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As ideias, conceitos e/ou comentários expressos na presente obra são criação e
elaboração exclusiva do(s) autor(es), não cabendo nenhuma responsabilidade à Editora.
M838b Brevíssimas notas ao CPC/2015 / [recurso eletrônico] / Felipe Augusto de Toledo
Moreira, Rafael de Arruda Alvim Pinto. – 5. ed. atual., rev. e ampl. – Santa Cruz do
Sul: Essere nel Mondo, 2018.
197 p.
Texto eletrônico.
Modo de acesso: World Wide Web.
1. Processo civil. 2. Direito processual. I. Pinto, Rafael de Arruda Alvim. II. Título.
CDD-Dir: 341.46
BREVÍSSIMAS NOTAS
AO CPC/2015
5ª Edição
Atualizada, revisada e ampliada
2018
COMITÊ EDITORIAL
*As edições anteriores foram publicadas em forma de e-book sem catalogação na Biblioteca
Nacional e ISBN.
Introdução...........................................................................................11
Vetos da Presidência da República............................... 13
Estruturação Geral do Novo Código....................................15
PARTE GERAL........................................................................................ 16
Normas Fundamentais e o Modelo
Constitucional do Processo Civil........................................................17
Boa-Fé Objetiva no Âmbito Processual............................................17
Cooperação Processual........................................................................... 20
Princípio do Contraditório.........................................................................21
A Ordem Cronológica de Conclusão
para Julgamento............................................................................................ 23
Aplicação Supletivae Subsidiária do
CPC/2015 aos Processos Eleitorais,
Trabalhistas e Administrativos........................................................... 26
Condições da Ação...........................................................................................27
Limites da Jurisdição Nacional.............................................................. 28
Competência Interna..................................................................................... 30
Conexão...................................................................................................................31
Continência.......................................................................................................... 33
Incompetência absoluta e relativa em
preliminar da contestação...................................................................... 34
Conciliação, Mediação e outros Métodos
de Solução Consensual de Conflitos............................................... 34
Arbitragem, Mediação e Conciliação.................................................. 35
Processo “Em Trânsito” – Traslatio Iudici........................................ 37
Honorários Advocatícios Sucumbenciais...................................... 38
Gratuidade Parcial no CPC/2015?......................................................... 40
Litisconsórcio Necessário ou Facultativo?
Unitário ou Simples?...................................................................................... 41
Litisconsórcio Necessário Ativo?....................................................... 43
Intervenção de Terceiros.......................................................................... 44
PARTE ESPECIAL....................................................................78
Procedimento Comum e Incidentes Processuais.........................79
Petição Inicial.....................................................................................................79
Pedido ..................................................................................................................... 80
Reconvenção....................................................................................................... 81
Saneamento Compartilhado.................................................................. 83
Distribuição Dinâmica do Ônus da Prova......................................... 84
Prova Emprestada......................................................................................... 86
Produção Antecipada de Prova.............................................................87
ANEXOS....................................................................................185
Quais enunciados das Súmulas do STF e do STJ
perderam nitidamente fundamento de validade
com o CPC/2015 (APÓS AS ALTERAÇÕES
TRAZIDAS PELA LEI FEDERAL Nº 13.256/2016)?......................................185
Prazos de 05 Dias Importantes NO CPC/2015............................................. 187
Prazos de 10 Dias Importantes no CPC/2015................................................ 187
Prazos de 15 Dias Importantes no CPC/2015................................................ 187
RESOLUÇÕES DO CNJ........................................................................................194
Enunciados administrativos do STJ sobre o CPC/2015............................195
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Se isso era ou não função e competência do STJ é outra história, mas fato é que
trouxe maior segurança jurídica aos jurisdicionados diante do novo sistema que logo
entraria em vigor, mesmo porque já se estava às vésperas da vigência do CPC/2015,
independentemente da “corrente doutrinária” que se tivesse adotado.
Uma das discussões que se têm travado na doutrina é no sentido de saber se
esse “Novo Código” é novo mesmo ou se não se trata, pura e simplesmente, de mais
uma (grande) reforma do CPC/73.
Aos olhos de parte dos estudiosos do direito do país, trata-se de uma reforma
do CPC/73, porque não há grandes alterações, não há mudanças de paradigmas.
No entanto, outros entendem que, no campo do direito, as alterações devem
ser lentas, porque devem acompanhar as necessidades sentidas na sociedade. E,
como se sabe, as sociedades se modificam lentamente. Segundo essa outra parcela
de estudiosos, a alteração do direito não se dá apenas com “boas ideias”, mas com
ideias que, além de boas, possam ser assimiladas e bem utilizadas pelos operadores,
para que gerem resultados positivos para a sociedade.
Trata-se, assim, de uma perspectiva verdadeiramente pragmática.
Nesse sentido, é bom lembrar a advertência:
Não se quis, com o novo Código, “zerar” o direito processual, fazer “tábula
rasa” de tudo o que existe. Quis-se, sim, inovar, a partir do que já existe,
respeitando as conquistas, dando-se passos à frente.
Assim é que devem ocorrer as mudanças das ciências ditas sociais, da lei,
da jurisprudência: devagar. Porque também devagar mudam as sociedades.
Nada de mudanças bruscas, que não correspondem àquilo que se quer, que
assustam, atordoam e normalmente não são satisfatoriamente assimiladas.
Não há razão para não se manter tudo o que de positivo já tínhamos conce-
bido. Nada como se engendrar um novo sistema, de forma equilibrada, entre
conservação e inovação. (Teresa Arruda Alvim WAMBIER, Maria Lúcia
Lins CONCEIÇÃO, Leonardo Ferres da Silva RIBEIRO e Rogerio Licas-
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A cláusula geral contida no art. 422 do novo Código Civil impõe ao juiz
interpretar e, quando necessário, suprir e corrigir o contrato segundo a boa-
fé objetiva, entendida como exigência de comportamento leal dos contra-
tantes.
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Não por acaso que o artigo 10 do CPC/2015 é expresso ao dispor que “O juiz
não pode decidir, em grau algum de jurisdição, com base em fundamento a respeito do qual
não se tenha dado às partes oportunidade de se manifestar, ainda que se trate de matéria sobre
a qual deva decidir de ofício”.
Também por esse motivo se entende que a boa-fé e a cooperação não poderão
ser afastadas por negócio jurídico processual (Enunciado nº 06 do Fórum Permanen-
te dos Processualistas Civis).
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Princípio do Contraditório
Se você digitar a palavra “contraditório” no instrumento de busca dentro do texto do
CPC/73, irá encontrar apenas uma ocorrência, qual seja: no artigo 536, que trata dos
embargos de declaração, os quais deverão ser “opostos, no prazo de 05 dias, em petição
dirigida ao juiz ou relator, com indicação do ponto obscuro, contraditório ou omisso, não
estando sujeitos a preparo”.
Como se percebe, dentro desse contexto, o termo “contraditório” aparece em
seu sentido adjetivo apenas, e não substantivo. Não há, portanto, menção expressa
ao princípio do contraditório no CPC/73, talvez pelo momento histórico que se pas-
sava à época.
No texto do CPC/2015 a situação se inverte: no artigo dedicado aos embar-
gos declaratórios, utiliza-se a expressão “eliminar contradição” (art. 1.022, I); e o termo
“contraditório” é utilizado apenas em seu sentido substantivo, em todas as 07 situa-
ções nas quais aparece.
Vejamos cada uma delas.
Logo no início do texto, no artigo 7º, é ressaltada a igualdade entre as partes, a
paridade de tratamento e de armas para o litígio, devendo o juiz zelar pelo efetivo con-
traditório. Oportuna e adequada a consagração do princípio do contraditório na Parte
Geral do CPC/2015, enquanto norma informadora de toda a nova sistemática processual,
a demonstrar também conformidade em relação ao Texto Constitucional de 1988.
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O mesmo artigo conta ainda com seis parágrafos, que detalham algumas re-
gras específicas sobre o tema. A primeira delas é de que a lista de processos aptos a
julgamento deverá estar permanentemente à disposição para consulta pública em
cartório e na rede mundial de computadores (§ 1º).
O parágrafo segundo, por sua vez, estabelece 09 exceções, isto é, nove hipóte-
ses nas quais juízes e tribunais não precisarão obedecer à ordem cronológica de con-
clusão para proferir sentença ou acórdão. Dentre elas estão: as sentenças proferidas
em audiência, homologatórias de acordo ou de improcedência liminar do pedido (I);
o julgamento de processos em bloco para aplicação de tese jurídica firmada em julga-
mento de casos repetitivos (II); o julgamento de recursos repetitivos ou incidentes de
resolução de demandas repetitivas (III); as sentenças terminativas (IV); o julgamento
de embargos de declaração e agravo interno (V e VI); entre outras.
Interessante notar que também estarão excluídas da regra geral as preferências
legais e as metas do Conselho Nacional de Justiça – CJN (VII), bem como qualquer
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Condições da Ação
Sem entrar nos detalhamentos doutrinários em torno da extinção ou não da
categoria processual das “condições da ação” (principalmente em função da supres-
são dessa expressão no CPC de 2015 – v. CPC de 1973, art. 267, VI), fato é que o Novo
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Competência Interna
Nessa seara, trazendo regras de atribuição do poder jurisdicional aos órgãos
do Poder Judiciário Brasileiro e, portanto, delimitando a sua competência, foi for-
mulado o Título III, do Livro II, da Parte Geral do CPC de 2015: “Da competência
interna”, composto pelos artigos 42 a 64.
Com destaque à atuação do Poder Público em juízo, foram positivadas as se-
guintes regras de competência: (i) quando a União, Estado ou Distrito Federal forem
autores da demanda, o foro competente será o do domicílio do réu (CPC/2015, arts.
51 e 52, caput); (ii) já quando a União, Estado ou Distrito Federal forem réus da de-
manda, o foro de competência concorrente será o do domicílio do autor, o lugar do
ato ou fato que originou a demanda, o local de situação da coisa ou no Distrito Fede-
ral (se a União) ou na capital do respectivo ente federado (arts. 51, parágrafo único,
e 52, parágrafo único).
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Conexão
A conexão aparece reformulada no Novo Código de Processo Civil. Ao lado
da continência e do foro de eleição, é também uma forma de modificação da compe-
tência relativa (art. 54).
Segundo o art. 55, caput, do CPC/2015, “Reputam-se conexas 2 (duas) ou mais
ações quando lhes for comum o pedido ou a causa de pedir”. Preferiu-se, correta-
mente, a substituição do termo “objeto”, constante do art. 103 do CPC/73, por “pedi-
do”, muito mais técnico e coerente.
Dessa forma, diante dos conhecidos elementos da ação (partes, pedido e causa
de pedir), a conexão aparece entre demandas que tenham o mesmo pedido ou a mes-
ma causa de pedir (requisitos alternativos), isto é, que, no fundo, tratem da mesma
relação jurídica, da mesma lide sociológica subjacente ao processo.
Entender o porquê a conexão existe no nosso sistema processual é compreen-
der que os jurisdicionados não podem conviver com decisões conflitantes e contra-
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Continência
Os arts. 56 e 57 do Novo Código tratam especificamente da continência, outra
forma de modificação da competência relativa. Na continência, além da identidade
entre as causas de pedir, também as partes são as mesmas, sendo que o pedido de
uma demanda, por ser mais amplo, abrange o da outra.
Nesse sentido, deve ser aplaudida a nova regra constante do art. 57 do
CPC/2015, que não encontra correspondência no revogado CPC/73: “Quando houver
continência e a ação continente tiver sido proposta anteriormente, no processo relativo à ação
contida será proferida sentença sem resolução de mérito, caso contrário, as ações serão neces-
sariamente reunidas”.
Portanto, antes de se reunir as demandas para julgamento conjunto (art. 58),
há de ser verificado se a ação continente, isto é, a mais ampla, foi proposta anterior-
mente à contida. Nessa hipótese, a demanda posterior deverá ser extinta sem resolu-
ção do mérito (art. 485, X).
Essa hipótese sempre foi de litispendência parcial, conforme observação de
Cassio Scapinella BUENO:
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O mediador, por sua vez, “que atuará preferencialmente nos casos em que
houver vínculo anterior entre as partes, auxiliará aos interessados a compreender as
questões e os interesses em conflito, de modo que eles possam, pelo restabelecimento
da comunicação, identificar, por si próprios, soluções consensuais que gerem benefí-
cios mútuos” (CPC/2015, art. 165, § 3º).
A Lei Federal nº 13.140/2015 regulamentou a mediação privada (arts. 9º e 10
e 21 a 23) e judicial (arts. 11 a 13 e 24 a 29), além da autocomposição de conflitos no
âmbito da administração pública (arts. 32 a 40), o que revela a grande importância
que a mediação também ganha no cenário jurídico atual.
A Resolução nº 125/2010 do CNJ, por meio da Emenda nº 02, de 08 de março
de 2016, já foi alterada a fim de se compatibilizar com a Lei de Mediação e também
com o CPC/2015.
No plano prático, a esperança é no sentido de que o Poder Judiciário real-
mente destine recursos orçamentários para bem estruturar os centros judiciários de
solução consensual de conflitos.
Por fim, cabe tecer alguns comentários sobre a arbitragem, regulamentada no
Brasil pela Lei Federal nº 9.307/1996, com as alterações trazidas pela Lei Federal nº
13.129/2015. Relacionando-se, o conflito, a direitos patrimoniais disponíveis, as par-
tes, capazes, podem escolher alguém de sua confiança (árbitro) para solucioná-lo (cf.,
STJ, CC 139.519/RJ, 1ª S., j. 11.10.2017, rel. Min. Napoleão Nunes Maia Filho, rel. p/
acórdão Min. Regina Helena Costa, DJe 10.11.2017).
Atualmente, a doutrina é praticamente unânime ao classificar a arbitragem
como espécie jurisdicional, cabendo sempre lembrar que a sentença arbitral constitui
título executivo judicial (CPC/2015, art. 515, inciso VII), cujo cumprimento forçado
deverá ser buscado exclusivamente junto ao Poder Judiciário (o árbitro ou o tribunal
arbitral não pode determinar medidas voltadas ao cumprimento forçado de suas
decisões – trata-se, nesse caso, de monopólio do Estado).
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Assim, pode ser que o interessado tenha recursos para antecipar o pagamen-
to da taxa judiciária e das despesas de citação, mas não o tenha para arcar
com os honorários periciais. Pode ser que se predisponha a pagar metade
dos valores que, por lei, teria que adiantar integralmente. Pode ser que se
predisponha a pagá-los em sua integralidade, desde que parceladamente.
Pode ser, enfim, que essas situações se misturem e o interessado, que vinha
antecipando todos os custos até então, peça para ser dispensado quanto ao
pagamento de metade do valor de um determinado ato e, quanto à metade
que pode pagar, que o pagamento seja feito em duas parcelas. (In. Breves
comentários ao novo código de processo civil, comentários ao art. 98, p.
407).
(...). O grande problema é que a legislação não traz critérios sobre quando e
como isso será aplicado, deixando de apresentar quaisquer parâmetros para
que haja a aplicação dessas inovações. Daí é que existem inúmeras dúvidas
sem qualquer resposta por parte da legislação. Dentre outras, apresentamos
as seguintes dúvidas: Quando o juiz deferirá a justiça gratuita total ou par-
cial? Qual o critério para o juiz reduzir o percentual da despesa processu-
al? E de quanto será o percentual da redução? Cabe, ao mesmo tempo, no
âmbito da justiça gratuita parcial, a gratuidade para alguns atos e a redução
de parte das despesas? Uma vez deferido o parcelamento das despesas, em
quantas vezes será possível parcelar? E o ato processual terá de aguardar
o término do pagamento parcelado para ter início? Pode o juiz aplicar o
parcelamento em conjunto com a justiça gratuita parcial? Inúmeras são as
dúvidas, e a única certeza não há que essas questões serão objeto de rica
divergência até que definidas balizas mínimas pelo STJ – o que pode levar
muito tempo. Até lá, cada juiz terá seus próprios critérios em relação aos
novos institutos relativos à justiça gratuita. (...). (Teoria geral do processo:
comentários ao CPC de 2015: parte geral, p. 335).
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Intervenção de Terceiros
No Título que trata “Da Intervenção de Terceiros”, o CPC de 2015 simplificou
as modalidades, finalmente incluindo a assistência (arts. 119 a 124 – que no CPC/73
está fora do capítulo que trata da intervenção de terceiros), mantendo a denunciação
da lide (arts. 125 a 129) e o chamamento ao processo (arts. 130 a 132), e acrescentando
o incidente de desconsideração da personalidade jurídica (arts. 133 a 137) e o amicus
curiae (art. 138).
A nomeação à autoria desaparece desse título, mas o seu espírito está presente
nos artigos 338 e 339 do Novo Código como hipóteses de correção da ilegitimidade
passiva. Nas palavras de Cassio Scarpinella BUENO:
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Para uma melhor visualização desse novo título, fizemos um quadro esque-
mático exclusivo, que segue abaixo.
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Denunciação da Lide
Especificamente sobre o instituto da denunciação da lide, mister se faz desta-
car três importantes inovações do CPC/2015 sobre o assunto, quais sejam: (i) fim da
obrigatoriedade da denunciação da lide, (ii) limitação da denunciação da lide suces-
siva e (iii) proibição da denunciação da lide per saltum.
O caput do artigo 125 do Novo Código é expresso ao dispor que “é admissí-
vel a denunciação da lide (...)”, e não obrigatória como fazia o artigo 70 do CPC/73,
confirmando o entendimento doutrinário e jurisprudencial majoritário que sempre
advogou pela facultatividade da denunciação da lide mesmo na hipótese de evicção
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Por fim, a denunciação da lide per saltum, ou seja, aquela feita não ao alienante
imediato, mas a qualquer um dos alienantes anteriores, desaparece do sistema jurídi-
co brasileiro, notadamente pela opção legislativa contida no artigo 1.072, inciso II, do
CPC/2015, que revogou expressamente o artigo 456 do Código Civil Brasileiro, anti-
go suporte para o entendimento então majoritário no sentido de que seria possível a
referida forma de denunciação.
Nas lições de Teresa Arruda Alvim WAMBIER, Maria Lúcia Lins CONCEI-
ÇÃO, Leonardo Ferres da Silva RIBEIRO e Rogerio Licastro Torres de MELLO:
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Chamamento ao Processo
O chamamento ao processo é disciplinado nos artigos 130 a 132 do CPC/2015,
que mantém as hipóteses clássicas de seu cabimento: a fiança e a solidariedade entre
os devedores.
Sobre o tema, importante apontamento de Cassio Scarpinella BUENO:
Incidente de Desconsideração da
Personalidade Jurídica
A desconsideração da personalidade jurídica ganha tratamento procedimen-
tal específico e detalhado no CPC/2015, na forma de um incidente processual próprio
que, presentes os pressupostos específicos da lei material (CC, art. 50; CDC, art. 28;
Lei Federal nº 9.605/98 – Lei de Crimes Ambientais –, art. 4º etc.), será instaurado a
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Amicus Curiae
Sobre a peculiar figura do amicus curiae, também conhecido como “amigo da
Corte” ou “colaborador da Corte”, melhor do que traduzir literalmente a expressão é
entender que o amicus curiae representa verdadeiro portador de interesses institucionais
dispersos na sociedade, a conformar uma releitura do contraditório em questões que
ultrapassam interesses meramente particulares (cf. Cassio Scarpinella BUENO, Amicus
curiae no processo civil brasileiro: um terceiro enigmático, especialmente p. 80 e ss.).
A ideia em si é relativamente simples: se determinada decisão irá atingir toda
a coletividade, nada melhor que sejam admitidas em contraditório as pessoas, físicas
ou jurídicas, que carreguem adequada representatividade para contribuir e trazer
elementos informativos para a prolação de uma melhor decisão. Dessa forma, obter-
se-á uma decisão melhor “informada” e consequentemente, que gozará de maior
legitimidade democrática.
Mesmo sem previsão legal expressa utilizando a nomenclatura latina, os amici
curiae vem sendo admitidos pela jurisprudência brasileira há algum tempo, sobre-
tudo nos específicos processos de controle concentrado de constitucionalidade, nos
quais a intervenção se fundamenta basicamente nos artigos 7º, § 2º, e 20, § 1º, da Lei
Federal nº 9.868/99 (Ação Direta de Inconstitucionalidade – ADI e Ação Declaratória
de Constitucionalidade – ADC), e no artigo 5º, § 2º, da Lei Federal nº 9.882/99 (Argui-
ção de Descumprimento de Preceito Fundamental – ADPF).
E o Supremo Tribunal Federal parece ter compreendido as inúmeras vanta-
gens de se ter esse respaldo democrático em decisões que tratam de assuntos polêmi-
cos. Basta contar, por exemplo, os diversos amici curiae que participaram da decisão
na ADPF 132, que reconheceu a união homoafetiva como entidade familiar.
O CPC/2015 trata especificamente dessa importante figura processual no seu
artigo 138, dispondo que:
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Trata-se de regra que convida à reflexão sobre o CPC de 2015 ter passado a
admitir, de maneira expressa, verdadeira regra de flexibilização das técnicas
executivas, permitindo ao magistrado, consoante as peculiaridades do caso
concreto, modificar o modelo preestabelecido pelo Código, determinando a
adoção, sempre de forma fundamentada, dos mecanismos que se mostrem
mais adequados para a satisfação do direito, levando em conta as peculia-
ridades do caso concreto. Um verdadeiro “dever-poder geral executivo”,
portanto. Aceita essa proposta – que, em última análise, propõe a adoção de
um modelo atípico de atos executivos, ao lado da tipificação feita pelos arts.
513 a 538, que disciplinam o cumprimento de sentença, e ao longo de todo
o Livro II da Parte Especial, voltado ao processo de execução –, será correto
ao magistrado flexibilizar as regras previstas naqueles dispositivos codifica-
dos consoante se verifiquem insuficientes para a efetivação da tutela juris-
dicional. Chama a atenção neste inciso IV do art. 139, ademais, a expressa
referência às “ações que tenham por objeto prestação pecuniária”, que con-
vida o intérprete a abandonar (de vez, e com mais de dez anos de atraso) o
modelo “condenação/execução”, que, até o advento da Lei n. 11.232/2005,
caracterizou o modelo executivo do CPC de 1973 para aquelas prestações
e suas consequentes “obrigações de pagar quantia”. Até porque, com rela-
ção às demais modalidades obrigacionais, de fazer, não fazer e de entrega
de coisa, esta atipicidade já é conhecida pelo direito processual civil bra-
sileiro desde o início da década de 1990. Primeiro com o art. 84 da Lei n.
8.078/1990 (Código do Consumidor) e depois, de forma generalizada, pela
introdução do art. 461 no CPC de 1973 pela Lei n. 8.952/1994. (Manual de
direito processual civil, p. 165).
Não se pode, pois, admitir que um devedor contumaz, sujeito passivo de di-
versas execuções, utilize de subterfúgios tecnológicos e ilícitos para esconder seu pa-
trimônio e frustrar os seus credores.
Há mais de 10 anos, Olavo de OLIVEIRA NETO escreveu que seria possível
ao juiz estabelecer algumas formas de restrições na esfera de direitos do devedor,
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Portanto, enquanto a suspeição deve ser arguida no prazo legal sob pena de
preclusão, o impedimento, por se tratar de questão de ordem pública, pode ser ale-
gado a qualquer momento, pelo juiz ou pelas partes.
Atualmente, são 09 as hipóteses de impedimento previstas expressamente
pelo art. 144 do Novo Código.
Dentre as alterações, destaca-se, em primeiro lugar, o impedimento relaciona-
do ao magistrado que teve conhecimento do processo em outro grau de jurisdição,
tendo proferido decisão (inciso II) – não estando mais restrito ao primeiro grau, como
estava no CPC/73. Também está impedido, o magistrado, de exercer suas funções no
processo em que seu cônjuge ou companheiro, ou qualquer parente, consanguíneo
ou afim, em linha reta ou colateral, até o terceiro grau, inclusive, estiver postulando
como defensor público, advogado ou membro do Ministério Público (inciso III e §
1º). Nesse ponto, vale lembrar que o CPC/73 falava apenas da hipótese de postular
como advogado da parte e limitava o parentesco ao segundo grau.
Outras hipóteses inovadoras aparecem nos seguintes casos: (i) quando o juiz
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Por fim, diante do art. 148, importa ressaltar que motivos de impedimento e
suspeição se aplicam também aos membros do Ministério Público, aos auxiliares da
Justiça (elencados no rol exemplificativo do art. 149 do CPC) e demais sujeitos im-
parciais do processo, com exceção das testemunhas (§ 4º) – objeto de regulamentação
específica pelos arts. 447, caput e 457, §§ 1º e 2º.
Montamos especialmente para você um quadro esquemático a respeito do
procedimento de arguição do impedimento e da suspeição que, de acordo com o
CPC/2015, não é mais feita em exceção, mas em petição específica. Confira abaixo
com total exclusividade!
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(...). Por força do art. 190 do CPC/2015, portanto, não reputamos ser pos-
sível a pactuação de negócio jurídico processual que tenha por objeto a mi-
noração ou a extinção de deveres processuais imperativamente impostos às
partes, sob pena de ser-lhe ilícito o objeto. Não vigora, ipso facto, o “vale
tudo” processual. O negócio jurídico processual não tem, e nem deve ter,
esta extensão. (...). Não se pode, é nossa convicção, dispor em negócio ju-
rídico processual que uma decisão poderá ser não fundamentada, ou que
não vigora o dever de cumprir as decisões judiciais. Admiti-lo seria algo
comparável à admissão do objeto ilícito na celebração do negócio jurídi-
co processual. (...). (Teresa Arruda Alvim WAMBIER, Maria Lúcia Lins
CONCEIÇÃO, Leonardo Ferres da Silva RIBEIRO, e Rogerio Licastro
Torres de MELLO. Primeiros comentários ao novo código de processo ci-
vil: artigo por artigo, comentários ao art. 190, p. 402-403).
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Despachos no CPC/2015
No texto anterior, analisamos brevemente os atos meramente ordinatórios, dife-
renciando-os, desde logo, dos despachos, previstos no art. 203, § 3º, do CPC/2015 (cujo
conceito é residual em relação a todos os demais pronunciamentos do juiz).
Como já se afirmou, os despachos serão sempre proferidos pelo juiz e, por
isso, abrigarão um conteúdo decisório mínimo, ainda que irrelevante e inapto a causar
prejuízo para as partes. O conteúdo decisório relevante, portanto, perfaz a linha divi-
sória entre os despachos e as decisões interlocutórias (cujo conceito é residual em relação
à sentença – art. 203, § 2º).
Ainda que haja divergência na doutrina e jurisprudência acerca desse conte-
údo decisório mínimo (ou essencial) nos despachos, há unanimidade em se afirmar
que são irrecorríveis, até mesmo diante da expressa dicção do art. 1.001 do Novo
Código.
Nesse sentido continua se manifestando o STJ: “(...) [n]a forma da jurisprudência
desta Corte, ‘não cabe agravo regimental contra despacho que determina o sobrestamento do
feito para aguardar o julgamento de recurso repetitivo, pois se trata de ato despido de conteúdo
decisório e que não gera sucumbência para quaisquer das partes (...)’”. (AgInt no AREsp
532.312/DF, 2ª T., j. 27.04.2017, rel. Min. Assusete Magalhães, DJe 04.05.2017).
No entanto, Daniel Amorim Assumpção NEVES entende que:
(...) a existência de prejuízo seja um elemento irrelevante para a distinção
entre decisão e despacho. Não vejo qualquer problema em aceitar que, ex-
cepcionalmente, um pronunciamento com conteúdo decisório mínimo seja
capaz de gerar um prejuízo às partes, hipótese em que deverá ser atacado
por meio do mandado de segurança. Também imagino a possibilidade de
uma decisão interlocutória que não gere qualquer prejuízo às partes, o que,
entretanto, não será suficiente para que tal pronunciamento seja considerado
como um despacho.
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(...) a utilização desta ação para impugnar atos do juiz, à luz do CPC/73,
tornou-se muito rara. Mas, à luz do novo sistema recursal, haverá hipóteses
não sujeitas à agravo de instrumento, que não podem aguardar até a solução
da apelação. Um bom exemplo é o da decisão que suspende o andamento
do feito em 1.º grau por prejudicialidade externa. Evidentemente, há gran-
des chances de que a parte prejudicada não possa esperar”. (Teresa Arruda
Alvim WAMBIER, Maria Lúcia Lins CONCEIÇÃO, Leonardo Ferres da
Silva RIBEIRO, Rogerio Licastro Torres de MELLO, Primeiros comentá-
rios ao novo código de processo civil, comentários ao art. 1.015, p. 1614).
Interessante notar, ainda, que a nova sistemática processual civil admitiu ex-
pressamente a existência de decisões parciais de mérito, verdadeiras “sentenças par-
ciais”, como ocorre, por exemplo, nas hipóteses de julgamento antecipado parcial do
mérito (v. art. 356). Nessas situações, por expressa opção legislativa, caberá recurso
de agravo de instrumento (§ 5º).
Entretanto, não se pode alterar o conteúdo de uma decisão com base única e
exclusivamente no recurso cabível contra ela. Como há muito preconizava a Profes-
sora Teresa ARRUDA ALVIM,
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Sentenças no CPC/2015
Encerrando o ciclo de debates acerca dos pronunciamentos do juiz, trataremos
brevemente das sentenças.
Sentença, conforme dispõe o art. 203, §1º, “é o pronunciamento por meio do qual o
juiz, com fundamento nos arts. 485 e 487, põe fim à fase cognitiva do procedimento comum,
bem como extingue a execução”. Andou bem o legislador ao preferir um critério misto
(conteúdo + finalidade) para a definição de sentença, aprimorando o conceito estabele-
cido na sistemática anterior, que levava em conta apenas e tão somente o critério do
conteúdo do pronunciamento judicial (v. CPC/73, art. 162, §1º).
Agora, a sentença é definida tanto por seu conteúdo (matérias elencadas nos
arts. 485 e 487), bem como por sua finalidade (extinção da execução ou encerramento
da fase de conhecimento). Como explicado no texto anterior, o CPC/2015 também
reconheceu, naquelas decisões que decidem o mérito propriamente dito, mas não
colocam fim ao procedimento, uma nova categoria, qual seja: decisões interlocutórias
de mérito.
Destaque-se que o art. 203, §1º, primeira parte, ressalva expressamente as
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Tutela Provisória
Consagrada no Livro V, da Parte Geral, do Novo Código de Processo Civil,
à tutela provisória, gênero do qual são espécies a tutela de urgência (cautelar ou
antecipada) e a tutela da evidência, são dedicados os artigos 294 a 311 (v. quadro
esquemático abaixo).
Em seus três títulos distintos, o aludido Livro do CPC/2015 trata das disposições
gerais à tutela provisória (Título I – arts. 294 a 299), da tutela de urgência (Título II: sub-
dividido em três capítulos – arts. 300 a 310) e da tutela da evidência (Título III – art. 311).
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Para a concessão da tutela de urgência, o juiz ainda poderá exigir caução real
ou fidejussória idônea para ressarcir os danos que a outra parte possa vir a sofrer,
podendo ser dispensada se a parte economicamente hipossuficiente não puder ofe-
recê-la (art. 300, § 1º).
Essa disposição se liga ao artigo 302, que estabelece as hipóteses nas quais,
sem prejuízo de eventual indenização por dano processual, a parte beneficiária da
tutela de urgência responderá pelos prejuízos que a efetivação da medida houver
causado à outra parte, quais sejam: (i) – quando a sentença lhe for desfavorável; (ii) –
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Tutela da Evidência
O artigo 311 do Novo Código trata especificamente da tutela da evidência,
destacando que, “independentemente da demonstração de perigo de dano ou de risco ao re-
sultado útil do processo”, a tutela da evidência será concedida nas seguintes hipóteses:
(...). Tais situações não se confundem, todavia, com aquelas em que é dado
ao juiz julgar antecipadamente o mérito (arts. 355 e 356), porquanto na
tutela de evidência, diferentemente do julgamento antecipado, a decisão
pauta-se em cognição sumária e, portanto, traduz uma decisão revogável e
provisória. (...). (Teresa Arruda Alvim WAMBIER, Maria Lúcia Lins CON-
CEIÇÃO, Leonardo Ferres da Silva RIBEIRO, e Rogerio Licastro Torres de
MELLO. Primeiros comentários ao novo código de processo civil: artigo
por artigo, comentários ao art. 311, p. 578).
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Petição Inicial
Responsável por despertar a atividade jurisdicional de sua inércia, o protocolo
da petição inicial marca o momento da propositura da demanda, surgindo para o réu,
a partir da citação válida, os efeitos processuais correspondentes (CPC/2015, arts. 2º,
240 e 312).
A esse respeito, exata a lição do Professor ARRUDA ALVIM:
A petição inicial é a peça escrita que, por meio de pedidos, veicula as pre-
tensões da parte autora. A palavra pretensão, que expressa afirmação de um
direito (art. 189 do CC/2002), é o desdobramento prático de como o autor
deseja que o seu interesse prepondere sobre o do réu. O autor define a sua
pretensão como representativa de interesse juridicamente protegido, o que,
por exclusão, implica ser a situação do réu tida por aquele como configura-
dora de mero interesse. Será a sentença, ao final, que confirmará, ou não, tal
definição, verificando se o autor tem ou não razão. (Novo contencioso cível
no CPC/2015, p. 154).
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O juiz, ao verificar que a petição inicial não preenche os requisitos dos arts.
319 e 320 ou que apresenta defeitos e irregularidades capazes de dificultar o
julgamento de mérito, determinará que o autor, no prazo de 15 (quinze) dias,
a emende ou a complete, indicando com precisão o que deve ser corrigido
ou completado.
Parágrafo único. Se o autor não cumprir a diligência, o juiz indeferirá a
petição inicial.
Pedido
O pedido constitui um dos elementos da ação, ao lado das partes e da causa
de pedir. Tratado pelo CPC/2015, nos arts. 322 e ss., pode-se dizer que o pedido é o
próprio núcleo do litígio.
Fundamentalmente, o pedido pode ser analisado sob dois aspectos, que cor-
respondem ao seu objeto, quais sejam: (i) imediato e (ii) mediato. O pedido imediato
corresponde à providência jurisdicional pretendida (por exemplo, a condenação do
réu ao pagamento de danos materiais e morais), enquanto o mediato, ao bem da vida
tutelado (reconstituição do patrimônio do autor, por exemplo).
Como regra geral, o pedido deve ser certo e determinado, ou seja, deve ser
explícito e específico em qualidade e quantidade, consoante determinação expressa
nos arts. 322 e 324, do CPC/2015, isso porque é o pedido que define os limites da lide
e posiciona o demandado no que diz respeito à defesa.
Entretanto, o legislador previu expressamente as hipóteses nas quais poderão
ser formulados pedidos implícitos e genéricos. Em decorrência do princípio da cau-
salidade, o art. 322, § 1º prevê que “compreendem-se no principal os juros legais, a correção
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(...). É que, com a dedução de uma demanda em juízo, o autor gera – no ór-
gão jurisdicional e no demandado – expectativas que devem ser levadas em
consideração no momento da interpretação do pedido. Assim, por exemplo,
se o autor passou toda a inicial a descrever um vício de consentimento de
um contrato, gera-se, tanto para o demandado como para o órgão jurisdi-
cional, a legítima expectativa de que aquela será uma demanda de anulação
do negócio jurídico. Pode ocorrer, porém, de o autor escrever, em seu texto,
que pretende a rescisão do contrato. O princípio da boa-fé, porém, exige
que tal pedido seja interpretado como a manifestação de uma pretensão de
anulação (e não de rescisão) do negócio. (O novo processo civil brasileiro,
p. 197-198).
Cabe ainda ressaltar que o pedido poderá ser alterado sem o consentimento do
réu, dependendo do momento processual, conforme prevê o art. 329 do CPC/2015.
Apreciando o tema, o FPPC editou o Enunciado nº 490 que dispõe sobre a
possibilidade de existir negócio jurídico processual prevendo a “anuência prévia para
aditamento ou alteração do pedido ou da causa de pedir até o saneamento”.
Reconvenção
Destacaremos quatro aspectos sobre o instituto da reconvenção, tratado pelo
art. 343, que entendemos importantes, quais sejam: (i) momento e forma adequados;
(ii) autonomia e recurso cabível; (iii) reconvenção subjetivamente ampliativa; e (iv)
reconvenção da reconvenção.
Na linha adotada pelo CPC/2015, de simplificação de procedimentos e garan-
tia de economia processual, a reconvenção deverá ser apresentada pelo réu na pró-
pria contestação, abrangendo pretensão própria conexa com a ação principal ou com
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Saneamento Compartilhado
O saneamento, totalmente reformulado pelo artigo 357 do CPC de 2015, resol-
ve algumas polêmicas doutrinário-jurisprudenciais e traz novas e interessantíssimas
possibilidades para as partes e o juiz melhor adequarem e direcionarem a produção
probatória àquilo que realmente interessa: os pontos controvertidos.
Segundo o aludido dispositivo legal, será o momento processual adequado
para, por exemplo, definir a distribuição (dinâmica) do ônus da prova (art. 373), con-
solidando entendimento pacificado no Superior Tribunal de Justiça de que se trata
de regra de instrução – e não de julgamento –, a evitar as chamadas “decisões-sur-
presa” no processo civil (STJ, REsp. 802.832/MG, 2ª S., j. 13.04.2011, rel. Min. Paulo de
Tarso Sanseverino, DJe 21.09.2011).
Nas observações de Cassio Scarpinella BUENO:
O art. 357 vai muito além do tímido art. 331 do CPC de 1973, cuja função
precípua, desde que passou a ser chamado, pela Lei n. 10.444/2002, de “audiên-
cia preliminar”, foi esquecida, máxime nos casos em que a realização daquela
audiência é, por ele mesmo, dispensada (art. 331, § 3º, do CPC de 1973). Ele
permite, outrossim, que abandonemos de vez a insuficiente nomenclatura em-
pregada na versão original do CPC de 1973 – e subsiste até o advento da referida
Lei de 2002 –, qual seja, “despacho saneador”. Nunca houve, é esta verdade, um
despacho saneador. O que havia era o proferimento de uma decisão, que nada
saneava mas, bem diferentemente, que reconhecia que o saneamento do proces-
so havia sido realizado a contento ou, quando menos, que determinava a prática
de atos em prol do saneamento. O CPC de 2015 vem para colocar as coisas no
seu devido lugar, e o art. 357 permite que a real finalidade deste instante procedi-
mental seja alcançado: saneamento (no sentido amplo que acabei de evidenciar)
e organização do processo com vistas a prepará-lo adequadamente para a fase
instrutória. (Manual de direito processual civil, p. 299).
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Prova Emprestada
À prova emprestada o Novo Código dedica o artigo 372.
Também conhecida como prova trasladada, prova emprestada é a prova
de um fato, produzida em determinado processo (por documentos, perícia, teste-
munhas, depoimento pessoal etc.), levada a outra demanda por meio de certidão.
Assim, sempre, a prova emprestada ingressará no novo procedimento na catego-
ria de prova documental (v. REsp 683.187/RJ, 3ª T., j. 08.11.2005, rel. Min. Nancy
Andrighi, DJ 15.05.2006).
Segundo o artigo 372 do CPC/2015: “O juiz poderá admitir a utilização
de prova produzida em outro processo, atribuindo-lhe o valor que considerar
adequado, observado o contraditório”.
Trata-se de norma sem correspondência no CPC/73, que não cuidou ex-
pressa e especificamente do tema. No entanto, o CPC/2015 foi sintético (até de-
mais), deixando de resolver antigas discussões acerca do tema.
O referido dispositivo utiliza o termo “processo”, esquecendo-se das pro-
vas produzidas em procedimentos administrativos como o inquérito policial, o
inquérito civil e outros procedimentos investigativos da competência do Minis-
tério Público.
Outra questão importante se relaciona ao respeito ao contraditório e à
identidade de partes. O CPC/2015 não esclarece se é imprescindível que haja
identidade de partes entre as demandas, nem se o contraditório deve ser obser-
vado no processo de origem, no processo de destino ou em ambos.
Fredie DIDIER JR., Paula Sarno BRAGA e Rafael OLIVEIRA destacam:
A doutrina identifica alguns critérios para a valoração da prova emprestada
pelo juiz.
A) A prova emprestada guarda a eficácia do processo em que foi colhida, na
conformidade do poder de convencimento que trouxer consigo: se se toma
de empréstimo uma perícia, a eficácia da prova emprestada será a de uma
perícia etc.
B) A eficácia e a aproveitabilidade da prova emprestada estão na razão in-
versa da possibilidade de sua reprodução: se a prova pode ser reproduzida,
sem maiores custos, a prova emprestada tem diminuído o seu valor proban-
te. (Curso de direito processual civil, V. 2, p. 134).
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Com a lavratura da ata notarial se impede, por exemplo, que alguma in-
formação deixe de ser documentada caso a página da internet seja retirada do ar ou
aquela foto e vídeo específicos sejam apagados no dia seguinte.
Além disso, inúmeros outros fatos podem ser provados por meio da ata
notarial, tais como: documentação do conteúdo de um e-mail, com informações de
quem envia e recebe, IP do computador, data e horário do envio etc.; documentação
de discussões e situações ocorridas no âmbito de reuniões societárias ou assembleias
de condomínio; documentação do fato de um pai ou de uma mãe não comparecer
para visitar seu filho ou filha nos dias de visita regulamentada; documentação do
barulho feito por um vizinho que sempre promove festas; documentação da entrega
de chaves de um imóvel locado; documentação de uma marca sendo utilizada inde-
vidamente por determinada empresa em seu site oficial; entre muitas outras.
Depoimento Pessoal
O artigo 385 do Novo Código assim dispõe: “Cabe à parte requerer o depoimento
pessoal da outra, a fim de que esta seja interrogada na audiência de instrução e julgamento,
sem prejuízo do poder do juiz de ordená-lo de ofício”.
Tradicionalmente, a doutrina faz a distinção entre interrogatório (juiz deter-
mina o comparecimento da parte a fim de ser interrogada para esclarecer fatos que
tenham relação com a demanda) e depoimento pessoal (meio de prova no qual uma
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Assim, além dos incisos I e II, que não são novidades, os incisos III e IV trazem
hipóteses de exclusão do dever de depor relacionadas à previsão dos incisos II e III
do artigo 229 do Código Civil (“Ninguém pode ser obrigado a depor sobre fato: I - a
cujo respeito, por estado ou profissão, deva guardar segredo; II - a que não possa res-
ponder sem desonra própria, de seu cônjuge, parente em grau sucessível, ou amigo
íntimo; III - que o exponha, ou às pessoas referidas no inciso antecedente, a perigo de
vida, de demanda, ou de dano patrimonial imediato”).
Conforme se observa da comparação entre os aludidos artigos, o CPC/2015
incluiu o companheiro ao lado do cônjuge e somente não encampou a exclusão do
dever de depor prevista no Código Civil nos casos de exposição da parte ou de seu
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Confissão
A confissão está prevista nos artigos 389 a 395 do Novo Código.
Confissão
(...) é a declaração de conhecimento de fatos contrários ao interesse de quem
a emite. (...). Quem admite a veracidade de uma alegação controvertida de
fato contrário a seus interesses (art. 348) está oferecendo ao juiz elementos
para formar sua própria convicção, livremente (art. 131), podendo este até
concluir de forma diversa se o contexto das provas a isso conduzir (...).
(Cândido Rangel DINAMARCO, Vocabulário do processo civil, p. 100).
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(...) nos casos em que: (i) for inadmissível a confissão como meio de prova
(art. 392 do CPC); (ii) o único meio de prova admissível for o instrumento
público (art. 406, CPC); (iii) por outro modo o documento ou a coisa foi
exibida (p. ex., outra pessoa o juntou aos autos); (iv) o pedido de exibição
foi impugnado por um litisconsorte, no caso de a exibição ter sido pedida
contra mais de uma pessoa; (v) houver, nos autos, elementos de prova sufi-
cientes para afastar a presunção de que são verídicos os fatos que se queria
provar. (Curso de direito processual civil. V. 2, p. 238).
Prova Documental
A prova documental foi extensamente tratada nos artigos 405 a 438 do CPC
de 2015.
Muito embora também no Novo Código a prova continue sendo valorada li-
vremente pelo magistrado, desde que o faça motivadamente – sistema do livre con-
vencimento motivado (CPC, art. 131 e CPC/2015, art. 371 – não se adota no Brasil,
há tempos, sistema algum de prova tarifada, no qual a lei estabelece previamente
o valor de cada meio de prova) – a prova documental, na prática, é culturalmente
muito utilizada e muito valorizada.
Isto porque o documento é algo consolidado, seguro, consistente.
Sobre as novidades trazidas no CPC/2015, destacamos três tópicos importan-
tes, quais sejam: (i) arguição de falsidade documental; (ii) juntada de documentos
novos no processo; (iii) e utilização de documentos eletrônicos.
A arguição de falsidade documental deverá ser suscitada na contestação, ré-
plica ou no prazo de 15 dias contados a partir da intimação da juntada aos autos
do documento (CPC/2015, art. 430, caput). A outra parte terá também 15 dias para
resposta, findo o qual será determinada prova pericial (art. 432). Evita-se, assim, a
criação de incidentes processuais desnecessários, como ocorrerá também com a ale-
gação de incompetência relativa, agora a ser suscitada também em preliminar de
contestação (CPC/2015, art. 337, ii).
Além disso, a falsidade será resolvida como questão incidental, salvo se a par-
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Art. 435. É lícito às partes, em qualquer tempo, juntar aos autos documentos
novos, quando destinados a fazer prova de fatos ocorridos depois dos articu-
lados ou para contrapô-los aos que foram produzidos nos autos.
Parágrafo único. Admite-se também a juntada posterior de documentos
formados após a petição inicial ou a contestação, bem como dos que se
tornaram conhecidos, acessíveis ou disponíveis após esses atos, cabendo
à parte que os produzir comprovar o motivo que a impediu de juntá-los
anteriormente e incumbindo ao juiz, em qualquer caso, avaliar a conduta da
parte de acordo com o art. 5º.
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Prova Testemunhal
A prova testemunhal é tratada especificamente nos artigos 442 a 463.
Inobstante os diversos pontos ainda a serem debatidos, sob o aspecto prático,
podem ser destacados os seguintes: (i) prazo para apresentação do rol de testemu-
nhas; (ii) dever do advogado de intimar as testemunhas arroladas a comparecerem
na audiência; e (iii) possibilidade de perguntas diretas das partes às testemunhas.
Sobre o prazo de apresentação do rol de testemunhas, o artigo 451 do CPC/2015
faz referência ao disposto no artigo 357, §§ 4º e 5º, que, por sua vez, trata da apresen-
tação do rol de testemunhas no prazo comum não superior a 15 dias, a ser fixado
pelo juiz, no caso de haver sido determinada a produção de prova testemunhal. En-
tretanto, no caso de ter sido designada audiência para o saneamento compartilhado
da demanda, as partes deverão levar, para a audiência prevista, o respectivo rol de
testemunhas, até mesmo para que, em cooperação com a parte contrária e com o
juízo, seja discutida a necessidade da produção de prova testemunhal no caso con-
creto, bem como, por exemplo, já sejam excluídas eventuais testemunhas incapazes,
impedidas ou suspeitas.
Trata-se de novidade muito importante no CPC/2015, a consagrar o princípio
da cooperação na prática processual, evitando desperdício de tempo por parte de
todos os sujeitos processuais e focalizando na resolução do mérito da questão objeto
de análise.
O artigo 455 do Novo Código estabelece expressamente que “cabe ao advogado
da parte informar ou intimar a testemunha por ele arrolada do dia, da hora e do local da audi-
ência designada, dispensando-se a intimação do juízo”. O parágrafo primeiro do mesmo
dispositivo ainda acrescenta que essa intimação deverá ser realizada por carta (com
AR), cumprindo ao advogado juntar aos autos, com antecedência de pelo menos 03
dias da data da audiência, cópia da correspondência de intimação e do comprovante
de recebimento. Por fim, poderá, ainda, a parte, comprometer-se a levar a testemunha
arrolada independentemente de intimação, tal como ocorre atualmente no âmbito
dos Juizados Especiais Cíveis (Lei Federal nº 9.099/95, art. 34, caput), presumindo-se,
entretanto, caso a testemunha não compareça, que a parte desistiu de sua inquirição.
Observa-se, diante disso, que o CPC/2015 buscou prestigiar a celeridade e a
boa-fé processuais, assim como, novamente, a cooperação dos sujeitos processuais,
que se tornam responsáveis por levar as testemunhas que arrolou à audiência de
instrução, evitando-se o recurso à burocracia estatal.
Por fim, interessante alteração permitirá, segundo o artigo 459 do Novo Có-
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A opção do CPC/2015 foi a de elencar diversas situações nas quais não será
considerada fundamentada a decisão judicial, seja ela interlocutória, sentença ou
acórdão. Dentro desse contexto, portanto, é que aparecem as 06 hipóteses contidas
no art. 489, § 1º do Novo Código.
Expressão cunhada pelos Professores Teresa Arruda Alvim WAMBIER, Ma-
ria Lúcia Lins CONCEIÇÃO, Leonardo Ferres da Silva RIBEIRO e Rogerio Licastro
Torres de MELLO (v. Primeiros comentários ao novo código de processo civil: artigo por
artigo, comentários ao art. 489, p. 875), a decisão “vestidinho preto” é exemplo cari-
cato de decisão não fundamentada, nos exatos termos do art. 489, § 1º, inciso III, do
Novo Código, que assim dispõe expressamente: “Art. 489. (...) § 1º. Não se considera
fundamentada qualquer decisão judicial, seja ela interlocutória, sentença ou acórdão, que: (...)
III - invocar motivos que se prestariam a justificar qualquer outra decisão; (...)”.
Infelizmente a experiência cotidiana mostra o deferimento de uma tutela pro-
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Remessa Necessária
A remessa necessária, ou reexame necessário como ficou conhecido no
CPC/73 (art. 475), encontra espaço no artigo 496 do CPC/2015, que está inserido no
Capítulo XIII, “Da Sentença e da Coisa Julgada”.
A ideia é bastante simples: não produzirá efeitos senão após confirmada
pelo tribunal (duplo grau de jurisdição obrigatório), a sentença: (i) proferida contra
a União, os Estados, o Distrito Federal, os Municípios e suas respectivas autarquias
e fundações de direito público; e (ii) que julgar procedentes, no todo ou em parte, os
embargos à execução fiscal.
Nesses casos, ultrapassado o prazo de 15 dias para a interposição de recurso
de apelação (lembre-se de que os prazos recursais, à exceção dos embargos de de-
claração – 05 dias –, foram unificados em 15 dias – CPC/2015, art. 1.003, § 5º), o juiz
ordenará o envio dos autos ao tribunal respectivo. Se não o fizer, o presidente do
aludido tribunal poderá avocar a demanda.
Até esse ponto, não há muita novidade além das alterações terminológicas.
As inovações aparecem nos §§ 3º e 4º do artigo 496, que trazem exceções à remessa
necessária.
Em um primeiro momento, em vez dos antigos 60 salários mínimos como
parâmetro geral (CPC/73, art. 475, § 2º), o CPC/2015 utiliza três critérios diferentes
tendo como base o valor da condenação ou do proveito econômico obtido, fazendo,
ainda, distinções entre os entes federativos.
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A esses requisitos previstos nos incisos I e II, do § 1º, do art. 503 (somados também à
competência do juízo em razão da matéria e da pessoa para resolver a questão prejudicial
como questão principal – art. 503, § 1º, inciso III), deve-se acrescentar o do § 2º do mesmo dis-
positivo, que diz não se aplicar o disposto no parágrafo anterior (não fazendo coisa julgada
a decisão sobre a questão prejudicial, portanto) se no processo houver restrições probatórias
ou limitações à cognição que impeçam o aprofundamento da análise da questão prejudicial.
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Cumprimento de Sentença
O Novo Código de Processo Civil preferiu ser extremamente didático no tra-
tamento das diversas hipóteses de cumprimento de sentença, diferenciando-as dos
procedimentos previstos para as execuções fundadas em títulos executivos extraju-
diciais (processo de execução) e mantendo o cumprimento de sentença como mais
uma fase do processo (sincrético).
Nesse sentido, o Título II, do Livro I, da Parte Especial do CPC/2015, trata “Do Cumpri-
mento da Sentença”, subdividindo-se, ainda, em seis Capítulos distintos, quais sejam: “Dis-
posições Gerais” (arts. 513 a 519); “Do Cumprimento Provisório da Sentença que Reconhece
a Exigibilidade de Obrigação de Pagar Quantia Certa” (arts. 520 a 522); “Do Cumprimento
Definitivo da Sentença que Reconhece a Exigibilidade de Obrigação de Pagar Quantia Certa”
(arts. 523 a 527); “Do Cumprimento da Sentença que Reconhece a Exigibilidade da Obrigação
de Prestar Alimentos” (arts. 528 a 533); “Do Cumprimento da Sentença que Reconhece a Exi-
gibilidade de Obrigação de Pagar Quantia Certa pela Fazenda Pública” (arts. 534 e 535); e, por
fim, “Do Cumprimento da Sentença que Reconhece a Exigibilidade de Obrigação de Fazer,
de Não Fazer e de Entregar Coisa” (arts. 536 a 538).
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Prisão Civil
Didaticamente, o Novo Código preferiu expressamente se referir, em capítu-
los distintos, ao cumprimento de sentença que reconhece a exigibilidade de obriga-
ção de prestar alimentos (arts. 528 a 533) e à execução de alimentos fundada em título
executivo extrajudicial (arts. 911 a 913), deixando clara a possibilidade de aplicação
da prisão civil, de 01 a 03 meses, para ambos os casos e procedimentos (arts. 528, §
3º e 911, parágrafo único – com a ressalva que, no caso de cumprimento de sentença,
além da decretação da prisão, o juiz também determinará o protesto do pronuncia-
mento judicial na forma do § 1º do art. 528).
Sobre o tema, destaca-se que o CPC/2015, em seu art. 1.072, V, revoga expres-
samente os arts. 16 a 18 da Lei Federal nº 5.478/68 (Lei de Alimentos), deixando acesa,
portanto, a discussão sobre a aplicação do prazo de prisão previsto no art. 19 desse
Diploma Legal (que é menor: de até 60 dias).
O devedor de alimentos será intimado pessoalmente para, no prazo de 03 dias,
“pagar o débito, provar que o fez ou justificar a impossibilidade de efetuá-lo” (CPC/2015, art.
528, caput), ou será citado para, no mesmo prazo de 03 dias, “efetuar o pagamento das
parcelas anteriores ao início da execução e das que se vencerem no seu curso, provar que o fez
ou justificar a impossibilidade de fazê-lo” (art. 911, caput).
Independentemente de se tratar de título judicial ou extrajudicial, o art. 528,
§ 7º do Novo Código (repita-se, também aplicável à execução de alimentos funda-
da em título executivo extrajudicial – CPC/2015, art. 911, parágrafo único) esclarece
que “O débito alimentar que autoriza a prisão civil do alimentante é o que compreende até
as 3 (três) prestações anteriores ao ajuizamento da execução e as que se vencerem no curso do
processo”.
Nesse sentido, na nossa visão, a expressão “anteriores ao ajuizamento da exe-
cução” deve ser lida da seguinte forma: anteriores à deflagração do início da fase de
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Com esse novo tratamento, algumas polêmicas anteriores são sanadas. Den-
tre elas, destacamos a possibilidade de prisão civil, agora viável, nos casos
de alimentos fixados em escritura pública de divórcio, o que gerava tormen-
tosa discussão entre civilistas e processualistas. (Ibid., p. 442).
Ainda, cabe dizer que a prisão civil será cumprida em regime fechado, devendo o pre-
so ficar separado dos presos comuns (CPC/2015, art. 528, § 4º). Além disso, o cumprimento da
pena não eximirá o executado do pagamento da dívida alimentar vencida e vincenda (§ 5º) e,
106
(...). Não faz sentido, sob a ótica do CPC/2015, distinguir alimentos pro-
visórios de provisionais, a uma, porque acertadamente a tutela cautelar e a
antecipação de tutela receberam tratamento uníssono, decorrente do mesmo
regime jurídico; a duas, porque, como bem esclarece Cassio Scarpinella
Bueno (Curso sistematizado de direito processual civil. V. 3, p. 369), deve
ser admitida uma classificação mais afinada aos fins processuais, de forma
que os alimentos definitivos são aqueles devidos por força de tutela juris-
dicional ulterior e definitiva, enquanto os provisórios e/ou provisionais são
aqueles devidos por força de uma tutela sumária e provisória. O CPC/2015
perdeu uma excelente chance de permitir expressamente a incidência das
normas deste Capítulo aos alimentos “independentemente de sua origem”,
para acabar com uma intensa discussão doutrinária. Deveria, a nosso ver, ser
possibilitada a prisão civil e o desconto em folha, também aos voluntários
ou indenizativos. (Primeiros comentários ao novo código de processo civil:
artigo por artigo, comentários ao art. 531, p. 973).
Separação e Divórcio
Em praticamente todos os momentos nos quais o CPC/2015 menciona o di-
vórcio como forma de extinção do vínculo conjugal entre duas pessoas, também faz
alusão à separação judicial (arts. 23, III, 53, I, 189, II e § 2º, 693, e 731 a 733).
De um lado estão os que enxergam nisso,
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Processo de Execução
O procedimento da execução (autônoma) fundada em título executivo extra-
judicial está regulado pelo Livro II, da Parte Especial do CPC/2015.
Em seus quatro Títulos, a matéria é abordada da seguinte forma: “Da Execu-
ção em Geral” (Título I – CPC/2015, arts. 771 a 796); “Das Diversas Espécies de Exe-
cução” – entrega de coisa, fazer ou não fazer, execução por quantia certa, execução
por quantia certa contra Fazenda Pública e execução de alimentos (Título II – arts.
797 a 913); “Dos Embargos à Execução” (Título III – arts. 914 a 920); e “Da Suspensão
e Extinção do Processo de Execução” (Título IV – arts. 921 a 925).
Logo no primeiro artigo (771) se encontra presente a possibilidade de aplica-
ção subsidiária das normas do processo de execução, no que couber, também “aos
procedimentos especiais de execução, aos atos executivos realizados no procedimen-
to de cumprimento de sentença, bem como aos efeitos de atos ou fatos processuais a
que a lei atribuir força executiva”.
O art. 772, por sua vez, acrescenta ao rol do artigo 599 do CPC/73, a determi-
nação “que sujeitos indicados pelo exequente forneçam informações em geral rela-
cionadas ao objeto da execução, tais como documentos e dados que tenham em seu
poder, assinando-lhes prazo razoável” (inciso III).
Dentre os atos atentatórios à dignidade da justiça (CPC/2015, art. 774), pas-
síveis de punição por multa não superior a 20% do valor atualizado do débito em
execução, a ser revertida em proveito do exequente (parágrafo único), inclui-se a con-
duta comissiva ou omissiva do executado que “dificulta ou embaraça a realização
da penhora” (inciso III), além de complementar a já existente conduta do executado
116
Com esse novo tratamento, algumas polêmicas anteriores são sanadas. Den-
tre elas, destacamos a possibilidade de prisão civil, agora viável, nos casos
de alimentos fixados em escritura pública de divórcio, o que gerava tormen-
tosa discussão entre civilistas e processualistas. (O Novo CPC e o direito
civil: impactos, diálogos e interações, p. 442).
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Embora não se tenha esperança de que o STJ irá seguir a orientação da Mi-
nistra Nancy Andrighi e rever o seu posicionamento quanto à fraude à execução,
parece-nos que o Novo Código servirá, ao menos, para revogar a segunda parte do
Enunciado nº 375 da Súmula do Tribunal da Cidadania, justamente em virtude do
disposto no supramencionado art. 792, § 2º.
Nesse sentido, resumindo as correntes que se formaram sobre o tema, Teresa
Arruda Alvim WAMBIER, Maria Lúcia Lins CONCEIÇÃO, Leonardo Ferres da Sil-
va RIBEIRO e Rogerio Licastro Torres de MELLO:
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Precedentes
Uma das maiores expectativas em relação ao Novo Código de Processo Civil
é, sem dúvida, o seu impacto em relação à uniformização de entendimentos acerca
de teses jurídicas.
Sairemos das tramas da conhecida “jurisprudência lotérica”? Conseguiremos
encontrar a “fórmula mágica” para unir segurança jurídica, celeridade, efetividade
e igualdade processuais? Teremos, enfim, um Poder Judiciário minimamente previ-
sível?
É precisamente dentro desse contexto que se insere o art. 926 do Novo Código,
dispondo expressamente que: “Os tribunais devem uniformizar sua jurisprudência e
mantê-la estável, íntegra e coerente”.
Desse dispositivo decorrem dois deveres-poderes básicos para os tribunais: (i)
uniformizar seus entendimentos (uma vez que o próprio conceito de jurisprudência
– prudência do direito – já pressupõe a uniformidade como característica); e (ii) man-
ter a estabilidade, integridade e coerência dessa uniformização.
De nada adianta uniformizar os entendimentos através de súmulas persuasi-
vas, por exemplo, se elas conflitam entre si ou permitem interpretações contraditó-
rias acerca de teses jurídicas que se tangenciam.
A previsibilidade da atuação do Poder Judiciário encontrará, dentro desse ce-
nário, terreno fértil para, de um lado, impedir demandas fundadas em entendimen-
tos já consolidados (em relação aos quais as partes e os advogados saberão, de plano,
se ganharão ou perderão determinado litígio; além de possuírem a firme convic-
ção de que esse entendimento consolidado não será alterado pela simples mudança
de composição do tribunal) e, de outro, em relação aos aspectos jurídicos, pautar a
conduta da sociedade (comportamento humano) em direção àquilo que se entende
por correto, justo e honesto, ainda que dentro de um período histórico determinado
(tempo e espaço).
Se óbvia é a dinamicidade do fenômeno social, também deveria o ser a neces-
sidade de definição de parâmetros (ainda que transitórios) de conduta humana para
123
Podendo, ainda, haver modulação dos efeitos dessa decisão pela superação do
entendimento consolidado (§ 3º – overrulling).
JURISPRUDÊNCIA DEFENSIVA
Muito se fala acerca de uma expressão utilizada pelo Ministro Humberto Go-
mes de Barros que, por ocasião de sua posse como Presidente do STJ, no ano de 2008,
disse que “o STJ adotou a denominada ‘jurisprudência defensiva’ consistente na criação de
entraves e pretextos para impedir a chegada e o conhecimento dos recursos que lhes são dirigi-
dos” Confira no link abaixo a íntegra desta Resolução:
<https://bdjur.stj.jus.br/jspui/bitstream/2011/16933/Discurso_Posse_
Gomes%20de%20Barros.pdf?inf_contact_key=516b51139029d4dcb1e2afd25ee-
2609b7ad9fb778a0598f20918a929763ab11f>.
Em diversos dispositivos, o CPC/2015 procurou extirpar do sistema proces-
sual civil as possibilidades de utilização desses mecanismos, altamente nocivos aos
jurisdicionados de um modo geral.
124
Teria sido muito mais fácil seguir a orientação do Professor Dinamarco, uti-
lizando a nova mentalidade já durante a vigência do CPC/1973. No entanto, parece
que precisávamos de uma reforma legislativa, o que, felizmente, veio a ocorrer em
2015.
Agora, com a licença para a paráfrase, mãos à obra: é preciso (a) de um lado,
extrair a máxima utilidade possível das interpretações – coerentes e sistemáticas – em
relação ao CPC/2015; e (b) de outro, esperar com sinceridade – e contribuir também
para isso – que haja uma mudança da cultura jurídica no Brasil em direção à instru-
mentalidade e efetividade processuais, dispensando-se formalismos inúteis e discus-
sões acadêmicas infrutíferas.
Nesse sentido, louvável a atitude do Pleno do STJ que, na data de ontem,
06/12/2017, aprovou a proposta de Emenda Regimental nº 75/2017, que promove
125
Dessa forma, feita a necessária e firme crítica ao dispositivo, que terá de ser
interpretado de maneira sistemática e coerente em relação aos demais dispositivos
do Novo Código, resta, por fim, salientar outra importante novidade contida nesse
mesmo dispositivo (art. 937), que é a possibilidade de sustentação oral por meio de
videoconferência, esta sim, por sua vez, digna apenas de elogios.
127
Por outro lado, embora não faça parte do chamado “microssistema de resolu-
ção de casos repetitivos”, ao qual alude o art. 928 do CPC/2015 (v. também o Enun-
ciado nº 334 do FPPC), o IAC tem o condão de vincular todos os juízes e órgãos
fracionários (§ 3º), a exemplo do que também ocorre com o incidente de resolução
de demandas repetitivas (IRDR), uniformizando-se posicionamentos jurídicos (pelo
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Por fim, concedido o exequatur à carta rogatória, ela será automaticamente re-
metida ao Juízo Federal competente para cumprimento (RISTJ, art. 216-V), o que
nos parece dispensar pedido autônomo nesse sentido (CPC/2015, art. 965, parágrafo
único).
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Este dispositivo estabelece o termo final da ação rescisória. Com isso, resolve
o problema que nasce do fato de haver, no mesmo processo, decisões que re-
solvem pretensões do autor em momentos diversos (ou do réu, se se tratar de
reconvenção) e não transitam em julgado ao mesmo tempo. Isto ocorre também
no caso de as pretensões serem resolvidas ao mesmo tempo, mas o recurso in-
terposto dizer respeito só a uma delas, passando a operar a coisa julgada sobre
as demais, de que não se recorreu. O termo final, diz a nova lei, é o último dia
do segundo ano contado a partir da última decisão que transitou em julgado. E
o termo inicial será variável, em função da decisão que se pretenda rescindir.
Isto significa que só a última decisão transitada em julgado terá 2 anos para ser
rescindida. As outras, terão mais do que isso. A nosso ver, trata-se de excelente
e criativa solução: a rescisória pode ser movida desde logo. Mas o prazo não
se esgota, se o autor da eventual rescisória preferir esperar que haja trânsito em
julgado de todas as decisões. No entanto, a competência pode variar, em fun-
ção do órgão em que transitou em julgado a decisão que se pretende rescindir,
podendo haver, portanto, afinal, várias rescisórias concomitantes. (Primeiros
comentários ao novo código de processo civil: artigo por artigo, comentários
ao art. 975, p. 1549).
135
A regra, portanto, prevista no art. 966, § 3º, do CPC/2015, não é nova no siste-
ma, mas nunca havia sido colocada de forma expressa na lei, lembrando que, em ter-
mos de competência, deverá sempre ser observado o órgão jurisdicional que proferiu
o capítulo rescindendo (Enunciado nº 337 do FPPC).
136
Conforme expresso nos artigos 928, 976 a 987 e 1.036 a 1.041, todos do
CPC/2015, e entendimento consolidado no Enunciado nº 345 do Fórum Permanente
de Processualistas Civis (FPPC),
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Deliberaram, por maioria, pela não suspensão dos processos em curso, nos
termos da proposta do Relator: “Na forma do art. 985 do CPC, as teses
aprovadas sejam aplicadas a todos os processos individuais e coletivos pen-
dentes, ou casos futuros que versem sobre as mesmas questões de direito no
Estado de São Paulo, inclusive nos juizados especiais. Não é o caso de se
determinar a suspensão dos processos em curso, tema já deliberado por oca-
sião da decisão que admitiu o IRDR, e por mais de uma razão: (i) primeiro,
porque as teses ora firmadas referendam súmulas de jurisprudência deste
Tribunal de Justiça, com alteração apenas de redação; (ii) segundo, porque
se escoou o prazo ânuo do art. 980 do CPC/2015. Eventuais recursos espe-
cial ou extraordinário serão dotados de efeito suspensivo dos efeitos deste
Acórdão (art. 987 CPC/2015), sem que isso implique, porém, a paralisação
de processos cujo prosseguimento foi autorizado por esta Turma Julgadora
ao admitir o incidente”.
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O tema é enfrentado pelo legislador brasileiro entre os arts. 994 a 1.044 do Có-
digo de Processo Civil de 2015.
De forma esquemática, temos:
Este último capítulo, ainda, restou subdividido da seguinte maneira:
O recurso (re-curso = novo curso), pois, representa verdadeira extensão da de-
manda e do direito de ação propriamente dito, sendo que, dada a bilaterialidade do pro-
cesso, também é um ônus do réu quando sucumbente – e até mesmo do Ministério
Público e de terceiros prejudicados.
Necessário e, ao mesmo tempo, alvo de inúmeras críticas, o sistema recursal
brasileiro aparece transformado pelo CPC de 2015, que já nasce nitidamente preocu-
pado com a criação de bases para uma teoria do precedente judicial (v. arts. 926 a 928).
José Carlos BARBOSA MOREIRA, mais uma vez, mesmo comentando a siste-
mática processual civil revogada, parecia estar escrevendo nos dias atuais:
Na realidade, a utilização das vias recursais pode explicar-se por uma série
de razões extremamente diversificadas – desde a sincera convicção de que
o órgão a quo decidiu de maneira errônea, até o puro capricho ou espíri-
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A remessa necessária, prevista no art. 496 do CPC, não é espécie recursal listada
no rol do art. 994, mas sim “condição suspensiva para a eficácia da sentença – ou para a
formação da coisa julgada – que seja contrária a entes públicos”. (ARRUDA ALVIM, Novo
contencioso cível no CPC/2015, p. 451).
Via de regra, também não é possível que a interposição de um recurso repre-
sente malefício para o recorrente, de modo a piorar a sua situação processual (proi-
bição de reformatio in pejus – “reforma para pior”). Isso poderá resultar do recurso da
parte contrária, por óbvio, ou de situações processuais inevitáveis, tal como a previs-
ta no art. 1.013, § 3º, inciso I, do CPC (amplo efeito devolutivo da apelação).
A dialeticidade, por sua vez, refere-se à necessidade de as razões recursais con-
versarem, dialogarem com a decisão recorrida, esclarecendo exatamente aqueles
pontos sobre os quais incidirá a irresignação.
Muito pertinente a observação do Professor ARRUDA ALVIM:
Por fim, deve-se prestigiar a tônica dada pelo CPC de 2015 à sanabilidade dos
vícios processuais, notadamente na seara recursal. Observe-se, por exemplo, o que está
disposto no art. 932, parágrafo único do Código:
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Da mesma forma, cristalina a redação do art. 1.007, § 7º, que assim dispõe in
verbis:
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De outra parte, quanto aos embargos infringentes, foram substituídos por uma
técnica de julgamento, prevista no art. 942, que ocorrerá independentemente de pedido
das partes:
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Outra importante novidade fica por conta da sanabilidade dos vícios processuais,
sejam eles absolutos ou relativos, notadamente, no âmbito recursal, pelo que está
expressamente disposto no art. 932, parágrafo único, após o elenco dos poderes do
relator: “Art. 932. (...) Parágrafo único. Antes de considerar inadmissível o recurso, o relator
concederá o prazo de 5 (cinco) dias ao recorrente para que seja sanado vício ou complementada
a documentação exigível”.
Por fim, outro ponto de especial destaque, qualquer que seja o tema objeto de
estudo dentro do direito processual civil contemporâneo, é a criação das bases de
uma teoria brasileira do precedente judicial que, ao mesmo tempo em que diz expressa-
152
Quanto ao rol [do art. 927], cabe fazer algumas considerações. A primeira
delas é que as decisões do STF em controle concentrado e a súmula vincu-
lante já são, por força do que diz a Constituição, de observância obrigatória
por todos os órgãos jurisdicionais do País. Nesse ponto, não há ‘novidade’
no CPC quanto à vinculação – embora o código estabeleça, sim, técnicas
novas de utilização destas decisões ao longo do procedimento. Já os acór-
dãos em incidente de assunção de competência, de resolução de demandas
repetitivas e de recursos repetitivos são parte dos novos mecanismos de uni-
formização e estabilidade da jurisprudência. Só há sentido, no sistema do
CPC/2015, em criar estas técnicas se as decisões delas resultantes tiverem
observância obrigatória. Já os enunciados de súmula do STJ e do STF e a
orientação do plenário ou órgão especial dos tribunais dão com o CPC/2015
um verdadeiro salto de normatividade. Se durante a vigência do CPC/1973
a força destas decisões era meramente persuasiva, com o código de 2015
elas tendem a se equiparar à sumula vinculante, sob a ótica de sua obrigato-
riedade em relação aos julgamentos proferidos no Poder Judiciário. Seguir
a orientação das súmulas e do órgão especial dos tribunais, de uma atitude
sistêmica desejada, passa a ser algo exigido por lei. Daí a elevada força da
jurisprudência e a grande novidade do código nesse particular. A doutrina
costuma relacionar essa maior importância da jurisprudência como uma in-
fluência dos sistemas jurídicos de common law, notadamente da Inglaterra
e dos Estados Unidos. Lá, vige a regra dos precedentes judiciais, que em
alguma medida é reproduzida pelo CPC/2015. No entanto, não se pode di-
zer que as técnicas brasileiras são próximas ou se assemelham, a um sistema
de precedentes, em especial pela raiz histórica muito diversa relacionada a
um e outra tradição jurídicas. Embora essa correlação seja um interessante
ponto de partida para analisar o papel da jurisprudência no desenvolvimento
do Direito, é de se reconhecer que mesmo nos países de civil law o com-
portamento dos tribunais tem marcante importância, em especial como pa-
râmetro interpretativo, mesmo que não vinculante. De toda forma e com as
devidas adaptações, o CPC/2015 estabelece um regime de vinculação dos
juízes às decisões judiciais de cortes superiores – às quais se pode, no uso
corriqueiro do cotidiano forense, chamar de precedentes. Nesse aspecto, são
‘precedentes’ (decisões formalmente vinculantes) apenas os pronunciamen-
tos que se enquadrarem no rol do art. 927 do CPC/2015. (Novo contencioso
cível no CPC/2015, p. 523-525).
Resta agora saber se isso será suficiente para finalmente se encontrar o equi-
líbrio perfeito entre segurança jurídica, isonomia e celeridade no processo civil bra-
sileiro.
153
Quanto às partes, não há muitas complicações; aquele que figura como au-
tor ou réu é sempre legitimado a recorrer. O mesmo ocorre com o Ministério
Público, quando for parte. Quando, por outro lado, atuar como fiscal da or-
dem jurídica poderá recorrer como interveniente, sempre que demonstrar a
necessidade de exercer sua função de preservação da ordem jurídica. Quan-
to aos litisconsortes ativos ou passivos, cada um deles é legitimado a recor-
rer (art. 997 do CPC/2015), independentemente da espécie de litisconsórcio.
O terceiro prejudicado pela decisão pode recorrer também, via de regra,
nas situações em que já poderia ter intervindo no processo anteriormente,
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Além disso, também urge esclarecer, desde logo, no plano prático, a diferença
abissal entre a forma de argumentação no bojo dos recursos ordinários lato sensu e
dos recursos extraordinários (ou excepcionais) lato sensu. Nos primeiros, almeja-se a
anulação, o esclarecimento ou a reforma da decisão recorrida. Nos recursos excep-
cionais, busca-se, em primeiro lugar, a proteção da coerência sistêmica, a “denúncia”
de uma violação ao ordenamento jurídico, ferido em sua integridade. A anulação ou
reforma da decisão recorrida, nesses casos, é consequência secundária que também
decorrerá do provimento recursal.
Ainda, o estudo da estrutura textual é básica para qualquer recurso. Alguns são
direcionados para o próprio órgão jurisdicional que proferiu a decisão recorrida: (i)
seja porque ele tem competência para julgar o recurso (ex.: embargos de declaração);
(ii) seja porque ele está encarregado por lei de construir o contraditório e encaminhar
o recurso à instância superior (exs.: apelação, recurso ordinário e agravos nos recur-
sos excepcionais); ou (iii) seja porque ele fará uma das etapas do juízo de admissibi-
lidade antes de encaminhar ao órgão competente para julgamento do recurso (exs.:
recursos especial e extraordinário).
Outros recursos, por sua vez, representam verdadeira via direta ao órgão com-
petente para o seu julgamento, como é o caso claro e muito comum do recurso de
agravo de instrumento. Nesses casos, nunca é demais relembrar que necessitam
estar acompanhados de peças básicas que possibilitem ao órgão julgador entender
o caso e fazer a necessária reanálise. Na maioria dos casos, ainda mais agora com
a ampliação do processo eletrônico pelo país, a preocupação se restringe a fazer o
download das peças necessárias.
Por fim, muito embora existam regras muito explícitas no CPC acerca da pos-
sibilidade de correção de vícios formais no âmbito recursal (regra geral no art. 932,
parágrafo único), a incluir o preenchimento incorreto da guia de custas (v. art. 1.007,
§7º), é sempre bom estar atento aos valores e códigos correspondentes na hora de
comprovar o preparo recursal.
156
Recurso Adesivo
Antes tratado no art. 500 do CPC/1973, o conhecido recurso adesivo também
aparece no CPC/2015 em seu art. 997, §2º, sendo, agora, admissível na apelação, no
recurso extraordinário e no recurso especial (inciso II).
Tecnicamente, não se trata de uma nova espécie recursal, por óbvio, consti-
tuindo, em verdade, uma forma especial de interposição desses recursos (apelação,
RE e REsp) no prazo em que a parte dispõe para responder.
O Novo Código deixa de mencionar os embargos infringentes, tendo em vista
que atualmente configuram espécie recursal extinta (v. rol do art. 994), notadamen-
te em função da adoção da técnica de julgamento prevista no vigente art. 942 do
CPC/2015.
O recurso adesivo, portanto, é espécie de recurso subordinado, contrapondo-
se ao recurso independente, interposto regularmente no prazo legal previsto pelo
Código. Suas características essenciais são: (i) interposição no prazo para resposta do
recurso principal interposto pela outra parte; (ii) subordinação ao recurso indepen-
dente, de modo que, havendo desistência ou inadmissibilidade no recurso principal,
o recurso adesivo automaticamente não será conhecido; (iii) cabível apenas nos casos
de sucumbência recíproca, a fim de garantir, à parte que recorre adesivamente, o
necessário interesse recursal.
O saudoso Professor José Carlos BARBOSA MOREIRA, com a costumeira ma-
estria, bem apresenta a razão de ser da interposição adesiva de um recurso: “Ora,
podia acontecer que alguma das partes, embora não totalmente satisfeita, se sentisse inclinada,
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Recurso Deserto?
É sabido que o preparo (pagamento das despesas relacionadas ao
processamento de um recurso) é um dos requisitos extrínsecos de admissibilidade
recursal no âmbito do processo civil brasileiro.
A falta de preparo, por sua vez, causa a chamada deserção, que implica num
juízo negativo de admissibilidade do recurso.
E os tribunais do país sempre foram muito claros no sentido de que esse paga-
mento das custas necessárias deve sempre ser prévio e comprovado no momento da
interposição do recurso, sob pena de imediata inadmissão. A esse respeito, confira-se
o Enunciado nº 187 da Súmula do STJ (“É deserto o recurso interposto para o Supe-
rior Tribunal de Justiça, quando o recorrente não recolhe, na origem, a importância
das despesas de remessa e retorno dos autos”).
O Novo Código, seguindo a linha da simplificação, da primazia do julgamen-
to de mérito e da ampla possibilidade para saneamento de vícios processuais, trouxe
diversas inovações no campo da teoria geral dos recursos, inclusive em relação ao
preparo recursal.
Com efeito, segundo o art. 1.007, §§ 2º, 3º, 4º e 5º, do CPC/2015, pode-se con-
cluir que: (i) a insuficiência no valor do preparo, inclusive porte de remessa e retorno
(dispensado em autos eletrônicos), não implicará imediata deserção, a ocorrer tão
somente se o recorrente, intimado na pessoa de seu advogado para complementar
no prazo de 05 (cinco) dias úteis, assim não o fizer; e (ii) a falta de comprovação
do recolhimento do preparo no ato da interposição do recurso também não gerará
imediata deserção, que só ocorrerá neste caso se o recorrente, intimado na pessoa de
seu advogado para realizar o recolhimento em dobro, assim não o fizer ou o fizer de
maneira insuficiente (quadro esquemático).
De tudo, conclui-se que a deserção nunca poderá ocorrer imediatamente, isto
é, sem que se dê prazo ao recorrente para complementar o preparo insuficiente ou
para recolher em dobro o preparo não comprovado no ato da interposição.
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Apelação
Na linha da análise dos recursos no CPC/2015, é interessante ressaltar algumas
modificações importantes no âmbito da apelação, tratada pelos artigos 994, inciso I,
e 1.009 a 1.014 do Novo Código.
Para fins didáticos, preferimos expor algumas dessas alterações por meio dos
seguintes assuntos: (i) regras gerais; (ii) extinção do agravo retido; (iii) busca pela efe-
tividade procedimental; (iv) juízo de admissibilidade somente no segundo grau de
jurisdição; (v) manutenção do efeito suspensivo; (vi) julgamento imediato do mérito;
e (vii) extinção da “súmula impeditiva de recurso”.
A apelação continuará sendo o recurso cabível contra as sentenças (e também,
como se verá a seguir, contra as decisões interlocutórias não passíveis de impugna-
ção via agravo de instrumento), que deverá ser interposto no prazo de 15 dias úteis
(CPC/2015, arts. 219, 1.003, § 5º e 1.009).
O Novo Código, alterando corretamente o regime das preclusões, deixa claro
no artigo 1.009, § 1º que
O que era matéria de agravo retido terá o seu espaço nas preliminares do re-
curso de apelação ou das contrarrazões recursais, hipótese esta na qual o recorrente
será intimado para se manifestar em 15 dias (§ 2º). Insta dizer, também, que não
haverá necessidade de protesto em lugar do agravo retido, conforme já constou da
redação do CPC/2015 na Câmara dos Deputados.
Na busca pela efetividade procedimental no âmbito recursal, notam-se diver-
sos avanços no novo marco legal processual, dentre os quais está, por exemplo, a inti-
mação do recorrente para sanar vício decorrente do preenchimento incorreto da guia
de custas do preparo recursal (CPC/2015, art. 1.007, § 7º). Não se pretende dar espaço
à chamada “jurisprudência defensiva” dos tribunais, mas incentivar, a todo momen-
to, a busca pela resolução do mérito da demanda, escopo fundamental do processo.
Quanto ao procedimento recursal, o CPC/2015 deixa claro que o juízo a quo
somente cuidará de garantir o contraditório mediante a intimação do recorrido para
contrarrazoar em 15 dias, bem como do recorrente para responder também no mes-
161
(...). Esta expressão gera problemas e em boa hora foi suprimida. Manteve,
no § 3º, a expressão: se a causa estiver em “condições de imediato julga-
mento”. Deve-se entender, por essa expressão, a situação de o mérito ter
sido discutido pelas partes em primeiro grau de jurisdição – ou, pelo menos,
de se ter verificado o contraditório, com alegações e produção de provas,
sendo estas necessárias – a ponto de ser possível identificar, com clareza,
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O inc. V tem por objetivo afastar de vez a dúvida: mesmo que se trate de
processo que gere sentença sujeita a apelação com efeito suspensivo, ou
seja, encartável na regra geral (art. 1.011, caput), se a tutela provisória for
concedida na sentença, esta não pode ficar sujeita a apelação com efeito
suspensivo. De fato, trata-se de pronunciamento que teria sido normalmente
concedido liminarmente, mas, por alguma razão, não foi. Agora, no mo-
mento da sentença, a cognição já é exauriente – ainda assim, o juiz pode
conceder uma “liminar” tardia, que não será mais uma liminar, mas um
capítulo da sentença, em que se tutela ou a evidência (tardiamente perce-
bida), ou a urgência (de que o juiz se deu conta em momento adiantado do
processo – melhor agora, do que nunca; ou, então, porque a urgência confi-
gurou-se depois do início do processo e antes da sentença). Então, o fato é
que, ainda que soe estranho, o juiz pode, sim, conceder tutela provisória na
sentença. E a urgência ou a evidência justificam a necessidade da eficácia
imediata deste provimento final que é a sentença. (Primeiros comentários
ao novo código de processo civil: artigo por artigo, comentários ao art.
1.012, p. 1605).
Portanto, seja uma tutela de urgência (antecipada ou cautelar), seja uma tutela
da evidência, enquanto não entregue o bem da vida (o que muitas vezes só ocorre
com o trânsito em julgado), haverá interesse na antecipação, no acautelamento ou na
evidência, mesmo porque, como se sabe, o efeito suspensivo como regra na apelação,
apesar de criticado pela doutrina, foi mantido no CPC/2015.
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Em resumo: o que era matéria para agravo retido terá o seu espaço nas preli-
minares do recurso de apelação.
Em segundo lugar, destaca-se o estabelecimento de hipóteses expressas para o
cabimento do agravo de instrumento no artigo 1.015, quais sejam:
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(...) esta opção do legislador de 2015 vai, certamente, abrir novamente es-
paço para o uso do mandado de segurança contra atos do juiz. A utilização
desta ação para impugnar atos do juiz, à luz do CPC de 73, tornou-se muito
rara. Mas, à luz do novo sistema recursal, haverá hipóteses não sujeitas a
agravo de instrumento, que não podem aguardar até a solução da apelação.
Um bom exemplo é o da decisão que suspende o andamento do feito em 1º
grau por prejudicialidade externa. Evidentemente, há grandes chances de
que a parte prejudicada não possa esperar. (Teresa Arruda Alvim WAM-
BIER, Maria Lúcia Lins CONCEIÇÃO, Leonardo Ferres da Silva RIBEI-
RO e Rogerio Licastro Torres de MELLO, p. 1614).
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Parece que estamos voltando a uma questão óbvia, que inclusive já foi objeto
de textos anteriores.
No entanto, diante da recente decisão da Quarta Turma do STJ, em acórdão
da lavra do Ministro Luis Felipe Salomão, REsp 1679909/RS, ainda não publicado,
passa-se a admitir interpretação mais ampla do inciso III do art. 1.015 do CPC/2015 a
fim de processar agravo de instrumento interposto contra decisão interlocutória que
versa sobre competência.
Na notícia publicada no site oficial do STJ, há destaque para a posição do Mi-
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Agravo Interno
O CPC/2015 previu apenas três tipos de agravos: o agravo de instrumento, o
agravo em recurso especial ou extraordinário e o agravo interno, tema do nosso texto
de hoje.
O agravo retido foi extinto do sistema, notadamente por conta da alteração do
regime preclusivo para impugnação das decisões interlocutórias não cobertas pelas
hipóteses de interposição de agravo de instrumento (nesses casos, as questões deve-
rão ser objeto das preliminares do recurso de apelação – v. CPC/2015, art. 1.009, §1º).
Disciplinado pelo art. 1.021 e pelo regimento interno do tribunal perante o
qual venha a ser interposto, o agravo interno é o recurso interponível contra decisão
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Embargos de Declaração
Tratados nos artigos 994, inciso IV, e 1.022 a 1.026 do CPC/2015, os embargos
de declaração aparecem remodelados e mais bem adequados ao novo sistema pro-
cessual.
Nas palavras de Teresa ARRUDA ALVIM,
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Por fim, o art. 1.026 do CPC/2015 deixa explícito que os embargos de decla-
ração não possuem efeito suspensivo e interrompem o prazo para interposição de
outro recurso (essa também será a regra no âmbito dos procedimentos previstos pela
Lei Federal nº 9.099/95, diante das modificações trazidas pelos arts. 1.064 a 1.066 do
CPC/2015).
Ainda, também dispõe que, no caso de embargos de declaração protelatórios,
a multa poderá ser de até 2% sobre o valor atualizado da causa em favor do embar-
gado (§ 2º). Na reiteração de embargos manifestamente protelatórios, a multa poderá
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Obviamente que os fatos também constarão desses recursos, mas não serão
objeto de novo julgamento pelo STJ e STF. Conforme lecionam Luiz Guilherme MA-
RINONI, Sérgio Cruz ARENHART e Daniel MITIDIERO,
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Dentro de toda essa nova lógica exposta, e também de acordo com posiciona-
mentos firmados pelo Fórum Permanente de Processualistas Civis, é possível dizer
que estão superados os Enunciados nº 115, 187 e 418 da Súmula do STJ e também a
OJ nº 140 da SDI-I do TST.
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Este dispositivo deixa clara a nova regra, no sentido de que não há mais
juízo de admissibilidade da apelação no primeiro grau. O juiz, depois de
tomadas as providências dos §§ 1º e 2º, remeterá os autos ao Tribunal, in-
dependentemente de juízo de admissibilidade (art. 1.010, § 3º). Elimina-se,
assim, uma decisão – e correlatamente, um eventual recurso. No regime do
CPC/73 a decisão que não admite a apelação, proferida pelo juízo a quo, é
agravável de instrumento. (...). (Primeiros comentários ao novo código de
processo civil: artigo por artigo, comentários ao art. 1.010, p. 1601-1602).
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Dessa forma, quando o STF entender que se trata de ofensa reflexa à Constitui-
ção, remeterá o recurso extraordinário ao STJ para que o julgue como recurso espe-
cial. Nessa hipótese, não poderá o Superior Tribunal de Justiça recusar o julgamento
do referido recurso, pois as hipóteses de cabimento de sua competência derivam do
próprio Texto Constitucional (art. 105, III), interpretado, em última análise, pelo STF.
De outro lado, quando STJ entender que se trata de questão constitucional,
abrirá prazo para que o recorrente demonstre a repercussão geral e remeterá o re-
curso ao STF que, ainda, em juízo de admissibilidade, poderá discordar e devolver o
recurso para julgamento pelo STJ.
A última palavra, portanto, será sempre a do STF, já que, no fundo, trata-se
de análise do cabimento dos recursos excepcionais, regra prevista expressamente na
Constituição.
Na lição de Teresa Arruda Alvim WAMBIER, Maria Lúcia Lins CONCEIÇÃO,
Leonardo Ferres da Silva RIBEIRO e Rogerio Licastro Torres de MELLO,
(...) O que acaba ocorrendo, então, como consequência das regras, é que
decisões flagrantemente inconstitucionais ou ilegais transitam em julgado,
porque nenhum dos dois Tribunais teria admitido os recursos interpostos.
Muitas vezes a parte interpõe dois recursos justamente por causa deste jus-
tificável receio. Transitada em julgado uma decisão que ofenda a Consti-
tuição Federal (com repercussão geral) ou que ofenda a lei federal, tem-se
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Usucapião Extrajudicial
A chamada “usucapião extrajudicial ou administrativa” foi trazida como alte-
ração da Lei Federal nº 6.015/73 (Lei de Registros Públicos) pelo artigo 1.071 do Novo
Código de Processo Civil:
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Breves Conclusões
De uma maneira geral, o advento do Novo Código de Processo Civil (Lei Fe-
deral nº 13.105, de 16 de março de 2015, com as alterações trazidas pelas Leis Federais
nºs 13.256/2016, 13.363/2016 e 13.465/2017) representa, em verdade, a necessária har-
monização de diversas normas processuais que estavam situadas no ordenamento
jurídico de forma assistemática, incoerente e até mesmo contraditória.
Agora, se, por um lado, o CPC/2015 tem potencial para gerar uma justiça mais
ágil e de melhor qualidade, por outro lado, o fato de isso ocorrer dependerá muito
do modo como for interpretado.
Em suma: a publicação de um novo marco legal processual, por si só, não
resolve o problema da prestação célere da justiça ou do abarrotamento de demandas
no Poder Judiciário.
É preciso que esse árduo trabalho de elaboração de um Novo Código de Pro-
cesso Civil, que teve a felicidade de ser o primeiro a se concretizar em ambiente de-
mocrático, também seja acompanhado de mudanças estruturais/orçamentárias (so-
bretudo no Poder Judiciário) e ideológicas/culturais (entre os operadores do direito
em geral).
Neste momento, já podemos perceber as primeiras manifestações um pouco
mais maduras da doutrina e da jurisprudência envolvendo a sistemática processual
civil em vigor, mesmo porque muitas teses jurídicas demoram a chegar nos tribunais
superiores, responsáveis pela uniformização dos entendimentos no país.
O legislador pretendeu, num primeiro momento, criar mecanismos novos (e in-
crementar os antigos) voltados à uniformização da jurisprudência pelo país (a exemplo
do que ocorre no âmbito dos IRDRs, IACs e rito dos recursos repetitivos). De outro lado,
buscou, a partir disso, normatizar diversas hipóteses de aceleração dos julgamentos nos
casos de manifesta concordância ou discordância com as teses consolidadas, o que expli-
ca, por exemplo, a amplitude dos poderes do relator no art. 932 do Código.
A mensagem tende a ser uma só: com diversas teses jurídicas finalmente uni-
formizadas e aplicadas por todo o país, em respeito à igualdade, à segurança jurídica
e à confiança dos jurisdicionados, sofrerá aquele que pretender debater tema já con-
solidado, seja com improcedência liminar do seu pedido, seja com desprovimento de
seu recurso pelo próprio relator, seja, ainda, com multa aplicada em caso de atitude
processual manifestamente protelatória (como são consideradas nesses casos).
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ANEXOS
Quais enunciados das Súmulas do STF e do STJ perdeam nitidamente
fundamento de validade com o CPC/2015 (APÓS AS ALTERAÇÕES
TRAZIDAS PELA LEI FEDERAL Nº 13.256/2016)?
Preparamos uma lista de alguns dos enunciados das Súmulas do STF e do STJ
que nitidamente perderão fundamento de validade com o CPC/2015, tudo também
de acordo com o pensamento doutrinário consolidado nos Enunciados do Fórum
Permanente de Processualistas Civis (FPPC).
Por óbvio que outros enunciados deverão ser necessariamente revistos, ainda
que de forma parcial, como o 375 da Súmula do STJ, já abordado anteriormente.
Ainda, outros ficarão sob o crivo da doutrina e da jurisprudência por algum
tempo, exigindo maior debate e maturidade para a análise da necessidade ou não de
sua superação.
Entretanto, percebe-se que o Novo Código claramente veio combater, de ma-
neira explícita, diversos enunciados, tais como o enunciado nº 306 da Súmula do STJ
(“Os honorários advocatícios devem ser compensados quando houver sucumbência
recíproca, assegurado o direito autônomo do advogado à execução do saldo sem
excluir a legitimidade da própria parte”), que notadamente perderá o seu fundamen-
to de validade diante do art. 85, § 14 do Novo Código (“Os honorários constituem
direito do advogado e têm natureza alimentar, com os mesmos privilégios dos cré-
ditos oriundos da legislação do trabalho, sendo vedada a compensação em caso de
sucumbência parcial”).
Após as alterações trazidas pela Lei Federal nº 13.256/2016, alguns enunciados
do Fórum Permanente de Processualistas Civis (FPPC) também foram revistos na
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