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MISSÃO ARTÍSTICA MARANHENSE: APROPRIAÇÃO DE LITOGRAVURAS DE

JEAN BAPTISTE DEBRET PARA AQUARELAS (RE)EXISTENTES 1


Alexandre de Albuquerque Mourão
Professor de Artes Visuais da Universidade Federal do Maranhão, doutorando em Psicologia
pela Universidade de Brasília
alexmourao1@gmail.com

Resumo
Este trabalho tem como objetivo uma apropriação simbólica de litogravuras originais de Jean
Baptiste Debret, publicadas no livro L’Universe, de Ferdinand Denis (1837). A partir da escolha
de duas litogravuras, nos propomos a ressignificar as mesmas a partir de análise de duas pinturas
em aquarela feita pelo pesquisador-autor. A ideia, partindo da metodologa da pesquisa em artes,
de Sandra Rey, é relacionar um patrimônio cultural imagético - as imagens de Debret - com
questões contemporâneas e pensar a questão da (re)existência indígena. Como resultado, o
processo de pesquisa culminou na realização de duas exposições em galerias de arte de São Luís.

Palavras-chave: litogravuras; aquarelas; debret; reaproriação; povos indígenas

Este trabalho possui como tema litogravuras originais produzidas por artistas franceses e
publicadas no livro L’Univers. Histoire et Description de Tous les Peuples (1837), de Ferdinand
Denis (1798-1890), pai dos estudos brasileiros na França2. A rara publicação oitocentista foi
adquirida na Europa pelo próprio autor deste texto e deu ensejo a esta pesquisa. Ela aborda o
Brasil Colônia e Império relegando oito páginas à terra de Upaon-Açu. Além disso, 83
litogravuras originais de importantes artistas como Jean B. Debret, Spix e Von Martius e Théodor
de Bry, retratando a fauna, fora, povos e costumes do Brasil, compõem o livro.

1 Trabalho apresentado ao Grupo de Trabalho Estética, Mídia e Cultura do IV Simpósio Nacional de Arte e
Mídia
2 Fonte: https://bndigital.bn.gov.br/dossies/franca-no-brasil/matrizes-nacionais/figuras-de-
viajantes/ferdinand-denis/
A relação do Brasil com a França, desde o processo de colonização, a partir do século
XVII é motivo de debates e estudos principalmente no campo histórico e do patrimônio cultural.
No que tange à perspectiva artística e memorial, ainda se carece de um levantamento considerável
e de uma publicização de obras artísticas voltadas para o contexto de séculos passados 3. Apesar de
ser relativamente conhecida a temática da Missão Artística Francesa no Brasil, publicações
recentes das obras completas dos artistas franceses, como os catálogos raisonnés de Jean Baptiste
Debret e Johann Moritz Rugendas, demonstram a necessidade de uma maior divulgação das
primeiras imagens do Brasil antes da existência da fotografa.
Nesta pesquisa temos como objetivo principal apresentar duas litogravuras presentes no
livro de Ferdinand Denis e duas aquarelas produzidas pela próprio autor. Em seguida, a partir da
metodologia da pesquisa em artes, analisaremos um processo pictórico de ressignifcação das
litogravuras partindo das aquarelas. Na pesquisa em artes, segundo Rey (2002, p. 1), “os conceitos
extraídos dos procedimentos práticos são investigados pelo viés da teoria e novamente testados em
experimentações práticas”. A obra é ao mesmo tempo um processo de formação e um processo no
sentido de processamento, de formação de signifcado (Rey, 2002). Ao trazermos para o universo
desta pesquisa um patrimônio cultural, como litogravuras originais de 1837 com releituras das
mesmas a partir da aquarela, somos processados pela obra e passamos a repensar nossos
parâmetros, como destaca Sandra Rey.
A seguir apresentaremos as duas gravuras e as duas aquarelas seguidas das análises.

3 Na contramão desta conjuntura, necessário citar o trabalho de SILVA, Frederico Fernando Souza. Coleção
de gravuras Arthur Azevedo: memória e patrimônio cultural. 2011. 127 f. Dissertação (Mestrado em Educação, Arte
e História) - Universidade Presbiteriana Mackenzie, São Paulo, 2011.
Figura 1 - Caboclos Índios Civilizados. Litogravura sobre papel. Jean Baptiste Debret, 1837. Acervo pessoal.

Figura 2 - Debret Revolucionário. Aquarela sobre papel couchê. Alexandre de Albuquerque Mourão,
2018. Acervo pessoal

A primeira litogravura analisada (figura 1) é, provavelmente, um dos trabalhos mais


conhecidos de Jean Baptiste Debret. Na cena observamos um índio em uma posição inusual de
caça. Debret, no livro Viagem Pitoresca ao Brasil (1834), comenta que a cena se passa com um
índio Guaytakazès, na Aldeia de São Lourenzo, fundada em 1567, por um governo português,
situada próximo à antiga capital do império, Rio de Janeiro 4 (Debret, 1834 p. 21). O nome
“civilizado” era dado naquela época aos índios que passavam por uma tentativa de catequização
pela igreja católica.
A aquarela (figura 2), de 2018, foi feita tanto inspirada na litogravura de Debret, como
na fotografia de Sérgio Lima, durante um protesto de indígenas, em Brasilía, no ano de 2014. A
perspectiva trazida com a aquarela é demonstrar uma cena de resistência de índios que, mesmo
depois de mais de cinco séculos, ainda vivem em situações de perseguições e genocídios por
parte do Estado brasileiro e de grupos de madereiros, grileiros, etc. Ao invés da cena “exótica”
do índio caçando, a aquarela tenta demonstrar que o uso particular do arco e flecha demonstra o
caráter permanente dos povos indígenas de resistirem pela demarcação de suas terras assim como
para viverem e manterem seus modos de vida. O Congresso Nacional ao fundo e a tropa de
choque se aproximando criam um tensionamento demonstrando como o estado brasileiro tem se
relacionado com as matrizes indígenas. O que permaneceu e o que se modificou desde a gravura
feita em 1837, por Debret?

Figura 3 - Homem e Mulher Kamakã Mongoio. Litogravura sobre papel. Jean Baptiste Debret, 1837. Acervo
pessoal.

4 “Dans la province de Rio Janeiro, on donne le nom générique de Cabocle à tout Indiencivilisé, c'est-à-dire
qui a reçu le baptême. Nous citerons, pour exemple, la population deYAldea de San Lourenz, située à peu de
distance de la capitale de l'empire. Ce villageindien, fondé en 1567 par un gouverneur portugais...” (Debret, 1834, p.
21)
Figura 4 - Homem Kuikuro e Mulher Guajajara. Aquarela sobre papel couchê. Alexandre de Albuquerque
Mourão, 2018. Acervo pessoal

Para a terceira imagem analisada, expomos os olhares profundos do casal de índios


Kamakãs Mongoiós (figura 3). Segundo Bandeira e Lago (2017, p. 50), os índios de Debret são
ora guerreiros, ora criaturas simiescas muitas vezes inventados pelo ideal davidiano. Havia nele
uma “...preocupação em representar índios em sintonia com valores protorromânticos da
natureza, impregnados do bom selvagem...” (Bandeira e Lago, 2017. p. 51). Se o olhar
estrangeiro, nesta litogravura, parece romantizar os índios, a aquarela (figura 4) procura
ressignificar a mirada neoclássica pra trazer a potência de vida dos índios Kuikuro, da região do
Alto Xingu e dos Guajajaras, do Maranhão. A proposta da aquarela é demarcar um olhar de (re)
existência. O homem Kuikuro e a mulher Guajajara nos fitam e parecem nos dizer: “estamos
aqui, presentes”. Um processo de protorromantização dá espaço a um processo de insistência em
resistir, apesar de todas perseguições e tentativas de destruições de dezenas de povos indígenas
brasileiros. Os traços certeiros das litogravuras dão espaço à espontaneidade dos pigmentos
coloridos da aquarela assim como o romântico dá espaço ao real, ao que está aqui, insistindo em
viver.

Resultados
As imagens de Jean Baptiste Debret assim com de outros pintores da Missão Artística
Francesa, mesmo ligadas a um padrão de arte neoclássica, não devem ser analisadas e fechadas a
partir de uma leitura superfícial de uma provável crítica a uma arte elitista ou folclórica.
Queiramos ou não, as pinturas dos artistas franceses são as primeiras representações imagéticas
das diversas matrizes formadoras do povo brasileiro. Apesar de haver exageros em algumas
composições, no sentido de darem conotações neoclássicas, elas surgem imbricadas a um
processo de memoria e história que podem, ainda, terem suas narrativas disputadas. Neste
sentido, as litogravuras não perdem suas forças de serem os primeiros patrimônios imagéticos do
nosso povo e, em certo sentido, servir até de comprovação, por exemplo, dos povos indígenas
que foram massacrados e dos que resistem.
Por fim, além disso, como resultado deste processo de pesquisa, outras 20 gravuras e
aquarelas foram expostas à sociedade maranhense na Galeria Trapiche, da Secretaria de Cultura
de São Luís e na Casa de Cultura Huguenote, no centro histórico ludovicense. O artista
pesquisador, a partir da imersão nas fontes primárias procurou trazer um pouco do seu processo
criativo para, em uma articulação entre pesquisa e pintura, refletir sobre temáticas importantes
para consolidação do nosso imaginário e de nossas existências.

Referências

BANDEIRA, Julio; LAGO, Pedro Corrêa. Debret e o Brasil : obra completa, 1816-1831. Julio
Bandeira, Pedro Corrêa de Lago : prefácio de José Murilo de Carvalho. 5. ed. rev. e ampl.- Rio
de Janeiro : Capivara, 2017.

BIBLIOTECA NACIONAL. Ferdinand Denis. Acesso em: Disponível em:


<https://bndigital.bn.gov.br/dossies/franca-no-brasil/matrizes-nacionais/figuras-de-
viajantes/ferdinand-denis/> Acesso em: 31 jun 2019.

DEBRET, Jean Baptiste. Voyage Pittoresque et Historique au Brésil ou Séjour d’un Artiste
Français au Brésil. Paris, Firmin Didot Frères, Imprimeurs de L’Institut de France, 1834.

DENIS, Ferdinand. Brésil. Colombe et Guyanes. Collection L’Univers ou Histoire et


description de tous les peuples, de leurs religions, moeurs et coutumes, Paris: Firmin Didot,
1837.

REY, Sandra. Por uma abordagem metodológica da pesquisa em artes visuais. In: BRITES,
Blanca; TESSLER, Elida(Org.) O meio como ponto zero : metodologia da pesquisa em artes
plásticas. Porto Alegre : E. Universidade/UFRGS, 2002. p.123-140.

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