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RESPONSABILIDADE INTERNACIONAL
Por Bruna Daronch
SUMÁRIO
1. CONCEITO: ...................................................................................................................3
2. NATUREZA JURÍDICA: ...................................................................................................4
3. CARACTERÍSTICAS E CLASSIFICAÇÃO: ............................................................................6
4. ELEMENTOS ESSENCIAIS: ATO ILÍCITO + IMPUTABILIDADE + DANO ................................8
5. MODOS DE DETERMINAÇÃO DE RESPONSABILIDADE: ................................................. 18
a) Modo unilateral (iudex in causa sua): ......................................................................... 18
b) Modo coletivo:........................................................................................................... 18
6. O ESTUDO DA PROTEÇÃO DIPLOMÁTICA: .................................................................... 19
7. DISPOSITIVOS PARA O CICLO DE LEGISLAÇÃO .............................................................. 28
8. BIBLIOGRAFIA INDICADA ............................................................................................ 28
ATUALIZADO EM 11/06/20171
RESPONSABILIDADE INTERNACIONAL
1. CONCEITO:
Podem gerar responsabilização internacional certos ATOS LÍCITOS com potencial de causar
dano a outros atores internacionais.
Como a responsabilização pode ocorrer a partir de ato lícito, o instituto nem sempre terá
efeito de sanção.
1
As FUCS são constantemente atualizadas e aperfeiçoadas pela nossa equipe. Por isso, mantemos um canal
aberto de diálogo (setordematerialciclos@gmail.com) com os alunos da #famíliaciclos, onde críticas, sugestões e
equívocos, porventura identificados no material, são muito bem-vindos. Obs1. Solicitamos que o e-mail enviado
contenha o título do material e o número da página para melhor identificação do assunto tratado. Obs2. O canal
não se destina a tirar dúvidas jurídicas acerca do conteúdo abordado nos materiais, mas tão somente para que o
aluno reporte à equipe quaisquer dos eventos anteriormente citados.
A responsabilidade internacional se resolve, como regra geral, em reparação de natureza
civil e, em casos excepcionais, em sanções penais (papel secundário). A responsabilização
internacional, via de regra, culmina em obrigações de fazer e de pagar, com o escopo de reparar os
danos causados ou indenizar pelos danos irreparáveis. A responsabilidade internacional penal de
Estados é tema altamente controverso (parte da doutrina diz que não existe). Contudo, não se pode
esquecer-se da responsabilidade penal internacional dos indivíduos, pelos atos previstos no Estatuto
de Roma.
#PERGUNTA: Se está vigente um tratado e ele é descumprido, o que ocorre? Quais são as
consequências jurídicas? Há duas: (i) extinção do tratado pela violação do seu conteúdo pela outra
parte, mormente nos casos de tratados bilaterais. Nos tratados multilaterais a extinção pode ser
parcial. O art. 44 da CVDT traz o Princípio da Divisibilidade da Extinção dos Tratados: pode existir
extinção parcial se for possível; (ii) responsabilização internacional do Estado, caso verificados, além
do ato passível de responsabilização, que no caso é o descumprimento do tratado, os seguintes
requisitos: dano, nexo de causalidade entre o ato (violação do tratado) e o dano e a imputabilidade da
ação ou omissão ao Estado ou OI.
2. NATUREZA JURÍDICA:
#JÁCAIU
QUESTÃO CESPE AGU (2004): O regime jurídico preponderante no sistema internacional de
responsabilidade por danos ambientais, previsto nas principais convenções internacionais relativas ao
tema, é o da responsabilidade objetiva. (CORRETA)
QUESTÃO CESPE: Entre os danos ambientais transfronteiriços, apenas aqueles causados por atividades
de risco proibidas pelo direito internacional geram para as vítimas direito de reparação dos prejuízos.
(errada, responsabilidade objetiva)
2
A banca FCC, na prova da DPE/BA de 2016, considerou correta a seguinte alternativa: “prevalece que, em
matéria de Direitos Humanos, a responsabilidade é objetiva, devendo haver a violação de uma obrigação
internacional, acompanhada do nexo de causalidade entre a mencionada violação e o dano sofrido.”
lançador será responsável absoluto pelo pagamento de indenização por danos causados por seus
objetos espaciais na superfície da Terra ou a aeronaves em voo. Essa Convenção é um exemplo de
aplicação excepcional da responsabilidade objetiva no âmbito do DIP.
3. CARACTERÍSTICAS E CLASSIFICAÇÃO:
Até hoje, a maior parte das normas relativas à responsabilidade internacional é costumeira.
#ATENÇÃO: Por fim, a responsabilidade decorre, em regra, de atos ilícitos, mas pode também ser
consequência de atos lícitos.
3
O assunto de proteção diplomática será aprofundado posteriormente (vide tópicos abaixo).
Responsabilidade Responsabilidade Delito internacional Crime internacional
convencional delituosa
Quando tem a sua Surge da violação de É todo fato É a violação de uma
origem na violação de uma norma internacionalmente obrigação internacional
um tratado consuetudinária, de ilícito que não seja para a salvaguarda de
internacional. um costume crime internacional. No interesses fundamentais da
internacional. caso de crime, a relação comunidade internacional,
de responsabilidade se e a sua violação é
estabelece com todos considerada crime (ex.:
os Estados, enquanto genocídio, apartheid,
no caso de delito só agressão, escravidão). É
com o Estado lesado. ligado à idéia de jus
cogens. Segundo Karl
Zemaneck, nem toda
violação do jus cogens é
crime internacional, mas
todo crime internacional é
violação do jus cogens. É de
se destacar que vários
Estados se opõem à
responsabilidade penal do
Estado (França, Israel,
Alemanha).
Esse fato pode consistir em ato ilícito. O ato ilícito é a conduta comissiva (uma ação) ou
omissiva (um omissão contrária ao DI) que viola norma de Direito Internacional. Ainda, nesse ponto, a
doutrina faz uma importante observação: o fato de o ato ilícito à luz do direito internacional estar em
conformidade com o direito interno do Estado não exclui a transgressão e, portanto, a
responsabilidade estatal, a teor da Convenção de Viena sobre o Direito dos Tratados, de 1969, que
dispõe no art. 27: “Uma parte não pode invocar as disposições de seu direito interno para justificar o
descumprimento de um tratado”.
Esse fato pode consistir em um ato lícito. A responsabilidade internacional por atos lícitos é
também chamada, pela Comissão de Direito Internacional da ONU, de “responsabilidade por atos não
proibidos pelo Direito Internacional”. É um tipo de responsabilidade internacional OBJETIVA, a partir
da qual os Estados devem indenizar os prejuízos eventualmente causados por suas ações e omissões,
ainda que para tais danos não tenham concorrido. Trata-se de hipótese excepcional de
responsabilização e, por isso, segundo SOARES, “a responsabilização por atividades lícitas deve se dar
apensas diante da ocorrência de condições ‘objetivamente fixadas numa norma escrita’”. Ex.: energia
nuclear para fins pacíficos, uso do petróleo e derivados, exploração espacial etc.
#PERGUNTA:
A teoria do abuso de direito é aplicada ao Direito Internacional? Sim, o DIP tende a acolher a
ideia de abuso de direito, que permite que a norma não se desvincule da necessidade de resguardar os
direitos e liberdades das demais pessoas e de que haja o equilíbrio necessário entre interesses
individuais e sociais. Assim, o exercício de um direito com abuso no modo pelo qual é exercido gera
efeitos deletérios para terceiros.
Os atos comissos ou omissivos que podem ensejar a responsabilidade civil podem ser
oriundos:
Poder Executivo: por exemplo, se um delegado de polícia torturou, o Brasil responde. Qual é a
defesa do Estado? Que ele não deu ordens (ato “ultra vires” – ato além do mandato), pelo contrário,
ele tem uma legislação contra a tortura, o delegado “agiu sozinho”. O Brasil não terá sucesso nessa
defesa. O Direito Internacional é pacífico: considera-se que o ato de um agente público vinculado ao
Poder Executivo consiste em uma violação de seus deveres de vigilância ou escolha, no mínimo in
vigilando ou in eligendo: o Brasil que contratou aquele delegado, o Brasil que devia vigiá-lo, o Brasil
que devia ter mecanismos internos que impedissem que ele torturasse.
Poder Legislativo: também vincula. Pode ser lei, Emenda Constitucional ou até mesmo norma
do Poder Constituinte Originário. Não adianta o Estado buscar argumentos como Separação de
Poderes porque não haverá sucesso.
Ente federado: Ato de ente federado é todo ato imputado a um elemento constitutivo da
Federação (Estados, Municípios e DF).
Particular: o Brasil responde desde que tenha uma conduta própria no contexto da realização
do ato de particular. Ou seja, em geral não vincula o Estado. Entretanto, é possível que o Estado
responda caso, no contexto da conduta, tenha violado os seus deveres de prevenção e repressão. Em
outras palavras, tal responsabilidade pode emergir se restar comprovado que o ente estatal deixou de
cumprir, como afirma Rezek, seus deveres elementares de prevenir o ilícito e de reprimi-lo
adequadamente. Exemplos: Atentados praticados por indivíduos contra chefes de Estado estrangeiros
ou contra seus representantes diplomáticos, insultos à bandeira ou aos símbolos nacionais de
determinados Estados.
#ATENÇÃO:
#OBS1: Em princípio, o Estado não responde pelos danos decorrentes de atos praticados por seus
cidadãos. Entretanto, o dever de reparar o prejuízo pode emergir se ficar provado que o ente estatal
deixou de cumprir seus deveres elementares de “prevenção e repressão”. Ex.: quando o Estado
concorda com ações de seus nacionais que configuram ilícitos internacionais ou se omite frente a tais
atos.
#OBS2: Prevalece que o Estado deve ser responsabilizado pelas ações de grupos de revolucionários
quando tiver concorrido para a ocorrência do conflito ou quando tiver faltado com a “diligência
devida” para impedir ou reprimir o fato.
#OBS3: O reconhecimento do caráter de beligerante ou de insurgente de um movimento
revolucionário por parte do ente estatal que tenha sofrido o dano exclui a responsabilidade do Estado
onde atua esse movimento, a qual passa a recair sobre o beligerante ou insurgente. Caso os revoltosos
assumam o governo, a responsabilidade por seus atos passa a caber ao Estado.
#APROFUNDAMENTO:
Só assim podemos entender por que o Brasil foi responsabilizado pela COMISSÃO INTERAMERICANA
pelo Caso Maria da Penha. O caso Maria da Penha vem da Convenção de direito Humanos e é fruto da
Convenção de Belém do Pará. Essa convenção completou 20 anos em 2014.
A convenção de Belém do Pará estabelece um Mandado de Criminalização. O Brasil tem que prevenir e
reprimir a violência doméstica. Quem atirou e tentou eletrocutar a senhora Maria da Penha? O marido,
ou seja, um particular. E por que o Brasil foi responsabilizado no caso? Pela OMISSÃO na repressão.
Houve tentativa de homicídio e ele quase prescreveu. O Brasil responde por ato do Poder judiciário
também e nesse caso houve omissão do Judiciário.
#CASCADEBANANA: Maria da penha é caso da COMISSÃO INTERAMERICANA. Não é Corte
Interamericana de Direitos Humanos.
Ministério Público: O Brasil responde por eventual leniência, atuação negligente ou mesmo
inação do MP.
#JÁCAIUEMPROVA: O Estado cujo Poder Judiciário emita decisão contrária a norma incontrovertida do
DIP estará violando referida norma internacional, ato pelo qual poderá ser responsabilizado.
#JÁCAIUEMPROVA: O que se demanda de um Estado é que ele ofereça um tratamento de caráter
igualitário e não discriminatório entre seus nacionais e estrangeiros. Não se exige proteção especial e
diferenciada.
a) Legítima defesa: Trata-se da reação a um ataque armado, real ou iminente, tendo como
função protetora, punitiva e reparadora, estando voltado a interromper o ataque, a punir o agressor e
a reparar o dano causado. No entanto, os atos de legítima defesa devem ser proporcionais à agressão
ou ao perigo e devem ser praticados apenas até que o Conselho de Segurança tome as medidas
necessárias para a manutenção ou restauração da paz.
b) Represálias: Segundo Portela, a represália é a retaliação a um ato ilícito de outro Estado.
Normalmente, não é permitida pelo Direito Internacional, mas é admissível quando é uma RESPOSTA À
VIOLAÇÃO DE NORMAS INTERNACIONAIS por parte de outro ente estatal. Para que exclua ou atenue a
responsabilidade internacional requer ainda a ocorrência de um dano e deve ser proporcional ao
gravame sofrido pelo Estado que recorre à represália.
c) Contramedidas em geral: Configuram reação pacífica a um ato ilícito anterior, praticado por
outro Estado, e deve ser proporcionais ao agravo sofrido, devendo haver, ainda, a advertência prévia.
Todas as contramedidas – e não apenas a legítima defesa – têm função protetiva, punitiva e
reparadora. Por fim, a CONTRAMEDIDA é ATO DE ESTADO (relação horizontal), diferenciando-se assim
das sanções coletivas, que são medidas que também caracterizam reações a ilícitos, mas que são
tomadas por Organizações Internacionais.
d) Prescrição: Perda do direito de o Estado ou de a organização internacional reclamar a
reparação de um dano decorrente de ato ilícito de outro sujeito de direito internacional
e) Estado de necessidade: Trata-se da lesão à bem jurídico de outrem para salvar bem jurídico
próprio; O Esboço de Artigos sobre a Responsabilidade de Estados por Atos ilícitos Internacionais, da
Comissão de Direito Internacional da ONU, previu o estado de necessidade como excludente de
ilicitude internacional, desde que o ato aparentemente ilícito seja “a única maneira de salvaguardar
um interesse essencial do Estado contra um perigo grave e iminente.”.
f) Contribuição do Estado para o dano que sofreu: Pode excluir ou atenuar a responsabilidade
do Estado que violou a norma internacional;
g) Força maior, caso fortuito e perigo extremo;
h) Imprecisão da regra internacional;
i) Tomada, pelo Estado, de medidas cabíveis para evitar um dano;
j) Reconhecimento de beligerância ou de insurgência por parte do Estado que tenha sofrido
o dano.
#ATENÇÃO: Não exclui a responsabilidade o descumprimento da norma internacional por conta de sua
incompatibilidade com o direito interno. Previsão no art. 27 da Convenção de Viena, de 1969: "Uma
parte pode invocar as disposições de seu direito interno para justificar o descumprimento de um
tratado".
c) Dano: Ele pode ser material ou imaterial. Segundo Rezek, só o Estado vitimado por alguma forma de
dano — causado diretamente a si, ao seu território, ao seu patrimônio, aos seus serviços, ou ainda à
pessoa ou aos bens de particular que seja seu nacional — tem qualidade para invocar a
responsabilidade internacional do Estado faltoso. Assim, no domínio dos tratados, a violação de norma
convencional só pode, em princípio, dar origem à reclamação das outras partes, não à de terceiros.
A reparação pode ou não ter expressão econômica. Em qualquer caso, a reparação deve
corresponder à natureza da lesão e a seus efeitos.
A responsabilidade internacional tem natureza cível, embora seus agentes do Estado possam
eventualmente responder pelos crimes internacionais.
#CURIOSIDADE: Um sujeito de DIP vitimado por DANO MORAL pode pleitear reparação. A primeira
vez que um tribunal reconheceu o pedido de danos morais em ilícito internacional ocorreu no caso
relativo às viúvas do navio americano Lusitana, em 1923, que fora bombardeado pela Alemanha.
1) Restituição na Íntegra: consiste em espécie de reparação que objetiva o retorno ao status quo
ante (anterior à violação). É a melhor espécie de reparação. A Corte Interamericana usa muito, mas,
muitas vezes, é impossível no aspecto material. A restituição na íntegra nunca pode ser impossível
juridicamente: cabe ao Estado mudar as suas regras. Não é possível dizer: não vou libertar a Sra.
Tamayo (é um caso da Corte Interamericana) porque ela está presa por decisão judicial transitada em
julgado – impossibilidade jurídica. Isso é bobagem: se houver necessidade de soltura, deve-se rescindir
a sentença, criar uma norma que possibilite a rescisão de sentença transitada em julgado por
determinação de órgão internacional. A impossibilidade tem que ser material: a Sra. Tamayo está
morta, por exemplo (não foi o caso, ela foi solta).
3) Indenização: se não for possível a restituição na íntegra, uma fórmula de reparação muito
utilizada pelas Cortes é a indenização. Danos morais: há presunção absoluta. É uma compensação
pelos danos causados (materiais e morais) por meio do pagamento de uma quantia em pecúnia.
4) “Projeto de vida”: uma forma nova de reparação. Vai muito além de indenização, vai muito
além de compensação dos danos, dos lucros cessantes. Vai, na realidade, tentar resgatar aquilo que a
pessoa seria se não houvesse a violação. É uma restituição na íntegra maximizada. Por exemplo: não é
só devolver a liberdade à Sra. Tamayo. A Sra. Tamayo era uma professora que foi acusada de crime de
agressão à Pátria, crime de terrorismo e, por isso, perdeu o cargo na Universidade etc. Não é só
devolver o cargo, é devolver o cargo e o posto, uma láurea acadêmica, que, eventualmente, ela teria
obtido se não fosse aquela interrupção do seu “Projeto de Vida”. Isso é muito interessante, mas, na
prática, é quase que uma futurologia, arbítrio.
#ATENÇÃO: O mero reconhecimento do ilícito não configura, por si só, espécie de reparação, podendo
se transformar em satisfação caso venha acompanhado de um pedido formal de desculpas.
#ATENÇÃO: O ente responsável pela reparação é o Estado ou a OI, cabendo a estes exercer o direito
de regresso contra o agente que efetivamente tenha causado o prejuízo.
#JÁCAIU
QUESTÃO TRF 5º: A responsabilidade internacional enseja a reparação de danos tanto da parte do
agente causador quanto da parte do Estado do qual esse agente se origine.
Comentário: Errada. O agente não responde diretamente pelo ilícito internacional. A responsabilidade
é do Estado Soberano ou da OI.
#CURSO DPU: Considere que o Estado “a” tenha adentrado o espaço aéreo do Estado “b” sem a sua
autorização, e que, após tratativas diplomáticas, ele tenha reconhecido que cometera uma violação ao
direito do Estado b, tendo apresentado pedido formal de desculpa pelo ocorrido. Nessa situação, de
acordo com os artigos da comissão de direito internacional da ONU sobre responsabilidade
internacional dos Estados, o reconhecimento da violação e o pedido de desculpas realizado pelo
Estado a caracterizam a forma de reparação denominada satisfação.
Perceba-se que a satisfação possui caráter excepcional, de cunho estritamente moral. Pode
consistir em um reconhecimento da violação, uma expressão de arrependimento, um pedido formal
de desculpas ou outra modalidade adequada. Uma das modalidades mais comuns de satisfação,
prevista nos casos de dano moral, é uma declaração da ilicitude do ato por uma Corte ou Tribunal
competente. Outra forma comum de satisfação é o pedido de perdão, que pode ser verbal ou escrito
por um Oficial apropriado, ou até mesmo pelo Chefe de Estado.
Esse é o modo mais comum, estando configurado quando o Estado lesionado exige reparação
do Estado infrator. O grande problema esse modo de determinação de responsabilidade é que o
Estado infrator não reconhece que violou Direito internacional, então ele vai receber a sanção como
sendo algo indevido. Com isso. há uma guerra de sanção. Toda vez que é aplicada uma sanção e o
Estado é inocente, há violação ao Direito internacional. Por exemplo, no congelamento de haveres,
nos embargos, etc., e isso só é devido se o Estado pretensamente infrator de fato tiver violado o
Direito internacional.
b) Modo coletivo:
Em princípio, não é possível que uma pessoa, natural ou jurídica, solicite qualquer indenização no
âmbito internacional, embora em geral possa acionar o próprio Judiciário do Estado que causou o
dano. Entretanto, nada impede que o ente estatal de origem da pessoa possa formular pedidos, a
outro Estado, de reparação em favor de seu nacional, configurando o instituto da proteção
diplomática, pelo qual o Estado decide acolher a reclamação apresentada por um nacional seu que
haja sofrido o dano, dirigindo contra o infrator o pedido de indenização. Ex.: desapropriação dos
bens do indivíduo, sob a forma de encampação ou de nacionalização.
#TENDÊNCIA: Indivíduo que sofre lesão: a quem recorrer? Prevalecia que o indivíduo que sofresse um
dano por violação de uma norma internacional poderia se valer, no máximo, dos instrumentos
jurídicos disponibilizados pelo Estado do qual fosse nacional, mormente pelo instituto da proteção
diplomática. Todavia, já se permite a postulação perante Organismos Internacionais, citando-se o
sistema de petições no âmbito da União Europeia e da OEA, com as devidas peculiaridades.
A proteção diplomática concretiza-se a partir do ENDOSSO, ato pelo qual o ente estatal do
qual o indivíduo ou entidade é nacional assume como sua reclamação de particular contra outro
Estado.
A nacionalidade do beneficiário deve ser contínua, devendo o vínculo com o Estado que
prefere a proteção existir desde a ocorrência do dano e durante toda a demanda.
#ATENÇÃO: A pessoa não pode mudar de nacionalidade após o fato que enseja a reclamação. A
demanda deve ser nacional desde sua origem.
A proteção diplomática não beneficia quem tiver contribuído para o ato ilícito, especialmente
pela violação de normas internacionais ou internas.
Uma vez concedido o endosso, o Estado assume a demanda como se fosse própria, podendo
exercer todos os poderes a isso inerentes, como o de conduzir o caso de acordo com seus interesses,
escolher os meios de solução da controvérsia, transigir ou até desistir.
#ATUALIZAÇÃOLEGISLATIVA:
#DIZERODIREITO:
#COMPLEMENTAÇÃO:
#ATUAÇÃOAGU:
A Lei 13.170/2015 (entra em vigor em 17/01/2016) passa a dispor sobre a ação de indisponibilidade
de bens, valores e direitos, das pessoas físicas ou jurídicas, submetidas a esse tipo de sanção por
Resolução do Conselho de Segurança da ONU.
NOÇÕES PRELIMINARES
4
A matéria está disciplinada no final do documento “sujeitos do DIP”.
Por essa razão, as resoluções do CSNU são obrigatórias para o Brasil, conforme previsto no
artigo 25 da Carta das Nações Unidas:
Artigo 25. Os Membros das Nações Unidas concordam em aceitar e executar as decisões do Conselho
de Segurança, de acordo com a presente Carta.
Atente, portanto, para o fato de que, em regra, não é necessária nem mesmo a participação
do Congresso Nacional, bastando a edição do Decreto. Exceção: para a participação do Brasil em
operações de paz, enviando tropas, é necessária a aprovação do Congresso Nacional, por força da Lei
n.º 2.953/56. Neste caso, o Congresso precisará editar um decreto-legislativo autorizando.
Ressalte-se que alguns doutrinadores criticam essa não-participação do Congresso Nacional na
incorporação ao direito brasileiro das Resoluções do CSNU sob o argumento de que haveria violação
ao art. 49, I, da CF/88. No entanto, apesar do registro desta crítica, o certo é que, na prática, as
resoluções são incorporadas por Decreto presidencial, sem prévia participação do Parlamento.
Dispõe sobre a execução, no território nacional, da Resolução 2174 (2014), de 27 de agosto de 2014,
do Conselho de Segurança das Nações Unidas, que altera o embargo de armas aplicável à Líbia e
autoriza a imposição de sanções a indivíduos e a entidades.
DECRETA:
Art. 1º A Resolução 2174 (2014), adotada pelo Conselho de Segurança das Nações Unidas em 27 de
agosto de 2014, anexa a este Decreto, será executada e cumprida integralmente em seus termos.
Comunicação à AGU
Depois de a resolução do CSNU ser incorporada ao ordenamento jurídico, o Ministério da
Justiça comunicará essa situação à Advocacia-Geral da União, que proporá, no prazo de 24 horas, a
ação de indisponibilidade de bens, valores e direitos (art. 4º).
A ação tramitará sob segredo de justiça.
Intimação do interessado
Depois de conceder a tutela provisória e executar a medida de indisponibilidade, o juiz
determinará a intimação do interessado para, em 10 dias, apresentar razões de fato e de direito que
possam levar ao convencimento de que o bloqueio foi efetivado irregularmente (art. 5º).
Efetivado o bloqueio, as instituições e pessoas físicas responsáveis deverão comunicar o fato,
de imediato:
• ao órgão ou entidade fiscalizador ou regulador da sua atividade (ex: a instituição financeira comunica
ao BACEN);
• ao juiz que determinou a medida;
• à Advocacia-Geral da União; e
• ao Ministério da Justiça.
Se a pessoa punida havia praticado atos de disposição de seu patrimônio, isso pode ser anulado
A declaração de indisponibilidade de bens, valores e direitos implicará a nulidade de quaisquer
atos de disposição, ressalvados os direitos de terceiro de boa-fé (§ 2º do art. 1º).
Assim, se a pessoa que foi punida pelo CSNU houver praticado atos de disposição de seu
patrimônio, tais negócios jurídicos serão anulados por decisão judicial, salvo se ficar demonstrado que
os adquirentes são terceiros de boa-fé.
Alienação antecipada
Deverá ser realizada a alienação antecipada dos bens que estiverem sujeitos a qualquer grau
de deterioração ou depreciação ou quando houver dificuldade para sua manutenção (art. 6º). Isso com
o objetivo de preservar o seu valor.
Antes da alienação, será feita uma avaliação dos bens e o interessado será intimado da
avaliação para, querendo, manifestar-se no prazo de 10 dias.
Será determinada a alienação dos bens em leilão ou pregão, preferencialmente eletrônico, por
valor não inferior a 75% do valor atribuído pela avaliação.
Realizado o leilão ou pregão, a quantia apurada será depositada em conta bancária
remunerada.
Serão deduzidos da quantia apurada no leilão ou pregão os tributos e multas incidentes sobre
o bem alienado.
Perdimento definitivo
Quando ocorrer o trânsito em julgado da sentença condenatória, será decretado o perdimento
definitivo dos bens, valores e direitos (art. 8º).
Essa decisão pode ocorrer em processo judicial nacional ou estrangeiro.
O juiz providenciará a imediata intimação da União sobre a decisão tomada.
A decisão transitada em julgado em processo estrangeiro que decretar o perdimento definitivo
de bens ficará sujeita à homologação pelo STJ (art. 105, I, "i", da CF/88).
Lei 13.170/2015 poderá servir também para demandas de cooperação jurídica internacional
As disposições da Lei nº 13.170/2015 poderão ser usadas também para atender a demandas
de cooperação jurídica internacional, advindas de outras jurisdições, em conformidade com a
legislação nacional vigente (§ 4º do art. 1º).
O que é terrorismo?
O Min. Celso de Mello, de forma precisa, constata que até hoje, “a comunidade internacional
foi incapaz de chegar a uma conclusão acerca da definição jurídica do crime de terrorismo, sendo
relevante observar que, até o presente momento, já foram elaborados, no âmbito da Organização das
Nações Unidas, pelo menos, 13 (treze) instrumentos internacionais sobre a matéria, sem que se
chegasse, contudo, a um consenso universal sobre quais elementos essenciais deveriam compor a
definição típica do crime de terrorismo ou, então, sobre quais requisitos deveriam considerar-se
necessários à configuração dogmática da prática delituosa de atos terroristas” (STF PPE 730/DF,
julgado em 16/12/2014).
Em outras palavras, trata-se ainda de um tema polêmico.
Apesar disso, podemos citar uma definição feita por René Ariel Dotti e que é bastante
difundida no âmbito doutrinário:
“O terrorismo pode ser definido como a prática do terror como ação política, procurando alcançar,
pelo uso da violência, objetivos que poderiam ou não ser estabelecidos em função do exercício legal
da vontade política. Suas características mais destacadas são: a indeterminação do número de vítimas;
a generalização da violência contra pessoas e coisas; a liquidação, desativação ou retração da vontade
de combater o inimigo predeterminado; a paralisação contra a vontade de reação da população; e o
sentimento de insegurança transmitido principalmente pelos meios de comunicação” (Terrorismo e
devido processo legal. RCEJ, ano VI, Brasília, set. 2002, p. 27-30 apud LIMA, Renato Brasileiro
de. Legislação Criminal Especial Comentada. Niterói: Impetus, 2013, p. 58).
O terrorismo é tipificado como crime no Brasil?
Para a maioria da doutrina, a legislação brasileira ainda não definiu o crime de terrorismo.
“O elemento normativo atos de terrorismo constante do art. 20 da Lei nº 7.170/83 é tão vago e
elástico que não permite ao julgador, por ausência de uma adequada descrição do conteúdo fático
desse ato, enquadrar qualquer modalidade da conduta humana. Logo, o crime do art. 20 da Lei nº
7.170/83 não pode ser tratado como terrorismo, sob pena de evidente violação ao princípio da
taxatividade (nullum crimen nulla poena sine lege certa).” (LIMA, Renato Brasileiro de., p. 59).
É a corrente sustentada por Alberto Silva Franco, José Cretella Neto, Damásio de Jesus,
Gilberto Pereira de Oliveira.
Desse modo, para a maioria da doutrina, o terrorismo não é tipificado pela legislação
brasileira, não sendo válido o art. 20 da Lei nº 7.170/83 para criminalizar essa conduta.
#ATENÇÃO: Deve ser cuidado com essa temática, já que, em 16 de março de 2016, sobreveio a Lei
13.260/2016, que regulamenta o disposto no inciso XLIII do art. 5o da Constituição Federal,
disciplinando o terrorismo, tratando de disposições investigatórias e processuais e reformulando o
conceito de organização terrorista; e altera as Leis nos 7.960, de 21 de dezembro de 1989, e 12.850, de
2 de agosto de 2013. Assim, deve-se aguardar a nova posição do STF a respeito do assunto, já que, em
tese, com o advento da Lei estaria superada tal celeuma.
DIPLOMA DISPOSITIVOS
Decreto 7.030/2009 (Convenção de Viena Art. 27
sobre o Direito dos Tratados)
Decreto 19.841/1945 (Carta da ONU) Art. 51
Lei 13.170/2015 Integralmente
8. BIBLIOGRAFIA INDICADA
Foca no Resumo
Anotações Pessoais.