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Essere nel Mondo
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zida por qualquer meio impresso, eletrônico ou que venha a ser criado, sem o prévio e
expresso consentimento da Editora. A utilização de citações do texto deverá obedecer as
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As ideias, conceitos e/ou comentários expressos na presente obra são criação e
elaboração exclusiva do(s) autor(es), não cabendo nenhuma responsabilidade à Editora.


M838b Brevíssimas notas ao CPC/2015 / [recurso eletrônico] / Felipe Augusto de Toledo
Moreira, Rafael de Arruda Alvim Pinto. – 5. ed. atual., rev. e ampl. – Santa Cruz do
Sul: Essere nel Mondo, 2018.
197 p.

Texto eletrônico.
Modo de acesso: World Wide Web.


1. Processo civil. 2. Direito processual. I. Pinto, Rafael de Arruda Alvim. II. Título.

CDD-Dir: 341.46

Prefixo Editorial: 5479


Número ISBN: 978-85-5479-013-4

Bibliotecária responsável: Fabiana Lorenzon Prates - CRB 10/1406


Catalogação: Fabiana Lorenzon Prates - CRB 10/1406
Revisão metodológica e gramatical pelos autores
Diagramação: Agência Nakao www.agencianakao.com

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Felipe Augusto de Toledo Moreira
Rafael de Arruda Alvim Pinto

BREVÍSSIMAS NOTAS
AO CPC/2015

5ª Edição
Atualizada, revisada e ampliada

2018

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CONSELHO EDITORIAL

Prof. Dr. Alexandre Morais da Rosa – Direito – UFSC e UNIVALI/Brasil


Prof. Dr. Alvaro Sanchez Bravo – Direito – Universidad de Sevilla/Espanha
Prof. Dr. Argemiro Luís Brum –Economia – UNIJUI/Brasil
Prof. Dr. Carlos M. Carcova – Direito – UBA/Argentina
Profª. Drª. Caroline Müller Bitencourt – Direito – UNISC/Brasil
Prof. Dr. Demétrio de Azeredo Soster – Ciências da Comunicação – UNISC/Brasil
Prof. Dr. Eduardo Devés – Direito e Filosofia – USACH/Chile
Prof. Dr. Eligio Resta – Direito – Roma Tre/Itália
Profª. Drª. Gabriela Maia Rebouças – Direito – UNIT/SE/Brasil
Prof. Dr. Gilmar Antonio Bedin – Direito – UNIJUI/Brasil
Prof. Dr. Giuseppe Ricotta – Sociologia – SAPIENZA Università di Roma/Itália
Prof. Dr. Humberto Dalla Bernardina de Pinho – Direito – UERJ/UNESA/Brasil
Prof. Dr. Ingo Wolfgang Sarlet – Direito – PUCRS/Brasil
Prof. Dr. Janriê Rodrigues Reck – Direito – UNISC/Brasil
Prof. Dr. João Pedro Schmidt – Ciência Política – UNISC/Brasil
Prof. Dr. Jose Luis Bolzan de Morais – Direito – UNISINOS/Brasil
Profª. Drª. Kathrin Lerrer Rosenfield – Filosofia, Literatura e Artes – UFRGS/Brasil
Profª. Drª. Katia Ballacchino – Antropologia Cultural – Università del Molise/Itália
Profª. Drª. Lilia Maia de Morais Sales – Direito – UNIFOR/Brasil
Prof. Dr. Luís Manuel Teles de Menezes Leitão – Direito – Universidade de Lisboa/Portugal
Prof. Dr. Luiz Rodrigues Wambier – Direito – UNIPAR/Brasil
Profª. Drª. Nuria Belloso Martín – Direito – Universidade de Burgos/Espanha
Prof. Dr. Sidney César Silva Guerra – Direito – UFRJ/Brasil
Profª. Drª. Silvia Virginia Coutinho Areosa – Psicologia Social – UNISC/Brasil
Prof. Dr. Ulises Cano-Castillo – Energia e Materiais Avançados – IIE/México
Profª. Drª. Virgínia Appleyard – Biomedicina – University of Dundee/ Escócia

COMITÊ EDITORIAL

Profª. Drª. Fabiana Marion Spengler – Direito – UNISC/Brasil


Prof. Me. Theobaldo Spengler Neto – Direito – UNISC/Brasil

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NOTA À 5ª EDIÇÃO*
A quinta edição deste e-book, além das alterações mencionadas na edição an-
terior, trazidas pela Lei Federal nº 13.256, de 04 de fevereiro de 2016, também está
atualizada de acordo com as modificações advindas da publicação da Lei Federal nº
13.363, de 25 de novembro de 2016 e da Lei Federal nº 13.465, de 11 de julho de 2017.
Nosso objetivo permanece intacto: apresentar as novidades da sistemática
processual civil em vigor de maneira direta, objetiva, didática e atualizada, voltada
especificamente àqueles que desejam se inteirar do que foi modificado de forma rá-
pida e simples.
Ao longo do texto, esquemas, tabelas e diagramas vão servir como facilitado-
res da compreensão e leitura dos tópicos teóricos selecionados.
Os Enunciados do Fórum Permanente de Processualistas Civis (FPPC) foram
atualizados de acordo com as revisões, cancelamentos e inclusões aprovados na últi-
ma reunião, ocorrida em 24, 25 e 26 de março de 2017 na cidade de Florianópolis/SC.
Da mesma forma, todos os textos foram revisados e ampliados a partir da in-
clusão, quando pertinente, de julgados atualizados dos tribunais do país.
E, para aqueles que nos acompanham desde as edições anteriores, além do
nosso especial agradecimento pela confiança no trabalho desenvolvido, manteremos
o combinado de encaminhar esta e as edições posteriores de forma integral e gra-
tuita, sem que se faça novo investimento com a aquisição de edições atualizadas, tal
como ocorre com a maioria das obras jurídicas que conhecemos.
Obrigado por estar ao nosso lado nessa jornada de muito aprendizado mútuo,
dedicação e crescimento intelectual. Que possamos continuar firmes e confiantes no
nosso propósito maior de construir uma sociedade mais humana e fraterna.
Um abraço e excelente leitura!
Os Autores.
Janeiro de 2018.

*As edições anteriores foram publicadas em forma de e-book sem catalogação na Biblioteca
Nacional e ISBN.

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SUMÁRIO

Introdução...........................................................................................11
Vetos da Presidência da República............................... 13
Estruturação Geral do Novo Código....................................15

PARTE GERAL........................................................................................ 16
Normas Fundamentais e o Modelo
Constitucional do Processo Civil........................................................17
Boa-Fé Objetiva no Âmbito Processual............................................17
Cooperação Processual........................................................................... 20
Princípio do Contraditório.........................................................................21
A Ordem Cronológica de Conclusão
para Julgamento............................................................................................ 23
Aplicação Supletivae Subsidiária do
CPC/2015 aos Processos Eleitorais,
Trabalhistas e Administrativos........................................................... 26
Condições da Ação...........................................................................................27
Limites da Jurisdição Nacional.............................................................. 28
Competência Interna..................................................................................... 30
Conexão...................................................................................................................31
Continência.......................................................................................................... 33
Incompetência absoluta e relativa em
preliminar da contestação...................................................................... 34
Conciliação, Mediação e outros Métodos
de Solução Consensual de Conflitos............................................... 34
Arbitragem, Mediação e Conciliação.................................................. 35
Processo “Em Trânsito” – Traslatio Iudici........................................ 37
Honorários Advocatícios Sucumbenciais...................................... 38
Gratuidade Parcial no CPC/2015?......................................................... 40
Litisconsórcio Necessário ou Facultativo?
Unitário ou Simples?...................................................................................... 41
Litisconsórcio Necessário Ativo?....................................................... 43
Intervenção de Terceiros.......................................................................... 44

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Assistência Simples e Litisconsorcial.............................................. 46
Denunciação da Lide....................................................................................... 46
Chamamento ao Processo........................................................................ 49
Incidente de Desconsideração da
Personalidade Jurídica.............................................................................. 49
Amicus Curiae..................................................................................................... 52
Dever-Poder Geral de Efetivação do Juiz...................................... 53
Impedimento do Juiz no CPC/2015............................................................55
Suspeição do Juiz no CPC/2015................................................................. 56
Negócios Jurídicos Processuais.......................................................... 58
Atos Ordinatórios no CPC/2015.............................................................. 62
Despachos no CPC/2015................................................................................ 63
Sentenças no CPC/2015................................................................................. 65
Prazos Processuais em Dias Úteis e Suspensão
do Curso do Prazo Processual entre 20
de Dezembro e 20 de Janeiro de Cada Ano.........................................67
As Modalidades de Cartas no CPC/2015............................................ 68
Nulidades Processuais............................................................................... 69
Não Há Nulidade Sem Prejuízo!................................................................70
Tutela Provisória.............................................................................................71
Tutelas Provisórias de Urgência em
Caráter Antecedente....................................................................................73
Tutela da Evidência........................................................................................76

PARTE ESPECIAL....................................................................78
Procedimento Comum e Incidentes Processuais.........................79
Petição Inicial.....................................................................................................79
Pedido ..................................................................................................................... 80
Reconvenção....................................................................................................... 81
Saneamento Compartilhado.................................................................. 83
Distribuição Dinâmica do Ônus da Prova......................................... 84
Prova Emprestada......................................................................................... 86
Produção Antecipada de Prova.............................................................87

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Ata Notarial como Meio de Prova Típico.......................................... 88
Depoimento Pessoal...................................................................................... 89
Confissão.............................................................................................................. 91
Exibição de Documento ou Coisa........................................................... 92
Prova Documental......................................................................................... 93
Prova Testemunhal....................................................................................... 95
Prova Pericial e Inspeção Judicial...................................................... 96
Motivação Das Decisões Judiciais.........................................................97
Decisão “Vestidinho Preto” no CPC/2015........................................... 99
Remessa Necessária.....................................................................................100
Coisa Julgada de Resolução de
Questão Prejudicial....................................................................................102
Cumprimento de Sentença........................................................................103
Prisão Civil..........................................................................................................105
Separação e Divórcio.................................................................................. 107
Procedimentos de Jurisdição Voluntária....................................108
Protesto de Decisão Judicial no CPC/2015...................................... 115
Processo de Execução.................................................................................116
Crédito de Contribuição Condominial como
Espécie de Título Executivo Extrajudicial.................................... 117
Fraude à Execução e Enunciado nº 375
da Súmula do STJ.............................................................................................119
Objeção de Pré-Executividade no CPC/2015..................................122
Precedentes.......................................................................................................123
JURISPRUDÊNCIA DEFENSIVA.......................................................................124
Sustentação Oral em Agravo de Instrumento..........................126
Efeito Vinculante no Incidente de Assunção
de Competência................................................................................................128
Incidente de Arguição de Inconstitucionalidade.....................129
Homologação de Decisão Estrangeira...........................................130
Concessão de Exequatur às Cartas Rogatórias.....................132
Ação Rescisória no CPC/2015...................................................................133
A Possibilidade de Rescisão Parcial no CPC/2015......................135

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Incidente de Resolução de Demandas Repetitivas...................136
Suspensão Obrigatória dos Processos no IRDR?.....................138
Cabe Reclamação junto aos Tribunais de Justiça?...............140
Disposições Gerais sobre os Recursos no CPC/2015...............140
Revisitando Alguns Aspectos Importantes
da Teoria Geral dos Recursos..............................................................143
Efeitos dos Recursos no CPC/2015 .....................................................146
Novidades do CPC de 2015 sobre os Recursos ............................150
Admissibilidade Recursal.........................................................................154
Sistema Recursal........................................................................................... 157
Recurso Adesivo............................................................................................. 157
Quando se Comprova Feriado Local
no Recurso?.......................................................................................................158
Recurso Deserto?..........................................................................................159
Apelação...............................................................................................................161
Tutela Provisória na Sentença?.........................................................164
Agravo de Instrumento..............................................................................165
É TAXATIVO O ROL DO ART. 1.015?.................................................................168
Agravo Interno ...............................................................................................168
Embargos de Declaração......................................................................... 170
Recurso Ordinário no CPC/2015............................................................. 173
A Disciplina Jurídica Comum dos
Recursos Extraordinários Lato Sensu.......................................... 174
Como Ficou, Então, o Juízo de Admissibilidade
dos Recursos Após a Lei Federal nº 13.256/2016?........................177
Recurso Especial Versando sobre
Questão Constitucional e Recurso
Extraordinário com Ofensa Reflexa
à Constituição.................................................................................................. 179
Recursos aos Tribunais Superiores................................................. 180
Usucapião Extrajudicial......................................................................... 180

Breves Conclusões...................................................... 182

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Referências Bibliográficas..................................... 183

ANEXOS....................................................................................185
Quais enunciados das Súmulas do STF e do STJ
perderam nitidamente fundamento de validade
com o CPC/2015 (APÓS AS ALTERAÇÕES
TRAZIDAS PELA LEI FEDERAL Nº 13.256/2016)?......................................185
Prazos de 05 Dias Importantes NO CPC/2015............................................. 187
Prazos de 10 Dias Importantes no CPC/2015................................................ 187
Prazos de 15 Dias Importantes no CPC/2015................................................ 187
RESOLUÇÕES DO CNJ........................................................................................194
Enunciados administrativos do STJ sobre o CPC/2015............................195

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Introdução
Temos um Novo Código de Processo Civil, que entrou em vigor no dia 18 de
março de 2016 (um ano de vacatio legis – CPC/2015, art. 1.045).
Como havia certo dissenso acerca do dia exato de início da vigência do Novo
Código, o Superior Tribunal de Justiça (STJ), no dia 02 de março de 2016, aprovou em
Plenário o Enunciado Administrativo nº 01 (cf. os demais Enunciados Administrati-
vos, aprovados pelo Plenário do STJ na sessão de 02 de março de 2016: http://www.stj.
jus.br/sites/STJ/default/pt_BR/Institucional/Enunciados-administrativos):

O Plenário do STJ, em sessão administrativa em que se interpretou o art.


1.045 do novo Código de Processo Civil, decidiu, por unanimidade, que
o Código de Processo Civil aprovado pela Lei n. 13.105/2015, entrará em
vigor no dia 18 de março de 2016.

Se isso era ou não função e competência do STJ é outra história, mas fato é que
trouxe maior segurança jurídica aos jurisdicionados diante do novo sistema que logo
entraria em vigor, mesmo porque já se estava às vésperas da vigência do CPC/2015,
independentemente da “corrente doutrinária” que se tivesse adotado.
Uma das discussões que se têm travado na doutrina é no sentido de saber se
esse “Novo Código” é novo mesmo ou se não se trata, pura e simplesmente, de mais
uma (grande) reforma do CPC/73.
Aos olhos de parte dos estudiosos do direito do país, trata-se de uma reforma
do CPC/73, porque não há grandes alterações, não há mudanças de paradigmas.
No entanto, outros entendem que, no campo do direito, as alterações devem
ser lentas, porque devem acompanhar as necessidades sentidas na sociedade. E,
como se sabe, as sociedades se modificam lentamente. Segundo essa outra parcela
de estudiosos, a alteração do direito não se dá apenas com “boas ideias”, mas com
ideias que, além de boas, possam ser assimiladas e bem utilizadas pelos operadores,
para que gerem resultados positivos para a sociedade.
Trata-se, assim, de uma perspectiva verdadeiramente pragmática.
Nesse sentido, é bom lembrar a advertência:

Não se quis, com o novo Código, “zerar” o direito processual, fazer “tábula
rasa” de tudo o que existe. Quis-se, sim, inovar, a partir do que já existe,
respeitando as conquistas, dando-se passos à frente.
Assim é que devem ocorrer as mudanças das ciências ditas sociais, da lei,
da jurisprudência: devagar. Porque também devagar mudam as sociedades.
Nada de mudanças bruscas, que não correspondem àquilo que se quer, que
assustam, atordoam e normalmente não são satisfatoriamente assimiladas.
Não há razão para não se manter tudo o que de positivo já tínhamos conce-
bido. Nada como se engendrar um novo sistema, de forma equilibrada, entre
conservação e inovação. (Teresa Arruda Alvim WAMBIER, Maria Lúcia
Lins CONCEIÇÃO, Leonardo Ferres da Silva RIBEIRO e Rogerio Licas-

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tro Torres de MELLO, Primeiros comentários ao novo código de processo
civil: artigo por artigo, p. 55).

De fato, o Novo Código pretende encerrar muitas discussões doutrinário-ju-


risprudenciais, tendo tomado posições firmes acerca de determinados temas polê-
micos, além de inovar em matérias não positivadas, como é o caso, por exemplo,
da disciplina própria para o amicus curiae e para o incidente de desconsideração
da personalidade jurídica, agora vistos como novas modalidades de intervenção de
terceiros (CPC/2015, arts. 133 a 138).
Portanto, ainda segundo essa óptica pragmática, as alterações trazidas pelo
CPC/2015, que são muitas, não inovam mais do que de deveriam inovar. Parece que,
de fato, o que há de novo no CPC já estava de certa maneira potencialmente presente
nas críticas da doutrina, nas queixas dos juízes, dos advogados, naquilo que já estava
sendo objeto de discussões em congressos, cursos e encontros de processualistas.
Vamos a mais alguns exemplos.
O sistema está mais organizado, o que facilita seu manuseio. O Novo Código
tem uma Parte Geral (CPC/2015, arts. 1º a 317) – o que acaba com as discussões sobre
se determinado instituto, que estava na parte do Código que trata do processo de
conhecimento, por exemplo, aplica-se ou não à execução.
Todas as espécies de tutelas que podem ser concedidas com base em cognição
não exauriente – tutela provisória de urgência, cautelar ou antecipada, ou da evidên-
cia – estão tratadas conjuntamente (CPC/2015, arts. 294 a 311). No CPC/73, a tutela
antecipada estava separada da tutela cautelar.
Alguns procedimentos especiais foram extintos, porque, mesmo à luz da últi-
ma versão do CPC/73 – depois de todas as reformas pelas quais passou – nada mais
tinham de especiais. Em contrapartida, está prevista a possibilidade de as partes e o
juiz construírem, em certa medida, o procedimento, adaptando-o às peculiaridades
do caso concreto (CPC/2015, art. 190).
As alterações quanto aos recursos não foram no sentido de diminuir drasti-
camente as espécies recursais. Não há mais agravo retido, mas se alterou o regime
da preclusão em relação à impugnação das interlocutórias contra as quais não cabe
agravo de instrumento: deverão ser objeto de preliminar no recurso de apelação
(CPC/2015, art. 1.009, § 1º). Portanto, a extinção desse recurso não muda nada para
a parte.
O único recurso que foi, de fato, excluído do rol, foram os embargos infrin-
gentes (CPC/2015, art. 994), substituídos, de certa forma, pela técnica de julgamento
prevista no art. 942 do Novo Código.
Os recursos excepcionais sofreram alterações que os tornam mais eficientes
(CPC/2015, arts. 1.029 a 1.041). Com isso, quer-se dizer que há modificações interes-
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santes, todas com o objetivo de fazê-los gerar decisões de mérito, como, por exemplo,
dispositivos que desencorajam a jurisprudência excessivamente rigorosa quanto à
admissibilidade, dita “defensiva”.
Na redação original do CPC/2015, o juízo de admissibilidade dos recursos
especial e extraordinário seria feito diretamente nos tribunais superiores. Uma das
principais alterações trazidas pela Lei Federal nº 13.256/2016 foi justamente restabe-
lecer o duplo exame da admissibilidade dos recursos excepcionais, com a justificati-
va de que seria impossível concentrar tudo nas instâncias superiores, sem estrutura
física e de recursos humanos para absorver toda essa demanda. Também, em função
disso, foram alteradas as disposições que tratavam do agravo em recurso especial e
extraordinário (CPC/2015, art. 1.042).
Deu-se ênfase às formas extrajudiciais de resolução de conflito, tendo-se, por
exemplo, criado uma audiência – em que pode haver mediação ou conciliação – na
qual as partes devem comparecer caso não se expressem, ambas, no sentido de não o
quererem, antes mesmo de ser apresentada a contestação (CPC/2015, art. 334).
Proibiram-se as decisões-surpresa: mesmo que se trate de matéria de ordem
pública, deve o juiz sempre proporcionar às partes a possibilidade de se manifestar
antes da decisão (CPC/2015, art. 10).
Enfim, nada há de “outro planeta”.
Mas isso, segundo a grande maioria dos doutrinadores, é muito bom! Até por-
que, como se sabe, alterações da lei não têm o condão de, sozinhas, fazer operar
milagres. Para que a lei produza bons resultados, é necessário que seja interpretada e
aplicada por homens que a compreendam e que, com boa vontade, queiram extrair
dela todo o seu verdadeiro potencial.

Vetos da Presidência da República


Após análise por parte da Presidência da República, a Mensagem nº 56, de 16
de março de 2015, trouxe as razões para os vetos em relação a 07 (sete) dispositivos
do Novo Código, todos fundamentados na contrariedade ao interesse público, nos
termos do artigo 66, § 1º, da Constituição Federal.
De forma esquematizada, temos:

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Estruturação Geral do Novo Código
Conforme já se apontou, atendendo a um antigo reclamo da doutrina, o Novo
Código de Processo Civil tem uma Parte Geral, a consolidar as normas (princípios e
regras) fundamentais do processo civil (arts. 1º a 12), e uma Parte Especial, a cuidar
especialmente do processo de conhecimento, do cumprimento de sentença, do pro-
cesso de execução e dos meios de impugnação das decisões judiciais.
A aludida Parte Geral do CPC de 2015 possui 06 Livros distintos, que tratam,
respectivamente, “Das Normas Processuais Civis” (arts. 1º a 15), “Da Função Juris-
dicional” (arts. 16 a 69), “Dos Sujeitos do Processo” (arts. 70 a 187), “Dos Atos Pro-
cessuais” (arts. 188 a 293), “Da Tutela Provisória” (arts. 294 a 311) e “Da Formação,
Suspensão e Extinção do Processo” (arts. 312 a 317).
A Parte Especial, por sua vez, apesar de mais extensa, possui apenas 03 Livros:
“Do Processo de Conhecimento e do Cumprimento de Sentença” (arts. 318 a 770);
“Do Processo de Execução” (arts. 771 a 925); e “Dos Processos nos Tribunais e Dos
Meios de Impugnação das Decisões Judiciais” (arts. 926 a 1.044).
Por fim, cabe ressaltar que o Novo Código também possui um Livro Comple-
mentar a fim de tratar “Das Disposições Finais e Transitórias” (arts. 1.045 a 1.072),
entre as quais se destacam os dispositivos sobre a vacatio legis (art. 1.045), o direito
intertemporal (art. 1.046), a prioridade de tramitação processual (art. 1.048), as al-
terações em relação aos Juizados Especiais (arts. 1.062 a 1.066), a uniformização do
procedimento para a oposição de embargos de declaração no Código Eleitoral (art.
1.067), a necessidade de o Conselho Nacional de Justiça (CNJ) promover pesquisas
periódicas a fim de avaliar a efetividade das normas processuais (art. 1.069) e a pre-
visão da usucapião administrativa na Lei de Registros Públicos (art. 1.071).

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Normas Fundamentais e o Modelo Constitucional
do Processo Civil
A par de consagrar o modelo constitucional do processo civil, repetindo nor-
mas constitucionais que tratam, por exemplo, da inafastabilidade da jurisdição (CF,
art. 5º, XXXV e CPC/2015, art. 3º, caput), da razoável duração do processo (CF, art. 5º,
LXXVIII e CPC/2015, art. 4º, caput), do contraditório e da ampla defesa (CF, art. 5º,
LV e CPC/2015, art. 7º), da proteção à dignidade da pessoa humana e dos princípios
da legalidade, publicidade e eficiência (CF, art. 1º, III e 37, caput, e CPC/2015, art. 8º) e
da fundamentação das decisões judiciais (CF, art. 93, IX e CPC/2015, art. 11), a Parte
Geral do Novo Código (o “espírito” do CPC de 2015) também inova, especificando e
aclarando a verdadeira finalidade social do processo civil: a pacificação social.
Nesse sentido é que, ao repetir a norma constitucional que trata da razoável
duração do processo, o Novo Código vai além, ressaltando que se deve buscar, em
prazo razoável, “a solução integral do mérito, incluída a atividade satisfativa” (art. 4º). Ao
tratar do princípio da cooperação processual, novamente se tem o mesmo destaque:
“Todos os sujeitos do processo devem cooperar entre si para que se obtenha, em tempo razoá-
vel, decisão de mérito justa e efetiva” (art. 6º).
Percebe-se, portanto, que a resolução do mérito passa a ser sinônimo de efe-
tividade, pois é o que, de fato, resolve a questão de direito material e contribui para
a pacificação social (acabando com a antiga crítica do “ganha, mas não leva”). No
entanto, contraditoriamente, por muito tempo o processo vem sendo utilizado como
subterfúgio para não conhecer o mérito, invertendo a lógica e destoando das aclama-
das instrumentalidade e efetividade processuais.
Essa posição política, por assim dizer, do CPC de 2015 fica muito clara em
inúmeros outros dispositivos, que exigem uma postura proativa do magistrado, bus-
cando sanar nulidades e julgar o mérito da demanda (CPC/2015, arts. 76; 139, inciso
IX; 317; 321; 357, inciso IV; 370; 932, parágrafo único; 938, § 1º; 1.007, § 7º; 1.017, § 3º
e 1.029, § 3º).

Boa-Fé Objetiva no Âmbito Processual


Diferentemente do CPC/73, no qual a boa-fé aparecia expressamente apenas
no art. 14, inciso II, que tratava dos deveres dos sujeitos processuais, no texto do
CPC/2015, a expressão é referida em pelo menos três dispositivos distintos, quais se-
jam: (i) artigo 5º – como dever de todo e qualquer sujeito do processo; (ii) artigo 322,
§ 2º – como princípio norteador da interpretação do pedido formulado; e (iii) artigo
489, § 3º – como princípio norteador da interpretação das decisões judiciais.
Dessa forma, verifica-se que a boa-fé objetiva, seus deveres anexos (deveres
de respeito, confiança, lealdade, cooperação, honestidade, razoabilidade etc.) e seus

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conceitos parcelares (supressio, surrectio, tu quoque, exceptio doli, venire contra factum
proprium non potest e duty to mitigate the loss), muito caros aos civilistas (Cf. Flávio
TARTUCE. Manual de Direito Civil. p. 581 e ss), ganham importância central também
para a Teoria Geral do Processo.
Sobretudo a partir da publicação do Código Civil de 2002, os tribunais brasi-
leiros passaram a prestigiar a boa-fé no campo do direito material, posicionando-a
como tema principal dentro da teoria geral dos contratos. Eis o Enunciado nº 26 da I
Jornada de Direito Civil do STJ/CJF:

A cláusula geral contida no art. 422 do novo Código Civil impõe ao juiz
interpretar e, quando necessário, suprir e corrigir o contrato segundo a boa-
fé objetiva, entendida como exigência de comportamento leal dos contra-
tantes.

No campo do direito processual, também já se encontram decisões do Supe-


rior Tribunal de Justiça utilizando o princípio da boa-fé para interpretar a conduta
das partes (STJ, REsp 1.119.361/RS, 3ª T., j. 06.05.2014, rel. Min. Nancy Andrighi, DJe
19.05.2014). Nesse sentido, é dever dos sujeitos processuais se comportar conforme
a boa-fé, expressando a verdade em suas manifestações, colaborando para com a rá-
pida solução do litígio (v. CPC/2015, art. 6º) e utilizando sem abuso os seus poderes
processuais (STJ, AgInt no AgInt no REsp 1624831/SC, 2ª T., j. 17.08.2017, rel. Min.
Mauro Campbell Marques, DJe 23.08.2017).
A litigância de má-fé permanece na nova sistemática com as mesmas hipóte-
ses já existentes no antigo art. 17 do CPC/73 (v. CPC/2015, art. 80, I a VII). O teto para
a multa, entretanto, em vez de 1% do valor da causa, foi para 10% do valor corrigido
da causa (ou 10 salários mínimos nos casos de valor da causa irrisório ou inestimá-
vel), além da possível indenização para a parte prejudicada (CPC/2015, art. 81).
Por fim, cabe ressaltar que o CPC/2015 vai além, trazendo o princípio da boa-
fé também para o campo hermenêutico, a nortear a interpretação dos pedidos for-
mulados perante o Judiciário e das próprias decisões judiciais.
Isso trará efeitos práticos sobretudo no âmbito recursal, no qual o tribunal de-
verá decidir desde logo o mérito quando, por exemplo, interposta a apelação e a cau-
sa estiver em condições de imediato julgamento, decretar a nulidade da sentença por
não ser ela congruente com os limites do pedido ou da causa de pedir (v. CPC/2015,
art. 1013, § 3º, II).
Também para a hipótese de ajuizamento de ação rescisória fundada em vio-
lação manifesta de norma jurídica (v. CPC/2015, art. 966, V), o princípio da boa-fé,
como norma jurídica que é, poderá ser invocado como fundamento para a rescisão.

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Cooperação Processual
“Todos os sujeitos do processo devem cooperar entre si para que se obtenha, em tempo
razoável, decisão de mérito justa e efetiva”, é o que expressamente dispõe o artigo 6º do
Novo Código de Processo Civil.
Entretanto, o que se deve entender por cooperação? Trata-se de uma mudança
de paradigma no modelo processual brasileiro?
De fato, a cooperação, ainda pouco estudada, passará a integrar com maior
vigor o modelo constitucional de processo ressaltado pelo CPC/2015. Liga-se clara-
mente à boa-fé processual e pressupõe uma conduta leal por parte de todos os sujei-
tos do processo, entre os quais se inclui o magistrado, evidentemente.
Nesse sentido, a cooperação traz, em primeiro lugar, a ideia de respeito, con-
fiança, honestidade e razoabilidade na participação processual. Não por acaso, con-
forme já destacado anteriormente, que o princípio da boa-fé processual é referido
pelo Novo Código como dever de todo e qualquer sujeito do processo (art. 5º) e tam-
bém como norte para a interpretação do pedido formulado (art. 322, § 2º) e das deci-
sões judiciais (art. 489, § 3º).
Grosso modo, o processo não deve ser um ambiente de “cartas na manga”, a
prejudicar o contraditório sobre as alegações das partes ou a permitir que o juiz se
valha de decisões-surpresa para conduzir o processo (cf. interessante julgado do STJ
sobre o tema: STJ, REsp 1676027/PR, 2ª T., j. 26.09.2017, rel. Min. Herman Benjamin,
REPDJe 19.12.2017, DJe 11.10.2017).
De igual forma, e com a mesma importância e intensidade, a cooperação exige
ampla participação dos sujeitos processuais, sendo, pois, elemento essencial do con-
traditório. Nas palavras de Daniel MITIDIERO:

(...) pressupondo o direito ao contraditório como direito a participar do


processo, a influir positivamente sobre o convencimento judicial, tem-se
entendido que as partes têm o direito de se pronunciar também sobre a va-
loração jurídica da causa, tendo o juiz o dever de submeter ao diálogo a sua
visão jurídica das questões postas em juízo, mesmo sobre aquelas questões
que deve conhecer de ofício. (Colaboração no processo civil: pressupostos
sociais, lógicos e éticos, p. 102).

Não por acaso que o artigo 10 do CPC/2015 é expresso ao dispor que “O juiz
não pode decidir, em grau algum de jurisdição, com base em fundamento a respeito do qual
não se tenha dado às partes oportunidade de se manifestar, ainda que se trate de matéria sobre
a qual deva decidir de ofício”.
Também por esse motivo se entende que a boa-fé e a cooperação não poderão
ser afastadas por negócio jurídico processual (Enunciado nº 06 do Fórum Permanen-
te dos Processualistas Civis).

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E a finalidade da cooperação, também cristalina no artigo 6º, é a busca pela
decisão de mérito em tempo razoável, símbolo da efetividade processual, também
referida em diversos outros dispositivos do Novo Código, exigindo que o juiz se
afaste dos formalismos inférteis e propicie sempre as condições adequadas para a
resolução do conflito social subjacente à demanda (arts. 76; 139, inciso IX; 317; 321;
357, inciso IV; 370; 932, parágrafo único; 938, § 1º; 1.007, § 7º; 1.017, § 3º e 1.029, § 3º).
Por fim, muito oportuna a advertência de Paulo Cezar Pinheiro CARNEIRO:

O princípio da cooperação não se limita aos participantes tradicionais do


processo: autor e réu. Deve o juiz, sempre que necessário, especialmente
nos processos cujo resultado possa alcançar um grande número de pessoas,
permitir a intervenção de pessoas, órgãos ou de entidades com interesse,
ainda que indireto, na controvérsia. Assim, promover a realização de au-
diências públicas (art. 927, § 2º; art. 983, § 1º; art. 1.038, II; v.g.), e até
mesmo permitir o ingresso de outros personagens que possam colaborar
para a realização da justiça, caso do amicus curiae (arts. 138 e 1.038, §
2º), são corolários lógicos de uma das formas de cooperação do juiz com o
deslinde da causa. Quanto maior for a participação e, portanto, os elementos
de informação, maior será a legitimidade democrática da decisão. (In.: Te-
resa ARRUDA ALVIM, Fredie DIDIER JR., Eduardo TALAMINI, Bruno
DANTAS (coords.). Breves comentários ao novo código de processo civil,
comentários ao art. 6º, p. 84).

Princípio do Contraditório
Se você digitar a palavra “contraditório” no instrumento de busca dentro do texto do
CPC/73, irá encontrar apenas uma ocorrência, qual seja: no artigo 536, que trata dos
embargos de declaração, os quais deverão ser “opostos, no prazo de 05 dias, em petição
dirigida ao juiz ou relator, com indicação do ponto obscuro, contraditório ou omisso, não
estando sujeitos a preparo”.
Como se percebe, dentro desse contexto, o termo “contraditório” aparece em
seu sentido adjetivo apenas, e não substantivo. Não há, portanto, menção expressa
ao princípio do contraditório no CPC/73, talvez pelo momento histórico que se pas-
sava à época.
No texto do CPC/2015 a situação se inverte: no artigo dedicado aos embar-
gos declaratórios, utiliza-se a expressão “eliminar contradição” (art. 1.022, I); e o termo
“contraditório” é utilizado apenas em seu sentido substantivo, em todas as 07 situa-
ções nas quais aparece.
Vejamos cada uma delas.
Logo no início do texto, no artigo 7º, é ressaltada a igualdade entre as partes, a
paridade de tratamento e de armas para o litígio, devendo o juiz zelar pelo efetivo con-
traditório. Oportuna e adequada a consagração do princípio do contraditório na Parte
Geral do CPC/2015, enquanto norma informadora de toda a nova sistemática processual,
a demonstrar também conformidade em relação ao Texto Constitucional de 1988.
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No artigo 98, § 1º, inciso VIII, que trata da gratuidade da justiça, é destacado
que ela compreende também os depósitos previstos em lei para interposição de re-
curso, propositura de ação e para a prática de outros atos processuais inerentes ao
exercício da ampla defesa e do contraditório. A parte final do dispositivo deixa claro,
pois, de forma feliz, que se trata de um rol meramente exemplificativo, a exigir dos
operadores do direito, e principalmente do magistrado, sensibilidade em relação aos
que, de fato, têm direito à gratuidade.
Tratando dos vícios da sentença de mérito proferida sem a integração do con-
traditório, o artigo 115 do CPC/2015 distingue situações de nulidade e ineficácia, a
depender do tipo de litisconsórcio necessário existente: se unitário (no qual a decisão
deve ser uniforme em relação a todos os litisconsortes), a sentença será nula; se sim-
ples, ineficaz apenas em relação ao que não foi citado.
No artigo 329, inciso II, o Novo Código indica a forma de respeito ao princípio
do contraditório: até a fase de saneamento do processo, o autor poderá, com o con-
sentimento do réu, aditar ou alterar o pedido ou a causa de pedir, ocasião na qual, em
obediência ao contraditório, o réu poderá se manifestar no prazo mínimo de 15 dias
e ainda requerer prova suplementar.
No dispositivo dedicado à conhecida prova emprestada também há expressa
menção à necessidade de respeito ao princípio do contraditório: “O juiz poderá ad-
mitir a utilização de prova produzida em outro processo, atribuindo-lhe o valor que
considerar adequado, observado o contraditório” (art. 372).
Ao tratar da coisa julgada material, o artigo 503 dispõe que: “A decisão que
julgar total ou parcialmente o mérito tem força de lei nos limites da questão princi-
pal expressamente decidida”. O parágrafo primeiro, por sua vez, acrescenta que a
questão prejudicial, decidida expressa e incidentalmente no processo, também terá
eficácia de coisa julgada material quando reunir os seguintes requisitos: (i) dessa re-
solução depender o julgamento do mérito; (ii) a seu respeito tiver havido contradi-
tório prévio e efetivo, não se aplicando no caso de revelia; e (iii) o juízo tiver compe-
tência em razão da matéria e da pessoa para resolvê-la como questão principal. Mais
uma vez o contraditório em sentido substantivo aparece expressamente no texto do
CPC/2015.
Por fim, a última situação na qual aparece expressamente a menção ao princí-
pio do contraditório no texto do CPC/2015 é no artigo 962, § 2º, que trata da execução
da tutela provisória de urgência concedida por decisão estrangeira. Assim, o referido
dispositivo esclarece que isso deverá ser feito no Brasil por meio de carta rogatória e
que a aludida tutela provisória de urgência poderá ser executada mesmo se concedi-
da sem a oitiva do réu, desde que isso seja garantido posteriormente, em obediência
ao princípio do contraditório.

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A Ordem Cronológica de Conclusão
para Julgamento
A ordem cronológica de conclusão para julgamento no CPC/2015, consagrada
no debatido art. 12, com nova redação dada pela Lei Federal nº 13.256/2016, assim
estabelece, no caput: “Os juízes e os tribunais atenderão, preferencialmente, à ordem crono-
lógica de conclusão para proferir sentença ou acórdão”.
Segundo Teresa Arruda Alvim WAMBIER, Maria Lúcia Lins CONCEIÇÃO,
Leonardo Ferres da Silva RIBEIRO e Rogerio Licastro Torres de MELLO:

Este artigo tem em vista privilegiar o aspecto da transparência em relação à


atividade do Poder Judiciário, bem como favorecer a aplicação da máxima
da razoável duração do processo, sob a ótica individual. Em seu desfavor,
há a dificuldade, já por nós apontada na primeira edição deste trabalho, que
a regra gera, no sentido de que os juízes administrem seus processos, seu
cartório. De fato, há processos mais simples, outros mais complexos, e é
comum que os juízes prefiram passar na frente os mais simples. Esta regra
que ganhou certa dose de flexibilidade pela Lei 13.256/2016 – que modifi-
cou alguns artigos no CPC/2015, antes mesmo de este entrar em vigor, não
permitia a utilização deste critério e podia ocorrer que o julgamento de uma
causa complexa represe dezenas, centenas de outras ações cuja solução po-
deria ser rapidamente concebida. Agora, a nova versão do dispositivo traz a
expressão preferencialmente, que deixa espaço para que o juiz, sem desres-
peitar arbitrariamente a ordem cronológica, possa administrar seu gabinete.
Porém, não nos parece que a expressão preferencialmente liberte o juiz de
racionalidade nas escolhas. É assim com a ordem dos bens penhoráveis na
execução. Entretanto, estas escolhas estão fora do controle das partes pela
via recursal: o dever existe, em tese. Não deve, só por isso, ser tido como
um dever de “segunda categoria”. Houve a alteração correspondente do art.
153, em que foi incluída a expressão preferencialmente. (Primeiros Comen-
tários ao novo código de processo civil, comentários ao art. 12, p. 78).

O mesmo artigo conta ainda com seis parágrafos, que detalham algumas re-
gras específicas sobre o tema. A primeira delas é de que a lista de processos aptos a
julgamento deverá estar permanentemente à disposição para consulta pública em
cartório e na rede mundial de computadores (§ 1º).
O parágrafo segundo, por sua vez, estabelece 09 exceções, isto é, nove hipóte-
ses nas quais juízes e tribunais não precisarão obedecer à ordem cronológica de con-
clusão para proferir sentença ou acórdão. Dentre elas estão: as sentenças proferidas
em audiência, homologatórias de acordo ou de improcedência liminar do pedido (I);
o julgamento de processos em bloco para aplicação de tese jurídica firmada em julga-
mento de casos repetitivos (II); o julgamento de recursos repetitivos ou incidentes de
resolução de demandas repetitivas (III); as sentenças terminativas (IV); o julgamento
de embargos de declaração e agravo interno (V e VI); entre outras.
Interessante notar que também estarão excluídas da regra geral as preferências
legais e as metas do Conselho Nacional de Justiça – CJN (VII), bem como qualquer

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causa que exija urgência no julgamento, assim reconhecida por decisão fundamen-
tada (IX).
Essa última hipótese parece representar, em verdade, uma “norma de encer-
ramento” (norme di chiusura), a permitir que o órgão julgador “tire da fila” qualquer
demanda que seja reconhecida urgente por decisão fundamentada (rol meramente
exemplificativo). Por um lado, é uma regra muito importante, tendo em vista que
não há como prever todas as hipóteses de urgência. Por outro lado, trata-se de deci-
são, numa primeira análise, irrecorrível, dando poderes para o Juiz, Desembargador
ou Ministro, ainda que por decisão fundamentada, a seu critério, “passar na frente”
qualquer demanda judicial que repute urgente. Assim, é salutar que exista, portanto,
algum tipo de controle dessas decisões, sob pena de desvirtuamento de toda a ideia
de igualdade que há por trás do art. 12 do Novo Código de Processo Civil.
Além disso, cabe ressaltar que o requerimento feito pela parte não altera a
ordem de sua demanda na “fila”, exceto quando implicar a reabertura da instrução
ou a conversão do julgamento em diligência (§§ 4º e 5º).
Ainda, duas serão as situações nas quais a demanda ocupará necessariamente
o primeiro lugar na lista (§ 6º): quando tiver sua sentença ou acórdão anulado, salvo
quando houver necessidade de realização de diligência ou complementação da ins-
trução; e também se se enquadrar na hipótese do artigo 1.040, inciso II (reexame da
demanda pelo órgão julgador de origem após a publicação do acórdão paradigma
nos casos de julgamento de recurso especial ou extraordinário repetitivo).
Também cabe a reflexão sobre a necessária compatibilização desse dispositivo
com o chamado “calendário processual” trazido pelo art. 191 do CPC de 2015 (negó-
cio processual típico). Dessa forma, caso as partes e o juiz fixem datas para a prática
dos atos processuais, a prolação da sentença deverá obediência à ordem cronológi-
ca e às suas exceções. Assim, caso seja proferida em audiência, por exemplo, estará
abarcada pela exceção prevista no art. 12, § 2º, inciso I. Caso contrário, o calendário
processual deverá necessariamente “terminar” antes da fase decisória, a fim de que a
demanda ocupe o seu devido lugar na “fila de conclusão e julgamento”.
Por fim, faz-se necessário comentar a inclusão do termo “preferencialmente” no
mencionado dispositivo pela Lei Federal nº 13.256/2016.
O atendimento à ordem cronológica de conclusão para julgamento, então, dei-
xou de ser obrigatório? Esvaziou-se a regra legal? Pensamos que não.
Quando se diz, por exemplo, que “idosos, gestantes, pessoas com criança de
colo e com deficiência têm preferência”, quer-se dizer que eles têm prioridade, que
podem “passar na frente” de outras pessoas.
A regra processual de respeito prioritário à ordem cronológica, portanto, não
está revogada, nem perdeu força normativa. A utilização do termo “preferencialmen-

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te” apenas destaca que existem exceções (como, de fato, já existiam desde quando o
CPC/2015 foi publicado – v. art. 12, § 2º), proibindo, de igual forma, por outro lado,
que haja “burla” da ordem cronológica, que estará disponível para todos na internet
(art. 12, § 1º), sem a necessária motivação, regra básica que deverá nortear toda e
qualquer decisão judicial (art. 489, II e §1º).
Tornar letra morta o dispositivo é assumir, erradamente, que a lei contém
palavras inúteis, como nos outros 15 momentos nos quais o Novo Código utiliza a
mesma palavra (arts. 139, V; 165, §§ 2º e 3º; 171; 246, § 1º; 263; 340; 361; 454, § 2º; 606,
parágrafo único; 835; 840; 887, § 5º; 927, § 5º e 1.019, III). A interpretação, pois, deve
sempre ser sistêmica e coerente.
A conclusão é inevitável: a regra continuará sendo a ordem cronológica de
conclusão para julgamento das demandas, cujo desrespeito por decisão não funda-
mentada ensejará mandado de segurança contra ato judicial e medidas correcionais
cabíveis.

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Aplicação Supletiva e Subsidiária do CPC/2015
aos Processos Eleitorais, Trabalhistas e
Administrativos

Muitas dúvidas giram em torno da aplicação supletiva e subsidiária do


CPC/2015 aos demais ramos do Direito.
Nesse sentido, sem a pretensão de detalhar todas as nuances que esse amplo
tema envolve, não se pode deixar de registrar algumas observações acerca do artigo
15 do CPC de 2015, que assim dispõe expressamente: “Na ausência de normas que regu-
lem processos eleitorais, trabalhistas ou administrativos, as disposições deste Código lhes serão
aplicadas supletiva e subsidiariamente”.
De início, cumpre destacar a pertinente observação de Teresa Arruda Alvim
WAMBIER, Maria Lúcia Lins CONCEIÇÃO, Leonardo Ferres da Silva RIBEIRO e
Rogerio Licastro Torres de MELLO:

Não se trata somente de aplicar as normas processuais aos processos ad-


ministrativos, trabalhistas e eleitorais quando não houver normas, nestes
ramos do direito, que resolvam a situação. A aplicação subsidiária ocorre
também em situações nas quais não há omissão. Trata-se, como sugere a
expressão “subsidiária”, de uma possibilidade de enriquecimento, de lei-
tura de um dispositivo sob outro viés, de extrair-se da norma processual
eleitoral, trabalhista ou administrativa um sentido diferente, iluminado pe-
los princípios fundamentais do processo civil. A aplicação supletiva é que
ocorre apenas quando há omissão. Aliás, o legislador, deixando de lado a
preocupação com a própria expressão, precisão da linguagem, serve-se das
duas expressões. Não deve ter suposto que significam a mesma coisa, se-
não, não teria usado as duas. Mas como empregou também a mais rica,
mais abrangente, deve o intérprete entender que é disso que se trata. (...).
(Primeiros comentários ao novo código de processo civil: artigo por artigo,
comentários ao art. 15, p. 84).

Superada essa questão terminológica de clara influência pragmática, insta res-


saltar que a autorização expressa para a aplicação supletiva e subsidiária do CPC já
existe, por exemplo, no artigo 769 da Consolidação das Leis do Trabalho, bem como
no artigo 3º do Código de Processo Penal (sobre a aplicação do CPC/2015 no que se
refere à contagem de prazos penais, o STJ já se manifestou no sentido de não se apli-
ca a regra da contagem em dias úteis, cf.: STJ, AgRg nos EAREsp 828.271/SC, 3ª S., j.
22.03.2017, rel. Min. Jorge Mussi, DJe 30.03.2017).
Como não houve previsão expressa no CPC/2015 em relação ao processo pe-
nal, ressalta-se o comentário de Cassio Scarpinella BUENO:
(...) A questão, pertinentíssima, é saber se, não obstante este silêncio, a
aplicação continua a ser autorizada pelo art. 3º do CPP. A melhor resposta
parece ser a positiva, o que se justifica até mesmo pela amplitude do texto
da referida regra processual penal. De resto, nos casos em que o Código de

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Processo Penal faz expressa remissão ao Código de Processo Civil (art. 139
[depósito e administração de bens arrestados]; art. 362 [citação por hora
certa]; e art. 790 [homologação de sentença estrangeira]), é irrecusável o
prevalecimento da disciplina trazida pelo CPC de 2015. (Novo Código de
Processo Civil Anotado, p. 83).

Em relação aos processos eleitorais, importantíssimo o papel do CPC, por


exemplo, nos procedimentos voltados à tutela cautelar (agora tutela de urgência de
natureza cautelar) e nos recursos eleitorais, conforme decisões do TSE nesse sentido
(REsp. 4221719/RN, j. 11.09.2014, rel. Min. Marcelo Henriques Ribeiro de Oliveira,
rel. designado Min. Luciana Christina Guimarães Lóssio, DJe 01.10.2014; e, mais
recentemente AgRg em REsp. 10462/MG, j. 16.11.2016, rel. Min. Luciana Christina
Guimarães Lóssio, PSESS 16.11.2016). Repita-se que o artigo 1.067 do Novo Código
alterou a redação do artigo 275 do Código Eleitoral (Lei Federal nº 4.737/65), a fim de
uniformizar o tratamento dos embargos de declaração no processo eleitoral.
No âmbito do processo do trabalho, destacam-se também os artigos 836 (ação
rescisória), 896, § 3º (dever de uniformização da jurisprudência por parte dos TRTs),
896-B (recursos de revista repetitivos), 896-C, §§ 8º (amicus curiae na Justiça do Tra-
balho) e 14 (recurso extraordinário interposto perante o TST), todos da Consolidação
das Leis do Trabalho (CLT).
Em 15 de março de 2016, o Tribunal Superior do Trabalho (TST) editou a Reso-
lução nº 203 que, por sua vez, aprovou a Instrução Normativa nº 39/2016, que “Dispõe
sobre as normas do Código de Processo Civil de 2015 aplicáveis e inaplicáveis ao Processo do
Trabalho, de forma não exaustiva”, a fim de auxiliar os operadores do direito nessa ár-
dua tarefa de reinterpretação do processo do trabalho à luz do CPC/2015.
Por fim, quanto ao processo administrativo, inegável a aplicação dos dispo-
sitivos relacionados às modalidades de intervenção de terceiros (com as necessárias
adaptações) e também das garantias processuais, notadamente em relação aos pro-
cessos administrativos disciplinares (cf. RMS 29.036/ES, 1ª T., j. 03.03.2011, rel. Min.
Benedito Gonçalves, DJe 16.03.2011).
Não há dúvidas de que a Parte Geral do CPC/2015, ao tratar das “Normas Fun-
damentais do Processo Civil”, pretende-se mais abrangente e direcionada, em muitos
pontos, à conformação de premissas de uma Teoria Geral do Processo revisitada, que
certamente encontrará espaço em todos os “tipos” de processos, até por razões de
uniformidade e respeito aos ditames constitucionais pertinentes.

Condições da Ação
Sem entrar nos detalhamentos doutrinários em torno da extinção ou não da
categoria processual das “condições da ação” (principalmente em função da supres-
são dessa expressão no CPC de 2015 – v. CPC de 1973, art. 267, VI), fato é que o Novo

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Código é expresso ao declarar que “para postular em juízo é necessário ter interesse e
legitimidade” (art. 17).
Além disso, no dispositivo que trata da extinção do processo sem resolução do
mérito, uma das hipóteses é “a ausência de legitimidade ou de interesse processual” (art.
485, VI).
Observa-se, portanto, que a possibilidade jurídica do pedido desaparece desse
campo, por se tratar nitidamente de questão de mérito que implica na solução defini-
tiva da demanda, conforme há muito a doutrina já preconizava:

(...) se o juiz, ao examinar a inicial, verifica existir vedação expressa no


ordenamento jurídico material ao pedido do autor, deve indeferi-la liminar-
mente por impossibilidade jurídica, extinguindo o processo. Esse resultado,
todavia, implica solução definitiva da crise de direito material. Embora tal
conclusão seja possível mediante simples exame da inicial, o julgamento
põe fim ao litígio, pois o autor não tem o direito afirmado. Pedido juridi-
camente impossível equivale substancialmente ao julgamento antecipado
com fundamento no art. 330, I, do CPC. A pretensão deduzida pelo autor
não encontra amparo no ordenamento jurídico e, por isso, deve ser rejeitada.
Tanto faz que essa conclusão seja possível desde logo, porque manifesta a
inadmissibilidade, ou dependa de reflexão maior por parte do juiz sobre a
questão de direito. (José Roberto dos Santos BEDAQUE. Efetividade do
processo e técnica processual, p. 270).

Não há dúvidas também que o magistrado, ao analisar a legitimidade e o inte-


resse processual, adentre nos elementos de mérito da demanda. No entanto, nesses
casos, diferentemente do que ocorre com a possibilidade jurídica do pedido, a ativi-
dade jurisdicional não se esgota nesse momento, tendo em vista que ainda haverá
uma crise de direito material a ser resolvida.
Pelos mesmos motivos a conhecida “carência da ação” (v. CPC de 1973, art.
301, X) também desaparece do Novo Código, sendo substituída, nos dispositivos
que tratam das matérias a serem alegadas em preliminar de contestação, por “ausên-
cia de legitimidade ou de interesse processual” (CPC/2015, art. 337, XI).
Em boa hora, pois, retomar-se-ão os estudos acerca de importantes questões
da Teoria Geral do Processo.

Limites da Jurisdição Nacional


O Capítulo I (“Dos Limites da Jurisdição Nacional”), do Título II, do Livro II,
da Parte Geral do CPC/2015 traz oportuna adequação da nomenclatura, pois prefere
a expressão “jurisdição”, em vez de “competência”, ao tratar das hipóteses nas quais
a autoridade brasileira terá poder para solucionar a lide em caráter definitivo, de ma-
neira exclusiva ou concorrente, não delimitando quais órgãos exercerão a atribuição
jurisdicional brasileira.
Para determinar as fronteiras de atuação do Poder Judiciário Brasileiro, ordi-
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nariamente, recorre-se ao princípio da aderência, segundo o qual a jurisdição deve
guardar correlação com o território no qual ela será exercida, até por razões de sobe-
rania nacional (CPC/2015, art. 21).
Porém, em algumas hipóteses, ainda que as lesões a direitos não tenham se
dado no território brasileiro (o que não exclui o poder jurisdicional de outro Estado
soberano), o juiz nacional também processará e julgará o litígio por interesse no jul-
gamento ou na efetividade da prestação jurisdicional (o país tem condições de fazer
valer a sua decisão), com vistas à consecução da paz social, bem como pelo princípio
da submissão (valoriza-se a vontade das partes no sentido de definir ou afastar a
jurisdição de um país).
Com base nesses critérios usualmente empregados no Direito Internacional,
o CPC/2015 acresceu 03 novas hipóteses em que a autoridade judiciária brasileira
também poderá processar e julgar a causa, sem prejuízo da atribuição jurisdicional
de outros países soberanos (art. 22), quais sejam: (i) quando o credor de alimentos
tiver domicílio ou residência no Brasil (positivando regra de direito internacional
mais protetiva ao alimentado – vulnerável); ou quando o réu na ação de alimentos
(alimentante) mantiver vínculos no Brasil, tais como posse ou propriedade de bens,
recebimento de renda ou obtenção de benefícios econômicos, pois a apreensão e pe-
nhora desses ativos será feita com mais viabilidade pela autoridade brasileira (inciso
I); (ii) as ações decorrentes de relações de consumo, quando o consumidor tiver do-
micílio ou residência no Brasil (inciso II – é regra de grande importância para definir
a jurisdicional nacional nas causas em que o consumidor adquire produtos pela in-
ternet de fornecedores sem domicílio no território nacional e não recebe a mercado-
ria, sendo que o Brasil tem interesse no julgamento do litígio); (iii) em que as partes,
expressa ou tacitamente, se submeterem à jurisdição nacional (inciso III – princípio
da submissão). Trata-se de cláusula de eleição de foro em contrato internacional, com
opção das partes negociantes pelo Judiciário Brasileiro. Essa cláusula só produzirá
efeitos se constar de instrumento escrito e aludir expressamente a determinado ne-
gócio jurídico (CPC/2015, art. 63, § 1°), além de versar sobre hipótese de jurisdição
internacional concorrente (art. 25, § 2°).
Por simetria, ressalvadas as hipóteses de exclusividade da jurisdição brasilei-
ra, o art. 25, caput, do Novo Código também positivou a possibilidade de eleição
de foro exclusivo estrangeiro em contrato internacional, que somente será eficaz se
arguida pelo réu na sua contestação.
O art. 23, por sua vez, disciplinará a jurisdição brasileira exclusiva (não aceita
que nenhum outro país julgue por questão de soberania nacional), ampliando para
03 as hipóteses legais, quais sejam: (i) conhecer de ações relativas a imóveis situados
no Brasil (inciso I); (ii) em matéria de sucessão hereditária, proceder à confirmação

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de testamento particular e ao inventário e à partilha de bens situados no Brasil, ainda
que o autor da herança seja de nacionalidade estrangeira ou tenha domicílio fora do
território nacional (inciso II – portanto, a transmissão mortis causa de quaisquer bens
situados no Brasil será feita exclusivamente pelo Judiciário Brasileiro, ainda que ele
aplique, no caso concreto, a lei estrangeira mais benéfica ao cônjuge ou filhos brasi-
leiros, nos termos da Constituição Federal, art. 5°, XXI); (iii) em divórcio, separação
judicial ou dissolução de união estável, proceder à partilha de bens situados no Bra-
sil, ainda que o titular seja de nacionalidade estrangeira ou tenha domicílio fora do
território nacional (inciso III).
Esse último inciso gera polêmica, pois parcela da doutrina entende que a auto-
ridade brasileira será a única competente para decidir o divórcio, separação judicial
ou dissolução da união estável, além da partilha de bens deles decorrente (cf. Cassio
Scarpinella BUENO. Novo Código de Processo Civil Anotado, p. 60); enquanto outra
corrente defende que o divórcio, separação judicial ou dissolução de união estável
poderão ser realizados em qualquer país, porém, a partilha de bens situados no Bra-
sil será de jurisdição exclusiva brasileira (cf. Teresa Arruda Alvim WAMBIER, Maria
Lúcia Lins CONCEIÇÃO, Leonardo Ferres da Silva RIBEIRO e Rogerio Licastro Tor-
res de MELLO. Primeiros comentários ao Novo CPC: artigo por artigo, p. 104).
Por fim, se eventual decisão estrangeira for proferida nas hipóteses de jurisdi-
cional nacional exclusiva, ela não será idônea para ser homologada pelo STJ (CF, art.
105, I, i) e, portanto, não terá aptidão para produzir efeitos no Brasil. Por outro lado,
fora dessas hipóteses, “a pendência de causa perante a jurisdição brasileira não im-
pede a homologação de sentença judicial estrangeira quando exigida para produzir
efeitos no Brasil” (CPC/2015, art. 24, parágrafo único).

Competência Interna
Nessa seara, trazendo regras de atribuição do poder jurisdicional aos órgãos
do Poder Judiciário Brasileiro e, portanto, delimitando a sua competência, foi for-
mulado o Título III, do Livro II, da Parte Geral do CPC de 2015: “Da competência
interna”, composto pelos artigos 42 a 64.
Com destaque à atuação do Poder Público em juízo, foram positivadas as se-
guintes regras de competência: (i) quando a União, Estado ou Distrito Federal forem
autores da demanda, o foro competente será o do domicílio do réu (CPC/2015, arts.
51 e 52, caput); (ii) já quando a União, Estado ou Distrito Federal forem réus da de-
manda, o foro de competência concorrente será o do domicílio do autor, o lugar do
ato ou fato que originou a demanda, o local de situação da coisa ou no Distrito Fede-
ral (se a União) ou na capital do respectivo ente federado (arts. 51, parágrafo único,
e 52, parágrafo único).

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Trata-se, na realidade, de verdadeira regra de simetria que estende aos demais
entes políticos a regra constitucional do art. 109, § 2°, referente às demandas movidas
em face da União. Os citados dispositivos não deixam claro se essa regra também
será aplicada às demais pessoas jurídicas de direito público nas respectivas esferas
federativas, mas essa nos parece a interpretação mais adequada.
A regra geral de competência territorial permanece a mesma: as ações funda-
das em direito pessoal e real sobre móveis serão propostas, a princípio, no foro do
domicílio do réu (CPC/2015, art. 46).
Destacam-se, por outro turno, as modificações mais relevantes sobre as regras
especiais de competência interna (art. 53): (i) abandonou-se a regra da residência da
mulher para as ações de separação, divórcio e anulação do casamento (art. 100, I,
do CPC/73), fixando a competência para a ação de divórcio, separação, anulação de
casamento e reconhecimento ou dissolução de união estável no foro (em ordem de
preferência legal): (i.a) do domicílio do guardião de filho incapaz; (i.b) do último
domicílio do casal, caso não haja filho incapaz; (i.c) do domicílio do réu, se nenhuma
das partes residir no antigo domicílio do casal; (ii) positivou-se na legislação proces-
sual civil norma já contida no art. 80 da Lei 10.741/03 (Estatuto do Idoso), que esta-
belece o foro de residência do idoso como competente para a causa que verse sobre
direito previsto no respectivo estatuto (art. 53, III, e); (iii) fixou-se competente o foro
da sede da serventia notarial ou de registro, para a ação de reparação de dano por ato
praticado em razão do ofício (art. 53, III, f); e, ainda, (iv) acrescentou-se que as ações
de reparação de danos sofridos em razão de delito ou acidente de veículos, inclusive
aeronaves, serão de competência do foro do domicílio do autor ou do local do fato.

Conexão
A conexão aparece reformulada no Novo Código de Processo Civil. Ao lado
da continência e do foro de eleição, é também uma forma de modificação da compe-
tência relativa (art. 54).
Segundo o art. 55, caput, do CPC/2015, “Reputam-se conexas 2 (duas) ou mais
ações quando lhes for comum o pedido ou a causa de pedir”. Preferiu-se, correta-
mente, a substituição do termo “objeto”, constante do art. 103 do CPC/73, por “pedi-
do”, muito mais técnico e coerente.
Dessa forma, diante dos conhecidos elementos da ação (partes, pedido e causa
de pedir), a conexão aparece entre demandas que tenham o mesmo pedido ou a mes-
ma causa de pedir (requisitos alternativos), isto é, que, no fundo, tratem da mesma
relação jurídica, da mesma lide sociológica subjacente ao processo.
Entender o porquê a conexão existe no nosso sistema processual é compreen-
der que os jurisdicionados não podem conviver com decisões conflitantes e contra-

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ditórias diante do mesmo conjunto fático que interessa ao direito. Daí porque a prin-
cipal consequência da conexão é a reunião dos processos para julgamento conjunto.
E talvez tenha sido esse “espírito” que permitiu ao Novo Código inovar na
matéria e ampliar as hipóteses nas quais, mesmo sem conexão, as demandas devam
ser reunidas para decisão conjunta.
Nesse sentido, o art. 55, § 2º, é muito claro ao dispor que haverá conexão e
reunião de demandas para julgamento conjunto, salvo se uma delas já houver sido
sentenciada (v. Enunciado nº 235 da Súmula do STJ), também nos casos de: (i) execu-
ção de título extrajudicial e ação de conhecimento relativa ao mesmo ato jurídico; e
(ii) execuções fundadas no mesmo título executivo.
Ainda, o legislador decidiu ir além, prevendo, por fim, no § 3º do mesmo dis-
positivo legal, uma verdadeira “norma de encerramento” do sistema (norme di chiu-
sura), trazendo ainda mais elasticidade para as hipóteses de reunião de demandas
para julgamento conjunto e prestigiando, na realidade, a verdadeira essência valo-
rativa que sempre esteve por trás dessas hipóteses: impedir a prolação de decisões
conflitantes e contraditórias envolvendo a mesma relação jurídica.
Assim dispõe, pois, o art. 55, § 3º, do CPC/2015: “Serão reunidos para julgamento
conjunto os processos que possam gerar risco de prolação de decisões conflitantes ou contradi-
tórias caso decididos separadamente, mesmo sem conexão entre eles”. Observe-se, portanto,
que o Novo Código deixa expresso que não é necessário que haja conexão entre os
processos, no sentido técnico-jurídico, mas tão-somente que sejam protegidos os va-
lores da segurança jurídica, da isonomia e da confiança, este último expressamente
referido no art. 927, § 4º, do CPC/2015.
Nas palavras de Teresa Arruda Alvim WAMBIER, Maria Lúcia Lins CONCEI-
ÇÃO, Leonardo Ferres da Silva RIBEIRO e Rogerio Licastro Torres de MELLO:

(...). Precitado § 3º do art. 55, ao permitir a reunião de causas mesmo sem


que estas guardem relação de conexidade entre si, acabou por reduzir a
relevância da precisão na delimitação do conceito de conexão, primando
justamente por sua elasticidade, o que serve ao prestígio de sua belíssima
essência: evitar a contradição entre pronunciamentos judiciais e fomentar a
economia processual. (...) A mensagem legislativa é clara: se para a reunião
de causas sequer se exige obrigatoriamente a constatação da conexão (§ 3º
do art. 55 do CPC/2015), evidencia-se que o órgão jurisdicional deverá ser
flexível e ampliativo para fins de estabelecimento da conexão, fomentando-
se o quanto possível o julgamento conjunto de demandas que de alguma
forma se relacionem, evitando-se decisões conflitantes entre si. (Primeiros
comentários ao novo código de processo civil: artigo por artigo, comentá-
rios ao art. 55, p. 138).
Por outro lado, analisando a mesma regra inovadora, importante a advertên-
cia de Luiz DELLORE:

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(...) parece-nos que o dispositivo deve ser interpretado de forma restritiva,
de modo a não inviabilizar o julgamento dos processos, pois a reunião de
milhares de demandas acarretaria muita demora para a instrução e julga-
mento. Ou seja: esta inovação não se aplica a situações de massa, pois para
isso existe o instrumento do IRDR. (In: Teoria geral do processo: comentá-
rios ao CPC de 2015: parte geral, p. 201).

Caberá aos operadores do direito, em especial aos advogados, tornar efetiva


essa nova regra processual, atentando-se para os casos que, mesmo sem conexão no
sentido técnico-jurídico, merecem julgamento conjunto em função da potencialidade
de risco de prolação de decisões judiciais conflitantes ou contraditórias.

Continência
Os arts. 56 e 57 do Novo Código tratam especificamente da continência, outra
forma de modificação da competência relativa. Na continência, além da identidade
entre as causas de pedir, também as partes são as mesmas, sendo que o pedido de
uma demanda, por ser mais amplo, abrange o da outra.
Nesse sentido, deve ser aplaudida a nova regra constante do art. 57 do
CPC/2015, que não encontra correspondência no revogado CPC/73: “Quando houver
continência e a ação continente tiver sido proposta anteriormente, no processo relativo à ação
contida será proferida sentença sem resolução de mérito, caso contrário, as ações serão neces-
sariamente reunidas”.
Portanto, antes de se reunir as demandas para julgamento conjunto (art. 58),
há de ser verificado se a ação continente, isto é, a mais ampla, foi proposta anterior-
mente à contida. Nessa hipótese, a demanda posterior deverá ser extinta sem resolu-
ção do mérito (art. 485, X).
Essa hipótese sempre foi de litispendência parcial, conforme observação de
Cassio Scapinella BUENO:

Trata-se de solução escorreita porque, bem compreendida, a hipótese é (e


sempre foi) de litispendência parcial. Se, contudo, o processo que contém
a ‘ação contida’ for anterior ao que contém a ‘ação continente’, ambos de-
vem necessariamente ser reunidos para julgamento conjunto perante o ju-
ízo prevento (arts. 58 e 59). O advérbio necessariamente pressupõe, vale
o destaque, competência relativa (art. 54). (Manual de direito processual
civil, p. 115).

Tendo, a demanda contida, sido proposta anteriormente à continente, mais


ampla, os processos serão reunidos para julgamento conjunto perante o juízo pre-
vento que, segundo o art. 59 do CPC/2015, é o do registro ou da distribuição da pe-
tição inicial em primeiro lugar (o Novo Código também colocou uma pá de cal no
conhecido conflito aparente entre as regras dos revogados arts. 106 e 219 do CPC/73).

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Dessa forma, diferentemente da conexão, na qual sempre as demandas serão
reunidas para julgamento conjunto, na continência essa providência dependerá do
fato de a ação continente ter sido ou não proposta anteriormente à contida.

Incompetência absoluta e relativa em


preliminar da contestação
Uma das alterações significativas do Novo Código em relação à contestação
foi a de concentrar em suas preliminares a alegação de diversas matérias que antes
eram objeto de peça processual autônoma, como ocorria com a alegação de incom-
petência relativa que, no sistema revogado, deveria se dar através de exceção de in-
competência.
De acordo com a nova sistemática processual, a incompetência, seja absoluta,
seja relativa, deverá ser objeto de preliminar da contestação (v. arts. 64, caput, e 337,
II).
Isso não quer dizer que a relevância da distinção entre incompetência absoluta
e relativa tenha deixado de existir.
A incompetência absoluta continua ligada à critérios relacionados essencial-
mente aos interesses públicos e, portanto, pode ser cognoscível de ofício pelo juiz e
alegada a qualquer tempo e grau de jurisdição (v. art. 64, §1º), não havendo se falar
em modificação por conexão, continência ou vontade das partes em relação a ela.
Ao contrário, a incompetência relativa deve ser alegada na primeira oportuni-
dade, sob pena de prorrogação da competência (v. art. 65), e, como já visto, pode ser
alterada por conexão, continência (v. art. 54) ou vontade das partes (negócio jurídico
processual típico: cláusula de eleição de foro nos contratos – v. art. 63).

Conciliação, Mediação e outros Métodos de


Solução Consensual de Conflitos
O Novo Código de Processo Civil deixa claro o que já era evidente para a
doutrina: o juiz pode e deve sempre indicar para as partes soluções consensuais de
solução de conflitos.
Trata-se de norma-diretriz tanto para as políticas públicas do Estado
(CPC/2015, arts. 3º, § 2º; 165 e 174), como para os magistrados, advogados, defensores
públicos e membros do Ministério Público (arts. 3º, § 3º e 359, v. interessante julgado
sobre o tema: STJ, REsp 1531131/AC, 4ª T., j. 07.12.2017, rel. Min. Marco Buzzi, DJe
15.12.2017).
Em resumo: todos devem buscar primeiro a solução consensual do conflito.
Relembrando a frase de Washington de Barros MONTEIRO: “mais vale um mau acor-
do que uma boa demanda (melhor est certa pax quam sperata victoria). Ou, como dizem os

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italianos, ‘è meglio um magro accordo che una grassa sentenza’”. (Curso de direito civil, V.
5, p. 395).
Tradicionalmente, sempre se entendeu que o juiz poderia e deveria propor
que as partes entrassem num acordo na audiência, ou em qualquer momento do
processo que estimasse oportuno. Mas agora o legislador vai mais longe: se a petição
inicial preencher os requisitos essenciais e não for o caso de improcedência liminar
do pedido, o juiz deverá designar audiência de conciliação ou de mediação com an-
tecedência mínima de 30 dias, devendo ser citado o réu com pelo menos 20 dias de
antecedência (CPC/2015, art. 334).
Há norma legal expressa no sentido de que a “autocomposição judicial pode en-
volver sujeito estranho ao processo e versar sobre relação jurídica que não tenha sido deduzida
em juízo” (art. 515, § 2º). Em outras palavras, é dizer que o acordo judicial, ao qual as
partes eventualmente venham a chegar no curso de uma demanda, pode abranger
pontos que não estavam originariamente deduzidos – nem na petição inicial, nem
na contestação – e pode também envolver pessoas diferentes das partes – terceiros.

Arbitragem, Mediação e Conciliação


Não se pode confundir os conceitos de conciliação, mediação e arbitragem,
principalmente porque esta última, a arbitragem, objeto de regulamentação específi-
ca pela Lei Federal nº 9.307/1996, é espécie jurisdicional privada, ao lado da jurisdição
pública (estatal).
Fala-se, então, em métodos autocompositivos de solução de controvérsias, isto
é, que culminam numa solução encontrada pelas próprias partes (sendo, o mediador
ou o conciliador, apenas facilitadores desse processo, ainda que com técnicas distin-
tas), e métodos heterocompositivos, nos quais se confia num terceiro, juiz ou árbitro,
para impor uma decisão às partes.
Juiz e árbitro, portanto, decidem o litígio através de sentença. Conciliador e
mediador nunca decidirão nenhum conflito.
O conciliador, “que atuará preferencialmente nos casos em que não houver
vínculo anterior entre as partes, poderá sugerir soluções para o litígio, sendo vedada
a utilização de qualquer tipo de constrangimento ou intimidação para que as partes
conciliem” (CPC/2015, art. 165, § 2º).
Certo é que, em algumas ocasiões, o próprio juiz funcionará como conciliador
das partes, devendo sempre estimular a autocomposição (arts. 139, inciso V e 359),
situações nas quais atuará primeiro como facilitador e depois como magistrado a
proferir sentença homologatória (art. 487, inciso III, “b”).
Nas palavras de Francisco José CAHALI:

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O conciliador intervém com o propósito de mostrar às partes as vantagens
de uma composição, esclarecendo sobre os riscos de a demanda ser judi-
cializada. Deve, porém, criar ambiente propício para serem superadas as
animosidades. Como terceiro imparcial, sua tarefa é incentivar as partes e a
propor soluções que lhes sejam favoráveis. Mas o conciliador deve ir além
para se chegar ao acordo: deve fazer propostas equilibradas e viáveis, exer-
cendo, no limite do razoável, influência no convencimento dos interessados.
Aliás, a criatividade deve ser um dos principais atributos do conciliador;
dele espera-se talento na condução das tratativas e na oferta de diversas
opções de composição equilibrada, para as partes escolherem, dentre aque-
las propostas, a mais atraente à solução do conflito. Destaque-se, portanto,
que o conciliador efetivamente faz propostas de composição, objetivando a
aceitação pelas partes e a celebração do acordo. A apresentação de propostas
e a finalidade de obter o acordo são, pois, duas características fundamentais
da conciliação. (Curso de arbitragem, p. 46).

O mediador, por sua vez, “que atuará preferencialmente nos casos em que
houver vínculo anterior entre as partes, auxiliará aos interessados a compreender as
questões e os interesses em conflito, de modo que eles possam, pelo restabelecimento
da comunicação, identificar, por si próprios, soluções consensuais que gerem benefí-
cios mútuos” (CPC/2015, art. 165, § 3º).
A Lei Federal nº 13.140/2015 regulamentou a mediação privada (arts. 9º e 10
e 21 a 23) e judicial (arts. 11 a 13 e 24 a 29), além da autocomposição de conflitos no
âmbito da administração pública (arts. 32 a 40), o que revela a grande importância
que a mediação também ganha no cenário jurídico atual.
A Resolução nº 125/2010 do CNJ, por meio da Emenda nº 02, de 08 de março
de 2016, já foi alterada a fim de se compatibilizar com a Lei de Mediação e também
com o CPC/2015.
No plano prático, a esperança é no sentido de que o Poder Judiciário real-
mente destine recursos orçamentários para bem estruturar os centros judiciários de
solução consensual de conflitos.
Por fim, cabe tecer alguns comentários sobre a arbitragem, regulamentada no
Brasil pela Lei Federal nº 9.307/1996, com as alterações trazidas pela Lei Federal nº
13.129/2015. Relacionando-se, o conflito, a direitos patrimoniais disponíveis, as par-
tes, capazes, podem escolher alguém de sua confiança (árbitro) para solucioná-lo (cf.,
STJ, CC 139.519/RJ, 1ª S., j. 11.10.2017, rel. Min. Napoleão Nunes Maia Filho, rel. p/
acórdão Min. Regina Helena Costa, DJe 10.11.2017).
Atualmente, a doutrina é praticamente unânime ao classificar a arbitragem
como espécie jurisdicional, cabendo sempre lembrar que a sentença arbitral constitui
título executivo judicial (CPC/2015, art. 515, inciso VII), cujo cumprimento forçado
deverá ser buscado exclusivamente junto ao Poder Judiciário (o árbitro ou o tribunal
arbitral não pode determinar medidas voltadas ao cumprimento forçado de suas
decisões – trata-se, nesse caso, de monopólio do Estado).
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Confira abaixo o quadro esquemático exclusivo que preparamos especialmen-
te para você!

Processo “Em Trânsito” – Traslatio Iudici


Conforme já ressaltado, o CPC de 2015 resolve muitos problemas que os ad-
vogados enfrentam hoje. Esse foi um aspecto levado em conta pelo legislador: um
Novo Código é, sem dúvida, uma oportunidade para que se ponha um fim a discus-
sões intermináveis, que geram doutrina discordante e jurisprudência dividida.
Nesse sentido, o Novo Código adotou expressamente o princípio da translatio
iudici, que indica a forma de resolver a situação quando o processo está, por assim
dizer, em trânsito (CPC/2015, art. 64, § 4º).
Por exemplo, quando fica decidido ser determinada causa, que tramita pe-
rante a justiça estadual, da competência da justiça federal, os autos vão da Justiça
estadual para a federal. A dúvida que surge: o que acontece com a liminar proferida

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pelo juiz estadual enquanto o processo não chega na federal? É automaticamente
revogada? O novo Código diz que não. Ela conserva seus efeitos até que o novo juiz
reveja a situação. A liminar, então, poderá ser mantida ou cassada pelo magistrado
competente.
Assim, a decisão proferida pelo juízo incompetente se manterá incólume até
que o juízo competente decida novamente e, caso silencie a respeito, seus efeitos per-
manecerão conservados.

Honorários Advocatícios Sucumbenciais


O Novo Código de Processo Civil revolucionou no campo dos honorários
advocatícios sucumbenciais, definindo novos parâmetros, preenchendo diversas
lacunas existentes na lei e solucionando antigas disputas doutrinário-jurispruden-
ciais.Uma das maiores conquistas da advocacia, ao lado da contagem dos prazos
processuais apenas em dias úteis (art. 219) e da suspensão dos prazos processuais
no período compreendido entre os dias 20 de dezembro e 20 de janeiro de cada ano
(art. 220), sem dúvida está a nova regulamentação da fixação de honorários sucum-
benciais (art. 85).
Tentaremos sintetizar as principais novidades.
Os honorários sucumbenciais serão devidos, cumulativamente (§ 1º):
• na reconvenção;
• no cumprimento de sentença, provisório ou definitivo;
• na execução, resistida ou não;
• nos recursos interpostos.
O percentual de fixação será de 10 a 20% sobre o valor da condenação, do pro-
veito econômico obtido ou, não sendo possível mensurá-lo, sobre o valor atualizado
da causa, atendidos, ainda, os seguintes parâmetros: (i) o grau de zelo do profissio-
nal; (ii) o lugar de prestação do serviço; (iii) a natureza e a importância da causa; e
(iv) o trabalho realizado pelo advogado e o tempo exigido para o seu serviço (§ 2º).
Nas demandas nas quais a Fazenda Pública for parte (autora ou ré), os limites
serão fixados em cinco “faixas” distintas (§ 3º):

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Ainda, nesses casos, existe a ressalva de que, quando o valor da condenação
ou do proveito econômico obtido ultrapassar 200 salários mínimos, que é a primeira
“faixa”, a fixação do percentual de honorários deve observar a faixa inicial e, naquilo
que a exceder, a faixa subsequente, e assim sucessivamente (§ 5º). Nesse sentido, se
houver, por exemplo, um valor de proveito econômico obtido da ordem de 3.000
salários mínimos, o juiz deverá utilizar os seguintes parâmetros para a fixação de
honorários: 10-20% para 200 salários mínimos (primeira “faixa”); 08-10% para 1.800
salários mínimos (segunda “faixa”); e 05-08% para os restantes 1.000 salários míni-
mos (terceira “faixa”).
Na ação de indenização por ato ilícito contra pessoa, o percentual de honorá-
rios incidirá sobre a soma das prestações vencidas com mais doze prestações vincen-
das (§ 9º).
Nos casos de perda do objeto, os honorários serão devidos por quem deu cau-
sa ao processo (§ 10).
Os honorários constituem direito do advogado e têm natureza alimentar, com
os mesmos privilégios dos créditos oriundos da legislação do trabalho, sendo veda-
da a compensação em caso de sucumbência parcial (§ 14) (cf., STJ, AgInt no AREsp
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1107619/PR, 4ª T., j. 16.11.2017, rel. Min. Luis Felipe Salomão, DJe 22.11.2017).
Nesse sentido, cabe destacar que houve uma opção legislativa expressa pela
titularidade da verba honorária fixada judicialmente em favor do advogado da parte
vencedora, bem como, por via de consequência, pela impossibilidade de compen-
sação dos honorários sucumbenciais nos casos de sucumbência parcial (CPC/2015,
arts. 85, caput e § 14 e art. 86). Não restará, pois, mais amparo legal para o Enunciado
nº 306 da Súmula do Superior Tribunal de Justiça que já poderia ter sido cancelada
inclusive antes da entrada em vigor do Novo Código.
O advogado pode requerer que o pagamento dos honorários que lhe caibam
seja efetuado em favor da sociedade de advogados que integra na qualidade de só-
cio, aplicando-se à hipótese o disposto no § 14 (§ 15).
Os honorários serão devidos quando o advogado atuar em causa própria (§
17).
Caso a decisão transitada em julgado seja omissa quanto ao direito aos hono-
rários ou ao seu valor, é cabível ação autônoma para sua definição e cobrança (§ 18).
Os advogados públicos perceberão honorários de sucumbência, nos termos
da lei (§ 19).
Essas, portanto, são as principais alterações no tocante aos honorários sucum-
benciais no texto do CPC/2015. Dentre elas, deve-se destacar a fixação de honorá-
rios na fase recursal, regra que poderá diminuir consideravelmente a interposição
de recursos protelatórios e que prestigia o trabalho do bom profissional numa etapa
procedimental mais complexa.

Gratuidade Parcial no CPC/2015?


Como se sabe, o CPC/2015 revogou diversos artigos da Lei Federal nº
1.060/1950 (art. 1.072, inciso III), que ainda sobrevive entre nós, além de sistematizar
algumas questões relacionadas à gratuidade da justiça nos arts. 98 a 102.
O art. 98 da nova sistemática processual civil, em especial, traz algumas regras
que merecem a nossa atenção, notadamente no que se refere à possibilidade, agora
expressa no Código, de concessão da gratuidade da justiça em relação a apenas um
ato processual (§5º) e, ainda, do parcelamento de despesas processuais (§6º).
Segundo o aludido dispositivo:

§ 5º A gratuidade poderá ser concedida em relação a algum ou a todos os


atos processuais, ou consistir na redução percentual de despesas processuais
que o beneficiário tiver de adiantar no curso do procedimento.
§ 6º Conforme o caso, o juiz poderá conceder direito ao parcelamento de
despesas processuais que o beneficiário tiver de adiantar no curso do pro-
cedimento.

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A gratuidade da justiça, portanto, poderá abranger apenas um ou alguns dos
atos processuais ou, ainda, consistir na redução percentual dessas despesas. Além
disso, o juiz poderá parcelar o pagamento para o beneficiário, ainda que a ele caiba o
pagamento total (nesse último caso, de concessão de direito ao parcelamento apenas,
poder-se-ia chamar de “gratuidade da justiça”?).
Nas palavras de Rafael Alexandria de OLIVEIRA,

Assim, pode ser que o interessado tenha recursos para antecipar o pagamen-
to da taxa judiciária e das despesas de citação, mas não o tenha para arcar
com os honorários periciais. Pode ser que se predisponha a pagar metade
dos valores que, por lei, teria que adiantar integralmente. Pode ser que se
predisponha a pagá-los em sua integralidade, desde que parceladamente.
Pode ser, enfim, que essas situações se misturem e o interessado, que vinha
antecipando todos os custos até então, peça para ser dispensado quanto ao
pagamento de metade do valor de um determinado ato e, quanto à metade
que pode pagar, que o pagamento seja feito em duas parcelas. (In. Breves
comentários ao novo código de processo civil, comentários ao art. 98, p.
407).

Por outro lado, considerando a falta de detalhamento por parte do legislador,


especialmente em relação aos limites da redução percentual e aos critérios a serem
utilizados pelos magistrados, perspicazes são as críticas de Luiz DELLORE:

(...). O grande problema é que a legislação não traz critérios sobre quando e
como isso será aplicado, deixando de apresentar quaisquer parâmetros para
que haja a aplicação dessas inovações. Daí é que existem inúmeras dúvidas
sem qualquer resposta por parte da legislação. Dentre outras, apresentamos
as seguintes dúvidas: Quando o juiz deferirá a justiça gratuita total ou par-
cial? Qual o critério para o juiz reduzir o percentual da despesa processu-
al? E de quanto será o percentual da redução? Cabe, ao mesmo tempo, no
âmbito da justiça gratuita parcial, a gratuidade para alguns atos e a redução
de parte das despesas? Uma vez deferido o parcelamento das despesas, em
quantas vezes será possível parcelar? E o ato processual terá de aguardar
o término do pagamento parcelado para ter início? Pode o juiz aplicar o
parcelamento em conjunto com a justiça gratuita parcial? Inúmeras são as
dúvidas, e a única certeza não há que essas questões serão objeto de rica
divergência até que definidas balizas mínimas pelo STJ – o que pode levar
muito tempo. Até lá, cada juiz terá seus próprios critérios em relação aos
novos institutos relativos à justiça gratuita. (...). (Teoria geral do processo:
comentários ao CPC de 2015: parte geral, p. 335).

Litisconsórcio Necessário ou Facultativo?


Unitário ou Simples?
O tema se refere às mais conhecidas classificações do litisconsórcio, que é a
reunião de duas ou mais pessoas em um dos polos da relação processual, como au-
tores (litisconsórcio ativo), réus (litisconsórcio passivo) ou autores e réus ao mesmo
tempo (litisconsórcio misto).
No entanto, questão mais intrincada sempre foi a diferenciação entre litiscon-

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sórcio necessário e facultativo, unitário e simples. E, ainda, cumular essas classifica-
ções em situações jurídicas que aparecem no cotidiano forense.
A essa dificuldade teórica se somava, na sistemática anterior, a absoluta falta
de técnica do CPC/73, cujo art. 47 simplesmente confundia de forma explícita essas
classificações (e por isso nem vale a pena transcrevê-lo, aqui, neste momento).
O Novo Código, por sua vez, andou bem e finalmente resolveu alguns equívo-
cos básicos através de uma redação mais acurada e doutrinariamente correta. Nesse
sentido, dispõe expressamente o art. 114: “O litisconsórcio será necessário por disposição
de lei ou quando, pela natureza da relação jurídica controvertida, a eficácia da sentença depen-
der da citação de todos que devam ser litisconsortes”.
A necessariedade ou não do litisconsórcio, portanto, está relacionada única e
exclusivamente à obrigatoriedade ou não de estarem presentes aquelas duas ou mais
pessoas em um dos polos da relação jurídico-processual (ainda que haja acesa polê-
mica sobre a situação do litisconsórcio necessário ativo). Nada tem a ver, então, com
a sorte dos litigantes na demanda. A pergunta que se deve fazer é muito simples: a
lei ou a própria natureza da relação jurídica controvertida exige a presença de duas
ou mais pessoas no polo ativo ou passivo? Se sim, o litisconsórcio será necessário. Se
não, facultativo.
De outra parte, assim foi redigido o art. 116 do CPC/2015: “O litisconsórcio será
unitário quando, pela natureza da relação jurídica, o juiz tiver de decidir o mérito de modo
uniforme para todos os litisconsortes”.
A unitariedade, pois, diferentemente, está ligada ao resultado idêntico ou
não da decisão de mérito para todos os litisconsortes. A pergunta, neste caso, é a
seguinte: ao julgar, deve o juiz tratar os litisconsortes como se fossem uma só parte
(unitária)? A decisão será a mesma para todos ou é possível julgar a lide de modo
diferente para um deles? Em sendo uniforme a decisão para todos, estar-se-á diante
do litisconsórcio unitário.
E as classificações não se confundem. Ao contrário: mesclam-se no dia-a-dia
forense, ainda que, na prática, sejam muito mais comuns as situações envolvendo o
litisconsórcio necessário/unitário (como aquele existente entre cônjuges numa ação
de anulação de casamento promovida pelo Ministério Público) e o facultativo/sim-
ples (litisconsórcio entre autores para ajuizar demanda indenizatória contra uma cer-
ta companhia aérea).
O que, de modo absoluto, impede que se imaginem situações um pouco mais
raras, porém existentes, de litisconsórcio necessário/simples (ex.: ação de usucapião
de bem imóvel quanto ao litisconsórcio existente entre os confinantes) e facultativo/
unitário (nos casos de união facultativa entre alguns condôminos na ação que busca
anular deliberação feita em assembleia).

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Litisconsórcio Necessário Ativo?
No texto anterior, mencionamos a polêmica doutrinária existente em relação
à possibilidade ou não de litisconsórcio necessário (presença sine qua non) no polo
ativo (dois ou mais autores).
Em resumo: poder-se-ia obrigar alguém a demandar como autor?
Na visão de Alexandre Freitas CÂMARA,

O litisconsórcio necessário é sempre passivo. Não existe litisconsórcio ne-


cessário ativo, por ser esta uma figura que atenta contra a lógica do sistema
processual brasileiro. Isto se diz porque o direito processual civil brasilei-
ro está construído sobre dois pilares de sustentação: o direito de acesso ao
Judiciário e a garantia da liberdade de demandar. (O novo processo civil
brasileiro, p. 83).
Entretanto, radicalizar esse posicionamento poderia levar à absurda situação
na qual uma parte que deseja ingressar em juízo, caso não tenha a participação de seu
litisconsorte necessário ativo, ficaria impedido de litigar. Fredie DIDIER JR., citando
julgado do próprio STJ, alerta para esse problema:
(...) a 3ª Turma do Superior Tribunal de Justiça, no REsp. n. 1.222.822, j. em
23.09.2014, rel. Min. Ricardo Villas Boas Cueva, decidiu pela existência
de litisconsórcio necessário ativo, entre os mutuários (casados entre si), na
ação de revisão de contrato de financiamento imobiliário. No caso, apenas
o esposo foi a juízo, sem a participação da esposa – o processo foi extinto

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sem exame do mérito. Veja a situação: porque a esposa não foi a juízo, o
sujeito fica impedido de discutir um contrato que lhe está sendo prejudicial.
A situação é, como se viu acima, absurda. (Curso de direito processual civil,
Vol. 1, p. 470).
Assim, uma solução intermediária apresentada por parte da doutrina é trazer
aquele que deveria estar necessariamente no polo ativo da demanda através da ci-
tação.
Na feliz síntese de ARRUDA ALVIM:

Nesse contexto, é preciso lembrar que a citação no CPC/2015 é o ‘ato para o


qual são convocados o réu, o executado ou o interessado para integrar a rela-
ção processual’ (art. 238), e não apenas a convocação do réu ou do interes-
sado para se defender, como no CPC/1973. Assim, na hipótese do litiscon-
sórcio necessário ativo pela natureza da relação jurídica, a palavra citação
significa integração da relação jurídica processual em qualquer dos polos
desde que haja interesse jurídico para tanto. Mesmo a parcela da doutrina
que defende que, por não se poder obrigar ninguém a ir a juízo, não existiria
litisconsórcio necessário ativo, concorda que é imprescindível convocar o
interessado para integrar o processo, por respeito ao contraditório. A solu-
ção que parece mais adequada é a de permitir que uma só pessoa demande,
autorizando a convocação de quem deveria ser litisconsorte ativo necessário
para integrar a relação jurídica. Uma vez chamado, pode escolher (a) inte-
grar o polo ativo como poderia ter feito de início; (b) eventualmente integrar
o polo passivo, se sua atuação se limitar a defender interesse contrário ao do
autor (...), ou ainda (c) permanecer inerte, caso em que não ocupará nenhum
dos polos processuais, mas será atingido pela coisa julgada da mesma for-
ma, tendo sido respeitada a garantia constitucional do contraditório, já que
foi devidamente oportunizada a sua participação. (Novo contencioso cível
no CPC/2015, p. 86).

Intervenção de Terceiros
No Título que trata “Da Intervenção de Terceiros”, o CPC de 2015 simplificou
as modalidades, finalmente incluindo a assistência (arts. 119 a 124 – que no CPC/73
está fora do capítulo que trata da intervenção de terceiros), mantendo a denunciação
da lide (arts. 125 a 129) e o chamamento ao processo (arts. 130 a 132), e acrescentando
o incidente de desconsideração da personalidade jurídica (arts. 133 a 137) e o amicus
curiae (art. 138).
A nomeação à autoria desaparece desse título, mas o seu espírito está presente
nos artigos 338 e 339 do Novo Código como hipóteses de correção da ilegitimidade
passiva. Nas palavras de Cassio Scarpinella BUENO:

(...) a nova regra substitui, com inegáveis vantagens, a disciplina da “no-


meação à autoria” do CPC de 1973 que, incompreensivelmente, dependia
da concordância do nomeado para justificar a correção do polo passivo do
processo, exigência injustificável em se tratando de processo estatal. (Novo
Código de Processo Civil anotado, p. 371).

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A oposição, por sua vez, é levada para o título que trata dos procedimentos
especiais (arts. 682 a 686), sem grandes alterações em relação aos dispositivos corres-
pondentes do CPC/73:
(...). Fez-se bem em não mais se tratar a oposição como modalidade
de intervenção, porque é, em verdade, manifestação do exercício do
direito de ação. Mas, por outro lado, não há razão para que a oposi-
ção conste entre os procedimentos especiais, uma vez que inexiste
peculiaridade procedimental alguma que a particularize. (...). (Te-
resa Arruda Alvim WAMBIER, Maria Lúcia Lins CONCEIÇÃO,
Leonardo Ferres da Silva RIBEIRO e Rogerio Licastro Torres de
MELLO, Primeiros comentários ao novo código de processo civil:
artigo por artigo, comentários ao art. 682, p. 1127).

Para uma melhor visualização desse novo título, fizemos um quadro esque-
mático exclusivo, que segue abaixo.

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Assistência Simples e Litisconsorcial
A figura da assistência não teve modificações substanciais no CPC de 2015,
mas alguns pontos de aperfeiçoamento. Optou-se por trazer “disposições comuns”
da assistência (arts. 119 e 120), além de regramento próprio da assistência simples
(arts. 121 a 123) e litisconsorcial (art. 124).
Desse modo, o assistente é o terceiro que ingressa, de forma voluntária, em
processo pendente para aderir à pretensão de uma das partes, buscando uma deci-
são que lhe seja favorável e beneficiando-se, com mais ou menos intensidade, dos
efeitos dessa decisão (por isso, juridicamente interessado).
Assim, pacificando controvérsia doutrinária, o CPC/2015 positivou que a as-
sistência deve ser admitida em qualquer procedimento (comum, especial, de juris-
dição voluntária etc.) e em todos os graus de jurisdição, recebendo o assistente o
processo no estado em que se encontre (art. 119, parágrafo único).
Por fim, quanto às “disposições comuns”, foram alteradas duas regras pro-
cedimentais, quais sejam: (i) não sendo o caso de indeferimento liminar do requeri-
mento de assistência, o juiz intimará as partes para manifestação acerca do pedido
dentro do prazo comum de 15 dias (CPC/2015, art. 120 – e não mais 05 dias, como
prevê o art. 51 do CPC/73); e (ii) ainda que as partes formulem impugnações ao pedi-
do de intervenção, ele será decidido incidentalmente nos autos principais (CPC/2015,
art. 120, parágrafo único – e não mais são criados autos apensos como na sistemática
do art. 51, inciso I, do CPC/73), prestigiando a celeridade e simplificação processual.
No que concerne à atuação processual do assistente simples, o Novo Código
deixou claro que, nos casos de omissão do assistido, o assistente poderá atuar na
qualidade de substituto processual (e não “gestor de negócios” – CPC/73, art. 52, pa-
rágrafo único), de modo que poderá praticar todos os atos de tutela do interesse ju-
rídico do assistido (a menos que esse venha a se manifestar de modo contrário, mas,
nesse caso, deixará de ser omisso), inclusive a interposição de recurso (CPC/2015, art.
121, parágrafo único).

Denunciação da Lide
Especificamente sobre o instituto da denunciação da lide, mister se faz desta-
car três importantes inovações do CPC/2015 sobre o assunto, quais sejam: (i) fim da
obrigatoriedade da denunciação da lide, (ii) limitação da denunciação da lide suces-
siva e (iii) proibição da denunciação da lide per saltum.
O caput do artigo 125 do Novo Código é expresso ao dispor que “é admissí-
vel a denunciação da lide (...)”, e não obrigatória como fazia o artigo 70 do CPC/73,
confirmando o entendimento doutrinário e jurisprudencial majoritário que sempre
advogou pela facultatividade da denunciação da lide mesmo na hipótese de evicção

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(v. Daniel Amorim Assumpção NEVES. Novo Código de Processo Civil: inovações,
alterações e supressões comentadas, p. 129 e REsp. 1.332.112/GO, 4ª T., j. 21.03.2013,
rel. Min. Luis Felipe Salomão, DJe 17.04.2013).
Ainda, esse entendimento é reafirmado pelo CPC/2015 no mesmo artigo 125,
em seu § 1º, ao destacar que “O direito regressivo será exercido por ação autônoma
quando a denunciação da lide for indeferida, deixar de ser promovida ou não for
permitida”.
No tocante à denunciação da lide sucessiva, destaca-se a opção legislativa por
mantê-la, mas limitá-la a uma única vez, isto é, o denunciado poderá promover nova
denunciação contra o seu alienante imediato ou o responsável por indenizá-lo, mas
este último não poderá promover nova denunciação sucessiva (caberá a ele ação au-
tônoma para exercer o seu direito de regresso).
Essa regra aparece clara no § 2º do artigo 125 do CPC/2015:

Admite-se uma única denunciação sucessiva, promovida pelo denunciado,


contra seu antecessor imediato na cadeia dominial ou quem seja responsá-
vel por indenizá-lo, não podendo o denunciado sucessivo promover nova
denunciação, hipótese em que eventual direito de regresso será exercido por
ação autônoma.

Por fim, a denunciação da lide per saltum, ou seja, aquela feita não ao alienante
imediato, mas a qualquer um dos alienantes anteriores, desaparece do sistema jurídi-
co brasileiro, notadamente pela opção legislativa contida no artigo 1.072, inciso II, do
CPC/2015, que revogou expressamente o artigo 456 do Código Civil Brasileiro, anti-
go suporte para o entendimento então majoritário no sentido de que seria possível a
referida forma de denunciação.
Nas lições de Teresa Arruda Alvim WAMBIER, Maria Lúcia Lins CONCEI-
ÇÃO, Leonardo Ferres da Silva RIBEIRO e Rogerio Licastro Torres de MELLO:

(...) A questão sempre foi controvertida porque, ao se admitir a de-


nunciação per saltum, estar-se-á permitindo que o denunciante se
voltasse contra quem não mantém com ele relação jurídica direta
de direito material. Para a doutrina majoritária e jurisprudência, a
denunciação per saltum estaria autorizada pelo art. 456 do CC, se-
gundo o qual “Para poder exercitar o direito que da evicção resulta,
o adquirente notificará do litígio o alienante imediato ou qualquer
dos anteriores, quando e como lhe determinarem as leis do proces-
so”. (g.n.). Estar-se-ia em face de hipótese de legitimação extraor-
dinária, em que “o alienante mediato estaria em juízo discutindo
relação jurídica do alienante imediato” (Fredie DIDIER JR. Curso
de processo civil, vol. 1, p. 396). Para outros, porém, a denunciação
per saltum não seria cabível, vez que segundo o próprio art. 456 do
CC, o adquirente deveria “notificar” o alienante “como lhe determi-
narem as leis do processo”, sendo que, de acordo com estas, a regra
é a denunciação ao alienante imediato. Filiamo-nos a essa corrente

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porque, além de romper com a regra de que parte legítima para ação
regressiva é aquela com quem o denunciante mantém relação de di-
reito material direta, a denunciação per saltum permitiria, conforme
salienta Flávio Yarshell, “que um dos alienantes – qualquer um de-
les, a considerar, provavelmente, a respectiva capacidade de arcar
com a indenização do adquirente/denunciante – poderia responder
por diferentes indenizações, de diferentes adquirentes” (Três temas
de direito processual no âmbito das obrigações e dos contratos. In.:
O Código Civil e sua interdisciplinaridade. Coord. José Geraldo
Brito Filomeno, Luiz Guilherme da Costa Wagner Junior e Renato
Afonso Gonçalves. Belo Horizonte: Del Rey, 2004, n. 4, p. 314). O
legislador do CPC/2015 seguiu essa orientação, tanto que, por meio
do seu art. 1.072, II, revogou o art. 456 do CC. (Primeiros comen-
tários ao Novo CPC: artigo por artigo, comentários ao art. 125, p.
258-259).

Sob o aspecto procedimental, há pontuais modificações que também merecem


destaque: (i) quando requerida pelo réu, a denunciação deverá ser feita na contesta-
ção (CPC/2015, art. 126, caput – e não no “prazo para contestação” – CPC/73, art. 71);
(ii) autor e réu terão 30 dias (e não 10 dias – CPC/73, art. 72, § 1º, a) para promover
a citação do denunciado que residir naquela comarca ou 02 meses (CPC/2015, arts.
126 e 131, caput e parágrafo único – e não 30 dias – CPC/ 73, art. 72, § 1º, b) para pro-
videnciar a citação do denunciado que residir em outra comarca, seção ou subjeção
judiciárias, ou em lugar incerto, sob pena da denunciação ficar sem efeito.
Ademais, as possíveis condutas do denunciante e denunciado frente à provo-
cação feita pelo réu também foram aperfeiçoadas (CPC/2015, art. 128): (i) se o denun-
ciado contestar o pedido formulado pelo autor, o processo seguirá tendo, na ação
principal, em litisconsórcio, denunciante e denunciado (CPC/2015, art. 128, inciso I –
não será necessária a “aceitação” da denunciação pelo denunciado para que se torne
litisconsorte – CPC/73, art. 75, inciso I); (ii) se o denunciado for revel, o denunciante
pode deixar de prosseguir com a sua defesa, eventualmente oferecida, e abster-se
de recorrer, restringindo sua atuação à ação regressiva (CPC/2015, art. 128, inciso
II – diferentemente do art. 75, inciso II do CPC/73, que impunha ao denunciante o
dever de prosseguir com a sua defesa até final); e (iii) se o denunciado confessar os
fatos alegados pelo autor na ação principal, o denunciante poderá prosseguir com a
sua defesa ou, aderindo a tal reconhecimento, pedir apenas a procedência da ação
de regresso (CPC/2015, art. 128, inciso III – em comparação com o art. 75, inciso III
do CPC/73, o CPC/2015 confere ao denunciante a possibilidade de aderir ao reconhe-
cimento do pedido formulado na ação principal, concentrando a sua pretensão na
ação regressiva).
Por derradeiro, o art. 128, parágrafo único, do Novo Código, positivou en-
tendimento jurisprudencial do STJ, conferindo ao autor a prerrogativa de requerer
o cumprimento da sentença também contra o denunciado, respeitados os limites da

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condenação na ação de regresso, cf. REsp. 1.249.029/SC, 3ª T., j. 15.12.2011, rel. Min.
Nancy Andrighi, DJe 01.02.2012 e Enunciado nº 537 da Súmula do STJ:

Em ação de reparação de danos, a seguradora denunciada, se aceitar a de-


nunciação ou contestar o pedido do autor, pode ser condenada, direta e so-
lidariamente junto com o segurado, ao pagamento da indenização devida à
vítima, nos limites contratados na apólice.

Chamamento ao Processo
O chamamento ao processo é disciplinado nos artigos 130 a 132 do CPC/2015,
que mantém as hipóteses clássicas de seu cabimento: a fiança e a solidariedade entre
os devedores.
Sobre o tema, importante apontamento de Cassio Scarpinella BUENO:

O que é de se lamentar é que a versão final do CPC de 2015, acolhendo, no


particular, o Projeto da Câmara, tenha eliminado o inciso IV proposto pelo
Projeto do Senado que ampliava sobremaneira o instituto, adaptando-o sufi-
cientemente bem a determinadas (e diversas) hipóteses previstas no Código
Civil de 2002 e que, na perspectiva do direito material, não são assimiláveis
à fiança nem à solidariedade e, tampouco, justificadoras da denunciação da
lide. (Novo Código de Processo Civil anotado, p. 188).

É o caso, por exemplo, da polêmica hipótese de chamamento ao processo do


parente de grau imediato na ação de alimentos, quando o demandado (alimentante)
não tiver condições de arcar com a totalidade da prestação de alimentos (CC, art.
1.698, primeira parte).
Há peculiares diferenciações no procedimento do chamamento ao processo,
quais sejam: (i) o réu deverá requerer o chamamento na contestação pela sistemá-
tica do art. 131, caput, do CPC/2015 (e não no “prazo para contestação” – art. 78 do
CPC/73), deixando claro que se pretende contestar deverá fazê-lo na mesma peça
em que fará o chamamento; (ii) assim, em regra, terá 30 dias (e não 10 dias – art. 72,
§ 1º, “a”, do CPC/73) para promover a citação do chamado, sob pena de ficar sem
efeito, salvo quando ele residir em outra comarca, seção ou subjeção judiciárias, ou
em lugar incerto, quando terá o prazo de 02 meses (e não 30 dias – art. 72, § 1º, “b”,
do CPC/73) para fazê-lo (CPC/2015, art. 131, caput e parágrafo único).

Incidente de Desconsideração da
Personalidade Jurídica
A desconsideração da personalidade jurídica ganha tratamento procedimen-
tal específico e detalhado no CPC/2015, na forma de um incidente processual próprio
que, presentes os pressupostos específicos da lei material (CC, art. 50; CDC, art. 28;
Lei Federal nº 9.605/98 – Lei de Crimes Ambientais –, art. 4º etc.), será instaurado a

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requerimento da parte ou do Ministério Público, quando lhe couber intervir no pro-
cesso (arts. 133, caput e 795, § 4º).
Há muito acolhida pelos tribunais, em especial pelo STJ, a desconsideração
vem sendo admitida como hipótese excepcional (cf. AgRg no REsp. 1.534.236/PE, 2ª
T., j. 18.08.2015, rel. Min. Humberto Martins, DJe 25.08.2015) que prescinde da prévia
citação dos sócios atingidos, “aos quais se garante o exercício postergado ou diferido do
contraditório e da ampla defesa” (AgRg no REsp. 1.459.784/MS, 3ª T., j. 04.08.2015, rel.
Min. Marco Aurélio Bellizze, DJe 14.08.2015).
No entanto, a desnecessidade de um contraditório amplo, com a possibilidade
de produção de provas (REsp. 1.096.604/DF, 4ª T., j. 02.08.2012, rel. Min. Luis Felipe
Salomão, DJe 16.10.2012), tem permitido, infelizmente, a aplicação desmedida do
aludido instituto.
E é exatamente essa situação que o CPC/2015 tem por objetivo evitar.
O que se pretende com o novo regramento é evitar arbitrariedades e exigir
amplo contraditório nas situações que ensejam a desconsideração (inclusive com a
possibilidade de produção de provas – CPC/2015, art. 135), cabendo aqui ressaltar a
previsão legal expressa também da desconsideração inversa da personalidade jurídi-
ca (art. 133, § 2º), já admitida pela doutrina e pela jurisprudência.
Caso a desconsideração seja objeto de pedido na inicial, os sócios ou a pessoa
jurídica (no caso de desconsideração inversa) serão regularmente citados para inte-
grar a lide, sem a necessidade de instauração de um incidente processual específi-
co (CPC/2015, art. 134, § 2º). Caso contrário, o incidente poderá ser instaurado em
quaisquer das fases do processo de conhecimento, no cumprimento de sentença e
na execução fundada em título executivo extrajudicial, o que suspenderá o curso do
processo até a decisão final do incidente (art. 134, caput e §§ 1º e 3º).
Com a instauração do incidente, os sócios ou a pessoa jurídica serão citados
para, em 15 dias, apresentar manifestação e requerimento das provas que entendem
cabíveis (CPC/2015, art. 135).
Concluída a fase instrutória, caso necessária, a questão será resolvida por deci-
são interlocutória (art. 136, caput), impugnável por agravo de instrumento (art. 1.015,
IV) ou agravo interno, se se tratar de decisão proferida por relator de tribunal nos
casos de competência originária (art. 136, parágrafo único).
Sobreleva notar, ainda, que o incidente de desconsideração da personalida-
de jurídica será também aplicável no âmbito dos Juizados Especiais (CPC/2015, art.
1.062).
Por fim, cabe dizer que o Novo Código foi omisso quanto à qualidade pro-
cessual e ao meio de defesa adequado em relação ao sócio na fase executiva após
a desconsideração da personalidade jurídica: se, como responsável patrimonial se-

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cundário, continuaria a ser um terceiro e, por isso, deveria se valer dos embargos de
terceiro no curso da fase executiva; ou se se tornaria parte e, com isso, deveria utilizar
para a sua defesa os embargos à execução ou a impugnação ao cumprimento de
sentença.
Destacam-se, sobre o tema, as considerações de Daniel Amorim Assumpção
NEVES:

(...) todos os responsáveis patrimoniais secundários, ao terem bem de seu


patrimônio constrito em processo alheio, automaticamente passam a ter
legitimidade passiva e, uma vez sendo citados ou integrando-se voluntaria-
mente ao processo, formarão um litisconsórcio passivo ulterior com o de-
vedor. (Novo Código de Processo Civil: inovações, alterações e supressões
comentadas, p. 148).

Conclui-se, desse modo, que os instrumentos de defesa adequados, segun-


do a doutrina e jurisprudência majoritária (STJ, AgRg no Ag 1.378.143/SP, 4ª T., j.
13.05.2014, rel. Min. Raul Araújo, DJe 06.06.2014), serão os embargos à execução
(quando se tratar de execução de título extrajudicial) ou a impugnação ao cumpri-
mento de sentença (dentro da fase executiva dos títulos judiciais), entendimento que
deve ser mantido na sistemática do CPC de 2015.
Por fim, importante destacar alguns Enunciados do Fórum Permanente de
Processualistas Civis (FPPC – Carta de Florianópolis) sobre o tema:
• Enunciado nº 123: “(art. 133) É desnecessária a intervenção do Ministério
Público, como fiscal da ordem jurídica, no incidente de desconsideração da persona-
lidade jurídica, salvo nos casos em que deva intervir obrigatoriamente, previstos no
art. 178”. (Grupo: Litisconsórcio e Intervenção de Terceiros).
• Enunciado nº 124: “(art. 133; art. 15) A desconsideração da personalidade
jurídica no processo do trabalho deve ser processada na forma dos arts. 133 a 137,
podendo o incidente ser resolvido em decisão interlocutória ou na sentença”. (Grupo:
Impacto do CPC no Processo do Trabalho).
• Enunciado nº 125: “(art. 134) Há litisconsórcio passivo facultativo quando
requerida a desconsideração da personalidade jurídica, juntamente com outro pedi-
do formulado na petição inicial ou incidentemente no processo em curso”. (Grupo:
Litisconsórcio e Intervenção de Terceiros).
• Enunciado nº 126: “(art. 134; art. 15) No processo do trabalho, da decisão que
resolve o incidente de desconsideração da personalidade jurídica na fase de execução
cabe agravo de petição, dispensado o preparo”. (Grupo: Impacto do CPC no Processo
do Trabalho).
• Enunciado nº 247: “(art. 133) Aplica-se o incidente de desconsideração da
personalidade jurídica no processo falimentar”. (Grupo: Impactos do CPC nos Juizados

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e nos procedimentos especiais de legislação extravagante).
• Enunciado nº 248: “(art. 134, § 2º; art. 336) Quando a desconsideração da
personalidade jurídica for requerida na petição inicial, incumbe ao sócio ou a pessoa
jurídica, na contestação, impugnar não somente a própria desconsideração, mas tam-
bém os demais pontos da causa”. (Grupo: Petição inicial, resposta do réu e saneamento).
• Enunciado nº 390: “(arts. 136, caput, 1.015, IV, 1.009, § 3º) Resolvida a descon-
sideração da personalidade jurídica na sentença, caberá apelação”. (Grupo: Litiscon-
sórcio e intervenção de terceiros).

Amicus Curiae
Sobre a peculiar figura do amicus curiae, também conhecido como “amigo da
Corte” ou “colaborador da Corte”, melhor do que traduzir literalmente a expressão é
entender que o amicus curiae representa verdadeiro portador de interesses institucionais
dispersos na sociedade, a conformar uma releitura do contraditório em questões que
ultrapassam interesses meramente particulares (cf. Cassio Scarpinella BUENO, Amicus
curiae no processo civil brasileiro: um terceiro enigmático, especialmente p. 80 e ss.).
A ideia em si é relativamente simples: se determinada decisão irá atingir toda
a coletividade, nada melhor que sejam admitidas em contraditório as pessoas, físicas
ou jurídicas, que carreguem adequada representatividade para contribuir e trazer
elementos informativos para a prolação de uma melhor decisão. Dessa forma, obter-
se-á uma decisão melhor “informada” e consequentemente, que gozará de maior
legitimidade democrática.
Mesmo sem previsão legal expressa utilizando a nomenclatura latina, os amici
curiae vem sendo admitidos pela jurisprudência brasileira há algum tempo, sobre-
tudo nos específicos processos de controle concentrado de constitucionalidade, nos
quais a intervenção se fundamenta basicamente nos artigos 7º, § 2º, e 20, § 1º, da Lei
Federal nº 9.868/99 (Ação Direta de Inconstitucionalidade – ADI e Ação Declaratória
de Constitucionalidade – ADC), e no artigo 5º, § 2º, da Lei Federal nº 9.882/99 (Argui-
ção de Descumprimento de Preceito Fundamental – ADPF).
E o Supremo Tribunal Federal parece ter compreendido as inúmeras vanta-
gens de se ter esse respaldo democrático em decisões que tratam de assuntos polêmi-
cos. Basta contar, por exemplo, os diversos amici curiae que participaram da decisão
na ADPF 132, que reconheceu a união homoafetiva como entidade familiar.
O CPC/2015 trata especificamente dessa importante figura processual no seu
artigo 138, dispondo que:

O juiz ou o relator, considerando a relevância da matéria, a especificidade


do tema objeto da demanda ou a repercussão social da controvérsia, poderá,
por decisão irrecorrível, de ofício ou a requerimento das partes ou de quem

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pretenda manifestar-se, solicitar ou admitir a participação de pessoa natural
ou jurídica, órgão ou entidade especializada, com representatividade ade-
quada, no prazo de 15 (quinze) dias de sua intimação.
As especificidades aptas a autorizar a presença dos amici curiae em qualquer
processo são de três ordens, quais sejam: (i) relevância da matéria, (ii) especificidade
do tema objeto da demanda ou (iii) repercussão social da controvérsia. Verifica-se,
pois, que se está diante de requisitos bastante subjetivos, que ficarão a cargo do órgão
judicial competente (cf., STJ, AgInt no REsp 1614874/SC, 1ª S., j. 13.12.2017, rel. Min.
Benedito Gonçalves, DJe 19.12.2017).
Ademais, poderão figurar como amici curiae a pessoa natural ou jurídica, além
de entidade especializada com representatividade adequada, isto é, que demonstre
a relação entre o seu campo de atuação e a questão analisada no bojo do processo,
mostrando que possui interesses outros que não os meramente corporativos e que
pode contribuir para construção de uma decisão mais acertada e legítima.
Sobre o tema, cabe destacar o Enunciado nº 127 do Fórum Permanente de
Processualistas Civis (FPPC): “(art. 138) A representatividade adequada exigida do
amicus curiae não pressupõe a concordância unânime daqueles a quem representa”.
(Grupo: Litisconsórcio e Intervenção de Terceiros).
Após intimado, o amicus curiae terá 15 dias para participar do processo e, ordi-
nariamente, o fará por meio de manifestação escrita e/ou sustentação oral.
Ainda, o mesmo artigo 138 possui três parágrafos, dispondo, em síntese, que
esse tipo de intervenção não altera a competência do órgão julgador, nem autoriza
a interposição de recurso pelo amicus curiae, ressalvada a oposição de embargos de
declaração e de recurso nas decisões que julgarem incidentes de resolução de de-
mandas repetitivas (v. CPC/2015, arts. 976 e seguintes). Por fim, caberá ao juiz ou ao
relator, na decisão que solicitar ou admitir a intervenção, definir os demais poderes
do amicus curiae no processo por decisão irrecorrível (CPC/2015, art. 138, § 1º).

Dever-Poder Geral de Efetivação do Juiz


Uma das novidades trazidas pelo Novo Código em relação aos poderes do
juiz é o dever-poder geral de efetivação contido no inciso IV do art. 139.
Dispõe expressamente o referido dispositivo que:

O juiz dirigirá o processo conforme as disposições deste Código, incum-


bindo-lhe: (...)
IV - determinar todas as medidas indutivas, coercitivas, mandamentais ou
sub-rogatórias necessárias para assegurar o cumprimento de ordem judicial,
inclusive nas ações que tenham por objeto prestação pecuniária; (...).

Há, efetivamente, uma mudança de paradigma a partir desse dispositivo.


As medidas atípicas de coerção que, no CPC/73, estavam previstas nos arts.

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461, § 5º e 461-A, § 3º, para os casos de cumprimento de sentença envolvendo obri-
gações de fazer, não fazer e entrega de coisa, foram, de certo modo, generalizadas
como um verdadeiro dever-poder geral de efetivação do juiz pelo art. 139, inciso
IV, do CPC/2015, independentemente da natureza da obrigação consubstanciada no
título executivo.
Nesse sentido é a observação de Cassio Scarpinella BUENO:

Trata-se de regra que convida à reflexão sobre o CPC de 2015 ter passado a
admitir, de maneira expressa, verdadeira regra de flexibilização das técnicas
executivas, permitindo ao magistrado, consoante as peculiaridades do caso
concreto, modificar o modelo preestabelecido pelo Código, determinando a
adoção, sempre de forma fundamentada, dos mecanismos que se mostrem
mais adequados para a satisfação do direito, levando em conta as peculia-
ridades do caso concreto. Um verdadeiro “dever-poder geral executivo”,
portanto. Aceita essa proposta – que, em última análise, propõe a adoção de
um modelo atípico de atos executivos, ao lado da tipificação feita pelos arts.
513 a 538, que disciplinam o cumprimento de sentença, e ao longo de todo
o Livro II da Parte Especial, voltado ao processo de execução –, será correto
ao magistrado flexibilizar as regras previstas naqueles dispositivos codifica-
dos consoante se verifiquem insuficientes para a efetivação da tutela juris-
dicional. Chama a atenção neste inciso IV do art. 139, ademais, a expressa
referência às “ações que tenham por objeto prestação pecuniária”, que con-
vida o intérprete a abandonar (de vez, e com mais de dez anos de atraso) o
modelo “condenação/execução”, que, até o advento da Lei n. 11.232/2005,
caracterizou o modelo executivo do CPC de 1973 para aquelas prestações
e suas consequentes “obrigações de pagar quantia”. Até porque, com rela-
ção às demais modalidades obrigacionais, de fazer, não fazer e de entrega
de coisa, esta atipicidade já é conhecida pelo direito processual civil bra-
sileiro desde o início da década de 1990. Primeiro com o art. 84 da Lei n.
8.078/1990 (Código do Consumidor) e depois, de forma generalizada, pela
introdução do art. 461 no CPC de 1973 pela Lei n. 8.952/1994. (Manual de
direito processual civil, p. 165).

Não se pode, pois, admitir que um devedor contumaz, sujeito passivo de di-
versas execuções, utilize de subterfúgios tecnológicos e ilícitos para esconder seu pa-
trimônio e frustrar os seus credores.
Há mais de 10 anos, Olavo de OLIVEIRA NETO escreveu que seria possível
ao juiz estabelecer algumas formas de restrições na esfera de direitos do devedor,

(...) como a suspensão de licença para conduzir veículos automotores. (...).


Ora, quem não tem dinheiro para pagar o valor que lhe é exigido na execu-
ção, nem tem bens para garantir tal atividade, também não tem dinheiro para
ser proprietário de veículo automotor, e, por isso, não tem a necessidade de
possuir habilitação. Com isso, suspender tal direito só viria a atingir aqueles
que, de modo sub-reptício, camuflam a existência de patrimônio com o de-
liberado fim de fugir à responsabilidade pelo pagamento do débito. (...) nada
impede que aquele que necessita exercer tal direito para sua sobrevivência,
como é o caso do motorista profissional, solicite ao juiz o afastamento da
limitação de direitos. Nesta hipótese, porém, inverte-se o ônus da prova no
processo (...). (Novas perspectivas da execução civil – Cumprimento da

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sentença. In. SHIMURA, Sérgio; e NEVES, Daniel Amorim Assumpção
– coords. – Execução no processo civil: novidades & tendências, p. 197).

Em boa hora serão retomadas as discussões sobre a atipicidade das medidas


executivas e sobre a efetividade da execução civil, estampada como meta já no art.
4º do CPC/2015 (“As partes têm o direito de obter em prazo razoável a solução integral do
mérito, incluída a atividade satisfativa”).

Impedimento do Juiz no CPC/2015


Abolindo a exceção de impedimento e/ou suspeição do juiz, os arts. 144 a 148
do CPC/2015 trazem a nova disciplina da alegação, por mera petição, no prazo de 15
(quinze) dias do conhecimento do fato, dos vícios de parcialidade do juiz.
Neste texto, serão abordadas apenas as hipóteses de impedimento (vício grave,
de caráter objetivo e que gera presunção absoluta de parcialidade), que foram am-
pliadas pela nova sistemática processual civil vigente.
Sabe-se que a imparcialidade do juiz da causa é pressuposto de validade do processo.
A sentença proferida por juiz impedido é nula e pode ser objeto, inclusive, de ação
rescisória, dada a gravidade do vício (art. 966, II). Nas palavras do Professor ARRU-
DA ALVIM:

(...) havendo presunção absoluta de parcialidade do julgador, a decisão pode


ser desconstituída pela via da ação rescisória. É importante notar que, em se
tratando de decisão colegiada, o impedimento de apenas um dos julgadores
não autoriza a rescisão do julgado caso este tenha prolatado voto vencido.
(Novo contencioso cível no CPC/201, p. 324).

Portanto, enquanto a suspeição deve ser arguida no prazo legal sob pena de
preclusão, o impedimento, por se tratar de questão de ordem pública, pode ser ale-
gado a qualquer momento, pelo juiz ou pelas partes.
Atualmente, são 09 as hipóteses de impedimento previstas expressamente
pelo art. 144 do Novo Código.
Dentre as alterações, destaca-se, em primeiro lugar, o impedimento relaciona-
do ao magistrado que teve conhecimento do processo em outro grau de jurisdição,
tendo proferido decisão (inciso II) – não estando mais restrito ao primeiro grau, como
estava no CPC/73. Também está impedido, o magistrado, de exercer suas funções no
processo em que seu cônjuge ou companheiro, ou qualquer parente, consanguíneo
ou afim, em linha reta ou colateral, até o terceiro grau, inclusive, estiver postulando
como defensor público, advogado ou membro do Ministério Público (inciso III e §
1º). Nesse ponto, vale lembrar que o CPC/73 falava apenas da hipótese de postular
como advogado da parte e limitava o parentesco ao segundo grau.
Outras hipóteses inovadoras aparecem nos seguintes casos: (i) quando o juiz
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for herdeiro presuntivo, donatário ou empregador de qualquer das partes (inciso
VI); (ii) em que figure como parte instituição de ensino com a qual o magistrado
tenha relação de emprego ou decorrente de contrato de prestação de serviços (inciso
VII); e (iii) em que figure como parte cliente do escritório de advocacia do seu côn-
juge, companheiro ou parente, consanguíneo ou afim, em linha reta ou colateral, até
o terceiro grau, inclusive, mesmo que patrocinado por advogado de outro escritório
(inciso VIII).
Essa última hipótese, aliada àquela descrita no inciso III do mesmo dispositi-
vo, volta-se ao combate franco e claro ao tráfico de influência no âmbito processual,
uma vez que o impedimento se fará presente mesmo que a pessoa que carrega o mo-
tivo do impedimento não atue diretamente no feito (art. 144, inciso VIII, in fine, e § 3º).
Por fim, o art. 147 prevê hipótese de impedimento também decorrente de pa-
rentesco, mas para dispor sobre o parentesco entre juízes – hipótese também previs-
ta no art. 128 da Lei Complementar nº 35/79 (Lei Orgânica da Magistratura). Nes-
ses casos, o primeiro que conhecer do processo impede que o outro atue. Inovou
o CPC/2015 ao não restringir essa hipótese de impedimento à atuação no tribunal,
de forma que também terá aplicação quando os magistrados parentes atuarem em
diferentes graus de jurisdição.

Suspeição do Juiz no CPC/2015


Dando continuidade ao trato dos vícios de parcialidade do juiz, vamos abor-
dar especificamente a suspeição (vício menos grave que o impedimento, de caráter
subjetivo e que gera presunção relativa de parcialidade do magistrado – se não ale-
gada no prazo legal, gera preclusão).
Embora as causas de suspeição carreguem sempre certa dose de subjetividade
(daí porque a alegação deve vir acompanhada de provas da parcialidade do julga-
dor), não se deve confundi-las com meras irresignações acerca de decisões judiciais
técnica e regularmente prolatadas, ainda que reiteradas. Nesse sentido, é claro o
Enunciado nº 88 da Súmula do TJ/SP: “Reiteradas decisões contrárias aos interesses do
excipiente, no estrito exercício da atividade jurisdicional, não tornam o juiz excepto suspeito
para o julgamento da causa”.
As hipóteses de suspeição foram reorganizadas pela nova sistemática proces-
sual civil (considerando-se, inclusive, que a hipótese de suspeição antes prevista no
art. 135, III do CPC/73 agora aparece como causa de impedimento do juiz no art. 144,
VI do CPC/2015) e se encontram todas nos incisos do art. 145.
Importante ressaltar, desde logo, que o Novo Código deixa expressa a desne-
cessidade de o juiz declarar as razões pelas quais se declara suspeito quando assim o
fizer por motivos de foto íntimo (§ 1º).

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Além disso, traz situações nas quais a alegação de suspeição será considerada
ilegítima (§2º), prestigiando a boa-fé no âmbito processual (art. 5º), notadamente em
relação à impossibilidade de se beneficiar da própria torpeza (tuo quoque) e à proibi-
ção de comportamento contraditório (venire contra factum proprio non potest).
A par das alterações meramente redacionais nos incisos II, III e IV, em relação
à sistemática anterior, houve significativa inovação no tocante à primeira hipótese de
suspeição trazida pelo CPC/2015, qual seja: “Art. 145. Há suspeição do juiz: I – amigo
íntimo ou inimigo de qualquer das partes ou de seus advogados; (...)”. Retirou-se do texto a
burlesca expressão “inimigo capital”, mas acrescentou-se o advogado como parâme-
tro para essa causa de suspeição do juiz (antes a referência era feita apenas às partes).
Nas palavras de André Vasconcelos ROQUE,
Como o receio que fundamenta tal hipótese de suspeição é que os laços
pessoais entre o juiz e as partes ou seus advogados comprometam a isen-
ção no julgamento, deve ser conferida interpretação extensiva à regra para
também incluir nos casos de suspeição as figuras do defensor público, do
procurador (municipal, estadual, da Fazenda Nacional), do advogado da
União e do membro do Ministério Público. Amizade íntima é conceito que
remete a um vínculo forte, que vai além da mera convivência profissional,
estando evidenciado, em tese, pelo noivado ou compadrio, assim como pela
visitação frequente de um à residência de outro. O texto do CPC/2015, em
comparação ao CPC/1973, não exige mais a inimizade ‘capital’, ou seja, de
se desejar a morte do inimigo. Basta, para que se configure a suspeição, que
se evidencie uma emoção de caráter negativo, advinda de questões pessoais,
que o juiz apresente em relação à parte ou ao advogado. (Breves comentá-
rios ao novo código de processo civil, p. 505).

Por fim, diante do art. 148, importa ressaltar que motivos de impedimento e
suspeição se aplicam também aos membros do Ministério Público, aos auxiliares da
Justiça (elencados no rol exemplificativo do art. 149 do CPC) e demais sujeitos im-
parciais do processo, com exceção das testemunhas (§ 4º) – objeto de regulamentação
específica pelos arts. 447, caput e 457, §§ 1º e 2º.
Montamos especialmente para você um quadro esquemático a respeito do
procedimento de arguição do impedimento e da suspeição que, de acordo com o
CPC/2015, não é mais feita em exceção, mas em petição específica. Confira abaixo
com total exclusividade!

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Negócios Jurídicos Processuais
Um tema um tanto quanto instigante, polêmico, inovador e ainda pouco estu-
dado: os negócios jurídicos processuais e, notadamente, a cláusula geral de negocia-
ção processual prevista no artigo 190 do CPC de 2015.

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O referido dispositivo legal é expresso ao dispor que:

Versando o processo sobre direitos que admitam autocomposição, é lícito às


partes plenamente capazes estipular mudanças no procedimento para ajustá
-lo às especificidades da causa e convencionar sobre os seus ônus, poderes,
faculdades e deveres processuais, antes ou durante o processo.
Parágrafo único. De ofício ou a requerimento, o juiz controlará a validade
das convenções previstas neste artigo, recusando-lhes aplicação somente
nos casos de nulidade ou de inserção abusiva em contrato de adesão ou
em que alguma parte se encontre em manifesta situação de vulnerabilidade.

Como já alertado, embora pouco detalhados pela doutrina, os negócios jurí-


dicos processuais ganham novo colorido no sistema processual civil que está por
vir. Ao lado das já possíveis e conhecidas cláusulas de eleição de foro e de distribui-
ção convencional do ônus da prova (CPC de 1973, arts. 11 e 333, parágrafo único),
o CPC/2015, além de ampliar as hipóteses de negócios processuais típicos, também
institui uma cláusula geral de negociação processual, a permitir acordos procedi-
mentais e outras convenções processuais não previstas expressamente (negócios
processuais atípicos).
Como exemplos de negócios processuais típicos, além da repetição dos já
mencionados (CPC/2015, arts. 63 e 373, § 3º), podem também ser citados: a fixação
de calendário processual para a prática dos atos processuais (art. 191); a renúncia
expressa da parte ao prazo estabelecido exclusivamente em seu favor (art. 225); a
suspensão convencional do processo (art. 313, II); e a delimitação consensual das
questões de fato sobre as quais recairá a atividade probatória e de direito relevantes
para a decisão do mérito na fase de saneamento (art. 357, § 2º).
Mas a grande novidade está na cláusula geral de negociação processual, que
amplia sobremaneira a autonomia das partes no âmbito processual, seja por meio
de acordos firmados antes ou durante o processo. Permitem-se criar, nas palavras
do Professor Luiz Rodrigues WAMBIER, ao lado do procedimento comum e dos
procedimentos especiais trazidos pelo CPC de 2015, “procedimentos especialíssimos”
à luz de técnicas já utilizadas na seara arbitral (palestra proferida no 2º Encontro de
Processualistas sobre o Novo Código de Processo Civil promovido pelo IDC).
Os poderes do juiz são mantidos, sobretudo pelo disposto nos artigos 139,
inciso VI e 190, parágrafo único, cabendo-lhe sempre controlar a validade das con-
venções processuais por meio de decisão adequadamente fundamentada (art. 489, §
1º), recusando-lhes aplicação somente nos casos de nulidade ou de inserção abusiva
em contrato de adesão ou em que alguma parte se encontre em manifesta situação
de vulnerabilidade.
Sem dúvida que o maior trabalho para doutrina e jurisprudência será desvelar

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os limites daquilo que será possível e daquilo que será defeso em matéria de conven-
ção processual:

(...). Por força do art. 190 do CPC/2015, portanto, não reputamos ser pos-
sível a pactuação de negócio jurídico processual que tenha por objeto a mi-
noração ou a extinção de deveres processuais imperativamente impostos às
partes, sob pena de ser-lhe ilícito o objeto. Não vigora, ipso facto, o “vale
tudo” processual. O negócio jurídico processual não tem, e nem deve ter,
esta extensão. (...). Não se pode, é nossa convicção, dispor em negócio ju-
rídico processual que uma decisão poderá ser não fundamentada, ou que
não vigora o dever de cumprir as decisões judiciais. Admiti-lo seria algo
comparável à admissão do objeto ilícito na celebração do negócio jurídi-
co processual. (...). (Teresa Arruda Alvim WAMBIER, Maria Lúcia Lins
CONCEIÇÃO, Leonardo Ferres da Silva RIBEIRO, e Rogerio Licastro
Torres de MELLO. Primeiros comentários ao novo código de processo ci-
vil: artigo por artigo, comentários ao art. 190, p. 402-403).

Além disso, vários os Enunciados do Fórum Permanente de Processualistas


Civis (FPPC) que tratam da matéria e tentam também colaborar para a definição
desses limites.
Dentre eles, destacam-se:
• Enunciado nº 06: “(arts. 5º, 6º e 190) O negócio jurídico processual não pode
afastar os deveres inerentes à boa-fé e à cooperação”. (Grupo: Negócio Processual; reda-
ção revista no III FPPC-Rio).
• Enunciado nº 17: “(art. 190) As partes podem, no negócio processual, esta-
belecer outros deveres e sanções para o caso do descumprimento da convenção”.
(Grupo: Negócio Processual; redação revista no III FPPC-Rio).
• Enunciado nº 19: “(art. 190) São admissíveis os seguintes negócios proces-
suais, dentre outros: pacto de impenhorabilidade, acordo de ampliação de prazos
das partes de qualquer natureza, acordo de rateio de despesas processuais, dispensa
consensual de assistente técnico, acordo para retirar o efeito suspensivo de recurso,
acordo para não promover execução provisória; pacto de mediação ou conciliação
extrajudicial prévia obrigatória, inclusive com a correlata previsão de exclusão da
audiência de conciliação ou de mediação prevista no art. 334; pacto de exclusão con-
tratual da audiência de conciliação ou de mediação prevista no art. 334; pacto de
disponibilização prévia de documentação (pacto de disclosure), inclusive com estipu-
lação de sanção negocial, sem prejuízo de medidas coercitivas, mandamentais, sub
-rogatórias ou indutivas; previsão de meios alternativos de comunicação das partes
entre si; acordo de produção antecipada de prova; a escolha consensual de deposi-
tário-administrador no caso do art. 866; convenção que permita a presença da parte
contrária no decorrer da colheita de depoimento pessoal”. (Grupo: Negócio Processual;
redação revista no III FPPC- RIO, no V FPPC-Vitória e no VI FPPC-Curitiba).

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• Enunciado nº 20: “(art. 190) Não são admissíveis os seguintes negócios bi-
laterais, dentre outros: acordo para modificação da competência absoluta, acordo
para supressão da primeira instância, acordo para afastar motivos de impedimento
do juiz, acordo para criação de novas espécies recursais, acordo para ampliação das
hipóteses de cabimento de recursos”. (Grupo: Negócio Processual; redação revista no VI
FPPC-Curitiba).
• Enunciado nº 21: “(art. 190) São admissíveis os seguintes negócios, dentre
outros: acordo para realização de sustentação oral, acordo para ampliação do tempo
de sustentação oral, julgamento antecipado do mérito convencional, convenção so-
bre prova, redução de prazos processuais”. (Grupo: Negócio Processual; redação revista
no III FPPC-Rio).
À guisa de conclusão, perspicaz a observação de Daniel Amorim Assumpção
NEVES sobre o tema:

Quem sabe com a ampliação do objeto do acordo procedimental ele se torne


mais frequente, em especial na formatação de contratos que não contem
com convenção de arbitragem. As partes não abririam mão do acesso ao
Poder Judiciário, mas já estabeleceriam de antemão as regras procedimen-
tais para o futuro e eventual processo judicial. Sinceramente, acredito que
a consagração efetiva do art. 190 do Novo CPC depende de mudança de
cultura jurídica, tanto contratual como processual, e por isso nutro grandes
expectativas práticas quanto à novidade. (Novo Código de Processo Civil:
inovações, alterações e supressões comentadas, p. 172).

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Atos Ordinatórios no CPC/2015
Previstos no art. 203, § 4º, do CPC/2015, os atos meramente ordinatórios (chama-
dos de despachos de mero expediente na sistemática anterior) são atos de impulso ofi-
cial (exs.: juntada de peças processuais e vista obrigatória), irrecorríveis e totalmente
desprovidos de qualquer conteúdo decisório, o que, aliás, os diferencia dos despachos,
que devem, necessariamente, ser proferidos pelo juiz e, portanto, possuem um conte-
údo decisório mínimo (ainda que também inapto a causar qualquer tipo de prejuízo
às partes – posto que, da mesma forma, são irrecorríveis justamente por isso).
Como decorrência da própria soberania estatal, sabe-se que o poder jurisdi-
cional não pode ser delegado. A arbitragem, por exemplo, que se coloca atualmente
como espécie de jurisdição (privada), tem sua regulamentação própria por lei decla-
rada constitucional pelo STF (Lei Federal nº 9.307/1996).
Por outro lado, nada impede a delegação de competência para a prática de
atos jurisdicionais não-decisórios e de atos administrativos, que é expressamente
admitida pela Constituição Federal (art. 93, XIV – EC nº 45/2004) e também pelo
CPC/2015 (art. 152, inciso VI e §1º - autorizando-se o juiz titular a editar ato a fim de
regulamentar essa atribuição do escrivão ou chefe de secretaria).
Nesse sentido, o próprio STJ já utilizou o termo delegação para se referir à prá-
tica de atos pelos serventuários da justiça: “3. Não há falar em nulidade da delegação aos
serventuários de justiça da prática de atos ordinatórios ou de mero expediente, no caso em
tela, a intimação das partes para complementação do preparo recursal. (...)”. (STJ, AgRg no
AREsp 480.543/RJ, 4ª T., j. 06.09.2016, rel. Min. Marco Buzzi, DJe 14.09.2016).
Conforme já ressaltado, embora delegáveis, os atos meramente ordinatórios
sempre serão atos do juízo, a exigir, sempre que houver necessidade, revisão pelo
magistrado competente, de ofício ou a requerimento das partes. Esse o fundamento,
inclusive, para o importante alerta da doutrina: “não pode o juiz de modo algum se

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recusar a reexaminar o ato do cartório, porque o ato seria, originalmente, ato do juízo. Caso
assim proceda, parece estar-se diante de hipótese ensejadora da impetração de mandado de
segurança contra omissão do juiz (...)”. (Teresa Arruda Alvim WAMBIER, Maria Lú-
cia Lins CONCEIÇÃO, Leonardo Ferres da Silva RIBEIRO e Rogerio Licastro Torres
de MELLO, Primeiros comentários ao Novo Código de Processo Civil, comentários ao art.
203, p. 419).

Despachos no CPC/2015
No texto anterior, analisamos brevemente os atos meramente ordinatórios, dife-
renciando-os, desde logo, dos despachos, previstos no art. 203, § 3º, do CPC/2015 (cujo
conceito é residual em relação a todos os demais pronunciamentos do juiz).
Como já se afirmou, os despachos serão sempre proferidos pelo juiz e, por
isso, abrigarão um conteúdo decisório mínimo, ainda que irrelevante e inapto a causar
prejuízo para as partes. O conteúdo decisório relevante, portanto, perfaz a linha divi-
sória entre os despachos e as decisões interlocutórias (cujo conceito é residual em relação
à sentença – art. 203, § 2º).
Ainda que haja divergência na doutrina e jurisprudência acerca desse conte-
údo decisório mínimo (ou essencial) nos despachos, há unanimidade em se afirmar
que são irrecorríveis, até mesmo diante da expressa dicção do art. 1.001 do Novo
Código.
Nesse sentido continua se manifestando o STJ: “(...) [n]a forma da jurisprudência
desta Corte, ‘não cabe agravo regimental contra despacho que determina o sobrestamento do
feito para aguardar o julgamento de recurso repetitivo, pois se trata de ato despido de conteúdo
decisório e que não gera sucumbência para quaisquer das partes (...)’”. (AgInt no AREsp
532.312/DF, 2ª T., j. 27.04.2017, rel. Min. Assusete Magalhães, DJe 04.05.2017).
No entanto, Daniel Amorim Assumpção NEVES entende que:
(...) a existência de prejuízo seja um elemento irrelevante para a distinção
entre decisão e despacho. Não vejo qualquer problema em aceitar que, ex-
cepcionalmente, um pronunciamento com conteúdo decisório mínimo seja
capaz de gerar um prejuízo às partes, hipótese em que deverá ser atacado
por meio do mandado de segurança. Também imagino a possibilidade de
uma decisão interlocutória que não gere qualquer prejuízo às partes, o que,
entretanto, não será suficiente para que tal pronunciamento seja considerado
como um despacho.

Para o autor a distinção está na “possibilidade legal de resolver a questão inci-


dental em outro sentido. Ou seja, se o pronunciamento se limita a cumprir o que está
expressamente previsto em lei, sem qualquer margem de consideração apreciativa
do juízo, o pronunciamento será um despacho”. (Manual de direito processual civil
– volume único, p. 348).

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Decisões Interlocutórias no CPC/2015
Continuando o estudo proposto acerca dos pronunciamentos do juiz, mister
se faz enfrentar o tema relacionado às decisões interlocutórias, cuja definição legal apa-
rece como “todo pronunciamento judicial de natureza decisória que não se enquadre no § 1º”
(CPC/2015, art. 203, §1º).
Trata-se, portanto, de um conceito residual em relação à sentença.
Diferentemente dos despachos, as decisões interlocutórias possuem, como re-
gra, conteúdo decisório relevante e apto a trazer prejuízo para alguma das partes, a en-
sejar a sua impugnação via recurso de agravo de instrumento (somente nas hipóteses
expressamente previstas no art. 1.015), apelação (nas demais situações – art. 1.009, § 1º)
ou mesmo mandado de segurança, como adverte parte da doutrina:

(...) a utilização desta ação para impugnar atos do juiz, à luz do CPC/73,
tornou-se muito rara. Mas, à luz do novo sistema recursal, haverá hipóteses
não sujeitas à agravo de instrumento, que não podem aguardar até a solução
da apelação. Um bom exemplo é o da decisão que suspende o andamento
do feito em 1.º grau por prejudicialidade externa. Evidentemente, há gran-
des chances de que a parte prejudicada não possa esperar”. (Teresa Arruda
Alvim WAMBIER, Maria Lúcia Lins CONCEIÇÃO, Leonardo Ferres da
Silva RIBEIRO, Rogerio Licastro Torres de MELLO, Primeiros comentá-
rios ao novo código de processo civil, comentários ao art. 1.015, p. 1614).

Interessante notar, ainda, que a nova sistemática processual civil admitiu ex-
pressamente a existência de decisões parciais de mérito, verdadeiras “sentenças par-
ciais”, como ocorre, por exemplo, nas hipóteses de julgamento antecipado parcial do
mérito (v. art. 356). Nessas situações, por expressa opção legislativa, caberá recurso
de agravo de instrumento (§ 5º).
Entretanto, não se pode alterar o conteúdo de uma decisão com base única e
exclusivamente no recurso cabível contra ela. Como há muito preconizava a Profes-
sora Teresa ARRUDA ALVIM,

O princípio da correspondência, uma das bases da estrutura do sistema re-


cursal do CPC de 1973, já não incidia em casos como o de indeferimento
liminar, por exemplo, da reconvenção ou da oposição e de outras tantas
ações incidentais, pois que se tratava (e se trata) de pronunciamento agra-
vável, mas que tinha (e tem) natureza jurídica de sentença, de acordo com o
critério do conteúdo. À luz do CPC/2015, são interlocutórias, equivalentes
às sentenças processuais.
Inegavelmente, têm natureza de sentença quando se leva em conta apenas
o critério do conteúdo, tanto a decisão que julga a liquidação de sentença,
quanto a que não acolhe, no mérito, a impugnação à execução de senten-
ça, desde que através da impugnação tenha o executado alegado matérias
como, por exemplo, pagamento, prescrição, novação etc., embora ambas,
agora, sejam agraváveis e não apeláveis (art. 1.015, parágrafo único).
Estas decisões, apesar de terem conteúdo de sentença, são classificadas pelo
CPC/2015 como interlocutórias que, estão submetidas ao recurso de agravo,

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apesar de transitarem em julgado e de serem, eventualmente, até rescindí-
veis. (Nulidades do processo e da sentença, p. 39).

Daí porque se vem convencionando chamá-las de decisões interlocutórias de mé-


rito, a fim de criar uma diferenciação terminológica em relação às decisões interlocu-
tórias puras e simples, por assim dizer.
Apesar da omissão legal (v. CPC/2015, art. 937), deverá prevalecer o entendi-
mento de que, em casos tais, é plenamente admitida a sustentação oral no agravo de
instrumento, posto que a decisão interlocutória de mérito, tendo conteúdo de sen-
tença, traz à parte o mesmo grau de lesividade e prejuízo. Ora, se o prejuízo causado
à parte é o mesmo (já que a decisão tem conteúdo de sentença), qual o sentido de se
reduzir o grau de amplitude da ampla defesa no âmbito recursal? Tratar-se-ia de
patente cerceamento.
No mesmo sentido é a indignação e o entendimento de Daniel Amorim As-
sumpção NEVES:

Há nesse rol uma inexplicável omissão. A partir do momento em que o


Novo CPC consagra as decisões interlocutórias de mérito, recorríveis por
agravo de instrumento, como não se admitir nesse caso a sustentação oral
das partes? (...) A injustificada e incompreensível omissão legislativa, en-
tretanto, não é capaz de afastar esse direito das partes, bastando para fundar
tal conclusão uma interpretação extensiva das hipóteses de cabimento. Ora,
se é cabível sustentação oral em apelação interposta contra sentença termi-
nativa, como impedi-la em agravo de instrumento interposto contra decisão
de mérito? (Novo código de processo civil, p. 476-477).

Sentenças no CPC/2015
Encerrando o ciclo de debates acerca dos pronunciamentos do juiz, trataremos
brevemente das sentenças.
Sentença, conforme dispõe o art. 203, §1º, “é o pronunciamento por meio do qual o
juiz, com fundamento nos arts. 485 e 487, põe fim à fase cognitiva do procedimento comum,
bem como extingue a execução”. Andou bem o legislador ao preferir um critério misto
(conteúdo + finalidade) para a definição de sentença, aprimorando o conceito estabele-
cido na sistemática anterior, que levava em conta apenas e tão somente o critério do
conteúdo do pronunciamento judicial (v. CPC/73, art. 162, §1º).
Agora, a sentença é definida tanto por seu conteúdo (matérias elencadas nos
arts. 485 e 487), bem como por sua finalidade (extinção da execução ou encerramento
da fase de conhecimento). Como explicado no texto anterior, o CPC/2015 também
reconheceu, naquelas decisões que decidem o mérito propriamente dito, mas não
colocam fim ao procedimento, uma nova categoria, qual seja: decisões interlocutórias
de mérito.
Destaque-se que o art. 203, §1º, primeira parte, ressalva expressamente as

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disposições próprias dos procedimentos especiais. Na lição de Alexandre Freitas
CÂMARA:
É que existem alguns desses procedimentos (como é o caso da ‘ação de
demarcação’) em que existe a previsão de um pronunciamento judicial que,
sem encerrar a fase cognitiva do processo, resolve parcialmente o mérito da
causa (art. 581) e, posteriormente, se vê outro ato, este sim destinado a dar
por encerrada a fase cognitiva do processo (art. 587). Pois a lei dá a ambos
esses pronunciamentos o nome de sentença. (...) E sendo ambos tratados
como sentenças, contra ambos é cabível a interposição de apelação. (O novo
processo civil brasileiro, p. 270).

Ainda, pela classificação básica tradicional, as sentenças podem ser definitivas


ou terminativas. A sentença será definitiva quando ocorrer uma das hipóteses des-
critas no rol do art. 487. E será terminativa ou processual quando o pronunciamento
se fundar numa das hipóteses previstas no art. 485 do CPC/2015, que elenca diversos
obstáculos de caráter procedimental que impedem o julgamento do mérito da de-
manda.
Por fim, o art. 489 trata dos elementos essenciais da sentença, quais sejam: (i) o
relatório; (ii) a fundamentação; e (iii) o dispositivo.
O relatório é um resumo imparcial do processo, que deve conter “os nomes
das partes, a identificação do caso, com a suma do pedido e da contestação, e o regis-
tro das principais ocorrências havidas no andamento do processo” (CPC/2015, art.
489, inciso I).
O dispositivo é a parte que efetivamente fica acobertada pela coisa julgada
material. É o trecho que contém a decisão final “em que o juiz resolverá as questões
principais que as partes lhe submeterem” (arts. 489, inciso III e 503). Se o juiz, no de-
cisum, deixar de analisar todos os pedidos feitos pelo autor, estar-se-á diante de uma
sentença juridicamente inexistente em relação ao pedido não analisado que, caso não
integrado ao dispositivo por uma decisão em eventuais embargos de declaração, po-
derá ser formulado novamente.
Merece destaque, dado o seu valor e a sua relevância no nosso Estado Social e
Democrático de Direito, a fundamentação, que, embora tratada no capítulo destina-
do as sentenças, é elemento fundamental de toda e qualquer decisão judicial (cf. CF,
art. 93, inciso IX).
Com a acuidade que lhe é própria, ARRUDA ALVIM nos ensina que:

Justamente porque o juiz não decide arbitrariamente – em função de sua


mera vontade – é que deve constar expressa e explicitamente da sentença a
sua fundamentação, que é pressuposto do seu controle jurisdicional. A parte
que sofre prejuízo se insurge contra os mesmos; recorrendo, tentará com-
prometer a fundamentação, pois, logrando fazê-lo, ipso facto, seu recurso
será provido, e modificada a sentença. Conquanto não se recorra de funda-
mentos, mas da conclusão, os fundamentos hão de ser atacados também, e

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como premissas do pedido de reforma da decisão.
E conclui o Professor que:

Ficam aí delineados as duas principais funções do dever de fundamentar


toda e qualquer decisão judicial: (a) evitar arbitrariedades e dar publicidade
às razões de decidir; e (b) possibilitar, com essa publicidade, o controle das
decisões através de recursos. Podem essas ser chamadas de funções internas
do dever de fundamentação. Por outro lado e complementarmente, a função
externa da motivação, que é a de permitir uma “prestação de contas” por
parte do Poder Judiciário. A sociedade como um todo deve, ao menos po-
tencialmente, controlar a atividade do Estado-juiz, pois é isso – o controle
sobre as decisões – que garante a legitimidade da função jurisdicional. Sem
fundamentação, diga-se, não há possibilidade de averiguar se há devido pro-
cesso legal. (Novo contencioso cível no CPC/2015, p. 287-288).

Prazos Processuais em Dias Úteis e Suspensão


do Curso do Prazo Processual entre 20 de Dezembro
e 20 de Janeiro de Cada Ano
Existe também a previsão no CPC/2015 de fluência dos prazos processuais
apenas nos dias úteis (art. 219), garantindo-se, principalmente às partes e aos advo-
gados, que os finais de semana não sejam tomados por preocupações profissionais
e pela busca de documentos sem que os demais órgãos de justiça estejam em horá-
rio normal de expediente administrativo (STJ, AgInt no AREsp 1064321/MS, 3ª T., j.
07.11.2017, rel. Min. Moura Ribeiro, DJe 13.11.2017).
Além disso, foi prevista a suspensão dos prazos processuais do dia 20 de de-
zembro ao dia 20 de janeiro de todos os anos (art. 220), período no qual também não
se realizarão audiências nem sessões de julgamento (§ 2º), tudo a permitir programa-
do descanso aos advogados, principalmente, não ficando, essa decisão, a cada ano, à
mercê da discricionariedade administrativa de cada órgão do Poder Judiciário.
Feliz a observação de Teresa Arruda Alvim WAMBIER, Maria Lúcia Lins CON-
CEIÇÃO, Leonardo Ferres da Silva RIBEIRO e Rogerio Licastro Torres de MELLO:

E que não se diga que a suspensão do curso processual entre 20 de dezembro


e 20 de janeiro provocará morosidade: tal suspensão não significa inatividade
judiciária, pois, a teor do § 1º do art. 220, “os juízes, os membros do Minis-
tério Público, da Defensoria Pública e da Advocacia Pública e os auxiliares
da Justiça exercerão suas atribuições durante o período previsto no caput”. Os
processos poderão ser decididos, despachados, organizados, analisados, apenas não
haverá a prática de ato processual que envolva a parte ou seu advogado. Por fim,
registramos como se aqui transcritos os comentários que fizemos ao art. 215 supra:
parece-nos que aquilo que o CPC/2015, em seu art. 215, chama de férias foren-
ses, pelas razões que acima expusemos (as férias forenses foram extintas pela EC
45/2004), deve ser entendido como a suspensão do curso processual referida no art.
220 em análise. Por tais razões, escapam à suspensão do curso processual entre 20
de dezembro e 20 de janeiro as ações arroladas nos incs. I a III do art. 215 (alimen-
tos, tutelas de urgência, nomeação ou remoção de tutor e curador, procedimentos
de jurisdição voluntária). (Primeiros comentários ao novo código de processo civil:

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artigo por artigo, comentários ao art. 220, p. 437).
As Modalidades de Cartas no CPC/2015
Esse é um tema de central importância dentro da comunicação dos atos pro-
cessuais: as diferentes modalidades de cartas no CPC/2015.
As cartas são meios de comunicação entre diferentes órgãos jurisdicionais – e
aqui se incluem os órgãos jurisdicionais arbitrais –, que se voltam à prática de atos
processuais que devam ser realizados fora dos limites da jurisdição ou competência
do órgão solicitante.
As cartas de ordem, como se sabe, serão expedidas quando a prática de algum
ato processual tiver de ser realizada por órgão jurisdicional subordinado ao tribunal
requisitante (CPC/2015, art. 237, I).
Por outro lado, quando algum ato processual deva se realizar fora do país,
o órgão jurisdicional brasileiro expedirá uma carta rogatória ao órgão jurisdicional
estrangeiro, numa ação de cooperação jurídica internacional (inciso II).
As cartas precatórias, por sua vez, abrangem todas as demais hipóteses de
comunicação entre órgãos do Poder Judiciário Brasileiro (inciso III).
Por fim, ao lado das já conhecidas cartas precatória, rogatória e de ordem, o
art. 237, inciso IV, do CPC/2015 trouxe uma novidade, qual seja: a previsão expressa
da carta arbitral, em prestígio à necessidade cada vez maior de se promover a célere
comunicação entre órgãos jurisdicionais arbitrais e estatais competentes, consolidan-
do e sistematizando o que já estava previsto no art. 22-C da Lei de Arbitragem, inclu-
ído recentemente pela Lei Federal nº 13.129/2015.
Além dos demais requisitos gerais previstos no art. 260 do Novo Código, as
cartas arbitrais deverão ser instruídas com a convenção de arbitragem e as provas
da nomeação do árbitro e da sua respectiva aceitação (§ 3º). Ainda, desde que com-
provada a confidencialidade estipulada na arbitragem, no seu cumprimento deverá
necessariamente ser observado o segredo de justiça (CPC/2015, art. 189, IV e LArb,
art. 22-C, parágrafo único).

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Nulidades Processuais
No Novo Código de Processo Civil, entre outras importantes alterações do
sistema em vigor, teremos um sistema de nulidades construído fundamentalmente a
partir do princípio do aproveitamento (art. 283, parágrafo único), do qual decorre a
regra da sanabilidade das nulidades.
Deixamos, então, de ter um sistema pautado apenas na distinção entre nuli-
dades absolutas (vícios mais graves, não sujeitos à preclusão) e nulidades relativas
(vícios menos graves, que devem ser alegados em momento oportuno, sob pena de
preclusão). Na verdade, a utilidade desta distinção serve apenas para indicar o regi-
me jurídico ao qual o vício está submetido.
Nessa linha de pensamento, vê-se que o Novo CPC se deu mais ênfase ao prin-
cípio da instrumentalidade das formas (art. 277). Importante destacar que o processo
é um instrumento para que o juiz chegue à decisão de mérito. O processo (instru-
mento) não pode ganhar contornos mais fortes que o direito material. É dizer, não
pode o juiz perder mais tempo analisando o procedimento do que o mérito.
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Assim, passaremos a ter um processo no qual todos os tipos de vícios podem
ser sanados, mesmo os vícios graves. A possibilidade de se “consertar” um defeito
deixa de estar ligada à sua gravidade, passando a se relacionar com a possibilidade
material de o defeito ser convalidado e com a inexistência de risco à ofensa de outro
direito.
Os vícios, então, devem ser, sempre que possível, relevados (não decretados,
pois não geram prejuízos) ou corrigidos.
Espera-se que essa linha nítida que transparece em todo o Novo CPC deses-
timule a jurisprudência defensiva, na qual os tribunais, ao se verem assoberbados
de trabalho, quase como se estivessem se protegendo do jurisdicionado, negam se-
guimento ao recurso pela falta de preenchimento de algum requisito extrínseco ou
mesmo de algum requisito que não existe. 
À luz da nova lei, por exemplo, não pode mais haver inadmissibilidade do
recurso por ter sido interposto antes do prazo ou pelo preenchimento incorreto da
guia de preparo (arts. 218, § 4º e 1.007, § 7º), dentre outras situações (cf., STJ, AgInt
no REsp 1664218/PR, 2ª T., j. 16.11.2017, rel. Min. Francisco Falcão, DJe 22.11.2017 e
AgInt no AREsp 1068883/RS, 4ª T., j. 17.10.2017, rel. Min. Antonio Carlos Ferreira, DJe
20.10.2017).
Por consequência, evita-se o chamado processo “bumerangue”, aquele que
volta por meio de uma rescisória ou do ajuizamento da mesma ação novamente
(quando a ação for extinta sem julgamento de mérito).
Da mesma forma, essa nova dinâmica processual que se avizinha também terá
efeitos práticos na forma da conduta processual das partes. Repisa-se que as partes
devem passar a ter uma atuação cooperativa ao longo do processo, de forma que
exigência de boa-fé processual fica ainda mais acentuada (arts. 5º e 6º).

Não Há Nulidade Sem Prejuízo!


As nulidades processuais são tema fundamental dentro da nova sistemática
processual civil brasileira.
Ao enfrentar a questão nos arts. 276 a 283, o CPC/2015 destaca a instrumenta-
lidade das formas, o aproveitamento dos atos processuais em geral e a sanabilidade
de todo e qualquer vício processual.
Por instrumentalidade, deve-se entender a preservação da validade do ato
processual que, mesmo maculado por algum vício de forma, atinge corretamente o
seu objetivo, a sua finalidade, sem causar prejuízo (arts. 277 e 282, § 1º).
Daí se dizer que não há nulidade sem prejuízo:

Aplicando-se a instrumentalidade das formas, por exemplo, tem-se que a


falta de indicação do valor da causa (requisito da petição inicial) não acar-

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reta, por si só, a nulidade do processo (STJ, AR 4.187/SC). De forma geral,
a instrumentalidade das formas processuais submete-se ao postulado de que
não há nulidade sem prejuízo (pas de nullité sans grief), cuja aplicação em
nossa lei se encontra no § 1º do art. 282. (ARRUDA ALVIM, Novo conten-
cioso cível no CPC/2015, p. 128).

Nesse sentido, observe-se que mesmo a ausência de intimação do membro


do Ministério Público em demanda na qual deveria intervir não acarreta, por si só, a
nulidade do processo, que dependerá, nessa hipótese, de expressa manifestação do
representante do Parquet acerca da existência de prejuízo no caso concreto (art. 279,
§ 2º) (v., STJ, AgInt no AREsp 969.710/BA, 3ª T., j. 07.11.2017, rel. Min. Paulo de Tarso
Sanseverino, DJe 13.11.2017).
Não se pode olvidar – e isso é essencial para a boa compreensão desse tema
– que o regime das nulidades processuais não se confunde com aquele próprio das
nulidades de direito material. No processo, a princípio, todos os vícios, sejam eles
absolutos (de fundo) ou relativos (de forma), são sempre sanáveis.
Na exata lição de Teresa Arruda Alvim WAMBIER, Maria Lúcia Lins CON-
CEIÇÃO, Leonardo Ferres da Silva RIBEIRO e Rogerio Licastro Torres de MELLO:

A distinção entre as nulidades relativas e absolutas no processo não


tem senão a função de estabelecer o regime jurídico destes vícios, no
que diz respeito a dois aspectos: (a) à possibilidade de o juiz deles
conhecer sem provocação da parte e (b) à existência ou à ausência de
preclusão quer para o juiz, quer para as partes. No mais, a distinção
perde importância, já que ambas as espécies de vícios são sanáveis,
o que não ocorre no direito privado. (Primeiros comentários ao novo
código de processo civil, p. 514).

A mensagem do legislador é uma só: o processo deve sempre representar a


máxima utilidade da prestação jurisdicional, buscando-se, a todo momento, corrigir
desvios e sanar vícios, intimando-se as partes para também participarem ativamente
desse mesmo trabalho, tudo a fim de se chegar à justa e efetiva resolução do mérito,
à pacificação social.

Tutela Provisória
Consagrada no Livro V, da Parte Geral, do Novo Código de Processo Civil,
à tutela provisória, gênero do qual são espécies a tutela de urgência (cautelar ou
antecipada) e a tutela da evidência, são dedicados os artigos 294 a 311 (v. quadro
esquemático abaixo).
Em seus três títulos distintos, o aludido Livro do CPC/2015 trata das disposições
gerais à tutela provisória (Título I – arts. 294 a 299), da tutela de urgência (Título II: sub-
dividido em três capítulos – arts. 300 a 310) e da tutela da evidência (Título III – art. 311).

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De início, verifica-se que o CPC/2015 preferiu adotar a terminologia clássica e
distinguir a tutela provisória, fundada em cognição sumária, da definitiva, baseada
em cognição exauriente. Daí porque a tutela provisória (de urgência ou da evidên-
cia), quando concedida, conserva a sua eficácia na pendência do processo, mas pode
ser, a qualquer momento, revogada ou modificada (art. 296).
Ainda, cabe dizer que a competência para o seu conhecimento será do juízo
da causa ou, quando requerida em caráter antecedente, ao juízo competente para o
pedido principal (art. 299), podendo, o magistrado, determinar as medidas que con-
siderar adequadas para a sua efetivação (art. 297).
Especificamente a tutela de urgência, espécie de tutela provisória, subdivide-
se, como já ressaltado, em tutela de urgência antecipada e tutela de urgência cautelar,
que podem ser requeridas e concedidas em caráter antecedente ou incidental (art.
294, parágrafo único).
Parece que, de tanto a doutrina tentar diferenciar as tutelas antecipada e cau-
telar, o resultado alcançado foi, em verdade, a aproximação entre essas duas tutelas
jurisdicionais fundadas na urgência, isto é, na necessidade que seja dada uma solu-
ção, ainda que provisória, a determinada situação grave e que tem o tempo como
inimigo.
Nesse sentido, o art. 300, caput, do Novo Código, deixa claro que os requisitos
comuns para a concessão da tutela provisória de urgência (repita-se: seja ela anteci-
pada ou cautelar) são: (i) probabilidade do direito (fumus boni iuris); e (ii) perigo de
dano ou risco ao resultado útil do processo (periculum in mora).
Observa-se, portanto, que o CPC/2015 acertadamente abandonou a expressão
“prova inequívoca da verossimilhança”, presente no revogado art. 273 do CPC/73. Eis a con-
clusão estampada no Enunciado nº 143 do Fórum Permanente de Processualistas Civis:
(art. 300, caput) A redação do art. 300, caput, superou a distinção entre os
requisitos da concessão para a tutela cautelar e para a tutela satisfativa de
urgência, erigindo a probabilidade e o perigo na demora a requisitos comuns
para a prestação de ambas as tutelas de forma antecipada. (Grupo: Tutela
Antecipada).

Para a concessão da tutela de urgência, o juiz ainda poderá exigir caução real
ou fidejussória idônea para ressarcir os danos que a outra parte possa vir a sofrer,
podendo ser dispensada se a parte economicamente hipossuficiente não puder ofe-
recê-la (art. 300, § 1º).
Essa disposição se liga ao artigo 302, que estabelece as hipóteses nas quais,
sem prejuízo de eventual indenização por dano processual, a parte beneficiária da
tutela de urgência responderá pelos prejuízos que a efetivação da medida houver
causado à outra parte, quais sejam: (i) – quando a sentença lhe for desfavorável; (ii) –

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quando obtida liminarmente a tutela em caráter antecedente, não fornecer os meios
necessários para a citação do requerido no prazo de 5 (cinco) dias; (iii) – quando
ocorrer a cessação da eficácia da medida em qualquer hipótese legal; (iv) – quando o
juiz acolher a alegação de decadência ou prescrição da pretensão do autor.
O parágrafo único desse dispositivo ainda estabelece que a “indenização será
liquidada nos autos em que a medida tiver sido concedida, sempre que possível”.
Por fim, destaca-se que haverá a possibilidade de realização de justificação
prévia para a concessão da tutela de urgência (art. 300, § 2º) e também que a “tutela
de urgência de natureza antecipada não será concedida quando houver perigo de
irreversibilidade dos efeitos da decisão” (§ 3º).

Tutelas Provisórias de Urgência em


Caráter Antecedente
Os artigos 303 e 304 do CPC/2015 tratam da tutela antecipada requerida em
caráter antecedente, a fim de possibilitar, nos casos em que a urgência for contempo-
rânea à propositura da ação, que a petição inicial se limite ao pedido de antecipação
da tutela jurisdicional e à mera indicação do pedido de tutela final, “com a exposição

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da lide, do direito que se busca realizar e do perigo de dano ou do risco ao resultado útil do
processo” (art. 303, caput).
Concedida a tutela antecipada, deverá o autor, então, nos mesmos autos e sem
a incidência de novas custas processuais, aditar a petição inicial no prazo de 15 dias
(podendo o juiz estabelecer outro prazo maior), juntando documentos novos e con-
firmando o pedido de tutela definitiva, sob pena de extinção do processo sem resolu-
ção de mérito (art. 303, §§ 1º, inciso I, 2º e 3º).
O réu, então, diante do aditamento supramencionado, será citado para a audi-
ência de tentativa de conciliação ou mediação que, caso reste infrutífera, marcará, via
de regra, o início do prazo de 15 dias para a apresentação da contestação (CPC/2015,
arts. 303, § 1º, incisos II e III, 334 e 335).
Até esse ponto não há grandes novidades.
O artigo 304 do CPC/2015 inova (e muito) no tratamento da matéria. Assim
ele dispõe expressamente: “A tutela antecipada, concedida nos termos do art. 303, torna-se
estável se da decisão que a conceder não for interposto o respectivo recurso”.
Da decisão que conceder a tutela antecipada em caráter antecedente caberá
o recurso de agravo de instrumento (CPC/2015, art. 1.015, inciso I). No entanto, não
impugnada, a tutela de urgência antecipada concedida provisoriamente se estabiliza
e o processo é extinto (art. 304, § 1º).
Num primeiro momento, a leitura rápida do dispositivo parece sugerir que o
réu, para não ver estabilizada a tutela provisória e extinto o processo, é obrigado a
interpor recurso de agravo de instrumento contra a decisão que concedeu a tutela de
urgência antecipada em caráter antecedente. Pela interpretação literal do dispositivo,
caso o réu deseje apenas contestar a demanda, por exemplo, a tutela provisória já
estaria estabilizada e o processo já estaria extinto muito provavelmente antes mesmo
da audiência de tentativa de conciliação ou mediação. Não deve prevalecer, portan-
to, essa interpretação contraditória do Novo Código, tornando obrigatório o recurso
nesse caso.
Nesse sentido também as palavras de Teresa Arruda Alvim WAMBIER, Ma-
ria Lúcia Lins CONCEIÇÃO, Leonardo Ferres da Silva RIBEIRO e Rogerio Licastro
Torres de MELLO:

O caput traz a informação de que a tutela antecipada requerida de forma an-


tecedente, nos termos do art. 303 anterior, torna-se estável se da decisão que
a conceder não for interposto o respectivo recurso. Numa interpretação lite-
ral, o que terá o condão de ditar, ou não, a estabilização, será a providência
recursal. Não havendo recurso, a decisão que antecipou a tutela tornar-se-á
estável e o processo será extinto (§ 1º). Frise-se: pela letra da lei, não basta
que o réu conteste a demanda. Se não houver recurso da decisão que ante-
cipou a tutela, esta se tornará estável e o processo, com ou sem contestação,
será extinto. Essa forma de interpretação, a nosso ver, não pode prevalecer.

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Em verdade, qualquer forma de oposição (v.g., contestação, reconvenção)
deve ter o condão de evitar a extinção do processo. Basta a resistência, a ma-
nifestação do inconformismo do réu, a qual, pode se dar não só pelo recurso.
A vingar uma interpretação literal antevê-se um risco potencial de aumento
dos agravos de instrumento nessa situação, pois a parte seria obrigada a
lançar mão do recurso se quiser que a ação prossiga e seja julgado o pedido
final. (...). (Primeiros comentários ao novo código de processo civil: artigo
por artigo, comentários ao art. 304, p. 565).

A parte que desejar rever, reformar ou invalidar a tutela provisória estabili-


zada deverá ajuizar nova demanda em face da outra, nos exatos termos do art. 304,
§ 2º, do CPC/2015. Esse direito deve ser exercido no prazo decadencial de 02 anos,
contados da ciência da decisão que extinguiu o processo (§ 5º). Entretanto, como o
Novo Código adota posicionamento explícito no sentido de que a decisão proferida
em cognição superficial não faz coisa julgada material (§ 6º), forçoso será também
concluir, nesses termos, que nada obsta que, mesmo após o prazo decadencial de 02
anos, a parte que se sinta prejudicada ingresse com nova demanda a fim de discutir
o mesmo bem da vida. Não poderá rever a tutela provisória dada e estabilizada, mas
poderá ajuizar nova ação com idêntico conteúdo.
De outra parte, em relação à tutela cautelar em caráter antecedente, preferiu o
CPC/2015 adotar procedimento distinto.
A petição inicial “indicará a lide e seu fundamento, a exposição sumária do direito que
se objetiva assegurar e o perigo de dano ou o risco ao resultado útil do processo” (CPC/2015,
art. 305, caput). O réu será citado para contestar o pedido de tutela provisória em 05
dias, indicando as provas que pretende produzir, situação na qual o procedimento
comum deverá ser observado. Não contestando, presumir-se-ão aceitos os fatos ale-
gados na exordial e o juiz deve decidir a tutela provisória em 05 dias (arts. 306 e 307).
Existe expressa menção à fungibilidade entre as tutelas de urgência cautelar e
antecipada (CPC/2015, art. 305, parágrafo único).
Efetivada a tutela provisória de urgência cautelar antecedente (CPC/2015, art.
301 – Enunciado nº 31 do Fórum Permanente de Processualistas Civis: “O poder geral
de cautela está mantido no CPC/2015”), o autor poderá aditar a causa de pedir e deverá
formular, nos mesmos autos e sem novas custas, o pedido principal (que também
poderá vir acompanhado de requerimento de tutela antecipada) no prazo de 30 dias,
sob pena de cessação da eficácia da tutela cautelar concedida (arts. 308, caput e §§ 1º
e 2º, e 309, inciso I). Nessa situação, as partes serão intimadas para a audiência de
conciliação ou mediação, seguindo-se o rito previsto nos artigos 334 e 335 do Novo
Código.
Por fim, cabe ressaltar que, “se por qualquer motivo cessar a eficácia da tutela cau-
telar, é vedado à parte renovar o pedido, salvo sob novo fundamento” (CPC/2015, art. 309,
parágrafo único).
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Além disso, “o indeferimento da tutela cautelar não obsta a que a parte formule o
pedido principal, nem influi no julgamento desse, salvo se o motivo do indeferimento for o
reconhecimento de decadência ou de prescrição” (art. 310).
Observa-se, portanto, que, a depender da natureza satisfativa ou puramente
cautelar, há uma diferenciação clara de procedimentos quando se tratar de uma tute-
la provisória de urgência concedida em caráter antecedente.

Tutela da Evidência
O artigo 311 do Novo Código trata especificamente da tutela da evidência,
destacando que, “independentemente da demonstração de perigo de dano ou de risco ao re-
sultado útil do processo”, a tutela da evidência será concedida nas seguintes hipóteses:

I - ficar caracterizado o abuso do direito de defesa ou o manifesto propósito


protelatório da parte;
II - as alegações de fato puderem ser comprovadas apenas documentalmen-
te e houver tese firmada em julgamento de casos repetitivos ou em súmula
vinculante;
III - se tratar de pedido reipersecutório fundado em prova documental ade-
quada do contrato de depósito, caso em que será decretada a ordem de en-
trega do objeto custodiado, sob cominação de multa;
IV - a petição inicial for instruída com prova documental suficiente dos
fatos constitutivos do direito do autor, a que o réu não oponha prova capaz
de gerar dúvida razoável.

De início, cabe a advertência:

(...). Tais situações não se confundem, todavia, com aquelas em que é dado
ao juiz julgar antecipadamente o mérito (arts. 355 e 356), porquanto na
tutela de evidência, diferentemente do julgamento antecipado, a decisão
pauta-se em cognição sumária e, portanto, traduz uma decisão revogável e
provisória. (...). (Teresa Arruda Alvim WAMBIER, Maria Lúcia Lins CON-
CEIÇÃO, Leonardo Ferres da Silva RIBEIRO, e Rogerio Licastro Torres de
MELLO. Primeiros comentários ao novo código de processo civil: artigo
por artigo, comentários ao art. 311, p. 578).

Em primeiro lugar, deve-se destacar o óbvio: na tutela da evidência, não se


exige urgência. Daí porque houve efetiva diferenciação entre essas duas espécies de
tutela provisória. Entretanto, apesar de não expressamente previsto pelo dispositivo
legal ora comentado, a nosso ver, as hipóteses de concessão da tutela da evidência
devem se somar à probabilidade do direito do requerente. Trata-se de uma interpre-
tação que leva em conta a natureza dessa tutela (do direito evidente) e a coerência
contida no “espírito” das hipóteses legais supramencionadas.
Do contrário, poder-se-ia imaginar uma situação na qual, embora não exista
nenhuma “evidência” (probabilidade) de seu direito, o autor obtenha a concessão de
uma tutela provisória (da evidência) diante da simples caracterização do abuso do

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direito de defesa ou do manifesto propósito protelatório da parte (CPC/2015, art. 311,
inciso I). Com isso não se está querendo defender que essas condutas não tenham
que ser gravemente punidas e combatidas, mas fato é que elas não influem em nada
no mérito da demanda ou na maior ou menor probabilidade do direito do autor.
Além disso, à exceção da hipótese prevista no inciso I do art. 311 do CPC/2015,
todas as outras fazem referência a aspectos jurídicos ou fáticos que traduzem a evi-
dência do direito do autor, quais sejam: comprovação documental das alegações de
fato somada à “tese firmada em julgamento de casos repetitivos ou em súmula vinculante”
(II); “prova documental adequada do contrato de depósito” (III); e “prova documental sufi-
ciente dos fatos constitutivos do direito do autor, a que o réu não oponha prova capaz de gerar
dúvida razoável” (IV).
Forçoso, pois, concluir que, mesmo na situação de abuso do direito de defesa e
manifesto propósito protelatório da parte, o outro litigante deverá também compro-
var a evidência e a probabilidade do seu direito.
Ainda, acrescenta o parágrafo único do art. 311 do CPC/2015 que o magistra-
do poderá decidir liminarmente nas situações descritas nos incisos II e III. Mesmo
porque, nos incisos I e IV, o juiz somente poderá formar sua convicção (ainda que
fundada em cognição superficial) após a apresentação de defesa pelo réu.
Por fim, pertinente a observação de Daniel Amorim Assumpção NEVES:

(...) Distanciando-se do Projeto originário de Novo CPC, na redação final


do diploma legal não há previsão para o pedido antecedente de tutela da
evidência. Dessa forma, há um tratamento heterogêneo entre as diferentes
espécies de tutela provisória: enquanto a tutela de urgência pode ser pedida
de forma antecedente e incidental, a tutela da evidência só pode ser pedida
de forma incidental. É claro que, nas duas hipóteses de tutela da evidên-
cia em que não cabe sua concessão liminarmente, não haverá possibilidade
material de seu pedido ocorrer de forma antecedente; mas nas duas outras,
nas quais a concessão pode ou deve ser liminar, é plenamente possível se
imaginar um pedido de forma antecedente. Como o Novo CPC não trata
dessa possibilidade, é possível ao intérprete propugnar pela aplicação por
analogia do procedimento previsto para o pedido antecedente de tutela ante-
cipada. (Novo Código de Processo Civil: inovações, alterações e supressões
comentadas, p. 219).

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PARTE ESPECIAL

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Procedimento Comum e Incidentes Processuais
Seguindo a orientação de tornar o processo mais ágil, reduzindo o número
de incidentes que paralisam o curso do feito, o Novo CPC concentra de forma acen-
tuada a matéria de defesa na contestação. Em contrapartida, criaram-se incidentes
processuais reputados essenciais, como, por exemplo, aquele destinado a resolver
sobre a aplicabilidade da teoria da desconsideração da pessoa jurídica.
Ainda, algumas matérias que eram objeto de incidentes processuais específi-
cos, como, por exemplo, a exceção de incompetência relativa, a impugnação ao valor
da causa e a justiça gratuita, passam a ser matérias das preliminares da contestação,
sem a necessidade de instauração de incidente processual autônomo (arts. 64 e 337,
II, III e XIII).
As exceções de suspeição e impedimento deixam de existir como tal, mas es-
sas matérias devem ser arguidas mediante petição acompanhada de prova, docu-
mental e/ou testemunhal (arts. 146 e 147), colaborando com a instrumentalidade do
processo, o que proporciona maior agilidade ao fluxo processual.

Petição Inicial
Responsável por despertar a atividade jurisdicional de sua inércia, o protocolo
da petição inicial marca o momento da propositura da demanda, surgindo para o réu,
a partir da citação válida, os efeitos processuais correspondentes (CPC/2015, arts. 2º,
240 e 312).
A esse respeito, exata a lição do Professor ARRUDA ALVIM:

A petição inicial é a peça escrita que, por meio de pedidos, veicula as pre-
tensões da parte autora. A palavra pretensão, que expressa afirmação de um
direito (art. 189 do CC/2002), é o desdobramento prático de como o autor
deseja que o seu interesse prepondere sobre o do réu. O autor define a sua
pretensão como representativa de interesse juridicamente protegido, o que,
por exclusão, implica ser a situação do réu tida por aquele como configura-
dora de mero interesse. Será a sentença, ao final, que confirmará, ou não, tal
definição, verificando se o autor tem ou não razão. (Novo contencioso cível
no CPC/2015, p. 154).

Também são os pedidos veiculados na inicial que delimitam o conteúdo da


lide, sobre os quais se debruçará o réu para exercer o seu constitucional direito ao
contraditório e à ampla defesa, corolários lógicos do devido processo legal (CF, art.
5º, incisos LIV e LV).
A sentença judicial, portanto, não poderá extrapolar esses limites (decisões
ultra e extra petita) ou simplesmente ignorá-los ou esquecê-los (decisões infra/citra pe-
tita), sob pena de restar viciada.
Dentre os requisitos da petição inicial destacados pelo rol do art. 319 do Novo

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Código, podem ser ressaltados como novidades: a exigência de indicação do ende-
reço eletrônico do autor e do réu (ii) e a opção do autor pela realização ou não de
audiência de conciliação ou mediação (vii) – ainda que se discuta acerca da necessi-
dade ou não de designação da referida audiência quando somente uma das partes
manifesta a sua discordância (v. art. 334, §4º, inciso I).
Vale lembrar também que a indicação do dispositivo legal não é requisito da
petição inicial e, ainda que existente, não vincula o órgão julgador (v. Enunciado nº
281 do FPPC) – da mihi factum, dabo tibi jus.
Por fim, outra inovação digna de evidência é aquela prevista pelo art. 321,
caput, em sua parte final:

O juiz, ao verificar que a petição inicial não preenche os requisitos dos arts.
319 e 320 ou que apresenta defeitos e irregularidades capazes de dificultar o
julgamento de mérito, determinará que o autor, no prazo de 15 (quinze) dias,
a emende ou a complete, indicando com precisão o que deve ser corrigido
ou completado.
Parágrafo único. Se o autor não cumprir a diligência, o juiz indeferirá a
petição inicial.

A medida é bastante salutar, além de prestigiar a cooperação entre todos os


sujeitos processuais (CPC/2015, art. 6º), a incluir o magistrado, sempre atento ao prin-
cípio da sanabilidade dos vícios processuais e responsável zeloso pela viabilização
do julgamento de mérito da demanda, escopo principal da atividade jurisdicional.

Pedido
O pedido constitui um dos elementos da ação, ao lado das partes e da causa
de pedir. Tratado pelo CPC/2015, nos arts. 322 e ss., pode-se dizer que o pedido é o
próprio núcleo do litígio.
Fundamentalmente, o pedido pode ser analisado sob dois aspectos, que cor-
respondem ao seu objeto, quais sejam: (i) imediato e (ii) mediato. O pedido imediato
corresponde à providência jurisdicional pretendida (por exemplo, a condenação do
réu ao pagamento de danos materiais e morais), enquanto o mediato, ao bem da vida
tutelado (reconstituição do patrimônio do autor, por exemplo).
Como regra geral, o pedido deve ser certo e determinado, ou seja, deve ser
explícito e específico em qualidade e quantidade, consoante determinação expressa
nos arts. 322 e 324, do CPC/2015, isso porque é o pedido que define os limites da lide
e posiciona o demandado no que diz respeito à defesa.
Entretanto, o legislador previu expressamente as hipóteses nas quais poderão
ser formulados pedidos implícitos e genéricos. Em decorrência do princípio da cau-
salidade, o art. 322, § 1º prevê que “compreendem-se no principal os juros legais, a correção

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monetária e as verbas de sucumbência, inclusive os honorários advocatícios”. As hipóteses
de pedido genérico, por outro lado, decorrem da impossibilidade de se determinar,
no momento da propositura da ação, a dimensão e extensão das consequências da-
nosas do ato (art. 324, § 1º).
No que diz com as hipóteses de cumulação de pedidos, pode-se destacar: (i)
cumulação simples, quando são formulados dois ou mais pedidos em face do mesmo
réu; (ii) cumulação sucessiva, quando existe uma relação de prejudicialidade entre os
pedidos formulados, de forma que o segundo só será analisado se o pedido principal
for acolhido; (iii) cumulação subsidiária, quando existe relação de preferência entre os
pedidos, havendo, portanto, um pedido principal, de sorte que o segundo pedido só
será analisado se o magistrado rejeitar o primeiro; e, por fim, (iv) cumulação alterna-
tiva, quando, para o autor, o acolhimento de um ou de outro pedido é indiferente.
O CPC/2015 previu expressamente, no art. 322, § 2º, como critério de interpre-
tação do pedido a boa-fé, revogando a regra de interpretação restritiva, prevista no
art. 293, do CPC/73. Na corretíssima lição de Alexandre Freitas CÂMARA,

(...). É que, com a dedução de uma demanda em juízo, o autor gera – no ór-
gão jurisdicional e no demandado – expectativas que devem ser levadas em
consideração no momento da interpretação do pedido. Assim, por exemplo,
se o autor passou toda a inicial a descrever um vício de consentimento de
um contrato, gera-se, tanto para o demandado como para o órgão jurisdi-
cional, a legítima expectativa de que aquela será uma demanda de anulação
do negócio jurídico. Pode ocorrer, porém, de o autor escrever, em seu texto,
que pretende a rescisão do contrato. O princípio da boa-fé, porém, exige
que tal pedido seja interpretado como a manifestação de uma pretensão de
anulação (e não de rescisão) do negócio. (O novo processo civil brasileiro,
p. 197-198).

Cabe ainda ressaltar que o pedido poderá ser alterado sem o consentimento do
réu, dependendo do momento processual, conforme prevê o art. 329 do CPC/2015.
Apreciando o tema, o FPPC editou o Enunciado nº 490 que dispõe sobre a
possibilidade de existir negócio jurídico processual prevendo a “anuência prévia para
aditamento ou alteração do pedido ou da causa de pedir até o saneamento”.

Reconvenção
Destacaremos quatro aspectos sobre o instituto da reconvenção, tratado pelo
art. 343, que entendemos importantes, quais sejam: (i) momento e forma adequados;
(ii) autonomia e recurso cabível; (iii) reconvenção subjetivamente ampliativa; e (iv)
reconvenção da reconvenção.
Na linha adotada pelo CPC/2015, de simplificação de procedimentos e garan-
tia de economia processual, a reconvenção deverá ser apresentada pelo réu na pró-
pria contestação, abrangendo pretensão própria conexa com a ação principal ou com

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o fundamento da defesa (art. 343, caput). Por outro lado, não desejando contestar, o
§ 6º do mesmo dispositivo expressamente autoriza a propositura da reconvenção
independentemente da contestação.
A doutrina e a jurisprudência (v. STJ, REsp. 1.335.994/SP, 3ª T., j. 12.08.2014, rel.
Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, DJe 18.08.2014) já vinham flexibilizando as regras le-
gais sobre a reconvenção. Tanto que existe o Enunciado nº 45 do Fórum Permanente
de Processualistas Civis (FPPC) no seguinte sentido:

(art. 343) Para que se considere proposta a reconvenção, não há necessidade


de uso desse nomen iuris, ou dedução de um capítulo próprio. Contudo, o
réu deve manifestar inequivocamente o pedido de tutela jurisdicional quali-
tativa ou quantitativamente maior que a simples improcedência da deman-
da inicial. (Grupo: Litisconsórcio, Intervenção de Terceiros e Resposta do
Réu).

O artigo 317 do CPC/73 foi praticamente repetido pelo § 2º do artigo 343 do


CPC/2015, dispondo sobre a autonomia da reconvenção em relação à contestação, no
sentido de que “a desistência da ação ou a ocorrência de causa extintiva que impeça o exame
de seu mérito não obsta ao prosseguimento do processo quanto à reconvenção”.
Nesse sentido, vale o destaque:

(...). Observe-se que o mesmo ocorrerá na hipótese do julgamento anteci-


pado da reconvenção, que não impedirá o prosseguimento normal da ação
principal e vice-versa, o julgamento antecipado do mérito da ação principal
não afetará o curso da ação reconvencional. Não é por outra razão que o
legislador do CPC/2015 não repetiu a regra do art. 318 do CPC/73, de que
ação e reconvenção deveriam ser julgadas na mesma sentença. O art. 356 do
CPC/2015 dispõe expressamente sobre a possibilidade do julgamento ante-
cipado parcial do mérito. (Teresa Arruda Alvim WAMBIER; Maria Lúcia
Lins CONCEIÇÃO; Leonardo Ferres da Silva RIBEIRO; Rogerio Licastro
Torres de MELLO, Primeiros comentários ao novo código de processo ci-
vil: artigo por artigo, comentários ao art. 343, p. 664).

Sobre o recurso cabível, continuam os mesmos autores: “É cabível o recurso de


agravo de instrumento das decisões de indeferimento liminar da reconvenção (art.
354, parágrafo único), bem como das decisões de julgamento antecipado parcial do
mérito (art. 356, § 5º)” (p. 664).
Talvez a maior novidade em relação ao tema sejam as possibilidades, expres-
samente acolhidas pelo art. 343, §§ 3º e 4º, do CPC/2015, de o réu apresentar recon-
venção em face do autor e de terceiro (que obviamente deverá ser citado para inte-
grar a demanda) e de o réu apresentar, em litisconsórcio com terceiro, reconvenção
em face do autor. Trata-se da reconvenção subjetivamente ampliativa, não admitida
pela doutrina com base no CPC/73, que sempre exigiu a identidade de partes entre

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ação principal e reconvenção. Ainda, o § 5º do mesmo dispositivo legal, claramente
combatendo o que dispunha o art. 315, parágrafo único, do CPC/73, autoriza que, “se
o autor for substituto processual, o reconvinte deverá afirmar ser titular de direito em
face do substituído, e a reconvenção deverá ser proposta em face do autor, também
na qualidade de substituto processual”. As polêmicas sobre legitimidade envolven-
do a reconvenção, portanto, parecem ter sido resolvidas pelo CPC/2015.
Por fim, cumpre dizer que, apresentada reconvenção pelo réu no bojo da con-
testação, o autor será intimado, na pessoa de seu advogado, para apresentar resposta
no prazo de 15 dias (CPC/2015, art. 343, § 1º).
Observe-se que o Novo Código utiliza a palavra “resposta”, em vez de “con-
testação”, como fazia o artigo 316 do CPC/73. Diante disso, parece não restar dúvidas
quanto à possibilidade de apresentação de reconvenção da reconvenção (reconven-
ções sucessivas), podendo o juiz, entretanto, a nosso ver, indeferir o pedido se vis-
lumbrar prejuízo para o regular andamento do processo.

Saneamento Compartilhado
O saneamento, totalmente reformulado pelo artigo 357 do CPC de 2015, resol-
ve algumas polêmicas doutrinário-jurisprudenciais e traz novas e interessantíssimas
possibilidades para as partes e o juiz melhor adequarem e direcionarem a produção
probatória àquilo que realmente interessa: os pontos controvertidos.
Segundo o aludido dispositivo legal, será o momento processual adequado
para, por exemplo, definir a distribuição (dinâmica) do ônus da prova (art. 373), con-
solidando entendimento pacificado no Superior Tribunal de Justiça de que se trata
de regra de instrução – e não de julgamento –, a evitar as chamadas “decisões-sur-
presa” no processo civil (STJ, REsp. 802.832/MG, 2ª S., j. 13.04.2011, rel. Min. Paulo de
Tarso Sanseverino, DJe 21.09.2011).
Nas observações de Cassio Scarpinella BUENO:

O art. 357 vai muito além do tímido art. 331 do CPC de 1973, cuja função
precípua, desde que passou a ser chamado, pela Lei n. 10.444/2002, de “audiên-
cia preliminar”, foi esquecida, máxime nos casos em que a realização daquela
audiência é, por ele mesmo, dispensada (art. 331, § 3º, do CPC de 1973). Ele
permite, outrossim, que abandonemos de vez a insuficiente nomenclatura em-
pregada na versão original do CPC de 1973 – e subsiste até o advento da referida
Lei de 2002 –, qual seja, “despacho saneador”. Nunca houve, é esta verdade, um
despacho saneador. O que havia era o proferimento de uma decisão, que nada
saneava mas, bem diferentemente, que reconhecia que o saneamento do proces-
so havia sido realizado a contento ou, quando menos, que determinava a prática
de atos em prol do saneamento. O CPC de 2015 vem para colocar as coisas no
seu devido lugar, e o art. 357 permite que a real finalidade deste instante procedi-
mental seja alcançado: saneamento (no sentido amplo que acabei de evidenciar)
e organização do processo com vistas a prepará-lo adequadamente para a fase
instrutória. (Manual de direito processual civil, p. 299).

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Ainda, será facultado às partes apresentar ao juiz, para homologação, delimi-
tação consensual das questões de fato sobre as quais recairá a atividade probatória e
das questões de direito relevantes para a decisão de mérito, a qual, se homologada,
vinculará as partes e o magistrado (art. 357, § 2º).
Por fim, cabe dizer que talvez um dos melhores exemplos da aplicação do
princípio da cooperação no Novo Código seja efetivamente a possibilidade de o ma-
gistrado, dependendo da complexidade da demanda, designar audiência para que
“o saneamento seja feito em cooperação com as partes, oportunidade em que o juiz, se for o
caso, convidará as partes a integrar ou esclarecer suas alegações” (art. 357, § 4º).
Nessa audiência de saneamento compartilhado (ou em cooperação), devem as
partes, inclusive, levar os respectivos róis de testemunhas (art. 357, § 5º), a fim de que
já sejam apresentadas eventuais objeções e aclarados os pontos que, de certa forma,
obscurecem a chegada ao mérito da demanda.
O que se pretende é evitar a perda de tempo com a resolução de questões e in-
cidentes processuais que muitas vezes nada tem a ver com o mérito e possuem con-
tornos meramente protelatórios. Além disso, com a possibilidade de se praticar atos
processuais em efetiva cooperação, as partes, ainda que indiretamente, obrigam-se a
não ter atitudes processuais posteriores contraditórias ao que foi acordado, sob pena
de ferimento da boa-fé objetiva que deve nortear a sua conduta no âmbito processual
(art. 5º e a proibição do venire contra factum proprium non potest).
Pedimos vênia para repetir: a resolução do mérito passa a ser sinônimo de
efetividade, pois é o que, de fato, resolve a questão de direito material e contribui
para a pacificação social. Essa posição política, por assim dizer, do CPC de 2015 fica
muito clara em inúmeros outros dispositivos, que exigem uma postura proativa do
magistrado na busca constante da correção das nulidades e do julgamento do mérito
da demanda (CPC/2015, arts. 76; 139, inciso IX; 317; 321; 357, inciso IV; 370; 932, pa-
rágrafo único; 938, § 1º; 1.007, § 7º; 1.017, § 3º e 1.029, § 3º).

Distribuição Dinâmica do Ônus da Prova


Importantíssima a consagração da teoria da distribuição dinâmica do ônus
da prova, agora positivada no artigo 373, § 1º do Novo Código.
Segundo essa teoria, o ônus da prova incumbe a quem tem melhores condi-
ções de produzi-la, diante das circunstâncias fáticas presentes no caso concreto.
Não se trata, porém, de algo novo no ordenamento jurídico brasileiro.
O Código de Defesa do Consumidor (Lei Federal nº 8.078/90) indicou ex-
pressamente como direito básico do consumidor a “facilitação da defesa de seus di-
reitos, inclusive com a inversão do ônus da prova, a seu favor, no processo civil,
quando, a critério do juiz, for verossímil a alegação ou quando for ele hipossuficiente,

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segundo as regras ordinárias de experiências” (artigo 6º, inciso VIII).
Nesse sentido, a técnica da inversão do ônus da prova, presentes os pressu-
postos legais, é clara aplicação da teoria da distribuição dinâmica do ônus da prova.
E diante da discussão acerca do momento adequado para essa inversão, o Superior
Tribunal de Justiça (STJ) já pacificou o entendimento de que seria na fase de sanea-
mento do processo, a fim de permitir, “à parte a quem não incumbia inicialmente o
encargo, a reabertura de oportunidade para apresentação de provas” (REsp. 802.832/
MG, 2ª S., j. 13.04.2011, rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, DJe 21.09.2011).
Além das demandas envolvendo Direito do Consumidor, o STJ já tem ad-
mitido a aplicação dessa teoria em outros casos concretos, com base numa interpre-
tação sistemática e constitucionalizada da legislação processual em vigor (cf. REsp.
1.286.704/SP, 3ª T., j. 22.10.2013, rel. Min. Nancy Andrighi, DJe 28.10.2013; REsp.
1.084.371/RJ, 3ª T., j. 01.12.2011, rel. Min. Nancy Andrighi, DJe 12.12.2011; REsp.
1.189.679/RS, 2ª S., j. 24.11.2010, rel. Min. Nancy Andrighi, DJe 17.12.2010; e RMS
27.358/RJ, 3ª T., j. 05.10.2010, rel. Min. Nancy Andrighi, DJe 25.10.2010).
O CPC/2015 mantém a tradicional distribuição do ônus probatório entre
autor (quanto ao fato constitutivo de seu direito) e réu (quanto à existência de fato
impeditivo, modificativo ou extintivo do direito do autor), abrindo-se, porém, no §
1º do artigo 373, a possibilidade de aplicação da teoria da distribuição dinâmica do
ônus da prova pelo juiz no caso concreto.
O dispositivo mencionado tem a seguinte redação:

Nos casos previstos em lei ou diante de peculiaridades da causa relaciona-


das à impossibilidade ou à excessiva dificuldade de cumprir o encargo nos
termos do caput ou à maior facilidade de obtenção da prova do fato contrá-
rio, poderá o juiz atribuir o ônus da prova de modo diverso, desde que o faça
por decisão fundamentada, caso em que deverá dar à parte a oportunidade
de se desincumbir do ônus que lhe foi atribuído.

Assim, o CPC/2015 permite expressamente a distribuição dinâmica do ônus


da prova pelo juiz e ainda abre a possibilidade de a legislação esparsa prever outras
hipóteses de aplicação dessa teoria. O dispositivo ressalta também a necessidade de
fundamentação específica da decisão judicial que tratar do tema e positiva o entendi-
mento pacificado no STJ de que o momento adequado para a redistribuição do ônus
da prova é o saneamento do processo (v. CPC/2015, art. 357, inciso III).
Além disso, o § 2º do aludido artigo 373 do CPC/2015 dispõe que a decisão de redis-
tribuição do ônus da prova não pode gerar “situação em que a desincumbência do encargo
pela parte seja impossível ou excessivamente difícil”. Em outras palavras, é dizer que, caso a
prova seja “diabólica” para todas as partes da demanda, o juiz deverá decidir com base nas
outras provas eventualmente produzidas, nas regras da experiência e nas presunções.

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Por fim, cabe mencionar que a possibilidade de distribuição diversa do ônus
da prova por convenção das partes continua possível no CPC/2015, com as mesmas
exceções antes existentes (quando recair sobre direito indisponível da parte ou quan-
do tornar excessivamente difícil a uma parte o exercício do direito – CPC, art. 333,
parágrafo único e CPC/2015, art. 373, § 3º), podendo o acordo ser celebrado antes ou
durante a demanda (§ 4º).

Prova Emprestada
À prova emprestada o Novo Código dedica o artigo 372.
Também conhecida como prova trasladada, prova emprestada é a prova
de um fato, produzida em determinado processo (por documentos, perícia, teste-
munhas, depoimento pessoal etc.), levada a outra demanda por meio de certidão.
Assim, sempre, a prova emprestada ingressará no novo procedimento na catego-
ria de prova documental (v. REsp 683.187/RJ, 3ª T., j. 08.11.2005, rel. Min. Nancy
Andrighi, DJ 15.05.2006).
Segundo o artigo 372 do CPC/2015: “O juiz poderá admitir a utilização
de prova produzida em outro processo, atribuindo-lhe o valor que considerar
adequado, observado o contraditório”.
Trata-se de norma sem correspondência no CPC/73, que não cuidou ex-
pressa e especificamente do tema. No entanto, o CPC/2015 foi sintético (até de-
mais), deixando de resolver antigas discussões acerca do tema.
O referido dispositivo utiliza o termo “processo”, esquecendo-se das pro-
vas produzidas em procedimentos administrativos como o inquérito policial, o
inquérito civil e outros procedimentos investigativos da competência do Minis-
tério Público.
Outra questão importante se relaciona ao respeito ao contraditório e à
identidade de partes. O CPC/2015 não esclarece se é imprescindível que haja
identidade de partes entre as demandas, nem se o contraditório deve ser obser-
vado no processo de origem, no processo de destino ou em ambos.
Fredie DIDIER JR., Paula Sarno BRAGA e Rafael OLIVEIRA destacam:
A doutrina identifica alguns critérios para a valoração da prova emprestada
pelo juiz.
A) A prova emprestada guarda a eficácia do processo em que foi colhida, na
conformidade do poder de convencimento que trouxer consigo: se se toma
de empréstimo uma perícia, a eficácia da prova emprestada será a de uma
perícia etc.
B) A eficácia e a aproveitabilidade da prova emprestada estão na razão in-
versa da possibilidade de sua reprodução: se a prova pode ser reproduzida,
sem maiores custos, a prova emprestada tem diminuído o seu valor proban-
te. (Curso de direito processual civil, V. 2, p. 134).

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Recentemente a Corte Especial do Superior Tribunal de Justiça (STJ) enfren-
tou o tema nos seguintes termos:

(...). Em vista das reconhecidas vantagens da prova emprestada no processo


civil, é recomendável que essa seja utilizada sempre que possível, desde
que se mantenha hígida a garantia do contraditório. No entanto, a prova em-
prestada não pode se restringir a processos em que figurem partes idênticas,
sob pena de se reduzir excessivamente sua aplicabilidade, sem justificativa
razoável para tanto. Independentemente de haver identidade de partes, o
contraditório é o requisito primordial para o aproveitamento da prova em-
prestada, de maneira que, assegurado às partes o contraditório sobre a prova,
isto é, o direito de se insurgir contra a prova e de refutá-la adequadamente,
afigura-se válido o empréstimo (...). (EREsp 617.428/SP, CE, j. 04.06.2014,
rel. Min. Nancy Andrighi, DJe 17.06.2014).

Dessa forma, assentou o STJ que, observado o contraditório no processo de


destino da prova trasladada, não é imprescindível que haja identidade de partes en-
tre ele e a demanda de origem da prova emprestada.
Apesar de ter tratado expressamente do tema, o CPC/2015 pouco auxiliou
no debate da matéria, que continuará a cargo dos doutrinadores e dos juízes e tribu-
nais brasileiros.

Produção Antecipada de Prova


A primeira prova em espécie tratada pelo Novo CPC é a produção antecipa-
da de prova, seguida da ata notarial, do depoimento pessoal, da confissão, da exibi-
ção de documento ou coisa, da prova documental, da prova testemunhal, da prova
pericial e da inspeção judicial. Afastada a sua classificação como cautelar típica, tal
como ocorria no CPC/73 (mesmo porque o CPC/2015 não traz nenhuma espécie de
cautelar nominada – v. arts. 301 e 305), a produção antecipada de prova é tratada no
capítulo específico das provas, sendo admitida em três hipóteses, isto é, casos nos
quais: (i) haja fundado receio de que venha a tornar-se impossível ou muito difícil
a verificação de certos fatos na pendência da ação; (ii) a prova a ser produzida seja
suscetível de viabilizar a autocomposição ou outro meio adequado de solução de
conflito; e (iii) o prévio conhecimento dos fatos possa justificar ou evitar o ajuizamen-
to de ação (CPC/2015, art. 381).
Como se pode observar, as hipóteses de cabimento são bastante genéricas.
Além da já conhecida urgência na produção da prova diante de fundado receio
de que venha a se tornar impossível ou muito difícil a sua produção (v. CPC, art. 847,
II), o CPC/2015 também abarca a possibilidade de a prova antecipadamente produzida
viabilizar a autocomposição, na esteira do estímulo às técnicas de solução consensual
de conflitos (v. CPC/2015, art. 3º, § 3º), e também o prévio conhecimento dos fatos possa
justificar ou evitar o ajuizamento da ação (talvez a mais ampla das hipóteses previstas).

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A produção antecipada de prova perde, portanto, o seu caráter tradicional-
mente cautelar, pensado apenas como solução para os casos em que haja receio de
que aquela prova não possa vir a ser produzida num futuro próximo.
Quanto à competência para sua apreciação, o CPC/2015 deixa claro que é do
juízo do foro onde a prova deva ser produzida ou do foro de domicílio do réu (art.
381, § 2º), ressaltando, ainda, que a produção antecipada da prova não previne a
competência do juízo para a ação que venha a ser proposta (§ 3º).
Outra novidade interessante é a possibilidade de a produção antecipada de
prova assumir caráter não contencioso: “Aplica-se o disposto nesta Seção àquele que pre-
tender justificar a existência de algum fato ou relação jurídica, para simples documento e sem
caráter contencioso, que exporá, em petição circunstanciada, a sua intenção” (CPC/2015, art.
381, § 5º).
Em outras palavras, é dizer que a produção antecipada de prova não precisa
necessariamente estar ligada a uma demanda futura, podendo se prender unicamen-
te à intenção de documentação de um fato ou de uma relação jurídica, sem caráter
contencioso, o que rompe totalmente com a concepção tradicional do instituto.
Diante de tantas modificações e nuances, será o Poder Judiciário que delimi-
tará a interpretação das hipóteses genéricas de cabimento e terá que coibir eventuais
abusos advindos da produção antecipada de prova sem caráter contencioso, mesmo
porque a documentação de fatos e relações jurídicas pode ser mais facilmente mate-
rializada por atas notariais e escrituras públicas, por exemplo.

Ata Notarial como Meio de Prova Típico


No campo das provas cíveis, o CPC/2015 traz novidades muito interessan-
tes. Entre elas estão: distribuição dinâmica do ônus da prova, prova emprestada e
aspectos específicos das provas em espécie.
O CPC de 2105 tratou especificamente de um meio de prova que está cada
vez mais sendo utilizado na prática, sobretudo a partir das situações advindas do
meio digital (ofensas em redes sociais, páginas na internet contendo irregularidades
etc.): a ata notarial.
Diferentemente do CPC/73, que não tratava expressamente desse meio de
prova (embora, evidentemente, não o proibisse – princípio da atipicidade da prova),
o CPC/2015 dedica o artigo 384 à ata notarial, que assim dispõe:

A existência e o modo de existir de algum fato podem ser atestados ou docu-


mentados, a requerimento do interessado, mediante ata lavrada por tabelião.
Parágrafo único. Dados representados por imagem ou som gravados em
arquivos eletrônicos poderão constar da ata notarial.

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A ata notarial, portanto, ganha status de meio típico de prova no CPC/2015,
o que corrobora a sua importância prática.
Em linhas gerais, a ata notarial é um instrumento público, lavrado por tabe-
lião de notas (Lei Federal nº 8.935/94, art. 7º, III) a requerimento de pessoa interessa-
da, que se destina a atestar (através dos sentidos do próprio notário) e documentar a
existência ou o modo de existir de algum fato jurídico. O exemplo mais palpável na
atualidade talvez seja a prova das situações documentadas na internet e, principal-
mente, nas redes sociais.
Eis a lição de William Santos FERREIRA sobre o tema:

(...) adoção da chamada “ata notarial” em que, solicita-se a um Tabelião


(Cartório de Notas) a lavratura de uma ata em que, pelo computador do
notário, são acessados endereços eletrônicos indicados pelo requerente do
serviço notarial, e há o relato do dia, horário, conteúdo, imagens e até fil-
mes, tudo descrito pelo Tabelião, cujas declarações do que ocorreu diante
dele, por terem fé pública, agregam fortíssima carga de convencimento à
prova exibida em juízo, transferindo o ônus da prova à outra parte, o que
particularmente em nossa atividade profissional (a advocacia), vem sendo
muito útil, eis que admitido judicialmente e raras vezes questionado o fato
pela parte contrária. (Princípios fundamentais da prova cível, p. 84).

Com a lavratura da ata notarial se impede, por exemplo, que alguma in-
formação deixe de ser documentada caso a página da internet seja retirada do ar ou
aquela foto e vídeo específicos sejam apagados no dia seguinte.
Além disso, inúmeros outros fatos podem ser provados por meio da ata
notarial, tais como: documentação do conteúdo de um e-mail, com informações de
quem envia e recebe, IP do computador, data e horário do envio etc.; documentação
de discussões e situações ocorridas no âmbito de reuniões societárias ou assembleias
de condomínio; documentação do fato de um pai ou de uma mãe não comparecer
para visitar seu filho ou filha nos dias de visita regulamentada; documentação do
barulho feito por um vizinho que sempre promove festas; documentação da entrega
de chaves de um imóvel locado; documentação de uma marca sendo utilizada inde-
vidamente por determinada empresa em seu site oficial; entre muitas outras.

Depoimento Pessoal
O artigo 385 do Novo Código assim dispõe: “Cabe à parte requerer o depoimento
pessoal da outra, a fim de que esta seja interrogada na audiência de instrução e julgamento,
sem prejuízo do poder do juiz de ordená-lo de ofício”.
Tradicionalmente, a doutrina faz a distinção entre interrogatório (juiz deter-
mina o comparecimento da parte a fim de ser interrogada para esclarecer fatos que
tenham relação com a demanda) e depoimento pessoal (meio de prova no qual uma

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das partes requer que a parte contrária deponha sobre fatos relacionados com a de-
manda a fim de obter dela confissão, espontânea ou provocada).
Pelo texto do CPC/2015, os institutos se misturam e se confundem. Não há
distinção expressa entre interrogatório e depoimento pessoal e o juiz, de ofício, pode
determinar a realização de qualquer um deles.
A pena de confesso permanece prevista no referido dispositivo legal para a
parte que, intimada pessoalmente para prestar depoimento pessoal e advertida da
referida pena, não comparecer ou, comparecendo, se recusar a depor (§ 1º). Também
se repete a vedação a quem ainda não depôs de assistir o interrogatório da outra
parte (§ 2º).
Novidade interessante é a previsão expressa da utilização da videoconferência
(ou de outro recurso tecnológico de transmissão de som e imagem em tempo real)
para a colheita do depoimento pessoal da parte que residir em comarca, seção ou
subseção judiciária distinta daquela onde tramita a demanda (§ 3º). Em boa hora a
previsão legal consolida o uso de instrumento tecnológico muito útil e eficaz na con-
sagração da economia, eficiência e celeridade processuais.
Por fim, no tocante ao depoimento pessoal no CPC/2015, destaca-se a amplia-
ção das hipóteses de exclusão do dever de depor com a finalidade de adequar o texto
ao vigente artigo 229 do Código Civil.
Dessa forma, pela redação do artigo 388 do Novo Código,

A parte não é obrigada a depor sobre fatos:


I – criminosos ou torpes que lhe forem imputados;
II – a cujo respeito, por estado ou profissão, deva guardar sigilo;
III – acerca dos quais não possa responder sem desonra própria, de seu côn-
juge, de seu companheiro ou de parente em grau sucessível;
IV – que coloquem em perigo a vida do depoente ou das pessoas referidas
no inciso III.
Parágrafo único. Esta disposição não se aplica às ações de estado e de fa-
mília.

Assim, além dos incisos I e II, que não são novidades, os incisos III e IV trazem
hipóteses de exclusão do dever de depor relacionadas à previsão dos incisos II e III
do artigo 229 do Código Civil (“Ninguém pode ser obrigado a depor sobre fato: I - a
cujo respeito, por estado ou profissão, deva guardar segredo; II - a que não possa res-
ponder sem desonra própria, de seu cônjuge, parente em grau sucessível, ou amigo
íntimo; III - que o exponha, ou às pessoas referidas no inciso antecedente, a perigo de
vida, de demanda, ou de dano patrimonial imediato”).
Conforme se observa da comparação entre os aludidos artigos, o CPC/2015
incluiu o companheiro ao lado do cônjuge e somente não encampou a exclusão do
dever de depor prevista no Código Civil nos casos de exposição da parte ou de seu

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cônjuge, companheiro ou parente em grau sucessível, a perigo de demanda ou de
dano patrimonial imediato, também seguindo orientação da doutrina processual ci-
vil nesse sentido (cf. Luiz Guilherme MARINONI e Sérgio Cruz ARENHART, Co-
mentários ao Código de Processo Civil. Vol. 05, t. 02, p. 101).

Confissão
A confissão está prevista nos artigos 389 a 395 do Novo Código.
Confissão
(...) é a declaração de conhecimento de fatos contrários ao interesse de quem
a emite. (...). Quem admite a veracidade de uma alegação controvertida de
fato contrário a seus interesses (art. 348) está oferecendo ao juiz elementos
para formar sua própria convicção, livremente (art. 131), podendo este até
concluir de forma diversa se o contexto das provas a isso conduzir (...).
(Cândido Rangel DINAMARCO, Vocabulário do processo civil, p. 100).

Na redação do CPC/2015, “Há confissão, judicial ou extrajudicial, quando a parte


admite a verdade de fato contrário ao seu interesse e favorável ao do adversário” (art. 389), tal
como estava no artigo 348 do CPC/73.
Do mesmo modo, não há novidade quanto à previsão da confissão espontâ-
nea (feita pela própria parte ou por representante com poder especial) ou provocada
(constará do termo de depoimento pessoal) – CPC/2015, art. 390.
Além disso, também se repete a previsão do artigo 350 do CPC/73, segundo
o qual “A confissão judicial faz prova contra o confitente, não prejudicando, todavia, os li-
tisconsortes” (CPC/2015, art. 391). Entretanto, no parágrafo único desse dispositivo, é
feita a mesma ressalva já existente em relação à confissão do cônjuge, mas incluindo a
figura do companheiro e excepcionando aqueles casados sob o regime da separação
absoluta de bens: “Nas ações que versarem sobre bens imóveis ou direitos reais sobre imóveis
alheios, a confissão de um cônjuge ou companheiro não valerá sem a do outro, salvo se o regime
de casamento for o de separação absoluta de bens”.
Trata-se de clara adequação sistemática em relação ao disposto no artigo 1.647
do Código Civil vigente.
De igual forma, nos demais dispositivos do CPC/2015, as novidades se relacio-
nam à necessária harmonização do sistema processual ao disposto sobre a confissão
nos artigos 116, 213 e 214, todos do Código Civil Brasileiro.
Dessa forma, manteve-se a previsão de que “Não vale como confissão a admissão,
em juízo, de fatos relativos a direitos indisponíveis” (CPC/2015, art. 392), mas destacou-se
nos parágrafos a ineficácia da confissão feita por quem não for capaz de dispor do
direito a que se referem os fatos confessados (§ 1º) e a eficácia da confissão feita por
representante limitada aos seus poderes em relação ao representado (§ 2º).
Por fim, corrigiu-se o erro técnico do artigo 352 do CPC/73, que dispunha so-

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bre a revogabilidade da confissão, contrariando expressamente o artigo 214 do Códi-
go Civil, e o dolo foi retirado das hipóteses de anulação da confissão, como há muito
preconizava a doutrina: “A confissão é irrevogável, mas pode ser anulada se decorreu de
erro de fato ou de coação”. (CPC/2015, art. 393).

Exibição de Documento ou Coisa


A exibição de documento ou coisa está prevista nos artigos 396 a 404.
O Novo Código mantém a distinção procedimental em relação ao pedido
formulado em face da parte contrária e aquele formulado em face de terceiro, fazen-
do poucas modificações textuais.
Dessa forma, no tocante ao pedido formulado em face da parte contrária, são
mantidos os requisitos do pedido previstos no revogado artigo 356 do CPC/73 e as
mesmas hipóteses de inadmissão da recusa (CPC/2015, arts. 397 e 399).
Do mesmo modo, se o requerido não efetuar a exibição, nem fizer qualquer
declaração no prazo de 05 (cinco) dias subsequentes à sua intimação, ou se a recu-
sa for havida por ilegítima, o magistrado, ao decidir o pedido, admitirá como ver-
dadeiros os fatos que, por meio do documento ou coisa, a parte pretendia provar
(CPC/2015, art. 400).
E a novidade aparece no parágrafo único desse dispositivo: “Sendo necessário,
pode o juiz adotar medidas indutivas, coercitivas, mandamentais ou sub-rogatórias para que
o documento seja exibido”. Assim, contrariando o teor do enunciado nº 372 da Súmula
do Superior Tribunal de Justiça (“Na ação de exibição de documentos, não cabe a aplicação
de multa cominatória”), o Novo Código deixa expresso que a presunção de veracidade
não impede que o juiz adote outras medidas coercitivas, indutivas, mandamentais
ou sub-rogatórias, tal como a imposição de multa cominatória.
Mesmo porque, conforme assevera Fredie DIDIER JR., Paula Sarno BRAGA
e Rafael OLIVEIRA, existem casos nos quais a presunção de veracidade não poderá
ser aplicada:

(...) nos casos em que: (i) for inadmissível a confissão como meio de prova
(art. 392 do CPC); (ii) o único meio de prova admissível for o instrumento
público (art. 406, CPC); (iii) por outro modo o documento ou a coisa foi
exibida (p. ex., outra pessoa o juntou aos autos); (iv) o pedido de exibição
foi impugnado por um litisconsorte, no caso de a exibição ter sido pedida
contra mais de uma pessoa; (v) houver, nos autos, elementos de prova sufi-
cientes para afastar a presunção de que são verídicos os fatos que se queria
provar. (Curso de direito processual civil. V. 2, p. 238).

Deve-se dar preferência, portanto, à exibição do documento ou coisa propria-


mente dita, em vez de simplesmente entender suficiente a presunção de veracidade
em face da parte adversária. E o próprio STJ já vem flexibilizando um pouco a apli-
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cação do Enunciado nº 372 de sua Súmula, em julgados mais recentes (cf. STJ, REsp.
1.359.976/PB, 3ª T., j. 25.11.2014, rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, DJe 02.12.2014).
Quanto ao pedido formulado em face de terceiro: é ampliado o prazo para
sua resposta (dos atuais 10 para 15 dias – CPC/2015, art. 401); o artigo 402 do Novo
Código prefere a expressão “decisão” ao termo “sentença” (CPC, art. 361); e há tam-
bém previsão expressa acerca da possibilidade de o juiz, diante da recusa sem justo
motivo do terceiro, determinar a expedição de

(...) mandado de apreensão, requisitando, se necessário, força policial, tudo


sem prejuízo da responsabilidade por crime de desobediência, pagamento
de multa e outras medidas indutivas, coercitivas, mandamentais ou sub-ro-
gatórias necessárias para assegurar a efetivação da decisão (CPC/2015, art.
403, parágrafo único).

Por fim, entre as hipóteses autorizadoras da escusa em exibir o documento


ou a coisa em juízo (CPC, art. 363), inclui-se uma sexta possibilidade, qual seja: se
“houver disposição legal que justifique a recusa da exibição” (CPC/2015, art. 404, inciso VI),
a contemplar genericamente eventual previsão em legislação esparsa.

Prova Documental
A prova documental foi extensamente tratada nos artigos 405 a 438 do CPC
de 2015.
Muito embora também no Novo Código a prova continue sendo valorada li-
vremente pelo magistrado, desde que o faça motivadamente – sistema do livre con-
vencimento motivado (CPC, art. 131 e CPC/2015, art. 371 – não se adota no Brasil,
há tempos, sistema algum de prova tarifada, no qual a lei estabelece previamente
o valor de cada meio de prova) – a prova documental, na prática, é culturalmente
muito utilizada e muito valorizada.
Isto porque o documento é algo consolidado, seguro, consistente.
Sobre as novidades trazidas no CPC/2015, destacamos três tópicos importan-
tes, quais sejam: (i) arguição de falsidade documental; (ii) juntada de documentos
novos no processo; (iii) e utilização de documentos eletrônicos.
A arguição de falsidade documental deverá ser suscitada na contestação, ré-
plica ou no prazo de 15 dias contados a partir da intimação da juntada aos autos
do documento (CPC/2015, art. 430, caput). A outra parte terá também 15 dias para
resposta, findo o qual será determinada prova pericial (art. 432). Evita-se, assim, a
criação de incidentes processuais desnecessários, como ocorrerá também com a ale-
gação de incompetência relativa, agora a ser suscitada também em preliminar de
contestação (CPC/2015, art. 337, ii).
Além disso, a falsidade será resolvida como questão incidental, salvo se a par-

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te requerer que o juiz a decida como questão principal, ocasião na qual constará do
dispositivo da sentença e fará coisa julgada material (CPC/2015, arts. 430, parágrafo
único e 433).
Importante frisar, nesse sentido, que não mais existirá a ação declaratória inci-
dental, prevista no artigo 5º do CPC/73. Pela redação do artigo 503, § 1º, do CPC/2015,
a questão prejudicial fará coisa julgada “automaticamente”, desde que preenchidos
os seguintes requisitos: I – dessa resolução depender o julgamento do mérito; II – a
seu respeito tiver havido contraditório prévio e efetivo, não se aplicando no caso de
revelia; e III – o juízo tiver competência em razão da matéria e da pessoa para resol-
vê-la como questão principal.
Sobre a juntada de documentos novos no processo, o CPC/2015 dispõe que:

Art. 435. É lícito às partes, em qualquer tempo, juntar aos autos documentos
novos, quando destinados a fazer prova de fatos ocorridos depois dos articu-
lados ou para contrapô-los aos que foram produzidos nos autos.
Parágrafo único. Admite-se também a juntada posterior de documentos
formados após a petição inicial ou a contestação, bem como dos que se
tornaram conhecidos, acessíveis ou disponíveis após esses atos, cabendo
à parte que os produzir comprovar o motivo que a impediu de juntá-los
anteriormente e incumbindo ao juiz, em qualquer caso, avaliar a conduta da
parte de acordo com o art. 5º.

Nesse sentido, importante ponderar que deverá prevalecer e ser mantido


o entendimento atual do STJ no sentido de se admitir a juntada de documentos
novos no processo até o segundo grau de jurisdição desde que haja respeito ao
contraditório e inexista má-fé por parte daquele que os juntou (AgRg no AREsp
592.056/PB, 3ª T., j. 18.11.2014, rel. Min. Moura Ribeiro, DJe 28.11.2014; REsp.
1.242.325/RS, 1ª T., j. 06.05.2014, rel. Min. Benedito Gonçalves, DJe 13.05.2014;
AgRg no AREsp 294.057/SP, 4ª T., j. 19.09.2013, rel. Min. Luis Felipe Salomão, DJe
24.09.2013).
Por fim, igualmente importante dar relevo à dedicação de uma seção es-
pecífica do Novo Código aos documentos eletrônicos. Com relação a esse tema,
o CPC/2015 dispõe essencialmente que “a utilização de documentos eletrônicos no
processo convencional dependerá de sua conversão à forma impressa e de verificação de
sua autenticidade, na forma da lei”. (art. 439). Nesse sentido, será reputado autêntico
o documento cuja autoria estiver identificada por qualquer outro meio legal de
certificação, inclusive eletrônico, nos termos da lei (CPC/2015, art. 411, II).
Trata-se, portanto, do reconhecimento legal da validade de documentos
assinados digitalmente, por exemplo, já muito utilizados na prática forense ho-
dierna, notadamente a partir da implantação dos sistemas de processos digitais
pelos tribunais brasileiros.

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No entanto, como se observa dos citados dispositivos legais, não se dis-
pensará o recurso à regulamentação específica da matéria em legislação esparsa.

Prova Testemunhal
A prova testemunhal é tratada especificamente nos artigos 442 a 463.
Inobstante os diversos pontos ainda a serem debatidos, sob o aspecto prático,
podem ser destacados os seguintes: (i) prazo para apresentação do rol de testemu-
nhas; (ii) dever do advogado de intimar as testemunhas arroladas a comparecerem
na audiência; e (iii) possibilidade de perguntas diretas das partes às testemunhas.
Sobre o prazo de apresentação do rol de testemunhas, o artigo 451 do CPC/2015
faz referência ao disposto no artigo 357, §§ 4º e 5º, que, por sua vez, trata da apresen-
tação do rol de testemunhas no prazo comum não superior a 15 dias, a ser fixado
pelo juiz, no caso de haver sido determinada a produção de prova testemunhal. En-
tretanto, no caso de ter sido designada audiência para o saneamento compartilhado
da demanda, as partes deverão levar, para a audiência prevista, o respectivo rol de
testemunhas, até mesmo para que, em cooperação com a parte contrária e com o
juízo, seja discutida a necessidade da produção de prova testemunhal no caso con-
creto, bem como, por exemplo, já sejam excluídas eventuais testemunhas incapazes,
impedidas ou suspeitas.
Trata-se de novidade muito importante no CPC/2015, a consagrar o princípio
da cooperação na prática processual, evitando desperdício de tempo por parte de
todos os sujeitos processuais e focalizando na resolução do mérito da questão objeto
de análise.
O artigo 455 do Novo Código estabelece expressamente que “cabe ao advogado
da parte informar ou intimar a testemunha por ele arrolada do dia, da hora e do local da audi-
ência designada, dispensando-se a intimação do juízo”. O parágrafo primeiro do mesmo
dispositivo ainda acrescenta que essa intimação deverá ser realizada por carta (com
AR), cumprindo ao advogado juntar aos autos, com antecedência de pelo menos 03
dias da data da audiência, cópia da correspondência de intimação e do comprovante
de recebimento. Por fim, poderá, ainda, a parte, comprometer-se a levar a testemunha
arrolada independentemente de intimação, tal como ocorre atualmente no âmbito
dos Juizados Especiais Cíveis (Lei Federal nº 9.099/95, art. 34, caput), presumindo-se,
entretanto, caso a testemunha não compareça, que a parte desistiu de sua inquirição.
Observa-se, diante disso, que o CPC/2015 buscou prestigiar a celeridade e a
boa-fé processuais, assim como, novamente, a cooperação dos sujeitos processuais,
que se tornam responsáveis por levar as testemunhas que arrolou à audiência de
instrução, evitando-se o recurso à burocracia estatal.
Por fim, interessante alteração permitirá, segundo o artigo 459 do Novo Có-

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digo, que as perguntas sejam formuladas pelas partes diretamente à testemunha,
começando pela que a arrolou, não admitindo o juiz aquelas que puderem induzir a
resposta, não tiverem relação com as questões de fato objeto da atividade probatória
ou importarem repetição de outra já respondida. Como já preconizava a doutrina:
“(...) ora, se no processo penal, onde as garantias para o acusado são observadas com ainda
mais atenção, permitia-se, ainda na vigência do CPC-1973, a inquirição direta pelas partes,
nada justificava a manutenção dessa formalidade obsoleta no processo civil”. (Fredie DIDIER
JR., Paula Sarno BRAGA e Rafael OLIVEIRA, Curso de direito processual civil, V. 2, p.
260).

Prova Pericial e Inspeção Judicial


Tratada nos artigos 464 a 480 do Novo Código, a prova pericial é aquela que
conta com um especialista em determinada área técnica (perito) para esclarecer certo
fato que interessa à demanda.
Sobre este tema, destacam-se quatro novidades de maior interesse prático: (i)
produção de prova técnica simplificada; (ii) apresentação de currículo do perito; (iii)
perícia consensual; (iv) e requisitos do laudo pericial.
O artigo 464, § 2º, dispõe expressamente que “de ofício ou a requerimento
das partes, o juiz poderá, em substituição à perícia, determinar a produção de prova
técnica simplificada, quando o ponto controvertido for de menor complexidade”.
Nesse caso, a denominada “prova técnica simplificada” consistirá apenas na
inquirição, pelo juiz, de especialista na área (§ 3º), que poderá se valer de qualquer
recurso tecnológico de transmissão de sons e imagens para esclarecer os pontos con-
trovertidos da causa (§ 4º). Trata-se de importante inovação do CPC/2015, a permitir
a desburocratização em demandas nas quais, embora exista a necessidade da prova
técnica, a baixa complexidade envolvida em nada justifica que as partes se sujeitem à
demorada e custosa produção da prova pericial nos moldes tradicionais.
Outra questão importante a ser ressaltada é a necessidade imperiosa, agora
prevista em lei, de que o perito, no prazo de 05 dias de sua nomeação, junte aos autos,
além da sua proposta de honorários e dos seus contatos profissionais (especialmente
e-mail), também o seu currículo atualizado, com a devida comprovação de sua espe-
cialização, sob pena de substituição (CPC/2015, art. 462, § 2º, inciso II e 468, inciso I).
Salutar a previsão legal expressa nesse sentido, uma vez que muito se vê na prática a
nomeação de peritos que, em verdade, não são verdadeiros especialistas na matéria
objeto de controvérsia entre as partes. E essa questão, quando objeto de impugnação
posterior, por exemplo, pode macular a prova pericial produzida e tornar o processo
ainda mais demorado, sujeitando as partes a novo processo de produção da prova
técnica.

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A previsão da “perícia consensual” também é inovadora. Prevista no artigo
471 do Novo Código, poderão as partes, de comum acordo, desde que plenamen-
te capazes, quando a demanda possa ser resolvida por autocomposição, escolher o
perito, indicando-o ao juízo mediante requerimento nesse sentido. E o referido dis-
positivo deixa claro que “a perícia consensual substitui, para todos os efeitos, a que
seria realizada por perito nomeado pelo juiz” (§ 3º). Trata-se de evidente aplicação da
cooperação no plano processual, a dar liberdade às partes de escolher o especialista
na área que elaborará o laudo pericial, evitando-se, dessa forma, todo o tipo de im-
pugnação e questionamento em relação à pessoa do perito e à sua formação técnica,
já que escolhido e “avalizado” por todas as partes.
Outra questão relevante sobre a prova pericial é a previsão legal expressa dos
requisitos do laudo pericial. Assim dispõe o artigo 473:

O laudo pericial deverá conter:


I - a exposição do objeto da perícia;
II – a análise técnica ou científica realizada pelo perito;
III – a indicação do método utilizado, esclarecendo-o e demonstrando ser
predominantemente aceito pelos especialistas da área do conhecimento da
qual se originou;
IV – resposta conclusiva a todos os quesitos apresentados pelo juiz, pelas
partes e pelo órgão do Ministério Público.

Ainda, o mesmo dispositivo também exige que o laudo seja fundamentado


em linguagem simples e com coerência lógica (§ 1º). Será um norte para os experts,
que deverão pautar seu trabalho técnico na busca da elucidação do fato controverti-
do que realmente interessa à demanda, evitando-se a prolixidade própria que se vê
na prática, que talvez mais sirva como justificativa para os honorários técnicos do
que propriamente à solução da controvérsia existente entre as partes.
Por fim, sobre a inspeção judicial, cumpre ressaltar que continua com idên-
tico tratamento no Novo CPC, tendo em vista que os artigos 481 a 484 que dela tra-
tam, são reproduções dos revogados artigos 440 a 443 do CPC/73. Resta saber se, na
prática, o magistrado terá condições estruturais para assumir uma posição essencial-
mente ativa na produção probatória, a ponto de deixar seu gabinete para inspecionar
pessoas e coisas.

Motivação Das Decisões Judiciais


Ao tratar dos elementos essenciais da sentença, o CPC de 2015 trouxe parâme-
tros concretos para a fundamentação das decisões judiciais (art. 489, § 1º):

Não se considera fundamentada qualquer decisão judicial, seja ela interlo-


cutória, sentença ou acórdão, que:
I - se limitar à indicação, à reprodução ou à paráfrase de ato normativo, sem

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explicar sua relação com a causa ou a questão decidida;
II - empregar conceitos jurídicos indeterminados, sem explicar o motivo
concreto de sua incidência no caso;
III - invocar motivos que se prestariam a justificar qualquer outra decisão;
IV - não enfrentar todos os argumentos deduzidos no processo capazes de,
em tese, infirmar a conclusão adotada pelo julgador;
V - se limitar a invocar precedente ou enunciado de súmula, sem identificar
seus fundamentos determinantes nem demonstrar que o caso sob julgamen-
to se ajusta àqueles fundamentos;
VI - deixar de seguir enunciado de súmula, jurisprudência ou precedente
invocado pela parte, sem demonstrar a existência de distinção no caso em
julgamento ou a superação do entendimento.

Trata-se, na verdade, de um patamar mínimo de qualidade da fundamenta-


ção das decisões judiciais que, se não for atingido, faz com que se possa considerar a
motivação inexistente.
É um artigo polêmico, sem dúvida. Mas tem potencial de gerar um conjunto
de efeitos positivos, ligados à qualidade da prestação jurisdicional, de uma série de
maneiras diferentes.
Em primeiro lugar, as decisões serão mais bem motivadas. Muito provavel-
mente, também, menos reformadas em grau de recurso (até porque estão previstos
honorários sucumbenciais na fase recursal). Espera-se que isso gere certo desestímu-
lo ao ato de recorrer. Por outro lado, exige-se do juiz uma explicação dos porquês se
teria afastado de um precedente trazido pela parte ou da jurisprudência consolidada
de algum tribunal.
Tal exigência certamente será capaz de garantir melhor qualidade na funda-
mentação das decisões e, além disso, fazer com que os tribunais sejam mais incli-
nados a respeitar seus próprios precedentes. Isso porque têm que justificar por que
não aplicam a jurisprudência trazida pela parte, que pode ser do próprio tribunal.
Portanto, especial relevância tem esse dispositivo, já que, todos sabemos, a instabili-
dade da jurisprudência do STJ tem desorientado sobremaneira os demais tribunais
da federação quando se trata de interpretar o direito infraconstitucional.
É um dispositivo que merece uma lida pausada e muita reflexão.
Nas palavras de Teresa Arruda Alvim WAMBIER, Maria Lúcia Lins CONCEI-
ÇÃO, Leonardo Ferres da Silva RIBEIRO e Rogerio Licastro Torres de MELLO:

(...). Quando se estuda motivação da decisão, na verdade, o que se estuda é


o que aparece na decisão, que seria uma espécie de “fachada”, mas mesmo
assim, é interessante estudar este fenômeno, já que representa, pelo menos,
o que é compreendido como satisfatório para figurar como fundamento da
decisão, em face das exigências do dado sistema. Outras motivações que
podem ter as decisões (ideológicas, psicológicas etc.), estas não estão pre-
sentes claramente no texto e não interessam para o direito. Têm que ter sido
absorvidas pela possível objetividade e racionalidade dos fundamentos.
Caso contrário, a decisão será arbitrária e contrária ao direito. (...) Norma já

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embutida nas anteriores (489, § 1º, I e II) é que consta do § 1º, III, que consi-
dera não motivada a decisão “vestidinho preto”, que se prestaria a justificar
qualquer decisum: como, por exemplo, concedo a liminar porque presentes
os seus pressupostos. A fundamentação deve ser expressa e especificamente
relacionada ao caso concreto que está sendo resolvido. (...). (Primeiros co-
mentários ao novo código de processo civil: artigo por artigo, comentários
ao art. 489, p. 873-875).

Na jurisprudência do STJ, começam a aparecer alguns exemplos de aplicação


dessas novas exigências para a motivação das decisões judiciais (v. EDcl no AgRg
no REsp. 1.540.894/SP, 3ª T., j. 24.05.2016, rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, DJe
02.06.2016 e, mais recentemente, EDcl no RMS 30.877/SP, 5ª T., j. 14.11.2017, rel. Min.
Reynaldo Soares da Fonseca, DJe 24.11.2017).

Decisão “Vestidinho Preto” no CPC/2015


O tema não afeta somente as nossas queridas amigas Advogadas, mas certa-
mente elas terão um pouco mais de facilidade para entendê-lo num primeiro mo-
mento.
Como se sabe, a sistemática processual civil agora vigente, além de ressaltar a
importância da fundamentação das decisões judiciais, tenta criar parâmetros míni-
mos para a aferição desse grau de qualidade.
Nas palavras do Mestre Michele TARUFFO,

Em outros termos, trata-se de determinar quais são os requisitos mínimos a


partir dos quais motivação ‘existe’ – existindo, portanto, a sentença como
manifestação da jurisdição (ainda que semelhante existência não exclua
possíveis nulidades, eventualmente inerentes à própria motivação. (A mo-
tivação da sentença civil, p. 386-387).

A opção do CPC/2015 foi a de elencar diversas situações nas quais não será
considerada fundamentada a decisão judicial, seja ela interlocutória, sentença ou
acórdão. Dentro desse contexto, portanto, é que aparecem as 06 hipóteses contidas
no art. 489, § 1º do Novo Código.
Expressão cunhada pelos Professores Teresa Arruda Alvim WAMBIER, Ma-
ria Lúcia Lins CONCEIÇÃO, Leonardo Ferres da Silva RIBEIRO e Rogerio Licastro
Torres de MELLO (v. Primeiros comentários ao novo código de processo civil: artigo por
artigo, comentários ao art. 489, p. 875), a decisão “vestidinho preto” é exemplo cari-
cato de decisão não fundamentada, nos exatos termos do art. 489, § 1º, inciso III, do
Novo Código, que assim dispõe expressamente: “Art. 489. (...) § 1º. Não se considera
fundamentada qualquer decisão judicial, seja ela interlocutória, sentença ou acórdão, que: (...)
III - invocar motivos que se prestariam a justificar qualquer outra decisão; (...)”.
Infelizmente a experiência cotidiana mostra o deferimento de uma tutela pro-

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visória “porque presentes os requisitos legais” ou o indeferimento de um pedido sob o
“fundamento” de que “estão ausentes os seus pressupostos”, enfim, não se pode mais
aceitar a decisão-padrão, fruto de um modelo que se adequa a qualquer tipo de oca-
sião, tal como o famoso “vestidinho preto”.
O comprometimento para com uma fundamentação efetiva e de qualidade
mostra, em verdade, o nível de legitimidade do próprio sistema decisório, permitin-
do às partes que conheçam bem a decisão, busquem esclarecimentos via embargos
de declaração, recorram por meio de agravo, apelação, recurso especial, extraordi-
nário, enfim, permitindo o controle daquele ato do Estado-Juiz que tenta alcançar a
melhor solução para colocar fim à lide sociológica subjacente ao processo.
Como muito bem resume Leonard Ziesemer SCHMITZ,

A isso se pode chamar de accountability. O Estado Democrático de Direito,


como vimos, é o Estado de que se justifica, e portanto é na fundamentação
que encontramos não somente a legitimidade da decisão perante as partes,
mas sua legitimidade como ato do Poder Judiciário. (Fundamentação das
decisões judiciais: a crise na construção de respostas no processo civil, p.
213).

Remessa Necessária
A remessa necessária, ou reexame necessário como ficou conhecido no
CPC/73 (art. 475), encontra espaço no artigo 496 do CPC/2015, que está inserido no
Capítulo XIII, “Da Sentença e da Coisa Julgada”.
A ideia é bastante simples: não produzirá efeitos senão após confirmada
pelo tribunal (duplo grau de jurisdição obrigatório), a sentença: (i) proferida contra
a União, os Estados, o Distrito Federal, os Municípios e suas respectivas autarquias
e fundações de direito público; e (ii) que julgar procedentes, no todo ou em parte, os
embargos à execução fiscal.
Nesses casos, ultrapassado o prazo de 15 dias para a interposição de recurso
de apelação (lembre-se de que os prazos recursais, à exceção dos embargos de de-
claração – 05 dias –, foram unificados em 15 dias – CPC/2015, art. 1.003, § 5º), o juiz
ordenará o envio dos autos ao tribunal respectivo. Se não o fizer, o presidente do
aludido tribunal poderá avocar a demanda.
Até esse ponto, não há muita novidade além das alterações terminológicas.
As inovações aparecem nos §§ 3º e 4º do artigo 496, que trazem exceções à remessa
necessária.
Em um primeiro momento, em vez dos antigos 60 salários mínimos como
parâmetro geral (CPC/73, art. 475, § 2º), o CPC/2015 utiliza três critérios diferentes
tendo como base o valor da condenação ou do proveito econômico obtido, fazendo,
ainda, distinções entre os entes federativos.

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Desse modo, teremos:

Num segundo momento, as exceções à remessa necessária trazem como ba-


lizas as hipóteses de coerência da sentença em relação a entendimentos consolida-
dos. Dessa forma, também não haverá remessa necessária quando a sentença estiver
fundamentada em:
• súmula de tribunal superior;
• acórdão proferido pelo Supremo Tribunal Federal ou pelo Superior Tribunal
de Justiça em julgamento de recursos repetitivos;
• entendimento firmado em incidente de resolução de demandas repetitivas
ou de assunção de competência; ou
• entendimento coincidente com orientação vinculante firmada no âmbito
administrativo do próprio ente público, consolidada em manifestação, parecer ou
súmula administrativa.
Além de fortalecer a desejada solidificação de um sistema brasileiro de res-
peito ao precedente judicial, o dispositivo também se mostra atento às orientações
vinculantes firmadas na esfera administrativa, largamente utilizadas nas procurado-
rias e consultorias jurídicas em geral. Isso impedirá a contradição de haver remessa
necessária em relação a uma decisão que se fundamentou num parecer vinculante
do próprio ente administrativo que é parte.

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Coisa Julgada de Resolução de
Questão Prejudicial
O CPC/2015 inovou, e muito, em relação aos limites objetivos da coisa julgada.
E isso é facilmente constatado a partir do cotejo entre os dispositivos do CPC/73 (arts.
469, III e 470) e do Novo Código (arts. 503, §§ 1º e 2º e 504) que tratam do tema. Isso
porque, na nova sistemática processual civil, inexistirá o óbice descrito no art. 469,
inciso III, do CPC/73, segundo o qual não faz coisa julgada material a apreciação da
questão prejudicial decidida incidentalmente no processo. Essa regra não encontra
correspondência no CPC/2015 (v. art. 504).
Pelo contrário: o Novo Código, além de extinguir a ação declaratória inciden-
tal prevista nos arts. 5º, 325 e 470 do CPC/73 (há divergência doutrinária sobre este
ponto – Enunciado nº 111 do Fórum Permanente de Processualistas Civis: “(arts. 19,
329, II, 503, §1º) Persiste o interesse no ajuizamento de ação declaratória quanto à
questão prejudicial incidental”. (Grupo: Coisa Julgada, Ação Rescisória e Sentença)),
expressamente permite que a coisa julgada material acoberte a resolução de questão
prejudicial, desde que preenchidos os requisitos cumulativos dos §§ 1º e 2º do art.
503 (nesse sentido, da cumulatividade entre os pressupostos, é também a conclusão
do Enunciado nº 313 do Fórum Permanente de Processualistas Civis: “(art. 503, §§1º
e §2º) São cumulativos os pressupostos previstos nos §1º e seus incisos, observado o
§2º do art. 503”. (Grupo Sentença, Coisa Julgada e Ação Rescisória)).
Nas palavras de Teresa Arruda Alvim WAMBIER, Maria Lúcia Lins CONCEI-
ÇÃO, Leonardo Ferres da Silva RIBEIRO e Rogerio Licastro Torres de MELLO,

(...). O legislador foi excessivamente cuidadoso: disse que a resolução de


questão prejudicial, que fica acobertada pela coisa julgada, (a) deve ser ex-
pressa (não há decisões implícitas no direito brasileiro!); (b) desta resolução
deve depender o julgamento do mérito (se não depender, não se tratará de
questão prejudicial!) (art. 503, § 1º, I); e (c) deve ter a seu respeito, havido
contraditório prévio e efetivo, não se aplicando no caso de revelia (art. 503,
§ 1º, II). Se não houver contraditório, e discordância entre as partes, não se
tratará de QUESTÃO! Este dispositivo, na verdade, só demonstra o cuidado
do legislador, em não estender a autoridade da coisa julgada em desrespeito
ao contraditório. (Primeiros comentários ao novo código de processo civil:
artigo por artigo, comentários ao art. 503, p. 908).

A esses requisitos previstos nos incisos I e II, do § 1º, do art. 503 (somados também à
competência do juízo em razão da matéria e da pessoa para resolver a questão prejudicial
como questão principal – art. 503, § 1º, inciso III), deve-se acrescentar o do § 2º do mesmo dis-
positivo, que diz não se aplicar o disposto no parágrafo anterior (não fazendo coisa julgada
a decisão sobre a questão prejudicial, portanto) se no processo houver restrições probatórias
ou limitações à cognição que impeçam o aprofundamento da análise da questão prejudicial.

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A finalidade clara da nova regra é dar o máximo rendimento à atividade juris-
dicional, evitando-se a rediscussão sobre a mesma questão jurídica e a prolação de
futuras decisões eventualmente contraditórias. Dessa forma, os limites objetivos da
coisa julgada no CPC/2015 devem ser enxergados a partir dessa nova ótica, analisan-
do-se quais questões prejudiciais decididas expressa e incidentalmente obedeceram
aos pressupostos do art. 503, §§ 1º e 2º do Novo Código, independentemente de pro-
vocação específica.
Daí porque correto também o entendimento consolidado no Enunciado nº 165
do FPPC, qual seja:

(art. 503, §§ 1º e 2º) A análise de questão prejudicial incidental, desde que


preencha os pressupostos dos parágrafos do art. 503, está sujeita à coisa
julgada, independentemente de provocação específica para o seu reconheci-
mento. (Grupo: Coisa Julgada, Ação rescisória e Sentença; redação revista
no VI FPPC-Curitiba).

Por fim, é importante destacar a posição de parcela da doutrina no sentido


de ser possível que as partes, utilizando-se da cláusula geral de negociação processu-
al prevista no art. 190 do CPC/2015, acordem “(...) que a coisa julgada se forme sobre uma
determinada questão prejudicial (...)”, tendo em vista que “(...) a vinculatividade da coisa
julgada atingir uma determinada questão está na esfera de disposição das partes” (cf. Antonio
do Passo CABRAL, In. Breves comentários ao novo código de processo civil, comentários
ao art. 504, p. 1368).

Cumprimento de Sentença
O Novo Código de Processo Civil preferiu ser extremamente didático no tra-
tamento das diversas hipóteses de cumprimento de sentença, diferenciando-as dos
procedimentos previstos para as execuções fundadas em títulos executivos extraju-
diciais (processo de execução) e mantendo o cumprimento de sentença como mais
uma fase do processo (sincrético).
Nesse sentido, o Título II, do Livro I, da Parte Especial do CPC/2015, trata “Do Cumpri-
mento da Sentença”, subdividindo-se, ainda, em seis Capítulos distintos, quais sejam: “Dis-
posições Gerais” (arts. 513 a 519); “Do Cumprimento Provisório da Sentença que Reconhece
a Exigibilidade de Obrigação de Pagar Quantia Certa” (arts. 520 a 522); “Do Cumprimento
Definitivo da Sentença que Reconhece a Exigibilidade de Obrigação de Pagar Quantia Certa”
(arts. 523 a 527); “Do Cumprimento da Sentença que Reconhece a Exigibilidade da Obrigação
de Prestar Alimentos” (arts. 528 a 533); “Do Cumprimento da Sentença que Reconhece a Exi-
gibilidade de Obrigação de Pagar Quantia Certa pela Fazenda Pública” (arts. 534 e 535); e, por
fim, “Do Cumprimento da Sentença que Reconhece a Exigibilidade de Obrigação de Fazer,
de Não Fazer e de Entregar Coisa” (arts. 536 a 538).
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Com destaque às disposições gerais, o Novo Código, como também faz o
CPC/73, permite que as normas relativas ao procedimento de execução fundado em
título executivo extrajudicial sejam aplicadas ao cumprimento de sentença, no que
couber e conforme a natureza da obrigação (CPC/2015, art. 513, caput).
Acredita-se, portanto, na importância desse diálogo, principalmente, no que
tange às disposições relativas à penhora e à expropriação de bens e valores para sa-
tisfação do crédito (arts. 831 a 909). 
Ademais, algumas teses consagradas pela doutrina e pela jurisprudência
foram positivadas, com destaque: (i) só terá início o cumprimento de decisão que
reconhece obrigação de pagar quantia certa com o requerimento do exequente
(CPC/2015, art. 513, § 1º), sendo, portanto, dispensado o impulso da parte para inau-
gurar o cumprimento de decisão que contenha obrigações de entregar coisa, fazer e
não fazer; (ii) o executado deverá ser intimado para cumprir a decisão e, quando tiver
advogado constituído, essa intimação será feita na pessoa do advogado (art.513, § 2º,
inciso I). Esse é o posicionamento consagrado no STJ (AgRg no Ag 1.400.677/PR, 3ª
T., j. 17.11.2011, rel. Min. Nancy Andrighi, DJe 25.11.2011).
Adverte-se, contudo, que, se o requerimento do cumprimento de sentença for
formulado após 01 ano do trânsito em julgado da decisão, a intimação deverá ser fei-
ta na pessoa do executado por meio de carta com aviso de recebimento (art. 513, § 4º).
Ao enumerar o rol de títulos executivos judiciais, o art. 515 do CPC/2015 am-
plia e aperfeiçoa as disposições trazidas pelo art. 475-N do CPC/73.
Portanto, são considerados como títulos executivos judiciais pelo CPC de 2015:
• I – as decisões (não mais a “sentença” – CPC/73, incluindo como título judi-
cial também as decisões interlocutórias, acórdãos e decisões originárias dos Tribu-
nais) proferidas no processo civil que reconheçam a exigibilidade (e não mais “exis-
tência”, afastando da seara dos títulos executivos judiciais as decisões meramente
declaratórias) de obrigação de pagar quantia, de fazer, de não fazer ou de entregar
coisa;
• II – a decisão homologatória de autocomposição judicial; 
• III – a decisão homologatória de autocomposição extrajudicial de qualquer
natureza; 
• IV – o formal e a certidão de partilha, exclusivamente em relação ao inventa-
riante, aos herdeiros e aos sucessores a título singular ou universal; 
• V – o crédito de auxiliar da justiça, quando as custas, emolumentos ou hono-
rários tiverem sido aprovados por decisão judicial (adequação pertinente, pois essas
verbas eram tratadas erroneamente pelo
• CPC/73 como extrajudiciais – art. 585, VI); 
• VI – a sentença penal condenatória transitada em julgado; 

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• VII – a sentença arbitral; 
• VIII – a sentença estrangeira homologada pelo Superior Tribunal de Justiça; 
• IX – a decisão interlocutória estrangeira, após a concessão do exequatur à car-
ta rogatória pelo Superior Tribunal de Justiça.
Por fim, o art. 517 do CPC/2015 possibilita expressamente prática já adota-
da por alguns cartórios de protesto no Brasil com base no art. 1.° da Lei Federal nº
9.492/97 (“protesto é ato formal e solene pelo qual se prova a inadimplência e o des-
cumprimento de obrigação originada em títulos e outros documentos de dívida”),
qual seja: o protesto de decisão judicial transitada em julgado, depois de transcorrido
o prazo para pagamento voluntário, além de disciplinar o procedimento de sua efe-
tivação e cancelamento nos parágrafos do citado dispositivo.

Prisão Civil
Didaticamente, o Novo Código preferiu expressamente se referir, em capítu-
los distintos, ao cumprimento de sentença que reconhece a exigibilidade de obriga-
ção de prestar alimentos (arts. 528 a 533) e à execução de alimentos fundada em título
executivo extrajudicial (arts. 911 a 913), deixando clara a possibilidade de aplicação
da prisão civil, de 01 a 03 meses, para ambos os casos e procedimentos (arts. 528, §
3º e 911, parágrafo único – com a ressalva que, no caso de cumprimento de sentença,
além da decretação da prisão, o juiz também determinará o protesto do pronuncia-
mento judicial na forma do § 1º do art. 528).
Sobre o tema, destaca-se que o CPC/2015, em seu art. 1.072, V, revoga expres-
samente os arts. 16 a 18 da Lei Federal nº 5.478/68 (Lei de Alimentos), deixando acesa,
portanto, a discussão sobre a aplicação do prazo de prisão previsto no art. 19 desse
Diploma Legal (que é menor: de até 60 dias).
O devedor de alimentos será intimado pessoalmente para, no prazo de 03 dias,
“pagar o débito, provar que o fez ou justificar a impossibilidade de efetuá-lo” (CPC/2015, art.
528, caput), ou será citado para, no mesmo prazo de 03 dias, “efetuar o pagamento das
parcelas anteriores ao início da execução e das que se vencerem no seu curso, provar que o fez
ou justificar a impossibilidade de fazê-lo” (art. 911, caput).
Independentemente de se tratar de título judicial ou extrajudicial, o art. 528,
§ 7º do Novo Código (repita-se, também aplicável à execução de alimentos funda-
da em título executivo extrajudicial – CPC/2015, art. 911, parágrafo único) esclarece
que “O débito alimentar que autoriza a prisão civil do alimentante é o que compreende até
as 3 (três) prestações anteriores ao ajuizamento da execução e as que se vencerem no curso do
processo”.
Nesse sentido, na nossa visão, a expressão “anteriores ao ajuizamento da exe-
cução” deve ser lida da seguinte forma: anteriores à deflagração do início da fase de

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cumprimento de sentença ou ao ajuizamento da execução.
Sobreleva notar, ainda, a ressalva feita pelo § 8º do mesmo dispositivo legal,
este não aplicável às execuções de alimentos fundadas em título executivo extraju-
dicial:

O exequente pode optar por promover o cumprimento da sentença ou deci-


são desde logo, nos termos do disposto neste Livro, Título II, Capítulo III
[“Do Cumprimento Definitivo da Sentença que Reconhece a Exigibilidade
de Obrigação de Pagar Quantia Certa”], caso em que não será admissível
a prisão do executado, e, recaindo a penhora em dinheiro, a concessão de
efeito suspensivo à impugnação não obsta a que o exequente levante men-
salmente a importância da prestação.

Observa-se, portanto, a unificação do prazo de 03 dias para pagamento (tan-


to no cumprimento de sentença quanto na execução de título extrajudicial – salvo
quando se tratar da hipótese descrita no artigo 528, § 8º, ocasião na qual o prazo será
de 15 dias, sob pena de multa e honorários sucumbenciais de 10%), bem como a con-
sagração do quanto disposto no Enunciado nº 309 da Súmula do STJ, no sentido de
que “O débito alimentar que autoriza a prisão civil do alimentante é o que compreende as três
prestações anteriores ao ajuizamento da execução e as que se vencerem no curso do processo”.
Sobre o assunto, importantes as observações feitas por Flávio TARTUCE:

Consigne-se que a jurisprudência tem determinado a prisão quando o deve-


dor tem o costume de não pagar integralmente os alimentos devidos, sem
deixar caracterizar os três meses de inadimplência, visando a furtar-se da
prisão. É o caso, por exemplo, do devedor que costuma deixar de pagar
dois meses consecutivos do valor devido, mas paga a dívida no terceiro
mês. (...) (TJES, Processo 100010015749) (...) esse entendimento deve ser
mantido sob a égide do Novo Estatuto Processual. A contumácia do deve-
dor, a reiteração de inadimplência alimentar, aliás, sempre foi motivo para
novas prisões, conforme vem entendendo o Superior Tribunal de Justiça (...)
(STJ, RHC 17.541-RJ). (O Novo CPC e o direito civil: impactos, diálogos
e interações, p. 437-438).

Sobre a possibilidade de prisão civil nas execuções de título extrajudicial, res-


salta o mesmo autor:

Com esse novo tratamento, algumas polêmicas anteriores são sanadas. Den-
tre elas, destacamos a possibilidade de prisão civil, agora viável, nos casos
de alimentos fixados em escritura pública de divórcio, o que gerava tormen-
tosa discussão entre civilistas e processualistas. (Ibid., p. 442).

Ainda, cabe dizer que a prisão civil será cumprida em regime fechado, devendo o pre-
so ficar separado dos presos comuns (CPC/2015, art. 528, § 4º). Além disso, o cumprimento da
pena não eximirá o executado do pagamento da dívida alimentar vencida e vincenda (§ 5º) e,

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“Paga a prestação alimentícia, o juiz suspenderá o cumprimento da ordem de prisão” (§ 6º).
Por fim, resta mencionar que o art. 531, caput, do CPC/2015 deixa claro que “O
disposto neste Capítulo aplica-se aos alimentos definitivos ou provisórios”. Sobre isso, desta-
cam-se as ponderações de Teresa Arruda Alvim WAMBIER, Maria Lúcia Lins CON-
CEIÇÃO, Leonardo Ferres da Silva RIBEIRO e Rogerio Licastro Torres de MELLO:

(...). Não faz sentido, sob a ótica do CPC/2015, distinguir alimentos pro-
visórios de provisionais, a uma, porque acertadamente a tutela cautelar e a
antecipação de tutela receberam tratamento uníssono, decorrente do mesmo
regime jurídico; a duas, porque, como bem esclarece Cassio Scarpinella
Bueno (Curso sistematizado de direito processual civil. V. 3, p. 369), deve
ser admitida uma classificação mais afinada aos fins processuais, de forma
que os alimentos definitivos são aqueles devidos por força de tutela juris-
dicional ulterior e definitiva, enquanto os provisórios e/ou provisionais são
aqueles devidos por força de uma tutela sumária e provisória. O CPC/2015
perdeu uma excelente chance de permitir expressamente a incidência das
normas deste Capítulo aos alimentos “independentemente de sua origem”,
para acabar com uma intensa discussão doutrinária. Deveria, a nosso ver, ser
possibilitada a prisão civil e o desconto em folha, também aos voluntários
ou indenizativos. (Primeiros comentários ao novo código de processo civil:
artigo por artigo, comentários ao art. 531, p. 973).

Separação e Divórcio
Em praticamente todos os momentos nos quais o CPC/2015 menciona o di-
vórcio como forma de extinção do vínculo conjugal entre duas pessoas, também faz
alusão à separação judicial (arts. 23, III, 53, I, 189, II e § 2º, 693, e 731 a 733).
De um lado estão os que enxergam nisso,

Uma grande infelicidade, um total retrocesso. Com essas fortes palavras


pode ser resumida a manutenção da separação judicial e extrajudicial no
Novo Código de Processo Civil Brasileiro. Vários dispositivos da norma
instrumental emergente continuam a tratar das categorias, o que não deveria
ocorrer, em hipótese alguma. (...). Na votação final dos destaques no Sena-
do Federal, realizada no dia 17.12.2014, havia uma insurgência pontuada
pela Senadora Lídice da Mata a respeito dessa manutenção. Porém, a Ilustre
Senadora acabou por ser convencida pela conservação da separação judicial
no texto, retirando, ao final, o seu destaque. Sendo assim, o Novo Código
de Processo Civil nasce com um instituto morto em vários de seus disposi-
tivos. (Flávio TARTUCE. O Novo CPC e o direito civil: impactos, diálogos
e interações, p. 367e 369).

De outro, amparados também pelo Enunciado nº 514 da V Jornada de Direito


Civil, segundo o qual “A Emenda Constitucional n. 66/2010 não extinguiu o instituto da
separação judicial e extrajudicial”, estão aqueles que não vislumbram a extinção do ins-
tituto da separação judicial. Entre os processualistas, eis a visão de Cassio Scarpinella
BUENO sobre o tema ao comentar o inciso III do art. 23 do CPC/2015:

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(...) a expressa menção feita pelo inciso III do art. 23 à “separação judicial”,
alvo de acesas discussões ao longo do processo legislativo até os últimos
momentos dos debates do Projeto no Senado Federal, é a preferível. Aos
civilistas é que cabe defender a manutenção, ou não, da separação judicial
na perspectiva do direito material após o advento da Emenda Constitucional
n. 66/2010, que aboliu o prazo mínimo para o divórcio. Aos processualistas
em geral e ao Código de Processo Civil em específico cabe se referir aos
efeitos processuais daquela figura que, é esta a grande verdade, subsiste
para muitos e assim continuará sendo a despeito da facilitação do divórcio.
(Novo Código de Processo Civil anotado, p. 101).

O Novo Código, pois, longe de encerrar a polêmica que envolve a manutenção


ou não do instituto da separação judicial no ordenamento jurídico brasileiro após o
advento da Emenda Constitucional nº 66/2010, acirra ainda mais os ânimos entre os
civilistas.

Procedimentos de Jurisdição Voluntária


Ao lado dos procedimentos especiais de jurisdição contenciosa, presentes nos
Capítulos I a XIV, o Título IV do Livro I da Parte Especial do Novo Código se volta
aos procedimentos de jurisdição voluntária, isto é, às hipóteses há muito classificadas
pela doutrina como “administração pública de interesses privados” ou “fiscalização
do interesse público nos negócios privados”. Importante ressaltar, desde o início, que
os arts. 1º ou 16 do CPC/2015 não reproduziram a distinção entre jurisdições contenciosa e
graciosa, tal como fazia o art. 1º do CPC/73.
Na jurisdição voluntária, ou graciosa, o Estado-Juiz é chamado a ratificar ou in-
tegrar a vontade dos jurisdicionados nas hipóteses previstas em lei, seja tutelando de-
terminado interesse específico, seja criando situações jurídicas novas em casos nos quais as
partes, aqui chamadas de interessados, têm interesses convergentes, e não divergentes.
Em verdade, seria melhor que o CPC/2015 tivesse usado a expressão “jurisdi-
ção não contenciosa”, como era previsto no Projeto do Senado Federal. Entretanto,
acabou prevalecendo a nomenclatura já conhecida: jurisdição voluntária.
A doutrina divergiu por algum tempo sobre a caracterização da jurisdição vo-
luntária como verdadeiro exercício do poder jurisdicional estatal. No entanto, atual-
mente, está praticamente pacificado que, mesmo nessas hipóteses sem conflito atual
ou potencial, está-se diante de verdadeiro exercício da jurisdição. Ora, os juízes atuam
concretamente; as decisões precisam ser fundamentadas; existe a possibilidade de
interposição de recurso; a decisão proferida em sede de jurisdição voluntária, para
alguns, tem aptidão para a formação de coisa julgada material; enfim, parece real-
mente não haver motivo algum para não caracterizar como jurisdicional o papel do
Estado nessas situações previstas em lei.
Parece mais importante, nos tempos atuais, que a doutrina se debruce e analise com

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atenção as iniciativas legislativas de desjudicialização de alguns procedimentos, como já
aconteceu, por exemplo, com o inventário e a partilha feitos por escritura pública
e com o divórcio consensual sem filhos menores ou incapazes feito também pela
via extrajudicial, possibilidades expressamente repetidas nos arts. 610, § 1º e 733 do
CPC/2015.
Prestigiar soluções extrajudiciais para casos em que o CPC/2015 ainda insiste
em deixar exclusivamente nas mãos do Poder Judiciário seria uma forma de, em
verdade, prestigiar a própria jurisdição, reservando-a para questões de extremo rele-
vo e para os casos nos quais as partes realmente não possuam outra opção a fim de
regularizar a sua situação jurídica concreta.
Não se pode negar que o Novo Código avançou um pouco nesse sentido. E como
exemplos, podem ser citados: (i) a demarcação e a divisão de terras por escritura pú-
blica (art. 571); (ii) a homologação do penhor legal (art. 703, §§ 2º a 4º); (iii) a extinção
consensual da união estável quando não houver nascituro ou filhos incapazes (art.
733); e também (iv) a usucapião extrajudicial de bens imóveis (art. 1.071).
Por outro lado, ainda há espaço para novas situações que talvez pudessem
ficar nas mãos dos Tabelionados e Cartórios. Um exemplo claro disso é falta de previsão
legal quanto à possibilidade de usucapião extrajudicial de bens móveis. Ora, se o sistema
agora prevê a usucapião extrajudicial de bens imóveis, com mais razão deveria ter
pensado também no procedimento administrativo para usucapir bens móveis.
Voltando especificamente aos procedimentos de jurisdição voluntária (ou graciosa)
no CPC/2015, as principais novidades envolvem, essencialmente, os arts. 88, 215, in-
ciso I e 719 a 770.
Dentro de uma visão topográfica do CPC/2015, os procedimentos de jurisdição
voluntária estão inseridos como variações especiais do procedimento comum (lembrando
que não existe mais a distinção entre procedimento ordinário, sumário e sumarís-
simo, mas tão-somente entre procedimento comum e especial). E isso se justifica à
medida que os procedimentos de jurisdição voluntária possuem caraterísticas espe-
ciais que os diferenciam e autorizam um rito procedimental próprio, a exemplo do
que também ocorre com os procedimentos especiais de jurisdição contenciosa (exs.:
ação de consignação em pagamento e de exigir contas, ações possessórias, inventário
e partilha judiciais etc.).
Não havendo lide (pretensão resistida), não haverá, por consequência, vencedor ou ven-
cido, nem condenação em verbas sucumbenciais. Daí porque o art. 88 do CPC/2015, repe-
tindo o art. 24 do CPC/73, é claro ao dispor que as despesas serão adiantadas pelo
requerente e rateadas entre os interessados (de forma proporcional). Isso ocorre tam-
bém nos casos de instauração do procedimento por iniciativa do Ministério Público,
como pode acontecer no inventário, por exemplo (CPC/2015, art. 616, inciso VII).

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Ao lado de disposições específicas para alguns procedimentos de jurisdição
voluntária destacados pelo CPC/2015, como é o caso da notificação, interpelação, he-
rança jacente, divórcio e separação consensuais, entre outros, existem disposições gerais
nos arts. 719 a 724, aplicáveis tanto aos procedimentos especificamente previstos, ainda que de
forma supletiva, quanto àqueles expressamente elencados no art. 725.
Nesse sentido, o art. 719 do Novo Código esclarece que as disposições constantes da-
quela seção são aplicáveis a todo e qualquer procedimento de jurisdição voluntária, inclusive
os que estão fora do CPC/2015 (tal como a opção de nacionalidade prevista no art. 109,
X, da Constituição Federal), a menos que existam regras próprias impostas pela nova
sistemática processual civil, a exemplo do que ocorre com a já mencionada homolo-
gação extrajudicial de penhor legal (art. 703, §§ 2º a 4º).
O art. 720 traz uma importante novidade: a inclusão da Defensoria Pública como
legitimada para iniciar o procedimento de jurisdição voluntária ao lado do interessado e do
Ministério Público.
Na linha de uniformização dos prazos para manifestação e defesa, o art. 721
esclarece que os interessados serão citados, bem como intimado o Ministério Público quando
for o caso, para se manifestarem no prazo de 15 dias (ampliando o prazo estabelecido pelo
art. 1.106 do CPC/73, que era de 10 dias).
Também não existe mais a expressa cominação de nulidade para a ausência
de intimação do membro do Ministério Público. Isso porque, como se sabe, o Novo
Código adota a regra da sanabilidade das nulidades processuais, sejam elas absolutas ou
relativas. Nesse sentido, o art. 279, § 2º, do CPC/2015 dispõe que a nulidade pela au-
sência de intimação do membro do Ministério Público somente poderá ser decretada
se o Parquet, intimado para se manifestar sobre o caso, alegar a existência de efetivo
prejuízo. Não havendo prejuízo, não haverá nulidade.
Foram repetidas as disposições relacionadas à oitiva da Fazenda Pública, nos ca-
sos em que tiver interesse (art. 722), à decisão judicial do pedido no prazo de 10 dias (art.
723) e também à recorribilidade da sentença por meio do recurso de apelação (art. 724),
o que, de rigor, seria dispensável diante do que expressamente dispõe o art. 1.009, caput,
do CPC/2015.
Além dos procedimentos de jurisdição voluntária previstos em suas peculiarida-
des nos arts. 726 a 770, ficarão sujeitas a essas normas gerais (arts. 719 a 724) os pedidos
de: (i) emancipação; (ii) sub-rogação; (iii) alienação, arrendamento ou oneração de bens
de crianças e adolescentes, de órfãos e de interditos; (iv) alienação, locação e administra-
ção da coisa comum; (v) alienação de quinhão em coisa comum; (vi) extinção de usu-
fruto, quando não decorrer da morte do usufrutuário, do termo da sua duração ou da
consolidação, e de fideicomisso, quando decorrer de renúncia ou quando ocorrer antes
do evento que caracterizar a condição resolutória; (vii) expedição de alvará judicial; e (viii)

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homologação de autocomposição extrajudicial, de qualquer natureza ou valor (art. 725),
ligada ao art. 515, inciso III, que a trata como espécie de título executivo judicial.
Importante destacar as novidades presentes nos incisos VII e VIII, que não
estavam expressas no art. 1.112 do CPC/73, bem como a utilização da expressão
“crianças ou adolescentes”, em vez de “menores”, e também do detalhamento das
hipóteses de extinção de usufruto e fideicomisso abrangidas pelo procedimento ju-
dicial, uma vez que a extinção do usufruto em virtude da morte do usufrutuário, por
exemplo, já se opera em razão de expressa disposição legal nesse sentido (CC, art.
1.410, inciso I), não havendo qualquer motivo para se iniciar algum procedimento de
jurisdição voluntária.
A par das disposições gerais já mencionadas, o Novo Código se preocupa em
regular com especificidade alguns procedimentos especiais de jurisdição voluntária,
seja por sua utilidade prática, seja por alguma característica que justifique esse trata-
mento individualizado.
Notificação e interpelação judiciais: Antes tratadas como procedimentos cau-
telares específicos, o CPC/2015 colocou, de forma adequada e correta, a notificação e
a interpelação judiciais dentre os procedimentos de jurisdição voluntária, acrescen-
tando expressamente no art. 726, parágrafo único, que as mesmas disposições são
aplicadas, no que couber, ao protesto judicial.
Assim, se as notificações têm por finalidade intimar alguém e dar-lhe ciên-
cia sobre algo juridicamente relevante, as interpelações objetivam a constituição em
mora do devedor (art. 727).
Havendo suspeita de que o requerente que alcançar algum fim ilícito ou se o
pedido foi formulado para que se faça a averbação da notificação em algum registro
público, o requerido deverá ser previamente ouvido (art. 728), também em respeito
ao contraditório amplo prestigiado pelos art. 10 do CPC/2015. Deferida e realizada a
notificação ou interpelação, os autos serão entregues ao requerente (art. 729).
Alienação judicial: diferentemente do art. 1.113 do CPC/73, o Novo Código
apenas exige, para viabilizar a alienação judicial, a falta de acordo entre os interes-
sados sobre o modo como se deve realizar a alienação do bem, fazendo remissão ex-
pressa aos artigos do CPC/2015 que tratam do leilão judicial eletrônico ou presencial
(art. 730).
Divórcio e separação consensuais, extinção consensual de união estável e al-
teração do regime de bens do matrimônio: o CPC/2015, nos arts. 731 a 734, trata do
procedimento em torno de importantes questões de direito material. Dando força à
corrente doutrinária que, mesmo após a EC nº 66/2010 (que alterou a redação do art.
226, § 6º da Constituição Federal), defende a permanência do instituto da separação
judicial no ordenamento jurídico brasileiro, o Novo Código tratou expressamente da

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separação judicial consensual (art. 731).
Coerentemente, e de forma bastante pragmática, o Novo Código também
trouxe o procedimento necessário à extinção consensual de união estável (art. 732),
que também poderá ser aplicável à extinção consensual de união homoafetiva, nota-
damente a partir da decisão dada pelo Supremo Tribunal Federal no bojo da ADPF
132, em sede de controle concentrado de constitucionalidade e, portanto, com efeitos
erga omnes e vinculante em relação ao Poder Judiciário e à Administração Pública
Direta e Indireta (CF, art. 102, § 1º e Lei Federal nº 9.882/99, art. 10, § 3º).
O art. 733, por sua vez, preservou a previsão quanto ao divórcio consensual,
à separação consensual e à extinção consensual de união estável feita por escritura
pública, nos casos em que não houver nascituro ou filhos incapazes.
Ampliando a regulamentação prevista já no art. 1.639, § 2º do Código Civil, o
CPC/2015 também fez referência expressa à alteração consensual do regime de bens
do casamento, mediante pedido motivado dos cônjuges nesse sentido e ressalvados
direitos de terceiros. O que a doutrina civilista discute, e com grande razão prática,
é a definição do que seria considerado motivo suficiente nesses casos para o pedido
feito pelos cônjuges.
Testamentos e codicilos: além de algumas modificações redacionais, a discipli-
na dada pelo CPC/2015 aos testamentos e codicilos não traz nada de substancialmen-
te novo, de modo que a leitura atenta dos arts. 735 a 737 já bastam para a atualização
da matéria.
Herança jacente: a herança jacente é o procedimento que tem por objetivo ar-
recadar os bens deixados pela pessoa falecida que não tem herdeiros e colocá-los sob
a guarda, conservação e administração de um curador até a efetiva entrega ao suces-
sor legalmente habilitado ou até a declaração de vacância. Sem maiores novidades
também em relação à sistemática anterior, o CPC/2015 trata do assunto nos arts. 738
a 743.
Bens dos ausentes: também sem maiores novidades em relação à sistemática
processual anterior, os arts. 744 e 745 do CPC/2015 tratam do procedimento rela-
cionado à arrecadação, guarda e conservação dos bens dos ausentes, situação que
se aproxima com clareza do procedimento previsto quanto à herança jacente, fato
expressamente destacado no próprio art. 744.
Coisas vagas: o CPC/2015, a exemplo do que faziam os arts. 1.170 e 1.171 do
CPC/73, continua a disciplinar o procedimento que visa descobrir o dono ou o legíti-
mo possuidor de coisa alheia perdida (art. 746), em complementação à regra do art.
1.233 do Código Civil. A novidade, aqui, restringe-se à publicação de edital na rede
mundial de computadores, no site do tribunal a que estiver vinculado e na platafor-
ma de editais do Conselho Nacional de Justiça.

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Interdição: especificamente sobre este tema, é preciso destacar que, antes
mesmo de o Novo Código entrar em vigor, iniciou-se a vigência da Lei Federal nº
13.146/2015, também conhecida como Estatuto da Pessoa com Deficiência, que con-
solida as ideias constantes na Convenção Internacional das Pessoas com Deficiência
firmada em Nova Iorque e que ingressou no sistema jurídico brasileiro com status de
emenda constitucional (CF, art. 5º, § 3º e Decreto nº 6.949/09).
O referido Diploma Legal trouxe um conceito de pessoa com deficiência (art.
2º) e alterou alguns dispositivos do Código Civil Brasileiro, em especial os arts. 3º e
4º, reformulando os conceitos de incapacidade absoluta e relativa que se havia cons-
truído até então.
A regra geral do sistema jurídico para as pessoas com deficiência é a plena
capacidade, que é inerente a condição humana. Assim, não há mais incapacidade ab-
soluta por deficiência física ou mental. Nesse sentido, somente é considerada pessoa
absolutamente incapaz as menores de 16 anos (CC, art. 3º). Toda e qualquer outra
hipótese será enquadrada nos casos de incapacidade relativa.
O grande objetivo do Estatuto da Pessoa com Deficiência foi dar ênfase à au-
tonomia privada dessas pessoas, que são sujeitos de direitos como qualquer outra,
somente precisando de amparo em situações específicas e determinadas.
As restrições da curatela só atingem direitos de natureza patrimonial, e não
os existenciais, que visam à promoção da pessoa humana (Lei Federal nº 13.146/15,
arts. 6º e 84 a 87). Desse modo, por exemplo, o casamento da pessoa com deficiência
é plenamente válido, não gerando nulidade (nova redação do art. 1.548 do CC).
Daí porque uma parcela da doutrina, hodiernamente, prefere não mais falar
em interdição, palavra que ainda carrega uma carga semântica muito alinhada à in-
capacidade absoluta das pessoas com deficiência e a poderes amplos do curador. Tal-
vez somente o termo curatela pudesse designar esse procedimento para a assistência
a pessoas que, por algum motivo, não podem plenamente exercer os seus direitos
patrimoniais. Por outro lado, fato é que o CPC/2015 ainda utiliza expressamente a
palavra interdição.
Quanto à legitimidade para o pedido de interdição, havia uma polêmica dou-
trinária: alguns lecionavam que a redação do art. 1.768 do Código Civil, modificada
pela Lei Federal nº 13.146/15 (lei especial), deveria prevalecer sobre a redação do
CPC/2015 (lei posterior). Mas, na prática, com a entrada em vigor do Novo Código,
o art. 1.768 do Código Civil foi expressamente revogado (art. 1.072, inciso II).
Assim é que o CPC/2015, em seus arts. 747 a 758, regula o procedimento da
interdição, que deve ser lido e interpretado a partir das novas diretrizes do Estatuto
da Pessoa com Deficiência, a indicar, sempre que possível, a excepcionalidade da
interdição de direitos e da curatela.

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Em síntese, feito o requerimento para a instauração do procedimento, o juiz
irá entrevistar pessoalmente o interditando acerca de suas preferências e vontades
(art. 751).
Dentro do prazo de 15 dias, contados dessa entrevista, o interditando poderá
impugnar o pedido por meio de advogado ou curador especial (art. 752). Decorrido
o prazo, o juiz determinará a produção de prova pericial (art. 753).
Apresentado o laudo, o juiz proferirá sentença, nomeando curador, fixando
os limites da curatela (arts. 754 e 755) e observando, quando se tratar de pessoa com
deficiência, os princípios e direcionamentos do Estatuto da Pessoa com Deficiência.
Em suma, o juiz constituirá na sentença um projeto terapêutico individualizado, no-
meando um curador, fixando os limites da curatela e deixando muito claro quais são
os atos estão sendo privados.
O levantamento da curatela é previsto no art. 756 do CPC/2015.
Por fim, em conformidade com alguns ditames trazidos pelo Estatuto da Pes-
soa com Deficiência, os arts. 757 e 758 do CPC/2015 trazem disposições que, se bem
interpretadas, poderão contribuir e muito para essa nova visão da deficiência e da
excepcionalidade da interdição.
Nesse sentido, de acordo com o art. 757, o juiz poderá considerar outra solução
como mais conveniente aos interesses do incapaz, limitando a autoridade do curador
àqueles direitos patrimoniais que realmente tiverem que ser restringidos e colocados
sob curatela. No mesmo diapasão, o art. 758 estabelece que ao curador cabe buscar
tratamento e apoio apropriados à conquista da autonomia pelo interdito, corrobo-
rando a ideia da excepcionalidade da interdição e do máximo resgate da autonomia
do interdito.
Tomada de decisão apoiada: as pessoas com deficiência são, em regra, capa-
zes, e tomarão suas decisões de forma autônoma. Mas, em algumas situações, pode-
rão precisar apenas de um apoio. Nesse sentido foi contemplada a tomada de deci-
são apoiada no art. 84 da Lei Federal nº 13.146/15 e no art. 1.783-A do Código Civil.
Trata-se de um novo instituto, criado para assistir a pessoa com deficiência, pelo qual
ela escolhe duas pessoas idôneas, com as quais mantém vínculo de confiança, para
reforçar o exercício da sua autonomia. Assim, mesmo a pessoa com deficiência com
algum tipo de vulnerabilidade, não precisa de curador e podem tomar decisões de
forma autônoma, ainda que apoiada.
Disposições comuns à tutela e à curatela: o CPC/2015 trata especificamente do
procedimento para nomeação, remoção, suspensão, substituição ou exoneração de
tutor ou curador. Em linhas gerais, a tutela é voltada à proteção dos interesses dos
menores não emancipados e não sujeitos ao poder familiar; enquanto a curatela é um
instituto de direito assistencial para a defesa dos interesses dos maiores incapazes. O

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Novo Código trata do assunto nos arts. 759 a 763.
Organização e fiscalização das fundações: ao Ministério Público Estadual cabe
fiscalizar as fundações, nos termos do art. 66 do Código Civil. A essa disciplina es-
pecífica de direito material se deve somar os arts. 764 e 765 do CPC/2015. A esse res-
peito, destaca-se o Enunciado nº 189 do Fórum Permanente de Processualistas Civis.
Ratificação dos protestos marítimos e protestos testemunháveis formados a
bordo: finalmente revogando as disposições do CPC/39 que ainda estavam vigentes,
o CPC/2015 tratou expressamente dos protestos marítimos e dos protestos testemu-
nháveis formados a bordo (arts. 766 a 770).

Protesto de Decisão Judicial no CPC/2015


Apesar de o art. 1º, caput, da Lei Federal nº 9.492/97 (“Protesto é o ato formal e
solene pelo qual se prova a inadimplência e o descumprimento de obrigação originada em tí-
tulos e outros documentos de dívida”) nunca ter feito nenhuma distinção entre os títulos
judiciais e extrajudiciais para fins de protesto, fato é que somente com o CPC/2015 o
protesto de títulos executivos judiciais passará a ser mais comum na prática.
Isso porque a questão carecia de regulamentação mais específica e ainda
não fazia parte da estratégia jurídica e das petições dos advogados nas demandas
judiciais em geral (apesar de posicionamento favorável do STJ – v. REsp. 750.805/
RS, 3ª T., j. 14.02.2008, rel. Min. Humberto Gomes de Barros, DJe 16.06.2009; REsp.
1.533.206/MG, 4ª T., j. 17.11.2015, rel. Min. Luis Felipe Salomão, DJe 01.02.2016; e,
AgRg no REsp. 967.683/SC, 4ª T., j. 17.03.2016, rel. Min. Raul Araújo, DJe 14.04.2016).
O Novo Código, por sua vez, trouxe novos ares para esse importante meca-
nismo de execução indireta (espécie de meio executório que atua sobre a vontade do
executado), notadamente através das regras presentes nos arts. 517 e 528, § 1º.
Dessa forma, as decisões judiciais transitadas em julgado que representem
obrigações certas, líquidas e exigíveis poderão, após o prazo de 15 dias para paga-
mento voluntário, ser objeto de certidão específica para fins de protesto a ser forne-
cida pelo cartório judicial no prazo de 03 dias do requerimento feito pelo exequente
(CPC/2015, arts. 517, caput e § 2º).
A matéria também foi objeto de regulamentação específica no Estado de São
Paulo pelo Provimento nº 13/2015, da Corregedoria Geral da Justiça, órgão compe-
tente do Tribunal de Justiça Paulista para tratar desse assunto.
No que tange cumprimento de decisões judiciais que reconhecem a exigibili-
dade de obrigação de prestar alimentos, caso o executado não efetue o pagamento
em 03 dias, não prove que o efetuou ou não apresente justificativa da impossibilida-
de de fazê-lo, o protesto será determinado diretamente pelo juízo competente (art.
528, § 1º).

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Nas palavras do Professor Marcelo ABELHA:

A grande vantagem e benefício do protesto da decisão judicial transitada em


julgado não está no fato de o protesto constituir-se em meio de prova do ina-
dimplemento da obrigação, tampouco o fato de ele dar publicidade da mora
do devedor, pois esses fins são alcançados por intermédio da instauração
da fase procedimental executiva, posto que todos os atos processuais são
públicos e certidões desse estado do processo podem ser obtidas e inclusive
registradas como forma de evitar a fraude à execução. Enfim, o maior be-
nefício que o credor pode obter ao se protestar a decisão judicial transitada
em julgado é o que ele produz na prática, na vida cotidiana, e que nenhum
título judicial poderia conseguir de forma tão eficiente e lépida que é o aba-
lo do crédito do devedor. É que a partir do protesto do título o nome do
devedor passa a ser inscrito nos serviços e cadastros de proteção ao crédito
como Serasa, SPC etc., o que lhe causa enorme estorvo e complicações de
seu crédito pessoal. Esse fato é que se torna deveras importante e eficiente
para fazer com que o devedor se sinta compelido e estimulado a adimplir a
obrigação contida no título protestado. (Manual da execução, p. 217-218).

Processo de Execução
O procedimento da execução (autônoma) fundada em título executivo extra-
judicial está regulado pelo Livro II, da Parte Especial do CPC/2015.
Em seus quatro Títulos, a matéria é abordada da seguinte forma: “Da Execu-
ção em Geral” (Título I – CPC/2015, arts. 771 a 796); “Das Diversas Espécies de Exe-
cução” – entrega de coisa, fazer ou não fazer, execução por quantia certa, execução
por quantia certa contra Fazenda Pública e execução de alimentos (Título II – arts.
797 a 913); “Dos Embargos à Execução” (Título III – arts. 914 a 920); e “Da Suspensão
e Extinção do Processo de Execução” (Título IV – arts. 921 a 925).
Logo no primeiro artigo (771) se encontra presente a possibilidade de aplica-
ção subsidiária das normas do processo de execução, no que couber, também “aos
procedimentos especiais de execução, aos atos executivos realizados no procedimen-
to de cumprimento de sentença, bem como aos efeitos de atos ou fatos processuais a
que a lei atribuir força executiva”.
O art. 772, por sua vez, acrescenta ao rol do artigo 599 do CPC/73, a determi-
nação “que sujeitos indicados pelo exequente forneçam informações em geral rela-
cionadas ao objeto da execução, tais como documentos e dados que tenham em seu
poder, assinando-lhes prazo razoável” (inciso III).
Dentre os atos atentatórios à dignidade da justiça (CPC/2015, art. 774), pas-
síveis de punição por multa não superior a 20% do valor atualizado do débito em
execução, a ser revertida em proveito do exequente (parágrafo único), inclui-se a con-
duta comissiva ou omissiva do executado que “dificulta ou embaraça a realização
da penhora” (inciso III), além de complementar a já existente conduta do executado

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que, “intimado, não indica ao juiz quais são e onde estão os bens sujeitos à penhora e
os respectivos valores, nem exibe prova de sua propriedade e, se for o caso, certidão
negativa de ônus” (inciso IV).
Ainda, entre os destaques da ampliação do rol (exemplificativo) de títulos exe-
cutivos extrajudiciais trazido pelo art. 784 do CPC/2015, certamente está “o crédito
referente às contribuições ordinárias ou extraordinárias de condomínio edilício, pre-
vistas na respectiva convenção ou aprovadas em assembleia geral, desde que docu-
mentalmente comprovadas” (inciso X).
Por fim, cabe alertar desde já que está expressa no Novo Código a possibilida-
de de prisão civil para a execução de alimentos fundada em título executivo extraju-
dicial (art. 911, parágrafo único). Daí a conclusão de Flávio TARTUCE a esse respeito:

Com esse novo tratamento, algumas polêmicas anteriores são sanadas. Den-
tre elas, destacamos a possibilidade de prisão civil, agora viável, nos casos
de alimentos fixados em escritura pública de divórcio, o que gerava tormen-
tosa discussão entre civilistas e processualistas. (O Novo CPC e o direito
civil: impactos, diálogos e interações, p. 442).

Crédito de Contribuição Condominial como


Espécie de Título Executivo Extrajudicial
A novidade está expressa no inciso X do art. 784 do Novo CPC, que assim
dispõe, in verbis:
Art. 784. São títulos executivos extrajudiciais: (...) X - o crédito referente às
contribuições ordinárias ou extraordinárias de condomínio edilício, previs-
tas na respectiva convenção ou aprovadas em assembleia geral, desde que
documentalmente comprovadas; (...).

Dessa forma, o Novo Código espera resolver de vez a polêmica doutrinária e


jurisprudencial em torno da seguinte questão: há título executivo extrajudicial au-
tônomo decorrente da relação entre condômino e condomínio? O crédito ao qual se
refere o art. 585, V, do CPC/73 é aquele não pago pelo condômino ou apenas pelo
locatário?
Na análise de Cassio Scarpinella BUENO, feita com base no CPC/73 após o
advento da Lei Federal nº 11.382/2006:
Nada há de novo no inciso V do art. 585 quanto a esta discussão. Deve pre-
valecer, portanto, a orientação majoritária de que o título executivo extra-
judicial previsto no dispositivo refere-se, apenas e tão-somente, às relações
em que existe locação de unidade condominial. (...) não há como sustentar
que “taxas e despesas de condomínio” não sejam lidas e interpretadas se-
não na função gramatical que assumem na oração constante do dispositivo
em comento: o crédito a elas relativo deriva da relação locatícia. Não pode
haver dúvida de que a Lei n. 11.382/2006 poderia ter criado um novo título
executivo extrajudicial, o que colocaria um fim na discussão já noticiada

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(...). Pelas razões expostas, contudo, a Lei não foi tão longe (...). (Curso
sistematizado de direito processual civil, p. 100).

Daí porque a jurisprudência passou a exigir ação de conhecimento para a


cobrança do crédito originário da relação entre condômino e condomínio, sobretu-
do diante do art. 275, II, “b”, do CPC/73 (TJSP, AC 0013153- 86.2006.8.26.0068, 29ª
Câm. de Dir. Priv., j. 23.05.2012, rel. Des. Ferraz Felisardo, DJe 23.05.2012; e, TJRS, AC
70002488443, 18ª Câm. Civ., j. 23.08.2001, rel. Des. Rosa Terezinha Silva, DJ 25.09.2001).
De outro lado, mesmo diante do revogado artigo 585, inciso V, do CPC/73,
muitos já entendiam que as taxas e despesas condominiais não constituem mero
acessório da locação, mas têm existência autônoma e são passíveis de demanda exe-
cutiva, notadamente por constituírem título executivo extrajudicial previsto em le-
gislação extravagante (CPC/73, art. 585, VIII e Lei Federal nº 4.591/1964, art. 12, § 2º
– “Cabe ao síndico arrecadar as contribuições competindo-lhe promover, por via executiva, a
cobrança judicial das quotas atrasadas”).
Nas palavras de Araken de ASSIS:

(...) é usual convencionar a obrigação do locatário pelas despesas ordinárias


de condomínio (art. 23, caput, XII, e § 1º, da Lei 8.245/1991), daí por que,
na maioria das vezes, aluguel e encargo de condomínio se relacionam inti-
mamente. Inexistente locação, ou se nela a responsabilidade for do locador,
seja porque despesa extraordinária (art. 22, X, da Lei 8.245/1991), seja por-
que assim convencionado, cabe a demanda executória movida pelo síndico
(art. 22, § 1º, a, da Lei 4.591, de 16.12.1964; arts. 1.348, II e VII, do CC-02).
(...). Não dispondo o síndico dos documentos necessários à prova do valor
do crédito, caberá ação de cobrança, via procedimento sumário (art. 275, II,
b). (Manual da Execução, p. 199).

Assim também já decidiu o STJ (v. AgRg no Ag 216.816/DF, 3ª T., j. 20.04.1999,


rel. Min. Carlos Alberto Menezes Direito, DJ 31.05.1999; e, REsp. 43.318/MG, 3ª T., j.
07.11.1995, rel. Min. Claudio Santos, DJ 26.02.1996).
Esse o entendimento prestigiado pelo CPC/2015, ao expressamente colocar no
rol de títulos executivos extrajudiciais “o crédito referente às contribuições ordinárias ou
extraordinárias de condomínio edilício, previstas na respectiva convenção ou aprovadas em
assembleia geral, desde que documentalmente comprovadas”.
Questão interessante é saber se, com o advento do CPC de 2015, os Condomí-
nios poderão pedir a conversão dos processos de conhecimento em curso (ação de
cobrança sob o rito sumário) em demandas executivas fundadas em título executivo
extrajudicial.
Parece-nos que, efetivada a citação válida, dever-se-á seguir a regra de direito
intertemporal prevista no art. 1.046, § 1º, do Novo Código, segundo a qual o CPC/73
continuará aplicável às ações propostas sob o rito sumário e não sentenciadas até o

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início da vigência do CPC/2015.

Fraude à Execução e Enunciado nº 375


da Súmula do STJ
Este tema, além de polêmico, há muito tem sido mal compreendido pela ju-
risprudência. E o Novo Código, na nossa visão, infelizmente acabou por contribuir
ainda mais com essa confusão.
De início, cabe destacar que a fraude à execução é instituto de direito proces-
sual que se liga a um fenômeno endoprocessual (com consequências para fora do
processo) e que, de acordo com o art. 593 do CPC/73,

(...) deve ser entendida como a declaração da ineficácia da alienação ou da


oneração de bens que dificulta ou inviabiliza a prestação da tutela jurisdicio-
nal quando dirigida ao patrimônio amplamente considerado (execução por
quantia certa) ou, mais especificamente, a um dado bem especificamente
considerado no patrimônio do executado (execução para entrega de coisa).
(Cassio Scarpinella BUENO, Curso sistematizado de direito processual ci-
vil, p. 220).

Na fraude à execução, portanto, não se fala no plano da validade do negócio


jurídico, mas em específica ineficácia em relação ao exequente (cf., REsp. 1.141.990/
PR, 1ª S., j. 10.11.2010, rel. Min. Luiz Fux, DJe 19.11.2010). Essa ineficácia não opera
efeitos perante outros credores. Portanto, “dois requisitos formam a fraude contra o
processo executivo: a litispendência e a frustração dos meios executórios” (Araken
de ASSIS, Manual da execução, p. 297).
Diferente, portanto, da fraude contra credores, espécie de vício social que se
configura a partir da violação à lei e é causa de anulabilidade do negócio jurídico pra-
ticado (CC, arts. 158, caput, 165 e 171, II), conceituando-se, de maneira ampla, como

(...) o artifício malicioso empregado para prejudicar terceiros. Compõe-se de


dois elementos: um objetivo e outro subjetivo. O elemento objetivo (eventus damni)
é todo negócio prejudicial ao credor, por tornar o devedor insolvente, ou por ter sido
praticado em estado de insolvência. No primeiro caso, entre o negócio do devedor
e a insolvência deste, deve estar entremeado, evidente, o nexo causal, a relação de
causa e efeito. O elemento subjetivo (consilium fraudis) é a má-fé, o intuito malicioso
de prejudicar. Pode advir do devedor, isoladamente, como na renúncia de herança,
ou do devedor aliado a terceiro, como na venda fraudulenta. Na conceituação de
consilium fraudis não tem relevância o animus nocendi, o propósito deliberado de
prejudicar credores. Basta que o devedor tenha consciência de que de seu ato advirão

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prejuízos. A fraude pode existir sem ser premeditada (fraus non in consilio, sed in
evento). (Washington de BARROS MONTEIRO e Ana Cristina de Barros Monteiro
França PINTO. Curso de direito civil, p.273).

A fraude à execução, portanto, prescinde da análise do elemento subjetivo,


justamente por se relacionar intimamente a uma verdadeira afronta à dignidade da
justiça, tal como estampado no inciso I do art. 600 do CPC/73, ainda que a multa seja
revertida em proveito do credor (também “vítima” da fraude – art. 601).
Esse raciocínio fica ainda mais forte com a lembrança de que a fraude à execu-
ção é crime, tipificado no art. 179 do Código Penal Brasileiro.
Entretanto, desprezando a essência do instituto da fraude à execução, bem
como toda a construção doutrinária que se fez a respeito, o STJ, a partir de seus jul-
gados e da edição do Enunciado nº 375 de sua Súmula (“O reconhecimento da fraude à
execução depende do registro da penhora do bem alienado ou da prova de má-fé do terceiro ad-
quirente”), instituiu o elemento subjetivo na análise da fraude à execução e ainda, na
nossa visão, impôs ao credor uma verdadeira prova diabólica nesses casos, trazendo
situação processual muito mais vantajosa aos fraudadores do que ao próprio credor.
A divergência contida no voto da Ministra Nancy Andrighi no âmbito do
julgamento do recurso especial nº 956.943/PR, submetido ao rito dos repetitivos
(CPC/73, art. 543-C), ilustra bastante essa discussão. No entanto, as propostas feitas
por ela, com o objetivo de finalmente bem interpretar o instituto da fraude à execu-
ção e mudar os rumos da equivocada jurisprudência da Corte, não foram seguidas
pelos demais julgadores.
A questão não está na presunção absoluta de má-fé quando existe averbação
da penhora no registro imobiliário, por exemplo, mas sim no fato de que, inexistindo
a referida averbação, a má-fé continua sendo presumida, ainda que de maneira rela-
tiva, tanto em relação ao terceiro adquirente, que terá de provar a sua boa-fé no caso
concreto, quanto em relação ao devedor.
O CPC/2015, em seu art. 792, notadamente prestigia a presunção absoluta de
má-fé advinda da averbação, mas infelizmente não deixa claro que, inexistindo aver-
bação, a má-fé continuará sendo relativamente presumida. Por outro lado, o § 2º do
mesmo dispositivo deixa expresso que caberá ao terceiro adquirente, que deverá ser
citado antes de o juiz declarar a fraude à execução (§ 4º), no caso de aquisição de
bem não sujeito a registro, o ônus de provar que adotou as cautelas necessárias para
a aquisição, mediante a exibição das certidões pertinentes, obtidas no domicílio do
vendedor e no local onde se encontra o bem.
A interpretação correta do instituto continua sendo possível, tal como ressalta
a feliz conclusão de Erik Navarro WOLKART sobre o tema:

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Em termos práticos, caso o exequente não tenha averbado o arresto ou a
penhora, as chances de procedência dos embargos de terceiro – com a con-
sequente manutenção da alienação e frustração da execução – são enormes.
Salvo se interpretarmos a nova norma no sentido de que, se o registro gera
presunção absoluta de fraude, a existência da execução com citação geraria,
por si só, presunção relativa. Nesse último caso, o STJ é que deverá rever
o revogar o verbete 375. (Breves comentários ao novo código de processo
civil, comentários ao art. 808, p. 1972).

Embora não se tenha esperança de que o STJ irá seguir a orientação da Mi-
nistra Nancy Andrighi e rever o seu posicionamento quanto à fraude à execução,
parece-nos que o Novo Código servirá, ao menos, para revogar a segunda parte do
Enunciado nº 375 da Súmula do Tribunal da Cidadania, justamente em virtude do
disposto no supramencionado art. 792, § 2º.
Nesse sentido, resumindo as correntes que se formaram sobre o tema, Teresa
Arruda Alvim WAMBIER, Maria Lúcia Lins CONCEIÇÃO, Leonardo Ferres da Sil-
va RIBEIRO e Rogerio Licastro Torres de MELLO:

Com relação a necessidade, ou não, de prova da má-fé do adquirente, a


questão está pacificada pelo STJ, conforme segunda parte da Súmula 375
(“o reconhecimento da fraude à execução depende do registro da penhora
do bem alienado ou da prova de má-fé do terceiro adquirente”). Mas, para
alguns, o CPC/2015 teria trazido regra expressa em sentido contrário. É o
que se inferiria do § 2º que impõe ao terceiro adquirente o ônus de provar
que “adotou as cautelas necessárias para a aquisição, mediante a exibição
das certidões pertinentes, obtidas no domicílio do vendedor e no local onde
se encontra o bem”. Para essa corrente, ao menos na literalidade da norma,
o dispositivo previsto no § 2º do art. 792 teria aplicação somente para os
bens “não sujeitos a registro”. Assim dependendo da interpretação que se
dê a esse dispositivo, poderá haver uma modificação do entendimento ju-
risprudencial que impõe ao exequente provar a má-fé do adquirente. Nesse
caso, poder-se-á sustentar uma inversão no ônus desta prova, cabendo ao
terceiro-adquirente fazer prova de sua boa-fé e não o contrário. Firmado
esse entendimento, a Súmula 375 do STJ deverá ser, na sua segunda parte,
revogada, só se justificando sua manutenção quanto à existência da citação.
Há autores que, de outro lado, sustentam que não se imporia qualquer mo-
dificação no posicionamento do STJ. A interpretação que fazem do § 2º do
art. 792 é no sentido de que caberia ao adquirente o ônus da prova da sua
boa-fé, demonstrando as diligências que tenha tomado antes da aquisição
do bem, apenas na hipótese de bens móveis em relação aos quais inexiste
a possibilidade de averbação no registro público. Esse não seria o caso, por
exemplo, dos veículos automotores, cuja anotação acerca da propositura da
ação ou atos de constrição devem ser feitos junto ao Detran. Nessa hipóte-
se, deixando o credor de providenciar a averbação, caberia a ele o ônus de
provar a má-fé do terceiro. O dissenso existe, inclusive entre os coautores
destes Primeiros Comentários, de forma que caberá à jurisprudência fixar a
orientação que deverá prevalecer. (Primeiros comentários ao novo código
de processo civil: artigo por artigo, comentários ao art. 792, p. 1264-1265).

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Objeção de Pré-Executividade no CPC/2015
Um tema que há tempos ocupa posição de destaque na jurisprudência brasi-
leira, berço de sua própria criação, é a objeção (ou exceção) de pré-executividade.
Como é sabido, o projeto original do CPC/1973 previa apenas a ação incidental
de embargos como remédio universal contra a execução injusta. Entretanto, condi-
cionou a sua apresentação à penhora ou ao depósito (garantia do juízo). Com isso,
abriu-se enorme campo para que a doutrina e a jurisprudência criassem a objeção (ou
exceção – sem adentrar, aqui, nas polêmicas terminológicas) de pré-executividade, por meio
da qual, veiculada por simples petição, o executado, mesmo sem a garantia do juízo,
poderia alegar vícios graves que deveriam, inclusive, ser conhecidos de ofício pelo
juiz (STJ, AgRg no AgRg no REsp 1.028.879/SP, 3ª T., j. 04.08.2009, rel. Min. Vasco
Della Giustina (desembargador convocado do TJ/RS), DJe 14.08.2009 e MC 1.315/RJ,
3ª T., j. 23.06.1998, rel. Min. Nilson Naves, DJ 21.09.1998).
Haveria, portanto, grande injustiça em se exigir a prévia garantia do juízo
como condicionante necessário à apresentação de uma defesa que evidentemente
macularia de plano o processo executivo.
Embora o Novo Código não exija garantia do juízo para impugnar (na fase
de cumprimento de sentença – títulos executivos judiciais – CPC/2015, art. 515 e 525,
caput) ou apresentar embargos à execução (no processo de execução autônomo – tí-
tulos executivos extrajudiciais – arts. 784 e 914, caput), ainda tem espaço para a ma-
nutenção da objeção de pré-executividade no sistema – sobretudo na execução fiscal, na
qual a apresentação de embargos ainda depende, como regra, de prévia segurança
do juízo (v. Lei Federal nº 6.830/1980, art. 16, §1º e Enunciado nº 393 da Súmula do
STJ).
Da maneira geral, pode ser conceituada como a

(...) técnica pela qual o executado, no curso do próprio procedimento exe-


cutivo, e sem a necessidade de observância dos requisitos necessários aos
embargos do devedor ou da impugnação, suscita alguma questão relativa à
admissibilidade ou à validade dos atos executivos, que poderia ser conheci-
da de ofício pelo juiz. Para tanto, exige, a jurisprudência, que a questão a ser
suscitada esteja dentre aquelas que poderia ser conhecidas ex officio pelo
juiz, e que, ademais, não seja necessária dilação probatória para sua solução.
Caso contrário, ausente alguma dessas condições, não se admite alegação
da matéria pela via da exceção de pré-executividade, cabendo, ao devedor,
manejar embargos ou impugnação. (ARRUDA ALVIM, Novo contencioso
cível no CPC/2015, p. 427).

E são exatamente esses os requisitos atualmente exigidos pela jurisprudência


do STJ após a vigência do CPC/2015 (cf. STJ, AgRg no AREsp 835.917/SP e AgInt
no AREsp 621.011/MG), além do cabimento de “fixação de honorários de sucumbência

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quando a exceção de pré-executividade for acolhida para extinguir total ou parcialmente a exe-
cução, em homenagem aos princípios da causalidade e da sucumbência” (STJ, REsp 1646557/
SP, 2ª T., j. 06.04.2017, rel. Min. Herman Benjamin, DJe 25.04.2017).
Por fim, como já ressaltado, o CPC/73 não trazia nenhuma previsão legal acer-
ca desse instrumento processual à disposição do executado que foi consagrado pela
doutrina e jurisprudência dos tribunais brasileiros. O CPC/2015, por sua vez, parece
fazer alusão ao tema em pelo menos duas oportunidades, quais sejam: arts. 518 e 803,
parágrafo único.

Precedentes
Uma das maiores expectativas em relação ao Novo Código de Processo Civil
é, sem dúvida, o seu impacto em relação à uniformização de entendimentos acerca
de teses jurídicas.
Sairemos das tramas da conhecida “jurisprudência lotérica”? Conseguiremos
encontrar a “fórmula mágica” para unir segurança jurídica, celeridade, efetividade
e igualdade processuais? Teremos, enfim, um Poder Judiciário minimamente previ-
sível?
É precisamente dentro desse contexto que se insere o art. 926 do Novo Código,
dispondo expressamente que: “Os tribunais devem uniformizar sua jurisprudência e
mantê-la estável, íntegra e coerente”.
Desse dispositivo decorrem dois deveres-poderes básicos para os tribunais: (i)
uniformizar seus entendimentos (uma vez que o próprio conceito de jurisprudência
– prudência do direito – já pressupõe a uniformidade como característica); e (ii) man-
ter a estabilidade, integridade e coerência dessa uniformização.
De nada adianta uniformizar os entendimentos através de súmulas persuasi-
vas, por exemplo, se elas conflitam entre si ou permitem interpretações contraditó-
rias acerca de teses jurídicas que se tangenciam.
A previsibilidade da atuação do Poder Judiciário encontrará, dentro desse ce-
nário, terreno fértil para, de um lado, impedir demandas fundadas em entendimen-
tos já consolidados (em relação aos quais as partes e os advogados saberão, de plano,
se ganharão ou perderão determinado litígio; além de possuírem a firme convic-
ção de que esse entendimento consolidado não será alterado pela simples mudança
de composição do tribunal) e, de outro, em relação aos aspectos jurídicos, pautar a
conduta da sociedade (comportamento humano) em direção àquilo que se entende
por correto, justo e honesto, ainda que dentro de um período histórico determinado
(tempo e espaço).
Se óbvia é a dinamicidade do fenômeno social, também deveria o ser a neces-
sidade de definição de parâmetros (ainda que transitórios) de conduta humana para

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evitar o caos em determinada sociedade. E esta é uma função e escopo do direito e
do processo (pacificação social).
Os parágrafos do art. 926 do CPC/2015, ainda, aduzem que os tribunais deve-
rão também editar enunciados de súmula que traduzam fielmente os seus entendi-
mentos consolidados (de acordo com os casos concretos que deram origem a cada
uniformização).
O art. 927 e suas hipóteses normativas de vinculação, que prometem ainda
render inúmeros debates acerca de sua constitucionalidade, parecem rascunhar as
bases para o início de uma discussão séria sobre uma teoria brasileira do precedente
judicial que, arredia a superficialismos e importações desinteressadas de conceitos
dos sistemas de common law, pretende-se autêntica e afinada com a nossa cultura
jurídica.
Ressalte-se que o inciso VI, do § 1º, do art. 489 considera não fundamentada
qualquer decisão judicial que “deixe de seguir súmula, jurisprudência ou precedente
invocado pela parte, sem demonstrar a existência de distinção no caso sob julgamen-
to”, ou seja é necessário demonstrar porque determinada situação não “se encaixa”
nas orientações já produzidas (distinguishing).
Por fim, cabe destacar o disposto no § 4º do art. 927, segundo o qual:

A modificação de enunciado de súmula, de jurisprudência pacifica-


da ou de tese adotada em julgamento de casos repetitivos observará
a necessidade de fundamentação adequada e específica, consideran-
do os princípios da segurança jurídica, da proteção da confiança e
da isonomia.

Podendo, ainda, haver modulação dos efeitos dessa decisão pela superação do
entendimento consolidado (§ 3º – overrulling).

JURISPRUDÊNCIA DEFENSIVA
Muito se fala acerca de uma expressão utilizada pelo Ministro Humberto Go-
mes de Barros que, por ocasião de sua posse como Presidente do STJ, no ano de 2008,
disse que “o STJ adotou a denominada ‘jurisprudência defensiva’ consistente na criação de
entraves e pretextos para impedir a chegada e o conhecimento dos recursos que lhes são dirigi-
dos” Confira no link abaixo a íntegra desta Resolução:
<https://bdjur.stj.jus.br/jspui/bitstream/2011/16933/Discurso_Posse_
Gomes%20de%20Barros.pdf?inf_contact_key=516b51139029d4dcb1e2afd25ee-
2609b7ad9fb778a0598f20918a929763ab11f>.
Em diversos dispositivos, o CPC/2015 procurou extirpar do sistema proces-
sual civil as possibilidades de utilização desses mecanismos, altamente nocivos aos
jurisdicionados de um modo geral.
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No âmbito recursal, isso fica muito claro a partir da leitura, por exemplo, dos
artigos 932, parágrafo único e 1.007, §7º, que assim dispõem expressamente: “Art.
932. (...) Parágrafo único. Antes de considerar inadmissível o recurso, o relator concederá o
prazo de 5 (cinco) dias ao recorrente para que seja sanado vício ou complementada a docu-
mentação exigível.” e “Art. 1.007, §7º. O equívoco no preenchimento da guia de custas não
implicará a aplicação da pena de deserção, cabendo ao relator, na hipótese de dúvida quanto ao
recolhimento, intimar o recorrente para sanar o vício no prazo de 5 (cinco) dias.”.
O CPC/2015 trabalha com a ideia de oportunidade, sanabilidade e instrumen-
talidade, conceitos tão caros aos processualistas, mas por certo tempo esquecidos por
alguns tribunais do país.
O abandono do formalismo em prol do verdadeiro escopo do direito proces-
sual civil – resolução dos conflitos – é algo marcadamente fundamental para que se
garanta o acesso à justiça da forma como constitucionalmente consagrado.
Nas sempre atuais palavras de Cândido Rangel DINAMARCO:

Tal é a ideia do acesso à justiça, que constitui a síntese generosa de todo


o pensamento instrumentalista e dos grandes princípios e garantias cons-
titucionais do processo. Todos eles coordenam-se no sentido de tornar o
sistema processual acessível, bem administrado, justo e afinal dotado da
maior produtividade possível. A propósito, afirma-se energeticamente que
a própria instrumentalidade do processo, como mérito, não exaure a sua
missão se não for capaz de efetivamente conduzir ao aperfeiçoamento do
sistema, na sua vivência cotidiana. (...) Agora, mãos à obra: é preciso, (a) de
um lado, dotar o sistema de instrumental bastante ágil e rente à realidade e
(b) de outro, influir no espírito dos operadores do sistema, para que empre-
guem o novo instrumental e também o velho, com mentalidade nova. Sem
mentalidade instrumentalista nos juízes, advogados e promotores de justiça,
não há reforma que seja capaz de ter alguma utilidade. (A instrumentalidade
do processo, p. 378-379).

Teria sido muito mais fácil seguir a orientação do Professor Dinamarco, uti-
lizando a nova mentalidade já durante a vigência do CPC/1973. No entanto, parece
que precisávamos de uma reforma legislativa, o que, felizmente, veio a ocorrer em
2015.
Agora, com a licença para a paráfrase, mãos à obra: é preciso (a) de um lado,
extrair a máxima utilidade possível das interpretações – coerentes e sistemáticas – em
relação ao CPC/2015; e (b) de outro, esperar com sinceridade – e contribuir também
para isso – que haja uma mudança da cultura jurídica no Brasil em direção à instru-
mentalidade e efetividade processuais, dispensando-se formalismos inúteis e discus-
sões acadêmicas infrutíferas.
Nesse sentido, louvável a atitude do Pleno do STJ que, na data de ontem,
06/12/2017, aprovou a proposta de Emenda Regimental nº 75/2017, que promove

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alterações no artigo 158 do Regimento Interno para permitir que os advogados se
inscrevam para sustentação oral até o início da respectiva sessão de julgamento, em
claro prestígio ao disposto no art. 937 do CPC/2015, facilitando, como sempre deve
ser, a atividade dos advogados, procuradores dos jurisdicionados.

Sustentação Oral em Agravo de Instrumento


O art. 937, inciso VIII, do CPC/2015, consagra expressamente a possibilidade
de sustentação oral em “agravo de instrumento interposto contra decisões interlocutórias
que versem sobre tutelas provisórias de urgência ou da evidência”. Como já destacamos em
textos anteriores, a tutela provisória (arts. 294 a 311) será gênero do qual serão espé-
cies a tutela de urgência (antecipada ou cautelar, requeridas em caráter antecedente
ou incidental) e a tutela da evidência (requerida apenas incidentalmente).
Entretanto, parece-nos que existe evidente omissão no dispositivo em relação
às chamadas decisões interlocutórias de mérito.
Há muito a doutrina vem destacando o critério do conteúdo para a correta
classificação dos tipos de pronunciamentos judiciais. A definição da natureza de
uma decisão judicial a partir do recurso contra ela cabível é insuficiente para se dar
coerência ao sistema processual civil brasileiro, notadamente no âmbito recursal.
Como anteriormente já ressaltamos, Teresa ARRUDA ALVIM sempre defen-
deu isso:

O princípio da correspondência, uma das bases da estrutura do sistema re-


cursal do CPC de 1973, já não incidia em casos como o de indeferimento
liminar, por exemplo, da reconvenção ou da oposição e de outras tantas
ações incidentais, pois que se tratava (e se trata) de pronunciamento agra-
vável, mas que tinha (e tem) natureza jurídica de sentença, de acordo com o
critério do conteúdo. À luz do CPC/2015, são interlocutórias, equivalentes
às sentenças processuais.
Inegavelmente, têm natureza de sentença quando se leva em conta apenas
o critério do conteúdo, tanto a decisão que julga a liquidação de sentença,
quanto a que não acolhe, no mérito, a impugnação à execução de senten-
ça, desde que através da impugnação tenha o executado alegado matérias
como, por exemplo, pagamento, prescrição, novação etc., embora ambas,
agora, sejam agraváveis e não apeláveis (art. 1.015, parágrafo único).
Estas decisões, apesar de terem conteúdo de sentença, são classificadas pelo
CPC/2015 como interlocutórias que, estão submetidas ao recurso de agravo,
apesar de transitarem em julgado e de serem, eventualmente, até rescindí-
veis. (Nulidades do processo e da sentença, p. 39).

Nesse sentido, a aproximação entre os recursos de apelação e agravo de ins-


trumento feita pelo CPC/2015, sobretudo em relação à unificação do prazo para in-
terposição e resposta em 15 dias e à possibilidade de sustentação oral, num primeiro
momento, deu a impressão de que a razão para isso estava justamente num igual
tratamento recursal para decisões com idêntico conteúdo (de sentença), apesar de
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umas serem agraváveis e outras, apeláveis.
No entanto, quando da redação do art. 937, o legislador cometeu grave equí-
voco, ao deixar de mencionar todas aquelas decisões que, embora agraváveis, tem
inegável conteúdo de sentença. Basta mencionar, por exemplo, os casos de extinção
parcial do processo (art. 354) e de julgamento antecipado parcial do mérito (art. 356,
caput e § 5º).
Ora, se o prejuízo causado à parte é o mesmo (já que a decisão tem conteúdo
de sentença), qual o sentido de se reduzir o grau de amplitude da ampla defesa no
âmbito recursal? Trata-se de patente cerceamento.
Daí a correta conclusão de Teresa Arruda Alvim WAMBIER, Maria Lúcia
Lins CONCEIÇÃO, Leonardo Ferres da Silva RIBEIRO e Rogerio Licastro Torres de
MELLO:

(...). Embora o CPC/2015 não tenha sido expresso, é de se admitir sustenta-


ção oral nos casos em que a decisão, embora recorrível por meio de agravo,
tenha conteúdo de sentença, como é o caso, por exemplo, da decisão que
põe fim à liquidação de sentença. (Primeiros comentários ao novo código de
processo civil: artigo por artigo, comentários ao art. 937, p. 1477).

No mesmo sentido a indignação e o entendimento de Daniel Amorim As-


sumpção NEVES:

Há nesse rol uma inexplicável omissão. A partir do momento em que o


Novo CPC consagra as decisões interlocutórias de mérito, recorríveis por
agravo de instrumento, como não se admitir nesse caso a sustentação oral
das partes? Tome-se como exemplo o art. 356 do Novo CPC, que consagra
o julgamento antecipado parcial do mérito e em seu § 5º prevê expressa-
mente a recorribilidade por agravo de instrumento. Julgado todo o mérito
antecipadamente, caberá apelação e, nos termos do inciso I do art. 937 do
Novo CPC, será permitida a sustentação oral. Mas julgada apenas parcela
desse mérito, não caberá sustentação oral do recurso interposto pela parte
sucumbente? É óbvio que, havendo um Novo CPC, o ideal seria a previsão
expressa de cabimento de sustentação oral em agravo de instrumento contra
decisão interlocutória de mérito. A injustificada e incompreensível omissão
legislativa, entretanto, não é capaz de afastar esse direito das partes, bastan-
do para fundar tal conclusão uma interpretação extensiva das hipóteses de
cabimento. Ora, se é cabível sustentação oral em apelação interposta contra
sentença terminativa, como impedi-la em agravo de instrumento interposto
contra decisão de mérito? (Novo código de processo civil: inovações, alte-
rações e supressões comentadas, p. 476-477).

Dessa forma, feita a necessária e firme crítica ao dispositivo, que terá de ser
interpretado de maneira sistemática e coerente em relação aos demais dispositivos
do Novo Código, resta, por fim, salientar outra importante novidade contida nesse
mesmo dispositivo (art. 937), que é a possibilidade de sustentação oral por meio de
videoconferência, esta sim, por sua vez, digna apenas de elogios.

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Nas palavras de Cassio Scarpinella BUENO:

Ponto extremamente positivo reside, este graças ao Projeto da Câmara, no


§ 4º do art. 937, que permite a sustentação oral por meio de videoconferên-
cia ou recurso tecnológico equivalente quando o advogado tiver domicílio
profissional diverso daquele onde o Tribunal é sediado. Que prevaleça, a
este respeito, o correto entendimento quanto ao dever de os Tribunais dis-
ponibilizarem o que for necessário para a realização do ato à distância, nos
mesmos moldes do art. 453, § 2º. (Novo Código de Processo Civil anotado,
p. 841).

Efeito Vinculante no Incidente de Assunção


de Competência
O incidente de assunção de competência (IAC), apesar de esquecido no siste-
ma anterior, ganha novo colorido a partir do art. 947 do CPC de 2015, notadamente
em função do seu efeito vinculante (§ 3º).
Em se tratando de recurso, remessa necessária ou processo da competência
originária de tribunal (segunda instância apenas) envolvendo questão de direito
(material ou processual) com grande repercussão social e sem repetição em múlti-
plos processos, o órgão colegiado indicado no Regimento Interno poderá assumir
a competência para julgar o caso como um todo (e não apenas para definir a tese
jurídica aplicável).
Percebe-se, portanto, que o IAC não se insere necessariamente dentro do con-
texto de demandas massificadas.
Com a clareza habitual, exemplifica o Professor Alexandre Freitas CÂMARA:

Pense-se, por exemplo, na interpretação dos requisitos para a desconside-


ração da personalidade jurídica. Esta é uma questão de direito que pode
surgir em processos completamente diferentes, muito distantes de qualquer
tentativa de caracterização das demandas repetitivas. Basta pensar na pos-
sibilidade de se ter suscitado questão atinente ao preenchimento dos requi-
sitos da desconsideração da personalidade jurídica em uma execução de
alimentos devidos por foça de relação familiar e em outro processo em que
se executa dívida de aluguel garantida por fiança. Estas duas demandas são,
evidentemente, repetitivas, mas a questão de direito que nelas surgiu é a
mesma: quais os requisitos para a desconsideração da personalidade jurídica
nas causas em que incide o disposto no art. 50 do Código Civil. (O novo
processo civil brasileiro, p. 458-459).

Por outro lado, embora não faça parte do chamado “microssistema de resolu-
ção de casos repetitivos”, ao qual alude o art. 928 do CPC/2015 (v. também o Enun-
ciado nº 334 do FPPC), o IAC tem o condão de vincular todos os juízes e órgãos
fracionários (§ 3º), a exemplo do que também ocorre com o incidente de resolução
de demandas repetitivas (IRDR), uniformizando-se posicionamentos jurídicos (pelo

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menos internamente, dentro do espectro de competência do tribunal) a fim de trazer
segurança jurídica à sociedade em geral.
Daí porque, atualmente, a posição doutrinária majoritária defende com tran-
quilidade a participação dos amici curiae e a ampla publicidade nos processos de to-
mada de decisão iniciados a partir da instauração do IAC (Enunciados nº 201 e 591
do FPPC).
Por fim, não se esqueça também que caberá reclamação para garantir a auto-
ridade de acórdão – leia-se: precedente vinculante – proferido no julgamento de IAC
(CPC/2015, art. 988, inciso IV).

Incidente de Arguição de Inconstitucionalidade


Sabe-se que a partir dos conceitos de supremacia e rigidez constitucionais são
formadas as bases para os mecanismos de controle de constitucionalidade que, no
Brasil, sob o aspecto repressivo (quando a norma inconstitucional já está dentro do
sistema normativo), desenvolvem-se de modo difuso (feito por qualquer órgão do
Poder Judiciário, quando da análise incidental da inconstitucionalidade no bojo de
um caso concreto) ou concentrado (feito pelo STF ou pelos tribunais de justiça, a
partir de ações judiciais especificamente voltadas para isso, quais sejam: ação direta
de inconstitucionalidade – ADIn; ação declaratória de constitucionalidade – ADCon;
e arguição de descumprimento de preceito fundamental – ADPF – v. CF, arts. 102, I,
a e § 1º e 125, § 2º).
Em quaisquer das hipóteses, deve-se observar a conhecida “cláusula de reser-
va de plenário”, regra insculpida no art. 97 do Texto Constitucional Brasileiro (“So-
mente pelo voto da maioria absoluta de seus membros ou dos membros do respectivo órgão
especial poderão os tribunais declarar a inconstitucionalidade de lei ou ato normativo do Poder
Público”).
Ao lado das conhecidas regras infraconstitucionais que norteiam o controle re-
pressivo concentrado de constitucionalidade (cf. Leis Federais nº 9.868/99 e 9.882/99),
coube ao Novo Código de Processo Civil revisitar a matéria no tocante à regulamen-
tação do controle repressivo difuso de constitucionalidade (v. CPC/73, arts. 480 a
482), bem como da estrita obediência à regra da reserva de plenário quando se tratar
do pronunciamento de um órgão judicial colegiado (v. Enunciado nº 10, da Súmula
Vinculante do STF).
Dessa forma, aparece nos arts. 948 a 950 do Novo Código a sistemática proce-
dimental necessária à declaração incidental (incidenter tantum) da inconstitucionali-
dade via controle difuso, por meio da instauração de um incidente próprio e voltado
a essa finalidade.
Em resumo: quando um órgão judicial colegiado se depara com a necessida-

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de de enfrentar uma arguição de inconstitucionalidade de lei ou ato normativo do
poder público no âmbito de uma demanda qualquer, ocorrerá uma cisão no julga-
mento, isto é, a questão da inconstitucionalidade será levada para análise do plenário
do tribunal ou de seu respectivo órgão especial, enquanto o mérito da demanda será
posteriormente decidido pelo competente órgão fracionário, a partir da obrigatória
observância daquilo que ficou assentado pelo plenário ou órgão especial em relação
à prejudicial de inconstitucionalidade.
Daí porque aponta a doutrina, nesse caso, para um julgamento subjetiva e ob-
jetivamente complexo, dado que a decisão final (e, portanto, o acórdão recorrível – v.
Enunciado nº 513, da Súmula do STF), será necessariamente formada pela composi-
ção de duas decisões judiciais proferidas por órgãos jurisdicionais distintos (plená-
rio ou órgão especial e órgão fracionário – complexidade subjetiva) sobre questões
igualmente distintas (constitucionalidade e mérito – complexidade objetiva).
As hipóteses de dispensa da instauração do incidente de arguição de inconsti-
tucionalidade estão descritas no art. 949, parágrafo único: (i) quando já houver pro-
nunciamento do plenário do tribunal ou do respectivo órgão especial sobre a ques-
tão; e (ii) quando já houver pronunciamento do plenário do STF sobre a questão.
Discute-se, quanto a essa última hipótese de dispensa, se a decisão do STF
deveria ser fruto de decisão proferida no âmbito do controle concentrado de consti-
tucionalidade ou manifestada por meio de súmula vinculante (pois somente nesses
dois casos haveria vinculação prevista pela norma constitucional), ou se bastaria a
manifestação do plenário do STF, ainda que em controle incidental, dentro de sua
competência recursal comum.
Apesar de forte corrente doutrinária defendendo a vinculação somente dian-
te de decisões em ADIns, ADCons, ADPFs e súmulas vinculantes, o próprio STF
tem entendimento contrário, ampliando os efeitos de decisões tomadas no âmbito
do controle difuso de constitucionalidade (cf. STF, EDcl no ARE 736.946/RS, 2ª T., j.
23.09.2014, rel. Min. Gilmar Mendes, DJe 13.10.2014 e AgRg no RE 370.765/RS, 1ª T.,
j. 08.02.2011, rel. Min. Marco Aurélio, DJe 11.03.2011).
Por fim, cabe destacar a possibilidade de intervenção de amici curiae (art. 138)
no incidente de arguição de inconstitucionalidade quando da sessão de julgamento
do plenário ou do órgão especial (art. 950, § 3º), prestigiando essa necessária amplia-
ção do debate a fim de legitimar uma decisão judicial que servirá como parâmetro
para futuras demandas que tratem incidentalmente da mesma questão de constitu-
cionalidade (efeito prospectivo – art. 949, parágrafo único).

Homologação de Decisão Estrangeira


A homologação de decisão estrangeira no CPC/2015 ficou disciplinada pelos

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artigos 960 a 965 do Novo Código.
De início, cumpre destacar a cronologia da regulamentação do tema pelo di-
reito pátrio: a partir da publicação da Emenda Constitucional nº 45/2004, a compe-
tência constitucionalmente prevista para a homologação de decisões estrangeiras,
que era do Supremo Tribunal Federal, passou a ser do Superior Tribunal de Justiça
(CR, art. 105, I, “i”), que, à época, regulamentou provisoriamente a matéria por meio
da Resolução nº 09/2005.
Entretanto, o que era provisório se tornou permanente até 17 de dezembro de
2014, quando finalmente o Regimento Interno do STJ (RISTJ) foi alterado pela Emen-
da Regimental nº 18, que revogou a Resolução nº 09/2005 e acrescentou os artigos
216-A a 216-X ao RISTJ, tratando “Dos Processos Oriundos de Estados Estrangeiros”.
Este, pois, o atual quadro normativo que envolve o tema.
Comentaremos quatro importantes novidades, quais sejam: (i) natureza da
decisão estrangeira a ser homologada; (ii) homologação parcial; (iii) execução provi-
sória de decisão estrangeira; e (iv) requisitos indispensáveis à homologação.
Enquanto o CPC/73 fala em homologação de “sentença” estrangeira (art. 483),
o CPC/2015, corretamente, trata da homologação de decisões estrangeiras, deixan-
do claro, por exemplo, que “é passível de homologação a decisão judicial definitiva,
bem como a decisão não judicial que, pela lei brasileira, teria natureza jurisdicional”
(art. 961, § 1º e RISTJ, art. 216-A). A Corte Especial do STJ, por exemplo, já tratou da
homologação de ato administrativo alemão que assentou acordo de guarda compar-
tilhada (SEC 5.635/DF, CE, j. 18.04.2012, rel. Min. Laurita Vaz, DJe 09.05.2012). Sobre
o tema, ainda, é importante destacar, como hipótese de exceção à necessidade de
homologação pelo STJ, que a “sentença estrangeira de divórcio consensual produz
efeitos no Brasil, independentemente de homologação pelo Superior Tribunal de Jus-
tiça” (CPC/2015, art. 961, § 5º).
A homologação parcial de decisão estrangeira também ganha espaço próprio
no Novo Código, que a ela se refere expressamente no § 2º do art. 961, sem corres-
pondência no CPC/73. Essa possibilidade, no entanto, já estava prevista pelo revo-
gado art. 4º, § 2º, da Resolução nº 09/2005 do STJ e agora se repete no art. 216-A, § 2º,
do RISTJ. Pode ocorrer que um dos capítulos da decisão seja homologado pelo STJ e
outro, por ofender coisa julgada brasileira (CPC/2015, art. 963, IV), por exemplo, não
o seja.
O Novo Código de Processo Civil deixa claro que a “autoridade judiciária bra-
sileira poderá deferir pedidos de urgência e realizar atos de execução provisória no
processo de homologação de decisão estrangeira” (art. 961, § 3º), tal como também
autoriza o artigo 216-G do RISTJ.
Por fim, cabe dizer que os requisitos indispensáveis à homologação se encon-

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tram estampados no artigo 963 do CPC/2015:

I - ser proferida por autoridade competente;


II - ser precedida de citação regular, ainda que verificada a revelia;
III - ser eficaz no país em que foi proferida;
IV - não ofender a coisa julgada brasileira;
V - estar acompanhada de tradução oficial, salvo disposição que a dispense
prevista em tratado;
VI - não conter manifesta ofensa à ordem pública. (...).

Em complementação, diante da regulamentação trazida pelo RISTJ, eis o re-


sumo do procedimento: a parte interessada será citada para contestar o pedido no
prazo de 15 dias, sendo que essa defesa deverá se restringir à inteligência da decisão
estrangeira, à ausência de algum requisito formal ou à ofensa à soberania nacional,
à dignidade da pessoa humana e/ou à ordem pública (216-H). Revel ou incapaz o
requerido, será nomeado e pessoalmente notificado um curador especial (216-I) e,
havendo contestação, serão admitidas réplica e tréplica em 05 dias (216-J). A com-
petência nesses casos passará do Presidente do STJ à sua Corte Especial (216-K), que
deverá dar vistas ao Ministério Público Federal para, querendo, impugnar o pedido
no prazo de 10 dias (216-L). Por fim, as decisões do Presidente ou do Relator se-
rão impugnáveis por meio de agravo (216-M). A execução das decisões estrangei-
ras homologadas se dará por carta de sentença perante o Juízo Federal competente
(CPC/2015, art. 965 e RISTJ, art. 216-N).

Concessão de Exequatur às Cartas Rogatórias


É preciso fazer alguns destaques em relação à concessão de exequatur (“execu-
te-se”) às cartas rogatórias, meio próprio para a execução de decisões interlocutórias
estrangeiras, por exemplo (CPC/2015, art. 960, § 1º).
Sobre o tema, considerando que o referido dispositivo não faz a distinção,
muito relevante a observação de Teresa Arruda Alvim WAMBIER, Maria Lúcia Lins
CONCEIÇÃO, Leonardo Ferres da Silva RIBEIRO e Rogerio Licastro Torres de MELLO:
Cabe aqui, todavia, a indagação sobre se as interlocutórias ditas de mé-
rito ficariam, também, fora do âmbito da exigência da homologação. As
interlocutórias de mérito, de acordo com a terminologia empregada pelo
CPC/2015, são, por exemplo, decisões que, quando há mais de um pedido,
resolvem um deles, em relação ao qual não houve resistência do réu. Ainda,
a decisão da primeira fase da ação de exigir contas ou a decisão que põe
fim à liquidação de sentença. Sempre nos pareceu que essas decisões de-
veriam ser chamadas de sentenças, embora fossem agraváveis. Entretanto,
o CPC/2015 optou por adotar outros critérios (v. comentários aos arts. 203,
204 e 205). No entanto, parece que, na linguagem internacional, as decisões
equivalentes a essas decisões, se proferidas no exterior, devem, sim, ser ho-
mologadas antes de produzir efeitos no Brasil. Todavia, a regra no sentido
de que só haverá possibilidade de homologação depois de o processo, que
corre no exterior, ter TERMINADO por inteiro, parece ser a mais segura.
(Primeiros comentários ao novo código de processo civil: artigo por artigo,

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comentários ao art. 960, p. 1504).

Como já ressaltado no texto anterior, a concessão de exequatur às cartas rogatórias,


assim como a homologação de decisões estrangeiras, é competência do STJ, que recen-
temente regulamentou a matéria em seu Regimento Interno (RISTJ, arts. 216-O a 216-X).
Não havendo impugnação ao pedido, a competência interna será da Presidência do STJ.
Caso contrário, a análise da questão passará à Corte Especial.
O artigo 962 do Novo Código trata especificamente da execução, por meio de car-
ta rogatória, da decisão estrangeira concessiva de medida de urgência. Nesses casos,
mesmo que não haja participação do réu, a medida poderá ser executada no Brasil,
desde que se assegure o posterior contraditório (§ 2º). Os requisitos da urgência re-
feridos na decisão estrangeira não poderão ser reavaliados pelo Judiciário Brasileiro
(§ 3º), que ficará adstrito à análise dos requisitos (formais, em sua maioria) para a
concessão ou não do exequatur elencados no artigo 963 do CPC/2015 e também à res-
ponsabilidade pela garantia do posterior contraditório (art. 962, § 2º e 963, parágrafo
único).
Nas palavras de José Carlos BARBOSA MOREIRA, nesses casos, a atividade
do Poder Judiciário Brasileiro se restringe:

(...) a prescrever o controle da observância de algumas formalidades, cor-


respondentes ao mínimo de garantias que se entende compatível com a co-
laboração do Brasil, e a isso se acrescenta um sistema de limites, destinados
a impedir que surtam efeitos em nosso território sentenças estrangeiras con-
trárias – segundo a fórmula consagrada – “à soberania nacional, à ordem
pública e aos bons costumes”. Só na aplicação desse sistema de limites, e
unicamente para negar reconhecimento à sentença que ultrapasse a linha
divisória, é que se autoriza o órgão brasileiro a perscrutar o conteúdo da
decisão alienígena. No mais, o controle é meramente formal. Pode-se dizer,
assim, que o país, na matéria, abraça em sua pureza o princípio da simples
delibação. (Comentários ao Código de Processo Civil. 15. ed., V. 5, Rio de
Janeiro: Forense, 2010, p. 60-61).

Por fim, concedido o exequatur à carta rogatória, ela será automaticamente re-
metida ao Juízo Federal competente para cumprimento (RISTJ, art. 216-V), o que
nos parece dispensar pedido autônomo nesse sentido (CPC/2015, art. 965, parágrafo
único).

Ação Rescisória no CPC/2015


O Texto Constitucional Brasileiro é expresso ao dispor que “a lei não prejudicará
o direito adquirido, o ato jurídico perfeito e a coisa julgada” (art. 5º, inciso XXXVI), consa-
grando elementos que trazem segurança jurídica aos jurisdicionados. Afinal de con-
tas, em algum momento, a discussão acerca de determinada questão jurídica tem que

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restar encerrada de forma definitiva, com a garantia de que o Judiciário não mais irá
enfrentar a mesma questão entre essas partes, nem modificar aquilo que foi decidido.
Entretanto, em raras hipóteses, o sistema jurídico permite a desconstituição de
decisões judiciais transitadas em julgado (a coisa julgada é uma autoridade das deci-
sões judiciais de mérito – v. CPC/2015, art. 502) em função de situações muito graves
que, caso mantidas, abalariam o próprio sistema de justiça brasileiro.
Para essa finalidade básica que existe a ação rescisória, remodelada pelos ar-
tigos 966 a 975 do Novo Código de Processo Civil, sobre a qual abordaremos duas
novidades, quais sejam: (i) ampliação das hipóteses de cabimento e (ii) termo inicial
para sua propositura.
Corretamente, o art. 966, caput, diferentemente do que fazia o revogado
CPC/73, dispõe que, em determinadas situações, a decisão de mérito, transitada em
julgado, pode ser rescindida. Essa previsão expressa acaba de vez com qualquer dú-
vida sobre o cabimento de ação rescisória face a decisões interlocutórias, decisões
interlocutórias de mérito, decisões monocráticas ou acórdãos.
Ainda, é importante destacar o inciso V do art. 966, que, ampliando a anti-
ga hipótese de cabimento nos casos de violação de expressa disposição de lei (v.
CPC/73, art. 485, inciso V), admite a rescisão da decisão de mérito transitada em
julgado quando “violar manifestamente norma jurídica”.
Nesse sentido, ressalta-se que não se trata de mera adequação linguística ou
formal, mas sim de verdadeira inovação nas hipóteses de cabimento da ação resci-
sória, que passa a ser admitida quando a decisão rescindenda, por exemplo, violar o
princípio da boa-fé ou mesmo um precedente judicial decorrente de decisão tomada
no âmbito de incidente de resolução de demandas repetitivas (IRDR). Mais uma pro-
va da valorização e da busca por uma jurisprudência mais estável, íntegra e coerente
(v. CPC/2015, art. 926).
Por fim, sobre o cabimento da ação rescisória, é importante frisar que, em al-
guns casos, mesmo decisões que não são de mérito poderão ser objeto de rescisória
(art. 966, § 2º).
Dúvidas também não restarão sobre o cabimento de ação rescisória em relação
a somente um capítulo da decisão (art. 966, § 3º). No entanto, por outro lado, talvez
permaneça aceso o debate acerca do termo inicial do prazo decadencial de 02 (dois)
anos para a sua propositura nos casos de formação progressiva da coisa julgada.
Como se sabe, dentro da sistemática processual civil anterior, para o STF, o
prazo para a ação rescisória deveria ser contado de forma individual, para cada uma
das decisões judiciais transitadas em julgado em momentos diferentes (existiriam,
portanto, vários prazos distintos). Para o STJ, diferentemente, o prazo, que era um
só, iniciava-se somente a partir da última decisão transitada em julgado no processo.

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O art. 975 do CPC/2015 dispõe que “O direito à rescisão se extingue em 2 (dois)
anos contados do trânsito em julgado da última decisão proferida no processo”, parecendo
ter prestigiado o entendimento do STJ sobre o assunto, ainda que expressamente não
esclareça se a última decisão seria do processo como um todo ou do processo relativo
àquele capítulo da decisão que se pretende rescindir.
Numa análise bastante clara e conciliatória, resumem Teresa Arruda Alvim
WAMBIER, Maria Lúcia Lins CONCEIÇÃO, Leonardo Ferres da Silva RIBEIRO e
Rogerio Licastro Torres de MELLO:

Este dispositivo estabelece o termo final da ação rescisória. Com isso, resolve
o problema que nasce do fato de haver, no mesmo processo, decisões que re-
solvem pretensões do autor em momentos diversos (ou do réu, se se tratar de
reconvenção) e não transitam em julgado ao mesmo tempo. Isto ocorre também
no caso de as pretensões serem resolvidas ao mesmo tempo, mas o recurso in-
terposto dizer respeito só a uma delas, passando a operar a coisa julgada sobre
as demais, de que não se recorreu. O termo final, diz a nova lei, é o último dia
do segundo ano contado a partir da última decisão que transitou em julgado. E
o termo inicial será variável, em função da decisão que se pretenda rescindir.
Isto significa que só a última decisão transitada em julgado terá 2 anos para ser
rescindida. As outras, terão mais do que isso. A nosso ver, trata-se de excelente
e criativa solução: a rescisória pode ser movida desde logo. Mas o prazo não
se esgota, se o autor da eventual rescisória preferir esperar que haja trânsito em
julgado de todas as decisões. No entanto, a competência pode variar, em fun-
ção do órgão em que transitou em julgado a decisão que se pretende rescindir,
podendo haver, portanto, afinal, várias rescisórias concomitantes. (Primeiros
comentários ao novo código de processo civil: artigo por artigo, comentários
ao art. 975, p. 1549).

A Possibilidade de Rescisão Parcial no CPC/2015


Essa hipótese específica de ação rescisória, relacionada ao seu ajuizamento
contra um determinado capítulo da decisão, está expressamente tratada pelo art. 966,
§ 3º, do CPC/2015: “A ação rescisória pode ter por objeto apenas 1 (um) capítulo da decisão”.
Pela primeira vez, o legislador emprega uma expressão antes somente referida
pela doutrina (cf. Cândido Rangel DINAMARCO, Capítulos da sentença, São Paulo:
Malheiros, 2013).
Sobre o tema, importa destacar significativa alteração trazida pelo Novo Có-
digo, qual seja: ao preferir o termo decisão ao vocábulo sentença (CPC/2015, art. 966,
caput e CPC/73, art. 485, caput), o legislador deixa claro que podem ser objeto de ação
rescisória, além das sentenças de mérito, também as decisões interlocutórias de méri-
to (nesse sentido também é o Enunciado nº 336 do FPPC) e as decisões transitadas em
julgado que, embora não sejam de mérito, impeçam a propositura de nova demanda
ou a admissibilidade do recurso correspondente (art. 966, § 2º, I e II).
Especificamente sobre os capítulos das decisões e sua rescindibilidade, Teresa
Arruda Alvim WAMBIER, com a acuidade que lhe é própria, destaca que:

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Sentenças (ou decisões) podem ter capítulos. Estes podem corresponder a
diferentes méritos (pedidos mediatos/pretensões). Podem ser interligados e
interdependentes, como rescisão contratual e indenização. Ou autônomos,
por exemplo, como danos morais e materiais. Podem corresponder às preli-
minares, às prejudiciais, e ao(s) mérito(s). Capítulos são partes da decisão,
estruturalmente autônomos, interna corporis, – com fundamento e decisum
próprios – embora possam depender uns dos outros. Porque pode haver esta
interdependência, é possível que a procedência da ação rescisória proposta
para impugnar um só capítulo da decisão faça cair por terra o outro, como
decorrência lógica. É, por exemplo, o caso da rescisória intentada contra a
decisão que considerou ilícita a ruptura do contrato – e a procedência sig-
nifica reconhecer a licitude desta ruptura em relação ao capítulo que cuida
da condenação ao pagamento de indenização. (Ação rescisória. In: Temas
Essenciais do Novo CPC, p. 619-620).

A bem da verdade, o STJ já havia se manifestado sobre a possibilidade de


rescisão parcial em 2011, à luz do CPC/73, portanto, quando isso ainda era assunto
bastante polêmico na doutrina:

PROCESSO CIVIL. PEDIDO. EXEGESE. AÇÃO RESCISÓRIA. RES-


CISÃO PARCIAL. POSSIBILIDADE. POLO PASSIVO. COMPOSI-
ÇÃO. NOVO RÉU. INCLUSÃO APÓS O DECURSO DO PRAZO
DECADENCIAL PARA AJUIZAMENTO DA RESCISÓRIA. IMPOSSI-
BILIDADE. 1. Deve se conferir ao pedido uma interpretação lógico-sis-
temática, que guarde consonância com o inteiro teor da petição inicial, de
modo a conceder à parte o que foi efetivamente requerido. Precedentes. 2.
A ação rescisória pode objetivar a anulação de apenas parte da sentença ou
acórdão. A possibilidade de rescisão parcial decorre do fato de a sentença
de mérito poder ser complexa, isto é, composta de vários capítulos, cada um
contendo solução para questão autônoma frente às demais. (...) 5. Recur-
so especial provido. (STJ, REsp 863.890/SC, 3ª T., j. 17.02.2011, rel. Min.
Nancy Andrighi, DJe 28.02.2011) – destaques nossos.

A regra, portanto, prevista no art. 966, § 3º, do CPC/2015, não é nova no siste-
ma, mas nunca havia sido colocada de forma expressa na lei, lembrando que, em ter-
mos de competência, deverá sempre ser observado o órgão jurisdicional que proferiu
o capítulo rescindendo (Enunciado nº 337 do FPPC).

Incidente de Resolução de Demandas Repetitivas


O incidente de resolução de demandas repetitivas (IRDR), segundo o Novo
Código de Processo Civil, é cabível quando houver, simultaneamente, efetiva repeti-
ção de processos que contenham controvérsia sobre a mesma questão unicamente de
direito e risco de ofensa à isonomia e à segurança jurídica (art. 976).
Nesse sentido a advertência de Teresa Arruda Alvim WAMBIER, Maria Lúcia
Lins CONCEIÇÃO, Leonardo Ferres da Silva RIBEIRO e Rogerio Licastro Torres de
MELLO:

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(...). A nova lei exige que já haja efetiva repetição de processos e não mera
potencialidade de que os processos se multipliquem. Parece, todavia, que os
objetivos do instituto ficariam inteiramente frustrados, se se exigisse, para a
instauração do incidente, que já se tivesse instalado o caos na jurisprudência
de 1º grau, com milhares de sentenças resolvendo de modos diferentes a
mesma questão de direito. Não. Se a lei exige que haja processos “repeti-
dos” em curso, é razoável que se entenda que bastem duas ou três dezenas,
antevendo-se a inexorabilidade de a multiplicação dessas ações passarem a
ser muito maior. (Primeiros comentários ao novo código de processo civil:
artigo por artigo, comentários ao art. 976, p. 1552-1553).

Conforme expresso nos artigos 928, 976 a 987 e 1.036 a 1.041, todos do
CPC/2015, e entendimento consolidado no Enunciado nº 345 do Fórum Permanente
de Processualistas Civis (FPPC),

(arts. 976, 928 e 1.036100). O incidente de resolução de demandas repe-


titivas e o julgamento dos recursos extraordinários e especiais repetitivos
formam um microssistema de solução de casos repetitivos, cujas normas
de regência se complementam reciprocamente e devem ser interpretadas
conjuntamente. (Grupo: Precedentes; redação revista no V FPPC-Vitória).

Daí porque existe, inclusive, uma relação de prejudicialidade expressa entre


eles (CPC/2015, art. 976, § 4º).
O pedido de instauração do incidente será dirigido ao Presidente do Tribunal,
pelo juiz ou relator, por ofício; pelas partes, pelo Ministério Público ou pela Defen-
soria Pública, por petição (art. 977). Após a distribuição, o relator poderá requisitar
informações ao órgão em cujo juízo tem curso o processo originário, que as prestará
em quinze dias, prazo improrrogável (art. 982, II). O julgamento do incidente caberá
ao órgão indicado pelo regimento interno dentre aqueles responsáveis pela unifor-
mização de jurisprudência do tribunal (art. 978).
Trata-se, pois, de instituto dotado de grande importância para a estabiliza-
ção da jurisprudência, já que prevê: (i) a possibilidade de suspensão de processos
(individuais e/ou coletivos) que tratem de matéria de direito idêntica à suscitada no
incidente, no âmbito da jurisdição do tribunal (art. 982, inciso I); e (ii) a ampla publi-
cidade dos acórdãos que julgarem as questões repetitivas (art. 979).
Tais medidas poderão facilitar a identificação dos precedentes pelos juízes no
julgamento de casos futuros, além de a publicidade servir para que os jurisdiciona-
dos tomem conhecimento dos entendimentos consolidados e evitem, assim, a pro-
positura de demandas fundadas em um posicionamento já superado, por exemplo.
Também se revela importante mecanismo de uniformização das decisões judiciais e
de prestígio do princípio constitucional da igualdade, evitando-se a chamada “juris-
prudência lotérica”.

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Suspensão Obrigatória dos Processos no IRDR?
O incidente de resolução de demandas repetitivas, que ficou conhecido como
IRDR é um importante e inovador instituto criado pelo Código de Processo Civil de
2015.
Tratado pelo Código nos artigos 976 a 987, o regramento do IRDR se insere
como um Capítulo do Título que cuida “Da Ordem dos Processos e Dos Processos de
Competência Originária dos Tribunais”, já no Livro III do CPC/2015.
Concebido pela nova sistemática como uma forma de julgamento de casos
repetitivos com decisão vinculante para os casos presentes e futuros que tratem da
mesma matéria (v. arts. 927, inciso III e 928, inciso I – ainda que haja discussão dou-
trinária atual sobre a constitucionalidade do inciso III do art. 927), o IRDR tem cabi-
mento diante de presença de 02 requisitos básicos, quais sejam: (i) efetiva repetição
de processos que contenham controvérsia sobre a mesma questão unicamente de
direito; e (ii) risco de ofensa à isonomia e à segurança jurídica (art. 976, incisos I e II).
Percebe-se, desde logo, que se trata de instituto vocacionado à eliminação de
diversas demandas que estejam em trâmite e versem sobre a mesma questão de di-
reito. Busca-se, portanto, de certa forma, antecipar o julgamento dessas causas por
meio de um procedimento com finalidade muito próxima à do já conhecido julga-
mento de recursos especiais e extraordinários repetitivos (v. CPC/2015, arts. 1.036 a
1.041).
Ainda que existam diversas diferenças procedimentais, o que se procura em
ambos é definir a tese jurídica aplicável a um conjunto de demandas, estejam elas
representadas por um grupo de demandas repetitivas ou por dois ou mais recursos
especiais ou extraordinários escolhidos como representativos da controvérsia.
Quer-se proteger a isonomia e a segurança jurídica, tratando da mesma forma
situações jurídicas idênticas, o que, de fato, parece elementar num sistema jurídico
seriamente estruturado.
De acordo com o art. 982, inciso I, superado o juízo de admissibilidade pelo
órgão indicado no Regimento Interno para essa tarefa, o Relator do IRDR no tribu-
nal “suspenderá os processos pendentes, individuais ou coletivos, que tramitam no
Estado ou na região, conforme o caso” (v. também o art. 313, inciso IV). Lembre-se,
ainda, que, consoante o § 3º do mesmo dispositivo legal, as partes, o Ministério Públi-
co ou a Defensoria Pública, por petição, poderão requerer ao STJ e STF a ampliação
desse efeito suspensivo a todas as demandas individuais ou coletivas que tramitem
em território nacional e que versem sobre a mesma questão discutida no IRDR.
O Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo, por exemplo, começou o ano de
2017 com 05 IRDRs admitidos, conforme informações que podem ser facilmente en-
contradas em seu endereço eletrônico <http://www.tjsp.jus.br/Nurer/Nurer/IRDR>

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No âmbito do julgamento de admissibilidade do IRDR 04-TJ/SP, que trata de
09 temas relacionados aos requisitos e efeitos do atraso na entrega de unidades autô-
nomas em construção aos consumidores, o Relator, Desembargador Francisco Lou-
reiro, propôs a tramitação do incidente sem a suspensão dos processos que tratam
das mesmas questões de direito no território paulista.
Conforme sustentou o Relator em seu voto, acompanhado pela maioria de
seus pares em relação a esse item no acórdão da Turma Especial – Privado 1 daquele
tribunal,

A paralisação de todos os processos do Estado de São Paulo por até um ano


provocaria efeito inverso à celeridade e segurança que o instituto do IRDR
almeja. Para fins de evitar a instabilidade e insegurança jurídica de franca
minoria de julgamentos dissonantes, seria suspensa a maioria dos julgamen-
tos que se filiam ao entendimento já sumulado.

Como se percebe, a argumentação utilizada foi no sentido de que a paralisação


de inúmeras demandas que já estão sendo decididas de acordo com entendimentos
sumulados pelo TJ/SP causaria mais prejuízo e instabilidade, já que poucos são os
julgamentos dissonantes.
Por outro lado, deve-se também ponderar que o tribunal não é obrigado (em-
bora seja recomendável) a seguir e manter os seus entendimentos já consolidados.
O que o CPC/2015 exige nos casos de mudança é uma fundamentação adequada e
profunda, tendo em vista que não se pode frustrar expectativas legítimas da socieda-
de que se pauta de acordo com algo que estava sumulado, por exemplo (v. art. 927,
§§ 2º a 4º).
Especificamente sobre esse caso que tramitou junto ao TJ/SP, como já dito, a
decisão por maioria foi no sentido de que o julgamento de mérito do IRDR prosse-
guisse excepcionalmente sem a suspensão das demandas no território bandeirante
que tratam da matéria:

Deliberaram, por maioria, pela não suspensão dos processos em curso, nos
termos da proposta do Relator: “Na forma do art. 985 do CPC, as teses
aprovadas sejam aplicadas a todos os processos individuais e coletivos pen-
dentes, ou casos futuros que versem sobre as mesmas questões de direito no
Estado de São Paulo, inclusive nos juizados especiais. Não é o caso de se
determinar a suspensão dos processos em curso, tema já deliberado por oca-
sião da decisão que admitiu o IRDR, e por mais de uma razão: (i) primeiro,
porque as teses ora firmadas referendam súmulas de jurisprudência deste
Tribunal de Justiça, com alteração apenas de redação; (ii) segundo, porque
se escoou o prazo ânuo do art. 980 do CPC/2015. Eventuais recursos espe-
cial ou extraordinário serão dotados de efeito suspensivo dos efeitos deste
Acórdão (art. 987 CPC/2015), sem que isso implique, porém, a paralisação
de processos cujo prosseguimento foi autorizado por esta Turma Julgadora
ao admitir o incidente”.

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O andamento do caso na íntegra, que foi julgado em 31.08.2017, publicado no
dia 06.12.2017, pode ser acessado pelo seguinte link:
http://bit.ly/2Hr4rOm

Cabe Reclamação junto aos Tribunais de Justiça?


Com o advento do CPC/2015, a reclamação servirá para preservar a competên-
cia e garantir a autoridade das decisões de qualquer tribunal do país. Nesse sentido,
não só os tribunais de justiça, como também os tribunais regionais poderão admitir
reclamação com essas finalidades.
É o que expressamente dispõe o art. 988, § 1º: “A reclamação pode ser propos-
ta perante qualquer tribunal, e seu julgamento compete ao órgão jurisdicional cuja
competência se busca preservar ou cuja autoridade se pretenda garantir”.
O STF já havia admitido a possibilidade de reclamação para os tribunais de
justiça com base em previsão na Constituição Estadual respectiva (v. STF, ADI 2.212/
CE, Tribunal Pleno, j. 02.10.2003, rel. Min. Ellen Gracie, DJ 14.11.2003), mas a matéria
ainda era objeto de controvérsia doutrinária, notadamente em relação aos outros tri-
bunais (isso porque o Texto Constitucional Brasileiro somente contempla, de forma
expressa, reclamação para o STF, STJ e TST – cf. arts. 102, I, l; 105, I, f e 111-A, § 3º).
Dessa forma, o Novo Código acaba com a discussão e pretende ver a recla-
mação como uma via de “acesso direto” ao tribunal cuja competência ou autoridade
esteja sendo, de alguma forma, violada, desrespeitada, sem que haja necessidade
de qualquer outra previsão na Constituição Federal ou nas Constituições Estaduais.
Muito embora tenha se ampliado o alcance dessa importante garantia, triste
é ainda pensar que precisamos dela, tendo em vista que a reclamação é um instituto
que não encontra reflexo na legislação de outros países.
Em outras palavras: a existência da reclamação em nosso sistema apenas rea-
firma a falta de coerência e de integridade da jurisprudência brasileira, em especial
dos entendimentos consolidados nos tribunais superiores e de segundo grau, diutur-
namente desrespeitados e afastados.
A pergunta que nos leva à reflexão é a seguinte: até quando precisaremos de
um instrumento jurídico para garantir que casos idênticos sejam tratados da mesma
forma pelo Poder Judiciário?

Disposições Gerais sobre os Recursos no CPC/2015


A existência dos recursos no nosso sistema processual se deve essencialmente
à uma preocupação de equilíbrio entre efetividade, celeridade, eficiência e segurança
jurídica.
A sempre precisa lição de José Carlos BARBOSA MOREIRA nunca perderá a

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sua atualidade e importância:

Desde tempos remotos têm-se preocupado as legislações em criar expedien-


tes para a correção dos possíveis erros contidos nas decisões judiciais. À
conveniência da rápida composição dos litígios, para o pronto restabeleci-
mento da ordem social, contrapõe-se o anseio de garantir, na medida do pos-
sível, a conformidade da solução ao direito. Entre essas duas solicitações,
até certo ponto antagônicas, procuram os ordenamentos uma via média que
não sacrifique, além do limite razoável, a segurança à justiça, ou esta àquela.
Fazer inimpugnáveis quaisquer decisões, desde que proferidas, atenderia ao
primeiro interesse, mas com insuportável detrimento do segundo; multipli-
car ad infinitum os meios de impugnação produziria efeito diametralmente
oposto e igualmente danoso. Ante a inafastável possibilidade do erro judi-
cial, adotam as leis posição intermediária: propiciam remédios, mas limi-
tam-lhes os casos e as oportunidades de uso. (Comentários ao Código de
Processo Civil, p. 229).

Dentre as espécies de mecanismos – ou remédios – contra as decisões judiciais,


ainda se fala, hodiernamente, na distinção entre recursos (exs.: apelação, agravo de
instrumento, recurso especial etc.) e ações autônomas de impugnação (exs.: ação rescisó-
ria, querela nullitatis, reclamação etc.), tendo como critério básico distintivo a instaura-
ção ou não de um novo processo, que somente ocorrerá naquelas últimas.
Recurso, portanto, é o “remédio idôneo a ensejar, dentro do mesmo processo, a refor-
ma, a invalidação, o esclarecimento ou a integração de decisão judicial que se impugna” (Ibid.,

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p. 233).

O tema é enfrentado pelo legislador brasileiro entre os arts. 994 a 1.044 do Có-
digo de Processo Civil de 2015.
De forma esquemática, temos:
Este último capítulo, ainda, restou subdividido da seguinte maneira:
O recurso (re-curso = novo curso), pois, representa verdadeira extensão da de-
manda e do direito de ação propriamente dito, sendo que, dada a bilaterialidade do pro-
cesso, também é um ônus do réu quando sucumbente – e até mesmo do Ministério
Público e de terceiros prejudicados.
Necessário e, ao mesmo tempo, alvo de inúmeras críticas, o sistema recursal
brasileiro aparece transformado pelo CPC de 2015, que já nasce nitidamente preocu-
pado com a criação de bases para uma teoria do precedente judicial (v. arts. 926 a 928).
José Carlos BARBOSA MOREIRA, mais uma vez, mesmo comentando a siste-
mática processual civil revogada, parecia estar escrevendo nos dias atuais:
Na realidade, a utilização das vias recursais pode explicar-se por uma série
de razões extremamente diversificadas – desde a sincera convicção de que
o órgão a quo decidiu de maneira errônea, até o puro capricho ou espíri-

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to emulatório, passando pelo desejo de ganhar tempo, pela irritação com
dizeres da decisão recorrida, pelo intuito de pressionar o adversário para
induzi-lo a acordo, e assim por diante. Não fica excluída a hipótese de que
a vontade de recorrer esteja menos no litigante que no advogado, receoso
de ver-se atingido em seu prestígio profissional pela derrota, ou movido
por animosidade contra o patrono da parte adversa. É intuitivo, por outro
lado, que fatores também múltiplos e variados influem na opção final entre
interpor e não interpor o recurso: a estimativa das despesas com este rela-
cionadas, a previsão do tempo que fluirá até o julgamento, a qualidade da
decisão proferida, a existência ou inexistência de orientação jurisprudencial
firme sobre a questão de direito, e até a situação do mercado de trabalho
na advocacia... Trata-se de problemática do maior interesse, notadamente
pelo ângulo da sociologia do processo, a reclamar estudos interdisciplina-
res, como os que já se vão fazendo noutros países. (Comentários ao Código
de Processo Civil, p. 238).

Antes de tecer breves comentários sobre as novidades específicas do CPC de


2015 no âmbito dos recursos cíveis em geral, mister se faz revisitar alguns temas liga-
dos à teoria geral dos recursos.

Revisitando Alguns Aspectos Importantes


da Teoria Geral dos Recursos
A teoria geral dos recursos, como não poderia deixar de ser, em verdade, remon-
ta desdobramentos do princípio constitucional do devido processo legal, viga-mes-
tra de toda construção que se pretende fazer sobre processo judicial no Brasil.
De forma muito breve, com o amparo das lições trazidas pelo Professor AR-
RUDA ALVIM, enfrentaremos os seguintes tópicos: legalidade/taxatividade, singu-
laridade, fungibilidade, voluntariedade, proibição da reformatio in pejus, dialeticida-
de e sanabilidade dos vícios processuais no âmbito recursal.
Em primeiro lugar, deve-se lembrar que somente a lei federal cria recurso (CF,
art. 22, inciso I e CPC, art. 994). Não existem recursos criados por decretos, resolu-
ções ou regimentos dos tribunais – daí porque tecnicamente equivocada a expressão
“agravo regimental”, ainda muito utilizada para se referir ao recurso de agravo in-
terno, previsto no art. 1.021 do CPC.
Trata-se da legalidade ou tipicidade em matéria recursal.
Dessa mesma ideia decorre a característica da singularidade recursal, isto é, da
conclusão de que, para cada tipo de decisão judicial, caberá um único recurso, de
cada vez. Nas palavras de ARRUDA ALVIM:

(...). Em outras palavras, os recursos não se interseccionam em seus âmbitos, ou ao


menos não deveriam apresentar áreas comuns de cabimento.
No caso dos embargos de declaração, cabíveis contra qualquer espécie de decisão
que a parte considere obscura, omissa, contraditória ou que contenha erro material
(art. 1.022, I a III, do CPC/2015), não há ofensa à singularidade, porquanto sua opo-
sição interrompe o prazo para a interposição do recurso cabível até que seja analisa-

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do o vício alegado. Nesses casos, continua sendo cabível a interposição, pela parte,
de um recurso de cada vez. É o que ocorre, por exemplo, quando a parte interpõe
contra a sentença embargos de declaração, por reputá-la contraditória. O recurso de
apelação somente poderá ser interposto após o julgamento dos embargos de declara-
ção; não há possibilidade de interposição simultânea de recursos pela mesma parte.
(Novo contencioso cível no CPC/2015, p. 447-448).
A única exceção a essa regra é a interposição simultânea dos recursos especial
e extraordinário stricto sensu contra a mesma decisão (v. CPC, art. 1.031).
Da singularidade recursal advém a regra segundo a qual, interposto o recurso
incorreto, a inadmissão (não conhecimento) é certa e o mérito recursal sequer será
objeto de análise. A fungibilidade somente estará presente quando houver dúvida ob-
jetiva sobre qual recurso seria cabível contra determinada decisão (ou seja, não ser o
caso de erro grosseiro na interposição) e a parte não estiver agindo de má-fé.
Sobre este tópico, felizes as conclusões de ARRUDA ALVIM:

(...). No CPC/2015, grande parte – se não a totalidade – das dúvidas deixou


de existir, pois o legislador foi cuidadoso o suficiente para prever expressa-
mente, em incidentes processuais, qual é o recurso cabível. Assim, o novo
Código é expresso em dizer ser cabível agravo de instrumento da decisão
que exclui litisconsorte (art. 1.015, VII) e da decisão que julga parcialmente
o mérito (arts. 356, § 4º, e 1.015, II, do CPC/2015).
Se há na lei expressa disposição da maneira por meio da qual se recorre
de um determinado pronunciamento, cessa a dúvida objetiva, e passa a ha-
ver erro grosseiro na interposição equivocada. (Novo contencioso cível no
CPC/2015, p. 450).

Na mesma linha, diferenciando fungibilidade de aproveitamento de atos proces-


suais, continua o perspicaz Professor:

Para que a fungibilidade possa ocorrer, um recurso interposto inadequada-


mente deve ter condições de ser recebido no lugar do recurso correto.
Só se fala em fungibilidade quando o recurso “equivocado” puder ser
recebido, sem prejuízo do conteúdo da pretensão do recorrente. Se há
necessidade de “adequar” ou “converter” um recurso em outro, não há
mais fungibilidade. Assim, o art. 1.024, § 3.º, do CPC/2015, permite
que um órgão colegiado receba o recurso de embargos de declaração
como agravo interno, se entender ser este o recurso cabível, desde que
intime o recorrente para adequá-lo e complementar suas razões. Isso não
é fungibilidade, pois os pressupostos de cabimento de um e de outro re-
curso são absolutamente distintos. A possibilidade de complementação
das razões indica que se trata do aproveitamento de um ato processual,
mas não de aplicação de fungibilidade. (Ibidem).

A interposição de todo e qualquer recurso é ato de vontade das partes ou


terceiros interessados e também do Ministério Público. Como já se alertou, o
recurso representa um prolongamento do direito de ação, extensão da própria
demanda judicial em curso, nota distintiva marcante em relação às ações autôno-
mas de impugnação.
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Dessa forma, também os recursos estão submetidos ao princípio dispositivo.
Não por outra razão que o art. 998 é tão cristalino:
Art. 998. O recorrente poderá, a qualquer tempo, sem a anuência do recorri-
do ou dos litisconsortes, desistir do recurso.
Parágrafo único. A desistência do recurso não impede a análise de questão
cuja repercussão geral já tenha sido reconhecida e daquela objeto de julga-
mento de recursos extraordinários ou especiais repetitivos.

A remessa necessária, prevista no art. 496 do CPC, não é espécie recursal listada
no rol do art. 994, mas sim “condição suspensiva para a eficácia da sentença – ou para a
formação da coisa julgada – que seja contrária a entes públicos”. (ARRUDA ALVIM, Novo
contencioso cível no CPC/2015, p. 451).
Via de regra, também não é possível que a interposição de um recurso repre-
sente malefício para o recorrente, de modo a piorar a sua situação processual (proi-
bição de reformatio in pejus – “reforma para pior”). Isso poderá resultar do recurso da
parte contrária, por óbvio, ou de situações processuais inevitáveis, tal como a previs-
ta no art. 1.013, § 3º, inciso I, do CPC (amplo efeito devolutivo da apelação).
A dialeticidade, por sua vez, refere-se à necessidade de as razões recursais con-
versarem, dialogarem com a decisão recorrida, esclarecendo exatamente aqueles
pontos sobre os quais incidirá a irresignação.
Muito pertinente a observação do Professor ARRUDA ALVIM:

A mesma obrigação se pode impor às decisões; sua fundamentação não


pode perder dialeticidade com o conteúdo das peças e dos recursos. Assim,
ocorre frequentemente, quando os tribunais mantêm decisões (isto é, dei-
xam de reforma-las e desproveem recursos) “por seus próprios fundamen-
tos”. Isto, até mesmo pelo que diz o art. 489, § 1.º, IV, do CPC/ 2015, não
significa fundamentar, sendo nula a decisão.
Na realidade, mesmo que o órgão julgue um recurso por motivos diversos
dos que as partes ofereceram, é recomendável – e até imprescindível, que
se faça expressa menção a eles. Em outras palavras, desviar dos argumentos
das partes implica dizer o porquê não se os está utilizando na decisão.
Interessante notar, a este respeito, que o CPC/2015, logo após dispor que, no
agravo interno, o agravante deve impugnar especificamente os fundamentos
da decisão agravada (art. 1.021, § 1.º), determinou, como contrapartida, que
é vedado ao relator limitar-se à reprodução dos fundamentos da decisão
agravada para julgar improcedente o agravo interno (art. 1.021, § 3.º). (Novo
contencioso cível no CPC/2015, p. 453-454).

Por fim, deve-se prestigiar a tônica dada pelo CPC de 2015 à sanabilidade dos
vícios processuais, notadamente na seara recursal. Observe-se, por exemplo, o que está
disposto no art. 932, parágrafo único do Código:

Art. 932. (...)


Parágrafo único. Antes de considerar inadmissível o recurso, o relator con-
cederá o prazo de 5 (cinco) dias ao recorrente para que seja sanado vício ou

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complementada a documentação exigível.

Da mesma forma, cristalina a redação do art. 1.007, § 7º, que assim dispõe in
verbis:

Art. 1.007. No ato de interposição do recurso, o recorrente comprovará,


quando exigido pela legislação pertinente, o respectivo preparo, inclusive
porte de remessa e de retorno, sob pena de deserção.
(...)
§ 7º O equívoco no preenchimento da guia de custas não implicará a aplica-
ção da pena de deserção, cabendo ao relator, na hipótese de dúvida quanto
ao recolhimento, intimar o recorrente para sanar o vício no prazo de 5 (cin-
co) dias.

O legislador, de toda forma, tentou absorver antigas inseguranças que esta-


vam relacionadas principalmente ao que se denominou jurisprudência defensiva, esti-
mulando que o processo, sempre e ao máximo possível, alcance a solução definitiva
de mérito, razão de ser da atividade jurisdicional heterocompositiva.
A efetividade processual ganha destaque sistêmico ao indicar que o processo
deve buscar sempre a resolução de mérito, sob pena de esvaziar de sentido a ativida-
de da jurisdição estatal: “Art. 4º. As partes têm o direito de obter em prazo razoável a solução
integral do mérito, incluída a atividade satisfativa”.
Da mesma forma, ao tratar do princípio da cooperação processual, novamente se
tem o mesmo destaque: “Todos os sujeitos do processo devem cooperar entre si para que se
obtenha, em tempo razoável, decisão de mérito justa e efetiva” (art. 6º).
Percebe-se, portanto, que a resolução do mérito passa a ser sinônimo de efeti-
vidade, pois é o que, de fato, resolve a questão de direito material e contribui para a
pacificação social. No entanto, contraditoriamente, por muito tempo o processo vem
sendo utilizado como subterfúgio para não conhecer o mérito, invertendo a lógica e
destoando das aclamadas instrumentalidade e efetividade processuais.
Essa posição política, por assim dizer, do CPC de 2015 fica muito clara em
inúmeros outros dispositivos, que exigem uma postura proativa do magistrado na
busca constante da correção das nulidades e do julgamento do mérito da demanda
(CPC, arts. 76, 139, inciso IX, 317, 321, 357, inciso IV, 370, 932, parágrafo único, 938, §
1º, 1.007, § 7º, 1.017, § 3º e 1.029, § 3º).

Efeitos dos Recursos no CPC/2015


Falar sobre recursos é também falar sobre os seus efeitos processuais.
E o primeiro (e mais lógico) deles é o prolongamento temporal da lide, com bem
observa ARRUDA ALVIM:

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Trata-se de uma decorrência lógica da própria insurgência da parte pelo re-
curso. A imutabilidade e indiscutibilidade da decisão, que ocorreriam com
a coisa julgada, não existem, pois a decisão está sendo rediscutida. Assim,
prolonga-se o estágio de litispendência, e a demanda continua em curso.
Cabe aqui apenas fazer uma observação: a doutrina tende a dizer que o re-
curso evita a formação de coisa julgada, mas a ideia de evitar traz consigo a
noção de que a coisa julgada seria, de fato, algo a ser evitado. Ora, na reali-
dade a formação da coisa julgada é o objetivo do processo e a finalidade do
Estado de Direito quando atua jurisdicionalmente. Para a parte perdedora,
a coisa julgada não é algo desejável, mas de forma geral e para o sistema, é
justamente o que se deseja com a instauração do processo. Assim, é preferí-
vel dizer que a interposição de um recurso prolonga a fase decisória de uma
demanda, retardando com isso automaticamente o momento do trânsito em
julgado. (Novo contencioso cível no CPC/2015, p. 454-455).

De resto, importa, na prática, essencialmente, o estudo dos efeitos suspensivo


(impede os efeitos da decisão atacada) e devolutivo (devolve ao tribunal o conheci-
mento, em extensão e profundidade, de toda a matéria impugnada) dos recursos,
que podem, com proveito, ser vistos conjuntamente.
Sobre o efeito suspensivo, a regra do CPC de 2015 é muito clara:

Art. 995. Os recursos não impedem a eficácia da decisão, salvo disposição


legal ou decisão judicial em sentido diverso.
Parágrafo único. A eficácia da decisão recorrida poderá ser suspensa por
decisão do relator, se da imediata produção de seus efeitos houver risco de
dano grave, de difícil ou impossível reparação, e ficar demonstrada a proba-
bilidade de provimento do recurso.

O legislador, portanto, desejou que os recursos apenas tivessem, como regra,


efeito devolutivo, mantendo-se, na fase recursal, todos os efeitos decorrentes da pro-
lação de uma decisão judicial. Somente quando demonstrada fundamentação sufi-
ciente ligada à probabilidade de provimento do recurso e ao risco de dano grave, de
difícil ou impossível reparação, é que o efeito suspensivo seria requerido, analisado
e, se o caso, concedido pelo relator (ope judicis).
Essa atribuição de efeito suspensivo aos recursos é, em última análise, a con-
cessão de uma tutela de urgência de natureza cautelar, destinada a impedir que a
decisão produza efeitos desde logo.
Entretanto, depois de diversas discussões a respeito, a redação final do art.
1.012, caput, restou assim definida: “A apelação terá efeito suspensivo”.
Essa, pois, a regra para o recurso de apelação, muito criticada pela doutrina,
uma vez que contrária à lógica segundo a qual o Código foi formatado.
Dessa forma, na vigente sistemática processual civil, dentre os recursos or-
dinários lato sensu, tão-somente a apelação terá efeito suspensivo como regra. Os
demais recursos (agravo de instrumento, agravo interno, embargos de declaração,
recurso ordinário, recurso especial e recurso extraordinário (com a exceção já men-

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cionada prevista no art. 987, §1º do CPC), agravo em recurso especial ou extraordiná-
rio e embargos de divergência) terão apenas efeito devolutivo como regra, à exceção
das situações de urgência (v. art. 995, parágrafo único).
Caso se faça uma comparação em relação aos dispositivos correspondentes do
revogado CPC/73, irá se perceber com bastante facilidade que quase nada mudou
nesse aspecto, tendo em vista que, à exceção dos embargos de declaração e do agravo
interno, os demais recursos já não possuíam mesmo efeito suspensivo como regra na
sistemática anterior.
O efeito devolutivo é decorrência natural da própria voluntariedade inerente
aos recursos em geral. Representa, portanto, a possibilidade que o tribunal tem de
reanalisar toda a matéria que for levada ao seu conhecimento no âmbito da irresig-
nação do recorrente.
Um detalhe é extremamente importante: somente aquilo que foi impugnado é
que será objeto de reexame pelo tribunal (tantum devolutum quantum apellatum). Caso
o recorrente tenha “se esquecido” de algum capítulo da decisão, ele não será reanali-
sado e transitará em julgado de imediato – e o CPC é expresso quanto ao cabimento
de ação rescisória de apenas um capítulo da decisão (v. art. 966, § 3º).
Entretanto, uma vez que a matéria tenha sido aventada no recurso, ainda que
de forma superficial, nada obstará que o tribunal faça a sua reanálise de forma pro-
funda em relação àquele capítulo impugnado. Daí se dizer que “o recorrente estabelece
a extensão do recurso, mas não pode estabelecer a sua profundidade”. (Fredie DIDIER JR. e
Leonardo Carneiro da CUNHA, Curso de direito processual civil, V..3, p. 145).
De rigor, nessa denominada profundidade do efeito devolutivo também estão

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abrangidos outros efeitos que, por questões didáticas, acabam sendo tratados de for-
ma autônoma pela doutrina (exs.: efeitos translativo e regressivo – detalhados no
final deste tópico).
Sobre esses principais efeitos, de forma esquematizada, temos:
Observações:
EMBARGOS DE DECLARAÇÃO: Exceto quando opostos contra sentença
sujeita à apelação com efeito suspensivo. Nesse sentido também indica o Enunciado
nº 218 do Fórum Permanente de Processualistas Civis: “A inexistência de efeito suspen-
sivo dos embargos de declaração não autoriza o cumprimento provisório da sentença nos casos
em que a apelação tenha efeito suspensivo”. Por outro lado, obviamente, quando opostos
contra sentença sujeita à apelação sem efeito suspensivo (v. art. 1.012, § 1º), terão
apenas efeito devolutivo.
EMBARGOS DE DECLARAÇÃO – Apenas devolutivo como regra: E tam-
bém efeito interruptivo (v. art. 1.026, caput). Sobre o efeito modificativo ou infringente
dos embargos de declaração, eis a lição precisa de Teresa ARRUDA ALVIM: “Assim,
na verdade, podem os embargos de declaração em nosso sentir ter efeito modificativo
ou infringente em três circunstâncias: 1. Quando este efeito decorrer das hipóteses nor-
mais de cabimento desse recurso, como efeito secundário. O caso mais comum é o suprimento
de lacuna na decisão, cujo preenchimento torne inviável a subsistência do resto do julgado; 2.
Quando houver correção de erro material; 3. Quando se tratar de decretar de ofício ou a reque-
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rimento das partes, nos próprios embargos declaratórios, nulidade absoluta.” (Nulidades do
processo e da sentença, p. 215).
RECURSO ORDINÁRIO – Apenas devolutivo como regra: Há respeitável
divergência doutrinária sobre a questão. Afirmando que o recurso ordinário cons-
titucional tem o mesmo regime jurídico da apelação quanto ao efeito suspensivo,
estão Teresa ARRUDA ALVIM, Maria Lúcia Lins CONCEIÇÃO, Leonardo Ferres da
Silva RIBEIRO e Rogerio Licastro Torres de MELLO (cf. Primeiros comentários ao novo
código de processo civil, p. 1651) e Alexandre Freitas CÂMARA (cf. O novo processo civil
brasileiro, p. 544). Em sentido contrário, entendendo que não há efeito suspensivo au-
tomático no recurso ordinário constitucional, aplicando-se a ele a regra geral do art.
995 do CPC: Fredie DIDIER JR. e Leonardo Carneiro da CUNHA (cf. Curso de direito
processual civil, vol. 3, p. 544), Daniel Amorim Assumpção NEVES (cf. Manual de direi-
to processual civil, p. 1605) e João Francisco Naves da FONSECA (cf. Breves comentários
ao novo código de processo civil, p. 2394).
RECURSO ESPECIAL: Exceto quando interposto contra a decisão de mérito
em incidente de resolução de demandas repetitivas (IRDR), hipótese em que terá
também efeito suspensivo ope legis – v. art. 987, § 1º.
RECURSO EXTRAORDINÁRIO: Exceto quando interposto contra a decisão
de mérito em incidente de resolução de demandas repetitivas (IRDR), hipótese em
que terá também efeito suspensivo ope legis – v. art. 987, § 1º.
EMBARGOS DE DIVERGÊNCIA – Apenas devolutivo como regra: E tam-
bém efeito interruptivo quando interposto no STJ (v. art. 1.044, § 1º).
No mais, como já observado, outros são os efeitos mencionados pela doutrina,
dentre os quais podem ser destacados: translativo, regressivo, substitutivo e expan-
sivo subjetivo.

Novidades do CPC de 2015 sobre os Recursos


Antes de tudo: não existem mais os recursos de agravo retido e embargos infrin-
gentes.
Isso porque, em primeiro lugar, quanto ao antigo recurso de agravo retido, pre-
feriu o legislador do CPC de 2015 alterar o regime de preclusão para impugnação
daquelas decisões interlocutórias que estão fora do rol taxativo de cabimento do re-
curso de agravo de instrumento (art. 1.015).
Dessa forma, caberá à parte aguardar para impugnar essas questões não
abrangidas em sede de razões ou contrarrazões de apelação, conforme expressamen-
te dispõe o art. 1.009, § 1º, que assim dispõe, in verbis:

Art. 1.009. Da sentença cabe apelação.


§ 1º As questões resolvidas na fase de conhecimento, se a decisão a seu res-

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peito não comportar agravo de instrumento, não são cobertas pela preclusão
e devem ser suscitadas em preliminar de apelação, eventualmente interposta
contra a decisão final, ou nas contrarrazões.
§ 2º Se as questões referidas no § 1º forem suscitadas em contrarrazões, o
recorrente será intimado para, em 15 (quinze) dias, manifestar-se a respeito
delas.
§ 3º O disposto no caput deste artigo aplica-se mesmo quando as questões
mencionadas no art. 1.015 integrarem capítulo da sentença.

Nas palavras de ARRUDA ALVIM:

No CPC/2015, a noção de ônus decorrente da possível preclusão é substan-


cialmente modificada, eis que as decisões interlocutórias, antes todas sujei-
tas a agravo (na forma retida ou por instrumento, a depender da urgência e
do prejuízo causado), agora, via de regra, não ficam cobertas pela preclu-
são. O recurso de agravo de instrumento é cabível, no CPC/2015, apenas
em determinadas e taxativas situações; não sendo o caso destas, a decisão
não preclui e a insurgência deve ser feita apenas na apelação, no mesmo
momento em que a parte sucumbente impugna a sentença (art. 1.009, §
1.º, do CPC/2015). Essa alteração não significa que a parte sucumbente em
uma decisão interlocutória não tenha interesse em modifica-la. O que ocorre
apenas é que o momento processual para impugnar a decisão não é imedia-
tamente subsequente a ela, pois não há o obstáculo processual da preclusão.
Parece, aqui, que o CPC/2015 retoma o conceito de decisões relevantes
vigente no CPC de 1939. Apenas algumas decisões eram recorríveis por
agravo (art. 842 do CPC/1939), do que se extraía que as demais não eram
juridicamente relevantes a ponto de serem impugnáveis desde logo. Isso
torna a ser percebido no CPC/2015. Todas as decisões que tenham prejudi-
cado a parte – como o indeferimento da oitiva de uma testemunha durante
uma audiência, por exemplo – serão discutidas quando, e se a parte vier a
ser vencida na sentença; ou, ainda que vencedora pela sentença se houver
sucumbido na decisão interlocutória, poderá impugná-la em contrarrazões.
(Novo contencioso cível no CPC/2015, p. 451-452).

De outra parte, quanto aos embargos infringentes, foram substituídos por uma
técnica de julgamento, prevista no art. 942, que ocorrerá independentemente de pedido
das partes:

Art. 942. Quando o resultado da apelação for não unânime, o julgamento


terá prosseguimento em sessão a ser designada com a presença de outros
julgadores, que serão convocados nos termos previamente definidos no
regimento interno, em número suficiente para garantir a possibilidade de
inversão do resultado inicial, assegurado às partes e a eventuais terceiros
o direito de sustentar oralmente suas razões perante os novos julgadores.
§ 1º Sendo possível, o prosseguimento do julgamento dar-se-á na mesma
sessão, colhendo-se os votos de outros julgadores que porventura compo-
nham o órgão colegiado.
§ 2º Os julgadores que já tiverem votado poderão rever seus votos por oca-
sião do prosseguimento do julgamento.
§ 3º A técnica de julgamento prevista neste artigo aplica-se, igualmente, ao
julgamento não unânime proferido em:
I - ação rescisória, quando o resultado for a rescisão da sentença, devendo,
nesse caso, seu prosseguimento ocorrer em órgão de maior composição pre-
visto no regimento interno;

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II - agravo de instrumento, quando houver reforma da decisão que julgar
parcialmente o mérito.
§ 4º Não se aplica o disposto neste artigo ao julgamento:
I - do incidente de assunção de competência e ao de resolução de demandas
repetitivas;
II - da remessa necessária;
III - não unânime proferido, nos tribunais, pelo plenário ou pela corte es-
pecial.

Nas lições de Teresa ARRUDA ALVIM e Bruno DANTAS,

Embora o legislador de 2015 não tenha optado por reduzir drasticamente o


número de recursos previstos, confiando na perspectiva da redução da re-
corribilidade como consequência de muitas das técnicas trazidas pelo novo
Código, os embargos infringentes foram suprimidos do sistema recursal. As
técnicas que geraram confiança no legislador na perspectiva de diminuir a
recorribilidade (embora não o número de recursos previstos) são principal-
mente aquelas que reforçam a relevância da jurisprudência pacificada e a
função paradigmática de precedentes do STJ e do STF, a ponto de torná-los
vinculantes em certas circunstâncias.
Essa era a opinião de parte considerável da doutrina: muitos sustentavam
que esse recurso deveria desaparecer.
A contrapartida que o Novo Código de Processo Civil oferece, como for-
ma de compensar o desaparecimento desse recurso, não é, como à primeira
vista se poderia pensar, o prolongamento da colegialidade e da cognição, no
julgamento da ação rescisória ou da apelação, quando se antevê que não vai
haver unanimidade.
Essa figura não consiste em recurso, porque não depende da iniciativa da
parte para ter lugar, e ocorre antes da conclusão do julgamento: durante o
processo de votação (art. 942, CPC/2015).
Só “substitui” os embargos infringentes, em certa medida, da perspectiva do
recorrente que pode lograr obter alteração dos rumos e do resultado (prová-
vel) do julgamento.
Na verdade, o que substitui, em certa dimensão e com significativas van-
tagens, os extintos embargos infringentes é o dever que tem o magistrado,
que ficou vendido, de declarar seu voto. Esse dever do magistrado, que
passa a existir com a entrada em vigor do Novo Código de Processo Civil,
não dá àquele que sucumbiu na apelação “outra chance”, como o fazem os
embargos infringentes, mas prepara, e até melhor, o processo para recursos
para o STJ e para o STF. (Recurso especial, recurso extraordinário e a nova
função dos tribunais superiores no direito brasileiro, p. 418-419).

Outra importante novidade fica por conta da sanabilidade dos vícios processuais,
sejam eles absolutos ou relativos, notadamente, no âmbito recursal, pelo que está
expressamente disposto no art. 932, parágrafo único, após o elenco dos poderes do
relator: “Art. 932. (...) Parágrafo único. Antes de considerar inadmissível o recurso, o relator
concederá o prazo de 5 (cinco) dias ao recorrente para que seja sanado vício ou complementada
a documentação exigível”.
Por fim, outro ponto de especial destaque, qualquer que seja o tema objeto de
estudo dentro do direito processual civil contemporâneo, é a criação das bases de
uma teoria brasileira do precedente judicial que, ao mesmo tempo em que diz expressa-

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mente quais decisões vincularão juízes e tribunais (v. art. 927), também sistematiza a
aplicação dos entendimentos consolidados para casos futuros e em tramitação.
Essa é a lógica presente, em muitos aspectos, em diversas hipóteses da impro-
cedência liminar do pedido (v. art. 332), no incidente de assunção de competência –
IAC (v. art. 947), no incidente de resolução de demandas repetitivas – IRDR (v. arts.
976 a 987) e na reformulação da sistemática dos recursos especial e extraordinário
repetitivos (v. arts. 1.036 a 1.041).
Na feliz síntese de ARRUDA ALVIM:

Quanto ao rol [do art. 927], cabe fazer algumas considerações. A primeira
delas é que as decisões do STF em controle concentrado e a súmula vincu-
lante já são, por força do que diz a Constituição, de observância obrigatória
por todos os órgãos jurisdicionais do País. Nesse ponto, não há ‘novidade’
no CPC quanto à vinculação – embora o código estabeleça, sim, técnicas
novas de utilização destas decisões ao longo do procedimento. Já os acór-
dãos em incidente de assunção de competência, de resolução de demandas
repetitivas e de recursos repetitivos são parte dos novos mecanismos de uni-
formização e estabilidade da jurisprudência. Só há sentido, no sistema do
CPC/2015, em criar estas técnicas se as decisões delas resultantes tiverem
observância obrigatória. Já os enunciados de súmula do STJ e do STF e a
orientação do plenário ou órgão especial dos tribunais dão com o CPC/2015
um verdadeiro salto de normatividade. Se durante a vigência do CPC/1973
a força destas decisões era meramente persuasiva, com o código de 2015
elas tendem a se equiparar à sumula vinculante, sob a ótica de sua obrigato-
riedade em relação aos julgamentos proferidos no Poder Judiciário. Seguir
a orientação das súmulas e do órgão especial dos tribunais, de uma atitude
sistêmica desejada, passa a ser algo exigido por lei. Daí a elevada força da
jurisprudência e a grande novidade do código nesse particular. A doutrina
costuma relacionar essa maior importância da jurisprudência como uma in-
fluência dos sistemas jurídicos de common law, notadamente da Inglaterra
e dos Estados Unidos. Lá, vige a regra dos precedentes judiciais, que em
alguma medida é reproduzida pelo CPC/2015. No entanto, não se pode di-
zer que as técnicas brasileiras são próximas ou se assemelham, a um sistema
de precedentes, em especial pela raiz histórica muito diversa relacionada a
um e outra tradição jurídicas. Embora essa correlação seja um interessante
ponto de partida para analisar o papel da jurisprudência no desenvolvimento
do Direito, é de se reconhecer que mesmo nos países de civil law o com-
portamento dos tribunais tem marcante importância, em especial como pa-
râmetro interpretativo, mesmo que não vinculante. De toda forma e com as
devidas adaptações, o CPC/2015 estabelece um regime de vinculação dos
juízes às decisões judiciais de cortes superiores – às quais se pode, no uso
corriqueiro do cotidiano forense, chamar de precedentes. Nesse aspecto, são
‘precedentes’ (decisões formalmente vinculantes) apenas os pronunciamen-
tos que se enquadrarem no rol do art. 927 do CPC/2015. (Novo contencioso
cível no CPC/2015, p. 523-525).

Resta agora saber se isso será suficiente para finalmente se encontrar o equi-
líbrio perfeito entre segurança jurídica, isonomia e celeridade no processo civil bra-
sileiro.

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Admissibilidade Recursal
Quanto aos requisitos de admissibilidade dos recursos, é importante sempre
ter em mente os seguintes tópicos: cabimento, endereçamento correto, tempestivida-
de, legitimidade e interesse para recorrer, fundamentação, estrutura textual, peças
necessárias e guia de custas (preparo).
Sobre o cabimento, ressalta-se o estudo detalhado das hipóteses previstas em
lei, que sempre irão nortear a escolha da melhor estratégia jurídica para determi-
nado caso concreto. Embora a boa doutrina construa bons argumentos a favor da
primazia do julgamento de mérito, o erro grosseiro e a má-fé sempre prejudicarão
o operador do direito, conforme uníssono entendimento jurisprudencial a respeito,
afastando-se o princípio da fungibilidade, bem como, em muitas hipóteses, autori-
zando a aplicação de multa no âmbito recursal (cf.: STJ, AgInt no RMS 52.068/RS, 1ª
T., j. 21.03.2017, rel. Min. Benedito Gonçalves, DJe 29.03.2017 e TJSP, Agravo Interno
2142012-47.2016.8.26.0000).
Além disso, é necessário sempre estar atento acerca de qual o órgão jurisdi-
cional é competente para receber o recurso no ato da interposição, para que se faça o
endereçamento da forma correta.
A tempestividade é primordial na interposição de qualquer recurso, tendo em
vista que não há solução para o recurso apresentado fora do prazo correto, nem em
relação à sanabilidade dos vícios (v. CPC, arts. 1.029, §3º, 1.035, §6º, 1.036, §2º). Por
outro lado, a unificação dos prazos para recorrer e responder em 15 dias úteis – à
exceção da oposição e resposta nos embargos de declaração em 05 dias (v. arts. 219,
1.003, §5º e 1.023), facilitou muito a prática jurídica. Ainda, como se sabe, agora exis-
te previsão expressa admitindo a interposição do recurso antes do prazo (“recurso
prematuro”), não havendo dúvidas quanto à sua admissibilidade (v. art. 218, §4º).
Uma dica importante: lembre-se que, mesmo no prazo de resposta ao recurso
interposto pela outra parte, é ainda possível interpor recurso adesivo em algumas
hipóteses expressamente previstas no art. 997, §2º (admissível apenas na apelação,
no recurso extraordinário e no recurso especial).
Sendo, como já visto, uma extensão do direito de ação, também para recorrer
é preciso ter legitimidade e interesse (CPC, arts. 17 e 996):

Quanto às partes, não há muitas complicações; aquele que figura como au-
tor ou réu é sempre legitimado a recorrer. O mesmo ocorre com o Ministério
Público, quando for parte. Quando, por outro lado, atuar como fiscal da or-
dem jurídica poderá recorrer como interveniente, sempre que demonstrar a
necessidade de exercer sua função de preservação da ordem jurídica. Quan-
to aos litisconsortes ativos ou passivos, cada um deles é legitimado a recor-
rer (art. 997 do CPC/2015), independentemente da espécie de litisconsórcio.
O terceiro prejudicado pela decisão pode recorrer também, via de regra,
nas situações em que já poderia ter intervindo no processo anteriormente,

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dado seu interesse jurídico na causa. Aquele que, nos termos do art. 119 e
seguintes do CPC/2015, for terceiro interveniente, pode vir a tornar-se parte
e, portanto, não se confunde com o terceiro prejudicado que pode recorrer.
Assim por exemplo é o assistente litisconsorcial (art. 124), que em tudo se
comporta como verdadeiro litisconsorte, e não como terceiro. Sua legiti-
midade de recorrer é como parte. O mesmo ocorre com o litisdenunciado,
que assume a posição de litisconsorte do autor ou do réu (arts. 127 e 128
do CPC/2015) e com o chamado ao processo, que é citado e integra a ação
como corréu (art. 131).
Na fase recursal, não são permitidas essas modalidades de intervenção de
terceiro; o momento processual para tanto já terá precluído. Sendo assim,
todo aquele que não tiver sido parte, mas que poderia ter figurado como
tal, tem legitimidade para recorrer como terceiro prejudicado, eis que há
interesse jurídico seu afetado pela decisão.
(...)
Da mesma forma que a legitimidade, a parte no exercício da ação e no seu
prolongamento, que é o recurso, precisa demonstrar o interesse no provi-
mento judicial. Nesse caso, costuma-se analisar a questão sob o ponto de
vista da utilidade. É interessado aquele para quem a decisão do recurso será
útil juridicamente assim, apenas a parte vencida, naquilo em que for venci-
da, pode recorrer. A parte que não sucumbiu – ou seja, que tiver sido vence-
dora – não tem interesse jurídico algum em recorrer.
Existe sucumbência de uma das partes quando suas pretensões (sejam os
pedidos do autor ou a matéria de defesa) não são atendidas pela decisão,
ou quando as postulações da parte adversa são acatadas. Ainda, ocorre a
sucumbência sempre que o recurso puder oferecer, para o recorrente, algum
proveito no plano prático.
Assim, o objetivo do recurso é de alguma forma reverter ou anular a de-
cisão, disto retirando algum proveito na situação jurídica de quem recorre
e evitando ou minorando uma situação de prejuízo. (ARRUDA ALVIM,
Novo contencioso cível no CPC/2015, p. 465-466 e 467).

Sobre a fundamentação, é necessário saber, em primeiro lugar, se o caso é de


recurso de fundamentação livre ou fundamentação vinculada.
Segundo o ensinamento de José Carlos BARBOSA MOREIRA:

Todo recurso necessita de fundamentação, o que significa que o recorrente


deve indicar os motivos pelos quais impugna a decisão, ou, em outras pa-
lavras, o(s) erro(s) que a seu ver ela contém. Fundamentar o recurso nada
mais é, em regra, que criticar a decisão recorrida.
Em certos casos, abstém-se a lei de fixar limites a essa crítica, permitindo ao
recorrente invocar quaisquer erros; noutros, ao contrário, cuida de discrimi-
nar o tipo (ou os tipos) de erro denunciável por meio do recurso, de tal sorte
que a crítica do recorrente só assumirá relevância na medida em que afirme
a existência de erro suscetível de enquadramento na discriminação legal.
Daí a distinção que se pode estabelecer entre recursos de fundamentação
livre e recursos de fundamentação vinculada. No direito pátrio, a apelação
constitui o exemplo por excelência da primeira classe; a segunda vê-se re-
presentada pelo recurso extraordinário do art. 102, nº III, letra a, da Consti-
tuição da República, no qual a única crítica relevante endereçável à decisão
impugnada é a de contrariar dispositivo da própria Carta.
Nos recursos de fundamentação vinculada, o recorrente precisa invocar o
erro indicado como relevante (ou algum deles, se há mais de um), para que o
recurso caiba, e precisa demonstrar-lhe a efetiva ocorrência na espécie, para
que o recurso proceda. A tipicidade do erro é, pois, pressuposto do cabimen-

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to do recurso (e, por conseguinte, da sua admissibilidade); se o erro não for
típico, o órgão ad quem não conhecerá daquele. A existência real do erro é
pressuposto da procedência do recurso; se o erro alegado, típico embora,
não existir, o órgão ad quem conhecerá do recurso, mas lhe negará provi-
mento. Nos recursos de fundamentação livre, o cabimento não depende do
tipo de crítica que o recorrente faz à decisão; dependerá de outra(s) circuns-
tância(s) (...), as quais nada têm que ver com o(s) motivo(s) da insatisfação
do recorrente. É claro que, nos recursos de fundamentação vinculada, tam-
bém pode (e costuma) exigir a lei a concorrência de outro(s) pressuposto(s)
de cabimento: a tipicidade do erro será apenas um deles; assim, para que
seja cabível o recurso extraordinário da letra a, é igualmente necessário, por
exemplo, que se trate de decisão proferida “em única ou última instância”.
(Comentários ao código de processo civil, p. 253-254).

Além disso, também urge esclarecer, desde logo, no plano prático, a diferença
abissal entre a forma de argumentação no bojo dos recursos ordinários lato sensu e
dos recursos extraordinários (ou excepcionais) lato sensu. Nos primeiros, almeja-se a
anulação, o esclarecimento ou a reforma da decisão recorrida. Nos recursos excep-
cionais, busca-se, em primeiro lugar, a proteção da coerência sistêmica, a “denúncia”
de uma violação ao ordenamento jurídico, ferido em sua integridade. A anulação ou
reforma da decisão recorrida, nesses casos, é consequência secundária que também
decorrerá do provimento recursal.
Ainda, o estudo da estrutura textual é básica para qualquer recurso. Alguns são
direcionados para o próprio órgão jurisdicional que proferiu a decisão recorrida: (i)
seja porque ele tem competência para julgar o recurso (ex.: embargos de declaração);
(ii) seja porque ele está encarregado por lei de construir o contraditório e encaminhar
o recurso à instância superior (exs.: apelação, recurso ordinário e agravos nos recur-
sos excepcionais); ou (iii) seja porque ele fará uma das etapas do juízo de admissibi-
lidade antes de encaminhar ao órgão competente para julgamento do recurso (exs.:
recursos especial e extraordinário).
Outros recursos, por sua vez, representam verdadeira via direta ao órgão com-
petente para o seu julgamento, como é o caso claro e muito comum do recurso de
agravo de instrumento. Nesses casos, nunca é demais relembrar que necessitam
estar acompanhados de peças básicas que possibilitem ao órgão julgador entender
o caso e fazer a necessária reanálise. Na maioria dos casos, ainda mais agora com
a ampliação do processo eletrônico pelo país, a preocupação se restringe a fazer o
download das peças necessárias.
Por fim, muito embora existam regras muito explícitas no CPC acerca da pos-
sibilidade de correção de vícios formais no âmbito recursal (regra geral no art. 932,
parágrafo único), a incluir o preenchimento incorreto da guia de custas (v. art. 1.007,
§7º), é sempre bom estar atento aos valores e códigos correspondentes na hora de
comprovar o preparo recursal.

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Sistema Recursal
Embora o Novo CPC tenha passado por várias comissões, em nenhum mo-
mento de sua tramitação houve a intenção de se reduzir drasticamente o número
de recursos. Os ajustes, neste ponto, foram poucos e o que se espera é que, havendo
o estímulo para que os tribunais construam a sua jurisprudência de modo firme e
estável, o uso dos recursos diminua.
Inegavelmente, a jurisprudência consolidada dos tribunais superiores signifi-
ca um desestímulo ao ato de recorrer. Nessa linha, foi extinto efetivamente apenas o
recurso de embargos infringentes (art. 994), embora tenha sido, de certa forma, subs-
tituído pela técnica de julgamento prevista no artigo 942 do Novo Código.
O agravo retido desapareceu também, mas se alterou, correlatamente, o re-
gime das preclusões quanto à impugnação das decisões interlocutórias não acober-
tadas pelo agravo de instrumento, que agora deverão constar das preliminares do
recurso de apelação (art. 1.009, § 1º).

Recurso Adesivo
Antes tratado no art. 500 do CPC/1973, o conhecido recurso adesivo também
aparece no CPC/2015 em seu art. 997, §2º, sendo, agora, admissível na apelação, no
recurso extraordinário e no recurso especial (inciso II).
Tecnicamente, não se trata de uma nova espécie recursal, por óbvio, consti-
tuindo, em verdade, uma forma especial de interposição desses recursos (apelação,
RE e REsp) no prazo em que a parte dispõe para responder.
O Novo Código deixa de mencionar os embargos infringentes, tendo em vista
que atualmente configuram espécie recursal extinta (v. rol do art. 994), notadamen-
te em função da adoção da técnica de julgamento prevista no vigente art. 942 do
CPC/2015.
O recurso adesivo, portanto, é espécie de recurso subordinado, contrapondo-
se ao recurso independente, interposto regularmente no prazo legal previsto pelo
Código. Suas características essenciais são: (i) interposição no prazo para resposta do
recurso principal interposto pela outra parte; (ii) subordinação ao recurso indepen-
dente, de modo que, havendo desistência ou inadmissibilidade no recurso principal,
o recurso adesivo automaticamente não será conhecido; (iii) cabível apenas nos casos
de sucumbência recíproca, a fim de garantir, à parte que recorre adesivamente, o
necessário interesse recursal.
O saudoso Professor José Carlos BARBOSA MOREIRA, com a costumeira ma-
estria, bem apresenta a razão de ser da interposição adesiva de um recurso: “Ora,
podia acontecer que alguma das partes, embora não totalmente satisfeita, se sentisse inclinada,

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por qualquer razão, a conformar-se com o julgamento, v.g., para evitar ulteriores incômodos
e despesas. Se, entretanto, não interpusesse o recurso no prazo comum, sujeitava-se a ver
prosseguir o feito, apesar disso, em virtude da interposição pela parte contrária, talvez no úl-
timo instante do prazo. Tomada assim de surpresa, sofria, afinal de contas, dupla frustração:
abstivera-se de recorrer por achar que o encerramento imediato do processo era compensação
bastante para a renúncia à tentativa de alcançar integral satisfação, e no entanto a compen-
sação lhe escapava; pior ainda, já não dispunha de meio idôneo para, retificando a posição
primitiva, ir buscar no juízo recursal o que deixara de conseguir no grau inferior de jurisdi-
ção. Na prática, o que sucedia as mais das vezes era a interposição, por ambos os litigantes, de
recursos que, no fundo, nenhum faria questão fechada de interpor. Cada qual estaria disposto
a permanecer omisso e a permitir que a decisão passasse em julgado, mas sob a condição de
que o outro observasse comportamento idêntico.” (Comentários ao Código de Processo
Civil, p. 308-309).
A interposição adesiva do recurso de apelação, recurso especial ou recurso ex-
traordinário (a eles somado o recurso ordinário constitucional quando fizer as vezes
de uma apelação – v. CPC/2015, art. 1.027, inciso II, alínea “b”), permite que a parte
aguarde eventual recurso da parte contrária para, só então, apresentar também a sua
irresignação no prazo para resposta, subordinando-se ao recurso principal indepen-
dente inicialmente interposto.
Caso nenhuma das partes interponha qualquer recurso, contentando-se com
os capítulos da decisão que lhe foram favoráveis (ainda que tenha sucumbido em
outros), haverá imediato trânsito em julgado do pronunciamento judicial, evitando-
se o prolongamento da demanda e prestigiando a celeridade processual.

Quando se Comprova Feriado Local no Recurso?


Uma pergunta: a comprovação de feriado local para fins de análise acerca da
tempestividade de um recurso pode ser feita posteriormente, em função dos princí-
pios da sanabilidade dos vícios processuais e da primazia do julgamento de mérito,
grandes bandeiras do CPC/2015?
Para o STJ, a resposta é não.
No julgamento ocorrido em 20/11/2017, a Corte Especial do STJ, por maioria
de votos, concluiu que, não comprovado feriado local na data de interposição, o vício
é insanável e o recurso, intempestivo (AREsp 957.821).
Dessa forma, sendo intempestivo, não há que se aplicar o art. 1.029, §3º, do
CPC/2015, que assim dispõe, in verbis: “O Supremo Tribunal Federal ou o Superior Tri-
bunal de Justiça poderá desconsiderar vício formal de recurso tempestivo ou determinar sua
correção, desde que não o repute grave.”.
Ainda, no caso de feriado local, considerando a existência de norma expressa

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exigindo a sua comprovação pelo recorrente no ato da interposição (v. art. 1.003, §6º),
a discussão era sobre a possibilidade ou não de se permitir que isso fosse feito em
sede de agravo interno, isto é, posteriormente à interposição.
Entretanto, com esse entendimento preso à literalidade dos dispositivos, a
Corte Especial do STJ parece ter contrariado, ao que nos parece, a lógica buscada pelo
Novo Código, voltada à sanabilidade dos vícios processuais e também à primazia
do julgamento de mérito (v. CPC/2015, arts. 76, 139, inciso IX, 317, 321, 357, inciso IV,
370, 932, parágrafo único, 938, §1º, 1.007, §7º, 1.017, §3º e 1.029, §3º).
Seria o retorno da jurisprudência defensiva do STJ? Parece-nos que sim.

Recurso Deserto?
É sabido que o preparo (pagamento das despesas relacionadas ao
processamento de um recurso) é um dos requisitos extrínsecos de admissibilidade
recursal no âmbito do processo civil brasileiro.
A falta de preparo, por sua vez, causa a chamada deserção, que implica num
juízo negativo de admissibilidade do recurso.
E os tribunais do país sempre foram muito claros no sentido de que esse paga-
mento das custas necessárias deve sempre ser prévio e comprovado no momento da
interposição do recurso, sob pena de imediata inadmissão. A esse respeito, confira-se
o Enunciado nº 187 da Súmula do STJ (“É deserto o recurso interposto para o Supe-
rior Tribunal de Justiça, quando o recorrente não recolhe, na origem, a importância
das despesas de remessa e retorno dos autos”).
O Novo Código, seguindo a linha da simplificação, da primazia do julgamen-
to de mérito e da ampla possibilidade para saneamento de vícios processuais, trouxe
diversas inovações no campo da teoria geral dos recursos, inclusive em relação ao
preparo recursal.
Com efeito, segundo o art. 1.007, §§ 2º, 3º, 4º e 5º, do CPC/2015, pode-se con-
cluir que: (i) a insuficiência no valor do preparo, inclusive porte de remessa e retorno
(dispensado em autos eletrônicos), não implicará imediata deserção, a ocorrer tão
somente se o recorrente, intimado na pessoa de seu advogado para complementar
no prazo de 05 (cinco) dias úteis, assim não o fizer; e (ii) a falta de comprovação
do recolhimento do preparo no ato da interposição do recurso também não gerará
imediata deserção, que só ocorrerá neste caso se o recorrente, intimado na pessoa de
seu advogado para realizar o recolhimento em dobro, assim não o fizer ou o fizer de
maneira insuficiente (quadro esquemático).
De tudo, conclui-se que a deserção nunca poderá ocorrer imediatamente, isto
é, sem que se dê prazo ao recorrente para complementar o preparo insuficiente ou
para recolher em dobro o preparo não comprovado no ato da interposição.

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Não por acaso que o Fórum Permanente de Processualistas Civis, em seu
Enunciado nº 215, é taxativo ao dispor que o Enunciado nº 187 da Súmula do STJ está
totalmente superado em função do art. 1.007, §§ 2º e 4º do CPC/2015.
Na lição de Teresa Arruda Alvim WAMBIER, Maria Lúcia Lins CONCEIÇÃO,
Leonardo Ferres da Silva RIBEIRO e Rogerio Licastro Torres de MELLO,

Este dispositivo trata do preparo e já contém, em si mesmo, manifestação


da tendência antes referida, quando dos comentários aos artigos que tratam
das nulidades: a ideia é a de sanar os defeitos de forma do processo, para
que este possa atingir seu fim, que é o de produzir decisão de mérito. Assim,
diz a nova lei, que o pagamento do preparo, incluindo porte de remessa e de
retorno, deve ser comprovado no ato de interposição do recurso. (...). Mas se
o valor pago não for suficiente, o recorrente será intimado, na pessoa de seu
advogado, para fazer a complementação. Não ocorrida a complementação,
aí sim, haverá deserção. (...). Neste caso, não se aplica o prazo de 5 (cin-
co) dias para complementação, se houver insuficiência do valor pago. (...).
(Primeiros comentários ao novo código de processo civil: artigo por artigo,
comentários ao art. 1.007, p. 1.596).

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Por fim, advertem os mesmos autores, “Evidentemente, no mérito se pode discutir
a respeito do que seria complementar. Pagar 10 reais, na hipótese de o preparo 1.000 reais, gera
a necessidade de mera complementação?” (idem).

Apelação
Na linha da análise dos recursos no CPC/2015, é interessante ressaltar algumas
modificações importantes no âmbito da apelação, tratada pelos artigos 994, inciso I,
e 1.009 a 1.014 do Novo Código.
Para fins didáticos, preferimos expor algumas dessas alterações por meio dos
seguintes assuntos: (i) regras gerais; (ii) extinção do agravo retido; (iii) busca pela efe-
tividade procedimental; (iv) juízo de admissibilidade somente no segundo grau de
jurisdição; (v) manutenção do efeito suspensivo; (vi) julgamento imediato do mérito;
e (vii) extinção da “súmula impeditiva de recurso”.
A apelação continuará sendo o recurso cabível contra as sentenças (e também,
como se verá a seguir, contra as decisões interlocutórias não passíveis de impugna-
ção via agravo de instrumento), que deverá ser interposto no prazo de 15 dias úteis
(CPC/2015, arts. 219, 1.003, § 5º e 1.009).
O Novo Código, alterando corretamente o regime das preclusões, deixa claro
no artigo 1.009, § 1º que

As questões resolvidas na fase de conhecimento, se a decisão a seu respeito


não comportar agravo de instrumento, não são cobertas pela preclusão e
devem ser suscitadas em preliminar de apelação, eventualmente interposta
contra a decisão final, ou nas contrarrazões.

O que era matéria de agravo retido terá o seu espaço nas preliminares do re-
curso de apelação ou das contrarrazões recursais, hipótese esta na qual o recorrente
será intimado para se manifestar em 15 dias (§ 2º). Insta dizer, também, que não
haverá necessidade de protesto em lugar do agravo retido, conforme já constou da
redação do CPC/2015 na Câmara dos Deputados.
Na busca pela efetividade procedimental no âmbito recursal, notam-se diver-
sos avanços no novo marco legal processual, dentre os quais está, por exemplo, a inti-
mação do recorrente para sanar vício decorrente do preenchimento incorreto da guia
de custas do preparo recursal (CPC/2015, art. 1.007, § 7º). Não se pretende dar espaço
à chamada “jurisprudência defensiva” dos tribunais, mas incentivar, a todo momen-
to, a busca pela resolução do mérito da demanda, escopo fundamental do processo.
Quanto ao procedimento recursal, o CPC/2015 deixa claro que o juízo a quo
somente cuidará de garantir o contraditório mediante a intimação do recorrido para
contrarrazoar em 15 dias, bem como do recorrente para responder também no mes-

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mo prazo em caso de interposição de apelação na forma adesiva (arts. 997, § 2º e
1.010, §§ 1º e 2º). Após essas formalidades, “os autos serão remetidos ao tribunal pelo
juiz, independentemente de juízo de admissibilidade” (§ 3º).
Não há mais, portanto, duplo juízo de admissibilidade na apelação. E isso não
foi alterado com o advento da Lei Federal nº 13.256/2016, que apenas modificou o
juízo de admissibilidade nos recursos excepcionais, isto é, especial e extraordinário
(cf. CPC/2015, art. 1.030).
Por fim, cabe destacar que a apelação continuará tendo efeito suspensivo
como regra, excetuadas as hipóteses mencionadas nos incisos do artigo 1.012, § 1º,
que praticamente repete o revogado artigo 520 do CPC/73. Nas palavras de Cassio
Scarpinella BUENO:

O caput do art. 1.012 preserva a regra do CPC de 1973 de que o recurso de


apelação tem efeito suspensivo, o que merece ser compreendido no sentido
de que a sentença é ineficaz desde seu proferimento, não surtindo efeitos
senão depois de transcorrido in albis o prazo de apelo ou depois que ele
for julgado. Os únicos efeitos que podem ser sentidos, nesse ínterim, são
os expressamente previstos em lei, tais como, os do art. 495 e a hipoteca
judiciária lá disciplinada. A preservação dessa regra representa, na minha
opinião – e com o devido respeito do entendimento contrário –, um dos
grandes retrocessos do CPC de 2015, máxime porque conflita frontalmente
com o que, a este respeito, propuseram o Anteprojeto e o Projeto do Senado.
Infelizmente, o Senado, na derradeira fase do processo legislativo, não recu-
perou a sua própria proposta (art. 968 do Projeto do Senado), mantendo, em
última análise, a regra de que a apelação, no direito processual civil brasilei-
ro, tem (e continua a ter) efeito suspensivo. (Manual de direito processual
civil, p. 617-618).

O § 3º do artigo 1.013 do CPC/2015, dispõe que:

Se o processo estiver em condições de imediato julgamento, o tribunal deve


decidir desde logo o mérito quando:
I - reformar sentença fundada no art. 485;
II - decretar a nulidade da sentença por não ser ela congruente com os limi-
tes do pedido ou da causa de pedir;
III - constatar a omissão no exame de um dos pedidos, hipótese em que
poderá julgá-lo;
IV - decretar a nulidade de sentença por falta de fundamentação.

Não houve, portanto, repetição do requisito previsto no artigo 515, § 3º, do


CPC/73, isto é, que se trate de matéria exclusivamente de direito.

(...). Esta expressão gera problemas e em boa hora foi suprimida. Manteve,
no § 3º, a expressão: se a causa estiver em “condições de imediato julga-
mento”. Deve-se entender, por essa expressão, a situação de o mérito ter
sido discutido pelas partes em primeiro grau de jurisdição – ou, pelo menos,
de se ter verificado o contraditório, com alegações e produção de provas,
sendo estas necessárias – a ponto de ser possível identificar, com clareza,

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qual é o quadro fático sobre o qual se funda o pedido. (Teresa Arruda Alvim
WAMBIER, Maria Lúcia Lins CONCEIÇÃO, Leonardo Ferres da Silva
RIBEIRO e Rogerio Licastro Torres de MELLO. Primeiros comentários ao
novo código de processo civil: artigo por artigo, comentários ao art. 1.013,
p. 1610).

Por fim, cabe ressaltar a extinção da conhecida “súmula impeditiva de recur-


so”, prevista no revogado artigo 518 § 1º, do CPC/73. Nesse sentido, exatas as pala-
vras de Daniel Amorim Assumpção NEVES sobre o assunto:

O Novo Código de Processo Civil não prevê a súmula impeditiva de recur-


sos como requisito específico de admissibilidade da apelação, até porque o
juízo de primeiro grau não faz mais juízo de admissibilidade da apelação. E,
uma vez no tribunal de segundo grau, aquilo que cinicamente era tido pelo
art. 518, § 1º, do CPC/1973 como pressuposto de admissibilidade recursal
será enfrentado e decidido por aquilo que realmente é, ou seja, o mérito
recursal. Afinal, se uma apelação não é recebida porque por meio dela se
impugnou uma sentença que está em conformidade com determinada sú-
mula dos tribunais superiores, será exigido do órgão julgador uma análise
do conteúdo do recurso à luz do teor da sentença, o que parece ser julgamen-
to de mérito. Sem juízo de admissibilidade da apelação no juízo de primeiro
grau, a aberração criada pela súmula impeditiva de recursos é suprimida do
sistema sem deixar saudade. (Novo Código de Processo Civil: inovações,
alterações e supressões comentadas, p. 551).

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Tutela Provisória na Sentença?
Já tivemos a oportunidade de abordar, em três textos específicos, a tutela pro-
visória no CPC/2015, de urgência e da evidência (cf. nosso BLOG e o quadro esque-
mático abaixo).
Questão interessante é discutir até qual momento procedimental essa espécie
de tutela pode ser concedida. Seria possível que o juízo de primeiro grau tutele a
evidência na sentença, a impedir o efeito suspensivo indesejado do eventual recurso
de apelação da parte contrária?
Parece-nos que sim!
Aliás, de acordo com a expressa dicção do art. 1.012, § 1º, inciso V, do Novo
Código “Além de outras hipóteses previstas em lei, começa a produzir efeitos imediatamente
após a sua publicação a sentença que: (...) V - confirma, concede ou revoga tutela provisória;
(...)”.
O entendimento do STJ, mesmo diante da sistemática processual civil anterior,
sempre foi no sentido da possibilidade de concessão de tutela antecipada na senten-
ça (cf. STJ, REsp. 706.252/SP, 1ª T., j. 13.09.2005, rel. Min. Luiz Fux, DJ 26.09.2005).
Nas palavras de Teresa Arruda Alvim WAMBIER, Maria Lúcia Lins CONCEI-
ÇÃO, Leonardo Ferres da Silva RIBEIRO e Rogerio Licastro Torres de MELLO,

O inc. V tem por objetivo afastar de vez a dúvida: mesmo que se trate de
processo que gere sentença sujeita a apelação com efeito suspensivo, ou
seja, encartável na regra geral (art. 1.011, caput), se a tutela provisória for
concedida na sentença, esta não pode ficar sujeita a apelação com efeito
suspensivo. De fato, trata-se de pronunciamento que teria sido normalmente
concedido liminarmente, mas, por alguma razão, não foi. Agora, no mo-
mento da sentença, a cognição já é exauriente – ainda assim, o juiz pode
conceder uma “liminar” tardia, que não será mais uma liminar, mas um
capítulo da sentença, em que se tutela ou a evidência (tardiamente perce-
bida), ou a urgência (de que o juiz se deu conta em momento adiantado do
processo – melhor agora, do que nunca; ou, então, porque a urgência confi-
gurou-se depois do início do processo e antes da sentença). Então, o fato é
que, ainda que soe estranho, o juiz pode, sim, conceder tutela provisória na
sentença. E a urgência ou a evidência justificam a necessidade da eficácia
imediata deste provimento final que é a sentença. (Primeiros comentários
ao novo código de processo civil: artigo por artigo, comentários ao art.
1.012, p. 1605).

Portanto, seja uma tutela de urgência (antecipada ou cautelar), seja uma tutela
da evidência, enquanto não entregue o bem da vida (o que muitas vezes só ocorre
com o trânsito em julgado), haverá interesse na antecipação, no acautelamento ou na
evidência, mesmo porque, como se sabe, o efeito suspensivo como regra na apelação,
apesar de criticado pela doutrina, foi mantido no CPC/2015.

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Agravo de Instrumento
Dentro dos temas relacionados aos recursos no CPC/2015, aquele ligado ao
agravo é provavelmente um dos que mais nos interessa de perto, uma vez que a sua
interposição por instrumento, por exemplo, representa, com certo grau de celerida-
de, a “via rápida” junto ao tribunal para se buscar a modificação de uma decisão
interlocutória que causa prejuízo grave e de difícil reparação.
E como ficou o recurso de agravo de instrumento no CPC/2015?
Em primeiro lugar, cabe ressaltar que o prazo para a sua interposição e res-
posta será de 15 dias (regra geral para todos os recursos, à exceção dos embargos
de declaração, que continuarão com prazo de 05 dias – v. CPC/2015, arts. 1.003, § 5º
e 1.023) e que o protocolo do agravo de instrumento poderá ser feito diretamente
no tribunal ou na própria comarca, seção ou subseção judiciárias (v. CPC/2015, art.
1.017, § 2º, I e II).
Cumpre repetir que a modalidade retida não existirá mais no sistema proces-
sual novo (v. CPC/2015, arts. 994 e 1.015). O Novo Código, alterando corretamente o
regime das preclusões, deixa claro no artigo 1.009, § 1º que:

As questões resolvidas na fase de conhecimento, se a decisão a seu


respeito não comportar agravo de instrumento, não são cobertas pela
preclusão e devem ser suscitadas em preliminar de apelação, eventu-
almente interposta contra a decisão final, ou nas contrarrazões.

Em resumo: o que era matéria para agravo retido terá o seu espaço nas preli-
minares do recurso de apelação.
Em segundo lugar, destaca-se o estabelecimento de hipóteses expressas para o
cabimento do agravo de instrumento no artigo 1.015, quais sejam:

Cabe agravo de instrumento contra as decisões interlocutórias que versarem


sobre:
I - tutelas provisórias;
II - mérito do processo;
III - rejeição da alegação de convenção de arbitragem;
IV - incidente de desconsideração da personalidade jurídica;
V - rejeição do pedido de gratuidade da justiça ou acolhimento do pedido
de sua revogação;
VI - exibição ou posse de documento ou coisa;
VII - exclusão de litisconsorte;
VIII - rejeição do pedido de limitação do litisconsórcio;
IX - admissão ou inadmissão de intervenção de terceiros;
X - concessão, modificação ou revogação do efeito suspensivo aos embar-
gos à execução;
XI - redistribuição do ônus da prova nos termos do art. 373, §1º;
XII - (VETADO);
XIII - outros casos expressamente referidos em lei.
Parágrafo único. Também caberá agravo de instrumento contra decisões

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interlocutórias proferidas na fase de liquidação de sentença ou de cumpri-
mento de sentença, no processo de execução e no processo de inventário.

Tentou-se, portanto, reunir as principais situações nas quais a decisão interlo-


cutória pode gerar grave prejuízo para alguma das partes ou terceiro, seja em relação
às tutelas de urgência e evidência e às sentenças parciais de mérito, seja no tocante
à admissão ou inadmissão de intervenção de terceiros e à distribuição dinâmica do
ônus probatório.
O último inciso do supratranscrito dispositivo ainda contém uma norma de
encerramento do sistema (norme di chiusura), a permitir o “acesso” a outras hipóte-
ses legais ali não reunidas.
Nesse sentido, cabe a advertência:

(...) esta opção do legislador de 2015 vai, certamente, abrir novamente es-
paço para o uso do mandado de segurança contra atos do juiz. A utilização
desta ação para impugnar atos do juiz, à luz do CPC de 73, tornou-se muito
rara. Mas, à luz do novo sistema recursal, haverá hipóteses não sujeitas a
agravo de instrumento, que não podem aguardar até a solução da apelação.
Um bom exemplo é o da decisão que suspende o andamento do feito em 1º
grau por prejudicialidade externa. Evidentemente, há grandes chances de
que a parte prejudicada não possa esperar. (Teresa Arruda Alvim WAM-
BIER, Maria Lúcia Lins CONCEIÇÃO, Leonardo Ferres da Silva RIBEI-
RO e Rogerio Licastro Torres de MELLO, p. 1614).

Em terceiro lugar, também é importante dizer que o CPC/2015 ampliou o


rol das peças consideradas obrigatórias (v. CPC/2015, art. 1.017), a incluir as cópias
da petição inicial, da contestação e da petição que ensejou a decisão agravada, bem
como, facultativamente, “outras peças que o agravante reputar úteis” (inciso III). Além
disso, também permite que o advogado declare, sob sua responsabilidade pessoal, a
inexistência de qualquer peça considerada obrigatória (inciso II).
Por fim, deve-se fazer alusão às possibilidades de: (i) correção de eventuais
vícios na formação do instrumento por decisão do relator (CPC/2015, art. 1.017, §
3º); (ii) o agravante requerer a juntada, aos autos do processo, de cópia da petição
do agravo de instrumento, do comprovante de sua interposição e da relação dos
documentos que instruíram o recurso (art. 1.018, caput – com a ressalva de que esse
dispositivo não deixa claro se essa atitude por parte do agravante deixa de ser um
ônus e passa a ser uma mera faculdade); (iii) concessão de tutela provisória na fase
recursal (art. 1.019, I); e, por último, mas não menos importante, (iv) de sustentação
oral no agravo de instrumento interposto contra decisões interlocutórias que versem
sobre tutelas provisórias de urgência ou da evidência (art. 937, VIII).

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É TAXATIVO O ROL DO ART. 1.015?

Parece que estamos voltando a uma questão óbvia, que inclusive já foi objeto
de textos anteriores.
No entanto, diante da recente decisão da Quarta Turma do STJ, em acórdão
da lavra do Ministro Luis Felipe Salomão, REsp 1679909/RS, ainda não publicado,
passa-se a admitir interpretação mais ampla do inciso III do art. 1.015 do CPC/2015 a
fim de processar agravo de instrumento interposto contra decisão interlocutória que
versa sobre competência.
Na notícia publicada no site oficial do STJ, há destaque para a posição do Mi-

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nistro no sentido de que “pode ensejar consequências danosas ao jurisdicionado e
ao processo, além de tornar extremamente inútil se aguardar a definição da questão
apenas no julgamento pelo Tribunal de Justiça, em preliminar de apelação”
Disponível em:
<http://www.stj.jus.br/sites/STJ/default/pt_BR/Comunica%C3%A7%-
C3%A3o/noticias/Not%C3%ADcias/Mesmo-sem-previs%C3%A3o-no-novo-CPC,-
cabe-agravo-de-instrumento-contra-decis%C3%A3o-interlocut%C3%B3ria-relacio-
nada-%C3%A0-compet%C3%AAncia>
E não há dúvidas de que, em muitas situações não previstas no rol até então
taxativo do art. 1.015 do CPC/2015, a espera para a impugnação nas preliminares
do recurso de apelação, nos termos do expressamente disposto no art. 1.009, §1º do
Novo Código, pode trazer consequências danosas e graves para as partes.
Entretanto, por outro lado, a impugnação das decisões interlocutórias não
abrangidas pelo rol do art. 1.015 em preliminar de apelação implica concluir, de outro
lado, que haverá, sim, preclusão para quem não interpuser agravo de instrumento
daquelas decisões que estão expressamente alocadas nos incisos do referido artigo.
Em outras palavras: a inocorrência de preclusão prevista no art. 1.009, §1º, do
CPC/2015, diz respeito apenas à impugnação das decisões interlocutórias que não
comportem agravo de instrumento.
Em conclusão: a interpretação ampliativa do rol do art. 1.015 traz insegurança
jurídica em relação à ocorrência ou não de preclusão em hipóteses que não estão ex-
pressas no dispositivo, contrariando a lógica do Código.
E agora? Interpor obrigatoriamente recurso de agravo de instrumento contra
as decisões interlocutórias que versem sobre competência, ainda que não estejam
expressamente no rol do art. 1.015, sob pena de preclusão?
Parece ser esse o recado que, indiretamente, o STJ acaba dando aos jurisdicio-
nados.

Agravo Interno
O CPC/2015 previu apenas três tipos de agravos: o agravo de instrumento, o
agravo em recurso especial ou extraordinário e o agravo interno, tema do nosso texto
de hoje.
O agravo retido foi extinto do sistema, notadamente por conta da alteração do
regime preclusivo para impugnação das decisões interlocutórias não cobertas pelas
hipóteses de interposição de agravo de instrumento (nesses casos, as questões deve-
rão ser objeto das preliminares do recurso de apelação – v. CPC/2015, art. 1.009, §1º).
Disciplinado pelo art. 1.021 e pelo regimento interno do tribunal perante o
qual venha a ser interposto, o agravo interno é o recurso interponível contra decisão

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unipessoal do relator e deve ser julgado necessariamente pelo órgão colegiado corres-
pondente e competente (turma, câmara etc.).
As situações nas quais o relator poderá exercer a atividade jurisdicional de forma
singular estão dispostas no art. 932, dispositivo de relevo no CPC/2015, que disciplina os
poderes do relator. Como não houve limitação no art. 1.021 a respeito do conteúdo da de-
cisão que poderá ser atacada por agravo interno, pode-se dizer que este recurso é cabível
contra qualquer decisão unipessoal, independentemente de seu conteúdo.
Além das hipóteses originalmente previstas no caput do art. 1.021, com o advento
da Lei Federal nº 13.256/2016, mais três situações de cabimento do agravo interno foram
criadas no novo Código e se encontram dispostas nos arts. 1.030, §2º, 1.035, §7º e 1.036,
§3º. Nessas situações específicas, portanto, o agravo interno é também interponível de
decisão de Presidente ou Vice-Presidente de tribunal de 2º grau.
O prazo para interposição e resposta é de 15 dias úteis (v. arts. 219 e 1.003, §5º),
devendo a petição ser dirigida ao relator que, após intimar o agravado para responder,
poderá se retratar ou encaminhar para julgamento do colegiado, observando-se, no mais,
as regras dispostas no regimento interno do respectivo tribunal.
O agravante tem o ônus de impugnar especificamente os fundamentos da decisão
agravada (art. 1.021, §1º), sob pena de não conhecimento do recurso. Em interessante
artigo, Lucas Buril de MACÊDO destaca que “(...) o agravo interno foi redesenhado em con-
formidade com o princípio da cooperação, de modo a torná-lo uma impugnação específica, voltada a
debater, com especificidade e, portanto, com razões ajustadas ao confronto da decisão tomada mono-
craticamente pelo relator. O recurso interposto mediante mera repetição dos argumentos recursais
já anteriormente expendidos é inadmissível e sujeito à multa”. (Agravo interno. Análise das
modificações legais e de sua recepção no Superior Tribunal de Justiça, Revista de Processo,
vol. 269/2017, p. 311 – 344, jul./2017).
O Novo Código prevê a condenação do agravante em multa, que pode variar en-
tre 1 e 5% do valor atualizado da causa, quando o agravo interno for considerado prote-
latório, ou seja, declarado como manifestamente inadmissível ou improcedente em vo-
tação unânime, pelo órgão colegiado. Ademais, conforme previsto no §5º do art. 1.021,
“a interposição de qualquer outro recurso está condicionada ao depósito prévio do valor da multa
prevista no § 4º, à exceção da Fazenda Pública e do beneficiário de gratuidade da justiça, que farão
o pagamento ao final”.

Embargos de Declaração
Tratados nos artigos 994, inciso IV, e 1.022 a 1.026 do CPC/2015, os embargos
de declaração aparecem remodelados e mais bem adequados ao novo sistema pro-
cessual.
Nas palavras de Teresa ARRUDA ALVIM,

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Os embargos de declaração têm raízes constitucionais. Prestam-se a garantir
o direito que tem o jurisdicionado a ver seus conflitos (lato sensu) aprecia-
dos pelo Poder Judiciário. As tendências contemporaneamente predominan-
tes só permitiriam entender que este direito estaria realmente satisfeito sen-
do efetivamente garantida ao jurisdicionado a prestação jurisdicional feita
por meio de decisões claras, completas e coerentes interna corporis. (...). É
relevante compreender-se o princípio da inafastabilidade do controle juris-
dicional em conjunto com uma série de outros princípios que, engrenados,
dão sentido à garantia do devido processo legal. (Embargos de declaração.
Como se motiva uma decisão judicial?, p. 15-16).

Conforme já ressaltado, será o único recurso cujo prazo de interposição e res-


posta será de 05 dias úteis. No entanto, fica clara a hipótese de contagem dos prazos
em dobro para litisconsortes representados por diferentes procuradores, de escritó-
rios de advocacia distintos (CPC/2015, arts. 219, 229, 1.003, § 5º e 1.023). Além disso,
também fica explícito no Novo Código que cabem embargos de declaração contra
qualquer decisão judicial, a incluir, por óbvio, as decisões interlocutórias (art. 1.022,
caput), conforme a doutrina já vinha sinalizando há muito.
As hipóteses de cabimento aparecem nos incisos do art. 1.022, quais sejam:
(i) - esclarecer obscuridade ou eliminar contradição; (ii) - suprir omissão de ponto ou
questão sobre o qual devia se pronunciar o juiz de ofício ou a requerimento; (iii) - cor-
rigir erro material”. Acrescentam-se, portanto, expressamente, os pontos ou questões
sobre os quais o magistrado deveria se pronunciar de ofício (além daqueles sobre os
quais houve requerimento), bem como a correção de erros materiais (com a ressalva,
neste último caso, para o que ficou estabelecido no Enunciado nº 360 do Fórum Per-
manente de Processualistas Civis: “A não oposição de embargos de declaração em
caso de erro material na decisão não impede sua correção a qualquer tempo”).
Ainda, o parágrafo único do mesmo dispositivo esclarece que se consideram
omissas as decisões judiciais que deixem de se manifestar sobre tese firmada em
julgamento de casos repetitivos ou em incidente de assunção de competência apli-
cável ao caso sob julgamento, como também que incorra em qualquer das condutas
descritas no art. 491, § 1º, do CPC/2015.
O art. 1.024, por sua vez, traz notadamente quatro importantes inovações: (i)
os embargos de declaração opostos perante os tribunais, caso não apresentados em
mesa pelo relator na sessão subsequente à sua oposição, serão automaticamente in-
cluídos na próxima pauta (§ 1º); (ii) os embargos de declaração poderão ser recebidos
como agravo interno (fungibilidade recursal), podendo o recorrente complementar
as razões recursais para fazer as adequações necessárias (§ 3º – v. STJ, EDcl nos EDcl
no REsp. 1.311.093/MT, 3ª T., j. 02.06.2016, rel. Min. João Otávio de Noronha, DJe
09.06.2016); (iii) caso o acolhimento dos embargos de declaração implique modifica-

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ção da decisão embargada, o embargado que já tiver interposto outro recurso contra
a decisão originária terá o direito de complementar ou alterar as suas razões recur-
sais nos exatos limites da modificação e no prazo de 15 dias, contados da intimação
da decisão dos embargos de declaração (§ 4º); e (iv) se rejeitados os embargos de
declaração, o recurso já interposto pela outra parte será processado e julgado inde-
pendentemente de ratificação (§ 5º – ficará superado, portanto, em boa hora, o Enun-
ciado nº 418 da Súmula do STJ: “É inadmissível o recurso especial interposto antes
da publicação do acórdão dos embargos de declaração, sem posterior ratificação”).
O chamado “prequestionamento ficto”, admitido a partir do Enunciado nº 356
da Súmula do STF, será expressamente encampado pelo art. 1.025 do CPC/2015, que
assim dispõe:

Consideram-se incluídos no acórdão os elementos que o embargante susci-


tou, para fins de pré-questionamento, ainda que os embargos de declaração
sejam inadmitidos ou rejeitados, caso o tribunal superior considere existen-
tes erro, omissão, contradição ou obscuridade.

Nesse sentido, cabe a advertência de Cassio Scarpinella BUENO:

O art. 1.025 quer consagrar o que parcela da doutrina e da jurisprudência


chama de “prequestionamento ficto”, forte no que dispõe a Súmula 356 do
STF.
A regra, bem-entendida a razão de ser do recurso extraordinário e do recurso
especial a partir do “modelo constitucional do direito processual civil”, não
faz nenhum sentido e apenas cria formalidade totalmente estéril, que nada
acrescenta ao conhecimento daqueles recursos a não ser a repetição de um
verdadeiro ritual de passagem, que vem sendo cultuado pela má compre-
ensão e pelo mau uso do enunciado da Súmula 356 do STF e pelo desco-
nhecimento da Súmula 282 do STF e da Súmula 211 do STJ. Mais ainda
e sobretudo: pela ausência de uma discussão séria e centrada sobre o que
pode e sobre o que não pode ser compreendido como “prequestionamento”,
tendo presente a sua inescondível fonte normativa, qual seja, o modelo que
a Constituição Federal dá aos recursos extraordinário e especial, e, para ir
direto ao ponto, à interpretação da expressão “causa decidida” empregada
pelos incisos III dos arts. 102 e 105 da CF. (Novo Código de Processo Civil
anotado, p. 956).

Por fim, o art. 1.026 do CPC/2015 deixa explícito que os embargos de decla-
ração não possuem efeito suspensivo e interrompem o prazo para interposição de
outro recurso (essa também será a regra no âmbito dos procedimentos previstos pela
Lei Federal nº 9.099/95, diante das modificações trazidas pelos arts. 1.064 a 1.066 do
CPC/2015).
Ainda, também dispõe que, no caso de embargos de declaração protelatórios,
a multa poderá ser de até 2% sobre o valor atualizado da causa em favor do embar-
gado (§ 2º). Na reiteração de embargos manifestamente protelatórios, a multa poderá

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ser elevada a até 10% do valor atualizado da causa, ficando, ainda, a interposição de
qualquer recurso, condicionada ao depósito prévio desse valor, à exceção da Fazen-
da Pública e do beneficiário da gratuidade da justiça, que recolherão ao final (§ 3º).
Considerados protelatórios os dois anteriores, novos embargos de declaração opos-
tos serão inadmitidos (§ 4º).

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Recurso Ordinário no CPC/2015
O recurso ordinário, de competência dos tribunais superiores, é um recurso
constitucional, previsto nos arts. 102, II, e 105, II, da Constituição Federal. Não se
confunde, portanto, com o recurso ordinário trabalhista, que corresponde, naquela
esfera, à própria apelação.
Trata-se de um recurso de fundamentação livre, bastante semelhante à apela-
ção cível, embora tenha suas hipóteses de cabimento, no âmbito processual civil, ex-
pressamente previstas no art. 1.027 do CPC/2015, que apenas deixou de reproduzir
uma hipótese específica de cabimento de recurso ordinário para o STF, prevista no
art. 102, II, b, da Constituição Federal.
Por ausência de previsão legal nos arts. 1.027 e 1.028 do CPC/2015, muito se
discute na doutrina acerca da existência ou não de efeito suspensivo quanto a esse
recurso. Fredie DIDIER JR. e Leonardo Carneiro da CUNHA defendem que:

(...). O art. 1.012 do CPC aplica-se à apelação, não se estendendo ao recurso


ordinário constitucional. Isso porque a regra geral é a do art. 995, que so-
mente se excepciona diante de regra expressa em sentido contrário. A exce-
ção prevista no art. 1.012 refere-se apenas à apelação. O disposto nos arts.
1.027 e 1.028 do CPC, que se referem ao recurso ordinário constitucional,
não estabelecem a incidência do art. 1.012 a este último. Quer isso dizer que
o art. 1.012 do CPC constitui regra que se restringe à apelação. Por ser regra
excepcional há de ser interpretada restritivamente, sem ampliação, a não
ser que houvesse texto determinando sua incidência ao recurso ordinário
constitucional. Como não há, este último deve sofrer os influxos da regra
geral, que está no art. 995 do CPC. Significa, então, que o recurso ordinário
constitucional não é dotado de efeito suspensivo automático. (Curso de di-
reito processual civil, V. 3, p. 295-296).

No mesmo sentido são as lições de Daniel Amorim Assumpção NEVES, na


obra Manual de direito processual civil – volume único. 8. ed. Salvador: JusPodivm,
2016, especialmente p. 1605. Em sentido contrário, defendendo a existência de efeito
suspensivo do recurso ordinário, cf. Teresa Arruda Alvim WAMBIER, Maria Lúcia
Lins CONCEIÇÃO, Leonardo Ferres da Silva RIBEIRO e Rogerio Licastro Torres de
MELLO, em Primeiros comentários ao novo código de processo civil. 2. ed. São Paulo: RT,
2016, p. 1648 e Alexandre Freitas CÂMARA, O novo processo civil brasileiro. 3. ed. São
Paulo: Atlas, 2017, 544.
Ainda sobre os efeitos do recurso ordinário, pode-se dizer que goza de efeito devolu-
tivo amplo (nas suas dimensões horizontal e vertical) e translativo, muito embora se trate de
recurso julgado pelo STF e STJ.
O CPC/2015 acabou com discussão que havia à luz do CPC/73, a respeito da existência
de um juízo prévio de admissibilidade no Tribunal de origem. Agora, conforme dispõe o art.
1.028, § 3º, só há um juízo de admissibilidade, que deve ser feito no juízo ad quem.

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A Disciplina Jurídica Comum dos Recursos
Extraordinários Lato Sensu
É preciso destacar algumas inovações do CPC/2015 no que tange às disposi-
ções gerais dos recursos especial e extraordinário (arts. 1.029 a 1.035).
Em primeiro lugar, cabe destacar que os recursos especial e extraordinário são
recursos de estrito direito, cabendo à parte, quando da sua interposição, expor o fato
e o direito, demonstrar o cabimento do recurso interposto e as razões do pedido de
reforma ou invalidação da decisão recorrida (CPC/2015, art. 1.029, I a III).
No destaque de Teresa Arruda Alvim WAMBIER, Maria Lúcia Lins CONCEI-
ÇÃO, Leonardo Ferres da Silva RIBEIRO e Rogerio Licastro Torres de MELLO,

O artigo ora comentado diz respeito à forma de interposição dos recursos


especial e extraordinário. As hipóteses de cabimento do recurso especial e
extraordinário estão nos arts. 105, III, a, b e c; e 102, III, a, b, c e d. Temos
sustentado que o único fundamento genuíno do recurso especial é a ofensa
ao direito federal – 105, III, a, sendo as letras b e c hipóteses, não exau-
rientes, em que esta afronta pode ocorrer. Do mesmo modo, o único real
fundamento do recurso extraordinário é a ofensa à Constituição Federal, art.
102, III, a, que seja revestida de repercussão geral, ou seja, que extrapolando
a esfera de interesse das partes, seja relevante para todo o país. As letras b,
c e d nada mais são do que hipóteses em que esta ofensa pode ter lugar. As
demais letras além da a dos arts. 105, III e 102, III não aumentam o espectro
de cabimento dos recursos especial ou extraordinário. (Primeiros comentá-
rios ao novo código de processo civil: artigo por artigo, comentários ao art.
1.029, p. 1653-1654).

Obviamente que os fatos também constarão desses recursos, mas não serão
objeto de novo julgamento pelo STJ e STF. Conforme lecionam Luiz Guilherme MA-
RINONI, Sérgio Cruz ARENHART e Daniel MITIDIERO,

(...) o material que pode ser trabalhado em recurso extraordinário e recurso


especial, portanto, é composto de fatos e de direito – até mesmo porque fato
e direito se interpenetram no processo de delimitação do caso, interpretação
e aplicação do direito. O que não é possível é rediscutir a existência ou
inexistência dos fatos em recurso extraordinário e em especial (súmula 279,
STF, e súmula 7, STJ). Vale dizer: o recorrente tem que trabalhar com o
caso em seu recurso partindo da narrativa fática estabelecida pela decisão
recorrida. (Novo código de processo civil comentado, p. 968).

Importante novidade estava presente no § 2º do art. 1.029, que assim deter-


minava: “Quando o recurso estiver fundado em dissídio jurisprudencial, é vedado
ao tribunal inadmiti-lo com base em fundamento genérico de que as circunstâncias
fáticas são diferentes, sem demonstrar a existência da distinção”. Entretanto, tal dis-
positivo foi expressamente revogado pela Lei Federal nº 13.256/2016.
De igual modo, mais uma vez tentando evitar o êxito da conhecida “jurispru-
dência defensiva” dos tribunais, o § 3º do mesmo dispositivo do Novo Código deixa

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claro que o STF ou o STJ “poderá desconsiderar vício formal do recurso tempestivo
ou determinar a sua correção, desde que não o repute grave”. A regra é a da sana-
bilidade das nulidades processuais, almejando a resolução do mérito a todo custo.
Nesse sentido, conforme posição tomada pelo Fórum Permanente de Processualistas
Civis, fica, portanto, superado o entendimento sedimentado no Enunciado nº 115 da
Súmula do STJ (“Na instância especial, é inexistente recurso interposto por advoga-
do sem procuração nos autos”). Não obstante isso, o STJ ainda continua aplicando
o aludido enunciado em suas decisões (v. STJ, AgRg no REsp. 1.570.243/MA, 3ª T., j.
19.05.2016, rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, DJe 27.05.2016).
O § 4º desse mesmo dispositivo, por sua vez, trata da possibilidade de o pre-
sidente do STJ ou do STF, quando estiver diante do processamento do incidente de
resolução de demandas repetitivas, receber requerimento de suspensão dos proces-
sos nos quais se discuta a questão constitucional ou infraconstitucional e, ainda, con-
siderando razões de segurança jurídica ou de excepcional interesse social, estender
a suspensão a todo território nacional (sobre o tema, cf. art. 271-A do Regimento
Interno do STJ, a partir das alterações promovidas pela Emenda Regimental nº 22, de
16/03/2016, que adequou o aludido Regimento Interno ao CPC/2015).
Apesar de constituir tema que merece muito maior aprofundamento, cabe
dizer que os tribunais superiores devem pautar a sua atuação na busca pela unifor-
midade, estabilidade, integridade e coerência das suas decisões (CPC/2015, art. 926).
E é exatamente essa uma das principais funções dos recursos extraordinários
lato sensu: conferir unidade ao direito através da escolha de interpretação mais ade-
quada. Conforme lição de Luiz Guilherme MARINONI, Sérgio Cruz ARENHART e
Daniel MITIDIERO:

(...) é preciso perceber que, partindo-se do pressuposto que a norma jurídica


constitui resultado e não objeto da interpretação, facilmente se conclui que
a tarefa de uma corte de vértice não pode ser a de tutela da norma do legis-
lador contra eventual arbítrio do judiciário (simplesmente porque o direito
antes da interpretação é duplamente indeterminado), a fim de que se logre
unidade do direito – e, portanto, vigência efetiva, e não apenas imaginária
ou retórica, dos princípios da segurança jurídica, da liberdade e da igualdade
de todos perante o direito. (Ibid, p. 962).

Ainda, o § 5º trata expressamente da competência para a apreciação do pedi-


do de concessão de efeito suspensivo no bojo de recurso especial ou extraordinário.
Diante das alterações trazidas pela Lei Federal nº 13.256/2016, as hipóteses ficaram
remodeladas da seguinte forma:

O pedido de concessão de efeito suspensivo a recurso extraordinário ou a


recurso especial poderá ser formulado por requerimento dirigido:
I – ao tribunal superior respectivo, no período compreendido entre a publi-

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cação da decisão de admissão do recurso e sua distribuição, ficando o relator
designado para seu exame prevento para julgá-lo;
II - ao relator, se já distribuído o recurso;
III – ao presidente ou ao vice-presidente do tribunal recorrido, no período
compreendido entre a interposição do recurso e a publicação da decisão de
admissão do recurso, assim como no caso de o recurso ter sido sobrestado,
nos termos do art. 1.037.

Dentro de toda essa nova lógica exposta, e também de acordo com posiciona-
mentos firmados pelo Fórum Permanente de Processualistas Civis, é possível dizer
que estão superados os Enunciados nº 115, 187 e 418 da Súmula do STJ e também a
OJ nº 140 da SDI-I do TST.

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Como Ficou, Então, o Juízo de Admissibilidade dos
Recursos Após a Lei Federal nº 13.256/2016?
Com relação à apelação, não houve alteração, pela Lei Federal nº 13.256/2016,
do art. 1.010, § 3º, do CPC/2015, o que significa dizer que, interposto o referido recur-
so perante o juízo de primeiro grau e intimado o apelado para contrarrazoar em 15
(quinze) dias, os autos serão encaminhados para a segunda instância, independen-
temente de juízo de admissibilidade. Não existirá mais, portanto, a decisão do juízo
a quo que recebe a apelação e declara se está sujeita ao duplo efeito (que continua

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sendo a regra) ou somente ao efeito devolutivo (art. 1.012, § 1º). Isso ficará direta e
unicamente a cargo do tribunal competente.
Nas palavras de Teresa Arruda Alvim WAMBIER, Maria Lúcia Lins CON-
CEIÇÃO, Leonardo Ferres da Silva RIBEIRO e Rogerio Licastro Torres de MELLO,

Este dispositivo deixa clara a nova regra, no sentido de que não há mais
juízo de admissibilidade da apelação no primeiro grau. O juiz, depois de
tomadas as providências dos §§ 1º e 2º, remeterá os autos ao Tribunal, in-
dependentemente de juízo de admissibilidade (art. 1.010, § 3º). Elimina-se,
assim, uma decisão – e correlatamente, um eventual recurso. No regime do
CPC/73 a decisão que não admite a apelação, proferida pelo juízo a quo, é
agravável de instrumento. (...). (Primeiros comentários ao novo código de
processo civil: artigo por artigo, comentários ao art. 1.010, p. 1601-1602).

No entanto, por outro lado, perspicaz a observação de Daniel Amorim As-


sumpção NEVES, no sentido de que:

Essa relevante novidade procedimental, entretanto, fará surgir um problema


prático que não foi resolvido pelo Novo CPC. (...). Naturalmente, o juízo de
retratação só pode ser realizado após o juízo de admissibilidade, porque não
pode o juiz se retratar de sua sentença sem antes receber a apelação. Afinal,
apelação inadmissível não gera efeitos, inclusive a possibilidade de retratação
do juiz que proferiu a sentença impugnada. Nesse ponto, o Novo CPC cria um
paradoxo: o primeiro juízo, de admissibilidade, é de competência exclusiva do
tribunal de segundo grau, enquanto o segundo e consequencial juízo, de retra-
tação, é de competência exclusiva do juízo de primeiro grau. (Novo código de
processo civil: inovações, alterações e supressões comentadas, p. 550).

Já no que concerne aos recursos excepcionais, a redação original do Novo


Código também previa que o juízo de admissibilidade fosse feito diretamente no
STJ e STF (art. 1.030, parágrafo único), sem a participação dos tribunais locais. Entre-
tanto, a Lei Federal nº 13.256/2016 alterou a redação do aludido dispositivo e retor-
nou tudo ao que já estávamos acostumados: o tribunal recorrido é quem exercerá o
primeiro juízo de admissibilidade dos recursos extraordinários lato sensu, de acordo
com a nova redação do art. 1.030, inc. V, do CPC/2015.
Na justificativa apresentada junto da proposta inicial que resultou na Lei
Federal nº 13.256/2016 (PL nº 2.384/2015), elaborada pelo Deputado Federal Carlos
Manato (SD-ES), argumentou-se que:

Superada quase metade da vacatio legis da Lei nº 13.105, de 16 de março


de 2015, a reintrodução legislativa do sistema de filtro de admissibilidade
recursal é medida que se impõe com urgência, sob o risco de potencialmen-
te se comprometer, em elevado grau, o desempenho da função jurisdicio-
nal dos tribunais superiores, razão pela qual conto com o apoio dos nobres
Parlamentares para discussão e aprovação deste projeto. (Disponível em:
<http://www2.camara.leg.br/proposicoesWeb/prop_mostrarintegra?cod-
teor=1362368&filename=Tramitacao-PL+2384/2015>)

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Recurso Especial Versando sobre Questão
Constitucional e Recurso Extraordinário com
Ofensa Reflexa à Constituição
O CPC/2015 resolverá um dos casos de “jurisprudência defensiva” consubstan-
ciado em acórdãos dos tribunais superiores (STF e STJ) que dizem ser, a competência
para julgamento, do outro e, ao final, nenhum dos dois resolve a questão.
Os arts. 1.032 e 1.033 do Novo Código estabelecem regras expressas para que
o jurisdicionado não fique desamparado quando da interposição dos recursos extra-
ordinários lato sensu.
Assim os referidos dispositivos dispõem expressamente:

Art. 1.032. Se o relator, no Superior Tribunal de Justiça, entender que o


recurso especial versa sobre questão constitucional, deverá conceder prazo
de 15 (quinze) dias para que o recorrente demonstre a existência de reper-
cussão geral e se manifeste sobre a questão constitucional.
Parágrafo único. Cumprida a diligência de que trata o caput, o relator reme-
terá o recurso ao Supremo Tribunal Federal, que, em juízo de admissibilida-
de, poderá devolvê-lo ao Superior Tribunal de Justiça.
Art. 1.033. Se o Supremo Tribunal Federal considerar como reflexa a ofensa
à Constituição afirmada no recurso extraordinário, por pressupor a revisão
da interpretação de lei federal ou de tratado, remetê-lo-á ao Superior Tribu-
nal de Justiça para julgamento como recurso especial.

Dessa forma, quando o STF entender que se trata de ofensa reflexa à Constitui-
ção, remeterá o recurso extraordinário ao STJ para que o julgue como recurso espe-
cial. Nessa hipótese, não poderá o Superior Tribunal de Justiça recusar o julgamento
do referido recurso, pois as hipóteses de cabimento de sua competência derivam do
próprio Texto Constitucional (art. 105, III), interpretado, em última análise, pelo STF.
De outro lado, quando STJ entender que se trata de questão constitucional,
abrirá prazo para que o recorrente demonstre a repercussão geral e remeterá o re-
curso ao STF que, ainda, em juízo de admissibilidade, poderá discordar e devolver o
recurso para julgamento pelo STJ.
A última palavra, portanto, será sempre a do STF, já que, no fundo, trata-se
de análise do cabimento dos recursos excepcionais, regra prevista expressamente na
Constituição.
Na lição de Teresa Arruda Alvim WAMBIER, Maria Lúcia Lins CONCEIÇÃO,
Leonardo Ferres da Silva RIBEIRO e Rogerio Licastro Torres de MELLO,

(...) O que acaba ocorrendo, então, como consequência das regras, é que
decisões flagrantemente inconstitucionais ou ilegais transitam em julgado,
porque nenhum dos dois Tribunais teria admitido os recursos interpostos.
Muitas vezes a parte interpõe dois recursos justamente por causa deste jus-
tificável receio. Transitada em julgado uma decisão que ofenda a Consti-
tuição Federal (com repercussão geral) ou que ofenda a lei federal, tem-se

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mais uma hipótese de uso de ação rescisória (art. 966, V). Esta novidade
representa relevante passo adiante, sob o ângulo da necessidade de que o
processo tenha o adequado rendimento, no sentido de que resolva efetiva e
inteiramente o conflito subjacente à demanda. Evidentemente, não é dese-
jável que do desfecho de um processo nasça a possibilidade do uso da ação
rescisória. (Primeiros comentários ao novo código de processo civil: artigo
por artigo, comentários ao art. 1.033, p. 1664).

Recursos aos Tribunais Superiores


O CPC/2015 traz uma novidade que com certeza será bem vista pelos advo-
gados: o princípio da instrumentalidade das formas também deve se aplicar nos tri-
bunais superiores!
Na verdade, inexistia razão para que assim já não se entendesse em face do
CPC/73. Mas os tribunais superiores não entendiam desta forma. Há vários artigos na
nova sistemática que levam a essa conclusão, o que é positivo, já que, como se sabe, esses
tribunais são extremamente formalistas e elegem qualquer irregularidade como causa de
inadmissibilidade dos recursos.
É a tal jurisprudência dita “defensiva”, que todos conhecemos. Com certeza, leva-
dos a essa conduta pelo excesso de trabalho, os Ministros muitas vezes acabam por não
julgar o mérito de recursos nos quais à parte, de fato, assistia direito. Dessa forma, o Novo
CPC desestimula com vigor a jurisprudência defensiva e proporciona facilidade para
que a última decisão do processo não seja de inadmissão do recurso.
Citam-se, ainda, algumas alterações relevantes, como a possibilidade de um dos
tribunais superiores remeter ao outro o recurso interposto quando entender que não é
sua competência para julgar (arts. 1.032 e 1.033). Há também dispositivo segundo o qual,
antes de considerar inadmissível o recurso, o relator concederá o prazo de 05 (cinco) dias
ao recorrente para que seja sanado vício ou complementada a documentação exigível
(art. 932, parágrafo único). Outro artigo, ainda mais especifico, estabelece a regra de que
o recurso interposto antes do prazo começar a correr não pode ser tido por intempestivo
(art. 218, § 4º). Outro, ainda, possibilita a correção da irregularidade de representação,
tendo o juiz de dar prazo à parte para que seja sanado o vício e se diz, na lei, expressa-
mente, que esta regra se aplica também aos tribunais superiores (art. 76).

Usucapião Extrajudicial
A chamada “usucapião extrajudicial ou administrativa” foi trazida como alte-
ração da Lei Federal nº 6.015/73 (Lei de Registros Públicos) pelo artigo 1.071 do Novo
Código de Processo Civil:

Art. 1.071. O Capítulo III do Título V da Lei nº 6.015, de 31 de dezembro


de 1973 (Lei de Registros Públicos), passa a vigorar acrescida do seguinte

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art. 216-A:
“Art. 216-A. Sem prejuízo da via jurisdicional, é admitido o pedido de re-
conhecimento extrajudicial de usucapião, que será processado diretamente
perante o cartório do registro de imóveis da comarca em que estiver situado
o imóvel usucapiendo, a requerimento do interessado, representado por ad-
vogado, instruído com:
I - ata notarial lavrada pelo tabelião, atestando o tempo de posse do reque-
rente e seus antecessores, conforme o caso e suas circunstâncias;
II - planta e memorial descritivo assinado por profissional legalmente ha-
bilitado, com prova de anotação de responsabilidade técnica no respectivo
conselho de fiscalização profissional, e pelos titulares de direitos reais e de
outros direitos registrados ou averbados na matrícula do imóvel usucapien-
do e na matrícula dos imóveis confinantes;
III - certidões negativas dos distribuidores da comarca da situação do imó-
vel e do domicílio do requerente;
IV - justo título ou quaisquer outros documentos que demonstrem a origem,
a continuidade, a natureza e o tempo da posse, tais como o pagamento dos
impostos e das taxas que incidirem sobre o imóvel” (...).

Interessante ressaltar a necessidade de o interessado se fazer representar por


advogado, e também da instrução do pedido com ata notarial lavrada por tabelião
de notas atestando o tempo de posse do requerente e seus antecessores, conforme o
caso e suas circunstâncias. E o procedimento específico é detalhado nos §§ 1º a 10 do
dispositivo, garantindo-se, como deve ser, ciência à União, ao Estado, ao Distrito Fe-
deral e ao Município, com possibilidade de manifestação em 15 dias sobre o pedido
(§ 3º), bem como ampla publicidade ao procedimento, com publicação de edital em
jornal de grande circulação (§ 4º).
Pode-se dizer que se trata de uma tendência do legislador a partir de alguns
casos exitosos de desjudicialização de determinados procedimentos, sobretudo dian-
te dos bons resultados advindos da experiência com o divórcio consensual realiza-
do por escritura pública quando não há filhos menores ou incapazes do casal (CPC
1973, art. 1.124-A, incluído pela Lei Federal nº 11.441/07).
Muito longe de se diminuir o prestígio do Poder Judiciário, que continuará
inafastável nos casos de lesão ou ameaça de lesão a direito por expressa determi-
nação constitucional (CR, art. 5º, XXXV), esse tipo de iniciativa legislativa valoriza a
busca pelo consenso, desburocratiza procedimentos e dá celeridade à prestação da
tutela estatal (em sentido amplo), ainda que pelas vias extrajudiciais.
O próprio dispositivo citado, por exemplo, garante o recurso à via judicial
(“sem prejuízo da via jurisdicional”) e também o procedimento de dúvida (“§ 7º Em
qualquer caso, é lícito ao interessado suscitar o procedimento de dúvida, nos termos
desta Lei”), indicando que o caminho extrajudicial é claramente uma alternativa ao
interessado. Além disso, também há regra expressa no sentido de que a rejeição do
pedido extrajudicial não impede o ajuizamento de ação de usucapião (§ 9º).
Espera-se que, com isso, torne-se facilitado o desenrolar de muitas demandas

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antigas que tratam do tema, assim como se estimule a regularização de inúmeras si-
tuações possessórias, muito embora se saiba que o custo da via extrajudicial costuma
ser maior do que o da judicial.

Breves Conclusões
De uma maneira geral, o advento do Novo Código de Processo Civil (Lei Fe-
deral nº 13.105, de 16 de março de 2015, com as alterações trazidas pelas Leis Federais
nºs 13.256/2016, 13.363/2016 e 13.465/2017) representa, em verdade, a necessária har-
monização de diversas normas processuais que estavam situadas no ordenamento
jurídico de forma assistemática, incoerente e até mesmo contraditória.
Agora, se, por um lado, o CPC/2015 tem potencial para gerar uma justiça mais
ágil e de melhor qualidade, por outro lado, o fato de isso ocorrer dependerá muito
do modo como for interpretado.
Em suma: a publicação de um novo marco legal processual, por si só, não
resolve o problema da prestação célere da justiça ou do abarrotamento de demandas
no Poder Judiciário.
É preciso que esse árduo trabalho de elaboração de um Novo Código de Pro-
cesso Civil, que teve a felicidade de ser o primeiro a se concretizar em ambiente de-
mocrático, também seja acompanhado de mudanças estruturais/orçamentárias (so-
bretudo no Poder Judiciário) e ideológicas/culturais (entre os operadores do direito
em geral).
Neste momento, já podemos perceber as primeiras manifestações um pouco
mais maduras da doutrina e da jurisprudência envolvendo a sistemática processual
civil em vigor, mesmo porque muitas teses jurídicas demoram a chegar nos tribunais
superiores, responsáveis pela uniformização dos entendimentos no país.
O legislador pretendeu, num primeiro momento, criar mecanismos novos (e in-
crementar os antigos) voltados à uniformização da jurisprudência pelo país (a exemplo
do que ocorre no âmbito dos IRDRs, IACs e rito dos recursos repetitivos). De outro lado,
buscou, a partir disso, normatizar diversas hipóteses de aceleração dos julgamentos nos
casos de manifesta concordância ou discordância com as teses consolidadas, o que expli-
ca, por exemplo, a amplitude dos poderes do relator no art. 932 do Código.
A mensagem tende a ser uma só: com diversas teses jurídicas finalmente uni-
formizadas e aplicadas por todo o país, em respeito à igualdade, à segurança jurídica
e à confiança dos jurisdicionados, sofrerá aquele que pretender debater tema já con-
solidado, seja com improcedência liminar do seu pedido, seja com desprovimento de
seu recurso pelo próprio relator, seja, ainda, com multa aplicada em caso de atitude
processual manifestamente protelatória (como são consideradas nesses casos).

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processo civil, comentários ao art. 808. 3. ed. São Paulo: RT, 2016.

ANEXOS
Quais enunciados das Súmulas do STF e do STJ perdeam nitidamente
fundamento de validade com o CPC/2015 (APÓS AS ALTERAÇÕES
TRAZIDAS PELA LEI FEDERAL Nº 13.256/2016)?
Preparamos uma lista de alguns dos enunciados das Súmulas do STF e do STJ
que nitidamente perderão fundamento de validade com o CPC/2015, tudo também
de acordo com o pensamento doutrinário consolidado nos Enunciados do Fórum
Permanente de Processualistas Civis (FPPC).
Por óbvio que outros enunciados deverão ser necessariamente revistos, ainda
que de forma parcial, como o 375 da Súmula do STJ, já abordado anteriormente.
Ainda, outros ficarão sob o crivo da doutrina e da jurisprudência por algum
tempo, exigindo maior debate e maturidade para a análise da necessidade ou não de
sua superação.
Entretanto, percebe-se que o Novo Código claramente veio combater, de ma-
neira explícita, diversos enunciados, tais como o enunciado nº 306 da Súmula do STJ
(“Os honorários advocatícios devem ser compensados quando houver sucumbência
recíproca, assegurado o direito autônomo do advogado à execução do saldo sem
excluir a legitimidade da própria parte”), que notadamente perderá o seu fundamen-
to de validade diante do art. 85, § 14 do Novo Código (“Os honorários constituem
direito do advogado e têm natureza alimentar, com os mesmos privilégios dos cré-
ditos oriundos da legislação do trabalho, sendo vedada a compensação em caso de
sucumbência parcial”).
Após as alterações trazidas pela Lei Federal nº 13.256/2016, alguns enunciados
do Fórum Permanente de Processualistas Civis (FPPC) também foram revistos na

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Carta de São Paulo (Encontro ocorrido nos dias 18 a 20 de março de 2016).
Espera-se, agora, a sensatez dos tribunais superiores em rever os seus enun-
ciados de Súmula o quanto antes, balizados pela nova sistemática processual civil
já vigente (a Corte Especial do STJ, na sessão de 1º de julho de 2016, determinou o
cancelamento do enunciado nº 418 de sua Súmula – “É inadmissível o recurso es-
pecial interposto antes da publicação do acórdão dos embargos de declaração, sem
posterior ratificação”).

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Prazos de 05 dias importantes NO CPC/2015
Preparamos com exclusividade para você um quadro esquemático com os
principais prazos de 05 (cinco) dias do Novo Código. Não se tem a pretensão de en-
globar todos os prazos do CPC/2015, mas sim os que julgamos mais importantes no
cotidiano dos operadores do Direito.

Prazos de 10 dias importantes no CPC/2015


também preparamos com exclusividade para você um quadro esquemático
com os principais prazos de 10 (dez) dias do Novo Código. Não se tem a pretensão
de englobar todos os prazos do CPC/2015, mas sim os que julgamos mais importan-
tes no cotidiano dos operadores do Direito.

Prazos de 15 Dias Importantes no CPC/2015


Por fim, preparamos para você, com total exclusividade, um quadro esque-
mático com os principais prazos de 15 (quinze) dias do CPC/2015. Repita-se: não se
tem a pretensão de englobar todos os prazos da nova sistemática processual civil,
mas sim os que julgamos mais importantes no cotidiano dos operadores do Direito.
Como facilmente se perceberá, com o intuito de simplificar os procedimentos,
os prazos de 15 dias foram muito utilizados pelo Novo Código, podendo-se, inclusi-
ve, falar em certa uniformização dos prazos processuais em 15 (quinze) dias.
Com efeito, no âmbito recursal, por exemplo, à exceção dos embargos de de-
claração, que continuarão sendo opostos dentro do prazo de 05 (cinco) dias, todos os
demais recursos possuem prazos para interposição e resposta de 15 (quinze) dias (v.
arts. 1.003, § 5º e 1.023).
No tocante aos prazos para defesa em geral, também restaram unificados em
15 (quinze) dias (v. arts. 120, caput, 235, § 1º, 335, caput, 343, § 1º, 350, 351 etc.).

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RESOLUÇÕES DO CNJ
Como resultado dos estudos do Grupo de Trabalho formado em 1º de dezem-
bro de 2015 pelo Conselho Nacional de Justiça (CNJ), foram publicadas cinco reso-
luções que têm por objetivo regulamentar alguns assuntos trazidos pelo CPC/2015.
Confira uma análise sucinta de cada uma das Resoluções publicadas no dia 15
de julho de 2016 e fique por dentro dessas regulamentações.
Resolução CNJ nº 232/2016 – Regulamenta o disposto no art. 95, §3º, inciso I,
do CPC/2015 (“Quando o pagamento da perícia for de responsabilidade de beneficiário de
gratuidade da justiça, ela poderá ser: (...) II - paga com recursos alocados no orçamento da
União, do Estado ou do Distrito Federal, no caso de ser realizada por particular, hipótese em
que o valor será fixado conforme tabela do tribunal respectivo ou, em caso de sua omissão, do
Conselho Nacional de Justiça”) e fixa, em seu anexo, a tabela de honorários periciais a
serem pagos pelos serviços de perícia de responsabilidade dos beneficiários da gra-
tuidade da justiça.
Confira no link abaixo a íntegra desta Resolução:
<http://www.cnj.jus.br//images/atos_normativos/resolucao/resolu-
cao_232_13072016_15072016132913.pdf>
Resolução CNJ nº 233/2016 – Regulamenta o disposto no art. 156, §1º do
CPC/2015 (“Os peritos serão nomeados entre os profissionais legalmente habilitados e os
órgãos técnicos ou científicos devidamente inscritos em cadastro mantido pelo tribunal ao qual
o juiz está vinculado”) e padroniza o Cadastro Eletrônico de Peritos e Órgãos Técnicos
ou Científicos (CPTEC), a serem criados por todos os tribunais do país.
Confira no link abaixo a íntegra desta Resolução:
<http://www.cnj.jus.br//images/atos_normativos/resolucao/resolu-
cao_233_13072016_15072016133409.pdf>
Resolução CNJ nº 234/2016 – Regulamenta o art. 196 do CPC/2015 (“Compete
ao Conselho Nacional de Justiça e, supletivamente, aos tribunais, regulamentar a prática e a
comunicação oficial de atos processuais por meio eletrônico e velar pela compatibilidade dos
sistemas, disciplinando a incorporação progressiva de novos avanços tecnológicos e editando,
para esse fim, os atos que forem necessários, respeitadas as normas fundamentais deste Códi-
go”) e institui o Diário de Justiça Eletrônico Nacional (DJEN), como plataforma de
editais do CNJ e instrumento de publicação dos atos judiciais dos órgãos do Poder
Judiciário, e também a Plataforma de Comunicações Processuais do Poder Judiciário
(Domicílio Eletrônico), a fim permitir a interoperabilidade com os órgãos do Poder
Judiciário, bem como com outros sistemas públicos e privados, nos termos do Mo-
delo Nacional de Interoperabilidade (MNI), além possibilitar a operacionalização
necessária para o cumprimento do previsto nos arts. 246, §§1º e 2º e 1.050 do Novo
Código.

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Confira no link abaixo a íntegra desta Resolução:
<http://www.cnj.jus.br//images/atos_normativos/resolucao/resolu-
cao_234_13072016_15072016134622.pdf>
Resolução CNJ nº 235/2016 – Regulamenta o art. 979, caput e §§1º e 3º do
CPC/2015 (“A instauração e o julgamento do incidente serão sucedidos da mais ampla e
específica divulgação e publicidade, por meio de registro eletrônico no Conselho Nacional de
Justiça. §1º Os tribunais manterão banco eletrônico de dados atualizados com informações
específicas sobre questões de direito submetidas ao incidente, comunicando-o imediatamente
ao Conselho Nacional de Justiça para inclusão no cadastro. (...)§3º Aplica-se o disposto neste
artigo ao julgamento de recursos repetitivos e da repercussão geral em recurso extraordiná-
rio”) e cria, no âmbito do CNJ, o Banco Nacional de Dados de Casos Repetitivos e
de Incidentes de Assunção de Competência, bem como determina a organização, no
STJ, TST, TSE e STM, como unidade permanente, de Núcleos de Gerenciamento de
Precedentes (NUGEPs).
Confira no link abaixo a íntegra desta Resolução:
<http://www.cnj.jus.br//images/atos_normativos/resolucao/resolu-
cao_235_13072016_15072016144255.pdf>
Resolução CNJ nº 236/2016 – Regulamenta o art. 882, §1º do CPC/2015 (“A alie-
nação judicial por meio eletrônico será realizada, observando-se as garantias processuais das
partes, de acordo com regulamentação específica do Conselho Nacional de Justiça”) e estabe-
lece um procedimento uniforme para a realização dos leilões eletrônicos em todos os
tribunais brasileiros.
Confira no link abaixo a íntegra desta Resolução:
<http://www.cnj.jus.br//images/atos_normativos/resolucao/resolu-
cao_236_13072016_15072016155240.pdf>

Enunciados administrativos do STJ sobre o CPC/2015


Como se sabe, o Superior Tribunal de Justiça foi o primeiro a adequar o seu
Regimento Interno às disposições do CPC/2015. A Emenda Regimental nº 22, de 16
de março de 2016, foi fruto do trabalho de um grupo de estudos especialmente cria-
do pelo STJ para analisar o Novo Código. Como se destaca na justificativa da referida
alteração regimental, “o que está posto nesta extensa emenda regimental é parte desse traba-
lho – apenas as providências mais urgentes para o bom funcionamento desta Corte. O restante
dos temas ainda será submetido à aprovação do Tribunal Pleno”. (Disponível em: <http://
www.stj.jus.br/static_files/STJ/Midias/EmendaRegimetal%20n22%20.pdf>.
Além de publicar o Enunciado nº 568 de sua Súmula (“O relator, monocratica-
mente e no Superior Tribunal de Justiça, poderá dar ou negar provimento ao recurso quando
houver entendimento dominante acerca do tema”), o STJ também divulgou enunciados

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administrativos sobre o CPC/2015, conforme quadro abaixo.
Outros tribunais também já estão fazendo adequações regimentais em relação
ao Novo Código.

ENUNCIADOS ADMINISTRATIVOS DO STJ SOBRE O CPC/2015


O Plenário do STJ, em sessão administrativa em que se inter-
pretou o art. 1.045 do novo Código de Processo Civil, decidiu, por
01
unanimidade, que o Código de Processo Civil aprovado pela Lei n.
13.105/2015, entrará em vigor no dia 18 de março de 2016.
Aos recursos interpostos com fundamento no CPC/1973 (rela-
tivos a decisões publicadas até 17 de março de 2016) devem ser exi-
02 gidos os requisitos de admissibilidade na forma nele prevista, com
as interpretações dadas, até então, pela jurisprudência do Superior
Tribunal de Justiça.
Aos recursos interpostos com fundamento no CPC/2015 (relati-
03 vos a decisões publicadas a partir de 18 de março de 2016) serão exigi-
dos os requisitos de admissibilidade recursal na forma do novo CPC.
Nos feitos de competência civil originária e recursal do STJ, os
atos processuais que vierem a ser praticados por julgadores, partes,
Ministério Público, procuradores, serventuários e auxiliares da Justi-
04
ça a partir de 18 de março de 2016, deverão observar os novos proce-
dimentos trazidos pelo CPC/2015, sem prejuízo do disposto em legis-
lação processual especial.
Nos recursos tempestivos interpostos com fundamento no
CPC/1973 (relativos a decisões publicadas até 17 de março de 2016),
05
não caberá a abertura de prazo prevista no art. 932, parágrafo único,
c/c o art. 1.029, §3º, do novo CPC.
Nos recursos tempestivos interpostos com fundamento no
CPC/2015 (relativos a decisões publicadas a partir de 18 de março de
06 2016), somente será concedido o prazo previsto no art. 932, parágrafo
único, c/c o art. 1.029, §3º, do novo CPC para que a parte sane vício
estritamente formal.

Somente nos recursos interpostos contra decisão publicada a


07 partir de 18 de março de 2016, será possível o arbitramento de hono-
rários sucumbenciais recursais, na forma do art. 85, §11, do novo CPC.

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