Documente Academic
Documente Profesional
Documente Cultură
Uberaba-MG
2009
LUC DA COSTA RIBEIRO
Uberaba-MG
2009
TERMO DE ISENÇÃO DE RESPONSABILIDADE
Declaro, para todos os fins de direito e que se fizerem necessários, que assumo total
responsabilidade pelo aporte ideológico e referencial conferido ao presente trabalho,
isentando a Universidade do Sul de Santa Catarina, a Rede de Ensino Luiz Flávio
Gomes, as Coordenações do Curso de Especialização em Direito Notarial e
Registral, a Banca Examinadora e o Orientador de todo e qualquer reflexo acerca da
monografia.
This monograph presents a study about the registration system of legal entities under
Brazilian Law, focusing on changes made by the Civil Code of 2002. In Brazil there
are two agencies of registration: the Civil Registry of Legal Entities, responsible for
registration of civil societies, and the Board of Trade, for commercial companies. The
definitive introduction of Business Law by the new Civil Code has brought new
institutes, such as the figure of the entrepreneur, the simple society and the
entrepreneur society. It has not been only a change in nomenclature, but a
restructuring of the fields of incidence of the Civil Law and Commercial Law. The
distinction between the simple society and the entrepreneur society is not clear in the
law, which could lead to practical difficulties for entrepreneurs when registering. To
solve this problem, this study goes deep into distinguishing these two figures, in order
to clearly identify each one of them. The regular registration is essential to the valid
existence of legal entity. The distinction made in this study aims at making clear the
correct registration place and the consequent absence of responsibility for its
irregularity.
Key words: Civil Code of 2002. Business Law. Registration of legal entity. Simple
society. Entrepreneur society. Civil Registration of Legal Entity. Board of Trade.
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO.................................................................................................. 10
3 PESSOA JURÍDICA......................................................................................... 29
3.1 Personalidade Jurídica................................................................................... 30
3.2 A Pessoa Jurídica.......................................................................................... 32
3.2.1 Categorias de pessoas jurídicas no Direito Privado................................... 34
5 CONCLUSÃO................................................................................................... 62
REFERÊNCIAS................................................................................................... 63
10
1 INTRODUÇÃO
2
Observe que a nomenclatura dos serviços de registro mudou com relação ao art. 1º da Lei 6.015/73:
“§1º. Os Registros referidos neste artigo são os seguintes: I - o registro civil de pessoas naturais; II - o
registro civil de pessoas jurídicas; III - o registro de títulos e documentos; IV - o registro de imóveis.
§2º Os demais registros reger-se-ão por leis próprias.”
3
Art. 7º da Lei 8.935/94.
4
Art. 10 da Lei 8.935/94.
5
Art. 11 da Lei 8.935/94.
15
6
Art. 167 da Lei 6.015/73.
16
7
Lei 6.015/973.
18
8
Art. 114 da Lei 6.015/73.
9
"(...) ao contrário do que se presume, ali não se identifica exaustivamente que pessoas jurídicas
estariam inscritas no RCPJ. A lista é meramente enunciativa." (MELO JR., 2003, pp. 241-2).
10
Art. 29 da Lei 6.015/973.
11
Art. 13 da Lei 8.935/94.
19
12
Art. 32 da Lei 8.934/94 combinado com o art. 8º, I, da mesma lei.
20
13
Tecnicamente, o registro e a averbação no Registro Civil das Pessoas Jurídicas equivalem ao
arquivamento na Junta Comercial.
14
“As sociedades de advogados subordinam-se aos preceitos da Lei n. 8.906/94, arts. 15 a 17.”
(CENEVIVA, 2005, p. 254). O registro é na OAB.
21
15
“O registro civil da pessoa jurídica, além de lhe atribuir personalidade de direito (art. 119), pode
produzir outros efeitos. Assim, por exemplo, habilita o partido político a submeter seus estatutos ao
TSE.” (CENEVIVA, 2005, p. 251). “Para alguns tipos de pessoas jurídicas, independentemente do
registro civil, a lei, por vezes, impõe o registro em algum outro órgão, com finalidade cadastral e de
reconhecimento de validade de atuação, como é o caso dos partidos políticos que (...) devem ser
inscritos no Tribunal Superior Eleitoral. (GAGLIANO, 2007, p. 189/90).
16
“Assim, o registro tem efeito constitutivo, diferentemente do que ocorre com o RCPN, que tem
efeito meramente declaratório.” (SIQUEIRA). “E, se assim é, observa-se que o registro da pessoa
jurídica tem natureza constitutiva, por ser atributivo de sua personalidade, diferentemente do registro
civil de nascimento da pessoa natural, eminentemente declaratório da condição de pessoa, já
adquirida no instante do nascimento com vida.” (GAGLIANO, 2007, p. 188).
17
“A existência legal das sociedades – como ocorre com as demais pessoas jurídicas de direito
privado – começa com a inscrição do ato constitutivo – contrato social ou estatuto. Essa inscrição se
faz no Registro Público das Empresas Mercantis, a cargo das Juntas Comerciais, em se tratando de
sociedades empresárias, e nos Cartórios Civis das Pessoas Jurídicas, quanto às sociedades
simples.” (NEGRÃO, 2007, p. 232).
18
Art. 1º, § 2º, da Lei. n. 8.906/94: “Os atos e contratos constitutivos de pessoas jurídicas, sob pena
de nulidade, só podem ser admitidos a registro, nos órgãos competentes, quando visados por
advogados.”
19
Art. 997 do Código Civil.
“O registro (estrito senso) é o meio de constituição de uma pessoa jurídica e tem por base um
instrumento público ou particular. Os atos de averbação também podem ser feitos por meio de
instrumento público ou particular. (...) Os atos de registro/averbação exigem reconhecimento de firma
22
e também nos atos constitutivos e alterações de sociedades simples, visto do advogado. Porém, o
visto do advogado poder ser dispensado para as sociedades enquadráveis como microempresa (ME)
ou empresas de pequeno porte (EPP), conforme LC 123/06.” (SIQUEIRA).
20
No mesmo sentido com relação ao RCPJ: “Objeto da sociedade será o enunciado no ato
constitutivo, a ser aferido pelo oficial, na literalidade das palavras inseridas. Se o oficial verificar que o
objeto da sociedade é de natureza mercantil, não fará o registro.” (CENEVIVA, 2005, p. 256).
21
“A ausência do registro impossibilita, ainda, a faculdade de obter o enquadramento de
microempresa, conforme decorre do art. 3º da Lei Complementar n. 123, de 14 de dezembro de 2006,
que restringe a incidência legal à sociedade empresária, à sociedade simples e ao empresário ‘a que
se refere o art. 966 da Lei n. 10.406, de 10 de janeiro de 2002, devidamente registrados no Registro
de Empresas Mercantis ou no Registro Civil de Pessoas Jurídicas’.” (NEGRÃO, 2007, p. 177).
22
Enunciado 58 da I Jornada de Direito Civil (CJF) – “Art. 986 e seguintes: a sociedade em comum
compreende as figuras doutrinárias da sociedade de fato e da irregular.”
23
23
"a norma inscrita no art. 1.150 tem eficácia imediata a partir do início da vigência do Código de
2002, não sendo necessária qualquer alteração da Lei n. 6.015/73 ou a edição de qualquer ato
regulamentador do registro do comércio para lhe assegurar plena vigência". (MODESTO
CARVALHOSA, 2003, p. 669). “A sociedade simples pode erigir estrutura peculiar, observando as
regras gerais determinadas nos arts. 997 e segs. do Código Civil. Poderá adotar o tipo societário
próprio de qualquer das sociedades empresárias (salvo o das sociedades por ações), conforme
permitem os arts. 983 e a1.150, parte final. Neste caso obedecerá às normas do registro público das
empresas mercantis, embora a competência para o seu registro continue com o registro civil das
pessoas jurídicas.” (REQUIÃO, 2003, p. 405).
24
Enunciado 69 da I Jornada de Direito Civil (CJF) – Art. 1.093: as sociedades cooperativas são
sociedades simples sujeitas à inscrição nas juntas comerciais.
24
25
“A atual Lei de Registros de Empresas (Lei n. 8,934/94) trouxe uma novidade no que se refere ao
registro de imóveis, atribuindo à certidão da Junta Comercial o mesmo valor da escritura para o efeito
de transferir o imóvel dado para a formação ou aumento do capital social. Segundo o art. 64, a
certidão é documento hábil para a transferência no registro público competente.” (NEGRÃO, 2007, p.
186). “Em SP, o entendimento é que uma sociedade simples, cujo capital tenha sido integralizado
com bem imóvel, deva fazer a conferência desse bem por meio de escritura pública, diferentemente
do que ocorre com a sociedade empresária, para a qual o título hábil para a transferência da
propriedade do imóvel, da pessoa física do sócio para a pessoa jurídica, é o próprio contrato social ou
alteração contratual, mesmo que feito por instrumento particular (aplicação da regra do art. 64 da Lei
nº 8934/94).” (SIQUEIRA).
25
26
Art. 215 do Código Civil.
27
27
Enunciado 214 da III Jornada de Direito Civil (CJF) – “Arts. 997 e 1054: As indicações contidas no
art. 997 não são exaustivas, aplicando-se outras exigências contidas na legislação pertinente para
fins de registro.”
28
3 PESSOA JURÍDICA
28
“Sendo o ser humano eminentemente social, para que possa atingir seus fins e objetivos une-se a
outros homens formando agrupamentos. Ante a necessidade de personalizar tais grupos, para que
participem da vida jurídica, com certa individualidade e em nome próprio, a própria norma de direito
lhes confere personalidade e capacidade jurídica, tornando-os sujeitos de direitos e obrigações.”
(DINIZ, 2003, p. 205).
30
(...) que significa para o direito, personalizar alguém ou algo? Qual o traço
diferencial entre o regime dos sujeitos de direito personalizados e
despersonalizados?
O que caracteriza o regime das pessoas, no campo do direito privado, é a
autorização genérica para a prática dos atos jurídicos. Ao personalizar algo
ou alguém, a ordem jurídica dispensa-se de especificar quais atos esse algo
ou alguém está apto a praticar. Em relação às pessoas, a ordem jurídica
apenas delimita o proibido; a pessoa pode fazer tudo, salvo se houver
proibição. Já em relação aos sujeitos despersonalizados, não existe a
autorização genérica para o exercício dos atos jurídicos; eles só podem
praticar os atos essenciais para o seu funcionamento e aqueles
expressamente definidos. Para as não-pessoas, a ordem jurídica não delimita
o proibido, mas o permitido. Mesmo que não exista proibição específica, o
sujeito despersonalizado não pode praticar ato estranho à sua essencial
função. (...)
O sujeito de direito personalizado tem aptidão para a prática de qualquer ato,
exceto o expressamente proibido. Já o despersonalizado somente pode
praticar ato essencial ao cumprimento de sua função ou o expressamente
autorizado. (COELHO, 2007b, pp. 10-1).
Como se viu, não são apenas os entes com personalidade jurídica que
podem realizar atos na esfera civil. Os sujeitos de direito são mais abrangentes.
Veja-se:
Sujeito de Direito = titular de direitos e obrigações. No passado, sujeito de
direito eram as pessoas, ou seja, entes personalizados. Modernamente, ao
lado das pessoas são também considerados sujeitos de direito alguns entes
despersonalizados. (SIQUEIRA).
SUJEITOS DE DIREITO29
29
Baseado, em linhas gerais, em SIQUEIRA.
31
Sócios administradores,
Sócios investidores,
Titulares de serventias
extrajudiciais32.
30
“As pessoas jurídicas de direito privado dividem-se em duas categorias: de um lado, as estatais; de
outro, as particulares.” (COELHO, 2007b, p. 12).
31
Apenas para ilustrar, foram selecionadas aqui algumas categorias de pessoas naturais que atuam
no comércio jurídico, com base nos quatro quadrantes de Robert Kiyosaki (KIYOSAKI; LECHTER,
2001, passim). Os servidores públicos atuam nas pessoas jurídicas estatais e equivalem aos
empregados no setor privado. Os empregados, em geral, trabalham para as pessoas jurídicas
privadas. Os profissionais autônomos e empresários individuais serão tratados mais adiante. Eles
trabalham para si mesmos. Os sócios administradores comandam as pessoas jurídicas e multiplicam
seus rendimentos com o trabalho alheio (empregados). Os sócios investidores são remunerados
através de dividendos pelo capital que injetaram na pessoa jurídica.
32
“A unidade registral (Cartório) não tem personalidade jurídica.” (SIQUEIRA). “(...) os chamados
cartórios, como são conhecidos os dedicados aos serviços registrários e notariais, não assumem
forma de pessoas jurídicas. Sua delegação é atribuída a uma pessoa natural, atuadora de interesse
público, por força do ato que a credencia.” (CENEVIVA, 2005, p. 249).
32
33
Expressão usada por Pontes de Miranda, já que as pessoas jurídicas necessitam de alguém que as
faça presentes. O termo representante é relativo aos absolutamente incapazes.
33
34
Nesse sentido: GAGLIANO, 2007, p. 187; VENOSA, 2004a, p. 256. Já para Maria Helena Diniz:
“Três são os seus requisitos: organização de pessoas ou de bens; liceidade de propósitos ou fins; e
capacidade jurídica reconhecida por norma” (DINIZ, 2003, p. 206).
35
Art. 62 do Código Civil.
36
“O processo genético da pessoa jurídica de direito privado apresenta duas fases: 1) a do ato
constitutivo, que deve ser escrito, e 2) a do registro público.” (DINIZ, 2003, p. 230).
34
O Código Civil sistematiza o rol das pessoas jurídicas nos artigos 40 a 44.
Assim elas se apresentam em de direito público (externo e interno) e de direito
privado. Segundo Fábio Ulhôa Coelho, as pessoas jurídicas de direito privado
subdividem-se:
De um lado, as chamadas estatais, cujo capital social é formado, majoritária
ou totalmente, por recursos provenientes do poder público, que compreende
a sociedade de economia mista, da qual particulares também participam,
embora minoritariamente, e a já lembrada empresa pública. De outro lado, as
pessoas jurídicas de direito privado não-estatais, que compreendem a
fundação, a associação e as sociedades. As sociedades, por sua vez, se
distinguem da associação e da fundação em virtude de seu escopo negocial,
e se subdividem em sociedades simples e empresárias. (COELHO, 2006, p.
110).
37
PESSOAS JURÍDICAS
PESSOAS JURÍDICAS DE DIREITO PRIVADO PESSOAS JURÍDICAS DE DIREITO PÚBLICO
NÃO-ESTATAIS ESTATAIS EXTERNO INTERNO
Associações Sociedade de Estados estrangeiros União
Sociedades economia mista Todas as pessoas Estados
38
Fundações Empresa pública regidas pelo direito Distrito Federal
Organizações Fundações internacional público Territórios
religiosas governamentais (exemplos: ONU, OEA, Municípios
Partidos políticos OPEP, Comunidade Autarquias, inclusive as
Européia, OTAN etc.) associações públicas
Demais entidades de
caráter público criadas
por lei
37
Baseado em NEGRÃO, 2007, p. 179.
38
Criadas para exploração de atividade econômica.
39
A doutrina ainda confunde esses conceitos básicos. Tome como exemplo o texto de Fernando
Passos: “Sempre que peço um exemplo de sociedade simples, me respondem que sociedades
simples são as não empresariais. Não empresariais são as sociedades sem a finalidade lucrativa
[errado: isso é associação ou fundação; a sociedade simples também é não empresarial e tem
finalidade lucrativa], que não têm a organização do trabalho. (...) Mas a sociedade civil pura, sem
finalidade lucrativa, com finalidade cultural, pia, finalidade não empresarial, será uma sociedade
35
simples [na categoria não-empresarial confunde sociedade civil com associação]” (MENDONÇA et al,
2004, p. 87).
40
Enunciado 144 da III Jornada de Direito Civil (CJF) – Art. 44: A relação das pessoas jurídicas de
Direito Privado, constante do art. 44, incs. I a V, do Código Civil, não é exaustiva.
41
“As pessoas jurídicas constituídas no país podem ser declaradas de utilidade pública, por decreto
do Poder Executivo, quando servirem desinteressadamente à coletividade, não sendo remunerados
os cargos de diretoria. O reconhecimento de utilidade pública de uma associação outorga-lhe
capacidade maior, gozando de maior proteção do Estado, mas continua a ser regida pelo direito
privado.” (VENOSA, 2004a, p. 291).
42
Somente a fins religiosos, morais, culturais ou de assistência (art. 62, parágrafo único, CC).
43
Segundo Maria Helena Diniz, as associações podem ser: civis, morais, pias, beneficentes ou
filantrópicas; culturais, como as científicas, literárias, musicais ou artísticas; de assistência social, de
utilidade pública, religiosas, espiritualistas, secretas, estudantis, formadas para manutenção de
escolas livres ou de extensão cultural, de profissionais liberais, desportivas, organizadoras de corridas
de cavalos, recreativas ou sodalícias, de amigos de bairro ou de fomento e defesa, de socorro, para o
exercício de atividade de garimpagem, formadas entre proprietários, de poupança e empréstimos,
compostas por detentores de títulos de renda pública, de agentes de seguro, convenção coletiva de
consumo, truste e ententes, grupos formados entre usuários de um serviço público. (DINIZ, 2003, pp.
216-25).
44
“Com a Lei 9.096, de 19.09.1995, foi acrescentado o inc. III ao art. 114, da Lei 6.015, de 1973,
incluindo nas atribuições dos Registros Civis de Pessoas Jurídicas a inscrição dos atos constitutivos e
estatutos dos partidos políticos.” (RÊGO). “(...) partido político, em regra, tem seus atos registrados no
RCPJ de Brasília.” (SIQUEIRA). “O registro do partido político como sociedade civil é completado pelo
registro no tribunal eleitoral” (CENEVIVA, 2005, p. 254).
45
“O STJ entende que os sindicatos são PJ de direito privado. Portanto, registrados no RCPJ. Não
obstante, existe, ainda, o registro sindical perante o Ministério do Trabalho e Emprego. Esse registro,
segundo o STJ, serve, apenas, para fins meramente cadastrais” (SIQUEIRA). “(...) as entidades
36
SOCIEDADES
NÃO-PERSONIFICADAS PERSONIFICADAS46
(SEM REGISTRO) (COM REGISTRO)
Sociedade em conta de participação Sociedade simples (lato sensu)
(Registro Civil das Pessoas Jurídicas)
Sociedade em Comum (irregulares ou de
Sociedade empresária
fato) (Registro na Junta Comercial)
sindicais obtêm personalidade jurídica com o simples registro civil, mas devem comunicar sua criação
ao Ministério do Trabalho, não para efeito de reconhecimento, mas sim, simplesmente, para controle
do sistema da unicidade sindical, ainda vigente em nosso país (...)”. (GAGLIANO, 2007, p. 189-90).
46
Art. 45 e 985 do Código Civil e art. 119 da Lei 6.015/73.
37
47
“A adoção da teoria da empresa não implica a superação da bipartição do direito privado, que o
legado jurídico de Napoleão tornou clássica nos países de tradição romana. Altera o critério de
delimitação do objeto do Direito Comercial — que deixa de ser os atos de comércio e passa a ser a
empresarialidade —, mas não suprime a dicotomia entre o regime jurídico civil e comercial.”
(COELHO, 2009).
38
48
“Em linguagem atual, esta relação compreenderia: a) compra e venda de bens móveis ou
semoventes, no atacado ou varejo, para revenda ou aluguel; b) indústria; c) bancos; d) logística; e)
espetáculos públicos; f) seguros; g) armação e expedição de navios.” (COELHO, 2006, pp. 9-10).
49
“Se a empresa for uma prestadora de serviços, deverá ter seu contrato social registrado no Cartório
de Registro Civil de Pessoas Jurídicas. Caso seja uma sociedade mercantil, visando a exercer
atividades comerciais ou industriais, deverá registrar seu contrato social na Junta Comercial.” (grifo
nosso) (DORNELAS, 2001, p. 218).
50
“As defasagens entre a teoria dos atos de comércio e a realidade disciplinada pelo Direito
Comercial – sentidas especialmente no tratamento desigual dispensado à prestação de serviços,
negociação de imóveis e atividades rurais.” (COELHO, 2006, p. 10).
51
“Outra razão invocada para a superação da dicotomia foi a insegurança decorrente do caráter
exemplificativo do elenco dos atos de comércio. Uma pessoa, que pensava exercer atividade civil,
podia ser surpreendida com a declaração de sua falência, inclusive em função de inesperados
desdobramentos penais.” (COELHO, 2009).
39
52
“(...) vê-se que o campo de ação do comerciante foi ampliado com o conceito de empresário, pois
se no Direito tradicional o comerciante era um simples intermediário, no novo Direito as atividades da
empresa podem ser também de produção.” (MARTINS, 2006, p. 83).
53
“Já a teoria da empresa se preocupa com o ‘o como se faz’, ou seja, o modo como a atividade
econômica é praticada (com ou sem empresarialidade).” (SIQUEIRA)
40
54
“(...) Houvesse uma verdadeira unificação, não existiriam sociedades simples e sociedades
empresárias, ou seja, sociedades civis e não-civis; a lógica diz que em tal caso as sociedades seriam
empresárias, no máximo umas podendo ser consideradas regulares e outras irregulares.” (MARTINS,
2006, p. 63).
55
“(...) a disciplina jurídica da empresa é a disciplina da atividade do empresário (...) empresa, na
acepção jurídica, significa uma atividade exercida pelo empresário.” (REQUIÃO, 2003, p. 51). “No
direito brasileiro não se pode falar em personificação da empresa, sendo ela encarada como simples
objeto de direito.” (REQUIÃO, 2003, p. 60).
56
“Relacionam-se o empresário, o estabelecimento e a empresa de forma íntima: o sujeito de direito
que exercita (empresário), por meio do objeto de direito (estabelecimento) e os fatos jurídicos
decorrentes (empresa).” (NEGRÃO, 2007, p. 46).
57
Sobre os fatores de produção: “(...) não mais se considerar o capital e o trabalho como sendo os
únicos fatores de produção, mas de se incluir, entre os mesmos, dando-lhe a maior relevância, o
saber, ou seja, a tecnologia, que assegura a produtividade da empresa e, na realidade, o seu
41
presente e o seu futuro, abrangendo tanto as técnicas industriais e comerciais, como a própria
gestão.” (WALD; FONSECA, 2005, p. 7-8).
58
“Para chegar ao conceito de empresário, necessariamente, o estudante deve partir do conceito de
atividade empresarial.” (NEGRÃO, 2007, p. 56).
42
59
No mesmo sentido: “Como se depreende do exposto, na empresa, no sentido jurídico deste termo,
reúnem-se e compõem-se três fatores, em unidade indecomponível: a habitualidade no exercício de
negócios, que visem à produção ou à circulação de bens ou de serviços; o escopo de lucro ou
resultado econômico; a organização ou estrutura estável dessa atividade.” (REALE, 1986, p. 98).
60
“Quanto ao requisito da profissionalidade (o qual para G. Ferri é essencial) estão todos concordes
no que se refere à habitualidade (aliás os códigos de comércio costumavam referir-se à profissão
habitual, considerada pleonástica), estabilidade, continuidade, atividade desenvolvida de maneira
sistemática.” (BULGARELLI, 1995, p. 124).
43
61
“Melhor seria o legislador ter utilizado o vocábulo escopo, ou sinônimo, em vez de objeto, seja para
evitar sua confusão com o objeto, assim considerado como elemento de todo ato jurídico, seja para
acentuar a quebra com a tradição recepcionada do Direito Civil francês.
Houve, portanto, o deslocamento da valoração do objeto, ditando a natureza jurídica das sociedades,
saindo seu exame do aspecto civil ou comercial e passando a valorá-lo; principalmente, sob a óptica
da forma de seu exercício; o meio utilizado pelos sócios para alcançar os fins sociais.” (RÊGO).
62
(NEGRÃO, 2007, p.49). “O empresário e a sociedade empresária exercem a empresa; ausente a
empresa, tem-se a figura do profissional autônomo ou da sociedade simples.” (BORBA, 2009a).
45
63
Podem surgir dúvidas para avaliar se a atividade individual é empresária ou não, cabendo ou não a
inscrição na Junta Comercial. Nesse caso, a distinção entre sociedade simples e empresária dará
importantes subsídios para a solução dessa questão.
64
“O Código Civil, Lei n. 10.406/2002, abandonou o confronto entre as duas espécies de empresas,
civil e comercial, mantendo apenas discreta e indiretamente uma distinção entre ambas quando
dispensa certos empresários da inscrição no Registro Público de Empresas Mercantis, registro cuja
existência confirma.” (grifo nosso) (REQUIÃO, 2003, p. 61).
65
“Assim, para saber se dada sociedade é simples ou empresária, basta considerar a natureza de
suas operações habituais; se estas tiverem por objeto o exercício de atividades econômicas
organizadas para a produção ou circulação de bens ou de serviços próprias de empresário, sujeito a
registro, a sociedade será empresária; caso contrário, simples, mesmo que adote quaisquer das
formas empresariais, como permite o art. 983 do Código Civil, exceto se for anônima, que, por força
de lei, será sempre empresária.” (FIUZA, 2006, p. 49). “Assim, para se saber se dada sociedade é
simples ou empresária, basta considerar-se a natureza das operações habituais: se estas tiverem por
objeto o exercício de atividades econômicas organizadas para a produção ou circulação de bens ou
de serviços, próprias de empresário sujeito a registro (CC, arts. 982 e 967), a sociedade será
empresária.” (DINIZ, 2003, p. 227). “(...) basta aferir a existência da atividade econômica organizada
voltada para o mercado”. (NEGRÃO, 2007, p. 46).
66
“Vê-se, pois, com clareza absoluta, que as sociedades empresárias é que estão engessadas pela
forma de exercício da sua atividade. Somente haverá sociedade empresária havendo
empresarialidade. As simples não sofrem enumeração taxativa, ao contrário, assim serão
consideradas todas as atividades residuais, ou melhor, despidas de empresarialidade.” (RÊGO).
46
ATIVIDADES CIVIS
TIPO DE ATIVIDADE CRITÉRIO
Exploradas por quem não se enquadra Quanto à organização
no conceito legal de empresário
Profissão liberal Quanto ao objeto
Empresário rural Quanto ao objeto
Cooperativa Quanto ao tipo societário
67
Enunciado 57 da I Jornada de Direito Civil (CJF) – “Art. 983: a opção pelo tipo empresarial não
afasta a natureza simples da sociedade.”
Enunciado 382 da IV Jornada de Direito Civil (CJF) – “Nas sociedades, o registro observa a natureza
da atividade (empresarial ou não – art. 966); as demais questões seguem as normas pertinentes ao
tipo societário adotado (art. 983). São exceções as sociedades por ações e as cooperativas (art. 982,
parágrafo único).”
48
TIPOS SOCIETÁRIOS68
SIMPLES (lato sensu) EMPRESÁRIOS
(Registro Civil das Pessoas Jurídicas) (Registro na Junta Comercial)
68
“Quer dizer, de acordo com o sistema adotado pelo Código Reale, as sociedades personificadas se
classificam, inicialmente, em empresárias e simples (não-empresárias). As empresárias podem adotar
um de 5 tipos: nome coletivo, comandita simples, limitada, anônima e comandita por ações. As
simples (em sentido lato), por sua vez, também podem adotar um de 5 tipos (em parte, diferentes):
nome coletivo, comandita simples, limitada, cooperativa e simples (em sentido estrito).” (COELHO,
2009). “A sociedade simples lato sensu (natureza da sociedade) poderá assumir a forma típica da
sociedade simples (sociedade simples stricto sensu – tipo da sociedade) ou qualquer das outras
formas societárias, exceto as das sociedades por ações (sociedades anônimas e sociedades em
comandita por ações), uma vez que estas são sempre empresárias (art. 982, § único).” (BORBA,
2009b).
69
Enunciado 206 da III Jornada de Direito Civil (CJF) – Arts. 981, 983, 997, 1.006, 1.007 e 1.094: A
contribuição do sócio exclusivamente em prestação de serviços é permitida nas sociedades
cooperativas (art. 1.094, I) e nas sociedades simples propriamente ditas (art. 983, 2ª parte).
49
70
Não pode optar pelo SIMPLES.
71
“Outro ponto que não pode ser olvidado é a não aplicação, nas sociedades simples, de qualquer
restrição à integração do quadro social por cônjuges, qualquer que seja o regime do casamento. Isso
porque no sistema adotado pelo novo Código Civil o impedimento, previsto nos arts. 968, I, e 977,
somente é aplicável aos empresários e às sociedades empresárias, eis que esses dispositivos
integram o Título I - Do Empresário, do Livro lI, da lei nova. Portanto, somente se aplicam ao
empresário e à sociedade empresária.” (RÊGO).
72
“(...) sociedade simples, não poderá desenvolver atividades próprias de sociedade empresária,
salvo se estas se enquadrarem nas exceções legais (atividades intelectuais, rurais, ou de pequena
empresa).” (BORBA, 2009a). Enunciado 196 da III Jornada de Direito Civil (CJF) – “Arts. 966 e 982: A
sociedade de natureza simples não tem seu objeto restrito às atividades intelectuais.”
73
“Bem se denota que a sociedade simples é peculiar às atividades do meio rural, artesanal e
sociedades profissionais, como médicos, engenheiros, advogados e quaisquer outros que se
associam para prestação de serviços dessa natureza.” (MARTINS, 2006, p. 245).
74
“Se considerarmos a natureza do objeto social como item fundamental para definir a natureza da
sociedade, e como a lei autoriza que a sociedade simples adote o formato de um dos tipos permitidos
de sociedades empresárias, é de se concluir que, em razão de tal opção, não deixa de ser sociedade
simples. E o será por força de seu objeto.” (REQUIÃO, 2003, p. 405).
50
75
“(...) o desenvolvimento acelerado da atividade rural estava a recomendar, a curto prazo, sua
progressiva sujeição aos deveres e restrições impostos aos demais empresários. (...) Desse modo, a
atividade rural ou de exploração agrícola ou pecuária sempre esteve submetida ao direito civil,
regulada por um ramo específico, denominado direito agrário. O agricultor ou pecuarista, assim, não
se enquadrava, inicialmente, como empresário. Ele adquire essa condição e passa a ter sua atividade
regulada pelo direito de empresa a partir de sua inscrição facultativa no Registro Público de
Empresas Mercantis (art. 971).” (FIUZA, 2006, p. 790-1). “De acordo com o art. 971, é facultado a
qualquer produtor rural organizar sua atividade econômica sob a forma de empresa. Nesse caso, ele
pode atuar como empresário (antiga firma individual) ou através de uma sociedade empresária, e o
seu correspondente ato constitutivo deve ser levado para arquivamento na Junta Comercial. Este
dispositivo equipara, para todos os efeitos legais, o exercício de atividade rural por intermédio do
empresário rural ou da sociedade empresária rural, quando a empresa tenha como objeto a
exploração de atividade agrícola ou pecuária e esta for economicamente dominante para quem a
realiza, como principal profissão e meio de sustento.” (FIUZA, 2006, p. 792). “Agora, o empresário
rural pode optar – acho o texto muito bom. O empresário rural individual ou a sociedade rural podem
optar por querer estar regidos pelas normas que regem as empresas no Brasil, sujeitos, assim, à
falência e concordata. Se não optar, vai ao Cartório de Registro; se optar, inscreve seu ato
constitutivo na Junta Comercial. A lei definiu que ele pode fazer a opção e o registro vai definir o que
ele quis ser.” (MENDONÇA et al, 2004, p. 83-4).
76
“O objeto da sociedade simples poderá incluir, por exemplo, a prestação de serviços intelectuais,
artísticos, científicos ou literários.
51
Esses serviços são espécies de um mesmo gênero e podem ser caracterizados pelo fato de a
prestação ter natureza estritamente pessoal.” (NEGRÃO, 2007, p. 307).
77
“Quis o legislador deixar bem claro, no parágrafo único do art. 966, que os profissionais intelectuais
não são empresários mesmo que organizassem o trabalho de empregados, porque seria apenas
neste caso que a possibilidade de confusão existiria.” (COELHO, 2009).
78
“A atuação pessoal será um mero ingrediente dentro de um ‘bolo’ maior que é a empresa.”
(SIQUEIRA). “O trabalho intelectual seria um elemento de empresa quando representasse um mero
componente, às vezes até o mais importante, do produto ou serviço fornecido pela empresa, mas não
esse produto ou serviço em si mesmo.” (BORBA, 2009b).
52
que ainda há quem lecione como se tivesse havido apenas uma mudança de
nomenclatura, chamando agora atos de empresa aos antigos atos de comércio79.
Sociedade empresária não é, assim, apenas um nome diferente para o que
todos conheciam por sociedade comercial. Trata-se de conceito mais amplo,
que abarca uma das maneiras de se organizar, a partir de investimentos
comuns de mais de um agente, a atividade econômica de produção ou
circulação de bens ou serviços. (COELHO, 2007b, p. 6).
A sociedade empresária é pessoa jurídica que congrega pessoas físicas
interessadas em obter lucro mediante a exploração de atividade econômica.
Não é, simplesmente, uma sociedade comerciante. Trata-se de titularização
de uma organização econômica, quer dizer, dirigida à produção e circulação
de bens e/ou serviços. (FAZZIO JÚNIOR, 2006, p. 161).
Ainda que não tenha mais a mesma importância, pode haver casos em
que a sociedade tenha mais de uma atividade, sendo algumas delas tipicamente
civis. Nesse caso, a doutrina sugere que seja considerada a atividade
preponderante80.
79
“A expressão sociedade civil, ou sociedade simples na nova denominação, deve ficar reservada às
atividades típicas de profissões liberais ou prestação de serviços técnicos, como as sociedades de
advogados, médicos, engenheiros, arquitetos, contabilistas, corretores, despachantes etc. Ainda que
essa sociedade venha a praticar atos típicos de comércio, tal não desvirtuará sua natureza.
Todavia, a sociedade comercial é a que, possuindo atividade lucrativa, assume modalidade mercantil
e pratica habitualmente a mercancia, ou, em terminologia moderna, atos de empresa.” (grifo nosso)
(VENOSA, 2004b, p. 610). Veja também o enunciado 207 da III Jornada de Direito Civil (CJF).
80
“Assim, no que concerne às chamadas sociedades de objeto misto, a orientação mais segura é
fixar sua qualidade com alicerce na atividade preponderante, mesmo porque para a tipificação
empresarial não basta a atividade negocial esporádica, sendo necessária a profissionalidade.”
(FAZZIO JÚNIOR, 2006, p. 189). “Mesmo que uma sociedade simples venha a praticar,
eventualmente, atos peculiares ao exercício de uma empresa, tal fato não a desnatura, pois o que
importa para identificação da natureza da sociedade é a atividade principal por ela exercida (RT,
462:81).” (DINIZ, 2003, p. 227).
81
“Empresariais são as atividades econômicas organizadas como empresas. Sempre que ao produzir
ou circular bens ou serviços, alguém combina os quatro fatores de produção do capitalismo superior
(mão-de-obra, insumos, tecnologia e capital), confere à sua atividade uma organização específica. O
nome desta organização é empresa.
Não-empresariais, por sua vez, são as atividades econômicas exploradas independentemente da
articulação dos fatores de produção. Quando quem produz ou circula bens ou serviços não contrata
senão alguns poucos empregados, não adquire nem desenvolve sofisticadas tecnologias, não faz
circular insumos ou não tem relevante capital, falta-lhe empresarialidade.” (COELHO, 2009).
Com relação à questão de ligar-se a empresarialidade à contração de empregados, Fernando Passos
faz uma crítica à doutrina de Fábio Ulhoa Coelho: “Os três pressupostos da empresa – atividade
organizada, habitualidade e lucratividade – têm dado problema de interpretação. O professor Fábio
53
Ulhoa, no seu livro Manual de Direito Comercial, entende que atividade organizada pressupõe
contratação de mão-de-obra. Isso não existe na teoria econômica, que aceita a empresa de atividade
organizada através da mão-de-obra de outro. Isto tem sido debatido no Direito Italiano, desde 1942:
se a lei não fez exigência, empresário será também aquele que não tem empregados; ele estará
sujeito também à falência e concordata. Num exemplo muito atual, o cidadão que tem uma empresa
de internet dentro de sua casa, que faz tudo sozinho, está sujeito à falência? Está! A lei não faz
exceção. O mesmo se diga em relação à sociedade empresarial em geral, mesmo com apenas dois
sócios que trabalham no balcão e não têm empregados!” (MENDONÇA et al, 2004, p. 81/2).
82
“(...) o novo Código Civil, de acordo com a redação dada ao seu art. 982, restringe, apenas, o con-
ceito de sociedade empresária, sendo simples todas as demais. (...) Caberá, assim, ao Registro Civil
de Pessoas Jurídicas o registro dos atos constitutivos das sociedades simples em geral.” (RÊGO)
83
“(...) caberá ao intérprete submeter os casos concretos à apreciação da presença ou não dos três
elementos identificadores, determinando se suas atividades são ou não empresárias.” (NEGRÃO,
2007, p. 308).
84
Seria o caso do parágrafo único do art. 981 do Código Civil. Essas sociedades criadas para realizar
um ou mais negócios determinados devem ser simples.
54
A diferença entre estas, como alertou o professor Miguel Reale, não reside
no OBJETO SOCIAL, pois repita-se, ambas realizam ALTIVIDADES
ECONÔMICAS, o que as aparta, o que as diferencia, é a ESTRUTURA, é a
FUNCIONALIDADE, é o modo de atuação.
A ORGANIZAÇÃO EMPRESARIAL ou usando-se a terminologia do Código
Civil, a SOCIEDADE EMPRESÁRIA, bem irradia a idéia de “impessoalidade”
(...)
Diversamente, a ORGANIZAÇÃO SIMPLES, ou SOCIEDADE SIMPLES,
mesmo sendo ou representando uma pessoa jurídica ou uma abstração
teórica, ostenta um certo caráter pessoal, um atrelamento entre a figura dos
sócios e a atividade desenvolvida pela sociedade. As sociedades simples
devem realizar seus objetivos sociais, com a direta participação ou
supervisão de seus sócios, independentemente de sua dimensão e
complexidade.
A SOCIEDADE SIMPLES representa, destarte, a reunião de esforços
tendentes a atingir um objetivo enquadrado como “atividade econômica”, sem
que ocorra a integral “desconfiguração” ou “despersonalização” da figura de
seus titulares, de seus sócios ou integrantes. (...) Assim, a SOCIEDADE
SIMPLES deve estar amarrada umbilicalmente à especialidade dos sócios,
ao conhecimento prático ou técnico que estes ostentam, ou simplesmente à
atuação direta destes. (SALLES)
O que irá, de verdade, caracterizar a pessoa jurídica de direito privado não-
estatal como sociedade simples ou empresária será o modo de explorar seu
objeto. O objeto social explorado sem empresarialidade (isto é, sem
profissionalmente organizar os fatores de produção) confere à sociedade o
caráter de simples, enquanto a exploração empresarial do objeto social
caracterizará a sociedade como empresária. (...)
Por critério de identificação da sociedade empresária elegeu, pois, o direito o
modo de exploração do objeto social. Esse critério material, que dá relevo à
maneira de se desenvolver a atividade efetivamente exercida pela sociedade,
na definição de sua natureza empresarial, é apenas excepcionado em
relação às sociedades por ações. (...) Salvo nestas hipóteses – sociedade
anônima, em comandita por ações ou cooperativas –, o enquadramento de
uma sociedade no regime jurídico empresarial dependerá, exclusivamente,
da forma com que explora seu objeto. Uma sociedade limitada, em
decorrência, poderá ser empresária ou simples: se for exercente de atividade
econômica organizada para a produção ou circulação de bens ou serviços,
será empresária; caso contrário ou se dedicando a atividade econômica civil
(sociedade de profissionais intelectuais ou dedicada à atividade rural sem
registro na Junta Comercial), será simples. (COELHO, 2006, p. 111).
Para ser empresária a sociedade deve gerir profissionalmente os meios de
85
produção . Deve haver certa sofisticação nessa gestão e uma despersonalização na
atuação dos sócios. O tamanho do empreendimento não é fator determinante para
descortinar a empresarialidade, visto que o artigo 1000 do Código Civil prevê que as
sociedades simples podem ter filiais.
Não tem importância, note-se, a dimensão do negócio. Normalmente, não se
consegue explorar atividade econômica de vulto sem a organização
empresarial. Mas não há relação necessária entre um e outro vetor. Tanto
assim que pequenos negócios podem ser explorados empresarialmente. O
85
A contrario sensu, sobre a atividade não-empresária: “aquela atividade poderá ser adequada e
inteiramente explorada sem a organização dos fatores de produção; ou seja, com o trabalho pessoal
e da família, sem sofisticados controles operacionais, de estoque e de caixa, sem estabelecimento
complexo.” (grifo nosso) (COELHO, 2009).
55
86
“(...) o que determina a diferença é a organização do trabalho na sociedade. Uma grande empresa,
com divisão do trabalho mais complexa, onde os sócios são apenas administradores, deve ter registro
como sociedade empresária.” (TEIXEIRA, 2009)
87
No mesmo sentido: “Modernamente, a distinção entre sociedade simples e sociedade
empresária não se faz mais em relação ao objeto social isoladamente considerado, mas em face da
forma (do modo) como esse objeto é desenvolvido, ou seja, com empresarialidade (organização =
organização dos fatores de produção) ou sem empresarialidade.
A sociedade simples é, em suma, a sociedade não empresária. Na sociedade simples, como visto
acima, a atuação pessoal dos sócios prepondera sobre a organização dos fatores de produção. Já
com a sociedade empresária ocorre justamente o inverso, isto é, a organização dos fatores de
produção prepondera sobre a atuação pessoal dos sócios, que neste caso torna-se o que a lei chama
de elemento de empresa (966 e respectivo parágrafo único do CC).” (SIQUEIRA)
“Por isso, podemos afirmar que haverá sociedade simples sempre que o atuar dos sócios se dê de
forma preponderante, direta e pessoal; e será empresária toda a sociedade onde o atuar dos sócios
se dê apenas como mais um elemento da organização, gerenciando os fatores de produção.”
(RÊGO).
56
88
Com relação ao item c1, consideramos que não é a adoção do tipo de sociedade simples stricto
sensu que tornará a sociedade não-empresária, mas pelo contrário, o fato de ser não-empresária é
que possibilitará adotar esse tipo societário, diferentemente das cooperativas, cuja determinação vem
da lei. Da mesma forma, no item d, é o fato de ser simples lato sensu que possibilitará a constituição
apenas por sócios de serviço e não o contrário.
58
ATIVIDADE ECONÔMICA
SIMPLES (lato sensu) 89 EMPRESÁRIAS
(Registro Civil das Pessoas Jurídicas) (Registro na Junta Comercial)
Cooperativa (independente do Sociedade anônima ou em
objeto) ou sociedade simples90 comandita por ações (independente
stricto sensu (apenas se atividade do objeto, inclusive se a atividade for
for compatível com os itens compatível com os itens seguintes)
seguintes)
e m
e m
89
Essas sociedades podem ter a participação de ambos os cônjuges.
90
Essas sociedades podem ser constituídas apenas por sócios de serviços.
59
Tudo o que foi estudado até agora só tem uma razão de ser: escolher o
correto local para registro, pois a irregularidade dessa escolha pode ter
conseqüências danosas, como se verá no próximo item.
91
Enunciado 208 da III Jornada de Direito Civil (CJF) – “Arts. 983, 986 e 991: As normas do Código
Civil para as sociedades em comum e em conta de participação são aplicáveis independentemente
de a atividade dos sócios, ou do sócio ostensivo, ser ou não própria de empresário sujeito a registro
(distinção feita pelo art. 982 do Código Civil entre sociedade simples e empresária).”
Existe um caso de irregularidade mais raro, que é quando a sociedade empresária continua em
funcionamento com o registro cancelado por inatividade: “(...) se a sociedade empresária não
praticou, em dez anos, nenhum ato sujeito a registro, ela deve tomar a iniciativa de comunicar à Junta
a sua intenção de manter-se em funcionamento. (...) se a sociedade não providenciar a comunicação
de intenção de funcionamento, a Junta instaura um procedimento para o cancelamento do registro,
passando a considerar a empresa inativa.” (COELHO, 2007a, p. 77).
92
“(...) as chamadas sociedades de fato não possuem personalidade jurídica. A lei reconhece,
evidentemente, a existência dessas sociedades, já que admite a sua prova mesmo por presunção,
mas a condição essencial para que a pessoa jurídica tenha existência legal é o arquivamento dos
atos constitutivos (...)”(MARTINS, 2006, p. 188).
93
“A principal sanção imposta à sociedade empresária que explora irregularmente sua atividade
econômica, isto é, que funciona sem registro na Junta Comercial, é a responsabilidade ilimitada dos
sócios pelas obrigações da sociedade” (COELHO, 2007a, p. 74). “O acervo de bens das sociedades
não personificadas responde pelas obrigações, e subsidiariamente, os seus sócios têm o dever de
concorrer com os seus haveres, na dívida comum, proporcionalmente à sua entrada (CPC, art. 596).
(...) a falta de registro acarreta a comunhão patrimonial e jurídica da sociedade e de seus membros,
confundindo-se seus direitos e obrigações com os dos sócios.” (DINIZ, 2003, p. 236).
60
94
Ainda é válida a observação de Fábio Ulhoa Coelho no sistema atual, pois a dicotomia ainda
persiste entre sociedades simples e empresárias: “Outra razão invocada para a superação da
dicotomia foi a insegurança decorrente do caráter exemplificativo do elenco dos atos de comércio.
Uma pessoa, que pensava exercer atividade civil, podia ser surpreendida com a declaração de sua
falência, inclusive em função de inesperados desdobramentos penais.” (grifo nosso) (COELHO,
2009).
95
O trecho em negrito são restrições próprias das sociedades empresárias.
61
96
“A irregularidade estaria na falta de inscrição, não na inscrição inadequada, tanto que a finalidade
do registro, que é a publicidade e a fiscalização do cumprimento dos preceitos legais aplicáveis,
estaria, de qualquer sorte, assegurada. A irregularidade (registro impróprio) ocorreria apenas quando
a inadequação do registro fosse manifesta, ou quando houvesse evidente intuito de fraudar a lei.
Nesses casos, o registro poderia ser desconstituído, ou ter os seus efeitos afastados, por decisão
judicial.” (BORBA, 2009b).
62
5 CONCLUSÃO
REFERÊNCIAS
AZEVEDO, Philadelpho. Registros públicos. Rio de Janeiro: Almeida & Cia, 1929.
_________. Lei dos Registros Públicos comentada. 16. ed. atual. São Paulo:
Saraiva, 2005.
COELHO, Fábio Ulhoa. Curso de direito comercial. 11. ed. rev. e atual. São Paulo:
Saraiva, 2007a. V. 1.
________. Curso de direito comercial. 11. ed. rev. e atual. São Paulo: Saraiva,
2007b. V. 2.
________. Manual de direito comercial. 17. ed. rev. e atual. São Paulo: Saraiva,
2006.
DINIZ, Maria Helena. Curso de direito civil brasileiro. 20. ed. rev. e aum. de
acordo com o novo Código Civil. São Paulo: Saraiva, 2003. V. 1.
FAZZIO JÚNIOR, Waldo. Manual de direito comercial. 7. ed. São Paulo: Atlas,
2006.
65
FIUZA, Ricardo (coord.). Novo Código Civil comentado. 5 ed. atual. São Paulo:
Saraiva, 2006.
MENDONÇA, Jacy de Souza et al. Inovações do novo código civil. São Paulo:
Quartier Latin, 2004.
RÊGO, Paulo Roberto de Carvalho. Registro Civil das Pessoas Jurídicas. In: DIP,
Ricardo. Introdução ao Direito Notarial e Registral. Sergio Antonio Fabris Editor.
P. 135 a 167. Material da 1ª aula da Disciplina Serviços Registrais Específicos,
ministrada no Curso de Especialização Telepresencial e Virtual em Direito Notarial e
Registral - UNISUL - REDE LFG. Também disponível em:
<http://www.irtdpjsaopaulo.com.br/PJxNCC.htm>. Acesso em: 03.03.2009.
REQUIÃO, Rubens. Curso de direito comercial. 25 ed. atual. São Paulo: Saraiva,
2003. V. 1.
VENOSA, Sílvio de Salvo. Direito civil. 4. ed. São Paulo: Atlas, 2004a. V. 1.