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Ciências da Saúde
(ESCS)
Paulo R. Margotto
3a Edição/2013
Prefácio
PREFÁCIO
Eis que chegamos à 3ª Edição! Mais do que uma necessidade, Agradeço o importante acolhimento recebido da FEPECS e
dada a constante evolução dos cuidados neonatais, considero tam- ESCS na realização desta 3ª Edição, nas pessoas dos Drs. Mou-
bém uma conquista, graças à consagração das Edições anteriores. rad Ibrahim Belaciano (Diretor da ESCS, 2001-2012; Professor
A nova Edição de Assistência ao Recém-Nascido de Risco, pu- do DSC-FS/UnB), ao Docente da ESCS, Dr. Élson R. Ribeiro Fa-
blicada em parceria com a Fundação de Ensino e Pesquisa em rias, ao Coordenador der Apoio Operacional da FEPECS, Dr. Paulo
Ciências da Saúde (FEPECS) e Escola Superior de Ciências da R. Menezes além de Adriana Jaccoud, Assistente da Direção da
Saúde (ESCS), da Secretaria de Estado de Saúde do Distrito Fe- ESCS, cujo empenho foi de transcendental importância na con-
deral, traz novos capítulos e autores, totalizando cerca de 86 ca- cretização desta obra.
pítulos, 75 autores e quase 3000 referências. A espinha dorsal deste trabalho sempre teve como alicerce a
Os capítulos constantemente “bombardeados” com informa- busca incessante da melhor evidência que, combinada com a
ções mais recentes foram alvo constante da nossa monitorização prática, torna a medicina uma arte. A medicina não é uma ciên-
até o final de novembro de 2012. Começamos a atualização des- cia exata, mas devemos procurar a sua exatidão diuturnamen-
ses capítulos desde o lançamento da 2ª Edição, em 2006, sendo te. “Lembrem-se que as evidências mudam com o decorrer do
que a nossa página www.paulomargotto.com.br teve importante tempo, pois se não validarmos nossas condutas podemos causar
participação, pois foi neste espaço virtual que disponibilizamos mais mal do que bem para o recém-nascido” (Guinsburg).
as informações (hoje com mais de 600 mil visitantes!). A aborda- Á Equipe Neonatal do Hospital Regional da Asa Sul/Hospital
gem dos resultados de pesquisas recentes foi sempre realizada Materno Infantil de Brasília (Médico/Enfermeiros/Fisioterapeu-
com bastante maturidade. tas/Técnicos), o reconhecimento pela importante contribuição
O objetivo deste trabalho permanece o mesmo proposto em nas discussões para a efetiva implantação de Normas de Assis-
Edições anteriores: proporcionar ao profissional o mínimo ne- tência ao Recém-nascido, sempre enriquecidas com o conheci-
cessário na compreensão da fisiopatologia do processo mórbido mento e a experiência de todos.
para melhor integração entre a propedêutica e a terapêutica, ao Que este árduo, mas simultaneamente prazeroso trabalho, que
invés de simplesmente focar na abordagem a terapêutica. fizemos com muito amor, possa ser útil na melhor assistência ao
Nesta 3ª Edição foi realizada a revisão completa dos capítulos neonato, fulcro em torno do qual girou todo o esforço ao escre-
anteriores, além de acrescentar novos, como Hidrocefalia neona- ver/coordenar todos esses capítulos (“o que é escrito sem esfor-
tal e fetal, Gemelaridade, Recém-Nascido febril, Sedoanalgesia ço é geralmente lido sem prazer”). 1
nos Recém-nascidos ventilados, Ventilação Não Invasiva, Traque- “Nada do que vivemos tem sentido, se não tocarmos o coração
ostomia, Imunologia Neonatal, Cirurgia Pediátrica (escrito pela das pessoas. Feliz é aquele que transfere o que sabe e aprende
saudosa cirurgiã pediátrica Dra. Jaísa Maria M. Moura), Drena- o que ensina.”
gem Torácica, Administração de Medicamentos, Uso do Curare
e Banco de Leite. Aos autores que participaram conosco nesta Paulo R. Margotto
Edição, o agradecimento pelo desprendimento em dividir o co- www.paulomargotto.com.br
nhecimento com todos nós (magnífica virtude médica) e por sem- pmargotto@gmail.com
pre acreditarem na concretização desta obra.
Paulo R. Margotto
Assistência ao Recem-Nascido de Risco
O homem faz a sua obra. A obra, faz o homem. E as sessões clínico-patológicas realizadas com seus compa-
Prefiro assim iniciar, com estas palavras, o prefácio solicitado nheiros da Unidade Neonatal e, quase sempre, enriquecida pela
para a 3ª. Edição do livro “Assistência ao Recém-Nascido de Ris- participação de seus jovens alunos médicos residentes. Sessões
co”, de autoria do Dr. Paulo R. Margotto. extremamente importantes ao aprendizado de todos, em espe-
Conheço o Dr. Paulo R. Margotto, há, acredito três décadas. cial aos jovens alunos e médicos residentes, que usufruíam do
Margotto além de estar sempre atuando na Unidade de Neona- conhecimento, dedicação de Margotto e de sua disponibilidade
tologia do Hospital Regional da Asa Sul/Hospital Materno Infantil em distribuir o conhecimento.
de Brasília, sempre via-o, frequentando, os Congressos de Pe- A obra aumenta: agora nos chega a 3ª. Edição, com 86 capítu-
diatria e de Perinatologia. E sempre lá estava participando como los, e mais de 600 páginas e uma grande relação de convidados
ouvinte dos convidados nacionais e internacionais e apresentan- especiais participando como colaboradores.
do trabalhos realizados com seus alunos-residentes. Margotto No entanto, o trabalho do homem Margotto vai muito além de
sempre estava publicando normas atualizadas, discutindo arti- suas publicações. A preocupação que ele tem com quem o cerca
gos internacionais e... enviando a seus amigos. E aí, a obra ar- no dia a dia do trabalho, com quem trabalha com recém-nasci-
mazenada, torna-se um livro, “Assistência ao Recém-Nascido de dos, continua, célere e incansável. A sua capacidade de trabalho
Risco” em sua primeira edição. só é suplantada pela sua capacidade de distribuir conhecimen-
O trabalho na Unidade hospitalar, crescia, fervilhava de alunos, tos, adquiridos aqui e ali e, sempre, compartilhados.
companheiros e colaboradores e tudo isso, mais os resumos co- Margotto lança mais uma edição de seu livro “Assistência ao
mentados dos Congressos, chegavam a todos nós, membros de Recém-Nascido de Risco”. Sua obra cresce para fazer jus ao
uma lista, trazendo as informações colhidas (escritas, gravadas, grande homem que ele é.
filmadas) didaticamente discutidas e comentadas.
E veio a 2ª. Edição do livro “Assistência ao Recém-Nascido RN José Dias Rego
de Risco” sempre com a preocupação de discutir todos os as- Membro da Academia Brasileira de Pediatria.
pectos ligados a essa assistência, desde seus aspectos mais ro-
tineiros e elementares, passando pelos grandes tópicos ligados
ao recém-nascido e à sua família, até as discussões bioéticas
envolvendo a mortalidade neonatal.
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Prefácio
Este livro é um exemplo de produção de conhecimentos cientí- gestões de condutas próprias para a Assistência ao Recém-nas-
ficos e tecnológicos a partir de uma rede pública de serviços de cido de Risco. São produtos dos bons resultados da Unidade de
saúde: a rede da SES-DF. Exemplo também do que o Ministério Neonatologia do Hospital Regional da Asa Sul/Hospital Materno
da Educação e o Ministério da Saúde preconizam: através do tra- Infantil de Brasília, fruto dos esforços do conjunto dos profissionais
balho do dia a dia na rede assistencial do SUS, é possível produ- ali lotados. Úteis no cotidiano por dirigirem-se a profissionais que
zir conhecimentos voltados para a melhoria permanente dessa trabalham “na ponta”, aquelas publicações, aprimoradas e no seu
mesma rede assistencial. tempo natural, resultaram no livro “Assistência Ao Recem Nascido
O Professor Doutor Paulo Roberto Margotto pertence ao corpo De Risco,” que agora ganha nova edição.
docente de um novo curso de medicina que o GDF implantou em Fiel à Aprendizagem Baseada em Problemas – método de en-
2001, com a criação da Escola Superior de Ciências da Saúde sino adotado na ESCS, o arranjo didático-expositivo do livro pro-
(ESCS). Mantém ao mesmo tempo, assim como os demais do- blematiza toda a amplitude da temática desses conhecimentos e
centes dessa Escola, grande parte de sua carga horária de tra- das práticas sugeridas. Enquadra-se na denominada clínica am-
balho em serviços do SUS-DF. Esse grupo de docentes do qual pliada, uma vez que procura abordar os aspectos que envolvem
ele faz parte, guiados pelo Projeto Político Pedagógico da ESCS, o contexto de vida do recém-nascido grave como resultados que
procuram desenvolver novas abordagens de educação de profis- são, muitas vezes, das condições sociais, econômicas e culturais
sionais de saúde no contexto de uma rede de serviços. Eles são tanto dos pacientes como dos próprios serviços de saúde – tal
muito cientes de que uma rede de serviços para se desenvolver, como ocorre na maioria dos serviços brasileiros de neonatologia.
necessita ter uma escola em sua estrutura de funcionamento: É pro isso que o livro expressa o essencial das Diretrizes Cur-
rede e escola, com objetivos comuns, alcançando benefícios mú- riculares Nacionais/MEC que determinam que além de um sóli-
tuos, através da integração Ensino-Serviços. do conhecimento profissional específico, o profissional formado
O Professor Paulo Roberto Margotto vem realizando seus tra- deve adquirir também em sua formação outros domínios e com-
balhos para o desenvolvimento de habilidades profissionais que petências gerais tais como atenção à saúde, tomada de decisão,
garantam as competências necessárias a uma boa prática e ao comunicação, liderança, administração e gerenciamento de ser-
bom desempenho clínico, dirigidos para uma melhoria contínua viços e educação permanente. O livro expressa a própria evolu-
da qualidade da atenção e da assistência à saúde de recém- ção da especialidade e certamente sua leitura por estudantes,
nascidos de risco. residentes, estagiários e profissionais dessa área da saúde forta-
No desempenho dessa função assistencial–educadora, o pro- lece o domínio do novo paradigma da clínica atual.
fessor Paulo R. Margotto, sempre procurou garantir o domínio da
fisiopatologia e da consistência dos dados e análises epidemioló- Mourad Ibrahim Belaciano 3
gicas – bases da produção de seus conhecimentos. Direciona-os Diretor Geral da ESCS 2001-2012
ao mesmo tempo para os serviços que os originaram para as ativi- Professor do DSC-FS/UnB
dades educacionais correlatas. Nesse sentido, o livro é também o
auge de uma fértil e longa trajetória de divulgação de publicações
contendo artigos relevantes e relatórios estatísticos, além de su-
Paulo R. Margotto
Assistência ao Recem-Nascido de Risco
AUTORES
Pediatra Infectologista na Região Sul de Mato Grosso; Plantonis- Doutora e Mestre em Ciências da Saúde pela Universidade de
ta na UTI Neonatal da Santa Casa de Rondonópolis, MT; Médica Brasília; Especialista em Pediatria e Gastroenterologia Pediátri-
Responsável pelo Home Care Pediátrico em Rondonópolis; Forma- ca pela Sociedade Brasileira de Pediatria e Associação Médica
da pela UFMT; Residência em Pediatria e Infectologia no Hospital Brasileira; Chefe da Unidade de Pediatria do Hospital de Base do
Regional da Asa Sul/ Hospital Materno Infantil de Brasília. Distrito Federal (HBDF); Supervisora da Residência Médica em
Gastroenterologia Pediátrica do Hospital de Base de Brasília; Co-
2. Fabiano Cunha Gonçalves ordenadora Clínica do Hospital da Criança de Brasília; Membro
do Departamento de Gastroenterologia Pediátrica da SBP; Presi-
Título de Especialista em Neonatologia (TEN); Médico Assis- dente da Sociedade de Pediatria de Brasília.
tente da Unidade de Neonatologia Hospital Regional da Asa Sul/
Hospital Materno Infantil de Brasília e Hospital Santa Marta, DF. 9. Marta David Rocha de Moura
Pós-doutorado em Ética em Pesquisa Clínica. Universidade do Mestre em Medicina pela Universidade de Brasília (UnB); Do-
Chile; Doutorado na área de Terapia Nutricional- UnB; Mestrado cente da Escola Superior de Ciências da Saúde (ESCS); Preceptor
em Química Fina-UnB; Mestrado em Educação. Universidade de de Programa de Residência Médica em Neonatologia e Médico
Maastrich (Holanda); Especialista em Nutrição Parenteral e Enteral Neonatologista do Hospital Regional da Asa Sul/Hospital Mater-
pela Sociedade Brasileira de Nutrição Parenteral e Enteral-SBNPE; no Infantil de Brasília.
Especialista em Farmácia Hospitalar-SBRAFH, Especialista em Far-
4 mácia Oncologia- Sociedade Brasileira de Farmacêuticos em On- 11. Kátia Rodrigues Menezes.
cologia-SOBRAFO, Especialista em Gestão da Educação-FEPECS;
Aperfeiçoamento em Farmácia Clínica. Universidade do Chile Enfermeira especialista em Educação e Promoção da Saúde
(1997) e na Universidade da Flórida (2000), Aperfeiçoamento em pela UnB; Docente de graduação em Enfermagem da Escola
Farmácia Hospitalar. Instituto de La Veja-Peru (2007); Aperfeiçoa- Superior em Ciências da Saúde (ESCS); Lotada atualmente na
mento em Educação. Instituto Hyogo de Educação- Japão (2006); Comissão de Educação Continuada de Enfermagem do Hospital
Farmacêutica Hospitalar da SES-DF (desde 1988); Coordenadora Regional da Asa Sul/Hospital Materno Infantil de Brasília.
do Comitê de Ética em Pesquisa da SES-DF; Professora na Facul-
dade de Medicina da ESCS/FEPECS/GDF; Professora Associada 12. Evely Mirela S. França
da Universidade de Brasília e orientadora nos Programas de Mes-
trado e Doutorado em Ciências da Saúde e Nutrição Humana. Título de Especialista em Neonatologia (TEN); Supervisora do
Programa de Residência Médica de Neonatologia e Médica Assis-
5. Liu Campelo Porto tente da Unidade de Neonatologia Hospital Regional da Asa Sul/
Hospital Materno Infantil de Brasília.
Mestre em Ciências da Saúde (área de concentração em epide-
miologia) pelo Programa de Pós-graduação em Ciências da Saúde 13. Mércia Maria Fernandes de Lima Lira
da Universidade de Brasília; Docente da Escola Superior de Ciên-
cias da Saúde (ESCS); Neonatologista e Infectologista Pediátrica do Mestre em Ciências da Saúde pela Universidade de Brasília-
Hospital Regional da Asa Sul/Hospital Materno Infantil de Brasília. UnB; Pediatra com Habilitação em Terapia Intensiva Pediátrica
pela Associação de Medicina Intensiva Brasileira (AMIB); Médica
6. Lisliê Capoulade Nogueira Arrais de Souza. Chefe da Unidade de Terapia Intensiva Pediátrica do Hospital Re-
gional da Asa Sul/Hospital Materno Infantil de Brasília.
Doutor em Ciências Médicas pela Universidade de Brasília; Pro-
fessora do Curso de Medicina da Escola Superior de Ciências da 14. Maria Teresinha de Oliveira Cardoso
Saúde (ESCS); Preceptora da Pediatra do Hospital Regional da
Asa Sul/ Hospital Materno Infantil de Brasília. Especialista em Genética Clínica; Mestrado em Imunologia e
Genética Aplicadas; Doutorado em Patologia Molecular, Chefe do
7. Márcia Pimentel de Castro Núcleo de Genética do Hospital de Apoio De Brasilia; Responsável
Técnica pela Genética Clinica dos Hospitais da Rede Hospitalar;
Mestre em Ginecologia / 0bstetrícia com área de atuação Preceptora da Residência em Genética Médica Da SES/DF; Gene-
em Neonatologia pela Universidade Estadual Paulista (UNESP, ticista da Equipe Multidisciplinar da Triagem Neonatal Ampliada do
2011); Especialização em Bioética pela Universidade de Brasília DF e do Ministério da Saúde /DF; Coordenadora do Departamento
- UnB (1999); Docente da Escola Superior de Ciências da Saúde de Genética da Sociedade Brasileira de Pediatria; Docente da Fa-
(ESCS); Médica Assistente da Unidade de Neonatologia do Hos- culdade de Medicina da Universidade Católica de Brasilia.
pital Regional da Asa Sul/Hospital Materno Infantil de Brasília.
Autores
15. Fabiana Márcia de Alcântara Morais 22. Caroline Walker de Medeiros do Nascimento
Preceptora do Programa de Residência Médica em Neonato- Residência Médica em Alergia e Imunologia Pediátrica do Hos-
logia e Médica Assistente da Unidade de Neonatologia Hospital pital Materno Infantil de Brasília; Pós-Graduada em Homeopatia
Regional da Asa Sul/Hospital Materno Infantil de Brasília. pelo Instituto Hahnemanniano do Brasil, em convênio com a
Universidade do Estado do Rio de Janeiro – UNIRIO; Residência
16. Martha Vieira de Pediatria do Hospital Regional de Taguatinga/SES/DF; Médi-
ca Pediatra concursada da emergência do Hospital Regional de
Coordenada da Neonatologia da Secretaria de Estado de Saúde Samambaia e Unidade de Pronto Atendimento de Samambaia
do Distrito Federal; Médica Assistente da Unidade de Neonatologia (Secretaria de Saúde do Governo do Distrito Federal), do ano de
Hospital Regional da Asa Sul/Hospital Materno Infantil de Brasília. 2008 a 2011; Médica Pediatra concursada da emergência do
Hospital Regional de Taguatinga (Secretaria de Saúde do Gover-
17. Alexandre Peixoto Serafim no do Distrito Federal).
Especialista em Terapia Intensiva Pediátrica pela AMIB/SBP; 23. Rozilene Bastos Cabral Muniz
Supervisor do Programa de Residência Médica em Terapia Inten-
siva Pediátrica e Médico da UTI Pediátrica do Hospital Regional Especialista em Pediatria (Residência pela Fundação Hospita-
da Asa Sul/Hospital Materno Infantil de Brasília. lar do Distrito Federal); Especialista em Alergia e Imunologia pela
Associação Brasileira de Alergia-Imunopatologia - ASBAI; Ambu-
18. Fernanda dos Reis Macri latório de Alergia e Imunologia do Hospital de Base de Brasília.
Fonoaudióloga, com área de atuação em recém-nascidos e lac- 24. Vanessa Gonzaga Tavares
tentes no Hospital Regional da Asa Sul/Hospital Materno Infantil
de Brasília. Especialista em Alergia e Imunologia pela Associação Brasilei-
ra de Alergia-Imunopatologia - ASBAI; Ambulatório de Alergia e
19. Rodolfo Alves Paulo de Souza Imunologia Pediátrica do Hospital Regional da Asa Sul/Hospital
Materno-Infantil de Brasília.
Mestrado em Oftalmologia pela Universidade de Brasília (UnB) –
Retinopatia da Prematuridade; Residência em Oftalmologia–Hos- 25. Wílleke Clementino Sleegers.
pital das Forças Armadas Brasília/DF; Título de Especialista em
Oftalmologia pela Comissão Nacional de Residência Médica do Mi- Mestre em Medicina Tropical, com área de atuação em Doenças
nistério da Educação e Cultura e pela Associação Médica Brasilei- Infecciosas e Parasitárias, pela Universidade de Brasília; Especia-
ra; Fellowship em Retina e Vítreo (clínico e cirúrgico) no Centro Bra- lista em Pediatria pela Sociedade Brasileira de Pediatria; Espe- 5
sileiro da Visão (CBV)–Brasília/DF; Fellowship em Retina e Vítreo cialista em Infectologia pela Sociedade Brasileira de Infectologia;
(clínico e cirúrgico) no Hospital de Base do Distrito Federal (HBDF) MBA em Gestão em Saúde e Controle de Infecção Hospitalar pela
pela Fundação de Ensino e Pesquisa em Ciências da Saúde (SES/ Faculdade INESP- SP; Chefe do Núcleo de Controle de Infecção
DF – FEPECS); Fellowship em Retina e Vítreo (clínico e cirúrgico) Hospitalar do Hospital Regional de Samambaia-SES-DF (lotação
no Centro Brasileiro da Visão (CBV), Brasília/DF; Fellowship em atual- Hospital Regional de Samambaia); Ambulatório UNIMISTA-
Retina e Vítreo (clínico e cirúrgico) no Hospital de Base do Distrito Hospital-Dia, SES-DF no Ambulatório de AIDS Pediátrica).
Federal (HBDF) pela Fundação de Ensino e Pesquisa em Ciências
da Saúde (SES/DF – FEPECS); Especialização em Medicina do 26. Miza Maria B.A.Vidigal
Tráfego – médico perito examinador pela Universidade de Brasília
(UnB / ABRAMET); Médico concursado do Hospital Regional da Asa Especialista em Pediatria e Neonatologia pela Sociedade de Pe-
Sul/Hospital Materno Infantil de Brasília, responsável pelo setor de diatria. Médica; Médica Assistente da Unidade de Neonatologia do
Retinopatia da Prematuridade; Médico orientador (preceptor) do Hospital Regional da Asa Sul/Hospital Materno Infantil de Brasília.
Fellowship em Retina e Vítreo do Centro Brasileiro da Visão (CBV) e
Hospital de Base do Distrito Federal (SES/DF – FEPECS); Médico 27. Cira Ferreira A. Costa
orientador (preceptor) da Residência Médica em Oftalmologia do
Hospital de Base do Distrito Federal (SES/DF – FEPECS). Especialista em Pediatria e Neonatologia pela Sociedade Bra-
sileira de Pediatria; Especialista em Terapia Intensiva Pediátrica
20. Marcia Cristina Mondaini Salazar pela AMIB; Especialista em Alimentação Enteral e Parenteral pela
Sociedade Brasileira de Nutrição Parenteral e Enteral.
Especialista em Alergia e Imunologia pela Associação Brasilei-
ra de Alergia-Imunopatologia - ASBAI; Especialista em Pediatria 28.Fabiana M. Pontes
pela Sociedade Brasileira de Pediatria - SBP; Ex-coordenadora do
Programa de Asma do Distrito Federal - SES-DF; Especialista em Pediatria e Neonatologia pela Sociedade de Pe-
Ambulatório de Alergia e Imunologia Pediátrica do Hospital Re- diatria. Médica; Médica Assistente da Unidade de Neonatologia do
gional da Asa Sul/ Hospital Materno Infantil de Brasília. Hospital Regional da Asa Sul/Hospital Materno Infantil de Brasília.
21. Fabíola Scancetti Tavares 29. Jaisa Ma M. Moura (in memorian, 2012)
Pediatra, Alergista e Imunologista; Mestre em Ciências Aplica- Mestre em Ciências Médica pela Universidade de Brasília
das à Pediatria pela UNIFESP/EPM; Responsável pela Área de (UnB); Especialista em Cirurgia Geral pela Sociedade Brasileira
Imunologia Infantil do Hospital da Criança de Brasília; Respon- de Cirurgia; Especialista em Cirurgia Pediátrica pela Sociedade
sável pelo Ambulatório de Infecções de Repetição do Hospital Brasileira de Cirurgia Pediátrica; Cirurgiã Pediátrica do Hospital
Universitário de Brasília. Regional da Asa SUL/Hospital Materno Infantil de Brasília.
Paulo R. Margotto
Assistência ao Recem-Nascido de Risco
Especialista em Psicopatologia do Bebê (França), Mestrado em Fonoaudióloga; Enfermeira Assistente e Preceptora do Progra-
Primeiras Relações Pais-Bebês e Psicopatologia do Bebê e Psi- ma de Residência de Enfermagem na Unidade de Neonatologia
quismo Materno e Paterno (França). do Hospital Regional da Asa Sul/ Hospital Materno Infantil de
Brasília.
31. Mônica de Lima Lemos
42. M. Monset Couchard
Especialista em Terapêutica Ocupacional com área de atuação
em recém- nascidos e lactentes no Hospital Regional da Asa Sul/ Chargée de Recherche INSERM e Pediatre Attaché, Unidade de
Hospital Materno Infantil de Brasília. Cuidados
Intensivos de Port-Royal, Centro Hospitalar Universitário de
32. Nestor Sabatovicz Cochin Port- Royal, Universidade René Descartes, Paris, França.
Médica Assistente da Unidade de Neonatologia do Hospital Re- Assistente Social do Núcleo de Apoio Terapêutico do Hospital
gional da Asa Sul/Hospital Materno Infantil de Brasília. Regional da Asa Sul/Hospital Materno Infantil de Brasília
Especialista em Terapia Intensiva Pediátrica; Médica Assisten- Especialista em Pediatria e Neonatologia pela Sociedade Bra-
te da Unidade de Neonatologia do Hospital Regional da Asa Sul/ sileira de Pediatria; Médica Assistente da Unidade de Neonato-
Hospital Materno Infantil de Brasília. logia do Hospital Regional da Asa Sul/Hospital Materno Infantil
de Brasília.
35. Sérgio Henrique Veiga
46. Mauro P. Felipe Baças
Médico Pediatra, área de atuação em Neurologia Pediatrica,
6 trabalhando nas clínicas Pediátrica e Neonatal do Hospital Re- Especialista em Pediatria e Neonatologia pela Sociedade Brasilei-
gional da Asa Sul/Hospital Materno Infantil de Brasilia; Docente ra de Pediatria; Médico. Assistente da Unidade de Neonatologia do
e Coordenador de Módulo do 4° ano do Curso de Medicina da Hospital Regional da Asa Sul/Hospital Materno Infantil de Brasília.
Escola Superior de Ciências da Saúde l (ESCS-DF).
47. Maria Elisa C. P. Pixinine
36. Verônica Alves Corrêa de Oliveira
W-Médica Assistente da Unidade de Neonatologia do Hospital
Fisioterapeuta Assistente da Unidade de Neonatologia do Hos- Regional da Asa Sul/Hospital Materno Infantil de Brasília.
pital Regional da Asa Sul/Hospital Materno Infantil de Brasília
48. Giane M. César
37. Viviana I Intriago Sampietro
Especialista em Pediatria pela Sociedade Brasileira de Pedia-
Especialista em Pediatria e Neonatologia pela Sociedade Bra- tria; Médica Assistente da Unidade de Neonatologia do Hospital
sileira de Pediatria; Especialista em Terapia Intensiva Pediátrica Regional da Asa Sul/Hospital Materno Infantil de Brasília.
pela AMIB. Médica Assistente da Unidade de Neonatologia do
Hospital Regional de Taguatinga. 49. Olga Messias
Especialista em Pediatria e Neonatologia pela Sociedade Brasilei- Médica Pediatra e Endocrinologista infantil; Preceptora da Re-
ra de Pediatria; Médica Assistente da Unidade de Neonatologia do sidência de Pediatria do Hospital Regional da Asa Sul/Hospital
Hospital Regional da Asa Sul/Hospital Materno Infantil de Brasília. Materno infantil de Brasília;
Endocrinologista Infantil assistente do Hospital da Criança de
52. Albaneyde F. Formiga Brasília.
Especialista em Pediatria e Neonatologia pela Sociedade Brasilei- 62. Lady Maria C.A. de Andrade
ra de Pediatria; Médica Assistente da Unidade de Neonatologia do
Hospital Regional da Asa Sul/Hospital Materno Infantil de Brasília. Enfermeira Assistente da Unidade de Neonatologia do Hos-
pital Regional da Asa Sul/Hospital Materno Infantil de Brasília.
53. Adriana Kawaguchi
63. Renilde Barros Tavares
Especialista em Pediatria e Neonatologia pela Sociedade Brasilei-
ra de Pediatria; Médica Assistente da Unidade de Neonatologia do Especialista em Enfermagem em Neonatologia - ABENFO Na-
Hospital Regional da Asa Sul/Hospital Materno Infantil de Brasília. cional – 2005; Enfermeira Assistente da UTI Neonatal do Hospital
Regional da Asa Sul/Hospital Materno Infantil de Brasília.
54. Emmanuelle S. Coutinho
64. Renata Belém Pessoa M. Seixas
Especialista em Audiologia Clínica. Fonoaudióloga da Uni-
dade de Neonatologia do Hospital Regional da Asa Sul/Hospital Mestre em Ciências da Saúde pela Universidade de Brasília;
Materno Infantil de Brasília. Preceptora da Residência Médica em Gastroenterologia Pediátri-
ca do Hospital de Base do Distrito Federal; Especialista em Pedia-
55. Thereza Christina Correa Ribeiro tria pela SBP e AMB, Presidente do Centro de Estudos da Unidade
de Pediatria do Hospital de Base do Distrito Federal.
Médica pediatra com área de atuação em Infectologia pediátri-
ca desde 1997; Responsável pelo Ambulatório de HIV/AIDS Pedi- 65. Alessandra de Cássia Gonçalves Moreira
átrico da UNIMISTA/C. SAÚDE nº1 – BSB desde 1998.
Docente da Escola Superior de Ciências da Saúde (ESCS); Mé-
56. Carla Pacheco Brito dica Assistente da Unidade de Neonatologia do Hospital Regional
da Asa Sul/Hospital Materno Infantil de Brasília.
Especialista em Pediatria e Neonatologia pela Sociedade Brasilei- 7
ra de Pediatria; Médica Assistente da Unidade de Neonatologia do 66. Luciana Vilela
Hospital Regional da Asa Sul/Hospital Materno Infantil de Brasília.
Especialista em Pediatria e Neonatologia pela Sociedade Brasilei-
57. Vicência Soares de Almeida ra de Pediatria; Médica Assistente da Unidade de Neonatologia do
Hospital Regional da Asa Sul/Hospital Materno Infantil de Brasília.
Enfermeira Assistente da Unidade de Cuidados Intensivos
Neonatais Externa da Unidade de Neonatologia do Hospital Re- 67. Elysio Moraes Garcia
gional da Asa Sul/Hospital Materno Infantil de Brasília; Precepto-
ra das Residência de Enfermagem Neonatal. Docente do curso de medicina da ESCS; Especialista em car-
diologia com habilitação em Ecocardiografia pela Sociedade
58. Wandréia Marcinoni Varão Ribeiro Brasileira de Cardiologia; Médico Cardiologista da Unidade de
Neonatologia do Hospital Regional da Asa Sul/Hospital Materno
Especialista em Pediatria e Neonatologia pela Sociedade de Pe- Infantil de Brasília.
diatria. Médica; Médica Assistente da Unidade de Neonatologia do
Hospital Regional da Asa Sul/Hospital Materno Infantil de Brasília. 68. Amanda Torrezab Galigali Pereira da Luz (Ver
com Verônica)
59. Mariana de Melo Gadelha
Especialista em Fisioterapia Pneumofuncional pela Universida-
Pediatra com área de atuação em Endocrinologia Pediátrica; de de Brasília.
Trabalha como Endocrinologista Pediátrica e Preceptora da Re-
sidência Médica em Pediatria e Preceptora do Internato em Pe- 69. Maria Elizabeth Correa Santos
diatria no Hospital Regional da Asa Sul/Hospital Materno Infantil
de Brasília; Endocrinologista Pediátrica no Hospital da Criança Fisioterapeuta do Hospital Regional da Asa Sul; Especialista na
de Brasília e no Hospital das Forças Armadas / Ambulatório de Assistência Neonatal e Pediátrica pelo Conselho de Fisioterapia
Endocrinologia Pediátrica da ESCS. e Terapia Ocupacional.
Especialista em Audiologia Clínica; Fonoaudióloga da Uni- Especialista em Pediatria e Neonatologia pela Sociedade Brasilei-
dade de Neonatologia do Hospital Regional da Asa Sul/Hospital ra de Pediatria; Médica Assistente da Unidade de Neonatologia do
Materno Infantil de Brasília. Hospital Regional da Asa Sul/Hospital Materno Infantil de Brasília.
Paulo R. Margotto
Assistência ao Recem-Nascido de Risco
8
Sumario
Paulo R. Margotto
Assistência ao Recém-Nascido de Risco
Paulo R. Margotto
Assistência ao Recém-Nascido de Risco
Paulo R. Margotto
Capitulo 1 Assistência Perinatal
Capítulo 1
Assistência
Perinatal
Assistência ao Recém-Nascido de Risco
Paulo R. Margotto
O novo paradigma para a prática clínica, ou seja, base para • Journal of Pediatrics: www.jpeds.com,
tomar decisões tem que incluir a evidência da pesquisa clínica. • Proquest: www.proquest.com/pqdweb,
Os nossos tratamentos que usamos para os bebês devem ter • BIREME: www.bireme.br
sempre mais benefícios do que prejuízos. Para isto, devemos ad-
quirir informação através da procura de evidências que isto seja (após realizar o cadastro podem ser solicitados artigos inte-
verdadeiro na literatura. Este é o novo paradigma da medicina: grais através do Acesso a Documentos -SCAD). Os artigos tam-
um esforço para tentar melhorar a situação do paciente base- bém podem ser solicitados diretamente ao autor por e-mail dis-
ado na evidência das pesquisas clínicas. Medicina baseada em ponível nos abstracts.
evidência é o uso consciencioso da melhor evidência disponível Conhecimento da Estrutura de um estudo da Avaliação de um
na tomada de decisões no cuidado do paciente. A prática da me- Tratamento:
dicina baseada em evidência significa integrar experiência clínica Resultados Total
individual com a melhor evidência clínica disponível de pesqui- Evento Não Evento
sas sistemáticas. Sem a experiência clínica as práticas correm o
Sim (Tratado) a b n1
risco de ser tiranizadas pela evidência, podendo esta evidência
ser inapropriadamente aplicada ou mesmo não aplicada ao pa- Não (controle) c d n2
ciente. Sem a evidência, as práticas logo tornar-se-ão obsoletas e
podem se tornar detrimentais ao paciente. Medidas do efeito de tratamento:
Já chegando ao novo milênio, a estratégia mais poderosa é a
procura eletrônica da informação. Temos que ter um modo siste- Risco Relativo (RR): é a medida da força da associação entre a
mático de estudar a literatura médica de uma maneira eficaz. A exposição e o evento (resultado)
evidência válida é apenas uma pequena parte da literatura que
está disponível. Temos que ter uma forma eficiente de busca. RR : a/n1 / c/n2
Somos médicos muito ocupados e temos que encontrar uma evi-
dência válida (artigos de alta qualidade). RRR (Redução do Risco Relativo): 1 – RR
Nos últimos 3 anos foi possível para qualquer parte do mundo
ter acesso à Internet gratuitamente, procurando o MEDLINE atra- DR (Diferença de Risco): a/n1 – c/n2
16 vés deste endereço: www.pubmed.com
(Só é permitido acesso apenas ao resumo do artigo/abstract Número necessário para tratamento (NNT): 1/Diferença de risco
tal como fora publicado, o que permite ao médico fazer uma
primeira seleção de artigos de maior relevância para questão Quando RR é igual a 1, significa que não há efeito com o tra-
clínica que motivou a pesquisa). tamento, ou seja, o efeito do tratamento é o mesmo nos dois
No exercício da medicina neonatal baseado em evidências, ci- grupos. Se o RR é < 1, significa que o risco do evento é menor
tamos um endereço da Internet (www.cochrane.org) que nos pos- no grupo tratado que no controle. A variabilidade amostral do
sibilita acessar metanálises de diversas situações colocadas em estudo pode ser avaliado através de testes de significância ou
ordem alfabética, como: cafeína versos teofilina no tratamento da via intervalo de confiança. Aqui daremos preferência à segunda
apnéia no RN pré-termo; CPAP versos teofilina para a apnéia do abordagem. Assim, desejando-se saber se um RR=0,40 para a
pré-termo; uso profilático de CPAP nasal em RN muito prematuros; redução de ductus arteriosus patente foi significativo no grupo
uso profilático de anticonvulsivante na asfixia perinatal do RN a ter- de RN exposto a um menor regime de oferta hídrica versos maior
mo e muitos outros temas polêmicos na prática clínica diária. O en- regime de oferta hídrica (restricted vs liberal intake in prematures:
dereço específico neonatal é: http://www.nichd.nih.gov/cochrane Bell EF, Acarregui MJ. Cochrane Liberay, 1999), pode-se calcular um
O nome Cochrane é uma homenagem ao Dr. Archibald Lemon intervalo de confiança para esta estimativa. Para um dado nível
Colchrane (1909-1988), pesquisador médico britânico que muito de significância (· = 0,05), o intervalo de confiança representa o
contribuiu para o desenvolvimento da epidemiologia como ciên- intervalo onde deve estar o parâmetro, ou seja, o risco relativo
cia. A biblioteca Cochrane é um compêndio de revisões sistemá- verdadeiro. Se o valor 1, que se refere à nulidade da associação,
ticas de estudos randomizados de todos os campos da medicina. não estiver contido no intervalo, temos uma confiança que na
Utilizando o site www.paulomargotto.com.br vamos ter a opor- população de onde nossa amostra foi extraída, o RR é diferente
tunidade de consultar casos clínicos selecionados, resumos de de 1, sendo, portanto significativo o achado da amostra. Para a
artigos neonatais, reprodução das mais importantes Conferên- realização dos cálculos do risco relativo e o intervalo de 95% de
cias de Congressos/Simpósios em Perinatologia, além de acesso confiança, assim como o seu significado, consulte www.paulo-
a importantes sites de busca como: margotto.com.br, em Entendendo Bioestatística e Exercício da Me-
dicina Baseado em Evidências.
• MEDLINE: www.pubmed.com , Uma vez calculado o intervalo de 95% de confiança para o nos-
• Mdconsult: www.mdconsult.com, so exemplo, temos:
• Journal of Perinatology: www.nature.com/jp, RR = 0,40 (95% IC: 0,26 – 0,63): a interpretação deste resul-
• New England Journal of Medicine: http://content.nejm.org tado é a de que o RR é significativo na redução do ductus arte-
• Cochrane Neonatal: www.nichd.nih.gov/cochrane. riosus patente no grupo exposto ao regime de menos líquido. O
• BIREME: www.bireme.br intervalo de confiança não contém o valor 1, que indica nulidade
• Pediatrics: http://pediatrics.aappublications.org, de associação, ou seja, a mostra estudada reflete um efeito real
• Neonatology on the Web: www.neonatology.org, da menor oferta hídrica na redução do ductus arteriosus patente.
• Jornal de Pediatria: www.jped.com.br.
Capitulo 1 Assistência Perinatal
Redução do Risco Relativo (RRR): determina, em termos per- NNT = 1 /-0,063 = 15,87 = 15,9
centuais, que redução o tratamento provoca na ocorrência da do- Vejam que há uma redução significativa de 48% de morte neona-
ença no grupo tratado quando comparado com o grupo controle. tal no grupo submetido à restrição hídrica e o número necessário
para o tratamento com restrição hídrica para evitar uma morte ne-
RRR: 1 – RR onatal é de 15,9.
No exemplo anterior; Ductus arteriosus patente: regime de me- Vejam a apresentação dos resultados: Forest Plot mostra visu-
nor x regime de maior oferta hídrica. almente os resultados de uma metanálise, além de fazer uma
estimativa visual da quantidade de variação entre os resulta-
RR: 0,40 dos. RR(95% IC)
RRR: 1 – 0,40= 0,60 x 100 = 60% (há uma redução de 60% Oferta Hídrica Restrita X Ingesta Liberal
do ductus arteriosus patente no grupo de menor oferta hídrica).
Diferença de Risco (DR): a/n1 – c/n2. No exemplo anterior do • Ductus arteriosus patente
ductus arteriosus patente com oferta hídrica menor ou maior, a • Hemorragia peri/intraventricular
DR foi de 0,190. • Morte neonatal
Número necessário para tratamento (NNT): 1/DR Quando a linha horizontal estiver à esquerda (RR<1) signi-
fica redução do evento; quando à direita, aumento do evento
A importância de se conhecer a DR é que nos possibilita calcu- e quando toda vez que a linha horizontal tocar a linha vertical
lar a NNT, que nos informa quantos indivíduos devem ser trata- significa que o RR não é significativo.
dos para que se possa evitar a ocorrência de um evento (quanto Veja agora um exemplo do RR localizado a direita: meta-análise
melhor o tratamento, menor o NNT). No caso do ductus arterio- revista por Halliday e Ehrenkranz para determinar se o uso de
sus patente frente a dois regimes, de oferta hídrica (maior x me- esteróide entre 7-14 dias de vida versos controle é benéfico na
nor), o NNT é: prevenção e/ou tratamento da Doença Pulmonar Crônica no pre-
maturo; foram observados como efeitos colaterais:
NNT = 1/DR
• Hiperglicemia: RR= 1,27, IC=0,99-1,63. Como interpre-
DR= - 0,190 ; NNT = 1/-0,190 = 5,26 = 5,3 tar: há um aumento da glicemia em 27% destes bebes
(1,27 x 100 = 127: aumento de 27%: 100 + 27), porém
Ou seja, o número necessário de indivíduos a serem tratados com não foi significativo (veja que o intervalo de confiança - IC
restrição hídrica para evitar um caso de ductus arteriosus patente - contém a unidade: 0,99....1....1,63).
é 5,3. • Hipertensão arterial: RR = 5,30. IC 95%: 1,59 - 21,29:
há um aumento significativo (o intervalo de confiança não
17
Mais 2 exemplos: contém a unidade) de 5,3 vezes mais.
• Hipertrofia do miocárdio: RR = 9. IC: 95%: 1,2 - 67,69:
Hemorragia intraventricular (todos os grupos): grupo com me- há um aumento significativo (o intervalo de confiança não
nor x maior oferta hídrica. contém a unidade : 1....1,2....67,69) de 9 vezes mais.
RR= 0,94 (95% IC: 0,52 – 1,72) Vejam como fica a apresentação dos resultados:
• Esteróide com 7-14 dias nos RN ventilados x controle
RRR= 1 – 0,94 = 0,06 x 100= 6% • Hiperglicemia
• Hipertensão arterial
DR= - 0,011 • Hipertrofia do miocárdio
Paulo R. Margotto
Assistência ao Recém-Nascido de Risco
• Halliday HL, Ehrenkranz RA. Moderately early ( 7-14 days postnatal corticosteroids for pre-
todos os enfermos e só um número muito pequeno dos não doen- vention chronic lung disease in preterm infants. nichd.nih.gov/cochrane.htm, 1999
tes). Assim, torna-se impossível calcular o RR como aprendemos • Margotto PR. Entendendo Bioestatística Básica. Boletim Informativo Pediátrico (BIP)-
Brasília, N0 65, pg 6, 2002 (disponível em www.paulomargotto.com.br em Entendendo
anteriormente e então, usamos um estimador indireto do RR que Bioestatística (acessado em 8/3/2009)
é a razão dos produtos cruzados ou de chance (Odds Ratio:OR):
OR = a x d/b x c
Resultado
Evento Não Evento
Sim a b
Não c d
OR = a x d/b x c
Bibliografia
• Margotto PR. Risco Perinatal. Boletim Informativo Pediátrico (BIP)- Brasília Nº52, pg 1,
1989
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• Wagner MB. Aspectos da medicina embasada em evidências. J Pediatr (Rio J) 74:419,
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• Sinclair J. Como praticar medicina/neonatologia baseada em evidências. 1º Simpósio In-
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• Bell EF, Acarregui MJ. Restricted vs liberal water intake in prematures. www.nichd.nih.gov/
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• Leite AJM. Medicina baseada em evidências: um exemplo no campo da pediatria. J Pediatr
(Rio J) 75: 215, 1999.
Capitulo 1 Assistência Perinatal
Paulo R. Margotto
Tratamento e procedimentos instituídos sem avaliação de con- to materno (vida média de 5-6h; a vida média do cortisol é de
trole de resultados podem revelar efeitos inesperados. A história 2h). Assim, causa-nos estranheza em saber que há obstetras que
da medicina é repleta de adoção de intervenções antes de uma optam pela hidrocortisona (para obter efeitos com a hidrocortiso-
avaliação completa. A única forma que temos para prevenir ado- na na diminuição da incidência da doença da membrana hialina,
ções de condutas seguidas por falta de efetividade ou mesmo você deveria usar uma dose equivalente 13 vezes mais à da be-
com resultados funestos para depois abandonar, é esperar resul- tametasona/dexametasona).
tados de ensaios clínicos apropriadamente randomizados. A falta Os esteróides promovem uma indução de mudanças no tecido
destas medidas de controle tem sido uma verdade na neonato- conectivo do pulmão, indução de receptores beta adrenérgicos no
logia. O clássico exemplo é o uso de O2 em altas concentrações pulmão, efeito direto no gen da proteína do surfactante (SPA), au-
nos recém-nascidos (RN) prematuros, resultando na retinopatia mento do desenvolvimento antioxidante do pulmão, reduzindo o
da prematuridade. Muitas terapias podem resultar em desastres. risco de Doença da Membrana Hialina (DMH), tal como o surfac-
Apesar disto muitos profissionais ainda utilizam destas terapias tante administrado na sala de parto. Meta-análise de 3000 mulhe-
sem muito cuidado. Devemos manter-nos atento para a seguran- res de alto risco para prematuridade revelou: no grupo esteróide
ça de tratamentos que ainda usamos, mas que não foram sufi- em que os RN nasceram entre 24h até 7 dias após o uso de este-
cientemente testados. róide, a diminuição da DMH foi de 69% (OR: 0,31 – IC 95%: 0,23
Dos grandes acertos na perinatologia, vamos comentar sobre – 0,42), havendo menor necessidade do uso de surfactante (22%
o corticosteróide pré-natal: x 53% - p< 0,01) e diminuição significativa da mortalidade neona-
Provavelmente não há uma prova definitiva que uma interven- tal (41%: OR: 0,59- IC 95% de 0,47-0,75). Bunt e cl evidenciaram
ção seja ambas efetiva e segura, mas deve haver um momento que o corticosteróide pré-natal aumenta a síntese do surfactante
que diz que mais ensaios clínicos tornam-se antiéticos, ou melhor, pulmonar em 1,3mg/kg/dia por cada dose de esteróide.
ainda, uma perda de recursos. Nos últimos 30 anos, 18 ensaios
clínicos têm evidenciado consistentemente que um simples curso Displasia Broncopulmonar
de esteróide pré-natal dada à mulher que irá dar a luz a um RN pré-
termo reduz a morbimortalidade neonatal. Muitos perinatologistas A displasia broncopulmonar (DBP)é um grande problema na neo-
têm sido relutantes em abraçar esta simples intervenção. natologia; à medida que estes RN sobrevivem, maior é a evidência
O uso do esteróide pré-natal é um dos tratamentos melhor do- de problemas pulmonares crônicos. Com o não uso do esteróide,
cumentado quanto a sua efetividade em salvar vidas e na redu- segundo estudo de Van Marter e cl, o risco de ter a DBP no RN <
19
ção de custos na medicina perinatal. 1750g foi 3 vezes maior (OR: 3,0 – IC 95% : 0,4 – 4,3); um curso,
Na corticoterapia pré-natal existe uma data muito importante, mesmo incompleto, não aumentou o risco (OR: 1,3 – IC 95% : 0,4 –
que é o dia 28 de fevereiro a 2 de março de 1994, quando houve 4,3%). Onze anos depois, Van Marter e cl, em um estudo envolven-
a Conferência de Consenso do Instituto Nacional de Saúde. O obje- do 1454 RN de muito baixo peso evidenciaram que a taxa de DBP
tivo desta Conferência foi para aumentar, entre os obstetras, o uso (necessidade de O2 com 36 semanas de idade pós-concepcional)
dos esteróides pré-natal (no primeiro objetivo, até 60% e no se- não variou com o uso do esteróide pré-natal. Embora os autores
gundo objetivo, até 90-100%). Antes da Conferência, o uso do es- não saibam o número de cursos usados, a supressão adrenal por
teróide era de apenas 12-18% (peso ao nascer entre 500-1500g). múltiplos cursos pode ter contribuído, uma vez que há evidências,
Hoje, estudo recente evidenciou que 98% dos obstetras do Reino a partir dos estudos de Watterberg e cl , que menor nível sérico de
Unido usam esteróide pré-natal em doses múltiplas e 75% destes cortisol nos primeiros dias de vida associa-se com maior risco de
concordam que deva haver mais estudos controlados. Assim, não DBP. Esta é a razão pela qual Banks e cl, em 2002 relataram maior
devemos passar da realidade benéfica ao exagero prejudicial. risco de DBP no RN pré-termo cujas mães receberam mais de 3
Nesta visão do neonatologista vamos apresentar os efeitos pul- cursos (veja Cursos Múltiplos). No RN abaixo de 1000g, o efeito
monares (Doença da Membrana Hialina, Hérnia diafragmática, protetor do esteróide pré-natal é questionado. Estudo de 1999, re-
Doença Pulmonar Crônica), os efeitos não pulmonares (canal ar- alizado por Wells e cl envolvendo 670 RN < 1500g, houve aumento
terial, hemorragia intraventricular, leucomalácia periventricular, da freqüência de RN sobreviventes sem DBP.
balanço hidroeletrolítico, enterocolite necrosante), o uso do es-
teróide na pré-eclâmpsia, na rotura prematura de membranas, Canal Arterial Pérvio
tocólise, tempo de hospitalização, múltiplos cursos e follow-up.
Sempre que usar o esteróide pré-natal, considerar o pulmão, o O Canal Arterial Pérvio atrasa a saída do RN do respirador e uma
cérebro, coração e intestino. vez prolongando a assistência ventilatória, o risco de DBP torna-se
Ao optar pelo esteróide, é importante que se saiba que a inser- maior. Os RN cujas mães receberam esteróide pré-natal têm menor
ção de um flúor na posição 9 aumenta a potência e prolonga a probabilidade de ter canal arterial pérvio, pois o esteróide pré-natal
vida média do esteróide, tornando a betametasona (9-alfa-flúor diminui a sensibilidade corticosteróide-induzida a prostaglandina
16 beta-metilprednisolona) 33 vezes tão potente quanto à hidro- que mantém a patência ductular. É bastante significativa a menor
cortisona e a dexametasona (9-alfa-flúor 16-alfa metilprednisolo- incidência do canal arterial no grupo de RN cujas mães utilizaram
na) 25 vezes tão potente quanto à hidrocortisona. A prednisona esteróide, versus os RN cujas mães não utilizaram esteróide.
e a prednisolona são bastante inativadas na placenta, devido a
11-beta-hidroxiesteróide desidrogenase. O cortisol e a predniso- Enterocolite Necrosante
lona tem 67,4% e 51,4%, respectivamente de inativação versus
betametasona/dexametasona que apresentam uma porcenta- Quanto à enterocolite necrosante (ECN) Hallac e cl relataram
gem de 1,8% e 7,1% de inativação pela placenta, respectivamen- incidência de 14,45% no grupo sem betametasona versus 3,4%
te. A betametasona atinge a circulação fetal 1h após o tratamen- no grupo com betametasona que nasceu acima de 24h e nos
Paulo R. Margotto
Assistência ao Recém-Nascido de Risco
bebês que nasceram antes de 24h do uso, 6,9%. Metanálise que é o hidrocéfalo pós-hemorrágico. O esteróide pré-natal diminui
de Crowley evidenciou redução significativa da ECN (68%: OR: significativamente a ventriculomegalia em 70% com o curso comple-
0,32 – IC 95% 0,16-0,64). A incidência de ECN no grupo tratado to (OR: 0,3 IC a 95% de 0,3-0,96). O RN cuja mãe fez uso de esterói-
foi de 1,6% versus 51%. de, se ocorrer a HIV, a ventriculomegalia ocorrerá numa freqüência
Recentemente Guthrie e cl identificaram os fatores de riscos significativamente menor.
para a ECN em 98 Unidades de Cuidados Intensivos Neonatais Kari e cl com o uso da dexametasona (157 gestantes com ida-
nos Estados Unidos. O estudo compreendeu 15072 RN, dos de gestacional menor que 32 semanas) mostraram diminuição
quais 390 apresentaram ECN (2,6%). Entre os fatores de risco, significativa da HIV/LPV (13% x 33%). Maher e cl envolvendo
,em uma análise multivariada, o corticosteróide pré-natal este- 432 gestantes entre 26-31 semanas, utilizando betametasona
ve associado com a ECN (1,6 mais; 95% IC de 1,3-2,0). Os au- evidenciaram diminuição da HIV em 74% (OR: 0,26 – IC 95% de
tores relatam que 59% das pacientes receberam corticosterói- 0,08-0,90). Spinillo e cl com 302 gestantes entre 24-33 semanas
de pré-natal e algumas podem ter recebido cursos múltiplos. utilizando dexametasona, evidenciaram diminuição da HIV em
O uso de cursos múltiplos de corticosteróide pré-natal pode ter 76% (OR: 0,24- IC 95% de 0,09-0,61). Shanrakan e cl envolven-
diferentes efeitos morfológicoos no desenvolvimento gastrin- do 4665 RN com peso ao nascer inferior a 1500g, evidenciaram
testinal em comparação com curso simples. Infelizmente os significativa diminuição da HIV graus III e IV tanto com o curso
dados dos autores não permitiram a avaliação desta hipótese. completo quanto com o curso parcial de betametasona. Cateri-
no e cl, estudando 1161 RN com idade gestacional entre 24-34
Hemorragia Intraventricular e semanas e peso ao nascer de 500-1750g, evidenciaram o efeito
Leucomalásia Periventricular protetor do esteróide pré-natal para a leucomalácia periventricu-
lar HIV, LPV com HIV. O grupo com esteróide pré-natal apresentou
Quanto à hemorragia intraventricular (HIV) e leucomalácia peri- significativamente menos LPV (23% x 31% - p < 0,005), LPV com
ventricular (LPV): A HIV e a LPV constituem um grande problema HIV (5% x 11% - p < 0,009). Após análise logística controlando
nestes RN prematuros extremos sobreviventes. Interessante que variáveis de confusão, o esteróide pré-natal esteve associado
o uso do surfactante pulmonar não diminui a incidência de HIV e com 56% e 28% de menor probabilidade do RN apresentar LPV
LPV; combinando o uso do surfactante pulmonar com o esteróide com HIV (OR= 0,44 – 95% IC= 0,25 – 0,77) e LPV isolada (OR=
pré-natal há uma diminuição significativa da HIV e LPV. Os meca- 0,42 – 95% IC= 0,20 – 0,88), respectivamente. Assim, o maior
nismos citados incluem: estabilização da pressão arterial (primei- uso do esteróide pré-natal (reduziu em mais de 50% a LPV) pode
ros 3 dias), fechamento espontâneo do canal arterial, aceleração melhorar o prognóstico neurológico do RN pré-termos.
da diferenciação neuronal, aumento da maturação dos vasos da Verma e cl, estudando os antecedentes obstétricos para HIV
matriz germinativa. Interessante lembrar que nos RN com idade em 745 RN de peso ao nascer entre 500-1750, evidenciaram
gestacional menor que 32 semanas existe uma proeminência de significante aumento da HIV e LPV na presença de rotura pre-
sangue à matriz germinativa. matura de membranas. A corioamnionite clínica aumentou a
20 Estudo de Cooke, de 1999, envolvendo 1722 RN com peso de incidência e a severidade destas lesões.
nascimento inferior a 1500g, evidenciou que no grupo esteróide a Na determinação da influência das causas do nascimento do
sobrevivência foi 3 vezes maior (OR: 3,34 – IC 95%: 2,31-4,79), a recém-nascido muito prematuro sobre o prognóstico neonatal,
incidência de hemorragia cerebral parenquimatosa diminuiu 56% Baud e cl relataram, após regressão logística múltipla, que a ad-
(OR: 0,44 – IC 95% 0,28-0,71), O risco de paralisia cerebral dimi- ministração do esteróide no pré-natal foi associado com uma di-
nuiu 53% (OR: 0,47 – IC 95% 0,27-0,81). Demarini relatou que minuição significativa de LPV (OR de 0,36; 95% IC de 0,16-0,79).
no grupo esteróide, os RN apresentavam pressões arteriais média Agarwal e cl relataram que um curso completo de esteróide pré-
mais estáveis com 3, 6, 12,18 e 24h, menor necessidade de ex- natal foi associado com efeito protetor contra lesões na substância
pansores de volume e menor necessidade do uso de vasopres- branca cerebral nos RN <1500 gramas ao nascer (p<0.03).
sores de suporte. Estes achados conferem proteção contra a HIV. As infecções perinatais e condições inflamatórias têm sido recen-
Achamos muito importante enfatizar estes aspectos do pon- temente implicadas na patogênese da LPV, haja visto o aumento de
to de vista cerebral, pois quando o obstetra usa esteróide, ele citocinas proinflamatórias (TNF – alfa, interleucina–1β e interleuci-
o faz no sentido de evitar a doença da membrana hialina. Ao na–6) na corrente sanguínea, no líquido amniótico do RN com LPV.
usar esteróide pré-natal, raciocinar em termos de pulmão, in- Mais recentemente tem sido descrito receptores da interleucina-2
testino, coração e cérebro. nas lesões cerebrais, levando-se a crer que esta interleucina possa
O estudo de Leviton e cl, envolvendo 1604 RN com peso ao induzir a produção das citocinas proinflamatórias TNF-α (fator mie-
nascer menor que 1500g, evidenciou que nos RN cujas mães uti- lotóxico) e a interleucina 1β, que por sua vez induzem a degenera-
lizaram esteróide houve diminuição da ecolucência periventricular; ção da mielina e iniciam a apoptose (morte) dos oligodendrócitos.
esta ecolucência pode significar isquemia, congestão venosa e está Estudos epidemiológicos evidenciam que as infecções perinatais,
muito relacionado mais atualmente, com infecção feto-placentária, corioamnionite e sepses precoces são associadas com um aumento
principalmente na presença de vasculite fetal, nos casos com HIV de risco de LPV. A administração de corticosteróide pré-natal, um
e nos casos com hipotiroxinemia. Mais adiante vamos ver que as potente inibidor da síntese de citocinas pró-inflamatórias, associa-se
pacientes com bolsa rota prolongada e que têm vasculite fetal, apre- com a diminuição do risco de LPV. Assim, o corticosteróide pré-natal
sentam um aumento excessivo no risco de lesão cerebral no seu é o fator mais significativo na prevenção da HIV.
RN prematuro. Interessante que o esteróide pré-natal protege esta Analisando fatores de risco para HIV nos RN prematuros de
lesão cerebral nestes RN. Os RN com hipotiroxinemia têm o risco de muito baixo peso, Linder e cl, recentemente relataram menor ris-
2 vezes mais de ter lesões cerebrais e o esteróide pré-natal prote- co de HIV grave para cada dose de esteróide pré-natal (OR de
ge estes bebês das lesões cerebrais (um curso completo e parcial 0,52; 95% IC: 0,30-0,90).
diminui em 50% o risco de HIV: OR: 0,5 IC 95% de 0,2-0,98). Outro Tavares, estudando os fatores perinatais associados a HIV re-
fato muito importante é a ventriculomegalia; sabemos que 30% dos latou que os RN cujas mães não usaram esteróide pré-natal tive-
bebês com HIV vão ter dilatação ventricular e destes, 50% vão ter ram 15 vezes mais chance de apresentar HIV de graus 2 a 4 do
uma dilatação ventricular transitória ou a dilatação desaparece ou que os das mães que receberam esteróide pré-natal.
os ventrículos permanecem aumentados, mas sempre do mesmo Estudos recentes assinalam diferenças quanto ao efeito neuropro-
tamanho e 50% evoluem para uma dilatação ventricular progressiva tetor da betametasona em relação à dexametasona (vide adiante).
Capitulo 1 Assistência Perinatal
Quanto ao balanço hidroeletrolítico no RN abaixo de 1000g: Estudo brasileiro publicado em 1999, com 218 gestantes entre
estudo realizado em 1999 e em setembro de 2000 por Omar e cl 26-34 semanas com pré-eclâmpsia, evidenciou diminuição signifi-
evidenciaram que nos RN cujas mães usaram esteróide apresen- cativa da doença da membrana hialina HIV, do Canal arterial, da
taram menor perda insensível de água (devido ao aumento da infecção perinatal, da mortalidade neonatal, havendo aumento do
maturação das células epiteliais da pele), menor hipernatremia, risco de diabetes gestacional. Não houve diferenças entre natimorto
maior diurese e natriurese, maior reabsorção do líquido pulmo- e pressão arterial média.
nar fetal devido ao aumento da atividade da Na-K-ATPase, levan- Em outro estudo de 1999 com 31 gestantes (28-33 sem), foi
do ao aumento da expansão do extracelular, ajudando a prevenir observado relação L/E ≥ 2 em 81% nas mães que usaram este-
a hipernatremia e previne a hipercalemia não oligúrica pela es- róide. A doença da membrana hialina ocorreu em 47% no grupo
tabilização da membrana celular que resulta em diminuição da de esteróide pré-natal x 100% no grupo controle. Assim, dizer que
saída de K+ do intracelular para o extracelular. A hipercalemia a pré-eclâmpsia amadurece o pulmão e o RN não tem doença
pode levar a arritmias cardíacas e a lesões cerebrais. da membrana hialina não é totalmente verdadeiro. O esteróide
Jain e cl, mais recentemente, estudando o efeito do sexo e pré-natal tem importância na prevenção da DMH em RN de mães
da exposição antenatal ao esteróide não evidenciaram efeito com pré-eclâmpsia.
do esteróide pré-natal na barreira epidérmica do recém-nascido
pré-termo (foram estudadas 137 crianças nascidas antes de 34 Tocílise x Hemorragia Intraventricular
semanas de idade gestacional, sendo que 87 foram expostas ao
esteróide pré-natal e 50 não receberam esteróide no pré-natal). Quando você faz a tocólise isolada, há o risco de aumentar a HIV
em 2 vezes mais. Também Pranikoff e cl relataram um aumento
Rotura Prematura de Membranas de HIV 3 vezes mais com a tocólise isolada. Atkinson e cl relataram
aumento de 2x de HIV grau III e IV quando a tocólise sem esteróide
A rotura prematura de membranas (RPM) ocorre em 30% dos foi realizada. Os tocolíticos afetam o padrão de fluxo sangüíneo
nascimentos pré-termos. Vermillion e cl com 374 RN entre 24-34 cardíaco fetal, cerebral e renal materno ou fetal e o esteróide pré-
semanas de gestação, divididos em 3 grupos (curso simples [99 natal alivia o impacto negativo dos tocolíticos pelo efeito no fluxo
RN], curso múltiplo [3 a 6: 72 RN] e controle [203 RN]), observaram sangüíneo cerebrovascular ou na integridade cerebrovascular.
que no grupo de curso múltiplo, houve aumento significativo da sep-
ses neonatal precoce (p<0,0002) e corioamnionite e endometrite Follow-Up
(p<0,004). Quando foi comparado curso múltiplo x curso simples,
não houve diferenças significativas em doença da membrana hiali- Estudo de Salokorp e cl avaliando o crescimento e desenvolvi-
na, HIV e ECN (provavelmente a corioamnionite teve influência nega- mento aos 2 anos de vida evidenciam menor incidência de pa-
tiva no efeito protetor, via citocinas). ralisia cerebral no grupo com esteróide pré-natal (10% x 22%).
21
Metanálise realizada por Alfirevic, incluindo 13 ensaios clíni- É importante que os colegas que fazem follow-up saibam se as
cos, evidenciou que o esteróide pré-natal na rotura prematura de mães fizeram ou não uso de esteróide e é importante anotar o
membranas melhorou o prognóstico do bebê (diminui o risco de número de cursos utilizados (veja a seguir).
doença da membrana hialina em 40%) sem aumento do risco de Estudo recente realizado por Arad e cl evidenciou que os RN que
infecção tanto para o RN como para a mãe. apresentaram maiores benefícios cognitivos na idade de 6-8 anos
Na RPM um grande problema é a lesão cerebral. Em 1999, Le- com o uso do esteróide pré-natal (1 curso com betametasona) fo-
viton e cl, como já citamos anteriormente, relataram um risco de ram aqueles com ventriculomegalia no ultra-som (vantagem de 23
6,9 de ecoluscência periventricular na infecção materna e 10,8 pontos no QI), evidenciando assim o efeito neuroprotetor do este-
vezes na vasculite fetal, sendo estes 2 fatores fortes predictivos de róide pré-natal.
ecolucência periventricular, sobretudo a tardia no RN pré-termo. Nos RN com ultrassom normal, o esteróide pré-natal foi asso-
Spinillo e cl relataram que os RN pré-termos que nascem após ciado com um aumento de 14,1 pontos no QI na idade 6-8 anos.
rotura prolongada das membranas (maior que 12 horas) são de Um follow-up de 20 anos nos bebês pré-termos cujas mães fize-
alto risco para deficiência severa no desenvolvimento neurocom- ram uso de um curso de esteróide, não foram observados efeitos
portamental (OR: 5,75; 95% IC de 1,22-22,18). adversos na vida adulta quanto à orientação sexual, capacidade
Em 1999, Burguet e cl relataram uma incidência de 4,3 vezes intelectual, crescimento e desenvolvimento. No grupo esteróide,
mais de paralisia cerebral quando estava presente a rotura pre- foi observado menor pressão arterial média.
matura de membranas (Risco Relativo: 4,3 ; IC 95%: 1,6-11,8). Lee e cl compararam o desenvolvimento de prognósticos ad-
No estudo de Chen e cl, de 1997 em 75 RN de mães com RPM verso na idade corrigida de 18-22 meses para RN de extremo
com idade gestacional entre 24-28 sem, foi observado diminuição baixo peso (<1000g) exposto no pré-natal a dexametasona,
significativa da HIV (grau III e IV) no grupo com esteróide antenatal. betametasona ou não esteróide. A exposição pré-natal a beta-
Elimian e cl, estudando 1148 RN de mães com RPM (peso ao metasona foi associada com melhor neurodesenvolvimento e
nascer < 1750g) relataram diminuição significativa da HIV severa reduziu significativamente o risco de deficiência auditiva, em
e LPV com o uso do esteróide pré-natal. Em 2000, estes autores relação à dexametasona ou ao não uso de esteróide pré-natal.
evidenciaram, nos RN cujas placentas apresentavam corioamnio- Embora os resultados do neurodesenvolvimento não tenham
nite histológica, redução significativa da doença da membrana alcançado diferença estatística significante, houve uma tendên-
hialina, da HIV e LPV, outras lesões cerebrais maiores, além de cia consistente de melhor prognóstico motor associado com o
menor mortalidade neonatal quando expostos ao corticosteróide uso da betametasona pré-natal
pré-natal em relação aos RN com corioamnionite histológica não
expostos ao corticosteróide pré-natal. Múltiplos Cursos
Assim, além do risco da infecção neonatal na RPM, pensar
também no alto risco da lesão cerebral. O esteróide pré-natal A efetividade comprovada do esteróide pré-natal na promoção
protege este RN da lesão cerebral minimizando as graves con- da maturação pulmonar e também na proteção cerebral pode
seqüências no amanhã destes bebês. também resultar em perda de células cerebrais com aumento de
Paulo R. Margotto
Assistência ao Recém-Nascido de Risco
problemas neurocomportamentais se usado de forma abusiva. McEvoy e cl não evidenciaram que cursos repetidos semanal-
Muito mais pode não ser melhor quando se lida com corticoste- mente de betametasona aumentam a capacidade residual fun-
róides, devido aos seus potentes efeitos biológicos. cional ou a complacência respiratória no RN pré-termo quando
Estudo experimental controlado em ovelhas por Ikegami e cl, comparado com RN pré-termos com curso simples dado numa
1997, evidenciou redução do peso ao nascer de 27% com 3-4 idade gestacional média de 29 semanas.
doses. Stewart e cl, também em estudo experimental controlado Giunn e cl concluíram que cursos semanais de esteróide pré-
relataram aceleração da maturação pulmonar com diminuição natal não diminuíam a mortalidade neonatal em relação ao curso
do peso do pulmão que persistiu na idade adulta no regime de simples e esta prática deveria ser abandonada.
múltiplos cursos. Em 1998, Jobes e cl, outro estudo experimental Questionário realizado no Reino Unido por Brocklehurst e cl,
controlado em ovelhas, mostrou que o peso fetal era inversamen- em 1999, constatou-se que 98% dos obstetras do Reino Unido
te proporcional ao número de cursos e que a supressão do cor- usam múltiplos cursos e entre as indicações principais estão a
tisol materno ocorreu após cada curso e a supressão do cortisol RPM (84,2%) e suspeita de trabalho de parto prematuro (81,8%).
fetal ocorreu após 3 cursos. Interessante que 75% concordam que deve haver mais estudos.
Em 1999, Banks e cl, envolvendo 710 RN entre 25-32 sema- Em 1994 o Instituto Nacional de Saúde dos Estados Unidos
nas de idade gestacional com 1, 2 e ≥ 3 cursos relataram não passou a recomendar o uso de esteróide em gestantes com o
haver diferenças na incidência de DMH, DPC (Doença Pulmonar risco de nascimento prematuro e deixa a incerteza quanto à se-
Crônica) e HIV (nascimentos 1-6 e 7-13 dias após o uso do este- gurança e a eficácia de doses repetidas.
róide); ≥ 2 cursos houve diminuição do peso ao nascer e com ≥ Quanto à gestação gemelar: como não é possível, na maioria
3 cursos aumentou o risco de morte (OR: 2,8 IC 95%: 1,3-5,9), das vezes, predizer com eficácia que gêmeos vão nascer prema-
além de diminuição do nível de cortisol com 2h. Em 2002, Banks turos, cursos repetidos de corticosteróide tem sido feito nas ges-
e cl relataram maior risco de doença pulmonar crônica severa tações gemelares. Recentemente Murphy e cl, do Reino Unido,
e precoce (OR= 3,3 – p < 0,001) no RN cujas mães receberam compararam 2 intervenções no tratamento do nascimento pre-
mais do que 3 cursos de esteróide pré-natal, além de maior risco maturo em gemelares; em 902 gestações gemelares o esteróide
de morte (OR= 3,2 – p < 0,003). Bradley e cl, em 1994 relataram foi usado como terapia de resgate (2 doses de 12mg de dexame-
Cushing Neonatal, com supressão do eixo hipotálamo-hipófise- tasona com 24 hs de intervalo quando havia o risco de tanto tra-
adrenal com 7 cursos betametasona. É o único estudo da lite- balho de parto como nascimento eletivo) e em 136 gestantes, o
ratura que relata esta potencial complicação. Ng e cl, apesar de esteróide foi realizado cada 2 semanas da 24ª a 32ª semana de
não terem observado severa supressão pituitária-adrenal com o gestação ou até o nascimento (esteróide profilático). Os autores
uso de múltiplos cursos de dexametasona pré-natal (média de relatam que o esteróide profilático não foi associado com redu-
11,6 cursos), um leve grau de supressão adrenal pode ocorrer ção na incidência de doença da membrana hialina (OR=0, 7-IC=
em uma pequena proporção destes RN tratados. Um curso pa- 95%: 0,2-2,0), havendo redução significativa no peso médio dos
drão não tem nenhum efeito supressor no eixo hipófise-adrenal. bebês a termo de 129g (p=0, 008). Os bebês que receberam 5
22 No RN de múltiplos cursos, é necessário que sejam monitoriza- cursos de esteróides tiveram redução estatisticamente significa-
dos (pressão arterial, eletrólitos e sinais de supressão adrenal), tiva no peso ao nascer. Os autores atribuem a não resposta da
pois estes RN podem ter reserva adrenal diminuída. gestação gemelar ao esteróide à redução da biodisponibilidade
Mckenna e cl relataram que repetidas doses de esteróide pré- do esteróide na gestante gemelar (aumento da massa fetal ou do
natal produziram insuficiência adrenal em todas as mulheres. volume de distribuição), havendo necessidade de mais estudos
Esta supressão adrenal materna pode ter sérias conseqüências, para confirmar esta hipótese. Com estes resultados, os autores
particularmente durante o trabalho de parto e nascimento. concluem que até que seja demonstrada a eficácia e a segurança
Em 1999, French e cl, estudando 652 RN com idade gestacional de múltiplas doses, é mais prudente utilizar a terapia de resgate
entre 20-32 sem, relataram redução do peso ao nascer de 9% e da e reservar os cursos múltiplos para casos selecionados de alto
cabeça em 4% (esta equivale a uma redução de 11% do volume risco. Para Alan Jobe (2003) esta explicação é insustentável, uma
craniano), além de maior tendência à doença pulmonar crônica. vez que a massa fetal no início da gestação é pequena em re-
Abbasi e cl, no ano de 2000 com 713 RN cujas mães receberam lação à massa materna, além de que a dose de dexametasona
de 1 a 12 cursos, relataram diminuição significativa da incidência que foi usada é o dobro da preconizada. Jobe acredita que a não
da doença da membrana hialina (45% x35%, a favor dos cursos resposta consistente dos gêmeos ao esteróide seja devido a que
múltiplos), canal arterial (20%x13% a favor dos cursos múltiplos) o trabalho de parto dos gêmeos serem diferente das causas do
e redução significativa do perímetro cefálico nos múltiplos cursos. trabalho de parto nas gestações únicas. Talvez as causas (mater-
Para os RN de gestação múltipla com idade gestacional maior ou na, uterina e fetal) do trabalho de parto prematuro nestas gestan-
igual a 35 semanas, e que nasceram 7 dias após a última dose, tes não “estressam” suficientemente o feto para responder aos
não foi observado diferenças no prognóstico neonatal indepen- esteróides (estudos experimentais evidenciaram que o estresse
dente do número de cursos. Os autores relataram aumento signifi- fetal aumenta a resposta aos corticosteróides).
cativo de endometrite pós-parto (p<0,013) para múltiplos cursos. Apesar das incertezas quanto à segurança e a eficácia dos múlti-
Metanálise de 8 estudos observacionais realizada por Agharajafari plos cursos, há autores que defendem. Terrone e cl, em 1999, com
e cl, em 2001, relatou que múltiplos cursos de esteróide pré-natal apenas 4 gestantes e 9 RN, relataram não haver supressão adre-
estiveram associados com aumento significativo do risco de en- nal com cursos semanais de betametasona (≥ 3 cursos). Elimian
dometrite (OR= 3,42, IC=95%, 1,92-6,11) (variáveis interferentes e cl em 2000, estudando 93 RN (≥ 2 cursos) x 261 RN (1 curso)
estavam presentes em todos os estudos). Ambos os autores con- relataram não haver diferenças no prognóstico perinatal além de
cluem que o benefício de cursos múltiplos deve ser estabelecido relatarem diminuição da incidência da doença da membrana hia-
através de um estudo prospectivo randomizado e controlado. lina e da necessidade do uso de surfactante nos múltiplos cursos.
Estudo experimental recente conduzido por Smith e cl eviden- Matthews, em 2000, em um estudo de revisão sobre o desen-
ciou que a resposta renal corticosteróide induzida foi comparável volvimento cerebral alerta para o uso de múltiplos cursos de es-
nos animais pré-termos submetidos à exposição simples versus a teróide pré-natal. O sistema límbico, constituído primariamente
exposição múltipla a esteróide pré-natal. Assim, a exposição múl- pelo hipocampo é sensível ao corticosteróide endógeno e exógeno
tipla ao esteróide pré-natal não melhora a função cardiovascular durante o seu desenvolvimento. O hipocampo tem funções com-
e renal (ovelha recém-nascida prematura). plexas no cérebro e incluem: cognição, comportamento, memória,
Capitulo 1 Assistência Perinatal
coordenação de atividade autônoma e regulação de inúmeros sis- • Todos os fetos entre 24 e 31 semanas de gestação com
temas endócrinos. Assim, pela complexidade das funções desen- risco de nascimento pré-termo deveriam receber o 1º cur-
volvidas pelo hipocampo, a programação das funções do sistema so (betametasona-2 doses de 12mg com intervalo de 24
límbico durante o desenvolvimento será de grande importância hs); 2) havendo o risco de nascimento prematuro sub-
na vida pós-natal e adulta. A exposição crônica do corticosteróide sequente, o próximo curso deveria ser feito 2 semanas
pode levar a uma redução do volume do hipocampo em aproxima- após; 3) não mais do que 2 cursos deveriam ser feitos.
damente 30% (os neurônios do hipocampo contêm alta densidade
de receptores de corticosteróides, podendo assim ser mais parti- Peltoniemi e cl investigaram se uma simples dose adicional de
cularmente afetados por doses farmacológicas de esteróide, dife- betametasona administrada no nascimento pré-termo iminente
rente). Há uma considerável degeneração neuronal no hipocampo antes de 34 semanas, >=7 dias após o curso completo de beta-
dose-dependente, com efeitos no comportamento e função neuro- metasona, melhoraria a proporção de recém-nascidos sobrevi-
endócrina. Múltiplas pequenas doses causam mais severa lesão ventes sem doença da membrana hialina ou severa hemorragia
hipocampal do que uma dose maior única (estudos experimentais intraventricular. O que se observou é que esta dose não aumentou
em macacos). Portanto, muita cautela ao usar múltiplos cursos. a taxa de sobrevivência intacta, isto é, sobrevivência sem doença
Wapner e cl avaliaram as crianças na idade corrigida de 2 e 3 da membrana hialina ou severa hemorragia intraventricular. No
anos cujas mães haviam recebido múltiplos cursos de esteróide entanto, o grupo que recebeu esta dose de betametasona tendeu
pré-natal ou simples curso. Houve aumento de paralisia cerebral a requerer mais surfactante para o tratamento da doença da mem-
nas crianças de múltiplos cursos (2.9%) em relação às crianças brana hialina do que no grupo placebo (o grupo que não recebeu
com curso simples (0.5%), embora não significativo (RR:5,7-IC a esta dose após 7 dias do curso simples). Este achado é consisten-
95%: 0,7-46,7-p=0,12). te com a falta de eficácia da repetição semanal da dose de beta-
Crowter e cl relatou igual frequência de desabilidades maiores metasona, contradizendo estudos anteriores.
entre os grupos de crianças na idade de 2 anos corrigida que re- O cortisol sérico fetal começa a diminuir 6 horas e encontra-se
cebeu múltiplos cursos versus curso púnico de esteróide pré-natal no menor nível 10 a 15 horas após uma dose de 12 mg de be-
(RR: 1.04-IC: 0.98-1,10). No entanto, único dado que demonstrou tametasona. Os níveis começam a se recuperar 24 horas após o
diferença significativa foi problema de atenção, no qual havia mais tratamento e a supressão desaparece 7 dias após o tratamento
crianças com essa alteração no grupo que recebeu dose repetida pré-natal com a betametasona. Uma hora após a administração de
de corticosteróide do que no grupo com curso simples(6.0% vs. betametasona a mãe, a droga foi detectada no sangue do cordão.
3.2%, risco relativo ajustado, 1.87; IC95%, 1.03 a 3.42; P=0.04). Alcança um pico com 6 horas e os níveis diminuem tornando-se
Kumar e Seshadri relataram uma percentagem significativamen- indetectáveis 20 horas após a administração de betametasona a
te alta dos neonatos nascidos após múltiplos cursos de esteróides mãe. Os recém-nascidos prematuros são capazes de responder
pré-natal com perímetro cefálico inferior ao percentil 10 à alta (23 ao estresse (asfixia, doença da membrana hialina) e o cortisol sé-
versos 9%, OR ajustado, 3,25, (95% IC, 1.4, 7.3); p = 0.015). Os au- rico aumenta após o nascimento. No entanto, a administração de
tores concluem que múltiplos cursos de esteróides pré-natal (mais
23
corticosteróide logo antes do nascimento pode suprimir transito-
de 2 cursos) podem predispor os neonatos de muito baixo peso a riamente o eixo hipotálamo-hipófise-adrenal durante a adaptação
prejuízo no crescimento somático pós-natal sem promover qual- precoce do recém-nascido. Portanto, o estresse fetal atribuído a
quer benefício adicional ao resultado neonatal imediato. doses repetidas de corticosteróides administradas a mãe pode ter
Por que dose semanal? Roger Lenke, em 2000, fez uma aná- conseqüências adversas a longo prazo, em termos de programa-
lise crítica do estudo original de Liggins e Howie, ocorrido há 28 ção do crescimento ou no aumento do risco de síndromes metabó-
anos. No grupo tratado que nasceu antes de 24h x controle, a licas e risco de anormalidades neurológicas.
incidência da DMH foi de 24,1% e 31,8%, respectivamente; nos No entanto, o estudo recente de Crowther e cl evidenciou diminui-
RN que nasceram dentro de 2-7 dias após o uso do esteróide ção da incidência da doença da membrana hialina no grupo exposto
pré-natal x controle, a incidência da doença da membrana hia- a dose semanal de betametasona (33% versus 41% no grupo place-
lina foi 3,6% x 33,3%, respectivamente; já para os RN que nas- bo), além de diminuição do requerimento de surfactante exógeno.
ceram após 7 dias do uso do esteróide pré-natal x controle, a As causas dos diferentes resultados este estudo e do Peltoniemi et
incidência da doença da membrana hialina foi de 2,2% e 9,4%, al permanecem especulativas.: no estudo de Crowther e cl, a du-
respectivamente (observem que a redução da incidência da do- ração da exposição fetal após a última dose foi consideravelmente
ença da membrana hialina foi menor em relação à < 24 hs e 2-7 maior; a idade gestacional ao nascer foi >=34 semanas em 36% em
dias, mas a incidência de doença da membrana hialina no grupo todos os casos (isto é, naqueles casos, a exposição fetal em relação
controle ≥ 7 dias foi baixa -9,4%). McNamara e Bottoms eviden- à última intervenção excedeu 2 semanas); um total de 18% dos re-
ciaram que a incidência da doença da membrana hialina não au- cém-nascidos nasceram a termo, enquanto no estudo de Peltoniemi
menta quando o nascimento pré-termo ocorre depois de 7 dias et al nenhum recém-nascido nasceu a termo e somente 23% dos
após a administração do esteróide. Estes autores acreditam que recém-nascidos foram expostos a intervenção >=24 horas. Provavel-
o processo de maturação pulmonar induzido pela administração mente no estudo de Crowther e cl, o nascimento pré-termo não era
do esteróide é permanente, mais do que transitório. Então, por eminente quando a dose de betametasona foi repetida. Isto pode ter
que propor um tratamento potencialmente perigoso se não há contribuído para o sucesso na prevenção da doença da membrana
evidência de eficácia? Por que a nossa abordagem médica tem hialina utilizando a estratégia de repetidas doses semanais de beta-
atualmente deteriorado tanto? metasona no estudo de Crowther e cl.
Caughey e Parer em 2002 reviram as evidências dos cursos Segundo Stiles devemos informar aos pais os dados limitados
múltiplos versus cursos simples de esteróide pré-natal para res- do seguimento a longo prazo quanto ao uso repetitivo de esterói-
ponder a questão, analisando 2 resultados neonatais que foram de pré-natal e os sobreviventes devem ser seguidos, do ponto de
a doença da membrana hialina e morte neonatal: que regime vista neurocomportamental, por um longo tempo.
de tratamento resultaria em melhores resultados neonatais, ou Os obstetras americanos esperaram mais de 20 anos após o pri-
seja, que esquema de esteróide pré-natal resultaria em menos meiro estudo com uma dose e avaliaram 15 estudos randomizados.
doença da membrana hialina sem aumentar o número de mortes Hoje, sem grandes estudos randomizados mostrando segurança ou
neonatais. Após análise dos dados (da literatura e do National benefício, rapidamente passou-se de 1 curso para múltiplos cursos.
Center for Health Statistics), os autores recomendam: É tempo para retornar para o curso simples e aguardar resultados
Paulo R. Margotto
Assistência ao Recém-Nascido de Risco
de mais estudos randomizados. Ao usar cursos múltiplos, informar à lar entre os grupos. Na verdade, a incidência de leucomalácia pe-
gestante que não há evidências seguras de eficácia. riventricular nos neonatos expostos a dexametasona foi menor em
relação aos recém-nascidos expostos a betametasona, embora o
Betametasona ou Dexametasona? presente estudo não tivesse suficiente poder para detectar diferen-
ças nas taxas de leucomalácia periventricular entre os dois grupos.
Estes dois agentes usados no pré-natal para gestantes em risco de Segundo Murphy, considerando os achados deste estudo con-
parto prematuro, diferem de outras formas de esteróides por serem flitantes com os da literatura, são necessários adicionais ensaios.
os mais estudados, apresentam atividade biológica idêntica e cruzam Feldman e cl avaliaram as taxas de morbidade e mortalidade
rapidamente a placenta. Não apresentam atividade mineralocorticói- nos recém-nascidos de muito baixo peso (334 RN) nascidos du-
de, têm fraca ação imunossupressora e apresentam longa duração rante um período de 6 anos, incluindo o período em que se usou
de ação em comparação com o cortisol e a metilpredinisolona. somente a dexametasona e comparar os resultados neonatais
A escolha entre betametasona e dexametasona é baseada na entre os recém-nascidos (RN) expostos a betametasona versus
facilidade de administração, nos custos, na disponibilidade e nos os RN expostos a dexametasona. Os autores relataram signifi-
resultados conflitantes de estudos observacionais. Na literatura cativamente menores taxas de doença da membrana hialina e
não há um consenso a respeito do tipo de corticosteróide que displasia broncopulmonar no grupo que fez uso da betametaso-
deve ser usado no pré-natal. na em relação ao grupo que fez uso da dexametasona. O número
Estudo retrospectivo realizado em 3 centros perinatais de Paris, médio de dias em ventilação mecânica foi semelhante, assim
envolvendo 883 RN com idade gestacional entre 24 e 31 sema- como as taxas de hemorragia intraventricular e grau, embora
nas, Baud e cl analisaram a incidência de leucomalácia periven- tenha sido observada uma tendência a maior severidade da he-
tricular (LPV) entre 3 grupos de RN: um grupo cujas mães usaram morragia intraventricular no grupo da betametasona. As taxas de
betametasona (2 dose de 12 mg IM 24 horas antes do parto; n= mortalidade neonatal e a média de permanência na UTI Neonatal
361), outro grupo cujas mães usaram dexametasona (4 doses de foram semelhantes.
6 mg IM 12/12 horas; n= 185) e um grupo cujas mães não usa- Lee e cl, usaram os registros do National Institute of Child Health
ram corticosteróides (n=357). A análise foi bivariada e multivaria- Development Neonatal Research Network, com o objetivo primário
da, após o ajuste dos fatores de confusão. A taxa de LPV foi de de determinar se há diferença de risco para o desenvolvimento de
4,4% entre os RN cujas mães receberam betametasona, 11% nos leucomalácia periventricular entre os RN expostos a dexametaso-
RN cujas mães usaram dexametasona. Entre os RN de mães que na versus os RN expostos a betametasona. O segundo objetivo foi
não fizeram o uso de esteróide pré-natal, a incidência de LPV foi de comparar a incidência de hemorragia intraventricular, retinopatia
8,4%. Após ajuste para a idade gestacional, tipo de parto, presen- da prematuridade e morte neonatal entre os RN que foram expos-
ça ou ausência de corioamnionite, presença de rotura prematura tos a dexametasona versus os RN expostos a betametasona.
de membranas mais de 24 horas, fatores estes que aumentam o Um total de 3600 RN com peso entre 401-1500g foram envol-
risco de LPV, a exposição à betametasona foi associada com me- vidos no estudo. Os autores não evidenciaram diferença de risco
24 nor risco de leucomalácia multicística (OR de 0,5-IC de 0,2-0,9), de ocorrência de leucomalácia periventricular com o uso da dexa-
enquanto a dexametasona foi associada com maior risco de leuco- metasona e betametasona. A dexametasona reduziu o risco de he-
malácia multicística periventricular, embora não significativo (OR morragia intraventricular, assim como a sua severidade em com-
de 1,5; IC a 95%: 0,8-2,9) . Assim, a exposição pré-natal a beta- paração com os recém-nascidos não expostos à corticoterapia. A
metasona, mas NÃO a dexametasona, esteve associada com a di- betametasona reduziu o risco para hemorragia intraventricular,
minuição significativa da leucomalácia periventricular multicística assim como a sua severidade e a morte neonatal em compara-
nos RN prematuros extremos. Apesar da sutil diferença entre estes ção com o grupo não exposto a corticoterapia. Comparando com
dois corticosteróides, já assinalada anteriormente (configuração betametasona , a dexametasona apresentou significativamente
do grupo metil na posição 16), o efeito neuroprotetor da betameta- maior risco de morte neonatal. Houve uma tendência a maior risco
sona não está totalmente esclarecido. associado com a dexametasona em comparação com a betameta-
Segundo Lee et al, . no estudo de Baud e cl não foi feito ajuste sona, para hemorragia intraventricular e severa retinopatia da pre-
para o Centro na análise de leucomalácia periventricular; o Centro maturidade .Quanto à retinopatia da prematuridade, houve uma
com a menor incidência de leucomalácia foi aquele com a taxa de tendência não significativa de aumento de 50% o risco para severa
maior uso de betametasona. retinopatia da prematuridade associada com o uso da dexameta-
Estudo experimental conduzido por Rayburn e cl, evidenciou sona em comparação com a betametasona. As causas para este
melhor desempenho neurocomportamental no grupo da betame- efeito retinotóxico potencial entre dexametasona e betametasona
tasona em relação ao grupo da dexametasona. permanece não esclarecidas e necessita de adicionais estudos.
Elimian e cl compararam betametasona com dexametasona em Estudos em animais não evidenciaram alterações no desenvolvi-
termos de efetividade na redução da morbimortalidade neonatal mento da retina associado com a dexametasona.
entre os recém-nascidos pré-termos, envolvendo 299 mulheres. A Apesar de resultados controversos na literatura sobre qual
taxa de doença da membrana hialina, necessidade de vasopresso- deve ser o melhor esteróide pré-natal, pode ser de melhor inte-
res, enterocolite necrosante, retinopatia da prematuridade, canal resse para os recém-nascidos que suas mães em risco de parto
arterial patente, sepse neonatal e mortalidade neonatal não foram prematuro recebam betametasona mais do que dexametasona
diferentes. No entanto, as taxas de hemorragia intraventricular quando houver condições de optar por um ou outro. Em muitos
(5,7%-6 de 105-comparada com 17%-17 de 100: risco relativo de países, a dexametasona antenatal é o único corticosteróide dis-
2,97 com IC a 95% de 1,22-7,24-p=0,02) e lesão cerebral (6,7%-7 ponível. São os países menos economicamente desenvolvidos,
de 105 comparada com 18%-18 de 100:risco relativo de 2,7 com com limitados recursos financeiros e neonatais que mais se be-
IC a 95% de 1,18-6,19-p=0,02) foram significativamente menores neficiam com a corticoterapia pré-natal.
nos neonatos expostos a dexametasona do que os neonatos ex- Estudo conduzido por nós no período de agosto/2007 a ju-
postos a betametasona. A redução do risco absoluto na taxa de lho/2007, 187 mães conceberam 219 RN com idade gestacional
hemorragia intraventricular foi de 11,3% e o número necessário entre 26 e 34 semanas mostrou:
para tratar foi de 9 a favor da dexametasona.
Quanto à leucomalácia periventricular o presente estudo não en-
controu qualquer diferença na taxa de leucomalácia periventricu-
Capitulo 1 Assistência Perinatal
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Doutor em Medicina, área de concentração: Pediatria, 2003
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Capitulo 1 Assistência Perinatal
Paulo R. Margotto
Assistência ao Recém-Nascido de Risco
entonações de vozes e que ele prefere as entonações de alegria, e útero e da parede abdominal da mãe, o feto provavelmente já
que há um aprendizado intra-uterino de emoções expressas pelos tem a experiência do dia e da noite. O bebê prematuro de 30 ou
pais. Marie-Claire Busnel cita os trabalhos de DeCasper e Spence, 31 semanas de gestação já possui preferências visuais, Quan-
os quais demonstraram por meio da sucção não nutritiva que o do se mostram a ele listras largas e finas ele demonstra prefe-
recém-nascido de dois dias prefere escutar a voz humana a qual- rência pelas listras largas.
quer outro som; a voz de sua mãe dentre outras vozes femininas. A dor no feto – Michel Soulé remarca que atualmente a dor
Reações a ruídas - Pesquisas têm demonstrado que o bebê in- no feto é levada em consideração pelos profissionais da área de
traútero, entre 16 e 32 semanas de gestação reagem com um pis- saúde. A bradicardia no feto pode ser provocada pela dor que
car de olhos ou com um estiramento do corpo ou dos membros, a ele venha a sentir durante um procedimento médico ou pela
ruídos aplicados ao abdômen da mãe. Ultrasonografistas observa- dor que sua mãe venha a sentir. Michel Soulé acredita que não
ram que o feto pode reagir com sobressaltos a ruídos repentinos. devemos desconhecer a dor no feto tal qual aconteceu com a
A voz materna e paterna – O recém-nascido pré-termo se dor no recém-nascido, a qual foi negado por muito tempo, o que
interessa mais por uma voz dirigida a eles que por uma voz en- fez com que muitos procedimentos dolorosos tenham sido rea-
dereçada à outra pessoa, ou emitida sem endereçamento. Do lizados sem que a dor do bebê fosse levada em consideração.
mesmo modo, o bebê olha mais tempo para um objeto apresen-
tado a ele por uma voz, do que para um objeto apresentado sem Continuidade do Comportamento Pré e Pós-Natal
uma voz. Quando os pais dirigem-se ao bebê suas vozes são um
pouco diferentes do habitual. Eles utilizam uma freqüência mais Os trabalhos de Alessandra Piontelli e de Romana Negri são a
elevada, uma modulação mais acentuada e mais lenta (como favor de uma continuidade do comportamento pré e pós-natal.
por exemplo: “booom díía, bebêêê)”. Segundo Marie-Claire Bus- Os trabalhos de Piontelli e Negri foram realizados por meio de
nel o bebê prefere esse tipo de voz ao tom de voz normal dirigi- ecografias. Romana Negri relata o interesse que bebês, dentro
da a outro adulto. Essa voz utilizada para comunicar-se com o do útero, podem demonstrar pelo contato com seu meio e em
bebê é chamada de motherese, o que poderia ser traduzido em particular com a placenta. A autora observou que o bebê intra-
português como mamanhês. Quando a voz materna é dirigida útero mostra interesse em tocar e brincar com a placenta, ficar
a ele, o feto reage diminuindo a freqüência cardíaca. Quando o em contato estreito com a placenta, avançar a boca na direção
bebê está calmo a voz materna o alerta se dirigida para ele ou desta, tocá-la com a cabeça, esfregar seu rosto contra ela, acon-
não e o acalma quando está chorando. chegar-se à mesma, percorrê-la com suas pequeninas mãos. Al-
Olfato e paladar – Embora a sensorialidade fetal tenha sido guns bebês seguram o cordão umbilical mais tempo que outros
negada pela ciência porque o sistema nervoso ainda não estava bebês. Estas observações foram feitas por volta da décima-séti-
anatomicamente completo, sabe-se hoje que a partir da sétima ma / décima-oitava semana de vida uterina. Segundo a autora
semana de gestação aparecem o olfato e o paladar. os movimentos fetais são semelhantes aos realizados por bebês
Líquido amniótico e aleitamento – O bebê prefere o cheiro pré-termo. Romana Negri faz referência também à personalidade
28 e o sabor do líquido amniótico de sua mãe (o odor e o sabor do do bebê intra-útero. A autora pode observar que os bebês já apre-
líquido amniótico agem como elemento de ligação entre a vida sentam diferenças individuais, preferências e comportamentos
intrauterina e o leite materno). O líquido amniótico foi provado e diferentes ainda no útero materno, os trabalhos de Piontelli vão
cheirado, pelo bebê, abundantemente no útero. No início o bebê também na mesma direção. Trabalhos têm demonstrado que a
prefere o odor do líquido amniótico e depois ele não faz diferença lateralidade começa a desenvolver-se ainda no útero.
entre este e o colostro, para em seguida passar a preferir o leite Memorizações - Por meio de respostas cardíacas têm-se de-
materno que tem gosto e odor semelhante ao do líquido amni- monstrado que o feto já é capas de memorização. Como por
ótico. Existe, segundo Busnel uma continuidade de gosto e de exemplo, memória para músicas cantadas pela mãe ou histórias
cheiro entre o líquido amniótico, o colostro e o leite materno. A que os pais lêem para o seu bebê intraútero.
autora comenta ainda que o bebê aprende a mamar aquilo a que
estava habituado, aquilo que ele conhecia no útero e, se mudar- Transnatalidade e Atendimento
mos a nutrição da mãe, segundo a autora, mudamos também o ao Bebê Pré-Permo
odor do que o bebê conhecia (o odor do líquido amniótico) o que
faz com que alguns bebês se recusem a mamar até que a dieta Pensemos no bebê pré-termo como alguém que passa da vida
materna volte a ser a mesma. O bebê prefere o odor do seio ma- intrauterina diretamente para a UTI Neonatal. Pensemos no bebê
terno e do leite materno a qualquer outro odor, mesmo ao odor pré-termo como um ser que deixa atrás de si um meio aqueci-
do seio de outra mãe que esteja amamentando. Para verificar as do, onde ele não conhecia os efeitos da gravidade. Avaliemos
preferências do bebê pelo odor do seio materno e do leite ma- as condições de vida do bebê pré-termo a partir das condições
terno pesquisadores colocam em cada lado da cabeça do bebê intra-uterinas que ele deixa atrás de si ao nascer. Ele vivia em um
um chumaço de algodão com odores do leite ou do cheiro do ambiente onde predominava a obscuridade, onde o nível sonoro
seio materno, giram a cabeça do bebê nas duas direções, para era atenuado, o espaço que o bebê ocupava até então, tinha limi-
que este possa sentir os odores de cada lado. O bebê vai passar tes definidos, podendo, o bebê, tocar esses limites sem grandes
a girar a cabeça para o lado que tem o odor do seio ou do leite esforços. Ao nascer, ele deixa atrás de si os ritmos maternos e
materno. O tempo que o bebê passa virado para cada um dos os batimentos cardíacos de sua mãe. O que por si só já é muito
odores é medido pelos pesquisadores. estressante para o bebê.
A visão - A visão desenvolve-se alguns meses antes do final
da gestação. O sistema visual é o último a se desenvolver. Por O Acolhimento do Bebê Pré-Termo
volta da 26 a 30 semanas de vida uterina pode-se obter respos-
ta à luz. Se acendermos e apagamos uma luz brilhante diante O que acabamos de abordar, serve de base para o acolhi-
do ventre materno, pode-se observar, com a ajuda do ultra-som, mento do bebê a partir dos seus primeiros momentos dentro
que o feto pisca. O mesmo pode ser observado em bebês muito do Centro Obstétrico. Se o estado do bebê o permite, ainda no
prematuros, os quais podem nascer com as pálpebras fundi- centro obstétrico, busque, dentro do possível ajudar para que
das, mas fazem movimentos de piscar quando se acende uma os seguintes itens ocorram:
luz forte. Uma vez que a luz pode passar através da parede do
Capitulo 1 Assistência Perinatal
• A mãe ver o bebê - Mostrar o bebê à sua mãe. tem nos anos iniciais de sua vida afetam suas habilidades
• A mãe falar com o bebê - Encorajá-la a falar com ele, e comportamento ao longo da infância e da idade adulta.
explicando-lhe que o seu bebê já conhece sua voz desde L. Alan Sroufe e cl citado por R. Shore, em um estudo lon-
o útero materno. gitudinal, no qual 180 crianças e suas mães foram acom-
• Tocar o bebê - Permita que a mãe toque o bebê, é impor- panhadas até a idade de 20 anos, demonstrou que um
tante para o bebê começar a ter uma história de toques cuidado inicial que seja sensível e emocionalmente res-
positivos desde o seu nascimento, pois provavelmente ponsivo pode diminuir os efeitos de ambientes de alto ris-
ele terá uma longa jornada de cuidados dentro da UTI co. O posicionamento do bebê contribui para a diminuição
Neonatal. do estresse, além de ajudar no desenvolvimento motor.
• Cheirar o bebê – Os pais costumam cheirar seu bebê
desde que isso seja possível. Diminuindo o Estresse do Bebê e Ajudando
• Cuidar do bebê? - Fale para a mãe que ela pode ajeitar o a sua Adaptação ao Meio Extra-Uterino
lençol que envolve seu bebê. Ajeitar o paninho que envol-
ve o seu bebê pode ter para a mãe o significado de estar Além da diminuição do nível sonoro, da iluminação, do agru-
cuidando do seu bebê (agasalhando-o) é claro que todo pamento dos procedimentos, (que deve ser planejado de acordo
isso vai depender das condições do bebê. com a idade gestacional, o estado do bebê, etc.) formas adequa-
• Ver, tocar, cuidar do seu bebê fortalece os laços afetivos. das de pesar e banhá-lo (consulte o Manual Técnico do Método
• Apresentar o bebê aos pais - Aponte para as caracterís- Canguru do Ministério da Saúde, BNDES e Fundação Orsa) po-
ticas positivas de seu bebê. demos, também, ajudar o bebê a lutar contra o estresse com
• Tranqüilizar - Diga-lhe para onde o seu bebê está indo atitudes simples tais como:
e que ele (o bebê) ficará feliz em reencontrar sua mãe
e seu pai. Explique-lhe que a equipe de saúde estará fa- • Movimentar-se com o bebê nos braços - Quando estiver
zendo todo que for possível para ajudar o seu bebê, e que com o bebê nos braços evite movimentos muito rápidos,
eles, os pais são bem vindo à UTI Neonatal. como virar, ou girar seu corpo para pegar um objeto ou
• Quais itens são possíveis de serem aplicados? - Veja falar com alguém.
quais desses itens podem ser postos em prática em fun- • Levantar e descer o bebê - Evite suspender, ou descer o
ção do quadro clínico do bebê. bebê rapidamente.
• Segurar o bebê - Segure o bebê buscando organizá-lo
Os Pontos de Apoio e o Segurar-se do Bebê e retendo-o contra seu próprio corpo para transmitir-lhe
Pré-Termo – em Busca de Segurança segurança.
• Dar segurança ao bebê - Permita que o bebê possa segu-
Catherine Druon fala do interesse que tem o bebê pré-termo em rar algo e tenha aonde apoiar seus pés, um tecido sobre
buscar pontos de apoio no interior da sua incubadora, apoiando o corpo do bebê transmite-lhe segurança e confiança.
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seu pé, sua cabeça ou sua mão na parede da mesma ou em ou- • Manuseio contingente - Quando estiver manuseando o
tra superfície de contato (rolinho, p.ex.). A autora considera que bebê observe os sinais que ele comunica com o objeti-
a busca de apoio pode ser uma forma do bebê sentir-se seguro, vo de ajustar o manuseio ao nível de estresse suportado
tentando reencontrar os limites das paredes uterinas que serviam pelo bebê, se necessário interrompa o procedimento e
de continente para ele. Druon lembra que o bebê pode também espere ou ajude o bebê a se organizar.
buscar pontos de apoio segurando um objeto - sonda, um tecido
ou pelos da pele de carneiro. Para a autora, do ponto de vista psí- O Bebê Pré-Termo E A Dor
quico, ter o corpo coberto (caso não exista contra indicações do
ponto de vista médico ou de enfermagem), ter um ponto de apoio, O principal neurotransmissor responsável pela dor aparece
segurar algo, pode significar para o bebê uma continuidade entre entre a décima segunda e a décima sexta semana de gestação.
a vida pré e pós-natal e que essa continuidade é importante para a Estima-se atualmente que as estruturas anatômicas e bioquí-
organização da vida psíquica do ser humano. A separação do bebê micas necessárias à percepção da dor estão presentes desde
de sua mãe é por si só um fator estressante. a vigésima quarta semana de gestação. Mas, a imaturidade do
seu equipamento neurobioquímico não possibilita ainda a insta-
O Estresse lação dos sistemas inibidores da dor, o que faz com que a dor
no bebê pré-termo seja mais intensa. O bebê pré-termo além de
Sabe-se que experiências adversas ou traumáticas podem ele- mais sensível aos estímulos dolorosos é incapaz de instalar um
var a taxa do hormônio cortisol no ser humano. Por sua vez o sistema de pára-excitação para aliviar a dor. Para Anand, citado
cortisol pode afetar o metabolismo, o sistema imunológico e o por Bernard Golse, o estresse no recém-nascido é três a cinco ve-
cérebro. Quanto ao cérebro, o cortisol torna-o mais vulnerável a zes maior que no adulto na ausência de anestesia durante uma
processos que destoem os neurônios e reduzem o número de intervenção cirúrgica.
sinapses em determinadas regiões do cérebro. Assim, experiên- Durante uma dor aguda ou uma dor prolongada, os sinais de
cias estressantes podem minar o desenvolvimento neurológico e estresse podem se fazer presentes tais como: taquicardia, fre-
deteriorar o funcionamento cerebral. Crianças que apresentam, qüência respiratória elevada, hipoxia, hipertensão arterial. Os
de forma crônica, altos níveis de cortisol têm demonstrado mais estudos de Anand, citado por A. Gauvain-Piquard, demonstraram
atraso no desenvolvimento cognitivo, motor e social, quando que esses sinais de dor no bebê podem ser acompanhados de
comparadas a outras crianças. O estresse emocional também perturbações biológicas por vezes severas e que comprometem a
está associado com alterações na fisiologia cerebral. melhora do bebê. Segundo A. Gauvain-Piquard, numerosas com-
plicações pós-operatórias podem ser em conseqüência dessas
• Proteção contra o estresse - Os bebês que recebem cui- reações causadas pela dor.
dados sensíveis e calorosos no primeiro ano de vida, são O bebê pode expressar sua dor por meio de sinais comporta-
menos propensos aos efeitos do estresses. As neurociên- mentais tais como: choro inconsolável; crispação do rosto; au-
cias têm demonstrado que as experiências que a criança sência do estado de consciência alerta inativo; diminuição dos
Paulo R. Margotto
Assistência ao Recém-Nascido de Risco
movimentos espontâneos de extremidades; aparecimento de sentimentos de outra pessoa e de importar-se com o que ela sente
movimentos desorganizados de extensão e flexão de membros; tem como base as experiências iniciais de interações afetuosas.
tremores; hipertonia axial; imobilização da região dolorosa. Be- O bebê necessita de um relacionamento, afetivo desde os seus
bês que estão no respirador podem apresentar o que M. Spar- primeiros momentos na UTI Neonatal. Estudos mostram que a
shott chama de choro silencioso diante da dor: o bebê abre sua estimulação cutânea, se adequada, tem efeitos benéficos sobre
boa e a sua língua fica em posição de taça. o sistema imunológico do bebê. O toque tem efeitos fisiológicos e
comportamentais sobre o organismo).
Necessidades Individuais do Bebê Pré-Termo, Evidências experimentais mostram que existem diferenças
o Trabalho de H. Als bioquímicas significativas entre os seres humanos que se bene-
ficiaram de uma estimulação adequada (contingente, ou seja, de
A psicóloga H. Als e cl desenvolveram um método sensível de acordo com os sinais dados pelo bebê) e os que não se benefi-
cuidados individualizados do bebê pré-termo; o qual leva em ciaram. Um ambiente inadequado pode afetar o crescimento e o
consideração o que é observado na vivência de cada bebê como peso de bebês e crianças pequenas.
sendo disruptivo ou tranqüilizador. Esse exame detalhado é feito
nos primeiros dias após o nascimento e torna-se a base do plano O Toque Contingente
de cuidados específicos de cada bebê.
Cada necessidade do bebê pré-termo relativa à luz, som, po- Ou seja, baseado nos sinais emitidos pelo bebê, o bebê pré-
sicionamento e cuidados especiais é satisfeita com uma prévia termo normalmente prefere um toque mais profundo, acolhedor
avaliação comportamental detalhada. Esses planos individualiza- e continente; você pode estar demonstrando para os pais esse
dos de cuidados do bebê de alto risco e baixo peso, envolvendo tipo de toque, é importante que evitemos as criticas. Os pais, por
suas necessidades comportamentais e ambientais, fazem uma vezes, devido ao estresse e por se encontrarem em um ambien-
considerável diferença na boa recuperação do bebê. te pouco familiar para eles, algumas vezes tendem a acariciar
Em dois trabalhos científicos utilizando essa abordagem, os seu bebê com as pontas dos dedos de modo rápido e superficial.
bebês que receberam manejo comportamental individualizado Na maioria das vezes percebemos que o bebê não aceita muito
necessitaram de menos dias no respirador e menos suplemento bem esse tipo de carícia. Podemos orientar os pais, buscando
de oxigênio. Eles receberam alta, dias antes dos outros bebês, e demonstrar o tipo de toque que o bebê pré-termo gosta mais,
tiveram uma baixa incidência de hemorragia intraventricular. De- ou seja, um toque mais profundo, acolhedor e continente. Como
pois da alta, seu desenvolvimento comportamental progrediu de podemos orientar sobre o toque?
forma mais normal. Com os cuidados individualizados os bebês
davam pistas mais claras, tornando mais fácil para os pais e os • Demonstrando sobre o nosso próprio braço.
profissionais perceberem as necessidades do bebê. • Se você sente que pode demonstre os dois tipos de to-
que sobre o braço da mãe, por exemplo, e pergunte-lhe
30 Interações Pais-Bebê e Amadurecimento qual o toque que ela gosta mais, geralmente ela dirá que
Neurológico do Bebê Pré-Termo prefere o toque mais profundo, acolhedor e continente,
podemos então lhe dizer que o bebê pré-termo também
O significado humano do toque - Interações sustentadoras har- prefere mais esse toque.
moniosas e afetivas ajudam no desenvolvimento adequando do • Outra forma de ajudar o toque dos pais é posicionando
sistema nervoso central. Escutar a voz humana, ajuda os bebês nossa mão sobre a mão do pai ou da mãe - enquanto o
a aprenderem a distinguir sons e a desenvolver a linguagem, por pai ou a mãe está acariciando o bebê de forma rápida –
exemplo. Experiências interativas contribuem para o recrutamento isso irá permitir aos pais vivenciarem um toque profundo,
de células cerebrais para fins particulares – células extras para a au- acolhedor e continente, nesses momentos os pais tendem
dição, por exemplo. Trocas afetivas entre o bebê e seus pais ajudam por si mesmos adequar o seu próprio toque ao toque que
o bebê a aprenderem, a perceber e a responder a indícios afetivos. eles sentem na sua mão – Mas, para que possamos fazer
Registros cerebrais de indivíduos mais velhos têm mostrado que isso devemos criar um ambiente descontraído e de con-
interações harmoniosas (adequadas, motivadoras e interessantes fiança. No final devemos dar um feed back para os pais: por
para o bebê) levam a uma melhor utilização dos centros de apren- exemplo – olha como o bebê está gostando do seu toque.
dizagem do cérebro diferentemente de estimulação excessivas ou Assim, eles aprenderão um pouco mais sobre o seu bebê
pouco estimulantes - ou seja, inadequadas.
Se um bebê pequeno e prematuro é acariciado diariamente; abra- Fase Oral do Desenvolvimento Infantil
çado; ou se conversarmos com ele durante sua permanência na e a UTI Neonatal
Unidade Neonatal; embalado (quando o seu estado o permite) ele
poderá apresentar menos pausas respiratórias, mais ganho de peso As imagens que dispomos atualmente do bebê intraútero nos
e progresso mais rápido em algumas áreas de maior funcionamento mostram que o bebê é visto freqüentemente com sua mão na
cerebral que pode persistir por meses depois da alta hospitalar. boca ou próxima a esta. O bebê já suga o dedo desde o útero
O simples ato de acariciar um bebê pré-termo por cinco minu- materno e deglute o líquido amniótico. Sendo assim, além da
tos a cada hora por duas semanas, melhora a motilidade intes- sucção não nutritiva o bebê apresenta sua cavidade oral cons-
tinal, a atividade e o crescimento; diminui o choro. É importante tantemente umedecida.
que observemos as pistas que o bebê nos fornece para saber- O bebê se reconfortando a si mesmo com a nossa ajuda
mos se a estimulação está sendo adequada ou não. - Busque propiciar ao bebê oportunidade de estar com suas
Em um nível mais básico, os relacionamentos propiciam o ca- mãos próximas à boca, bem como facilite a sucção não-nutriti-
lor, a intimidade e o prazer, fornecem estabilidade, segurança va. Mãos próximas à boca, sugar o dedo, flexionar as pernas são
física e proteção de doenças. mecanismos que o bebê utiliza para confortar-se. Além disso, a
As interações adequadas no início da vida são a base para o de- sucção diminui a agitação do bebê, melhora a oxigenação, aju-
senvolvimento, não apenas da cognição, mas da maioria das capa- da a estabiliza a pressão intracraniana, aumenta os períodos de
cidades intelectuais do ser humano, incluindo a criatividade e as sono profundo e prepara o bebê para o aleitamento materno.
habilidades de pensamento abstrato. A capacidade de entender os
Capitulo 1 Assistência Perinatal
Quando o bebê está ainda sendo alimentado por gavagem, de- luto do bebê imaginário para que os pais possam investir
vemos ver a possibilidade de umedecer a sua boca com o leite o seu bebê real.
materno, caso não exista nenhuma contra indicação do ponto de
vista médico e de enfermagem. Assim ele poderá associar a sen- Lembre-se: por vezes, os pais não são informados que podem
sação de sentir seu estômago pleno com o sabor do leite em sua tocar seu bebê; nesse caso, eles podem sentir-se intimidados,
boca e isso contribuirá para umedecê-la, ajudando mais tarde no confusos e não ousar fazê-lo. Mas podemos incentivá-los e orien-
aleitamento materno. tá-los para tocar seu bebê.
Umedecendo os lábios e a boca do bebê – Caso não exista No entanto, devemos evitar o oposto, pressionando-os a tocarem
contra indicação do ponto de vista médico e de enfermagem. e falarem com o bebê. Brazelton (1988) considera que isso pode
ser destrutivo e que eles estarão mais prontos se tiverem tempo e
Fortalecendo os Laços Afetivos apoio para realizar o “trabalho de luto”. Luto do bebê imaginário e
encontro com o bebê real que está diante de seus olhos.
Para os pais ver, tocar, contato pele a pele, cheirar e cuidar Devemos prever que a mãe, durante esse primeiro encontro,
do seu bebê contribui muito para o fortalecimento dos laços poderá ter tonturas. Se possível for, deixe uma cadeira disponí-
afetivos após o nascimento do bebê. Quando os pais sentem- vel. Lembre-se: ela pode sentir dores ou tontura e não comuni-
se como pessoas estranhas dentro da UTI Neonatal, os laços car isso à equipe.
afetivos podem ser perturbados. A equipe de saúde deve ter Evitar demonstrar desagrado com as perguntas repetidas dos pais.
uma atitude acolhedora para facilitar o fortalecimento dos laços Eles estão passando por um momento de crise e de muito estresse.
afetivos e o processo de maternalidade e paternalidade. O que acabamos de apresentar são somente sugestões. Por
outro lado, devemos lembrar que não existem receitas. Brazel-
• O bebê e seus pais - É no seio da interação que os laços ton considera que o ponto crítico é procura ajudar aos pais a se
afetivos surgem e se fortalecem. Os trabalhos de Bowlby sentirem importantes para seu filho.
mostram que o bebê e a criança pequena têm necessida-
de de uma relação calorosa, íntima e contínua com seus Contribuir para a Interação e para o
pais ou seus substitutos. Uma criança sofre de privação Fortalecimento dos Laços Afetivos Pais/Bebê
afetiva se por qualquer motivo fica afastada de seus pais.
Os efeitos prejudiciais da privação variam de acordo com Embora não existam fórmulas prontas e únicas, diferentes
o grau desta privação. trabalhos apresentam sugestões sobre como contribuir para o
fortalecimento dos laços afetivos, bem como para a prática da
O Primeiro Encontro Dos Pais Com Seu parentalidade: Brazelton, Klaus e Kennell, Nadia Bruschweiler-
Bebê Pré-Termo (Bebê Pré-Termo, Pais Prematuros) Stern, Klaus, e Kennell e Klaus.
Lembremos que não só o bebê é pré-termo, os pais também Nadia Bruschweiler-Stern considera que devemos:
31
são prematuros, pois a fase de desenvolvimento psicoafetivo que
ocorre durante a gestação foi interrompida bruscamente. Para a • Primeiramente, ofereça aos pais um ambiente de holding
maioria dos pais entrar na UTI Neonatal é uma experiência nova e (suporte); respeitando o ritmo dos pais que se encontram
angustiante, pois além da preocupação com o estado do seu bebê, em uma situação na qual eles não se sentem preparados
o ambiente da UTI Neonatal pode ser, por vezes, assustador para para assumir suas funções maternas e paternas.
eles. Para ajudarmos os pais nos primeiros contatos com o seu • Acompanhe os pais suavemente durante a metamorfose
bebê aconselham que: acelerada que eles deverão passar para estar em condições
de cuidar do bebê e de assumir os papéis de pai e de mãe.
Antes Do Primeiro Encontro Entre O Bebê E Seus Pais • Busque validar os pais no seu papel de pai e de mãe.
Isso implica, segundo a autora, medidas simples podem
ajudar muito, tais como:
• Visita a mãe por um profissional da equipe de saúde que • Instale os pais confortavelmente e dê-lhes as informa-
esta cuidando do bebê - O objetivo desta visita é explicar ções que eles desejam. Klaus e Kennel aconselham que
aos pais o estado do seu bebê; durante esta visita, é im- seja disponibilizado para os pais um banco alto (para que
portante ressaltar também os aspectos positivos do bebê, eles possam ficar no mesmo nível do bebê).
sejam quais forem, como, por exemplo, seus dedinhos per- • Ajude-os a tornar o seu bebê “real” (para eles mesmos),
feitos, sua luta pela vida, suas competências sensoriais permitindo que os mesmos tirem uma foto do bebê (caso
(ver mais acima) etc, e que, o bebê ficará feliz com sua eles o desejem); se possível (caso o seu hospital o permi-
presença reconfortante. ta) imprima uma marca de seu pezinho em um papel ou,
• Indo a Unidade Neonatal – A mãe e se possível o pai então, obtenha uma cópia do certificado de nascimento
também, deve ser acompanhada por um profissional da para que os pais possam mostrar aos avós, aos irmãos do
equipe da saúde até a Unidade Neonatal. bebê, aos seus parentes próximos ou a alguém emocional-
• O primeiro encontro dos pais com seu bebê - Esse mente importante para eles.
primeiro encontro jamais deve ser banalizado. Para os • Crie condições que facilitem o contato pele a pele.
pais é um momento no qual eles necessitam de apoio. • Oriente os pais para cantarem e falarem docemente ao
É o momento de encontro do bebê imaginário (o bebê seu bebê.
dos sonhos, dos devaneios dos pais) e o bebê real. Um • Peça aos pais para trazerem brinquedos, não muitos
profissional que esteja cuidado do bebê os receberá e grandes, nem muito pequenos, para que o seu bebê pos-
ficará à disposição destes para esclarecer suas dúvidas; sa segurar (caso não haja contra indicação do ponto de
devemos evitar dar informações em excesso, devemos vista médico e de enfermagem) ou pendure o brinquedo
também utilizar uma linguagem de fácil compreensão. dentro da incubadora.
As características positivas do seu bebê devem ser no- • Permita que os pais coloquem mensagens na incuba-
vamente lembradas, assim estaremos contribuído para o dora de seu bebê.
Paulo R. Margotto
Assistência ao Recém-Nascido de Risco
• Disponibilize para os pais um espaço onde possam con- sensibilidade tátil em toda a superfície do corpo, que ele
tar a experiência que estão vivendo. já sente diferentes odores, que ele escuta e reconhece a
• Mostre sempre para os pais os progressos do seu bebê, voz de seus pais e que ele já é capaz de ver. Essas são
os medos e angústias dos pais podem impedir que eles competências sensoriais do bebê (para uma visão mais
vejam as aquisições do seu bebê. aprofundada, ver Jean-Pierre Lecanuet, 1997 e Marie-
Claire Busnel, 1997, 2002, 2003). Quando você protege
Facilitando as Interações entre os olhos do bebê contra o excesso de luminosidade per-
o Bebê Pré-Termo e seus Pais mitindo assim que o bebê possa abrir seus olhos você
esta ajudando o bebê a maternalizar e paternalizar seus
Cramer sugere aos pais que copiem o comportamento do pais (conquistar seus pais), pois os pais são muito sensí-
bebê. O autor relata que, quando a mãe consegue ter atitudes veis ao olhar de seu bebê.
paralelas ou similares as do bebê (orientar os pais para acompa- • A interação pelo olhar - Se você percebe que os pais es-
nharem o ritmo do bebê), isso permite ao bebê se reencontrar. tão ansiosos para que o seu bebê abra os olhos e os veja,
e, você sabe que o bebê, devido as suas condições, não
Ajudando O Bebê A Melhor poderá fazê-lo por enquanto, explique-lhes em linguagem
Interagir Com Seus Pais simples que o seu bebê, no momento, está usando sua
energia para melhorar e, por isso, ele não está se movi-
A nossa experiência mostra que devemos tomar algumas me- mentando ainda, nem abrindo os olhos (para uma visão
didas para que a interação seja mais harmoniosa entre o bebê mais aprofundada ver M. Fabre-Grenet, 1997) mostre ou-
pré-termo e seus pais: tras formas de relacionar-se com o bebê: pelo toque, pela
fala, pelo olfato, etc.
• Posturar o bebê - Posturar o bebê confortavelmente e • A voz dos pais - Incentive os pais a falarem com seu bebê.
estando este organizado. • A comunicação com o bebê - Ajude os pais a conhece-
• A luz nos olhos do bebê - Proteger os olhos do bebê de rem a linguagem do seu bebê, para tornar mais fácil a
luz intensa. interação destes com o bebê.
• Transmitir segurança ao bebê - Se não houver contra • O nome do bebê - Se o bebê já tem nome, é importan-
indicação, envolver o bebê com um tecido, para que ele te chamá-lo pelo seu nome. Podemos incentivar os pais
se sinta seguro e confortável (sem, contudo dificultar os a escolher um nome para seu bebê, mas não devemos
movimentos do bebê) ou vesti-lo, se não houver contra- transformar isso em uma imposição.
indicação. • O bebê pré-termo na família e a família no bebê - Veja
• Nível sonoro - Controlar o nível sonoro em torno do bebê a possibilidade da equipe se organizar para permitir a vi-
durante a interação com seus pais. sita dos avós e dos irmãos (para maiores informações
32 • Dar limites para o corpo do bebê - Se o bebê estiver sem consulte o Manual Técnico do Método Mãe Canguru e o
uma proteção em torno do seu corpo, colocar um rolinho vídeo do Curso de Capacitação do Programa de Atenção
(de tecido p.ex.) contornando seu corpo da cabeça até os Humanizada ao Recém-nascido de Baixo Peso – Método
seus pés. Mãe Canguru, 2002).
• Aquecer as mãos - Orientar os pais para aquecerem
as mãos (friccionando-as uma contra a outra, p.ex.). As O Bebê E O Cuidador
mãos dos pais ficarão em uma temperatura que mais
agrada ao bebê.
• Estados de consciência ou comportamentais (em anexo) - • Conversando com o bebê - Explique ao bebê porque ele
Ajude os pais, se necessário a reconhecer os estados de está na UTI e que seus pais virão fazer-lhe companhia.
consciência do seu bebê. • Início dos cuidados - Avise ao bebê que você está come-
• Evitar que o bebê fique estressado antes do encontro com çando seu expediente na UTI e que irá se ocupar dele.
seus pais - Caso seja possível, evite que o bebê fique estres- • Aqueça as mãos, friccionando-as antes de tocar o bebê.
sado, próximo ao horário de encontro com os pais, para que • Fala e toque - Fale com o bebê antes de tocá-lo.
este possa estar disponível para interagir com eles. Essa • Sono profundo e choro - Não realize procedimentos nes-
interação é necessária para seu desenvolvimento. ses dois estados de consciência do bebê (caso os proce-
• Participação nos cuidados - Permita que os pais partici- dimentos possam esperar)
pem dos cuidados prestados ao seu bebê quando for pos- • Nível de maturidade e idade gestacional - Leve em con-
sível, incentive-os sem, contudo, pressioná-los ou julgá-los. sideração o nível de maturidade e idade gestacional do
• Evitar fracassos – É importante para os pais participa- recém-nascido ao planejar os cuidados de rotina, com-
rem dos cuidados do seu bebê, sem se sentirem fracas- preendendo sua linguagem e o que pode tolerar.
sados ou inadequados. • Avalie o estado de consciência do bebê antes de iniciar
• O cheiro do leite materno e dos pais - Pedir à mãe que um procedimento.
coloque um tecido junto aos seios por um certo período de • Converse com o bebê antes de iniciar um procedimento
tempo, para que este fique impregnado do odor materno – Diga-lhe, por exemplo, que você o está ajudando para
e de seu leite. Quando a mãe se retira da UTI Neonatal, que ele melhore (trabalhos mostram que a freqüência
esse tecido é colocado dentro da incubadora, próximo ao cardíaca ou a saturação de oxigênio melhora quando fa-
bebê, para que ele possa continuar sentindo o cheiro de lamos com o bebê antes de um procedimento).
sua mãe e de seu leite. Essa é uma forma de reconfortar o • Observando os sinais do bebê - Ouça primeiro o que o
bebê e contribuir para o aleitamento materno. bebê está comunicando antes de iniciar um procedimen-
• Conquistando os pais - Ajude o bebê a maternalizar e pa- to (em anexo, escalas de estresse e de dor). Lembrando
ternalizar seus pais (conquistar seus pais) explicado-lhes que, alguns sinais de estresse ocorrem entre cinco a dez
as competências interativas do bebê: que o seu bebê tem minutos mais tarde, tal como a bradicardia e a apnéia.
Capitulo 1 Assistência Perinatal
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Paulo R. Margotto
Assistência ao Recém-Nascido de Risco
Olhos abrem-se e fecham-se, podendo permanecer parcial ou • Inércia: (durante o procedimento doloroso ou logo após). Não respos-
totalmente abertos, mas com aparência entorpecida. Ocasionais ta para o procedimento, inércia doloroso; flacidez /rigidez; imobilidade.
movimentos suaves de braços e pernas. Respiração regular, mais
rápida e curta que durante o sono. Anexo IV - Primeiras relações e idade gestacional
Estado 4: Alerta inativo
Corpo e face relativamente inativos, olhos brilhantes. O bebê res-
ponde aos estímulos visuais e auditivos. Este é o estado que mais Ajude os pais a fazerem a descoberta dos atrativos do seu bebê
recompensa os pais (o bebê está disponível para a interação) durante a interação de forma prazerosa e descontraída
Estados 5: Alerta ativo
Acordado, apresenta movimentos, é considerado como De 23 a 25 semanas
um estado de transição em direção ao choro. O bebê está • Ajude os pais a descobrirem como o seu bebê se comuni-
disponível aos estímulos externos e pode ser acalmado car. A interação olho a olho é significativamente limitada
ou trazido de volta para o estado alerta inativo com o uso para essa faixa de idade gestacional. Podemos orientar os
de estímulos adequados, se estes forem fortes em dema- pais, dizendo-lhes que o seu bebê já é capaz de escutar
sia o bebê tende a tornar-se novamente desorganizado. suas vozes, sentir o cheiro deles e o cheiro do leite materno;
Estado 6: Choro que o bebê já possui sensibilidade em todo o corpo e que
O choro do bebê apresenta vários propósitos (dor, fome, tédio, se sentirá reconfortado com a presença e o toque dos pais.
desconforto.) • Peça a mãe para colocar um tecido em contato com seus
seios e quando os pais se ausentarem coloque esse te-
Estados de consciência do bebê Pré-termo cido dentro da incubadora para o bebê sentir o cheiro
do leite materno. O pai também pode deixar um tecido
impregnado com o seu odor
Usados no NAPI - Neurobehavioral Assessment of Preterm • Explique aos pais a importância do sono profundo e do
Infant* sono leve (ver anexo) que o sono é importante para aju-
dar o seu bebê a se repousar, crescer e desenvolver-se,
Estado 1: Sono profundo mas que, a presença deles é importante ao lado bebê
Estado 1,5: Sono profundo com a respiração ligeiramente ir- mesmo quando ele dorme.
regular • Oriente os pais sobre os estados de consciência do bebê
Estado 2: Sono leve (ajude-os a reconhecê-los).
Estado 3: Sonolência • Se for possível manusear o bebê coloque-o com o rosto
Estado 3,5: Sonolência com momentos de alerta voltado para a direção dos pais, mesmo que ele esteja
Estado 4: Alerta inativo com os olhos fechados.
Estado 4.5: Alerta ativo com momento de alerta inativo • Quando possível remova os óculos que protegem os
35
Estado 5: Alerta ativo olhos do bebê, para que os pais possam ver todo o rosto
Estado 5.5: Alerta ativo com momentos de vocalizações de do seu bebê.
choro • Se você perceber que o bebê ainda não suporta ao mes-
Estado 6: Choro mo tempo a voz humana e o tocado, oriente os pais para
Estado 7: Inclassificável primeiro falar com o bebê e depois tocá-lo.
• Possa escutar as vozes de seus pais: evite outras vozes
* Esta escala é considerada como sendo mais indicada para o bebê pré-termo e ruídos ao lado do bebê, se possível, para que e mesmo
escute as vozes de seus pais.
Anexo III - Observação da Dor no Bebê Pré-termo pelo NFCS • Oriente os pais para falarem suavemente com o seu
bebê.
• Reduza o excesso de luminosidade sobre os olhos do
(Sistema de Codificação da Atividade Facial Neonatal) bebê, mesmo que estejam fechados.
• Ensine aos pais como observar os sinais de aproximação
Movimento Facial 0 Ponto 1 Ponto durante a interação. Ver a grade de sinais de auto-regula-
ção/estresse e estafa
Fronte saliente Ausente Presente
• Oriente os pais como minimizar os efeitos do estresse de
Fenda palpebral seu bebê, como organizar o bebê, interromper um pouco
Ausente Presente
estreitada a interação.
Sulco naso-labial • Ensine aos pais a contenção facilitada (ou posição de
Ausente Presente
aprofundado conforto, E. N. Adamson-Macedo, 2002).
Boca aberta Ausente Presente • Lembre aos pais que vê-los, interagir com eles, beneficia-
rá o desenvolvimento do bebê, inclusive em nível neuro-
Boca estirada (hori-
Ausente Presente lógico, como mostra trabalhos nessa área.
zontal ou vertical)
De 26 a 27 semanas
Reações do bebê pré-termo frente à dor • Siga as orientações que foram dadas antes e que pos-
sam ser úteis para essa faixa de idade gestacional.
• Com essa idade gestacional o bebê continua necessitan-
• Movimentos corporais exagerados: Posição anormal dos do de suporte para reduzir o estresse e promover o sono.
membros, /pescoço em extensão, dedos das mãos e/ou dos pés Explique aos pais a importância do sono para o bebê; que
afastados, debater-se ou dar “golpes” com os membros; dorso em no momento a principal ocupação do seu bebê é dormir e
arco; protege a região dolorosa ganhar peso e que isso é importante para o bebê. Relem-
bre aos pais as competências interativas do bebê: ouvir,
Paulo R. Margotto
Assistência ao Recém-Nascido de Risco
sentir o toque dos pais, sentir o cheiro destes. mas o seu quadro clínico.
• A interação olho-a-olho ainda é limitada, mas pode apare- • Uma gravação das vozes dos pais pode ser utilizada quan-
cer por curto lapso de tempo. do estes estiverem ausentes, mas deve ser usado com
• Reduza o excesso de luminosidade sobre os olhos do parcimônia e com uma pessoa presente para observar os
bebê. sinais do bebê, o volume sonoro deve ser observado.
• Quando o bebê der sinais de que está acordando oriente • Veja as outras orientações que foram dadas neste texto
os pais para falar docemente com o bebê. para facilitar a interação do bebê com seus pais.
• Quando o bebê abrir os olhos em resposta à voz dos pais
oriente-os para interromperem a interação vocal e ten- De 33 a 35 semanas
tar o contato olho-a-olho. Informe-lhes que nessa faixa • Siga as orientações que foram dadas antes e que pos-
de idade gestacional o bebê só consegue ter um contato sam ser úteis para essa faixa de idade gestacional em
olho-a-olho por um curto espaço de tempo. função do estado do bebê.
• Nessa idade gestacional é mais fácil para o bebê seguir
De 28 a 30 semanas um objeto, isso não significa que ele não o conseguirá com
• Siga as orientações que foram dadas antes e que pos- idade gestacional menor. Deve-se levar em consideração
sam ser úteis para essa faixa de idade gestacional em as diferenças individuais e o quadro clínico do bebê.
função do estado do bebê. • As orientações do item anterior são válidas para essa fai-
• Informe aos pais que o estado de consciência no qual o xa de idade gestacional.
bebê melhor interage e o estado 4: alerta inativo.
• Oriente os pais para ficarem no campo visual do bebê De 36 a 38 semanas
enquanto eles estão falando com ele, assim, o bebê co- • Siga as orientações que foram dadas antes e que pos-
meçará a fazer uma associação entre o rosto dos pais e sam ser úteis para essa faixa de idade gestacional em
as suas vozes. função do estado do bebê.
• Envolva o bebê em um tecido, deixando os braços e per- • Explique aos pais que nessa idade gestacional o seu
nas na linha média do corpo, as mãos próximas à boca bebê ficará mais tempo no estado de alerta inativo logo
do bebê, as pernas fletidas. após o aleitamento materno ou entre as mamadas.
• Se for possível coloque o bebê nos braços dos pais e em • O bebê segue melhor um objeto, isso não significa que
contato pele a pele (se o bebê estiver estável). ele não podia fazer antes.
• Oriente-os para primeiramente olhar para o seu bebê; em • Encoraje os pais a falarem com o seu bebê de dife-
seguida falar com ele e observar as pistas que o bebê for- rentes direções (mudando de posição) isso ajudará o
nece. Se os pais perceberem que o bebê tolera bem ficar bebê a vivenciar a voz dos pais vindo de várias direções
no colo e ouvir a voz deles ao mesmo tempo, oriente-os e ajudará no seu desenvolvimento.
36 para acrescentar mais um estímulo, como tocar o bebê.
Se o bebê apresentar sinais de estresse oriente os pais Nota: essas orientações destinam-se somente aos pais que
para diminuir um dos estímulos. necessitam de orientação. Para saber se os pais necessitam de
• Oriente os pais para observar sempre as pistas que o bebê orientação siga as dicas aqui apresentadas em seguida.Intera-
fornece para poderem acrescentar mais um estímulo. ções triádicas (pai-mãe-bebê)
• Peça aos pais para regular a interação de acordo com as Por vezes os pais tendem a interagir os dois ao mesmo tempo
capacidades do bebê no momento da interação, seguin- com o bebê, se você perceber que o bebê mostra sinais de estres-
do o ritmo ditado pelo bebê. se oriente os pais para que interaja um de cada vez. Oriente de
• Proteja os olhos do bebê do excesso de luz, isso ajudará forma natural, demonstrando empatia pelos pais. Se eles tendem,
o bebê a ficar com os olhos abertos. por vezes, a interagir os dois ao mesmo tempo, isso pode signifi-
• Veja as outras orientações que foram dadas neste texto car que eles estão contentes porque viram seu bebê com os olhos
para facilitar a interação do bebê com seus pais. abertos, ou souberam que ele está melhorando, por exemplo.
Sigmund Freud
Paulo R. Margotto
Assistência ao Recém-Nascido de Risco
Raulê de Almeida
Cada bebê que assistimos em seu nascimento é uma experiên- muscular dele é bom. Se a resposta for favorável para todas as in-
cia primeira e única, que não se repete jamais. Outro nascimento dagações, o bebê deverá ser levado para a sua genitora e mantido
é outro nascimento, outro potencial genético, outro histórico sócio- junto dela e não mais ser separado dela, o que será um elemento
cultural e familiar, outra mãe, outro pai, outra experiência intra- facilitador da formação do apego, do vínculo, da amamentação
útero e ao nascer, enfim outra vida. O cuidador ao nascimento, e conseqüentemente da estruturação neurológica e psíquica do
estimulando e favorecendo a interação mãe bebê contribui com sujeito emergente. De forma semelhante, a portaria do Ministério
a formação do apego, do vínculo, com a estruturação neuronal e da Saúde que trata do aleitamento materno, estabelece no quarto
psíquica do sujeito emergente e sua cidadania. Façamos, portanto, dos dez passos para o sucesso do aleitamento que se deve au-
o melhor para cada bebê que nasce assistindo-o em sua estrutura xiliar a mãe, estimular e facilitar a amamentação nos primeiros
biológica e sujeito psicocognitivo emergente com todos os seus po- trinta minutos após o nascimento e que todo bebê recém-nascido
tenciais de intercâmbio com o mundo que o acolhe. deverá ser colocado junto dela para sugar durante a primeira hora
No mundo nascem 350.000 bebês por dia, 14.583 por minuto, de vida, sempre que ambos estiverem em boas condições, propor-
4 por segundo. Destes nascimentos, 12.000 bebês morrem no cionando assim contato olho a olho e pele a pele entre mãe e filho
período neonatal, o que equivale a mais de quatro milhões de recém-nascido. Para isto a equipe de saúde presente na sala de
óbitos de recém-nascidos por ano, ou seja, um óbito de recém- parto deverá manter um ambiente de apoio, com conforto físico e
nascido a cada oito segundos. Destes óbitos, 98%, ocorrem nos emocional, que facilite o contato íntimo mãe-filho recém-nascido,
países em desenvolvimento como o Brasil. Ressalta-se que qua- imediatamente ao nascimento. A aplicação de sedativos, analgési-
se dois terços dos óbitos neonatais no mundo ocorrem antes da cos e anestésicos às parturientes deve seguir uma rotina discutida
primeira semana de vida, e destes, quase dois terços durante as previamente com a equipe assistente composta pelo anestesista,
primeiras vinte e quatro horas. O risco de que um bebê morra obstetra, neonatologista e enfermeiro obstetra e definida após cui-
antes dos vinte e oito dias, é 15 vezes maior que em qualquer dadosa avaliação individual das necessidades e conseqüências
outro momento do primeiro ano de vida. para a mãe e o bebê. O cuidador deve limpar e secar o recém-
De forma semelhante no Distrito Federal, em 2003, dos 45.401 nascido junto de sua mãe e com a ajuda desta, facilitando que
bebês nascidos vivos residentes nesta unidade federativa, a mor- ela o segure e o leve ao seio. A equipe deve criar condições para
talidade infantil foi de 13,2/mil; já no grupo com menos de 28 dias que o bebê acompanhe sua mãe deste o nascimento e daí para o
(433 óbitos) a mortalidade foi 9,6/mil, equivalente a 72% da mor- alojamento conjunto.
38 talidade infantil e dentro deste grupo, 74% dos óbitos ocorreram Indaga-se com freqüência se o bebê possui psiquismo desen-
antes de uma semana de vida e subseqüentemente dentro deste volvido. Com resposta baseada em evidências científicas se tem
grupo 47% ocorreram antes de vinte e quatro horas. Portanto a re- afirmado que sua estruturação psíquica inicia-se antes mesmo
gra dos dois terços ocorreu também no DF no ano de 2003, segun- do nascimento, passa por este e segue ao longo de todo o seu
do o Núcleo de Neonatologia e SINASC – SIM / SES – DF / 2003. desenvolvimento. Para melhor compreensão desta afirmativa
Muito podemos fazer para evitar estes óbitos e garantir que os lembremos-nos de alguns dados históricos. Nos meados do sé-
bebês sobreviventes tenham uma realização plena como seres culo XX, o bebê era visto como um ser passivo, um tubo digestivo,
humanos. Em conferência proferida em 2003 em Brasília para uma massa plástica a ser moldada, uma lousa branca a ser escri-
a Rede Neonatal do DF, o Prof. Dr. Kaare E. Lundstrom, Chefe ta, uma tábula rasa sobre a qual se colocava o que se quisesse,
do Departamento de Neonatologia do Hospital Escola da Univer- um ser passivo a receber os estímulos do ambiente, enfim, um
sidade de Copenhagen, afirmou que “A monitoração eletrônica pepino pequenino a ser torcido. Hené Spitz, psicanalista ameri-
não invasiva e invasiva, equipamentos de ventilação pulmonar cano de origem húngara, pioneiro no estudo de bebês, observou
de última geração, membrana extracorpórea para troca de ga- após a Segunda Guerra Mundial, que bebês separados de seus
ses, tudo com tecnologia de ponta e alto custo, foram instituídos, pais, deixados em abrigos ou hospitais onde recebiam cuidados
mas o impacto na queda da morbimortalidade neonatal naquela físicos, mas pouco afeto ou atenção de forma constante, perdiam
instituição que ele dirige só teve relevância quando foram soma- o interesse pelo meio que os cercavam, tornavam-se apáticos,
das às aquisições citadas, programas de cuidados humanizados hipotônicos, recusavam o alimento, perdiam o seu desejo de vi-
e individualizados para os bebês, a partir do nascimento, sobre- ver e em caso extremo de privação materna, morriam de fato,
tudo para os prematuros. Segundo os Anuários Estatísticos do caso não fossem a tempo investidos de amor e atenção. A par-
Ministério da Saúde / Brasil, a partir de 2001, a queda de fecun- tir da observação dos efeitos da privação da figura materna no
didade na população brasileira e a queda da mortalidade infantil desenvolvimento das crianças, na década de 50 e em seguida
tiveram como conseqüência o aumento da esperança de vida e pelos seus estudos, Bowlby concluiu e postulou a sua teoria do
do progressivo envelhecimento da população. Isto nos conduz, Apego, segundo a qual um vínculo inicial seguro entre a mãe e
portanto à consciência de cuidar hoje do bebê vislumbrando o bebê proporciona a este um posterior sentimento positivo de
o ancião saudável do amanhã, com sua estrutura biológica e segurança em relação ao mundo. Os efeitos patológicos da au-
sujeito psicocognitivo integrados no mundo. sência dos pais nas crianças órfãs durante a Segunda Guerra
Em nosso país existem normas e portarias que determinam so- Mundial levaram os profissionais a repensar, a partir de então,
bre a conduta do cuidador durante a assistência ao nascimento de o bebê de forma diferente, como pessoa em desenvolvimento e
uma criança. Uma delas está contida no protocolo de reanimação com psiquismo em formação, mas com direito e dignidade. Se-
neonatal da Sociedade Brasileira de Pediatria, que é a mesma ins- gundo o Prof. Dr. Jairo Werner, psiquiatra infantil da Universidade
tituída pela American Academy of Pediatrics e pela American Heart Federal Fluminense, mesmo que se ofereçam nutrientes e medi-
Association. Esta norma orienta que ao nascimento de cada bebê o camentos à criança e com ela não for estabelecido um vínculo e
pediatra assistente deve indagar se o bebê é de termo, se o líquido com ela não for estabelecida uma cumplicidade e a ela não for
amniótico tem mecônio, se o bebê chorou ou respirou e se o tono oferecido afeto, ela perde a vontade de viver e deixa de produzir
Capitulo 1 Assistência Perinatal
hormônio de crescimento e imunoglobulinas para defender seu portância do cuidador na creche influenciando na estruturação
corpo contra as infecções, se definha e pode ir a óbito. A isto se psíquica do bebê, e assim também compreendemos a importân-
dá o nome de ”Síndrome da Carência Afetiva”. cia da ação do cuidador ao nascimento, pois este pode ser o
Segundo Winnicott, D W. Uma mãe suficientemente boa, mas elemento favorecedor do encontro e facilitador da formação
que não seja perfeita, a ponto de satisfazer todas as necessi- do apego e do vínculo mãe bebê e subseqüentemente da estru-
dades do Bebê, nem ser indiferente a elas, é importante para o turação do psiquismo, que se constitui por um processo lógico
desenvolvimento de um sentimento de segurança, e bem estar desde a entrada da criança em o mundo.
psíquico do bebê. Este ambiente “suficientemente bom” deve de- Esta estruturação psíquica se dá através de quatro modos de
sempenhar três funções fundamentais, a saber: relação entre o bebê e seus pais, que se combina em três fases
distintas, conhecidas como os três tempos do complexo de Édipo.
• Primeiro, o holding, que é a montagem do colo físico, e O cuidador ao nascimento já pode antever e facilitar este processo,
que antecipado do colo psíquico, dá a sustentação psí- onde falamos com a criança bebê e damos sentido à sua lingua-
quica e física ao bebê e denota a identificação de sua gem analógica, cuidamos dela, incluindo aí as trocas corporais in-
mãe com ele. vestidas de carinho e satisfação, reagimos à sua linguagem numa
• Segundo, o handling, que é a forma como o bebê é cuida- atitude semelhante ao espelho, repetindo o seu gesto, pedimos e
do e manipulado, e dá-lhe a noção do seu próprio corpo. oferecemos palavras e coisas, permitimos ou impedimos experi-
• Terceiro, a apresentação ao bebê de elementos substi- ências pelas quais o mundo lhe é apresentado e daí segue a Iden-
tutivos ao corpo materno, que auxilia- o na tomada de tificação formadora do EU, a filiação e a busca da solução para a
consciência do mundo externo. sexuação e complementação do ciclo da vida.
Primordialmente o parto ocorria no domicílio, no leito da mãe,
Alguns fatores são decisivos para o bebê. A ansiedade ou de- e então o acolhimento acontecia no lar, pela família. No hospital,
pressão da mãe no período pré-natal e o stress psicológico em nós os cuidadores, na maioria das vezes longe dos membros da
recém-nascidos constituem fatores de risco para o bebê e podem constelação familiar da mãe, a assistimos juntamente com seu
causar danos em suas estruturas cerebrais em desenvolvimento bebê e então esta díade passa a depender de nossa acolhida para
ou mesmo favorecer a instalação de doenças, dependências e fu- suprir as suas necessidades psíquicas e físicas, que seriam supri-
turos transtornos de personalidade. A neurociência em Repensan- das por aqueles que compõem sua rede de apoio familiar e social.
do o Cérebro, por Shore R., tem demonstrado a importância das A mulher acrescenta à sua condição de filha a condição de mãe
primeiras experiências da criança na configuração das conexões do bebê que nasce, e este já traz consigo necessidades peculiares
neuronais e no desenvolvimento do seu cérebro. Sendo assim, in- que seriam mais bem resolvidas no ninho primordial junto de sua
tervenções precoces são importantes instrumentos de prevenção constelação familiar. Neste momento o bebê se manifesta através
de patologias psíquicas e promoção de saúde. de sua linguagem analógica que é construída pelos sinais que ele
No princípio da vida as percepções sensoriais do bebê podem emite, através de expressões corporais, gritos e interações visuais,
ser dispersas e desintegradas, mas a partir da ação materna com
39
enfim uma linguagem comportamental.
os cuidados diários, o bebê vai adquirindo um senso de continui- O bebê responde aos estímulos do seu derredor, toma iniciativa,
dade e segurança e a partir daí, mediante as condições ambien- controla a interação e para isto chora, sorri, mira firme ou desvia
tais adequadas, mais o apego e o vínculo estabelecidos com o o olhar e é capaz de conduzir o cuidador. O bebê é social, recebe
sujeito da função primordial materna, ele vai construindo a per- e promove influências interpessoais, seu comportamento social
cepção de uma pessoa inteira e integrada. Por isto devemos es- possibilita sua sobrevivência, seu crescimento e sua estruturação
tar atentos a possíveis dificuldades na formação do vínculo mãe psíquica. Esta competência de comunicação que possui o bebê
bebê, já perceptíveis ao nascimento e que poderão se transfor- lhe possibilita interagir com sua mãe e com o cuidador logo após
mar em patologias psíquicas e somáticas futuras. A ação do cui- o nascimento, facilitando a formação do vínculo mãe filho que já
dador primordial, a mãe, constitui a base psíquica fundamental teve inicio muito antes da concepção, quando da imaginação da
para o desenvolvimento da criança, seguindo a importância da menina que embalando seu boneco de pano faz de conta que o
interação com o cuidador primordial paterno e outros cuidadores amamenta e o cuida, seguindo depois na intenção da concepção,
parentais não primordiais que é a constelação familiar e depois e depois no preparo do enxoval, passando para os primeiros mi-
com os cuidadores não parentais eleitos para auxiliar os pais, na nutos pós-nascimento, minutos estes que são de extrema sensi-
assistência ao bebê durante as suas primeiras horas, dias, me- bilidade e mesmo com o estresse fisiológico, se não ofuscarmos
ses e anos. Esses cuidadores também exercem papel importante a visão do bebê com excesso de luz, ele se mostra alerta, olha ao
no desenvolvimento da criança. Todas as competências (poten- derredor, explora e aprende o ambiente. Isto é comum e normal
ciais genéticos, histórico sócio-cultural e familiar, experiências da em todos os mamíferos, não seria diferente no mamífero humano,
vida intra-uterina e do nascimento) somadas à integridade neuro- e apenas nos casos médicos imperativos se admite a separação
lógica e à interação com os pais e cuidadores, formam o tripé do mãe filho ao nascimento, pois existe aí um momento espetacular,
desenvolvimento normal da criança segundo Brazelton. Enfim o extraordinário, extremamente rápido e sensível de aprendizagem e
cuidador não primordial, mas eleito pelos pais ou por uma insti- reconhecimento, onde o bebê vê, reconhece e aprende a imagem
tuição com a finalidade de ajudar o bebê, também desempenha de sua mãe como lhe sendo própria.
papel fundamental em sua constituição psíquica e física. Inicial- O recém-nascido tem todos os sentidos que nós adultos temos,
mente o bebê depende também deste cuidador e nesta relação os utiliza e se lembra de tê-los utilizado enquanto feto. É um ser
de cuidar e ser cuidado existe um comprometimento mútuo e sensorial, isto é magnífico. Percebe, sente gosto e cheiro, escuta,
nesta cumplicidade, bebê e cuidador se influenciam e aí começa memoriza, habitua, desabitua, prefere voz, prefere voz da mãe,
a socialização do bebê. prefere gosto e cheiro do leite do peito de sua mãe, prefere cheiro
O bebê é um sujeito em constituição e em sua especificidade, da mãe, responde às emoções maternas. A permanência do bebê
já possui singularidade, história e vivências, cujos primórdios se com a mãe e com seu pai após o nascimento lhe proporciona re-
encontram nas fantasias de sua mãe a respeito do bebê imagi- conhecer tudo que lhe era familiar dentro do útero. Nos dois dias
nado, nas experiências da gravidez, no encontro ao nascimento que seguem ao nascimento o bebê prefere ouvir voz que qualquer
e no estabelecimento das primeiras relações com o Bebê real. outro tipo de som. E entre as vozes prefere a voz da mãe. O conta-
Assim descreve Kelen Santana da Costa quando fala sobre a im- to pele a pele com a mãe, com seu cheiro, sua voz, seu arfar de
Paulo R. Margotto
Assistência ao Recém-Nascido de Risco
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se comunicam com eles tanto em palavras como em pensamento. • Kaare E. Lundstrom - Depto of Neonatology - National University Hospital, Rigshospita-
Estas mesmas pesquisas demonstraram as evidências científicas let, Copenhagen: Monitoração otimizada dos parâmetros de gasometria em pacientes na
UTIN, em 09 de Setembro de 2003
das competências sensoriais e do inicio do desenvolvimento do • Kelen Santana da Costa (2007) - Constituição Psíquica: O que a Creche tem a (ha) ver com
isso? – COGEAE PUC SP
psiquismo do bebê, desde os primórdios de sua vida. É também • Klaus, M. H.; Kennell, J. H.; Klaus, P. H. – Vínculo construído as bases para um apego
demonstrado por Leboyer F. que existe um período muito sensível seguro e para a independência.
• Klaus, M. H. end Klaus, P. H.- Seu surpreendente recém-nascido, Artmed editora, 2001
de reconhecimento e aprendizado na vida do bebê, propício para • Leboyer F. Nascer sorrindo, 14ª edição,, Editora Brasiliense,1992
dar-lhe todo conforto e prazer durante e imediatamente ao nas- • Montgner, H. – A vinculação, a aurora da ternura. Epigênese e Desenvolvimento. Instituto
Piaget Editora - Lisboa 1993
cimento, pelo que não é nosso direito roubar-lhe este momento, • Shore R. – em Repensando o Cérebro (Novas visões sobe o desenvolvimento inicial do
cérebro), Editora Mercado Aberto,
separando-o de sua mãe. • Silvia Abu-Jamara Zornig, psicóloga clínica - psicanalista- PUC RJ - A mente do Bebê, vol.
Mães que tiveram contato precoce e mantido com seus bebês II, pg. 52, 2008
• Soulé, M., Cyrulnik, B. – A Inteligência anterior á palavra – Novos enfoques sobre o bebê
desde o nascimento estenderam a amamentação após a volta ao –Artmed Editora – 1999
trabalho, numa proporção bem maior àquelas que não tiveram • Thomas R. Verny – Psiquiatra, Professor Na Harvard e Univ. De To
• ronto - Mente e Cérebro Vol.II / 2008
contato precoce e mantido com seus bebês após o nascimento. • Souza (Brasil); Klaus (EUA), in Busnel M., pesquisadora da Universidade René Descartes
– Paris v - A sensorialidade do feto in Novos olhares sobre a gestação e a criança até três
Boris Cyrulnik, em Os alimentos do Afeto e em Los patitos feos, anos - L. G. E. Editora, 2002
nos faz recordar que não basta ajudar uma mulher a parir um • Vygotsky, L. S. – O desenvolvimento psicológico na infância. Editora Martins Fontes, 1999
40 bebê, é necessário ajudá-la trazer ao muno um novo ser humano
• Werner J. Univ. Fed. Fluminense. Módulo ministrado no Curso de Perinatologia – UnB /
2001.
• Wilhelm, J. – O que é psicologia pré-natal. Segunda edição. Casa do psicólogo Livraria e
e daí ajudá-lo a se inserir no mundo como cidadão e ser feliz. editora – 1997.
Os ensinamentos de Vygotsky, L. S. nos diz que “Um dia o cui- • Winnicott, D. W. – Os Bebês e suas mães – Terceira Edição 2006 Editora Martins fontes
• Winnicott, D. W. – Khan, M. M. R. - Da Pediatria à Psicanálise – Copyright 1958 - Editora
dador poderá fazer a diferença na vida de uma criança, desde Martins fontes
que este tenha estabelecido com ela uma interação tal que a • Winnicott, D W. In Kelen Santana da Costa. Constituição Psíquica: O que a Creche tem a
(ha) ver com isso? – COGEAE PUC SP,2007
tenha facilitado construir um instrumento psíquico, através do
qual ela poderá tomar atitudes definidas, positivas e confiantes.”
E para que o cuidador tenha esta competência de ser facilitador
na construção do sujeito emergente, ele deve se apropriar dos
conhecimentos aqui descritos.
Concluindo lembremos novamente de Shore R em, Repensan-
do o Cérebro, onde ficou demonstrado que o desenvolvimento ce-
rebral sofre influências das experiências que se tem a partir dos
primórdios da vida, e que estas ajudam a formar a arquitetura ce-
rebral, a natureza e a extensão das capacidades no adulto. As inte-
rações iniciais com os cuidadores, não apenas criam um contexto
favorável para o desenvolvimento e aprendizado iniciais, mas afe-
tam diretamente a forma como o cérebro se desenvolve. O desen-
volvimento cerebral não é linear e progressivo em direção à idade
adulta, existem períodos preciosos para se adquirir diferentes ti-
pos de conhecimentos e habilidades, um deles é o nascimento.
E segundo o mestre da psicanálise, Freud, 1926, “há muito
mais continuidade entre a vida intrauterina e a primeira infância
do que a impressionante caesura do nascimento permite saber.”
Eis aí, portanto, a importância do acolhimento ao bebê, com
sua história, sua família, seus potenciais genéticos, suas compe-
tências e dificuldades, ao nascimento, pois tudo isto vai influen-
ciar na formação do seu psiquismo, crescimento e integração
social saudáveis.
Bibliografia
• Almeida, R.; Silva, A. D.; Paula, AM, C. - O uso Clínico da Escala de Avaliação comportamen-
tal Neonatal de BRAZELTO /2001 – UnB, 2002
• Áries, P. – História social da criança e da família – LTC editora – Primeira edição brasileira
-1978
Capitulo 1 Assistência Perinatal
Nos últimos 17 anos a mortalidade neonatal precoce (≤ 7 dias EUA (4,6/1000 em 2004) e o Chile (5,6/1000 em 2000) e a ve-
de vida), passou de 16,56/mil e 10,88/mil para 10,49 e 6,15/ locidade de queda das taxas de MN no Brasil tem sido lenta. São
mil, nos RN com peso ≥ 500g e ≥1000g, respectivamente, na Uni- importantes para avaliação de mortalidade em uma unidade ne-
dade de Neonatologia do Hospital Regional da Asa Sul, segundo onatal as construções dos seguintes indicadoras de mortalidade:
a análise de 133 019 nascimentos vivos (1985-2002) realizadas O coeficiente de mortalidade neonatal: óbitos de 0 a 27 dias
por nós. Nos RN com peso ao nascer abaixo de 1500g e abaixo em relação ao total de nascidos vivos (por 1000); que deve ser
de 1000g, a mortalidade de até 7 dias passou de 67,47% para subdividido em:
18,44% e 97,14% para 45,6% respectivamente neste período. A
mortalidade por Doença da Membrana Hialina no ano 2000 foi a • Coeficiente de mortalidade neonatal precoce (0 a 6 dias
menor registrada 17,34% - RN sob assistência respiratória > 6h). inclusive)
As 4 grandes causas de morte neonatal neste Serviço foram: as- • Coeficiente de mortalidade neonatal tardia (7 a 27 dias).
fixia perinatal, doença da membrana hialina, infecção perinatal e
malformações. A sobrevivência (na alta) no ano 2000 para os RN Essa divisão, relacionada à idade da criança quando morreu,
com peso ao nascer abaixo de abaixo de 1000g nas idades gesta- deve-se à observação de que no período neonatal predominam as
cionais de 26 semanas, 27 semanas, 28 semanas e 29 semanas causas ligadas a problemas da gestação e do parto (causas peri-
foram respectivamente, 50%, 78%, 67% e 100%. Os índices de natais e anomalias congênitas), e de que, no período pós-neonatal,
baixo peso (< 2500g), muito baixo peso (<1500g) e extremo baixo prevalecem às causas de morte relacionadas ao serviço de assis-
peso (<1000g) foram, respectivamente 11,53%, 2,28% e 0,74%. tência as patologias desenvolvidas na unidade e intercorrências da
É fundamental que cada Serviço de Neonatologia realize a sua própria prematuridade.
Estatística Perinatal, uma forma de avaliação da qualidade da as- Coeficiente de mortalidade perinatal: segundo a Classifica-
sistência perinatal prestada com o propósito de permitir conhe- ção Internacional de Doenças em vigor (a CID-10), o período pe-
cer as características dos pacientes atendidos sua morbidade e rinatal vai da 22ª semana de gestação até a primeira semana
taxas de mortalidade. De posses desses dados é possível ana- de vida. Dessa maneira, o coeficiente atualmente é dado pela
lisar a situação atual de saúde, fazer comparações com outras seguinte razão: óbitos fetais a partir da 22ª semana de gestação
unidades e avaliar mudanças ao longo do tempo. + óbitos de menores de 7 dias de vida / nascidos vivos + nasci-
Não basta que as fichas existam, é necessária a conscienti- dos mortos na mesma comunidade e ano.
zação da equipe no seu preenchimento. Temos a obrigação de Para o preenchimento do atestado de óbito, temos que seguir
41
avaliar o que fazemos para podermos exigir melhoras das nos- as definições do Ministério da Saúde:
sas autoridades de Saúde. Sem diagnóstico não há estatégia e
se houver, resultarão em tragédia. • Nascimento Vivo – nascimento vivo é a expulsão ou ex-
O compromisso de atendimento ao recém-nascido criticamen- tração completa do corpo da mãe, independentemente
te enfermo e a diminuição da sua morbimortalidade, é um com- da duração da gravidez, de um produto de concepção
promisso de toda a equipe de profissionais de saúde que atuam que, depois da separação, respire ou apresente qualquer
na Unidade Neonatal. O conhecimento das doenças e agravos outro sinal de vida, tal como batimentos do coração, pul-
que acometem este grupo de pacientes é imprescindível para sações do cordão umbilical ou movimentos efetivos dos
que o serviço avalie a qualidade da assistência prestada defina músculos de contração voluntária, estando ou não cor-
estratégias de ação, ao gestor financeiro da instituição permite tado o cordão umbilical e estando ou não desprendida
avaliar custos e estabelecer metas e definir orçamentos. da placenta. Cada produto de um nascimento que reúna
Cada serviço opta por um tipo de registro e analise estatística essas condições se considera como uma criança viva.
de seus dados que podem ser apenas descritivos ou analíticos,
mas para se ter acesso a dados estatísticos confiáveis que pos- • Óbito Fetal – Óbito fetal é a morte de um produto da
sam expressar as reais condições da assistência à saúde. A infor- concepção, antes da expulsão ou da extração completa
matização dos serviços torna-se imprescindível. do corpo da mãe, independentemente da duração da
gravidez: indica o óbito o fato de que, o feto, depois da
A Construção de Indicadores de Mortalidade separação, não respirar nem apresentar nenhum outro
sinal de vida, como batimentos do coração, pulsações do
A avaliação da mortalidade é o indicador mais simples de ser cordão umbilical ou movimentos efetivos dos músculos
construído e foi o primeiro indicador de saúde utilizado para ava- de contração voluntária
liar uma população. É fácil de operar: a morte é clara e objetiva-
mente e todo óbito hospitalar tem de ser registrado. Há numero- No Brasil observamos, um aumento da contribuição dos óbitos
sos indicadores baseados na mortalidade. Os dados Nacionais neonatais (0-27 dias) em todas as regiões do país, representan-
sobre o número de nascidos vivos, óbitos neonatais precoces e do entre 64 a 69% do total de óbitos infantis no período de em
fetais do registro civil encontram-se disponíveis na internet (www. 2003-2005, com maior aumento na Região Nordeste (de 33,6%
datasus.gov.br), assim como os dados provenientes do Sistema para 63,6%). Destaca-se a mortalidade neonatal precoce (0-6
de Mortalidade - SIM e do Sistema de Nascidos Vivos – SINASC. dias), correspondendo a 51% (região Nordeste e Sudeste) e 50%
O fato da mortalidade neonatal (MN) se tornar o principal com- (demais regiões) das mortes infantis em 2003-2005 e, de forma
ponente da Mortalidade Infantil no Brasil aproxima o país do particular, o aumento da concentração dos óbitos no primeiro dia
perfil de mortalidade de países desenvolvidos, onde é também o de vida, chegando à cerca de um quarto dos óbitos infantis em
mais importante. Entretanto, a magnitude da MN no Brasil é alta todas as regiões do país em 2003-20051
(14,2/1000 em 2005), comparada com outros países como os
Paulo R. Margotto
Assistência ao Recém-Nascido de Risco
No Brasil a elevação das mortes infantis no primeiro dia e na • Informações estatísticas em tempo real
primeira semana de vida verificada no Brasil em 2003-2005 de- • Tornar-se um registro de dados de valor legal.
monstra a estreita relação da MN com a assistência de saúde • Facilitar a investigação médica e colaborar na capacita-
dispensada à gestante e ao RN durante o período do pré-parto, ção da equipe de saúde.
parto e atendimento imediato à criança no nascimento e na uni-
dade neonatal e a importância de se considerar as ações dirigi- A seguir, os Livros e Fichas que podem ser utilizados na Unida-
das à melhoria desta assistência. de de Neonatologia para a coleta de dados:
Para compreender melhor a MN, entretanto, é necessário anali-
sar as causas dos óbitos, a distribuição por idade gestacional e o Livro do 1º exame (Sala de Parto)
peso ao nascer do RN. O grupo das afecções perinatais reúne cau-
sas que demandam intervenções bastante diferenciadas, algumas
delas consideradas com maior potencial de evitabilidade. Dessa Reg Nome IG D.Nasc HS
forma, uma abordagem mais detalhada das causas de óbitos ne-
onatais representa uma necessidade premente. A recomendação
proposta de Wigglesworth ampliada (do Confidencial Enquiry into
Maternal and Child Health - CEMACH, 2005), da OMS (WHO, 2007)
e de Lawn e cl. (2006), visa avaliar alguns grupamentos definidos T. de Sexo Apagar Peso Est PC
que permitem observar as causas relacionadas com os fatores Parto
maternos e gravidez e com as afecções respiratórias.
Foram então definidos os seguintes grupamentos de causas,
os quais podem ser relacionados a diferentes momentos da as-
sistência em saúde da mulher e da criança:
Classif Peso Placenta Classif Placenta TBR Procedência
• Prematuridade;
• Infecções; Congênitas e sepse neonatal
• Asfixia/hipóxia; subdivida em hipoxia intra –
uterina e asfixia ao nascer Livro de Feto Morto (Centro Obstétrico)
• Malformações congênitas;
• Fatores maternos e relacionados à gravidez
• Afecções respiratórias do RN. Doença de membrana, Reg Nome IG Morte Intra-Hospitalar
pneumotórax e displasia broncopulmonar.
Unidade de Neonatologia
Mês/Ano M. Fetal:
M. Neonatal:
Peso ao nascer 500g a 1.000g a 1.500g a
999g 1.499g 1.999g
Morte Neonatal
Nascidos vivos (tabela na pagina seguinte)
Neomortos (≤7dias)
Mortalidade Neonatal/peso(%)
Nascidos vivos
Nascidos
mortos (mortes
fetais)
Neomortos
(≤7dias)
Mortalidade
Neonatal/
43
peso(%)
Contribuição
Mortalidade
Neonatal
Mortes Fetais:
• Inta-hospitalar
• Extra-hospitalar
Mortalidade Perinatal:
≥ 500g ≥ 1.000g
M. Perinatal
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Capitulo 1 Assistência Perinatal
49
Bibliografia
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44,1986
• Margotto PR. Atualização em Neonatologia/Mortalidade Perinatal no Hospital Regional da
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• Margotto PR. Mortalidade Perinatal/Limite da Viabilidade no RN pré-termo extremo o Hos-
pital Regional da Asa Sul - ano 2000.Boletim Informativo Pediátrico (BIP)-Brasília, N0 64,
pg 121, 2001
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gov.br/saude/area.cfm?id_area=1021.
• Ministério da Saúde, Brasil. Informações de saúde. Estatísticas vitais - mortalidade e nas-
cidos vivos. Disponível em http://tabnet.datasus.gov.br/tabnet/tabnet.htm#estatvitais.
Paulo R. Margotto
Assistência ao Recém-Nascido de Risco
Francis Galton (1822-1911), que lançou as bases da Biome- pares MZ apresentam grandes diferenças fenotípicas. Segundo
tria cerca de 25 anos antes da redescoberta dos trabalhos do Benirschke (1994), cerca de 30% dos pares MZ se originam da
pai da Genética (Gregor Johann Mendel,1822-1884), já partici- separação dos blastômeros num período muito precoce, isto é,
para à Anthropological Society of London que os gêmeos podem até o terceiro dia após a fecundação, quando o zigoto segmen-
ser estudados com a finalidade de avaliar a contribuição do que tado ainda está no estado de mórula. Em conseqüência disso,
ele chamou de natura e nurtura na determinação dos caracteres formam-se dois blastocistos e os gêmeos resultantes mostrarão,
quantitativos (Galton, 1876). Esse binômio passou, mais tarde, a ao nascer, dois córions, dois âmnios (diamnióticos dicoriônicos)
ser designado por genótipo e ambiente, mas o princípio lógico es- e, dependendo da proximidade dos locais em que estavam im-
tabelecido por Galton para o estudo de gêmeos com a finalidade plantados no útero, duas placentas bem separadas ou unidas.
de investigar a participação do genótipo na variação fenotípica Os outros 70% de pares MZ são o resultado de alterações que
permaneceu, basicamente, o mesmo. Os fatores do ambiente ocorrem entre o quarto até o 14o dia após a fecundação do ovó-
que afetam as diferenças intrapar dos gêmeos monozigóticos, cito. Essas alterações podem provocar a divisão da massa celular
oriundos de um único zigoto, seriam comparáveis aos que afe- interna, o que propicia o nascimento de gêmeos com dois âmnios
tam as diferenças intrapar dos gêmeos dizigóticos, os quais, do e um córion (diamnióticos monocoriônicos) e uma placenta. No
mesmo modo que os pares de irmãos nascidos sucessivamente, caso de essas alterações serem mais tardias, elas provocam a
são oriundos de dois zigotos. divisão do disco embrionário, disso resultando o nascimento de
Atualmente se sabe que a gemelaridade é um campo im- gêmeos com um único âmnio e um único córion (monoamnióti-
portante do conhecimento da reprodução humana. A maior in- cos monocoriônicos) e placenta única. Essas alterações tardias
cidência de problemas neonatais em gêmeos comparado com também podem provocar uma repartição desigual do material
recém-nascidos de gestações únicas, dão suporte a noção de embrionário e, por conseguinte, a produção de maiores diferen-
que gestação múltipla é um desvio do padrão humano normal. ças entre os pares MZ.
Restrição do crescimento intrauterino, prematuridade, malforma- Dentre os partos múltiplos, os de trigêmeos são menos freqüen-
ções congênitas e mortalidade perinatal aumentada são mais tes que os de gêmeos, sendo mais raros, ainda, os de quadrigê-
comuns em gêmeos do que em fetos únicos. O conhecimento meos e de quíntuplos. A exemplo do que ocorre com os pares de
sobre a embriologia da gemelaridade auxilia a compreender a gêmeos, tem-se que a origem dos trigêmeos, tetragêmeos e quín-
ocorrência de algumas destas complicações. tuplos pode ser monozigótica ou resultar de mais de uma célula-
50 ovo. Assim, por exemplo, no caso de trigêmeos, eles podem ser
A Formação de Gêmeos trizigóticos, dizigóticos ou monozigóticos se oriundos, respectiva-
mente, de três zigotos, dois zigotos ou de um único zigoto.
Se no momento da ovulação forem expelidos dois ovócitos, ao
invés de um, e se ambos forem fecundados, os zigotos resultantes Embriologia, Zigosidade E Placentação
darão origem a gêmeos dizigóticos (DZ). Esses gêmeos, em mé-
dia, não apresentam maior similaridade genética entre si do que A gestação dizigótica é causada pela fertilização de dois óvu-
pares de irmãos gerados sucessivamente porque, tanto os pares los.Os blastocistos resultantes geram âmnios separados, córions
DZ quanto os pares de irmãos sucessivos são oriundos de pares e placenta. Se a implantação delas no útero é próxima, as placen-
de zigotos distintos. Os pares DZ são, por isso, considerados como tas podem se fundir, no entanto, a comunicação vascular entre
irmãos da mesma idade e, em conseqüência, também denomina- as duas circulações não ocorre e a placenta pertencente a cada
dos gêmeos fraternos (do latim, frater = irmão). Por terem origem feto é em geral facilmente identificada pela simples inspeção.
biovular, os pares DZ podem ter o mesmo sexo, isto é, serem am- A gestação monozigótica é causada pela divisão de um único
bos do sexo masculino (MM) ou ambos do sexo feminino (FF) ou, óvulo fertilizado em algum momento durante as duas primeiras
ainda, discordantes quanto ao sexo (MF). Nem sempre, porém, os semanas após a concepção. A divisão precoce resulta em gêmeos
pares DZ apresentam duas placentas distintas, pois, em decorrên- dicoriônicos. A divisão um pouco mais tardia dá origem a placen-
cia de uma eventual proximidade excessiva dos locais de implan- tação monocoriônica, porém diamniótica, que é o tipo mais comu-
tação dos blastocistos que dão origem aos gêmeos DZ, as placen- mente visto de gêmeos monozigóticos. Outra situação possível é a
tas podem, aparentemente, fundir-se em uma única. Quando isso divisão um pouco mais tardia do que a anterior que resulta em gê-
acontece, somente o exame microscópico na região de união das meos monocoriônicos e monoamnióticos. Uma divisão ainda mais
placentas mostrará a presença da chamada zona T, composta de tardia do que as anteriores resulta em gêmeos unidos por alguma
quatro lâminas (um âmnio de cada lado e dois córions no meio). parte do corpo, conforme veremos mais adiante.
Entre os dois córions será possível observar a presença do trofo- Gêmeos dicoriônicos monozigóticos têm diferentes placen-
blasto e vilosidades coriônicas atrofiadas (Benirschke, 1994). tas, que podem estar separadas ou fundidas. Assim como no
Um outro tipo de gêmeos, os pares monozigóticos (MZ), é for- caso de placentas fundidas dos gêmeos dizigóticos, a anasto-
mado no período entre um e 14 dias depois da fertilização, quan- mose vascular não ocorre e a identificação de cada placenta
do um único zigoto sofre desenvolvimento irregular, dando origem pode ser grosseiramente feita. Gêmeos monocoriônicos têm
a dois indivíduos que são considerados idênticos do ponto de uma placenta comum e, invariavelmente, existe comunicação
vista genético, pois possuem o mesmo patrimônio genético, visto vascular entre as duas circulações.
que são oriundos de uma única célula-ovo ou zigoto. Os gêmeos Assim, fica evidente que gêmeos monocoriônicos devem ser
MZ são do mesmo sexo, isto é MZMM ou MZFF, e, freqüentemen- sempre monozigóticos, são invariavelmente do mesmo sexo e
te são denominados gêmeos idênticos, apesar de essa denomi- têm o mesmo grupo sanguíneo. Nos EUA 1/3 dos pares de gême-
nação não ser muito apropriada, visto que a identidade, aqui, se os são monozigóticos, e destes, 60 – 70 % são monocoriônicos,
refere ao genótipo e não ao fenótipo, havendo casos em que os enquanto os dois terços restantes são dizigóticos.
Capitulo 1 Assistência Perinatal
Paulo R. Margotto
Assistência ao Recém-Nascido de Risco
nificantemente menores no feto doador, de maneira semelhante para reduzir o comprometimento respiratório e cardíaco.O mane-
à encontrada em fetos com RCIU. Isso sugere que o feto doador jo na UTI inclui (Consulte o capítulo de Hidropsia Fetal): estimati-
é submetido a uma má nutrição intra-uterina, provavelmente se- va do volume intravascular circulante por meio da monitorização
cundária ao desvio de nutrientes para o receptor. da PVC, uso de diuréticos e fluidos de acordo com este indicador;
Alguns problemas encontrados nos RN com RCIU devido à in- dosagem de albumina e de hemoglobina, com transfusão para
suficiência placentária, especialmente a hipoglicemia, podem ser corrigir níveis baixos, ale, de medidas de suporte usualmente
vistos no gêmeo doador, secundária a transfusão feto-fetal crôni- empregadas para manter adequada ventilação, pressão arterial,
ca. Hidropsia fetal pode complicar o quadro de transfusão feto- glicemia e eletrólitos, bem como um controle térmico adequado.
fetal; é usualmente vista no doador, mas também já foi descrita Quando um dos fetos está macerado o sobrevivente deve ser cui-
isoladamente no receptor e nos dois gêmeos. Outro problema dadosamente investigado pelo risco de CIVD, sinais de necrose
que pode ser encontrado em gêmeos monocoriônicos com anas- renal, encefalomalácia cística e malformações estruturais ou-
tomoses vasculares é a passagem de substâncias tromboplás- tras.No caso de um dos fetos vir a ser acardíaco ou amorfo, o
ticas para o feto sobrevivente, em seguida à morte intra-uterina outro deve ser acompanhado de perto, pelo risco de descompen-
do outro gêmeo. Esta transferência pode iniciar um quadro de sação cardíaca e insuficieência cardíaca (ICC)
CIVD, com consequente trombose, infarto e necrose de órgãos
do receptor. Esta seqüência de eventos pode resultar em morte Malformações Congênitas
intra-uterina, anemia severa, necrose cortical renal, encefaloma-
lácia e defeitos estruturais disruptivos. O efeito mais devastador Muitos estudos têm demonstrado uma maior prevalência de
das anastomoses vasculares em placentas monocoriônicas é a anormalidades ao nascimento em gêmeos do que em fetos únicos.
formação de um feto acardíaco ou amorfo. Isto geralmente ocorre Estas são mais frequentes entre pares de gêmeos monozigóticos.
em associação a grandes anastomoses artério-arterial ou veno- Gêmeos dizigóticos apresentam taxas similares de malformações
venosa entre o feto anômalo e seu gêmeo usualmente normal. congênitas daquelas descritas para gestação única. As malforma-
O feto inicialmente doador deve perfundir ambas as circulações ções mais freqüentes são: anomalias do SNC, sistema cardiovas-
fetais e depois pode desenvolver hipertrofia e falência cardíaca, cular e defeitos do trato gastrintestinal. Melnick e Myrianthopoulos
bem como hidropsia fetal. A baixa pressão de perfusão, dessatu- demonstraram que a incidência de anomalias congênitas entre
ração e circulação reversa no receptor levam a múltiplos defeitos gêmeos monozigóticos com placenta dicoriônica é similar à ocor-
estruturais, produzindo um feto acardíaco ou amorfo. rência em gêmeos monozigóticos com placentas monocoriônicas.
A disponibilidade do diagnóstico ultrassonográfico possibilita o Então, a ocorrências de malformações congênitas tem uma signifi-
diagnóstico antenatal de transfusão feto-fetal crônica. Algumas cativa associação cm zigosidade, mas não com placentação.
evidências ecográficas incluem: Os defeitos estruturais foram divididos em 3 subgrupos:
• Gestação gemelar com placenta única e fetos de mesmo • Defeitos impostos tardiamente em decorrência do limi-
52 sexo; tado espaço intraútero. Exemplos: assimetria facial, tor-
• Medidas biométricas indicando diferença significativa en- cicolo congênito, pé torto congênito. Independente da
tre o tamanho dos fetos; zigosidade, após a 34ª semana os gêmeos “disputam”
• Volume de líquido amniótico discrepante entre os pares o espaço intrauterino. A incidência é similar tanto para
de gêmeos e atividade fetal; gêmeos monozigóticos como para dizigóticos.
• Presença de edema, efusões serosas, aumento de área • Disrupção do fluxo sanguíneo normal devido anastomo-
cardíaca e hepatomegalia, sugerindo ICC e feto hidrópico. ses vasculares na placenta. Algumas conseqüências des-
se tipo de anormalidade no fluxo sanguíneo placentário
O manejo de gêmeos com síndrome de transfusão feto-fetal vai já foram descritas anteriormente, quando tratamos da
depender da apresentação clínica ao nascimento. Em casos de síndrome da transfusão feto-fetal. Anormalidades do tipo
transfusão aguda, o receptor e o doador podem mostrar sinais feto acardíaco são secundárias ao fluxo reverso através
de sobrecarga de volume e choque, respectivamente. Exsanguí- das anastomoses placentárias desenvolvidas precoce-
neotransfusão parcial usando solução cristalóide é o tratamento mente. A transferência de substâncias tromboplásticas
de escolha para o receptor (Consulte o capítulo de Policitemia). do feto macerado, via conexões vasculares, pode causar
O tratamento apropriado para o doador inclui a expansão volu- CIVD ao nascimento no feto monocoriônico sobrevivente.
métrica rápida com solução cristalóide ou colóide, seguida por • Defeitos precocemente adquiridos na morfogênese, que
transfusão com concentrado de hemácias. Em casos de trans- serão discutidos mais abaixo.
fusão crônica, RCIU severo pode ser visto no doador, e pode cur-
sar com hipoglicemia. Se o bebê estiver estável e vigoroso, esta Em gestação múltipla com morte fetal precoce, o resultado fi-
complicação pode ser evitada pela alimentação enteral mínima nal da trombose ou embolização de material necrótico pode ser
com controles seriados de glicemia capilar. Quando o feto doador vista tardiamente, como por exemplo na oclusão de carótida ou
portador de severo CIUR estiver instável ou houver relato de hipo- de artéria cerebral média com consequente hidrocefalia ou po-
xia perinatal e/ou hipotensão, a alimentação enteral deverá ser rencefalia, secundárias provavelmente à reabsorção de tecido
adiada e prescrita solução com dextrose endoversa. cerebral necrosado.O envolvimento difuso de arteríolas cerebrais
Em ambos os casos de transfusão feto-fetal (aguda ou crônica) o pode ocasionar encefalomalácia multicística. As crianças afeta-
feto receptor poderá apresentar icterícia secundária ao aumento da das podem apresentar convulsões logo após o nascimento, mi-
produção de bilirrulina, consequente a um aumento das células ver- crocefalia, consequente retardo mental e paralisia cerebral. Pode
melhas. O controle seriado de bilirrubina sérica e o uso apropriado e ocorrer atresia ileal, supostamente secundária a obstrução pre-
precoce de fototerapia podem evitar exsanguíneotransfusão (EST). coce da artéria mesentérica, com infarto, reabsorção e atresia do
Raramente um ou os dois gêmeos envolvidos em transfusão segmento intestinal suprido por aquela artéria. Outros defeitos
feto-fetal podem desenvolver hidropsia. Bebês hidrópicos são de estruturais que podem ser encontrados em gêmeos monoco-
difícil manuseio e a mortalidade é alta. Geralmente nascem de- riônicos com morte intra-uterina de um dos fetos são: espinha
primidos, requerem manobras de reanimação em sala de parto bífida; rim em ferradura; microssomia hemifacial e defeitos das
e pode ser necessária a drenagem imediata de efusões serosas extremidades. Uma vez que anastomoses vasculares são vistas
Capitulo 1 Assistência Perinatal
exclusivamente em placenta monocoriônicas uma maior incidên- dois corações independentes (25%), uma intervenção cirúrgica
cia desses eventos deve ser esperada em gêmeos monozigóticos para separar os toracópagos pode dar esperança de sobrevida
e monocoriônicos do que em monozigóticos dicoriônicos. aos dois elementos do par. Nos casos restantes, tal intervenção
A terceira categoria de malformações estruturais engloba os significa, obrigatoriamente, a morte de um desses gêmeos para
defeitos precoces da morfogênese.A sua etiologia é atribuída ao que o outro, eventualmente, se salve.
próprio processo de gemelaridade monozigótica. O exemplo mais Concordância: gêmeos em geral são discordantes para malfor-
conhecido é o de gêmeos siameses, uma anormalidade provavel- mações congênitas, no entanto, as taxas de concordância para
mente secundária à divisão incompleta dos blastocistos.O fato de gêmeos monozigóticos são consideravelmente maiores do que
gêmeos fundidos terem uma elevada incidência de anomalias es- para gêmeos dizigóticos. Para uma desordem com a Síndrome de
truturais dá suporte à teoria que associa a gemelaridade com esse Down, com etiologia genética bem definida, a concordância para
tipo de defeito estrutural. Uma vez que a cisão dos blastocistos gêmeos monozigóticos se aproxima de 100%!
não é considerada um evento normal, a gemelaridade monozigóti-
ca em si deve ser considerada uma malformação congênita. Uma Outros Problemas Neonatais
outra explicação seria o fato de que a gestação gemelar monozi-
gótica interrompe a seqüência normal de eventos do desenvolvi- Os gêmeos nascem com menos semanas de gestação que os
mento, deixando estes fetos mais sensíveis a fatores ambientais recém-nascidos de parto único. Estudos anteriores comprovaram
cujo potencial teratogênico é extremamente baixo para embriões que o grupo racial das mães não exerce influência sobre a ida-
únicos. Exemplos de malformações incluídas nesse grupo: defeitos de gestacional dos recém-nascidos, o que permitiu estudar os
do tubo neural; holoprosencefalia; associação de VACTERR (ano- gêmeos e os nascidos de parto único sem distinção de raça e
malia vertebral, imperfuração anal, fístula traqueoesofágica, ano- constatar que, em média, os gêmeos tiveram idade gestacional
malia retal e de rádio), cardiopatias congênitas, extrofia de cloaca, de 36,6 semanas, ao passo que a idade gestacional dos nasci-
digenesia gonadal e sirenomelia. dos de parto único foi de 39,5 semanas, o que dá uma diferença
Gêmeos unidos: quando a gemelaridade monozigótica ocorre média de três semanas a menos para os partos gemelares. Es-
tardiamente na segunda semana depois da concepção, a divisão ses valores são muito semelhantes às estimativas obtidas na Eu-
incompleta dos embriões pode ocorrer, resultando em gêmeos ropa em diferentes épocas e países (McKewon e Record, 1952;
teratópagos. Estes são obrigatoriamente monoamnióticos e mo- Powers, 1973; Gedda e cl., 1981; Bonnelykke e cl., 1987). RN
nocoriônicos. Se a separação do material embrionário for incom- prematuros são de alto risco para doença da membrana hialina,
pleta durante a formação de um par monozigótico, os gêmeos retinopatia da prematuridade (ROP), septicemia pelo Streptococ-
resultantes poderão se apresentar ligados por intermédio de uma cus do grupo B e enterocolite necrosante (ECN). A alta incidência
estrutura comum, que permitirá a comunicação de seus sistemas de prematuridade e baixo peso ao nascer entre gêmeos aumen-
circulatórios. Tais tipos de gêmeos são denominados teratópagos, tam o risco para essas complicações.
o que não é um termo muito apropriado, pois, em grego, téras =
monstro; pagos = unido, mas é a designação mais freqüentemente Doença Da Membrana Hialina 53
utilizada para indicar a união física de gêmeos, que já foi notada
inclusive em trigêmeos e em quadrigêmeos (Schinzel e cl, 1979). Autores como De La Torre Verduzco e cl descrevem que gême-
Dentre os fatores associados à formação de teratópagos, des- os abaixo de 35 semanas têm duas vezes mais chance de desen-
tacam-se a história de patologia de tireóide e de tratamento para volver doença da membrana hialina (DMH) do que fetos de mes-
infertilidade das gestantes. Na Hungria notou-se também uma ma idade gestacional de gestação única. A incidência de DMH foi
associação entre o nascimento de teratópagos e o uso freqüente 2 vezes maior em gêmeos monozigóticos do que em dizigóticos,
de esteróides sexuais no início da gestação (International Clearin- mas não houve diferença significativa entre gêmeos monocori-
ghouse for Birth Defects Monitoring Systems, 1991). Os gêmeos são ônicos e dicoriônicos. Provavelmente essa maior incidência se
sempre unidos por pontos idênticos e são classificados em: deva a um maior grau de prematuridade entre gêmeos monozigó-
ticos. Norman e cl estudaram o grau de maturação pulmonar em
• Toracopagos (40%) – unidos pelo tórax 30 pares de gêmeos por meio de dosagem de fosfolipídeos no
• Xifópagos ou Onfalopagos (34%) – unidos pela parede líquido amniótico (LA). Verificaram que não houve diferença signi-
anterior do abdome ficativa quando a dosagem foi feita antes do início do trabalho de
• Pigopagus (18%) – unidos pelas nádegas parto. No entanto, quando o LA foi colhido durante o trabalho de
• Ischiopagos (6%) – unidos pelo ísquio parto, alguns valores obtidos no LA do 1º gêmeo foram significa-
• Craniopagos (2%) –unidos pela cabeça. tivamente maiores que os obtidos do 2º gêmeo.
Paulo R. Margotto
Assistência ao Recém-Nascido de Risco
A incidência de ECN foi 3 vezes maior em gestação dupla ou tri- Cuidar de um bebê pequeno consome tempo e pode ser exte-
pla, de acordo com estudos de Samm e cl. Neste estudo, apenas nuante. Satisfazer os desejos e as necessidades de dois bebês da
um dos gêmeos foi afetado, a IG foi significativamente maior para mesma idade pode ultrapassar o limite da capacidade humana
os RN de gestação única, mas a mortalidade foi similar. dos pais. O sentimento de ambivalência da mãe é comum e alguns
casos, a leva a atribuir qualidades negativas a um dos gêmeos e
Crescimento e Desenvolvimento positivas ao outro.A maioria das vezes a expressão do desespero e
apreensão é um passo para afetar a relação futura com ambos os
A alta incidência de prematuridade, baixo peso ao nascer e filhos. Algumas mães parecem satisfeitas com a atenção extra que
RCIU já foram abordadas anteriormente. Na maioria dos casos, recebem por estarem cuidando de gêmeos; para outras, essa mis-
o crescimento pós-natal inicial é rápido e os gêmeos atingem o são parece ser uma ferida que nunca sara. Por exº, algumas vão
percentil mais alto de peso x idade por volta do 1º ano de vida. alegar que amamentar gêmeos consome muito tempo e é pratica-
Embora gêmeos apresentem este maior ganho de peso em rela- mente impossível. De fato, é perfeitamente possível amamentar
ção ao peso de nascimento, o peso médio permanece leve, mas gêmeos exclusivamente ou parcialmente; já foi demonstrado que
significativamente menor que o peso dos RN procedentes de a produção deleite nessas mulheres é aproximadamente o dobro
gestação única. A altura média também é levemente menor em das mães que amamentam um único bebê.
gêmeos, mas a relação peso x altura é similar àquela encontrada
em crianças de gestação única. A média do PC não apresenta Conclusões
diferença significativa. Os autores concluíram que o maior cres-
cimento compensatório dos gêmeos ocorre nos dois primeiros Gêmeos têm alta taxa de mortalidade perinatal, prematuri-
anos de vida, e parece cessar por volta do 3º ano. dade e suas complicações, baixo peso ao nascimento, restrição
Entre gêmeos com grande discrepância de peso ao nascimen- do crescimento intrauterino, anomalias congênitas e morbidade
to, o crescimento pós-natal inicialmente acelerado do gêmeo neurocomportamental em longo prazo.
menor reduz a percentagem desta diferença de peso durante o Gêmeos monozigóticos apresentam menor peso ao nascer e
1º ano de vida. No entanto, essa diferença pode ser mantida, maiores taxas de anomalias congênitas do que os dizigóticos, o
dependendo do percentil do PN de cada gêmeo e da diferença de que sugere que a etiologia desses problemas pode estar relacio-
peso entre eles.Babson e Phillips acompanharam 8 pares de gê- nada ao processo de divisão monozigótica.
meos monozigóticos que tinham diferença de PN maior que 25%, Gêmeos monocoriônicos apresentam maior taxa de mortalida-
durante 18 anos. Eles notaram que a média de peso, estatura, de perinatal, discrepância de peso ao nascimento (fetos discor-
PC e testes comportamentais padrão permaneceram significati- dantes) e RCIU do que gêmeos dicoriônicos, o que sugere que
vamente menores para o gêmeo menor, mesmo na vida adulta. tais complicações podem estar relacionadas a anastomoses
54 Parece então que gêmeos com grandes diferenças de peso ao vasculares placentárias. A comunicação vascular monocoriônica
nascimento, o menor deles mostra um pior desenvolvimento/ também pode ser responsável pela síndrome de transfusão feto-
crescimento e ganho intelectual. Lamentavelmente, gêmeos fetal, CIVD ao nascimento e defeitos disruptivos estruturais.
parecem sofrer perdas tanto no desenvolvimento físico quanto Estudos de follow up indicam que gêmeos estão em desvantagem
mental. A incidência de paralisia cerebral é 4 vezes maior entre para crescimento físico subseqüente e aquisições intelectuais.
gêmeos do que na população em geral. Conclui-se que gêmeos O manejo de gêmeos é desafiador e fascinante, por causa dos
especialmente aqueles com baixo peso ao nascer e RCIU, são de variados problemas perinatal, neonatal, de desenvolvimento e
alto risco para morbidade neurocomportamental. parentais que podem ocorrer.
Assistência ao
Recém-Nascido
Capítulo 2
Assistência ao Recém-Nascido de Risco
Introdução
O desenvolvimento anormal, neurológico e intelectual afeta as vi- também teremos aumento da pressão arterial. A Pressão Venosa
das de estimadamente 10% das crianças na sociedade moderna, e Central (PVC) tende a aumentar desde a fase inicial em virtude do
entre as grandes causas, estão a síndrome hipóxico-isquêmica e a he- aumento de pressão em Átrio direito. Com a manutenção da asfixia,
morragia intraventricular, ambos relacionados com a asfixia perinatal. há consumo rápido de glicogênio miocárdico, e o coração começa a
A asfixia neonatal contribui muito para a morbimortalidade ne- mostrar sinais de insuficiência; aqui teremos diminuição da freqüên-
onatal, estando entre as três maiores causas de morte neonatal cia cardíaca e agravamento da PVC e queda da pressão arterial.
na Unidade de Neonatologia do Hospital Regional da Asa Sul. Inicialmente o RN apresenta-se com esforço respiratório, au-
O estabelecimento de uma respiração adequada na transição mento fugaz da Freqüência Cardíaca (FC) e pressão arterial, em
da vida intra-uterina para a extra-uterina é decisiva, para a adap- uma tentativa de aumentar o fluxo sanguíneo e, por via de conse-
tação satisfatória por parte do bebê. qüência, a oferta de oxigênio ao coração, cérebro e supra-renais.
O consciencioso manuseio perinatal baseado na antecipação Com o passar do tempo, sem que a oxigenação melhore, começa a
da asfixia está relacionado com a detecção dos fatores de risco, haver pausas respiratórias, queda da FC e da pressão arterial, bem
na melhor compreensão de suas atuações fisiopatológicas, para como aumento da PVC.
uma melhor conduta a nível profilático e terapêutico ao bebê as- Na reanimação é importante que o médico reconheça em que
fíxico na sala de parto. fase da asfixia o RN se encontra, já que, se houver insuficiência
miocárdica - FC baixa, PaO2 abaixo de 20 e pH abaixo de 7 - o
Fisiopatologia débito cardíaco deve ser mantido a custas de massagem cardía-
ca externa. Geralmente, com a melhoria da oxigenação e do pH,
Haverá asfixia sempre que houver bloqueio na troca dos a FC e a pressão arterial aumentam, com queda da PVC. É bom
gases sangüíneos. Isto poderá acontecer no ambiente intra- lembrar que nessa fase o RN se manterá hipertenso em virtude
uterino ou fora dele. da ainda persistente vasoconstrição em órgãos não vitais e isso
Intraútero, a asfixia poderá acontecer por compressão do cor- se mostrará através da intensa descoloração da pele. Com a re-
dão umbilical, por descolamento prematuro da placenta ou grave gularização do fluxo sanguíneo a essas áreas, se notará melhora
hipotensão materna. Poderá ocorrer também em caso de severa da cor da pele e diminuição concomitante da pressão arterial.
56 anemia no feto ou em caso de insuficiência placentária, levando Apnéia primária
a Retardo do Crescimento Intra-Uterino (RCIU), situações em que As respirações espontâneas podem, ainda, ser induzidas por
haverá diminuição da capacidade do feto suportar a hipóxia tran- estímulos sensoriais adequados.
sitória decorrente do trabalho de parto. Apnéia secundária
No recém-nascido, a asfixia advirá da dificuldade de expandir As respirações espontâneas não podem ser induzidas por es-
os pulmões. tímulos sensoriais.
No feto, o sangue oxigenado chega através da veia umbilical
até a cava inferior e se mistura ao sangue pouco oxigenado do Material Necessário para Reanimação
organismo fetal. Atinge a circulação sistêmica fetal através do fo-
rame ovale, atingindo assim, o átrio esquerdo, ventrículo esquerdo • Berço aquecido com fonte de calor radiante:
e aorta. O sangue que chega ao ventrículo direito sai através da • Aquecer a toalha ou o campo cirúrgico para receber o RN
artéria pulmonar em direção aos pulmões; encontrando em seus • fonte de oxigênio com fluxômetro
vasos uma resistência aumentada, deriva então, através do canal • Aspirador a vácuo com manômetro - fixar a pressão má-
arterial para a aorta descendente. xima em 100 mmHg.
Sob asfixia, o recém-nascido manterá este padrão de circulação • Sondas de aspiração traqueal no 6, 8 e 10
fetal já que com o sangue pouco oxigenado, será mantida esta re- • Caixa de reanimação contendo laringoscópio de lâmina
sistência vascular pulmonar, que criando uma dificuldade ao esva- reta 00, 0 e 1,
ziamento do ventrículo direito, retrocede pressão até o átrio direito, • CFR ou balão auto-inflável com reservatório de O2,
que manterá o shunt através do forame ovale. Situação idêntica • Tubos endotraqueais no 2, 2,5, 3 e 3,5 e 4,0
explicará a persistência do canal arterial, com shunt direito-esquer- • Estetoscópio
do. Tudo isto, agora, sem a placenta para fazer as trocas gasosas. • Cardiomonitor
É preciso ter em mente que este processo é reversível, mas que • Máscaras para o RN de termo e pré-termo
também é progressivo. Se conseguir promover troca gasosa, o san- • Seringas de 1,10 e 20 ml
gue oxigenado e o pH menos ácido farão com que diminua a resis- • Cânulas de Guedel
tência vascular pulmonar, com conseqüente melhor oxigenação, • Adaptador de aspiração meconial
e assim por diante, até atingir-se a otimização. Se, por outro lado, • Relógio com marcador de segundos
não se conseguir resolver o problema, este quadro asfíxico vai se
agravando com piora da resistência vascular pulmonar, queda Medicações
mais acentuada do pH, falência do coração e posterior deteriora-
ção de múltiplos órgãos. • Adrenalina 1:1000 (preparar 1 : 10.000 em seringa de 1 ml)
No RN asfixiado existirão alterações circulatórias importantes • Expansores de volume: soro fisiológico
objetivando privilegiar o fluxo sangüíneo ao coração, cérebro e su-
pra-renais. Neste sentido, haverá diminuição deste fluxo sangüíneo
para os intestinos, rins, musculatura e pele. Como conseqüência,
Capitulo 2 Assistência ao Recém-Nascido
Paulo R. Margotto
Assistência ao Recém-Nascido de Risco
Verificação da permeabilidade nasal e do trato gastrintestinal Portanto, frente a um RN em apnéia na sala de parto, sempre
Após a estabilização do RN, introduzir delicadamente a sonda considerar que ele apresenta apnéia secundária e iniciar imedia-
gástrica Nº 08 através da narina. O comprimento da sonda a ser tamente a ventilação com pressão positiva e oxigênio a 100%.
introduzido corresponde à distância entre a base do nariz, o lóbu-
lo da orelha e o apêndice xifóide. Oxigênio Inalatório
A passagem da sonda nasogástrica visa, em primeiro lugar,
verificar a permeabilidade das coanas. Se a sonda não progredir Suplementação de oxigênio: o oxigênio inalatório não faz mais
além de 3-4 cm, em qualquer uma das narinas, deve-se suspeitar parte dos passos iniciais, estando recomendada uma maior tole-
da existência de atresia de coanas. Além disso, se a sonda não rância à cianose central. Evidências recentes indicam que o ex-
progredir até a distância pré-determinada, deve-se suspeitar da cesso de oxigênio tecidual pode levar a lesão oxidativa e deve ser
presença de atresia do esôfago. Se após, a passagem da sonda, evitado. Assim, deve-se desestimular o uso indiscriminado do
o conteúdo gástrico for superior a 20 ml, suspeitar de obstru- oxigênio inalatório em RN que estão bem, mas que demoram
ção intestinal alta. Se à aspiração do conteúdo gástrico, o liqui- um pouco para reverter a cianose. A presença de saturação de
do encontrado for hemorrágico, meconial ou purulento, deve-se oxigênio entre 80-90% nas primeiras horas de vida é fisiológica.
realizar a lavagem gástrica com água destilada ou SF 0,9% para Recomenda-se maior tolerância à cianose central em RN que esta-
evitar a irritação, regurgitação e, consequentemente, a aspiração beleceram de maneira adequada a respiração, a freqüência cardí-
pulmonar do conteúdo gástrico. aca e o tônus muscular na sala de parto.
E, finalmente, verificar a permeabilidade anal para detecção da Para RN a termo recebendo reanimação com ventilação por
imperfuração anal, introduzindo a mesma sonda, cerca de 2-3 pressão positiva, é melhor iniciar a reanimação com ar, em vez
cm, no orifício anal. de oxigênio a 100%. Considerar o uso de alta FiO2 se a FC ou a
Identificação oxigenação não melhorarem. A oximetria de pulso deve ser usa-
A identificação é realizada através da impressão digital da mãe da para avaliar qualquer necessidade de oxigênio suplementar.
e das impressões digital e plantar do RN. Colocar na mãe e no Para os RN <32 semanas que não alcançam a saturação alvo de
RN uma pulseira com os seguintes dados: nome da mãe, nº do O2, a administração de oxigênio suplementar deve ser regulada
registro hospitalar, data e hora do nascimento e sexo do RN. misturando-se oxigênio e ar (iniciar com 40%) e a quantidade a
Procedimentos finais ser administrada deve ter por guiada pelo oxímetro de pulso. Não
Realizar um exame físico simplificado no RN. Verificar peso, havendo blender para a mistura de ar e oxigênio, iniciar a reani-
estatura, perímetros cefálico, torácico e abdominal e a existência mação com ar e se não houver melhora passar para O2 a 100%.
de malformações. Sempre que possível, pesar, classificar seguin- O oxímetro de pulso deve ser colocado na palma da mão direita
do a idade gestacional e examinar a placenta. Recomenda-se, de (colocar inicialmente o sensor e depois, conectar no oxímetro), pois
rotina, a coleta de amostra de sangue materno e do cordão umbi- assim, a obtenção da leitura do oxímetro é mais rápida. A leitura con-
lical para a tipagem sangüínea e para as reações sorológicas (no fiável do oxímetro com esta técnica demora 1-2 minutos após o nas-
caso da Sífilis, colher sangue do RN). cimento, havendo débito cardíaco suficiente com perfusão periferia. 59
Realizar Sempre que possível encaminhá-lo o mais precoce- Usando o oxímetro, a saturação alvo em 5 minutos é de 70-
mente possível ao Alojamento Conjunto. 80%, de 5-10 minutos, 80-90% e a partir de 10 minutos, 85-95%
O oxigênio inalatório deve ser administrado através de másca-
Conduta no Recém-Nascido Deprimido ra (5 l/min). A máscara deve possuir orifícios laterais para evitar
a reinalação do ar expirado.
Apnéia Primaria versus Apnéia Secundária
As alterações do padrão respiratório, da freqüência cardíaca Estratégias Ventilatóras
(FC) e da pressão arterial (PA), na asfixia perinatal, seguem um
padrão bem definido e variam de acordo com a extensão e a du- Iniciar imediatamente a VPP quando o RN estiver em apnéia,
ração do insulto hipóxico com respiração do tipo “gasping” com respiração espontânea,
Após a agressão da asfixia, a fase inicial é marcada por respira- porém com FC inferior a 100 bpm.
ções rápidas e profundas, associadas ao aumento da FC e da PA. Respirações iniciais
Se o insulto persistir, os movimentos respiratórios cessam e a FC Frequência 40-60/minuto
começa a cair, mantendo-se, ainda, a PA elevada – é o período de Pressão Inspiratória Máxima
APNÉIA PRIMÁRIA. Nesta fase, a estimulação tátil e o oxigênio ina- A pressão inspiratória máxima (PIM) deve ser aquela que au-
latório revertem o quadro, na grande maioria das vezes. Com o pro- menta a FC ou o movimento da caixa torácica (deve ser individu-
gredir do processo hipóxico, aparecem movimentos respiratórios alizada para cada bebê). Quando possível a sua monitorização,
profundos e arrítmicos (gasping) e a FC continua a cair, juntamente 20cm H2O pode ser efetiva para os RN pré-termos e 30-40 cm H2O
com a PA. O padrão respiratório torna-se cada vez mais irregular e para os RN a termo Se não houver condições de monitorar a pres-
fraco até desaparecer (último gasping), iniciando-se o período de são, usar a menor necessária para aumentar a FC e o movimento
APNÉIA SECUNDÁRIA. Nesta fase, a estimulação tátil e o oxigênio da caixa torácica. A meta é manter a FC acima de 100bpm.
inalatório não revertem o processo, sendo necessária a aplicação Pressão positiva no final da expiração (PEEP)
de ventilação com pressão positiva e oxigênio a 100%, e às vezes, Pode ser de benefício na estabilização inicial nos RN pré-ter-
massagem cardíaca e medicações. mos apneicos que requerem ventilação por pressão psotiva e
Deve-se lembrar que o insulto hipóxico, na grande maioria das ve- dever ser usada se disponível.
zes, inicia-se antes do nascimento. Assim, toda a seqüência de even- Pressão positiva contínua nas vias aéreas (CPAP)
tos provocada pela asfixia pode ocorrer intra-útero, sendo impossível OS RN pré-termos com respiração espontânea com doença da
distinguir apnéia primária da secundária, logo após o nascimento. É membrana hialina podem receber CPAP ou intubação e ventilação
importante notar, também, que quanto maior o período de asfixia mecânica (VM). A escolha mais apropriada pode ser guiada pela
antes do inicio de uma reanimação efetiva, mais difícil se torna essa experiência local. Em RN >-25 semanas com sinais de doença da
reanimação, aumentando, assim, os riscos de lesão neurológica. membrana hialina não houve diferença significativa entre CPAP e
VM quanto a morte, displasia broncopulmonar (dependência de O2
com 36 semanas pós-concepção). Para os RN entre 25 e 28 sema-
Paulo R. Margotto
Assistência ao Recém-Nascido de Risco
nas, o uso do CPAP comparado com a VM, reduziu a necessidade • Adaptação da máscara à face do RN
de VM de 100% para 46%, uso de surfactante de 77% para 35%, • Permeabilidade das vias aéreas
porém, houve aumento significativo de pneumotórax (9% para o • Se a pressão é suficiente.
CPAP versus 3% para VM).
Decisão Segundo a FC
Quanto aos Dispositivos
Realizar a VPP, através do CFR e máscara ou CFR e cânula,
Dispositivos iniciando com FiO2 de 40% durante 30 segundos e reavaliar. A
A ventilação pode ser feita efetivamente com bolsa de fluxo au- grande maioria dos RN que necessita de VPP na sala de parto
toinflável (baixo custo, não precisa de fonte de gas para ventilar, apresenta recuperação dos parâmetros vitais, quando são venti-
manuseio simples-de cada 10 RN, 9 melhoram a ventilação se a lados com CFR e máscara.
ventilação com balão é máscara for bem feita ao nascimento) ou
reanimador com pressão limitada (T-piece resuscitator) principal- • Se o RN apresentar movimentos respiratórios efetivos e
mente para os RN pré-termos O reanimador com pressão limita- FC superior a 100bpm, suspender a ventilação
da necessita de uma fonte de gas e é possível administrar uma
mistura de O2 e ar comprimidos, possibilitando administrar dife- Quando o RN não melhora, rever a técnica!
rentes concentrações de O2). O fluxo inicial a ser usado é de 10 l/
minuto, PEEP por volta de 5cmH2O, pressões inspiratória por vol- • Se o RN não melhorar (continua bradicárdico) apesar do
ta de 20cmmH20 e FR em torno de 40-60/minuto e FiO2 de 40%, aumento de O2, está indicado intubação traqueal
havendo a possibilidade da mistura de ar e O2. Após as primeiras
ventilações, ajustar a pressão para se obter a insuflação torá- Intubação Traqueal
cica leve, assim como, ajustar a saturação de O2 como referido
anteriormente. Os estudos em modelos mecãnicos demonstram Indicações
que as pressões de inflação são mais consistentes com o uso do a intubação traqueal, na sala de parto, está indicada quando:
reanimador com pressão limitada em relação as bolsas, além de
manutenção da PEEP mais consistente e melhor habilidade para • A VPP com CFR e máscara é inefetiva ou prolongada
inflação sustentada. No entanto, não há estudos clinicos em RN • Há necessidade de aspiração traqueal sob visualização
que dão suporte ou refutem a superioridade do reanimador pres- direta em RN não vigoroso com líquido amniótico meconial
são limitada sobre a ventilação com bolsa. • Em qualquer suspeita de Hérnia Diafragmática, que ne-
Máscara laríngea: Considerar o uso de máscara laríngea se não cessite de VPP.
houver suscesso com a máscara facial e intubação traqueal, princi- • Quando há necessidade de massagem cardíaca
palmente nos RN com peso ao nascer >2000g ou idade gestacional • Quando se faz surfactante profilático na Sala de Parto
60 >-34 semanas (conduta individualizada para cada Serviço)
Dispositivos de interface nas vias aéreas superiores: As pron-
gas nasais tem sido mostradas serem superiores para adminis- Preparo
trar ventilação por pressão positiva via nasal em relação às más- Para que a intubação traqueal seja realizada de uma forma
caras faciais triangulares. As evidências são insuficientes para efetiva, recomenda-se a presença de duas pessoas na sala de
suportar ou refutar o uso de um ou outro tipo de máscara, exceto parto. Um profissional para inserir a cânula traqueal e realizar
que a máscara Rendell-Baker é subótima em obter um adequado a VPP e outro para auxiliá-lo na realização do procedimento e,
vedamento em recém-nascidos. Usar a interface disponível na após a intubação verificar a posição da ponta da cânula. Antes de
sua Instituição. iniciar a intubação, preparar e testar todo o material necessário:
Na Unidade de Neonatologia do HRAS administramos a VPP
através do CFR, um gerador de pressão baseado no controle de • Fonte e oxigênio com fluxômetro
um fluxo contínuo de gases proveniente de uma fonte externa • Aspirador a vácuo com manômetro
que permite administrar, além da pressão inflação máxima, tam- • Material para fixação da cânula
bém a pressão positiva no final da expiração. • Laringoscópio com lâminas retas nº 0 e 1
VPP com CFR: Como primeira opção, recomenda-se a apli- • Cânulas traqueais nº 2,5- 3,0- 3,5 e 4,0
cação da VPP através de máscara por se tratar de um método • CFR
eficiente, mais prático e simples do que a intubação traqueal. • Máscara para RN a termo e pré-termo
Dar preferência às máscaras de silicone de formato anatômico • Sondas para aspiração traqueal nº 6 – 8 e 10
e/ou com coxim, que melhor se adaptam à face do RN. Manter a • Fio-guia estéril
disposição dois tamanhos de máscara: para o neonato a termo
e para o pré-termo. Inserir a cânula usando a regra 7-8-9 de Tochen (1979): peso
Conectar o CFR à fonte de oxigênio (fluxo de 5 - 7 l/min.). A se- +6. No entanto, para os RN <750g, introduzir 6 cm
guir, aplicar a máscara sobre a face do RN, tomando-se o cuidado
de cobrir a boca, o nariz e a ponta do queixo do paciente. Evitar Cânula Traqueal
aplicar a pressão sobre os olhos e o pescoço. Utilizar freqüên- Recomenda-se, para o período neonatal, a cânula traqueal de
cias entre 40-60 mov./min. A pressão inicial deve ser de 30-40 diâmetro uniforme, estéril, com uma linha radiopaca e graduada
cmH2O e, em seguida, 15-20 cmH2O para pulmões normais e 20- em centímetros. Escolher o tamanho da cânula de acordo com o
40 cmH20 para pulmões com complacência baixa. É fundamen- peso ou a idade gestacional estimada do RN (tabela). É impor-
tal, durante a ventilação, observar continuamente a expansibi- tante deixar sempre à disposição cânulas de diâmetro inferior e
lidade torácica através da inspeção e da ausculta. A ventilação superior, em relação àquela escolhida.
efetiva deve elevar a caixa torácica em cerca de 0,5-1,0 cm.
Se não for notada uma expansibilidade torácica adequada, obser-
var os seguintes quesitos, em seqüência, e corrigí-los se necessário:
Capitulo 2 Assistência ao Recém-Nascido
Paulo R. Margotto
Assistência ao Recém-Nascido de Risco
terminal (sonda de aspiração traqueal nº 6 ou cateter umbilical envolvimento dos pais é importante para evitar conflitos na reanima-
nº 8). Introduzir o cateter, previamente preenchido por água des- ção. Na maioria das vezes, o que os pais expressam com “fazer tudo
tilada, na veia umbilical, até que se obtenha o refluxo de sangue, pelo meu filho”, é fazer tudo que seja possível e bom e geralmente,
cerca de 1-2 cm após passagem pelo ânulo umbilical. Evitar a in- a atitude mais amorosa é interromper a reanimação. A família deve
trodução excessiva do cateter e sua localização no sistema porta. sentir que a estamos ajudando de uma forma mais amorosa.
É obrigatória a localização radiológica da posição do cateter, Na reanimação prolongada, verificar a efetividade das técnicas.
caso esse cateter vá permanecer na veia umbilical no período Se o RN persistir ruim, considerar malformação na via aérea, pneu-
posterior à reanimação. motórax, hérnia diafragmática e cardiopatia congênita. Após 10 mi-
A administração da adrenalina deve ser endovenosa: deve ser nutos de reanimação completa e efetiva, interromper a reanimação
usada, se após adequada ventilação e compressão torácica, a Para estes RN, fazemos as seguintes recomendações:
FC for inferior a 80 batimentos por minuto. A dose endovenosa
é: 0,01-0,03mg/kg (a adrenalina tem 1 mg/ml; pega-se 1 ml de • RN ≤ 23 semanas de gestação: não são reanimados; os
adrenalina + 9 ml de soro fisiológico; ficamos então com uma cuidados se restringem ao conforto (manuseio mínimo,
solução que contém 0,1 mg/ml; usamos a dose de 0,1 ml/kg, monitorização gentil, manutenção da temperatura).
o que daria 0,01 mg/kg). Não havendo melhora, repetir a cada • RN entre 23-24 semanas de gestação: o manuseio
3-5minutos. Em caso de necessidade (acesso venoso disponível), pode ser alterado na dependência de:
usar a via endotraqueal na dose de 0,05-0,1mg/kg uma única • Condição ao nascimento.
vez (deve ser uma exceção). A adrenalina milisemal não deve ser • Resposta à reanimação inicial à estabilização.
usada nem endotraqueal e nem endovenosa. • Se ingressar na UTI Neonatal: a assistência ventilatória
Não havendo resposta a reanimação, há sinais de perda de se restringirá ao CPAP nasal.
sangue, pulsos finos, está indicado o uso de expansão de volu- • A extensão contínua do suporte vai depender das con-
me, de preferência solução cristalóide (soro fisiológico, Ringer) dições e prognóstico do bebê, que devem ser discutidas
ou eventualmente sangue total. de forma clara e exaustiva com a família e a decisão final
O uso de bicarbonato de sódio e naloxone não estão mais indi- deve ser obtida em conjunto.
cados na Sala de Parto, não devendo estar mais preparados para • RN ≥ 25 semanas de gestação: reanimar sempre
uso. O uso eventual destas medicações só será feita após esta-
bilização do RN, quando houver indicação, já na UTI Neonatal Recém-Nascidos que Não Apresentam
Enfatizamos que a ventilação pulmonar é o procedimento Sinais de Vida ao Nascer
mais simples, mais importante e mais efetivo na reanimação do (Morte Aparente) ao Nascer
RN na Sala de Parto
PaCO2 (baixa)
Quanto ao uso da hipotermia terapêutica:
PaCO2 Influenciam
Recomenda-se que RN > 36 semanas de gestação com encefalo- pH
62 patia hipóxico-isquêmica de leve a moderada receba hipotermia te-
rapêutica. A hipotermia terapêutica deve ser administrada mediante
protocolos claramente definidos similares aos utilizados nos ensaios Menor que 7.0 7.2 Em torno de 7.0
clínicos publicados ((iniciar nas primeiras 6 horas de vida, por 72 ho-
Desaparece Hiperventilação Grau Máximo (fome de ar)
ras com reaquecimento em 4 horas) e nas Instituições com recursos
para tratamento multidisciplinar e acompanhamento longitudinal.
A fome de ar nem sempre está
Vários ensaios multicêntricos controlados sobre hipotermia induzi- presente em pacientes com acidose
da (33,5°C a 34,5°C) em recém-nascidos, com IG ≥ 36 semanas,
apresentando encefalopatia hipóxico-isquêmica de leve a modera-
da, demonstraram que os RN resfriados tiveram mortalidade signi- As normas de suporte de vida ao RN com asfixia não visam so-
ficativamente mais baixa e menor deficiência no desenvolvimento mente ao sucesso da reanimação, mas, também, se o RN ficará se-
neurológico no acompanhamento de 18 meses. Ao assistirmos um veramente lesado, principalmente nos países subdesenvolvidos. O
recém-nascido gravemente asfíxico, realizamos os procedimentos impacto de uma criança lesada pode ser devastador. No RN que se
com o berço aquecido desligado. apresenta com assistolia após 10 minutos, a reanimação deve ser
interrompida, pois é improvável a sobrevida sem seqüelas graves.
Quando Não Iniciar, RN com severas anomalias congênitas. A reanimação não
Quando Interromper a Reanimação deve ser iniciada para as malformações da Lista de Jones: hi-
dranencefalia, holoprosencefalia, anencefalia, trissomia do 18,
Não iniciar e/ou interromper a reanimação para os recém- nas- trissomia do 13, triploidia, agenesia renal bilateral, sirenomelia,
cidos pré-termos extremos, para os RN que não apresentam sinal síndromes de membros curtos: acondrogêneses tipo 1a e 1b,
de vida ao nascer (morte aparente) e para os RN que apresentam acondrogêneses, hipocondrogêneses tipo II, fibrocondrogenias,
graves malformações, é um dos maiores dilemas para o neonato- displasia tanatofórica e osteogênese imperfeita.
logista. A bioética não faz distinção entre não iniciar e interromper É importante que seja dado ao RN o benefício da dúvida, pois
as manobras de reanimação (interromper é moralmente o mesmo a sala de parto é o local mais inadequado para se decidir, devido
que não iniciar). Outros autores acreditam que seja eticamente à dificuldade da realização de um cuidadoso exame físico no es-
mais aceitável retirar a terapia do que não iniciá-la (se a terapia paço curto de tempo disponível para a tomada de decisão. Tão
não for iniciada, o paciente nunca se beneficiará dela). logo o RN esteja estabilizado na UTI Neonatal, o exame cuidado-
Recém-nascidos pré-termos extremos: a decisão de não iniciar so possibilitará identificar o distúrbio e os defeitos estruturais.
a reanimação na sala de parto deve ser baseada no conhecimento Iniciar a reanimação nestes casos não significa que é mandatória
do limite de viabilidade do Serviço, assim como o grau de seqüelas a manutenção do suporte. Aos pais devemos oferecer fortes ar-
presumíveis. A comparação com os resultados da literatura tem por gumentos relacionados à condição letal da criança.
objetivo buscar constantes melhorias. Esforços devem ser continua- Nenhum RN deve ir a óbito no leito. Quando o suporte médico
mente buscados no sentido de melhorar a sobrevivência destes RN for interrompido ou a morte é inevitável, um tempo deve ser da-
e, sobretudo, a qualidade de vida destes RN pré-termos extremos. O dos aos pais e aos demais membros da família para tocar o bebê,
Capitulo 2 Assistência ao Recém-Nascido
levá-lo aos braços e interagir com ele, se assim for o desejo da C.F.R.
família. A família deve ser tratada sempre com dignidade. (Continuous Flow Reviver)
Medicação:
Dose Total
Apresentação Preparo Dose/Via Peso
(ml)
Comercial
1/ 10.000
0,1 - 0,3 ml/
0,1 ml de
kg da solução
adrenalina
preparada
Adrenalina + 0,9 ml de 1 0,1-0,3ml
EV, ET e IO
1 amp=1 Soro fisioló- 2 0,2-0,6ml
infusão rápida
ml=1mg gico= 1ml 3 0,3-0,9ml
pode ser repe-
1/1000 Para infusão 4 0,4-1.3ml
tida a cada 3 a
endotra-
5 minutos
queal, diluir
IO: intra-óssea
com SF
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Fig; O CFR. O ponto A é o local de inserção da mangueira com gases aferentes. O ponto B
corresponde à válvula reguladora do pico de pressão inspiratória. O ponto C corresponde
64 à válvula exalatória que permite a definição de pressão positiva em final da expiração e
acionamento da ciclagem. Não demonstrado, há um ponto para a conexão do manômetro
que acompanha o equipamento
Bibliografia
Gestações e paridade, antecedentes maternos (uso de drogas • Descamação fisiológica em pós maturos (pés e mãos) e
ilícitas, tabagismo, álcool, cirurgias, doenças crônicas, medica- escamas endurecidas na ictiose congênita.
mentos, etc.), informações sobre gestações anteriores, abortos, • Epidermólise bolhosa: doença genética que determina
ocorrências no pré-natal. a formação de bolhas disseminadas, que se originam a
partir de qualquer lesão por pressão.
Histórico Familiar • Eritema tóxico: rash cutâneo com lesões eritemato-pa-
pulosas, regride espontaneamente.
Enfermidades atuais e significativas em membros da família, • Escleredema: edema endurecido, mais frequentemente
consanguinidade, malformações. observado em infecções neonatais graves e cardiopatias
com débito cardíaco diminuído. Não depressível.
Histórico Neonatal • Hemangioma: manchas vermelho-violáceas mais comu-
mente observadas na nuca, região frontal e pálpebras
Ocorrências no pré-parto e sala de parto, Boletim de APGAR, superiores. Desaparecem em alguns meses. Com o de-
necessidade de reanimação, amamentação. senvolvimento a pele torna-se espessa, opaca e querati-
nizada. Avalia-se a visibilidade dos vasos e sulcos.
Placenta • Lanugem: são pelos finos sobre o corpo, estão em menor
proporção em região de atrito. Surgem por volta da 19ª
Peso, coloração, odor, relação do peso da placenta com peso a 20ª semana e têm máxima aparição entre 27ª a 28ª
do RN (classificação da placenta e do RN com as respectivas cur- semana de vida intra uterina.
vas- consultar o capitulo Classificação do recém-nascido), avaliar • Linfomas císticos: presentes em qualquer parte do corpo.
o cordão umbilical (presença de duas artérias e uma veia). • Millium sebáceo: pontos claros em face, especialmente
no nariz, devido à hiperplasia de glândulas sebáceas.
Avaliação Da Idade Gestacional • Nevos pigmentosus (mancha mongólica): assemelha-se
(consultar o capítulo correspondente) à pequena equimose. Mais comum na região sacra. De-
saparece na segunda infância.
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• Petéquias e púrpuras: não desaparecem a digito-pres- ou diminuição da distância), tamanho do queixo (micrognatia:
são. São de etiologia mecânica (tocotraumatismo), fra- diminuição da mandíbula inferior que pode afetar a amamenta-
gilidade capilar (infecção) e plaquetopenia. Localização ção), nariz e língua.
no pescoço e cabeça não tem maiores repercussões; em
tronco e membros deve-se investigar causa. Olhos
• Superfície plantar: avaliam-se as rugas que se dirigem
dos dedos para o calcanhar. Abrir as pálpebras, observar pregas epicânticas, verificar o re-
• Quando há oligoidrânmio, apresentam-se acentuada. flexo pupilar e vermelho normal usando oftalmoscópio, hemor-
ragia subconjuntival, estrabismo (frequente no RN), pupila bran-
Crânio ca (catarata congênita, retinoblastoma, fibroplasia retrolental),
opacificação da córnea (glaucoma congênito, rubéola congênita,
Sua circunferência varia entre 32 e 36 cm (vide gráfico no ca- rutura membrana de Descement, secreção ocular: se até 48 fre-
pítulo: Avaliação da Idade Gestacional); observa-se a simetria do quente até devido a credeização; após considerar hipótese de
crânio, na palpação se há cavalgamento de suturas (sagital, co- infecção. Avaliar icterícia.
ronárias, bregmáticas e lambdóide) e se há fechamento precoce
das fontanelas anterior e posterior, as únicas com possibilidade • Hipertelorismo: aumento da distância entre os olhos e acha-
de serem palpáveis. Um perímetro cefálico acima do percentil 90 tamento em da base nasal; presente em malformações.
indica macrocrania, em que as causas frequentes são a hidroce- • Enoftalmia; depressão dos olhos (encovados).
falia e a megaencefalia. O perímetro cefálico abaixo do percentil • Exoftalmia: olhos salientes.
10 indica microcrania que pode estar presente em malformações
cromossômicas, defeitos de migração neuronal e agenesias. Orelhas
Outras alterações observadas no exame do crânio são:
Forma, tamanho, implantação (na mesma linha dos olhos), testar
• Craniossinostose: fechamento precoce das suturas cra- reação a ruídos e confirmar aplicação de testes preconizados para
nianas geralmente isoladas ou em associações variáveis. identificar surdez neonatal; apêndices pré-auriculares. Alterações na
Observam-se assimetrias cranianas e as linhas de sutu- forma e implantação da orelha se relacionam à agenesia renal.
ras bem visíveis ou palpáveis. São a escafocefalia, turrin-
cefalia, braquicefalia e a plagiocefalia. Nariz
• Cefalohematoma: coleção sanguínea sub-periostal, de
consistência endurecida, delimitada pelas linhas de sutu- Avaliar forma, tamanho, testar permeabilidade obstruindo uma
ras cranianas, que ocorrem após um parto traumático, e narina de cada vez, canal nasolacrimal, secreção nasal (se seros-
desaparece em meses, de localização geralmente parietal. sanguinolenta, pesquisar sífilis congênita).
66 • Bossa serossanguínea (ou caput succedaneum): cole-
ção de líquido e sangue no subcutâneo, não respeitam Boca
as linhas de sutura, de limites imprecisos, cacifo positivo,
e que involuem em dias. Examinar coloração dos lábios e língua, presença de fissura
• Craniotabes: diminuição da consistência dos ossos do labial e fenda palatina (visualização e palpação do palato duro),
crânio. À palpação assemelha-se a compressão de uma dentes congênitos, rânula (tumoração cística no assoalho da
bola de ping-pong. boca, sem indicação de exerese e imediata), pérolas de Epstein
• Sopros intracranianos audíveis com o estetoscópio: (pontos brancos no palato), úvula bífida.
são raros no RN, geralmente associados a sinais de insu- A posição da mandíbula (retrognatia) e o arqueamento do pa-
ficiência cardíaca. Se presentes sugerem fístulas arterio- lato (ogival) dependem da não atividade motora na vida intra-
venosas ou aneurisma da veia de Galeno. uterina da língua contra o palato e o relaxamento da mandíbula.
• Encefalocele: Tumoração sob a pele que representa a exte-
riorização de tecido nervoso por defeitos nas linhas de sutura Pescoço
dos ossos crânio, com dimensões variáveis. Mais comuns na
região occipital, e depois na região frontal e fossa nasal. Pesquisar massas, fístulas, mobilidade, excesso de pele.
O neonato possui seis fontanelas, que são espaços entre os • Torcicolo congênito: contratura do músculo esternoclei-
ossos do crânio ocupados por membrana. Se abauladas, indica a domastóideo na segunda semana de vida. Resolução
possibilidade da ocorrência de meningite, hidrocefalia, hemorra- espontânea na maioria dos casos, podendo evoluir para
gia intracraniana, hiper hidratação, edema cerebral, insuficiência assimetria facial e posição viciosa da cabeça.
cardíaca. Ou se deprimem como na desidratação; duas delas são • Teratoma cervical: grande tumoração na porção media-
facilmente palpáveis: na do pescoço. Possibilidade para malignização. Pode
causar obstrução respiratória.
• Bregmática ou anterior, situada na porção central e alta • Higroma cístico: tumoração cística de tamanho variado,
do crânio, de formato losangular, medindo cerca de 2-3 com rápido crescimento, invadindo o assoalho da boca, o
cm (variação entre 1 e 5); fecha-se, por aproximação dos mediastino a as axilas; também pode obstruir a respiração.
ossos, em torno dos 18 meses de vida. • Bócio congênito: de causa idiopática ou ocasionada por
• Posterior ou lambdóide, situada na linha média posterior, de ingesta materna de iodo na gestação. Consistência elás-
formato triangular, medindo 0,5 cm; fecha-se aos 2 meses. tica em forma de colar cervical, pouco móvel.
Face Tórax
Observar simetria, aparência sindrômica, implantação das ore- O perímetro torácico em RN a termo é em média de 2 cm me-
lhas, distância entre os olhos (hiper ou hipotelorismo – aumento nor que o cefálico, como descrito anteriormente. Observar sua
Capitulo 2 Assistência ao Recém-Nascido
simetria, formato (geralmente arredondado) proeminência ou tein). Sua intensidade diminui na insuficiência cardíaca
afundamento esternal; sua maior dimensão é a ântero-posterior. congestiva (ICC) e condução atrioventricular prolongada.
Respiração predominantemente abdominal, com frequência • Bordo esternal esquerdo inferior. Aumenta de intensida-
em torno de 40-60 movimentos por minuto. de com o aumento de fluxo pela valva atrioventricular, em
Discretas retrações sub e intercostais são comuns em RN sa- presença de PCA, insuficiência mitral, retorno venoso pul-
dios pela elasticidade das paredes torácicas. Retrações supracla- monar totalmente anômalo (RVPTA), etc.
viculares são sempre patológicas.
Identificar B2:
Clavículas • No bordo esternal esquerdo superior. Hiperfonese sugere
hipertensão arterial sistêmica ou pulmonar. Desdobra-
Atentar para a ausência de clavículas (aplasia clavicular), di- mento amplo, pensar em estenose pulmonar, anomalia
sostose cleidocraniana (cleidocraniodisostose – doença autos- de ebstein, rvpta e tetralogia de fallot (t4f).
sômica dominante, caracterizada por aplasia clavicular, atraso
no fechamento de fontanelas, atraso na ossificação, alteração Identificar B3 e B4:
na dentição, etc), ou fraturas (a maioria do tipo galho-verde, que • Na base ou ápice. B3 surge com o aumento de fluxo
podem causar pseudoparalisia do plexo braquial). A conduta é pelas valvas átrio-ventriculares, pca e icc. B4 surge em
conservadora (não requer imobilização, atadura) a não ser nos miocardiopatias com menor elasticidade do ventrículo
casos de fratura completa com diminuição ou ausência de movi- esquerdo (ve).
mentação do braço no lado afetado.
Estalido:
Mamas É patológico após a fase de transição. Audível em dilatações
de grandes vasos: truncus arteriosus, T4F, obstrução na saída do
Verificar assimetria, a distância intermamilar (característica de al- ventrículo esquerdo ou direito (VD)
gumas doenças genéticas), presença de mamilos extranumerários.
Ao nascer é comum o aumento das glândulas mamárias com a Sopro:
secreção leitosa ou sanguinolenta. Identificar como sendo sistólico, diastólico ou contínuo. Quanti-
ficar de 1+ a 6+, de acordo com sua intensidade. Identificar se é
Exame Cardiovascular proto, meso, tele sistólico ou diastólico.
Quanto ao timbre, observar se é suave, rude ou aspirativo.
Inspeção: cianose, padrão respiratório (taquipnéia, dispénia, Poderão estar ausentes ao nascimento mesmo em cardiopatias
amplitude respiratória, BAN), abaulamento precordial, turgência graves; 60% dos RN normais terão sopro nas primeiras 48 h de vida,
jugular, ictus cordis (mais propulsivo em sobrecarga de volume e em decorrência do fechamento do ducto arterial e do forame oval.
persistência canal arterial (PCA). 67
Exame Pulmonar
Palpação: realizar palpação de pulsos nos quatro membros,
comparando-os (sincronia, ritmo e intensidade). Inspeção: avaliar o padrão respiratório quanto à frequência,
A presença de pulsos simétricos descarta presença de Coarc- amplitude dos movimentos, presença de tiragens e retração xifoi-
tação de Aorta (CoAo), cardiopatia congênita ocasionada por es- diana, batimentos de asas do nariz, estridor expiratório, gemido.
treitamento daquele vaso, geralmente na porção descendente, Utilizar o Boletim de Silverman-Andersen.
possibilitando fluxo aumentado para cérebro e braços (carótida e
subclávias) e fluxo diminuído para coxas e pernas.
Palpação do precórdio, verificando posição do íctus (entre ter- Parâmetros 0 1 2
ceiro e quarto espaço intercostal esquerdo), sua impulsividade,
presença de frêmitos. Frequência cardíaca entre 120-160 bati-
mentos por minuto. Audível Audível
Gemência Ausente
com esteto sem esteto
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ta onde o umbigo toca uma caneta situada sobre o mesmo. Na ins- Observar comprimento do pênis (normal maior do que 3 cm),
piração o umbigo se deslocará para cima e para o lado paralisado. posição do orifício uretral centralizado na glande (hipospádia,
epispádia), fimose (aderência do prepúcio à glande), posição dos
Ausculta testículos na bolsa escrotal (criptorquidia: testículos locados fora
Realizada com estetoscópio neonatal, com campânula e dia- da bolsa: canal inguinal, abdome), presença de hérnia escrotal.
fragma. Deve ser bilateral e comparativa. Auscultar as regiões A hidrocele escrotal (acúmulo de líquido em volume anormal)
axilares. Avaliar a presença de creptos, sibilos, roncos e diminui- pode ser identificada pela técnica da transiluminação, que con-
ção do murmúrio vesicular. siste em escurecer o ambiente e aproximar uma lanterna da re-
A palpação para checar a expansibilidade e distensibilidade gião escrotal que ficará translúcida. A descida testicular para a
torácica também é realizada. Registrar a frequência ventilatória, bolsa escrotal ocorre por volta do 3º trimestre e a bolsa escrotal
que gira em torno de 40-60 movimentos por minuto. se toma mais enrrugada próximo ao termo.
A percussão nos espaços intercostais identifica o som claro
pulmonar. Genitália Feminina
Abdome Tamanho do clitóris, fusão dos grandes lábios (sinéquia labial), po-
sicionamento do orifício da vagina e da uretra, distância anovulvar e
Inspeção fístulas. Praticamente todas as recém-nascidas apresentam exces-
Observar a forma do abdome: geralmente globoso; pode apre- so de tecido himenal ao nascimento que desaparece em semanas.
sentar-se escavado (hérnia diafragmática, urgência cirúrgica), O tamanho final do clítoris é adquirido bem antes da deposição
com abaulamento supra-umbilical (atresia duodenal ou disten- de gordura nas estruturas vizinhas e por isso aparenta-se falsa-
são gástrica), abaulamento infra-umbilical (distensão de bexiga e mente hipertrofiado.
graves retardos de crescimento intra-uterino), presença de circu- Genitália externa com morfologia suspeita (genitália ambígua)
lação colateral e ondas peristálticas. necessita de investigação com ultrassonografia, genótipo, etc.
Pesquisar presença de hérnias umbilicais e inguinais.
As hérnias umbilicais são frequentes em bebês com peso in- • Hipospádia: meato uretral na face perineo-escrotal do
ferior a 2.500g, em meninas e em negros; podem variar entre 1 pênis; excesso de pele dorsal. Associa-se a alterações
e 5 cm; em geral, desaparecem antes dos 4 anos; a herniorrafia dos testículos como criptorquidia.
pode ser indicada em situações específicas. • Epispádia: falha no fechamento da uretra na parede dorsal.
Em neonatos, especialmente os prematuros, a herniação intes- Pode acometer toda a uretra, inclusive com extrofia vesical.
tinal para a região inguinal pode levar ao encarceramento, sendo • Ectopia testicular: 5% dos RN apresentam testículos não
necessária a avaliação da equipe cirúrgica. palpáveis ao nascimento. Verificar os canais inguinais.
O neonato pode apresentar malformações do tipo onfalocele • Imperfuração himenal: pode levar à retenção de secre-
68 (defeito da parede abdominal com exteriorização de vísceras re- ções uterinas e vaginais e causar abaulamento himenal
cobertas por âmnio, cordão e peritônio parietal) e gastrosquise e às vezes retenção urinária por compressão extrínseca.
(defeito da parede abdominal com exteriorização e exposição de • Anomalias anorretais: estenose anal, ânus perineal an-
alças e vísceras, à direita do cordão umbilical) evidentes à ultras- terior, fístula anocutânea, ânus vulvar, fístula anovulvar,
sonografia, durante a gestação. fístula anovestibular, fístula retrovestibular, atresia retal,
O coto umbilical deve ser cuidadosamente avaliado, em busca imperfuração anal, estenose anal membranosa.
de exsudato purulento e, posteriormente, granuloma.
Coluna
Ausculta
Procurar ruídos hidroaéreos, nos quatro quadrantes. Sua au- Coloca-se o RN em decúbito ventral, inspeciona-se e palpa-se
sência é significativa para íleo paralítico. região da coluna vertebral. Procura-se desvios, tumorações e
malformações ósseas, presença de tufos de pelos, hemangio-
Palpação mas e manchas hipercrômicas.
Verificar diástase de músculos reto-abdominais (separação ha- ‘
bitual da musculatura, na linha média; desaparece no primeiro • Espinha bífida: falha no fechamento dos ossos, princi-
ano de vida), presença de ascite, aumento no fígado (normal se palmente da coluna lombosacra. Podemos observar a ex-
em torno de 2cm do rebordo costal), baço, rins, bexiga. posição do tecido nervoso. Pode apresentar-se de duas
São 3 as principais causas de distensão abdominal no RN: as- formas: Meningocele e Mielomeningocele.
cite, visceromegalias e distensão gasosa. • Meningocele: Lesão cística composta por líquor, menin-
Pesquisar massas abdominais; cerca de metade são de origem ges e pele. Causas maternas: deficiência de ácido fólico
genitourinárias. Nos rins, massas palpáveis podem sugerir hidro- e uso de álcool.
nefrose, nefroblastoma, cisto solitário, rins policísticos e trombose • Mielomeningocele: Lesão da linha média contendo lí-
de veia renal. No fígado, hematoma, hemangioma, cisto hepático, quor, meninges e elementos da medula. Podendo ser
de colédoco, de ovário. No trato gastrointestinal, duplicação de aberta ou rota onde o tecido nervoso esta exposta ou
duodeno, de jejuno, ou de íleo, volvo, teratoma e neuroblastoma. fechada, quando o tecido nervoso esta recoberto pelas
Para palpação de rins: colocar o RN em posição semi-sentada membranas meníngeas ou pele. Neste caso, avalia-se a
e com a outra mão palpar o hipocôndrio, estendendo o polegar sensibilidade e motricidade de membros inferiores, que
anteriormente e os dedos na face posterior; elevar os membros alem de alteradas, na dependência da altura da mielo-
inferiores do bebê com a mão esquerda e com a direita palpar o meningocele podem apresentar vários graus de distro-
hipocôndrio realizando movimentos de báscula. fias e posturas típicas dos membros inferiores. O controle
esfincteriano deve ser avaliado estimulando-se a região
Genitália Masculina perianal e a musculatura controlada pelo nervo pudendo.
Fossetas ou hipertricose podem indicar espinha bífida
oculta, onde algumas vértebras estão ausentes, mas o
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Em UTI neonatal o exame pode sofrer prejuízos devido à mo- • Manobra de propulsão ou reptação: Neonato em de-
nitorização, utilização de cateteres, prongas, tubos de ventilação cúbito ventral, flexionar os membros inferiores, em uma
mecânica, incubadoras etc. Em algumas situações conta-se ape- postura que lembra as pernas de um batráquio, manten-
nas com a observação dos movimentos espontâneos. do as plantas dos pés unidas, segura-se o RN pelos pés,
Inspeção do fácies, formação do crânio, pele, aspecto e postu- observa-se deslocamento do corpo para frente.
ra das mãos pés e dedos movimentações atípicas a observação • Marcha reflexa: Segura-se o bebê pela região axilar com
deve ser prolongada. seus pés apoiados sobre uma superfície firme, faz-se
Postura: Em flexão generalizada e lateralização da cabeça (até uma leve inclinação do corpo do RN para frente, com
o final do período neonatal); observar posturas plégicas (defici- uma leve propulsão simula-se uma caminhada; esta bem
tárias) dos membros, freqüentemente observada nas lesões de estruturada no 1º- mês, sendo observada até o 4º mês de
plexo braquial. vida de forma fragmentada. Esta manobra pode ser re-
Palpação: A musculatura apresenta uma consistência elásti- produzida mesmo com o RN de cabeça para baixo, desde
ca. A flacidez muscular é indicativa da síndrome do bebe flácido. que apoiando os pés em uma superfície.
Movimentação espontânea: É simétrica, em geral lenta, sem • Manobra do arrasto: RN em decúbito dorsal traciona-se
sincronia, às vezes brusca, neste caso não há relação com estí- os braços que estão fletidos, a cabeça que inicialmente
mulos táteis ou sonoros. está inclinada para trás desloca-se para a posição media-
A Emissão de sons: choro inarticulado até o final do 1º mês; na e após cai para frente. É reflexo até o 3º mes de vida.
O tônus: É avaliado observando-se a postura em semiflexão • Rotação da cabeça em prono: O RN eleva a cabeça ra-
generalizada, quando observamos o RN movimentando-se contra pidamente e faz rotação lateral, observada no 1º mes de
as forças gravitacionais. vida. O RN realiza este movimento para liberar as narinas
A sensibilidade a estímulos táteis e dolorosos: Onde observa- e realizar a respiração.
mos a retirada em bloco do membro estimulado ou a movimenta- • Manobra do xale ou cachecol (vide capítulo Avaliação da
ção em sentido contrário do estímulo do tronco. Idade Gestacional).
• Rechaço dos membros inferiores: avalia a postura flexo-
Escala de Glasgow ra; posiciona-se as pernas fletidas contra as coxas e es-
Escala de Glasgow adaptada para lactentes tas contra o abdome, liberando-as bruscamente, obser-
va-se projeção em extensão dos dois membros inferiores.
Avaliação Pontos Avaliação Pontos • Extensão cruzada: estimula-se a planta do pé do mem-
Abertura Ocular bro em extensão mantido pelo examinador, observa-se
Espontânea 4 Espontânea 4 flexão e abdução seguida de extensão e adução do mem-
bro oposto; presente durante o período neonatal.
Estímulo vocal 3 Estímulo vocal 3
• Apoio plantar: segurando-se o RN pelas axilas tocar com
Estímulo doloroso 2 Estímulo doloroso 2
70 a planta dos pés com leve pressão a mesa de exame
Sem resposta obtendo-se alinhamento e sustentação do corpo; obser-
1 Sem resposta 1
vado até o 3º- mês de vida.
Resposta Verbal
• Reflexo de Galant: RN em decúbito ventral, cabeça cen-
Orientado 5 Balbucia 5 trada, faz-se um estímulo paravertebral de cima para baixo
Confuso 4 Irritado 4 e como resposta espera-se um encurtamento do tronco no
Palavras inapro- lado estimulado. Deverá ser pesquisado bilateralmente.
3 Chora a dor 3
priadas • Reflexo olho de boneca: com o RN inclinado nos braços
Sons inespecífico 2 Geme a dor 2 do examinador, fazemos rotação de sua cabeça, os olhos
Sem respostas não acompanham a manobra, permanecendo na posição
1 Sem resposta 1
original.
Resposta Motora Movimentação • Reflexo cócleo-palpebral: realizado com estímulo sono-
Obedece a coman- ro próximo a orelha, Normalmente observa-se uma res-
6 Espontânea 6 posta de piscamento.
dos
Localiza a dor 5 Reage ao toque 5
Reage à dor 4 Reage à dor 4
Reflexos Cutâneos Ou Superficiais
Flexão anormal 3 Flexão anormal 3
Extensão anormal 2 Extensão anormal 2
Reflexos abdominais: RN em decúbito dorsal estimula-se, com
Sem resposta 1 Sem resposta 1 um instrumento rombo, de cada lado do abdome alto, da linha
axilar para a linha mediana, com leve inclinação para baixo, se-
Escala de Glasgow adaptada. guindo os dermatomos, na linha das costelas (retos abdominais,
seguimento superior) ao nível da cicatriz umbilical (reto abdomi-
Os Reflexos E Reações Posturais nal, seguimento médio) e acima da região inguinal (reto abdo-
minal, seguimento inferior); observar presença de contração do
Asseguram a sobrevivência e favorecem a aquisição do desen- músculo subjacente. Aparecimento: 2-6 meses de vida
volvimento motor futuro. Auxiliam na avaliação da integridade do
sistema nervoso central. Reflexo cremasteriano: Apenas nos RN do sexo masculino.
Sua ausência ou sua persistência para além do período em Estimula-se face interna superior da coxa próximo a região ingui-
que deveriam não ser mais observados indicam disfunção neuro- nal; ocorre elevação do testículo do mesmo lado. Aparecimento:
lógica. (quadros neurológicos deficitários) aos 6 meses.
Alguns testes para avaliar a mobilidade e tônus muscular são:
Cutaneoplantar: estimula-se passando uma linha da borda
lateral do pé até a base dos cinco pododáctilos, obtendo-se a
Capitulo 2 Assistência ao Recém-Nascido
Recém-Nascido Prematuro
Paulo R. Margotto
Assistência ao Recém-Nascido de Risco
Classificação Do Recém-Nascido
Para estimarmos com maior precisão o risco do RN apresentar Quando a mãe desconhece a DUM, ou tem dúvidas a respeito
determinadas patologias ou morrer, torna-se necessária a análi- da mesma, pode-se recorrer aos seguintes métodos:
se de duas grandes variáveis em conjunto, que são a idade ges- Durante a gestação: medição do fundo de útero, medição do
tacional e o peso. tamanho do feto pela ecografia (abaixo de 20 semanas);
Ao nascer: exame clínico-neurológico do RN: para os recém-nasci-
Avaliação Da Idade Gestacional dos com idade gestacional maior que 28 semanas, o método de Ca-
purro tem sido amplamente empregado, podendo ser realizado logo
A idade gestacional é o tempo transcorrido desde a concepção ao nascer (método somático). Para os RN saudáveis e com mais de
até o momento do nascimento. Por métodos clínicos é impossível 6 horas de vida, é feito o somático e neurológico, ambas as formas
determinar o momento da concepção, podendo ser inferido de têm apresentado alta correlação com DUM, sendo menor para os
forma indireta a partir da data da última menstruação (DUM). RN pequenos para a idade. Nestes RN tem sido observada uma su-
Este método, de uso universal, é tanto mais confiável quando a bestimação da idade gestacional a partir da 35a semana.
mãe se recorda das datas das suas menstruações e quanto mais
regulares sejam seus ciclos.
Método de Capurro: (Somático e Neurológico)
Mamilo puntiforme
Mamilo nítido; aréola lisa Mamilo puntiforme aré-
Formação mamilo Mamilo pouco visível aréola de borda não
diâmetro ola de borda elevada
sem aréola elevada
< 0,75 cm > 0,75 cm
A 0 > 0,75 cm
5 15
10
Algo mais grossa, com Grossa, com sulcos su-
Textura da pele Grossa, apergaminhada
Fina, gelatinosa Fina e lisa discreta descamação perficiais, descamação
com sulcos profundos
0 5 Superficial de mãos e pés
B 20
10 15
72 Forma da orelha Chata, disforme pavi- Pavilhão parcialmente
Pavilhão parcialmente
Pavilhão totalmente
encurvado em toda
lhão não encurvado encurvado na borda encurvado
borda superior
C 0 8 24
16
Tamanho da glândula
Ausência de Diâmetro Diâmetro Diâmetro
mamária
Tecido mamário < 5 mm 5 mm a 10 mm > 10 mm
0 5 10 15
D
Marcas bem definidas
Sulcos plantares Marcas mal definidas na Sulcos na metade Sulcos em mais da me-
Ausentes na metade anterior e
metade anterior da planta anterior da planta tade anterior da planta
0 no terço anterior
E 5 15 20
10
Sinal do Xale (posição Entre a linha axilar Entre a linha média e a
Na linha axilar do lado Ao nível da linha
do cotovelo) anterior do lado oposto e linha axilar anterior do
oposto média
a linha média mesmo lado
0 12
F 6 18
Posição da cabeça ao
levantar o RN (ângulo Totalmente deflexionada
 entre 180º - 270º  = 180º  < 180º
(Â)c érvico-torácico) Â = 270º
4 8 12
0
G
Idade Gestacional:
A. Somático: Somatório dos pontos em A, B, C, D, E + 204 /7
B. Somático-neurológico: Somatória dos pontos em B, C, D, E, F e G+200/7
Critério físico 65 86 73 78
Critério Neurológico 79 54 51 63
Critério Combinado 78 71 62 74
Maturidade
0 1 2 3 4 5
Física
Descamação su-
Gelatinosa, verme- Lisa, rosa, veias Fenda superficial, Apergaminhada, Fenda profunda
Pele perficial e/ou rash,
lha, transparente visíveis raras veias fenda profunda enrugada
poucas veias
Pequena quanti- Praticamente sem
Lanugo (no dorso) Nenhum Abundante Delgado
dade lanugo
Aréola puntiforme, Aréola puntiforme, Aréola bem
Aréola chata, sem borda não elevada, borda elevada, glân- formada, Glândula
Seio Apenas perceptível
botão glândula mamária 1 dula mamária mamária
a 2 mm 3 a 4 mm 5 a 10 mm
Pavilhão levemente Pavilhão bem forma-
Pavilhão liso, perma- Pavilhão encurvado, Cartilagem grossa,
Orelha encurvado desdobra do e firme, desdobra
nece dobrado desdobra facilmente orelha rígida
lentamente imediatamente
Sulcos somente no Sulcos nos Sulcos em toda a
Sulcos plantares Sem sulcos Marcas
1/3 terço anterior 2/3 anteriores sola
Bolsa escrotal vazia, Testículos descen- Testículos na bolsa, Testículos na bolsa,
Genital masculino
sem rugas do, poucas rugas rugas rugas profundas
Pequenos e grandes Grandes lábios Clitóris e pequenos
Pequenos lábios,
Genital feminino lábios igualmente quase cobrindo os lábios completa-
clitóris proeminente
proeminentes pequenos lábios mente cobertos
TOTAL X 2
PC(cm) IG (semanas) Peso(g) L.E.D I.GEST. L.E.D I.GEST. L.E.D I.GEST. L.E.D I.GEST.
Mínimo Médio Máximo 50 22.8 63 27.3 76 32.7 89 38.0
18 20 ± 1,5 180 380 580 51 23.1 64 27.6 77 33.1 90 38.6
19 21 ± 1,5 240 450 670 52 23.5 65 27.9 78 33.5 91 38.9
20 22 ± 1,5 320 530 740 53 23.8 66 28.3 79 33.8 92 39.3
21 23 ± 1,5 360 610 860 54 24.2 67 28.6 80 34.2 93 39.6
22 24 ± 1,5 420 700 980 55 24.5 68 29.0 81 34.5 94 40.0
23 25 ± 2 480 770 1070 56 24.8 69 29.3 82 34.8 95 40.3
24 26 ± 2 560 820 1160 57 25.2 70 29.7 83 35.2 96 40.7
25 27 ± 2 620 960 1350 58 25.6 71 30.0 84 35.5 97 41.0
26 28 ± 2,5 700 1100 1550 59 25.9 72 30.4 85 35.9 98 41.4
27 29 ± 2,5 840 1280 1800 60 26.3 73 31.0 86 36.2 99 41.7
28 30 ± 2,5 1000 1460 2000 61 26.6 74 32.1 87 36.6 100 42.0
62 26.8 75 32.4 88 37.0
29 31 ± 2,5 1160 1640 2200
30 32 ± 3 1300 1840 2370
31 33 ± 3 1510 2070 2590 Martell M e cl, 1997
31,5 34 ± 3 1770 2320 2900
Paulo R. Margotto
Assistência ao Recém-Nascido de Risco
3. New Ballard Score (NBS) - 1991: O NBS é um método Contagem Da Maturidade Neuro-Muscular
Sinal
de avaliação da idade gestacional (IG) de recém-nascido -1 0 1
(RN) através da análise de 6 parâmetros neurológicos
(postura, ângulo de flexão do punho, retração do braço,
ângulo poplíteo, sinal do xale, calcanhar-orelha) e 6 parâ-
Contagem
metros físicos (pele, lanugo, superfície plantar, glândula 2 3 4
Do Sinal
mamária, olhos/orelhas, genital masculino, genital femini- Postura
no), a cada um dos quais se atribui uma pontuação que na
somatória determinará a estimativa da idade gestacional.
Este é um método modificado da versão original sendo 5
agregados alguns itens, permitindo assim a avaliação de
RN com IG a partir de 20 semanas. A correlação entre o
NBS e a IG calculada pela amenorréia é de 0,97; para o
RN < 26 semanas, esta correlação foi mantida quando o
método foi aplicado nas primeiras 12 horas de vida.
Vantagens:
Inconveniente:
O NBS superestima significativamente em 0,6 a 1,7 semanas a Angulo De Flexão Do Punho
IG de RN entre 32 e 37 semanas de IG, sendo atribuído ao stress
intra-uterino que acelera a maturação fetal. Flexionar a mão sobre o punho, exercendo pressão suficiente
Estudo recente de Donovan e cl, a cada semana (de 22 a 28 para obter o máximo de flexão possível. Medir o ângulo entre a
semanas de idade gestacional pela história menstrual precoce), iminência hipotenar e a face anterior do antebraço.
o NBS excedeu a idade gestacional por 1,3 a 3,3 semanas, ha-
vendo uma grande variabilidade (6,8 a 11,9 semanas). Vejam, Contagem Da Maturidade Neuro-Muscular
assim que, na ausência de pré-natal iniciado precocemente, deve Sinal
-1 0 1
74 ser suspeita a acurácia da avaliação da idade gestacional nos RN
pré-termos extremos.
Retração Do Braço
Conta-
2 3 4 gem Do
Retração Sinal
do braço
Sinal Do Xale
Contagem Da Maturidade
Sinal Neuro-Muscular
-1 0 1
Contagem
2 3 4
Do Sinal
Ângulo
Poplíteo
Manobra De Calcanhar-Orelha
Paulo R. Margotto
Assistência ao Recém-Nascido de Risco
-1: Orelha
0: Nariz
1: Queixo
2: Mamilo
3: Umbigo
4: Linha femoral
Conta- Lanugo
2 3 4 gem Do
Calcanhar Sinal
à Orelha
Lanugo é o cabelo fino que cobre o corpo do feto. No prematu-
ro extremo, a pele não apresenta lanugo. Ele começa a aparecer
5 aproximadamente na 24a a 25a semana e é geralmente abundan-
te, especialmente entre os ombros e na parte superior do dorso,
na 28a semana do gestação. A rarefação ocorre primeiro na parte
mais baixa do dorso, desgastando-se enquanto o corpo fetal se
curva para frente ao longo do processo de maturação, assumindo
a posição fletida. As áreas “calvas” surgem e tornam-se maiores
sobre a área lombo-sacra. No termo, a maioria do dorso é desprovi-
da de lanugo. Ao pontuar para o lanugo, o examinador seleciona o
quadrado que descreve melhor as quantidades relativas de lanugo
nas áreas superiores e mais baixas da parte traseira do infante.
Olhos E Orelhas
Paulo R. Margotto
Assistência ao Recém-Nascido de Risco
Genital Feminino
Postura
Ângulo de
Flexão do
punho
Retração do
braço
Ângulo
Popliteo
Sinal do
Xale
Calcanhar à
orelha
Na maior
79
Lanugo Nenhum Escasso Abundante Lanugo fino Áreas calvas
parte calva
Calcanhar-
Super- >50 Sulcos na Sulcos nos Sulcos em toda
dedo do pé Marcas
fície Milímetro superfície 2/3 anterio- a superfície
40-50mm: -1 tênues
Plantar sem marcas anterior res plantar
<40mm: -2
Aréola
Aréola ele-
parcialmen- Borda elevada
Pouco Aréola lisa vada
Peito Imperceptível te elevada Glândula
perceptível sem glândula Glândula
Glândula 5-10 mm
3-4 mm
1-2 mm
Pavilhão Pavilhão
Pavilhão
Pálpebras comple- comple-
Pálpebras parcialmente
abertas pa- tamente tamente Cartilagem
Olho/ fundidas encurvado,
vilhão plano encurvado, encurvado, grossa
orelha frouxamente: -1 mole com
permanece mole c/reco- firme c/ orelha firme
firmemente: -2 recolhimento
dobrado lhimento recolhimento
lento
rápido instantâneo
Testículo Testículo Testículo Bolsa escrotal
Testículos na
Genital Escroto fora da bol- no canal descendo, em
bolsa rugas
(macho) plano, liso sa escrotal superior, poucas pêndulo rugas
bem visíveis
Sem rugas rugas raras rugas profundas
Lábios
Clitóris Clitóris
menores Lábios maio- Lábios maiores
Clitóris proemi- proeminen- proeminente
Genital e maiores res grandes recobrem o
nente, lábios te Lábios Pequenos
(fêmea) igualmente e menores clitóris e lábios
planos menores lábios evi-
proeminen- pequenos menores
pequenos dentes
tes
Paulo R. Margotto
Assistência ao Recém-Nascido de Risco
Avaliação da Maturidade:
Total Score
Semanas
(Neuromuscular + Physical)
-10 20
-5 22
0 24
5 26
10 28
15 30
20 32
25 34
30 36
35 38
40 40
45 42
50 44
Classificação Do Recém-Nascido
81
Paulo R. Margotto
Assistência ao Recém-Nascido de Risco
82
Capitulo 2 Assistência ao Recém-Nascido
83
Paulo R. Margotto
Assistência ao Recém-Nascido de Risco
84
Capitulo 2 Assistência ao Recém-Nascido
Para o RN GIG:
Paulo R. Margotto
Assistência ao Recém-Nascido de Risco
Curva De Crescimento
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Curva De Peso
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Curva Ponderal
Capitulo 2 Assistência ao Recém-Nascido
Introdução Definição
Até o início do século passado, o lugar natural dos recém-nasci- Sistema de assistência hospitalar prestada a mãe e ao recém-
dos era junto de suas mães, já que nasciam em suas próprias ca- nascido, por uma equipe multidisciplinar, que consiste em colo-
sas. Os hospitais existentes tinham tão poucos recursos técnicos car o recém-nascido junto com sua mãe, 24 horas por dia, num
que faziam pouco a mais do que era feito na própria residência mesmo ambiente. Deve ser iniciado o mais precocemente pos-
dos pacientes. Neste contexto, mesmo os grandes hospitais que sível, desde o nascimento (sala de parto) até a alta hospitalar.
iam surgindo com o desenvolvimento das ciências médicas, eram
construídos sem locais destinados aos recém-nascidos. Objetivos
Crê-se que o primeiro berçário foi construído em 1893, em Paris,
destinado aos bebês “débeis”, por Madame Henry, enfermeira che- • Promover o aleitamento materno
fe da “Casa de Partos”, onde já se usava incubadoras rudimentares. O sistema de Berçário tradicional separa o RN de sua mãe im-
Este berçário tomou impulso anos mais tarde com o obstetra fran- pedindo o aleitamento em livre demanda, contribuindo para o
cês Pierre Budim, considerado um dos pais da Neonatologia. Um de aumento nos índices de desmame.
seus maiores legados foi a constatação de que crianças não ama- Em sistema de Alojamento Conjunto (AC), os RN mamam com
mentadas ao seio ficavam sujeitas a afecções do tubo digestivo e as mais freqüência o que leva à apojadura mais precoce e ao ple-
que não recebiam carinho da mãe eram mais sujeitas ao abandono. no estabelecimento da lactação antes da alta. É nos primeiros
No início do século XX, já havia promissoras fórmulas lácteas dias pós-parto que se evidenciam as dificuldades circunstanciais
para alimentar RN internados e progressos satisfatórios foram con- (fissuras, pega incorreta, mamilos planos, etc) as quais poderão
seguidos com as incubadoras, visando isolar e aquecer os recém- ser vencidas com o auxilio de pessoal especializado e o apto a
nascidos. Essas novas técnicas deram credibilidade às instituições, detectá-las.
havendo então, disseminação de medidas rigorosas de isolamento A amamentação precoce provoca a contração do útero e de
com o intuito de reduzir o manuseio, as visitas e, consequentemen- seus vasos, atuando como profilaxia nas hemorragias pós-parto,
te, a contaminação dos RN, o que levou a um definitivo afastamento diminuindo o risco de anemia e infecção poerperal. 87
entre mães e filhos, até mesmo dos considerados saudáveis.
Nos anos 40, a sociedade estava se voltando para a saúde • Supervisão da adaptação à vida extra-uterina
mental e, pediatras e psiquiatras, apresentaram trabalhos sobre A mãe é a pessoa mais atenta no que diz respeito ao seu RN,
distúrbios psicológicos da mãe e bebê, confirmando a suspei- sendo de grande auxilio na detecção precoce de distúrbios que o
ta de que a separação logo após o nascimento deixa as mães mesmo possa vir a apresentar, permitindo a pronta intervenção
despreparadas para cuidar e amamentar seus filhos, bem como médica (apnéia, taquipnéia, cianose, hipoglicemias, etc).
bebês insatisfeitos, levando a repercussão negativa em seu de-
senvolvimento emocional futuro. • Favorecimento do vínculo mãe-filho
Com o propósito de humanizar o nascimento, promover o alei- A mãe é o principal agente de estimulação do bebê, uma vez
tamento e trazer o bebê para junto da mãe foi criado em 1946 o que o contato entre os dois é intimo e freqüente. O AC permite
projeto “Alojamento Conjunto” por Edith Jackson, no Grace New essa interação favorecendo o estabelecimento de vínculos afe-
Haven Hospital. Esse experimento teve resultados positivos com tivos, indispensáveis para o desenvolvimento afetivo-emocional
grande repercussão entre os pais, a comunidade médica e a so- e social, ao longo de toda a infância.
ciedade em geral que, então, passou a insurgir contra os hospitais
que insistiam em manter os RN totalmente isolados, renegando a • Redução na incidência de infecção no RN
“promiscuidade” de mães e filhos. Estava instituído de forma defi- O AC retira o RN de dentro dos Berçários tradicionais, em ge-
nitiva o “Alojamento Conjunto”. ral muito populosos, diminuindo suas chances de colonização
No Brasil, a primeira experiência de implantação e utilização e infecção por germes hospitalares. Além disso, ao favorecer
do Alojamento Conjunto se deu em 1971 no Primeiro Hospital o aleitamento, contribui para a melhoria precoce de seu perfil
Distrital de Brasília (hoje HBDF) por Ernesto Silva, apesar de já imunológico graças à transmissão de agentes imunologicamente
existirem Santas Casas de Misericórdia nas cidades do interior competentes via leite materno.
que mantinham os bebês com as mães.
Em 1977, a 5ª Reunião de Perinatologia do Ministério da Saú- • Promoção do bem-estar familiar
de recomendou que os bebês sem risco deveriam ficar ao lado de Ao permitir visitas de outros membros familiares, o AC ajuda a
suas mães e não mais em berçários. inserir o novo membro, no contexto familiar, melhorando a qua-
Em 1982 foi realizado o I Encontro sobre Alojamento Conjunto lidade de seu acolhimento na chegada ao lar, e principalmente,
em Brasília, criando as normas básicas para a organização do a perfeita integração do trinômio pai-mãe-filho. Favorece o inter-
sistema de Alojamento Conjunto a serem cumpridas por todas as câmbio biopsicossocial entre a mãe, a criança e os demais mem-
unidades hospitalares do País. bros da família, reforçando a unidade familiar.
Finalmente em 1993, foi feita a portaria ministerial (MS/GM nº. Possibilita orientação à mãe e ao acompanhante (familiar) pela
1.016, de 26 de agosto) publicada no Diário Oficial da União nº. 167, Equipe Interdisciplinar.
de 01/09/1993 aprovando as normas básicas para a implantação É no AC que a mãe receberá orientações adequadas para que
do sistema de alojamento conjunto em todo o território nacional. se torne autoconfiante a fim de cuidar de seu bebê integralmente
Paulo R. Margotto
Assistência ao Recém-Nascido de Risco
Momento da aferição: Entre 24 e 48 horas de vida, antes da sultado se confirme, um ecocardiograma deverá ser realizado
alta hospitalar. dentro das 24 horas seguintes.
Resultado normal: Saturação periférica de O2 (SatO2) maior ou Limitações: Este teste apresenta sensibilidade de 75% e espe-
igual a 95% em ambas as medidas (membro superior direito e cificidade de 99%. Sendo assim, algumas cardiopatias críticas po-
membro inferior) e diferença menor que 3% entre as medidas do dem não ser detectadas através dele, principalmente aquelas do
membro superior direito e membro inferior. tipo coarctação de aorta. A realização deste teste não descarta a
Resultado anormal: Caso qualquer medida da SatO2 seja me- necessidade de realização de exame físico minucioso e detalhado
nor que 95% ou houver uma diferença igual ou maior que 3% em todo recém-nascido, antes da alta hospitalar
entre as medidas do membro superior direito e membro inferior,
uma nova aferição deverá ser realizada após 1 hora. Caso o re-
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Definição
Paulo R. Margotto
Assistência ao Recém-Nascido de Risco
O método é desenvolvido em três etapas: • Certeza de que quer participar desse tipo de assistência,
1º etapa ( Na UTI Neonatal) se tem disponibilidade de tempo e existência de um ser-
Período após o nascimento de um recém-nascido de baixo peso viço social de apoio;
que, impossibilitado de ir para o alojamento conjunto, necessita • Certeza de que a decisão seja tomada por meio de con-
de procedimentos deverão seguir os seguintes cuidados especiais: senso entre mãe, familiares e profissionais da saúde;
• Capacidade de reconhecer as situações de risco do re-
• Orientar a mãe e a família sobre as condições de saúde cém-nascido (mudança de coloração da pele, pausas res-
da criança, ressaltando as vantagens do método. Estimu- piratórias, regurgitações e diminuição de movimentação);
lar o livre e precoce acesso dos pais à Unidade Neonatal, • Conhecimento e habilidade para colocação da criança
proporcionando sempre que possível o contato tátil com em posição canguru.
a criança. É importante que essas visitas sejam acom-
panhadas pela equipe assistencial, para que orientações Da criança:
como medidas de controle de infecção (lavagem ade-
quada das mãos), informações sobre os procedimentos • Estabilidade clínica;
hospitalares utilizados e as particularidades ambientais • Nutrição enteral plena (peito, sonda gástrica ou copo);
possam ser mais bem compreendidas pela família. • Peso mínimo de 1.250g;
• Ganho de peso diário maior que 15g.
Nessa etapa deverão ser iniciadas as medidas para estímulo
à amamentação. Dessa forma, ensinam-se os cuidados com as Para que haja ganho de peso, deve-se garantir a amamenta-
mamas, a ordenha manual e a armazenagem do leite ordenhado. ção a cada duas horas no período diurno e a cada três horas no
Deve-se implantar a co-participação da mãe no estímulo à suc- período noturno.
ção e na administração do leite ordenhado, além dos adequados As crianças que não apresentarem ganho adequado de peso
cuidados de higienização. devem realizar complementação láctea com leite posterior da
Nas situações em que as condições clínicas da criança permi- própria mãe, via sonda gástrica ou copo.
tem, deverá ser iniciado o contato pele a pele direto entre mãe A utilização de medicamentos orais (complexo vitamínico,
e criançaprogredindo até a colocação do recém-nascido sobre o medicação contra o refluxo gastroesofágico, xantinas, etc.) não
tórax da mãe ou do pai. contra-indica a permanência nessa enfermaria.
A administração de medicação intravenosa intermitente, atra-
• Ressaltar sempre a importância da atuação da mãe e da vés de dispositivo intravascular periférico, também não contra-
família na recuperação da criança. indica a permanência em posição canguru.
• Após o parto, os primeiros cinco dias deverão ser utilizados São critérios para a alta hospitalar com transferência para 91
para prestar todos esses ensinamentos à mãe e à família. a 3ª etapa:
Portanto, deve ser assegurada à puérpera, a permanência
na unidade hospitalar pelo menos durante esse período, • Mãe segura e bem orientada e familiares conscientes
recebendo todo o suporte assistencial necessário. quanto ao cuidado domiciliar da criança;
• Mãe psicologicamente motivada para dar continuidade
Decorrido esse período, se a criança não preencher os cri- ao trabalho iniciado na maternidade;
térios de entrada na etapa seguinte e houver necessidade da • Compromisso materno e familiar para a realização do
volta da mãe ao domicílio, deverão ser assegurados a puérpera método por 24 horas/dia;
as seguintes condições: • Garantia de retorno freqüente à unidade de saúde;
• Condição de acompanhamento ambulatorial assegura-
• Vinda diária à unidade hospitalar, onde manterá contato da, sendo que na primeira semana a freqüência deve-
com seu filho, receberá orientação e manterá a ordenha rá ser de três consultas; na segunda semana, de duas
do leite; consultas; e na terceira semana e nas seguintes, de pelo
• Auxílio transporte para a vinda diária à unidade de saúde; menos uma consulta até o peso de 2.500g;
• Refeições durante a permanência diurna na unidade • Condição de recorrer à unidade hospitalar de origem a qual-
(lanche pela manhã, almoço e lanche à tarde); quer momento de urgência, quando ainda na terceira etapa
• Espaço adequado para a permanência, que permita des- • Além dos já descritos nos critérios descritos anteriormente
canso e possa ser utilizado para palestras. Esse espaço
servirá também para congraçamento entre mães o que 3ª etapa
propiciará maior confiança materna; Essa etapa consiste no adequado acompanhamento da crian-
• O pai terá acesso à unidade e será estimulada sua parti- ça no ambulatório após a alta.
cipação nas reuniões com a equipe de saúde. São atribuições do ambulatório de acompanhamento:
2ª etapa ( No Alojamento de Cuidados Intermediários) • Realizar exame físico completo da criança tomando como
O recém-nascido encontra-se estabilizado e poderá ficar com referências básicas o grau de desenvolvimento, o ganho
acompanhamento contínuo de sua mãe. Nessa etapa, após o pe- de peso, o comprimento e o perímetro cefálico, levando-
ríodo de adaptação e treinamento realizados na etapa anterior, a se em conta a idade gestacional corrigida;
mãe e a criança estarão aptas a permanecer em enfermaria con- • Avaliar o equilíbrio psicoafetivo entre a criança e a família;
junta, onde a posição canguru será realizada pelo maior tempo • Corrigir as situações de risco, como ganho inadequado
possível. Essa enfermaria funcionará como um “estágio” pré-alta de peso, sinais de refluxo, infecção e apnéias;
hospitalar da mãe e do filho. • Orientar e acompanhar tratamentos especializados,
São critérios de elegibilidade para a permanência nessa enfermaria: como exame oftalmológico, avaliação audiométrica e fi-
sioterapia motora;
Paulo R. Margotto
Assistência ao Recém-Nascido de Risco
• Orientar esquema adequado de imunizações. a vacinação é quando eles se apresentam em fase de ganho de
peso, sem apresentar distúrbios agudos ou patologias graves.
O seguimento ambulatorial deve apresentar as seguintes Bebês prematuros apresentam algumas particularidades
características: em relação à sua suscetibilidade a algumas doenças e ina-
dequada resposta a algumas vacinas. Há que se considerar a
• Ser realizado pela equipe interdisciplinar treinada e fami- aplicação de alguns imunizantes especiais nesses pacientes e
liarizada com o seguimento do recém-nascido de risco; um calendário personalizado deve ser utilizado.
• Observar a periodicidade já referida em item anterior; Uma importante medida de prevenção é vacinar todos os fun-
• Ter agenda aberta, permitindo retorno não agendado cionários da Unidade Neonatal, pais e cuidadores com a vacina
caso a criança necessite; para influenza e com uma dose de reforço da vacina tríplice ace-
• Levar em conta que é a criança que determinará o tempo de lular do tipo adulto, a fim de evitar a transmissão da influenza e
permanência em posição canguru, o que ocorre, de modo da coqueluche ao recém nascido.
geral, quando ela atinge o termo ou o peso de 2.000g; Outra estratégia importante, mas pouco lembrada e pratica-
• Após o peso de 2.500g, o acompanhamento passa a ser da, é a imunização da gestante contra influenza, pois protege
orientado de acordo com as normas para acompanhamento o bebê nos primeiros seis meses de vida, época que ele ainda
de crescimento e desenvolvimento do Ministério da Saúde. não pode receber a vacina.
• Além dos já descritos anteriormente. Essas vacinas, quase todas, estão disponíveis nos centros de
referência de imunobiológicos especiais (CRIE).
O Acompanhamento Ambulatorial Recomendações da Associação Brasileira de Imunizações
(SBIm) – 2010
A terceira etapa do Método Canguru dá continuidade à assis-
tência ao recém-nascido prematuro de baixo peso após a alta Vacinas, Recomendações e Cuidados Especiais
hospitalar. Apesar de, na segunda etapa, não se estipular obriga-
toriedade de tempo em posição canguru, na terceira, por motivo Vacina BCG ID
de segurança, recomenda-se essa posição em tempo integral. Deverá ser aplicada na maternidade, em recém-nascidos com
Portanto, a participação do pai e de outros familiares deverá ser peso maior ou igual a 2000 g. (Poucos estudos mostram eventual
estimulada na colocação da criança em posição canguru. São diminuição da resposta imune ao BCG em menores de 2000g)
emprestados kits cangurus para casa. Vacina Hepatite B (recombinante)
Essa etapa é mais simples em sua organização estrutural, mas Consulte o capítulo de Hepatite B
exige da equipe atenção cuidadosa para o reconhecimento de si- Prevenção da Transmissão perinatal em recém-nascido prema-
tuações de risco imediato (bebê-família) para que uma adequada turos com menos de 2 Kg
intervenção possa ser estabelecida.
92 Um grande desafio nessa fase é a manutenção do aleitamen- Recém-Nascidos de Mães AgHBs Positivas
to materno. Assim, a equipe deve estar adequadamente prepara- Vacina + HBIG Nascimento
da para lidar com as dificuldades que podem surgir. 1ª dose
(0,5 ml IM) (<12 horas)
Vacina 2ª dose 1 mês
Objetivo do Acompanhamento Ambulatorial
Vacina 3ª dose 2 meses
Atribuições do ambulatório Vacina 4ª dose 6 meses
• Garantir a continuidade da assistência ao bebê e a sua Recém-Nascidos de Mães Sem Triagem AgHBs
família.
Vacina + HBIG Nascimento
• Observar e incentivar a realização do método nesse período. 1ª dose
(0,5 ml IM) (<12 horas)
• Avaliar, incentivar, encorajar e apoiar o aleitamento materno.
Dar mais 3 doses
• Realizar exame físico do bebê tomando como referên- Mãe AgHBs positiva 1 mês
da vacina
cias básicas o grau de desenvolvimento, ganho de peso,
A 1ª dose pode ser
estatura e perímetro cefálico, levando em conta a idade Aguardar peso > 2
Mãe AgHBs retardada até 1 mês
gestacional pós-concepção Kg para completar
negativa de idade se a mãe
esquema;
• Realizar ecotransfontanelar / fundo de olho for AgHBs negativa
• Observar a administração dos medicamentos prescritos. HBIG: globulina hiperimune contra o vírus da hepatite B; IM: in-
• Avaliar o equilíbrio psicoafetivo entre o bebê e sua família. tramuscular; AgHBs: antígeno da superfície do vírus da hepatite B.
• Detectar e intervir em situações de risco, como ganho de
peso inadequado, sinais de refluxo gastroesofágico, in- Palivizumabe
fecções, apnéias, uso de O2 , etc. Durante o período de circulação do vírus sincicial respiratório
• Orientar e acompanhar tratamentos especializados que em nosso país (março a setembro).
o caso venha requerer É um anticorpo monoclonal contra o vírus sincicial respiratório
• Orientar esquema adequado de imunização. (VSR). É indicado para prematuros com idade gestacional menor
de 28 semanas com até um ano de idade, e para bebês com dis-
Vacinação do Prematuro plasia broncopulmonar e cardiopatas em tratamento clínico nos
últimos seis meses com até dois anos de idade. É recomendado
A sobrevida de bebês prematuros com idade gestacional abaixo para os demais prematuros até o sexto mês de vida, especial-
de 28 semanas tem sido cada vez maior. A hospitalização prolon- mente para aqueles com idade gestacional de 29 a 32semanas,
gada destes bebês, que às vezes permanecem hospitalizados por ou maiores de 32 semanas que apresentem dois ou mais fatores
três meses ou mais, não deve ser um fator limitante para o início de risco: criança institucionalizada, irmão em idade escolar, po-
da vacinação. Os prematuros devem receber suas vacinas segun- luição ambiental, anomalias congênitas de vias aéreas e doen-
do a sua idade cronológica. E o momento adequado para iniciar ças neuromusculares graves.
Capitulo 2 Assistência ao Recém-Nascido
Dose 15 mg/kg de peso, em cinco doses mensais consecuti- Sempre que necessário, a consulta deve ser interdisciplinar, soli-
vas, aplicadas por via intramuscular. citando o profissional em questão ou encaminhado informalmente.
Vacina pneumocócica 10 (conjugada)
Iniciar o mais precocemente possível (aos dois meses). Res- Natureza das Consultas
peitando a idade cronológica. Bebês pré-termos e de baixo peso
apresentam maior incidência de doença pneumocócica invasiva, Há necessidades de estabelecermos uma sistematização nas
cujo risco aumenta quanto menor a idade gestacional e o peso consultas para que, mais uma vez, possamos anteceder possí-
ao nascimento. Três doses: aos dois, quatro e seis meses e um veis dificuldades ou desvios da normalidade.
reforço aos 15 meses. É importante ficarmos atentos aos seguintes aspectos:
Vacina Influenza (gripe) Sempre iniciar o primeiro contato de retorno à unidade per-
Respeitando a idade cronológica. Duas doses a partir dos seis guntando:
meses com intervalo de 30 dias entre elas.
Vacina Poliomielite • Como foi o primeiro dia de vocês?
Utilizar somente vacina inativada (injetável) em recém-nasci- • Que dúvidas você necessita esclarecer?
dos internados na unidade neonatal. • E o aleitamento, como está?
Vacina oral rotavírus humano G1P1 [8] (atenuada) • Como está o manejo canguru domiciliar?
Por se tratar de vacina de vírus vivos atenuados, a imunização • Não perder a oportunidade de estabelecer laços de con-
contra o rotavírus só deve ser realizada após a alta hospitalar, fiança, de demonstrar o quanto é importante a participa-
respeitando-se a idade limite para administração da primeira ção da família na terceira etapa do manejo canguru e a
dose. Primeira dose: 1 mês e 15 dias a 3 meses e 7 dias. Segun- vital importância do aleitamento exclusivo.
da dose: 3 meses e 7 dias a 5 meses e 15 dias. • Se houver oportunidade, visitar a residência da família
Vacina adsorvida difteria, tétano, pertussis e Haemophilus previamente e, se possível, orienta-la da melhor maneira,
influenzae b (conjugada) não se esquecendo de que se devem respeitar as condi-
Preferencialmente utilizar vacinas acelulares. A utilização de ções socioculturais de cada um.
vacinas acelulares reduz o risco de apnéias e episódios convulsi- • Lembrar-se de rever a realização de exames durante a
vos pós-aplicação da vacina tríplice bacteriana. internação, como TSH/PKU, ultra-som, transfontanela,
Vacina meningocócica C (conjugada) teste da orelhinha, entre outros.
Respeitar idade cronológica
Vacinas MMR e Febre Amarela Primeira consulta
Respeitar a idade cronológica Trabalhar com a demanda da família
Assistência ambulatorial na terceira etapa • Avaliação pondero-estatural
O objetivo principal da avaliação ambulatorial é manter a periodici- • Exame clínico sumário
dade das consultas individualizadas, de acordo com o fator de risco, • Avaliar o equilíbrio psicoafetivo mãe-bebê 93
para que a intervenção, quando necessária, ocorra precocemente, • Diagnóstico, tratamento e orientação
diminuindo a possibilidade de reinternação dos bebês observados. • Enfatizar o aleitamento exclusivo
Periodicidade das consultas • Imunização: anti-hepatite B
Devemos estabelecer critérios baseados no peso de alta da se- • Rever sumário de alta e atentar para controles especiais
gunda etapa, conforme o quadro a seguir, Retornos posteriores,
salvo situações especiais: Segunda consulta
Trabalhar com a demanda da família
Semanas Programação de Retorno • Avaliação pondero-estatural
Primeira semana Três consultas • Exame clínico sumário
• Avaliar o equilíbrio psicoafetivo mãe-bebê
Segunda semana Duas consultas
• Diagnóstico, tratamento e orientação
Terceira semana Uma consulta
• Prevenir risco de anemia da prematuridade
• Prevenir risco da doença metabólica óssea da prematu-
A primeira consulta deve ocorrer 48 horas após a alta ridade
O acompanhamento se dá até o bebê alcançar o peso de • Rever sumário de alta e atentar para controles especiais
2.500g ou ter inserção em ambulatório de seguimento de risco. • Avaliar risco de reinternação
Paulo R. Margotto
Assistência ao Recém-Nascido de Risco
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Paulo R. Margotto
Assistência ao Recém-Nascido de Risco
Introdução
Paulo R. Margotto
Assistência ao Recém-Nascido de Risco
há contra-indicação à amamentação após o tratamento adequado. Os mais usados pela segurança e efetividade na iniciação e
Malária→ Amamentar, se a mãe tiver condições. Evitar o uso manutenção da lactação são:
de sulfonamidas durante o primeiro mês de lactação
• Domperidona: 10 a 15mg 3 x ao dia (comprimido de
Atentar para a presença de fissuras mamilares em qualquer 10mg). Deve ser dada preferência a esta droga por ter
doença materna infecto-contagiosa! menor efeito extrapiramidal, por ser menos permeável à
barreira hematoencefálica (devido ao maior peso mole-
Mães em Uso de Drogas cular e menor lipossolubilidade). Após 7 dias de uso, esta
droga aumentou o volume de leite em 44,5%.
Evitar administração de drogas a nutrizes sempre que possível • Metoclopramida: 10 a 15 mg 3 x ao dia
e quando for imperioso recomenda-se a administração de me- (comprimido=10mg). Apresenta o mesmo mecanismo de
dicamentos imediatamente após a mamada, pois 30 a 60 min ação da domperidona, produz maior efeito extrapirami-
após a ingesta são encontrados no leite humano. dal, principalmente na mãe.
Observar possíveis efeitos indesejados na criança tais como
cólicas, erupções cutâneas, sonolência, irritabilidade, etc. Obs: Usar estes galactogogos por um ou duas semanas e reti-
O Comitê de drogas da Academia Americana de Pediatria agrupa rar gradualmente, pois pode resultar em queda significativas da
as drogas em 5 categorias, de acordo com o risco para a criança: produção láctea. Exemplo de prescrição:
• Compostos radioativos – Suspender a amamentação por Licença Maternidade é de 120 dias, podendo se iniciar após o
um período equivalente a 5 meia-vida do composto. parto ou quatro semanas antes e doze após o mesmo.
• Drogas que devem ser usadas com cautela pelo efeito Por motivo de saúde da mãe ou da criança (caso de prematuros
adverso em algumas crianças acido acetilsalicilico, feno- extremos) o período de 120 dias pode ser ampliado em 2 semanas
barbital, primidona sulfazaladina. antes e 2 após o parto mediante apresentação de atestado medico.
• Drogas cujo efeito adverso é desconhecido em crianças Em casos excepcionais esta ampliação pode chegar a 6 meses.
amamentadas, porem exigem cautela pelo risco potencial Até que o bebe atinja 6 meses de idade, na volta ao trabalho,
– ansioliticos, antidepressivos, antipsicóticos, cloranfenicol. a mãe tem direito a 2 descansos de 30 min cada para que possa 99
amamentá-lo, podendo ser ampliado a critério medico.Recente-
Drogas Compatíveis com a Amamentação mente foi aprovado pelo Governo Federal Projeto de Lei (dezembro
de 2008) que amplia a licença maternidade para 180 dias, não
• Fumo: sendo obrigatória a adesão por parte das Empresas, porém ofere-
Não contra-indica o aleitamento, pois os benefícios sobrepu- cendo incentivos fiscais àquelas que assim procederem. Os órgãos
jam os possíveis malefícios da nicotina. públicos já adotaram esta prática.
Advertir a Mãe sobre os efeitos do cigarro no desenvolvimento
da criança e se não for possível ela prescindir do mesmo, orienta- Estimulando o Aleitamento
la a não fumar no ambiente onde se encontra a criança, fazer um
intervalo de 2 h entre o consumo do cigarro e a mamada e reduzir O sucesso do aleitamento não depende só da opção da mãe
o máximo possível o numero de cigarros. pelo aleitamento. Depende também da sua habilidade em levar
• Álcool: adiante esta opção e também do ambiente em que ela se encon-
Os efeitos do consumo de álcool pelas mães lactantes, em tra que pode favorecer ou desestimular completamente o aleita-
seus filhos não é bem documentado. O acetaldeido, metabólito mento materno. Nas sociedades mais antigas o papel de agentes
do etanol responsável por boa parte da toxicidade do álcool não estimuladores era desempenhado pelas mulheres mais velhas
se encontra no leite humano. do circulo familiar, hoje este papel esta ao encargo de profissio-
Estudo retrospectivo detectou atraso motor em crianças de 1 nais da área de saúde (médicos, enfermeiros auxiliares, etc...).
ano, cujas mães usavam álcool pesadamente porém não des- Quanto mais precoce e mais constante for a intervenção, maiores
cartou a possibilidade deste atraso ser devido à exposição intra- as chances do sucesso.
uterina, ao álcool. Pré-Natal → Momento mais adequado para motivar a mulher a
O comitê de drogas da AAP. recomenda que a ingestão de ál- amamentar, mostrando-lhe as vantagens do uso do leite humano.
cool não exceda 0,5 g/kg de peso da mãe ( 225gr de vinho ou 2 Preparação física das mamas durante a gravidez com fricções
latas de cerveja). nos mamilos Manobras para protraí-los, como a manobra de Ho-
ffman muito em voga no passado, não são indicadas, pois além
Galactogogos de não funcionarem podem desencadear parto prematuro o par-
to prematuro pela liberação de ocitocina. O apoio psicológico a
Usado em casos especiais, como no parto prematuro, doen- essas mães é muito mais eficaz e a própria evolução da gravidez
ças da mãe ou do RN, adoção, etc.. Agem bloqueando periferica- se encarrega de preparar as mamas para o aleitamento.
mente os receptores da dopamina (a dopamina é uma inibidora É nessa fase que se detecta mulheres em risco para o des-
fisiológica da produção de prolactina pela hipófise) o que resulta mame precoce as quais deverão receber maior atenção no pré,
em aumento dos níveis séricos de prolactina. Assim, não estão intra e pós-parto.
indicados para mulheres que tem altos níveis de prolactina ou
tecido mamário inadequado à amamentação.
Paulo R. Margotto
Assistência ao Recém-Nascido de Risco
• Adolescente;
• Mulheres que não amamentaram filho anterior;
• As que voltaram precocemente ao trabalho;
• Portadoras de psicopatias, sociopatias ou doenças crô-
nicas;
• Mulheres que sofreram procedimentos cirúrgicos ou trau-
máticos nas mamas;
• Portadoras de mamilos planos e/ou invertidos;
• Mulheres solteiras que não tem apoio familiar;
• Etc...
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Capitulo 2 Assistência ao Recém-Nascido
Paulo R. Margotto
A maioria dos RN perde peso ao nascer (especialmente por Dancis e cl publicaram pela 1ª vez curvas de peso nos primei-
perda de água) e após certo tempo, inicia a recuperação. ros 50 dias de vida extrauterina nos RN prematuros em função
As curvas destinadas a acompanhar o crescimento pós-natal do peso de nascimento:
de RN prematuros foram publicadas pela 1ª vez em 1948. Qua-
se meio século após esta publicação, esta curva continua sendo
usada quotidianamente.
101
A faixa de peso varia de 750g a 2500g, com incrementos de Foi levado em consideração, como fator importante no cresci-
250 em 250 g durante 50 dias. mento do prematuro, o tipo de alimentação administrada, onde,
Estas curvas assemelham-se umas com as outras, sendo que, estes RN foram alimentados com fórmulas a partir do segundo
quanto menor o peso ao nascer, maior é a duração da perda de dia de vida em média de tal forma que no primeiro de vida, o
peso nos primeiros dias de vida e quando se atinge o peso do aporte calórico era de 120 cal/kg/dia (muito semelhante às reco-
nascimento, vemos que a ascensão de peso é bem menor e mais mendações que continuamos a seguir atualmente).
lenta do RN com peso inicialmente menor, como por exemplo, Assim, constatamos nesta publicação, o caráter simples e de
um de 1000g que atinge o peso ao nascer por volta dos 18 - 29 fácil utilização das curvas de Dancis e cl, onde não há nenhum
dias de vida. número, nem nenhum cálculo estatístico, embora isto não tenha
Quando lemos em detalhe a publicação de Dancis e cl, obser- impedido estes dados fossem comparados com outros estudos
vamos que estes autores estabeleceram estas curvas visualmen- posteriores, inclusive com grande sucesso.
te, através da superposição de curvas individuais de 100 RN, Em 1994, Adamkim e cl selecionaram uma amostra de 99 RN
não sendo feito qualquer cálculo. A maioria foi RN prematuros AIG (Curva de Lubchenco e cl) , e dividiram em dois grupos:
sadios com peso inicial entre 1000 - 2500g, visto que, durante
este período de 1948, poucos RN com peso menor de 750g so- 1. Grupo A: peso médio de 762 ± 35g
breviviam. Assim, a curva correspondente a 750g de peso inicial 2. Grupo B: peso médio de 1038 ± 89g
foi extrapolada, isto é, foi inventada pelos autores a partir das
outras curvas, uma vez que não tiveram RN suficientes com este Ambos tiveram suporte nutricional seguida de alimentação
peso para obterem a mesma. oral com leite materno fortificado e fórmulas para pré-termos
Paulo R. Margotto
Assistência ao Recém-Nascido de Risco
com suplemento vitamínico. Os resultados evidenciaram total ção enteral precoce no primeiro dia de vida e aminoácido endove-
paralelismo com a Curva de Dancis e cl para os RN de 1000g noso no primeiro dia de vida e lipídio, no segundo dia. Os autores
(Grupo B). Para os RN menores (peso de 750g), relataram que a relataram recuperação do peso ao nascer por volta do 11o dia
perda de peso não foi tanto quanto predicta pela Curva de Dan- de vida e por volta do 20o dia de vida, os RN já estavam com
cis, além destes RN ganharem peso mais rapidamente. nutrição enteral plena. A taxa calórica de 92 ± 11 cal/kg/dia:
Já em 1998, Pauls e cl, apresentaram curvas para RN de peso alcançada na primeira semana de vida.
ao nascer abaixo de 1000g, onde todos os RN receberam nutri-
102
Assim, as curvas propostas por Pauls e cl, para os RN abaixo de Evolução do peso nos primeiros dias de vida em RN menores
1000g são mais adequadas na avaliação do crescimento desses de 2500g.
prematuros, pois os seus valores são baseados em RN tratados Nesta tabela, observamos que o tempo de perda de peso, as-
de acordo com padrões nutricionais usados atualmente. sim como a percentagem de perda é diferente entre estes RN de
Assim, acreditamos que deveríamos usar a curva de Pauls e acordo com a sua classificação havendo menor tempo de perda
cl para os RN< 1000g nos primeiros 30 dias de vida, para acom- e menor percentagem de perda nos RN PIG.
panhamento diário de peso dos nossos RN prematuros, uma vez
que a curva de Dancis e cl para esta faixa ponderal é falha de RN Crescimento Pós-Natal do Perímetro Cefálico
sobreviventes nesta faixo do ano de 1948.
A importância de dispormos de curvas de referência no acom- O método mais simples para diagnosticar aumento anormal da
panhamento destes RN prematuros, relaciona-se com o nosso cabeça é a comparação dos incrementos do crescimento da ca-
interesse de vigiar o crescimento de peso da criança de forma beça com o padrão normal.
padronizada, no sentido de confirmar se seu crescimento está Em 1961, O’ Neill publicou um estudo longitudinal, (isto é, na
seguindo o corredor esperado para ela. mesma criança foi seguida a medida em diferentes idades) de
A tabela abaixo relaciona o tempo de perda de peso em dias e medidas pós-natais do perímetro cefálico em 225 RN prematuros
a percentagem da perda de peso para os RN com peso ao nascer e 676 RN a termo, envolvendo um total de 4639 medidas em 901
< 2500g de acordo com a Idade Gestacional, quando AIG e PIG. RN, (até 18 semanas nos RN a termo e 26 semanas nos RN pre-
Gestacional (PIG), está representado na tabela abaixo (CLAP/ maturos), as quais foram realizadas somente pelo autor e os RN
OPS/OMS): não apresentaram complicações no período de estudo.
Observamos que a curva representando a média nos RN pre-
Peso/Id. Tempo de perda maturos, não é colocada centralmente, como na curva dos RN a
Intervalo % da perda
Gest. (dias) termo presumivelmente devido a uma grande proporção de RN
P10 P50 P90 P10 P50 P90 grandes em relação aos pequenos como é de se esperar em uma
AIG 1000-1500 4 6 13 4 10 16 pesquisa de RN prematuros.
Abaixo, a superposição das curvas (RN a termo: linha contínua
1501-2025 2 5 8 2 9 14
e RN prematuro: linha descontínua), mostrando com bastante
PIG 1000-1500 0 3 4 0 3 10
evidência diferenças entre estes RN, o que não nos autoriza a
1501-2025 1 4 8 2 4 6 acompanhar o tamanho da cabeça do prematuro, comparando
Capitulo 2 Assistência ao Recém-Nascido
Recém-Nascido A Termo
103
Recém-Nascido Pré-Termo
Paulo R. Margotto
Assistência ao Recém-Nascido de Risco
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Nutrição do Recém-Nascido
104
Capitulo 2 Assistência ao Recém-Nascido
Introdução
O atendimento ao recém-nascido (RN) febril constitui um desa- • É um caso de febre por baixa ingesta de leite?
fio até para pediatras muito experientes. • O paciente tem uma infecção bacteriana?
A grande variabilidade de prováveis desfechos costuma gerar • O RN tem uma pneumonia viral/bronquiolite?
ansiedade e preocupação nos pediatras atendentes. • Trata-se de um caso de infecção por Herpes vírus?
O reconhecimento e intervenção precoces de algumas doen- • É um RN com cardiopatia congênita?
ças podem salvar a vida de um neonato.
Uma abordagem serena, sistematizada e atenta é necessária Como cada uma destas entidades demandaria por si mesma
e, na maioria das vezes, suficiente para resolver o problema do um capítulo à parte, abordaremos a seguir cada uma delas de
binômio mãe-filho. forma sucinta.
Discutir uma abordagem racional e organizada do RN que foi A baixa ingestão de leite é a causa mais freqüente de febre
de alta saudável e retorna com febre pelo Pronto Socorro (PS) ou em RN a termo em Bom Estado Geral, sem fatores de risco para
ambulatório. infecção e sem outras alterações no exame físico, fora sinais de
Incrementar a resolutividade dos pediatras em relação ao RN. desidratação, na primeira semana de vida. As características que
Incentivar a suspeita de doenças potencialmente fatais para o RN. fazem pensar nesta doença são:
Apresentação De Casos Cínicos • Febre que aparece nos primeiros dias de vida, mais fre-
qüente entre o segundo e o 2º e o 5º dia.
Caso Clínico Nº1 • Sem história sugestiva de infecção (ver tabela 1).
• Parto cesárea.
RN com 3 dias de vida, consultou no PS por febre de 38ºC. Bom • Mães inexperientes tem > risco.
estado geral, exame segmentar normal.Foi colhido hemograma • Mães com dificuldade de amamentação.
completo + VHS. Leucócitos 6500 (seg 60% bast 0% linf 30%). • Ao exame as mamas podem mostrar: pouco leite, mamilo 105
VHS= 1. Alta do PS no mesmo dia. invertido, mamas muito ingurgitadas (“peito empedra-
RN retornou após 48 horas, mal perfundido, desidratado, apático. do”), fissuras, cicatrizes cirúrgicas, etc.
Colhido novo hemograma + hemocultura. Recebeu fase rápida de • RN suga pouco ou suga mal.
expansão com solução glico - fisiológica 50 ml/Kg e HV 110 ml/kg. • RN com doenças que predispõem à dificuldade de suc-
Evoluiu com crise convulsiva prolongada e aprofundamento ção (Síndrome de Down, fenda palatina, micrognatia,
do coma. Encaminhado à Unidade de Terapia Intensiva Neonatal etc), tem maior risco.
(UTIN). Faleceu após algumas horas. O hemograma não apresen- • RN GIG tem maior risco
tava alterações e a hemocultura foi negativa. O laudo da necrop- • O RN urina pouco.
sia informou presença de edema cerebral importante e necrose • A incidência aumenta nos meses mais quentes.
tubular aguda provavelmente devido a choque por desidratação. • RN que perdeu > 10% do peso de nascimento.
• Exame segmentar normal ou desidratação de grau vari-
Caso Clínico Nº 2 ável.
• É freqüente que algum grau de icterícia acompanhe o
RN com 15 dias de vida, nasceu com 39 semanas, parto cesá- quadro clínico.
rea, Apgar 9 e 10. Consultou no pronto socorro por febre. Interna- • Hemograma normal.
do para observação. Hemograma normal. Na evolução apresen- • Os casos mais graves podem cursar com desidratação
tou persistência da febre, irritabilidade e crise convulsiva. Novo hipernatrêmica .
hemograma também sem alterações. O líquor mostrou pleocitose • A intensidade da febre está relacionada ao grau de hi-
com hiperproteinorraquia. Iniciado tratamento com Aciclovir. pernatremia.
A definição de RN febril é uma criança com menos de 30 dias • O paciente deve ficar internado para observação e tra-
de vida e temperatura retal ≥ a 38ºC. tamento.
A diferença do lactente e pré-escolar, onde um episódio febril • As desidratações leves podem ser tratadas no Alojamen-
é, na maioria das vezes sinal de um processo benigno, a febre to Conjunto (ALCON), com leite materno ordenhado ou
no RN indica prioridade na elucidação diagnóstica e a conduta leite humano de banco.
jamais deve limitar-se ao tratamento sintomático da mesma. • Os casos mais graves requerem de internação na UTIN.
Perante um RN que foi de alta saudável e que retorna com fe- • Nos casos de intensa desidratação hipernatrêmica, a
bre no ambulatório ou na emergência, o pediatra deve orientar solução de eleição para a expansão inicial é o soro fisio-
o seu raciocínio para responder às seguintes perguntas: lógico (20 ml/kg).
• Corrigir a hipernatremia DEVAGAR para evitar as compli-
cações 9.
Paulo R. Margotto
Assistência ao Recém-Nascido de Risco
• Considerar que se chegou a esse grau de hipernatremia conforto respiratório, crepitações, sibilos e até apnéia.
ao longo de alguns dias, portanto a correção do sódio • A apnéia pode ser precoce e se apresentar antes dos ou-
deve ser realizada em dias, não em horas. tros sintomas.
• As convulsões aparecem mais freqüentemente após a • O RN possui reflexo de tosse, mas não costuma tossir
instalação do tratamento de correção de hipernatremia, periodicamente como o lactente com processo viral de
principalmente com soluções hipotônicas. vias aéreas. Portanto, o menor de 30 dias com tosse per-
• Após a expansão a hidratação venosa de manutenção manente ao longo do dia deve ser internado, pois pode
deve ser feita com Na+ a 2-3 mEq/100 ml. evoluir para insuficiência respiratória em poucas horas.
• É muito importante a prevenção, identificando os fatores • O hemograma não mostra padrão compatível com infec-
de risco para problemas na amamentação no binômio ção bacteriana.
mãe-filho, no intuito de corrigí-los antes da alta. • No menor de 30 dias, qualquer sinal de desconforto
respiratório (batimento de asas do nariz, tiragem in-
Leia novamente o caso clínico Nº1 e faça uma análise crítica tercostal, retração esternal, taquipnéia ou gemência)
do mesmo. Isto ajudará a fixar conceitos importantes. indica a imediata internação.
• O Raio X de tórax pode ser normal ou evidenciar infiltra-
O RN Com Infecção Bacteriana dos, condensações ou hiperinsuflação pulmonar.
• Nestes casos, mesmo na suspeita de pneumonia viral é
• A base do diagnóstico é o tripé: Fatores De Risco Ma- aconselhável colher hemocultura e iniciar Ampicilina +
ternos, Manifestação Clínica Do Rn E Exames Labora- Gentamicina durante o período inicial de internação.
toriais 10. • No RN com tosse deve se atentar também para coque-
luche 12, uma vez que não acontece imunidade passiva
Rotura prematura de membranas > 12 horas via transplacentária e que a vacinação acontece só com
Febre materna intraparto dois meses de idade. O paciente apresenta a fase ca-
tarral, caracterizada por congestão nasal e febre baixa e
Corioamnionite
evolui depois para a fase de tosse paroxística, chamando
Taquicardia fetal (BCF > 160 bpm)
a atenção a bom estado geral nos períodos intercrise.
Fisometria positiva (Líquido amniótico fétido)
Parto prematuro O RN Com Infecção Por Herpes Virus
Colonização materna por Estreptococo do Grupo B
Gestação gemelar • Importante suspeitar, pois o prognóstico depende MUITO
Leucocitose materna da terapêutica precoce.
Qualquer infecção bacteriana na mãe • O diagnóstico fica dificultado, pois a maioria das mães
106 (Infecção do trato urinário, abscesso dentário, etc) tem infecção herpética subclínica e os sintomas neona-
tais iniciais são inespecíficos (39% dos RN jamais apre-
sentam vesículas na evolução).
Tabela 1. Fatores de risco maternos para sepse neonatal precoce. • O RN vai de alta em ótimo estado geral e retorna entre
a primeira e terceira semanas (incubaçao de 5-21 dias).
• As manifestações clínicas de infecção bacteriana neona- • Existem três formas de apresentação clínica:
tal são altamente inespecíficas e incluem: febre, hipoter- • Forma disseminada (25%):
mia, apatia, hipotonia, choro fraco, sucção débil, enchi- • Inicia na primeira semana
mento capilar > 3 segundos, desconforto respiratório, • Acomete mais fígado e pulmões, mas pode envolver múl-
distensão abdominal, vômitos, apnéias, etc. tiplos órgãos.
• Os neonatos podem apresentar infecção bacteriana se- • Pensar nos RN com quadro séptico, hemograma normal
vera, sem nenhum episódio de febre. e TGO e TGP muito aumentadas.
• Na suspeita de sepse neonatal, os exames necessários • Acometimento de pele, olhos e boca (40%):
incluem hemograma, PCR, hemocultura, raio x de tórax e • É a de menor mortalidade
abdome e, se a condição do paciente o permitir, punção • O RN apresenta vesículas em face ou couro cabeludo, ou
lombar e punção suprapúbica. ceratite e coriorretinite.
• Os pacientes com suspeita de infecção bacteriana devem • Acometimento do Sistema Nervoso Central (35%)
ser internados em UTI. • Inicia 2-3 semanas com sintomas inespecíficos (febre,
• O esquema antibiótico inicial no RN com suspeita de in- apatia,etc).
fecção bacteriana sem porta de entrada definida inclui • Convulsões, apnéias, fontanela abaulada, lesão de par
ampicilina associada a gentamicina. craniano.
• É importante garantir de imediato acesso venoso confiá- • No RN com convulsão, hemograma normal e líquor com
vel e suporte ventila tório se necessário. pleocitose e hiperproteinorraquia, a primeira hipótese
• Expansão y drogas vasoativas conforme necessidade. diagnóstica é infecção por herpes, não devendo se pro-
telar o tratamento com aciclovir.
RN Com Pneumonia Viral/Bronquiolite • A confirmação diagnóstica é realizada por meio de PCR
para HSV no sangue e no líquor (Sensibilidade 71-100%).
• O Vírus Sincicial Respiratório (VSR) é responsável por • O tratamento é realizado com Aciclovir 60 mg/kg/dia de
80% dos casos, mas outros como o adenovirus, influenza 8/8 horas durante 14-21 dias.
e parainfluenza podem causar a doença. • Leia novamente o caso clínico Nº2 para fixar conceitos
• Acontece mais nos meses frios, em surtos epidêmicos. relevantes.
• Freqüentemente têm alguém gripado na família.
• O RN começa com sintomas gripais: congestão nasal,
olhos vermelhos, etc. e pode evoluir com febre, tosse, des-
Capitulo 2 Assistência ao Recém-Nascido
Paulo R. Margotto
Assistência ao Recém-Nascido de Risco
Conclusão
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Capítulo 3
Cuidados ao
Recém-Nascido
Criticamente
Doente
Assistência ao Recém-Nascido de Risco
Introdução
O neonato extremo não tem capacidade de excretar o exces- que 27 semanas está pobremente desenvolvido e funcionalmente
so de sódio endógeno, em razão da filtração glomerular e fluxo incompetente. Por outro lado, mesmo o mais imaturo dos bebês,
plasmático renal, que são limitados, logo, a grande perda transe- quando exposto à vida extra-uterina, processará rápida maturação
pidérmica de água, isenta de sódio, leva a decréscimo do volume de sua pele de sorte que, em duas semanas ocorrerá a maturida-
circulatório e hipernatremia, azotemia e hipercalemia secundária de não somente da estrutura da pele como também de sua fun-
O pequeno neonato é relativamente insulino- insuficiente e in- ção, independente da idade gestacional pós-concepcional.
sulino- resistente Tem sido descrita alta PTEA nos RN extremamente prematuros.
Maior risco de hiperglicemia quando há administração de glico- Por exemplo, a perda de água através da evaporação aumenta em
se em concentrações superiores a 6 mg/Kg/min. 100% em um RN de 26 semanas quando a umidade relativa do ar
A hipernatremia pode ser um fator contribuinte para a intole- (UR) declina de 60% para 20%. Certamente este problema é signi-
rância de glicose. ficativo na cidade de Brasília que, nos meses de junho a setembro
Quando se tenta corrigir o estado hiperosmolar, aumentando a taxa experimenta umidade relativa do ar tão baixas quanto 16%.
de administração dos fluidos sem reduzir as concentrações de sódio e Para reduzir a perda trans-epidérmica de água
de glicose há agravamento na evolução clínica desses neonatos
Os RN pré-termos extremos cuja mãe fez uso do corticosteróide • Usar incubadora com dupla parede e que disponha de
apresentaram menor perda insensível de água (pelo aumento da mecanismo para controle interno da UR;
maturação das células epiteliais da pele), menos hipernatremia, • Manter a UR em 90% no primeiro dia, 80 % no segundo
maior diurese precoce e natriurese. Estes RN apresentam tam- dia e 70% até completar duas semanas;
bém maior reabsorção do líquido pulmonar devido ao aumento • As câmaras de umidificação deverão ser trocadas diaria-
da atividade da Na+-K+ ATPase. Com o aumento da expansão do mente para reduzir colonização da água do reservatório;
extracelular, ajuda a prevenir a hipernatremia e a hipercalemia foi descrito aumento de infecções por gram negativos em
não oligúrica pela estabilização da membrana celular que resulta RN submetidos a tratamento nessas incubadoras.
em diminuição da saída de K+ do intracelular para o extracelular. • Manter adequadas a temperatura e a umidade nos gases
ofertados ao RN.
Conduta • Manter a temperatura na incubadora na zona termo-neu-
tra, controlando a temperatura corporal do RN.
Este protocolo visa reunir orientações sobre a abordagem do • Aplicar TCM aquecido na pele do RN duas vezes ao dia,
pequeno prematuro na Unidade, considerando-se suas parti- sendo a primeira aplicação após o RN estar estável e
cularidades. Visa proteger a pele, primeira barreira natural de com os vasos cateterizados; as aplicações continuam até
proteção contra infecções e distúrbios hidro-eletrolíticos, o dano 14 dias de vida do RN.
pulmonar através de técnicas adequadas de suporte ventilatório, • Atenção: a temperatura da incubadora ficara sempre regu-
adequado equilíbrio hidro-eletrolítico e ácido-base, adequada nu- lada na temperatura mais alta da faixa termo-neutra, certa-
trição, proteção contra infecções hospitalares, além de fornecer mente sempre controlando a temperatura corporal do RN. 111
ambiente favorável a seu crescimento e desenvolvimento. • Existem outros Serviços que, ao invés de Incubadora com
dupla parede e umidificação ativa, mantém o prematu-
1. Fluidos e eletrólitos ro no berço aquecido e se utilizam tendas plásticas com
Manter estes RN em isolete com um umidificador extra para umidificação ativa através de termo-umidificador, man-
elevar a umidade a 80-90%; pelo risco da persistência do canal tendo, assim, a termo-umidificação do micro ambiente do
arterial e da doença pulmonar crônica, iniciar com 70-80 ml/Kg RN, com as facilidades do manuseio do RN geralmente
e nunca passamos de 150-160 ml/Kg (a não ser em casos de grave em berços de calor irradiante.
hipernatremia severa). Aceitar Na+ elevado (150-153 mEq/l). Ini-
ciar o Na+ 3o- 4o dia de vida (1 mEq% até 5 – 6 mEq% se Na+ Preservar a integridade da pele
abaixo de 140 mEq/Kg). Aceitar uma perda de peso de 15-18%. Para preservar a integridade da pele, que deve ser objetivo es-
Manusear a oferta de Na+ baseado na densidade urinária e no sencial no cuidado destes pequenos prematuros, serão adotadas
sódio sérico. Se o K+ estiver abaixo de 4,5 mEq/l e diurese pre- as seguintes medidas:
sente, iniciar o K+ com 0,5 mEq% no 3o-4o dia de vida, aumen-
tando até 2-3 mEq%. • Jamais afixar esparadrapo sobre a pele do RN;
Nota 1: Os eletrólitos devem ser dosados uma vez por semana • É essencial que o acesso venoso não lese a pele, bem
ou mais vezes, de acordo com a condição do RN. como é essencial que as coletas de sangue sejam fei-
Nota 2: Correção de hiponatremia (Na+ = 120 mEq/l) tas através da artéria umbilical. Assim, o primeiro acesso
eso x déficit x 0,7 (déficit: 130 - Na+ encontrado) vascular umbilical (venoso e arterial) será feito logo após
Usar o NaCl a 20% diluído 11 vezes Correr em duas horas (con- o nascimento e serão mantidos até 10 dias pós-natal;
sulte o capítulo Hidratação Venosa) não existem evidências definitivas de que o uso de ca-
teteres umbilicais por até 10 dias aumente a incidência
2. A redução da perda trans-epidérmica de água (PTEA) de Enterocolite Necrosante (ECN) ou infecção hospitalar;
e melhoria do controle térmico. Os objetivos são: • Na impossibilidade de acesso venoso, proceder apenas
acesso arterial, e vice-versa;
• Minimizar a ocorrência de lesões de pele; • É permitido infundir soluções no cateter arterial exceto
• Reduzir as taxas de infecção; soluções hipertônicas (cuidado com a correção de sódio),
• Melhorar a sobrevida e reduzir a morbidade. Fenobarbital, Gluconato de cálcio não diluído e drogas
vasoativas. As medicações através do cateter arterial re-
Preservar a integridade da pele é essencial no tratamento do querem sempre o uso de Bomba de Infusão; não podem
pequeno prematuro e todo o esforço deve ser empreendido nesse ser via de infusão de sangue e derivados.
sentido. As propriedades de barreira da pele são dependentes do • Na impossibilidade de acesso vascular umbilical, tentar
estrato córneo e, certamente, sua eficácia está na dependência acesso venoso através de PICC;
de sua integridade. Contudo, o estrato córneo dos RN menores
Paulo R. Margotto
Assistência ao Recém-Nascido de Risco
• Após 10 dias, retirar cateteres umbilicais e acessar vaso ser reduzida se o RN permanecer muito tempo na mesma;
através de PICC; se anterior há 10 dias, a decisão pelo • Os gases para reanimação e manutenção do RN até sua trans-
PICC será sempre decidida em grupo. Contra-indicações ferência para a UTI deverão estar umidificado e aquecido;
para uso do cateter arterial: doença hemorrágica, onfalo- • Cobrir o RN com plástico (pode ser filme de PVC) para
cele, onfalite, Peritonite, ECN, extrofia de bexiga. prevenir evaporação, se o RN tiver que permanecer muito
• Qualquer mudança de atitude em relação a cateteres de- tempo na Unidade de Calor Radiante;
verá ser discutida em equipe; • O CFR deverá ser mantido regulado em 30 cm H2O de
• A utilização de heparina nas soluções de infusão (0.25 PIP e 5 cm H2O de PEEP, FiO2 inicial de 40% (monitorizar
Unidades/ml) é importante para manter a patência do ca- com o oxímetro de pulso), como parâmetros iniciais de
teter, preservando assim as investidas na pele do RN no espera (stand by);
intuito de se conseguir acesso vascular; no entanto, em
nosso Serviço, não adotamos a utilização de Heparina, A ventilação com máscara facial em silicone, redonda e tama-
pois a mesma é incompatível com muitas drogas, trazen- nho prematuro é ideal e deve ser sempre a preferida; em nossa
do mais transtornos que solução para os RN. Não utilizar Unidade não seguimos a. De toda forma, a intubação endotra-
soluções apenas com água destilada nas infusões, pois queal está indicada para o RN abaixo de 1.000 gr se existirem as
provoca hemólise no sítio de liberação (ponta do cateter); seguintes condições:
• Ao colher sangue pelo cateter arterial, não fazê-lo em
tempo menor que 20 segundos para não alterar a velo- • Necessidade de succionar a traquéia devido mecônio ou
cidade de fluxo sangüíneo cerebral, com maior risco de sangue;
hemorragia intraventricular; • Falha em proporcionar adequada ventilação usando
• Aplicar cobertura hidrocolóide sobre a pele antes de afi- máscara facial, a despeito das manobras adequadas
xar micropore ou esparadrapo, no caso de fixação de ca- para se obter via aérea;
teteres, sondas, tubo orotraqueal, por exemplo; • Desconforto respiratório em que o (a) assistente julga
• Jamais afixar coletores de urina na pele destes RN; que será necessário manter ventilação pulmonar mecâ-
• Afixar o probe dos oxímetros de pulso apenas com tiras nica na UTI;
de pressão, que podem ser feitas com gaze e esparadra- • Anomalia congênita que deverá ser julgado caso a caso
po, desde que este não entre em contado com a pele, (exemplo da hérnia diafragmática, da hidropsia com hi-
ou ainda com peças de velcro desenvolvidas para tal e, drotórax ou ascite que limite a expansão torácica, etc.).
ainda, manter vigilância para que a posição do mesmo • Aplicação de surfactante quando indicada
não seja fator de lesão de pele; • É fundamental manter vigilância na expansão torácica
• Jelco será reservado para casos especiais em que não se durante a ventilação pulmonar, esteja ela sendo feita sob
conseguiu acesso profundo ou para transfusão de plaquetas; máscara ou sob TOT já que, havendo expansão torácica
112 • Probe de avaliação de temperatura somente será afixado exagerada, reduzir a PIP até 25 ou mesmo 20 cm de H2O;
com hidrogel, vigiando para que a posição dos mesmos por outro lado, se a PIP regulada não for suficiente para
não seja fator de lesão de pele; não sendo possível, me- promover expansão torácica satisfatória, aumentar a PIP
dir a temperatura com termômetro de mercúrio; até o nível necessário a uma adequada expansão, por
• Manipular o RN minimamente e com extremo cuidado exemplo, 35-45 cm de H2O. Mantenha a PEEP em 5 cm
para proteger sua pele. de H2O durante todo o tempo em que o RN necessitar de
• Fazer dextrostix com indicação precisa, aproveitando as cuidados ventilatórios.
coletas de sangue para se eliminar a necessidade de • Mantenha CPAP de 5 cm H2O, sob máscara facial, se o
perfurar a pele do RN; deve-se limitar a perfuração do RN esboçar qualquer desconforto respiratório, ainda que
calcanhar do RN para fazer dextrostix sem que haja uma o mesmo não tenha tido necessidade de ser reanimado;
razão muito clara para tal procedimento. vide adiante, Rotina de aplicação de surfactante.
• Jamais deixe o RN sem PEEP, ainda que para se proceder a
3. Monitorização dos gases sangüíneos limpeza do mesmo, durante a espera para sua transferên-
cia e também durante o transporte do mesmo para a UTI;
• Utilizar o Oxímetro de Pulso para monitorizar continua- • Reduza a FiO2, se possível, de acordo com o permitido
mente a saturação de oxigênio, objetivando faixas de 90- através de avaliação clínica ou, melhor ainda, se houver
95%; definir sempre os limites de alarme entre 88-96%. possibilidade, pela oximetria de pulso.
• Ao coletar sangue para gasometria, lembrar que o Radio-
meter 550 e o 735 necessitam somente 13 microlítros 5. Normas para a Aplicação de surfactante na Sala de Parto
para realizar o exame, não havendo necessidade de es- Consulte o capítulo Assistência Respiratória ao Recém-Nascido.
poliar mais o RN;
• Após surfactante: certamente aumenta a necessidade 6. Controle de infecção
de controles gasométricos, objetivando-se reduzir o vo- O controle de infecção nestes RN certamente é um dos capítu-
lume minuto, na maioria das vezes; mantenha o controle los mais importantes no cuidado com o prematuro extremo. Suas
da PaO2 pela via indireta da saturação. reservas são por demais escassas para permitir uma defesa efe-
tiva de sua integridade contra a invasão bacteriana.
4. Assistência ventilatória Não se inicia antibióticos a menos que existam argumentos de-
Na sala de parto fendidos por uma epidemiologia rica para tal (mãe com tempo de
bolsa rota > 24 horas, mãe com infecção bacteriana comprovada
• A preservação da pele começa nas manobras obstétricas ainda que clinicamente), pelas alterações do hemograma ou da PCR
e continuam no extremo cuidado durante as primeiras (consulte o capítulo Infecções Bacterianas); a utilização de antibióti-
ações com o RN; cos sem estas premissas deverá vir defendida por pelo menos três
• O aquecimento da Unidade de reanimação deve ser adequa- intensivistas e certamente poderá ser modificada na Visita.
do para manter sua temperatura (iniciar com 90%) devendo
Capitulo 3 Cuidados ao Recém-Nascido Criticamente Doente
Os cuidados com a pele, já enumerados, são os cuidados mais 9. Manuseio da dor e do stress (Manuseio Mínimo)
importantes para profilaxia contra infecções bacterianas que, • Evitar variações de pressão arterial e pressão venosa central,
quando existirem, serão tratadas com extremo rigor. fatores determinantes da hemoragia intraventricular
• Proteger o RN para que seu manuseio seja tal que proteja
7. Controles de diurese e glicemia o RN contra estímulos dolorosos;
O controle de diurese será feito pela pesagem de fraldas; ja- • Iniciar uso de Fentanil segundo protocolo da Unidade
mais afixe saco coletor na pele do RN a menos que isso seja refe- (consulte o capítulo Dor Neonatal);
rendado (assinado) por, pelo menos, três enfermeiras; • Não há indicação de midazolam;
O controle da glicemia continua sendo atribuição da auxiliar • Usar a técnica do holding para aconchegar o RN de modo
de enfermagem responsável pelo RN, porém utilizando-se san- mais confortável possível.
gue colhido na ocasião da execução de outros exames. Em não
havendo outros exames ou a perspectiva dos mesmos em curto 10. Manuseio do canal arterial
intervalo, fazer o “dextrostix” segundo a técnica habitual. Consulte o capítulo Persistência do Canal Arterial
Paulo R. Margotto
Assistência ao Recém-Nascido de Risco
• Naik AS, Kallapur SG, Bachurski, Jobe AH, Michna J, Kramer BW, Ikegami M. Effects of
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14 dias e a dilatação ventricular (consulte o capítulo Lesão neuro- • Resende, JG, Andrade JMR. Medida da retenção de CO2 em um novo equipamento de
assistência ventilatória manual. J.Pediat (Rio J) 69:227, 1993
lógica isquêmica e hemorrágica do prematuro:patogenia, fatores • Resende, JG. Características físicas e funcionais de um ventilador pulmonar mecânico
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de risco, diagnóstico e tratamento) • Albertine KH, Jones GP, Starcher BC, Bohnsack JF, Davis PL, Cho SC, Carlton DP, Bland RD.
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13. Alojamento Conjunto/Unidade Canguru • Bohrer MAS. Nutrição parenteral: quando iniciar. XIX Congresso Brasileiro de Perinatologia,
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Durante toda a permanência do RN na UTI a mãe deverá ser Nutrição do Recém-Nascido
estimulada a recolher seu leite, participar de todo o processo de • Woodward LJ e cl. Neonatal MRI to predict neurodevelopmental outcomes in preterm in-
fants. N Eng J Med 355:685, 2006
cuidados com seu RN, preparando os pais para todo o processo • Dammann O and Leviton A.Neuroimaging and the prediction of outcomes in preterm in-
fants. N Eng J Med 355, 2006
de tratamento e posterior cuidado de seu RN (consulte o capítulo • De Castro MP, Rugolo LMSS, Margotto PR. Sobrevida e morbidade em prematuros com
Transnatalidade e primeiras relações pais/bebê pré-termo) menos de 32 semanas de gestação na região central do Brasil. Rev Bras Ginecol Obstet
34:235, 2012
Assim que o RN estiver em condições clínicas adequadas – ge-
ralmente com 33 semanas de idade gestacional pós-concepção
(IgPC) e 1.300 gramas, deverá ser transferido para a Unidade
Canguru (consulte o capítulo Alojamento Conjunto para bebês
saudáveis e de cuidados especiais/Unidade Canguru ).
14. Seguimento
Ambulatório de Alto Risco/ Terapia Ocupacional (consulte o ca-
pítulo Seguimento do Recém-Nascido de Risco).
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Capitulo 3 Cuidados ao Recém-Nascido Criticamente Doente
Introdução
As Unidades de Terapia Intensiva Neonatal (UTIN) são locais onde zes. São muitos os fatores considerados como estressores para
se pratica medicina de excelência em pacientes extraordinários. os pacientes, familiares e equipe.
O local é em geral repleto de equipamentos e rico em tec- Para os recém-nascidos: Segundo Ricardo Silva,(2002), o am-
nologia. São muitos os profissionais envolvidos nos cuidados biente da UTIN pode ser considerado como um ambiente de exces-
como médicos, enfermeiros, fisioterapeutas, psicólogos, assis- sos. Há excesso de ruídos, de estímulos, muitos em geral inade-
tentes sociais entre outros.É contínuo o movimento de admis- quados. Estes fatores associados à prematuridade e ou patologias
sões, de intervenções no setor. No meio dessas atividades se apresentadas pelo bebe, à dor produzida pelos procedimentos, pe-
encontra o bebê. Alguns pesam menos de um quilo. Todos ne- los tubos, sondas, juntamente com a perda do contato com o útero
cessitam de cuidados especiais. Necessitam de incubadoras materno, com seus familiares, podem desencadear a síndrome do
para mantê-los aquecidos, de oxigênio para evitar asfixia, de estresse, interferências nos sistemas de auto-regulação dos be-
sondas ou cateteres para alimentá-los. Tudo isto é necessá- bês, acarretando desequilíbrio nos mecanismos de homeostase,
rio para mantê-los vivos.É inquestionável que a evolução da no desenvolvimento cognitivo e na aprendizagem da criança.
tecnologia modificou o prognostico e a sobrevida dos recém- A dor é uma das principais causas de estresse presentes na
nascidos. No entanto os mesmos sofrem em decorrência do UTI. Em estudo realizado com recém nascidos por Guinsburg, em
nascimento prematuro, das patologias congênitas, infecções 1998, foi observado que os pacientes quando intubados, sem
adquiridas. A fragilidade da pele,a presença de tubos, sondas receber analgesia apresentavam alterações fisiológicas, compor-
são causas de sofrimento. Eles não estão preparados para tamentais e endocrinologicas decorrentes da dor, comprovando
tantos estímulos. Já não estão protegidos pelo liquido amni- ser a dor uma causa de estresse . Anand (2001) em estudo ex-
ótico, não sentem os batimentos cardíacos da sua mãe, não perimental confirmou a hipótese que a exposição repetitiva à dor
escutam o som da voz costumeira. São outros os ruídos. São neonatal pode causar alterações permanentes ou a mudanças a
outras as vozes. Tudo é estranho, assustador. longo prazo, devido desenvolvimento da plasticidade do cérebro
Para os pais, a UTIN é um mister de esperança e de medo. imaturo. Relata também que a dor repetitiva durante o período
Esperança por saber que este é um local preparado para atender neonatal e a exposição prolongada a drogas analgésicas podem
melhor o seu filho e aumentar as chances de sobrevida. Medo alterar a organização neuronal e simpática permanentemente.
por saber dos riscos inerentes aos pacientes que vão para a Para os pais: pesquisa feita por Carter e Miles, em 1983, reve- 115
UTIN. Apresentam também sentimento de frustração, por não lou o que os pais consideram como estressores mais importan-
estarem em geral preparados para esta separação. Sonharam tes presentes na UTIN: a aparência dos filhos, ver tubos e sondas
em ter um filho a termo, saudável e levá-lo para casa logo após o na boca e narinas das crianças, não receber noticias claras sobre
nascimento. Poder cuidar do seu bebe. Estudo realizado por Sei- a evolução dos filhos, não conhecer a equipe, não poder partici-
dmann, em 1997, revelou ser um dos fatores mais estressantes par dos cuidados dos filhos, as visitas com tempo limitado, os
para os pais a perda da sua função ou relação com o filho, altera- equipamentos. Para a mãe dos pré-termos a situação é agravada
da pelos fatores que não permitem o manuseio, o toque, o cuidar. pelo fato dela não está em geral preparada para a interrupção
A equipe de profissionais que trabalha na UTIN também é sub- da gravidez. Há uma abrupta perda do contato mãe-filho, a inter-
metida a vários fatores estressantes. O ritmo do trabalho é in- nação na UTIN é prolongada e a interação fica mais prejudicada.
tenso, exaustivo. Há uma exigência crescente de eficiência, de Para a equipe: o trabalho na UTIN também é estressante para
atualização de conhecimento. É necessário ter habilidade no ma- a equipe. Fadiga pelo ritmo de trabalho em geral excessivo. Lidar
nuseio dos pacientes, na execução das técnicas. com questões de vida e morte continuamente. Questões éticas
Todos esses fatores têm acarretado conseqüências aos pa- que impõem decisões freqüentes e difíceis. Ambiente fechado,
cientes, familiares e equipes das UTIN. Pesquisas têm sido pu- alto grau de exigência dos demais profissionais do Hospital, da
blicadas sobre os efeitos da internação hospitalar em crianças, família dos pacientes, e dos próprios colegas da equipe pode
e nos seus familiares e sobre as relações estabelecidas entre acarretar desestruturação.
os profissionais das UTIs e as famílias dos pacientes internados,
entre os próprios profissionais, e com os pacientes. Alguns Efeitos Produzidos
A internação é sempre uma situação estressante, principal- Pela Internação Na UTIN
mente se ela ocorre em uma UTI, onde a associação com perdas
e morte é ainda hoje inevitável. É difícil caracterizar no paciente grave as alterações decorren-
O conhecimento da realidade de que as UTINs são causa de tes do estresse produzido pela internação considerando-se que as
estresse para os pacientes, seus familiares e as equipes está mesmas podem se manifestar através de respostas fisiológicas,
sendo responsável por uma mudança na forma da atenção pres- comportamentais e endocrinometabolicas semelhantes às alte-
tada aos pacientes, não se restringindo a tratar a doença, mas rações decorrentes das manifestações produzidas por distúrbios
cuidando para que o mesmo não tenha seqüelas físicas nem hemodinâmicos secundários as patologias, pela dor.
emocionais. Há hoje a consciência de ser essencial HUMANIZAR A resposta ao estresse no RN internado na UTIN pode se mani-
o nascimento ou o parto? e as UTINs. festar de várias formas.
Podem ser observadas alterações fisiológicas manifestadas pe-
Fatores Estressores las alterações de freqüência cardíaca que podem variar de < 120
a >160bpm, freqüência respiratória de<40 >60rpm, saturação de
A compreensão dos fatores que produzem estresse na UTIN é oxigênio (PSaO2) < 92%. Podem ocorrer alterações comportamen-
crucial para o planejamento das intervenções oportunas e efica- tais observadas pela fácies com músculos contraídos, olhos flutu-
Paulo R. Margotto
Assistência ao Recém-Nascido de Risco
ando sem fixação ocular, pela característica do choro, pela postura petências e dificuldades) e usar essas observações para
no leito que pode apresentar flacidez de braços, pernas, troncos oferecer-lhes cuidados individualizados. É a passagem dos
ou extensão ,contorcionamento ou arqueamento. Sustos bocejos cuidados do bebe para os cuidados com o bebe.
e espirros freqüentes, dedos afastados ou mãos cerradas. Altera- • Controlar a dor com terapêutica adequada. A dor é um dos
ções endócrinas metabólicas, observadas através de alterações maiores fatores estressores e responsável por muitas alte-
dos chamados hormônios do estresse como glicemia, cortisol, hor- rações comportamentais, fisiológicas e endocrinológicas,
mônio do crescimento. Devemos estar atentos aos sinais e sinto- e deve ser tratada de forma eficaz (consulte o capítulo Dor
mas apresentados pelo bebe, e principalmente tentar detectar os Neonatal) com o uso de Escalas de avaliação que devem
fatores que desencadeiam essas alterações para adotar medidas ser aplicadas pela equipe para um adequado tratamento.
preventivas e mais adequadas. Alterações psicoemocionais e Considerar também terapias não medicamentosas.
• Permitir permanência dos pais na UTIN (direito assegura-
Intervenções Que Devem Ser Adotadas Nas UTIN do pelo ECA) e ou visitas com horários mais flexíveis para
Para Humanizar O Atendimento fortalecimento dos laços afetivos, promoção de vínculo
mãe-bebê e seus familiares, promovendo contato físico,
É inquestionável que a atuação no âmbito da recuperação físi- ocular e sonoro, amamentando quando possível e parti-
ca do paciente na UTIN é prioridade, mas existe a consciência da cipando dos seus cuidados.
necessidade de se utizilar meios para combater o estresse em • Controlando ruídos e a luminosidade, a fim de respeitar
todo o seu contexto. Sabemos que o estresse, resposta não espe- os ciclos de sono e evitar estresse do bebê
cifica do corpo a uma demanda, desencadeia reações que inicial-
mente podem ser benéficas, mas se persistirem, serão respon- É importante entender que para Humanizar o atendimento
sáveis por aumento da morbidade e mortalidade dos pacientes. ao paciente é necessário ocorrer a melhoria do relacionamento
Por estas razões, medidas devem ser adotadas, de acordo com a entre o Hospital de maneira geral e seu usuário, e que isto não
realidade e possibilidade de cada UTIN, para diminuir os efeitos depende exclusivamente de técnicas, mas sobretudo de uma po-
negativos e ou problemas psicoemocionais, comportamentais, lítica de ação na qual não se omita o esforço da humanização de
motores, desencadeados pela doença e ou permanência na seus serviços, posto que a humanização é a característica funda-
UTIN. Citaremos medidas já adotadas em algumas unidades que mental de uma administração eficaz. A humanização não resulta
contribuem para tornar as UTIN mais humanas. apenas da aplicação de recursos materiais, mas essencialmente
da mudança de atitudes dos recursos humanos envolvidos no
Medidas Gerais processo. Daí a importância de que o trabalho possa abranger
todos os níveis de responsabilidades, ou seja a equipe técnica,
• Revisar o espaço físico destinado a UTIN, verificando pos- os próprios pacientes e seus familiares.
sibilidade de torná-lo mais agradável, funcional, dotando-
116 a de iluminação natural, climatização adequada, com Bibliografia
menos ruídos.
• Baldini SM, KrebesVLJ. Utilização do grupo de pais como recurso para o apoio psicológico
• Dotar a unidade de equipe multiprofissional, com o con- de pais de crianças internadas em UTI. Rev Neuropsiq da Inf e da Adol 9: 45, 2001
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cientes, familiares e a equipe que também necessita de • Chrousos GP. Os Conceitos e Distúrbios do Sistema de Estresse. JAMA 3:1, 1993
apoio, ajuda nos momentos dificies • Denyse T. C. Lamego. Desafios para a humanização do cuidado em uma unidade de tera-
pia intensiva neonatal cirúrgica. Ciências e saúde coletiva .10 (3), 2005
• Instituir reuniões com os pais/ equipe multidisciplinar • Deslandes, Suely Ferreira. A ótica de gestores sobre a humanização da assistência nas
maternidades municipais do Rio de Janeiro Ciênc. Saúde Coletiva vol.10 no.3 Rio de Ja-
para debater as situações novas vivenciadas pela famí- neiro July/Sept. 2005
lia, as dificuldades existentes, compartilhar experiências, • Farias FL. Alterações Comportamentais Ocasionadas pela Separação Mãe-Filho durante a
Hospitalização da Criança. R. B. Enfermagem 41:107, 1988
e fornecer apoio psicológico aos pais e equipe. • Gomes de Andrade MA.Nascimento pré-termo e formação de laços afetivos. In: Atenção
Humanizada ao Recém-Nascido de Baixo Peso, Método Canguru, Brasília- Ministério da
• Ter uma sala de espera para os familiares (exigência con- Saúde, 2000
tida na PT/MS 3432), confortável, acolhedora. • Guinsburg R. Resposta fisiológica,comportamental e hormonal a uma simples dose de
fentanil em neonatos pretermos intubados e ventilados. J Pediatr (Rio J) 132:954, 1998
• Um profissional de referencia a quem o familiar possa re- • Hamelin KRN. Interviewing Mothers of High Risk Infants. The Canadian Nurse L´enfermiere
canadienne – 93 , n° 6, 1997
correr no esclarecimento de duvidas torna os pais mais • Jacob LS. Manifestações do Estresse na Infância-Pediatria Moderna 32: 765, 1996
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• Permitir que os pais participem de alguns cuidados ao • Portaria MS/GM n°3432 , 1998
bebe, proporcionado-os a prática da parentalidade. • Estatuto da criança e do adolescente. Ministério da Saúde, Brasília, 1991
• A infância brasileira nos anos 80. UNICEF, Brasília, 1998
• Fornecer informações aos familiares de forma clara, com- • Silva RNM. Aspectos comportamentais do Bebê Pré-termo na UTI neonatal. Novos olhares
preensível, em linguagem simples contribui para maior sobre a Gestação e a Criança até os 3 anos, pg 417, 2002
• Lira LMMF. A interferência do acompanhante no estresse de crianças internadas em Uni-
compreensão sobre o estado e evolução do bebe, produzin- dade de Terapia Intensiva Pediátrica. Tese de Mestrado (Universidade de Brasília). Dispo-
nível em www.paulomargotto.com.br (Humanização UTI), 2005
do tranqüilidade aos pais. • 19. Anand KS. Importância da dor neonatal. XVII Congresso Brasileiro de Perinatologia,
10-14/11/2001 - Florianópolis (SC). Disponível em www.paulomargotto.com.br, (Dor Ne-
• Ser sensível às necessidades individuais do paciente, família. onatal)
• Para o bebe
No início do século XX a noção de que a transferência de •Obter o consentimento após esclarecimento, por escrito, as-
recém-nascidos gravemente enfermos a centros de tratamento sinado pelo paciente ou seu responsável legal (dispensável
especializado contribuía para maior sobrevida, desencadeou o se houver risco de morte – documentar no prontuário)
desenvolvimento de tecnologia destinada para este fim. •Encaminhar relatório completo, legível e assinado (com
número do CRM)
•A responsabilidade inicial da remoção é do médico trans-
ferente, assistente ou substituto, até que o paciente seja
efetivamente recebido pelo médico receptor.
Paulo R. Margotto
Assistência ao Recém-Nascido de Risco
deve ser valorizada nos casos de edema/hemorragia cerebral e •Dois cadarços ou fita umbilical
hipotensão/choque. •Eletrodos
•Gel para eletrodos e Doppler
Material •Lâminas para depilar couro cabeludo
•Scalps nº 19-21-23-25-27
Grande Porte •Agulhas (vários calibres) e seringas descartáveis: 1-3-5-10 ml
•Seringa para abrir ampolas
•Misturador, aquecedor, umidificador e medidor de gases •Gases e compressas estéreis
(fluxômetro); •Tesoura e pinça para clampeamento (duas)
•Bomba de infusão a pilha ou microgotas; •Esparadrapo e micropores
•Suportes para frascos de soro; •Luvas: nº 7,5 e 8,0
•Tensiômetro Doppler com manguito para RN; •Pilhas: pequena, média e grande
•Material para ventilação manual: ventiladores manuais, •Fichas do RN e do transporte
entre os quais o Continous Flow Reviver-CFR: este a apa- •Aparelho para glicemia capilar
relho de ventilação manual possibilita o controle da pres- •Óculos, máscaras e aventais de proteção
são inspiratória e expiratória, aumentando a segurança
da ventiloterapia durante o transporte neonatal, prote- Medicamentos e Soluções
gendo o RN do barotrauma e da hipoventilação (consulte
o capítulo de Assistência ao Recém-Nascido na Sala de •Adrenalina 1:1000
Parto), máscaras e tubos endotraqueais adequados; •Adenosina
•Amiodarona
CFR de Transporte •Ampicilina ou Penicilina
•Amicacina ou gentamicina
•Naloxone
•Dopamina e Dobutamina
•Furosemida
•Prostaglandina (PGE2)
•Pancurônio
•Vitamina K
•Atropina
•Dexametasona
•Fenobarbital sódico
118 •Difenilhidantoína
•Midazolan
•Noradrenalina
•Heparina
•Xilocaína gel
•Água destilada
•Solução fisiológica
•Solução de glicose 5%
•Solução de glicose 10%
•Cloreto de sódio 20%
•Cloreto de potássio 10%
•Oxímetro a pilha; •Gluconato de cálcio 10%
•Saquinhos de areia (2); •Bicarbonato de sódio 8,4%
•Hood: pequeno
Estabilizando O RN para o Transporte
Pequeno porte
O RNestabilizado apresenta
•Caixa de material para drenagem pleural (frasco para
selo d’água, drenos nº 12, 14, 16, borracha de látex esté- 1. Via Aérea patente e Ventilação adequada
ril e um frasco de solução fisiológica) 2. Pele e lábios rosados
•Caixa para flebotomia e cateterização umbilical 3. FC = 120-160 bpm
•Estetoscópio 4. Temperatura axilar = 36,5 a 37°C
•Caixa de emergência: laringoscópio, lâminas retas nº 00, 5. Problemas metabólicos corrigidos
0 e 1, tubos endo-traqueais nº 2,0 - 2,5- 3,0 -3,5 – 4,0 6. Situações especiais controladas
•Borrachas (látex) para oxigenoterapia e aspiração: iden-
tificadas Prover a permeabilidade das vias aéreas: aspirar secreções da
•Relógios de segundos boca, nariz e faringe antes de iniciar o transporte, posicionar corre-
•Lanterna pequena tamente o RN evitando flexão da cabeça. Havendo dúvidas quanto a
•Termômetro intubação, é melhor fazer a intubação na Unidade antes do transpor-
•Sondas de aspiração traqueal nº 4 a 8 te, pelas melhores condições para a realização do procedimento. A
•Sondas gástricas nº 4 a 12 intubação/extubação durante o transporte são situações de grande
•Sondas vesicais nº 4 a 8 complexidade e exige da equipe muito habilidade e, sobretudo, cal-
•Almotolias com anti-séptico ma. A fixação da cânula deve ser realizada com atenção redobrada.
•Quatro braçadeiras para fixação do RN
Capitulo 3 Cuidados ao Recém-Nascido Criticamente Doente
Paulo R. Margotto
Assistência ao Recém-Nascido de Risco
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atendimento das urgências e emergências.
121
Paulo R. Margotto
Assistência ao Recém-Nascido de Risco
Paulo R. Margotto
A dor é extremamente freqüente na UTI Neonatal. Nos primeiros É mais objetivo perguntar se o RN tem substrato neurológico
14 dias de vida numa avaliação de 151 pacientes avaliados, são para a percepção da dor e se há consequências fisiológicas e
feitos 14 procedimentos dolorosos ao dia/por bebê e apenas 1/3 comportamentais da estimulação noceptiva.
destes procedimentos foram feitos sob analgesia (até 488 proce- Uma das causas freqüentemente colocada para justificar que o
dimentos dolorosos foram realizados em um RN de 23 semanas!). RN (prematuro e a termo) não tem percepção da dor é a falta de
A maioria destes procedimentos ocorre no primeiro dia de vida. mielinização. É importante lembrar que mesmo no adulto, 75%
O nascimento prematuro desvia para UTI o crescimento do cé- dos impulsos noceptivos são carreados através de fibras perifé-
rebro fetal (período rápido e crítico do desenvolvimento cerebral) ricas não mielinizadas. Dados neuroanatômicos recentes mos-
rompendo a progressão do desenvolvimento das estruturas ce- tram que a mielinização está presente nas vias tálamo-corticais
rebrais , afetando várias áreas críticas do crescimento cerebral: a partir da 22a - 23a semana de idade gestacional, estando com-
Migração celular, Sinaptogênese, Mielinização e Organização do pletamente mielinizado na 37a semana de gestação (com 30 se-
cérebro.Os neurônios corticais aumentam 10x mais entre 17- manas, as vias noceptivas até o tálamo já estão completamente
32sem (pico entre 28-32sem). mielinizadas) e já tem conexão tanto com o sistema límbico como
A UTI Neonatal é um ambiente caótico, barulhento e estressante. com o sistema cortical.
A questão da percepção da dor no recém-nascido (RN) é difícil Assim, o RN, incluindo o RN pré-termo extremo possui subs-
de responder, uma vez que dor é definida como um fenômeno trato neurológico para a nocicepção, ou seja, o RN está apto a
subjetivo, com forte componente emocional. integrar e responder ao estímulo doloroso.
Dor não é uma identidade homogênea. Há diferentes catego-
rias de dor: fisiológica, inflamatória, neuropática. Toda criança Repercussões A Longo Prazo Da Dor Neonatal
tem diferentes receptores e diferentes mecanismos que ajudam
na propagação do estímulo doloroso. As mudanças seqüenciais Em relação ao adulto, o RN apresenta maior sensibilidade à
que ocorrem no sistema de dor após o estímulo são: ativação dor; um estímulo doloroso no adulto, por exemplo, dedo na porta
de macroreceptores periféricos que são transdutores para estí- do banheiro, por exemplo, a dor no adulto dura 3 a 10 minutos;
mulos específicos; por exemplo: o calor ativa alguns receptores, já no RN, um estímulo doloroso dura 30 a 90 minutos - período
122 a dor mecânica é transmitida por canais iônicos, dor química é prolongado de hipersensibilidade seguindo à lesão, devido aos
transmitida dor por outros canais iônicos sensíveis ao ácido. As- fatores de stress ambiental (manuseio físico, tirar a temperatura,
sim, há diferentes tipos de ação no cortex sômato-sensor, através troca de fraldas). Esta foi uma conclusão de um estudo contro-
do tronco cerebral e o tálamo. lado. Estes estímulos levam a respostas neurofisiológicas, prin-
Nós sabemos que este sistema é bem desenvolvido no bebê a cipalmente estímulos dolorosos crônicos que terão impacto no
termo, gerando vários tipos de respostas comportamentais, como, desenvolvimento neurocomportamental e cognitivo na infância.
retirada do membro, expressões faciais, choro, reações estas ob- Estudo experimental conduzido por Anand e cl confirmou a hipó-
servadas clinicamente. Além disto, eles apresentam respostas fi- tese que a exposição repetitiva à dor neonatal pode causar altera-
siológicas, como queda da pressão arterial, queda da oxigenação. ções permanentes ou a mudanças a longo prazo, devido desenvol-
Nos últimos 5-10 anos descobrimos que os recém-nascidos vimento da plasticidade do cérebro imaturo. Os dados obtidos por
(RN) prematuros são mais susceptíveis à dor que os RN a ter- estes autores sugerem que a exposição repetitiva à dor pode levar
mo. Os prematuros têm limiares mais baixos para o reflexo de a um desenvolvimento alterado do sistema de dor associado com
retirada do membro (reflexo flexor vaso-cutâneo) que tem uma diminuição do limiar da dor durante o desenvolvimento. O aumen-
porção aferente medida pelas fibras C, fibras que mediam estí- to da plasticidade neonatal pode permitir estas e outras mudanças
mulos neurológicos. Também há uma maturação retardada das no desenvolvimento cerebral aumentando a sua vulnerabilidade
fibras inibitórias descendentes (a porção excitatória deste siste- aos distúrbios de stress e ansiedade quando adultos. Alterações
ma se desenvolve cedo, não havendo inibição descendente que comportamentais semelhantes têm sido observadas durante a in-
se desenvolve mais tarde). Há 3 estudos evidenciando que os fância tardia destes RN pré-termos que foram expostos a períodos
bebês têm um limiar mais alta de dor nas extremidades supe- prolongados de internação na UTI neonatal.
riores em comparação com as extremidades inferiores, porque Estudo experimental controlado com ratos recém-nascidos
as fibras inibitórias descendentes alcançaram a porção cervical com 1-7-14 dias de vida usando injeção de formalina na pata
da coluna dorsal e ainda tem que crescer para a porção lombar. anterior direita evidenciou que dor repetitiva leva à lesão neuro-
Assim, existem diferentes níveis de dor (muito mais dor será pro- nal, devido à excessiva ativação de N-Metil-D-aspartato que leva
duzida nas extremidades inferiores que nos braços e mãos). a uma morte cerebral citotóxica. Estas alterações promovem dois
Os RN prematuros carregam respostas muito mais agudas e ro- comportamentos1 distintos caracterizados pelo aumento da an-
bustas à dor, tais como alterações cardiovasculares, hormonais siedade, sensibilidade alterada a dor, distúrbios de stress, dis-
e metabólicas, necessitando estes RN de níveis mais elevados túrbio de atenção, levando deficiente habilidade sociais e padrão
de analgésico no plasma para produzir o mesmo efeito clínico do de comportamento autodestrutivo. A importância clínica destes
que nas crianças mais velhas ou no adulto. O estresse no recém- mecanismos implica na prevenção de insultos precoces, trata-
nascido é três a cinco vezes maior que no adulto na ausência mento efetivo da dor neonatal e stress e talvez a descoberta de
de anestesia durante uma intervenção cirúrgica Assim, os RN novas modalidades terapêuticas que limita a apoptose neuronal.
pré-termos são mais sensíveis à dor. Os estudos experimentais A experiência com a dor repetitiva durante o período neonatal
comprovam estes fatos (consulte o capítulo Transnatalidade e e a exposição prolongada a drogas analgésicas podem alterar a
Primeiras Relações Pais/Bebês Pré-termos) organização neuronal e simpática permanentemente.
Capitulo 3 Cuidados ao Recém-Nascido Criticamente Doente
Assim, os eventos que ocorrem na UTI Neonatal não somen- e intubação em RN prematuros acordados requerendo
te induzem alterações agudas (reações fisiológicas e comporta- anestesia para cirurgia)
mentais nos RN, mesmo aqueles mais prematuros), mas tam- •Alterações metabólicas: estresse com liberação de hor-
bém causa alterações estruturais e funcionais. Os ratos adultos mônios (cortisol, hormônio de crescimento e resposta
expostos à dor repetitiva não tratados tornaram-se mais ansio- catabólica - aumento do lactato).
sos, têm uma preferência maior para o álcool e limiar de dor •Mudanças no fluxo sanguíneo da pele: este fluxo aumen-
alterado, além de respostas alteradas a analgesia por morfina. tou 27 a 134% com procedimentos como, manuseio físi-
Espero que não saiam daqui para as festas e dizer que vão to- co, fisioterapia, aspiração do tubo, punção de calcanhar.
mar mais álcool porque quando RN foram prematuros e sentiram
muita dor. É surpreendente este achado, principalmente nas ra- Comportamento
tas fêmeas expostas à estimulação dolorosa no período neonatal
(reflexo do seu alto nível de ansiedade). •Choro: é um método primário de comunicação nos RN.
Adolescentes ex-pré-termos, principalmente meninas apresen- As mães, com frequência, sabem diferenciar vários tipos
taram maior sensibilidade a dor somática. Os pré-termos podem de choro nos seus bebês (dor, fome, desconforto, estres-
ser mais pronos a desenvolveram síndromes dolorosas no futuro. se). O choro é mais agudo, mais energia espectral, me-
As repostas comportamentais e fisiológicas pode aumentar a nos melodioso e mais áspero. Observamos a língua ten-
extensão da hemorragia intraventricular ou contribuir diretamen- sa. O choro como medida de dor deve ser acompanhado
te, devido produzir hipercapnia, assincronia com o respirador, e de outras medidas de avaliação da dor.
pneumotórax, causas sabidamente associadas com a ocorrência •Atividade motora: é um método sensível na avaliação da dor
da hemorragia intraventricular. •Expressão facial: método sensível útil e não invasivo: fron-
Portanto, assinalando os pontos mais importantes: te saliente, olhos espremidos, sulco naso labial aprofunda-
do e lábios entreabertos estão presentes em mais de 90%
1. A estimulação dolorosa repetitiva acentua a ativação dos RN submetidos a estímulos dolorosos. A análise da
do n-metil-d-aspartato (nmda) que leva a uma morte ce- expressão facial permite informações válidas, sensíveis e
rebral citotóxica. específicos a respeito da natureza e da intensidade da dor.
2. A falta de estimulação sensorial diminui o nmda levan-
do a uma regulação aberrante da apoptose neuronal.
Quando o RN recebe estímulo doloroso, aumenta a freqüência Fonte: WONG, D.L.; e cl. Enfermagem Pediátrica: Elementos Essencias
cardíaca, ocorre a hipóxia, tanto pelos movimentos do diafragma à Intervenção Efetiva. 5 ed, Rio de Janeiro:
como por vasoconstrição pulmonar, mudanças no volume san- Guanabara Koogan 1999. p.548
güíneo cerebral, dor repetida e prolongada pode ocasionar mu-
danças no metabolismo energético e levar alterações no status Como Avaliar A Dor
de coagulação (diminuição do nível de antitrombina 5 e de outros
fatores da coagulação que vão causar maior chance de sangra- É difícil reconhecer a presença da dor e é mais difícil ainda é
mento, principalmente no cérebro) dimensioná-la e pior ainda, são as opções de tratamento disponí-
Estas alterações são suficientes para produzir sangramento sú- veis. A identificação e a avaliação são pontos chaves. A literatura
bito intracraniano, principalmente nas primeiras 24horas de vida, nos apresenta mais de 40 Escalas e estas foram validadas para
momento este em que há maior intervenção invasiva no bebê. dor aguda. Mesmo para esta situação, não existe uma escala
Alguns RN podem, inclusive, desencadear convulsões por dor. ouro, pois a Escala ouro seria se bebê nos informasse que está
Bebês que estão no respirador podem apresentar o que M. doendo muito. Assim, temos que nos capacitar para decodificar a
Sparshott chama de choro silencioso diante da dor: o bebê abre linguagem da dor própria desta faixa de idade.
sua boa e a sua língua fica em posição de taça. É muito importante que avaliemos a dor prolongada, devido a
repetição dos procedimentos dolorosos. Temos usados medidas
•Aumento da frequência cardíaca, respiratória e pressão arterial respostas fisiológicas, como pressão arterial, queda de satura-
•Flutuação dos níveis de paO2 e PaCO2 ção, níveis de cortisol, No entanto, estudos tem evidenciado uma
•Aumento da pressão intracraniana (aumento significativo dissociação entre a resposta fisiológica e a comportamental nos
da pressão da fontanela anterior durante a laringoscopia
Paulo R. Margotto
Assistência ao Recém-Nascido de Risco
RN muito doentes. A resposta comportamental é a que mais indi- o procedimento. Este achado parece ser explicado pela liberação
ca a presença da dor nestas situações. de opióides endógenos levando a uma ação analgésica. O Método
Assim, é importante que se avalie não somente a dor aguda, Canguru pode ter uma grande vantagem para evitar a dor neona-
mas também como vai estar o RN ao longo do tempo, possibili- tal, além das outras vantagens sabidamente conhecidas.
tando assim, adequar a terapêutica necessária. Para este obje- Estudo recente de Gray e cl evidenciou que a amamentação é
tivo, há a Escala EDIN (Échelle Douleur Inconfort Nouveau-Né) que analgésico aos RN saudáveis. O estudo foi prospectivo, randomiza-
leva em conta a atividade facial, o movimento corporal e eleva do e controlado (grupo submetido a procedimento doloroso, como
em conta também se a criança dormiu, se reagiu, se foi consolá- punção de calcanhar e coleta de sangue enquanto amamentava
vel, ou seja, como foi o comportamento desta criança num tempo e outro grupo submetido ao mesmo procedimento, porém não
mais prolongado. Deve ser aplicada pela Enfermagem 2 vezes ao estava amamentando durante o procedimento). Os autores ob-
dia. A avaliação da dor deve constituir o 5º sinal vital servaram que o choro e as caretas foram reduzindo em 91% e
84%, respectivamente durante o procedimento no grupo que es-
tava amamentando em relação ao grupo controle (11 de 15 RN
enquanto amamentavam não choraram ou não fizeram caretas na
coleta de sangue) A freqüência cardíaca reduziu também substan-
cialmente. Os autores concluem que a amamentação é um poten-
te analgésico durante a coleta de sangue nos RN.
Portanto, a dor que o bebê sente se traduz em desconforto e
sofrimento, podendo ter repercussões a longo prazo como já as-
sinalado, em termos de interação com a sua família e em termos
de cognição e aprendizado.
Abordagem Da Dor
Prevenção
Paulo R. Margotto
Assistência ao Recém-Nascido de Risco
A tolerância ao fentanil ocorre após a dose acumulada de No caso de rigidez muscular da caixa torácica, usar o antago-
1,6mg/kg a 2,5 mg/kg ou após 5-9 dias de infusão contínua. nista naloxone : 0,01 mg/kg . Não usar o naloxone nos pacientes
O principal sistema afetado com a retirada do opióide é o SNC que estão recebendo fentanil há mais de 3-5 dias, pois a sua
(Sistema Nervoso Central), o sistema autônomo e o sistema gas- administração pode desencadear a síndrome de abstnência.
trintestinal. Os mais freqüentes sintomas relatados foram irrita- Apresentação comercial: Fentanil: 1 ml = 50 µg/1ml = 78.5 µg
bilidade, hipertonicidade, hipertermia, vômitos com alimentos e Exemplo: RN com 1,5kg-dose de 1mcg/Kg/h:
sudoreses Interessante que o fentanil foi associado com maior 1,5 x 1 x 24 divididos por 50 = 0,72 ml de Fentanil (1 ml = 50 mcg)
duração da sintomatologia da retirada (3,9dias em média) em
comparação com a morfina (2,3dias). Os opióides são capazes de suprimir os efeitos fisiológicos da
dor e pode prevenir algumas consequências clínicas da dor não
Retirada Dos Opióides tratada. Há dados suficientes na literatura para a recomendação
do uso dos opióides analgésicos no tratamento da dor do RN
Quanto à estratégia de retirada dos opióides, não há dados
na atualidade que respaldam um método ou outro de retirada, Anestésicos Locais
devendo ser avaliado em cada paciente:
Indicado para procedimentos como punção lombar, inserção de
• o uso por 3 dias, pode ser retirado abruptamente cateter central, drenagem torácica, eventualmente, punção arte-
• >3 dias, retirar 20% da dose inicial a cada dia (por exem- rial e na realização do fundo de olho (para esta situação, o RN deve
plo: se está usando 1ug/kg/hora, retiramos 0.2ug no pri- receber solução açucarada com chupeta e estar enrolado).
meiro dia e em 5 dias, o fentanil é suspenso. Lidocaína a 0.5% sem adrenalina: bloqueia os canais de só-
• >7 dias: retirar mais lentamente (retirar 20% da dose ini- dio nas terminações nervosas nociceptivas, responsáveis pela
cial a cada 2-3 dias aferência do estímulo doloroso ao SNC. Dose: infiltrar 5 mg/kg
• >15 dias: retirar 10% da dose inicial a cada 2-3 dias subcutâneo (o efeito dura 30 a 60 minutos).
Para realização do fundo de olho: AnestalconR (cloridrato de
Atenção: não é para retirar da dose imediatamente anterior e proximetacaína* 0,5% (1 gota em cada olho 3 min antes)
sim da dose inicial
É necessária contínua avaliação das reações de retirada du- Sedação No Recém-Nascido
rante o processo de desmame do opióide.
Os sedativos diminuem a atividade, ansiedade, a agitação do
Síndrome De Abstinência paciente, podendo levar à amnésia de eventos dolorosos ou não,
126 mas não reduzem a dor. É inaceitável sedação para aliviar a dor
Na ocorrência da síndrome de abstinência, voltar para a dose sem analgesia (é como por a criança em uma camisa de força;
imediatamente anterior na qual o RN não apresentou a síndrome não pode reagir a dor). Este medicamentos são empregados
de abstinência. Se o RN estiver apenas no processo de retirada para acalmar o paciente, diminuir a sua movimentação espon-
do opióide, se encontra em nutrição enteral plena, sem mais ne- tânea e induzir o sono. As indicações da sedação são: acalmar
cessidade de acesso venoso, passar para a metadona, respeitan- o paciente, reduzir a atividade espontânea e induzir o sono na
do a equivalência das medicações (0,001mg/kg/dia de fentanil realização de procedimentos (tomografia computadorizada, EEG,
endovenoso=0,1 mg/kg/dia de metadona). Na transformação etc.), em RN que necessitam ficar imobilizados por longos perío-
inicial do fentanil para a metadona, calcular a dose equivalente dos de tempo (defeitos de fechamento da parede abdominal), em
e prescrever 50% da dose calculada, dividida em uma (24/24 RN com suporte ventilatório agressivo por hipoxemia persistente
horas) ou duas (12/12 horas) tomadas por via oral. Diminuir gra- (hipertensão pulmonar persistente).
dativamente as doses da metadona oral (20% da dose inicial a O prognóstico de RN que recebem sedativos de forma prolonga-
cada 3 dias) até retirá-la. A metadona tem alto poder sedativo da é desconhecido, havendo indicação de que sua aplicação não
que dura 48-72 horas (a criança dorme muito). Doses excessivas só aumenta o peródo de ventilação mecânica dos pacientes, como
de metadona também estão associadas à depressão respirató- pode levar o risco de hemorragia intraventricular nos prematuros
ria e à obstipação intestinal. O fentanil pode ser substituído pela Portanto, antes da aplicação de sedativos na UTI neonatal,
metadona quando a criança só está mantendo o acesso venoso pesquisar todas as possíveis causas de agitação e tratá-las ade-
por causa do esquema de retirada do fentanil, caso contrário, quadamente, o que inclui a presença da dor,de hipoxemia, de
o fentanil deve ser retirado gradativamente sem substituição. A hipertermia, de lesões inflamatórias e outras.
dose usada é por equivalência, como descrito acima.
Apresentação da metadona: MytedomR – injetável com 10mg/ml/ Hidrato de cloral
compr com 5 e 10mg (a diluição é péssima; é preferível manipular)
Exemplo: RN de 1,5kg, recebendo 1µg/kg/min, deve receber quan- • Para procedimentos terapêuticos/diagnósticos de curta duração.
to de metadona, em caso de Síndrome de abstinência? Este RN está • Efeito paradoxal no paciente com dor hiperexcitabilida-
recebendo 36 µg de fentanil/dia= 0,036mg de fentanil=0,024mg/ de/agitação)
kg/dia de fentanil.Realizando regra de três, temos: • Dose: 25-100 mg/kg por via oral após dieta cada ( hidra-
to de cloral a 10%: 1 ml=100 mg).
• 0,001→0,1 • Início da ação: 30 a 60 minutos com término em 2h.
• 0,024 →x mg de metadona, ou seja:2,4mg • Eliminação mais lenta em prematuros: tem sido observados
• 1µg=0,001mg efeitos residuais até 64h após. Cuidado com doses múltiplas
• Efeitos colaterais: obstrução de vias aéreas por sonolên-
cia e flexão do pescoço.
Capitulo 3 Cuidados ao Recém-Nascido Criticamente Doente
Paulo R. Margotto
Assistência ao Recém-Nascido de Risco
Analgesia/Sedação No Recém-Nascido • Guinsburg R. Roteiro prático para a avaliação e tratamento da dor no período neonatal.
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Capitulo 3 Cuidados ao Recém-Nascido Criticamente Doente
Ai, meus olhos, que claridade! Socorro! Estão colocando um A intubação e ventilação mecânica são as maiores causas de
tubo na minha garganta! Ah! Eu estou respirando melhor... Mas dor e estresse nos RN. A ventilação mecânica e os procedimen-
é horrível este tubo! tos invasivos relacionados são associados com várias alterações
Puxa, eu não sei onde mais vão colocar tubo em mim: tem um na bioquímicas, fisiológicas e comportamentais, indicando que a dor
garganta, um na boca, dois no umbigo. Meu corpo está cheio de e o estresse no RN podem levar a instabilidade clínica e a um
adesivos, esparadrapos e fios. Mas o pior são estas agulhadas que prognóstico clínico adverso. Nos RN ventilados, a dor pode levar
dão nos meus pés... Isto tudo dói tanto! Porque me tiraram da bar- a agitação e assincronia entre ventilação e respirações espontâ-
riga da minha mãe? Lá era tão bom. Eu estava tão livre e tão quen- neas, resultando em uma inadequada ventilação.
tinho... Sua respiração me embalava e a batida do seu coração me Os RN pré-termos são capazes de desencadear resposta hor-
acalmava (Diário de um bebê na Unidade Neonatal, de Ceci Men- monal ao estresse através do aumento da concentração de ca-
donça de Menezes, Médica do Hospital Maternidade Praça XV/RJ). tecolaminas. As concentrações de adrenalina e noraderenalina
correlacionam-se com a severidade da doença nos RN pré-ter-
Os avanços dos cuidados perinatal e neonatal dos recém-nas- mos ventilados. A despeito da sedação, os RN pré-termos ventila-
cidos (RN) de baixo peso, especialmente aqueles RN abaixo de dos que não sobreviveram tiveram altos níveis de noradrenalina,
1000g requereram muitos processos invasivos. Entre estes, es- em contraste com os que sobreviveram (estes tiveram diminui-
tão a intubação endotraqueal e a ventilação prolongada, devido ção dos níveis de noradrenalina com a sedação). A queda da
à severa imaturidade pulmonar, doença da membrana hialina e noradrenalina com a sedação foi menor nos RN que morreram
displasia broncopulmonar. (2%) do que nos RN que sobreviveram (40%). Portanto, os RN
Dados da rede Vermont Oxford mostram que mais da metade dos pré-termos são capazes de dar resposta hormonal adequada ao
RN de peso ao nascer entre 401-1500g foram 1ntubados na sala estresse conforme a severidade da sua doença. Respostas extre-
de parte e 70% destes RN com peso menor que 1500g ao nascer mas (maiores níveis de catecolamina) nos RN pré-termos doen-
receberam em algum momento ventilação mecânica durante a sua tes foram associadas com pior prognóstico.
hospitalização. Os RN com idade gestacional abaixo de 28 sema- Estudo subseqüente de Evans e cl evidenciou que os RN que
nas, entre 64-100% receberam ventilação mecânica em média por morreram ou que tiveram desabilidade aos 5-6 anos apresen-
25 dias em 17 das UTI Neonatais do Canadá, de janeiro de 1996 a taram no segundo dia de vida maiores níveis de noradrenalina 129
outubro de 1997. Mesmo os RN maiores e menos imaturos (28-32 (morte: 3,27-IC 95%%: 1,48-7,23) e morte mais desabilidade
semanas), 47-93% também receberam ventilação mecânica. (RR: 3,55-IC 95%%: 1,77-7,10). Não houve correlação entre cate-
A dor oriunda de procedimentos ocorre com muita freqüência du- colaminas no período neonatal e deficiência cognitiva ou motora
rante a permanência do RN na UTI (estes RN são expostos a mais ou aos 5-6 anos de idade. Assim, estes RN pré-termos que vão a UTI
menos 14 procedimentos ao dia na UTI Neonatal), incluindo coleta Neonatal são capazes de montar uma resposta hormonal ao es-
de exames para hemograma, hemocultura e realização de punção tresse da sua doença e tratamento. A expressão desta resposta
lombar. Todos estes procedimentos são extremamente dolorosos. é o alto nível de catecolaminas.
Será que existem evidências acumuladas de que os RN po- Nos RN submetidos à cirurgia cardiovascular, a mortalidade foi
dem sentir dor? A partir de 16a semana ocorre conexão entre 27% naqueles que receberam analgesia pós-operatória intermi-
neurônio sensorial e células cuniformes da coluna. Com 12 a tente comparada com 0% nos que receberam fentanil contínuo
16 semanas foram demonstradas a substancia P e os opiáce- ou terapia com sufentanil. Este estudo foi realizado por Anand e
os endógenos dos gânglios nestas áreas cuniformes. Com 24 cl que randomizaram dois grupos de bebês em halotano em pe-
semanas as conexões sinápticas do córtex estão completas. quenas doses e sufentanil em altas doses (1000 vezes mais ativo
Assim, os bebes tem a capacidade de transmissão de dor. Com que a morfina). Estes bebês tiveram uma boa analgesia. Estuda-
30 semanas, existe a mielinização quase que completa com ram estes bebês durante a cirurgia cardíaca neonatal. Nos bebês
as vias de dor completamente prontas para serem ativadas no com sufentanil, a resposta a epinefrina, noreprinefrina, cortisol,
tálamo, onde ocorre o processamento da dor. glucagon e aldosterona foi muita mais baixa em relação aos RN
O efeito dor é codificado no cingulado anterior e não na parte que receberam halotano e morfina (este grupo teve mais severa
somatosensória do córtex Estudos usando o PET evidenciaram hiperglicemia e acidose láctica; o lactato e o acetoacetado foram
estrutura límbica no cingulado anterior que reage da mesma significativamente maiores durante a cirurgia). Também demons-
forma Estes bebês desenvolvem muito cedo um pouco destas traram que o cortisol não se elevou no grupo do sufentanil; já nos
estruturas límbicas e elas estão praticamente formadas neste RN que receberam doses baixas de halotano e morfina, o nível de
período de vida. Então uma codificação central para a dor talvez cortisol (hormônio do estresse) era muito maior. Quanto à mor-
seja o evento que se desenvolve precocemente. talidade, esta foi menor nos bebês que tinham maior controle da
A dor é um grande estressor que pode aumentar a morbidade dor. O que ocorria com estes bebês que tinham menor controle
e mortalidade nos RN criticamente doentes. No entanto, a dor da dor: estes bebês desenvolviam com maior freqüência hipoten-
é subjetiva, não havendo um método padrão da sua estimação. são, acidose metabólica, CID e sepses, enterocolite necrosante.
A necessidade para a sedação e analgesia tem sido amplamen- Portanto, há várias razões para considerar o tratamento da
te usada nos RN, com o intuito de reduzir o estresse e evitar dor e do estresse do neonato. Assim, é humano e ético dar
complicações durante procedimentos tais como a ventilação conforto e aliviar a dor.
mecânica. Apesar do amplo uso da analgesia e sedação nesta
condição, as evidências clínicas são limitadas quanto à eficiên-
cia e segurança das drogas usadas.
Paulo R. Margotto
Assistência ao Recém-Nascido de Risco
Paulo R. Margotto
Assistência ao Recém-Nascido de Risco
ten e cl). Assim, parece que os efeitos neurológicos do midazolam rotineiro nos RN prematuros, por falta de avaliação dos efeitos do
podem estar primariamente relacionados com hipoperfusão cere- uso prolongado de ketamina em grandes ensaios randomizados.
bral transitória. Não têm sido conhecidos os efeitos a longo prazo. Muitos dos relatos de ketamina nos RN prematuros advêm de
Waisman e cl descreveram acentuados espasmos mioclônicos, pequeno número de pacientes, muito dos quais receberam uma
lembrando convulsões clônicas, dentro de 5 minutos após terem única dose durante um procedimento. O bloqueio dos receptores
recebido um lento bolus de 0,1mg/kg de midazolam para sedação. NMDA por somente poucas horas durante o período fetal tardio
A idade gestacional era de 24, 25 e 26 semanas, com a média de ou neonatal precoce pode iniciar uma ampla neurodegeneração
peso de 671g. A droga foi administrada nas idades de 28, 32 e 2 apoptótica no cérebro do rato em desenvolvimento, sugerindo que
dias, respectivamente. O movimento anormal melhorou dentro de o neurotransmissor excitatório glutamato atuando nos receptores
5-10 minutos. Provavelmente estes achados se devam a mudan- NMDA controlam a sobrevivência neuronal. Embora seja discutido
ças descritas na hemodinâmica do fluxo sanguíneo cerebral transportar estes resultados em estudo animal para o humano,
O mecanismo da hipotensão relacionado com o midazolam foi no mínimo nos servem para levantar bandeiras vermelhas. Portan-
pensado ser devido à vasodilatação relacionada aos níveis de to, segundo Perlman, as evidências demandam cuidadoso estudo
prostanóide extravascular e cálcio (Modanlou e Beharry, citados prospectivo para avaliar o papel potencial da ketamina no controle
por Ng e cl). Mais recentemente Ahmad e cl, em estudo experi- da dor dos recém-nascidos prematuros doentes.
mental, evidenciaram que após uma dose de ataque de midazo-
lam houve alteração na produção de prostanóide sistêmico e no Devemos Usar, Então Analgésico De Rotina
seio sagital. Também relataram alterações na sangüínea do seio Em Todo RN Ventilado?
sagital e extração fracional de oxigênio cerebral. Estas alterações
podem refletir diminuição da perfusão e do metabolismo cere- Segundo Hall e cl, para algumas terapias como drogas anti-
bral durante a infusão de midazolam. Burtin e cl relataram hipo- canceres, o benefício a longo prazo do tratamento é superior aos
tensão arterial em 6 RN com doença da membrana hialina após efeitos adversos. É este o caso para a analgesia em todo recém-
o uso da dose de ataque do midazolam (5 casos) ou durante a nascido ventilado? A análise de importantes resultados de morte
administração concomitante com o fentanil (5 casos). Portanto, e evidências ultrassonográficas de lesão cerebral não mostrou
dose de ataque de midazolam em RN prematuro, assim como melhora na morbimortalidade ou morbidade com o uso de opiói-
a associação com o fentanil deve ser feita com muito cuidado, de. Metanálise realizada por Bellú e cl (Cochrane) não demons-
especialmente no RN prematuro ou no RN com instabilidade da trou diferença entre os grupos com uso e não uso de morfina
pressão arterial. acqz-Aigrain e cl relataram hipotensão arterial quanto a displasia broncopulmonar, enterocolite necrosante ou
em 4 RN recebendo infusão contínua (após ataque) de midazo- duração de internação hospitalar. Os recém-nascidos mais pre-
lam, sendo que 3 destes estavam recebendo fentanil. maturos que receberam morfina demoraram significativamente
Da metanálise de Ng e cl, não podem ser feitas conclusões mais tempo para atingirem a nutrição enteral plena em relação
definitivas a respeito da efetividade e segurança da infusão de aos controles. Inclusive dados de longo follow-up (5-6 anos) não
midazolam como sedativo em RN prematuros. A ocorrência de mostrou diferença significante no neurodesenvolvimento entre 133
eventos adversos neurológicos, embora possa ser de etiologia as crianças que receberam e as que não receberam morfina. No
multifatorial, foram mais frequentemente observados nos RN entanto, de Graaf e cl mostraram evidência de efeitos negativos
tratados com midazolam nos estudos revistos. Estes efeitos não da morfina na função cognitiva nas crianças aos 5 anos de ida-
podem ser desprezados em vista de prévios relatos sérios de de que receberam morfina na ventilação mecânica no período
efeitos neurológicos e hemodinâmicos em estudos não randomi- neonatal. Portanto, os opióides nos RN em ventilação mecâ-
zados e não controlados e dos estudos do efeito do midazolam nica devem ser usados seletivamente, quando indicado pelo
na velocidade do fluxo sangüíneo cerebral. julgamento clínico e pelas avaliações dos indicadores de dor e
Segundo Gulczynska, o midazolam produz efeitos adversos que somente após a estabilização do paciente, apesar da ventilação
podem piorar tão precoce como tardiamente o prognóstico. Parece mecânica constituir uma intervenção dolorosa e desconfortan-
racional ser mais crítico no uso da sedação com midazolam e ser te. A terapia com narcóticos para os RN ventilados só pode ser
mais atencioso com o uso do midazolam no período neonatal. considerada provada e eticamente mandatória somente se o seu
Assim, o uso de infusão endovenosa de midazolam não pode valor estiver estabelecido em um ou mais ensaios randomizados
ser recomendado para a população de RN pré-termos. e cegos com número suficiente de RN para avaliar todos os bene-
fícios potenciais e efeitos adversos.
Ketamina Qual é a evidência para que todo RN ventilado devesse ser tra-
A ketamina (derivado fenciclidina) é um potente analgésico em tado aceitando-se que a ventilação causa dor? A avaliação da dor
doses baixas e é frequentemente usado em rápidos procedimentos neste RN foi realizada utilizando-se de uma variedade de escores
dolorosos em crianças na Emergência ou UTI, podendo ser usado de dor e em diferentes tempos de procedimentos invasivos. Alguns
endovenoso, por via oral ou por via intramuscular. Devido aumen- mostraram melhora significativa nos escores de dor, outros apre-
tar as secreções e possíveis efeitos disfóricos, frequentemente é sentaram resultados inconsistentes em diferentes pontos e com
usada com agentes anticolinérgicos e um benzodiazepínico. Os diferentes métodos de avaliação. Portanto, diferentes escores en-
efeitos analgésicos da ketamina são mediados pelo antagonismo tre os estudos com diferentes resultados, metanálises de todos os
aos receptores N-metil-D-aspartato (NMDA) e possivelmente pelo resultados para avaliação da dor foram incapazes de demonstrar
antagonismo ao receptor μ. Dose endovenosa de 0,25-0,5mg/kg efeito convincente para a redução da dor nestes recém-nascidos.
pode produzir intensa analgesia por 10-15 minutos (1-2mg/kg EV A recente revisão da Cochrane apresentada anteriormente con-
pode ser necessário para procedimentos mais dolorosos, como clui que a evidência é insuficiente para recomendar o uso rotinei-
uma redução de fratura). ro de opióides em todo recém-nascido em ventilação mecânica.
Segundo Perlman, o uso de ketamina no recém-nascido pre- Devemos reservar as intervenções farmacológicas, tanto para
maturo, como agente alternativo ao opióide, deveria ser evitado, a analgesia e sedação para recém-nascidos selecionados onde
por falta de dados a respeito dos riscos e /ou benefícios. Apesar a presença da dor pode ser razoavelmente ser predita, quando
de evidências de que a ketamina mantém a estabilidade hemodi- a dor e o estresse estão interferindo com o efetivo manuseio do
nâmica com efeitos mínimos no fluxo sanguíneo cerebral dos RN ventilador ou outro suporte vital e quando as medidas ambien-
prematuros ventilados, Anand também não recomenda o seu uso tais mostraram-se falhas.
Paulo R. Margotto
Assistência ao Recém-Nascido de Risco
Os clínicos devem equilibrar os efeitos adversos do tratamento a partir de revisão padronizada de prontuários e entrevista com
farmacológico, incluindo hipotensão com a morfina e a rigidez da os médicos responsáveis, relataram que medicações para a se-
caixa torácica com o fentanil. A tolerância, dependência ocorrem dação e analgesia foram utilizadas em 89,5% das intubações re-
com todos os opióides e benzodiazepínicos. alizadas na UTI Pediátrica e em apenas 23,3% das realizadas nas
A mais óbvia e efetiva estratégia para diminuir a dor do RN na UTI Neonatais (p<0,001). O uso de sedativos foi feito em 35,6%
UTI Neonatal é restringir a freqüência de procedimentos dolorosos, versos 2,3%-(p<0,001), respectivamente nas UTIs Pediátricas
especialmente àqueles que são mais comumente relatados, como e Neonatais. Nenhum RN recebeu atropina previamente. Outra
as punções de calcanhares e a aspiração do tubo endotraqueal. evidência mostrada pelo estudo é a que a taxa de sucesso na
Estes procedimentos nos RN mais criticamente doentes deveriam intubação traqueal obedece a uma curva de aprendizado, sen-
ser realizados pelos profissionais mais experientes da Unidade. Li- do menor entre os residentes de pediatria do primeiro ano e se-
mitar os procedimentos que documentadamente tem efeito positi- gundo ano (56%) e, atingindo níveis seguros e satisfatórios entre
vo na evolução do bebê criticamente doente. Evitar a hipoxemia, a os residentes do terceiro ano (93,9%). Os autores concluem que
agitação e a “briga com o respirador”. Fixar com maior segurança parece óbvio que o currículo médico deve se adequar a esta ne-
o tubo endotraqueal, assim como os cateteres para prevenir os cessidade (o treinamento para a obtenção da via aérea deveria
seus deslocamentos e reinserções. Agrupar a coleta de exames ser priorizado no início da residência). Igualmente o esquema de
para minimizar as punções. Estratégias não farmacológicas são fármacos (sedativos, analgésicos, relaxantes musculares) usado
essenciais na prevenção e manuseio da dor neonatal. Vejam que na intubação traqueal no nosso meio necessita de revisão, a fim
há muita coisa que podemos fazer, mesmo sem drogas. Deixar o de propiciar ao paciente maior conforto e segurança, além de
bebê confortável. As drogas que usamos (morfina, midazolam) pa- maior facilidade na execução do procedimento.
recem apresentar problemas, especialmente a morfina. Pesquisa realizada com os diretores de 100 programas de trei-
namento em Medicina Perinatal-Neonatal nos Estados Unidos em
Premedicação Para Intubação 2006 por Sarkar e cl (78 responderam) evdienciou que somente
Semi-Eletiva Ou Eletiva 43,6% dos que responderam sempre usam premedicação antes
da intubação eletiva. (24,4% tinham normas escritas). A morfina
A intubação é um procedimento potencialmente doloroso, es- ou o fentanil isolados foram as drogas mais usadas (57,1%). A
tressante e é associado com efeitos fisiológicos adversos. Mui- combinação de opióides com midazolam ou outros benzodiaze-
tas intubações são feitas sob condições emergenciais, como pínicos foi usada menos frequentemente. O uso de sedação com
parte da reanimação inicial ou em condições de apnéia. Para miorelaxante foi usado em 23%. Apenas 9% usou miorelaxante
estas condições, o uso das premedicação pode ser secundá- em combinação com atropina e sedação.
rio devido nem sempre estar estabelecido o acesso venoso. Em Portugal através de inquérito telefônico foi encontrado em
No entanto, muitos RN são entubados eletivamente durante a 2008 por Eusébio e Fernandes que em 40 (73%) de 55 unidades
sua internação na UTI Neonatal por obstrução do tubo, piora do participantes utilizam sedação/analgesia, antes da intubação tra-
134 desconforto respiratório, extubação acidental, ou antes, de um queal do recém-nascido, 18 por rotina e 22 de modo ocasional, sen-
procedimento cirúrgico. Estes pacientes na maioria das vezes já do o fármaco utilizado mais frequentemente o midazolam, apesar
têm estabelecido um acesso venoso. da sua ausência de ação analgésica. O relaxamento muscular foi
Em 1992, pesquisa realizada em UTIs Neonatais dos EUA re- utilizado em 12 unidades (22%) sendo o vecurônio o mais usado.
velou que 84% nunca e 97% somente raramente usaram sedati- A atropina é administrada em 36% das unidades. Entretanto a exis-
vos ou relaxantes musculares para facilitar a entubação. Nas UTI tência de protocolo definido de uso em apenas 6 unidades (11%).
Neonatais do Canadá, em 1994, 88% raramente e 84% nunca Muitas intubações na UTI Neonatal continuam serem feitas
usaram analgésico para intubação, seja eletiva ou emergencial em estado acordado, isto é, sem analgesia pré-procedimento. Há
(os percentuais para sedativos foram 85 e 73% respectivamen- evidências na literatura que mostram que a intubação realizada
te). Estudo recente proveniente do Reino Unido evidenciou que com o bebê acordado é associada com aumento da pressão in-
somente 37% das UTI Neonatais usaram qualquer sedativo antes tracraniana (parece ser devido ao aumento do volume sangüíneo
da intubação e somente 14% das UTI Neonatais tinham proto- cerebral conseqüente à redução da saída do fluxo venoso do crâ-
colos para premedicação e somente 8% das UTI Neonatais usa- nio), aumento da pressão arterial sistólica (resposta observada
ram drogas para intubações eletivas ou reintubações. Pesquisa em 47% de 10 pré-termos intubados), maior variabilidade da fre-
mais recente no Canadá evidenciou que os médicos são mais qüência cardíaca do que os bebês intubados com pré-medicação,
propensos a usarem premedicação para a intubação dos RN de além do maior tempo gasto na intubação e o maior número de
maior idade gestacional e quase que exclusivamente em intuba- tentativas de intubação nos RN acordados. As alterações fisioló-
ções eletivas. Pesquisa realizada nas UTI Neonatais e Pediátricas gicas provocada pela intubação em RN acordados são suficientes
da França por Simon e cl revelou que a premedicação foi usada para produzir lesão de reperfusão e congestão venosa associada
antes da intubação para 37,1%, 67.3% e 91,7% dos neonatos, com hemorragia intraventricular e leucomalácia periventricular.
crianças e crianças maiores, respectivamente. Entre os RN, o Em comparação aos controles (intubados acordados), Stow e cl e
uso da premedicação foi raro entre os menores e a pesquisa não cl evidenciaram menor pressão intracraniana, maior estabilidade
evidenciou que a premedicação melhora as condições de intu- na freqüência cardíaca, menor pressão arterial e menor número
bação. Entre as drogas, o midazolam não parece ser a droga de de tentativa de intubação, além do menor tempo para intubação
escolha pelos riscos (quando associado ao fentanil, há risco de nas crianças que receberam tiopental e curare (ambos os grupos
parada cardíaca, hipotensão arterial e pela falta de propriedades receberam atropina). Estudo, randomizado de Pokela e Koivis-
analgésicas). Quando administrado em bolus, pode estar asso- to envolvendo 20 RN requerendo intubação eletiva mostrou no
ciado à atividade mioclônica. Attardi e cl relataram maior risco grupo que usou opióide pré-intubação significativamente menor
de dessaturação da oxihemoglobina durante a intubação nos RN pressão arterial e menor duração da hipoxia durante a intubação,
pré-termos que receberam midazolam (86% versos 0% no grupo além de menor duração do tempo para a intubação em relação
placebo), havendo também uma tendência a maior necessida- ao grupo controle. O estudo randomizado de Lemyre e cl com 34
de de reanimação cardiopulmonar nestes RN (29% versos 0% RN (média de peso de 989g e idade gestacional de 28 semanas)
no grupo placebo). Os autores alertam para o uso de midazolam não evidenciou efetividade da morfina como pré-medicação na
como premedicação na intubação de RN prematuros. Bonow e cl, intubação na redução da instabilidade fisiológica ou no tempo
Capitulo 3 Cuidados ao Recém-Nascido Criticamente Doente
necessário para a realização do procedimento. O início da ação O uso do fentanil (dose de 2,5 µg/kg – 1 a 3µg/kg) não causa
da morfina é cerca de 5 minutos, com um pico de ação ocorrendo produção de histamina, não ocorrendo assim o broncoespas-
entre 15 a 30 minutos, período muito longo para um procedi- mo. O débito cardíaco, a resistência vascular sistêmica, a re-
mento como a intubação endotraqueal, não levando a suficien- sistência vascular pulmonar e a pressão de oclusão da artéria
te relaxação para permitir adequada visualização da via aérea. pulmonar são preservadas.
Houve uma tendência a hipoxemia ser maior no grupo tratado. O Há vantagens em associar ao analgésico um miorelaxante
uso do fentanil associado ao miorelaxante evita a rigidez de caixa muscular? Estudos evidenciaram menos episódio de hipóxia, as-
torácica. É inaceitável o uso do miorelaxante sem analgesia. Ne- sim como maior sucesso da intubação (menor tempo e menor
nhum outro estudo relatou eventos adversos quando um opióide número de tentativa s de intubação) com esta associação.
foi usado com miorelaxante. No entanto, o papel do miorelaxante Administrar inicialmente a atropina, seguido do curare que
precisa melhor ser definido. tem início de ação por um a dois minutos e o fentanil . A ad-
Quanto às drogas: a revisão sistemática de Shah e cl mos- ministração do fentanil lentamente em 30 segundos evita a
trou uma variabilidade no uso de drogas como premedicação na ocorrência de rigidez da parede torácica, após a ventilação com
intubação dos RN: anticolinérgicos, analgésicos, agentes anes- máscara,
tésicos, relaxantes musculares, sedativos, usados isoladamen- O midazolam não é um analgésico, é um sedativo e o seu uso
te ou em várias combinações. A combinação mais comumente está associado com aumento de alguns efeitos adversos sérios
avaliada foi a da atropina, fentanil e succinilcolina. A maioria durante a intubação: diminui o débito cardíaco, diminui ao ve-
destes estudos foi conduzida sob circunstâncias relativamente locidade do fluxo sanguíneo, e tem cinética muito variável (tem
controladas, tais como intubação eletiva ou semi-eletiva (cirurgia uma meia vida de 22 horas e nos casos de doses repetidas, até
ou troca de tubo endotraqueal). Devido os estudos usarem dife- 7 dias!). O uso de midazolam durante a ventilação mecânica está
rentes drogas e medidas de prognósticos, Shah e cl foram inca- associado com aumento de efeitos adversos neurológicos e não
pazes de identificar dois estudos dos quais os dados pudessem deve ser usado na intubação do neonato. Não usar o “pacoti-
ser sumarizados usando a técnica de metanálise. Portanto, a nho” MIDAZOLAM+FENTANIL (descritas síndromes neurológicas,
evidência disponível a respeito da eficácia e efetividade das dife- havendo potencialização dos efeitos adversos com mais hipoten-
rentes drogas para a premedicação nos RN é limitada (pequeno são e esta está associada à leucomalácia e óbito)
número de RN estudados). Os resultados de alguns dos estudos Na Unidade de Neonatologia do Hospital Regional da Asa Sul
sugerem uma atenuação das respostas fisiológicas nos RN que usamos a seguinte combinação como pré-medicação na intuba-
recebem premedicação para a intubação. Nenhum estudo traz ção eletiva e semi-urgente:
informações relevantes do prognóstico a curto prazo, como du- O termo sequência rápida de intubação (SRI) surgiu na década
ração da ventilação mecânica, desenvolvimento neurocomporta- de 1980 como extensão da seqüência rápida de indução anes-
mental, estenose subglótica. As Unidades Neonatais necessitam tésica. Foi observado que o uso de pré-medicamentos facilitava
desenvolver específicos guias práticos a respeito da premedica- e tornava o procedimento mais seguro e com maior índice de
ção para a intubação e assegurar que todos os médicos estejam sucesso. Em 1990, Yamamoto relatou o uso com sucesso da se- 135
familiarizados com os efeitos das drogas usadas. Em situações qüência rápida de intubação em 19 pacientes pediátricos que
como anormalidade da anatomia da via aérea superior (severa necessitaram de intubação traqueal de emergência.
micrognatia, estenose subglótica), a intubação do RN acordado Os procedimentos SRI consistem na utilização da seguinte se-
parece ser aceitável. Havendo a decisão do uso de premedica- quência de ações:
ção, estas devem ser feitas com atenção e com monitorização do
estado cardiorespiratório por profissionais competentes. Futuros 1. Período de oxigenação a 100% ventilação com pressão
estudos deverão ser realizados para documentar a segurança e positiva sob máscara,
eficácia da premedicação na intubação de RN pré-termos e a ter- 2. Atropina: 0,01mg/kg
mo instáveis e estáveis. Um segmento de longo prazo destes RN 3. Bloqueador neuromuscular de ação rápida e curta
deve ser incluído no desenho destes ensaios. 4. (Rocurônio: 0,5mg/kg ou vecurônio: 0,1mg/kg). Na
Portanto, a extrapolação de informação de adultos e da lite- falta, usar succinilcolina:1-1,5mg/kg/dose (complica-
ratura pediátrica nos sugere que a intubação do neonato acor- ções: fasciculação muscular, aumento da pressão arte-
dado é provavelmente inapropriada. Devido à atenuação das rial, intracraniana, hiperpotassemia
respostas fisiológicas, o uso da premedicação na intubação dos 5. Seguida por um analgésico com as mesmas caracte-
RN está indicado, devendo esta premedicação ser administrada rísticas,
por médicos qualificados. 6. (Fentanil:2,5µ/kg)
Quais são estas drogas ou combinação de drogas que deve- 7. Aplicação de pressão na cartilagem cricóide (manobra
ríamos usar: de sellick), para realizar rapidamente e nas melhores con-
Atropina: inibe a bradicardia em resposta a estimulação vagal; dições a laringoscopia seguida da intubação orotraqueal.
sem efeitos colaterais
O relaxamento muscular (succinilcolina/rocurônio/vecurônio) O propofol não está indicado na SRI nos RN por falta de mais
reduz o aumento da pressão intracraniana e reduz o tempo para estudos farmacocinéticos
a intubação e não tem efeitos adversos (consulte o capítulo de
Uso de Curare na UTI Neonatal.
É importante lembrar que como a intubação é um processo
doloroso, devemos fazer a analgesia e não sedação. A melhora
droga no momento é o fentanil. No futuro, o análogo do fentanil,
o alfentanil poderá se tornar o melhor agente, devido a sua dura-
ção de ação ser de alguns minutos, pois é metabolizada de for-
ma diferente (o fentanil tem uma meia vida em prematuro de 10
horas). Assim, o análogo do fentanil é a melhor escolha do que
o fentanil. No entanto, o fentanil é melhor do que a morfina, pois
esta leva 10 minutos para ter um bom efeito analgésico.
Paulo R. Margotto
Assistência ao Recém-Nascido de Risco
Medicação Ação Dose Via Efeito Adverso Buscando então uniformizar a conduta e estabelecer uma rotina na
0,01 a assistência propomos para a Unidade de Terapia Intensiva Neonatal
Anticolinér- Taquicardia, tremo- do Hospital Regional da Asa Sul a utilização de uma seqüência rápida
Atropina 0,02 mg/ EV
gico res e inquietação de ações e fármacos para intubação eletiva dos RN aqui atendidos.
kg/dose
Rigidez torácica, Serão eleitos para intubação eletiva:
depressão respira-
Analgésico, 1-3чg/kg/
Fentanil EV tória, aumento da 1. Pacientes que serão submetidos a cirurgia,
narcótico dose
pressão craniana e 2. Sinais indicativos de falência respiratória, onde o risco
hipotensão de parada cardiorrespiratória seja iminente,
0,5 mg/kg/ 3. Hipoventilação, choque séptico ou cardiogênico, coma,
Rocurônio Curarizante EV
dose pós-operatório e politraumatismo.
Efeitos colaterais
Bloqueador 0,15 mg/ A intubação traqueal deve ser sempre procedida por pessoal
Vecurônio EV cardiovasculares
muscular Kg habilitado e experiente.
mínimos
Será oferecida ao recém nascido fonte segura de oxigênio sob
máscara com pressão positiva (CFR).
Planilha para o cálculo de doses:
Para um recém-nascido de 3kg Conclusões
Paulo R. Margotto
Assistência ao Recém-Nascido de Risco
3.6 FISIOTERAPIA
Fisioterapia Respiratória
Tem por objetivo manter vias aéreas pérvias, prevenir as com- de vias aéreas observa-se a persistência dos seguintes
plicações pulmonares e melhorar a função respiratória nas pato- sinais clínicos e laboratoriais:
logias que acometem o período neonatal. • Secreção visível em vias aéreas ou na cânula traqueal
O neonato apresenta algumas peculiaridades estruturais e fun- • Presença de roncos ou estertores grossos localizados ou
cionais que prejudicam a eliminação de secreção das vias aére- difusos na ausculta pulmonar
as, tais como mecânica respiratória pouco eficiente na manuten- • Imagens radiológicas sugestivas de retenção de secre-
ção do volume pulmonar, vias aéreas mais estreitas, deficiência ção em vias aéreas inferiores como atelectasias
de ventilação colateral (menor quantidade de poros de Lambert • Deteriorização aguda da função pulmonar (hipoxemia e/
e Kohn) e imaturidade do mecanismo da tosse. ou hipercapnia), acompanhada de sinais clínicos de au-
Uma série de fatores pode comprometer a depuração das vias mento do trabalho respiratório ou da diminuição do vo-
aéreas, esgotando a capacidade dos mecanismos de mantê-las lim- lume corrente efetivo, se disponível a monitorização da
pas, causando a retenção de secreções. Entre as principais causas mecânica respiratória.
destacam-se aquelas que aumentam a produção ou alteram as ca-
racterísticas do muco e as que prejudicam o movimento mucociliar. Deve-se ressaltar que na maioria dos recém-nascidos uma boa
posição e a manutenção do volume pulmonar são mais bené-
Alteração da permeabilidade de vias aéreas ficas do que o uso de manobras estressantes. Antes de iniciar
• Intubação traqueal qualquer intervenção é fundamental estabelecer um programa
• Traqueobroncomalácia de atendimento fisioterápico, que inclui a definição clara dos ob-
• Estenoses traqueais jetivos terapêuticos, determinação das prioridades e a aplicação
• Estenoses ou edema subglótico rigorosa das técnicas escolhidas. Além disso, o programa deve
prever a reavaliação contínua da efetividade e da eficácia das
Aumento da quantidade de secreção pulmonar técnicas utilizadas e a ocorrência de complicações, no sentido de
• Processos inflamatórios modificar as estratégias de atendimento de acordo com a evolu-
138 • Pneumonias ção do quadro. Tal programa se inicia com a avaliação cuidadosa
• Doença pulmonar crônica do paciente. É de suma importância que se conheça:
• Baro/volutrauma
• Uso de gases com umidificações e aquecimento inade- • História obstétrica e materna do RN;
quado • Idade gestacional;
• Uso de altas concentrações de oxigênio • Peso ao nascimento;
• Oferta hídrica inadequada: hiper ou hipohidratação • Boletim de Apgar;
• Tipo e condições do parto;
Inibição ou diminuição do reflexo de tosse • Doença pulmonar de base.
• Uso de drogas sedativas e/ou analgésicas
• Lesão do sistema nervoso central A avaliação do RN consta de:
• Distúrbios músculo esqueléticos
• Dreno torácico Inspeção
• Pós-operatório de cirurgia abdominal e torácica
Na inspeção devemos observar:
Indicação
• Postura e tônus muscular;
Indicam-se manobras de higiene brônquica para auxiliar a re- • Comportamento e estado do sono:
cuperação dos problemas respiratórios associados aos pós-ope-
ratórios, às lesões neurológicas e a própria doença dos pulmões, Na avaliação do quadro respiratório interessa o reconhecimen-
sempre que a secreção em vias aéreas for um fator agravante e to de um estado em particular do sono, o ativo, em que ocorre o
que leve às alterações na função pulmonar. As doenças ou condi- movimento ocular rápido (REM), caracterizado pela diminuição ge-
ções nas quais a fisioterapia respiratória pode ser indicada são: neralizada do tônus muscular, incluindo os músculos respiratórios,
propiciando o aparecimento de distorções da caixa torácica, que di-
• Síndrome do desconforto respiratório do recém-nascido minuem a efetividade dos movimentos respiratórios e predispõem
• Síndrome da aspiração de mecônio a ocorrência de fadiga muscular. Sabe-se que os bebês prematuros
• Displasia broncopulmonar permanecem cerca de 80% do tempo de sono neste estado.
• Pneumonias neonatais
• Pós-operatório Condições da pele
• Doenças neuromusculares
• Não há um consenso na literatura sobre o melhor critério Devem ser observadas sua integridade, presença de contusões,
para indicar as manobras de higiene brônquica. Inicia- lacerações e presença de drenos torácicos que geralmente causam
se a fisioterapia respiratória se, mesmo após a aspiração dor e podem limitar a expansibilidade torácica.Verificar, ainda, se há
alterações na coloração da pele, tais como palidez e cianose.
Capitulo 3 Cuidados ao Recém-Nascido Criticamente Doente
Paulo R. Margotto
Assistência ao Recém-Nascido de Risco
Evitar que o neonato fique na mesma posição por período pro- mas costelas, formam um pilar. A ausência do apoio abdominal
longado. Por exemplo, normalmente o RN é mantido em decúbito permite que a pressão torácica se dissipe via abdominal impe-
dorsal por dias. Nesta posição somente a porção anterior dos dindo a transmissão dessa pressão via arteriovenosa para o fluxo
segmentos superiores é drenada e, com o tempo, progressiva- sanguineo cerebral. Essa técnica pode ser usada em crianças in-
mente, os lobos inferiores sofrem hipoventilação. tubadas e no pós-extubação. A pressão gerada é leve, não produz
A decisão de qual segmento ou lobo pulmonar deve ser drena- desconforto ou agitação.
do e conseqüentemente a escolha da postura correta é baseada
na avaliação clínica cuidadosa e na análise dos raios X de tórax. Drenagem Autógena Assistida - DAA
No decúbito lateral em recém-nascidos observa-se diminuição
da ventilação no pulmão dependente. Tal recurso tem sido utili- A drenagem autógena assistida (DAA) é uma adaptação da dre-
zado para promover a hipoventilação localizada, colocando o ne- nagem autógena (DA), em que, após um esvaziamento pulmonar
onato em decúbito lateral com o lado comprometido na posição máximo, acompanha-se a expiração e depois mantém-se uma
dependente, nos casos de enfisema intersticial localizado, pneu- pressão leve, fazendo inicialmente com que a criança respire
motórax unilateral não hipertensivo, enfisema lobar congênito dentro do volume de reserva expiratório com o objetivo de desco-
unilateral, e para diminuir o fluxo de gases na fistula bronco-pleu- lar as secreções. Essa técnica foi adaptada para recém-nascidos
ral. Além disso, nas situações de atelectasia pode-se posicionar prematuros com a colocação da própria fralda para sustentação
o bebê em decúbito lateral com a região comprometida do lado do abdome e a mão torácica entre a fúrcula esternal e a linha
não dependente para favorecer a ventilação e insuflar o pulmão intermamária, que é a mão que realiza a pressão.
ou segmento pulmonar atelectático.
Reequilíbrio Tóraco-Abdominal – Método RTA
Vibrocompressão
Quando se refere a um distúrbio respiratório, freqüentemente
A vibração manual consiste em posicionar a mão espalmada aborda-se a doença pulmonar em primeiro plano. Porém, deve-se
na parede do tórax sobre o segmento pulmonar a ser drenado. estar atento ao fato de que o tórax é uma “bomba” e o pulmão é
A seguir, iniciam-se as contrações isométricas dos músculos do pouco efetivo sem esta “bomba” para movê-lo
antebraço e mão que produzirão a energia cinética sob forma de Dentro das técnicas de fisioterapia respiratória, é reconheci-
movimentos vibratórios, a qual será transmitida para o interior do do um método que incentiva a ventilação pulmonar por meio da
tórax. E, por fim, desliza-se a mão em direção ao brônquio fonte normalização do tono, comprimento e força dos músculos respi-
correspondente respeitando a anatomia das costelas. Durante ratórios. O método reequilíbrico torácico abdominal apóia-se no
a realização de tal manobra, procurar manter a mão em conta- entendimento de que as disfunções respiratórias resultam em
to com a parede torácica. A vibrocompressão deve ser aplicada alterações musculares, posturais e sensoriomotoras.
somente na fase expiratória do ciclo respiratório espontâneo ou Este método foi assim denominado porque as alterações me-
140 mecânico. Esta manobra está contra-indicada nos recém-nasci- cânicas resultantes de doenças pulmonares demonstram um de-
dos de extremo baixo peso, na presença de enfisema intersticial sequilíbrio de forças entre os músculos acessórios da inspiração
não drenado e na hemorragia pulmonar. e expiração. Essas disfunções musculares modificam a configu-
ração do tronco, alteram a geometria do tórax e do abdome bem
Manobra Que Interfere No Fluxo Expiratório (AFE) como dificultam o funcionamento normal do diafragma e múscu-
los acessórios, inspiratórios e expiratórios.
Está fundamentada no princípio da Aceleração do Fluxo Expi-
ratório (AFE), baseadas na fisiologia da tosse, ou seja, o objetivo Técnica:
principal é o de gerar uma alta velocidade de fluxo de gás na A técnica deste método consiste de um manuseio dinâmico
fase expiratória com intuito de desprender as secreções aderidas sobre o tronco, em que o terapeuta deve atuar no sentido de su-
na parede da árvore respiratória. Utiliza-se a insuflação pulmo- prir as falhas dos músculos respiratórios oferecendo pontos fixos,
nar fisiológica durante a respiração espontânea ou a mecânica apoios e alongamento muscular para facilitar o funcionamento
durante a ventilação pulmonar mecânica. O aumento do fluxo muscular normal.
expiratório é alcançado através de um movimento tóraco-abdo- O método RTA aborda a desobstrução brônquica por meio de
minal sincronizado. Tal manobra inicia-se ao final da inspiração incremento ventilatório, movimentação fina e qualitativa do tórax
e estende-se pela fase expiratória, não ultrapassando os limites e normalização da tonicidade abdominal.
fisiológicos do recém-nascido. Esta técnica é uma alternativa Evitar:
para os pacientes debilitados e instáveis que necessitam da re-
moção de secreção das vias aéreas, pois dispensa as mudanças • Flexão de pernas sobre tronco, Hiperextensão e hiperfle-
de decúbito, como acontece com as outras manobras convencio- xão cefálica
nais.Além disso, este recurso fisioterápico pode ser utilizado em • Fraldas apertadas (dificultando a projeção das vísceras
crianças com refluxo gastroesofágico, desde que seja realizado para frente com conseqüente diminuição da expansibili-
na posição prona e longe das mamadas. A manobra está contra- dade diafragmática)
indicada nos casos de instabilidade hemodinâmica, hipertensão • Rotação do pescoço Em decúbito dorsal, manter a cabe-
intracraniana, hemorragia intraventricular grave, osteopenia da ça na linha média e elevada a 30°, pois nesta situação
prematuridade e distúrbios hemorrágicos. a pressão intracraniana é menor. Rotação abrupta da
cabeça para o lado causa obstrução da veia jugular ipsi-
Técnica Da Ponte lateral e aumento na pressão intracraniana.
Essa técnica já foi adaptada para o período neonatal, onde não Considerando-se a imaturidade da árvore brônquica dos RN
se utiliza a contrapressão. Realiza-se apenas um apoio abdomi- prematuros, pode-se, através da estimulação global do RN, pro-
nal e a mão torácica para uma pressão expiratória. Ela ainda foi mover uma resposta a nível de tono muscular, principalmente
readaptada para o recém-nascido prematuro e foi denominada dos músculos inspiratórios e pela conseqüente estimulação
técnica da ponte. O polegar e o indicador, posicionados nas últi- dos centros bulbares, incrementar a atividade respiratória. A
Capitulo 3 Cuidados ao Recém-Nascido Criticamente Doente
estimulação do diafragma mecanicamente através da mobili- Como proceder ante os sinais de estresse:
zação passiva de sua inserções a nível da coluna lombar, ar-
cos costais internos e externos é amplamente conhecido pelos • Fazer uma pausa, de modo a aguardar que o próprio bebê
médicos neonatologistas em casos de apnéias transitórias dos dê um sinal para continuar a interação ou o procedimento;
recém-nascidos pré-termos. • Instituir manobras de organização, observando as res-
Também a estimulação sistemática dos reflexos nos RN pré- postas do bebê diante delas;
termos promove uma maior atividade das estruturas encefálicas, • Suspender a interação ou o procedimento, caso o bebê
contribuindo para sua maturação. Assim um reflexo de preensão não responda adequadamente às duas manobras ante-
palmar , quando estimulado, estabelece uma sucção mais eficaz riores e continue a apresentar sinais de estresse.
e vice-versa, por exemplo, sempre que se quer estimular a motri-
cidade residual de grupos musculares ou músculos específicos, o Aspiração
fisioterapeuta pode dirigir as respostas motoras do RN para esta
finalidade, através da estimulação reflexa. Em alguns casos de As alterações fisiológicas induzidas pela aspiração ainda são
paralisia facial, utilizam-se os reflexos de procura e sucção por pouco conhecidas. Sabe-se, no entanto, que decorrem da interrup-
estimulo tátil, térmica ou proprioceptiva nos territórios afetados ção da ventilação mecânica e da presença do cateter em vias aé-
com resultados visíveis, pela abordagem precoce já na Unidade reas. A desconexão entre o paciente e o aparelho leva à perda da
de Neonatologia e, na continuidade, ao se orientar as mães. capacidade residual funcional e do volume pulmonar que resultam
em hipoxemia hipercapnia. Esses efeitos podem ser minimizados
Estimulação Tátil e Cinestésica com uso do sistema fechado para aspiração traqueal. Com relação
aos efeitos cardiovasculares, admite-se, atualmente, que não se-
A intervenção por meio de estímulo táteis suaves ao longo do jam somente uma resposta fisiológica à hipoxemia. As alterações
corpo do bebê e da estimulação cinestésica com movimentos da pressão arterial e do ritmo cardíaco parecem ser mediadas pelo
passivos articulares pode ser benéfica ao RNPT, propiciando um sistema nervoso autônomo através da estimulação dos recepto-
maior ganho de peso diário, uma melhor qualidade do estado de ressimpáticos e parassimpáticos localizados nas vias aéreas proxi-
alerta, habituação e tono muscular. Field e cl (12) verificaram que mais pelo cateter de aspiração. A ativação dos primeiros resultaria
a estimulação tátil e cinestésica podem facilitar o crescimento e em vasoconstrição periférica e aumento da pressão arterial, en-
a organização comportamental em RNPTs. quanto que as bradarritmias seriam decorrentes da estimulação
A estimulação tátil parece ser benéfica quanto à redução na do sistema parassimpático. Essas respostas podem ser críticas no
incidência de episódios de apnéias e bradicardia. período neonatal, em particular nos recém-nascidos pré-termos e
O toque suave pode ter apenas o objetivo de proporcionar ao naqueles que cursam com encefalopatia hipóxico-isquêmica, já
bebê uma experiência não dolorosa. Em um estudo realizado que nesses pacientes a irrigação do cérebro torna-se “pressão-
com bebês mecanicamente ventilados, foi verificado que a sim- passiva” em conseqüência da perda da auto-regulação do fluxo
ples colocação das mãos sobre o abdome e a cabeça do bebê sangüíneo . Nessa condição, a perfusão cerebral fica exposta às 141
proporcionou melhoras nas respostas da atividade motora e in- flutuações da pressão arterial sistêmica, aumentando os riscos
terferiu no período de duração da ventilação mecânica, reduzin- do aparecimento de lesões tanto isquêmicas como hemorrágicas.
do o período de intubação. Vários estudos relatam aumento do fluxo sangüíneo cerebral e da
Entretanto é necessário ressaltar que essas intervenções se- pressão intracraniana durante a aspiração traqueal.
jam realizadas respeitando-se o estado comportamental em que A aspiração das vias aéreas tornou-se de tal maneira rotineira
o bebê se encontra. Há bebês, principalmente RNPRs extremos em UTI, que existe uma tendência a esquecer suas complica-
em situação clínica instável que podem não tolerar o manuseio, ções e riscos. Mesmo quando realizada apropriadamente, a as-
apresentando respostas fisiológicas negativas, tais como hipoxe- piração é um procedimento que envolve cuidados e obediências
mia, bradicardia, apnéia e irritabilidade. e certos rigores técnicos. Sua indicação baseia-se na evidência
Os pais devem ser incentivados a tocar o seu bebê e visita-lo de sinais diretos ou indiretos de acúmulo de secreção nas vias
com freqüência, sendo isto benéfico para se reestabelecer o vín- aéreas ou tubo endotraqueal.
culo na relação pais/bebê e acelerar a sua recuperação. Com base nesses sinais é que se vai determinar a freqüência
das aspirações. A aspiração remove não só a secreção como tam-
Teoria Síncrono – Ativa bém os gases na árvore traqueobrônquica e alveolar, dependendo
da maneira como é realizada. A quantidade de oxigênio disponível
Desenvolvida pela Doutora Heidelise Als, mostra que nosso à circulação arterial pode ser severamente reduzida se a aspiração
funcionamento compreende vários níveis, os subsistemas auto- se prolongar por mais de 10 segundos. Baseado nisto devemos
nômico, motor, de estados comportamentais, de atenção/intera- aumentar em 20% ou 100% (FiO2) antes de cada aspiração. Aspi-
ção. Cada um desses sistemas está estreitamente relacionado rações prolongadas e repetidas na ausência de secreção traqueal
com os outros e com o meio, ou seja, trata-se de um funciona- determinam freqüentemente a ocorrência de traqueíte. Isto ocorre
mento sinático onde os subsistemas não somente existem lado a principalmente quando a aspiração é desnecessária. Durante a as-
lado, mas interagem entre si, dando suporte e reforçando um ao piração, a pressão negativa gerada pode fazer com que a mucosa
outro em busca do estado de equilíbrio (homeostase) seja sugada através dos orifícios do catéter e com a movimentação
A tarefa primária do bebê pré-termo é a obtenção da homeosta- do catéter, esses pequenos fragmentos de mucosa são desloca-
se, apesar da ampla variedade de estímulos que são lançados em dos da parede traqueal. A oclusão da via aérea pela presença de
subsistemas que não estão prontos para tal estimulação. Esses es- calibre exagerado da sonda de aspiração é causa de hipoxemia e
tímulos estão alterando, para melhor ou para pior, a real estrutura microatelectasias. Existe o risco de infecção por contaminação ou
do cérebro. O cuidador, na UTI neonatal, poderá usar as respostas bacteremia decorrente da falta de cuidado com assepsia durante
do pré-termo em cada um dos subsistemas, por meio da modulação a realização da técnica.
dos estímulos e da facilitação das respostas do bebê, de forma a
adequar o “gasto energético” e favorecer o desenvolvimento.
Paulo R. Margotto
Assistência ao Recém-Nascido de Risco
Cuidados antes do procedimento: termos. Nesta postura, a musculatura recebe maior estímulo tátil
e proprioceptivo, tornando-o mais efetivo. Quanto ao desenvolvi-
• Falar suavemente antes de tocar, observando como o mento neuropsicomotor, o posicionamento em prono facilita uma
bebê reage a essa estimulação; postura mais flexora pela ação da gravidade, e o RN permanece
• Posicionar e dar contenção elástica; mais tempo em estado de sono quieto, desorganiza-se menos
• Evitar mudanças súbitas de postura; e chora com menor freqüência. O decúbito ventral minimiza os
• Respeitar o estado comportamental do bebê, se estiver efeitos do reflexo gastroesofágico e reduz os riscos de aspiração.
protestando ou chorando, consolá-lo completamente No entanto, a posição da cabeça pode alterar a resistência ao
antes da realização do procedimento. Quando um pro- fluxo aéreo por deformação das vias aéreas superiores e do tubo
cedimento que causa diminuição da oxigenação é logo endotraqueal além de limitar a excursão abdominal por tempo
seguido por outro, o período de hipoxemia é maior, e a prolongado podendo aumentar o trabalho respiratório.
habilidade de recuperação espontânea fica diminuída.
Posicionamento Em Decúbito Dorsal
Material
O RN fica mais desorganizado, sendo este posicionamento
Todo material a ser utilizado deverá ser separado no início do mais freqüente, no momento da aspiração, ou quando alguma
tratamento fisioterápico. Serão necessários: patologia não permite que se coloque o RN em prono, como nos
primeiros momentos da colocação do catéter umbilical ou cirur-
• Aspirador a vácuo com manômetro de parede ou elétrico; gia recente. Pode trazer efeitos não desejados ao bebê, como
• Látex para cada RN (individual); hiperextensão de pescoço, elevação de ombros, retração esca-
• Luvas estéreis descartáveis; pular, achatamento da cabeça. Não promove flexão, permitindo
• Sonda de aspiração traqueal (correspondente ao tubo); maior efeito da gravidade, dificultando as atividades de linha
• Medida da sonda (para aspiração do tubo) – obrigatório. média, sendo mais estressante (mais alterações de sono, mais
sustos e maior agitação).
Técnica de Aspiração
Posicionamento Em Decúbito Lateral
Esta técnica é um procedimento realizado com rigor assépti-
co, sendo necessárias duas pessoas para realizar aspiração no É uma postura vantajosa sob o aspecto do desenvolvimento
tubo endotraqueal. Durante a aspiração, deve-se monitorizar neuropsicomotor, pois facilita a flexão ativa ao nível do tronco e
continuamente a freqüência cardíaca e a saturação de O2, quan- quadril, a melhor orientação entre mão e a linha média e entre
do for possível. Os efeitos deletéricos da aspiração podem ser a mão e a boca, que favorecem desenvolvimento da auto-orga-
minimizados aumentando-se a fração inspiratória de oxigênio nização e simetria. Além disso, o decúbito lateral direito auxilia
142 (FiO2) em 20% de seu valor inicial, ou em 100%, previamente a no esvaziamento gástrico pós-gavagem. O decúbito lateral es-
realização da técnica. Para neonatos, recomenda-se o uso de querdo parece favorecer a redução na duração dos episódios
pressões negativas entre 7 cm H2O a 12 cm H2O. O bebê deve de refluxo gastroesofágico.
estar posicionado em decúbito dorsal com o pescoço na posição
neutra. Para aspirar o brônquio fonte direito, deve-se virar a ca- A Fisioterapia na Displasia Broncopulmonar
beça para o lado esquerdo e vice-versa. Introduzir a sonda com
o vácuo fechado, não ultrapassando a medida previamente mar- Algumas manifestações clínicas justificam a fisioterapia respi-
cada na sonda. A duração desta manobra deve ser mínima, não ratória na displasia broncopulmonar (DBP) tais como:
ultrapassando 10 segundos. Depois disso, retirar a sonda com
movimentos rotatórios suaves. Aspirar cavidade nasal e boca a • Presença de anormalidades do controle respiratório;
seguir. Recomenda-se atualmente que a temperatura dos gases • Aumento na produção de secreção;
inspirados na entrada do tubo endotraqueal deva se situar entre • Infecções respiratórias;
32°C e 34°C e 100% de umidade relativa equivalente a uma • Alterações na mecânica pulmonar, principalmente altera-
umidade absoluta de 34 a 37 mg H2O/L. A umidificação inade- ções do gradiente de pressão entre o tórax e o abdome;
quada dos gases inalados pode causar disfunção e destruição ci- • Alterações posturais e alterações no desenvolvimento
liar, ulcerações , inflamações nas vias aéreas, e ressecamento da neuromotor.
mucosa e do muco, levando a uma maior retenção de secreções.
A fisioterapia respiratória atua na remoção de secreções de
Posicionamento vias aéreas superiores e inferiores assim como na mecânica
respiratória utilizando-se de exercícios de membros superiores e
Alternar os decúbitos com certa freqüência (de 2 a 4 horas) e inferiores assim como de alongamentos.
posicionar corretamente o bebê, podem ser procedimentos bené- Os objetivos da fisioterapia respiratória consistem em: preve-
ficos tanto para o aparelho respiratório, prevenindo a estase de nir/diminuir as complicações da obstrução por secreção que le-
secreções, funcionando com um estímulo para a parede torácica e vam aos mecanismos de válvula, principalmente as hiperinsufla-
facilitando a reexpansão pulmonar em áreas atelectasiadas, quan- ções e as atelectasias; má distribuição da ventilação; alterações
to para o desenvolvimento neurosensorial e psicomotor do bebê, na relaçãoV/Q e aumento do trabalho respiratório.
além de propiciar um maior conforto e evitar escaras de decúbito. A remoção de secreções infectadas das vias aéreas reduz os me-
diadores inflamatórios e a atividade proteolítica oxidativa das vias
Posicionamento em Decúbito Ventral aéreas, prevenindo/reduzindo as lesões teciduais decorrentes.
A partir de 1990 surgiram técnicas atuais que se baseiam na
Posicionar o bebê em decúbito ventral significa oferecer me- variação do fluxo aéreo. Essas técnicas melhoram a mecânica
lhor estabilidade à caixa torácica e conseqüentemente, maior respiratória e a saturação de O2, apresentam mais eficiência em
acoplamento torácico abdominal, facilitando aos músculos respi- menor tempo de terapia, não provocam alteração na saturação
ratórios a expansão do tórax altamente complacente dos RN pré- de O2 ou outras alterações hemodinâmicas.
Capitulo 3 Cuidados ao Recém-Nascido Criticamente Doente
São elas: desobstrução rinofaríngea retrógrada, AFE (aumento máximo por volta da 23ª e 24ª semana de gestação e involuindo
do fluxo expiratório), técnica da ponte, expiração lenta e prolon- progressivamente até desaparecer por volta da 36ª semana.
gada e a DAA (drenagem autógena assistida). Baseado nessas considerações sobre a fisiopatologia da he-
morragia cerebral, conclui-se que o papel da fisioterapia nas al-
terações do fluxo sanguineo cerebral pode ser tanto um fator de
Desobstrução Rinofaríngea Retrógrada amenização quanto desencadeante.
Um programa de fisioterapia bem elaborado, respeitando a fi-
A desobstrução rinofaríngea retrógrada consiste na elevação da siologia do fluxo sanguineo cerebral e suas possíveis alterações,
mandíbula inferior com fechamento da boca para que a criança faça pode prevenir alguns dos fatores que causam o sangramento,
uma nasoaspiração. Pode ser associada à instilação de soro fisioló- uma vez que diminui os episódios de hipoxemia causados pelo
gico ou substância medicamentosa sob prescrição médica. Pode ser acúmulo de secreções e suas complicações, bem como reduz o
usada em crianças pequenas e produz pouco desconforto. É bastan- tempo de ventilação assistida.
te utilizada no pós-extubação onde a secreção está mais espessa A avaliação deve ser constante. Essas crianças com DBP, devi-
e aderida liberando a via nasal e promovendo uma nasoaspiração. do à perda de arquitetura das vias aéreas periféricas, perda de fi-
Esta técnica reduz a necessidade de aspiração freqüente. bras de colágeno e de elastina e por apresentarem um volume de
reserva expiratório baixo tendem ao colapso dinâmico das vias
Aumento Do Fluxo Expiratório - AFE aéreas ao final da expiração, conduzindo a um broncoespasmo
com sibilância e aprisionamento de ar.
A AFE é uma técnica usada para desobstrução das vias aéreas Se a criança está fazendo uso de oxigenoterapia, aumentamos
e utiliza como princípio o aumento do fluxo expiratório. Foi des- em 10% visando a manutenção da SpO2 entre 92-95%.
crita em 1970 como uma pressão tóraco-abdominal simultânea Alterações posturais e atrasos no desenvolvimento neuromo-
utilizando-se uma mão torácica colocada entre a fúrcula esternal tor frequentemente estão presentes nos pacientes com DBP. O
e a linha intermamária e uma mão abdominal colocada sobre a posicionamento corporal restrito e as compressões articulares
cicatriz umbilical e as últimas costelas. prolongadas predispõem às deformidades, aos encurtamentos
articulares e musculares. As manifestações clínicas são: predo-
Técnica da Ponte (Já Descrita Anteriormente). mínio da musculatura extensora sobre a flexora, hiperextensão
da cabeça, hiperextenção de tronco, retração escapular e de om-
Expiração Lenta E Prolongada bro e hipertonia global. Instala-se, muitas vezes o falso torcicolo
congênito. Esse falso torcicolo leva a uma alteração da postura
A expiração lenta e prolongada foi uma técnica descrita em da cabeça impedindo o seguimento visual de um lado devido ao
1980 na Bélgica por Guy Postiaux. Apesar da mesma colocação encurtamento muscular e diminuição da mobilidade.
das mãos, ela tem uma diferença fundamental da AFE. Ela não Nessas crianças realizamos alongamentos mesmo com a criança
pode ser adaptada para crianças mais novas. Deve ser utilizada intubada, fazendo o relaxamento da cintura escapular, alongamento 143
uma pressão torácica e uma pressão abdominal esvaziando to- da musculatura do pescoço, trabalhamos com mobilização intra-
talmente o pulmão e permitindo que a criança realize algumas articular de ombro produzindo um relaxamento, exercícios de mem-
incursões respiratórias próximas ao volume de reserva expirató- bros superiores e inferiores, exercícios globais que nós só iniciamos
rio, fazendo com que as secreções se mobilizem das vias aéreas quando a criança consegue manter uma saturação de oxigênio ade-
mais distais. É indicada a partir do primeiro mês de vida e quan- quada sem aumento do gasto energético, relaxamento de tronco
do não há diagnóstico de refluxo gastroesofágico. e por último, posicionamento terapêutico que sempre foi utilizado
como mecanismo não invasivo para melhora da oxigenação.
Drenagem Autógena Assistida – DAA Do nascimento até o primeiro ano de vida o sistema músculo-
(Já Descrita Anteriormente). esquelético é plástico e responsivo ao posicionamento. O posi-
cionamento terapêutico promove a flexão e o comportamento na
As técnicas atuais baseiam-se na aceleração ativa ou passiva linha média, diminui a rotação externa de quadril e a retração
do fluxo expiratório, com melhores resultados para o clearan- escapular, reduzindo a desorganização e promovendo a melhora
ce mucociliar, oxigenação e função pulmonar, proporcionando no crescimento ósteo-muscular.
melhor qualidade de vida e autonomia para os pacientes. Para A posição prona ainda hoje é a mais utilizada visto que ela aumen-
prematuros, lactentes ou crianças pequenas que necessitam de ta a SaO2, a PaO2, melhora o índice de oxigenação, melhora a sin-
técnicas passivas, a AFE parece o “elo” de ligação entre as técni- cronia tóraco-abdominal e diminui os episódios de queda de SaO2.
cas convencionais e as atuais, proporcionando a esses pequenos
pacientes os mesmos benefícios. Bibliografia
Algumas precauções devem ser tomadas para a aplicação das
• Procianoy SR. Oxigenoterapia inalatória. IN: Kopelman B, Myoshi M, Guinsburg R. Distúr-
técnicas, a idade gestacional do RN é um fator relevante para a bios Respiratórios no Período Neonatal. Atheneu, São Paulo, pg 397, 1998.
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• Murahovschi J. Drenagem postural e fisiatria respiratória, Sarvier, 4ª Edição, pg 27, 1983
derada uma doença de origem multifatorial. Vários determinantes • Lisboa AC, Margotto PR. Morbimortalidade no tratamento da Doença da Membrana Hiali-
atuam em diferentes combinações na matriz germinativa, origem na na Unidade de Neonatologia do HRAS - 1992/1997. IN: Margotto PR. Boletim Informa-
tivo Pediátrico (BIP) -Brasília, Nº 62, pg 182, 1999.
preferencial do sangramento cerebral no RN prematuro. A matriz • Margotto PR. Doença da Membrana Hialina: CPAP Nasal, Ventilação Mecânica e Surfac-
tante. IN: Margotto PR. Boletim Informativo Pediátrico (BIP) - Brasília, Nº 60, pg 91, 1997.
germinativa é uma estrutura embrionária localizada ínfero-lateral- • Kinsella J. Hipertensão Pulmonar Persistente. IN: Margotto PR. Boletim Informativo Pediá-
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Paulo R. Margotto
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144
Capítulo 4
Monitorização
do Paciente
Criticamente
Doente
Assistência ao Recém-Nascido de Risco
Paulo R. Margotto
Oximetria De Pulso
É de suma importância a avaliação da oxigenação arterial no Podemos observar que a Curva de Dissociação da Hemoglobi-
manuseio do RN de Alto Risco. Tem sido usada a avaliação trans- na tem a forma de um “s” itálica quase horizontal nos extremos
cutânea da PaO2 (TcPO2) e a saturação de O2, ambos métodos e muito empinada na parte média. Considere a simples equação:
não invasivos. Devido a monitorização transcutânea de O2 estar
associada a lesões de pele, principalmente nos pequenos prema- Hb + O2 → Hb (O2)
turos e a valores questionáveis em estados de má perfusão, tem Desoxihemoglobina + Oxigênio → Oxihemoglobina
sido valorizada a avaliação da saturação de O2, pois:
O O2 ligado a Hemoglobina (Hb (O2) e dissolvido no plasma (O2)
•É fácil de ser medida estão em equilíbrio dinâmico, sendo a Hb (O2) a forma favorável
•Correlaciona-se bem com as medidas de saturação da na reação; por volta de 98 a 99% do O2 no sangue está ligado à
hemoglobina. Hemoglobina e o restante está dissolvido no plasma, que é me-
•Indica adequado suprimento de O2 aos tecidos dido como PaO2 (assim a PaO2 reflete o O2 dissolvido no plasma
•Pode indicar o “status” do fluxo sanguíneo aos órgãos vi- e não o O2 ligado à Hemoglobina); teoricamente deveríamos ob-
tais e capacidade de carrear do sangue. servar uma queda na PaO2 antes de uma queda na saturação;
no entanto, o equilíbrio é estabelecido instantaneamente após
Assim, pela facilidade de ser avaliada e as vantagens fisiológi- ocorrer uma mudança em ambos os lados da equação; logica-
cas, a monitorização da saturação de O2 (oximetria de pulso) está mente, se mais O2 é adicionado ao sistema, mais O2 se ligará a
sendo muito usada nas Unidades de Terapia Intensiva Neonatais. Hemoglobina; também, se mais O2 dissolvido está sendo usado
pelos tecidos ou não está sendo reposto pelas adequadas trocas
Princípios Do Transporte De O2 pulmonares, mais O2 será deslocado da Hemoglobina, aumen-
tando assim a dessaturação.
Para compreender e aplicar a oximetria de pulso na prática, A saturação da Hemoglobina é igual à quantidade de Hemo-
devemos recordar os princípios do transporte de O2 e a curva de globina combinada com o O2, dividida pela capacidade total da
dissociação da Hemoglobina. Hemoglobina de combinar-se com ele.
146 Expondo a Hemoglobina a tensões de O2 crescentes, resultará Ao analisarmos a Curva de Dissociação da Hemoglobina, ob-
em saturação da oxihemoglobina crescente até que eventual- servamos duas partes distintas:
mente toda Hemoglobina esteja saturada com O2 (Sat. = 100%
=> PaO2 = 150 mmHg). A linha que descreve graficamente a 1. parte superior (horizontalizada)
correlação entre PaO2 e saturação de Hemoglobina se conhece 2. parte inferior (verticalizada)
com o nome de Curva de Dissociação da Hemoglobina e mostra
o modo pelo qual a Hemoglobina e o O2 se combinam em diferen- 1. Parte Superior: saturação acima de 80% (grandes va-
tes PaO2 (Figura 1). riações na PaO2 sanguínea quase não alteram a satura-
ção da Hemoglobina), vejam:
Curva de Dissociação da Hemoblobina
•PaO2 de 100 mmHg → Sat. de 97,5%
•PaO2 de 70 mmHg → Sat. de 92,7%
Hipotermia
Desvia para a esquerda (razão pela qual o bebê hipotérmico
tem uma cor vermelho vivo, podendo inclusive desorientar o mé-
dico, pensando que o RN está bem (Figura 2)
Hipertermia
Desvia para a direita (Figura 2.)
Alcalose
Desvia para a esquerda (figura 2.)
Acidose
Desvia para a direita (figura 2.) 147
Paulo R. Margotto
Assistência ao Recém-Nascido de Risco
Portanto: Aplicações No RN
Implicações Práticas para RN>=32 semanas e 85-92% para RN<32 semanas, com
O2 quando a Sat de O2 estava entre 93-95%), diminuíram a inci-
Oxigenação ótima dência do retinopatia da prematuridade de 4,5% para 1,5% em 1
Joseph Priestly, o descobridor do oxigênio, escreveu em 1775: ano. Na Sala de Parto e no transporte foram utilizados blenders e
”Talvez o oxigênio não seja o mais apropriado para nós, assim como oxímetros de pulsos. A meta de saturação de O2 na UTI Neonatal
as velas se consomem mais rapidamente no oxigênio que em ar passou a ser 85-93%. Não calibrar o monitor de O2 tendo como li-
comum, isto pode ocorrer conosco”. Lavoisier, em 1785, escreveu mite superior 100%. Calibrar entre 80-95%. Esta mudança resul-
“Quando há excesso de oxigênio, o animal adoece gravemente e tou queda dramática de qualquer retinopatia da prematuridade
quando se escasseia, a sua morte ocorre quase instantaneamente”. ou retinopatia com cirurgia a laser.
O oxigênio é a molécula mais abundante do planeta e a se- Houve uma década para que os clínicos pudessem entender
gunda molécula mais abundante do corpo humano. O seu nome que o O2 podia causar dano aos olhos dos prematuros. Está le-
significa: oxi=ácidos e geno=formadora. Não é um nome correto, vando 50 anos para que os neonatologistas entendam que breve
mas é esta a etiologia do nome desta molécula. exposição à hiperoxia pode ser danosa.
O uso do oxigênio deve ser feito com rigoroso controle, dadas
as complicações que podem ocorrer, como: Como Avaliar A Hipoxemia/Hiperoxemia
• Retinopatia Da Prematuridade
o estudo de Chow e cl ,adotando um protocolo mais restrito de
saturação de oxigênio nos nos RN entre 500 e 1500g (85-95%
Paulo R. Margotto
Assistência ao Recém-Nascido de Risco
Guia prático para a monitorização de O2 nhuma reanimação (são recém-nascidos normais), a média de
saturação é 65% e vai subindo. Se com 5 minutos o bebê apre-
Agudo Crônico senta uma saturação abaixo de 60-70%, provavelmente está
Limites baixo demais e vai precisar de oxigênio.
87 a 93% 92 a 95% A oximetria de pulso na Sala de Parto nos possibilita ver a dinâmica
aceitáveis
Desmamar do O quando o Desmamar do O quando da variabilidade. Com o controle da freqüência cardíaca, o RN des-
2
RN está estável e a PSaO
2
o RN está estável e a lancha. Obviamente, um bebê que não respira tem que ser intubado.
Manuseio 2
O oxímetro de pulso deve ser colocado na palma da mão direita
está constantemente acima PSaO está constante-
do O 2
(colocar inicialmente o sensor e depois, conectar no oxímetro), pois
2 de 93% cada 15 minutos a mente acima de 93%
meia hora cada 12 a 24 horas. assim, a obtenção da leitura do oxímetro é mais rápida. A leitura con-
Quando a PSaO menor
fiável do oxímetro com esta técnica demora 1-2 minutos após o nas-
2
que 85% ou maior que 93%
cimento, havendo débito cardíaco suficiente com perfusão periferia.
constantemente por 15 min. Quando a PSaO menor
Usando o oxímetro, a saturação alvo em 5 minutos é de 70-
Quando colher 2 80%, de 5-10 minutos, 80-90% e a partir de 10 minutos, 85-95%
a 1/2 hora. que 85% ou maior que
sangue para
Ausência de correlação entre 93% constantemente por
gasometria
a FC. do EG. e a FC. do moni- mais de 1 hora.
Capnografia
tor da PSaO nos estados de
2
má perfusão.
Na administração do suporte ventilatório ao RN, é necessária
cuidadosa atenção ao equilíbrio entre a quantidade do suporte
(oxigênio, pressão e volume) e suas toxicidades.
Vemos assim que para utilizar a oximetria de pulso na sua tota- Como vimos, a oximetria de pulso tem sido de grande ajuda na
lidade é fundamental entender os princípios fisiológicos envolvi- avaliação da oxigenação arterial, indicando adequado suprimen-
dos, bem como as suas limitações. De extraordinária importância to de O2 aos tecidos, além de poder indicar o “status” do fluxo
é o entendimento dos princípios envolvidos no transporte de Oxi- sangüíneo aos órgãos vitais e capacidade de carrear sangue.
gênio. É um avanço não invasivo, benéfico e aplicável na assis- O controle do dióxido de carbono (CO2) nestes RN tem sido
tência respiratória do RN pela sua facilidade de uso e rapidez em mais difícil de ser obtido. O melhor controle de CO2 é de grande
fornecer resultados continuamente. importância na assistência ventilatória mecânica, uma vez que
Segundo Tin W, a terapia com o O2 deve ter sido dada a bebês a hipocapnia está associada a maior risco de doença pulmonar
mais do que qualquer outro produto médico nos últimos 60 anos. crônica, hipoacusia, retinopatia da prematuridade e leucomalá-
Apesar disto sabemos muito pouco quanto os bebês precisam de cia periventricular. Igualmente maiores níveis de CO2 podem au-
fato ou quanto é sóbrio dar a eles. A profundidade da nossa ig- mentar o fluxo sangüíneo cerebral, com maior risco de hemorra-
norância realmente uma coisa que os deixa muito embaraçados. gia intraventricular.
150 Com o uso do surfactante, a melhora da mecânica pulmonar
Oximetria De Pulso Na Sala De Parto que ocorre nas primeiras horas, poderia levar a hipocapnia, com
os seus riscos subsequentes.
A oximetria de pulso não deve ser usada em todos os parto. A co- A monitorização do CO2 nestes RN críticos pode ser realizada
locação do sensor já nos dá leitura em menos de 1 minuto a partir de forma não invasiva ou pela monitorização transcutânea (não
do nascimento. O sensor deve ser colocado no pulso direito. Ma- bem tolerada, nos RN mais imaturos devido à frágil pele e pela
riani e cl avaliaram a saturação de O2 (SatO2) pré e pós-ductal nos interferência da acidose e hipoxía, além, da baixa correlação com
primeiros 15 minutos de vida em recém-nascidos (RN) a termos a PaCO2) ou pela medida da concentração de CO2 no gás exalado
saudáveis, utilizando a oximetria de pulso. A média de SatO2 pré- (End-Tidal CO2 - ETCO2), embora a análise sangüínea do CO2 seja
ductal (pulso direito) aos 5 minutos de vida foi de 89% e a média o método mais acurado (a freqüente coleta de sangue neste RN
de SatO2 pós-ductal no mesmo período foi de 81%, mantendo-se contribui para maiores taxas de transfusões sangüíneas).
esta diferença significativa nos primeiros 15 minutos de vida. Inte- Se o objetivo da ventilação mecânica é evitar a hipocapnia ou
ressante que a média de SatO2 foi menor nos RN de cesariana. En- a hipercapnia, mais do que se obter um nível específico de CO2, a
tão, sempre preferir a leitura pré-ductal, ou seja, no pulso direito. monitorização contínua não invasiva pelo capnógrafo é relevante
Ambos níveis de SatO2, pré- e pós-ductal, aumentam gradualmente no manuseio clínico.
e geralmente não alcançam 90% nos primeiros 5 minutos de vida. Níveis de PaCO2 menores de 30-35 mmHg devem ser evitados,
Mais provavelmente esta diferença se deva a maior pressão na mas o tempo em que o RN fica sob estes valores críticos de PaCO2
artéria pulmonar e o shunt através do canal arterial. é mais importante no desenvolvimento da leucomalácia periven-
A oximetria de pulso na Sala de Parto é de grande auxílio na tricular. O limite superior de PaCO2 (hipercapnia permissiva) não
reanimação neonatal, pois além da saturação de oxigênio, ele está bem esclarecido no RN, sendo aceito um limite de 55 mmHg.
fornece informação sobre a frequência cardíaca, o sinal chave na Rozycki e cl, estudando 45 RN sob ventilação mecânica, dos
reanimação neonatal; há uma grande inacurácia da avaliação da quais 26 com peso menor que 1000g e que haviam recebido
freqüência cardíaca contanto por 6 segundos e multiplicando por surfactante, relataram uma correlação entre ET -CO2 e PaCO2 de
10, além da ausculta intermitente interferir na ventilação. 0,83 (diferença de ± 6,9 mmHg: PaCO2 = 46,2 ± 12 versus ETCO2
É importante que saibamos como o PaO2 muda depois do nas- = 39,3 ± 11,8 mmHg)
cimento. Todos os RN têm uma SatO2 baixa nos primeiros mi- Um ponto de corte para o menor valor da ETCO2 < 29 teve uma
nutos de vida ( ficam com 60% no útero). Durante o parto esta eficiência de 93,7% na identificação das vezes em que a PaCO2
saturação cai para 30 a 40%. Assim, o bebê está acostumado esteve menor que 34mmHg. O ponto de corte para o maior va-
a ter esta experiência em torno de 60%. Então se no começo da lor (ETCO2 > 45) teve uma eficiência de 87,3% na identificação
vida a SatO2 é baixa, é porque ele está acostumado. O problema do valor da PaCO2 > 54 mmHg. Assim, ETCO2 entre 29 a 44, a
é que nós médicos estamos acostumados a ter uma SatO2 de PaCO2, em 91% dos casos,esteve dentro dos limites de segu-
90% na UTI Neonatal e todos querem que os RN tenham logo ao rança (PaCO2 = 34 a 54 mmHg). O capnógrafo identifica em mais
nascer uma SatO2 de 90%. Deixe que o bebê faça a sua própria de 80% a hipercapnia ou hipocapnia.
transição. Logo após o nascimento em RN que não recebeu ne-
Capitulo 04 Monitorização do Paciente Criticamente Doente
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Paulo R. Margotto
Assistência ao Recém-Nascido de Risco
Paulo R. Margotto
É útil avaliar e quantificar a severidade clínica da condição do • Cardiopatia congênita cianótica (aumento do “shunt” com
RN para monitorizar o seu progresso ou a resposta a um trata- o esforço e a ventilação com pressão positiva contínua).
mento específico, para tentar predizer o prognóstico, para decidir • Shunts atrioventriculares pulmonares (“shunts” pré-capi-
a necessidade de uma intervenção mais agressiva e para compa- lares desde artéria pulmonar a veias pulmonares que se
rar diferentes modalidades terapêuticas. abrem em estado patológico discutido).
Para alcançar estes objetivos, têm sido propostos os seguin-
tes índices: Desequilíbrio na relação Ventilação/Perfusão (V/Q)
• Flui mais sangue através de alvéolos hiperperfundidos
Gradiente Alvéolo-arterial de O2: P(A-a)O2 ou hipoventilados do que através dos hipoperfundidos
ou hiperventilados. No RN com Doença da Membrana
O P(A-a)O2 que é muito usado como um índice de troca gasosa Hialina, 80% do volume circulatório são desviados da di-
reflete os efeitos do gradiente de difusão, o desequilíbrio na ven- reita para a esquerda; atelectasia, infecção pulmonar e
tilação perfusão e o “shunt” verdadeiro. pulmão hemorrágico.
O fato do P(A-a)O2 não ser zero (8 mmHg no jovem; 17 mmHg aos
75 anos; 24 mmHg na 7a e 8a década), é explicado por dois fatores: P(A-a)O2 próximo de zero ou com valor negativo indica erro la-
boratorial (ou o paciente está respirando uma mistura enriqueci-
1. Shunt anatômico para o sangue venoso pulmonar de da de O2 ao invés de ar ou a PaCO2 está falsamente alta; nunca
uma pequena quantidade de sangue sistêmico venoso interprete o valor do P(A-a)O2 sem conhecer a FiO2.
das veias de Thebesian do ventrículo esquerdo e das O P(A-a)O2 tem sido utilizado para avaliar o progresso da doen-
veias brônquicas (2,5% do débito cardíaco retorna ao ça pulmonar, assim como um guia na instituição da assistência
coração esquerdo sem penetrar nos vasos pulmonares respiratória ou desmame do respirador.
numa pessoa normal).
2. Sub-ventilação de alguns alvéolos normalmente per- Cálculo Do P(A-a)O2
fundidos resulta em um pouco de sangue venoso pulmo-
152 nar com baixa PaO2. P(A-a)O = PaO - PaO
2 2 2
PaO = PIO - PaCO /R
O efeito da gravidade na circulação pulmonar de baixa pres- 2 2 2
PIO = FiO (PB - PH O)
são é um mecanismo importante, resultando numa desigualdade 2 2 2
= 760mmHg(nível do mar)
ventilação-perfusão (V/Q) no homem normal. PB
= 682mmHg (Brasília)
Nas doenças há três fatores que podem causar um aumento
na P(A-a)O2:
(segundo Snider, GL)
1. Aumento do “shunt” anatômico;
2. Aumento da desigualdade ventilação-perfusão (V/Q); PaO2 - pressão parcial de O2 arterial
3. Difusão limitada de transferência de O2, através da barrei- PB - pressão barométrica
ra alvéolo-capilar (a P(A-a)O2 provê uma completa avaliação PH2O - pressão do vapor d’água
da efetividade do transporte de O2 através dos pulmões). PaO2 – pressão parcial de O2 alveolar
P(A-a)O2 = [(FiO2 X 6,35) - (PaCO2 X 1,25)] - PaO2
Qualquer P(A-a)O2 maior que o esperado pelo grau normal do \-------^-------/
“shunt” anatômico, é atribuído a um “shunt” anatômico excessi- PIO2
vo, através dos pulmões, resultante da perfusão de alvéolos não \----------------^------------------------------/ - \---^---/
ventilados. Estas duas formas de “shunt” são denominadas de PaO2 PaO2
“shunt” absoluto ou verdadeiro.
Em um paciente com hipercapnia e hipoxemia que apresenta Valores normais: desde que a P(A-a)O2 aumenta com o aumen-
P(A-a)O2 normal, indica que a hipoxemia é toda devida a hipoven- to da FiO2 o limite superior da faixa de normalidade deveria ser
tilação alveolar; havendo um anormal P(A-a)O2, há indicação de conhecido para todo o incremento da FiO2 entre 21 e 100%. No
presença de doença pulmonar. Quando a hipoxemia é provocada entanto, esses valores intermediários raramente têm sido relata-
por um desequilíbrio V/Q, por um “shunt” intracardíaco ou intra- dos. Newth aceita como normal 5 a 15 mmHg, podendo chegar
pulmonar ou por uma perturbação da difusão, o P(A-a)O2 aumenta. até 60 mmHg no RN. Outros, como Nelson, citado em Avery e cls,
Assim, os principais fatores que influenciam no P(A-a)O2 são aceita como normal 28 + 10 mmHg sob FiO2 de 21% e 311 + 70
os seguintes. mmHg sob FiO2 de 100%.
Nos RN com persistência da hipertensão pulmonar (PHP), Beck
Shunt direita-esquerda e cl relataram uma mortalidade de 100% em um P(A-a)O2 de 630
• Drenagem venosa tebesiano e bronquial (esta última mmHg por 24 horas. Um P(A-a)O2 de 610 ou mais por 8 horas
pode estar consideravelmente aumentada na bronquiec- esteve associado com uma mortalidade de 78 a 79%, sendo este
tasia e no enfisema). o critério que os autores utilizaram para submeter estes RN à
oxigenação por membrana extracorpórea, pela precocidade da
predicção da alta mortalidade.
Capitulo 04 Monitorização do Paciente Criticamente Doente
Ormazabal e cl citado por Stork estudaram o P(A-a)O2 de 19 vez que a relação a/A melhorou, a FiO2 é diminuída para manter
RN com severa PHP antes de entrar no programa de circulação a normoxia. Ótima insuflação pulmonar é considerada quando a
extracorpórea e observaram que, a despeito do uso de tolazolina FiO2 é menor que 30%.
e de todo o suporte ventilatório, nenhum RN sobreviveu com o
P(A-a)O2 maior que 620 mmHg por 12 horas. Índice de Oxigenação (IO)
Raphaely e Downes, citados por Beck e cl, observaram uma di- O IO é definido como:
ferença significante no P(A-a)O2 após o reparo cirúrgico da hérnia MAP X FiO2% / PaO2
diafragmática entre os sobreviventes (P(A-a)O2 = 260 mmHg) e MAP (Mean airway pressure):
os não sobreviventes(P(A-a)O2 = 614 mmHg). Os RN com valores Pressão média das vias aéreas.
pré-operatórios de 500 ou mais, não sobreviveram. Um IO igual ou maior que 40 em 3 de 5 gasometrias, com inter-
Em um estudo conduzido por Bohn e cl no Toronto Hospital valo de 30 minutos, correlaciona-se com 80 a 90% de mortalida-
for Sick Children, de 66 RN com hérnia diafragmática congênita, de. Um IO de 25 a 40 nestas condições prediz uma mortalidade
observaram-se grandes diferenças na oxigenação entre sobrevi- de 50 a 80%. Ortiz e cl utilizaram o IO para saber quais os pa-
ventes e não sobreviventes, antes e após a cirurgia. O P(A-a)O2 cientes que se encontram sob o risco de morrer ou desenvolver
pré-operatório nos sobreviventes foi de 236 + 28, enquanto que displasia broncopulmonar. Todo centro neonatal deve calcular o
nos não sobreviventes, foi de 477 + 33 mmHg. Esta diferença foi seu próprio índice de mortalidade através da revisão da experi-
mantida no pós-operatório (183 + 22 mmHg nos sobreviventes ência prévia. No estudo de Ortega e cl, IO > 40 correlacionou-se
e 535 + 24 mmHg nos não sobreviventes). Observem que repa- com 82% de mortalidade.
ro cirúrgico não resultou em melhora significativa na oxigenação Hallman e cl observaram a diminuição significativa do IO du-
dos não sobreviventes (saltou de 477 + 33 no pré-operatório para rante as primeiras 48 horas no grupo de RN com DMH que rece-
535 + 24 mmHg no pós-operatório). Um P(A-a)O2 maior que 300 beu surfactante pulmonar intratraqueal.
mmHg no pós operatório foi associado com 90% de mortalidade;
por outro lado, todos os pacientes com P(A-a)O2 menor que 300 Cálculo da MAP
mmHg no pós-operatório, sobreviveram. A MAP é a área abaixo da curva de pressão em cada ciclo respira-
Krummel e cl observaram que um P(A-a)O2 maior que 600 tório (é a medida da pressão média, à qual os pulmões estão expos-
mmHg acima de 12 horas esteve associado com uma mortalida- tos durante o ciclo respiratório). Os fatores que influenciam a MAP
de de 100% no RN com PHP. Determinação seriada do P(A-a)O2 são a PIM, a relação I/E, a PEEP, a forma da onda e a ventilação de
identifica melhor o RN hipóxico com PHP, com alto risco de morte. alta frequência. A MAP necessária para uma adequada oxigenação
Stork relatou uma taxa de mortalidade de 80% nos RN com parece indicar a severidade da doença pulmonar. Uma MAP mui-
PHP com um P(A-a)O2 maior que 620 mmHg por 8 horas. Um P(A- to elevada pode provocar super distensão dos alvéolos, induzindo
a)O2 menor que 600 teve um bom prognóstico. shunt intrapulmonar direita-esquerda. Idealmente, a MAP deve ser
sempre medida e não calculada, devido a diferentes formas e cons-
Relação artério-alveolar a/A (PaO2/PaO2) tantes de ondas respiratórias. A melhor correlação entre a MAP me- 153
dida e a calculada foi obtida com a curva quadrada.
É a relação entre pressão parcial de O2 arterial e pressão par-
cial de O2 alveolar. MAP(cm d e água)=[PIM X (t.insp + PEEP+t.exp)/(t.insp + t.exp)]xK
A relação a/A, como índice de troca gasosa é mais estável do
que o gradiente alvéolo – arterial frente a alterações na FiO2. K = 1 (curva quadrada)
O Rourke e cl utilizaram a relação a/A como critério preditivo de K = 2/pi = 0,63 (curva em sino)
mortalidade nos RN com Persistência da Hipertensão Pulmonar. K = constante da forma da onda
Uma relação menor ou igual a 0,15 com 12 a 72 horas de vida K = 0,5 (curva triangular)
foi altamente preditiva de morte precoce. De 13 RN com uma PIM = pressão inspiratória máxima
relação a/A menor que 0,15 com 12 horas de vida, 11(85%) mor- t.insp = tempo inspiratório
reram, enquanto somente 6 de 21 com uma relação a/A maior t.exp = tempo expiratório
que 0,15 com 12 horas de vida (29%), morreram. Resultados PEEP = pressão positiva no final da expiração
semelhantes foram obtidos quando esses bebês foram classifi- Harkavy e cl utilizaram MAP X FiO2 para estimar a severidade
cados pela relação a/A com 24, 36, 48, 60 e 72 horas de vida. da doença pulmonar crônica.
Portanto, com 12 horas de vida, um bebê com HPP com re-
lação a/A menor que 0,15 tem uma chance de 85% de morrer, Fórmulas:
enquanto o bebê com a relação a/A maior que 0,15 tem uma
chance de sobreviver de 71%. 1. P (A-a ) = PaO2 – PaO2
Halman e cl observaram que a relação a/A foi significativa- • P (A-a)O2 = [(FiO2 x 6,35) – (PaCO2 x 1,25)] – PaO2
mente maior durante a primeira semana nos RN que receberam • Normal: FiO2 de 21% - até 60mmHg
surfactante, em relação nos RN que não receberam surfactante. • FiO2 de 100% - até 311 mmHg
No Women`s College Hospital, a relação a/A para RN com ida-
de gestacional menor que 30 semanas, foi, em média, 0,35. No 2. a/A = PaO2/PaO2 = PaO2/P(A-a)O2 + PaO2
estudo Enhorning e cl, realizado nesse hospital, observou-se que
a melhora da oxigenação se confirmou no aumento da relação 3. IO = MAP x FiO2 x 100 / PaO2
a/A no grupo que recebeu surfactante antes da primeira respira-
ção, sendo 0,15 maior que no grupo controle. 4. MAP = K x ( PIM x t insp + PEEP x t exp) / t total
Clark e Gerstmann utilizam a relação a/A na ventilação de
alta frequência para acessar empiricamente a área pulmonar e K = 1,0 (curva quadrada)
assim, adequar o volume pulmonar. Medir o volume pulmonar K = 0,5 (curva triangular)
durante a ventilação de alta frequência é difícil. A pressão de dis- K = 0,63 (curva em sino)
tensão contínua é aumentada 1 a 3cm H2O até que a relação a/A
melhore ou apareçam sinais de comprometimento cardíaco. Uma
Paulo R. Margotto
Assistência ao Recém-Nascido de Risco
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Temperature
at admission (°C)
Base excess
(mmol/L)
Total CRIB II
Predicted
score :
Death Rate :
Total CRIB II score
Logit = -6.476 + 0.45
. = Sum (points)
* CRIB II
The range of pos-
Predicted death rate
sible CRIB II score
= eLogit/ (1+eLogit)
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Paulo R. Margotto
Assistência ao Recém-Nascido de Risco
O perfeito equilíbrio entre ácidos e bases depende de uma sé- HCl + NaHCO3→H2CO3 + NaCl
rie de reações que procuram corrigir os desvios da homeostase. ↓
A manutenção da concentração de hidrogênio nos líquidos do CO2 + H2O
organismo dentro da estreita faixa de normalidade é essencial
para o pleno desenvolvimento das funções biológicas, uma vez Assim, os ácidos não voláteis são tamponados evitando gran-
que o rendimento das reações bioquímicas depende do pH; esse des desvios no pH até que haja a excreção renal de ácidos e re-
objetivo é alcançado graças à contribuição de sistemas e órgãos generação dos tampões (vide à frente sobre o mecanismo renal
diferentes atuando de maneira conjunta. na regulação do pH).
Para a melhor compreensão do equilíbrio ácido-base, o conhe- Devido à importância do bicarbonato e do CO2 na regulação
cimento dos seguintes conceitos faz-se necessário: do pH, o pH sanguíneo depende da relação bicarbonato/ácido
carbônico no plasma e no líquido extracelular. Em condições nor-
• Ácido e base mais, a relação bicarbonato/ácido carbônico é 20/1 e o pH é 7.4
Ácido é uma substância doadora de íons hidrogênio (H+); base A determinação do pH do sangue é assim feita:
é uma substância receptora de íons H+
Equação De Henderson-Hasselbalch
• pH
Representa o logaritmo negativo da concentração de H+ e é pH = pK + log [ HCO3- ] / [H2CO-3]
expresso em moles por litros de solução. O seu valor normal varia
de 7,35 a 7,45. axa de H2CO3 = 1.20 mEq/l. O ÁCIDO CARBÔNICO (H2CO3)
encontra-se no plasma quase todo como gás carbônico (CO2). A
• Sistemas tampões, regulação renal e respiratória proporção é:
Para a manutenção do pH em níveis normais, o organismo re-
corre aos referidos mecanismos. Como isso acontece? CO2/H2CO3: 500/1
Os sistemas tampões (químicos) que neutralizam ácidos e ba-
156 ses, produzidos ou introduzidos no organismo. Ou seja:
O mecanismo respiratório regula a concentração de CO2.
O mecanismo renal corrige o excesso de ácidos e bases. CO2 + H2O←H2CO3
↑ → ↑
A concentração normal de hidrogênio (H+) no fluido extracelular 500 1
é continuamente ameaçada pela carga de íons H+ liberada pelo
metabolismo normal. Diariamente o metabolismo acrescenta ao Esta proporção é mantida pela Lei Da Ação Das Massas (a
organismo ácidos de duas espécies: voláteis (ácido carbônico) e velocidade de uma reação é proporcional à concentração dos
fixos. Essa carga ácida deverá ser neutralizada com o objetivo de reagentes), ou seja, caindo teor de H2CO3, mais CO2 combina-se
manter o pH e esse trabalho pode ser, didaticamente, dividido com a água para restabelecer esta relação e vice-versa.
em três etapas básicas: ação dos tampões do organismo, regula- Por sua vez a quantidade de CO2 dissolvida no plasma é função
ção respiratória do pH e regulação renal. do CO2 alveolar (PaCO2: veremos a frente) com o qual se mantém
em equilíbrio tensional; a PaCO2 (lê-se pressão parcial de CO2 no ar
Sistemas de Tampões alveolar) é de 40 mmHg, assim como é a PaCO2 (lê-se: pressão par-
cial de CO2 no sangue arterial). A concentração do CO2 no sangue
Um par conjugado (ácido-base) capaz de absorver ou doar pró- em mEq/l pode ser obtida multiplicando a PaCO2 pelo deu índice
tons conforme a necessidade para manter o pH do organismo é de solubilidade na água, que é 0.03 e assim temos:
um sistema tampão.
São quatro os principais tampões: [CO2]( lê-se: concentração do CO2) = PaCO2 X 0.03
Assim: [CO2] 40 X 0.03 = 1.20 mEq/l
1. Sistema-tampão ácido carbônico-bicarbonato (45%
da capacidade tampão total do sangue) Ora sendo a quantidade de H2CO3 insignificante (a relação CO2/
2. Sistema-tampão de fosfato (glóbulos vermelhos, célu- H2CO3 é 500) podemos escrever a equação de Henderson-Has-
las dos túbulos renais) selbalch da seguinte maneira:
3. Sistema-tampão de proteínas (células dos tecidos)
4. Sistema-tampão de hemoglobina dos glóbulos ver- pH = pK+ log [ HCO-3] / PaCO2 x 0.03
melhos (5% do CO2 é transportado pelo plasma; 20%
pela hemácia como compostos carbamínicos e os 75% Componente Metabólico/Componente Respiratório
restantes circulam no sangue como bicarbonato).
Nota: pK = 6.1 - taxa de HCO3 no plasma (bicarbonato) : 24mEq/l
O tampão ácido carbônico-bicarbonato age da seguinte manei- Portanto, temos: pH = 6.1 + log24/1.20 = 6.1 + log 20 = 6.1 + 1.3 = 7.4
ra: os ácidos orgânicos e inorgânicos que se formam durante as
atividades metabólicas normais causam a seguinte reação:
Capitulo 04 Monitorização do Paciente Criticamente Doente
Inicialmente, vejamos o que vem a ser PCO2 (lê-se: pressão par- A falta ou excesso de CO2 estimula o centro respiratório (uma
cial do CO2) : é a pressão que este gás exerceria se ocupasse so- PaCO2 maior que 65 mmHg: há depressão do SNC - (narcose
zinho todo o recipiente em que se encontra: as ações químicas e pelo CO2).
fisiológicas de um gás dependem da pressão que este gás exerce. A freqüência e profundidade dos movimentos respiratórios:
são influenciados pelos receptores químicos do arco aórtico e do
• PaCO2: pressão parcial do CO2 no sangue arterial
seio carotídeo.
PaCO2 (baixa)
PaCO2 Influenciam
pH
Paulo R. Margotto
Assistência ao Recém-Nascido de Risco
158 1. Reabsorção do bicarbonato Após termos visto de que meios o organismo lança mão para
“acalmar” H+ que não podem vagar livres pelo organismo, é impor-
tante que se frise que há um trabalho em CONJUNTO para se con-
seguir tal objetivo. Acompanhe a seqüência do seguinte raciocínio:
pH = log 1 / H+
2. PaCO2
A pressão parcial do gás carbônico mede a fração dissolvida
não combinada do CO2 total, dependendo basicamente da ven-
tilação pulmonar. VALOR NORMAL: 35 a 45 mmHg. IDEAL: 40
mmHg. No RN < 1500g, sob ventilação mecânica, deve-se tolerar
PaCO2 até 55 mmHg (hipercapnia permissiva neonatal). Níveis
Capitulo 04 Monitorização do Paciente Criticamente Doente
associados de PaCO2 abaixo de 40 mmHg estiveram associados de modo que possa respirar ar ambiental para realização da ga-
com aumento da doença pulmonar crônica. sometria? É lógico que NÃO. Portanto, para interpretar a PaO2, é
A PaCO2 espelha a ventilação pulmonar: uma elevação da necessário que conheçamos a inter-relação entre PaO2 e FiO2:
PaCO2 indica hipoventilação e acidose respiratória; uma diminui- O aumento da concentração de O2 em 10% significa um au-
ção da PaCO2 indica hiperventilação e alcalose respiratória. mento na PaO2 de 50 mmhg (basta multiplicar a FiO2 por 5). Por
exemplo: uma criança com FiO2 de 30%, a PaO2 mínima pressu-
Não esqueçamos: posta é 150 mmhg (isto é: 30 x 5 = 150 mmhg). Outros utilizam
a relação PaO2 = FiO2 x 3.
3. Bicarbonato standard e real A única informação que a PaO2 nos fornece é a indicação da
• Bicarbonato real: representa a determinação do bicar- existência ou não da Hipoxemia Arterial; a hipoxemia arterial não
bonato plasmático quaisquer que sejam os valores de assegura a presença de hipoxia tecidual, embora haja esta possi-
PaCO2 do indivíduo. bilidade. Lembremos que a hipoxia pode ser a causa de distúrbios
• Bicarbonato standard: representação da determinação ventilatórios e metabólicos. A avaliação do estado hipoxêmico deve
do bicarbonato plasmático após o sangue ter sido equili- seguir-se à avaliação das condições ventilatórias e metabólicas.
brado a uma PaCO2 de 40 mmhg. Embora o diagnóstico real de hipoxemia deva ser feito quando
o paciente respirar ar ambiente (FiO2 de 21%), a hipoxemia pode
Havendo acúmulo de CO2 (acidose respiratória) por comprome- ser avaliada quando o paciente estiver respirando ar enrique-
timento respiratório, haverá: cido de O2 (daí a importância do conhecimento da FiO2). Assim
temos, de acordo com a resposta a administração de oxigênio:
CO2 → sangue (Hb) + a . c → H2O → H2CO3→H+ + HCO-3+ Hb→
→HHb+HCO3→Plasma • Hipoxemia não corrigida: PaO2 MENOR que o limite sa-
tisfatório no ar ambiente, apesar do aumento da FiO2.
a .c : anidrase carbônica • Hipoxemia corrigida: PaO2 MAIOR que o limite mínimo
CO2 = (alveolar) satisfatório no ar ambiente; a oxigenoterapia restituiu a
Sangue Hb = (na hemácia) PaO2 a um limite satisfatório; neste caso, a hipoxemia
deve existir ao ar ambiente, porque PaO2 está abaixo do
Qual é a explicação da interdependência entre PaCO2 e Bicarbona- nível normal pressuposto para oxigenoterapia
to? Isto se deve ao efeito tamponante da Hb (reveja a reação acima), • Hipoxemia excessivamente corrigida: PaO2 maior que
havendo formação de HCO3 que se difunde para o plasma. Portanto, 100 mmHg com a administração de O2; a hipoxemia deve
em indivíduos normais, os valores do bicarbonato standard e bicar- existir ao ar ambiente, pois a PaO2 não está tão alta quan-
bonato real são iguais (ambos medidos a uma PaCO2 de 40 mmHg). to se poderia esperar com FiO2 administrada. Nunca in-
valor normal: 24 mEq/l (22 a 26). Nos RN < 1500g, devido ao menor terprete o valor da PaO2 sem conhecer a FiO2.
limiar renal de HCO3 considerar anormal valores abaixo de 14 mEq/l. 159
Consulte o capítulo Avaliação da Severidade Clínica no RN sob
• Havendo acúmulo de CO2 o bicarbonato real é maior que Assistência Respiratória para o cálculo do gradiente alvéolo-arterial
o standard (fácil de entender; reveja a reação apresen- P(A-a)O2 e da proporção artério-alveolar- PaO2/PaO2.
tada acima) Uma vez vistos estes parâmetros que a gasometria nos fornece,
• Havendo diminuição do CO2 o bicarbonato real é menor temos condições de entender os distúrbios do equilíbrio ácido-básico.
que o standard (não memorize: corre-se o risco fatal de A faixa normal do pH sanguíneo vai de 7.35 a 7.45. A faixa ex-
tudo cair no labirinto do esquecimento) trema compatível com a vida situa-se entre 6.7 a 7.9
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Termo usado para definir uma concentração de íons H+ no As principais causas no RN são:
sangue inferior ao normal. A diminuição da concentração do
H+ pode ocorrer em conseqüência de uma alteração respiratória • Excesso de produção ou de aporte de H+ (hipoxia tissular;
primária (perda de ácido carbônico): alcalose respiratória ou de jejum, erro inato do metabolismo dos glicídios, proteínas
uma alteração metabólica primária (aumento do teor de bases e lipídeos)
ou a perda de ácidos no organismo): alcalose metabólica. • Deficiente contratilidade do miocárdio (a hipotensão arte-
Então temos: rial e a acidose metabólica ocorrem em aproximadamen-
te 40% dos RN ventilados, particularmente nas primeiras
• Alcalose 24 h de vida e estão associados em quase 50% com de-
Metabólica: excesso de base ou perda de ácido. ficiente contratilidade do miocárdio, sendo que 90% res-
PaCO2 - ↑ da relação HCO-3 / H2CO3 pondem à dopamina).
↑ do pH • Alteração na excreção de H+: como na insuficiência renal
Respiratória: perda de CO2 (e do H2CO3) aguda, acidose tubular renal distal
devido à hiperventilação • Perda de bicarbonato: diarréia, oclusão intestinal, perito-
↓da PaCO2 nite, acidose tubular renal proximal
↓da relação HCO-3/H2CO3
↑pH Correção: usando a fórmula:
mEq de HCO-3 = peso x déficit BE x 0.3 (para – 5)
O que vimos acima (acidose e alcalose respiratórias e me- Diluir em água destilada 1:5 (correr em 2h)
tabólicas) foram distúrbios descompensados. Como estes dis-
túrbios são compensados ou pelo menos parcialmente com- Acidose Respiratória
pensados pelo organismo? Para isto, basta aplicar a equação
de Henderson-Hasselbalch. Citaremos o que ocorre na acidose As principais causas no RN estão relacionadas ao pulmão,
metabólica descompensada, como exemplo. Vejamos: acidose como síndrome de aspiração meconial, doença de membrana
metabólica descompensada: - queda do pH. hialina, broncoespasmo, pneumotórax, edema pulmonar, derra-
(excesso de ácido ou, mais - queda da relação HCO-3/H2CO3 co- me pleural, depressão do SNC
mum na prática pediátrica, atenção: PaCO2 normal perda de bases)
Correção:
Acidose Metabólica Compensada • tratar a causa básica
• NaHCO3: nos casos de acidose metabólica concomitante
160 Equação de Henderson-Hasselbalch: pH= 6.1 + log HCO3−/H2CO3 e com controle das condições ventilatórias.
A concentração de K+ no meio extracelular pode-se alterar de- Quando a clínica nos sugere um distúrbio respiratório, analise-
vido às modificações primárias do H+: mos inicialmente a PaCO2 (esta mede a magnitude deste distúr-
Relação entre pH-K+ sérico: bio) e em seguida, os parâmetros metabólicos que refletirão ou
O aumento ou diminuição de 0.1 unidade do pH causaria alte- não a resposta dos mecanismos compensatórios (raciocinemos
ração de 0.6 mEq/l da calemia no sentido oposto. Veja o exemplo: em ternos de RINS).
Uma criança com pH de 7.1 e com K+ de 4.8 mEq/l: qual é o Muitas vezes o distúrbio é misto. Veja o exemplo: um doen-
seu K+ real? Vejamos: o pH abaixou de 7.4 para 7.1, isto é abaixou te com umabroncopneumopatia crônica que apresenta, devido
3 vezes 0.1 (ou seja 0.3) e portanto a calemia aumentou de 3 x uma diarréia, um quadro de acidose metabólica primária; é lógico
0.6 = 1.8. LOGO, o nível sérico real de K+ desta nossa criança é: que o seu aparelho respiratório lesado será incapaz de hiperven-
4.8 – 4.8 = 3.0 (vejam que ela está em níveis hipocalêmicos: eis tilar e assim, eliminar o CO2 o suficiente para elevar o pH a níveis
a importância do conhecimento deste fato). normais. Assim temos uma acidose metabólica descompensada
Como a hipocalemia leva a alcalose metabólica? O paciente ou uma acidose metabólica e respiratória.
pode apresentar hipocalemia secundária a uma terapia diuréti-
ca, diarréia, hidratação venosa com recolocação inadequada de Casos Clínicos
K+. A hipocalemia pode levar a alcalose metabólica pelo seguinte
mecanismo: a célula socorre o extracelular cedendo-lhe K+ e com 1. Criança (lactente) com diarréia e desidratação do II grau
isso entra na célula Na+ e H+.
A célula sentindo-se ácida, envia ordens para que o rim eco- pH: 7.20
nomize bases e elimine o H+ e assim o bicarbonato sanguíneo PaCO2: 23.0
aumenta no extracelular e a urina sai ácida (alcalose metabólica HCO-3: 9.0
hipocalêmica com urina paradoxalmente ácida); chama-se para- BE: - 17.0
doxal porque, na vigência da alcalose, era de se esperar que o
organismo eliminasse bases e a urina fosse, consequentemente (acidose metabólica parcialmente compensada é parcial por-
alcalina, isto é, básica. que o pH não está normal)
Quanto ao cálcio Usando o índice de 95% de confiança para a acidose metabóli-
A acidose aumenta o fluxo de cálcio do osso para o espaço ex- ca (consulte a figura n º. 1 no final), veremos que o encontro entre
tracelular, enquanto a alcalose diminui ou reverte este fluxo. Com duas linhas traçadas, uma partindo da ordenada (PaCO2) no nível
base na relação homeostática existente entre o equilíbrio ácido- da PaCO2 que marca 25 e a outra da abscissa (Base excess) no
básico e o cálcio, espera-se que a correção de acidose através do nível de –17, dar-se-á dentro das faixas de confiança demons-
uso de álcali resulte numa diminuição do cálcio total e do cálcio trando a função pulmonar normal do paciente.
ionizado. Cada aumento no pH de 0.1 unidade, eqüivale a uma 2. Lactente com diarréia + desidratação II grau
queda na calcemia iônica de 0.46 mg%.
pH: 7.35 161
Diferença de aniontes: anion gap PaCO2: 25.0
A diferença de aniontes é a maneira mais simples de mostrar HCO-3: 14.0
o acúmulo de aniontes anormais (aniontes residuais ou não me- BE: -11
didos: fosfatos, sulfatos, aniontes proteínas de ácidos orgânicos,
como o lactato). Acidose metabólica compensada (o pH normalizou às custas
Fórmula: (Na+ + K+) – (HCO-3 + Cl-) ou Na+– (HCO-3 + Cl-) da hiperventilação pulmonar)
Valor normal: Na presença de acidose metabólica, ânion gap
maior que 16 mEq/l é altamente predictivo de acidose láctica; 3. RN em um Respirador
ânion gap menor que 8 mEq/l é altamente predictivo de ausência
de acidose lática; valor entre 8-16 mEq/l não é útil no diagnósti- pH: 7.52
co diferencial de acidose metabólica no RN criticamente doente. PaCO2: 28.0
Quando há ACIDOSE com uma diferença de aniontes anormal, o HCO-3: 22.0
valor desta diferença é habitualmente maior que 22 mEq/l, como BE: +1
por exemplo, na acidose láctica, em que há acúmulo de lactato
não medido na cetoacidose (acúmulo de ácido ceto-acético) e etc. O pH é alcalótico; o bicarbonato está normal; estaalcalose só
Como interpretar os gases sangüíneos de um modo sensato pode ser explicada pela hiperventilação alveolar e portanto, te-
e de fácil raciocínio: tratamento e índice de 95% de confiança mos uma alcalose respiratória descompensada
Em primeiro lugar o paciente. É imprescindível a história clíni-
ca que nos permitirá a formulação de uma explicação dos fatos Observem que nos exemplos 1 e 2 , a hiperventilação alveolar
que desencadearam o quadro em análise. O médico deve usar os é secundária à acidose metabólica. Este paciente apresenta uma
valores da gasometria com a descrição do doente. Quando assim alcalose respiratória aguda, por quê aguda? Não houve tempo de
ele o faz, será capaz de tratar o seu paciente satisfatoriamente, entrar em ação os mecanismos renais e como agiriam? Pense na
pois assim, ele não está usando apenas uma medida de alte- equação de Henderson-Hasselbalch e veremos que agiriam atra-
ração ácido-básica. A habilidade do médico está justamente na vés da diminuição do bicarbonato de sódio e é exatamente o que
capacidade de reunir todos os fatos (clínicos e laboratoriais) num vemos no exemplo seguinte, caso o fator causal desta alcalose
conjunto harmônico e lógico. respiratória persistisse:
pH: ACIDOSE (o mais comum na clínica) ou ALCALOSE
Em seguida, verifiquemos os parâmetros metabólicos (bicarbonato pH: 7.44
real e o BE) para caracterizarmos, juntamente com os dados clínicos PaCO2: 24.0
em mente, um distúrbio metabólico. Se todos os dados nos orientam HCO-3: 16.0
para um distúrbio metabólico, verificamos em seguida a PaCO2. BE:-6.0
PaCO2: nos fornecerá uma idéia de como está sendo a respos-
ta pulmonar.
Paulo R. Margotto
Assistência ao Recém-Nascido de Risco
Se o pulmão não desse esta ajuda, veja como ficaria a situação: deve apenas melhorar; nunca corrigir completamente a concen-
tração do bicarbonato, pois concomitantemente está sendo feito
• pH= pKa + log HCO-3/PaCO2 x 0.03 o tratamento da causa básica (isto é, hidratando), o que irá di-
• pH= 6.1 + log 5/1.2 minuir o grau de acidose. A correção total da acidose poderá ser
• pH=6.7 feita nas 12-36 h posteriores a dose inicial do bicarbonato.
para o caso prescreveríamos a metade, uma vez que a res-
Então o pulmão deu uma valiosa ajuda, auxílio este já percep- posta pulmonar é bastante eficiente (como comprovamos na fig.
tível dentro de 10 minutos e máximo com 30 minutos. Observem 1). O restante, o organismo se encarregaria (muitas vezes, basta
que a ajuda do pulmão tornou irrisória a queda de quase 80% do hidratar para que a maioria dos casos de acidose se resolva, mas
bicarbonato sanguíneo. Consultando a fig. n º 1,veremos que a quando o bicarbonato estiver abaixo de 10, principalmente 3 pri-
relação BE-PaCO2 está dentro da faixa de segurança, ou seja, o meiros meses de vida, o rim agradecerá o que se fizer por ele. O
pulmão exerceu seu papel. auxílio é feito com bicarbonato de sódio.
Como prova da eficiência pulmonar, o cálculo da P(A-a)O2 re- No nosso meio, temos o Bicarbonato de Sódio a 8.4%; usamos
vela: 11.8 mmHg (valor normal: ausência do shunt patológico). numa proporção de 1:5,tornando-se isotônico com o plasma e
Portanto: acidose metabólica parcialmente compensada infundi-lo em 60 minutos.
Conduta: Com a fase rápida. Iniciamos a terapêutica da acido- E os eletrólitos? Comentaremos apenas sobre o K+ e cálcio. O
se metabólica: com a fase rápida há melhora da perfusão renal, potássio real de nosso paciente é 4.2mEq/l, não devendo retirar
oferecendo aos rins melhores condições para que ajam com efi- totalmente o potássio da hidratação venosa, pois com a persis-
ciência retendo bicarbonato. tência do quadro diarréico, correção da acidose, a criança poderá
Dose de bicarbonato: fórmula: peso x BE x 0.3 desenvolver hipocalemia.
Diferencial (absoluta) entre o BE real (da gasometria do pacien- Com relação ao cálcio, após a infusão do bicarbonato, o lac-
te) e o BE normal (2.5) tente poderá desencadear um quadro convulsivo (o cálcio estava
Para o caso temos: baixo e a acidose protegia. Na prática, após o uso de bicarbonato,
6 x (22.5-2.5) x 0.3 = 36 mEq/l de NaHCO3 introduzimos na hidratação venosa o gluconato de cálcio (1.5 a 2
Quanto prescrever? Para isto, antes gostaríamos de frisar que mEq/Kg) ou (3 a 4 ml/Kg a 10%).
as fórmulas são secas, não tomando em consideração a totalida- Nota: nesta gasometria o bicarbonato padrão é maior que
de dos fatores envolvidos no equilíbrio ácido-básico. Não devemos o bicarbonato real um sinal de alcalose respiratória (evidente-
tratar a doença diferenças de bases e sim o fator causal. mente secundária). Na prática, não tem muito valor, na interpre-
Ensina-nos a prática (dotados de bastante prudência) que se tação da gasometria.
163
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Assistência ao Recém-Nascido de Risco
164
Capitulo 05 Nutrição do Recém Nascido
Capítulo 5
Nutrição do
Recém-Nascido
Assistência ao Recém-Nascido de Risco
Objetivos
A alimentação adequada do recém-nascido tem como fina- 500- 700- 900- 1200- 1500-
Peso
lidade promover um crescimento semelhante ao intrauterino, 700g 900g 1200g 1500g 1800g
tendo como resultado um crescimento e neurodesenvolvimento Ganho de
normais. A despeito da melhora contínua, o crescimento do re- peso fetal
cém-nascido (RN) de muito baixo peso ocorre consideravelmente g/dia 13 16 20 24 26
abaixo da taxa intrauterina. A causa deste déficit de crescimento g/kg/dia 21 20 19 18 16
é a nutrição inadequada e parece ser responsável por déficits Proteína(g)
cognitivos no desenvolvimento em longo prazo, já que ocorre
Necessidade
num período em que o desenvolvimento do sistema nervoso é
requerida
particularmente sensível à privação nutricional,
Parenteral** 3,5 3,5 3,5 3,4 3,2
De fato, o retardo de crescimento pós-natal é um problema uni-
versal e surge devido à baixa ingesta calórica e protéica, o cres- Enteral*** 4,0 4,0 4,0 3,9 3,6
cimento neonatal deficiente dos RN pré-termo está diretamente Energia(kcal)
relacionado a um deficiente crescimento e neurodesenvolvimen- Necessidade
to nas idades de 1 a 3 e aos 7 anos. Não está muito claro, no en- requerida
tanto, se o atraso no desenvolvimento pós-natal destes bebês é Parenteral 89 92 101 108 109
causa ou conseqüência deste fato, ou seja, eles não são bem ali- Enteral**** 105 108 119 127 128
mentados porque são pequenos e clinicamente comprometidos
Proteína/
ou são pequenos e doentes porque não são bem alimentados?
energia
(g/100kcal)
Algumas Particularidades Da Digestão
Parenteral 3,9 4,1 3,5 3,1 2,9
E Absorção Dos Prematuros
166 Enteral 3,8 3,7 3,4 3,1 2,8
1. Coordenação sucção/deglutição incompleta até 34
semanas *Há uma perda de nitrogênio urinário de 133mg/Kg/dia e uma
2. Esvaziamento gástrico retardado perda pela pele de 27mg/Kg/dia
3. Menor tônus do esfíncter esofágico inferior **Soma de perdas e acréscimos
4. Atividade motora imatura do intestino ***O mesmo que a parenteral, assumindo 88% de absorção
5. Capacidade gástrica reduzida da dieta proteica
6. Secreção ácida gástrica deficiente nas primeiras semanas ****Assumindo 85% da absorção da energia (caloria) da dieta
7. Limitada capacidade de digestão e absorção de gordu-
ras (deficiência da lipase pancreática e lingual; síntese Calorias
de sais biliares relativamente baixa)
8. Atividade das enzimas proteolíticas é boa O RN pré-termo precisa, em média de 120 Kcal/kg/dia para cres-
9. Lactose que é o principal carboidrato da dieta é bem cer satisfatoriamente, variando entre 110 – 150 kcal/kg/dia, man-
digerida e absorvida. tidas as condições de termoneutralidade. As necessidades podem
10. Limitada função renal não permitindo sobrecargas hí- aumentar na vigência de infecções, estresse cirúrgico ou esfriamento.
dricas, eletrolíticas e de proteínas.
Proteínas
Necessidades Nutritivas
A grande característica metabólica do pré-termo extremo é a
As necessidades nutricionais dos prematuros são variáveis de intensa proteólise (catabolismo intenso), o grande desafio é su-
acordo com a idade gestacional, idade pós-natal, peso de nasci- primir esta proteólise e implementar a síntese protéica e assim
mento, condições ambientais, método de alimentação emprega- alcançar um balanço protéico capaz de promover o crescimento.
do e doenças concomitantes relativas a prematuridade. Os pré-termos extremos, no entanto, têm uma grande resistên-
O crescimento geralmente se inicia após a segunda semana de cia de resposta à oferta endovenosa de aminoácidos no que diz
vida, depois da resolução dos problemas médicos agudos e das respeito à redução da proteólise (embora o uso precoce de ami-
mudanças iniciais da distribuição de água corporal. noácidos seja seguramente um avanço). Portanto, para se alcan-
Nos recém-nascidos extremamente prematuros a preocupação çar os objetivos propostos com a nutrição, temos que investir na
inicial não é com a alimentação, e sim manter uma boa hidra- nutrição enteral, muito mais efetiva na diminuição da proteólise
tação, homeostase da glicose e normalização dos eletrólitos e e aumento da incorporação protéica.
minerais no soro. Necessidades básicas diárias:
A tabela abaixo lista as melhores estimativas das necessidades
nutricionais segundo Ziegler EE e cl (Agressive nutrition of the • RN a termo: 2,0 –2,5 g/kg/dia
very low birthweight infant. Clin Perinatol 29:225,2002). • RN pré-termo: 3,0 – 4,0 g/kg/dia
Capitulo 05 Nutrição do Recém Nascido
O excesso de proteínas acima de 4,0 g/kg/dia pode levar a Necessidades dos prematuros:
alterações metabólicas, estrabismo, retardo mental, letargia, hi-
pertermia e aumento da mortalidade. A taxa de proteínas abai- • Cálcio: 200-250 mg/kg/dia
xo de 2,0 g/kg/dia leva a um déficit ponderal, hipoalbuminemia • Fósforo: 110-125 mg/kg/dia
com edema, comprometimento do crescimento das células neu- • Magnésio: 5,0-10 mg/kg/dia. O Leite Humano têm quan-
ronais, da mielinização, do crescimento dos órgãos com dano tidade suficiente de magnésio.
cerebral irreversível.
A quantidade de proteínas no leite mateRNo de mães de pre- Oligoelementos
maturos é bastante variáveis, consideramos de 1,5g/100ml,
enquanto no leite de mães de RN a termo é 1,1g/100ml. Esta O Leite Humano suplementa adequadamente as necessidades
diferença desaparece por volta de 15 dias. destes elementos. No entanto o recém-nascido pré-termo em
Nutrição Parenteral prolongada ou que apresentem diarréia, são
Lipídios grupos de risco para deficiência destes micronutrientes, devendo
ser suplementado por via parenteral.
É a maior fonte calórica do leite, representam até 50% do total
calórico. O conteúdo de gorduras do Leite Humano varia entre as Vitaminas
mulheres, diminui durante o dia, aumenta no final da lactação
com a expressão do leite final. A gordura é o item que mais varia • Deve ser iniciada a partir do 7o dia de vida
no LH, havendo preocupação constante quanto à sua disponibili- • Vitamina K deve ser administrada ao nascimento em
zação efetiva ao RN. dose única 1 mg IM.
É importante também lembrar a importância da homogeneiza- • Na vigência de jejum prolongado, com alimentação pa-
ção antes das dietas, evitando a aderência a plásticos ou vidros. renteral exclusiva repetir 2 vezes por semana.
Ao infundir o LM não homogeneizado,se perde 52% da gordura,
crianças que recebem LM homogeneizado cresceram mais por- Suplementação de vitaminas
que aproveitaram mais a gordura e conseguiram digeri-la melhor. recomendadas para prematuros
É recomendado que 40-50% do aporte calórico seja sob a
forma de gorduras, das quais 3% na forma de ácido linolêico. Termo Pré-termo
Os ácidos graxos essenciais são necessários para formação da dose/dia dose/kg/dia
membrana celular, sobretudo no cérebro e na retina, onde sua Vit. A (UI) 2300 932
deficiência pode provocar perturbações cognitiva e visual. O ser
Vit. E (UI) 7 2,8
humano necessita de 2 ácidos graxos principais: o linoleico e o
Vit. K (µg) 200 80
alfa linoleico. O ácido linoleico se transforma em ácido aracdôni-
Vit. D (UI) 400 160
co que forma as prostaglandinas. O ácido alfa-linoleico é o pre- 167
Ácido ascórbico (mg) 80 32
cursor do DHA (ácido docosahexanóico), um dos elementos mais
pesquisados no LH por exercer papel fundamental na função vi- Tiamina B1 (mg) 1,2 0,48
sual e no desenvolvimento neuromotor, sendo apontado como o Riboflavina B2 (mg) 1,4 0,56
responsável pela fluidez dos impulsos nervosos através da mem- Piridoxina B6 (mg) 1,0 0,4
brana celular. Os RN que não tem uma boa fonte de DHA não Niacina B3 (mg) 17 6,8
terão uma função visual tão boa quanto àqueles que receberam Ácido pantotênico B5 (mg) 5 2,0
DHA do leite da mãe. O leite mateRNo tem um teor de ácido lino- Biotina B7 (µg) 20 0,8
leico de 7,2%, ácido alfa-linoleico de 0,8% e DHA de 0,6%. O bebê Folato B9 (µg) 140 56
que recebe fórmulas artificiais tem uma composição de ácidos
Vit. B12 (µg) 1,0 0,4
graxos no cérebro muito instável e o DHA diminui 5 a 6 semanas
após o nascimento, pois somente após 15 semanas de vida eles
serão capazes de sintetizá-lo. Protovit : 1 ml = 24 gotas
Paulo R. Margotto
Assistência ao Recém-Nascido de Risco
Suplementação de ferro para prematuros, de acordo com o Oferece a vantagem de prover maiores volumes a RN com capa-
peso de nascimento: cidade gástrica muito reduzida e crianças com refluxo gastroeso-
fágico grave. A alimentação transpilórica, devido as suas compli-
Peso Dose de Fe elementar cações, é pouco usada.
(gramas) (mg/kg/dia) Para os RN com síndrome do intestino curto, os dados mostram
< 1000 4 que se deve usar a dieta em forma de infusão contínua lenta.
1000<1500 3
1500<2000 2 Quanto Ao Posicionamento Do RN
Usada em recém-nascidos com intolerância à alimentação Primeiramente, inicia-se o trabalho de SNN para depois o bebê
por sonda gástrica intermitente e com hipomotilidade intestinal. passar para a sucção nutritiva (SN). Quando o desempenho do
Capitulo 05 Nutrição do Recém Nascido
bebê está dentro do esperado na SNN, é possível iniciar a SN, É necessário rígido controle do tempo e da quantidade de es-
porém ele ainda deve permanecer com a sonda gástrica. Essa tímulos, mediante a observação criteriosa das respostas e do
transição pode levar de 1 a 5 dias aproximadamente. A evolução comportamento do bebê. Exercícios orofaciais utilizados indiscri-
é individual e depende do progresso do bebê, para que seja ini- minadamente podem agravar as disfunções orais, gerando ainda
ciada a alimentação por via oral até que se consiga obter toda a mais desorganização no funcionamento oral dos bebês.
quantidade necessária de alimento exclusivamente por essa via.
Os estímulos estão divididos em: Início E Progressão Da Alimentação Enteral
1. Extra-oral: massagens com toques leves na região pe- A nutrição do RN pré-termo é uma urgência, sendo a admi-
rioral e bochechas, eliciando o reflexo de busca. nistração enteral a via indicada para RN prematuros < 1500g,
2. Intra-oral: merece atenção as suspensões da nutrição enteral durante as
intercorrências clínicas, não devendo ser mais prolongadas do
Avaliação Do Padrão De SNN que o necessário, quando a dieta for suspensa, deve-se pensar
sempre na possibilidade de retoRNá-la o mais rápido possível.
Feito com dedo mínimo envolvido por luva, embebido no leite, Usamos como regra para progressão da dieta o aumento de
sendo introduzido na boca do bebê a fim de eliciar, inicialmente, 20 ml/kg/dia (valor maior pode aumentar o risco de enterocolite
o reflexo de sucção e assim examinar como acontece a dinâmi- necrosante-consulte o capítulo Enterocolite Necrosante).
ca de sucção, como os movimentos e postura da língua, força e O estudo de Berseth Cl e cl trabalhou com 2 grupos, envolven-
ritmo de sucção, número de sugadas, duração das pausas etc. do 141 RN pré-termos: um grupo foi mantido com 20ml/kg por
10 dias e outro grupo, 20 ml/kg no primeiro dia e aumentan-
Estimulação da SNN do 20ml/kg por dia até 140ml/kg/dia que foi mantido até o dia
10. Os autores verificaram que no grupo com aumento diário de
Realizada conforme as necessidades específicas do RN com 20ml/kg/dia, o número de ECN foi exagerado (10% versus 1,4%
a finalidade de estabelecer o desenvolvimento motor-oral ade- é difícil acreditar que eles tenha tido tanta ECN!). Logo, deve-se
quado e tratamento das disfunções orais. De modo geral a esti- ter bom senso ao aumentar a dieta e a tendência hoje é restrin-
mulação promove: o canolamento da língua, o vedamento labial, gir um pouco esta velocidade de aumento. Na fase inicial, en-
estabelecimento de maior ritmo, força de sucção (aumento da trar com a enteral mínima (até 20ml/kg). Observar a tolerância
pressão intra-oral) e coordenação dos movimentos da língua. (poderá ficar 2 ou 3 dias sem aumento); no final da 1ª semana,
depois que o trato gastrintestinal estiver bem estimulado, au-
Rotina Fonoaudiológica no Alcon-HRAS mentar 20ml/kg/dia diariamente. Em revisão da Cochrane, os
autores consideraram os resultados dos estudos disponíveis são
A intervenção da Fonoaudiologia no alojamento conjunto insuficientes sobre segurança no uso de maiores velocidades de
(HRAS) consiste no atendimento a bebês, principalmente os pré- aumento da dieta e não permitem a sua indicação. 169
termos, que apresentam dificuldade para se alimentar por via
oral de forma eficiente e segura. Nutrição Enteral Mínima (NEM)
As características mais encontradas nestes bebês são: incoor-
denação de sucção, deglutição e respiração; sucção ineficiente e A NEM deve ser instituída em recém-nascidos impossibilitados
movimentos incoordenados de língua e mandíbula; fadiga exces- de receber alimentação por via enteral no sentido de estimular
siva durante as mamadas; história de regurgitações e/ou aspira- e preparar o trato gastrointestinal para alimentação posterior,
ções frequentes e curva descendente de peso. Estas alterações evitando a atrofia e achatamento da mucosa intestinal. Utilizar
ocorrem devido à imaturidade do sistema sensório-motor-oral ou preferencialmente o leite mateRNo cru.
malformações anatômicas das estruturas orais envolvidas duran- A literatura é farta quanto aos apontamentos relacionados aos
te a sucção e deglutição. benefícios da alimentação enteral mínima, como o aumento da
Considerando estes aspectos, a finalidade da assistência fono- atividade coordenada das camadas musculares, o aumento de
audiológica é promover uma condição de alimentação adequada hormônios (gastrina, enteroglucagon e motilina), o aumento das
quanto à nutrição, ganho de peso, sem riscos de aspiração ou dissacaridases intestinais, além de fatores biológicos ( os RN não
stress excessivo para o bebê. alimentados retardam a colonização, favorecendo a translocação
Os bebês são avaliados pela fonoaudióloga que analisa a ne- bacteriana sempre de flora gram-negativa).
cessidade do tipo de estimulação a ser estabelecida, levando em O volume vai de 5-25m/kg/dia, iniciar nas primeiras 24h de
consideração o quadro clínico do paciente. vida, se houver condições clínicas. A revisão da Cochrane, utili-
Após a avaliação os bebês recebem acompanhamento diário zando 8 ensaios clínicos randomizados e controlados, utilizando
dando seguimento às etapas do tratamento: volumes iniciais 12-24ml/kg/dia em idades de 1-8 dias e manti-
das por 5-10 dias mostrou que a introdução da NEM resultou em
1. Estimulação da motricidade orofacial (preparação da nutrição enteral plena mais precocemente (quase 6 dias antes)
sensibilidade e da musculatura); e redução do tempo de hospitalização, sem o aumento de ente-
2. Estimulação dos reflexos orais (reflexos de busca, suc- rocolite necrosante. Portanto, a NEM é uma arma importante no
ção e deglutição); manuseio da tolerância alimentar dos prematuros.
3. Estimulação da sucção nutritiva (seio mateRNo). A estratégia colocada na Conferência do Childrens’Hospital of
Philadelphia (Clohertg JP, Stark,1998) para prematuros extremos
A segunda etapa descrita está relacionada à estimulação da suc- foi a seguinte: logo ao nascimento dieta enteral mínima de 10-
ção não nutritiva com o objetivo de atuar diretamente no processo de 20ml/kg/dia, manter 7-14 dias dependendo se o RN está ou não
transição da alimentação por sonda gástrica para via oral exclusiva. em estado crítico (má perfusão, ventilação, etc). Se estável clini-
Os estímulos são realizados por curtos períodos nos horários camente, nos <800g aumentar 10 ml/kg/dia e nos RN com peso
da dieta, considerando o quadro cardiorrespiratório, o estado de >800g, aumentar ↑ 20ml/kg/dia.
alerta e organização, os níveis de stress e saturação de oxigênio
e as respostas oromotoras do RN.
Paulo R. Margotto
Assistência ao Recém-Nascido de Risco
Nos RN pré-termos, caso haja diagnóstico pré-natal de fluxo quenos volumes, por via gástrica e de modo contínuo, juntamente
sanguíneo arterial umbilical alterado (diástole reversa ou diás- com pequenos volumes oferecidos por via oral, estimulando assim
tole zero): iniciar a NEM com 48-72 horas de vida o aporte oral. Não existe uma fórmula ideal, alguns sugerem o leite
Benefícios: mateRNo, outros sugerem uma fórmula elementar como o Neoca-
te® em combinação com triglicerídeos de cadeia media e longa.
• Níveis mais altos de hormônios intestinais O tratamento da SIC é um desafio e requer atenção a cada
• Melhor tolerância alimentar detalhe. É importante restringir os líquidos orais e oferecer
• Ganho de peso mais rápido soluções hipotônicas, são importantes as maneiras criativas
• Tempo de hospiltalização mais curto de promover a alimentação enteral, evitando a perda de peso
• Diminuição dos níveis de bilirrubinas e o desequilíbrio eletrolítico. (Consulte o capítulo Perspectivas
terapêuticas da Síndrome do intestino curto em recém-nascidos).
Alimentação Enteral Plena
Tipos De Leite
Definição: oferta de 150ml/kg/dia, com uma oferta energéti-
ca concomitante de 120kcalkg/dia (110-175kcal/dia), com uma O melhor leite para o recém-nascido é o leite da sua própria mãe.
relação protéica/calórica de 2,5 a 3,6g/100 kcal. O leite da mãe de prematuros contém mais calorias, mais proteínas
Segundo alguns autores, até 10 dias de vida é um prazo impor- e mais sódio do que o “leite a termo”. Entretanto esta adaptação,
tante para atingir a nutrição enteral plena, no entanto, ter esta não abrange as necessidades aumentadas de cálcio, fósforos e ou-
meta em mente não significa colocar o RN em risco. Nutrição, tros nutrientes. Este efeito só se mantém por 15 dias a 1 mês.
como tudo em Neonatologia, deve ser apoiada no bom senso: O Leite Humano (LH) é o leite específico para a nossa espécie
avaliar as condições clínicas do RN e avaliar o quanto ele pode e apresenta a hidrolase (PAF-acetilhidrolase) que antagoniza as
tolerar. O estabelecimento da alimentação enteral plena preco- ações do Fator Ativador Plaquetário que é o desencadeante da
cemente tem sido apontada como responsável por grandes be- enterocolite necrosante.
nefícios a curto e médio prazo para os RN prematuros, como, por Os fatores bioativos do LH que ficam no trato intestinal são
exemplo, menores taxas de sepse tardia e aumento dos escores importantes porque evitam a entrada de patógenos para o bebê,
mentais e de desenvolvimento aos 30 meses de vida. Assim, é como a IgA secretória, lactoferrina, citocinas ( com propriedades
desejável que o RN esteja em nutrição enteral plena com 14 dias anti-inflamatórias), fatores de crescimento, nucleotídeos que po-
de vida, tendo alcançado 100-120cal/kg/dia. tencializam o sistema imune, além de vitaminas e taurinas que
são tróficas para o trato intestinal. O leite mateRNo tem uma con-
Sinais De Intolerância Alimentar centração enorme de probióticos, uma das razões pelas quais o
leite mateRNo é um bem tolerado, os probióticos são capazes de
• Resíduo gástrico de 50% ou mais do volume administra- reduzir de forma significativa o tempo para se atingir a nutrição
170 do ou até 5ml : 2 a 3 vezes enteral plena, além de diminuírem significativamente a incidên-
• Resíduos biliosos, vômitos, distensão abdominal, dimi- cia de enterocolite necrosante.
nuição dos ruídos hidroaéreos
• Sangue oculto ou macroscópio nas fezes, presença de Uso De Leite Humano + Suplementação
substâncias redutoras nas fezes (em 3 ou mais evacu-
ações) Têm como objetivos acelerar a taxa de crescimento, melhorar
• Significante apnéia ou bradicardia a mineralização óssea e diminuir o tempo de hospitalização. Usar
• Significante instabilidade cardiopulmonar em recém-nascidos prematuros de muito baixo peso (< 1500g).
• Sinais de perfuração Com o uso da suplementação são mantidos os benefícios ine-
quívocos do leite humano, sobretudo quando da própria mãe do
Obs: Resíduo gástrico esverdeado não tem sido correlacionado prematuro, mantendo-se o crescimento e a incorporação de nu-
com o volume de dieta no dia 14 e não deve diminuir a velocida- trientes em níveis mais próximos aos intrauterinos. A quantidade
de do avanço dos volumes da dieta na ausência de outros sinais diária mínima de proteína preconizada para o desenvolvimento
e sintomas clínicos (Mihatsh e cl, 2003) adequado do RN prematuro, por exemplo, dificilmente é atingida
quando se utiliza o LH puro e o princípio fundamental do suporte
Alimentação Enteral No RN Com nutricional é que a ingesta capaz de atender as necessidades
Síndrome Do Intestino Curto (SIC) diárias é que garante melhores resultados.
A revisão de Schanler e cl, em 1999, evidenciou que o grupo
SIC ocorre devido a uma diminuição da superfície absortiva que usou LM fortificado teve menos enterocolite necrosante que
do intestino, resultando em um aporte nutricional insuficiente e o grupo que fez o uso de fórmulas, indicando que, mesmo que
fazendo com que o paciente precise de nutrição artificial. Os sin- possa haver alteração no equilíbrio de defesa do LM, o LM fortifi-
tomas comumente ocorrem após a ressecção de mais da metade cado ainda é melhor do que a fórmula. Metanálise avaliando LH
do intestino delgado. Na dependência da porção retirada, ocor- fortificado x LH não fortificado mostrou efeitos positivos no ganho
rem mudanças na fisiologia da absorção, secreção ou motilidade de peso e comprimento nos RN pré-termos não havendo maior
intestinal. As ressecções jejunais comprometem mais a absorção incidência (significativa) de enterocolite necrosante e nem uma
de nutrientes. As ressecções ileais levam a diarréia e deficiência intolerância à medicação, ou seja, foi demonstrada uma seguran-
de vitaminas. A perda da válvula ileocecal propicia sobrecresci- ça dos fortificantes do LH.
mento bacteriano e má absorção. Na ausência do cólon, o RN Início: indicado principalmente para RN < 1500g, a partir de
evolui com desidratação devido à diarréia, com baixos níveis de 15 dias de vida ou quando a ingesta oral atingir 100ml/kg/dia.
potássio, sódio, cálcio e magnésio. A quantidade do suplemento será de 1g/20ml de leite mateRNo.
A nutrição enteral deve ser iniciada assim que possível, já que Término: quando o RN estiver mamando predominantemen-
ela constitui um potente estímulo para a adaptação intestinal, di- te no seio mateRNo fazer a suplementação com cálcio e fós-
minuindo a dependência de NPT. Geralmente é oferecida em pe- foro até completar 40-45semanas de idade pós-concepcional.
Capitulo 05 Nutrição do Recém Nascido
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Paulo R. Margotto
Assistência ao Recém-Nascido de Risco
Paulo R. Margotto
Assistência ao Recém-Nascido de Risco
Cobre 20 μg 20 μg 100 μg
Apesar de estudos evidenciarem que a presença dos lipídios
Manganês 6 μg 2,0 μg 10 μg
na solução inibem a fotoxidação das vitaminas, sugerimos a uti-
Cromo 0,17 μg 0,2 μg 1 μg lização separadamente de polivitaminas (A,B,C,D,E), na dose de
1mL/dia e protegidos da luz.
Tabela 3. Soluções de micronutrientes disponíveis no mercado.
*Composição por 1 ml. Vitamina K
É utilizado 0,5mg- 2x/semana.
Neozinc ® (acetato de zinco): cada ml contém 200 mcg de zinco.
O Cromo é um cofator para a insulina, facilitando a sua ação nos Vitamina B12
receptores periféricos. Necessidade: 0,2μg/kg/dia. Por ser elimi- É utilizada na dose de 50mcg 1x/mês/IM (apresentação
nado pelo rim, não suplementar o cromo na insuficiência renal. 2mL=1000mcg – diluir 2mL em 8mLde água destilada e fazer 0,5mL).
O Manganês é um cofator para muitos sistemas enzimáticos e
por ser a bile a sua maior fonte de excreção, deve ser evitada a Ácido Folínico
sua suplementação na presença de colestase. A exposição crô- É administrado via EV 1x/semana na dose 1mg.
nica ao manganês leva a severa doença neurológica extrapira-
midal. Dose: 1μg/kg/dia. Suspender quando houver colestase. Polivitamínico
O Zinco tem importante papel na estrutura e função da mem- Usado diariamente em infusão direta lenta. Usamos separada-
brana. Deve ser suplementado desde o nascimento. Necessida- mente na dose de 1mL/dia EV.
des: 400 μg /kg (RN prematuro) e 250 μg/kg (RN a termo).
O Cobre é um componente essencial de muitas enzimas oxi- Outros
dativas. O RN tem estoques hepáticos adequados para manter
a necessidade pós-natal por muitas semanas. Suspender o uso Heparina
quando houver colestase. Necessidades: 20μg/kg/dia. A heparina deve ser utilizada com objetivo de ativar lipase lipopro-
téica acelerando a lipólise e para minimizar a presença de trombos na
Vitaminas dose de 0,5U/mL de solução quando a NP for usada por cateter central.
Brion LP; Bell EF; Raghuveer TS, 2005, estudaram a impor- Insulina
tância da vitamina E é necessária na nutrição do baixo peso ao Devido às complicações e dificuldades de ajustes de dose, não
nascer (VLBW) e em bebês para evitar a deficiência de vitamina é recomendado a utilização em soluções de nutrição parenteral. 175
E. No entanto a prolongada ingestão intravenosa de vitamina E >
de 4 unidades inteRNacionais (UI)/kg/dia freqüentemente pode Complicações Da Nutrição Parenteral
ter níveis potencialmente tóxicos de tocoferol. Em Recém Nascidos
Níveis adequados de vitaminas A, C e E são importantes na
estabilização de ácidos graxos poliinsaturados das membranas Relacionadas ao acesso venoso:
celulares, diminuindo a gravidade das doenças pulmonares. Não • Embolia gasosa
há formula ideal de polivitamínicos para RN em nosso meio, ape- • Arritmias cardíacas (cateter mal posicionado)
sar de ser evidente a necessidade das vitaminas (Tabela 4). • Trombos no cateter
• Flebite
• Quilotórax
Vitaminas Termo Pré-Termo
• Perfuração e/ou escapes de infusão (pleura, pericárdio,
Dose/Dia Dose/Kg/Dia mediastino)
• Extravasamento para o canal raquimedular (quando se
Vitamina A (UI) 2300 932
usa cateter venoso femoral)
Vitamina E (UI) 7 2,8
Infecciosas
Vitamina K (UI) 200 80
Paulo R. Margotto
Assistência ao Recém-Nascido de Risco
Situações Especiais maior que o RN saudável. Embora este RN tenha um gasto ener-
gético maior, a oferta calórica não deve tentar atingir este gasto
RN com SEPSE aumentado. O aporte calórico não deve ultrapassar as necessi-
dades basais de energia adequadas para a idade pósconcepcio-
A sepse é uma situação grave e particular, que gera uma agres- nal, modificando-as segundo a resposta metabólica da criança. A
são orgânica, com uma conseqüente resposta metabólica e infla- oferta de calorias em excesso agrava o hipermetabolismo, oca-
matória. O suporte nutricional adequado pode atuar modulando sionando sobrecarga do sistema retículoendotelial, com prejuízo
a resposta inflamatória sistêmica, contribuindo para reduzir a da imunidade e provoca distúrbios metabólicos como hiperglice-
morbimortalidade destes RN. mia, hipertrigliceridemia, acidose metabólica e cetose.
Os efeitos dos macro e micronutrientes no sistema imunológico Os RN utilizando nutrição parenteral têm necessidades ener-
em desenvolvimento são bem documentados e a presença de géticas menores que aqueles com nutrição enteral, devido às
desnutrição no período perinatal afeta gravemente as defesas do menores perdas intestinais, exclusão de processos de digestão,
organismo, além de causar danos neurológicos irreversíveis. absorção e da ação dinâmico-específica dos alimentos. A oferta
Após uma agressão o organismo responde com um quadro ini- de 60 Kcal/kg/dia não proteicas, associada à infusão adequada
cial de instabilidade hemodinâmica, denominada fase “EBB” (flu- de aminoácidos, pode suprir as necessidades metabólicas em re-
xo), quando o metabolismo energético tende a diminuir. Quando as pouso, uma vez que em vigência de sepse em fase aguda espera-
condições circulatórias melhoram, ocorre a fase “FLOW” (refluxo), se obter equilíbrio metabólico e não crescimento.
caracterizada por intenso catabolismo, hipermetabolismo e con-
seqüente aumento do consumo de oxigênio. Ocorre ativação do 1. Carboidratos
eixo neuroendócrino, com aumento dos hormônios catabólicos: Durante um quadro de sepse, há uma resistência periférica à
glucagon, adrenalina e cortisol, e também a produção de citocinas ação da insulina, com tendência à hiperglicemia. A infusão au-
e eicosanóides (prostaglandinas e leucotrienos) devido à ação da mentada de glicose provoca aumento de catecolaminas, com
endotoxina bacteriana sobre o sistema retículo endotelial. aumento do consumo de oxigênio, elevação da PaC02 com au-
Este quadro de hipermetabolismo compromete a resposta imu- mento do volume corrente e volume minuto, e também infiltração
ne, provoca um quadro de autocanibalismo, devendo ser inter- gordurosa no fígado.
rompido com a introdução da terapia nutricional. Devemos evitar a hiperglicemia, que prejudica a resposta
Objetivos da terapia nutricional na sepse: imune, provocando inibição da fagocitose e glicação das prote-
ínas imunológicas.
• Modular as respostas hipermetabólica e imunológica A infusão deve ficar em toRNo de 4 a 7 mg/Kg/min, dependen-
• Preservar as massas celulares somática e visceral do da tolerância do RN; com uma oferta em toRNo de 50 a 60%
• Manter a integridade e função da mucosa gastrointesti- do aporte calórico total.
nal, evitando agressão da barreira mucosa e transloca-
176 ção bacteriana 2. Proteínas
• Proteger a função hepática e retículoendotelial A oferta deve ficar em toRNo de 15-20% do aporte calórico to-
• Manter a síntese das proteínas de fase aguda, coadju- tal. Devemos iniciar com 1,0 g/Kg/dia de aminoácidos, e ir au-
vantes da resposta imunológica mentando 0,5g/Kg/dia chegando a 3,0 g/Kg/dia. Podemos tole-
• Garantir a cicatrização rar a relação de calorias não proteicas mais baixa (1/20), devido
• Restabelecer o bom estado nutricional ao estado hipermetabólico.
• Melhorar os resultados clínicos As soluções para RN pré-termo devem Ter aumento das concen-
trações de aminoácidos de cadeia ramificada e menor quantidade
Início Da Terapia Nutricional de glicina, metionina e fenilalanina. Devem conter mais cisteína,
No Recém Nascido Com Sepse taurina e tirosina, que promovem melhor retenção nitrogenada e
poucas complicações metabólicas. Alguns estudos sugeriram que
Em paciente hipermetabólico com estabilidade hemodinâmica a adição de cisteína pode aumentar a síntese proteica em RN,
e transporte de oxigênio garantidos, a terapia nutricional deve além de aumentar a solubilidade dos íons cálcio e fósforo.
ser iniciada o mais precocemente possível, entre 12-72h após a Com este aporte proteico adequado, procuramos também evi-
agressão orgânica inicial. Deve-se dispor de um meio metabólico tar depleção muscular esquelética que origina fadiga muscular e
adequado, com boa oxigenação visceral, controle de pH e das dificuldade no desmame da ventilação mecânica.
perdas hidreletrolíticas.
A via preferencial para a terapia nutricional é a enteral, pois 3. Glutamina
tem menos complicações, mas nos RN esta é limitada devido à Aminoácido condicionalmente essencial, isto é, se toRNa es-
intolerância gastrointestinal e risco de Enterocolite necrosante, sencial nas situações de estresse orgânico, quando os seus es-
devendo então ser complementada com NP. toques são rapidamente consumidos. É um combustível funda-
É importante manter a alimentação enteral mínima, mesmo mental para as células de proliferação rápida como enterócitos,
que não se consiga progredir esta dieta enteral até alimentação colonócitos, linfócitos, pneumócitos e outros,, tendo uma impor-
enteral plena, pois o jejum prolongado causa efeitos deletérios tância fundamental na manutenção do trofismo intestinal em
no epitélio intestinal ( atrofia da mucosa, diminuição da absor- ocasiões de nutrição parenteral exclusiva, prevenindo a atrofia
ção e ausência de competição da flora intestinal), propiciando a intensa da mucosa intestinal que esta situação provoca. Pode ser
translocação bacteriana, aumentando a chance de ocorrer ente- administrada por via enteral ou parenteral, tendo sua ação mais
rocolite necrosante e sepse. Além deste efeito protetor à mucosa, ampla e eficaz sob forma parenteral.
a nutrição enteral melhora a tolerância à glicose. Barbosa (1999), verificou que lactentes criticamente enfer-
mos freqüentemente apresentam desnutrição calórico-protéica
Aporte Calórico No Recém Nascido Com Sepse em decorrência de demandas aumentadas por sepse e falência
respiratória. Foi incluído nos métodos de determinações antropo-
O RN com um quadro de sepse encontra-se em um estado métricas e bioquímicas, duração da hospitalização geral na UTI
hipermetabólico, com um gasto energético cerca de 20 a 30% e sob ventilação mecânica, assim como a morbidade e mortali-
Capitulo 05 Nutrição do Recém Nascido
dade infecciosa. O grupo glutamina (n=5) foi suplementado com nam-se à ocorrência de colestase associada a nutrição parenteral.
0,3 g/kg/dia daquele aminoácido, sendo que os controles (n=4) A nutrição enteral trófica, iniciando com pequenos volumes consti-
receberam igual dose de caseína. Ocorreram complicações sépti- tui um fator protetor pela ativação das enzimas digestivas.
cas em 75% dos controles(3/4) versus 20% do grupo glutamina. Os achados clínicos são insidiosos. Alterações nas provas de
Conclui-se que a suplementação de glutamina foi bem tolerada e função hepática são inicialmente observadas na 2a semana
tendeu a se associar a menos complicações infecciosas e menor após introdução da NP. Dentre os marcadores, a bilirrubina di-
mortalidade nesta população de alto risco. reta foi a primeira a alterar. As transaminases aumentaram em
Em estudo de Pacífico (2005), a análise dos resultados mos- torno da 4a semana.
trou que nos pacientes suplementados com glutamina, houve Após evidenciada a colestase, deve-se diminuir e se possível,
redução do tempo de nutrição parenteral em recém-nascidos, suspender NP o mais rápido possível. A substituição do lipídio
tempo de inteRNação, custos hospitalares e mortalidade. Con- convencional por óleo de peixe Diminuir infusão de AA para 1,5g/
tudo, os estudos controlados nesta faixa etária pediátrica, não kg/dia. O uso do acido ursodeoxicólico têm desempenhado im-
permitem que se adote o uso rotineiro da glutamina em crianças portante papel. Devido à diminuição da absorção de vitaminas
gravemente enfermas. O número reduzido de pacientes e a hete- lipossolúveis, elas devem ser repostas e também é necessário o
rogeneidade quanto ao grupo etário, doenças e via de adminis- uso de TCM pela má absorção das gorduras.
tração são fatores que limitam a interpretação dos resultados.
Efeitos da Nutrição Parenteral suplementada com glutamina: Displasia Broncopulmonar
• Mantém as reservas de Glutamina intra e extra-celular A capacidade de reparo e crescimento pulmonar está relacio-
• Reduz a perda muscular durante o estresse e melhora a nada ao grau em que o suporte nutricional pode estabelecer um
retenção de nitrogênio estado anabólico É importante aporte calórico adequado visto as
• Reverte a atrofia da GALT (tecido linfóide ligado à mucosa necessidades energéticas serem maiores: 50% na forma de CH,
gastrointestinal) induzida pela NP, mantendo o trofismo 30% na forma de lipídio e 20% na forma de AA. Excesso de glico-
intestinal. Impede ainda a redução da imunidade do trato se pode causar aumentar a produção de C02, além do aumento
respiratório do consumo de O2, aumentando a demanda da função respirató-
• Atenua a resposta inflamatória sistêmica, com menor pro- ria já comprometida.
dução de citocinas próinflamatórias ( IL6, IL8, FNT alfa ) e
maior produção de citocinas antiinflamatórias (IL10) Prematuros Extremos (< 28 Semanas)
• Aumento na contagem total de linfócitos circulantes e au-
mento na síntese de linfócitos T. As necessidades protéicas podem ser maiores chegando até 3,8
g/kg/dia. Os lipídios devem representar 40 a 50% das calorias to-
Dose: 0,3 – 0,4g/Kg/dia do dipeptídeo na NP = 1,5 a 2,0ml/ tais. São necessários 0,5 a 1,0g/kg/dia de lipídios para prevenir
Kg/dia. deficiência de Ácidos graxos essenciais. Os AA essenciais são: cis- 177
• Não ultrapassar 20% da oferta proteica na NPT. teína, taurina, tirosina, histidina arginina, glicina e glutamina,
• APRESENTAÇÃO: “DIPEPTIVEN” a 20% - N(2)-L-alanil-L- Para um ganho de peso próximo ao intrauterino, deve-se fazer
glutamina nutrição agressiva que inclui NP precoce e nutrição enteral mínima.
COLESTASE (Consulte o capítulo de Colestase Neonatal) Devido às características nutricionais apresentadas pelos RN
de muito baixo peso, tais como intolerância aos lipídios e a glico-
A duração da NP, o excesso de calorias (a ingesta calórica exces- se, necessidades hídricas variáveis, grande número de distúrbios
siva do carboidrato e gordura tem sido associado com esteatose metabólicos e imaturidade renal, são necessárias modificações
hepática e colestase), recém-nascidos de baixo peso, infecção, diárias no aporte de componentes da nutrição parenteral, deter-
cirurgia gastrintestinal (pode ser um fator de confusão, pois estes minando prescrição extremamente individualizadas.
RN permanecem mais tempo em jejum) e a ausência prolongada Devido à grande demanda de pacientes graves em nosso servi-
de nutrição enteral (sendo este o fator mais importante) relacio- ço e à necessidade de se prescrever em curto espaço de tempo,
Paulo R. Margotto
Assistência ao Recém-Nascido de Risco
a literatura oferece-nos uma alternativa a este problema, que é são inseridos na planilha de cálculos em total de ml por dia, e a
a utilização de programas de informática no cálculo e prescrição planilha calculará automaticamente o volume disponível para nu-
dos constituintes da nutrição parenteral com resultados satisfa- trição parenteral, assim como a taxa hídrica oferecida ao RN por
tórios. O seu uso tem sido associado à diminuição de incidência cada um dos componentes acima em ml/Kg/dia. Esta planilha
de distúrbios metabólicos em unidades Neonatais, e melhor utili- calcula ainda a taxa hídrica oral (THO) recebida pelo RN, conside-
zação do tempo do profissional médico junto ao paciente. rando para cálculo que cada ml de leite apresenta cerca de 80%
A Unidade de Neonatologia do Hospital Regional da Asa Sul de água. Todos os dados referentes à taxa hídrica venosa total
(HRAS) utiliza uma tabela em software Excel para auxílio na pres- (THVT) e por cada componente, assim como a taxa hídrica oral
crição da nutrição parenteral. A planilha de cálculos da tabela são foRNecidos automaticamente. A planilha calcula ainda a taxa
em Excel foi desenvolvida pela Dra. Marina Ramthum do Ama- calórica oral recebida, considerando que o leite humano utilizado
ral, com a colaboração da Equipe de Neonatologia do Hospital no HRAS apresenta em média 67 kcal/100ml, e a concentração
Regional da Asa Sul, com a finalidade de simplificar os cálculos de glicose da solução de Nutrição Parenteral final, permitindo
anteriormente realizados de forma manual na Unidade de Neona- que seja respeitada a concentração máxima de 25% para infusão
tologia, utilizando simplesmente fórmulas matemáticas básicas, em veia central e 12,5% em veia periférica.
incluindo além das quatro operações fundamentais, porcenta- Finalmente, a planilha permite ao usuário que configure o volume
gens e médias ponderadas. a ser utilizado como acréscimo do equipo de infusão, que varia em
Esta tabela permite que o usuário configure a Nutrição Pa- média entre 25 a 40 ml, com os aumentos proporcionais de todos
renteral a ser prescrita determinando a quantidade de lipídios e os constituintes da nutrição parenteral. Garante-se assim que não
aminoácidos em gramas por quilo de peso, a taxa de infusão de haja desperdício de solução de Nutrição Parenteral e que a infusão
glicose (TIG) em mg/Kg/min, além de componentes como sódio, não seja interrompida antes do previsto. O acréscimo do equipo
potássio, magnésio e fósforo. de infusão é especialmente importante para bebês de muito baixo
Na Unidade de Neonatologia do HRAS, calcula-se a quantidade peso, cuja Nutrição Parenteral possui pequeno volume total.
de sódio e potássio da solução em mEq%. A planilha é configu- Ao final há uma planilha configurada especificamente para im-
rada para soluções de NaCl 20% e KCl 10%. O usuário insere a pressão, conforme imagens abaixo (Figura 2)
quantidade de sódio e potássio desejada em mEq% e a planilha Esta planilha de cálculos foi desenvolvida com o objetivo de
realiza o cálculo automaticamente considerando por base a taxa agilizar os cálculos realizados diariamente pelos neonatologis-
hídrica venosa total do paciente. A quantidade de magnésio é tas da unidade, buscando da melhor forma possível meticulosa
calculada em ml/Kg, sendo possível utilizar dois tipos de apre- precisão dos cálculos, às vezes essencial para um RN menor de
sentação: Sulfato de Magnésio 12,4% (1ml = 1 mEq) e Sulfato 1000g. Ela vem sendo utilizada rotineiramente na unidade des-
de Magnésio 50% (1ml = 4 mEq). Considerando a administração de o maio de 2008, com bom aproveitamento. Trata-se de uma
de rotina de 0,5 mEq/Kg/dia, preenche-se a planilha abaixo com planilha personalizada para as necessidades da Unidade de Neo-
0,5 ml/Kg se for utilizada a apresentação de Sulfato de Magnésio natologia do HRAS. Por se tratar de um programa de fácil acesso
178 12,4% ou 0,125 ml/Kg se for utilizada a apresentação de Sulfato como o software Excel, poderia ser adaptada com alguns ajustes
de Magnésio 50%. O fósforo é utilizado na apresentação de Fos- de cálculos a outras unidades.
fato Ácido de Potássio, na dose de 0,5mL/kg/dia, que equivale Exemplo de uma Prescrição Informatizada da Nutrição Paren-
a 1 mEq/Kg/dia de Fósforo (50mg/Kg/dia) e 1 mEq/Kg/dia de teral da UTI Neonatal do HRAS:
Potássio. A planilha calcula automaticamente a quantidade de
potássio fornecida na apresentação de Fosfato Ácido de Potássio
e considera esta oferta ao calcular a quantidade final de KCl 10%
que será utilizada na solução. Os oligoelementos são calculados
em ml/Kg. Podem ser utilizadas diversas soluções disponíveis no
mercado, sendo que no HRAS utiliza-se o Ped Element na con-
centração sugerida a RN de 0,2 mL/Kg/dia.
A planilha considera como base o uso da nutrição parenteral
com associação em um mesmo frasco de glicose, aminoácidos e
lipídios. A administração em um único frasco dos três constituintes
dificulta o uso de grandes quantidades de cálcio e fósforo, em de-
corrência de precipitação em solução de pH alcalino. Desta forma,
a planilha é configurada para que o cálcio seja oferecido à parte
na prescrição. Na Unidade de Neonatologia do HRAS, utiliza-se o
gluconato de cálcio 10% (2 a 4 ml/kg/dia, que equivale a 1-2 mEq/
Kg/dia). Considerando a necessidade de rigoroso controle de vo-
lume em bebês de muito baixo peso, a planinha calcula automati-
camente a quantidade de cálcio que será administrada, o volume
de cada dose diária, a diluição em água destilada e o soro que
será utilizado para lavar o equipo (1 ml antes e 1 ml depois da
administração do gluconato de cálcio). Todos estes volumes serão
automaticamente incluídos na taxa hídrica total diária do bebê.
A planilha tem o objetivo de auxiliar não apenas a prescrição
da nutrição parenteral, mas também de tornar mais eficiente o
manejo da taxa hídrica do RN que necessita de cuidados inten-
sivos. Assim, os cálculos de volume da NPT são realizados com
base na taxa hídrica total (THT) diária desejada. O usuário deve,
portanto, preencher os dados referentes à THT desejada, bem
como os volumes utilizados para infusão de sedo-analgesia, dro-
gas vasoativas, antibióticos e outras medicações. Estes volumes
Capitulo 05 Nutrição do Recém Nascido
Figura 1 - Planilha onde são inseridos os dados e onde o usuário pode visualizar como ficará a solução final de Nutrição Parenteral 179
Paulo R. Margotto
Assistência ao Recém-Nascido de Risco
Novos Substratos Em Nutrição Parenteral Brasil e as recomendações para a gestão da qualidade descri-
tas na ABNT NBR ISO 9001:2000 (InteRNational Organization
Novos substratos em nutrição parenteral vêm sendo buscados for Standarization); Programa de Compromisso com a Qualidade
a fim de se minimizar os problemas de incompatibilidades entre Hospitalar - CQH, Fundação Nacional para Qualidade, Organiza-
os nutrientes, bem como trazer benefícios terapêuticos. ção Nacional de Acreditação - ONA e Joint Comission.
Na tentativa de solucionar o grave problema da incompatibili- A Resolução 272/98-SVS/MS normatizou os requisitos estru-
dade entre fosfato e cálcio nas formulações parenterais de recém turais e ambientais nas boas práticas de manipulação, armaze-
nascidos, foram estudadas fontes alteRNativas dos dois íons. Des- namento e transporte da nutrição parenteral, além de recomen-
tes estudos, os melhores resultados foram obtidos com o uso de dar que a assistência ao paciente fosse realizada por uma equipe
sais orgânicos de fósforo, os quais são solúveis com sais de cálcio multiprofissional, composta por especialistas em terapia nutricio-
em qualquer concentração, tornando estável a nutrição parenteral. nal, entre eles o farmacêutico que possui atribuições específicas.
Outros substratos, como a arginina, glutamina, ácidos graxos Ω3 A manipulação da nutrição parenteral é um processo que utiliza
e Ω6, ácidos graxo de cadeia longa (PUFA) e nucleotídeos, vem sen- procedimentos padronizados e validados pelo farmacêutico, a fim
do utilizados como suplementos no suporte nutricional de pacientes de assegurar a qualidade, esterilidade e estabilidade físico-quími-
recém-nascidos a termo ou prematuros, portadores de câncer, sín- ca da nutrição parenteral até a sua administração ao paciente.
drome do intestino curto, entre outros usos terapêuticos. A formulação de solução de NP deve ser adaptada às necessi-
A arginina tem apresentado múltiplas ações tais como: precur- dades calórico-protéicas do paciente, metas do suporte nutricio-
sor metabólico da creatina, creatinina, poliaminas, óxido nítrico e nal e a via de acesso adequada à situação clínica. O suporte nu-
importante participação no ciclo da uréia. É descrito como estimu- tricional ótimo, tanto para a manutenção como para a repleção
lador do hormônio de crescimento hipofisário, e tem sido relacio- da composição corporal normal, em um indivíduo normal ou por-
nado ao aumento da atividade das células killer e células T-helper tador de algum tipo de enfermidade, depende de uma provisão
e ao estímulo da produção das citocinas: interleucina-1 (IL-1), inter- adequada. Deve-se incluir carboidratos, gorduras, aminoácidos,
leucina-2 (IL-2), receptor IL-2, interleucina-6 (IL-6), e o fator alfa de eletrólitos, minerais e vitaminas.
necrose do tumor (TNF-alfa), que são importantes mediadores na A formulação de solução de NPT é um procedimento que deve ser
gênese da caquexia. Tem se apresentado como condicionalmente adaptado às necessidades individuais de cada paciente beneficiá-
essencial em neonatologia. Pacientes prematuros que apresenta rio. Assim a solução de NPT deve sofrer alteração em sua compo-
enterocolite necrosante têm apresentado decréscimo na concen- sição na medida da variação das condições mórbidas do paciente.
tração de arginina plasmática. Estudos em modelos de enterocoli- Os pacientes que recebem a NP devem ser submetidos a um
te necrosante têm apresentado benefícios na profilaxia com argini- rígido controle clinico e laboratorial, antes e durante a adminis-
na, porém estudos adicionais são necessários para determinar os tração da NP, para identificar as anormalidades metabólicas que
benefícios em recém nascidos prematuros. requeiram tratamento.
Em recém nascidos os estudos utilizando quantidades suple- A obtenção e manutenção da esterilidade na nutrição paren-
180 mentares destes nutrientes são promissores, porém não foram teral e preparações estéreis são dependentes da qualidade dos
estabelecidas as condições para o emprego terapêutico. componentes aditivados, da técnica de manipulação rigorosa-
Ácidos graxos polinsaturados de cadeia longa (PUFA), Ω3 e Ω6 mente asséptica e das condições ambientais sob as quais o pro-
estão sendo utilizados na modulação do processo inflamatório. cesso é realizado.
Estudos experimentais em recém nascidos a suplementação com O farmacêutico deve garantir o fornecimento de nutrição paren-
PUFA ocasionou a redução na incidência de morte, enterocolite ne- teral estável, contendo nutrientes quimicamente compatíveis, nas
crosante e inflamação intestinal em ratos recém-nascidos, quando dosagens adequadas, estéreis e apirogênicas. A possibilidade de
comparado ao grupo controle. Estudos clínicos estão sendo con- interação entre componentes é bastante alta na nutrição parenteral
duzidos nesta área e apresenta-se com resultados promissores. devido à sua complexidade e multiplicidade e deve ser avaliada pre-
Os Nucleotídeos também tem sido utilizado como suplementos viamente em todas as soluções nutritivas. As interações entre nu-
nutricionais em recém nascidos na estimulação do sistema imu- trientes podem ocorrer na forma pré-absortivas ou pós-absortivas.
nológico, apresentando resultados promissores. A prescrição inicial baseia-se na determinação das necessida-
des calórico-protéicas do paciente, e metas do suporte nutricio-
Cuidados De Enfermagem nal. Deve-se fazer um requerimento diário de todos os macro e
micronutrientes para obter uma indicação adequada.
• Inspecionar cada frasco quanto à cor, precipitação e se- No estômago, dietas com osmolaridade elevada reduzem os movi-
paração de fases. mentos de propulsão dificultando o esvaziamento gástrico, enquanto
• Administrar NP à temperatura ambiente. Nunca aquecer que mais distalmente, no duodeno e jejuno, alimentos hiperosmola-
e nunca congelar. res aumentam o peristaltismo e ativam a propulsão da dieta.
• Verificar rótulo, observando nome do paciente, goteja- Fatores relacionados à Nutrição Parenteral, tais como: osmo-
mento. laridade, concentração dos aditivos, pH, temperatura, tempo e
• Colocar horário de início no rótulo e no prontuário. modo de estocagem determinam a estabilidade das mesmas.
• Antes de conectar o equipo ao paciente, efetivar assepsia A osmolaridade sugerida pela literatura, em nutrição parente-
rigorosa. ral, varia em toRNo da osmolaridade plasmática. Assim, confor-
• Controlar gotejamento. me os mOm/l, as dietas podem ser: isotônicas, moderadamente
• Não permitir contato solar direto com a solução. hipertônica e hipertônicas.
• Trocar diariamente de frascos Os componentes que influenciam a osmolaridade de uma so-
• Curativos com uso de povidine. lução são principalmente os açúcares mais simples (monossaca-
rídeos, dissacarídeos), cloreto de sódio (NaCl) e os aminoácidos
Aspectos Da Manipulação cristalinos. Os lipídios não influenciam a osmolaridade dada a
Da Nutrição Parenteral sua insolubilidade em água.
As incompatibilidades se dividem em três grupos: físicas, quími-
As Boas Práticas na manipulação da nutrição parenteral esta- cas e terapêuticas. Elas dependem da ordem de adição, Ph, tem-
belecem as orientações e obedecendo à legislação vigente no peratura, concentração, luz, tipo de envase, ordem de aditivação.
Capitulo 05 Nutrição do Recém Nascido
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Introdução
O Leite Humano (LH) é o alimento ideal para o RN humano são mais pesados na gestação a termo do que as meninas. A
tanto a termo como pré-termo pelas suas indiscutíveis qualida- taxa de depósito de proteínas é muito rápido entre a 26-32 sema-
des, entre as quais destacamos do ponto de vista nutricional (a nas, já a taxa de depósito de gordura só depois de 30 semanas. É
presença de ácido ducosahexanóico, é importante na acuidade por isto que a gordura total de um neonato seria de 2-6%. É tudo
visual e inteligência aos 3 anos), imunológico (proteção das in- estruturado. Não é armazenado. O feto visa ter proteína que é o
fecções de um modo geral e particularmente contra as diarréias elemento fundamental de tudo do que se tem.
infecciosas: a mãe que amamenta transfere ao seu filho, na O enriquecimento do LH que provê uma oferta de 3,3g/Kg/dia
fase em que ele ainda não desenvolveu seu sistema imune, a de proteína ao RN com peso ao nascer médio de 1,4kg produ-
memória imunológica adquirida nos seus 20 -25 anos de vida; ziu taxas intrauterinas de crescimento linear e de peso. Há forte
favorecimento da resposta ao esquema de vacinação; o LH é a correlação entre ingesta protéica (por volta de 3g/Kg/dia) e cres-
primeira vacina e a vacina é um reforço), assim como os efeitos cimento em peso e comprimento. Comparando três grupos de
psicológicos materno. RN entre 28 e 32 semanas (LH puro, LH com adição e fórmulas
Os RN pré-termos em uso do LH apresentam melhor score inte- para pré-termos), Nicholl e Gamsu observaram que os RN com LH
lectual aos 8 anos (entre os RN pré-termos alimentados com LH adicionado apresentaram aumento no tamanho da peRNa seme-
e fórmula, o grupo do LH apresentou QI significativamente mais lhante ao grupo com fórmula.
elevado, chegando a 8,3 de vantagem). A retinopatia da prematu- O enriquecimento do leite humano do RN pré-termo com prote-
ridade ocorreu 2,3 vezes mais nos RN pré-termos com fórmula do ína resulta em ganho de peso, crescimento do perímetro cefálico
que com RN com LH e pouco destes RN com LH evoluíram para o e do comprimento. O aumento da uréia observado pode refletir
estágio III da retinopatia da prematuridade e nenhum necessitou adequado, mais do que ingesta protéica excessiva.
de crioterapia ou cirurgia a laser. Por não ser possível a comparação entre LH enriquecido e LH
A incidência de enterocolite necrosante é menor nos RN pré-ter- não enriquecido, por razões éticas, Schanler e cl conduziram um
mos alimentados com LH (6 a 10 vezes maior nos RN pré-termos estudo randomizado em um total de 100 RN (idade gestacional
182 com fórmula), uma vez que este estimula o crescimento e o desen- média de 28± 1 semana e peso ao nascer médio de 1,07 ± 0,17
volvimento do intestino do RN pré-termo e a presença de fatores kg), comparando resultados entre os grupos com LH enriquecido
imunológicos,macrófagos, imunoglobulinas protegem da infecção. e com fórmulas específicas. Os autores observaram significativa-
Os RN pré-termos estão sob grande risco para hemorragia in- mente menos sepses tardia e enterocolite no grupo de RN com
traventricular, doença pulmonar crônica, retinopatia da prematu- LH enriquecido x fórmula, além de menor tempo de hospitaliza-
ridade, leucomalácia periventricular (lesão isquêmica com alto ção, apesar de menor taxa de crescimento global. Esta compa-
risco para paralisia cerebral). Nas últimas três décadas, apesar ração demonstra que a adição do LH promove adequado status
dos avanços obstétricos e pediátricos, a paralisia cerebral tem nutricional (a retenção pós-natal superou a taxa de acréscimo
aumentado. Um elo comum entre estas complicações é a pero- intrauterino de nitrogênio, fósforo, magnésio, zinco e cobre no
xidação lipídica. Os RN pré-termos alimentados com LH tiveram grupo com LH adicionado) sem comprometer as defesas do RN
proteção antioxidante adequada. ou a tolerância alimentar. A menor incidência de enterocolite
Os dados relativos aos efeitos protetores do leite humano para o necrosante e sepses tardia no grupo com LH enriquecido, duas
RN de baixo peso são estimulantes. Pela proteção que confere, a complicações freqüentes nestes RN, principalmente nas Unida-
alimentação com leite humano deve ser encorajada. O uso do leite des Neonatais brasileiras, foi comparável com outros relatos dos
da própria mãe para estes RN é acompanhado de uma maior veloci- efeitos protetores do LH nos pré-termos (o efeito protetor está
dade de crescimento do que o uso de LH pasteurizado de doadoras. relacionado com o alto teor de IgA do LH). A proteção conferida
ao grupo LH enriquecido também se deve ao mais freqüente con-
Leite Humano Exclusivo para o RN pré-termo: tato pele-pele entre a mãe e o bebê no grupo do LH enriquecido
O Enriquecimento (este contato pode estimular a produção de anticorpos mateR-
Nos para produzir o LH contendo anticorpos contra patógenos
No entanto, a nutrição do RN de muito baixo peso (< 1500g nosocomiais equivalente à circulação enteromamária de células
e especialmente < 1200g) na ausência do seu enriquecimento, imunocompetentes). Apesar da maior retenção de nitrogênio no
não alcança o objetivo nutricional que proporciona taxas de cres- grupo de LH adicionado, o crescimento foi menor (os RN do grupo
cimento intrauterino e retenção de nutrientes. O crescimento li- LH adicionado tinham menor peso que os RN do grupo fórmu-
near e do peso são menores nos RN pré-termos alimentados com la). Esta menor taxa de crescimento poderia ser detrimental se
leite de sua própria mãe não enriquecido, em comparação com a hospitalização fosse prolongada, o que não ocorre neste gru-
LH adicionado ou fórmula. po com LH enriquecido. Os autores concluem que os benefícios
Crescimento neonatal dos RN pré-termo deficiente está direta- observados (menos enterocolite necrosante e sepses tardia e
mente relacionado a um deficiente crescimento na idade de 1 a menor hospitalização), superam a menor taxa de crescimento
3 e 7 anos e deficiente neurodesenvolvimento. observada e sugerem que o LH enriquecido deve ser promovido
Segundo Cooker R, o crescimento é constante durante a gesta- ativamente no RN pré-termo.
ção, diminuindo entre a 36-38 semanas. Meninos e meninas são Hay Jr relata haver grande diferença no QI entre os RN pré-
diferentes. A velocidade e crescimento nos meninos são consi- termos alimentados com baixo teor de proteínas (menor QI) em
deravelmente mais rápidos do que nas meninas. Os meninos relação aos prematuros com teor adequado de proteína (a dife-
Capitulo 05 Nutrição do Recém Nascido
rença na escala chega até 2-3 níveis). A adição ao LH melhora receberam fortificação no leite humano. No entanto, não houve dife-
bastante o QI, assim como o desenvolvimento destas crianças. renças entre os pesos e os valores da fosfatase alcalina. Os autores
As deficientes ingestas de cálcio e fósforo pelo LH através de não diferenças significativas entre os grupos quanto à enterocolite
toda a lactação, constitue um sério problema para os RN de mui- necrosante (o leite com aditivo foi imediatamente administrado), in-
to baixo peso alimentados com LH. As concentrações de cálcio tolerância alimentar, distensão gástrica, infecção e icterícia.
(25mg%) e de fósforo (14mg%) são geralmente semelhantes,
tanto no leite pré-termo, como a termo e tanto na lactação inicial Propriedades Imunológicas
como tardia. Estas quantidades estão muito abaixo das necessi- do Leite Humano Adicionado
dades de ingesta mineral para estes RN, acarretando deficiente
mineralização óssea, raquitismo e fraturas. Os requerimentos de Estudos evidenciaram que a concentração de IgA não foi afeta-
Ca, P e Mg são inversamente proporcional à idade gestacional da pelo enriquecimento do LH. A concentração total de IgA pode
nos RN de muito baixo peso (devido ao alto acréscimo que ocorre ser usada como um determinante da integridade do LH. Em rela-
no último trimestre de gestação). Para administrar a quantidade ção aos RN alimentados com fórmulas, Schanler e cl observaram
suficiente de cálcio e fósforo, segundo Martinez, seria necessário aumento significativo de lactoferrina, lisozima e IgA (95% foi IgA
prescrevermos 500ml/Kg/dia e 300ml/Kg/dia de leite mateR- secretória) nas fezes do RN (idade gestacional 28 - 30 semanas)
No, respectivamente. Se o leite humano é inadequado, ao invés alimentados com LH adicionado na idade entre 2,5 e 6 sema-
de substituí-lo por fórmulas, seria melhor complementá-lo e esta nas. Interessante foi a detecção da IgA secretória para o antígeno
idéia data desde 1956, quando se adiciou sódio ao leite humano E.coli nas fezes de do 90% dos RN alimentados com LH enrique-
e o sódio, segundo este autor. cido versus em nenhum alimentado com fórmulas. Igualmente
O melhor indicador do estado do cálcio e do fósforo no RN de entre 2,5 e 5 semanas de idade, Goldblum e cl detectaram au-
muito baixo peso alimentados com LH são as concentrações de mento destes fatores imunes na urina dos RN alimentados com
fósforo no soro. A deficiência prolongada LH adicionado (7 a 150 vezes maior quantidade em relação aos
destes minerais tende a estimular a reabsorção óssea com no- RN com fórmula). Provavelmente a absorção gastrintestinal com
malização do cálcio sérico. Esta atividade óssea correlacion-se a subsequente excreção renal seja a possível explicação.
com o aumento da fosfatase alcalina no soro (o crescimento line- O enriquecimento do leite humano com ferro tem um efeito di-
ar foi significativamente menor no grupo de RN com níveis mais reto na lactoferrina. A lactoferrina é a maior glicoproteína no leite
elevados de fosfatase alcalina na idade de 18 meses). mateRNo que se liga ao ferro. O leite mateRNo do prematuro tem
O enriquecimento da dieta dos RN de muito baixo peso com grande quantidade de lactoferrina, em relação ao RN a termo, da
cálcio e fósforo aumentou significativamente o conteúdo mineral segunda a décima segunda semana pós-parto. Uma das pro-
do osso rádio durante a hospitalização. Após a alta nos RN de priedades antibacterianas importantes da lactoferrina está rela-
muito baixo peso alimentado com LH, a rapidez da mineralização cionada à sua alta afinidade para se ligar ao ferro. A lactoferrina
óssea foi menor em relação ao RN de muito baixo peso com fór- pode privar a bactéria ou o fungo do seu nutriente essencial
mula. Nestes RN com LH sem adição foram necessários 2 anos para o seu crescimento. A ação da lactoferrina depende de um 183
para que o conteúdo mineral dos seus ossos competisse com os ambiente pobre em ferro.. A saturação da lactoferrina com ferro
dos RN semelhantes alimentados com fórmulas. endógeno abole esta atividade. A lactoferrina do leite humano é
Segundo Pereira, a literatura mostra que todos os menores de saturada com ferro em somente 5 a 8%. Quando adicionamos
1500g se beneficiam em termos de mineralização óssea com a ferro ao leite humano ou quando se adiciona ao leite humano
adição de LM. fortificante contendo ferro, estamos saturando a lactoferrina e
Assim, a taxa de secreção mineral equivalente à intrauterina assim, diminuindo a ação antibacteriana do leite humano.
deveria ser alcançada durante a hospitalização e que a falta des- Portanto, o leite mateRNo para o prematuro tem atividade
ta ocorrência implicaria num déficit acumulativo de cálcio e do contra a E.coli, Sthaphylococcus, Enterobacter e Streptococcous do
fósforo durante 8 ou 12 semanas de hospitalização. Grupo B. esta atividade pode ser afetada pela adição do ferro ou
Apesar da literatura registrar evidências de que uma ingestão fortificantes que contém quantidade significante de ferro.
sub-ótima de Ca e P no período crítico da vida poderia programar
uma melhor mineralização mais tarde,os estudos recentes mos- Tolerância Alimentar do
tram que o uso da adição do LH faz uma diferença em termos de Leite Humano adicionado
ganho de peso mineralização óssea, perímetro cefálico e compri-
mento, além de possibilitar que este RN saia mais precocemen- O esvaziamento gástrico é importante no sucesso da nutrição
te do hospital, minimizando os riscos que estes RN apresentam enteral, sendo que o seu retardo tem implicações importantes no
quando inteRNados por longo tempo. manuseio do RN com intolerância alimentar. Ao contrário do estu-
O sódio é raramente avaliado nos estudos de enriquecimento do do de Ewer e cl realizado na Austrália que evidenciou significante
leite humano. O estudo de Tanak e cl avaliou a fração de excreção retardo no esvaziamento gástrico com o enriquecimento ao LH,
de sódio, a osmolaridade e densidade urinárias em dois grupos McClure e Newell evidenciaram que o enriquecimento do LH não
recém-nascidos pré-termos (<34 semanas e >34 semanas) com afetou o esvaziamento gástrico, sugerindo que esta prática que
leite humano de banco enriquecido. Os autores não demonstra- passou de 5% em 1987 para 72% em 1994 no Reino Unido, não
ram variabilidade da osmolaridade urinária entre os dois grupos (o afetou a tolerância alimentar no RN de baixo peso. Estes autores
aumento observado na osmolaridade do leite humano com o forti- atribuem a estes diferentes resultados a variabilidade fisiológica
ficante não acarretou aumento da carga real de solutos, pois cerca do esvaziamento gástrico.
da metade do que é oferecido pela dieta é incorporado em tecido O uso da proteína de origem bovina versus de origem humana
novo). A densidade urinária teve valor semelhante à osmolaridade (3g/kg/dia) na adição ao LH foi recentemente estudado por um
e não se alterou em função da dieta. Segundo Baumgart S, não há grupo sueco. Ambos adicionadores foram bem tolerados, sendo
evidências de efeitos indesejáveis na função renal dos prematuros semelhante entre os dois grupos os ganhos de peso, comprimen-
que recebem leite humano enriquecido. to e de perímetro cefálico.
O estudo de Martins e Krebs, o primeiro no Brasil a usar fortifican- A indução de sintomas alérgicos em crianças alimentados ex-
te no leite humano cru da própria mãe, evidenciou maior crescimen- clusivamente ao seio não parece ser devido à presença de beta-
to em comprimento e perímetro cefálico nos recém-nascidos que lactoglobulina no LH devido à reatividade cruzada entre proteínas
Paulo R. Margotto
Assistência ao Recém-Nascido de Risco
do leite de vaca e proteínas do LH, uma vez que Restani e cl não O crematócrito é uma medida fácil podendo ser realizado pela
confirmaram a presença de proteínas bovinas no LH. Provavel- mãe com o seu próprio leite na Unidade de Neonatologia, prática
mente outros componentes que não a betalactoglobulina ou ca- que maximiza o envolvimento mateRNo e satisfação.
seína estejam envolvidos na indução de sintomas alérgicos nas Estudo longitudinal do crematório do LH e ganho de peso nas
crianças com LH exclusivo. crianças alimentadas exclusivamente com LH realizado na Índia
por Chartterjee e cl não evidenciou relação entre crematócrito do
Osmolalidade do Leite Humano Adicionado LH e crescimento da criança. O crematócrito aumentou até 16
semanas pós-parto, declinando a seguir
Curtis e cl estudaram a osmolalidade do LH logo após o enri-
quecimento e 24h depois utilizando cinco diferentes adicionado- Fórmula do Crematócrito
res de LH, sendo observado aumento da osmolalidade do LH 10
minutos após a adição. Os autores explicam este fato pela ativi- % C = C x100 ÷ C.T C = Creme
dade da amilase do LH, que induzindo hidrólise da dextrina que % G = % C - 0,59 ÷ 1,46 CT = Coluna Total
contém nos adicionadores do LH, leva a produção de pequenas Kcal/l = % C x 66,8 + 290 G = Gordura
moléculas de oligossacarídeos osmoticamente ativas. A adição
de gordura nos novos adicionadores do LH reduziu a osmolalida- Vide Exemplo:
de e esta redução pode melhorar a tolerância A coluna total foi de 47mm. A coluna de creme foi de 3mm.
Segundo Schanler, os aditivos do leite humano aumentam a osmo- Percentagem do creme 3x100 ÷ 47 = 6,38
laridade do leite, mas não contribui com a intolerância (a osmolarida- Percentagem de gordura 6,38 - 0,59 ÷ 1,46 = 3,96%
de em média do leite humano é de 230-335mOsml/l; com a adição, a Kcal/l = 6,38 x 66,8 + 290 = 716 cal/l
osmolaridade vai para 400mOsm/l; a osmolaridade do trato gastrin-
testinal está na faixa de 600mOsm/l). Devido a este fato, aumentar o
aditivo do leite humano lentamente, num período de 2-3 dias.
O relato de maior incidência, embora não significativa de en-
terocolite necrosante no estudo de Lucas e cl comparando RN
alimentados com LH enriquecido versus fórmula, pode ser devido
à grande proporção de uso de fórmula nos dois grupos.
Ao iniciarmos o enriquecimento do leite humano, devemos
fazê-lo lentamente, iniciando com a metade preconizada e au-
mentando após a verificação da tolerância (resíduo gástrico, dis- Conclusões
tensão sbdominal, vômitos),
O enriquecimento do LH tem-se toRNado uma prática quase
184 Crematócrito do Leite Humano universal. Entre 1987 e 1994, o uso do LH adicionado, passou de
5% para 72% nas Unidades Neonatais do Reino Unido.
O crematócrito (tamanho da coluna de creme separada do leite Os enriquecedores ajudam a aumentar o conteúdo nutritivo e
pela centrifugação e expresso como a percentagem do tamanho aumentar a ingesta de cálcio, fósforo e de sódio melhorando a
da total coluna de leite) varia com a concentração de lipídio no taxa de crescimento e mineralização óssea comparáveis aos RN
LH. Wang e cl, recentemente relataram forte correlação entre com fórmulas especiais com alto conteúdo de Ca, P e proteínas.
o crematócrito com a concentração lipídica (r = 0,82) e o con- Uma mistura imprópria pode causar preciptação e sedimentação
teúdo energético (r = 0,86) do LH fresco, não sofrendo inclusi- dos sais minerais. A retenção de Ca e P evidenciada pelo conte-
ve alterações com o congelamento e descongelamento do LH, údo mineral ósseo do rádio foi maior nas preparações contendo
uma prática muito comum nos Bancos de Leite. Os autores não gluconato-glicerofosfato de cálcio do que nas preparações com
observaram correlação significativa entre o crematócrito e a fosfato de cálcio. As preparações comerciais para o enriqueci-
concentração de carboidrato e proteína. A contribuição ener- mento de LH são benéficas porque proporcionam suspensões
gética do carboidrato e proteína é praticamente constante. Por mais estáveis dos nutrientes. Os adicionadores são disponíveis
outro lado, o conteúdo lipídico do LH provê a maior quantidade na forma de pó e líquido. Os enriquecedores líquidos diminuem o
de energia do LH (aproximadamente 50%) e é o constituinte mais conteúdo de gordura do LH.
variável. Assim, a variação do conteúdo energético do LH é devi- O enriquecimento do LH deve ser prescrita a partir de 15 dias
do à sua variação da concentração lipídica. de vida ou quando a ingesta oral atingir 100ml/kg/dia de leite
Segundo Valentine e cl, leite posterior contém significativamen- humano para RN com peso <1500g e idade gestacional <30-
te mais energia e gordura (embora menos zinco e cobre) do que 32 semanas, principalmente em RN com complicações médicas,
o leite anterior. A gordura provê 42% de calorias no leite anterior como nutrição parenteral por longo tempo,displasia broncopul-
e 55% no leite posterior, enquanto a proteína provê 12% e 9% de monar (“temos que alimentar o pulmão”), terapia com esteróide,
calorias respectivamente. O ganho de peso aumentou durante o restrição hídrica. O enriquecimento deve ser introduzido lenta-
tempo que o RN recebeu LH posterior (média de 7g/dia). O uso mente até chegar à quantidade total O tratamento com dexame-
da adição ao LH posterior evidenciou a continuação do ganho tasona pode aumentar o risco de osteopenia pelo aumento da
de peso, mesmo quando houve diminuição da produção do leite. excreção de fosfato. O enriquecimento do LH deve ocorrer no mo-
Assim, o LH posterior adicionado provê mais gordura endógena e mento em que for administrado. O término deve ocorrer quando
promove o maior ganho de peso. o RN estiver mamando predominantemente ao seio, devendo se
O uso do leite humano posterior (leite mateRNo gordo) tem adicionado ao LH a seguir com cálcio e fósforo até completar 45
mais caloria, a quantidade, porém a quantidade de cálcio e fósfo- semanas de idade pós- concepcional, com a finalidade de sal-
ro é a mesma, podendo levar a uma preocupação: estas crianças vaguardar a mineralização e impedir fraturas no 1º ano de vida,
crescem mais rapidamente e se oferece o mesmo teor de cálcio e assegurando um crescimento linear nestas crianças.
fósforo, há maior risco de distúrbio ósseo-metabólico. Concluindo, a nutrição num período vulnerável do desenvol-
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Capitulo 05 Nutrição do Recém Nascido
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Assistência ao Recém-Nascido de Risco
186
Capitulo 06 Distúrbios Metabólicos
Capítulo 6
Distúrbios
Metabólicos
Assistência ao Recém-Nascido de Risco
O cálcio desempenha papel fisiológico importante, sendo es- Cálcio sérico menor que 8 mg%./ cálcio iônico < 3,0 – 4,4 mg%
sencial na integridade funcional dos nervos e músculos, onde tem A diferenciação da forma precoce e tardia nem sempre é fácil
influência na excitabilidade e produção de neurotransmissores. É de ser feita, devido à presença de fatores que podem causar as
necessária para contração muscular, função cardíaca, manuten- duas formas, como o hiperparatireoidismo materno (as convul-
ção da integridade das membranas e na coagulação sangüínea. sões por hiperparatireoidismo no RN têm ocorrido aos cinco dias
de vida e com duas semanas de vida).
Aspectos Fisiopatológicos
Hipocalcemia precoce (primeiras 24 – 48 horas de vida)
No último trimestre, a troca materno-fetal do íon cálcio chega a
aproximadamente 100 a 150 mg/kg de peso fetal ao dia (350 mg/ • 1/3 dos RN prematuros (50% nos RN < 1.500 g)
dia no último mês). Nas semanas finais da gestação, a calcemia do • 1/3 dos RN com asfixia ao nascimento (secundário à
feto é aproximadamente 2 mg% acima dos níveis maternos. liberação de cortisol e catecolaminas com aumento da
Ao nascimento, o suprimento de cálcio materno é retirado abrup- calcitonina sérica)
tamente do RN, resultando numa baixa de cálcio extracelular. • 20,7 – 60% dos RN filhos de mães diabéticas insulino-
Os níveis de Cálcio sérico nos 3 primeiros dias de vida correla- dependentes (com o melhor controle glicêmico a incidên-
cionam-se com a idade gestacional. cia é menor: 12,5%)
Grau de maturação da paratireóide neonatal • Exsangüíneotransfusão (combinação do Citrato com o
Inabilidade da paratireóide para responder ao “stress” hipocal- cálcio iônico)
cêmico: hipoparatireoidismo funcional, devido aos altos níveis de • Traumatismo obstétrico
íons cálcio no sangue do cordão. Ocorre melhora da função da • Sepse
188 paratireóide depois de 2 a 4 dias de vida • Hiperparatireoidismo materno (devido ao hiperparatireoi-
Elevados níveis de calcitonina ao nascimento dismo secundário no feto)
Provável resistência à ação do PTH (parathormônio) nos ór- • Pseudo-hiperparatireoidismo: (hiperfosfatemia, aumento
gãos alvos. do PTH com resistência aos órgãos alvos a sua ação)
• Hipoparatireoidismo congênito: Síndrome de Di George
Interação Do Cálcio Com O Magnésio (cardiopatia, ausência de timo e paratireóides)
• Aumento do Cálcio no túbulo renal leva a um aumento na Hipocalcemia tardia (Após os primeiros dias de vida a sema-
excreção do Magnésio. nas após o nascimento)
• A hipomagnesemia leva a Hipocalcemia por vários meca- Associada com grande ingestão de fósforo quando o RN é ali-
nismos: mentado com muito leite de vaca (as relações P:Ca e P:Mg no
• Diminuição da produção do PTH leite de vaca são quatro vezes maiores que as do leite humano)
• Resistência do órgão alvo ao PTH Na idade de 2 a 5 anos, essas crianças apresentam severa
• Diminuição da absorção intestinal do Cálcio com ou sem hipoplasia do esmalte dentário.
alteração no metabolismo da Vitamina D Distúrbio da vitamina D: aumento do catabolismo hepático da vi-
• Diminuição da troca interiônica do cálcio pelo magnésio tamina D secundário ao uso materno de fenobarbital ou fenitoína.
do osso. Uso de bicarbonato de sódio, hiperventilação (alcalose respiratória).
romper a administração quando a frequência cardíaca. cair abai- Prednisona: 2mg/Kg/dia (inibe a reabsorção de cálcio nos
xo de 110 a 120 b.p.m. e/ou quando a clínica de hipocalcemia ossos, intestino e nos rins), principalmente nas adiponecrose e
desaparecer. Ter sempre ä mão o Bicarbonato de Sódio (antído- hipervitaminose A e D.
to). Lavar o cateter antes da infusão de Bicarbonato de Sódio.
Magnésio
Manutenção
2 ml/Kg/dia na perfusão venosa, perfazendo o total de 4 ml/ O magnésio desempenha papel importante na excitabilidade
Kg/dia. cardíaca, na contração muscular, na irritabilidade neuronal, no
Manter o cálcio sérico total entre 8 – 10 mg% e o cálcio ioniza- controle do tônus vasomotor e canais de cálcio, além da regula-
do entre 3 – 4 mg%. ção da adenilato-ciclase e proteção da injúria oxidativa.
Patologia neonatal:
Observação Hipomagnesemia: Magnésio total < que 1.6 mg%/ magnésio
1. O “push” só se justifica com clínica evidente, principal- ionizado < que 0,97mg% (somente 41% dos RN com hipomagne-
mente convulsão, caso contrário, 4 ml/Kg/dia na perfu- semia total apresentam magnésio iônico baixo; o magnésio iôni-
são venosa e controlar a calcemia 6 a 12 horas depois. co é dependente de outros fatores, como pH sangüíneo, albumi-
2. Ao administrar o cálcio EV pelo cateter umbilical, certi- na sérica, concentração sérica de fosfato, cálcio e bicarbonato).
ficar-se que a ponta do cateter não esteja em localização
intracardíaca. Causas
Paulo R. Margotto
Assistência ao Recém-Nascido de Risco
Para a compreensão do quadro clínico, as ações do magnésio são: manter os valores da glicose mais elevados (glicose sangüínea
> 50 mg%, que equivale a uma glicemia plasmática de 60mg%)
• Gastrintestinal: pode diminuir o peristaltismo intestinal garantindo um nível seguro para prevenir possível comprometi-
afetando as células musculares lisas ou diminuindo exci- mento do SNC (a hipoglicemia está associada com aumento do
tabilidade fibras nervosas musculares. fluxo sanguíneo cerebral em 2 a 3 vezes).
• Neuromuscular: inibe a liberação de acetilcolina na
junção neuromuscular, levando a fraqueza e hipotonia Patologia Neonatal
(hipomagnesemia) e paralisia e hiporreflexia (hipermag-
nesemia) Hipoglicemia
• Causa depressão respiratória por provocar fraqueza ou Glicose sanguínea < 50mg ou glicose plasmática <60mg (a
paralisia dos músculos respiratórios. glicemia plasmática é aproximadamente 10%-15% maior que
• Cardiovascular: bloqueadora dos canais de cálcio. dimi- a sangüínea).
nui condução elétrica do coração → Hipotensão. Pacientes de risco para apresentar hipoglicemia:
• Supressão da produção de paratormônio e da 1,25(OH)2D,
levando ao raquitismo e aumento do cálcio sérico. • Retardo do crescimento intrauterino
• O menor dos gêmeos discordantes
Clínica • Filhos de mães com Pré-eclâmpsia
• Prematuros
• Hipotensão • Asfixia perinatal
• Retenção urinária • Hipotermia
• Depressão do Sistema Nervoso Central • RN de Diabética
• Hiporeflexia e letargia (devido ao bloqueio da produção • Erros Inatos do Metabolismo: deficiência da glicose 6-
de acetilcolina nos membros) fostato, frutose 1-6- difosfatase, galactosemia
• Aumento no tempo de condução átrio-ventricular e ventricular • Síndrome de Beckwith-Wiedemann: (hiperplasia das cé-
• Depressão respiratória lulas beta-pancreáticas)
• Anormalidades ósseas (RX) em 11,4 %: relacionadas à • Doença Hemolítica pelo sistema Rh (Hipoglicemia hipe-
duração do uso do sulfato de magnésio na mãe rinsulinêmica)
• Diminuição do trânsito intestinal; • RN cuja mãe fez terapêutica tocolítica com beta-simpa-
• Retenção de resíduos gástricos com distensão abdominal; ticomimético para inibir o trabalho de parto prematuro
• Atraso na liberação de mecônio (síndrome do tampão (2/3 dos casos).
meconial);
• Perfuração intestinal; Clínica
190 • Arritmias.
Tremores, convulsões, apatia, recusa alimentar, apnéia com bra-
Relação entre as concentrações de magnésio e a clínica dicardia, cianose, hipotonia, hipotermia, insuficiência cardíaca no
Concentração Magnésio Sérico (mg%) RN - PIG (devido ao insuficiente substrato energético cardíaco).
Importante: no tratamento da Hipoglicemia reduzir os gastos raro (1/400.000 nascidos vivos) e está associado a anormalida-
energéticos (tratar a septicemia, corrigir a acidose, propiciar am- des no cromossomo 6q.
biente térmico neutro). Diabetes Neonatal Permanente (DNP): A maioria não tem cau-
Se a glicemia sanguínea persistir menor que 50 mg% após 6 sa definida. A mutação KCNJ11, gene que codifica a sensibilida-
horas do início da infusão de glicose, não obrigatoriamente im- de ao ATP nos canais de potássio, é a forma mais comum, e pode
plica na necessidade de aumentar a concentração de Glicose, e ser espontânea. Njolstad e cl descreveram 5 casos com muta-
sim a taxa de infusão da mesma. Se a glicemia persistir menor ções GCK (gene Glucoquinase) e ocorre mais em famílias asiá-
que 50 mg%, 6 horas após, introduzir Hidrocortisona (aumenta a ticas e européias com consanguinidade. A GCK é uma enzima
glicemia por indução das enzimas gliconeogênicas), na dose de reguladora da glicólise nas células ß pancreáticas, funcionando
10mg/kg/dia –12/12 horas, EV, durante 2 a 3 dias ou Predniso- como um sensor de liberação de insulina. Os homozigotos para
na: 2 mg/kg/dia – VO, podendo ser suspenso abruptamente. Não GCK apresentam alto limiar para a liberação da insulina, sendo
havendo resposta, Glucagon (aumenta a glicemia por mobilizar proporcional a severidade da mutação. Em 6 casos de mutação
glicogênio hepático): ataque: 0,2 mg/kg - EV ou IM (máximo: 1 da GCK foi verificado um grau de consangüinidade.
mg) e manutenção: 2 a 10 mcg/kg/h. O uso do glucagon pode Uso de drogas, como teofilina, cafeína, dexametasona.
fazer com que a glicose suba muito rapidamente, com aumento Consequências: Desequilíbrio osmótico (18 mg% de glicose
da produção de insulina e o problema não se resolve. Há risco de aumenta a osmolaridade sangüínea em 1 mOsm/l), levando a
hiponatremia e trombocitopenia. Se persistir a hipoglicemia: Dia- alteração do volume cerebral devido a deslocamento de líquido,
zóxido: 10 – 15mg/kg/dia – VO – 8/8 horas (suprime a secreção podendo ocasionar hemorragia intraventricular (aumenta a mor-
pancreática de insulina): indicado nos casos de hiperinsulinismo talidade nos prematuros).
grave, como adenoma de pâncreas. Geralmente o RN é assintomático. A principal implicação clíni-
Desmame: fazer em 12 a 24 horas, na dependência do risco ca é a restrição do fornecimento de calorias.
e de acordo com a aceitação da dieta: sucção ou gavagem sem Diurese osmótica com perda de água e eletrólitos, levando a
resíduo gástrico. Para os RN onde a taxa hídrica venosa não esteja desidratação.
influenciando a cota hídrica diária, este desmame poderá ser feito Aumento do risco de enterocolite necrosante (7,4 vezes com
por gotejamento (utilizando regra de três simples), por exemplo: glicemia superior a 185mg%) e mortalidade (13 vezes mais).
A convulsão na hipoglicemia é um verdadeiro “divisor de 1. Glicemia > 150 mg%, reduzir TIG 191
águas”, identificando os RN com pior prognóstico, embora não 2. Glicemia > 200 mg%, reduzir TIG mais rapidamente a
haja evidências de que a hipoglicemia assintomática seja menos 2 mg/kg/min.
perigosa ao cérebro. 3. Glicemia > 250 mg% persistente: Infusão contínua de
insulina: 0,05 – 0,1 U/kg/h (controlar glicemia cada 1 a
Hiperglicemia:Glicemia sanguínea maior que 150 mg%, com gli- 2 horas)
cosúria positiva. 4. {10 UI/kg em 100 ml SF 0,9% e infundir 1 ml/h da so-
Fatores de importância: RN com idade gestacional menor que lução = 0,1 UI/kg/hora}
30 semanas (peso < 1000 g). Esses RN apresentam tanto hiper- 5. {5 UI/kg em 100 ml SF 0,9% e infundir 1 ml/h da solu-
glicemia como hipoglicemia: A incidência de hiperglicemia nestes ção = 0,05 UI/kg/h}
RN varia de 40 – 80% (ocorre 18 vezes mais no RN < 1000 g em 6. Acompanhar o potássio sérico (risco de hipocalemia).
relação ao (RN > 2000 g). Entre os mecanismos, são citados: 7. O uso da insulina permite a manutenção da ingesta
calórica, enquanto o tratamento com apenas a redução
• Alta de secreção de hormônios glicorreguladores da oferta de glicose, associa-se com deprivação calórica
• Resposta lenta à secreção de insulina para a troca de prolongada.
glicose 8. Suspender terapêuticas, se não essenciais, como ami-
• Resistência à insulina: as catecolaminas acentuam esta nofilina ou fototerapia e berço de calor radiante (estes
resistência. (A resistência a insulina é provavelmente de- exigem maior quantidade de líquidos contendo glicose).
vido à persistência da gliconeogênese na presença de
hiperglicemia) Bibliografia
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192
Capitulo 06 Distúrbios Metabólicos
Definição
Conjunto de condições que determinam alterações no pro- • Colestase com má absorção intestinal da vitamina D e
cesso de mineralização óssea levando a fragilidade do suporte fator limitante na oferta de aminoácidos quando em NPT
estrutural deste (osteopenia)e nos casos mais graves, podendo e para que haja mineralização, deve haver síntese de co-
ocasionar o aparecimento de fraturas espontâneas (raquitismo). lágeno da matriz óssea, o que resulta em necessidades
A incidência é maior em prematuros com peso ao nascer abaixo de ingestão elevada de proteínas.
de 1000g nos e naqueles com peso abaixo de 1500g (50% e • Imobilização-hospitalização prolongada dos prematuros
30%, respectivamente) sem estimulação física (a tensão mecânica é um podero-
so estimulador de formação e crescimento ósseo).
Fisiopatologia • Defeitos congênitos ou adquiridos: alteração tubular renal, al-
teração no metabolismo da vitamina D ou do parathormônio.
A transferência de Cálcio (Ca) e fósforo (P) através da placen-
ta ocorre durante toda a gestação. O período de maior desenvol- Quadro Clinico
vimento esquelético e a mineralização óssea ocorre no terceiro
trimestre, quando o feto incorpora altas quantidades de Ca (120- A Doença Metabólica Óssea (DMO) não tem um quadro clinico
150mg/kg/dia) e P ( 60-75mg/Kg/dia).Os níveis de incorporação característico, sendo um indicio, mais frequentemente observa-
mineral aumento exponencialmente entre 24 e 37 semanas de do, de um déficit de crescimento apos a sexta semana de vida.
gestação, resultando em 80% de acúmulo de minerais no terceiro A hipomineralizacão óssea pode se desenvolver já nas primeiras
trimestre. Sendo assim, prematuros nascidos com idade gestacio- semanas apos o nascimento, sendo geralmente subclínica. Si-
nal entre 24 e 34 semanas ficarão privados da oferta intrauterina nais radiológicos aparecem somente quando já ocorreu redução
de Ca, afetando a mineralização óssea intrauterina e pós-natal. da densidade óssea com perda de 40% dos minerais do osso.
Caracteristicamente estes prematuros têm hipofostatemia, hipo- O diagnostico clinico ocorre entre 2 e 4 meses de vida e carac-
fosfatúria, hipercalcemia, hipercalciúria, níveis normais ou baixos teriza-se por sinais de raquitismo: achatamento posterior do crâ-
de parathormônio (PTH)e níveis elevados de 1,25-(OH)-D calcitriol, nio, espessamento das junções condrocostais,alargamento das
que, por sua vez, aumenta a absorção intestinal de Ca, alem de porções distais do radio e da ulna, aumento da fontanela anterior.
aumentar a reabsorção óssea com maior liberação de Ca e P. No 193
entanto, na presença de hipofosfatemia, uma quantidade limitada Diagnóstico
de Ca pode ser depositada no osso, resultando em hipercalcemia e
hipercalciúria. A hipercalcemia inibe a produção do PTH. Rx simples: impreciso e depende da gravidade e da duração da
deficiência de minerais. As alterações radiológicas são:
Etiologia
GrauI: rarefação da metáfise e adelgaçamento da cortical
Multifatorial Grau II: irregularidade matafisária com imagem em forma de
1. Fatores intrauterinos: taça e alargamento da epífise/diagnóstico diferencial com sífilis
• Deficiência materna severa de Ca e Vitamina D Grau III: fraturas (estas ocorrem de forma geral entre 6-12 semanas)
• Hipo ou hiperparatireoidismo materno.
• Tratamento materno prolongado com Magnésio ou fosfato. • Padrão ouro: determinação da medida do conteúdo mi-
neral ósseo por densitometria óssea com aparelho de
2. Fatores pós-natais absorção de fótons duplo (absorciometria por duplo Rx).
• Prematuridade • Ultrassom quantitativo (QUS) que mede a velocidade do
• Baixa oferta na dieta de Ca e P que ocorre em prematuro som no osso e mede além da densidade óssea e outras
em aleitamento materno exclusivo, pois este apresenta propriedades do osso como espessura cortical, elastici-
concentrações de Ca e P mito abaixo das necessidades dade e microarquitetura.
diárias ideais. (24mg% e 14mg%, respectivamente). • Bioquímica
• Nutrição parenteral total prolongada(NPT) que é a
maior fonte de nutrição para prematuros extremos nos Ca sérico níveis normais (N=8-11mg/dL)ou baixo
primeiros dias. Não se consegue, com a NPT, ministrar Ca urinário elevado(>6mg%,sinal precoce)
quantidades suficientes que se equiparem às necessi- P sérico baixo (N= 6,6-9,4mg/dL)
dades intrauterinas. Fatores limitantes: Dificuldade na P urinário baixo (<1mg%)
solubilidade do Ca na presença do P. As soluções mais
empregadas consistem em gluconato de Ca associados Fosfatase Alcalina (FA) elevada, usar como ponto de corte va-
a sais de fosfato mono ou dibásico. A solubilidade me- lores 5 vezes maior ao de referência para adultos normais(N= 45-
lhora adicionando-se os sais de P antes dos sais de Ca e 150Ui). Tem sido evidenciado ser mais preditiva no diagnóstico
empregando-se maiores concentrações de aminoácidos. precoce do que o fósforo e cálcio (indicadores mais tardios)
• Uso de diuréticos, anfotericina, corticosteróides, meti- Osteocalcina elevada.
lxantinas que levam a perda renal de Ca. 1,25(OH) vit D normal ou alta; se baixa significa deficiência
de vitamina D
Paulo R. Margotto
Assistência ao Recém-Nascido de Risco
A nossa conduta consiste em iniciar seguimento de todo pre- Exemplos: Bebe com1330g e recebendo dieta 20mlx8
maturo nascido com menos de 32 semanas de idade gestacional Necessidade /dia Ca 156mg..Na dieta recebe 38mg. Os
(em alimentação parenteral ou oral) com 2 semanas de vida do- 118mg que faltam de Ca será suplementado com 2,3ml de fosfa-
sando Ca e P sanguineos e urinários e a FA. As dosagens serão to tricálcico 12,9% divido em 4 tomadas 0,5ml/vez.
repetidas a cada 21 dias até completar 40 semanas de idade Bebe com 2000g e sucção ao seio exclusivo calcular a capaci-
gestacional pós-concepção e depois mensalmente ate 48 sema- dade gástrica em torno de 30ml/Kg.
nas ( 2 meses de idade corrigida). Necessidade /dia Ca 240mg. Na dieta recebe,em media,115mg
Ca. Suplementar o restante de Ca com 2,3ml de Fosfato tricálcico
Profilaxia 12,9% dividido em 4 tomadas.
Uma das maiores aquisições da medicina perinatal nas últimas • Água fecal : 7ml/kg/dia
décadas tem sido a considerável melhora na sobrevivência dos • Urina : 1 a 2ml/kg/dia
RN de muito baixo peso. • Insensível: (perda de água da árvore respiratória duran-
Em relação aos distúrbios hidroeletrolíticos destes RN, são ne- te a respiração e evaporação da pele). RN a termo : 20-
cessárias várias modificações em comparação ao que se preconiza 25ml/kg/dia (nos primeiros 3 dias). RN prematuros 45-
para os RN a termo. O princípio básico visa restaurar as perdas e 55ml/kg/dia.
suprir a quantidade necessária para o aumento da massa corporal.
As perdas insensíveis no RN em 24h variam com o peso de
Indicação da Hidratação no RN nascimento
• RN com peso < 1500g
• RN que não suportam a via enteral • 700-1000g: 82ml/kg
• RN com desconforto respiratório • 1001-1250g: 56ml/kg
• RN com enterocolite necrosante • 1251-1500g: 46ml/kg
• RN com asfixia grave • > 1500g: 26ml/kg
• RN com patologias cirúrgicas
Fatores Ambientais Que
Mudança Da Composição Corporal Afetam A Perda Líquida Insensível
Na 1ª Semana De Vida
Para mais
Os RN de baixo peso entre 28-32 semanas de gestação têm • Hiperatividade 30-50%
um alto conteúdo de água corporal (83% do peso sendo 53% no • Prematuros extremos 100-300%
extracelular). Pelo 6º dia de vida estes valores caem para 73% e • Fototerapia 30-50%
39%, respectivamente. Este fato se deve à contração dos com- • Hipertermia 30-50%
partimentos flúidos do corpo como resultante da adaptação à • Taquipnéia 20-30%
vida extra-uterina. Observem no quadro a seguir:
Para menos
RN a 1 ano de • Incubadora c/ umidificação 50-100% 195
Prematuros • Uso de Hood na incubadora 30-50%
termo idade
• Uso de cobertor plástico sob calor radiante 30-50%
Água orgânica total* 80% 78% 65% • Intubação traqueal com umidificação 20-30%
Líquido extracelular* 50% 45% 25% Outros fatores que podem aumentar as necessidades líquidas do RN:
Paulo R. Margotto
Assistência ao Recém-Nascido de Risco
Condições que afetam estes requerimentos O termo hipercalemia não oligúrica tem sido usado para des-
• RN sob fototerapia: +20ml/kg/dia crever RN que apresentam hipercalemia sem redução no fluxo
• RN com distúrbio de concentração renal: - 60ml/kg +vo- urinário nos primeiros 2-3 dias de vida. Entretanto, estudo reali-
lume urinário zado pelo grupo do Kluckow, na Austrália, verificou que o débito
• RN com insuficiência cardíaca: - 30ml/kg urinário diminui apenas nas primeiras 24 horas e depois ocorre
• RN em ventilação mecânica: -10ml/kg a diurese nos 2-3 dias de vida. Se você analisar o débito urinário
médio nos 2-3 primeiros dias, talvez você não detecte esta fase
Para os RN prematuros extremos, consulte capítulo específico. oligúrica inicial seguida pela fase diurética. Esta é uma falha dos
estudos, que descreveram a hipercalemia não oligúrica porque
Administração de Eletrólitos não quantificaram o débito urinário dia a dia. Outro mecanismo
Sódio: inicia-se no 2º dia de vida e na dose de 1mEq%, aumen- potencial para a hipercalemia seria a redução do débito cardíaco
tando gradualmente até atingir 3mEq% no 4º dia em diante que prejudicaria o fluxo renal, resultando em hipercalemia, se-
Potássio: inicia-se no 2º dia de vida após a diurese, na ordem guido de recuperação nas 24 horas. Redução do fluxo sangüíneo
de 0.5mEq%, atingindo depois do 3º dia, 2 mEq%. sistêmico pode ser um fator importante na filtração e excreção do
Cálcio: 1mEq/kg/dia (2ml/kg de gluconato de cálcio a 10%) K+ nos RN pré-termos.
Noventa e três por cento dos RN urinam nas primeiras 24h de vida Outro achado importante foi a associação observada entre hi-
e há um grupo de 7% que não urinam. A colocação de K+ na hidrata- percalemia e hemorragia intraventricular (HIV); os RN com maior
ção venosa deve ser guiada pela diurese e pela densidade urinária nível de K+ foram os que mais tiveram significante HIV grau 2 ou
(mantê-la entre 1008-1012, o que equivale a 240-360 mOsm/l). mais. A HIV ocorreu após o pico de K+ ter sido alcançado em muitos
Homeostase de Na+: Os RN de peso menor 1500g podem ne- RN. Assim, a HIV e a hipercalemia são ambos consequência de um
cessitar de maior oferta de Na+, principalmente a partir da 2ª estado precedente de baixo fluxo.
semana de vida, devido à maior perda urinária deste eletrólito Aumento do fluxo urinário espelha o aumento espontâneo no
pelos seguintes motivos: fluxo sanguíneo sistêmico, com a melhora da função cardíaca e
renal e a hipercalemia começa a se resolver.
• Superfície tubular inadequada para a reabsorção (pre- A hipercalemia pode levar a arritmias cardíacas e a lesões ce-
ponderância da função glomerular no RN com idade rebrais. O Corticosteróide pré - natal, previne a hipercalemia não
gestacional menor que 32 semanas): desproporcional oligúrica pela estabilização da membrana celular que resulta na
balanço glomérulo-tubular. diminuição da saída de K+ do intracelular para o extracelular. Por-
• Deficiente reabsorção tubular distal de Na+: deficiente tanto, monitorizar o K+ sérico nas primeiras 72 horas de vida nos
resposta a aldosterona (adequada resposta a aldostero- RN com idade gestacional abaixo de 32 semanas pelo risco de
na ocorre a partir da 3ª semana de vida.). arritmia cardíaca e colapso cardiocirculatório.
• Contração do compartimento extracelular: na 1ª semana
196 de vida, há uma redução de 100ml/kg de líquido extrace- Monitorização do RN em Hidratação Venosa
lular, contribuindo com uma carga de aproximadamente
15mEq de Na+ ao rim. • Peso: uma ou mais vezes ao dia, respeitando a perda
• Produção limita da de H+ para a troca tubular com o Na+ ponderal fisiológica.
• Heterogenicidade anatômica e funcional do néfron (né- • Pele e mucosa: turgor, umidade e edema (pele e muco-
frons corticais imaturos/néfrons justamedulares maturos: sas secas: 5% de desidratação; diminuição do turgor e
14ª-20ª semana de vida, o padrão é mais homogêneo. elasticidade: 10% de desidratação)
• Cardiovascular: enchimento capilar, FC e pressão arterial
Portanto, monitorizar a oferta de sódio neste RN, principalmente a • Diurese: 1 a 3ml/kg/h (acima de 4ml/kg/h: poliúria)
partir da 1ª semana de vida, devido ao risco de hiponatremia. Usar • Densidade urinária : 1005 –1010 (150-360mOsm/l)
sempre o leite materno compatível com a idade gestacional (o teor de • Glicosúria negativa (se + glicemia está geralmente >
Na+ do leite materno da mãe do prematuro se iguala ao teor de Na+ 150mg%)
do leite materno da mãe do RN a termo somente no 2º mês de vida). • Glicemia: 70-140 mg%
Incluir no diagnóstico diferencial da hiponatremia do RN a secre- • Eletrólitos: Na+ - 135-145 mEq/l
ção inapropriada do hormônio antidiurético que se caracteriza por: • K+ - 3.5-5.5mEq/l
• Ca++ - 7.0-11 mg%
• Hiponatremia com hiposmolaridade sérica • Gasometria, uréia, creatinina, proteínas: quando necessário
• Perda renal contínua de Na+ • Desidratação:
• Ausência de evidência clínica de depleção de volume • Manifestações clínicas
• Maior osmolaridade urinária em relação à do plasma
• Função renal, adrenal e tireoidiana normal. Perda de Peso
• Manutenção: usa a manutenção hidroeletrolítica confor- Hiponatremia com hipovolemia, associada com depleção de
me discutido anteriormente. sódio pelo rim ou outros órgãos:
Nota: para agregar 20 ml no Equipo, fazemos como no exem-
plo abaixo: peso(kg) X Na+ desejado (125) – Na+ encontrado X 0.7
Paulo R. Margotto
Assistência ao Recém-Nascido de Risco
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Capitulo 06 Distúrbios Metabólicos
Garrot, em 1908, criou a expressão Erros Inatos do Metabolis- degeneração. Entre os distúrbios de síntese ou catabolismo de
mo (EIM) para descrever doenças determinadas geneticamente, moléculas complexas estão:
causadas por um defeito enzimáticos específico que leva a um
bloqueio em vias metabólicas específicas, com conseqüente acú- • Doenças Lisossomais
mulo de substrato ou deficiência de um produto. • Doenças Peroxissomais
Cerca de 10% das patologias genéticas decorrem de EIM cuja • Defeitos De Glicosilação
base bioquímica envolve defeitos de uma ampla variedade de • Deficiência De Alfa1 Antitripsina
proteínas, receptores de membrana, proteínas do colágeno, pro- • Defeitos Na Síntese Do Colesterol.
teínas de transporte, hormônios peptídicos, imunoglobulinas,
fatores de coagulação e defeitos nos processo de glicosilação Sintomas Agudos No Período Neonatal
protéica. A grande maioria dos EIM envolve anormalidades nas
enzimas e proteínas de transporte. O Recém nascido (RN) apresenta repertório limitado de respos-
Embora individualmente raras, doenças metabólicas hereditá- tas a quadros nosológicos severos e os EIM podem se apresentar
rias (EIM) como grupo afetam 1 a 2% de todos os recém-nasci- com sintomas não específicos freqüentemente atribuídos a qua-
dos, percentual que se eleva em grupos de risco. dros infecciosos como:
Um grande número de defeitos metabólicos hereditários são
tratáveis e a evolução do quadro depende do rápido diagnósti- • Desconforto respiratório/apneias
co e precoce instituição do tratamento. Mesmo em casos não • Hipotonia
tratáveis o diagnóstico permitirá o aconselhamento familiar com • Sucção débil
orientação do risco de reincidência em próximas gestações. • Vômitos
• Diarréia e desidratação
Classificação Dos Erros Inatos • Letargia /coma
Do Metabolismo • Convulsões
Do ponto de vista da fisiopatologia, esses distúrbios po- Frequentemente há relato de óbito infantil anterior na irmanda-
dem ser divididos em três (3)grandes grupos diagnósticos de, falsamente atribuído à quadro séptico,insuficiência cardíaca
Fernades,Saudubray e cl,2006): ou hemorragia intraventricular. 199
No grupo I: o quadro clínico extremamente sugestivo é aquele
Grupo I: Erros inatos do metabolismo intermediário que culmi- de um RN a termo, nascido de parto vaginal sem intercorrências,
nam em intoxicação aguda ou crônica; que após um período livre de sintomas, de horas ou semanas, na
As doenças metabólicas enquadradas no grupo I compreendem as: dependência da intensidade do bloqueio metabólico, inicia um
quadro progressivo de deterioração sem causa aparente não res-
• Aminoacidopatias, ponsivo às terapias convencionais
• Acidemias orgânicas No grupo II: a apresentação clínica é menos característica, com
• Defeitos do Ciclo da uréia severidade variável, sem intervalo livre de sintomas. A hipotonia do-
• Intolerâncias aos açúcares. mina o quadro com envolvimento cardíaco e hepático. A Hiperlacti-
cemia com ou sem acidose metabólica é o achado mais freqüente.
Caracterizam-se por apresentarem intervalos livres de sinto- No grupo III a maioria das doenças desse grupo como as Do-
mas e relação evidente com o aporte alimentar. As manifesta- enças Peroxissômicas e os Defeitos de Glicosilação apresenta
ções levam, de maneira geral, à intoxicação aguda e recorrente dismorfias, hipotonia, severo comprometimento neurológico,
ou crônica e progressiva. visceromegalias e alterações hematológicas.As raras doenças
lisossomais que se manifestam no período neonatal cursam com
Grupo II: Deficiência na produção ou utilização de energia. dismorfias, visceromegalias, alterações ósseas e hidropsia fetal.
O grupo II inclui doenças cuja clínica decorre de alterações de
produção ou consumo energético. Em sua maioria, comprome- Quadro Clínico Geral
tem fígado, miocárdio, músculos em geral e cérebro. Manifes-
tam-se, em especial, com retardo de crescimento, hipoglicemia, Nos neonatos, as principais apresentações são (Scriver e cl,1995)
hipotonia generalizada, miopatia, insuficiência cardíaca e morte
súbita. Exemplos desse grupo são: 1. Deterioração Neurológica -é a apresentação mais co-
mum na Leucinose, no Ciclo da Uréia..O tratamento ini-
• Glicogenoses, ciado imediatamente evita seqüela cerebral
• Hiperlacticemias congênitas 2. Insuficiencia Hepática- Ictericia prolongada - na
• Doenças mitocondriais da cadeia respiratória Galactosdemia,na intolerância à frutose e Tirosinemia
• Defeitos na beta oxidação de ácidos graxos tipo I. Seu controle é emergencial
3. Hipoglicemia – presente especialmente nos três gru-
Grupo III: Distúrbios de síntese ou catabolismo de molécu- pos de doenças: Hiperinsulinismo, - Glicogenosis e Defei-
las complexas. tos da Beta oxidação mitocondrial
Os distúrbios do grupo III apresentam sintomas permanentes 4. Insufuciencia Cardíaca - doença cardíaca tratável no
que tendem a se acentuar ao longo do tempo, como face gros- recém nascido,é caracteristica marcante nos defeitos da
seira, visceromegalias, alterações ósseas progressivas e neuro- beta oxidação mitocondrial
Paulo R. Margotto
Assistência ao Recém-Nascido de Risco
Acidemias ou Acidúrias orgânicas são geneticamente determi- O catabolismo de Aminoácidos produz amônia livre altamente
nadas por deficiência de enzimas do Metabolismo Intermediário tóxica ao Sistema Nervoso Central (SNC) que deve ser detoxifica-
com acúmulo de ácidos Carboxílicos. da pelo ciclo da Uréia, e defeitos em um de seus passos enzimá-
Em países desenvolvidos,apresenta-se em 1/2200 nascimen- ticos causam sintomas que em geral se iniciam com a introdução
tos, sendo um dos grupos mais freqüentes de EIM da alimentação protéica levando ao quadro de:
As manifestações clínicas são variáveis, em geral de início sú-
bito, no período neonatal, com sintomas graves simulando um • Recusa alimentar/Vômitos
quadro séptico, evoluindo para o óbito. • Taquipnéia
Apresentam: • Letargia/Coma
Alfa-Fetoproteina encontram-se elevados. Na urina, o achado de Sintomas inespecíficos como hipotonia, taquipneia, dificuldade de
Succinilacetona elevado tem valor diagnóstico. alimentação e de crescimento, manifestações hepáticas, cardía-
Deve–se fazer o diagnóstico diferencial com cas e neurológicas com crises convulsivas são as mais freqüentes
Galactosemia,Intolerância à Frutose e Defeitos de Cadeia Respi Do ponto de vista bioquímico, marcadores como elevação do
ratória (Zschocke e Hoffmann, 2007). Lactato plasmático e urinário assim como dos ácidos orgânicos
Deve - se iniciar dieta restrita em Tirosina e Fenilalanina com do Ciclo de Krebs, são característicos do bloqueio da função de
formulas especiais. Oxiredução mitocondrial.
O uso de Nitisinona (NTBC), bloqueia o acumulo de metabolitos O Tratamento inicial se faz com uso de cofatores (Tiamina,
tóxicos,diminuindo o risco de hepatocarcinoma.O transplante he- Riboflavina, L Carnitina e Coenzima Q10) ; para alguns deve se
pático está indicado em casos específicos. administrar Bicarbonato de Sódio e dieta cetogenica.(Garcia-
Carzola, e cl, 2005).
Leucinose ou Doença do Xarope de Bordo (Maple Syrup Di- Como rotina para investigação de citopatias mitocondriais deve
sease: MSUD), causada pela deficiencia do Complexo de Deso- se solicitar:
drogenases dos cetoacidos de cadeia ramificada. Recém-nascido
com o quadro clássico, já no pos-parto cursam com progressivo • Hemograma, Glicemia, Lactato
aumento dos aminoácidos de cadeia ramificada, leucina, isoleu- • Enzimas Hepáticas e Musculares
cina e valina, independente da ingestão protéica, em decorrência • Determinação dos Aminoácidos plasmáticos
do catabolismo protéico endógeno. Em 48hs após o parto, o re- • Determinação dos ácidos orgânicos
cém-nascido apresenta cetonuria, tornando-se irritado,distônico, • Avaliação da função Renal
letargico com dificuldade de sucção.Concomitante aos sintomas, • Avaliação Cerebral, Ocular e Audiológica
surge o característico odor doce, caramelado do xarope de bordo.
(Morton, e cl, 2001). Distúrbios do Metabolismo de Carbohidratos
Com 04 dias de vida, os sinais neurológicos incluem disto-
nia, letargia alternando com irritabilidade, apneia, convulsões e Destacam se neste grupo de início neonatal as Glicogenoses, a
sinais de dano cerebral focal. Apesar desse comprometimento Galactosemia e os Distúrbios do Metabolismo do Piruvato.
sistêmico, não se detecta grandes alterações nas avaliações Das 9 formas de Glicogenoses, apenas uma apresenta heran-
bioquímicas de rotina. Praticamente não se evidencia acidose, ça ligada ao X, as demais são autossômicas recessivas, e divi-
hiperamonemia ou hiperlacticemia dem se em formas hepáticas e formas musculares.
A principal conduta visa o controle de edema cerebral, ava- Uma vez que o metabolismo de Carbohidratos no fígado é o
liação da tensão fontanelar, do perímetro cefálico e dos sinais responsável pela homeostasia da glicose no plasma, as glicoge-
vitais, com minimos processos invasivos.Manter a osmolarida- noses hepáticas tipicamente causam :
de plasmática em torno de 300mosm/L, a Natremia acima de
140mEq/L e a produção urinária de 2 a 4 ml/kg/h com densida- Hipoglicemia e Hepatomegalia 201
de inferior a 1010.Se necessário administrar Furosemida.Manitol
só deve ser administrado se houver sinais de hipertensão intra- Os pacientes com Glicogenose tipo I, apresentam no período
craniana. (Morton, e cl, 2002). neonatal ou nos primeiros 6 meses de vida :
Deve se no mínimo fazer diariamente o teste da Dihidrofenihi-
drazina para controle da concentração dos aminoácidos de ca- • Hepatomegalia sem esplenomegalia e Nefromegalia
deia ramificada;leucina, isoleucina e valina.Está indicado o uso • Hipoglicemia, acidose metabólica com hiper lactice-
de fómulas especiais após confirmação específica. mia e convulsões
Defeitos do ciclo da ureia - Os distúrbios do ciclo da uréia A Galactosemia representa uma grave patologia de iní-
manifestam-se com alcalose respiratória em decorrência da hi- cio neonatal, com incidência de 1/18000, variando com a
peramonemia que estimula o centro respiratório e cursam com população(Zschocke e Hoffmann,2007)
Encefalopatias progressivas e Crises epilépticas. Na forma clássica, por deficiência de galactose–1–uridil
A Deficiência de Ornitina transcarbamilase (OTC) é a deficiên- transferase, ocorre acúmulo de galactose–1-fosfato, com lesão
cia mais comum do Ciclo da Uréia, que se manifesta com vômi- renal,hepática e cerebral de início pré-natal, decorrente da ga-
tos, alcalose respiratória, encefalopatia e hiperamonemia, após lactose transplacentária materna e por produção fetal endógena.
um intervalo livre de sintomas em recém nascido a termo, sem Este diagnóstico sempre deve ser considerado quando o RN
intercorrencia perinatal. apresentar:
Patologia de herança ligada ao cromossomo X,pode também
se manifestar no sexo feminino de forma mais leve, com sinais de • Icterícia
intolerância proteica.O tratamento preconizado visa diminuir os • Hepatomegalia
níveis de Amônia que é neurotóxica, com restrição da carga pro- • Hipoglicemia
téica e uso de substâncias removedoras da amônia sanguinea • Vômitos
como Benzoato de Sódio, Fenilacetato de sódio e complemen- • Convulsões
tação com Arginina. Em casos graves está indicado transplante • Irritabilidade
hepático (.Raghuveer, e cl, 2006). • Perda de peso
• Dificuldade de sucção
Doenças Mitocondriais • Quadro séptico Neonatal por Escherichia coli
Citopatias mitocondria is são consideradas um das mais preva- O principal tratamento consiste na restrição dietética de todo
lentes doenças metabólicas, apresentando uma grande variabili- alimento contendo lactose (Raghuveer e cl, 2006).
dade fenotípica e muitas vezes um curso rapidamente progressivo.
A apresentação neonatal é freqüente em decorrência da alta
taxa metabólica requerida pelo crescimento do Recém–nascido.
Paulo R. Margotto
Assistência ao Recém-Nascido de Risco
Distúrbios Do Metabolismo Do Piruvato O diagnóstico de certeza das várias formas de doença peroxis-
sômica se faz pela dosagem de Ácidos graxos de Cadeia muito
O piruvato é metabolizado através de 04 sistemas enzimáticos: longa, elevação de Ácido fitânico e Ácido pipecólico.
À história clínica e obstétrica deve se somar os achados do cerebrais associadas como na deficiência do complexo piruvato
exame física do recém-nascido. desidrogenase.
Deficiência de Carboxilases Múltiplas responsiva a Biotina
Alterações de cabelos apresenta se com acidemia láctica e a administração de Biotina
Alterações de pele está indicada em todos os pacientes com acidose láctica.A admi-
Dismorfias Hepatomegalia nistração deve se iniciar imediatamente após coleta de amostras
Cardiomiopatia de sangue e urina para estudo da patologia específica.
Odor
Distonias • Tipo 4a - Distúrbio neurológico com Hiperamonemia
Macrocefalia sem Cetoacidose representa um dos mais importantes
Sinais neurológicos grupos de EIM no RN
Microcefalia
Atraso de crescimento Hiperamonemia primária por defeito do Ciclo da Uréia apre-
senta um período variável livre de sintomas. Um breve período de
Quadro II - Achados sugestivos ao Exame físico hipertonia com tremores ou repuxos precede o coma hipotônico
profundo, rapidamente comprometendo as funções cardio-circu-
Quando Suspeitar De Erro Inato Do Metabolismo latórias.Ocorre depleção dos fatores de coagulação, elevação da
aminotansferases (transaminases), hepatomegalia. Hiperamo-
Sintomas agudos no período neonatal são denominados dis- nemia com alcalose respiratória, pH>7,40 e ausência de ce-
túrbios metabólicos neonatais e apesar de um grande número de tonúria faz o diagnóstico diferencial das acidemias orgânicas. A
EIM ser observado neste período, didaticamente podemos listar retirada imediata do leite materno e introdução de dieta com baixa
os pacientes em uma de 5 síndromes bioquímicas (Scriver,1995): concentração protéica, em torno de 1mg /Kg /dia é imperativo.
Distúrbios da oxidação de ácidos graxos também se apresen-
• Tipo 1 - Distúrbios neurológicos com cetose ta com hiperamonemia no período neonatal, hipoglicemia, dis-
A mais freqüente aminoacidopatia aguda tóxica, a Doença do função hepática, sintomas cardíacos, musculares e morte súbita.
xarope de bordo ou Leucinose,manifesta se após período de 4
a 5 dias livre de sintomas, quando surge dificuldade de alimen- • Tipo 4b - Distúrbios neurológicos sem cetoacidose e
tação, episódios de hipertonia com opistótono, movimentos de sem hiperamonemia é típico de Hiperglicinemia não ce-
pedalar que evoluem para o coma. tótica que cursa com hipotonia, mioclonias,aparecendo
No teste de triagem, aparece na urina Dinitrofenilhidrazina ao nascimento ou poucas horas após,com história de
(DNPH), pH em torno de 7,30 e a cromatografia de aminoácidos hipóxia perinatal,evoluindo para o coma.O EEG mostra
no plasma mostra elevação dos aminoácidos de cadeia ramifica- sempre padrão de surto-supressão.
da : Leucina, Isoleucina e Valina. O diagnóstico se faz pela presença de níveis elevados de gli-
cina no plasma e principalmente no Liquor, com relação LCR/ 203
• Tipo 2 - Distúrbios neurológicos com Cetoacidose e Hi- plasma aumentada.
peramonemia O espectro clínico da Deficiência de sulfito oxidase inclui hi-
Este tipo inclui as Acidemias Orgânicas que se manifestam potonia, crises convulsivas com mioclonias, microcefalia e dis-
entre o 1º e 4º dia de vida com recusa alimentar e queda agudo morfismos, com deslocamento de cristalino no período neonatal
de estado geral. Hipotonia truncal, hipertonia apendicular com sendo frequentemente sub-diagnosticada.
tremores de grande amplitude representado o tipo dominante de Doenças peroxissomicas se apresentam no período neonatal
alteração de movimento. O RN apresenta desidratação, acidose, com hipotonia generalizada severa, crises epilépticas de início
hipotermia, evoluindo para o coma em poucas horas ou dias. precoce, e dismorfismos cranio-faciais.
Na acidemia Isovalérica, o cheiro forte de pés suados está presente.
A urina apresenta corpos cetônicos. A presença de neutro- • Tipo 4c - Doenças de Depósito sem alterações metabólicas
penia e trombocitopenia é comum, simulando quadro séptico. Poucas doenças de depósito se expressam clinicamente no
Hiperamonemia é achado constante, ás vezes em níveis seme- período neonatal e podem estar associadas à hidropsia fetal, as-
lhantes aos defeitos do ciclo da uréia. cite, edema como GM1 Gangliosidose, Doença de Gaucher, Mu-
Acidemia Metilmalônica, Acidemia Propiônica e Acidemia Iso- copolisacaridose tipo VII, Sialidose, Sialúria, Niemann-Pick tipo C.
valérica são as mais freqüentes.
Acidúria glutárica tipo II, deficiência de Múltiplas Acil CoA desi- • Tipo 5 - Hipoglicemia com Hepatomegalia e Disfunção
drogenases, deficiência de hidroximetilglutaril CoA liase cursam Hepática
com hipoglicemia sem cetose. a) Quadro hipoglicêmico com crises epilépticas, hepatomega-
O diagnóstico de certeza dessas acidúrias orgânicas se faz por lia, cetose e acidemia láctica estão presentes e o RN melhora
cromatografia gasosa e espectrometria de massa no sangue e urina. sensívelmente com administração de glicose. Pertencem a esse
grupo : Glicogenoses, deficiência de frutose 1, 6 difosfatase.
• Tipo 3 - Distúrbio Neurológico com Acidose Láctica b) Tirosinemia, Galactosemia, Deficiência de alfa 1 antitripsina,
Predomina nesse grupo a Acidose com Anion gap elevado. Ceto- Doença de Wilson, Hemocromatose neonatal, cursam com icte-
se está presente nas acidemias lácticas primárias e ausente nas se- rícia e hipoglicemia
cundárias por hipóxia, devendo se iniciar terapia com bicarbonato. Dos aspectos aqui discutidos depreende–se que EIM apresen-
Acidemias lácticas primárias constitui um grupo complexo, sen- tam quadros clínicos e laboratoriais diversos, porém sintomas ge-
do os defeitos do metabolismo do piruvato os mais freqüentes. rais inespecíficos atribuídos a insultos ainda no período pré-natal;
Deficiência de piruvato carboxilase apresenta relação lacta- quando presentes, representam valiosas pistas diagnosticas.
to/piruvato elevada com disfunção hepática. Assim, suspeitar sempre de EIM quando o RN apresentar:
Distúrbios das cadeias respiratórias são freqüentes no RN
com hipotonia severa, cardiomiopatia dilatada tipo hipocinético,
insuficiência respiratória,severa acidemia láctica com rápida de-
terioração neurológica.Pode haver dismorfismos e malformações
Paulo R. Margotto
Assistência ao Recém-Nascido de Risco
204
Desidratação
Neutropenia
Paulo R. Margotto
Assistência ao Recém-Nascido de Risco
206
Capitulo 07 Distúrbios Respiratórios
Capítulo 7
Distúrbios
Respiratórios
Assistência ao Recém-Nascido de Risco
Paulo R. Margotto
A grande causa de internação na Unidade de Cuidados Intensi- dade aumenta 3 vezes mais. No aparelho respiratório, é importante
vos Neonatais é a Dificuldade Respiratória, seguida pela prema- destacar a laringotraqueomalácia, secundária a compressão do coto
turidade, pelos distúrbios metabólicos e pelas infecções. proximal (o superior) sobre a laringe e a traquéia na vida intrauterina.
São inúmeras as patologias que se expressam no período ne- A EA deve ser suspeita quando há história de polihidrâmnio ma-
onatal sob a forma de Dificuldade Respiratória. Assim, é comu- terno (ocorre em 80% dos casos de AE sem fístula e em 32% em AE
mente agrupá-los em categorias. com fístula). A ultra-sonografia realizada no 3º trimestre pode sugerir
AE dilatação do coto superior do esôfago e ausência do conteúdo
1. causas mecânicas ou mecânica-cirúrgicas gástrico. A taxa de detecção pré-natal tem variado de 9,2 a 24%.
2. causas cardiovasculares Na sala de parto, o diagnóstico pode ser sugerido pela impos-
3. causas neuromusculares sibilidade de passagem da sonda orogástrica calibre 8 (a mesma
4. causas metabólicas se enrola no coto proximal; evitar usar sondas de material muito
5. causas pulmonares flexível, pois se dobram com facilidade, dando a impressão que
chegou ao estômago).
Manifestações Clínicas Não havendo feito o diagnóstico, o recém-nascido (RN) passa a
apresentar salivação excessiva, aerada pela boca e nariz, surgin-
•Taquipnéia do roncos pulmonares (aspiração da saliva). Se o RN for alimen-
•Bradipnéia ou apnéia tado, apresentará cianose, tosse e sufocação.
•Gemido respiratório Havendo fístula traqueoesofágica, observamos distensão ab-
•Batimento de asas do nariz dominal (devido à passagem de ar ao estômago pela fístula); nos
•Tiragens, retrações intercostais, esternal, xifoidéia, supra casos sem fístula, o abdômen é escavado.
e infraclaviculares e fúrcula O diagnóstico é confirmado pela injeção de 10-20ml de ar pela
•Hipo ou hipereatividade sonda orogástrica (“contraste” inócuo), seguida da realização do
Rx de tórax e abdome (Fig 1), que evidenciará o coto superior do
Causas Da Dificuldade Respiratória esôfago cheio de ar, a presença de ar no abdômen (indicativo de
fístula), além de detecção de outras anomalias associadas.
Causas Mecânicas ou Mecânica –Cirúrgicas
208
Atresia de esôfago com fístula traqueoesofágica, pneumotórax,
pneumomediastino, pneumopercárdio, hérnia diafragmática, pa-
ralisia ou eventração diafragmática, deformidade congênita do
tórax, displasia do gradil torácico, distensão abdominal (impedi-
mento do movimento do diafragma), malformação adenomatóide
cística do pulmão, enfisema lombar, quilotórax, obstrução de vias
aéreas superiores (atresia de coanas), estenose congênito da
traquéia ou hipoplasia da traquéia, estridor congênito da laringe,
higroma cístico, teratoma, anomalia vascular com compressão
da traquéia. Entre estas, abordaremos a Atresia de Esôfago, a
Hérnia Diafragmática, a Malformação Adenomatóide Cística do
Pulmão, o Enfisema Lobar Congênito, o Quilotórax, a Atresia de Fig 1
Coana e o Teratoma Cervical Congênito
O não diagnóstico precoce leva a aspiração de saliva para a
•Atresia de esôfago: árvore traqueobrônquica. O refluxo do suco gástrico a arvore tra-
A Atresia de Esôfago (AE), com ou sem fístula traqueoesofá- queobrônquica pela fístula distal é a maior agressão pulmonar
gica ocorre entre 1:3000 a 1:4000 nascimentos. Em 85% dos que ocorre nesta malformação. O RN ao chorar, ocluindo a glote,
casos, está presente a fístula traqueoesofágica distal (coto proxi- força a entrada de ar ao estômago pela fístula e este distendido,
mal termina em fundo cego e o distal é fistulado na traquéia). O exerce pressão no esôfago, forçando a passagem do suco gástri-
coto proximal é dilatado e hipertrofiado devido aos movimentos co à árvore traqueoesofágica, com instalação imediata de pneu-
de deglutição do liquido amniótico na vida intrauterina. A porção monia química e posterior contaminação bacteriana. A distensão
distal é bastante fina em virtude do desuso e se comunica com a de alças intestinais e do estômago causa compressão diafragmá-
traquéia a nível da porção flácida posterior, em geral 1 a 1,5cm tica com desconforto respiratório.
acima da carina. A distância entre os cotos é variável podendo A conduta clínica no RN com AE e fístula traqueoesofágica dis-
chegar até 4-5cm. Estas anomalias resultam de um defeito de di- tal consiste na colocação do bebê em posição semi-sentado (para
ferenciação do intestino anterior primitivo em traquéia e esôfago. evitar o refluxo gástrico), aspiração contínua no coto proximal do
O defeito do crescimento das células endodérmicas leva a atresia esôfago (sonda de Reploge), evitar ventilação com pressão posi-
e uma fusão incompleta das paredes laterais do intestino ante- tiva, incluindo CPAP ou ambú (risco aumentado de distensão ou
rior durante separação da traquéia do intestino anterior resulta rotura gástrica; se necessário, posicionar a cânula orotraqueal
na fístula traqueoesofágica. além da fístula, lembrando que esta se localiza geralmente 1 a
Em 50% dos casos a AE está associada a outras malformações 1,5 cm acima da carina) e gastrostomia.
sendo as anomalias cardiovasculares as mais importantes (15-20% A AE é uma emergência cirúrgica e consiste na ligadura da fís-
dos casos). Quando há outras malformações associadas à mortali- tula e anastomose das duas porções do esôfago. Havendo ten-
Capitulo 07 Distúrbios Respiratórios
Fig 3
Paulo R. Margotto
Assistência ao Recém-Nascido de Risco
Paulo R. Margotto
Assistência ao Recém-Nascido de Risco
A efusão quilosa geralmente permanece por um longo tempo, Os grandes teratomas podem causar severo desconforto respi-
no entanto, após 6 semanas a maioria das efusões cessam. ratório devido à obstrução da via aérea. A intubação nestes be-
Não se recomenda atrasar a abordagem cirúrgica do quilotórax bês pode ser difícil e às vezes, até impossível (Fig 7).
mais de 4 semanas.
• Atresia de Coana
A atresia de coana (septo membranoso que oclui a coana) é
uma malformação das vias aéreas superiores relativamente rara,
que pode resultar em grave desconforto respiratório no RN. É
frequentemente associada com outras malformações, especial-
mente a associação CHARGE (Coloboma; Heart disease- doença
cardíaca; Atresia de coana; Restrição do crescimento intrauteri-
no e desenvolvimento e/ou anomalias do sistema nervoso cen-
tral, anomalias Genitais e/ou hipogonadismo e anomalias na
orelha- Ear- e/ou surdez).
A atresia de coana ocorre em 1/8000 nascidos vivos, podendo
ser completa ou incompleta, unilateral (60%) ou bilateral (40%) e Fig 7. Margotto. PR (Unimed, Brasília)
membranosa (10%) ou óssea (90%), ocorrendo duas vezes mais
comum em meninas. Há uma falha na perfuração da placa me- O Rx do pescoço mostra uma massa de tecido mole com calcifi-
senquimal, levando a obliteração completa ou incompleta das cação em 50% dos casos. A excisão cirúrgica completa e precoce
aberturas nasais posteriores. Apesar da atresia de coana ter sido representa o ótimo manuseio. Uma vez completamente retirado,
descrita em 1755 por Roedener, o seu padrão de herança é pou- o prognóstico é bom, não havendo relato de ocorrência em 6 RN
co conhecido. Brenner e cl recentemente descreveram a recor- que tiveram a excisão com um follow-up de 3-14 anos. Ocasional-
rência da atresia de coana bilateral em irmãos de pais não con- mente os teratomas podem causar injúria pré-natal a hipofaringe
sangüíneos, sugerindo haver um padrão genético para atresia de e laringe. A determinação seriada de alfa-feto-proteína tem sido
coana bilateral. Ocorre em associação com outras anomalias em útil, não somente no pré-natal, como no follow-up pós-cirúrgico.
43 a 72%. A associação CHARGE deve ser sempre lembrada. Mas recentemente, grupo de Israel coordenado (Sickel e cl)
O RN com atresia de coana apresenta severo desconforto respi- tem proposto 2 procedimentos para estes casos, quando o diag-
ratório imediatamente ao nascer, que é aliviado com o choro. De- nóstico é feito intraútero:
vido à alta posição da epiglote e laringe, a língua é forçada contra
o palato mole pela pressão negativa na faringe, levando a apnéia 1. Tratamento intra-parto ex-útero (após a incisão intraú-
obstrutiva nos RN com atresia/estenose coanal bilateral. Dave as- tero transversa baixa, apenas a cabeça e uma das mãos
sinala que a ausência do batimento de asas nasais associada com são retiradas; este procedimento permite o exame da via
212 significante desconforto respiratório caracterizado por retrações aérea com o laringóscopio e o broncoscópio, intubação
intercostais, subcostais e supraesternal são sinais diagnósticos ou traqueostomia, se necessário, além da monitorização
específicos. A dificuldade em passar a sonda nasogástrica é alta- com o oxímetro de pulso.
mente sugestiva. O diagnóstico pode ser confirmado por imagem, 2. Operação com o suporte placentário (o RN só tem o
sendo a tomografia computadorizada a melhor modalidade. cordão umbilical clampeado após ter sido entubado ou
O tratamento consiste em assistência respiratória, aspiração traqueostomizado). Em ambos os procedimentos é im-
de secreção e colocação de “chupeta” oral com orifício largo para portante a manutenção do máximo relaxamento uterino
permitir a respiração bucal. A dieta deve ser feita pela sonda oro- para evitar a separação da placenta do útero.
gástrica. A cirurgia consiste na perfuração sob visão direta.
O tratamento através da ressecção cirúrgica precoce de todo o
• Teratoma Cervical Congênito tumor constitui-se na abordagem mais adequada, uma vez que a
Apesar destas lesões serem histologicamente benignas, os tera- degeneração maligna ocorre em até 90% dos casos não tratados
tomas cervicais congênitos são geralmente muito grandes, poden- até a adolescência ou na vida adulta. A excisão cirúrgica é geral-
do causar obstrução da via aérea. Histologicamente são tumores mente curativa.
de células germinativas, havendo predomínio de tecidos neurais.
Geralmente o diagnóstico é feito ao nascimento. Usualmente os te- Causas Cardiovasculares
ratomas são encontrados na região sacrococcigeana e em apenas
5% são localizados na cabeça ou pescoço. Os teratomas cérvico- O desconforto respiratório é devido à insuficiência cardíaca
faciais em RN representam 3% de todos os teratomas neonatais. congestiva (ICC).
Os teratomas cérvico-faciais em RN ocorrem numa frequência de Um RN com ICC usualmente tem cardiopatia congênita, mas
1 para cada 20.000 a 40.000 nascimentos vivos. pode ter distúrbio cardíaco não estrutural, com disfunção do
O diagnóstico também pode ser feito no pré-natal (a ultra-sono- miocárdio (isquemia, miocardite) ou distúrbio da freqüência car-
grafia evidência uma massa semicística e semi-sólida). É impor- díaca. Pode ter anormalidade metabólica ou hematológica, como
tante este diagnóstico, pois se pode programar o tratamento pre- pode estar hiper-transfundido ou hiper-hidratado. Pode simular
coce da obstrução da via aérea mediante intervenção cirúrgica. quadros como pneumonia, meningite, sepse, bronquitite. Consul-
O polidrâmnio tem sido descrito em mais da metade dos casos te o capítulo de Distúrbios Cardiológicos.
(55%) e resulta, provavelmente, de pressão exercida pela tumo-
ração no esôfago, evitando que o feto engula o líquido amniótico. Causas Neuromusculares
1. a nível do 1º neurônio
2. a nível do 2º neurônio
3. a nível de nervo periférico e craniano
4. a nível de junção neuromuscular
5. a nível do músculo
Paulo R. Margotto
Assistência ao Recém-Nascido de Risco
consequência aumento da tensão superficial alveolar, diminuição Diferente da Pneumonia Intraútero (veja a seguir), estes RN
da distensibilidade dos alvéolos, culminando como difuso colap- não têm história de que suas mães apresentaram rotura prema-
so e atelectasia alveolares. tura de membranas, infecção urinária nos últimos 15 dias não
É um quadro exclusivo do RN pré-termo (a prematuridade é o tratada, febre intraparto, bacteriúria ou RN anterior com infecção
fulcro em torno do qual gera todo o processo fisiopatológico). Veja por Streptococcus do Grupo B. Os RN com DMH geralmente não
o esquema a seguir: necessitam de drogas vasoativas e respondem bem a 1 ou no
máximo a 2 doses de surfactante.
A terapêutica consiste do surfactante pulmonar (Consulte o
capítulo Surfactante Pulmonar) de preferência nas primeiras
2hs de vida (nos RN < 1.250g ao nascer, fazemos o surfactante
pulmonar nos primeiros 15 minutos de vida e a seguir, o RN é
imediatamente colocado em CPAP nasal para evitar o colaba-
mento alveolar aumentando assim a capacidade residual fun-
cional). Do ponto de vista clínico, observa-se instantaneamente
após o uso do CPAP que os gemidos praticamente desaparecem
e a respiração fica mais regular.
Usamos o CPAP nasal com a velha coluna de água, ocorrendo
a produção de uma onda parecida com a ventilação de alta fre-
quência. Entre o CPAP tradicional com a coluna de água e o sis-
tema de CPAP pelo ventilador, convencional, foi evidenciado que
se obtinha a mesma PaC02 e a mesma saturação de 02 com um
volume corrente menor, com uma freqüência respiratória menor
(por um buraco se produz um efeito similar ao da ventilação de
alta freqüência).
A indicação da ventilação mecânica se faz na presença de
PSa02 < 90 ( oximetria de pulso) ou Pa02 < 80 em Fi02 > 45%.
•Pneumonia Intrauterina
O Streptococcus do Grupo B (GBS) é o agente mais importan-
te na pneumonia intrauterina, cuja mortalidade está entre 20-
50 % e 15% a 30% de sequelas neurológicas nos sobreviventes
que apresentaram meningite. A incidência da doença é cerca de
214 1,8/1000 nascimentos vivos. A infecção precoce é responsável
por aproximadamente 80% das infecções pelo GBS.
Na microbiota da Unidade de Neonatologia do Hospital Regio-
nal da Asa Sul/SES/DF, o Streptococcus do Grupo B foi responsá-
vel por 4,7% das infecções no ano de 2001.
Entre os fatores de risco, temos: a prematuridade, a corioamnio-
O Rx de tórax evidencia padrão granular difuso com broncogra- nite, a rotura prematura de membranas > 18 hs, cepas virulentas,
ma aéreo (devido à pressão positiva que distende as vias aéreas mães com bacteriúria pelo GBS (o GBS está presente no trato gêni-
terminais) até opacidade total dos pulmões (Fig 9) to–urinário em 15-25% das gestantes; a erradicação da bacteriú-
ria com o uso de antibiótico reduz o nascimento prematuro), idade
menor que 20 anos, raça negra e RN previamente infectado.
O trato gastrointestinal é o reservatório humano mais prová-
vel, constituindo o trato gênito-urinário o foco secundário de dis-
seminação. Em algumas populações, a taxa de colonização na
vagina ou reto varia de 10 a 30% (gestantes). De todos os RN de
gestantes colonizadas, aproximadamente 1-2% desenvolveram a
infecção precoce.
Os critérios de gravidade na infecção precoce pelo GBS in-
cluem segundo Payne cl: peso < 1.500g, efusão pleural ao Rx
inicial, total de neutrófilos < 1.500g/mm³, apnéia (estes 4 sinais
recebem 5 pontos), hipotensão (3 pontos) e a acidose (1 ponto).
Um escore de pontos > 10 e < 10 corresponde respectivamente,
Fig 9. Aspecto histológico do pulmão, evidenciando a uma taxa de mortalidade e sobrevivência de 93%.
a membrana hialina (seta) O diagnóstico diferencial deve ser feito com a Doença da
Membrana Hialina. O Rx de tórax na grande maioria das vezes
A época em que ocorre maturação pulmonar está em torno de apresenta o mesmo padrão; a evolução é rápida com hipotensão
35 semanas. Havendo imaturidade pulmonar após 35 semanas necessitando de agentes inotrópicos e vasoativos; a presença
chamamos de maturação pulmonar retardada, como pode ocor- de acidose metabólica, de sinais de hipotensão pulmonar e res-
re no RN de mãe diabética com deficiente controle na gestação posta ruim ao surfactante sugerem o diagnóstico de pneumonia.
(estes RN com 37 – 38 semanas de mãe diabética nas classes A história materna é importante (“diagnósticos aparentemente
iniciais de Priscila White, tem geralmente um pulmão de RN de insolúveis em neonatologia são feitos com cinco minutos de
31 – 32 semanas); havendo maturação pulmonar antes de 35 conversa com a mãe”) para a evidência de rotura prolongada de
semanas, chamamos de maturação pulmonar acelerada. membranas, febre materna, ausência de uma causa obstétrica
para a prematuridade. No leucograma, valorizá-lo quando alte-
Capitulo 07 Distúrbios Respiratórios
rado. O leucograma normal não exclui infecção. Raciocinar com sedados e em nascimentos precipitados. O desconforto respira-
a Proteína C Reativa (esta aumenta 24-48 horas após o início tório é leve ou moderado, sem cianose, iniciado logo ao nascer.
de sepses, porque existe primeiro a invasão bacteriana e pos- O Rx de tórax (Fig 10) varia dependendo da quantidade de flui-
terior liberação de citocinas e estas é que vão produzir a libera- do pulmonar presente. O achado mais comum é uma leve hipo-
ção hepática da PCR; a sua vida média é cerca de 19 horas). No aeração, leve cardiomegalia, e proeminentes estrias perihilares
leucograma valoriza a leucopenia (leucócitos abaixo de 5000ml/ intersticiais, congestão hilar e espessamento das cisuras.
mm³), a neutropenia total (anormal em 87% dos casos:78% nos
RN pré-termos e 36% nos RN a termo) e a relação imaturos/to-
tal de neutrófilos (elevada em 91% dos casos). Interessante que
neutrófilos imaturos aumentados estiveram presentes em 42%
(falha diagnóstica em 58%). Assim, no leucograma, valorizar a
neutropenia total e a relação I/T (imaturos/total de neutrófilos).
Quanto ao uso do surfactante pulmonar exógeno: como comen-
tamos, é difícil distinguir, nas primeiras horas de vida a pneumo-
nia pelo Streptococcus do Grupo B e doença da membrana hialina
( inclusive ocorre deficiência de surfactante na pneumonia pelo
Streptcoccus do grupo B). Por volta de 25% dos RN infectados Fig 10
não tem uma boa resposta ao surfactante, como foi observado
no estudo de Herting e cl, mas vejam que muitos RN respondem. Ambos os pulmões são acometidos, embora o direito seja mais
Aqueles que não respondem, segundo Jobe, se deve a presença opacificado que o esquerdo. A TTRN pode apresentar-se ao RN
de disfunção do miocárdio e hipertensão pulmonar persistente. com uma aparência granular difusa da Doença da Membrana
Interessante que o surfactante natural contém fatores inatos de hialina, mas geralmente sem subaeração pulmonar. A resolução
defesa, como defensinas e lisozimas, assim como as proteínas radiográfica ocorre em 48 a 72 hs. O tratamento convencional
SP-A e SP-D que têm a capacidade de se ligar a endotoxina, a consiste na apropriada administração de 02 e em alguns casos, o
bactéria e vírus, promovendo assim a fagocitose. Estas proteínas uso de pressão positiva contínua. Não há dados que confirmem a
também modulam a resposta inflamatória ao estímulo infeccio- recomendação do uso de furosemida neste RN. A metanálise da
so, diminuindo o recrutamento de granulócitos e ao aumento da Cochrane/2002) evidenciou maior perda de peso nas primeiras
expressão das citocinas pró-inflamatórias no pulmão. As proteí- 24 hs no grupo tratado com furosemida sem evidências de dife-
nas hidrofóbicas do surfactante SP-C e SP-B também têm algu- rença entre os grupos na duração da hospitalização.
mas funções de defesa. Uma atrativa linha de pesquisa seria a
produção de surfactante com funções de defesa que seriam úteis •Síndrome de Aspiração Meconial
no tratamento de RN com infecção pulmonar, aumentando assim A presença de líquido amniótico tinto de mecônio é um sinal
a resposta pró-inflamatória pulmonar que sem dúvida alguma potencialmente sério de comprometimento fetal e está associado 215
contribuiria na diminuição da displasia broncopulmonar. com aumento da mortalidade perinatal.
A infecção pelo GBS em RN nos RN gemelares com peso me- Muitos autores acreditam que a causa da passagem de mecô-
nor que 2500g ao nascer ocorreu aproximadamente 5 vezes nio para o líquido amniótico (LA) seja devido à hipoxia que leva ao
mais em relação aos RN únicos. Em RN pré-termos gemelares relaxamento do esfíncter anal.
< 1000g com quadro radiológico de DMH, o antibiótico é intro- O comprometimento do bem estar fetal pode levar ao LA tinto
duzido (ampicilina x gentamicina), após a coleta de hemocultura de mecônio e este comprometimento pode ser devido à infecção,
e PCR, sendo feito PCR diário nos primeiros 3 dias de vida. No evidenciado pela corioamnionite. A infecção poderia aumentar a
4º dia de vida, RN com PCR negativo, hemocultura, hemograma sensibilidade a hipóxia e poderia ser um fator contribuinte de so-
normal, sem instabilidade hemodinâmica, boa resposta ao sur- frimento fetal durante o trabalho de parto.
factante, o antibiótico é suspenso. A decisão mais difícil na anti- Rao e cl recentemente relataram incidência de LA tinto de mecô-
bioticoterapia neonatal não deve ser a sua introdução e sim a sua nio significativamente maior no grupo com corioamnionite aguda/
retirada. Temos que brigar para retirar o antibiótico o mais rápido funisite, independente do sofrimento fetal como fator de risco. O
possível, devido ao risco de emergir cepas multirresistentes na mesmo foi observado quanto à admissão na UTI Neonatal, des-
Unidade de Neonatologia, com conseqüências desastrosas. Con- conforto respiratório, síndrome de aspiração meconial e sepses (o
sulte o capítulo de Infecções Bacterianas. risco de sepses neonatal foi 6 vezes maior nos RN com síndrome
de aspiração meconial grave, segundo Ghidini e Spong ). Assim, os
•Taquipnéia Transitória do Recém-Nascido autores alertam que a presença de mecônio no LA deveria alertar
Durante a vida fetal, os pulmões são expandidos com fluido, ao médico o potencial para a infecção (isto não implica que todo
um ultrafiltrado do soro fetal que contribui com o volume do líqui- bebê com LA tinto de mecônio esteja infectado).
do amniótico (LA). Durante e após o nascimento, o fluido deve ser O mais importante predictor de severa Síndrome Aspiração Meco-
removido e trocado por ar. A passagem pelo canal de parto provê nial (SAM) na monitorização fetal é a taquicardia (esteve associada
um importante mecanismo de prensa que ajuda na expulsão do com 26 vezes o aumento da necessidade de ventilação mecânica).
líquido do pulmão fetal. O restante é removido pelos capilares e Taquicardia fetal é uma indicação de infecção intrauterina na ausên-
linfáticos pulmonares. A taquipnéia transitória do Recém-Nascido cia de arritmia fetal/ou administração de drogas simpaticomiméti-
(TTRN) representa uma retenção do fluido pulmonar fetal, sendo cas a mãe e tem sido mostrado preceder à febre materna.
conhecida também como doença do pulmão úmido. A TTRN ocor- A síndrome de aspiração meconial ocorre em 2 a 3% dos nasci-
re quando há uma remoção lenta ou incompleta do líquido do mentos (o LA tinto de mecônio ocorre em 7 a 22% dos nascimen-
pulmão fetal. Ocorre em situações de nascimento por cesariana tos sendo mais frequente em RN de cor negra, peso ao nascer
(principalmente cesariana eletiva), em RN hipotônicos ou muitos 4 kg/ maior paridade). A SAM ocorre 3x mais em RN pós-termo
(Idade gestacional ≥ 42 semanas) em RN pequenos para a idade
gestacional (RN abaixo do percentil 10 na curva de crescimento
intrauterino de peso/idade gestacional). Dos RN com LA tinto de
mecônio em torno de 11% (2-36%) apresentam SAM.
Paulo R. Margotto
Assistência ao Recém-Nascido de Risco
Na fisiopatologia da SAM, a obstrução das vias aéreas por par- venção, como aspiração endotraqueal (a incidência de SAM não
tículas de mecônio desempenha papel importante. A obstrução diferiu entre os RN entubados e aspirados e os RN não entuba-
parcial das vias aéreas terminais produz um mecanismo de vál- dos). No estudo de Sedaghation e cl, nenhum RN com LA tinto de
vula (na expiração, o ar permanece aprisionado devido ao colap- mecônio fluido apresentou SAM, ao passo que o RN com LA com
so das vias aéreas em torno da obstrução); este ar aprisionado mecônio espesso, a SAM ocorreu em 5%.
pode alcançar o interstício, levando ao enfisema intersticial, sen- A oxigenoterapia nestes RN é realizada com o objetivo de ser
do o pneumotórax outra complicação freqüente. obter uma Pa02 entre 50 e 70 mmHg e usamos colocá-los no
Associado a este quadro obstrutivo mecânico, a presença de Hood até 80% (o uso de 100% de oxigênio pode aumentar a res-
mecônio nos alvéolos leva a uma inibição do surfactante pulmo- posta contrátil das pequenas artérias pulmonares). Considerar
nar devido ao alto teor de ácidos graxos livres no mecônio, agra- alguma forma de pressão positiva, se for necessário aumentar a
vando mais ainda o colapso alveolar. Na SAM não há evidencia Fi02 acima de 80%. Se Pa02 <50mmHg, PaC02 >60mmHg ou pH
de diminuição de surfactante e sim aumento de vários inibidores <7,25 são candidatos a ventilação mecânica.
do surfactante, razão pela qual estes RN respondem mal ao sur-
factante em bolus. A alternativa seria o uso de lavagem bronco- •Síndrome de Aspiração de Sangue
alveolar com surfactante diluído, pelo fato deste procedimento O desconforto respiratório do RN pode ocorrer após a aspira-
remover os inibidores do surfactante. As possibilidades terapêu- ção de diferentes contaminantes do líquido amniótico (LA), in-
ticas futuras seria o emprego de inibidores do surfactante. cluindo mecônio, vernix caseosa e debris celulares. Há mais de
Este conhecimento é importante na ventilação mecânica des- 3 décadas tem-se relatado que a inalação de sangue ou LA tinto
tes RN: na SAM a constante de tempo (a constante de tempo de sangue causa síndrome de aspiração do RN. Esta síndrome
produz a velocidade com que uma unidade pulmonar se enche de aspiração de sangue como entidade diagnóstica não têm sido
ou se esvazia) é maior, devendo ser proporcionado um tempo ins- muito valorizada, recebendo pouca atenção nos livros textos.
piratório prolongado para que o equilíbrio pressórico seja atingi- Gordon e cl, na Austrália, relataram 3 casos de RN com carac-
do entre a via aérea e os alvéolos; é difícil ventilar estes RN, pois terísticas clínicas de síndrome de aspiração de sangue, incluindo
como alguns alvéolos estão mais obstruídos (constante de tempo início precoce do desconforto respiratório e alterações radiológi-
maior) do que outros (constante de tempo menor), ao propiciar- cas muito semelhante à síndrome de aspiração meconial (SAM).
mos um tempo inspiratório curto, estaremos ventilando apenas Em cada caso, era evidente a inalação (aspirado traqueal san-
áreas não obstruídas. Também é necessário que seja usado tem- guinolento logo após a intubação e a presença de sangue e coá-
po expiratório maior, pois o esvaziamento alveolar e mais lento, gulos no aspirado gástrico, sugerindo que o sangue foi deglutido
pois caso contrário, vamos ter aprisionamento de ar-air trapping- assim como inalado, análogo ao que ocorre na SAM em que fre-
com risco maior de pneumotórax. quentemente observamos mecônio no aspirado gástrico).
Outra complicação da SAM é a hipertensão pulmonar persisten- O sangue está presente na nasofaringe ou hipofaringe em mais
te (Consulte o capítulo de Hipertensão Pulmonar Persistente); a de 25% dos RN de parto vaginal, sendo altamente provável que o
216 hipertensão pulmonar persistente ocorre principalmente devido a sangue seja inalado ocasionalmente dentro dos primeiros gasps
um quadro de hipoxia crônica intrauterina que levaria a alterações de vida pós-natal. Nos casos de LA tinto de sangue com baixo
estruturais na vasculatura pulmonar (66% do RN com SAM apre- Apgar, a aspiração de sangue provavelmente ocorre durante o
sentam HPP, sendo o risco maior, até 6,7 vezes, na SAM severa). trabalho de parto como resultante de gasp fetal. Este é inclusive,
Os RN com SAM desenvolvem desconforto respiratório caracteriza- o mecanismo provável de inalação em muitos casos de SAM.
do por taquidispnéia, principalmente nos RN que nascem com asfixia A hemorragia pulmonar é um importante diagnóstico diferen-
grave, restrição do crescimento intraútero e impregnados de mecônio. cial nestes RN (veja capítulo correspondente), embora os fatores
No exame clínico chama a atenção o abaulamento do tórax. de risco conhecidos de hemorragia pulmonar estavam ausentes
O Rx de tórax (Fig 11) revela, nos casos graves, áreas extensas nestes RN, como: severo comprometimento respiratório asfixia
de infiltrados nodulares grosseiros (áreas de atelectasias) e difu- perinatal grave e fluxo de sangue das vias aéreas, coagulopatia,
sos, alternando com áreas hiperaeradas e de hipertensão alveolar. trombocitopenia, sepses e hipotermia. A ausência destes fatores,
associado a uma concentração normal de surfactante nestes 3
casos, afasta hemorragia pulmonar. O Rx de tórax em ambos os
casos difere: na hemorragia pulmonar (Fig 12), o Rx de tórax se
assemelha a um quadro de Doença da Membrana Hialina e na
aspiração de LA tinto de sangue, o Rx se assemelha a SAM.
Fig 11
989, 2002
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Paulo R. Margotto
Assistência ao Recém-Nascido de Risco
O CPAP nasal é um sistema que fornece pressão positiva de gestacional, o que incrementaria o risco de DBP.
maneira continua nas vias aéreas do paciente. • Antigamente se recomendava que todos os pacientes em
O principio teórico de funcionamento é o seguinte: CPAP nasal fossem intubados em caso de necessidade de
transporte. Na atualidade está comprovado que RNs está-
• O ar entra nos pulmões devido a uma diferença de pressões, veis, cuidadosamente selecionados podem sim ser trans-
desde o lugar de maior pressão para o lugar de menor pressão. portados em CPAP nasal. Nestes casos deve usar-se um
• Como os recém-nascidos (RN) respiram preferencial- aparelho de ventilação mecânica ou um resistor mecânico
mente pelo nariz, o ar oferecido sob pressão nas narinas para gerar PEEP, ao invés do sistema de selo de água.
é deslocado através das vias aéreas e essa pressão é
transmitida aos alvéolos pulmonares, aumentando o seu Complicações Do Uso De CPAP Nasal: As complicações in-
diâmetro e evitando que se colapsem. cluem pneumotórax, distensão gástrica e lesões nasais. Contu-
do, aderindo as recomendações de uso de modo rigoroso, as
Efeitos Do CPAP NasaL: aumento da pressão transpulmonar, complicações são minimizadas.
incremento da capacidade residual funcional, aumento da área Diretrizes De Uso De CPAP Nasal Neonatal: O serviço de neo-
de troca gasosa, prevenção do colabamento dos alvéolos instá- natologia que utilize CPAP nasal, deve se organizar de modo que
veis com diminuição do shunt intrapulmonar, melhora da com- possa cumprir uma série de normas antes, durante e após a apli-
placência pulmonar, reduz a resistência vascular pulmonar pela cação de CPAP nos neonatos.
melhora da oxigenação, otimiza a relação V/Q, protege o surfac- Diretrizes Para Antes De Montar O Sistema De CPAP Nasal:
tante, diminui a resistência da via aérea pelo aumento do seu Deve se atentar basicamente para:
diâmetro e estabiliza o do diafragma e a caixa torácica.
Indicações Do CPAP Nasal: Doença da membrana hialina, • A equipe: Enfermeiras, fisioterapeutas e médicos devem
TTRN, Síndrome de aspiração de mecônio, pneumonia, cardiopa- estar bem treinados e trabalhar em conjunto.
tia, apnéia da prematuridade, no desmame da ventilação mecâ- • O aparelho: Existem aparelhos específicos para a aplica-
nica e em praticamente todas as causas pulmonares de descon- ção de CPAP nasal neonatal, inclusive no Brasil. A vanta-
forto respiratório neonatal. gem é que já vem tudo pronto, não precisa de montar nem
Contraindicações Do CPAP Nasal: Hérnia diafragmática con- improvisar acoples e não ocupa um aparelho de ventilação
218 gênita, defeitos de face e palato, atresia de esôfago e no pneu- mecânica para esse fim. Pode se usar também o apare-
motórax não drenado. lho de ventilação mecânica ou, em última instancia os flu-
Cabe aqui fazermos algumas considerações em relação a al- xômetros de parede, como fonte de gases. Em qualquer
guns pontos que em algum momento suscitaram controversas, caso, o importante é que os aparelhos e sistemas (incluin-
mas que hoje estão bem definidos. do mangueiras e prongas) estejam em perfeitas condições
de manutenção e uso, evitar improvisações e acoples com
• A síndrome de aspiração meconial não contra-indica esparadrapos. Não acoplar mangueiras e prongas de fa-
o uso de CPAP nasal. Antigamente se dizia que o RN bricantes diferentes. Não confundir, o CPAP deve ser um
com esta patologia deveria ser colocado no hood ou em sistema simples, mas não precário. A inobservância desta
ventilação mecânica convencional (VMC), pois o CPAP recomendação pode acarretar prejuízos para o paciente.
aumentaria o risco de pneumotórax. Este argumento é • O tempo de montagem do sistema: Tem tudo a ver com o tó-
facilmente rebatível uma vez que consideramos que se pico anterior. Deve estar tudo preparado com antecedência,
colocarmos o paciente em VMC ele receberá PEEP igual de modo que o recém nascido não demore a ser colocado
que no CPAP, mas receberá concomitantemente pressão no CPAP, o que aumentaria o risco de precisar de ventilação
inspiratória máxima ((PIM) e frequência respiratória (FR), mecânica. O ideal é que os enfermeiros ou fisioterapeutas
aumentando mais o risco de pneumotórax. responsáveis confiram sempre no começo e fim do turno,
• Houve um momento em que se preconizava que todos os de modo que tenham tudo preparado para montar 3 apare-
menores de 1000 gramas deviam ser intubados. Sabe-se lhos de CPAP nasal em um lapso de aproximadamente 15
na atualidade que RNs prematuros extremos (com idade minutos. A maneira de exemplo, a possibilidade de nasce-
gestacional em torno de 27-28 semanas) podem receber rem emergencialmente trigêmeos de 32 semanas em um
CPAP nasal como única forma de assistência ventilatória. serviço de neonatologia não é improvável. O serviço então
O COIN Trial (ensaio CPAP ou intubação), desenhado e exe- tem que estar preparado para fornecer CPAP de imediato a
cutado por Morley em 2008, com prematuros com idade cada bebê. Por outro lado, não é infrequente que nasçam
gestacional entre 25 e 28 semanas evidenciou que a ten- mais de um prematuro em um mesmo dia.
tativa de se colocar estes pacientes em CPAP nasal como
primeira alternativa de tratamento não incrementa o risco Me diga quanto demora a montar um aparelho de CPAP e eu te
de morte ou de displasia broncopulmonar (DBP). Podemos direi a qualidade do serviço em que trabalhas.
recomendar então que no prematuro extremo com respi- Diretrizes Para Montar O Sistema De CPAP Nasal: O sistema
ração espontânea, a primeira opção de assistência ven- de CPAP nasal consta básicamente de três componentes: uma
tilatória deve ser o CPAP nasal. Igualmente, aqueles que fonte de fluxo contínuo de gases (pode ser o fluxômetro do apa-
precisaram de ventilação mecânica, devem ser colocados relho de ventilação mecânica ou os fluxômetros de parede), uma
em CPAP nasal ou ventilação não invasiva (VNI) assim que peça de conexão com o paciente (são as prongas nasais) e um
os parâmetros ventilatórios forem diminuídos, não deven- resistor gerador de pressão (pode ser a válvula exalatória do apa-
do esperar por ganho de peso nem por ganho em idade relho de ventilação mecânica ou o sistema de selo d agua).
Capitulo 07 Distúrbios Respiratórios
FIg 8 FIg 9
FIg 1
6. Utilizar fluxo de 5-8 litros por minuto e iniciar com Fi02
2. A mangueira que sai do fluxômetro deve ser desconecta- de 40%. Para se regular o fluxo e a Fi02 usar os botões do
da da lateral e conectada diretamente no copo umidificador. ventilador normalmente.
FIg 10 FIg 11
Paulo R. Margotto
Assistência ao Recém-Nascido de Risco
te (PEEP inadvertida) ou propiciar escape de ar, enquanto Diretrizes Após O Uso De CPAP Nasal
que pronga demasiado grandes ferem as narinas e o septo,
podendo necrosá-lo. A pronga é considerada do tamanho Os serviços de neonatologia que usam CPAP nasal devem ter
adequado quando não fica frouxa dentro do nariz nem aper- um registro dos pacientes atendidos onde deve constar: número
tada ao ponto de distender as narinas (Ver tabela 1). de pacientes por mês que usaram CPAP nasal, número de bebês
• Distender as narinas suavemente, com cotonete embebi- que usaram CPAP como forma exclusiva de assistência ventila-
do em soro fisiológico antes de adaptar a pronga ao RN. tória (dividir por faixas de idade gestacional), número de pron-
A pronga deve entrar apenas alguns milímetros, não deve gas mais usadas, quantidade de pacientes com insucesso na
tocar o septo nasal e deve estar bem fixada. extubação para CPAP ou VNI, freqüência e grau de lesão nasal,
• Observar atentamente o nariz do RN. Não deve ter as- etc. As reinvindicações ficam mais fáceis apoiadas em números
simetrias nem sulcos no dorso. Examinar o septo nasal concretos.
frequentemente. “Um serviço que não conhece a sua realidade, voa às cegas
• A lesão nasal por CPAP tem 3 estágios: inicia com palidez na tentativa de melhorar a saúde” (CLAP).
por pressão, evolui para hiperemia e finalmente para ero-
são. Detectar e corrigir precocemente, ainda no estado Referencias Bibliográficas
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Respiratórios (acessado em 26/1/2011)
Paulo R. Margotto
Assistência ao Recém-Nascido de Risco
Qual O Melhor Dispositivo Para Se Fornecer VNI? Montar um sistema de VNI neonatal é bastante simples. Precisa
apenas de um sistema de CPAP nasal e de um ventilador conven-
Em neonatologia, as máscaras faciais associaram-se a maior cional de fluxo contínuo, ciclado a tempo e limitado a pressão, que
incidência de deformidades cranianas e hemorragias cerebrais. A são a imensa maioria de ventiladores neonatais (Inter 3, Inter 5,
interface mais utilizada e melhor são as prongas bi-nasais curtas, Inter neo, Dixtal,etc)..
as mesmas usadas para CPAP nasal. Pode se também usar um Quem faz CPAP nasal no aparelho de ventilação mecânica, sem
tubo oro traqueal inserido por uma narina e localizado na faringe. usar frasco de selo de água, deve montar de maneira idêntica para
Em relação ao aparelho utilizado, é o mesmo usado para ventila- fornecer VNI.
ção mecânica com tubo orotraqueal. Os aparelhos podem, ou não, Aqueles que nunca usaram o ventilador para fornecer CPAP, po-
sincronizar o pico inspiratório com a inspiração espontânea do pa- dem montar o sistema de VNI da seguinte forma:
ciente. No momento atual do conhecimento não existe evidencia de O ventilador mecânico é conectado nas fontes de ar comprimido
que a VNI sincronizada seja mais eficiente que a não sincronizada. e oxigênio como é habitual. Do copo umidificador, ao invés de sair
o ramo inspiratório usado em ventilação mecânica, sai a manguei-
Capitulo 07 Distúrbios Respiratórios
ra inspiratória do CPAP. Para adaptar a mangueira inspiratória com A linha de monitoração de pressão vem inclusa nos kits de
o copo, é necessário um conector de 22 mm (ver figura 1). prongas nasais. Uma extremidade desta linha deve ser conecta-
da no local específico do ramo exalatório do circuito (ver figura 5).
A outra extremidade é conectada no local de medida da pressão
do aparelho de ventilação mecânica (ver figura 6).
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Paulo R. Margotto
Assistência ao Recém-Nascido de Risco
O suporte ventilatório em neonatologia, mediante o uso de • Pa02 < 50 com FiO2 alta; se Doença da Membrana Hia-
ventiladores pulmonares mecânicos, foi e continua sendo um lina (DMH), Saturação de 02 abaixo de 90% em Fi02, na
dos pilares do tratamento intensivo neonatal, responsável com CPAP, de 60%.
enorme parcela, pela melhoria das taxas de sobrevivência nes- • PaC02 maior que 60 mmHg, principalmente se pH menor
ta faixa etária. A base destes instrumentos, idealizados por Ro- que 7.25
bert Kirby em 1972, se utiliza amplamente até os dias atuais.
Trata-se de um instrumento que permite que um fluxo de gases É necessário prestar muita atenção durante a assistência ven-
circule através do circuito de ventilação, e basicamente duas tilatória ao RN considerando-se que esta se faz atendendo as
válvulas definem, primeiramente, a pressão máxima que estes peculiaridades únicas, e envolve elevado risco para o bebê. O RN,
gases exercerão dentro do mesmo, quando a válvula exalatória com as suas vias aéreas estreitas, freqüência respiratória eleva-
é fechada, e qual pressão existirá ao final da expiração, quando da e alterações fisiológicas importantes, na dependência da en-
a válvula correspondente se abrir. Assim, a ventilação pulmonar fermidade que o acomete, impõe uma atenção especial no ajuste
mecânica no período neonatal segue sendo de fluxo contínuo, dos parâmetros do respirador, pois ajustes para RN de mesmo
pressão-limitada, ciclada a tempo. peso poderão ser distintos na dependência da doença e até com
Aperfeiçoamentos foram conquistados desde o começo e vál- o estágio da mesma que o tenha levado a ventilação pulmonar
vulas mais sofisticadas substituíram as primeiras, permitindo mecânica. Achamos prudente mantermos atenção a determina-
velocidade de resposta muito mais adequada aos bebês, preste- dos conceitos de fisiologia pulmonar e de como o respirador se
za nos ajustes feitos nas mesmas e também, a incorporação de inter-relaciona com a mecânica ventilatória do RN.
sensores que denunciassem o início do esforço inspiratório dos
bebês, deu causa à sincronização dos equipamentos ao ritmo Conceitos Da Fisiologia Respiratória
respiratório dos bebês, inclusive os pequenos prematuros.
Mas esta evolução no conhecimento nos mostrou que a tera- Complacência
pêutica com estes equipamentos tinha efeitos adversos. A lesão
induzida pela ventilação inicia nos primeiros ciclos do ventilador É a propriedade de distensibilidade pulmonar e da parede torá-
e hoje, nos paises mais avançados, a doença provocada pela cica (expressa a variação de pressão necessária para permitir o
ventilação mecânica lidera a mortalidade nos prematuros. Certa- acesso de determinado volume gasoso nos pulmões). Um RN sem
224 mente a Displasia Bronco-pulmonar é uma doença multifatorial, doença pulmonar tem complacência que varia de 3 a 6 ml/cm H2O
mas a base da enfermidade é a distensão alveolar. ou seja, após encher o pulmão, cada vez que colocarmos mais 3
O evoluir do conhecimento demonstrou que aperfeiçoamentos a 6 ml de gás no seu interior haverá incremento de 1 cm água
nos aparelhos deveriam ser instalados para minimizar a ocor- na pressão de distensão. Por outro lado, em um RN com Doença
rência da lesão pulmonar. Daí surgiu a sincronização dos ciclos Da Membrana Hialina (DMH), que caracteristicamente apresenta
ventilatórios, a ventilação de alta freqüência (HFV), a ventilação uma diminuição da complacência pulmonar (0,5 ml a 1 ml/ cm
a volume, a utilização de pressão-suporte. Muitos destes aper- H2O), se quisermos aumentar o volume pulmonar em 6 ml, deve-
feiçoamentos frustraram os profissionais de saúde encarregados mos aumentar a pressão de distensão em 6 a 12 cm de água.
de sua utilização. A lógica, muitas vezes, foi vencida pela reali-
dade e, até os dias atuais, a sincronização dos equipamentos, Resistência
por exemplo, conseguiu reduzir a incidência de escapes de ar e
do tempo de ventilação pulmonar, porém sem redução da taxas É uma medida da capacidade, inerente das vias aéreas, de
de Displasia Bronco-pulmonar ou de mortalidade. Também a HFV resistir à entrada de ar. O RN, principalmente o prematuro, com
não contribuiu significativamente com a redução da mortalidade, suas vias aéreas estreitas, impõe significativa resistência à circu-
quando comparada à ventilação convencional, além de agregar lação de gases. A necessidade de intubá-los com tubos de 2 a 2,5
novas lesões, incluindo a leucomalácia periventricular, por exem- mm de diâmetro interno impõe grande dificuldade de fazermos
plo. Esperanças têm sido depositadas na modalidade volume-ga- com que a pressão de distensão imposta pelo respirador atinja
rantido, porém a literatura ainda aguarda trabalhos consistentes os alvéolos, no tempo reservado à inspiração; assim, devemos
comprovando sua melhor eficácia comparada à convencional. usar o tubo endotraqueal de maior diâmetro interno possível, o
O que tem sido utilizado amplamente é a ventilação convencio- menor comprimento do tubo, reduzir ao máximo a velocidade do
nal, sincronizada ou não. No serviço de neonatologia do Hospital fluxo de gases no interior do tubo através da redução do fluxo de
Regional da Asa Sul, onde trabalhamos desde 1986 com ventilação admissão de gases (FAG) de gases no circuito do respirador.
mecânica, não tivemos a oportunidade de utilizar outra modalidade A resistência é expressa em cm de água /L/seg. RN intubados
que não fosse a ventilação convencional e a ventilação de alta fre- têm resistência entre 50 e 150 cm de água/L/seg. (sem o tubo:
qüência, motivo pelo qual trataremos apenas destas modalidades. 20 a 40 cm H2O/L/seg.). Quanto maior a resistência, menor a
possibilidade do volume esperado atingir o alvéolo (o pulmão se
Ventilação Convencional enche lentamente).
Paulo R. Margotto
Assistência ao Recém-Nascido de Risco
aumento da MAP. Por outro lado, deve se evitar que pressão de • Provoca menos alterações no fluxo sangüíneo cerebral.
ventilação (a diferença entre a PEEP e o PIP) fique muito pequena • Reduz o tempo de ventilação pulmonar mecânica, favore-
(raramente menor que 5 a 6 cmH2O), pois reduzirá o VC, podendo cendo o desmame.
aumentar a PaCO2.
Na ventilação sincronizada os ciclos ventilatórios coincidem com
MAP = K (PIP x TI+ PEEP x TE)/TI+TE o esforço inspiratório de RN, a depender da sensibilidade do sensor
(K: constante que depende do fluxo, complacência e resistência) de disparo e do desempenho do equipamento (ventilador) utilizado.
A ventilação sincronizada pode utilizar-se como sincronizada
Alterações Hemodinâmicas Devido A Variações De IMV (SIMV) ou como ventilação assistida/controlada (A/C). Na
Pressão Da Ventilação Mecânica SIMV, o paciente recebe o número de ciclos definidos com o ajus-
te da freqüência respiratória (FR), porém disparados pelo RN; re-
• Aumento da pressão em ventrículo direito ceberá ciclos não disparados pelo mesmo apenas se estiver em
• Aumento da pressão venosa central apnéia, quando os ciclos serão disparados pelo próprio aparelho,
• Aumento da pressão intracraniana na FR definida previamente. Na ventilação assistida/controlada
• Maior possibilidade de PCA (persistência do canal arterial) é o RN quem determina a freqüência do respirador; o RN que
• Redução do débito cardíaco, da perfusão cerebral e renal. desencadeia cada ciclo ventilatório: cada vez que o RN faz um
esforço respiratório, o ventilador cicla. Assim, nesta modalidade,
Objetivos da ventilação mecânica: a freqüência respiratória mecânica poderá ser muito alta ou mui-
• PaCO2: 50-55mmHg to baixa, porém nunca menor que a FR definida pelo profissional
• pH: > 7.20 assistente. Atente para o fato de que os disparos acontecerão
• Pa02: 50-70 mmHg na medida em que a sensibilidade do sistema estiver regulada
de modo que o sensor “perceba” o início do esforço respiratório
Na definição dos parâmetros iniciais da VPM, utilizamos si- do paciente. Assim, se a sensibilidade estiver alta, ou seja, mui-
nais de gravidade do caso, muito mais que o peso do RN. to sensível, pequenos esforços serão suficientes para disparar o
Parâmetros iniciais para RN que não necessitaram manobras ciclo ventilatório; ao contrário, se a sensibilidade estiver baixa,
agressivas de reanimação na sala de parto: o paciente terá que fazer um esforço maior para disparar o sis-
FiO2: a menor possível para manter a oxigenação tema. Esta regulagem da sensibilidade poderá ser utilizada, en-
PIP: 20 cm H2O tão, para treinar a musculatura respiratória do paciente que ficou
PEEP: 5 cm H2O muito tempo em ventilação pulmonar (muitas vezes recebendo
Tempo inspiratório: 0.30-0.35 segundos sedoanalgesia mais intensa), preparando-o para a extubação
FR: 40 ipm próxima. Outra atenção especial deverá ser dispensada durante
Fluxo: 3 x VM a aquisição dos ventiladores do serviço; assim, os respiradores
226 VM = VC x FR: considerar, para este cálculo, o VC em 10 ml/kg que têm válvulas ou sistemas que demoram demais a responder
aos estímulos podem trazer enorme estresse ao paciente que
Parâmetros Iniciais Para RN Que poderá já ter iniciado o esforço ventilatório e o aparelho, ao de-
Necessitaram Manobras Agressivas morar a “atender” à ordem, possibilita a ocorrência de “esforço
De Reanimação Na Sala De Parto sem resposta” criando grande desconforto ao bebê. Ou seja, a
velocidade da resposta que propiciará um ciclo do ventilador está
FiO2: a menor possível para manter a oxigenação na dependência do ajuste da sensibilidade (decisão da equipe
PIP: 25 cm H2O de saúde) e/ou da capacidade de resposta do equipamento
PEEP: 5 cm H2O (tecnologia). Outro detalhe muito importante: em situações de
Tempo inspiratório: 0.30-0.35 segundos ajuste “muito sensível”, o próprio movimento da água acumulada
FR: 60 ipm dentro do circuito do respirador pode disparar ciclos ventilatórios
Fluxo: 3 x VM criando condições de MAP muito elevada e relação I/E invertida,
VM = VC x FR: considerar, para este cálculo, o VC em 5 ml/kg obrigando, muitas vezes, a constantes esvaziamentos da água
do circuito e, outras vezes, a alterações na sensibilidade de modo
Lembre-se que estes parâmetros são de instalação, ou seja, são a proibir a ocorrências de FR indesejáveis.
definidos antes de se conectar o paciente na VPM; o ajuste a parâ- Atenção: a PEEP não deve ser reduzida de 5 cm de H2O (o
metros adequados ao bebê, ainda que clínicos, devem ser realiza- mesmo se aplica ao CPAP) exceto se houver hiperinsuflação, que
dos tão logo o paciente seja conectado ao aparelho de ventilação. definimos como a condição em que, diante de uma radiografia de
Na seleção das pressões, usar os conceitos de complacência, tórax, conseguimos verificar que a 10a. costela está nos campos
gasometria, o volume corrente desejado. Uma maneira prática pulmonares. É preciso lembrar que a PEEP protege o pulmão de
para saber se a ventilação está com parâmetros adequados para lesões induzidas pela ventilação pulmonar, além de preservar a
cada doença é a simples observação dos movimentos de expan- função do surfactante.
são torácica (ainda que este conceito varie de profissional para
profissional) e análise oximétrica. Ventilação dirigida a volume
A desvantagem em usar a ventilação limitada por pressão é
Ventilação Sincronizada que se as características mecânicas pulmonares mudarem, man-
A ventilação sincronizada é a estratégia ventilatória onde o iní- tendo a mesma pressão, você acaba tendo um volume corrente
cio dos ciclos ventilatórios com pressão positiva coincide com a totalmente diferente (o RN fica mais rígido porque está brigando
ocorrência do esforço inspiratório espontâneo do paciente, tendo com o ventilador, ou porque o pulmão desenvolve edema pul-
como resultado: monar e você mantém a mesma pressão e o volume será muito
menor). Por outro lado, se você der surfactante, a complacência
• Melhora da oxigenação melhora muito rapidamente e mantendo a mesma pressão, o vo-
• Aumento do volume corrente lume corrente (VC) será muito maior. Esta é a principal desvanta-
• Diminuição da incidência de barotrauma/volutrauma gem de usar uma estratégia de limite de pressão. Assim há um
Capitulo 07 Distúrbios Respiratórios
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Assistência ao Recém-Nascido de Risco
• nível de FiO2 e suporte ventilatório o mesmo não tenha tido necessidade de ser reanimado;
• FiO2: 30 – 40% vide adiante, Rotina de aplicação de surfactante.
• FR< 15 • Jamais deixe o RN sem PEEP, ainda que para se proceder a
• PIP: 15 cmH2O limpeza do mesmo, durante a espera para sua transferên-
• Níveis de gases aceitáveis cia e também durante o transporte do mesmo para a UTI;
• Reduza a Fi02, se possível, de acordo com o permitido
Nota: a dexametasona reduz a necessidade de re-intubação através de avaliação clínica ou, melhor ainda, se houver
entre os bebês que passaram várias semanas em ventilação possibilidade, pela oximetria de pulso.
pumonar mecânica, devendo ser usada somente em RN de alto
risco para re-intubação: 0,25mg/kg/dose 8/8h (3doses), ini- Normas Para A Aplicação De Surfactante
ciando 4h antes da extubação. Pulmonar Exógeno Na Sala De Parto.
Assistência Respiratória Imediata Aos Pré-Termos • Na hipótese da dúvida se um RN deve ou não ser intuba-
(25 semanas a 32 semanas) do para ser colocado em ventilação pulmonar mecânica
(geralmente a dúvida aparece entre os menores de 700
Surfactante seletivo nas primeiras 2 horas de vida gr), o bebê deverá receber todos os cuidados à sua esta-
Normas de Reanimação-Academia bilização e sua transferência para a UTIN para posterior
Americana de Pediatria-2010 debate em equipe;
• O Respirador deverá ser regulado segundo as sugestões
Para os RN <29 semanas: todos os procedimentos de reani- do (a) assistente da sala de parto; em não havendo esta
mação (ventilação com pressão positiva, intubação, a massagem sugestão, regular o respirador em SIMV 40 (back up), PIP
cardíaca e a inserção de cateter vascular podem ser executados de 20 cm de H2O, PEEP de 5 cm de H2O, Tempo Inspira-
no paciente envolvido em saco plástico, com o objetivo de man- tório (T.Insp) de 0.3, fluxo de 4 L/min. Lembre que, se as
ter a temperatura axilar em aproximadamente 36,5oC. Deve ser manobras de reanimação foram intensas, regule o PIP em
evitada a hipertermia, pois agrava lesões cerebrais em RN asfi- 25 cm de H2O e a FR (back up) em 60. Ao instalar o respi-
xiados. Iniciar com Fi02 a 40% com oximetria de pulso. rador no RN, é essencial observar se a expansão torácica
Para os RN com respiração espontânea: está adequada e ajustar o PIP para mais ou para menos.
CPAP nasal em selo d`água: pressão de +5cmH2O;fluxo de 5 • Após os ajustes iniciais, procure manter um volume cor-
l/min; Fi02 de 40% rente (VC) inspiratório de 5 ml/Kg, que deverá ser sufi-
Solicitar a realização do Rx de tórax imediatamente. ciente para manter a PaC02 entre 45-55 mmHg. Lembre-
Surfactante: necessidade de aumento da Fi02 acima de 45% se que quanto maior o VC maior o dano pulmonar;
para manter PSa02 (Saturação de Oxigênio) entre 88-93% ainda • Não altere a PEEP a menos que existam sinais de hi-
nas primeiras 2h de vida. Não aguardar resultado do Rx. perinsuflação pulmonar, denunciado pela presença de
Intubação: mais que 10 costelas visíveis no campo pulmonar ao Rx;
lembre-se que a PEEP protege os pulmões contra lesões
• Inserir a cânula (2,5mm para RN <1000g) usando a regra pulmonares, porém seu exagero produz imediatos efeitos
7-8-9 de Tochen (1979): peso +2. No entanto, para os RN hemodinâmicos indesejáveis;
<750g, introduzir 6 cm • Imediatamente após a instalação do RN no leito, haven-
• Iniciar ventilação com PIP de 20-25 cm de H2O e PEEP do necessidade de qualquer assistência ventilatória,
de 5 cm de H2O obter uma radiografia na primeira hora de vida, se o RN
• Remover para a UTI Neonatal em incubadora de trans- estiver grave;
porte aquecida • Após a obtenção da radiografia, obter acesso vascular
através dos vasos umbilicais, equivale dizer que não é
Extubar (quando possível, dentro de 1 hora) se: drive respi- permitido puncionar veia periférica, exceto em casos ur-
ratório; Fi02 <40% (para PSa02 88-93%), MAP <7cmH2O, PaC02 gentes autorizados pelo (a) médico (a); 229
<60mmHg e pH>7,20, FR <15pm; PIP de 15cmH2O.* • Repetir o surfactante a cada 6 ou 12 horas (dependendo
do surfactante em uso na UTIN), em um máximo de 4 do-
• A gasometria para esta avaliação pode ser venosa ou arterial. ses, se existirem evidências da doença (DMH), como, por
exemplo, necessidade de Fi02 de 45% ou mais. Por outro
Durante o transporte lado, se o RN estiver com bom Volume Corrente, pulmões
• Avise à UTI para preparar o leito para o RN, informando o com insuflação tendendo a exagerada e radiografia que
peso e sugira os parâmetros de ventilação a serem defi- não lembra mais DMH, não deve ser essa a doença que
nidos no Respirador (vide adiante); estará mantendo o RN no Ventilador, e provavelmente
• Jamais inicie o transporte se não houver certeza de que não haveria razões para supor que o surfactante benefi-
as condições de recepção na UTI já estão garantidas, da ciasse o RN; na dúvida, discutir.
mesma forma que jamais inicie o transporte sem que as • A HFV será instalada nos casos de Enfisema Intersticial
condições para o mesmo sejam adequadas. Lembre que Pulmonar, HPPN documentada, falha na Ventilação Con-
as condições na Unidade de Reanimação serão melhores vencional e pneumotórax intratável. Apenas os RN maio-
que os imprevistos de um transporte mal organizado, ou res que 750 gr deverão ser colocados no aparelho de
de um leito não preparado na UTI. Aqui faça sempre o HFOV. Considera-se falha na ventilação convencional se
raciocínio do piloto do avião já que você é o (a) principal houver necessidade de usar PIP acima de 25 cm de H20
responsável pela qualidade da assistência; para manterem-se bons gases arteriais.
• O RN deverá ser transportado sob incubadora de trans- • A utilização da modalidade Assisto/Controlada (AC) será
porte aquecida; reservada para casos muito graves, em que a retenção
• manter o RN coberto com filme de PVC para reduzir perda de C02 é a tônica já que seu manuseio é mais complexo
de calor e umidade, se o transporte ocorrer em berço; e suas vantagens em relação à SIMV (mais seguro) não
• O RN, conforme especificado na Rotina de aplicação de estão totalmente estabelecidas.
surfactante deverá ser transportado intubado. • As alterações nos parâmetros do ventilador deverão ser
• Mantenha as pressões de ventilação utilizadas para es- feitas de acordo com a lógica de “reduzir primeiro os pa-
tabilizar o RN, e de preferência, transporte o RN com o râmetros mais deletérios para os pulmões”. São mais
“CFR de transporte” ou similar; deletérios o PIP e o tempo inspiratório. Jamais deixe
• Em havendo necessidade de infusão durante o transpor- que o T.Insp seja maior que o tempo expiratório (T.Exp.):
te, deve-se ficar muito atento na vigilância do gotejamen- esse é um dos perigos da modalidade AC. Nesse caso
to e da via de infusão. de AC, lembre-se de ajustar o T.Insp quando a FR do RN
ultrapassar um número tal que o T.Insp seja maior que a
Na Unidade de Terapia Intensiva metade do tempo respiratório total (T.Insp+T.Exp); obte-
• Fica estabelecida a idade gestacional mínima de 25 se- nha esse tempo pela divisão do número 60 (60 minutos)
manas para colocar o RN no respirador; pela FR do RN. Por exemplo, o T. Insp. está definido em
Paulo R. Margotto
Assistência ao Recém-Nascido de Risco
Paulo R. Margotto
Assistência ao Recém-Nascido de Risco
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bus!), pois são estes bebês que não vão responder ao surfactan- on serum CC16 and IL-6 levels in preterm neonates. Journal of Perinatology 30, 1, 2010
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233
Paulo R. Margotto
Assistência ao Recém-Nascido de Risco
Paulo R. Margotto
O Surfactante Pulmonar (SP) é um complexo lipoproteico que surfactante (seta) no espaço alveolar sobre o pneumócito II (ve-
age diminuindo a Tensão Superficial (TS) ao nível da interface ar- jam a projeção dos microvilos do pneumócito II no filme de sur-
líquido dos alvéolos e tem a função de estabilizar os alvéolos, im- factante; aumento de 56000 vezes). Na Fig D, com um aumento
pedindo o seu colabamento ao final da expiração, reduzindo assim de 160000 vezes, observamos o conteúdo dos corpos lamelares
o trabalho respiratório com aumento da complacência pulmonar. sendo entregue no espaço alveolar (de Morgenroth K, 1998).
Avery observou que nos RN normais a TS é de 7 dyn/cm e os RN
com DMH (Doença da Membrana Hialina), acima de 30 dyn/cm. Componentes
•Surfactantes exógenos
Todos os surfactantes usados na prática clínica tem DPPC
como principal componente. As propriedades ideais de um sur-
factante exógeno são eficácia, segurança, imunogenicidade míni-
ma, boa resistência à biodegradação e baixo custo.
•Surfactante Natural: i
Solado do líquido amniótico. Contém todas as proteínas do sur-
Fig C Fig D factante. Não disponível no país. Risco de contaminação viral.
•Surfactantes Naturais Modificados: i
Observamos na Fig. A o espalhamento do surfactante na su- Solado de pulmões de animais.
perfície alveolar; o surfactante é sintetizado no pneumócito II e é SurvantaR (30g/l) e AlveofactR (45g/l): pulmão bovino
injetado na superfície alveolar, espalhando-se como uma cama- CurosurfR (80g/l): pulmão porcino
da monomolecular sobre o epitélio alveolar. Na Fig B observamos Todos contêm por volta de 1% de proteínas SP-B e SP-C. A SP-A
a estrutura de um pneumócito II com secreção do surfactante está ausente.
(seta) em um aumento de 8300 vezes. Na Fig C, observamos o
Capitulo 07 Distúrbios Respiratórios
• Surfactate Sintético: Interessante citar que o CurosurfR contém mais SP-B do que o
1. ExosurfR -livres de proteínas SurvantaR e ambos contem menos do que o SurfaxinR.
2. SurfaxinR (Lucinactant) é um surfactante que contém Em conclusão, o presente ensaio clínico indica que um surfac-
sinapultide, o KL4, peptídio que mimetiza a proteína B do tante sintético contendo apenas fosfolipídeos pode ser melho-
surfactante. Em dispersão aquosa, o KL4 (peptídeo sin- rado pela adição de peptídeos, tais como a sinapultide, que mi-
tetizado quimicamente) é combinado com os fosfolípides metizam a função da SP-B. O lucinactante representa o primeiro
DPPC e o oleosil-palmitoil fosfatidilglicerol, assim como o surfactante desta nova classe de surfactante que contém proteí-
ácido palpídico, para formar o Surfaxin. na funcional análogo a SP-B, consistindo uma opção terapêutica
efetiva na prevenção e tratamento dos RN pré-termos de risco
O reconhecimento da importância da SP-B levou ao desen- para desenvolver doença da membrana hialina. Os resultados
volvimento do lucinactante, um novo surfactante que contém, da comparação do SurfaxinR com o CurosurR alfa evidenciaram
não somente fosfolipídios, mas também altas concentrações que ambos surfactantes são semelhantes na eficácia e segu-
de sinapultide, um peptídeo de 21-aminoácidos sintéticos, con- rança quando usados na prevenção e tratamento da doença da
sistindo de lisinas (K) e leucinas (L) organizados na seqüência membrana hialina nos RN pré-termos. Ambos os ensaios não evi-
KLLLLKLLLLLKLLLLKLLLLK, que mimetiza as ações da SP-B hu- denciaram diferenças significativas quanto aos riscos descritos
mana. A sinapultide é mais resistente do que a SP-B natural à previamente dos produtos derivados de animais, como de sepse,
inibição pelas proteínas séricas e pelos radicais livres de oxigê- hemorragia intraventricular e leucomalácia periventricular. Tam-
nio. O lucinactante reduz a tensão superficial tão bem quanto os bém não foram evidenciadas complicações relacionadas ao volu-
surfactantes naturais, tendo sido mostrado que melhora a oxi- me da dose (5,8ml/Kg de SurfaxinR (175mg/Kg de fosfolipídios);
genação e a ventilação entre os RN pré-termos com doença da 5,0 ml/Kg de ExosurfR (67,5mg/Kg de fosfolipídios); 4,0 ml/Kg
membrana hialina. de SurvantaR (100mg/Kg de fosfolipídios) e 2,2 ml/Kg de Curo-
O ensaio multicêntrico conduzido por Moya e cl, no qual a Unida- surfR (175mg/Kg de fosfolipídios).
de de Neonatologia do HRAS também participou, comparou o Sur- Os surfactantes do grupo natural modificado são efetivos, tan-
faxinR X ExosurfR X SurvantaR X CurosurfR.Este ensaio evidenciou to como profilaxia, como tratamento da DMH. As propriedades de
o papel central da proteína B do surfactante (SP-B) na melhora superfície e os efeitos fisiológicos dos surfactantes livres de pro-
da função pulmonar e nos resultados clínicos nos recém-nascidos teínas (sintéticos) são menos evidentes do que aqueles surfac-
pré-termos com risco de desenvolver doença da membrana hiali- tantes do grupo natural (humano) e natural modificado (pulmão
na. O maior teor de SP-B pode provê adicionais benefícios tanta de animais). O padrão de resposta com o ExosurfR é caracteri-
na prevenção como tratamento da doença da membrana hialina. zado pôr uma lenta melhora de oxigenação e da pressão média
O lucinactante (SurfaxinR) é um surfactante sintético que contém das vias aéreas, claramente diferentes das mudanças fisiológi-
quantidade relativamente maior de peptídeo que mimetiza a fun- cas dramáticas observadas após o tratamento com os surfac-
ção da SP-B. Quanto comparado com o palmitato de colfosceril tantes naturais. Estas informações poderiam especular que os
(ExosurfR), um surfactante sintético desprovido de SP-B, o lucinac- surfactantes sintéticos seriam menos útil no tratamento da DMH 235
tante reduziu significativamente a doença da membrana hialina, do que as preparações contendo SP-B e SP-C. Não é verdade.
além da mortalidade relacionada a doença da membrana hialina Estudos recentes evidenciaram que a eficácia dos surfactantes
aos 14 dias e com 36 semanas de idade pós-concepção e inci- sintéticos deve-se em parte a combinação do DPPC exógeno com
dência significativamente menor de displasia broncopulmonar na as proteínas do surfactante endógeno.
idade pós-concepção de 36 semanas. Estes achados estão em O surfactante exógeno estimula a síntese do surfactante en-
concordância com estudos anteriores comparando o surfactante dógeno nos RN com DMH, havendo uma relação direta com o
sintético desprovido de proteínas com os surfactantes de origem número de doses usadas (1,3mg/kg/dia por dose de Survanta®).
animal, embora apenas um ensaio clínico usou a abordagem profi-
lática, como foi feito neste estudo. • Inibição do Surfactante
Em relação ao surfactante de origem bovina (SurvantaR) os Um dos grandes problemas da terapia com o surfactante na
autores relataram não haver diferenças significativas quanto à DMH é que pôr volta de 1/3 da RN tratados não respondem
incidência da doença da membrana hialina, no entanto, o luci- dentro de 12-24 hs (65% tem uma resposta imediata e manti-
nactante reduziu significativamente a mortalidade por doença da da; 10-20% apresentam relapso e 15-20% não respondem). Os
membrana hialina aos 14 dias e a mortalidade por todas as ou- inibidores do surfactante diminuem a atividade de superfície,
tras causas na idade pós-concepção de 36 semanas. Os autores sendo muito deles proteínas plasmáticas que entram no espa-
atribuem esta diferença nos resultados a maior concentração de ço alveolar como resultado da maior permeabilidade do pulmão
sinapultide no lucinactante do que a concentração de SP-B no edematoso. Os surfactantes com proteínas apresentam maior
surfactante de origem bovina, que além de baixa, é variável. O resistência aos inibidores.
fato de a sinapultide ter sido desenhada sem os resíduos de tiro- • Mecânica Pulmonar
sina torna-a mais resistente à inativação endógena pelos radicais O mais impressionante efeito de uso do surfactante no RN
livres de oxigênio e proteínas séricas. com DMH necessitando de ventilação mecânica é a significativa
Em relação ao surfactante de origem porcina (CurosurfR), o e imediata melhora da troca gasosa associada com uma rápida
ensaio demonstrou que o lucinactante foi semelhante ao sur- redução das necessidades de oxigênio.
factante de origem porcina na redução da incidência de morte Estudo da Mecânica Pulmonar utilizando Curosurf em doze RN
ou displasia broncopulmonar entre os pré-termos de risco para evidenciou paralelamente melhora na troca gasosa e na mecâ-
desenvolver doença da membrana hialina. Além do mais, a fre- nica pulmonar (a relação Pa02/Fi02 dobrou e a resistência ins-
qüência de complicações da prematuridade não foram signifi- piratória diminuiu após o surfactante, sendo atribuído à maior
cativamente diferentes entre os dois grupos. No entanto, mais reabsorção do fluído pulmonar intersticial, melhora na relação
RN vivos sem displasia broncopulmonar com 28 dias de vida foi ventilação/perfusão conseqüente à resolução da atelectasia pul-
observado com o uso do lucinactante (37,8% versus 33,1%). A monar). A resistência expiratória aumentou após a terapia com o
taxa de mortalidade por todas as causas foi também menor com surfactante (não significativo). Esta tendência associada ao pro-
o uso do SurfaxinR (11,8% versus 16,1%) aos 28 dias de vida. longamento da constante de tempo expiratório implica no possí-
Nenhuma destas diferenças alcançaram significação estatística. vel desenvolvimento de uma PEEP inadvertida que associada ao
Paulo R. Margotto
Assistência ao Recém-Nascido de Risco
PEEP do respirador, pode aumentar o risco de pneumotórax e de As várias concentrações dos surfactantes disponíveis no Brasil
enfisema intersticial. Estes achados implicam que não é suficien- variam de 13,5 a 80mg/ml, correspondendo a uma variação de
te, após a terapia com o surfactante, rapidamente ajustar a Fi02 volume administrada de 1,2 a 5ml/Kg
para evitar a hiperoxemia; é necessário também reduzir a pres-
são do respirador e o fluxo e prolongar o tempo expiratório para Surfactante Dose Volume
evitar o barotrauma. Outros ajustes que se fazem, necessários AlveofactR 50mg/Kg 1,2ml/Kg
são: diminuir o tempo inspiratório e a PEEP.
SurvantaR 100mg/Kg 4ml/Kg
Estudo controlado da mecânica pulmonar realizado em 32 RN
CurosurfR 100mg/Kg 1,25ml/Kg
que receberam surfactante sintético (ExosurfR), não evidenciou be-
nefícios 2 horas após a terapia, sendo evidente 24 horas após a do-
sagem (a complacência dinâmica foi 36% maior em relação ao gru- • Modo de Administração
po controle; resistência pulmonar total diminui 48 e 72 horas após). Todos os surfactantes são administrados via endotraqueal em
Stenson e cl analisaram a complacência respiratória estática um ou mais frações. Setenta a 95% do surfactante natural admi-
em dois grupos de RN que receberam CurosurfR e ExosurfR. Com nistrado como bolus alcança as vias aéreas distais e alvéolos.
três e doze horas após a terapia, a complacência estática no gru- Estudo recente avaliou vários procedimentos de administração
po CurosurfR aumentou 18% e 39% respectivamente, o que não do Survanta: duas frações de doses após a remoção do RN do
ocorreu no grupo do ExosurfR. respirador, duas frações de dose através da válvula de sucção
Estudo de Merchak e cl (2002) concluiu que a modalidade de neonatal sem remoção RN do respirador e quatro frações de
ventilação seja ventilatória de alta freqüência, seja ventilação dose durante a remoção do RN do respirador. Estes procedimen-
convencional, o metabolismo do surfactante foi semelhante. tos foram igualmente seguros e eficazes.
• Idade para o início do tratamento Os efeitos agudos do surfactante tem sido observados após a
A administração precoce resulta numa distribuição mais homogê- instilação da fração de dose. Experiências em animais demons-
nea do surfactante nos espaços aéreos que estão livres de inibido- traram que efusão lenta de surfactante natural (Curosurf) por 5
res protéicos do surfactante, os quais se acumulam nos primeiros minutos, levou a uma distribuição não homogênea nos pulmões e
dias de vida. Vários estudos randomizados evidenciaram que a ad- uma grande redução dos efeitos nas trocas gasosas pulmonares.
ministração precoce diminui a necessidade de ventilação mecânica, A instilação de grandes volumes de surfactante (3-5ml/kg) em
com melhora a sobrevivência neonatal. Por estas razões, utilizamos RN com parâmetros baixo de pressão pode causar obstrução
na Unidade de Neonatologia do HRAS o surfactante (100mg/kg) nas aguda das vias aéreas.
primeiras 2 horas de vida nos RN pré-termos extremos. • Possíveis complicações
O ideal é que use a primeira dose com menos de 2 horas de vida, Pneumotórax: a sua ocorrência nos RN que recebem surfac-
no entanto, se necessário, pode ser usado com 72 horas de vida. tante reflete inadequados parâmetros do respirador após a tera-
Para os recém-nascidos pré-termos extremos (<1000g ao nas- pêutica (com o uso de um surfactante efetivo, ocorrem rápidas e
236 cer), quanto à assistência ventilatória imediata, INTUBAR todos significantes mudanças em Mecânica Pulmonar).
para o surfactante, intubar-surfactante-CPAP nasal todos e CPAP Hemorragia intraventricular (HIV): Metanálise não evidenciou au-
nasal com surfactante seletivo em todos, as evidências mostram mento da HIV no RN tratados com surfactante. No entanto, a análise
que a conduta melhor no momento é iniciar imediatamente ao de dados de dados de uma grande série de RN recebendo surfac-
nascer o CPAP nasal em selo d água; se o RN apresentar neces- tante para a DMH, revelam maior incidência de HIV, grau I e II nos RN
sidade de 02 acima de 45%, deverá ser intubado e receber o sur- que durante os primeiros 30 min. após o tratamento desenvolveram
factante (surfactante seletivo). Os ensaios não demonstraram di- hiperoxemia (a combinação da hiperoxemia arterial e altos níveis
ferença quanto ao desfecho primário (displasia broncopulmonar/ de hipoxantina é prejudicial devido à liberação de radicais livres em
morte com 36 semanas pós-concepção) entre os grupos subme- muitos órgãos, incluindo o cérebro)
tidos a estas 3 estratégias. No entanto, os RN que iniciaram com Hemorragia pulmonar/Persistência do Canal Arterial (PCA):
CPAP nasal tiveram menor necessidade de uso de corticosteróide A hemorragia pulmonar pode ocorrer, neste RN tratados com o
pós-natal, menor índice de intubação e menos dias em ventilação surfactante devido ao aumento da complacência pulmonar e di-
mecânica. Estes achados permitem-nos considerar o uso inicial minuição da resistência vascular, ocorrendo shunt D-E pelo PCA.
do CPAP para estes RN como uma alternativa a rotina de intuba- Os fatores envolvidos: sobrevivência do RN muito imaturos e ven-
ção e surfactante. Cientes de que nem sempre podemos extrapo- tilação do RN com baixas pressões. A estratégia consiste no diag-
lar resultados de ensaios internacionais para a nossa realidade nóstico e tratamento precoce do ductus e diminuir inicialmente a
devido a diferenças nas populações, é importante que avaliemos Fi02. A dopamina modifica o risco de hemorragia pulmonar nos RN
os resultados das nossas condutas (morbimortalidade) para sa- com PCA: os RN que receberam surfactante como tratamento de
bermos, a luz das evidências quando e como podemos mudar as resgate e que não estavam usando dopamina tiveram maior risco
nossas estratégias. Como já se referiu Guinsburg, as evidências para a hemorragia pulmonar se a PCA foi detectado clinicamente.
mudam em decorrer do tempo, pois se não validarmos nossas Portanto, o Surfactante exógeno contendo fosfolípides apro-
condutas podemos causar mais mal do que bem para o recém- priados e proteínas específicas, é uma droga poderosa que pode
nascido. desmamar um RN severamente doente e dependente do ventila-
• Dose dor numa Fi02 de 100% para ar ambiente em menos de 1 hora.
O pool de surfactante endógeno nos espaços alveolares é em Esta rápida e proeminente mudança na função pulmonar impli-
torno de 100mg/kg nos RN saudáveis. Nos RN com DMH, a mé- cam ajustes apropriados no respirador para evitar problemas re-
dia está em torno de 10mg/kg. lacionados à hipoxemia e hiperdistensão pulmonar.
Embora a ótima dose não tem sido claramente definida há uma A aparente superioridade das preparações naturais sobre os sin-
evidência que maiores doses são mais efetivas que as menores. Uma téticos torna necessário um amplo estudo comparativo entre estes
dose inadequada é rapidamente eliminada das vias aéreas ou apri- surfactantes. Este estudo comparativo envolveria vários centros.
sionada nos espaços atelectásicos. Com o desenvolvimento da DMH, Por exemplo, um estudo de 7500 RN (3750 por grupo) seria ne-
a saída para o alvéolo de proteínas séricas inibe o surfactante, sendo cessário para verificar diferença significativa na taxa de morte ou
necessária maior quantidade de surfactante para vencer a inibição. A doença pulmonar crônica com um surfactante versus outro.
maioria dos investigadores recomenda 100mg/kg para tratamento.
Capitulo 07 Distúrbios Respiratórios
Quanto mais precoce o tratamento melhor o prognóstico e uma lavagem pulmonar, utilizando surfactante diluído; a lavagem das
dose de 100mg/Kg é recomendado para todas as preparações. vias aéreas poderia renovar material nocivo dos pulmões, como
O surfactante exógeno parece ser uma droga segura, sem pro- mecônio, neutrófilos, debris proteináceos), hemorragia pulmonar,
blemas e sem efeitos colaterais imunológicos, mesmo após trata- pneumonia pelo Streptococcus do grupo B e hipertensão pulmo-
mento com material contendo proteína de origem animal. nar persistente.
Outros possíveis usos: síndrome da aspiração meconial (a O tratamento da DMH com surfactante natural ou sintético é
nova abordagem da síndrome de aspiração meconial é o uso da agora uma realidade clínica.
237
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Paulo R. Margotto
Assistência ao Recém-Nascido de Risco
Paulo R. Margotto
Hipertensão Pulmonar Persistente (HPP) no RN caracteriza-se acidose. A infecção pelo Streptococcus do grupo B leva a
pela ausência da diminuição fisiológica da pressão da artéria HPP devido ao aumento do tromboxane e leucotrieno, po-
pulmonar ao nascimento, com conseqüente manutenção de um derosos vasoconstritores derivados do ácido aracdônico.
shunt D-E pelo canal arterial e pelo foramen ovale, provocando Belik tem evidenciado nesta condição uma incapacidade
hipoxemia refratária a oxigenioterapia. de relaxamento da musculatura arteriolar pulmonar (4
A pressão na artéria pulmonar do feto está em torno de 60-80 vezes pior) e frisa que o problema não é o excesso de
mmHg caindo para 18-20mmHg (começa a cair a partir da 6ª a contração e sim a inabilidade para relaxar.
8ª hora de via) ao final do 1º dia de vida e continua caindo por •Remodelação da vasculatura pulmonar (excessiva mus-
um certo período de tempo. No RN com HPP, a pressão na artéria cularização): como citado anteriormente, esta excessiva
pulmonar está ao redor de 70-80mmHg, superior a pressão sis- muscularização das arteríolas pulmonares que se esten-
têmica, que está ao redor de 50-55mmHg. de até a zona intra-acinar, ocorre intraútero, tornando
Acredita-se que um em cada 500-1.500 nativivos desenvolve estes bebês incapazes de se adaptarem à vida pós-natal.
HPP e 1 a 4% das admissões na UTI neonatal tem a HPP como Condições que levam a esta remodelação da vasculatura
diagnóstico principal. pulmonar incluem:
1. Stress intrauterino crônico e hipóxia;
Fisiopatologia 2. Fechamento intraútero do canal arterial (pelo uso de
salicilatos pela mãe);
A HPP pode ocorrer secundariamente a alterações na estrutura 3. Idiopático.
vascular, com hiperplasia e hipertrofia da camada muscular, na vi- •Artérias em número diminuindo: Esta condição é obser-
gência de redução do leito vascular pulmonar e, principalmente, vada nas síndromes dos pulmões hipoplásicos:
devido à manutenção do tônus vascular aumentado, que represen- 1. Hérnia diafragmática;
ta a maior parte dos casos. Do ponto de vista anatomopatológico, 2. Hipoplasia pulmonar primária (S. de Potter);
se observa no RN com HPP uma extensão da musculatura lisa ao •Displasia alvéolo capilar (DAC): descrita em 1981 e se
longo das artérias pulmonares, indo até a zona intra-acinar, incluin- caracteriza por vênulas dilatadas e distribuídas em posi-
do alvéolos, ducto alveolar e início dos bronquíolos respiratórios, ções anômalas, diminuição dos capilares peri-alveolares,
com conseqüente aumento da resistência pulmonar e relativa obs- hipertrofia muscular arteriolar. Clinicamente estes RN
238 trução do fluxo sanguíneo. Observe a figura a seguir: parecem ter a tradicional HPP, mas, no entanto, esta do-
ença é fatal, não respondendo a nada, inclusive a ECMO
(oxigenação por membrana extracorpórea) e está asso-
ciada a várias anomalias em mais de 75% dos casos. A
DAC deve ser pensada nos casos de HPP idiopática do
RN, particularmente se houver a necessidade de ECMO
(oxigenação por membrana extracorpórea). O diagnóstico
em vida é possível pela biópsia pulmonar. Uma vez es-
tabelecido o diagnóstico, terapias de alto custo e prova-
velmente inefetivas, como a ECMO podem ser evitadas.
•Obstrução do fluxo: Esta condição ocorre em:
1. Policitemia (aumento da viscosidade sangüínea);
2. Hipertensão venosa pulmonar;
3. Estenose da veia pulmonar;
4. Retorno anômalo total;
5. Estenose mitral congênita;
6. Coarctação da aorta;
reduz o lúmen do vaso levando a um aumento da resis- modelo animal, mas a histologia humana mostra que o
tência vascular pulmonar e com isso acontece o shunt fenômeno é parecido a um modelo que se obtêm atra-
da direita para a esquerda; neste caso, não existe nada vés exposição do animal a hiperoxia 60 a 95% de oxigê-
de errado com a vasculatura; tudo o que ocorre é uma nio por 1 ou 2 semanas): há uma diminuição do alvéolo
constrição do vaso e esse é o tipo de patologia que res- como ocorre na nova displasia broncopulmonar como to-
ponde a vasodilatadores pulmonares; é a única forma de dos vocês já sabem, mas existe também uma diminuição
HP que responde a vasodilatadores pulmonares. da vasculatura pulmonar e isso leva a esse quadro de
aumento da resistência vascular pulmonar simplesmen-
A impressão que temos é que a vasoconstricção única atu- te porque a trama vascular está diminuída ;isso também
almente representa um 1/3 dos casos de HP, ou seja, não é a não responde a vasodilatadores
forma de HP mais comum do RN e é por isso que é tão difícil
tratar a HP. Os RN não respondem aos vasodilatadores como a Quadro Clínico
gente acha que eles deveriam responder e a razão tem haver
com o fato de que não é só a vasoconstricção que está presente. Nos sintomas, o que se evidencia é a cianose, causada pelo
shunt D_E extrapulmonar (canal arterial patente e/ou forame
•Remodelação vascular: tem a ver com a anatomia vas- ovale). A flutuação na Pa02 (40mmHg e depois 100-120mmHg)
cular; as artérias, à medida que se aproximam ao nível descarta cardiopatia congênita.
de alvéolo, a túnica muscular começa a diminuir; a ar- A HPP ocorre em RN de termo e pós-maturos, com história de
téria tem um tecido conectivo; a camada media da ar- complicações perinatais, líquido amniótico tinto de mecônio e as-
téria é muscular e o endotélio é a parte interna do vaso. fixia perinatal. Geralmente estes RN mostram dificuldade respi-
No processo normal de desenvolvimento da vasculatura ratória desproporcional ao quadro hipoxêmico. Pode-se observar
pulmonar, à medida que o vaso se aproxima do alvéolo sopro em decorrência da insuficiência tricúspide.
tem menos e menos músculo a ponto de que ao nível do A HPP ocorre também em RN pré-termo (hoje se sabe que estes
alvéolo os capilares não tem músculo nenhum. No caso RN têm força para fazer uma vasoconstricção na artéria pulmonar).
da HP quando existe a remodelação vascular um dos fe-
nômenos que acontece é a migração ou proliferação de Diagnóstico
músculo a nível de capilares e de vasos muito próximos
do alvéolo e isso levaria a um aumento da capacidade 1. Rx de tórax: não se observam anormalidades caracterís-
de vasoconstricção. A remodelação vascular não é só a ticas. Nos casos graves, podemos observar hipofluxo pulmo-
migração de músculo a nível de periferia; se fosse assim, nar, secundário a vasoconstricção arteriolar pulmonar.
este processo de remodelação vascular também respon- 2. Ecocardiograma bidimensional com Doppler colorido: é
deria a vasodilatadores; o problema é que a histologia o padrão ouro no diagnóstico. Permite a visualização direta
de RN com HP, a camada muscular na remodelação vas- do shunt, bem como avalia a magnitude da hipertensão. 239
cular esta aumentada, existe uma deposição enorme de
colágeno e elastina nesses vasos, obstruindo o lúmen do É importante para o diagnóstico diferencial com as cardiopa-
vaso; este tipo de vaso não vai responder ao óxido nítri- tias congênitas, principalmente com a drenagem anômala total
co porque na verdade o que está diminuindo o lúmen do das veias pulmonares, coarctação da aorta (o diagnóstico é difí-
vaso é o colágeno e elastina; então este tipo de patologia cil, pois o canal arterial está muitas vezes patente e muito aber-
não responde ao vasodilatador to, sendo difícil definir a coarctação da aorta), estenose venosa
pulmonar congênita (raro e pode-se apresentar como um retorno
anômalo do sangue).
Paulo R. Margotto
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a policitemia, a acidose. Cateterizar vasos umbilicais. Manter RN e mínimas quantidades de fosfoglicerol em relação ao RN
exposto a menos luz (cobrir cúpula superior da isolete) e barulho. a termo normal). Assim parece que a HPP está associada
com deficiência de surfactante tanto quanto à inativação
• Assistência Respiratória: O objetivo é manter a pa02 em associação com a Síndrome de Aspiração Meconial.
entre 50-80mmHg, a PaC02 entre 40-60mmHg e o pH ≥ Dose: 200mg/kg e se necessário, uma segunda dose de
7,25. No RN respirando espontaneamente iniciar a oxi- 100mg/kg 12h após.
genioterapia com Fi02 de 100% no Hood. Nos RN com
pa02 < 50 estará indicada a ventilação mecânica com os • Vasodilatador: Óxido Nítrico (NO): A base fisiológica para
seguintes parâmetros iniciais: a queda na resistência vascular pulmonar observada com
o uso do NO reside no fato que o NO é um gás produzido
PIM: 20cmH2O no endotélio vascular através da conversão da arginina
PEEP: +2cmH2O para citrulina por uma enzima chamada NO-sintetase. O
FR: 40mpm NO se difunde pela musculatura lisa do endotélio vascu-
I/E: 1: 2 (insp. 0,5 Seg.; exp. 1 Seg.) lar aumentando o nível intra-celular de GMP (guanidina
mono-fosfato) e promovendo a dilatação da musculatura
Se a pão persistir abaixo de 50mmHg, antes da hiperventila- endotelial. O NO uma vez na corrente sanguínea se com-
ção devemos proceder à alcalinização, pelos riscos da hiperven- bina com a hemoglobina, formando a metahemoglobina,
tilação (volutrauma). sendo assim inativado, esta a razão porque o NO tem
efeito vasodilatador exclusivamente pulmonar.
• Alcalinização: baseia-se no fato de que os vasos pul-
monares diminuem o tônus quando submetidos a pH ≥ Hoje entendemos porque alguns RN não respondem bem ao
7,25. Utilizamos o NaHCO a 8,4%, na razão de 0,5-1,0 NO, sendo a principal explicação a existência de doença parenqui-
mEq/Kg/hora, devendo ser descontado o sódio da hidra- matosa que dificulta a distribuição do NO na periferia do pulmão.
tação venosa. O pH deve ser mantido entre 7,50-7,55. O Havendo um grande shunt intra-pulmonar, a resposta ao NO será
limite máximo de paco aceitável para a alcalinização no boa com o recrutamento pulmonar. A ventilação de alta frequência
RN com HPP deve estar ao redor de 60mmHg. (HFV) tem sido usada no recrutamento do pulmão atelectásico e
tem sido mostrado ser mais eficaz do que a ventilação mecânica
Sedação e Analgesia: para evitar o assincronismo com o respi- convencional na insuficiência respiratória neonatal severa. Outra
rador: fentanil e midazolam. Nos casos em que o bebê não res- causa de má-resposta é a disfunção ventricular esquerda com in-
ponde aos parâmetros convencionais está indicado: suficiência mitral levando a hipertensão venosa pulmonar. O uso
do NO nesta situação seria como se fosse administrar um push de
• Aumentar a PIM para 35cm H2O volume para um paciente com insuficiência cardíaca congestiva.
240 • Aumentar a FR até 75rpm. Portanto, ao fazer uso do NO, é de vital importância que esteja-
mos associados ao cardiologista para obter melhor compreensão de
É da mais alta importância frisar que as mudanças nos parâme- um problema subjacente: o ecocardiograma com Doppler se impõe,
tros ventilatórios devem ser feitas sempre com uma única mudan- sendo útil na determinação do efeito da terapia no shunt extrapul-
ça de cada vez observando a resposta gasométrica e da PSa02. monar. Os pacientes que melhor respondem ao NO são aqueles com
Ao proceder a diminuição dos parâmetros ventilatórios, estes um ecocardiograma anormal (HPP com shunt extrapulmonar).
devem ser feitos de forma gradual (Fi02 de 1% a cada vez) quan- Em alguns RN prematuros com Doença de Membrana Hialina
do a pa02 estiver ≥ 100mmHg. Ao atingir Fi02 de 70% iniciar a tem sido evidenciado deterioração progressiva após terapia com
diminuição das PIM e FR lentamente. surfactante, levando a severa hipertensão pulmonar com shunt
D-E pelo ductus arteriosus, com aumento da mortalidade. A cir-
• Drogas vasoativas: devido à magnitude do shunt Direita- culação pulmonar imatura é responsiva ao NO e baixas doses de
Esquerda estar relacionado com o equilíbrio da resistên- NO inalado podem desempenhar um papel no manuseio do RN
cia vascular sistêmica e pulmonar, está indicado o uso prematuro com severa insuficiência respiratória não-responsiva ao
de droga para aumentar o débito cardíaco e a pressão surfactante, através da melhora da ventilação/perfusão e redução
sistêmica. As drogas mais indicadas são a dopamina e a da resistência vascular pulmonar. No entanto, segundo Aschner,
dobutamina, devendo esta estar sempre associada à do- temos que ter cautela com o uso do NOi pelos riscos potenciais nos
pamina na presença de asfixia severa (a menor resposta RN prematuros, como: -prolongamento do tempo de sangramento
cardíaca a dopamina se deve exaustão das reservas en- (dose dependente) com risco de hemorragia intracraniana; a dimi-
dógenas de noradrenalina que é a via pela qual a dopa- nuição rápida da resistência vascular pulmonar na presença de
mina exerce seus efeitos indiretos cardiovasculares). canal arterial pérvio poderia levar ao aumento da circulação pul-
monar, edema e hemorragia pulmonares; efeitos adversos sobre
Doses: o surfactante. A revisão sistemática de Barringhton incluindo 11
Dopamina 2,5ug/kg/minuto ensaios randomizados e controlados com o uso do NOi em prema-
Peso x dose x 1.440/5.000 turos mostrou: tratamento precoce de resgate com base no crité-
rio de oxigenação não afetou a mortalidade ou as taxas de DBP e
Dobutamina 5ug/kg/minuto mostrou uma tendência ao aumento da hemorragia intracraniana.
Peso x dose x 1.440/2.500 Embora o óxido nítrico seja importante no crescimento pulmonar,
há no momento pouca evidência que o NOi alcance este objetivo.
• Surfactante Pulmonar: há evidência de que a deficiência O uso do NO no prematuro deve ser feito com muito critério, de-
do surfactante contribui para diminuir a complacência vido ao risco de sangramento e da possibilidade de hemorragia
pulmonar e a atelectasia em alguns pacientes com HPP intraventricular (talvez o NO interfira na agregação plaquetária, po-
(os fosfolipídios no aspirado traqueal de 7 RN com HPP dendo piorar o quadro de distúrbio de coagulação). Portanto mais
foram semelhantes àqueles encontrados nos RN com ensaios são necessários para determinar quais prematuros prova-
DMH e ambos os grupos tiveram redução da relação I/E velmente seriam beneficiados ou prejudicados com a terapia pelo
Capitulo 07 Distúrbios Respiratórios
NOi. No momento, o uso do NOi em prematuros para prevenir a utilizando altas doses de NO, segundo Pearl e cl, é devido à es-
displasia broncopulmonar só deve ser utilizado como parte de um timulação da produção de agentes vasoconstrictores como a
estudo controlado randomizado e com consentimento informado ET-1(endotelina-1) pelo óxido nítrico mesmo utilizando doses tão
dos pais e com capacidade de avaliação neurológica a longo prazo. pequenas, como 2ppm. A formação de peroxinitrito (este resulta
da combinação do NO com o 02) que inativa a eNOS (sintetase do
Critérios Para Administração Do Óxido Nítrico NO endotelial) pode ser um outro mecanismo explicativo. O me-
canismo pelo qual o NO estimula a produção da ET-1 é obscuro,
RN com Hipertensão Pulmonar Persistente diagnosticada pela mas tem sido demonstrada indução de expressão gênica.
clínica e ecocardiografia com Doppler colorido evidenciando Metanálise realizada por Oliveira e cl, avaliando o uso do NO
shunt D-E pelo ductus arteriosus e/ou foramen ovale e medida no manuseio da HPP do RN evidenciou: para os RN sem hérnia
da pressão da artéria pulmonar através da regurgitação tricúspi- diafragmática congênita, o NO inalatório não alterou a mortalida-
de com níveis supra-sistêmicos. de (OR:1,04 ; IC; 0,6-1,8), mas a necessidade do uso de ECMO
Índice de Oxigenação (IO) maior que 25 foi significativamente reduzida (OR: 0,73; IC: 0.60-0,90), assim
IO= MAP x Fi02/Pa02 como a melhora da oxigenação. Para todos os RN, não houve
MAP: Mean Air Pressure (Pressão média das vias aéreas) alterações quanto a complicações do SNC e doença pulmonar
crônica. Os estudo avaliados foram os publicados entre janeiro
Administração Do Óxido Nítrico de 1990 a março de 1998. Christou e cl relataram diminuição
da ECMO entre os RN recebendo NO que estavam em ventila-
• Dose inicial: 10 ppm (partes por milhão) em fluxo contí- ção de alta frequência (esta aumenta a efetividade do NO nestes
nuo com o gás conectado ao circuito inspiratório do respi- RN). Clark e cl relataram diminuição significativa do uso de ECMO
rador em Y. Aumentar até no máximo 40 ppm caso o RN com o uso de baixas doses de NOi, mas não houve diferença
não apresente melhora. no follow-up com 1 ano de idade quanto à mortalidade, necessi-
• Avaliação clínica e laboratorial 30 minutos após: me- dade de medicações para doença pulmonar ou necessidade de
tahemoglobina (oxidação do ferro da molécula heme do suplementação de oxigênio e desenvolvimento neurológico. Com
estado ferroso para o férrico e a hemoglobina torna-se o uso de NOi em baixas doses, os autores relataram redução sig-
incapaz de se ligar e transportar o oxigênio, ocasionando nificativa da necessidade de ECMO sem aumento de prognóstico
importante cianose; manter abaixo de 2 mg%: na pre- adverso com 1 ano de idade.
sença de metahemoglobinemia, usar azul de metileno a Objetivo: pa02 50-80; PaC02 40-60; pH ≥ 7,25
1% na dose de 1-2mg/kg endovenoso em 5 minutos) e
dióxido de nitrogênio - N02 (NO em contato com o 02 se Análogos Da Prostaciclina (PGI2).
transforma em N02 que é tóxico, não devendo passar de
2-2,5 ppm), com medições a cada 6 horas no 1o dia e a A prostaciclina (PGI2) é um metabólito do ácido aracdônico,
cada 24 horas nos dias seguintes. formado pela prostaciclin sintetase no endotélio vascular. A PGI 241
estimula a adenilciclase no músculo liso, aumentando o cAMP
Retirada Do Óxido Nítrico intracelular, resultando em vasodilatação. Os RN com HPP com
inadequada resposta ao NO (estes RN podem ter deficiente va-
• Iniciar o desmame 24h após quando a Fi02 estiver entre sodilatação mediada pelo cGMP) podem se beneficiar da PGI
60-70% e pressão inspiratória < 20 cmH2O, diminuindo inalada que atua através do cAMP. A prostaciclina é um vasodi-
de 20 ppm para 15 (em 4h) e para 10 (em 4h). PIM < 25 latador sistêmico e pulmonar potente de ação prolongada. Inibe
cm H2O, PEEP < 5cm H2O e freq resp < 30, reduzir para a agregação plaquetária (é um dado positivo em adultos com
5ppm mantendo por 12h. HP, mas talvez não seja para o RN pelo aumento do risco de
• Alguns autores aumentam a Fi02 ao fazer o desmame para hemorragia intracraniana).
evitar o rebote (aumento do IO com a diminuição do NO): A prostaciclina é a mais nova das terapias para os pacientes com
aumentar a Fi02 para 80-90% e começar a reduzir o NO. HP, sendo que a experiência é maior com a infusão endovenosa
• Para os RN que mantém pa02 < 80mmHg, aumentar NO de epoprostenol (FlolanR). Estudos randomizados têm evidenciado
para 40ppm ou associar Ventilação de alta frequência melhora mantida dos sintomas e mortalidade, mesmo em pacien-
(VAF) com NO a 20ppm. tes sem imediata resposta hemodinâmica. Com o uso desta droga,
aproximadamente 70% dos pacientes com HP foram removidos da
Quanto A Resposta Ao Óxido Nítrico lista de transplante. No entanto, são grandes as dificuldades com
epoprostenol: custo alto, difícil de administrar, vida média de ape-
• 40%, em geral. respondem bem, elevando a 65% quan- nas 3-5 minutos, necessitando de infusão endovenosa contínua.
do associado à alta frequência (esta melhora se deve à Deve ser reconstituída em solução alcalina tampão diariamente
abertura dos alvéolos). e estocada em reservatórios de congelamento, além da necessi-
• 1/3 com resposta parcial e fica dependente do NO (5 dade de acesso venoso central. Os efeitos colaterais incluem: dor
ppm), por vezes, mais de uma semana. na maxila, hipotensão, dor de cabeça, náusea e anorexia. Os pa-
cientes necessitam de doses crescentes da droga para manter a
Estudo experimental recente realizado no Alabama demons- resposta terapêutica. Há estudos evidenciando que a prostaciclina
trou que a administração de NOi (óxido nítrico inalado) pelo Hood inalada pode piorar o shunt intrapulmonar, devido à redistribuição
produziu diminuição da pressão da artéria pulmonar em mais de do fluxo sanguíneo pulmonar de áreas não ventiladas para regiões
50%, assim como a resistência vascular. Ensaios clínicos estão acessíveis ao aerossol. No entanto, esta droga pode salvar vida.
ocorrendo para investigar se esta técnica simples e não invasiva Kelly LK e cl usaram FlorlanR inalado em 4 bebês com HP grave
de administrar o NO é efetiva em RN humanos com HPP. que não responderam ao NOi (óxido nítrico inalatório). A resposta
Grandes estudos randomizados têm evidenciado que apro- foi imediata, sendo que 3 de 4 tiveram uma resposta sustentada
ximadamente 40% dos RN com HPP severa não respondem com queda acentuada do índice de oxigenação (o que não respon-
adequadamente ao NO. Uma explicação do rebote, ou seja, deu foi levado a ECMO-oxigenação por membrana extracorpórea;
piora da oxigenação após a retirada do NO ou a não melhora este morreu 6 dias após e o diagnóstico anatomopatológico foi de
Paulo R. Margotto
Assistência ao Recém-Nascido de Risco
displasia alvéolo-capilar). Os dados são preliminares com número Os resultados com o uso dos inibidores da PDE5, entre os quais
muito pequeno de pacientes, mas é um campo que vale a pena ser o sildenafil, no tratamento da hipertensão pulmonar primária e
pesquisado. A retirada aguda da droga pode levar à morte. A sepse hipertensão pulmonar seguindo a cirurgia cardíaca em adultos e
relacionada ao cateter é outra complicação potencialmente fatal. crianças maiores, com ênfase no seu sinergismo com o óxido ní-
trico inalatório, levaram a possibilidade o uso do sildenafil no tra-
Inibidores Das Fosfodiesterases tamento da hipertensão pulmonar persistente do recém-nascido.
Com base na atual compreensão da base molecular da ação
Sildenafil do sildenafil, mais estudos são necessários para melhor compre-
ensão da ação do sildenafil na HPP do RN. A rota de administra-
O NOi produz, como vimos, a ação vasodilatadora específica ção pode ser um fator-chave determinante do seu uso no RN críti-
pulmonar através do aumento da concentração de 5-monofos- cos (a absorção gastrintestinal pode ser impraticável nestes RN).
fato de guanosina clínica (cGMP) no músculo liso das artérias, Estes RN apresentam riscos de isquemia intestinal secunda-
sendo útil no tratamento da hipertensão pulmonar persistente riamente à hipoxia. A terapia aerossol pode constituir uma dificul-
(HPP) do RN, hipertensão pulmonar primária e hipertensão pul- dade do RN com severa aspiração meconial, não somente pela
monar precoce seguindo a cirurgia cardíaca. Através da ativação necessidade de tratamento contínuo dado a curta ação do silde-
da proteína quinase pela cGMP, há aumento da abertura dos ca- nafil administrado por esta via, mas também devido à limitada
nais cálcio sensíveis ao potássio, havendo hiperpolarização da distribuição na presença de mecônio e exsudato inflamatório. A
membrana com inibição do influxo de cálcio através dos canais formulação endovenosa (EV), no entanto parece mais apropriada
de cálcio tipo- L, ocasionando o relaxamento da musculatura lisa para estes pacientes.
arterial. A cGMP é subseqüentemente inativada pelo fosfodies- Shekerdemian e cl estudaram os efeitos do uso EV do sildenafil
terase tipo 5(PDE 5). na hemodinâmica pulmonar e oxigenação e compararam estes
O uso do NOi tem constituído uma terapia padrão, mas até 30- efeitos com o NOi em um modelo animal (leitões) de hipertensão
40% dos casos falham na resposta, não constituindo assim uma pulmonar neonatal secundária à aspiração de mecônio. Os auto-
simples bala mágica no tratamento da HPP do RN. A vasodila- res instilaram mecônio via traqueal, em 18 leitões; 6 subseqüen-
tação que ocorre com o NOi é transitória, uma vez que o NOi é temente receberam sildenafil EV por 2 horas, 6 receberam NOi
rapidamente (<10seg) degradado na presença de 02, perdendo por 2 horas e 6 animais não receberam intervenção adicional. A
sua bioatividade. A extrema vida média curta do NOi assegura aspiração de mecônio aumentou a resistência vascular pulmo-
que não apresente efeitos adversos sistêmicos. A não resposta nar em 70% e o índice de oxigenação em 100%. Os leitões que
ao NOi se deve a doença parenquimatosa, disfunção cardíaca ou receberam NOi tiveram queda da resistência vascular pulmonar
problemas na sinalização NO-cGMP. em 40% após 2 horas de tratamento; os leitões que receberam
As PDE são enzimas que catalizam a clivagem hidrolítica da sildenafil reverteram por completa à alta resistência vascular
ligação 3’ fosfodiester dos nucleotídeos cíclicos, controlando dentro de 1 hora de infusão. Os animais controles mantiveram
242 os seus níveis intracelulares. Entre as 11 distintas famílias de alta resistência vascular durante todo o estudo. Não se observou
PDE, há um predomínio de PDE5 nas células musculares lisas efeito na hemodinâmica sistêmica. O sildenafil aumentou o débi-
da vasculatura pulmonar, razão pela qual há vários estudos que to cardíaco em 30% mas não prejudicou a oxigenação. Assim, os
exploram o potencial terapêutico dos inibidores da PDE5 na hi- autores concluíram que o sildenafil é um vasodilatador pulmonar
pertensão pulmonar. seletivo e altamente efetivo (tão efetivo quanto o NOi) no presen-
Estudo de Hanson e cl em modelo animal da hipertensão pul- te modelo de hipertensão pulmonar neonatal.
monar fetal tem evidenciado o aumento da atividade da PDE5 e A farmacocinética do sildenafil EV não está determinada. A
que este aumento contribui com a reatividade vascular na hiper- dose usada no modelo de Shekerdemian e cl foi extrapolada de
tensão pulmonar perinatal. doses orais (1-2mg/kg) em pacientes pediátricos e de um pe-
Assim, uma abordagem alternativa ou auxiliar no manuseio queno estudo usando 1mg/kg EV, mas os autores enfatizam a
da HPP do RN pode ser o aumento endógeno da concentração importância de estudos farmacocinéticos na determinação de
da cGMP usando inibidores específicos a PDE5. (esquema a uma dose ideal. Apesar das evidências do sinergismo entre o
seguir): sildenafil e o NOi na potencialização da vasodilatação pulmonar
em crianças maiores com hipertensão pulmonar primária e hi-
NO → ↑ cGMP na musculatura lisa arterial pertensão pulmonar seguindo a cirurgia cardíaca, tal fato não foi
[fosfodiesterase 5 (PDE5) inativa a cGMP] evidenciado no estudo 2004 de Shekerdemian e e cl. Os auto-
↓ res estudaram a interação entre hipertensão pulmonar aguda e
ativa cGMP proteína quinase lesão pulmonar secundária a aspiração meconial em 12 leitões
↓ recém-nascidos: 6 animais (controles) não receberam interven-
↑ abertura dos canais cálcio sensíveis ao potássio inibidores ção após a instilação de mecônio e 6 animais receberam NOi
da PDE5 (20ppm) com sildenafil endovenoso (2mg/kg). Este é um mode-
↓ lo de hipertensão pulmonar aguda com injúria pulmonar aguda
hiperpolarização da membrana sem shunt intracardíaco. O NOi reduziu a pressão média da ar-
↓ téria pulmonar e a resistência vascular pulmonar sem influen-
inibição do influxo de cálcio através dos canais de cálcio tipo- L ciar na oxigenação. A adição do sildenafil reduziu ainda mais a
↑ cGMP que mantém → relaxamento da musculatura lisa pressão média da artéria pulmonar, tendeu a aumentar o débito
arterial. cardíaco e reduziu a resistência vascular pulmonar. No entanto,
os autores relataram que o sildenafil diminuiu a pressão arte-
Figura: Representação esquemática da ação do óxido nítrico na muscula- rial sistêmica e a resistência vascular sistêmica, produzindo uma
tura lisa arterial, ocasionando o relaxamento da musculatura e a ação dos profunda hipoxemia arterial, reduzindo a Pa02de 69 ± 23mmHg
inibidores da fosfodiesterase 5. Shekerdemian LS, Ravn HB, et. Al. Intrave- para 49 ± 15 mmHg, a despeito do aumento do Fi02 e pressão
nous sildenafil lowers pulmonary vascular resistence in a model of neonatal média de vias aéreas. Assim, o índice de oxigenação aumentou
pulmonary hypertension. Am J. Resp. Crit. Care. Med. 2002: 165: 1098-1102. significativamente(p=0,01).
Capitulo 07 Distúrbios Respiratórios
O sinergismo entre o sildenafil e o NOi no tratamento da hiper- de Kleinsasser e cl (após a alta dose de sildenafil) foi atribuída em
tensão pulmonar no modelo de Thusu e cl, nas crianças com hiper- parte à relativa hipoxemia com o uso do sildenafil neste modelo.
tensão pulmonar nos estudos de Atz e Wessel e nos adultos, ocor- Juliana e Abbad relataram imediata melhora da oxigenação
reu sem a concomitância da injúria pulmonar. A interação entre o com subseqüente recuperação completa com o uso de sildenafil
sildenafil e o NOi na presença de lesão pulmonar tem sido pouco (1,5mg/kg) via sonda nasogástrica em um RN com severa HPP.
relatada na literatura. O estudo de Thebaud e cl evidenciou a me- Apesar do RN a termo ter sido ventilado com altas pressões
lhora da vasodilatação pulmonar em RN com HPP por hérnia dia- e ter recebido altas doses de pressores cardiovasculares, a
fragmática congênita não responsiva ao NOi associando o NOi ao Pa02 persistiu baixa com um gradiente alvéolo-arterial de 02 de
dipiridamol, embora a melhora tenha sido transitória e ambos os 651mmHg. Os autores discutem o uso potencial dos inibidores
pacientes tenham falecido (estes autores relataram posteriormen- da PDE5, como o sildenafil, em situações onde não se dispõe do
te que a não-resposta ao NOi na hérnia diafragmática congênita se óxido nítrico e da oxigenação por membrana extracorpórea
deve a uma atividade alterada da guanilil-ciclase). Recentemente, Namachivayam e cl investigaram o papel do sildenafil na pre-
Keller e cl relataram estabilização e a retirada do NOi com o uso do venção do rebote (aumento de 20% ou mais da pressão na arté-
sildenafil em uma criança com 7 semanas de idade com hiperten- ria pulmonar ou falha na descontinuação do NOi) em pacientes
são pulmonar por hérnia diafragmática congênita. em que não se havia feito ainda tentativa de desmame do
Bigatello e cl relataram diminuição do shunt intracardíaco D-E NOi. O estudo foi randomizado para receber sildenafil na dose de
em um paciente adulto (52 anos) com severa fibrose intersticial 0,4mg/kg ou placebo uma hora antes da descontinuação do NOi
pulmonar e hipertensão pulmonar que estava em uso de NOi. A e envolveu 29 crianças e RN. O rebote ocorreu em 10/14 pacien-
Pa02 aumentou em 76% com o NOi, 40% com o sildenafil isolado tes do grupo placebo versus 0/15 pacientes do grupo do sildena-
e 112% com o sildenafil associado ao NOi. No entanto, Adrie e cl fil. (p<0,001). A pressão da artéria pulmonar aumentou em 25%
evidenciaram piora da resposta ao NOi com o uso do zaprinast no grupo placebo versus 1% no grupo do sildenafil (p<0,001).
em um modelo animal de lesão pulmonar aguda, sugerindo que Todos os RN do grupo sildenafil foram desmamados do NOi. No
o inibidor da fosfodiesterase induz vasodilatação difusa em regi- grupo placebo, 4 não puderam ser desmamados devido à severa
ões pobremente ventiladas, abolindo assim os efeitos benéficos instabilidade cardiovascular (p=0,042). A duração da ventilação
observados com o uso do NOi isolado. também foi menor no grupo do sildenafil (98 versus 28,2 horas;
O mecanismo pelo qual o uso de um inibidor da fosfodiesterase p<0,024). Com estes resultados, os autores levantam a possibi-
associado ao NOi piora a oxigenação nos casos de hipertensão lidade de uso do sildenafil no desmame dos pacientes do NOi.
pulmonar aguda e injúria pulmonar sem shunt intracardíaco, pro- Em 2006, Baquero e cl realizaram um estudo randomizado e
vavelmente se deva à redireção do fluxo sangüíneo de regiões cego envolvendo 13 RN com severa HPP e índice de oxigenação
ventiladas e seletivamente dilatadas pelo NOi para regiões não (IO) >25 com menos de 3 dias de vida e idade gestacional acima
ventiladas. A conseqüência deste fato é o aumento do shunt in- de 35,5 semanas, dos quais 7 RN receberam sildenafil e 6 rece-
trapulmonar, com exarcebação da hipoxemia arterial. beram placebo, com uma idade média de 25 horas. A solução
Shekerdemian e cl atribuíram a este mecanismo a piora da de sildenafil foi preparada a partir de comprimidos de 50mg. A 243
oxigenação observada no modelo de hipertensão pulmonar ne- primeira dose (1mg/kg) ou placebo foi administrado por sonda
onatal seguindo a aspiração meconial tratado com sildenafil e orogástrica com menos de 30 minutos após a randomização e
NOi. Tais fatos não ocorreram no idêntico modelo destes autores, a cada 6 horas. No grupo tratado, o IO melhorou em todos no
quando o sildenafil foi usado isoladamente, não sendo observa- período de 6 a 30 horas e nenhum apresentou efeito na pressão
das mudanças significativas na hemodinâmica. arterial sistêmica. Do grupo tratado, 6 de 7 sobreviveram e no
Segundo Belik, esta incongruência aparente do sildenafil tem grupo placebo, 1 de 6 sobreviveu.
a ver com a resposta à hipoxia. O que acontece em um quadro
de membrana hialina e em um quadro de aspiração de mecônio Interação Com Outras Drogas
é que existem áreas que estão cheias de mecônio ou seja, não
estão sendo ventiladas, são hipóxicas, quer dizer, não é porque Devido à habilidade do sildenafil em inibir a atividade enzimá-
se está administrando concentrações baixas de oxigênio para o tica do citocromo P3A4, esta droga não deve ser administrada
RN. O fato de que certos alvéolos estão cheios de mecônio faz com antifúngicos azoles, claritromicina, eritromicina e inibidores
com que esse alvéolo seja hipóxico, com relação a outros alvéo- da protease, como o indinavir, ritonavir e saquinavir. A adminis-
los, adequadamente ventilados. O que nossa fisiologia vascular tração com a cimetidina, um inibidor enzimático não específico,
pulmonar faz para aumentar a oxigenação é contrair ou fechar aumenta as concentrações plasmáticas do sildenafil em aproxi-
ou diminuir o fluxo de sangue para essas áreas hipóxicas e au- madamente 50%. A rifampicina, um indutor do citocromo P3A4,
mentar o fluxo de sangue pra essas áreas não hipóxicas. Então diminui os níveis de sildenafil. A administração concomitante com
a vasoconstricção pulmonar em resposta a hipoxia tende a outros agentes antihipertensivos, incluindo nitratos, agentes blo-
aumentar o fluxo para áreas que realmente podem permitir a queadores alfa e bloqueadores de canais de cálcio tais como a
oxigenação de sangue. amlodipine e nifedipine, pode resultar em hipotensão excessiva.
Em situações clinicas crônicas, muitos trabalhos mostrando
que o sildenafil melhora, o que provavelmente acontece, e já exis- Efeitos Adversos
tem dados animais bem recentes, de que com displasia pulmo-
nar ou quadros crônicos, essa resposta vasoconstrictora é dimi- Entre os efeitos colaterais, do sildenafil, se destacam os efeitos
nuída ou está quase ausente. Em um quadro desses o sildenafil oculares como o risco potencial de lesão da retina (retinite pig-
levaria a uma melhora da Pa02, porque já não existe mais essa mentosa), sobretudo nos indivíduos com mutação nos genes que
vasoconstricção a nível de áreas que estão sendo pouco ventila- codificam a fosfodiesterase. Os efeitos da sildenafil na circulação
das, porém agudamente levaria a uma piora. Isto talvez explique ocular têm sido controversos, tendo sido evidenciado aumento
porque em certos estudos terapêuticos mostram melhora e em do fluxo sanguíneo na vasculatura ocular (aproximadamente 1/3
outros estudos mostram piora. em relação à linha de base) e outros não evidenciando alterações
A diminuição da pressão arterial sistêmica no 2° estudo de do fluxo sanguíneo coroidal, além de não ter sido demonstrado
Shekerdemian e cl, também relatada nos estudos de Weimann e qualquer efeito no calibre vascular retinal. Em 2004, Marsh e cl
cl (queda de 12% após dose acumulativa máxima do sildenafil) e relataram um caso de severa retinopatia da prematuridade (RP)
Paulo R. Margotto
Assistência ao Recém-Nascido de Risco
em um RN pré-termo de 26 semanas com peso ao nascer de há várias considerações que necessitam de esclarecimento an-
525g com hipertensão pulmonar persistente que fez uso de sil- tes da sua indicação no recém-nascido, como:
denafil. O RN fez uso de 16 dias da droga, a partir de 31semanas
e 5 dias de idade gestacional até 38ª semana de idade gesta- 1. Falta de dados a respeito das interações da PDE5 e
cional pós-concepção, em conjunto com o NOi. O RN apresentou sua distribuição nos tecidos não pulmonares nos RN;
melhora, havendo redução da necessidade de 02 de 100% para 2. Há necessidade de avaliação dos efeitos do sildenafil
30-40%. O exame oftalmológico (realizado semanalmente a par- na função cardíaca, trocas gasosas e na hemodinâmica
tir de 31 semanas) não detectou retinopatia da prematuridade, sistêmica, principalmente no RN com sepse;
inclusive na 33ª semana de gestação, sendo a RP detectada com 3. O sildenafil pode não ter papel na terapia de resgate
34 semanas de gestação (RP-III). O tratamento foi realizado com quando o NOi falhar, principalmente na severa doença
fotocoagulação a laser, havendo regressão da RP. Os autores re- parenquimatosa pulmonar;
lataram ainda, ter observado um recente aumento da RP na sua 4. Os efeitos colaterais, principalmente na circulação ocu-
Unidade, coincidindo com o uso do sildenafil. O acúmulo de NO e lar com maior risco de lesão retinal, como a retinopatia
cGMP causados pela inibição da fosfodiesterase 5 tem sido pro- da prematuridade, devem ser melhor esclarecidos.
posto exercer um efeito proliferativo nas vênulas pós-capilares
da retina. Outro efeito relatado com o uso do sildenafil, em pa- Assim, os ensaios clínicos randomizados e controlados são ne-
cientes adultos, tem sido a dor de cabeça. Os efeitos centrais cessários para determinar a segurança, a eficácia e o prognóstico
do sildenafil têm sido atribuídos ao relato recente da presença dos RN com HPP recebendo sildenafil.
de PDE5 no tecido cerebral, principalmente no cerebelo e hipo- Estudos farmacocinéticos são necessários na definição da me-
campo e no gânglio cervical superior. Interessante que os autores lhor dose e a via de administração. Os estudos clínicos devem ser
não detectaram dilatação da artéria cerebral média (o aumento desenhados no sentido de avaliar a eficácia do sildenafil como
da cGMP nas células musculares lisas das artérias cerebrais não um agente sinérgico com o NOi no tratamento da HPP do RN.
foi suficiente para uma resposta vasodilatadora, provavelmente Outros objetivos devem ser buscados, como a melhora da oxige-
pelos baixos níveis de produção de cGMP nas artérias cerebrais nação, a efetiva dose do NOi, a duração do desmame do NOi e a
ou devido a sua rápida eliminação pelas outras fosfosdiesterase incidência do rebote da hipertensão pulmonar.
não PDE5 ou a PDE5 nas artérias cerebrais pode ser uma isofor-
ma que não é suficientemente inibida pelo sildenafil ou ainda, Milrinona
o sildenafil pode não ter uma boa distribuição nas células mus-
culares lisas das artérias cerebrais). Assim, os autores propõem A milrinona, inibidor seletivo da fosfodiesterase tipo 3 (PDE 3)
que o local de ação do sildenafil na indução de dor de cabeça nos miócitos cardíacos e musculatura lisa vascular têm mostrado
ocorra nos terminais sensoriais das fibras nervosas perivascula- reduzir a resistência vascular pulmonar e a pressão da artéria
res (sensibilização e hiperexcitabilidade dos terminais sensoriais pulmonar em modelos experimentais de hipertensão pulmonar,
244 perivasculares ou dos neurônios sensoriais de primeira ordem). em adultos humanos e em RN pós-cirurgia cardíaca. A milrinona
Esta hipótese parece consistente com estudos prévios eviden- é um composto bipiridinico que seletivamente inibe a PDE III. No
ciando que o sildenafil atua não somente nas células musculares pós-operatório de cirurgia cardíaca a milrinona profilática é alta-
lisas vasculares, mas também nas fibras nervosas sensoriais na mente efetiva na reversão da síndrome do baixo débito e melhora
estimulação da ereção peniana. a hemodinâmica pulmonar nestas crianças. Tradicionalmente os
A dor de cabeça é tipicamente bilateral, frontotemporal, pulsátil médicos são relutantes para tratar HPP com agentes redutores
ou agravada pela atividade física, começando tipicamente dentro da pós-carga devido à preocupação com a hipotensão sistêmica
de 5 horas e dura em torno de 72 horas após a exposição à droga. e o desejo de mantê-la acima da pressão arterial normal na ten-
O uso do sildenafil deve ser feito com cuidado nos pacientes tativa de reverter o shunt ductal. Esta abordagem não focaliza o
com altos níveis circulantes de cGMP, tais como aqueles com sep- distúrbio fisiológico primário do leito vascular pulmonar levando
se, nos quais pequenas concentrações de inibidor de PDE5 podem ao aumento da pós-carga ventricular direita que pode resultar em
precipitar significante hipotensão. Pacientes com disfunção hepáti- prejuízo por várias razões. Primeiro a hipertensão pulmonar pode
ca, podem apresentar redução do clearance do sildenafil, uma vez ser assim tão severa que a tentativa de super excedê-la pode
que esta droga é eliminada primariamente pelo fígado. exigir altas doses de vasopressores. Agentes usados para este
fim, como dopamina e epinefrina causam tanto vasoconstricção
Recomendações De Doses periférica como pulmonar, podendo assim exacerbar a hiper-
tensão pulmonar. Segundo, estes agentes induzem taquicardia
Baseado nos casos relatados e nos estudos conduzidos com o e alteram o equilíbrio do metabolismo celular, em particular do
sildenafil até a presente data, dose inicial por via oral de 0,5mg/ miocárdio, aumentando a demanda de 02 ao mesmo, aumentan-
kg/dose de 8/8 horas, aumentando para 1-2mg/kg/dose de do potencialmente a probabilidade de apoptose e necrose das
4/4 horas para o efeito desejado é recomendada para os pacien- células do miocárdio. Finalmente, em alguns pacientes, o ductus
tes pediátricos com hipertensão pulmonar.. Embora a dose máxi- pode não estar patente.
ma não tem sido determinada, dose acima de 2mg/Kg/dose de McNamara e cl conduziram um estudo retrospectivo na Unida-
6/6 horas pode não provê benefícios adicionais. Não havendo de de Terapia Intensiva Neonatal do Hospital for Sick Children,
resposta ou ocorrência de hipotensão arterial, descontinuar o Toronto, Canadá. Entre janeiro de 2002 e abril de 2004 os RN
tratamento após 6-8 doses. com severa HPP que respondiam mal ao NOi foram tratados com
Recentemente, Mourani e cl usaram estas doses em 25 crian- um vasodilatador alternativo que foi a milrinona endovenosa.
ças no tratamento de hipertensão pulmonar por displasia bron- A milrinona (milrinone lactato- 10mg/10 ml-NovopharmR) foi
copulmonar com início médio aos 184 dias (14 a 673 dias), com usada na dose de 0,33micrograma/Kg/minuto. Não foi feita
média de duração de 241 dias (28 a 950 dias). Aos 40 dias de dose de ataque pelo risco de hipotensão sistêmica. A dose foi
uso, 88% apresentaram melhora hemodinâmica, com redução controlada de acordo com a resposta clínica, com aumento de
significativa da hipertensão pulmonar. 0,33 a no máximo 0,99 microgramas/Kg/minuto.
Portanto, o sildenafil parece constituir um dos mais promisso- O IO foi significativamente reduzido após o tratamento com a
res inibidores de PDE5 no tratamento da HPP do RN. No entanto, milrinona, principalmente nas primeiras 24 horas de tratamento
Capitulo 07 Distúrbios Respiratórios
(média de 8,0 +-6,6 – p<0,001.Houve uma significante melho- são pulmonar que o uso do bosentan pode oferecer uma opção
ra na freqüência cardíaca. Os RN que receberam milrinona não terapêutica para pacientes com hipertensão pulmonar grave.
desenvolveram hipotensão arterial, havendo inclusive uma ten- Estudo recente (2011) de Mohamed e Ismail, (randmizado,
dência não significante, deles apresentarem melhora da pressão cego e controlado com grupo pacebo) mostrou que o bosentan
arterial. Com estes resultados os autores concluem que a o uso é seguro e eficaz no tratamento da hipertensão pulmonar (houve
de milrinona endovenosa melhora a oxigenação sem comprome- uma resposta favorável no grupo tratado em 87,5% versus 20%
ter a pressão sangüínea sistêmica. no grupo placebo). A solução bosentam foi preparada a partir de
Os resultados favoráveis encontrados neste estudo não pos- um comprimido de 125 mg, que foi dividido em um quarto e en-
sibilita-nos afirmar que é um resultado de um efeito direto da tão dissolvido em água estéril de 10 ml (3 mg em 1 ml). Foram
milrinona no leito vascular pulmonar ou pelo seu potencial siner- administrados por sonda orogástrica aos RN bosentan (1mg/kg
gismo com o NOi ou pela melhora no desempenho do miocárdio. duas vezes ao dia) ou volume igual de solvente (grupo placebo),
Teoricamente, pela redução da pós-carga pulmonar, melhorando seguido da administração de 1 ml
a complacência do ventrículo direito e aumentando a contratilida- De água estéril para assegurar que a dose chegou efectiva-
de do miocárdio, a milrinona melhora o enchimento passivo ven- mente ao estômago. O recipiente de drogas e a sonda oro-gás-
tricular esquerdo e por conseqüência, aumenta o débito cardíaco trica foram cobertos por uma cobertura opaca. Não há estudos
e a estabilidade da pressão arterial sistêmica. sobre a farmacocinética do bosentan na população neonatal, e
há apenas uma experiência limitada com doses e intervalo tem-
Bloqueadores Da Endotelina pos de bosentan em recém-nascidos com HPP. Portanto, a dose e
o intervalo utilizado neste estudo foram com bases em em doses
A endotelina é uma família de peptídeos produzidos pelo en- utilizadas com suscesso em estudos anteriores.
dotélio vascular e que tem ação predominante vasoconstritora Em 2006 foi demonstrado que o uso de antagonista seletivo
e provavelmente é um dos mais potentes vasoconstritores da do receptor da endotelina-A em adultos com hipertensão pulmo-
musculatura pulmonar; tem ação mitogênica, ou seja, aumen- nar melhora as condições clínicas (as alterações das enzimas
ta a proliferação muscular. Existem 2 receptores nas células do hepáticas foram menores com o sitaxsentan em relação ao bo-
músculo liso que são o receptor A (leva a constrição dos vasos sentan). O sitaxsentan só bloqueia a endotelina-A que pode ser
pulmonares) e os receptores B: o B1 leva a dilatação dos vasos vantajoso, mas há poucos dados sobre esta droga.
pulmonares e o B2 leva a vasoconstrição pulmonar. Estudamos o É importante que saibamos que o NOi é a terapêutica mais usada
que bloqueia o receptor A da endotelina e deixamos o receptor B e efetiva, sendo considerado o tratamento padrão. As novas drogas
livre. Nós sabemos que a parte mais importante da vasculatura discutidas (bloqueadores de endotelina, inibidores das fosfodieste-
pulmonar é a vasodilatação. O receptor B2 da endotelina existe rases e bloqueadores da endotelina) estão em fase de estudo.
pouco na vasculatura pulmonar; existe muito mais na vasculatu- Como novas fronteiras continuam sendo exploradas no manu-
ra sistêmica. A endothelin-converting enzyme media a conversão seio da HPP do RN, os análogos da prostaciclina, os inibidores
da pró-endotelina de baixa potência para a potente endotelina- das PDE III e V, entre os quais a milrinona e o sildenafil, respec- 245
1(ET-1) que vai atuar nos dois receptores A e B como falamos. tivamente, podem vir a constituir mais uma opção no manuseio
Têm sido descritos aumentos dos níveis de ET-1 na hipertensão do RN com HPP, doença que tem sido rotulada por Walsh-Sukys,
pulmonar de várias etiologias nas crianças. Existe ainda a função como uma caixa preta.
da endotelina atuando no receptor B que pode ser outra via que
vai levar a uma vasodilatação e uma endoproliferação. Usamos Bibliografia
primeiro o inibidor da endothelin-converting enzime (phospho-
• GUPTA A, RASTOGI S, e cl. Inhaled nitric oxide and gentle ventilation in the treatment of
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tensão pulmonar, pois queríamos primeiro bloquear a produção
• SADIQ HF, MANTYCH G, e cl. Inhaled nitric oxide in the treatment of moderate persistent
da endotelina e demonstramos que existe uma diminuição da pulmonary hypertension of the newborn: a randomized controlled, multicenter trial. J Pe-
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resistência vascular pulmonar importante (nestes modelos com • AMBALAVANAN N, ST. JOHN E, e cl. Feasibility of nitric oxide administration by oxygen hood
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III do estudo em adulto. Todos os animais que receberam o blo- • TIBBALLS J, CHOW CW. Incidence of alveolar capillar dysplasia in severe idiopathic persis-
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versus 25% no grupo placebo (p<0,001). Estes dados sugerem • OLIVEIRA CA, TROSTER E, PEREIRA CR. Inhaled nitric oxide in the management of persis-
que o aumento dos níveis de ET-1 media, em parte, a hiperten- tent pulmonary hypertension of the newborn: a meta-analysis. Rev Hosp Clin Fac Med Sao
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são pulmonar induzida pelo Streptococcus do Grupo B. O grande • GAROLA RE, THIBEAULT DW. Alveolar capillary dysplasia with and without misalignment of
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problema desta droga que foi demonstrada nesta fase foi a alte- • CRISTOU H, VAN MARTER LJ, e cl. Inhaled nitric oxide reduces the need for extracorporeal
ração das enzimas hepáticas. Nos nossos casos experimentais, membrane oxygenation in infants with persistent pulmonary hypertension of the newborn.
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demonstramos diminuição da pressão pulmonar sem alteração • CLARK HR, HUCKABY JL, e cl. Low-dose nitric oxide therapy for persistent pulmonary hyper-
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ras). O uso em nebulização diminui a hipertensão pulmonar, mas (disponível no site www.paulomargotto.com.br).
com o tempo ela volta e observamos também uma redução da • SHEKERDEMIAN LS, RAVN HB, e cl. Intravenous sildenafil lowers pulmonary vascular
resistance in a model of neonatal pulmonary hypertension. Am J Resp Crit Care Med
pressão sistêmica, provavelmente pelos metabólitos desta droga. 165:1.098, 2002.
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Clinicamente o que tem sido usado é o bloqueador inespecífico sion of the newborn: a review. Pedriatr Pulmonol 36:529, 2003.
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bosentan em crianças com hipertensão pulmonar demonstraram sodilator in patients with pulmonary arterial hypertension: comparison with inhaled nitric
oxide. Circulation 105:2.398, 2002.
que esta droga por via oral melhora as condições clínicas destas • ATZ AM, WESSEL DL. Sildenafil ameliorates effects of inhaled nitric oxide withdrawal. Anes-
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crianças sem efeitos colaterais, sendo seguro e eficaz. Mais re- • THEBAUD B, SAIZOU C, e cl. Dypiridamole, a cCMP phosphodiesterase inhibitor, transiently
centemente em 2005, demonstraram em adultos com hiperten- improves the response to inhaled nitric oxide in two newborns with congenital diaphragma-
tic Hérnia. Intensive Care Med 25:3003, 1999.
Paulo R. Margotto
Assistência ao Recém-Nascido de Risco
Paulo R. Margotto
A hemorragia pulmonar é definida pela presença de secreção pulmonar em 20%) com aumento do shunt E-D pelo canal arterial
tinta de sangue na sucção do tubo endotraqueal, acompanhado pérvio (PCA) e desenvolvimento de edema pulmonar hemorrági-
por um aumento no índice de oxigenação maior que 100% do va- co. A presença do canal arterial pérvio em RN que recebeu sur-
lor imediatamente antes da ocorrência da hemorragia pulmonar. factante pulmonar esteve significativamente associado com o iní-
Maciça hemorragia pulmonar no RN freqüentemente está as- cio da hemorragia pulmonar, sendo esta associação modificada
sociada à Doença da Membrana Hialina, podendo ser, freqüente- pelo uso da dopamina (menor incidência de hemorragia nos RN
mente indistinguível desta do ponto de vista radiológico. A incidên- com PCA em uso de dopamina), o que sugere que a hipotensão
cia no período neonatal varia de 0.8 a 1.2/1000 nascidos vivos. arterial produzida pela presença da PCA podendo atuar como um
A mortalidade após a hemorragia pulmonar é alta (75 –90 fator causal da hemorragia pulmonar; por outro lado, a PCA sin-
%), embora a hemorragia pulmonar não aumenta significativa- tomático e a hipotensão poderiam simplesmente ser indicadores
mente o risco de alterações tardias, pulmonar e desabilidades da presença de citocinas e outros mediadores vasoativos respon-
neurocomportamentais. sáveis pela alteração da integridade da vasculatura pulmonar.
O uso profilático de indometacina, iniciado nas primeiras 24h
Fisiopatologia de vida nos RN < 1250g que recebem surfactante diminuiu signi-
ficativamente a incidência de shunt E-D pela PCA e a hemorragia
Pelo fato do hematócrito do sangue proveniente do pulmão pulmonar severa (OR = 0.54, 95% IC: 0.30-0.96: ou seja, diminui
acometido na hemorragia pulmonar ser mais baixo que o hema- a incidência de hemorragia pulmonar em 46%).
tócrito do sangue (geralmente < 10 %) fortalece o conceito de que
a maioria destas crianças tem edema pulmonar hemorrágico. As- Clínica
sim, imagina-se que a hemorragia pulmonar neonatal resulte de
choque, hipóxia e acidose que levam a insuficiência ventricular O curso clínico envolve rápida deterioração da função respira-
esquerda com aumento da pressão capilar e conseqüentemente, tória, com hipoxemia progressiva, hipercapnia, bradicardia, ap-
edema pulmonar hemorrágica. O aumento da tensão superficial néia, palidez ou choque podendo sucumbir rapidamente.
causada pela hiperinsuflação e anormalidades na matriz de su- Em muitos RN, o diagnóstico pode ser suspeito por um infiltra-
porte destes capilares, associado ao aumento da pressão a que do difuso com opacificação dos campos pulmonares ao RX (Fig
são submetidos, tornam os capilares pulmonares pronos a rutu- 1), sem evidência de sangue no tubo endotraqueal. Na autópsia
ra. Fatores que predispõem ao aumento da pressão capilar nos destes bebês, os pulmões aparecem grosseiramente hemorrá- 247
RN com edema hemorrágico incluem aqueles que favorecem a gicos e pesados e histologicamente é evidenciado hemorragia
filtração de fluídos, como a hipoproteinemia, a excessiva trans- intra-alveolar, principalmente nos RN prematuros extremos que
fusão e aqueles que causam lesão do tecido pulmonar, como a receberam surfactante pulmonar.
infecção, a Doença da Membrana Hialina, a ventilação mecânica
é a excessiva administração de oxigênio.
Fatores De Risco
Paulo R. Margotto
Assistência ao Recém-Nascido de Risco
4. Estratégia ventilatória:
• ventilação convencional: aumento da PEEP (≥ 6 cm H2O)
• ventilação de alta frequência (jato ou oscilação), quando
Pa02/PA02 < 0.2, PEEP ≥ 8 cmH2O, PaC02 ≥ 60 mmHg
com pH < 7.25 sob ventilação convencional.
248 Bibliografia
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Acesso em 20/11/11.
Capitulo 07 Distúrbios Respiratórios
Paulo R. Margotto
Paulo R. Margotto
Assistência ao Recém-Nascido de Risco
Displasia Broncopulmonar Atípica promoção da DBP, os RN de maior risco para apresentar DBP
foram àqueles expostos a corioamnionite e a ventilação mecâni-
Na classificação da displasia broncopulmonar, deve incluir a ca acima de 7 dias (OR de 3,2; IC a 95%: 0,9-11) ou a infecção
Displasia broncopulmonar atípica que se caracteriza por descon- pós-natal (OR de 2,9; IC a 95%:1,1-7,4). Ou seja: a infecção pré-
forto agudo, período assintomático e depois necessidade de oxi- natal ou a inflamação reduz o risco de DBP somente se o RN pré-
gênio suplementar até no mínimo 28 dias de vida. termo não for ventilado por vários dias ou não apresentar sepse.
Muitos bebes pré-termos não desenvolvem a doença da mem- A corioamnionite isolada protege da DBP, mas corioamnionite
brana hialina, no entanto, vão apresentar displasia broncopulmo- juntamente com a ventilação mecânica prolongada parece ser
nar. Por quê? Qualquer infecção neonatal é uma parte da expli- pior do que a ventilação mecânica isolada. A duração da ventila-
cação do que ocorre. ção mecânica é o marcador da efetividade da corioamnionite em
O estudo de Charafeddine e cl teve como objetivo determinar, reduzir o risco da displasia broncopulmonar.
na era pós-surfactante, a incidência e características clínicas dos Uma vez que a ventilação mecânica é iniciada, estudos em
RN com displasia broncopulmonar atípica, chamada displasia animais indicam que a inflamação é inevitavelmente iniciada.
broncopulmonar do “desenvolvimento” (ocorre sem doenças da Esta inflamação é caracterizada pela ativação de granulócitos
membrana hialina prévia ou após a melhora da doença da mem- e macrófagos que atingem a via aérea, havendo produção de
brana hialina) versus os RN com displasia broncopulmonar clás- mediadores pró-inflamatórios (interleucinas 6 e 8 e TNF-alfa) pe-
sica (o RN requer suplementação de oxigênio desde o nascimen- las células e tecidos pulmonares. Este processo inflamatório é
to até 28 dias de vida), entre 232 RN com peso ao nascer menor evidente dentro de horas após o início da ventilação mecânica
que 1251g ao nascer. Entre os 177 RN que sobreviveram aos 28 em ovelhas prematuras, podendo esta inflamação persistir por
dias, os autores relataram que 27 RN (15%) apresentaram displa- semanas. Os pulmões destas ovelhas apresentaram completa
sia broncopulmonar do “desenvolvimento”. Entre estes RN com parada de septação alveolar e impressionante inibição do desen-
displasia broncopulmonar atípica, 4% não apresentaram doença volvimento vascular.Estas alterações ocorreram tanto na venti-
da membrana hialina e requereram suplementação de oxigênio lação com alto volume corrente, como na ventilação com baixo
com 6 ou mais dias de vida e subseqüentemente desenvolve- volume corrente.O conceito corrente é que os mediadores pró-
ram um RX de tórax anormal; 11% recuperaram-se da doença da inflamatórios interferem com a septação alveolar.
membrana hialina, permaneceram em ar ambiente por 72 horas, Muitos RN recebem ventilação mecânica ma sala de parto de
mas requereram oxigênio até 28 dias de vida e apresentaram um maneira não controlada. Nos EUA, a taxas de intubação na sala de
RX de tórax anormal. Segundo Jobe, clinicamente, muitas vezes, parto varia de 15 a 75% entre os RN de 5001 a 1000g (interessan-
não diagnosticamos pneumonia em recém-nascidos de muito te que nos Centros em que ocorre mais intubação, a incidência de
baixo peso ao nascer, (ou tem doença da membrana hialina ou displasia broncopulmonar é maior). O uso do CPAP nasal precoce
tem pulmões normais e estes, provavelmente foram expostos à permite o pulmão fazer a transição da vida intrauterina para a ex-
inflamação). Estes não vão ter pneumonia, porque se acredita tra-uterina sem iniciar a resposta pró-inflamatória, embora sejam
250 que eles aprenderam a suprimir a resposta inflamatória. necessários mais estudos para esta confirmação.
O uso de ventilação com altos volumes correntes sem PEEP ou
Patogênese com PEEP muito altas resultou em volubarotrauma (volutrauma)
e com conseqüente iniciação da resposta inflamatória.
O Papel Das Citocinas Pró-Inflamatórias Se um RN necessita de ser entubado, devemos sempre nos
perguntar: quais são os objetivos da ventilação. Aceitar PaC02 en-
As citocinas pró-inflamatórias promovem o amadurecimento tre 50-55 mmHg (hipercapnia permissiva) é uma forma de ven-
pulmonar por um efeito direto no trato respiratório em desenvol- tilar estes RN menos agressivamente, além do papel protetor da
vimento, atuando como sinalizadoras durante o desenvolvimento hipercapnia sobre o dano pulmonar.
pulmonar. A corioamnionite modifica o perfil da resposta do pul- A estabilidade alveolar inadequada e atelectasias (atelectrau-
mão do pré-termo quando este receber um segundo estímulo, ma: perda do recrutamento alveolar) assim como o volutrauma
principalmente a ventilação mecânica, 02 e sepse pós-natal. Es- são grandes causas de injúria pulmonar. O recrutamento de vo-
tas respostas são acompanhadas de um aumento da expressão lumes pulmonares protege contra a injúria induzida pela ventila-
de citocinas pró-inflamatórias (IL-6, IL-8, IL-1- β). Bohrer e cl evi- ção, além de reduzir a necessidade de altas Fi02. A maior causa
denciaram aumento de citocinas pró-inflamatórias com 2 horas da injúria induzida pela ventilação é a distensão regional de alvé-
de ventilação mecânica (interleucina 1-8, 2 vezes; interleucina olos ou de vias aéreas. O aumento excessivo de volume e não de
1-β 7,5 vezes; TNF-α, 10 vezes e diminuição da interleucina-10, pressão é que promove a injúria. Altos volumes correntes causam
interleucina antiinflamatória, em 90%). O pulmão inflamado pode danos ao endotélio dos capilares pulmonares, ao epitélio alveolar
liberar mediadores inflamatórios para a circulação sistêmica. e de vias aéreas e as membramas basais, causando extravasa-
A infecção pré-natal ou a inflamação reduz o risco de displasia mento de flúidos, proteínas e sangue para as vias aéreas, alvé-
broncopulmonar, mas somente se o recém-nascido não for ven- olos e interstício. Assim, há interferência na dinâmica pulmonar,
tilado por vários dias ou não apresentar sepse. O conhecimento inibição do surfactante e promoção da inflamação pulmonar.
dos eventos pré-natais é importante para que se possa minimi- Medidas na prevenção do atelectrauma podem restabelecer e
zar a agressão pulmonar na fase inicial da vida destes recém- manter a capacidade funcional residual, reduzindo assim o risco
nascidos pré-termos extremos, evitando assim a ocorrência da de uma injúria pulmonar aguda causada pelo atelectrauma. Entre
displasia broncopulmonar. estas medidas citamos, o uso do CPAP nasal precoce para evitar
a ventilação mecânica, já na sala de parto e o uso do CPAP nasal
Ventilação Mecânica/Surfactante/CPAP Nasal Precoce após a terapia com o surfactante. Estudos animais evidenciam
que os pulmões de animais tratados com CPAP tiveram menor
O preditor dominante para o desenvolvimento da DBP é o uso quantidade de células inflamatórias do que os pulmões de ani-
da ventilação mecânica durante o primeiro dia. Segundo van mais ventilados (a ventilação de ovelhas pré-termos a partir do
Marter, o risco de DBP aumenta em 13,4 vezes. No estudo de nascimento inicia a resposta inflamatória, caracterizada pelo re-
2002 conduzido por van Marter e cl, avaliando a interação da co- crutamento de neutrófilos aos pulmões, aumento do peróxido de
rioamnionite com a ventilação mecânica e sepses neonatal na hidrogênio e a expressão de citocinas pró-inflamatórias. O uso do
Capitulo 07 Distúrbios Respiratórios
CPAP resulta em menores indicadores de lesão pulmonar aguda ção definitiva do efeito benéfico do CPAP nasal precoce na DBP e
nas primeiras 2 horas de vida. O número de linfócitos e monócitos no desenvolvimento neurológico destes RN.
nos lavados alveolares foram equivalentes aos encontrados nos la- Resultados semelhantes foram observados por Klerk e Klerk
vados alveolares dos RN não ventilados (os RN ventilados tiveram na Nova Zelândia. Estes autores estudaram 116 crianças com
6,6 vezes mais neutrófilos nos lavados alveolares do que os RN de peso entre 1000-1499g ao nascer, comparando dois períodos
ovelhas sob CPAP). A maior PaC02 e acidose respiratória associada que diferiram quanto ao uso do CPAP nasal precoce com bor-
ao CPAP pode minimizar a inflamação (maiores níveis de PaC02 bulhamento como proposto por Wung, do Columbia. Os autores
têm efeitos protetores nos pulmões ventilados). Portanto, o CPAP observaram os seguintes resultados: 65% versus 14% quanto ao
nasal pode diminuir a ocorrência de DBP pela diminuição da ven- número de RN ventilados; 6 dias versus 2, quanto aos dias de
tilação mecânica que é o principal fator para o desenvolvimento ventilação; 11 x 0% quanto à doença pulmonar crônica aos 28
da doença. O CPAP protege da via aérea da injúria mecânica e da dias de vida. Inclusive os autores relataram diminuição do uso do
colonização bacteriana relacionada com o tubo endotraqueal. suporte vasopressor (34% para 7%), incidência da enterocolite
O surfactante pulmonar é uma ferramenta de recrutamento necrosante (11% para 0%), tempo para alcançar a dieta plena
alveolar que quando usado precocemente parece reduzir a in- (17,3 para 13,2 dias) e dias de internação (61 para 52,9 dias).
júria pulmonar (o surfactante, em estudos animais, protege os Segundo os autores, estes resultados devem ser interpretados
pulmões da injúria induzida pela ventilação). Quando um RN com cuidado, mas a falta do aumento de qualquer morbidade
prematuro de coelho respira espontaneamente, os pulmões per- não respiratória sugere que estudos prospectivos com estratégia
manecem virtualmente não aerados e o pequeno volume de ar baseada no CPAP podem ser feita com segurança sem aumento
que entra com a inspiração é expelido quase que totalmente na dos riscos complicações adversas não respiratórias.
expiração. Uma adequada capacidade funcional residual que é Morley C e cl investigaram se o CPAP nasal ou a intubação e
essencial para a respiração normal, não pode ser estabelecida. ventilação logo ao nascer reduziriam a taxa de mortalidade ou de
A necrose e descamação do epitélio bronquiolar aparecem logo DBP em prematuros extremos (ensaio COIN:CPAP Ou Intubação).
após o nascimento. A ventilação mecânica acelera e agrava os Seiscentos e dez recém-nascidos (RN) com idade gestacional (IG)
danos. Quando o pulmão é lesado com ou sem ventilação, há entre 25-28 semanas foram envolvidas aleatoriamente para CPAP
um influxo de proteínas para o espaço alveolar que inativa o ou intubação e ventilação no 5º minuto de vida. Os resultados foram
surfactante alveolar. O pulmão pode ser lesado pela ventilação acompanhados com 28 dias, 36 semanas de IG e antes da alta.
mecânica quando a insuflação excede a capacidade pulmonar Com 36 semanas de IG 34% dos 307 do grupo CPAP tinham
total ou quando o pulmão é ventilado com baixo volume, abaixo morrido ou apresentavam DBP comparados com 39% do grupo in-
da capacidade funcional residual e isto pode ser prevenido pela tubação/ventilação (Odds ratio favorecendo o CPAP, 0,8; 95% de
aplicação de uma pressão positiva no final da expiração. intervalo de confiança, 0,58-1,12; p=0,19). Com 28 dias havia um
Ensaio multicêntrico randomizado e controlado realizado por risco menor de morrer ou de precisar de oxigênio no grupo CPAP
Thomson estudou o uso do CPAP nasal precoce combinado com (Odds ratio, 0.63; 95% CI, 0,46-0,88; p=0,006). Houve uma pe-
administração profilática de surfactante (237 RN, 27 a 29 sema- quena diferença, principalmente na mortalidade. No grupo CPAP 251
nas de idade gestacional) com o objetivo de avaliar a eficácia e 46% foram intubados nos primeiros 5 dias de vida e a necessidade
segurança no manejo do RN com risco de doença da membrana de surfactante foi a metade em relação ao outro grupo. A incidên-
hialina. Os autores observaram menor necessidade de ventilação cia de pneumotórax foi de 9% no grupo CPAP e 3% no outro grupo
mecânica no grupo que recebeu surfactante profilático e CPAP na- intubação/ventilação (p<0,001). Não houve outros efeitos adver-
sal precoce e que o aumento da idade gestacional e o uso profi- sos sérios. O grupo CPAP teve menos dias de ventilação.
lático do surfactante pulmonar estiveram associados com menor Em RN com 25-28 semanas de IG o CPAP precoce não diminuiu
duração da ventilação mecânica, mas, no entanto não houve di- significativamente a taxa de morte ou de DBP quando comparado
ferença significativa entre os grupos quanto à dependência de 02 com o grupo intubado. Embora o grupo CPAP tivesse maior inci-
aos 28 dias ou com 36 semanas de idade pós-concepcional. O dência de pneumotórax, poucos RN recebiam 02 aos 28 dias e
autor conclui que a DBP é uma condição complexa que resulta da este grupo usou menos dias de ventilação.
interação de muitos fatores. Assim, mais estudos sobre estes fato- Como a ventilação pode lesar os pulmões foi aventada a hipó-
res são necessários para prevenções futuras e tratamento da DBP. tese de que ao se evitar a intubação poderia se diminuir a DBP,
O acesso a um modelo experimental animal para a avaliação do cuja incidência vem aumentado mesmo contra todos os esfor-
CPAP nasal permitirá que estas estratégias sejam desenvolvidas. ços. Estudos observacionais tem sugerido que o tratamento com
Narendran e cl avaliaram a aplicação precoce do CPAP nasal CPAP durante a reanimação é possível e que isto poderia diminuir
com coluna d´água (borbulhamento) na sala de parto em RN de a taxa de intubação e de DBP, sem aumento da morbidade, mes-
alto risco para o desenvolvimento de DBP, isto é, RN abaixo de mo em bebês > de 25 semanas de IG.
1000g. Os resultados respiratórios foram comparados com um pe- Segundo Morley C, em sua Conferência no Rio de Janeiro, em
ríodo anterior, em que o CPAP nasal foi introduzido um pouco mais 2008: o que aprendemos como este ensaio? RN muito prematu-
tarde. Neste estudo foi observado que o uso do CPAP nasal por ros, 25-26-27-28 semanas podem ser tratados com CPAP desde o
borbulhamento, utilizando sistema semelhante ao do Dr. Jen-Tien nascimento. Metade vai falhar. Se fosse eu, não preferiria intubar,
Wung do Columbia, foi associado com uma diminuição significati- a menos que precisasse, O grupo CPAP teve resultados semelhantes
va da intubação na sala de parto, do uso de esteróide pós-natal ou melhores que os RN intubados em vários aspectos, com exceção
e dias de ventilação mecânica, quando comparado com o grupo do pneumotórax. O pneumotórax pode inclusive ter um tratamento
histórico (59,8% x 31,6 quanto à intubação na sala de parto; 28 x expectante (consulte o capítulo Drenagem Torácica).
13 dias quanto à média de dias em ventilação mecânica; 4 x 16 No momento, é importante ter o conceito de que a ventilação
dias quanto à média de dias em CPAP; 42,4 x 13,9% quanto ao leva a injúria pulmonar inevitavelmente. O início da ventilação é a
uso de esteróide pós-natal No entanto, a dependência de 02 com chance que tem o clínico de lesar o pulmão do pré-termo. É me-
36 semanas de idade pós-concepção não se modificou. Os autores lhor ter paciência. É melhor que a respiração espontânea recrute
concluem que o uso precoce de CPAP nasal com borbulhamento, os alvéolos, mesmo à custa de uma menor Pa02 e maior PaC02
iniciando na sala de parto, é seguro, não gera gastos, sendo uma do que recrutar os alvéolos através da ventilação mecânica, pois
forma efetiva de evitar intubações na sala de parto. Mais ensaios neste caso, o dano é inevitável. Ao ventilar estes bebês, fazê-lo
randomizados e controlados são necessários para a demonstra- com o menor tempo possível e o mais gentil possível, programando
Paulo R. Margotto
Assistência ao Recém-Nascido de Risco
sempre a sua extubação: usar tempo inspiratório < 0,4 seg, usar Persistência do Canal Arterial
pressão inspiratória máxima baixa, oferecer uma PEEP um pouco
mais alta (5cm H2O), usar volumes correntes baixos (4 -5ml/kg), A persistência do canal arterial aumenta 3 a 4 vezes mais o
aceitar Pa02 entre 50 e 70mmHg, aceitar PaC02 de 50-55mmHg risco de DBP, devido ao aumento do fluxo sanguíneo pulmonar
(pH de 7,2) a chamada hipercapnia permissiva (RN pré-termo com havendo necessidade de maiores parâmetros no ventilador. Os
PaC02 menor que 29mmHg tem um risco de 5,6 vezes maior de RN sépticos com canal arterial pérvio apresentam o risco de 30
apresentar DBP, além do maior risco de leão isquêmica cerebral). vezes maior de apresentar DBP (estes RN apresentam pobre res-
É importante ter em mente que o objetivo da ventilação não é uma posta a indometacina devido ao maior nível de prostaglandinas).
gasometria arterial normal O uso da ventilação sincronizada dimi-
nui o barotrauma, a depressão cardiovascular, a diminuição da flu- Edema Pulmonar
tuação da pressão arterial e facilita a retirada do RN do respirador.
O desmame da ventilação deve ser iniciado tão logo a venti- Estes RN têm predisposição para acúmulos de flúidos no pul-
lação é iniciada e a função respiratória é estabelecida. Além do mão. As alterações funcionais na resistência vascular pulmonar,
mais, segundo Aly H, cada 10 dias de terapia ventilatória associa- pressão oncótica plasmática e permeabilidade capilar favorecem
se com um aumento de 20% na incidência paralisia cerebral. As- o acúmulo de líquido extravascular. Há uma associação entre
sim, é necessário que o RN saia o mais rapidamente possível do ingesta hídrica mais liberal e DBP; maior ingesta hídrica causa
respirador, limitando assim a progressão para a DBP e evitando abertura do canal arterial com conseqüente edema pulmonar,
desabilidades a longo prazo. ocasionando maior necessidade de suporte ventilatório
É importante que, ao ventilar estes recém-nascidos, que o fa-
çamos com o menor grau possível de agressão pulmonar, como Cursos Múltiplos De Esteróide Pré-Natal (>=3Cursos)
ventilando com o conhecimento do volume corrente administrado
(5ml/kg) e PEEP adequada com base no conhecimento da patolo- Banks e cl relataram maior risco de displasia broncopulmonar
gia em curso. Não basta apenas intubar o nosso bebê e seguir o severa e precoce (OR= 3,3 – p < 0,001) no RN cujas mães re-
que se preconiza em toda ventilação mecânica para recém-nasci- ceberam mais do que 3 cursos de esteróide pré-natal, além de
do. A abordagem destes bebês deve ser iniciada na Sala de Parto, maior risco de morte (OR= 3,2 – p < 0,003). A supressão adre-
não permitindo que recebam ventilação com altos volumes corren- nal por múltiplos cursos pode ter contribuído, uma vez que há
tes e PEEP zero (uso de ambus!), pois são estes bebês que não evidências, a partir dos estudos de Watterberg e cl, que menor
vão responder ao surfactante e que exigirão maiores parâmetros nível sérico de cortisol nos primeiros dias de vida associa-se com
ventilatórios. Enfatizamos que a forma de melhor fazer a transição aumento de interleucinas (1 beta e 8) e persistência do canal
da vida intrauterina para e extra-uterina sem promover a resposta arterial, ambos os fatores altamente associados à DBP.
pró-inflamatória pulmonar é o uso do CPAP nasal logo ao nascer.
Tratamento/Prevenção
252 Infecção Intrauterina/Nosocomial
• Esteróide pré-natal: o uso do corticosteróide pré-natal
A infecção intrauterina/nosocomial aumenta 3 vezes mais o ris- (um curso: 12mg de betametasona 24/24 horas, duas
co de DBP. A inflamação é fundamental na DBP. Muitos fatores pró- doses) previne a ocorrência da doença da membrana hia-
inflamatórios e quimiotácticos estão presentes no espaço aéreo de lina, assim como a resposta melhor ao surfactante, dimi-
animais prematuros ventilados e os mesmos fatores são achados nuindo a necessidade de ventilação mecânica; também
em elevadas concentrações em crianças que posteriormente irão aumenta as enzimas antioxidantes do pulmão.
desenvolver DBP. Fatores inflamatórios como a proteína inflama- • Uso de cafeína(iniciar já no primeiro dia, mesmo no
tória dos macrófagos e interleucina-8 (IL8) persistem no espaço CPAP nasal): No estudo multicêntrico internacional de
aéreo, enquanto citocinas contrarreguladoras como a IL-10 podem Schmidt e cl, a cafeína reduziu de maneira significativa
diminuir, resultando num processo inflamatório desregulado e per- a displasia broncopulmonar na idade pós-concepção de
sistente. RN expostos a infecção/inflamação pré-natal ou coloni- 36 semanas (OR: 0,63; IC a 95%:0,52-0,76) (36% no gru-
zação fetal por Ureaplasma urealyticum têm indicadores pró-infla- po cafeína versus 47% no grupo placebo), assim como
matórios no espaço aéreo ao nascer. Células inflamatórias estão a patência do canal arterial (foi reduzida de maneira
presentes no espaço aéreo e no interstício e ainda as células epite- substâncial de 40% para 30%- OR:0,62;IC a 95% 0,53-
liais pulmonares podem sintetizar mediadores inflamatórios. Been 0,82). Interessante o efeito sobre o fechamento cirúrgico
e cl evidenciaram que a exposição pré-natal à inflamação alterou do canal arterial, foi mais eficaz do que a indometacina
a resposta à administração de surfactante pós-natal. A corioam- profilática (13% do grupo placebo versus 5% no grupo da
nionite histopatológica com envolvimento fetal foi associada com cafeína). Em termos econômicos, o uso de cafeína para os
maior exigência de Fi02 após surfactante, além de maior tempo em RN abaixo de 1250g, há uma redução atraente dos custos
ventilação mecânica, sugerindo que estes RN possam necessitar no seguimentos entre 18-21 meses. Segundo Schimidt, o
de maiores doses de surfactante. É importante que saibamos ra- s efeitos da cafeína encontrados neste estudo poderiam
ciocinar o que ocorreu antes de recebermos o bebê às mãos. Pre- ser estendidos a teofilina. Os efeitos sobre os receptores
cisamos dos dados pré-natais para interpretar o que pode ocorre de adenosina são iguais tanto usando a cafeína como te-
depois. A variável pré-natal é importante. Guarde como reflexão. ofilina. O efeito da cafeína na freqüência da apnéia é com-
Quantos de nós solicitamos a histologia da placenta? Na sala de parável a teofilina. Neste estudo, a cafeína oral também
parto, minimizar a ocorrência da agressão pulmonar. Pensar no foi usada, quando possível. Doses: 20 mg/kg EV de citrato
que ocorreu no período pré-natal que pode estar criando a opor- de cafeína-10mg/Kg de cafeína base) e manutenção de
tunidade do RN ter a DBP, não importando o tipo de ventilação 5mg/Kg (2,5mg/Kg/dia de cafeína base). Consulte o capí-
que usamos, seja convencional, seja de alta freqüência. O uso do tulo Apnéia da Prematuridade
CPAP na fase inicial da vida, como já referimos, é a melhor forma • Terapia de reposição precoce de surfactante pulmonar:
de fazer a transição da vida intrauterina para a extra-uterina sem a (consulte o capítulo Surfactante Pulmonar)
produção da resposta inflamatória.
Capitulo 07 Distúrbios Respiratórios
• Ventilação de alta freqüência: a maioria dos estudos em • Tratar o canal arterial persistente: consulte o capítulo
animais demonstrou menos lesão pulmonar e melhor troca Persistência de Canal Arterial.
gasosa na presença de vazamento de ar, melhora de oxige- • Diagnosticar e tratar precocemente a infecção: consul-
nação. Em RN, a comparação destes estudos com ventila- te capítulo Infecções Bacterianas
ção convencional e ventilação de alta freqüência não foram • Diuréticos: A análise de 14 estudos com furosemide, 8
tão conclusivos como nos animais. Há uma grande variação usando via sistêmica e 6 via inalatória, não evidenciou
de conclusão entre os estudos. Não é muito confortável em eficácia com o furosemide de uso sistêmico em RN com
termos de medicina baseada em evidências. Quanto aos DBP abaixo de 3 semanas de idade. Em outras crianças,
desfechos neurológicos são mais preocupantes: alguns há uma melhora transitória na mecânica pulmonar e após
estudos mostram aumento de hemorragia intraventricular uma semana, melhora também na oxigenação. São neces-
e leucomalácia periventricular. Uma clássica metanálise sários mais estudo que demonstrem efeitos a longo prazo,
não mostrou diferença entre os estudos para hemorragia como sobrevivência, duração da oxigenação, duração da
intracraniana. Em 2002 temos dois grandes estudos, o de dependência do ventilador, duração da internação. Quanto
Johnson e cl e o de Courtney e cl com conclusões diferentes ao furosemide inalatório, não há espaço para o seu uso
(aparelhos diferentes, diferentes gravidade dos pacientes, na prática clínica atual (os dados são muito limitados). O
tempo de ventilação). A metanálise da Cochrane realizada uso da associação hidroclorotiazida + espironolactona não
por Henderson-Smart DJ, Cools F, Bhuta T, Offringa M, em mostrou melhora na função pulmonar, além de não reduzir
2007, utilizando diferentes estratégias, não mostrou dife- o requerimento de suplementação de potássio. A inefeti-
renças na hemorragia intracraniana, no desenvolvimento vidade da espironolactona, um antagonista da aldostero-
neurológico e sem melhoria na DBP, quando a VAF foi usada na, em preservar o potássio, pode estar relacionado ao
como estratégia inicial. desenvolvimento renal destes pequenos prematuros. A
• CPAP nasal precoce (Consulte o capítulo Uso do CPAP função renal no prematuro antes de 34 semanas é limi-
nasal) tada durante semanas pós-natal. A hiponatremia da pre-
• Retirar o mais precoce possível do respirador maturidade pode ser devida à resposta parcial do nefron
• RN com peso ao nascer < 1000g: Vitamina A na dose distal a aldosterona (a função da aldosterona é aumentar
de 5000UI intramuscular 3 vezes por semana por 4 se- a reabsorção de sódio e excretar potássio). A espirono-
manas: a suplementação com Vitamina A tem sido asso- lactona age somente na presença de aldosterona. Se o
ciado com redução da morte ou dependência de oxigênio nefron distal não reponde a aldosterona, especula-se que
com 1 mês de vida (RR= 0,93; IC 95%: 0,88-0,99) e a este também não reponde ao antagonista da aldosterona,
necessidade de suplemtação de oxigênio na idade pós- resultando assim, numa perda de potássio.
concepção de 36 semanas (RR=0,87; IC 95%:0,77-0,99)
nos RN com peso menor que 1000g. Os dados sugerem Os diuréticos devem ser reservados para casos de edema pul-
uma tendência a menos retinopatia da prematuridade. monar (o furosemide diminui o edema pulmonar, diminuindo a 253
Os benefícios do uso de Vit. A endovenoso versus intra- resistência vascular pulmonar: furosemide:1m/kg/dia). Ao usar o
muscular necessitam de comprovação. Apresentação: diurético, analise a resposta. Não havendo resposta, suspender.
Aquasol AR - 50.000 UI/ml (proteger da luz ; estocar na As complicações da terapêutica diurética são: hipocalemia, hipo-
temperatura entre 2 e 8oC, não congelar). natremia, alcalose metabólica, hipercalciúria, nefrocalcinose, rea-
• Redução de fluido pulmonar: os RN com DBP toleram mui- bertura do canal arterial. O uso prolongado de hidrocolotiazida as-
to mal uma ingesta normal ou exagerada de líquidos, devido sociado com espironolactona aumenta o risco de nefrocalcinose.
ao aumento do edema pulmonar e piora do quadro respira-
tório. Iniciar, para os RN com peso abaixo de 1000g, taxa • Óxido nítrico: Segundo Ann R. Stark, em Editorial ao New
hídrica de 70mg/kg/dia. Manter estes RN em isolete umi- England Journal Medicine (2006), em muitos RN pré-ter-
dificada (umidade de 90-95%, inicialmente), principalmente mos com peso extremamente baixo, o NOi parece não
nos primeiros 7 dias de vida (os RN em isolete umidificada melhorar a sobrevivência ou a displasia broncopulmonar.
necessitam de menor aporte hídrico e apresentam menos Uma vez que este tratamento pode estar associado com
hipernatremia, hipercalemia e azotemia). lesão cerebral ou aumento da mortalidade em alguns
• Nutrição: a má nutrição arrasa o crescimento somático grupos, não é recomendado o seu uso nos recém-nas-
e o desenvolvimento de novos alvéolos, tornando o des- cidos pé-termos. Os dois ensaios clínicos publicados no
mame da ventilação mecânica menos provável. Frente N Eng J Med do dia 27/7/2006 sugerem benefícios aos
a um suporte nutricional inadequado existe pequena RN menos criticamente doentes, mas permanecem vá-
possibilidade de que ocorram reparo funcional efetivo e rios questionamentos, como: a dose efetiva, a duração,
reposição de células lesadas, ou que a síntese de defe- o tempo do início do tratamento e a seleção de RN que
sa antioxidante e o crescimento pulmonar normal con- mais se beneficiariam. O achado do estudo de Kinsella e
tinuem. Para o RN com peso ao nascer <1000g, iniciar cl de não progressão e talvez redução do risco de anor-
aminoácido nas primeiras 12-24hs de vida com 1 a 1,5g/ malidades no ultra-som craniano é promissor; a patoge-
Kg/dia endovenoso. A taxa de infusão de glicose deve ser nia da lesão cerebral é complexa e os RN de extremo bai-
4-6mg/Kg/min (aceitar glicemias maiores). Iniciar a dieta xo peso com ultra-sons cranianos normais permanecem
enteral tão logo as condições cardio-respiratórias permi- em alto risco para paralisia cerebral e atraso do desen-
tam. As necessidades energéticas de um RN com DBP volvimento mental.
são 25% superiores as de um RN normal, em decorrência
do aumento do trabalho respiratório. Assim é necessário O estudo multicêntrico europeu recente (36 Centros em 9 paí-
o uso do leite humano suplementado com o objetivo de ses) conduzido por Mercier e cl, envolvendo 800 RN entre 24 e 28
ofertar maior aporte protéico-calórico (no máximo 3,5- semanas e 6dias, o uso do NOi iniciado precocemente e usado por
4g/kg/dia de proteína).Consulte o capítulo Nutrição Pa- 7-21 dias, não melhorou a sobrevivência sem displasia broncopul-
renteral e Nutrição Enteral monar ou lesão cerebral.
Paulo R. Margotto
Assistência ao Recém-Nascido de Risco
Sosenko e Bancalari comentaram que os clínicos, a partir des- cerebral (29% x 7%) no RN exposto ao esteróide pós-natal. Aos 2
te estudo multicêntrico, não podem tomar uma decisão com base anos, Yeh e cl relataram maior incidência de significante atraso no
na evidência. Embora o NOi possa ser promissor em subgrupos desenvolvimento neurocomportamental (40% x 31%) e disfunção
específicos, mais trabalhos ainda são necessários para definir a neuromotora (24% x 17%) no RN exposto aos esteróides versus
ótima dose e duração, a população alvo em termos de maturidade, placebo. Shinwell e cl relataram aos 4,4 anos, maior incidência
severidade da doença, raça e idade no momento do envolvimento de paralisia cerebral (49% x 15%) no RN exposto aos esteróides
O follow-up a longo prazo é essencial, principalmente pelos en- com início na idade de 12 hs de vida versus os controles (OR=
sinamentos que tivemos com o uso da dexametasona pós-natal 4,62; 95% IC= 2,38-8,98) sendo a diplegia espástica a forma
(esta mostrou benefícios a curto prazo, mas aumentou o risco de mais comum de paralisia cerebral. O atraso no desenvolvimento
deficiência neurocomportamental posteriormente). foi significativamente maior no grupo da dexametasona (OR= 2,0;
Ao usarmos NOi, estamos usando uma das drogas disponí- 95% IC= 1,53–5,38). Houve mais leucomalácia periventricular e
veis mais caras na UTI Neonatal (3000 dólares/dia e acima de hemorragia intraventricular no grupo da dexametasona, embora
12.000 dólares por um período de 30 dias), sendo difícil justificar não significativo. Com 18-22 meses, Stark e cl relataram índice
o seu uso até que os seus benefícios sejam provados. de retardo mental < 70 em 51% do RN expostos aos esteróides
Portanto, para a obtenção do sim para o uso do NOi nos RN pós-natal versus 43% dos controles.
pré-termos, são necessários mais dados, especialmente do Metanálise destes estudos de follow-up (O’Shea e cl, Yeh e cl e
follow-up a longo prazo dos RN dos dois ensaios discutidos, o de Shinwell e cl) evidenciou significância na OR para a ocorrência de
Kinsella e cl e o de Ballard e cl. paralisia cerebral ou um exame neurológico nos RN expostos aos
No momento, o uso do NOi em prematuros para prevenir a DBP esteróides pós-natal (OR= 4,86; IC 95%: 2,73-8,65; OR= 3,88; IC
só deve ser utilizado como parte de um estudo controlado rando- 95%: 2,42-6,23). Para cada 3 a 4 RN sobreviventes, 1 apresenta-
mizado e com consentimento informado dos pais e com capaci- rá um deficiente desenvolvimento neurológico.
dade de avaliação neurológica a longo prazo. Murphy e cl relataram redução de 35% do volume da subs-
tância cinzenta cortical nos RN tratados com dexametasona
• Esteróides: Os corticosteróides constituem uma das em comparação aos RN tratados com dexametasona (foram
mais potentes classes de drogas usadas na medicina pe- estudados 7 RN no grupo da dexametasona e 11 RN não tra-
rinatal e constituem uma das mais controversas medica- tados, com idade gestacional entre 23 e 31semanas e 11RN a
ções nas Unidades de Cuidados Intensivos Neonatais. Os termo, com idade gestacional entre 38 e 41 semanas). Os RN
neonatologistas gostam de resultados e os corticosterói- com evidência de lesão na substância branca foram excluídos,
des têm imediatos efeitos fisiológicos na função pulmo- devida aquela estar associado com deficiente desenvolvimento
nar do RN, pré-termo que é clinicamente aparente (até da substância cinzenta a termo.
os pais notam). Barrington, a partir de metanálise de 8 estudos compreenden-
do 1052 RN, concluiu que o RR (Risco Relativo) para paralisia
254 Na corticoterapia pós-natal no RN pré-termo com doença pul- cerebral associado ao uso do esteróide pós-natal foi de 2,86 (IC
monar progressiva, termos as seguintes perguntas: a 95%: 1,95-4,19) e o RR para distúrbio neurológico foi de 1,66
(IC a 95%: 1,26-2,19). O número de prematuros que necessita de
1. Em que momento o esteróide deveria ser uma opção ser tratado para ter uma criança com paralisia cerebral é 7 e para
viável de tratamento? ter deficiente desenvolvimento neurológico é 11.
2. Qual corticosteróide deveria ser usado? O esteróide também diminui o nível de osteocalcina plasmática
3. Qual seria a dose a ser administrada? e a densidade mineral do fêmur. Com o uso da dexametasona,
4. Qual a duração da terapia? Shrivastava e cl evidenciaram que o uso da dexametasona foi
associado, em comparação ao pré-tratamento, com a quedas na
Os efeitos adversos podem ocorrer em dias a semanas ou até absorção do cálcio e retenção do cálcio e fosfato. Concluem os
1-2 anos. Os corticosteróides na medicina perinatal seriam com- autores que o início do esteróide é associado com rápida e signi-
parados a mísseis teleguiados (não se sabe onde e como vão ficante queda na velocidade de crescimento, absorção de cálcio
cair) segundo Jobe. e retenção de cálcio e fósforo nestes RN com DBP.
Ensaios clínicos randomizados com o uso precoce de esterói- Segundo Jobe, a dose da dexametasona (0,5mg/kg) que usamos
de pós-natal para a prevenção da displasia broncopulmonar têm é muito maior que a taxa de secreção fisiológica de cortisol (15-20
evidenciado aumento nas taxas de prognósticos adversos nos RN vezes maior à secreção fisiológica estimada de cortisol nos RN: a
que receberam esteróide versus aqueles RN que não receberam. produção basal de cortisol nas 24 hs é por volta de 0,5mg no RN
O uso do esteróide pós-natal aumentou de 43%, em 1990, pré-termo com peso de 1000g e em condições de estresse 1,5mg/
para 84% entre 1993 e 1995. As taxas de paralisia cerebral mos- dia). A dexametasona tem uma longa vida média no plasma além de
traram um aumento de 10% para 16% e a taxa de função cogniti- conter sulfetos que são potencialmente tóxicos ao cérebro.
va subnormal aumentou de 20% para 48%. Enquanto, precisamos aprender as lições do passado, ser me-
Há evidências cada vez maiores que os esteróide pós-natais nos invasivos, usar mais precocemente o CPAP e diminuir o máxi-
são associados com complicações, tanto a curto como a longo mo a intubação nos RN que recebem surfactante na sala de parto.
prazo. A curto prazo: hemorragia gastrintestinal e perfuração in- A Academia Americana de Pediatria e a Sociedade Canadense
testinal requerendo cirurgia. Garland e cl, utilizando um curso de de Pediatria recomendam: o uso rotineiro de dexametasona sistê-
3 dias de dexametasona na prevenção da DBP, relataram alta mica para profilaxia e o tratamento da DBP não é recomendado,
incidência de perfuração intestinal no grupo tratado. Gordon e devendo este uso reservado para ensaios cuidadosamente dese-
cl, a partir de metanálise de ensaios randomizados com grupo nhados, duplo-cegos e controlados, tendo como objetivo final a
placebo com o uso de dexametasona precoce relataram risco sig- sobrevivência sem déficit no desenvolvimento a longo prazo. Para
nificativo de perfuração focal no intestino curto (OR=1, 91; IC a casos individuais, reservou a dexametasona para RN em circuns-
95%: 1,21-3,07-p=0, 004). Outras complicações relatadas: maior tâncias clínicas excepcionais (RN no respirador com máximo su-
incidência de sepses nasocomial, meningite e hiperglicemia. porte ventilatório) e com consentimento dos pais após informação
O estudo de O’Shea e cl de 1999, com 1 ano evidenciou maior dos riscos a curto e a longo prazo. Semelhante recomendação tem
incidência de exame neurológico anormal (45% x 16%) e paralisia sido feita pela Associação Européia de Medicina Perinatal.
Capitulo 07 Distúrbios Respiratórios
O benefício do uso de esteróides inalatórios (budesonida ou diferença na produção de IL- 4 e IL- 10. Não houve diferença na
beclometasona) tem sido demonstrado, em pequenos estudos produção de citocinas entre o grupo da hidrocortisona e o contro-
(melhora nas trocas gasosas e na mecânica pulmonar), mas os le. Não houve diferença na produção do fator de necrose tumoral
benefícios s longo prazo não são aparentes, havendo necessi- α e IL- 6 ou na composição das células periféricas sangüíneas9.
dade de mais estudos para definir o seu papel na prevenção e As crianças prematuras tratadas no período neonatal com de-
tratamento da displasia broncopulmonar. É importante frisar que xametasona apresentaram menor performance de cognição e
na nova displasia broncopulmonar não existe comprometimento desenvolvimento motor. Assim, os neonatologistas devem limitar
de vias aéreas e sim um atraso no desenvolvimento alveolar. o uso de glicocorticóides somente para situações excepcionais
Quanto ao uso de doses menores de dexametasona, Parikh NA e em doses baixas. Entretanto, em várias situações seu uso não
e cl, utilizando a ressonância magnética a termo com equivalente pode ser evitado.
idade gestacional, evidenciaram diminuição dos volumes cerebral O estudo de Karemaker R e cl (2008), mostrou, pela 1ª vez,
nos RN tratados com doses moderadamente baixas de dexame- que crianças tratadas com dexametasona no período neonatal
tasona após 28 dias de vida. (8,7% do volume tecidual cortical, tiveram o eixo hipotálamo-hipófise-adrenal afetado. Não se ob-
19,9% da substância cinzenta subcortical e 20,6% do cerebelo). servaram mudanças nas crianças tratadas com hidrocortisona.
Por causa destas publicações alarmantes, vários grupos ten- Crianças que foram tratadas com dexametasona mostraram
taram achar um corticosteróide alternativo para tratar os pré- uma diminuição significativa do cortisol durante e após exposi-
termos com DBP. ção a um teste estressante comparados a crianças tratadas com
André e cl publicaram estudo com 45 prematuros com risco de hidrocortisona no período neonatal e comparadas ao grupo con-
doença pulmonar crônica que foram tratados com metilpredniso- trole. Além disso, o nível de ACTH tende a ser menor no grupo que
lona. Esta droga tem menor ação antiinflamatória que a dexame- usou dexametasona em comparação aos outros 2 grupos.
tasona e 5x mais que a hidrocortisona. Eles tiveram aumento do Os distúrbios no eixo hipotálamo-hipófise-adrenal estão impli-
ganho de peso e diminuição na incidência de intolerância à glico- cados no desenvolvimento das dificuldades de aprendizado.
se e de leucomalácia periventricular cística, comparados com 45 Existe um aumento do risco de desenvolvimento de doenças au-
que usaram dexametasona. to-imunes após a puberdade, no grupo que fez tratamento com de-
De Castro e cl observaram que doses menores de betametaso- xametasona, portanto precisam-se de mais estudos prolongados.
na tinham a mesma ação antiinflamatória que a dexametasona, Estudos em animais (ratos) o tratamento com dexametasona re-
mas sem efeitos indesejáveis a curto prazo. sultou em severo curso de encefalomielite autoimune experimen-
No entanto, não há dados de follow-up de longo prazo destes tal, um modelo animal para a esclerose múltipla na idade adulta.
estudos usando esteróides alternativos no pós-natal. Para os humanos, significa que existe maior risco do desenvol-
Em 2003, van der Heide-Jalving M e cl divulgaram os resul- vimento de doença autoimune na idade adulta após o tratamento
tados de um estudo retrospectivo comparando a eficácia e os no período neonatal com dexametasona.
efeitos a longo prazo do tratamento neonatal com hidrocortisona Em 2006. utilizando a ressonância magnética por espectros-
e dexametasona no desempenho escolar. Não foram observadas copia, Rademaker KJ et avaliaram o metabolismo hipocampal e 255
diferenças na eficácia, mas as crianças que usaram dexametaso- a memória de curto prazo e o prognóstico neurocomportamen-
na tiveram desempenho menor dos 7 aos 10 anos comparadas tal na idade escolar das crianças que receberam hidrocortiso-
às crianças que usaram hidrocortisona. na durante o período neonatal para o tratamento da displasia
O estudo de Rademaker KJ e cl foi realizado com 226 crianças broncopulmonar. Oito crianças receberam hidrocortisona e 19,
de idade gestacional menor que 32 semanas e peso inferior a nunca receberam. Os autores relataram que a hidrocortisona na
1500 g. Aos 7 e 8 anos, elas retornaram ao Hospital por 1 dia dose usada no período neonatal não teve efeitos a longo prazo na
para fazerem vários testes. Das 226 crianças, 62 fizeram trata- memória e ou no metabolismo hipocampal. Estudos em animais
mento com hidrocortisona e 164 não fizeram tratamento. Quan- demonstraram que a dexametasona causa perda neuronal no hi-
do houve piora do padrão respiratório antes da redução da dose, pocampo e déficit de memória de curto tempo.
o tratamento com corticóide era prolongado ou repetido. O estudo de Watterberg e cl envolvendo 360 RN de peso ao
Quanto à imagem da ressonância magnética não houve dife- nascer entre 500-999g com 12 e 48 horas de vida, evidenciou di-
rença nas lesões cerebrais dos 2 grupos. A memória e a incidên- minuição significativa na mortalidade e aumento da sobrevivência
cia da paralisia cerebral também foram proporcionais em ambos sem displasia broncopulmonar nos RN expostos a corioamnionite
os grupos. Não houve diferença neurocognitiva e de performance confirmada histologicamente. Aos 18-22 meses de idade corrigida,
motora entre o grupo tratado com hidrocortisona e o não tratado. os autores12 demonstraram que o uso da hidrocortisona precoce
Karemaker R e cl, em 2008, utilizaram uma coorte retrospec- não se associou com aumento de paralisia cerebral, inclusive, os
tiva, incluídos ex-prematuros de 7 a 10 anos que foram tratados tratados apresentaram indicadores de melhor desenvolvimento.
com dexametasona e comparados com grupo tratado com hi- Rademaker KJ e cl revisaram a literatura do uso da hidrocorti-
drocortisona e grupo controle (nunca recebeu corticosteróide). A sona no tratamento da displasia broncopulmonar nos pré-termos
resposta ao estresse e o nível de ACTH foram menores no grupo com particular enfoque no seguimento destes RN. Comparando
da dexametasona em comparação aos outros grupos. O aumen- com os pré-termos não tratados com hidrocortisona, não foram
to máximo do ACTH induzido pelo estresse foi significativamente evidenciadas diferenças nos resultados neurocognitivos e moto-
menor no grupo da dexametasona. O nível do cortisol plasmático res, assim como na incidência de lesões cerebrais na ressonân-
foi significativamente menor no grupo da dexametasona durante cia magnética em um seguimento de 5-8 anos de idade. Estas
todo o período de mensuração. Não houve diferença entre o gru- crianças foram tratadas exclusivamente com hidrocortisona e
po da hidrocortisona e o grupo controle. não sofreram contaminação com tratamento posterior com dexa-
Os achados sugerem que a hidrocortisona é mais segura que a metasona. O início da hidrocortisona foi acima de 7 dias.
dexametasona para tratar prematuros com DBP. Dexametasona Há várias explicações pelas quais o tratamento com a hidro-
é 25 a 30x mais potente que a hidrocortisona. A meia-vida da cortisona pode não estar associado déficit neurológico a longo
hidrocortisona é de 8 a 12 h em contraste com a dexametaso- prazo, enquanto a dexametasona está. A dexametasona é um
na que é de 36 a 72 h, reduzindo assim, o risco de acumulação8. glicocorticóide sintético com 25-30 vazes mais ação antiinflama-
A produção de interferon (IFN- γ) foi aumentada no grupo da tória do que a hidrocortisona, a dose da hidrocortisona é muito
dexametasona em comparação aos outros grupos. Não houve menor em relação à dexametasona.No cérebro a dexametasona
Paulo R. Margotto
Assistência ao Recém-Nascido de Risco
se liga preferencialmente aos receptores de glicocorticóide e a de resgate dos RN com severa displasia broncopulmonar.
hidrocortisona, aos receptores de mineralocorticóide. Estudos A terapêutica da displasia broncopulmonar nos recém-nascidos
em animais têm evidenciado que a ativação dos receptores de de extremo baixo peso com esteróides, deve ser realizada nos ca-
glicocorticóide levou a efeitos neurológicos adversos. A vida mé- sos selecionados (recém-nascidos no respirador após 3-4 semanas,
dia da hidrocortisona é menor do que a da dexametasona, favore- necessitando de altas Fi02 e pressões). A literatura não respalda o
cendo uma menor acúmulo da medicação com a hidrocortisona. uso precoce de esteróide tanto para profilaxia como tratamento da
O agente preservativo da dexametasona é o bissulfito e este tem displasia broncopulmonar nestes recém-nascidos de risco.
mostrado ser tóxico in vitro a culturas de neurônios e in vivo aos Devido a várias publicações evidenciando o risco do compro-
cérebros de ratos de 3-5 dias de vida. metimento do neurodesenvolvimento com o uso de dexameta-
Peltoniemi e cl relataram o seguimento de 2 anos de 26 recém- sona, mesmo em baixas doses e alterações no sistema imune,
nascidos randomizados para receber hidrocortisona precoce por propiciando o desenvolvimento de doenças auto-imunes na vida
10 dias comparados com 26 RN que receberam placebo (soro adulta, a literatura acena para o uso da hidrocortisona. As ca-
fisiológico) na idade de 36 horas. Não foram detectadas diferen- racterísticas da hidrocortisona (menor dose, menor efeito antiin-
ças no status neurológico, crescimento entre o grupo que usou flamatório, não comprometimento do eixo hipotálamo-hipófise-
hidrocortisona e o grupo placebo. RN com alto risco para displa- adrenal, não contém o preservativo bissulfito lesivo ao cérebro,
sia broncopulmonar e que apresentam baixos níveis de cortisol ligação aos receptores mineralocorticoides no cérebro) podem
podem ser beneficiados com o uso precoce de hidrocortisona. explicar a ausência dos resultados adversos relatados com o
No entanto, mesmo pequenas doses de hidrocortisona pode ser uso da dexametasona. Os resultados a curto prazo com o uso da
detrimental nos RN com moderado a baixo risco de displasia hidrocortisona foram semelhantes aos da dexametasona (dimi-
broncopulmonar ou que apresentem altos níveis de cortisol ao nuição da necessidade de oxigênio, extubação), não sendo de-
nascer. Portanto, a eficácia e a segurança do tratamento pre- monstrado aumento da paralisia cerebral e comprometimento
coce com hidrocortisona são ainda controversos. Mais estudos do eixo hipotálamo-hipófise-adrenal.
são necessários com maior follow-up para confirmar a eficácia, Doyle cl, em 2006, usando doses menores de dexametasona
segurança e a falta de conseqüências adversas do tratamento (dose total de 0,89mg/kg/ em 10 dias), em pré-termos extremos
precoce com hidrocortisona (<28 semanas), depois de 7 dias de ventilação mecânica, em
Karemaker R e cl avaliaram os efeitos do tratamento neonatal comparação com o grupo controle (placebo), 60% foram retirados
com a dexametasona na resposta cardiovascular ao estresse em do respirador aos 10 dias versus 12% nos controle. Não houve
crianças na idade escolar. Na idade escolar a resposta cardio- diferenças nas taxas de mortalidade, paralisia cerebral ou da com-
vascular ao estresse foi suprimida nas crianças tratadas com binação morte ou paralisia cerebral entre os grupos. No entanto,
dexametasona, o que não ocorreu com as crianças tratadas com sem diferenças entre os grupos quanto à incidência de DBP. Em
hidrocortisona. Os autores sugerem que a hidrocortisona pode uma meta-regressão, Doyle e cl, em 2007, evidenciaram que o ris-
ser uma alternativa segura à dexametasona para o tratamento co de morte ou paralisia cerebral diminuiu no grupo de pré-termos
256 da displasia broncopulmonar do recém-nascido pré-termo. extremos que apresentam risco >65% de apresentar DBP.
Devido a evidências da segurança no RN com o uso da be- Segundo Baucalari, o problema, como tudo em medicina, foi
tametasona no pré-natal, De Castro e cl compararam o uso de que aprendemos a ir de um extremo a outro. Como foi eficiente,
baixa dose e curto período de uso da betametasona com o uso começamos a usar quase em todos e até de forma profilática (o
convencional da dexametasona. Os autores relataram que a be- estudo de Doyle e cl, usando dexametasona na primeira semana
tametasona pode aumentar a complacência pulmonar mais efe- de vida, mostrou que os benefícios não foram superiores aos efei-
tivamente do que a dexametasona, efeito semelhante ao obser- tos adversos). Isto obviamente não é forma mais adequada de se
vado com o uso da betametsona no pré-natal. Os RN recebendo fazer um tratamento, que até certo ponto, era profilático. Se usar-
betametasona tiverem menos sepse em relação aos que recebe- mos o esteróide em crianças nas quais o risco de desenvolver
ram dexametasona (10% x 32%), assim como menos leucomalá- DBP é mais baixo, vamos aumentar o risco de paralisia cerebral
cia periventricular (0% x 7%), embora não houvesse diferenças e óbito, pois estamos administrando um medicamento que tem
significativas entre os dois grupos quanto a estes achados. No efeito secundário a um grupo de pacientes que não necessitaria
entanto, não se conhecem o prognóstico das crianças que rece- de tal medicação. Agora, se administrarmos o esteróide a crian-
beram betametasona. ças com risco >50% de apresentar DBP, a incidência de óbito
Em 2006. um questionário realizado a nível nacional mostrou e paralisia cerebral é menor nos que receberam esteróide em
que 91% dos neonatologistas franceses usam betametasona relação aos que receberam placebo, demonstrando mais uma
para o tratamento da displasia broncopulmonar. vez, de forma elegante que toda vez que usamos uma estratégia
Cambonie G e cl relataram diminuição acentuada da velocida- profilática, existe um efeito secundário, por isso temos que to-
de do fluxo sanguíneo cerebral com o uso da betametasona (1/4 mar cuidado na seleção dos pacientes que vamos tratar. Para os
destes pacientes apresentaram aumento do espaço subaracnói- RN com grande risco de DBP, a incidência de déficit neurológico
deo aumento ventricular, sugerindo deficiente desenvolvimento foi menor no grupo que recebeu dexametasona em relação ao
cerebral). Este achado fez com que fosse trocada a betametaso- que recebeu placebo. Então, o uso de corticóide pós-natal ainda
na para hidrocortisona, naqueles RN na quarta semana de vida é confuso, está claro que não podemos usar sem critérios bem
dependente de oxigênio (Fi02 >50%, em uso de óxido nítrico, alta definidos, mas há um subgrupo de pacientes de alto risco que
freqüência). Os autores não relataram as alterações anterior- pode se beneficiar.
mente descritas com a betametasona. Mesmo com uso de doses Ao usar o esteróide, devemos sempre optar pela menor dose,
farmacológicas da hidrocortisona por 6 dias,iniciando com 5 mg/ menor tempo e pelo esteróide menos tóxico com o objetivo de
kg/dia 4 vezes ao dia Segundo os autores, esta diminuição do facilitar o desmame do respirador.
fluxo sanguíneo cerebral poderia ser um dos mecanismos envol- Quanto à recomendação do Comitê de Pediatria da Academia
vidos nos efeitos deletérios dos corticosteróides sintéticos no de- Americana: alta dose de dexametasona (0,5mg/kg/dia) não
senvolvimento cerebral. Do ponto de vista hemodinâmico, estes confere benefício terapêutico adicional e não é recomendada. A
resultados sugerem o uso da hidrocortisona para o tratamento evidência é insuficiente para recomendar outro glicocorticóide.
O clínico deve usar o julgamento clínico para pesar os possíveis
efeitos adversos do tratamento com glicocorticóides e aqueles
Capitulo 07 Distúrbios Respiratórios
Paulo R. Margotto
Assistência ao Recém-Nascido de Risco
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www.paulomargotto.com.br, em Distúrbios Respiratórios) (15/11/2012)
Capitulo 07 Distúrbios Respiratórios
7.9 APNÉIA
Definição
Apnéia é definida como uma interrupção do fluxo de ar nas vias reas mais finas e propensas ao colabamento; caixa torácica mais
respiratórias por um período igual ou superior a 20 segundos, ou complacente; diafragma com maior número de fibras sensíveis
por período de menor duração, se acompanhado de bradicardia, a fadiga; não apresentam boa coordenação entre os músculos
cianose ou palidez. respiratórios e os músculos que controlam a permeabilidade das
É necessária a diferenciação entre apnéia e respiração perió- vias aéreas superiores.
dica. Esta última é caracterizada pela presença de movimentos Inibição do centro respiratório por neurotransmissores secre-
respiratórios por um período de 10 a 15 segundos, intercalados tados durante a hipóxia. O mais relevante é a adenosina. A admi-
por pausa respiratória de 5 a 10 segundos, sem cianose ou bra- nistração de metilxantinas, antagonistas da adenosina, previne a
dicardia. A respiração periódica ocorre em cerca de 25% dos depressão respiratória como resposta à hipóxia.
recém-nascidos prematuros e em 2 a 6% dos bebês a termo. Tem
bom prognóstico e não necessita de tratamento específico. Causas De Apnéia No Período Neonatal
• 84% dos recém pré-termos (RNPT) com peso menor que A relação entre RGE e apnéia em prematuros ainda é contro-
1000 g versa. Muitos autores mostram associação entre estas duas pa-
• 50% dos RNPT com peso entre 1000 g-1500g tologias; outros excluem relação temporal entre RGE e apnéias
• 25% dos RNPT com peso entre 1500 g-2500g no prematuro. Dois estudos recentes são divergentes. Corvaglia
e cl analisaram a relação entre apnéia da prematuridade e RGE
Geralmente se inicia no 2º ao 7º dia de vida. É rara no 1º dia através da monitorização do pH esofágico e da polissonografia.
Os episódios cessam por volta de 34 a 36 semanas de idade Os dados encontrados sugerem que apnéias podem ser desen-
gestacional pós-concepcional, podendo persistir até ou após o cadeadas por episódios de RGE em RN muito prematuros. O es-
termo, especialmente nos prematuros extremos. tudo de Omari T contradiz esta hipótese, já que foi observada a
Episódios de apnéia em RN a termo é sempre secundária a redução do tônus do esfíncter esofágico inferior (EEI) posterior
alguma patologia de base. a apnéia, e não o inverso Nos RN prematuros há o relaxamento
do EEI durante os episódios de apnéia, o que pode levar a RGE,
Fisiopatologia Da Apnéia Da Prematuridade que pode ocorrer com a obstrução de vias aéreas (há aumento
da pressão gástrica). Assim o seu estudo não corrobora com a
Imaturidade do sistema nervoso central do prematuro carac- hipótese de que é o RGE que inicia esse reflexo e que conse-
terizada por menor número de sinapses neuronais, arborização quentemente causaria apnéia, já que foi observado a redução do
dendrítica escassa e mielinização incompleta, levando a retardo tônus do EEI posterior a apnéia, e não o inverso. Alguns pacientes
na propagação do estímulo nervoso. com apnéia resistente ao uso de xantinas recebem terapêutica
Resposta atenuada ao C02 (menor sensibilidade dos quimior- antirefluxo. Porém, se é a apnéia que leva ao refluxo, e não o
receptores no RN prematuro) e uma resposta paradoxal à hipoxe- contrario, a indicação destes medicamentos precisa ser melhor
mia (no RN a hipóxia deprime a respiração, ao contrário do que é avaliada. Segundo Suguihara, os fatores de risco para apnéia e
observada no adulto). RGE podem ser sobreporem, mas não existe nenhuma relação
Influência do sono: O RN prematuro dorme cerca de 80% de temporal entre estes dois eventos. Na nossa Unidade hoje só se
seu tempo e o RN a termo cerca de 50%. Durante o sono REM trata RGE em casos excepcionais. Não há evidência de que o uso
(cerca de 90% do sono do prematuro de 30 a 31 semanas) ob- farmacológico tenha efeito na apnéia da prematuridade.
servam-se irregularidades no padrão respiratório, diminuição do
tônus da musculatura intercostal e menor atividade diafragmá- • Instabilidade térmica: hipo ou hipertermia;
tica. Com o aumento da idade gestacional nota-se aumento na • Drogas: uso materno de opióides ou uso neonatal de dro-
proporção de sono não-REM. gas depressoras do centro respiratório;
O prematuro apresenta algumas características anatômicas • Pós-anestésico: A apnéia no período pós-operatório aco-
das vias aéreas e caixa torácica que favorecem a apnéia: vias aé- mete cerca de 12 a 37% dos prematuros, geralmente nas
Paulo R. Margotto
Assistência ao Recém-Nascido de Risco
12h seguintes após a cirurgia (72% ocorrem nas primei- Investigação Diagnóstica
ras 2h). Esta incidência é inversamente proporcional à
idade gestacional. Os anestésicos inalatórios diminuem Ao contrário do RN de termo, em que todo episódio de apnéia deve
o tônus da musculatura das vias aéreas, da parede to- ser investigado, no prematuro, recomenda-se a investigação diagnós-
rácica e do diafragma favorecendo a apnéia. Também tica quando ocorrerem duas ou mais apnéias em um período de 24h.
alteram a resposta ventilatória à hipercapnia e à hipóxia.
Esta susceptibilidade à apnéia persiste até cerca de 50 a • Anamnese materna
60 semanas de idade gestacional pós-concepcional. • Exame clínico detalhado
• Pós-imunização, principalmente nos RN com história de • Condições ambientais: posicionamento do RN
apnéia (risco de 25 vezes mais) podendo estar relaciona- • Radiografia de tórax
da a uma resposta inflamatória geral. • Hemograma e PCR
• Anemia: Estudos tem mostrado associação conflitante • Eletrólitos e bilirrubinas
entre apnéia e transfusão. Estúdo recente, com rigoro- • Glicemia
sa monitorização de apnéia, mostrou correlação entre • Gasometria
as transfusões e a diminuição da frequência de apnéia • Ecografia transfontanelar
(probabilidade futura de apnéia foi inversamente propor- • Ecocardiograma na suspeita de cardiopatia
cional ao hematócrito). • Hemocultura e análise do líquor cefalorroquidiano em
casos de infecção
Apnéia No Recém-Nascido A Termo • Eletroencefalograma se houver suspeita que a apnéia
seja de origem convulsiva
No RN a termo a apnéia pode ser a única manifestação de
uma convulsão. Tramonte e Goodkin relataram um caso de um Tratamento
RN a termo com 3,9kg, filho de mãe de 36 anos, G III P II, pro-
duto de uma gestação não complicada e parto normal induzido Medidas gerais
por Misoprostol e Ocitocina. O Apgar foi de 9 (1o) e 9 (5o) minu-
tos. Eritromicina e Vitamina K foram administradas rapidamente 1. Tratamento da causa subjacente, se esta for identifica-
após o parto. Dentro das primeiras seis horas de vida, foram ob- da (correção de hipoglicemia, tratamento de infecção...).
servados recorrentes períodos de apnéia de 20 a 165 segundos Lembrar que apnéia sem bradicardia pode ser a única
de duração. Oximetria de pulso demonstrou saturação de 02 a manifestação de convulsão.
nível de 50% durante o período de apnéia. Nenhuma mudança 2. Em geral, manter saturação de 02 entre 88 e 92%, se
na freqüência cardíaca foi observada durante estes eventos. necessário com fornecimento de 02 suplementar. A hipó-
Não foi notado nenhum movimento sugerindo convulsões focais xia leva a liberação de adenosina ocasionando depres-
260 ou multifocais tônicas, clônicas, mioclônicas ou súbitas. Nenhum são do SNC.
movimento ocular consistente foi apreciado.Durante estes even- 3. Posicionamento: corrigir posicionamento do pescoço –
tos, recebeu 02. O RN foi submetido à monitorização contínua evitar a hiperextensão acentuada e a flexão, prona (barri-
no leito com EEG, havendo demonstração de numerosas convul- ga para baixo): esta posição favorece a estabilização da
sões eletroencefalográficas, emanando predominantemente da caixa torácica, a sincronia dos movimentos respiratórios,
região centro-temporal direito, caracterizado por rápida atividade o aumento da resposta ventilatória à hipercapnia e o au-
alfa, evoluindo com ondas periódicas e atividade de ondas lentas mento da proporção de sono não-REM com melhora no
seguidas por atividade delta rítmica. A convulsão mais longa re- controle do ritmo respiratório e da mecânica ventilatória.
gistrada durou 205 segundos.Cada convulsão no EEG era acom- A posição prona do lado esquerdo, segundo estudo de
panhada por manifestações clínicas de apnéia e diminuição da Ewer AK e cl reduz significativamente a severidade do
saturação de 02. Nenhuma atividade clínica convulsiva foi notada RGE em comparação com a posição prona do lado di-
durante a observação direta dos autores e sob revisão do vídeo. reito. Não há vantagem do uso de bebê conforto, pois
Não houve alteração da freqüência cardíaca. Os episódios de aumentas a freqüência do RGE. A posição lateral direita
apnéia e dessaturação foram acompanhados por mudanças ele- acelera o esvaziamento gástrico e aumenta o RGE.
troconvulsivas. O RN foi submetido a tratamento com fenobarbi- 4. Evitar aspirações vigorosas de orofaringe
tal, suprimindo em 90% as atividades convulsivas. A ecografia 5. Manter temperatura ambiente em zona térmica neutra
cerebral demonstrou uma massa ecogênica, larga e compacta 6. Correção da anemia
no lobo temporal direito, medindo 3.0 x 2.5 x 2.9cm, semelhan- 7. Nutrição adequada
te a uma hemorragia. A ressonância magnética confirmou uma
hemorragia no lobo temporal direito, intraparenquimatosa com Tratamento medicamentoso
adjacente hematoma subdural na fossa média craniana e he-
morragia subaracnóidea. Este é um caso raro e não usual de Metilxantinas
hemorragia no lobo temporal direito num recém-nascido a termo Reduz os de episódios de apnéia e a necessidade e ventilação
apresentando convulsões associadas à apnéia recorrente, sem mecânica através da estimulação do centro respiratório (aumen-
outras manifestações clínicas. Não havia alterações no exame ta a sensibilidade dos quimiorreceptores ao C02), da inibição da
clínico (por exemplo: hemiparesia ou preferência de olhar) que adenosina (neurotransmissor inibitório secretado durante a hipó-
sugerisse a presença de uma hemorragia lobar ou outra causa xia) e da fosfodiesterase (elevando os níveis de AMPc, estimulan-
estrutural de disfunção focal cerebral. Portanto, a suspeita de do o centro respiratório) e melhora da contratilidade diafragmáti-
convulsões associadas à apnéia poderia ser aventada em recém- ca. Tem sido utilizada na prevenção de apnéia nos RN com peso
nascido a termo quando outras causas de apnéia (por exemplo: abaixo de 1500g. A medicação é suspensa com 34 semanas de
refluxo gastroesofágico, doença pulmonar, arritmias cardíacas) idade gestacional pós-concepção ou após 7 dias após o último
tivessem sido excluídas. Assim, no recém-nascido a termo, epi- episódio de apnéia (se IGpc>34semanas).
sódios de apnéia devem ser vistos como uma manifestação po-
tencial de convulsão e adequadamente avaliadas.
Capitulo 07 Distúrbios Respiratórios
Suporte ventilatório
CPAP nasal
Previne intubações traqueais, mantendo a permeabilidade das
vias aéreas, regularizando o ritmo respiratório, estabilizando a
caixa torácica e aumentando a capacidade residual funcional.
Seu uso está indicado nas apnéias obstrutivas e mistas. O uso
adequado do CPAP é aquele que resulta numa boa oxigenação do
RN, sem hiperinsuflação pulmonar e retenção de C02. Geralmen-
te pressões em torno de 3 a 5cmH2O são suficientes.
Paulo R. Margotto
Assistência ao Recém-Nascido de Risco
A partir da 6ª semana, ocorre formação do diafragma pela fusão de 61%.. No estudo de Lipshutz e cl, citado por Moya F, nenhum
de 4 componentes embrionários: as membranas pleuroperitoneais paciente com LHR menor que 1 sobreviveu, a despeito do uso da
estendem-se para se fundirem com o mesentério dorsal do esôfa- oxigenação por membrana extra-corpórea (ECMO); entre 1 e 1,4,
go e do septo transverso, separando as cavidades pleurais da pe- a sobrevivência foi de 38%, dos quais 75% requereram ECMO. No
ritoneal; o fechamento das aberturas é completado pela migração estudo de Laudy e cl, a sobrevivência foi de 100% com LHR >1,4
de mioblastos para dentro das membranas. A abertura pleuroperi- e 100% de mortalidade com LHR <1. Assim, quanto maior esta
toneal do lado esquerdo fecha-se mais tardiamente que a direita, relação melhor será a sobrevida.
onde ocorre mais freqüentemente o defeito de fechamento (85 a A presença de hérnia diafragmática no feto já antes da 25ª
90%), levando a Hérniação dos intestinos, estômago e baço para a semana de gestação está associada a 100% da mortalidade.
cavidade torácica; deslocando os pulmões e o coração.
A hérnia diafragmática congênita decorre do não fechamento Crescimento Pulmonar Fetal Na
dos canais pleuroperitoneais, resultando em uma grande abertu- Hérnia Diafragmática Congênita
ra (Forame de Bochdalek) na região póstero-lateral do diafragma,
tornando as cavidades peritoneal e pleural contínuas. Assim, a Por mais de 20 anos, significantes progressos tem sido obti-
hérnia diafragmática congênita combina um defeito muscular dos no manuseio da hérnia diafragmática congênita (HDC). No
entre o abdômen e a cavidade torácica com hipoplasia pulmonar. entanto, o prognóstico dos recém-nascidos (RN) permanece ruim
Ocorre em 1 em cada 2000 a 5000 nascimentos. Corresponde a nas formas em que grande parte do fígado está dentro do tórax.
8% das malformações dos neonatos. A severidade da HDC se deve a hipoplasia pulmonar, devido à
De todas as hérnias diafragmáticas, 85% a 90% são hérnias compressão do pulmão e ao seu deficiente desenvolvimento pe-
de Bochdalek. Destas, 80% são do lado esquerdo, 15% do lado las vísceras deslocadas para o tórax; nesta situação, o fígado é
direito e 2% bilateral (habitualmente fatais). Há uma leve prepon- particularmente nocivo ao crescimento do pulmão. Os efeitos da
derância do sexo masculino. compressão afetam tanto o parênquima alveolar como o aumen-
A hérnia diafragmática congênita é freqüentemente associada to da espessura da parede dos vasos distais conforme já descri-
com anomalias cardíaca (hipoplasia do arco aórtico, tetralogia de to. Novas técnicas estão em estudo para melhorar o tratamento
Fallot, transposição de grandes vasos ou coarctação da aorta), dos casos mais severos.
262 gastrintestinal, geniturinária, esquelética (membros curtos ou Bargy Fe cl avaliaram o padrão das lesões pulmonares dos fe-
defeitos costovertebrais), estenose traqueal ou neural (esta as- tos com HDC ao longo da gestação. Para o clínico é mandatório
sociação ocorrem entre 10 a 40%) e com trissomias. conhecer a evolução do padrão das lesões para definir o melhor
A hérnia diafragmática congênita é caracterizada pela presen- momento para o tratamento. Este estudo morfológico foi condu-
ça de vísceras abdominais na cavidade torácica, sendo a causa zido em 134 fetos humanos com idade gestacional entre 22 a
mais comum de hipoplasia pulmonar (devido à compressão que 40 semanas. Cada feto foi dissecado dentro de 2 horas de pós-
sofreu durante o seu desenvolvimento), que é o determinante da morte. Ambos os pulmões, direito e esquerdo foram removidos,
mortalidade. O achado de hérnia diafragmática fetal por volta da pesados e fixados em formalina a 10% por no mínimo 15 dias e
25ª semana de gestação está associado a 100% de mortalidade. embebidos em parafina. Foram construídas curvas de crescimen-
A hipoplasia pulmonar e a severidade da hipertensão pulmo- to do pulmão direito e esquerdo dos fetos sem comprometimento
nar (há uma redução no total de ramos arteriais e um aumento pulmonar e comparado com os fetos com HDC (Figura).
do músculo liso das artérias pulmonares, arteríolas pré-acinares
e intra-acinares, tanto por extensão em direção à periferia quan-
to na espessura) são os maiores determinantes da mortalidade;
causando alterações na complacência pulmonar, falência respi-
ratória ao nascimento, hipoxemia, shunt extrapulmonar da direita
para esquerda (se houver hipertensão pulmonar), acidose pro-
gressiva e falência cardíaca. Na ausência de anomalias associa-
da, a mortalidade tem sido descrita entre 13 e 65%, podendo
chegar a 90% na presença de anomalias severas. A sobrevida é
maior quando ocorre à esquerda (68% versus 63%).
No diagnóstico pré-natal, a ultra-sonografia mostra vísceras
abdominais na cavidade torácica, levando o desvio do medias-
tino e polihidrâmnio.
Há muitos marcadores que correlacionam com pior prognóstico.
Atualmente, a relação pulmão/perímetro cefálico fetal (LHR – lung
head ratio) é o mais utilizado. Um RN com HDC que apresenta
LHR de 0,4 ou 0,5 (ou seja, o pulmão não é tão pequeno) a taxa de
sobrevivência é muito boa. A mortalidade é elevada quando o pul-
mão é extremamente pequeno em relação ao perímetro cefálico.
Dados mais atualizados sobre o LHR e mortalidade evidencia-
ram que todos os neonatos com LHR menor que 0,6 morreram; a
sobrevivência foi de 100% para aqueles com LHR maior que 1,35
e aqueles com LHR entre 0,6 e 1,35, a taxa de sobrevivência foi
Capitulo 07 Distúrbios Respiratórios
Observem que não foram observadas diferenças entre os pesos •Vísceras abdominais na cavidade torácica
dos pulmões entre os dois grupos entre 22-26 semanas se idade •Desvio do mediastino
gestacional. Entre 27-30 semanas de gestação, o peso do pul- •Polihidrâmnio
mão esquerdo foi significantemente menor no grupo com hérnia •No pós-natal
diafragmática congênita do que no grupo controle sem patologia •Abdome escavado
pulmonar, não havendo diferença significativa entre os dois grupos •Insuficiência respiratória
em relação ao pulmão direito. No entanto, a partir de 30 semanas •Ruídos hidroaéreos no tórax
de gestação, o peso do pulmão direito tornou-se significativa- •bulhas cardíacas deslocadas
mente menor no grupo com HDC em relação ao grupo controle.
Os resultados do presente estudo, realizado ao longo de 15 Quanto ao uso de corticosteróide pré-natal: estudo clínico ran- 263
anos, reforçam a teoria da compressão pulmonar pelas vísceras domizado e controlado projetado por Moya F não mostrou diferen-
Hérniadas como sendo a origem da hipoplasia pulmonar. Com o ça significativa entre os grupos quanto à sobrevida (59% versus
avançar da idade gestacional há piora progressiva. Interessante 69% no grupo com esteróide). Foram recrutadas apenas 32 ges-
é o fato de que as lesões são bilaterais e ocorrem com o tempo. tantes. A evidência no momento é que: se a mãe entrar em traba-
Antes de 26 semanas a histologia do pulmão é normal, incluin- lho de parto prematuro (antes de 34 semanas) o esteróide é reco-
do o componente vascular. Mais tardiamente, a compressão mendado. Após 34 semanas parece não haver qualquer benefício.
exercida pelas vísceras Hérniadas, especialmente o fígado, ex- RX de tórax evidencia um hemitórax preenchido com estruturas
pressa seu efeito nocivo tanto no desenvolvimento alveolar como semelhantes a cistos (alças intestinais), desvio do mediastino e
vascular. Isto é observado inicialmente no pulmão esquerdo e abdome relativamente sem gás. O diagnóstico diferencial deve ser
posteriormente no pulmão direito. As lesões pulmonares pioram feito com a malformação adenomatóide cística do pulmão (consi-
assim que a gestação progride. Em outras palavras, a hipoplasia derar esta possibilidade nos casos dos achados radiológicos ocor-
pulmonar seria relativamente menos severa com 34 semanas rerem no lado direito ou quando a posição do estômago está abai-
do que com 40 semanas para a mesma forma anatômica. xo do diafragma) e pneumonia com formação de pneumotoceles.
Diagnóstico
Paulo R. Margotto
Assistência ao Recém-Nascido de Risco
40/min. Objetivar saturação pré-ductal de oxigênio entre 85% e insuficiência cardíaca direita frequentemente torna-se eminente
95% e pós-ductal >70%. Em situações individualizadas, manter a no momento do fechamento do canal arterial. Sinais e sintomas
saturação pré-ductal >80%, desde que se mantenha boa perfu- de insuficiência ventricular direita, aumento da desaturação pré-
são tissular. Manter a PaC02 entre 45-60mmHg. Vigorosa hiper- ductal com ou sem estreitamento da diferença pré e pós ductal
ventilação para induzir redução da resistência vascular pulmonar e hipotensão arterial sistêmica e sinais de deficiente perfusão,
via alcalose respiratória não é recomendada devido à injúria pul- podem ser indicativos que o canal arterial está se tornando res-
monar relacionada ao respirador. tritivo e após a confirmação pela ecocardiografia justificaria o uso
Surfactante pulmonar: deve ser usado quando indicado; não da prostaglandina E-1 para reabrir o canal arterial e diminuir a so-
está indicado de forma rotineira para todo recém-nascido: a ad- brecarga ventricular direita. Portanto, shunt ductal em uma crian-
ministração do surfactante não traz benefícios (a mortalidade ça com significante hipertensão pulmonar e disfunção ventricular
tem sido maior no grupo com o uso de surfactante). O pool de direita, diminuiria a pós-carga ventricular direita, com melhora da
surfactante no pulmão de pacientes com hérnia diafragmática geometria do septo interventricular e com melhora do débito car-
não estava diminuído, segundo estudo recentes de Janssen e cl: díaco, melhorando a perfusão tecidual percebida pela melhora da
73mg/kg, ao passo que a média de surfactante no pulmão do RN pressão arterial sistêmica e do débito urinário.
com doença da membrana hialina é 10mg/kg Estes recém-nascidos apresentam relativa hipoplasia do ven-
Elevação do decúbito, colocando-se o paciente de preferência trículo esquerdo (os pulmões hipoplásicos levam a uma falta
sobre o lado afetado (facilita a expansão do lado normal). de pré-carga ventricular esquerda e subseqüentemente, inibe o
Descompressão do estômago e alças intestinais: aspirar o desenvolvimento ventricular), sendo provavelmente o maior de-
conteúdo gástrico com SOG nº 8 e a seguir, deixá-la aberta para terminante de hipertensão pulmonar (venosa) e a falta de res-
descompressão do estômago e alças intestinais que estão na posta ao óxido nítrico. Esta importante disfunção do ventrículo
caixa torácica. Havendo necessidade, ou seja, se houver ar den- esquerdo pode levar a dependência do ventrículo direito para a
tro do estômago, manter aspiração contínua. adequada perfusão sistêmica. Neste contexto, a manutenção da
Cateterismo de vasos umbilicais: a Pa02 obtida do cateter arterial patência ductal com o uso da prostaglandina E-1 aumenta a con-
umbilical reflete a oxigenação do sangue pós-ductal. É essencial a mo- tribuição do ventrículo direito para o fluxo sistêmico.
nitorização da Pa02 pré-ductal (oxímetro no membro superior direito). A prostaglandina E-1 pode levar a hipotensão sistêmica, sendo
Monitorização da pressão arterial: a hipoxemia, a hipercap- prontamente revertida com a sua suspensão, devido a sua curta
nia e a acidose decorrem, basicamente, do shunt D-E pelo canal vida média.
arterial e/ou foramen oval, devido à intensa vasoconstricção pul- ProstinR (Prostaglandina E1) EV contínua na dose de 0,05 até
monar (hipertensão pulmonar), sendo este quadro agravado com 0,1mcg/kg/min; dose máxima: 0,4mcg/kg/min. Obtendo-se au-
a presença de hipotensão arterial sistêmica. Manter a PAM (pres- mento da Pa02 e do pH, deve-se diminuir a dose até 0,01 mcg/
são arterial média) em níveis normais, de acordo com a idade kg/min para evitar efeitos colaterais como apnéia (12%) febre
gestacional. Se hipotensão arterial (de forma geral <30mmHg em (14%) rubor (15%). Os efeitos colaterais menos comuns são ta-
264 pré-termos e <50mmHg em RN a termo) associada à saturação quicardia ou bradicardia, hipotensão arterial e parada cardíaca.
pré-ductal <80%, avaliar função cardíaca com ecocardiografia e Monitorizar acidose metabólica.
em caso de hipovolemia, aplicar 10-20ml/kg de soro fisiológico Prostin: 1 m l= 500mcg - Como usar: peso x dose x 1440/500
a 0,9% até 3 vezes e considerar drogas vasoativas: dopamina:
2,5 µg/Kg (peso x 1440 x dose/5000), dobutamina: 5µg/kg/min Estratégias Ventilatórias
(peso x 1440 x dose/12500)
Analgesia/sedação/manipulação mínima: estes RN apresen- Ao nascer, o RN deve ser prontamente entubado para venti-
tam grande labilidade na oxigenação arterial (punções arteriais lação e uma sonda orogástrica deve ser introduzida, para esva-
e venosas): o exame clínico e a aspiração traqueal aumentam ziamento gástrico. Nunca usar máscara para reanimar estes RN.
o shunt D-E, agravando a hipoxemia. Manipular o estritamente Ventilar o RN com pressões menos agressivas, devido ao maior
necessário. Manter calmo e silencioso o ambiente ao redor do risco de barotrauma.
paciente; recomenda-se o uso de drogas analgésicas e sedativas:
Fentanil e Midazolam (vide Capítulo de Dor Neonatal) 1. Ventilação com pressão controlada e parâmetros iniciais:
Paralisia muscular: não deve ser usado, devido a conseqüên- PIP 20-25 cm H2O e PEEP de 2-5 cm H2O, FR 40-60/min;
cias indesejáveis na mecânica ventilatória. 2. Para os RN com grave hipóxia e/ou hipercapnia refra-
Diuréticos: considerar uso de diuréticos em caso de balanço tária (falha da ventilação convencional) empregar ventila-
hídrico positivo, objetivando diurese entre 1-2 ml/kg/h; ção de alta frequência com MAP 13-17, FR 10Hz, amplitu-
Ecocardiograma (inicial com 24 horas de vida e seriado): avalia- de 30-50, em acordo com a vibração torácica, se houver
ção da hipertensão pulmonar e da função ventricular direita. Ventrí- necessidade de PIP > 25 na ventilação convencional. A
culo esquerdo pequeno complica a evolução destes pacientes. ventilação de alta frequência por usar menor volume cor-
Uso de Prostaglandina E-1: Em situações de hipertensão rente pode ser menos deletéria aos pulmões do que uma
pulmonar refratária associada com disfunção ventricular direita ventilação convencional com alto volume corrente.
(avaliação ecocardiográfica) 3. Após estabilização, reduzir Fi02 se saturação pré-duc-
A hipoplasia pulmonar, a resistência vascular pulmonar e a tal >95%;
insuficiência cardíaca determinam a fisiopatologia da hérnia dia-
fragmática congênita. A insuficiência cardíaca pode surgir devido A pressão deve permitir uma boa oxigenação, isto é, uma sa-
à excessiva pós-carga do ventrículo direito (demonstrada pelo turação pré-ductal > 90%. De preferência, a pressão inspiratória
aumento do ventrículo direito e desvio para a esquerda do septo máxima não deve ultrapassar 25 cm H2O, e a freqüência respira-
interventricular). Esta situação pode levar a um insuficiente enchi- tória deve se manter entre 30 e 40 ipm.
mento do ventrículo esquerdo e deficiente perfusão sistêmica. O Não se aconselha hiperventilação (que busca reverter a hiper-
canal arterial patente pode servir como um escape para o ventrí- tensão pulmonar às custas de alcalose respiratória e hiperoxia,
culo direito, permitindo que o sangue ignore os pulmões particular- causando alterações no pulmão remanescente com formação de
mente nos picos de hipertensão pulmonar, à custa de desaturação membranas hialinas e áreas hemorrágicas, possibilitando o sur-
sistêmica. Assim, na presença de severa hipertensão pulmonar a gimento de barotrauma) e deve ser tolerada a hipoxemia (tolerar
Capitulo 07 Distúrbios Respiratórios
uma saturação pré-ductal de 02 de 85%), tolerar certo grau de de Pa02 maior que 100mmHg (100% de mortalidade) e aqueles
hipercapnia (manter a PaC02 entre 45-60mmHg), evitar sempre a que apresentaram Apgar menor ou igual a 6 no 50 minuto de vida.
ocorrência de hipocapnia (ocorre uma diminuição de 50% do flu- Estudo recente de Yoder evidenciou que a maior saturação de
xo sanguíneo cerebral quando a PaC02 cai de 50 para 20 mmHg, 02<85% nas primeiras 24 horas de vida não é universalmente
além de que ocorre maior afinidade da hemoglobina por oxigênio fatal (houve 23% de sobrevivência, sendo que a taxa aumentou
durante a alcalose, exacerbando ainda mais a hipoxia tecidual). para 44% quando realizou reparo cirúrgico).
Paulo R. Margotto
Assistência ao Recém-Nascido de Risco
Os pacientes com shunt ductal devem adiar sua correção e a 9. Não usar surfactante, exceto se indicado;
decisão é reavaliada numa base diária. 10. Adaptar o tratamento para obter saturação pré-ductal
Isso pode adiar a decisão de operar até uma semana em al- entre 85-95% e pós-ductal >70%;
guns casos. 11. Em situações individualizadas, manter saturação pré-duc-
tal >80%, desde que se mantenha boa perfusão tissular;
Dieta 12. Buscar PaC02 entre 45-60 mmHg;
13. Ventilação com pressão controlada e parâmetros iniciais:
Quando iniciar a nutrição enteral, associar medidas antirefluxo PIP 20-25 cmH2O e PEEP de 2-5 cm H2O, FR 40-60/min;
Critérios Para Uso De ECMO (Oxigenação Por Membrana Ex- 14. Opção: Ventilação de alta frequência com MAP 13-17,
tracorpórea) FR 10Hz, amplitude 30-50, em acordo com a vibração
torácica, se houver necessidade de PIP > 25;
1. Inabilidade de manter saturação pré-ductal >85% ou 15. Após estabilização, reduzir Fi02 se saturação pré-duc-
pós-ductal>70%; tal >95%;
2. Aumento da PaC02 e acidose respiratória <7.15; 16. Se surgirem sinais de hipoperfusão e/ou queda da PAM
3. PIP > 28 ou MAP>17 na ventilação de alta frequência <idade gestacional, associado à saturação pré-ductal
para obter saturação >85%; <80%, avaliar função cardíaca com Ecocardiografia e, em
4. Acidose metabólica mantida, com lactato >5mmol/l e caso de hipovolemia, aplicar 10-20 ml/kg de SF até 3 vezes,
pH<7.15; se necessário, em 2 horas, e considerar uso de inotrópicos;
5. Hipotensão sistêmica resistente e débito urinário 17. Considerar uso de diuréticos em caso de balanço hídri-
<0,5ml/kg/h durante 12-24h; co positivo, objetivando diurese entre 1-2 ml/kg/h;
6. IO ≥40 persistente. 18. Fazer Ecocardiografia nas primeiras 24 h de vida;
19. Considerar uso de NOi se houver evidências de shunt
Segmento A Longo Prazo D-E extrapulmonar, com IO >20 e/ou diferença de satura-
ção pré e pós-ductal >10%; considerar o uso de sildenafil
Estas crianças necessitam de acompanhamento multidiscipli- ou alcalinização química com bicarbonato de sódio para
nar com pediatras especializados em pneumologia, neurologia, reduzir a pressão na circulação pulmonar, na ausência
gastroenterologia e em patologias musculoesqueléticas. de NOi.
Estes problemas podem ser: recorrente Hérniação, atrasos no 20. Em caso de pressão arterial pulmonar > que pressão
crescimento, doença pulmonar crônica, complicações alimen- arterial sistêmica, com shunt D-E (foramen oval ou canal
tares, refluxo gartroesofágico, fraqueza, surdez e deformidade arterial) e disfunção cardíaca direita, considerar uso de
músculo-esqueléticas. Prostaglandina E1;
No estudo de seguimento doas crianças com HDC por 1 a 3 21. Cirurgia somente após estabilização clínica, ou seja,
266 anos, FriedmanS e cl relataram a ocorrência de problemas pul- a PAM igual à IG, saturação pré-ductal 85-95 sob Fi02
monares em 34 e 33% nas idades de 1 e 3 anos. Os problemas <50%, lactato <3 mmol/l e débito urinário >2ml/kg/h;
de linguagem e motores ocorreram em 6 e 18% e em 73 e 60% 22. Não aplicar dreno torácico de rotina; fazê-lo somente
nas idades de 1 e 3 anos. Na análise multivariada, o tempo de se houver pneumotórax hipertensivo ou em caso de der-
ventilação mecânica foi o único preditor independente para pro- rame pleural hipertensivo (geralmente quilotórax princi-
blemas motores (OR:1,12 -IC a 95%: 1.05 – 1.20). Devido à ob- palmente havendo aplicação de tela durante a cirurgia).
servação de discrepância entre as observações dos pais e de Se houver dreno torácico, deve haver controle sistemáti-
especialistas, é importante que estas crianças sejam acompa- co para que não haja exagero no desvio do mediastino
nhadas com especialistas em desenvolvimento. para o lado afetado. Muita atenção deve ser dada nas ra-
Conforti A e Losty P relataram a ocorrência de refluxo gastroe- diografias de tórax para evitar hiperinsuflação pulmonar;
sofágico em 89%, provavelmente relacionado à disfunção do dia- o lado contralateral deve ser mantido com, no máximo, 8
fragma, sendo que a maioria requereu correção. A insuficiência costelas visíveis no campo pulmonar.
respiratória crônica ocorreu em mais de 48% dos casos, devido à 23. Evitar bloqueador neuromuscular;
hipoplasia pulmonar e a lesão pulmonar. 24. Quando iniciar dieta oral associar medidas antirefluxo.
Mais de 40% dos sobreviventes apresentam deformidades da
parede torácica como pectus excavatum e deformidades da colu- Bibliografia
na, incluindo escoliose.
• Bohn e cl. Posnatal management of congenital diaphragmatic Hérnia. Clin Perinatol
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Em Resumo • Maksoud JG. Recém-nascido com afecções cirúrgicas. Em Vaz F A C, Manissad Jean A,
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2. Se IG < 34 semanas, fazer corticóide antenatal; • Procianoy, RS. Óxido Nítrico. Indicações. IN: Margotto PR. Boletim Informativo Pediátrico
3. Após o nascimento, o RN deve ser intubado imediata- –BIP ( Brasília),N0 62. 1999.
• Kinsella J. Óxido Nítrico: mecanismo de ação. IN: Margotto PR Boletim Informativo Pediá-
mente; sem ventilação por máscara facial; trico –BIP (Brasília), N0 62, 1999.
4. Na sala de parto, objetivar saturação pré-ductal entre • Lopes J M A. Como utilizar o NO. IN: Margotto PR. Boletim Informativo Pediátrico –BIP
(Brasília)’N0 62, 1999.
80-95%; • Nelin L D, Hoffman G M. The use of inhaled nitric oxide in a wide variety of clinical prob-
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5. Ventilação na sala de parto deve impor PIP baixos, se • Wilcox DT e cl. Pathophysiology of congenital diaphragmatic Hérnia. V. Effect of exogenous
possível < 25 cmH2O; surfactant therapy on gas exchange and lung mechanics in the lamb congenital diaphrag-
matic Hérnia model. J. Pediatr 124: 289, 1994.
6. Manter SOG com aspiração contínua ou intermitente; • Schnitzer e cl. Prenatal glucocorticoid therapy reverses pulmonary in maturity in congenital
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7. Manter pressão arterial sistêmica média em nível nor- • Sakai H e cl. Effect of surgical repair on respiratory mechanics in congenital diaphragmatic
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ml/kg de SF 1-2 vezes e considerar uso de inotrópicos; nosed congenital diaphragmatic Hérnia? J Pediatr Surg 31: 1634, 1996
8. Aplicar sedo-analgesia;
Capitulo 07 Distúrbios Respiratórios
267
Paulo R. Margotto
Assistência ao Recém-Nascido de Risco
7.11 TRAQUEOSTOMIA
O que se tem colocado, é a realização de broncoscopia em ne- As traqueostomias recentes devem receber umidificação contí-
onatos que apresentem dificuldade de extubação ou de desma- nua até a primeira troca para prevenir obstrução.
me ventilatório, a fim de se detectar possíveis danos traqueais Outras complicações precoces são enfisema subcutâneo,
congênitos ou adquiridos em virtude da intubação prolongada, pneumotórax e pneumomediastino.
possibilitando uma indicação mais precisa da traqueostomia. Algumas das complicações tardias mais freqüentes são o apa-
A atitude dos pacientes e de seus cuidadores influencia na es- recimento de granulomas, estenose laríngea e estenose traqueal.
colha do tratamento, assim como os fatores sócio-econômicos e a É importante salientar que granulomas geralmente são comuns e
disponibilidade do profissional em oferecer um suporte domiciliar. em muitas descrições não são consideradas como complicação,
Algumas questões que podem ajudar na decisão de submeter sendo mencionadas apenas quando complicações mais sérias de-
uma criança a traqueostomia estão disponíveis no quadro 1. correm de sua existência. A estenose laríngea é rara e usualmente
ocorre como conseqüência de uma lesão involuntária da cricóide.
A criança com obstrução de via aérea alta A decanulação acidental é a segunda causa de morte relacio-
Baixa chance de resolução definitiva e espontânea nada à traqueostomia, atrás apenas da obstrução. Ocorre por
com um tempo razoável (semanas) exemplo, quando a cânula é impropriamente posicionada duran-
te a traqueostomia inicial ou suas trocas subseqüentes.
Baixa probabilidade de a cirurgia corrigir definitivamente a causa
Mesmo em recém-nascidos pré-termo de muito muito baixo
Alto risco de obstrução crítica das vias aéreas com uma simples
peso, embora apresentando maior incidência de comorbidades,
infecção do trato respiratório ou
a traqueostomia pode ser realizada com mínima morbidade.
pequenos sangramentos (epistaxes)
Alto risco de ou história prévia de dificuldade de manejo de vias Mortalidade
aéreas em situações de emergência
Dificuldade de controle do refluxo gastro-esofágico A taxa de mortalidade total dos pacientes pediátricos traque-
A criança requerendo ventilação ostomizados é cerca de 40% em média nos estudos levantados,
mecânica prolongada/higiene pulmonar e a taxa de mortalidade relacionada à traqueostomia sofreu va-
Baixa idade com alto risco de deformidade riações nos estudos avaliados, variando de 0 a 6%., sendo as
facial pelo uso de máscara de pressão causas relacionadas à morte a decanulação acidental e obstru-
Dependência de ventilação na maior parte ção do tubo.
do dia (mais que 12 horas por dia) Embora as taxas de complicação e mortalidade geral sejam
Impossibilidade de acoplar a máscara (facial ou nasal) maiores em lactentes menores de 1 ano em relação as faixas pe-
diátricas subseqüentes, essa mortalidade se deve às patologias
Aspirações recorrentes (refluxo gastro-esofágico, incompetência
de base associadas e não à existência da traqueostomia, sendo
laríngea com benefício para higiene pulmonar).
a mortalidade específica semelhante em todas as faixas etárias.
Medidas seguras e experiência local alta
A taxa total de mortalidade parece ser maior em crianças com 269
em favor da ventilação invasiva
cardiopatias ou doenças do sistema nervoso central, e menor
nas crianças com anomalias craniofaciais ou obstrução aguda
Quadro 1 – Critérios favorecendo a traqueostomia em crianças de vias aéreas.
Fonte: TRACHSEL, 2006.
Tipos De Cânula
Complicações
A seleção do tubo adequado deve ser tomada com bases indi-
As complicações podem ser divididas entre aquelas que ocor- viduais, considerando a indicação da traqueostomia; diâmetro,
rem no intra e pós-operatório, sendo estas classificadas em ime- curvatura e comprimento da traquéia; resistência das vias aére-
diatas, precoces e tardias. as; mecânica pulmonar; necessidade da criança em falar e respi-
As imediatas incluem apnéia por perda do drive respiratório hi- rar e de higiene pulmonar.
póxico, sendo esse fato muito importante em pacientes acordados
em que o suporte respiratório nesses casos deve ser avaliado. Tamanho E Curvatura Da Cânula De Traqueostomia
Já o edema pulmonar pós obstrutivo, embora raro, pode ser
transitório e ocorrer após a traqueostomia, o qual é proveniente Na maioria dos casos, o tubo escolhido deve se estender pelo
da resolução abrupta da obstrução alta das vias aéreas. menos 2 cm abaixo do estoma, e a pelo menos 1 a 2 cm acima
O sangramento pode ocorrer no pós-operatório precoce se a da carina. O diâmetro do tubo deve ser selecionado no sentido de
hemostasia no intra-operatório não foi bem feita ou se existe evitar danos à parede traqueal, minimizar o trabalho respiratório
uma discrasia sanguínea ou coagulopatia não diagnosticada. e, quando possível, promover um fluxo translaríngeo.
Além disso, a cânula pode causar irritação e inflamação locais No que diz respeito à curvatura do tubo, o mesmo deve ser concên-
resultando em hemorragia. Esse risco pode ser minimizado com trico e colinear à traquéia. Para escolha de uma curvatura adequada
cuidados apropriados e umidificação adequada. são necessárias radiografia cervical e torácica, ou broncoscopia.
Os tubos metálicos podem causar erosão do traqueostoma e Todos os tubos devem ter um adaptador universal para ambú
até mesmo da parede anterior da traquéia e, se não tratada, essa para situações de emergência, sendo que tubos metálicos são
erosão pode se estender até a artéria inominada, resultando em geralmente produzidos sem essa capacidade.
hemorragia potencialmente fatal. A maioria das cânulas metálicas tem um tubo interno que re-
A infecção local pode ocorrer como em qualquer procedimento duz o diâmetro da cânula. Em crianças pequenas, principalmente
cirúrgico e é facilmente tratada com antibiótico oral. em prematuros, isso pode causar uma resistência excessivamen-
A decanulação acidental e obstrução da cânula podem ser te alta das vias aéreas.
evitadas com cuidados adequados da traqueostomia, e todos os As cânulas com tubo interno podem ser úteis em pacientes que
cuidadores devem ser treinados para manejar uma decanulação tem secreção copiosa que adere à parede do tubo. A limpeza da
acidental, incluindo trocas de cânula quando de emergência e cânula interna evita a necessidade de trocas freqüentes.
ressuscitação cardiopulmonar
Paulo R. Margotto
Assistência ao Recém-Nascido de Risco
Já os tubos plásticos (PVC ou silicone) são fáceis de limpar e Enquanto tubos de silicone não se tornam rígidos, dificilmen-
trocar. São preferidos na maioria das instituições e por serem mais te apresentam rachaduras e podem ser usados após esteriliza-
largos promovem uma menor resistência nas vias aéreas. Além ção e desinfecção.
disso, permitem maior conforto na movimentação cervical por se- Tubos de metal podem ser reutilizados indefinidamente e de-
rem flexíveis, porém lembrar que os tubos de PVC com o passar do vem ser inspecionados para possíveis rachaduras ou defeito.
tempo podem se tornar mais rígidos e sofrer rachaduras.
Nos pacientes em que a cânula de PVC não promove uma ade- Fixação Do Tubo
rência ótima, um tubo de silicone pode adquirir a conformação
da via aérea e ser uma melhor opção. Vários materiais, como gravatas de velcro, adesivos, elásticos
entre outros, estão disponíveis para fixar o tubo.
Cânulas Com Balonete A tensão correta para fixação do tubo é dada quando um dedo
pode ser colocado entre a gravata e a parte posterior do pescoço,
Tubos com balonete podem ser usados para diminuir o risco de sem forçar e com o pescoço flexionado.
aspiração ou para pacientes que requerem ventilação mecânica, O ponto mais importante na escolha da gravata para fixação
inclusive ventilação noturna. O balonete é insuflado à noite para não é o material do qual é feita e sim se ela é segura em estabe-
ventilação e desinsuflado durante o dia para facilitar a fonação. lecer a fixação adequada.
No emprego de um tubo com balonete deve-se fazer distinção
entre alta pressão e baixo volume/baixa pressão e alto volume. Aspiração
Quando um tubo de baixa pressão e alto volume é empregado,
a pressão no balonete deve ser mantida o mais baixo possível. Assegurar uma via aérea por meio da aspiração é um compo-
Geralmente pressões abaixo de 20 cm de água são bem tolera- nente vital no manejo da criança com traqueostomia.
das. Em pacientes que recebem ventilação com pressão positiva As recomendações quanto à aspiração de vias aéreas de pa-
a técnica de mínima oclusão deve ser usada. cientes criticamente enfermos não são específicas para crianças
Já quando um tubo de baixo volume e alta pressão é emprega- com traqueostomia, porém são consideradas apropriadas para
do, a pressão do balonete deve ser mais alta do que a pressão de este grupo de pacientes.
perfusão capilar do epitélio da via aérea. Nesses casos, o máxi-
mo diâmetro do tubo de traqueostomia com o balonete insuflado • Técnica limpa x estéril: técnica estéril é definida como
deve ser mantido menor do que o mínimo diâmetro da traquéia. o uso de luvas e cateteres estéreis para o procedimento
de aspiração. Já técnica limpa é definida como o uso de
Cuidados Com A Traqueostomia cateter limpo não estéril, luvas de procedimento ou lava-
gem das mãos antes do procedimento. A técnica estéril é
Desde que as traqueostomias em crianças têm sido realiza- o método mais utilizado no ambiente hospitalar, embora
270 das, em sua maioria devido à ventilação mecânica, conceitos de essa prática sofra variações, como uma “técnica limpa
cuidados em longo prazo tiveram de ser desenvolvidos, e em mui- modificada” (luvas de procedimento e cateter estéril). A
tos casos, esse manejo depende da indicação da traqueostomia. técnica limpa é o procedimento habitualmente utilizado
No caso de uma obstrução crônica das vias aéreas, a traque- em domicílio. Todos os cuidadores devem lavar bem as
ostomia é utilizada como uma passagem para estenose. Já na mãos antes e após o procedimento e as luvas de proce-
presença de traqueomalácia, a cânula de traqueostomia pode dimento podem ser usadas para proteção do cuidador.
ser usada como um suporte para via aérea. • Freqüência de aspiração: a rotina de aspiração é feita
A maioria das traqueostomias realizadas com uma indicação de acordo com as necessidades de cada paciente, que
formal pode ser removida, uma vez que a patologia de base seja pode variar de acordo com características individuais,
corrigida cirurgicamente ou ocorra uma melhora com o cresci- incluindo idade, status muscular e neurológico, nível de
mento e desenvolvimento da via aérea. atividade, capacidade de tossir, viscosidade e quantida-
As traqueostomias que são realizadas para fornecer suporte de de muco e maturidade do estoma.
ventilatório podem ser removidas, uma vez que este suporte pos- • Tamanho do cateter de aspiração: a literatura recomenda o
sa ser fornecido de maneira não invasiva. uso de um cateter de aspiração que tenha metade do diâme-
O manejo em longo prazo difere nestes dois grupos em termos tro do tubo de traqueostomia. Isso permite um fluxo de ar ao
de protocolos de decanulação. No entanto, a seleção do tubo, redor do cateter para evitar atelectasia durante a aspiração.
os cuidados com o manejo da cânula e estoma, e a educação e • Pressão de aspiração: pressões de 80 a 100 mmHg são
treinamento dos cuidadores é praticamente a mesma. tipicamente usados para pacientes pediátricos. O vácuo
aplicado ao cateter de aspiração é variável e baseado
Troca De Cânula em múltiplos fatores como, por exemplo, a viscosidade
das secreções. A aspiração deve ser aplicada durante a
A freqüência das trocas depende do material do qual é feito o inserção e retirada do cateter, e deve ser adequada para
tubo, e não se têm estudos representativos sobre o tempo ideal de remover eficazmente as secreções com rápida passagem
permanência da cânula relacionado à diminuição de complicações. do catéter. Antes da alta, a máquina que será utilizada
Segundo a Sociedade Torácica Americana (ATS), tubos flexíveis para aspiração em domicílio deve ser usada para asse-
de polivinil cloride (PVC), que atualmente são os mais utilizados gurar que esta seja adequada para manter o paciente
na população pediátrica, se tornam progressivamente mais rígi- livre de secreções.
dos e podem desenvolver rachaduras. Já experiências clínicas • Duração da aspiração: a literatura tipicamente sugere um
sugerem que estes tubos podem ser usados por até 3 a 4 meses limite de aspiração de 15 segundos. Uma técnica rápida,
antes de apresentar rachaduras. que seja executada em menos de 5 segundos é recomenda-
É necessário considerar que alguns pacientes necessitam de tro- da. Isso é vital quando é usado um catéter largo em relação
cas mais freqüentes devido ao grande acúmulo de secreção e alguns ao diâmetro da traqueostomia para prevenir atelectasia.
fabricantes (p ex: SHILEY) recomendam a troca com 30 dias de uso.
Capitulo 07 Distúrbios Respiratórios
Educação Dos Cuidadores quadamente, o paciente pode ser decanulado naquele momento.
A vantagem desta técnica é que ela permite um reconhecimen-
Um protocolo estruturado de treinamento, baseado nas necessida- to de fatores anatômicos, como granuloma na via aérea, o que
des de cada criança e no equipamento utilizado, tem se mostrado útil. reduz as chances de falha de decanulação.
A educação é preferencialmente iniciada antes da traqueosto- Quanto às complicações que podem acarretar dificuldade e até
mia eletiva, e os tópicos incluem indicações de traqueostomia, mesmo impedimento no momento da decanulação, citamos:
aspectos relevantes de anatomia e fisiologia e diferenças em re-
lação à respiração normal. • Granuloma supra estomal: os granulomas são uma com-
Durante o pós-operatório, os pais são encorajados a passar o plicação comum e costumam ocorrer na borda superior
máximo de tempo possível com a criança para ganhar confiança do traqueostoma, onde a mucosa é irritada e inflamada
e obter a destreza necessária para lidar com o desafio que é ter pela presença da cânula. Granulomas grandes e obstruti-
uma criança traqueostomizada em casa. vos devem ser tratados antes da decanulação.
Todas as crianças devem receber cuidados de enfermagem • Colapso supra estomal: algum grau de colapso da pare-
em domicílio por um período de transição após a alta. A duração de anterior da traquéia superior ao traqueostoma é qua-
deste cuidado deve ser prescrita pelo médico baseado em dados se inevitável em pacientes com traqueostomia de longa
individuais, com visitas periódicas aos especialistas do serviço data. Isso resulta da pressão que o tubo de traqueosto-
terciário. Cuidados como alimentar, dar banho e colocar para dor- mia exerce no anel traqueal, com conseqüente inflama-
mir são demonstrados e gradualmente assimilados pelos pais. ção, condrite e até mesmo erosão da cartilagem do anel.
A criança traqueostomizada, tanto dentro da instituição quanto O grau de colapso que geralmente ocorre não requer cor-
no ambiente domiciliar, deve ser cuidada por indivíduos que se- reção antes da decanulação. Colapso causando mais de
jam treinados em passar uma cânula de traqueostomia. Esses 50% de oclusão da luz traqueal requer uma cirurgia de
pacientes devem ser hospitalizados de preferência em institui- decanulação aberta ou até mesmo cirurgia de reconstru-
ções cujos seus cuidadores – tanto médicos quanto os cuidado- ção do estoma. A incisão horizontal para traqueostomia
res domiciliares - estejam disponíveis 24 horas por dia. está mais associada ao colapso supra-estomal.
O médico responsável pela decisão de realizar a traqueosto-
mia é também responsável por garantir um adequado treinamen- Com relação aos tipos de decanulação quando há complica-
to aos pais ou outros cuidadores quando estes existirem. ções citamos:
Paulo R. Margotto
Assistência ao Recém-Nascido de Risco
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272
Capitulo 08 Distúrbios Cardiológicos
Capítulo 8
Distúrbios
Cardiológicos
Assistência ao Recém-Nascido de Risco
O Coração do Recém-nascido
O coração do recém-nascido apresenta algumas peculiarida- pelo ducto arterial (terceiro desvio) atingindo a aorta descen-
des anátomo-fisiológicas, que diferem do coração da criança dente. Este trajeto privilegia o pólo cefálico fetal com um sangue
maior, cujo conhecimento é útil para a compreensão das altera- mais saturado de oxigênio.
ções cardíacas que podem ocorrer nesta fase da vida.
Vamos sumarizar estes conceitos enfocando o essencial para o
entendimento do presente capítulo.
Introdução
O átrio direito é o responsável pela distribuição de todo o volume O traçado do eletrocardiograma reflete a seqüência dos even-
sanguíneo das duas circulações. Para o ventrículo direito através tos elétricos do coração. De forma simplificada podemos dividi-
da valva tricúspide, e para o ventrículo esquerdo através do forame lo em: (Figura 4)
oval, átrio esquerdo e valva mitral. Este fato explica a sobrecarga
volumétrica do átrio direito observada em recém-nascidos. •Onda P – ativação atrial
Há também diferenças microscópicas. Durante a vida fetal o •Complexo QRS – ativação ventricular
coração ganha massa muscular principalmente devido à multi- •Onda T – despolarição ventricular
plicação celular com aumento do número de miócitos (fase hi- •Espaço PR – retardo da onda de ativação no nó atrioven-
perplásica). Com a proximidade do termo há uma tendência à tricular.
redução da atividade mitótica, com o ganho de massa ocorren-
do também por crescimento celular (hipertrofia). Nos primeiros
cinco dias de vida observa-se crescimento tanto por hiperplasia
quanto hipertrofia celular (fase intermediária). A partir do décimo
quarto dia de vida instala-se a fase definitiva (fase hipertrófica),
quando o coração só crescerá por aumento do tamanho dos mió-
citos, não ocorrendo mais multiplicação celular.
•RN = 0,11s
•Criança = 0,14s
•Adolescente = 0,16s
Paulo R. Margotto
Assistência ao Recém-Nascido de Risco
Valores Normais No RN
Os valores abaixo foram baseados no “guideline ECG neonatal”
da Sociedade Européia de Cardiologia-2002.
mente ocorrendo um aumento da FC no final da inspiração e uma Apresentação: AdenocardR: ampola de 2ml com 6mg (diluir
lentificação durante a expiração. Não exige nenhum tratamento. 1 ml que corresponde a 3000mcg em 9 ml de soro fisiológi-
Ocasionalmente a fase lenta propicia o aparecimento de ritmos co a 0,9%, formando uma solução final com 300mcg/ml.Não
de escape atrial. No RN os ritmos de escape ocorrem especial- refrigerar(ocorre cristalização). As metilxantinas são antagonis-
mente durante o sono, são comuns e tendem a desaparecerem tas específicos da adenosina)
espontaneamente nos primeiros meses de vida.
Amiodarona
Marcapasso Mutável Dose de ataque = 5mg/Kg em 30-60min EV com monitoriza-
ção cardíaca e controle rigoroso durante toda a infusão devido ao
Qualquer fator que propicie a diminuição de FC, por exemplo, risco de assistolia.
efeito vagal, uso de drogas, hipertensão intracraniana, arritmia Dose de manutenção a 10 a 15mg/Kg/dia EV em infusão con-
sinusal, favorece o aparecimento do marca-passo mutável. tínua ou 5 a 7 mg/kg/dose cada 12 horas VO por 5 dias. Reduzir
O diagnóstico se faz pelo achado de ondas P com morfologias gradativamente até 2 a 5 mg/Kg/dia
e/ou orientações diversas em uma mesma derivação do ECG. Apresentação: AtlansilR :ampola de 3ml com 150mg (50mg/ml)
Não exige tratamento. compr. de 200mg
Procainamida
Extrassístoles Atriais 3 a 6 mg/kg EV em 5 minutos de ataque. Pode ser repetida a
cada 10 minutos até uma dose máxima de 15 mg/kg. Manter 20
É o impulso precoce que despolariza os átrios em uma seqüência a 80 µg/kg/min em infusão contínua.
anormal. O ECG evidencia ondas P prematuras, com morfologias
e/ou orientação diferentes das ondas P sinusais. O QRS é normal, • Cardioversão Elétrica – Quando houver sinais de baixo débi-
a não ser que ocorra condução aberrante para os ventrículos. São to deverá ser a conduta de escolha ou quando as outras me-
comuns no RN, em conseqüência da imaturidade do sistema adre- didas não tiveram sucesso. 0,25 a 1 joule/kg após sedação.
nérgico e tendem a desaparecerem nas primeiras semanas de vida.
Síndromes De Pré-Exitação
Taquicardias Supra-Ventriculares
Nestas síndromes o ventrículo é ativado precocemente através
É o ritmo resultante de um mecanismo anormal que se origina de via de condução acessória.
em um ponto do coração próximo à bifurcação do feixe de HIS. Na síndrome de Wolff-Parkinson-White (WPW) o ECG mostra
Admite-se que existam três mecanismos básicos na gênese dessas um intervalo PR curto (menor que 0,08 s), com um QRS anormal-
arritmias, automatismo anormal (foco ectópico), por reentrada e arrit- mente prolongado. A porção inicial alargada é chamada de onda
mia deflagrada. Na criança o mecanismo mais envolvido parece ser delta, devida a ativação dos ventrículos através da via anômala.
a reentrada por uma conexão anômala (síndromes de pré-exitação). Cerca de metade dos pacientes com WPW evoluem com episó- 277
É a arritmia sintomática mais comum na criança, com dios de taquicardia atrial paroxística.
maior freqüência no primeiro ano, especialmente no primeiro Na síndrome de Lown-Ganong-Levine o intervalo PR também é
semestre de vida. encurtado, porém o QRS é normal, sem onda delta.
Mais da metade das crianças com esta arritmia não apresen- O diagnóstico é realizado através do ECG, com os achados des-
tam nenhuma anomalia estrutural do coração predisponente. De critos acima.
20 a 30% apresentam evidências de pré-exitação (Wolff-Parkin- O RN portador desta anomalia deverá ser encaminhado para
son-White e Lown-Ganong-Levine). acompanhamento especializado devido ao risco do desenvolvi-
O ECG durante os episódios revela frequência cardíaca (FC) mento de taquiarritmias.
entre 150 e 300 bpm, sendo que no RN os valores encontrados
situam-se acima de 200 bpm. O QRS apresenta morfologia nor- Flutter Atrial
mal (QRS estreito) e as ondas P podem ser visíveis.
O Flutter é uma condição rara em crianças. Caracteriza-se pela
Tratamento forma de despolarização atrial anômala, rápida e regular. O ECG
mostra características ondas em forma de dente-de-serra, com
Quando as crises são esporádicas de curta duração e com re- freqüência atrial média de 300 bpm. O tratamento imediato está
versão espontânea, geralmente não necessitam de tratamento. indicado pela alta incidência de insuficiência cardíaca congestiva
Entretanto ao depararmos com RN com TSV mantida deveremos (ICC). O digital é a droga mais utilizada, com boa resposta sinto-
realizar os seguintes procedimentos: mática e redução da freqüência cardíaca, porém com baixo índice
de reversão ao ritmo sinusal. A cardioversão elétrica é um método
• Manobra Vagal - Deve ser a primeira tentativa de reverter a eficaz para a restauração do ritmo. Outras possibilidades incluem
taquicardia. Tais manobras retardam a condução AV e pro- o propranolol, a quinidina e a estimulação transesofágica.
longam seu período refratário, e no RN consiste em coloca-
ção de saco plástico com água gelada sobre a face, durante Extrassístoles Ventriculares
10 a 15 segundos. Em crianças maiores pode-se tentar a
massagem do seio carotídeo ou manobra de Vasalva. As extrassístoles ventriculares podem se reconhecidas no ECG
da seguinte forma:
• Drogas
• QRS prematuro, ou seja, ocorre mais que 0,08s antes do
Adenosina próximo QRS
0,1 a 0,2 mg/Kg EV rápido ( 1 a 2 segundos) em bolus, máxi- • O QRS é alargado ( >0,08s ), com morfologia diferente e
mo 12mg. Poderá ser repetida a cada 2-4 minutos. Não exceder sem onda P.
0,25mg/kg ou 12mg no total. • A onda T geralmente tem orientação oposta a do QRS
prematuro.
Paulo R. Margotto
Assistência ao Recém-Nascido de Risco
278 1. Cardioversão Elétrica 0,5 a 1,5 joules/kg • Há um menor número de miofibrilas e maior quantidade
2. Tratar as causas agudas possíveis de tecido conjuntivo.
3. Lidocaína EV 1mg/kg/dose bolus • As miofibrilas estão em arranjo não linear.
4. Apresentação: 20mg/ml (adicionar 6ml de lidocaina a • Os retículos endoplasmáticos do miocárdio neonatal
44ml de soro glicosado a 5%, formando uma solução de apresenta menor capacidade de estocagem de cálcio,
50 ml, contendo 2,4mg/ml) ion essencial à contração do músculo cardíaco.
Implica em contração dos átrios independente dos ventrículos. Nos recém-nascidos devido à imaturidade miocárdica, confor-
Pode se congênito ou adquirido. me foi descrito acima, a insuficiência cardíaca é mais grave e de
As colagenoses materna parecem ser o fator etiológico mais instalação mais aguda que nas crianças maiores.
importantes do BAV congênito. Admite-se que nessas doenças, Os sinais de insuficiência cardíaca nos neonatos refletem basica-
especialmente o Lupus, anticorpos maternos atravessam a pla- mente a congestão venosa sistêmica, congestão pulmonar e dimi-
centa e afetam o sistema de condução fetal em desenvolvimento. nuição da perfusão sistêmica. Listamos abaixo os mais importantes:
A associação de BAV congênito com cardiopatias estruturais é
freqüente, ocorrendo em 50% dos casos. • Taquipnéia e dispnéia – São sinais presentes em todos
O BAV adquirido pode ser secundário a cirurgia cardíaca e mio- os casos de ICC e denotam a congestão pulmonar.
cardites (especialmente a diftérica). • Ruídos pulmonares – Podem ser encontrados estertores
O ECG do bloqueio atrioventricular total (BAVT), revela disso- crepitantes, subcrepitantes, roncos e sibilância.
ciação entre as despolarizações atrial e ventricular. Nos RN a FC • Taquicardia – Normalmente os recém-nascidos têm fre-
situa-se abaixo de 100 bpm. qüências cardíacas que podem variar de 100 a 160 bpm.
Valores acima de 160 bpm, geralmente acima de 200
Tratamento Todo BAV Sintomático bpm, podem representar um mecanismo compensatório
(Com Sinais De Baixo Débito) Tem Indicação De Marca-Passo da falência circulatória ou sua própria causa como nas
taquiarritmias.
Alguns recém-nascidos podem suportar freqüências de até 55 • Pulsos periféricos diminuídos – Sinal de baixo débito cardíaco
bpm sem a necessidade de marca-passo. • Edema – Menos comum em recém-nascidos como causa
Algumas drogas podem ser utilizadas na tentativa de aumento de insuficiência cardíaca e quando presente geralmente
da freqüência, como o Salbutamol e Atropina, entretanto geral- é generalizado sugerindo uma maior gravidade do caso.
mente com resultados limitados.
Capitulo 08 Distúrbios Cardiológicos
• Nos recém-nascidos a termo a dose é de 0,01 mg/kg/dia 3. Adrenalina: É uma catecolamina endógena, liberada
VO, dividida em duas tomadas. da medula adrenal e derivada da noradrenalina. Atua em
• Em pré termos de 0,005 mg/kg/dia dividida em duas to- receptores alfa, beta-1 e beta-2, aumentando a freqüên-
madas VO. cia cardíaca, pressão arterial sistólica, diminue a pressão
• Quando utilizado por via parenteral a dose deverá ser arterial diastólica e vasodilata o leito vascular periférico.
75% da oral. Efeitos indesejados:
• As doses de ataque não são mais utilizadas devido ao
alto índice de intoxicações. • Arritmias.
• Vasoconstrição periférica.
Apresentação: 279
Doses:
• Digoxina WelcomeR: Elixir Pediátrico: 0,05mg/ml
• Digoxina WelcomeR: Solução: 0.5mg/ml • 0,03 a 0,1 ug/kg/min – efeitos beta-1 e beta-2.
• Digoxina injetável: (ampola de 2ml com:0,25mg/ml • 0,1 a 0,2 ug/kg/mim – efeito beta e alfa.
• Lanatosídeo C (CedilanideR): ampola de 2 ml com 0,2mg/ • Acima de 0,2 ug/kg/mim – predomínio do efeito alfa.
ml. Diluindo 2 ml em 8 ml de água destilada, 1 mL =
0,04mg) 4. Isoproterenol: É um análogo sintético da norepinefrina,
um beta agonista que estimula os receptores beta-1 mio-
Catecolaminas – Atuam através da estimulação dos recepto- cárdicos, com efeito inotrópico positivo, e os receptores
res beta-adrenérgicos miocárdicos. São as principais drogas utili- beta-2 periféricos com vasodilatação. Pode ser usado em
zadas nas situações de insuficiência cardíaca, quando se deseja neonatos nos casos de baixo débito secundário a hiper-
um efeito rápido (consulte o capítulo de Choque Séptico) tensão arterial persistente.
Efeitos indesejados.
1. Dopamina:
Age estimulando os receptores beta-1-adrenérgicos pós-sináp- • Aumento da freqüência cardíaca.
ticos miocárdicos, aumentando a contratilidade. Atua também • Aumento do consumo de oxigênio miocárdico com isquemia.
como vasoconstrictor sistêmico e pulmonar, através da ação em • Arritmias.
receptores alfa-1 e alfa-2 pós sinápticos. Pela ação em recepto-
res dopaminérgicos promovem vasodilatação em território renal, Doses:
esplâncnico, coronariano e cerebral. Aumenta o débito cardíaco,
a freqüência e a pressão arterial sistêmica. • 0,01 a 0,05 mcg/kg/mim, para bradicardia sintomática.
Efeitos indesejados: • 0,05 a 0,1 mcg/kg/mim, como inotrópico positivo
• Apresentação: 0,2mg/ml: adicionar 3ml de isoproterenol
• Aumenta a resistência vascular pulmonar. Não deve ser a 47 ml de soro glicosado a 5%, formando uma solução
usada em pós-operatório cardíaco com 12mcg/ml
• Aumento do consumo de oxigênio pelo miocárdio.
• Pode causar necrose por extravasamento quando usado Inibidores da Fosfodiesterase – Inibem seletivamente a nu-
em veia periférica. cleotídeo-fosfodiesterase cíclica, aumentando o AMPc vascular e
no miocárdio, independente dos receptores beta. Indicados nos
Doses: casos de insuficiência cardíaca por disfunção miocárdica com
Dose entre 2 e 8 mcg/kg/min em infusão IV contínua. Come- elevação da resistência vascular sistêmica.
çar com doses baixas e titular, monitorando os efeitos. Usar aces-
sos centrais de preferência.Nos RN pré-termos, mesmo doses
Paulo R. Margotto
Assistência ao Recém-Nascido de Risco
3. Por mistura de sangue venoso com arterial – cianose Com alta mortalidade, 25% na primeira semana, até há poucos
moderada, pa02 entre 50 e 80 mmHg. anos era considerada inoperável e fatal. Hoje com o aperfeiçoa-
•Drenagem anômala total das veias pulmonares. mento das técnicas cirúrgicas, em alguns centros especializados,
é possível a realização de cirurgias que transformam o ventrículo
2. Com Insuficiência Cardíaca. direito no ventrículo sistêmico permitindo o aumento da sobrevi-
As cardiopatias congênitas que se apresentam no período da e redução da mortalidade.
neonatal sem cianose e com quadro de insuficiência cardíaca
geralmente são devidas à obstrução a ejeção ventricular ou a so- Diagnóstico
brecarga volumétrica devido à “shunts” com hiperfluxo pulmonar. Geralmente são bebês que nascem bem, com Apgar 9/10 e
A precocidade no aparecimento dos sintomas sugere uma maior bom peso, uma vez que as características da circulação fetal per-
gravidade do quadro. mitem um desenvolvimento fetal normal. Iniciam quadro de insu-
As principais causas são: ficiência cardíaca, na primeira semana de vida, com baixo débito
importante, insuficiência renal por baixa perfusão e insuficiência
1. Obstrutivas coronariana. Evoluem com deterioração progressiva do quadro e
•Síndrome do coração esquerdo hipoplásico. êxito fatal se nenhuma medida for tomada.
•Coarctação da aorta. No exame físico apresenta sinais de baixa perfusão periférica
•Estenose aórtica com palidez cutânea, hipotermia, hipotensão e pulsos finos. A
•Interrupção do arco aórtico. ausculta revela segunda bulha única e um sopro sistólico ejetivo
2. Por “shunts”. em borda esternal esquerda.
•CIV grande A confirmação diagnóstica é feita com a realização de ecocar-
•PCA (persistência do canal arterial) diograma, que é capaz de definir toda a anatomia.
•Drenagem anômala total das veias pulmonares
Tratamento
3. Mistas. •Medidas de Suporte:
Algumas cardiopatias congênitas se apresentam com cianose e •Prostaglandina E na dose de 0,05 a 0,1 mcg/kg/min visa
insuficiência cardíaca. Nesse grupo geralmente estão as cardiopa- a manutenção do canal arterial aberto já que toda a cir-
tias complexas em que há a presença de mistura de sangue veno- culação sistêmica depende dele.
so com arterial que levaria a cianose, e fluxo pulmonar aumentado •Uso de drogas vasoativas com Dopamina e Dobutamina
ocasionando o quadro de insuficiência cardíaca. São elas: se necessário.
•Correção dos distúrbios ácido-básicos.
•Transposição dos grandes vasos da base com CIV •Ventilação adequada
•Ventrículo único.
•Dupla via de saída do ventrículo direito. ProstinR (Prostaglandina E1) EV contínua 0,05 até 0,1mcg/Kg/min; 281
•Drenagem anômala total das veias pulmonares. dose máxima: 0,4mcg/kg/min. Obtendo-se aumento da Pa02 e do
pH, deve-se diminuir a dose até 0,01 mcg/Kg/min para evitar efei-
Cardiopatias Congênitas Cujo Reconhecimento tos colaterais como apnéia (12%) febre (14%) rubor (15%).Os efeitos
É Importante No Período Neonatal colaterais menos comuns são taquicardia ou bradicardia, hipotensão
arterial e parada cardíaca. Monitorizar acidose metabólica.
Abaixo estão listadas as principais cardiopatias congênitas
com importância no período neonatal, devido à precocidade do ProstinR: 1 ml=500mcg - Como usar: peso x dose x 1440/500
aparecimento dos sintomas e gravidade.
•Cirurgia: Alta mortalidade.
Síndrome Do Coração Esquerdo Hipoplásico (Figura 10) •Operação de Norwood com primeiro estágio em neona-
tos.
•Cirurgia de Hemi-Fontan aos seis meses de vida.
•Cirurgia de Fontan com 18 meses.
Figura 10
Definição
Conjunto de malformações congênitas caracterizadas pela hi-
poplasia das estruturas esquerdas com estenose ou atresia das
valvas aórtica e mitral, hipoplasia do ventrículo esquerdo e da Figura 11
aorta ascendente. Sua incidência é alta, representando 7 a 9%
das cardiopatias congênitas.
Paulo R. Margotto
Assistência ao Recém-Nascido de Risco
Apresentação clínica
Os neonatos com TGV apresentam cianose ao nascimento, peso
normal e discreta taquipnéia. Este quadro confunde-se com a maio-
ria dos RN normais no período de transição. Com a contração do
canal arterial a cianose se agrava com desenvolvimento de severa
hipoxemia e acidose metabólica progressiva. A ausculta cardíaca de-
monstra uma segunda bulha única e geralmente sem sopros. Caso Figura 13
não seja ministrado a prostaglandina E, para manter o canal arterial Definição
aberto, haverá deterioração do quadro e evolução para o óbito. Descrita em 1888 por Fallot com observações clínicas relacio-
Nos casos em que há defeitos associados, com uma CIV gran- nadas à cardiopatia constituída por quatro defeitos:
de a hipoxemia não será tão acentuada, com um quadro menos
dramático, podendo ser constatado sopro cardíaco da CIV. Nes- •comunicação interventricular.
tes casos, a medida que a resistência pulmonar for caindo surgi- •estenose pulmonar infundibular.
rão sinais de insuficiência cardíaca. •dextroposição da aorta.
•hipertrofia do ventrículo direito.
Apresentação clínica
É variável e depende do grau de obstrução da via de saída do
ventrículo direito (estenose infundibular), com neonatos acianóti-
cos nos casos leves até com importante hipoxemia logo ao nascer.
Sopro sistólico do tipo ejetivo é achado freqüente, com intensi-
dade variável, e a segunda bulha é única.
Nos casos mais graves, com hipoxemia severa, haverá a ins-
Figura 12 talação progressiva de acidose metabólica, com necessidade de
intervenção precoce.
RX de tórax: O tamanho do coração é normal com um formato Rx de tórax:: O tamanho do coração é normal com o ápice le-
típico que lembra um ovo deitado (Figura 12) vantado, devido a hipertrofia do ventrículo esquerdo, e com o arco
ECG : Geralmente é normal. médio escavado, lembrando o formato de uma bota (Figura 14)
Tratamento
Medidas iniciais:
•Prostaglandina E1.
•Correção dos distúrbios ácidos-básicos.
•Evitar a administração de oxigênio em altas concentrações,
já que o mesmo estimula o fechamento do canal arterial.
•Atrioseptostomia com cateter balão, que constitui na intro-
dução no átrio direito de cateter com balão desinflado em
sua extremidade, passando pelo forame oval para o átrio
esquerdo onde o balão é inflado e recua-se o mesmo para
o átrio direito rompendo-se o septo interatrial e formando-
se uma grande CIA aumentando a mistura sanguínea.
Figura 14
Cirurgia:
•Cirurgia de Jatene – Correção anatômica com reposicio- Eletrocardiograma
namento das grandes artérias e coronárias. Atualmente é Sinais de hipertrofia do ventrículo direito é o achado mais fre-
realizada em centros especializados no período neonatal. qüente.
Capitulo 08 Distúrbios Cardiológicos
Ecocardiograma Tratamento
Confirma o diagnóstico, define a anatomia e a gravidade da Os neonatos com circulação pulmonar canal-dependente de-
obstrução da via de saída do ventrículo direito. vem ser tratados com prostaglandina E, enquanto esperam re-
alização de cirurgia paliativa, geralmente confecção de “shunt”
Tratamento tipo Blalock-Tausing.
A maioria dos casos não necessitará de tratamento no período Para os recém-nascidos com grandes artérias colaterais e clí-
neonatal, apenas encaminhamento a serviço especializado para nica de insuficiência cardíaca, deverá ser instituída terapia espe-
acompanhamento. cífica para a ICC, com discutido no item 9. O tratamento cirúrgico
Os recém-nascidos com hipoxemia importante e acidose me- nestes casos é complexo e poderá requerer estudo hemodinâmi-
tabólica serão tratados como cardiopatia congênita cianótica de- co para traçar a estratégia cirúrgica que geralmente consiste na
pendente de canal arterial com Prostaglandina E1 para manter o união das colaterais (cirurgia de unifocalização).
canal arterial aberto e encaminhados para avaliação da cirurgia
cardíaca quanto à necessidade de realização de “shunt” sistêmi-
co-pulmonar do tipo Blalock-Tausing. Atresia Pulmonar Com Septo Íntegro (Figura 16)
Figura 16
Definição
Figura 15 Cardiopatia congênita cianótica complexa que se caracteri-
za pela ausência da continuidade entre o ventrículo direito e a 283
Definição artéria pulmonar. Freqüentemente associado a variados graus
Cardiopatia congênita cianótica com atresia da valva pulmo- de hipoplasia da valva tricúspide e do ventrículo direito, sendo
nar e comunicação interventricular. Era também conhecida como também chamada Síndrome do Coração Direito Hipoplásico. É
Fallot extremo devido a semelhanças anatômicas com esta en- obrigatório a presença de comunicação interatrial ou forame oval
tidade. O fluxo pulmonar é dependente do canal arterial ou de patente, pois é a única via possível do sangue proveniente das
artérias colaterais que suprem segmentos pulmonares. veias cavas. Na ausência de CIA e com forame oval restritivo apa-
A presença da CIV, geralmente grande, faz com que a pressão recerão sinais de congestão venosa sistêmica e baixo débito. O
de ambos os ventrículos seja igual com grande mistura sanguínea. fluxo pulmonar é dependente exclusivamente do canal arterial.
Ecocardiograma ECG
Confirma o diagnóstico, define a anatomia o tamanho da PCA e Eixo QRS entre 30 e 90 graus, com sinais de sobrecarga atrial
a presença de colaterais. direita
Paulo R. Margotto
Assistência ao Recém-Nascido de Risco
Ecocardiograma Tratamento
Define a anatomia, mede o anel da valva tricúspide. A relação A escolha do tratamento deve ser levado em conta os seguin-
entre o diâmetro da valva tricúspide e da valva mitral define o tes aspectos:
grau de hipoplasia do ventrículo direito e é importante para a
definição do tipo de cirurgia a ser realizado. 1. Fluxo pulmonar:
•Se diminuído com hipoxemia iniciar prostanglandina E
Hemodinâmica e encaminhar para cirurgia para colocação de Blalock-
O cateterismo é importante nesta patologia para complemen- Tausing.
tar o estudo da anatomia feito pelo ecocardiograma, e define se •Se aumentado – tratamento da ICC e cerclagem da arté-
há e o tamanho de sinusóides. ria pulmonar.
2. Avaliar fluxo através da CIA; se restritivo, encaminhar para
Tratamento ampliação da CIA, que poderá ser feita através de cateterismo
•Clínico: Prostaglandina E e correção da acidose metabólica cardíaco com atrioseptostomia com cateter balão ou cirurgia.
•Cirúrgico: O objetivo do tratamento cirúrgico é proporcio- 3. Posteriormente estas crianças serão encaminhadas para
nar um fluxo pulmonar suficiente para manter o bebê vivo a realização de cirurgia univentricular do tipo Glenn e Fontan.
sem prostaglandina, visando uma correção definitiva no
futuro. Geralmente a confecção de derivação sistêmico- Coarctação Da Aorta (Figura 18)
pulmonar tipo Blalock-Tausing.
Figura 18
284 Definição
Estreitamento congênito da aorta descendente, com localiza-
Figura 17 ção geralmente abaixo da artéria subclávia esquerda, ou da re-
gião do canal arterial.
Definição
É a terceira cardiopatia cianótica mais freqüente, e consiste na Apresentação Clínica
agenesia completa da valva tricúspide, e ausência de comunica- A apresentação clínica é variável e depende da idade, do grau
ção entre o átrio direito e ventrículo direito. de obstrução e outras anomalias cardíacas associadas.
A CIA é obrigatória, pois é a única via possível do sangue prove- Nos neonatos as manifestações são de insuficiência cardíaca.
niente das veias cavas e quando restritiva produz uma dilatação Estas manifestações geralmente são conseqüência de obstru-
do átrio direito e congestão venosa sistêmica. ções importantes e presença de defeitos associados, como CIV.
Dependendo dos defeitos associados a atresia tricúspide pode A palpação dos pulsos dos membros superiores e inferiores é
ser classificada em 3 tipos, dependendo da presença de CIV, es- de grande importância.
tenose pulmonar ou transposição das grandes artérias. Um dado muito importante no exame físico é a palpação dos pul-
sos periféricos. A constatação de pulsos diminuídos ou ausentes nos
Apresentação clínica membros inferiores é fortemente sugestiva de coarctação da aorta.
Há um grande espectro de apresentações, dependendo dos Na ausculta geralmente observa-se sopro sistólico suave, mais
defeitos associados, ou seja, na presença de grande CIV sem audível no dorso. A segunda bulha pode estar hipofonética.
estenose pulmonar haverá quadro de insuficiência cardíaca pre-
dominante. Nos casos de CIV pequena e estenose pulmonar, o ECG
predomínio será da hipoxemia. É inespecífico, com variações do normal até sinais de impor-
tante sobrecarga biventricular ou hipertrofia do ventrículo direito.
RX de tórax
O quadro radiológico é variável, dependendo do tipo de defeito RX de tórax
associado. Desde corações pequenos com hipofluxo pulmonar, No recém-nascido não são observados os sinais clássicos de
até cardiomegalia com hiperfluxo pulmonar. coarctação da aorta como corrosão dos arcos costais. Nos bebês
com insuficiência cardíaca, há aumento global da área cardíaca
ECG e sinais de congestão venosa pulmonar.
Característico com eixo do QRS desviado para esquerda e ausên-
cia de potenciais de ventrículo direito nas derivações precordiais. Tratamento
•Tratamento da insuficiência cardíaca.
Ecocardiograma •Nos neonatos com sinais de baixo débito e comprometi-
Define a anatomia mento da função renal por baixo fluxo, iniciar prostaglan-
dina E1 para manter o canal arterial aberto.
Capitulo 08 Distúrbios Cardiológicos
Comunicação Intraventricular (Figura 19) A clínica: depende da severidade (taquipnéia transitória, na for-
ma mais leve, e se deve à retenção de fluido e edema pulmonar
levando à diminuição da complacência pulmonar.
A insuficiência tricúspide/insuficiência mitral transitórias resul-
tam de infarto nos músculos papilares (nestes casos há aumento
do nível da fração MB da creatina fosfoquinase). A ICC grave com
choque ocorre em casos mais severos.
Clínica
Conduta Laboratório
Encaminhar para acompanhamento especializado.
Diminuição discreta da pa02 e pH sem retenção da PaC02
Comunicação Interatrial (Figura 20) Hipoglicemia
Aumento da CKMB e Troponina.
Perfusão miocárdica (teste do Gálio 201) revela distribuição
irregular 285
O teste do Gálio 201 deve ser realizado em casos onde mio-
cardite é suspeita (neste caso a perfusão miocárdica é normal).
Tratamento
Definição Prognóstico
Solução de continuidade do septo interarial. Pode ter várias
localizações, sendo a mais freqüente nas região do forame oval. Os RN usualmente se recuperam a menos que haja acidose
severa, lesão em sistema nervoso central ou sepse. A melhora
Apresentação clínica clínica ocorre com poucos dias de tratamento. A insuficiência tri-
Isoladamente não apresenta sintomas. cúspide e alterações ECG regridem em poucos meses. Não está
claro se estes pacientes desenvolvem cardiomiopatia, arritmias e
Conduta prolapso da válvula mitral tardiamente.
Encaminhar para acompanhamento especializado.
Recém-Nascido De Diabética
Isquemia Miocárdica Transitória Do RN.
Patologia
Ocorre necrose subendocárdica nos músculos papilares e ou-
tras áreas dos ventrículos do RN com hipóxia perinatal. Causa: Ocorre efeito teratogênico em vários sistemas. A prevalência
ocorre vasoconstricção pulmonar hipóxica levando a um desequi- de cardiopatia congênita é de 6-9% (3 a 4 vezes maior que na
líbrio entre a oferta e a demanda de 02 para o miocárdio. Estes população em geral). O grupo de maior risco são os RN de mães
RN usualmente têm hipertensão pulmonar, shunt bidirecional a insulino-dependentes. Mães não insulino-dependentes parecem
nível atrial e ductal + insuficiência tricúspide com vários graus de não ter risco para malformação congênita.
disfunção ventricular no Ecocardiograma.
Paulo R. Margotto
Assistência ao Recém-Nascido de Risco
Tratamento
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Capitulo 08 Distúrbios Cardiológicos
O fechamento funcional do canal arterial do recém-nascido de ter- O ducto arterioso (DA) conecta a artéria pulmonar com a aorta
mo ocorre em 48 horas após o nascimento e até em 72 horas em descendente. Durante a vida fetal a resistência elevada das arte-
90% dos recém-nascidos com mais de 30 semanas de idade gesta- ríolas pulmonares direciona 90% do débito do ventrículo direito
cional. Quando o ducto permanece aberto após 72 horas podemos através do ducto para aorta e desta, de volta para a placenta; o
considerar a Persistência do Canal Arterial (PCA). Vinte e cinco por restante do fluxo perfunde os pulmões em desenvolvimento.
cento dos neonatos com peso entre 1000 e 1500 g apresentarão
PCA com 72 horas de vida e 70 % destes requerem tratamento.
Sessenta e cinco por cento dos neonatos com peso < 1000 g apre-
sentam PCA com 72 horas de vida e 85% precisam de tratamento.
287
A maior parte do sangue oxigenado que chega ao coração pela quirem camadas musculares que deixam o DA menos sensível à ação
veia umbilical e pela veia cava inferior é desviada através do fo- da PGE2 e mais sensível ao efeito vasoconstritor do oxigênio.
rame oval e bombeada da aorta para a cabeça, ao passo que a
maior parte do sangue desoxigenado que retorna pela veia cava Nascimento
superior é bombeada, através da artéria pulmonar e do ducto
arterial, para os pés e para as artérias umbilicais Após o nascimento as arteríolas pulmonares se dilatam com a
O DA permanece patente graças aos elevados níveis de prostaglan- oxigenação levando a uma queda da pressão da pulmonar e de
dinas circulantes, principalmente PGE2. Durante o último trimestre de ventrículo direito, As pressões de coração esquerdo aumentam,
gestação e em preparação para o nascimento as paredes do DA ad- trocando a baixa resistência ao fluxo da placenta pela elevada
resistência da circulação sistêmica.
Paulo R. Margotto
Assistência ao Recém-Nascido de Risco
288
A Pa02 aumenta dramaticamente na transição da vida fetal permanece relativamente resistente a desenvolver hipóxia pro-
(30-40 mmHg) para a vida extra-uterina e o músculo da pare- funda, que é o sinal preliminar que conduz à necrose e à cascata
de do DA responde ao aumento da oxigenação com contratura inflamatória, culminando com a remodelação. O vasa vasorum
muscular e fechamento do vaso (vasoconstrição) com fechamen- (pequenos vasos sanguíneos encontrados ao redor de paredes
to funcional do canal, que pode permanecer vasoconstrito, mas de grandes vasos, na camada adventícia, que servem para sua
não fechado em recém nascidos de termo durante as primeiras nutrição) entra na parede exterior do ducto e cresce em direção
24 h a 48h de vida. A vasoconstrição leva a necrose da íntima do ao lúmen, parando de crescer aproximadamente 400-500 μm do
vaso e fechamento anatômico do canal. lúmen. A distância entre o lúmen e o vasa vasorum é chamada
Em neonatos prematuros a imaturidade do DA determina uma de zona avascular. No canal do RN a termo, a zona avascular é
resposta pobre à oxigenação devido à diminuição de quantida- de aproximadamente 500 μm (aproximadamente 1,2 mm). Quan-
de de músculo existente e labilidade à ação de prostaglandinas, do isto ocorre, o centro da parede do ducto sofre uma profunda
liberadas na corrente sangüínea do neonato durante processos isquemia, iniciando o processo de remodelação. No prematuro
inflamatórios decorrentes de hipóxia e sepse. No prematuro a de 24 semanas de gestação, a parede do vaso tem apenas 200
resposta aos fatores que levam ao fechamento do canal é inver- μm de espessura e a nutrição da parede vascular depende uni-
samente proporcional à idade gestacional. camente dos nutrientes presentes no lúmen do vaso. Assim, du-
Imediatamente após o nascimento, há uma resposta inflama- rante o processo de fechamento ductal no prematuro, não há re-
tória dentro da parede do canal. Esta resposta é associada com gião vulnerável à necrose na parede do ducto e o espessamento
o influxo de monócitos e macrófagos na parede do ducto e a in- de sua parede é bem menor que no RN a termo. A remodelação
dução de diversas citocinas como γ-Interferon e o FNT-α. Diver- fundamental ao fechamento anatômico do canal no prematuro,
sas destas citocinas são vasodilatadores poderosos que atuam portanto, é um processo bem mais lento e vulnerável que no RN a
através de mecanismos independentes das PGs ou do NO. Deve- termo. Esta informação é especialmente importante para a com-
se notar que mesmo quando o ducto prematuro faz constricção, preensão do manejo hídrico destes pacientes.
Capitulo 08 Distúrbios Cardiológicos
Paulo R. Margotto
Assistência ao Recém-Nascido de Risco
de coração esquerdo, uma vez que ocorre uma transferência de presença de PCA com repercussão hemodinâmica. Quanto mais
1/3 do débito cardíaco para a circulação pulmonar. tarde iniciarmos tratamento menor será a resposta à terapêutica,
por isso, além de identificar os grupos de risco é importante o
Tratamento diagnóstico precoce. Os sintomas clínicos são pobres nas primei-
ras horas de vida, especialmente em recém nascidos em venti-
Nos RN <32 semanas o fechamento espontâneo do canal ar- lação mecânica, a importância da manifestação destes sintomas
terial ocorreu entre 3-7 dias em 44% Dani e cl relataram o fecha- depende do tamanho do shunt e da capacidade do pulmão e do
mento espontâneo do canal arterial em 24% dos recém-nascidos coração de se adaptarem da sobrecarga de volume.
com idade gestacional entre 23-27 semanas. A resposta é melhor nos RN com Idade Gestacional pós-con-
Nemerofsky e cl relataram fechamento espontâneo do canal cepcional de 33 semanas ou menos, e idade cronológica abaixo
arterial em 31% nos RN com peso menor ou igual a 1000g, no 7º de 10 dias.
dia e em 67% naqueles com peso acima de 1000g. A repercussão hemodinâmica deve ser definida pelo cardiolo-
Em um novo estudo observacional de 2009, Herrman K e cl de- gista conforme o efeito da presença da PCA sobre os parâme-
monstraram o fechamento espontâneo do canal arterial em 100% tros ecocardiográficos.
dos RN com peso <1500g (66% antes e 34 após a alta hospitalar).
Segundo Benitz, embora os dados não provem que o tratamen- 1. Canal sem sintomas: Deve ser seguido clinicamente
to do canal arterial prévio nunca seja necessário, mas, no entan- por 6 meses; não necessita cirurgia fechamento espon-
to indica que muitos RN com persistente canal arterial pérvio, tâneo.
particularmente aqueles com peso acima de 1000g podem ter 2. Canal sintomático: Deve ser instituído tratamento far-
um conduta expectante, porque evoluem bem, sem tratamen- macológico, reservando a cirurgia aos RN que não res-
to especificamente intencionado para o fechamento do canal pondem a 2 ciclos de indometacina e RN com ICC que
arterial. Muitas das complicações relacionadas ao canal arterial não responde ao medicamento.
pérvio podem ser devidas à prematuridade por si só ou devido
a antecedentes, como infecção intrauterina e nestes, o fecha- Dosagem da Indometacina (IV):
mento do canal arterial poderá ser esperado alterar o resultado. Apresentação: Indocid® - ampola com 1 mg de indometacina
Nemerofsky e cl têm sugerido uma excelente estratégia inicial: liofilizada para diluir em 1 mL de água bidestilada. Infundir EV em
frear o tratamento completo nos RN com peso ao nascer> 1000 30 minutos. Usar imediatamente e não reaproveitar a diluição.
g e adiar o tratamento até pelo menos a segunda semana após
o nascimento para os bebês menores. Os dados disponíveis indi- Diluição:
cam que isso vai reduzir substâncialmente o número de crianças 0,1mg/0,1ml (água bidestilada ou soro fisiológico 0,9%)
submetidas a potenciais efeitos adversos do tratamento, sem 3 doses em intervalos de 12 horas
incorrer em um maior risco de resultados adversos a longo pra-
290 zo. Segundo Benitz, seria irrealista pensar que uma prática tão • Peso de Nascimento > 1250 g: 3 doses de 0,2 mg/kg;
profundamente enraizada na cultura da medicina neonatal será administrar a segunda dose 12 horas após a primeira e a
imediata ou rapidamente abandonada. O pragmatismo dita au- terceira dose 24 horas após a segunda.
mento de movimento naquela direção. • Peso de Nascimento entre 1000 e 1250 g: primeira dose
Segundo Kaempf e cl, a terapia agressiva de fechamento da de 0,2 mg/kg; administrar 0,1 mg/kg após 12 h e a ter-
PCA é em grande parte desconhecido sem claros benefícios para ceira dose 0,1 mg/kg 24 horas após a segunda.
o bebê prematuro. O uso de indometacina e a ligadura cirúrgica
podem ser reduzidos, sem aumento significativo da mortalidade Contraindicações ao uso da Indometacina:
ou morbidades individuais.
• Sangramento ativo: gastrointestinal ou outro (Hemorra-
Considerações Gerais gia Intraventricular não é uma contra-indicação)
• Creatinina ≥ 2 mg/dL
O tratamento convencional da insuficiência cardíaca conges- • Débito urinário < 1 mL/kg/h
tiva (restrição de fluidos, diuréticos, inotrópicos) não é eficaz e • Plaquetas < 50.000/mm3
pode atrasar o tratamento específico. A não ser que a PCA não • Cardiopatia congênita
seja hemodinamicamente significativo, os prematuros com PCA • Malformação intestinal ou renal
deverão permanecer em jejum. • Manejo durante o Tratamento com Indometacina:
Estudos como o de Stephens e cl, no entanto, revelam que a • Como a indometacina reduz o fluxo sanguíneo gastrointes-
oferta excessiva de líquidos é um preditor significativo de PCA no tinal, manter dieta zero por 48 horas após a última dose.
segundo e terceiro dia de vida, ofertas hídricas superiores a 170
ml/Kg/dia no terceiro dia de vida elevaram o risco de PCA entre Fechamento Cirúrgico:
os RN < 1250g, sendo que aporte calórico semelhante pode ser Indicado em casos de:
oferecido com taxas hídricas inferiores a 126 ml/Kg/dia durante Falência do tratamento medicamentoso
a primeira semana de vida. A oferta hídrica diárias aos RN de Repercussão hemodinâmica com contra-indicação ao uso de
risco, portanto, deve ser alvo de constante vigilância e controle. indometacina
Presença de PCA e Enterocolite
Indometacina Estudo francês retrospectivo envolvendo RN < 28 semanas
conduzido por Jaillard e cl, evidenciou que naqueles submetidos
O uso de indometacina profilática nos RN <28 semanas sem a à intervenção cirúrgica precoce, ou seja, com menos de 21 dias
confirmação daa PCA é discutido na literatura. A diminuição sig- de vida, tiveram menor retardo na instituição de dieta oral plena
nificativa da hemorragia intraventricular, assim como a sua gravi- (p<0,01) e maior ganho ponderal com idade gestacional pós-
dade, não correspondeu a um melhor prognóstico com 36 meses concepção de 36 semanas (p<0,05) em comparação aos que ti-
de vida (e não há respaldo na literatura para sua utilização de veram fechamento tardio (> 21 dias). Os critérios para indicação
forma rotineira).Os neonatos só devem ser tratados se houver de correção cirúrgica foram: falha de tratamento medicamen-
Capitulo 08 Distúrbios Cardiológicos
toso, repercussão hemodinâmica e PCA > 3 mm. Os autores (89%) A concentração plasmática média de ibuprofeno foi de
não mostraram diferença significativa quanto à incidência de 28,05 micrograma/ml 1 hora após a terceira dose. Apesar de
displasia broncopulmonar. No entanto estudo recente de Clyman melhor diurese no grupo dos RN que receberam ibuprofeno, não
e cl, houve maior necessidade de oxigênio além das 36 semanas houve diferenças quanto aos níveis plasmáticos de uréia e crea-
pós-concepção nos RN tratados com ligação cirúrgica profilática tinina. Não houve diferenças significativas entre os dois grupos
versus ligação cirúrgica com indicação clínica. Kabra e cl relata- quanto à duração do suporte ventilatório, assim como o número
ram maior risco de deficiente desenvolvimento neurossensorial, de RN que apresentaram displasia broncopulmonar, hemorragia
18-22 meses, no RN sintomáticos submetidos a ligação cirúrgica intraventricular, enterocolite necrosante e morte. Os autores con-
versus os RN submetidos ao tratamento farmacológico, além do cluíram que o uso do ibuprofeno oral é tão efetivo quanto à indo-
mais DBP e severa retinopatia da prematuridade. Portanto, a liga- metacina para o tratamento da PCA em prematuros
ção cirúrgica profilática do canal arterial pérvio aumenta o risco de Em setembro de 2003, Sharma e cl, da Índia, estudaram a far-
displasia broncopulmonar. macocinética do ibuprofeno oral, utlizando uma simples dose de
A ligação cirúrgica da PCA hemodinamicamente significativa 10mg/Kg entre 4 e 72 horas de vida em 20 RN prematuros com
ocasionou deficiente autorregulação cerebral nas primeiras 6 idade gestacional média de 30,4 semanas e peso médio ao nas-
horas após a cirurgia. Todo o esforço deve ser realizado para mi- cer de 1262g. As amostras de sangue foram coletadas do cateter
nimizar esta situação, como controle rigoroso da pressão arterial vascular nos tempos 0, 1, 2, 4, 8, e 24 horas. As concentrações
média, da glicose e da PaC02. plasmáticas do ibuprofeno foram avaliadas através da cromatogra-
fia líquida de alta performance. Os autores relataram uma grande
Ibuprofeno variabilidade interindividual para as concentrações plasmáticas,
vida-média de eliminação (15,72+/-3,76h) e área sob a curva
Uma alternativa à indometacina sem os seus efeitos indesejá- tempo-concentração plasmática (9402.60+/-79,67microgramas
veis, como redução dos fluxos sanguíneos cerebral, renal e me- h/ml) nestes bebês. Variáveis como idade gestacional, peso ao
sentérico é o Ibuprofeno (embora permaneçam as complicações nascer e sexo não afetaram significantemente a farmacocinética.
da indometacina referentes ao sangramento gastrintestinal) na Não houve correlação entre vida-média de eliminação e idade ges-
dose de 10mg/Kg EV (2-3mim) e 5mg/Kg com 24hs e 48hs. Vida tacional (r=0,002). Assim, os autores indianos evidenciaram uma
média: 30,5 ± 4,2hs. O ibuprofeno, como a indometacina, perten- grande variabilidade na farmacocinética nos RN recebendo ibu-
ce ao grupo dos antiinflamatórios não esteroidais e inibidores da profeno oral. Os resultados desse estudo justificam a revisão dos
ciclo-oxigenase, prevenindo a conversão do ácido aracquidônico esquemas de dose oral para que se alcancem as concentrações
em PGE2 e prevenindo assim a patência do canal arterial plasmáticas comparáveis aos estudos do ibuprofeno associadas
Metanálise da Cochrane evidenciou maior risco de dependên- com sucesso no fechamento do canal arterial.
cia de 02 aos 28 dias de vida no grupo do ibuprofeno (RR: 1,37; Em 1 de novembro de 2003, o grupo israelense de Heyman
IC: 1,01-1,86), porém sem diferenças significativas quanto à de- publicou resultado de um estudo piloto, prospectivo utilizando
pendência de 02 com 36 semanas de idade pós-concepcional ibuprofeno oral em 22 pré-termos com PCA e doença da mem- 291
(OR: 1,5; IC: 0,83-281). A única diferença significativa favorável brana hialina. A idade gestacional média foi de 27,5 semanas. O
ao ibuprofeno entre os dois grupos foi a redução do risco de oli- peso médio era de 979g. Os RN receberam, no segundo dia de
gúria. O uso profilático do ibuprofeno endovenoso resultou em vida, 10mg/Kg/dia de uma solução oral de ibuprofeno, seguida
diminuição significativa na incidência de canal arterial patente de mais 2 doses de 5mg/Kg, se necessário com intervalo de 24
(RR: 0,36; IC: 0,26-0,49), no entanto, um ensaio clínico relatou horas. A ecocardiografia foi realizada antes e 24 horas após cada
3 casos de hipertensão pulmonar persistente que respondeu ao dose. Todos RN tiveram ultra-som craniano antes e depois do ibu-
óxido nítrico. A ocorrência de hipertensão pulmonar persistente profeno oral. Os autores relatam que 95% dos RN responderam à
do RN, no entanto, foi relatada após a administração de ibupro- terapêutica (apenas 1 RN manteve persistência do canal arterial
feno tamponado com THAM (trishydroxy aminomethane). Tal fato clinicamente significativo). Nenhum RN necessitou de tratamen-
não foi observado com o ibuprofeno lysine. No entanto, esta com- to cirúrgico. Não houve reabertura do canal arterial após o seu
plicação também tem sido relatada com o ibuprofeno lysine. fechamento. Com apenas 1 dose de ibuprofeno oral, 14 RN res-
Na Unidade de Neonatologia do Hospital Regional da Asa Sul ponderam; 6 RN necessitaram de 2 doses e 2 RN necessitaram
(HRAS) usamos o ibuprofeno oral na dose de 10mg/kg-ataque de 3 doses. A taxa de sobrevivência com 1 mês foi de 86,4%
e mais 2 doses de 5mg/kg com intervalo de 24 horas. (19 de 22 RN). Os 3 RN que faleceram foi devido a complica-
Em abril de 2002, o grupo indiano de Hariprasad e cl avaliaram a ções da extrema prematuridade (peso de 380g: 1 caso) e sepse
resposta ao ibuprofeno oral em 13 RN pré-termos com persistência por Candida e Klebsiella. (2 casos). A hemorragia intraventricular
do canal arterial (10mg/Kg-dose de ataque e 5mg/Kg- 2 doses com ocorreu em 7 RN (32%) e os autores não atribuem esta complica-
intervalo de 12 horas); 11 crianças mostraram fechamento do canal ção à terapia pelo ibuprofeno e sim a historia natural da PCA em
arterial nos ecocardiogramas após o tratamento, não sendo observa- recém-nascidos. Não foi observada tendência ao sangramento e
dos efeitos colaterais significativos como oligúria ou sangramentos. nem aumento da incidência de displasia broncopulmonar nos RN
Ainda em 2002, mais precisamente em novembro, o grupo tai- que receberam ibuprofeno. Não houve diferenças significativas
landês de Supapannachart investigou a possibilidade do uso do nos níveis de creatinina sérica antes e após o uso do ibuprofeno
ibuprofeno oral no tratamento dos RN pré-termos com PCA; 18 oral. Os autores concluem que a suspensão de ibuprofeno pode
RN com idades gestacionais abaixo de 34 semanas e que apre- ser uma alternativa efetiva e segura para o fechamento do ca-
sentavam PCA sintomático foram randomizados para o uso de nal arterial em RN com PCA, além da via oral apresentar muitas
indometacina oral ou endovenosa na dose de 2mg/Kg/dose por vantagens sobre o ibuprofeno endovenoso ou indometacina en-
3 doses com intervalo de 12hs e para o uso de ibuprofeno oral na dovenosa, incluindo a disponibilidade e a redução de custos. No
dose de 10mg/Kg/dose por 3 doses com intervalo de 24 horas. entanto, são justificados estudos comparativos grandes.
Não houve diferenças entre os dois grupos quanto ao peso ao Em 2007, Cherif e cl utilizaram o iburofeno oral em 40 recém
nascer, idade gestacional, raça, idade de início do tratamento e o nascidos muito prematuros (idade gestacional: 29,4 +/- 1 a 2
número de RN que apresentaram doença da membrana hialina semanas [intervalo: 26 a 31,5 semanas]; peso:1237,2 +/- 198 g
foi similar. O PCA fechou em 7 de 9 RN que receberam o ibupro- [intervalo: 650-1770 g]) com canal arterial e doença respiratória
feno oral (78%) e em 8 de 9 RN que receberam indometacina Os RN receberam, entre 48 e 96 horas de idade, o ibuprofeno
Paulo R. Margotto
Assistência ao Recém-Nascido de Risco
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fecharam o canal arterial 4 (20%) não fecharam o canal. Dos 16 infants: a novel approach. Mazzera E - J Card Surg 17: 292, 2002
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outros 2 (12,5%) houve necessidade do 3º ciclo. Todos os bebês • Bart Chernow. The Pharmacologic Approach to the Critically Ill Patient. Third Edition, 1994.
que iniciaram o tratamento com menos de 10 dias de vida fe- • Hariprasad P, Sundarrajan V, Oral ibuprofen for closure of hemodynamically significant PDA
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tacional tiveram que repetir os ciclos. Não houve nenhum caso • Varvarigou A, Bardin CL, Beharry K e cl. Early ibuprofen administration to prevent patent
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Uma revisão do Cochrane publicada em Abril de 2010 que tem • Oliveira FM, Moreira A, Margotto PR. Avaliação do uso do ibuprofeno oral em recém-nasci-
como objetivo determinar a efetividade e segurança do Ibupro- dos prematuros com persistência do canal arterial. Monografia apresentada ao Supervisor
do Programa de Residência médica em Neonatologia da Secretaria de Estado de Saúde do
feno venoso comparado com placebo ou conduta expectante no Distrito Federal, como requisito parcial para obtenção do título de especialista em Neona-
tologia, 2008. Disponível em www.paulomargotto.com.br em Monografias.
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como tratamento clínico do canal arterial, porém diminui o risco gement. J Perinatol 26, S14, 2006
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xo peso (absorção mais lenta, vida média maior possibilitaria maior • Stephens BE, Gargus RA e cl.Fluid regimens in the first week of life may increase risk of
patent ductus arteriosus in extremely low birth weight infants. J Perinatol 28, 123, 2008
tempo de contato com o ductus). Os RN com função renal bordeline • Jaillard S, Larrue B e cl. Consequences of Delayed Surgical Closure of Patent Ductus Arte-
deveria ser avaliados e ter melhor acompanhamento, uma vez que riosus in Very Premature Infants. The Annals of Thoracic Surgery 81: 232, 2006
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CD003481
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293
Paulo R. Margotto
Assistência ao Recém-Nascido de Risco
Nestor Sabatovicz
O grande avanço no tratamento cirúrgico das cardiopatias intra-abdominal e sendo via auxiliar na retirada de líquidos e con-
congênitas nos neonatos promoveu um significativo aumento na trole da volemia.
complexidade das necessidades pós-operatória destes pacientes. O acompanhamento de eletrólitos, hemograma, gasometria,
Desde o fechamento cirúrgico do canal arterial em prematuros até metabólitos renais e Raios-X de tórax, que devem ser feitos se-
complexos reparos cirúrgicos (Norwood, Jatene, etc,) são realiza- quencialmente, ou no caso de qualquer alteração. (Tabela – 1).
dos no período neonatal sendo necessário ambientes adequada- Uma avaliação completa da coagulação deve ser feita na che-
mente equipados com equipes multidisciplinares treinadas. gada à UTI e repetida sempre que necessário.
da função pulmonar e parênquima através dos raios-X de tórax. Hipertensão arterial pulmonar – as crises de hipertensão ar-
Recentemente o acompanhamento do lactato e a diferença A-V terial pulmonar podem ocorrer no pós-operatório de cirurgia car-
na saturação de oxigênio tem sido utilizados como parâmetros no díaca cursando com baixo débito cardíaco e hipóxia, acometendo
acompanhamento destes pacientes, uma vez que um aumento principalmente aqueles pacientes com grande hiperfluxo pulmo-
no lactato sérico e uma diferença A-V 02 maior que 30% são indí- nar no pré-operatório, ou por lesões vasculares decorrentes da
cios de baixo débito cardíaco. CEC. A monitorização da pressão arterial pulmonar deve ser feita
Um estado de hipocontratilidade miocárdica transitória é fre- nestes pacientes suscetíveis e esta deve permanecer entre 50%
qüentemente visto após a CEC, mas vários fatores podem contri- a 75% da pressão sistêmica.
buir para o baixo débito no pós-operatório de cirurgia cardíaca em As medidas a serem adotadas compreende sedação e anal-
neonatos como lesões anatômicas residuais, disfunção ventricular gesia adequadas, manuseio na ventilação ou administração de
persistente do pré-operatório ou devido a fatores transoperatórios bicarbonato a fim de manter o pH sérico elevado 7,5-7,6 (alcali-
(proteção miocárdica, hipotermia, lesão de reperfusão do miocár- nização), redução da PaC02, aumento da Fi02. Devemos associar
dio, etc.), arritmias, hipertensão pulmonar, infecção entre outros. drogas vasodilatadoras pulmonares como nitroprussiato de só-
O débito cardíaco nos neonatos é primariamente dependente dio, nitroglicerina, milrinona, prostaglandina E1, e instalação de
da freqüência cardíaca devido a vários fatores intrínsecos da fi- óxido nítrico ao sistema ventilatório ((10ppm a 40ppm).
bra miocárdica neonatal, bem como imaturidade do sistema sim- Distúrbios da coagulação – a exposição do sangue aos ma-
pático. Os níveis de cálcio ionizado desempenham papel funda- teriais da CEC, hemodiluição, hipotermia concorrem para altera-
mental na contratilidade miocárdica neonatal sendo outro fator a ções nos diversos níveis da cascata de coagulação, alteração no
ser considerado em pacientes nesta situação. número e função das plaquetas, fribrinólise acentuada, podem
A otimização do débito cardíaco pode ser feita atuando ao nível ser causas de diátese hemorrágica no pós-operatório de cirurgia
da pré-carga, contratilidade miocárdica e pós-carga. A volemia do cardíaca. Entretanto sangramento acima de 10ml/kg/h deve ser
paciente pode ser avaliada diretamente pelas pressões de enchi- indicativo de revisão cirúrgica. O tratamento consiste na correção
mento dos átrios e diurese, bem como exame físico cuidadoso. da anemia, e utilização de plasma fresco, transfusão de plaque-
As drogas simpaticomiméticas são a primeira escolha neste tas criopreciptado para repor os fatores de coagulação.
paciente e devido a suas características dose-dependentes, a
Dopamina é a primeira escolha. As drogas inibidoras da fosfo- Bibliografia
diesterase são utilizadas em casos selecionados, sendo escolha
• Castañeda A, Jones R, Mayer J, Hanley F. Cardiac Surgery of the neonate and infant. Phila-
naqueles pacientes com hipertensão arterial pulmonar. A tabela delphia: WB Saunders, 1994.
• Chang AC, Hanley F, Wernovsky G, Wessel DL. Pediatric Cardiac Intensive Care: Lippincott
2 sumariza as doses destas drogas (consulte os capítulos de Dis- Williams & Wilkins, 1998.
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Cardiol Estado de São Paulo 5:776, 2002
Droga Dose
Dopamina 2 a 20 mcg/kg/min 295
Dobutamina 2 a 25 mcg/kg/min
Noradrenalina 0.05 a 1.0 mcg/kg/min
Adrenalina 0.05 a 1.0 mcg/kg/min
Isoproterenol 0.05 a 1.5 mcg/kg/min
1 a 3mg/kg bolus
Milrinona
3 a 20 mcg/kg/min
50 mcg/kg/min bolus
Amrinona
0.25 a 0.75 mcg/kg/min
Droga Dose
0.1 a 0.4 mg/kg a cada 4 ou
Hidralazina
6h
Nitroglicerina 0.3 a 5.0 mcg/kg/min
Nitroprussiato 0.3 a 10.0 mcg/kg/min
Apresentação:
Nitroglicerina: TridilR: ampola de 10mg com 50mg
Nitroprussiato: NiprideR; frasco-ampola (2ml) com 50mg
Hidralazina injetável 2ml cm 50mg
Paulo R. Margotto
Assistência ao Recém-Nascido de Risco
296
Capitulo 09 Distúrbios Hematológicos
Capítulo 9
Distúrbios
Hematológicos
Assistência ao Recém-Nascido de Risco
9.1 ANEMIA
Conceito
O valor médio de hemoglobina (Hb) obtido em sangue de cor- 1.3 Transfusão feto - materna:
dão é de 16,8 g%, com limite inferior de 13,5 g%, enquanto o he- • Uma das formas mais comuns de anemia
matócrito (Htc) apresenta uma média de 52%, com limite inferior • Devida ao uso freqüente de instrumentos (fórceps) ou
de 40%. Estes valores diminuem progressivamente até a 8a a outras manipulações obstétricas (versão externa da ca-
12a semana de vida, durante o período de anemia fisiológica do beça, retirada manual da placenta, compressão do fundo
lactente (Hb: 11,4 ± 0,9g%). Definimos anemia com os valores de do útero).
Hb < 12g% no sangue venoso e < 13g% no sangue capilar nas • amniocentese traumática.
primeiras duas semanas de 1.4 Transfusão feto - fetal: - gestações gemelares monoco-
riônicas
Fatores De Influência Nos • Doador anêmico/ receptor policitêmico;
Valores Hematológicos • Diferença de hb de sangue venoso > 5g%
Paulo R. Margotto
Assistência ao Recém-Nascido de Risco
• Não existe recomendação internacional aceita para o uso • Os, RN <1000g, nem sempre respondem ao uso da epo
de epo no prematuro; (a maior resposta foi com 150-400ui/kg subcutânea 3x
• A EPO estimula a medula óssea; semana, usando ferro nos primeiros dias por 6-8 sema-
• A dimensão do efeito sobre a restrição de transfusão é de- nas, com controle de coleta sanguínea
sapontadora (não tem sido definitivamente demonstrada a
redução da necessidade de transfusões com ouso da epo) Portanto, o uso de EPO é muito questionado; devemos controlar as
• Nos rn pré-termo>1000g, existe uma necessidade menor coletas sanguíneas para diminuir as transfusões sanguíneas e assim,
de transfusão reduzir as complicações decorrentes da transfusão sanguínea.
• Sanguínea; (é importante racionalizar a flebotomia)
301
Paulo R. Margotto
Assistência ao Recém-Nascido de Risco
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Capitulo 09 Distúrbios Hematológicos
9.2 POLICITEMIA
Paulo R. Margotto
Incidência
Causas
1. Hiper-transfusão placentária:
• transfusão de gêmeo a gêmeo Figura 1: Policitemia e hiper- viscosidade. (Patogenia proposta 1)
• transfusão materno-fetal
• ligação tardia do cordão
(proposital, partos domiciliares sem assistência)
• ordenha do cordão.
2. Insuficiência placentária:
• PIG (Pequeno para Idade Gestacional)
• pós-maturidade
• Toxemia gravídica Figura 2: Policitemia e hiperviscosidade. (Patogenia proposta 2).
• placenta prévia.
Sinais/Sintomas 303
3. Problemas endócrinos e metabólicos:
• Hiperplasia da supra-renal congênita Os sintomas estão relacionados com a elevada viscosidade sanguí-
• Tireotoxicose neonatal nea (a acidose aumenta a viscosidade sanguínea); a partir de um Htc
• diabetes materno. de 50%, a viscosidade sanguínea aumenta rapidamente, de modo
que um Htc de 60%, a viscosidade sanguínea é de 4 vezes maior que
4. Causas Diversas: um Htc de 40%. Acima de 60-65%, qualquer aumento de Htc resul-
• Síndrome de Down, trissomia 13 e trissomia 18 ta em aumentos exponenciais da viscosidade sanguínea. A clinica
• Síndrome de Beckwith - Wedmann praticamente inclui todos os órgãos de sistema: cianose, insuficiên-
• Drogas: uso materno de propanolol cia cardíaca congestiva, agitação, irritabilidade, convulsões, apnéia,
desconforto respiratório, intolerância alimentar, regurgitação, vômitos
As causas em A atuam através de uma transfusão excessiva de ou aumento do aspirado gástrico, várias horas após a alimentação/
hemácias (Fig 2) enquanto as causas em B, C, D atuam através enterocolite necrosante (esta tem sido maior nos recém-nascidos
de hipóxia intrauterina ou eritropoese excessiva (Fig 1). nos quais foi realização a exsanguíneotransfusão parcial, mais pro-
vavelmente pelo uso com plasma fresco), insuficiência renal aguda.
RN de risco Estes RN apresentam, com maior freqüência, hipoglicemia (12-40%),
hipocalcemia (devido ao aumento dos níveis de peptídeo relaciona-
RN de diabéticas dos ao gene da calcitonina; a hiperviscosidade pode interferir com a
Retardado do crescimento intrauterino habilidade dos rins para converter 25-hidroxivitamina D para os seus
metabólitos ativos dihidroxil), hiperbilirrubinemia, trombocitopenia. As
Transfusão gêmeo - a gêmeo (receptor)
possíveis explicações da ocorrência de trombocitopenia na policite-
Grande transfusão placentária (retardado do ligamento do cordão)
mia (ocorre entre 19 a 38,8%) são: deficiente produção de plaquetas
aumenta 25 - 30 do volume sanguíneo do RN
causada pela hipoxia ou consumo de plaquetas na mircrocirculação,
Síndrome de Beckwith Wedmann agregação dos eritrócitos que ocorre com altos valores do hematócrito
(macrossomia, hipoglicemia, hérnia umbilical, macroglossia) tende a ocupar a região central dos pequenos vasos e as plaquetas
Asfixia intrauterina ou intraparto aguda (devido à perda hídrica são forçadas a fluir para a parede dos vasos, podendo ser lesadas,
do intravascular para o extra, o extravascular aumenta em tornando-se capazes de ativar o mecanismo da coagulação via in-
conseqüência da vasoconstricção ou trínseco lenta circulação no baço pode possivelmente aumentar o
devido à transfusão placenta - fetal) desaparecimento de plaquetas devido ao contato prolongado com os
macrófagos. Importante: assim que os níveis de hemoglobina retor-
nam gradualmente ao normal, nas primeiras semanas de vida, há um
aumento recíproco na contagem de plaquetas.
É importante lembrar que muitos RN são assintomáticos e que
têm um débito cardíaco diminuído devido à elevada viscosidade.
Paulo R. Margotto
Assistência ao Recém-Nascido de Risco
Tratamento
1. RN assintomáticos:
îHidratação adequada com alimentação precoce, monitorizar
glicemia (fita reagente) e a evolução da icterícia, observação do
surgimento de sinais e sintomas
Exemplo
RN com 2 Kg - Htc = 70% (sintomático)
Vol. = 200 x (70-55)/70 = 43 ml
Prognóstico
Bibliografia
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Capitulo 09 Distúrbios Hematológicos
Paulo R. Margotto
Durante o período neonatal nos defrontamos com uma varieda- asfixia temos significante diminuição do fator XIII e evi-
de de problemas hematológicos que ameaçam a vida, serias he- dência de coagulação intravascular disseminada, além
morragias ocorrem particularmente no Setor de Terapia Intensiva, do aumento dos níveis de tromboxano, indicando ativa-
onde se encontram os RN de muito baixo peso. Neste setor, os san- ção plaquetária (piora com o uso de altas concentrações
gramentos respondem por aproximadamente 1% das internações. de oxigênio na reanimação) e destruição plaquetária.
O RN é particularmente susceptível a sangramentos por várias
razões que incluem: Uma razão apontada na falha de na prevenção ou controle do
sangramento neonatal é o pouco conhecimento que temos da he-
• Insuficiência fisiológica dos fatores da coagulação (em mostasia perinatal normal. Qualitativamente, a hemostasia do RN
quantidade e função) difere em muitos aspectos da hemostasia do adulto. Quantitativa-
• Imaturidade do desenvolvimento dos vasos sanguíneos mente, estas diferenças não tem sido completamente padroniza-
fetais e estruturas de suporte. das, dificultando a interpretação dos resultados dos exames.
• Exposição a trauma durante o nascimento. Na figura a seguir a fisiologia da hemostasia normal, para uma
• Aumento das incidências de condições freqüentemente melhor compreensão dos distúrbios hemorrágicos do RN.
associadas com sangramentos como sepse e asfixia. Na
305
Paulo R. Margotto
Assistência ao Recém-Nascido de Risco
Os fatores da coagulação, em número de 13, são essenciais As deficiências dos fatores XII e XI são raras devendo somente
no processo de coagulação (hemorragias ocorrem quando suas serem dosados se os fatores VIII (a sua deficiência leva a hemo-
concentrações estão inferiores a 50% do normal) Os fatores da filia A) e IX (a sua deficiência leva a hemofilia “B”) forem normais.
coagulação são designados por um algarismo romano (a letra “a”
indica estado ativado). O sangue coagula quando o fibrinogênio é • Análise da fase final da coagulação: TT (Thrombin time = Tem-
convertido à fibrina através da ação de uma enzima proteolítica, a po de trombina): estuda a formação da fibrina. Está prolon-
trombina que por sua vez resulta da protrombina por um processo gado na deficiência do fibrinogênio, uso da heparina e PDF.
enzimático resultante da interação do fator VII, fator X e do fator V.
De posse destes princípios básicos, podemos compreender melhor
Coagulação Sanguínea o desenvolvimento da hemostasia no RN prematuro e RN a termo
• Via intrínseca: requer os fatores XII, XI, IX, VIII, X e V Exames Laboratoriais de Triagem para Avaliar os Distúrbios
(acompanhe pela figura). O fator XIII estabiliza a fibrina, do Sangramento no Recém - Nascido
formando um coagulo sangüíneo firme. A seqüência da
reação lembra a formação de uma cascata, uma atuando Condições em que
como enzima e outra como substrato. Valores o Exame é mais
• Via Extrínseca: Muitos tecidos, particularmente a parede Teste Comentários a
Normais Comumente
dos vasos sanguíneos contem complexos lipoprotéicos cerca do Exame
Anormal
(Tromboplastina tecidual) que na presença do fator VII é Trombocitopenia
capaz de ativar diretamente o fator X. Número de 150.000 de consumo
plaquetas a (imunológica ou
A formação da protrombinase enzima capaz de declivar a protrom- por mm3 400.000 mecânica) com ou
bina em trombina, pode ser formada por dois mecanismos diferentes: sem CID**
Via extrínseca requer os fatores VII, X e V
Efetuada pela
Via intrínseca requer os fatores XII, IX, XI, VIII, e o fator plaque-
Tempo de CID, deficiência de microscopia de
tário 3 (F3P) e o X.
protrombina 11 - 15 vitamina K, insufi- fase ou pelo con-
Observamos assim que os fatores X e V apresentam um traço
(seg.) ciência hepática. tador de células
comum aos do sistema de formação da protrombinase.
eletrônica
Quanto ao sistema fibrinolítico: existe no plasma uma proteína, o
Tempo CID, efeito da
plasminogênio que dá origem a plasmina, sendo responsável pela
parcial de heparina, recém
lise da fibrina, assim como do fibrinogênio (PDF) e estes possuem 30 - 40
tromboplas- - nado prematuro
ação inibitória sobre a hemostasia primária e a coagulação.
tina (seg.) "doente", hemofilia
306
1. Provas Clínicas Da Hemostasia: Valores variam
• Hemostasia Primária: Contagem De Plaquetas: Conside- Fibrinogênio extremamente
175 - 350
rar Anormal < 150.000/mm3 (Quase 10% Dos RN Peque- (mg/dl) CID nos bebês prema-
nos Para A Idade Gestacional (PIG) Apresentam Trombo- turos
citopenia Na Primeira Semana De Vida) Produtos de
• Tempo De Sangramento (Ts): É Prolongado Na Trombo- desdobra-
citopenia, Tromboastenia, CID (Coagulação Intravascu- mento da < 10
CID
lar Disseminada). É O Método Mais Sensível E De Maior fibrina
Confiança Na Avaliação Da Função Plaquetária). Pode Ser (g/ml)
Normal Na Hemofilia. Inespecífico, não
tão útil quanto
Tempo de
2. Provas Clínicas Da Coagulação: Consulte Sempre A ao fibrinogênio
protrombina 15 - 20
“Cascata” CID e ao produto de
(seg.)
• Prova Da Coagulabilidade Global: _Tc (Tempo De Coagu- desdobramento
lação): pode está prolongado na hemofilia severa, fibri- da fibrina
nogenia, trombocitopenia e na doença hemorrágica do
RN por deficiência da vitamina K. Não é específico por Hemofilias No Lactente
ser um teste insensível, nunca indicá-lo na triagem dos
distúrbios congênitos da coagulação. São doenças que apresentam deficiência dos fatores VIII e IX
• Análise do Sistema Intrínseco: PTT (partial thromboplas- da coagulação, chamadas, respectivamente, de hemofilia A (he-
tine): Tempo de tromboplastina parcial. Avaliação dos mofilia clássica) e hemofilia B (doença de Christmas).
fatores XII,XI,IX,VIII,X,V,II e I. Está alterado na deficiência A hemofilia A (hemofilia clássica) e a B tem caráter hereditário
destes fatores e na presença de PDF. recessivo ligado ao X. a doença se manifesta no sexo masculino,
• Análise do Sistema Extrínseco: PT (Prothrombin Time): enquanto a mulher apresenta um dos cromossomos X marca-
Tempo de protrombina avalia os fatores V,VII,e o X.(Os fa- do com o gene hemofílico é apenas “portadora”. Em cerca de
tores II,VII e o X são sintetizados pelo fígado na presença 1/3 dos casos, não há história familiar (mutações). Deve-se, no
da vitamina k).Assim podemos teoricamente localizar a entanto, fazer uma anamnese completa com estudo de várias
deficiência do fator inválido: - PT e PTT prolongados: Defi- gerações anteriores antes de se admitir esta possibilidade. A in-
ciência dos fatores II, V ou X cidência da hemofilia A é 1/5000 nascimentos masculinos e da
• PT Prolongado e PTT normal: deficiência do fator II hemofilia B é 1 em 30.000.
• PT normal E PTT Prolongado: deficiência dos fatores No Brasil, há cerca de 4.700 casos registrados de hemofilia,
XII,XI,IX ou VIII.(Observem que há uma exclusão de uma sendo 4.000de hemofilia A e 700 de hemofilia B.
anomalia na via comum)
Capitulo 09 Distúrbios Hematológicos
O quadro clínico pode iniciar logo após o nascimento se a crian- X = 50 UI x kg peso/2 = 25 x 60 = 1.500 unidades de fator VIII
ça for submetida à circuncisão ou a algum ato cirúrgico. Geralmen-
te o sangramento começa após os 06 meses de vida. Quando co- A administração deve ser a cada 12 horas, devido à vida média
meça a deambulação, surgem os sangramentos, os equimoses e curta do fator VIII. Para o fator IX deve ser a cada 24 horas.
hematomas, às vezes volumosos, que levam à procura do médico. Nos casos de grandes cirurgias são mais indicados os concen-
As hemartroses (o sangramento articular chega a corresponder trados de fator VIII que levam menor quantidade de fibrinogênio.
a 80% de todas as hemorragias) são dolorosas, causam deformi- Para a hemofilia B os níveis do fator IX para pequenos sangramen-
dades anatômicas nas articulações e conseqüentemente déficits tos, hemartoses e hematomas é de 8 a 16UI/dl; para os sangramen-
funcionais e paresias ou paralisias do membro atingido. Ordem de tos médios e pequenas cirurgias é de 16 a 32UI/dl e para grandes
freqüência: joelhos, tornozelos, cotovelos, ombros, punho, quadris. cirurgias é de 40 a 60UI/dl. O cálculo para estes casos é o seguinte:
Hematomas profundos musculares (flexores de antebraço, ile- 1 unidade de F IX/kg --- eleva 1%
opsoas) podem ocorrer e comprimir nervos e vasos sanguíneos Para o mesmo exemplo o cálculo será:
permanentes; aqueles que envolvem o ilíaco e o psoas são impor-
tantes (simulam abdome agudo ou apendicites). A sintomatologia X = 50 UI x kg/1 peso 50 x 60 = 3.000 unidades de fator IX
caracteriza-se por dor, tumefação, calor, diminuição da motilidade.
A hematúria é relativamente freqüente, vindo logo após as he-
morragias de articulações e músculos. Doenças Secundárias em
As hemorragias após extração dentária iniciam-se 1-2 horas Pacientes com Hemofilia
após, porque o inicio da hemostasia que envolve o comprimento
vascular e plaquetário, está presente, mas o segundo estágio, Antes do advento de procedimentos de inativação do vírus,
que requer a geração da trombina e fibrina para consolidar o co- muitos pacientes com hemofilia que foram tratados com plasma
águlo plaquetário é anormal. tornaram-se cronicamente infectados com o vírus da hepatite B
O quadro clínico hemorrágico depende da quantidade do fator (VHB), hepatite vírus C (HVC) e vírus da imunodeficiência (HIV).
VIII ou IX presente no paciente. Os casos mais sangrantes apresen- Uma coorte de pacientes infectados hemofílicos infectados
tam concentração do fator VIII ou IX inferior a 2% do normal (apre- com o HIV mostrou uma freqüência de sarcoma de Kapose de
sentam uma média anual de 20 a 30 episódios de sangramento 200 vezes em relação á população geral. A freqüência do linfoma
espontâneo ou excessivo, após leve trauma, particularmente nos não—Hodgkin foi de 29 vezes em relação à população geral.
joelhos e músculos). Os de gravidade média apresentam concen- A cirrose, que ocorre em 10% a 20% dos pacientes hemofíli-
tração do fator entre 2% a 5% e os mais leves, entre 6% e 20%. cos com HVB ou HVC, aumenta em 30 vezes o risco de carcino-
Em 1/3 dos portadores pode-se encontrar fator entre 25% e 30%, ma hepatocelular.
enquanto nos não portadores, o nível é normal (50% a 200%). Nos hemofílicos com HIV, o uso de inibidores da protease pa-
Em resumo, o diagnóstico clínico pode ser feito diante do rece aumentar a susceptibilidade destes pacientes aos sangra-
quadro hemorrágico característico no sexo masculino, história mentos espontâneos. 307
hemorrágica familiar, comprometimento principalmente das ar- Em 5% dos pacientes com severa hemofilia B tem sido rela-
ticulações, hemorragias à circuncisão, extrações dentárias ou tados sintomas graves de anafilaxia, após a infusão do fator IX
grandes traumas e cirurgias. (broncoespasmo, angioedema, hipotensão).
A Doença de von Willebrand caracteriza-se por deficiência
Quanto Ao Diagnóstico Laboratorial quantitativa ou qualitativa do fator de von Willebrand (FvW) que
pode ser transmitida por herança autossômica dominante (sub-
Encontra-se o tempo de sangramento, a contagem de plaque- tipo I, IIa, IIb) ou recessiva (IIc, III). É subdividida em vários subti-
tas e o tempo de protrombina normais. pos, de acordo com as alterações encontradas: subtipo I: altera-
O tempo de coagulação é normal nos casos leves, e pouco ou ção quantitativa leve; subtipo II: alterações qualitativas; subtipo
muito prolongado nos casos mais graves. O consumo da protrom- III: alterações quantitativas, severa. O sangramento mucocutâ-
bina e o tempo de recalcificação do plasma são em geral altera- neo é o mais comum dos sintomas (epistaxe, gengivorragia, san-
dos. É importante para o diagnóstico a determinação do tempo gramento gastrintestinal, menorragias, equimoses, hematomas).
de tromboplastina parcial, que ativado pelo caolim, em geral, O diagnóstico é laboratorial: TS (tempo de sangramento) prolon-
mostra-se alongado. A dosagem do fator VIII e IX é indispensá- gado, Tempo de Tromboplastina Parcial prolongado, dosagem do
vel para o diagnóstico, mesmo quando os anteriores estão nos fator VIII, FvW, cofator de ristocetina (que avalia a função do fator
limites normais, pois fazem o diagnóstico e diferenciam as hemo- de von Willebrand). O tratamento é realizado nos episódios de
filias A e B. os casos são considerados graves quando o nível do sangramento utilizando antifibrinolíticos, crioprecipitado e mais
fator A ou B (FVIII ou FIX) for igual ou abaixo de 1%. recentemente o fator liofilizado contendo FvW.
Paulo R. Margotto
Assistência ao Recém-Nascido de Risco
• Vit. K2 (menaquinona): é a forma sintetizada pelas bac- caracterizando-se esta forma pela complicação mais freqüente e
térias intestinais; grave que é a hemorragia intracraniana (mais de 60% dos casos)
• Vit. K3 (menadiona): representa os derivados hidrossolú- com graves seqüelas neurológicas. No estudo de Danielsson N e
veis, tais como, o Fosfato (SynkavitR) e o sulfato (HykinoneR). cl, a maioria das crianças apresentou início súbito de convulsões,
sendo os seguintes os outros sintomas: letargia (89%), palidez
Existem 3 fatores importantes no desencadeamento da defici- 997%), fontanela abaulada (92%), equimoses extensas (11%) e
ência da Vit. K: coma (10%). A mortalidade foi de 9%.
Ocorre duas vezes mais no sexo masculino. No estudo de Pooni
• Diminuição da ingestão de Vit. K; e cls, a hemorragia intracraniana ocorreu em 71% dos casos (a
• Diminuição da absorção intestinal; hemorragia subdural foi o tipo mais comum, seguido pela hemor-
• Diminuição da produção de Vit. K pelas bactérias do có- ragia subaracnóide;75% dos casos tinham hemorragia em múl-
lon (modificação da flora pelos antibióticos) tiplos. No estudo de D´Souza e Rao, a ocorrência de hemorragia
intracraniana foi de 93%, sendo que 57% morreram da doença e
Há evidência que a Vit. K, seja deficientemente transportada 36% ficaram com sequela neurológica. Cerca de 90% dos casos
pela placenta até o feto: os estoques hepáticos de Vit. K do feto tem sido relatados na literatura ocorrerem nos lactentes ama-
humano são baixos, com concentrações por volta de 1/5 da en- mentados ao seio. A profilaxia com uma única dose oral do pre-
contrada nas crianças mais velhas e nos adultos. parado parenteral parece ser incapaz de evitar a forma tardia da
doença hemorrágica, principalmente nos lactentes amamentado
Anticonvulsivante Materno X ao seio (com um mês de vida o RN apresenta uma significante
Doença Hemorrágica Do RN deficiência bioquímica da Vit. K), sendo preconizado esquema de
duas doses orais (ao nascer e no 4º dia de vida) de um preparado
Drogas anticonvulsivantes (primidona, carbamazepina, hidan- novo de vitamina K1 oral, que é o Kanakion MM (nesta formula
toína e especialmente barbitúricos) administrados à mãe, dimi- a vitamina K1 é preparada com um ácido biliar – o ácido glico-
nuem os níveis de fatores dependentes da Vit. K. Estes anticon- cólico – é um fosfolipídio). A Academia Americana de Pediatria
vulsivantes podem gerar enzimas microssômicas no fígado fetal, recomenda 1mg IM e continuar o seio materno. O uso da forma
o que aumentaria a degradação da vitamina K fetal, cujos níveis intramuscular da vitamina K gerou controvérsias após a publica-
circulantes já são baixos. ção de Golding e cl, relacionando maior incidência de câncer na
O sangramento nesses RN é mais precoce (primeiras 24 horas) e infância (leucemia linfocítica aguda: OR= 1.97, IC: 1.3 to 3.0) em
mais graves (tendem sangrar em cavidade pleural, cérebro e fígado). crianças que havia recebido a vitamina por via parenteral após o
A profilaxia com Vit. K, na gestante é discutido, devido ao defi- nascimento. Publicações posteriores, entretanto, não confirma-
ciente transporte da vitamina K através da placenta (os níveis dos ram essa associação, recomendando manter a via intramuscular
fatores dependentes da vitamina K estão abaixo de 50% dos valo- para a prevenção das formas clássica e tardia da doença hemor-
308 res nos adultos); no entanto tem sido proposto o uso de Vit. K na rágica do recém-nascido. Há relatos de RN prematuros que rece-
gestante como forma de profilaxia da doença hemorrágica do RN. beram Vit K1 endovenoso ao nascer e que apresentaram doença
Considerar cesariana nestes pacientes (um parto traumático pode hemorrágica tardia (a via IM confere maior duração do efeito do
levar a maciça hemorragia subdural). É questionável o uso no pré- que a vida endovenosa) A via endovenosa é menos efetiva que a
natal da vitamina K como profilaxia da hemorragia intraventricular. via IM na prevenção da doença hemorrágica tardia. Outra forma
de evitar a doença hemorrágica do RN consiste em aumentar a
Administração De Vit. K E Hiperbilirrubinemia ingestão da Vit. K1 em lactentes amamentados exclusivamente
ao seio, por suplementos maternos de 5mg/dia por 12 semanas.
A hiperbilirrubinemia, anemia hemofílica e Kernicterus, asso-
ciadas à Vit. K pertencem aos análogos sintéticos da Vit. K, não Diagnóstico
devendo esses agentes serem usados no período neonatal.
Clínico
Vitamina K E Sepse Laboratorial:
Os microrganismos gram-negativos ou seus produtos podem piorar • Teste de Apt (sangramentos gastrintestinais): sangue do
a reação de carboxilação da Vit. K no fígado. Assim, os testes anor- RN ou sangue da mãe aspirado pelo RN.
mais da coagulação na sepse por gram-negativo não são específicos • 1 volume de fezes ou vômitos com 5 volumes de água
para CID e que um número significante de pacientes pode ter uma • Centrifugue a mistura e separe o sobrenadante róseo - claro
coagulopatia não relacionada a CID, podendo ser responsiva à Vit. K • Adicione 1 ml de NaOH a 1% a 5 ml do sobrenadante
(NaOH a 1% = NaOH a 0,25 N);
Clínica • Misture e observe a modificação da cor após 2 min.:
1. se permanecer róseo: Hb fetal
O sangramento pode ocorrer no lº dia de vida (associado com 2. róseo para amarelo - amarronzado; HbA (sangue da mãe)
o uso materno de anticonvusivantes, tuberculostáticos e antico- • Contagem de plaquetas: (normal > 150.000/mm3,
agulantes), mas é mais freqüente ocorrer no 2º - 3º dia de vida: • tempo de protrombina (PT) e tempo de Tromboplastina
trato gastrointestinal (2/3 dos casos), cordão umbilical (1/4 dos parcial (PTT) prolongados
casos), local da circuncisão, local da retirada de sangue fetal
para a realização de pH, equimoses generalizadas (1/3 dos ca- Frisando: PT - Prothrombin Time: mede a formação da trombina
sos), exsudação sanguínea prolongada de punção venosa. a partir da protrombina em presença dos fatores V, VII e X (prova
Nas crianças que não recebem Vit. K1 ao nascimento, e ali- da via extrínseca a partir de fator tecidual).
mentadas exclusivamente no seio (leite materno 1-2mg/l de Vit PTT - Partial Thromboplastin Time (avalia o sistema intrínseco
K1; o leite de vaca contem 6mg/l de Vit K1) têm sido descrito da coagulação: XII, XI, IX, VIII, X, V, II e I).
sangramento entre a 2a e 12a semana de vida (forma tardia),
Capitulo 09 Distúrbios Hematológicos
Paulo R. Margotto
Assistência ao Recém-Nascido de Risco
9.4 TROMBOCITOPENIA
Paulo R. Margotto
Conceito
É a contagem do número de plaquetas inferior a 150.000/mm3 A hipoxia crônica intrauterina é a mais freqüente causa de
(sangue colhido com EDTA). Ocorre em 18 a 35% dos RN na UTI trombocitopenia de início precoce (dentro das primeiras 72 horas
Neonatal (80% ocorre na primeira semana de vida), sendo mais de vida nos recém-nascidos pré-termos. A fisiopatologia parece
comum nos RN com peso ao nascer <1000g (prematuros extre- ser devido à diminuição da produção de plaquetas. Estes RN não
mos). A classificação da trombocitopenia,segundo Christensen sangram devido não ocorrer alteração na função da plaqueta.
é:abaixo de 50.000/mm3 é considerada trombocitopenia grave Nesta condição, geralmente a contagem de plaquetas está entre
(38% dos pré-termos extremos); entre 51 e 100.000/mm3 é con- 50 e 100.000/mm3. Um número menor que 50.000/mm3 sugere
siderada moderadamente severa (RN com restrição do cresci- outras causas, como trombocitopenia imune, infecção, distúrbios
mento intrauterino, RN de mães hipertensas); trombocitopenia genéticos). Normalmente a trombocitopenia por hipoxia crônica
leve: 101.000 a 149.000/mm3 (23% dos pré-termos extremos). intrauterina dura em torno de 7 a 10 dias; além disto, avaliar
Com a contagem de plaquetas acima de 100.000/mm3 não au- outras causas envolvidas.
mento o risco de sangramento (não há aumento do tempo de A sepse e a enterocolite necrosante são as principais causas
sangramento nesta faixa de número de plaquetas). de severa trombocitopenia nos recém-nascidos. Alteram tanto o
número como a função plaquetária.
Patogenia OS RN com HIV e citomegalovirus frequentemente apresentam
trombocitopenia. Quanto ao HIV, a trombocitopenia pode ocorrer em
A trombopoetina (TPO) é amplamente reconhecida como o mais 47%, podendo servir como marcador da exposição do neonato ao HIV.
potente estimulador da produção de plaquetas; atua promovendo Em 48% dos casos, a causa da trombocitopenia é desconhecida.
a proliferação dos progenitores dos megacarióticos (células que
se multiplicam e dão origem aos megacariócitos). As concentra- Diagnóstico
ções plasmáticas de TPO são maiores nos RN normais em relação
aos adultos saudáveis, mas os RN com trobocitopenia apresentam 1. Dados maternos:
menores concentrações de Tpo em relação aos adultos com seme- História:
lhantes graus e mecanismo de trombocitopenia. Os progenitores
310 de megacarióticos são mais sensíveis a Tpo no RN. Pelo fato dos • sangramento prévio (Púrpura Trombocitopênica Idiopática?);
RN não apresentar capacidade de aumentar o tamanho dos me- • uso de drogas que causem trombocitopenia na mãe e RN
gacarióticos e sim o tamanho, os RN doentes são mais predispos- (quinina, quinidina, sulfonamidas, diuréticos tiazídicos,
tos a desenvolver trombocitopenia. A concentração plasmática de metildopa, espironolactona, AAS, ampicilina, cefalexina,
Tpo, juntamente com os progenitores de megacarióticos e a per- trimetropim-sulfametoxazol, penicilina, cefalotina, digito-
centagem de plaquetas reticuladas (esta já disponível em algumas xina, difenilhidantoína, clonazepan, primidona, rifampici-
Instituições) e a concentração de glicocalicim tem sido usados na na, tetraciclina, sulfisoxazol );
avaliação da produção de plaquetas nos recém-nascidos. • mãe fumante;
O nível de plaquetas no sangue reflete o balanço entre a sua • prévios RN afetados com púrpura;
produção e a sua destruição. A avaliação do tamanho de plaque- • doença febril, rash cutâneo, exposição e rubéola nas pri-
tas fornece uma idéia do mecanismo da trombocitopenia: meiras 8 semanas de gestação, herpes genital, sífilis, LES.
• Hipertensão materna (maior risco de trombocitopenia ne-
• Predomínio de plaquetas grandes no sangue periférico onatal para os prematuros, especialmente os que apre-
sugere destruição periférica de plaquetas, havendo pro- sentam retardo de crescimento intrauterino);
dução de plaquetas jovens; • Mães HIV positivas (como a trombocitopenia é imunome-
• Predomínio de plaquetas normais ou pequenas, sugere diada, o RN está teoricamente em risco).
deficiência de produção
Placenta: (infecções, corangioma, hipoxia crônica)
Classificação Etiológica Contagem de plaquetas maternas
• Baixa: Trombocitopenia idiopática, lupus eritematoso
1. Trombocitopenia Neonatal Isoimune; (raro o RN apresentar trombocitopenia), Drogas.
2. Trombocitopenia Neonatal Associada à Trombocitope-
nia Idiopática Materna (causa imunológica); 2. Dados do RN:
3. Trombocitopenia Neonatal Associada à Trombocitope- Exame físico
nia Materna Induzida por Drogas ;
4. Trombocitopenia Neonatal e Infecção Bacteriana; • Petéquias e manchas purpúricas (no rn normal são loca-
5. Trombocitopenia Neonatal e Infecção Não Bacteriana lizadas na cabeça e parte superior do tórax);
6. Trombocitopenia em RN de Alto Risco • Presença ou ausência de hepatoesplenomegalia;
7. Trombocitopenia por outras causas (fototerapia, cate- • Icterícia;
ter umbilical, exssanguíneotransfusão, enterocolite ne- • Anomalias congênitas (síndrome da rubéola congênita,
crosante, policitemia neonatal, RN de diabética, elo uso hipoplasia megacariocítica congênita: trissomia 13 e 18,
de heparina, leucemia, hemangioma gigante ou múltiplo, anemia fanconi e ausência bilateral dos rádios)
eritroblastose fetal, hipoplasia megacariocítica congêni- • Hemangiomas (grandes ou múltiplos);
ta, lúpus eritematoso disseminado materno) • Sinais de hic (tremores, apnéia, cianose)
Capitulo 09 Distúrbios Hematológicos
Paulo R. Margotto
Assistência ao Recém-Nascido de Risco
• Contagem de plaquetas no cordão umbilical: 10% apre- As semelhanças entre os bebês com trombocitopenia devida a
sentam uma contagem de plaquetas de 20 a 50.000/ TPI e a trombocitopenia isoimune, são: a “boa” aparência, ausên-
m3 e menos de 2%, contagem de plaquetas inferior a cia de hepatoesplenomegalia, riscos de grave hemorragia, abor-
20.000/mm3. Quando normais ou pouco diminuídas, re- dagem geral do tratamento e a duração da trombocitopenia após
petir, pois pode ocorrer uma queda nas primeiras horas o nascimento (3-12 semanas).
de vida, alcançando menor valor no 3º ao 5º dia. Conta- As causas de plaquetopenia no recém-nascido são numerosas.
gem diária por uma semana. Os fatores mais importantes para o diagnóstico etiológico dessa
• Lâmina para esfregaço: grande número de plaquetas e condição podem ser sumarizados no esquema a seguir, segundo
312 agrupadas, exclui trombocitopenia. Oski & Naiman.
• Hemoglobina; Abordagem diagnóstica das trombocitopenias (modificado de
• Bilirrubinas; Oski & Naiman, 1972).
• Mielograma: aumento do número de megacariócitos ima-
turos Criança com Criança Criança com
• Contagem de plaquetas no feto - abaixo de 50.000/ mm3 exame com hepatoes- anomalias
- indicação de cesariana físico normal plenomegalia congênitas
PTI materna
Tratamento Mãe com Lupus materno
plaquetas Ingestão de drogas
Além das medidas gerais comentadas anteriormente: diminuídas Trombocitopenia
hereditária
• Gamaglobulina: nº. de plaquetas < 50.000 ou sangra-
Septicemia
mento clínico:
Sífilis congênita
• Dose: 1g/kg/dia por 2 dias consecutivos. (em 75% dos Púpura isoimune
Herpes
pacientes se observa um aumento marcante na conta- Tiazídicos, Hemangio-
Citomegalia
gem de plaquetas dentro de 24 a 48h. Mãe com tolbutamida, ma gigante
Rubéola
• A gamaglobulina aumenta a sobrevida das plaquetas re- plaquetas Trombocitopenia Rubéola
congênita
vestidas de anticorpos pela indução de um bloqueio tem- normais hereditária congênita
Toxoplasmose
porário do sistema reticuloendotelial. Anemia aplástica Trissomias
congênita
Aminoacidúrias
Leucemia
Se não houver respostas, considerar:
congênita
Paulo R. Margotto
Assistência ao Recém-Nascido de Risco
9.5 HEMODERIVADOS
Samiro Assreuy
Apesar dos avanços no processamento e na seleção do sangue mais de assepsia, sobretudo quando o equipo utilizado
e derivados, a terapêutica transfusional ainda não é isenta de para a transfusão contiver uma bureta graduada inter-
problemas. A indicação de hemoderivados requer uma análise calada ao sistema (esse tipo de equipo é ideal para a
criteriosa do rico-benefício para o paciente. transfusão em recém-nascido)
Várias complicações hematológicas, imunológicas, infeccio-
sas, cardiovasculares e metabólicas podem ocorrer trazendo sé- Critérios
rias repercussões no período neonatal. Hematócrito (Htc ≤ 40%)
Basicamente, as transfusões têm por finalidade: • Doença cardíaca severa com cianose ou insuficiência
cardíaca congestiva.
• Restaurar a volemia, a capacidade de transporte de oxi- • Se Fi02 > 35% no HOOD.
gênio ou a hemostasia. • Se em CPAP ou ventilação mecânica com pressão média
das vias aéreas (MAP: mean air pressure) > 6cm H2O.
Produtos Sanguineos • Enterocolite necrosante.
Sempre que usar albumina nos RN prematuros. Deverá ser confir- Não há evidências para o uso da furosemida tanto antes como
mada a hipoalbuminemia. Veja os valores normais na Tabela (final) depois da hemotransfusão. O estudo recente de Balegar e Klu-
ckow M demonstrou que em um grupo de prematuros hemodi-
Plasma namicamente estáveis e transfundidos de forma eletiva, além da
primeira semana de vida, o uso da furosemida teve benefício clí-
• Plasma preservado:extraído através da centrifugação ou nico mínimo. A administração de uma dose única de furosemida
sedimentação espontânea do sangue total antes da transfusão nestes recém-nascidos impediu um aumen-
• Não contém os fatores lábeis da coagulação. to pequeno, mas estatisticamente significativa na FiO2 e ganho
• Isosmolar ao plasma, portanto tem baixo poder oncótico. de peso, além de produzir pequena diminuição, porém significati-
• Plasma fresco congelado: extraído por centrifugação em me- va, no sódio sérico e não teve efeito sobre varáveis ventilatórias.,
nos de 6 horas após a coleta do sangue e conservado na tem- hemodinâmicas, ecocardiograficas, eletrolíticas e clínicas por 24
peratura de –200C. Contém os fatores II, VII, IX, X, V e VIII, além horas após a transfusão. Os pequenos benefícios clínicos do uso
de gamaglobulina e outras proteínas Não contém plaquetas. rotineiro da furosemida no momento da transfusão eletiva preci-
sa ser equilibrado com os efeitos potencialmente adversos.
Indicações
• Expansor de volume (substância colóide).
• Coagulação vascular disseminada, coagulopatias por do-
ença hepática e coagulopatias por déficit de fatores V, VII
e X (quando não se dispõe de fatores purificados): plasma
fresco congelado – 10ml/kg, repetindo cada 6-8h (20ml/
kg), guiando-se pelos exames laboratoriais (TP, TTP).
• Volume: 10ml/kg.
• Infusão não deve exceder 2 horas.
Paulo R. Margotto
Assistência ao Recém-Nascido de Risco
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Capitulo 09 Distúrbios Hematológicos
9.6 TROMBOSE
Paulo R. Margotto
Assistência ao Recém-Nascido de Risco
Se houver indicação de trombólise, ela deverá ser realizada pre- Pré-termos Termos
ferencialmente com o uso Actilyse ®, com transfusão de plasma 2 mg/kg/dose 1,7 mg/kg/dose
Dose
fresco congelado antes do início da terapia. cada 12 horas SC cada 12 horas SC
Trombose da Veia Renal:
Para neonatos com trombose da veia renal unilateral, que não se
SC: subcutâneo
estende para a veia cava inferior, a conduta é expectante, com
Devido à alta concentração da enoxaparina, a administração
monitorização da extensão da trombose.
de doses decimais é sujeita a grande incidência de erros.
Para a trombose unilateral com extensão para a veia cava inferior,
A enoxaparina pode ser diluída para uma concentração de 20
iniciar anticoagulação com heparina convencional (3-5 dias) segui-
mg/mL em cloreto de sódio a 0,9% e permanece estável por até
da de enoxaparina, ou enoxaparina por 3 meses.
43 dias em temperatura ambiente (22-26ºC) ou sob refrigeração.
Para trombose de veia renal bilateral com insuficiência renal, iniciar
anticoagulação com heparina e terapia trombolítica Monitorização
comativador do plasmenogênico tPA seguida por anticoagulação com O tempo de tromboplastina parcial (TTP) NÃO pode ser usado
heparina convencional/enoxaparina. para monitorizar os níveis terapêuticos de enoxaparina. A monito-
(A terapia com enoxaparina requer monitorização rização deve ser feita com o nível de atividade antifator Xa entre
cuidadosa na presença de insuficiência renal grave.) 0,5 a 1,0 U/ml em uma amostra colhida de 4 a 6 horas após
Cateter Umbilical Arterial: a injeção subcutânea. Esse teste é caro e raramente disponível
Para manter a patência do cateter umbilical arterial, manter infu- na maior parte dos serviços clínicos atualmente. O mais comum
são de dose baixa de heparina convencional (0,25 a 1 U/mL). tem sido o uso empírico das doses propostas. Quando possível,
Em caso de trombose associada a cateter umbilical arterial, esse nomograma é utilizado para ajuste das doses na faixa etária
iniciar terapia com heparina ou enoxaparina pediátrica.
por pelo menos 10 dias e remover o cateter.
Para neonatos com trombose relacionada a cateter umbilical Nível Anti Suspender Modificar
Repetir exame
arterial com comprometimento grave da perfusão de membros ou Xa U/ml próxima dose? dose?
órgãos, iniciar trombólise com tPA. Se a trombólise for contraindi- 4 horas após
<0,35 Não + 25%
cada, realizar trombectomia cirúrgica. próxima dose
Manter o cateter arterial umbilical em 4 horas após
0,35-0,49 Não +10%
posição alta em vez de baixa. próxima dose
Trombose de seio venoso cerebral: Próximo dia, depois
Para neonatos com trombose de seio venoso cerebral sem he- 0,5-1,0 Não não após 1 semana e de-
morragia intracraniana significativa, iniciar heparina convencional pois mensalmente
318
ou enoxaparina e depois manter enoxaparina por pelo menos 6 1,1-1,5 Não - 20% Antes da próxima dose
semanas, mas durante não mais que 3 meses. Antes da próxima dose
1,6-2,0 3 horas - 30%
Para neonatos com trombose nos seios venosos cerebrais com e depois 4 horas após
hemorragia significativa, manter monitorização radiológica duran- Antes da próxima dose
te 5 a 7 dias e usar até exame
> 2,0 - 40% e a cada 12 horas até
anticoagulante se houver propagação do trombo. 0,5 U/ml
exame < 0,5 U/ml
Cirurgia está recomendada para os neonatos com hidrocefalia ou
hematomas cerebrais grandes com efeito de massa. Uso Endovenoso
Acidente vascular cerebral isquêmico: A administração subcutânea de enoxaparina já foi descrita como
Na ausência de origem cardioembólica, não está indicada anticoagu- não confiável em populações de pacientes internados em UTI de-
lação nem terapia com aspirina para neonatos vido ao edema subcutâneo ou à vasoconstrição periférica em pa-
com primeiro episódio de acidente vascular cerebral (AVC) isquêmico. cientes recebendo vasopressores. Além disso, neonatos (especial-
Em neonatos com acidente vascular cerebral (AVC)isquêmico recor- mente prematuros) com pouco tecido subcutâneo podem sofrer
rente, iniciar anticoagulação ou aspirina. necrose ou hemorragia após aplicações repetidas da droga.
Há dois breves relatos sobre a administração de enoxaparina in-
travenosa para prematuro (um paciente cada). Esses dados limita-
Anticoagulação dos sugerem a administração de 1 mg/kg cada 8 horas. Um estudo
em 7 crianças publicado por Crary e cl mostrou um pico de ação
Heparina de Baixo Peso Molecular (Enoxaparina) mais precoce (1-2 horas) e as doses terapêuticas para crianças com
< 1 ano foram de 2,4 mg/kg/dose (administradas cada 8 horas).
Heparina de baixo peso molecular é a forma de anticoagulação O uso de enoxaparina intravenosa é um uso ainda não aprova-
mais usada nas UTI neonatais atualmente. As vantagens supos- do, que não consta na bula. Esse uso ainda tem evidências publi-
tas incluem farmacocinética previsível, administração subcutâ- cadas incompletas. Há relatos de risco aumentado de hemorra-
nea, ausência de interferência por outras drogas ou dieta, risco gia com o uso intravenoso. O Instituto de Cardiologia em Brasília
diminuído de trombocitopenia e de osteoporose. No entanto, é acumula alguma experiência com essa via de administração (uso
preciso citar que a previsibilidade do efeito anticoagulante das chamado “off-label”, isto significa que a medicação é feita para
doses ajustadas pelo peso é reduzida quando comparadas com administração subcutânea e a bula contraindica a administra-
as de adultos, presumivelmente devido à alteração das ligações ção intravenosa) em crianças cuja administração subcutânea é
plasmáticas. As doses recomendadas de Enoxaparina (Clexane® dificultado pela instabilidade hemodinâmica, edema extenso ou
- seringa pré-enchida 0,2ml=20mg ou 0,4ml=40mg) são basea- pouco tecido subcutâneo.
das em uma revisão do uso em 240 neonatos reportados em 8
estudos publicados, segundo Malowany e cl.
Capitulo 09 Distúrbios Hematológicos
Complicações Monitorização
O risco de sangramentos menores é de 17%. Sangramentos Crianças necessitando de heparina frequentemente têm do-
maiores ocorrem em 0,7 a 2% dos pacientes. Se necessário, fa- enças que influenciam o TTP de base e a resposta a heparina.
zer punção lombar, suspender pelo menos duas doses da droga Ao nascimento, o TTP é prolongado, refletindo a imaturidade do
e, se possível, determinar o antifator Xa. Em animais o sulfato de sistema de coagulação. Os níveis de heparina podem ser mais
protamina reverte o efeito da heparina de baixo peso molecular. confiáveis do que TTP para monitorizar os recém-nascidos e al-
Usar as mesmas instruções para reversão da heparina conven- gumas crianças (desejável de 0,5 a 1 unidade/ml após 4 horas
cional (1mg Enoxaparina =100U). de injeção). Também pode ser usado o nível de atividade do anti-
fator Xa entre 0,3 e 0,7 U/ml (valores extrapolados de trabalhos
Heparina Convencional com adultos). No entanto, o mais importante grupo de pesquisa
na área, liderado por Fiona Newall e Paul Monagle, advoga que
A heparina é um mucopolissacarídeo aniônico. A heparina age nenhum teste clínico existente atualmente pode ser recomenda-
como anticoagulante formando um complexo com a antitrombina do para medir o efeito da heparina em termos de eficácia ou se-
(AT). Esse complexo inibe diversos fatores ativados da coagula- gurança. Esses autores recomendam que seja utilizado o conhe-
ção sanguínea: XIIa, XIa, IXa, Xa e trombina. O início de ação da cimento do mecanismo de ação da heparina em conjunto com
heparina é imediato. Mais frequentemente é utilizada em condi- variáveis individuais de cada paciente para determinar a dose e
ções agudas e deve ser administrada por via parenteral. duração ótimas do tratamento.
A terapêutica com heparina em crianças é diferente da terapia
em adultos; a depuração de heparina é mais rápida nos mais Complicações
jovens. Ao nascimento, os níveis de antitrombina são 50% dos Sangramento é o efeito adverso mais comum da heparina. Se
valores em adultos. Durante toda a infância, os níveis são 25% ocorrerem grandes sangramentos, interrompa a heparina. A ad-
menores. Os níveis de AT também estão reduzidos na criança a ministração de sulfato de protamina endovenoso pode ser usada
termo (0,5 U/ml) e nos prematuros (0,2 a 0,37 U/ml) e normali- para neutralizar os efeitos da heparina. Em sangramentos meno-
zam aos 3 meses de vida. O uso de heparina no período neonatal res, as doses devem ser ajustadas.
é complicado, portanto, pelos baixos níveis de AT resultando em
relativa resistência à medicação. Tempo desde Dose de protamina mg/100 U
última dose em min heparina
Regras práticas < 30 1,0
1. Realize hemograma, Tempo de protrombina (TP) e Tem-
30-60 0,5-0,75
po de tromboplastina parcial (TTP) antes do tratamento
60-120 0,375-0,5
(consulte o capítulo Distúrbios Hemorrágicos para a com-
preensão da fisiologia da hemostasia normal) >120 0,25-0,375
319
2. Dose: *Dose máxima de 50 mg. Velocidade de infusão de uma so-
Manutenção lução a 10mg/ml não exceder 5 mg/min. Reações de hipersen-
Ataque
< 28 semanas IG 25 UI/kg IV em 10 minutos 15 UI/kg/h sibilidade podem ocorrer em pacientes alérgicos a proteínas de
28 -37 semanas IG 50 UI/kg IV em 10 minutos 15 UI/kg/h peixe ou naqueles que receberam protamina previamente. Seja
> 37 semanas IG 100 UI/kg IV em 10 minutos 28 UI/kg/h conservador com a administração da protamina porque níveis
elevados também provocam sangramento.
3. Monitorize TTP a cada dia, se possível • Osteoporose é um efeito colateral grave porém raro, asso-
ciado com o uso prolongado de altas doses de heparina.
4. Após 3 a 5 dias de heparinização com a medicação con- • Anafilaxia é um efeito secundário a contaminação que pos-
vencional, troque a anticoagulação pelo uso de enoxaparina sa ocorrer durante o processo de manufatura da droga.
• Trombocitopenia associada ao uso de heparina (“HIT”) –
Ajustes de Dosagem Não há consenso sobre a frequência em crianças, mas é
Assim como para adultos, o uso de um nomograma de dosa- bem mais rara que a incidência em adultos (3-5%). Pode
gem ajuda a atingir e manter o TTP no intervalo terapêutico. O ser assintomática ou associada à trombose venosa ou ar-
nomograma seguinte foi validado para manter o TTP no intervalo terial fatal. Geralmente aparece entre 3 e 15 dias após
de 60-85 segundos em pacientes pediátricos. o início do tratamento. Desconfie se ocorrer queda das
plaquetas < 70 a 100.000 por mm3. Se ocorrer, pode ser
TTP Bolus Suspenda a infusão Mudança da Controle necessária a suspensão da heparina. Seja cauteloso ao fa-
(seg) (U/kg) por (min) infusão % de TTP zer esse diagnóstico em crianças: há controvérsias sobre
os critérios. Os níveis de plaquetas retornam ao normal em
< 50 50 0 + 10% 4h.
4 dias da suspensão da terapêutica. Se necessário, inicie
50 - 59 0 0 + 10% 4h.
hirudina (lepirudina) na dose de 0,03 a 0,05 mg/kg/h e a
Dia monitorização é com o tempo de coagulação da heparina
60 - 85 0 0 0
seguinte (há riscos significativos). Consulte um hematologista.
86 - 95 0 0 - 10 % 4h.
96 - 120 0 30 - 10% 4h Outra Medicações
120 0 60 - 10% 4h Melagatran é uma droga potencialmente útil em neonatolo-
gia, mas ainda faltam estudos. Warfarin não está indicado em
Na nossa experiência, a eficácia da anticoagulação pode ser recém-nascidos. Aspirina na dose de 1-5 mg/kg/dia é comumen-
imprevisível em neonatos, sendo possível atingir níveis terapêuti- te prescrita para evitar trombos em crianças submetidas aos pro-
cos do TTP em apenas uma fração dos pacientes, mesmo com o cedimentos de Blalock-Taussig, Glenn, Fontan ou Norwood após
aumento das doses da heparina. profilaxia intra-operatória com heparina convencional.
Paulo R. Margotto
Assistência ao Recém-Nascido de Risco
321
Paulo R. Margotto
Assistência ao Recém-Nascido de Risco
322
Capitulo 10 Distúrbios Neurológicos
Capítulo 10
Distúrbios
Neurológicos
Assistência ao Recém-Nascido de Risco
única com o EEG, porém nos RN pré-termo não necessariamente automatismos não ictais) tornam os estudos videopoligráficos
implicam a existência de patologia focal). As hemiconvulsivas são importante (quase obrigatória) no apoio diagnóstico das crianças
raras no RN, pois o padrão jacksoniano observado em crianças com risco para crises epilépticas. Estudo recente de van Rooij e
maiores não é comum nesta faixa etária. As crises clônicas po- cl evidenciou que o tratamento imediato tanto das crises clínicas
dem traduzir hemorragia intracraniana, acidente vascular cere- como subclínicas reduz o tempo de duração das convulsões, su-
bral ou doença metabólica. gerindo possível redução na lesão cerebral.
Paulo R. Margotto
Assistência ao Recém-Nascido de Risco
• Infecções congênitas (toxoplasmose, citomegalovirose, É ineficaz no RN que apresenta EEG com atividade de base
rubéola, sífilis, herpes); significativamente anormal.
• Encefalopatia hiperbilirrubinica; Eficiência isolada: 45%
• Erros inatos do metabolismo (aminoacidopatias, organo-
acidopatias, peroxissomopatias, mitocondriopatias); • 2ª droga: Difenilhidantoina – deve ser utilizada após 30
• Malformações do SNC (cromossomopatias, disgenesias do minutos da 1ª,caso a crise não tenha cessado. A dose de
SNC); ataque é de 20 mg/kg EV, em infusão lenta (até 1mgkg-
• Síndromes neurocutâneas (Esclerose tuberosa, Sturge-We- min), diluída em água destilada ou soro fisiológico, a
ber, etc.); dose de manutenção é de 3 a 7 mg/kg/dia.
• Piridoxina (dependência); Eficiência isolada=45%
• Abstinência de drogas; 1ª+2ª drogas associadas = 57% de eficiência.
• Anestésicos utilizados no parto;
• Distúrbios metabólicos (hipoglicemia, hipocalcemia, hi- • 3ª droga: Midazolam - em infusão contínua vem sendo
pomagnesemia, hiponatremia ou hipernatremia); utilizado como terceira droga, pois é rapidamente elimi-
• Síndromes epilépticas benignas (convulsões neonatais nada após sua suspensão (até 2horas). O midazolam é
benignas familiares, convulsões neonatais benignas); 1,5 a 2 vezes mais potente que o diazepam. Difere dos
• Encefalopatias epilépticas (Síndrome de Ohtahara, Ence- outros benzodiazepínicos pelo seu caráter básico, esta-
falopatia mioclônica precoce); bilidade em solução aquosa, solubilidade em lipídios em
um pH fisiológico, metabolismo muito rápido e menor
Como posso confirmar minha hipótese etiológica? vida-média de eliminação (6,5h). Devido as suas proprie-
Determinar a suspeita etiológica é fundamental, pois contri- dades químicas, tem boa absorção após a administração
bui na determinação do tratamento. Podem contribuir os exa- intramuscular e oral, rápido metabolismo hepático, início
mes complementares. rápido de ação (1,5 a 5 min) e de curta duração (1 a 5 h)
e tem escassos efeitos residuais. Usualmente a droga é
• Glicemia retirada em 3-4 dias.
• Eletrólitos O midazolam é essencialmente um agonista específico do ácido
• Hemograma completo com índice leucocitário gamaaminobutírico, o mesmo ocorrendo com os demais benzodia-
• Gasometria com anion gap zepínicos, havendo uma diferença que explica porque o midazolam
• Líquido cefaloraquidiano é efetivo quando agentes convencionais falharam: o midazolam
• Sorologias para infecções perinatais crônicas atinge os receptores (ácido gamaaminobutírico) mais rapidamente
• Ultrassonografia cerebral e estes receptores são críticos para cessar o estado epiléptico.
• Tomografia computadorizada Tem sido descrita hipotensão arterial com o uso de midazolam
326 • Ressonância magnética (após bolus) ou durante o co-tratamento com o fentanil. Assim,
• Doppler transcraniano recomenda-se muita cautela ao usar midazolam em pacientes
• Colher armazenar adequadamente o soro e a urina para hipovolêmicos ou hipotensos, devido ao seu efeito na diminuição
triagem de erros inatos do metabolismo da resistência vascular periférica.
Dose: ataque: 0.15 mg/Kg (diluir 2 ml de DormonidR em 18 ml
Qual é o prognóstico do quadro? de SG 5% e fazer 0.3 ml/Kg= 0.15mg/KG
Depende fundamentalmente da precocidade do diagnóstico, Manutenção: 1g/Kg/min, podendo ser aumentado 1g/Kg/min a
controle adequado da crise e da etiologia. cada 5 min, até no máximo 18g/kg/min. Não retirar abruptamente.
Exemplo: RN com quadro grave de convulsão, apesar do uso
Quais são as possibilidades terapêuticas? de fenobarbital+difenil-hidantoína.
Inicialmente é fundamental assegurar ventilação e perfusão Peso= 3Kg
adequadas; se glicemia pela fita reagente – baixa, “push” de gli- Dormonid® Ataque : diluir 2 ml em 18 ml de SG 5% e fazer :
cose de 200 mg/kg (2 ml de SG 10%); manutenção: TIG de 6-8 0.3X3 = 0.9 ml EV agora
mg/kg/min. Manter a glicemia em torno de 70 a 120 mg% Manutenção 3X1X1440/ 5000 = 0.86 ml na perfusão venosa (24h)
O tratamento da causa de base depende das possibilidades Nota: antagonista do Midazolam: Flumazenil (Lanexat®)- 1
diagnósticas etiológica: amp. = 5 mg em 5 ml. Dose: 0,01mg/Kg/dose, podendo ser re-
Se for possível tratar a causa base em algumas ocasiões é o petido a cada 2 min. Até 1 mg.
suficiente e não será necessária a utilização de drogas antiepilé- Administração nasal de 0,2 a 0,3mg/kg em cada narina na im-
tpticas (DAEs) ou então o período de uso é curto. possibilidade da via EV atingindo concentração sérica após1a 3 min.
Caso a etiologia não seja rapidamente descoberta deveremos
utilizar as DAEs • 4ª droga: Tionembutal - também deve ser lembrada, no
As drogas consagradas, bem estudadas e freqüentemente uti- status eplilepticus neonatal. A dose de ataque é de 1 a 5
lizadas que são: mg/kg EV, e manutenção de 0,5 a 5 mg/kg/hora, inician-
do com a menor dose e lentamente elevando conforme
• 1ª droga: Fenobarbital – ataque de 20 mg/kg EV, poden- resposta terapêutica. O paciente deve estar em unidade
do chegar à complementação até a dose de 40 mg/kg de terapia intensiva e com monetarização cardio-respira-
caso seja necessário. A manutenção pode ser iniciada de tória, em ventilação mecânica.
12 a 24 horas após com doses de 3 a 5 mg/kg/dia e Durante a administração das drogas acima a piridoxina deve
em casos excepcionais 7 mg/kg/dia, pois o metabolismo ser administrada na dose de 50 a 100mg EV, concomitantemen-
desta droga é errático. te com a monitorização do EEg; em RN dependentes observa-se
rápida normalização do EEG e controle de crise.
É interessante colher o controle do nível sérico devido a meta-
bolização errática desta droga. Os níveis de 15 a 40microgramas
são terapêuticos
Capitulo 10 Distúrbios Neurológicos
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Paulo R. Margotto
Assistência ao Recém-Nascido de Risco
Paulo R. Margotto
A hemorragia intraventricular (HIV) é observada com muito síndrome hipóxico-isquêmica (7%). As complicações neonatais,
maior freqüência nos recém-nascidos (RN) pré-termos, originan- se superpondo às complicações perinatais, ocorreram em 48%
do o sangue da matriz germinativa subependimária. Já nos RN (ECMO: 48%; Doença Cardíaca Congênita: 17%; Coagulação Intra-
a termo, a HIV pode resulta do plexo coróide ou do tálamo. A vascular Disseminada: 7% e outras, como hemorragia pulmonar,
trombose dos seios venosos cerebrais desempenha importante insuficiência hepática fulminante, síndrome Vacterl e aspiração
papel. meconial em 14%). No entanto, nove recém nascidos (31%) não
Uma grande HIV no RN a termo parece ser um evento raro tinham nenhum evento desfavorável ao nascimento ou qualquer
associado com hipoxia e trauma. No entanto, uma considerável outra doença sistêmica que pudesse predispor a HIV. Estudos
proporção de casos de HIV no RN a termo fica sem fatores pato- trombofílicos ocorreram em três de quinze pacientes testados.
genéticos definidos. A origem mais comum do sangue intraventricular nestes 9 RN
com trombose venosa nos seios cerebrais foi a tálamo. Muitos
Incidência destes RN com esta trombose apresentaram coágulos no siste-
ma venoso profundo (veia de Galeno, seio reto ou sigmóide) e um
A estimativa da incidência da HIV do RN a termo é de 0,36/1000 recém nascido teve trombose em todos os seios, (seio transver-
nascidos vivos, segundo estudo de Jocelyn e cl (1992). Em uma so, seio sagital superior) e veia medular.
população de RN a termo saudáveis, Hayden e cl detectaram Bergman e cl citam que a trombose venosa profunda geral-
uma surpreendente incidência de 3,8% (19 de 500 recém nasci- mente causa infarto extensivo do centro semioval, tálamo e nú-
dos) de hemorragia na matriz subependimal. Heibel e cl detecta- cleo caudado e produz HIV pela oclusão de veias coroidais.
ram uma incidência de 3,5% de hemorragia intracraniana (35 de Assim, neste estudo de Wu e cl de HIV em recém-nascidos a
1000 RN a termo saudáveis, incluindo hemorragia periventricu- termo, a trombose nos seios venosos cerebrais foi a causa mais
lar, plexo coróide e intraventricular). Ambos os autores realizaram comum de HIV em recém-nascidos a termo e esta trombose é
a Ultrassonografia cerebral nas primeiras 72 horas de vida. Wu associada com presença de hemorragia talâmica.
e cl, em uma coorte de 2.397 recém nascidos com idade ges-
tacional média de 38,3 semanas e peso médio ao nascer de 3 Causas
Kg, determinaram a causa e a apresentação clínica da HIV. A HIV
ocorreu em vinte e nove recém nascidos (1,2%). Os estudos anteriores de HIV nos RN a termo são limitados
328 por falta de dados da moderna imagem, como ressonância mag-
Origem Do Sangramento nética, venografia por ressonância magnética e por tomografia
computadorizada e Ultrassonografia Doppler de alta resolução.
Na revisão de 19 recém-nascidos a termos com HIV feito por A causa subjacente da hemorragia nas estruturas profundas
Roland e cl, a hemorragia talâmica esteve presente em doze do cérebro permanece desconhecida. No estudo de Bergman e
recém nascidos (a HIV foi secundária, devido à proximidade de cl, 50% (09 de 18) dos RN a termo com hemorragia cerebral não
canais venosos com a parede ventricular). Três casos ocorreram apresentavam riscos médicos identificáveis. Dos seus 18 RN a
na matriz germinativa residual e quatro casos, possivelmente no termos com HIV, 12 apresentaram HIV primária (as causas foram
plexo coróide. Estudos de autópsia têm confirmado que o sangra- trombose venosa profunda em um recém-nascido, provável injú-
mento ocorrendo na persistente matriz germinativa na eminência ria hipóxico-isquêmica em três recém nascidos, possível trauma
ganglionar entre a cabeça do núcleo caudado e o tálamo anterior, de parto em 2 RN e em 6 RN não foram identificadas causas).
pode ocasionar hemorragia intraventricular no RN a temo. Nos estudos de Jocely e Casiro e de Mao e cl, a trombocitopenia
No estudo de Wu e cl, a origem do sangramento pareceu ori- aloimune foi a causa mais importante de severa HIV e de pior prog-
ginar-se do plexo coróide em 10 RN (34,5%), do tálamo 7 RN nóstico. A identificação e o tratamento destes RN devem ser ini-
(24,1%), do parênquima periventricular em 4 RN (13,8%), do ciados intrauterino para a prevenção da HIV e suas complicações.
núcleo caudado em 3 RN (10,3%) e da matriz germinativa su- O papel dos distúrbios protrombóticos na trombose dos seios
bependimária em 2 RN (6,9%). Em 3 RN (10,3%) não foi pos- venosos cerebrais tem recebido grande atenção (estes distúrbios
sível estabelecer a fonte do sangramento. A HIV foi leve em 16 ocorrem em 20% dos recém nascidos com trombose nos seios
recém-nascidos (55,2%), 5 RN (17,2%) tiveram grau moderado venosos cerebrais, segundo de Veber e cl, 2001, como será des-
e 8 RN (27,5%) tiveram grau severo de HIV. Os recém-nascidos crito mais adiante).
com hemorragia talâmica tiveram maior probabilidade de ter HIV Grow e cl descreveram 1 RN de 42 semanas de idade gesta-
moderada a severa do que os recém-nascidos que tiveram he- cional, 3700g de peso ao nascer, com convulsões tônico-clônicas
morragia plexo coróide (6/7 versos 3/10 –p <0,049). A hemorra- generalizadas na 6ª hora de vida, com trombose no seio venoso
gia intraparenquimatosa coexistente ocorreu em 11 RN (38%); 6 cerebral associado a homozigoto termolábil metilenotetrahidrofo-
RN (20,7%) exibiram hemorragia subcortical e em 4 RN (13,8%) lato redutase (termolábil MTHFR), tanto no recém-nascido como
ocorreu grande hemorragia lobar. A trombose no seio venoso na mãe. A literatura adulta cita que 12 a 21% da população geral é
cerebral foi diagnosticada em 9 de 29 RN com HIV, dando uma homozigoto para este defeito e 35% da população tem o genótipo
incidência de 31% (6 RN pela ressonância magnética e 3 RN pela heterozigoto. A termolátil MTHRF resulta em hiperhomocisteínemia
venografia, sendo 1 RN pela ressonância magnética e 2 RN pela que tem sido associada à trombose (níveis elevados de homocis-
tomografia computadorizada). teína intraútero podem levar a injúria oxidativa com conseqüentes
Dos vinte e nove recém-nascidos a termo com HIV descritos anormalidades no endotélio dos seios cerebrais). Os autores enfa-
por Wu e cl, em 48% foram identificadas complicações perinatais, tizam que atividade convulsiva inexplicada deve orientar para a in-
como sofrimento fetal (28%), cesariana (24%), Apgar < 7 no 5º mês vestigação de fatores de risco protrombóticos (considerar a análise
(28%), intubação ao nascer (34%), trauma ao nascimento (7%) e do DNA para mutação da MTHFR, tanto na mãe como no neonato).
Capitulo 10 Distúrbios Neurológicos
Paulo R. Margotto
Assistência ao Recém-Nascido de Risco
Clínica
Paulo R. Margotto
Assistência ao Recém-Nascido de Risco
Prognóstico
O prognóstico a longo prazo dos RN a termo com HIV não está Fig. 8 (vide texto) (Margotto/Castro)
bem definido. Na ausência de fatores predisponentes, os estu-
dos iniciais relatam substâncial percentagem de RN com evolu- •Caso 2 :UNIMED-Brasília
ção normal. No entanto, o período do follow-up destes estudos foi Recém nascido de cesariana, no dia 09/10/03, 38 semanas
raramente maior do que um ano. 5 dias de idade gestacional, peso ao nascer 3.150g, compri-
A presença de hemorragia talâmica foi associada com prognós- mento de 51cm, perímetro encefálico de 36cm, Apgar de 9 no
tico ruim, segundo estudo de Roland e cl:10 recém nascidos de 1º e 5º minuto. Alta com a mãe com 4 semanas de vida. Com
332 18 (55,5%) tiveram paralisia cerebral aos dezoito meses. 18 dias de vida, o RN foi trazido à Emergência de Pediatria com
Monteiro e cl descreveram ondas espiculadas contínuas du- histórico de vômitos e fraqueza, não sugando o seio. O recém
rante o sono em paciente de dezessete anos que teve hemor- nascido deu entrada na Emergência com quadro de hipertonia,
ragia talâmica no período neonatal (distúrbio das interações opistótono, estrabismo divergente e pele marmórea. A fontanela
tálamo-cortical poderia desempenhar papel). estava abaulada. O RN estava desidratado. Feito anticonvulsivan-
A presença, o tamanho e a localização do infarto venoso de- te (fenobarbilal). A punção lombar revelou LCR hemorrágico. O
vem ser importantes para o prognóstico. A severidade da injúria hematócrito foi de 34% (série branca normal). Feito vitamina K1
no parênquima cerebral, mas do que a HIV, deve ser importante IM. Com 5 horas de internação, o RN apresentou hipertonia ge-
determinante do follow-up. neralizada, sendo introduzido midazolam. Nova punção lombar
revelou LCR hemorrágica. O hematócrito caiu para 30,6%. Dois
Relato De 4 Casos dias após, no dia 29/10/03, foi realizada tomografia de crânio
que revelou maciça hemorragia intraventricular (figura 9-A-B).
Passamos agora ao relato de três casos de hemorragia intraven- O RN teve alta no dia 31/10/03 com boas condições clínicas.
tricular em recém nascidos a termo, 2 ocorridos na Unidade de Ne- No dia 4/11/2003, 8 dias após o evento, a ultrassonografia ce-
onatologia do Hospital Regional da Asa Sul (HRAS-SES/DF) e outro rebral realizada por nós revelou HIV grau III com maior evidência
ocorrido na Unidade de Neonatologia do Hospital Unimed-Brasília. no ventrículo esquerdo (figura 8-C-D). A ultrassonografia cerebral,
feita 14 dias após, revelou hidrocefalia pós-hemorrágica, sen-
•Caso 1: Hospital Regional da Asa Sul do indicado derivação ventrículoperitoneal (figura 8-E-F), o que
Recém-nascido a termo (40 semanas), parto normal, período foi realizado 2 dias após. A tomografia computadorizada do dia
expulsivo prolongado (½ hora), Apgar de 6 e 8. Com uma hora 20/11/03 revelou moderada hidrocefalia não comunicante, com
de vida, eupneico, hemodinamicamente estável, foi encaminha- evidência de cateter de derivação ventricular e hemorragia em VE
do para o Alojamento Conjunto. Com vinte horas de vida, apre- com melhora em relação ao exame do dia 29/10/03 (figura 9)
sentou episódio de cianose, palidez e tremores. Raios-X de tórax
foi normal, glicemia de 63mg%, gasometria arterial com alcalose
respiratória, hemograma normal, cálcio pouco baixo. Com 38 ho-
ras de vida apresentou convulsões com hipertonia de membros;
nova crise convulsiva de caráter focal (membro inferior direito)
ocorreu três horas após. Iniciado anticonvulsivante. Punção lom-
bar evidenciou LCR hemorrágico. Fontanela anterior abaulada.
A ultrassonografia cerebral realizada por nós, no 6o de vida re-
velou hemorragia intraventricular, grau III (figura 8.A). No 50 dia
de vida, exame neurológico não evidenciou sinais neurológicos.
Nova ultrassonografia cerebral realizada com intervalo de 7 dias
evidenciou dilatação biventricular (no corte sagital: VD=10mm e
Capitulo 10 Distúrbios Neurológicos
Fig 12.. Em (A) e (B) primeiro US nos planos sagital e coronal realizado no 8o
dia de vida, evidenciando hemorragia intraventricular grau III bilateral (1) e
Figura 10. Tomografia computadorizada de crânio evidenciando maciça hemorragia talâmica à esquerda (2). Em (B) e (C) 2º US 7 dias após: planos
hemorragia intraventricular (Margotto) coronal e sagital evidenciando coágulos em coalescência (4) em ambos os
ventrículos e cisto porencefálico talâmico esquerdo (3) (Margotto)
Paulo R. Margotto
Assistência ao Recém-Nascido de Risco
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Paulo R. Margotto
Assistência ao Recém-Nascido de Risco
Paulo R. Margotto
Devido ao aumento da sobrevivência nos recém-nascidos (RN) escrever e na matemática (sem problemas na leitura). Os autores
de peso ao nascer abaixo de 1.500g (taxa de sobrevivência de 73% atribuem estes problemas às disfunções de integração e mielini-
na América Latina), particularmente os RN < 1.000g, a compreen- zação das conexões, características de lesão cortical.
são da lesão cerebral nestes RN, principalmente a sua prevenção, A mielinização expressa a maturidade funcional do cérebro.
é de alta relevância no moderno cuidado intensivo neonatal. Há uma grande interdependência entre neurônio e mielina: um
No Hospital Regional da Asa Sul (SES/DF), as taxas de sobrevi- distúrbio afetando um, inevitavelmente afetará o outro. Os RN
vência, no ano 2000, d e RN abaixo de 1.000g com idade gesta- pré-termo com severa lesão cerebral hipóxico-isquêmica apre-
cional de 26 semanas, 27 semanas, 28 semanas, 29 semanas sentam severo atraso e menor progressão da mielinização, se-
foram, respectivamente, 50%, 77,77%, 66,66% e 100%. Anali- gundo os estudos com ressonância magnética, com conseqüen-
sando por faixa ponderal, as taxas de sobrevivência foram de te maior déficit neurológico.
60% e 83,87% para os RN de 800g – 899g e 900g-999g. Assim, Inder e cl. recentemente demonstraram, utilizando a ressonân-
definimos o nosso limite de viabilidade (taxa de sobrevivência cia magnética, que a presença de lesão na substância branca é
maior que a mortalidade) como sendo 26 semanas e 800g. seguida por um deficiente desenvolvimento cortical a termo.
A presença de cistos na substância branca invariavelmente A lesão aos axônios e mielina da região periventricular ocorre
está associada à significativa morbidade a longo prazo. A identifi- em um período vulnerável do desenvolvimento do cérebro, po-
cação precoce dos RN pré-termos de maior risco para o desenvol- dendo estar associado com lesões cerebrais devastadoras e se-
vimento destas lesões é fundamental, pois pode facilitar futuras qüelas neurológicas.
estratégias preventivas. Assim, para a prevenção das manifestações da lesão cerebral
Segundo Volpe, 5 a 15% dos RN abaixo de 1.500g que sobre- no RN pré-termo, requer-se o conhecimento da patogênese de
vivem apresentam déficits motores espásticos, sendo agrupados cada lesão. A prevenção da lesão cerebral deve constituir o prin-
em paralisia cerebral, e um adicional de 25 a 30% exibe desabi- cipal objetivo de todo neonatologista.
lidades menores que envolvem não somente a morbidade, mas
também a cognição e o comportamento, com distúrbios escolares. Anatomia E Desenvolvimento
Hack e Fanaroff relataram a morbimortalidade dos RN pré- Da Área Periventricular
336 termos extremos (< 800g; < 26 semanas) (tabela 1)
Os autores concluem que apesar de os limites de viabi-
lidade terem sido alcançados, a morbidade e o prognóstico neuro
comportamental constituem um sério problema.
tricular normal são necessárias a diferenciação de um apropria- sítio de contato sináptico de “espera” tálamo-cortical e
do número e tipos de neurônios e células gliais, a migração das cortiço-cortical, ligação funcional de “espera” aferente
células gliais aos sítios requeridos, a formação de sinapses e dos e alvos corticais; guia axonal no córtex cerebral para os
sistemas neuronais e a iniciação da mielinização. aferentes ascendentes; pioneiros no guia para projeções
A zona periventricular imatura está em ativa mudança e con- do córtex aos alvos subcorticias.
tém células gliais imaturas e maturas, micróglia, neuroblastos,
neurônios e vasos sangüíneos. Com o avanço da idade e matu- Interessante que o período que estes neurônios devem operar
ração, ocorrem mudanças histológicas nesta área: a densidade na organização do cérebro corresponde ao período de ocorrên-
e a variabilidade das células diminuem, ocorre a formação da cia de uma variedade de lesões isquêmicas ou hemorrágicas
mielina e os vasos amadurecem. periventriculares, prejudicando as funções citadas e acarretando
A localização de muitas lesões nesta área periventricular do grande impacto no desenvolvimento neuronal cortical.
RN pré-termo pode relacionar-se a vulnerabilidades específicas
desta zona de intenso metabolismo. 2. Laminação: alinhamento, orientação e distribuição em
O número de axônios nesta região é dependente da produção camadas dos neurônios corticais.
apropriada do número de neurônios e da sobrevivência durante 3. Elaboração de ramificações dendríticas e axonais.
a morte celular programada. Por exemplo, na microcefalia seve- 4. Estabelecimento de contatos sinápticos.
ra, a quantidade de tecido periventricular está diminuída devido 5. Morte celular e eliminação seletiva do processo neural
a células inadequadas na matriz germinativa para produzi-lo. O e das sinapses.
desenvolvimento de adequada mielina é dependente de uma 6. Proliferação e diferenciação da glia.
apropriada e oportuna função oligodendroglial.
Manifestações Neurológicas Da Lesão Cerebral
Idade Gestacional Peso cerebral No Recém-Nascido Pré-Termo
20 semanas 50g
As grandes manifestações neurológicas da lesão cerebral no
25 semanas 100g
RN pré-termo são os déficits motores espásticos tendo as seguin-
30 semanas 150g
tes associações:
35 semanas 250g
40 semanas 350g • Quadriparesia espástica: afeta mais membros inferiores
do que superiores (diplegia espástica).
Quadro 2. Média de peso cerebral segundo a idade gestacional • Hemiparesia espástica (quadriparesia assimétrica): afeta
Fonte: Armstrong DL. Preterm periventricular axonal and myelin injury. tanto membros inferiores como superiores.
Semin Perinatol 17:342-50,1993
Os déficits intelectuais são comuns. 337
A mielinização, que é a aquisição de membrana de mielina As anormalidades neurológicas resultantes da lesão das fibras
altamente especializada ao redor dos axônios, começa quando de projeção periventricular (de associação e comissural) podem
os axônios alcançam um certo diâmetro e iniciam-se com rápida ser variáveis e dependentes da lesão e do estado de maturação
proliferação das células da glia, algumas das quais se diferen- quando ocorre a injúria.
ciam em oligodendrócitos e alinham-se ao longo dos axônios; a As mais freqüentes e óbvias deficiências geralmente envolvem o
mielinização ocorre numa seqüência específica, iniciando-se nas sistema motor, ocorrendo manifestações no tônus, postura, choro,
raízes motoras e sensoriais e ocorrendo mostralmente através do reflexo e movimentos espontâneos. Axônios do sistema visual ou
tronco cerebral e cerebelo, a gânglia basal e cérebro, particular- auditivo podem estar envolvidos e produzem distúrbios na recepção
mente nas regiões envolvidas nas funções associativas e discri- cortical de som e luz (para detectar essas deficiências sensoriais
minações sensoriais de mais alto nível; os hemisférios cerebrais especiais, requerem-se testes de respostas corticais evocados).
dos RN pré-termos normalmente têm pouca mielina: o período de As lesões cerebrais mais associadas com déficits motores são
tempo de mielinização começa no segundo trimestre de gesta- a leucomalacia periventricular, o infarto hemorrágico periventri-
ção e continua até a vida adulta, mas a maior parte do processo cular e o hedrocéfalo pós-hemorrágico. Neste capítulo, comenta-
ocorre logo após o nascimento. remos os dois primeiros.
A migração neuronal refere-se a uma série de eventos em que
milhões de células nervosas movem-se dos seus sítios de origem Etiologia Da Lesão
nas zonas ventricular e subventricular para locais dentro do sistema
nervoso central, onde ficarão por toda a vida (esta migração, tendo Leucomalacia Periventricular
como guia as células gliais radiais, ocorre do terceiro ao quinto mês
de gravidez: por volta da 20ª à 24ª semana de gestação, o córtex A leucomalacia periventricular (LPV) refere-se à necrose da
cerebral tem essencialmente o número completo de neurônios). substância branca, com uma distribuição característica: substân-
No cérebro, a migração radial de células das zonas de origem cia branca dorsal e lateral aos ângulos externos dos ventrículos
(ventricular e subventricular) é o mecanismo primário para a for- laterais, envolvendo particularmente o centro semioval (corno
mação do córtex e estruturas nucleares profundas. frontal e corpo) e as radiações óticas (trígono e corno oPICCital) e
Os eventos organizacionais ocorrem do quinto mês de gravidez a acústica (corno temporal).
vários anos após o nascimento e compreendem as seguintes etapas:
Incidência
1. Estabelecimentos e diferenciação dos neurônios da • A incidência varia de um centro médico a outro, mas três
placa subcortical: a zona destes neurônios é proeminen- fatores são clarosMais freqüentes em RN pré-termos.
te entre 22 e 24 semanas de gestação (de tal forma que • Em RN que sobrevivem por mais dias.
90% destes neurônios desaparecem após o sexto mês • RN com distúrbios cardiorrespiratórios.
de vida). Estes neurônios estão envolvidos na organiza-
ção cortical. Entre as sua funções potenciais citamos:
Paulo R. Margotto
Assistência ao Recém-Nascido de Risco
Patologia
As características patológicas da LPV consistem em: necrose
periventricular focal e lesão difusa da substância branca cerebral.
A necrose focal da LPV ocorre mais comumente ao redor dos
cornos anteriores e trígonos dos ventrículos laterais (substância
branca ao redor do forame de Monro e da radiação oPICCital no
trígono dos ventrículos laterais, respectivamente).
Estes locais correspondem a zonas fronteiriças entre ramos
penetrantes da artéria cerebral média e a artéria cerebral pos-
terior (radiação opiccital) ou artéria cerebral anterior (substância
branca frontal).
A lesão difusa da substância branca menos comumente leva a
grandes lesões císticas, podendo não ser detectada pela Ultras-
sonografia (ocorre perda de oligodendrócitos com conseqüente
aumento de astrócitos hipertróficos). Fig.2. Suprimento vascular cerebral no RN pré-termo. Observem que as
A evolução dos aspectos celulares da LPV caracteriza-se por penetrantes terminam profundamente na substância branca periventri-
necrose de coagulação (perda da arquitetura), podendo ser en- cular, isto é, na zona vascular terminal. As interconexões das penetrantes
contrada dentro de 5-8 horas, seguindo a lesão. Poucos dias longas não completamente desenvolvidas na substãncia branca inter-
mais tarde, astrócitos, microglia (24-48h), macrófagos (5dias) mediária podem criar zonas vasculares fronteiriças e que as penetrantes
enchem a periferia da necrose. O centro da área necrótica pode pequenas que terminam na substância branca superficial, podem criar
liquefazer, resultando em pequenas cavidades que geralmente zonas vasculares terminais. As penetrantes basais terminam na região
338 não se comunicam com os ventrículos (1-3 semanas). Já na lesão da matriz germinativa (Volpe)
difusa da substância branca, a célula-alvo é a oligodendróglia,
havendo um aumento dos astrócitos em resposta à lesão difusa. As zonas limítrofes e terminais que resultam têm uma distri-
A conseqüência da perda dos oligodendrócitos e da deficiente buição característica na região periventricular e é precisamente
mielinização é a diminuição do volume de substância branca dentro destas zonas que ocorre a necrose focal da LPV. Os locais
cerebral com aumento do tamanho ventricular. A LPV e a dila- mais freqüentes para a ocorrência da LPV estão dentro de duas
ção ventricular podem romper o processo essencial para a or- distintas zonas periventriculares limítrofes e terminais, anterior
ganização do cérebro, isto é, destruição dos neurônios da placa e posterior. Estas zonas arteriais limítrofes e finais são campos
subcortical, como já nos referimos anteriormente, prejudicando distais, isto é, watershed áreas (divisor das águas); estas zonas
as funções importantes destes neurônios, explicando assim os periventriculares são mais suscetíveis à queda na pressão de
déficits cognitivos e os das funções corticais na infância. perfusão e do fluxo sangüíneo cerebral.
A Fig. 1 mostra corte coronal do cérebro de um RN que faleceu Observem que as penetrantes longas terminam na substância
com oito semanas de idade; observem as múltiplas áreas de ne- branca profunda (zona vascular terminal) e as penetrantes pe-
crose cística focal na substância branca periventricular, rodeada quenas se estendem somente até a substância branca subcor-
de palidez difusa mais intensa, indicativa de perda difusa celular tical. As interconexões não completamente desenvolvidas entre
(oligodendróglia). ambas as penetrantes criam zonas de circulação terminal.
Recentemente, Borch e Greisen, medindo o fluxo sangüíneo ce-
rebral (FSC) com tecnécio 99, relataram que à substância branca
do RN pré-termo (idade gestacional média de 27,7 semanas) o
FSC e muito baixo (23% do fluxo sangüíneo ao cerebelo e gânglia
basal e por volta de 50% do fluxo sangüíneo ao córtex), predis-
pondo esta área cerebral à hipotensão.
O deficiente desenvolvimento das vasculaturas cerebrais pene-
trantes e periventriculares coloca os RN mais imaturos em maior
risco para a LPV. Com 24-28 semanas de gestação, as longas
penetrantes têm poucos ramos colaterais, sendo infreqüente a
anastomose com as pequenas penetrantes, que, por sua vez,
estão em menor número. De 32 semanas em diante, ocorre au-
mento da anastomose entre as longas e pequenas penetrantes,
Fig.1. Corte coronal do cérebro de um RN que faleceu com oito semanas diminuindo assim as zonas vasculares fronteiriças e terminais.
de idade, onde observamos múltiplas áreas de necrose cística na O período entre o sétimo e o décimo mês de gestação é de
substância branca periventricular rodeadas por palidez difusa (setas), intenso desenvolvimento da vasculatura periventricular, podendo
indicativa de perda difusa de oligodendrócitos (Volpe) este desenvolvimento ser utilizado como um índice de maturi-
dade cerebrovascular. Assim, o grau de isquemia referido para
Capitulo 10 Distúrbios Neurológicos
produzir LPV pode depender do desenvolvimento dos vasos pe- Outros Fatores: O Papel das Citocinas
netrantes e dos vasos periventriculares, e este estado está na
dependência da idade gestacional. Na lesão oligodendroglial, as citocinas exercem papel de gran-
de importância. Yoon e cl. Evidenciaram aumento na concen-
Autorregulação Deficiente Do Fluxo Sangüíneo Cerebral tração de várias citocinas no líquido amniótico (interleucina-1β,
interleucina 6 e o fator de necrose tumoral alfa) de RN pré-termo
O fluxo sangüíneo cerebral (FSC) nos RN pré-termo instáveis, com lesões na substância branca.
particularmente, é pressão-passiva, ou seja, quando a pressão Há evidências, principalmente em estudos com animais, de
arterial cai, o FSC também cai; com uma Autorregulação intacta, que a infecção de endotoxina leva à lesão na substância branca,
o FSC não é pressão-passiva, e permanece constante com as va- provavelmente por um efeito direto na mielinização periventricu-
riações da pressão arterial (vasodilatação e vasoconstrição com lar das células gliais ou devido a efeito no endotélio vascular, com
a queda e aumento da pressão arterial sistêmica, respectiva- impacto secundário nas células gliais. A endotoxina estimula a
mente). A deficiente Autorregulação do FSC nestes RN pré-temo produção, a partir dos leucócitos e de células endoteliais, de vá-
relaciona-se em parte a uma ausência da muscular ao redor das rias citocinas, como o fator de necrose tumoral alfa e a interleu-
artérias cerebrais penetrantes e arteríolas no terceiro trimestre cina-2, que são altamente tóxicos à oligodendróglia. As citocinas
do desenvolvimento cerebral. Outros fatores que contribuem são são polipeptídeos de baixo peso molecular produzidas por uma
hipoxemia e hipercapnia. variedade de células e comunicam-se com uma variedade de
A queda da pressão arterial sistêmica ocorrendo no período células-alvo via receptores de superfície na célula (as citocinas
pós-natal, secundário a sérias patologias (asfixia perinatal, he- dizem às células como devem se comunicar). Um pequeno nú-
morragia pulmonar severa, insuficiência miocárdica, sepse, per- mero de citocinas é considerado antiinflamatório (p. ex., fatores
sistência do canal arterial, apnéia) é o fator crítico de maior im- de crescimento, alguns dos quais protegem o desenvolvimento
portância para LPV. dos oligodendrócitos). Citocinas que aumentam a inflamação são
Distúrbios circulatórios como anafilaxia, arritmia cardíaca fetal, identificadas como pró-inflamatórias (como vimos, estão muito
descolamento prematuro de placenta, prolapso de cordão tam- aumentadas no líquido amniótico e cordão umbilical de mães
bém podem levar a LPV intraútero. que deram à luz RN pré-termo com lesão na substância branca).
Shortland e cl. relataram uma incidência de LPV duas vezes Entre as citocinas pró-inflamatórias, as mais importantes são: o fa-
maior no RN com persistência do canal arterial, devido ao fluxo tor de necrose tumoral alfa (TNF – alfa e a interleucina-2, interleucina-
sangüíneo retrógrado na diástole. 1β e interleucina-6). O TNF – alfa (fator mielotóxico) induz a degenera-
Estudo com Doppler cerebral realizado por Perlman e Volpe ção da mielina e apoptose oligodendrócita, exercendo também efeitos
evidenciou deficiente velocidade do fluxo sangüíneo cerebral com na maturação dos precursores dos oligodendrócitos, pela inibição da
moderada (freqüência cardíaca de 80 a 120bpm) a severa bradi- sua diferenciação, explicando assim a hipomielinização nos cérebros
cardia (freqüência cardíaca < 80 bpm), havendo diminuição da ve- dos RN com lesão na substância branca.
locidade do fluxo diastólico na apnéia com bradicardia moderada Assim, há evidências atuais de que as citocinas podem ser me- 339
sem afetar o fluxo sistólico e intensa queda da velocidade do fluxo diadoras da lesão neuronal e da substância branca. Kadhim e cl.
diastólico (cai na linha da base) e queda progressiva da velocidade detectaram alta expressão de TNF-alfa nos cérebros dos RN com
do fluxo sistólico na apnéia com bradicardia intensa. Estes acha- LPV, principalmente no grupo com infecções bacterianas, assim
dos sugerem efeitos deletérios hipóxico-isquêmicos no cérebro do como alta expressão de interleucina-2, que por sua vez poderia
RN pré-termo com apnéia, acompanhado de severa bradicardia. induzir a produção de citocinas pró-inflamatórias neurotóxicas
Estudando 35 RN pré-termo nas primeiras horas de vida por (TNF-alfa e interleucina -1β).
meio de espectroscopia infravermelha, Volpe detectou altíssima Estudos têm evidenciado a relação entre LPV, infecção e citoci-
incidência de LPV (100%) nos RN com Autorregulação deficiente nas. Perlman e cl. relataram, numa análise de 632 RN < 1.750g
do fluxo sangüíneo cerebral versus nos RN sem a Autorregulação (14-2,3% com LPV cística), que a ruptura prolongada de membra-
deficiente do fluxo sangüíneo cerebral (23%). nas (OR = 6,9 – IC 95%: 1,96-22,10) e a corioamnionite (6,77 –IC
95%: 1,77-25,93) foram preditores significativos de LPV.
Vulnerabilidade Intrínseca Da Substância Nos RN com histologia de corioamnionite que nasceram dentro
Branca Cerebral No RN Pré-Termo de uma hora da ruptura de membrana, a vasculite fetal foi asso-
ciada com um aumento de 11 vezes no risco de ecolucência pe-
A vulnerabilidade intrínseca da substância branca no RN pré- riventricular (cistos ou cavidades na substância branca). Isto su-
termo parece ter importante papel na patogênese da LPV, junta- gere o papel da resposta inflamatória crônica da corioamnionite
mente com a característica da vasculatura periventricular e da (isto é, presente antes da ruptura das membranas) na produção
Autorregulação deficiente do fluxo sangüíneo cerebral. Esta vul- da ecolucência periventricular, particularmente a tardia. A inci-
nerabilidade deve-se fundamentalmente a: dência de corioamnionite histológica no estudo de De Felice e cl.
foi um preditor significativo de hiperecogenicidade periventricular
• Fatores locais metabólicos e hemodinâmicos: a substância (OR = 2,4 IC 95%: 1,8-3,2), ecolucência (OR = 3,3 IC 95%: 1,9-
branca cerebral tem uma capacidade limitada de vasodi- 3,6), ventriculomegalia (OR = 2,7 IC 95%: 1,81,42) e hemorragia
latação frente a fatores tais como hipotensão, hipoxemia, intraventricular grau ≥ 3( OR = 3,5 IC 95%: 2,4-5,2).
hipercapnia e glicólise anaeróbica relativamente ativa. No estudo francês de Burguet e cl. a ruptura prematura de
• Sensibilidade da oligodendróglia: a oligodendróglia na membranas (RN com idade gestacional ≤ 32 semanas) esteve
substância branca do RN pré-temo é especialmente associada com paralisia cerebral em 4,3 vezes mais (IC 95%: 1,6-
vulnerável ao ataque de radicais livres. O ataque dos ra- 11,8). No estudo de Dammann e Leviton, compreendendo 753
dicais livres leva a morte celular por apoptose (grandes RN, a prevalência de ecolucência periventricular, uma expressão
quantidades de radicais são formadas sob condição de tardia da lesão da substância branca, esteve associada com um
isquemia-reperfusão, que parece ser central na patogê- aumento maior do que três vezes entre os RN pré-termo de mães
nese deste distúrbio vascular, devido a fatores regulató- com corioamnionite.
rios vasculares e cerebrovasculares). No estudo recente de Yoon e cl., a exposição fetal à inflamação
intra-amniótica e a resposta inflamatória fetal sistêmica (funisite)
Paulo R. Margotto
Assistência ao Recém-Nascido de Risco
Diagnóstico
Ultrassonografia
Paulo R. Margotto
Assistência ao Recém-Nascido de Risco
ecodensidades persistiram por mais de dez dias. Os flares podem cística. Os RN com persistentes flares apresentavam significativo
representar um espectro de leve LPV. aumento no IR na artéria cerebral anterior e na artéria cerebral
Jongmans e cl., estudaram o impacto dos flares em RN pré-temo média. Os autores concluem que a Ultrassonografia Doppler ce-
em relação ao estado neurológico e à capacidade motora aos seis rebral pode ser utilizada na identificação do RN com patologia
anos de vida; não foram observadas diferenças nas habilidades cerebral isquêmica (consulte o capítulo Ultrassonografia Doppler
cognitivas em relação ao RN com Ultrassonografia normal, mas na Cerebral no Recém-Nascido).
avaliação motora houve significativa diminuição no desempenho
daqueles RN em que os flares duraram mais de 14 dias. Ressonância Magnética
Appleton e cl., detectaram no seguimento diplegia espástica
em dois de 15 RN (13,3%) com hiperecogenicidade periventricu- A sensibilidade da Ultrassonografia cerebral na detecção de pe-
lar ou flares detectados na primeira semana de vida que persisti- quenas áreas de necrose ou lesão celular difusa é relativamente
ram por 21 a 35 dias. Os autores frisam que os lares transitórios baixa. A ressonância magnética (RM) prevê imagens cerebrais de
podem representar leve LPV com disfunção neurológica leve. alta resolução sem usar radiação ionizante, podendo ser de valor
Outros autores, no entanto, não confirmaram os achados des- na detecção de anormalidades na substância branca. Maalouf e
critos acima quando os flares não são acompanhados de lesões cl., realizando RM em 29 RN com idade gestacional entre 23 e 29
císticas ou hemorragia intraventricular. A localização dos flares é semanas, detectaram dilatação dos ventrículos laterais (22/29 –
importante no prognóstico, havendo pior prognóstico quando as 7,9%), alterações dos cornos anteriores e posteriores dos ventrícu-
ecodensidades localizam-se na região frontoparietal ou frontopa- los laterais (24/29 – 82,76%), afastamento da cisura inter-hemis-
rieto-oPICCital. férica ou espaço extracerebral (11/29 – 37,4%) e 22/29 (75,86%)
Todos estes estudos implicam que as hiperecogenicidades tiveram sinal de alta intensidade difuso e excessivo na substância
transitórias periventriculares ou ecogenicidades parenquimatosa branca, achado este associado com desenvolvimento de atrofia
não cavitárias são menos preditivas para lesão cerebral, mas não cerebral, podendo ser indicativo de doença na substância branca.
devem ser tratadas com indiferença, pois provavelmente repre- De Vries e cl., demonstraram uma forte correlação entre RM e
sentam leve leucomalácia periventricular. o prognóstico clínico. Por volta de 40 semanas pós-concepção, os
Na Fig. 6, podem ser observados os ultrassons de um RN de cistos da LPV não são mais visíveis, enquanto que a RM eviden-
32 semanas, 1835g, que mostram hiperecogenicidade periven- cia atraso da mielinização ao redor dos cornos opiccitais dilata-
tricular prolongada aos 15 dias de vida e evoluiu para leucomalá- dos irregularmente dos ventrículos laterais.
cia multicística aos 29 dias de vida Recentemente, Maalouf e cl., comparando achados no ultras-
som com os achados na ressonância magnética em RN pré-ter-
mos, relataram alto valor preditivo do ultrassom no diagnóstico
de hemorragia peri ou intraventricular, hemorragia na gânglia
basal, severa hiperecogenicidade periventricular, principalmente
342 com duração ≥ 7 dias de vida. No entanto, os autores relataram
que uma ecogenicidade periventricular normal não foi altamente
preditiva de ressonância magnética normal.
Skranes e cl., relataram que, na idade de seis aos, dez de 20
Fig.6. (A) US no plano coronal de um RN com 32 semanas, 1835g, com 15 RN entre 27 e 31 semanas apresentaram glicose periventricular,
dias de vida, evidenciando hiperecogenicidade prolongada (setas). Em (B), principalmente no centro semi-oval (nove crianças) e na substân-
no plano coronal (b1) e no plano sagital (b2), o mesmo RN com 28 dias de cia branca central opiccital (seis crianças). A gliose no centro se-
vida, com leucomalácia periventricular multicística (Margotto/Castro) mi-oval foi relacionada a menores escores nos testes de sistema
motor grosso para locomoção, indicando envolvimento do trato
Monset-Couchard e cl., chamam a atenção para a espessura corticoespinhal. Igualmente, gliose na substância branca opicci-
da lesão no ultrassom devido à sua importância no prognósti- tal foi relacionada com deficiência nos sistemas motores fino e
co cerebral: espessura de ¼ a 1/3 do parênquima foi associa- grosso. Os autores acreditam que a gliose periventricular neste
da com seqüela menor; 1/3-1/2, seqüela moderada; e seqüela RN pode envolver tanto fibras motoras visuais quanto fibras de
maior com espessura de ½-2/3. associação do tipo visomotoras, e sugerem nova RM na idade de
Na leucomalácia periventricular, a evolução característica da oito anos, para comparar problemas acadêmicos com os acha-
ecogenicidade é a formação de múltiplos cistos ecoluscentes, dos na idade de seis anos.
lembrando, às vezes, o aspecto de queijo suíço, uma a três se-
manas após. A média de aparecimento dos cistos esteve em tor- Eletroencefalograma (EEG)
no de 20 dias no estudo de Fujimoto e cl. e 18 dias (10-39 dias)
no estudo de Kubota e cl. Nos RN que apresentavam múltiplos A LPV cística é quase sempre associada com diplegia espásti-
cistos, a época da formação do cisto foi significativamente mais ca; suspeita-se de LPV cística quando a hiperecogenicidade pe-
precoce em relação aos RN com cistos localizados. Os cistos po- riventricular dura mais de três semanas e quando ocorre algum
dem desaparecer após um a três meses, geralmente cistos cir- grau de dilatação ventricular com distorção dos contornos nor-
cunscritos, levando ao aumento dos ventrículos com diminuição mais dos ventrículos, na ausência de hemorragia intraventricular.
da mielina cerebral. A ultrassonografia pode ocasionalmente falhar no reconheci-
Rodrigues e cl., descreveram um caso de um RN com 34 se- mento de microcavitações ou áreas de gliose astrocítica, explican-
manas de gestação em que foram visualizados ecogenicidade do a ocorrência de paralisia cerebral em RN pré-termos, a despeito
periventricular com três semanas e cisto periventricular de 9mm, da Ultrassonografia normal (os achados da Ultrassonografia que
com sete semanas, não sendo mais visíveis com 15 semanas mais se relacionam com a necrose da substância branca são a
de idade, e não foi observada dilatação ventricular; a necropsia hiperecogenicidade periventricular e a dilatação ventricular).
revelou uma cicatriz glial. A correlação neuropatológica do desa- Segundo o estudo francês de Baud e cl., a detecção de ondas
parecimento do cisto é glicose e o colapso das paredes do cisto. sharp rolândicas positivas no EEG de RN pré-termo foi altamen-
No ultrassom Doppler, Mires e cl. descreveram aumento do ín- te específica e sensível marcador do deficiente desenvolvimento
dice de resistência (índice de Pourcelot) no RN com leucomalácia (84% e 98%, respectivamente). A presença de ondas rolândicas
Capitulo 10 Distúrbios Neurológicos
positivas no EEG destes RN é quase que patognomônica de le- faleceram com evidências de lesão na substância branca tinham
são na substância branca, havendo forte correlação com severa maiores níveis de citocinas pró-inflamatórias em relação aos
diplegia espástica. Estes autores relataram um valor preditivo cérebros dos RN sem lesão na substância branca. Deste modo,
positivo de 98% e um valor preditivo negativo de 989% na pre- a administração de citocinas antiinflamatórias, como a interleu-
sença de ondas sharp rolândicas positivas com LPV cística e não- cina-10, que regula para menos a produção das citocinas pró-
cística, além de as ondas sharp rolândicas positivas precederem inflamatórias (interleucina-1 e o TNF-alfa), pode prover neuropro-
o aparecimento da LPV cística e não-cística na Ultrassonografia. teção, tanto antes como após instalada a lesão, já que alguns
Utilizando o EEG, Hayakawa e cl., determinaram a época em componentes da ativação inflamatória persistem por dias.
que a lesão cerebral ocorre; de 172 RN abaixo de 33 semanas, A hipotiroxinemia é um marcador da vulnerabilidade da subs-
26 (15,1%) apresentaram LPV cística (cistos > 3mm) e, destes, tância branca e, assim, a administração de T4 reduziria esta vul-
em 20 (76,9%) a lesão foi pré-natal ou próxima do nascimento. nerabilidade, como já comentado anteriormente. Interessante
Segundo Monset-Couchard e cl., a adição do EEG à Ultras- citar que a administração de tiroxina pode não somente prote-
sonografia permite avaliar um prognóstico mais acurado para ger os oligodendrócitos, mas também adiantar a sua maturação,
as formas maiores e menores de LPV cística, mas não para as além de estimular diretamente a expressão do gene da mielina.
formas moderadas. O uso de corticosteróide pré-natal (importante inibidor da
A presença de ondas sharp rolândicas constitui um índice pre- síntese de citocinas pró-inflamatórias) reduziu o risco de para-
coce de LPV; há uma significativa correlação da presença destas lisia cerebral com hemiplegias e quadriplegias espásticas no
ondas (> 2/min: sugere severa lesão da substância branca) com estudo prospectivo de Cooke, que avalia os efeitos das mudan-
seqüelas motoras; assim, juntamente com o ultrassom, o uso ças na prática perinatal.
de EEG tem grande potencial para antecipar o desenvolvimento Recentemente, Canterino e cl., numa análise retrospectiva de
neurológico dos RN muito pré-termo (< 28 semanas) e dos RN 1.161 RN com idade gestacional entre 24 e 34 semanas e peso
pré-termo (≥ 28 semanas). ao nascer de 500 a 1.750g, observaram que o uso do esteróide
pré-natal foi associado com uma probabilidade 56% menor para
Contagem de Eritroblastos LPV com hemorragia peri ou intraventricular e 58% menor para
LPV isolada.
Buonocore e cl., relataram aumento significativo na contagem Leviton e cl. relataram diminuição da hemorragia peri ou intra-
de eritroblastos (células vermelhas nucleadas) ao nascer e Do- ventricular nos RN abaixo de 29 semanas em 40 a 50% (a he-
ppler cerebral alterado, feito 48-72h após o nascimento (índice morragia peri ou intraventricular contribui com maior risco de
de resistência ≤ 0,5, fluxo diastólico reverso, velocidade do fluxo ecolucência periventricular) com o uso de um curso completo de
sistólico ≤ 0,2m/s), em relação aos RN saudáveis; assim como esteróide pré-natal (betametasona 12mg de 24/24 – 2 doses e o
nos RN com seqüelas de encefalopatia hipóxico-isquêmica, aos nascimento ocorreu entre 7 e 14 dias após); também relataram
seis meses e três anos de idade. Green e cl., relataram, nos RN ≤ diminuição do risco de ecolucência periventricular (especialmente
32 semanas deidade gestacional, maior aumento no número de no RN com hemorragia intraventricular e RN com hipotiroxinemia 343
eritroblastos nos primeiros seis dias de vida dentre os que desen- e vasculite fetal), tanto com curso completo como com curso par-
volveram hemorragia peri ou intraventricular. Assim, a contagem cial. Um curso completo ou mesmo parcial de esteróide pré-natal
de eritroblastos pode não só refletir uma resposta adaptativa ao teve efeito protetor nos RN cujas placentas tiveram vasculite fetal,
sofrimento perinatal, mas também ser de valor preditivo para o ambos fatores relacionados com lesão na substância branca. O es-
maior risco de lesão cerebral. teróide pré-natal reduziu a necessidade de drenagem ventricular,
havendo sugestão do que o esteróide pré-natal reduza o risco de
Prevenção distúrbio na reabsorção do líquido cefalorraquidiano.
Paulo R. Margotto
Assistência ao Recém-Nascido de Risco
está associada a uma grande hemorragia intraventricular, sendo Observe o esquema patogênico do infarto hemorrágico peri-
erroneamente descrita como “extensão” da hemorragia intra- ventricular:
ventricular. O IHP tem sido considerado a mais severa forma de
hemorragia na matriz germinativa, tendo sido chamado por ou- Hemorragia na matrix germinativa/intraventricular
tros de hemorragia grau IV. Aproximadamente 15% dos RN com ↓
hemorragia intraventricular apresentam IHP e, em metade dos Congestão venosa periventricular
casos, o infarto hemorrágico é extenso, envolvendo a substância ↓
branca frontoparietal. Isquemia periventricular
↓
Neuropatologia Infarto hemorrágico periventricular
Estudos microscópicos da lesão evidenciam que esta é um Kuban e cl. relataram recentemente que a hemorragia intra-
infarto hemorrágico. Este tipo de lesão ocorre mais comumente ventricular foi associada a aumento de cinco a nove vezes mais
próximo do ângulo ventricular, onde as veias medulares que dre- de lesão da substância branca cerebral; os Rn com hemorragia
nam a substância branca confluem para a veia terminal na região intraventricular e ventriculomegalia tiveram um risco de 18-29
subependimária. Assim, é provável que esta necrose hemorrági- vezes maior de lesão na substância branca em relação aos RN
ca periventricular, ocorrendo associada com a hemorragia peri sem ambas as condições.
ou intraventricular, constitua um infarto hemorrágico (figura 7). A associação entre infarto hemorrágico periventricular e leuco-
malácia periventricular (lesão simétrica geralmente não hemor-
rágica de localização nas zonas fronteiriças arteriais, particular-
mente na região próxima aos trígonos dos ventrículos laterais)
pode ocorrer (a freqüência desta associação é desconhecida).
Às vezes pode tornar-se hemorrágica quando a HIV subseqüen-
temente causa obstrução venosa. Do ponto de vista neuropato-
lógico, é possível distinguir o IHP da hemorragia que ocorre na
leucomalácia periventricular. Distinguir estas duas lesões in vivo
é difícil (às vezes, impossível).
Diagnóstico
Fig. 7: Em A, infarto hemorrágico periventricular com hemorragia O ultrassom é o principal método para o diagnóstico in vivo.
intraventricular (corte coronal). Observem o infarto hemorrágico (setas) No corte coronal, visualizamos uma lesão uni ou bilateral, cla-
344 do mesmo lado de uma grande hemorragia intraventricular. Em B, a dre- ramente assimétrica, de forma triangular ou piramidal (formato
nagem venosa da substância branca cerebral. As veias medulares com de leque), de alta ecodensidade, radiando-se do ângulo externo
distribuição em forma de leque drenam sangue da substância branca do ventrículo lateral. Veja na figura. 8-A-B o ultrassom de um RN
cerebral para a veia terminal, que cursa através da matriz germinativa ( com infarto hemorrágico periventricular ipsilateral à hemorragia
Volpe JJ. Brain injury in the preterm infant. Clin Perinatol 24:567, 1997) intraventricular grau III, em RN com 27 semanas e seis dias de
idade gestacional, aos quatro dias de vida (A) e aos 28 dias de
Patogênese vida (B). Observem a hemorragia na matriz germinativa e uma
ecogenicidade periventricular crescente consistente com infarto
Uma relação direta da hemorragia intraventricular (HIV) e o IHP, hemorrágico periventricular, que está evoluindo com um único e
parece provável, segundo Guzetta e cl., a saber: grande cisto porencefálico no sítio do infarto.
345
Paulo R. Margotto
Assistência ao Recém-Nascido de Risco
A evolução mais comum do IHP é para um único e largo cisto Portanto, no presente momento, 2/3 dos sobreviventes do
periventricular que pode ou não se comunicar com o ventrículo. A IHP desenvolvem anormalidades significantes motoras e/ou na
outra evolução possível é a coexistência do cisto grande com de cognição, enquanto habilidades adaptativas são relativamente
múltiplos cistos e a terceira forma de evolução e menos comum, poupadas. O maior grau de escore do IHP obtido a partir do ul-
(ocorreu em 9% dos casos no estudo de Bassan e cl, 2006) é trassom cerebral prediz prognóstico ruim em várias modalidades,
para múltiplos pequenos cistos (esta forma é mais vista na zona podendo ser uma prova útil para a determinação prognóstica.
final arterial de leucomalácia periventricular). Uma alta propor-
ção de pacientes apresentou na evolução ventriculomegalia, atri- Prevenção
buída a perda de tecido periventricular e deficiente dinâmica do
LCR com o aumento da pressão ventricular ou ambos. A prevenção do infarto hemorrágico periventricular está direta-
Murphy BP e cl (2002) al recentemente relataram ventriculo- mente relacionada à prevenção da hemorragia intraventricular.
megalia nos sobreviventes de IHP em mais de 70%. Com a melhor assistência neonatal e com o maior uso do esterói-
No estudo de Bassan H e cl (2006), a análise univariada de de pré-natal, a HIV tem diminuído e, conseqüentemente, o infarto
fatores de risco revelou que o mais alto escore de IHP esteve hemorrágico periventricular também.
associado com baixos níveis de bicarbonato nos primeiros 2
dias de vida (p<0,02). A regressão logística múltipla de 3 predi- Referências
tores (hemorragia pulmonar, baixos níveis de bicarbonato e baixo
• Tapia JL, Gonzáles H, Cifuentes J. Very-low birth weight infant outcomes in 11 South Ame-
Apgar no 5o minuto) mostrou que a hemorragia pulmonar é um rican NICUs. Perinatol 22:2, 2002
preditor independente para maior severidade do IHP (p=0,014), • Margotto PR. Estatística Perinatal. In: Margotto PR. Assistência ao Recém-Nascido de Ris-
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enquanto o baixo Apgar no 5o minuto apresentou uma significân- • Jongmans M, Henderson S e cl. Duration of periventricular densities in preterm infants and
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cia limite (p=0,049) e o baixo bicarbonato não foi estatisticamen- • Volpe JJ. Brain injury in the premature infant neuropathology: clinical aspectys, pathogene-
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neuromotor anormal e escore mostrou relação estatisticamente • Paneth N.Classifying brain damage in preterm infants. J Pediatr 134:527, 1999
significativa (p=0,011) com uma Odds Ratio de 4,1 para exame • Volpe JJ. Neuronal proliferation, migration, organization, and myelination 3 ed. Philadel-
phia: W.B. Saunders Company, pg 43, 1992
neurológico anormal aos 12 meses por unidade de aumento do • Shuman RM, Selednik LJ. Periventricular leukomalácia: a one year autopsy study Neurol
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O envolvimento dos territórios frontal anterior e posterior foi logic and ultrasonographic findings in infants six days or longer. J Pediatr 116:975, 1990
• Zupan V,Gonzales P e cl. Periventricular leukomalacia: risk factors revisited. Dev Med Child
significativamente associado com escores anormais visuais, al- Neurol 38:1.061, 1996
terações do motor fino, com exame neurológico anormal e com • Volpe JJ. Hipoxic-ischemia encefalopathy: neuropathology and pathogenesis. Philadelphia:
W.B. Sanders Company, pg 279, 1995
hipertonia. O envolvimento do território frontal posterior foi signi- • DeReuck J, Chatta AS, Richardson EP. Pathogenesis and evolution of periventricular leuko-
malacia in infancy. Arch Neurol 27:229, 1972
ficativamente associado com escores anormais do motor grosso. • Takashima S, Tanaka K. Development of cerebrovascular architecture and its relationship
O envolvimento dos territórios parietal, opiccital e temporal não teve to periventricular leukomalacia, Arch Neurol 35:11, 1978
• Borch K. Greisen G. Blood flow distribution in the normal human preterm brain. Pediatr
associação significativa com nenhum dos fatores estudados (uma ex- Res 1998;43:28-33.
plicação deste resultado que contrasta com outros autores poderia • Luciano R, Zuppa AA e cl. Fetal encephalopathy after maternal anaphylaxis. Biol Neonate
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ser devido diferenças metodológicas na topografia e na definição do • Ito T, Kadowaki K e cl. Clinical features of and cardiotocographic findings for premature
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prognóstico utilizado; esperam-se outros estudos para validação). 1997
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IHP no lado esquerdo foi preditor de anormalidades no tônus, infants. Dev Med Child Neurol 32:386, 1990
assim como a sua evolução para microcistos. • Perlman JM, Volpe JJ. Episodes of apnea and bradicardia in the preterm newborn; impact
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A evolução da ecogenicidade para múltiplos cistos, versus cisto • Yoon BH, Jun JK e cl. Amnniotic fluid inflamatory cytokines (interleukin-6, interleukin-1 beta
and tumor necrosis factor-alpha), neonatal brain white matter lesions, and cerebral palsy.
único teve associação significativa com habilidades motor fino, Am J Obstet Gynecol 117:19, 1997
motor adaptativo e com hipertonia. • Dammann O, Leviton A. Brain damage in preterm newborns: might enhancement of de-
velopmentally regulated endogenous protection open a door for prevention? Pediatrics
O estudo de Bassan H e cl evidenciou que o IHP nos recém- 104:541, 1999
• Damman O, Leviton A. Brain damage in preterm newborns: biological response modifica-
nascidos prematuros representa o maior risco para um desenvol- tion as a strategy to reduce disabilities. J Pediatr 136:433, 2000
vimento neurocomportamental adverso, a despeito dos avanços • Damman O, Leviton A. Maternal intrauterine infection, cytokines, and brain damage in the
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no cuidado aos recém-nascidos prematuros críticos nas últimas • Kadhim H, Tabarki B, Verellen G e cl, Inflammatory cytokines in the pathogenesis of peri-
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2 décadas. Este quadro provavelmente se deva a maior sobrevi- • Kadhim H. Tabarki B, De Prez C e cl. Iterleukin-2 in the pathogenesis of perinatal white
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tiveram atraso motor e metade apresentou déficit cognitivo; 13 ture infant: associated risk factors. Pediatrics 94:822, 1996
apresentam déficit no campo visual e ¼, convulsões. No entan- • Leviton A. Maternal infection, fetal inflamatory response, and brain damage in very low
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to, habilidades adaptativa e comunicação foram preservados em • De Felice C, Toti P, Laurini RN e cl. Early neonatal brain injury in histologic chorioamnioni-
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2/3. De importância deste estudo, é que aproximadamente 1/3 • Burguet A. Monnet E e cl. Some risk factors for cerebral palsy in very premature infants:
dos sobreviventes do presente estudo não demonstraram seqüe- importance of premature rupture of membranes and monochorionic twin placentation,
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las neuromotora e cognitiva.
Paulo R. Margotto
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Capitulo 10 Distúrbios Neurológicos
10.4 MACROCRANIA
As relações entre o volume do crânio e o do cérebro são em terais, e da cisterna magna, é possível distinguir quatro combina-
geral simples: um cérebro normal preenche uma caixa craniana de ções de constatações.
volume normal. As relações podem se tornar mais complexas uma
vez que a caixa craniana seja de volume inferior ao normal, condi- 1. Em um grande crânio, um grande cérebro preenche
ção que caracteriza as microcefalias: microcefalias do desenvolvi- todo o espaço.
mento quando o cérebro preenche uma pequena caixa craniana Os espaços pericerebrais são normais, ou seja, invisíveis ou
e microcefalia por anomalias estruturais graves quando a massa muito pouco visíveis na ETF, e sua espessura máxima não ul-
cerebral é ainda muito menor do que a caixa craniana. Do con- trapassa 6mm6.
trário, o volume do crânio pode ser superior ao normal, condição Os espaços subaracnóideos (cisterna magna, cisterna pré-
que denominamos macrocranias (ou macrocefalias). O problema pontina, cisterna cerebelo - pontina, cisterna supracerebelar,
consiste em determinar se um volume normal do cérebro ocupa cisura inter-hemisférica, sulcos corticais, cisura de Sylvius) são
o do crânio. Torna-se então necessário examinar as espessuras distinguíveis, mas não aumentados em particular a cisura inter-
dos espaços pericerebrais, dos espaços subaracnóideos, da cisura hemisférica com dois bordos bem fechados, ou se ela está au-
Inter-hemisférica, dos ventrículos laterais e da cisterna magna. En- mentada, a sua espessura não ultrapassa 8mm. Uma estimativa
quanto a fontanela estiver aberta a ecografia transfontanelar (ETF) mais estrita da normalidade retém 5 mm como espessura e não
é o exame de escolha (rápido, pouco oneroso, não constrangedor) ultrapassa entre o osso e o parênquima, da mesma forma que
para avaliação de base, reservando a tomografia computadorizada para a cisura interhemisférica.
(TC) e a Ressonância magnética (RM) caso alguma anomalia vista Os ventrículos laterais são normais, que sejam invisíveis ou
na ETF exija uma avaliação mais detalhada. pouco distinguíveis no recém-nascido, distinguíveis e depois bem
visíveis após 4-6 meses pós-natal, mas o diâmetro ao nível dos
A Macrocrania orifícios de Monro não ultrapassa 2 mm no recém-nascido, 5mm
antes de 1 ano e os carrefour ventriculares não são dilatados8.
O diagnóstico positivo da macrocrania é fácil se os pediatras, Em resumo trata-se então de uma megaloencefalia.
examinando os recém-nascidos e seguindo os lactentes, avaliem Certas megaloencefalias isoladas se acompanham de um de-
o perímetro cefálico (PC) a cada exame, anotem e coloquem em senvolvimento e de uma inteligência normais e o diagnóstico a
curvas de PC publicadas com desvio padrão ou percentis. Em lac- posteriori será o de “megaloencefalia familiar benigna” ou “me- 349
tente normal a cada mês, Saint - Anne Dargassies insistiu sobre a galoencefalia essencial”.
dispersão dos PC em torno da média (±1cm). Na 40ª semana de De qualquer maneira é prudente manter uma suspeita obstina-
gestação, Margotto relata um PC de 36cm no percentil 90 para da até a demonstração normal da normalidade da criança, porque
RN normais. De qualquer maneira, o crescimento do PC pode ser um grande número de megaloencefalias são o reflexo de uma pa-
irregular, apresentando crescimentos rápidos seguidos de pata- tologia subjacente seguindo os 5 grupos definidos por Baraitser9.
mares, e uma apreciação evolutiva deve então recair sobre dois,
ou melhor, ainda três meses (salvo urgência com outros sinais • As perturbações do crescimento cerebral do gênero gi-
clínicos preocupantes). gantismo cerebral (Síndrome de Soto)
Alguns recém-nascidos já apresentam um PC elevado. Esta cons- • As displasias ósseas como a acondroplasia, picnodisos-
tatação deve ser seguida de uma medida do PC dos pais e pesquisar tose, e a displasia crânio-metafisária.
seu próprio PC de nascimento em sua caderneta de saúde • As síndromes neuro-cutâneas do tipo neurofibromatose
Uma ETF imediata permite, na maioria dos casos, demonstrar • As doenças de sobrecarga neurometabólicas (gangliosi-
a ausência de anomalia intracraniana. Em seguida, o PC cresce dose, mucopolissacaridose, leucodistrofias).
permanecendo acima do normal, mas sempre o mesmo parale- • As doenças cromossômicas, em particular a Síndrome do
lo deste. Em um pequeno número de casos (cada vez mais raro X frágil.
devido à prática sistemática de ecografia pré-natal), a ETF de-
monstra uma anomalia mais ou menos importante que leva a um O seguimento da evolução do PC e da pesquisa sistemática
exame completo com TC e/ou RM. dos sinais neurológicos e/ou de um retardo mental deve permitir
Outras crianças têm um PC normal ao nascimento (ou mesmo separar cada vez mais cedo casos patológicos. Além do mais,
pequeno), mas os exames de seguimento do lactente mostram o desenvolvimento espetacular da genética molecular elucidará
um aumento do PC superior ao normal, e a curva de PC “cruza” cada vez mais os mecanismos etiológicos dessas doenças.
as curvas sucessivas de desvio padrão ou de percentis.
Ainda mais uma vez, é necessário verificar o PC dos pais, mas 2. Em um grande crânio, o cérebro parece preencher
a suspeita de uma anomalia cerebral subjacente é muito maior, todo o espaço, mas existem cavidades com líquidos
e é necessário, em geral, recorrer a uma ETF imediata, sobretudo anormais em seu interior.
se essa macrocrania se acompanha de uma grande fontanela, ou Os espaços cerebrais são em geral, normais, ou mesmo esma-
de outro sinal evocador de hipertensão intracraniana. gados, sob o aumento da distensão interna.
Os ventrículos cerebrais são dilatados, ou seja, os ventrículos
O Interior De Um Crânio Grande laterais arredondados e de um diâmetro em geral muito superior
ao normal ao nível dos orifícios de Monro, com sinais de reab-
Segundo o estado dos espaços pericerebrais, dos espaços sorção do líquido cefalorraquidiano, às vezes uma ventriculite ou
subaracnóideos, da cisura inter-hemisférica, dos ventrículos la- uma ependimite. O 3º ventrículo está aumentado uma vez que a
fossa posterior (ao menos os orifícios de Magendie e Luschka)
Paulo R. Margotto
Assistência ao Recém-Nascido de Risco
é obstruída. A ETF é um exame particularmente de boa quali- 4. Em um grande crânio, o conteúdo é misto.
dade para o diagnóstico e o seguimento dessas dilatações. Um Certas megaloencefalias se acompanhava de uma pequena di-
bom corte sagital mediano coloca facilmente em evidência uma latação dos ventrículos laterais. Em algumas series, às vezes está
obstrução do aqueduto de Sylvius e/ou uma obstrução da fossa associado a retardos mentais, mas não de maneira constante.
posterior, sobretudo nas hidrocefalias pós-hemorrágicas. Com Os espaços pericerebrais podem variar em espessura de ma-
efeito, trata-se em geral de uma hidrocefalia, seja isolada por es- neira fisiológica antes da idade de dois anos. A vigilância do PC,
tenose do aqueduto de Sylvius, seja freqüentemente por malfor- desta espessura, e do desenvolvimento neurológico e mental
mações cerebrais associadas (Síndrome de Dandy-Walker, spina torna-se necessários até a estabilização.
bífida com malformação de Arnold-Chiari tipo II, Lisencefalia tipo Algumas “hidrocefalias externas” podem se acompanhar inva-
Walker10). Excepcionalmente pode se tratar de um excesso de riavelmente ou secundariamente de uma pequena dilatação ven-
produção de LCR por papiloma de um ou dos dois plexos corói- tricular. A vigilância é necessária, porque algumas dentre elas re-
des. Em caso de aneurisma de veia de Galeno ou de um tumor presentam o início de verdadeiras “hidrocefalias comunicantes”
vascular mais complexo, a ETF fará ao mesmo tempo a detecção que poderão exigir mais tarde um acompanhamento.
desta anomalia vascular e pode mesmo precisar os afluentes Algumas lesões hemorrágicas maiores ocasionam em seguida
(utilização da técnica de Doppler colorido). A avaliação detalhada uma hidrocefalia e uma atrofia seguida de destruição parenqui-
exige freqüentemente que se faça uma RM. matosa; apesar de macrocrania, e mesmo levando em conta a
Em um antigo prematuro vítima de uma hemorragia intraven- hidrocefalia, existe uma atrofia cerebral maior.
tricular importante (estágio III bilateral, às vezes maciça), a hidro- Esta associação hidrocefalia - atrofia observada antigamente
cefalia não deve em nenhum caso constituir uma “descoberta”, após toxoplasmose no primeiro trimestre da gravidez, com vigi-
mas ela deve ser prevenida por uma vigilância cuidadosa com lância em seguida, e tratamento em caso de viragem sorológica,
ETF, permitindo tratar mais cedo a dilatação pós-hemorrágica, fez desaparecer quase completamente este problema.
em seguida decidir a colocação de uma válvula ventrículo-peri- Algumas “hidrocefalias comunicantes” após hemorragia intra-
toneal desde que se detecte um bloqueio completo a um ou dois craniana ou meningite podem também se tornar secundariamen-
estágios esteja instalado11. Em poucos casos uma hidrocefalia te hidrocefalias bloqueadas.
tardia pode se instalar secundariamente12.
Conclusão
3. Em um grande crânio, um cérebro de tamanho normal
ou reduzido está separado do osso por uma espessura Do ponto de vista prático é possível, na maioria dos casos:
de líquido, mas os ventrículos laterais são normais.
Trata-se então do diagnóstico de aumentos pericerebrais • Confirmar a macrocrania
O diagnóstico positivo pode ser suspeito com a ETF se o au- • Seguí-la para caracterizá-la como “não evolutiva” ou
mento está situado sobre a linha média ou ultrapassa a linha “evolutiva”
350 média. A precisão é melhor com um transdutor de 7,5 MHz (ou • Julgá-la, graças à imagem da ETF inicialmente, depois TC
mesmo 10 MHz) com bolsa d’água, permitindo uma medida mui- e/ou RM, de adequação do conteúdo no continente, e da
to precisa do aumento. qualidade do volume do cérebro observado.
Em caso de suspeita não elucidativa pela ETF, é preciso pes-
quisar um aumento estável, sobretudo através da RM que indica Os resultados permitem em geral se dirigir para o conjunto dos
também a idade das lesões hemorrágicas ou mostra a sucessão diagnósticos coerentes, mas certo tempo de evolução é freqüen-
de várias camadas de aumento (hematomas subdurais, Síndro- temente necessário.
me de Silverman, criança maltratada, pode ser discutida).
O exame ecográfico permite raramente diferenciar uma cole- Bibliografia
ção subaracnóidea de uma coleção subdural, sobretudo se o au-
• Mamelle N, Munoz F, Grandjean H. Fetal growth from the AUDIPOG study. I. Establishment
mento é pouco volumoso. Além do mais, existe freqüentemente of reference curves. J Gynecol Obstet Biol Reprod 1996;25:61
• Margotto PR. Curvas de Crescimento intrauterinas. J Pediatr (Rio) 1995; 11
uma “mistura topográfica dos aumentos pericerebrais”.
• Lubchenco LO, Hansman C, Boyd E. Intrauterine growth in length and head circumference
A Hidrocefalia externa é o acúmulo do LCR nos espaços su- as estimated from live births at gestational ages from 26 to 42 weeks. Pediatrics 1996;
37:403
baracnóideos. O Hematoma subdural é uma coleção sangüínea • Saint-Anne Dargassies S. Le développement neurologique do noveau-né a terme et prema-
turé, 2e édition, Paris: Masson; 1979.
entre a dura-máter e a aracnóide, menos difusa, dando um efeito • Saint-Anne Dargassies S. Le développement neuro-moteur et psycho-affectif du nourisson.
de massa esmagando o hemisfério contralateral, com desloca- Paris: Masson, 1982.
• Fukuyama Y. Miyao M, Ishgu T, Marujama H. Developmental changes in normal cranial
mento da cisura inter-hemisférica. measurements by computed thomography. Dev Med Child Neurol 1979; 21:425
Os higromas subdurais são coleções que se seguem a um he- • Carriere JP. Hydrocéphalie externe. Arch Pédiatr 1995; 2:603
• Monset-Couchard M, Sciot C, Dubois B, Relier JP. Mesure des ventricules lateraux par
matoma subdural e passando a cronificação. Mas esta classifica- l´echographie cerebrale chez le nouveau-né. Ann Radiol 1984; 27: 37
• Baraitser M, The genetics of neurological disorders, 2nd edition, Oxford University Press,
ção teórica é freqüentemente falha na prática, por causa das in- Oxford), 1990.
ter-relações com hematomas, higroma e hidrocefalias externas10. • Lyon G, Evrard P. Hidrocéphales, colections Péricérébrales. In: Lyon G, Evrard P, ed. Neuro-
pédiatrie, Paris: Masson; pg 67, 1987.
Em resumo, a atitude de bom senso é recorrer à drenagem • Monset - Couchard M, Lima GV, Swalkiewicz-Warowicka E, Bethmann O. Prognóstico e evo-
lução cronológica das hemorragias periventriculares. J Pediatr (Rio)1998; 74: 31
uma vez que a pressão intracraniana estiver aumentada: dre- • Perlman JM. Late hydrocephalus after arrest and resolution of neonatal post- hemorrhagic
nagem subdural externa por alguns dias, com passagem a uma hydrocephalus. Dev Med Child Neurol 1990; 32:725.
Paulo R Margotto
A despeito dos avanços nos cuidados perinatais nas últimas A MG é irrigada por um rico e frágil leito vascular (existe uma
décadas, o recém-nascido (RN) pré-termo continua de alto ris- pletora sangüínea à MG entre as idades gestacionais 24 e 32
co para o desenvolvimento de hemorragia intraventricular (HIV) semanas). O leito capilar da MG é facilmente rompível, imaturo
e lesão da substancia branca adjacente. Ambas as condições com vasos cuja morfologia é composta de apenas uma camada
constituem o maior problema no cuidado neonatal moderno e endotelial sem tecido muscular elástico ou colágeno.
contribuem significativamente para a morbimortalidade nestes Associado a estas características da MG existe uma flutuação
RN, assim como déficits neurocomportamentais a longo prazo. do fluxo sangüíneo cerebral conseqüente a uma deficiência de
A HIV é estudada há mais de 25 anos. A sua incidência está auto regulação, na qual a hipercapnia, a acidose láctica, a asfixia
relacionada à prematuridade, ao aumento da sobrevivência nos perinatal grave e as prostaglandinas desempenham papel impor-
RN com peso ao nascer abaixo de 1000g e, sobretudo às práti- tante (Figura 2)
cas neonatais e a gerência dos serviços obstétricos e neonatais.
Em 1978, Papile e cl relataram uma incidência de 35 - 45 % (1
⁄ 3 a 1 ⁄ 2 das autópsias ) nos RN com peso ao nascer abaixo de
1500g. Atualmente, as formas mais severas de HIV ocorrem nos
RN abaixo de 1000g: aproximadamente 26% nos RN entre 501
e 759g e 12% nos RN com peso ao nascer entre 751 e 1000g. A
importância desta informação se deve por duas razões: a sobre-
vivência dos RN nestas faixas de peso aumenta cada vez mais
e tanto a mortalidade como os déficits neurocomportamentais
ocorrem com maior probabilidade nos RN com severa HIV. Nos
RN <32 semanas, Inder e cl relataram uma incidência entre 15-
25% e Brower e cl, 5,6%
Na Unidade de Neonatologia do HRAS, no ano de 2008, a HIV
ocorreu em 11.6% nos RN entre 26 e 34 semanas de idade ges-
tacional Em 1989, a incidência descrita por Volpe em bebês com
peso abaixo de 2000g foi de 29 %.
351
Neuropatologia
O sítio da hemorragia ocorre na matriz germinativa (MG) su- Figura 2.Padrão do fluxo sanguíneo cerebral (Volpe, 1997)
bependimária, uma região celular ventrolateral ao ventrículo la-
teral que serve como fonte de neuroblastos (entre a 10a e a 20a O aumento da pressão venosa cerebral pode contribuir para a
semana de gestação) e gliobastos (3o trimestre) que se tornarão ocorrência da HP ⁄ HIV e a sua importância se deve à anatomia na
oligodendróglios e neuroblastos. A MG diminui progressivamente região da MG: a junção da veia coroidal tálamo-estriada e medu-
de tamanho ( de uma largura de 2,5 mm entre 23 e 24 semanas lares para formar a veia cerebral interna é particularmente angu-
a 1,4 mm com 32 sem, involuindo completamente por volta de lada nos prematuros e isto ocorre na região a nível do forame de
36 sem). Ela é mais proeminente no sulco caudotalâmico ao nível Monro, que é o sítio mais comum de HP ⁄ HIV. Esta anatomia pe-
da cabeça do núcleo caudado, sendo este o local mais comum de culiar predispõe à estase e à formação de trombos com aumento
ocorrência da HIV. Veja a Figura 1. sangüíneo retrógrado nos capilares da MG(Figura 3).
Paulo R. Margotto
Assistência ao Recém-Nascido de Risco
pelo grupo australiano de Kluckow para explicar a ocorrência da tal (OR:2,16-IC :1,65-2.83). Não houve associação com o tipo de
HIV. Os cachorrinhos foram exsanguinados em 5% do volume, parto. A hipertensão materna foi um fator protetor.
ocorrendo uma injúria isquêmica seguido de reposição, havendo Estudo realizado por nós na Unidade de Neonatologia do HRAS
então uma reperfusão da circulação nestes filhotes, resultando com RN entre 26 e 34 semanas, os fatores com associação signi-
hemorragia na matriz germinativa. Os prematuros sofrem essen- ficativa com a HIV foram a idade gestacional 2 semanas (RR: 4,28-
cialmente um episódio de lesão isquêmica nas primeiras 12-24 IC:1,29-14,21), peso ao nascer 1000g (3.30-IC: 1,25-12,37),além
horas de vida e à medida que o miocárdio se adapta a esta vida da doença da membrana hialina, ventilação mecânica mais de 24
pós-natal ou quando se inicia o tratamento efetivamente deste horas, apnéia, persistência do canal arterial e sepse.
baixo débito cardíaco, existe um aumento deste fluxo e é neste
momento que ocorre a HIV. Assim, ocorre um insulto isquêmico, Em resumo
seguido de uma lesão de reperfusão nos bebês que apresentam
HIV, tal como no modelo experimental de Laura Ment. Patogenia Da HIV Observações E Hipóteses
Kluckow e cl, avaliando o fluxo da veia cava superior (VCS) atra-
vés do Doppler (este fluxo representa a metade superior do cor- Fatores associados à prematuridade
po, do qual 80% vem do cérebro) evidenciaram que a HIV ocorreu Observação A incidência de HIV varia inversamente à idade ges-
após a melhora do fluxo na VCS. O grau de HIV e o desenvolvi- tacional, sugerindo que os fatores maturacionais são importantes.
mento neurológico dos bebês correlacionaram com a duração e Hipótese Uma rede vascular imatura, mal apoiada na matriz
a severidade do baixo fluxo da VCS. Estes achados enfatizam a germinativa, é o sítio da hemorragia e, com o amadurecimento,
importância de se minimizar precocemente a pressão das vias desaparece.
aéreas e o fechamento farmacológico do canal arterial nas pri- Observação A asfixia e a hipotensão ao nascer são comuns em
meiras horas de vida, condições estas associadas com baixo flu- prematuros com hemorragia.
xo na veia cava superior. Hipótese A matriz germinativa e a substância branca periven-
tricular estão em uma linha divisória arterial, tornando-as vulne-
Fatores De Risco ráveis às lesões isquêmicas e formando o estágio para a HIV.
Observação Em recém nascidos asfixiados, a auto-regulação
Baseado nos conhecimentos fisiopatológicos mencionados, do fluxo sangüíneo cerebral está perturbada.
são inúmeros os fatores de risco que podem levar a ruptura dos Hipótese Os recém-nascidos são “pressão passiva” e não res-
vasos da MG. pondem as alterações da pressão sistêmica piorando a isquemia
( baixa pressão sangüínea ) ou por hemorragia capilar ( alta pres-
1. Pré-natais são sangüínea).
• Ausência do uso de corticosteróide Observação Em RN prematuros com HIV, os fatores de coagu-
• Infecção intrauterina lação são deficientes.
352 • Rotura prematura de membranas Hipótese Os RN tem perturbação das interações trombocitoca-
• Parto pélvico (RN com peso < 2000g) pilares, que contribuem para a hemorragia.
• Nascimento fora de centro neonatal
• Fertilização in vitro Fatores associados à doença de Membrana Hialina
Uma condição médica materna associada à baixa incidência Observação Hipoxia, hipercapnia, ventilação mecânica, pneu-
de HIV é a doença hipertensiva específica da gravidez OR:0.43;IC: motórax, ductus arteriosus patente, prostaglandinas e terapias
o.33 a 0,61.Mais importante que a via de nascimento é a infla- (por exemplo, bicarbonato de sódio, reexpansão flúida e agentes
mação da placenta e de particular importância, a vasculite fetal. hipertensores) têm mostrado associação com HIV.
Hipótese As alterações bruscas nas pressões sistêmica arte-
2. Pós-natais rial e/ou venosa são transmitidas diretamente ao leito capilar da
• Peso ao nascer (< 1500g) matriz germinativa e resultam em uma combinação de isquemia
• Idade gestacional (< 32 sem) e hemorragia. A vasodilatação local é produzida por fatores me-
• sepse precoce tabólicos e agrava isquemia e a hemorragia.
• Asfixia Perinatal com necessidade de reanimação
• Ventilação mecânica (respiração fora de sincronia com o Quadro Clínico
respirador e pneumotórax )
• Procedimentos na UTI Neonatal: Os RN com HIV são na maioria das vezes assintomáticos (cer-
• Fisioterapia respiratória inadequada ca de 8º%) ou apresentam quadro clínico inespecífico, comum a
• Sucção da cânula orotraqueal outras patologias relacionadas à prematuridade.
• Palpação abdominal O RN pode apresentar a Síndrome catastrófica (hemorragias
• Nascimento fora de centro neonatal intensa com evolução em minutos a horas): Coma, convulsões tô-
• Convulsão nicas generalizadas, pupilas não reativas, quadriparesia flácida,
• Pneumotórax abaulamento de fontanela, hipotensão sistêmica e bradicardia.
• Queda do hematócrito Ocorrem também apresentações mais leves (síndrome saltan-
• Exposição à hipoxia e hipercapnia te: hemorragia menor): hipotonia, alteração no nível de vivaci-
• Canal arterial pérvio dade com estupor ou estado de irritabilidade, desvio obliquo e
vertical dos olhos ( para baixo) e queda da atividade espontânea.
Recentemente Riskin e cl relataram em uma análise multiva- A queda inexplicável do hematócrito com incapacidade de subir
riada após controle para a idade gestacional nos RN com peso após a transfusão sangüínea, rigidez de ângulo poplíteo e imo-
abaixo de 15oog ao nascer, únicos e apresentação cefálica, uma bilidade ocular são achados encontrados nestes RN que fazem
associação significativa com a HIV os seguintes fatores: o não hemorragia silenciosa (quase 80% deles).
uso de esteróide pré-natal (OR:2,7º-IC: 2,12-3.45), Apgar no 1º
minuto entre 0-3 (OR: 1,72-IC: 1,33-3,21) e reanimação neona-
Capitulo 10 Distúrbios Neurológicos
Diagnóstico
353
Fig.4. Pelas anatômicas correspondentes aos planos ultrassonográficos do
caso da figura 2.16, evidenciando a hemorragia intraventricular Grau III (2)
com o correspondente infarto hemorrágico periventricular ipsialetal (1)
Paulo R. Margotto
Assistência ao Recém-Nascido de Risco
cornos occipitais. Por volta de 7-10 dias, o sangue se torna iso- Organograma De Diagnóstico
denso; 14 dias após pode ser observado um halo subependimário
de densidade aumentada (esta ventriculite pode ser devida a um
aumento da ecogenicidade das paredes ventriculares) (figura 6)
Outros recém-nascidos:
•Asfixia
•Aumento do peímetro cefalico (PC)
•Meningite
•Infecção congênita
•Outras alterações neurológicas
•Malformações
Fig. 6. US nos planos sagitais laterais evidenciando hemorragia intraven-
tricular Grau II e sua evolução (setas) (Margotto/Castro) Doppler (Consulte o capítulo Ultrassonografia cerebral Doppler)
Permite estudar o fluxo sanguíneo cerebral. A análise da velo-
Hemorragia Grau III é uma hemorragia mais extensa, ocupan- cidade do fluxo sanguíneo cerebral se baseia principalmente no
do mais de 50% do ventrículo lateral no plano sagital, com di- cálculo do índice de resistência (IR) ou Índice de Pourcelot.
latação ventricular, moldando o ventrículo; por volta do 7º - 10º
dia, este molde torna-se isodenso, podendo ser visível na US IR = (S - D)/S
até 3 semanas; torna-se progressivamente menos ecogênico no
354 centro, desaparecendo totalmente, no entanto, as paredes dos S = Velocidade máxima da sístole
ventrículos permanecem muito ecogênicas, devido provavelmen- D = Velocidade máxima da diástole
te a uma ependimite (o sangue pode induzir a uma proliferação
glial subependimal). Estes RN devem ser acompanhados para a Este índice se correlaciona com o aumento da resistência vas-
avaliação do tamanho dos ventrículos, para a detecção do hidro- cular (com o aumento da resistência vascular, há uma diminuição
céfalo pós-hemorrágico (vide adiante) (figura 7). da velocidade diastólica com aumento do IR), sendo importante
o seu valor nos casos de hipertensão intracraniana, por exemplo,
nas hidrocefalias
Nas hidrocefalias pós-hemorrágicas é proposto a realização do
Doppler após leve compreensão do transdutor sobre a fontanela por
3 a 5 segundos (comprimir a fontanela apenas uma vez): o IR não se
modifica durante a compressão da fontanela em RN normais sem
hipertensão intracraniana, ao contrário, ocorrendo com os RN com
hipertensão intracraniana (o IR se altera significativamente).
Em RN normais, o IR está em torno de 0,75 ± 0,08. Estudo do
fluxo sanguíneo cerebral evidenciou relação entre hemorragia in-
traventricular e variação do fluxo sanguíneo cerebral em RN pré-
termos (padrão estável: picos sistólicos e diastólicos constantes
e padrão flutuante: importantes variações dos picos sistólicos e
diastólicos), ocorrendo significativamente mais hemorragia intra-
ventricular no padrão flutuante.
Nas asfixias perinatais, o IR é significativamente menor. Como
consequência de uma asfixia perinatal, ocorre uma hiperperfu-
Fig.7. US nos planos sagitais laterais mostrando são reacional facilitado pela perda da autorregulação vascular
hemorragia intraventricular Grau III bilateral (1) e sua evolução (2) do cérebro. O Doppler registra estas alterações hemodinâmicas
para hidrocéfalo pós-hemorrágico (3) (Margotto, Castro) com a queda das resistências cerebrais, mostrando um aumento
do fluxo diastólico, portanto uma queda no IR. Os valores IR <
0,67 indicam anormalidades e tornam-se predictivos quando <
0,60 (quando < 0,55 indica asfixia grave). Estas alterações são
melhores vistas após as primeiras 24 horas de vida.
Capitulo 10 Distúrbios Neurológicos
Paulo R. Margotto
Assistência ao Recém-Nascido de Risco
Paulo R. Margotto
Assistência ao Recém-Nascido de Risco
Paulo R. Margotto
A paralisia cerebral (PC) é uma das mais comuns e severas se- Goldstein et a avaliaram as características clínicas e ultrassono-
qüelas do nascimento do pré-termo extremo, constituindo mais gráficas, assim como o prognóstico dos fetos com moderada ven-
de 25% de todos os casos de PC na Suécia. Desde os anos 90, as triculomegalia. Os autores estudaram 34 fetos consecutivamente
taxas de sobrevivência dos RN pré-termos extremos vem aumen- com moderada ventriculomegalia (largura atrial dos ventrículos
tando, em decorrências de inovações como: maior uso de corti- laterais de 10-15mm) entre 18-35 semanas de gestação. Em 7
costeróide no pré-natal, uso cada vez mais precoce de surfactan- dos 34 fetos foi realizado o cariótipo e este foi normal. Em 4 dos
te pulmonar exógeno, novas técnicas de ventilação, transferência 34 fetos, a gravidez foi interrompida, sendo que em 2 havia evidên-
in utero. No entanto, os efeitos destas inovações na desabilidade cia de hidrocefalia. Oito fetos que nasceram tiveram malformações
tardia destas crianças são muito controversos e constituem ma- congênitas, 3 dos quais morreram no período neonatal precoce.
téria de discussão. Dos 8 com malformações, 6 apresentaram no cariótipo aberra-
O estudo francês de Ancel e cl mostrou uma prevalência de PC ções cromossômicas. A moderada ventriculomegalia resolveu-se
aos 2 anos de idade de 20% nos recém-nascidos (RN) com idade espontaneamente em 10 de 30 (33,3%). Das 26 crianças dispo-
gestacional entre 24 a 26 semanas (corresponde a mais do que níveis para o seguimento, 16 (61,1%) eram normais com 1 mês e
2/3 dos casos de PC entre os RN pré-termos), comparado com aos 2 anos de idade. Assim, os dados dos autores confirmaram
4% na idade gestacional de 32 semanas. Na população total das relatos anteriores do prognóstico de moderada ventriculomegalia:
crianças que foram muito pré-termos ao nascer, este estudo mos- na ausência de malformações e com um cariótipo normal. Assim, o
trou que 1 de cada 12 crianças teve PC (esta taxa corresponde a prognóstico da moderada ventriculomegalia parece favorável.
quase 80 vezes mais do que as crianças nascida a termo). Drugan e cl, analisando 43 casos de ventriculomegalia fetal,
Com base nos resultados dos ultra-sons cerebrais no período ne- evidenciaram que o prognóstico é ruim para os fetos que apre-
onatal, o estudo de Ancel e cl evidenciou que 17% das crianças com sentam malformações, bom para aqueles com ventriculomegalia
hemorragia intraventricular grau III e 25% das crianças com lesão isolada e não progressiva e variável para aqueles com ventriculo-
da substância branca (ventriculomegalia, hiperecogenicidade per- megalia isolada progressiva.
sistente ou leucomalácia periventricular cística) tiveram PC, compa- A etiologia da ventriculomegalia permanece desconhecida.
rado com 4% das crianças com ultra-sons cerebrais normais. Provavelmente é multifatorial e freqüentemente encontra-se as-
Outros estudos estimaram a prevalência de PC nos RN abaixo sociada com anomalias do sistema nervoso central, aberrações
de 27 semanas entre 11% a 35%. cromossômicas, infecção fetal ou hemorragia intracerebral.
358 A lesão cerebral no RN pré-termo consiste de múltiplas le- O encontro de uma dilatação ventricular intraútero levanta
sões, principalmente a hemorragia intraventricular (HIV), a leu- uma série de questões que podem ajudar na determinação da
comalácia periventricular (LPV) e a ventriculomegalia (VM). Estas etiologia, como: aumento da ecogenicidade da parede ventricular
constituem as maiores complicações neuropatológicas dos RN que é um forte indicador de etiologia hemorrágica, espessamen-
pré-termos e são associadas com alta mortalidade e com um to e irregularidade da parede ventricular pode sugerir distúrbios
desenvolvimento neurológico adverso, principalmente nas mais na migração neuronal (heterotopias periventriculares, onde neste
tenras idades gestacionais. caso, a ressonância magnética é a técnica de escolha na confir-
A hemorragia intraventricular e a leucomalácia periventricular mação diagnóstica), agenesia do corpo caloso, agenesia septal
já foram discutidos em outros artigos. Neste artigo, vamos discu- (a falta de visibilidade do septo pelúcido, fusão dos cornos fron-
tir a ventriculomegalia e a hidrocefalia fetal e neonatal, revisando tais e ventriculomegalia, sugerem agenesia septal).
o conceito, a etiologia e a fisiopatologia que envolve a lesão cere- As alterações cromossômicas foram relatadas em 9% dos fetos
bral. Assim será possível a melhor compreensão do prognóstico, com moderadas ventriculomegalia (no estudo de Goldstein e cl, a
com o objetivo de identificar os fatores de risco envolvidos, pre- incidência foi de 23%-3/13 casos examinados).
venindo seqüelas nestes RN de muito baixo peso. Este objetivo As anomalias do sistema nervoso central nos casos de mode-
deve constituir o papel de todo neonatologista na Unidade de rada ventriculomegalia estiveram presentes e mais de 50% dos
Cuidados Intensivos. casos, incluindo espinha bífida, malformação de Dandy-Walker
e agenesia de corpo caloso. Na série de Goldstein e col., 12%
Ventriculomegalia Cerebral Fetal dos fetos (4/33) com moderada ventriculomegalia apresentaram
anomalias do sistema nervoso central (2 com hidrocéfalo e 2
A dilatação ventricular representa a mais freqüente anormali- com cisto no plexo coróide)
dade cerebral observada nos fetos. Em 60% dos casos, a dilata- Quanto ao prognóstico, é interessante citar que pode haver re-
ção ventricular é isolada. gressão espontânea da moderada ventriculomegalia, ocorrendo em
Pilu e cl, mostraram que a largura atrial dos ventrículos late- 33,3% na série de Goldstein e cl, estando de acordo com os relatos
rais de fetos normais permanece constante durante a gestação, na literatura (29%). Estudo de Kelly e cl citado por Garel e col. 10, a
com um diâmetro médio de 6,9+-1,3mm., sendo considerada partir de uma análise de 295 fetos com ventriculomegalia isolada,
moderada ventriculomegalia um diâmetro entre 10-15mm e se- demonstrou resolução espontânea da ventriculomegalia moderada
vera ventriculomegalia acima de 15mm. O ponto de corte para em 29% dos casos, permanecendo estável em 57% dos casos e,
a ventriculomegalia na ressonância magnética foi largura atrial porém, progressão em 14% dos casos. Goldstein e cl explicam a re-
>10mm. Wyldes e Watkinson usam o termo hidrocéfalo quando o gressão observada da ventriculomegalia pelo atraso parcial ou tran-
diâmetro atrial é maior que 15mm e com rápido aumento. sitório na drenagem ou superprodução do fluido espinhal.
Devido ao aumento da espessura do córtex durante a gesta- A completa resolução in utero da ventriculomegalia, embora
ção, o tamanho relativo dos ventrículos laterais diminui de 70% globalmente favorável, não é sempre acompanhada de prog-
com 18 semanas a 30% com 28 semanas de gestação e perma- nóstico favorável.
nece constante a seguir.
Capitulo 10 Distúrbios Neurológicos
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Prognóstico
Paulo R. Margotto
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362
lar progressiva lenta (ocorre em semanas, sendo secundário a Classificação Da Dilatação Ventricular
múltiplos pequenos coágulos através dos canais do LCR, impe-
dindo a circulação e reabsorção do LCR). Segundo Volpe:
Na experiência de Murphy e cl envolvendo 248 RN com idade Grupo A: Início Da Dilatação Progressiva Lenta (<4 Semanas)
gestacional média de 26,8+/-2,6 semanas com HIV (incidência Grupo B: Persistente Dilatação Progressiva Lenta (>4 Semanas)
de 25%), ¼ apresentou dilatação ventricular pós-hemorrágica; Grupo C: Dilatação Rapidamente Progressiva (5%)
38% apresentaram uma parada da dilatação; dos 62% restante, Grupo D:resolução Espontânea Da Dilatação (65%)
48% não necessitou de intervenção cirúrgica e 34% recebeu ou Os RN com dilatação ventricular progressiva lenta, aproxima-
drenagem ventricular externa ou derivação ventrículo-peritoneal; damente 65% apresentam parada espontânea da dilatação, ge-
18% morreram. O maior predictor de prognóstico adverso foi a ralmente com total ou parcial resolução da dilatação ventricular
severidade da hemorragia. (dentro de 4 semanas do seu início). Os outros 35% continuam
A seguir, exemplo de um RN que apresentou hemorragia intra- a progressão da dilatação por mais 4 semanas e se não trata-
ventricular grau III bilateral, acompanhada de infarto periventri- dos, desenvolverão uma dilatação rapidamente progressiva, com
cular à esquerda com formação de cisto porencefálico que evo- severa dilatação ventricular (5% do grupo inicial podem desen-
luiu para hidrocéfalo pós-hemorrágico, sendo transferido para a volver dilatação ventricular rapidamente progressiva). Os RN que
neurocirurgia do Hospital de Base de Brasília, onde foi realizada desenvolvem dilatação ventricular rapidamente progressiva apre-
derivação ventrículo-peritoneal (figura 12). sentam rápido crescimento da cabeça (acima de 2 cm/semana).
e freqüentemente com sinais de apnéia, diminuição do nível de
alerta, fontanela cheia, afastamento das suturas cranianas e
anormalidades oculomotoras. Neste grupo, a pressão intracra-
niana aumenta acima de 150cm H2O.
A severidade da hemorragia intraventricular é o determinante
mais crítico da probabilidade do RN apresentar uma dilatação
ventricular rapidamente progressiva. Na moderada hemorragia, o
início da dilatação ventricular progressiva lenta ocorre geralmente
após 2 a 3 semanas e a probabilidade de resolução espontânea
é alta. Com a severa hemorragia intraventricular, o início da dila-
tação pode ocorrer dentro de dias, a fase da progressão lenta é
breve e a probabilidade de resolução espontânea é muito baixa.
Mecanismo
Fig. 12. Hemorragia grau III com infarto hemorrágico periventricular O mecanismo do hidrocéfalo pós-hemorrágico se relaciona, em 363
(IHP). Em (A) US no plano sagital linha média mostrando hemorragia parte, ao tempo e a taxa de progressão. Havendo uma maciça
intraventricular grau III bilateral (setas). Em (B) US no plano sagital mos- hemorragia intraventricular, ocorrerá rápida distensão ventricu-
trando hemorragia grau III (seta longa) e IHP à direita (seta curta). Em lar, aumento da pressão intracraniana, hipotensão sistêmica e
(C), US no plano sagital mostrando a hidrocéfalo hemorrágico a esquerda deficiente perfusão cerebral, com deterioração clínica. Devido à
(seta longa) e cisto porencefálico (seta curta) à direita comunicando-se deficiente circulação do líquor cefaloraquidiano por debris ou co-
com o ventrículo lateral (Margotto/Castro) águlos sanguíneos, o hidrocéfalo pós-hemorrágico pode ocorrer
em dias. Hidrocéfalo subagudo crônico pode ocorrer em sema-
Na figura 13, ultrassonografia cerebral de um recém-nascido nas, sendo secundário a araquinoidite na fossa posterior com
de 26 semanas que mostra hidrocéfalo pós-hemorrágico aos obstrução do fluxo do líquor cefaloraquidiano do quarto ventrí-
21 dias de vida. culo ou por obstrução do aqueduto por coágulos sanguíneos ou
por debris. Devido ao pobre desenvolvimento das granulações
aracnóides no período pré-natal, parece que uma via alternativa
linfática, perivascular e vias na dura possam estar envolvidas.
É possível que fatores de crescimento tais como o fator-beta 1
(está elevado nos LCR após a hemorragia intraventricular, sendo
mais alta nos pacientes que necessitaram de derivação), junta-
mente com outros fatores presentes no LCR como conseqüência
da hemorragia, tais como a trombina, promovam o crescimento
de tecido conectivo dentro das leptomeninges, levando a uma
aracnoidite e contribuindo para a redução da absorção do LCR.
Um fator contribuinte pode ser a ineficiente fibrinólise do líquor
cefaloraquidiano devido aos baixos níveis de plasminogênio e al-
tos níveis de inibidor do ativador de plasminogênio.
Fig. 13.Hidrocéfalo pós-hemorrágico. Recém-nascido de 26 semanas, RN No modelo experimental de Shobha e cl, o hidrocéfalo pós-he-
apresentou piora clinica, com quadro séptico com 12 dias de vida. O US morrágico ocorreu somente quando houve uma distensão aguda
craniano foi repetido com 21 dias de vida, sendo evidenciado hidrocéfalo do ventrículo. Os autores também sugeriram uma obstrução fun-
pós-hemorrágico (podemos observar coágulos em coalescência-setas) cional em nível dos ventrículos laterais.
(Margotto/Castro)
Manuseio Do Hidrocéfalo Pós-Hemorrágico
Paulo R. Margotto
Assistência ao Recém-Nascido de Risco
Paulo R. Margotto
Assistência ao Recém-Nascido de Risco
megalia. Os déficits nas crianças com ventriculomegalia a termo apresentaram significantes diferenças no desenvolvimento nas
eram mais pronunciados nos testes de avaliação da habilidade idades corrigidas de 6,12,18 e 24 meses em relação aqueles RN
visual motora. Das crianças com ventriculomegalia, a paralisia sem estes achados; 55% destes RN apresentaram hiperecogeni-
cerebral ocorreu em 45% comparado com 7% das crianças sem cidade periventricular transitória versos 35% no grupo controle
ventriculomegalia. Estes dados sugerem que, para o RN pré-ter- de semelhante idade gestacional e peso ao nascer. Muitos des-
mo, a ventriculomegalia a termo é conseqüência da vulnerabili- tes RN com aumento do corno oPICCital apresentaram resolução
dade do cérebro em desenvolvimento. nas ecografias posteriores (88%) e os autores acreditam que este
achado pode ser uma variante normal do desenvolvimento cere-
bral. No entanto, o estudo sonográfico tem suas limitações na
detecção de lesão cortical e lesões difusas da substância branca.
A colpocefalia (desproporcional aumento do trígono, corno oPIC-
Cital e geralmente temporal) tem sido descrita como a persistência
da configuração fetal dos ventrículos laterais (figura 17). Este qua-
dro patológico é caracterizado por diminuição ou atraso do desen-
volvimento do cérebro que resulta em diminuição da espessura da
Fig. 17. Ultrassom no plano sagital evidenciando ventrículo lateral normal substância branca na porção posterior do centro semioval, ocasio-
(imagem superior) e ventriculomegalia a termo (imagem inferior). As nando o aumento dos cornos oPICCitais. Nem todos os casos de
setas indicam o ponto de referência na medida dos ventrículos colpocefalia se acompanham de distúrbios de migração neuronal
e deficiente neurodesenvolvimento. Nos casos de distúrbios de mi-
Os fatores de risco associados à ventriculomegalia no estudo gração neuronal, a parede e a forma ventricular são irregulares.
de Ment e cl incluíram não somente o envolvimento parenquima-
toso da hemorragia intraventricular, mas também a hemorragia
intraventricular de baixo grau e a displasia broncopulmonar. Os
RN com hemorragia intraventricular apresentam severa depres-
são do fluxo sanguíneo cerebral. A displasia broncopulmonar tem
sido considerada uma causa de deprivação de oxigênio para o
desenvolvimento cerebral (25-40% dos RN com displasia bronco-
pulmonar apresentam déficits neurocomportamentais).
O desenvolvimento cerebral do feto humano caracteriza-se por
períodos seqüenciais de proliferação celular, pela migração da
glia e neurônios para apropriadas posições corticais e pela ela-
boração de conexões sinápticas com outras regiões corticais e
366 subcorticais do cérebro. Por volta de 25 semanas de gestação
quase todo o desenvolvimento dos neurônios corticais tem sido
gerado, a elaboração da árvore axonal e dendrítica está em um
estágio ativo e muitos contatos sinápticos estão sendo formados
no córtex em desenvolvimento.
Estudos experimentais conduzidos pelo grupo de Ment e cl em
ratos submetidos a insulto hipóxico crônico subletal no 7o dia de
vida (nos primeiros 20 dias destes ratos recém-nascidos ocorre Fig18. RN com 7 dias, 39 sem 5 dias, com diagnóstico de hidrocefalia in-
uma rápida diferenciação dos axônios e dendritos), evidenciou traútero. A ultrassonografia (A) no plano coronal e em (B) no plano sagital
no 7o dia de vida diminuição do volume cortical e do volume e a correspondente tomografia computadorizada (C) mostram despro-
hemisférico da substância branca com significante ventriculome- porcional aumento do ventrículo direito (colpocefalia). A regularidade
galia e evidência de severo comprometimento na corticogênese da parede ventricular não sugere a presença de distúrbios de migração
neste modelo animal de desenvolvimento cerebral. neuronal. (Margotto, Castro).
Assim, a ventriculomegalia secundária a redução do volume da
substância branca, sugere um profundo efeito no padrão e nível da Publicação recente de Reinprecht e cl, compreendendo 76
conectividade córtico-cortical e córtico-fugal. Os estudos clínicos crianças com hemorragia intraventricular que foram tratadas
informam que estas crianças com ventriculomegalia sofrem não primariamente pela drenagem ventricular externa e 42 crianças
somente anormalidades nos testes de resposta evocada visual, que necessitaram de derivação permanente, o segmento entre
como também no desempenho motor visual. Os dados do presen- 15 meses e 15 anos (média de 92 meses) evidenciou, nas crian-
te estudo de Ment e cl provêem adicional evidência da associação ças com derivação permanente: mortalidade de 7% (3 pacien-
das anormalidades visuais com ventriculomegalia a termo nos RN tes); a média de revisões da derivação foi de 1,57 por paciente
de muito baixo peso ao nascer aos 4,5 anos de idade corrigida. e que as principais causas das revisões foram infecção (7,1%)
Stewart e Kirkbride, citados por Ment e cl, relataram deficiente e bloqueio (45,2%). O seguimento evidenciou que o desenvolvi-
desempenho escolar em crianças com 14 anos de idade com his- mento foi normal em 13 pacientes (33,3%), atraso menor em 12
tória de nascimento pré-termo e que apresentaram ventriculome- pacientes (30,8%) e atraso maior em 14 pacientes (35,9%). Nes-
galia detectada pela ressonância magnética. As anormalidades en- te período de seguimento, o resultado neurológico foi normal em
contradas na substância branca em seus pacientes representam 15 pacientes (38,4%), leve desabilidade em 8 pacientes (20,5%),
alterações subjacentes na conectividade hemisférica, provendo moderada desabilidade em 9 pacientes (23%) e severa desabili-
assim base para a deficiência cognitiva nos pacientes estudados. dade em 7 pacientes (18%).
Tang e cl relataram recentemente que os RN de muito baixo O prognóstico ruim destes RN pode estar relacionado a complica-
peso ao nascer (idade gestacional média de 30 semanas; peso ções com a derivação, tais como infecção ventricular, desconexão,
médio de 1290g) com desproporcional aumento do trígono ou fratura, migração, superdrenagem obstrução da derivação. Segun-
corno oPICCital (>=15 mm no corte sagital, mais a esquerda e do Bergsneider e col., mais de 30% das novas derivações falham
em RN do sexo masculino, parede ventricular lisa e regular) não com um ano. Com 2 anos de idade a falha chega a 50%. Menos que
Capitulo 10 Distúrbios Neurológicos
1/3 das novas derivações sobrevivem a 10 anos sem revisão. mento do corpo caloso e compressão ou atrofia da substância
Brouwer e cl relataram significantemente menos infecção, com- branca são achados consistentes dos cérebros hidrocefálicos.
parando dois períodos (1992 e 2003):4% versus 19,2% (p=0.029). Algumas destas lesões calosas são causadas por estiramento.
Estudos neuropatológicos de hidrocéfalo pós-hemorrágico em Estes insultos podem resultar em desconexão hemisférica.
animais e humanos têm demonstrado estiramento axonal e glio- A perda dos axônios periventriculares é evidente nos casos de
se, permitindo a infusão de líquor cefaloraquidiano na substância hidrocefalia e tem sido observadas alterações degenerativas nas
branca causando atenuação vascular e lesão cerebral isquêmi- porções descendentes dos tratos corticoespinhais.
ca. Dados de estudos em animais sugerem haver nos modelos Os axônios periventriculares e a mielina são os alvos primários
de hidrocéfalo, significante alterações na maturação dendrítica, da lesão. A degeneração axonal é a maior alteração patológica
nos neurônios corticais, distúrbios no desenvolvimento de neu- nas regiões cerebrais envolvidas nas funções motoras e apren-
rotransmissores e na sinaptogênese que podem afetar o desen- dizado durante o hidrocéfalo, correlacionando-se com o aumento
volvimento organizacional do córtex cerebral. Estas alterações dos ventrículos cerebrais. Del Bigio e cl evidenciaram, em estudo
podem ser reversíveis com a correção precoce do hidrocéfalo experimental que o atraso da mielinização é potencialmente re-
(melhora tanto a sinaptogênese, como o déficit de aprendizado). versível com o uso precoce da derivação, o que não ocorre com
Em estudo experimental, da Silva avaliou a lesão da substância a perda da mielina acompanhando a lesão axonal. Os autores
branca no hidrocéfalo neonatal. Dentro de poucos dias do início atribuem o atraso da mielinização no hidrocéfalo a algum fator
do hidrocéfalo, o edema extracelular e a lesão axonal estavam metabólico produzido pelos astrócitos reativos ou do epêndima
presente na substância branca periventricular, sendo seguido por lesado ou a um efeito tóxico de metabólitos acumulados que nor-
gliose, atrofia e em alguns animais, cavitação da substância bran- malmente seriam eliminados pelo fluxo do LCR ou ainda como
ca. A despeito da melhora clínica com a derivação, as alterações conseqüência da atividade axonal alterada.
da substância branca persistiram. Estas alterações na substância A lesão axonal que ocorre na substância branca com a severa ven-
branca são muito semelhantes às observadas na leucomalácia pe- triculomegalia tem sido mediada pelo cálcio (a lesão do epêndima
riventricular, sugerindo que a isquemia desempenha papel impor- pelo hidrocéfalo permite que haja um aumento de Ca++ no LCR que
tante na lesão cerebral neonatal causada pelo hidrocéfalo. alcança os vulneráveis axônios e glia, onde se acumula gradualmen-
Knaap e cl investigaram a relação entre a progressão da mie- te nos axônios estirados com subseqüente lesão). Este fato ocorre
linização e o desempenho neurocomportamental, utilizando a em um período de dias a meses. Isto explicaria a disfunção oligoden-
ressonância magnética e o desenvolvimento psicomotor. A depo- droglial observada nos cérebros hidrocefálicos73. Com este conhe-
sição de mielina é um dos maiores processos de maturação cere- cimento, foi testado, experimentalmente, o uso de nimodipine, um
bral. A mielinização do sistema nervoso central inicia no segundo agente bloqueador do canal de cálcio tipo-L para melhorar os efeitos
trimestre de gestação, mas a maior parte do processo ocorre adversos da hidrocefalia, sendo observado maior espessamento ca-
após o nascimento, especialmente durante os primeiros anos de loso nos animais tratados (este efeito protetor deste bloqueador do
vida. Durante este período, ocorre rápido desenvolvimento psico- canal de cálcio provavelmente tenha resultado da melhora do fluxo
motor. Com relação ao hidrocéfalo, houve uma tendência a me- sanguíneo, embora não possa ser excluída a prevenção do influxo de 367
nor desempenho neurocomportamental e atraso da mielinização cálcio mediado por processo proteolítico).
em pacientes com maior volume de LCR. O grau do hidrocéfalo Em estudo experimental, da Silva e cl evidenciaram uma sema-
é o fator menos importante na lesão parenquimatosa intrínse- na após a indução do hidrocéfalo, redução global do fluxo sanguí-
ca. No entanto, o nível e a duração do aumento da pressão do neo cerebral (FSC) no córtex, na substância branca, assim como
LCR podem ser importante na determinação da severidade da nas estruturas subcorticais profundas (a máxima redução, 37%
lesão parenquimatosa intrínseca e atraso da maturação do cére- dos níveis dos controles, foi na substância branca parietal). Com
bro. Com a colocação precoce da derivação, o desenvolvimento 3 semanas após a derivação, a redução do FSC persistiu signi-
psicomotor e a mielinização foram mais severamente atrasados ficativa (42% em relação aos controles) apenas na substância
nas crianças com hidrocéfalo progressivo em relação às crianças branca (parietal, oPICCital e corpo caloso). Na substância cinzen-
derivadas e com hidrocéfalo não progressivo. ta cortical e estruturas subcorticais profundas, o FSC retornou
A falha na derivação é associada com destruição da mielina. espontaneamente ao normal com 3 semanas.
O conteúdo total de mielina pode se aproximar do normal em Estudos experimentais confirmam que o hidrocéfalo pode
alguns casos, particularmente se os axônios não tenham sido le- causar redução do fluxo sanguíneo cerebral e alteração no me-
sados permanentemente. O estabelecimento das sinapses pode tabolismo oxidativo nas regiões cortical e subcortical. Estas al-
ser completamente restabelecido, desde que não tenham sido terações são mais pronunciadas nos estágios precoces do hidro-
perdidos axônios, uma vez que a perda do contato sináptico re- céfalo enquanto os ventrículos estão expandindo ativamente. A
sulta da axotomia que ocorre na substância branca. conseqüência do diminuído fluxo sangüíneo é a lesão aos oligo-
A mielinização expressa a maturidade funcional do cérebro. dendrócitos e aos axônios na substância branca.
Há uma grande interdependência entre neurônios e mielina (um Kempley e cl avaliaram a velocidade do fluxo sangüíneo na ar-
distúrbio afetando um dos dois, inevitavelmente também leva téria cerebral anterior de 6 prematuros com hidrocéfalo pós-he-
a distúrbio no outro). Oi, em 1989 evidenciou que a maturação morrágico antes e após a drenagem do líquor cefalo-raquidiano
neuronal é atrasada no hidrocéfalo, enquanto no período fetal a em 23 ocasiões. Houve um significante aumento da velocidade
mielinização dos hemisférios cerebrais ainda não tenha começa- do fluxo sangüíneo cerebral após a drenagem (reflexo da diminui-
do. A possibilidade de que o hidrocéfalo por si só exerça um efeito ção do volume de sangue cerebral).
independente negativo na mielinização não pode ser excluído, A seguir, a evidência à luz da ressonância magnética das alte-
mas é também possível que o atraso na mielinização seja secun- rações cerebrais em um RN de 27 semanas, com peso ao nascer
dário ao atraso da maturação neuronal. de 980g que desenvolveu hemorragia intraventricular grau III. A
Del Bigio, em modelos animais, evidenciou edema e lesão axo- dilatação ventricular foi acompanhada por nós. Com 2 meses os
nal dentro de dias após início do hidrocéfalo, sendo seguido por ventrículos direito e esquerdo mediam, respectivamente 4,7mm
gliose, atrofia da substância branca, e em alguns animais, grande e 8,3mm, respectivamente. (figuras 17). Com 3 meses, estes va-
cavitação da substância branca. Estas alterações são semelhan- lores passaram para 5,0mm e 11,3mm. Com 5 meses os valores
tes às vistas na leucomalácia periventricular, sugerindo o papel foram 5,5mm e 13,0mm (figura 18). A ressonância magnética
da isquemia na lesão cerebral causada pelo hidrocéfalo. O afina- aos 5 meses de idade (47 semanas pós-concepção ou 7 sema-
Paulo R. Margotto
Assistência ao Recém-Nascido de Risco
nas de idade gestacional corrigida) revelou redução volumétrica Fig.19. Recém-nascido da figura 5.14 aos 5 meses (47 semanas pós-
do hemisfério cerebral esquerdo, especialmente dos gânglios concepção).Ressonância magnética mostrando redução volumétrica
basais e da substância branca com conseqüente dilatação do hemisfério cerebral esquerdo, especialmente dos gânglios basais
compensatória do ventrículo esquerdo. Ainda há atrofia do trato e da substância branca com conseqüente dilatação compensatória do
cortico-espinhal traduzida por hemiatrofia esquerda das estrutu- ventrículo esquerdo (setas em C), afilamento do corpo caloso (seta)
ras do tronco cerebral (ponte, mesencéfalo e bulbo), afilamento em (A), degeneração walleriana (seta) em (B).Em resumo: hemiatrofia
do corpo caloso. Em conclusão: seqüela de insulto isquêmico no cerebral esquerda, leucomalácia periventricular esquerda degeneração
hemisfério cerebral esquerdo, hemiatrofia cerebral esquerda, walleriana à esquerda, comprometimento das fibras de associação, com
leucomalácia periventricular esquerda degeneração walleriana atrofia do corpo caloso
à esquerda, comprometimento das fibras de associação, com
atrofia do corpo caloso, não há sinais de hidrocefalia (figura 19). Quanto Às Desabilidades Cognitiva E Motora
havia pequena redução). feração celular na zona subependimal foi significativamente re-
Segundo Bigio, o hidrocéfalo severo pode causar grande afina- duzida. A camada de neurônios da subplaca cortical foi rompida.
mento do córtex, mais pronunciadamente nas regiões oPICCitais Com 21 dias, os estudos histológicos evidenciaram redução do
quando a ventriculomegalia inicia no útero ou precocemente na espessamento do corpo caloso, poucos oligodendrócitos madu-
infância. A atrofia dos núcleos da base também tem sido relata- ros, lesão dos axônios e reação astroglial/microglial.
da, tanto em animais como seres humanos. Massicotte e cl evidenciaram, a partir de hidrocéfalo experi-
Boillat e cl evidenciaram que as alterações patológicas na mental em ratos adultos compressão da substância cinzenta,
substância cinzenta cortical no hidrocéfalo infantil variam com talvez associada com redução na água total que piora a difusão
a idade em que teve início e pode não ser reversível após a co- da água no tecido. A compressão da substância branca e a hipo-
locação de derivação. Os efeitos foram mais severos no córtex perfusão precede o desenvolvimento do edema cerebral.
visual. Com 3 semanas de hidrocéfalo, os neurônios mostraram
alterações degenerativas. A colocação precoce de uma derivação Ultrassom Doppler Na Hidrocefalia
pode prevenir a lesão progressiva neuronal.
O LCR é secretado continuamente pelo plexo coróide, localiza- O ultrassom Doppler, pode ser de auxílio na identificação de RN com
do nos ventrículos laterais, 3o e 4o ventrículo. O volume total do aumento da pressão intracraniana, assim como na determinação da
LCR é de 125 a 150 ml. A pressão normal em repouso está entre necessidade e o melhor momento para realizar uma derivação.
150 e 180mmH2O. Calcula-se que o LCR seja produzido na velo- Seibert e cl relataram, inicialmente em animais que o índice de
cidade de 0,2-0,7ml/min ou de 500 a 700 ml/dia. O LCR escoa resistência (IR) ou índice de Pourcelot (velocidade máxima da sís-
através do sistema ventricular, passando por todas as regiões de tole-velocidade máxima da diástole/velocidade máxima da sístole)
atividade germinativa 19,72. As funções do LCR são: manter flu- correlaciona-se linearmente com o aumento da pressão intracra-
tuante o tecido cerebral, atuando como amortizador, serve como niana. Assim que a pressão intracraniana aumenta, o fluxo tende
veículo para transportar os nutrientes ao cérebro, assim como a ser afetado mais durante a diástole do que na sístole, resultando
para eliminar escórias, circula entre o crânio e a espinha dorsal em maior IR. A colocação da derivação diminui significativamente
compensando as mudanças no volume de sangue intracraniano. o IR. Em RN normais, o IR está em torno de 0,75 ± 0,0887.
Estudos experimentais evidenciaram que seguindo a obstru- Segundo Hill e Volpe, o aumento da resistência ao fluxo na arté-
ção do fluxo do LCR, a neurogênese do epitélio germinativo torna- ria cerebral anterior no hidrocéfalo infantil é mais provavelmente
se anormal, alterando a atividade das células do epitélio germi- pelo estiramento e compressão destas artérias pelos ventrículos
nativo do córtex em desenvolvimento. Uma vez removidas do seu dilatados. A diminuição dos ventrículos pela ventriculostomia ou
ambiente in vivo, as células corticais proliferaram normalmente. derivação ventrículo-peritoneal foi acompanhado de queda do IR.
LCR extraído dos ventrículos dilatados dos cérebros afetados foi Pople e cl. correlacionaram o IR com o aumento da pressão
capaz de inibir a proliferação de células normais. Assim, os auto- intracraniana em crianças com bloqueio da derivação ventrículo-
res levantaram a hipótese que o LCR tem um papel potencial no peritoneal e um IR elevado, com uma sensibilidade de 56% e es-
processo do desenvolvimento cerebral. O acúmulo de LCR pode pecificidade de 97% na predicção deste bloqueio. 369
resultar em um anormal desenvolvimento cortical através do acú- Goh e cl relataram significante correlação entre pressão intra-
mulo de fatores inibitórios a proliferação neuronal normal. craniana e IR, com queda significante do IR após ventriculosto-
Os autores Mashayekhi e cl evidenciaram, a partir de estudos ex- mia e derivação ventrículo-peritoneal.
perimentais de hidrocéfalo fetal em ratos, o papel crítico do LCR no Taylor e Madsen relataram significante correlação entre alte-
desenvolvimento cortical. Se o fluxo é rompido, o desenvolvimento ração no IR durante a compressão da fontanela e elevada pres-
do córtex é seriamente afetado, resultando em deficiências neuroló- são intracraniana: o IR aumentou significativamente nos RN com
gicas significantes nos indivíduos afetados. O desenvolvimento corti- aumento da pressão intracraniana e já no RN sem hipertensão
cal normal é provavelmente dependente não somente da presença intracraniana, o IR se alterou muito pouco. Estes autores não de-
do LCR, mas também do seu correto fluxo e composição. tectaram alteração no IR após remoção do LCR, assim como não
Mais recentemente, em 2006, Krueger e cl relataram que os detectaram correlação entre IR e hipertensão intracraniana. Se-
progenitores neurais podem ser recuperados do LCR dos RN pré- gundo Taylor92, a explicação desta resposta baseia-se na hipóte-
termos com hidrocéfalo. Este acúmulo de progenitores neurais se de Monro-Kellie, segunda a qual o volume do cérebro, o líquido
no LCR poderia confundir a interpretação clínica da contagem de cefaloraquidiano, o conteúdo vascular e outros componentes in-
células do LCR dos RN com hidrocéfalo. Estas células entram no tracranianos são constantes. Durante a compressão (compres-
LCR através do rompimento do epêndima, comumente encontra- são leve do transdutor sobre a fontanela por 3 a 5 segundos), em
do nos casos de hidrocéfalo. Não se conhece a causa desta ro- crianças normais, o líquor e o sangue se distribuem em outros
tura, mas especula-se que pode não ser devido a elevadas pres- compartimentos para compensar o aumento de volume resultan-
sões, mas a freqüente expansão/contração do ventrículo que te da compressão com conseqüente aumento da pressão intra-
ocorre com o acúmulo e remoção do LCR. Outra causa, poderia craniana (nestes casos, o IR muda muito pouco); já nas crianças
ser a presença de mediadores inflamatórios que estão presentes com hidrocefalia e hipertensão intracraniana, esta compensação
no LCR dos pré-termos com hidrocéfalo. É possível que células não ocorre, havendo aumento importante, da hipertensão intra-
troncos migrem para a área do parênquima lesado e entrem no craniana com alteração da perfusão cerebral e aumento do IR.
LCR através do epêndima rompido. Esta perda celular de progeni- Os autores concluem que a mudança do IR durante a com-
tores neurais para o LCR pode contribuir para o deficiente recupe- pressão da fontanela é um melhor predictor de hipertensão in-
ração do manto cortical após a colocação do shunt com repercus- tracraniana do que o IR obtido sem a compressão da fontanela,
sões importante no desenvolvimento. A exposição destas células podendo esta técnica ser usada na monitorização da efetividade
ao ambiente ventricular nestes RN com altas concentrações de de terapias não cirúrgicas nas crianças com hidrocefalia.
mediadores inflamatórios pode interferir com a proliferação apro- A presença de diástole reversa sem compressão da fontanela é
priada, migração e diferenciação celular. fortemente sugestiva de aumento da pressão intracraniana e para
Recentemente Khan e cl, evidenciaram 7 dias após a indução estes pacientes, não se recomenda a compressão da fontanela92.
de hidrocéfalo em ratos de 1 dia, variável aumento ventricular
com edema da substância branca, lesão de axônio, astrogliose
reativa e acúmulo de macrófagos no severo hidrocéfalo. A proli-
Paulo R. Margotto
Assistência ao Recém-Nascido de Risco
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Paulo R. Margotto
Assistência ao Recém-Nascido de Risco
Paulo R. Margotto
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Assistência ao Recém-Nascido de Risco
portamental destes RN aos 2 anos de idade corrigida, correlacio- •Tipo II: pronunciado deslocamento caudal do cerebelo (do
nando com a taxa de crescimento do corpo caloso. O corpo calo- segmento inferior do vermis), do bulbo, da região inferior da
so foi medido do joelho ao esplênio, como na figura 4.8. O corpo ponte e do 4º ventrículo para o interior do canal vertebral
caloso cresce 0.2 a 0,27 mm/dia. Os autores relataram diminui- •Tipo III: deslocamento anormal de todo o cerebelo para
ção do crescimento do corpo caloso após 2 semanas de vida, nos uma grande espinha bífida cervical encefalocele cervical
RN entre 23-35 semanas de idade gestacional. O crescimento do •Tipo IV: hipoplasia cerebelar sem a ocorrência do deslo-
vermix cerebelar correlacionou-se fortemente com o crescimento camento significativo do conteúdo da fossa posterior para
do corpo caloso (r2=0,68-o o crescimento do corpo caloso expli- o interior do canal vertebral (hipoplasia cerebelar severa.
ca o crescimento do vermix cerebelar em quase 70%). Na idade
de 2 anos, sério atraso motor e paralisia cerebral associaram-se Mais atualmente não tem sido incluído o Tipo III e IV na catego-
com deficiente crescimento do corpo caloso (comprimento) entre ria de Malformações de Arnold-Chiari.
2 e 6 semanas após o nascimento. A presença de hidrocefalia é muito comum, ocorrendo com fre-
qüência desde o nascimento. A causa, na grande maioria dos
casos, a obstrução se deve a estenose (40-75% dos casos), atre-
sia (10%) ou compressão do aqueduto de Sylvius (estiramento
e posteriormente estreitamento pelo deslocamento caudal do
cerebelo). Em uma menor percentagem de casos, a hidrocefalia
pode ocorrer após a correção da mielomeningocele, devido à mo-
dificação da dinâmica liquórica.
Estas crianças, com Malformação de Arnold-Chiari tipo I podem
apresentar mais tarde cefaléia, distúrbios do sono e apnéia central
(esta pode ocorrer devido à compressão ou isquemia do centro
respiratório, disfunção da ativação do sistema reticular medular
ascendente). Estas anormalidades podem ocorrer sem sintomas
neurológicos e normalizaram rapidamente após a cirurgia (des-
compressão da fossa posterior). Estudos sugerem haver um com-
ponente hereditário (Szewka AJ e cl descreveram 3 famílias com
pelo menos 2 casos de Arnold Chiari tipo I sintomáticos).
No ultrassom (figuras 9 e 10) observamos a posição bastante
baixa do cerebelo e a perda da sonoluscência normal da cister-
na magna em sua superfície inferior. No corte sagital se consegue
demonstrar o cerebelo se estendendo através do forame magno
374 profundamente na coluna cervical superior. Os ventrículos laterais
mostram-se aumentados mais nos cornos opiccitais do que nos
cornos anteriores (colpocefalia). O plexo coróide mostra-se gran-
de e muitas vezes lobulado. O 3º ventrículo mostra-se aumentado,
mas a sua região posterior pode ser encoberta pela proeminente
massa intermédia. O aspecto é de “asas de morcego”.
Malformação De Arnold-Chiari
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Holoprosencefalia
A migração neuronal ocorre entre 7 e 16 semanas. Evento, como Na figura 4.18, outro exemplo da literatura de esquisencefalia
insulto vascular, interrompe a migração dos neuroblastos da matriz de lábios abertos.
germinativa ao córtex cerebral, dando origem a esquisencefalia.
A clínica dos pacientes inclui a epilepsia, microcefalia, distúrbio
motores. Na dependência da quantidade do envolvimento corti-
cal, a inteligência pode varia do normal a severo retardo mental.
O diagnóstico diferencial deve ser feito com holoprocencefalia
(como vimos esta se caracteriza por uma cavidade ventricular
única e tálamos fundidos), hidrancencefalia (ausência total do
cérebro), cisto aracnóide (não se comunicam com os ventrículos
laterais e são assimétricos).
O diagnóstico pós-natal com a ultrassonografia cerebral é feita
raramente devido à dificuldade em avaliar a periferia do cérebro, po-
dendo ser avaliado com maior precisão pela ecografia transfontane-
lar 3D. (Araújo Junior e cl, 2006). A demonstração da comunicação
do ventrículo lateral com o espaço subaracnóideo é essencial na Fig. 4.18. US no plano coronal demonstrando esquisencefalia tipo II de
confirmação do diagnóstico (esquisencefalia de lábios abertos). lábios abertos (S) comunicando com o ventrículo lateral direito (V) (Barr)
Paulo R. Margotto
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A hipoplasia cerebelar consiste de um pequeno vermix com Fig. 23. Malformação da veia de Galeno. Em (A) US no plano sagital
estrutura normal e hemisférios cerebelares hipoplásicos ou mais. mostrando uma estrutura cística na região da veia de Galeno (seta). Em
Não há aumento da fossa posterior e o 4º ventrículo é normal. A (B) Doppler mostrando o turbilhonamento do fluxo sanguíneo, caracteri-
hipoplasia cerebelar pode ocorrer esporadicamente ou associa- zando a lesão como vascular (seta) (Margotto)
da com uma variedade de síndromes, podendo ser encontrada
em pacientes com agenesia calosa. No ano de 2003, tivemos outro caso de aneurisma da veia de
Galeno: RN 2º gemelar, “hidrocefalia intraútero”; nasceu no dia
7/2/03, cesariana, 38 semanas de gestação; peso ao nascer de
2155g; Apgar de 9 e 10. Alta em boas condições, no terceiro dia de
Capitulo 10 Distúrbios Neurológicos
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Paulo R. Margotto
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Paulo R. Margotto
A imagem do ultrassom em tempo real combinado com sistema Todas as artérias do ciclo de Williams podem ser insonadas,
de Doppler pulsado constitui um exame não invasivo e de beira de havendo uma preferência na literatura pela artéria cerebral an-
leito, de relativo baixo custo, seguro, de rápida execução, permitindo terior na região em frente ao 3º ventrículo, utilizando a fontanela
a quantificação de velocidade de fluxo sangüíneo cerebral (VFSC) anterior como janela ultra-sônica (corte medial).
em recém–nascido (RN), com extrapolação das medidas de volu- Nas figura.2 e 3 US no plano sagital na linha média, eviden-
me. A velocimetria Doppler não representa mensuração do volume ciando a artéria pericalosa, ramo da artéria cerebral anterior.
absoluto de fluxo sangüíneo para a área perfundida pela artéria em
estudo, mas é útil para quantificar variações relativas do fluxo san-
güíneo cerebral (FSC) em determinado período de tempo
Princípios Básicos
R = (S – D)/S
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•Policitemia/Hiperviscosidade/Exsanguíneotransfusão
Estudando 11 RN com policitemia e hiperviscosidade, antes e
após exsanguíneotransfusão, Rosenkrantz e Oh relataram redu-
ção da resistência vascular e aumento significativo da VFSC após
a exsanguíneotransfusão (ET) voltando aos valores normais de
controle. Este estudo evidenciou que a policitemia e a hipervisco-
sidade cursam com diminuição da VFSC e aumento da resistên-
Fig.5. Síndrome hipoxico-isquêmica. RN a termo com grave asfixia perina- cia vascular cerebral. Nos estudos de VFSC pela Ultrassonografia
tal. US cerebral Doppler evidenciando IR de 0,429 (muito baixo, devido Doppler, o hematócrito deve ser sempre analisado.
ao aumento do fluxo sanguíneo cerebral evidenciado pelo aumento da van der Bor e cl relataram alterações no VFSC durante a ET em
diástole-seta (Margotto/Castro RN estáveis,a termo e próximo do termo com doença hemolítica
pelo Rh, sendo secundário a alterações da pressão arterial (di-
•Hipercapnia/Hipocapnia minui na retirada do sangue e aumenta na infusão do sangue).
O C02 é um vasodilatador cerebral e a hipercapnia, portanto,
aumenta o FSC independente da elevação da pressão arterial. •Anemia
O IR diminui em função do aumento do fluxo diastólico. O FSC Younkin e cl relataram inversa relação entre hematócrito e
aumenta 7-8% por cada mmHg de aumento da paC02. A acidose FSC, estudando 15 RN pré-termos estáveis com a técnica do
respiratória ou hipóxia e acidose em conjunto, resultam em sig- Xenônio 133 na determinação do FSC: para cada 5% da dimi-
nificante vasodilatação, efeito reversível com correção dos gases nuição do hematócrito, houve um aumento de FSC na ordem de
arteriais. A diminuição da resistência vascular cerebral parece 11ml/100g/min. Os autores atribuem esta inversa relação entre
ser devido a uma tentativa do leito vascular cerebral preservar o hematócrito e FSC à alterações no conteúdo arterial de 02 e a vis-
FSC durante o estresse. Veja a figura 6. cosidade sanguínea, sendo mais provável, o primeiro mecanismo
Por outro lado a hipocapnia reduz significativamente o FSC, na ( o FSC aumenta para manter a entrega de 02 ao cérebro). Nos
ordem de 0,6ml/100g/min por cada mmHg de redução da PaC02. RN pré-termos, este aumento no FSC pode ser de considerável
O estudo experimental de Gleason e cl evidenciou queda do FSC importância no desencadeamento de hemorragia intraventricular
significante nas primeiras 6h; a atenuação do declínio no FSC pro-
vavelmente está relacionado com o aumento da concentração de •Hipoglicemia
íons H+ perivascular, secundário a um aumento dos níveis de lac- Quando a glicemia atinge níveis menores de 30mg% ocorre
382 tato (este fato explica o significativo aumento - maior que 200% no significativo aumento do FSC na ordem de 2 a 3 vezes mais; 30
FSC após a restauração da normocapnia); esta acentuada hipere- minutos após o tratamento da hipoglicemia, o FSC diminui em
mia cerebral que durou no mínimo 90 minutos após a interrupção média 11,3% mais ainda foi 37,5% maior que nos controles. Skov
da hiperventilação pode ser de importância no desenvolvimento sugere que capilares cerebrais previamente não perfundidos são
de hemorragia no RN com hipertensão pulmonar persistente no recrutados para manter oferta de glicose ao cérebro; o rápido
qual, após a hiperventilação é restaurada a normocapnia. ajuste às alterações nos níveis de glicose indica a existência de
um sensor cerebral para a glicose.Veja a figura 7.
Paulo R. Margotto
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•Fototerapia
Utilizando a Ultrassonografia Doppler, Amato e Donati e Ama-
to e cl relataram não haver comprometimento de FSC durante e
após a fototerapia com luz azul (30uW/cm2 e comprimento de
onda entre 400 –800 mm) colocada a 50cm do RN tanto a termo
como pré-termo apesar do aumento do fluxo sangüíneo periférico
com a fototerapia (efeito vasodilatador da irradiação).
•Morte Cerebral
McMenamin e Volpe relataram as alterações na VFSC na artéria
pericalosa em RN com critérios de morte cerebral, definindo uma ca-
racterística seqüência da deterioração da VFSC na artéria cerebral
anterior. Vejam: inicialmente há perda do fluxo diastólico seguido do
aparecimento do fluxo retrógrado durante a diástole e por fim, dimi-
nuição do fluxo sistólico até não ser mais detectado (figura 9).
384
com a resolução do pneumotórax. A HIV ocorreu entre meia hora cerebral tanto hemorrágica (devido a flutuação da VFSC, acom-
até 24h após a ocorrência do pneumotórax. panhando a abertura e o fechamento do PCA; aumento da ampli-
Batton e cl, em estudo experimental, evidenciaram que a rá- tude de cada pulso ou seja, diferença entre velocidades do fluxo
pida evacuação de um grande pneumotórax leva a um rápido sistólico e diastólico) como isquêmica (devido ao “steal pheno-
aumento da pressão arterial sistêmica que é transmitido direta- mena”: escape diastólico). Os RN com leucomalácia periventricu-
mente à circulação cerebral, podendo este ser um fator desenca- lar tem significantemente maior incidência de fluxo retrógrado na
deante de HIV. artéria cerebral anterior.Com o fechamento do PCA, houve rápido
aumento da VFSC, retornando a valores normais.
•Leucomalácia Periventricular Outros autores, utilizando a ultrassonografia Doppler, descre-
Mires e cl descreveram aumento do IR na artéria cerebral veram fluxo diastólico retrógrado, inclusive em RN a termo nor-
média entre 48-72h de idade nos RN que desenvolveram leu- mal, enfatizando a vulnerabilidade da perfusão cerebral em to-
comalácia cística. Os RN com persistente hiperecogenicidade dos os RN face aos eventos hemodinâmicos.
periventricular apresentaram significante aumento do IR na ar- Juntamente com a ultrassonografia Doppler cerebral, obser-
téria cerebral anterior e na artéria cerebral média. Os autores var nestes RN a relação átrio esquerdo/aorta (relação AE/AO):
concluem que a Ultrassonografia Doppler pode ser utilizado na o shunt E –D aumenta o volume de sangue no lado esquerdo do
identificação do RN com patologia cerebral isquêmica. No entan- coração e assim, o átrio esquerdo (AE) dilata em relação ao arco
to, Argollo e cl, relataram que 35,7% dos RN com baixo IR (0,61), aórtico que não seria afetado pela carga de volume (tamanho do
evoluiu para ecolucência e ou ventriculomegalia e 23,8% para AE = 5,6,7 e 8mm para o RN com os respectivos peso de nasci-
atrofia cerebral; os 4 RN com IR alto (>0.85), todos tiveram evo- mento: 500g, 1000g,1500g e 2000g ). Uma relação > 1,5mm é
lução desfavorável e 1 (25%) evoluiu para atrofia cerebral. Shor- anormal (sensibilidade de 29% e especificidade de 91% no diag-
tland e cl relataram alta incidência de fluxo retrógrado na artéria nóstico do canal arterial pérvio).
cerebral anterior durante a diástole nos RN com leucomalácia Observam a ultrassonografia Doppler cerebral no caso a se-
periventricular, colocando os RN com canal arterial pérvio em guir que realizamos no Hospital Port-Royal de Paris com Dra.
alto risco para o desenvolvimento de leucomalácia periventricu- Michell Mouset – Couchard (figura 13). Vejam a diástole reversa
lar. Veja a figura 12. detectada na artéria pericalosa e o retorno ductal positivo (Do-
ppler na artéria pulmonar)
385
•Persistência do Canal Arterial (PCA) No exemplo a seguir (figura 14) RN de 29 semanas com 975g,
A PCA e o seu tratamento tem profundo efeito na VFSC. A PCA apresentou fluxo diastólico reverso no US Doppler na artéria peri-
aumenta o IR (o fluxo diastólico praticamente cessa). A diminui- calosa e o ecocardiograma confirmou a presença de canal arterial
ção do fluxo diastólico é devido aos efeitos hemodinâmicos sis- pérvio. O RN foi tratado com ibuprofeno na dose de 10mg/kg e
têmicos da PCA. Na presença da PCA, shunting de sangue da 5mg/kg com 24h e 48h via oral (não dispomos de ibuprofeno en-
aorta para a circulação pulmonar através do ductus, resulta na dovenoso) e observem o retorno da velocidade do fluxo diastólico
queda da pressão sangüínea diastólica; devido a circulação ce- final 72h após o uso do ibuprofeno (figura 9.6); contrário ao que
rebral ser um sistema de baixa resistência (tem um importante ocorre com a indometacina (veja a seguir) o ibuprofeno não tem
componente diastólico do fluxo sangüíneo), ocorre a diminuição efeito adverso na hemodinâmica cerebral, assim como na renal
da velocidade do fluxo sangüíneo diastólico na artéria cerebral
anterior na presença da PCA, e esta diminuição, decorre da falha
dos mecanismos compensatórios da circulação cerebral para di-
minuir a resistência nos vasos cerebrais distais e assim manter
a velocidade do fluxo sangüíneo. Esta falha reflete a deficiente
Autorregulação do FSC no RN pré-termo, predispondo-o a injúria
Paulo R. Margotto
Assistência ao Recém-Nascido de Risco
Em Campinas no CAISM (Centro de Assistência Integral à Saú- nio evidenciou sopro contínuo, mais evidente na região posterior do
de da Mulher), Neto evidenciou FSC significativamente menor crânio. A tomografia computadorizada confirmou o achado.
no RN PIG, atribuindo provavelmente a diversidade de padrão
encontrado na literatura à influência da idade gestacional, even-
tos perinatais, tipo de RN com retardo do crescimento intraute-
rino (simétrico/assimétrico), etiologia ou até mesmo pela artéria
onde se realizou a mensuração.
Paulo R. Margotto
Assistência ao Recém-Nascido de Risco
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Paulo R. Margotto
Assistência ao Recém-Nascido de Risco
Paulo R. Margotto
A partir da 3ª semana do desenvolvimento embrionário, inicia- tipo 1 ou aquelas que usam drogas antiepilépticas, especialmente
se a formação da placa neural que dará origem ao tubo neural, ácido valpróico ou carbamazepina, têm chances aumentadas de
estrutura embrionária que dá origem ao sistema nervoso central gestações afetadas, o que ocorre também quando a mulher mes-
(encéfalo e medula espinhal), através dos processos de indução, ma, seu parceiro ou outros parentes próximos apresentam DTN.
proliferação, diferenciação celular e apoptose (morte celular pro- Os defeitos no fechamento do tubo neural podem fazer parte de
gramada); estes processos são controlados em geral por genes inúmeras síndromes dismórficas de etiologia gênica ou cromossô-
de origem materna e genes que controlam a especificação do mica, o que requer diagnóstico correto para o adequado aconse-
uso crânio-caudal, segmentos corpóreos, organogênese, atuan- lhamento do casal para futuro planejamento familiar. Consistente
do nos diversos campos do desenvolvimento embrionário. com o modelo multifatorial, o risco de recorrência aumenta quan-
Defeitos durante o fechamento do Tubo Neural (este fecha- do há irmãos afetados. Os defeitos isolados do tubo neural surgem
mento ocorre entra 3ª e 4ª semana de vida pós-concepcional) de uma interação de fatores genéticos e ambientais, com risco de
produzirão uma série de malformações, dependendo do mo- recorrência de 2-5%, caracterizando um modo de herança multifa-
mento, extensão e altura da falha. Anencefalia, encefalocele e torial (agentes teratogênicos como a hipertermia, acido retinoico e
espinha bífida são os exemplos mais importantes de Defeitos do diabetes materno favorecem o seu aparecimento).
fechamento do Tubo Neural (DTN).
O defeito mais rostral e grave é a anencefalia, na qual a calota O Ácido Fólico E Os Defeitos Do Tubo Neural
craniana não se forma e o tecido nervoso malformado é exposto,
o que invariavelmente produz dias de vida. A encefalocele é a A relação entre o uso peri-concepcional do ácido fólico e a redu-
Hérniação de tecido encefálico através de falhas ósseas. É habi- ção da incidência de DTN tem sido sugerida nos últimos 30 anos.
tualmente recoberta de pele íntegra e sua severidade é determi- Estudos metodologicamente convincentes foram publicados na úl-
nada pelo volume de tecido nervoso extracraniano. Os defeitos tima década. Não há dúvidas sobre a eficácia da suplementação
envolvendo coluna e medula espinhal, como raquisquise, me- de ácido fólico, tanto na prevenção de recorrências de DTN (em
ningocele, mielomeningocele são os mais freqüentes e recebem mulheres com gestações previamente afetadas) como na preven-
também a denominação de espinha bífida. A gravidade também ção da primeira ocorrência de um DTN promovida pela suplemen-
depende da altura e extensão da lesão. Meningoceles que não tação de ácido fólico varia em diferentes estudos e gira em torno
contêm tecido nervoso podem ser operadas sem deixar disfun- de 70%. A proteção também é alta na prevenção das recorrências.
390 ção neurológica. Infelizmente as mielomeningoceles são as mais A patogenia dos DTN ainda não é bem compreendida e por isso
freqüentes e, mesmo quando adequadamente tratadas, produ- os mecanismos através dos quais o ácido fólico reduz a incidên-
zem diferentes graus de paraplegia. cia destes defeitos também não o são. Possivelmente a origem
Transtornos esfincterianos com bexiga neurogênica estão quase destas malformações é multifatorial, envolvendo fatores ambien-
sempre presentes e, especialmente quando mal manejados, podem tais e genéticos. A primeira hipótese que surge é de que a suple-
produzir infecções repetidas do trato urinário com hidronefrose e in- mentação com ácido fólico trataria uma deficiência na mãe. No
suficiência renal. Disfunção sexual também será um problema. entanto, alguns estudos têm mostrado que os níveis de ácido fó-
Habitualmente as funções mentais como cognição, comporta- lico no sangue e eritrócitos não são significativamente diferentes
mento e linguagem estão conservados nas crianças com espinha em mães que tiveram e que não tiveram seus filhos afetados por
bífida. Entretanto, a infecções do sistema nervoso central não são DTN. Outros estudos mostram diferenças pequenas nestes dois
incomuns por contaminação antes ou durante o fechamento cirúr- grupos. Uma segunda possibilidade é a de que a suplementação
gico do defeito. Nestes casos pode haver atraso severo envolvendo com ácido fólico pudesse compensar necessidades aumentadas
também funções mentais. A espinha bífida esta associada à mal- de algumas mulheres por transtornos geneticamente determina-
formação de Arnold Chiari, na qual porções do tronco encefálico e dos no aproveitamento do ácido fólico. Estes transtornos afetariam
cerebelo, que normalmente são intracranianas, durante sua for- a estrutura molecular de enzimas envolvidas no metabolismo do
mação passam os limites do forame magno e ocupam os primeiros ácido fólico. Estudos de genética molecular têm identificado, em
segmentos da coluna cervical. Esta anormalidade pode compro- casos isolados, mutações que determinam disfunção de uma des-
meter o fluxo normal de líquido cefalorraquideo e, por isso, a espi- tas enzimas, a 5,10-metilenotetrahidrofolato redutase.
nha bífida está quase sempre associada à hidrocefalia, que requer Estes conhecimentos têm gerado debate a respeito das es-
derivação ventrículo-peritoneal e não raramente produz problemas tratégias de Saúde Pública visando aumentar o aporte de ácido
como obstrução e infecção ao longo da vida. fólico, especialmente nas mulheres em idade fértil. Nos anos 90,
A freqüência destas malformações varia em diferentes países os países ocidentais começaram a promover ativamente o uso do
e regiões. São escassas as publicações no Brasil sobre a preva- ácido fólico na prevenção dos DTN. Em 1999, a Academia Ameri-
lência dos DTN, que varia de 0,83: 1000 a 1,87: 1000. O Estudo cana de Pediatria e outras entidades nos Estados unidos publica-
Latino Americano de Malformações Congênitas (ECLAMC) abran- ram as recomendações relativas à suplementação com ácido fó-
ge 173 hospitais na América Latina, muitos deles no Brasil, onde lico visando especialmente à prevenção dos DTN. Recomendam
todos os nascimentos com malformações são notificados. De que toda mulher em idade fértil consuma 0,4mg de ácido fólico
1967 a 1995 ocorreram mais de 4 milhões de nascimentos nes- diariamente. Quando há antecedente de gestação afetada por
tes hospitais e a prevalência de DTN foi de 1,5: 1000. A espinha DTN, deve-se consumir 4mg por dia. Quando existem outros fa-
bífida é o defeito mais freqüente na maioria das regiões, seguida tores de risco como a mulher mesma, seu parceiro ou outros pa-
da anencefalia e depois da encefalocele. rentes próximos com DTN, diabetes mellitus tipo I, uso de ácido
As mulheres que já tiveram gestações cujo feto apresentava valpróico ou carbamazepina, deve-se considerar a possibilidade
DTN têm 2 a 3% de chances de recorrência (20 a 30:1000), muito de aumentar a dose para 4mg/dia no período per-concepcional.
maior que nas mulheres em geral. Mulheres com diabetes mellitus
Capitulo 10 Distúrbios Neurológicos
Paulo R. Margotto
Assistência ao Recém-Nascido de Risco
Malformações associadas
• Hidrocefalia: 65% dos RN com mielomeningocele sem
macrocefalia apresentam ventriculomegalia que se ma-
nifesta apenas após o fechamento da lesão espinhal.
Realizar o ultrassom precoce nestes RN
• Alterações urológicas: 85% das mielomeningoceles
localizadas acima da S2 apresentam alterações neu-
rológicas da bexiga. (realizar o ultrassom renal e a cis-
touretrografia miccional). Na presença de bexigoma é
contra-indicada a manobra de Crede (pode acentuar o
refluxo vésico-ureteral): esvaziar a bexiga através da son-
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Capitulo 10 Distúrbios Neurológicos
Asfixia perinatal é uma injúria sofrida pelo feto ou pelo recém- 4. Disfunção orgânica multisistêmica (ex: sistemas cardio-
nascido devida à má oxigenação (hipoxia) e/ou má perfusão (is- vascular, gastrintestinal, hematológico, pulmonar ou renal).
quemia) de múltiplos órgãos. Associa-se a acidose láctica e, na
presença de hipoventilação, a hipercapnia. Incidência
Realizar um diagnóstico de asfixia perinatal bem fundamenta-
do é de extrema importância pois cada vez com mais freqüência A incidência de asfixia perinatal varia em torno de 1-1,5% em
este diagnóstico traz consigo repercussões médico-legais tanto vários centros e está correlacionada diretamente com a idade
para obstetras como para pediatras. gestacional e o peso ao nascer. Acontece em 9% dos RN <36
Contudo, definir asfixia não é simples e isto faz com que seja semanas e em 0,5% dos > 36 semanas. A incidência é maior em
difícil comparar todos os trabalhos clínicos existentes, uma vez que RN a termo de mães diabéticas ou toxémicas. Independendo da
com freqüência, as definições utilizadas são diferentes. Vários es- idade gestacional, o RCIU e a apresentação pélvica aumentam a
tudos têm evidenciado que o escore de Apgar é insuficiente, como incidência de asfixia. Os RN pós-termo também são de alto risco.
critério único, para o diagnóstico de asfixia perinatal. Uns dos cri-
térios mais usados para caracterizar a presença de asfixia são os Etiologia
da Academia Americana de Pediatria que reserva o termo asfixia
para pacientes que apresentam os seguintes fatores associados: Asfixia pode acontecer antes, durante ou após o parto; 90%
dos casos ocorrem no período ante ou intraparto como conse-
1. Acidemia metabólica ou mista profunda (pH<7,0) em qüência de uma insuficiência placentária. Os casos restantes,
sangue arterial de cordão umbilical; pós-parto, são secundários a doenças pulmonares, cardiovascu-
2. Escore de apgar de 0-3 por mais de 5 minutos; lares ou neurológicas (Tabela 1).
3. Manifestações neurológicas neonatais (ex: convulsões,
coma ou hipotonia);
Primiparidade idosa
Drogas que causam depressão
Malformações.
Imaturidade pulmonar e 393
respiratória (anestesia, narcóti- outros
(mais de 35 anos) Congênitas
cos, Sulf. de Mg) distúrbios respiratórios
Primiparidade adolescente Apresentação pélvica ou
Gemelaridade Tumores intratorácicos
(menor de 16 anos) outras anormais
Diabetes Trabalho de parto prolongado RCIU Anemia
Hipertensão Prolapso de cordão Prematuridade Hemorragia
Toxemia DCP Pósmaturidade Distúrbios metabólicos
Doenças crônicas Hipotensão materna Hidropsia fetal
Anemia Descolamento prematuro
Freqüência e ritmo anormais
(Hb≤10gr/dl) de placenta
Isoimunização Ruptura de cordão RN/GIG
Infecção atual ou antenatal Circular e nó de cordão Poli-hidrâmnio
Ruptura prematura ou
Cabeça derradeira Líquido amniótico meconial
prolongada de membranas
Placenta prévia
Hemorragia anteparto
História prévia de RN com
anomalia congênita ou
doença neonatal grave
História de morte
neonatal anterior
Álcool/droga
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Paulo R. Margotto
Assistência ao Recém-Nascido de Risco
Lembrar que a pressão de perfusão cerebral (PPC) é igual à di- A hipotermia terapêutica pode ser realizada através de duas
ferença entre a pressão arterial média e a pressão intracraniana formas, como a seguir mostram as figuras 2A e 2B: resfriamento
(PIC): PPC = PAM - PIC; portanto se a PIC estiver elevada devido ao seletivo da cabeça (9A ou do corpo inteiro 9B)
edema cerebral, a pressão arterial média deve ser mantida (com
drogas vasoativas) um pouco acima dos valores normais para atin-
gir uma boa PPC. Os valores desejáveis são exibidos na tabela 2.
PAM
RN a termo 45-50 mmHg
RN de 1000-2000 gr 35-40 mmHg
RN < 1000 gr 30-35 mmHg
Paulo R. Margotto
Assistência ao Recém-Nascido de Risco
Introdução
A retinopatia da prematuridade (ROP) é uma doença vasoprolifera- também é importante para o desenvolvimento normal da vascu-
tiva da retina, de etiologia multifatorial, relacionada principalmente à latura retiniana. Ao sair do ambiente uterino para outro relativa-
prematuridade, oxigenioterapia prolongada e ao baixo peso ao nascer. mente hipóxico, ocorre um down regulation do VEGF, cessando o
No Brasil, recentemente com o desenvolvimento de equipa- crescimento normal dos vasos.
mentos modernos em UTI neonatais vem aumentando a sobrevi- O VEGF, contudo, não é o único no processo de desenvolvi-
da de RN com idades gestacionais cada vez menores e pesos de mento vascular, havendo outros fatores envolvidos. O uso suple-
nascimento cada vez mais baixos. A falha de encaminhamento mentar controlado de oxigênio, apesar de provocar a inibição do
precoce e a falta de preparos de muitos oftalmologistas para fa- VEGF, não impede que a doença se manifeste.
zer o diagnóstico correto e indicar o tratamento apropriado são O fator de crescimento insulino-símile ou insulin-like growth factor
provavelmente os fatores responsáveis pela enorme quantidade (IGF-1) também tem seu papel no desenvolvimento normal da vas-
de crianças cegas anualmente por retinopatia da prematuridade, culatura retiniana. Logo após o nascimento prematuro, as fontes de
que atualmente é a segunda maior causa de cegueira em nosso IGF-1, a placenta e o líquido aminiótico, são perdidas. Na ausência
país, perdendo apenas para o glaucoma congênito. A incidência do IGF-1, o crescimento vascular cessa. Como a demanda metabó-
de ROP no Hospital Regional da Asa Sul (HRAS) é de 32%. lica do olho em desenvolvimento é crescente, ocorre hipóxia, que
estimula a produção de VEGF e conseqüente neovascularização.
Epidemiologia Da Retinopatia Da Prematuridade O efeito do oxigênio sobre esta retina imatura induz à vasoconstri-
ção que, se mantida, produz áreas de oclusões vasculares. O calibre
Segundo a OMS, a principal causa de cegueira no Brasil é a vascular é reduzido em 50%, após poucos minutos de exposição ao
catarata, com aproximadamente 40% dos casos. Em seguida, oxigênio, 4 a 6 horas de exposição reduzem em 80% o calibre vas-
aparecem como maiores causas o glaucoma com 15%, a reti- cular, ainda reversível, porém, após 15 horas de exposição, alguns
nopatia diabética com 7% e a cegueira na infância com 6,4%. vasos periféricos se manterão ocluídos definitivamente.
Dentre as causas de cegueira infantil no Brasil destacam-se a to- Após a remoção do ambiente de hiperoxia, há acentuada pro-
xoplasmose ocular como a principal causa (21-40%). Em seguida liferação endotelial e produção de neovasos, secundária à ação
aparecem o glaucoma congênito (11-18%), a catarata congênita de substâncias vasoativas, produzidas devido ao estímulo da is- 399
(7-19%) e a retinopatia da prematuridade com variação de 3 a quemia retiniana. Condição necessária, mas não suficiente para
21%. As causas de cegueira variaram de acordo com a região o desenvolvimento de neovascularização retiniana, quando ana-
avaliada e com nível sócio-econômico. lisada isoladamente na patogênese da retinopatia, sendo essen-
A organização mundial de saúde estima que existam mais cial a imaturidade retiniana.
de 50.000 crianças cegas por retinopatia da prematuridade no A falta dos antioxidantes tem sido estudada relacionando com
mundo. Dessas 50.000 crianças cegas no mundo, cerca de 48% risco aumentado para ROP, à fisiopatologia ainda é controversa.
(24.000) estão na América Latina. A ROP é uma das mais im- O transporte da vitamina E da circulação coroidea até as célu-
portantes causas de deficiência visual ou cegueira em crianças las fusiformes é feito pelo espaço sub-retiniano através de uma,
nascidas prematuramente. a proteína de ligação intersticial retiniana (PLIR), produzida pe-
Nos últimos anos, tem-se observado aumento no percentual de los fotorreceptores. Acompanhando a vascularização da retina,
crianças com risco de desenvolver retinopatia em razão da introdu- a secreção da PLIR só ocorre após a 22ª semana de gestação.
ção e aperfeiçoamento das técnicas de cuidados neonatais que per- Uma quantidade mínima de PLIR deve ser secretada para suprir
mitem a sobrevivência de crianças cada vez mais prematuras, bem a retina com vitamina E. Em crianças com menos de 27 sema-
como avanços na atenção obstétrica, incluindo maior freqüência de nas a quantidade de vitamina E encontrada não é suficiente para
gestações múltiplas em decorrência das atuais técnicas de auxílio à prevenir a formação de junções lacunares nas células fusiformes
reprodução, bem como aumento na média da idade materna, favo- após estímulo oxidante.
recendo o aumento no nascimento de crianças prematuras. Recentemente, o gene “Tubedow I” foi clonado em laboratório
e possui importante papel na regulação da neovascularização
Patogênese associada a esta retinopatia, constituindo um potencial tera-
pêutico para o futuro.
A fisiopatologia da ROP ainda não está completamente elucida-
da. O desenvolvimento dos vasos sanguíneos retinianos se inicia no Fatores De Risco
quarto mês de gestação. Os vasos crescem a partir do nervo óptico,
alcançando a periferia da retina nasal no oitavo mês e temporal ao A etiologia da ROP permanece obscura, porém vários estudos
termo. Assim, a retina do prematuro encontra-se avascular na pe- sugerem ser multifatorial. Considerar o exame em RN com pre-
riferia por ocasião do nascimento. Após o nascimento prematuro, sença de fatores de risco:
o crescimento vascular normal é interrompido, havendo, também,
obliteração de alguns vasos. À medida que o recém-nascido cresce, 1. Síndrome do desconforto respiratório;
aumenta a demanda metabólica da retina e, como resultado da não 2. Sepse;
vascularização, a retina torna-se hipóxica. Em modelos animais, foi 3. Transfusões sangüíneas;
comprovada a associação entre hipóxia e oclusão vascular. 4. Gestação múltipla;
A hipóxia estimula o fator de crescimento endotelial (VEGF). 5. Hemorragia intraventricular.
Esse fator é angiogênico e provoca a neovascularização. O VEGF 6. Hiperglicemia
Paulo R. Margotto
Assistência ao Recém-Nascido de Risco
400
O ICROP (International Classification for ROP) definiu a doença Grupo ROP Brasil
limiar pela presença de ROP estágio 3, localizado nas zonas I
ou II com extensão de pelo menos 5 horas contínuas ou 8 horas
intercaladas e com identificação da dilatação arteriolar e venosa
conhecida como doença “plus”.
Paulo R. Margotto
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oftalmoscópio binocular indireto, lente condensadora de O procedimento deve ser realizado em centro cirúrgico, com
28 D e depressor escleral. os prematuros sob anestesia geral e sendo monitorizado por um
•Sala escurecida. anestesista. A recuperação pós-tratamento deve ser feita na UTI
•Monitorização dos sinais vitais. neonatal como também, realizados os exames semanais subse-
•Avaliação retiniana, iniciando-se pela zona I, zona II e qüentes, retornando à seqüência de avaliação para os estágios
após, a zona III. da doença.
•Registro, por meio do formulário padrão de exame das Tratamento em até 72 horas está indicado:
“Propostas de diretrizes brasileiras do exame e tratamen-
to de retinopatia da prematuridade (ROP)” do grupo ROP Pré-limiar tipo 1:
Brasil; (ANEXO) Zona 1: qualquer estágio com plus
Zona 1: estágio 3
Zona 2: ROP 2 ou 3 com plus
Doença limiar:
Retinopatia estágio 3, em zona I ou II, com pelo menos 5 horas
de extensão contínuas ou 8 horas intercaladas, na presença de
doença plus
Tratamento – Novidades
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Assistência ao Recém-Nascido de Risco
Anexos
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Capitulo 10 Distúrbios Neurológicos
405
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Assistência ao Recém-Nascido de Risco
406
Capitulo 10 Distúrbios Neurológicos
407
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Capitulo 10 Distúrbios Neurológicos
Paulo R. Margotto
Assistência ao Recém-Nascido de Risco
O seguimento do recém-nascido (RN) de risco é uma especiali- O programa de Follow-up do HRAS busca acompanhar todas os
dade estabelecida na maioria dos serviços de saúde dos países egressos da UTI neonatal dos grupos acima citados, e alguns encami-
desenvolvidos. No Brasil, os primeiros ambulatórios de Follow-up nhamentos de outras Regionais de Saúde da rede pública hospitalar.
surgiram na década de 80. Neste primeiro momento os cuidados
eram voltados principalmente para os aspectos clínicos dos be- Fluxo De Pacientes
bês acompanhados.
Com o desenvolvimento dos programas, foram ampliados os Os RN mais graves são avaliados ainda durante o período de
objetivos do seguimento, dos quais podemos citar: detecção e in- internação, onde são agendadas as consultas posteriores.
tervenção das alterações do desenvolvimento neuro-psico-motor O maior grupo é encaminhado ao ambulatório pela equipe de
da criança, suporte à família e realização de pesquisas com gru- neonatologia após a alta hospitalar; um terceiro grupo é enca-
pos específicos de RN. minhado após passar pelo exame de ecografia transfontanelar.
Com a ampliação dos objetivos do programa tornou-se neces- Temos também os pacientes egressos de outras UTI neonatais
sária a formação de equipes interdisciplinares para melhor aten- da Rede Hospitalar do DF e Entorno.
dimento da clientela. O ambulatório funciona uma vez por semana, tendo cinco con-
No Hospital Regional da Asa Sul (HRAS), o ambulatório inter- sultas de primeira vez e agenda de retorno aberta.
disciplinar de Follow-up do RN de Risco surgiu em 1999, com o O agendamento das consultas subseqüentes é realizado de
objetivo inicial de triar as crianças com seqüelas neurológicas e acordo com cada caso e de sua necessidade.
acompanhá-las. Atualmente acompanhamos todos os RN pré- A cada consulta é realizado o exame clínico, exame neurológi-
termo abaixo de 1000g, os com alterações neurológicas, dentre co, avaliação visual, avaliação auditiva, avaliação neuro-motora e
outros. Os nossos registros contam com 287 crianças acompa- funcional, e avaliação social.
nhadas, 24 altas e 13 encaminhadas a outros Serviços. Os pacientes são acompanhados até 7 (sete) anos de idade
cronológica, quando então recebem alta ou são encaminhados
Organização Do Atendimento a outros Serviços se fôr necessário.
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para determinada idade. É realizado para identificar anormalidades e • Neuropediatria, Rosenberg S, Ed Savier, 1992.
classificar de acordo com os tipos clínicos, síndromes e intensidade. • Neurociência Básica, 2ªEdição. Guyton AC, Ed.Guanabara Koogan, 1991.
• O’Shea M. Prognóstico do prematuro de extremo baixo peso. follow-up do prematuro ex-
O exame se constitui por observação, teste de reflexos arcai- tremo: como e quando fazer?3º Simpósio Internacional de Neonatologia do Rio de Janeiro,
cos, miotáticos, pares cranianos e medida de perímetro cefálico 30/8 a 1/9/2002.Disponível em www.paulomargotto.com.br em Recém-Nascido de muito
baixo peso(consultado em 10/12/2008)
(consulte o capítulo Exame Físico Neonatal/Exame Neurológico).
È feito também o acompanhamento do paciente após os mé-
todos de estimulação utilizados (terapia ocupacional, fonoaudio-
logia, fisioterapia, etc), para se observar a evolução do mesmo.
O estabelecimento do diagnóstico e plano de ação se dão através
do planejamento do acompanhamento, introdução de outros refle-
xos de acordo com a idade, observação do desaparecimento dos
reflexos arcáicos e tratamento medicamentoso quando necessário.
Avaliação Social
Alta
Bibliografia
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Paulo R. Margotto
Assistência ao Recém-Nascido de Risco
412
Capitulo 11 Infecções Adquiridas
Capítulo 11
Infecções
Adquiridas
Assistência ao Recém-Nascido de Risco
Introdução
Quando o germe entra no organismo, há estimulação de uma sé- Incidência: 0,1 - 0,4%
Curso fulminante
rie de células a liberar os agentes inflamatórios (citocinas). O agente nascidos vivos
infeccioso e as citocinas ativam a coagulação através da liberação Sequelas neurológicas: Sequelas neurológicas
do fator tecidual pelos monócitos. A endotoxina ou a exotoxina ata- risco de 10 -25% (quando há meningite)
ca os monócitos e o endotélio e estes liberam os interleucinas (IL)
- Interleucina 6, Interleucina 1β, Interleucina 8 e Fator de Necrose Os achados clínicos são fundamentais no diagnóstico de infec-
Tumoral α (TNF-α). Por sua vez, as próprias interleucinas também ção no período neonatal; o grande problema é a inexistência de
agem sobre o endotélio e os monócitos fazendo com que haja libe- dado clínico com certeza de infecção no RN; os sinais clínicos são
ração do fator tecidual. As interleucinas agem sobre os neutrófilos inespecíficos, o que dificulta muito o diagnóstico de infecção com
liberando proteases. O fator tecidual vai atuar sobre os fatores de bases clínicas; assim, necessitamos de uma série de dados. O cri-
coagulação ativando a coagulação. As IL inibem a fibrinólise. tério que usamos para o diagnóstico suspeito de infecção é pelo
O resultado final deste processo é a lesão endovascular difusa, menos 3 sinais clínicos de sistemas diferentes ou 2 sinais clínicos
trombose microvascular, isquemia dos órgãos e falência de múl- de sistemas diferentes (por exemplo: RN com instabilidade térmi-
tiplos órgãos com morte ca, taquipnéia, icterícia precoce, são 3 sinais clínicos de sistemas
diferentes) com um fator de risco materno, como febre, infecção
Fatores De Risco urinária não tratada, bolsa rota maior ou igual a 48 horas.
Paulo R. Margotto
Assistência ao Recém-Nascido de Risco
início do quadro de sepse, porque existe primeiro a invasão bac- ção confirmada, no ponto de corte de 0,5ng/ml a sensibilidade no
teriana, a posterior liberação das citocinas, e estas é que vão diagnóstico da sepse foi de 94% para PCT versus 78% para a PCR
produzir a liberação hepática da PCR (o seu nome é derivado da no ponto de corte de 0,8mg%). A PCT diminuiu mais rapidamente
capacidade de interagir com o polissacarídeo C do pneumococo). que a PCR, com a introdução da antibioticoterapia.
Já com 12-24 hs, a PCR tem alta sensibilidade no diagnóstico da
infecção e alto valor preditivo negativo (2 PCR normais, excluindo Exames Laboratoriais Ao
a colhida ao nascimento, têm um valor preditivo negativo de 99%). Se Decidir Iniciar O Antibiótico
A PCR não é precoce (a sua elevação ocorre após a instalação
da infecção). Não vamos querer fazer o diagnóstico precoce de Na sepse precoce, procuramos testes diagnósticos com alta
infecção com o uso da PCR. A vida média da PCR é mais lon- sensibilidade e alto valor preditivo negativo. Quando solicita-
ga (cerca de 19hs); a PCR pode aumentar significativamente na mos exames laboratoriais, não é para dizer que esta criança está
fase aguda da infecção. infectada; o que queremos caracterizar é que aquela criança não
Quanto à utilização da PCR para a suspensão do antibiótico: está infectada e você quer parar o antibiótico ou não iniciar.
já que não temos condição de realizar um diagnóstico preciso de
infecção, que pelo menos possamos evitar tratar por 7-10 e até • Hemocultura : colher 1 ml de sangue
14 dias estes RN. Hemoculturas com adequado volume de sangue têm maior pro-
No estudo de Bomela e cl, realizado na África do Sul envolven- babilidade de tornarem-se positivas em relação às culturas com ina-
do 100 RN com suspeita de sepses, o antibiótico foi suspenso se dequado volume de sangue; na prática clínica grande proporção de
PCR ≤ 10mg/l e apenas 1 retornou ao antibiótico (hemocultura). hemoculturas é negativa devido a inadequado volume de sangue
O valor predictivo negativo foi de 99%, ou seja, a PCR repetida colhido: quanto mais sangue, maior será a probabilidade da hemo-
estimou corretamente 99 de 100 RN neste estudo como não re- cultura ser positiva (0,5 ml: 80% de probabilidade de ser positiva; 1
querendo antibioticoterapia posterior. ml: 97% de probabilidade de ser positiva e 2 ml de sangue: 100% de
No estudo de Ehl S e cl, duas PCR abaixo de 10mg/l, hemogra- probabilidade de ser positiva; 0,5 ml de sangue é inadequado quan-
ma normal, clínica discutível, o antibiótico foi suspenso no 4º/5º to à sensibilidade e o tempo na detecção da bacteremia)
dia de vida (RN acima de 1500g ao nascer, não intubados e sem Quanto tempo esperar para declarar uma hemocultura negati-
cateteres centrais). PCR menor que 10mg/l determinada 24 hs va? Basicamente, 99% das culturas (sistema automatizado) para
após o início do antibiótico identificou corretamente 120 de 121 bactérias torna-se positiva em 36 horas, sendo este tempo mais
RN como não necessitando do antibiótico posteriormente. Levar do que suficiente para excluir sepse nos recém-nascidos assinto-
em consideração se é uma sepse precoce ou sepse tardia (adqui- máticos, e 3 dias de incubação são suficientes para detectar todas
rida no hospital) ou sepse tardia comunitária. as infecções clinicamente importantes . No estudo de Garcia-Prats
A PCR persistentemente negativa em um RN com sepse com- JA e cl virtualmente todas as hemoculturas para microrganismos
provada indica prognóstico ruim. Isto ocorre em consequência à gram-positivos e gram-negativos foram positivas após 24 a 36 ho-
416 falência hepática que acompanha a sepse grave. Em pacientes ras de incubação; culturas crescendo S .epidermidis foram virtual-
cuja resposta inflamatória foi suprimida com o uso do esteróide, mente todas positivas após 36-48 horas de incubação.
o nível de PCR pode tornar-se indetectável. A PCR parece ser útil
como um dado adjunto no processo decisório. Em muitas oca- • Líquor: A punção lombar deverá ser realizada quando:
siões, quando as culturas persistem negativas, uma elevação 1. Quadro instalado de infecção
do número de leucócitos associada a alterações na dinâmica 2. Na troca do antibiótico
dos neutrófilos e elevação da PCR, é motivo suficiente para se 3. Nos RN procedentes de outras Unidades Hospitalares.
iniciar a antibioticoterapia. Mesmo sem infecção confirmada Há evidências de que a realização da punção lombar acarreta
por cultura os autores notam com frequência que a PCR vol- efeitos adversos na frequência cardíaca e na saturação de oxigê-
ta aos níveis normais depois do início do tratamento. Deve-se, nio. Também há evidências da falta de benefícios diagnósticos
porém ter cautela ao se decidir interromper um tratamento (não foram encontrados casos de meningite em 244 RN a termo
apenas baseado nesse indicador indireto. Ao avaliar o seu nível, assintomáticos com fatores de riscos obstétricos; em 799 RN,
considerar o valor preconizado no kit que o laboratório utilizou. foram encontrados meningite em 2,5% quando estavam presen-
Várias condições não infecciosas influenciam os valores da PCR tes sintomas clínicos, com ou sem fatores de riscos; em 238 RN
nos primeiros dias de nascimento como,asfixia perinatal, síndrome pré-termo com membrana hialina, não se encontrou meningite
de aspiração meconial, trabalho de parto prolongado, aplicação do em nenhum deles, devendo a punção lombar ser realizada nes-
surfactante, hemorragia intraventricular, pneumotórax. tes RN na presença de sintomas ou outros riscos, além do des-
conforto respiratório; em mais de 177 RN com Doença da mem-
• Procalcitonina brana hialina avaliados para meningite, Weiss e cl detectaram
Numerosos estudos clínicos têm evidenciado que a procalcito- patógenos no LCR em apenas 4 RN e três destes apresentavam
nina (PCT) pode ser melhor na identificação de infecção. Estudos bacteremia pelo mesmo patógeno). Embora não haja evidências
em adultos, crianças e RN têm evidenciado que a PCT aumenta de efeitos neurológicos, há consenso para se evitar este proce-
na inflamação sistêmica, especialmente na infecção bacteriana. A dimento nos RN, principalmente pré-termo extremos, nas pri-
procalcitonina gera a calcitocina nas células C da glândula tireóide. meiras 72 horas.
A origem da PCT relatada durante a sepse é extratireoidea e pen- Bioquímica, citologia, bacterioscopia, pesquisa de agente bac-
sa-se que a sua secreção seja induzida pelas toxinas bacterianas. teriano e cultura. A punção lombar é contra-indicada no bebê com
Vazzalwar R, e cl compararam a sensibilidade e especificidade da contagem de plaquetas abaixo de 50.000/mm3 ou instabilidade
PCT com a da PCR na predição da sepse tardia nos RN pré-termo cardiovascular. Não retardar o tratamento caso não seja realizada
de muito baixo peso. No ponto de corte de 0,5ng/ml, a PCT foi
mais sensível que a PCR na detecção da sepse tardia (neste pon- • LCR na meningite:
to de corte para todos os grupos, infecção confirmada, infecção deve ser feito imediatamente
provável, infecção possível, a sensibilidade para o diagnóstico da células > 15/mm3 suspeito
sepse foi de 97%; para a PCR no ponto de corte de 0,8mg%, a > 20/mm3 meningite
sensibilidade foi de 72%.; analisando somente o subgrupo infec- glicose: 80 % de glicemia
Capitulo 11 Infecções Adquiridas
• Descontar hemácias do número células 1. Doença da Membrana Hialina que não corresponde a
nº de hemácias ÷ 700 ou quando possível, surfactante e que cursa com hipotensão necessitando de
Nº de hemácias do hemograma ÷ Nº de leucócitos do hemogra- drogas vasoativas
ma e dividir o Nº de hemácias do LCR por este quociente 2. Acidose metabólica que persiste mesmo após a correção
3. Hiperglicemia
• Descontar proteínas 4. Distermia (não aceitar mais do que 1ºC entre uma tem-
Para cada 1000 hemácias, descontar 1,5mg% peratura e outra)
5. Má perfusão
• Cultura de urina
Só por punção supra-púbica e após 72 h de vida. Antes disso a po- Após resultados de cultura, PCR diário (3 dias) e conforme evo-
sitividade é incomum, salvo em casos de malformações congênitas. lução clínica/laboratorial, suspender o antibiótico.
A decisão mais importante está na retirada do antibiótico. Se a tria-
gem for positiva e a cultura for positiva, considerar como infecção
Acompanhamento Dos RN
Em Tratamento De Sepse Neonatal Tratamento
• Febre materna
• Leucocitose materna
• Líquido amniótico fétido ou purulento Hemocultura negativa Hemocultura positiva
+
• Colonização materna pelo Streptococcus do grupo b Evolução ruim
• Gemelaridade (risco de infecção pelo Streptococcus au- Ajustar (antibiótico sensível)
menta 5 vezes): < 1000g
Observar as condições clínicas e
optar por drogas mais específicas
A prematuridade sem causa aparente não deve constituir uma segundo o perfil hospitalar
causa determinante para o uso de antibiótico
→ Hemograma, PCR( Proteína C Reativa), Hemocultura: cefepime + amicacina
iniciar Antibioticoterapia vancomicina + meropenem
→ Fazer PCR diário (3 dias) Outros: piperacilina + tazobactan(TazocinR),
ciprofloxacin, trimetoprim, astreonam
A delimitação da IG ≤ 34 semanas provavelmente corresponde
à idade gestacional na qual se inicia o aparecimento de substân-
cias protetoras no líquido amniótico: peptídeos catiônicos, betali- Antes de iniciar ou trocar o esquema de antibiótico, devem ser
sina, complexo de zinco, transferrina, peroxidase e também todas colhidas as culturas (no caso de troca do esquema de antibióti-
as classes de imunoglobina. cos, recomenda-se colher material para cultura 30 minutos an-
RN Assintomático com IG ≤ 34 semanas sem os fatores de tes da próxima dose de antibiótico, ou seja, no nível mínimo).
riscos clássicos e RN com IG > 34 semanas com ou sem os Evitar o uso de cefalosporinas, entre as quais cefoxitina (deve
fatores de risco clássicos: ser usada apenas na profilaxia de cirurgia e por apenas 3 dias:
Paulo R. Margotto
Assistência ao Recém-Nascido de Risco
a resistência é induzida para ela e para todo o grupo de cefa- dade de Cuidados Intensivos Neonatal. A incorporação de fatores
losporina ou betalactâmicos) e as cefalosporinas de 3ª geração adicionais, como tempo de ventilação, cirurgia, hipertensão ma-
(cefotaxima/ceftazidima). A cefalosporina de 4ª geração (cefepi- terna, melhora o desempenho do escore.
me) tem o mesmo espectro, induz menos resistência e o custo é Temos valorizado o seguinte escore de três pontos, significan-
basicamente o mesmo. do um rastreamento laboratorial positivo para o diagnóstico da
O surgimento de S. aureus completamente resistente a vancomi- sepse tardia:
cina-VRSA- (descrito em adultos) e de beta lactamases de espectro
ampliado (BLEA), produzidas por algumas cepas de germes gram- • Hemograma alterado: 2 pontos ( leucopenia ou leucocito-
negativos multirresistentes (como Klebsiella, E. Coli) aponta para se, granulações tóxicas ou ao menos duas alterações nos
maior cautela no uso de antibióticos de largo espectro, e ressalta critérios de Manroe)
a necessidade de programas para prevenir a propagação de mi- • Plaquetopenia : 1 ponto
crorganismos resistentes a antibióticos e controlar o uso de drogas • Acidose metabólica persistente : 1 ponto
antimicrobianas no ambiente de assistência à saúde.
O esquema inicial de antibióticos deve ser baseado no conhe-
2. SEPSE tardia cimento epidemiológico de resistência bacteriana da Unidade;
A sepse nosocomial ocorre frequentemente na UTI Neonatal e considerar a possibilidade de rodízio de esquema de antibióticos,
necessita de diagnóstico e tratamento rápido. Na sepse preco- principalmente as cefalosporinas de 3ª geração.
ce os critérios clínicos e laboratoriais e os fatores de risco estão Proceder ao seguimento como na sepse precoce.
bem estabelecidos.
Mahieu e cl investigaram quais sinais e sintomas estão asso- Duração Do Tratamento
ciados com sepse nosocomial, particularmente sepse associada
ao cateter, e quais dados hematológicos podem ser usados como Depende da gravidade e presença de foco infeccioso. Não ha-
marcadores para a sepse nosocomial. Finalmente os autores in- vendo, manter por 7-10 dias no mínimo.
vestigaram se estes dados, clínicos e laboratoriais no RN podem
ser usados para o diagnóstico de sepse nosocomial. Assim, os 1. Pneumonias
autores avaliaram o valor diagnóstico de um escore global (esco- S. aureus - Oxacilina mínimo 21 dias
re NOSEP), combinando estes itens. Vancomicina (MRSA: methicillin resistant Staphylococcus au-
Os autores mostraram que a presença do cateter venoso cen- reus): 21 dias
tral, hospitalização prolongada e o uso da nutrição parenteral S. epidermidis - Vancomicina 14 dias
> 14 dias estiveram fortemente associados com sepse nosoco- Pseudomonas - Meropenem ou Ceftazidime + aminoglicosídeo,
mial, sendo que a nutrição parenteral foi o único fator indepen- mínimo de 14 dias.
dentemente associado. Klebsiellas - Cefepime + aminoglicosídeo, 10 a 14 dias.
418 O episódio de febre (>38,2ºC) foi o melhor sinal clínico associa-
do com sepse nosocomial, mesmo em prematuros (valor prediti- 2. Celulites -
vo positivo de 65%). Oxacilina + aminoglicosídeo ou cefalosporina de 3ª geração,
O maior valor do NOSEP é a sua habilidade no auxílio clínico na 7 dias.
tomada de decisão para o tratamento clínico dos RN com sepse
nosocomial presumida. O escore contém 5 itens, é fácil de apli- 3. Abscesso mamário -
car à beira do leito sem necessidade de técnicas laboratoriais Oxacilina 5 - 7 dias, adaptar com resultado de cultura.
complexas ou cálculos. O escore NOSEP é baseado em critério
objetivo e é independente da experiência dos médicos. 4. Osteomielite/ Artrite séptica - mínimo de 21 dias
S. aureus – Oxacilina*/Vancomicina (MRSA). A oxacilina tem
ESCORE NOSEP : Sen: sensibilidade; VPN: boa penetração articular.
valor preditivo negativo Agente desconhecido : oxacilina + cefotaxima
A avaliação ortopédica mandatória, fazer controle do tratamen-
to com VHS
Item Diagnóstico Pontos Curva ROC
5. Meningite: Na sepse precoce: Ampicilina+ Gentamicina
PCR ≥ 14 mg% 5 0,68
Na sepse tardia: Usar o esquema antibiótico para sepse tardia
(cobertura para patógenos predominantes na Unidade). Deve-se
Plaquetas ≤ 150.000/mm³ 3 0,61
garantir cobertura para:
S. aureus e S. coagulase negativa (Oxacilina ou Vancomicina)
Fração de Neutrófilo > 50% 5 0,60 Gram -negativos - Aminoglicosídeo ou cefalosporinas de 3a ou
4a geração
Febre (> 38,2C) 6 0,61
Pseudomonas - Meropenem ou Ceftazidime ou Astreonan ( am-
bos associados a um aminoglicosídeo)
Nutrição Parenteral ≥ 14 dias 5 0,66
Stenotrophomonas maltophilia: sulfametoxazol+ trimetoprim
Flavobacterium meningocetico: frequentemente sensível à ri-
Sens:95% fampicina e rifocina
ESCORE NOSEP ≥8
VPN:93% Duração do tratamento na meningite: 2 semanas após a este-
rilização do líquor
Os autores sugerem que cada centro que deseje usar o esco- • Gram positivos = 14 dias
re NOSEP identifique os níveis ótimos das 5 variáveis do escore • Gram negativos= 21 dias
NOSEP e faça modificações antes da sua implementação na Uni-
Capitulo 11 Infecções Adquiridas
Paulo R. Margotto
Assistência ao Recém-Nascido de Risco
tamases. Essas são enzimas presentes em bactérias geralmente complexo, parecendo atuar na redução da síntese protéica bacte-
dotadas de plasmídeos, elementos extracromossômicos, poden- riana. Têm baixíssima absorção por via oral e devem ser usados
do sua produção ser também mediada por cromossomos. Os por via intravenosa em gotejamento lento, de 30 a 60 min, devi-
plasmídeos que transportam genes de betalactamases podem do ao risco de bloqueio neuromuscular, depressão miocárdica e
ser transferidos para diferentes cepas ou espécies, facilitando a nefrotoxicidade aguda. Sua excreção é renal, podendo haver acú-
disseminação da resistência aos antibióticos. mulo no córtex do rim por reabsorção tubular, levando a nefroto-
As betalactamases ocorrem em uma grande variedade de mi- xicidade. Há também ação ototóxica, cujo risco aumenta com o
crorganismos, incluindo gram-positivos produtores das mesmas. uso prolongado e no déficit da função renal. Os aminoglicosídeos
Um grande número dessas enzimas tem sido identificado, sendo ligam-se pouco às proteínas plasmáticas e são muito solúveis em
a penicilinase a mais comumente encontrada na prática clínica. água, o que resulta em distribuição livre nos espaços vasculares
De acordo com o tipo de antibiótico sobre o qual atuam ou com a e bastante ampla no interstício da maioria dos tecidos. Recém-
espécie bacteriana produtora, as diferentes betalactamases são nascidos, especialmente prematuros, além de possuírem maior
caracterizadas como: OXA, PSE, TEM etc. volume de distribuição devido à maior superfície corporal, têm
O mecanismo de ação das betalactamases é o de inativação taxa de filtração glomerular diminuída, o que requer ajuste de
dos antibióticos betalactâmicos através da hidrólise da ligação acordo com a idade pós-concepção corrigida. Têm baixa penetra-
amida do anel betalactâmico, com a perda da atividade da droga. ção no líquor, mas atingem concentrações adequadas no osso,
Apesar do desenvolvimento de novos betalactâmicos, conti- líquido sinovial e peritoneal.
nuou-se à procura de substâncias que pudessem resistir à ação Os aminoglicosídeos são usados no tratamento de infecções
das betalactamases através da inativação ou inibição da produ- graves por gram-negativos e por enterococos. Agem também con-
ção dessas enzimas, pesquisando-se ainda a possibilidade de tra gram–positivos e micobactérias, mas não contra anaeróbios.
associação desses inibidores com um antibiótico betalactâmico Têm ação sinérgica com os antibióticos betalactâmicos.
para preservar sua atividade. A resistência aos aminoglicosídeos ocorre por meio de vários
Os primeiros inibidores naturais de betalactamases foram iso- mecanismos, tais como alteração da permeabilidade celular, mu-
lados de espécies de Streptomyces em 1972, porém sem eficácia tação de ribossomos ou produção de enzimas que modificam o
antibacteriana. Prosseguindo-se as pesquisas nessa área, des- aminoglicosídeo. A resistência pode ser adquirida por meio cro-
cobriu-se, em 1976, o ácido clavulânico, extraído de culturas de mossômico ou por plasmídeos, que conferem aos germes resis-
Strepotmyces clavuligerus, sucedendo-se outros como o sulbac- tência múltipla, que se estende aos demais antibióticos da classe.
tam e o tazobactam. Esses agentes são considerados inibidores A gentamicina é indicada principalmente nas infecções gra-
suicidas das betalactamases, uma vez que são destruídos após ves por bacilos gram-negativos, especialmente enterobactérias e
a sua interação com a enzima. P.aeruginosa, associada a um betalactâmico. Como penetra mal nas
Os três inibidores atualmente em uso clínico encontram-se asso- células dos mamíferos, apesar de ser ativa contra o estafilococo
ciados com betalactâmicos, a saber: o ácido clavulânico associado pode não atingi-lo quando ele se localiza intracelularmente. Tam-
420 com a amoxicilina ou a ticarcilina; o sulbactam associado com a ce- bém age mal contra cocos gram-negativos (meningococo e gonoco-
foperazona ou com a ampicilina, e o tazobactam com a piperacilina. co) e não age sobre o H. influenza. Associada à ampicilina, penicilina
ou vancomicina é usada contra os enterococos e nas infecções cau-
Tazobactam Associado Com Piperacilina sadas por S. aureus é associada a oxacilina ou a vancomcina.
A amicacina é indicada nas infecções graves por bacilos gram-
A piperacilina/tazobactam é uma associação antibacteriana de negativos resistentes a gentamicina. Associada a cefalotina ou oxa-
uma penicilina semi-sintética de amplo espectro do grupo das ureido- cilina é usada nas estafilococcias graves, pelo menos nos primeiros
penicilinas e de um inibidor da betalactamase, a tazobactama sódica. três a cinco dias. Seu uso extenso e continuado nos últimos anos
Essa associação apresenta algumas características desejá- não resultou em aumento da resistência, como ocorreu com os
veis, como a ampliação do espectro de ação da piperacilina con- demais aminoglicosídeos, entretanto já se registra um aumento da
tra as bactérias produtoras de betalactamases, maior atividade resistência a amicacina por bacilos gram-negativos hospitalares em
antimicrobiana quando comparada a certas cefalosporinas de algumas instituições brasileiras, o que reforça a necessidade de se
terceira geração e sinergismo in vitro com os aminoglicosídeos, conhecer o perfil microbiológico prevalente em cada serviço.
incluindo Pseudomonas aeruginosa.
Tem, portanto, excelente atividade contra Estreptococos, Es- Imipenem E Meropenem
tafilococos meticilinossensíveis, Hemófilos, Moraxela, Listeria,
Enterobactérias, incluindo Pseudomonas e anaeróbios, particu- Pertencem ao grupo das carbapenemas, uma classe de antibi-
larmente os do grupo Bacteroides. óticos betalactâmicos que se caracteriza por atividade bacterici-
A associação do tazobactam com a piperacilina é utilizada por via da de amplo espectro e melhor estabilidade perante as betalac-
parenteral, intramuscular e intravenosa, sendo mais comum está tamases. Seu mecanismo de ação é a lise osmótica da bactéria,
última. Possui boa distribuição tecidual, com eliminação pelos rins. através da ligação às proteínas fixadoras de penicilina existentes
Sua indicação clínica inclui principalmente as infecções hos- em sua parede celular (PBP1 e PBP2).
pitalares respiratórias, urinárias, intra-abadominais cirúrgicas, Seu espectro de ação é amplo, incluindo os cocos e bacilos
celulites e abscesso causadas por germes resistentes aos anti- gram-positivos e gram-negativos, aeróbios e anaeróbios, agindo
bióticos betalactâmicos, como Pseudomonas aeruginosa Acineto- inclusive em germes tornados resistentes pelo uso de cefalospo-
bacter, Proteus, E.coli, outros gram-negativos e anaeróbios, pos- rinas de 2ª e 3ª geração ou de associações de betalactâmicos/
sui, portanto, bom potencial como monoterapia no tratamento de inibidores de betalactamase.
infecções polimicrobianas. Tem sido utilizada ainda como opção Ainda que possuam o mesmo espectro de ação, observa-se
terapêutica empírica no paciente granulocitopênico febril. melhor potência de ação do imipenem contra os cocos gram-
positivos, como o S. aureus sensível a oxacilina, S. epidermidis,
Aminoglicosídeos pneumococo, Enterococcus faecalis. O meropenem tem melhor
ação contra H. influenzae, M. catharralis, Enterobacterias (E. Coli,
Os aminoglicosídeos são antibióticos naturais e semi-sintéticos Klebsiella, Proteus, Citrobacter, Salmonella), gonococos, meningo-
de ação bactericida e bacteriostática. Seu mecanismo de ação é cocos, P. aeruginosa, Burkholderia cepacia e Clostridium. Ambos
Capitulo 11 Infecções Adquiridas
antibióticos têm boa atividade contra Streptococcus pyogenes, S. que interfere na divisão da cadeia de DNA. Resistência adquirida
agalactiae, Acinetocacter baumanii, Listeria monocytogenes, Pseu- por origem cromossômica relaciona-se a mutações nessa enzi-
domonas fluorescens e contra os anaeróbios ( PeptoeStreptococ- ma, observando-se alguns casos de resistência em P. aeruginosa,
cus, Peptococcus, Fusobacterium, Veillonella, Bacteróides). Não Serratia marcescens, S. aureus e S. epidermidis. É indicada em in-
são ativos contra S. aureus oxacilinorresistentes e Enterococcus fecções graves por bacilos gram-negativos (septicemia, meningi-
faecium. te, pneumonias hospitalares), quando há insucesso terapêutico
São antibióticos potentes e têm excelente penetração nos lí- com outras drogas.
quidos e compartimentos orgânicos, inclusive líquor, mas seu A via de administração é endovenosa, embora possua uma
uso indiscriminado deve ser evitado. As carbapenemas induzem boa absorção oral. Tem meia vida prolongada, eliminação renal e
produção de betalactamases cromossômicas em bacilos gram- atinge boa concentração terapêutica nos tecidos e líquidos orgâ-
negativos, o que leva a uma resistência cruzada entre antibió- nicos, inclusive no líquor.
ticos monobactâmicos, cefalosporinas de 2ª e 3ª geração, urei-
dopenicilinas (piperacilina) e entre os próprios carbapenêmicos. Vancomicina/Teicoplanina (Glicopeptídeo)
Além disso, algumas cepas de Pseudomonas cepacea, Aeromonas
hydrophila, Legionella e Bacteróides fragilis têm apresentado resis- A vancomicina é um antibiótico da classe dos glicopeptídeos,
tência às carbapenamases, através da produção de penicilinases que atuam fixando-se à membrana citoplasmática das bacté-
de origem cromossômica. Há ainda a resistência desenvolvida rias, modificando sua permeabilidade e interferindo na síntese
pela alteração dos canais de entrada da droga na parede bacte- dos peptideoglicanos, constituintes estruturais da parede celu-
riana, impedindo sua ação, desenvolvida por algumas Enterobac- lar bacteriana. Age contra germes gram-positivos, gonococos e
terias e algumas cepas de P. aeruginosa. alguns anaeróbios. Sua principal indicação é no tratamento de
São infundidos por via venosa lentamente; a via intramuscular infecções estafilocóccicas multirresistentes, como também nas
é franqueada apenas ao imipenem. O uso de imipenem associa- infecções por Enterococcus e Pneumococcus resistentes às peni-
se a maior neurotoxicidade e convulsões em lactentes, devendo- cilinas. É indicada por via oral na enterocolite pseudomembra-
se optar pelo meropenem em casos de infecção do SNC. nosa causada pelo anaeróbio Clostridium difficile. No tratamento
O surgimento de bactérias produtoras de carbepenamase, de infecções por enterococos deve-se associar à gentamicina,
como em cepas de Klebsiella pneumoniae, vem requerendo maior pela ação sinérgica. Não há resistência cruzada com outros an-
cautela no uso dos antibacterianos carbapenêmicos, e cuidado tibióticos, com exceção da teicoplanina, outro glicopeptídeo. Há
redobrado no para vigilância e isolamento de novos casos. relatos de algumas amostras de Enterococcus faecalis, E. faecium,
Staphylococcus haemolyticus e S. epidermidis resistentes à van-
Aztreonam comicina e mais recentemente, relato de S.aureus resistente a
vancomicina (VRSA).
É um antibiótico monolactâmico e pertence à classe dos beta- A via de administração é intravenosa, em infusão diluída devi-
lactâmicos. Age na síntese da parede celular, ligando-se à PBP do à sua ação altamente irritante aos músculos e serosas. Deve 421
3, localizada na membrana citoplasmática das bactérias gram- ser infundida lentamente, pois pode levar a febre, calafrios e for-
negativas, possuindo ação bactericida. Seu mecanismo de ação migamento e, em casos extremos, a prurido, eritema, angioede-
não é eficaz contra gram-positivos, que são naturalmente resis- ma e raramente ao choque. Nesses casos, suspender a infusão
tentes à droga. Não induz resistência cruzada a outros betalactâ- e usar anti-histamínicos. Sua distribuição pelos tecidos e líquidos
micos pela produção de betalactamases, mas há um mecanismo orgânicos é boa, inclusive no osso, líquido sinovial e no interior
de resistência ao aztreonam induzido por modificação na mem- de abscessos. Por ser uma molécula grande, atravessa com di-
brana externa da bactéria, o que impede a penetração do antibi- ficuldade a barreira hematoencefálica, só atingindo boa concen-
ótico e sua ligação à PBP3. tração no líquor em meninges inflamadas. Sua excreção é renal,
O aztreonam é muito resistente à inativação pelas betalac- como droga ativa, e tem seus efeitos nefrotóxicos e ototóxicos
tamases . É ativo contra a maioria das enterobactérias (E. Coli, potencializados pela associação com os aminoglicosídeos.
Klebsiella, Proteus, Salmonella), mas tem menor atividade contra A Teicoplanina é um glicopeptídeo com espectro de ação idên-
P. aeruginosa do que as cefalosporinas de 3ª geração e os carba- tico ao da vancomicina, apenas mais ativa contra o C. difficile e
penêmicos. Sua principal indicação é na falência do tratamento o S. faecalis. Tem meia-vida mais longa e menos efeitos tóxicos,
de infecções por bacilos gram-negativos multirresistentes e indu- podendo inclusive ser usada via intramuscular. Não é absorvida via
tores de betalactamases, especialmente após falha com uso de oral, atinge boas concentrações nos ossos, mas não atinge concen-
cefalosporinas de 3ª geração. trações adequadas no líquor, mesmo em pacientes com meningoen-
A via de administração é apenas parenteral (intramuscular ou cefalites. É excretada pelos rins, em forma ativa, lentamente.
intravenosa), apresentando boa distribuição orgânica, inclusive
no líquor. Tem excreção predominantemente renal e não possui Sulfametoxazol + Trimetoprim
nefrotoxicidade nem ototoxicidade.
O sulfametoxaxol é uma sulfonamida de rápida absorção oral,
Ciprofloxacin (Quinolonas) mantendo níveis terapêuticos por 12 horas e de excreção renal
lenta. O Trimetoprim é um derivado pirimídico cujo poder antibac-
A primeira quinolona usada clinicamente foi o ácido nalidíxico, teriano se potencializa ao ser associado ás sulfonamidas. A clás-
ainda na década de 60. Nos anos 80, foi sintetizada a norfloxa- sica associação de sulfametoxazol e trimetoprim, chamada de
cina, primeira quinolona fluorada, que apesar de maior potência Co-trimoxazol, baseia-se numa proporção ótima de 1 parte de tri-
contra bactérias gram-positivas e gram-negativas restringia-se ao metoprim para 5 de sulfametoxazol. É ativa contra aeróbios gram-
uso em infecções urinárias e intestinais. A ciprofloxacina, atual- positivos, gram-negativos, alguns protozoários e fungos. Atinge
mente usada em neonatologia, é uma quinolona de terceira gera- altas concentrações urinárias, sendo uma medicação de escolha
ção, ativa contra enterobactérias e Pseudomonas. Também age, nas infecções urinárias comunitárias. É muito usado na profilaxia
embora em menor escala, contra os estreptococos e estafiloco- e tratamento das infecções por Pneumocystis carinii, inclusive em
cos (inclusive meticilino-resistentes) e contra os anaeróbios. Sua recém-nascidos. Os efeitos colaterais do uso de sulfonamidas são
ação é bactericida, através de inibição da enzima DNA-girase, variáveis, sendo os mais comuns náuseas, dor abdominal e vômi-
Paulo R. Margotto
Assistência ao Recém-Nascido de Risco
tos. Pode ainda ocorrer cristalização das sulfas nas vias urinárias, A princípio o uso de sulfonamidas é contra-indicado em pacien-
devendo ser usado com cautela em pacientes com uropatias obs- tes com menos de quatro semanas de vida, devido à imaturidade
trutivas. Recomenda-se também aumentar a ingesta hídrica para enzimática na sua metabolização e consequente acúmulo da dro-
facilitar sua eliminação pelos rins. Manifestações tóxicas neuroló- ga no organismo.Porém, quando houver indicação do uso desse
gicas (tremores, confusão mental, distúrbios visuais, tontura, de- quimioterápico recomendam-se doses menores e monitorização
pressão) decorrem de uso prolongado de altas doses. Há risco,em para os efeitos tóxicos no período neonatal.
0,1% dos pacientes, de alterações hematológicas como agranulo-
citose e plaquetopenia, que são reversíveis.
Ampicilina
Dose 50 - 100 mg/Kg/dose IM ou IV
Amicacina
422
Anfotericina B
Dose 0,5 a 1 mg/Kg a cada 24 h tempo de infusão de 2 a 6 horas
Usa-se modificar a dose nos casos de insuficiência renal creatinina > 0,4mg/dL
aumenta-se o intervalo de infusão para 2 a 5 dias
Concentração final de infusão de 5mg/ml Diluir em soro glicosado
Anfotericina B Lipossomal
Dose 5 mg/Kg a cada 24 h tempo de infusão de 2 horas
Concentração final de infusão de 1 a mg/ml Diluir em soro glicosado
Azitromicina
Tratamento de Infecção por Bordetella Pertussi Dose de 10mg/Kg/dose VO 1 vez por dia por 5 dias
Tratamento de Infecção por C. trachomatis conjuntive ou pneumonia Dose de 20mg/Kg/dose 1 vez os dia por 3 dias
Dose venosa sugerida : 5mg/kg/dose 1 vez ao dia
Infusão lenta em 1 hora concentração fina 1 a 2 mg/ml
Capitulo 11 Infecções Adquiridas
Aztreonam
Dose 30 mg/kg/dose em push 5 a 10 minutos IV ou IM
IG ao nascimento (em semanas) Idade pós-natal em dias Intervalo em horas
0 a 28 12
≤ 29
> 28 8
0 -14 12
30 a 36
> 14 8
37 a 44 0a7 12
>7 8
≥ 45 Todas 6
Concentração maxima para ifusão venosa 100mg/ml
Caspofungin
Dose 1 a 2mg/Kg por dose a cada 24 h lento em 1 hora
Concentração máxima par infusão 0,2 mg/ml
Não deve ser diluido em soluções com dextrose
Cefazolina
Dose 25mg/kg EV em push ou IM
IG ao nascimento (em semanas) Idade pós-natal em dias Intervalo em horas
0 a 28 12
≤ 29
> 28 8
0 -14 12
30 a 36
> 14 8
37 a 44 0a7 12
>7 8
≥ 45 Todas 6
Concentração máxima para infusão 20mg/ml
423
Cefepime
RNT ou RNPT com > 14 dias 50mg/Kg por dose a cada 12 h
Dose
RNT ou RNPT ≤ 14 dias 30mg/kg por dose a cada 12 h
Em casos de meningite ou sepse por Pseudomonas aeruginosa ou Enterobacter usa-se a cada 8 horas
Concentração máxima para infusão 160mg/ml
Cefotaxime
Dose 50 mg/kg por dose em push venoso ou IM
IG ao nascimento (em semanas) Idade pós-natal em dias Intervalo em horas
0 a 28 12
≤ 29
> 28 8
0 -14 12
30 a 36
> 14 8
37 a 44 0a7 12
>7 8
≥ 45 Todas 6
Obs.: Nos casos de infecção gonocócica Usa-se a dose de 25 mg/kg IV em push venoso 30 min ou IM
Nos casos de profilaxia de infecção oftálmica gonocócica em mães com gonorréia durante o parto recomenda-se
100mg/kg IV ou IM em dose única (nestes casos o tratamento tópico isolado é edificas e não deve ser usado
Concentração máxima para infusão 50mg/ml
Cefoxitina
Paulo R. Margotto
Assistência ao Recém-Nascido de Risco
Cefotazidima
Dose 30mg/kg por dose em push venoso 30 min ou IM
IG ao nascimento (em semanas) Idade pós-natal em dias Intervalo em horas
0 a 28 12
≤ 29
> 28 8
0 -14 12
30 a 36
> 14 8
37 a 44 0a7 12
>7 8
≥ 45 Todas 6
Concentração máxima para infusão 50mg/ml
Ceftriaxone
Sepse ou Infecção por gonococo 50 mg/kg a cada 24 h
Meningite 100mg/kg a cada 24 h
Infecção gonocócica oftálmica 50mg/kg máximo de 125 mg em dose única
(nestes casos o tratamento tópico isolado é infecaz e não deve ser usado)
424 Não deve ser utilizado em RN com hiperbilirrubinemia assim como infusões com cálcio até 48 h após
Cloranfenicol
Dose Ataque de 20mg/kg IV em push de 30 minutos
RNPT < 1 mês 2,5 mg/kg por dose a cada 6 h
RNT < 1 semana e prematuros com mais
5 mg/kg a cada 6 horas
de 1 mês
RNT com mais de 1 semana 12,5 mg/kg por dose a cada 6 h
Obs: a absorção oral do cloranfenicol é errática em rn
Concentração máxima para infusão 100mg/ml
Clindamicina
Dose 5 a 7,5 mg/kg por dose IV em push de 30 minutos
IG ao nascimento (em semanas) Idade pós-natal em dias Intervalo em horas
0 a 28 12
≤ 29
> 28 8
0 -14 12
30 a 36
> 14 8
37 a 44 0a7 12
>7 8
≥ 45 Todas 6
Concentração máxima para infusão 18mg/ml
Fluconazol
Capitulo 11 Infecções Adquiridas
Ganciclovir
Dose 6mg/Kg por dose a cada 12 h IV correr em 1 hora
Supressão crônica oral 30 a 40 mg/kg por dose a cada 8 horas VO
Gentamicina
IG ao nascimento (em semanas) Idade pós-natal em dias Dose Intervalo em horas
0a7 5 48
≤ 29* 0 a 28 4 36
≥ 29 4 24
0a7 4,5 36
30 a 34
≥8 4 24
≥ 35 Todas 4 24
* Usar está dose para RN com asfixia importante, PCA ou em uso de indometacina
Concentração máxima para infusão 10mg/ml 425
Imipenem/Cilastatina
Dose 20 a 25 mg/kg por dose IV correr em 30 min
Linezolida
10mg/kg por dose a cada 8 horas IV em 120 minutos
Dose
RNPT com < de 1 semana 10mg/Kg por dose a cada 12 horas
Meropenem
Dose Sepse : 20mg/kg por dose a cada 12 h IV em 30 minutos
40mg/kg a cada 8 horas correr em 30 minutos
Meningite ou infecção por Pseudomonas
Metronidazol
Dose de ataque 15mg/kg VO ou IV correr em 1 hora
Manutenção 7,5 mg/kg por dose VO ou IV correr em 1 Hora
IG ao nascimento (em semanas) Idade pós-natal em dias Intervalo em horas
0 a 28 48
≤ 29
> 28 24
0 a 14 24
30 a 36
> 14 12
37 a 44 0a7 24
>7 12
≥ 45 Todas 8
Concentração máxima para infusão 15mg/ml
Oxacilina
Paulo R. Margotto
Assistência ao Recém-Nascido de Risco
Penicilina G
Dose para meningite 75000 a 100000 unidades por Kg por dose IV correr em 30 minutos ou IM
Bacteremia 25000 A 50000 unidades por dose IV correr em 15 minutos
IG ao nascimento (em semanas) Idade pós-natal em dias Intervalo em horas
0 a 28 12
≤ 29
> 28 8
0 a 14 12
30 a 36
> 14 8
37 a 44 0a7 12
>7 8
≥ 45 Todas 6
426 Piperacilina
Dose 50 a 100 mg/Kg por dose IV correr em 30 minutos
IG ao nascimento (em semanas) Idade pó- natal em dias Intervalo em horas
0 a 28 12
≤ 29
> 28 8
0 a 14 12
30 a 36
> 14 8
37 a 44 0a7 12
>7 8
≥ 45 Todas 6
Concentração máxima para infusão 200 mg/ml
Piperacilina e Tazobactam
Dose 50 a 100 mg/Kg por dose correr EV em 30 minutos
IG ao nascimento (em semanas) Idade pós-natal em dias Intervalo em horas
0 a 28 12
≤ 29
> 28 8
0 a 14 12
30 a 36
> 14 8
37 a 44 0a7 12
>7 8
≥ 45 Todas 6
Concentração máxima para infusão 20 mg/ml
Quinopristina/Dalfopristina
Dose 7,5 mg/kg por dose a cada 12 h correr EV em 1 hora
O uso de acesso central para infusão é recomendado
Rinfampicina
Dose IV : 5 a 10 mg/kg por dose a cada 12 horas correr em 30 minutos
vo: 10 A 20 mg/kg a cada 24 h pode ser administrada durante a dieta
Capitulo 11 Infecções Adquiridas
Tobramicina
Pode se feito venoso correndo em 30 minutos
IG ao nascimento (em semanas) Idade pós-natal em dias Dose
0a7 5
≤ 29* 0 a 28 4
≥ 29 4
0a7 4,5
30 a 34
≥8 4
≥ 35 Todas 4
* Usar está dose para RN com asfixia importante, PCA ou em uso de indometacina
Concentração máxima para infusão 10mg/ml
Vancomicina
Dose para meningite 15 mg/kg/dose correr em 60 minutos 427
Dose para bacteremia 10 mg/kg/dose
IG ao nascimento (em semanas) Idade pós-natal em dias Intervalo em horas
0 a 14 18
≤ 29
> 14 12
0 a 14 12
30 a 36
> 14 8
37 a 44 0a7 12
>7 8
≥ 45 Todas 6
Concentração máxima para infusão 50 mg/ml
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Tratamento De Suporte sinfecção considerado adequado. As mãos não devem ser conta-
minadas com secreção e sangue. As unhas das mãos devem ser
( consulte os capítulos específicos) bem curtas. Não usar nenhuma jóia e unhas artificiais (associam-
se a infecções fúngicas). Portanto, unhas curtas, sem unha artifi-
• Correção de distúrbios metabólicos e ácido-básicos cial e fazer uma desinfecção correta com álcool.
• vigorosa atenção para o controle da pressão arterial Segundo Richtmann, evitar o uso abusivo de antibióticos (o
(para manter boa perfusão cerebral e evitar lesão secun- melhor antibiótico é a prevenção: melhor é não usar o antibi-
dária) nos casos com meningite ótico. As bactérias levam vantagens pela rapidez e agilidade no
• manejo equilibrado de líquidos para minimizar o edema desenvolvimento da resistência:
cerebral e a resposta inapropriado do hormônio antidiu- É obrigatória a Lavagem das Mãos ao ENTRAR na Unidade,
rético nos casos de meningite ANTES e APÓS cada procedimento (”Mãos sujas são mãos as-
• Suporte calórico adequado sassinas!”). As mãos dos cuidadores tem sido responsáveis por
• Alimentação precoce ( tão logo as condições clínicas per- surtos de Serratia marcescens.
mitam) Enquanto na Unidade de Neonatologia, retire anéis, pulseiras,
• Assistência ventilatória relógios e outros
• Imunoglobulina intravenosa: não há evidências para o Atenção estrita aos protocolos de uso de cateteres venoso e
seu uso tanto como profilático, como na sepse suspeita arterial . A utilização de cateter percutâneo venoso central (PICC)
e comprovada para os RN de muito baixo peso, além de permitir o seu uso pro-
• Hemoderivados quando necessário: longado de 80 dias ou mais, o índice de infecção é inferior a 10%
• Plasma fresco 10 ml/ kg (consulte o capítulo de Acesso Vascular).
• Sangue fresco 20/ml/kg
• Vitamina K1(Kanakion) na coagulopatia de consumo.
Medidas De Prevenção
429
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Capitulo 11 Infecções Adquiridas
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Capitulo 11 Infecções Adquiridas
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As infecções fúngicas têm sido cada vez mais descritas, princi- • Derivações ventriculoperitoneais
palmente nos recém-nascidos (RN) de muito baixo peso internados • Jejum prolongado
no Setor de Terapia Intensiva. Estima-se que ocorra em 1,2% dos
RN que ficam internados na UTI por mais de 3 dias( RN <1500g: As manifestações clínicas na forma sistêmicas são inespecífi-
4-15%) e a taxa de mortalidade seja de 30-75%. A nível mundial, cas, semelhantes às da sepse bacteriana a piora clínica é insidio-
10% dos recém-nascidos com peso ao nascer < 1000g apresen- sa, podendo-se observar:
tam infecção fúngica. Nos RN <750g, acima de 20% apresentam
infecção fúngica invasiva.Elas podem estar presentes ao nasci- • Instabilidade térmica, devendo ficar atento a hipertermia
mento ou serem adquiridas mais tardiamente. em pré-termo de risco (febre em pré-termo> 38ºC ocorre
A Candida albicans é o fungo mais frequentemente isolado (75% em 42,8% X 1% Infecção bacteriana)
das infecções fúngicas neonatais). Espécies não-albicans podem • Hiperglicemia/glicosúria
estar envolvidas, porém, com menos freqüência: Candida tropicalis • Apnéia
(10%), Candida parapsilosis (6%), sendo que alguns estudos apon- • Hipotensão
tam a Candida parapsilosis como um agente importante de infecção • Bradicardia ou taquicardia
em pré-termos de muito baixo peso (25%). A Malassezia furfur está • Insuficiência respiratória
associada à infusão de nutrição parenteral contendo lipídios atra- • Resíduo Gástrico
vés de cateter central e tende a ser epidêmica. Outros fungos não • Distensão abdominal
pertencentes ao gênero Candida são muitos raros. • Hipoatividade
• Líquor: realizar punção lombar mesmo que a terapia an- Com esta abordagem, verificou-se diminuição da mortalida-
tifúngica iniciada seja empírica. Alterações cito/bioquími- de e melhor neurodesenvolvimento.
cas são variáveis (33% com alterações). O líquor pode ser Quanto aos antifúngicos
normal por volta de 50% dos RN com meningoencefalite
por Candida. Podemos encontrar meningite (pleiocito- • Anfotericina B
se, hipoglicorraquia), ventriculite e abscessos cerebrais. A Anfotericina B deoxicolato: é um polieno que age diretamente
Contra-indicado se Plaquetas ≤ 50.000/mm3 no ergosterol da membrana citoplasmática do fungo, aumentando
a permeabilidade e causando lise e morte celular. Tem ação fungi-
A positividade de todas essas culturas é relativamente baixa, a cida ou fungostática a depender da concentração sérica e padrão
probabilidade de detectar o microorganismo em 1 ml de sangue de sensibilidade do fungo. É o fármaco de escolha no tratamento
pode ser de 65% ou menos e os resultados demoram (acima de da sepse fúngica, tem amplo espectro de atividade e, embora seja
36 horas), não se devendo esperar exames para que o tratamen- tóxico, é melhor tolerado pelo RN que pelo adulto. Apresenta baixa
to seja iniciado, principalmente quando há forte suspeita clínica. penetração no líquor, vítreo e líquido amniótico. Há evidências de
Hemograma que apresenta, com maior freqüência, plaqueto- que concentrações de 40-90% das concentrações plasmáticas se-
penia e leucocitose e aumento das formas jovens (59,1% com jam alcançadas no líquor nos RN de muito baixo peso.
alterações). A administração é endovenosa na dose inicial de 0,5mg/ kg/dia,
Raios-X de tórax e de ossos conforme a manifestação clínica doses subseqüentes de 1,0mg/kg/dia (tempo de infusão de 2 a 6
Pesquisa de possíveis focos profundos, que podem ocorrer na horas). Sempre diluir em solução glicosada na concentração de
candidíase invasiva, através de: 0,1mg/ml. Não há necessidade de proteção da luz fluorescente.
Novas formulações de anfotericina B foram desenvolvidas com
• Ultrassom: renal, hepático, cardíaco e do sistema nervo- o objetivo de diminuir a nefrotoxicidade, enquanto se mantém a
so central (detecção de abscesso cerebral) melhor eficácia. A primeira destas formulações lipídicas é a anfo-
• Tomografia computadorizada: pode ser útil para o diag- tericina B em dispersão coloidal (ABCD, Amphotec®). A segunda
nóstico de massas fúngicas em tecidos mais profundos. formulação é a anfotericina lipossomal B (L-AMB, Ambisome®). A
• Fundo de olho. terceira formulação é o complexo lipídico de anfotericna B (ABLC,
Abelcet®). As preparações lipossomais têm grandes vantagens:
A disseminação de Candidas pode acometer mais de dois lo- a bicamada lipídica pode proteger as drogas de serem destruídas
cais, gerando preferencialmente endoftalmites e bolas fúngicas por degradação enzimática, pode-se aumentar em 10 vezes a
renais e/ou implantes peritoneais. dose diária, permitindo alta concentração tecidual com diminui-
ção dos efeitos relacionados à infusão e diminuição da toxicidade
Tratamento renal. As formulações lipídicas têm como desvantagem o elevado
custo em comparação com a anfotericina B original.
É mandatória a retirada do catéter central que o RN estiver A atividade antifúngica destes preparados lipídicos da anfoteri- 435
usando no momento do diagnóstico da infecção, pois sua manu- cina B é comparável àquela da anfotericina B original. O uso dos
tenção está associada à candidemia persistente, altas taxas de preparados lipídicos de anfotericina deve ser reservado para os
falha terapêutica, além do risco de complicações metastáticas pacientes refratários ao tratamento com anfotericina B original
e morte (36% mais chances de êxito letal comparado com 0% (conforme U.S. Food and Drug Administration - FDA), nos pacien-
quando houve a retirada do cateter). tes com insuficiência renal prévia e naqueles que apresentam
alterações renais (aumento da creatinina) durante o tratamento
Tratamento Empírico Precoce com a anfotericina convencional. Outra situação seria associação
de drogas nefrotóxicas, como os aminoglicosídeos que apresen-
O tratamento empírico precoce muitas vezes se impõe uma tam sinergismo na ação tóxica. Todas as três formulações são
vez que o resultado definitivo da hemocultura é demorado e a geralmente menos nefrotóxicas que a Anfotericina B, porém, ain-
instituição precoce da terapêutica específica pode modificar o da causam aumento dos níveis séricos de creatinina e distúrbios
prognóstico nas populações de alto risco para candidemia sistê- eletrolíticos, devendo se manter a monitorização laboratorial nos
mica, portanto, o benefício (redução da mortalidade) é maior do pacientes que recebem qualquer forma desta droga.
que o risco (complicações da anfotericina B). Quando há suspeita As doses dos preparados lipídicos da anfotericina variam de
de sepse neonatal tardia, o tratamento antifúngico empírico está 1 a 5mg/kg/dia 1 vez ao dia por 4 a 6 horas. Dose cumulativa:
indicado nos seguintes casos, conforme estudo de Benjamin e cl 20-30mg/kg/dia
e Procianoy e cl:
Nome genérico Nome comercial
1. Peso ao nascer menor que 1500g ou RN muito doente Anfotericina B Fungizone®
2. Sinais clínicos de infecção e/ou neutropenia e trombo-
Anfotericina B liposomal Ambisome®
citopenia
Anfotericina B dispersão Amphotec®
3. Uso de antibióticos de amplo espectro (vancomicina, car-
bapenêmicos e/ ou cefalosporina de terceira geração) por Coloidal (ABCD) Amphocil®
7dias ou mais em associação com um dos seguintes fatores: Anfotericin B complexo Abelcet®
Lipídico (ABLC)
• nutrição parenteral
• ventilação mecânica Toxicidade: como interage também com o colesterol da mem-
• uso de corticosteróide pós-natal, brana celular dos mamíferos, causa efeitos adversos em 80%
• uso de bloqueadores H2 dos pacientes, principalmente a nefrotoxicidade, em geral rever-
• candidíase mucocutânea. sível no neonato. A alteração da função glomerular manifesta-se
com oligúria e aumento da uréia e creatinina. A lesão tubular com
Iniciar com Anfotericina B na dose de 1 mg/Kg/dia após a hipocalemia (perda urinária de potássio conseqüente à injúria
coleta de hemocultura e líquor. no epitélio tubular) pode ser profunda exigindo uma reposição
Paulo R. Margotto
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agressiva de potássio; pode ocorrer também perda de sódio, e fungicida aos fungos filamentosos. É metabolizado pelo fígado
magnésio e acidose tubular renal. através do complexo enzimático P450.
Os efeitos colaterais também incluem: hepatotoxicidade, mie- Estudos clínicos têm mostrado que o voriconazol é o único an-
lotoxicidade (anemia e plaquetopenia) e menos frequentemente, tifúngico efetivo no tratamento de infecções invasivas por Asper-
a cardiotoxicidade relacionada principalmente a doses excessi- gillus resistente a Anfotericina B. Além do espectro de ação am-
vamente elevadas. Febre, náuseas, vômitos, cefaléia, calafrios e pliado, tem como vantagem a possibilidade de uso por via oral, a
flebite no sítio de infusão. Convulsões e arritmia podem ocorrer ausência de efeitos colaterais renais e no número de plaquetas e
se a droga for administrada rapidamente ou se a concentração o menor custo em relação à Anfotericina B lipossomal.
exceder 0,1mg/ml da diluição. Dose: (Kohli 2008 e cl) 4 a 6mg/kg/dose de 12/12 horas por 2
Controles: Antes de iniciar terapêutica realizar: hemograma, EAS, a 3 semanas. Faltam estudos farmacocinéticos em RN. Esta dose
função hepática, K+, Mg++, Cl– e creatinina. Monitorar eletrólitos é maior do que a usada em adultos, devido ao clearance mais rápi-
(principalmente K+) e função renal 2 a 3 vezes por semana inicial- do da droga (os pacientes pediátricos tem maior capacidade para
mente, e, depois, semanalmente. Enzimas hepáticas 15/15 dias. a eliminação do voriconazol por quilograma de peso do que adul-
Duração do tratamento: A dose acumulativa recomendada é tos voluntários) e ao volume de distribuição diferente.
30mg/kg. Na infecção fúngica com cultura positiva, realizar he- Efeitos Colaterais: Distúrbios visuais, rash cutâneo, reações
mocultura cada 2 dias até negativarem. Manter o tratamento até de fotossensibilidade, elevação das transaminases (2 a 3 vezes),
14 dias após a última cultura negativa. O ecocardiograma deve alucinações, náuseas, vômitos.
mostrar o desaparecimento da vegetação.A resistência a anfote-
ricina deve ser considerada se depois de 10-14 dias a hemocultu- • Equinocandinas
ra para fungo continua positiva. Quando a anfotericina é iniciada Lipopeptideo semi-sintético derivado do fungo Glarea lozoyen-
de forma empírica (pelos fatores de risco) e a hemocultura se sis que inibe a síntese do 1,3-β- D-glucano que é um componente
mostra negativa, tratar por 14 dias. da parede celular de muitos fungos filamentosos e de leveduras.
Resistência à Anfotericina: se após 14 dias a hemocultura São drogas que agem, diferentemente de outros antifúngicos,
continua positiva, associar Fluconazol. Considerar o uso dos no- na parede celular e não na membrana celular do fungo. Assim,
vos antifúngicos nestes casos (Caspofungina e Voriconazol) não ocorrem os efeitos na membrana celular do hospedeiro, tor-
nando a tolerância melhor. In vitro e in vivo, as Equinocandinas
• Azoles são rapidamente fungicidas contra muitas Candidas spp (todas
Estes compostos exercem seu efeito inibindo o citocromo P450 as espécies de Candida respondem, inclusive as resistentes ao
fúngico com conseqüente redução do ergosterol (estrutura lipí- fluconazol) e fungistática contra Aspergillus spp.
dica que confere estabilidade à membrana), comprometendo a Todas as equinocandinas apresentam alta taxa de ligação às pro-
integridade da membrana celular fúngica. teínas (>95%) e se distribuem em todos os grandes órgãos, incluin-
Fluconazol: antifúngico de ação fungostática. Pode ser admi- do o cérebro, a concentração no LCR não infectado, porém, é baixa.
436 nistrado via oral ou endovenosa. Os Guidelines para o Manuseio da Candidíase em 2009 publi-
Dose: 12mg/kg/dia (ataque) e 6mg/kg/dose em infusão por 30 cados pela Sociedade Americana de Doenças Infecciosas, reco-
minutos 1 vez ao dia (RN ≤ 29 semanas até 14 dias, o intervalo é mendam as equinocandinas para o tratamento de candidíase em
de 72 horas e acima de 14 dias, de 48 horas) para o tratamento da recém-nascidos em situações em que a toxicidade ou resistência
infecção sistêmica. Recomenda-se manter o tratamento até que impedem o uso de anfotericina B ou fluconazol.
as culturas mantenham-se negativas por 1 semana e até constatar
evidência clínica e laboratorial de resolução da infecção. • Caspofungina (CancidasR)
Comparado à Anfotericina B, o Fluconazol tem como vantagens Frasco ampola de 70 e 50mg [77,7 e 55mg de acetato de
a menor toxicidade, a possibilidade de administração por via oral caspofungina];diluir em soro fisiológico a (10 ml: cada ml passa
e o fato de atingir bom nível em vários tecidos e fluidos (inclusive a ter 7mg e 5mg, respectivamente de caspofungina sódica), po-
sistema nervoso central e globo ocular). dendo ser armazenado até 1 hora na temperatura >25oC; infun-
Espectro de Ação: Um fator limitante ao uso do fluconazol é o dir em 1 hora. Não diluir em soro glicosado.
espectro antifúngico mais restrito, havendo espécies de Candida Espectro de Ação: Indicada no tratamento de aspergilose in-
não-albicans resistentes como a Candida glabrata (30-40%) e vasiva e candidemia, é a droga de escolha no tratamento empíri-
Candida Krusei que possui resistência intrínseca ao fluconazol. Há co em pacientes neutropênicos febris. A sua ação é discutida na
relato de resistência também às espécies tropicalis (5%) e guiller- Candida parapsilosis e o Criptococos neoformans possui resis-
mindi. Para a espécie lusitaniae, o fluconazol é a droga de escolha tência intrínseca à caspofungina.
devido à resistência intrínseca deste fungo à Anfotericina B. Resultados de estudos de caspofungina na candidíase invasiva
Controles: O seu metabolismo é renal, devendo-se adequar a e na candidemia sugerem equivalente eficácia a anfotericina B,
dose em paciente com insuficiência renal. Recomenda-se moni- mas com efeitos tóxicos substancialmente menores. Não é re-
torizar durante o tratamento: funções hepática (em torno de 5% lacionada à resistência cruzada, mas como desvantagem tem
dos RN de muito baixo peso podem apresentar leve e transitório custo bastante elevado.
aumento das enzimas hepáticas, além de hiperbilirrubinemia di- A caspofungina é disponível apenas por via endovenosa, é meta-
reta) renal e hemograma. bolizada pelo fígado e excretada lentamente pela urina e fezes. Na
presença de insuficiência renal não é necessário ajustar a dose.
• Voriconazol (V Fend®) Dose: 25 mg/m2 (aproximadamente 2mg/kg/dose a cada 24
Dose:comprimidos de 50 e 200mg; frasco-ampola de 200mg. horas endovenoso
Derivado sintético do fluconazol,é um agente triazólico antifún-
gico de segunda geração, a adição de um grupo α-metil confere SC (m2) = (Peso x 4) + 7 / Peso + 90
maior potência e atividade antifúngica.
Espectro de Ação: É ativo contra fungos filamentosos como Ex: 2kg: 2 x 4 + 7/2 + 90 = 0,16m2.
Aspergillus sp, Candida com resistência intrínseca ao fluconazol Dose: 0,16x25= 4mg (equivale a 2mg/kg)
e Cryptococcus neoformans. Ele tem até 60 vezes a concentra-
ção inibitória mínima para Candida. É fungistático para leveduras
Capitulo 11 Infecções Adquiridas
Efeitos colaterais: Febre, náuseas, vômitos, rubefação e + : 85% (ou mais) suscetibilidade
complicações associadas à administração EV, flebites/ trom- - : 50% (ou menos) suscetibilidade
boflebites. Há relato na literatura de ocorrência de hipocalemia +/- : Suscetibilidade mista (50%-90%)
importante (1,7mEq%) e hipercalcemia, hipermagnesemia e hi- *Suscetibilidade controversa in vivo e in vitro
perfosfatemia (16,8mg%, 3,6mg% e 9,3mg%, respectivamente, O Guideline, publicado pela Infections Disease Society of Amé-
retornando ao normal após a suspensão da caspofungina por 72 rica (IDSA), 2004 traz as seguintes recomendações para recém-
horas; neste espaço de tempo foi usado o voriconazol). nascidos, quanto à duração do tratamento:
Paulo R. Margotto
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Capitulo 11 Infecções Adquiridas
O equilíbrio hemodinâmico do recém-nascido, particularmente 70 % correlacionou-se com maior sobrevivência. Mesmo quando
o do prematuro, é complexo e envolve a interação de uma série os valores no início da intervenção situam-se dentro da faixa de
de fatores: normalidade, é comum observar-se aumento da saturação após
o início de inotrópicos. Esse dado pode ser interpretado de duas
• Miocárdio imaturo ou doente formas: aumento do shunt esquerda-direita através do forame
• Volume Intravascular oval ou adequação do fluxo sanguíneo e do aporte de oxigênio
• Alteração sistêmica da pós-carga como resultado do tratamento com vasopressores.
• Alteração da pós-carga pulmonar
• Shunts da circulação sistêmica Hipotensão Permissiva
• Perda do tônus vascular
• Interações respiratórias e ventilatórias Keith Barrington é um defensor do conceito de “hipotensão
permissiva”. Para o Dr. Barrington, muitos prematuros que estão
Existem vários cenários diferentes caracterizados pela instabi- hipotensos apresentam fluxo sistêmico normal, estão bem perfun-
lidade hemodinâmica no recém-nascido. Cada um deles deve ser didos por parâmetros clínicos e podem ter boa evolução sem inter-
abordado de acordo com suas particularidades. São eles: venção. Na sua UTI (Royal Victoria Hospital, Montreal), só ocorrem
intervenções para hipotensão quando os recém-nascidos apresen-
• A instabilidade do prematuro com muito baixo peso, que tam sinais clínicos de má perfusão. Isso resulta em uma frequên-
caracteristicamente ocorre nas primeiras 24 horas de vida cia de intervenção em apenas 16% dos RN com baixo peso.
• O prematuro com muito baixo peso com persistência do Por outro lado, o grupo australiano de Nick Evans e Kluckow
canal arterial (PCA) com repercussões hemodinâmicas observou uma correlação muito baixa entre os parâmetros clíni-
• O recém-nascido hipotenso prematuro ou a termo com cos e a presença de baixo fluxo sistêmico. Esse grupo defende
depressão perinatal que o diagnóstico não pode ser feito por parâmetros clínicos, que
• O prematuro hipotenso com insuficiência adrenal relativa alteram-se apenas tardiamente.
e resistência a vasopressores/inotrópicos Batton e cl estudaram retrospectivamente uma coorte de 182 pre-
• Qualquer recém-nascido hipotenso com síndrome da respos- maturos entre 23 e 25 semanas de idade gestacional, internados du-
ta inflamatória sistêmica secundária a sepse (choque sépti- rante um período de 6 anos (1999 a 2004). Observaram que foram
co) ou outra causa de injúria com enterocolite necrosante. tratados 81 neonatos (44,5%, 81/182), dos quais 11 não atendiam 439
os critérios de hipotensão (PAM < 25 mmHg), 31 neonatos hipotensos
Pressão Arterial não foram tratados (17%, 31/182) e 67 tinham PA normal (36,8%,
67/182). De uma forma geral, nesta UTI (Cleveland, OH), 7 em cada
Geralmente se admite que o limite inferior da pressão arterial 10 prematuros com hipotensão recebem tratamento.
média para recém-nascidos prematuros no primeiro dia de vida
seja igual a sua idade gestacional. No entanto, após o terceiro Ecocardiografia na Avaliação
dia de vida, mais de 90% dos prematuros têm uma pressão ar- Hemodinâmica do Recém-Nascido
terial média ≥ 30 mmHg. Para o recém-nascido a termo, > 90%
têm uma pressão arterial média ≥ 43- 45 mmHg imediatamente O ecocardiograma pode ser útil na avaliação da função cardía-
após o nascimento e a pressão arterial média aumenta para > 50 ca, estimativa do débito cardíaco e da volemia do recém-nascido.
mmHg no terceiro dia de vida. Podemos estimar a função cardíaca através da contratilidade
O padrão ouro para medida da pressão arterial é a medida ventricular, que é medida pela fração de encurtamento (Deta D) ou
invasiva. O método mais utilizado na prática clínica é a aferição pela fração de ejeção (FE). Ambas medidas são obtidas na janela
não-invasiva por métodos oscilométricos, que tem limitações parti- paraesternal eixo curto através do modo M, sendo o valor normal
cularmente em prematuros hipotensos. Ribeiro e cl estudaram os da fração de encurtamento > 30% e da FE > 58%. Em um estudo e
métodos de flush e oximetria de pulso como alternativa não-invasi- Gill e Weindling em 1993 foi demonstrado que em recém-nascidos
va válida para verificação da pressão arterial em recém-nascidos. pré-termos hipotensos, com peso próximo a 1000g, a fração de en-
curtamento foi significativamente menor que em recém nascidos
Pressão Venosa Central com o mesmo peso, que não apresentavam hipotensão.
O débito ventricular esquerdo, na circulação transicional, onde
A PVC é uma medida indireta do volume sanguíneo aceita em UTI existe um shunt da esquerda para a direita significativo, superes-
que lidam com adultos e crianças maiores. A medida da PVC tem tima o fluxo sanguíneo sistêmico. Portanto, a melhor estimativa
enfrentado recentemente o ceticismo da comunidade médica com do fluxo sistêmico pelo ecocardiograma é através da medida da
respeito a sua utilidade como preditor do volume intravascular do velocidade de fluxo da valva pulmonar (MPA) pelo Doppler pulsa-
paciente. O valor médio da pressão venosa central para prematuros do, estando normal > 0,45m/seg. Na circulação normal, o fluxo
em torno de 27 semanas é de 5 mmHg (4,4 -6,1, IQR). Diferenças na pulmonar reflete o fluxo sanguíneo sistêmico, porém na circula-
resistência vascular pulmonar podem influenciar a PVC. A PVC pode ção transicional, particularmente em recém nascidos pré-termos
ser medida através de uma linha umbilical venosa. extremos, o shunt através do PCA e do forame oval podem causar
aumento do fluxo da valva pulmonar e superestimar o fluxo san-
Monitorização da Saturação Venosa Central guíneo sistêmico no primeiro dia de vida. Por isso foi desenvolvi-
da a medida do fluxo da veia cava superior (VCS) como estimativa
Estudos em adultos e crianças maiores determinaram que a parcial do fluxo sistêmico (seguimento corpóreo superior e cére-
manutenção da saturação venosa central de oxigênio acima de bro), pois este fluxo não é alterado pelos shunts intracardíacos. O
Paulo R. Margotto
Assistência ao Recém-Nascido de Risco
fluxo da VCS pode ser calculado através da medida da velocidade Fluxograma para Avaliação da Instabilidade Precoce do Prematuro
na VCS usando-se o Doppler pulsado através do corte subcostal
Monitorização nas primeiras 48 horas de vida
e do diâmetro pela janela paraesternal. O fluxo normal em RN
pré-termo é entre 50 a 110 ml/Kg/min. Em estudos prospecti-
Pressão Arterial Média Fluxo sanguíneo
vos realizados pelo grupo de Nick Evans, observou-se que ocorre (Velocidade na AP ou Fluxo na VCS)
baixo fluxo na veia cava superior (VCS) em 35% dos bebês nas-
Velocidade na AP < 0,35 m/s
cidos antes de 30 semanas. O nadir ocorre previsivelmente nas Quando considerar
Hipotensão Permissiva?
PAM < Idade
primeiras 12 horas de vida e é seguido por recuperação do fluxo NaCL 0,9% 10 mL/kg
NaCL 0,9% 10 mL/kg em 20 minutos
em 20 minutos
a valores normais entre 24 e 48 horas. O baixo fluxo na VCS está Avaliar clinicamente a
perfusão periférica (normal?) Velocidade na AP < 0,35 m/s
associado com desfechos adversos como hemorragia intraven- Considerar a presença
de fatores de risco (ver tabela)
PAM < Idade
Dobutamina 10 mcg/kg/min
tricular e alteração do desenvolvimento neuropsicomotor. Existe Dobutamina 10 mcg/kg/min
pouca correlação entre o fluxo na VCS e a pressão arterial média, ou
sendo que muitos bebês com baixa PA têm fluxo na VCS normal e PAM < Idade
alguns bebês com PAM normal têm baixo fluxo na VCS.
Hidrocortisona 1-2 mg/kg/dose
Resumindo: o screening do baixo fluxo sistêmico pode ser feito cada 8-12 horas,
pela determinação da velocidade na valva pulmonar (PA Vmax). entre 2 a 8 doses no total
Há 3 faixas: < 0,35 m/s, 0,35 – 0,45 m/s, e > 0,45 m/s. Se a PA
Vmax é < 0,35, a maioria dos bebês têm baixo fluxo sanguíneo Pontos chaves
sistêmico e se a velocidade é maior que 0,45, o fluxo sanguíneo • Evitar administrar mais que 2 ou 3 expansões nas primei-
sistêmico é normal. Assim, a necessidade de determinação do ras 48 horas de vida (total até 30 mL/kg)
fluxo em VCS ou do cálculo completo do débito ventricular direito • -Em caso de hipotensão ou baixo fluxo refratário ao uso
ficaria para os casos situados na faixa intermediária. da primeira droga, tentar associar a droga subsequente
Podemos ainda estimar a volemia do recém nascido através do ou aumentar as doses utilizadas, mas lembrar que um
enchimento ventricular, que pode ser medido pelo volume dias- estudo demonstrou tendência à deterioração da contrati-
tólico final do VE (VDFVE). Este volume é habitualmente medido lidade cardíaca tanto com dopamina quanto com dobuta-
na janela paraesternal eixo longo através do modo M. O VDFVE mina em altas doses (20 mcg/kg/min)
normal aumenta de 12mm entre 26 a 28 semanas de nascimen- • A dobutamina é melhor para aumentar o fluxo sanguíneo
to para 17mm no RN a termo. Este, porém não é um método e a dopamina para aumentar a pressão arterial
confiável na estimativa da volemia, já que existem outros fatores
que afetam o enchimento ventricular. Além disso, o volume ven-
tricular só estará diminuído em casos de hipovolemia grave. Choque Séptico Ou Hipotensão Associada À Sín-
drome Da Resposta Inflamatória Sistêmica (SIRS)
440 O Prematuro com Instabilidade no
Período Pós-Natal Imediato Nos recém-nascidos com choque séptico, o principal fator pa-
togenético do comprometimento circulatório é a redução da resis-
A instabilidade circulatória do recém-nascido prematuro ca- tência vascular periférica e a hipovolemia relativa e absoluta. A in-
racteristicamente ocorre nas primeiras 24 horas de vida. Pelo tervenção clínica inicial mais aceita é a ressuscitação com volume
menos três estudos associaram a baixa pressão arterial média precoce. Além disso, recomenda-se também o uso precoce e a es-
neste período com anormalidades no ultrassom cerebral. calada, se necessário, de vasopressores. Inicia-se com dopamina
e, se forem necessárias doses acima de 15 mcg/kg/min, a admi-
Variáveis associadas com instabilidade nistração de epinefrina está indicada. Se a ecocardiografia mostra
hemodinâmica refratária ao tratamento função cardíaca ruim, pode estar indicado o uso de dobutamina e,
Pior atendimento pré-natal se a função diastólica é deficiente, deve-se considerar milrinona.
(isto é, ausência de corticóide pré-natal) Hidrocortisona em baixas doses pode ser administrada no cho-
que resistente a vasopressores. Alternativamente, pode-se dosar o
Ressuscitação difícil ao nascimento / Baixos escores de Apgar
nível sérico do cortisol e considerar arbitrariamente insuficiência
Menor peso ao nascer
adrenal relativa se o cortisol for menor que 5 mg/dL em um ne-
Baixo escore CRIB II ou SNAPPE II onato em uso de dopamina e/ou epinefrina. Estudos clínicos de-
Canal aberto monstraram de forma consistente que a hidrocortisona aumenta a
Grau de prematuridade pressão arterial e reduz a necessidade de inotrópicos. Ainda não
Maior pressão média de vias aéreas está claro se a administração de hidrocortisona pode estar asso-
ciada a alterações do desenvolvimento neuromotor, embora dados
neste momento sugiram que não. É fundamental a administração
imediata de antibióticos adequados. Dosar e corrigir níveis de ele-
trólitos e da glicemia. Observar o equilíbrio acido-base e o estado
da coagulação. O lactato altera-se com um atraso em torno de 4-5
horas em relação à deterioração ou melhora hemodinâmica. A ten-
dência dos níveis da dosagem seriada auxilia na monitorização da
resposta ao tratamento. Em neonatos com hipertensão pulmonar,
o manejo ventilatório adequado e o uso de óxido nítrico inalatório
auxiliam também na estabilização cardiovascular.
Capitulo 11 Infecções Adquiridas
Fluxograma de Avaliação do RN com Choque Séptico superior (10 mL/kg). No entanto, há evidências de que o excesso
de volume pode ser prejudicial aos prematuros. Ewer e cl, em um
Monitorização estudo de caso-controle, observaram que prematuros entre 27
e 28 semanas que morreram receberam mais que o dobro da
expansão de volume comparados com controles sobreviventes
Pressão Arterial Média Perfusão periférica (38,2 vs. 18,2 mL/kg, P = 0.007). Os dados desse estudo suge-
rem que a administração de > 30 mL/kg de volume nas primeiras
PAM < 30 mmHg (Prematuros) ou Alterada
48 horas está associada com o aumento da mortalidade em pre-
< 50 mmHg (termo)
maturos (OR 4.5 [95% CI 1.2, 17.2]).
É provável que o uso de maiores volumes e maiores alíquotas
(isto é, 10 a 20 mL/kg em 10 minutos, de 3 a 6 expansões) possa
NaCL 0,9% 10 mL/kg em 20 minutos (Prematuros) ou
em 10 minutos (Termos), até 6 fases, se necessário
ser necessário no recém-nascido a termo ou no cenário da SIRS.
Não há evidências de que a administração de colóides (isto é,
Não Melhora
albumina) seja superior ao uso de cristalóides (NaCl 0,9%).
PAM < 30 mmHg (Prematuros) ou < 50 mmHg (termo) Vários estudos recomendam a dose de 2-10 mcg/kg/min para
tratar prematuros Entre os efeitos colaterais da dopamina vemos
Hidrocortisona 1-2 mg/kg/dose que ela altera a resposta hipofisária e tem efeito sobre o desen-
cada 8-12 horas, entre 2 a 8 doses no total volvimento cortical, alterando a arborização dendrítica. Não sa-
bemos quais os efeitos da administração de dopamina exógena
Norepinefrina 0,05 – 0,5 mcg/kg/min sobre a formação dos circuitos neuronais.
A secreção de prolactina ocorre como resposta ao aumento do
Não Melhora cortisol e bloqueia a linfopenia associada ao aumento daquele
hormônio. A hipoprolactinemia pode ocorrer como parte da sín-
Vasopressina?
drome de disfunção hipofisária associada à doença crítica, mas
também pode ser iatrogênica. Dopamina estimula o receptor DA2
Hipotensão Associada À Persistência que bloqueia a secreção de prolactina.
Do Canal Arterial (PCA)
Dobutamina 441
O objetivo primário da abordagem deste quadro clínico é o fe-
chamento do canal arterial com um inibidor da cicloxigenase. No Essa droga é um agente inotrópico eficaz, que também causa
entanto, o suporte ao paciente em caso de falha do tratamento vasodilatação e taquicardia leve. Roze e cl compararam o débito
clínico, enquanto aguarda o fechamento cirúrgico, é um grande ventricular esquerdo em um ensaio clínico em bebês e demons-
dilema. Empiricamente, como a função do miocárdio em princí- traram aumento com o uso de dobutamina enquanto a dopamina
pio não está comprometida, a administração de um inotrópico provocou a sua redução. O grupo de Nick Evans fez um estudo
como a dobutamina não melhorará a hipotensão e, por causa randomizado comparando dopamina e dobutamina para aumen-
dos seus efeitos imprevisíveis sobre a resistência vascular sis- tar o fluxo sanguíneo (avaliado pela ecocardiografia) e observou
têmica e pulmonar, a perfusão sistêmica pode piorar. O uso de que na dose de 10 mcg/kg/min não houve diferença entre as
um vasopressor como a dopamina pode aumentar ainda mais medicações, que aumentaram o fluxo de forma similar. Naqueles
o fluxo sanguíneo pulmonar e o shunt esquerda-direita porque, bebês que necessitaram de doses até 20, a dobutamina produ-
na maior parte dos pacientes, essa droga aumenta mais a resis- ziu mais benefício que a dopamina. Talvez a observação mais
tência vascular sistêmica do que a pulmonar. Embora a pressão importante é que 40% dos prematuros com instabilidade precoce
arterial possa melhorar, aumentam as chances de edema pul- não respondem ao tratamento com essas drogas.
monar hemorrágico devido ao desvio do fluxo sanguíneo para o
pulmão, especialmente quando são utilizadas baixas pressões Epinefrina
expiratórias finais (PEEP). Apesar dessa preocupação teórica, o
grupo de Tourneux e cl na França não observaram aumento no A infusão de epinefrina está associada a um maior efeito cro-
shunt com uso de dopamina nesses pacientes. notrópico. A epinefrina está associada com maiores níveis de
Provavelmente as manobras recomendáveis para a redução do lactato sérico e menores níveis de base excess e bicarbonato, o
shunt cardíaco esquerda-direita devem ter por objetivo o aumento que pode vir a provocar uma maior administração de bicarbonato
da resistência vascular pulmonar. Elas incluem reduzir a FiO2, es- exógeno. Também está associada a maiores níveis de glicemia
tabelecer uma hipoventilação controlada moderada e aumentar a sérica. Esses efeitos são secundários a estimulação dos recep-
PEEP. A ecocardiografia pode ser utilizada para monitorizar os efeitos tores β-adrenérgicos, que aumentam a gliconeogênese muscular
dessas manobras sobre o débito cardíaco, shunt e fluxo sanguíneo. junto com a glicogenólise e gliconeogênese hepática.
Fluidoterapia Norepinefrina
A expansão com volume é a intervenção inicial mais comum Pierre Tourneux e cl estudaram com seu grupo em Lille, na
para tratamento da hipotensão nas primeiras 72 horas de vida. França, o uso de norepinefrina em 22 recém-nascidos > 35 se-
No estudo de Beau Batton, 97 % dos prematuros com hipotensão manas, com choque séptico refratário ao tratamento com expan-
foram tratados com volume em primeiro lugar. Nick Evans ob- sões e dopamina ou dobutamina. A noradrenalina foi diluída em
serva que a expansão com volume melhora o fluxo na veia cava soro glicosado a uma concentração de 1 mL = 100 mcg e infun-
Paulo R. Margotto
Assistência ao Recém-Nascido de Risco
dida em cateter central a uma taxa de 0,2 a 0,5 mcg/kg/min. O seu uso deve ser considerado de “resgate” nos casos de cho-
Houve aumento da pressão arterial, do débito urinário e redução que séptico refratário e como droga em investigação
dos níveis séricos de lactato. Quatro recém-nascidos morreram
apesar da correção da hipotensão. Esse grupo não observou efei- Efeitos Cardiorrespiratórios da Pressão Pulmonar
tos deletérios do uso da norepinefrina sobre a pressão pulmonar.
Um aumento modesto na PEEP (5 ->8) produz queda no débito
Milrinona cardíaco direito, mas sem repercussões sobre o fluxo sistêmico.
Os recém-nascidos com melhora da complacência pulmonar em
A milrinona foi estudada pelo grupo australiano de Evans e resposta a uma PEEP mais alta apresentam melhora do fluxo san-
Kluckow no tratamento da instabilidade de prematuros nas pri- guíneo sistêmico. Esforços devem ser feitos para otimizar o volume
meiras 24 horas de vida. A dose utilizada foi de 0,75 mcg/kg/min pulmonar, reduzindo o grau de colapso ou hiperinsuflação.
por 3 horas e depois reduzida para 0,2 mcg/kg/min até 18 horas
de vida. Esses autores não observaram benefício no uso da milri- Disfunção de Múltiplos Órgãos e Sistemas
nona com essa finalidade e notaram uma redução na constrição
ductal no grupo tratado. A disfunção de múltiplos órgãos e sistemas é uma síndrome ca-
A milrinona então permanece como recurso terapêutico de racterizada por um continuum de anormalidades fisiológicas como
exceção para casos selecionados de choque após SIRS ou em resultado da evolução do choque cardiovascular ou da instabilida-
crianças cardiopatas, onde a pressão arterial seja normal, a re- de hemodinâmica do recém-nascido. Os escores de disfunção de
sistência vascular periférica esteja aumentada e haja suspeita múltiplos órgãos ainda não têm um bom desenvolvimento na área
de baixo débito cardíaco. Preferencialmente utilizar monitoriza- de medicina intensiva neonatal, embora tenham sido estudados
ção ecocardiográfica e da saturação venosa central. extensivamente nas UTI para adultos e pediátricas.
O NEOMOD (Neonatal Multiple Organ Dysfunction Score) é o úni-
Vasopressina co escore desenvolvido para ser utilizado em neonatos, descri-
to no artigo de Janota e cl. Foi validado após o estudo de 142
A vasopressina é um peptídio liberado na hipófise posterior nas prematuros de muito baixo peso e é baseado na pontuação da
fases iniciais do choque como resposta ao aumenta da osmola- disfunção de 7 sistemas orgânicos (sistema nervoso central, car-
ridade plasmática e a hipovolemia. Em recém-nascidos prematu- diovascular, renal, respiratório e gastrintestinal, além da hemoco-
ros extremos, Meyer e cl relataram 6 casos em 2006, utilizando agulação e balanço ácido-base).
vasopressina para choque séptico refratário e insuficiência renal A neonatologia tem escores de gravidade comumente utilizados
aguda (peso médio ao nascimento 600g) e para duas crianças para avaliar o risco de mortalidade, que usam dados colhidos nas
com choque cardiogênico e uma com insuficiência cardiovascu- primeiras horas de vida, como o SNAPPE II e o CRIB II. No entanto,
lar secundária a uma doença primária. Os pacientes com cho- a sua acurácia preditiva para avaliar o risco envolvido na evolução
442 que séptico receberam vasopressina em doses de 0,035 a 0,36 da sepse tardia pode ser prejudicado, porque eles não descrevem
U/kg/h, com boa resposta, apresentando aumento da pressão adequadamente o curso clínico da evolução do choque.
arterial e melhora da diurese. A infusão da vasopressina durou Existe uma relação entre o número de disfunções orgânicas e
em média 70 horas e duas crianças sobreviveram. Infusões de a mortalidade. No entanto, a mortalidade também é uma função
epinefrina e norepinefrina foram mantidas durante a administra- do grau de disfunção de cada sistema. Além disso, a importância
ção da vasopressina. Dois gemelares com choque cardiogênico de cada disfunção não é equitativa para predizer a mortalidade
morreram com 8 e 21 horas de administração da medicação. O sendo, por exemplo, as disfunções neurológica e cardiovascular
recém-nascido com choque não-séptico secundário a uma doen- de maior peso para mortalidade do que a hepática ou renal.
ça primária morreu com 61 horas da administração e apresen- O desenvolvimento de escores específicos para neonatologia
tava sinais de necrose hepática à autópsia que foram atribuídas possivelmente terá um papel importante no ajuste de risco em
possivelmente à vasopressina. estudos observacionais e para estratificação de pacientes recru-
Bidegain e cl relataram a evolução de 20 neonatos abaixo de tados para participação em ensaios clínicos.
1000 g que receberam vasopressina intravenosa na dose de
0,01 U/kg/h a 0,04 U/kg/h para hipotensão refratária. A droga Prognóstico
foi administrada em torno do 10º dia de vida (mediana 10 dias; 1
a 240), com duração de infusão de 20 horas (mediana 20 horas; A mortalidade por choque séptico em neonatos é elevada e atin-
de 1 a 171 horas), levando ao aumento da pressão sanguínea giu 40% em um estudo publicado por Kermorvant-Duchemin e cl.
média de 26 mmHg para 41 mmHg após 12 horas de infusão. Dados divulgados pelo ILAS (Instituto Latino-Americano da Sepse)
Os pacientes tinham o diagnóstico de sepse (15) e enterocolite mostram que a mortalidade por sepse e choque séptico ainda é
necrosante (5). Estavam em uso de dopamina, hidrocortisona e maior no Brasil do que em outros países do mundo. Faltam dados
epinefrina antes do início da vasopressina e a dose dessas me- publicados sobre a mortalidade específica no período neonatal. No
dicações pode ser reduzida durante a infusão da vasopressina. estudo francês citado, o óbito foi mais comum nas primeiras 72
Houve 13 óbitos (65%). Hemorragia intraventricular foi observa- horas de evolução e esteve associado à menor idade gestacional,
da em 5/9 crianças que receberam vasopressina nos primeiros 3 menor peso e infecção por bactérias gram-negativas.
dias de vida. Nenhum paciente apresentou complicações isquê-
micas de membros. Houve 4 óbitos por enterocolite, dos quais 3 Bibliografia
tinham o diagnóstico previamente ao início da droga. A vasopres-
• Bada HS, Korones SB, Perry EH, e cl. Mean arterial blood pressure changes in premature
sina poderia piorar a perfusão esplâncnica de alguns pacientes. infants and those at risk for intraventricular hemorrhage. J Pediatr 117: 607, 1990
• Baldasso E, Ramos Garcia PC, Piva Jp, Einloft PR. Hemodynamic and metabolic effects of
A vasopressina é uma medida de exceção que deve ser utiliza- vasopressin infusion in children with shock. J Pediatr (Rio J) 83: S137,2007
da com monitorização ecocardiográfica e da saturação venosa • Barrington KJ. Hypotension and shock in the preterm infant. Semin Fetal Neonatal Med
13: 16, 2008. Disponível em www.paulomargotto.com.br, em Choque no Recém-Nascido.
central. Ela provoca potente vasoconstrição e deve ser mantida Acesso em 8/7/2011
• Batton B, Zhu X, Fanaroff J, e cl. Blood Pressure, Anti-Hypotensive Therapy, and Neuro-
pelo menos uma terapia inotrópica adicional com uma dose bai- development in Extremely Preterm Infants. J Pediatr 154:351,2009. Disponível em www.
xa de adrenalina ou dobutamina. paulomargotto.com.br, em Choque no Recém-Nascido. Acesso em 8/7/2011
Capitulo 11 Infecções Adquiridas
Paulo R. Margotto
Assistência ao Recém-Nascido de Risco
444
Capitulo 12 Infecções Perinatais Crônicas
Capítulo 12
Infecções
Perinatais
Crônicas
Assistência ao Recém-Nascido de Risco
12.1 SÍFILIS
A sífilis congênita é uma infecção causada pela disseminação • lesões pulmonares em 7 a 22%
hematogênica do Treponema pallidum no concepto transmitida • lesões renais em 3 a 17%
pela gestante infectada.
A infecção na gestante pode resultar em abortamento espontâ- Sífilis Congênita Tardia
neo, morte fetal, prematuridade, feto hidrópico, recém-nascidos Sinais e sintomas surgem após os dois anos de vida, são pro-
sintomáticos ou assintomáticos. gressivos e prejudicam o desenvolvimento. Ocorrem quando o tra-
tamento não é iniciado até o terceiro mês de vida. As lesões são:
Epidemiologia
• Ósseas e articulares: tíbia em sabre, fronte olímpica, na-
Infelizmente, os casos de sífilis congênita continuam a ocorrer, riz em sela
apesar do tratamento com penicilina ser conhecido há mais de • Cavidade oral: dentes de hutchinson, mandíbula curva,
meio século, de fácil acesso, de baixo custo e sem relato de re- palato em ogiva
sistência pela bactéria. • Neurológica: surdez, dificuldade no aprendizado.
As estratégias de controle da sífilis não são eficientes em man- • Oftalmológica: ceratite intersticial
ter a meta do Ministério da Saúde de a eliminação da sífilis con-
gênita no nosso país (o que significa até 1 caso de sífilis congêni- Natimorto Por Sífilis
ta/1000 nascidos vivos/ano).
O óbito fetal ocorre após 22 semanas de gestação ou peso
Transmissão acima de 500 gramas, cuja mãe não foi tratada ou foi inadequa-
damente tratada.
A sífilis pode ser transmitida para o concepto em gestações
sucessivas, em qualquer período da gestação e em qualquer fase Definição De Caso
da doença. O tratamento não confere imunidade.
Quanto mais recente a sífilis materna, maior é a taxa de trans- 1. Toda criança cuja mãe teve sífilis não tratada, ou inade-
missão para o concepto. quadamente tratada, independentemente da presença
A transmissão vertical (mãe-concepto) faz-se através da disse- de sinais e sintomas ou resultados laboratoriais;
446 minação do microorganismo através da placenta, das membra- 2. Toda criança que apresentar um teste de VDRL positivo
nas e fluidos amnióticos ocorrer em. Contrariamente ao que se para sífilis e uma ou mais das seguintes condições:
pensava no passado, a infecção acomete o feto antes do quarto
mês de gestação. Ocasionalmente o recém-nascido pode ser in- • Evidência de sintomatologia sugestiva (dois ou mais si-
fectado pelo contato com lesão genital materna. nais clínicos) de sífilis congênita.
A taxa de transmissão vertical é variável conforme o tempo de • Título de VDRL no RN ≥ 4 vezes o título materno na oca-
doença e tratamento maternos: em mulheres não tratadas é de sião do parto
70 a 100% em caso de doença primária ou secundária e 30% na • Teste confirmatório positivo para anticorpos IgM (FTA-abs
fase latente. A OMS estima em 85% a taxa média de transmis- ou TPHA)
são. Em mães adequadamente tratadas, a transmissão é reduzi- • Teste confirmatório positivo para anticorpos IgG (FTA-abs
da a aproximadamente 1,5%. ou TPHA) após os 18 meses de vida.
A morte perinatal ocorre em 40% das crianças infectadas.
3. Todo caso de morte fetal ocorrido após 20 semanas de
Quadro Clínico gestação e/ou feto com peso superior a 500g, cuja mãe,
portadora de sífilis, não tenha sido tratada, é definido
A infecção intra-uterina pode resultar em aborto, parto prema- como natimorto sifilítico.
turo, natimorto e morte neonatal em até 40% dos casos. A maio-
ria dos RN é assintomática. Isso pode atrasar o diagnóstico e pio- Diagnóstico
rar o prognóstico. Daí a importância de uma história materna e
pré-natal bem feitos e anotação detalhada no cartão da gestante. Baseia-se no quadro clínico e em exames complementares.
O quadro clínico pode ser dificultado pela escassez de sinto-
Sífilis Congênita Precoce mas. Quando a infecção ocorre no terceiro trimestre, aproximada-
mente 60% das crianças poderão ser assintomáticas, apresen-
Os sinais e sintomas podem estar presentes ao nascimento ou tando sintomatologia meses ou anos após o nascimento.
surgirem ao longo dos dois primeiros anos. e podem ser: Os exames complementares compreendem os testes soroló-
gicos para IgG (VDRL), hemograma completo, estudo do líquido
• Prematuridade cefalorraquidiano (LCR) e radiografia de ossos longos.
• Baixo peso
• Lesões ósseas (osteocondrite, osteíte e periostite) em 47 Exames Complementares
a 95%
• Hepatoesplenomegalia em 33 a 91% 1. Pesquisa em campo escuro
• Acometimento do SNC em 40 a 60% O treponema pode ser pesquisado em raspado de lesão muco-
• Lesões cutâneo-mucosas em 15 a 60% sa ou cutânea ou no aspirado de punção de nódulo linfático sa-
• Lesões de mucosa nasal em 4 a 50% télite à lesão primária através de microscopia de campo escuro.
Capitulo 12 Infecções Perinatais Crônicas
2. Testes sorológicos dias) e glicose baixa.VDRL positivo no LCR deve ser diagnostica-
do como portador de neurossífilis, independentemente da pre-
• Testes não treponêmicos sença de outras alterações liquóricas (assim, um exame do líquor
VDRL (Veneral Diseases Research Laboratory) e RPR (Rapid normal não afasta o diagnóstico de neurossífilis). As alterações
Plasma Reagin): estão presentes em 8% das crianças assintomáticas e 86% das
Por serem testes não treponêmicos, eventualmente, podem crianças sintomáticas.
ocorrer resultados falso-positivos.
É um excelente teste de triagem e seguimento pós-tratamento. 5. Hemograma
Leucocitose ou leucopenia (> 25000 leucócitos/mm3 e < 5000
Interpretação leucócitos/ mm3) são evidências adicionais para confirmação
Resultados são apresentados em títulos e é considerado po- diagnóstica em crianças suspeitas
sitivo título ≥ 1/1. O tratamento é considerado eficaz caso haja
queda de 4 vezes os títulos durante o seguimento. Tratamento
Anticorpos (Ac) passivos (passagem transplacentária de anti-
corpos maternos): o RN não está infectado e os títulos devem É baseado em esquema penicilínico obedecendo a 3 esque-
diminuir e se negativar até os 3 meses de vida. Caso estes títulos mas. Não há relato de resistência do treponema à droga e, dentre
permaneçam positivos após os 3 meses, o RN deve ser conside- as infecções congênitas, a sífilis é a que tem condições de ser
rado infectado e tratado. erradicada.
Ac ativos (produzidos pelo RN infectado) O manejo clínico adequado do RN depende do conhecimento
A negativação do VDRL após o tratamento de pacientes infec- do tratamento materno. Deve-se concluir se a gestante foi ade-
tados não é imediata. Portanto, não se deve esperar resultado quada ou inadequadamente tratada.
negativo logo após o tratamento e sim queda dos títulos. A ne-
gativação dos títulos de pacientes infectados após tratamento Mãe Adequadamente Tratada
ocorre entre 1 e 2 anos e meio, conforme quadro abaixo:
1. Tratada com penicilina benzatina na dose adequada à
1 ano 50% fase da sífilis
2 anos 75% 2. Tratamento realizado até 30 dias que antecederam o
parto
2,5 anos 90%
3. Realização de VDRL mensal após o tratamento.
4. Tratamento do parceiro concomitante ao da gestante.
• Testes treponêmicos (confirmatórios)
FTA-abs IgG (Fluorescent Treponemal Antibody-Absortion), Mãe Inadequadamente Tratada
TPHA IgG (Treponema pallidum Hemaglutination) e ELISA IgG (En- 447
zime Linked Immunosorbent Assay): 1. Tratada com qualquer droga que não seja penicilina ou
São testes que utilizam o treponema como antígeno com alta tratamento incompleto (< 7.200.00 UI penicilina benza-
sensibilidade (99 a 100%) e especificidade (96 a 99%). Os resul- tina) ou
tados são qualitativos (positivo ou negativo) e, uma vez positivos, 2. Instituição de tratamento dentro do prazo de 30 dias
permanecem por toda a vida. Devem se reservados apenas para anteriores ao parto ou
confirmação do teste não treponêmico não sendo útil para segui- 3. Não houver comprovação do tratamento mediante Car-
mento de tratamento nem para confirmação diagnóstica de sífilis tão da Gestante.
congênita, pois resultados positivos podem significar presença 4. Quando o parceiro não foi tratado ou foi tratado inade-
de anticorpos maternos e não infecção no RN. Testes positivos quadamente e manteve contato sexual com a gestante
no recém-nascido refletem anticorpos da mãe até 15 a 18 meses após o tratamento da mesma.
de idade. Somente após essa idade o teste confirmatório pode
ser realizado para confirmação diagnóstica de sífilis congênita. Tratamento de RN de mães com sífilis não tratada ou ina-
FTA-abs/IgM pode ser útil no diagnóstico de sífilis congênita, dequadamente tratada, independentemente do resultado do
porém, pela baixa sensibilidade (20%) não são utilizados rotinei- VDRL do recém-nascido, realizar:
ramente. Resultados negativos não excluem sífilis congênita.
A – VDRL, Raio X de ossos longos, estudo do LCR (com pesqui-
3. Radiografia de ossos longos sa de VDRL), e outros exames dependendo da clínica apresenta-
Demonstra o acometimento de tíbia, fêmur e úmero por oste- da pelo recém-nascido.
ocondrite, osteíte e periostite que estão presentes em 70 a 90% A1 – se houver alterações clínicas e/ou sorológicas e/ou radio-
dos casos sintomáticos. A incidência em recém-nascidos assinto- lógicas, mas não liquóricas:
máticos é de 4 a 20%, o que justifica a realização do exame para
o diagnóstico. As anormalidades metafisárias (bandas translúci- • Penicilina Cristalina – 100.000 UI/Kg/dia, EV, dividida
das) são patognomônicas da infecção. A resolução das lesões se em 2 doses (menos que 7 dias de vida) ou 3 vezes (se
dá independentemente do tratamento dentro de três meses o tiver mais de 7 dias), por 10 dias; ou
que justifica o não aparecimento de lesões nos recém-nascidos • Penicilina G Procaína – 50.000 UI/Kg/dia, IM, por 10 dias;
infectados pela cura ainda durante a gestação.
A2 – se houver alteração liquórica, o tratamento deverá ser
4. Exame do líquido céfalorraquidiano (LCR) feito com Penicilina G Cristalina, na dose de 150.000 UI/Kg/dia,
A escolha do tratamento a ser seguido dependerá do diagnós- EV, em 2 vezes por dia (se tiver menos de 1 semana de vida) ou 3
tico de neurossífilis, sendo, portanto, recomendado o estudo do vezes (se tiver mais de 1 semana de vida), por 10 dias;
LCR em todos os recém-nascidos incluídos na definição de caso. A3 – se não houver alterações clínicas, radiológicas e/ou li-
Pode haver aumento de células a custa de linfócitos, hiperpro- quóricas, e a sorologia for negativa no recém-nascido: Penicilina
teinorraquia (> 100mg% até 28 dias de vida e 40 mg% após 28 G Benzatina, IM, na dose única de 50.000 UI/Kg/dia. O segui-
Paulo R. Margotto
Assistência ao Recém-Nascido de Risco
mento ambulatorial é obrigatório. Caso não seja possível garantir • Caso o teste confirmatório seja positivo aos 18 meses de
o acompanhamento, o recém-nascido deverá ser tratado como vida, confirma-se, retrospectivamente, o diagnóstico de
esquema A1. sífilis congênita
• O retratamento deve ser feito conforme esquemas já
Obs: na impossibilidade de se realizar a análise liquórica, tratar apresentados.
como neurossífilis.
Bibliografia
RN De Mães Adequadamente Tratadas
Seguimento
448
Quando iniciamos o seguimento do paciente podemos estar
diante de duas situações:
Observações
1. O objetivo de se repetir o exame de VDRL é acompa-
nhar os títulos, que devem ser descendentes. Em caso
de elevação dos títulos, o paciente deverá ser retratado.
2. É considerada elevação ou queda de títulos valores 2
vezes maiores ou menores (exemplo: ½ e 1/8). Títulos de
½ e ¼ são considerados iguais.
3. O exame de VDRL pode ser positivo até 2 anos e meio
após tratamento, mesmo com tratamento adequado.
(memória imunológica ou cicatriz sorológica)
• Em caso de alteração liquórica, a punção lombar deverá
ser repetida a cada 6 meses.
Capitulo 12 Infecções Perinatais Crônicas
12.2 TOXOPLASMOSE
Paulo R. Margotto
Assistência ao Recém-Nascido de Risco
freqüente foi alteração do exame do LCR. Alguns sinais e sintomas Órgãos Endócrinos
são semelhantes aos relatados em outras infecções de transmis-
são vertical, porém algumas particularidades e a frequência em As alterações endócrinas são inespecíficas, pois refletem a
que ocorrem podem ser úteis no diagnóstico diferencial. severidade do acometimento cerebral. Há reato de diabetes in-
sipidus e mixedema.
Prematuridade
Síndrome Nefrótica
Prematuridade e baixos índices de Apgar são comuns entre os
RN sintomáticos. Ascite e anasarca podem ser sinais de nefrose. Há proteinúria,
hipoproteinemia, hipoalbuminemia e hipercolesterolemia.
Gemelaridade
Estudo Radiológico
Entre os gêmeos monozigóticos as manifestações clínicas fre-
qüentemente são similares. O mesmo não ocorre com os gêmeos Cérebro
dizigóticos. Hidrocefalia é característica de acometimento periductal. Obs-
trução do Aqueduto de Sylvius leva à dilatação de 3o e 4o ventrí-
Patogênese e Resposta Imune culos e, do forame de Moro leva à hidrocefalia unilateral.
As calcificações podem ser únicas ou múltiplas e, surpreen-
O trato GI é a principal rota pela qual o T. gondii infecta o hospe- dentemente, desaparecerem com tratamento no primeiro ano de
deiro. Os bradizoítos (dos cistos) e os esporozoítos (dos oocistos) vida. Não apresentam distribuição característica. Predominam
penetram nas células do intestino disseminando-se primeira- em região occipito-parietal e temporal.
mente para os linfonodos mesentéricos e a seguir, para órgãos Os aspectos do US na toxoplasmose congênita incluem calcifi-
mais distantes via rede linfática ou sangue. Os anticorpos IgG, cações intracranianas, hidrocefalia, microcefalia, atrofia cerebral
IgM, IgA e IgE são produzidos em resposta à infecção e, os taqui- e hidrocefalia. As calcificações intracranianas na toxoplasmose
zoítos são lisados quando se ligam aos anticorpos específicos, são multifocais e se apresentam em muitas áreas do cérebro,
com subseqüente ativação do complemento. como gânglia basal,área periventricular, substância branca, cór-
tex cerebral, diferente da infecção pelo citomegalovirus, que tem
Sistema Nervoso Central uma predileção para as calcificações periventriculares (figura 1).
As lesões da toxoplasmose no cérebro começam com uma vascu-
Uma das manifestações mais comuns é a hidrocefalia obstru- lite, subsequentemente seguida por necrose e infiltração celular
tiva (usualmente progressiva) e que pode se manifestar ao nasci- no córtex, meninges, substância branca, gânglia basal e tronco
mento ou logo após; convulsões; acometimento medular ou bulbar cerebral. A necrose é seguida por calcificação (figura 2).
450 (dificuldade de deglutição e distúrbio respiratório). Com relação à
microcefalia, não há evidência significativa de correlação com to-
xoplasmose. Quando presente significa dano cerebral severo, mas
existe relato de pacientes com desenvolvimento normal.
Olhos
Coriorretinite
Toxoplasmose é uma das maiores causas de coriorretinite, sen-
do que a sua presença em crianças maiores ou adultos é, na sua
maioria, considerada congênita. Em mais de 80% dos casos é bi-
lateral . O risco de aparecimento de coriorretinite aumenta com a
idade do paciente, nos primeiros anos de vida. A incidência na for-
ma subclínica é de aproximadamente 30% a 50% e na forma sinto-
mática é de 70 a 94%.Devido ao risco de reativação e surgimento
de novas lesões, deve-se repetir a fundoscopia trimestralmnente
em pré-escolares e semestralmente após esse período durante
toda a vida. Não há necessidade de se repetir fundoscopia caso
haja placa cicatrizada de coriorretinite bilateral e macular.
Associados a coriorretinite, observam-se atrofia de nervo ópti- Fig. 1. Tomografia computadorizada de um RN com toxoplasmose con-
co, baixa acuidade visual, estrabismo e microftalmia. gênita confirmada, mostrando múltiplas calcificações periventriculares
Com relação ao diagnóstico, os títulos sorológicos não são pre- associadas à hidrocefalia ex-vácuo. Há também calcificações na fossa
ditivos de lesão ocular. posterior, situadas na substância branca cerebelar (Margotto)
Retardo Mental
Podem ser observadas metafisite em costelas e vértebras. Pe- Não há dados satisfatórios para se afirmar que a toxoplasmo-
riostite não está presente. se congênita seja uma causa importante de surdez. Parece estar
mais relacionada aos casos severos. Há um estudo (Wilson e cl) re-
Fígado latando 17% de pacientes com surdez, na forma subclínica, porém
no estudo de Chicago não houve surdez nos pacientes tratados.
Apesar da afirmação de que não são encontradas calcificações
fora do SNC, três casos foram descritos de calcificações hepáti- Frequência da ocorrência (%)
cas. Icterícia pode refletir acometimento hepático e/ou hemólise. Sinais e sintomas Doença neurológica Doença generalizada
Coriorretinite 94 66
Pele 451
Alteração LCR 55 84
Petéquias, equimoses e hematomas correlacionam-se a trom- Anemia 51 77
bocitopenia. Convulsões 50 18
Calcificações
50 4
Malformações intracranianas
Icterícia 29 80
Os estudos realizados são ainda inconclusivos para confirmar Hidrocefalia 28 0
ou rejeitar a hipótese de correlação entre toxoplasmose congêni- Febre 25 77
ta e malformações.
Esplenomegalia 21 90
Linfadenopatia 17 68
Eritroblastose E Hidropsia Fetal
Hepatomegalia 17 77
O quadro pode ser confundido com eritroblastose consequente Vômitos 16 48
a isoimunização. Um teste de Coombs negativo pode ser útil no Microcefalia 13 0
diagnóstico diferencial. Diarréia 6 25
Catarata 5 0
Ascite Eosinofilia 4 18
Sangramento
Há casos relatados de ascite devido à toxoplasmose congênita 3 18
anormal
Hipotermia 2 20
Sinais Cardiovasculares
Glaucoma 2 0
Miocardite toxoplásmica severa pode se manifestar como edema. Atrofia óptica 2 0
Microftalmia 2 0
Sinais Gastrintestinais Rash 1 25
Pneumonite 0 41
Os primeiros sinais da doença podem ser vômito e diarréia.
Paulo R. Margotto
Assistência ao Recém-Nascido de Risco
Paulo R. Margotto
Assistência ao Recém-Nascido de Risco
Período
Tratamento Duração
Gestacional
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De forma contínua até o final
1º Trimestre (Espiramicina)
do 1º trimestre
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(Sulfadiazina) Sulfadiazina e Leucovorin
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Alternado com:
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(Espiramicina)
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Paulo R. Margotto
Assistência ao Recém-Nascido de Risco
• Rudin C, Boubaker K, Raeber PA e e cl. Toxoplasmosis during pregnancy and infancy. Swiss
lizados ao nascimento, 1, 3 5, 8 e 12 meses. Os casos serão Med Wkly. 138:49,2008
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O tratamento com esquema tríplice iniciado ao nascer é continua- 2010.
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Scientia Medica, Porto Alegre. 2010; 20(1), accepted article.
assintomática aos 2 meses, tenha todos os exames complementa- • Reis MM, Tessaro MM, D’Azevedo PA. Toxoplasma-IgM and IgG-Avidity in single samples
res realizados ao nascimento sem alterações e resultados de IgG from areas with a high infection rate can determine the risk of mother-to-child transmis-
sion. Rev. Inst. Med. trop. S. Paulo. 48:93,2006
descendentes e IgM negativo, a medicação será suspensa. O acom- • Patel DV, Holfs EM, Vogel NP, Boyer KM, Mets MB, Swisher CN e cols. Resolution of intra-
cranial calcifications in infant with treated congenital toxoplasmosis. Radiology, 433,1996
panhamento clínico é mantido mensalmente e os testes sorológicos • Toxoplasmose Gestacional e Congênita, Brasília, Distrito Federal: Secretaria de Estado de
são repetidos aos 3, 5, 8 e 12 meses ou até a negativação. Saúde do Distrito Federal/Departamento de Saúde Pública. 2000.
• Farhat CK, Carvalho ES, Carvalho LH, Succi RC. Infectologia pediátrica. 2ª ed. São Paulo:
Nos casos confirmados, mantem-se o tratamento até um ano Editora Atheneu,1998.
de vida, acompanhamento por toda a vida, com intervalo mensal • Martin, FC. Toxoplasmosis congénita. Una enfermedad con demasiados interrogantes. An
Pediatr (Barc) 61:115,2004
no primeiro ano de vida e bimestral no segundo ano e semestral, • Gratzl R, Hayde M, Kohlhauser M, e cl. Follow-up of infants with congenital toxoplasmosis
detected by polimerase chain reaction analysis of amniotic fluid. 17:853,1998
posteriormente. Devem, ainda, ser realizadas provas de funções • Caiaffa W T, Chiari C A, Figueiredo A R P, Orefice F, Antunes C M F: Toxoplasmosis and Men-
renal e hepática e tomografia computadorizada de crânio. A fun- tal Retardation – Report of Case Control Study. Mem. Inst. Oswaldo Cruz 88: 253,1993
• Kankova S, Flegr J.Longer pregnancy and lower fetal development in woman with latent
doscopia será realizada a cada 3 meses até a fase pré-escolar, “asymptomatic” toxoplasmosis. BMC Infect Dis 7:114,2007.
• Hill D, Dubey P. Toxoplasma gondii: transmission, diagnosis and prevention. Clin Microbiol
quando passará a ser semestral por toda a vida pelo risco de re- Infect 8:634,2002
cidiva das lesões de coriorretinite. O tratamento é acompanhado • Reis M M, Tessaro M M, D’Azevedo P A. Toxoplasma-IgM and IgG-avidity in single samples
from areas with a high infection rate can determine the risk of mother-to-child transmis-
com hemograma completo e contagem de plaquetas quinzenal- sion. Rev. Inst. Med. Trop. S. Paulo. 48:93,2006
• Pinard JA, Irvine PJ. Maternal serologic screening for toxoplasmosis. J Midwifery Wo-
mente, pois a pirimetamina pode causar neutropenia. Deve-se, mens Health 48:308,2003
também, administrar o ácido folínico durante o tratamento e uma • Manual de Toxoplasmose Gestacional e Congênita. Brasília, FD. Secretaria de Estado de
Saúde do DF, 2010
semana após o término do mesmo. • Lebech M, Joynson DHM, Seitz HM e cl. Classification system and case definitions of To-
xoplasma gondii infection in immunocompetent pregnant women and their congenitally
Os casos graves que cursam com deficiência visual ou retardo men- infected offspring. Eur. J. Microbiol. Infect. Dis 15:799,1996
tal são acompanhados, também por equipe multidisciplinar contando • Wallon M , C Liou, Garner P, Peyron Congenital toxoplasmosis: systematic review of
evidence of efficacy of treatment in pregnancy. BMJ 318:1511,1999
com neuro-pediatras, terapeutas ocupacionais e psicopedagogos. • Foulon W, Villena I, Stray-Pedersen B, Decoster A, Lappalainen M, Pinon JM, Jenum PA,
Hedman K, Naessens A. Treatment of toxoplasmosis during pregnancy: a multicenter study
of impact of fetal transmission and children’s sequelae at age 1 year. Am J Obst Gynecol,
456 Prevenção 180: 410,1999
• Gilbert RE, Gras L. European Multicentre Study on Congenital Toxoplasmosis. Effect of
timing and type of treatment on the risk of mother to child transmission of Toxoplasma
gondii. BJOG 110:112,2003
A prevenção da toxoplasmose congênita é classificada em pri- • Jones J, Lopez A, Wilson M. Congenital Toxoplasmosis. Am Fam Physician 67:2131,2003
mária, secundária e terciária. Os estudos mais recentes referem • Montoya J G, Rosso F. Diagnosis and Management of Toxoplasmosis. Clin Perinatol
32:705,2005
a prevenção primária com a mais eficaz e a única capaz de dimi- • Boyer K M, Holfels E, Roizen N, Swisher C, Mack M, Remington J. e al. Risk factors for Toxo-
plasma gondii infection in mothers of infants with congenital toxoplasmosis: Implications
nuir a incidência da doença. for prenatal management and screening. Am J Obstet Gynecol 192:564,2005
• Elsheika HM. Congenital Toxoplasmosis: Priorities for further health promotion action. Pu-
A prevenção primária consiste em orientar as gestantes sus- blic Health 122: 335,2008
cetíveis, ou seja, soronegativas a não ingerir carne mal passada, • The SYROCOT (Systematic Review on Congenital Toxoplasmosis) study group. Effectiveness
of prenatal treatment for congenital toxoplasmosis: a meta-analysis of individual patients’
ovo quente ou cru, água não potável, verduras cruas, frutas que data. The Lancet 369: 115,2007
• Durlach R, Kaufer F, Carral L e cl. Consenso Argentino de Toxoplasmose Congénita. MEDI-
não sejam lavadas com detergente. Também não deverá mani- CINA (Buenos Aires) 68:75,2008
pular carne crua, fezes de gato ou horta sem o uso de luvas. O • 36.Mombrò M, Perathoner C, Leone A, Buttafuoco V, Zotti C, Lievre M A, Fabris C. Conge-
nital toxoplasmosis: assessment of risk to newborns in confirmed and uncertain maternal
ideal é que seja realizada a sorologia pré-natal para que as orien- infection. Eur J Pediatr 162:703,2003
• Dunn D, Wallon M, Peyron F, Petersen E, Peckham C, Gilbert R. Mother-to-child transmis-
tações sejam feitas antes da concepção, no caso de suscetibili- sion of toxoplasmosis: risk estimates for clinical counselling. Lancet 353:1829,1999
dade à doença. • Flori P, Bellete, Crampe C, Maudry A, Patural H, Chauleur C, Hafid J, Raberin H,Tran M S
R. A technique for dating toxoplasmosis in pregnancy and comparison with the Vidas anti-
A prevenção secundária é feita pela instituição do tratamento toxoplasma IgG avidity test Clin Microbiol Infect 14: 242,2008
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nas gestantes com infecção aguda, no intuito de evitar a trans- from:http://www.cdc.gov/mmwr/preview/mmwrhtlm/rr4902a5.htm 2010, November 1st
missão transplacentária do parasito. • Gras L, Wallon M, Pollak A, Cortina-Borja M, Evengard B, Hayde M e cl. Association between
prenatal treatment and clinical manifestations of congenital toxoplasmosis in infancy: A
A prevenção terciária resulta da perda da oportunidade das ou- cohort study in 13 European centres. Acta Pediatr 94:1721,2005
• CONSENSO ARGENTINO 2008- Durlach R, Kaufer F, Carral L e cl; Associación Argentina
tras formas de prevenção e baseia-se no tratamento do feto ou de Zoonosis. Consenso argentino de toxoplasmosis congenita. Medicina(Buenos Aires)
68:75,2008
criança infectada. • Londrina Manual of gestational and congenital toxoplasmosis : manual de vigilância em
saúde, diagnostic, treatment and conduct. Londrina, Paraná, Brazil,2010
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vacina contra o toxoplasma para humanos, somente para animais. plasmose na gestação. Femina 31:85,2003
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tional age birth. I J Obstet Gynaecol 112:31,2005
Capitulo 12 Infecções Perinatais Crônicas
Introdução
A AIDS, Síndrome da Imunodeficiência Adquirida (sigla do in- O (outlier) e N (não M-não O) com variabilidade genética de até
glês: Acquired Immune Deficiency Syndrome) é a manifestação 30%. Os vírus do grupo M são a forma mais comum em todo o
mais grave e avançada da infecção pelo retrovírus humano HIV mundo, sendo subdivididos em vários subtipos, nomeados de A a
(Vírus da Imunodeficiência Humana, o HIV, da sigla do inglês - Hu- K. Nos grupos N e O, apenas um. Em relação ao HIV-2 descrevem-
man Immunodeficiency Vírus). Foi inicialmente registrada pelo se cinco subtipos: A, B, C, D, e E. Embora ainda não conhecida,
CDC (Centers for Disease Control) de Atlanta (EUA) em 1981. No especula-se a possibilidade de variantes virais possuírem dife-
Brasil, os primeiros adultos afetados foram notificados ao Minis- rentes índices de transmissibilidade e/ou patogenicidade.
tério da Saúde em 1982 e a primeira criança em 1984. No Brasil, o subtipo prevalente é o HIV-1 e a cepa mais freqüen-
te é a B, assim como na América do Norte e na Europa. Atualmen-
Etiologia te, o subtipo C é o que se propaga com maior velocidade em todo
o mundo, estando presente na Índia, na Etiópia e no sul da África.
Em 1983, o HIV-1 foi isolado de pacientes com AIDS pelos pes-
quisadores Luc Montaigner, na França, e Robert Gallo, nos EUA, Patogenia
recebendo os nomes de LAV (Lymphadenopathy Associated Virus ou
Virus Associado à Linfadenopatia) e HTLV-III (Human T-Lymphotro- A infecção aguda pelo HIV-1 em adultos é caracterizada por um
phic Virus ou Vírus T-Linfotrópico Humano tipo lll) respectivamente alto pico de carga viral que declina rapidamente durante aproxi-
nos dois países. Em 1986, foi identificado um segundo agente madamente 3 a 4 meses após a infecção até alcançar a estabi-
etiológico, também retrovírus, com características semelhantes lidade. Este declínio da viremia coincide com a emergência da
ao HIV-1, denominado HIV-2. Nesse mesmo ano, um comitê in- resposta mediada por células T citotóxicas (CTL). Em contraste,
ternacional recomendou o termo HIV (Human Immunodeficiency a carga viral das crianças é muito alta e o declínio da viremia
Virus ou Vírus da Imunodeficiência Humana) para denominá-lo, é mais lento. Esta elevada carga viral encontrada em crianças
reconhecendo-o como capaz de infectar seres humanos. recém-nascidas pode estar relacionada com a alta produção de
O HIV é um retrovírus com genoma RNA, da Família Retroviridae partículas virais no timo, uma vez que crianças possuem um ele-
(retrovírus) e subfamília Lentivirinae. Pertence ao grupo dos retro- vado número de células T CD4 circulantes e porque a resposta de 457
vírus citopáticos e não-oncogênicos que necessitam, para mul- CTL ocorre somente após 6 meses de idade. Além disso, estudos
tiplicar-se, de uma enzima denominada transcriptase reversa, demonstraram que a sobrevida das crianças infectadas é menor
responsável pela transcrição do RNA viral para uma cópia DNA, do que a dos adultos infectados, o que pode ser explicado por
que pode, então, integrar-se ao genoma do hospedeiro. alguns fatores: imaturidade do sistema imune, falha na aquisição
Embora não se saiba ao certo qual a origem do HIV-1 e 2, sabe- da imunidade materna, momento da transmissão ou carga viral
se que uma grande família de retrovírus relacionados a eles está materna, taxa de replicação viral, indução de sincício, diminuição
presente em primatas não-humanos, na África Sub-Sahariana. de células T CD4 e a infecção no timo.
Todos os membros desta família de retrovírus possuem estrutu- A dinâmica da infecção pelo HIV-1 em crianças parece ser mui-
ra genômica semelhante, apresentando homologia em torno de to distinta daquela observada em adultos. Em crianças observa-
50%. Além disso, todos têm a capacidade de infectar linfócitos se que a carga viral do HIV- 1 declina muito mais lentamente
através do receptor CD4. Aparentemente, o HIV-1 e o HIV-2 pas- após a infecção inicial. A média da carga viral se mantém em
saram a infectar o homem há poucas décadas; alguns trabalhos níveis elevados durante os três primeiros anos de vida, depois
científicos recentes sugerem que isso tenha ocorrido entre os declina gradualmente para níveis semelhantes aos observados
anos 40 e 50. Numerosos retrovírus de primatas não-humanos em adultos infectados. Em adição, a resposta CTL é raramente
encontrados na África têm apresentado grande similaridade com observada antes do sexto mês de idade na infecção materno in-
o HIV-1 e com o HIV-2. O vírus da imunodeficiência símia (SIV), fantil. Nessas crianças, a resposta CTL geralmente tende a ser
que infecta uma subespécie de chimpanzés africanos, é 98% si- menos restrita e menos intensa do que a observada em adultos
milar ao HIV-1, sugerindo que ambos evoluíram de uma origem infectados. O atraso no desenvolvimento da resposta imune celu-
comum. Por esses fatos, supõe-se que o HIV tenha origem africa- lar contra os epítopos do HIV-1 observados em crianças infecta-
na. Ademais, diversos estudos sorológicos realizados na África, das pode induzir tolerância a alguns peptídeos virais.
utilizando amostras de soro armazenadas desde as décadas de Visto que o sistema imunológico em crianças não está comple-
50 e 60, reforçam essa hipótese. tamente desenvolvido como nos adultos, o curso natural da in-
O HIV-1 é o subtipo mais comum e responsável pela infecção fecção pediátrica pelo HIV- 1 apresenta algumas peculiaridades.
de milhões de pessoas no mundo todo. O HIV-2 é encontrado Notadamente a resposta imune em crianças com idade entre 0
principalmente na África, sua transmissão é menos eficaz e re- e 3 anos é pouco eficiente à infecção pelo HIV-1, contudo crian-
sulta em doenças de curso mais indolente. ças com idade superior a 4 anos são capazes de montar uma
O HIV é bastante lábil no meio externo, sendo inativado por resposta bastante eficaz contra as proteínas. Essa diferença na
uma variedade de agentes físicos (calor) e químicos (hipoclorito intensidade da resposta imune ao HIV-1, observada em crianças,
de sódio, glutaraldeído). sugere que o processo de diversificação dos genes virais pode
Têm sido descritas variantes genômicas (subtipos), tanto de ser mais lento durante a infecção pediátrica. Vários estudos
HIV-1 quanto de HIV-2, em pacientes infectados procedentes de abordaram a relação entre a diversidade do HIV-1 e a progressão
diferentes regiões geográficas. Com base na análise genética, o para AIDS. Existe consenso nesses estudos no sentido que quan-
HIV- 1 pode ser dividido em três subgrupos designados M (major), to mais intensa a resposta imune (celular e humoral) dirigida às
Paulo R. Margotto
Assistência ao Recém-Nascido de Risco
proteínas virais, mais diversificada a população viral no hospe- Os pacientes com AIDS também apresentam profundas anorma-
deiro. No entanto não se sabe se a diversificação do HIV-1 afeta lidades no funcionamento das células B. Paradoxalmente, esses
a progressão para a AIDS ou se é simplesmente uma decorrên- pacientes apresentam hipergamaglobulinemia e imunocomplexos
cia direta do tempo de infecção. Assim, adultos infectados pelo circulantes, decorrentes da ativação policlonal das células B. Isso
HIV- 1 que apresentam progressão rápida para AIDS possuem pode resultar de múltiplos fatores que interagem entre si: a rein-
uma população viral mais homogênea e pouco diversificada, en- fecção ou a reativação por citomegalovírus e EBV podem ocorrer,
quanto que em adultos que progridem lentamente possuem po- sendo ambos ativadores policlonais das células B; a gp 41 pode
pulação viral mais heterogênea. Igualmente, em crianças infec- por si só promover o crescimento e a diferenciação das células B;
tadas pelo HIV-1 observou-se que em pacientes que progridem macrófagos infectados pelo HIV podem produzir elevadas quanti-
lentamente para AIDS, as proteínas virais sofrem mais pressão dades de IL-6, o que estimula a proliferação das células B.
seletiva. Assim, as taxas evolutivas do HIV-1 nesses pacientes
são mais elevadas que em crianças com progressão mais rápida. Epidemiologia
Outra análise feita em pares mães-filhos mostrou que a taxa de
diversificação do HIV-1 ao longo todo tempo em crianças é similar O padrão epidemiológico da AIDS mudou dramaticamente desde
àquela observada em adultos. Esses achados indicam que ape- a descrição dos primeiros casos em 1981 nos EUA até os dias de
sar de que durante a infecção pediátrica a dinâmica da resposta hoje. Restrita inicialmente a alguns grupos de indivíduos nos EUA,
imune às proteínas virais é mais lenta que em adultos, o proces- Europa e África subsaariana, hoje a doença afeta todas as partes do
so de diversificação do HIV-1 é idêntico. mundo e se transformou em uma importante causa de morbimor-
Acredita-se que o HIV pode provocar a perda das células T CD4 por talidade, particularmente entre adultos jovens. Na primeira década
diversas maneiras que não incluem o efeito citopático direto do vírus: do reconhecimento da doença, a transmissão ocorria predominan-
temente por contato homossexual, mas as pessoas infectadas por
• No início do curso da doença, o HIV coloniza os órgãos transmissão heterossexual foram aumentando com o tempo, en-
linfóides (baço, linfonodos, tonsilas), sendo estes re- quanto o controle da qualidade do sangue e de seus derivados levou
servatórios das células infectadas. O vírus pode causar à diminuição dos casos secundários às hemotransfusões.
destruição progressiva da arquitetura e da composição As mulheres estão representando um contingente cada vez
celular dos tecidos linfóides; maior entre os casos de AIDS no mundo. No Brasil, a relação en-
• A ativação crônica das células não-infectadas, respon- tre homens e mulheres com AIDS vem caindo progressivamente,
dendo ao próprio HIV ou a infecções que são comuns em de 40:1 em 1983 para 1,5: 1 em 2007.
pacientes, provoca a apoptose dessas células por meio O crescimento progressivo do número de casos entre mulheres
de processo de morte celular induzida por ativação; jovens tem aumentado paralelamente os casos em crianças atra-
• Perda dos precursores imaturos de células T CD4, por vés da transmissão vertical. Entre 1980 e junho de 2008, foram
infecção direta das células progenitoras tímicas ou por notificados ao Ministério da Saúde 13.728 casos de AIDS em
458 infecção das células acessórias que secretam citocinas crianças menores de 13 anos de idade, sendo que 11.607 (84,5
essenciais para a maturação das células T CD4; %) foram adquiridas através da transmissão vertical. Em 2006
• Fusão de células infectadas com células não-infectadas, foram identificados 561 casos de AIDS em menores de cinco
havendo a formação de sincícios; anos, correspondendo a uma taxa de incidência de 3,1/100.000
• Apoptose das células T CD4 não infectadas induzida pela habitantes. O indicador taxa de incidência em menores de cinco
ligação de gp 120 solúvel com a molécula de CD4 e se- anos foi pactuado entre o Ministério da Saúde, estados e municí-
guida pela ativação do receptor das células T por antíge- pios na “Programação das ações de Vigilância em Saúde” (PAVS-
nos; essa reação cruzada das moléculas CD4 e a ativa- 2008) da Secretaria de Vigilância em Saúde. Esse indicador será
ção das células T provocam uma sinalização aberrante e utilizado para monitorar os progressos do “Plano Operacional
ativação de vias de morte. para Redução da Transmissão Vertical do HIV e da Sífilis”.
Um estudo multicêntrico (localizado em 14 estados do Brasil
Ainda que a marcante redução das células T CD4, um emblema e no Distrito Federal) realizado por Succi e colaboradores e pela
da AIDS, possa responder pela maior parte da imunodeficiência no Sociedade Brasileira de Pediatria em 2003 e 2004 avaliou as
final do curso da infecção pelo HIV, há fortes evidências de defeitos taxas de transmissão vertical do HIV (TMI do HIV) em todo país.
qualitativos nas células T, que podem ser detectados mesmo em Nesse estudo a TMI do HIV foi de 7,01%, havendo diferenças en-
indivíduos assintomáticos infectados pelo HIV. Os defeitos relata- tre as regiões estudadas.
dos incluem uma redução na proliferação das células T induzidas
por antígenos, uma diminuição nas respostas do tipo Th1 com re- Transmissão
lação às do tipo Th2, defeitos na sinalização intracelular e muitos
outros. O desequilíbrio entre as respostas Th1 e Th2 resulta em A maior parte dos casos de transmissão vertical do HIV (cerca
uma profunda deficiência na imunidade mediada por células, le- de 65%) ocorre durante o trabalho de parto e no parto propria-
vando a uma elevada suscetibilidade a infecções por vírus e a ou- mente dito; em torno de 25% da transmissão se dá intra-útero,
tros micróbios intracelulares. Além da infecção e perda das células principalmente nas últimas semanas de gestação, mas pode,
T CD4, a infecção dos monócitos e macrófagos é também extrema- eventualmente, acontecer no início, como comprovado através
mente importante na patogênese da infecção pelo HIV. Primeiro, de exames de abortos, havendo ainda um risco variando de 14 a
os monócitos e macrófagos representam uma verdadeira fábrica 22% por meio da amamentação.
e reservatório de vírus, cujos produtos permanecem amplamente A taxa de transmissão vertical do HIV, sem qualquer interven-
protegidos das células de defesa. Segundo, os macrófagos forne- ção, situava-se em torno de 25% no Brasil.
cem um veículo seguro para a migração do HIV para as diversas Em 1994, os resultados do Protocolo 076 do Pediatrics Aids Cli-
partes do corpo, incluindo o sistema nervoso. Terceiro, nos está- nical Trial Group (PACTG 076) que preconizou Zidovudina (AZT) oral
gios tardios da infecção por HIV, quando ocorre um enorme declí- para a gestante, endovenoso para a parturiente e oral para o recém-
nio nos números de células T CD4, os macrófagos podem ser um nascido, evidenciaram uma redução de 67,5% na transmissão verti-
local relevante de replicação viral continuada. cal, acrescido da alimentação através de fórmulas lácteas.
Capitulo 12 Infecções Perinatais Crônicas
Na evolução dos estudos, foi reconhecido que carga viral eleva- 3. Iniciar por via oral e por 6 semanas, Zidovudina (AZT) +
da tem valor preditivo na transmissão devido sua alta concentra- Nevirapina (NVP) nos RN >= 35 semanas de mães infec-
ção nas secreções cérvico-vaginais e no leite materno. tadas pelo HIV que não receberam antiretroviral na ges-
Assim, ficou amplamente comprovado que o uso de terapia tação, mesmo que a mãe tenha recebido AZT injetável
antirretroviral combinada é capaz de reduzir significativamente no momento do parto. Não há estudos que comprovem
a carga viral plasmática do HIV para níveis indetectáveis. A par- benefício do início do AZT após 48 horas de vida
tir desses dados a recomendação atual da terapia antirretroviral
para a gestante é feita com esquema de alta potência, evitando- Doses:
se medicações teratogênicas, como o Efavirenz. A terapia deve AZT: Solução oral: 1m = 10 mg
ser iniciada após o primeiro trimestre, caso as condições de saú- 4mg/kg/dose cada 12h
de da gestante permitam, com manutenção da Zidovudina endo- NVP: Solução oral: 1m = 10 mg
venosa intraparto e oral para o RN até 6 semanas de vida. Peso ao nascer: 1,5 a 2kg: 0,8mg (0,8ml)/dose
Peso ao nascer: >2kg: 1,2mg (1,2ml)/dose
Estratégias Para Prevenção Da Transmissão Vertical Do HIV
Nota:
1. Permitir acesso universal ao pré-natal para todas as 1a dose nas primeiras 48h de vida
gestantes. 2a dose 48h após a 1a dose
2. Realizar teste anti-HIV, com aconselhamento e consen- 3a dose 96h após a 2a dose
timento, para todas as gestantes, no 1º trimestre.
3. Recomendar a repetição do teste anti-HIV no 3º trimes- Atenção:
tre para todas as gestantes com teste negativo no 1º tri- Para a gestante que recebeu AZT durante a gestação, continua
mestre e principalmente para mulheres de alto risco. ser apenas o AZT para o recém nascido, em solução oral, 4mg/
4. Realizar teste rápido anti-HIV para mulheres que che- kg/dose, via oral por 6 semanas.
gam em trabalho de parto e não têm testagem documen- Para os RN com idade gestacional <35 semanas ou peso ao
tada, podendo a profilaxia ser iniciada antes do parto nascer <1,5kg, continua sendo apenas o AZT.
para as mulheres infectadas. Para o RN grave, sem condições de receber dieta ou medica-
mento por via oral ou sonda orogástrica até 48h de vida, usar
AZT injetável IV (frasco-ampola de 200 mg) apenas o AZT intravenoso na dose de 1,5mg/kg/dose a cada 6h,
Iniciar com 2 mg/kg na primeira hora, seguindo-se de infusão mesmo que a mãe tenha recebido antiretroviral durante a gesta-
contínua com 1 mg/kg/hora até o final do parto (a concentração ção, retornando ao uso oral de AZT+NVP como indicado.
não deve exceder 4 mg/ml). A OR (odds ratio) ajustada e não Os RN saem de alta com ambas as drogas e com orientação
ajustada para a relação entre uso de zidovudine e o status HIV para o Ambulatório e AIDS. Devem retornar para controle labora-
no RN foi de 0,19 (IC a 95% de 0,05-0,84) e 0,15 (IC a 95%: torial com 15 dias de vida 459
0,02-0,96). Respectivamente, a taxa de transmissão diminuiu Cotroles laboratoriais: hemograma (anemia, neutropenia-con-
para menos de 2%. tagem de neutrófilos abaixo de 500mm3 é de alto risco para abs-
cessos cutâneos e celulite pelo S. aureus, E. coli e Pseudomas) e
5. Fazer teste rápido anti-HIV para parturientes que che- enzimas hepáticas mensais
gam em período expulsivo, sem testagem documentada,
permitindo, para as positivas, iniciar a profilaxia de seus 4. Recomendar a não amamentação com fornecimento de
conceptos, o mais precoce possível. fórmulas infantis. O aleitamento misto é totalmente contra
6. Desestimular a amamentação – a transmissão varia indicado e nos casos de RN pré-termo ou PIG pode-se usar
de 14 a 22% com a freqüência, sendo que em uma única leite materno pasteurizado proveniente de Banco de leite.
oferta, o risco gira em torno de 0,001 a 0,004%.
Quanto ao aleitamento materno: é o meio predominante de
Fatores Associados À Transmissão Perinatal Do HIV transmissão pós-natal, tendo sido estimado com um adicional de
14%-22% de risco de transmissão: o HIV é encontrado em maior
1. Fatores virais: Carga viral materna, resistência aos an- quantidade no colostro.
tirretrovirais. Elaborado pelo Comitê de Aleitamento Materno e pela Divisão
2. Fatores maternos: Estado clínico, imunológico e nutri- de Doenças Sexualmente Transmissíveis:
cional, presença de DSTs e outras co-infecções, tempo de
uso de antirretrovirais na gestação. 1. Desestimular a prática indiscriminada do aleitamen-
3. Fatores comportamentais: Promiscuidade sexual, uso to cruzado. Diante da impossibilidade da mãe biológica
de drogas injetáveis. amamentar e optando-se por uma mãe substituta, cui-
4. Fatores obstétricos: Via de parto, duração da ruptura dados especiais devem na seleção da nutriz ser tomados
das membranas amnióticas, hemorragia intraparto. 2. Evitar o aleitamento natural nos casos de mães infec-
5. Fatores relacionados ao RN: Prematuridade, baixo tadas pelo HIV assintomáticas ou doentes de AIDS
peso ao nascer. 3. Em relação às mulheres com fatores predisponentes à
infecção pelo HIV, o aleitamento materno deve ser man-
Cuidados Imediatos Com o RN tido, considerando que os benefícios desta prática são
indiscutivelmente maiores que os riscos do lactente vir a
1. Limpeza delicada de todo sangue e secreções, imedia- se infectar pelo HIV
tamente após o nascimento, com banho em água corren- 4. Submeter ao processo de pasteurização todo o produto
te. utilizado em Banco de Leite Humano.
2. Se necessário aspirar vias aéreas, fazê-lo delicada-
mente, evitando traumatismo.
Paulo R. Margotto
Assistência ao Recém-Nascido de Risco
Diagnóstico Laboratorial Da Infecção Nascimento prematuro tem sido reportado em 19%, não ha-
Pelo HIV na Criança vendo diferença entre mães usuárias de drogas, daquelas conta-
minadas por outras formas.
Crianças menores de 18 meses requerem testes virológicos Apresentações clínicas usuais, vistas durante o curso da infecção
para detecção da presença do vírus. Testes sorológicos não de- pelo HIV são: linfadenopatia, febre, fraqueza, hepatoesplenomega-
vem ser utilizados neste período devido à persistência de anticor- lia, infecções do trato respiratório, principalmente otites e sinusites.
pos maternos nesta população; Outros eventos comuns são distúrbios de crescimento e desenvolvi-
Testes virológicos diagnósticos em filhos de mães HIV (+) devem mento neuropsicomotor, algumas vezes associados à diarréia crôni-
ser recomendados de 14 a 21 dias, 1 a 2 meses e 4 a 6 meses. ca e presença ou persistência de monilíase mucocutânea.
Preferencialmente esses testes incluem Reação de cadeia de A pneumonia por Pneumocystis jiroveci (anteriormente P. ca-
polimerase PCR-DNA (qualitativo) ou PCR-RNA (quantitativo). A rinni) – PCP foi, no início da epidemia um indicador de AIDS em
cultura viral tem sensibilidade similar ao PCR-DNA, entretanto a mais de 40% dos casos pediátricos; o pico da incidência dessa
realização é mais complexa e dispendiosa e o resultado definitivo patologia, na infância, ocorre durante os primeiros 3 a 6 me-
demora de 2 a 4 semanas. ses de vida, podendo ser o primeiro sintoma da infecção pelo
No Brasil preconiza-se a realização de dois exames de PCR- HIV. Desde a introdução da profilaxia para PCP na rotina das
RNA (carga viral), um a partir do primeiro mês de vida e um se- crianças expostas ao HIV, houve uma queda dramática nesse
gundo exame após o 4º mês. Se houver positividade em um des- tipo de infecção. Na criança comprovadamente infectada, a
ses exames, realiza-se um 3º exame. O PCR-DNA encontra-se em profilaxia será mantida até 12 meses e a partir daí, se houver
fase de registro para ser utilizado a nível de saúde pública. deficiência imunológica severa.
Assim, duas cargas virais indetectáveis e um teste de detec- A partir de estudo clínico recente em crianças menores de 3
ção de anticorpos anti-HIV não reagente, após os 18 meses, meses de idade, assintomáticas e com CD4 > 25%, ou seja, sem
exclui a infecção. deficiência imunológica, foi observado que o tratamento preco-
Nas crianças de 18 meses ou mais, testes sorológicos podem ce revelou redução de 75% na mortalidade, quando comparado
ser usados para o diagnóstico. São realizados testes de triagem com início baseado em critérios clínicos e imunológicos.
anti-HIV 1 e 2 e se positivo, um teste confirmatório é realizado Assim, a recomendação atual, é instituir tratamento em todos
(Imunofluorescência ou Western Blot). os menores de 12 meses, independentemente de sintomatolo-
Acompanhamento clínico e laboratorial da criança exposta gia clínica, classificação imunológica ou carga viral, com terapia
ao HIV até definição de exclusão da infecção de alta potência. A criança deverá ser acompanhada em Centro
Após a alta da maternidade, o RN deverá ser encaminhado especializado onde será instituído o tratamento adequado. Para
para acompanhamento especializado. aquelas crianças infectadas em que a mãe recebeu tratamento
Manter AZT oral até completar 42 dias de vida; como nessa no pré natal e/ou parto e as mesmas receberam AZT no período
fase o diagnóstico ainda é incerto e frente ao risco de pneumonia pós-natal, deverão preferentemente ser submetidas à genotipa-
460 por P. jiroveci nas crianças infectadas, iniciar Sulfametoxazol + gem (teste de resistência) pelo fato de seu vírus circulante já ter
Trimetoprin profilático após término do AZT sofrido influência de algum(s) antirretroviral(is).
Dose: 750 mg/m2/dia (da Sulfa), dividido em duas doses, 3x/ A Imunização das crianças infectadas, segue esquema normal
semana – Deverá ser mantido até exclusão diagnóstica (2 cargas acrescido de algumas vacinas especiais dos CRIES.
virais indetectáveis);
Acompanhamento mensal até o 6º mês de vida e depois bi- • BCG – Deve ser administrada ao nascimento ou o mais
mensal, com avaliação rigorosa do crescimento, desenvolvimento rápido possível, quando ainda não há alteração imuno-
neuropsicomotor, perímetro cefálico e presença de co-infecções; lógica.
Devido à mielotoxicidade do AZT realizar hemograma ao nasci- • Vacina contra poliomielite: dar preferência à vacina ina-
mento e durante o acompanhamento, assim como provas hepá- tivada (VIP); caso essa não esteja disponível e a criança
ticas e glicemia devido ao risco potencial de alterações metabó- não apresente nenhum sinal de imunodeficiência, pode-
licas conseqüentes à exposição a esquemas antirretrovirais de rá ser fornecida a vacina oral (VOP).
alta potência na vida intra-uterina; • Vacinas especiais: Pneumo 7 valente, Pneumo 23 valen-
Após exclusão da infecção através de duas cargas virais inde- te, Meningococo C, Influenza, Hepatite A – seguir esque-
tectáveis, o acompanhamento é feito, conforme citado anterior- ma dos CRIES.
mente, até 18 meses quando será realizado exame sorológico • Vacinas de vírus vivos atenuados não devem ser aplica-
final. A partir daí o acompanhamento será anual avaliando provas das em crianças sintomáticas ou com imunodepressão
hepáticas e hematológicas até a adolescência; isso é uma reco- grave (Tríplice viral, Febre Amarela, Varicela).
mendação dos diversos consensos e revisões mundiais até que
os dados acerca da exposição intra-uterina aos antirretrovirais de História Natural e Prognóstico
alta potência estejam disponíveis;
A Imunização das crianças expostas ao HIV segue a recomen- Modelos estatísticos do “período de incubação” de AIDS en-
dação das crianças comprovadamente infectadas, segundo ca- tre crianças com infecção perinatal, sugerem que pode haver
lendário dos Centros de Referência de Imunobiológicos Especiais dois padrões distintos de progressão da doença, com um pico
(CRIES), até a idade de 18 meses. A partir daí devem seguir o aos 4 meses de vida e um segundo em torno de 6 anos. Muitas
Calendário Oficial do Ministério da Saúde. crianças com diagnóstico de AIDS nos primeiros 6 meses de vida,
se apresentam com Pneumonia por Pneumocystis jiroveci (PCP)
Acompanhamento Das Crianças enquanto em crianças mais velhas outras condições definidoras
Infectadas Pelo HIV são mais prevalentes.
Dados clínicos prospectivos, dão suporte à hipótese de uma
A criança nasce em geral assintomática e a sintomatologia inicial manifestação bimodal para a infecção perinatal do HIV, com uma
pode ser súbita e muitas vezes difícil de distinguir das manifesta- forma precoce, severa e de alta mortalidade e outra com sinto-
ções causadas por drogadição materna, dos problemas causados mas leves a moderados e longa sobrevida. Uma hipótese sugere
por prematuridade ou outras infecções congênitas que não HIV. que as crianças de baixa sobrevida podem representar aquelas
Capitulo 12 Infecções Perinatais Crônicas
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Paulo R. Margotto
Assistência ao Recém-Nascido de Risco
12.4 RUBÉOLA
Doença causada pelo vírus da rubéola (VR) do gênero Rubivírus e 2. Manifestações permanentes: surdez (80 a 90%), do-
da família Togaviridae, causando infecção intra-uterina ou pós-natal. ença cardíaca congênita (persistência do canal arterial
- 30%; estenose de artéria pulmonar), microftalmia, ca-
Epidemiologia tarata ( 6 a 45%), glaucoma, retinopatia pigmentar (“sal
e pimenta”), retardo mental e psicomotor, microcefalia;
A infecção predomina na primavera e no inverno 3. Manifestações tardias: Diabetes mellitus, panencefa-
A eliminação de vírus pelos RN infectados é importante pela lite progressiva, hipo e hipertireoidismo.
manutenção do vírus na comunidade entre períodos epidêmicos
(podem eliminar o vírus 6-12 meses após o nascimento); Diagnóstico
Reinfecção pode ocorrer após a rubéola natural ou nos já vaci-
nados. A reinfecção raramente origina doença congênita. Suspeita-se do diagnóstico de rubéola congênita após diagnós-
tico de infecção materna ou sinais sugestivos da doença no RN.
Rubéola Congênita
Laboratorial
Resulta da infecção fetal pelo VR por passagem transplacentária.
• Intrauterino
Síndrome Da Rubéola Congênita Identificação do vírus em material de biópsia de vilo coriônico,
amniocentese e através de cultura e de técnicas como imuno-
Caracteriza-se por infecção crônica que se inicia no primeiro tri- histoquímica e PCR.
mestre de gestação e prolonga-se por meses ou anos após o nasci-
mento. O VR causa inibição da mitose celular, o que explica o retar- • Pós-natal
do do crescimento (RN PIG) e a desorganização da organogênese. Testes sorológicos
A infecção maciça do feto no resulta em recém-nascido com A detecção de anticorpos IgG e IgM por métodos automatiza-
uma ou múltiplas anomalias como catarata, surdez e cardiopa- dos têm sido mais usado na prática clínica
tias congênitas. O vírus pode continuar infectando todos os ór- Interpretação dos testes sorológicos
gãos e tecidos do recém-nascido resultando em hepatite, pneu- Os anticorpos IgM estão presentes ao nascimento. Os anticor-
462 monia, pancreatite, miocardite, meningite e outros. Portanto, pos IgG são detectáveis após os 6 meses de vida.
poderá haver a coexistência de lesões antigas e recentes.
Síndrome da Rubéola Congênita (SRC)
Transmissão
Protocolo de Acompanhamento dos
Apresentam as seguintes taxas, de acordo com o período Recém-Nascidos Suspeitos de SRC
gestacional:
Berçário
1. 67 a 90% no primeiro trimestre
2. 25 a 67% no segundo trimestre • Isolar o recém-nascido (RN) durante o período da interna-
3. 35 a 100% no terceiro trimestre ção hospitalar, até que os exames afastem o diagnóstico;
• Coletar a 1ª amostra de sangue do RN ao nascimento e
Quando a infecção fetal ocorre nas primeiras 8 semanas de gesta- enviar junto com o formulário individual de encaminha-
ção, 75% apresentam infecção clínica nos 4 primeiros anos de vida. mento de amostras para o Laboratório Central (LACEN)
• Realizar exame clínico minucioso do RN, avaliando a exis-
Quadro Clínico tência de qualquer malformação. Caso haja alguma suspei-
ta, encaminhar para diagnóstico nos serviços de referência;
Varia desde recém-nascidos aparentemente normais a severa- • Fazer notificação do RN ao Núcleo de Vigilância Epide-
mente acometidos com múltiplas anomalias. miológica e Imunizações (NVEI);
Rubéola Pós-Natal
463
É, em geral, benigna, autolimitada e altamente contagiosa ca-
racterizada por exantema máculopapular. Pode ser subclínica em
½ a 1/3 dos casos.
O diagnóstico é confirmado pela presença de anticorpos IgM
Fig.2. Em (A) US no plano sagital através do ventrículo lateral mostrando anti-rubéola no soro. A identificação de casos de rubéola adquirida
plexo coróide irregular (setas) e debris ecogênicos na cavidade ventricu- é relevante pela possibilidade de infecção de gestantes a partir
lar (cabeça de seta). Em (B), aos 3 meses, US no plano sagital mostran- desses casos, o que pode resultar em casos de rubéola congênita.
do áreas densamente ecogênicas na gânglia basal (setas) (Carey)
Diagnóstico Laboratorial (Testes Sorológicos)
Exames Laboratoriais E Avaliação
Dos Casos Suspeitos De SRC 2ª amostra
Caso Anticorpos 1ª amostra Conclusão
(2 semanas após)
Os exames deverão ser realizados para TODOS os casos sus- 1 IgM Negativo Inalterado Susceptível
peitos de SRC. A interpretação/classificação dos casos e condu-
2 IgM Negativo Positivo Primoinfecção
tas em relação ao RN também poderá ser feita de acordo com o
Imune e sem
estado imunológico da mãe. Será coletada amostras para iden- 3 IgG Positivo Positivo estável
reinfecção
tificação viral e para sorologia, para pesquisar anticorpos IgM e
IgG específicos para rubéola. Além dos exames específicos para Positivo com
o diagnóstico da SRC também deverá ser realizados exames ines- resultados ascen-
4 IgG Positivo Reinfecção
pecíficos, que poderão auxiliar na classificação dos casos, tais dentes
como: hemograma com dosagens de plaquetas, dosagens de en-
zimas hepáticas e renais, entre outras.
Prevenção
Sorologia
Vacinação
Coletar sangue do caso suspeito – O sangue deverá ser cole-
tado, centrifugado e o soro separado. Não deverá ser congela- RA 27/3 (AlmevaxR): isolada ou associada às vacinas anti-
do. Enviar ao laboratório em frasco próprio, no máximo em 48 sarampo e anticaxumba (MMR2) - é a cepa que confere maior
horas após a coleta. Manter a +2 a +8ºC. As amostras devem proteção contra a reinfecção.
ser encaminhadas ao LACEN. Eficácia
produz rara conversão em cerca de 95% dos indivíduos sus-
ceptíveis.
Paulo R. Margotto
Assistência ao Recém-Nascido de Risco
Indicação
1. Crianças de 1-12 anos de ambos os sexos
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Capitulo 12 Infecções Perinatais Crônicas
Doença causada pelo Trypanosoma cruzi que requer dois hos- Sinais Neurológicos
pedeiros: um invertebrado (Triatomíneo) e um vertebrado ( o ho-
mem, animais silvestres e domésticos) • Tremores finos generalizados, crises convulsivas (focais
ou generalizadas)
Transmissão • Meningoencefalite (hipotonia, hiporreflexia, apnéia, hi-
percelularidade com predomínio de linfócitos
A transmissão ocorre, habitualmente, através do triatomíneo, • Retardo mental, calcificações intracranianas
podendo também ocorrer por transfusão de sangue, pela via di-
gestiva e, acidentalmente, em laboratório. Lesões Oftálmicas
A transmissão materno infantil pode ocorrer por via transpla-
centária (mais comum), pela geléia de Wharton, pelo líquido • Coriorrenite, uveíte, opacificação corneana
amniótico, através do contato do sangue materno com as mu-
cosas do recém-nascido (intra-útero, durante ou após o parto). A Alterações Cardio-Vasculares
transmissão através do aleitamento materno pelo leite, colostro
e fissura mamária foi demonstrada por, duas vezes (pela sua rari- • Taquicardia (devido à miocardite e anemia)
dade, não se contra-indica o aleitamento materno). • Insuficiência cardíaca, raramente
Órgãos mais afetados na fase aguda: coração, SNC, tubo digestivo, • Alterações no ECG (baixa voltagem do QRS, extrassístoles
músculo esquelético e pele. Na fase crônica: coração, esôfago e cólon. ventriculares, bloqueio atrio-ventricular 1º grau)
• Entre gestantes: varia de 2 a 11% nos centros urbanos e • Dispnéia, pneumonite, pneumonia
de 23 a 58% nas áreas rurais
• Nos recém-nascidos pode variar de 0,7% até 8%. Estu- Alterações Trato Digestivo
do realizado em Brasília demonstrou transmissão de 1%
entre as chagásicas crônicas e 7,7% entre prematuros • Inapetência, vômitos, diarréia, regurgitação
filhos de chagásicas • Megaesôfago congênito (disfagia e vômitos), megacólon, 465
em raríssimos casos
Quadro Clínico
Hepatoesplenomegalia
1. Na mãe
• A maioria das gestantes chagásicas é assintomática (fase). • Presente em quase todos os casos
indeterminada ou período assintomático da fase crônica) • Hepatomegalia: geralmente ao nascimento, persiste du-
• Nas gestantes sintomáticas predominam as manifesta- rante vários meses; geralmente é discreta e moderada
ções cardíacas • Esplenomegalia: menos freqüente, aumenta progressiva-
2. No recém-nascido (com infecção congênita) mente no decorrer do 1º mês de vida
• Exuberância das manifestações clínicas não se correlacionam
com a intensidade da parasitemia. A maioria é assintomática. Alterações Genito-Urinárias
Lesões Cutâneo Mucosas • Por hemotransfusão: difere apenas pelo período de incu-
bação: mais prolongado 20 a 40 dias
• Chagomas metastáticos cutâneos - extremidades inferiores • Por aleitamento materno: quadro clínico semelhante à
• Abscessos cutâneos múltiplos forma congênita
Paulo R. Margotto
Assistência ao Recém-Nascido de Risco
Diagnóstico Deve Ser Suspeitado Em Caso De • Efeitos colaterais: inapetência, náuseas, tremores, exci-
tação, insônia, crises convulsivas, dermatite
• Aborto, natimorto, prematuro, PIG
• RN com clínica de infecção congênita Benzonidazol (Rochagan, Rodaniz) - 1 comp.= 100 mg
• Filhos de mulheres procedentes ou residentes em área • Dose: 10 mg/kg/dia por 5 dias. Após isso, reduzir para 7,5
endêmica para Doença de Chagas e/ou hemotransfun- mg/Kg/dia até completar 60 dias de tratamento
didas no passado • Negativação da parasitemia: por volta do 6º e 20º dia de
• Filhos de chagásicas, mesmo as assintomáticas tratamento
• RN que tiveram contato com Triatomíneos • Efeitos colaterais: Dermatite (9º dia de tratamento), febre,
• RN que receberam transfusão de sangue ou derivados. enfartamento ganglionar, dores articulares e musculares, neutro-
penia, vômitos e diarréia
Diagnóstico Laboratorial
Seguimento
• Através de métodos histopatológicos, parasitológicos ou
imunológicos • Crianças infectadas: exame físico mensal. Exames com-
plementares: hemograma completo, prova de função he-
Parasitológicos: pática, quinzenalmente, durante o tratamento
(Métodos Diretos E Indiretos) • Crianças não infectadas: sorologia trimestral enquanto
criança for amamentada ao seio e dois meses após ces-
• Demonstração do parasita (depende da parasitemia) sada a amamentação
• RN com doença cardíaca congênita - parasitemia em ge-
ral baixa ao nascer. Pico máximo com 1 a 2 meses de Bibliografia
idade declina lentamente dos 5 a 8 meses
• Medina-Lopes MD. Transmissão materno infantil da Doença de Chagas. Tese de Mestrado.
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• Gota espessa • Nagaiassu M, Picchi M e cl. Doença de Chagas congênita: relato de caso com hidropsia em
recém-nascido. Pediatria (São Paulo) 22:168, 2000
• Técnica do microhematócrito
• Método de Strout
466 • Técnica da Tríplice centrifugação com sangue coagulado
Métodos Indiretos
Sorológicos
Tratamento
Paulo R. Margotto
Etiologia
O vírus do Herpes simples (HSV), é um DNA vírus, pertencente transmissão de uma criança a outra no Berçário. Finalmente nos
à família Herpesviridae, que congrega mais de 70 espécies, em- casos congênitos, a infecção se dá por via transplacentária, e
bora cinco tenham interesse humano: citomegalovirus, varicela é possível a contaminação do RN mesmo com infecção mater-
zoster, herpes simples I e II e o vírus Epstein Barr. na totalmente assintomática, porém com eliminação de vírus.
Diferenças entre o Herpes Simples I (infecção “acima da cintura”) e II: Os anticorpos neonatais recebidos da mãe pode não proteger o
recém-nascido da infecção, pois havendo lesão de pele causada
HSV I HSV II por fórceps, pode facilitar o acesso do vírus ao sistema nervoso
via transporte axonal.
Infecta primariamente Infecta primariamente
sítios não genitais sítios genitais
Clínica
Transmissão primariamente Transmissão primariamente
não genital genital
1. Infecções Disseminadas,
Menos neurotrópico Mais neurotrópico Com ou sem acometimento do SNC. Os órgãos mais freqüen-
temente afetados são: fígado, supra-renais; outros: rins, pulmão,
As infecções neonatais são, na grande maioria dos casos, tubo digestivo e coração. O acometimento do SNC é comum, mas
causadas pelo HSV tipo 2. Ambos as espécies são neurotrópicas muitas vezes o óbito ocorre antes que isso se expresse clinica-
(após se ligarem às células da epiderme e mucosa do hospedei- mente. Lesões de olho, pele e mucosa oral nem sempre chegam
ro, os vírus envelopados são transportados via axônios aos nú- a aparecer. O exantema vesicular é considerado patognomônico
cleos das células neuronais). O virus HSV I também pode causar da infecção pelo HSV, porém surge mais tardiamente, podendo
a rara, mas severa encefalite herpética neonatal. Embota o vírus estar ausente em 20 a 30% dos casos. A meningoencefalite está
HSV II é o agente mais comum causador do herpes genital,, tan- presente em 60 a 75% dos casos.
to sintomático como assintomático, em alguns países, tem sido As manifestações iniciais surgem geralmente após a 1ª semana
relatado que o HSV I pode causar herpes genital em 20-40%.. No de vida e são, geralmente, inespecíficas: anorexia, vômitos, letar-
adulto, o vírus HSV II é responsável pela meningite recorrente. No gia e febre. Outras vezes se iniciam com acontecimento sistêmico
período neonatal, o vírus HSV II é ainda o principal agente das in- importante (icterícia, petéquias, apnéias) ou do SNC (convulsão, 467
fecções herpéticas neonatais, tanto da forma disseminada como irritabilidade). A hepatoesplenomegalia é comum, muitas vezes
a que acomete o SNC. acompanhada de icterícia, que pode regredir rapidamente ou
persistir até o óbito. Uma forma clínica grave se caracteriza por
Epidemiologia diátese hemorrágica (sangramento gastrointestinal, hemoptise,
hematúria) acompanhada de choque e rápida evolução fatal, com
A prevalência do HSV I está em torno de 70-75% dos adultos, evidências laboratoriais de CIVD. A mortalidade é elevada (82%)
mesmo em países desenvolvidos. O HSV II raramente existe na com duração média de 7 dias (alguns morrem em poucas horas,
infância, mas é comum em ambos os sexos a partir da adoles- mas, muitos sobrevivem por várias semanas). A morte decorre da
cência e início da vida sexual e tem sido relatado ocorrer em 20- progressão da doença neurológica (quando presente), pneumonite
25% das mulheres férteis, sendo responsável por 75-85% das grave, ou choque (coagulação intravascular disseminada).
infecções neonatais. A incidência de herpes neonatal varia entre Os sobreviventes podem exibir sequelas, sendo o retardo neu-
os diferentes países (nos Estados Unidos; 1300 e nos Reino Uni- ropsicomotor e coriorretinite as mais freqüentes.
do:1,6/100.000). A infecção por um dos tipos não protege da
infecção pelo outro tipo. 2. Infecções Localizadas,
Onde há evidências clínicas ou laboratoriais de acometimento vis-
Transmissão Ao Bebê ceral. Estão comprometidos (isoladamente ou em conjunto) o SNC,
pele, olhos, ou cavidade oral, conhecido como skin-eye-mouth.
O risco de infecção para o RN é maior quando a mãe apre- SNC: O início das manifestações clínicas é mais tardio (período
senta infecção primária adquirida no 3º trimestre (40 a 50%), de incubação de 2-4 semanas), sendo que em 50% dos casos a
especialmente nos partos prolongados, e com rotura precoce de doença começa pelo aparecimento de lesões da pele, boca ou
membranas, visto que o canal de parto infectado é a principal olhos. O exame do LCR revela geralmente pleocitose e hiperpro-
via de transmissão, no RN. Isto pode ser explicado pela maior teinorraquia, eventualmente com hemácias.
viremia na infecção primária, pelo maior número de lesões e pela O EEG quase sempre se mostra alterado. A mortalidade é de
ausência de proteção imunológica; 25% tem origem não genital 40%, e a grande maioria dos sobreviventes têm sequelas neuro-
e freqüentemente não materna. Se a mãe com infecção primá- lógicas, eventualmente oculares.
ria recebeu tratamento antiviral durante o nascimento e este vir Olhos: Ocorre isoladamente ou em associação com comprome-
ocorrer por cesariana, o risco de transmissão é bem menor, po- timento do SNC. Freqüentemente queratoconjuntivite ou coriorre-
rém ainda existe. Mães com herpes genital recorrente, a trans- tinite; menos freqüente: microftalmia, uveíte, displasia de retina
missão ao recém-nascido é muito menor, porém, deve ser evitado (catarata e cegueira podem surgir como sequelas).
lesões de pele, devido ao maior risco do vírus entrar no sistema Pele: mais comum. As lesões aparecem na segunda semana de
nervoso central. Também pode ser transmitida por adultos que vida- erupção vesicular isolada ou não, até lesões bolhosas com ten-
manipulam crianças no Berçário, os quais podem apresentar um dência rápida a laceração, diminuindo a especificidade diagnóstica.
ou mais episódios anuais de Herpes não genital. Já foi descrita
Paulo R. Margotto
Assistência ao Recém-Nascido de Risco
Cavidade Oral: mais raro - lesões ulceradas de boca e língua, (preparações oftálmicas de iodoxuridina a 0,1%, trifluridina a 1%:
mais comumente associada com acometimento de outros órgãos. encaminhar ao oftalmologista).
A doença pode recorrer nos 6 a 12 primeiros meses de vida, Aciclovir: Apresentação Comercial - Zovirax ® :
independente do tratamento e evoluir com doença neurológica Pomada oftálmica: 1 gr = 0,03 gr
progressiva, com quadriplegia espástica, microcefalia e distúr- Frasco com 500mg e 1g: dissolver o conteúdo de 500mg em
bios visuais graves. 10 ml de água destilada estéril; a solução reconstituída é estável
a temperatura ambiente por 12 horas; não refrigerar
Diagnóstico
Profilaxia
1. Morfológicos: lesões de pele, boca e olhos facilitam
o diagnóstico. A análise de esfregaço obtido dessas le- • Lesões genitais do HSV no início do trabalho de parto:
sões revelam em 60-70% dos casos, alterações típicas indicação de cesariana
incluindo células gigantes multinucleadas e inclusões • História de infecção genital pregressa: parto normal e
intranucleares. colher material para cultura da cérvix uterina (o risco de
2. Virológico: isolamento do vírus em cultura de tecido ou herpes neonatal é baixo, cerca de 3%)
técnica de imunofluorescência, imuno peroxidase ou mi- • RN de mães com lesões ativas de parto normal ou cesaria-
croscopia eletrônica (Não disponíveis em nosso meio).É na com rotura das membranas mais de 4 hs, isolar o RN:
o melhor método diagnóstico (180 hs a 5 dias já se evi- • Após o primeiro dia: colher material do orofaringe e secre-
dencia o efeito citopático). ção conjuntival para cultura; exame clínico semanal até
3. Imunológico: Os anticorpos contra HSV podem ser 6 semanas de vida: se aparecer clínica, como letargia,
detectados por fixação do complemento, enzima-imuno- recusa alimentar ou cultura positiva, iniciar aciclovir
ensaio (ELISA) e a imunofluorescência. Dificuldade: di- • Herpes labial: mãe: orientação quanto aos mecanismos
ferenciar os anticorpos transmitidos passivamente pela de contágio; profissionais de saúde: máscara ou se afas-
placenta, dos produzidos pela criança, sendo importan- tar temporariamente.
te detectar os Ac IgM que não são de origem materna, • A mãe e o RN não devem ser separados após o parto,
indicando a presença de infecção na criança, surgindo mesmo que a mãe tenha infecção em atividade pelo HSV.
dentro das primeiras 2-3 semanas após o nascimento e No entanto, devem ser recomendados cuidados de higie-
persistindo por 6 meses a 1 ano. ne rigorosos no trato com o RN.
O exame do líquor deve ser feito nos casos suspeitos, podendo Bibliografia
revelar pleocitose e hiperproteinorraquia. O encontro de hemá-
• Margotto PR.Hepatite Vírus B - Herpes Simplex.Boletim Informativo Pediátrico (BIP)- Bra-
cias no líquor ocorre em 75a 85% dos casos de encefalite herpé- sília, Nº 25, 1982.
468 tica, sendo um achado muito sugestivo de envolvimento do SNC. • Whitley RJ, Arvin AM. Herpes simplex virus infections. IN: Remington JS, Klein JO. Infectious
diseases of the fetus and newborn infant. 4th Ed, WB Saunders, pg 354, 1995
• Whitley RJ. Neonatal herpes simplex infections: is there a role for immunoglobulin in dise-
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Tratamento • D’Andrea CC, Ferreira PC. Disseminated Herpes Simplex virus infections in a neonate. Am
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• Abadi J. Acyclovir. Pediatr Rev 18:70, 1997
Aciclovir: é um análogo ao nucleosídeo DNA, inibindo a replica- • Whitley RJ, Kimberlin DW.Treatment of viral infections during pregnancy and the neonatal
period. Clin Perinatol 24:267, 1977
ção do Herpes vírus (atuas como inibidor competitivo da DNA-po- • Jr Feder HM, Goyal RK, Krause PJ. Acyclovir-induced neutropenia in an infant herpes sim-
limerase do HSV) com mínimo efeito adverso às células normais, plex encephalitis: case report. Clin Infect Dis 20:1557, 1995
• Torrezan JCS. Infecções Congênitas e Perinatais. IN: Rugolo LMSS. Manual de Neonatolo-
com baixa toxicidade, sendo bem tolerado pelo RN. A droga deve gia. Revinter, Rio de Janeiro, 2 Edição, pg 273, 2000.
• Arvin AM, Whitley RJ. Herpes simplex virus infections. IN: Remington JS, Klein JO. Infectious
ser administrada exclusivamente endovenoso. A biodisponibili- diseases of the fetus and newborn infant. 5th Ed, WB Saunders, pg 425, 2001
dade da droga por via oral é ruim e não atinge concentrações • Abreu TF. Infecções perinatais crônicas e o sistema nervoso central do recém-nascido.
Clinica de Perinatologia 2/3:481, 2002
terapêutica no líquor. Cerca de 70% das crianças com doença • Malm G. Neonatal herpes simplex vírus infection. Semin Fetal Neonatal Med 14:204, 2009
limitada a pele, olho ou boca vão evoluir com encefalite ou do-
ença disseminada, se não tratadas.O aciclovir é fosforilado em
seu composto ativo, o trifosfato de aciclovir, após penetrar nas
células infectadas pelo Herpes. Dose: 60mg/kg/dia EV, dividido
em 3 aplicações (duração:14 dias para casos com doença limi-
tada a olho,pele, boca e boca-skin-eye-mouth e 21 dias para os
casos em que houve encefalite ou doença disseminada). Dose
de 30mg/Kg por 14 a 21 dias, como usado anteriormente não
melhorou a mortalidade e um grande número de crianças apre-
sentava sequelas tardias. O aciclovir é mais benéfico quando ad-
ministrado no início dos sintomas; se administrado 1-2 dias após
o início da infecção, pode ser inefetivo e a mortalidade pode che-
gar até 80%. Uma hidratação adequada deve ser mantida para
diminuir a nefrotoxicidade da droga.Há o risco de neutropenia,
devendo ser realizado acompanhamento do leucograma (se gra-
ve neutropenia, diminuir a dose) O uso é exclusivamente endove-
noso. Estudos recentes têm mostrado benefício do uso de imu-
noglobulina combinada com a terapia antiviral, principalmente
nos bebês com formas disseminadas da doença. Como a maioria
das infecções no RN são conseqüentes de infecção primária com
ausência de anticorpos neutralizantes, estes são encontrados
em títulos elevados nos lotes de gamaglobulina. Dose: 0,2-0,5
ml /Kg IM. Para as formas oculares: tratamento tópico específico
Capitulo 12 Infecções Perinatais Crônicas
12.7 VARICELA
Mauro P. Bacas
Considerações Gerais
Doença provocada por um alphaherpevirus, vírus Varice- Não há necessidade de isolamento do RN com a Síndrome de
la Zoster (VVZ), podendo ocorrer lesões na pele como: lesões Varicela Congênita, pois a replicação viral ocorre provavelmente
cicatriciais,hipopigmentação, no sistema nervoso : encefalite em fase precoce da gestação, não persistindo a presença do ví-
intra uterina,atrofia cortical e porencefálico,convulsão,retardo rus varicela-zoster por ocasião do nascimento.
mental nos olhos: coriorretinite,catarata,microftalmia,anisocoria
,na musculatura esquelética:hipoplasia dos membros e muscu- Indicações Da Imunoglobulina Humana Antivaricela Zoster,
lar, sistêmica : retardo do crescimento intra uterino,baixo desen- Dentro Das 72 A 96 Horas Pós-Contági0
volvimento, defeitos cardíacos, trato gastrintestinal:refluxo gas-
trintestinal, trato urinário: hidroureter e hidronefrose . Em geral 1. RN pré-termo com idade gestacional igual ou superior
são crianças pequenas para a idade gestacional (PIG). a 28 semanas, hospitalizado, cuja mãe não tenha tido
varicela.
Transmissão 2. RN pré-termo com menos de 28 semanas de idade
gestacional (ou menos de 1000g ao nascimento), hospi-
A varicela é incomum na gravidez. Atualmente acredita-se que talizado, independente de haver ou não relato de antece-
a Síndrome da Varicela congênita (SVC) possa ocorrer durante os dentes materno para varicela.
dois primeiros trimestres da gravidez. A incidência da síndrome é 3. RN de mães em que a varicela tenha se manifestado
cerca de 2% se a infecção materna ocorrer entre 13ª e 20ª sema- nos 5 dias imediatamente anteriores ao parto ou até 48
nas de gestação, comparando-se com aquela acometendo a ges- horas após.
tante entre 0 e 12 semanas, 0,4%. Embora o feto possa ser infec- 4. Grávidas, particularmente, no primeiro trimestre de
tado quando a varicela materna ocorrer de forma tardia(terceiro gestação. Estas pessoas receberão a imunização passiva
trimestre), a única evidência é, em geral, título de anticorpo con- somente se tiverem contato domiciliar contínuo ou se ti-
tra VVZ positivo, entretanto a criança pode desenvolver Herpes verem permanecido junto ao caso índice por pelo menos
Zoster durante o primeiro e segundo ano de vida. Infecção ma- 1 hora em ambiente fechado.
terna imediatamente antes ou após o parto pode causar varicela 5. Dose: 125 UI (1,25 ml) via intramuscular.
disseminada no recém nascido. Herpes materno não resulta em 6. A imunoglobulina não evita necessariamente a varicela 469
resultados adversos para o feto ou recém nascido. ou as suas complicações e prolonga o período de incuba-
ção por cerca de 1 semana. A dose deve ser repetida se
Exames Laboratoriais houver nova exposição 2 semanas ou mais após o rece-
bimento de dose anterior
No diagnóstico sorológico, os dados são insuficientes para ava-
liação do significado de resultados negativos com emprego de Tratamento
técnicas como detecção de IgM no sangue fetal ou pesquisa do
DNA viral em material obtido por amniocentese.Os resultados po- Nos casos de varicela perinatal usar Aciclovir na dose de 20
sitivos não revelam acometimento do feto. Nem mesmo criança mg/kg/dose, de 8/8 hora, infundido durante 1 hora
em que foi detectado o DNA do VVZ, pela técnica de reação em
cadeia de polimerase, evidenciou malformação. Prevenção
Varicela De Acometimento Neonatal Enviar o soro para diagnóstico em laboratório para determina-
ção dos anticorpos para varicela. O pessoal de saúde poderá conti-
A varicela materna de ocorrência dentro dos 21 dias preceden- nuar trabalhando 8 dias após a exposição, aguardando o resultado
tes ao parto, associa-se ao aparecimento de doença neonatal em sorológico,pois não são potencialmente infectados neste período.
aproximadamente 25 – 50% dos recém-nascidos. Há maior gravi- Anticorpos anti varicela > 1:4 provavelmente são indicativos
dade da doença do RN quando a doença materna tiver início 05 de imunidade.
dias antes ou 48 horas após o parto. VZIG dose para recém nascido- 1,25 ml e para gestante 6,25 ml.
Esta é a razão de se indicar imunização passiva nestas crian- Considerar não infectante quando nenhuma nova vesícula
ças, empregando-se a Imunoglobulina Humana Hiperimune Anti- aparecer dentro de 72 horas e todas as lesões estiverem na
Varicela Zoster (VZIG). fase de crosta.
Contrastando com a aquisição transplacentária do VVZ, há Se a exposição ocorrer antes dos 6 dias que antecedem ao
pouca evidência de que a infecção adquirida no período pós-na- parto, a mãe poderá não estar infectada até 72 horas.
tal, definida como varicela de início após 10 dias de vida, seja de
maior gravidade no RN quando comparada a infecção de crian- Vacina Contra Varicela
ças com mais idade.
A imunidade materna pode não garantir proteção absoluta É uma vacina de vírus atenuado, originalmente isolada de uma
para o RN contra varicela, entretanto, como os anticorpos IgG criança japonesa chamada Oka, portadora de varicela natural.
atravessam a placenta, os RN de mães imunes devem estar, pelo Dessa cepa originaram-se as atuais, que hoje são utilizadas. No
menos, parcialmente protegidos. Mesmo em RN pré-termos e PIG Brasil existem 3 produtos licenciados, contendo a própria cepa
podem ser detectados anticorpos contra o VVZ. Oka(Aventis Pasteur-AP), cepa Oka /Merck(Merck, Sharp Dohme-
Paulo R. Margotto
Assistência ao Recém-Nascido de Risco
MSD) e cepa Oka/RIT(Glaxo Smith Kline-GSK). A vacina foi libera- ricela com Tríplice,oral ou inativada contra Poliomielite, Hepatite
da pelo FDA em 1995. A ou B, Hemophilus Influenza tipo B. É provável que brevemente
O índice de soroconversão em crianças com idade entre 12 seja licenciada vacina conjugada quadrivalente, Sarampo, Ca-
meses e 12 anos é de 97 %. Acima de 13 anos, a administração xumba, Rubéola e Varicela.
de segunda dose, 4 a 8 semanas após, eleva o índice se sorocon- A Academia Americana de Pediatria recomenda a administra-
versão para 99 %. ção da vacina nas primeiras 72 horas e possivelmente 120 horas
A imunidade induzida pela vacina é de longa duração,havendo após a exposição a um caso de varicela para impedir ou atenuar
comprovação até 20 após a exposição. Pessoas imunizadas significativamente a doença.
podem desenvolver a doença, embora quase sempre de forma A vacina é contra indicada na gravidez, embora não tenha sido
atenuada. Nas crianças vacinadas, a doença além de benigna, é relatado Síndrome da Varicela Congênita em gestantes inadverti-
menos transmissível. damente vacinadas durante o primeiro ou segundo trimestre da
A vacina é recomendada a partir de 1 ano de idade sempre gestação. Ao se vacinar as mulheres,em idade fértil, devem evitar
pela via sub cutânea. Para crianças entre 1 ano e 12 anos, indi- a gravidez por 3 meses. A vacina pode ser administrada a crianças
ca-se apenas 1 dose, a partir de 13 anos sempre recomenda-se ou adultos que residam no mesmo domicílio das grávidas.
segunda dose, com intervalo de 4 a 8 semanas da dose inicial.
Os dados disponíveis no momento indicam que não se espera
nenhum problema na administração simultânea da vacina da Va-
1. Enviar o soro para diagnóstico em laboratório para 3. Considerar não-infectante quando nenhuma vesícula
determinação dos anticorpos para varicela. Pessoal de nova aparecer dentro de 72 horas e todas as lesões esti-
saúde poderá continuar trabalhando 08 dias após a ex- verem na fase de crosta.
posição aguardando o resultado da sorologia, pois não 4. Se exposição ocorrer antes dos 06 dias que antece-
são potencialmente infectados durante esse período. An- dem o parto, a mãe poderá não estar infectada até 72
ticorpos antivaricela > 1:4 provavelmente são indicativos horas após o parto.
de imunidade.
2. VZIG: dose para RN 1,25 ml. Para gestante: 6,25 ml.
Capitulo 12 Infecções Perinatais Crônicas
Bibliografia
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2009
471
Paulo R. Margotto
Assistência ao Recém-Nascido de Risco
12.8 TUBERCULOSE
A Tuberculose é um problema de saúde pública crescente em 2. Tuberculose primária ocorrendo precocemente a infec-
todo o mundo, principalmente nos países em desenvolvimen- ção e provavelmente sempre acompanhada de dissemi-
to, com aumento importante da sua incidência nos últimos dez nação linfohematogênica e que pode ser silenciosa ou
anos, inclusive entre as mulheres em idade reprodutiva. Contri- sintomática, como a tuberculose miliar.
buem para tal, a epidemia de HIV- (vírus da imunodeficiência ad- 3. Endometrite tuberculosa: raro em humanos.
quirida), a resistência às drogas, a desobediência ao tratamento,
a desnutrição, a dificuldade de acesso aos serviços médicos nas Frequentemente mães que dão a luz a RN com verdadeira tu-
classes desfavorecidas, etc... berculose congênita, sofreram, durante a gestação ou logo após
Com isso, a freqüência da tuberculose congênita, apesar de o parto, de alguma das manifestações de infecção primária como
rara é provavelmente subestimada. Seu diagnóstico precoce é efusão pleural, tuberculose miliar ou meningite tuberculosa.
essencial, mas comumente muito difícil. Muitos desses RN evo- Parece que a intensidade da disseminação linfohematogêni-
luem para o óbito como infecção bacteriana inespecífica e o ver- ca durante a gestação é um dos fatores a favor da tuberculose
dadeiro diagnóstico só é alcançado com a necrópsia. congênita. Essa disseminação pode levar à infecção da placenta,
A tuberculose congênita tem alta letalidade (50%) devida prin- com transmissão do bacilo para o feto por via sanguínea ou por
cipalmente à falha de suspeição diagnóstica. ruptura da lesão caseosa para o âmnion.
Entretanto, mesmo ocorrendo uma extensa tuberculose mater-
Definições Importantes na, com envolvimento maciço da placenta nem sempre há riscos
para o feto. Outras vezes a bacilemia pode ser tão severa com
• Exposição grave envolvimento fetal levando ao óbito.
se refere ao paciente com contato recente com tuberculose Endometrite e salpingite tuberculosa podem começar na épo-
pulmonar suspeita ou confirmada, cujo PPD é negativo, o exame ca da menarca, ter um curso muito longo, crônico, atingindo os
físico e radiológico são normais. Desse grupo, alguns desenvolve- ovários, ser relativamente assintomático e levar à esterilidade.
rão infecção, com PPD positivo e outros não.
Diagnóstico
• Infecção tuberculosa
paciente assintomático, com exame físico normal e RX normal 1. PPD deve ser realizado em toda gestante suspeita de
472 ou com apenas granulomas ou calcificações no pulmão ou linfo- exposição ao Bacilo de Kock ou com maior suscetibili-
nodos regionais. dade de adquiri-lo (HIV+, diabéticas, gastrectomizadas,
população de alta incidência, profissionais de saúde e
• Doença tuberculosa prisões, etc.)A gestação não altera sua resposta e o teste
paciente com infecção sintomática e/ou RX anormal. Pode ser não traz efeitos adversos à mãe ou ao feto.
pulmonar ou extrapulmonar. Pacientes HIV + com PPD > ou = a 5 mm é considerado posi-
Em adultos, a distinção entre infecção e doença é mais clara, tivo. No entanto falso PPD negativo pode ocorrer devido a sua
mas em crianças principalmente em neonatos, é muito difícil. imunossupressão.
O período de incubação para desenvolver PPD positivo é de 2
a 12 semanas. O risco de desenvolver doença é maior durante 2. RX de tórax deve ser realizado somente na gestante
os primeiros 6 meses após a infecção e continua alto por 2 anos. PPD +, para determinar se existe doença pulmonar ativa.
Entretanto, vários anos podem se passar entre a infecção e o de- Lembrar que não afasta a possibilidade de tuberculose
senvolvimento da doença. Em muitas circunstâncias, a infecção extrapulmonar.
fica “adormecida” e nunca progride para doença. Amostras de escarro devem ser obtidas para esfregaço, cultura
e determinação da sensibilidade.
Tuberculose Materna
3. Para as formas extrapulmonares podem ser indicadas
Existe uma longa, antiga e controversa discussão sobre os culturas de urina e secreções ou biópsias de linfonodos, etc.
possíveis efeitos adversos da gestação e puerpério sobre a tu-
berculose. Seu manuseio deve ser avaliado caso a caso. Sua Observações
identificação e tratamento é a forma mais eficiente de prevenir a • O achado de exsudato fibrinoso peritoneal durante cesa-
tuberculose congênita e perinatal. riana ou uma placenta infectada pode levar ao diagnósti-
A maioria dos casos é assintomática ou com doença mínima: co de tuberculose na mãe e RN.
tosse, febre, perda de peso, palidez, hemoptise, são os sinais • Na ausência de PPD + se a história ou clínica forem su-
mais comuns, mas também pode haver mastite, tuberculose mi- gestivas, toda investigação deve ser levada adiante e o
liar, meningite e mais tardiamente, manifestações na pele, arti- tratamento deve ser considerado. Tuberculose não tra-
culações, rins e ossos. tada representa um risco muito maior para a gestante e
Existem 3 formas de tuberculose materna que representam seu feto do que os riscos do tratamento.
uma ameaça para o feto:
Diagnóstico
473
Ter certeza se a infecção é congênita ou perinatal não é real-
mente necessário já que enquanto corre a investigação, terapia
adequada é iniciada e ao mesmo tempo é indicada, também, a
investigação dos contactantes.
Observação Gestante HIV + com PPD > ou = 5 mm tem indica- Uma vez suspeito o diagnóstico, rapidamente todos os recur-
ção de tratamento para tuberculose mesmo que tenha recebido sos devem ser tentados para o isolamento do bacilo e determina-
vacinação BCG no passado. ção da sua sensibilidade às drogas. Devem ser feitos esfregaço
e cultura de lavado gástrico, aspirado traqueal, urina, sangue,
Tuberculose Congênita líquor, secreção de ouvido médio e histopatológico de biópsia de
linfonodos, fígado, pele e medula óssea.
Tuberculose congênita é rara. Gestantes com infecção somen- PPD faz parte da investigação diagnóstica, mas não podemos
te pulmonar geralmente não infectam seus fetos até o pós- parto. esquecer que ele só se tornará positivo em até 12 semanas após
A infecção intra-uterina pode ocorrer: a infecção, e, portanto com alto índice de falso negativo. Não
existe transferência intra-uterina ou pelo leite de reatividade ao
1. Via cordão umbilical PPD da mãe para o feto ou RN.
Por esta via os bacilos chegam ao feto decorrentes da bacile- Ainda que todos os esfregaços sejam negativos, se o RN está
mia materna. Alguns podem ser seqüestrados pelo fígado onde doente e existe suspeita clínica, terapia antituberculosa deve ser
se desenvolverá o foco primário com o envolvimento dos linfono- iniciada e mantida até que o diagnóstico possa ser afastado.
dos periportais. Se, no entanto, os bacilos passarem livremente Todo paciente com tuberculose deve ser investigado para HIV.
pelo fígado, podem atravessar o forame oval para o átrio esquer-
do e daí para a grande circulação, atingindo todos os órgãos. Tuberculose Adquirida No Período Pós-Natal
Alternativamente, podem passar do ventrículo direito para o pul-
mão onde, pela baixa tensão de O2 fetal e pelo pequeno volume aí Pode ocorrer por via pulmonar, intestinal ou pele e membranas
circulante, se mantém sem multiplicação até o nascimento quan- mucosas.
do o aumento da tensão de O2 e da circulação pulmonar favorecem A via pulmonar é a forma mais comum de aquisição de tu-
o desenvolvimento do bacilo e surge o foco primário no pulmão, berculose pós-natal, tanto pela mãe infectada como por outros
com envolvimento dos linfonodos brônquicos e mediastinais. contactantes, domiciliares ou nosocomiais. A sintomatologia é
Com isso, lesões já foram descritas em vários órgãos como: predominantemente pulmonar e não difere da forma congênita.
cérebro, ventrículos, meninges e adrenais, nem sempre sendo A via intestinal é ainda mais rara e decorre da ingestão de go-
possível determinar se representam foco primário ou secundário tículas de saliva ou escarro contaminado ou por lesão de mastite
a uma lesão primária do pulmão ou fígado. materna. Nesse caso, são encontrados um ou vários complexos
A única lesão do RN que é inquestionavelmente decorrente de primários no intestino delgado (98%), pulmão (20%), estômago
infecção congênita é o complexo primário no fígado. (18%), faringe e ouvido médio (8%) e esôfago (3.5%).
Paulo R. Margotto
Assistência ao Recém-Nascido de Risco
No último caso, via pele e membranas mucosas, a infecção meningite tuberculosa (exceto corticóide que só será administra-
decorre de pequenas lesões traumáticas infectadas pelo beijo do após confirmação).
contaminado. Essa lesão primária geralmente é insignificante e A sensibilidade do bacilo é usualmente a mesma da mãe (ou
o que chama a atenção é a adenomegalia satélite. Uma forma do infectante).
antiga desse tipo de lesão é descrita na genitália masculina após O tratamento deve incluir duas drogas bactericidas sensíveis.
circuncisão, quando é sugado o sangue ao redor da incisão (por Piridoxina é recomendada para todos RN, lactentes, mães e ges-
hábito cultural). O foco primário ocorre no pênis e em 1 a 4 sema- tantes em uso de INH.
nas sofre ulceração, supuração e adenomegalia inguinal. Na meningite tuberculosa fazer Prednisona 1 a 2 mg/kg/d por
6 a 8 semanas.
Tratamento Regimes terapêuticos recomendados, a seguir
Esse manuseio vai depender da categoria da infecção materna O risco é baixo, mas existe a possibilidade de disseminação
(ou contactante). através de outras crianças ou pelos profissionais.
A separação do binômio RN / Mãe deve sempre que possível Conduta: fazer PPD
ser evitada, principalmente nas classes sócio-econômicas desfa-
voráveis, quando quase nunca está indicada, devendo-se manter • Se positivo, tratar.
a amamentação e manuseio do RN com uso de máscara, asso- • Se negativo, fazer INH por 3 meses, repetindo o PPD.
ciado à profilaxia. As máscaras para isolamento aéreo devem
conter poros que filtram partículas maiores ou iguais a 1 mm. Bibliografia
É considerado não bacilífero o paciente que tiver 3 amostras
• Committee of Infections Disease American Academy of Pediatrics. Petter G, editor. Red
de escarro negativas e não apresentar mais tosse. Apesar disso Book: Report of the Committee of Infections Disease. 24th ed, Elk Grove Village, IL: Ameri-
can Academy of Pediatrics, 1997
ocorrer geralmente com poucas semanas ( em torno de 3 sema- • Smith MHD, Teele DW. Tuberculosis. IN: Remington SJ, Hlein JO. Infections Diseases of the
nas) de tratamento, a infectividade pode ser mais longa especial- fetus and Newborn Infart. Fourth edition Philadelphia: WB Saunders Company, pg 1074,
1995
mente quando o paciente não adere adequadamente à terapia • Hageman JR. Congenital and perinatal tuberculosis: discussion of difficult issues in diag-
nosis and management. J Perinatol 18: 389, 1998
medicamentosa ou está infectado com cepa resistente. • Instituto de Puericultura e Pediatria Martagão Gesteira. Departamento de Pediatria da
No caso do infectante ser um contato domiciliar, seu afasta- Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Rio de Janeiro. Amamentação em situ-
ações especiais. Rotina de Pediatria, pg 36, 1995.
mento do RN já é mais permissível e as demais condutas são as • Cloherty JP. Tuberculosis IN: Cloherty JP, Stark AH. Manual of Neonatal Care. Lippincott -
Raven, Philadelphia, Fourth Edition, pg 300, 1998
mesmas recomendadas para a mãe infectante. • Ferlin MLS, Bissani C, Jorge SM e cl. Tuberculose Congênita. J Pediatr (Rio J) 74: 239, 1998
PPD + PPD -
Mãe não bacilífera e
Continua INH por mais 3 meses
respeitando o tratamento.
Se HIV +, por 1 ano Suspende INH
Aplicar BCG
475
2. Mãe com tuberculose extrapulmonar ou pulmonar não
tratada (sempre considerada bacilífera).ou com doença
ativa em tratamento mais ainda bacilífera Separar RN da
mãe até que esta se torne não bacilífera. INH por 3 meses
PPD + PPD -
Continua INH por mais 3 meses Aplicar BCG
Se HIV +, por 1 ano
Paulo R. Margotto
Assistência ao Recém-Nascido de Risco
12.9 TÉTANO
Doença de caráter agudo, tendo como agente etiológico o “Clos- •Lesão intracraniana secundária ao trauma do parto
tridium tetani” (BACILO NICOLAIER), que vive em meio anaeróbico •Hemorragia cerebral
e se caracteriza por elaborar toxinas: tetanolisina (Hemolisina, •Meningite
que não desempenha papel na patogenia do tétano); exotoxina •Tetania hipocalcêmica
(Tetanoespasmina, que age nas placas motoras terminais dos •Poliomielite
músculos esqueléticos, na medula, no cérebro e no sistema ner- •Encelalite
voso simpático). Admite-se que a toxina aja inibindo a liberação •Sepse
de acetilcolina dos terminais nervosos no músculo, perturbando •Raiva
a transmissão neuromuscular, Na medula, a toxina produz dis-
função dos reflexos polissinápticos, que resulta em uma falta de Tratamento
oposição à contração dos músculos. As convulsões podem ser
secundárias à fixação da toxina pelos gangliosídeos cerebrais. Tão logo o RN dê entrada à Unidade de Cuidados Intensivos, colo-
A manipulação séptica do coto umbilical provoca iatrogenica- cá-lo em ambiente silencioso, pouco iluminado, instalação precoce
mente a entrada de esporos tetânicos: corte do cordão com fa- da nutrição parenteral (dissecção venosa se impõe) e deixar disponí-
cas sujas, bambu e curativo do mesmo com pó de café, ervas de vel todo o instrumental para entubação e ventilação mecânica.
banana verde, fuligem, fezes de animais, lama, teia de aranha,
urina, fumo queimado e etc. 1. Eliminar o foco da bactéria produtora da toxina:
•tratar o coto com substâncias oxidantes: Água Oxigenada
Clínica e Permanganato de Potássio 1/5000 (um comprimido
/500 ml. de água); não é necessário onfalectomia
•Período de incubação: três dias (os sintomas geralmente •Penicilina cristalina: 200.000 UI/kg/dia
atingem o máximo em seis a sete dias: “Mal dos sete dias”)
•Primeira manifestação clínica: recusa alimentar (trismo) 2. Impedir novas ligações da toxina circulante ao Sistema
•Espasmos generalizados Nervoso:
476 •Contraturas tônicas (freqüentemente desencadeadas •Tetanogama ou Tetanobolin: 750 U IM, 12/12 horas
por estímulos sonoros, luminosos e táteis) (duas doses -1500U); níveis séricos duram 28 dias
•Hiperflexão dos membros superiores junto ao tórax, hi- •Apresentação: frascos de 2 ml com 250 U
pertensão dos membros inferiores, flexionamento total •Riscos: os mesmos dos derivados do sangue
das mãos e pés, opistótono, lordose acentuada, trismo, •Soro antitetânico: 10.000 a 50.000 U, dose única, IM ou EV,
mímica facial alterada, com os olhos serrados, preguia- níveis séricos durante 14 dias; deve ser administrado após
mento da pele e região frontal, a boca entreaberta e os o teste (se necessário deve ser feito dissensibilazação)
lábios contraídos como se o bebê estivesse pronuncian- •Apresentação: frascos com 2 ml, contendo 5.000 U e
do a letra “M” e o aspecto de um sorriso sardônico frascos com 10 ml, contendo 30.000 U
•Se hipertemia presente, excluída a presença de compli-
cações bacterianas, denuncia extrema gravidade 3. Impedir os Espasmos, Hipertonia ou Contraturas Musculares
•O comprometimento da musculatura respiratória pode
provocar a morte por apnéia e hipoxia 4. Diazepam sedativo, ansiolítico, miorrelaxante e mini-
•Os sintomas não desaparecem durante o sono mizador da atividade simpática do tetânico (taquicardia,
hipertensão arterial, sudorese, hipertemia e hiperglice-
mia),
•Dose 0,5 mg/Kg/dose, repetida até controlar as contra-
turas nos casos leves, a cada quatro ou seis horas; nos
casos mais graves: 10 mg/Kg/dia em infusão contínua
em 72 ml de SG 5% a 3 mcgtas/min. ou 3 ml/hora.
Observação
Descontar este volume do volume de manutenção das 24 ho-
ras, riscos para icterícia e depressão respiratória; apresentação:
Amp de 2 ml com 5 mg/ml, Valium susp. oral com 2 mg/5 ml.
Paulo R. Margotto
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12.10 HEPATITE B
Introdução
A hepatite viral neonatal é freqüentemente confundida com • Icterícia: pode surgir nas primeiras 24 horas de vida ou pode
icterícia obstrutiva prolongada. O termo hepatite viral neonatal surgir após o período anictérico à custa da bilirrubina direta
deveria ser reservado à hepatite que ocorre ao nascimento ou • Prurido não ocorre nesta idade
durante os primeiros 3 meses de vida, resultante de uma infec- • Sintomas gastrointestinais (vômitos e diarréia), irritabili-
ção comprovada, podendo ser adquirida nos períodos pré-natal, dade podem preceder a icterícia. Crianças com hepatite
pós-natal ou perinatal ( transmissão vertical). neonatal AgHBs positivo tiveram curso mais prolongado,
doença mais severa e prognóstico mais grave (morte e
Epidemiologia cirrose) em comparação com crianças com hepatite neo-
natal AgHBs negativo
A infecção pelo Vírus da Hepatite B (VHB) ocorre na infância em • Uma conseqüência da hepatite na gravidez é a prematurida-
40% dos casos e é assintomática em 90%. Quando a infecção é de e baixo peso independente da infecção do bebê, causada
adquirida no período perinatal, o risco de cronicidade é de 70 a provavelmente por uma doença aguda na mãe ou placenta.
95%. Quase 40% das crianças de mães positivas para AgHBe (an- • Hepatite fulminante: pode ocorrer no período neonatal,
tígeno “e” da HVB-veja adiante) que não se infectaram ao nascer, embora raramente Autores chamam atenção para a ne-
infectar-se-ão antes de cinco anos, devido ao contato com a mãe. cessidade de rastreamento na gestante para detectar
AgHBs positivos (portadores crônicos assintomáticos)
Transmissão Vertical para aconselhamento e indicação de Imunoprofilaxia,
para HVB nos seus bebês.
Há quatro vias pelas quais o VHB pode ser transmitido ao RN:
Diagnóstico
• Transplacentária
• Durante o parto A história e resultados de exames sorológicos da gestante são
• Fecal pós-parto de importância para a investigação da doença no recém-nascido
• Pelo colostro que é assintomático na maioria dos casos.
478
É menos frequente no início da gravidez (10 a 30%) e mais fre- Diagnóstico Sorológico
quente quando há exposição perinatal ao sangue materno. Mães
AgHBe positivas têm um risco de transmissão de 70 a 90% no pe- O complexo imunológico da Hepatite vírus B tem provado ser
ríodo perinatal, enquanto que mães AgHBe negativa têm 0 a 19% um excelente marcador para a avaliação da infectividade e prog-
de chance de transmitir a doença ao concepto. Estudos mostram nóstico da doença hepática. Os marcadores sorológicos mais
que todas as crianças que se tornaram portadoras crônicas do utilizados são:
VHB eram filhas de mulheres AgHBe positivas e quase todas as
crianças tornaram-se infectadas no primeiro ano de vida. AgHBs – (antígeno de superfície do VHB): é o primeiro marca-
As taxas de transmissão vertical também sofrem influência das dor sorológico a ser detectado e os títulos são elevados na fase
raças: na raça branca a taxa de transmissão é menor do que nas aguda da doença. Em caso de cura, o AgHBs desaparece em até
raças negra e amarela (observou-se alta proporção do AgHBe en- seis meses. Se persistir além desse período considera-se a forma
tre as mães chinesas e afro-caribenhas). crônica da doença. Em caso de transmissão vertical pode per-
Quanto à transmissão em gestações sucessivas, a Hepatite manecer positivo por longos períodos (4 a 36 meses, média de
Vírus B pode ser transmitida mais de uma vez, por mães assinto- 18 meses). Alguns nunca se negativam.
máticas portadoras do vírus. Quadros neonatais severos e fatais
são mais comuns quando a mãe é portadora assintomática ape- Anti-HBs – (anticorpos contra o AgHBs): é o último anticorpo a
sar da transmissão ocorrer com maior frequência quando a mãe ser detectado; significa recuperação e imunidade contra o vírus.
tem infecção aguda no final da gestação e no período pós-parto. Sua detecção é indicativa de cura, passagem passiva de anticor-
Apesar das crianças poderem se contaminar por via fecal-oral pos maternos ou estado de imunidade pós-vacinal.
ou por aleitamento materno essa via de transmissão não é signi-
ficativa e o aleitamento materno não está contra-indicado. Ag HBc - (antígeno central da HVB): não é habitualmente detectado
Cerca de 90% dos infectados são assintomáticos. Observa-se • Anticorpo anti-HBc IgM significa infecção recente e desa-
alta incidência de prematuridade: 35% dos recém-nascidos de parece 4 a 6 meses. Não passa a barreira placentária
mães infectadas, independentemente da presença de infecção • Anticorpo anti-HBc IgG começam a ser detectados no iní-
nos mesmos. Pode haver quadro de icterícia com rápida recupe- cio da infecção e persistem por toda vida indicando infec-
ração e elevação de transaminases. ção pregressa. Pode passar a barreira placentária
• Surgimento na 1ª semana de vida (precoce) ou aos 2 ou AgHBe - (antígeno “e” da HVB): é o segundo marcador a ser
3 meses de vida (tardio) detectado e indica alto grau de replicação viral. Somente detec-
tados em soros que contém AgHBs, não sendo detectados na-
Capitulo 12 Infecções Perinatais Crônicas
queles que possuem anti-HBs ou anti-HBc. Sua detecção após • Gestantes que não sabem informar sobre a realização
seis meses, juntamente com o AgHBs, significa pior prognóstico. de vacinação e não trouxeram o cartão para confirmação
Pode ser encontrado em RN não infectados, pois atravessam a • Pacientes pertencentes ao grupo de risco e não foram
barreira placentária imunizadas
Anti-HBe - anticorpo correspondente ao AgHBe surgindo logo • Falta de realização de sorologias para hepatite B no pré-natal
após o desaparecimento do antígeno.
Imunoprofilaxia para prevenção da transmissão perinatal
Profilaxia
Recém-Nascidos De Mães AgHBs Positivas
Como 90% destas crianças adquirem o VHB no período perina- Vacina + HBIG Nascimento
tal e são geralmente assintomáticas, porém podem evoluir para 1ª dose
(0,5 ml IM) (<12 horas)
cirrose hepática e hepatocarcinoma. A infecção do RN pode ser
Vacina 2ª dose 1 mês
prevenida por meio da imunoprofilaxia adequada, uma vez que
3ª dose 2 meses
ainda não existe tratamento eficaz para a hepatite crônica.
O Programa Nacional de Imunizações recomenda atualmente a Vacina 4ª dose 6 meses
vacinação universal das crianças contra a hepatite B.
Tabela 01- Prevenção da Transmissão perinatal em recém-nascidos de termo
A Vacina E A Imunoglobulina Específica
Recém Nascidos De Mães Sem Triagem AgHBs
Composição E Apresentação
Teste rápido da mãe
Estudos nos EUA e na França de vacina utilizando virus purifi- Resgatar resultado
Fazer Triagem ou sorologia do
cado de portadores crônicos têm sido feitos com taxa de sorocon- dentro de 7 dias
sangue do cordão
versão significativa e baixo índice de efeitos colaterais. No Bra-
Nascimento
sil, as vacinas são obtidas por engenharia genética. São de uso Vacina 1ª dose
(<12 horas)
adulto e pediátrico dependendo do fabricante e as dosagens em
Administrar dentro
ml ou microgramas devem seguir orientação da bula e as normas
HBIG de 7 dias, se a mãe for
estabelecidas pelo programa nacional de Imunizações.
AgHBs +
A globulina hiperimune contra o vírus da hepatite B (HBIG) é
obtida de plasma de doadores selecionados, submetidos recen- Vacina 2ª dose 1 mês
temente à imunização ativa com altos títulos de anticorpos espe- 3ª dose 2 meses
cíficos (anti-AgHBs) Vacina 4ª dose 6 meses
479
Via De Administração Tabela 02 - Prevenção da Transmissão perinatal em recém-nascido
prematuros com menos de 2 Kg
As vacinas devem ser administradas por via intramuscular no
vasto lateral da coxa. A imunoglobulina deve ser aplicada por via Recém-Nascidos De MãeS AgHBs Positivas
intramuscular incluindo a região glútea. Quando a aplicação de Vacina + HBIG Nascimento
ambas é simultânea, deve ser feita em sítios diferentes. 1ª dose
(0,5 ml IM) (<12 horas)
Vacina 2ª dose 1 mês
Indicações
Vacina 3ª dose 2 meses
Falhas detectadas na triagem da gestante Toda gestante internada na Obstetrícia do Hospital Regional da Asa
Sul deverá ser investigada com relação à imunização para Hepatite B:
• Gestante que não realizou pré-natal
• Pré-natal incompleto com número de consultas inferior a • Informação da mãe e verificação no cartão do pré-natal
7 (recomendação do Ministério da Saúde) da realização da vacina contra Hepatite B - proceder à
rotina – realizar Vacina 1ª dose no recém-nascido.
Paulo R. Margotto
Assistência ao Recém-Nascido de Risco
• As gestantes que não foram imunizadas ou não sabem de realização do teste rápido para Hepatite B, colher sangue
informar da realização de vacinação contra hepatite B e do cordão e encaminhar exame para o LACEN, neste caso
que durante o pré-natal não realizaram sorologias para não esperar o resultado, aplicar Vacina 1ª dose + HBIG.
a triagem – colher sangue da mãe para a realização do
teste rápido para hepatite b ou na ausência deste teste, Observação: Se o recém-nascido receber alta antes da libe-
colher sangue do cordão para realização de sorologias ração do exame, anotar na Caderneta da criança sobre a coleta
para hepatite B e encaminhar para o Laboratório Central do exame e dar orientação a mãe com relação à importância de
(LACEN) e proceder à rotina (Vacina 1ª dose) e aguardar buscar este resultado dentro de 7 dias, uma vez que dentro deste
o resultado se recém-nascido de termo. período poderá se beneficiar com o uso da HBIG.
• Se a mãe não foi imunizada e o recém-nascido for prematu-
ro com peso de nascimento menor que 2 Kg - na ausência
480
Imunoprofilaxia Pós-Exposição
Bibliografia
• Margotto PR. Hepatite Vírus B/Herpes Simplex. Boletim Informativo Pediátrico (BIP)-Bra-
sília, Nº 25, 1982.
• Zeldis JB, Crumpacker CS. Hepatites. IN: Remington JS, Klein JO. ed, Philadelphia, WB
Saunders, pg 805, 1995
• Denhardt, F. Predictive value of markers of hepatitis virus infection. J Infect Dis 141:299,
1980
• Mussi-Pinhata MM, Yamamoto AY. Infecções congênitas e perinatais. J Pediatr (Rio J) 75:
S15, 1999.
• Ferreira AW, Ávila SLM. Hepatites IN: Diagnóstico Laboratorial das Principais Doenças In-
fecciosas e Auto-Imunes, Guanabara Koogan, pg. 37, 2001.
• Crumpacker CS. Hepatitis. In: Remington JS, Klein J. Infectious Diseases of the Fetus and
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M. Normas e condutas em neonatologia, Atheneu, São Paulo, pg.159, 2008
Paulo R. Margotto
Assistência ao Recém-Nascido de Risco
12.11 CITOMEGALOVIROSE
A citomegalovirose é causada por um grupo de agentes da famí- tavo par craniano é responsável por uma complicação freqüente
lia herpesvirus resultando em alterações citopatológicas caracte- da doença congênita: a surdez.
rísticas: células citomegálicas contendo inclusões nucleares e cito- A imunidade materna protege apenas 40% das crianças expos-
plasmáticas. É, hoje, considerada doença de transmissão sexual. tas, porém, a vasta maioria permanece com doença subclínica,
O homem é o único reservatório dessa doença endêmica cuja mostrando que a os anticorpos maternos são mais eficazes na
maior prevalência se observa na adolescência, quando o contato proteção da virulência que da transmissão. A infecção adquirida
íntimo interpessoal é maior. Após infecção primária a excreção por transfusão sanguínea é mais virulenta em RN soronegativos.
viral através da saliva, urina, secreção cervical e sêmen pode
persistir por meses ou anos. Infecção Materna
O endotélio vascular é o alvo da infecção viral. A deficiência de Anualmente, aproximadamente 1% de todos os nascidos vivos
suprimento sanguíneo causada pela replicação viral e a respos- nasce com infecção congênita por CMV.
ta inflamatória do hospedeiro resultam em danos em diversos A infecção congênita pelo citomegalovirus (CMV) resulta em
órgãos. O acometimento vascular concorre para a disseminação 90% de crianças assintomáticas. Dessas, 10 a 15% terão alte-
da infecção em diversos órgãos como o sistema nervoso central rações tardias, como surdez e graus variáveis de alterações neu-
(SNC). O tropismo do vírus por células localizadas na cóclea e oi- rológicas. As crianças assintomáticas com evolução neurológica
normal até um ano de vida não apresentam maior risco de de-
Capitulo 12 Infecções Perinatais Crônicas
senvolver anormalidades tardias. Somente 10% dos RN são sin- Defeitos Oculares
tomáticos e metade desses tem a doença generalizada.
Estudos recentes mostram que a gravidade da doença parece A manifestação principal é a coriorretinite (em 14% das crian-
estar relacionada ao genótipo do CMV, tendendo a ser menos ças com doença congênita sintomática) com estrabismo e atrofia
graves quando decorrentes da infecção pelo genótipo gB1 e mais óptica. Embora a coriorretinite ocorra em ambas as doenças, to-
graves, para os genótipos gB2 e gB3. xoplasmose e CMV, a lesão não pode ser diferenciada com base
A doença clinicamente aparente é caracterizada pelo envol- no aspecto ou localização. A diferença está na progressão pós-
vimento de múltiplos órgãos, particularmente sistema retículo- natal da coriorretinite que é incomum na CMV. Microftalmia, ca-
endotelial e SNC com ou sem acometimento ocular ou auditivo. tarata, necrose e calcificação da retina, cegueira, malformações
As crianças sintomáticas ao nascer (10%) podem apresentar; do globo ocular e vestígio de membrana pupilar são descritos em
associação à forma congênita generalizada. A presença de mi-
1. Prematuridade, crescimento intrauterino retardado; croftalmia e catarata é forte evidência de que a doença em curso
2. Hepatoesplenomegalia (sinal mais comum podendo não é causada pelo CMV.
ser a esplenomegalia o único sinal);
3. Anemia, icterícia (pode ser intermitente) por aumento Restrição Do Crescimento Intrauterino
da bilirrubina indireta ou bilirrubina direta (colestática);
4. Petéquias*, plaquetopenia Muitas vezes severa, está presente em 50% dos RN sintomá-
5. Pneumonite intersticial (somente na aquisição perinatal); ticos. A prematuridade ocorre em 34%. Os RN assintomáticos
6. Manifestações neurológicas: microcefalia, calcifica- usualmente não apresentam nenhum dos sinais não sendo ao
ções intracranianas, crises convulsivas; CMV considerado causa importante de RCIU ou prematuridade.
7. Coriorretinite (semelhante à da toxoplasmose), estra-
bismo, atrofia ótica, microftalmia e catarata (manifesta- Pneumonite
ção rara) e deficiência de acuidade visual e auditiva.
Usualmente não faz parte do quadro de infecção congênita em
Obs: * manifestações mais comuns RN (menos de 1% mesmo nos casos mais graves). Ocorre mais
freqüentemente em crianças com a doença perinatal adquirida.
Hepatoesplenomegalia
Surdez
Em alguns casos, somente esplenomegalia e petéquias estão
presentes. Esplenomegalia normalmente persiste por mais tem- Surdez neurossensorial é, provavelmente, a seqüela mais co-
po que a hepatomegalia (até 1 ano). mum nas crianças congenitamente infectadas, tanto na doença
clínica quanto na doença subclínica. A freqüência e a severidade
Icterícia são maiores na doença manifesta. Além da surdez neurossenso- 483
rial, multiplica-se em diferentes estruturas do ouvido interno. O
O quadro de icterícia freqüentemente ultrapassa o de icterícia fi- CMV é hoje considerado um dos maiores responsáveis pela sur-
siológica podendo se arrastar até 3 meses de vida. Raramente são dez na infância (58% dos pacientes sofrem de diferentes graus
indicadas exsanguíneotransfusões. As bilirrubinas são elevadas nas de acometimento auditivo).
suas frações direta (BD) e indireta podendo a BD ser 50% da total.
Anomalias Congênitas
Petéquia E Púrpura
Com exceção de hérnia inguinal em meninos, anomalias de pri-
São a evidência do efeito direto do CMV sobre os megacarió- meiro arco branquial e defeito dentário, existem poucas evidên-
citos da medula óssea, resultando em plaquetopenia e rash pe- cias de que o CMV possa ser considerado teratogênico.
tequial ou purpúrico. Raramente as petéquias estão presentes
ao nascimento, surgindo horas após. Podem ser transitórias e Sequelas
desaparecer em 48 horas. A contagem das plaquetas está entre
10.000 e 125.000 (média de 20.000 a 60.000) Algumas vezes Cerca de 90% dos RN sintomáticos evoluem com sequelas. As
não se observa plaquetopenia A gravidade da doença pré-natal mais comuns são retardo mental e surdez, que podem ser diag-
é evidenciada pela presença de microcefalia (com ou sem cal- nosticados anos após o nascimento.
cificações), crescimento intrauterino retardado e prematuridade. O quadro de surdez pode estar presente em mais de 50% des-
Manifestações menos comuns são: hérnia inguinal em meninos, sas crianças e parece ser mais frequente em crianças que apre-
coriorretinite, hidrocefalia, anemia hemolítica e pneumonite. A sentam petéquias, hepatoesplenomegalia e com crescimento
mortalidade em crianças severamente acometidas é de 30% intrauterino retardado.
(maioria no período neonatal com disfunção hepática severa, Já os RN assintomáticos têm um prognóstico bem melhor, po-
sangramento, coagulação intravascular disseminada e infec- rém, 10% deles está em risco de desenvolver sequelas graves,
ção bacteriana secundária). O óbito que ocorre após o período sendo a surdez presente em cerca de 20%.
neonatal é, geralmente, por doença hepática severa e, após o A frequência das sequelas varia conforme o RN seja sintomáti-
primeiro ano, resulta de acometimento neurológico severo. co ou assintomático ao nascer, como mostrado na tabela 1
Paulo R. Margotto
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Perda auditiva bilateral 37 2,7 O teste de Avidez para anticorpos IgG, tem especificidade de
Convulsões 23,1 0,9 100% em detectar infecção aguda na gestante quando realizado
nas primeiras 18 semanas de gestação (baixa avidez).
Coriorretinite 20,4 2,5
Não existe consenso na literatura mundial sobre a obrigatorieda-
Paralisia/paresia 12,5 0
de de realização de testes sorológicos para detecção de anticorpos
Morte (>28 dias de vida) 5,8 0,3 IgG e IgM para CMV nas gestantes. A realização da ultrassonogra-
fia gestacional pode auxiliar o diagnóstico precoce dos fetos infec-
Tabela 1 – Sequelas após CMV congênita tados, com detecção de achados anormais em 78% dos casos.
Além das diferenças de frequência de sequelas entre RN sinto- Diagnóstico Da Infecção Fetal
máticos e assintomáticos, a frequência também varia de acordo
com o tipo de infecção materna, conforme Tabela 2 O ultrassom (US) pode detectar anormalidades relacionadas à
infecção pelo CMV, embora muitos achados sejam inespecíficos.
Sequelas Tipo De Infecção Materna A sensibilidade diagnosticar a infecção é baixa, considerando-se
% Primária % Recorrente que a maioria das crianças é assintomática.
Os achados sonográficos da infecção pelo CMV são a ventri-
Perda auditiva
15 5,4 culomegalia, cistos periventriculares (inferolateral ao corpo do
neurosensorial
ventrículo lateral), hiperecogenicidade periventricular devido à
QI < 70 13,2 0
microcalcificações (figura 1) e polimicrogiria. Estes achados tam-
Perda auditiva bilateral 8,3 0 bém são encontrados em outras infecções, como a rubéola.
Outras seq. Neurológicas 6,4 1,6 Tomà e cl descreveram em um RN com infecção pelo CMV ao
Microcefalia 4,8 1,6 US no 4º dia de vida (o primeiro ultrassom foi normal) áreas de
Convulsões 4,8 0 aumento da ecogenicidade no tálamo assemelhando-se a um
Paralisia/Paresia 0,8 0 “castiçal ramificado” ao longo das artérias tálamoestriadas. Este
Morte (> 28dias) 2,4 0 achado só foi descrito na infecção por rubéola.
As arteríolas e vênulas dos plexos leptomeníngeos que supre
Tabela 2 o centro semi-oval e os núcleos cinzentos são afetados na ru-
béola congênita. Há uma destruição de uma ou mais camadas
Infecção Perinatal da parede vascular com reposição de substância amorfa rica em
mucopolissacarídeos que inclui sais de cálcio. Assim, o padrão ul-
Sintomas trassonográfico caracteriza-se pela hiperecogenicidade na forma
de um “candelabro ramificado” como descrito (figuras 2 e 3). Es-
484 Para que se estabeleça o diagnóstico de infecção perinatal, tes achados foram descritos originalmente na rubéola congênita,
deve-se excluir infecção congênita excluindo a excreção viral cardiopatia congênita cianótica, trissomia do 18, trissomia do 21,
nas primeiras 2 semanas de vida. O período de incubação da síndrome fetal-alcoólica e hidropsia não imune.
forma perinatal é de 4 a 12 semanas sendo também caracteri-
zada como uma infecção crônica com excreção viral por anos. A
maioria permanece assintomática: os RN a termo e sadios não
apresentam restrição do crescimento ou desenvolvimento. Pode
ocorrer pneumonite em lactentes menores que 4 meses. Clini-
camente esses pacientes apresentam-se afebris, com dispnéia,
taquipnéia, apnéia, tosse (às vezes paroxística), obstrução nasal
e broncoespasmo. Já os RN prematuros o quadro é mais severo.
Frequentemente desenvolvem hepatoesplenomegalia, neutrope-
nia, linfocitose e trombocitopenia e necessitam de oxigenoterapia
por um período maior. Os achados laboratoriais incluem aumento
de IgM (66% dos casos), leucocitose (59%) e eosinofilia.
A infecção adquirida por transfusão sanguínea tem morbimor-
talidade significativa, especialmente em prematuros com peso
de nascimento menor que 1500g nascidos de mães soronega-
tivas. A síndrome pós-transfusão consiste em deterioração da
função respiratória, heparoesplenomegalia, cor acinzentada
(aparência séptica), linfocitose, trombocitopenia e anemia hemo-
lítica e ocorre entre 4 a 12 semanas após a transfusão quando
os RN estavam evoluindo bem. O óbito ocorre em 20% dos casos.
A prevenção consiste em transfundir RN soronegativos com san-
gue de doadores também soronegativos.
A infecção é confirmada pela soroconversão de anticorpos IgG, Fig. 1 US em (A) plano parassagital, no 4º dia de vida evidenciando
porém, a maioria das gestantes não tem resultados de testes soro- estrias hiperecogênicas, lembrando um castiçal ramificado, com a
lógicos prévios à gestação para a comparação. A presença de an- topografia das artérias tálamoestriatas (cabeça de setas). Em (B), o
ticorpos IgM pode não confirmar a infecção aguda, pois: i) podem Doppler confirma a forma de onda típica arterial na posição das estrias
permanecer detectáveis por mais de 9 meses após infecção aguda; hiperecogênicas (seta) (Tomà)
ii) podem estar presentes em reativação e recorrência de infecção.
Capitulo 12 Infecções Perinatais Crônicas
Fig. 2. Recém-nascido com infecção por citomegalovirus (vasculopatia Fig. 4. US em (A) no plano coronal mostrando múltiplas calcificações
mineralizante). US no plano sagital em (A) demonstrando linhas periventriculares (setas) e dilatação biventricular em um RN com
ecogênicas em formato de candelabro (cabeça de setas). Em (B) US parvovirose confirmada. Em (B) e (C) US no plano sagital evidenciando
no plano coronal com múltiplos focos ecogênicos na gânglia basal sem calcificações subependimárias (cabeça de seta) e múltiplas calcificações
sombreamento (setas) (Barr) periventriculares (seta) no mesmo RN (Margotto)
Paulo R. Margotto
Assistência ao Recém-Nascido de Risco
A infecção pode ser confirmada pelo teste de PCR no líquido ras 20 semanas de gestação (sensibilidade de 80 a 100% após
amniótico. O teste deve ser oferecido a todas as gestantes com a 21a semana de gestação). O tempo decorrido entre infecção
infecção aguda confirmada e ou alterações ultrassonográficas materna e fetal pode variar de semanas a meses.
compatíveis com CMV congênita.
Diagnóstico Da Infecção Perinatal
Diagnóstico
Cultura viral ou PCR feitos na urina ou saliva são os melhores
É feito na presença de sinais e sintomas sugestivos, após a métodos diagnósticos, mas a excreção viral não se inicia antes
exclusão de outras infecções congênitas com clínica semelhante de 3 a 12 semanas após a exposição. O diagnóstico diferencial
e na presença de vírus na urina ou outra amostra clínica durante com a forma congênita é muito importante, pois a morbidade e
as duas primeiras semanas de vida. a ocorrência de sequelas são bem diferentes nos dois grupos.
Vacinas
Paulo R. Margotto
Assistência ao Recém-Nascido de Risco
488
Capítulo 13
Distúrbios
do Trato
Gastrointestinal
Assistência ao Recém-Nascido de Risco
Raulê de Almeida
O Refluxo Gastroesofágico (RGE) é melhor definido como uma anti-refluxo. Metade deste esfíncter localiza-se no tórax e
passagem involuntária e intermitente do conteúdo gástrico em metade no abdômen (no RN está localizado predominan-
direção ao esôfago, freqüentemente causada pelo relaxamento temente tórax). No recém nascido tem extensão de 1,0
do esfíncter esofagiano inferior. A composição do conteúdo gás- cm, atingindo 2,5 a 3,5 cm, dos 4 aos 6 anos, a mesma
trico refluído pode variar desde saliva, alimentos e secreções gás- extensão do adulto, o que justifica em parte, a incidên-
tricas, pancreáticas ou biliares que passaram (fluriram) para o cia da doença ser inversamente proporcional à idade da
estômago para o daí retornaram (refluíram) para o esôfago. criança. A pressão positiva intra- abdominal, desde que
não exerça pressão extrínseca no estômago, contribui
Considerações Gerais com o aumento do tônus do EEI.
• Ligamento Frenoesofágico: Os dois folhetos da fáscia
O material regurgitado pode ser considerado a ponta do “ice- subdiafragmática, fixam o esôfago distal, tracionando-o
berg” do refluxo gastresofágico (RGE). Na criança está quase sem- para o abdômen, durante a inspiração, o que impede a
pre associado à presença de regurgitações que ocorrem principal- ação da pressão negativa intratorácica.
mente nos primeiros quatro meses de vida, constituindo-se em • Diafragma crural: As fibras musculares do diafragma for-
importante causa de visita ao pediatra. A doença do RGE é causa mam o hiato diafragmático, por onde passa o esôfago.
freqüente de mortalidade infantil. Aqui abordaremos os conceitos A contração do diafragma durante a inspiração auxilia o
do RGE, na criança em geral, dando ênfase no que se refere ao RN. tônus do EEI
• Ângulo de HIS: Formado pela porção abdominal do esô-
Classificação Do RGE fago e o fundo do estômago. No RN é obtuso, tornado-
se agudo posteriormente. O fundo do estômago cheio
RGE Fisiológico: Presença de regurgitação e ou vômito sem exerce pressão extrínseca sobre o esôfago abdominal,
outra manifestação clínica, a criança tem bom desenvolvimento aumentando o tônus do EEI.
e não apresenta sintomas clínicos de sofrimento por dor. • Roseta Gástrica: Pregas concêntricas da mucosa gástri-
RGE Patológico: Disfunção esofagogástrica. Doença do refluxo. ca próxima à cárdia dificultam o refluxo.
RGE Secundário: Existe uma causa subjacente que predis-
põe à doença. Fisiopatologia Do RGE
490
• Obstrução da saída gástrica O RGE ocorre por aumento da pressão intragástrica que supera
• Obstrução duodenal: má rotação, estenose do diafrag- a pressão do EEI, devido enchimento gástrico excessivo. Também
ma, pâncreas anular. a compressão externa do abdômen, mesmo diante da norma-
• Pós-correção cirúrgica de fístulas, atresia e estenose do lidade anatômica e funcional do estômago e do esôfago, pode
esôfago. contribuir com a ocorrência do RGE. Assim, pois, a obesidade, a
• Alergia às proteínas do leite de vaca. constipação, a inspiração profunda, por aumentarem a pressão
• Asma intragástrica, contribuem para o RGE, em indivíduos sem altera-
• Fibrose cística ções patológicas anatômicas ou funcionais.
• Lesões do Sistema Nervoso Central
• Outras. • Disfunção do EEI. A diminuição do tônus do EEI é funda-
mental para desencadear o RGE PATOLÓGICO. O EEI pode
RGE Oculto: Quando o material regurgitado não se exterioriza estar hipotônico de maneira contínua ou intermitente, nes-
pela boca. Pode ser fisiológico se não cursa com alteração clínica e te caso definindo o relaxamento inadequado do esfíncter,
do bem estar da criança, ou patológico quando cursa com manifes- independente de deglutição e das ondas peristálticas eso-
tações de sofrimento e alterações no desenvolvimento da criança. fágicas, com duração maior que 5 segundos. O relaxamen-
to intermitente ou transitório do esfíncter esofágico inferior
Mecanismos De Defesa Anti-Refluxo (RTEEI) é o principal causador do RGE em crianças.
• Distúrbio da Motilidade do esôfago. Motilidade esofági-
Podem ser intrínsecos ou extrínsecos ao esôfago. ca diminuída, com conseqüente retardo no clareamento
Peristaltismo do esôfago podem levar a inflamação da mucosa, (ESOFAGITE), cuja
gravidade dependerá da composição do material refluído,
• Ondas Peristálticas primárias: desencadeadas pela de- bem como do tempo de exposição da mucosa ao material.
glutição propulsionam o alimento até o estômago. • Hérnia de Hiato. Não é condição fundamental, mas agra-
• Ondas Peristálticas secundárias: desencadeadas pela va a esofagite. Segundo alguns autores, a presença da
distensão esofágica, ou pelo material refluído. Promovem hérnia é fundamental para a doença do refluxo.
o clareamento esofágico. • Retardo do esvaziamento gástrico. Presente em mais
• Epitélio estratificado e muco esofágico: protegem o ór- de 50% dos portadores de RGE. Facilita o aparecimento
gão da possível (ação lesiva do material refluído). de novos episódios de refluxo.
• Esfíncter Esofágico Inferior (EEI): camada de muscu- • Efeito do refluxo ácido sobre o trato respiratório. O ma-
latura circular que envolve a porção distal do esôfago, terial ácido poderá causar hiperreatividade no trato res-
adaptado para gerar zona de alta pressão que pode va- piratório, tosse, bronco espasmo, crises de apnéia (esta
riar de 15 a 40 mmHg; impede o retorno do conteúdo do associação é discutida; consulte o capítulo de APNÉIA) e
estômago para o esôfago. É o mais efetivo mecanismo até morte súbita.
Capitulo 13 Distúrbios do Trato Gatrointestinal
• Efeito da altura do RGE no esôfago. Se o material de néia, o bronco espasmo e a cianose podem ocorrer por
conteúdo ácido chegar até a porção mais alta do esôfa- estímulo vagal (Síndrome de SANDIFER), ou pela migra-
go, pode ocorrer aspiração para a laringe, traquéia, brô- ção do material refluído para as vias aéreas.
nquios, ouvidos, e seios da face. O próprio esôfago, uma • Repercussão no bem estar da família. Cansaço e stress
vez lesado, facilita a retro difusão de íons hidrogênio, que noturnos.
poderá agravar os quadros de esofagite.
Metodologia Diagnóstica
Diagnóstico Diferencial
Anamnese, observação clínica e interação do médico com a fa-
Com as patologias obstrutivas ou semi-obstrutivas do trato di- mília. È necessário que o médico conheça todas as prováveis mani-
gestivo que cursam com vômitos. festações clínicas do bebê de tenra idade que seja portador de RGE
Exames complementares: para os casos patológicos, com re-
Incidência Do RGE percussão no bem estar do bebê, suspeita de RGE oculto com
manifestação clínica importante. Necessidade de correlação
Atinge 7 a 8 % da população infantil, sendo mais freqüente nos lac- com outras manifestações clínicas.
tentes jovens. Está presente em cerca de 50% das crianças nos pri- Estudo radiológico contrastado do trânsito esôfago, estômago,
meiros quatro meses de vida e em mais de 60 % dos RN pré-termos. duodeno, (eed): sensibilidade e especificidade baixas (50 a 70
%). Este método diagnóstico usando o bário, permite avaliar a
Manifestações Clínicas deglutição, a mobilidade, a anatomia, esvaziamento esofágico
e gástrico e obstruções gastroduodenais em que se verifica o
RGE Fisiológico trânsito esofagogastroduodenal e permite avaliar os períodos de
refluxo. A limitação é o fato de ser um período determinado curto
Não ocorre sintomatologia, além de regurgitação e eventuais e nesta fase às vezes não vemos o refluxo.
episódios de vômitos. Não há dor, stress, sofrimento nem com- Cintilografia esofagogástrica para pesquisa de RGE e migração
prometimento do déficit pôndero-estatural ou neuropsicomotor. É o conteúdo gástirico para as vias aéras superiores e infereiores.
a criança chamada de vomitadora ou regurgitadora. Pouco invasivo, baixa irradiação, sensibilidade e especificidade
É mais comum nos primeiros meses de vida dos lactentes e baixas. Bom para verificar o tempo de esvaziamento gástrico e
tem resolução espontânea no primeiro ano de vida (pode ocorrer possíveis aspirações para o trato respiratório.
duas ou mais vezes ao dia em aproximadamente 50% nas crian- Ecografia com dopller colorido para diagnostico de RGE. É exa-
ças aos dois meses, caindo para somente 1% na idade de um me simples, de melhor sensibilidade, porém de pouca especifici-
ano), melhora com a postura, maneira adequada de amamenta- dade. Assim como no eed, o período curto de observação é um
ção, e nos bebês maiores com alimentação alternativa ao leite limitante, pois o refluxo pode não ser visto durante a observação.
materno, adequados em qualidade, volume, consistência e nú- Já existe um padrão de avaliação que associa o número episódios 491
mero de refeições. Raramente o conteúdo ácido no esôfago pode de refluxo em um determinado período de tempo com o grau de
causar estímulo do reflexo vagal, causando broncoespasmo, cia- severidade da patologia. Este medo diagnóstico associado com a
nose, apnéia (Consulte o Capítulo Apnéia Neonatal) e mais ra- clínica apresenta pelo bebê é muito útil para a tomada de conduta.
ramente ainda, a síndrome da morte súbita ou da quase morte Endoscopia digestiva alta, com ou sem biópsia: importante
súbita, exceto se o conteúdo refluído chegou ao trato respirató- para o estudo macroscópico das possíveis alterações esofágicas.
rio. é difícil distinguir os casos de RGE fisiológico e patológico, Reservada para os casos graves com suspeita de esofagite devi-
uma vez que o primeiro pode ser a predisposição para o segundo. do ao rge oculto, controle de tratamento clínico, pré e pós- opera-
tório e controle do tratamento do esôfago de barret.
RGE Patológico Phmetria intra-esofágica: considerada como padrão ouro para
o diagnóstico de rge. Tem sensibilidade e especificidade maior
Comprometimento do esôfago: que 95 %. Detecta refluxos de ph < 4 (índice de refluxo:4,5) e
• Dor por esofagite ou espasmo. De maneira cíclica. Choro, permite estudo por 24 horas; é o exame de maior sensibilidade
distúrbio do sono, irritabilidade, recusa do seio ou outro e especificidade (92,9% e 97%, respectivamente), permite deter-
alimento. Piora com o decúbito. Às vezes, odinofagia. minar o percentual de tempo de refluxo, a duração por episódio
• Disfagia. Para alimentos sólidos, pastosos ou líquidos. e a intensidade. Através de escores, auxilia na diferenciação de
Decorre do processo inflamatório esofágico ou mais tar- RGE patológico e fisiológico. É bom para controlar resultados
diamente, de estenose cicatricial do esôfago. No primeiro terapêuticos clínicos ou cirúrgicos, para correlação patológica e
caso, passível de tratamento clínico, no segundo caso, diagnóstico em rn pré-termos em uti neonatal. A phmetria: de-
tratamento cirúrgico. tecta refluxos ácidos, mas nem todos os refluxos são totalmente
• Esofagite de Barret. ácidos. O ph do leite é geralmente é alcalino. Para que se tenha
um ph ácido, ocorrerá um certo tempo após a alimentação do
Acometimento Do Estado Nutricional rn. O índice de refluxo é a percentagem de tempo em que o ph
gástrico é menor que 4. A desvantagem dos prematuros é que
• Perda sanguínea de volume variável, por hematêmese, eles apresentam ph gástrico maior do que 4 em 90% do tempo e
sangue oculto nas fezes ou melena. Perda crônica de conseqüentemente pode-se perder todos os refluxos que são áci-
sangue associada à falta de ingesta e vômitos cursam dos, se existirem. Assim, como os refluxos não são todos ácidos,
com anemia ferropriva. Desnutrição com déficit pôndero- a pHmetria não detecta todos os refluxos.
estatural e outras manifestações carenciais. Manometria: Sem relato de estudos no RN. Bom para estudo
• Manifestações Respiratórias devido à ação irritativa do funcional. Não diagnostica a presença de RGE, pois uma zona de
material refluído: Laringe, faringe, traquéia, brônquios, alta pressão do EEI não assegura a ausência de refluxo.
ouvidos e seios da face, levando a patologias repetidas Teste de acidez na secreção da orofaringe: provavelmente vai
ou crônicas referentes a cada um destes órgãos. Está ser uma maneira muito prática e clínica de fazer o diagnóstico
bem estabelecida a relação com crises de asma. A ap- clinicamente (pH <4 na secreção da orofaringe determina que o
Paulo R. Margotto
Assistência ao Recém-Nascido de Risco
refluxo é suco gástrico). Necessita de 2 ou mais testes positivos minutos antes de uma refeição. Estudos realizados por
para considerar o tratamento, mas nem todos os refluxos che- Djeddi D e cl, demonstraram que a domperidona pode
gam à orofaringe, Somente em torno de 3-3,5% deles. causar alterações no intervalo QTc do ECG nos RN com IG
Micromanometria intraluminal: um cateter que passa através > 32 sem, mas não sobre os prematuros extremos com IG
do esfíncter esofagiano e isto pode a aumentar os casos de RGE. ≤ 32 sem, sendo uma droga segura no tratamento do RGE
A técnica mais moderna é a impedância intraluminal múltipla nesses prematuros. Foi considerado prudente e seguro
que detecta a impedância elétrica durante a passagem do bolo ali- um ECG nas primeiras 48hs de tratamento.
mentar pelo esôfago. Esta técnica é baseada na medida intralumi- • Bromoprida: Na apresentação de 4 mg/ml de 24 gotas,
nal da impedância elétrica entre o número de eletrodos colocados na dose de uma gota/kg/vez (8/8h: RN pré-termo e
próximos um dos outros durante a passagem do bolo alimentar. A 6/6h: RN a termo).
impedância elétrica é definida como a razão entre a voltagem e a
corrente e é inversamente proporcional a condutividade. O princí- Fármacos Inibidores Da Ação Ácida
pio desta nova técnica consiste em registrar alterações na impe-
dância do lúmen gastrintestinal que são causadas pela passagem • Antiácidos: Em desuso, não existe consenso sobre a dose
do bolo alimentar, com o ar que tendo uma baixa condutividade ideal e segura, tem curto período de ação e são neces-
e leva a um aumento da impedância ao contrário do líquido que sárias várias doses durante o dia. Não serve como trata-
tendo alta condutividade leva a uma diminuição da impedância. mento, mas eventualmente pode ser usado como medida
Com base na seqüência temporal destas alterações na impedân- de alívio nos momentos críticos de sofrimento do bebê.
cia pode ser identificado se a alteração é causada pela direção do • Antagonistas dos receptores H2 da Histamina: A Raniti-
movimento anterógrado (engolir) ou retrógrado (refluxo). dina tem sido utilizada com mais freqüência na dose de
Esta técnica é tão sensível que pode detectar volumes tão pe- 5 -10mg/ kg/dia, dividido em 2 a 3 tomadas, via oral.
quenos quanto 0,1ml. Toda vez que houver RGE vamos ter diminui- • Inibidores da bomba de prótons: Nos casos de insuces-
ção da impedância. É uma técnica é altamente sensível e detecta so com os antagonistas dos receptores H2 da histamina,
a altura do refluxo, que pode chegar até a altura da orofaringe em nos casos de esofagite muito grave, nos pacientes com
3-3,5% dos casos. A Impedância intraluminal múltipla é a mais manifestação respiratória ligadas ao RGE e que não res-
moderna e a melhor forma de e fazer o diagnóstico, mas a grande ponderam a droga anterior. Omeprazol tem sido usado
maioria dos Serviços não tem o aparelho para executá-la. Está em na dose de 0,7 a 3,3 mg/kg/dia (dose média de 1,9
fase experimental e ainda existem poucos estudos para validação mg/kg/dia) em dose única diária, via oral. O omeprazol é
desta técnica, para diferenciar RGE fisiológico do patológico. um benzimidazólico que inibe a enzima responsável pelo
transporte de íons de hidrogênio para a luz do estômago.
Tratamento Uma única dose pode suprimir mais de 90% da secreção
ácida em vinte e quatro horas. O tempo de tratamento
492 Conservador farmacológico é de meses, na maioria das vezes, no en-
tanto tempos menores como duas semanas podem ser
• Esclarecimento aos pais sobre o que é o RGE e como suficientes. Às vezes, se diminui a dose do fármaco e se
tratá-lo. Alimentação da mãe lactante, técnica de ama- mantém o efeito desejado. Avaliações seriadas são im-
mentar, evitando a deglutição de ar. Colocar o bebê para portantes para a segurança do bebê e da família. O ome-
arrotar depois das mamadas. prazol pode ser encontrado no comércio com o nome co-
• Medidas posturais: cabeceira elevada, decúbito lateral. mercial de Losec mups, na apresentação de comprimidos
Questionável o decúbito ventral, devido a Síndrome da contendo 10mg, que pode ser dissolvido. Existe também
Morte Súbita. Rolinho de cobertor, para evitar que o bebê a disponibilidade da fórmula manipulada em suspensão
role cama abaixo com o decúbito elevado. Mezzacapa de- estabilizada, que pode ser preparada na quantidade de
monstrou que o decúbito ventral, em relação ao dorsal, mg/dose desejada, o que permite usar volumes peque-
reduz de forma significativa o número e a duração dos nos por dose, como um ml por vez. Omari T e cl estuda-
episódios de refluxo ácido; Propõe-se que a posição ven- ram o efeito do esomeprazol, um dos isômeros ópticos
tral seja utilizada como importante medida terapêutica do composto racêmico omeprazol, utilizado em adultos
nos recém-nascidos de muito baixo peso com doença do que não respondem ao omeprazol, em neonatos a termo
refluxo gastroesofágico durante a internação na Unidade e pré-termo com sintomas de DRGE, tratados oralmen-
Neonatal, desde que o bebê tenha demonstrado ao exa- te com esomeprazol 0,5 mg/kg/dia; relataram redução
me clínico o reflexo de fuga à asfixia de forma viva. Para da exposição esofágica a ácido e do ácido intragástrico,
o diagnóstico de DRGE, recomenda-se que os RN sejam sem alteração significante na característica do refluxo,
mantidos apenas em decúbito dorsal horizontal. ou seja, não afetou freqüência, tipo e volume do refluxo,
• Medidas dietéticas: leite materno exclusivo para os ama- achado consistente com o encontrado em adultos.
mentados ao seio. Leite Humano do banco de leite para • A disponibilidade do médico para atender a família, nas
os demais bebês internados. Para os maiores e já des- eventuais dúvidas e crises de dor e sofrimento apresen-
mamados, existem fórmulas adequadas anti-refluxo. Re- tados pelo bebê é sem dúvidas um dos pilares que sus-
feições fracionadas. Para os lactentes maiores, nutrição tenta o êxito do tratamento conservador e farmacológico
balanceada, evitando líquidos nas refeições. do REG no bebê.
• Evitar fraldas ou roupas apertadas, movimentos bruscos
e chacoalhar o bebê. Tratamento Cirúrgico
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Paulo R. Margotto
Assistência ao Recém-Nascido de Risco
A Enterocolite Necrosante (ECN) é uma patologia multifatorial associa-se com aumento da incidência de ECN com perfuração
determinada fundamentalmente por isquemia intestinal, lesão intestinal. A indometacina tem um efeito vasoconstritor seletivo
da mucosa, edema, ulceração e passagem de ar ou bactérias na vasculatura mesentérica, diferente do ibuprofeno, que é outro
pela parede da víscera. Caracteriza-se pela distensão abdominal, inibidor não seletivo da cicloxigenase. O uso de bloqueadores H2
vômitos biliosos e hematoquesia, capaz de evoluir para perito- também aumenta o risco para ECN (até 6,6 vezes mais!).
nite, pneumoperitôneo e choque. Pode ser considerada doença A prematuridade e a colonização bacteriana do trato gastrin-
dos sobreviventes, uma vez que ocorre com maior frequência em testinal por bactérias patogênicas parecem ser os fatores mais
pacientes que sobreviveram às várias intercorrências iniciais do comumente associados à ECN. A imunodeficiência sistêmica e
período neonatal, como episódios de hipóxia e quadros infeccio- local permite o supercrescimento bacteriano e a invasão da mu-
sos, e já se encontravam num período de reabilitação. cosa. Dentre as muitas variedades de defesa existentes no trato
Com base de dados de grandes estudos multicêntricos do Ca- digestivo, as células de Paneth do prematuro têm atividade di-
nadá e Estados Unidos, a prevalência média está em torno de 7% minuída e produzem menos produtos antibacterianos. Há ainda
entre os RN de 500 a 1500g, com estimativa de taxa de morte pouca IgA, além das deficientes ações dos leucócitos polimor-
entre 20-30%, sendo maior nos RN que necessitam de cirurgia. fonucleares e linfócitos B e T Entre os mecanismos bacterianos
Não há preferência quanto a sexo, raça ou época do ano. O tem- da lesão intestinal, são citadas a ação das endotoxinas sobre os
po de aparecimento é inversamente proporcional à idade gesta- macrófagos, com a liberação do fator de necrose tumoral-alfa,
cional ao nascer, em média nos menores de 32 semanas ocorre estímulo à produção do fator de ativação plaquetária (PAF), além
na 3ª semana de vida, nos de 32-36 semanas, na 2ª semana e da fermentação intraluminal de lactose, com aumento de H2 e is-
nos maiores de 36 semanas, na 1ª semana de vida. A mortali- quemia relativa da mucosa. Os microorganismos isolados não se-
dade varia de 10 a 50%, mas a forma de progressão rápida tem riam obrigatoriamente os agentes primários da doença. Qualquer
mortalidade de praticamente 100%. Em 37% dos casos é neces- fator que provoque a perda da integridade da mucosa intestinal
sário tratamento cirúrgico, 40-50%, podem apresentar gangrena pode determinar a bacteremia.
intestinal ou perfuração. A necessidade de cirurgia aumenta para Após o nascimento inicia-se a colonização bacteriana do intes-
61% nos menores de 1000g. tino previamente estéril, a qual ocorre segundo variações indivi-
Os custos financeiros da ECN são altos, com estimativa de cus- duais. A colonização primária de bebês de termo nascidos por via
tos para as crianças afetadas, nos Estados Unidos, entre 500 vaginal é similar à microflora vaginal e fecal da mãe. Os nascidos
494 milhões e 1 bilhão de dólares ao ano. de cesariana têm retardada a diversificação de sua flora intestinal,
Este panorama complexo tem levado ao surgimento de uma que reproduz a do ambiente em geral e apresenta menos anaeró-
gama maior de diagnósticos frente a suspeita de enterocolite ne- bios estritos (bifidobacterium e Bacteroides) e mais Clostridium diffi-
crosante (ECN), tendência já presente nos primórdios do estudo cile. Bebês internados tendem a ter mais coliformes, Bacteróides e
da doença. Desde o final dos anos 70, quando surgiram os crité- Clostridium. Bebês em casa têm mais bifidobacteria, lactobacilos,
rios de Bell, já se falava na ECN como um espectro de doenças e estafilococos e estreptococos. Prematuros apresentam um padrão
não como uma entidade específica. Esse espectro caberia sob o anômalo de colonização, que tende a persistir por muito tempo. A
mesmo “guarda chuva” dos critérios de Bell, e se beneficiaria de imaturidade da glicolisação em sua mucosa intestinal diminui a
sua aplicação. A ECN naquela época atingia preferencialmente aderência de comensais, favorecendo as bactérias patogênicas.
recém nascidos maiores do que 30 semanas. Na era do surfac- Em sua flora predominam enterococos, enterobacter, E. coli, estafi-
tante, o perfil da ECN mudou: bebês menores sobreviveram, e lococos, estreptococos, clostridium, bacteroides. Além de serem ex-
apresentaram-se mais suscetíveis ao supercrescimento bacte- postos precocemente à flora hospitalar, os pequenos prematuros
riano intestinal. Nesse período, ferramentas importantes para a em geral demoram a ser alimentados e fazem uso de antibióticos
prevenção da ECN foram desenvolvidas, como o uso preferencial de largo espectro, que propiciam a colonização por klebsiella sp e
de dietas com leite humano e medidas criteriosas para o início e estafilococos, retardo na instalação dos lactobaccilus e decréscimo
progressão da alimentação enteral no prematuro, incluindo uma na variedade de anaeróbios. A Klebsiella sp tem sido um microor-
fase de dieta trófica, cuja duração ainda é objeto de controvér- ganismo isolado com muita freqüência.
sias. Uma tendência emergente é a administração de probióticos A terapia com os antibióticos coincide com a colonização ini-
para os recém nascidos prematuros. cial gastrintestinal. Sabemos que os pré-termos tem uma micro-
flora intestinal diferente dos RN a termo saudáveis. Há várias
Fisiopatologia evidências da importância da colonização gastrintestinal dos
RN pré-termos. A terapia empírica inicial prolongada de antibi-
Os eventos causais são multifatoriais e incluem história de evo- óticos associa-se a uma incidência duas vezes maior de sepse
lução neonatal precoce complicada, com ambiente intrauterino ou precoce, enterocolite necrosante ou morte e quase 3 vezes a
transição perinatal ruins. Os principais fatores fisiopatológicos são de sepse tardia sozinha. Mais importante ainda: estas asso-
a imaturidade da barreira mucosa, a isquemia intestinal, a dieta ciações persistiram após ajuste para a severidade da doença.
nutritiva precoce e a colonização intestinal. Está freqüentemente A antibioticoperapia empírica inicial prolongada pode ser indi-
associada à prematuridade, apnéia, baixo peso, asfixia choque cada para recém-nascidos pré-termo quando a probabilidade de
endotóxico ou hipovolêmico, persistência do canal arterial, todos sepse é alta, porém, a ampla utilização prolongada de antibióti-
os fatores que levam à má irrigação mesentérica. O sofrimento cos pode prejudicar importantes eventos de transição necessá-
mesentérico crônico nos RN que apresentaram centralização fetal rios para a homeostase intestinal.
intra-uterina solicita maior cautela no início e progressão da dieta. Antibioticoterapia é conhecida por alterar a colonização do
O uso de indometacina precoce (nas primeiras 48 horas de vida), trato gastrintestinal e predispõe ao surgimento de patógenos e
principalmente em RN abaixo de 27 semanas ou abaixo de 800g organismos resistentes. Os estudos em animais sobre o desen-
Capitulo 13 Distúrbios do Trato Gatrointestinal
volvimento intestinal mostraram uma interação anormal entre o recem: cardiopatia congênita cianótica, hiperviscosidade
epitélio intestinal e o microbioma luminal quando a colonização é sanguínea, crescimento intrauterino retardado e eventos
interrompida com antibióticos de amplo espectro A ativação dos hipóxicos perinatais.
receptores toll-like por bactérias comensais parece ser crítica para • Enterite Viral da Infância (EVI): há relatos de séries de
a proteção contra lesões do intestino e mortalidade associada. surtos de rotavírus e adenovírus em berçários, cujos sin-
A falta de diversidade de espécies bacterianas e a abundância de tomas simulam a ECN. Tem morbidade alta, e chega a
espécies Proteobacteria associadas com o uso amplo de antibió- causar sepse e morte porque facilita a entrada de micro-
ticos podem predispor à estimulação inflamatória que pode aju- organismos patogênicos na parede intestinal. Pode cau-
dar a explicar a susceptibilidade dos recém-nascidos prematuros sar necrose e necessitar cirurgia, como em outras ECN.
a sepse tardia e a enterocolite encrosante. Há relato de serem responsáveis por 30% dos casos de
A dieta tem papel importante na patogênese da doença. O au- “ECN” em um estudo, mas seu desfecho em RN de muito
mento rápido do volume alimentar, o uso de fórmulas artificiais baixo peso é bem melhor do que o da ECN.
e de dietas hiperosmolares favorecem a ECN, mas a dieta trófica • Alergia à Proteína do Leite de Vaca: Rara em bebês me-
precoce apresenta-se como fator protetor da mucosa, facilitando nores de 2 kg e de 6 semanas, mas sua clínica mostra
a colonização por microorganismos comensais, o amadurecimen- sangue vivo nas fezes, distensão abdominal e pneuma-
to dos sistemas enzimáticos e o crescimento do tubo digestivo. tose. A evolução é mais benigna. Acontece também com
O início, volume e progressão da dieta são temas discutidos. O fórmulas de soja e fortificantes à base de proteína de LV.
aumento da dieta maior que 20 ml/kg/dia, embora controver- • Intolerância Alimentar da Prematuridade (IAP): Devida à
so, parece estar associado com maior incidência de ECN. O leite imaturidade intestinal distal e peristalse incoordenada do
humano diminui significativamente a incidência, embora não a feto. Ocorre principalmente em RN de extremo baixo peso.
previna 100%. O leite cru da própria mãe deve ser o preferido na É uma dismotilidade fisiológica para aquela idade gesta-
alimentação destes prematuros. cional, e não propriamente um íleo. Devido à retenção do
Outros fatores associados à ECN: hiperviscosidade sanguínea, bolo alimentar, favorece o supercrescimento, migração e
baixo débito cardíaco, doença pulmonar, parto gemelar, cateteri- translocação bacteriana, que podem levar à ECN.
zação da artéria umbilical, uso de cateteres venosos centrais, ex-
sanguineotransfusão, bacteremia e outros. As diferentes formas Acompanhamento E Tratamento Clínico
de apresentação da doença apontam para importância do fator
patogênico em cada caso. Na ECN, é fundamental o acompanhamento radiológico seria-
do do abdome a cada seis horas, que além dos evidentes sinais
Quadro Clínico de distensão e edema das alças intestinais pode apresentar
pneumatose (gás hidrogênio na parede intestinal, produto do
Os aspectos clínicos são múltiplos. Geralmente se inicia com metabolismo bacteriano), podendo estender-se para dentro da
distensão abdominal, aumento de resíduos gástricos, vômitos circulação venosa portal (é um sinal de gravidade, 70% de mor- 495
biliosos, queda do estado geral, sinais toxêmicos e presença de talidade), pneumoperitônio e/ou evidentes sinais de peritonite.
sangue nas fezes (oculto ou mesmo como enterorragia); é co- Embora a pneumatose intestinal não faça o diagnóstico, é um
mum a presença de fleimão periumbilical, que se estende pelo sinal importante.
abdômen na instalação da peritonite, a qual geralmente se as- O tratamento clínico de um quadro de ECN ou suspeito funda-
socia com septicemia, coagulação intravascular disseminada, menta-se em:
choque séptico e acidose metabólica persistente.
Sua clínica se confunde com muitas outras entidades, e até a 1. Esvaziamento gástrico contínuo através de sonda oro-
pneumatose, sinal radiológico tido como patognomônico, pode gástrica aberta.
ocorrer também na enterocolite por megacólon ou na gastren- 2. Cobertura antibiótica de amplo espectro; associação
terite severa. Esta multiplicidade deu origem à nova tendência de agentes eficazes contra bactérias anaeróbicas (Metro-
diagnóstica, que remete ao espectro de condições intestinais co- nidazol EV, nas doses habituais, vide capítulo de Infec-
bertas pelos critérios de Bell. Tais entidades foram reunidas sob ções Bacterianas).
o nome de Doenças Intestinais Neonatais Adquiridas (DINAs), 3. Manutenção adequada da perfusão por expansão in-
classificadas a seguir: travascular com solução cristalóide, plasma ou sangue
total e/ou uso de drogas vasoativas.
Doenças Intestinais Neonatais Adquiridas 4. Correção dos distúrbios hidreletrolíticos e ácido-
básico.
• Perfuração Intestinal Espontânea (PIE). A primeira cita- 5. Tratamento da coagulação intravascular disseminada,
ção consistente na literatura foi em 1988, por Aschner, quando instalada, com uso de hemoderivados. Em casos de
mas só 10 anos depois passou a chamar atenção. A as- hemorragias importantes com trombocitopenia severa, po-
sociação de esteróide pós-natal e indometacina aumenta de-se usar de concentrado de plaquetas, embora ainda fal-
o risco da lesão. A mucosa intestinal na PIE é robusta, e tem evidências clínicas para certificação de seu benefício.
não necrótica; a submucosa está afinada, com ausência 6. O suporte nutricional depende da severidade da ECN.
ou necrose asséptica da muscular no sítio da perfuração. Para o RN com “suspeita clínica”, manter nutrição paren-
Não há pneumatose. São RN que receberam surfactante, teral e cessar a nutrição enteral por 2-3 dias e então rea-
propensos a receber tratamento para PCA e drogas vaso- valiar: Se não há pneumatose intestinal nem sangue nas
ativas. Isso torna a PIE uma entidade diferente da ECN. fezes e houve melhora da distensão abdominal, pode-se
• ECN do RN pré-termo: os fatores predisponentes são reiniciar a nutrição enteral com leite humano, avançando
uma progressão descuidada da dieta, o supercrescimen- em torno de 20 ml/kg/dia e desmamar a nutrição pa-
to bacteriano e o comprometimento das barreiras inatas renteral. Nos casos de ECN avançada (pneumatose intes-
da parece intestinal; não são muito ligados à isquemia. tinal/peritonite/perfuração), a dieta zero é mantida por
• ECN do RN a termo: surge precocemente e tem uma fi- pelo menos 10 dias e a nutrição parenteral por 10-14
siopatologia isquêmica. As seguintes condições a favo- dias, ou até que se atinja a nutrição enteral satisfatória.
Paulo R. Margotto
Assistência ao Recém-Nascido de Risco
Fonte: Walsh MC, Kliegman RM. Necrotizing enterocolitis: Treatment based on staging criteria. Ped Clin North Am, 1986.
Estágio I: Nos RN de extremo baixo peso e muito baixo peso os sin- ressecar o mínimo de intestino possível. Após a ressecção é dei-
tomas desse estágio estão presentes em qualquer suspeita de sepse, xado um estoma; é menos comum fazer anastomose primária.
sendo muito inespecíficos. Em casos de acometimento extenso, fechar sem agir e voltar a
Estágio IIA: É incomum haver fezes sanguinolentas no RN< 30 abrir 24 - 48h após (“second look”). Quando há grande instabi-
semanas, porque com a afecção do íleo terminal, as fezes com lidade clínica, fazer a drenagem peritoneal para descompressão
sangue não progridem através de todo o cólon. abdominal até atingir condição para cirurgia. Para os raros casos
Estágio IIB: Pode ser mantido sem ressalvas. de PIE nessa faixa de peso, o mesmo procedimento cirúrgico é
Estágio IIIA: A ausência de perfuração não implica em doença recomendado, e não uma anastomose primária.
mais branda, porque pode estar ocorrendo necrose intestinal maciça.
Estágio IIIB: É o estágio em que se diagnosticam muitas PIE Opções Cirúrgicas Em < 1500g : Drenar ou não drenar?
como ECN, porque maior valor é dado aos achados de pneumo-
peritônio e perfuração, a despeito dos demais sintomas. Não é A drenagem peritoneal (DP) foi inicialmente feita em 1977. Pos-
uma avaliação acurada. tulou-se que permitia o alívio da pressão intra-abdominal, dre-
nagem da secreção intestinal presente na cavidade peritoneal e
Considerações Sobre O Manejo Cirúrgico Das tempo para a estabilização e otimização cirúrgica. Hoje é ampla-
Doenças Intestinais Neonatais Adquiridas mente feita, como medida pré-cirúrgica ou como tratamento úni-
co para RN EBP com ECN estágio III de Bell. Estudo comparando
O prognóstico dos pacientes com PIE é melhor do que os de DP primária versus laparotomia em ECN<1500g, não encontrou
ECN, e a despeito do diagnóstico e tratamento no tempo certo, diferença em mortalidade, dependência de nutrição parenteral
30% dos pacientes com ECN e praticamente todos pacientes ou duração da hospitalização entre os grupos, mas 38% das
com PIE precisam ser operados. DP necessitaram laparotomia posteriormente. Avaliação caso a
caso, por um cirurgião experiente, é o recomendado.
Opções Cirúrgicas Em RN >1500g
Complicações
Laparotomia com ressecção do intestino necrótico é geralmen-
te a abordagem preferida. A necrose é uni ou multisegmentar, São relacionadas à síndrome do intestino curto (5-10% dos ca-
entremeada por áreas de viabilidade questionável. O objetivo é sos), aos estreitamentos (há estenose cicatricial em 10-35% dos
Paulo R. Margotto
Assistência ao Recém-Nascido de Risco
casos, com os sintomas iniciando 3-12 semanas após a ECN) e às Sinais E Sintomas Iniciais Da Enterocolite Necrosante
conseqüências da nutrição parenteral, como a colestase. Problemas
no neurodesenvolvimento chegam a ocorrer em 50% dos casos. Sinais Porcentagem De Pacientesx
A ECN é a maior causa de síndrome do intestino curto nos pacien- Distensão abdominal 73
tes pediátricos. A média total de custos para os cuidados por um pe-
Fezes sanguinolentas 28
ríodo de 5 anos para uma criança com síndrome do intestino curto
Apnéia, bradicardia 26
tem sido estimada em aproximadamente 1,5 milhões de dólares.
Hiperestesia abdominal 21
Prevenção Retenção do conteúdo gástrico 18
Fezes guáiaco-positivas 17
O leite materno, especialmente o da própria mãe, e administrado "Aspecto séptico" 12
cru, é a dieta de escolha para minimizar a incidência das doenças Choque 11
intestinais adquiridas no neonato. O conhecimento do padrão mul-
Vômitos biliosos 11
tiforme e multifatorial dessas doenças permite a adoção de con-
Acidose 10
dutas mais adequadas para cada caso. Manter acompanhamento
clínico e laboratorial criterioso. As medidas profiláticas incluem Letargia 9
minimizar a associação do uso de indometacina e corticóide pós- Celulite da parede abdominal 6
natal, cuidado no uso de drogas com ação na circulação mesen- Diarréia 6
térica, de antibioticoterapia empírica precoce e de bloqueadores Tumoração na Fossa ilíaca direita 2
H2 nos prematuros extremos. Os benefícios da alimentação en-
teral mínima são inegáveis, mas é preciso avaliar individualmente Excede de 100%, já que muitos pacientes apresentam mais de
cada recém-nascido, iniciando precocemente a dieta trófica, mas um sinal. (Modificado de Kliegman, R. M. e Fanaroff, A.A.: Neona-
respeitando a tolerância alimentar do prematuro, especialmente tal necrotizing enterocolitis: A nine-year experience. Epidemiology
aquele que apresentou centralização fetal, com progressão caute- and uncommon observations. Am. J. Ids Child 135:603, 1981)
losa da dieta nos pacientes incluídos nos grupos de risco
Fatores De Risco
O Papel Dos Probióticos 1- Prematuridade
2- Asfixia pré-natal
Os probióticos são microorganismos vivos que, administrados
3- Doença de Membrana Hialina
em quantidades adequadas, conferem benefícios à saúde do
4- Cateterização umbilical
hospedeiro. São, por natureza, não patogênicos, resistem ao pro-
5- Hipotermia
cessamento técnico e à passagem pelo estômago e bile; são ca-
6- Choque
498 pazes de aderir ao epitélio intestinal, colonizar por algum tempo
7- Hipoxia
o trato digestivo, produzir substâncias antimicrobianas, modular
a resposta imune e influenciar atividades metabólicas humanas 8- Persistência do canal arterial (PCA)
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Paulo R. Margotto
Assistência ao Recém-Nascido de Risco
Segundo Goday PS, qualquer definição de síndrome do intesti- correlaciona com mais de 50% de ressecção. Atualmente, a defini-
no curto (SIC) deve incluir dois conceitos: a redução no tamanho ção é uma definição funcional, isto é, a presença da má absorção
do intestino e a necessidade de nutrição parenteral. A Associação seguida por uma ressecção significante do intestino delgado.
Canadense de Cirurgiões Pediátricos define SIC como a necessi- A SIC é caracterizada clinicamente por má-absorção, diarréia,
dade do uso de nutrição parenteral por mais de 42 dias após a perda de eletrólitos, mobilização dos depósitos de gordura e
ressecção do intestino ou um tamanho residual do intestino curto proteínas musculares, podendo desencadear desequilíbrios me-
menor que 25% do esperado para a idade gestacional. tabólicos e hidreletrolíticos graves, além de desnutrição. O fator
Os recém-nascidos (RN), especialmente os prematuros possuem etiológico comum em todos os casos de SIC é a perda funcional
uma vantagem distinta quanto à adaptação intestinal. O compri- ou anatômica de grandes segmentos do intestino curto de forma
mento do intestino delgado do RN com 35 semanas é o dobro da- que a capacidade absorvida é drasticamente reduzida.
quele entre 19 e 27 semanas, sugerindo que o intestino residual Algumas das condições clínicas que podem resultar nesta sín-
pode ter maior potencial de aumento no seu tamanho nos RN pre- drome incluem isquemia mesentérica, trauma, doença inflamató-
maturos em relação aos RN a termo. O intestino delgado aumenta, ria intestinal, câncer, enterite causada por radioterapia, intestino
em média, de 114,8cm entre a 19ª e a 27ª semana gestacional curto congênito, entre outras. Contudo, nem todos os pacientes
para 172,1cm entre a 27ª e a 35ª semana gestacional, chegando que sofrem perda significativa do intestino desenvolvem a síndro-
a 248cm nos neonatos acima de 35 semanas gestacionais. Com 1 me. Os fatores que determinam a possibilidade de ocorrência da
ano, o intestino delgado atinge, aproximadamente, 380cm. SIC incluem o comprimento original do intestino do paciente, a
Wales PW encontrou em seu estudo a incidência de Síndrome extensão e o local do segmento ressecado, a idade do paciente à
do Intestino Curto (SIC) de 22,1 por 1.000 admissões na unida- época do ocorrido e a presença ou ausência da junção ileocecal.
de neonatal de cuidados intensivos e de 24,5 por 100.000 nas- Neste capítulo são discutidos aspectos relacionados à etiolo-
cidos vivos, sendo estes valores muito maiores em prematuro. gia, alterações metabólicas, evolução clínica, perspectivas tera-
Estima-se que esse problema clínico afete 20.000 americanos, pêuticas e o prognóstico de recém nascidos acometidos com SIC.
incluindo crianças e adultos.
As ressecções intestinais podem ser divididas em três catego- Etiologia
rias com base no tamanho residual do intestino delgado. As res-
500 secções podem ser curtas (intestino delgado residual entre 100- A maioria dos pacientes pediátricos desenvolve a SIC durante
150cm), grande (intestino delgado residual entre 40-100cm) e o período neonatal. A causa mais comum é a enterocolite necro-
maciça (intestino delgado residual <40cm). sante. Estima-se que aproximadamente 50% dos pacientes com
No passado, a síndrome do intestino curto na infância foi defini- enterocolite necrosante e submetidos à ressecção cirúrgica de-
da como tendo menos de 75 centímetros do intestino delgado re- senvolvem a SIC. Outros casos de SIC incluem gastrosquise, onfa-
sidual após a ressecção do intestino. Pelo fato do intestino delgado locele, atresia jejunal ou ileal, deformidades da artéria mesenté-
do RN ter aproximadamente 200 a 300 cm de extensão, isso se rica superior e doenças secundárias do intestino curto (Tabela 1).
Depois de significativa ressecção intestinal, o intestino rema- composição da terapia nutricional, dando atenção à lactose, uma
nescente tem a habilidade para adaptar-se anatômica e funcio- vez que logo após a cirurgia são observados níveis reduzidos
nalmente a fim de aumentar as funções absortivas e digestivas. de lactase nos enterócitos. Entre os lipídios, os triglicerídios de
Ocorre hiperplasia epitelial e hipertrofia muscular e de criptas, cadeia média são os preferidos porque teoricamente eles não
sendo a resposta adaptativa maior no íleo do que no jejuno. requerem ácidos biliares e formação de micelas para a sua com-
A absorção e digestão protéica permanecem eficientes em pa- pleta absorção, embora o uso contínuo esteja associado à mani-
cientes com SIC. Porém os carboidratos normalmente não são festação de deficiências de ácidos graxos essenciais.
bem absorvidos, necessitando, constantemente, de ajustes na
Capitulo 13 Distúrbios do Trato Gatrointestinal
Pacientes com SIC necessitam de terapia nutricional adequa- Entende-se como NE o conjunto de procedimentos terapêuti-
das ao seu estágio clínico, envolvendo as vias parenteral, enteral cos empregados com o objetivo de manter ou recuperar o es-
e oral. A atenção inicial no pós-operatório de pacientes com SIC tado nutricional mediante a oferta de nutrientes por sondas de
deve estar voltada para a manutenção de fluidos e eletrólitos, alimentação (nasogástricas ou orogástricas) ou via oral. Ela é
principalmente nos pacientes com ostomias (a perda de eletróli- recomendada para promover a adaptação intestinal e diminuir
tos e fluidos é maior). as complicações associadas à NP, permitindo ao paciente viver
o tempo requerido para a adaptação intestinal se completar. Ge-
Nutrição Parenteral (NP) ralmente é oferecida em pequenos volumes, por via gástrica e de
modo contínuo, juntamente com pequenos volumes oferecidos
A NP trata-se de uma solução estéril de nutrientes que é infun- por via oral, estimulando assim o aporte oral.
dida por via intravenosa por meio de um acesso venoso perifé- O início da alimentação oral será após no mínimo, 3 semanas
rico ou central, de forma que o trato digestivo é completamente nas ressecções médias e 3 meses nas grandes. Constará ini-
excluído no processo. No período pós-operatório, recomenda-se cialmente de solução a 3% de frutose ou glicose (no máximo de
administrar no paciente esse tipo de nutrição, com o objetivo de 10mg/kg/refeição de 3/3s).
mantê-lo hidratado e sem perdas eletrolíticas. O leite humano, em razão de suas propriedades protetoras
A duração do tempo de permanência da NP dependerá do com- deve ser oferecido inicialmente, em pequenas quantidades.
primento do intestino na primeira cirurgia, da porcentagem da die- Os hidrolisados protéicos representam outra opção para a
ta enteral tolerada após 3 meses do início da adaptação, do sobre- alimentação destes pacientes. Devem ser oferecidos de forma
crescimento bacteriano e da inflamação intestinal. O comprimento diluída e aumentados lentamente de acordo com a aceitação
do intestino delgado residual e a porcentagem de calorias diárias e tolerância digestiva, combinados com triglicerídeos de ca-
recebidas via enteral na 12º semana após a ressecção podem ser deia média e longa.
Paulo R. Margotto
Assistência ao Recém-Nascido de Risco
Theyskens C utilizou em seu estudo uma solução com 3,5g de A utilização de glutamina suplementada na nutrição parenteral
cloreto de sódio, 2,5g de bicarbonato de sódio e 20g de glicose, tem demonstrado bons resultados em pacientes portadores de
que era oferecida ao paciente em pequenos volumes durante o alterações funcionais no intestino. Pacientes muito debilitados
dia. Associada ao Neocate® e ao Imodium®, um fármaco a base são mais susceptíveis a desenvolver sepse de origem intestinal,
de loperamida, opiáceo que em adultos é utilizado para diminuir susceptibilidade esta pode ser diminuída se forem adotados tra-
a motilidade intestinal e aumentar a absorção de água e eletró- tamentos adequados que possam apoiar o funcionamento e o
litos. E obteve ganho de peso significativo, sendo possível alta metabolismo intestinal, melhorando a função de barreira.
hospitalar sem NP e com bom equilíbrio eletrolítico. Os dados na literatura são limitados quanto aos possíveis me-
O pesquisador sugere que esta solução enteral deve ser con- canismos de ação da glutamina e podem estar relacionados à
siderada em casos especiais de neonatos com SIC, quando a alteração na fisiologia celular, regulação metabólica ou regulação
terapia convencional fracassa na tentativa de suspender a NP e na expressão gênica. Outros autores sugerem que os efeitos es-
evitar o desequilíbrio eletrolítico. tão associados com o aumento da proliferação e decréscimo da
apoptose nas células epiteliais. A produção local de IGF-1 apre-
Perspectivas Farmacoterapêuticas senta importante função na adaptação do intestino curto.
Na Síndrome Do Intestino Curto
Prognóstico
Muitas pesquisas têm sido conduzidas no intuito de se desco-
brir tratamentos coadjuvantes, além dos cirúrgicos e farmacoló- O prognóstico a médio e longo prazo depende da presença ou
gicos tradicionalmente utilizados, que possam agir de maneira não da válvula ileocecal, da área do cólon residual e das eventuais
mais eficiente que os tradicionais, principalmente na correção complicações da NP. Além da idade gestacional na época da ci-
da permeabilidade intestinal alterada em pacientes com doen- rurgia e da integridade funcional do intestino curto remanescente.
ça inflamatória intestinal, resposta imunológica e melhora da
qualidade e tempo de sobrevida dos pacientes recém nascidos, • Delgado residual < 15 cm: caso inviável
observando-se menores efeitos colaterais. • 40 cm de delgado sem válvula ileocecal: 100% de mortalidade
Nas últimas décadas, os pacientes submetidos às ressecções • 40 cm de delgado com válvula ileocecal: 95% de sobrevida.
extensas do intestino delgado têm apresentado melhor prognóstico
devido aos progressos nas técnicas cirúrgicas, anestésicas e nos Quanto ao quociente de desenvolvimento (QD) em um grupo de
procedimentos pós-operatórios. Aliada a estes avanços, a manuten- pacientes com SIC, foi encontrado um QD de 59 em 10 casos na
ção nutricional através da terapia nutricional enteral e parenteral idade média de 6 meses e nova avaliação em 6 casos na idade
trouxe novas perspectivas na qualidade de vida aos pacientes porta- média de 3 meses, um QD médio de 87 (62-105), com 3 normais,
dores de SIC. Entretanto, o uso crônico de soluções de nutrição pa- 2 limítrofes e um retardado com hemiparesia.
renteral está associado ao desenvolvimento de deficiências nutricio- Estes resultados justificam o uso de todos os meios para o tra-
502 nais, complicações sépticas, falência de órgãos vitais e ao alto custo tamento destes pacientes, mesmo com alto custo operacional.
terapêutico. Sob esta perspectiva, estudos estão sendo desenvolvi- Cada nova tentativa terapêutica serve de base para futuras técni-
dos com intuito de encontrar possibilidades terapêuticas de restabe- cas de suporte nutricional a estes pacientes.
lecimento da autonomia enteral, incluindo alterações morfológicas O trato gastrintestinal é um dos órgãos mais envolvidos na imu-
no intestino remanescente que possibilitem o aumento da área de nologia do ser humano, pois apresenta uma grande extensão de
superfície de absorção e produção colônica de ácidos graxos de ca- tecido linfóide (os linfócitos são responsáveis pela rejeição). Além
deia curta. A adaptação intestinal é influenciada pela presença de disto, a flora bacteriana do intestino delgado e grosso represen-
nutrientes intraluminais e peptídeos tróficos e hormônios. ta um reservatório potencial de patologias, aumentando muito o
Glucagon, semelhante ao peptídeo 2, é um peptídeo progluca- risco de infecção após o transplante e acarretando significativas
gon, secretado primariamente no íleo e cólon após ingestão de taxas de morbimortalidades.
alimentos. Estudos clínicos têm demonstrado a estimulação do Indicações absolutas: intestino ultracurto (<10cm); perda de
crescimento da mucosa intestinal, diminuição da mobilidade e se- 80% de área funcional.
creções do intestino curto, aumento da absorção intestinal e peso Acompanhamento evolutivo: até 40cm com válvula ileocecal:
corpóreo, sendo que o seu uso apresentou-se promissor na síndro- 10 a 30cm para válvula ileocecal; insuficiência hepática; perda
me do intestino curto em adultos. Dietas contendo Lactobacilos de 50% de acessos vasculares; sepse de repetiçãO33. A sobrevi-
também propiciaram a estimulação da função absortiva intestinal. da ao transplante intestinal de 1 ano chega a 70%, caindo para
Estudos experimentais têm demonstrado os efeitos benéficos 55% aos 3 anos de evolução.
da suplementação nutricional com glutamina na recuperação A taxa de sobrevida geral dos pacientes com SIC é de 80 a
da permeabilidade normal, na manutenção da integridade intes- 94%. Interessante que nos pacientes com NP por mais de 25
tinal, na diminuição da ocorrência de sepse e da mortalidade, anos, a sobrevida é de 94%. Assim, a sobrevida após o transplan-
porém os estudos clínicos têm apresentado resultados menos te intestinal é significativamente, menor do que a da NP.
convincentes em crianças.
Resultados benéficos em RN de peso ao nascer entre 500 e Considerações Finais
1250g, idade gestacional entre 24 e 32 semanas, foram obtidos
administrando-se glutamina por via enteral (a glutamina foi ad- A SIC caracteriza-se por situações clínicas que cursam com
ministrada à fórmula para pré-termo, iniciando com 0,08g/Kg/ distúrbios nos processos de digestão e absorção, acarretando
dia, chegando a 0,31g/Kg/dia no 13º dia). Os autores atribuíram importantes prejuízos na homeostase orgânica, e ocasionando
a este aminoácido a diminuição de sepse (a sepse ocorreu 3,8 grande impacto no estado nutricional do indivíduo. O paciente
vezes mais nos controles) e o aumento da imunidade em pré- pediátrico que sofre dessa síndrome enfrenta um grande desafio
termos. Considerando o intestino como órgão de entrada para nutricional, devido as suas limitadas reservas adiposa e muscu-
infecções, estes efeitos benéficos provavelmente refletem uma lar, além do requerimento energético extra para o crescimento.
maturação aumentada do intestino, com melhoria na função de Sendo assim, o principal objetivo do tratamento deve ser a garan-
barreira, indicando que a glutamina enteral pode agir no trato tia do desenvolvimento da criança, por meio da promoção de um
gastrintestinal sem exercer efeitos sistêmicos diretos. estado nutricional adequado.
Capitulo 13 Distúrbios do Trato Gatrointestinal
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Paulo R. Margotto
Assistência ao Recém-Nascido de Risco
504
Capitulo 14 Sindromes Ictéricas
Capítulo 14
Sindromes
Ictéricas
Assistência ao Recém-Nascido de Risco
14.1 HIPERBILIRRUBINEMIA
Icterícia é a coloração amarelada da pele, mucosas e escle- envelhecidas é depurada através da placenta para a circulação
róticas devido a uma elevação da concentração de bilirrubinas materna onde é conjugada no fígado da gestante. Para ser trans-
séricas que surge em decorrência da incapacidade do fígado em portada através da placenta a bilirrubina deve permanecer em
conjugar toda bilirrubina produzida. sua forma não conjugada
Apresenta etiologias diversas, sendo a manifestação clínica O feto produz duas vezes mais bilirrubina que o adulto; e as
mais freqüente do período neonatal, e as conseqüências podem produz precocemente em torno da 24.ª semana, a biliverdina é
ser graves uma vez que pode levar a lesão SNC. encontrada na vida fetal em torno 16.ª semana de vida. Como no
feto a excreção no feto da bilirrubina é completamente diferente
Metabolismo Da Bilirrubina da do adulto não há interesse por parte do organismo fetal no
desenvolvimento do sistema de glicuronização, assim como na
A bilirrubina forma-se essencialmente pela degradação da he- produção de proteínas Y e Z e ligandina.
moglobina (Hb). Do produto desta degradação surge o heme que Assim muitos bebês apresentam um acúmulo transitório de BI
passa por um processo catabólico em duas etapas resultado na nos primeiros dias de vida.
formação da bilirrubina. Então podemos compreender que a etiopatogenia da hiperbilir-
rubinemia pode ser esquematizada como se segue:
Aumento Da Produção
• Isoimunização Rh, ABO e subgrupos;
• Esferocitose hereditária;
• Deficiência enzimática do eritrócito: G-6 PD; piruvatoqui-
nase e outras;
• Hematomas;
• Policitemia;
• Drogas (Vitamina K 3)
Diminuição Da Conjugação
• Deficiência congênita da glucoronil-transferase;
• Hipotireoidismo congênito;
Nos mamíferos, a beliverdina é metabolizada pela beliverdina • Inibição enzimática;
redutase para formar a bilirrubina; para ser excretada precisa ser • Drogas e hormônios (novobiocina e pregnanediol);
transportada até o fígado e conjugada para ser excretada pela bile. • Galactosemia (inicial);
Sabemos que 1g de hemoglobina forma 35mg de bilirrubina. • Síndrome de Lucey-Driscol;
A bilirrubina que chega à circulação Bilirrubina indireta (BI) ou • Leite humano;
não conjugada liga-se a albumina e assim não atravessa a barrei- • Recém-nascido (RN) de diabética;
ra hematoliquórica, mas a bilirrubina livre, não ligada à albumina • Prematuridade;
pode penetrar no sistema nervoso central. • Síndrome de Down.
A bilirrubina para ser excretada deve ser conjugada com o aci-
do glicurônico sob a ação da glicuroniltransferase formando o Classificação E Fisiopatologia
glicuronídio de bilirrubina.
Icterícia Fisiológica
1. Características
Fisiológica
• Inicia-se após as 24 h de vida.
• No RN a termo
níveis séricos até 13mg%
pico entre 3º e 5º
duração de 1 semana.
• RN pré-termo
níveis séricos até 15 mg%
O intestino do feto não funciona, assim a via de excreção da pico entre o 5º e 7º dia de vida
bilirrubina é a placenta, e apenas 40mg de bilirrubina é encon- duração até 2 semanas.
trada no mecônio. Normalmente a bilirrubina não conjugada (bi-
lirrubina indireta) resultante da destruição das hemácias fetais
Capitulo 14 Sindromes Ictéricas
Paulo R. Margotto
Assistência ao Recém-Nascido de Risco
bina total (BT). Calculando a fração indireta diminuindo a bilirru- Fototerapia Profilática
bina direta (BD) da BT, pode ser enganoso em muitos RN, devido Sabemos que a fototerapia é eficaz na modificação das moléculas
altos níveis de BI podem produzir elevação da fração direta (cerca de bilirrubina que estão acumuladas no tecido subcutâneo, caracte-
de 10% da BT) que não representa a BD (Wennberg e cl, 2006). rizando a pele ictérica e níveis de bilirrubina indireta > 5-6 mg%. Se
Segundo Maisels (1999), nunca foi totalmente resolvido de for- não há icterícia não há sentido em se fazer fototerapia profilática.
ma satisfatória o problema de como lidar com um ocasional RN que Fototerapia Precoce
apresenta alto nível de BT associado a uma elevação da BD. Mais re- Indicada em RN com peso de nascimento < 1000g e níveis
centemente a maioria das diretrizes adota a BT como critério para o séricos de bilirrubina indireta de 5-6 mg%.
tratamento. Tem sido relatado kernicterus em RN com BT de 18mg%
e BD de 4,1mg% e em RN com BT de 27,6mg% d BD de 8,7mg%. Fototerapia Intensiva
Gartner e Lee recomendaram que a BD não fosse subtraída da Fototerapia intensiva implica no uso de altos níveis de irra-
BT, a menos que seja superior a metade da BT. Segundo Maisels, diância no comprimento de onda de 430-490nm (usualmente
apesar deste conceito ser puramente empírico, parece ser razoável. 30μw/cm2 /nm ou mais), envolvendo a maior área possível. A
A Academia Americana de Pediatria (AAP, 2004) cita que em si- distância da fonte de luz do RN tem um efeito dramático no es-
tuações em que o nível da BD é 50% ou mais da BT, não há dados pectro da irradiância e este efeito é mais significativo quando são
bons para proverem uma guia para terapia sendo recomendada usadas luzes special blue. Para tirar vantagens deste efeito, as
uma consulta a um especialista neste campo. luzes fluorescentes devem ser colocadas o mais próximo possível
Nos RN com hiperbilirrubinemia direta (mais de 3-4mg%), pela do RN (10 cm), devendo o RN estar em um berço e não em uma
sua capacidade de forte ligação com as garras da albumina, incubadora. RN a termo despidos não ficam superaquecidos sob
pode haver competição com a ligação da BI sérica, levando ao estas luzes. No uso de spot halógeno, estes não podem ficar po-
aumento de bilirrubina livre (BL), contribuindo potencialmente sicionados muito próximos aos bebês, além do que é recomenda-
para a sua toxicidade para o sistema nervoso central (Filho NA, do pelos fabricantes. Veja na Figura 2 a seguir, o efeito da fonte
Júnior RB, 2006). de luz e a sua distância do RN na irradiância espectral média.
Segundo AAP (2004), a medida laboratorial da bilirrubina dire- A special blue provê maior irradiância em relação à azul regu-
ta não é precisa e valores entre laboratórios podem variar muito. lar porque provê luz predominantemente no espectro azul-verde.
Nas diretrizes da AAP, a bilirrubina usada é a bilirrubina total, Nestes comprimentos de onda, a luz penetra muito bem na pele
não devendo ser descontada a bilirrubina direta. Segundo Bu- e é absorvida o máximo pela bilirrubina (AAP, 2004).
thani (2006), em mais de 5000 estudos de bilirrubina, os dados Existem casos em que o RN tem níveis de bilirrubinas indicativos
coletados para a neurotoxicidade foram da bilirrubina total. de exsanguiatransfusão ET e optamos por colocá-lo sob fototerapia
intensiva (dupla ou tripla) na tentativa de evitar a exsanguiatransfu-
Diretrizes Para Fototerapia são (ET). A fototerapia intensiva associada à alimentação em livre
demanda foi realizada em alguns centros enquanto se aguardava
Indicações De Fototerapia o sangue para a realização da ET na tentativa de diminuir os riscos 509
(RN A Termo Saudáveis Sem Doença Hemolítica) de neurotoxicidade. Em 2 e 6 horas foram verificados novamente
os níveis de bilirrubinas que muitas vezes estavam abaixo dos ní-
Horas De Vida Fototerapia veis indicativos de ET, que era suspensa. Porém, se a fototerapia
24 – 48 >15 intensiva não era eficaz em diminuir os níveis de bilirrubinas, a ET
era realizada. Portanto, se optarmos por fazer fototerapia inten-
> 48 >18
siva em RN com níveis indicativos de ET, devemos ter resultados
de bilirrubinas nas próximas 6 horas e, optar pela ET, caso os
Obs: RN ictéricos com peso de nascimento < 2500 g e < 24 h níveis ainda sejam indicativos.
de vida não são considerados saudáveis. Para os RN com doen-
ça hemolítica, considerar a tabela de peso na faixa entre 2001- Exsanguineotransfusão
2500g. RN com níveis de bilirrubina direta que ultrapassem 15- Exsanguíneotransfusão (ET) é recomendada imediatamente
20% do valor de bilirrubina não serão colocados sob fototerapia. se o recém-nascido mostra sinais de encefalopatia bilirrubínica
(hipertonia, opistótono, febre e choro agudo).
Indicação De Fototerapia Em Recém Nascidos Com Peso Fatores de risco: doença hemolítica isoimune, deficiência de
De Nascimento Inferior A 2500 Gramas (Bilirrubina Total) glicose 6-fosfato desidrogenase (G6PD), letargia significante,
sepses, acidose, asfixia, instabilidade da temperatura, albumina
24 – 48 48 - 72 72 - 96 menor que 3g%
Peso de > 96 horas
horas de horas de horas de
nascimento de vida Relação Bilirrubina Total/Albumina (B/A)
vida vida vida
<1500 6 8 8 8 A bilirrubina é transportada no plasma em forma de um diânion
ligado reversivelmente à albumina (A) sérica. Como cada molé-
1501-2000 8 10 10 0
cula de albumina é capaz de se combinar fortemente com uma
2001-2500 12 14 14 14
molécula de bilirrubina no ponto principal de ligação, uma razão
molar bilirrubina-albumina igual a 1 representa aproximadamen-
Na presença de qualquer um dos seguintes fatores, considerar te 8,5mg de bilirrubina por grama de albumina. Assim, um RN a
níveis menores (veja adiante os Gráficos da Academia Americana termo que apresente uma concentração sérica de albumina de
de Pediatria, 2004): prematuridade, doença hemolítica isoimu- 3 a 3,5g% deve poder combinar aproximadamente 25 a 28mg%
ne, deficiência de glicose 6-fosfato desidrogenase (G6PD), letar- de bilirrubina. Nos RN doente, RN prematuros, a capacidade de
gia significante, sepse, acidose, asfixia, instabilidade da tempera- ligação da albumina com a bilirrubina é menor, assim como apre-
tura, albumina menor que 3g%. sentam níveis séricos mais baixos de albumina.
Para a previsão da capacidade de ligação de bilirrubina, Ste-
venson e Wennberg (1990) sugeriram para uso, de um fator igual
a 7 vezes o nível de albumina nos RN a termo saudáveis (para um
Paulo R. Margotto
Assistência ao Recém-Nascido de Risco
RN com albumina de 3,4mg%, corresponderia a uma BT de risco • A bilirrubina direta não deve ser subtraída da bilirrubina total
de 24,5mg%) e 5 ou 6 vezes a concentração de albumina para os na tomada de decisão para realizar exsanguineotransfusão
RN doentes, com baixo peso ao nascer. • Se o RN estiver bem e apresentar entre 35-37 semanas
Nas diretrizes da AAP (2004) contém referências ao nível sé- (médio risco), pode-se individualizar os níveis de exsan-
rico de albumina e da relação B/A como fatores que podem ser guíneotransfusão baseando-se na idade gestacional atual
considerados na decisão de iniciar a fototerapia ou na realização • Para os RN internados, a ET é recomendada se os níveis de
de uma exsanguineotransfusão. A medida da BL (a bilirrubina bilirrubina total aumentam a despeito da fototerapia intensiva
não ligada à albumina) não está rotineiramente disponível nos • Para os RN readmitidos, se o nível de bilirrubina total
Estados Unidos. A relação B/A correlaciona-se com a medida de está acima do nível para ET, repetir a bilirrubina total
BL nos RN podendo ser usada em substituição à medida da BL. cada 2 a 3 horas e considerar ET se a bilirrubina total
No entanto, deve ser reconhecido tanto os níveis de albumina permanecer acima dos níveis indicados para ET após fo-
como a sua capacidade de ligar-se à bilirrubina varia significati- toterapia intensiva por 6 horas
vamente entre os RN. A ligação da albumina com a bilirrubina é
deficiente nos RN doentes, havendo um aumento desta ligação Os mecanismos responsáveis pela sua eficácia são
com o aumento da idade gestacional, assim como com a idade 1. Bilirrubina é removida da circulação e dos tecidos;
pós-natal. O risco de encefalopatia bilirrubínica é improvável es- 2. O sangue removido do paciente está revestido de anticor-
tar simplesmente em função da BT ou da concentração de BL, pos maternos que tem possibilidade de ser hemolisado. A
mas provavelmente, em função da combinação de ambas, ou remoção dessas células remove a “bilirrubina potencial”;
seja, BT disponível e a sua tendência em entrar nos tecidos (ou 3. O sangue que retorna ao paciente é rh negativo não
seja, concentração de BL). Assim, o uso da relação B/A é uma será hemolisado e terá tempo de vida mais prolongado;
opção clínica, não em substituição ao nível de BT, mas como 4. Durante o procedimento algum anticorpo materno é
um fator adicional na determinação da necessidade de exsan- removido;
guineotransfusão. Segundo Ahlfors (2003), há uma necessida- 5. Outros subprodutos da hemólise, desconhecidos, po-
de de interpretar a bilirrubina total no contexto da concentra- dem também ser removidos;
ção de albumina sérica. 6. Melhora do hematócrito em pacientes anêmicos;
Relação B/A que deveria ser considerada para a exsanguineo- 7. Hemoglobina fetal substituída pela do adulto tem a
transfusão (AAP, 2004) vantagem de ter menor afinidade pelo oxigênio, aumen-
tando a liberação da molécula ao nível dos tecidos
Relação B/A
Categoria de Risco (BT em mg% / Albumina em g%) Complicações
Alterações dos níveis de antioxidantes e alteração do volume
RN >=38 0/7 semanas 8,0 sanguíneo cerebral.
510 RN 35 0/7 – 36 6/7 semanas
Indicação
e sem risco ou >=38 0/7 se
7,2 A indicação de exsanguineotransfusão (ET) está sendo mun-
alto risco paraDoença isoimune
dialmente reconsiderada para aqueles RN saudáveis (a termo,
ou deficiência de G6PD
peso de nascimento > 2500 g, sem doença hemolítica): bilirrubi-
RN 35 0/7 – 37 6/semanas se
na total ≥ 22 mg%. Com hemólise ou doente: 20 mg%
alto risco ou doença hemolítica
6,8 Esses RN têm chance muito pequena de desenvolver kernicterus,
isoimune ou deficiência de
pois a sua instalação dependerá do aumento da permeabilidade da
G6PD
barreira hematoencefálica, o que geralmente não ocorre nesse grupo.
Antes da indicação de exsanguineotransfusão devemos levar
A hiperbilirrubinemia é um risco para a neurotoxicidade e este em consideração:
risco depende da habilidade da albumina se ligar com a bilirru-
bina. A bilirrubina livre, a relação bilirrubina total/albumina (B/A) • idade gestacional do RN
estão associados com anormalidades nas respostas auditivas • peso de nascimento
evocadas nos RN prematuros.O uso da B/A com a bilirrubina total • Fatores de risco para aumento de permeabilidade da
no RN com hiperbilirrubinemia pode fornecer critérios concretos barreira hemato-encefálica (hemorragia intracraniana,
para acompanhamento de RN ictéricos. anóxia, hipoalbuminemia, infecção, hipercapnia)
• tempo de fototerapia
Recém-Nascido Com Sinais De Encefalopatia Bilirrubínica
• Devera ser submetido à exsanguineotransfusão, inde- Alguns Serviços consideram, além dos níveis de bilirrubina as
pendente do nível de bilirrubina total. seguintes condições: (não considerados em nosso serviço)
• Considerar o uso de albumina 1g/kg (tratamento de choque
na fase aguda). Há diminuição significativa dos níveis de bi- • Dosagem de bilirrubina livre, quando possível (ver adian-
lirrubina livre com 6 e 24 horas após o uso da albumina. te relação bilirrubina total/albumina)
• Métodos eletrofisiológicos: potencial evocado auditivo do
Considerar A Bilirrubina Total tronco cerebral (BAER)
• Descontar a Bilirrubina Direta somente nos casos em que • Ressonância magnética: sinal de alta intensidade no glo-
esta for > = 50% da bilirrubina total. bo pálido e núcleos subtalâmicos
• Se há necessidade de fototerapia, a presença de hiperbilir-
rubinemia direta não deve constituir uma contra-indicação.
• RN com Síndrome do Bebê Bronzeado cuja bilirrubina
total está no nível de fototerapia intensiva e a fototera-
pia não está diminuindo o nível rapidamente, considerar
exsanguineotransfusão.
Capitulo 14 Sindromes Ictéricas
Paulo R. Margotto
Assistência ao Recém-Nascido de Risco
Fototerapia
Fatores de risco: prematuridade, doença hemolítica isoimune, rubina total em torno da linha de risco médio. É uma opção inter-
deficiência de glicose 6-fosfato desidrogenase (G6PD), letargia signi- vir com níveis de bilirrubina total menor para RN mais próximos
ficante, sepses, acidose, asfixia, instabilidade da temperatura, albu- de 35 semanas e para níveis maiores para RN mais próximos de
mina menor que 3g%). Na presença de qualquer um destes dados, 37 semanas e 6 dias
nos leva a preocupação quanto à neurotoxicidade pela bilirrubina
Para os RN com 35-37 semanas pode ajustar os níveis de bilir-
Exsanguineotransfusão
512 •A linha apagada nas primeiras 24 horas indica a incerte- •Usar a bilirrubina total
za devido à grande variação de circunstâncias clínicas e •Se o RN estiver bem e apresentar entre 35-37 semanas
resposta à fototerapia (médio risco), pode-se individualizar os níveis de exsanguí-
•Exsanguíneotransfusão (ET) é recomendada imediata- neotransfusão baseando-se na idade gestacional atual
mente se o recém-nascido mostra sinais de encefalo- •Para os RN internados, a ET é recomendada se os níveis de
patia bilirrubínica (hipertonia, opistótono, febre e choro bilirrubina total aumentam a despeito da fototerapia intensiva
agudo) ou se o nível de bilirrubinas é maior ou igual a •Para os RN readmitidos, se o nível de bilirrubina total está
5mg% acima destas linhas acima do nível para ET, repetir a bilirrubina total cada 2
•Fatores de risco: doença hemolítica isoimune, deficiência a 3 horas e considerar ET se a bilirrubina total permane-
de glicose 6-fosfato desidrogenase (G6PD), letargia signi- cer acima dos níveis indicados para ET após fototerapia
ficante, sepses, acidose, asfixia, instabilidade da tempe- intensiva por 6 horas
ratura, albumina menor que 3g%
Capitulo 14 Sindromes Ictéricas
Quanto aos recém-nascidos abaixo de 35 semanas: a AAP re- Para os RN internados, a ET é recomendada se os níveis de
conhece a necessidade de tabela específica para estes RN, no bilirrubina total aumentam a despeito da fototerapia intensiva
entanto, faltam ainda mais evidências. A análise retrospectiva de Para os RN readmitidos, se o nível de bilirrubina total está aci-
RN de muito baixo peso ao nascer, nascidos entre 1994-1997, ma do nível para ET, repetir a bilirrubina total cada 2 a 3 horas e
com picos de BT entre 5 e 12 mg% foram diretamente correlacio- considerar ET se a bilirrubina total permanecer acima dos níveis
nados com o risco de: (1): morte ou disfunção do desenvolvimen- indicados para ET após fototerapia intensiva por 6 horas
to neurológico (OR: 1,068; IC=95%: 1,03-1,11); (2): comprometi-
mento auditivo (OR: 1.138; IC 1,00-1,30); Avaliação De Risco Na Alta Hospitalar
(3): índice de desenvolvimento psicomotor <70 (OR: 1,057; IC
1,00-1,12). No entanto: outros estudos não sugerem neurotoxi- Dados recentes mostram aumentam da incidência de kernicte-
cidade com baixos níveis de bilirrubina. Estes dados conflitantes rus nos RN com alta precoce. Um nomograma realizado em RN
levaram a Rede de Pesquisa Neonatal a realizar um ensaio clíni- normais a termo, mostra a zona de alto risco (>percentil 95: a
co randomizado em bebês com muito baixo peso ao nascer, en- probabilidade dos RN nesta zona apresentar hiperbilirrubinemia
volvendo 2 grupos: (1)-fototerapia profilática (agressiva, iniciado grave foi de 14,08), a zona intermediária (zona intermediária alta:
com 23±9 hs); (2): fototerapia conservadora (BT≥8mg%). Entre bilirrubina entre o percentil de 75 e 95: A probabilidade de hiper-
os sobreviventes, quando comparado com fototerapia conser- bilirrubinemia de 3,2) e zona intermediária baixa (bilirrubina en-
vadora, a (5%) nos RN entre 501g a750g, com probabilidade tre o percentil de 40 e 75; a probabilidade de hiperbilirrubinemia
de 89% de incremento na mortalidade nesse grupo. Para estes de 0,48) e a zona de baixo risco (bilirrubina abaixo de percentil
RN deveríamos usar menor irradiância (os neonatos imaturos e 40; a probabilidade de hiperbilirrubinemia foi de 0) Na alta hos-
muito pequenos possuem pele gelatinosa e fina, onde a luz vai pitalar o nomograma (Bilimapa) pode predizer que RN está nas
penetrando facilmente e alcançando mais profundamente o sub- zonas de alto, intermediário e baixo risco para hiperbilirrubinemia
cutâneo, podendo causar injuria oxidativa nas membranas celu- além de permitir a individualização do seguimento do RN.
lares e DNA do prematuro). Segundo Keren e cl, RN com idade gestacional menor que 38
A recomendação de fototerapia e exsanguineotrasnfusão para semanas teve a probabilidade de apresentar bilirrubina acima do
os RN abaixo de 35 semanas é baseada em consenso, 4 dos percentil 95 do Bilimapa 2,6 vezes maior (IC a 95% de 1,5 a 4,5).
maiores especialistas mundiais em icterícia neonatal fizeram su-
gestões para o manejo dessa condição em neonatos <35 sem
(Drs. Maisels, Watchko, Bhutani e Stevenson, 2012). Os autores
deixam claro que os conhecimentos nessa área ainda são muito
escassos, não permitindo a formulação de uma diretriz baseada
em alto grau de evidência. No entanto, precisamos começar a
pensar na fototerapia como uma droga que deve ser administra-
da na dose adequada. Em neonatos <750g, começar fototerapia 513
com menor irradiação e aumentar somente se houver falha na
manutenção da bilirrubina em níveis adequados.
Fototerapia Transfusão
Idade Bilirrubina Total Sérica
Bilirrubina Total
Gestacional Para O Início De
Sérica (mg/%)
(semanas) Fototerapia (mg/%)
< 28 0/7 5-6 11-14
28 0/7 – 29 6/7 6-8 12-14
30 0/7 - 31 6/7 8-10 13-16
32 0/7 - 33 6/7 10-12 15-18
34 0/7 - 34 6/7 12-14 17-19
Paulo R. Margotto
Assistência ao Recém-Nascido de Risco
Complicações Da Hiperbilirubinemia
Paulo R. Margotto
Assistência ao Recém-Nascido de Risco
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Capitulo 14 Sindromes Ictéricas
14.2 COLESTASE
Introdução
A icterícia por predomínio da bilirrubina indireta em recém-nas- células epiteliais dos dutos biliares (colangiócitos), que mantêm
cidos é comum e, na maioria das vezes, fisiológica; entretanto, o continuidade com os dutos biliares extra-hepáticos. A secreção
aumento da bilirrubina direta traduz a presença de doença hepa- biliar através dos dutos biliares é um processo dinâmico, regu-
tocelular ou biliar e necessita exploração clínica urgente. Nestes lado pelos ácidos biliares e por outros componentes da bile. O
casos, o esclarecimento precoce do diagnóstico etiológico e a processo inicia-se com a captação de solutos do sangue pelos
instituição do tratamento adequado exercem influência decisiva hepatócitos, continuando com o transporte intracelular entre as
na sobrevida e na qualidade de vida de muitos pacientes. Sendo organelas e a secreção de novos substratos formados através
assim, podemos considerar a colestase neonatal uma urgência da membrana canalicular. Dessa forma, o processo de formação
em Gastroenterologia Pediátrica. da bile requer transporte ativo através da membrana basolateral
Colestase é o termo utilizado para descrever os estados pato- (sinusoidal) do hepatócito, seguido de movimento transcelular
lógicos que cursam com a redução do fluxo biliar, por alterações por uma variedade de mecanismos, tendo como evento final o
anatômicas ou funcionais do sistema biliar. Conseqüentemente, transporte ativo para o espaço canalicular entre os hepatócitos
os pacientes colestáticos apresentam concentrações séricas ele- e em seguida para a luz duodenal por meio dos ductos biliares.
vadas de substâncias que habitualmente são excretadas na bile, A membrana canalicular, de modo diferente da membrana ba-
como a bilirrubina conjugada (direta), os sais biliares e o coleste- solateral, é rica em colesterol, esfingomielina e transportadores
rol. Os principais achados clínicos são a icterícia, a hipocolia ou ATP-binding cassette (ABC), que funcionam como bomba de expor-
acolia fecal, a colúria e o prurido; e os laboratoriais são o aumen- tação dos ácidos biliares e de uma variedade de solutos. Dois im-
to sérico dos sais biliares, do colesterol e da bilirrubina direta portantes membros da superfamília de transportadores ABC são a
(BD > 2,0 mg% ou > 20 % da bilirrubina total). bomba de transporte de sais biliares (bile salt export pump - BSEP,
A freqüência da colestase neonatal é difícil de ser avaliada, ABCB11) e a proteína de resistência multi-drogas 3 (MDR3, ABCB4),
situando-se por volta de 1:2.500 nascidos vivos, e seu diagnósti- envolvida no transporte dos fosfolipídeos. O papel essencial des-
co diferencial inclui um grande número de doenças. Para melhor sas moléculas recentemente identificadas na secreção biliar nor-
entendimento das causas de colestase, é importante entender, mal destaca a relação entre os diferentes passos metabólicos e
mesmo que de modo resumido, os mecanismos de formação e propicia a identificação de síndromes colestáticas específicas em 517
secreção biliar. crianças e adultos. O principal mecanismo das diferentes formas
Dessa forma, os objetivos deste capítulo são: abordar os meca- de colestase intra-hepática hereditária é a alteração do transporte
nismos de formação e secreção biliar; descrever o diagnóstico di- canalicular dos ácidos biliares ou fosfolipídeos. Mutações do BSEP
ferencial da colestase neonatal; e revisar processos patológicos e do MDR3 resultam em entidades que cursam com colestase,
específicos que se manifestam com colestase neonatal. denominadas colestase intra-hepática familiar progressiva (PFIC,
do inglês Progressive familial intrahepatic cholestasis) tipos 2 e 3,
Formação E Secreção Da Bile respectivamente. Outra proteína cuja mutação é responsável pelo
desenvolvimento da colestase intra-hepática familiar progressiva
A formação e a secreção da bile são essenciais para a manu- tipo 1 é a FIC1 (ATP8B1) . A Figura 1 descreve de modo esquemáti-
tenção da função hepática normal. Ambos os processos são regu- co os mecanismos de formação e excreção biliar.
lados pela unidade funcional formada pelos hepatócitos e pelas
Figura 1 - Sistema de transporte hepatobiliar no fígado e nos
tecidos extra-hepaticos. O sal biliar é capturado pelos hepatócitos
via NTCP (basolateral Na_/taurocholate cotransporter) e OATs
(organic anion transporting proteins). Os sais biliares monovalentes
são excretados pela bomba de exportação do sal biliar canalicular
(bile salt export pump - BSEP), enquanto o sal biliar bivalente junto
com conjugados aniônicos (AO-) são excretados pela bomba de
exportação conjugado canalicular (MRP2). A bomba de exporta-
ção de fosfolipídeo (MDR3) facilita a excreção de fosfatidilcolina
(PC), o que forma micelas na bile com o sal biliar e o colesterol.
Drogas catiônicas (OC-) são excretadas pela bomba de exportação
de multidrogas (MDR1). Outra isoforma basolateral de MRP1 and
MRP3 (multidrug resstance-associated protein) fornece uma rota
alternativa para a eliminação do sal biliar e do sal não-biliar OA- dos
hepatocitos para a circulação sistêmica. O sal biliar é reabsorvido
no íleo terminal ISBT (Ileal Na_-dependent bile salt transporter)
e excretado pelo MRP3. Mecanismos semelhantes existem nos
túbulos renais proximais e nos colangiócitos onde uma adicional
t-ISBT (truncated isoform) pode estar envolvida na excreção do sal
biliar dos colangiócitos. MRP2 também está presente na membrana
apical dos enterócitos e nos túbulos renais proximais, enquanto o
MRD1 também é encontrado no intestino e nos ductos biliares.
Paulo R. Margotto
Assistência ao Recém-Nascido de Risco
Abordagem Diagnóstica
O recém-nascido apresenta uma reconhecida propensão coles- uma manifestação clínica freqüente e o seu diagnóstico diferen-
tática, por imaturidade dos mecanismos relacionados à produ- cial é amplo, englobando doenças com diferentes prognósticos,
ção da bile, especialmente no que se refere ao metabolismo dos como demonstrado na Tabela 1.
ácidos biliares. Dessa forma, no período neonatal, a colestase é
Desordens da embriogênese
Síndrome de Alagille (defeito de Jagged 1)
Malformação da placa ductal (ARPKD, ADPLD, doença de Caroli)
Importantes progressos na descoberta de muitas doenças e na principal ácido biliar do urso: o urso quando hiberna não se alimenta
elucidação de seus mecanismos fisiopatológicos ocorreram nas úl- por vários meses e não desenvolve colestase hepática e nem cálcu-
timas três décadas. Na década de 70, o diagnóstico diferencial do lo biliar devido a este ácido; o uso do ácido ursodeoxicólico com a
recém nascido com aumento da bilirrubina direta se limitava à atresia alimentação faz com que ele seja bem absorvido e que se torna no
biliar, que era responsável por 25% dos casos; às infecções, como paciente o principal ácido biliar e é mais colerético e estimula o fluxo
toxoplasmose, rubéola, citomegalovírus, herpes e outros vírus (3%); e biliar; não há disponibilidade para o seu uso endovenoso). O seu uso
a algumas doenças genético-metabólicas, como galactosemia, tirosi- na colestase por nutrição parenteral parece ser seguro e leva a uma
nemia, fibrose cística e miscelâneas (7%). Nesta época, a maioria dos precoce diminuição dos níveis de bilirrubina com duas semanas de
pacientes (65%) era designada como portadora de hepatite neonatal terapia. Dose: 15 a 30 mg/kg/dia VO por 1 mês (Apresentação: Ur-
idiopática, um termo conveniente para definir os pacientes portado- sacolR em comprimidos de 50mg e 150mg)
res de colestase, sem causa específica ou diagnóstico etiológico. Nas Na abordagem etiológica, deve-se avaliar a história clínica comple-
últimas décadas, uma grande mudança deste perfil ocorreu graças ta, o exame físico minucioso e os exames complementares.
aos avanços da genética molecular, que permitiu o reconhecimento Do ponto de vista clínico, a colestase se manifesta por icterícia,
de muitas doenças que antes eram classificadas como hepatite ne- hipocolia/acolia fecal, colúria, prurido e xantomas. Quando a icte-
onatal idiopática. Os maiores progressos ocorreram no campo dos rícia está presente, a doença é facilmente reconhecida. Entretanto,
erros inatos do metabolismo e nas alterações genéticas de proces- em alguns lactentes colestáticos, as conseqüências da deficiência
sos fundamentais do metabolismo ou da função excretora hepática, das vitaminas lipossolúveis podem ser os únicos sinais/sintomas da
como: alteração da fisiologia da membrana (transporte); biossíntese presença de colestase. Nestas crianças a hiperbilirrubinemia pode
de ácidos biliares; ou disfunção de organelas. Atualmente, a atresia não ser clinicamente evidente e o atraso no diagnóstico pode causar
biliar continua sendo responsável por 25% dos casos de colestase graves problemas, como a hemorragia intracraniana decorrente da
neonatal, enquanto a hepatite neonatal idiopática por apenas 15%. deficiência de vitamina K.
Os demais pacientes apresentam: deficiência de alfa-1-antitripsina Reposição das vitaminas lipossolúveis:
(10%); doenças metabólicas (20%); infecções virais (5%); e causas
hereditárias de colestase intra-hepática como síndrome de Alagille, Vitaminas Lipossolúveis
colestase intra-hepática familiar progressiva e erro inato do metabolis- Via Oral Via IM
mo dos ácidos biliares (25%); lembrando que a prevalência das infec-
0,5-1mg/kg-15/15
ções virais varia entre as diferentes regiões. Dessa forma, os avanços Vitamina K*
dias
ocorreram, especialmente, no esclarecimento das doenças metabóli-
cas e das causas hereditárias da colestase intra-hepática. Vitamina A 10000 UI/kg/d
A prioridade na avaliação é investigar se a colestase é secundária Vitamina D 5000 UI/kg/d
a causas intra-hepáticas, como infecções e doenças genético-me- Vitamina E 200 mg 3x/semana (dias alternados)
tabólicas, que necessitam tratamento clínico urgente; ou se é de-
corrente de causas extra-hepáticas, como a atresia de vias biliares 519
extra-hepáticas, que exige correção cirúrgica precoce. Ad-tilR - 25 gotas - 50000u/10000 VO Vit. D2 - 2 gotas 2x/dia
Quanto às causas infecciosas, a sífilis, a toxoplasmose, a rubéola EphynalR (Vit. E) - 1 cápsula: 400 mg
e a citomegalovirose podem cursar com colestase. Além disso, as
infecções bacterianas podem resultar em icterícia colestática, mere- Enfatizamos que a coloração das fezes e da urina faz parte da
cendo destaque a infecção do trato urinário por Escherichia coli. Nos avaliação do paciente ictérico, pois a detecção da hipocolia/aco-
pacientes com sepse, o comprometimento hepático pode ser ape- lia fecal pode contribuir para o diagnóstico precoce dos pacientes
nas um componente do envolvimento de múltiplos órgãos. Nestes, colestáticos. Por este motivo, alguns países já estão utilizando a
a antibioticoterapia adequada e o tratamento de suporte intensivo escala colorimétrica das fezes para seguimento dos recém-nasci-
propiciam a possibilidade de recuperação. De modo diferente, se dos e lactentes7 (Figura 2).
estiverem presentes aumento do INR (International Normalized Ratio)
e o lactente não estiver séptico, distúrbios que se apresentam com
insuficiência hepática fulminante no neonato devem ser considera-
dos, como a hemocromatose, a tirosinemia, a galactosemia, a fru-
tosemia e as citopatias mitocondriais. Apesar dos transtornos que
cursam com insuficiência hepática fulminante serem incomuns, um
alto grau de suspeição deve ser mantido, já que o início imediato do Figura 2 - Escala cromática das cores das fezes.
tratamento é a única esperança de sobrevivência. Estabelece as cores de fezes normais e as suspeitas em relação
Nos recém-nascidos, especialmente nos prematuros, que reque- à presença de colestase neonatal.
rem nutrição parenteral prolongada, alteração hepática que cursa
com colestase representa um importante problema. A etiologia ain- Devido à diminuição do fluxo biliar, substâncias excretadas
da não está totalmente elucidada, mas parece ser decorrente de: na bile, como ácidos biliares e colesterol, elevam-se na corrente
jejum prolongado com ausência do estimulo enteral; efeitos tóxicos sanguínea e devem ser dosadas na avaliação laboratorial dos pa-
dos componentes da nutrição parenteral ou falta de nutrientes es- cientes colestáticos.
pecíficos; e os relacionados à doença do paciente. Nestes casos,
deve-se, se possível, iniciar nutrição enteral (uso de triglicerídeos de Abordagem Terapêutica
cadeia média: 1ml/kg/dose 2 x/dia); rever as soluções parenterais
(diminuir proteína e lipídeos;usar cálcio na dose de 400mg/kg/dia, As complicações relacionadas à colestase crônica são graves e
utilizar nutrientes específicos como taurina e colina); na dieta, pres- independem da etiologia. A retenção dos constituintes da bile e a
crever fármacos, como o ácido ursodesoxicólico; e tratar a doença redução da concentração intraluminar (intestinal) dos sais biliares
de base. Se houver progressão da doença hepática, o transplante desencadeiam uma série de eventos, como a icterícia, o prurido, a
hepático pode ser considerado deficiência de vitaminas, a desnutrição e a progressão da hepatopa-
Quanto ao ácido ursodeoxicólico (ácido biliar hidrofílico que tia, como demonstrado na Figura 3.
substitui os ácidos biliares endógenos; o ácido ursodeoxicólico é o
Paulo R. Margotto
Assistência ao Recém-Nascido de Risco
Dessa forma, a abordagem terapêutica da colestase envolve mesmo os casos tratados necessitam, em sua maioria, do trans-
um tratamento inespecífico, direcionado para as conseqüências plante hepático. A divulgação de conhecimentos que facilitem o
da colestase, de modo independente do que a esteja ocasionan- diagnostico da AVBEH é de extrema importância, pois o prognós-
do, bem como específico, conforme a doença em questão. tico é melhor se a criança for submetida ao tratamento cirúrgico
O tratamento inespecífico tem como objetivo atenuar as compli- (portoenterostomia) dentro dos primeiros dois meses de vida.
cações da colestase, como a má absorção. A avaliação nutricional A AVBEH é uma patologia que acomete recém-nascidos e lac-
do paciente, as recomendações dietéticas e a reposição de vita- tentes, e sua incidência é um pouco maior no Japão [1:9.600
minas revestem-se de grande importância, pois manter o paciente nascidos vivos (nv)] do que nos Estados Unidos (1:14.000 nv) e
em bom estado nutricional influencia no estado geral da criança, no Reino Unido (1:15.000 nv)11, com pequeno predomínio do
no índice de infecções e na evolução pós-transplante hepático. sexo feminino (1,2:1).
A avaliação nutricional deve incluir a medida de peso, estatura, A obstrução do lúmen dos ductos biliares pode acometer qual-
circunferência braquial e prega triciptal. Em vista da retenção hí- quer ponto da árvore biliar extra-hepática, sendo o sítio da obli-
drica e da presença de visceromegalias comumente observadas teração a base para a classificação dos tipos de atresia13, como
nos pacientes hepatopatas, a avaliação isolada do peso não é demonstrado na Tabela 2.
um bom indicador nutricional nesses pacientes.
O tratamento específico depende da entidade envolvida. Neste Tipo Prevalência Características
capítulo, abordaremos a atresia de vias biliares extra-hepáticas, Acomete o ducto biliar comum (colédoco), e
por constituir a principal indicação de transplante hepático na Tipo
~ 5% os ductos proximais são pérvios. A vesícula,
faixa etária pediátrica; as colestases intra-hepáticas familiares 1
em geral, contém bile.
e as doenças metabólicas. Estes dois últimos grupos, por terem
Acomete os ductos hepáticos, a vesícula
apresentado grandes avanços nas últimas décadas.
Tipo não contém bile e a transecção dos rema-
~ 3%
2 nescentes proximais demonstra dois lumens
Atresia De Vias Biliares Extra-Hepáticas biliares distintos.
Atresia envolvendo os ductos hepáticos
A AVBEH, definida como ausência ou obliteração dos ductos
Tipo direito e esquerdo. A obstrução se estende
biliares extra-hepáticos, constitui, ainda hoje, a principal causa > 90%
3 ao porta hepatis e não existem lumens pro-
de transplante hepático em crianças1. Apesar dos inúmeros es-
ximais para anastomose no porta hepatis.
forços mundiais, o único tratamento disponível continua sendo
o cirúrgico, a portoenterostomia de Kasai e suas modificações.
Crianças não tratadas vão a óbito na totalidade, por complica- Tabela 2 - Classificação da AVBEH, conforme o local da
ções relacionadas à hipertensão portal e à cirrose hepática, e obliteração dos ductos biliares extra-hepáticos.
Capitulo 14 Sindromes Ictéricas
Conforme a época em que ocorre a obliteração das vias bilia- A ecografia, avaliando as características da vesícula biliar,
res, a atresia pode se apresentar em duas formas: a embrionária apresentou sensibilidade de 91,9%, especificidade de 96,7%, va-
ou fetal e a clássica ou perinatal. A embrionária é responsável por lor preditivo positivo de 89,5%, valor preditivo negativo de 97,5%
20% dos casos14. Nesta, a árvore biliar extra-hepática pode não e acurácia de 95,6%, para o diagnóstico de atresia. Outro sinal
ter sido formada e a associação com más-formações estruturais ecográfico importante é a presença do cordão triangular. Ana-
são comumente observadas15. A anomalia mais freqüente é a lisando a presença desse cordão nos pacientes atrésicos, Tan
síndrome da poliesplenia, uma alteração da lateralidade obser- Kendrick e cl. observaram baixo percentual de falso-negativo e
vada em 8% a 12% dos portadores de atresia e caracterizada nenhum caso de falso-positivo para o diagnóstico de atresia, e
pela presença de poliesplenia ou asplenia associada a fígado Park e cl. demonstraram alta especificidade e valor preditivo po-
na linha média, interrupção da veia cava inferior, veia porta pré- sitivo de 95%. Apesar da alta especificidade, é importante enfati-
duodenal, situs inversus e/ou má rotação intestinal14. Outras zar que a ausência deste sinal não é suficiente para descartar o
más-formações congênitas podem ser observadas, como anor- diagnóstico de AVBEH.
malidades cardíacas, pâncreas anular, síndrome dos cílios imó- A cintilografia hepatobiliar com ácido iminodiacético marcado
veis, atresia duodenal, atresia esofágica, rins policísticos, fissura com tecnécio (Tc-99m DISIDA) tem valor limitado. Nos casos em
palatina e atresia jejunal16. que se detecta a presença do radiotraçador no intestino, pode-se
Na forma perinatal, os ductos biliares são pérvios ao nasci- afirmar que as vias biliares estão pérvias, o que exclui a possibilida-
mento, mas uma reação inflamatória e esclerosante, decorrente de de obstrução das vias biliares. Entretanto, a falha da excreção
de algum dano perinatal, resulta na obliteração da árvore biliar. do isótopo para o intestino, com eliminação urinária deste, apre-
É responsável por 80% dos casos de atresia e, em geral, não se senta 50% a 75% de especificidade para o diagnóstico de atresia,
associa às más-formações. a despeito da alta sensibilidade (95%). Isto porque as doenças co-
Os sinais clínicos que caracterizam a AVBEH são a icterícia, a aco- lestáticas parenquimatosas podem demonstrar o mesmo padrão.
lia fecal, a colúria e a hepatomegalia. Estes são observados tanto na A biópsia hepática tem papel de destaque no diagnóstico da
forma embrionária, quanto na perinatal. Entretanto, quanto à idade AVBEH. Os aspectos observados no estudo histopatológico são:
de início e os sintomas associados, essas duas formas podem se expansão dos espaços portas, por proliferação ductular e infiltrado
manifestar de diferentes maneiras, como descrito a seguir. inflamatório, plugs biliares nos dúctulos biliares, formação de pon-
As crianças portadoras da forma embrionária, em geral, apre- tes porto-porta, balonização e transformação gigantocitária dos
sentam icterícia de início precoce, nas primeiras três semanas de hepatócitos. O principal papel da histologia é, na verdade, definir
vida. Como a icterícia fisiológica pode ser continuada com a co- se o quadro é obstrutivo ou não. Para tal, a proliferação dos ductos
lestática é comum que o paciente não relate período anictérico. biliares e a presença de plugs nos dúctulos são os achados mais
Estes pacientes apresentam, usualmente, baixo peso ao nasci- específicos para o diagnóstico de atresia. Com esses parâmetros,
mento e a investigação adicional pode revelar a associação com a acurácia, a sensibilidade e a especificidade são de 90,5%, 100%,
outras más-formações. Na forma perinatal, os pacientes apre- e 75,9%, respectivamente. É importante ressaltar que quando a
sentam bom peso de nascimento, fezes coradas nos primeiros biópsia é realizada em idade precoce, o resultado pode ser falso- 521
dias de vida e aspecto saudável, apesar da icterícia, que se inicia, negativo, pois os achados característicos, especialmente a proli-
tipicamente, entre a segunda e a sexta semanas de vida. Nessa feração ductular difusa, podem se instalar apenas após nove se-
fase, as fezes, que estavam inicialmente pigmentadas, tornam-se manas de idade. Assim, a biópsia hepática deve ser repetida se
progressivamente acólicas, e a urina escura (colúria)16. Deve-se o paciente não apresentar melhora clínica, até que o diagnóstico
enfatizar que a icterícia pode ser leve, apesar da obstrução das seja estabelecido ou a possibilidade de atresia descartada.
vias biliares. Principalmente em pacientes com pele escura, a al- O diagnóstico definitivo consiste na demonstração da obstru-
teração da cor da pele pode não ser muito evidente, podendo ser ção fibrosante da árvore biliar extra-hepática durante laparotomia
observadas apenas esclerótidas discretamente ictéricas. Assim, exploradora com colangiografia, pois nenhuma das modalidades
como no início do quadro a criança encontra-se, habitualmente, diagnósticas disponíveis apresenta sensibilidade e especificida-
em bom estado geral e com peso adequado, muitas vezes a icte- de de 100% para o diagnóstico da atresia.
rícia leve é negligenciada e o diagnóstico feito tardiamente. Em resumo, se a biópsia é sugestiva de obstrução, está indi-
Nas fases mais adiantadas da doença, pode-se observar esple- cada a laparotomia com colangiografia operatória, pois apenas
nomegalia, circulação colateral, ascite, hemorragia digestiva alta esse procedimento pode confirmar ou afastar, definitivamente, a
por rotura de varizes esofagogástricas e outros sinais e sintomas possibilidade de atresia naquele momento. Na realidade, a defi-
decorrentes da hipertensão porta e da cirrose hepática12. nição do diagnóstico continua sendo um desafio, diante do qual a
Do ponto de vista laboratorial, os pacientes apresentam ele- análise de todas as informações permite maior índice de acerto.
vação da bilirrubina total, com predomínio da bilirrubina direta Quanto ao tratamento, ainda hoje, a única alternativa continua
ou conjugada. Todavia, de modo interessante, a BT é raramente sendo a portoenterostomia, introduzida por Kasai e Suzuki, em
maior que 12 mg%, podendo ser tão baixa como 5 mg% a 8 mg%; 1959. Nesse procedimento cirúrgico, a drenagem biliar é estabe-
e a BD é usualmente menor que 8 mg%, a despeito da obstru- lecida por meio da anastomose de um conduto intestinal à super-
ção completa das vias biliares. Quanto às enzimas hepáticas, em fície do hilo hepático (porta-hepatis), tipo Y-de-Roux, com alça em
geral, as canaliculares, gamaglutamiltransferase (GGT) e fosfata- torno de 40 cm2. Para se obter fluxo biliar satisfatório, o impor-
se alcalina (FA), encontram-se mais elevadas que as tissulares, tante, segundo Schweizer e cl., é que a dissecção seja realizada
alanina aminotransferase (ALT) e aspartato aminotransferase além da bifurcação dos ramos da veia porta.
(AST). Merece destaque especial a GGT, pois a fosfatase alcalina Quanto ao prognóstico, se a portoenterostomia não for reali-
também tem origem óssea. A elevação dos ácidos biliares é uni- zada, ocorre implacavelmente a progressão da fibrose, com in-
versal nesses pacientes. A função hepática, avaliada pelo nível suficiência hepática e óbito, com 1 ano de idade em 50% a 80%
de albumina e dos fatores da coagulação, encontra-se dentro da das crianças, e até os 3 anos em 90% a 100% dos pacientes. De
normalidade, nas fases iniciais da doença, podendo-se detec- modo diferente, os pacientes submetidos ao tratamento cirúrgico
tar hipoalbuminemia e coagulopatia nos pacientes cirróticos. É podem apresentar, basicamente, três diferentes evoluções:
importante lembrar que o INR pode estar alterado apenas pela
deficiência de vitamina K.
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Assistência ao Recém-Nascido de Risco
• Resposta satisfatória, na qual o paciente tem boa evo- dos fármacos imunossupressores, o transplante hepático tornou-
lução clínica, embora possa apresentar discretas altera- se um tratamento efetivo na faixa etária pediátrica.
ções das enzimas hepáticas. Novas perspectivas relacionadas ao tratamento se baseiam es-
• Resposta parcial, na qual o paciente apresenta drenagem bi- pecialmente no papel da disfunção imune na obstrução das vias
liar satisfatória, mas evolui com fibrose hepática progressiva. biliares, o que ainda hoje não é completamente entendido, apesar
• Falha terapêutica, situação em que a criança apresenta de constituir o foco de várias pesquisas32. Investigações a respei-
evolução igual ou mesmo pior à dos pacientes não tratados. to do interferon gama, das células CD8+, bem como das células T
regulatórias, que inibem a resposta imunomediada pelas células
Os fatores que influenciam o prognóstico são: a idade do pa- T efetoras (células CD4+CD25+, atuam de modo dependente do
ciente no momento da cirurgia; a extensão da fibrose hepática contato; células TH3, agem por meio da liberação do TGF-β; e as
nesse momento; o grau de destruição dos ductos biliares intra- células TR1, atuam pela produção da IL-10) são necessárias, tanto
hepáticos; o número de episódios de colangite ascendente; a ex- no modelo animal quanto em humanos, para avaliar se esses as-
periência do cirurgião; o local da obliteração das vias biliares; e a pectos seriam potenciais alvos de intervenção terapêutica.
forma da atresia, se embrionária ou fetal.
Um ponto fundamental é a idade do paciente, pois a drenagem Erros Inatos Do Metabolismo
biliar satisfatória é observada em até 80% daqueles submetidos
à portoenterostomia precocemente, enquanto essa taxa situa-se Galactosemia
entre 10% a 20% nos lactentes operados com quatro meses de
idade. Quando o paciente chega tardiamente, com mais de três Existem alterações distintas no metabolismo da galactose,
meses de idade, a realização da cirurgia de Kasai se justifica, conseqüentes à deficiência de diferentes enzimas envolvidas no
pois mesmo que o percentual de cura seja menor, existe a possi- metabolismo da galactose e classificadas como: galactosemia
bilidade de adiar a necessidade do transplante hepático. Entre- tipo 1 (deficiência de galactose-1-fosfato uridil transferase); tipo
tanto, esses pacientes precisam ser selecionados. A avaliação 2 (deificiência de galactoquinase); tipo 3 (uridil difosfo galactose-
pré-operatória deve identificar as crianças com doença hepática 4-epimerase); e a Duarte. As manifestações clínicas são diferen-
avançada, nas quais a cirurgia de Kasai não teria bons resulta- tes para cada uma delas. Neste capítulo, abordaremos apenas a
dos e o adiamento do transplante seria prejudicial. forma clássica ocasionada pela deficiência de galactose-1-fosfa-
Quanto ao local da obstrução da árvore biliar, os pacientes com to-UPD-transferase, que catalisa a segunda etapa na conversão
ductos biliares proximais pérvios e obliteração distal (atresia tipo hepática da galactose em glicose (Figura 4).
1) têm melhor prognóstico do que aqueles que apresentam atre-
sia proximal, estendendo-se para o porta hepatis.
Os portadores das formas embrionárias parecem apresentar
pior prognóstico quando comparados àqueles da forma perina-
522 tal. A evolução insatisfatória das crianças que são submetidas
ao Kasai com idade inferior a 30 dias reflete, provavelmente, a
diferente patogênese da forma embrionária ou fetal.
Quanto aos fatores preditivos, o nível de bilirrubina no pós-ope-
ratório é excelente preditor de sobrevida em longo prazo. Níveis
menores que 1,0 mg%, após três meses da cirurgia, associam-se
a bom prognóstico, sendo pouco provável a necessidade futura de
transplante. Esta observação tem um valor prático significativo, pois
tem o potencial de identificar pacientes que necessitam maior apoio
medicamentoso e nutricional durante o período de progressão da
doença. Entretanto, enfatizamos que o seguimento dos pacientes
deve ser rigoroso, pois pode haver progressão da lesão hepática e
instalação da cirrose, a despeito da drenagem biliar satisfatória.
Apenas 11% dos adolescentes e adultos jovens portadores de Figura 4 - Sítios de deficiências enzimáticas no metabolismo dos car-
atresia e submetidos à portoenterostomia não apresentam evidên- boidratos. Síntese de glicogênio: (1) glicose-6-fosfatase, (2) glicogênio
cias de doença crônica hepática, sendo considerados “curados”. Do sintetase, (3) amilo-1,6-glicosidase (ramificadora), (4) 1,4-glican-6-glico-
total de crianças portadoras de AVBEH, 70% a 80% necessitam do siltransferase (desramificadora), (5) fosforilase, (6) fosforilase quinase.
transplante hepático durante as primeiras duas décadas de vida, o Metabolismo da galactose: (7) galactoquinase. (8) galactose-1-fosfato-
que torna essa entidade a principal indicação do transplante na fai- UDP-transferase. Metabolismo da frutose: (9) frutoquinase, (10) frutose-
xa etária pediátrica, sendo responsável por 50% dos transplantes re- 1-fosfato aldolase, (11) frutose-1,6-difosfatase.
alizados em crianças. Nenhuma outra patologia, nem na idade adul- Fonte: Bezerra, 2003.
ta, é responsável por essa monta de indicação para o transplante.
É importante mencionar que o momento do transplante e o Trata-se de um erro inato do metabolismo dos hidratos de carbono,
estado nutricional do paciente são fatores que influenciam na de transmissão autossômica recessiva, muito grave, que põe em risco
evolução pós-transplante. Não se deve esperar que o paciente a vida do paciente, pois apresenta efeitos tóxicos, agudos e crônicos,
apresente desnutrição e insuficiência hepática terminal para que no fígado e em outros órgãos. As manifestações da doença são devi-
este seja indicado. Os progressos relacionados ao transplante e das ao acúmulo da galactose-1-fosfato (Gal-1-P) e do galactitol.
o encaminhamento adequado dos pacientes proporcionaram um Trata-se de um erro inato do metabolismo dos hidratos de car-
aumento substancial na taxa de sobrevida. Atualmente, a sobre- bono, de transmissão autossômica recessiva, muito grave, que
vida em longo prazo das crianças transplantadas portadoras de põe em risco a vida do paciente, pois apresenta efeitos tóxicos,
atresia atinge 80% a 90%. Se, por um lado, não houve muita evo- agudos e crônicos, no fígado e em outros órgãos. As manifesta-
lução nas possibilidades terapêuticas direcionadas à atresia, por ções da doença são devidas ao acúmulo da galactose-1-fosfato
outro, em vista das melhores técnicas cirúrgicas e da evolução (Gal-1-P) e do galactitol.
Capitulo 14 Sindromes Ictéricas
Nessa situação, os sinais e sintomas iniciam-se nos primeiros revela a presença de frutosúria. O diagnóstico é confirmado pela
dias de vida após a ingestão de leite materno ou fórmula infantil determinação da atividade da frutose-1-fosfato-aldolase em ma-
com lactose; podendo-se observar sinais de hipoglicemia, vômi- terial da biópsia hepática ou intestino delgado, pela pesquisa da
tos, letargia, diarréia, icterícia, hepatomegalia, sinais de insufici- mutação ou pelo teste intravenoso de tolerância à frutose. Este
ência hepática aguda grave, tubulopatia renal, catarata, aumento último, se possível, deve ser evitado. Os achados laboratoriais, re-
da pressão intracraniana, edema cerebral e hemólise. A criança versíveis com uma rigorosa exclusão da frutose da dieta, incluem
pode apresentar-se cirrótica, já ao nascimento. Além disso, alte- hipoglicemia (após ingestão de frutose), hipofosfatemia, eleva-
rações na capacidade bactericida e fagocítica dos neutrófilos são ção das aminotransferases séricas, hiperbilirrubinemia, hiperuri-
comuns, sendo a sepse por E. coli muito freqüente. cemia, aumento da excreção dos uratos, acidose hiperclorêmica,
O retardo mental, leve a moderado, é comum; e nas meninas ex- hiperlactatemia, hipocalemia, hipermagnesemia, anemia e trom-
postas continuamente à excessiva quantidade de galactose, pode bocitopenia. Os altos níveis de F-1-P encontrados nos pacientes
haver lesão permanente dos ovários, causando o hipogonadismo hi- com deficiência de aldolase inibem tanto a gliconeogênese como
pergonadotrófico do adulto. É curioso observar que a função gonadal a glicogenólise, contribuindo, dessa forma, para a hipoglicemia.
masculina não é alterada nos pacientes portadores de galactosemia. A histologia hepática revela presença de esteatose associada à fi-
Do ponto de vista laboratorial, observa-se aumento da galacto- brose portal não inflamatória e acentuada formação pseudo-acinar,
se sérica e urinária; presença de substâncias redutoras na urina que ocasiona a ruptura dos cordões de hepatócitos. Cilindros bilia-
devido à presença de galactose (negativa pelo teste da glicose res e fibrose portal e lobular podem estar presentes. A cirrose se
oxidase); sinais de disfunção hepática, como hipoalbuminemia e desenvolve caso não seja instituída a dieta com exclusão de frutose.
coagulopatia; elevação sérica das bilirrubinas e das aminotrans- O tratamento consiste em dieta de exclusão de frutose, sacaro-
ferases; acidose metabólica hiperclorêmica e síndrome de Fan- se e sorbitol, pois este último é metabolizado em frutose.
coni associada. Assim, a pesquisa de substâncias redutoras na
urina é positiva e a cromatografia de glicídios demonstra excre- Tirosinemia Hereditária Tipo 1
ção aumentada de galactose. O diagnóstico é confirmado apenas
pela dosagem da atividade da enzima galactose-1-fosfato-UPD- A tirosinemia hepatorrenal ou tirosinemia hereditária tipo 1
transferase nos eritrócitos, pois a presença de galactose na urina (TH1) é um distúrbio grave do metabolismo da tirosina, de heran-
pode relacionar-se a qualquer doença hepática grave. ça autossômica recessiva, ocasionada pela deficiência da fumari-
A histopatologia hepática demonstra a presença de colestase, va- lacetoacetato hidrolase (FAH), que impede o metabolismo da tiro-
cuolização gordurosa difusa e alterações pseudoductulares, com pou- sina e ocasiona o acúmulo de metabólicos tóxicos (Figura 5) 35.
ca inflamação nos hepatócitos. Nos estágios avançados da doença, Destes, o fumarilacetoacetato e seus metabólitos secundários,
pode haver nódulos de regeneração e a cirrose se torna evidente. succinilacetoacetato e succinilacetona, são compostos hepatotó-
O tratamento baseia-se na exclusão definitiva da galactose da xicos e ocasionam doença hepática grave, enquanto o acúmulo
dieta, o que pode resultar na reversão de condições que amea- do maleilacetoacetato ocasiona lesão tubular e pode estar envol-
çam a vida do paciente, desde que a dieta seja instituída preco- vido na lesão renal observada nos pacientes com TH1. Outro pro- 523
cemente. Caso contrário, o paciente pode evoluir com seqüelas duto secundário tóxico que se acumula, denominado acetoaceto-
permanentes, como complicações neurológicas, hormonais ou na, inibe a enzima porfirina sintética ácido delta-aminolevulínico
até mesmo óbito por insuficiência hepática. (δ-ALA) dehidratase, que é responsável pela conversão de δ-ALA
Apesar da dieta adequada, podem ser observados deficiência em porfobilinogênio. Esta inibição secundária leva ao aumento
ovariana e déficit intelectual, pela exposição intra-útero à galactose. dos níveis de δ-ALA, que é neurotóxica e provoca crises neurológi-
O diagnóstico pré-natal é possível, sendo recomendada a exclusão cas da tirosinemia hepatorrenal.
da lactose da dieta materna durante a gestação. O início precoce da
dieta de restrição parece correlacionar-se com uma evolução favo-
rável, já que essa tem o potencial de prevenir o acúmulo de Gal-1-P
no feto em desenvolvimento. A catarata regride, mas em geral não
desaparece completamente com a dieta livre em galactose. Pode
persistir uma fibrose portal ou perilobular residual, mas a cirrose é
um evento raro nos casos tratados precocemente.
Frutosemia
Paulo R. Margotto
Assistência ao Recém-Nascido de Risco
tase como deficiência de vitaminas lipossolúveis e doença óssea Colestase Intra-Hepática Familiar Progressiva
também podem estar presentes.
O prognóstico é variável. A progressão para cirrose ocorre em As patologias classificadas como colestase intra-hepática fa-
10% a 20% dos casos. Nestes, o tratamento se dirige às complica- miliar progressiva envolvem um grupo de doenças hereditárias,
ções da hipertensão porta, devendo ser avaliada a necessidade de autossômicas recessivas, caracterizadas por doença hepática
transplante hepático. Nos demais pacientes, as estratégias do ma- colestática, sem anormalidades estruturais hepatobiliares. Os
nejo terapêutico incluem a prevenção e o tratamento das compli- mecanismos fisiopatológicos dessas patologias envolvem altera-
cações da colestase crônica e das manifestações extra-hepáticas. ções na função de excreção hepática, especificamente, na gera-
ção do fluxo biliar.
Deficiência De Alfa-1-Antitripsina Atualmente, três entidades são classificadas como colestase
intra-hepática familiar progressiva: PFIC 1, PFIC 2 e PFIC 3. A des-
A alfa-1-antitripsina (A1AT) é uma glicoproteína sintetizada, peito de algumas diferenças clínicas, laboratoriais e histológicas,
principalmente, pelos hepatócitos e, em menor grau, pelos mo- elas são caracterizadas por:
nócitos e macrófagos. Sua principal função é a inibição das pro-
teases a nível tissular, em particular a elastase liberada pelos • Colestase hepatocelular crônica;
neutrófilos durante o processo inflamatório. A sua deficiência • Ausência de distúrbios anatômicos identificáveis;
manifesta-se, em geral, com doença hepática em crianças e enfi- • Padrão de ocorrência consistente com herança autossô-
sema pulmonar de início precoce em adultos. mica recessiva;
Mais de 90 variantes genéticas da A1AT já foram descritas.
Esse polimorfismo é o resultado de diversas e múltiplas muta- Combinação característica de aspectos clínicos, bioquímicos e
ções do gene, sendo as variantes estruturais classificadas de histológicos que serão discutidos a seguir.
acordo com o fenótipo do inibidor de proteases (Pi) e definidas
por focalização isoelétrica no plasma. A variante alélica normal, PFIC 1 (deficiência de FIC1)
denominada M (M1, M2 e M3), associa-se à concentração sérica A colestase intra-hepática familiar progressiva tipo 1 é uma
e atividade funcional normais da A1AT. De modo contrário, nas doença autossômica recessiva complexa, com envolvimento de
variantes nulas (α-1-AT null) não se detecta a presença de A1AT múltiplos órgãos, decorrente da mutação do gene ATP8B1 (FIC1),
no soro. Das variantes que cursam com deficiência de A1AT, a localizado no cromossoma 18q21-22, que codifica um membro
mais comum associa-se ao fenótipo PiZZ. Essa forma (Z) é de- da família das ATPases tipo P envolvido no transporte de amino-
vida a uma mutação pontual no exon V do gene, que faz com fosfolipídeos dependente de ATP.
que uma lisina substitua um ácido glutâmico na posição 342 da O FIC1 é expresso predominantemente no intestino e nos colan-
seqüência dos aminoácidos da forma M. Relaciona-se à falha na giócitos. Como os pacientes portadores de PFIC1 apresentam bai-
excreção da A1AT, com conseqüente retenção e acúmulo dessa xa concentração de ácidos biliares na bile, é provável que o FIC1
proteína no retículo endoplasmático dos hepatócitos. Na variante esteja envolvido, mesmo que indiretamente, na secreção biliar dos 525
S, as proteínas sintetizadas são degradadas e desta forma, não ácidos biliares. Especula-se que estes pacientes apresentam au-
se acumulam no interior das células. mento da expressão dos transportadores de ácidos biliares (api-
Apenas 20 a 30% dos pacientes PiZZ desenvolvem hepatopa- cal sodium-dependent bile acid transporter - ASBT) no íleo, e baixa
tias, sendo o quadro clínico de evolução e gravidade variável. A expressão do ileal bile acid binding protein (IBABP). Estes aspectos
criança pode apresentar icterícia colestática de início precoce, são interessantes, apesar de ainda não comprovados, pois a fisio-
que em geral desaparece nos meses seguintes. Alguns pacientes patologia da PFIC1 parece estar relacionada com o aumento da
apresentam evolução para cirrose hepática, em geral insidiosa. absorção ileal dos ácidos biliares, conseqüente ao aumento da ex-
Entretanto, quadros caracterizados pela persistência de icterícia pressão intestinal do ASBT e à diminuição da secreção canalicular
e evolução rápida e progressiva para a cirrose e insuficiência he- destes. Esta última decorrente, provavelmente, da expressão dimi-
pática também são relatados. nuída do BSEP (Figura 1) e de uma alteração na via FXR (farnesoid
Em relação aos exames laboratoriais, níveis baixos de alfa-1- X receptor), importante na homeostase dos ácidos biliares.
globulina na eletroforese de proteína convencional são sugestivos A PFIC1, tradicionalmente conhecida como “doença de Byler”,
da doença, pois a A1AT representa, em média, 90% dessa fração. pois foi inicialmente descrita nos membros de uma família Amish
Além disso, a dosagem específica da alfa-1-antitripsina sérica, americana, descendentes de Jacob Byler, caracteriza-se do ponto
em geral, encontra-se diminuída (< 100 mg%). Vale lembrar, no de vista clínico pela presença de icterícia, no período neonatal ou
entanto, que os níveis séricos da alfa-1-antitripsina aumentam mais tardiamente (lactentes), hipocolia ou acolia fecal, hepato-
em estados inflamatórios e, sendo assim, níveis normais da mes- megalia, esplenomegalia e prurido. Estes sinais e sintomas po-
ma não excluem a possibilidade do diagnóstico. A determinação dem estar associados à diarréia e desnutrição, pois o gene FIC1
do fenótipo (fenotipagem) é o exame que estabelece o diagnósti- apresenta expressão em vários tecidos, incluindo fígado, intes-
co definitivo da deficiência de alfa-1-antitripsina. tino, pâncreas e rim. Assim podemos dizer que se trata de uma
Do ponto de vista histológico, os achados podem ser similares doença com envolvimento de múltiplos sistemas.
aos da AVBEH, com fibrose portal e proliferação ductular, ou com Do ponto de vista laboratorial, sugerem o diagnóstico dessa
rarefação dos ductos biliares intra-hepáticos. Após doze semanas entidade a GGT dentro da normalidade, apesar do quadro coles-
de vida, podem ser observadas inclusões globulares citoplasmá- tático, com hiperbilirrubinemia moderada, elevação das concen-
ticas PAS-positivas e diastase-resistentes, especialmente nos he- trações das aminotransferases e concentrações aumentadas
patócitos periportais. Os depósitos de alfa-1-antitripsina nos he- dos ácidos biliares séricos.
patócitos podem ser detectados por meio da imuno-histoquímica. No estudo histológico do fígado, em geral são observadas alte-
A terapia de reposição pode, eventualmente, ser muito eficaz rações discretas como leve colestase canalicular e balonização de
para evitar a progressão da doença pulmonar, mas ela não está hepatócitos. A fibrose portal é leve ou ausente nos pacientes mais
indicada para prevenir ou retardar a evolução da doença hepá- jovens, sendo mais acentuada, com formação de pontes, nos pa-
tica. Atualmente, o transplante hepático é a melhor opção de cientes mais velhos. A microscopia eletrônica demonstra presença
tratamento nos casos de cirrose, devendo ser indicado antes da de material granular e amorfo na luz canalicular dos canalículos,
instalação da insuficiência hepática. que se encontram dilatados, achado característico da PFIC13.
Paulo R. Margotto
Assistência ao Recém-Nascido de Risco
Em relação ao prognóstico, esta é uma doença que evolui progres- ácido biliar. As mutações do MDR3 alteram o transporte de fosfoli-
sivamente para cirrose e falência hepática na infância ou no começo pídeos para os canalículos, induzindo a formação de bile com teor
da adolescência. O carcinoma hepatocelular pode se desenvolver. habitual de ácidos biliar e baixa concentração de fosfolipídeo. Des-
O tratamento clínico baseia-se no suporte nutricional, na re- sa forma, a quantidade proporcionalmente alta de ácido biliar, na
posição de vitaminas e nas medidas direcionadas ao prurido. ausência de fosfolipídeo na bile, confere efeito tóxico a esta, o que
Os progressos relacionados ao tratamento do prurido não são justifica os achados laboratoriais e histológicos descritos a seguir.
evidentes na prática clínica, apesar dos avanços ocorridos nos O curso clínico é semelhante ao dos pacientes portadores de de-
conhecimentos do transporte biliar. As medicações disponíveis ficiência de BSEP (PFIC2). Quanto aos achados laboratoriais, apre-
mais utilizadas atualmente são o ácido ursodeoxicólico e a rifam- sentam elevação da bilirrubina conjugada e das aminotranferases,
picina, mas estas apresentam sucesso limitado, sendo comum a como os portadores de PFIC 1 e 2. Entretanto, de modo diferente
presença de prurido refratário ao tratamento clínico nos pacien- destes pacientes, os portadores de PFIC3 apresentam elevação da
tes portadores de PFIC1. Nestes casos, a derivação biliar externa concentração sérica de GGT. O aspecto característico da histologia
ou a exclusão do íleo terminal são opções terapêuticas que po- hepática é a proliferação ductal, associada à infiltrado inflamató-
dem melhorar a qualidade de vida destes pacientes, lembrando rio, fibrose portal e periportal com progressão para cirrose.
que se deve proceder a reposição das vitaminas B6 e B12 nos Vale mencionar que outras manifestações descritas são: co-
pacientes submetidos à exclusão do íleo terminal. lelitíase (com baixo teor de fosfolipídeo), colestase induzida por
Como a expressão do FIC1 é maior no intestino do que no fíga- drogas; colestase da gravidez (pacientes heteroxigotos).
do, alterações na absorção intestinal podem estar envolvidas na O tratamento é similar ao descrito para os portadores de PFIC2.
patogênese desta doença e podem explicar os resultados obtidos
na derivação biliar externa, na qual a vesícula é externalizada por Erros Inatos Do Metabolismo Dos Ácidos Biliares
de um estoma feito com alça de intestino delgado. Nesta condi-
ção, postula-se que haveria diminuição da reabsorção dos ácidos As alterações da síntese dos ácidos biliares são classifica-
biliares, com conseqüente redução do pool dos ácidos biliares das em primárias e secundárias. As primárias são decorrentes
intra-hepáticos, o que preveniria algumas das conseqüências da de deficiências congênitas das enzimas envolvidas na síntese
colestase, como o prurido. Os resultados desta técnica são me- dos ácidos cólico e quenodeoxicólico, como a deficiência da
lhores se a cirurgia é realizada antes da progressão da fibrose e 3β-hidroxi-c27-esteróide oxidoreductase (3βHSD) e a deficiência
desenvolvimento da cirrose hepática. da ∆4-3-oxosteróide 5β-redutase (3O5βR). Em relação às secun-
dárias, podemos citar as desordens peroxisomais como a síndro-
PFIC 2 (deficiência de BSEP) me de Zellweger e a síndrome de Smith-Lemli-Opitz, ocasionada
Nos pacientes portadores de PFIC 2, foram identificadas mu- pela deficiência da D7-desaturase.
tações no gene ABCB11, localizado no cromossomo 2q24, que Os erros inatos da biosíntese dos ácidos biliares foram recen-
codifica a bomba de excreção dos sais biliares (BSEP)3. A BSEP é temente identificados e relacionados à patogênese de algumas
526 expressa preferencialmente no fígado, localiza-se na membrana formas de colestase intra-hepática familiar. O papel exato dos
canalicular e funciona como um transportador de ácidos biliares ácidos biliares em iniciar e perpetuar a lesão hepática ainda não
dependente de ATP (Figura 1). A conseqüência da mutação da foi estabelecido, mas sabe-se que uma falha em qualquer um dos
BSEP é a diminuição do transporte de ácidos biliares dependente 14 passos enzimáticos envolvidos na síntese dos principais áci-
da BSEP, o acúmulo dos ácidos biliares no interior dos hepatóci- dos biliares primários (ácido cólico e quenodeoxicólico), a partir
tos e a lesão hepatocelular progressiva. do colesterol, pelo fígado, ocasiona bloqueio da produção destes e
Do ponto de vista clínico observa-se: prurido, icterícia, hipode- acúmulo dos metabólitos intermediários. Dessa forma, a colestase
senvolvimento, hepatomegalia e esplenomegalia. Assim, estes pode ser decorrente da diminuição do fluxo biliar conseqüente à
pacientes se assemelham aos portadores de PFIC1, com exceção diminuição dos ácidos biliares primários e da provável hepatoto-
dos sintomas extra-hepáticos, apresentados pelos portadores de xicidade dos metabólitos intermediários (ácidos biliares atípicos) .
PFIC1 e não apresentados pelos portadores de PFIC2. Essa entidade é observada em pacientes com características
Do ponto de vista laboratorial, como os pacientes portadores de semelhantes aos apresentados pelos portadores de colestase in-
PFIC1, apesar do quadro colestático, a GGT encontra-se normal. tra-hepática familiar progressiva, mas com uma importante dife-
A característica histológica que potencialmente diferencia os pa- rença, que é a ausência de prurido na presença de icterícia coles-
cientes com deficiência da BSEP daqueles com alteração no FIC1 tática. Sugere o diagnóstico, a presença de hepatopatia, icterícia
é a presença de células gigantes, que persiste durante a infância. por predomínio da bilirrubina direta, ausência de prurido e ácido
Outras alterações observadas são: colestase canalicular proemi- biliar sérico dentro da normalidade. Além disso, a diminuição da
nente; balonização de hepatócitos; fibrose perivenular, pericelular concentração intestinal dos ácidos biliares induz a diminuição da
e periportal, com progressão para cirrose; e discreta colangiopatia. absorção da gordura e das vitaminas lipossolúveis, o que pode
O tratamento é de suporte, e relaciona-se às conseqüências da resultar em má absorção. O tratamento requer administração de
colestase e da hepatopatia progressiva. A derivação biliar externa ácidos biliares, e se o paciente não receber tratamento adequa-
parcial e a exclusão do íleo terminal podem ser consideradas nos do, a doença hepática pode progredir.
pacientes com prurido de difícil controle. O transplante hepático Em relação ao diagnóstico, do ponto de vista bioquímico ob-
é necessário em muitos casos. serva-se redução ou completa ausência dos ácidos cólico e que-
PFIC 3 (deficiência da MDR3) nodeoxicólico no sangue, na bile e na urina. A confirmação do
O terceiro tipo de colestase intrahepática familiar progressiva diagnóstico é realizada com a cromatografia dos ácidos biliares
(PFIC 3) é decorrente de mutação no gene ABCB4, localizado no na urina, na qual se observa aumento dos ácidos biliares atípicos
cromossoma 7q21, que codifica a proteína de resistência multi- ou seja dos metabólitos intermediários relacionados ao bloqueio
drogas-3 (MDR3), que funciona como um transportador de fosfolipí- da síntese dos ácidos biliares.
deos (flippase) e está presente na membrana canalicular (Figura 1). O tratamento consiste na administração de ácidos biliares (có-
Em condições normais, o transporte de fosfolipídeos para a lico e ursodeoxicólico). Estes oferecem concentrações intestinais
bile dependente de MDR3, induz a formação de micelas e, con- adequadas de ácidos biliares e inibem a formação dos metabóli-
seqüentemente, proporciona um papel citoprotetor para o epitélio tos tóxicos. Dessa forma, evitam a desnutrição, impedem a pro-
dos ductos biliares contra o efeito detergente lesivo induzido pelo gressão da doença hepática e a necessidade do transplante he-
Capitulo 14 Sindromes Ictéricas
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lation. Physiol Rev. 83:633,2003.
Paulo R. Margotto
Assistência ao Recém-Nascido de Risco
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Capítulo 15
Distúrbios
do Trato
Genitourinário
Assistência ao Recém-Nascido de Risco
Introdução
A injúria renal aguda (IRA), definida como um súbito “déficit” da O desafio do manuseio da IRA no neonato só pode condu-
função renal, resulta na retenção de produtos “tóxicos” do metabo- zir ao êxito quando consideramos um contexto multidisciplinar,
lismo corporal. No recém-nascido, definimos IRA quando a creatini- com infra-estrutura hospitalar adequada, conhecimento técni-
na sérica é igual ou superior a 1,5mg%, podendo ou não ser oligú- co, dedicação e respeito mútuo entre as equipes e para com o
rica (débito urinário inferior a 0,5ml/kg/hora). Nos poucos relatos paciente e seus familiares.
disponíveis sobre sua incidência nesta faixa etária, a doença parece
ocorrer em torno de 3% a 8% das internações em UTI neonatais. Função Renal Do Recém-Nascido
Freqüentemente são bebês prematuros e/ou gravemente enfermos.
O recém-nascido é mais suscetível à injúria renal aguda, pro- Na vida intrauterina, a placenta é o principal regulador da com-
vavelmente pelas alterações volêmicas que ocorrem no período posição de líquidos; a contribuição do rim na manutenção da
neonatal, pelo aumento das perdas insensíveis e, no prematuro, homeostase é mínima, sendo apenas responsável pela manuten-
deve-se considerar também a imaturidade do desenvolvimento ção de um volume adequado de líquido amniótico.
do sistema urinário, uma vez que a embriogênese renal termina Com o nascimento, o rim passa a atender às necessidades nor-
por volta da 35ª semana gestacional. mais do recém-nascido, sendo que suas funções se aperfeiçoam
A IRA está associada a causas multifatoriais, mas hipotensão, à medida que se processa o crescimento.
hipovolemia, hipoxemia e septicemia são as mais comumente re- Frente às situações em que ocorre desequilíbrio da homeos-
lacionadas com mecanismos pré-renais (85%). Causas renais e tase, conseqüente a fatores patogênicos ou iatrogênicos, o rim
condições pós-renais causadoras de IRA são muito mais raras, e pode não responder de forma adequada, como acontece em
correspondem a 11% e 3% dos casos, respectivamente. crianças maiores e em adultos. Essas limitações refletem uma
A doença caracteriza-se por alterações no equilíbrio hidreletro- “imaturidade” ainda observada nesse período. São elas:
lítico e ácido básico, descontrole hormonal, elevação da creatini-
na e uréia sangüíneas, oligúria, embora em alguns casos possa • Taxa de filtração glomerular (TFG) baixa, secundária a
haver poliúria desde o início do quadro. A IRA frequentemente uma resistência vascular aumentada ao nível das artérias
está vinculada a hiponatremia, hipercalemia, acidose metabólica glomerulares. Enquanto 2% a 3% do débito cardíaco, vai
530 e outras alterações metabólicas. A hipervolemia pode ser signifi- para os rins na vida intrauterina (esses órgãos não têm a
cativa nos neonatos anúricos. função de controlar o meio interno, função esta desempe-
O diagnóstico no recém-nascido se faz por meio da creatinina nhada pela placenta), ao nascimento este percentual do
sérica em ascensão (0,2 - 0,3 mg%/ dia) ou >1,5mg%, geralmen- débito cardíaco como fluxo sanguíneo renal deve ser sex-
te associada à oligo-anúria (ausência de débito urinário após 48 tuplicado em poucos dias, atingindo 12% a 18% no RN a
horas de vida ou débito urinário inferior a 0,5 ml/kg/hora). Vale termo, aproximando-se de 25% que é o nível de adultos. A
lembrar que 97% dos recém-nascidos (RN) urinam nas primeiras taxa de filtração glomerular é de aproximadamente 26ml/
24 horas de vida, e que 4% a 22% dos RN apresentam a 1a. min/1.73 m² com 34 semanas de idade gestacional. Com
micção na sala de parto. 25 semanas, a TFG é de 2 ml/min/1.73 m², alcançando
Na avaliação e condução do neonato com IRA é preciso con- níveis de maturação na idade de 9-12 meses (aproxima-
siderar: história e exame clínico cuidadoso, urinálise, avaliação damente 125 ml/min/1.73 m²). Podemos calcular a TFG
hematológica, dosagem e/ou taxa de excreção de sódio urinário pela fórmula: K x comprimento do RN ÷ creatinina sérica
(não fidedigna se obtida sob uso de agentes inotrópicos ou diu- (fórmula de Schwartz), sendo K uma constante, cujo valor
réticos), ultrassonografia com Doppler de vias urinárias, eventu- é 0.33 para RN de baixo peso e 0.45 para RN a termo
almente uretrocistografia miccional e cintilografia radioisotópica. (K representa a creatinina urinária por unidade de peso
Uma vez firmado o diagnóstico, o tratamento deve ser pronta- corporal). Existe, então, limite da capacidade do RN para
mente instituído, compreendendo o tratamento etiológico, res- resistir ao stress de uma sobrecarga de água.
tabelecimento do equilíbrio hidreletrolítico, suporte nutricional e • Desenvolvimento glomerular mais avançado que o tu-
até dialítico, se necessário. bular, resultando em desequilíbrio glomérulo-tubular.
Diálise algumas vezes é inevitável e, embora seja um tratamen- Esta assertiva induz a um julgamento injusto: embora
to disponível quando os demais recursos falham, trata-se de um a taxa de reabsorção tubular seja ainda pior do que a
procedimento tecnicamente difícil, sempre complicado e que pode TFG, a função tubular de reabsorção ou excreção por su-
falhar. Prevenção e atenção especial aos fatores de risco devem perfície quadrada de túbulos é melhor do que a função
ser os objetivos, quando se trata de pacientes de alto risco. glomerular propriamente dita. Existem poucos túbulos e
Fatores relacionados com mortalidade incluem: falência de múlti- estes são pequenos; a nefrogênese que se dá de modo
plos órgãos, hipotensão que exige uso de suporte inotrópico, insta- centrífugo (da pelve para o córtex) só se completa na 34ª
bilidade hemodinâmica e necessidade de ventilação mecânica ou semana. Os primeiros néfrons a surgir são os justa-me-
diálise. O prognóstico e recuperação da IRA são altamente depen- dulares, que têm o glomérulo no córtex ou próximo à me-
dentes da doença de base, com excelente prognóstico da função dula, cuja alça de Henle é profunda (atinge a medula) e
renal quando a condição clínica inicial for passível de tratamento. representam 15% da população total de néfrons na vida
É fundamental o contexto de uma UTI neonatal/pediátrica com adulta. Estes são os mais eficientes para a manutenção
“expertise” no manuseio de neonatos gravemente enfermos, pos- do meio interno. Os outros 85% dos néfrons são corti-
sibilitando toda complexa estrutura que se faz necessária para cais, menos eficazes (têm a alça de Henle mais curta) e
recuperação desses pacientes. surgem por volta da 34ª semana de gestação. Assim sen-
Capitulo 15 Distúrbios do Trato Genitourinário
Recém-nascidos muito baixo peso: apresentam balanço positivo Causas Da Insuficiência Renal Aguda
de K+ durante todo o período neonatal. O risco de hipercalemia é
grande, mesmo na ausência de oligúria, devendo a calemia ser • Insuficiência pré-renal: ocorre quando se instala fluxo
monitorizada precocemente. Hipercalemia não oligúrica tem sido sangüíneo renal insuficiente. Não havendo lesão renal,
relatada em 50% nestes RN na primeira semana de vida, secun- a reversibilidade do processo dependerá da correção
dária a deficiência da Na-K-ATPase e ao grande desvio de K+ para hemodinâmica, pois a persistência da condição anormal
o extracelular. Mais recentemente tem sido atribuída ao baixo fluxo poderá significar causa importante da IRA intrínseca.
Paulo R. Margotto
Assistência ao Recém-Nascido de Risco
• Insuficiência renal: implica em lesão do parênquima re- ga ou uretra. Resultam de malformações congênitas ou
nal. Inclui causas congênitas e adquiridas. A NTA pode de- pressões extrínsecas, como tumores, hidronefrose e vál-
rivar de lesão anóxica e/ou isquêmica ou de nefrotoxinas. vula de uretra posterior; bexiga neurogênica, estenose da
• Insuficiência pós-renal: Incomum. Ocorre por obstrução junção ureteropélvica bilateral.
do fluxo urinário depois de formada a urina e, para que
resulte em oligúria, deve afetar ambos os ureteres, bexi-
A asfixia perinatal é a causa mais comum de IRA intrínseca no RN, cia de diurese nas primeiras 24 horas (93% urinam dentro deste
podendo também ser pré-renal, uma vez que a asfixia contribui com período, débito urinário < 15 a 20 ml/kg/24h).
532 a hipoperfusão renal, além de ocorrer um desvio de sangue dos rins
para melhorar a circulação ao nível de coração e cérebro. Estudos Exame Físico
recentes demonstraram que falência renal, definida por aumento de
nível de creatinina sérica, tem uma prevalência de 61% em associa- Investigar estado de hidratação, jato urinário, sinais de choque
ção com severa asfixia em RN a termo e, neste caso, encontramos ou hipovolemia, pressão arterial em membros superiores e infe-
predominantemente IRA não oligúrica. Uma vez que RN a termo sa- riores, pulsos, pressão venosa central, freqüência cardíaca.
dios apresentam valores de creatinina sérica de 0,89mg%, (+- 0,02 Massas tumorais na região do flanco e hipogástrio, malforma-
mg%) no primeiro dia de vida e 0,50 mg% (+- 0,02 mg%) a partir do 5o ções da parede abdominal. Anormalidade do trato urinário inferior.
dia, IRA pode ser definida como níveis de creatinina sérica superiores
a 1,5mg% associado com uma função renal materna normal.(deve-se Exames Laboratoriais
determinar o nível de creatinina sérica materna na hora do parto). IRA
não oligúrica pode ser definida como débito urinário maior que 1ml/ 1. Sangue:
kg/h depois do primeiro dia de vida. Em casos de asfixia, os autores • Sódio e Potássio
observaram a presença de IRA não oligúrica em 61% dos RN a termo Pode ocorrer hiponatremia dilucional ou por disfunção tubular
que sofreram asfixia grave; IRA oligúrica, em 25% e anúrica em menos e/ou hipercalemia;
de 15%. Foi proposto um escore de morbidade, capaz de determinar, • Uréia e creatinina
com uma hora de vida, a probabilidade do RN desenvolver falência re- São produzidas endogenamente e excretadas na urina prima-
nal com 100% de sensibilidade e 72% de especificidade. Este escore riamente por filtração glomerular. A uréia é produzida no fígado
baseia-se na escala de Apgar no 5o minuto (menor que 6) e valor do como produto final do ciclo ornitina-arginina-uréia e novamente é
déficit de base (aferido através da gasometria arterial) na 1a hora de reabsorvida a nível tubular na proporção de 30% da concetração
vida (menor que 10).Taxas de filtração glomerular persistentemente filtrada. A creatinina é produto final da degradação da creatina
baixas e disfunção tubular têm sido relatadas em 40% dos sobrevi- encontrada no músculo esquelético sendo, portanto, proporcio-
ventes de insuficiência renal aguda no período neonatal, na ausência nal à massa muscular. A excreção por filtração é igual à produ-
de malformações do trato genitourinário. ção, mantendo-se constante o nível sérico.
Quanto à nefrotoxicidade dos antibióticos, estima-se que 10 a 30% Ao nascimento refletem os valores maternos, até por volta de
dos pacientes em uso de aminoglicosídeos apresentam IRA transitó- 48 horas de vida. Na IRA a uréia está em níveis superiores a 28
ria, geralmente de natureza não oligúrica. mg%, e a creatinina acima de 1 mg% (níveis médios normais de
creatinina: 0,75 mg% e a partir dos 7 dias de vida: 0,68 mg%: nos
Diagnóstico RN abaixo de 29 semanas e peso <1000g, existe um retardo do
decréscimo da creatinina sérica, em relação aos RN de 29 a 32
História Clínica semanas que se estende até por volta do 6º dia de vida, segundo
Auron A e MJ Mhanna-vide figuras a seguir).
Deve dar enfoque a condições clínicas que potencialmente po-
dem levar a dano renal. Suspeitar de oligúria nos RN com ausên-
Capitulo 15 Distúrbios do Trato Genitourinário
Onde:
U Na = sódio urinário
Pcr = creatinina plasmática
Ucr = cretainina urinária
P Na = sódio plasmático
3. ECG
Alterações observadas na hiperpotassemia.
4. Ultrassonografia
Avaliação de massas renais e alterações morfológicas na es-
trutura do parênquima renal.
5. Urografia excretora
Pouco utilizado - risco de maior toxicidade do contraste.
Alguns fatores podem determinar o aumento de uréia: dieta rica
em proteínas, oferta aumentada de proteínas na Nutrição Paren- 6. Biópsia renal
teral Total (NPT), hemorragia gastrintestinal e desidratação, por
exemplo. Portanto, não é o melhor indicador para avaliar a fun- 7. Cintilografia radioisotópica
ção renal. A creatinina expressa a função tubular, uma vez que 533
é secretada pelo túbulo e não mais reabsorvida. O aumento de Diagnóstico Diferencial
creatinina da ordem de 0,5mg%/dia indica uma redução severa
da TFG. Quando a creatinina sérica dobra, a TFG cai 50%.Quando Diante de um paciente com oligúria e azotemia, torna-se impor-
a relação uréia/creatinina é maior que 20, deve-se suspeitar de tante a distinção entre IRA pré-renal e renal propriamente dita,
um aumento da produção de uréia ou aumento de sua reabsorção pois a abordagem terapêutica será diferente.
a nível tubular. Condições que resultam em diminuição do volume Testes diagnósticos para a diferenciação:
intravascular acarretam um aumento da reabsorção tubular de Suspeita clínica de depleção de volume: administrar solução
água e de uréia, sem alteração significativa da função glomerular. fisiológica ou plasma, num volume de 20ml/Kg durante 60 a 20
•Hemocultura min; podendo-se chegar até 40 ml/kg. Se persistir oligúria :- furo-
pesquisar infecção semide 2mg/Kg/dose; se não houver diurese (> 2 ml/Kg/hora),
•Gasometria após 60-120 min = IRA intrínseca). Atualmente dá-se preferência
acidose metabólica à solução de cristalóide.
•Hipocalcemia, Hiperfosfatemia e hipomagnesemia. Relação uréia plasmática/creatinina plasmática
IRA pré-renal (aproximadamente 85% dos casos): aumento des-
2. Urina proporcional da uréia em relação à creatinina. Proporção > 10:1.
•Densidade urinária IRA renal intrínseca (aproximadamente 11% dos casos): au-
normal 1005 – 1010; valores acima destes são considerados mento proporcional de uréia e creatinina. Proporção <10:1
anormais. (multiplicando-se os dois últimos números da densi- IRA pós-renal: menos de 5% dos casos.
dade urinária por 30 pode-se calcular a osmolaridade urinária: Osmolaridade urinária (mOsml/l): IRA pré-renal > 400 e IRA
ex: DU = 1010; Osmolaridade urinária = 1030). Osmolaridade intrínseca: < 400
urinária máxima: RN pré-termo = 600 mOsm/l; RN a termo = 800
mOsm/l; adulto = 1.200 mOsm/l. Tratamento
Na IRA pré-renal a urina é hipertônica e relativamente isenta
de Na+ (UNa< 20 mEq/l). A intensa avidez por Na+ e a função tu- Uma vez diagnosticada a IRA, torna-se necessário uma mo-
bular ainda preservada, resultam em reabsorção de 99% do Na+ nitorização cuidadosa para prevenir ou tratar precocemente
filtrado. Além disso, o baixo fluxo renal condiciona a reabsorção as complicações.
da uréia filtrada, mas não da creatinina, resultando num aumen-
to desproporcional da uréia em relação a creatinina sérica (Uréia Tratamento Geral
/P creat > 10).
Na lesão parenquimatosa, a concentração de Na+ urinário ten- 1. Administração de líquidos e eletrólitos
de a ser elevada (U Na > 40 mEq/l), a capacidade de concentrar A reposição de volume deverá se limitar às perdas insensíveis
urina e excretar creatinina está diminuída e a reabsorção prefe- e às perdas de fluído externo (urina, SOG, drenos). Deverá ser
rencial de uréia está perdida. subtraída a água endógena diária produzida pelo metabolismo
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(9ml/Kg/peso). As perdas insensíveis/24 horas variam com o Dobutamina: Sintetizada com o intuito de se criar um 1 agonista
peso de nascimento e, nos 3 primeiros dias, são da ordem de: seletivo. É um efetivo agente inotrópico, que causa também vaso-
dilatação e moderada taquicardia. Em doses muito elevadas pode
700-1000g: 82ml/kg aumentar a PA e provocar um aumento da resistência vascular sis-
1001-1250g: 56ml/kg têmica. Possui poucos efeitos tóxicos, sendo a taquicardia o princi-
1251-1500g: 46ml/kg pal evento observado em lactentes jovens, mas pode ser facilmen-
> 1500g: 26ml/kg te revertida com a redução da dose. Em pacientes com choque
cardiogênico, ela aumenta o débito cardíaco, diminui a pressão
Em uso de fototerapia ou calor irradiante, acrescentar 20 ml/Kg/dia. capilar pulmonar e a resistência vascular sistêmica. Dobutamina
A criança deverá perder de 0,5 a 1% de peso por dia, por cata- é mais efetiva em aumentar a perfusão sistêmica que a dopami-
bolismo tecidual. na, mas não a PA. O tratamento da IRA secundária ao choque, na
Na fase de oligúria a administração de eletrólitos limitar-se-á ausência de hipotensão, deve ser visto sob uma abordagem fisio-
a proporção de eletrólitos previstos para o volume das perdas patológica, e direcionado para o aumento do Débito Cardíaco (DC)
extra-renais calculadas. A hiponatremia durante a fase de mane- e diminuição da resistência vascular sistêmica e pulmonar. Com
jo da IRA oligúrica indica superestimativa das perdas e deve ser isso, sugerimos dar preferência a dobutamina, com baixas doses
tratada com restrição hídrica mais rígida. A concentração de Na+ de epinefrina, como uma alternativa razoável. Deve ser avaliado o
sérico deverá ser mantida entre 135 – 145 mEq/l. A administra- seu uso após identificação da causa da IRA (baixa perfusão renal
ção de Na+ só será feita quando ocorrer hiponatremia acentuada secundária a falência de bomba cardíaca). Dose: 5 a 20 microgra-
(Na+ < 120 mEq/l) ou quando houver sintomatologia clinica (tor- ma/kg/minuto. Apresentação: frascos 12,5 mg/ml.
por, convulsões). Neste caso, pode ser indicada a administração Epinefrina (consulte o capítulo de Choque Séptico): é uma
de sódio hipertônico (solução a 3%). Na fase de poliúria será ba- catecolamina potente que age mais diretamente nos receptores
seada no balanço hídrico diário e controle laboratorial seriado. adrenérgicos do que através da liberação de norepinefrina arma-
zenada. Estimula os receptores e tem ação relacionada à dose.
2. Manutenção da temperatura: Causa vasodilatação em doses muito baixas; o efeito inotrópico
Manter zona de temperatura neutra aumenta conforme a dose aumenta, e começa a causar vaso-
constricção importante em altas doses. Neste caso, a vasocons-
3. Dietético tricção se sobrepõe ao efeito inotrópico positivo e o débito cardí-
O paciente com IRA é freqüentemente hipermetabólico e evolui aco começa a cair. Então: baixas doses aumentam o DC; doses
para desnutrição aguda. O catabolismo acentuado leva a instala- moderadas aumentam a PA e doses muito altas podem diminuir
ção acelerada de uremia, hiperpotassemia e acidose, antecipan- o DC. A infusão de doses baixas (menos que 0,3 microgramas/
do a necessidade de tratamento dialítico. Ingesta calórica deve kg/minuto) está primariamente associada com efeitos beta adre-
ser, no mínimo 100 cal/kg /dia e o aporte protéico aproximado nérgicos, incluindo: aumento da contratilidade cardíaca, freqüên-
534 de 1g/kg/dia. Os pacientes em diálise não toleram a via digestiva cia cardíaca, pressão de pulso e pressão sanguínea sistólica. Em
devido ao aumento da pressão intra-abdominal. doses maiores que 0,3 microgramas/kg/minuto, os efeitos adre-
Dar preferência sempre ao Leite Materno; nérgicos predominam, produzindo aumento da pressão sistólica
Nutrição Parenteral Total: encontra-se no mercado produto e diastólica e diminuição da pressão de pulso. Toxicidade: age
com formulação especial de aminoácidos. diretamente no metabolismo do lactato, causando um aumento
em sua produção, levando a um aumento na concentração sérica
4. Manutenção da pressão arterial de lactato. Está indicada em casos de choque com hipotensão,
Expansão volumétrica (já descrita anteriormente) em na presença de sinais de perfusão ruim em pacientes com
Uso de drogas vasoativas: indicadas quando se tem certeza de volume intravascular adequado e ritmo estável, e na bradicar-
que não há depleção de volume circulante, e o paciente se man- dia com repercussão hemodinâmica. Deve ser administrada em
tém- hipotenso. Deve-se procurar manter uma PA aceitável, a fim cateter venoso central, com equipo fotoprotetor, para garantir
de garantir uma pressão de perfusão adequada em nível de ar- uma via segura de administração e minimizar o risco de extra-
térias renais, possibilitando e favorecendo a filtração glomerular. vasamento. Como a adrenalina tem uma meia vida curta (2 mi-
Dopamina: Estimula receptores e dopaminérgicos. O mito de nutos), a infusão deve ser ajustada a cada 5 minutos, até ser
que baixas doses de dopamina causam vasodilatação renal se- alcançado o efeito clínico desejado. Dose: 0,1 a 1 micrograma/
letiva, doses médias causam vasodilatação geral e aumentam o kg/minuto. Apresentação: frascos 1 mg/ml (1:1000).
inotropismo e altas doses causam vasoconstricção precisa ser Norepinefrina: não foi muito estudada em modelos neonatais,
desmentido. Esta informação deriva de cães adultos e sadios devido a sua menor afinidade por receptores muito provavelmente,
e não podem ser generalizadas para RN criticamente doentes. causa mais vasoconstricção do que a epinefrina; por esta razão,
Para receptores a dopamina é 30 a 40 X menos potente que tem sido amplamente usada em adultos com sepse por Gram-ne-
a epinefrina ou a norepinefrina. Possui farmacocinética muito gativo e choque quente, nos quais parece melhorar a oferta de O2
variável no RN. No entanto a taquicardia pode ser significan- aos tecidos e o débito urinário. Uma vez que choque séptico acom-
te e problemática, uma vez que diminui o tempo diastólico e, panhado por vasodilatação (choque quente) não é comumente
conseqüentemente, o enchimento coronário. Além disso, a do- visto em RN, norepinefrina provavelmente tem um papel limitado.
pamina estimula receptores do seio carotídeo, levando a uma Inotrópico não catecol/agentes pressores: Agentes que blo-
diminuição da ventilação e da dinâmica ventilatória. Estudos queiam a ação da fosfodiesterase III têm sido usados em adul-
randomizados têm demonstrado que o aumento da PA com o tos e crianças mais velhas, com algum efeito. Estas drogas, au-
uso da dopa é freqüentemente acompanhado por uma diminui- mentam o AMPc intracelular, o que leva a um efeito inotrópico
ção da fração de ejeção do VE (aumento da pós-carga), uma di- e vasodilatação. (Consultem o Capítulo de Hipotensão Pulmonar
minuição ou nenhum efeito sobre o débito do VD e fluxo na Veia Persistente).Em modelos mamíferos neonatais a PDE III tem efei-
Cava Superior, nenhum aumento da contratilidade cardíaca ou tos mínimos ou nenhum efeito, e até mesmo efeito inotrópico ne-
na perfusão cerebral. O principal mecanismo de ação sobre a gativo. As conseqüências sobre o miocárdio dos RN pré-termos
PA parece ser a vasoconstricção (efeitos e. Dose: 5 – 15 mcg/ são desconhecidas e não podem ser previstas a partir de estudos
kg/min. Apresentação: frascos 5 mg/ml. em animais. Milrinona pode ter outros efeitos adversos: lesões
Capitulo 15 Distúrbios do Trato Genitourinário
musculares podem ser vistas sempre que o trabalho cardíaco uma baixa liberação da droga aos rins. Em RN com IRA, os áci-
está aumentado, e isto pode exceder qualquer oferta de O2 ou dos orgânicos acumulados competem com a droga na secreção
substrato ao músculo cardíaco. tubular, e apenas 10 a 20% dela é secretada no lúmen. Assim
Choque séptico: é uma das causas mais freqüentes de choque sendo, pode-se preconizar o uso de doses maiores (2 – 5 mg/Kg,
no RN, que pode, entre outros fatores, levar a um quadro de IRA. in bolus, numa velocidade que não ultrapasse 4 mg/Kg/min). Na
Além do tratamento preconizado do choque (consulte o capítu- ausência de resposta ao tratamento, não existe justificativa
lo de Choque Séptico), alguns autores citam o uso de corticói- para o uso de doses adicionais.
de em casos em que a pressão arterial não responde às drogas Obs: Para RN com IG >= 32 semanas, a droga deve ser admi-
vasoativas, especialmente se acompanhado de hipoglicemia (se nistrada a cada 12 horas
possível, dosar o cortisol [<(<5µg/dL caracteriza a insuficiência Para RN < 32 semanas, a droga deve ser administrada de
adrenal relativa]). Hidrocortisona: dose de 1 mg/kg/dose, de 8/8 24/24 horas, devido a meia vida longa. Assim, o risco de ototoxi-
horas ou 20 a 40 mg/m2/dia por 5 dias em infusão venosa. Área cidade pode ser evitado.
corporal (m2) = (0,05 x kg) + 0,05. Em RN, prognóstico com al- Infusão contínua ou de horário?
tas doses de glicocorticóides é substancialmente pior. Se estas Estudos em PO de cirurgia cardíaca em RN demonstraram que
drogas têm ou não um papel no tratamento do choque séptico e infusão contínua é segura e melhora o débito urinário. Em pa-
outras formas de choque no RN e qual a dose a ser usada, ainda cientes com IRA não há indicação para infusão contínua a menos
não está estabelecido. que haja resposta depois de uma dose inicial de furosemida in
bolus. Dose inicial: 0,1 mg/Kg/hora. Considerando-se o conheci-
5. Uso do diurético mento sobre a liberação e ação da droga na IRA, a administração
Furosemida possui uma base fisiopatológica para ser usada na in bolus é mais comumente utilizada.
IRA. É uma sulfonamida, cujo sítio de ação primário é o ramo Toxicidade
ascendente da alça de Henle. A droga se liga fortemente às prote- Hiponatremia; hipocalemia; instabilidade hemodinâmica (é
ínas (98%), e apenas uma pequena parte é filtrada pelo gloméru- preciso controlar o BH rigorosamente); seu uso prolongado está
lo. O seu efeito farmacológico não é percebido até que ela atinja associado com alcalose metabólica hipoclorêmica e hipercalci-
o túbulo proximal (seja secretada). No interior do túbulo (lúmen) úria, podendo levar a nefrocalcinose. Ototoxicidade é bem esta-
ela age inibindo a reabsorção ativa de Na+, K+ e Cl-. O acúmulo belecida, embora o mecanismo exato seja ainda desconhecido.
desses íons afeta a carga ao nível de membrana, inibindo a re- Pode ser prevenida evitando-se o acúmulo da droga, adminis-
absorção passiva de potássio, cálcio e magnésio. Ela também tração rápida in bolus, uso concomitante de outras drogas oto-
atua inibindo a reabsorção de NaCl a nível de túbulo proximal tóxicas, como os aminoglicosídeos (uso simultâneo aumenta a
e distal por mecanismos indeterminados envolvendo a anidrase incidência de surdez neurosensorial), vancomicina.Outras asso-
carbônica. Uma vez reduzindo o transporte ativo, furosemida tem ciações perigosas: indometacina e inibidores da enzima conver-
um efeito protetor, pois reduz o consumo de O2 e a energia gasta sora de angiotensina (Captopril).
pelas células tubulares, que estão vulneráveis ou já danificadas. 535
O fluxo sanguíneo renal aumenta após administração de furo- Tratamento Das Complicações
semida, provavelmente secundária a vasodilatação mediada por
prostaglandina (por estimular a via renina-angiotensina). Esta 1. Hiponatremia
propriedade da droga torna o seu uso racional no tratamento da • Origem iatrogênica (sobrecarga hídrica
IRA secundária a hipóxia, hipovolemia, hipotensão e nefropatia • Se Na+ plasmático >120 ou sem sintomas - Restrição
vasomotora, onde existe um período crítico anterior à instalação Hídrica.
da NTA, quando prostaglandinas exercem um papel vital na ma- • Se Na < 120 ou se houver manifestação neurológica, ad-
nutenção do fluxo sanguíneo e na filtração glomerular. ministrar NaCl- 3% . Cálculo: (0,5 mEq = 1 ml, diluir NaCl
O aumento de sal e água na luz tubular resulta num acréscimo 20% 11x em água destilada) Correção Sódio para = 125
do fluxo urinário intratubular, o que parece ser intuitivamente ne- mEq Na = (Na desejado - Na inicial) x 0,7 x Peso (2 ho-
cessário para deslocar células e debris do bordo em escova, acu- ras). Consulte o capítulo de Hidratação Venosa.
mulados na luz após injúria isquêmica, provocando obstrução.
Portanto, furosemida é um diurético de alça que tem um me- 2. Hipercalemia
canismo direto que provoca aumento na excreção de sal e de • K+ 5.5 a 7.0 mEq/l com ECG normal
água e, em decorrência, possui benefícios indiretos na IRA, con- Diminuir aporte VO ou EV, correção da acidose.
tribuindo para a recuperação celular reduzindo o gasto energéti- • K+ > 7 mEq/l, com alterações no ECG (ondas T elevadas,
co, promovendo a secreção de prostaglandina e provocando um Fibrilação)
clearance de debris tubulares. Gluconato de cálcio 10% - 0,5 a 1 ml/Kg/ (2-4 min) monitorização
Administrada em uma fase adequada, furosemida pode con- Glicose + insulina regular (solução polarizante): 1 U insulina /
verter IRA oligúrica em não-oligúrica, em casos em que a IRA 4g glicose
parece inevitável. IRA não oligúrica está associada a um melhor Ex: RN c/ 1.2 kg e 7 mEq/l de potássio: 19.2ml SG 25% + 4.8
prognóstico, e tem sido sugerido que pacientes que respondem U de insulina regular
a furosemida devem ter uma IRA menos grave. Antes do seu uso, 4g glicose x 1.2 kg = 4.8g de glicose e 1ml SG 25% = 0.25g de
especial atenção deve ser dada à correção da hipotensão e da glicose. Então, 4.8g de glicose equivale a (4.8 ÷ 0.25) = 19.2 ml
acidose importante. Cateterismo vesical está indicado para aferi- SG 25% (consulte o capítulo de Hidratação Venosa).
ção rigorosa do débito urinário. Se não houver resposta: salbutamol – 5 mcg/kg em 15 min
A droga deve ser administrada preferencialmente por via endo- (o K+ sérico cai significantemente em 15 minutos; o salbutamol,
venosa, e a resposta diurética pode ser vista em 2 –5 minutos que é um estimulador beta 2, induz a entrada do K+ para a cé-
após a infusão, com pico de 30 minutos (com função renal pre- lula. Alguns centros utilizam o salbutamol como a primeira linha
servada). Na IRA, depois de uma dose adequada, a resposta pode de tratamento da hipercalemia (1 ml de salbutamol = 0.5mg =
ocorrer em 2 – 4 h. Dose recomendada in bolus: 0,5 a 1 mg/Kg . 500mcg). Manutenção: 0,2mcg/Kg/min
Como descrito acima, a droga só age uma vez atingindo a luz Correção da acidose metabólica com bicarbonato de sódio:
do túbulo proximal; portanto, com baixa perfusão renal haverá O metabolismo celular produz cerca de 2 mEq/kg/dia de ácido
Paulo R. Margotto
Assistência ao Recém-Nascido de Risco
fosfórico, sulfúrico e ácidos não voláteis. Estes ácidos são tampo- Contra-indicações:
nados pelo bicarbonato extracelular, gerando CO2, água e sais de •Peritonite, enterocolite necrosante ou cirurgia abdominal
ânion ácido. A homeostasia é preservada pelos rins, que excre- •Coagulopatia
tam ácidos e regeneram o bicarbonato, consumido na reação de •Derivação ventrículo-peritoneal
tamponamento. A correção da acidose metabólica na IRA deve •Íleo paralítico
ser cuidadosa, pelo risco de desenvolver hipocalcemia e sobre- •Insuficiência respiratória (vigiar expansibilidade pulmonar).
carga hídrica. Na verdade, esta correção deve ser secundária à Na presença de contra-indicação da diálise peritoneal, indica -
correção da causa base; quando não for possível, através s de se a Hemofiltração Artério-venosa contínua (tem o inconveniente
meios dialíticos. da necessidade de heparinização contínua e reposição de fluidos).
Diálise peritoneal. A hemodiálise é dificilmente empregada no período neonatal.
8. Infecções
Uso do antibiótico dependendo da sensibilidade da bactéria,
tendo a dose ajustada ao grau de distúrbio renal
9. Diálise
Diálise peritoneal é preferível em relação à hemodiálise (difi-
culdades técnicas).
Indicações:
•Acidose intratável
•Hipercalemia intratável;
•Hipernatremia
Diálise Peritoneal • Kluckow M. Avaliação do fluxo sanguíneo sistêmico no recém-nascido pré-termo, Compli-
cações do baixo fluxo sistêmico e Tratamento da hipotensão arterial ou fluxo sanguíneo
baixo no recém-nascido prematuro. In. Margotto PR. Suporte cardiovascular no recém-
nascido pré-termo extremo. Boletim Informativo Pediátrico (BIP), N° 66, pg 140, 2003.
1. Transferir da bolsa número 1 (solução isotônica) ou da Disponível em www.paulomargotto.com.br em Farmacologia Neonatal
• N E Moghal NE, Shenoy M. . Furosemide and acute kidney injury in neonates. Arch Dis Child
bolsa número 2 (solução hipertônica) para o Microfix a Fetal Neonatal Ed 93:F313, 2008
quantidade de solução conforme prescrição. • Barrington KJ. Hypotension and shock in the preterm infant. Semin Fetal Neonatal Med.
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2. Clampear a pinça após transferência. • Barrington KJ. Hipotensão permissiva no recém-nascido. VI Simpósio Internacional de Ne-
onatologia do Rio de Janeiro (28 a 30 de agosto de 2008). Realizado Márcia Pimentel
3. Transferir a solução do microfix para bolsa intermediá- e Paulo R. Margotto. Disponível em www.paulomargotto.com.br, em Choque no Recém-
Nascido.
ria (bolsa n. 03 )fechar clamp. • Pimentel M, Margotto PR. Insuficiência adrenal relativa no choque séptico: um problema
4. Após aquecimento da solução, abrir o clamp e infundir identificável que requer tratamento (01/08/2007). Disponível em www.paulomargotto.
com.br em Choque no Recém-Nascido.
a solução na cavidade abdominal do recém nascido. Fe- • AAuron and MJ Mhanna. Serum creatinine in very low birth weight infants during their first
days of life. J Perinatol 26:755, 2006.
char o clamp. • Belik J. Avaliação do débito cardíaco e novas terapias de suporte hemodinâmico. XIX Con-
5. Anotar o início e o término da infusão. gresso Brasileiro de Perinatologia, 25 a 28 de novembro de 2007. Realizado por Paulo
R. Margotto. Disponível em www.paulomargotto.com.br em Choque no Recém-Nascido.
6. Deixar a solução na cavidade o tempo determinado na
prescrição (tempo de perfusão).
7. Abrir o clamp na extremidade de saída do circuito e deixar
drenar para bolsa pequena (número 3), que está na parte
inferior do carrinho. Fechar o clamp após a drenagem.
8. Anotar o início e o término da drenagem.
9. Transferir a solução drenada (bolsa número 4) para o
microfix . 2, fechar o clamp anotar o volume e Transferi-lo
para a bolsa número 4 ( final ) . No ítem observações re-
gistrar o aspecto da solução drenado e/ou intercorrências.
Obs : Ao terminar a infusão da solução para o recém nas-
cido e fechar o clamp, voltar a preencher a bolsa interme-
diária ( número 2) com a solução prescrita e deixá-la na
placa em aquecimento.
10. Anotar no ítem balanço, a diferença entre o volume
infundido(solução ) e o volume drenado(total).Registrar o ba-
lanço como negativo quando a drenagem for maior que a in-
fusão e positivo quando a infusão for maior que a drenagem.
537
Prognóstico
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Paulo R. Margotto
Assistência ao Recém-Nascido de Risco
15.2 HIDRONEFROSE
A hidronefrose é a malformação mais identificada durante o Society of Fetal Urology (SFU) para classificação da gravidade da
pré-natal, uma em cada 100 gestações apresenta dilatação do dilatação da pelve (FERNBACH; MAIZELS; CONWAY, 1993):
trato urinário, entretanto apenas uma em cada 500 terá proble-
mas urológicos significativos.
A proporção é maior em meninos que meninas (1:4), e o lado
esquerdo é em geral, mais acometido que o direito.
A identificação pré-natal da dilatação do trato urinário não signifi-
ca presença de obstrução. Muitos casos de hidronefrose diagnosti-
cada no pré-natal se resolverão espontaneamente ou sem qualquer
intervenção cirúrgica. Entretanto, o diagnóstico deve ser claramente
explicado aos pais e o acompanhamento pós-natal adequadamen- Grau 0: sem dilatação;
te realizado. Os benefícios do diagnóstico precoce da hidronefrose
fetal são: a preservação da função renal, a prevenção de infecção
urinária e o tratamento da obstrução do trato urinário.
A nefrogênese está completa ao nascimento no recém-nascido
(RN) a termo, mas a formação de néfrons continua após o nasci-
mento nos prematuros. Ao final do segundo ano, quando o ritmo
de filtração glomerular atinge os valores de adulto, é que a matu-
ração renal se completa.
Existem várias causas de hidronefrose fetal que podem ser iden- Grau I: somente a pelve renal é visibilizada;
tificadas durante o período gestacional, mas todas que devem ser
efetivamente diagnosticadas e confirmadas após o nascimento.
Ultrassonografia Pré-Natal
538
15 semanas de idade gestacional (IG) – visualização da bexiga fetal
17 sem. IG - visualização dos rins
20 sem. IG – visualização da anatomia genital
A urina começa a ser produzida á partir da décima semana de Grau II: visibilizada pelve renal e alguns cálices;
gestação e á partir da décima quinta constitui o principal compo-
nente de formação do líquido amniótico.
As características que devem ser sempre analisadas nas ul-
trassonografias seriadas do sistema urinário, durante o período
gestacional são: parênquima renal (ecogenicidade, presença de
cistos, afilamento, diferenciação corticomedular, tamanho dos
rins), pelve renal (diâmetros ântero-posterior maior que 10-15
mm é altamente preditivo de obstrução do trato urinário), grau de
hidronefrose (classificado segundo a sociedade fetal de urologia), Grau III: hidronefrose com quase todos os cálices visibilizados;
ureteres ( dilatação, tortuosidade, implantação na bexiga), bexi-
ga (espessamento de parede vesical, presença de ureteroceles,
volume vesical, esvaziamento, formato vesical), uretra (verificar
se existe imagem sugestiva de dilatação da uretra posterior), ge-
nitália (sexo, criptorquia, tamanho peniano).
Apesar da freqüente identificação das malformações urinárias
durante a gestação, a intervenção intrauterina ainda é extrema-
mente controversa, estando indicada em apenas raros e muito
selecionados casos que cursam com hidronefrose bilateral, oli- Grau IV: hidronefrose com quase todos os cálices visibilizados,
goâmnio, marcadores prognósticos (Na+, Cl-,Osm, β2 microglo- acompanhada de atrofia do parênquima renal.
bulina, Ca) normais, cariótipo normal e com rins sem alterações
displásicas evidentes. E mesmo assim para melhora da função Dentre as principais causas de hidronefrose no período fetal
pulmonar, pois a melhora da função renal não conseguiu ser efe- destacam-se: as funcionais (cursam com resolução espontânea),
tivamente comprovada por estes procedimentos. O número de a estenose da junção ureteropélvica (JUP), o refluxo vesicoure-
complicações, após procedimentos de derivação urinária no perí- teral (RVU), a válvula de uretra posterior (VUP), a estenose da
odo fetal é maior que 45% dos casos. junção ureterovesical (JUV), o rim multicístico, o megaureter obs-
trutivo primário, a Síndrome de Prune-Belly e as ureteroceles com
ou sem duplicação renal.
Capitulo 15 Distúrbios do Trato Genitourinário
• Seguimento pode ser feito apenas com a pediatria. Conduta instituída ainda no hospital, antes da alta
• Pode ser mantido sem antibióticoprofilaxia se cistouretro- • Antibioticoprofilaxia (cefalexina:20mgkg 12/12 hs-
grafia miccional (CUM), realizada com 4 a 6 semanas de 5ml=250g)
vida for normal. • CUM no hospital.
• A CUM, deve ser solicitada, com base em estudos que • Função renal (creatinina, uréia, eletrólitos e gasometria)
indicaram que dentre os pacientes com RVU, 40 a 70% após 72 horas de vida.
apresentavam exames ultrassonográficos normais ou • Cintilografia com MAG3, se necessário, para esclareci-
com dilatação piélica leve. mento antes da alta.
• Repetir ultrassonografia com 4 a 6 semanas.
• Acompanhamento pela pediatria, uroculturas de 3/3 Se diagnóstico de válvula de uretra posterior (VUP) - sondagem
meses no primeiro ano enquanto a ultrassonografia de vesical antes da alta médica.
controle mostrar alteração. Se função renal muito alterada – considerar derivação urinária
• Caso haja no seguimento episódio de infecção do trato antes da alta e/ou diálise conforme indicação clínica, acompa-
urinário – completar a investigação do trato urinário. nhamento concomitante do nefrologista pediátrico.
Unilateral
• Alta hospitalar com uso de antibióticoprofilaxia.
• Urocultura mensal até esclarecimento do diagnóstico
(depois a critério clínico).
• Cistouretrografia miccional (CUM), após 4 a 6 semanas.
• Repetir ultrassonografia após 6 a 8 semanas.
• Solicitar cintilografia estática com ácido dimercaptosuc-
cínico (DMSA) / cintilografia dinâmica com ácido dietile-
notriaminopentacético (DTPA) ou com MAG3. Realizadas
sempre com sonda vesical, após 4 a 6 semanas.
• A critério médico solicitar outros exames complementa-
res (Urografia excretora, Tomografia etc.).
Paulo R. Margotto
Assistência ao Recém-Nascido de Risco
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Capitulo 15 Distúrbios do Trato Genitourinário
15.3 ASCITE
Paulo R. Margotto
Quando for observada a distensão abdominal no bebê, a pal- Sinais Radiológicos De Ascite (De Franken, Jr.).
pação ajuda muito no sentido de determinar se a distensão é
devido à massa(s) ou se é causada por ascite.
Já desde o nascimento, a atenção é chamativa pelas dificulda-
des que tem o obstetra para o nascimento do bebê. A distensão
abdominal por qualquer causa pode estar associada a grandes
dificuldades respiratórias, sendo este o maior problema para o 541
atendimento médico; a paracentese na sala de parto pode salvar
a vida do bebê, aliviando a pressão no diafragma e veia cava.
As causas de distensão do abdome fetal incluem:
Aspectos Radiológicos
Paulo R. Margotto
Assistência ao Recém-Nascido de Risco
Um sinal adicional notado pelo autor foi o desvio da borda he- peritoneal e peritôneo posterior, sugere que estes tecidos possam
pática lateral da parede abdominal. atuar como uma membrana semipermeável para diálise.
Urinoma pode resultar da rotura da bexiga ou rim ou transuda-
Causas De Ascite ção de urina; em 1-8,5% dos casos, a válvula de uretra posterior
542 está associada com o urinoma, podendo chegar até 15% dos ca-
A causa do acúmulo de líquido livre na cavidade abdominal do sos. Não foi evidenciada diferença na função renal entre os pa-
feto e RN é considerada sobre 3 condições: cientes com e sem urinoma. Lee e cl definem o urinotórax como
resultado da transudação de urina retroperitoneal ou da coleção
1. Uropatia Obstrutiva; urinária intraperitoneal para o espaço pleural. Esta condição deve
2. Distúrbios Porto-hepáticos; ser sugerida quando ocorre efusão pleural em pacientes com obs-
3. Condições variáveis: trução do trato urinário (a relação da creatinina da efusão para a
4. Infecções intrauterinas {toxoplasmose, citomegalia, sí- creatinina sérica >1, confirma o diagnóstico de urinotórax).
filis, parvovirose B19, Doença de Chagas} Segundo Krane e cl, o extravasamento perirrenal, como a
5. Ascite quilosa ascite urinária, parece resultar da pressão aumentada no trato
6. Ascite cardíaca urinário. Estas condições não parecem ser secundárias à rutura
7. Eritroblastose fetal tecidual. Quando significante refluxo vesicoureteral estiver pre-
8. Malposição de cateter umbilical venoso sente, o extravasamento parece emanar de um ponto do sistema
calicial. Moncada e cl, mostraram evidências radiológicas para
Uropatia Obstrutiva a comunicação entre o sistema calicial, o espaço perirrenal e a
cavidade peritoneal. A urina provavelmente entre na cavidade
Patogenia peritoneal pela transudação através do retroperitôneo, embora
É a causa mais freqüente de ascite neonatal, sendo responsá- em 1 caso, um claro gotejamento no retroperitônio foi relatado.
vel por 60-70% dos casos de ascite fetal. Uma via alternativa (e mais direta) para a produção da ascite uri-
Segundo Snyder Jr, todo bebê com distensão abdominal, au- nária é a rotura da bexiga, que pode ocorrer espontaneamente
sência de massas palpáveis, RX revelando líquido livre na cavi- ou pode ser devida a rotura neurogênica da bexiga, secundária
dade abdominal confirmada por aspiração, tem uma Uropatia a neuroblastoma, como descrita por Mann e cl. Smith relatou ro-
Obstrutiva até prova contrária. tura do parênquima renal por parto traumático em um RN com
Quanto ao mecanismo: é incerto. Desde que Lord propôs a teo- diagnóstico intra-útero de grave hidronefrose sem ascite com se-
ria de que a obstrução na vida fetal produz exsudação de urina da vera obstrução na junção ureteropélvica. Tran H e cl descreveram
bexiga, ureteres ou rins, este conceito ainda permanece viável; até um caso de rotura da bexiga secundária a necrose da parede
1976, em 29 casos, foram bem descritos os diferentes pontos de devido à severa infecção do trato urinário em um RN de 27 dias.
saída de urina, dos quais 23 encontram-se no rim. Moncada e cl, Em caso ocorrido na Unidade de Neonatologia do Hospital Re-
demonstraram gotejamento peritoneal posterior em três bebês gional da Asa Sul (Registro 295742-DN: 17/11/81) detectamos
com ascite urinária e explicaram a ascite urinária na base de uma válvula de uretra posterior com refluxo vesicouretral esquerdo e
comunicação aberta entre o sistema coletor rompido e a cavidade extravasamento renal esquerdo para cavidade peritoneal. Em
peritoneal. Nos casos de Barry e cl, mudanças nos eletrólitos e muitos casos de ascite urinária, o extravasamento perirrenal não
uréia da urina para o urinoma subcapsular e para o peritônio, jun- tem sido descrito (1/3 dos casos o sítio não foi identificado):
tamente com a ausência de perfuração na cápsula renal e fáscia
Capitulo 15 Distúrbios do Trato Genitourinário
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em que a cirurgia não foi tolerada. Gribetz descreveu obstrução 4. Malformações, principalmente cardíaca
do ducto torácico, com formação cística e rutura. Desde que esta Segundo Feeney, Allan e cl e Beischer e cl, embora a patogenia
forma de ascite quilosa não pode ser diferenciada de defeitos da hidropsia fetal seja pobremente compreendida, a associação
incorrigíveis no sistema de drenagem linfática pelo exame ou por com a incompatibilidade sanguíneo materno fetal pelo sistema
estudos laboratoriais, a cirurgia é indicada em todos os pacientes Rh está bem estabelecida. Devido à diminuição da incidência e
que não respondem as medidas conservadoras. severidade desta incompatibilidade, a hidropsia fetal tem-se tor-
Ocasionalmente um RN com linfedema de extremidades (Doen- nado menos comum. Em 18-21% de todos os casos de hidropsia
ça de M. Milroy) pode ter ascite quilosa mais tarde.Cinco destes fetal em população caucasiana são devidas as causas não imu-
casos foram descritos por Warwick e cl. Um defeito no sistema de nológicas. Beischer e cl, estudaram 44 RN com hidropsia não
coletor linfático foi demonstrado na autópsia em alguns destes imunológica e revelaram uma associação em 47,7% com malfor-
casos. Todos os pacientes tiveram uma exploração abdominal, mação (21 bebês) e nascimento gemelar em 18,1% (8 bebês).
mas o restabelecimento da drenagem linfática não foi possível Quanto às malformações cardíacas, a incidência de hidropsia
em nenhum. Dois recuperaram-se da ascite e linfedema. fetal não imunológica foi aumentada em 100 vezes quando es-
Segundo Gross e cl, é necessário distinguir esta síndrome da do- tas estavam presentes. O tipo de malformação variou, em 15,9%
ença de Milroy, que é caracterizada pelos sintomas de linfangite, fre- malformação menor e 31% malformação maior.
qüentemente associada com anormalidades cutâneas e vasculares. Segundo Allan e cl, um defeito cardíaco deve ser suspeito nos
Os autores e apresentou um caso de um RN com ascite quilosa no casos de ascite idiopática. O autor relatou um caso de ascite fetal
qual o total de líquido removido durante toda a sua hospitalização como resultante da estenose aórtica levando à insuficiência car-
foi de 3.500 ml (o total de proteínas deste fluído foi de 90 gramas). díaca. Ultrassom realizado na 28º semana de gestação mostrou
Como causas, citam: ascite fetal e aumento de área cardíaca. Na 34º semana, a ul-
trassonografia mostrou novamente a ascite, grande dilatação de
• Falha de comunicação dos linfáticos periféricos com os átrio esquerdo e hipertrofia de ventrículo esquerdo. Com duas se-
grandes vasos coletores; manas de vida, o bebê apresentou cianose e insuficiência cardía-
• Oclusão congênita do ducto torácico com formação de ca, falecendo dentro de 24hs. A necropsia confirmou os achados.
cisto e conseqüente rotura; • Vejam o mecanismo:
• Adesão após cirurgia gastrintestinal (6 dias após); O RN era normal sob outros aspectos.
• Obstrução do mesentério do íleo em um paciente com 5
semanas de vida;
• Defeito na rotação do mesentério;
Paulo R. Margotto
Assistência ao Recém-Nascido de Risco
546
Segundo Feeney, quando ascite fetal for detectada na ultrasso- recuperação após o uso da penicilina. Geralmente a as-
nografia, a associação com defeito cardíaco dever ser suspeito. cite aparece por volta do 2° ou 3° mês devida, segundo
Quando a ascite for demonstrada e aparentemente de origem Ingall e Norins.
idiopática, o bebê deveria nascer em um Hospital onde houvesse
uma assistência cardiológica imediata, permitindo assim, uma • Citomegalia (CMV):. Albano N e H. V. Simões apresenta-
cirurgia precoce nos casos viáveis. ram um caso de ascite neonatal por citomegalia no XXI
Congresso Brasileiro de Pediatria (1979). O RN era pre-
5. Causas Infecciosas maturo e foi submetido à exsanguineotransfusão por hi-
perbilirrubinemia e teve alta. Ao ser admitido no Hospital
• Toxoplasmose: Em 1974, Shain e cl, descrevera um das Clínicas apresentava icterícia +/4, ascite, hérnia um-
caso de síndrome nefrótica congênita (edema generali- bilical, circulação colateral. Durante a evolução apresen-
zado, assim como grande ascite) devido à toxoplasmose tou uma intercorrência de infecção respiratória. Foram
congênita, que respondeu muito bem à corticoterapia, feitas punções abdominais. Veio a falecer com 53 dias
pirimetamina e sulfadiazina e ácido folínico por 3 sema- de vida. A necropsia revelou peritonite fibrosa, hepatopa-
nas. O quadro histológico é variável e inclui doença re- tia colestática, varizes esofagianas, hemorragia digestiva
nal microcística, síndrome nefrótica por lesões mínimas, e o exame microscópico revelaram a presença de células
glomeruloesclerose focal com proliferação endocapilar. A de inclusão citomegálica nos pulmões e fígado.
biópsia deste caso revelou depósitos de imunoglobulinas
no glomérulo em associação com o Ag da toxoplasmose Costa MAM e Margotto PR apresentaram um caso de ascite
O depósito de Complemento foi identificado na 2º biópsia neonatal por citomegalia na 1° Jornada de Pediatria de Brasília
(7 meses após o tratamento com prednisona e adminis- (1980), caso ocorrido no Berçário do Hospital L-2 Sul (Registro
tração de 3 semanas de pirimetamina e sulfadiazina). A 231296-DN:29/05/79), RN prematuro, de peso 1 kg, sexo mas-
2° biópsia não mostrou evidências de complexos Ag-Ac culino, Apgar de 14:1 e 3’:3, abdome ascítico (piparote positivo),
glomerulares para toxoplasmose notados antes. Esta fígado a 3 cm RCD e baço a 2 cm da RCE, ausência de muscu-
criança desenvolveu este quadro aos 4 meses. latura abdominal, criptorquidia bilateral, bolsa escrotal hipoplá-
sica, pênis hipoplásico, VDRL não reagente, urografia excretora
• Sífilis: Yampolskyj e Mullins, assim como Taitz e cl, normal, RX de abdome revelando velamento completo do abdo-
descreveram severa glomerulonefrite proliferativa com me, placenta com calcificações generalizadas e pigmentos. Com
formação de crescente epitelial em dois casos de sífi- 17hs de vida, apnéia, crise convulsiva e óbito. Na autópsia, com-
lis congênita, mas a lesão renal não é assim tão grave. provou-se ascite (líquido peritoneal amarelo citrino) e Citomegalia
Pollner relatou leve proliferação endotelial e um pequeno (foram encontradas células de inclusão citomegálica em quase
espessamento da membrana basal, havendo completa todos os órgãos, principalmente rins). Juntamente com Albano
Capitulo 15 Distúrbios do Trato Genitourinário
Paulo R. Margotto
Assistência ao Recém-Nascido de Risco
548
Capítulo 16
Hidropsia
Fetal
Assistência ao Recém-Nascido de Risco
A hidropsia é definida como excesso de líquidos em duas ou 2. Todos os bebês tem hipoalbuminemia (devido a uma
mais áreas corporais, como tórax, abdômen ou a pele. Ocorre em redução da capacidade de síntese do fígado, secundária
1/1500 a 4000 partos. à distorção do cordão de células hepáticas pela hemólise
e aumento do parênquima hepático pelas ilhotas de eri-
Hidropsia Fetal Isoimune tropoese), levando a baixa pressão coloidosmótica, que
pode explicar a hidropsia.
Identificação do feto de risco para hidropsia
Este fato tem implicações terapêuticas importantes, pois a infu-
A equipe médica e de enfermagem, bem como o Banco de San- são de plasma ou sangue total, aumentando esta pressão coloi-
gue, deve estar avisada, sempre que possível e com antecedên- dosmótica aumentará muito o volume circulante por transferência
cia, do nascimento de um RN isoimunizado. do líquido do extra para o intracelular, piorando a insuficiência car-
Na identificação do feto de risco para Hidropsia, são considera- díaca geralmente preexistente, podendo o RN morrer rapidamente
das condições pelo obstetra segundo Bowman.
3. Pressão Venosa Central (PVC) - Não reflete somente o
1. História prévia de RN afetados volume sanguíneo circulante, reflete, também, a resistên-
(O risco de uma subseqüente morte fetal por hidropsia é, no cia arterial pulmonar e a função do ventrículo direito. A
mínimo 90%) asfixia deve ser evitada a todo custo, pois a hipoxia, hiper-
capnia e acidose, além da anemia já existente, agravará
2. Títulos de anticorpos maternos: Coombs indireto. todo o quadro de hipoxia tecidual e de hipertensão pul-
monar; além disso, piorará ou precipitará a insuficiência
cardíaca iminente.
4. É esperada alta incidência de Doença da Membrana
Hialina.
5. O óbito se dá, geralmente, por progressiva insuficiência
cardíaca e respiratória. A mortalidade relatada na litera-
Havendo historia precedente de hidropsia ou severa eritroblas- tura varia de 50 a 90%.
550 tose que requereu exssangüíneotransfusão, considerar títulos
baixos como 1/4 ou 1/8. Exames Laboratoriais
3. Espectrofotometria do líquido Amniótico Exames laboratoriais (que podem ser realizados em sangue de
É o meio seguro e digno de confiança para predizer a gravidade cordão): Tipagem e Coombs direto, série vermelha, bilirrubinas,
e o progresso da hemólise fetal. Somente usando os títulos de proteínas totais e frações. Eletroforese de hemoglobina, sorologias
anticorpos Rh e a história materna podem-se predizer com certe- para toxoplasmose, citomegalia, rubéola, doença de Chagas, sífilis,
za os fetos severamente afetados em apenas 62%. cariótipo e pesquisa de lupus materno, podem ser necessário em
Não somente a incompatibilidade Rh, como também a incom- casos de hidropsia não imune. Pedir histopatológico da placenta.
patibilidade ABO, pode causar hidropsia fetal, especialmente
em pacientes com o tipo O ou com história prévia de incompati- Diagnóstico diferencial com hidropsia não imune
bilidade ABO no RN. A incompatibilidade ABO raramente resulta Alguns dados:
em doença neonatal severa por várias razões, entre as quais:
células outras, além dos eritrócitos fetais possuem antígenos Hidropsia Imune Hidropsia Não Imune
A e B, provendo sítios adicionais de ligação com o anticorpo; Não primigesta Pode ser primigesta
muitos anticorpos anti-A e anti-B são do tipo IgM e não cruzam
Mãe Rh negativo Pode ser positivo
a placenta, mas alguns pacientes com o tipo O podem produzir
Coombs indireto positivo Pode ser negativo
preferencialmente auto-anticorpos anti-A e anti-B do tipo IgG
que cruzam a placenta. Filhos anteriores com história
Sem relato de filhos
de exssangüíneotransfusão,
anteriores com icterícia
Clínica icterícia ou mesmo hidropsia
Sem malformações Presença de malformações
A apresentação habitual é anemia, edema e sinais hipóxicos Hepatoesplenomegalia Pode não ocorrer
ao nascimento.
Alterações esperadas em maior ou menor intensidade, depen- Tratamento
dendo do caso:
Deve ser imediato e intensivo, visando corrigir a hipoxia, acido-
1. O mais freqüente é que o volume circulatório esteja se, hipoglicemia e anemia.
dentro do habitual para a idade gestacional (70 a 79 ml/
Kg); é raro que seja maior ou menor. Ventilação Mecânica
É freqüentemente necessária, pois, além da asfixia e da acido-
se intraparto que por si só já poderão impor a ventilação mecâ-
nica, é freqüente a ocorrência de Doença da Membrana Hialina,
edema pulmonar e derrame pleural (hidrotórax). Ascite muito
Capitulo 16 Hidropsia Fetal
intensa, pode promover restrição à expansão torácica e impor evidencia a literatura: o tratamento do hipertireoidismo materno
paracentese. Adequada oxigenação e ventilação pode requerer com propiltiuracil levou a resolução da hidropsia fetal não imune
maiores parâmetros ventilatórios (FR :40 - 60/min. - PIM: 25 - 30 por essa causa, assim como o tratamento intraútero de severa
cm H2O PEEP: 4 a 6 cm H2O) anemia fetal possibilitou o controle da hidropsia fetal.
Exssangüíneotransfusão (ET) Durante o pré-natal suspeita-se de hidropsia quando houver
A normalização da Hb e do Htc deverá ser alcançada inicialmen- hidropsia em gestações anteriores, casos relatados na família,
te por uma ET parcial usando-se concentrado de hemácias (40 ml/ além de polihidrâmnio. Geralmente, no entanto, o feto hidrópico
kg- tipo O, Rh negativo não perigoso). O objetivo é obter um Htc o é um achado de ecografia.
mais satisfatório e mais tarde, uma ET de uma volemia com san- Um pré-natal bem feito pode ajudar no esclarecimento da cau-
gue de Htc normal. Além de outros dados clínicos, a ET deve ser sa, além de fornecer informações sobre as condições do bebê. Se
realizada em geral, com níveis de Hb no cordão de 8 a 10g %. a hidropsia for diagnosticada antes de 24 semanas de idade gesta-
cional, o risco de morte é maior (95%), assim como maior risco de
Transfusões de sangue ou sangrias anormalidades no cariótipo (1/3); após a 24ª semana a causa mais
Os RN com doença Rh e hidropsia têm volumes sangüíneos provável é a idiopática ou devido a anormalidades cardiotorácicas.
normais, não sendo recomendadas transfusões sangüíneas ou Entre as principais causas temos as alterações cromossômicas
sangrias, pois o habitual é o nascimento em condições normo- (Síndrome de Turner é a mais comum), hipoplasia pulmonar, hér-
volêmicas (assim, a insuficiência cardíaca como causa primária nia diafragmática, disfunção cardíaca, quilotórax fibrose cística
da hidropsia não pode ser aceita); tais procedimentos somente do pâncreas, obstruções do trato urinário, síndrome nefrótica,
seriam feitos com medida eficiente da PVC. (com ressalvas já doenças do metabolismo, hemoglobinopatias (a mais comum é
mencionadas); o cateter radiopaco pode ser introduzido pela veia a talassemia alfa homozigótica). Vários tipos de nanismo e infec-
umbilical, com a ponta na veia cava inferior (controlar). ções perinatais crônicas, como Doença de Chagas, Parvovirose
B19, Citomegalovírus podem levar a hidropsia. Anormalidades
Albuminoterapia cardiovasculares e a alfa-talassemia homozigótica tem sido rela-
a hipoalbuminemia se correlaciona com a severidade da doen- tados como sendo as causas mais freqüentes, seguido de anor-
ça, mas não há evidências que o uso de albumina seja benéfico. malidades cromossômicas. Em 44% dos casos não se consegue
determinar as causas. O prognóstico é ruim, principalmente se
Monitorizar a glicemia, diagnosticada antes de 24 semanas de gestação e principalmen-
diurese, pressão arterial e, se possível, a PVC. te se associada com cariótipo normal (cursa com uma mortali-
dade perinatal de 70 a 90%). Fukushima e cl, em uma série de
Tanto a hidropsia imune como a não imune apresentam volu- 214 casos, avaliados em um período de 27 anos, relataram uma
me sanguíneo normal ou reduzido; se, no entanto for necessária mortalidade de 41,4% e sobrevivência intacta de 50%.
expansão (indicado quando a perfusão periférica está compro- O acompanhamento ecográfico é absolutamente necessário. Co-
metida), optar por sangue total aplicado lentamente (2 horas) leta de líquido amniótico e de sangue fetal para estudos genéticos 551
monitorizando a hemodinâmica do RN e metabólicos podem elucidar a etiologia, ainda no pré-natal. Além
do mais, informações ecográficas poderão rastrear malformações
Em Resumo cardíacas e renais, por exemplo, como apoio importante aos cui-
dados do recém-nascido na UTI neonatal. Também a ecografia no
• Aquecer; pré-parto imediato poderá informar à equipe neonatal se deverá
• Corrigir a hipoxia com aumento da FiO2 ou ventilação me- ou não haver necessidade de esvaziamento torácico e/ou abdomi-
cânica; nal, se houver dificuldades de reanimação na sala de parto.
• Corrigir a acidose com ventilação mecânica ou uso cuida- Esses bebês devem nascer em unidades que contam com
doso de bicarbonato’ UTI neonatal.
• Exsangüíneotransfusão com concentrado de hemácias: O atendimento em sala de parto deverá ser feito com o máximo
40 ml/Kg de previsibilidade. Isso quer dizer, que a equipe será múltipla, já
• Corrigir o edema pulmonar: Ventilação mecânica com que a maioria requererá intensa ressuscitação cárdio-respirató-
PEEP adequada, furosemide, restrição hídrica, digitálicos. ria, com freqüente necessidade de infusão de drogas. É também
• Lembrar que a PEEP aumentada, que poderá restringir o freqüente a necessidade de toracocentese e paracentese, para
edema pulmonar poderá de outro lado, impor dificuldade aliviar cavidades, possibilitando melhor expansão torácica. É pre-
ao ventrículo direito; paracentese em casos de ascite res- ciso cuidado na paracentese já que é comum a presença de he-
tritiva à respiração; drenagem de tórax em alguns casos. patomegalia (aqui também a ecografia poderá ajudar).
Colher sangue do cordão umbilical para pesquisar as anoma-
Nos casos de hidropsia fetal não imune (o mesmo não se pode afir- lias já citadas, além de avaliação bioquímica e hematológica.
mar para isoimune), relata-se que a melhor diurese ocorre entre 7 e Quase sempre esse bebê irá à ventilação mecânica. Avaliar a
12 dias de vida e que a perda de peso pode variar de 28% a 43%. função cardíaca, assim como toda a hemodinâmica é impositivo
para possibilitar um melhor manuseio. Assim, cardiomonitor com
Hidropsia Fetal Não Imune ECG, pressão venosa central, pressão arterial, débito urinário,
etc, permitirão melhor manuseio da hemodinâmica.
Com a melhora da terapia pré-natal, a hidropsia fetal devido à isoi- O habitual é o bebê nascer com bom hematócrito (46% em
munização Rh tornou-se menos comum (nas séries iniciais era 80% média) e com hipoalbuminemia. O uso de restrição hídrica, utili-
de 1976-1988, caiu para 20% e hoje, provavelmente é mais baixa), zação de sangue e derivados, albumina, etc será quase sempre
evidenciando, portanto, a importância do conhecimento e manuseio necessário e, obrigatoriamente, sob monitorização.
de outras causas de hidropsia fetal (hidropsia não imune). Muitos casos têm pulmão hipoplásico, desenvolvem doença da
A abordagem da hidropsia não imune difere, em muitos pontos, membrana hialina (DMH) e hipertensão pulmonar persistente. A
do exposto para hidropsia isoimune. ventilação mecânica é quase sempre agressiva, e os cuidados
Da mesma forma, o pré-natal bem feito pode esclarecer o diag- decorrentes, mais atentos.
nóstico e até, em alguns casos, possibilitar o tratamento, como
Paulo R. Margotto
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Capitulo 17 Urgências Cirúrgicas
Capítulo 17
Urgências
Cirúrgicas
Assistência ao Recém-Nascido de Risco
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Paulo R. Margotto
Assistência ao Recém-Nascido de Risco
Cuidados Pós-Natais
Onfalocele
Embriologia
Imagens ultrassonográficas
•Puncionar acesso venoso periférico para a reposição
hidroeletrolítica (120ml/kg) e antibióticos (ampicilina e
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Paulo R. Margotto
Assistência ao Recém-Nascido de Risco
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559
Paulo R. Margotto
Assistência ao Recém-Nascido de Risco
Tratamento Cirúrgico
Conduta No Pós-Operatório
Diagnóstico Pós-Natal
Dieta zero por 7 dias a 10 dias, caso tenha sido deixada sonda
•Aspiração de grande volume de secreção biliosa do estô- enteral transanastomótica a dieta pode ser feita assim que hou-
mago logo após o nascimento. ver bom peristaltismo.
•Vômitos biliosos precoces. Inicialmente o uso de procinéticos pode ajudar.
•Distensão apenas do andar superior do abdome. Manter cabeceira elevada.
Ao contrário das obstruções duodenais, as obstruções de Retardo no esvaziamento gástrico é esperado, principalmente
delgado têm pouca incidência de malformações associadas (< nos casos em que existe a dilatação do estômago e duodeno,
10% dos casos). considerar também a desproporção entre as alças anastomosadas.
Dieta zero por 5 a 10 dias
Diagnóstico Pós-Natal Cabeceira elevada
Procinéticos
•Vômitos biliosos ou fecalóides Estímulo retal (quando necessário)
•Distensão abdominal tanto maior quanto mais baixa for
a obstrução. Malrotações Intestinais
•Ausência de gás no reto
•Retardo ou não eliminação de mecônio Embriologia
Diagnóstico Radiológico Sexta semana - intestino cresce mais rápido que a cavidade
abdominal – hérnia fisiológica dentro do cordão umbilical
Alças intestinais dilatadas, ausência de gás no reto. O intestino roda 270 graus durante o retorno para a cavidade
Quanto mais distal for a obstrução maior a distensão das alças abdominal na décima semana.
intestinais
Manifestação Clínica
Diagnóstico radiológico
Tratamento Cirúrgico
•Antibióticoprofilaxia
•Sempre que possível - anastomose primária termino termi-
nal ( com ou sem remodelagem da alça proximal dilatada)
•Quando não é possível fazer a anastomose – jejunosto-
mia ou ileostomia
Tratamento Cirúrgico
Paulo R. Margotto
Assistência ao Recém-Nascido de Risco
Diagnóstico Diferencial
562
Quando se fala em peritonite meconial costuma-se fazer confu-
são entre três essas três formas de apresentação:
Anomalia Anoretal
Definição
Classificação
Prognóstico
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Paulo R. Margotto
Assistência ao Recém-Nascido de Risco
A atresia de esôfago é uma malformação em que a parte pro- As malformações seguintes devem sempre ser pesquisadas, es-
ximal do esôfago termina em fundo cego. É a malformação mais tando associadas em 50 a 70% dos casos de atresia de esôfago:
comum do esôfago.
A primeira descrição foi feita em 1670, sendo que a primei- •Cardíacas – 35%
ra sobrevida de um caso operado em um só tempo ocorreu em •Geniturinária – 20%
1941 (Haight e Towsley) •Gastrintestinal – 24%
No Brasil a primeira sobrevida em um só tempo ocorreu em •Neurológica – 13%
1953. (Carvalho Pinto)
Hoje a sobrevida na maioria dos serviços de cirurgia pediátrica Associação VACTERL – 25% (V= vertebral / A=anorectal / C=
chega a 60-90% dos casos. cardiac / T=tracheo / E= esophageal/ R= renal / L = limbs)
Acomete 1:4000 nascidos vivos, sendo que 35% são prematu-
ros. Não há predomínio em relação ao sexo masculino ou feminino. Diagnóstico Clínico Pós-Natal
Diagnóstico Pré-Natal
•Avaliar função respiratória •Casos sem FTE – sempre fazer só a gastrostomia ini-
•Aporte venoso: 70 a 80ml/kg/dia (1º dia de vida), man- cialmente e tentar anastomose primária em um segun-
tendo uma TIG de 5 a 8mg/kg/min do tempo se a distância entre os côtos proximal e distal
•Dieta oral zero for menor que dois corpos vertebrais. Caso contrário, a
•Avaliar malformações associadas (ecocardiograma, eco- criança será submetida posteriormente a uma operação
grafia renal, corpograma). com transposição de colon.
A Sonda contrastada ou radiopaca, passada pela boca deve AE com FTE (com anastomose esofágica e com ligadura
ser introduzida até o final do côto esofágico. Não injetar contraste da fístula):
no côto esofágico para evitar aspiração! Solicitar corpograma, a
presença da sonda enrolada no côto proximal comprova a pre- •Evitar manuseio do RN
sença da atresia do esôfago proximal (figura 04). •O RN tem que estar com sedação e/ou analgesia contínuas.
•Não mobilizar e não tentar recolocar SOG
•Iniciar nutrição parenteral precocemente
•Iniciar dieta após peristaltismo eficiente (pela sonda tran-
sanastomótica)
•Antibióticoterapia
•Manter todos os cuidados contra o RGE:
Ranitidina
Bromoprida
Cabeceira elevada
•Manter curarizado, entubado e sedado por 3 a 5 dias,
(3 dias se a anastomose não tiver tensão e 5 dias se a
anastomose foi feia com tensão)
Vecurônio (Norcuron®) – frasco de 10mg (pó)
•Ataque: 0,1 mg/kg;
Figura 04 – sonda contrastada em esôfago proximal •Manutenção: 0,1 mg/kg/hora.
Se o corpograma mostrar presença de gás dentro das alças Exemplo: RN com 3,8 kg – 0,1 mg/kg/h = 0,1 x 3,8 x 24 =
intestinais, o diagnóstico é de atresia de esôfago proximal com 9,12 mg
fístula traqueo-esofágica distal. Se o corpograma não mostrar Diluir 1 frasco em 5 ml de água destilada 565
gás no abdome (velamento difuso), o diagnóstico é de atresia de 1 ml = 2 mg: retirar 4,5ml e infundir com 20ml de soro glico-
esôfago(AE) sem fístula traqueo-esofágica (FTE) distal. (figura 05) sado 5% a 1ml/h
•Não hiperextender o pescoço
•Aspiração do coto proximal até o quarto DPO
•Fazer esofagograma após 10 dias de pós-operatório:
•Se tiver fístula da anastomose manter dieta pela sonda e
repetir após 10 dias
•Se não tiver fístula – iniciar dieta via oral
Paulo R. Margotto
Assistência ao Recém-Nascido de Risco
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566
Capitulo 17 Urgências Cirúrgicas
Paulo R. Margotto
Assistência ao Recém-Nascido de Risco
O coto umbilical tem duas artérias geralmente localizadas as de 1,5 a 2 cm imediatamente após a passagem pelo anel umbi-
05 e 07 horas e uma veia situada às 12 horas; além disso, a veia lical, que o cateter se localizará na própria veia umbilical antes da
apresenta uma forma ovalada e parede fina, enquanto as arté- veia porta. Evitar deixar a ponta do cateter no sistema porta.
rias têm a luz estrelada e a parede mais espessa. Após o preparo do paciente e determinação da distância da
Após o anel umbilical a veia dirige-se cranialmente juntando- inserção do cateter, checagem do material, e sempre utilizando
se ao sistema porta que se comunica com a veia cava inferior técnica asséptica com o emprego das máximas precauções de
através do ducto venoso. barreira estéril iniciar a inserção do cateter venoso central. Co-
locar o cadarço estéril ao redor do coto umbilical, apertando o
Localização suficiente para evitar o sangramento, porém não em excesso.
Cortar o coto paralelo e horizontal em relação à superfície abdo-
É necessário que a sua extremidade esteja adequadamente minal, cerca de 1 cm distante da pele; pode-se visualizar então,
localizada na veia cava inferior, um pouco acima do diafragma. A os vasos, as duas artérias e a veia; com o fórceps íris retirar deli-
ponta do cateter deve ser posicionada na junção da veia cava cadamente o coágulo sangüíneo existente na luz do vaso. Antes
inferior com o átrio direito. O cateter deve ser instalado, não só de introduzir o cateter, preenchê-lo com soro fisiológico; caso este
fora da silhueta cardíaca, mas também fora da porção intrape- passo não tenha sido realizado, deve-se logo após a cateteriza-
ricárdica da veia cava inferior e superior (1 cm fora da silhueta ção, aspirar o sangue venoso até que este preencha completa-
cardíaca em pré-termos e 2 cm em RN a termo mente o cateter para evitar a embolia gasosa.
Para atingir a localização correta e determinar o comprimento Introduzir o cateter perpendicularmente até encontrar uma re-
do cateter a ser introduzido, deve-se medir a distância entre o sistência distante 01 a 02 cm da entrada, correspondendo ao
ombro e o umbigo, e jogar o valor encontrado no quadro relativo anel umbilical. Nesse momento, retificar o coto em direção cau-
à cateterização venosa. A avaliação desta distância varia entre dal e orientar o cateter cranialmente para evitar falsos trajetos
os neonatologistas, segundo estudo recente de Lopriore E e cl, até a distância pré-determinada e aspirar delicadamente. Quan-
sendo a mais correta a preconizada por Peter Dunn, que é a dis- do o cateterismo não for bem sucedido, não refluiu sangue ou o
tância entre o topo do ombro na face lateral da clavícula e o pon- cateter não progrediu até a distância pré-determinada duas são
to vertical de uma linha traçada no umbigo (Método A, na Figura as hipóteses mais prováveis: ou o cateter fez um falso trajeto ou
1). A discrepância entre o Método A e D pode resultar em uma ele não ultrapassou o ducto venoso. Em caso de falso trajeto,
diferença de até 1.5cm. retirar imediatamente o cateter.
Quando o cateter está no sistema porta, puxá-lo cerca de 2 a 3
cm e reintroduzí-lo após uma rotação delicada. Sempre que a veia
permanecer cateterizada por um período prolongado é obrigatória
a sua confirmação radiológica, recomendando-se a realização do
Raio-X em perfil, pois nessa posição visualiza-se melhor se houve
568 ou não passagem do cateter pelo ducto venoso. Após a localização
deve-se fazer uma sutura em bolsa no cordão tomando-se o cuida-
do de não transfixar as artérias ou o cateter. Fixar o cateter através
do fio de sutura e depois fazer o curativo em ponte.
As principais complicações do cateterismo venoso são os fenô-
menos tromboembólicos ou mau posicionamento do cateter que
pode desencadear arritmias cardíacas, efusões pleural e pericár-
dica (deve ser considerado quando o recém-nascido apresentar
deterioração aguda, mesmo com o correto posicionamento do
cateter), enterocolite necrosante e perfuração do trato gastrin-
testinal. Além disso, eventualmente pode ocorrer perfuração do
peritônio e processos infecciosos.
As contra-indicações ao cateterismo venoso são os defeitos de
fechamento da parede abdominal, a presença de onfalite ou de
Distância peritonite, além de enterocolite necrosante e CIVD.
Distância da inserção do cateter (cm) Em casos de deterioração aguda (súbito aumento da demanda de
Ombro-Umbigo (cm)
Localização Arterial alta Localização Venosa oxigênio, instabilidade hemodinâmica, apnéias recorrentes) a efusão
9 9,0 5,7 pericárdica deve ser considerada e a realização de uma pericardio-
10 10,5 6,5
centese abaixo do apêndice xifóide pode reverter o quadro clínico.
11 11,5 7,2
12 13,0 8,0
13 14,0 8,5
14 15,0 9,5
15 16,5 10,0
16 17,5 10,5
17 19,0 11,5
18 20,0 12,5
Pericardiocentese imediata é procedimento de eleição em tam- cateter, preenchê-lo com soro fisiológico para evitar embolia ga-
ponamento cardíaco detectado. sosa. Dilatar o orifício da artéria delicadamente com o fórceps
O cateter venoso umbilical deve ser mantido no máximo por 10 íris, evitar movimentos grosseiros ou repeti-los em excesso para
dias, exceto se complicações, embora haja evidências que pos- que não haja formação de falsos trajetos.
sam permanecer por 14 dias. Antes de remover o cateter umbi- Após dilatar o vaso introduzir o cateter perpendicularmente até
lical em uso, planejar a colocação de um cateter venoso central encontrar uma resistência distante 1 a 2 cm da entrada, corres-
de inserção percutânea (PICC) naqueles bebês que requerem pondendo ao anel umbilical. Nesse momento, retificar o coto em
acesso venoso prolongado. Os RNs que devem receber cateter direção cranial e orientar o cateter caudalmente para evitar falso
umbilical venoso são aqueles com peso ao nascer menor que trajeto até a distância pré-determinada, aspirar delicadamente.
1500g, com a finalidade de preservar a pele. Quando o cateterismo não for bem sucedido, e você sentir uma
resistência logo no início da introdução do cateter, então afrouxe
o cadarço, retire o cateter, dilate a artéria um pouco mais e tente
novamente. Quando o cateterismo não for bem sucedido e na
introdução do cateter você sentir algo rompendo, então provavel-
mente você criou um falso trajeto.
Retire o cateter e tente a outra artéria. Quando o cateterismo
não for bem sucedido e você sentir uma resistência após ter inse-
rido cerca de 6 a 8 cm do cateter, então você deve estar no nível
da bexiga, com dificuldade para avançar o cateter através da ilía-
ca interna. Para ultrapassar esta resistência aplicar uma pressão
delicada por 30 a 60 segundos no cateter. Se mesmo assim este
não progredir, infundir no cateter 0.5 ml de lidocaína sem adre-
nalina, para tentar dilatar o vaso. Não force o cateter. Se você in-
troduzir o cateter facilmente até a distância pré-determinada, po-
rém o sangue não refluir então você deve ter introduzido o cateter
fora do vaso, remova-o e observe algum sinal de complicação.
Após a localização deve-se fazer a sutura em bolsa no cordão
Cateterismo Arterial Umbilical tomando-se o cuidado de não transfixar as artérias ou o cateter.
Fixar o cateter através do fio de sutura.
Cateteres que podem ser utilizados são: É obrigatória a confirmação radiológica da posição do cateter.
Polivinil Argyler n.º 3.5 ou 05 de silicone médio ou fino para Quando mal localizado pode-se puxar o cateter, nunca introdu-
os neonatos menores e maiores que 1.200 g. respectivamente. zí-lo. Após a localização, fazer o curativo em ponte.
O cateter deve ter um orifício terminal para reduzir a incidência É importante manter o cateter sempre livre de sangue. Após a 569
de formação de trombos e para permitir a medida de pressão coleta de qualquer amostra sangüínea, limpá-lo com 0.5 ml de
arterial invasiva, além disso, o cateter deve apresentar uma linha soro fisiológico a 0.9% e manter infusão contínua de líquido com
radiopaca para sua localização radiológica. fluxo mínimo de 1 ml/h no intervalo das coletas. Na presença de
O coto umbilical tem duas artérias geralmente localizadas as obstrução, não forçar a infusão de soluções para desobstruí-lo.
05 e 07 horas e uma veia situada às 12 horas. Além disso, a veia Nesse caso, retirar o cateter imediatamente.
apresenta uma forma ovalada e parede fina, enquanto as arté- O cateter deve ser retirado quando houver isquemia persisten-
rias têm a luz estrelada e a parede mais espessa. te do membro inferior, na suspeita de enterocolite necrosante ou
Após o anel umbilical a artéria se dirige caudalmente circun- de insuficiência renal, na presença de obstrução total ou parcial
dando a bexiga e juntando-se a artéria ilíaca interna que desem- do cateter, ou quando não houver mais necessidade de colheitas
boca na artéria ilíaca comum e posteriormente na aorta. A dis- repetidas de amostras de sangue arterial.
tância do cateter a ser inserida deve ser calculada para que a As principais complicações do cateterismo arterial estão re-
sua extremidade fique na posição alta (entre T6 e T1). Quando lacionadas ao mau posicionamento do cateter, aos acidentes
se opta pela posição alta ou baixa, após a medida da distância vasculares com a presença, por exemplo, de tromboembolismo,
entre ombro e o umbigo, determina-se o comprimento do cateter vasoespasmo, hipertensão arterial, insuficiência renal ou de em-
a ser introduzido no quadro relativo à cateterização arterial. Na bolia gasosa, aos acidentes com o cateter, como sua quebra ou a
situação de urgência introduzir 6 (+) o peso (+) coto umbilical. A sua desconexão acidental, a infecção e a possibilidade de apare-
posição alta está associada à menor incidência de complicações cimento de enterocolite necrosante. As contra-indicações ao ca-
vasculares clínicas (RR: 0.53-95% IC: 0.44-0.63), sem aumento teterismo arterial são evidências de comprometimento vascular
de quaisquer complicações, como hemorragia intraventricular, em ramo aórtico distal, presença de onfalite, peritonite, ou de
enterocolite necrosante e morte. enterocolite necrosante ou ainda de insuficiência renal, além de
Após o preparo do paciente, determinação da distância da in- defeitos de fechamento da parede abdominal. Nos RN com his-
serção do cateter arterial, checagem do material sempre utilizan- tória de diástole reversa (grave sofrimento fetal), evitar, quando
do técnica asséptica com o emprego das máximas precauções possível, o cateterismo de vasos umbilicais.
de barreiras estéreis, iniciar a inserção do cateter arterial cen- A patência do cateter umbilical deve ser mantida com soro fisioló-
tral. Colocar o cadarço estéril ao redor do coto umbilical, aper- gico e heparina 0.25U/ml (embora não haja consenso na literatura).
tando o suficiente para evitar o sangramento, porém não em ex- O cateter arterial umbilical deve ser mantido enquanto o recém-
cesso. Cortar o coto paralelo e horizontal em relação à superfície nascido estiver grave (para controle de gases), até no máximo por
abdominal, a cerca de um 1 cm distante da pele. Pode se visua- 10 dias, exceto se complicações inerentes ao mesmo (Idealmente,
lizar então, os vasos, as duas artérias e a veia. Fazer dois pontos evitar manter o cateter arterial umbilical por mais de 5 dias)
de reparo na geléia do cordão para que se possa apresentar as Drogas que não devem ser infundidas pelo cateter umbilical
artérias de maneira adequada para a sua cateterização. Tomar arterial incluem; fenobarbital endovenoso, gluconato de cálcio,
cuidado para não perfurar nenhum vaso. Antes de introduzir o NaCl a 3%, drogas vasoativas. Não fazer transfusão de sangue.
Paulo R. Margotto
Assistência ao Recém-Nascido de Risco
• Não escolher acesso venoso de membros inferiores em até a região inguinal, prosseguir até a região umbilical e cul-
rns com distúrbios gastro-intestinais, centralização fetal minar a mensuração um pouco acima do apêndice xifóide;
ou em vigência de cateterismo umbilical. • Mensurar diâmetro do membro, acima do local escolhi-
do para a punção. Alguns autores sugerem, que também
Escolha do cateter seja mensurado o diâmetro do membro, abaixo do local
A qualidade do cateter é fundamental. escolhido para a punção. Tais mensurações servirão de
O tipo e o tamanho do cateter hoje são apresentados em vários parâmetros para detecção de qualquer anormalidade
comprimentos e calibres. Os calibres mais utilizados em pacien- posterior a inserção;
tes pediátricos e neonatos são os de 1.0 Fr a 3.0 Fr, com único • Em caso de punção de membros superiores, posicionar a
lume, de acordo com a necessidade da terapia IV prescrita e ca- cabeça voltada para o lado do membro a ser puncionado,
libre da veia. Para a utilização em neonatologia utilizam-se os antes de iniciar o procedimento;
calibres de 1.0 Fr a 2.0Fr (vide tabela). Alguns pacientes podem • Lavar as mãos com anti-sépticos clorexidina degermante
necessitar de um PICC valvulado, devido a grandes discrasias a 4% durante dois minutos;
sanguíneas apresentadas. • Proceder a paramentação;
• Preparar o campo de trabalho com todo material neces-
Calibre do PICC em French Indicação sário para inserção (bandeja para passagem do PICC, se-
1 a 2 Fr Recém-nascidos e lactentes ringas de 10 ml, agulhas, solução fisiológica estéril, gaze
estéril, curativo de película transparente, adesivo estéril,
2.6 a 3 Fr Crianças maiores
plug adaptador macho ou extensor) e o PICC de calibre
3 Fr Crianças de 2 a 15 kg
adequado ao vaso escolhido para punção;
4 Fr Crianças de 15 a 30 kg • Calçar um par de luvas cirúrgicas estéreis (quando outro
5 Fr Crianças > 30 kg profissional for auxiliar na realização da técnica) ou dois
pares das mesmas (“técnica de dupla-luva”, quando rea-
Tabela – especificação da utilização do PICC. lizar a técnica sozinho);
• Preparar o PICC para a inserção (vide item “c”);
• Proceder à anti-sepsia da pele do paciente clorexidina
Técnica de anti-sepsia das mãos. Para a inserção do cateter degermante a 4%;
utilizar sempre técnica asséptica com emprego de máximas pre-
cauções de barreira estéreis: Preparo do PICC
• Através do seu conector em “y”, preencher o PICC com solu-
4. Técnica de inserção através de punção venosa perifé- ção salina (os estiletes dos PICC são, em sua maioria, hidro-
rica simples fílicos, necessitando de irrigação prévia para sua liberação);
• Conferir o comprimento anteriormente mensurado do tra- 571
Considerações Especiais jeto venoso;
• O paciente deve estar hemodinamicamente estável, sem • Tracionar o estilete (quando houver) até 1 cm abaixo do
edema ponto, no PICC, compatível com o comprimento do trajeto
• Realizar o procedimento com monitorização de oximetria venoso previamente mensurado, adicionando 1cm;
de pulso • Reduzir o PICC no comprimento correto;
• Manter material para ressuscitação cardio-pulmonar pró- • Dobrar a porção exteriorizada do estilete (evitar sua mi-
ximo ao leito gração para o interior do cateter e perfuração da veia);
• O paciente deve estar normotérmico para a realização do
procedimento Inserção do PICC
• Indicar membro da equipe para auxiliar no procedimento • Proceder à anti-sepsia da pele do local de inserção do
PICC com anti-séptico adequado (clorexidina degerman-
Preparo do Paciente te a 4%); iniciando em movimentos circulares sempre do
• Propiciar conforto ao paciente; centro para as bordas (repetir por três vezes).
• Posicionar o paciente em decúbito dorsal com o membro su- • Colocar o campo cirúrgico simples sob o braço do paciente;
perior escolhido estendido a um ângulo de 90º com o corpo; • Garrotear o membro a ser puncionado;
• Aplicar o garrote na parte superior do braço do paciente • Trocar de luva cirúrgica estéril ou, quando utilizando a
para escolha e avaliação da veia. técnica de dupla luva, remover a luva contaminada;
• Liberar o garrote; • Colocar campo cirúrgico fenestrado sobre o local da punção;
• Membros superiores: mensurar a extensão da veia, se- • Realizar a punção venosa com o introdutor do PICC a um
guindo seu suposto trajeto, do local escolhido para pun- ângulo de 35º;
ção até a junção manúbrio esternal com a cabeça da • Remover a câmara de refluxo (se introdutor do tipo agu-
clavícula direita; após descer paralelamente ao externo lha com asas) ou a agulha metálica (se introdutor do tipo
até o terceiro espaço intercostal. Esta mensuração indi- cateter curto sobre agulha);
cará o comprimento da veia escolhida até o 1/3 inferior • Exercer pressão sobre a veia, logo à frente do introdutor
da veia cava superior, local ideal para posicionar a ponta inserido (visa minimizar refluxo sangüíneo excessivo);
do PICC; quando o local da punção for do lado esquerdo, • Soltar o garrote (solicitar para soltar o garrote);
mensurar do local escolhido até a junção manúbrio ester- • Iniciar a inserção do PICC no vaso, através do introdutor,
nal com a cabeça da clavícula direita, após descer até o com o auxílio de uma pinça;
terceiro espaço intercostal; • Avançar o cateter até a medida pré-estabelecida;
• Ou se em cabeça e pescoço: do local de punção, seguin- • Remover o introdutor quebrando-o ou rasgando-o, sepa-
do pela região cervical lateral, até a cabeça da clavícula rando as duas aletas.
direita e daí até o 3º espaço intercostal direito;
• Ou se em membros inferiores: do local de punção, seguir
Paulo R. Margotto
Assistência ao Recém-Nascido de Risco
7. Técnica de remoção do PICC corrência da maior sobrevida dos RNMBP e da maior utilização
A remoção do PICC deverá ser feita pelo enfermeiro, deven- dos Cateteres Venosos Centrais, contribuindo para o aumento da
do seguir os seguintes passos: morbidade, da hospitalização e dos custos. O tempo médio de
hospitalização de um RN menor de 1000 g é de cerca 80 dias.
• Ser Lenta E Cuidadosa (Nunca Utilizar Força Para Remo- Segundo dados do CDC, a unidade hospitalar com maior ris-
ver O Cateter); co de aquisição de IPCS-CVC é a UTI Neonatal nos menores de
• Posicionar O Braço Do Paciente Abaixo Do Nível Do Coração. 1.000 gramas, quando comparados com qualquer outra unidade
• Aplicar Curativo Oclusivo Após Término Da Remoção Em hospitalar, incluindo UTI de queimados e UTI cirúrgica.
Caso De Sangramento Excessivo; A taxa média agrupada de infecção primária da corrente san-
• Certificar-Se De Que Todo O Cateter Foi Removido, Confe- guínea associada a cateter venoso central em recém-nascidos
rindo A Sua Medida E Anotar Em Formulário Próprio Anexo. tem sido relatada pelo NNISS (National Nosocomial Infections
Study System), de 1995 até 2000, para UTIs Pediátricas de 7,7
Dificuldade de remoção do PICC por 1000 cateteres-dia, sendo esta mesma taxa em UTIs Neo-
• Pode Ocorrer “Vasoespasmo” Durante A Retirada Do natais de 11,3 por 1000 cateteres-dia em pacientes menores
PICC. Caso Tal Fato Ocorra, O Enfermeiro Deverá: de 1000 gramas e 4,0 por 1000 cateteres-dia para maiores de
• Interromper O Procedimento; 2500 g. Até o momento não temos dados nacionais consolidados
• Tentar Nova Remoção. sobre a incidência de infecções relacionadas à assistência à saú-
• Se Houver “Resistência” Do PICC No Interior Da Veia, O de em neonatologia em UTIs Neonatais, temos somente dados de
Enfermeiro Deverá: estudos regionais. E todos os nossos índices são maiores que os
• Aplicar Compressas Mornas, Por Aproximadamente 15 A relatados pelo sistema NNISS. Segundo Pessoa da Silva e cols.
30 Minutos, Sobre A Área De Inserção, O Mais Abrangen- a densidade de incidência de IPCS-CVC variou de: 17,3 IPCS por
te Possível, Respeitando A Esterilidade Do Local. A Vaso- 1000 CVC- dia em RN entre 1501 a 2500 gramas até 34,9 IPCS
dilatação Induzida Permitirá A Remoção Do Mesmo. por 1000 CVC-dia em RN menores de 1000 gramas. Importan-
• Se O Problema Persistir Mesmo Após Todas As Tentativas: te salientar que INFECÇÕES SÃO DECORRENTES DE FALHAS NA
• Interromper O Procedimento De Extração Do PICC; ASSISTÊNCIA e a prevenção das infecções associadas ao acesso
• Aplicar Novo Curativo Estéril Sobre O Mesmo; venoso é possível com o adequado manejo. Vários estudos mos-
• Aguardar De 12 A 24 Horas Para Nova Tentativa, Durante tram que é possível diminuir os índices de IPCS associada ao CVC
Este Período Aplicar Compressas Mornas A Cada 6 A 8 Horas. e IPCS em até 70% se protocolos forem implantados e atividades
de educação médica e de enfermagem forem reforçadas.
8. Complicações relacionadas à inserção do PICC
Fisiopatogenia Da Infecção
Complicações relacionadas à inserção do PICC
• Dificuldade de progressão A disseminação de microorganismos de um cateter vascular 573
• Mau posicionamento do cateter para a corrente sangüínea é o resultado de um processo que en-
• Hemorragia/Hematoma volve a contaminação do dispositivo com a formação dos biofil-
• Arritmia cardíaca (cateter intracardíaco) mes (a adesão do microrganismo à superfície externa ou interna
• Punção arterial do cateter, sua multiplicação) e posterior desagregação de micro
• Dano /Estimulação de nervos colônias com a posterior passagem à corrente sangüínea. As vias
de acesso para contaminação dos dispositivos vasculares são:
Possíveis complicações pós-inserção do PICC
• Embolia do cateter 1. Extraluminal
• Embolia aérea - Encefalopatia anóxica a partir da colonização da pele do paciente, pelas mãos dos
• Flebite: profissionais de saúde e por via hematogênica. É precoce, pode
• Flebite Mecânica ocorrer em até 24 horas nos CVU, e no geral ocorre em 48 horas.
• Flebite Química Colonização freqüente por Gram positivos.
• Flebite Bacteriana 2. Intraluminal
• Infecção do local de inserção (celulite) tardia, 10 a 14 dias após inserção. Colonização por Gram ne-
• Infecção sistêmica relacionada ao cateter gativos. Migração pelas conexões e sistema de infusão, pelas
• Fratura do cateter com potencial de embolia mãos dos profissionais e soluções contaminadas (mais raro).
• Oclusão do cateter
• Trombose A formação do biofilme está diretamente relacionada ao tipo e
• Migração do cateter qualidade do material, ao tipo de microorganismo e suas proprie-
dades de aderência. Bactérias gram positivas, gram negativas e
9. Aspectos éticos e legais as leveduras podem compor o biofilme e podem também ocorrer
Fornecer aos familiares orientação verbal e por escrito sobre os biofilmes mistos, contendo mais de 1 gênero ou espécie de bac-
benefícios e potenciais riscos do procedimento e solicitar assinatura térias ou mesmo contendo bactérias e leveduras. A resistência
dos responsáveis de termo de consentimento livre e esclarecido. dos microorganismos aos antibióticos está muito aumentada na
presença do biofilme.
Infecção Primária Da Corrente Sangüínea
Associada A Cateter Venoso Central (IPCS-CVC) Medidas De Prevenção
Estima-se que no Brasil 60% da mortalidade infantil ocorra O controle da Infecção Hospitalar depende da somatória de
no período neonatal, sendo a sepse uma das principais causas. ações desenvolvidas por todos os profissionais que atuam direta
A Infecção Primária da Corrente Sanguínea (IPCS) associada a ou indiretamente no cuidado do paciente.
Cateter Venoso Central (CVC) é a principal infecção em UTI neo- São medidas básicas de prevenção para redução dos fatores
natal, e vem aumentando sua incidência principalmente em de- de risco: o planejamento do Acesso Venoso, a seleção do cateter
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Paulo R. Margotto
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576
Vias De Administração De
Medicamentos Em Neonatologia
A administração de medicamentos é entendida como um cuidado Dependendo do tempo de ação pretendida, do tipo de formulação
de enfermagem. Entretanto, tem um caráter multidisciplinar, pois en- química e das condições do cliente, os medicamentos podem ser ad-
volve outras categorias profissionais, como a equipe médica, no tocan- ministrados de várias formas. As principais categorias de administra-
te à prescrição da terapia medicamentosa, e a equipe de farmácia, ção de medicamentos são: via percutânea, via enteral e via parenteral.
concernente ao armazenamento e dispensação dos medicamentos.
Capitulo 17 Urgências Cirúrgicas
Via Percutânea dicamento, a sonda deve ser mantida fechada a fim de favorecer
a absorção da droga. Outra particularidade da administração de
A via percutânea compreende a aplicação de medicamentos medicamentos por sondagens é a necessidade de que, após o
na pele e em mucosas. Com ação normalmente de curta dura- procedimento, seja introduzida água pela sonda, pois este é o
ção, sua importância reside no fato de ter efeito local, reduzindo, veículo mais indicado para ingestão de drogas, além de represen-
assim, as chances de reações colaterais sistêmicos. Como des- tar prevenção de obstruções na sonda e por conseqüência nova
vantagem, apresenta a necessidade de reaplicações freqüentes, técnica de sondagem, muitas vezes desconfortável.
podendo prejudicar a adesão ao tratamento por parte do cliente. A via retal, como discutido anteriormente, apresenta maior ve-
Medicamentos tópicos devem ser aplicados na pele com téc- locidade de absorção por se tratar de uma mucosa e tem a van-
nica de pincelamento ou espalhando-se o medicamento sobre a tagem de evitar o efeito de primeira passagem. Entretanto, varia
área. Também utiliza-se a técnica de aspersão através de banhos de acordo com o produto da droga, das condições esfincterianas
ou molhando partes do corpo com a solução prescrita. do paciente e da presença de material fecal.
Caracterizadas pela presença de muitos capilares sanguíneos,
as mucosas representam uma via de administração cuja absor- Via Parenteral
ção é mais acelerada que na pele. Por não passar pelo efeito de
primeira passagem (no fígado), tem rápida absorção e pode até Definida como qualquer outra via de administração que não
mesmo apresentar efeitos sistêmicos, dependendo da concen- tópica ou enteral, a via parenteral inclui métodos invasivos, os
tração da droga. As diversas membranas apresentam condições quais exigem técnicas específicas e preparo técnico do profissio-
específicas, possuindo seletividade diferenciada aos medica- nal. Possui a vantagem de melhor absorção, pois além de ter efei-
mentos, além de possuírem sensibilidade diferente entre elas. to sistêmico, não sofre ação das enzimas gástricas nem o efeito
As principais mucosas utilizadas nesta via são: sublingual, nasal, de primeira passagem. Por isso, o início dos efeitos se dá mais
ocular, auricular, vaginal e anal. Dentre estas, as mucosas ocular rapidamente, necessitando de doses geralmente menores, po-
e nasal são consideradas mais sensíveis que as demais. rém representam maior custo.
Fazem parte da via parenteral as vias intradérmica, subcutânea,
Via Enteral intramuscular e intravenosa, também chamada de endovenosa.
Todas utilizam como instrumento a seringa e agulha ou outros dis-
Nesta categoria inclui-se a administração de medicamentos por via positivos como no caso de infusão contínua do medicamento. A
oral, nasogástrica e retal, sendo esta última considerada por algumas escolha do equipamento a ser utilizado leva em consideração a
literaturas também como método de administração por via percutânea. via prescrita, o volume, bem como a constituição física do cliente.
Amplamente conhecida e utilizada, a via oral utiliza a admi- Os medicamentos para administração parenteral podem ser
nistração direta na boca, sendo considerada a mais fácil e os apresentados na forma líquida ou em pó, sendo embalados em
medicamentos utilizados geralmente têm custos abaixo de ou- recipientes estéreis. Quando em forma de pó, o medicamento deve
tras apresentações, como as drogas parenterais, por exemplo. A ser reconstituído à forma líquida através de adição de solvente. Os 577
desvantagem desta via está em sofrer o efeito de primeira pas- solventes mais comuns são a água destilada e a solução fisiológica
sagem, o qual ocorre durante o metabolismo da droga no fígado. a 0,9%, porém alguns medicamentos requerem soluções próprias
Além disso, sofre interferência da alimentação, da ação de enzi- e cabe ao fabricante a indicação do diluente a ser empregado na
mas gástricas e até mesmo de atividade física. técnica. Muitas vezes faz-se necessário um volume maior do que
Quando o paciente não consegue deglutir, a via enteral se aquele resultante da reconstituição. Nestes casos, é preciso diluir
dá por sondagem gástrica por técnica de sondagem orogástri- a solução, ou seja, diminuir a concentração da solução mediante
ca ou nasogástrica ou nasoenteral. Outra situação comumente adição de mais solvente. A seguir apresentamos uma tabela com
encontrada em Unidades de Terapia Intensiva Neonatal é o uso as principais características de cada tipo de via parenteral.
de sondagem para drenagem; neste caso, o recurso utilizado é
também as sondagens já descritas com a particularidade de que
durante os trinta minutos que sucedem a administração do me-
Volume de
Características e locais de aplicação Ângulo da agulha
solução
Intradérmica
tação são menores: face ventral ventral do antebraço, parte superior do tórax e região 15º
0,5 mL
escapular.
Subcutânea
Tecido subcutâneo (indicada para medicamentos que precisam ser absorvidos lenta-
0,5 a
Via
mente). Partes do corpo com fácil acesso e razoável volume subcutâneo: braço, face Entre 45 e 90º
1,5 mL
anterior e externa das coxas, abdome, região escapular.
45 a 90º
por ser uma região bem vascularizada). Partes do corpo onde a massa muscular seja
0,5 a Deve-se observar
cular
Paulo R. Margotto
Assistência ao Recém-Nascido de Risco
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Capitulo 17 Urgências Cirúrgicas
Material
Técnica E Manejo
Paulo R. Margotto
Assistência ao Recém-Nascido de Risco
Complicações
581
Dentre as complicações secundárias à drenagem pleural, te-
mos mais comumente: enfisema subcutâneo, lesão pulmonar
(estudo realizado em adulto, que é muito mais fácil de drenar
o tórax, pois é muito maior, a ressonância magnética durante a
internação mostrou que 70% das drenagens torácicas estão no
parênquima pulmonar, apesar da melhora clínica de paciente.
Imagine isto em um RN de 500-600g), lesão do nervo frênico
com conseqüente paralisia diafragmática e empiema. Alguns es-
tudos avaliaram a ocorrência de hemorragia intraventricular em
recém nascidos com pneumotórax, sugerindo que a instabilidade
hemodinâmica secundária ao evento catastrófico resultaria em
sangramento da matriz germinativa em prematuros. Porém, as
ecografias transfontanelares foram realizadas após a drenagem
torácica, não ficando bem claro se a hemorragia seria secundária
ao pneumotórax ou ao procedimento invasivo.
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Paulo R. Margotto
Assistência ao Recém-Nascido de Risco
582
Capítulo 18
Distúrbios
Endocrinológicos
Assistência ao Recém-Nascido de Risco
DDS Cromossômica
• 45,X0 (Síndrome de Turner);
• 47,XXY (Síndrome de Klinefelter);
• 45,X0/ 46,XY (Disgenesia Gonadal Mista, DDS ovotesticular);
584 • 46,XX/46,XY (DDS ovotesticular).
parcial ou completa. A forma completa de insensibilidade essencial a presença de uma pessoa que represente o elo entre
androgênica é relativamente rara. Quando ocorre, há pre- esta equipe e a família, ou seja, funcione como “porta-voz”, pois
sença de genitália externa feminina normal ao nascimen- pessoas diferentes exercendo este papel podem tornar a comuni-
to. O diagnóstico geralmente é feito após a puberdade, cação truncada ou mal-entendida, facilitando o aparecimento de
por amenorréia primária. A insensibilidade parcial aos desequilíbrios emocionais e/ou situações angustiantes.
andrógenos tem sua prevalência ainda desconhecida,
devido à variabilidade da expressão clínica e à existência Hiperplasia Congênita De Supra-Renal (HCSR)
de formas atípicas, como a síndrome do homem infértil,
atualmente classificada como insensibilidade leve aos CID10= E25.0 (Transtornos adrenogenitais congênitos asso-
andrógenos6. A opção sexual dependerá do grau de viri- ciados à deficiência enzimática)
lização e da resposta clínica ao uso de testosterona exó- As supra-renais são responsáveis pela produção de mais de
gena de depósito: genitálias pouco virilizadas devem ser cinqüenta tipos diferentes de esteróides derivados do colesterol.
levadas ao sexo de criação feminino, enquanto as muito Essa bissíntese hormonal exige a presença de uma vasta gama
virilizadas, ao sexo masculino. de enzimas íntegras e funcionais. A eficiência do controle endó-
• Hipopituitarismo (Hipogonadismo Hipogonadotrófico): A crino desses passos metabólicos depende, em última instância,
deficiência de LH pode ser isolada (herança autossômica tanto da regulação da transcrição quanto da síntese das enzimas
recessiva) ou associada a outras deficiências hormonais envolvidas na esteroidogênese, que devem apresentar 100% de
hipotálamo-hipofisárias e/ou malformações de linha mé- atividade. Dessa forma, garantem-se o controle nos ritmos de
dia. O hipogonadismo hipogonadotrófico pode se associar produção e secreção dos glicocorticóides, mineralocorticóides e
ainda à hiposmia ou anosmia (com hipo ou aplasia dos andrógenos, os três tipos de hormônios esteróides.
lobos olfatórios), caracterizando a síndrome de Kallmann. A figura 1 esquematiza a esteroidogênese adrenal normal.
Visto que a produção de testosterona pelas células de A HCSR engloba um grupo de síndromes caracterizados por
Leydig na primeira metade da gestação é estimulada pelo defeitos hereditários em alguns desses passos enzimáticos na
hCG (Gonadotrofina Coriônica Humana) e não pelo LH (que biossíntese do cortisol. São desordens genéticas de transmissão
passa a ser produzido pela hipófise fetal a partir da segun- autossômica recessiva. O decréscimo da produção do cortisol
da metade), em geral a genitália se forma adequadamen- leva a um aumento do ACTH, estimulando a produção de este-
te, porém falta estímulo para o crescimento das estruturas róides adrenais. As manifestações clínicas refletem uma ou mais
(que geralmente ocorre na segunda metade). Isto faz com das seguintes condições:
que a maioria das crianças nasça com micropênis, criptor-
quidia e hipoplasia da bolsa escrotal. • Diminuição da síntese de cortisol;
• Diminuição da síntese de aldosterona;
2. DDS 46,XX: (Antigamente conhecido por pseudo-her- • Síntese excessiva de precursores esteróides, devido ao
mafroditismo feminino). Ao contrário da DDS 46, XY, que estímulo do ACTH, o que pode resultar em um aumento 585
possui uma grande variedade de causas, a ampla maioria de andrógenos, (com conseqüente virilização), e de de-
dos casos de DDS 46, XX tem uma etiologia: a Hiperplasia soxicorticosterona, um mineralocorticóide (com conse-
Congênita de Supra-Renal (HCSR) por deficiência da enzi- qüente desenvolvimento de hipertensão).
ma 21α-hidroxilase. A HCSR é considerada um erro inato
do metabolismo dos esteróides supra-renais transmitido
geneticamente por herança autossômica recessiva. A bai-
xa concentração de cortisol plasmático leva ao aumento
da secreção de ACTH que, estimulando cronicamente as
adrenais, provoca uma hiperplasia funcional destas, com
superprodução de metabólitos intermediários pré-bloqueio
enzimático, subprodução dos metabólitos pós-bloqueio e
conseqüente desvio na produção hormonal, com excessi-
va secreção de androgênios, levando à virilização dos geni-
tais externos, causando ambigüidade genital nas meninas
afetadas2. Devido à sua alta incidência em comparação
às demais etiologias de DDS e à sua importância como
urgência neonatal e pediátrica, o restante deste capítulo
se dedicará ao seu estudo.
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‘A incidência de HCSR varia de acordo com o grupo étnico. Em mais comum da espécie humana.8 Sua incidência pode chegar
algumas regiões, como no sudeste do Alasca, habitado pelos a 1:100 nascidos vivos. A ocorrência de carreadores heterozigóti-
esquimós Yupik, a incidência chega a 1:500 nascidos vivos, na cos assintomáticos é de 1:60 a 1:80.
forma clássica. A incidência mundial é estimada em 1: 14 000. A tabela 2 abaixo resume as características das diversas for-
Já a forma não-clássica tem incidência muito maior, sendo con- mas de defeitos enzimáticos que levam à HCSR9.
siderada por alguns autores a doença autossômica recessiva
586
Devido à sua maior freqüência (cerca de 90% dos casos), a de- • Forma Perdedora de Sal (FPS): Mais de dois terços das
ficiência de 21-hidroxilase assume importância crítica na investi- crianças afetadas pela forma clássica apresentam esta
gação diagnóstica, na vigência de casos de DDS e mais especifi- forma. Além do DDS apresentado pelas crianças com a
camente, na suspeita de distúrbios de esteroidogênese adrenal. FVS, os RNs apresentam clínica de “perda de sal”, pela
A deficiência de 21α hidroxilase é didaticamente classificada em: secreção diminuída de aldosterona. A crise de “perda de
sal” é caracterizada por hipotensão, depleção de volume,
• Forma Virilizante Simples (FVS): RN que apresentam so- hiponatremia severa, hipercalemia e aumento da ativida-
mente sinais de excesso de androgênios, sem clínica de de de renina plasmática. Estes achados são comumen-
perda de sal. Crianças do sexo feminino afetadas apre- te aparentes em torno de duas semanas de vida. A FPS
sentam DDS: aumento do clitóris, fusão labial e formação ocorre quando há a combinação de duas mutações gené-
de seio urogenital em decorrência do hiperandrogenismo ticas que causam a perda total da atividade enzimática.
intraútero. Genitália externa completamente virilizada • Forma Não-Clássica (FNC) (ou de início tardio): A maioria
pode ocorrer. Crianças do sexo masculino têm o desen- dos indivíduos é assintomática ao nascimento, apresen-
volvimento sexual normal ou aumento do tamanho do pê- tando manifestações de hiperandrogenismo tardiamente
nis e hiperpigmentação da bolsa escrotal ao nascimento. (infância ou adolescência). As meninas podem apresentar
O crescimento linear está aumentado na infância, porém aumento clitoriano, pubarca precoce e acne; os meninos,
ocorre fechamento precoce das epífises ósseas, com al- aumento do pênis e dos músculos, além da pubarca preco-
tura final diminuída. Assim, os indivíduos afetados são ce e acne. Na adolescência, as meninas podem ter diminui-
crianças altas que tornam-se adultos baixos. A FVS ocor- ção das glândulas mamárias. Além disso, as altas concen-
re quando há a combinação de duas mutações genéticas trações de androgênio e progesterona resultam em inibição
que mantêm a atividade enzimática da 21αhidroxilase da função hipotalâmica-pituitária-gonadal, causando ciclos
em 1 a 4%. Esta pequena atividade enzimática já é su- menstruais anovulatórios ou amenorréia e hirsutismo, cli-
ficiente para garantir a biossíntese de aldosterona, pre- nicamente indistinguíveis da síndrome de ovários policísti-
venindo a perda de sal, embora não consiga garantir a cos. Nos homens, podem ocorrer massas testiculares, que
síntese adequada de cortisol, o que resulta em hiperestí- correspondem a resquícios adrenais. A maioria dos homens
mulo de ACTH e conseqüente hiperandrogenismo. é fértil, ocorrendo oligospermia e infertilidade em poucos.
Capitulo 18 Distúrbios Endocrinológicos
Este fenótipo é decorrente de mutações que determinam com ACTH. Esse teste consiste na dosagem dos níveis de 17-OHP
alterações menos graves à proteína da 21αhidroxilase, le- nos tempos 0 (basal) e 60 minutos após a administração endove-
vando a uma perda moderada da atividade enzimática, va- nosa de 0,25mg de corticotrofina (ACTH) sintética. O valor basal
riando entre 20 e 60% da atividade normal. da 17-OHP >5 ng/mL ou 500ng/dL e/ou pós-estímulo de ACTH
>10ng/mL ou 1000ng/dL em geral são usados como “pontos de
Em relação às manifestações clínicas da deficiência da corte” para o diagnóstico, embora atualmente, estudos molecu-
CYP11B1 (11hidroxilase), serão decorrentes do excesso de an- lares mostrem uma zona de sobreposição entre heterozigotos e
drogênios adrenais e da ação mineralocorticóide da 11-desoxi- a forma não-clássica para valores entre 10 e 17ng/mL (1000 e
corticosterona. Em neonatos, os sinais de virilização podem apre- 1700ng/dL) pós-estímulo. Neste caso, a clínica, somada ao estu-
sentar-se como genitália ambígua em meninas e aumento do do molecular, poderá auxiliar no diagnóstico e no tratamento ou
pênis em meninos. Na infância e adolescência, a manifestação não do paciente.
pode ser puberdade precoce e acne em meninos e hirsutismo e Em pacientes com deficiência de 11βhidroxilase, são encon-
irregularidades menstruais em meninas. Os efeitos mineralocor- tradas altas concentrações séricas de 11-desoxicortisol e 11-de-
ticóides (decorrentes do acúmulo de 11-desoxicorticosterona e soxicorticosterona e de andrógenos (DHEA, DHEA-S, androstene-
11-desoxicortisol) são hipertensão e hipocalemia. diona e testosterona).
O diagnóstico da forma clássica em meninas é realizado, em Se a criança estiver em crise de perda de sal, deve-se fazer a
geral, precocemente, pela presença de genitália ambígua. Em reposição do volume intravascular e iniciar a administração IV de
meninos, a época do diagnóstico depende do grau de deficiência hidrocortisona. Costuma-se usar a dose de 50mg/m2 de superfí-
mineralocorticóide. Os meninos com a FPS (bem como as meni- cie corporal), em “bolus”, seguida da mesma dose infundida nas
nas não identificadas ao nascimento) apresentam-se entre o sé- 24 horas subseqüentes (fracionando-se em 4/4h ou 6/6h). A te-
timo e o décimo quarto dias de vida com vômitos, perda de peso, rapia poderá ser repetida caso não haja completa compensação
letargia, hiponatremia e hipercalemia. As crianças com a FVS se dos distúrbios metabólicos e hidroeletrolíticos.
apresentam com pubarca precoce e crescimento acelerado entre Obs.: Para o cálculo da superfície corporal (SC), pode-se esti-
dois e quatro anos de idade. má-la através da fórmula:
Deve-se pensar em HCSR nas seguintes situações:
SC (m2) = (Peso x 4) + 7 / Peso + 90
1. RNs com ambigüidade genital;
2. RNs com genitália masculina, mas com criptorquidia A reposição mineralocorticóide é comumente realizada com
bilateral, com ou sem hipospádia; 9-αfludrocortisona (Florinefe), via oral, na dose de 0,05 a 0,1 mg/dia
3. Lactentes com hiponatremia e hipercalemia com ou Nos pacientes com a FPS, há a necessidade de se acrescentar à 587
sem desidratação; dieta pelo menos 0,5 a 1g de NaCl para conseguir a normalização
4. Lactentes do sexo masculino, com quadro semelhante dos eletrólitos, que pode ser diluído em água ou nas mamadas. Em
ao refluxo gastroesofágico acompanhado de desnutrição crianças maiores, isso pode não ser necessário, mas elas devem
grave e com episódios freqüentes de desidratação; ter livre acesso ao sal, principalmente em dias quentes.
5. Crianças com pubarca e virilização precoces; Para a manutenção, quando o paciente já está estável, deve-se
6. Crianças hipertensas. fazer a supressão da hipersecreção de andrógenos com glicocor-
ticóides por via oral. Há grande controvérsia quanto ao glicocorti-
Enquanto não se estabelece o diagnóstico, todo RN com DDS cóide de escolha: para a maioria dos autores, o glicocorticóide de
deve ter acompanhamento cuidadoso do seu ganho de peso e, se escolha é a hidrocortisona, que interfere menos no crescimento.
possível, determinações seriadas de sódio e potássio no primeiro Entretanto, não há apresentação comercial de hidrocortisona oral
mês de vida, numa tentativa de se evitar uma inesperada, e mui- disponível no Brasil. Assim, utiliza-se acetato de hidrocortisona
tas vezes fatal, crise de perda de sal. preparado em farmácias de manipulação, na dose de 10 a 25mg/
O diagnóstico da FNC deve ser considerado em meninas com m2, a depender da idade, fracionado em três tomadas (25% da
sintomas e/ou sinais de hiperandrogenismo, ou seja, por distúr- dose às 8:00h, 25% às 16:00h e 50% às 23:00h, para suprimir o
bios do desenvolvimento dos caracteres sexuais, alterações mens- pico de ACTH noturno). Para estes autores, glicocorticóides mais
truais e outros. Pacientes masculinos apresentam como principais potentes, como a prednisona e a dexametasona só devem ser utili-
manifestações clínicas acne e infertilidade, ou são assintomáticos zados após a puberdade, para diminuir o risco de inibição do cres-
(identificados em famílias que estão sendo investigadas). cimento, que levaria a prejuízo de altura final. Para outros autores,
o uso de prednisona/prednisolona pode ser justificado mesmo em
Diagnóstico Laboratorial crianças, pela sua fácil disponibilidade comercial. Neste caso, a
dose é de 4-5mg/m2 fracionado em duas tomadas.
A anormalidade bioquímica mais característica da deficiência Em ocasiões de stress (infecções, vacinação, cirurgias, etc...) a
da 21αhidroxilase é a presença de níveis elevados de 17hidro- dose de hidrocortisona deve ser aumentada (dobrada ou triplica-
xiprogesterona (17-OHP), o principal substrato da CYP21, locali- da) por um a quatro dias (enquanto durar o período de stress) e
zado imediatamente “acima” do bloqueio enzimático. Na forma deve ser administrada IM ou IV se o paciente apresentar vômitos.
clássica, os níveis basais de 17-OHP encontram-se aumentados Os pacientes com HCSR em geral portam uma “carta de urgên-
aproximadamente 100 vezes em relação aos valores normais; cia” que deve ser apresentada ao pediatra ou clínico nas situações
geralmente estão acima de 50ng/mL ou 5000 ng/dL. A altera- emergenciais, informando a necessidade deste aumento de dose.
ção na via mineralocorticóide (FPS), por sua vez, pode ser docu- A correção cirúrgica inicial da ambigüidade genital (clitoroplastia
mentada por aumento da atividade de renina plasmática (ARP). e introitoplastia) dever ser realizada precocemente, até cerca de 24
Na forma não-clássica, porém, os valores basais de 17-OHP po- meses, para evitar prejuízos à identidade sexual. Algumas vezes, há
dem não ser suficientemente elevados para definir o diagnóstico, necessidade de novas intervenções cirúrgicas, na época da puber-
que poderá então ser estabelecido através do teste de estímulo dade, principalmente se houver algum grau de hipoplasia vaginal.
Paulo R. Margotto
Assistência ao Recém-Nascido de Risco
O controle clínico do tratamento é realizado pelo acompanha- uma emergência aguda médica da aferição do sexo até o trata-
mento do crescimento do clitóris e pênis e do aparecimento e/ mento do paciente e da sua família a longo prazo.
ou aumento de pilificação pubiana, que podem indicar excesso Quanto à escolha do sexo: orientar, usando o desempenho do
de produção de andrógenos. O crescimento em altura deve ser indivíduo na vida sexual adulta para uma perfeita integridade psí-
mantido dentro dos padrões normais para a idade e padrão fa- quica e social do doente.
miliar (a falta de glicocorticóides provoca aumento da velocidade Poucos distúrbios na criança oferecem ao médico um maior
de crescimento, enquanto seu excesso, diminui). O controle labo- desafio e poucos propiciam maior gratificação para uma tera-
ratorial, com acompanhamento da 17-OHP, androstenediona e se pêutica bem sucedida...
possível ARP, deve ser realizado a cada três a seis meses. A idade
óssea deve ser determinada anualmente. Bibliografia
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final e expectativa de fertilidade semelhantes aos da população • Hackel C, Oliveira LEC, Toralles MB, Nunes-Silva D, Tonini MMO, Ferraz LFC, e cl. Defici-
normal. O sucesso da reconstrução cirúrgica genital influencia ência de 5α-redutase tipo 2: experiências de Campinas (SP) e Salvador (BA). Arq Bras
Endocrinol Metab 49: 103,2005
significativamente esse prognóstico no sexo feminino. Se o diag- • Correa RV, Wey JC, Billerbeck AEC, Melo KFS, Mendonça BB, Wey, MV, Arnhold IJP. In-
sensibilidade completa aos andrógenos em pacientes brasileiras causadas pela mutação
nóstico for tardio ou o tratamento irregular, pode haver alteração P766A no gene receptor androgênico. Arq Bras Endocrinol Metab 49: 98,2005
da idade óssea, baixa estatura final e virilização, com distúrbios • Protocolo Clínico e Diretrizes Terapêuticas – Hiperplasia Adrenal Congênita – Portaria
SAS|MS no 849, de 31 de outubro de 2002.
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Situações Especiais
Paulo R. Margotto
Assistência ao Recém-Nascido de Risco
tico- menor que 3 mcg/dl a 6.5 % mcg/dl). Nos RN de cebendo anormalidades na sua criança, são mais susceptíveis
27-28 semanas, importante hipotiroxinemia pode refletir à omissão da medicação.
um hipotireoidismo transitório hipotalâmico - hipofisário, Alguns estudos têm evidenciado retardo mental com redução
não requerendo tratamento, a menos que o TSH esteja do quociente de inteligência de 6,3 (IC95% 4,7-7,8), mesmo em
elevado (20 mui/l). Tem sido relatado aumento do risco pacientes tratados. Este prognóstico pode depender, principal-
de hemorragia intraventricular (OR: 1.2 95% IC : 1.05-1.4) mente da intensidade do hipotireoidismo intra-uterino e ao nas-
nestes RN de muito baixo peso, provavelmente devido a cimento. Assim, pacientes com agenesia de tireóide tendem a
um maior grau de não resposta hipotalâmica à injúria ce- apresentar pior prognóstico.
rebral neonatal adquirida. Não há dados consistentes na
literatura que nos autorize administrar T4 aos RN com hi- Diagnóstico Laboratorial
potiroxinemia transitória com TSH normal, apesar de rela-
tos de que severa hipotiroxinemia transitória nos RN possa O momento ideal para o diagnóstico do HC é o período neona-
estar associada com paralisia cerebral e retardo mental e tal, pois a partir de quatro semanas de vida, a deficiência de HT já
distúrbios visuais aos 3 meses de idade. Pesquisa recen- pode causar lesão neurológica. Portanto, é fundamental que os
te relata que aproximadamente 1/3 dos neonatologistas recém-nascidos sejam submetidas à triagem neonatal.
americanos usam hormônio tireoidiano no tratamento de No Brasil, a triagem neonatal para HC é realizada conforme a
RN com HTTP e 20% destes parece fazê-lo com um certa portaria GMMS nO 822 de 06 de junho de 2001, por meio de:
regularidade. A variação na prática neonatal, no entanto,
sugere a necessidade de um ensaio controlado e randomi- 1. Medida do hormônio estimulante da tireóide (TSH) em
zado de suplementação de hormônio tireoidiano aos RN amostras de sangue colhidas em papel filtro (“teste do
com HTTP, ensaio este com poder suficiente para analisar pezinho”), medida da tiroxina (T4) em amostra sérica
se o tratamento pode reduzir o risco de desabilidades neu- quando o TSH é superior a 20mcUI|L em radioimunoen-
rocomportamentais tardias. saio ou superior a 15 em ensaios imunométricos.
3. Filhos de mães com doenças tireoidianas: Doenças 2. Alternativamente pode ser realizada medida de T4 em
tireoidianas maternas podem comprometer transitoria- amostra de papel filtro (que deverá apresentar valor su-
mente a função tireoidiana do neonato. Por esta razão to- perior a 6UG|dl), seguida de medida de TSH quando o T4
dos estes RNs, filhos de mãe com doenças tireoidianas, é inferior ao percentil.
necessitam coleta de sangue de cordão para dosagem
de TSH e T4 livre na sala de parto. Particular atenção A Figura 2 mostra o aumento fisiológico que sofre o TSH desde os
deve ser dada a RNs de mães com hipertireoidismo, que 30 primeiros minutos de vida, variando de 70 a 100mcUi|ML. Desta
podem permanecer assintomáticos até 7—10 dias de forma, a coleta muito precoce do “teste do pezinho” poderá resultar
vida e posteriormente desenvolver tireotoxicose neonatal em um grande número de falsos-positivos. Assim, idealmente, a co-
590 transitória, por passagem transplacentária de anticorpos leta deve ser feita entre as pri-meiras 48hs de vida (se possível no
tireoestimulantes ou, por outro lado, também podem alojamento conjunto). Se houver alta precoce do RN (em menos de
desenvolver hipotireoidismo induzido pelas drogas antiti- 48h), é importante orientar a família a levá-lo a um posto de saúde
reoidianas usadas pela mãe (propiltiouracil e metimazol). ainda na primeira semana de vida para realização do teste.
Portanto estas crianças devem ser acompanhadas rigoro-
samenre para sinais de tireotoxicose ou hipotireoidismo,
no mínimo durante a primeira semana de vida. Crianças
cujas mães foram tratadas com drogas anti-tireoidianas
ou iodetos na gestação devem ser monitorizadas até que
os níveis de T4 total e TSH tenham normalizado. Desta
forma a alta hospitalar deve estar condicionada a uma
consulta na endocrinopediatria previamente agendada.
Quadro Clínico
A gota de sangue que se forma deve ser encostada na região de- Tempo De Tratamento
marcada para a coleta no papel filtro (círculos), fazendo movimen-
tos circulares com o papel até o preenchimento de TODO o círculo. O tratamento preconizado deverá ser mantido por toda a vida,
Após os resultados positivos iniciais no Programa de Triagem Ne- exceto para os casos de HC transitório. Para diferenciar as duas
onatal, deve ser sempre realizada a dosagem de T4 (total e livre) situações, deverá haver uma interrupção da terapêutica aos 24
e TSH em amostra de sangue venoso para CONFIRMAÇÃO do HC. meses de vida com reavaliação da função tireoidiana e cintilogra-
Com este protocolo, a média de detecção dos casos de HC é de fia (quando não realizada ao nascimento).
90%. Os 10% restantes são menos severamente afetados e não
se tornam detectáveis por TSH até a idade de 2 a 6 semanas. Monitorização
Os níveis séricos normais de TSH, T4total e T4livre encontram-
se dispostos na Tabela 2, conforme faixa etária. O tratamento é monitorizado laboratorialmente pelas dosa-
gens de T4 livre ou total e TSH, os quais devem ser realizados
Idade TSH (µUi;ml) T4 (µg;ml) T4livre (ng;ml) conforme o cronograma:
1-3 dias 1--20 11--21,5 --------
•Segunda e quarta semanas após o início do tratamento;
4-7dias 1--10 8,1—20,1 1,84—2,62
•A cada 1-2 meses até o primeiro anos de vida; 591
Prematuros
1--20 1—13,4 -------- •A cada 2-3 meses entre o primeiro e terceiro anos de vida;
(23-33semanas)
•A cada 6 meses após esta idade.
1-4semanas 0,5—6,5 8,2—17,2 --------- •Duas semanas após cada ajuste de dose.
1 a 12 meses 0,5—6,5 5,9—16,3 ---------
1 a 5 anos 0,6—6,3 7,3—15 0,94—1,34 O objetivo do tratamento no primeiro ano de vida é a manu-
Maiores 6 anos 0,6—6,3 6,4—13,3 0,94—1,34 tenção do T4 total entre 10-16mg/dl e o TSH inferior a 5mcUi/l.
Tratamento
Paulo R. Margotto
Assistência ao Recém-Nascido de Risco
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Capitulo 19 Imunologia
Capítulo 19
Imunologia
Assistência ao Recém-Nascido de Risco
O sistema imunológico detém os mecanismos pelos quais nos- quando adequada, impede a colonização local por microorganis-
so organismo, de forma geral, responde a antígenos, reconhece mos deletérios. Ainda nas vias aéreas, as proteínas associadas
a si mesmo e ao que é estranho a si. ao surfactante são capazes de interagir com microorganismos e
Ele é composto por várias células e moléculas especializadas. modular a resposta inflamatória local.
Tais componentes atuam em conjunto, seja desempenhando as Um segundo exemplo são as enzimas com ação bactericida, como
funções de defesa contra infecções, de tolerância (isto é, reconhe- lisozima, lactoferrina e fosfolipases, encontradas na saliva e nas lá-
cimento dos tecidos próprios do corpo), bem como rejeição de en- grimas. Destaca-se que a quantidade de lisozima produzida na 18ª
xertos não compatíveis.12 Além disso, é da competência do sistema semana de vida fetal é semelhante à produzida por adultos normais.
imunológico a vigilância contra o desenvolvimento de tumores. Um terceiro exemplo são as enzimas digestivas e outros fatores
A infância é definida como o intervalo de tempo transcorrido locais que exercem proteção no trato gastrintestinal.6 Ainda, fa-
desde o nascimento até por volta do décimo primeiro ano de zem parte das barreiras mucosas peptídeos de ação antimicrobia-
vida. De todo esse período, o nascimento é um marco especial. na como as defensinas e catelicidinas, entre outras substâncias.
Com ele iniciam-se mudanças na fisiologia do organismo huma-
no, causadas principalmente em função do novo ambiente ao Fagócitos
qual o neonato, a partir de agora, ficará exposto. No que diz res-
peito ao sistema imunológico, a transição entre o ambiente intra- Os fagócitos podem ser mononucleares (macrófagos) ou po-
uterino e o ambiente externo, rico em antígenos estranhos, exige limorfonucleares (neutrófilos). Os macrófagos originam-se dos
diversas adaptações. Tais ajustes, deflagrados ao nascimento, monócitos circulantes e sobrevivem nos tecidos por cerca de 8 a
prosseguem durante a infância, na verdade por toda a vida. 12 semanas. Já os neutrófilos têm vida mais curta, permanecem
Abordar o desenvolvimento do sistema imunológico na infân- na circulação sangüínea por algumas horas e mantêm-se ativos
cia proporciona melhor compreensão da susceptibilidade a infec- nos tecidos por cerca de 2 dias.
ções nos primeiros anos de vida, sobretudo no período neonatal. O desenvolvimento dos fagócitos na medula óssea sofre influ-
Particularmente, compreender a evolução do sistema de defesa ência de alguns fatores de crescimento, como: fator estimulador
contra diferentes patógenos pode ser muito útil na assistência ao de colônias de granulócitos (“G-CSF - granulocyte colony-stimu-
recém-nascido de risco.34 Em especial nos dias de hoje, quando lating factor”), fator estimulador de colônias de macrófagos (“M-
nos deparamos com o aumento da sobrevida de indivíduos nas- CSF - macrophage colony-stimulating factor”), e fator estimulador
594 cidos com idade gestacional cada vez menor.5 de colônias de granulócitos -macrófagos (“GM-CSF - granulocyte–
macrophage colony-stimulating factor”).
Sistema Imunológico Inato O nascimento, divisor de águas no que diz respeito ao sistema
imunológico, tem impacto significativo sobre os fagócitos. Nesse
Didaticamente, o sistema imunológico é dividido em inato e momento, ocorre imediatamente aumento no número absoluto de
adaptativo. O primeiro é de resposta imediata e inespecífica às neutrófilos, com pico por volta das 12h de vida. Essa neutrofilia
infecções. Já o segundo tem ações específicas contra os germes transitória persiste até cerca de 3 dias de vida, seguindo-se então
que nos desafiam diariamente, mas tem ação mais lenta (pode de- uma queda no número dessas células durante as próximas 3 se-
morar dias para se desenvolver), pois depende do processamento manas pós-nascimento. Uma explicação para esse fenômeno nas
e apresentação de antígenos. Tal sistema será apresentado mais primeiras horas de vida seria o recrutamento de neutrófilos margi-
adiante. Por enquanto, nos ocuparemos apenas com o primeiro. nais e não o aumento de sua produção, uma vez que cerca de 50%
O sistema imunológico inato é a primeira linha de defesa contra dos neutrófilos circulantes encontram-se próximos ao endotélio
infecções. É constituído por: barreiras físicas, fagócitos, sistema vascular. O recrutamento dos neutrófilos desse estado de margina-
complemento, receptores para moléculas de microorganismos, ção é ocasionado por estímulos como infecções, corticosteróides e
células Natural Killer, entre outros. epinefrina. Disso resulta um aumento extremamente significativo
Dentre as barreiras físicas, destacam-se a pele e barreiras no número absoluto de neutrófilos na circulação sangüínea.
mucosas. É esperado um aumento do número desses fagócitos na vi-
gência de infecções. A ocorrência de neutropenia durante epi-
Pele e Barreiras Mucosas sódios infecciosos está correlacionada com desfechos desfavo-
ráveis no período neonatal.
A pele é uma barreira física importante no bloqueio da en- Pode-se pensar que apenas o número adequado de fagócitos
trada de germes. Quando ocorre perda de sua integridade (por garante a eficiência deles como defensores. Isso não é verda-
exemplo, como conseqüência de queimaduras, inflamação, etc), de. Para que a eficiência seja garantida, também é necessária
há prejuízo nessa primeira linha de defesa. Nos recém-nascidos a ocorrência de uma série de ações desenvolvidas em conjunto
(RN), notadamente prematuros, o adelgaçamento da pele resulta com outros efetores do sistema imune. A primeira delas é a qui-
numa maior susceptibilidade a piodermites. Além disso, a vernix miotaxia, que consiste numa migração específica e direcionada
caseosa é uma substância rica em lipídios que recobre o feto du- das células até o sítio da inflamação. A chegada dos fagócitos
rante o terceiro trimestre da gestação. Ela constitui uma barreira nos órgãos alvo depende da interação entre moléculas expressas
física contra infecções e também possui substâncias com ação em sua superfície e mediadores proinflamatórios. É necessária
antibacteriana. Não é raro que prematuros nasçam com ausên- também a interação com proteínas expressas na superfície das
cia de vernix caseosa, o que parece aumentar a possibilidade de células endoteliais. Essa habilidade interativa está diminuída
infecções nesses indivíduos. nos fagócitos dos neonatos, independentemente da idade gesta-
No que diz respeito às barreiras mucosas, temos vários exem- cional. Ainda, a quimiotaxia é semelhante em recém-nascidos a
plos. O primeiro é a atividade mucociliar das vias aéreas que, termo e em prematuros, apesar de estar reduzida se comparada
Capitulo 19 Imunologia
aos adultos. Já a capacidade de fagocitar e matar bactérias é um “gatilho” para diversas reações químicas que culminam na
similar em recém-nascidos e adultos saudáveis. produção de citocinas proinflamatórias. Então, há o início de uma
Outro aspecto para garantir a eficiência da fagocitose é a opso- cascata de eventos necessários para a defesa inespecífica e es-
nização (palavra cujo sentido é “tornar apetitoso”). O que ocorre é pecífica do organismo. Os TLR constituem uma ligação entre a
que as bactérias encapsuladas não interagem diretamente com imunidade inata e imunidade adaptativa, daí sua grande impor-
os receptores dos fagócitos para serem englobadas. Elas preci- tância. Esses receptores estão presentes em várias células: linfó-
sam ser recobertas por imunoglobulinas ou proteínas do sistema citos T regulatórios, células apresentadoras de antígenos, células
complemento do hospedeiro antes de serem reconhecidas e fago- “Natural Killer”, entre outras
citadas (como se as imunoglobulinas ou as proteínas do sistema Defeitos na via desses receptores resultam em susceptibili-
complemento fossem uma espécie de “tempero para abrir o ape- dade aumentada a infecções piogênicas (principalmente por es-
tite”). Assim, a interação adequada entre vários compartimentos treptococos ou estafilococos) durante a infância. Porém, há me-
do sistema imune é necessária para a eficiência do processo de lhora com o decorrer da vida. Análises de macrófagos de cordão
fagocitose. Apenas a deficiência de qualquer um desses efetores de recém-nascidos de termo mostrou expressão de receptores
pode trazer prejuízo significativo para as defesas do organismo. tipo Toll semelhante aos adultos.
Já a avaliação específica da expressão dos receptores tipo Toll
Sistema Complemento de número 2 – em fagócitos de neonatos - mostrou valores um
pouco menores que os de adultos sadios. Ainda, a expressão des-
O sistema complemento – assim chamado porque no momen- ses receptores aumenta precocemente frente a uma septicemia.
to de sua descoberta foi considerado como um sistema comple- É aventada a possibilidade desses receptores serem utilizados
mentar às imunoglobulinas – é composto por mais de 30 pro- como marcadores para septicemia no futuro
teínas. Tais proteínas podem ser encontradas no plasma ou na
superfície de determinadas células. Elas funcionam como um sis- Células Natural Killer
tema enzimático em cascata, o qual pode ser ativado por 3 dife-
rentes vias: via clássica, via alternativa, ou via das manoses. A via As células Natural Killer (NK) constituem uma subpopulação de
clássica é ativada por imunocomplexos – então interage com a linfócitos que se origina na medula, oriunda de progenitores dife-
imunidade específica. A via alternativa pode ser ativada por meio renciados daqueles das células T e B. Tais células não expressam
de ligação direta à superfície de microorganismos – atividade CD3 em sua superfície, nem fazem rearranjo do TCR (receptor de
inespecífica. Além dessas duas vias, existe ainda uma terceira, célula T). As células NK têm capacidade de eliminar células tumo-
a qual é iniciada com a ligação da lecitina ligadora de manose rais ou infectadas por vírus, sem a necessidade de interação com
às manoses ou fucoses presentes na superfície de bactérias ou o MHC (Complexo Maior de Histocompatibilidade) classe I ou II.
vírus, favorecendo a fagocitose. É característica das células Natural Killer expressar CD16 e/ou
As principais ações do Sistema Complemento incluem: defen- CD56 em sua superfície.Elas representam cerca de 10% dos lin-
der o organismo contra bactérias piogênicas, interligar o sistema fócitos circulantes de um adulto. E já estão presentes no feto por 595
imune inato com o sistema imune adaptativo, descartar imuno- volta da 9ª semana de gestação. Uma das ações das células NK
complexos e resíduos de processos inflamatórios. é a citotoxicidade celular mediada por anticorpo (ADCC) – lise de
As proteínas do Sistema Complemento não atravessam a pla- células recobertas por anticorpos específicos – marcando a inte-
centa, então os níveis encontrados no feto e no neonato refletem gração entre o sistema de defesa específico e inespecífico. Essa
a produção do próprio indivíduo. Os componentes do Comple- atividade pode ocorrer tanto no feto quanto no neonato, já que os
mento podem ser encontrados bem cedo na circulação fetal. No anticorpos IgG maternos passam da mãe para o feto através da
entanto, seus níveis permanecem baixos até o terceiro trimestre placenta. A ADCC parece ser um mecanismo de defesa importan-
de gestação. No final da gestação, as concentrações séricas de te contra vírus e bactérias nos primeiros meses de vida, quando a
C3 correspondem a 60-80% dos valores de um adulto. Já os com- imunidade celular mediada por linfócitos T ainda não é eficiente.
ponentes finais da via clássica do Complemento estão em núme- A evolução do número absoluto de células NK no sangue peri-
ro reduzido ao nascimento, apenas 10% dos valores maternos. férico da população brasileira, conforme a faixa etária, pode ser
Quanto à via alternativa no neonato, seus níveis séricos podem observada na Tabela 1. A atividade das células NK é menor nos
corresponder a até 70% dos níveis de adulto. Prematuros, geral- RN com idade gestacional inferior a 32 semanas do que nos nas-
mente, têm níveis mais baixos de Complemento sérico do que cidos com 32 semanas ou mais. A ADCC encontra-se diminuída
recém-nascidos de termo. Quanto menor a idade gestacional, mesmo nos nascidos a termo, atingindo os níveis de adultos após
menores os níveis de Complemento encontrados, sem influência os primeiros 6 meses de vida. Já os prematuros cujas mães re-
do peso ao nascer ou via de parto. Os níveis séricos do Comple- ceberam corticóide no final da gestação tiveram a maturação de
mento se aproximam mais dos valores dos adultos por volta de suas células NK acelerada.
1 ano de idade. A diferença quantitativa dos níveis de Comple-
mento neonatal, em comparação com adultos, pode ser respon- Sistema Imunológico Adaptativo
sável por menor atividade de opsonização em recém-nascidos.
Consequentemente, há menor capacidade em lisar bactérias e Até esse momento nos ocupamos apenas com o sistema imu-
vírus, menor geração de processo inflamatório e prejuízo da qui- nológico inato, uma forma de resposta imediata e inespecífica às
miotaxia para fagócitos no período neonatal. Atividade reduzida infecções. A partir de agora apresentaremos o sistema imunoló-
do Complemento Hemolítico Total em neonatos com septicemia gico adaptativo. Ele possui ações específicas contra os germes
está relacionada com maior índice de mortalidade. que nos desafiam diariamente, embora tenha ação mais lenta
(pode demorar dias para se desenvolver), pois depende do pro-
cessamento e apresentação de antígenos.
Receptores para Patógenos – Receptores Tipo Toll Podemos dizer que o sistema imunológico adaptativo é a segun-
da, mas não menos importante, linha de defesa contra infecções.
Os receptores do tipo Toll (TLR – Toll-like receptors) reconhecem As principais características dessa imunidade são:
padrões moleculares associados a determinados patógenos. A
partir da ligação com microorganismos, os TLR funcionam como • Especificidade: resultante da grande diversidade de re-
Paulo R. Margotto
Assistência ao Recém-Nascido de Risco
ceptores antigênicos existentes plasmócitos produtores de IgM são encontrados por volta da 15ª
• Memória imunológica: a capacidade de responder rápida e semana, enquanto os produtores de IgG aparecem por volta da
efetivamente a microorganismos previamente encontrados. 20ª semana e os plasmócitos produtores de IgA na 30ª.
Ao nascimento, o sangue do cordão umbilical é dotado de um
As células efetoras da imunidade adaptativa são os linfócitos B e T. grande número de linfócitos pré-B e B propriamente ditos. Esse
sangue tem cerca de 10 vezes o número absoluto de células pré-
Linfócitos B B do sangue periférico de um adulto saudável. Na vigência de
interação adequada com linfócitos T, a atividade desses linfócitos
Os linfócitos B possuem imunoglobulinas (Igs) em sua superfí- B pode ser semelhante à dos adultos.
cie, as quais funcionam como receptores para antígenos solúveis. Na Tabela 1 encontramos os valores de referência, em núme-
Quando uma ligação receptor/antígeno ocorre, o linfócito B se dife- ros absolutos, para linfócitos em sangue periférico de indivíduos
rencia em plasmócito – célula produtora de imunoglobulinas. saudáveis, da população brasileira. Nela, podemos observar que
As fases de desenvolvimento dos linfócitos B são marcadas o número de linfócitos B no cordão – identificados pela molécula
pelo rearranjo dos genes das porções variáveis (pesadas e leves) de superfície CD19 – é praticamente o dobro do valor encontra-
das imunoglobulinas. O amadurecimento dessas células ocorre do em adultos. Na verdade, os valores absolutos de linfócitos B
na seqüência: pro-B → pré-B (que sintetizam apenas cadeias circulantes vão aumentando desde o nascimento até os 6 meses
pesadas de Igs) → linfócito B imaturo (que expressam IgM em de vida. A partir de então, esses valores seguem uma diminuição
sua superfície) → linfócito B maduro (que expressam IgM e IgD gradativa até os valores habitualmente encontrados em adultos.
em sua superfície) → plasmócito. Ainda, os linfócitos B maduros Outros autores encontraram uma evolução semelhante em po-
podem ser identificados por meio de marcadores de superfície – pulação americana urbana, sem influência de sexo, cor ou etnia.
CD19, CD20, CD21 – via cirtometria de fluxo. Porém, há relatos de diferenças de maturação e ativação de lin-
Na vida intrauterina, os linfócitos pré-B já podem ser detecta- fócitos B de neonatos, conforme o meio ambiente ao qual suas
dos no fígado fetal por volta da 8ª semana de gestação. Já os mães estão expostas.
A produção adequada de Igs depende da apresentação de substancialmente no terceiro trimestre de gestação, prematuros
antígenos às células efetoras do sistema imune, bem como da possuem valores de IgG sérica bem menores que RN de termo.
interação entre linfócitos T e linfócitos B. Como o período fetal A meia-vida dessa IgG gira em torno de 20 dias. Em prematuros,
se caracteriza por uma exposição limitada a antígenos, a produ- a queda nos níveis de IgG pode ser acelerada por complicações
ção própria de anticorpos também fica limitada. O mesmo vale neonatais, devido a consumo e espoliação.
para o período neonatal. Resulta daí a importância da imunidade A Tabela 2 mostra uma comparação de valores séricos de IgG
passiva via transplacentária, constituída pela transferência dos entre lactentes nascidos prematuros e a termo. Os níveis baixos
anticorpos maternos ao feto. de IgG nos prematuros parecem ser compensados pelos outros
Essa passagem de anticorpos maternos via placenta se res- elementos efetores do sistema imunológico. No entanto, frente a
tringe ao isotipo IgG. Na gestação, o transporte de IgG se inicia um lactente de 6 meses em vigência de uma septicemia, a histó-
em torno da 17ª semana e vai aumentando com o decorrer do ria prévia de prematuridade é de grande relevância para subsidiar
tempo. Os níveis de IgG do feto tornam-se semelhantes ao da iniciativas terapêuticas, como a infusão de imunoglobulina endo-
mãe por volta da 33ª semana intraútero. venosa, por exemplo. Revisões sistemáticas sugerem benefício
No termo, os neonatos têm IgG em número igual ou 5-10% quanto ao uso de imunoglobulina endovenosa como adjuvante no
superior ao materno. Como a passagem transplacentária ocorre tratamento de septicemia neonatal, notadamente em prematuros.
Capitulo 19 Imunologia
Paulo R. Margotto
Assistência ao Recém-Nascido de Risco
598
Já vimos que a IgG transferida via transplacentária tem uma cemente que a de anticorpos contra antígenos polissacarídicos.
meia vida de 20 dias e que a produção própria da IgG depen- Especificamente, a capacidade adequada para responder a antí-
de da exposição aos antígenos do meio ambiente. Dessa forma, genos polissacarídicos é atingida somente depois dos 2 anos de
o lactente vive um período de Hipogamaglobulinemia Fisiológi- idade.Daí uma maior incidência de infecções por gemes encap-
ca entre o 3º e o 6º mês de vida. Nesse intervalo de tempo, há sulados, nessa faixa etária. Isso explica também a necessidade
queda dos valores de IgG recebidos via placentária e a produção de imunizações repetidas e uso de vacinas conjugadas (polissa-
própria ainda não atingiu níveis ótimos. Esse momento é carac- carídeo + proteína) nos primeiros anos de vida, para se atingir
terizado por maior susceptibilidade a infecções. Em prematuros níveis protetores de anticorpos para germes encapsulados.
e RN que tiveram alguma complicação neonatal, o período de Por outro lado, a produção de IgM leva a aumento rápido em
Hipogamaglobulinemia Fisiológica pode ser mais prolongado. E suas concentrações séricas já nos primeiros 20 dias após o
os níveis de IgG, nesses indivíduos, podem ainda ser mais baixos nascimento. Ela não ultrapassa a barreira placentária, mas é
que em RN de termo sem agravos perinatais. a principal imunoglobulina produzida pelo lactente. Nos casos
A produção de IgG aumenta gradativamente após o nascimen- de infecção perinatal, seus níveis ficam ainda mais elevados.
to. A produção de suas subclasses IgG1 e IgG3 atinge níveis de Níveis circulantes semelhantes aos de adultos são atingidos por
maturidade antes da IgG2 e IgG4. Consequentemente, a produ- volta dos 2 anos de idade.
ção de anticorpos contra antígenos protéicos ocorre mais preco-
Capitulo 19 Imunologia
O último isotipo a atingir concentrações séricas semelhantes da uma diminuição da função das células T em sangue de cordão
aos adultos é a IgA – somente na adolescência. Ela também não de prematuros (com idade gestacional > 26 semanas) nascidos
atravessa a placenta. Raramente é detectada em sangue de cor- de mães que usaram corticosteróides sistêmicos, no intuito da
dão e começa a ter concentrações evidentes por volta do 15º acelerar a maturação pulmonar. Além disso, reações cutâneas
dia de vida no neonato. A produção diária dessa imunoglobulina de hipersensibilidade tardia estão diminuídas em neonatos. Por
supera significativamente a produção de IgG. Porém, é pouco en- outro lado, caso ocorra transmissão de agentes infecciosos via
contrada na circulação sangüínea. Já o componente secretor da transplacentária, os fetos têm demonstrado capacidade em ge-
IgA é o isotipo de imunoglobulinas mais presente nas superfícies rar resposta imune adaptativa específica para se defender.
mucosas. Há evidências de produção aumentada dessa imuno- Existe uma população específica de linfócitos T CD4+, os quais
globulina em prematuros com infecção do trato gastrintestinal. também expressam CD25 em sua superfície. Esses linfócitos
Vale ressaltar que a transferência de IgA materna, via aleitamen- (TCD4+CD25+) são denominados regulatórios (Treg) e estão rela-
to, influencia a colonização do trato gastrintestinal dos lactentes. cionados com o controle da auto-imunidade. Tais células já estão
Outras imunoglobulinas produzidas são a IgD e a IgE. Elas não presentes no timo fetal por volta da 13ª semana de gestação.
atravessam a placenta e dificilmente são encontradas em sangue Disso decorre que, a timectomia incidental após o nascimento
de cordão. Especialmente quanto à IgE, ela pode estar em níveis (devido à cirurgia cardíaca, por exemplo) não está relacionada a
aumentados na circulação sangüínea de neonatos com anteceden- maior incidência de auto-imunidade.
tes familiares de atopia, mas sem traduzir algum agravo específico.
Considerações Finais
Linfócitos T
O nascimento é um desafio, principalmente do ponto de vista
Os linfócitos T desempenham papel crucial na regulação da imunológico. O indivíduo sai de um ambiente fetal praticamente
imunidade específica. Eles modulam as funções das células estéril, para um meio ambiente repleto de microorganismos que
apresentadoras de antígenos, dos linfócitos B e até mesmo de põem suas defesas a prova. O sistema imune não está pronto ao
outros linfócitos T. Para tanto, as diversas células comunicam-se nascimento, porém sua variedade de efetores e sua especificida-
entre si, via citocinas ou por meio de moléculas expressas em de desempenham importante papel nos primeiros dias de vida.
sua superfície. Conforme a expressão de moléculas, e as citoci- Enquanto a maturação do sistema imune ocorre gradativamente
nas produzidas, os linfócitos T desempenham diferentes funções com o avançar da idade, o neonato e o lactente contam com al-
e são classificados em subpopulações. Quando há expressão de gumas armas na luta diária contra infecções:
CD4 em sua superfície o linfócito T age como auxiliar, secretando
várias citocinas, as quais podem estimular células B. Quando há 1. a passagem transplacentária do repertório imunológi-
expressão de CD8 em sua superfície, ele possui ação citotóxica co materno via IgG;
contra tumores ou células infectadas por vírus. 2. o aleitamento materno, que confere proteção diferen-
Os precursores dos linfócitos T são produzidos na medula ós- ciada para as mucosas; 599
sea e migram para o timo, onde vão completar sua maturação e 3. a vacinação adequada, que estimula o sistema imune
diferenciação. O timo já é um órgão linfóide ativo por volta da 8ª para a produção própria de anticorpos.
semana de vida. Linfócitos T maduros são identificados no san-
gue do cordão a partir da 20ª semana gestacional. Num primeiro olhar, a imaturidade do sistema imune ao nas-
Os linfócitos T constituem a maioria dos linfócitos circulantes. cimento pode ser classificada como uma imunodeficiência tran-
Logo após o nascimento, ocorre uma diminuição no número ab- sitória. Entretanto, essa pode ser a tradução de um mecanismo
soluto de linfócitos, que chegam ao seu mínimo no 3º dia de vida. de adaptação. Afinal, a tolerância imunológica é predominante
A partir daí, esse número aumenta até o 10º dia de vida. O pre- no período fetal. E é absolutamente adequado que assim seja.
domínio de linfócitos em sangue periférico se mantém, tanto em O sistema imune exerce suas funções por meio da interação
prematuros quanto em RN de termo, até o 3º ano de vida. entre células, anticorpos, enzimas, proteínas, mediadores infla-
A porcentagem de linfócitos expressando CD2, CD3 e CD8 em matórios, etc. Essa rede interligada de mecanismos efetores é
sua superfície é menor no cordão umbilical do que em adultos. responsável pela proteção contra agentes infecciosos, reconheci-
Entretanto, não há diferença em números absolutos, já que o mento do que é próprio (regulação da auto-imunidade) e vigilân-
número absoluto de leucócitos está elevado ao nascimento. No cia contra o surgimento de tumores.
que diz respeito aos linfócitos T CD4+, tanto seu número absoluto Não há dúvida de que o conhecimento sobre o desenvolvimen-
quanto sua porcentagem são maiores no sangue de cordão, se to do sistema imune é de grande utilidade para a compreensão
comparado com o sangue periférico de adultos. de vários eventos aos quais os recém-nascidos, notadamente os
A Tabela 1, apresentada anteriormente, mostra a evolução de risco, estão sujeitos.
do número desses linfócitos na população brasileira, confor-
me a faixa etária. Bibliografia
A média de linfócitos T no RN é de 3000 células/mm3, enquan-
• DELVES, P. J.; ROITT, I. M. Advances in immunology: the immune system (first of two parts).
to no adulto é de 1400/mm3. A relação CD4+/CD8+ pode chegar New England Journal of Medicine, 343:37, 2000.
a 31 no período neonatal. As células T CD4+ de cordão não são • COSTA-CARVALHO, B. T.; NUDELMAN, V.; CARNEIRO-SAMPAIO, M. M. S. Mecanismos de
defesa contra infecções. Jornal de Pediatria (Rio de Janeiro)74:S3, 1998.
muito eficientes. Na ausência de ação adequada de linfócitos T • EDWARD, M. S.; BAKER, C.J. Bacterial infections in the neonate. In: LONG SS. Principles
and practice of pediatric infectious diseases. 3rd ed. New York: Churchill Livingstone, Cap.
CD4+, os linfócitos B não conseguem secretar Igs contra antí- 94., 2008
• PAULSEN, F.; PUFE, T.; SCHAUDIG, U.; HELD-FEINDT; LEHMANN, J.; SCHRÖDER, J.; TILL-
genos solúveis adequadamente. Ainda, a diferenciação de lin- MANN, B. Detection of natural peptide antibiotics in human nasolacrimal ducts. Investiga-
fócitos B, via estímulo por linfócitos T, necessita da atuação da tive Ophthalmology & Visual Science. 42: 2157, 2001.
• XANTHOU, M. Leucocyte blood picture in healthy full-term and premature babies during
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• ALAM, R.; GORSKA, M. Lymphocytes. Journal of Allergy and Clinical Immunology 111:
período neonatal, consequentemente, a produção de anticorpos S476, 2003.
também fica reduzida. Os linfócitos T CD4+ do neonato vão ama- • JORNAL BRAGID. n. 3, 2006. Disponível em: <http://www.imunopediatria.org.br/inst_jor-
nal.php>. Acesso em: 20 jul. 2009.
durecendo e melhorando sua função com o evoluir da idade. Há
predominância de atividade supressora sobre atividade auxiliar
de linfócitos T em sangue de cordão. Adicionalmente, foi observa-
Paulo R. Margotto
Assistência ao Recém-Nascido de Risco
• SHEARER, W.; ROSENBLATT, H.; GELMAN, R.; OYOMOPITO, R.; PLAEGER, S.; STIEHM, E.;
WARA, D.; DOUGLAS, S.; LUZURIAGA, K.; MCFARLAND, E.; YOGEV, R.; RATHORE, M.; LEVY,
W.; GRAHAM, B.; Spector, S. Lymphocyte subsets in healthy children from birth through 18
years of age: the pediatric AIDS clinical trials group P1009 study. Journal of Allergy and
Clinical Immunology 112: 973, 2003.
• PALMEIRA, P.; COSTA-CARVALHO, B. T.; ARSLANIAN, C.; PONTES, G.; NAGAO, A. T.; CAR-
NEIRO-SAMPAIO, M. M. S. Transfer of antibodies across the placenta and in breast milk
from mothers on intravenous immunoglobulin. Pediatric Allergy and Immunology. No prelo
2009.
600
Capitulo 19 Imunologia
O tecido linfóide associado às mucosas (MALT) é considerado o Fonte: Modificado de Neurath, MF, Finotto S, Glimcher LH
maior órgão imunológico do corpo hum ano, compreendendo uma TheAs células dendríticas também captam antígenos tanto nos
rede extensa e integrada de tecidos linfóides que são responsáveis folículos linfóides isolados como na lâmina própria das mucosas,
em manter o equilíbrio e a defesa imunológica frente aos constan- e migram para os linfonodos mesentéricos, onde apresentam
tes estímulos provenientes do meio interno e do ambiente externo. o antígeno processado aos linfócitos virgens desencadeando a
O MALT recebe denominações diferentes de acordo com o te- resposta imune. Estudos também demonstraram que as células
cido onde aparece: tecido gastrointestinal (GALT), tecido bronco- dendríticas dos linfonodos periféricos podem processar antíge-
pulmonar (BALT), tecido nasal (NALT) e geniturinário. nos provenientes da absorção no epitélio intestinal.
Paulo R. Margotto
Assistência ao Recém-Nascido de Risco
602
O GALT é o tecido de mucosa mais bem estudado até hoje, Tabela 1 – Imunidade Inata e Adaptativa do Intestino
sendo considerado o maior tecido linfóide do corpo humano, com Fonte: Modificado de Mayer L. Mucosal Immunity. Pediatrics
uma extensão de mais de 300m. É composto por uma flora mi- 111:1595,2003.
crobiana de 1014 microorganismos com mais de 500 espécies de
bactérias, e possui defesa inata e adaptativa conforme a Tabela As células de Paneth fazem parte da imunidade inata e são encon-
1. No adulto, cerca de 2% dos antígenos, oriundos da dieta atra- tradas no intestino delgado. Estas células possuem peptídeos antimi-
vessam a mucosa intestinal de forma intacta. crobianos como α-defensinas, lisozimas e fosfolipase A2 que atuam
contra bactérias gram-positivas e gram-negativas e alguns vírus.
Imunidade Inata Imunidade As células epiteliais absorvem nutrientes (enzimas presen-
Físico-química Celular Adaptativa tes na borda em escova), funcionam como barreira (junções
firmes) e transportam IgA secretória. Além destas funções já
Linfócitos Linfócitos
Muco conhecidas, atuam como células apresentadoras de antígenos
intraepiteliais Intraepiteliais
não profissionais, podendo reconhecer através de receptores
Junções intercelulares Citocinas
Macrófagos semelhantes ao Toll (TRL) partículas de bactérias e vírus. Essas
firmes regulatórias
células também podem produzir citocinas, e participar do me-
Membranas canismo de tolerância imunológica modulando a expansão de
Leucócitos IgA secretória
epiteliais células T regulatórias e promovendo o controle da inflamação
Receptores se- local ao regular a ativação dos linfócitos.
Enzimas da borda
melhantes ao Toll Placas de Peyer
em escova
(TRLs)
Paulo R. Margotto
Assistência ao Recém-Nascido de Risco
604
Bibliografia
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Capitulo 19 Imunologia
Paulo R. Margotto
Assistência ao Recém-Nascido de Risco
Está presente em sua maior concentração nos primeiros dias do Os leucócitos agem combatendo diretamente a infecção e
pós-parto (no colostro) e então diminui progressivamente para ativando outros mecanismos de defesa. Estão em quantidade
um nível basal de 0,2 a 0,3 g/l abundante no colostro e há autores que relatam níveis em torno
A IgA secretora possui uma estrutura diferente em relação aos de 8 a 28% de neutrófilos no leite de mães lactantes e outros
anticorpos séricos. A IgA sérica é um monômero e a IgA secretora relatam valores tão elevados quanto 40 a 60%. Os macrófagos
é um dímero, ou seja, duas moléculas de IgA unidas pela cadeia constituem cerca de 40% ou mais de todos os leucócitos do co-
J e ao componente secretor, que é sintetizado na membrana ba- lostro e são mais ativos que os neutrófilos, fabricando lisozimas
solateral das células epiteliais da glândula mamária, formando o no leite materno, lactoferrina, C2, C3, C4, IL-1, fatores supresso-
complexo IgA secretora (IgAs). Esse processo é conhecido como res de leucotrienos e prostaglandinas (PGE2).
ciclo enteromamário ou bronco-mamário, associando a glândula Os linfócitos constituem 10% do leite, e destes 10%, cerca de
mamária ao sistema imune comum de mucosas. Assim, as molé- 20% são linfócitos B produtores de anticorpos (principalmente
culas de IgAs não são degradadas pelo ácido gástrico e enzimas IgA) e o restante são linfócitos T (em torno de 50 a 80%), que
digestivas, podendo bloquear a adesão e entrada de diversos exterminam as células que estão infectadas ou fazem a mobiliza-
microorganismos, agindo localmente e protegendo as superfí- ção de outros componentes do sistema imunológico, além de pro-
cies mucosas do lactente. A síntese de IgAs é influenciada por moverem uma transferência de imunidade celular sistêmica da
diversos fatores, tais como a experiência imunológica da mãe ou mãe para o filho. Os linfócitos do leite proliferam na presença de
infecções maternas recentes, por exemplo. Escherichia coli e são capazes de produzir Interferon-gama para
A atividade protetora da IgAs é diferente das outras imunoglo- reforçar a resposta imunológica da criança. A grande maioria das
bulinas. Sua ação principal é bloquear a adesão de microorga- células T expressa antígenos envolvidos na adesão intercelular
nismos às células epiteliais intestinais. A produção de IgAs pelo (LFA-1, ICAM-1) e ativação de células T (HLA-DR). A escassez de
lactente se inicia em torno dos dois a três meses de idade e, até células T de memória no período neonatal e na primeira infância
este momento, o aporte de imunoglobulinas se faz através do é compensada, pelo menos parcialmente, pela transferência ma-
leite materno. Níveis próximos aos dos adultos são encontrados terna de linfócitos T de memória pela amamentação.
entre os seis e oito anos de idade. Os basófilos raramente são encontrados no leite materno (0,1%
A especificidade da IgAs estende-se a diversos agentes, como: de células) e o seu número é positivamente correlacionado com o
Salmonella, Shigella, Escherichia coli, Vibrio cholerae, Campylo- número de eosinófilos no sangue periférico, ou seja, há uma tendên-
bacter, Giardia lamblia, Entamoeba histolytica, Bordetella pertus- cia para níveis maiores de basófilos no leite de mulheres atópicas.
sis, Staphilococcus aureus, Neisseria meningitidis, Haemophilus As citocinas são glicoproteínas secretadas predominantemente
influenzae e Streptococcus pneumoniae, vírus (Poliovirus 1, 2 e 3, por células T ativadas, monócitos e macrófagos e têm efeitos so-
Echovírus, Coxsackie, Influenzae e Rotavírus). A proteção contra bre uma variedade de células do sistema imunitário e também em
infecções fúngicas se faz através de linfócitos T. muitas outras células e sistemas em todo o corpo. O leite humano
Os níveis de IgM no leite materno chegam a 2,5mg/dl, sendo contém citocinas, como interleucina IL-1, IL-4, IL-5, IL-6, IL-8, IL-10, IL-
606 o segundo anticorpo mais abundante. Os níveis de IgG e IgE são 12, IL-13, IL-16, IFN-γ, fator de necrose tumoral alfa (TNF-α) e TGF-β.
baixos no colostro e leite materno. A IgE pode combinar com an- Os oligossacarídeos se ligam inespecificamente às bactérias
tígenos no lúmen intestinal e liberar mediadores químicos que e assim impedem que haja interação com a mucosa intestinal.
podem aumentar a permeabilidade vascular. Mesmo em mães Ao contrário da IgAs, são absorvidos e podem ser eliminados
alérgicas há pouquíssima passagem de IgE pelo leite. pela urina, sendo uma das explicações do porquê crianças ali-
Poucos estudos mostram as possíveis alterações na composi- mentadas com ao seio materno apresentam índices mais bai-
ção do leite humano dependendo do tipo e do número de partos. xos de infecções urinárias.
De acordo com esses estudos, as primíparas têm concentrações A lisozima é um componente protéico que está presente no lei-
mais altas de IgAs e IgM que as multíparas, provavelmente por te materno em concentrações 5000 vezes maior que no leite de
apresentarem uma lentidão no enchimento da mama em relação vaca e é um conhecido agente anti-infeccioso. O fator bífidus no
às multíparas. As mães submetidas a parto cesárea (mas que leite materno humano promove o crescimento de bacilos Gram-
entraram em trabalho de parto) tinham níveis de IgAs mais altos positivos na flora intestinal (Lactobacillus bifidus), que inibem a
no colostro do que aquelas que optaram pelo parto vaginal. Não multiplicação de agentes patogênicos. Os recém-nascidos que
houve diferença significativa nos níveis de IgG em relação à pa- são amamentados com fórmula láctea a base de leite de vaca
ridade e tipo de parto e nos níveis de IgM em relação ao tipo de têm maior proliferação de Gram-negativos (potencialmente pato-
parto. Provavelmente o estresse cirúrgico aliado ao trabalho de gênicos) e coliformes na sua flora intestinal.
parto torna as concentrações de IgAs mais altas no colostro entre As células citotóxicas naturais (células Natural Killer - NK) têm
48 e 72 horas pós-parto. Também foi observado que quanto mais atividade citotóxica para células tumorais e células infectadas
precoce a coleta do colostro, maior a concentração de IgAs, daí a por vírus.
importância do aleitamento materno precoce do recém-nascido,
se possível ainda na sala de parto. Ações Dos Principais Componentes
Do Leite Materno
Outros Componentes Do Leite Materno
Produção de anticorpos
Linfócitos B
A concentração dos componentes do leite materno varia con- contra patógenos específicos.
forme progride a lactação, ou seja, as concentrações de lactofer- Eliminam microorganismos
rina, IgAs e leucócitos diminuem nas primeiras semanas de lac- do intestino da criança.
tação. Já os níveis de lisozima são baixos no pós-parto imediato Produzem lisozima, lactoferrina, C3 e C4,
e posteriormente aumentam, mantendo estes níveis estáveis em PGE2 e ativador do plasminogênio.
Macrófago
torno de 6 a 24 meses de lactação. Possuem atividade antitumoral
As células epiteliais mioepiteliais e luminais têm características e quimiotática.
de células secretoras e parecem produzir micelas de caseína no Ativam outros componentes
estroma da glândula mamária. do sistema imune.
Capitulo 19 Imunologia
Paulo R. Margotto
Assistência ao Recém-Nascido de Risco
Aspectos Gerais
As interações intercelulares que estabelecem e mantêm a Algumas ID primárias que podem ocorrer em RN ou lactentes
resposta imune (RI) são intimamente organizadas e altamente Síndrome de DiGeorge
complexas. E as bases para a imunidade no desenvolvimento do Síndrome de Griscelli
organismo estão bem estabelecidas antes mesmo do nascimen- Síndrome de Omenn
to. Embora os componentes do sistema imune (SI) se diferenciem Síndrome de desregulação imune, poliendocrinopatia, enteropa-
precocemente na vida fetal, a maturidade funcional levará alguns tia, ligada ao X (IPEX)
anos para ser completada.
Neutropenia congênita grave (Síndrome de Kostmann)
A despeito da imaturidade relativa do SI ao nascimento, o re-
Síndrome da imunodeficiência combinada grave (IDCG)
cém-nascido (RN) é capaz de apresentar uma grande variedade
da resposta imunológica efetiva para o seu novo ambiente e os Deficiência de adesão leucocitária (LAD)
fatores maternos supridos pela transferência através da placen- Síndrome de hiper IgM ligada ao X
ta, pelo colostro e pela amamentação ao seio contribuem para
complementar e aumentar as defesas provendo proteção adicio- Síndrome de DiGeorge
nal até que a maturação seja completada.
O SI atua promovendo a sua defesa contra vírus, bactérias, fun- Etiologia
gos, protozoários e outros agentes que tenham o potencial para
produzir infecção e doença. De forma geral, esses sistemas con- A Síndrome de DiGeorge (SDG) foi descrita inicialmente em
sistem de imunidade mediada por célula (célula T), imunidade 1965 como uma doença caracterizada por hipoplasia tímica, hi-
mediada por anticorpo (célula B), fagocítico (polimorfonuclear e poparatireoidismo com conseqüente hipocalcemia, doença cardí-
mononuclear) e complemento. aca congênita e dismorfismo facial. Esta desordem cromossômi-
As imunodeficiências (ID) formam um grupo diverso de doen- ca é uma das mais comuns e com uma prevalência estimada de
608 ças que, como resultado de uma ou mais anormalidades do SI, 1 em cada 4000 a 6000 na população.
aumenta a susceptibilidade para a infecção. Estes defeitos podem ser variáveis e associados dentro de um
Como a maioria das ID primárias é transmitida por herança espectro de manifestações que também é denominado como
recessiva ligada ao X ou autossômica recessiva, as crianças tor- síndrome CATCH22 (defeitos cardíacos, hipoplasia tímica, palato
nam-se o grupo alvo destas patologias e o neonatologista tem fendido, hipocalcemia e anormalidades do cromossomo 22).
um importante papel em reconhecer precocemente os sinais e A maioria dos pacientes portadores da SDG, entre 90 a 95%
sintomas dessas doenças para prover a melhor abordagem tera- dos casos, apresenta deleção do cromossomo 22q11, aproxima-
pêutica, antes que as infecções graves ou dano tecidual perma- damente 5 a 10% são isentos desta deleção e somente em pou-
nente possam ocorrer. cos casos as deleções do cromossomo 10p têm sido identifica-
Estima-se que a incidência das ID primárias ocorre na pro- das. As duplicações deste cromossomo também podem ocorrer,
porção de 1:2000 nascidos vivos, embora possa ser mais ele- levando ao fenótipo similar ao do cromossomo 22q11 SD.
vada devido a muitas crianças morrerem de infecção antes da A anomalia completa da SDG ocorre em menos de 1% desses
suspeição diagnóstica. pacientes, que são atímicos e apresentam deficiência grave das
A primeira doença de ID descrita foi reportada por Bruton há células T circulantes (< 50 células/mcL). Os pacientes com SDG
mais de 50 anos e, desde então, mais de 150 ID primárias têm parcial têm hipoplasia tímica como evidenciada pela presença
sido descritas. de células T circulantes com resposta proliferativa a mitógenos.
A história clínica de uma criança com suspeita de ID deve abran- Os casos típicos de SDG devem ser suspeitados precocemente
ger dados como doença materna, duração da gestação, peso e ao nascimento devido à associação de anomalia cardíaca com
condições do nascimento, relato da queda do coto umbilical (> 21 hipocalcemia. A tetania secundária à hipocalcemia pode ocorrer
dias), a natureza e a gravidade de doenças infecciosas pregressas. dentro das primeiras 24 a 48 horas de vida devido à hipoplasia
A presença de alguns sinais e sintomas durante o exame fí- das glândulas paratieróides.
sico podem ser observados e chamar a atenção para possível A maioria desses pacientes é reconhecida por apresentar ca-
diagnóstico de ID, como: anomalia facial, dermatite, rash maculo- racterísticas externas como: micrognatia, orelhas chanfradas e
papular, fígado e baço aumentados, massa muscular diminuída, de implantação baixa, hipertelorismo, inclinação antimongolóide
hiperemia perianal devido à diarréia, abscessos, febre de origem dos olhos e nariz em sela. Outros achados clínicos também po-
indeterminada e infecções graves ou de curso prolongado que dem ser encontrados como: tetralogia de Fallot, defeito no arco
dependam da utilização de antibióticos. aórtico, alterações no palato, anomalias renais e esqueléticas,
A história familiar deve constar dados a respeito de consangüi- além de atraso no desenvolvimento durante a infância.
nidade dos pais, morte precoce, infecções graves ou repetidas e Atualmente, o diagnóstico é feito com o método de fluorescên-
ocorrência de doenças autoimunes ou neoplasias em parentes cia em hibridização in situ (FISH), o qual é extremamente acura-
próximos ou distantes. do, mas demorado e caro. Esforços para desenvolver um método
Capitulo 19 Imunologia
mais rápido, baseado na reação de cadeia polimerase (PCR), po- Síndrome de Griscelli
derá estar disponível em breve para uso comercial.
A maioria dos pacientes com a síndrome da deleção 22q11.2 e Etiologia
com alterações imunológicas apresenta diminuição leve a mode-
rada na contagem de células T, o que pode levar a uma incidência Em 1978, Griscelli descreveu uma síndrome que apresentava
elevada de infecções e doenças autoimune. A imunodeficiência - se com albinismo parcial associada à imunodeficiência e infec-
nesses pacientes não resulta da ausência do timo e, sim, da sua ções piogênicas freqüentes, sendo clinicamente semelhante à
migração anormal. A contagem de células B é freqüentemente síndrome de Chediak-Higashi, porém com ausência de grânulos
normal, embora possam ocorrer anormalidades nas células B gigantes (azurófilos) em granulócitos.
de memória CD27+. Estudos têm demonstrado que os níveis de A Síndrome de Griscelli (SG) é uma doença rara, autossômica
imunoglobulinas e resposta específica a anticorpos são relativa- recessiva, que se manifesta com hipopigmentação variável do
mente normais, embora Finocchi tenha observado que 43% dos cabelo (cinza prateado) e da pele, podendo ser acompanhada de
pacientes com evidência de deficiência de anticorpos (IgA, IgM, algumas alterações, como: anormalidades neurológicas (SG tipo
subclasses de IgG ou anticorpos específicos) apresentavam cor- 1), imunodeficiência e síndrome hematofagocítica (SG tipo 2) e
relação significativa entre a presença de infecções recorrentes e somente anormalidades dermatológicas (SG tipo 3).
as anormalidades humorais.
Diagnóstico
Manejo e Tratamento
A SG é classificada em três tipos distintos baseados em caracte-
As anormalidades cardíacas têm sido vistas em aproximada- rísticas moleculares e genéticas: SG tipo 1, SG tipo 2 e SG tipo 3.
mente 75% de todos os pacientes com a síndrome da deleção A SG tipo 1 é causada pela mutação no gene miosina Va
do cromossomo 22q11.2 e são a principal causa de morte. Uma (MYO5A), localizado no cromossomo 15q21, o qual regula o
avaliação inicial precoce ecocardiográfica é importante para es- transporte de organelas tanto nas células neuronais quanto nos
sas crianças, logo após o nascimento, pois nem todas as anoma- melanócitos. Esses pacientes, além de apresentarem as altera-
lias cardíacas são óbvias. ções de pigmentação do cabelo (grânulos pigmentares distribu-
O número baixo de células T ocorre em 75 a 80% dessas crian- ídos irregularmente ao longo do cabelo) e da pele (melanócitos
ças e ainda não se sabe se as infecções pós-operatórias estão basais hiperpigmentados com esparsamento de queratinócitos
aumentadas nesta população. Clinicamente, 40% dos pacientes pigmentados adjacentes) também tinham retardo neuropsicomo-
apresentam-se bem e 60% têm episódios recorrentes de sinusi- tor severo, mas com SI sem alterações.
te, otite média e pneumonia. A realização do RX de tórax poderá A SG tipo 2 é causada pela mutação no gene RAB27A, localizado
revelar ausência da sombra tímica. no cromossomo 15q21, que promove hiperativação descontrolada
Em adição à disfunção imunológica, as anormalidades anatômi- de macrófagos e linfócitos T, resultando em síndrome hematofa-
cas, incluindo broncomalácia com conseqüente aspiração, podem gocítica. Esta é caracterizada por infiltração celular em linfonodos 609
contribuir para a freqüência aumentada das infecções do trato res- e em outros órgãos como cérebro, fígado, baço e medula óssea,
piratório. Estudos clínicos demonstram que a maioria dos pacien- além de ocorrer a ativação policlonal de células T (principalmente
tes não apresenta susceptibilidade para infecções oportunistas. CD8) e ativação dos macrófagos que fagocitam as células sanguí-
Preconiza-se irradiar os derivados do sangue para prevenir a neas, resultando em alterações multissistêmicas. Os pacientes
doença enxerto-versus-hospedeiro e também é necessário re- apresentam alteração da pigmentação do cabelo e da pele, assim
querer proteção contra infecção para os pacientes que necessi- como infecções piogênicas freqüentes e precoce, além de febre,
tam de cirurgia cardíaca antes da obtenção dos resultados da anemia, neutropenia, trombocitopenia, linfocitose, linfohistiocitose
avaliação do SI. hematofagocítica com fase acelerada e defeitos neurológicos na
A hipocalcemia está freqüentemente presente no período neona- ausência de doença neurológica primária. Hepatoesplenomegalia
tal e pode ser exacerbada pela cirurgia cardíaca, sendo requerida e infiltração pulmonar são comuns.
a suplementação de Cálcio no período pós-operatório imediato. A A SG tipo 3 é causada pela mutação no gene MLPH, localizado
hipocalcemia persistente requer um acompanhamento mais cuida- no cromossomo 2q37.3 que codifica a melanofilina.
doso para promover um equilíbrio entre vitamina D, Cálcio e Fósforo.
A falta de coordenação da língua e dos músculos faríngeos e eso- Manejo e Tratamento
fageanos parecem aumentar os distúrbios com a amamentação.
A maioria dos pacientes com a síndrome da deleção do cro- O tratamento e o prognóstico são dependentes do tipo da sín-
mossomo 22q11.2 apresenta diminuição do número de células T drome. A SG tipo 1 não apresenta cura definitiva e a abordagem
(< 1200/mcL) em conseqüência da hipoplasia tímica, aproxima- depende da severidade das manifestações neurológicas. A SG tipo
damente 20% não apresentam evidências de diminuição das cé- 2 tem prognóstico grave e o transplante de medula óssea deve ser
lulas T e somente menos de 1%, com aplasia tímica verdadeira, o mais precoce possível. Doses elevadas de corticosteróides e ou-
necessitará de transplante. tros imunossupressores podem retardar a hiperativação dos linfó-
O transplante de timo fetal, o transplante de medula óssea citos e macrófagos, reduzindo os sintomas atribuídos a infiltração
(MO) ou o transplante de células T são requeridos para os pa- dos órgãos, até que o transplante de medula óssea seja realizada.
cientes que apresentam aplasia tímica verdadeira. A SG tipo 3 não necessita de intervenção ativa.
A terapia com imunoglobulina intravenosa (IGIV) deve ser uti- O aconselhamento genético deve ser oferecido a essas famí-
lizada para os pacientes que apresentam deficiência de anticor- lias e o diagnóstico pré-natal poderá ser feito através do exame
pos e para o controle de infecções recorrentes. do cabelo do feto.
As reações enxerto-versus-hospedeiro, após transfusão san-
guínea, têm sido observadas em pacientes com SDG cuja suspei-
ção diagnóstica não foi realizada antecipadamente.
Paulo R. Margotto
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50% dos pacientes com IPEX e as células Treg FOXP3+ estão di- crianças, portadoras de NCG, podem apresentar manifestações
minuídas, mas não há alteração em relação ao número absoluto clínicas em 50% dos casos antes do primeiro mês de vida e 90%
de linfócitos e as respostas proliferativas a mitógenos e aos antí- dentro dos primeiros seis meses.
genos estão dentro dos limites da normalidade. Nesta doença é observado uma contagem de neutrófilos no
O diagnóstico da IPEX deve ser considerado em qualquer crian- sangue periférico < 500 células/mm3, número elevado de eo-
ça do sexo masculino que apresente, pelo menos, duas das três sinófilos e monócitos, hipergamaglobulinemia (IgA, IgM, IgG) e
características da tríade ou tenha associado à evidência de do- produção normal ou aumentada tanto do G-CSF (fator estimu-
ença autoimune. O padrão ouro para diagnóstico da doença é a lante de granulócitos) quanto do GM-CSF (fator estimulante de
identificação da mutação do gene FOXP3, entretanto, as muta- granulócitos-monócitos).
ções têm sido identificadas em somente 25 a 30% dos pacientes A medula óssea apresenta mielopoiese com parada de matura-
com suspeita clínica. ção dos precursores do neutrófilo ao nível promielócito-mielócito.
Os promielócitos freqüentemente apresentam morfologia atípica
Manejo e Tratamento e seu número encontra-se discretamente aumentado.
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A imunização com vírus vivo atenuado deve ser evitada, assim O tratamento é dirigido aos agentes infecciosos envolvidos, que
como todos os produtos sanguíneos devem ser irradiados antes geralmente são organismos patogênicos comuns e não oportunistas.
que a transfusão seja realizada nestes pacientes. Os pacientes com LAD requerem tratamento agressivo e precoce
Utilizar antibióticos e antifúngicos profilaticamente para evitar das infecções e eles respondem a terapia antibiótica apropriada.
infecção e repor a gamaglobulina intravenosa regularmente. A terapia profilática deve ser realizada antes de determinados
Tratar qualquer infecção de forma rápida e agressiva e utili- procedimentos, como por exemplo, os odontológicos.
zar nutrição parenteral nos casos de atraso do crescimento e O transplante de medula óssea e a terapia gênica têm sido
desenvolvimento. propostos para estes pacientes.
O tratamento definitivo consiste no transplante de medula óssea
histocompatível e quando realizado nos primeiros três meses de
vida apresenta uma expectativa de sobrevida superior a 96%. Por Síndrome de Hiper IgM ligada ao X
isso, é importantíssimo que o diagnóstico seja realizado precoce-
mente, pois a IDCG é considerada uma emergência pediátrica cuja Etiologia
morte freqüentemente ocorre antes do primeiro aniversário.
Atualmente a terapia gênica apresenta-se como uma esperan- É uma herança recessiva rara ligada ao X que ocorre devido a
ça para os pacientes portadores de IDCG ou de outras imunode- uma mutação no gene que produz a molécula de superfície CD
ficiências cuja base molecular seja conhecida. 154 (CD 40L) no cromossomo X (Xq26).
O defeito funcional existente no CD 40L (ligante do CD 40) na
Deficiência de Adesão Leucocitária superfície de células T CD4 ativadas, impossibilita a ligação com
a molécula CD 40 na superfície das células B, levando estas cé-
Etiologia lulas a produzirem somente IgM.
As crianças portadoras da Síndrome de Hiper IgM ligada ao
A Deficiência de Adesão Leucocitária (LAD) tipo 1 é caracteriza- X (HIGM1) apresentam hipogamaglobulinemia, susceptibilidade
da como uma herança autossômica recessiva cuja mutação ocor- aumentada a infecções nos primeiros 6 meses de vida e incidên-
re no gene da cadeia ß2 do CD18 localizado no cromossomo 21, cia elevada para malignidade e autoimunidade.
levando à ausência ou expressão deficiente dos heterodímeros
específicos CD11a/CD18, CD11b/CD18 e CD11c/CD18. Essas Diagnóstico
moléculas de adesão, da família ß 2 integrina, estão presentes
em linfócitos, monócitos e granulócitos. O diagnóstico é confirmado pela demonstração da mutação
A maioria das funções dos leucócitos está comprometida como a dentro do gene do CD 40L.
612 adesão dos mesmos ao endotélio vascular, a migração transendo- Os pacientes apresentam infecções piogênicas recorrentes, in-
telial para o sítio inflamatório, a fagocitose de partículas estranhas cluindo otite média, pneumonia, diarréia aquosa crônica e septi-
e a citotoxicidade celular dependente de anticorpo. Conseqüente- cemia. Os agentes microbianos presentes são P carinii, P jiroveci
mente, os pacientes com LAD apresentam infecções piogênicas e Cryptosporidium.
recorrentes com início nas primeiras semanas de vida. A hiperplasia linfóide, incluindo aumento das amígdalas, linfo-
nodos, fígado e baço é um fator comum encontrado na HIGM1.
Diagnóstico A presença de auto-anticorpo está associada ao desenvolvi-
mento de anemia hemolítica, trombocitopenia e hipotireoidismo.
O diagnóstico da LAD é confirmado pela análise através da ci- Há risco elevado para o desenvolvimento de neoplasias.
tometria de fluxo de leucócitos do sangue periférico utilizando-se A neutropenia persistente ou intermitente ocorre em mais de 50%
anticorpos monoclonais para detectar a deficiência das glicopro- destes pacientes e leva a úlceras orais recorrentes e estomatites.
teínas: CD11a, b ou c ou CD18. O número de linfócitos T e B é normal, com IgG, IgA e IgE séri-
A contagem de neutrófilos no sangue periférico pode estar cas muito baixas ou ausentes, porém com níveis de IgM normal
elevada mesmo na ausência de infecção e os níveis séricos de ou elevado (1000mg/dl).
imunoglobulinas, resposta anticórpica e reação de hipersensibili-
dade tardia estão normais. Manejo e Tratamento
Tem sido identificado dois grupos de fenótipo clínico da LAD:
o que apresenta infecção grave com risco de morte (< 1%) nos O prognóstico não é bom para a maioria desses pacientes e
primeiros anos de vida e o que apresenta infecção menos severa o tratamento de escolha é o transplante de medula óssea histo-
(com dificuldade de cicatrização dos ferimentos) que consegue compatível.
ultrapassar o período da infância. A neutropenia é responsiva ao tratamento com G-CSF e à IGIV.
As infecções bacterianas e fúngicas graves pelos agentes micro- O tratamento antimicrobiano profilático pode ser necessário
bianos como: Staphylococcus aureus, Pseudomonas aeruginosa, devido ao elevado risco de infecção oportunista pelo P jiroveci.
Klebsiella, Proteus sp, Enterococcus, Aspergillus sp e Candida albi-
cans explicam a mortalidade elevada. Esses pacientes não apre- Orientação do Especialista
sentam susceptibilidade a infecções virais ou malignidade.
Durante o período neonatal a peritonite e a septicemia decor- O parecer do imunologista é de grande importância para dar
rem de complicações da onfalite e da queda tardia do coto um- uma abordagem precoce das conseqüências do déficit imune e
bilical (> 21 dias). promover uma melhor qualidade de vida para os pacientes porta-
As crianças que ultrapassam a infância desenvolvem otite mé- dores das síndromes apresentadas neste capítulo.
dia e sinusite de repetição, doença periodontal, traqueobronqui-
te, pneumonia, vaginite, peritonite, abscesso perianal, infecções
necróticas teciduais progressiva recorrente e septicemia.
Capitulo 19 Imunologia
Paulo R. Margotto
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Imunidade Humoral
Através do RX de tórax pode-se obter a imagem tímica. Os pa- % média do complemento em relação ao
cientes portadores de imunodeficiência combinada grave (IDCG) adulto
possuem atrofia de amígdalas e linfonodos, acompanhado de Componentes do
atrofia tímica. Na síndrome de Di George o paciente apresenta RN a termo RN pré-termo
Complemento
fácies característica e ausência ou hipoplasia do timo.
CH50 56-90 45-71
AP50 49-65 40-51
Contagem De Linfócitos
C1q 65-90 -
O melhor marcador para linfócitos T totais é o CD3, uma vez C4 60-100 27-58 615
que se refere a um complexo molecular associado aos recepto- C2 76-100 42-91
res específicos (TCRs). Além de serem exclusivos os linfócitos T, C3 60-100 96
encontram-se presentes em todas as subpopulações de células T C5 75 -
maduras. A caracterização de linfócitos CD3+, geralmente inclui C6 47 -
a quantificação das subpopulações CD4+, comumente referida
C7 67 -
como auxiliadora (Th = T helper), e CD8+, que apresenta proprie-
C8 ~20 -
dades citotóxicas (Tc). Essas subpopulações ainda podem ser
subdivididas com base em outros marcadores menos utilizados C9 < 20 -
(CD45, CD25, etc.). B 35-59 36-50
Pacientes com síndrome de Di George tem subpopulação de P 33-71 13-65
células T (CD3++, CD4+ e CD8+) baixas. H 61 -
A quantificação de células “Natural Killer” (NK) se faz pela iden- C3bi 55 -
tificação de CD16 e CD56. A síndrome de Griscelli é caracterizada
por uma imunodeficiência celular e função alterada das células NK.
Tabela 3 – Níveis Séricos e Atividades do Sistema Complemento no
Avaliação Dos Fagócitos Recém Nascido
Retirado de Vilela MMS. Desenvolvimento do Sistema Imune na Criança.
*Avaliação quantitativa de neutrófilos: Em: Grumach AS. Alergia e Imunologia na Infância e Adolescência. 2ª.
Ed. São Paulo: Atheneu, 2009. pp. 423-445
Paulo R. Margotto
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Uso do
CURARE
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acetilcolina (ACh). Estes circuitos incluem todo o sistema nervoso placa motora final e através da membrana muscular (receptores
parassimpático, e a parte pré-ganglionar do sistema nervoso sim- extrajuncionais). As propriedades dos canais iônicos dos recepto-
pático. Os receptores Nn encontram-se também presentes no siste- res de acetilcolina são também diferentes no RN em relação ao
ma nervoso central. Os subtipos (Receptores “musculares”) estão adulto. A taxa com que ocorre o fechamento dos canais após a
presentes na placa motora. A sua ativação causa despolarização e estimulação pela acetilcolina é aproximadamente 3 vezes menor
contração do músculo esquelético, responsável pelos movimentos no neonato, tornando mais semelhante ao adulto por volta do
voluntários. Compreende-se assim o efeito de substâncias como primeiro mês de vida extra-uterina. A produção de acetilcolina a
o curare, utilizado por tribos indígenas sul-americanas na caça, partir do terminal nervoso é menor no RN em relação ao adulto.
que ao atingir o animal com um dardo ou seta impregnada com a A magnitude da despolarização na placa motora neuromuscular
substância causam paralisia e morte da vítima (por paralisia dos após a estimulação é menor no RN e aumenta dramaticamente
músculos da respiração) em poucos minutos. durante o período neonatal. Há sugestão de produção de menos
Os receptores muscarínicos são receptores metabotrópicos vesículas de acetilcolina por potencial de ação nervosa no RN
acoplados a proteína G. São estimulados pela acetilcolina de- Estas diferenças na anatomia e bioquímica das junções neu-
sencadeando uma cascata intracelular que é responsável pelas romusculares dos RN, assim como outras diferenças fisiológicas
respostas ditas”muscarínicas”. Devem o seu nome à muscarina, nos compartimentos aquosos do corpo e função renal, podem
um fármaco presente no cogumelo Amanita muscaria que ativa ter importantes implicações para o uso de agentes bloqueadores
seletivamente estes receptores. O seu antagonista clássico é a neuromusculares na UTI Neonatal.
atropina, produzido, por exemplo, pela planta Atropa belladonna. Tais diferenças podem contribuir para uma relativa sensibilida-
Estão descritos pelo menos 5 tipos de receptores, de M1 a M5. de do RN aos bloqueadores neuromusculares.
A ação que exercem depende da sua ocalização, assim como do
tipo de proteína G a que estão acoplados: Fisiologia Do Bloqueio Neuromuscular
A ativação dos receptores de ACh pela ligação com o ACh aos
sítios em cada duas subunidades alfas, provoca uma entrada de Há 2 categorias de agentes bloqueadores neuromusculares
Na+ na célula e uma saída de K+, provocando a despolarização
do neurônio pós-sináptico e no inicio de um novo potencial de • bloqueadores neuromusculares não despolarizantes
ação. Portanto, a ligação de ambos os sítios ao transmissor, pro- • bloqueadores neuromusculares despolarizantes
voca uma mudança na conformação do receptor, permitindo a
alteração nos gradientes de concentração do sódio, potássio e Bloqueadores neuromusculares não despolarizantes
cálcio. Assim, o receptor acetilcolina é uma porta quimicamen- Estes agentes evitam a transmissão neuromuscular ligando-se
te reativa para o movimento de cátions. A acetilcolina se liga ao competitivamente aos sítios de ligação da acetilcolina nos recep-
receptor muito brevemente (<1 msec). A sua ação termina com tores pós-juncionais (receptores nicotínicos).Se quantidades su-
a hidrólise pela acetilcolinesterase, presente na fenda sináptica. ficientes de receptores são ocupadas pelos agentes bloqueados,
O curare é um composto orgânico do grupo do alcalóide que exer- adespolarização da placa final não alcançará um limiar (50mV) e 619
ce ação relaxante sobre a musculatura. É uma droga paralisante a contração muscular não ocorrerá. Como vimos na fisiologia da
usada em pequenas doses para relaxamento muscular, e derivada transmissão neuromuscular, as moléculas de acetilcolina devem
de várias plantas alcalóides da família Loganiaceae ou Loganlácea se ligar a ambos os sítios do receptor para que ocorra a abertura
do gênero Strychnos Destas plantas são tirados vários subprodutos dos canais. O início da ação ocorre dentro de 2-3 minutos, sendo
como exemplo as substâncias estricnina e Chondrodentoin. assim não disponível para o rápido controle da via aérea.
É um potente inibidor, relaxante sobre o músculo estriado.Atu- A ligação destes agentes ao receptor é reversível. Assim quanti-
ando como competidor da acetilcolina pela ligação aos recepto- dades suficientes de acetilcolina podem conter os efeitos da medi-
res nicotínicos (um dos dois tipos de receptores sinérgicos para o cação. Esta é a razão do urso de antagonistas da acetilcolinestera-
neurotransmissor) da placa motora. Assim, ao bloquear os recep- se (neostigmina e edrofônio) para conter o efeito dos bloqueadores
tores de acetilcolina, esses receptores, os quais são ionotrópicos neuromusculares não despolarizantes.A junção meuromuscular
para cátions, não se abrem. Desse modo, não ocorre o influxo de do recém-nascido parece ser mais susceptível do que a do adulto
Sódio desencadeado pela atividade normal da placa motora, o ao bloqueio pelos agentes neuromusculares não despolarizantes.
que provocaria a despolarização da membrana pós-sináptica. O Os principais bloqueadores neuromusculares pertencentes a este
potencial gerado pela ligação, em condições fisiológicas, da ace- grupo empregados na prática diária são: pancurônio, vecurônio, ro-
tilcolina ao seu receptor na placa motora é chamado de potencial curônio, atracúrio, cisatracúrio, pipecurônio, doxacúrio e mivacúrio.
da placa motora, o qual é responsável por estimular a abertura
de canais de Sódio dependentes de voltagem, os quais contri- Bloqueadores neuromusculares despolarizantes
buirão para a amplificação do potencial despolarizante que se Estes agentes despolarizantes mimetizam o efeito da acetilcoli-
espalha pela fibra muscular, desencadeando a contração. na na junção neuromuscular; inicialmente causam fasciculações
e paralisia. Este agente tem início da ação rápida (5 minutos) e
Junção Neuromuscular No Recém-Nascido dura 5 minutos, efeito não reversível pela acetilcolinesterase, tais
como a neostigmina, mas a colinesterase plasmática bloqueia
Há diferenças importantes estruturais e bioquímicas entrem a rapidamente a sua ação. O bloqueio da neurotransmissão ocorre
junção neuromusculardo RN e de crianças maiores. A unidade pela despolarização prolongada causada pela colina que age so-
motora é difusamente larga no recém-nascido e nos adultos, va- bre os canais de cálcio.
ria com o grupo muscular. A relação entre nervo terminal e fibra O único agente clinicamente empregado nesta situação é
muscular também difere. No RN há múltiplas fibras musculares a succinilcolina. Entre os mecanismos de ação de destacam o
por axônio terminal e já no adulto, as fibras musculares se res- efeito agonista da succinilcolina que ocupa as subunidades alfa,
tringem ao contato com um único nervo (inervação focal). Esta causando despolarização e dissensibilização a acetilcolina e ten-
relação difusa do nervo para músculo nos RN é refletido no nú- do como efeito final a flacidez muscular. A succinilcolina não é
mero e distribuição dos receptores de acetilcolina na membrana susceptível a degradação enzimática pela acetilcolinesterase.
pós-sináptica (o RN apresenta menor superfície de área em rela- O bloqueio apela succinilcolina, clinicamente é manifesta-
ção aos adultos) e os receptores são difusamente distribuídos na do pela difusa miofasciculação no início da sua ação, seguido
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pela paralisia (a ação da succinilcolina na membrana pré-si- nascidos que “brigavam” com o respirador e são estes os RN de
náptica promove a liberação adicional de acetilcolina que po- maior risco para desenvolver pneumotórax. Por outro lado, 13 de
deria explicar este fato). 17 RN tratados requereram aumento das pressões do respirador
A ação da succinilcolina termina em 5-15 minutos (menor du- e foram ventilados por um tempo significativamente mais longo.
ração em crianças), assim que sofre hidrólise enzimática catali- Analisando 50 RN com DMH sob ventilação mecânica nos pri-
sada pela enzima plasmática e hepática, succinilcolinesterase. meiros dias de vida, Perlman e cl detectaram significante relação
As crianças parecem ser relativamente resistentes a administra- entre flutuação da VFSC, assim como da pressão arterial e o sub-
ção de succinilcolina em relação aos adultos. A distribuição difu- seqüente desenvolvimento da hemorragia intraventricular. Rela-
sa dos receptores de acetilcolina que caracteriza a membrana taram também a conversão do padrão flutuante da VFSC para o
muscular do RN na junção neuromuscular e o maior volume de estável da VFSC. Observem as figuras 2 e 3.
distribuição, podem contribuir para esta diferença.
A succinilcolina continua ser a droga de escolha para a para- Pressão Sangüínea Arterial
lisia muscular.Particularmente quando há necessidade de início
rápido do efeito. Nenhum dos relaxantes musculares não despo-
larizantes (veja a frente) tem o perfil farmacodinâmico da succi-
nilcolina. Assim a succinilcolina continua sendo usada para entu-
bação endotraqueal urgente no período pré-operatório nas salas
de emergências, na Unidade de Cuidados Intensivos e mesmo
fora do Hospital durante transporte urgente de pacientes. Devido
a sua rápida ação, mesmo sendo administrada intramuscular,
é também. Usada para o tratamento do laringoespasmo, espe-
cialmente quando está associado com dessaturação e não está
disponível acesso venoso12. Em contraste, a succinilcolina é um
antagonista dos receptores colinérgicos autônomos e bradicar-
dia vagal pode ocorrer após a sua administração.
As crianças parecem ser mais susceptíveis que os adultos, sendo
que a pré- medicação com a atropina é freqüentemente aconselhável.
Quando a succinilcolina é administrada no paciente saudável,
ocorre despolarização dos receptores que estão presentes somen-
te na junção neuromuscular, ocorrendo efluxo de potássio intra-
celular limitada à área juncional; esta despolarização resulta em
uma mudança na concentração plasmática do potássio de apro-
620 ximadamente 0,5 a 1,0mEq/l, Havendo uma perda da excitação Figura 2
muscular (contração) por qualquer razão 9denervação, imobiliza-
ção, terapia por relaxante muscular, toxinas) há uma espalhamen-
to dos receptores colinérgicos juncionais através de toda a mem-
brana muscular. Assim, a hipercalemia induzida pela acetilcolina
tem significado clínicos nos pacientes com queimaduras (estes
pacientes têm aumento dos receptores colinérgicos juncional e ex-
trajuncional). As diferenças na junção neuromuscular das crianças
podem influenciar o potencial para a produção de potássio seguin-
do ao uso de succinilcolina, mas não há dados que sugerem que
isto seja um problema nas Unidades Neonatais.
QuelicinR – frasco ampola de 10 ml com 500mg; frasco am-
pola de 100 ml com 100mg de cloreto de succinilcolina
com o respirador (respiração espontânea coincide com a inflação) a ventilação mecânica e se há melhora a longo prazo na evolução
as alterações nas pressões intratorácicas são menores. Assim, pulmonar e neurológica.
ventilação assincrônica leva a grandes flutuações na VFSC e como O pancurônio foi a única droga usada na dose de 0,03mg/kg a
vimos no estudo de Perlman e cl, a flutuação da VFSC aumenta o 0,01mg/kg, sendo repetida para manter a paralisia.
risco de hemorragia intraventricular. Os autores concluem nesta metanálise que o uso rotineiro de
Cowan e Thoresen relataram alterações na VFSC com o uso de bloqueadores neuromusculares em uma população selecionada
diferentes pressões de insuflação pulmonar (PIP): não ocorreram de RN prematuros ventilados em assimetria com o respirador re-
alterações ventilando o RN com PIP de 14cm H2O e alterações sultou em redução da hemorragia intraventricular e possivelmen-
entre 5,6 a 12,3%, com o aumento da PIP para 18cm H2O; seme- te do pneumotórax. Não foi possível obter conclusões a respeito
lhantes variações foram observadas a nível venoso. Os autores da segurança quanto ao prognóstico a longo prazo, tanto pulmo-
sugerem manter a PIP em níveis menores possíveis, principal- nar como pulmonar e neurológico.
mente nestes RN pré-termos extremos nos primeiros dias de vida Quando um RN está assincrônico com o respirador, os clínicos
quando o risco de hemorragia intraventricular é maior e o uso da devem estar alerta para prover adequada analgesia e sedação e
ultra-sonografia Doppler regularmente para verificar se a VFSC assegurar uma ventilação com normoxia e normocapnia, além de
está sendo afetada pela PIP. uma adequada circulação.
Perlman e cl evidenciaram que a freqüência de hemorragia in- Devido ao falta de dados de estudos randomizados, o uso rotinei-
traventricular nos RN que usaram pancurônio (também apresen- ro de pancurônio nos RN prematuro ventilados, não pode ser indi-
tavam fluxo sanguíneo cerebral flutuante) foi significativamente cada. Também para o RN a termo, não há dados disponíveis de en-
menor em relação aos RN controles que não receberam pancurô- saios controlados e randomizados a respeito da eficácia ou efeitos
nio. Os bebês paralisados tenderam a apresentar menos severa adversos da paralisia em RN a termos ventilados ou sobre os efeitos
hemorragia (de 10 RN com VFSC flutuante não paralisados, 10 de outros bloqueadores neuromusculares que não o pancurônio.
(100%) apresentaram hemorragia intraventricular, dos quais 7, Mais estudos são necessários para identificar que RN possivel-
hemorrragia intraventricular severa; 5 de 14 (36%) paralisados mente se beneficiariam de paralisia neuromuscular. Deveria ser
apresentaram com hemorragia intraventricular e 0 com hemorra- desenvolvido e testado métodos que identificassem uma maneira
gia intraventricular severa. Severa. Observe na Figura 4 a conver- prática e fácil de ventilar os RN que estão em assincronia com o
são da VFSC flutuante pelo uso do relaxante muscular no recém- respirador, após a otimização das técnicas ventilatórias e adequa-
nascido em ventilação mecânica. O traçado do fluxo sanguíneo da sedo-analgesia. Mais ensaios são necessários para avaliar os
cerebral foi obtido com o uso do Doppler na fontanela anterior efeitos a curto e a longo prazo de novos bloqueadores neuromus-
de um recém-nascido com doença da membrana hialina antes e culares nos RN ventilados. Esta metanálise mostrou diminuição
após o uso do relaxante muscular (brometo de pancurônio). significativa para a hemorragia intraventricular e o pneumotórax,
quando o curare foi usado em condições de assincronia com o res-
pirador. Na condição em que houve seleção para a assincronia,
não houve diferenças nas taxas de hemorragia intraventricular e 621
pneumotórax; em ambas as condições não houve diminuição da
mortalidade e da dependência do oxigênio aos 28 dias e na 36ª
semana de idade pós-concepção nos sobreviventes.
O uso de bloqueadores neuromusculares em recém-nascidos
que necessitam de ventilação mecânica é controverso. Apesar de
vários estudos evidenciarem benefícios, muito deles não foram es-
tudos controlados. Há uma preocupação quanto à segurança do
uso prolongado de paralisia neuromuscular nos recém-nascidos.
Portanto, o pancurônio pode ser vantajoso na redução do baro-
trauma e na prevenção da hemorragia intraventricular. Este efeito
benéfico ocorre numa população de alto risco que deve ser iden-
tificada, ou seja, naqueles RN que “brigam” com o respirador ou
que apresentam velocidade do fluxo sanguíneo cerebral flutuante.
Figura 4. Conversão da velocidade do fluxo cerebral flutuante pelo uso Assim, o pancurônio não deve ser administrado indiscriminada-
do pancurônio em um recém- nascido com doença da membrana hialina mente, devido aos riscos de hipoventilação inadvertida ou hipoxia.
assincrônico com o respirador (Perlman JM e cl. N Engl J Med 1985; O bloqueador neuromuscular tem sido sugerido na facilitação
313:1353-7 da entubação de RN, com a finalidade de evitar as complicações
decorrentes da entubação sem pré-medicação, comi alterações
Segundo Costarino, o pancurônio pode ser inapropriado para mui- na frequência cardíaca, pressão arterial e oxigenação. Kelly e cl.
tos RN prematuros que não apresentam fluxo sanguíneo cerebral relataram os resultados dos efeitos fisiológicos de um estudo clí-
flutuante, além de que nem todas as Unidades dispõem do Doppler. nico prospectivo randomizado na avaliação do uso de pancurônio
Recém-nascido ventilado, respirando assincronicamente com e atropina como pré-medicação.Geralmente tem sido usado com
o ventilador, apresenta alto risco de pneumotórax e hemorragia este propósito a succinilcolina. Os RN (peso de 580g a 3450g;
intraventricular e ficam mais expostos ao severo barotrauma que Idade gestacional: 725-40 semanas) que receberam pancurônio
pode piorar a evolução clínica. A paralisia muscular que elimina (0,1mg/kg) e atropina (0,01mg/kg) não apresentaram significan-
os esforços respiratórios do RN, apresenta uma vantagem poten- te queda da freqüência cardíaca e menor aumento da pressão in-
cial a este respeito. tracraniana em relação aos RN controles (RN recebendo apenas
A metanálise de Cools e Offringa16 englobando 6 estudos (486 atropina ou nenhuma medicação). O menor aumento da pressão
RN) realizada com o objetivo de determinar se o uso rotineiro de intracraniana foi atribuída aos menores problemas mecânicos e
paralisia muscular no RN sob ventilação mecânica em relação ao esforço, muito observado nos RN não paralisados. A menor inci-
RN que não recebeu paralisia muscular mostra importante redu- dência de bradicardia foi atribuída ao efeito sinérgico da atropina
ção de complicações agudas pulmonares e neurológicas durante e pancurônio nos receptores muscarínicos cardíacos.
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Estudo randomizado de Ghanta e cl realizado na Austrália, en- prazo destes RN deve ser incluído no desenho destes ensaios
volvendo 63RN com o objetivo de comparar a eficácia do propo- (consulte o capítulo Analgesia e sedação no recém-nascido em
fol (DiprivanR,),agente hipnótico, ao regime de morfina, atropina ventilação mecânica/sequência rápida de intubação)
e suxamethodium (MASsux - AnectineR - succinilcolina) como um
agente indutor para a intubação endotraqueal neonatal não emer- Quanto Aos Efeitos Adversos
gencial; 33 RN receberam propofol e 30 RN receberam o regime
MASsux. O peso ao nascer (1020g x 1095g), idade gestacional Devido a diferentes mecanismos de ação destes agentes
(27 x 28 semanas), assim como os pesos na entubação (1068g (não despolarizantes e polarizantes), pode resultar em diferen-
x 1275g) foram comparáveis. Os autores relataram que o tempo tes efeitos adversos.
para alcançar sucesso na entubação foi menor com o propofol do Quanto aos efeitos cardiovasculares: estes efeitos resultam da
que com o regime MASux (120 x 260 minutos). A saturação de oxi- ação destes agentes na ação nos receptores colinérgicos do siste-
gênio durante o procedimento foi significantemente menor nos RN ma nervoso autônomo. Os agentes não despolarizantes antagoni-
com o regime MASux em relação aos RN que receberam propofol zam competitivamente os receptores colinérgicos autônomos. Eles
(60% x 80%). Trauma nasal/oral foi menor e o tempo de recupera- incluem os receptores nicotínicos pré-ganglionares no sistema
ção foi menor (780 x 1425 segundos) no grupo do propofol. simpático e os receptoresmuscarínicos pré e pós-ganglionares no
O propofol foi escolhido como pré-medicação na Intubação en- sistema parassimpático. Assim existe potencial para taquicardia
dotraqueal não emergencial pela conveniência do uso de uma (bloqueio vagal do coração) e vasodilatação periférica (bloqueio
única droga e por sua habilidade em preservar respirações es- simpático). A extensão destas alterações varia entre os agentes
pontâneas enquanto provê hipnose A dose usada foi de 2,5mg/ e pacientes. A produção de histamina, um fator não relacionado a
kg endovenosa, sendo permitido um máxima de 2 doses.Não ação colinérgica dos bloqueadores não despolarizantes, pode cau-
foram observados efeitos adversos notados em adultos, como hi- sar efeitos cardiovasculares colaterais adicionais.
potensão, vagotomia ou apnéia. Muito cuidado deve ser tomado Cheung e cl relataram perda auditiva sensorial nas crianças
no uso do propofol em infusão contínua, devido à ocorrência de sobreviventes de hérnia diafragmática submetida ao uso prolon-
severas complicações relatadas em adultos. Portanto, NÃO deve gado de pancurônio. A dose acumulativa e a duração do uso do
ser usado o propofol em infusão continua. Assim, o propofol é pancurônio foram significativamente correlacionadas (r=0,66/
mais efetivo como um agente indutor para facilitar a entubação r=0,81) com a perda auditiva.
endotraqueal neonatal. A hipoxemia foi menos severa provavel- Entre outros efeitos adversos, são relatados, diminuição da
mente devido à manutenção da respiração espontânea. oxigenação (10mmHg ou mais) em 1/3 (6 de 18) dos RN com
Recentemente, Pershad e cl evidenciaram que o propofol per- doença da membrana hialina. No entanto, muitos RN com síndro-
mite início mais rápido, assim como recuperação e com eficácia me de aspiração meconial e pneumonia melhoram a oxigenação.
comparável ao regime de pentobarbital/midazolam para seda- Houve aumento significante da freqüência cardíaca.
ção de crianças que vão realizar ressonância magnética. No en- O aumento da hemorragia intraventricular relatada por Banca-
622 tanto, segundo Braarington, faltam estudos farmacocinéticos do lari na década de 80 pode ter resultado do aumento da pressão
propofol no período neonatal, não devendo ser utilizado numa intrapleural seguindo a paralisia com interferência secundária do
sequência rápida de intubação. retorno venoso da cabeça. Outro fator seria o aumento da pres-
A revisão sistemática de Shah e cl mostrou uma variabilidade são arterial e o aumento da concentração sérica de norepinefri-
no uso de drogas como premedicação na entubação dos RN: na e epinefrina no RN que recebeu pancurônio. O aumento da
anticolinérgicos, analgésicos, agentes anestésicos, relaxan- pressão arterial persistiu por 50 minutos após a administração
tes musculares, sedativos, usados isoladamente ou em várias do pancurônio. A duração da taquicardia durou 30 minutos. Os
combinações. A combinação mais comumente avaliada foi a da resultados do estudo de Cabal e cl sugerem que o pancurônio
atropina, fentanil e succinilcolina. A maioria destes estudos foi estimula a atividade simpática no RN com desconforto.
conduzida sob circunstâncias relativamente controladas, tais No entanto, estudo experimental em ovelhas recém-nascidas
como intubação eletiva ou semi-eletiva (cirurgia ou troca de saudáveis realizado por Belik e cl não evidenciou alterações no
tubo endotraqueal). Devido os estudos usar diferentes drogas e fluxo sanguíneo cerebral.
medidas de prognósticos, Shah e cl foram incapazes de identifi- Tem sido relatada contratura nas juntas, fraqueza no RN que re-
car dois estudos dos quais os dados pudessem ser sumarizados cebeu pancurônio, assim como diminuição do tamanho das fibras
usando a técnica de metanálise. Portanto, a evidência disponí- musculares nas crianças que receberam pancurônio por 24-27
vel a respeito da eficácia e efetividade das diferentes drogas dias. Movimentos passivos, freqüentes e regulares dos membros
para a premedicação nos RN é limitada (pequeno número de podem prevenir estas complicações. O uso concomitante de genta-
RN estudados). Os resultados de alguns dos estudos sugerem mina pode potencializar este efeito. Tem sido descrito em adultos,
uma atenuação das respostas fisiológicas nos RN que recebem severa tetraparesia com arreflexia, algumas vezes combinado com
premedicação para a entubação. Nenhum estudo traz informa- distúrbios dos músculos extraocular e facial e difusa atrofia mus-
ções relevantes do prognóstico a curto prazo, como duração da cular, sem distúrbio sensorial, em pacientes após a descontinua-
ventilação mecânica, desenvolvimento neurocomportamental, ção do pancurônio usado por 6 dias ou mais. A alta dose, disfun-
estenose subglótica. As Unidades Neonatais necessitam desen- ção hepática e o uso do aminoglicosídeo podem ter contribuído.
volver específicos guias práticos a respeito da premedicação Os RN que recebem relaxantes musculares não despolarizan-
para a entubação e assegurar que todos os médicos estejam tes, com freqüência desenvolvem anormalidades que incluem:
familiarizados com os efeitos das drogas usadas. Em situações tórax em forma de sino e edema de tecidos moles4. Kopecky e
como anormalidade da anatomia da via aérea superior (severa cl comparando os RX de RN que usaram bloqueador neuromus-
micrognatia, estenose subglótica), a entubação do RN acordado cular com os RN que não usaram, relataram nos RN que usaram
parece ser aceitável. Havendo a decisão do uso de premedica- bloqueadores neuromusculares tórax em forma de sino em 24 de
ção, estas devem ser feitas com atenção e com monitorização 57 RN (42,10%) e diminuição de gás intestinal em 46 de 52 RN.
do estado cardiorespiratório por profissionais competentes. Dillard e cl relataram diminuição de gás intestinal em 22 de 24
Futuros estudos deverão ser realizados para documentar a se- (91,7%) RN ventilados tratados com pancurônio. O pancurônio
gurança e eficácia da premedicação na entubação de RN pré- previne a deglutição do ar, mas não inibe a peristalse, ocorrendo
termos e a termo instáveis e estáveis. Um segmento de longo a eliminação do gás 3 horas ou mais após a administração da
Capitulo 20 Uso do CURARE
droga. Portanto, os clínicos devem estar alerta para este fenôme- tos), duração esta muito superior aos bloqueadores neuromuscu-
no para evitar estudos radiológicos desnecessários. lares não despolarizantes de duração intermediária. Devido aos
Entre os efeitos adversos da succinilcolina se destacam: mio- procedimentos cirúrgicos habitualmente curtos, o seu uso tem
fasciculações (ocorre menos freqüentemente em crianças abaixo diminuído significativamente na pediatria.
de 5 anos de idade) e edema pulmonar. O uso do pancurônio tem sido diminuído com o surgimento de
bloqueadores neuromusculares de duração intermediária; A sua
Farmacodinânimica/Farmacocinética indicação limita—se a intervenção de longa duração ou quando
se requer ventilação mecânica no pós-operatório.
Em 1942 foi introduzia a d-tubocurarina. Este curare aumenta Nos pacientes com insuficiência renal, o seu uso deve ser evi-
a produção de histamina e facilita o bloqueio autônomo em nível tado ou monitorizado. Segundo Tobias o pancurônio pode ser
de receptores nicotínicos pré- ganglionares no sistema simpático usado em infusão contínua em crianças e o custo é bem menor
e ambos os receptores muscarínicos pré-ganglionares e pós-gan- do que os novos bloqueadores neuromusculares ($5,88 versus
glionares do sistema parassimpático. Esta ação leva a hipoten- $91,2 para o vecurônio e $113,0 para o atracúrio em infusão
são e diminuição da resistência vascular associada ao seu uso. contínua - 0,7; 0,10; 0,6 mcg/kg/h, respectivamente).
Devido à importante liberação de histamina, a d-tubocurarina PavulonR - ampolas de 2 ml; cada ml contém 2 mg de brometo
foi substituída por outros bloqueadores neuromusculares não de pancurônio
despolarizantes.
Do ponto de vista químico, o pancurônio, vecurônio, o rocurônio Novos Bloqueadores Neuromusculares
e o pipecurônio são agentes bloqueadores neuromusculares não
despolarizantes aminosteróides. O atracúrio, mivacúrio e o doxacú- O bloqueador neuromuscular ideal é aquele que tem a sua
rio são pertencentes ao grupo da benzilisoquinolinas (este grupo ação iniciada rapidamente, não seja cumulativo, independente
caracteriza-se por não ter efeito na liberação de histamina) da função renal e hepática, rapidamente reversível, sendo facil-
mente reversível e livre de efeitos colaterais.
Pancurônio A longa duração da ação dos relaxantes musculares não des-
polarizantes, a dependência da excreção renal, lento início da
O pancurônio, um bloqueador neuromuscular não despolari- ação e os seus efeitos colaterais autônomos ou motores, resultou
zante sintético de longa ação, foi introduzido na clínica em 19672. na demanda por outros bloqueadores neuromusculares que não
O pancurônio é um produto sintético semelhante à d-tubocura- apresentam os efeitos indesejados assinalados anteriormente.
rina, atua no receptor colinérgico e canais de íons (tem uma ação
mais específica no receptor). Diferente de outros curares, o pan- Vecurônio
curônio não diminui a resistência vascular periférica, embora te-
nha um efeito vagolítico, causando aumento na pressão arterial, O vecurônio é muito semelhante do ponto de vista químico ao
taquicardia e aumento do débito cardíaco. Os efeitos cardiovas- pancurônio. Foi introduzido no mercado em 1984. No entanto, há 623
culares do pancurônio são causados pelo aumento da atividade diferenças significativas na farmacologia: tem pouco ou nenhum
nervosa simpática como conseqüência da facilitação de libera- efeito cardiovascular, sendo rapidamente eliminado pela bile
ção de noradrenalina pré e pós-ganglionares ou por inibição da (como vimos, o pancurônio bloqueia os receptores muscarínicos
recaptação de noradrenalina. Além de bloquear os receptores cardíacos e causa taquicardia. Assim, o vecurônio tem duração
nicotínicos da placa motora, também bloqueia os receptores pré- de ação intermediária e início lento e tem pouco ou nenhum efei-
sinápticos muscarínicos do tipo M2, localizados nas terminações to cumulativo, podendo ser usado no paciente com insuficiência
noradrenérgicas do nódulo sinusal e das células musculares car- renal4. No entanto, pode ser observado prolongamento do seu
díacas e aumenta a liberação de noradrenalina, potencializando efeito em pacientes com insuficiência renal, devido ao acúmulo
a taquicardia, ação derivada do seu efeito vagolítico2, 3. dos seus metabólitos ativos, o 3-desacetil, 17 desacetil e o 3,17
Em pequenas quantidades, penetra no líquor cefalorraquidiano. desacetil vecurônio. A sua potência é semelhante ao pancurônio,
(Costarino). Provavelmente ocorre significante ligação com as pro- sendo a dose recomenda a mesma do pancurônio. O tempo de
teínas. Nos RN com menores níveis de proteínas e possivelmente recuperação é menor do que qualquer outro agente não despola-
devido à alteração na afinidade da ligação, pode ocorrer aumento rizante (30 a 40 minutos).
dos níveis livres da droga disponível para interação com o receptor4. A dose de entubação é de 0,1mg/kg com o tempo de início da
A principal rota de excreção dos bloqueadores neuromusculares ação em 2,5 minutos. Duração clínica: 35 a 45 minutos (duração
não despolarizantes é a excreção urinária. Aproximadamente 40% da total: 60-75 minutos).
dose do pancurônio é excretada nas urinae 6% é excretada na bile. Hodges evidenciou, através do uso da aceleromiografia, haver
significativa diferença, no requerimento de vecurônio em relação
Doses á idade (os neonatos e crianças mais jovens requereram 45%
menos vecurônio do que as crianças maiores), além de maior du-
Goudsouzian e cl não demonstraram qualquer diferença no re- ração da ação no grupo pediátrico mais jovem além de apresen-
querimento de pancurônio nos RN <32 semanas em relação aos tar recuperação mais rápida. Segundo autor, a aceleromiografia
RN mais maduros. Houve uma dificuldade é um método conveniente e disponível para a monitorização da
pára reverter o bloqueio neuromuscular nos RN mais imaturos. função neuromuscular na UTI pediátrica.
(de 33 RN estudados, 7 apresentaram recuperação espontânea, Portanto, a grande característica do vecurônio é que está to-
23 RN necessitaram de 1 ou mais doses de atropina e 1 neces- talmente desprovido de efeitos cardiovasculares derivados do
sitou de atropina e neostigmina e 3 apresentaram falha para a bloqueio dos receptores muscarínicos, do bloqueio ganglionar,
reversão do bloqueio) da facilitação de liberação de noradrenalina e o bloqueio da re-
Segundo Bozzo, os RN necessitam de doses maiores que os captação e liberação de histamina, ou seja, o vecurônio carece
adultos para produzir o mesmo bloqueio. Para o RN a dose reco- de todo efeito vagolítico.
mendada para entubação é 0,15mg/kg. O tempo para o início A associação do vecurônio com altas doses de opiáceos pode
da ação após a entubação varia entre 3,0-4,0 minutos. Duração desencadear bradicardia severa e inclusive assistolia (há uma
da ação clínica: 60-80 minutos (duração total; 120 a 160 minu- adequada e rápida resposta à atropina).
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da função hepática, torna-se o curare de eleição nos pacientes ostigmina requer um tempo semelhante para a recuperação em
com insuficiência hepática. relação aos outros bloqueadores de longa duração.
O cisatracúrio permitiu eliminar definitivamente duas desvan-
tagens do atracúrio: a leve liberação de histamina que limita a Efeitos colaterais
sua administração em bolus rápido e seu uso em doses maio- O doxacúrio está praticamente isento dos efeitos derivados
res e a produção de concentrações potencialmente perigosas do da liberação dehistamina. Ainda que não se tenha descrito a
metabólito laudanosino que limitava teoricamente o seu uso em aparição de eritema generalizado ou broncoespasmo, se tem
infusão durante longos períodos, como se faz habitualmente nas relatado a aparição de ma hipotensão severa transitória após a
Unidades de Cuidados Intensivos. O cisatracúrio tem um perfil de administração de uma dose de Entubação de doxacurônio asso-
recuperação mais rápido que o vecurônio nos pacientes críticos, ciado a um eritema cutâneo, mas curiosamente, sem taquicardia
tanto em adultos como em crianças e em recém-nascidos46, compensatória e sem broncoespasmo. No homem, parece que a
provavelmente pelo seu metabolismo independente dos órgãos margem de segurança vagolítica é tão alta quanto ao vecurônio.
e a ausência de metabólitos, (como o laudanosino, uma amina
terciária análogo à morfina) farmacologicamente ativos que po- Indicação
dem prolongar o bloqueio. A sua velocidade de recuperação é se- É um bloqueador neuromuscular não despolarizante compa-
melhante ao do atracurúrio com a vantagem de ter uma grande rável ao pipecurônio por sua grande estabilidade cardiovascular,
estabilidade hemodinâmica por não liberar histamina e produzir mesmo com um tempo de início maior. Compete em suas indica-
a terça parte do metabólito laudanosino. É o bloqueador neuro- ções com o pipecurônio: intervenções de longa duração e cirurgia
muscular não despolarizante mais atrativo na atualidade para cardíaca. Deve ser evitado o seu uso em pacientes com insuficiên-
ser usado por longos períodos em pacientes críticos. cia renal. Pode ser usado em pacientes com patologia hepática.
Devido o cisatracúrio ser 3 vezes mais potente que o atracúrio, NuromaxR – 1 ml contem 1 mg de cloridrato de doxacúrio
o uso do cisatracúrio na UTI deveria obter bloqueio neuromuscu-
lar equivalente ao atracúrio,com a vantagem de produção signifi- Rapacurônio
cativamente menor de laudanosino.
NimbiumR – ampola de 5 ml; cada 1 ml contém 2mg de besi- O rapacurônio é um bloqueador neuromuscular não despolari-
lato de cisatracúrio zante do grupo aminosteróides, de ação ultracurta. Foi introduzi-
do clinicamente para substituir a succinilcolina para indução na
Pipecurônio rápida seqüência de entubação, mas foi retirado do uso clínico
um ano depois, devido à freqüente incidência de severo bronco-
É um relaxante muscular não despolarizante com um perfil espasmo e a broncoconstricção irreversível (3,4%) e de relato de
farmacológico clínico muito semelhante ao do pancurônio, mas eventos sérios, especialmente no grupo pediátrico. Este currare
sem os efeitos vagolíticos daquele curare. É uma droga útil em foi introduzido somente nos Estados Unidos, em 1999, sendo
626 cirurgias de longa duração em pacientes com doenças cardiovas- chamada a atenção a rápida aprovação pelo FDA, quando a dro-
cularese em cirurgias cardíacas, especialmente se necessita de ga recém começava a fase clínica de investigação e havia poucos
ventilação mecânica no pós- operatório. Introduzido na clínica em estudos em animais e muito pouco estudos em humanos publi-
1983 (leste da Europa) e no ocidente, nos fins dos anos 80 e na cados na literatura médica.
América Latina, nos anos 90. A despeito da retirada do uso clínico é imperativo que se en-
A sua eliminação mais importante é via renal. tenda o mecanismo da broncoconstricção induzida por este cura-
Não é um curare de boa indicação nos pacientes com insufici- re, para que novos bloqueadores neuromusculares que possam
ência renal, hepática ou falha de múltiplos órgãos. causar este efeito adverso não seja introduzida na prática clínica.
A tendência tem sido usar relaxantes musculares de longa du- O broncoespasmo durante a anestesia geral é um evento po-
ração cada vez menos, devido à menor recurarização no pós-ope- tencialmente mortal. A produção de histamina é um dos fatores
ratório que se obtém com os relaxantes de duração intermediária. conhecidos para o broncoespasmo e tem sido atribuído a outros
curares, como o atracúrio. Um mecanismo adicional que pode fa-
Dose cilitar a broncoconstricção durante o uso de agentes bloqueadores
Entubação: 0,1mg/kg-Início da ação:3,5 minutos. Duração neuromusculares e instrumentação das vias aéreas envolve intera-
clínica da ação: 8-120 minutos. Por sua estabilidade hemodinâ- ção dos agentes bloqueadores neuromusculares com receptores
mica, se tem usado associado à sedação e analgesia contínua muscarínicos nervos da via aérea e musculatura lisa. Instrumen-
em Unidade de Tratamento Intensivo em doses de 3mg/hora tação da traquéia superior bem inervada inicia um reflexo que de-
(0,04mg/k ou 0,66 micrograma/kg/minuto)2. sencadeia na produção de acetilcolina dos nervos parassimpáticos
ArduanR- cada frasco –ampola contém 4mg de brometo de pi- que atuam nos receptores muscarínicos M2 e M3 na musculatura
pecurônio, 6 mg de manitol; cada ampola do diluente contem 2 lisa da via aérea, resultando em broncoconstricção. Normalmente
ml de solução fisiológica a 0,9% a produção de acetilcolina é terminada pela ação da acetilcolina
nos receptores muscarínicos M2 presentes nos terminais pré-
Doxacúrio sinápticos dos nervos pós- ganglionares pós-sinápticos. Agentes
bloqueadores neuromusculares com maior afinidade pelos recep-
É uma relaxante muscular com grande margem de segurança, tores muscarínicos M2 versus M3 pode levar a uma inibição sele-
desde o ponto de vista cardiovascular. Foi introduzida na clínica tiva dos receptores muscarínicos M2 nos nervos parassimpáticos
em 1991. A sua eliminação é principalmente renal em forma não durante a estimulação dos nervos parassimpáticos (exemplo, en-
modificada2. tubação), resultando numa maciça produção de acetilcolina para
atuar nos receptores M3 não antagônicos na musculatura lisa da
Dose via aérea, facilitando o broncoespasmo.
Intubação: 0,05mg/kg. Início da ação: 6 minutos, significati- Em estudo experimental, Jooste e cl evidenciaram que o ra-
vamente maior do que os outros. Duração clínica: 85-125 mi- pacurônio pode precipitar a broncoconstrição pelo antagonismo
nutos (duração total; 120-200 minutos), muito semelhante ao seletivo dos receptores muscarínicos M2 (tem 50 vezes maior
pancurônio.A reversão do bloqueio com uma dose padrão de ne- habilidade para potencializar a contração muscular através do
Capitulo 20 Uso do CURARE
antagonismo dos receptores muscarínicos M2, do que a sua bloqueio neuromuscular induzido pelo rocurônio e vecurônio, ha-
habilidade para inibir a contração através do antagonismo dos vendo uma relação dose-resposta.
receptores muscarínicos M3) nos nervos parassimpáticos, au- Sparr e cl relataram, reversão precoce do bloqueio neuromus-
mentando a produção de acetilcolina par atuar nos receptores cular profundo induzido pelo rocurônio com o uso do sugamma-
M3 muscarínicos antagônicos no músculo da via aérea. dex em um estudo multicêntrico (98 pacientes adultos do sexo
É bem provável que a próxima geração de agentes bloqueado- masculino foram randomizados para receber sugammadex nas
res neuromusculares para substituir a succinilcolina tem afinida- doses de 1,2, 4,6 ou 8mg/kg ou placebo 3, 5 ou 15 minutos após
de para os receptores muscarínicos. No entanto, a maior afini- o uso do rocurônio na dose de 0,6mg/kg). O tempo de recupera-
dade do rapacurônio pelos receptores muscarínicos M2 versus ção após 3, 5 e 15 minutos do bloqueio com o uso do placebo
M3 é o responsável pela broncoespasmo, parece então prudente caiu de 52,1, 51,7 e 36,6 minutos respectivamente para 1,8, 1,3
que estes novos agentes seja avaliados para o seu potencial em e 1,4 com o uso do sugammadex na dose de 8mg/kg. O sugam-
inibir seletivamente os receptores muscarínicos M2 nas concen- madex foi seguro e bem tolerado. Assim, reverteu de forma rápi-
trações usadas na clínica. da o bloqueio neuromuscular profundo induzido pelo rocurônio,
Associado a este mecanismo, Stuth especula que a direta estimu- além de aumentar a excreção renal do rocurônio.
lação vagal através da manipulação da via aérea é uma importante No estudo de Shields e cl, a dose de sugammadex para rever-
causa do broncoespasmo. Este mecanismo poderia aumentar pro- ter efetivamente o bloqueio profundo e prolongado pelo rocurônio
fundamente o efeito do bloqueio do receptor M2 pelo rapacurônio. esteve entre 2 e 4mg/kg.
RaplonR – Brometo de rapacurônio – o fabricante retirou do Organon, a unidade de negócios de saúde humana da Akzo
mercado devido a possível associação com eventos de bronco- Nobel, anunciou que a solicitação de autorização para comercia-
espasmo (ANVISA). lização de Sugammadex (Org 25 969 - nome comercial: Bridion®
- 100mg/ml) foi aceita para revisão da Agência Européia de Medi-
Reversão Do Bloqueio Neuromuscular: Seletiva camentos (EMEA). Este novo agente destina-se especificamente
Ligação Com O Agente Relaxante a reverter os efeitos do relaxante muscular - brometo de rocurô-
nio (Esmeron®/Zemuron®) - utilizado em anestesia geral durante
Pacientes que recebem bloqueadores neuromusculares po- procedimentos cirúrgicos. Sugammadex age ao encapsular a mo-
dem apresentar risco de bloqueio residual, contribuindo para o lécula do relaxante muscular, removendo a droga de seu local de
desenvolvimento de complicações pulmonares pós- operatórias ação, deixando-a inativa. A reversão do bloqueio neuromuscular
e aumento da morbimortalidade pós-operatória. é utilizada para reduzir o risco de uma recorrência de “relaxa-
Há varias formas de reduzir o risco do desenvolvimento do blo- mento” no paciente, o que pode acarretar complicações graves,
queio residual quando se usa agentes neuromusculares não des- tais como fraqueza muscular e dificuldade de respiração (20 de
polarixantes. Uma forma é esperar a recuperação espontânea julho de 2007).
do bloqueio combinado com a avaliação clínica da recuperação
da função neuromuscular. No entanto os testes clínicos não têm Interação Dos Bloqueadores 627
sido mostrados ser muito úteis aos anestesistas nesta avaliação. Neuromusculares Com Drogas
Outra forma seria o uso a aceleração da recuperação através
da reversão farmacológica do bloqueio neuromuscular, como o Várias drogas e fatores metabólicos podem influenciar a respos-
uso de anticolinesterases, como a neostigmina e o edrofônio. ta dos RN aos agentes bloqueadores não despolarizantes, como
No entanto, estes agentes podem causar eventos colinérgicos o magnésio (Mg) e os aminoglicosídeos. Estes agentes competem
adversos (cardiovasculares e gastrintestinais), além de não se- com o movimento de cálcio pré-juncional para o axônio terminal
rem efetivos quando administrados durante profundo bloqueio. que é necessário para a produção da acetilcolina. O Mg e os anti-
Assim, torna-se importante a necessidade de novos agentes para bióticos podem diminuir a produção de acetilcolina. É improvável
a reversão do bloqueio neuromuscular,com início rápido de ação, que estas drogas causem significante bloqueio neuromuscular,
com melhor eficácia e segurança. mas podem prolongar as ações dos bloqueadores neuromuscula-
O sugammadex é uma nova gama ciclodextrina solúvel em água res ou piorar a fraqueza muscular causada por várias doenças.
e o primeiro da nossa classe de agentes com seletiva ligação com o Além do cálcio antagonizar este efeito no laboratório, tem efeito
relaxante, encapsulando rapidamente o bloqueador neuromuscu- clinico imprevisível. Em adultos, tem sido relatado paralisia respi-
lar não despolarizante esteroidal, mais especificamente o rocurô- ratória com o uso de gentamicina e tem sido tratado com cálcio ou
nio, prevenindo assim a sua atuação nos receptores de acetilcoli- inibidores da colinesterase, como a neostigmina
na. Os estudos em animais têm evidenciado que o sugammadex Assim, vários fatores metabólicos e drogas podem influenciar
reverte rapidamente, in vitro, o bloqueio neuromuscular, incluindo a resposta dos RN aos agentes bloqueadores neuromusculares
o bloqueio profundo, além de aumentar a excreção renal do ro- não despolarizantes. A hipotermia aumenta o bloqueio, devido à
curônio. Quanto à reversão do bloqueio do vecurônio, espera-se diminuição da excreção urinária e biliar; a acidose aumenta o blo-
que o sugammadex seja igualmente efetiva devido à semelhança queio e a alcalose antagoniza o bloqueio, ambas condições por
farmacológica com o vecurônio e com o rocurônio. um efeito direto na membrana e transmissão neuromuscular; a
Com o propósito de avaliar a eficácia do sugammadex, Suy e hipermagnesemia, como citamos, aumenta o bloqueio (competi-
clrandomizaram 80 pacientes adultos para receber vecurônio ou ção com o movimento do cálcio para o axônio terminal, inibindo a
rocurônio; a dose de sugammadex ou placebo foi escolhida de produção de acetilcolina), assim como a hipocalemia (efeito dire-
maneira exploratória; iniciou com 1mg/kg, sendo a dose repetida to no potencial de membrana e transmissão neuromuscular); di-
após avaliação clínica, A nédia de recuperação para o rocurônio minuição do fluxo sanguíneo muscular atrasa início do bloqueio e
foi de 31,8min no grupo placebo, comparado com 1,1 min após a prolonga o bloqueio após ter sido estabelecido, devido à diminui-
administração de 4,0mg/kg de sugammadex; para o vecurônio, ção da droga ao músculo e diminuição da retirada da mesma; in-
o tempo de recuperação no grupo controle (recuperação espon- suficiência renal prolonga o bloqueio, na dependência da droga,
tânea) foi de 48,8 min versus 1,4 min após 8mg/kg de sugam- devido à diminuição do ritmo de filtração glomerular, retardando
madex. O sugammadex foi bem tolerado. Os atores concluem, a excreção; miastenia gravis aumenta o bloqueio, devido ao efei-
neste estudo fase II, que o sugammadex rapidamente reverte o to sinérgico com a transmissão neuromuscular defeituosa; dro-
gas, como aminoglicosídeos e polimixina aumentam o bloqueio
Paulo R. Margotto
Assistência ao Recém-Nascido de Risco
devido à inibição da produção da acetilcolina. A difenilhidantoína • Via de eliminação alternativa: sem dependência da fun-
diminui a produção de acetilcolina e a furosemide aumenta a sua ção hepática e renal para a sua eliminação
produção. A metroclopramida deprime a atividade da colineste- • Seletividade de ação: ausência de efeitos cardiovascula-
rase e prolonga a duração do bloqueio neuromuscular. Portanto, res (hemodinâmicos e autonômicos)
a probabilidade das interações clínicas aumenta nos pacientes • Sem interação com outros fármacos usados na anestesia
recebendo várias drogas com possíveis efeitos na transmissão • Resposta dose-efeito altamente previsível
neuromuscular contração muscular. • Reversão rápida com anticolinesterásicos e se possível,
Dotan e cl demonstraram que o efeito do vecurônio aumenta espontânea, tanto administrado em
com o uso de maiores doses de gentamicina (4mg/kg); modesto • Forma de bolus como em infusão.
aumento ocorreu com dose de 1,2mg/kg em relação aos pacien- • Alta potência para minimizar os efeitos colaterais 9difícil
tes sem uso de gentamicina. compatibilizar isto com um curto
A associação do vecurônio com altas doses de opiáceos pode • Início da ação
desencadear bradicardia severa e inclusive assistolia (há uma • Estável em solução aquosa.
adequada e rápida resposta à atropina)2. O uso de corticosterói-
de concomitantemente com o vecurônio pode prolongar o efeito Nenhum dos relaxantes musculares na atualidade cumpre to-
da ação curarizante, devido à inibição aditiva dos receptores de das estas exigências, de tal modo que está justificado prosseguir
acetilcolina nicotínicos. Assim, o aumento do bloqueio neuromus- na busca de novos agentes, ainda que seja pouco provável a sua
cular produzido quando é usado corticosteróide juntamente com comercialização em curto prazo. Todos os compostos que estão
o vecurônio pode aumentar a denervação farmacológica e contri- sendo estudados tendem a substituir a succinilcolina.
bui, do ponto de vista fisiopatológico, a fraqueza observada em A atenção está voltada para os compostos com propriedade de
alguns pacientes críticos na UTI. relaxante muscular nos derivados dos ésteres do ácido clorofu-
marínico e os derivados do tropinil diéster. O composto mais pro-
Novos Relaxantes Musculares missor do primeiro grupo parece ser o clorofumarato assimétrico
e o mais estudado do segundo grupo é o sal de amônio biquater-
Os relaxantes musculares têm melhorado enormemente a sua nário de tropinil diéster. Já estão sendo estudados em animais de
segurança de tal modo que se torna difícil o aparecimento de no- experimentação e alguns já testados em humanos.
vas drogas, pois as novas devem ter as boas características dos Segundo Almeida, gantracúrio é uma nova classe de bloquea-
seus predecessores e aportar algo mais. dores neuromusculares chamada de clorofumarato, rapidamente
À medida que se tem melhorado a margem de segurança cardio- inativado por cisteínas plasmáticas, resultando em um fármaco de
vascular e metabólico dos bloqueadores neuromusculares, tem au- rápido início da ação com uma duração ultracurta. O tempo para
mentado exigências que devem caracterizar um relaxante muscular: atingir 90% do bloqueio é 122 a 54 segundos na dependência da
dose administrada. A duração é igualmente muito curta, em torno
628 • Mecanismo de ação não despolarizante de 3,5 a 10 minutos. Em animais de laboratório, a reversão é facil-
• Início de ação tão rápido que compete com a succinilcoli- mente obtida com a injeção de cisteína e em seres humanos, foi
na na instauração de boas acelerada com o uso do edrofônio. Estudos animais e no homem,
• Condições para a entubação a injeção da droga não mostrou efeitos colaterais significantes. O
• Curta duração do efeito: altamente metabolizado para aumento discreto da frequência cardiaca e a diminuição da pres-
que não ocorra efeito acumulativo são arterial ocorreram com doses muito elevadas.
Liberação
Duração Efeitos
Dose Inicio de Eliminação Indicação Duração Total
Clínica Cardiovasculares
Histamina
0,1 35 -
Vecurônio 2,5' Não hepática Cirurgia Cardíaca 60 - 75'
mg/Kg 45 '
Indução em sequência
0,6 mg/
Rocurônio* 1,5' 40' Não Não Hepática rápida se a succinilcolina 70'
Kg
estive contra- indicada
Múltiplas vias
Cisatra- 0,1 mg/ Em paciente com insufici-
5,2' 33 - 45' Não Não (Eliminação de 70'
cúrio Kg ência renal ou hepática
Hoffmann)
Capitulo 20 Uso do CURARE
Intervenção cirúrgica de
0,1 80 -
Pipecurônio 3,5' Não Não Renal longa duração paciente 2 - 3 horas
mg/Kg 120'
cardiovasculares
hidrólise pela
Succi- 4-5
0,5-1´ 5-10` Não Bradicardia Acetilcolineste- Entubação de urgência
nilcolina mg IM
rase plasmática
Resumo
Em resumo, a introdução dos bloqueadores neuromusculares • Cisatracúrio: É Mais Potente Que O Atracúrio E Apresenta
revolucionou a prática na medicina, ocorrendo uma redefinição Grande Margem De Segurança Cardiovascular E Metabóli-
na anestesia. Entre as indicações do seu uso na neonatologia, ca, Com A Vantagem De Leve Liberação De Histamina, Sen-
a evidência mostra eficácia do seu uso nos recém-nascidos que do Indicado Para Pacientes Com Patologia Cardiovascular.
“brigam” com o ventilador (assincronia) na diminuição da hemor- • Pipecurônio: Semelhante Ao Pancurônio, No Entanto,
ragia intraventricular e a experiência mostra, no pós-operatório, a Carece De Efeitos Vagolíticos Do Pancurônio, Sendo Indi-
redução da rotura da sutura nos recém-nascidos com atresia de cado Em Cirurgias De Longa Duração Em Pacientes Com
esôfago, sem efeitos adversos. Os relaxantes musculares diferem Patologia Cardiovascular.
no mecanismo de ação, havendo 2 tipos: despolarizantes (succi- • Doxacúrio: Semelhante Ao Pipecurônio, Com A Vantagem
nilcolina) e os não despolarizantes (pancurônio, vecurônio, atracú- De Apresentar Efeitos Cardiovasculares Do Pancurônio E
rio, cisatracúrio, rocurônio, doxacúrio,pipecurônio, mivacúrio). Os Tem As Mesmas Indicações Do Pancurônio (Intervenção
efeitos adversos, agravados com a interação com outras drogas Cirúrgica De Longa Duração).
devem ser reconhecidos, para a otimização do uso dos curares. • Rapacurônio: Devido Causar Grave Broncoespasmo E Bron-
Os curares despolarizantes (succinilcolina) tem sido usados coconstrição Irreversível, Foi Retirado Da Prática Clínica.
para a seqüência rápida deentubação, embora na neonatologia,
tem sido proposta mais atualmente outras drogas, como o pro- A reversão do efeito dos relaxantes musculares é importante
pofol, devido à ocorrência de bradicardia devido ao seu antago- para evitar o risco do desenvolvimento do bloqueio residual. As- 629
nismo com os receptores colinérgicos. Nesta situação, o uso de sim, torna-se importante a necessidade de novos agentes para
atropina se impõe. Devido a sua rápida ação, a succinilcolina tem reverter o bloqueio neuromuscular, com início rápido de ação
sido também usada na reversão do laringoespasmo, especial- com melhor eficácia e segurança do que os anticolinesterási-
mente quando não se dispõe de um acesso venoso. cos, como a neostigmina (causa eventos colinérgicos adversos,
A necessidade de melhorar a margem de segurança cardiovas- cardiovasculares e gastrintestinais, além de serem inefetivos
cular e metabólica dos bloqueadores neuromusculares implicou quando administrados durante bloqueio profundo). Entre estes
no surgimento de novos agentes não despolarizantes. Torna-se agentes, o Sugammadex, uma gama-ciclodestrina, após estu-
importante o conhecimento da farmacodiâmica e farmacociné- dos de fase III, tem-se mostrado efetivo na reversão do bloqueio
tica destes agentes para que seja usado o relaxante muscular neuromuscular. O Sugammadex (inclusive a Agência Européia de
melhor indicado. O relaxante muscular ideal é aquele que apre- Medicamentos- EMEA aceitou a solicitação para a sua comerciali-
senta início da ação rápido e que apresenta curta duração do zação em julho de 2007) se liga seletivamente ao relaxante mus-
efeito, via de eliminação independente do fígado e do rim, au- cular, encapsulando-o, mais especificamente com o rocurônio e
sência de efeitos cardiovasculares e que tenha rápida reversão mais recentemente com o vecurônio.
com anticolinesterásicos e se possível, espontânea. Nenhum dos Na busca do bloqueador neuromuscular ideal (todos os com-
agentes bloqueadores neuromusculares da atualidade cumprem postos que estão sendo estudados tendem a substituir a succi-
totalmente estas exigências. Entre os curares não despolarizan- nilcolina) a atenção está voltada para os derivados dos ésteres
tes em uso temos: do ácido clorofumarínico e o composto mais promissor parece
ser o clorofumarato (gantracúrio). Este agente tem início rápido
• Vecurônio: Melhor Do Ponto De Vista Químico Do Que O de ação (122 a 54 segundos) com uma duração ultracurta (3,5
• Pancurônio; É Desprovido De Efeitos Cardiovasculares Do a 10 minutos) e não apresentou efeitos colaterais significantes;
Pancurônio (Este Leva A Taquicardia E A Hipertensão Arterial). a reversão foi acelerada em animais com o uso de cisteína e em
• Atracúrio: Tem A Vantagem Da Sua Eliminação Por Um humanos, com o uso do edrofônio.
Processo Independente Do Fígado E Do Rim (Eliminação-
De Hoffmann), Sendo O Curare De Eleição Para Pacien- Referências
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Paulo R. Margotto
Assistência ao Recém-Nascido de Risco
Administração de
Medicamentos
Assistência ao Recém-Nascido de Risco
A administração de medicamentos objetiva liberar quantida- condições fisiopatológicas. Tais condições podem fazer o mús-
des adequadas de fármacos no organismo, bem como permitir culo ou o tecido subcutâneo atuarem como reservatórios numa
que os mesmos permaneçam ali até atingir sua finalidade. A res- situação de baixo fluxo sanguíneo. Ao contrário, numa situação
posta terapêutica depende de vários fatores, dentre os quais se de aceleração do fluxo, a absorção pode tornar-se súbita e im-
destacam as características físico-químicas da droga e as condi- previsível. Segundo Katzung (1994), os anticonvulsivantes e os
ções fisiopatológicas dos usuários. aminoglicosídios são exemplos de drogas perigosas ao serem
As variáveis relativas às condições dos usuários são: diferen- administradas por estas vias nos neonatos.
ças genéticas, idade, sexo, composição corporal, taxa metabó- Após a absorção, a droga é transportada pela circulação san-
lica, doenças, aspectos psicológicos. A atenção dos fatores in- guínea até os sítios de ação, seja livremente no sangue ou liga-
trínsecos dos neonatos está voltada à superfície corpórea, bem das a proteínas plasmáticas. Esta é a fase de distribuição das
como ao metabolismo, além da presença de co-morbidades ou drogas e sofre constante influência da composição corporal, a
doenças de base do neonato. Tais fatores são analisados desde qual no recém-nascido se modifica constantemente. A primeira
a escolha da via de administração até a excreção do fármaco. variável se refere à quantidade de água, uma vez que no pre-
As doses devem ser ajustadas para se adequarem ao desen- maturo há aproximadamente 80% de seu peso representado por
volvimento do recém-nascido. Para isso, o conhecimento dos água, enquanto no neonato a termo este percentual gira em tor-
princípios farmacocinéticos e farmacodinâmicos torna-se im- no de 70%. Isto significa dizer que as drogas cuja distribuição
prescindível. Aliado a esse conhecimento, há que se considerar acontece através da água extracelular serão direcionadas rapi-
as modificações fisiológicas que o lactente passa, especialmente damente para seus sítios de ação.
nas primeiras semanas de vida. Também a percentagem de gordura no corpo do recém-nascido
exerce papel importante nesta fase. No neonato a termo, 15% de seu
Especificidades da Farmacologia peso corresponde a gordura, enquanto no prematuro esta percenta-
em Neonatologia gem é de apenas 1%. Por isso, as drogas lipossolúveis não são ade-
632 quadamente armazenadas, podendo ser mais tóxicas no prematuro.
Ao optar por determinada via de administração, é necessário Outro ponto que influencia é a ligação das drogas a proteínas
ponderar sobre características dos neonatos passíveis de inter- plasmáticas, pois no geral estas últimas estão diminuídas no recém-
ferência, como por exemplo, massa muscular, fluxo de sangue no nascido. Esta situação é ocasionada pela baixa concentração das
local escolhido, estado fisiológico do lactente e função gástrica. proteínas plasmáticas, baixa capacidade de ligação destas, bem
Definida como a passagem do medicamento do local de admi- como pela diminuição de sua afinidade às drogas. Como resultan-
nistração até a corrente sanguínea. Com exceção da via endove- te, há maior concentração das drogas cujo transporte depende das
nosa, todas as outras passam pela fase de absorção das drogas proteínas plasmáticas, gerando maior efeito ou toxicidade. Além dis-
que em neonatologia tem particularidades e acontece de formas so, algumas drogas competem com as proteínas plasmáticas pelos
diferentes nos vários sistemas do organismo do neonato. A absor- sítios de ação podendo diminuir o efeito da droga ou aumentá-lo,
ção da via tópica é eficaz, pois no bebê o extrato córneo não está dependendo das condições fisiológicas do bebê.
completo e por isso favorece maior absorção. Além disso, por ter Após ser distribuída, a droga será metabolizada através de pro-
maior quantidade de água em sua composição corporal, a pele é cessos químicos ocorridos, em sua maioria, no fígado pela ação das
mais hidratada, auxiliando na absorção de drogas hidrossolúveis. enzimas hepáticas. O fígado do recém-nascido produz os diversos
Entretanto, deve-se atentar para o fato do recém-nascido ter maior sistemas enzimáticos, mas de forma reduzida e seu desenvolvi-
propensão para desidratação por perdas sensíveis ou insensíveis. mento se dá num ritmo próprio e não homogêneo. Por isto, muitas
A via oral é muito utilizada e enfrenta dificuldades desde a apre- drogas têm depurações lentas e meias-vidas prolongadas no orga-
sentação dos medicamentos, que geralmente é muito grande, di- nismo do neonato. Esta condição pode ser agravada na presença de
ficultando a deglutição. Além disso, os neonatos têm maior tempo disfunções hepáticas por prematuridade ou condições patológicas.
de esvaziamento gástrico, pH gástrico alto, liberação lenta do suco O efeito terapêutico acontece e gera resíduos da droga os quais
gástrico e ineficiência de enzimas gástricas. Tais fatores interferem devem ser excretados pelo organismo. Esta fase pode acontecer
na absorção de drogas que dependem dos componentes gástricos através do trato gastrintestinal, da bile, do trato respiratório, da pele
por acontecerem mais lentamente, mas também podem acelerar e principalmente dos rins. Devido à sua importância, a taxa de fil-
a absorção de drogas as quais seriam inativadas pelo suco gás- tração glomerular influencia sobremaneira na excreção das drogas.
trico. Relacionado à função intestinal, além do peristaltismo irre- No recém-nascido a termo, a taxa glomerular corresponde a 30
gular, os neonatos apresentam deficiência de algumas enzimas – 40% do adulto enquanto o prematuro tem apenas 15%, espe-
hidrolíticas intestinais. Isto torna a absorção intestinal imprevisível, cialmente aqueles com idade gestacional menor que 34 semanas.
podendo retardar o efeito terapêutico desejado. Outra característi- Durante a primeira semana de vida a taxa glomerular sofre ele-
ca diz respeito às baixas concentrações de ácidos biliares e lípase, vação atingindo o percentual de 50 a 60% da taxa adulta após a
diminuindo a absorção das drogas lipossolúveis. terceira semana e iguala-se aos valores do adulto entre 6 e 12 me-
Concernente à via intramuscular ou subcutânea, os principais ses de vida. Devido a esta imaturidade, as drogas cuja eliminação
fatores interferentes são a composição corporal, pois a massa depende da função renal são depuradas lentamente nas primeiras
muscular e a quantidade de tecido subcutâneo no prematuro são semanas de vida, podendo sobrecarregar o sistema renal ou cau-
baixas, e o fluxo sanguíneo, cuja velocidade pode ser alterada por sar maior toxicidade dependendo dos ajustes das doses.
Capitulo 21 Administração de Medicamentos
Paulo R. Margotto
Assistência ao Recém-Nascido de Risco
apresentados na forma líquida ou em pó, sendo embalados em são divididos em dispositivos para acesso venoso central e para
recipientes estéreis. Quando em forma de pó, o medicamento deve acesso venoso periférico. Dentre os usados em acessos perifé-
ser reconstituído à forma líquida através de adição de solvente. Os ricos, destacam-se a seringa com agulha e o cateter sobre agu-
solventes mais comuns são a água destilada e a solução fisiológica lha, também conhecido como cateter venoso periférico curto. Há
a 0,9%, porém alguns medicamentos requerem soluções próprias também a possibilidade de acesso venoso periférico através de
e cabe ao fabricante a indicação do diluente a ser empregado na dispositivo intravenoso tipo agulha de aço (conhecido como “es-
técnica. Muitas vezes faz-se necessário um volume maior do que calpe” ou “butterfly”), porém seu uso vem sendo diminuído, pois
aquele resultante da reconstituição. Nestes casos, é preciso diluir o material utilizado sofre oxidação quando em contato com o san-
a solução, ou seja, diminuir a concentração da solução mediante gue e é indicado para punções que permaneçam até 24 horas.
adição de mais solvente. A seguir apresentamos na tabela 3 as Há várias possibilidades infusionais na terapia intravenosa e a
principais características de cada tipo de via parenteral. escolha delas dependerá do tempo em que o acesso venoso será
necessário, indicação, tipo de solução e condições e localização
Características e locais Volume de Ângulo da das veias. Cada possibilidade de infusão recebe uma nomencla-
de aplicação solução agulha tura específica a saber:
Derme (local de pouca
vascularização). Partes • Bolus – administração endovenosa realizada em tempo
do corpo onde a pilosi- menor ou igual a 1 minuto através de seringa.
Via dade e pigmentação são 0,1 a • Infusão rápida – administração endovenosa realizada
15º em tempo entre 1 e 30 minutos. Em todos os casos de
Intradérmica menores: face ventral 0,5 mL
do antebraço, parte su- infusões com tempo superior a 10 minutos, deve-se usar
perior do tórax e região bureta graduada.
escapular. • Infusão lenta – administração endovenosa realizada em
tempo entre 30 e 60 minutos.
Tecido subcutâneo (indi-
• Infusão contínua – administração endovenosa realizada
cada para medicamen-
em tempo superior a 60 minutos, ininterruptamente.
tos que precisam ser
• Infusão intermitente – administração endovenosa não
absorvidos lentamente).
contínua. Pode ser administrada em tempo superior a 60
Via Partes do corpo com 0,5 a Entre
minutos, bem como pode ser realizado em acesso veno-
Subcutânea fácil acesso e razoável 1,5 mL 45 e 90º
so salinizado.
volume subcutâneo:
braço, face anterior e
É importante salientar que ao infundir soluções por via endove-
externa das coxas, ab-
nosa, deve-se observar a osmolaridade e o pH da solução, bem
dome, região escapular.
634 como a interação das medicações administradas concomitan-
Camada muscular
temente. Outro fator importante diz respeito à necessidade de
(maior absorção compa-
reconstituição de medicamentos endovenosos sob a forma de
rada às vias intradér-
pós, bem como de diluição (mesmo de medicamentos líquidos).
mica e subcutânea por
Nestes casos, deve-se lançar mão de solventes, sendo os mais
ser uma região bem
45 a 90º usados em neonatologia a água destilada, solução fisiológica
vascularizada). Partes
Deve-se 0,9% e solução glicosada 5%. Vale lembrar ainda que muitos
do corpo onde a massa
Via observar fármacos podem ser diluídos também em solução de ringer e⁄ou
muscular seja suficiente 0,5 a
Intra o volume ringer lactato. Entretanto, em neonatologia o uso tanto do ringer
para reter e absorver 2 mL
muscular muscular simples quanto do ringer lactato é prejudicial, uma vez que estas
o medicamento, estar
do soluções podem afetar sobremaneira no equilíbrio hidreletrolítico
afastado de nervos e va-
lactente dos neonatos, especialmente nos prematuros. Tais observações
sos sanguíneos, ser de
concorrem para a boa prática de administração intravenosa de
fácil acesso. Nos lacten-
medicações, evitando iatrogenias. A seguir, as tabelas 4 e 5 apre-
tes as regiões indicadas
sentam algumas características das medicações administradas
são: ventro-glútea e face
por via endovenosa mais comuns em neonatologia.
ântero-lateral da coxa.
Paulo R. Margotto
Assistência ao Recém-Nascido de Risco
Anticonvulsivante, sedativo,
Valium®
Diazepam ansiolítico, miorrelaxante Endovenosa em bolus
Diazepam®
esquelético
Digoxina Cardiotônico e antiarrítmico Digoxina® Endovenosa rápida em 5 a 10minutos
Novalgina®
Dipirona sódica Analgésico, antitérmico Endovenosa rápida
Dipirona sódica®
Dobutrex®
Endovenosa lenta e contínua em bomba de infusão na
Dobutamina Cardiotônico Inotam®
velocidade de 2 a 25 mcg/Kg por minuto
Dobutamina®
Revivan®
Endovenosa contínua em bomba de infusão na veloci-
Dopamina Cardiotônico Dopamin®
dade de 2 a 20 mcg/Kg por minuto
Dopamina®
Adrenalina®
Epinefrina Cardiotônico, broncodilata- Endovenosa em bolus
Epinefrina®
(adrenalina) dor, vasopressor Infusão contínua em bomba de infusão
Hydren®
Endovenosa rápida (dose de ataque) ou lenta (dose de
manutenção)
Hidantal® Dose de ataque: 15 a 20 mg/Kg no mínimo em 30
Fenitoína Anticonvulsivante
Fenitoína® minutos
Dose de manutenção: velocidade máxima de infusão =
0,5 mg/Kg por minuto
Endovenosa com dose de ataque ou manutenção
Fenobarbital ou Fe- Dose de ataque = 20 mg/Kg em 10 a 15 minutos
Anticonvulsivante, sedativo Fenocris®
nobarbital sódico Dose de manutenção = 3 a 4 mg/Kg por dia lentamen-
te.
Endovenosa em bolus (dose de ataque) ou contínua
(dose de manutenção)
Fentanil® Dose e administração dependem dos objetivos: para
Fentanila Analgésico entorpecente
Nilperidol® sedação e analgesia = 1 a 4 mcg/Kg por dose com
velocidade de 1 a 5 mcg/Kg por hora; para anestesia =
5 a 50 mcg/Kg por dose
Zoltec®
636
Fluconazol Antifúngico Floconazol® Endovenosa lenta (30 minutos em bomba de infusão)
Hiconazol®
Antimiastênicos, antídoto Flumazenil®
Flumazenil Endovenosa em bolus
dos benzodiazepínicos Lanexat®
Lasix® Endovenosa em bolus ou lenta
Furosemida Diurético Closenid® Em bolus: administrar em 1 minuto
Furosemida® Via endovenosa lenta: não exceder 4mg por minuto
Antibiótico Gentaplus®
Gentamicina Endovenosa rápida em 20 a 30 minutos
(aminoglicosídeo) Gentaxil®
Gluconato de Cálcio Suplemento mineral Gluconato de Cálcio® Endovenosa rápida em 10 a 30 minutos
Endovenosa em bolus
Heparin®
Heparina Sódica Anticoagulante Endovenosa lenta
Liquemine®
Endovenosa contínua
Antiinflamatório, imunos- Solucortef®
Hidrocortisona supressor, vasoconstritor, Succinato sódico de hidro- Endovenosa lenta ou rápida
corticosteróide cortisona®
Antibiótico
(associação de antibiótico
Imipenem + Cilasta-
betalactâmico e inibidor Tienam® Endovenosa lenta em 30 minutos
tina Sódica
da degradação renal do
antibiótico)
Há vários tipos de insulina,
mas as mais comumente
Insulina NPH: via subcutânea apenas
usadas são a insulina NPH
Insulina Antidiabético Insulina Regular: via subcutânea ou via endovenosa
(Novolin N®, Biohulin N®)
contínua
e a insulina regular (Novo-
lin R®, Biohulin R®)
Lanatosídeo Cardiotônico e antiarrítmico Cedilanide® Endovenosa rápida de 20 a 30 minutos
Antídoto dos antagonistas do Leucovorin cálcio®
Leucovorina Endovenosa rápida em 05 minutos
ácido fólico Lenovor®
Meropenem Antibiótico (betalactâmico) Meronem® Endovenosa rápida ou lenta em 30 minutos
Metilprednisolona Glicocorticóide Solumedrol® Endovenosa rápida
Capitulo 21 Administração de Medicamentos
Antiemético
Metoclopramida Plasil® Endovenosa rápida de 10 a 30 minutos
Estimulante peristáltico
Amebicida, antibacteriano, Endovenosa lenta em bomba de infusão por 60
Metronidazol Flagyl®
giardicida, tricomonicida minutos
Benzodiazepínico com efei-
Endovenosa em bolus
tos ansiolíticos, hipnóticos, Dormonid®
Midazolam Endovenosa rápida em 05 minutos
anticonvulsivantes e relaxan- Dormire®
Endovenosa contínua
te muscular.
Omeprazol®
Omeprazol Anti-úlcera péptica Endovenosa rápida
Mepraz®
Staficilin-N®
Antibiótico
Oxacilina Oxacil® Endovenosa rápida de 10 a 20 minutos
(penicilina semi-sintética)
Oxacilina sódica®
Endovenosa em bolus
Pancurônio Miorrelaxante periférico Pavulon®
Endovenosa contínua
Prostin® Endovenosa contínua em bomba de infusão com dose
Prostavasin® de ataque ou de manutenção
Prostaglandina Prostaglandina vasoativa
Aplicav® Dose de ataque: 0,05 a 0,1 mcg⁄kg⁄minuto
Caverject® Dose de manutenção: em torno de 0,01 mcg⁄kg⁄minuto
Antiulceroso Antagonista dos
Ranitidina Tagamet Endovenosa rápida de 15 a 30 minutos
receptores H2 de histamina
Kirom®
Antibiótico
Teicoplanina Targocid® Endovenosa rápida de 3 a 5 minutos
(glicopeptídio)
Teicon®
Celovan®
Antibiótico Cloridrato de vancomici- Endovenosa lenta em bomba de infusão com tempo de
Vancomicina
(glicopeptídio) na® infusão igual a 1 hora
Vancocid®
Bloqueador neuromuscular Norcuro®
Vecurônio Endovenosa em bolus
não-despolarizante Veronia®
Zidovudina® Endovenosa lenta em bomba de infusão com tempo de
Zidovudina Antiviral sistêmico 637
Zidovir® infusão igual a 1 hora
Usado por UO somente em combinação com a zidovu-
Nevirapina Antiviral sistemico Viramune®
dina
Tabela 4 – Classificação dos principais fármacos em neonatologia e indicação do tipo de infusão venosa
Paulo R. Margotto
Assistência ao Recém-Nascido de Risco
Antagonista de antimiastê-
nicos
Aciclovir, outros aminogli-
cosídeos, anfotericina B,
cisplatina, vancomicina,
cefalotina – aumento da
Antes de aberto: Arma-
SF 0,9% ou SG nefrotoxicidade
zenamento em tempe-
5%. O volume Furosemida – aumento da
ratura ambiente.
deve ser o ototoxicidade Monitorizar função
Após diluição: até 24
Amicacina -------- suficiente para Incompatibilidades: emul- renal
horas em temperatura
alcançar a são de lipídeos, anfotericina
mabiente e 60dias
concentração de B, ampicilina, carbenici-
sendo refrigerado e
0,25 a 5mg/mL lina, fenitoína, heparina
protegido da luz
(concentrações > 1U/
mL), imipenem-cilastatina,
meticilina, mezlocilina, naf-
cilina, oxacilina, penicilina G
cristalina, propofol, tiopental
e ticarcilina-clavulonato
Incompatibilidades: amio-
Armazenar em tem-
darona, cefalosporinas,
peratura ambiente;
clindamicina, dobutamina, Monitorar PA e FC (risco
Aminofilina AD e SG 5% proteger da luz
epinefrina, hidralazina, me- de hipotensão)
Após diluição: despre-
tilprednisolona, penicilina G
zar sobras
e fenitoína
Anestésicos – maior risco
de depressão miocárdica
Antiarrítmicos da classe I –
possível toxicidade
Bloqueadores beta-adrenér- Monitorizar pressão ar-
gicos ou bloqueadores dos terial (PA) e frequência
Antes de aberto: canais de cálcio – maior cardíaca (FC)
638 SG5% em volume
armazenado em risco de bradiarritmias, Monitorizar função
suficiente para
temperatura ambiente bloqueio sinusal ou bloqueio pulmonar
Amiodarona ------ alcançar concen-
e protegido da luz atrioventricular Via endovenosa em bo-
tração de 1,5mg/
Após diluição: 2 horas Ciclosporina, dextrometor- lus desaconselhada por
mL
em equipo de PVC fano, fenitoína, metotrexato riscos hemodinâmicos
e teofilina – aumento dos Não deve ser refrige-
níveis séricos dessas drogas rado
Incompatibilidades: amino-
filina, bicarbonato de sódio,
cefazolina, cloreto de sódio,
heparina
Após diluição: 03 Incompatibilidades:
Amoxacilina Monitorizar sinais de
SG 5%, SF0,9%, dias em temperatura probenecida, antiácidos, di-
e Clavulonato --------- desconforto abdominal,
Água destilada ambiente ou 14 dias danosina, fenitoína, cafeína,
de Potássio icterícia
sob refrigeração varfarina, aminofilina
Aminoglicosídeos – pode
Antes do preparo:
inativar essas drogas ou ser
manter em temperatu-
inativado por elas
ra ambiente
Metrotexato – aumento de
Após reconstituição: 1
toxicidade
hora em temperatura
Probenecida – pode aumen-
ambiente ; 4 horas
Preferencialmen- tar a ação da ampicilina
refrigerado (2-8 Cº) se
te com SF 0,9% Incompatibilidades: glicose,
reconstituído com SF
para se obter aminoácidos, amicacina, Não utilizar lidocaína
Ampicilina SF 0,9% ou AD 0,9%
concentração de amiodarona, fluconazol, como diluente
Após diluição com
30mg/mL. Pode- gentamicina, hidralazina,
SF 0,9%: 8 horas em
se usar SG 5% lactobionato de eritromicina,
temperatura ambiente
metoclopramida, midazo-
ou 72 horas sob refri-
lam, necardipina, gluconato
geração
de cálcio, metronidazol,
Após diluição com
bicarbonato de sódio,
SG 5%: 2 horas em
heparina, hidrocortisona e
temperatura
tobramicina
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Assistência ao Recém-Nascido de Risco
Monitorizar apare-
cimento de reações
adversas, principal-
Aminoglicosídeos, diuréticos
mente rash, assim
de alça e outras drogas
Antes de aberto: tem- como as incomuns ou
nefrotóxicas aumentam a
peratura ambiente intoleráveis.
nefrotoxicidade.
Após diluição: 24 Monitorizar função
Cefazolina AD SF 0,9% e SG 5% Drogas bacteriostáticas
horas em temperatura renal, hematológicas
interferem com a ação bac-
ambiente ou 96 dias os sinais e sintomas de
tericida da cefazolina.
sob refrigeração flebite e de trombofle-
Probenecida interfere no ní-
bite.
vel sangüíneo da cefazolina
Não usar em caso de
alergia a penicilina ou
cefalosporina
Antes de aberto: tem-
Monitorizar disfunção
peratura ambiente Probenecida - pode aumen-
renal, hepática, hema-
Após diluição em água tar a ação da cefuroxima
tológica
Cefepime AD SF 0,9% e SG 5% destilada: 24 horas Incompatibilidades: amino-
Não usar em caso de
em temperatura am- glicosideos, lasix, anticoa-
alergia a penicilina ou
biente ou 7 dias sob gulantes
cefalosporina
refrigeração
Antes de aberto: tem-
peratura ambiente, Monitorizar disfunção
Após diluição em Probenecida: pode aumen- renal
Cefoxitina AD SF 0,9% e SG 5% água destilada: 24 tar a ação da cefuroxima, Não usar em caso de
hs em temperatura Amiglicosideos alergia a penicilina ou
ambiente, 7 dias sob cefalosporina
refrigeração
Antes de aberto: tem-
peratura ambiente
Após diluição em
água destilada: 08
641
horas em temperatura
ambiente ou 02 dias
sob refrigeração
Cefuroxima AD SF 0,9% e SG 5%
Após diluição e m
cloreto de sódio: 24
horas em temperatura
ambiente,
Sob refrigeração -07
dias
Protegido da luz
Incompatibilidade: diaze-
pam
Não congelar
Tubocurarina – pode ter
Monitorar FC, PA
Após diluição: 24 seu efeito de bloqueador
Monitorar sinais de
horas em temperatura muscular aumentado
Cetamina -------- SF 0,9% e SG 5% depressão respiratória,
ambiente Hipotensores arteriais ou
aumento da secreção
Proteger da luz depressores do sistema
brônquica, movimentos
nervoso central – aumento
tônico-clônicos, vômitos
dos riscos de hipotensão e
depressão respiratória
Paulo R. Margotto
Assistência ao Recém-Nascido de Risco
Benzodiazepínicos (alpra-
zolam, clordiazepóxido,
diazepam, clorazepato,
flurazepam, halazepam, pra-
zepan, triazolam), fenitoína,
lidocaína, propanolol e var-
farina – alteração nos níveis
das enzimas hepáticas
Antes de aberto: tem-
Cisaprida – pode desenca-
peratura ambiente,
dear arritmias e levar ao
protegido da luz
Cimetidina ------- SF 0,9% e SG 5% óbito Monitorizar PA
Após diluição: 48
Anfotericina B – ocorre
horas em temperatura
precipitação imediata
ambiente
Incompatibilidades:
aminofilina, anfotericina B,
atropina, cefalotina, cefazo-
lina, cefepima, fenobarbital,
gentamicina, indometacina,
metoclopramida, pentobar-
bital, secobarbital, tiopental,
varfarina
Após diluição: 03 Incompatibilidades: Administrar a droga em
SF 0,9% e SG 5%, dias em temperatura probenecida, antiácidos, di- veia de grande calibre
Ciprofloxacina -------
AD, ringer ambiente ou 14 dias danosina, fenitoína, cafeína, Monitorizar sinais de
sob refrigeração varfarina, aminofilina desconforto abdominal
Cabamazepina –
Incompatibilidades:
Após reconstituição: aminofilina, carbamaze- Monitorizar sinais de
06 horas em Tempe- pina, digoxina, varfarina, alergias a eritromicina,
SF 0,9%, AD, So-
Claritromicina AD ratura Ambiente ou 48 zidovudina,rifampicina flebites, desconforto
lução de Ringer
horas sob refrigeração metilprednisolana, anticoa- abdominais, função
Proteger da luz gulantes orais, omeprazol, renal, hematológicas
642
sildenafil, ciclosporina
midazolam, ciclosporina
Monitorizar sinais de
equimoses, febre,
náuseas e vômitos.
Após reconstituição: Vitamina B12, ácido fólico - Monitorar leucograma
24 horas em Tempe- possível retardo da resposta e glicose
ratura ambiente e 30 à terapia a essas drogas Em prematuros obser-
Cloranfenicol AD SF 0,9% e SG 5% dias sob refrigeração Incompatibilidades: fenito- var a síndrome cinzenta
Após diluição: 24 ína, hipoglicêmicos orais, (dor abdominal, cor dos
horas em temperatura varfarina, fenobarbital ou olhos azul acinzentado,
ambiente rifampicina, paracetamol respiração irregular,
hipotermia, cianose e
desconforto respira-
tório
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Betabloqueadores – podem
ter sua ação diminuída pela
dobutamina ou diminuir a
ação da mesma
Digitálicos – pode aumen-
tar os riscos de arritmias
cardíacas
Utilizar veias calibrosas
Incompatibilidades: aciclo-
para infusão
vir, alteplase, aminofilina,
SF 0,9% e SG Antes de aberto: Tem- Monitorar FC e PA
bretílio, bicarbonato de
5% desde que peratura ambiente, Monitorar sinais de fle-
sódio, bumetanida, cloreto
se mantenha a protegido da luz bite e necrose tissular
Dobutamina -------- de potássio, cafalotina, cafa-
concentração e Após diluição: até 24 Não refrigerar, não
zolina, diazepam, digoxina,
volume para solu- horas em temperatura congelar
estreptoquinase, fenitoína,
ção de 50 mL ambiente Corrigir hipovolemia
floxacina, foscarnet, fosfato
Monitorar os níveis
(potássio e sódio), furose-
séricos de potássio
mida, gluconato de cálcio,
heparina, hidrocortisona,
indometacina, insulina, ni-
troglicerina, nitropussiato de
sódio, sulfato de magnésio,
verapamil, piperacilina +
tazobactam
Anestésicos orgânicos
(inalação) – pode causar
arritmias ou hipotensão
Monitorar PA
Betabloqueadores – an-
Deve-se utilizar com
tagonista dos efeitos da
cautela em neonatos
dopamina
Preferencial- com hipertensão pul-
Fenitoína – pode causar
mente em SG Antes de aberto: Tem- monar persistente
hipotensão
5%, mas pode peratura ambiente Não refrigerar nem
Incompatibilidades: aciclo-
644 Dopamina -------- também ser Após diluição: até 24 congelar
vir, alteplase, amicacina,
diluído com SF horas em temperatura Utilizar veias calibrosas
ampicilina, anfotericina B,
0,9% para obter ambiente para infusão
bicarbonato de sódio, benzil-
solução de 50 mL Monitorar sinais de
penicilina potássica, cefalo-
flebite e infiltração
tina, cefepima, furosemida,
Descontinuar a infusão
gentamicina, indometacina,
lentamente
insulina, metronidazol,
nitroprussiato de sódio, sais
de ferro, tobramicina
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Incompatibilidades: alopurinol,
aminofilina, ampicilina, anfoterici-
na B, benzilpenicilina potássica, bi-
carbonato de sódio, carbenicilina,
cefalotina, cefeapirina, cefazolina,
cefotaxima, cefoxitina, ceftazidima,
ceftriaxona, cefuroxima, cimeti-
dina, citarabina, clindamicina,
dopamina, furosemida, hepari-
Após diluição: 24 horas
na, idarrubicina, indometacina,
em temperatura
Gentami- SF 0,9% SG lidocaína, mezlocilina, ticarcilina,
------------ ambiente
cina 5% e AD ticarcilina + ácido clavulânico e
ou 30 dias sob refrige-
algumas soluções parenterais
ração
nutricionais.
Bicarbonato de sódio - o pH ácido
da gentamicina pode liberar dióxi-
do de carbono
Devido à potencial incompatibilida-
de, a gentamicina e os aminogli-
cosídeos não devem ser adminis-
trados concomitantemente em
seringas ou soluções de infusão
Incompatibilidades: aminofilina,
ampicilina, anfotericina, bicarbona-
to de sódio, carbonatos, cefalotina, Monitorar sinais vitais
cefotaxima, cefoxitima, citratos, Monitora níveis séricos
Conservados em tempe-
Gluconato AD ou SF clindamicina, deslanosideo, de cálcio
---------- ratura ambiente e são
de Cálcio 0,9% dobutamina, dopamina, epinefri- Monitorar o acesso
estáveis indefinidamente
na, esmolol, fosfatos, heparina, venoso, pois é uma
metilpredinisolona, metocloprmida, solução vesicante
polimixina B, prometazina, sulfa-
tos, tiopental, vitamina C
647
Monitorizar sinais de
sangramento ou he-
morragia (equimoses,
Incompatibilidades: ácido acetil- hematomas, hema-
salicílico, dipiridamol, penicilinas, túria),
Antes de aberto: tempe- ácido valpróico, cefamandol, cef- Monitorar função
Heparina SF 0,9% e SG
--------------- ratura ambiente metazol, cefoperazona, cefotetana, hematológicas (tPA,
Sódica 5%
Após diluição: 24 horas quinidina, plicamicina, tetraciclina, hematócrito, contagem
estreptoquinase, trombolíticos, de plaquetas)
anti-histamínicos Não administrar drogas
por via intramuscular
(devido ao risco de for-
mação de hematomas)
Diuréticos – podem ter seus efei- Monitorar sinais vitais,
tos diminuídos ou diminuir o efeito Monitorar glicemia,
Antes de aberto: tempe- da hidrocortisona eletrólitos
ratura ambiente Varfarina – pode ter seus efeitos Monitorar equimose,
Após reconstituído e⁄ou anticoagulantes exacerbados ou fragilidade capilar,
Hidrocorti- SF 0,9% e SG
AD diluído: até 24 horas em diminuídos tromboflebite, hipergli-
sona 5%
temperatura ambiente Incompatibilidades: ampicilina, ce- cemia, edema, perda
ou até 03 dias sob refri- falotina, cefoxitina, ciprofloxacina, de peso, vômitos,
geração fenitoína, fenobarbital, heparina, agitação, tremores
metotrexato, midazolam, nafcilina, Não oferecer qualquer
pentobarbital, vancomicina tipo de imunização
Incompatibilidades: alopurinol, O imipenem é instável
amicacina, bicarbonato de sódio, em meio alcalino ou
Imipenem + SG 5%, SF 04 horas em temperatu-
estreptomicina, fluconazol, genta- em pH ácido, sendo
Cilastatina ___________ 0,9% ou ra ambiente ou 24 horas
micina, idarrubicina, kanamicina, então necessário sua
Sódica SG 10% sob refrigeração
meperidina, netilmicina, nitrato de reconstituição em pH
galium, sargromostim, tobramicina entre 6,5 e 7,5.
Paulo R. Margotto
Assistência ao Recém-Nascido de Risco
Paulo R. Margotto
Assistência ao Recém-Nascido de Risco
Bibliografia
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• Yong TE ET AL. Neo Fax, Twenty-Second Edition, 2009.
Paulo R. Margotto
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652
Capitulo 22 Banco de Leite
Capítulo 22
Banco de Leite
Assistência ao Recém-Nascido de Risco
BANCO DE LEITE
É um Centro especializado, obrigatoriamente vinculado a um no), que em 1984 instituiu o Grupo Técnico de Banco de Leite
hospital materno e/ou infantil, responsável pela promoção do Humano como instância de assessoramento, com o objetivo de
incentivo ao aleitamento materno e execução das atividades de monitorar a implantação e o funcionamento de BLHs em todo ter-
coleta, processamento e controle de qualidade do colostro, leite ritório nacional. O grupo produziu o primeiro documento oficial de
de transição e leite humano maduro, para posterior distribuição, recomendações técnicas (INAN, 1987), que serviu de base para
sob prescrição do médico ou de nutricionista. a elaboração da primeira legislação federal, a Portaria GM/MS
O Posto de Coleta de Leite Humano (PCLH) é uma unidade fixa nº 322, publicada em 1988. A rede de bancos de leite humano,
ou móvel, intra ou extra-hospitalar, vinculada tecnicamente a um desde então, passou a ser construída de maneira progressiva,
banco de leite humano e administrativamente a um serviço de sustentada pelos trabalhos de pesquisa e de desenvolvimento
saúde ou ao próprio banco. O PCLH é responsável por ações de tecnológico voltado para otimização das condições operacionais
promoção, proteção e apoio ao aleitamento materno e execução dos BLHs. O Centro de Referência Nacional para Bancos de Leite
de atividades de coleta da produção lática da nutriz e sua estoca- Humano (CRNBLH) desenvolveu metodologias alternativas, de
gem, não podendo executar as atividades de processamento do baixo custo, voltadas para o processamento e o controle de qua-
leite, que são exclusivas do BLH. lidade do leite humano, tipicamente, adaptados às necessidades
nacionais, seguras e sensíveis, o suficiente para serem pratica-
Histórico dos Bancos de Leite Humano dos na rotina. Essa nova realidade operacional possibilitou, por
exemplo, enfrentar com tranqüilidade técnica os agravos e riscos
O primeiro banco de leite humano do Brasil foi implantado em decorrentes do advento da Aids. Enquanto em várias regiões do
outubro de 1943 no então Instituto Nacional de Puericultura, mundo os BLHs foram fechados, por temor a questões de segu-
atual Instituto Fernandes Figueira (IFF). O seu principal objetivo rança operacional e risco biológico, o Brasil viveu um franco e
era coletar e distribuir leite humano (LH) com vistas a atender os seguro processo de expansão, uma vez que já haviam sido con-
casos considerados especiais, como prematuridade, distúrbios solidados os cuidados essenciais necessários para certificar a
nutricionais e alergias a proteínas heterólogas. Segundo relatos qualidade do leite humano ordenhado.
de puericultores das décadas de 40 e 50, o BLH foi inicialmente Em termos de volume de leite humano processado, a Rede
654 projetado para atender a casos especiais, considerando as pro- BLH-BR passou a conviver com uma nova realidade após a parce-
priedades farmacológicas e não as nutricionais do leite huma- ria que estabeleceu com o Corpo de Bombeiros Militar. O trabalho
no. Na época, o leite humano distribuído não era visto como um pioneiro nasceu em Brasília, no início da década de 90, e fez
competidor dos produtos industrializados e se constituía numa com que a cidade atingisse uma condição de auto-suficiência,
alternativa segura para as situações em que havia falha na ali- coletando anualmente 20 mil litros de leite humano, marca que
mentação com leite artificial comercializado. Destacava-se o representa cerca de 15% de todo o volume coletado no Brasil.
fato de que 85% dos óbitos por desnutrição entre lactentes des- Essa iniciativa mereceu o reconhecimento do Fundo das Nações
mamados estavam associados ao uso de alimentação artificial. Unidas para a Infância (UNICEF), que agraciou a corporação do
Conseqüentemente, a necessidade de se dispor de leite humano Distrito Federal com o título de Bombeiro Amigo da Amamenta-
em quantidades que permitissem o atendimento nas situações ção, em 1998. Os resultados de Brasília inspiraram estados e
emergenciais transformou-se em um fato concreto, capaz de jus- cidades brasileiras a desenvolver ações semelhantes.
tificar a implantação de um BLH. Até os anos 80, a ordenha me- Em fevereiro de 2008, 187 bancos de leite humano e 27 postos
cânica ocupava lugar de destaque. Acreditava-se que os riscos de de coleta estavam cadastrados no sistema de produção da Rede
contaminação do leite com agentes nocivos do ambiente eram BL. Desse modo, garante-se também a oferta do leite humano como
minimizados, ao mesmo tempo em que essa técnica possibilita- primeira opção de alimento para os recém-nascidos (RNs) de risco
va um maior rendimento em termos de volume coletado. O leite e/ou bebês doentes, contribuindo com a prevenção de doenças e
era distribuído, preferencialmente, na forma de produto crú sem a redução da mortalidade neonatal, e cumprindo, assim, o compro-
receber qualquer tipo de tratamento. Entretanto, em decorrência misso estabelecido no Pacto da Saúde e na Declaração do Milênio.
do grande volume de leite coletado fez-se necessário introduzir
o tratamento térmico, que era conduzido em equipamento de Posto de Coleta de Leite Humano (PCLH)
esterilização de mamadeiras em banho-maria, por 20 minutos.
Conforme Gesteira (1960), o leite humano submetido a esse É uma unidade fixa ou móvel, intra ou extra-hospitalar, vincu-
procedimento e mantido em geladeira não apresentou sinais de lada tecnicamente a um banco de leite humano e administrati-
alteração no curso de um mês. vamente a um serviço de saúde ou ao próprio banco. O PCLH é
O BLH, segundo os seus idealizadores, foi desenhado com o responsável por ações de promoção, proteção e apoio ao aleita-
propósito de funcionar como uma instituição de proteção social, mento materno e execução de atividades de coleta da produção
incumbida de zelar pelos interesses da doadora e de seu filho, des- lática da nutriz e sua estocagem, não podendo executar as ati-
tinada a encorajar a prática da amamentação natural – sem gerar vidades de processamento do leite, que são exclusivas do BLH.
lucro, mediante a recompensa financeira ou material conferida a
nutriz pelo leite doado. Embalagem
A partir de 1985, o Brasil experimentou uma expansão des-
sas unidades, até então nunca registrada na história. Esse cres- A embalagem destinada ao acondicionamento do leite humano
cimento resultou dos esforços direcionados e coordenados pelo ordenhado deve ser de fácil limpeza e desinfecção, apresentar
PNIAM (Programa Nacional de Incentivo ao Aleitamento Mater- vedamento perfeito, e ser constituída de material inerte e inócuo
Capitulo 22 Banco de Leite
ao leite em temperaturas na faixa de -25°C (vinte e cinco graus porariamente impedidas de amamentar seus filhos diretamente
Celsius negativos) a 128°C (cento e vinte e oito graus Celsius), no peito, por razões ligadas à saúde dos mesmos, ou outras ra-
não permitindo trocas indesejáveis com o produto acondicionado zões não relacionadas à saúde do recém-nascido, mas conside-
e mantendo seu valor biológico. radas compatíveis com a amamentação. Desse modo, as nutrizes
As embalagens e os materiais que entram em contato com o cujos filhos estão internados em unidades neonatais ou outras
leite ordenhado precisam ser resistentes aos processos de este- unidades hospitalares, e que ordenham leite humano para esti-
rilização, já que deverão ser esterilizados por métodos apropria- mulação da produção ou para consumo exclusivo de seus filhos,
dos. Quanto aos frascos destinados às doadoras, eles têm de ser são também classificadas como doadoras. É contra-indicado o
embalados individualmente para posterior esterilização. A data de aleitamento cruzado, ou seja, o aleitamento da criança por nutriz
validade da esterilização deverá estar registrada no invólucro das que não seja a mãe biológica (ama de leite). No Brasil, todo o leite
embalagens estéreis. Utiliza-se como embalagem para acondicio- humano oferecido a bebês de mulher que não seja a mãe bioló-
namento do leite humano ordenhado recipiente de vidro, estéril, gica deve ser processado. Considerando que as doações de leite
com boca larga, tampa plástica rosqueável e volume de 50 a 500 humano ordenhado são destinadas prioritariamente para recém-
mL, previamente testado. Devem ser descartadas as embalagens nascidos prematuros e/ou doentes, a utilização de qualquer me-
que apresentarem manchas, sujidades, rachaduras e trincas. dicamento pela doadora pode potencializar ou prejudicar o efeito
dos tratamentos estabelecidos para essas crianças.
Cuidados no Armazenamento das
Embalagens Esterelizadas no BLH/PCLH Formas de Captação de Doadoras
• Armazenar as embalagens em local ou recipiente exclusi- • Orientação pré-natal e/ou distribuição de material
vo, devidamente higienizado, constituído de material liso, escrito contendo informações referentes a vantagens
impermeável e resistente aos processos de desinfecção. e manejo da amamentação, anatomia da mama, fisio-
• No domicílio da doadora; Guardar as embalagens em lo- logia da lactação, técnicas de ordenha do leite exce-
cal (armário ou recipiente) limpo e fechado, livre de inse- dente, conservação e doação, entre outras.
tos e roedores, afastado de substâncias contaminantes • Orientação as puérperas internadas nas maternidades
e/ou que desprendam odores fortes. e/ou distribuição de material escrito contendo informa-
ções referentes às técnicas de ordenha manual do leite
Rotulagem excedente, conservação, doação e outras.
• Orientação nos serviços de acompanhamento pós-natal
Os frascos com leite humano ordenhado cru e pasteurizado das patologias relacionadas à amamentação.
devem ser obrigatoriamente rotulados, contendo informações • Orientação nos ambulatórios, centros de saúde, locais de
que permitam a obtenção da história pregressa do leite, viabi- atuação das equipes do Programa de Saúde da Família
lizando assim a rastreabilidade, sempre que necessário. Nos e em outros serviços que acompanham crianças meno- 655
rótulos dos frascos destinados à coleta domiciliar deve constar res de seis meses, e/ou distribuição de material escrito
pelo menos as seguintes informações: identificação da doado- contendo informações referentes às técnicas de ordenha
ra, data e hora da primeira coleta. manual do leite excedente, conservação, doação e outras.
Os rótulos do leite pasteurizado estocado no BLH devem ter • Divulgação em rádio, televisão, jornais, escolas, eventos, etc.
no mínimo informações ou identificação que permitam a rastre-
abilidade e facilitem a adequação do uso às necessidades do Triagem de Doadoras
receptor, tais como: identificação da doadora, conteúdo ener-
gético e validade do leite humano. No caso de informatização, A triagem das doadoras deve ser realizada por um profissional
o rótulo deverá conter localizadores que possibilitem identificar treinado, no momento do primeiro contato da nutriz com o BLH
as informações necessárias. ou PCLH, mediante o preenchimento de formulário de cadastro
É válido ressaltar a importância de se manter dados do leite or- que contenha as seguintes informações:
denhado associados às informações contidas no rótulo, ainda que
registrados à parte, como: transporte, data da recepção, qualidade • Nome completo
físico-química, processamento, identificação do ciclo de pasteuri- • Data de nascimento
zação, controle microbiológico e condições de estocagem, entre • Endereço
outros. O leite humano ordenhado rotulado deve ser acondiciona- • Local onde realizou o pré-natal
do de forma a manter a integridade do rótulo e permitir a sua per- • Número de consultas
feita identificação durante a conservação e o transporte. • Peso no início e final da gestação
• Resultados de exames: hematócrito, VDRL e sorologias
Doadoras e Doações realizadas
• Intercorrências no pré-natal e tratamento
O controle clínico das doadoras é de suma importância. Por • Data e local do parto
meio dele é possível detectar algumas doenças que podem ser • Intercorrências e tratamento durante internação na ma-
transmitidas aos recém-nascidos, as quais impedem a amamen- ternidade
tação e a doação do leite humano. As doações para posterior
distribuição a crianças prematuras, com baixo peso e/ou doentes Seleção de Doadoras
têm de observar aspectos referentes a uma cuidadosa seleção,
classificação e acompanhamento das doadoras. Esses requisitos A seleção de doadoras é de responsabilidade do médico res-
devem integrar a rotina do BLH ou PCLH. ponsável pelas atividades médico-assistenciais do BLH ou PCLH.
São consideradas doadoras as nutrizes saudáveis que apre- Para que a nutriz seja confirmada como doadora de leite huma-
sentam secreção láctica superior às exigências de seu filho e que no, os seguintes requisitos devem ser respeitados:
se dispõem a doar o excedente por livre e espontânea vontade.
Também são consideradas doadoras as nutrizes que estão tem-
Paulo R. Margotto
Assistência ao Recém-Nascido de Risco
• Estar amamentando ou ordenhando leite para o próprio filho. cia de algumas doenças maternas representa atitude de prote-
• Ser saudável. ção à vida da criança. Consultem o capítulo Aleitamento Materno
• Apresentar exames pré ou pós-natal compatíveis com a
doação de leite ordenhado. Ordenha e Coleta
• Não fumar mais que 10 cigarros por dia.
• Não usar medicamentos incompatíveis com a amamentação. A ordenha do leite humano é a ação de manipular a mama
• Não usar álcool ou drogas ilícitas. lactante pressionando-a cuidadosamente para a retirada do leite.
• Realizar exames (hemograma completo, VDRL, anti-HIV e A manipulação pode ser feita pela própria nutriz (auto-ordenha),
demais sorologias usualmente realizadas durante o pré- por um profissional de saúde ou por alguém de sua escolha. Pre-
natal) quando o cartão de pré-natal não estiver disponí- ferencialmente a ordenha deve ser realizada com as mãos, por
vel ou quando a nutriz não tiver feito o pré-natal. ser a forma mais efetiva, econômica, menos traumática e menos
• Outros exames podem ser realizados conforme perfil epi- dolorosa, além de reduzir possíveis riscos de contaminação e po-
demiológico local ou necessidade individual da doadora der ser feita pela mulher sempre que necessário. O uso de bom-
bas tira-leite não é indicado, pois pode gerar desconforto, risco e/
Acompanhamento das doadoras - Primeira doação ou agravamento de traumas mamilares. Além disso, as bombas
são de difícil limpeza e esterilização, propiciando a proliferação
As doadoras aptas devem iniciar a ordenha o mais precoce- bacteriana que freqüentemente leva à contaminação do leite
mente possível, após o cadastramento, o BLH ou PCLH deve humano ordenhado cru. Caso o produto não seja corretamente
agendar a coleta e garantir informações sobre as boas práticas resfriado, essa contaminação pode resultar no aumento da carga
de manipulação do leite ordenhado. Na primeira coleta, interna microbiana, a partir da utilização da lactose do leite com produ-
ou externa, um profissional habilitado deve observar – e comple- ção de ácido láctico. Essa modificação química leva à redução do
mentar se necessário – as seguintes informações: valor nutricional do LHOC e da biodisponibilidade do cálcio e do
fósforo. Os profissionais que prestam cuidado à mãe e ao bebê
• Formulário de cadastramento. devem conhecer a técnica correta da ordenha manual, e garantir
• Cartão do pré-natal. que todas as mães aprendam a ordenhar seu próprio leite. A or-
• Caderneta da criança. denha deve ser feita com cuidado, pois as mamas lactantes são
sensíveis; e quando a técnica não é adequada, pode acarretar
Sempre que possível, o profissional que acompanhar a primei- trauma na aréola ou em outras áreas do peito. A ordenha pode
ra coleta também deve verificar: ser considerada como indicador do controle de qualidade do lei-
te, uma vez que, se não for bem conduzida, o produto poderá
• A amamentação do filho da doadora, objetivando o ade- apresentar sujidades, odores estranhos, etc., e dessa forma não
quado posicionamento e pega da aréola para manuten- poderá ser utilizado. A ordenha pode ser realizada no BLH, no
656 ção da amamentação exclusiva; PCLH ou no domicílio da doadora.
• Se a criança não está recebendo água, chás ou qualquer
outro líquido ou alimento antes de completar seis meses Indicações de Ordenha
de idade;
• Se a criança não faz uso de mamadeira, chupetas e bi- A maioria das mulheres, do terceiro ao quinto dia após o par-
cos, entre outros produtos. to, costuma produzir leite em excesso. Nessa fase, praticamente
todas as nutrizes sadias podem se tornar doadoras de leite hu-
Doações Subseqüentes mano. As principais indicações de ordenha estão relacionadas à
condição materna e/ou do bebê :
Da segunda coleta em diante, o BLH ou PCLH deve avaliar o
surgimento de problemas à saúde da doadora ou de seu filho. Se • Manter a lactação.
houver intercorrências o profissional responsável pela coleta tem • Aliviar o ingurgitamento mamário (peito empedrado).
de comunicar imediatamente ao médico para que este analise • Aliviar a tensão na região mamilo-areolar visando a uma
se a doação será ou não aceita para a pasteurização. O médico pega adequada.
também deve avaliar a necessidade de encaminhamento da do- • Alimentar bebês que não têm condição de sugar direta-
adora a um serviço de saúde para que se garanta o tratamento mente no peito da mãe, por prematuridade, doença e ou-
específico. Em casos de interrupções da coleta, novas doações tras dificuldades relacionadas à amamentação.
serão aceitas após autorização do médico responsável. • Fornecer leite para o próprio filho, no caso de volta ao
trabalho ou separação temporária por outras causas.
Amamentação e Doenças Maternas • Tratar mastite.
• Colher o leite para ser doado a um BLH.
Embora a superioridade do aleitamento materno seja reconhe-
cida mundialmente, muitas são as causas de desmame precoce. Técnica de Ordenha Manual
Entre essas se destacam as doenças infecto-contagiosas, que po-
dem acometer tanto a mãe quanto a criança. Vale lembrar: quando • Condições para estimulação do reflexo da ocitocina
uma nutriz apresenta sintomas de uma doença infecto-contagiosa, • Ambiente tranqüilo, agradável e de preferência privativo.
geralmente já expôs seu filho ao agente patogênico. Nesse caso, • Local confortável e que permita adequada acomodação
a manutenção da amamentação deve ser avaliada como forma de da nutriz.
proteger a criança. • Reduzir ou eliminar fontes de dor, desconforto e ansie-
Há situações de doenças infecciosas que contra-indicam o dade.
aleitamento materno ou exigem cuidados especiais para que a • Facilitar o relaxamento da nutriz estimulando pensamen-
amamentação seja mantida. Apesar desses eventos apresentar tos e sentimentos agradáveis.
baixo nível de freqüência, o domínio– por parte dos profissionais • Estimular a mãe a expressar seus sentimentos.
de saúde – das condutas relacionadas à amamentação na vigên-
Capitulo 22 Banco de Leite
• Orientar a mãe a balançar, massagear delicadamente ou acari- • No caso de novas coletas para complementação do volu-
ciar as mamas, principalmente na região mamilo-areolar. me já coletado anteriormente, usar um copo de vidro fervi-
• Massagear as costas da nutriz ou orientar algum familiar do por 15 minutos (contados a partir do início da fervura)
para fazê-lo. e resfriado.
• Ao final da coleta, acrescentar o leite ordenhado ao fras-
Atenção: caso a lavagem das mamas seja realizada, utilizar co com leite congelado e levá-lo imediatamente ao con-
apenas água, pois o sabonete resseca os mamilos e os predis- gelador, evitando o degelo.
põe a fissuras. • Não preencher toda a capacidade do frasco, deixando
sempre o volume 2 a 3 cm abaixo da borda.
Procedimentos para a Ordenha e Coleta • No final da ordenha, aplicar as últimas gotas retiradas na
região mamilo-areolar.
A ordenha deve ser conduzida com rigor higiênico-sanitário ca- • No caso de coleta domiciliar, as doadoras devem ser
paz de garantir a serão empregados na alimentação de bebês orientadas a procurar um ambiente que não traga risco à
prematuros e de extremo baixo peso. Para tanto é indispensável qualidade microbiológica do leite ordenhado - evitar, por-
explicar a finalidade e a importância dos procedimentos e orien- tanto, a realização da coleta em banheiros e locais onde
tar a nutriz quanto aos seguintes cuidados: se encontram animais domésticos.
Paulo R. Margotto
Assistência ao Recém-Nascido de Risco
O gelo reciclável pode ser preparado no próprio BLH, utilizan- Verificação da cor
do para esta finalidade: 200 mL de glicerina líquida, 200 mL de
álcool e 600 mL de água. Essa mistura, após homogeneizada, Coloração Normal Coloração Anormal
deve ser colocada em congelador ou freezer por um período apro- Pode ser causada
ximado de 12 horas, tempo suficiente para congelar e entrar em pela bactéria Ser-
equilíbrio térmico. No decorrer da coleta externa, deve-se verificar Resulta da
ratia marcescens,
e registrar, em planilhas exclusivas, a temperatura nos seguintes dispersão da luz
ou traduzir conta-
momentos: refletidas pelos
minação por san-
glóbulos de
Branca Vermelha gue. A oxidação
1. Na saída do BLH/PCLH. gordura e pelas
da hemoglobina
2. Antes de abrir a caixa, em cada domicílio. partículas coloi-
pode produzir al-
3. No último domicílio. dais de caseína e
gumas colorações
4. Na recepção do BLH/PCLH. fosfato de cálcio.
escuras.
• Deve garantir a integridade e a qualidade do produto. A cor do leite humano pode variar conforme os seus consti-
• Deve estar limpo, isento de vetores e pragas urbanas ou tuintes e reflete a preponderância de uma determinada fração.
de qualquer evidência de sua presença. O colostro geralmente varia da cor semelhante à água de coco
• Deve ser adaptado para transportar o recipiente isotérmi- ao amarelo-alaranjado. A coloração do leite de transição muda
co de modo a não danificar o produto e garantir a manu- gradualmente, em aproximadamente duas semanas, para um
tenção da cadeia de frio. branco azulado/opaco até se tornar leite maduro. A cor do leite
• Deve ser exclusivo no momento do transporte conforme maduro pode ser alterada por diversos fatores, entre eles a die-
rota estabelecida. ta materna e o uso de medicações. Alguns corantes utilizados
• Deve ser conduzido por motorista treinado para desen- em refrigerantes, sucos e gelatinas têm sido associados a uma
volver a atividade de coleta domiciliar do leite ordenhado coloração rósea ou róseo-alaranjada do leite. Um leite de colo-
ou ser acompanhado por profissional do BLH/PCLH capa- ração esverdeada tem sido associado ao uso de grandes quan-
citado para este fim.Transporte da unidade de internação tidades de vegetais pela mãe (coloração dada pela riboflavina),
para o BLH/PCLH e do PCLH para o BLH ao consumo de bebidas com corantes verdes e à ingestão de
• As embalagens devem estar devidamente rotuladas. algas marinhas. O leite congelado pode adquirir tonalidade mais
• Manter a cadeia de frio, utilizando recipiente isotérmico amarelada. Dependendo do momento da ordenha, observa-se o
com gelo reciclável. predomínio de cada uma das frações que compõem o leite hu-
• Registrar os dados em planilha específica. mano. No início, há predomínio da fração hidrossolúvel; por essa
razão, o produto da secreção láctica tende a assumir uma colo-
Transporte do leite pasteurizado do BLH para o porciona- ração do tipo “água de coco”. O aspecto pode chegar até a um
mento/consumo: azul ou verde intenso, de acordo com a presença de componen-
tes hidrossolúveis, como a riboflavina, cuja concentração no leite
• As embalagens devem estar devidamente rotuladas. resulta diretamente da dieta da nutriz. Na fase intermediária da
• Manter a cadeia de frio, utilizando recipiente isotérmico ordenha, aumenta a concentração de caseína, com predomínio
com gelo reciclável. O leite deve chegar ao consumidor com da fração suspensão, resultando em um produto que tende para
as mesmas características que possuía ao sair do BLH. o branco-opaco. No estágio final da ordenha, ocorre aumento dos
• Registrar as características do LHOP em planilha específica. constituintes lipossolúveis e, conseqüentemente, da presença de
• O responsável pelo bebê receptor deve receber por escri- pigmentos que tendem a conferir uma cor amarelada, cada vez
to as orientações específicas quanto a transporte, con- mais intensa, ao leite. Essas modificações na cor do leite não
servação, fracionamento e utilização do leite. configuram situações de não-conformidade. As oscilações entre
o “vermelho-tijolo” e o marrom-escuro devem ser pesquisadas,
pois pode indicar a presença de sangue, o que representa uma
Capitulo 22 Banco de Leite
não-conformidade para a doação. Entretanto, esse leite pode ser 2. Em campo de chama, trabalhando com rigor microbio-
consumido pelo filho da doadora, dependendo da quantidade de lógico, remover a tampa do frasco e inspirar.
sangue presente e da avaliação médica (da mãe e da criança). A 3. Relatar as impressões de off-flavor dos frascos de leite
contaminação com sangue ocorre por descarga papilar (saída de humano ordenhado.
secreção através dos canalículos que se exteriorizam pelo mami-
lo) sanguinolenta,comum nas duas primeiras semanas de puer- Observação: como a fadiga olfativa interfere na acuidade
pério, ou por lesão – do tipo fissuras do seio. A coloração do leite sensorial, fatores que induzem a isso devem ser evitados, como
por pigmentos pode ser variável. Para que o produto nesse caso intensidade e tipo de odor. Portanto, recomenda-se não fumar,
seja considerado válido para consumo, é preciso que se tenha comer ou beber por 30 minutos antes da determinação do off-
conhecimento a respeito da dieta da doadora, o que na maioria flavor e não usar cosméticos como perfume.
das vezes é impossível.
Verificação de Sujidades
Verificação de Off-Flavor
A avaliação da presença de sujidades deve ser realizada por
Off-flavor é a característica organoléptica não-conforme com analista capacitado, com o objetivo de determinar prováveis al-
o aroma original do leite humano ordenhado. O leite humano é terações que caracterizem o leite humano ordenhado como im-
um fluido de reação levemente alcalina ou próxima da neutra- próprio para consumo – leite que contenha corpo estranho no
lidade, cujo sabor se mostra suavemente adocicado durante os momento da avaliação.
primeiros 30 dias de lactação. Isso se dá em decorrência da re-
lação cloreto/lactose. Esses dois constituintes, além das demais Técnica de Verificação da Sujidade
funções biológicas a que se destinam, são os responsáveis pela
manutenção da pressão osmótica do leite humano, conferindo • A presença de sujidades deverá ser verificada no momen-
ao produto um caráter de fluido isotônico. À medida que a lac- to do reenvase do leite, previamente à pasteurização, jun-
tação avança, após os primeiros 30 dias, observa-se tendência to com a avaliação da coloração e do flavor do produto.
de elevação no teor de cloretos com proporcional diminuição da • No momento do reenvase do leite para a embalagem em
lactose, o que permite manter a pressão osmótica estabilizada. que este será pasteurizado, o técnico responsável pelo pro-
É com base nessa dinâmica que se determina o flavor primário, cessamento deve estar atento à presença de qualquer corpo
o qual, de início, é levemente adocicado, e depois tende para um estranho.
padrão ligeiramente salgado, a partir do quinto mês de lactação. • São considerados exemplos de sujidades comumente
Um outro tipo de flavor, denominado secundário, pode aparecer encontradas no leite humano: pêlos, cabelos, fragmentos
no leite humano, decorrente de alterações em sua composição, de pele, fragmentos de unha, insetos, pedaços de papel,
assim como devido à incorporação de substâncias químicas volá- vidro, etc.
teis (provenientes do meio externo ou resultantes do crescimen- • Todo o conteúdo do frasco em que se encontrou a sujida- 659
to microbiano indesejável). Nos dois casos, o flavor secundário de tem de ser descartado.
passa a ser denominado off-flavor e sua presença desqualifica
o leite para consumo. A lactose apresenta grande capacidade Determinação da Acidez Dornic
de sorção, ou seja, de absorver e adsorver substâncias voláteis.
Por essa razão, o leite humano nunca deve ser manipulado em Acidez Dornic do leite humano ordenhado é a acidez titulável
ambientes que apresentem odores ativos de qualquer espécie. expressa em graus Dornic. A acidez do leite humano pode ser
Observando esse mesmo princípio, deve-se recomendar a não- classificada como original e desenvolvida. A original resulta da
utilização de perfumes e cosméticos pelos funcionários no mo- presença de seus constituintes (micelas de caseína e sais mi-
mento da manipulação do leite ou da condução de ordenhas. A nerais, entre os quais se destacam os fosfatos e citratos); e a
mesma orientação deve ser dada às doadoras. desenvolvida é conseqüente ao crescimento bacteriano, da mi-
A determinação do off-flavor se configura como importante crobiota primária e secundária, com produção de ácido láctico.
instrumento na detecção de não-conformidades no leite huma- A acidez desenvolvida do leite humano leva a um aumento da
no ordenhado, sobretudo as que decorrem do crescimento de osmolaridade e à diminuição da biodisponibilidade do cálcio e
microrganismos pertencentes a microbiota secundária do leite. do fósforo presentes. As bactérias fermentam a lactose do leite
A presença desses agentes torna o produto inapropriado para o humano, produzindo ácido láctico. Para a determinação da aci-
consumo, principalmente por ocasionar alterações físico-quími- dez titulável do leite humano, a solução titulante é o hidróxido
cas em sua composição. de sódio 0,1 N, também conhecido como solução Dornic. Cada
0,01 mL gasto para neutralizar 1 mL de leite humano ordenhado
Off-Flavor Significado corresponde a 1°D (um grau Dornic).
O leite humano recém-ordenhado, caso titulado imediatamente
Os microrganismos lipolíticos
Rancificação: após a ordenha, apresenta-se praticamente livre de ácido láctico,
promovem o desenvolvimento
cheiro de sabão de coco e sua acidez total pode ser considerada original, com valores os-
de ranço hidrolítico e oxidativo.
cilando entre 1 e 4°D. À medida que a microbiota encontra con-
Peixe ou Ovo em fase de Decorrente da presença de
dições favoráveis para o crescimento, ocorre a produção de ácido
decomposição microrganismos proteolíticos
láctico e a conseqüente elevação da acidez. Acidez maior ou igual
Cloro, plástico, Decorrem da sorção da lactose a 8°D desqualifica o produto para o consumo. Mesmo apresentan-
borracha e remédio e também impedem o consumo do valores inferiores a esse limite, a biodisponibilidade do cálcio
e a osmolaridade variam de forma inversamente proporcional ao
Técnica de Verificação de Off-Flavor índice de acidez. A determinação da acidez Dornic também serve
como parâmetro classificatório para o leite humano.
1. Segurar no fundo do frasco com leite humano ordenha-
do fluido e agitar vigorosamente.
Paulo R. Margotto
Assistência ao Recém-Nascido de Risco
à origem ou a patogenicidade. São considerados contaminantes agitar manualmente cada frasco de cinco em cinco minu-
primários aqueles que passam diretamente da corrente sangüí- tos, sem retirá-lo do banho-maria.
nea para o leite, como no caso do HIV; e secundários os que ha- • Transcorridos os 30 minutos relativos à letalidade térmi-
bitam as regiões mais externas dos canais mamilares e o meio ca, promover o resfriamento dos frascos até que o leite
exterior. Independentemente de sua origem, os integrantes da humano atinja uma temperatura igual ou inferior a 5°C.
microbiota primária e secundária podem ainda ser classificados • O resfriamento dos frascos pode ser obtido com o uso de
como: saprófitos ou patogênicos. resfriadores automáticos ou pela imersão dos recipien-
O leite humano ordenhado destinado ao consumo de recém- tes em um banho contendo água e gelo.
nascidos, particularmente os internados em Unidades de Terapia
Intensiva (UTIs), não devem apresentar microrganismos em quan- Monitoramento do Processo
tidade ou qualidade capazes de representar agravos à saúde. Des-
sa forma, é preciso que se disponha de procedimentos capazes de • A pasteurização do leite humano deverá ser monitorada
assegurar a qualidade sanitária do leite. A pasteurização represen- a cada cinco minutos, com registro da temperatura em
ta uma alternativa eficaz, há muito conhecida e praticada no cam- planilha específica no momento da averiguação.
po da tecnologia de alimentos. Trata-se de um tratamento térmico • Não se permite oscilação da temperatura superior a
aplicável ao leite humano, que adota como referência a inativação 0,1°C.
térmica do microrganismo mais termorresistente, a Coxiella bur-
netti. Uma vez observado o binômio temperatura de inativação e Controle de Qualidade
tempo de exposição capaz de inativar este microrganismo pode-se
assegurar que os demais patógenos também estarão termicamen- Aspectos Microbiológicos
te inativados. O leite humano ordenhado crú coletado e aprovado
pelo controle de qualidade deve ser pasteurizado a 62,5°C por 30 O controle de qualidade microbiológico do leite humano orde-
minutos após o tempo de pré-aquecimento. nhado praticado pela Rede BLH-BR segue a lógica preconizada
A pasteurização não visa à esterilização do leite, mas sim a para alimentos, que institui a utilização de microrganismos indi-
uma letalidade que garanta a inativação de 100% dos micror- cadores de qualidade sanitária. Nesse contexto, o grupo colifor-
ganismos patogênicos passíveis de estar presentes, quer por me tem ocupado lugar de destaque, por ser de cultivo simples,
contaminação primária ou secundária, além de 99,99% da mi- economicamente viável e seguro, minimizando a possibilidade
crobiota saprófita ou normal. de resultados falso-negativos. A partir do procedimento clássico
O ambiente onde ocorre a pasteurização deve ser limpo e de- para detecção de coliformes totais, foi desenvolvida uma metodo-
sinfetado imediatamente antes do início de cada turno, entre os logia alternativa que consiste na inoculação de quatro alíquotas
procedimentos. O mesmo deverá ser feito ao termino das ativida- de 1 mL cada de leite humano ordenhado pasteurizado, pipeta-
des. É permitida a administração de LHOC (sem pasteurização) das de forma independente e inseridas em tubos com 10 mL de
exclusivamente da mãe para o próprio filho, quando: caldo bile verde brilhante, a 50 g/L. Após a inoculação e incuba- 661
ção a 36 ± 1°C, a presença de gás no interior do tubo, caracteri-
1. Coletado em ambiente próprio para este fim; za resultado positivo. Os resultados positivos, por sua vez, devem
2. Com ordenha conduzida sob supervisão; ser confirmados com auxílio de alça bacteriológica calibrada de
3. Para consumo em no máximo 12 horas, desde que 0,05 mL, utilizando-se tubos contendo BGBL. Após a incubação
mantida a temperatura máxima de 5°C. desses tubos sob as mesmas condições do teste inicial, a pre-
sença de gás indicando a presença de microrganismos do grupo
Técnica de pasteurização coliforme confirma que o produto é impróprio para consumo.
Paulo R. Margotto
Assistência ao Recém-Nascido de Risco
• A presença de gás indica um resultado presumível, que de- ceira do leito ou no local de preparo de medicamentos, devendo
verá ser submetido a prova confirmatória, obrigatoriamente. ser adotadas rigorosas medidas higiênico-sanitárias relativas a
procedimentos, pessoal e ambiente. Teto, piso e paredes do lo-
Prova Confirmatória cal de porcionamento do LHO precisam ser de material íntegro,
liso, impermeável, de fácil limpeza e desinfecção, resistente aos
A prova confirmatória para presença de coliformes se faz utili- saneantes utilizados. A ventilação deve proporcionar renovação
zando os tubos com resultados considerados positivos. adequada do ar, garantir conforto térmico, controlar odores que
eventualmente possam ser transferidos para o leite humano or-
• Coletar (sob campo de chama ou cabine de segurança denhado e proteger o leite de contaminações veiculadas pelo ar.
biológica, tendo o auxílio da alça bacteriológica com ca- É necessário que esse ambiente contenha, no mínimo, recur-
pacidade de 0,05 mL, e observando a formação de uma sos para a lavagem das mãos; bancada de material íntegro, de
membrana a partir do meio de cultura) amostra daquele fácil limpeza e desinfecção, resistente aos saneantes utilizados;
tubo com presença de gás em caldo bile verde brilhante na e equipamento para manipulação sob técnica microbiológica. No
concentração de 5%, e inocular no mesmo meio de cultura caso de o ambiente também ser utilizado para armazenamento
na concentração de 4% p/v. do LHO antes ou após o porcionamento, devem ser observadas
• Incubar os tubos com o meio caldo bile verde brilhante também as exigências de estocagem e manutenção da cadeia de
na concentração de 4% e inoculá-los em estufa a 36 ± frio. Tal área deve ser de acesso restrito ao pessoal diretamente
1°C, por 48 horas. envolvido e devidamente paramentado, sendo proibido manter
plantas e objetos pessoais ou em desuso no local. A paramenta-
Resultados ção, bem como a higiene para a entrada no ambiente destinado
Aqueles frascos em que houve a formação de gás no teste con- ao porcionamento do LHO, deve ser realizada em área específica
firmatório são considerados como resultado positivo final. Uma e seguir procedimentos preestabelecidos. O funcionário respon-
vez que o objetivo da pasteurização é eliminar 100% das bacté- sável pelo porcionamento deve atuar com dedicação exclusiva
rias patogênicas, a presença de coliforme em amostra de leite no momento da manipulação, não podendo estar envolvido em
pasteurizado caracteriza o produto como impróprio para consu- outras atividades durante essa etapa. É vedada a utilização de
mo. Os resultados serão expressos como ausência e presença aditivos durante a fase de porcionamento. Para realizar o porcio-
de coliformes totais. namento o profissional deve:
filho. Nesses casos, deve ter sido coletado em ambiente próprio por sucção representa esforço demasiado. A técnica e o mate-
para este fim, com ordenha conduzida sob supervisão. O LHOC rial para sondagem devem ser definidos na rotina do serviço. O
precisa estar devidamente identificado e o consumo deve ocor- tipo de sonda a ser utilizada deve ser escolhida de acordo com
rer em no máximo 12 horas, com o leite mantido à temperatura a indicação (gástrica ou enteral), o peso e a idade do lactente. É
não superior a 5°C. necessário que a higiene oral do lactente seja feita com bastante
Em se tratando de UTI neonatal – e considerando que os rigor para evitar e remover a formação de crostas labiais, que
recém-nascidos internados apresentam risco aumentado de in- ocorre comumente em crianças com sonda orogástrica. Caso a
fecção e maior necessidade de imunobiológicos, especialmente sonda saia acidentalmente, ela deve ser trocada.
os recém-nascidos de extremo baixo peso (<1000g), quando Passo-a-passo da gavagem
não houver BLH no serviço de saúde, recomenda-se que o leite
crú da própria mãe seja imediatamente resfriado para ser uti- • Verificar a prescrição do paciente.
lizado em no máximo 12 horas. Em condições excepcionais, o • Lavar as mãos.
acréscimo de aditivos poderá ser realizado sob prescrição mé- • Verificar se a temperatura do leite ordenhado está pró-
dica, no momento da administração, mediante a garantia da xima à temperatura corporal, evitando-se assim descon-
isenção de riscos à saúde do receptor, levando-se em conside- forto para o lactente e prevenindo acidentes por queima-
ração os riscos e benefícios provenientes da manipulação e do dura.
produto adicionado. No caso do uso de aditivo, este deve ser • Conectar o equipo e/ou a sonda ao recipiente com o lei-
administrado em ambiente hospitalar. te, evitando tocar qualquer porção do sistema de admi-
nistração que entrará em contato com o alimento, como,
Administração Via Oral por exemplo, a ponta do equipo, da sonda e da seringa.
• Posicionar o lactente em decúbito dorsal ou latera l es-
Na ausência materna, para a administração via oral de LHO querdo (deitado com a barriga para cima ou para o lado
é recomendado o uso de copinhos, dos quais o recém-nascido esquerdo).
sorve o leite, não interferindo no processo de sucção ao seio. O • Recomenda-se aspirar o resíduo gástrico suavemente,
tipo de copinho ideal deve ser pequeno, flexível, sem bordas que antes de infundir a dieta, a fim de avaliar se o leite da
possam machucar o lactente; e também é necessário que per- dieta anterior foi digerido e também o posicionamento da
mita o processo de esterilização. O recém-nascido não deve ser sonda. Caso seja detectado resíduo gástrico, comunicar
alimentado com o uso de mamadeiras, pois os bicos artificiais ao prescritor para definição de conduta.
da mamadeira provocam uma sucção inadequada, além de pre- • A administração do leite ordenhado pode ser feita pela
judicar a amamentação no peito. Atualmente, há vários produtos ação da gravidade ou por bomba de infusão. A bomba
disponíveis no mercado – e outros que estão sendo lançados – de infusão é mais indicada para administrar pequenos
com os mais diversos materiais e formatos, que do mesmo modo volumes com mais precisão.
interferem negativamente nesse processo. • Oferecer a alimentação lentamente, mantendo sempre a 663
Passo-a-passo da administração via oral seringa 15 a 20 cm acima da cabeça do lactente. Esse
cuidado é fundamental, pois evita que haja uma pressão
• Lavar as mãos. elevada no estômago, distensão abdominal, regurgita-
• Conferir o volume da dieta prescrita com o rótulo ou, en- ção, vômito e broncoaspiração.
tão, com o volume do leite ordenhado pela mãe. • O tempo de exposição do leite à temperatura ambiente
• Verificar se a temperatura do frasco de leite ordenhado durante a administração não deve exceder uma hora.
está próxima à do ambiente, para não provocar descon- • Desconectar a seringa e o equipo.
forto ou queimaduras. • Após a administração, descartar o frasco ou a seringa
• Colocar o lactente no colo em posição semi-sentada, com o que continha o leite porcionado.
corpo e o rosto voltados para o profissional ou para a mãe • Fechar a sonda.
• Colocar um babador ou uma gaze abaixo do queixo do • Colocar a criança preferencialmente em decúbito lateral
bebê para evitar o desconforto de um eventual extrava- esquerdo (deitado para o lado esquerdo) elevado, duran-
samento de LHO sobre a roupa. te no mínimo uma hora após o término da alimentação,
• Aproximar o copinho de forma que ele toque o lábio infe- se não houver contra-indicações.
rior do lactente, sem prender a língua. • Registrar no prontuário ou formulário próprio: horário de
• Deixar o lactente sorver ou lamber o leite, respeitando o início e término da administração, volume de leite infun-
seu ritmo e as pausas para deglutição e respiração. dido e eventuais intercorrências.
• Ao terminar a administração do leite, manter o lactente
em posição elevada ou em decúbito lateral esquerdo Bibliografia
para evitar a ocorrência de refluxo.
• Banco de Leite Humano: funcionamento, prevenção e controle de riscos. ANVISA, 2008.
• Registrar a aceitação no prontuário ou formulário próprio, • Issler H.. O Aleitamento Materno no contexto Atual,2008
incluindo o volume e a apresentação de episódios de re- • MINISTÉRIO DA SAÚDE. Recomendações técnicas para o funcionamento de bancos de
leite humano-normas e Manuais Técnicos, 2001
gurgitação e/ou vômito. • Agência Nacional de Vigilância Sanitária- ANVISA. Resolução RDC número 117, de 4
/11/2006.
• Silva VG. Normas técnicas para bancos de leite humano: uma proposta para subsidiar a
Administração por Sonda ou Gavagem construção de boas práticas [doutorado], Osvaldo Cruz, Rio de Janeiro, 2004.
• OPAS. Evidências científicas dos dez passos para o sucesso do aleitamento materno, Bra-
sília 2001.
• Lucas A, Gibbs JA e cl. Crematocrit: simple clinical technique for estimating fat concentra-
A administração do leite ordenhado por sonda (gavagem) é in- tion and energy value of human milk. Br Med J. 1:1018, 1978.
dicada quando o lactente estiver impossibilitado de alcançar as • Almeida JAG. Qualidade do leite humano coletado e processado em bancos de leite. Dis-
sertação (Mestrado em Microbiologia de Alimentos) – Faculdade de Engenharia de Ali-
suas necessidades nutricionais por via oral, devido a, por exem- mentos, Universidade Federal de Viçosa, Viçosa, 1986.
plo: imaturidade gastrintestinal; ausência ou incoordenação dos
reflexos de sucção e deglutição; e uso de ventilação mecânica
(respirador). Também é recomendada a prematuros e/ou pe-
quenos para a idade gestacional, para os quais a alimentação
Paulo R. Margotto
Assistência ao Recem-Nascido de Risco
Uréia Creatinina
X 0,06 X 0,113
mmol/l g/l µmol/l mg/l
2 0,12 9 1,0
2,5 0,15 25 3,0
3 0,18 50 5,5
5 0,30 75 8,5
7 0,42 100 11,0
7,5 0,45 150 17,0
15 0,90 250 28,0
25 1,50 350 39,5
30 1,80 450 51,0
Fósforo Cálcio
X 31 X 40,1
mmol/l mg/l mmol/l mg/l
0,5 15,5 1,5 60
0,75 23 2 80
1 31 2,30 92
1,3 39 2,40 96
1,5 46,5 2,50 100
1,75 54,5 2,60 105
2,25 70 2,70 108
2,50 77 2,90 116
3 93 3,10 124
Transformação Das Unidades Internacionais Em Unidades Tradicionais
665
Paulo R. Margotto
Assistência ao Recem-Nascido de Risco
ÍNDICE REMISSIVO
A AZT – consulte Zidovudina
Amamanetação
Aleitamento Materno B
Atresia de Esôfago Baixo peso ao nascer
Alterações cromossômicas Batimentos cardíacos
Ácido fólico Benzodiazepínicos
Acidose metabólica Betabloqueadores
Átresia biliar Betametasona
Alcalose metabólica
Ácido úrico C
Alcoolismo Cafeína
Acromegalia Calcio
ACTH Canal arterial – consulte Ducto arterioso
Acuidade auditiva Candidíase
Adeno-hipófise Cardiopatias
Adrenalina Cariótipo
Adrenocorticotrofina Catecolaminas
Agenesia do corpo Cavalgamento dos ossos do crânio
AIDS – consulte Síndrome da imunodeficiência adquirida Cefalosporinas
Albumina Centralização da circulação fetal
Albuterol Corioamnionite
Alcalose respiratória Choque Septico
Aldosterona Choque cardiogênico
Aleitamento artificial Citomegalovírus
Aleitamento materno Coarctação da aorta
Assistência pré- natal Cocaína
Aloimunização Rh – consulte Doença hemolítica perinatal Coeficiente de mortalidade materna
Alterações cromossômicas Coeficiente de mortalidade neonatal
666 Aminofilina Coeficiente de mortalidade perinatal
Aminoglicosídeo Coeficiente de natimortalidade
Amniorrexe prematura – consulte Rotura prematura das membranas Coexistência entre feto e mola
Amoxicilina Coléstase
Ampicilina Crescimento
Analgesia Convulsões
Analgésicos Coombs indireto
Anemia falciforme Coração
Anemia ferropriva Cordão umbilical
Anemia hemolítica Corioamnionite
Anemia hipocrômica microcítica Corticosteroides
Anemia megaloblástica Corticoterapia
Anestésicos Cortisol
Anfotericina B
Angiotensina D
Anomalia de Ebstein Datação da gestação
Antiácidos Data da última
Antibacterianos Data provável do parto
Antibióticos Débito cardíaco
Anticoagulante Declaração de nascimento
Anticonvulsivantes Declaração de óbito
Anticorpo anti-RO Defeitos abertos do tubo neural
Anticorpo anti-SS Defeitos congênitos
Antidepressivos Defeitos esqueléticos
Antieméticos Defeitos septais cardíacos
Antifúngicos Deficiência de vitamina K
Antivirais Depressão pós-parto
Assistência ao Rn em sala de Parto Descolamento da placenta
Atraso no desenvolvimento Desenvolvimento neurológico
Atresia de coanas Desidrogenase láctica
Atresia de vias biliares Desproporção craniofacial
Atresia cnervo optico Determinação da idade gestacional
Atropina DHL – consulte Desidrogenase láctica
Agenesia de corpo caloso Diabetes gestacional
Capitulo 13 Distúrbios do Trato Gatrointestinal
Paulo R. Margotto
Assistência ao Recem-Nascido de Risco
R T4
Radiografia Tabagismo
Ranitidina Tálamo
Restrição do crescimento fetal Talidomida
Reanimação Teofilina
Refluxo vesicoureteral Teratogênese
Regulação da produção de surfactante Teratógenos
Regurgitação Termo de consentimento esclarecido
Relação médico-paciente Testosterona
Reposição de ferro Tétano
Resistência à insulina Tetraciclinas 238
Responsabilidade médica Tetralogia de Fallot
Resposta hemodinâmica fetal à hipoxemia TGO – consulte Aspartato aminotransferase
Ressonância nuclear TGP – consulte Alanina aminotransferase
Restrição do crescimento fetal Tipo sanguíneo
Retardo mental Toxoplasmose
Retinopatia da prematuridade Transfusão
Retorno venoso Transtorno obsessivo-compulsivo
Rifampicina Trauma
Rotura de membranas Treponema pallidum
Rotura hepática Trissomia do cromossomo 13
Rubéola Trissomia do cromossomo 16
Trissomia do cromossomo 18
S Trissomia do cromossomo 21
Salbutamol Trombocitopenia
Saúde materno Tromboembolismo
Sepse Trombofilia
Sífilis Trombose venosa profunda
Síndrome da rubéola congênita Tromboxano A2
Síndrome da transfusão feto-fetal TSH – consulte Hormônio estimulante da tireoide
Síndrome de aspiração meconial Tuberculose
Síndrome de Down – consulte Trissomia do cromossomo 21 Tubo neural
Síndrome de Edwards – consulte Trissomia do cromossomo 18 669
Síndrome de Ehlers-Danlos U
Síndrome de hidantoína fetal Úlceras
Síndrome de Patau – consulte Trissomia do cromossomo 13 Ultrassonografia 5
Síndrome de Turner Unidade de terapia intensiva neonatal
Síndrome do alcoolismo fetal UretUretra
Síndrome do lúpus neonatal Urina
Síndrome hemolítico-urêmica Urocultura
Sistema cardiovascular fetal Uso de drogas ilícitas
Sistema de Informações sobre Mortalidade
Sistema de Informações sobre Nascidos Vivos V
Sistema digestivo Vacinação
Sistema endócrino Varicela-zóster
Sistema nervoso central VDRL
Sistema porta Ventilação pulmonar
Sistema renina-angiotensina-aldosterona Vírus A (H1N1) 202
Sistema Rh Vírus da hepatite B
Sistema surfactante pulmonar Vírus da hepatite C
Sorologia para citomegalovírus Vírus da imunodeficiência
Sorologia para sífilis Vírus da rubéola
Sorologia para toxoplasmose Vírus da sífilis
Sorologia para vírus da hepatite B Vitamina A
Sorologia para vírus da hepatite C Vitamina B1
Sorologia para vírus da imunodeficiência humana Vitamina B6
Sorologia para vírus da rubéola Vitamina C
Streptococcus agalactiae Vitamina D
Sulfato de magnésio Vitamina D3 ativada – consulte Calcitriol
Sulfonamidas Vitamina K
Surfactantes deficiência – consulte Deficiência de vitamina K
Suspensão do aleitamento Vômitos
Suturas cranianas
Z
T Zidovudina
T3
Paulo R. Margotto
Assistência ao Recem-Nascido de Risco
670
A nova Edição de Assistência ao Recém-Nascido de Risco, publicada em parceria com a Fundação de
Ensino e Pesquisa em Ciências da Saúde (FEPECS) e Escola Superior de Ciências da Saúde (ESCS),
da Secretaria de Estado de Saúde do Distrito Federal, traz novos capítulos e autores, totalizando
cerca de 86 capítulos, 75 autores e quase 3000 referências.
O objetivo deste trabalho permanece o mesmo proposto em Edições anteriores: proporcionar ao
profissional o mínimo necessário na compreensão da fisiopatologia do processo mórbido para melhor
integração entre a propedêutica e a terapêutica, ao invés de simplesmente focar na abordagem a
terapêutica.
A espinha dorsal deste trabalho sempre teve como alicerce a busca incessante da melhor evidência
que, combinada com a prática, torna a medicina uma arte