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E-ISSN: 2176-9893
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A AQUISIÇÃO DO DISCURSO:
EMERGÊNCIA DE UMA COMPETÊNCIA OU
APRENDIZAGEM DE DIFERENTES CAPACIDADES DE
LINGUAGEM?1
Joaquim Dolz
Auguste Pasquier
Jean-Paul Bronckart
RESUMO: A noção mais frequentemente utilizada para descrever e conceituar os processos envolvidos na
aquisição-aprendizagem dos discursos é a de “competência”. Após retomar as opções epistemológicas que
subjazem ao surgimento dessa noção, mostramos que sua extensão ao discurso não apenas veicula uma
concepção unária e global do desenvolvimento, em contradição com a maioria dos dados disponíveis neste
domínio, mas também serve para caracterizar fenômenos de níveis muito diferentes, para os quais uma
diversificação dos conceitos de desenvolvimento parece se impor. Na segunda parte, tentamos definir as
diferentes ordens de capacidades exigidas de um aluno para produzir um discurso adaptado a uma dada
situação de interação. Em seguida, nos interrogamos sobre as etapas de aprendizagem de cada uma dessas
capacidades e sobre as interações existentes entre elas. Por fim, propomos alguns elementos para um ensino
(ou uma didática) articulado/a às condições efetivas da aprendizagem dos discursos em situação escolar.
RÉSUMÉ: La notion la plus fréquemment utilisée pour décrire et conceptualiser les processus en jeu dans
l’acquisition-apprentissage des discours est celle de “compétence”. Après avoir ré-évoqué les options
épistémologiques qui ont sous-tendu l’apparition de cette notion, nous montrons que son extension au
discours, soit véhicule une conception unaire et globale du développement en contradiction avec la plupart des
données disponibles en ce domaine, soit sert à caractériser des phénomènes de niveaux très differents, pour
lesquels une diversification des concepts développementaux nous parâit s’imposer. Dans une seconde partie,
nous tentons de definir les différents ordres de capacités requises d’un apprenant pour produire un discours
adapté à une situation d’interaction donnée. Nous nous interrogeons ensuite sur les étapes d’apprentissage de
chacune de ces capacités et sur les interactions qui existent entre elles. Nous proposons enfin quelques éléments
pour un enseignement (ou une didactique) articulé aux conditions effectives de l’apprentissage des discours en
situation scolaire.
1
Nota do Tradutor: Este texto foi originalmente publicado na revista Études de Linguistique Appliquée, n.
92. 1993. pp. 23-37, com o título L’acquisition des discours: emergence d’une compétence ou apprentissage de
capacités langagières diverses?. Agradeço à gentileza dos autores por permitirem a publicação desta
tradução e, em especial, à revisão e às importantes sugestões de Joaquim Dolz. É válido destacar que
este texto foi produzido há mais de 20 anos e deve ser lido neste contexto. Todavia, sua pertinência
permanece bastante atual para aqueles que, em alguma medida, dialogam com a perspectiva do
Interacionismo Sociodiscursivo. Tradução de Cassiano Ricardo Haag (Centro Universitário Ritter
dos Reis – UniRitter/Capes-PNPD).
Dolz, J.; Pasquier, A.; Bronckart, J.P. A aquisição do discurso: emergência de uma 157
competência ou aprendizagem de diferentes capacidades de linguagem?. Nonada:
Letras em Revista, n. 28, vol. 1. Maio de 2017. pp. 156-173.
geral que daremos a esse termo). A noção de ação de linguagem designa, assim,
a unidade comportamental (ou unidade psicológica) “correspondente” à
unidade linguística que constitui o texto. Levando em conta diferenças entre
as formas oral ou escrita, entre produção, compreensão ou memorização,
podem-se distinguir diversas modalidades instrumentais de realização da
ação de linguagem, as quais, todavia, na prática, frequentemente estão
emaranhadas. No que segue, vamos nos limitar à análise teórica apenas das
modalidades de produção de linguagem, e essa análise implicará a distinção de
três níveis hierárquicos.
O primeiro nível é o da própria ação de produção de linguagem, que
se define por seu contexto e por seu conteúdo referencial, sem prejudicar
características linguísticas efetivas do texto ao qual ela conduzirá. O contexto
é produzido pelas representações elaboradas pelo agente a respeito de seu
ambiente físico e social. No plano físico, o agente da ação é um organismo
humano (emissor), eventualmente na co-presença de outros humanos
(receptores), ambos situados nas coordenadas de espaço e tempo. No plano
social, emissor e receptor estão implicados em uma forma de interação
humana, da qual depreendem não apenas seus estatutos (respectivamente, de
enunciador e de enunciatário), mas também as relações de finalidade ou de
visada emaranhadas entre si. O conteúdo referencial é constituído pelas
representações do mundo (os conhecimentos) que o agente vai mobilizar em
sua produção de linguagem. A seguir, um exemplo de produção oral: no dia 12 de
dezembro de 1993, no prédio de uma escola de Yverdon (espaço-tempo de produção) e
no quadro de suas atividades profissionais (forma de interação “Escola”), X
(emissor), assumindo seu papel de professor (enunciador), dirige-se oralmente a Y
(receptor), que possui o estatuto de aluno (enunciatário), para convencê-lo de inscrever-
se em uma aula de reforço (finalidade). Como se sabe, entretanto, em tal situação,
textos de estilos muito diferentes poderão ser produzidos. Essas diferenças
ocorrem pelo fato de que o agente da ação deve efetuar escolhas entre as
múltiplas soluções que a língua natural que ele utiliza lhe oferece: por um
lado, escolha de um tipo de discurso; por outro, escolha de modalidades de
organização linguística.
Os parâmetros gerais da ação de linguagem que são evocados
constituem uma base de orientação a partir da qual o agente selecionará um
dos “modelos de discurso” disponíveis em seu ambiente linguageiro (ou no
“interdiscurso”). Retornando a nosso exemplo, o professor pode se engajar em
uma conversação de caráter maiêutico; pode também produzir um discurso
expondo as vantagens das aulas de reforço; pode ainda construir uma
narrativa evocando os benefícios que ele mesmo teve com esse tipo de aulas
em sua adolescência. Nesse segundo nível, o agente adota, então, o tipo de
discurso que lhe parece mais eficaz na situação de interação. Os diferentes
Dolz, J.; Pasquier, A.; Bronckart, J.P. A aquisição do discurso: emergência de uma 163
competência ou aprendizagem de diferentes capacidades de linguagem?. Nonada:
Letras em Revista, n. 28, vol. 1. Maio de 2017. pp. 156-173.
As capacidades de ação
As capacidades discursivas
As capacidades linguístico-discursivas
Referências bibliográficas