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Demétrio Magnoli

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Bolsonaro, no outono
O presidente tem prazo de validade, que não é 2022, mas
2020

18.mai.2019 às 2h00

EDIÇÃO IMPRESSA (https://www1.folha.uol.com.br/fsp/fac-simile/2019/05/18/)

FHC descreveu-se como o "improvável presidente", atestando seu


reconhecimento de que chegara ao Planalto nas asas de um desvio
histórico. Bolsonaro deve a cadeira presidencial a um acaso
(https://www1.folha.uol.com.br/poder/2019/04/nao-nasci-para-ser-presidente-nasci-para-ser-militar-diz-

ainda mais fortuito que o sucesso do Plano Real: a ruína


bolsonaro.shtml)

do sistema político da Nova República na moldura de uma profunda


depressão econômica.

Mas, ao contrário do sofisticado intelectual, o capitão inculto


imagina que seu triunfo deve-se à "necessidade histórica" —isto é, a
uma "revolução" propelida pela ideologia. Dessa ilusão nasce a crise
crônica que trava o governo e anuncia a sua implosão.
O sistema político edificado três décadas atrás combinou os poderes
quase imperiais de um presidente que governa por decretos com as
prerrogativas quase ilimitadas de um Congresso fragmentado em
miríades de partidos. O presidente fantasiado de soberano precisa,
ao longo do mandato, usar seus poderes para construir —e, depois,
conservar— uma maioria parlamentar operacional. Bolsonaro não
quer —e provavelmente não conseguiria, mesmo se quisesse
— engajar-se na missão da governabilidade.

O impasse tem um contexto. FHC navegou o sistema político a


bordo de uma nau mais ou menos estável: a aliança programática
PSDB/PFL, que lhe conferia um núcleo sólido de apoio no
Congresso. O tucano comprou a governabilidade a custo baixo,
praticando moderadamente o esporte da fisiologia. Já Lula pilotou
uma nau avariada pela falta de um consenso programático básico
na coalizão PT/PMDB/PP e pela multiplicação descontrolada de
partidos. O petista abriu as portas da administração pública e das
estatais à sanha colonizadora das máfias políticas. Os resultados
foram o mensalão, o petrolão e, no fim, a derrubada do edifício pela
artilharia da Lava Jato.

O presidente —qualquer presidente eleito na hora da derrocada


— teria as alternativas realistas de tentar restaurar o sistema ou de
encarar o desafio de reinventá-lo. Bolsonaro, porém, não entende a
natureza da encruzilhada. Isolado na concha ideológica de suas
próprias redes sociais, singra o mar de destroços girando o timão
erraticamente, desorientado por uma bússola que nunca aponta o
norte. De um lado, teme uma conspiração parlamentar
(https://www1.folha.uol.com.br/poder/2019/05/bolsonaro-distribui-texto-que-fala-em-brasil-ingovernavel-

destinada a envolvê-lo no novelo fatal da fisiologia.


fora-de-conchavos.shtml)

De outro, teme uma conspiração do STF e da imprensa


(https://www1.folha.uol.com.br/poder/2019/05/bolsonaro-distribui-texto-que-fala-em-brasil-ingovernavel-
destinado a fabricar um impeachment. Na batalha
fora-de-conchavos.shtml)

contra os dois moinhos de vento, hostiliza o Congresso, os juízes e a


opinião pública, cavando a sepultura de seu governo.

O governo não tem nada parecido com uma base parlamentar


(https://www1.folha.uol.com.br/poder/2019/05/partidos-do-centrao-veem-pior-momento-do-governo-e-

impoem-condicoes-a-mp.shtml).
As sucessivas derrotas em votações banais no
Congresso, iluminadas pelos clarões de ataques aos parlamentares
promovidos por ministros, assessores e filhos do presidente,
erguem-se como nuvens de tempestade sobre o projeto de reforma
previdenciária. A adição das ruas à equação política semeia o campo
da incerteza. A gosma ideológica também é responsável pelo novo
componente da crise: foram as repetidas provocações do ministro
olavete, não um simples contingenciamento de recursos, que
impulsionaram centenas de milhares de pessoas a aderir às
manifestações. Da rejeição dos cortes na Educação à recusa da Nova
Previdência, o passo depende apenas do ritmo da desmoralização
do governo.

"Idiotas úteis": não é, ainda, 2013, mas um presidente alheio à


realidade esforça-se para recriá-lo. Bolsonaro tem prazo de
validade, que não é 2022, mas 2020. Sem uma reforma
previdenciária forte, a persistência da estagnação econômica
dissolverá a legitimidade política do governo.

No horizonte cinzento, para lá da operação tartaruga do Ministério


Público, emergem os contornos agourentos de um certo Adriano e
de um tal de Queiroz (https://www1.folha.uol.com.br/poder/2019/05/entenda-caso-da-quebra-
de-sigilo-de-flavio-bolsonaro-e-ate-onde-pode-ir-investigacao.shtml).
O Brasil real quer
emprego, renda e serviços públicos, não a "revolução" reacionária
do bolsonaro-olavismo. Mas o outono já vai passando, e só a
Carolina não viu.
Demétrio Magnoli
Sociólogo, autor de “Uma Gota de Sangue: História do Pensamento Racial”. É doutor em
geografia humana pela USP.

ENDEREÇO DA PÁGINA

https://www1.folha.uol.com.br/colunas/demetriomagnoli/2019/05/b
no-outono.shtml

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