das sobrancelhas e O quadro gastrointestinal, que pode iniciar nas primeiras seis
cílios, diarréia crônica, infecções respiratórias severas, hipopro- semanas de vida, é caracterizado por atrofia severa das vilosida-
teinemia com edema, níveis elevados de IgE, eosinofilia, linfono- des e extenso infiltrado linfocítico na mucosa intestinal, levando a
dos aumentados, hepatoesplenomegalia e retardo do crescimen- diarréia aquosa crônica, que às vezes pode ser mucóide ou san-
to e desenvolvimento. guinolenta. A diarréia pode piorar no momento em que é intro-
Pacientes podem apresentar alguns, mas não todos os si- duzido fórmulas lácteas e alguns pacientes podem desenvolver
nais e sintomas da síndrome e estes podem não aparecer de alergia alimentar severa, resultando em má nutrição e prejuízo
610 forma simultânea. no crescimento e desenvolvimento.
O fenótipo clínico pode mimetizar a doença enxerto-versus- As endocrinopatias autoimunes, de início precoce na IPEX, podem
hospedeiro ou histiocitose e ocasionalmente pode ser vista como envolver o pâncreas e a tireóide. A diabetes insulino-dependente
imunodeficiência combinada grave (IDCG) com passagem trans- tipo 1 é a causa endócrina mais freqüente e pode iniciar dentro do
placentária de células T maternas alorreativas. primeiro ano de vida, sendo que em alguns casos, já se pode obser-
Apesar da proporção e do número de linfócitos T CD3+ circulan- var a intolerância à glicose ao nascimento. Esses pacientes apre-
tes estarem freqüentemente normais, a resposta proliferativa a sentam anticorpos anti-células das ilhotas pancreáticas e infiltrado
antígenos in vitro está severamente diminuída. As células Natural linfocítico com destruição do arcabouço pancreático.
Killer (NK) apresentam-se tipicamente normais. A tireoidite pode levar ao estado de hiper ou hipotireoidismo.
O número baixo ou ausente das células B CD19+ é característi- O hipotireoidismo ocorre mais freqüentemente e está associado
ca da SO associada com mutações no gene RAG1 e RAG2, o que com níveis elevados de TSH e/ou anticorpos microssomais antiti-
leva ao comprometimento da imunidade humoral. reoidianos. O envolvimento de outros órgãos endócrinos como as
A expansão anormal de um ou mais clones de células T, nos te- paratireóides e as adrenais é raro.
cidos e no sangue periférico, podem levar ao quadro inflamatório A dermatite é reportada como um quadro eczematoso leve
grave nesses pacientes, que na ausência da regulação dos com- a moderado, porém algumas crianças podem apresentar rash
ponentes do próprio sistema imunológico, há o desenvolvimento eritematoso envolvendo todo o corpo. A alopecia universal pode
de desordens tanto autoimune quanto alérgica. estar presente nos casos mais severos. Tem sido descrito que
em crianças mais velhas com IPEX podem apresentar dermatite
Manejo e Tratamento psoriasiforme e pênfigo nodular.
A susceptibilidade aumentada a infecções pode ser devido à
O tratamento com drogas imunossupressoras, como a predni- função protetora da barreira da pele e do intestino estar diminuí-
sona e a ciclosporina, promove tanto a supressão da expansão da e também pelo uso prolongado da terapia imunossupressora.
quanto a infiltração nos tecidos dos clones de células T, levando Em adição à tríade clínica desta doença, a maioria dos pacien-
a melhora clínica e facilitando o procedimento de transplante tes que incluem doença autoimune, também podem apresentar
da medula óssea. anemia hemolítica, trombocitopenia e neutropenia.
O acompanhamento compreende terapia de suporte para evi- O gene FOXP3 está localizado no cromossomo X e é expressa-
tar infecções fúngicas e bacterianas, além de aumentar a sobre- do no timo, baço, linfonodos e, principalmente, nas células Treg.
vida desses pacientes. Este gene é requerido pelas células Treg para suprimir a ativação
e a proliferação de células T autorreativas. A maioria das células
T CD4+ também expressa CD25. As células Treg perfazem 5 a
10% da população total de células T CD4+ em pessoas normais.
A anormalidade laboratorial mais consistente entre estes pa-
cientes é a IgE sérica extremamente elevada presente na maioria
dos casos. A IgA sérica está modestamente elevada em mais de
Capitulo 19 Imunologia

50% dos pacientes com IPEX e as células Treg FOXP3+ estão di- crianças, portadoras de NCG, podem apresentar manifestações
minuídas, mas não há alteração em relação ao número absoluto clínicas em 50% dos casos antes do primeiro mês de vida e 90%
de linfócitos e as respostas proliferativas a mitógenos e aos antí- dentro dos primeiros seis meses.
genos estão dentro dos limites da normalidade. Nesta doença é observado uma contagem de neutrófilos no
O diagnóstico da IPEX deve ser considerado em qualquer crian- sangue periférico < 500 células/mm3, número elevado de eo-
ça do sexo masculino que apresente, pelo menos, duas das três sinófilos e monócitos, hipergamaglobulinemia (IgA, IgM, IgG) e
características da tríade ou tenha associado à evidência de do- produção normal ou aumentada tanto do G-CSF (fator estimu-
ença autoimune. O padrão ouro para diagnóstico da doença é a lante de granulócitos) quanto do GM-CSF (fator estimulante de
identificação da mutação do gene FOXP3, entretanto, as muta- granulócitos-monócitos).
ções têm sido identificadas em somente 25 a 30% dos pacientes A medula óssea apresenta mielopoiese com parada de matura-
com suspeita clínica. ção dos precursores do neutrófilo ao nível promielócito-mielócito.
Os promielócitos freqüentemente apresentam morfologia atípica
Manejo e Tratamento e seu número encontra-se discretamente aumentado.

O tratamento da IPEX é focado primariamente na supressão Manejo e Tratamento


de células T autoagressivas e não reguladas, utilizando-se ciclos-
porina A, tracolimus ou sirolimus (rapamicina) que podem ser ou O uso do G-CSF é considerado como primeira linha no trata-
não combinadas com esteróides ou agentes imunomoduladores mento de todos os pacientes com NCG e a manutenção da CAN >
para o controle dos sintomas. 1000 células/mm3 é importante para prevenir infecções severas,
O tratamento sintomático pode incluir nutrição parenteral, in- diminuir a mortalidade e melhorar a qualidade de vida.
sulina e transfusão de hemácias e plaquetas.
O transplante de medula óssea é considerado como cura efetiva e
para alguns pacientes pode ocorrer completa remissão dos sintomas. Síndrome Da Imunodeficiência Combinada Grave
O diagnóstico e o transplante precoce é de vital importância para Ligada Ao Cromossomo X
evitar que as células produtoras de insulina no pâncreas sejam des-
truídas, impossibilitando que ocorra a seqüela do diabetes mellitus. Etiologia
O prognóstico para os pacientes com IPEX é reservado e, se não
tratado, a maioria dos meninos podem morrer em idade precoce. É a imunodeficiência combinada grave (IDCG) mais comum, com
incidência maior que 1:100.000 nascidos vivos. Trata-se de uma
Neutropenia Congênita Grave herança ligada ao X com completa ausência dos linfócitos T e cé-
(Síndrome de Kostmann) lulas NK, mas com desenvolvimento preservado dos linfócitos B.
A doença é causada por mutações no gene que codifica a ca-
Etiologia deia gama comum do receptor da Interleucina 2 (IL2 RG) locali- 611
zado no cromossomo X, porém vários estudos têm demonstrado
A neutropenia congênita foi descrita inicialmente por Rolf Kost- que a cadeia gama não é somente um membro do IL2 R, mas
mann em 1956 como uma doença hematológica autossômica também de outras Interleucinas como: IL4, IL7, IL9, IL15 e IL21.
recessiva com neutropenia severa e infecção bacteriana grave
de início precoce. A etiologia é heterogênea e a herança pode ser Diagnóstico
autossômica dominante, devido à mutação heterozigótica ocorri-
da no gene ELA2 (que codifica a elastase do neutrófilo), autossô- A IDCG é assintomática ao nascimento e não pode ser identifi-
mica recessiva, com mutação homozigótica no gene HAX1 (que cada através do exame clínico do RN, porém os sintomas podem
codifica a proteína mitocondrial) e adquirida. surgir precocemente em torno dos três meses de vida, com diar-
réia crônica, candidíase oral persistente, otite média recorrente,
Diagnóstico infecção respiratória severa (pneumonia intersticial), eritroder-
mia, atraso no crescimento e desenvolvimento e septicemia.
A neutropenia é definida como uma contagem absoluta de neu- Essas crianças são particularmente susceptíveis a infecções
trófilos (CAN) < 1500 células/mm3 e pode ser graduada em leve por patógenos oportunistas, como: Candida albicans, citomega-
(1000 a 1500 células/mm3), moderada (500 a 1000 células/ lovírus, pneumocystis carinii e Epstein-Barr, dentre outros.
mm3) e severa (< 500 células/mm3). Em crianças normais a contagem de linfócitos pode variar de
A neutropenia pode resultar de um ou mais mecanismos pa- 2000 a 11000 células/mcL, porém, valores abaixo de 4000 cé-
tológicos como: produção diminuída da medula óssea, seques- lulas/mcL são consideradas linfopênicos e podem identificar, ao
tração de neutrófilos e destruição aumentada destes no sangue nascimento, as crianças com risco para IDCG. Através da citome-
periférico. Como conseqüência, há um risco aumentado para tria de fluxo poderão ser avaliados os subtipos de linfócitos, onde
infecção e este é diretamente proporcional à severidade e à du- se encontra a ausência de células T e NK, mas valores normais
ração da neutropenia. ou elevados de células B.
Segundo Bodey, os pacientes com CAN < 100 células/mm3 de- Apesar do número de células B estarem normais, os níveis sé-
senvolverá infecção severa dentro de 1 a 4 semanas após o início ricos de imunoglobulinas como IgG e IgA encontram-se baixos ou
da neutropenia, enquanto aquelas com CAN < 1000 células/mm3 indetectáveis e a resposta anticórpica específica ausente.
terão um risco substancialmente elevado para apresentar infec- Observa-se ausência de resposta proliferativa a mitógenos,
ção ao longo do tempo. como a fito-hemglutinina, e a antígenos como o toxóide tetânico.
A mutação do gene ELA2 é mais comum, sendo encontrada Durante os primeiros 5 a 6 meses de vida, o diagnóstico de
em mais de 50% dos pacientes com neutropenia congênita grave IDCG pode ser difícil de ser estabelecido devido à presença
(NCG) enquanto que a do gene HAX1 ocorre em 13%. da IgG materna.
A NCG se manifesta precocemente, após o nascimento, com Há atrofia do tecido linfóide e hipoplasia tímica (ausência da
infecções bacterianas recorrentes do trato respiratório superior sombra tímica ao RX de tórax), sendo a biopsia do tecido linfóide
e inferior, pele, onfalite, abscesso de fígado e septicemia. Estas raramente necessária para se estabelecer o diagnóstico.

Paulo R. Margotto
Assistência ao Recém-Nascido de Risco

Manejo e Tratamento Manejo e Tratamento

A imunização com vírus vivo atenuado deve ser evitada, assim O tratamento é dirigido aos agentes infecciosos envolvidos, que
como todos os produtos sanguíneos devem ser irradiados antes geralmente são organismos patogênicos comuns e não oportunistas.
que a transfusão seja realizada nestes pacientes. Os pacientes com LAD requerem tratamento agressivo e precoce
Utilizar antibióticos e antifúngicos profilaticamente para evitar das infecções e eles respondem a terapia antibiótica apropriada.
infecção e repor a gamaglobulina intravenosa regularmente. A terapia profilática deve ser realizada antes de determinados
Tratar qualquer infecção de forma rápida e agressiva e utili- procedimentos, como por exemplo, os odontológicos.
zar nutrição parenteral nos casos de atraso do crescimento e O transplante de medula óssea e a terapia gênica têm sido
desenvolvimento. propostos para estes pacientes.
O tratamento definitivo consiste no transplante de medula óssea
histocompatível e quando realizado nos primeiros três meses de
vida apresenta uma expectativa de sobrevida superior a 96%. Por Síndrome de Hiper IgM ligada ao X
isso, é importantíssimo que o diagnóstico seja realizado precoce-
mente, pois a IDCG é considerada uma emergência pediátrica cuja Etiologia
morte freqüentemente ocorre antes do primeiro aniversário.
Atualmente a terapia gênica apresenta-se como uma esperan- É uma herança recessiva rara ligada ao X que ocorre devido a
ça para os pacientes portadores de IDCG ou de outras imunode- uma mutação no gene que produz a molécula de superfície CD
ficiências cuja base molecular seja conhecida. 154 (CD 40L) no cromossomo X (Xq26).
O defeito funcional existente no CD 40L (ligante do CD 40) na
Deficiência de Adesão Leucocitária superfície de células T CD4 ativadas, impossibilita a ligação com
a molécula CD 40 na superfície das células B, levando estas cé-
Etiologia lulas a produzirem somente IgM.
As crianças portadoras da Síndrome de Hiper IgM ligada ao
A Deficiência de Adesão Leucocitária (LAD) tipo 1 é caracteriza- X (HIGM1) apresentam hipogamaglobulinemia, susceptibilidade
da como uma herança autossômica recessiva cuja mutação ocor- aumentada a infecções nos primeiros 6 meses de vida e incidên-
re no gene da cadeia ß2 do CD18 localizado no cromossomo 21, cia elevada para malignidade e autoimunidade.
levando à ausência ou expressão deficiente dos heterodímeros
específicos CD11a/CD18, CD11b/CD18 e CD11c/CD18. Essas Diagnóstico
moléculas de adesão, da família ß 2 integrina, estão presentes
em linfócitos, monócitos e granulócitos. O diagnóstico é confirmado pela demonstração da mutação
A maioria das funções dos leucócitos está comprometida como a dentro do gene do CD 40L.
612 adesão dos mesmos ao endotélio vascular, a migração transendo- Os pacientes apresentam infecções piogênicas recorrentes, in-
telial para o sítio inflamatório, a fagocitose de partículas estranhas cluindo otite média, pneumonia, diarréia aquosa crônica e septi-
e a citotoxicidade celular dependente de anticorpo. Conseqüente- cemia. Os agentes microbianos presentes são P carinii, P jiroveci
mente, os pacientes com LAD apresentam infecções piogênicas e Cryptosporidium.
recorrentes com início nas primeiras semanas de vida. A hiperplasia linfóide, incluindo aumento das amígdalas, linfo-
nodos, fígado e baço é um fator comum encontrado na HIGM1.
Diagnóstico A presença de auto-anticorpo está associada ao desenvolvi-
mento de anemia hemolítica, trombocitopenia e hipotireoidismo.
O diagnóstico da LAD é confirmado pela análise através da ci- Há risco elevado para o desenvolvimento de neoplasias.
tometria de fluxo de leucócitos do sangue periférico utilizando-se A neutropenia persistente ou intermitente ocorre em mais de 50%
anticorpos monoclonais para detectar a deficiência das glicopro- destes pacientes e leva a úlceras orais recorrentes e estomatites.
teínas: CD11a, b ou c ou CD18. O número de linfócitos T e B é normal, com IgG, IgA e IgE séri-
A contagem de neutrófilos no sangue periférico pode estar cas muito baixas ou ausentes, porém com níveis de IgM normal
elevada mesmo na ausência de infecção e os níveis séricos de ou elevado (1000mg/dl).
imunoglobulinas, resposta anticórpica e reação de hipersensibili-
dade tardia estão normais. Manejo e Tratamento
Tem sido identificado dois grupos de fenótipo clínico da LAD:
o que apresenta infecção grave com risco de morte (< 1%) nos O prognóstico não é bom para a maioria desses pacientes e
primeiros anos de vida e o que apresenta infecção menos severa o tratamento de escolha é o transplante de medula óssea histo-
(com dificuldade de cicatrização dos ferimentos) que consegue compatível.
ultrapassar o período da infância. A neutropenia é responsiva ao tratamento com G-CSF e à IGIV.
As infecções bacterianas e fúngicas graves pelos agentes micro- O tratamento antimicrobiano profilático pode ser necessário
bianos como: Staphylococcus aureus, Pseudomonas aeruginosa, devido ao elevado risco de infecção oportunista pelo P jiroveci.
Klebsiella, Proteus sp, Enterococcus, Aspergillus sp e Candida albi-
cans explicam a mortalidade elevada. Esses pacientes não apre- Orientação do Especialista
sentam susceptibilidade a infecções virais ou malignidade.
Durante o período neonatal a peritonite e a septicemia decor- O parecer do imunologista é de grande importância para dar
rem de complicações da onfalite e da queda tardia do coto um- uma abordagem precoce das conseqüências do déficit imune e
bilical (> 21 dias). promover uma melhor qualidade de vida para os pacientes porta-
As crianças que ultrapassam a infância desenvolvem otite mé- dores das síndromes apresentadas neste capítulo.
dia e sinusite de repetição, doença periodontal, traqueobronqui-
te, pneumonia, vaginite, peritonite, abscesso perianal, infecções
necróticas teciduais progressiva recorrente e septicemia.
Capitulo 19 Imunologia

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Paulo R. Margotto
Assistência ao Recém-Nascido de Risco

19.5 AVALIAÇÃO LABORATORIAL DA RESPOSTA IMUNE


NO RECÉM-NASCIDO E LACTENTE

Rozilene Cabral Muniz,Vanessa Gonzaga Tavares

Imunidade Humoral

As imunoglobulinas representam a fração gama das globulinas IgG IgM IgA


do soro. A imunodeficiência humoral é a mais freqüente e de fácil Não evidenci-
0-30dias 750-1510 5-39
diagnóstico e é representada pela produção de imunoglobulinas, ável
capacidade funcional dos linfócitos B e células precursoras dos 1-4 meses 282-940 15-191 2,8-58
plasmócitos.

Tabela 1 – Níveis de Imunoglobulinas no RN


Avaliação Das Imunoglobulinas Séricas Retirado de Vilela MMS. Desenvolvimento do Sistema Imune na
Criança. Em: Grumach AS. Alergia e Imunologia na Infância e Adoles-
Eletroforese De Proteínas cência. 2ª. Ed. São Paulo: Atheneu, 2009. PP. 423-445.

É um exame semi-quantitativo, útil na triagem de suspeita de Avaliação Da Produção De Anticorpos:


agamaglobulinemia, hipogamaglobulinemia ou imunodeficiência
combinada.
Títulos De Is0-Hemaglutinina, Anti-A E Anti-B:
Hipogamaglogulinemia/
Eletroforese Normal Avalia anticorpos IgM direcionados a polissacarídeos de micro-
Agamaglobulinemia
organismos que apresentam reação cruzada com antígenos do
grupo sanguíneo ABO. Em indivíduos normais a partir do sexto
mês de vida (exceto naqueles AB), esses anticorpos são detecta-
dos com títulos de aproximadamente 1:8, entretanto, recém nas-
cidos que tiveram incompatibilidade sanguínea ou foram sensibi-
614 lizados intraútero, podem apresentar anticorpos da classe IgG ou
IgM ao nascimento.
Figura 1– Eletroforese de Proteínas
Fonte: Retirado de Silva ROP e cols. Eletroforese de Proteínas Séricas: Quantificação de linfócitos B:
Interpretação e Correlação Clínica. Revista Médica de Minas Gerais
2008; 18 (2): 116-122. CD19, CD20 E CD21:
Permite diagnosticar os pacientes com agamaglobulinemia
congênita daqueles com hipogamaglobulinemia, quando as imu-
Níveis Séricos De Imunoglobulinas: noglobulinas estiverem baixas ou ausentes. Os linfócitos B re-
presentam 10% a 20% do total de linfócitos circulantes e variam
Os prematuros apresentam acentuada redução das imuno- conforme a idade.
globulinas, pois a maior parte delas é transportada no terceiro
trimestre de gestação. Os recém nascidos normais sintetizam Imunidade Celular
níveis muito reduzidos de imunoglobulinas e os níveis de IgG en-
contrados são oriundos da mãe por transferência placentária e As imunodeficiências celulares são as mais graves e muitas
após o nascimento é catabolisada, levando a sua redução. A IgG vezes associadas à deficiência humoral.
começa a ser sintetizada pelo lactente logo após o nascimento, O diagnóstico de algumas imunodeficiências celulares pode
com isso o diagnóstico de imunodeficiência humoral só é identifi- ser afastado utilizando-se provas de triagem bem selecionada. O
cado precocemente com a avaliação familiar. Ocorre diminuição hemograma completo é certamente, um dos exames mais infor-
da IgG materna em torno de 30 dias, e os lactentes iniciam a mativo e de menor relação custo-benefício.
produção de IgM, seguida de IgG e IgA com um aumento gradu-
al até a adolescência, quando os níveis destas imunoglobulinas Hemograma
atingem valores semelhantes aos do adulto.
A hipogamaglobulinemia transitória da infância é decorrente Verificação de número de linfócitos. No primeiro ano de vida,
de um retardo de maturação na produção normal de imunoglo- o número de linfócitos situa-se por volta de 2000/mm3, assim, o
bulinas, levando uma hipogamaglobulinemia fisiológica além do número de linfócitos abaixo desse valor em recém nascido deve
primeiro ano de vida. suspeitar de imunodeficiência. Este número tende a reduzir com a
O aumento de IgM, associada à neutropenia, hepatoespleno- idade, atingindo uma média de 1500/mm3 na idade adulta. Lac-
megalia e infecção bacteriana oportunista é encontrada na sín- tente com uma contagem entre 1000 a 1500 linfócitos/mm3 é por-
drome de hiper IgM com deficiência do CD40L. tador de linfopenia. Número de linfócitos normal para idade exclui
a imunodeficiência grave combinada e defeitos graves de células T.
Na síndrome de Wiskott-Aldrich, temos presença de plaqueto-
penia com presença de microplaquetas.
Capitulo 19 Imunologia

Na síndrome de Omenn, o neonato apresenta linfopenia par- Teste do NBT


cial com eosinofilia e altos níveis de IgE.
A Disgenesia Reticular resulta de defeito na maturação dos pre- É um teste usado para a triagem de Doença Granulomatosa Crô-
cursores linfohematopoiéticos antes da 10ª semana de gestação, nica, o NBT é um corante amarelo que ao ser reduzido no interior
com falência no desenvolvimento da linhagem linfóide (T e B) e mie- dos fagócitos, forma um precipitado de cor azul facilmente visível
lóide (hemácias, fagócitos mono e polimorfonucleares e plaquetas). nos neutrófilos e monócitos. Os pacientes com Doença Granulo-
Na síndrome de Di George ocorre uma linfopenia de células T matosa Crônica, não reduzem esse corante. O diagnóstico pré–na-
com o número normal de imunoglobulinas. tal pode ser feito aplicando-se o teste do NBT a leucócitos isolados
de amostras de sangue fetal por punção percutânea umbilical ou
Subpopu- vasos placentários, entre a 17ª a 19ª semanas de gestação.
Sangue do
lações de 2-3 meses 4-8 meses
cordão Avaliação Do Complemento
Células
4.200 (35%) - 2.920 (55%) - 3.610 (45%) -
Linfócitos As concentrações dos diferentes componentes do comple-
6.900 (47%) 8.840 (78%) 8.840 (79%)
Totais mento no sangue do RN a termo atingem valores entre 50% e
5.400 (41%) 5680 (66%) 5990 (64%)
70% dos observados em adultos normais, com exceção de C9,
cujos níveis são de 16% (Tabela 3). Ao final do primeiro ano de
Tabela 2 – Número de linfócitos na criança até 3 meses de vida idade, todos os componentes atingem valores semelhantes aos
Fonte: Retirado de Conley ME e Stiehm ER. Immunodeficiency disorders. de adultos normais. O nível sérico dos componentes do com-
In: Stiehm ER. Immunologic disorders infants & children. 4. Ed. WB plemento é mais baixo quando comparado ao do adulto e são
Saunders. 1996: p. 217 parcialmente responsáveis pela atividade opsônica reduzida do
soro do RN, menor capacidade tanto em lisar bactérias gram-
Raio-X negativas quanto alguns vírus.

Através do RX de tórax pode-se obter a imagem tímica. Os pa- % média do complemento em relação ao
cientes portadores de imunodeficiência combinada grave (IDCG) adulto
possuem atrofia de amígdalas e linfonodos, acompanhado de Componentes do
atrofia tímica. Na síndrome de Di George o paciente apresenta RN a termo RN pré-termo
Complemento
fácies característica e ausência ou hipoplasia do timo.
CH50 56-90 45-71
AP50 49-65 40-51
Contagem De Linfócitos
C1q 65-90 -
O melhor marcador para linfócitos T totais é o CD3, uma vez C4 60-100 27-58 615
que se refere a um complexo molecular associado aos recepto- C2 76-100 42-91
res específicos (TCRs). Além de serem exclusivos os linfócitos T, C3 60-100 96
encontram-se presentes em todas as subpopulações de células T C5 75 -
maduras. A caracterização de linfócitos CD3+, geralmente inclui C6 47 -
a quantificação das subpopulações CD4+, comumente referida
C7 67 -
como auxiliadora (Th = T helper), e CD8+, que apresenta proprie-
C8 ~20 -
dades citotóxicas (Tc). Essas subpopulações ainda podem ser
subdivididas com base em outros marcadores menos utilizados C9 < 20 -
(CD45, CD25, etc.). B 35-59 36-50
Pacientes com síndrome de Di George tem subpopulação de P 33-71 13-65
células T (CD3++, CD4+ e CD8+) baixas. H 61 -
A quantificação de células “Natural Killer” (NK) se faz pela iden- C3bi 55 -
tificação de CD16 e CD56. A síndrome de Griscelli é caracterizada
por uma imunodeficiência celular e função alterada das células NK.
Tabela 3 – Níveis Séricos e Atividades do Sistema Complemento no
Avaliação Dos Fagócitos Recém Nascido
Retirado de Vilela MMS. Desenvolvimento do Sistema Imune na Criança.
*Avaliação quantitativa de neutrófilos: Em: Grumach AS. Alergia e Imunologia na Infância e Adolescência. 2ª.
Ed. São Paulo: Atheneu, 2009. pp. 423-445

Hemograma: A avaliação inicial do complemento é realizada através da


dosagem de CH50, que avalia a via clássica, e da AP50, a via
Neutropenia é uma contagem de granulócitos menor que alternativa. A triagem para avaliação da via clássica do sistema
1.500células/mm3. Entretanto, deve-se levar em conta a idade e complemento inclui a medida funcional do sistema através da
características raciais do paciente. dosagem do complemento hemolítico total, que nos dá uma idéia
da integridade funcional da cascata (Figura 2).
O CH50 é a diluição do soro que produz 50% de lise destas
Dosagem de glicose-6-fosfato Desidrogenase hemácias em condições pré-estabelecidas e é expresso como a
recíproca da diluição que dá 50% de hemólise.
A deficiência de glicose-6-fosfato desidrogenase (G6PD) é a Deficiência dos fatores B, D ou properdina é avaliada através
deficiência enzimática mais comum, levando a uma hiperbilirru- da atividade da via alternativa (AP50) e estes fatores não afetam
binemia neonatal e hemólise aguda e crônica. o CH50. Na presença de CH50 baixo deve realizar as dosagens
individuais das proteínas (Tabela 4).

Paulo R. Margotto
Assistência ao Recém-Nascido de Risco

Figura 2 – Cascata do Complemento

CH50 Normal Diminuído Normal Diminuído


AP50 Normal Normal Diminuído Diminuído
Deficiência Deficiência
Diagnós- Deficiência
Normal via Alterna- de C3, C5
tico via Clássica
tiva e C9

Tabela 4 – Avaliação inicial do Sistema Complemento

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Capítulo 20

Uso do
CURARE
Assistência ao Recém-Nascido de Risco

USO DO CURARE NA UTI NEONATAL

Paulo R. Margotto

O termo bloqueio neuromuscular refere, epecificamente ao blo-


queio da transmissão pelas drogas que interagem com os recep-
tores da acetilcolina na face pós- juncional das placas motoras fi-
nais dos músculos estriados. Como o primeiro princípio ativo que
teve esta ação foi o curare, tornou-se de costume chamar todos
os bloqueadores neuromusculares não despolarizantes (veja a
frente) como curares e o seu efeito bloqueador de curarização e
a sua antagonização como descuralização e o reaparecimento do
bloqueio depois do antagonismo de recurarização.
A introdução dos bloqueadores neuromusculares revolucionou a
prática da medicina (antes, a anestesia era induzida e mantida por
agentes endovenosos e inalatórios). A entubação traqueal era rara
e o relaxamento muscular, se necessário, era mantido pela aneste-
sia inalatória profunda com o risco de depressão cardiorrespiratória.
Após a introdução dos relaxantes musculares a anestesia foi redefi- Figura 1. Diagrama e micrografia de uma sinapse
nida como uma tríade de narcose, analgesia e relaxação muscular, de uma junção neuromuscular
sendo usadas drogas específicas para cada um destes efeitos.
Os bloqueadores neuromusculares são freqüentemente em- 1. Vesículas sinápticas;
pregados para facilitar a ventilação mecânica e outras interven- 2. Neurônio pré-sináptico (axônio terminal);
ções terapêuticas em adultos e crianças. 3. Fenda sináptica;
Na UTI Neonatal tem sido sugerido que o seu uso diminuiu a 4. Neurônio pós-sináptico
incidência e a gravidade da hemorragia intraventricular, devido à
eliminação do fluxo sanguíneo flutuante. Stark e cl evidenciaram A transmissão neuromuscular ocorre devido à transmissão
que a incidência de pneumotórax ocorreu em 3 de 35 dos recém- do estímulo elétrico do nervo para o músculo, mediado pela
nascidos ventilados que foram curarizados. Nos recém-nascidos acetilcolina (esta se liga aos sítios das 2 subunidades alfa dos
que “brigavam”com o respirador, o pneumotórax ocorreu em receptores acetilcolina.).
618 todos os 11 RN não paralisados versus 1 de11 paralisados no A acetilcolina (ACh) é uma molécula simples sintetizada a partir
estudo de Greenough A e cl7. No pós-operatório de atresia de de colina e acetil-CoA através da ação da colina acetiltransferase. Os
esôfago tem sido preconizado o uso do curare para diminuir a neurônios que sintetizam e liberam ACh são chamados neurônios
tensão na anastomose. Existe uma estreita relação entre rotura colinérgicos. Quando um potencial de ação alcança o botão termi-
da anastomose e tensão. No estudo recente de Uchida e cl, o nal de um neurônio pré-sináptico, um canal de cálcio controlado
uso da ventilação mecânica com curare e flexão do pescoço re- pela voltagem é aberto. A entrada de íons cálcio, Ca++, estimula
duziu a rotura da sutura, sem efeitos adversos na anastomose, a exocitose de vesículas pré-sinápticas que contém ACh, a qual é
atelectasia, refluxo gastroesofágico e sem aumento dos dias de conseqüentemente liberada na fenda sináptica. Uma vez liberada,
ventilação e sem diminuição na taxa de sobrevivência. No pós- a ACh deve ser removida rapidamente para permitir que ocorra a
operatório de atresia de esôfago, na Unidade de Neonatologia repolarização; essa etapa, a hidrólise, é realizada pela enzima ace-
usamos o vecurônio, um curare nãodespolarizante (veja adiante). tilcolinesterase ou colinesterase verdadeira ou colinesterase específica.
O objetivo deste estudo de revisão é proporcionar ao neonato- A acetilcolinesterase encontrada nas terminações nervosas está an-
logista uma base na compreensão do mecanismo de ação dos corada à membrana plasmática através de um glicolipídeo.
diferentes bloqueadores neuromusculares, para que possamos Os receptores ACh são canais de cátions controlados por ligan-
otimizar o seu uso e prevenir os efeitos adversos. tes, composto por quatro unidades subpeptídicas dispostas na
forma [(alfa2) (beta) (gama) (delta)]. Duas classes principais de
Mecanismo De Ação receptores de ACh foram identificadas com base em sua reativi-
dade ao alcalóide, muscarina, encontrada no cogumelo chapéu-
Fisiologia Da Transmissão Neuromuscular de-cobra e a nicotina, respectivamente, os receptores muscaríni-
cos e os receptores nicotínicos.
A inervação da musculatura esquelética é composta de fibras Os receptores nicotínicos (ionotrópicos - funcionam por abertura
mielinizadas eferentes do tipo alfa, cujos corpos celulares estão rápida do canal iônico) são canais iônicos na membrana plasmá-
localizados nos núcleos dos nervos cranianos ou na substância tica de algumas células, cuja abertura é desencadeada pelo neu-
cinzenta do corno anterior da medula. A porção do nervo junto à rotransmissor acetilcolina, fazendo parte do sistema colinérgico.
fibra muscular não possui a bainha de mielina. Aqui, a superfície O seu nome deriva do primeiro agonista seletivo encontrado para
de fibra muscular é invaginada para receber os ramos do axônio. estes receptores, a nicotina, extraída da planta Nicotiana tabacum.
Um amplo espaço de 70nm separa a terminação nervosa da fibra O primeiro antagonista seletiva descrito foi o curare (d-tubocurani-
muscular na sinapse, sendo conhecido por fenda sináptica. (Cos- na). Ambas as classes de receptores são abundantes no cérebro
tarino, 1987) (Figura l). humano. Os receptores nicotínicos ainda são divididos conforme
encontrados nas junções neuromusculares (Nm) e aqueles en-
contrados nas sinapses neuronais (Nn). O subtipo n encontra-se
presente na membrana de um leque relativamente extenso de
neurônios, sendoo responsável pela propagação do estímulo em
todos os circuitos nervosos que têm como neurotransmissor a
Capitulo 20 Uso do CURARE

acetilcolina (ACh). Estes circuitos incluem todo o sistema nervoso placa motora final e através da membrana muscular (receptores
parassimpático, e a parte pré-ganglionar do sistema nervoso sim- extrajuncionais). As propriedades dos canais iônicos dos recepto-
pático. Os receptores Nn encontram-se também presentes no siste- res de acetilcolina são também diferentes no RN em relação ao
ma nervoso central. Os subtipos (Receptores “musculares”) estão adulto. A taxa com que ocorre o fechamento dos canais após a
presentes na placa motora. A sua ativação causa despolarização e estimulação pela acetilcolina é aproximadamente 3 vezes menor
contração do músculo esquelético, responsável pelos movimentos no neonato, tornando mais semelhante ao adulto por volta do
voluntários. Compreende-se assim o efeito de substâncias como primeiro mês de vida extra-uterina. A produção de acetilcolina a
o curare, utilizado por tribos indígenas sul-americanas na caça, partir do terminal nervoso é menor no RN em relação ao adulto.
que ao atingir o animal com um dardo ou seta impregnada com a A magnitude da despolarização na placa motora neuromuscular
substância causam paralisia e morte da vítima (por paralisia dos após a estimulação é menor no RN e aumenta dramaticamente
músculos da respiração) em poucos minutos. durante o período neonatal. Há sugestão de produção de menos
Os receptores muscarínicos são receptores metabotrópicos vesículas de acetilcolina por potencial de ação nervosa no RN
acoplados a proteína G. São estimulados pela acetilcolina de- Estas diferenças na anatomia e bioquímica das junções neu-
sencadeando uma cascata intracelular que é responsável pelas romusculares dos RN, assim como outras diferenças fisiológicas
respostas ditas”muscarínicas”. Devem o seu nome à muscarina, nos compartimentos aquosos do corpo e função renal, podem
um fármaco presente no cogumelo Amanita muscaria que ativa ter importantes implicações para o uso de agentes bloqueadores
seletivamente estes receptores. O seu antagonista clássico é a neuromusculares na UTI Neonatal.
atropina, produzido, por exemplo, pela planta Atropa belladonna. Tais diferenças podem contribuir para uma relativa sensibilida-
Estão descritos pelo menos 5 tipos de receptores, de M1 a M5. de do RN aos bloqueadores neuromusculares.
A ação que exercem depende da sua ocalização, assim como do
tipo de proteína G a que estão acoplados: Fisiologia Do Bloqueio Neuromuscular
A ativação dos receptores de ACh pela ligação com o ACh aos
sítios em cada duas subunidades alfas, provoca uma entrada de Há 2 categorias de agentes bloqueadores neuromusculares
Na+ na célula e uma saída de K+, provocando a despolarização
do neurônio pós-sináptico e no inicio de um novo potencial de • bloqueadores neuromusculares não despolarizantes
ação. Portanto, a ligação de ambos os sítios ao transmissor, pro- • bloqueadores neuromusculares despolarizantes
voca uma mudança na conformação do receptor, permitindo a
alteração nos gradientes de concentração do sódio, potássio e Bloqueadores neuromusculares não despolarizantes
cálcio. Assim, o receptor acetilcolina é uma porta quimicamen- Estes agentes evitam a transmissão neuromuscular ligando-se
te reativa para o movimento de cátions. A acetilcolina se liga ao competitivamente aos sítios de ligação da acetilcolina nos recep-
receptor muito brevemente (<1 msec). A sua ação termina com tores pós-juncionais (receptores nicotínicos).Se quantidades su-
a hidrólise pela acetilcolinesterase, presente na fenda sináptica. ficientes de receptores são ocupadas pelos agentes bloqueados,
O curare é um composto orgânico do grupo do alcalóide que exer- adespolarização da placa final não alcançará um limiar (50mV) e 619
ce ação relaxante sobre a musculatura. É uma droga paralisante a contração muscular não ocorrerá. Como vimos na fisiologia da
usada em pequenas doses para relaxamento muscular, e derivada transmissão neuromuscular, as moléculas de acetilcolina devem
de várias plantas alcalóides da família Loganiaceae ou Loganlácea se ligar a ambos os sítios do receptor para que ocorra a abertura
do gênero Strychnos Destas plantas são tirados vários subprodutos dos canais. O início da ação ocorre dentro de 2-3 minutos, sendo
como exemplo as substâncias estricnina e Chondrodentoin. assim não disponível para o rápido controle da via aérea.
É um potente inibidor, relaxante sobre o músculo estriado.Atu- A ligação destes agentes ao receptor é reversível. Assim quanti-
ando como competidor da acetilcolina pela ligação aos recepto- dades suficientes de acetilcolina podem conter os efeitos da medi-
res nicotínicos (um dos dois tipos de receptores sinérgicos para o cação. Esta é a razão do urso de antagonistas da acetilcolinestera-
neurotransmissor) da placa motora. Assim, ao bloquear os recep- se (neostigmina e edrofônio) para conter o efeito dos bloqueadores
tores de acetilcolina, esses receptores, os quais são ionotrópicos neuromusculares não despolarizantes.A junção meuromuscular
para cátions, não se abrem. Desse modo, não ocorre o influxo de do recém-nascido parece ser mais susceptível do que a do adulto
Sódio desencadeado pela atividade normal da placa motora, o ao bloqueio pelos agentes neuromusculares não despolarizantes.
que provocaria a despolarização da membrana pós-sináptica. O Os principais bloqueadores neuromusculares pertencentes a este
potencial gerado pela ligação, em condições fisiológicas, da ace- grupo empregados na prática diária são: pancurônio, vecurônio, ro-
tilcolina ao seu receptor na placa motora é chamado de potencial curônio, atracúrio, cisatracúrio, pipecurônio, doxacúrio e mivacúrio.
da placa motora, o qual é responsável por estimular a abertura
de canais de Sódio dependentes de voltagem, os quais contri- Bloqueadores neuromusculares despolarizantes
buirão para a amplificação do potencial despolarizante que se Estes agentes despolarizantes mimetizam o efeito da acetilcoli-
espalha pela fibra muscular, desencadeando a contração. na na junção neuromuscular; inicialmente causam fasciculações
e paralisia. Este agente tem início da ação rápida (5 minutos) e
Junção Neuromuscular No Recém-Nascido dura 5 minutos, efeito não reversível pela acetilcolinesterase, tais
como a neostigmina, mas a colinesterase plasmática bloqueia
Há diferenças importantes estruturais e bioquímicas entrem a rapidamente a sua ação. O bloqueio da neurotransmissão ocorre
junção neuromusculardo RN e de crianças maiores. A unidade pela despolarização prolongada causada pela colina que age so-
motora é difusamente larga no recém-nascido e nos adultos, va- bre os canais de cálcio.
ria com o grupo muscular. A relação entre nervo terminal e fibra O único agente clinicamente empregado nesta situação é
muscular também difere. No RN há múltiplas fibras musculares a succinilcolina. Entre os mecanismos de ação de destacam o
por axônio terminal e já no adulto, as fibras musculares se res- efeito agonista da succinilcolina que ocupa as subunidades alfa,
tringem ao contato com um único nervo (inervação focal). Esta causando despolarização e dissensibilização a acetilcolina e ten-
relação difusa do nervo para músculo nos RN é refletido no nú- do como efeito final a flacidez muscular. A succinilcolina não é
mero e distribuição dos receptores de acetilcolina na membrana susceptível a degradação enzimática pela acetilcolinesterase.
pós-sináptica (o RN apresenta menor superfície de área em rela- O bloqueio apela succinilcolina, clinicamente é manifesta-
ção aos adultos) e os receptores são difusamente distribuídos na do pela difusa miofasciculação no início da sua ação, seguido

Paulo R. Margotto
Assistência ao Recém-Nascido de Risco

pela paralisia (a ação da succinilcolina na membrana pré-si- nascidos que “brigavam” com o respirador e são estes os RN de
náptica promove a liberação adicional de acetilcolina que po- maior risco para desenvolver pneumotórax. Por outro lado, 13 de
deria explicar este fato). 17 RN tratados requereram aumento das pressões do respirador
A ação da succinilcolina termina em 5-15 minutos (menor du- e foram ventilados por um tempo significativamente mais longo.
ração em crianças), assim que sofre hidrólise enzimática catali- Analisando 50 RN com DMH sob ventilação mecânica nos pri-
sada pela enzima plasmática e hepática, succinilcolinesterase. meiros dias de vida, Perlman e cl detectaram significante relação
As crianças parecem ser relativamente resistentes a administra- entre flutuação da VFSC, assim como da pressão arterial e o sub-
ção de succinilcolina em relação aos adultos. A distribuição difu- seqüente desenvolvimento da hemorragia intraventricular. Rela-
sa dos receptores de acetilcolina que caracteriza a membrana taram também a conversão do padrão flutuante da VFSC para o
muscular do RN na junção neuromuscular e o maior volume de estável da VFSC. Observem as figuras 2 e 3.
distribuição, podem contribuir para esta diferença.
A succinilcolina continua ser a droga de escolha para a para- Pressão Sangüínea Arterial
lisia muscular.Particularmente quando há necessidade de início
rápido do efeito. Nenhum dos relaxantes musculares não despo-
larizantes (veja a frente) tem o perfil farmacodinâmico da succi-
nilcolina. Assim a succinilcolina continua sendo usada para entu-
bação endotraqueal urgente no período pré-operatório nas salas
de emergências, na Unidade de Cuidados Intensivos e mesmo
fora do Hospital durante transporte urgente de pacientes. Devido
a sua rápida ação, mesmo sendo administrada intramuscular,
é também. Usada para o tratamento do laringoespasmo, espe-
cialmente quando está associado com dessaturação e não está
disponível acesso venoso12. Em contraste, a succinilcolina é um
antagonista dos receptores colinérgicos autônomos e bradicar-
dia vagal pode ocorrer após a sua administração.
As crianças parecem ser mais susceptíveis que os adultos, sendo
que a pré- medicação com a atropina é freqüentemente aconselhável.
Quando a succinilcolina é administrada no paciente saudável,
ocorre despolarização dos receptores que estão presentes somen-
te na junção neuromuscular, ocorrendo efluxo de potássio intra-
celular limitada à área juncional; esta despolarização resulta em
uma mudança na concentração plasmática do potássio de apro-
620 ximadamente 0,5 a 1,0mEq/l, Havendo uma perda da excitação Figura 2
muscular (contração) por qualquer razão 9denervação, imobiliza-
ção, terapia por relaxante muscular, toxinas) há uma espalhamen-
to dos receptores colinérgicos juncionais através de toda a mem-
brana muscular. Assim, a hipercalemia induzida pela acetilcolina
tem significado clínicos nos pacientes com queimaduras (estes
pacientes têm aumento dos receptores colinérgicos juncional e ex-
trajuncional). As diferenças na junção neuromuscular das crianças
podem influenciar o potencial para a produção de potássio seguin-
do ao uso de succinilcolina, mas não há dados que sugerem que
isto seja um problema nas Unidades Neonatais.
QuelicinR – frasco ampola de 10 ml com 500mg; frasco am-
pola de 100 ml com 100mg de cloreto de succinilcolina

Indicação Para A Curarização

Por muitos anos os agentes bloqueadores neuromusculares


têm sido usados nos pacientes que requerem longo período de
internação. A indicação mais importante é a facilitação do con-
trole da relaxação muscular a pacientes que são submetidos a
procedimentos cirúrgicos.
O amplo uso destes agentes na UTI Neonatal ocorreu duran-
te os anos 60. Nesta época os ventiladores só permitiam fluxo Figura 3
durante a inspiração e como os RN não podiam respirar fora da
fase do respirador, requeriam paralisia muscular e sedação para A variabilidade da VFSC foi significativamente maior nos RN que
evitar a “briga”. Em 1974, com o desenvolvimento de respirador respiravam fora de sincronia com o respirador, no estudo de Ren-
que permitia fluxo de gás contínuo através do ciclo respiratório nie e cl. Quando o RN está assincrônico com o respirador, ocorrem
(ventilação mandatória intermitente), houve uma diminuição do maiores alterações nas pressões intratorácicas. Durante a assin-
número de RN que requeriam paralisia. cronia, ocorre queda das pressões intratorácicas e conseqüente-
No entanto, nos anos 80, reviveu o interesse pelo uso de rela- mente queda das pressões sistêmicas arterial ou venosa, quando
xantes musculares devido ao risco da ocorrência de barotrauma o RN respira durante a fase de deflação do ventilador e altas pres-
e hemorragia intraventricular. sões intratorácicas e conseqüentemente altas pressões sistêmi-
No estudo de Greenough e cl, o uso do pancurônio nos RN ven- cas arterial e venosa, quando o RN respira enquanto o ventilador
tilados ocasionou menor incidência de pneumotórax nos recém- está tentando inflar os pulmões. Se o RN respira sincronicamente
Capitulo 20 Uso do CURARE

com o respirador (respiração espontânea coincide com a inflação) a ventilação mecânica e se há melhora a longo prazo na evolução
as alterações nas pressões intratorácicas são menores. Assim, pulmonar e neurológica.
ventilação assincrônica leva a grandes flutuações na VFSC e como O pancurônio foi a única droga usada na dose de 0,03mg/kg a
vimos no estudo de Perlman e cl, a flutuação da VFSC aumenta o 0,01mg/kg, sendo repetida para manter a paralisia.
risco de hemorragia intraventricular. Os autores concluem nesta metanálise que o uso rotineiro de
Cowan e Thoresen relataram alterações na VFSC com o uso de bloqueadores neuromusculares em uma população selecionada
diferentes pressões de insuflação pulmonar (PIP): não ocorreram de RN prematuros ventilados em assimetria com o respirador re-
alterações ventilando o RN com PIP de 14cm H2O e alterações sultou em redução da hemorragia intraventricular e possivelmen-
entre 5,6 a 12,3%, com o aumento da PIP para 18cm H2O; seme- te do pneumotórax. Não foi possível obter conclusões a respeito
lhantes variações foram observadas a nível venoso. Os autores da segurança quanto ao prognóstico a longo prazo, tanto pulmo-
sugerem manter a PIP em níveis menores possíveis, principal- nar como pulmonar e neurológico.
mente nestes RN pré-termos extremos nos primeiros dias de vida Quando um RN está assincrônico com o respirador, os clínicos
quando o risco de hemorragia intraventricular é maior e o uso da devem estar alerta para prover adequada analgesia e sedação e
ultra-sonografia Doppler regularmente para verificar se a VFSC assegurar uma ventilação com normoxia e normocapnia, além de
está sendo afetada pela PIP. uma adequada circulação.
Perlman e cl evidenciaram que a freqüência de hemorragia in- Devido ao falta de dados de estudos randomizados, o uso rotinei-
traventricular nos RN que usaram pancurônio (também apresen- ro de pancurônio nos RN prematuro ventilados, não pode ser indi-
tavam fluxo sanguíneo cerebral flutuante) foi significativamente cada. Também para o RN a termo, não há dados disponíveis de en-
menor em relação aos RN controles que não receberam pancurô- saios controlados e randomizados a respeito da eficácia ou efeitos
nio. Os bebês paralisados tenderam a apresentar menos severa adversos da paralisia em RN a termos ventilados ou sobre os efeitos
hemorragia (de 10 RN com VFSC flutuante não paralisados, 10 de outros bloqueadores neuromusculares que não o pancurônio.
(100%) apresentaram hemorragia intraventricular, dos quais 7, Mais estudos são necessários para identificar que RN possivel-
hemorrragia intraventricular severa; 5 de 14 (36%) paralisados mente se beneficiariam de paralisia neuromuscular. Deveria ser
apresentaram com hemorragia intraventricular e 0 com hemorra- desenvolvido e testado métodos que identificassem uma maneira
gia intraventricular severa. Severa. Observe na Figura 4 a conver- prática e fácil de ventilar os RN que estão em assincronia com o
são da VFSC flutuante pelo uso do relaxante muscular no recém- respirador, após a otimização das técnicas ventilatórias e adequa-
nascido em ventilação mecânica. O traçado do fluxo sanguíneo da sedo-analgesia. Mais ensaios são necessários para avaliar os
cerebral foi obtido com o uso do Doppler na fontanela anterior efeitos a curto e a longo prazo de novos bloqueadores neuromus-
de um recém-nascido com doença da membrana hialina antes e culares nos RN ventilados. Esta metanálise mostrou diminuição
após o uso do relaxante muscular (brometo de pancurônio). significativa para a hemorragia intraventricular e o pneumotórax,
quando o curare foi usado em condições de assincronia com o res-
pirador. Na condição em que houve seleção para a assincronia,
não houve diferenças nas taxas de hemorragia intraventricular e 621
pneumotórax; em ambas as condições não houve diminuição da
mortalidade e da dependência do oxigênio aos 28 dias e na 36ª
semana de idade pós-concepção nos sobreviventes.
O uso de bloqueadores neuromusculares em recém-nascidos
que necessitam de ventilação mecânica é controverso. Apesar de
vários estudos evidenciarem benefícios, muito deles não foram es-
tudos controlados. Há uma preocupação quanto à segurança do
uso prolongado de paralisia neuromuscular nos recém-nascidos.
Portanto, o pancurônio pode ser vantajoso na redução do baro-
trauma e na prevenção da hemorragia intraventricular. Este efeito
benéfico ocorre numa população de alto risco que deve ser iden-
tificada, ou seja, naqueles RN que “brigam” com o respirador ou
que apresentam velocidade do fluxo sanguíneo cerebral flutuante.
Figura 4. Conversão da velocidade do fluxo cerebral flutuante pelo uso Assim, o pancurônio não deve ser administrado indiscriminada-
do pancurônio em um recém- nascido com doença da membrana hialina mente, devido aos riscos de hipoventilação inadvertida ou hipoxia.
assincrônico com o respirador (Perlman JM e cl. N Engl J Med 1985; O bloqueador neuromuscular tem sido sugerido na facilitação
313:1353-7 da entubação de RN, com a finalidade de evitar as complicações
decorrentes da entubação sem pré-medicação, comi alterações
Segundo Costarino, o pancurônio pode ser inapropriado para mui- na frequência cardíaca, pressão arterial e oxigenação. Kelly e cl.
tos RN prematuros que não apresentam fluxo sanguíneo cerebral relataram os resultados dos efeitos fisiológicos de um estudo clí-
flutuante, além de que nem todas as Unidades dispõem do Doppler. nico prospectivo randomizado na avaliação do uso de pancurônio
Recém-nascido ventilado, respirando assincronicamente com e atropina como pré-medicação.Geralmente tem sido usado com
o ventilador, apresenta alto risco de pneumotórax e hemorragia este propósito a succinilcolina. Os RN (peso de 580g a 3450g;
intraventricular e ficam mais expostos ao severo barotrauma que Idade gestacional: 725-40 semanas) que receberam pancurônio
pode piorar a evolução clínica. A paralisia muscular que elimina (0,1mg/kg) e atropina (0,01mg/kg) não apresentaram significan-
os esforços respiratórios do RN, apresenta uma vantagem poten- te queda da freqüência cardíaca e menor aumento da pressão in-
cial a este respeito. tracraniana em relação aos RN controles (RN recebendo apenas
A metanálise de Cools e Offringa16 englobando 6 estudos (486 atropina ou nenhuma medicação). O menor aumento da pressão
RN) realizada com o objetivo de determinar se o uso rotineiro de intracraniana foi atribuída aos menores problemas mecânicos e
paralisia muscular no RN sob ventilação mecânica em relação ao esforço, muito observado nos RN não paralisados. A menor inci-
RN que não recebeu paralisia muscular mostra importante redu- dência de bradicardia foi atribuída ao efeito sinérgico da atropina
ção de complicações agudas pulmonares e neurológicas durante e pancurônio nos receptores muscarínicos cardíacos.

Paulo R. Margotto
Assistência ao Recém-Nascido de Risco

Estudo randomizado de Ghanta e cl realizado na Austrália, en- prazo destes RN deve ser incluído no desenho destes ensaios
volvendo 63RN com o objetivo de comparar a eficácia do propo- (consulte o capítulo Analgesia e sedação no recém-nascido em
fol (DiprivanR,),agente hipnótico, ao regime de morfina, atropina ventilação mecânica/sequência rápida de intubação)
e suxamethodium (MASsux - AnectineR - succinilcolina) como um
agente indutor para a intubação endotraqueal neonatal não emer- Quanto Aos Efeitos Adversos
gencial; 33 RN receberam propofol e 30 RN receberam o regime
MASsux. O peso ao nascer (1020g x 1095g), idade gestacional Devido a diferentes mecanismos de ação destes agentes
(27 x 28 semanas), assim como os pesos na entubação (1068g (não despolarizantes e polarizantes), pode resultar em diferen-
x 1275g) foram comparáveis. Os autores relataram que o tempo tes efeitos adversos.
para alcançar sucesso na entubação foi menor com o propofol do Quanto aos efeitos cardiovasculares: estes efeitos resultam da
que com o regime MASux (120 x 260 minutos). A saturação de oxi- ação destes agentes na ação nos receptores colinérgicos do siste-
gênio durante o procedimento foi significantemente menor nos RN ma nervoso autônomo. Os agentes não despolarizantes antagoni-
com o regime MASux em relação aos RN que receberam propofol zam competitivamente os receptores colinérgicos autônomos. Eles
(60% x 80%). Trauma nasal/oral foi menor e o tempo de recupera- incluem os receptores nicotínicos pré-ganglionares no sistema
ção foi menor (780 x 1425 segundos) no grupo do propofol. simpático e os receptoresmuscarínicos pré e pós-ganglionares no
O propofol foi escolhido como pré-medicação na Intubação en- sistema parassimpático. Assim existe potencial para taquicardia
dotraqueal não emergencial pela conveniência do uso de uma (bloqueio vagal do coração) e vasodilatação periférica (bloqueio
única droga e por sua habilidade em preservar respirações es- simpático). A extensão destas alterações varia entre os agentes
pontâneas enquanto provê hipnose A dose usada foi de 2,5mg/ e pacientes. A produção de histamina, um fator não relacionado a
kg endovenosa, sendo permitido um máxima de 2 doses.Não ação colinérgica dos bloqueadores não despolarizantes, pode cau-
foram observados efeitos adversos notados em adultos, como hi- sar efeitos cardiovasculares colaterais adicionais.
potensão, vagotomia ou apnéia. Muito cuidado deve ser tomado Cheung e cl relataram perda auditiva sensorial nas crianças
no uso do propofol em infusão contínua, devido à ocorrência de sobreviventes de hérnia diafragmática submetida ao uso prolon-
severas complicações relatadas em adultos. Portanto, NÃO deve gado de pancurônio. A dose acumulativa e a duração do uso do
ser usado o propofol em infusão continua. Assim, o propofol é pancurônio foram significativamente correlacionadas (r=0,66/
mais efetivo como um agente indutor para facilitar a entubação r=0,81) com a perda auditiva.
endotraqueal neonatal. A hipoxemia foi menos severa provavel- Entre outros efeitos adversos, são relatados, diminuição da
mente devido à manutenção da respiração espontânea. oxigenação (10mmHg ou mais) em 1/3 (6 de 18) dos RN com
Recentemente, Pershad e cl evidenciaram que o propofol per- doença da membrana hialina. No entanto, muitos RN com síndro-
mite início mais rápido, assim como recuperação e com eficácia me de aspiração meconial e pneumonia melhoram a oxigenação.
comparável ao regime de pentobarbital/midazolam para seda- Houve aumento significante da freqüência cardíaca.
ção de crianças que vão realizar ressonância magnética. No en- O aumento da hemorragia intraventricular relatada por Banca-
622 tanto, segundo Braarington, faltam estudos farmacocinéticos do lari na década de 80 pode ter resultado do aumento da pressão
propofol no período neonatal, não devendo ser utilizado numa intrapleural seguindo a paralisia com interferência secundária do
sequência rápida de intubação. retorno venoso da cabeça. Outro fator seria o aumento da pres-
A revisão sistemática de Shah e cl mostrou uma variabilidade são arterial e o aumento da concentração sérica de norepinefri-
no uso de drogas como premedicação na entubação dos RN: na e epinefrina no RN que recebeu pancurônio. O aumento da
anticolinérgicos, analgésicos, agentes anestésicos, relaxan- pressão arterial persistiu por 50 minutos após a administração
tes musculares, sedativos, usados isoladamente ou em várias do pancurônio. A duração da taquicardia durou 30 minutos. Os
combinações. A combinação mais comumente avaliada foi a da resultados do estudo de Cabal e cl sugerem que o pancurônio
atropina, fentanil e succinilcolina. A maioria destes estudos foi estimula a atividade simpática no RN com desconforto.
conduzida sob circunstâncias relativamente controladas, tais No entanto, estudo experimental em ovelhas recém-nascidas
como intubação eletiva ou semi-eletiva (cirurgia ou troca de saudáveis realizado por Belik e cl não evidenciou alterações no
tubo endotraqueal). Devido os estudos usar diferentes drogas e fluxo sanguíneo cerebral.
medidas de prognósticos, Shah e cl foram incapazes de identifi- Tem sido relatada contratura nas juntas, fraqueza no RN que re-
car dois estudos dos quais os dados pudessem ser sumarizados cebeu pancurônio, assim como diminuição do tamanho das fibras
usando a técnica de metanálise. Portanto, a evidência disponí- musculares nas crianças que receberam pancurônio por 24-27
vel a respeito da eficácia e efetividade das diferentes drogas dias. Movimentos passivos, freqüentes e regulares dos membros
para a premedicação nos RN é limitada (pequeno número de podem prevenir estas complicações. O uso concomitante de genta-
RN estudados). Os resultados de alguns dos estudos sugerem mina pode potencializar este efeito. Tem sido descrito em adultos,
uma atenuação das respostas fisiológicas nos RN que recebem severa tetraparesia com arreflexia, algumas vezes combinado com
premedicação para a entubação. Nenhum estudo traz informa- distúrbios dos músculos extraocular e facial e difusa atrofia mus-
ções relevantes do prognóstico a curto prazo, como duração da cular, sem distúrbio sensorial, em pacientes após a descontinua-
ventilação mecânica, desenvolvimento neurocomportamental, ção do pancurônio usado por 6 dias ou mais. A alta dose, disfun-
estenose subglótica. As Unidades Neonatais necessitam desen- ção hepática e o uso do aminoglicosídeo podem ter contribuído.
volver específicos guias práticos a respeito da premedicação Os RN que recebem relaxantes musculares não despolarizan-
para a entubação e assegurar que todos os médicos estejam tes, com freqüência desenvolvem anormalidades que incluem:
familiarizados com os efeitos das drogas usadas. Em situações tórax em forma de sino e edema de tecidos moles4. Kopecky e
como anormalidade da anatomia da via aérea superior (severa cl comparando os RX de RN que usaram bloqueador neuromus-
micrognatia, estenose subglótica), a entubação do RN acordado cular com os RN que não usaram, relataram nos RN que usaram
parece ser aceitável. Havendo a decisão do uso de premedica- bloqueadores neuromusculares tórax em forma de sino em 24 de
ção, estas devem ser feitas com atenção e com monitorização 57 RN (42,10%) e diminuição de gás intestinal em 46 de 52 RN.
do estado cardiorespiratório por profissionais competentes. Dillard e cl relataram diminuição de gás intestinal em 22 de 24
Futuros estudos deverão ser realizados para documentar a se- (91,7%) RN ventilados tratados com pancurônio. O pancurônio
gurança e eficácia da premedicação na entubação de RN pré- previne a deglutição do ar, mas não inibe a peristalse, ocorrendo
termos e a termo instáveis e estáveis. Um segmento de longo a eliminação do gás 3 horas ou mais após a administração da
Capitulo 20 Uso do CURARE

droga. Portanto, os clínicos devem estar alerta para este fenôme- tos), duração esta muito superior aos bloqueadores neuromuscu-
no para evitar estudos radiológicos desnecessários. lares não despolarizantes de duração intermediária. Devido aos
Entre os efeitos adversos da succinilcolina se destacam: mio- procedimentos cirúrgicos habitualmente curtos, o seu uso tem
fasciculações (ocorre menos freqüentemente em crianças abaixo diminuído significativamente na pediatria.
de 5 anos de idade) e edema pulmonar. O uso do pancurônio tem sido diminuído com o surgimento de
bloqueadores neuromusculares de duração intermediária; A sua
Farmacodinânimica/Farmacocinética indicação limita—se a intervenção de longa duração ou quando
se requer ventilação mecânica no pós-operatório.
Em 1942 foi introduzia a d-tubocurarina. Este curare aumenta Nos pacientes com insuficiência renal, o seu uso deve ser evi-
a produção de histamina e facilita o bloqueio autônomo em nível tado ou monitorizado. Segundo Tobias o pancurônio pode ser
de receptores nicotínicos pré- ganglionares no sistema simpático usado em infusão contínua em crianças e o custo é bem menor
e ambos os receptores muscarínicos pré-ganglionares e pós-gan- do que os novos bloqueadores neuromusculares ($5,88 versus
glionares do sistema parassimpático. Esta ação leva a hipoten- $91,2 para o vecurônio e $113,0 para o atracúrio em infusão
são e diminuição da resistência vascular associada ao seu uso. contínua - 0,7; 0,10; 0,6 mcg/kg/h, respectivamente).
Devido à importante liberação de histamina, a d-tubocurarina PavulonR - ampolas de 2 ml; cada ml contém 2 mg de brometo
foi substituída por outros bloqueadores neuromusculares não de pancurônio
despolarizantes.
Do ponto de vista químico, o pancurônio, vecurônio, o rocurônio Novos Bloqueadores Neuromusculares
e o pipecurônio são agentes bloqueadores neuromusculares não
despolarizantes aminosteróides. O atracúrio, mivacúrio e o doxacú- O bloqueador neuromuscular ideal é aquele que tem a sua
rio são pertencentes ao grupo da benzilisoquinolinas (este grupo ação iniciada rapidamente, não seja cumulativo, independente
caracteriza-se por não ter efeito na liberação de histamina) da função renal e hepática, rapidamente reversível, sendo facil-
mente reversível e livre de efeitos colaterais.
Pancurônio A longa duração da ação dos relaxantes musculares não des-
polarizantes, a dependência da excreção renal, lento início da
O pancurônio, um bloqueador neuromuscular não despolari- ação e os seus efeitos colaterais autônomos ou motores, resultou
zante sintético de longa ação, foi introduzido na clínica em 19672. na demanda por outros bloqueadores neuromusculares que não
O pancurônio é um produto sintético semelhante à d-tubocura- apresentam os efeitos indesejados assinalados anteriormente.
rina, atua no receptor colinérgico e canais de íons (tem uma ação
mais específica no receptor). Diferente de outros curares, o pan- Vecurônio
curônio não diminui a resistência vascular periférica, embora te-
nha um efeito vagolítico, causando aumento na pressão arterial, O vecurônio é muito semelhante do ponto de vista químico ao
taquicardia e aumento do débito cardíaco. Os efeitos cardiovas- pancurônio. Foi introduzido no mercado em 1984. No entanto, há 623
culares do pancurônio são causados pelo aumento da atividade diferenças significativas na farmacologia: tem pouco ou nenhum
nervosa simpática como conseqüência da facilitação de libera- efeito cardiovascular, sendo rapidamente eliminado pela bile
ção de noradrenalina pré e pós-ganglionares ou por inibição da (como vimos, o pancurônio bloqueia os receptores muscarínicos
recaptação de noradrenalina. Além de bloquear os receptores cardíacos e causa taquicardia. Assim, o vecurônio tem duração
nicotínicos da placa motora, também bloqueia os receptores pré- de ação intermediária e início lento e tem pouco ou nenhum efei-
sinápticos muscarínicos do tipo M2, localizados nas terminações to cumulativo, podendo ser usado no paciente com insuficiência
noradrenérgicas do nódulo sinusal e das células musculares car- renal4. No entanto, pode ser observado prolongamento do seu
díacas e aumenta a liberação de noradrenalina, potencializando efeito em pacientes com insuficiência renal, devido ao acúmulo
a taquicardia, ação derivada do seu efeito vagolítico2, 3. dos seus metabólitos ativos, o 3-desacetil, 17 desacetil e o 3,17
Em pequenas quantidades, penetra no líquor cefalorraquidiano. desacetil vecurônio. A sua potência é semelhante ao pancurônio,
(Costarino). Provavelmente ocorre significante ligação com as pro- sendo a dose recomenda a mesma do pancurônio. O tempo de
teínas. Nos RN com menores níveis de proteínas e possivelmente recuperação é menor do que qualquer outro agente não despola-
devido à alteração na afinidade da ligação, pode ocorrer aumento rizante (30 a 40 minutos).
dos níveis livres da droga disponível para interação com o receptor4. A dose de entubação é de 0,1mg/kg com o tempo de início da
A principal rota de excreção dos bloqueadores neuromusculares ação em 2,5 minutos. Duração clínica: 35 a 45 minutos (duração
não despolarizantes é a excreção urinária. Aproximadamente 40% da total: 60-75 minutos).
dose do pancurônio é excretada nas urinae 6% é excretada na bile. Hodges evidenciou, através do uso da aceleromiografia, haver
significativa diferença, no requerimento de vecurônio em relação
Doses á idade (os neonatos e crianças mais jovens requereram 45%
menos vecurônio do que as crianças maiores), além de maior du-
Goudsouzian e cl não demonstraram qualquer diferença no re- ração da ação no grupo pediátrico mais jovem além de apresen-
querimento de pancurônio nos RN <32 semanas em relação aos tar recuperação mais rápida. Segundo autor, a aceleromiografia
RN mais maduros. Houve uma dificuldade é um método conveniente e disponível para a monitorização da
pára reverter o bloqueio neuromuscular nos RN mais imaturos. função neuromuscular na UTI pediátrica.
(de 33 RN estudados, 7 apresentaram recuperação espontânea, Portanto, a grande característica do vecurônio é que está to-
23 RN necessitaram de 1 ou mais doses de atropina e 1 neces- talmente desprovido de efeitos cardiovasculares derivados do
sitou de atropina e neostigmina e 3 apresentaram falha para a bloqueio dos receptores muscarínicos, do bloqueio ganglionar,
reversão do bloqueio) da facilitação de liberação de noradrenalina e o bloqueio da re-
Segundo Bozzo, os RN necessitam de doses maiores que os captação e liberação de histamina, ou seja, o vecurônio carece
adultos para produzir o mesmo bloqueio. Para o RN a dose reco- de todo efeito vagolítico.
mendada para entubação é 0,15mg/kg. O tempo para o início A associação do vecurônio com altas doses de opiáceos pode
da ação após a entubação varia entre 3,0-4,0 minutos. Duração desencadear bradicardia severa e inclusive assistolia (há uma
da ação clínica: 60-80 minutos (duração total; 120 a 160 minu- adequada e rápida resposta à atropina).

Paulo R. Margotto
Assistência ao Recém-Nascido de Risco

A sua grande indicação é em paciente com patologia cardiovas- Efeitos colaterais


cular submetido à cirurgia cardíaca ou outros tipos. Os efeitos colaterais derivam fundamentalmente do seu efeito
Nos pacientes com insuficiência renal, as doses de repeti- liberador de histamina e efeitos cardiovasculares (hipotensão,
ção devem ser monitorizadas. No pós-operatório está contra- taquicardia). Deve ser contra- indicado nos pacientes asmáticos.
indicado o seu uso por mais de 48 horas, especialmente se Os efeitos hemodinâmicos são secundários ao seu efeito libera-
associado ao corticosteróide. dor de histamina. A liberação de histamina pode levar a hipoten-
Nos pacientes com colestase, devido ao predomínio da sua eli- são arterial, possivelmente por um efeito direto da relaxação so-
minação ser hepática, deve ser preferido outros bloqueadores neu- bre os receptores H1 e H2 da musculatura lisa vascular Até uma
romusculares não despolarizantes que não dependem do fígado dose de 0,4mg/kg não se observam modificações na pressão ar-
para a sua eliminação, especialmente aqueles que sofrem elimi- terial ou na freqüência cardíaca. A partir de 0,5mg/k e até 1mg/
naçãode Hoffman (veja adiante), como o atracúrio e o cisacúrio. kg se produzem alterações cardiovasculares típicas de liberação
A Unidade de Neonatologia do Hospital Regional da Asa Sul, de histamina (hipotensão e taquicardia) de forma proporcional
usamos o vecurônio no pós-operatório para evitar que ocorre ro- à dose. Assim, com uma dose de 0,5mg/kg, a pressão arterial
tura da sutura esofágica.Vecurônio (Norcuron®) diminui em 13% e a freqüência cardíaca aumenta em 5%; já com
• frasco de 10mg (pó) uma dose de 0,6mg/g, a pressão arterial diminui em 20% e a
• ataque: 0,1 mg/kg; freqüência cardíaca, em 8%. A diminuição da velocidade de inje-
• manutenção: 0,1 mg/kg/hora. ção diminui significativamente os efeitos secundários derivados
da liberação de histamina. O pré-tratamento com bloqueadores
Exemplo: dos receptores H1 e H2 diminui parcialmente a resposta hemo-
RN com 3,8 kg – 0,1 mg/kg/h = 0,1 x 3,8 x 24 = 9,12 mg dinâmica.
Diluir 1 frasco em 5ml de água destilada O atracúrio é um bloqueador neuromuscular não despolarizan-
1ml = 2 mg: retirar 4,5ml e infundir com 20ml de soro glico- te de ação intermediária de grande versatilidade, podendo ser
sado 5% a 1ml/h. usado de forma rotineira. É um curare de eleição nos pacientes
com insuficiência renal e hepática. Apesar da resposta hemodi-
NorcuronR - ampolas de liofilizado de 4mg e 10 mg + solvente; cada nâmica transitória (hipotensão e taquicardia) mais observada
1 ml contém 4 mg e 10 mg de brometo de vecurônio, respectivamente com doses elevadas, em pacientes saudáveis não há repercus-
sões usando a dose de entubação em forma de bolus rápido, mas
Atracúrio em pacientes hemodinamicamente instáveis, hipovolêmicos ou
com patologia cardíaca, pode haver importantes repercussões.
Este é o único bloqueador neuromuscular (introduzido na clí- Não é um relaxante muscular de eleição nos pacientes com pato-
nica em 1984) cuja eliminação é independente da ação renal logias cardíacas. Nestes pacientes é melhor o uso do vecurônio, o
e hepática. A sua degradação ocorre por um processo não enzi- cisacúrio e o pipecurônio (vejam este dois curares adiante).
624 mático, chamado de degradação de Hoffman. Por este motivo, Em comparação com o vecurônio, o atracúrio não apresentou
é sugerido como sendo o curare de eleição no recém-nascido. interação com a gentamicina ou tobramicina. Portanto, em pa-
O atracúrio é um eterno competidor do vecurônio, cujo princi- cientes em uso destes antibióticos, o atracúrio pode represen-
pal atrativo tem sido a sua via original de eliminação, com um tar vantagem sobre o vecurônio quando não se deseja o prolon-
perfil farmacodinâmico muito semelhante ao vecurônio, mas por gamento do bloqueio.
ser de grupos químicos distintos, com uma diferente eliminação, TracurR – ampolas de 2,5 ml (cada ml contém 10 mg de besi-
não produz metabólitos com efeito bloqueador neuromuscular. lato de atracúrio)
A eliminação de Hoffmann é um processo químico não biológi-
co de degradação que ocorre a temperatura e pH fisiológicos (há Mivacúrio
aumento da degradação em pH alcalino), mediante o qual os sais
de amônio quaternário podem decompor em um meio fortemen- O maior atrativo deste bloqueador neuromuscular não despo-
te alcalino para formar uma base terciária; a hipotermia inadver- larizante é a sua susceptibilidade de sofrer hidrólise pela colines-
tida ou artificial pode atrasar a inativação do atracúrio, enquanto terase plasmática humana a uma velocidade suficiente o que o
que a hipertermia acelera a recuperação2. Nos recém- nascidos torna agente bloqueador neuromuscular o relaxante de menor
menores, particularmente se apresentarem temperatura abaixo duração de ação. Não atravessa a barreira hematoencefálica e
de 36o C, é vantajoso usar menor dose de atracúrio. não efeito cardiovascular. É rapidamente metabolizado pela coli-
Há um indefinido potencial para toxicidade no sistema nervoso nesterase plasmática. Foi introduzido na clínica em 1988.
central secundário ao acúmulo de maior metabólito da degradação
de Hoffmann, que é o laudanosino. Concentrações elevadas deste Dose
metabólito no sistema nervoso central em animais pode levar a Dose de entubação: 0,15mg/kg (na prática usa-se 0,2mg/kg).
convulsões. No entanto, em humanos, o nível deste metabólito que Tempo de ação: 2,5 minutos. Duração da ação: 20 minutos e du-
estimula o sistema nervoso central permanece desconhecido. ração total: 30 minutos.
Em relação a custos, o atracúrio mostrou custo total mais baixo
do procedimento anestésico em relação ao vecurônio (18,27 Euro Efeitos colaterais:
por paciente versus 226,61 Euro por paciente, respectivamente). Liberação de histamina (eritema. broncoespasmo hipotensão,
taquicardia). Nos pacientes com insuficiência renal não há altera-
Dose ção na farmacocinética.
0,5mg/kg. Tempo de início da ação:+-2,5 minutos. Duração da Doucet e cl descreveram um caso de um RN que fez uso de mi-
ação clínica: 50 minutos (duração total: 1/3 a ½ dos relaxantes vacúrio e a duração do bloqueio durou 8 horas (a dose usada foi de
de longa duração: 80 minutos). 0,2mg/Kg). A duração do bloqueio foi devido a uma variante anor-
O atracúrio é facilmente antagonizado pelos acetilcolinesterásicos. mal da colinesterase plasmática. O diagnóstico foi feito através de
estudo molecular, mostrando que o RN era homozigoto e a família
heterozigota para a variante anormal da colinesterase plasmática.
Capitulo 20 Uso do CURARE

Indicação estômago cheio, a succinilcolina ainda é o curare de eleição no


Deve ser usado em intervenções de curta douração (consultó- manejo da via aérea em situações de emergência, especialmen-
rios pediátricos ou ambulatórios) ou de duração imprevisível que te em adultos. Nas crianças, é preferível o uso do rocurônio ou
requeira uma rápida reversão do bloqueio neuromuscular. mivacúrio, dependendo da duração da cirurgia, deixando a succi-
Roberts e cl estudaram a associação do mivacúrio com a atro- nilcolina para emergências extremas.
pina e fentanil como premedicação na entubação eletiva neona- Kalpan e cl evidenciaram que o uso intramuscular do rocurô-
tal; os resultados foram comparados com o uso de atropina e nio não constitui uma alternativa adequada a succinilcolina in-
fentanil sem o mivacúrio. Os autores relataram menor tempo e tramuscular quando é necessária uma rápida entubação, em
menor número de tentativas para o sucesso da entubação com o crianças entre 3-12 meses. No entanto, segundo Feltman e cl,
uso do mivacúrio associado à atropina e fentanil, com significan- para recém-nascidos pré-termos, o rocurônio (5mg/kg) facilitou
te redução da incidência de severa dessaturação e concluem que a intubação com sucesso, promovendo rápida paralisia clinica.
a inclusão de relaxante muscular de curta duração deveria ser A completa paralisia ocorreu em 80% dos RN intubados com ro-
considerada para as entubações neonatais eletivas. curônio, com duração de 1 a 60 minutos (16.3+-13,5min). Tem
MivacronR – ampolas com 1 ml; cada ml contém 2 mg de co- início e duração de ação semelhante ao mivacúrio.
mocloreto de mivacúrio Castillo-Zamora e cl não evidenciaram diferenças na resposta
hemodinâmica entre o pancurônio e o rocurônio nos pacientes
Rocurônio submetidos à cirurgia cardíaca. Quanto aos custos, o rocurônio
é aproximadamente 8 vezes mais caro que o pancurônio e 4-7
A duração da ação é semelhante a do vecurônio, mas com um vezes mais caro que o vecurônio.
curto tempo de início da ação em relação aos bloqueadores não EsmeronR – ampolas de 5 mgl; cada ml contém 10 mg de bro-
polarizantes de duração intermediária. Foi introduzido na clínica meto de rocurônio
em 1995. O fígado é a principal via de eliminação.
Cisatracúrio
Dose
Intubação: 0,6mg/kg; início da ação: 1,5 minuto, o menor de Potente relaxante muscular, 4 vezes mais potente do que o
todos (1 minuto a menos do que os de duração intermediária, atracúrio. Apresenta grande margem de segurança do ponto de
com exceção do cisacúrio) e 3 a menos do os de longa duração. vista cardiovascular e metabólico. Compete com o vecurônio na
Duração clínica da: 40 minutos (duração total: 70 minutos). indicação melhor para pacientes com patologias cardiovascula-
Duas razões são colocadas para explicar o curto tempo de iní- res e com o atracúrio, sendo melhor em pacientes com insufici-
cio da ação: baixa potência e o maior efeito pré-sinápticos do ência renal e hepática. Foi introduzido em 1996.
rocurônio em relação a outros bloqueadores neuromusculares A via predominante de eliminação é a eliminação de Hoffmann
não despolarizantes. (77%), que é dependente do pH; o restante (23%) é órgão de-
A reversão do rocurônio com anticolinesterásicos ocorre de for- pendente, sendo que 16,4% da eliminação ocorre no rim, sendo 625
ma rápida como com o vecurônio e o atracúrio. assim, o rim a via de eliminação mais importante do cisacúrio
após a degradação de Hoffmann.
Efeitos colaterais O bloqueio neuromuscular produzido pelo cisatracúrio é anta-
Nas doses usadas na clínica, o rocurônio tem mínima ou ne- gonizado efetivamente com anticolinesterásicos, mas um pouco
nhuma atividade sobre outros receptores que não sejam os re- mais lento em relação aos outros bloqueadores neuromuscula-
ceptores nicotínicos colinérgicos da placa motora. Tem efeitos res não despolarizantes.
mínimos a nível dos receptores muscarínicos do nódulo sinusal,
Não produz liberação de histamina. Vários estudos demonstram Dose
que o rocurônio produz variações hemodinâmicas sem significa- Entubação: 0,1mg/kg. Duração clínica da ação: 33-43 minutos
ção clínica e ainda com doses maiores que as necessárias. Tem (duração total: 70 minutos)
somente um suave efeito cronotrópico, o que permite associar
esta droga com opiáceos (como vimos, a associação do opiáceo Efeitos colaterais
com o vecurônio produz bradicardia severa). Não produz efeitos secundários derivados da liberação de his-
Em doses baixas, o rocurônio não produz liberação de hista- tamina e nem do bloqueio de receptores autonômicos nas doses
mina. No entanto, à medida que se aumentou o uso do rocurô- utilizadas na clínica. Por não carecer absolutamente de efeitos
nio, tem sido relatada uma série de reações alérgicas. No Reino hemodinâmicos derivados de efeitos cardiovasculares ou auto-
Unido, a incidência de reações anafiláticas ao rocurônio está em nômicos, o cisatracúrio não aporta nada de novo com respeito
torno de 1 em 3000. Rose e Fisher sugerem que o rocurônio é aos outros bloqueadores neuromusculares não despolarizantes,
intermediário em causar alergia como o vecurônio, pipecurônio e o doxacúrio. No entanto, é o úni-
em comparação aos conhecidos relaxantes musculares de bai- co disponível que além de não liberar histamina e nem ter efeito
xo risco (pancurônio e vecurônio) e os relaxantes musculares de vagolítico, sofre eliminação de Hoffmann e, portanto, tem meta-
maior risco (alcurônio, succinilcolina). Segundo os autores, não bolismo órgão dependente.
há motivos para alarme em relação à anafilaxia ao rocurônio.
Indicação
Indicação Tem grande margem de segurança do ponto de vista cardiovas-
Pode ser usado nas mesmas circunstâncias do vecurônio e do cular e metabólico. É indicado em pacientes com patologia car-
atracúrio, com a vantagem, do rocurônio ter início mais rápido da diovascular submetidos a qualquer tipo de cirurgia, em pacientes
ação. Nos pacientes com insuficiência hepática, preferir outros hipovolêmicos ou em estado de choque e em cirurgias cardiovas-
curares de eliminação independente do fígado. Pode ser usado culares. É o relaxante muscular mais atrativo para ser usado por
nos pacientes com insuficiência renal, embora se recomende a longo período em pacientes em estado crítico.
monitorização cuidadosa da droga. É um relaxante muscular de eleição em pacientes com insufici-
O rocurônio é de eleição na indução em seqüência rápida ência renal. Devido ao alto grau de metabolização independentes
quando a succinilcolina está contra-indicada. Nos pacientes com

Paulo R. Margotto
Assistência ao Recém-Nascido de Risco

da função hepática, torna-se o curare de eleição nos pacientes ostigmina requer um tempo semelhante para a recuperação em
com insuficiência hepática. relação aos outros bloqueadores de longa duração.
O cisatracúrio permitiu eliminar definitivamente duas desvan-
tagens do atracúrio: a leve liberação de histamina que limita a Efeitos colaterais
sua administração em bolus rápido e seu uso em doses maio- O doxacúrio está praticamente isento dos efeitos derivados
res e a produção de concentrações potencialmente perigosas do da liberação dehistamina. Ainda que não se tenha descrito a
metabólito laudanosino que limitava teoricamente o seu uso em aparição de eritema generalizado ou broncoespasmo, se tem
infusão durante longos períodos, como se faz habitualmente nas relatado a aparição de ma hipotensão severa transitória após a
Unidades de Cuidados Intensivos. O cisatracúrio tem um perfil de administração de uma dose de Entubação de doxacurônio asso-
recuperação mais rápido que o vecurônio nos pacientes críticos, ciado a um eritema cutâneo, mas curiosamente, sem taquicardia
tanto em adultos como em crianças e em recém-nascidos46, compensatória e sem broncoespasmo. No homem, parece que a
provavelmente pelo seu metabolismo independente dos órgãos margem de segurança vagolítica é tão alta quanto ao vecurônio.
e a ausência de metabólitos, (como o laudanosino, uma amina
terciária análogo à morfina) farmacologicamente ativos que po- Indicação
dem prolongar o bloqueio. A sua velocidade de recuperação é se- É um bloqueador neuromuscular não despolarizante compa-
melhante ao do atracurúrio com a vantagem de ter uma grande rável ao pipecurônio por sua grande estabilidade cardiovascular,
estabilidade hemodinâmica por não liberar histamina e produzir mesmo com um tempo de início maior. Compete em suas indica-
a terça parte do metabólito laudanosino. É o bloqueador neuro- ções com o pipecurônio: intervenções de longa duração e cirurgia
muscular não despolarizante mais atrativo na atualidade para cardíaca. Deve ser evitado o seu uso em pacientes com insuficiên-
ser usado por longos períodos em pacientes críticos. cia renal. Pode ser usado em pacientes com patologia hepática.
Devido o cisatracúrio ser 3 vezes mais potente que o atracúrio, NuromaxR – 1 ml contem 1 mg de cloridrato de doxacúrio
o uso do cisatracúrio na UTI deveria obter bloqueio neuromuscu-
lar equivalente ao atracúrio,com a vantagem de produção signifi- Rapacurônio
cativamente menor de laudanosino.
NimbiumR – ampola de 5 ml; cada 1 ml contém 2mg de besi- O rapacurônio é um bloqueador neuromuscular não despolari-
lato de cisatracúrio zante do grupo aminosteróides, de ação ultracurta. Foi introduzi-
do clinicamente para substituir a succinilcolina para indução na
Pipecurônio rápida seqüência de entubação, mas foi retirado do uso clínico
um ano depois, devido à freqüente incidência de severo bronco-
É um relaxante muscular não despolarizante com um perfil espasmo e a broncoconstricção irreversível (3,4%) e de relato de
farmacológico clínico muito semelhante ao do pancurônio, mas eventos sérios, especialmente no grupo pediátrico. Este currare
sem os efeitos vagolíticos daquele curare. É uma droga útil em foi introduzido somente nos Estados Unidos, em 1999, sendo
626 cirurgias de longa duração em pacientes com doenças cardiovas- chamada a atenção a rápida aprovação pelo FDA, quando a dro-
cularese em cirurgias cardíacas, especialmente se necessita de ga recém começava a fase clínica de investigação e havia poucos
ventilação mecânica no pós- operatório. Introduzido na clínica em estudos em animais e muito pouco estudos em humanos publi-
1983 (leste da Europa) e no ocidente, nos fins dos anos 80 e na cados na literatura médica.
América Latina, nos anos 90. A despeito da retirada do uso clínico é imperativo que se en-
A sua eliminação mais importante é via renal. tenda o mecanismo da broncoconstricção induzida por este cura-
Não é um curare de boa indicação nos pacientes com insufici- re, para que novos bloqueadores neuromusculares que possam
ência renal, hepática ou falha de múltiplos órgãos. causar este efeito adverso não seja introduzida na prática clínica.
A tendência tem sido usar relaxantes musculares de longa du- O broncoespasmo durante a anestesia geral é um evento po-
ração cada vez menos, devido à menor recurarização no pós-ope- tencialmente mortal. A produção de histamina é um dos fatores
ratório que se obtém com os relaxantes de duração intermediária. conhecidos para o broncoespasmo e tem sido atribuído a outros
curares, como o atracúrio. Um mecanismo adicional que pode fa-
Dose cilitar a broncoconstricção durante o uso de agentes bloqueadores
Entubação: 0,1mg/kg-Início da ação:3,5 minutos. Duração neuromusculares e instrumentação das vias aéreas envolve intera-
clínica da ação: 8-120 minutos. Por sua estabilidade hemodinâ- ção dos agentes bloqueadores neuromusculares com receptores
mica, se tem usado associado à sedação e analgesia contínua muscarínicos nervos da via aérea e musculatura lisa. Instrumen-
em Unidade de Tratamento Intensivo em doses de 3mg/hora tação da traquéia superior bem inervada inicia um reflexo que de-
(0,04mg/k ou 0,66 micrograma/kg/minuto)2. sencadeia na produção de acetilcolina dos nervos parassimpáticos
ArduanR- cada frasco –ampola contém 4mg de brometo de pi- que atuam nos receptores muscarínicos M2 e M3 na musculatura
pecurônio, 6 mg de manitol; cada ampola do diluente contem 2 lisa da via aérea, resultando em broncoconstricção. Normalmente
ml de solução fisiológica a 0,9% a produção de acetilcolina é terminada pela ação da acetilcolina
nos receptores muscarínicos M2 presentes nos terminais pré-
Doxacúrio sinápticos dos nervos pós- ganglionares pós-sinápticos. Agentes
bloqueadores neuromusculares com maior afinidade pelos recep-
É uma relaxante muscular com grande margem de segurança, tores muscarínicos M2 versus M3 pode levar a uma inibição sele-
desde o ponto de vista cardiovascular. Foi introduzida na clínica tiva dos receptores muscarínicos M2 nos nervos parassimpáticos
em 1991. A sua eliminação é principalmente renal em forma não durante a estimulação dos nervos parassimpáticos (exemplo, en-
modificada2. tubação), resultando numa maciça produção de acetilcolina para
atuar nos receptores M3 não antagônicos na musculatura lisa da
Dose via aérea, facilitando o broncoespasmo.
Intubação: 0,05mg/kg. Início da ação: 6 minutos, significati- Em estudo experimental, Jooste e cl evidenciaram que o ra-
vamente maior do que os outros. Duração clínica: 85-125 mi- pacurônio pode precipitar a broncoconstrição pelo antagonismo
nutos (duração total; 120-200 minutos), muito semelhante ao seletivo dos receptores muscarínicos M2 (tem 50 vezes maior
pancurônio.A reversão do bloqueio com uma dose padrão de ne- habilidade para potencializar a contração muscular através do
Capitulo 20 Uso do CURARE

antagonismo dos receptores muscarínicos M2, do que a sua bloqueio neuromuscular induzido pelo rocurônio e vecurônio, ha-
habilidade para inibir a contração através do antagonismo dos vendo uma relação dose-resposta.
receptores muscarínicos M3) nos nervos parassimpáticos, au- Sparr e cl relataram, reversão precoce do bloqueio neuromus-
mentando a produção de acetilcolina par atuar nos receptores cular profundo induzido pelo rocurônio com o uso do sugamma-
M3 muscarínicos antagônicos no músculo da via aérea. dex em um estudo multicêntrico (98 pacientes adultos do sexo
É bem provável que a próxima geração de agentes bloqueado- masculino foram randomizados para receber sugammadex nas
res neuromusculares para substituir a succinilcolina tem afinida- doses de 1,2, 4,6 ou 8mg/kg ou placebo 3, 5 ou 15 minutos após
de para os receptores muscarínicos. No entanto, a maior afini- o uso do rocurônio na dose de 0,6mg/kg). O tempo de recupera-
dade do rapacurônio pelos receptores muscarínicos M2 versus ção após 3, 5 e 15 minutos do bloqueio com o uso do placebo
M3 é o responsável pela broncoespasmo, parece então prudente caiu de 52,1, 51,7 e 36,6 minutos respectivamente para 1,8, 1,3
que estes novos agentes seja avaliados para o seu potencial em e 1,4 com o uso do sugammadex na dose de 8mg/kg. O sugam-
inibir seletivamente os receptores muscarínicos M2 nas concen- madex foi seguro e bem tolerado. Assim, reverteu de forma rápi-
trações usadas na clínica. da o bloqueio neuromuscular profundo induzido pelo rocurônio,
Associado a este mecanismo, Stuth especula que a direta estimu- além de aumentar a excreção renal do rocurônio.
lação vagal através da manipulação da via aérea é uma importante No estudo de Shields e cl, a dose de sugammadex para rever-
causa do broncoespasmo. Este mecanismo poderia aumentar pro- ter efetivamente o bloqueio profundo e prolongado pelo rocurônio
fundamente o efeito do bloqueio do receptor M2 pelo rapacurônio. esteve entre 2 e 4mg/kg.
RaplonR – Brometo de rapacurônio – o fabricante retirou do Organon, a unidade de negócios de saúde humana da Akzo
mercado devido a possível associação com eventos de bronco- Nobel, anunciou que a solicitação de autorização para comercia-
espasmo (ANVISA). lização de Sugammadex (Org 25 969 - nome comercial: Bridion®
- 100mg/ml) foi aceita para revisão da Agência Européia de Medi-
Reversão Do Bloqueio Neuromuscular: Seletiva camentos (EMEA). Este novo agente destina-se especificamente
Ligação Com O Agente Relaxante a reverter os efeitos do relaxante muscular - brometo de rocurô-
nio (Esmeron®/Zemuron®) - utilizado em anestesia geral durante
Pacientes que recebem bloqueadores neuromusculares po- procedimentos cirúrgicos. Sugammadex age ao encapsular a mo-
dem apresentar risco de bloqueio residual, contribuindo para o lécula do relaxante muscular, removendo a droga de seu local de
desenvolvimento de complicações pulmonares pós- operatórias ação, deixando-a inativa. A reversão do bloqueio neuromuscular
e aumento da morbimortalidade pós-operatória. é utilizada para reduzir o risco de uma recorrência de “relaxa-
Há varias formas de reduzir o risco do desenvolvimento do blo- mento” no paciente, o que pode acarretar complicações graves,
queio residual quando se usa agentes neuromusculares não des- tais como fraqueza muscular e dificuldade de respiração (20 de
polarixantes. Uma forma é esperar a recuperação espontânea julho de 2007).
do bloqueio combinado com a avaliação clínica da recuperação
da função neuromuscular. No entanto os testes clínicos não têm Interação Dos Bloqueadores 627
sido mostrados ser muito úteis aos anestesistas nesta avaliação. Neuromusculares Com Drogas
Outra forma seria o uso a aceleração da recuperação através
da reversão farmacológica do bloqueio neuromuscular, como o Várias drogas e fatores metabólicos podem influenciar a respos-
uso de anticolinesterases, como a neostigmina e o edrofônio. ta dos RN aos agentes bloqueadores não despolarizantes, como
No entanto, estes agentes podem causar eventos colinérgicos o magnésio (Mg) e os aminoglicosídeos. Estes agentes competem
adversos (cardiovasculares e gastrintestinais), além de não se- com o movimento de cálcio pré-juncional para o axônio terminal
rem efetivos quando administrados durante profundo bloqueio. que é necessário para a produção da acetilcolina. O Mg e os anti-
Assim, torna-se importante a necessidade de novos agentes para bióticos podem diminuir a produção de acetilcolina. É improvável
a reversão do bloqueio neuromuscular,com início rápido de ação, que estas drogas causem significante bloqueio neuromuscular,
com melhor eficácia e segurança. mas podem prolongar as ações dos bloqueadores neuromuscula-
O sugammadex é uma nova gama ciclodextrina solúvel em água res ou piorar a fraqueza muscular causada por várias doenças.
e o primeiro da nossa classe de agentes com seletiva ligação com o Além do cálcio antagonizar este efeito no laboratório, tem efeito
relaxante, encapsulando rapidamente o bloqueador neuromuscu- clinico imprevisível. Em adultos, tem sido relatado paralisia respi-
lar não despolarizante esteroidal, mais especificamente o rocurô- ratória com o uso de gentamicina e tem sido tratado com cálcio ou
nio, prevenindo assim a sua atuação nos receptores de acetilcoli- inibidores da colinesterase, como a neostigmina
na. Os estudos em animais têm evidenciado que o sugammadex Assim, vários fatores metabólicos e drogas podem influenciar
reverte rapidamente, in vitro, o bloqueio neuromuscular, incluindo a resposta dos RN aos agentes bloqueadores neuromusculares
o bloqueio profundo, além de aumentar a excreção renal do ro- não despolarizantes. A hipotermia aumenta o bloqueio, devido à
curônio. Quanto à reversão do bloqueio do vecurônio, espera-se diminuição da excreção urinária e biliar; a acidose aumenta o blo-
que o sugammadex seja igualmente efetiva devido à semelhança queio e a alcalose antagoniza o bloqueio, ambas condições por
farmacológica com o vecurônio e com o rocurônio. um efeito direto na membrana e transmissão neuromuscular; a
Com o propósito de avaliar a eficácia do sugammadex, Suy e hipermagnesemia, como citamos, aumenta o bloqueio (competi-
clrandomizaram 80 pacientes adultos para receber vecurônio ou ção com o movimento do cálcio para o axônio terminal, inibindo a
rocurônio; a dose de sugammadex ou placebo foi escolhida de produção de acetilcolina), assim como a hipocalemia (efeito dire-
maneira exploratória; iniciou com 1mg/kg, sendo a dose repetida to no potencial de membrana e transmissão neuromuscular); di-
após avaliação clínica, A nédia de recuperação para o rocurônio minuição do fluxo sanguíneo muscular atrasa início do bloqueio e
foi de 31,8min no grupo placebo, comparado com 1,1 min após a prolonga o bloqueio após ter sido estabelecido, devido à diminui-
administração de 4,0mg/kg de sugammadex; para o vecurônio, ção da droga ao músculo e diminuição da retirada da mesma; in-
o tempo de recuperação no grupo controle (recuperação espon- suficiência renal prolonga o bloqueio, na dependência da droga,
tânea) foi de 48,8 min versus 1,4 min após 8mg/kg de sugam- devido à diminuição do ritmo de filtração glomerular, retardando
madex. O sugammadex foi bem tolerado. Os atores concluem, a excreção; miastenia gravis aumenta o bloqueio, devido ao efei-
neste estudo fase II, que o sugammadex rapidamente reverte o to sinérgico com a transmissão neuromuscular defeituosa; dro-
gas, como aminoglicosídeos e polimixina aumentam o bloqueio

Paulo R. Margotto
Assistência ao Recém-Nascido de Risco

devido à inibição da produção da acetilcolina. A difenilhidantoína • Via de eliminação alternativa: sem dependência da fun-
diminui a produção de acetilcolina e a furosemide aumenta a sua ção hepática e renal para a sua eliminação
produção. A metroclopramida deprime a atividade da colineste- • Seletividade de ação: ausência de efeitos cardiovascula-
rase e prolonga a duração do bloqueio neuromuscular. Portanto, res (hemodinâmicos e autonômicos)
a probabilidade das interações clínicas aumenta nos pacientes • Sem interação com outros fármacos usados na anestesia
recebendo várias drogas com possíveis efeitos na transmissão • Resposta dose-efeito altamente previsível
neuromuscular contração muscular. • Reversão rápida com anticolinesterásicos e se possível,
Dotan e cl demonstraram que o efeito do vecurônio aumenta espontânea, tanto administrado em
com o uso de maiores doses de gentamicina (4mg/kg); modesto • Forma de bolus como em infusão.
aumento ocorreu com dose de 1,2mg/kg em relação aos pacien- • Alta potência para minimizar os efeitos colaterais 9difícil
tes sem uso de gentamicina. compatibilizar isto com um curto
A associação do vecurônio com altas doses de opiáceos pode • Início da ação
desencadear bradicardia severa e inclusive assistolia (há uma • Estável em solução aquosa.
adequada e rápida resposta à atropina)2. O uso de corticosterói-
de concomitantemente com o vecurônio pode prolongar o efeito Nenhum dos relaxantes musculares na atualidade cumpre to-
da ação curarizante, devido à inibição aditiva dos receptores de das estas exigências, de tal modo que está justificado prosseguir
acetilcolina nicotínicos. Assim, o aumento do bloqueio neuromus- na busca de novos agentes, ainda que seja pouco provável a sua
cular produzido quando é usado corticosteróide juntamente com comercialização em curto prazo. Todos os compostos que estão
o vecurônio pode aumentar a denervação farmacológica e contri- sendo estudados tendem a substituir a succinilcolina.
bui, do ponto de vista fisiopatológico, a fraqueza observada em A atenção está voltada para os compostos com propriedade de
alguns pacientes críticos na UTI. relaxante muscular nos derivados dos ésteres do ácido clorofu-
marínico e os derivados do tropinil diéster. O composto mais pro-
Novos Relaxantes Musculares missor do primeiro grupo parece ser o clorofumarato assimétrico
e o mais estudado do segundo grupo é o sal de amônio biquater-
Os relaxantes musculares têm melhorado enormemente a sua nário de tropinil diéster. Já estão sendo estudados em animais de
segurança de tal modo que se torna difícil o aparecimento de no- experimentação e alguns já testados em humanos.
vas drogas, pois as novas devem ter as boas características dos Segundo Almeida, gantracúrio é uma nova classe de bloquea-
seus predecessores e aportar algo mais. dores neuromusculares chamada de clorofumarato, rapidamente
À medida que se tem melhorado a margem de segurança cardio- inativado por cisteínas plasmáticas, resultando em um fármaco de
vascular e metabólico dos bloqueadores neuromusculares, tem au- rápido início da ação com uma duração ultracurta. O tempo para
mentado exigências que devem caracterizar um relaxante muscular: atingir 90% do bloqueio é 122 a 54 segundos na dependência da
dose administrada. A duração é igualmente muito curta, em torno
628 • Mecanismo de ação não despolarizante de 3,5 a 10 minutos. Em animais de laboratório, a reversão é facil-
• Início de ação tão rápido que compete com a succinilcoli- mente obtida com a injeção de cisteína e em seres humanos, foi
na na instauração de boas acelerada com o uso do edrofônio. Estudos animais e no homem,
• Condições para a entubação a injeção da droga não mostrou efeitos colaterais significantes. O
• Curta duração do efeito: altamente metabolizado para aumento discreto da frequência cardiaca e a diminuição da pres-
que não ocorra efeito acumulativo são arterial ocorreram com doses muito elevadas.

Liberação
Duração Efeitos
Dose Inicio de Eliminação Indicação Duração Total
Clínica Cardiovasculares
Histamina

0,15 Intervenção cirúrgica de


Pancurônio 3 - 4' 60 - 80' ↑ FC e PA Hepática renal 120 - 160'
mg/Kg longa duração

0,1 35 -
Vecurônio 2,5' Não hepática Cirurgia Cardíaca 60 - 75'
mg/Kg 45 '

Sim pela libera- Múltiplas vias


0,5 Em paciente com insufici-
Atracúrio 2,5' 50' Sim ção de histamina (Eliminação de 80'
mg/Kg ência renal ou hepática
(↑ FC↓PA) Hoffmann)

Sim pela libera- hidrolise pela


0,2 mg/ Intervenção de curta
Mivacúrio 2,5' 20' Sim ção de histamina colisterase 30'
Kg duração
(↑ FC↓PA plasmática

Indução em sequência
0,6 mg/
Rocurônio* 1,5' 40' Não Não Hepática rápida se a succinilcolina 70'
Kg
estive contra- indicada

Múltiplas vias
Cisatra- 0,1 mg/ Em paciente com insufici-
5,2' 33 - 45' Não Não (Eliminação de 70'
cúrio Kg ência renal ou hepática
Hoffmann)
Capitulo 20 Uso do CURARE

Intervenção cirúrgica de
0,1 80 -
Pipecurônio 3,5' Não Não Renal longa duração paciente 2 - 3 horas
mg/Kg 120'
cardiovasculares

0,05 85 - Cirurgia Cardíaca de longa 120 - 200


Doxacúrio 6' Não Não Renal
mg/Kg 125' duração min

hidrólise pela
Succi- 4-5
0,5-1´ 5-10` Não Bradicardia Acetilcolineste- Entubação de urgência
nilcolina mg IM
rase plasmática

Resumo

Em resumo, a introdução dos bloqueadores neuromusculares • Cisatracúrio: É Mais Potente Que O Atracúrio E Apresenta
revolucionou a prática na medicina, ocorrendo uma redefinição Grande Margem De Segurança Cardiovascular E Metabóli-
na anestesia. Entre as indicações do seu uso na neonatologia, ca, Com A Vantagem De Leve Liberação De Histamina, Sen-
a evidência mostra eficácia do seu uso nos recém-nascidos que do Indicado Para Pacientes Com Patologia Cardiovascular.
“brigam” com o ventilador (assincronia) na diminuição da hemor- • Pipecurônio: Semelhante Ao Pancurônio, No Entanto,
ragia intraventricular e a experiência mostra, no pós-operatório, a Carece De Efeitos Vagolíticos Do Pancurônio, Sendo Indi-
redução da rotura da sutura nos recém-nascidos com atresia de cado Em Cirurgias De Longa Duração Em Pacientes Com
esôfago, sem efeitos adversos. Os relaxantes musculares diferem Patologia Cardiovascular.
no mecanismo de ação, havendo 2 tipos: despolarizantes (succi- • Doxacúrio: Semelhante Ao Pipecurônio, Com A Vantagem
nilcolina) e os não despolarizantes (pancurônio, vecurônio, atracú- De Apresentar Efeitos Cardiovasculares Do Pancurônio E
rio, cisatracúrio, rocurônio, doxacúrio,pipecurônio, mivacúrio). Os Tem As Mesmas Indicações Do Pancurônio (Intervenção
efeitos adversos, agravados com a interação com outras drogas Cirúrgica De Longa Duração).
devem ser reconhecidos, para a otimização do uso dos curares. • Rapacurônio: Devido Causar Grave Broncoespasmo E Bron-
Os curares despolarizantes (succinilcolina) tem sido usados coconstrição Irreversível, Foi Retirado Da Prática Clínica.
para a seqüência rápida deentubação, embora na neonatologia,
tem sido proposta mais atualmente outras drogas, como o pro- A reversão do efeito dos relaxantes musculares é importante
pofol, devido à ocorrência de bradicardia devido ao seu antago- para evitar o risco do desenvolvimento do bloqueio residual. As- 629
nismo com os receptores colinérgicos. Nesta situação, o uso de sim, torna-se importante a necessidade de novos agentes para
atropina se impõe. Devido a sua rápida ação, a succinilcolina tem reverter o bloqueio neuromuscular, com início rápido de ação
sido também usada na reversão do laringoespasmo, especial- com melhor eficácia e segurança do que os anticolinesterási-
mente quando não se dispõe de um acesso venoso. cos, como a neostigmina (causa eventos colinérgicos adversos,
A necessidade de melhorar a margem de segurança cardiovas- cardiovasculares e gastrintestinais, além de serem inefetivos
cular e metabólica dos bloqueadores neuromusculares implicou quando administrados durante bloqueio profundo). Entre estes
no surgimento de novos agentes não despolarizantes. Torna-se agentes, o Sugammadex, uma gama-ciclodestrina, após estu-
importante o conhecimento da farmacodiâmica e farmacociné- dos de fase III, tem-se mostrado efetivo na reversão do bloqueio
tica destes agentes para que seja usado o relaxante muscular neuromuscular. O Sugammadex (inclusive a Agência Européia de
melhor indicado. O relaxante muscular ideal é aquele que apre- Medicamentos- EMEA aceitou a solicitação para a sua comerciali-
senta início da ação rápido e que apresenta curta duração do zação em julho de 2007) se liga seletivamente ao relaxante mus-
efeito, via de eliminação independente do fígado e do rim, au- cular, encapsulando-o, mais especificamente com o rocurônio e
sência de efeitos cardiovasculares e que tenha rápida reversão mais recentemente com o vecurônio.
com anticolinesterásicos e se possível, espontânea. Nenhum dos Na busca do bloqueador neuromuscular ideal (todos os com-
agentes bloqueadores neuromusculares da atualidade cumprem postos que estão sendo estudados tendem a substituir a succi-
totalmente estas exigências. Entre os curares não despolarizan- nilcolina) a atenção está voltada para os derivados dos ésteres
tes em uso temos: do ácido clorofumarínico e o composto mais promissor parece
ser o clorofumarato (gantracúrio). Este agente tem início rápido
• Vecurônio: Melhor Do Ponto De Vista Químico Do Que O de ação (122 a 54 segundos) com uma duração ultracurta (3,5
• Pancurônio; É Desprovido De Efeitos Cardiovasculares Do a 10 minutos) e não apresentou efeitos colaterais significantes;
Pancurônio (Este Leva A Taquicardia E A Hipertensão Arterial). a reversão foi acelerada em animais com o uso de cisteína e em
• Atracúrio: Tem A Vantagem Da Sua Eliminação Por Um humanos, com o uso do edrofônio.
Processo Independente Do Fígado E Do Rim (Eliminação-
De Hoffmann), Sendo O Curare De Eleição Para Pacien- Referências
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Capítulo 21

Administração de
Medicamentos
Assistência ao Recém-Nascido de Risco

ADMINISTRAÇÃO DE MEDICAMENTOS NO RECÉM-NASCIDO


PRINCÍPIOS DE ADMINISTRAÇÃO DE MEDICAMENTOS

PRINCIPAIS MEDICAMENTOS EM NEONATOLOGIA

Kátia Rodrigues Menezes, Renilde Tavares,


Vicência Soares de Almeida

A administração de medicamentos objetiva liberar quantida- condições fisiopatológicas. Tais condições podem fazer o mús-
des adequadas de fármacos no organismo, bem como permitir culo ou o tecido subcutâneo atuarem como reservatórios numa
que os mesmos permaneçam ali até atingir sua finalidade. A res- situação de baixo fluxo sanguíneo. Ao contrário, numa situação
posta terapêutica depende de vários fatores, dentre os quais se de aceleração do fluxo, a absorção pode tornar-se súbita e im-
destacam as características físico-químicas da droga e as condi- previsível. Segundo Katzung (1994), os anticonvulsivantes e os
ções fisiopatológicas dos usuários. aminoglicosídios são exemplos de drogas perigosas ao serem
As variáveis relativas às condições dos usuários são: diferen- administradas por estas vias nos neonatos.
ças genéticas, idade, sexo, composição corporal, taxa metabó- Após a absorção, a droga é transportada pela circulação san-
lica, doenças, aspectos psicológicos. A atenção dos fatores in- guínea até os sítios de ação, seja livremente no sangue ou liga-
trínsecos dos neonatos está voltada à superfície corpórea, bem das a proteínas plasmáticas. Esta é a fase de distribuição das
como ao metabolismo, além da presença de co-morbidades ou drogas e sofre constante influência da composição corporal, a
doenças de base do neonato. Tais fatores são analisados desde qual no recém-nascido se modifica constantemente. A primeira
a escolha da via de administração até a excreção do fármaco. variável se refere à quantidade de água, uma vez que no pre-
As doses devem ser ajustadas para se adequarem ao desen- maturo há aproximadamente 80% de seu peso representado por
volvimento do recém-nascido. Para isso, o conhecimento dos água, enquanto no neonato a termo este percentual gira em tor-
princípios farmacocinéticos e farmacodinâmicos torna-se im- no de 70%. Isto significa dizer que as drogas cuja distribuição
prescindível. Aliado a esse conhecimento, há que se considerar acontece através da água extracelular serão direcionadas rapi-
as modificações fisiológicas que o lactente passa, especialmente damente para seus sítios de ação.
nas primeiras semanas de vida. Também a percentagem de gordura no corpo do recém-nascido
exerce papel importante nesta fase. No neonato a termo, 15% de seu
Especificidades da Farmacologia peso corresponde a gordura, enquanto no prematuro esta percenta-
em Neonatologia gem é de apenas 1%. Por isso, as drogas lipossolúveis não são ade-
632 quadamente armazenadas, podendo ser mais tóxicas no prematuro.
Ao optar por determinada via de administração, é necessário Outro ponto que influencia é a ligação das drogas a proteínas
ponderar sobre características dos neonatos passíveis de inter- plasmáticas, pois no geral estas últimas estão diminuídas no recém-
ferência, como por exemplo, massa muscular, fluxo de sangue no nascido. Esta situação é ocasionada pela baixa concentração das
local escolhido, estado fisiológico do lactente e função gástrica. proteínas plasmáticas, baixa capacidade de ligação destas, bem
Definida como a passagem do medicamento do local de admi- como pela diminuição de sua afinidade às drogas. Como resultan-
nistração até a corrente sanguínea. Com exceção da via endove- te, há maior concentração das drogas cujo transporte depende das
nosa, todas as outras passam pela fase de absorção das drogas proteínas plasmáticas, gerando maior efeito ou toxicidade. Além dis-
que em neonatologia tem particularidades e acontece de formas so, algumas drogas competem com as proteínas plasmáticas pelos
diferentes nos vários sistemas do organismo do neonato. A absor- sítios de ação podendo diminuir o efeito da droga ou aumentá-lo,
ção da via tópica é eficaz, pois no bebê o extrato córneo não está dependendo das condições fisiológicas do bebê.
completo e por isso favorece maior absorção. Além disso, por ter Após ser distribuída, a droga será metabolizada através de pro-
maior quantidade de água em sua composição corporal, a pele é cessos químicos ocorridos, em sua maioria, no fígado pela ação das
mais hidratada, auxiliando na absorção de drogas hidrossolúveis. enzimas hepáticas. O fígado do recém-nascido produz os diversos
Entretanto, deve-se atentar para o fato do recém-nascido ter maior sistemas enzimáticos, mas de forma reduzida e seu desenvolvi-
propensão para desidratação por perdas sensíveis ou insensíveis. mento se dá num ritmo próprio e não homogêneo. Por isto, muitas
A via oral é muito utilizada e enfrenta dificuldades desde a apre- drogas têm depurações lentas e meias-vidas prolongadas no orga-
sentação dos medicamentos, que geralmente é muito grande, di- nismo do neonato. Esta condição pode ser agravada na presença de
ficultando a deglutição. Além disso, os neonatos têm maior tempo disfunções hepáticas por prematuridade ou condições patológicas.
de esvaziamento gástrico, pH gástrico alto, liberação lenta do suco O efeito terapêutico acontece e gera resíduos da droga os quais
gástrico e ineficiência de enzimas gástricas. Tais fatores interferem devem ser excretados pelo organismo. Esta fase pode acontecer
na absorção de drogas que dependem dos componentes gástricos através do trato gastrintestinal, da bile, do trato respiratório, da pele
por acontecerem mais lentamente, mas também podem acelerar e principalmente dos rins. Devido à sua importância, a taxa de fil-
a absorção de drogas as quais seriam inativadas pelo suco gás- tração glomerular influencia sobremaneira na excreção das drogas.
trico. Relacionado à função intestinal, além do peristaltismo irre- No recém-nascido a termo, a taxa glomerular corresponde a 30
gular, os neonatos apresentam deficiência de algumas enzimas – 40% do adulto enquanto o prematuro tem apenas 15%, espe-
hidrolíticas intestinais. Isto torna a absorção intestinal imprevisível, cialmente aqueles com idade gestacional menor que 34 semanas.
podendo retardar o efeito terapêutico desejado. Outra característi- Durante a primeira semana de vida a taxa glomerular sofre ele-
ca diz respeito às baixas concentrações de ácidos biliares e lípase, vação atingindo o percentual de 50 a 60% da taxa adulta após a
diminuindo a absorção das drogas lipossolúveis. terceira semana e iguala-se aos valores do adulto entre 6 e 12 me-
Concernente à via intramuscular ou subcutânea, os principais ses de vida. Devido a esta imaturidade, as drogas cuja eliminação
fatores interferentes são a composição corporal, pois a massa depende da função renal são depuradas lentamente nas primeiras
muscular e a quantidade de tecido subcutâneo no prematuro são semanas de vida, podendo sobrecarregar o sistema renal ou cau-
baixas, e o fluxo sanguíneo, cuja velocidade pode ser alterada por sar maior toxicidade dependendo dos ajustes das doses.
Capitulo 21 Administração de Medicamentos

Vias de Administração de Administração Administração


Medicamentos em Neonatologia Administração oral
enteral retal
Líquidas:
A administração de medicamentos é entendida como um cuida- Soluções Sólidas:
do de enfermagem e está na categoria de cuidados dependentes, Xaropes Pós
por estar subordinado à prescrição da terapia medicamentosa pelos Elixires Granula-
médicos. Seu caráter multiprofissional inclui a equipe de farmácia, Líquidas:
Colutórios dos
concernente ao armazenamento e dispensação dos medicamentos. Soluções Líquidas:
Banhos de boca Cápsulas
Dependendo do tempo de ação pretendida, do tipo de formulação Xaropes Enema
e garganta gelatino-
química e das condições do cliente, os medicamentos podem ser ad- Elixires Sólidas:
Suspensões sas duras
ministrados de várias formas. As principais categorias de administra- Suspensões Supositórios
Emulsões Cápsulas
ção de medicamentos são: via percutânea, via enteral e via parenteral. Emulsões Cápsulas retais
Tinturas moles
Tinturas
Alcoolaturas Comprimi-
Via Percutânea Alcoolatos dos
Chás Pastilhas
A via percutânea compreende a aplicação de medicamentos Extratos fluidos
na pele e em mucosas. Com ação normalmente de curta dura-
ção, sua importância reside no fato de ter efeito local, reduzindo,
assim, as chances de reações colaterais sistêmicos. Como des- Tabela 2 – Fórmulas farmacêuticas para administração por via enteral.
vantagem, apresenta a necessidade de reaplicações frequentes.
As formas farmacêuticas utilizadas nesta via de administração Amplamente conhecida e utilizada, a via oral utiliza a admi-
de medicamentos estão explicitadas na tabela a seguir. nistração direta na boca, sendo considerada a mais fácil e os
medicamentos utilizados geralmente têm custos abaixo de ou-
Aplicação tras apresentações, como as drogas parenterais, por exemplo. A
Aplicação Aplicação Aplicação desvantagem desta via está em sofrer o efeito de primeira pas-
Nasal ou
Tópica Oftálmica Vaginal sagem, o qual ocorre durante o metabolismo da droga no fígado.
Pulmonar
Líquidas: Além disso, sofre interferência da alimentação, da ação de enzi-
Líquidas: mas gástricas e até mesmo de atividade física.
Tinturas
Soluções Quando o paciente não consegue deglutir, a via enteral se
Soluções
Líquidas: Aerossóis dá por sondagem gástrica por técnica de sondagem orogástri-
tópicas
Suspensões Semi-sólidas: ca ou nasogástrica ou nasoenteral. Outra situação comumente
Loções Líquidas:
Soluções Pomadas encontrada em Unidades de Terapia Intensiva Neonatal é o uso
Emulsões Soluções
Aerossóis
Linimentos Semi-sólidas:
Géis de sondagem para drenagem; neste caso, o recurso utilizado é 633
Semi-sólidas: Sólidas: também as sondagens já descritas com a particularidade de que
Semi-sólidas: Pomadas
Pomadas Pós durante os trinta minutos que sucedem a administração do me-
Pomadas
Sólidas: Óvulos vagi- dicamento, a sonda deve ser mantida fechada a fim de favorecer
Géis
Pós nais a absorção da droga. Outra particularidade da administração de
Pastas
Comprimidos medicamentos por sondagens é a necessidade de que, após o
Sólidas:
vaginais procedimento, seja introduzida água pela sonda, pois este é o
Pós
veículo mais indicado para ingestão de drogas, além de represen-
tar prevenção de obstruções na sonda e por conseqüência nova
Fórmulas farmacêuticas para administração por via percutânea. técnica de sondagem, muitas vezes desconfortável.
A via retal, como discutido anteriormente, apresenta maior ve-
Medicamentos tópicos devem ser aplicados na pele com téc- locidade de absorção por se tratar de uma mucosa e tem a van-
nica de pincelamento ou espalhando-se o medicamento sobre a tagem de evitar o efeito de primeira passagem. Entretanto, varia
área. Também se utiliza a técnica de aspersão através de banhos de acordo com o produto da droga, das condições esfincterianas
ou molhando partes do corpo com a solução prescrita. do paciente e da presença de material fecal.
Caracterizadas pela presença de muitos capilares sanguíneos,
as mucosas representam uma via de administração cuja absor- Via Parenteral
ção é mais acelerada que na pele. Por não passar pelo efeito de
primeira passagem (no fígado), tem rápida absorção e pode até Definida como qualquer outra via de administração que não
mesmo apresentar efeitos sistêmicos, dependendo da concen- tópica ou enteral, a via parenteral inclui métodos invasivos, os
tração da droga. As diversas membranas apresentam condições quais exigem técnicas específicas e preparo técnico do profissio-
específicas, possuindo seletividade diferenciada aos medica- nal. Possui a vantagem de melhor absorção, pois além de ter efei-
mentos, além de possuírem sensibilidade diferente entre elas. to sistêmico, não sofre ação das enzimas gástricas nem o efeito
As principais mucosas utilizadas nesta via são: sublingual, nasal, de primeira passagem. Por isso, o início dos efeitos se dá mais
ocular, auricular, vaginal e anal. Dentre estas, as mucosas ocular rapidamente, necessitando de doses geralmente menores, po-
e nasal são consideradas mais sensíveis que as demais. rém representam maior custo.
Fazem parte da via parenteral as vias intradérmica, subcutânea,
Via Enteral intramuscular e intravenosa, também chamada de endovenosa.
Todas utilizam como instrumento a seringa e agulha ou outros dis-
Nesta categoria inclui-se a administração de medicamentos positivos como no caso de infusão contínua do medicamento. A
por via oral, nasogástrica e retal, sendo esta última considerada escolha do equipamento a ser utilizado leva em consideração a
por algumas literaturas também como método de administração via prescrita, o volume, bem como a constituição física do cliente.
por via percutânea. A tabela 2 apresenta as principais formas Os medicamentos para administração parenteral podem ser
farmacêuticas utilizadas nesta via.

Paulo R. Margotto
Assistência ao Recém-Nascido de Risco

apresentados na forma líquida ou em pó, sendo embalados em são divididos em dispositivos para acesso venoso central e para
recipientes estéreis. Quando em forma de pó, o medicamento deve acesso venoso periférico. Dentre os usados em acessos perifé-
ser reconstituído à forma líquida através de adição de solvente. Os ricos, destacam-se a seringa com agulha e o cateter sobre agu-
solventes mais comuns são a água destilada e a solução fisiológica lha, também conhecido como cateter venoso periférico curto. Há
a 0,9%, porém alguns medicamentos requerem soluções próprias também a possibilidade de acesso venoso periférico através de
e cabe ao fabricante a indicação do diluente a ser empregado na dispositivo intravenoso tipo agulha de aço (conhecido como “es-
técnica. Muitas vezes faz-se necessário um volume maior do que calpe” ou “butterfly”), porém seu uso vem sendo diminuído, pois
aquele resultante da reconstituição. Nestes casos, é preciso diluir o material utilizado sofre oxidação quando em contato com o san-
a solução, ou seja, diminuir a concentração da solução mediante gue e é indicado para punções que permaneçam até 24 horas.
adição de mais solvente. A seguir apresentamos na tabela 3 as Há várias possibilidades infusionais na terapia intravenosa e a
principais características de cada tipo de via parenteral. escolha delas dependerá do tempo em que o acesso venoso será
necessário, indicação, tipo de solução e condições e localização
Características e locais Volume de Ângulo da das veias. Cada possibilidade de infusão recebe uma nomencla-
de aplicação solução agulha tura específica a saber:
Derme (local de pouca
vascularização). Partes • Bolus – administração endovenosa realizada em tempo
do corpo onde a pilosi- menor ou igual a 1 minuto através de seringa.
Via dade e pigmentação são 0,1 a • Infusão rápida – administração endovenosa realizada
15º em tempo entre 1 e 30 minutos. Em todos os casos de
Intradérmica menores: face ventral 0,5 mL
do antebraço, parte su- infusões com tempo superior a 10 minutos, deve-se usar
perior do tórax e região bureta graduada.
escapular. • Infusão lenta – administração endovenosa realizada em
tempo entre 30 e 60 minutos.
Tecido subcutâneo (indi-
• Infusão contínua – administração endovenosa realizada
cada para medicamen-
em tempo superior a 60 minutos, ininterruptamente.
tos que precisam ser
• Infusão intermitente – administração endovenosa não
absorvidos lentamente).
contínua. Pode ser administrada em tempo superior a 60
Via Partes do corpo com 0,5 a Entre
minutos, bem como pode ser realizado em acesso veno-
Subcutânea fácil acesso e razoável 1,5 mL 45 e 90º
so salinizado.
volume subcutâneo:
braço, face anterior e
É importante salientar que ao infundir soluções por via endove-
externa das coxas, ab-
nosa, deve-se observar a osmolaridade e o pH da solução, bem
dome, região escapular.
634 como a interação das medicações administradas concomitan-
Camada muscular
temente. Outro fator importante diz respeito à necessidade de
(maior absorção compa-
reconstituição de medicamentos endovenosos sob a forma de
rada às vias intradér-
pós, bem como de diluição (mesmo de medicamentos líquidos).
mica e subcutânea por
Nestes casos, deve-se lançar mão de solventes, sendo os mais
ser uma região bem
45 a 90º usados em neonatologia a água destilada, solução fisiológica
vascularizada). Partes
Deve-se 0,9% e solução glicosada 5%. Vale lembrar ainda que muitos
do corpo onde a massa
Via observar fármacos podem ser diluídos também em solução de ringer e⁄ou
muscular seja suficiente 0,5 a
Intra o volume ringer lactato. Entretanto, em neonatologia o uso tanto do ringer
para reter e absorver 2 mL
muscular muscular simples quanto do ringer lactato é prejudicial, uma vez que estas
o medicamento, estar
do soluções podem afetar sobremaneira no equilíbrio hidreletrolítico
afastado de nervos e va-
lactente dos neonatos, especialmente nos prematuros. Tais observações
sos sanguíneos, ser de
concorrem para a boa prática de administração intravenosa de
fácil acesso. Nos lacten-
medicações, evitando iatrogenias. A seguir, as tabelas 4 e 5 apre-
tes as regiões indicadas
sentam algumas características das medicações administradas
são: ventro-glútea e face
por via endovenosa mais comuns em neonatologia.
ântero-lateral da coxa.

Tabela 3 – Principais caracterí sticas das vias


de administração parenteral de medicamentos

Via Endovenosa ou Intravenosa

Esta é a via mais comum durante internações hospitalares,


possibilitando a administração de soluções diretamente na
corrente sanguínea. Pode ser feita por acesso venoso central
ou acesso venoso periférico, sendo este último o acesso reco-
mendado para recém-nascidos com estabilidade hemodinâmica
e respiratória. Apresenta as vantagens de permitir infusão de
quantidades maiores de soluções e absorção imediata. Os medi-
camentos usados em terapias intravenosas variam em volume e
concentrações e estão disponíveis em ampolas, frascos, bolsas
com grande volume e etc.
Os equipamentos para puncionar veias e mantê-las viáveis
Capitulo 21 Administração de Medicamentos

Tipo De Administração Endovenosa


Nome Genérico Grupo Farmacológico Nomes Comerciais
E Tempo De Infusão
Zovirax® Endovenosa lenta
Aciclovir Antivirótico
Aciclovir® Administração em bomba de infusão durante 1 hora
Albumina humana® Endovenosa lenta e intermitente
Albumina humana Hemoderivado
Albumina® Administração em bomba de infusão durante 1 hora
Endovenosa lenta
Novamin®
Amicacina Antibiótico (aminoglicosídeo) Administração em bomba de infusão durante 30
minutos
Aminofilina®
Aminofilina Broncodilatador Endovenosa rápida em 15 minutos
Hyfilina®
Endovenosa lenta (dose de ataque) ou contínua (dose
Atlansil® de manutenção)
Amiodarona Antiarrítmico Miodaron® Tempo dependente do fabricante, mas no geral: dose
Ancoron® de ataque = 30 minutos em bomba de infusão. Dose
de manutenção = até 24 horas em bomba de infusão
Amoxacilina e Clavu- Antibiótico
Clavulin IV® Endovenosa rápida em 3 a 5 minutos
lonato de Potássio (betalactâmico)
Ampicil®
Antibiótico
Ampicilina Ampicilina® Endovenosa rápida em 15 a 30 minutos
(penicilina semi-sintética)
Ampifar®
Antibiótico
Ampicilina+ Unasyn®
(penicilina semi-sintética + Endovenosa rápida em 15 a 30 minutos
Sulbactan Combactan®
inibidor de betalactamases)
Ambisome®
Anfotericina B antifúngico poliênico Endovenosa lenta em 2 a 6 horas
Fungizon
Anfotericina B
antifúngico poliênico Abelcet® Endovenosa lenta em 2 horas
lipossomal
Antiarrítmico, antiespasmó- Atropina®
Atropina Endovenosa em bolus
dico, broncodilatador Hytropin®
Endovenosa rápida em 3 a 5 minutos. 635
Azactan®
Aztreonam Antibiótico (monobactâmico) Infusão lenta (deve ser reconstituído e diluído): de 20
Azeus®
a 60 minutos
Benzil Penicilina G Antibiótico (penicilina, bacte-
Megapen® Endovenosa rápida em 15 a 30 minutos
Cristalina ricida de espectro limitado)
Bicarbonato de sódio Antiácido Endovenosa direta (rápida): 3 minutos
Bicarbonato de sódio 8,4%
8,4% Agente alcalinizador Endovenosa lenta: 4 a 8 horas
Antibiótico Cefalot®
Cefalotina (cefalosporina de 1ª gera- Cefalotina® Endovenosa em bolus ou lenta (em 30 minutos)
ção) Keflin®
Antibiótico (cefalosporina de Cefazolin® Cefazolina
Cefazolina Endovenosa em bolus ou lenta (em 30 a 60 minutos)
1ª geração) sódica® Kefazol®
Cefepim®
Antibiótico (cefalosporina de
Cefepime Cloridrato de cefepima® Endovenosa lenta (em 30 minutos)
4ª geração)
Maxcef®
Antibiótico (cefalosporina de Cefoxitina® Mefoxin®
Cefoxitina Endovenosa lenta (em 30 minutos)
2ª geração) Foxtil® Propoten®
Antibiótico (cefalosporina de Axetil cefuroxima® Zin-
Cefuroxima Endovenosa rápida em 15 a 30 minutos
2ª geração) nat®
Ketamina®
Cetamina Anestésico geral Ketalar® Endovenosa em bolus
Ketamin®
Cimetidina®
Cimetidina Anti-histamínico H2 Endovenosa rápida em 15 a 30 minutos
Tagamet®
Antibacteriano (fluorquino- Ciprocin® Ciprofloxacina®
Ciprofloxacina Endovenosa lenta em 15 a 30 minutos
lona) Quinoflox®
Klaricid®
Claritromicina Antibiótico Endovenosa rápida em 20 minutos
Claritromicina®
Cloranfenicol Antibiótico (Anfenicol) Cloranfenicol® Endovenosa rápida em 10 a 30 minutos
Deslanósido Cardiotônico e antiarrítmico Cedilanide® Endovenosa rápida
Decadron®
Dexametasona Corticosteróide Endovenosa rápida
Dexametasona®

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Assistência ao Recém-Nascido de Risco

Anticonvulsivante, sedativo,
Valium®
Diazepam ansiolítico, miorrelaxante Endovenosa em bolus
Diazepam®
esquelético
Digoxina Cardiotônico e antiarrítmico Digoxina® Endovenosa rápida em 5 a 10minutos
Novalgina®
Dipirona sódica Analgésico, antitérmico Endovenosa rápida
Dipirona sódica®
Dobutrex®
Endovenosa lenta e contínua em bomba de infusão na
Dobutamina Cardiotônico Inotam®
velocidade de 2 a 25 mcg/Kg por minuto
Dobutamina®
Revivan®
Endovenosa contínua em bomba de infusão na veloci-
Dopamina Cardiotônico Dopamin®
dade de 2 a 20 mcg/Kg por minuto
Dopamina®
Adrenalina®
Epinefrina Cardiotônico, broncodilata- Endovenosa em bolus
Epinefrina®
(adrenalina) dor, vasopressor Infusão contínua em bomba de infusão
Hydren®
Endovenosa rápida (dose de ataque) ou lenta (dose de
manutenção)
Hidantal® Dose de ataque: 15 a 20 mg/Kg no mínimo em 30
Fenitoína Anticonvulsivante
Fenitoína® minutos
Dose de manutenção: velocidade máxima de infusão =
0,5 mg/Kg por minuto
Endovenosa com dose de ataque ou manutenção
Fenobarbital ou Fe- Dose de ataque = 20 mg/Kg em 10 a 15 minutos
Anticonvulsivante, sedativo Fenocris®
nobarbital sódico Dose de manutenção = 3 a 4 mg/Kg por dia lentamen-
te.
Endovenosa em bolus (dose de ataque) ou contínua
(dose de manutenção)
Fentanil® Dose e administração dependem dos objetivos: para
Fentanila Analgésico entorpecente
Nilperidol® sedação e analgesia = 1 a 4 mcg/Kg por dose com
velocidade de 1 a 5 mcg/Kg por hora; para anestesia =
5 a 50 mcg/Kg por dose
Zoltec®
636
Fluconazol Antifúngico Floconazol® Endovenosa lenta (30 minutos em bomba de infusão)
Hiconazol®
Antimiastênicos, antídoto Flumazenil®
Flumazenil Endovenosa em bolus
dos benzodiazepínicos Lanexat®
Lasix® Endovenosa em bolus ou lenta
Furosemida Diurético Closenid® Em bolus: administrar em 1 minuto
Furosemida® Via endovenosa lenta: não exceder 4mg por minuto
Antibiótico Gentaplus®
Gentamicina Endovenosa rápida em 20 a 30 minutos
(aminoglicosídeo) Gentaxil®
Gluconato de Cálcio Suplemento mineral Gluconato de Cálcio® Endovenosa rápida em 10 a 30 minutos
Endovenosa em bolus
Heparin®
Heparina Sódica Anticoagulante Endovenosa lenta
Liquemine®
Endovenosa contínua
Antiinflamatório, imunos- Solucortef®
Hidrocortisona supressor, vasoconstritor, Succinato sódico de hidro- Endovenosa lenta ou rápida
corticosteróide cortisona®
Antibiótico
(associação de antibiótico
Imipenem + Cilasta-
betalactâmico e inibidor Tienam® Endovenosa lenta em 30 minutos
tina Sódica
da degradação renal do
antibiótico)
Há vários tipos de insulina,
mas as mais comumente
Insulina NPH: via subcutânea apenas
usadas são a insulina NPH
Insulina Antidiabético Insulina Regular: via subcutânea ou via endovenosa
(Novolin N®, Biohulin N®)
contínua
e a insulina regular (Novo-
lin R®, Biohulin R®)
Lanatosídeo Cardiotônico e antiarrítmico Cedilanide® Endovenosa rápida de 20 a 30 minutos
Antídoto dos antagonistas do Leucovorin cálcio®
Leucovorina Endovenosa rápida em 05 minutos
ácido fólico Lenovor®
Meropenem Antibiótico (betalactâmico) Meronem® Endovenosa rápida ou lenta em 30 minutos
Metilprednisolona Glicocorticóide Solumedrol® Endovenosa rápida
Capitulo 21 Administração de Medicamentos

Antiemético
Metoclopramida Plasil® Endovenosa rápida de 10 a 30 minutos
Estimulante peristáltico
Amebicida, antibacteriano, Endovenosa lenta em bomba de infusão por 60
Metronidazol Flagyl®
giardicida, tricomonicida minutos
Benzodiazepínico com efei-
Endovenosa em bolus
tos ansiolíticos, hipnóticos, Dormonid®
Midazolam Endovenosa rápida em 05 minutos
anticonvulsivantes e relaxan- Dormire®
Endovenosa contínua
te muscular.
Omeprazol®
Omeprazol Anti-úlcera péptica Endovenosa rápida
Mepraz®
Staficilin-N®
Antibiótico
Oxacilina Oxacil® Endovenosa rápida de 10 a 20 minutos
(penicilina semi-sintética)
Oxacilina sódica®
Endovenosa em bolus
Pancurônio Miorrelaxante periférico Pavulon®
Endovenosa contínua
Prostin® Endovenosa contínua em bomba de infusão com dose
Prostavasin® de ataque ou de manutenção
Prostaglandina Prostaglandina vasoativa
Aplicav® Dose de ataque: 0,05 a 0,1 mcg⁄kg⁄minuto
Caverject® Dose de manutenção: em torno de 0,01 mcg⁄kg⁄minuto
Antiulceroso Antagonista dos
Ranitidina Tagamet Endovenosa rápida de 15 a 30 minutos
receptores H2 de histamina
Kirom®
Antibiótico
Teicoplanina Targocid® Endovenosa rápida de 3 a 5 minutos
(glicopeptídio)
Teicon®
Celovan®
Antibiótico Cloridrato de vancomici- Endovenosa lenta em bomba de infusão com tempo de
Vancomicina
(glicopeptídio) na® infusão igual a 1 hora
Vancocid®
Bloqueador neuromuscular Norcuro®
Vecurônio Endovenosa em bolus
não-despolarizante Veronia®
Zidovudina® Endovenosa lenta em bomba de infusão com tempo de
Zidovudina Antiviral sistêmico 637
Zidovir® infusão igual a 1 hora
Usado por UO somente em combinação com a zidovu-
Nevirapina Antiviral sistemico Viramune®
dina

Tabela 4 – Classificação dos principais fármacos em neonatologia e indicação do tipo de infusão venosa

Nome Estabilidade E Interações


Reconstituição Diluição Cuidados
Genérico Armazenamento Medicamentosas
Probenecida – Possível
aumento de toxicidade
Antes de aberto: Observar sinais de
Zidovudina – Possível letar-
Armazenamento em flebite; se presente,
gia ou desmaio
Cloreto de Sódio temperatura ambiente aumentar a diluição da
Incompatibilidades: glicose,
Água estéril para 0,9% (SF 0,9%) Após reconstituição: infusão
aminoácidos, emulsão
Aciclovir injeção (água desti- ou solução glico- 12 horas em tempera- Monitorizar função
de lipídios, aztreonam,
lada: AD) sada 5% tura ambiente renal e hepática
metronidazol, imipenem,
(SG 5%) Após diluição: 12 Não deve ser refrige-
meropenem, cefepime, citra-
horas em temperatura rado
to de cafeína, dobutamina,
ambiente
dopamina e piperacilina-
tazobactam
Incompatibilidades: Observar reações
Albumina SF 0,9% ou SG Estável por até 4 ho-
Midazolam, vancomicina e alérgicas (dor na nuca,
humana 5% ras após a abertura
verapamil náuseas e rubor)

Paulo R. Margotto
Assistência ao Recém-Nascido de Risco

Antagonista de antimiastê-
nicos
Aciclovir, outros aminogli-
cosídeos, anfotericina B,
cisplatina, vancomicina,
cefalotina – aumento da
Antes de aberto: Arma-
SF 0,9% ou SG nefrotoxicidade
zenamento em tempe-
5%. O volume Furosemida – aumento da
ratura ambiente.
deve ser o ototoxicidade Monitorizar função
Após diluição: até 24
Amicacina -------- suficiente para Incompatibilidades: emul- renal
horas em temperatura
alcançar a são de lipídeos, anfotericina
mabiente e 60dias
concentração de B, ampicilina, carbenici-
sendo refrigerado e
0,25 a 5mg/mL lina, fenitoína, heparina
protegido da luz
(concentrações > 1U/
mL), imipenem-cilastatina,
meticilina, mezlocilina, naf-
cilina, oxacilina, penicilina G
cristalina, propofol, tiopental
e ticarcilina-clavulonato
Incompatibilidades: amio-
Armazenar em tem-
darona, cefalosporinas,
peratura ambiente;
clindamicina, dobutamina, Monitorar PA e FC (risco
Aminofilina AD e SG 5% proteger da luz
epinefrina, hidralazina, me- de hipotensão)
Após diluição: despre-
tilprednisolona, penicilina G
zar sobras
e fenitoína
Anestésicos – maior risco
de depressão miocárdica
Antiarrítmicos da classe I –
possível toxicidade
Bloqueadores beta-adrenér- Monitorizar pressão ar-
gicos ou bloqueadores dos terial (PA) e frequência
Antes de aberto: canais de cálcio – maior cardíaca (FC)
638 SG5% em volume
armazenado em risco de bradiarritmias, Monitorizar função
suficiente para
temperatura ambiente bloqueio sinusal ou bloqueio pulmonar
Amiodarona ------ alcançar concen-
e protegido da luz atrioventricular Via endovenosa em bo-
tração de 1,5mg/
Após diluição: 2 horas Ciclosporina, dextrometor- lus desaconselhada por
mL
em equipo de PVC fano, fenitoína, metotrexato riscos hemodinâmicos
e teofilina – aumento dos Não deve ser refrige-
níveis séricos dessas drogas rado
Incompatibilidades: amino-
filina, bicarbonato de sódio,
cefazolina, cloreto de sódio,
heparina
Após diluição: 03 Incompatibilidades:
Amoxacilina Monitorizar sinais de
SG 5%, SF0,9%, dias em temperatura probenecida, antiácidos, di-
e Clavulonato --------- desconforto abdominal,
Água destilada ambiente ou 14 dias danosina, fenitoína, cafeína,
de Potássio icterícia
sob refrigeração varfarina, aminofilina
Aminoglicosídeos – pode
Antes do preparo:
inativar essas drogas ou ser
manter em temperatu-
inativado por elas
ra ambiente
Metrotexato – aumento de
Após reconstituição: 1
toxicidade
hora em temperatura
Probenecida – pode aumen-
ambiente ; 4 horas
Preferencialmen- tar a ação da ampicilina
refrigerado (2-8 Cº) se
te com SF 0,9% Incompatibilidades: glicose,
reconstituído com SF
para se obter aminoácidos, amicacina, Não utilizar lidocaína
Ampicilina SF 0,9% ou AD 0,9%
concentração de amiodarona, fluconazol, como diluente
Após diluição com
30mg/mL. Pode- gentamicina, hidralazina,
SF 0,9%: 8 horas em
se usar SG 5% lactobionato de eritromicina,
temperatura ambiente
metoclopramida, midazo-
ou 72 horas sob refri-
lam, necardipina, gluconato
geração
de cálcio, metronidazol,
Após diluição com
bicarbonato de sódio,
SG 5%: 2 horas em
heparina, hidrocortisona e
temperatura
tobramicina
Capitulo 21 Administração de Medicamentos

Antes de aberto: tem-


peratura ambiente Alopurinol – maior incidên-
Após reconstituição: 1 cia de rash Monitorizar sinais de
hora em temperatura Probenecida – aumento do flebite
Ampicilina+
AD SF 0,9% ambiente nível da ampicilina Não usar em caso de
Sulbactan
Após diluição: 8 horas Antibióticos bacteriostáticos alergia à penicilina ou
em temperatura am- – devem ser administrados cefalosporina
biente e 48 horas se pelo menos 1 hora após
refrigerado (2-8 C)
Monitorizar sinais vitais
durante e após 2 horas
após a infusão.
Incompatibilidades: ami-
Monitorizar função
SG 5% Antes de aberto: tem- cacina, aztreonam, cloreto
renal, hematológica,
A diluição deve peratura ambiente de cálcio, gluconato de
hepática, balanço
ser suficiente Após diluição: 24 cálcio, cefepime, cimetidina,
hídrico, níveis de uréia,
Anfotericina B AD para atingir a horas em temperatura dopamina, enalapril, penici-
creatinina, potássio,
concentração ambiente ou 07 dias lina, propofol, tobramicina,
sódio, cálcio, magnésio
máxima de 0,1 sob refrigeração cloreto de sódio, corticos-
Monitorizar presença
mg para infusão. Protegido da luz teróides, ciclosporinas,
de rush cutâneo, febre,
diuréticos.
calafrios.
Utilizar acesso venoso
calibroso
Monitorizar sinais vitais
durante e após 2 horas
após a infusão.
Incompatibilidades: ami-
Monitorizar função
SG 5% cacina, aztreonam, cloreto
renal, hematológica,
Reconstituir pela de cálcio, gluconato de
Antes de aberto: tem- hepática, balanço
adição de 12 cálcio, cefepime, cimetidina,
Anfotericina B peratura ambiente hídrico, níveis de uréia,
AD ml de solvente dopamina, enalapril, penici-
lipossomal Após diluição: 24 ho- creatinina, potássio,
para atingir a lina, propofol, tobramicina,
ras sob refrigeração sódio, cálcio, magnésio
concentração de cloreto de sódio, corticos- 639
Monitorizar presença
4mg/ml teróides, ciclosporinas,
de rush cutâneo, febre,
diuréticos.
calafrios.
Utilizar acesso venoso
calibroso
Incompatibilidades: ampici-
lina, bicarbonato de sódio,
Apenas em ar am- cloranfenicol, cimetidina,
Atropina ------- ------- biente, uso imediato e epinefrina, isoproterenol, Monitorar FC
protegido da luz metaramirol, norepinefrina,
pentobarbital, promazina,
tiopental e varfarina
Antes de aberto:
Monitorizar hemogra-
temperatura ambiente
ma e função hepática
e protegido da luz
Furosemida e probenecida – Monitorizar PA
SF 0,9% ou SG Após reconstituição:
aumento dos níveis séricos Monitorizar sinais de
5% em volume 48 horas se em tem-
de aztreonam flebite
suficiente para peratura ambiente ou
Aztreonam AD Incompatibilidades: aciclo- Não usar em caso de
alcançar a con- 7 dias se refrigerado
vir, anfotericina B, ganciclo- alergia à penicilina ou
centração de até (2-8 C)
vir, lorazepam, metronidazol cefalosporina
20mg/mL Após diluição: 48 ho-
e nafcilina Verificar glicemia 1
ras se em temperatura
hora após a adminis-
ambiente ou 7 dias se
tração
refrigerado (2-8 C)
Incompatibilidades: ami-
glicosideos, aminofilina,
Antes de aberto: tem-
anfotericina, cloranfenicol, Monitorizar flebite.
peratura ambiente
SF 0,9%, SG 5%, eritromicina,amiodarona, Não congelar.
Benzil Penicili- Após diluição: 24
água destilada metronidazol, dopamina, Não usar em caso de
na G Cristalina horas em temperatura
(50-100 ml) raniditina,furosemida, hidro alergia a penicilina ou
ambiente ou 07 dias
cortisona,heparina,clindam cefalosporina
sob refrigeração
icina, lidocaína, fluconazol,
cloreto de potássio

Paulo R. Margotto
Assistência ao Recém-Nascido de Risco

Quinidina, anfetaminas, efe-


drina, mecamilamina, pseudo-
efedrina – pode aumentar os
efeitos destas drogas.
Metanamina, Salicilatos,
cetoconazol – pode diminuir a
ação destas drogas
Soluções que não podem ser
utilizadas como diluente, mas
que podem ser administradas
por via endovenosa simul-
taneamente ao bicarbonato
de sódio 8,4% (no mesmo
horário ou na mesma via em
Y): solução glicosada 5%,
10%, 25% e 50%; cloreto de
sódio 0,9%, manitol, emulsão
lipídica, aciclovir, amicacina,
aminofilina, anfotericina B,
ampicilina, atropina, aztreo-
nam, cefepima, ceftazidina,
clindamicina, dexametasona,
esmolol, famotidina, fenitoína,
fentanil, furosemida, heparina,
hialuronidase, indometacina, Não congelar
Antes de aberto: tem- lactobionato de eritromicina, Monitorizar sinais de
Bicarbonato peratura ambiente nafcilina, vitamina K1 flebite ou infiltração
------- Apenas AD
de sódio 8,4% Após diluição: obser- Incompatibilidades: ácidos Monitorizar gasometria
var o tempo de infusão e sais ácidos, ácido folínico, Utilizar, acesso venoso
amiodarona,, anrinona, exclusivo.
atropina, benzilpenicilina
potássica, bupivacaína,
640 carboplatina, carmustina,
cefotaxima, cisplatina, clorpro-
caína, clorpromazina, codeína,
dobutamina, dopamina,
epinefrina, estreptomicina,
fenobarbital, gluconato de
cálcio, idarrubicina, oxacilina,
imipenem+cisplatina, insu-
lina, levorfanol, lidocaína,
meperidina, mepivacaína,
metadona, metilprednisolona,
metoclopramida, midazolam,
morfina, nalbufina, norepine-
frina, ondansetrona, procaína,
pentobarbital, sargramostim,
secobarbital, sulfato de mag-
nésio, ticarcilina + ácido clavu-
lânico, tiopental, tubocurarina,
vancomicina, verapamil, vin-
cristina, vindesina, vinorelbina,
vitamina C, soluções de ringer
e ringer lactato
Aminoglicosídeos, diuréticos
de alça e outras drogas
Antes de aberto: tem- nefrotóxicas - aumentam a Monitorizar disfunção
peratura ambiente nefrotoxicidade. renal, hematológica,
Após diluição: 24 Drogas bacteriostáticas gastrointestinal
Cefalotina AD SF 0,9% e SG 5%
horas em temperatura - interferem com a ação Não usar em caso de
ambiente ou 96 dias bactericida da cefalotina. alergia a penicilina ou
sob refrigeração Probenecida - interfere no cefalosporina
nível sangüíneo da cefalo-
tina.
Capitulo 21 Administração de Medicamentos

Monitorizar apare-
cimento de reações
adversas, principal-
Aminoglicosídeos, diuréticos
mente rash, assim
de alça e outras drogas
Antes de aberto: tem- como as incomuns ou
nefrotóxicas aumentam a
peratura ambiente intoleráveis.
nefrotoxicidade.
Após diluição: 24 Monitorizar função
Cefazolina AD SF 0,9% e SG 5% Drogas bacteriostáticas
horas em temperatura renal, hematológicas
interferem com a ação bac-
ambiente ou 96 dias os sinais e sintomas de
tericida da cefazolina.
sob refrigeração flebite e de trombofle-
Probenecida interfere no ní-
bite.
vel sangüíneo da cefazolina
Não usar em caso de
alergia a penicilina ou
cefalosporina
Antes de aberto: tem-
Monitorizar disfunção
peratura ambiente Probenecida - pode aumen-
renal, hepática, hema-
Após diluição em água tar a ação da cefuroxima
tológica
Cefepime AD SF 0,9% e SG 5% destilada: 24 horas Incompatibilidades: amino-
Não usar em caso de
em temperatura am- glicosideos, lasix, anticoa-
alergia a penicilina ou
biente ou 7 dias sob gulantes
cefalosporina
refrigeração
Antes de aberto: tem-
peratura ambiente, Monitorizar disfunção
Após diluição em Probenecida: pode aumen- renal
Cefoxitina AD SF 0,9% e SG 5% água destilada: 24 tar a ação da cefuroxima, Não usar em caso de
hs em temperatura Amiglicosideos alergia a penicilina ou
ambiente, 7 dias sob cefalosporina
refrigeração
Antes de aberto: tem-
peratura ambiente
Após diluição em
água destilada: 08
641
horas em temperatura
ambiente ou 02 dias
sob refrigeração
Cefuroxima AD SF 0,9% e SG 5%
Após diluição e m
cloreto de sódio: 24
horas em temperatura
ambiente,
Sob refrigeração -07
dias
Protegido da luz
Incompatibilidade: diaze-
pam
Não congelar
Tubocurarina – pode ter
Monitorar FC, PA
Após diluição: 24 seu efeito de bloqueador
Monitorar sinais de
horas em temperatura muscular aumentado
Cetamina -------- SF 0,9% e SG 5% depressão respiratória,
ambiente Hipotensores arteriais ou
aumento da secreção
Proteger da luz depressores do sistema
brônquica, movimentos
nervoso central – aumento
tônico-clônicos, vômitos
dos riscos de hipotensão e
depressão respiratória

Paulo R. Margotto
Assistência ao Recém-Nascido de Risco

Benzodiazepínicos (alpra-
zolam, clordiazepóxido,
diazepam, clorazepato,
flurazepam, halazepam, pra-
zepan, triazolam), fenitoína,
lidocaína, propanolol e var-
farina – alteração nos níveis
das enzimas hepáticas
Antes de aberto: tem-
Cisaprida – pode desenca-
peratura ambiente,
dear arritmias e levar ao
protegido da luz
Cimetidina ------- SF 0,9% e SG 5% óbito Monitorizar PA
Após diluição: 48
Anfotericina B – ocorre
horas em temperatura
precipitação imediata
ambiente
Incompatibilidades:
aminofilina, anfotericina B,
atropina, cefalotina, cefazo-
lina, cefepima, fenobarbital,
gentamicina, indometacina,
metoclopramida, pentobar-
bital, secobarbital, tiopental,
varfarina
Após diluição: 03 Incompatibilidades: Administrar a droga em
SF 0,9% e SG 5%, dias em temperatura probenecida, antiácidos, di- veia de grande calibre
Ciprofloxacina -------
AD, ringer ambiente ou 14 dias danosina, fenitoína, cafeína, Monitorizar sinais de
sob refrigeração varfarina, aminofilina desconforto abdominal
Cabamazepina –
Incompatibilidades:
Após reconstituição: aminofilina, carbamaze- Monitorizar sinais de
06 horas em Tempe- pina, digoxina, varfarina, alergias a eritromicina,
SF 0,9%, AD, So-
Claritromicina AD ratura Ambiente ou 48 zidovudina,rifampicina flebites, desconforto
lução de Ringer
horas sob refrigeração metilprednisolana, anticoa- abdominais, função
Proteger da luz gulantes orais, omeprazol, renal, hematológicas
642
sildenafil, ciclosporina
midazolam, ciclosporina
Monitorizar sinais de
equimoses, febre,
náuseas e vômitos.
Após reconstituição: Vitamina B12, ácido fólico - Monitorar leucograma
24 horas em Tempe- possível retardo da resposta e glicose
ratura ambiente e 30 à terapia a essas drogas Em prematuros obser-
Cloranfenicol AD SF 0,9% e SG 5% dias sob refrigeração Incompatibilidades: fenito- var a síndrome cinzenta
Após diluição: 24 ína, hipoglicêmicos orais, (dor abdominal, cor dos
horas em temperatura varfarina, fenobarbital ou olhos azul acinzentado,
ambiente rifampicina, paracetamol respiração irregular,
hipotermia, cianose e
desconforto respira-
tório
Capitulo 21 Administração de Medicamentos

Não deve ser misturado


a outras soluções, porém
pode correr em “Y” com
outras soluções
Corticosteróides, anfoterici-
na B, diuréticos depressores
de potássio, inibidores
da anidrase carbônica – Medicação deve ser
aumentam a toxicidade do administrada exclusiva-
Deslanósido deslanosídeo (causada por mente por via endove-
(Lanatosídeo Uso imediato (não tem hipopotassemia) nosa ou intramuscular
---------- ----------
C desaceti- estabilidade) Quinidina, antagosnistas Monitorar FC, PA, ECG,
lado) do cálcio (especialmente o função renal, eletrólitos
verapamil), amiodarona, es- Monitorar letargia,
pironolactona, eritromicina, vômitos, diarréia,
tetraciclina, betabloqueado-
res – aumentam a concen-
tração do deslanosídeo
Sais de cálcio por via paren-
teral, pancurônio, simpati-
comiméticos – aumento do
risco de arritmias cardíacas
Incompatibilidades: amica-
Monitorar: peso, PA,
cina, ciprofloxacina, dau-
eletrólitos e glicemia
Apenas em ar ambien- norrubicina, dimenidrinato,
Dexameta- AD, SF 0,9% ou Não pode ser adminis-
------- te de 15 a 30 graus) doxapram, doxorrubicina,
sona SG 5% trado por via subcutâ-
até 24h glicopirolato, hidromorfona,
nea pois pode causar
idarrubicina, lorazepam e
atrofia e abscessos
vancomicina
Incompatibilidades: cloreto
de potássio, dobutamina,
Monitorizar FC, fre-
SF 0,9% ou SG Apenas em ar ambien- fluconazol, furosemida,
Diazepam -------
5% te até 24h haloperidol, heparina,
qüência respiratória 643
(FR) e PA
hidrocortisona, pancurônio
e ranitidina
Amiodarona, indometacina,
espironolactona, quinidina,
verapramil, gluconato de
cálcio – diminuem o clea-
rance da digoxina Monitorar FC, ECG, fun-
AD, SF 0,9% ou Uso imediato, não tem Antibióticos aminoglicosí- ção renal, eletrólitos
Digoxina -------
SG 5% estabilidade deos, antiácidos – reduzem Monitorar letargia,
os efeitos terapêuticos da vômitos, diarréia,
digoxina
Incompatibilidades:
amiodarona, dobutamina,
fluconazol
Ciclosporina – pode diminuir
a ação desta droga
Clorpromazina – a dipirona
pode sofrer ou provocar
aumento das reações
adversas
Incompatibilidades: ciproflo-
Antes de aberto: Tem-
xacina, diazepam, dobuta-
peratura ambiente,
Dipirona mina, dopamina, doxorrubi-
------- SF 0,9% e SG 5% protegido da luz
sódica cina, droperidol, epinefrina,
Após diluição: uso
fluconazol, gentamicina,
imediato
isoproterenol, meperidina,
metoclopramida, morfina,
netilmicina, norepinefrina,
ondansetrona, vimblastina,
vincristina, vitamina C,
soluções glicosadas acima
de 5%

Paulo R. Margotto
Assistência ao Recém-Nascido de Risco

Betabloqueadores – podem
ter sua ação diminuída pela
dobutamina ou diminuir a
ação da mesma
Digitálicos – pode aumen-
tar os riscos de arritmias
cardíacas
Utilizar veias calibrosas
Incompatibilidades: aciclo-
para infusão
vir, alteplase, aminofilina,
SF 0,9% e SG Antes de aberto: Tem- Monitorar FC e PA
bretílio, bicarbonato de
5% desde que peratura ambiente, Monitorar sinais de fle-
sódio, bumetanida, cloreto
se mantenha a protegido da luz bite e necrose tissular
Dobutamina -------- de potássio, cafalotina, cafa-
concentração e Após diluição: até 24 Não refrigerar, não
zolina, diazepam, digoxina,
volume para solu- horas em temperatura congelar
estreptoquinase, fenitoína,
ção de 50 mL ambiente Corrigir hipovolemia
floxacina, foscarnet, fosfato
Monitorar os níveis
(potássio e sódio), furose-
séricos de potássio
mida, gluconato de cálcio,
heparina, hidrocortisona,
indometacina, insulina, ni-
troglicerina, nitropussiato de
sódio, sulfato de magnésio,
verapamil, piperacilina +
tazobactam
Anestésicos orgânicos
(inalação) – pode causar
arritmias ou hipotensão
Monitorar PA
Betabloqueadores – an-
Deve-se utilizar com
tagonista dos efeitos da
cautela em neonatos
dopamina
Preferencial- com hipertensão pul-
Fenitoína – pode causar
mente em SG Antes de aberto: Tem- monar persistente
hipotensão
5%, mas pode peratura ambiente Não refrigerar nem
Incompatibilidades: aciclo-
644 Dopamina -------- também ser Após diluição: até 24 congelar
vir, alteplase, amicacina,
diluído com SF horas em temperatura Utilizar veias calibrosas
ampicilina, anfotericina B,
0,9% para obter ambiente para infusão
bicarbonato de sódio, benzil-
solução de 50 mL Monitorar sinais de
penicilina potássica, cefalo-
flebite e infiltração
tina, cefepima, furosemida,
Descontinuar a infusão
gentamicina, indometacina,
lentamente
insulina, metronidazol,
nitroprussiato de sódio, sais
de ferro, tobramicina

Insulina - Inibe ação da insulina


Incompatibilidades: ampicilina,
ácido ascórbico, gluconato cálcio,
cloranfenicol, corticotrofina, ciclos-
Manter sob refrigera-
porina, furosemida, hialuronidase,
Epinefrina ção e armazenar em Monitorar freqüência
-------- AD e SG 5% mefentermina, meticilina, nore-
(adrenalina) recipientes herméticos. cardíaca
pinefrina, penicilina G potássio,
Proteger da luz
procaína, bicarbonato de sódio,
trifluorperazina, varfarina, e solu-
ção de cloreto de sódio a 0,45%,
0,9%, 3% e 5%
Capitulo 21 Administração de Medicamentos

Ciclosporina, digitoxina, glicocor-


ticóides, quinidina, rifampicina,
varfarina fenitoína - pode alterar o
efeito dessas drogas Descontinuar a infusão
É altamente instável em qualquer lentamente
solução endovenosa Monitorar funções he-
Não usar solução glicosada para matológicas, hepáticas,
diluição renais e os sinais de
Paracetamol – risco de toxicidade deficiência de ácido
hepática fólico
Antes de aberto: Tempe- Dopamina – pode causar repenti- Utilizar veias calibrosas
ratura ambiente na hipotensão e bradicardia para infusão
Fenitoína -------- SF 0,9%
Após diluição: até 24 Incompatibilidades: solução de Monitorar sinais de
horas protegido da luz glicose/aminoácido, emulsão lipí- flebite e infiltração
dica, amicacina, aminofilina, cefa- Lavar o acesso venoso
lotina, ciprofloxacina, clindamicina, antes e após a admi-
cloreto de potássio, dobutamina, nistração da fenitoína
dopamina, enalaprilato, fentanil, A via IM não pode ser
gentamicina, heparina, hialuroni- usada, pois causa pre-
dase, insulina, lidocaína, linezolida, cipitação da medicação
meperidina, metadona, mivacúrio, no músculo
morfina, nitroglicerina, pentobarbi-
tal, propofol, ranitidina, succinato
de hidrocortisona, vitamina K1
Fenitoína ou valproato – pode
causar aumento dos níveis séricos
de fenobarbital
Depressores do sistema nervoso Monitorar padrão
central – pode potencializar o efei- respiratório, bem como
to de depressão respiratória as funções cardíaca,
Antes de aberto: Paracetamol – maior risco de hepática e renal
Fenobar-
Temperatura ambiente, hepatotoxicidade Monitorizar sinais de
bital ou 645
------- AD 1 protegido da luz Incompatibilidades: emulsão de flebite ou infiltração
Fenobarbi-
Após diluição: até 30 lipídeos, aminofilina, bicarbonato Infusões rápidas po-
tal sódico
minutos de sódio, cefalotina, cimetidina, dem causar sintomas
clindamicina, efedrina, fenitoína, de overdose
hidralazina, insulina, metadona, Descontinuar a infusão
midazolam, morfina, pancurônio, lentamente
ranitidina, succinato de hidrocorti-
sona, tiamina, varfarina, vanco-
micina
Diazepam e óxido nitroso – pode
potencializar a depressão respi-
Não diluir ratória
para admi- Antes de aberto: Betabloqueadores – pode aumen- Monitorar padrão res-
nistração em Temperatura ambiente, tar o risco de bradicardia piratório, presença de
bolus. protegido da luz Naloxona – Antagonista da fen- distensão abdominal,
Fentanila ------
Para dose de Após diluição: até 24 tanila diminuição de ruídos
manutenção horas em refrigeração, Cimetidina, eritromicina – podem hidroaéreos e rigidez
diluir com SF protegido da luz diminuir a eliminação da fentanila muscular
0,9% Incompatibilidades: pentobarbital,
fenitoína, bicarbonato de sódio,
diazepam, metoexital, tiopental

Paulo R. Margotto
Assistência ao Recém-Nascido de Risco

Barbitúricos e fenitoína – seu


metabolismo sofre interferência
pelo fluconazol
Cisaprida – uso concomitante pode
causar arritmias cardíacas graves
Varfarina – sua atividade pode ser
aumentada pelo fluconazol
Incompatibilidades: aciclovir,
Monitorar função renal
amicacina, aminofilina, amioda-
Monitorar TGO, TGP e
rona, ampicilina, anfotericina B,
hemograma
aztreonan, cefalosporinas, clin-
Antes de aberto: apenas Não congelar e não ex-
damicina, cloranfenicol, dizepam,
em ar ambiente por ao calor excessivo
Fluconazol __________ SF 0,9% dobutamina, dopamina, fenitopina,
Não tem estabilidade Monitorar sinais de
furosemida, gluconato de cálcio,
após aberto desconforto abdomi-
haloperidol, heparina, hidrocorti-
nal, diarréia, náuseas,
sona, imipenem, imunoglobulina
vômito, síndrome de
humana endovenosa, meropenem,
Stevens-Johnson
metronidazol, midazolam, morfina,
nafcilina, nitroglicerina, oxacilina,
penicilina G cristalina, pancurônio,
pentamidina, ranitidina, sulfame-
toxazol + trimetropina, ticarcilina-
clavulonato, tircacilina, tobrami-
cina, vancomicina, vecurônio e
zidovudina
Avaliar antes e após a
administração: o nível
de consciência e a
função respiratória.
Avaliar por pelo menos
2 horas após a admi-
nistração: ressedação,
646
depressão respiratória
Antes de aberto: Tempe-
ou outro efeito residual
ratura ambiente
SF 0,9% e SG do benzodiazepínico.
Flumazenil ------ Após aberto e após di-
5% Utilizar preferencial-
luição: até 24 horas em
mente acesso venoso
temperatura ambiente
de grosso calibre
Durante a adminis-
tração evitar injeções
rápidas nos pacientes
expostos a altas doses
e⁄ou sob terapia prolon-
gada com benzodiaze-
pínicos
Antihipertensivos ou nitratos –
pode potencializar a hipotensão
Aminoglicosídeos – pode potencia-
Não diluir em
lizar a ototoxicidade
administração
Anfotericina B, outros diuréticos –
em bolus. Antes de aberto: Não refrigerar
pode causar hipocalemia
Para dose de Temperatura ambiente, Monitorizar o débito
Incompatibilidades: ciprofloxacina,
manutenção protegido da luz urinário, função hepáti-
Furosemida -------- dobutamina, dopamina, esmolol,
diluir com Após diluição: até 24 ca, eletrólitos e fósforo
fluconazol, gentamicina, hidralazi-
SF 0,9% e horas em temperatura séricos
na, isoproterenol, lactobionato de
SG 5%com ambiente Monitorar o peso
eritromicina, meperidina, metoclo-
concentração
pramida, midazolam, milrinona,
de 2mg/mL
morfina, netilmicina, nicardipina,
vecurônio, vitamina C, soluções
glicosadas acima de 5%
Capitulo 21 Administração de Medicamentos

Incompatibilidades: alopurinol,
aminofilina, ampicilina, anfoterici-
na B, benzilpenicilina potássica, bi-
carbonato de sódio, carbenicilina,
cefalotina, cefeapirina, cefazolina,
cefotaxima, cefoxitina, ceftazidima,
ceftriaxona, cefuroxima, cimeti-
dina, citarabina, clindamicina,
dopamina, furosemida, hepari-
Após diluição: 24 horas
na, idarrubicina, indometacina,
em temperatura
Gentami- SF 0,9% SG lidocaína, mezlocilina, ticarcilina,
------------ ambiente
cina 5% e AD ticarcilina + ácido clavulânico e
ou 30 dias sob refrige-
algumas soluções parenterais
ração
nutricionais.
Bicarbonato de sódio - o pH ácido
da gentamicina pode liberar dióxi-
do de carbono
Devido à potencial incompatibilida-
de, a gentamicina e os aminogli-
cosídeos não devem ser adminis-
trados concomitantemente em
seringas ou soluções de infusão
Incompatibilidades: aminofilina,
ampicilina, anfotericina, bicarbona-
to de sódio, carbonatos, cefalotina, Monitorar sinais vitais
cefotaxima, cefoxitima, citratos, Monitora níveis séricos
Conservados em tempe-
Gluconato AD ou SF clindamicina, deslanosideo, de cálcio
---------- ratura ambiente e são
de Cálcio 0,9% dobutamina, dopamina, epinefri- Monitorar o acesso
estáveis indefinidamente
na, esmolol, fosfatos, heparina, venoso, pois é uma
metilpredinisolona, metocloprmida, solução vesicante
polimixina B, prometazina, sulfa-
tos, tiopental, vitamina C
647
Monitorizar sinais de
sangramento ou he-
morragia (equimoses,
Incompatibilidades: ácido acetil- hematomas, hema-
salicílico, dipiridamol, penicilinas, túria),
Antes de aberto: tempe- ácido valpróico, cefamandol, cef- Monitorar função
Heparina SF 0,9% e SG
--------------- ratura ambiente metazol, cefoperazona, cefotetana, hematológicas (tPA,
Sódica 5%
Após diluição: 24 horas quinidina, plicamicina, tetraciclina, hematócrito, contagem
estreptoquinase, trombolíticos, de plaquetas)
anti-histamínicos Não administrar drogas
por via intramuscular
(devido ao risco de for-
mação de hematomas)
Diuréticos – podem ter seus efei- Monitorar sinais vitais,
tos diminuídos ou diminuir o efeito Monitorar glicemia,
Antes de aberto: tempe- da hidrocortisona eletrólitos
ratura ambiente Varfarina – pode ter seus efeitos Monitorar equimose,
Após reconstituído e⁄ou anticoagulantes exacerbados ou fragilidade capilar,
Hidrocorti- SF 0,9% e SG
AD diluído: até 24 horas em diminuídos tromboflebite, hipergli-
sona 5%
temperatura ambiente Incompatibilidades: ampicilina, ce- cemia, edema, perda
ou até 03 dias sob refri- falotina, cefoxitina, ciprofloxacina, de peso, vômitos,
geração fenitoína, fenobarbital, heparina, agitação, tremores
metotrexato, midazolam, nafcilina, Não oferecer qualquer
pentobarbital, vancomicina tipo de imunização
Incompatibilidades: alopurinol, O imipenem é instável
amicacina, bicarbonato de sódio, em meio alcalino ou
Imipenem + SG 5%, SF 04 horas em temperatu-
estreptomicina, fluconazol, genta- em pH ácido, sendo
Cilastatina ___________ 0,9% ou ra ambiente ou 24 horas
micina, idarrubicina, kanamicina, então necessário sua
Sódica SG 10% sob refrigeração
meperidina, netilmicina, nitrato de reconstituição em pH
galium, sargromostim, tobramicina entre 6,5 e 7,5.

Paulo R. Margotto
Assistência ao Recém-Nascido de Risco

Analgésicos antiinflamatórios não-


esteróides, captopril, inibidores Somente a insulina
da MAO, salicilatos tetraciclinas – regular pode ser usada
aumentam o efeito hipoglicemiante por via endovenosa
da insulina Monitorar sinais vitais,
Insulina Antes da diluição: man-
_________ AD e SF 0,9% Corticosteróide, diurético de alça fraqueza, sudorese
Regular ter sob refrigeração
e⁄ou tiazídico, – podem diminuir o fria, tremores, palidez
efeito hipoglicemiante da insulina cutânea, convulsões,
Incompatibilidades: aminofilina, coma,
dopamina, fenitoína, fenobarbital, Monitorar glicemia
nafcilina
Antes de aberto: tempe-
Monitorizar função
ratura ambiente
hematológica
Leucovorina AD AD Após reconstituição: 07 Anticonvulsivantes, fluouracila
Monitorar equilíbrio
dias em temperatura
hídrico
ambiente
Antes da reconstitui-
ção: em temperatura
Incompatibilidades: aciclovir,
ambiente
SF 0,9% ou complexos vitamínicos, diazepam,
Meropenem AD Após reconstituição: 2
SG 5% doxiciclina, gluconato de cálcio e
horas em ar ambiente ou
ondansetrona
12 horas sob refrige-
ração
Diuréticos – podem diminuir o
Verificar PA
efeito da metilprednisolona e
Monitorizar hemogra-
vice-versa
ma, glicose, eletrólitos
Suplementação de Potássio, ácido
Monitorar sinais de
fólico – podem sofrer diminuição
insuficiência adrenal
Varfarina – podem ter seu efeito
(hipotensão, perda
exacerbado ou diminuído
de peso, fraqueza,
Antes de aberto: tempe- Ciclosporina – diminui a depuração
anorexia, letargia,
ratura ambiente metabólica da metilprednisolona
648 inquietação)
Metilpredni- Diluente apro- SF 0,9% e SG Após reconstituição: 48 Incompatibilidades: paracetamol,
Monitorar risco de
solona priado 5% horas em temperatura álcool, anticoagulantes, atropina,
convulsão, anafilaxia,
ambiente antidepressivos, antiglicêmicos,
edema em face, dor,
Proteger da luz insulina, hormônios da tireóide,
urticária, equimose,
anticoncepcionais, digitálicos, diu-
petéquias, hematúria,
réticos, bloqueadores neuromus-
melena, sinais de
cular, somatrem, vacinas de vírus
hipoglicemia
vivos, ciclosporina, suplementos
Durante o tratamento,
de potássio, imunossupressores,
não oferecer nenhum
mitotano, acido fólico, isoniazida,
tipo de imunização
salicilatos
Antes de aberto: tempe-
ratura ambiente Incompatibilidades: alopurinol, am-
Após diluição com SG picilina, benzilpenicilina potássica,
Quando infundida rapi-
5%: até 24 horas em bicarbonato de sódio, cefalotina,
damente, pode causar
temperatura ambiente cefalosporinas, cefepime, cispla-
Metoclopra- AD, SF 0,9% e agitação súbita e sin-
---------- Após diluição com SF tina, cloranfenicol, eritromicina,
mida SG 5% tomas extrapiramidais
0,9%: até 24 horas em furosemida, gluconato de cálcio
(agitação, movimentos
temperatura ambiente metotrexato, propofol
involuntários)
ou até 4 semanas sob Digoxina – seus efeitos são diminu-
refrigeração ídos pelo metoclopramida
Proteger da luz
Não precisa
ser diluído, Incompatibilidades: aztreonam,
mas é compa- 24h em temperatura benzilpenicilina potássica, cefa- Não refrigerar – acon-
Metronida-
_______ tível com SF ambiente lotina, cefoxitina, ciprofloxacin, tece precipitação
zol
0,9%, SG 5%, Proteger da luz dopamina, filgrastim, hidrocortiso-
AD e ringer na, meropenem
lactato
Capitulo 21 Administração de Medicamentos

Ranitidina - pode diminuir a absor-


ção do Midazolam
Soluções não recomendadas para
a diluição ou mistura do medica-
mento, mas que podem ser admi-
nistradas na mesma via: solução
Monitorar sinais vitais
glicosada 5%, solução fisiológica
Monitorar sinais de:
Antes da reconstituição 0,9%, ringer lactato.
hipotensão, tremor,
e diluição: até 10 dias Cetamina em altas doses ou em
constipação, irritabili-
(aspirada em seringa) se administração rápida – pode au-
Midazolam -------- AD dade e leucopenia
em temperatura ambien- mentar o risco de hipotensão e⁄ou
Antídoto: Flumazenil
te ou refrigerada. depressão respiratória
Pode causar síndrome
Proteger da luz Cimetidina – pode inibir a biotrans-
de abstinência se inter-
formação hepática do Midazolam
rupção abrupta.
Incompatibilidades: Ranitidina,
pentobarbital, dimenidrinato,
foscarnet, perpenazina, proclorpe-
razina
Levodopa – pode ter seu efeito
diminuído pelo Midazolam
Após reconstituição: 04
horas
Após diluição com SF Observar a coloração
0,9%: até 12 horas em da solução se a técnica
temperatura ambiente Não deve ser utilizada com outros utilizada para a recons-
SF 0,9% ou Após diluição com SG medicamentos na mesma solução tituição for incorreta
Omeprazol Solução própria
SG 5% 5%: até 06 horas em Diazepam, fenitoína, varfarina – Monitorar: rush cutâ-
temperatura ambiente podem ter suas ações aumentadas neo, diarréia, vômitos,
Deve ser administrada constipação, insuficiên-
imediatamente após cia respiratória, febre.
diluição
Proteger da luz
Após reconstituição: 24
649
horas sob refrigeração
Após diluição com SF
0,9%: 24 horas sob Pode ocorrer trombofle-
Liofilizado: água Água destila-
refrigeração Incompatibilidades: verapamil e bite ou crises convulsi-
Oxacilina destilada (50mg da, SG 5% e
Após diluição com SG aminoglicosídeos vas na administração
por ml) SF 0,9 %
5%: não armazenar EV direita muito rápida
Após diluição com AD:
até 07 dias sob refrige-
ração
Monitorizar função
Antes de aberto: manter renal
em refrigeração Incompatibilidades: sulfato de Monitorizar ventilação
SF 0,9% e SG Após diluição: 48 horas magnésio, quinidina, succinilcoli- mecânica, mantendo
Pancurônio --------------
5% em temperatura am- na, antidepressivo, procainamida, oxigenação adequada,
biente ou 06 meses sob digitalicos devido a medicação
refrigeração ter ação de bloqueador
neuromuscular
Monitorar sinais vitais,
função cardiorrespira-
tória, sangramentos,
Após diluição: 72 horas
Antihipertensivos e anticoagu- rush cutâneo, convul-
Prostaglan- S.G 5% ou sob refrigeração
lantes – podem ter seus efeitos sões, hipertonicidade,
dina S.G 10% Durante infusão tem
potencializados Deve ser administrado
estabilidade de 24 horas
em bomba de infusão e
não deve ser interrom-
pido

Paulo R. Margotto
Assistência ao Recém-Nascido de Risco

Antiácidos, sucralfato – podem


diminuir a ação da ranitidina
Procainamida, varfarina, fenitoína,
nifedipina, teofilina – têm sua ação
Após diluição: até 24 aumentada pela ranitidina
Monitorar função hepá-
horas em temperatura Cetoconazol e diazepam– tem sua
tica, hemograma
ambiente ação diminuída pela ranitidina
AD, SF 0,9% e Monitorar sinais vitais
Ranitidina ----------- Após diluição com AD: Incompatibilidades: fentanil, co-
SG 5% Monitorar rush cutâ-
até 24 horas em tempe- deína, meperidina, tramadol, am-
neo, vômitos, diarréia,
ratura ambiente ou até picilina, anfotericina B, cefalotina,
flebite.
07dias sob refrigeração cefazolina, cefoxitina, ceftazidima,
clindamicina, clorpromazina,
diazepam, fenobarbital, lorazepam,
metotrexato, midazolam, pentobar-
bital, vitamina K
Se durante o procedi-
mento de reconstitui-
ção aparecer espuma
no frasco, deixá-lo em
repouso por 15 minu-
tos antes de aspirar
a solução para evitar
Antes de aberto: tempe- perda do princípio ativo
ratura ambiente Monitorar hemograma,
Após reconstituição: 4 função renal e hepática
Teicopla- AD, SF 0,9% e Incompatibilidades: aminoglico-
AD horas em temperatura Monitorar febre,
nina SG 5% sídeos
ambiente calafrios, rush cutâneo,
Após diluição: até 24 broncoespasmo,
horas se refrigerado choque anafilático,
diurese, vômitos, diar-
réia, tromboflebite no
acesso venoso
650 Contraindicada para
pessoas com hipersen-
sibilidade à vancomi-
cina
Monitorar PA
Infundir lentamente
(pelo menos 1 hora)
para evitar a síndrome
do homem vermelho:
súbita e profunda hi-
Anestésicos e vecurônio – podem potensão, com ou sem
aumentar as reações de hipoten- erupção máculopapular
são e⁄ou depressão neuromuscular sobre a face, o pesco-
Dexametasona – pode alterar a ço, o tórax superior e
penetração da vancomicina no as extremidades.
líquido cefalorraquidiano Observar o acesso
Após reconstituição: 24 Incompatibilidades: albumina, venoso rigorosamente,
horas em temperatura aminofilina, amobarbital, aztreo- pois a solução é alta-
Vancomi- SF 0,9% e SG ambiente ou 14 dias sob nam, benzilpenicilina potássica, mente vesicante.
AD
cina 5% refrigeração bicarbonato de sódio, cafalotina, Monitorar: função renal
Após diluição: 96 horas cefapirina, cefazolina, cefotaxima, e hemograma
sob refrigeração cefoxitina, ceftazidima, ceftriaxona, De preferência não
cloranfenicol, clorothiazida, dexa- administrar dexameta-
metasona, fenitoína, fenobarbital, sona no mesmo horário
heparina, hidrocortisona, oxacilina, que a vancomicina,
pentobarbital, sulfametoxazol + mas se houver ne-
trimetropina, varfarina, vitaminas cessidade de fazê-lo,
do complexo B, vitamina C. administrar primeiro
a dexametasona e
depois a vancomicina
a fim de não prejudi-
car a penetração da
vancomicina no líquido
cefalorraquidiano
Capitulo 21 Administração de Medicamentos

Pode ser injetado no mesmo


equipo de infusão contendo uma
das seguintes drogas: fentanil, dro-
peridol, cloridrato de nicomorfina e
brometo de pancurônio.
Anestesias inalatórias ou locais,
aminoglicosídeos, bloqueadores
beta, bloqueadores musculares
despolarizantes, capreomicina,
Monitorar sinais vitais
Após reconstituição: uso lincosaminas, sais de magnésio,
Monitorar FC, FR,
imediato se em tempe- polimixinas, procainamida, quinina,
PA, ECG, depressão
SF 0,9% e SG ratura ambiente ou 24 trimetafano, corticosteróides,
Vecurônio AD respiratória ou apnéia,
5% horas sob refrigeração diuréticos tiazídicos, furosemida,
bronco-espasmo, sia-
Após diluição: sem indi- inibidores da anidrase carbônica
lorréia, rubor, edema,
cação na literatura – podem aumentar ou prolongar o
prurido, tremores
bloqueio neuromuscular
Metilsulfato de neostigmina,
brometo de piridostigmina e clo-
reto de edrofônio – usados como
antídotos em casos de overdose
por vecurônio
Analgésicos, sedativos e tranqüi-
lizantes – aumentam o risco de
depressão respiratória
Fluconazol e metadona – dimi-
nuem o metabolismo do zidovu-
dina Monitorar hemograma
Após diluição: 08 horas Ganciclovir, metadona, ácido Monitorar hemograma,
em temperatura am- valpróico, fenitoína, trimetropina e função renal função
Zidovudina ---------- SG 5% biente ou 24 horas sob fluconazol – aumentam a toxicida- hepática, carga viral,
refrigeração de por inibirem o metabolismo e CD4
Proteger da luz excreção do zidovudina Monitorar vômitos,
Aciclovir – pode causar letargia rush cutâneo, febre, 651
grave em uso simultâneo ao
zidovudina
Disponível em solução
oral (10 mg/ml). Manter Fenobarbital ou fenitoina pode Hemograma função
Nevirapina ---------- ----------
em temperatura afetar concentrações plasmaticas hepática
ambiente

Tabela 5 – Principais características para administração dos medicamentos comuns em neonatologia

Bibliografia
• BARROS, E. e cl. Antimicrobianos: consulta rápida. 2 ed. Porto Alegre: Artes Médicas, 1996
• CLAYTON, B. D. & STOCK, Y. N. Farmacologia na prática da enfermagem. 13 ed. Traduzido
por CORBETT, D. e cl. Rio de Janeiro: Elsevier, 2006.
• FIGUEIREDO, N. M. A.; VIANA, D. L.; MACHADO, W. C. A. org. Tratado prático de enferma-
gem, volume 2. 2 ed. São Caetano do Sul, SP: Yendis Editora, 2008.
• GOMES, M. J. V. M; REIS, A. M. M.; Ciências farmacêuticas: uma abordagem em farmácia
hospitalar. 1 ed. São Paulo: Editora Atheneu, 2003.
• GOMES, V. L. de O.; LOUREIRO, M. de M.; GONÇALVES, M. X. Manual de enfermagem pedi-
átrica. 2 ed. Porto Alegre: Sagra-DC Luzzatto, 1996.
• KATZUNG, B. G. Farmacologia básica e clínica. 5ª Ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan,
1994.
• LEONE, C. R.; TRONCHIN, D. M. R. Assistência integrada ao recém-nascido. São Paulo:
Atheneu, 2001.
• POTTER, P. A.; PERRY, A. G. Grande tratado de enfermagem prática. 3 ed. São Paulo: Tem-
po editora e Santos livraria editora, 1998.
• REY, L. Dicionário de termos técnicos de medicina e saúde. Rio de Janeiro: Guanabara
Koogan, 1999.
• TAMEZ, R. N.; SILVA, M. J. P. Enfermagem em UTI neonatal: assistência ao recém-nascido
de alto risco. 3 ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2006.
• ZEM-MASCARENHAS, S. H.; CASSIANI, S. H. B. A criança e o medicamento: orientações
para o cuidado. 1 ed. São Paulo: Iátria, 2006.
• Yong TE ET AL. Neo Fax, Twenty-Second Edition, 2009.

Paulo R. Margotto
Assistência ao Recém-Nascido de Risco

652
Capitulo 22 Banco de Leite

Capítulo 22

Banco de Leite
Assistência ao Recém-Nascido de Risco

BANCO DE LEITE

Mauro Proença Bacas

Banco de Leite Humano (BLH) 

É um Centro especializado, obrigatoriamente vinculado a um no), que em 1984 instituiu o Grupo Técnico de Banco de Leite
hospital materno e/ou infantil, responsável pela promoção do Humano como instância de assessoramento, com o objetivo de
incentivo ao aleitamento materno e execução das atividades de monitorar a implantação e o funcionamento de BLHs em todo ter-
coleta, processamento e controle de qualidade do colostro, leite ritório nacional. O grupo produziu o primeiro documento oficial de
de transição e leite humano maduro, para posterior distribuição, recomendações técnicas (INAN, 1987), que serviu de base para
sob prescrição do médico ou de nutricionista. a elaboração da primeira legislação federal, a Portaria GM/MS
O Posto de Coleta de Leite Humano (PCLH) é uma unidade fixa nº 322, publicada em 1988. A rede de bancos de leite humano,
ou móvel, intra ou extra-hospitalar, vinculada tecnicamente a um desde então, passou a ser construída de maneira progressiva,
banco de leite humano e administrativamente a um serviço de sustentada pelos trabalhos de pesquisa e de desenvolvimento
saúde ou ao próprio banco. O PCLH é responsável por ações de tecnológico voltado para otimização das condições operacionais
promoção, proteção e apoio ao aleitamento materno e execução dos BLHs. O Centro de Referência Nacional para Bancos de Leite
de atividades de coleta da produção lática da nutriz e sua estoca- Humano (CRNBLH) desenvolveu metodologias alternativas, de
gem, não podendo executar as atividades de processamento do baixo custo, voltadas para o processamento e o controle de qua-
leite, que são exclusivas do BLH. lidade do leite humano, tipicamente, adaptados às necessidades
nacionais, seguras e sensíveis, o suficiente para serem pratica-
Histórico dos Bancos de Leite Humano dos na rotina. Essa nova realidade operacional possibilitou, por
exemplo, enfrentar com tranqüilidade técnica os agravos e riscos
O primeiro banco de leite humano do Brasil foi implantado em decorrentes do advento da Aids. Enquanto em várias regiões do
outubro de 1943 no então Instituto Nacional de Puericultura, mundo os BLHs foram fechados, por temor a questões de segu-
atual Instituto Fernandes Figueira (IFF). O seu principal objetivo rança operacional e risco biológico, o Brasil viveu um franco e
era coletar e distribuir leite humano (LH) com vistas a atender os seguro processo de expansão, uma vez que já haviam sido con-
casos considerados especiais, como prematuridade, distúrbios solidados os cuidados essenciais necessários para certificar a
nutricionais e alergias a proteínas heterólogas. Segundo relatos qualidade do leite humano ordenhado.
de puericultores das décadas de 40 e 50, o BLH foi inicialmente Em termos de volume de leite humano processado, a Rede
654 projetado para atender a casos especiais, considerando as pro- BLH-BR passou a conviver com uma nova realidade após a parce-
priedades farmacológicas e não as nutricionais do leite huma- ria que estabeleceu com o Corpo de Bombeiros Militar. O trabalho
no. Na época, o leite humano distribuído não era visto como um pioneiro nasceu em Brasília, no início da década de 90, e fez
competidor dos produtos industrializados e se constituía numa com que a cidade atingisse uma condição de auto-suficiência,
alternativa segura para as situações em que havia falha na ali- coletando anualmente 20 mil litros de leite humano, marca que
mentação com leite artificial comercializado. Destacava-se o representa cerca de 15% de todo o volume coletado no Brasil.
fato de que 85% dos óbitos por desnutrição entre lactentes des- Essa iniciativa mereceu o reconhecimento do Fundo das Nações
mamados estavam associados ao uso de alimentação artificial. Unidas para a Infância (UNICEF), que agraciou a corporação do
Conseqüentemente, a necessidade de se dispor de leite humano Distrito Federal com o título de Bombeiro Amigo da Amamenta-
em quantidades que permitissem o atendimento nas situações ção, em 1998. Os resultados de Brasília inspiraram estados e
emergenciais transformou-se em um fato concreto, capaz de jus- cidades brasileiras a desenvolver ações semelhantes.
tificar a implantação de um BLH. Até os anos 80, a ordenha me- Em fevereiro de 2008, 187 bancos de leite humano e 27 postos
cânica ocupava lugar de destaque. Acreditava-se que os riscos de de coleta estavam cadastrados no sistema de produção da Rede
contaminação do leite com agentes nocivos do ambiente eram BL. Desse modo, garante-se também a oferta do leite humano como
minimizados, ao mesmo tempo em que essa técnica possibilita- primeira opção de alimento para os recém-nascidos (RNs) de risco
va um maior rendimento em termos de volume coletado. O leite e/ou bebês doentes, contribuindo com a prevenção de doenças e
era distribuído, preferencialmente, na forma de produto crú sem a redução da mortalidade neonatal, e cumprindo, assim, o compro-
receber qualquer tipo de tratamento. Entretanto, em decorrência misso estabelecido no Pacto da Saúde e na Declaração do Milênio.
do grande volume de leite coletado fez-se necessário introduzir
o tratamento térmico, que era conduzido em equipamento de Posto de Coleta de Leite Humano (PCLH)
esterilização de mamadeiras em banho-maria, por 20 minutos.
Conforme Gesteira (1960), o leite humano submetido a esse É uma unidade fixa ou móvel, intra ou extra-hospitalar, vincu-
procedimento e mantido em geladeira não apresentou sinais de lada tecnicamente a um banco de leite humano e administrati-
alteração no curso de um mês. vamente a um serviço de saúde ou ao próprio banco. O PCLH é
O BLH, segundo os seus idealizadores, foi desenhado com o responsável por ações de promoção, proteção e apoio ao aleita-
propósito de funcionar como uma instituição de proteção social, mento materno e execução de atividades de coleta da produção
incumbida de zelar pelos interesses da doadora e de seu filho, des- lática da nutriz e sua estocagem, não podendo executar as ati-
tinada a encorajar a prática da amamentação natural – sem gerar vidades de processamento do leite, que são exclusivas do BLH.
lucro, mediante a recompensa financeira ou material conferida a
nutriz pelo leite doado. Embalagem
A partir de 1985, o Brasil experimentou uma expansão des-
sas unidades, até então nunca registrada na história. Esse cres- A embalagem destinada ao acondicionamento do leite humano
cimento resultou dos esforços direcionados e coordenados pelo ordenhado deve ser de fácil limpeza e desinfecção, apresentar
PNIAM (Programa Nacional de Incentivo ao Aleitamento Mater- vedamento perfeito, e ser constituída de material inerte e inócuo
Capitulo 22 Banco de Leite

ao leite em temperaturas na faixa de -25°C (vinte e cinco graus porariamente impedidas de amamentar seus filhos diretamente
Celsius negativos) a 128°C (cento e vinte e oito graus Celsius), no peito, por razões ligadas à saúde dos mesmos, ou outras ra-
não permitindo trocas indesejáveis com o produto acondicionado zões não relacionadas à saúde do recém-nascido, mas conside-
e mantendo seu valor biológico. radas compatíveis com a amamentação. Desse modo, as nutrizes
As embalagens e os materiais que entram em contato com o cujos filhos estão internados em unidades neonatais ou outras
leite ordenhado precisam ser resistentes aos processos de este- unidades hospitalares, e que ordenham leite humano para esti-
rilização, já que deverão ser esterilizados por métodos apropria- mulação da produção ou para consumo exclusivo de seus filhos,
dos. Quanto aos frascos destinados às doadoras, eles têm de ser são também classificadas como doadoras. É contra-indicado o
embalados individualmente para posterior esterilização. A data de aleitamento cruzado, ou seja, o aleitamento da criança por nutriz
validade da esterilização deverá estar registrada no invólucro das que não seja a mãe biológica (ama de leite). No Brasil, todo o leite
embalagens estéreis. Utiliza-se como embalagem para acondicio- humano oferecido a bebês de mulher que não seja a mãe bioló-
namento do leite humano ordenhado recipiente de vidro, estéril, gica deve ser processado. Considerando que as doações de leite
com boca larga, tampa plástica rosqueável e volume de 50 a 500 humano ordenhado são destinadas prioritariamente para recém-
mL, previamente testado. Devem ser descartadas as embalagens nascidos prematuros e/ou doentes, a utilização de qualquer me-
que apresentarem manchas, sujidades, rachaduras e trincas. dicamento pela doadora pode potencializar ou prejudicar o efeito
dos tratamentos estabelecidos para essas crianças.
Cuidados no Armazenamento das
Embalagens Esterelizadas no BLH/PCLH Formas de Captação de Doadoras

• Armazenar as embalagens em local ou recipiente exclusi- • Orientação pré-natal e/ou distribuição de material
vo, devidamente higienizado, constituído de material liso, escrito contendo informações referentes a vantagens
impermeável e resistente aos processos de desinfecção. e manejo da amamentação, anatomia da mama, fisio-
• No domicílio da doadora; Guardar as embalagens em lo- logia da lactação, técnicas de ordenha do leite exce-
cal (armário ou recipiente) limpo e fechado, livre de inse- dente, conservação e doação, entre outras.
tos e roedores, afastado de substâncias contaminantes • Orientação as puérperas internadas nas maternidades
e/ou que desprendam odores fortes. e/ou distribuição de material escrito contendo informa-
ções referentes às técnicas de ordenha manual do leite
Rotulagem excedente, conservação, doação e outras.
• Orientação nos serviços de acompanhamento pós-natal
Os frascos com leite humano ordenhado cru e pasteurizado das patologias relacionadas à amamentação.
devem ser obrigatoriamente rotulados, contendo informações • Orientação nos ambulatórios, centros de saúde, locais de
que permitam a obtenção da história pregressa do leite, viabi- atuação das equipes do Programa de Saúde da Família
lizando assim a rastreabilidade, sempre que necessário. Nos e em outros serviços que acompanham crianças meno- 655
rótulos dos frascos destinados à coleta domiciliar deve constar res de seis meses, e/ou distribuição de material escrito
pelo menos as seguintes informações: identificação da doado- contendo informações referentes às técnicas de ordenha
ra, data e hora da primeira coleta. manual do leite excedente, conservação, doação e outras.
Os rótulos do leite pasteurizado estocado no BLH devem ter • Divulgação em rádio, televisão, jornais, escolas, eventos, etc.
no mínimo informações ou identificação que permitam a rastre-
abilidade e facilitem a adequação do uso às necessidades do Triagem de Doadoras
receptor, tais como: identificação da doadora, conteúdo ener-
gético e validade do leite humano. No caso de informatização, A triagem das doadoras deve ser realizada por um profissional
o rótulo deverá conter localizadores que possibilitem identificar treinado, no momento do primeiro contato da nutriz com o BLH
as informações necessárias. ou PCLH, mediante o preenchimento de formulário de cadastro
É válido ressaltar a importância de se manter dados do leite or- que contenha as seguintes informações:
denhado associados às informações contidas no rótulo, ainda que
registrados à parte, como: transporte, data da recepção, qualidade • Nome completo
físico-química, processamento, identificação do ciclo de pasteuri- • Data de nascimento
zação, controle microbiológico e condições de estocagem, entre • Endereço
outros. O leite humano ordenhado rotulado deve ser acondiciona- • Local onde realizou o pré-natal
do de forma a manter a integridade do rótulo e permitir a sua per- • Número de consultas
feita identificação durante a conservação e o transporte. • Peso no início e final da gestação
• Resultados de exames: hematócrito, VDRL e sorologias
Doadoras e Doações realizadas
• Intercorrências no pré-natal e tratamento
O controle clínico das doadoras é de suma importância. Por • Data e local do parto
meio dele é possível detectar algumas doenças que podem ser • Intercorrências e tratamento durante internação na ma-
transmitidas aos recém-nascidos, as quais impedem a amamen- ternidade
tação e a doação do leite humano. As doações para posterior
distribuição a crianças prematuras, com baixo peso e/ou doentes Seleção de Doadoras
têm de observar aspectos referentes a uma cuidadosa seleção,
classificação e acompanhamento das doadoras. Esses requisitos A seleção de doadoras é de responsabilidade do médico res-
devem integrar a rotina do BLH ou PCLH. ponsável pelas atividades médico-assistenciais do BLH ou PCLH.
São consideradas doadoras as nutrizes saudáveis que apre- Para que a nutriz seja confirmada como doadora de leite huma-
sentam secreção láctica superior às exigências de seu filho e que no, os seguintes requisitos devem ser respeitados:
se dispõem a doar o excedente por livre e espontânea vontade.
Também são consideradas doadoras as nutrizes que estão tem-

Paulo R. Margotto
Assistência ao Recém-Nascido de Risco

• Estar amamentando ou ordenhando leite para o próprio filho. cia de algumas doenças maternas representa atitude de prote-
• Ser saudável. ção à vida da criança. Consultem o capítulo Aleitamento Materno
• Apresentar exames pré ou pós-natal compatíveis com a
doação de leite ordenhado. Ordenha e Coleta
• Não fumar mais que 10 cigarros por dia.
• Não usar medicamentos incompatíveis com a amamentação. A ordenha do leite humano é a ação de manipular a mama
• Não usar álcool ou drogas ilícitas. lactante pressionando-a cuidadosamente para a retirada do leite.
• Realizar exames (hemograma completo, VDRL, anti-HIV e A manipulação pode ser feita pela própria nutriz (auto-ordenha),
demais sorologias usualmente realizadas durante o pré- por um profissional de saúde ou por alguém de sua escolha. Pre-
natal) quando o cartão de pré-natal não estiver disponí- ferencialmente a ordenha deve ser realizada com as mãos, por
vel ou quando a nutriz não tiver feito o pré-natal. ser a forma mais efetiva, econômica, menos traumática e menos
• Outros exames podem ser realizados conforme perfil epi- dolorosa, além de reduzir possíveis riscos de contaminação e po-
demiológico local ou necessidade individual da doadora der ser feita pela mulher sempre que necessário. O uso de bom-
bas tira-leite não é indicado, pois pode gerar desconforto, risco e/
Acompanhamento das doadoras - Primeira doação ou agravamento de traumas mamilares. Além disso, as bombas
são de difícil limpeza e esterilização, propiciando a proliferação
As doadoras aptas devem iniciar a ordenha o mais precoce- bacteriana que freqüentemente leva à contaminação do leite
mente possível, após o cadastramento, o BLH ou PCLH deve humano ordenhado cru. Caso o produto não seja corretamente
agendar a coleta e garantir informações sobre as boas práticas resfriado, essa contaminação pode resultar no aumento da carga
de manipulação do leite ordenhado. Na primeira coleta, interna microbiana, a partir da utilização da lactose do leite com produ-
ou externa, um profissional habilitado deve observar – e comple- ção de ácido láctico. Essa modificação química leva à redução do
mentar se necessário – as seguintes informações: valor nutricional do LHOC e da biodisponibilidade do cálcio e do
fósforo. Os profissionais que prestam cuidado à mãe e ao bebê
• Formulário de cadastramento. devem conhecer a técnica correta da ordenha manual, e garantir
• Cartão do pré-natal. que todas as mães aprendam a ordenhar seu próprio leite. A or-
• Caderneta da criança. denha deve ser feita com cuidado, pois as mamas lactantes são
sensíveis; e quando a técnica não é adequada, pode acarretar
Sempre que possível, o profissional que acompanhar a primei- trauma na aréola ou em outras áreas do peito. A ordenha pode
ra coleta também deve verificar: ser considerada como indicador do controle de qualidade do lei-
te, uma vez que, se não for bem conduzida, o produto poderá
• A amamentação do filho da doadora, objetivando o ade- apresentar sujidades, odores estranhos, etc., e dessa forma não
quado posicionamento e pega da aréola para manuten- poderá ser utilizado. A ordenha pode ser realizada no BLH, no
656 ção da amamentação exclusiva; PCLH ou no domicílio da doadora.
• Se a criança não está recebendo água, chás ou qualquer
outro líquido ou alimento antes de completar seis meses Indicações de Ordenha
de idade;
• Se a criança não faz uso de mamadeira, chupetas e bi- A maioria das mulheres, do terceiro ao quinto dia após o par-
cos, entre outros produtos. to, costuma produzir leite em excesso. Nessa fase, praticamente
todas as nutrizes sadias podem se tornar doadoras de leite hu-
Doações Subseqüentes mano. As principais indicações de ordenha estão relacionadas à
condição materna e/ou do bebê :
Da segunda coleta em diante, o BLH ou PCLH deve avaliar o
surgimento de problemas à saúde da doadora ou de seu filho. Se • Manter a lactação.
houver intercorrências o profissional responsável pela coleta tem • Aliviar o ingurgitamento mamário (peito empedrado).
de comunicar imediatamente ao médico para que este analise • Aliviar a tensão na região mamilo-areolar visando a uma
se a doação será ou não aceita para a pasteurização. O médico pega adequada.
também deve avaliar a necessidade de encaminhamento da do- • Alimentar bebês que não têm condição de sugar direta-
adora a um serviço de saúde para que se garanta o tratamento mente no peito da mãe, por prematuridade, doença e ou-
específico. Em casos de interrupções da coleta, novas doações tras dificuldades relacionadas à amamentação.
serão aceitas após autorização do médico responsável. • Fornecer leite para o próprio filho, no caso de volta ao
trabalho ou separação temporária por outras causas.
Amamentação e Doenças Maternas • Tratar mastite.
• Colher o leite para ser doado a um BLH.
Embora a superioridade do aleitamento materno seja reconhe-
cida mundialmente, muitas são as causas de desmame precoce. Técnica de Ordenha Manual
Entre essas se destacam as doenças infecto-contagiosas, que po-
dem acometer tanto a mãe quanto a criança. Vale lembrar: quando • Condições para estimulação do reflexo da ocitocina
uma nutriz apresenta sintomas de uma doença infecto-contagiosa, • Ambiente tranqüilo, agradável e de preferência privativo.
geralmente já expôs seu filho ao agente patogênico. Nesse caso, • Local confortável e que permita adequada acomodação
a manutenção da amamentação deve ser avaliada como forma de da nutriz.
proteger a criança. • Reduzir ou eliminar fontes de dor, desconforto e ansie-
Há situações de doenças infecciosas que contra-indicam o dade.
aleitamento materno ou exigem cuidados especiais para que a • Facilitar o relaxamento da nutriz estimulando pensamen-
amamentação seja mantida. Apesar desses eventos apresentar tos e sentimentos agradáveis.
baixo nível de freqüência, o domínio– por parte dos profissionais • Estimular a mãe a expressar seus sentimentos.
de saúde – das condutas relacionadas à amamentação na vigên-
Capitulo 22 Banco de Leite

• Orientar a mãe a balançar, massagear delicadamente ou acari- • No caso de novas coletas para complementação do volu-
ciar as mamas, principalmente na região mamilo-areolar. me já coletado anteriormente, usar um copo de vidro fervi-
• Massagear as costas da nutriz ou orientar algum familiar do por 15 minutos (contados a partir do início da fervura)
para fazê-lo. e resfriado.
• Ao final da coleta, acrescentar o leite ordenhado ao fras-
Atenção: caso a lavagem das mamas seja realizada, utilizar co com leite congelado e levá-lo imediatamente ao con-
apenas água, pois o sabonete resseca os mamilos e os predis- gelador, evitando o degelo.
põe a fissuras. • Não preencher toda a capacidade do frasco, deixando
sempre o volume 2 a 3 cm abaixo da borda.
Procedimentos para a Ordenha e Coleta • No final da ordenha, aplicar as últimas gotas retiradas na
região mamilo-areolar.
A ordenha deve ser conduzida com rigor higiênico-sanitário ca- • No caso de coleta domiciliar, as doadoras devem ser
paz de garantir a serão empregados na alimentação de bebês orientadas a procurar um ambiente que não traga risco à
prematuros e de extremo baixo peso. Para tanto é indispensável qualidade microbiológica do leite ordenhado - evitar, por-
explicar a finalidade e a importância dos procedimentos e orien- tanto, a realização da coleta em banheiros e locais onde
tar a nutriz quanto aos seguintes cuidados: se encontram animais domésticos.

• Usar exclusivamente utensílios previamente esterilizados Transporte


para a coleta do leite humano.
• Utilizar vestuário próprio e exclusivo quando a ordenha e A etapa de transporte ocorre quando o leite humano é orde-
a coleta forem realizadas em ambiente hospitalar, BLH ou nhado em local externo ao BLH, como no domicílio da doadora,
PCLH. unidade de internação ou posto de coleta, e necessita ser trans-
• Prender obrigatoriamente os cabelos, com gorro, touca portado ao banco; ou quando o leite pasteurizado é encaminha-
de banho ou pano amarrado, e proteger a boca e narinas do do BLH a uma unidade receptora. O leite humano ordenhado
com máscara, fralda de tecido ou pedaço de pano. (cru e/ou pausteurizado) tem de ser transportado sob cadeia de
• Lavar as mãos e antebraços com água corrente e sabo- frio, e o tempo de transporte não deve ultrapassar seis horas.
nete até os cotovelos. As unhas devem estar limpas e de Cadeia de frio é a condição em que os produtos são mantidos
preferência curtas. sob refrigeração ou congelamento desde a coleta até o consumo,
• Evitar conversas durante a ordenha. com o objetivo de impedir alterações químicas, físico-químicas,
• Usar luvas se a ordenha não for feita pela própria nutriz. microbiológicas e imunológicas.
• Procurar uma posição confortável e manter os ombros Por questões de natureza microbiana ou química, a manu-
relaxados. tenção da cadeia de frio a que deve ser submetido o leite hu-
• Apoiar o peito com uma das mãos e com a outra posi- mano ordenhado representa importante ação preventiva para 657
cionar os dedos indicador e médio na região areolar; em a preservação da qualidade do alimento. Ao longo de toda a
seguida, iniciar massagens circulares até chegar à base cadeia, o momento de transporte sempre agrega riscos de
do peito, próximo às costelas. elevação de temperatura, o que, por conseguinte, favorece a
• Estimular o reflexo da ocitocina. ocorrência de não-conformidades.
• Inclinar-se levemente para frente, para iniciar a retirada do Os produtos devem ser transportados do local de coleta ao BLH
leite. em recipientes isotérmicos exclusivos, constituídos por material
• Colocar o dedo polegar no limite superior da aréola e o liso, resistente, impermeável, de fácil limpeza e desinfecção, con-
indicador no limite inferior, pressionando o peito em di- tendo gelo reciclável na proporção de três litros deste para cada
reção ao tórax. litro de leite. O gelo comum só pode ser utilizado quando o leite
• Aproximar a ponta dos dedos polegar e indicador, pressio- estiver fluido, pois representa uma fonte de calor para o leite con-
nando de forma intermitente os reservatórios de leite (es- gelado; já o gelo reciclável propicia temperatura mais baixa, o que
ses movimentos devem ser firmes, do tipo apertar e soltar, garante a manutenção do congelamento. É necessário transportar
mas não devem provocar dor; caso ela ocorra, a técnica os leites congelados e refrigerados separadamente. A manutenção
está incorreta). do leite a baixas temperaturas evita a proliferação de microrganis-
• Desprezar os primeiros jatos de leite (0,5 a 1 mL). mos, resultando em um produto de melhor qualidade.
• Mudar de cinco em cinco minutos, aproximadamente, a po- Normas para o recipiente isotérmico:
sição dos dedos (de superior e inferior para lateral direita e
esquerda, e para a posição oblíqua), buscando retirar o leite • O recipiente deve ser previamente limpo e desinfetado
de todo o peito. antes e após cada rota.
• Explicar a nutriz que nos primeiros minutos o leite não • Higienizar o gelo reciclável e o termômetro com cabo ex-
sai, ou sai em pequena quantidade, e que isso ocorre até tensor antes e após cada rota.
a liberação do reflexo da ocitocina (descida do leite). Es- • Climatizar o recipiente, com gelo reciclável, pelo menos
clarecer também que o tempo de ordenha varia de mãe 30 minutos antes da saída do BLH.
para mãe, podendo demorar de 15 minutos a mais de • Manter o gelo reciclável na proporção de três litros para
uma hora, principalmente nos casos de ingurgitamento um litro de LHO, distribuído sob a forma de colméia no
mamário severo. interior da caixa de transporte.
• Durante a ordenha, deve-se evitar puxar ou comprimir o • Manter a temperatura interna, que deve ser monitora-
mamilo e fazer movimentos de deslizar ou de esfregar a da depois de decorridos os 30 minutos de climatização
mama, pois, pode lesar a pele e o tecido mamário. – utilizar termômetro com cabo extensor no centro do
• A retirada de leite deve ser feita preferencialmente pela recipiente, sem tocar no gelo.
própria nutriz, quando as mamas estiverem macias, daí a • O bulbo do termômetro deve ser colocado no interior de um fras-
importância de iniciar a ordenha nos primeiros dois dias co de plástico resistente para não ser danificado.
após o parto. • Considerar as seguintes temperaturas limítrofes em seu interior:

Paulo R. Margotto
Assistência ao Recém-Nascido de Risco

• produto refrigerado – máx. de 5°C; Seleção e Classificação


• produto congelado – máx. de -1°C.
• Manter as embalagens em posição vertical e devidamen- Todo leite humano recebido pelo BLH deverá ser submetido
te rotuladas/identificadas (doadora, hora e data da pri- aos procedimentos de seleção e classificação. Uma vez conclu-
meira coleta). ídas estas etapas, o banco de leite poderá optar por estocar o
• As embalagens vazias devem ser acondicionadas em re- produto, ainda crú, para futuro processamento ou iniciar imedia-
cipiente separado. tamente o processamento e controle de qualidade.
• Calibrar os termômetros a intervalos regulares mantendo A seleção compreende: condições da embalagem, presença
o registro dos mesmos. de sujidades, cor, off-flavor e acidez Dornic. A classificação com-
• Recomenda-se utilizar um recipiente isotérmico de me- preende a verificação de: período de lactação, acidez Dornic e
nor volume, com gelo reciclável, para ser utilizado no conteúdo energético– crematócrito.
transporte das embalagens entre o veículo e a casa da Condições da embalagem
doadora. Somente abrir a caixa de maior volume quando O tipo de embalagem utilizado deve estar em conformidade
imprescindível. com os padrões estabelecidos acima.

O gelo reciclável pode ser preparado no próprio BLH, utilizan- Verificação da cor
do para esta finalidade: 200 mL de glicerina líquida, 200 mL de
álcool e 600 mL de água. Essa mistura, após homogeneizada, Coloração Normal Coloração Anormal
deve ser colocada em congelador ou freezer por um período apro- Pode ser causada
ximado de 12 horas, tempo suficiente para congelar e entrar em pela bactéria Ser-
equilíbrio térmico. No decorrer da coleta externa, deve-se verificar Resulta da
ratia marcescens,
e registrar, em planilhas exclusivas, a temperatura nos seguintes dispersão da luz
ou traduzir conta-
momentos: refletidas pelos
minação por san-
glóbulos de
Branca Vermelha gue. A oxidação
1. Na saída do BLH/PCLH. gordura e pelas
da hemoglobina
2. Antes de abrir a caixa, em cada domicílio. partículas coloi-
pode produzir al-
3. No último domicílio. dais de caseína e
gumas colorações
4. Na recepção do BLH/PCLH. fosfato de cálcio.
escuras.

Deve-se oferecer às doadoras embalagens esterilizadas em núme-


ro suficiente para o volume que ela é capaz de ordenhar/armazenar. Provém do pig-
Verde Pode ser causada
Manter o recipiente isotérmico fora do alcance de luz solar di- Amarelada mento caroteno
Escura por bactéria Pseu-
658 reta e distante de fontes de calor. que é lipossolúvel.
domonas
Normas referentes ao veículo para transporte do leite ordenhado:

• Deve garantir a integridade e a qualidade do produto. A cor do leite humano pode variar conforme os seus consti-
• Deve estar limpo, isento de vetores e pragas urbanas ou tuintes e reflete a preponderância de uma determinada fração.
de qualquer evidência de sua presença. O colostro geralmente varia da cor semelhante à água de coco
• Deve ser adaptado para transportar o recipiente isotérmi- ao amarelo-alaranjado. A coloração do leite de transição muda
co de modo a não danificar o produto e garantir a manu- gradualmente, em aproximadamente duas semanas, para um
tenção da cadeia de frio. branco azulado/opaco até se tornar leite maduro. A cor do leite
• Deve ser exclusivo no momento do transporte conforme maduro pode ser alterada por diversos fatores, entre eles a die-
rota estabelecida. ta materna e o uso de medicações. Alguns corantes utilizados
• Deve ser conduzido por motorista treinado para desen- em refrigerantes, sucos e gelatinas têm sido associados a uma
volver a atividade de coleta domiciliar do leite ordenhado coloração rósea ou róseo-alaranjada do leite. Um leite de colo-
ou ser acompanhado por profissional do BLH/PCLH capa- ração esverdeada tem sido associado ao uso de grandes quan-
citado para este fim.Transporte da unidade de internação tidades de vegetais pela mãe (coloração dada pela riboflavina),
para o BLH/PCLH e do PCLH para o BLH ao consumo de bebidas com corantes verdes e à ingestão de
• As embalagens devem estar devidamente rotuladas. algas marinhas. O leite congelado pode adquirir tonalidade mais
• Manter a cadeia de frio, utilizando recipiente isotérmico amarelada. Dependendo do momento da ordenha, observa-se o
com gelo reciclável. predomínio de cada uma das frações que compõem o leite hu-
• Registrar os dados em planilha específica. mano. No início, há predomínio da fração hidrossolúvel; por essa
razão, o produto da secreção láctica tende a assumir uma colo-
Transporte do leite pasteurizado do BLH para o porciona- ração do tipo “água de coco”. O aspecto pode chegar até a um
mento/consumo: azul ou verde intenso, de acordo com a presença de componen-
tes hidrossolúveis, como a riboflavina, cuja concentração no leite
• As embalagens devem estar devidamente rotuladas. resulta diretamente da dieta da nutriz. Na fase intermediária da
• Manter a cadeia de frio, utilizando recipiente isotérmico ordenha, aumenta a concentração de caseína, com predomínio
com gelo reciclável. O leite deve chegar ao consumidor com da fração suspensão, resultando em um produto que tende para
as mesmas características que possuía ao sair do BLH. o branco-opaco. No estágio final da ordenha, ocorre aumento dos
• Registrar as características do LHOP em planilha específica. constituintes lipossolúveis e, conseqüentemente, da presença de
• O responsável pelo bebê receptor deve receber por escri- pigmentos que tendem a conferir uma cor amarelada, cada vez
to as orientações específicas quanto a transporte, con- mais intensa, ao leite. Essas modificações na cor do leite não
servação, fracionamento e utilização do leite. configuram situações de não-conformidade. As oscilações entre
o “vermelho-tijolo” e o marrom-escuro devem ser pesquisadas,
pois pode indicar a presença de sangue, o que representa uma
Capitulo 22 Banco de Leite

não-conformidade para a doação. Entretanto, esse leite pode ser 2. Em campo de chama, trabalhando com rigor microbio-
consumido pelo filho da doadora, dependendo da quantidade de lógico, remover a tampa do frasco e inspirar.
sangue presente e da avaliação médica (da mãe e da criança). A 3. Relatar as impressões de off-flavor dos frascos de leite
contaminação com sangue ocorre por descarga papilar (saída de humano ordenhado.
secreção através dos canalículos que se exteriorizam pelo mami-
lo) sanguinolenta,comum nas duas primeiras semanas de puer- Observação: como a fadiga olfativa interfere na acuidade
pério, ou por lesão – do tipo fissuras do seio. A coloração do leite sensorial, fatores que induzem a isso devem ser evitados, como
por pigmentos pode ser variável. Para que o produto nesse caso intensidade e tipo de odor. Portanto, recomenda-se não fumar,
seja considerado válido para consumo, é preciso que se tenha comer ou beber por 30 minutos antes da determinação do off-
conhecimento a respeito da dieta da doadora, o que na maioria flavor e não usar cosméticos como perfume.
das vezes é impossível.
Verificação de Sujidades
Verificação de Off-Flavor
A avaliação da presença de sujidades deve ser realizada por
Off-flavor é a característica organoléptica não-conforme com analista capacitado, com o objetivo de determinar prováveis al-
o aroma original do leite humano ordenhado. O leite humano é terações que caracterizem o leite humano ordenhado como im-
um fluido de reação levemente alcalina ou próxima da neutra- próprio para consumo – leite que contenha corpo estranho no
lidade, cujo sabor se mostra suavemente adocicado durante os momento da avaliação.
primeiros 30 dias de lactação. Isso se dá em decorrência da re-
lação cloreto/lactose. Esses dois constituintes, além das demais Técnica de Verificação da Sujidade
funções biológicas a que se destinam, são os responsáveis pela
manutenção da pressão osmótica do leite humano, conferindo • A presença de sujidades deverá ser verificada no momen-
ao produto um caráter de fluido isotônico. À medida que a lac- to do reenvase do leite, previamente à pasteurização, jun-
tação avança, após os primeiros 30 dias, observa-se tendência to com a avaliação da coloração e do flavor do produto.
de elevação no teor de cloretos com proporcional diminuição da • No momento do reenvase do leite para a embalagem em
lactose, o que permite manter a pressão osmótica estabilizada. que este será pasteurizado, o técnico responsável pelo pro-
É com base nessa dinâmica que se determina o flavor primário, cessamento deve estar atento à presença de qualquer corpo
o qual, de início, é levemente adocicado, e depois tende para um estranho.
padrão ligeiramente salgado, a partir do quinto mês de lactação. • São considerados exemplos de sujidades comumente
Um outro tipo de flavor, denominado secundário, pode aparecer encontradas no leite humano: pêlos, cabelos, fragmentos
no leite humano, decorrente de alterações em sua composição, de pele, fragmentos de unha, insetos, pedaços de papel,
assim como devido à incorporação de substâncias químicas volá- vidro, etc.
teis (provenientes do meio externo ou resultantes do crescimen- • Todo o conteúdo do frasco em que se encontrou a sujida- 659
to microbiano indesejável). Nos dois casos, o flavor secundário de tem de ser descartado.
passa a ser denominado off-flavor e sua presença desqualifica
o leite para consumo. A lactose apresenta grande capacidade Determinação da Acidez Dornic
de sorção, ou seja, de absorver e adsorver substâncias voláteis.
Por essa razão, o leite humano nunca deve ser manipulado em Acidez Dornic do leite humano ordenhado é a acidez titulável
ambientes que apresentem odores ativos de qualquer espécie. expressa em graus Dornic. A acidez do leite humano pode ser
Observando esse mesmo princípio, deve-se recomendar a não- classificada como original e desenvolvida. A original resulta da
utilização de perfumes e cosméticos pelos funcionários no mo- presença de seus constituintes (micelas de caseína e sais mi-
mento da manipulação do leite ou da condução de ordenhas. A nerais, entre os quais se destacam os fosfatos e citratos); e a
mesma orientação deve ser dada às doadoras. desenvolvida é conseqüente ao crescimento bacteriano, da mi-
A determinação do off-flavor se configura como importante crobiota primária e secundária, com produção de ácido láctico.
instrumento na detecção de não-conformidades no leite huma- A acidez desenvolvida do leite humano leva a um aumento da
no ordenhado, sobretudo as que decorrem do crescimento de osmolaridade e à diminuição da biodisponibilidade do cálcio e
microrganismos pertencentes a microbiota secundária do leite. do fósforo presentes. As bactérias fermentam a lactose do leite
A presença desses agentes torna o produto inapropriado para o humano, produzindo ácido láctico. Para a determinação da aci-
consumo, principalmente por ocasionar alterações físico-quími- dez titulável do leite humano, a solução titulante é o hidróxido
cas em sua composição. de sódio 0,1 N, também conhecido como solução Dornic. Cada
0,01 mL gasto para neutralizar 1 mL de leite humano ordenhado
Off-Flavor Significado corresponde a 1°D (um grau Dornic).
O leite humano recém-ordenhado, caso titulado imediatamente
Os microrganismos lipolíticos
Rancificação: após a ordenha, apresenta-se praticamente livre de ácido láctico,
promovem o desenvolvimento
cheiro de sabão de coco e sua acidez total pode ser considerada original, com valores os-
de ranço hidrolítico e oxidativo.
cilando entre 1 e 4°D. À medida que a microbiota encontra con-
Peixe ou Ovo em fase de Decorrente da presença de
dições favoráveis para o crescimento, ocorre a produção de ácido
decomposição microrganismos proteolíticos
láctico e a conseqüente elevação da acidez. Acidez maior ou igual
Cloro, plástico, Decorrem da sorção da lactose a 8°D desqualifica o produto para o consumo. Mesmo apresentan-
borracha e remédio e também impedem o consumo do valores inferiores a esse limite, a biodisponibilidade do cálcio
e a osmolaridade variam de forma inversamente proporcional ao
Técnica de Verificação de Off-Flavor índice de acidez. A determinação da acidez Dornic também serve
como parâmetro classificatório para o leite humano.
1. Segurar no fundo do frasco com leite humano ordenha-
do fluido e agitar vigorosamente.

Paulo R. Margotto
Assistência ao Recém-Nascido de Risco

Período de Lactação de detecção dessas modificações. Entre as várias alternativas,


pode ser citada a técnica que se fundamenta nas diferenças de
O leite humano deverá ser classificado em colostro, leite huma- densidade dos constituintes do leite. A fração emulsão congrega
no de transição e leite maduro. Para determinar a classificação, os componentes de menor densidade, resultando em valor médio
deve ser considerada a informação prestada pela paciente em situado na ordem de 0,9 g/cm3. Por essa razão, ao se submeter o
seu cadastro de doadora, levando em conta a idade gestacional leite à centrifugação, a fração emulsão tende a ascender no tubo
no momento do parto e a idade da lactação em dias em que o e separar-se dos demais constituintes. Contudo, ao sofrer a ação
leite foi coletado. da força centrífuga, a fração emulsão arrasta consigo as micelas
de caseína, formando um aglomerado denominado creme, que se
Classificação do leite humano conforme o período de lactação separa do soro do leite ou fração hidrossolúvel. Estudos acerca da
proporcionalidade dos constituintes do leite humano permitiram
o estabelecimento da relação matemática entre creme, soro, gor-
Classificação Periodo dura e conteúdo energético. O leite humano com conteúdo ener-
gético baixo é rico em substâncias protetoras, sobretudo as que
Menos de sete dias após o
Colostro se destacam pela proteção química e biológica exercida no trato
parto
digestivo do lactente.
Sete a quatorze dias após o
Leite de transição
parto Técnica de Verificação do Crematócrito
Mais de quatorze dias após o
Leite Maduro
parto • Homogeinizar o frasco contendo o leite humano ordenha-
do.
Idade gestacional< 37 sema-
Leite de mãe de Prematuro • Pipetar 1mL de leite e transferir esse volume para tubo
nas
de ensaio de 5mL.
• Dispor as amostras de 1 mL em estante (revestida de
PVC) e aquecer em banho-maria a 40°C durante 15 mi-
Crematócrito nutos.
• Coletar, de forma independente, três alíquotas de 75 μL
Crematócrito é a técnica analítica que permite o cálculo esti- de cada uma das amostras de leite humano ordenhado,
mado do conteúdo energético do leite humano ordenhado. O leite com auxílio de tubos microcapilares.
humano reúne em sua composição mais de 250 substâncias di- • Vedar uma das extremidades dos tubos com massa ou
ferentes, dispostas de modo hierarquizado e compartimentaliza- utilizando o bico de Bunsen.
do, integrando três subsistemas ou frações: emulsão, suspensão • Dispor os capilares na centrífuga, posicionando as extre-
660 e solução. A fração emulsão congrega os constituintes liposso- midades vedadas na direção centrífuga (para fora).
lúveis – gordura, óleos, vitaminas, pigmentos e alguns ácidos • Posicionar os capilares sempre dois a dois, em diagonal,
graxos livres. Praticamente todos os constituintes lipossolúveis, de modo a equilibrar Cálculo do conteúdo energético
ou sua grande maioria, estão presentes na forma de glóbulos, en- total o prato da centrífuga. Caso o número de tubos seja
voltos por uma membrana fosfolipoprotéica. Essa membranaé a ímpar, completar com um capilar preenchido com água.
mesma da célula alveolar da glândula mamária, e é responsável • Centrifugar por 15 minutos, observando a velocidade que
pela estabilidade da emulsão. o fabricante da centrífuga indica para a realização do tes-
A fração suspensão é constituída de micelas de caseína, for- te de micro-hematócrito.
madas por subfrações como a κ-caseína, γ-caseína, α-caseína, • Proceder à leitura após a centrifugação. Duas colunas
αs1-caseína, entre outras. O sistema caseína forma uma suspen- serão observadas: em uma extremidade fica a coluna de
são coloidal do tipo gel, cuja estabilidade é conferida pela fração creme e na outra a coluna de soro.
κ-caseína que envolve a micela. A quase totalidade do cálcio e do
fósforo presente no leite humano encontra-se associadas às mice- Resultados
las, partículas, quimicamente, ligadas às frações que as integram. Avaliação do teor de creme
A fração solução reúne a água– o maior constituinte do leite hu- Coluna de creme (mm) x 100 ÷ coluna total (mm) = % de creme
mano (87%), bem como os demais hidrossolúveis (as proteínas do Avaliação do teor de gordura
soro, os sais minerais e os carboidratos, por exemplo) e a maior (% de creme - 0,59) ÷ 1,46 = % de gordura
parte dos imunobiológicos presentes no leite humano. Essas três (% de creme x 66,8 + 290) = kcal/litro
frações apresentam uma relação de proporcionalidade entre si, Como para cada frasco de leite avaliado são colhidas três alí-
decorrente do próprio movimento de síntese do leite humano. Des- quotas em capilar, o valor final corresponde à média aritmética
sa maneira, a variação na concentração de um dos constituintes encontrada. A mistura de leite humano ordenhado proveniente
do leite sempre acarreta alteração nos demais, podendo essa re- de diferentes doações (pool) só pode ser efetuada com amostras
lação de proporcionalidade se dar de forma direta ou indireta, de- consideradas próprias para consumo nos testes de seleção e
pendendo dos constituintes considerados. Por exemplo, os consti- classificação aplicados ao produto crú. Descarte do leite humano
tuintes lipossolúveis, que integram a fração emulsão, tendem a se reprovado na seleção e classificação. Os produtos que não preen-
relacionar de forma inversamente proporcional com as proteínas cherem as especificações determinadas devem ser descartados
do soro do leite ou proteínas solúveis, principais representantes conforme o disposto na RDC/Anvisa nº 306/2004 para resíduos
dos imunobiológicos. Tal tendência permite afirmar que quanto do Grupo D, ou seja, podem ser descartados diretamente na rede
maior o conteúdo de gordura, maior será o aporte energético e me- de esgoto (águas servidas), sem tratamento prévio.
nor será a concentração de imunobiológicos. Uma vez entendida a
possibilidade de variação dos macroconstituintes do leite humano Pasteurização
em termos gerais e suas respectivas implicações em termos de
mudanças na composição, é necessário estar atento aos modos Em termos gerais, os microrganismos que compõem a micro-
biota do leite humano ordenhado podem ser classificados quanto
Capitulo 22 Banco de Leite

à origem ou a patogenicidade. São considerados contaminantes agitar manualmente cada frasco de cinco em cinco minu-
primários aqueles que passam diretamente da corrente sangüí- tos, sem retirá-lo do banho-maria.
nea para o leite, como no caso do HIV; e secundários os que ha- • Transcorridos os 30 minutos relativos à letalidade térmi-
bitam as regiões mais externas dos canais mamilares e o meio ca, promover o resfriamento dos frascos até que o leite
exterior. Independentemente de sua origem, os integrantes da humano atinja uma temperatura igual ou inferior a 5°C.
microbiota primária e secundária podem ainda ser classificados • O resfriamento dos frascos pode ser obtido com o uso de
como: saprófitos ou patogênicos. resfriadores automáticos ou pela imersão dos recipien-
O leite humano ordenhado destinado ao consumo de recém- tes em um banho contendo água e gelo.
nascidos, particularmente os internados em Unidades de Terapia
Intensiva (UTIs), não devem apresentar microrganismos em quan- Monitoramento do Processo
tidade ou qualidade capazes de representar agravos à saúde. Des-
sa forma, é preciso que se disponha de procedimentos capazes de • A pasteurização do leite humano deverá ser monitorada
assegurar a qualidade sanitária do leite. A pasteurização represen- a cada cinco minutos, com registro da temperatura em
ta uma alternativa eficaz, há muito conhecida e praticada no cam- planilha específica no momento da averiguação.
po da tecnologia de alimentos. Trata-se de um tratamento térmico • Não se permite oscilação da temperatura superior a
aplicável ao leite humano, que adota como referência a inativação 0,1°C.
térmica do microrganismo mais termorresistente, a Coxiella bur-
netti. Uma vez observado o binômio temperatura de inativação e Controle de Qualidade
tempo de exposição capaz de inativar este microrganismo pode-se
assegurar que os demais patógenos também estarão termicamen- Aspectos Microbiológicos
te inativados. O leite humano ordenhado crú coletado e aprovado
pelo controle de qualidade deve ser pasteurizado a 62,5°C por 30 O controle de qualidade microbiológico do leite humano orde-
minutos após o tempo de pré-aquecimento. nhado praticado pela Rede BLH-BR segue a lógica preconizada
A pasteurização não visa à esterilização do leite, mas sim a para alimentos, que institui a utilização de microrganismos indi-
uma letalidade que garanta a inativação de 100% dos micror- cadores de qualidade sanitária. Nesse contexto, o grupo colifor-
ganismos patogênicos passíveis de estar presentes, quer por me tem ocupado lugar de destaque, por ser de cultivo simples,
contaminação primária ou secundária, além de 99,99% da mi- economicamente viável e seguro, minimizando a possibilidade
crobiota saprófita ou normal. de resultados falso-negativos. A partir do procedimento clássico
O ambiente onde ocorre a pasteurização deve ser limpo e de- para detecção de coliformes totais, foi desenvolvida uma metodo-
sinfetado imediatamente antes do início de cada turno, entre os logia alternativa que consiste na inoculação de quatro alíquotas
procedimentos. O mesmo deverá ser feito ao termino das ativida- de 1 mL cada de leite humano ordenhado pasteurizado, pipeta-
des. É permitida a administração de LHOC (sem pasteurização) das de forma independente e inseridas em tubos com 10 mL de
exclusivamente da mãe para o próprio filho, quando: caldo bile verde brilhante, a 50 g/L. Após a inoculação e incuba- 661
ção a 36 ± 1°C, a presença de gás no interior do tubo, caracteri-
1. Coletado em ambiente próprio para este fim; za resultado positivo. Os resultados positivos, por sua vez, devem
2. Com ordenha conduzida sob supervisão; ser confirmados com auxílio de alça bacteriológica calibrada de
3. Para consumo em no máximo 12 horas, desde que 0,05 mL, utilizando-se tubos contendo BGBL. Após a incubação
mantida a temperatura máxima de 5°C. desses tubos sob as mesmas condições do teste inicial, a pre-
sença de gás indicando a presença de microrganismos do grupo
Técnica de pasteurização coliforme confirma que o produto é impróprio para consumo.

• Regular o banho-maria à temperatura de operação Coleta de Leite Pasteurizado para Análise


(suficiente para atingir 62,5°C no ponto frio) e esperar
que o mesmo se estabilize. • Após o tratamento térmico (pasteurização e resfriamen-
• O equipamento é considerado estável e pronto para entrar to), manter os frascos do leite humano ordenhado pas-
em operação quando a luz-piloto acender e apagar três ve- teurizado sob cadeia de frio.
zes consecutivas e a temperatura de operação mantiver- • Retirar um frasco por vez para coleta das alíquotas e re-
se estável. torná- los imediatamente à cadeia de frio.
• Carregar o banho-maria com os frascos contendo o leite • Coletar, sob campo de chama ou em cabine de segurança
a ser pasteurizado. biológica, quatro alíquotas de 1 mL da amostra a ser ana-
• Utilizar sempre embalagens padronizadas, de acordo lisada. As alíquotas deverão ser coletadas em pontos dife-
com o capítulo “Embalagem e Rotulagem”. rentes do frasco.
• O nível de leite no interior da embalagem deve ficar abai- • Dispor todas as alíquotas de uma mesma amostra em
xo do nível da água do banho-maria. um único tubo de cultura contendo caldo bile verde bri-
• Em função do desprendimento de ar dissolvido no leite lhante concentrado (BGBL 5%).
humano durante o processo de aquecimento, recomen- • Tampar os tubos contendo o leite com o meio de cultura e
da-se que o rosqueamento das tampas esteja com folga incubá-los a 36 ± 1°C durante 24 a 48 horas, em estufa.
de ¼ de volta (embalagem semifechada).
• Iniciar a marcação do tempo de letalidade térmica (30 Determinação de Coliformes Totais
minutos) a partir do momento em que a temperatura do
leite humano atingir a marca de 62,5°C (tempo de pré- • A determinação da presença ou ausência dos colifor-
aquecimento). mes totais se dá pela observância da formação de gás
• O tempo de processamento dependerá do tipo, do volume no interior dos tubos.
e do número de frascos utilizados durante a pasteurização. • São considerados positivos para coliformes aqueles tubos
• Caso o banho-maria não disponha de agitador automáti- que contenham em seu interior tubos de com formação de
co, o funcionário responsável pela pasteurização deverá bolha (gás), no período de 24 a 48 horas de incubação.

Paulo R. Margotto
Assistência ao Recém-Nascido de Risco

• A presença de gás indica um resultado presumível, que de- ceira do leito ou no local de preparo de medicamentos, devendo
verá ser submetido a prova confirmatória, obrigatoriamente. ser adotadas rigorosas medidas higiênico-sanitárias relativas a
procedimentos, pessoal e ambiente. Teto, piso e paredes do lo-
Prova Confirmatória cal de porcionamento do LHO precisam ser de material íntegro,
liso, impermeável, de fácil limpeza e desinfecção, resistente aos
A prova confirmatória para presença de coliformes se faz utili- saneantes utilizados. A ventilação deve proporcionar renovação
zando os tubos com resultados considerados positivos. adequada do ar, garantir conforto térmico, controlar odores que
eventualmente possam ser transferidos para o leite humano or-
• Coletar (sob campo de chama ou cabine de segurança denhado e proteger o leite de contaminações veiculadas pelo ar.
biológica, tendo o auxílio da alça bacteriológica com ca- É necessário que esse ambiente contenha, no mínimo, recur-
pacidade de 0,05 mL, e observando a formação de uma sos para a lavagem das mãos; bancada de material íntegro, de
membrana a partir do meio de cultura) amostra daquele fácil limpeza e desinfecção, resistente aos saneantes utilizados;
tubo com presença de gás em caldo bile verde brilhante na e equipamento para manipulação sob técnica microbiológica. No
concentração de 5%, e inocular no mesmo meio de cultura caso de o ambiente também ser utilizado para armazenamento
na concentração de 4% p/v. do LHO antes ou após o porcionamento, devem ser observadas
• Incubar os tubos com o meio caldo bile verde brilhante também as exigências de estocagem e manutenção da cadeia de
na concentração de 4% e inoculá-los em estufa a 36 ± frio. Tal área deve ser de acesso restrito ao pessoal diretamente
1°C, por 48 horas. envolvido e devidamente paramentado, sendo proibido manter
plantas e objetos pessoais ou em desuso no local. A paramenta-
Resultados ção, bem como a higiene para a entrada no ambiente destinado
Aqueles frascos em que houve a formação de gás no teste con- ao porcionamento do LHO, deve ser realizada em área específica
firmatório são considerados como resultado positivo final. Uma e seguir procedimentos preestabelecidos. O funcionário respon-
vez que o objetivo da pasteurização é eliminar 100% das bacté- sável pelo porcionamento deve atuar com dedicação exclusiva
rias patogênicas, a presença de coliforme em amostra de leite no momento da manipulação, não podendo estar envolvido em
pasteurizado caracteriza o produto como impróprio para consu- outras atividades durante essa etapa. É vedada a utilização de
mo. Os resultados serão expressos como ausência e presença aditivos durante a fase de porcionamento. Para realizar o porcio-
de coliformes totais. namento o profissional deve:

Porcionamento e Administração 1. Paramentar-se e higienizar as mãos.


2. Certificar-se de que embalagens e materiais que entra-
Porcionamento rão em contato direto com o leite ordenhado foram corre-
tamente esterilizados e encontram-se dentro do prazo de
662 O porcionamento é uma etapa que ocorre após a distribuição validade da esterilização.
do leite humano ordenhado pelo BLH e constitui-se na aliquota- 3. Verificar se as embalagens estão rotuladas de forma a
gem do leite para consumo, de acordo com a prescrição médica possibilitar a rastreabilidade do leite.
e/ou do nutricionista. A manipulação do leite ordenhado exige 4. Submeter o leite ao degelo prévio.
cuidados rigorosos, uma vez que os seus receptores são geral- 5. Verificar o volume estabelecido na prescrição médica
mente recém-nascidos prematuros ou crianças com o sistema ou do nutricionista.
imunológico comprometido. Considerando-se que existe risco de 6. Realizar o porcionamento observando o seguinte:
alteração da qualidade do leite após a distribuição pelo BLH e 7. Em cabine de segurança biológica:
que a contaminação (por bactérias, vírus, bolores e leveduras) 8. Verificar se a cabine está ligada a pelo menos 30 minutos.
do leite pasteurizado pode ser proveniente do ambiente ou de 9. Dispor os frascos, materiais e utensílios que serão uti-
manipulação em condições higiênico-sanitárias insatisfatórias, a lizados no porcionamento sobre a bancada da cabine de
conservação e a manipulação posterior do leite devem observar segurança biológica, de modo a não interromper o fluxo
as boas práticas de manipulação de LHO, mesmo quando não de ar, não superlotando a bancada.
realizadas dentro do BLH. 10. Durante toda a operação, não apoiar ou tocar os bra-
O porcionamento pode ser identificado como sendo um ponto ços e/ou mãos na superfície da cabine.
crítico da manipulação do leite ordenhado, principalmente se o 11. Em campo de chama:
consumo deste não for imediato, já que não há etapas posterio- 12. Ligar o bico de Bunsen ou de Mecker.
res que possam reduzir ou eliminar uma possível contaminação. 13. Dispor os frascos, materiais e utensílios na bancada.
O porcionamento do leite destinado ao consumo deve ser reali- 14. Proceder ao reenvase dentro de um raio de até 15 a 20
zado no BLH, lactário ou outro ambiente fechado, próprio, de uso cm do centro da chama, dependendo do tipo de bico de
exclusivo e localizado de preferência próximo às unidades onde Bunsen utilizado.
será realizado. Logo, esse espaço deve ter uma separação física 15. Porcionar, atendendo ao volume prescrito, despejando o
das áreas de cuidados diretos aos pacientes e de outras que pos- leite diretamente em um frasco graduado. Pode-se, ainda,
sam constituir risco à qualidade do alimento. No caso do porcio- despejá-lo com o auxílio de pipeta estéril ou seringa des-
namento ser realizado fora do BLH, em área onde também ocorra cartável, utilizando uma para cada embalagem de LHOP.
o preparo de fórmulas lácteas e não-lácteas, como o lactário e o
serviço de nutrição enteral, deve existir procedimentos escritos Administração do Leite Humano Ordenhado
quanto a horários distintos de utilização do ambiente. Os serviços
de neonatologia e pediatria (enfermarias, alojamento conjunto, A administração do leite ordenhado para o receptor deve se-
berçário, unidade intensiva e semi-intensiva, entre outros) são os guir o volume, a via e a freqüência estabelecidos na prescrição
setores onde o leite ordenhado é utilizado com maior freqüência. médica ou do nutricionista. O profissional responsável pela ad-
Esses também são considerados de risco para infecções hos- ministração deve realizar a lavagem das mãos. O leite humano
pitalares, devido à veiculação de microrganismos patogênicos, ordenhado cru só pode ser administrado em situações espe-
motivo pelo qual o porcionamento não deve ser feito na cabe- ciais e desde que seja exclusivamente da mãe para o próprio
Capitulo 22 Banco de Leite

filho. Nesses casos, deve ter sido coletado em ambiente próprio por sucção representa esforço demasiado. A técnica e o mate-
para este fim, com ordenha conduzida sob supervisão. O LHOC rial para sondagem devem ser definidos na rotina do serviço. O
precisa estar devidamente identificado e o consumo deve ocor- tipo de sonda a ser utilizada deve ser escolhida de acordo com
rer em no máximo 12 horas, com o leite mantido à temperatura a indicação (gástrica ou enteral), o peso e a idade do lactente. É
não superior a 5°C. necessário que a higiene oral do lactente seja feita com bastante
Em se tratando de UTI neonatal – e considerando que os rigor para evitar e remover a formação de crostas labiais, que
recém-nascidos internados apresentam risco aumentado de in- ocorre comumente em crianças com sonda orogástrica. Caso a
fecção e maior necessidade de imunobiológicos, especialmente sonda saia acidentalmente, ela deve ser trocada.
os recém-nascidos de extremo baixo peso (<1000g), quando Passo-a-passo da gavagem
não houver BLH no serviço de saúde, recomenda-se que o leite
crú da própria mãe seja imediatamente resfriado para ser uti- • Verificar a prescrição do paciente.
lizado em no máximo 12 horas. Em condições excepcionais, o • Lavar as mãos.
acréscimo de aditivos poderá ser realizado sob prescrição mé- • Verificar se a temperatura do leite ordenhado está pró-
dica, no momento da administração, mediante a garantia da xima à temperatura corporal, evitando-se assim descon-
isenção de riscos à saúde do receptor, levando-se em conside- forto para o lactente e prevenindo acidentes por queima-
ração os riscos e benefícios provenientes da manipulação e do dura.
produto adicionado. No caso do uso de aditivo, este deve ser • Conectar o equipo e/ou a sonda ao recipiente com o lei-
administrado em ambiente hospitalar. te, evitando tocar qualquer porção do sistema de admi-
nistração que entrará em contato com o alimento, como,
Administração Via Oral por exemplo, a ponta do equipo, da sonda e da seringa.
• Posicionar o lactente em decúbito dorsal ou latera l es-
Na ausência materna, para a administração via oral de LHO querdo (deitado com a barriga para cima ou para o lado
é recomendado o uso de copinhos, dos quais o recém-nascido esquerdo).
sorve o leite, não interferindo no processo de sucção ao seio. O • Recomenda-se aspirar o resíduo gástrico suavemente,
tipo de copinho ideal deve ser pequeno, flexível, sem bordas que antes de infundir a dieta, a fim de avaliar se o leite da
possam machucar o lactente; e também é necessário que per- dieta anterior foi digerido e também o posicionamento da
mita o processo de esterilização. O recém-nascido não deve ser sonda. Caso seja detectado resíduo gástrico, comunicar
alimentado com o uso de mamadeiras, pois os bicos artificiais ao prescritor para definição de conduta.
da mamadeira provocam uma sucção inadequada, além de pre- • A administração do leite ordenhado pode ser feita pela
judicar a amamentação no peito. Atualmente, há vários produtos ação da gravidade ou por bomba de infusão. A bomba
disponíveis no mercado – e outros que estão sendo lançados – de infusão é mais indicada para administrar pequenos
com os mais diversos materiais e formatos, que do mesmo modo volumes com mais precisão.
interferem negativamente nesse processo. • Oferecer a alimentação lentamente, mantendo sempre a 663
Passo-a-passo da administração via oral seringa 15 a 20 cm acima da cabeça do lactente. Esse
cuidado é fundamental, pois evita que haja uma pressão
• Lavar as mãos. elevada no estômago, distensão abdominal, regurgita-
• Conferir o volume da dieta prescrita com o rótulo ou, en- ção, vômito e broncoaspiração.
tão, com o volume do leite ordenhado pela mãe. • O tempo de exposição do leite à temperatura ambiente
• Verificar se a temperatura do frasco de leite ordenhado durante a administração não deve exceder uma hora.
está próxima à do ambiente, para não provocar descon- • Desconectar a seringa e o equipo.
forto ou queimaduras. • Após a administração, descartar o frasco ou a seringa
• Colocar o lactente no colo em posição semi-sentada, com o que continha o leite porcionado.
corpo e o rosto voltados para o profissional ou para a mãe • Fechar a sonda.
• Colocar um babador ou uma gaze abaixo do queixo do • Colocar a criança preferencialmente em decúbito lateral
bebê para evitar o desconforto de um eventual extrava- esquerdo (deitado para o lado esquerdo) elevado, duran-
samento de LHO sobre a roupa. te no mínimo uma hora após o término da alimentação,
• Aproximar o copinho de forma que ele toque o lábio infe- se não houver contra-indicações.
rior do lactente, sem prender a língua. • Registrar no prontuário ou formulário próprio: horário de
• Deixar o lactente sorver ou lamber o leite, respeitando o início e término da administração, volume de leite infun-
seu ritmo e as pausas para deglutição e respiração. dido e eventuais intercorrências.
• Ao terminar a administração do leite, manter o lactente
em posição elevada ou em decúbito lateral esquerdo Bibliografia
para evitar a ocorrência de refluxo.
• Banco de Leite Humano: funcionamento, prevenção e controle de riscos. ANVISA, 2008.
• Registrar a aceitação no prontuário ou formulário próprio, • Issler H.. O Aleitamento Materno no contexto Atual,2008
incluindo o volume e a apresentação de episódios de re- • MINISTÉRIO DA SAÚDE. Recomendações técnicas para o funcionamento de bancos de
leite humano-normas e Manuais Técnicos, 2001
gurgitação e/ou vômito. • Agência Nacional de Vigilância Sanitária- ANVISA. Resolução RDC número 117, de 4
/11/2006.
• Silva VG. Normas técnicas para bancos de leite humano: uma proposta para subsidiar a
Administração por Sonda ou Gavagem construção de boas práticas [doutorado], Osvaldo Cruz, Rio de Janeiro, 2004.
• OPAS. Evidências científicas dos dez passos para o sucesso do aleitamento materno, Bra-
sília 2001.
• Lucas A, Gibbs JA e cl. Crematocrit: simple clinical technique for estimating fat concentra-
A administração do leite ordenhado por sonda (gavagem) é in- tion and energy value of human milk. Br Med J. 1:1018, 1978.
dicada quando o lactente estiver impossibilitado de alcançar as • Almeida JAG. Qualidade do leite humano coletado e processado em bancos de leite. Dis-
sertação (Mestrado em Microbiologia de Alimentos) – Faculdade de Engenharia de Ali-
suas necessidades nutricionais por via oral, devido a, por exem- mentos, Universidade Federal de Viçosa, Viçosa, 1986.
plo: imaturidade gastrintestinal; ausência ou incoordenação dos
reflexos de sucção e deglutição; e uso de ventilação mecânica
(respirador). Também é recomendada a prematuros e/ou pe-
quenos para a idade gestacional, para os quais a alimentação

Paulo R. Margotto
Assistência ao Recem-Nascido de Risco

TRANSFORMAÇÃO DAS UNIDADES INTERNACIONAIS EM UNIDADES TRADICIONAIS

Uréia Creatinina
X 0,06 X 0,113
mmol/l g/l µmol/l mg/l
2 0,12 9 1,0
2,5 0,15 25 3,0
3 0,18 50 5,5
5 0,30 75 8,5
7 0,42 100 11,0
7,5 0,45 150 17,0
15 0,90 250 28,0
25 1,50 350 39,5
30 1,80 450 51,0

Ácido Úrico Glicose


X 0,168 X 0,18
µmol/l mg/l mmol/l g/l
50 8 2 0,35
100 17 3 0,55
150 25 3,5 0,65
300 50 4,5 0,80
400 70 5,5 1,00
500 84 8 1,40
500 101 11 2,00
1500 250 15 2,70
2000 340 20 3,60
664
Colesterol Triglicerídeos
X 0,387 X 0,875
mmol/l g/l mmol/l g/l
2,5 1 0,3 0,25
3 1,15 0,4 0,35
4 1,55 0,5 0,44
5 1,95 1 0,90
6 2,30 1,7 1,50
7 2,70 2 1,75
8 3,10 2,50 1,20
9 3,50 2,80 2,45
10 3,90

Fósforo Cálcio
X 31 X 40,1
mmol/l mg/l mmol/l mg/l
0,5 15,5 1,5 60
0,75 23 2 80
1 31 2,30 92
1,3 39 2,40 96
1,5 46,5 2,50 100
1,75 54,5 2,60 105
2,25 70 2,70 108
2,50 77 2,90 116
3 93 3,10 124
Transformação Das Unidades Internacionais Em Unidades Tradicionais

Blirrubina Valores que não mudam:


X 0,585 Bicarbonato: mmol = mEq/l
µmol/l mg/l Cloreto: mmol = mEq/l
5 3 Potássio: mmol = mEq/l
15 9
Sódio: mmol = mEq/l
30 17
Retirado da Rotina Médica da Unidade de Neonatologia
50 29
Hospital Port Royal ,Paris, França (2000)
75 44
100 58
150 88
250 146
350 200

665

Paulo R. Margotto
Assistência ao Recem-Nascido de Risco

ÍNDICE REMISSIVO

A AZT – consulte Zidovudina
Amamanetação
Aleitamento Materno B
Atresia de Esôfago Baixo peso ao nascer
Alterações cromossômicas Batimentos cardíacos
Ácido fólico Benzodiazepínicos
Acidose metabólica Betabloqueadores
Átresia biliar Betametasona
Alcalose metabólica
Ácido úrico C
Alcoolismo Cafeína
Acromegalia Calcio
ACTH Canal arterial – consulte Ducto arterioso
Acuidade auditiva Candidíase
Adeno-hipófise Cardiopatias
Adrenalina Cariótipo
Adrenocorticotrofina Catecolaminas
Agenesia do corpo Cavalgamento dos ossos do crânio
AIDS – consulte Síndrome da imunodeficiência adquirida Cefalosporinas
Albumina Centralização da circulação fetal
Albuterol Corioamnionite
Alcalose respiratória Choque Septico
Aldosterona Choque cardiogênico
Aleitamento artificial Citomegalovírus
Aleitamento materno Coarctação da aorta
Assistência pré- natal Cocaína
Aloimunização Rh – consulte Doença hemolítica perinatal Coeficiente de mortalidade materna
Alterações cromossômicas Coeficiente de mortalidade neonatal
666 Aminofilina Coeficiente de mortalidade perinatal
Aminoglicosídeo Coeficiente de natimortalidade
Amniorrexe prematura – consulte Rotura prematura das membranas Coexistência entre feto e mola
Amoxicilina Coléstase
Ampicilina Crescimento
Analgesia Convulsões
Analgésicos Coombs indireto
Anemia falciforme Coração
Anemia ferropriva Cordão umbilical
Anemia hemolítica Corioamnionite
Anemia hipocrômica microcítica Corticosteroides
Anemia megaloblástica Corticoterapia
Anestésicos Cortisol
Anfotericina B
Angiotensina D
Anomalia de Ebstein Datação da gestação
Antiácidos Data da última
Antibacterianos Data provável do parto
Antibióticos Débito cardíaco
Anticoagulante Declaração de nascimento
Anticonvulsivantes Declaração de óbito
Anticorpo anti-RO Defeitos abertos do tubo neural
Anticorpo anti-SS Defeitos congênitos
Antidepressivos Defeitos esqueléticos
Antieméticos Defeitos septais cardíacos
Antifúngicos Deficiência de vitamina K
Antivirais Depressão pós-parto
Assistência ao Rn em sala de Parto Descolamento da placenta
Atraso no desenvolvimento Desenvolvimento neurológico
Atresia de coanas Desidrogenase láctica
Atresia de vias biliares Desproporção craniofacial
Atresia cnervo optico Determinação da idade gestacional
Atropina DHL – consulte Desidrogenase láctica
Agenesia de corpo caloso Diabetes gestacional
Capitulo 13 Distúrbios do Trato Gatrointestinal

Diástole reversa Gestação gemelar – consulte Gestação múltipla


Diástole zero Gestação múltipla
Di-hidrotestosterona Glicemia
Dímero D Glicosúria
Displasia broncopulmonar Glucagon
Dispneia  
Distúrbios vasculares H
Diuréticos Hanseníase
Doença do refluxo gastroesofágico Hemangiomas
Doença hemolítica perinatal Hematoma
Doença hipertensiva específica da gestação Hemodiluição
Doenças metabólicas Hemoglobina
Doenças sexualmente transmissíveis Hemograma
Dopplervelocimetria Hemólise
Drogas utilizadas na amamentação Hemorragia
Ducto venoso anteparto
DUM cerebral
  intracraniana
E Heparina
Eclâmpsia Hepatites A, B e C
Ecocardiografia Hérnia diafragmática
Ecografia transfontanela Hérnia umbilical
Edema Hérnia Inguinal
Escleredema Heroína
Encefalopatia hipoxico isquêmica Herpes genital
Eritema tóxico Herpes-vírus
Eritroblastose fetal Hidroclorotiazida
Eritropoetina fetal Higroma cístico
Espinha bífida Hiperglicemia
Esquizofrenia Hiperplasia congênita da adrenal
Estado nutricional Hipertensão arterial
Estatísticas vitais Hipertensão portal
Esteatose hepática Hipertensão pulmonar 667
Estenose aórtica Hipertireoidismo
Estenose mitral Hiperventilação
Estenose pulmonar Hipoglicemia
Estimativa da idade gestacional Hipoplasia pulmonar
Estreptococos do grupo B Hipoplasia testicular
Ética Médica Hipospádia
Exame Físico Hipotálamo
Exsanguineo transfusão Hipotireoidismo
Hipoxemia
F HIV – consulte Vírus da imunodeficiência adquirida
Fator Rh Holoprosencefalia
Fator VII:a Hormônio antidiurético
Fenilalanina Hormônio do crescimento
Fenilcetonúria HPV – consulte Papilomavírus humano
Fenitoína
Fenobarbital I
Fenômenos tromboembólicos Icterícia
Ferro Idade gestacional
Feto hidrópico Idade materna avançada
Fluconazol ILA – consulte Índice do líquido amniótico
Fontanela Ílio
Formação do tubo neural Impetigo herpetiforme
Formação folicular 60 Implantação baixa de orelhas
Fosfatase alcalina Imunização
Frequência cardíaca Imunoglobulinas
Frequência respiratória Imunoglobulina intravenosa
Furosemida Índice de Apgar
Infecção do trato urinário
G Infecção micótica
Gastrósquise Infecção pós-operatória
Gemelares Inibição do trabalho de parto prematuro
Gemelidade Inibidores da bomba de prótons
Genitália ambígua Inibidores da cicloxigenase

Paulo R. Margotto
Assistência ao Recem-Nascido de Risco

Inibidores da enzima conversora da angiotensina Náuseas e vômitos


Inibidores da lactação Necessidade calórica total
Inibidores da prostaglandina Nefropatia
Insuficiência adrenal Neurofibromatose
Insuficiência cardíaca congestiva Nistatina
Insuficiência placentária Nitrofurantoína
Insuficiência renal aguda e crônica Nitroprussiato de sódio
Insulina Noradrenalina
Insulinoterapia
Intestino Curto
O
K Obesidade
Kernicterus  Óbito de um dos fetos
  Obstrução intestinal
L Oligoâmnio
Lactação Oligúria
Laparotomia Omeprazol
Laqueadura do cordão umbilical Onfalocele
Laserterapia Opioides
Leite Ordenha mamária
de transição Orelhaimplantação baixa
maduro Osteogênese imperfeita
materno Óxido nítrico
ordenhado Oxigenação
LES – consulte Lúpus eritematoso sistêmico  
Lesão de plexo braquial P
Lesão endotelial Paracetamol
Leucemia Parada cardiorrespiratória
Líquido amniótico Parto
Líquor Pré-termo
Lítio Perda de líquido amniótico
Lúpus eritematoso sistêmico Prematuridade
668   Período neonatal
M Período perinatal
Maconha Peso ao nascer
Macrocefalia baixo peso ao nascer
Macrolídios extremamente baixo ao nascer
Macrossomia muito baixo peso ao nascer
Malformação cardíaca Pirimetamina
Malformação cardiovascular Placenta
Malformação congênita Plaqueta
Malformação craniofacial Plaquetopenia
Malformação de Dandy-Walker Plaquetose
Malformação de membros Plexo coroide
Malformação do aparelho genitourinário Pneumócito tipo II
Malformação do sistema nervoso central Pneumonia
Malformações fetais Policitemia
Mamilos Polidactilia
Manchas “café com leite” Polidrâmnio
Máscara equimotica Poligono de Willis
Mecônio Pós-datismo
Megabexiga Pós-maturidade
Meningocele Prednisona
Meningomielocele Pré-eclâmpsia
Metabolismo do cálcio Prematuridade
Metabolismo do ferro Pré-natal – consulte Assisência pré-natal e Consulta pré-natal
Metabolismo dos carboidratos Pressão arterial sistêmica
Metabolismo proteico Prolactina
Miastenia grave Prolapso de cordão
Miocardiopatia Proteinúria
Monitorização da glicemia Psicose puerperal
  PTH – consulte Paratormônio
N Puberdade
N-acetilcisteína Púrpura trombocitopênica
Nascido vivo
Natimortalidade Q
Queimaduras
Capitulo 13 Distúrbios do Trato Gatrointestinal

R T4
Radiografia Tabagismo
Ranitidina Tálamo
Restrição do crescimento fetal Talidomida
Reanimação Teofilina
Refluxo vesicoureteral Teratogênese
Regulação da produção de surfactante Teratógenos
Regurgitação Termo de consentimento esclarecido
Relação médico-paciente Testosterona
Reposição de ferro Tétano
Resistência à insulina Tetraciclinas 238
Responsabilidade médica Tetralogia de Fallot
Resposta hemodinâmica fetal à hipoxemia TGO – consulte Aspartato aminotransferase
Ressonância nuclear TGP – consulte Alanina aminotransferase
Restrição do crescimento fetal Tipo sanguíneo
Retardo mental Toxoplasmose
Retinopatia da prematuridade Transfusão
Retorno venoso Transtorno obsessivo-compulsivo
Rifampicina Trauma
Rotura de membranas Treponema pallidum 
Rotura hepática Trissomia do cromossomo 13
Rubéola Trissomia do cromossomo 16
  Trissomia do cromossomo 18
S Trissomia do cromossomo 21
Salbutamol Trombocitopenia
Saúde materno Tromboembolismo
Sepse Trombofilia
Sífilis Trombose venosa profunda
Síndrome da rubéola congênita Tromboxano A2
Síndrome da transfusão feto-fetal TSH – consulte Hormônio estimulante da tireoide
Síndrome de aspiração meconial Tuberculose
Síndrome de Down – consulte Trissomia do cromossomo 21 Tubo neural
Síndrome de Edwards – consulte Trissomia do cromossomo 18   669
Síndrome de Ehlers-Danlos U
Síndrome de hidantoína fetal Úlceras
Síndrome de Patau – consulte Trissomia do cromossomo 13 Ultrassonografia 5
Síndrome de Turner Unidade de terapia intensiva neonatal
Síndrome do alcoolismo fetal UretUretra
Síndrome do lúpus neonatal Urina
Síndrome hemolítico-urêmica Urocultura
Sistema cardiovascular fetal Uso de drogas ilícitas
Sistema de Informações sobre Mortalidade
Sistema de Informações sobre Nascidos Vivos V
Sistema digestivo Vacinação
Sistema endócrino Varicela-zóster
Sistema nervoso central VDRL
Sistema porta Ventilação pulmonar
Sistema renina-angiotensina-aldosterona Vírus A (H1N1) 202
Sistema Rh Vírus da hepatite B
Sistema surfactante pulmonar Vírus da hepatite C
Sorologia para citomegalovírus Vírus da imunodeficiência
Sorologia para sífilis Vírus da rubéola
Sorologia para toxoplasmose Vírus da sífilis
Sorologia para vírus da hepatite B Vitamina A
Sorologia para vírus da hepatite C Vitamina B1
Sorologia para vírus da imunodeficiência humana Vitamina B6
Sorologia para vírus da rubéola Vitamina C
Streptococcus agalactiae  Vitamina D
Sulfato de magnésio Vitamina D3 ativada – consulte Calcitriol
Sulfonamidas Vitamina K
Surfactantes deficiência – consulte Deficiência de vitamina K
Suspensão do aleitamento Vômitos
Suturas cranianas
Z
T Zidovudina
T3

Paulo R. Margotto
Assistência ao Recem-Nascido de Risco

670
A nova Edição de Assistência ao Recém-Nascido de Risco, publicada em parceria com a Fundação de
Ensino e Pesquisa em Ciências da Saúde (FEPECS) e Escola Superior de Ciências da Saúde (ESCS),
da Secretaria de Estado de Saúde do Distrito Federal, traz novos capítulos e autores, totalizando
cerca de 86 capítulos, 75 autores e quase 3000 referências.
O objetivo deste trabalho permanece o mesmo proposto em Edições anteriores: proporcionar ao
profissional o mínimo necessário na compreensão da fisiopatologia do processo mórbido para melhor
integração entre a propedêutica e a terapêutica, ao invés de simplesmente focar na abordagem a
terapêutica.
A espinha dorsal deste trabalho sempre teve como alicerce a busca incessante da melhor evidência
que, combinada com a prática, torna a medicina uma arte

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