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Curso
Direito Processual Civil II
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Carga horária: 60 hs
Conteúdo

Direito Processual Civil: Evolução Histórica ................................ ......................... Pág. 7


Jurisdição, Ação e Processo ................................ ................................ ................ Pág. 18
Competência ................................ ................................ ................................ ........ Pág. 28
Partes e Procuradores ................................ ................................ ......................... Pág. 37
Atos Processuais ................................ ................................ ................................ . Pág. 55
Resposta do Réu ................................ ................................ ................................ . Pág. 68
Formação, Suspensão e Extinção do Processo ................................ ................... Pág. 72
Processo de Conhecimento ................................ ................................ ................. Pág. 76
Cumprimento de Sentença................................ ................................ ................... Pág. 95
Recursos ................................ ................................ ................................ .............. Pág. 98
Ação Rescisória ................................ ................................ ................................ ... Pág. 104
Processo de Execução................................ ................................ ......................... Pág. 106
Processo Cautelar ................................ ................................ ................................ Pág. 121
Procedimentos Especiais ................................ ................................ ..................... Pág. 128
Lei dos Juizados Especiais ................................ ................................ .................. Pág. 137
1. DIREITO PROCESSUAL CIVIL: EVOLUÇÃO HISTÓRICA

Superado o período em que os conflitos eram solucionados por meio da


força, atualmente essa tarefa compete apenas ao Estado, embora não com
absoluta exclusividade.
Ainda admite-se a utilização da autotutela, isto é, da resolução de conflitos
através do uso da própria força, mas apenas em casos excepcionais,
expressamente autorizados por lei.
A autocomposição, por sua vez, que é a resolução de conflitos pelas
próprias partes é preferida aos demais meios, certamente, e pode ser
realizada sempre que a lei não a proíba. Diz-se que a autocomposição é
preferida aos demais métodos de solução de conflitos pois ela reflete a
integração das partes litigantes, que mediante concessões recíprocas
decidem pôr fim amigável ao conflito.
Excetuada a autotutela e a autocomposição, às partes também é facultado
o uso da arbitragem, nos termos da Lei n.º 9.307/96.
No entanto, tais métodos de solução de conflitos podem não ser autorizados
por lei em se tratando de determinados assuntos. Por exemplo, não se
admite a utilização da arbitragem em relação a assuntos atinentes a direitos
indisponíveis (art. 1º, Lei n.º 9.307/96).
Dessa forma, o processo se mostra como o instrumento oficial e, muitas
vezes, como único veículo passível de utilização para solução dos conflitos.
O processo, hoje, é o instrumento estatal para o exercício da jurisdição, ou
seja, o meio através do qual o Estado “diz o direito” aplicável às situações
que lhe são submetidas.

1.1 Fontes do direito processual civil

As fontes do direito processual civil dividem-se em formais e nãoformais. As


fontes formais dadas, basicamente, pelo artigo 4º, da Lei de introdução às
Normas do Direito Brasileiro, são:
a) a lei;
b) a analogia;
c) os costumes;
d) os princípios gerais de Direito; e
e) as súmulas vinculantes, do Supremo Tribunal Federal.

Por sua vez, são fontes não formais do direito processual civil:
a) a doutrina; e
b) a jurisprudência.
É importante estar atento à situação particular das súmulas vinculantes.
Muito embora as súmulas editadas pelos Tribunais superiores sejam mero
reflexo da jurisprudência dominante nos seus respectivos âmbitos, no caso
das súmulas vinculantes, há produção de efeitos não só em relação aos
órgãos do Poder Judiciário, como também à administração pública direta e
indireta, nas esferas federal, estadual e municipal. Mais que mero reflexo
jurisprudencial, as súmulas vinculantes tem o condão de norte interpretativo
no vigente ordenamento pátrio. Para melhor explicar, veja-se a ilustração.

FONTES FORMAIS: FONTES NÃO FORMAIS:

1.2 Lei processual civil no espaço

Dispõe o artigo 1º Lei de introdução às Normas do Direito Brasileiro que “a


jurisdição civil, contenciosa e voluntária, é exercida pelos juízes, em todo o
território nacional, conforme as disposições que este Código estabelece”.
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Portanto, a aplicação do Código de Processo Civil brasileiro deve ser
observada em todo o território nacional, ainda que as regras de direito
material aplicáveis ao caso concreto sejam de outro país. É importante não
esquecer tal possibilidade, pois, por exemplo, nos termos do artigo 10, da
Lei de introdução às Normas do Direito Brasileiro:
Art. 10. A sucessão por morte ou por ausência obedece à lei do
país em que domiciliado o defunto ou o desaparecido, qualquer
que seja a natureza e a situação dos bens.
§ 1º A sucessão de bens de estrangeiros, situados no País, será
regulada pela lei brasileira em benefício do cônjuge ou dos filhos
brasileiros, ou de quem os represente, sempre que não lhes seja
mais favorável a lei pessoal do de cujus.
§ 2º A lei do domicílio do herdeiro ou legatário regula a
capacidade para suceder.
Nesses casos, portanto, embora o processo tramite no Brasil e siga as
regras processuais pátrias, nada impede que as lei regentes do direito
material sejam oriundas de ordenamentos jurídicos alienígenas .
Outra e diversa hipótese ocorre quando o processo tramita no exterior.
Nesse caso, as decisões nele proferidas não produzem quaisquer efeitos no
Brasil, senão depois de homologada pelo Superior Tribunal de Justiça.
Embora a redação do artigo 483 do Código de Processo Civil ainda se refira
ao Supremo Tribunal Federal, é importante lembrar que se trata de redação
anterior à Constituição Federal de 1988, que dispõe expressamente ser
competência do Superior Tribunal de Justiça (que também foi uma criação
da CRFB/88), a homologação de sentenças estrangeiras e a concessão de
exequatur às cartas rogatórias (art. 105, I, “i”). Apenas para esclarecer,
conceder exequatur é o mesmo que dar cumprimento, ou seja, dar execução
às cartas rogatórias.

1.3 Lei processual civil no tempo

A vigência da lei processual civil obedece ao comando geral da Lei de


introdução às Normas do Direito Brasileiro. Se nada for disposto em sentido
diverso, a lei começa a vigorar 45 (quarenta e cinco) dias depois de
oficialmente publicada.
Não há que se falar em retroação da lei processual em relação aos
processos que já estejam extintos quando do início de sua vigência. No
entanto, para os processos em andamento vige o princípio tempus regit
actum, ou, em outras palavras, a lei processual aplicável ao ato é a lei
processual vigente ao seu tempo. Assim, publicada nova lei processual,
essa tem aplicabilidade imediata, e passa a conduzir todos os processos
que estejam em andamento.
Essa aplicação imediata não prejudica, contudo, os atos processuais que já
tenham sido praticados, assim como aqueles que já tenham tido sua pratica
iniciada quando a lei nova entrou em vigor. Quanto à última situação, o tema
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não é pacífico, mas se fala, com razão, em direito processual adquirido. Por
exemplo, imagine-se que uma das partes em litígio recebeu sentença
desfavorável. Ela terá 15 (quinze) dias para interpor seu recurso de
apelação. Imagine-se, no entanto, que após o decurso de 10 (dez) dias seja
publicada uma lei, com início imediato de vigência, que reduza o prazo de
mencionado recurso para apenas 8 (oito) dias. Evidentemente, a parte não
poderá ser prejudicada, e poderá gozar do prazo que era previsto quando
teve início a abertura do prazo para interposição do recurso de apelação,
tendo, em relação a esse prazo (de 15 dias), nítido direito processual
adquirido.
Situação diversa ocorre quando uma lei inicia sua vigência e apresenta
hipótese de ampliação do direito das partes. Considerando o exemplo acima
mencionado, caso a nova lei aumentasse de 15 (quinze) para 20 (vinte) dias
o prazo para interposição da apelação, este aumento certamente
beneficiaria o recorrente, pois é mandamento constitucional que a lei não
retroagirá apenas quando prejudicar o direito adquirido, nenhum óbice
existindo na retroação que beneficia esse direito.

1.4 Princípios regentes do processo civil

Os princípios que regem o direito processual civil podem ser divididos em


dois grupos, os constitucionais e os infraconstitucionais.

São princípios constitucionais, atinentes ao direito processual civil:

a) princípio da isonomia;
b) princípio do contraditório e da ampla defesa;
c) princípio da inafastabilidade do controle jurisdicional;
d) princípio da imparcialidade do juiz;
e) princípio da publicidade;
f) princípio do duplo grau de jurisdição;
g) princípio do devido processo legal; e
h) princípio da duração razoável do processo.
Por sua vez, são princípios infraconstitucionais, regentes do processo
civil:
a) Princípio dispositivo;
b) Princípio do livre convencimento motivado (ou da persuasão racional); e
c) Princípio da oralidade.

1.4.1 Princípios constitucionais


1.4.1.1 Princípio do devido processo legal

O artigo 5º, inciso LIV, da Constituição Federal de 1988, dispõe que:


“ninguém será privado da liberdade ou de seus bens sem o devido processo
legal”. O princípio do devido processo legal (due process of law) é
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considerado como gênero, do qual são espécies todos os demais princípios.
Toda a proteção principiológica do processo civil tem sua base na garantia
do devido processo legal. Garantia esta que não se resume apenas às
circunstâncias processuais, mas alcança o próprio direito material daqueles
que se valem do processo para protegê-lo, em todos os sentidos.

Dessa forma, quanto aos princípios constitucionais, pode-se


apresentar a seguinte ilustração:

Isonomia
Ampla Defesa
Imparcialidade

Duplo grau de jurisdição Devido Publicidade


processo legal

Duração razoável
Contraditório

Inafastabilidade

Portanto, o princípio do devido processo legal, observado em seu duplo


sentido (procedural e substantive due process), garante aos litigantes a
observação de todos os demais princípios fundamentais de regência do
processo civil, permitindo, ao final, a entrega de um provimento final justo.

1.4.1.2 Princípio da isonomia

O princípio da igualdade norteia as atuações do Estado e no Estado, como


um todo, assim como nas relações processuais, nos termos do artigo 5º,
caput, da Constituição Federal de 1988, e do artigo 125, I, do Código de
Processo Civil, que dispõe:
Art. 125. O juiz dirigirá o processo conforme as disposições deste
Código, competindo-lhe:
I - assegurar às partes igualdade de tratamento;
[…]
Mas o princípio da isonomia, aplicado no direito processual civil, guarda as
mesmas peculiaridades de qualquer outro ramo em que incide, isto é, o
princípio da isonomia nada mais reflete que o tratamento igualitário aos
iguais, e desigual aos desiguais, na medida de suas desigualdades.
A possibilidade de inversão do ônus da prova, por exemplo, excetuada a
hipótese consumerista, pode perfeitamente ser determinada pelo juiz em um
processo em que se comprove sua necessidade para obtenção da igualdade

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entre as partes que nele litigam. A inversão do ônus da prova, uma vez
provada situação discriminatória, apta a impossibilitar uma das partes ao
alcance da justiça, pode, portanto, ser perfeitamente determinada, sem que
se possa falar em violação do princípio isonômico. Não se pode esquecer
que as provas são produzidas para que o juiz possa obter sua melhor
convicção acerca do decisum, de modo que ele pode determinar que elas
sejam produzidas por quem possui melhores condições para isso,
observadas as particularidades de cada caso concreto, naturalmente.
Outras hipóteses que não ferem o princípio da isonomia estão resguardadas
nos artigos que conferem prazos dilatados à Fazenda Pública em relação
aos particulares. O volume de trabalho dessas pessoas jurídicas autoriza o
benefício, sem que se possa falar em violação isonômica.
Os diferentes prazos processuais, concedidos em razão das pessoas ou em
razão de situações peculiares são, basicamente:
a) quando a parte for a Fazenda Pública ou o Ministério Público,
computar-se-á em quádruplo para contestar e em dobro para recorrer (art.
188, CPC).
b) quando os litisconsortes possuírem procuradores diferentes, serlhes-
ão contados em dobro os prazos para contestar, para recorrer e, de modo
geral, para falar nos autos (art. 191, CPC).
c) quando a parte for beneficiária da gratuidade judiciária e estiver
representada por defensor dativo, computar-se-á em dobro todos os prazos
processuais (art. 5º, §5º, Lei n.º 1.060/50).
E, o Ministério Público goza do benefício dos prazos dilatados não só
quando atua como parte, mas também quando atua como fiscal da lei (ou
custus legis), tendo legitimidade para interpor recurso no processo em que
atua na qualidade mencionada, ainda que a parte interessada não
interponha recurso, conforme orientação da súmula n.º 99, do Superior
Tribunal de Justiça.

1.4.1.3 Princípio do contraditório e da ampla defesa

É importante, primeiramente, salientar que o princípio do contraditório não


se confunde com o princípio da ampla defesa. São dois princípios tratados
frequentemente em conjunto por conveniência acadêmica. Basicamente,
enquanto o contraditório reflete a necessidade de entrega de prazo à parte
contrária, para que discuta as alegações ou provas produzidas pela outra
parte, a ampla defesa reflete a impossibilidade de vedação no uso dos mais
variados métodos de defesa, desde que lícitos, evidentemente, ou, em
outras palavras, a produção e articulação da defesa deve ter a maior
magnitude possível, permitindo às partes a exposição fática e probatória que
mais lhes seja adequada às pretensões que manifestem.
O princípio do contraditório não é absoluto, assim como nenhum outro
princípio. A possibilidade de concessão de medida liminar, sem oitiva da
parte contrária (inaudita altera pars), em sede de ação cautelar, assim como
a concessão de medida antecipatória dos efeitos da tutela, em sede de
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qualquer outra ação, são exemplos do exposto. A concessão dessas
medidas não mitiga, tão menos suprime o princípio em estudo. Nesses
casos, há mera postergação do exercício do contraditório, em razão de
determinados direitos postos em questão, direitos estes que, em função da
relevância e urgência autorizam a postergação do exercício dos direitos ao
contraditório e à ampla defesa.
O princípio do contraditório e o princípio da ampla defesa estão
consagrados no artigo 5º, inciso LV, da Constituição Federal de 1988, que
dispõe: “aos litigantes, em processo judicial ou administrativo, e aos
acusados em geral são assegurados o contraditório e ampla defesa, com os
meios e recursos a ela inerentes”.

1.4.1.4 Princípio da inafastabilidade do controle jurisdicional

Dispõe o artigo 5º, inciso XXXV, da Constituição Federal de 1988, que “a lei
não excluirá da apreciação do Poder Judiciário lesão ou ameaça a direito”.
Note-se que o que o princípio em estudo garante é a apreciação, mas não a
entrega de um provimento final de mérito. Isto porque a parte pode não
reunir, em sua demanda, elementos suficientes que permitam o desenrolar
processual até a prolatação de uma decisão.
O exercício do direito de ação deve atender a determinadas condições,
assim como preencher certos pressupostos, sem o que não será possível
que o Poder Judiciário exerça sua função de “dizer o direito” aplicável à
situação. Nos casos em que se faça pedido juridicamente impossível, ou
naqueles em que falte legitimidade ou interesse ao postulante, caberá ao
Judiciário apenas um provimento terminativo, isto é, de extinção processual
sem manifestação sobre as questões de mérito nele contidas. Contudo,
sanadas as irregularidades, a parte pode repropor sua demanda, quando
então terá julgado seu pedido, no mérito.
Há que se lembrar, também, que não se exige o prévio exaurimento de
qualquer instância administrativa, para apenas depois se postular
judicialmente uma pretensão, salvo na hipótese da Justiça Desportiva, nos
termos do artigo 217, parágrafo primeiro, da Constituição Federal de 1988,
que dispõe: “o Poder Judiciário só admitirá ações relativas à disciplina e às
competições desportivas após esgotarem-se as instâncias da justiça
desportiva, regulada em lei”.

1.4.1.5 Princípio da imparcialidade do juiz

O princípio da imparcialidade do juiz está implícito na Constituição Federal


de 1988, e decorre de princípios como o do juiz natural e da proibição da
criação de tribunais de exceção.
O artigo 5º, inciso LIII, da CRFB/88, dispõe que “ninguém será processado
nem sentenciado senão pela autoridade competente”. A garantia é marco
impeditivo da parcialidade, pois caso as partes pudessem escolher o juiz
que atuaria em seus processos, abrir-se-iam largas margens à ocorrência de
fraudes.

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Segundo Marcus Vinicius R. Gonçalves (2009, p. 30), para que se fale no
respeito ao princípio do juiz natural, 3 (três) requisitos devem ser
observados:
a) o julgamento só pode ser proferido por juiz investido de jurisdição;
b) o juízo deve ser preexistente, uma vez que vedada a criação de tribunais
de exceção, isto é, a criação de tribunais com a específica finalidade de
julgar casos ocorridos anteriormente;
c) o juiz a que submetida a causa deve ser competente para julgá-la,
obedecidas as regras constitucionais e legalmente fixadas.

1.4.1.6 Princípio da publicidade

O artigo 5º, inciso LX, da Constituição Federal, dispõe que “a lei só poderá
restringir a publicidade dos atos processuais quando a defesa da intimidade
ou o interesse social o exigirem”.
Via de regra, portanto, a publicidade dos atos processuais deve sempre se
fazer presente. É a publicidade que garante o controle das decisões judiciais
e consagra o direito à informação.
No entanto, quando nociva à intimidade ou ao interesse social, ela pode ser
restringida, casos em que o direito de consulta aos autos e solicitação de
certidões se restringirá às partes e à seus procuradores.
Junto a este, há que se acrescer a necessidade encampada no artigo
93, inciso X, da Constituição Federal de 1988, que dispõe: “as decisões
administrativas dos tribunais serão motivadas e em sessão pública, sendo
as disciplinares tomadas pelo voto da maioria absoluta de seus membros”.
Juntamente com a publicidade, a necessidade de fundamentação das
decisões judiciais garante a eficiência e a moralidade da atividade
jurisdicional. Mais que públicas, as decisões judiciais devem ser, pois,
devidamente fundamentadas, sem o que estarão maculadas de nulidade.

1.4.1.7 Princípio do duplo grau de jurisdição

O princípio do duplo grau de jurisdição está implícito na Constituição


Federal de 1988. Sua existência decorre do sistema constitucional, que
impõe a existência de Tribunais com competência recursal.
Por exemplo, o artigo 108, inciso II, da Constituição Federal, ao estipular
que compete aos Tribunais Regionais Federais julgar, em grau de recurso,
as causas decididas pelos juízes federais e pelos juízes estaduais no
exercício da competência federal da área de sua jurisdição, nada mais faz
do que garantir o duplo grau de jurisdição.
A existência de um duplo grau garante maior lisura à atividade jurisdicional
do Estado, pois o juiz que profere sua decisão tem prévia ciência de que
esta poderá ser revista por outro órgão. Essa revisão, via de regra, depende
de provocação da parte interessada. Assim como a atividade jurisdicional de
primeira instância é prestada apenas mediante provocação, também a
atividade jurisdicional de grau recursal o é. Ressalva seja feita, contudo, em

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relação ao reexame necessário, caso em que instância superior reanalisa
decisão proferida pela instância inferior sem qualquer provocação, mas sim
por expressa determinação legal.
Como princípio implícito, nada impede que o duplo grau de jurisdição não
seja assegurado em algumas e específicas situações. Como mencionado, o
princípio em estudo decorre do sistema jurisdicional determinado na
Constituição Federal de 1988, sistema este que não prevê obrigatoriedade
acerca da existência de instâncias recursais em quaisquer hipóteses.
Nesse sentido, é a própria Constituição, ao prever competência originária
para o Supremo Tribunal Federal, que impede o exercício de um duplo grau
de jurisdição, por exemplo.
Outra situação é relativa à Lei de Execuções Fiscais, na hipótese de
decisão de primeira instância em execuções de valor igual ou inferior a 50
(cinquenta) ORTN (Obrigações Reajustáveis do Tesouro Nacional). Há que
se lembrar, consoante analisado no Curso de Direito Tributário, que neste
caso a sentença não é passível de apelação, que seria dirigida ao órgão de
instância superior, mas sim de embargos infringentes, julgados pelo mesmo
juiz que proferiu a decisão recorrida, que poderá rejeitar os embargos ou
reformar a sentença, após ouvir o embargado.

1.4.1.8 Princípio da duração razoável do processo

A duração razoável do processo é uma garantia que decorre do sistema


constitucional de 1988. No entanto, foi explicitada no inciso LVIII, do artigo
5º, da CRFB/88, pelo constituinte derivado, através da Emenda
Constitucional n.º 45/2004 (Reforma do Poder Judiciário).
A todos, no âmbito judicial e administrativo, é assegurada a razoável
duração do processo, assim como os meios que garantam a celeridade de
sua tramitação.
Consabido, a excessiva demora na prestação da tutela jurisdicional causa,
em não raros casos, a ineficácia de sua decisão, e, consequentemente, o
desrespeito de diversas garantias humanas.
O princípio em estudo tem os Poderes Legislativo, Executivo e Judiciário
como destinatários, pois não apenas o Executivo, no âmbito do processo
administrativo, e o Judiciário, no âmbito do processo judicial, podem garantir
celeridade processual se o Legislativo não estiver comprometido na
elaboração de leis que possibilitem a efetivação substancial de meios
céleres à obtenção de uma duração razoável do processo.
Note-se, no entanto, que a celeridade não pode ser extrema, a ponto de se
faltar com a prestação de justiça à sociedade, não mais em razão da demora
excessiva, mas sim em razão de análises pouco ou nada pormenorizadas
dos casos concretos. Para que se fale em celeridade, há que se interpretá-la
conjuntamente com a expressão constitucional de razoável duração, isto é,
um processo que seja não tão lento a ponto de tornar ineficaz sua decisão,
mas não tão célere a ponto de não permitir análises pormenorizadas dos
direitos envolvidos, e, consequentemente, gerar decisões baseadas em
julgamentos precipitados.

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1.4.2 Princípios infraconstitucionais
1.4.2.1 Princípio dispositivo

O princípio dispositivo, em um passado próximo, possuia abrangência maior


do que a que possui na atualidade. Antes, se referia não só ao momento do
ajuizamento de ações, como também em relação à atividade probatória.
Hoje, refere-se apenas ao momento do ajuizamento das ações.
Como se sabe, a atividade jurisdicional permanece inerte até que seja
provocada. E o mesmo ocorria com a atividade probatória, uma vez
instaurada uma relação jurídico-processual. Antes, ao juiz competia analisar
o processo com base nas provas produzidas pelas partes, apenas e tão
somente, sem que ele pudesse determinar a produção de outras que
pudessem lhe auxiliar no convencimento.
Contudo, atualmente, o juiz não só pode, como deve interferir na atividade
probatória, já que a ele elas são destinadas. Cabe ao juiz verificar a
suficiência das provas produzidas ou determinar a produção de outras,
tantas quantas bastem ao seu convencimento e à prolação da decisão que
melhor satisfaça a prestação da atividade jurisdicional.
Nesse sentido, expressa é a determinação do Código de Processo Civil:
Art. 130. Caberá ao juiz, de ofício ou a requerimento da parte,
determinar as provas necessárias à instrução do processo,
indeferindo as diligências inúteis ou meramente protelatórias.
Como se vê, ao juiz cabe não só determinar a produção de provas que
repute necessárias, como também indeferir a produção de outras, inúteis ou
meramente protelatórias.
Portanto, o princípio dispositivo vigora em relação ao ajuizamento da ação,
haja vista inércia do Poder Judiciário, mas não vigora em relação à atuação
probatória do juiz, já que esta rege-se pelo princípio inquisitivo.

1.4.2.2 Princípio do livre consentimento motivado (ou da persuasão


racional)

O princípio em estudo aplica-se em relação à valoração das provas.


Basicamente, três sistemas podem ser utilizados para essa atividade
valorativa, quais sejam:
a) sistema da prova legal, isto é, o valor das provas é determinado por
texto expresso de lei;
b) sistema da livre consciência, quando ao juiz é dada a possibilidade de
proferir decisões segundo seu foro íntimo, com ou sem apoio das provas
que estejam produzidas nos autos e sem a necessidade de fundamentar sua
decisão; ou
c) sistema do livre convencimento motivado, que é o sistema adotado
pelo ordenamento jurídico brasileiro, e que permite ao juiz formar sua livre
convicção, desde que expressamente fundamentada com base em
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elementos contidos no processo, sem que se fale em diferentes valores para
as provas produzidas.
Pelo sistema adotado no Brasil, o juiz pode decidir livremente sobre o litígio,
desde que sua decisão tenha base nos elementos constantes do processo,
sejam eles argumentativos ou probatórios. Outra exigência é a
fundamentação da decisão, oportunidade em que o juiz deve claramente
esclarecer os motivos que lhe orientaram a proferir a decisão.
O sistema adotado no Brasil está consagrado no artigo 131, Lei de
introdução às Normas do Direito Brasileiro:
Art. 131. O juiz apreciará livremente a prova, atendendo aos fatos e
circunstâncias constantes dos autos, ainda que não alegados pelas partes;
mas deverá indicar, na sentença, os motivos que Ihe formaram o
convencimento.
Por derradeiro, cumpre esclarecer que em razão do sistema de valoração
legal das provas, há casos isolados se sua aplicação no ordenamento
jurídico brasileiro. Por exemplo, o artigo 366, do Código de Processo Civil,
estipula que “quando a lei exigir, como da substância do ato, o instrumento
público, nenhuma outra prova, por mais especial que seja, pode suprir-lhe a
falta”. Em outras palavras, quando a documentação mediante instrumento
público for da essência do ato, essa prova é imprescindível, não podendo
ser suprida por outra, de qualquer outra natureza.
Portanto, em questionamentos no exame da OAB ou concursos públicos,
recorde-se que o sistema do livre convencimento motivado, embora seja
regra, não é adotado com exclusividade pelo ordenamento jurídico brasileiro,
que admite o sistema de valoração legal das provas em situações
específicas.

1.4.2.3 Princípio da oralidade

O princípio da oralidade tem como finalidade aproximar o juiz, na maior


medida do possível, da produção de provas. Esse princípio não assume o
caráter de absoluto em nenhum procedimento, relativo ao processo civil
brasileiro. Embora mais presente nos Juizados Especiais, também nestes
não se dispensa a documentação de tudo quanto produzido. Segundo a
melhor doutrina nacional, o princípio da oralidade se subdivide em 4 (quatro)
sub-princípios, quais sejam:
a) imediação, isto é, o juiz deve estar imediatamente ligado com a
colheita da prova. Ele deve fazê-la diretamente, salvo quando se tratar de
provas que devem ser produzidas em outras localidades;
b) identidade física do juiz, isto é, colhida a prova oral, o juiz que a
colheu se vincula ao julgamento da causa. Realizada a instrução e colhida a
prova oral, deve o mesmo juiz proferir decisão, salvo se o juiz for convocado,
licenciado, afastado por qualquer motivo, promovido ou aposentado, casos
em que passará os autos ao seu sucessor.

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c) concentração, isto é, deve-se realizar a audiência de instrução de
forma concentrada, única. Admite-se a realização de várias audiências
apenas quando for fisicamente impossível fazer a colheita de provas em um
único dia.
d) irrecorribilidade das decisões interlocutórias, princípio que se encontra
plenamente consagrado na Lei n.º 9.099/95. No Código de Processo Civil,
embora possa haver a interposição de recurso das decisões interlocutórias
(agravo), este permanece retido nos autos, e será julgado apenas mediante
sua reiteração em eventual recurso de apelação, ou seja, não interfere no
julgamento de primeira instância, posto que desprovido de efeito suspensivo.

2. JURISDIÇÃO, AÇÃO E PROCESSO

A principal característica da jurisdição é a substitutividade, isto é, formada


uma relação jurídico-processual, a decisão das partes será substituída pela
decisão proveniente do Estado-juiz, no exercício de sua atividade de “dizer o
direito”.
São características da jurisdição:
a) investidura, isto é, só pode exercer jurisdição aquele que estiver
regularmente investido no cargo de juiz. Proferida decisão por pessoa não
investida, não há que se falar em nulidade, mas em inexistência do
processo;
b) aderência em relação ao território, isto é, os juízes exercem jurisdição
apenas nos limites do território nacional (art. 1º, do CPC), e mediante o
respeito das regras de competência;
c) indelegabilidade, ou seja, a função jurisdicional é indelegável. O
exercício da jurisdição, no Brasil, é exercido com exclusividade pelo Poder
Judiciário, não podendo ser por este delegado a nenhum outro;
d) inafastabilidade, pois, nos termos do artigo 4º, da Lei de introdução às
Normas do Direito Brasileiro, “quando a lei for omissa, o juiz decidirá o caso
de acordo com a analogia, os costumes e os princípios gerais de direito”.
Ademais, recorde-se o princípio da inafastabilidade da jurisdição, segundo o
qual a lei não excluirá da apreciação do Poder Judiciário lesão ou ameaça a
direito (art. 5º, XXXV, da CRFB/88).
As características que cercam a jurisdição não são as mesmas que
norteiam o exercício da atividade julgadora da Administração Pública. Entre
as distinções que podem ser apontadas entre essas esferas, constata-se
que a Administração Pública não substitui as partes em litígio, pois, na
verdade, é uma dessas partes. Também a decisão proferida em âmbito
administrativo não produz coisa julgada, diferentemente daquela proferida
em âmbito judicial.
Acerca da coisa julgada, é sabido que esta pode assumir duas naturezas:
a) coisa julgada formal; ou
b) coisa julgada material.

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Forma-se coisa julgada formal sempre que o Poder Judiciário, por qualquer
motivo, não puder analisar o mérito do litígio. Diz-se, nesses casos, que foi
proferida sentença terminativa, nos termos das previsões do artigo 267, do
Código de Processo Civil. Quando falta à ação uma de suas condições, por
exemplo, se tem uma sentença terminativa, e, consequentemente, ocorre a
formação de coisa julgada formal. Frise-se que a formação da coisa julgada,
apenas em caráter formal, não impede a repropositura da mesma demanda,
desde que corrigidos os vícios que causaram sua extinção sem resolução de
mérito, naturalmente.
Em contrapartida, com a formação da coisa julgada material, a decisão
reveste-se de imutabilidade. A garantia em relação à coisa julgada foi
elencada como direito fundamental pelo constituinte originário, nos termos
do artigo 5º, inciso XXXVI, da Constituição Federal de 1988.
Quando o processo não possui vícios e o Poder Judiciário analisa o mérito
do litígio, após proferir decisão definitiva, da qual não caiba ou não seja
interposto nenhum recurso, ocorre o trânsito em julgado da mesma, com
formação de coisa julgada material. A consequência é o impedimento à
repropositura da mesma discussão judicial. As decisões de mérito são
proferidas por meio de sentenças de mérito, com respaldo em alguma das
hipóteses do artigo 269, do Código de Processo Civil.
Transitada em julgado a demanda, com formação de coisa julgada material,
esta poderá ser rescindida apenas mediante o ajuizamento de ação
rescisória, desde que provada a existência de uma das situações descritas
no artigo 485, do Código de Processo Civil e não extrapolado o prazo
decadencial de 2 (dois) anos, que se conta do trânsito em julgado da
decisão rescindenda.
A ação rescisória, no entanto, não é o único meio à impugnação da coisa
julgada material, já que doutrina e jurisprudência admitem a utilização da
ação denominada querela nullitatis insanabilis, basicamente, para situações
em que se verificar a nulidade de citação, mesmo que decorridos mais de 2
(dois) anos da data do trânsito em julgado da decisão rescindenda.
E, o artigo 486, do Código de Processo Civil, que não pode deixar de ser
mencionado, admite, para as sentenças que sejam meramente
homologatórias, a utilização de uma ação comum, chamada de ação
anulatória. Esta ação presta-se, também, para anulação de atos judiciais
que não dependem de sentença. Tanto em um como noutro caso, admite-se
a utilização da ação anulatória, pois tais atos podem ser rescindidos, como
os atos jurídicos em geral, nos termos da lei civil.

2.1 Jurisdição contenciosa e voluntária

Basicamente, enquanto o exercício da jurisdição contenciosa caracteriza-se


pela litigiosidade entre os pólos da relação jurídicoprocessual, o exercício da
jurisdição voluntária caracteriza-se por ser mero procedimento de natureza
administrativa, sem marcas de litigiosidade, legalmente exigido em razão da
incapacidade do autor ou da matéria veiculada.

17
Os procedimentos especiais de jurisdição voluntária estão descritos no
artigo 1.103 e seguintes do Código de Processo Civil. Nos termos do artigo
1.112 do mencionado Códex, processa-se mediante jurisdição voluntária,
dentre outros:
a) a emancipação;
b) a sub-rogação;
c) a alienação, o arrendamento ou a oneração de bens dotais, de
menores, de órfãos e de interditos;
d) a alienação, a locação e a administração da coisa comum;
e) a alienação de quinhão em coisa comum; e
f) a extinção de usufruto e de fideicomisso.
Dentre outras hipóteses, podem ser citados os pedidos de interdição e o de
declaração de ausência.
Em se tratando de procedimento de jurisdição voluntária, é obrigatória a
participação do Ministério Público, sob pena de nulidade, conforme estipula
o artigo 1.105, do Código de Processo Civil.
O prazo para articular resposta em sede de procedimentos de jurisdição
voluntária é de 10 (dez) dias, e uma vez proferida sentença, o recurso
cabível é a apelação, sentença esta que poderá ser modificada, sem
prejuízo dos efeitos já produzidos, se ocorrerem circunstâncias
supervenientes.

2.2 Ação

O direito de ação é a faculdade de que gozam todas as pessoas que se


encontram em situação de litígio, de se socorrerem do Poder Judiciário com
o objetivo de obter a solução para o mesmo.
Como mencionado, embora o Estado detenha com exclusividade o
exercício da jurisdição, ele permanece inerte até ser provocado, pois o
direito de ação é exatamente a materialização dessa provocação. Através do
direito de ação se provoca o Estado a exercer sua atividade jurisdicional.
Exercido o direito de ação, instaura-se entre as partes uma relação jurídico-
processual, donde o processo figura como o instrumento de solução do
litígio. Mas, só há que se falar em formação de relação jurídico processual
após a efetivação da citação da parte contrária, com o que se completa a
relação tripartite:

Estado-juiz

Autor Réu

18
Quanto ao direito de ação, cumpre ainda mencionar que seu exercício não
garante, por parte do Estado, a entrega de uma prestação jurisdicional de
mérito, pois o direito de ação não se relaciona com o direito material a ser
discutido ao longo da relação processual estabelecida entre as partes. O
Código de Processo Civil brasileiro adota, portanto, a teoria eclética de
Liebman, já que exige, para o conhecimento do direito material que se
pretende discutir no processo instaurado, o preenchimento de
prédeterminadas condições, além de pressupostos de existência e também
de validade, assuntos a seguir abordados.

2.2.1 Condições da ação

Sem a presença de determinadas condições, o Estado não alcança patamar


mínimo para se manifestar acerca de nenhum litígio, casos em que não
pode, consequentemente, proferir decisão de mérito.
Ausente qualquer uma das condições da ação, o processo há que ser
extinto sem resolução de mérito, em obediência ao artigo 267, inciso VI, do
Código de Processo Civil.
São, pois, condições da ação:
a) possibilidade jurídica do pedido;
b) interesse de agir; e
c) legitimidade de parte.
A sigla indicativa dos três elementos necessários para que se preencham as
condições da ação, que costuma ser indicada para memorização é PIL
(possibilidade, interesse e legitimidade).

2.2.1.1 Possibilidade jurídica do pedido

A possibilidade jurídica do pedido é a convergência da pretensão


apresentada em relação ao ordenamento jurídico vigente. Não há como se
processar um pedido que não se encontra resguardado pelo ordenamento
jurídico. Não se pode, por exemplo, pretender o recebimento de dívidas de
jogo através de um processo de conhecimento, já que o Código Civil é
expresso ao vedar essa possibilidade (art. 814).
Note-se, portanto, que a possibilidade jurídica refere-se não só ao pedido,
mas também à causa de pedir. Como no exemplo acima mencionado, em se
tratando da cobrança de uma dívida de jogo, o pedido pode ser lícito, qual
seja, receber determinada quantia em dinheiro, porém, a causa de pedir não
será o que contaminará o pedido e será determinante à extinção do
processo sem julgamento de mérito, diante de falta de condição da ação.
E, ainda, a possibilidade jurídica do pedido pode estar relacionada à parte
que ajuíza a ação. Um contribuinte, por exemplo, não tem legitimidade para
ajuizar uma execução fiscal, ferramenta privativa da Fazenda Pública. Se
tentar, sua pretensão será extinta sem julgamento de mérito, vez que
ausente a possibilidade jurídica do pedido, ou seja, ausente o permissivo
legal da pretensão manifestada.
19
2.2.1.2 Interesse de agir

O interesse de agir forma-se por um binômio:


a) necessidade; e
b) adequação.
Há, ainda, quem sustente ser um trinômio, acrescendo a utilidade aos
requisitos já mencionados.
A necessidade da pretensão judicial se faz presente quando
demonstrada que a provocação do Poder Judiciário é a única ou mais eficaz
medida de obtenção de pretensão manifestada. A necessidade da tutela
judicial é requisito do interesse de agir, e, se não demonstrado, dá causa à
extinção do feito sem resolução de mérito. Um típico exemplo de ausência
de necessidade da provocação judiciária é a cobrança de um débito não
vencido.
Já a adequação se refere à via processual eleita. Em outras palavras, se a
parte possui um título executivo, deve se valer da via executiva para obter o
valor a que possui direito, pois caso se valha de uma ação de conhecimento,
terá sua pretensão extinta sem julgamento de mérito. O mesmo se diga de
uma parte que ajuíza ação perante o Juizado Especial, quando o valor da
causa supera o máximo permitido naquele âmbito.
Portanto, quando se fala em necessidade, fala-se na relevância da tutela
pretendida, e, quando se fala em adequação, fala-se na eleição da via
processual pertinente para obtenção da tutela pretendida.
Por derradeiro, há, ainda, aqueles que entendem que o interesse de agir
não se forma apenas pelo binômio necessidade e adequação, uma vez que,
além destes, deve-se provar que o processo ajuizado será útil, de alguma
forma, àquele que o postula.

2.2.1.3 Legitimidade de parte

A legitimidade para estar em juízo é necessária ao preenchimento de uma


das condições da ação. Essa legitimidade é chamada ad causam, ou seja,
para a causa. Todo aquele que está em juízo deve possuir um liame de
relação com o direito que pretende discutir. A legitimidade para a causa é
exigida do autor e também do réu, sob pena de faltar à ação uma de suas
condições indispensáveis.
O artigo 6º, do Código de Processo Civil, dispõe que “ninguém poderá
pleitear, em nome próprio, direito alheio, salvo quando autorizado por lei”. A
regra geral, encampada no citado artigo, consagra a legitimidade ordinária,
isto é, a regra de que só o próprio titular pode ir a juízo para defender seus
interesses.
Mas, como faz referência o citado artigo, nada impede que disposições
legais estipulem o contrário. Portanto, quando alguém vai a juízo em nome
próprio para defender direito alheio, estar-se-á diante de hipótese de
legitimidade extraordinária, também chamada de substituição processual.

20
Nesses casos, note-se, o titular do interesse em discussão (substituído) não
participa do processo, mas se sujeita ao que nele for decidido.
Nos processos de legitimação extraordinária, a todo tempo admite-se a
intervenção do titular do direito em discussão (substituído), sob a forma de
assistente litisconsorcial.
Quando um condômino vai a juízo para reivindicar a coisa de terceiro, atua
não só como legitimado ordinário, já que possui uma fração ideal do bem,
mas também como legitimado extraordinário em relação às frações ideais
dos demais condôminos. Os condôminos que não participarem da discussão
judicial serão afetados pela decisão ali prolatada, intervenham eles, ou não.
Não há que se confundir, note-se, substituição processual com
representação. A primeira é matéria de legitimidade processual
extraordinária, na qual alguém vai a juízo, em nome próprio, defender direito
alheio, enquanto a segunda é mera exigência legal para que determinadas
pessoas possam estar em juízo. O representante não é parte,
diferentemente do legitimado extraordinário (substituto), e não atua em
nome próprio, mas em nome da pessoa que ele representa.
Quanto à legitimidade, há ainda que se separar as figuras da legitimidade
exclusiva e da concorrente. Enquanto a primeira é atribuída pela lei para
uma única pessoa, a segunda é atribuída a mais de uma.

2.2.2 Elementos da ação

Três são os elementos de qualquer ação:


a) partes;
b) causa de pedir; e
c) pedido.
As partes são os sujeitos ativo e passivo da relação jurídicoprocessual. A
causa de pedir é a fundamentação dos elementos de fato e de direito que
embasam o pedido. Já o pedido é o bem da vida que se pretende.
A análise dos elementos da ação permite identificar se uma causa é idêntica
à outra, além de vincularem o juiz, que só poderá decidir nos limites que lhe
forem impostos por estes elementos.
Quanto à causa de pedir, ela deve esclarecer quais são os fatos que
originam o pedido, assim como qual é a fundamentação jurídica que legitima
a pretensão manifestada pela parte, relacionando a fundamentação aos
fatos.
No entanto, como sabido por todos, a fundamentação jurídica não vincula o
juiz, que conhece o direito e é livre para aplicá-lo segundo sua convicção. A
vinculação do juiz ocorre apenas em relação aos fatos, que não podem ser
desconsiderados, tão pouco por ele alterados.
Parte da doutrina chama os fatos de causa de pedir próxima, e os
fundamentos jurídicos de causa de pedir remota, já outra parte faz o inverso,
ou seja, chama os fatos de causa de pedir remota, e os fundamentos
jurídicos de causa de pedir próxima.

21
O Código de Processo Civil brasileiro adotou, quanto à causa de pedir, a
teoria da substanciação, o que se conclui após análise do seu artigo 282,
inciso III, que exige a indicação, na petição inicial, dos fatos e dos
fundamentos jurídicos que embasam o pedido.
A teoria da substanciação se opõe à teoria da individualização, pois
enquanto para a última bastaria à exposição dos fundamentos jurídicos, para
a primeira exige-se, além destes, também a exposição da situação fática,
sendo que esta é a responsável pela vinculação do juiz, posto que, em
verdade, os fundamentos jurídicos não possuem maior relevância.
Quanto ao pedido, a doutrina o divide em:
a) pedido imediato; e
b) pedido mediato.
O pedido imediato é o provimento jurisdicional requerido. Quando uma
pessoa ingressa com uma ação de conhecimento, com pedido condenatório,
este é o pedido imediato.
Já o pedido mediato é o bem da vida pretendido. Assim, quando uma
pessoa pretende a condenação de outra, provando que ela lhe causou um
dano, o ressarcimento pecuniário traduz o pedido mediato da demanda.

2.3 Processo

Como já se teve oportunidade de mencionar, o processo é o veículo que


carrega a pretensão da parte até o conhecimento do Estado-juiz, e,
posteriormente, retorna à parte com a entrega, ou não, do pedido
apresentado.
O caráter do processo é instrumental. Ele se presta como instrumento de
satisfação e garantia de direitos. É desse entendimento que decorre um
importante princípio, o da instrumentalidade das formas. Segundo esse
princípio, tendo em vista o raciocínio apresentado, não pode o processo, por
meros formalismos, impedir que as pessoas obtenham a satisfação de seus
direitos. Alcançados os objetivos suficientes à demonstração do que se
pretendia, ainda que a forma não tenha sido a mais técnica, deve-se reputar
como válida a prática do ato que baste à efetivação célere dos direitos das
partes.
O processo, nesse contexto, traduz uma sequência pré-determinada de
atos, com a finalidade de entregar às partes uma prestação jurisdicional
justa. E esta sequência de atos constitui o procedimento, que pode ser
comum (ordinário ou sumário) ou especial (de jurisdição contenciosa ou
voluntária). O procedimento adotado determina qual será sequência de atos
processuais a serem produzidos, dentre as hipóteses existentes, sequência
esta que compreenderá um número menor ou maior de atos, a depender da
complexidade do que se pretende.

22
2.3.1 Pressupostos processuais

Quando se pretende uma prestação da tutela jurisdicional, após o


preenchimento das condições da ação (possibilidade jurídica do pedido,
interesse de agir e legitimidade de parte), deve-se verificar o preenchimento
dos pressupostos processuais.
Enquanto as condições da ação estão relacionadas ao direito de ação, isto
é, ao direito de pleitear do Estado-juiz a entrega de uma decisão justa, os
pressupostos processuais estão relacionados com o veículo que levará esse
pedido ao juiz, e, posteriormente trará sua resposta, positiva ou negativa.
Os pressupostos processuais, assim como as condições da ação,
constituem matéria de ordem pública, passíveis de conhecimento de ofício
pelo juiz, em qualquer tempo e grau de jurisdição, ressalvado seu
conhecimento em sede de recurso especial e extraordinário, que exigem
pré-questionamento acerca do assunto.
Os pressupostos processuais podem ser positivos, isto é, devem estar
presentes em toda relação processual, sob pena de nulidade, e podem ser
negativos, isto é, não devem estar presentes, pois, caso estejam, darão
causa à extinção do processo sem julgamento de mérito. Os pressupostos
processuais positivos dividem-se em:
a) pressupostos processuais de existência; e
b) pressupostos processuais de validade.

2.3.1.1Pressupostos processuais positivos


2.3.1.1.1 Pressupostos processuais de existência

Sem a presença de quaisquer dos pressupostos processuais de existência,


o processo será considerado inexistente. A consequência para a inexistência
é a impossibilidade de sanar os vícios dela decorrentes.
Um processo inexistente, diferentemente de um processo inválido, não se
convalesce. Transcorrido o prazo decadencial para ajuizamento da ação
rescisória (2 anos), nada obsta que a inexistência seja arguida a qualquer
tempo, tão logo seja identificada.
Assim, são pressupostos processuais de existência:
a) jurisdição;
b) petição inicial (ou demanda);
c) capacidade postulatória;
d) citação.
Como já salientado, apenas aqueles investidos na função jurisdicional é que
podem exercê-la. Caso uma sentença seja proferida por um juiz aposentado,
por exemplo, não há se falar na existência do ato praticado, pois ausente a
jurisdição.
Na sequência, existente a jurisdição, só há que se falar na existência do
processo que apresentar petição inicial. Sem esta, o Estado-juiz fica
impedido de se manifestar sobre qualquer litígio, pois recorde-se que a
atividade jurisdicional é inerte, e só atua mediante provocação.

23
E mais, além da petição inicial, exige-se que o postulante possua
capacidade para tanto. O artigo 37, do Código de Processo Civil disciplina a
matéria:
Art. 37. Sem instrumento de mandato, o advogado não será
admitido a procurar em juízo. Poderá, todavia, em nome da parte,
intentar ação, a fim de evitar a decadência ou prescrição, bem
como intervir, no processo, para praticar atos reputados urgentes.
Nestes casos, o advogado se obrigará, independentemente de
caução, a exibir o instrumento de mandato no prazo de 15
(quinze) dias, prorrogável até outros 15 (quinze), por despacho do
juiz.
Parágrafo único. Os atos, não ratificados no prazo, serão havidos
por inexistentes, respondendo o advogado por despesas e perdas
e danos.
Como se vê, o artigo mencionado expressamente determina que sejam
reputados inexistentes os atos praticados por quem não possua capacidade
postulatória.
Mas, ainda, para que se fale em existência processual, há que se falar em
citação. Sem citação, a relação jurídico-processual não se completa, pois
não se chama o réu a compor a relação tripartite (autor, juiz e réu). A feitura
da citação, ainda que de forma que não seja válida, faz existente a relação
processual.

2.3.1.1.2 Pressupostos processuais de validade

Enquanto no tópico anterior foram abordados requisitos à existência do


processo, agora passam a ser expostos requisitos que garantem sua
validade. Ausente qualquer pressuposto processual de validade, há nulidade
absoluta do processo, passível de declaração a qualquer tempo e grau de
jurisdição, e, uma vez transita em julgado a decisão proferida em processo
inválido, esta é passível de rescisão, desde que observado o prazo
decadencial de 2 (dois) anos, naturalmente.
Assim, são pressupostos processuais de validade:
a) competência e imparcialidade;
b) petição inicial apta;
c) capacidade processual; e
d) citação válida.
A competência nada mais é que a divisão territorial da jurisdição. Existente
a jurisdição, o ordenamento jurídico faz a separação dos juízos por matéria,
de modo a destinar à sociedade um sistema jurisdicional especializado.
Assim, via de regra, será nula uma decisão proferida por juiz incompetente.
Diz-se, via de regra, pois há que se analisar se a competência é absoluta ou
relativa. Se a incompetência for absoluta, o processo é nulo. Contudo, se for
relativa e não tiver sido alegada oportunamente pela parte contrária, não

24
mais poderá sê-la, operando-se a prorrogação do juízo, ou seja, o juiz que
não era competente, passou a sê-lo devido a inércia da parte contrária.
A questão é semelhante em razão da imparcialidade. Todo juiz,
regularmente investido e dotado de competência, deve também ser
imparcial. A imparcialidade se divide em impedimento e suspeição.
Enquanto o impedimento gera nulidade absoluta do processo, a suspeição
não arguida oportunamente pela parte contrária torna precluso tal direito.
Quanto à capacidade processual, ao verificar que o autor não a possui, o
juiz deve suspender o processo e conferir prazo para que seja sanada a
irregularidade, sob pena de extinção do processo sem julgamento de mérito.
No entanto, caso o juiz verifique que há irregularidade na representação do
réu, ele deve suspender o processo e marcar prazo razoável para que o
defeito seja sanado, sob pena de reputá-lo revel.
Apresentada em juízo a petição inicial, o processo reputa-se existente, mas
só se reputará válido se a petição inicial for apta. Toda petição inicial deve
atender aos requisitos dos artigos 282 e 283, ambos do Código de Processo
Civil:
Art. 282. A petição inicial indicará:
I - o juiz ou tribunal, a que é dirigida;
II - os nomes, prenomes, estado civil, profissão, domicílio e
residência do autor e do réu;
III - o fato e os fundamentos jurídicos do pedido;
IV - o pedido, com as suas especificações;
V - o valor da causa;
VI - as provas com que o autor pretende demonstrar a verdade
dos fatos alegados;
VII - o requerimento para a citação do réu.
Art. 283. A petição inicial será instruída com os documentos
indispensáveis à propositura da ação.
Caso tais requisitos não sejam preenchidos, o juiz deve determinar que a
petição inicial seja emendada, no prazo de 10 (dez) dias, sob pena de seu
indeferimento. Conforme estipula o artigo 295, inciso I, do Código de
Processo Civil, a petição inicial deverá ser indeferida sempre que for inepta.
É, ainda, requisito indispensável à petição inicial, sob pena desta ser
considerada inepta, a indicação do endereço em que o advogado pretende
receber suas futuras intimações, nos termos do artigo 39, inciso I, do Código
de Processo Civil. Nos termos do parágrafo único de aludido dispositivo, se
o advogado não indicar endereço, o juiz, antes de determinar a citação do
réu, deverá mandar que ele supra a omissão no prazo de 48 (quarenta e
oito) horas, sob pena de indeferimento da petição inicial.
Outro pressuposto processual de validade é a capacidade processual, isto
é, a capacidade para estar em juízo. Toda pessoa que se acha no exercício
dos seus direitos tem capacidade para estar em juízo (art. 8º, CPC). Já os
incapazes, para estarem em juízo, devem ser representados ou assistidos
por seus pais, tutores ou curadores (art. 9º, CPC).

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Por fim, só há que se falar em desenvolvimento válido e regular de um
processo quando se verificar a ocorrência de citação válida. Se a citação for
realizada, o processo reputa-se existente, mas se não for válida, o processo
será reputado como inválido, ou seja, como absolutamente nulo. O vício da
citação inválida pode ser arguido a qualquer momento e em qualquer grau
de jurisdição, inclusive após o trânsito em julgado da decisão que coloca fim
ao processo, mediante ação rescisória.
Mas, note-se, a citação irregular é passível de dar causa à nulidade
absoluta do processo se arguível no seu decorrer, ou, no máximo, durante o
prazo para ação rescisória, sem o que não poderá mais ser arguida.
Situação diversa, porém, ocorre se a hipótese for inexistência de citação
(pressuposto processual de existência), quando não há prazo para
ajuizamento de ação tendente à obtenção da declaração de inexistência do
processo, ação esta chamada de querela nullitatis insanibilis.
Por derradeiro, veja-se o seguinte quadro comparativo:

Pressupostos processuais de existência Pressupostos processuais de validade


Jurisdição Competência e imparcialidade
Capacidade postulatória Capacidade processual
Petição inicial Petição inicial apta
Citação Citação válida

2.3.1.2 Pressupostos processuais negativos

Como mencionado, os pressupostos processuais negativos são situações


que não devem estar presentes na relação processual, sob pena de sua
extinção sem julgamento de mérito. São pressupostos processuais
negativos:
a) a litispendência;
b) a coisa julgada; e
c) a perempção.
A litispendência ocorre quando há processo idêntico em curso, perante o
mesmo ou em juízo diverso. Reputa-se idêntico o processo que tenha as
mesmas partes, a mesma causa de pedir e o mesmo pedido. Verifica-se a
ocorrência da coisa julgada quando, após uma demanda ter sido decidida de
forma definitiva, já tendo transitado em julgado sua decisão, ocorre o
ajuizamento de demanda idêntica.
Assim como a litispendência, na coisa julgada há uma situação de
repetição. Entretanto, enquanto a primeira reflete o ajuizamento de uma
ação idêntica a outra que ainda está em curso, a última reflete o ajuizamento
de uma ação idêntica a outra já definitivamente julgada.

26
Transitada em julgado uma decisão, esta fica protegida pelo manto da coisa
julgada, direito fundamental que confere segurança jurídica ao ordenamento
jurídico.
Quanto à perempção, trata-se de pressuposto processual negativo gerado
pela desídia. Sempre que o autor deixar de promover atos e diligências que
lhe competia, ou quando abandonar a causa por mais de 30 (trinta) dias,
terá o processo extinto sem resolução de mérito. Consabido, a extinção sem
resolução de mérito não impede que o autor proponha novamente a mesma
demanda. Contudo, se essa situação se repetir por 3 (três) vezes, isto é, se
por 3 (três) vezes o processo for extinto pela inércia do autor, não se permite
mais que o processo seja ajuizado, pois concretizada a situação de
perempção.

3. COMPETÊNCIA

Como já se teve a oportunidade de mencionar, a competência nada mais é


que a divisão territorial da jurisdição. Existente a jurisdição, o ordenamento
jurídico faz a separação dos juízos por matéria e por locais, de modo a
destinar à sociedade um sistema jurisdicional especializado e efetivo.
O artigo 87, do Código de Processo Civil consagra o princípio da
perpetuatio jurisdictionis. Segundo o mesmo, determina-se a competência
no momento em que a ação é proposta, sendo irrelevantes as modificações
do estado de fato ou de direito ocorridas posteriormente, salvo quando
suprimirem o órgão judiciário ou alterarem a competência em razão da
matéria ou da hierarquia.

3.1 Competência internacional

As hipóteses dos artigos 88 e 89, ambos do Código de Processo Civil,


abordam os casos de competência concorrente e competência exclusiva,
respectivamente, da justiça brasileira. Excetuadas estas, não há que se falar
em competência da justiça brasileira para decidir outros conflitos que
tenham repercussão alienígena.
Nos termos do artigo 88, do Código de Processo Civil, é competente a
autoridade judiciária brasileira quando:
a) o réu, qualquer que seja a sua nacionalidade, estiver domiciliado no
Brasil;
b) no Brasil tiver de ser cumprida a obrigação;
c) a ação se originar de fato ocorrido ou de ato praticado no Brasil.
No caso de pessoa jurídica, reputa-se domiciliada no Brasil aquela que aqui
possua agência, filial ou sucursal.
Nas hipóteses acima mencionadas, o Poder Judiciário brasileiro se
reconhece competente, mas não afasta a competência, também, de outros
Estados. Nessas hipóteses, portanto, pode haver propositura da ação tanto
no Brasil como em Estado estrangeiro, mas no último caso a decisão
27
dependerá de homologação para que, só então, gere efeitos no território
nacional.
As decisões estrangeiras não produzem quaisquer efeitos em território
nacional até serem homologadas pelo Superior Tribunal de Justiça.
Intentada ação perante tribunal estrangeiro, não há que se falar em
litispendência, tão pouco no impedimento da autoridade judiciária brasileiro
conhecer da mesma causa e das que lhe forem conexas, conforme
orientação do artigo 90, do Código de Processo Civil.
E, quanto à competência exclusiva, dispõe o artigo 89 que compete à
autoridade judiciária brasileira, com exclusão de qualquer outra:
a) conhecer de ações relativas a imóveis situados no Brasil;
b) proceder a inventário e partilha de bens, situados no Brasil, ainda que o
autor da herança seja estrangeiro e tenha residido fora do território
nacional.

3.2 Competência interna

No Brasil há autoridades judiciárias especializadas, conforme estipulação


constitucional. Todo aquele que pretende litigar judicialmente deve estar
atento à matéria que pretende discutir, cabendo-lhe verificar se a
competência é da Justiça do Trabalho, Eleitoral, Militar ou Comum. Em se
tratando da Justiça Comum, deve-se verificar se o assunto é afeto à Justiça
Federal ou Estadual.

28
Na sequência, apresenta-se organograma do Poder Judiciário brasileiro,
extraído da obra “Direito Constitucional Esquematizado”, de Pedro Lenza

STF

STJ Colégios Colégios Colégios


Recursais Recursais Recursais

Colégios TJs TJM ou TJ TRFs TRTs TREs


Recursais

Juizados Juízes Juízes de Juízes Juízes do Juízes e Conselhos


Especiais Estaduais, Direito, Federais Trabalho Juntas de Justiça
do DF e (juiz-auditor) Eleitorais (Auditorias
Territórios e Conselhos Militares da
de Justiça União)
(Auditorias
Militares
Estaduais,
do DF e
Territórios)

(2009, p. 533):
Determinada a matéria da ação a ser ajuizada, deve-se escolher a Justiça
com competência para analisá-la. Ao presente estudo interessa apenas a
análise da Justiça Comum, que compreende as Justiças Federal e Estadual.
Enquanto a competência da Justiça Federal se dá ratione personae, isto é,
em razão da pessoa, a competência da Justiça Estadual é supletiva. Isto
significa que, primeiramente deve-se verificar se a demanda não deve ser
ajuizada perante a Justiça Federal, só com o que será passível de
ajuizamento perante a Justiça Estadual. Se a situação não se adequar a
nenhuma das hipóteses previstas para a Justiça Federal, caberá o
ajuizamento perante a Justiça Estadual, devendo-se verificar, a partir de
então, qual o foro (comarca) e qual o juízo competente.

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3.2.1 Competência absoluta e relativa

A competência pode ser absoluta ou relativa. Se for absoluta, é apta a gerar


a nulidade processual, pois se reveste de ordem pública, podendo ser
declarada mediante requerimento ou de ofício, pelo juiz. Contudo, se for
relativa, deve ser arguida no momento oportuno, sob pena de preclusão, vez
que não pode ser declarada de ofício.
A competência absoluta deve ser arguida como preliminar em contestação,
mas, se não o for, poderá ser arguida a qualquer momento e grau de
jurisdição. Já a competência relativa deve ser arguida mediante exceção de
incompetência, em petição autônoma, no prazo para a defesa, sob pena de
preclusão.
Declarada a incompetência absoluta, os autos devem ser remetidos ao juízo
competente, anulando-se os atos decisórios praticados pelo juiz
incompetente.
Não se aplicam às regras de competência absoluta as hipóteses de
prorrogação, derrogação, conexão e continência, situações que alteram a
competência originária e, portanto, só se aplicam às regras de competência
relativa.
No entanto, é importante ter em mente que a distinção entre competência
absoluta e relativa refere-se apenas à competência de foro, isto é, de
comarca, posto que a competência de juízo é sempre absoluta. Por
exemplo, enquanto é passível de prorrogação de competência uma ação
ajuizada na cidade “A” ao invés da cidade “B”, o mesmo não ocorre quando
uma ação é ajuizada na Vara da Família quando o correto seria a Vara da
Fazenda Pública.
A competência absoluta do foro pode ser modificada pelo critério da
prevenção, por exemplo, na hipótese de um imóvel estar situado em mais
um estado ou comarca.

3.2.2 Critérios para fixação da competência

São 3 (três) os critérios para classificação da competência:


a) critério objetivo;
b) critério territorial; e
c) critério funcional.
Pelo critério objetivo, a competência é fixada em função da matéria e do
valor da causa. Se fixada em função da matéria, a competência é absoluta,
enquanto que, se fixada em função do valor é relativa, conforme determina o
artigo 111, do Código de Processo Civil.
Pelo critério territorial, a competência é fixada em função do local, nos
casos em que se determina a competência de foro (comarca), que é relativa.
Por sua vez, pelo critério funcional, a competência é fixada em função
da hierarquia, regra que determina a competência de um processo em razão

30
de outros, já em trâmite e que com o primeiro possuem relação. A
competência funcional é absoluta.
Para apuração da competência, pode-se seguir o seguinte roteiro:
1º) verificar se a demanda não é de competência originária do Supremo
Tribunal Federal (instância extraordinária) ou do Superior Tribunal de Justiça
(instância especial);
2º) verificar se a demanda pode ser aforada em uma das Justiças
Especializadas, como a do Trabalho, a Militar ou a Eleitoral;
3º) em caso negativo, não sendo a demanda de competência originária do
Supremo Tribunal Federal, nem do Superior Tribunal de Justiça, tão menos
de uma das Justiças Especializadas, será da Justiça Comum, devendo
verificar se compete à Justiça Federal ou Estadual processá-la e julgá-la;
4º) verificar se a demanda não é de competência originária do Tribunal de
Justiça (se a Justiça Estadual for competente), ou do Tribunal
Regional Federal (se a Justiça Federal for a competente);
5º) verificar qual o foro competente; e
6º) verificar qual o juízo competente.

3.2.3 Competência da Justiça Federal

Segundo artigo 109, da Constituição Federal de 1988, compete aos juízes


federais processar e julgar:
a) as causas em que a União, entidade autárquica ou empresa pública
federal forem interessadas na condição de autoras, rés, assistentes ou
oponentes, exceto as de falência, as de acidentes de trabalho e as
sujeitas à Justiça Eleitoral e à Justiça do Trabalho;
b) as causas entre Estado estrangeiro ou organismo internacional e
Município ou pessoa domiciliada ou residente no País;
c) as causas fundadas em tratado ou contrato da União com Estado
estrangeiro ou organismo internacional;
d) os crimes políticos e as infrações penais praticadas em detrimento de
bens, serviços ou interesse da União ou de suas entidades autárquicas
ou empresas públicas, excluídas as contravenções e ressalvada a
competência da Justiça Militar e da Justiça Eleitoral;
e) os crimes previstos em tratado ou convenção internacional, quando,
iniciada a execução no País, o resultado tenha ou devesse ter ocorrido no
estrangeiro, ou reciprocamente;
f) as causas relativas a direitos humanos, quando constatada ocorrência de
grave violação, hipótese em que o Procurador-Geral da República, com a
finalidade de assegurar o cumprimento de obrigações decorrentes de
tratados internacionais de direitos humanos dos quais o
Brasil seja parte, suscitar, perante o Superior Tribunal de Justiça, em
qualquer fase do inquérito ou processo, incidente de deslocamento de
competência para a Justiça Federal;

31
g) os crimes contra a organização do trabalho e, nos casos determinados
por lei, contra o sistema financeiro e a ordem econômicofinanceira;
h) os "habeas-corpus", em matéria criminal de sua competência ou quando
o constrangimento provier de autoridade cujos atos não estejam
diretamente sujeitos a outra jurisdição;
i) os mandados de segurança e os "habeas-data" contra ato de autoridade
federal, excetuados os casos de competência dos tribunais federais;
j) os crimes cometidos a bordo de navios ou aeronaves, ressalvada a
competência da Justiça Militar;
k) os crimes de ingresso ou permanência irregular de estrangeiro, a
execução de carta rogatória, após o exequatur, e de sentença
estrangeira, após a homologação, as causas referentes à nacionalidade,
inclusive a respectiva opção, e à naturalização;
l) a disputa sobre direitos indígenas.

3.2.4 Foro competente

Após identificação da Justiça Comum competente, cabe ao autor identificar


em qual foro deve ajuizar sua demanda. Na Justiça Estadual a divisão se dá
em comarcas, enquanto na Federal em seções judiciárias. Conforme
estipula o artigo 94 do Código de Processo Civil, a ação fundada em direito
pessoal e a ação fundada em direito real sobre bens móveis serão
propostas, em regra, no foro do domicílio do réu. Essa é a regra geral de
competência, chamada de competência comum, aplicável caso nenhuma
regra especial seja pertinente.
Caso o réu possua mais de um domicílio, poderá ser demandado no foro de
quaisquer deles, sendo esta uma hipótese de competência concorrente.
Se for incerto ou desconhecido seu domicílio, ele poderá ser demandado
onde for encontrado, ou no foro do domicílio do autor.
Quando o réu não tiver domicílio nem residência no Brasil, a ação será
proposta no foro do domicílio do autor, e, caso o autor também resida fora
do Brasil, a ação poderá ser proposta em qualquer foro.
Outra hipótese de competência concorrente é a do artigo 94, parágrafo
quarto, do Código de Processo Civil, que dispõe que quando houver dois ou
mais réus, com diferentes domicílios, poderão ser demandados no foro de
qualquer deles, à escolha do autor.
Conforme dispõe o artigo 96 do Código de Processo Civil, o foro do
domicílio do autor da herança, no Brasil é o competente para o inventário, a
partilha, a arrecadação, o cumprimento de disposições de última vontade e
todas as ações em que o espólio for réu, ainda que o óbito tenha ocorrido no
estrangeiro. No entanto, é competente o foro:
a) da situação dos bens, se o autor da herança não possuía domicílio
certo;
a) do lugar em que ocorreu o óbito se o autor da herança não tinha domicílio
certo e possuía bens em lugares diferentes.

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Nas situações de ausência do réu, as ações correm no foro de seu último
domicílio, que também se reputa competente para a arrecadação, o
inventário, a partilha e o cumprimento de disposições testamentárias.
Quando o réu for incapaz, o domicílio é necessário, caso em que a ação
deve ser processada no foro do domicílio de seu representante, conforme
orientação do artigo 98, do Código de Processo Civil.
Findas as hipóteses que traduzem meros desmembramentos da regra geral
de competência, consta uma hipótese de foro especial no artigo 95 do
Código de Processo Civil, que determina que nas ações fundadas em direito
real sobre imóveis é competente o foro da situação da coisa, sendo lícito ao
autor optar pelo foro do domicílio ou de eleição, quando o litígio não recaia
sobre:
a) o direito de propriedade;
b) direitos de vizinhança;
c) servidão;
d) posse;
e) divisão de terras;
f) demarcação de terras; e
g) nunciação de obra nova.
Para todas essas hipóteses, o foro competente é relativo e a demanda pode
ser proposta no domicílio do réu ou no foro de eleição, caso este tenha sido
contratualmente previsto.
Quando o Estado for autor, aplicam-se as regras gerais de
competência, e, se for réu, a demanda deve ser ajuizada em seu domicílio,
isto é, no foro da capital.
Conforme estipula o artigo 100, do Código de Processo Civil, é competente
o foro:
a) da residência da mulher, para a ação de separação dos cônjuges e a
conversão desta em divórcio, e para a anulação de casamento;
b) do domicílio ou da residência do alimentando, para a ação em que se
pedem alimentos;
c) do domicílio do devedor, para a ação de anulação de títulos
extraviados ou destruídos;
d) do lugar:
d.1) onde está a sede, para a ação em que for ré a pessoa
jurídica;
d.2) onde se acha a agência ou sucursal, quanto às
obrigações que ela contraiu;
d.3) onde exerce a sua atividade principal, para a ação em
que for
ré a sociedade, que carece de personalidade jurídica;
d.4) onde a obrigação deve ser satisfeita, para a ação em
que se Ihe exigir o cumprimento;
e) do lugar do ato ou fato:
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e.1) para a ação de reparação do dano;
e.2) para a ação em que for réu o administrador ou gestor de
negócios alheios.
Nas ações que versem sobre reparação de danos sofridos em razão de
delito ou acidente de veículos, será competente o foro do domicílio do autor
ou do local do fato, em hipótese de competência concorrente.

3.2.5 Modificação de competência

Como já mencionado, a competência absoluta não pode ser modificada,


diferentemente da relativa, que pode ser alterada: a) pela prorrogação;
b) pela derrogação;
c) pela conexão; e
d) pela continência.
A prorrogação ocorre quando o processo é aforado em juízo relativamente
incompetente, e no prazo para defesa o réu nada alega, deixando com que o
juízo inicialmente incompetente torne-se competente. A incompetência
relativa não pode ser declarada de ofício pelo juiz, pois depende de
expressa manifestação da parte contrária, mediante apresentação de
exceção de incompetência.
A derrogação se verifica nas hipóteses em que a lei faculta às partes a
eleição de um foro competente. Conforme redação do artigo 111, do Código
de Processo Civil, a competência em razão da matéria e da hierarquia é
inderrogável por convenção das partes, mas estas podem modificar a
competência em razão do valor e do território, elegendo foro onde serão
propostas as ações oriundas de direitos e obrigações.
A cláusula que elege o foro, no entanto, deve ser expressa. Estipulado o
foro de eleição, este obriga também os sucessores e herdeiros das partes.
Mas, a eleição de foro não prevalece sobre situações em que se verifique a
conexão.
Reputam-se conexas duas ou mais ações, quando Ihes for comum o objeto
ou a causa de pedir. Quando há conexão entre duas ou mais ações, estas
podem ser reunidas por requerimento das partes ou de ofício, pelo juiz. A
finalidade, por economia processual, é a decisão simultânea dos processos.
Quando correrem em separado ações conexas perante juízes que possuem
a mesma competência territorial, considera-se prevento aquele que houver
despachado em 1º (primeiro) lugar.
A conexão, diferentemente da alegação de incompetência, não exige
petição autônoma, podendo ser realizada na própria contestação, pelo réu, e
também não preclui se não realizada nessa oportunidade, posto que o
interesse no julgamento simultâneo não é meramente das partes.
A continência, por sua vez, ocorre quando houver, entre duas ou mais
ações, identidade quanto às partes e à causa de pedir, ma só objeto de
uma, por ser mais amplo, abranger o das outras, conforme redação legal do
artigo 105, do Código de Processo Civil.
34
3.2.6 Declaração de incompetência

Como já mencionado, em havendo incompetência absoluta, esta deve ser


arguida como preliminar de contestação, embora, caso não o seja, não torna
preclusa a matéria, que pode ser alegada a qualquer tempo e grau de
jurisdição, sendo passível, inclusive, de declaração de ofício, pelo juiz.
Já em relação à incompetência relativa, deve ser arguida em tempo,
mediante petição autônoma (exceção de incompetência) sob pena de
preclusão da matéria e prorrogação do foro.
Como se vê, a incompetência relativa não é matéria de ordem pública, e,
portanto, não pode ser declarada de ofício. Contudo, há uma importante
exceção. Quando celebrado contrato de adesão e incluída cláusula de
eleição de foro, há que se estar atento à validade desta. Se a cláusula de
eleição de foro for nula, então poderá ser declarada de ofício pelo juiz, que
deverá declinar de competência para o juízo de domicílio do réu.

3.2.7 Conflitos de competência

Conforme dispõe o artigo 115, do Código de Processo Civil, há conflito de


competência:
a) quando dois ou mais juízes se declaram competentes;
b) quando dois ou mais juízes se consideram incompetentes;
c) quando entre dois ou mais juízes surge controvérsia acerca da reunião ou
separação de processos.
O conflito de competência pode ser suscitado por qualquer das partes, pelo
Ministério Público ou pelo juiz. É obrigatória a oitiva do Ministério Público em
todos os casos de conflito de competência.
No entanto, a parte que, no processo, ofereceu exceção de incompetência,
não pode suscitar o conflito. O conflito de competência não impede, porém,
que a parte que não o suscitou ofereça exceção declinatória de foro.
O conflito de competência deverá se suscitado ao presidente do tribunal:
a) pelo juiz, por ofício;
b) pela parte e pelo Ministério Público, por petição.
Em qualquer caso, o pedido deve ser instruído com os documentos
necessários à prova do conflito.
Distribuído o pedido, o relator mandará ouvir os juízes em conflito, ou
apenas o suscitado, se for suficiente. O relator pode, de ofício, ou a
requerimento de qualquer das partes, determinar, quando o conflito for
positivo, que seja sobrestado o processo, mas, neste caso, assim como no
de conflito negativo, deve designar um dos juízes para resolver, em caráter
provisório, as medidas urgentes.

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Se houver jurisprudência dominante do tribunal sobre a questão suscitada,
o relator poderá decidir de plano o conflito de competência, cabendo agravo,
no prazo de 5 (cinco) dias, contado da intimação da decisão às partes, para
o órgão recursal competente, conforme orienta o artigo 120, parágrafo único,
do Código de Processo Civil.
Após o decurso do prazo, com ou sem as informações, o Ministério Público
será ouvido, em 5 (cinco) dias e, em seguida, o relator apresentará o conflito
em sessão de julgamento.
Ao decidir o conflito, o tribunal declarará qual o juiz competente,
pronunciando-se também sobre a validade dos atos do juiz incompetente.
Os autos do processo em que ocorreu o conflito de competência devem,
então, ser remetidos ao juiz declarado competente.
Quando o conflito for entre turmas, seções, câmaras, Conselho Superior da
Magistratura, juízes de segundo grau e desembargadores, observar-se-á o
que dispuser a respeito o regimento interno do tribunal, regimento que deve
regular o processo e o julgamento do conflito de atribuições entre autoridade
judiciária e autoridade administrativa, conforme redação legal dos artigos
123 e 124, ambos do Código de Processo Civil.

4. PARTES E PROCURADORES

Todas as pessoas que se acham no exercício de seus direitos possuem


capacidade para estar em juízo. Tanto as pessoas físicas como as pessoas
jurídicas possuem capacidade de ser parte. Mas não apenas, já que essa
capacidade também é conferida para alguns entes despersonalizados.
Quanto aos incapazes, só podem estar em juízo quando forem
representados ou assistidos por quem de direito. Se o incapaz for menor,
deve ser representado ou assistido por seus pais, ou por seu tutor, na
ausência dos últimos. Entretanto, se o menor não tiver os pais, tão pouco
tutor, o juiz deverá nomear-lhe curador especial. No caso do incapaz ser
maior, ele será representado por seu curador.
Outra hipótese em que o juiz deve nomear curador especial se dá quando
os interesses do incapaz colidirem com os interesses de seus
representantes ou assistentes, assim como em relação ao réu preso, e ao
réu revel citado por edital ou com hora certa.
No que se refere às pessoas jurídicas, tanto as de direito público como as
de direito privado podem estar em juízo. São pessoas jurídicas de direito
público: a União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios, além das
respectivas autarquias, empresas públicas e fundações públicas.
Quanto à União, sua representação ocorre nos termos do artigo 131,
da Constituição Federal de 1988:
Art. 131. A Advocacia-Geral da União é a instituição que,
diretamente ou através de órgão vinculado, representa a União,
judicial e extrajudicialmente, cabendo-lhe, nos termos da lei
complementar que dispuser sobre sua organização e

36
funcionamento, as atividades de consultoria e assessoramento
jurídico do Poder Executivo.
§ 1º - A Advocacia-Geral da União tem por chefe o
AdvogadoGeral da União, de livre nomeação pelo Presidente da
República dentre cidadãos maiores de trinta e cinco anos, de
notável saber jurídico e reputação ilibada.
§ 2º - O ingresso nas classes iniciais das carreiras da instituição
de que trata este artigo far-se-á mediante concurso público de
provas e títulos.
§ 3º - Na execução da dívida ativa de natureza tributária, a
representação da União cabe à Procuradoria-Geral da Fazenda
Nacional, observado o disposto em lei.
Já quanto aos Estados, sua representação se dá nos termos do artigo 132,
também da Constituição Federal de 1988:
Art. 132. Os Procuradores dos Estados e do Distrito Federal,
organizados em carreira, na qual o ingresso dependerá de
concurso público de provas e títulos, com a participação da
Ordem dos Advogados do Brasil em todas as suas fases,
exercerão a representação judicial e a consultoria jurídica das
respectivas unidades federadas.
Parágrafo único. Aos procuradores referidos neste artigo é
assegurada estabilidade após três anos de efetivo exercício,
mediante avaliação de desempenho perante os órgãos próprios,
após relatório circunstanciado das corregedorias.
Quanto aos Municípios, quando não houver procurador no Município, sua
representação poderá ser feita pelo próprio Prefeito Municipal.
Por sua vez, as pessoas jurídicas de direito privado serão representadas em
juízo, ativa e passivamente, por quem os respectivos estatutos designarem,
ou, não os designando, por seus diretores. E o Código de Processo Civil
ainda atribui capacidade de ser parte a determinados entes
despersonalizados. São entes despersonalizados com capacidade de ser
parte:
a) a massa falida;
b) o espólio;
c) a herança jacente e a vacante;
d) o condomínio;
e) as sociedades em comum (ou irregulares);
f) as pessoas jurídicas estrangeiras; e
g) o nascituro.
Quanto à massa falida, sua representação em juízo será feita pelo
administrador da recuperação judicial, a do espólio, pelo inventariante, a da
herança jacente ou vacante, por seu curador, a do condomínio pelo seu
administrador ou pelo síndico, a das sociedades irregulares, pela pessoa a
quem couber a administração de seus bens, a das pessoas jurídicas
estrangeiras, pelo gerente, representante ou administrador de sua filial,
37
agência ou sucursal aberta ou instalada no Brasil, e, a do nascituro, pelos
pais.
Note-se, contudo, que quando o inventariante for dativo, todos os herdeiros
e sucessores do de cujus serão autores ou réus nas ações em que o espólio
for parte, nos termos do artigo 12, parágrafo segundo, do Código de
Processo Civil.
Quanto às sociedades jurídicas sem personalidade jurídica, ou seja, as
sociedades em comum, ou irregulares, não podem opor à irregularidade de
sua constituição com a finalidade de não poderem ser demandadas (art. 12,
§2º, do CPC).
Portanto, quanto à representação dos entes despersonalizadas, há que se
memorizar, em síntese:

Entes despersonalizados Representante judicial


Massa falida Administrador da recuperação judicial

Espólio Inventariante

Herança jacente e a vacante Curador

Condomínio Administrador ou síndico

Sociedades em comum (ou Pessoa incumbida da administração dos


irregulares) bens
Pessoas jurídicas estrangeiras Gerente, representante ou administrador
de sua filial, agência ou sucursal aberta
ou instalada no Brasil
Nascituro Pais

Quando o juiz verificar a incapacidade processual ou a irregularidade de


representação das partes, ele deverá suspender o processo e estipular
prazo razoável para que o defeito seja sanado. Contudo, se não houver
cumprimento tempestivo da determinação judicial:
a) por parte do autor, o juiz deverá decretar a nulidade do processo;
b) por parte do réu, o juiz deverá reputá-lo revel;
c) por parte de terceiro, o juiz deverá excluí-lo do processo.

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4.1 Deveres das partes e de seus procuradores

Conforme determinação do artigo 14, do Código de Processo Civil, são


deveres das partes e de todos aqueles que de qualquer forma participam do
processo:
a) expor os fatos em juízo conforme a verdade (art. 14, I, CPC);
b) proceder com lealdade e boa-fé (art. 14, II, CPC);
c) não formular pretensões, nem alegar defesa, cientes de que são
destituídas de fundamento (art. 14, III, CPC);
d) não produzir provas, nem praticar atos inúteis ou desnecessários à
declaração ou defesa do direito (art. 14, IV, CPC);
e) cumprir com exatidão os provimentos mandamentais e não criar
embaraços à efetivação de provimentos judiciais, de natureza
antecipatória ou final (art. 14, V, CPC).
As hipóteses de mencionado artigo devem ser analisadas com parcimônia.
As quatro primeiras traduzem a prática de litigância de má-fé, enquanto a
última traduz ato atentatório ao exercício da jurisdição.
Basicamente, a diferença entre um e outro é que, enquanto o valor da multa
pela prática da litigância de má-fé é revertido em benefício da parte
processual prejudicada, o da multa decorrente do ato atentatório ao
exercício da jurisdição é revertido à União, ou ao Estado, a depender se o
processo tramita perante a Justiça Estadual ou Federal.
Portanto, sempre que a parte não cumprir provimentos judiciais de natureza
mandamental ou criar embaraços à efetivação de provimentos judiciais, de
natureza antecipatória ou final, sujeitar-se-á ao pagamento de multa, em
montante a ser fixado de acordo com a gravidade da conduta e não superior
a 20% (vinte por cento) sobre o valor da causa, sem prejuízo de outras
sanções criminais, civis e processuais cabíveis. Fixada a multa e não paga
no prazo estabelecido, contado do trânsito em julgado final da causa, ela
será inscrita como dívida ativa da União (no caso do processo tramitar
perante a Justiça Federal) ou do Estado (no caso do processo tramitar
perante a Justiça Estadual).
Adentrando a litigância de má-fé, dispõe o artigo 17, do Código de Processo
Civil:
Art. 17. Reputa-se litigante de má-fé aquele que:
I – deduzir pretensão ou defesa contra texto expresso de lei ou
fato incontroverso;
II – alterar a verdade dos fatos;
III – usar do processo para conseguir objetivo ilegal;
IV – opuser resistência injustificada ao andamento do processo;
V – proceder de modo temerário em qualquer incidente ou ato do
processo;
VI – provocar incidentes manifestamente infundados;
VII – interpuser recurso com intuito manifestamente protelatório.

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A condenação da parte em litigância de má-fé pode ser feita de ofício,
ou a requerimento da parte prejudicada, caso em que o litigante de má-fé
poderá ser condenado ao pagamento de multa não excedente a 1% (um por
cento) sobre o valor da causa, além de indenizar a parte contrária dos
prejuízos que esta sofreu, mais honorários advocatícios e todas as despesas
que efetuou.
Quanto ao valor da indenização, existem duas situações:
a) se o valor da indenização não superar 20% (vinte por cento) do valor
da causa, o juiz poderá fixar a indenização desde logo; mas
b) se o valor da indenização superar esse percentual, deverá ser ser
liquidado por arbitramento.
Quando forem dois ou mais os litigantes de má-fé, o juiz condenará cada
um na proporção do seu respectivo interesse na causa, ou solidariamente
aqueles que se coligaram para lesar a parte contrária.
Em suma, quando houver condenação em litigância de má-fé, o litigante
será condenado ao pagamento de 1% (um por cento) sobre o valor da
causa, obrigatoriamente, e, ao pagamento de indenização pelos danos que
causar à parte contrária, donde, tanto o valor da multa como o da
indenização são revertidos em benefício da parte prejudicada.
Quando, no entanto, se tratar da hipótese pontual do artigo 14, inciso V, do
Código de Processo Civil, ou seja, da prática de ato atentatório ao exercício
da jurisdição, a parte poderá ser condenada ao pagamento de multa no valor
de até 20% (vinte por cento) sobre o valor da causa, percentual que varia
segundo a gravidade da conduta, e que é destinado à União, no caso da
Justiça Federal, ou ao Estado, no caso da Justiça Estadual.
Nada impede, ademais, a ocorrência conjunta de ato que dê ensejo à
litigância de má-fé e ato atentatório ao exercício da jurisdição, quando as
sanções serão cumulativamente aplicadas, já que de naturezas diversas. E,
conforme determina o artigo 15, do Código de Processo Civil, é proibido às
partes e seus advogados empregar expressões injuriosas nos escritos
apresentados no processo, cabendo ao juiz, de ofício ou a requerimento do
ofendido, mandar riscá-las. Contudo, caso as expressões injuriosas sejam
proferidas de forma oral, o juiz deverá advertir o advogado para que não as
use sob pena de lhe ser cassada a palavra.

4.2 Despesas e Multas

Via de regra, cabe às partes prover as despesas dos atos que realizem ou
requeiram no processo, antecipando-lhes o pagamento desde o início até
sentença final, assim como na execução, até a plena satisfação do direito
declarado pela sentença (art. 19, do CPC). Quanto às determinações de
ofício, pelo juiz, ou a requerimento do Ministério Público, compete ao autor
adiantar as despesas a ela relativas.
A sentença deve condenar o vencido a pagar ao vencedor as despesas que
antecipou, assim como os honorários advocatícios, honorários que são
40
devidos também nos casos em que advogado atue em causa própria.
Conforme artigo 20, parágrafo segundo, do Código de Processo Civil, as
despesas abrangem não só as custas dos atos processuais, mas também a
indenização de viagem, diária de testemunha e remuneração do assistente
técnico.
Os honorários advocatícios devem ser fixados entre 10% (dez por cento) e
20% (vinte por cento) sobre o valor da condenação, atendidos: a) o grau de
zelo do profissional;
b) o lugar de prestação do serviço; e
c) a natureza e importância da causa, o trabalho realizado pelo advogado e
o tempo exigido para o seu serviço.
Se cada litigante for em parte vencido e em parte vencedor, os honorários e
despesas serão recíproca e proporcionalmente distribuídos e compensados
entre eles (art. 21, do CPC). No entanto, se um litigante decair de parte
mínima do pedido, o outro responderá, por inteiro, pelas despesas e
honorários.
Quando o réu não fizer alegação de fato impeditivo, modificativo ou extintivo
do direito do autor em sua oportunidade de resposta e, consequentemente,
dilatar o julgamento da lide, será condenado nas custas a partir do
saneamento do processo e perderá, ainda que vencedor na causa, o direito
de haver do vencido honorários advocatícios (art. 22, do CPC).
Nos procedimentos de jurisdição voluntária, as despesas devem ser
adiantadas pelo requerente, mas rateadas entre os interessados (art. 24, do
CPC). Já as despesas dos atos que forem adiados ou tiverem de repetir-se,
ficarão a cargo da parte, do serventuário, do órgão do Ministério Público ou
do juiz que, sem justo motivo, houver dado causa ao adiamento ou à
repetição (art. 29, do CPC).
Caso o processo termine por desistência ou por reconhecimento do pedido,
as despesas e os honorários serão pagos pela parte que desistiu ou
reconheceu (art. 26, CPC). Se a desistência ou o reconhecimento for parcial,
a responsabilidade pelas despesas e honorários será proporcional à parte
de que se desistiu ou que se reconheceu. E, se houver transação sem que
em seu termo se disponha sobre as despesas, estas serão divididas
igualmente.
Sempre que, a requerimento do réu, o juiz julgar extinto o processo sem
resolução de mérito, o autor não poderá intentar nova ação, sem pagar ou
depositar em cartório as despesas e os honorários, em que foi condenado.
Aquele que receber custas indevidas ou excessivas é obrigado a restituí-las,
incorrendo em multa equivalente ao dobro de seu valor, conforme determina
o artigo 30, do Código de Processo Civil.
Em relação às despesas dos atos manifestamente protelatórios,
impertinentes ou supérfluos, devem ser pagas pela parte que os tiver
promovido ou praticado, desde que impugnados pela outra parte.
Nos termos do artigo 33, do Código de Processo Civil, a remuneração:
a) do assistente técnico, deve ser paga pela parte que o houver
indicado;

41
b) do perito, deve ser paga pela parte que requereu o exame pericial, ou
pelo autor, quando requerido por ambas as partes ou determinado de
ofício pelo juiz.
Encerrando a seção que trata das despesas e multas, o artigo 35, do
Código de Processo Civil, dispõe que as sanções impostas às partes em
consequência de má-fé serão contadas como custas e reverterão em
benefício da parte contrária, enquanto que as impostas aos serventuários
pertencerão aos Estados.

4.3 Procuradores

Recorde-se que um dos pressupostos processuais de existência é a


capacidade postulatória. Só a pessoa dotada desta capacidade pode
postular em juízo, sem o que não há que se falar na existência de um
processo.
Via de regra, todas as pessoas que pretendem litigar em juízo devem ser
representadas por um advogado regularmente habilitado. Excepcionalmente,
no entanto, a lei faculta que a parte litigue sem a representação de um
advogado, assim como ocorre no âmbito dos Juizados Especiais Cíveis, nas
causas que não ultrapassem 20 (vinte salários mínimos). É dado ao
advogado o direito de litigar em causa própria, desde que possua habilitação
legal, e para o caso de não a ter, também esse direito lhe é conferido na
hipótese de não existir outro advogado no local, ou, ainda que exista, que
ele se recuse ou se declare impedido.
Conforme artigo 37, do Código de Processo Civil, sem instrumento de
mandato, o advogado não será admitido a procurar em juízo. No entanto,
poderá, em nome da parte, intentar ação, com a finalidade de evitar a
prescrição, assim como intervir, no processo, para praticar atos urgentes.
Nestes casos, o advogado estará obrigado, independentemente de caução,
a exibir o instrumento de mandato no prazo de 15 (quinze) dias, prorrogável
até outros 15 (quinze), por despacho do juiz. Os atos que não forem
ratificados aprazadamente, serão havidos por inexistentes, respondendo o
advogado por perdas e danos.
A procuração com poderes gerais pode ser conferida através de
instrumento público ou particular, e deve ser assinado pela parte. Conferida
a procuração, o advogado fica habilitado a praticar todos os atos do
processo, salvo para receber citação inicial, confessar, reconhecer a
procedência do pedido, transigir, desistir, renunciar ao direito sobre que se
funda a ação, receber, dar quitação e firmar compromisso, hipóteses em que
a procuração, com poderes especiais, deve mencioná-los expressamente.
Nos termos do artigo 38, parágrafo único, do Código de Processo Civil, a
procuração pode ser assinada digitalmente com base em certificado emitido
por Autoridade Certificadora credenciada, na forma da lei específica.
Compete ao advogado, ou à parte quando postular em causa própria:
a) declarar, na petição inicial ou na contestação, o endereço em que
receberá intimação (art. 39, I, do CPC);
42
b) comunicar ao escrivão do processo qualquer mudança de endereço
(art. 39, II, do CPC).
O dever do advogado, de declarar na petição inicial ou na contestação, o
endereço em que receberá intimações é estritamente necessário. Se
descumprido, antes de determinar a citação do réu, o juiz deve conferir
prazo de 48 (quarenta e oito) horas para que o advogado corrija a falha, sob
pena de indeferimento da inicial. É fundamental, também, que o candidato
ao exame da Ordem dos Advogados do Brasil não se esqueça deste
dispositivo durante a 2ª (segunda) fase, pois, como visto, dá causa ao
indeferimento da inicial, e, tão importante quanto não esquecer de fazer
menção a ele é não inventar ou não escrever qualquer endereço que não
tenha sido fornecido pelo enunciado, pois essa prática identifica a peça e
gera sua anulação.
Dispõe o artigo 40, do Código de Processo Civil, que é direito do advogado:
a) examinar, em cartório de justiça e secretaria de tribunal, autos de
qualquer processo, salvo o disposto no art. 155, isto é, aqueles em que
correm em segredo de justiça, quando o direito de consultar os autos e pedir
certidões é restrito às partes e seus procuradores;
b) requerer, como procurador, vista dos autos de qualquer processo pelo
prazo de 5 (cinco) dias;
c) retirar os autos do cartório ou secretaria, pelo prazo legal, sempre que
Ihe competir falar neles por determinação do juiz, nos casos previstos em lei.
Quando o prazo for comum às partes, só em conjunto ou mediante prévio
ajuste por petição nos autos, poderão os seus procuradores retirar os autos,
ressalvada a obtenção de cópias para a qual cada procurador poderá retirá-
los pelo prazo de 1 (uma) hora independentemente de ajuste.

4.4 Substituição das partes e dos procuradores

A substituição voluntária das partes, no curso do processo, só é admitida


quando a lei expressamente autorizar (art. 41, do CPC).
A alienação da coisa ou do direito litigioso, a título particular, por ato
praticado inter vivos, não tem o condão de alterar a legitimidade das partes.
Tanto o adquirente como o cessionário não poderá ingressar em juízo,
substituindo o alienante, ou o cedente, sem que o consinta a parte contrária.
No entanto, tanto o adquirente como o cessionário poderão interver no
processo, assistindo o alienante ou o cedente.
Nos casos de alienação de coisa o de direito litigioso, a sentença proferida
entre as partes originárias estende seus efeitos ao adquirente ou
cessionário.
Quando ocorre a morte de qualquer das partes, dar-se-á substituição
pelo seu espólio ou pelos seus sucessores, permanecendo suspenso o
processo enquanto não se efetivar a substituição.

43
A parte, que revogar o mandato outorgado ao seu advogado, no mesmo ato
deve constituir outro que assuma o patrocínio da causa, conforme dispõe o
artigo 44, do Código de Processo Civil.
Ao advogado é conferido o direito de, a qualquer tempo, renunciar ao
mandato, provando que cientificou o mandante a fim de que este nomeie
substituto. Durante os 10 (dez) dias seguintes à cientificação, o advogado
continuará a representar o mandante, desde que necessário para lhe evitar
prejuízo.

4.5 Litisconsórcio

O litisconsórcio é a possibilidade conferida pelo Código de Processo Civil de


duas ou mais pessoas litigarem no mesmo pólo processual.
Quando houver mais de um autor, se diz que há litisconsórcio ativo. Já
quando houver mais de réu, se diz que há litisconsórcio passivo. E, por fim,
quando houver mais de um autor e mais de um réu, se diz que o
litisconsórcio é misto.
O litisconsórcio pode assumir duas naturezas, isto é, ele pode ser:
a) necessário; ou
b) facultativo.
Litisconsórcio necessário é o obrigatório, é aquele que se verifica quando,
por disposição de lei ou pela natureza da relação jurídica, o juiz tiver de
decidir a lide de modo uniforme para todas as partes, caso em que a eficácia
da sentença dependerá da citação de todos os litisconsortes. Já o
litisconsórcio facultativo é o não obrigatório, é aquele que se verifica por
conveniência processual. Segundo dispõe o artigo 46, do Código de
Processo Civil, duas ou mais pessoas podem litigar, no mesmo processo,
em conjunto, ativa ou passivamente, quando:
a) entre elas houver comunhão de direitos ou de obrigações
relativamente à lide;
b) os direitos ou as obrigações derivarem do mesmo fundamento de fato
ou de direito;
c) entre as causas houver conexão pelo objeto ou pela causa de pedir;
d) ocorrer afinidade de questões por um ponto comum de fato ou de
direito.
Em se tratando de litisconsórcio facultativo, o juiz pode limitar o número de
litigantes, sempre que este comprometer a rápida solução do litígio ou
dificultar a defesa. Efetuado o pedido de limitação, interrompe-se o prazo
para resposta, que recomeça da intimação da decisão.
Quanto ao litisconsórcio, há ainda uma segunda classificação que é objeto
de frequentes questionamentos em concursos públicos, classificação que
considera a decisão final do processo em relação aos litisconsortes. Caso a
decisão final tenha que ser a mesma para todos, se diz o que litisconsórcio é

44
unitário, e, caso possa haver decisões diferentes para cada um dos
litisconsortes, se diz que o litisconsórcio é simples.
O litisconsórcio pode se formar no momento do ajuizamento da demanda,
mas também pode ser formar em momento posterior. Por exemplo, quando
o litisconsórcio for necessário e o autor não o indicar em sua inicial, o juiz
deve determinar a emenda da mesma, sob pena de indeferimento.
Nos casos de denunciação da lide e chamamento ao processo, nada mais
ocorre que um litisconsórcio posterior, hipóteses em que terceiros são
chamados a integrar o pólo passivo de uma demanda em curso. Quando o
autor ou o réu falecer durante o processo, e seus sucessores passarem a
integrar o pólo respectivo, também estar-se-á diante de hipótese de
litisconsórcio posteriormente formado.
Via de regra, os litisconsortes são considerados, em suas relações com a
parte adversa, como litigantes distintos, donde os atos e as omissões de um
não prejudicam nem beneficiam os outros (art. 48, do CPC).
Casa litisconsorte tem o direito de promover o andamento do processo, e
todos devem ser intimados dos respectivos atos (art. 49, do CPC).
Caso os litisconsortes possuam procuradores diferentes, contar-se-á em
dobro os prazos para contestar, para recorrer e, de modo geral, para falar
nos autos.

4.6 Intervenção de terceiros

Via de regra, a relação jurídico-processual compreende apenas o autor e o


réu. Contudo, em diversas situações terceira pessoa pode vir a integrar essa
relação, sempre que ela possa ser, de algum modo, atingida pela decisão a
ser proferida.
Como se sabe, a formação da coisa julgada deve manifestar efeitos apenas
entre as partes processuais. Assim, sempre que seus efeitos forem
extensivos a terceira pessoa, esta pessoa pode intervir no processo para
manifestar-se no que de direito.
São modalidades de intervenção de terceiros:
a) a assistência;
b) a oposição;
c) a nomeação à autoria;
d) a denunciação da lide; e
e) o chamamento ao processo.
Via de regra, a intervenção de terceiros não altera a competência da ação,
salvo se quem intervir for a União, entidade autárquica ou empresa pública
federal, quando haverá deslocamento da competência para Justiça Federal
(art. 109, I, da CRFB/88).

4.6.1 Assistência

Dentre as modalidades de intervenção de terceiros, a assistência é a única


não incluída no capítulo específico sobre elas, no Código de Processo Civil.
45
Embora tratada conjuntamente com o litisconsórcio, e fora do capítulo
relativo à intervenção de terceiros, a assistência não perde seu caráter.
Sempre que pender uma causa entre duas ou mais pessoas, e terceiro
possuir interesse jurídico em que a sentença seja favorável a uma delas,
poderá intervir no processo para assisti-la (art. 50, do CPC).
A assistência tem lugar em qualquer dos tipos de procedimento e em todos
os graus de jurisdição, porém o assistente recebe o processo no estado em
que se encontra.
Nada impede, portanto, que terceiro intervenha como assistente em
determinado processo, já em grau recursal, hipótese em que receberá o
processo no estado em que o mesmo se encontrar. Há dois tipos de
assistência: a) a simples; e
b) a litisconsorcial.
A assistência simples se verifica sempre que qualquer terceiro demonstre
possuir interesse jurídico na decisão a ser proferida num processo em curso.
Note-se que não se trata da demonstração da titularidade da relação
jurídica, caso em que o assistente seria parte e não terceiro interveniente,
mas apenas da demonstração de interesse jurídico. Se houver, contudo,
mero interesse econômico, não há que se falar em legitimidade para intervir.
Pleiteada a assistência, caso não haja impugnação dentro de 5 (cinco) dias,
o pedido será deferido. Contudo, se qualquer das partes alegar que o
assistente não possui interesse jurídico para intervir em prol do assistido, o
juiz:
a) determinará, sem suspensão do processo, o desentranhamento da
petição e da impugnação, a fim de serem autuadas em apenso; b)
autorizará a produção de provas; e
c) decidirá, dentro de 5 (cinco) dias, o incidente.
Já a assistência litisconsorcial se verifica quando aquele que figura como
assistente poderia integrar a relação processual como litisconsorte
facultativo.
Considera-se litisconsorte da parte principal o assistente, toda vez que a
sentença for apta para influir na relação jurídica entre ele e o adversário do
assistido (art. 54, do CPC). Ao assistente litisconsorcial também se aplicam
as considerações acima mencionadas, quanto ao pleito para intervir na
demanda.
Transitada em julgado a sentença, na causa em que interveio o assistente,
este não poderá, em processo posterior, discutir a justiça da decisão, salvo
se alegar e provar que:
a) pelo estado em que recebera o processo, ou pelas declarações e atos
do assistido, fora impedido de produzir provas suscetíveis de influir na
sentença (art. 55, I, do CPC);
b) desconhecia a existência de alegações ou de provas, de que o
assistido, por dolo ou culpa, não se valeu (art. 55, II, do CPC).

46
4.6.2 Oposição

A oposição é forma voluntária de intervenção de terceiros, situação em que


o terceiro opõe direito às partes integrantes da relação jurídicoprocessual
originária. A natureza jurídica da oposição é de ação autônoma. Há duas
modalidades de oposição: a) a interventiva; e
b) a autônoma.
A oposição é autônoma ou interventiva a depender do momento processual
em que requerida.
Se oferecida antes da audiência, a oposição será interventiva, apensada
nos próprios autos e correrá simultaneamente com a ação, sendo ambas
julgadas pela mesma sentença. No entanto, se oferecida após a audiência,
será autônoma, iniciando nova marcha processual. Apenas a oposição
interventiva caracteriza-se como intervenção de terceiro.
Tanto a oposição interventiva como a autônoma possuem uma relação de
prejudicialidade em relação ao processo originário. Se ela for interventiva,
será decidida na mesma sentença do processo originário, e será analisada
antes do mérito.
E, se for autônoma, é dado ao juiz a faculdade de suspender a ação
originária por até 90 (noventa) dias, para que a ação autônoma de oposição
alcance o mesmo estágio e possa, a partir daí, ser conjuntamente decidida
com a ação originária, posto que há conexão entre elas.
Quando se fala em oposição, se fala, obrigatoriamente, em litisconsórcio
necessário, formado entre autor e réu da ação originária (opostos), ambos
demandados pelo opoente.
Caso um dos opostos reconheça a procedência do pedido, contra o outro
prosseguirá o opoente (art. 58, do Código de Processo Civil).

4.6.3 Nomeação à autoria

A nomeação à autoria é forma provocada de intervenção de terceiros. Nela,


o réu formula pedido no qual sustenta ser parte ilegítima, e indica quem seja
o legitimado a figurar como réu em sua substituição.
A nomeação à autoria aplica-se apenas nos casos previstos nos artigos 62
e 63, ambos do Código de Processo Civil.
Art. 62. Aquele que detiver a coisa em nome alheio, sendo-lhe
demandada em nome próprio, deverá nomear à autoria o
proprietário ou o possuidor.
Art. 63. Aplica-se também o disposto no artigo antecedente à ação
de indenização, intentada pelo proprietário ou pelo titular de um
direito sobre a coisa, toda vez que o responsável pelos prejuízos
alegar que praticou o ato por ordem, ou em cumprimento de
instruções de terceiro.

47
O caso do artigo 62 é do mero detentor, também chamado de fâmulo da
posse, e o artigo 63 é o do mero cumpridor de ordem ou instruções de
terceiro.
Fora dessas hipóteses, no caso de ilegitimidade de parte, haverá extinção
do processo sem resolução de mérito, e não substituição do pólo passivo
após nomeação à autoria.
O instituto em estudo existe para resguardar os direitos do autor, em
situações em que não lhe é possível identificar quem seja o real ofensor do
seu direito. Nesses casos, o autor intenta a ação em face de quem lhe
parece ostentar essa condição, sendo que apenas em momento posterior,
isto é, após a nomeação à autoria, é que se torna possível identificar o real
legitimado a figurar no pólo passivo.
Em ambas as hipóteses de nomeação à autoria, se o réu não a realizar no
prazo que lhe é determinado, responderá por perdas e danos. Portanto, a
nomeação à autoria é um dever do réu, sempre que presentes uma das
situações do artigo 62 ou 63, ambos do Código de Processo Civil. O prazo
para requerimento da nomeação à autoria é o prazo para a defesa, cabendo
ao juiz, caso defira o pedido, suspender o processo e mandar ouvir o autor
no prazo de 5 (cinco) dias.
Se o autor permanecer silente no prazo de 5 (cinco) dias, reputar-se-á
aceita a nomeação. Caso o autor deseje recusar a nomeação, não precisa
motivá-la, hipótese em que a mesma ficará sem efeito. Mas, recorde-se, o
autor é o principal interessado em que o pólo passivo seja corrigido.
Conforme artigo 68, do Código de Processo Civil, presume-se aceita a
nomeação se:
a) o autor nada requereu, no prazo em que, a seu respeito, Ihe competia
manifestar-se;
b) o nomeado não comparecer, ou, comparecendo, nada alegar.
Há, ainda, uma situação peculiar quanto à nomeação à autoria. Aceita a
nomeação, o juiz mandará citar o nomeado, que pode, no prazo da resposta,
recusar a nomeação, caso em que esta ficará sem efeito e o processo
continuará em face do nomeante (réu do processo originário). No entanto, a
doutrina costuma apontar que, recusada indevidamente a nomeação, é lícito
ao autor mover nova ação em face do verdadeiro legitimado, já que será
julgada extinta sem julgamento de mérito aquele intentada em face do mero
detentor (art. 62, do CPC) ou cumpridor de ordens de terceiro (art. 63, do
CPC). E, nessa nova ação, é lícito ao autor cumular pedido ressarcitório, em
razão das perdas e danos que suportou com a extinção sem resolução de
mérito do processo anterior, após a recusa do nomeado.
Se o autor recusar o nomeado, ou quando este negar a qualidade que lhe é
atribuída, recusando a nomeação, assinar-se-á novo prazo de contestação
para o nomeante, conforme determina o artigo 67, do Código de Processo
Civil.
Por derradeiro, nos termos do artigo 69, do Código de Processo Civil,
responderá por perdas e danos aquele a quem incumbia a nomeação: a)
deixando de nomear à autoria, quando Ihe competir;
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b) nomeando pessoa diversa daquela em cujo nome detém a coisa
demandada.

4.6.4 Denunciação da lide

A denunciação da lide é forma provocada de intervenção de terceiros, e


possui natureza jurídica de ação autônoma. O instituto em estudo relaciona-
se ao direito de regresso, e possui hipóteses taxativas de cabimento.
Segundo o artigo 70, do Código de Processo Civil, a denunciação da lide é
obrigatória:
a) ao alienante, na ação em que terceiro reivindica a coisa, cujo domínio
foi transferido à parte, a fim de que esta possa exercer o direito que da
evicção Ihe resulta;
b) ao proprietário ou ao possuidor indireto quando, por força de
obrigação ou direito, em casos como o do usufrutuário, do credor
pignoratício, do locatário, o réu, citado em nome próprio, exerça a posse
direta da coisa demandada;
c) àquele que estiver obrigado, pela lei ou pelo contrato, a indenizar, em
ação regressiva, o prejuízo do que perder a demanda.
A denunciação da lide pode ser requerida pelo autor, assim como réu.
Quando requerida pelo autor, deve ser feita na petição inicial. Se requerida
pelo réu, deve ser feita na contestação, ou em petição autônoma, no prazo
da defesa.
A citação do denunciado será requerida, juntamente com a do réu, se o
denunciante for o autor, e, no prazo para contestar, se o denunciante for o
réu, conforme orientação do artigo 71, do Código de Processo Civil.
Feita a denunciação pelo autor, o denunciado, comparecendo,
assumirá a posição de litisconsorte do denunciante (autor) e poderá aditar a
petição inicial, procedendo-se em seguida à citação do réu (art. 74, do CPC).
Feita a denunciação da lide pelo réu:
a) se o denunciado a aceitar e contestar o pedido, o processo
prosseguirá entre o autor, de um lado, e de outro, como litisconsortes, o
denunciante e o denunciado;
b) se o denunciado for revel, ou comparecer apenas para negar a
qualidade que Ihe foi atribuída, cumprirá ao denunciante prosseguir na
defesa até final;
c) se o denunciado confessar os fatos alegados pelo autor, poderá o
denunciante prosseguir na defesa.
Requerida a denunciação pelo autor, só caberá direito de regresso se
julgada improcedente sua pretensão, enquanto que, se requerida pelo réu,
só caberá direito de regresso se julgada procedente a pretensão do autor. A
denunciação da lide tem como principal fundamento o princípio da economia
processual. Assim, ao invés do ajuizamento de duas ações, por pretensões
inter-relacionadas, força-se a entrega de uma prestação jurisdicional única,

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abrangente do pedido originário (entre autor e réu) e também do pedido
regressivo (entre o réu/autor e o terceiro denunciado).
Embora a redação legal do artigo 70, do Código de Processo Legal estipule
que é obrigatória a denunciação da lide nas situações que menciona (acima
citadas), há que se analisar com cuidado essa expressão. A obrigatoriedade
em questão faz referência ao pedido de regresso no bojo da ação originária,
mas não se relaciona, tão menos impede a propositura de ação autônoma
em que seja perseguido o direito de regresso. Contudo, ressalva seja feita
em relação à evicção. Nesta pontual hipótese, conforme artigos 456 e 457,
do Código Civil:
Art. 456. Para poder exercitar o direito que da evicção lhe resulta,
o adquirente notificará do litígio o alienante imediato, ou qualquer
dos anteriores, quando e como lhe determinarem as leis do
processo.
Parágrafo único. Não atendendo o alienante à denunciação da
lide, e sendo manifesta a procedência da evicção, pode o
adquirente deixar de oferecer contestação, ou usar de recursos.
Art. 457. Não pode o adquirente demandar pela evicção, se sabia
que a coisa era alheia ou litigiosa.
Como se vê, a pura redação legal é indicativa de que o não-
requerimento da denunciação da lide, no bojo do processo originário, faz
com que o autor não possa mais requerê-lo, em ação autônoma. Mas há
controvérsias, tanto por parte da doutrina como da jurisprudência. Por
derradeiro, há que se mencionar a admissão da denunciação da lide
sucessiva, que ocorre quando o direito de regresso passa por várias
pessoas, típico em situações onde ocorre a alienação de um bem várias
vezes, por várias pessoas. Nesse caso, a denunciação da lide sucessiva
deve obedecer a ordem de alienação, ou seja, a ordem dos fatos em que
ocorreram as alienações.

4.6.5 Chamamento ao processo

O chamamento ao processo é forma provocada de intervenção de terceiros.


O réu chama os demais coobrigados, não incluídos no pólo passivo pelo
autor, para que ingressem na lide e sejam conjuntamente condenados, cada
qual respondendo por sua fração de débito.
Enquanto a denunciação da lide se refere ao direito de regresso, o
chamamento ao processo relaciona-se à fiança e à solidariedade.
Conforme dispõe o artigo 77, do Código de Processo Civil, é admissível o
chamamento ao processo:
a) do devedor, na ação em que o fiador for réu;
b) dos outros fiadores, quando para a ação for citado apenas um deles;
c) de todos os devedores solidários, quando o credor exigir de um ou de
alguns deles, parcial ou totalmente, a dívida comum.

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O chamamento ao processo também encontra seu principal fundamento no
princípio da economia processual. Através do instituto em estudo, o réu
chama ao processo aqueles devedores que deveriam ter sido incluídos em
litisconsórcio passivo, pelo autor. Assim, ao invés de pagar pela totalidade
da dívida, se sub-rogar nos direitos do autor, e apenas então pleitear o
recebimento dos valores pagos, mediante nova ação, o réu pode colocar no
processo originário todos os coobrigados, de modo que cada um pague
imediatamente sua fração de débito no caso de eventual condenação.
A citação dos chamados deve ser requerida no prazo para contestação, e,
uma vez admitida, os chamados passarão a integrar a lide como
litisconsortes passivos. Na hipótese, o litisconsórcio é facultativo.
Note-se que, no caso do chamamento ao processo, os chamados não
respondem em relação ao chamante (réu), mas sim em relação ao autor,
diferentemente do que ocorre na denunciação da lide, onde o denunciado
responde em relação ao denunciante (réu).
Proferida sentença com julgamento pela procedência da ação, condenando
os devedores, valerá esta como título executivo, em favor de quem satisfizer
a dívida, para exigi-la, por inteiro, do devedor principal, ou de cada um dos
co-devedores a sua quota, na proporção que lhes tocar (art. 80, do CPC).

4.7 Juiz

Compete ao juiz dirigir o processo conforme orientação do Código de


Processo Civil, competindo-lhe também:
a) assegurar às partes igualdade de tratamento;
b) velar pela rápida solução do litígio;
c) prevenir ou reprimir qualquer ato contrário à dignidade da Justiça;
d) tentar, a qualquer tempo, conciliar as partes.
O artigo 126 do Código de Processo Civil, repete conhecida disposição da
Lei de introdução às Normas do Direito Brasileiro, e frisa que o juiz não
poderá se eximir de sentenciar ou despachar alegando lacuna ou
obscuridade da lei. Nestes casos, ele deve recorrer à analogia, aos
costumes e aos princípios gerias de direito, decidindo com equidade nos
casos previstos em lei.
O juiz deve decidir a lide nos limites em que foi proposta, sendo-lhe proibido
conhecer de questões não suscitadas, a cujo respeito a lei exigir a iniciativa
da parte. Sobre o assunto, é importante recordar o significado das
expressões:
a) extra petita: é a decisão proferida fora do pedido manifestado pela
parte. Quando o autor pede determinada providência e juiz confere
providência diversa, não pleiteada, estar-se-á diante de decisão extra petita;
b) ultra petita: é a decisão proferida além do pedido da parte. Quando o
autor pede determinada providência e o juiz extrapola o patamar pretendido
pelo autor, estar-se-á diante de decisão ultra petita.

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c) citra petita: é a decisão que não examina tudo o que foi pedido pela
parte, é a decisão incompleta. Quando o autor cumula vários pedidos em
sua pretensão e o juiz analisa apenas um, por exemplo, estar-se-á diante de
decisão citra petita. No entanto, frise-se, para que se fale em decisão citra
petita, a questão que se coloca é de analise e não de indeferimento. Se o
juiz não concede um ou alguns pedidos formulados a situação não é de
decisão citra petita, mas sim de decisão improcedente.
É dever do juiz, de ofício ou a requerimento das partes, determinar as
provas necessárias à instrução do processo, indeferindo as diligências
inúteis ou meramente protelatórias (art. 130, CPC).
O juiz tem liberdade para apreciar livremente as provas, atendendo aos
fatos e circunstâncias constantes dos autos, ainda que não alegados pelas
partes, mas deve indicar, na sentença, os motivos que lhe formaram a
convicção, conforme artigo 131, do Código de Processo Civil.
O juiz, titular ou substituto, que concluir a audiência de instrução julgará a
lide, salvo nos casos em que estiver:
a) convocado;
b) licenciado;
c) afastado por qualquer motivo;
d) promovido; ou
e) aposentado.
Em qualquer dessas hipóteses, o julgamento do processo passará ao seu
sucessor, caso em que, se reputar necessário, o juiz (sucessor) pode
mandar repetir as provas já produzidas.
Por derradeiro, conforme dispõe o artigo 133, do Código de Processo Civil,
responderá por perdas e danos o juiz, quando:
a) no exercício de suas funções, proceder com dolo ou fraude;
b) recusar, omitir ou retardar, sem justo motivo, providência que deva
ordenar de ofício, ou a requerimento da parte. Nesse caso, reputa-se
verificada a recusa, omissão ou retardamento apenas depois que a parte,
por intermédio do escrivão, requerer ao juiz que determine a providência e
este não lhe atenda ao pedido no prazo de 10 (dez) dias.

4.7.1 Impedimentos e suspeição

A memorização das hipóteses de impedimentos e suspeição do juiz são


extremamente importantes, seja para concursos públicos, seja para o exame
da Ordem dos Advogados do Brasil, constituindo tema de reiterados
questionamentos.
O impedimento reflete situações objetivas, enquanto a suspeição reflete
situações de cunho subjetivo. Consequentemente, o impedimento é sempre
de mais fácil constatação que a suspeição.
Quanto à gravidade, o impedimento traduz situações mais graves que a
suspeição.
52
As situações de impedimento do juiz constam do artigo 134, do Código de
Processo Civil, que estipula ser defeso ao juiz exercer as funções no
processo contencioso ou voluntário: a) de que for parte;
b) em que interveio como mandatário da parte, oficiou como perito,
funcionou como órgão do Ministério Público, ou prestou depoimento como
testemunha;
c) que conheceu em primeiro grau de jurisdição, tendo-lhe proferido
sentença ou decisão;
d) quando nele estiver postulando, como advogado da parte, o seu cônjuge
ou qualquer parente seu, consanguíneo ou afim, em linha reta; ou na
linha colateral até o segundo grau;
e) quando cônjuge, parente, consanguíneo ou afim, de alguma das
partes, em linha reta ou, na colateral, até o terceiro grau;
f) quando for órgão de direção ou de administração de pessoa jurídica,
parte na causa.

Na hipótese descrita na alínea “d”, o impedimento só se verifica quando o


advogado já estava exercendo o patrocínio da causa, sendo, porém, vedado
ao advogado pleitear no processo, a fim de criar o impedimento do juiz.
Por sua vez, o artigo 135, do Código de Processo Civil apresenta as causas
de suspeição do juiz. Segundo aludido dispositivo, reputa-se fundada a
suspeição de parcialidade do juiz, quando:
a) amigo íntimo ou inimigo capital de qualquer das partes;
b) alguma das partes for credora ou devedora do juiz, de seu cônjuge ou de
parentes destes, em linha reta ou na colateral até o terceiro grau;
c) herdeiro presuntivo, donatário ou empregador de alguma das partes;
d) receber dádivas antes ou depois de iniciado o processo; aconselhar
alguma das partes acerca do objeto da causa, ou subministrar meios para
atender às despesas do litígio;
e) interessado no julgamento da causa em favor de uma das partes.
E, conforme orienta o parágrafo único do mesmo dispositivo, além destas
hipóteses, pode o juiz se declarar suspeito por motivo íntimo.
Quando dois ou mais juízes forem parentes, consanguíneos ou afins, em
linha reta e no 2º (segundo) grau na linha colateral, o primeiro, que conhecer
da causa no tribunal, impede que o outro participe do julgamento, caso em
que o segundo tem o dever de se escusar e remeter o processo ao seu
substituto legal (art. 136, do CPC).
Os casos de impedimento e suspeição aplicam-se aos juízes de todos os
tribunais. Aquele juiz que violar o dever de abstenção, ou que não se
declarar suspeito, pode ser recusado por qualquer das partes, através de
exceção de impedimento ou de suspeição, conforme redação dos artigos
137 e 304, ambos do Código de Processo Civil.
Os motivos de impedimento e de suspeição também são aplicáveis:
a) ao órgão do Ministério Público, quando não for parte, e, sendo parte, nos
seguintes casos:
a.1) amigo íntimo ou inimigo capital de qualquer das partes;
53
a.2) alguma das partes for credora ou devedora do membro
do Ministério Público, de seu cônjuge ou de parentes destes, em linha
reta ou na colateral até o terceiro grau;
a.3) herdeiro presuntivo, donatário ou empregador de alguma
das
partes;
a.4) receber dádivas antes ou depois de iniciado o processo;
aconselhar alguma das partes acerca do objeto da causa, ou
subministrar meios para atender às despesas do litígio;
b) ao serventuário de justiça;
c) ao perito; e
d) ao intérprete.
Nesses casos, a parte interessada deve arguir o impedimento ou a
suspeição, em petição fundamentada e instruída com os documentos
necessários, na 1ª (primeira) oportunidade que lhe couber falar nos autos.
Em seguida, o juiz deve mandar processar o incidente em separado em sem
a suspensão da causa, ouvindo o arguido no prazo de 5 (cinco) dias,
facultando a prova quando necessária e julgando o pedido, conforme
orientação do parágrafo primeiro, do artigo 138, do Código de Processo
Civil. Nos tribunais, o julgamento dessas hipóteses cabe ao relator.

5. ATOS PROCESSUAIS

Os atos processuais são uma espécie, do gênero atos jurídicos. Os atos


processuais tem a finalidade de constituir, modificar ou extinguir direitos
processuais.
Conforme orienta o artigo 154, do Código de Processo Civil, os atos
processuais são regidos pelo princípio da instrumentalidade:
Art. 154. Os atos e termos processuais não dependem de forma
determinada senão quando a lei expressamente a exigir,
reputando-se válidos os que, realizados de outro modo, Ihe
preencham a finalidade essencial.
E, conforme orienta o parágrafo segundo, do mencionado artigo, todos os
atos e termos do processo podem ser produzidos, transmitidos,
armazenados e assinados por meio eletrônico, conforme dispuser a lei.
Outro princípio de regência dos atos processuais é o da publicidade. Via de
regra, todos os atos processuais são públicos. Entretanto, correm em
segredo de justiça os processos:
a) em que o exigir o interesse público; e
b) que dizem respeito a casamento, filiação, separação dos cônjuges,
conversão desta em divórcio, alimentos e guarda de menores.
Nesses casos, o direito de consultar os autos e de pedir certidões de seus
atos é restrito às partes e aos seus procuradores. Contudo, o terceiro, desde
54
que demonstre interesse jurídico, poderá requerer ao juiz certidão do
dispositivo da sentença.
Em todos os atos e termos do processo é obrigatório o uso do vernáculo
(art. 156, do CPC). Só poderá ser juntado aos autos documento redigido em
língua estrangeira, quando acompanhado de versão traduzida, firmada por
tradutor juramentado (art. 157, do CPC).

5.1 Atos da parte

Os atos das partes podem ser unilaterais ou bilaterais. A renúncia é um


exemplo de ato unilateral, enquanto a transação é um exemplo de ato
bilateral.
Praticados os atos pelas partes, sejam unilaterais ou bilaterais, eles
produzem imediatamente a constituição, a modificação ou a extinção de
direitos processuais (art. 158, do CPC). A desistência, contudo, só produzirá
efeito depois de homologada por sentença.
É defeso às partes lançar, nos autos, cotas marginais ou interlineares. Mas,
caso qualquer das partes o faça, cabe ao juiz mandar riscá-las, impondo a
quem as escrever multa correspondente à metade do salário mínimo
vigente, conforme estipulação do artigo 161, do Código de Processo
Civil.

5.2 Atos do juiz

Os atos do juiz consistem em sentenças, decisões interlocutórias e


despachos. Sentença é o ato do juiz quem implica em alguma das situações
previstas nos artigos 267 e 269, ambos do Código de Processo Civil.
Decisão interlocutória é o pelo qual o juiz, no curso do processo, resolve
questão incidente. Despachos são todos os demais atos do juiz, praticados
no processo, de ofício ou a requerimento da parte, a cujo respeito a lei não
estabelece outra forma.
Os atos meramente ordinatórios, como a juntada e a vista obrigatória,
independem de despacho, e devem ser praticados de ofício pelo servidor e
revistos pelo juiz quando necessário (art. 162, §4º, do CPC).
Consabido, o julgamento proferido por tribunais recebe o nome de acórdão
(art. 163, do CPC).
Os despachos, decisões, sentenças e acórdãos devem ser redigidos,
datados e assinados pelos juízes. E quando forem proferidos verbalmente, o
taquígrafo ou o datilógrafo os deve registrar, submetendo-os aos juízes para
que os revise e assine. A assinatura dos juízes, em todos os graus de
jurisdição, pode ser feita de forma eletrônica, conforme dispuser a lei.

5.3 Atos do escrivão ou do chefe da secretaria

55
Ao receber a petição inicial de qualquer processo, o escrivão deve autuá-la,
mencionando o juízo, a natureza do feito, o número de seu registro, os
nomes das partes e a data do seu início, e deve proceder da mesma forma
quanto aos volumes que se forem formando (art. 166, do CPC).
O escrivão deve, também, numerar e rubricar todas as folhas dos autos,
procedendo da mesma forma quanto aos autos suplementares (art. 167, do
CPC). Às partes, aos advogados, aos órgãos do Ministério Público, aos
peritos e às testemunhas é facultado rubricar as folhas correspondentes aos
atos em que intervierem.
Os termos de juntada, vista, conclusão e outros semelhantes constarão de
notas datadas e rubricadas pelo escrivão (art. 168, do CPC). Conforme
determina o artigo 169, do Código de Processo Civil, os atos e termos do
processo devem ser datilografados ou escritos com tinta escura e indelével,
com a assinatura das pessoas que neles intervierem. Quando estas não
puderem ou não quiserem firmá-los, o escrivão deve certificar, nos autos, a
ocorrência. É vedado a utilização de abreviaturas. Quando se tratar de
processo total ou parcialmente eletrônico, os atos processuais praticados na
presença do juiz podem ser produzidos e armazenados de modo
integralmente digital em arquivo eletrônico inviolável, conforme dispuser a
lei, mediante registro em termo que será assinado digitalmente pelo juiz e
pelo escrivão ou chefe de secretaria, bem como pelos advogados das partes
(art. 169, §2º, do CPC). Nesse caso, eventuais contradições na transcrição
deverão ser suscitadas oralmente no momento da realização do ato, sob
pena de preclusão, devendo o juiz decidir de plano, registrando-se a
alegação e a decisão no termo.
É lícito o uso de taquigrafia, da estenotipia, ou de qualquer outro método
idôneo, em qualquer juízo ou tribunal, conforme autorização do artigo 170,
do Código de Processo Civil. Taquigrafia e estenotipia são métodos
abreviados ou simbólicos de escrita, utilizados para acelerar a velocidade da
escrita, utilizados na tomada de depoimentos, por exemplo. Não se
admitem, nos atos e termos, espaços em branco, bem como entrelinhas,
emendas ou rasuras, salvo se aqueles forem inutilizados e estas forem
expressamente ressalvadas (art. 171, do CPC).

5.4 Tempo e lugar dos atos processuais

Os atos processuais devem ser realizados em dias úteis, das 6 (seis) às 20


(vinte) horas. No entanto, podem ser concluídos depois das 20 (vinte) horas
os atos iniciados antes, quando o adiamento prejudicar a diligência ou
causar grave dano.
A citação e penhora podem, em casos excepcionais e mediante expressa
autorização judicial, serem realizados em domingos e feridos, ou nos dias
úteis, fora do horário acima mencionado, observada a inviolabilidade do
domicílio, conforme artigo 5º, inciso XI, da Constituição Federal de 1988.
Durante as férias e nos feriados não serão praticados atos processuais,
salvo:
56
a) a produção antecipada de provas, procedimento cautelar previsto no
artigo 846 e seguintes, do Código de Processo Civil;
b) a citação, a fim de evitar o perecimento de direito, assim como o
arresto, o sequestro, a penhora, a arrecadação, a busca e apreensão, o
depósito, a prisão, a separação de corpos, a abertura de testamento, os
embargos de terceiro, a nunciação de obra nova e outros atos análogos.
Na tomada de qualquer das medidas acima mencionadas, o prazo de
resposta do réu só começa a correr no 1º (primeiro) dia útil seguinte ao
feriado ou às férias.
Recorde-se, porém, que o artigo 93, inciso XII, da Constituição Federal,
determina que a atividade jurisdicional será ininterrupta, sendo vedado férias
coletivas nos juízos e tribunais de segundo grau, funcionando, nos dias em
que não houver expediente forense normal, juízes em plantão permanente.
Conforme estipulação do artigo 174, do Código de Processo Civil,
processam-se durante as férias e não se suspendem pela superveniência
delas:
a) os atos de jurisdição voluntária bem como os necessários à
conservação de direitos, quando possam ser prejudicados pelo adiamento;
b) as causas de alimentos provisionais, de dação ou remoção de tutores
e curadores, bem como as relativas ao procedimento sumário; c) todas as
causas que a lei federal determinar.
Por derradeiro, a teor da disposição informativa do artigo 175, do Código de
Processo Civil, são feriados, para efeito forense, os domingos e os dias
declarados por lei.
Quanto ao lugar, os atos processuais devem ser realizados, via de regra, na
sede do juízo. Contudo, podem ser efetuados em outro lugar, em razão de
deferência, de interesse da justiça, ou de obstáculo arguido pelo interessado
e acolhido pelo juiz. A precatória e a rogatória são exemplos de atos
processuais praticas em local diverso da sede do juízo, por interesse da
justiça.

5.5 Prazos

Todos os atos processuais devem ser praticados em estrita observância dos


prazos previstos em lei. Quando não houver previsão, porém, o juiz é quem
deve determinar os prazos, levando em conta a complexidade da causa (art.
177, do CPC).
O prazo processual, seja estabelecido por lei ou determinado pelo
juiz, é contínuo e não se interrompe nos feriados.
É lícito às partes, de comum acordo, reduzir ou prorrogar prazo, desde que
este seja dilatório e desde que o requerimento ocorra antes de vencido o
prazo e fundado em motivo legítimo. Se o prazo for peremptório, se o
requerimento para reduzir ou prorrogar o prazo ocorrer depois do
vencimento, ou se fundado em motivo ilegítimo, será indeferida a pretensão.
Dilatórios são os prazos alteráveis por convenção das partes, como aqueles
57
definidos judicialmente. Peremptórios, por sua vez, são os prazos fixados
em lei, de ordem pública e, portanto, inalteráveis, tal como o prazo
determinado pelo Código de Processo Civil para apresentação de
contestação, por exemplo.
Deferida a prorrogação, cabe ao juiz fixar o dia do vencimento da mesma.
As custas acrescidas ficarão a cargo da parte em favor de quem foi
concedida a prorrogação (art. 181, §2º, do CPC).
Conforme já salientado, é proibido às partes, ainda que de comum acordo,
reduzir ou prorrogar prazos de natureza peremptória. Contudo, o juiz poderá,
nas comarcas onde for difícil o transporte, prorrogar quaisquer prazos, mas
nunca por mais de 60 (sessenta) dias. Em caso de calamidade pública, aí
então admite-se que o mencionado limite seja excedido (art. 183, §2º, do
CPC).
Decorrido o prazo, extingue-se o direito de praticar o ato,
independentemente de declaração judicial, salvo se a parte provar que não o
realizou por justa causa. Conforme orienta o artigo 183, parágrafo primeiro,
do Código de Processo Civil, justa causa é o evento imprevisto, alheio à
vontade da parte e que a impediu de praticar o ato por si ou por mandatário.
Verificada a justa causa, o juiz pode permitir à parte que pratique o ato em
prazo que lhe será determinado.
Salvo disposição legal em sentido oposto, computar-se-ão os prazos,
excluindo o dia do começo e incluindo o do vencimento.
Para exemplificar, considere-se o mês de outubro de 2010, conforme
calendário abaixo:

OUTUBRO DE 2010
DOMINGO SEGUNDA TERÇA QUARTA QUINTA SEXTA SÁBADO
1 2
3 4 5 6 7 8 9
10 11 12 13 14 15 16
17 18 19 20 21 22 23
24 25 26 27 28 29 30
31

Imagine-se que o réu tenha sido citado em 13 de outubro, quartafeira, para


contestar determinada ação. Conforme determinação legal, devese excluir o
dia do começo (dia 13), e incluir o do final. Portanto, a contagem dos 15 dias
inicia-se em 14 de outubro e termina em 28 de outubro, quintafeira.
Mas, e se o dia final caísse em 12 de outubro, feriado nacional? Nesse
caso, considera-se prorrogado o prazo até o 1º (primeiro) dia útil seguinte ao
vencimento, hipótese que também se verifica em dia que: a) for
determinado o fechamento do fórum; ou
58
b) o expediente forense for encerrado antes da hora normal.
E, outra questão se faz necessária: e se a citação tivesse sido realizada em
15 de outubro (sexta-feira)? Nesse caso, o prazo só começaria a correr no
dia 18 de outubro, segunda-feira. Conforme orientação do artigo 184,
parágrafo segundo, do Código de Processo Civil, os prazos somente
começam a correr no 1º (primeiro) dia útil após a intimação. Situação similar
ocorreria se a citação fosse efetivada em 11 de outubro, segunda-feira, caso
em que o prazo teria início apenas em 13 de outubro, quarta-feira.
O artigo 185, do Código de Processo Civil apresenta uma relevante
informação para concursos públicos. Segundo aludido dispositivo, quando
não houver estipulação legal de prazo, nem fixação pelo juiz, será de 5
(cinco) dias o prazo para a prática de ato processual a cargo da parte.
É lícito à parte renunciar ao prazo estabelecido exclusivamente em seu
favor (art. 186, do CPC).
Em qualquer grau de jurisdição, desde que mediante justificado motivo,
pode o juiz exceder, por igual tempo, os prazos que o Código de Processo
Civil lhe assina (art. 187, do CPC).
Outra importante disposição, objeto de reiterados questionamentos em
concursos públicos, é o conteúdo do artigo 188, do Código de Processo
Civil, segundo o qual, computar-se-ão em quádruplo o prazo para contestar
e em dobro para recorrer quando a parte for a Fazenda Pública ou o
Ministério Público.
Já o artigo 189, do Código de Processo Civil, apresenta prazo dirigidos ao
juiz, prazos estes que são impróprios, isto é, se não respeitados, não surtem
maiores consequências ao magistrado. São eles:
a) os despachos de expediente, no prazo de 2 (dois) dias;
b) as decisões, no prazo de 10 (dez) dias.
Quanto ao serventuário, a ele incumbe remeter os autos conclusos no prazo
de 24 (vinte e quatro) horas e executar os atos processuais no prazo de 48
(quarenta e oito) horas, contados:
a) da data em que houver concluído o ato processual anterior, se Ihe foi
imposto pela lei;
b) da data em que tiver ciência da ordem, quando determinada pelo juiz.
A regra do artigo 191, do Código de Processo Civil também é extremamente
importante para concursos públicos. Segunda ela, computarse-ão em dobro
os prazos para contestar, para recorrer e, de modo geral, para falar nos
autos, quando os litisconsortes tiverem procuradores diferentes.
Por derradeiro, a teor da disposição do artigo 192, do Código de
Processo Civil, quando a lei não marcar outro prazo, as intimações somente
obrigarão a comparecimento depois de decorridas 24 (vinte e quatro) horas.

5.5.1 Verificação dos prazos e das penalidades

59
O advogado tem o dever de restituir os autos no prazo legal, e, se não o
fizer, o juiz deve mandar, de ofício, riscar o que neles houver escrito e
desentranhar as alegações e documentos que apresentar (art. 195, do
CPC).
A qualquer interessado é dado o direito de cobrar os autos ao advogado
que exceder o prazo legal. Se, intimado, não os devolver dentro em 24 (vinte
e quatro) horas, perderá o direito à vista fora de cartório e incorrerá em
multa, correspondente à metade do salário mínimo vigente (art. 196, do
CPC). Verificada a falta, o juiz deve, ainda, comunicá-la à seção local da
Ordem dos Advogados do Brasil, para o procedimento disciplinar e
imposição de multa.

5.6 Comunicações dos atos

Os atos processuais devem ser cumpridos por ordem judicial ou mediante


carta, conforme devam ser realizados dentro ou fora dos limites territoriais
da comarca.
Conforme artigo 201, do Código de Processo Civil, expedir-se-á:
a) carta de ordem, se o juiz for subordinado ao tribunal de que ela emanar;
b) carta rogatória, quando dirigida à autoridade judiciária estrangeira; e
c) carta precatória nos demais casos.

5.6.1 Cartas

São requisitos essenciais da carta de ordem, da carta rogatória e da carta


precatória:
a) a indicação dos juízes de origem e de cumprimento do ato;
b) o inteiro teor da petição, do despacho judicial e do instrumento do
mandato conferido ao advogado;
c) a menção do ato processual, que Ihe constitui o objeto;
d) o encerramento com a assinatura do juiz.
Qualquer uma das cartas pode ser expedida por meio eletrônico, situação
em que a assinatura eletrônica do juiz deverá ser eletrônica, conforme
dispuser a lei.
Se houver urgência, nada impede que a carta de ordem ou a carta
precatória sejam transmitidas por telegrama, radiograma ou telefone (art.
205, do CPC).
O juiz recusará cumprimento à carta precatória, devolvendo-a com
despacho motivado:
a) quando não estiver revestida dos requisitos legais;
b) quando carecer de competência em razão da matéria ou da hierarquia;
c) quando tiver dúvida acerca de sua autenticidade.

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5.7 Citações

Citação é o ato pelo qual se chama a juízo o réu ou o interessado a fim de


se defender (art. 213, do CPC).
Se não houver citação em determinado processo, este reputa-se
inexistente, pois haverá ausência de um pressuposto processual de
existência. Se, contudo, houver citação, mas esta não for válida, reputa-se
nulo o processo, pois haverá ausência de um pressuposto processual de
validade.
Em qualquer caso, o comparecimento espontâneo do réu supre a falta de
citação. É lícito ao réu comparecer apenas para arguir a nulidade, e, sendo
esta decretada, considerar-se-á feita a citação na data em que ele ou seu
advogado for intimado da decisão.
A citação do réu deve ser pessoal, dirigida a ele, ao seu representante legal
ou ao procurador legalmente autorizado (art. 215, do CPC). Estando o réu
ausente, a citação far-se-á na pessoa de seu mandatário, administrador,
feitor ou gerente, desde que a ação tenha origem em atos por eles
praticados (art. 215, §1º, do CPC).
Há regra especial em relação ao locador, no parágrafo segundo, do artigo
215, do Código de Processo Civil. Segundo aludido dispositivo, se o locador
se ausentar do país sem cientificar o locatário de que deixou na localidade,
onde estiver situado o imóvel, procurador com poderes para receber citação,
será citado na pessoa do administrador do imóvel encarregado do
recebimento dos aluguéis.
Como se nota, a regra é que o réu seja pessoalmente citado, admitindo
apenas excepcionalmente que a citação dele seja feita na pessoa de
outrem.
A citação pode ser feita em qualquer lugar onde se encontre o réu. No caso
do militar, em serviço ativo, poderá ser citado na unidade em que estiver
servindo se não for conhecida sua residência, assim como se nela ele não
for encontrado.
São relevantes as regras do artigo 217, do Código Processo Civil, segundo
o qual, não se fará a citação, salvo para evitar o perecimento do direito:
a) a quem estiver assistindo a qualquer ato de culto religioso;
b) ao cônjuge ou a qualquer parente do morto, consanguíneo ou
afim, em linha reta, ou na linha colateral em segundo grau, no dia do
falecimento e nos 7 (sete) dias seguintes;
c) aos noivos, nos 3 (três) primeiros dias de bodas; e
d) aos doentes, enquanto grave o seu estado.
Também não deve ser feita a citação, quando se constate que o réu é
demente ou que está impossibilitado de recebê-la (art. 218, do CPC). Nesse
caso, o oficial deve certificar o ocorrido, situação em que o juiz deve nomear
um médico, para que examine o citando. Reconhecida a impossibilidade, o
juiz nomeará curador ao citando, nomeação que se restringirá à causa.

61
Nessa hipótese, a citação será feita na pessoa do curador, a quem
incumbirá a defesa do réu.
A citação válida torna prevento o juízo, induz litispendência e faz litigiosa a
coisa, e, ainda quando ordenada por juiz incompetente, constitui em mora o
devedor e interrompe a prescrição (art. 219, do CPC).
Embora seja a citação válida que determine a interrupção da prescrição,
esta retroage à data da propositura da ação.
É dever da parte promover a citação do réu nos 10 (dez) dias subsequentes
ao despacho que a ordenar, não ficando prejudicada pela demora imputável
exclusivamente ao serviço judiciário (art. 219, §2º, do CPC). Se o réu não for
citado, o juiz pode prorrogar o prazo por no máximo 90 (noventa) dias. E,
não efetuada a citação nos prazos acima mencionados, haver-se-á por não
interrompida a prescrição.
Segundo a redação do parágrafo quinto, do artigo 219, do Código de
Processo Civil, dada pela n.º 11.280/06, o juiz deve pronunciar, de ofício, a
prescrição. Transitada em julgada a decisão do juiz que reconhece, de
ofício, a prescrição, o escrivão deve comunicar ao réu o resultado do
julgamento. Consoante orientação do artigo 220, do Código de Processo
Civil, o mesmo se aplica em relação a todos os prazos extintivos previstos
em lei.
A citação pode ser feita:
a) pelo correio;
b) por oficial de justiça;
c) por edital.
d) por meio eletrônico, conforme regulado em lei própria.
A citação pelo correio pode ser feita para qualquer comarca do país,
exceto:
a) nas ações de estado;
b) quando for ré pessoa incapaz;
c) quando for ré pessoa de direito público;
d) nos processos de execução;
e) quando o réu residir em local não atendido pela entrega domiciliar de
correspondência;
f) quando o autor a requerer de outra forma.
Nesses casos, a citação deve ser feita mediante oficial de justiça. Deferida
a citação pelo correio, o escrivão ou o chefe da secretaria deve remeter ao
citando cópias da petição inicial e do despacho do juiz, expressamente
consignada em seu inteiro teor a advertência de que se não contestada a
ação, presumir-se-ão como verdadeiros os fatos articulados pelo autor. A
citação ainda deve comunicar o prazo para a resposta, o juízo e o cartório,
bem como o respectivo endereço.
No caso de citação pelo correio, exige-se que seja feita mediante carta com
aviso de recebimento (A.R.). Essa carta deve ser registrada para entrega ao
citando, exigindo-lhe o carteiro, ao fazer a entrega, que assine o recibo. Se o
réu for pessoa jurídica, reputa-se válida a entrega para pessoa com poderes
de gerência geral ou de administração.
62
Frustada a citação pelo correio, deve-se proceder a citação por oficial de
justiça (ar. 224, do CPC).
O mandado, que o oficial de justiça tiver de cumprir, deve conter:
a) os nomes do autor e do réu, bem como os respectivos domicílios ou
residências;
b) o fim da citação, com todas as especificações constantes da petição
inicial, bem como a advertência de que se não for contestada a ação,
presumir-se-ão como verdadeiros os fatos articulados pelo autor, na
hipótese do litígio versar sobre direitos disponíveis; c) a cominação, se
houver;
d) o dia, hora e lugar do comparecimento;
e) a cópia do despacho;
f) o prazo para defesa;
g) a assinatura do escrivão e a declaração de que o subscreve por ordem do
juiz.
O mandado pode ser elaborado em breve relatório, quando o autor entregar
em cartório, com a petição inicial, tantas cópias desta quantos forem os
réus, caso em que as cópias, depois de conferidas com o original, farão
parte integrante do mandado (art. 225, parágrafo único, do CPC). É dever
do oficial de justiça procurar o réu e, onde o encontrar, citá-lo a) lendo-lhe o
mandado e entregando-lhe a contrafé;
b) portando por fé se recebeu ou recusou a contrafé;
c) obtendo a nota de ciente, ou certificando que o réu não a apôs no
mandado.
O artigo 227, do Código de Processo Civil, trata da hipótese de citação por
hora certa, passível de ser utilizada apenas em determinada situação.
Quando, por 3 (três) vezes, o oficial de justiça houver procurado o réu em
seu domicílio ou residência, sem o encontrar, deverá, havendo suspeita de
ocultação, intimar a qualquer pessoa da família, ou em sua falta a qualquer
vizinho, que, no dia imediato, voltará, a fim de efetuar a citação, na hora que
designar.
Dessa forma, no dia e hora designados, o oficial de justiça,
independentemente de novo despacho, deve comparecer ao domicílio ou
residência do citado, a fim de realização a diligência (art. 228, do CPC). Se o
citando não estiver presente, o oficial de justiça deve procurar informar-se
acerca das razões da ausência, dando por feita a citação, ainda que o
citando se tenha ocultado em outra comarca. Feita a certificação, o oficial de
justiça deve deixar contrafé com pessoa da família ou com qualquer vizinho,
conforme o caso, declarando-lhe o nome.
Efetuada a citação por hora certa, o escrivão deve enviar carta ao réu,
em que lhe dê ciência de tudo o que foi realizado.
Contudo, há casos em que não é possível realizar a citação pessoal, a
citação por correio e nem a citação por hora certa, caso em que só restará
como alternativa a citação por edital.

63
Conforme artigo 231, do Código de Processo Civil, far-se-á a citação por
edital:
a) quando desconhecido ou incerto o réu;
b) quando ignorado, incerto ou inacessível o lugar em que se encontrar; ou
c) nos casos expressos em lei.
Para fins de citação por edital, considera-se inacessível o réu que esteja em
país que recuse o cumprimento de carta rogatória (art. 231, §1º, do CPC).
Sendo inacessível o lugar onde se encontra o réu, a notícia de sua citação
pode ser divulgada pelo rádio, se na comarca houver emissora de
radiodifusão (art. 231, §2º, do CPC). São requisitos da citação por edital:
a) a afirmação do autor, ou a certidão do oficial, quanto ao réu ser
desconhecido ou incerto, ou quanto ao fato de ser ignorado, incerto ou
inacessível o lugar em que se encontrar;
b) a afixação do edital, na sede do juízo, certificada pelo escrivão;
c) a publicação do edital no prazo máximo de 15 (quinze) dias, uma vez no
órgão oficial e pelo menos duas vezes em jornal local, onde houver;
d) a determinação, pelo juiz, do prazo, que variará entre 20 (vinte) e
60 (sessenta) dias, correndo da data da primeira publicação;
e) a advertência de que se não contestada a ação, presumir-se-ão como
verdadeiros os fatos articulados pelo autor, desde que o litígio verse sobre
direitos disponíveis.
Feita a citação por edital, o termo inicial da contagem do prazo para o
oferecimento da defesa tem início a partir do termo final do prazo previsto no
próprio edital, só com o que se aperfeiçoa a citação.
A parte que requerer a citação por edital, alegando dolosamente que o réu é
desconhecido ou incerto, ou que este encontra-se em local ignorado, incerto
ou inacessível, incorrerá em multa de 5 (cinco) vezes o salário mínimo
vigente, multa esta que será revertida em benefício do citando.
Por derradeiro, há que se mencionar que tanto a citação por edital como a
citação por hora certa são consideradas modalidades de citação ficta,
enquanto as demais são consideradas como reais.
5.8 Intimações

Intimação é o ato pelo qual se dá ciência a alguém dos atos e termos do


processo, para que faça ou deixe de fazer alguma coisa (art. 234, do CPC).
É importante distinguir os significados de citação e intimação. Enquanto a
citação apenas leva ao conhecimento do réu que foi proposta uma ação em
face dele, é a intimação que o chama a fazer algo, ou seja, a apresentar sua
defesa. É por isso que o mandado de citação acompanha-se de mandado de
intimação.
Em processos pendentes, as intimações são feitas de ofício, via de regra,
conforme estipula o artigo 235, do Código de Processo Civil. No Distrito
Federal, capitais dos Estados e Territórios, e comarcas onde haja órgão
oficial de imprensa, as intimações consideram-se realizadas pela só
publicação dos atos no órgão oficial. É indispensável, sob pena de nulidade,
64
que da publicação constem os nomes das partes e de seus advogados,
suficientes para sua identificação (art. 236, §1º, do CPC). No caso do
Ministério Público, é indispensável que sua intimação, em qualquer caso,
seja feita pessoalmente.
Se, eventualmente, não existir imprensa oficial na comarca, competirá ao
escrivão intimar, de todos os atos do processo, os advogados das partes: a)
pessoalmente, tendo domicílio na sede do juízo;
b) por carta registrada, com aviso de recebimento quando domiciliado fora
do juízo.
No entanto, atualmente, as intimações podem ser feitas de forma eletrônica,
conforme regulado em lei específica (art. 237, parágrafo único, do CPC).
Não dispondo a lei em outro sentido, as intimações serão feitas às partes,
aos seus representantes legais e aos advogados, pelo correio, ou, se
presentes em cartório, diretamente pelo escrivão ou chefe de secretaria.
São presumivelmente válidas as comunicações e intimações dirigidas ao
endereço residencial ou profissional declinado na inicial, contestação ou
embargos, sendo dever das partes atualizar o respectivo endereço sempre
que houver modificação, tenha esta caráter temporário ou permanente.
Como já estudado, no caso da petição inicial, é dever do advogado nela
incluir o endereço para recebimento de intimações, sob pena de
indeferimento da inicial, conforme artigo 39, inciso I, do Código de Processo
Civil.
A intimação só deve ser realizada por oficial de justiça quando frustada a
sua realização pelo correio (art. 239, do CPC). A certidão de intimação deve
conter:
a) a indicação do lugar e a descrição da pessoa intimada, mencionando,
quando possível, o número de sua carteira de identidade e o órgão que a
expediu;
b) a declaração de entrega da contrafé;
c) a nota de ciente ou certidão de que o interessado não a apôs no
mandado.
Conforme disposição do artigo 241, do Código de Processo Civil,
começa a correr o prazo:
a) quando a citação ou intimação for pelo correio, da data de juntada aos
autos do aviso de recebimento;
b) quando a citação ou intimação for por oficial de justiça, da data de juntada
aos autos do mandado cumprido;
c) quando houver vários réus, da data de juntada aos autos do último aviso
de recebimento ou mandado citatório cumprido;
d) quando o ato se realizar em cumprimento de carta de ordem, precatória
ou rogatória, da data de sua juntada aos autos devidamente cumprida;
e) quando a citação for por edital, finda a dilação assinada pelo juiz.
O prazo para interposição de recurso é contado da data em que os
advogados são intimados da decisão, sentença ou acórdão. Consideram-se
intimados na audiência, quanto nesta for publicada a decisão ou a sentença
65
(art. 242, §1º, do CPC). Havendo antecipação da audiência, o juiz, de ofício
ou a requerimento da parte, deve mandar intimar pessoalmente os
advogados para ciência da nova designação (art. 242, §2º, do CPC).

5.9 Nulidades

No assunto nulidades, há que se mencionar, além das nulidades


propriamente ditas, as meras irregularidades e os atos inexistentes.
Reputa-se inexistente, por exemplo, um processo sem citação.
Naturalmente, a inexistência de que se faz referência é a jurídica e não a
fatídica. Embora, de fato o processo tenha existido, juridicamente o mesmo
não alcançou o plano da existência, pois para que fale em relação
jurídicoprocessual há que se falar em sua triangularização, o que não
ocorreu se o réu não foi citado.
Em sentido oposto, os atos meramente irregulares não ensejam maiores
consequências ao processo, não ensejam sanções a quem os praticou, nem
a anulação dos atos.
As nulidades, por sua vez, dividem-se em absolutas e relativas. Nulidades
absolutas são as que refletem causas de ordem pública, declaráveis de
ofício pelo juiz, a qualquer tempo e grau de jurisdição. As nulidades
relativas, diferentemente, só podem ser alegadas pelas partes, pois versam
sobre interesses particulares.
Tanto a nulidade absoluta como a relativa podem ser sanadas. A relativa,
torna-se preclusa se não alegada na primeira oportunidade, pela parte
prejudicada. Já a nulidade absoluta torna-se convalidada após o decurso do
prazo para propositura da ação rescisória, sem o que não será mais possível
discuti-la.
A inexistência, em contrapartida, não se convalida, e pode ser arguida a
qualquer tempo, mesmo que posterior ao decurso do prazo para ação
rescisória.
Conforme dispõe o artigo 243, do Código de Processo Civil, quando a lei
prescrever determinada forma para o ato, sob pena de nulidade, a
decretação desta não pode ser requerida pela parte que Ihe deu causa.
Pelo princípio da instrumentalidade, quando a lei prescrever determinada
forma, sem cominação de nulidade, o juiz deve considerar válido o ato se,
realizado de outro modo, Ihe alcançar a finalidade.
Nos processos em que é obrigatória a intervenção do Ministério Público,
reputa-se nulo aquele tiver tramitado sem o conhecimento do mesmo, caso
em que o juiz deve anulá-lo a partir do momento em que o órgão deveria ter
sido intimado (art. 246, caput e parágrafo único, do CPC). As citações e as
intimações são nulas sempre que feitas sem a observâncias das prescrições
legais (art. 247, do CPC).
Segundo o artigo 248, do Código de Processo Civil, anulado o ato, reputam-
se de nenhum efeito todos os subsequentes que dele dependam. Trata-se
do chamado efeito expansivo das nulidades. Efeito que não se aplica,

66
contudo, se a nulidade de uma parte do ato não prejudicar as outras, que
dela sejam independentes.
Quando o juiz pronunciar a nulidade, deve declarar quais atos são atingidos,
ordenando as providências necessárias para que sejam repetidos ou
retificados (art. 249, do CPC). Entretanto, se não prejudicar a parte, o ato
não precisará ser repetido. De igual modo, quando puder decidir o mérito a
favor da parte a quem aproveite a declaração da nulidade, o juiz não a
pronunciará nem mandará repetir o ato, ou suprir-lhe a falta (art. 249, §2º, do
CPC).

6. RESPOSTAS DO RÉU

Realizada a citação do réu, este deve oferecer sua defesa, em consagração


aos princípios constitucionais do contraditório e da ampla defesa.
Citado, o réu pode oferecer, no prazo de 15 (quinze) dias, em petição
escrita, dirigida ao juiz da causa, as seguintes respostas:
a) contestação;
b) reconvenção;
c) exceção de incompetência (relativa);
d) exceção de suspeição; e
e) exceção de impedimento.
Mas não apenas, já que o réu também pode, no mesmo prazo, apresentar
impugnação ao valor da causa, em petição autônoma, dirigida ao juiz da
causa.
Quando forem vários os réus, o prazo para responder ser-lhes-á comum,
com início após a juntada do último mandado de citação, ou do último aviso
de recebimento (A.R.), no caso da citação ter sido realizada pelo correio.
Porém, se os réus tiverem procuradores diferentes, conta-se em dobro o
prazo para contestar, ou seja, 30 (trinta) dias.
Também conta-se em dobro o prazo quando o réu for necessitado (ou
pobre), nos termos da Lei n.º 1.060/50, e estiver representado por defensor
dativo.
E, ainda, se o réu for a Fazenda Pública ou o Ministério Público, o prazo
para recorrer conta-se em quádruplo.
Frise-se, porém, que os prazos acima mencionados se aplicam no caso de
procedimento ordinário, pois em se tratando de procedimento sumário, a
defesa deve ser apresentada na audiência de conciliação, caso esta seja
infrutífera. Nesse caso, a defesa pode ser apresentada de forma escrita ou
de forma oral.
Se o autor desistir da ação em relação a algum réu que ainda não tenha
sido citado, o prazo para a resposta, em relação aos demais, correrá da
intimação do despacho que deferir a desistência, conforme orientação do
artigo 298, parágrafo único, do Código de Processo Civil.
Antes de iniciar a análise de cada uma das espécies de resposta do réu,
cumpre esclarecer que as petições de contestação e reconvenção devem
67
ser oferecidas simultaneamente, ao passo que a exceção será processada
em apenso aos autos principais.

6.1 Contestação

O réu deve alegar, em contestação, toda a matéria de defesa, expondo as


razões de fato e de direito com que impugna o pedido do autor e
especificando as provas que pretende produzir (art. 300, do CPC).
No entanto, antes de discutir o mérito, o réu deve alegar, caso existentes,
as preliminares de:
a) inexistência ou nulidade da citação;
b) incompetência absoluta;
c) inépcia da petição inicial;
d) perempção;
e) litispendência;
f) coisa julgada;
g) conexão;
h) incapacidade da parte, defeito de representação ou falta de
autorização;
i) convenção de arbitragem;
j) carência de ação;
k) falta de caução ou de outra prestação, que a lei exige como preliminar.
Salvo a exceção de arbitragem, o juiz deve conhecer de ofício de qualquer
uma das matérias acima mencionadas.
Depois de articular as preliminares, caso existentes, o réu deve manifestar-
se precisamente sobre os fatos narrados na petição inicial, pois presumem-
se verdadeiros os fatos não impugnados, exceto:
a) se não for admissível, a seu respeito, a confissão;
b) se a petição inicial não estiver acompanhada do instrumento público que a
lei considerar da substância do ato;
c) se estiverem em contradição com a defesa, considerada em seu conjunto.
A exigência da impugnação específica não se aplica, contudo, ao advogado
dativo, ao curador especial e ao Ministério Público.
Ultrapassado o momento da contestação, o réu só poderá deduzir novas
alegações quando:
a) relativas a direito superveniente;
b) competir ao juiz conhecer delas de ofício;
c) por expressa autorização legal, puderem ser formuladas em qualquer
tempo e juízo.

6.2 Reconvenção

68
A reconvenção é verdadeiro contra-ataque do réu, em face do autor. A
petição de reconvenção deve atender a todos os requisitos de uma petição
inicial, deve preencher as condições da ação e os pressupostos
processuais, e deve ser conexa com a ação principal ou com o fundamento
da defesa.
Não é lícito ao réu, em seu próprio nome, reconvir ao autor, quando este
demandar em nome de outrem (art. 315, parágrafo único, do CPC).
Oferecida a reconvenção, o autor reconvindo deve ser intimado, na pessoa
de seu procurador, para contestá-la no prazo de 15 (quinze) dias. A
reconvenção tem natureza jurídica de ação autônoma, logo, a desistência da
ação principal, ou a existência de qualquer causa que a extinga, não obsta o
prosseguimento da reconvenção.
Ação principal e reconvenção tem prosseguimento conjunto, e serão
julgadas na mesma sentença.
Se a reconvenção não for apresentada no prazo para defesa, nada impede
que o réu ajuíze ação autônoma em face do autor, pois ela não se reveste
do caráter de obrigatoriedade.
A reconvenção é pertinente nas ações de rito ordinário, mas não é cabível
nas ações dúplices, nas quais eventual pretensão contraposta pode ser
manifestada na própria contestação. As ações possessórias e a de
prestação de contas são típicos exemplo de ações dúplices.
Também não se admite reconvenção no procedimento sumário, tão pouco
no sumaríssimo, perante os Juizados Especiais, embora se admita, em
ambos, a apresentação de pedido contraposto, isto é, a manifestação de
“contra-ataque” na própria contestação.

6.3 Exceções

Qualquer das partes pode arguir, por meio de exceção:


a) a incompetência (relativa);
b) o impedimento; e
c) a suspeição.
Esse direito pode ser exercido em qualquer tempo e grau de jurisdição,
cabendo à parte oferecer exceção, no prazo de 15 (quinze) dias, contado do
fato que ocasionou a incompetência, o impedimento ou a suspeição (art.
305, do CPC). No caso da incompetência, esse prazo contase da citação,
naturalmente.
É lícito ao réu protocolizar petição de exceção de incompetência no seu
próprio domicílio, caso em que deve requerer sua imediata remessa ao juízo
que determinou sua citação (art. 305, parágrafo único, do CPC).
Recebida a exceção, o processo fica suspenso, até que ela seja
definitivamente julgada.
Apresentada exceção de incompetência, o excipiente deve indicar o juízo
que reputa competente. Conclusos os autos, o juiz deve mandar processar a
exceção, ouvindo o excepto em 10 (dez) dias, e decidindo em igual prazo
(art. 308, do CPC), prazo este que é impróprio. Se não houver a
69
apresentação de exceção de incompetência de forma tempestiva, a matéria
precluirá, e o juízo incompetente tornar-se-á competente, em razão da
prorrogação.
Se houver necessidade de prova testemunhal, o juiz pode designar
audiência de instrução, devendo proferir decisão no prazo (impróprio) de 10
(dez) dias.
É dado ao juiz a possibilidade de indeferir de plano a petição de exceção,
tão logo constate ser manifestamente improcedente (art. 310, do CPC).
Em contrapartida, julgada procedente a exceção, os autos devem ser
remetidos ao juízo competente (art. 311, do CPC).
Por derradeiro, em se tratando de exceção de incompetência, frise-se que a
única incompetência passível de arguição mediante exceção é a relativa,
posto que a incompetência absoluta pode ser arguida em qualquer tempo e
grau de jurisdição.
No caso de exceção de impedimento ou de suspeição, a parte deve instruir
a petição com os documentos em que o excipiente fundar a alegação, além
da indicação do rol de testemunhas (art. 312, do CPC).
Despachando a petição de exceção, o juiz, se reconhecer o impedimento ou
a suspeição, ordenará a remessa dos autos ao seu substituto legal. Caso
contrário, deve apresentar razões escritas, dentro de 10 (dez) dias,
acompanhadas de documentos e rol de testemunhas, se houver, e ordenar a
remessa dos autos ao tribunal.
Se o tribunal verificar que a exceção de impedimento ou suspeição não tem
fundamento legal, determinará seu imediato arquivamento. Caso contrário,
condenará o juiz nas custas, mandando remeter os autos ao seu substituto
legal, conforme dispõe o artigo 314, do Código de Processo Civil.

6.4 Revelia

Se o réu não contestar a ação, reputar-se-ão como verdadeiros os fatos


afirmados pelo autor (art. 319, do CPC). Também se consideram
verdadeiros os fatos que o autor alegar e o réu não impugnar
especificamente (princípio da impugnação especificada). O princípio da
impugnação especificada, a que se frisar, não se aplica ao defensor dativo,
ao curador especial e ao Ministério Público.
No entanto, a revelia não produz a presunção de veracidade acerca dos
fatos alegados pelo autor:
a) se, havendo pluralidade de réus, algum deles contestar a ação;
b) se o litígio versar sobre direitos indisponíveis; ou
c) se a petição inicial não estiver acompanhada do instrumento público, que
a lei considere indispensável à prova do ato.
Ainda que verificada a revelia, o autor não tem o direito de alterar o pedido,
ou a causa de pedir, tão pouco demandar declaração incidente, exceto se
70
promover a citação do réu, a quem será assegurado o direito de responder
no prazo de 15 (quinze) dias, conforme redação legal do artigo 321, do
Código de Processo Civil. A norma em questão impede que o autor se
aproveite do fato de não ter o réu contestado a ação, impedindo-lhe de
alterar os pedidos inicialmente apresentados.
Como efeito decorrente da revelia, o réu não será mais intimado acerca dos
atos subsequentes a serem praticados no processo, e, em relação aos
prazos, estes correrão contra ele independentemente de intimação, a partir
da publicação de cada ato decisório. Ao réu é conferido o direito de intervir
no processo em qualquer fase, recebendo-o no estado em que se encontrar.

7. FORMAÇÃO, SUSPENSÃO E EXTINÇÃO DO PROCESSO

7.1 Formação do processo

O processo só tem início após a iniciativa da parte, pois é sabido que o


Poder Judiciário é inerte. Em que pese a inércia para o início do processo,
uma vez instaurado, o seu desenvolvimento ocorre por impulso oficial.
Considera-se proposta a ação assim que a petição inicial seja despachada
pelo juiz, ou simplesmente distribuída, onde houver mais de uma vara. Com
relação ao réu, no entanto, a propositura da ação só faz litigiosa a coisa,
induz litispendência, constitui em mora o devedor e interrompe a prescrição,
após a feitura da citação válida.
Realizada a citação, é proibido ao autor modificar o pedido ou a causa de
pedir, sem o consentimento do réu, mantendo-se as mesmas partes, exceto
as substituições permitidas por lei (art. 264, do CPC).
Com o consentimento do réu, portanto, nada impede a modificação do
pedido ou da causa de pedir, mas desde que anterior ao saneamento do
processo, pois após não se admite alteração do pedido ou da causa de pedir
em nenhuma hipótese.
7.2 Suspensão do processo

Conforme redação do artigo 265, do Código de Processo Civil, suspende-se


o processo:
a) pela morte ou perda da capacidade processual de qualquer das partes,
de seu representante legal ou de seu procurador; b) pela convenção das
partes;
c) quando for oposta exceção de incompetência do juízo, da câmara ou do
tribunal, bem como de suspeição ou impedimento do juiz; d) quando a
sentença de mérito:
d.1) depender do julgamento de outra causa, ou da declaração da
existência ou inexistência da relação jurídica, que constitua o objeto
principal de outro processo pendente;
d.2) não puder ser proferida senão depois de verificado
determinado fato, ou de produzida certa prova, requisitada a outro
juízo;
71
d.3) tiver por pressuposto o julgamento de questão de estado,
requerido como declaração incidente;
e) por motivo de força maior;
f) nos demais casos, que este Código regula.
No caso de morte ou de perda da capacidade processual de qualquer das
partes, ou de seu representante legal, provado o falecimento ou a
incapacidade, o juiz deve suspender o processo, exceto se já tiver iniciado a
audiência de instrução e julgamento, caso em que:
a) o advogado continuará no processo até o encerramento da audiência;
b) o processo só se suspenderá a partir da publicação da sentença ou
do acórdão.
Falecendo o advogado do réu, o juiz marcará o prazo de 20 dias para que
seja constituído novo mandatário. Se, transcorrido esse prazo, o réu não
tiver constituído novo advogado, o processo prosseguirá à sua revelia. Já a
suspensão do processo por acordo entre as partes, não pode nunca exceder
o prazo de 6 (seis) meses. Encerrado o prazo, o escrivão fará os autos
conclusos ao juiz, que deve ordenar o prosseguimento do processo (art.
265, §3º, do CPC).
No caso da sentença de mérito que não puder ser proferida senão depois
de verificado determinado fato, ou de produzida certa prova, requisitada a
outro juízo, ou que tiver por pressuposto o julgamento de questão de estado,
requerido como declaração incidente, a suspensão processual não pode
nunca exceder a 1 (um) ano. Encerrado esse prazo, deve o juiz dar
prosseguimento ao feito (art. 265, §5º, do CPC).
Durante a suspensão do processo, é proibido praticar qualquer ato
processual. Contudo, o juiz pode determinar a produção de atos urgentes,
com a finalidade de evitar a ocorrência de dano irreparável. Pode, por
exemplo, ser tomado o depoimento de uma testemunha em grave risco de
morte.

7.3 Extinção do processo

As possibilidades de extinção do processo são de extrema importância para


concursos públicos. Há duas possibilidades de extinção processual:
a) sem resolução de mérito, nos termos do artigo 267, do Código de
Processo Civil; ou
b) com resolução de mérito, nos termos do artigo 269, do mesmo Códex.
A extinção do processo sem resolução de mérito não impede que a parte
reproponha a demanda, desde que corrigida a falha que impediu a análise
de mérito no processo originário. Quando há extinção processual sem
julgamento de mérito, só se fala na formação de coisa julgada formal, que
não tem o condão de impedir a repropositura da demanda.

72
Segundo o artigo 267, do Código de Processo Civil, extingue-se o processo,
sem resolução de mérito:
a) quando o juiz indeferir a petição inicial;
b) quando ficar parado durante mais de 1 (um) ano por negligência das
partes;
c) quando, por não promover os atos e diligências que Ihe competir, o autor
abandonar a causa por mais de 30 (trinta) dias;
d) quando se verificar a ausência de pressupostos de constituição e de
desenvolvimento válido e regular do processo;
e) quando o juiz acolher a alegação de perempção, litispendência ou de
coisa julgada;
f) quando não concorrer qualquer das condições da ação, como a
possibilidade jurídica, a legitimidade das partes e o interesse processual;
g) pela convenção de arbitragem;
h) quando o autor desistir da ação;
i) quando a ação for considerada intransmissível por disposição legal;
j) quando ocorrer confusão entre autor e réu;
k) nos demais casos prescritos no Código de Processo Civil.
Nas hipóteses de paralisação do processo, durante mais de 1 (um) ano, por
negligência das partes, assim como na de abandono da causa, pelo autor,
por mais de 30 (trinta) dias, antes de extinguir o processo, o juiz deve intimar
pessoalmente a parte, para que supra a falta em 48 (quarenta e oito) horas.
Apenas então, se não atendida a determinação, é que o juiz deve determinar
a extinção do processo sem resolução de mérito, conforme orientação do
artigo 267, parágrafo primeiro, do Código de Processo Civil.
Verificada qualquer das duas situações mencionadas no parágrafo
anterior, se o processo for extinto após paralisação, por mais de 1 (um) ano,
por negligência das partes, estas pagarão proporcionalmente as custas. No
entanto, se a causa da extinção do processo for o abandono da causa, pelo
autor, por mais de 30 (trinta) dias, este é quem arcará, sozinho, com o
pagamento das custas processuais e honorários advocatícios.
Dentre as situações que geram a extinção do processo sem resolução de
mérito, são matérias de ordem pública, passíveis de serem reconhecidas de
ofício pelo juiz, em qualquer tempo e grau de jurisdição:
a) quando se verificar a ausência de pressupostos de constituição e de
desenvolvimento válido e regular do processo;
b) quando o juiz acolher a alegação de perempção, litispendência ou de
coisa julgada;
c) quando não concorrer qualquer das condições da ação, como a
possibilidade jurídica, a legitimidade das partes e o interesse processual.
Ainda assim, caso presente no processo qualquer das 3 (três) situações, ao
réu que não a alegar na primeira oportunidade, responderá pelas custas do
retardamento (art. 267, §3º, do CPC).
Decorrido o prazo para resposta do réu, não é dado ao autor o direito de
desistir da ação, salvo se o réu consentir.
73
Como mencionado, ocorrida alguma das situações previstas no artigo 267,
do Código de Processo Civil, o autor pode corrigir a falha que a gerou e
intentar nova ação, salvo se reconhecida:
a) a perempção;
b) a litispendência; ou
c) a coisa julgada.
A perempção é a extinção do processo sem resolução de mérito, por 3
(três) vezes, em razão de conduta negligente do autor, que a abandonou
durante sua tramitação, em todas as vezes.
A litispendência, como é sugestiva a expressão, é a pendência da mesma
lide em outro ou no mesmo juízo. Dessa forma, impede-se que um mesmo
litígio seja processado e julgado duas vezes pelo Poder Judiciário. A coisa
julgada, por seu turno, impede a repropositura de uma demanda, pois sobre
ela o Poder Judiciário já se manifestou, tendo-a julgado oportunamente, não
sendo lícito analisá-la novamente, por respeito ao princípio da segurança
jurídica.
Em contrapartida, a extinção do processo com resolução de mérito impede
que a parte reproponha a demanda, pretendendo que o Poder Judiciário se
manifeste novamente sobre causa já decidida. Quando há extinção
processual com resolução de mérito, opera-se a coisa julgada material,
impeditiva da repropositura de uma demanda que tenha as mesmas partes,
o mesmo pedido e a mesma causa de pedir.
Conforme dispõe o artigo 269, do Código de Processo Civil, há extinção do
processo com resolução de mérito:
a) quando o juiz acolher ou rejeitar o pedido do autor;
b) quando o réu reconhecer a procedência do pedido;
c) quando as partes transigirem;
d) quando o juiz pronunciar a decadência ou a prescrição;
e) quando o autor renunciar ao direito sobre que se funda a ação.
Em todas essas hipóteses alcança-se o verdadeiro objetivo de todo aquele
que vai a juízo, que é ver processado e julgado seu pedido.

8. PROCESSO DE CONHECIMENTO

O processo é um instrumento de satisfação de direitos. Sempre que, por


algum motivo, os direitos das pessoas não forem efetivados prontamente,
elas podem se valer do Poder Judiciário para obrigar a observância dos
mesmos.
O processo de conhecimento destina-se à obtenção de decisões
declaratórias, condenatórias ou constitutivas.
A depender da complexidade ou do valor da causa, o ordenamento jurídico
determina que sejam observados ritos mais ou menos céleres, sempre com
a finalidade de conferir às partes um julgamento justo.

74
Nesse contexto, segundo o Código de Processo Civil, o processo de
conhecimento pode utilizar dois tipos de procedimentos: a) o procedimento
comum, que comporta:
a.1) o procedimento ordinário; e
a.2) o procedimento sumário.
b) o procedimento especial, que comporta:
b.1) os procedimentos de jurisdição voluntário; e
b.2) os procedimentos de jurisdição contenciosa.
Interessa ao presente capítulo, pois, o estudo do procedimento comum.
Quanto aos procedimentos ordinário e sumário, a principal diferença entre
eles é a celeridade. No caso dos procedimentos ordinário e sumário, o
Código de Processo Civil prevê uma sequência de atos a serem praticados,
maior no procedimento ordinário do que no sumário. As causas passíveis de
tramitação perante o rito sumário estão descritas no artigo 275, do Código
de Processo Civil, causas estas que permitem uma resolução mais célere da
lide. Para as demais, restará o procedimento ordinário, dada a complexidade
de suas matérias.
No procedimento ordinário, é lícito ao réu formular pretensão inversa à
manifestada pelo autor, por meio da reconvenção, diferentemente do
procedimento sumário, onde é vedada tal possibilidade. No sumário, o réu
pode, apenas, apresentar pedido contraposto no bojo da própria
contestação.
Seja o procedimento adotado sumário ou ordinário, é lícito ao juiz, a
requerimento da parte, antecipar, total ou parcialmente, os efeitos da tutela
pretendida no pedido inicial, desde que existindo prova inequívoca, se
convença da verossimilhança da alegação e, alternativamente:
a) haja fundado receio de dano irreparável ou de difícil reparação; ou
b) fique caracterizado o abuso de direito de defesa ou o manifesto
propósito protelatório do réu.
No caso de deferir medida antecipatória dos efeitos da tutela, deve o juiz
indicar, clara e precisamente, as razões do seu convencimento.
Conforme determina o artigo 273, parágrafo segundo, do Código de
Processo Civil, não deve ser concedida a medida antecipatória dos efeitos
da tutela quando houver perigo de irreversibilidade do provimento
antecipado. Esse é o principal motivo, por meio do qual, em matéria
tributária, não se admite a concessão de medida antecipatória dos efeitos da
tutela para fins de compensação do crédito tributário.
Concedida a medida antecipatória dos efeitos da tutela, é lícito ao juiz
revogá-la ou modificá-la a qualquer tempo, mediante decisão fundamentada
(art. 273, §4º, do CPC). A possibilidade de revogação ou modificação a
qualquer tempo encontra fundamento quando a providência que era urgente,
perde esse caráter no decorrer do trâmite processual. Os requisitos
legalmente exigidos para a concessão da medida antecipatória dos efeitos
da tutela devem ser mantidos no decurso processual, pois, caso contrário,
poderá ser modificada ou revogada a medida.

75
Concedida a medida que antecipa os efeitos da tutela, se não revogada, ela
perdura até a sentença, oportunidade em que o juiz a confirmará ou
revogará.
Outra possibilidade de concessão da tutela antecipada diz respeito à
apresentação de pedidos cumulados, dentre os quais um ou mais sejam
incontroversos. Pois, se o réu não discute a pertinência de um ou mais
pedidos, nada impede que o autor obtenha a tutela antecipada em relação
ao mesmo.
O artigo 273, parágrafo sétimo, do Código de Processo Civil, apresenta o
princípio da fungibilidade. Segundo mencionado dispositivo, se o autor, a
título de antecipação de tutela, requerer providência de natureza cautelar,
poderá o juiz, desde que presentes os pressupostos, deferir a medida
cautelar em caráter incidental do processo ajuizado. Os requisitos da
antecipação de tutela, como mencionado, são: a) prova inequívoca do
direito alegado;
b) verossimilhança da alegação; e
c) fundado receio de dano irreparável ou de difícil reparação; ou
c) abuso do direito de defesa ou manifesto propósito protelatório do
réu.
Já a concessão da medida de natureza cautelar exige requisitos mais
brandos, quais sejam:
a) o fumus boni iuris (fumaça do bom direito); e
b) o periculum in mora (perigo da demora).
Acerca da medida de natureza cautelar, terá análise em capítulo próprio,
podendo-se adiantar, para frisar a diferença entre as tutelas cautelar e
antecipatória da tutela, que enquanto a primeira tem caráter assecuratório, a
segundo tem caráter satisfativo. Em outras palavras, a tutela cautelar
destina-se a assegurar determinada situação, permitindo que, em caso de
procedência do pedido do autor, este possa ser efetivamente concretizado.
Quando se requer o bloqueio de bens do devedor que está dilapidando seu
patrimônio, nada mais se está a fazer do que garantir que, caso provado que
o autor é realmente credor, que ele tenha sua pretensão satisfeita. Já a
medida concedida como tutela antecipada reflete a concessão do próprio
direito, isto é, do próprio pedido. Quando se requer a concessão, mediante
medida antecipatória da tutela, em ação que objetiva a concessão do
benefício assistencial de prestação continuada (art. 203, V, da CRFB/88),
destinado às pessoas deficientes ou idosas e comprovadamente pobres, o
que se obtém é o próprio salário mínimo, pago mensalmente a partir da
decisão antecipatória do juiz e até a data da sentença, ocasião em que o
benefício será confirmado ou revogado.

76
8.1 Procedimento sumário

As hipóteses em que se deve fazer uso do procedimento sumário são


taxativas e importantes para concursos públicos. Segundo artigo 275, do
Código de Processo Civil, observar-se-á o procedimento sumário:
I - nas causas cujo valor não exceda a 60 (sessenta) vezes o valor do
salário mínimo;
II - nas causas, qualquer que seja o valor:
a) de arrendamento rural e de parceria agrícola;
b) de cobrança ao condômino de quaisquer quantias devidas ao condomínio;
c) de ressarcimento por danos em prédio urbano ou rústico;
d) de ressarcimento por danos causados em acidente de veículo de via
terrestre;
e) de cobrança de seguro, relativamente aos danos causados em acidente
de veículo, ressalvados os casos de processo de execução;
f) de cobrança de honorários dos profissionais liberais, ressalvado o
disposto em legislação especial;
g) que versem sobre revogação de doação; e
h) nos demais casos previstos em lei.
O processo de conhecimento que seja relativo as ações sobre o estado e à
capacidade das pessoas não pode seguir o trâmite do rito sumário, segundo
expressa proibição do artigo 275, parágrafo único, do Código de Processo
Civil.
A petição inicial, para o processo de rito sumário, além dos requisitos
gerais, deve apresentar, sob pena de preclusão: a) o rol de testemunhas; e
b) caso requerida perícia, a formulação dos quesitos e a indicação de
assistente técnico.
Recebida a petição inicial, o juiz deve designar audiência de
conciliação, mandando citar o réu para comparecer. Note-se que, enquanto
no procedimento ordinário o réu é citado e intimado para apresentar defesa
escrita no prazo de 15 (quinze) dias, no sumário ele é citado e intimado para
comparecer à audiência de conciliação.
Entre a data da citação e a data da realização da audiência não pode haver
espaço inferior a 10 (dez) dias, prazo que se conta dobrado se a ré for a
Fazenda Pública.
O réu, devidamente citado e intimado, deve comparecer a audiência de
conciliação, e, caso esta reste infrutífera, deve apresentar sua defesa
imediatamente, de forma oral ou escrita. Se o réu não comparecer à
audiência de conciliação, reputar-se-ão verdadeiros os fatos alegados pelo
autor, exceto quando o contrário resultar da prova dos autos, hipótese em
que o juiz deve proferir, desde logo, a sentença.
As partes devem comparecer pessoalmente à audiência, podendo fazer-se
representar por preposto com poderes para transigir (art. 277, §3º, do CPC).

77
Obtida a conciliação, o juiz a reduzirá a termo e a homologará por sentença.
Nesta audiência o juiz pode contar com o auxílio de um conciliador.
Se o réu impugnar o valor da causa, ou a natureza da demanda, o juiz deve
decidir de plano, e, se entender procedente a impugnação, deve converter o
procedimento sumário em ordinário (art. 277, §4º, do CPC).
Também é caso de conversão do procedimento sumário em ordinário
quando houver a necessidade de produção de prova técnica de maior
complexidade, conforme determinação do artigo 277, parágrafo quinto, do
Código de Processo Civil.
Assim como o autor, que deve oferecer rol de testemunhas e, se requerer
perícia, deve apresentar quesitos e indicar eventual assistente técnico
imediatamente, também o réu, tão logo ofereça sua defesa, deve
acompanhá-la de documentos e rol de testemunhas e, se requerer perícia,
deve apresentar os quesitos imediatamente, podendo também indicar
assistente técnico.
Não se admite a reconvenção em sede de procedimento sumário, mas,
desde que fundado nos mesmo fatos referidos na inicial, pode o réu, no bojo
de sua contestação, apresentar pedido contraposto ao do autor. Se não for
o caso de julgamento antecipado da lide, assim como se houver a
necessidade de produção de prova oral, o juiz deve designar audiência de
instrução e julgamento.
Conforme estipula o artigo 280, do Código de Processo Civil, não são
admissíveis no procedimento sumário:
a) a ação declaratória incidental; e
b) a intervenção de terceiros, exceto a assistência, o recurso de terceiro
prejudicado e a intervenção fundada em contrato de seguro.
Encerrada a instrução e os debates orais, o juiz deve proferir sentença no
prazo (impróprio) de 10 (dez) dias, desde que não seja possível proferi-la na
própria audiência.

8.2 Procedimento ordinário

O processo se instaura com a provocação do autor, que o faz mediante a


distribuição da petição inicial. Essa petição deve, obrigatoriamente, atender
a diversos requisitos legais, sem o que será indeferida, e o processo,
consequentemente, extinto sem julgamento de mérito.
Os requisitos da petição inicial, apresentados pelos artigos 282 e 283,
ambos do Código de Processo Civil são exigidos para todas as petições
iniciais, e não apenas para aquelas tendentes a instaurar o processo de
conhecimento.
Ademais, os requisitos dos artigos 282 e 283 do Código de Processo Civil
devem estar presentes não apenas para as ações de rito ordinário, mas
também nas de rito sumário e sumaríssimo, esta segundo a Lei n.º 9.099/95.
Segundo referido artigo 282, a petição inicial deve indicar: a) o juiz ou
tribunal, a que é dirigida;

78
b) os nomes, prenomes, estado civil, profissão, domicílio e residência do
autor e do réu;
c) o fato e os fundamentos jurídicos do pedido;
d) o pedido, com as suas especificações;
e) o valor da causa;
f) as provas com que o autor pretende demonstrar a verdade dos
fatos alegados;
g) o requerimento para a citação do réu.
E, além destes, a petição inicial deve ser instruída com todos os
documentos que sejam indispensáveis à propositura da ação (art. 283, do
CPC).
Se o juiz verificar que a petição inicial não preenche os requisitos do artigo
282 ou do 283, ou que ela apresenta defeitos e irregularidades capazes de
dificultar o julgamento do mérito, ele deve determinar que o autor a emende,
ou que a complete, no prazo de 10 (dez) dias. Se o autor descumprir a
determinação, o juiz deve indeferir a petição inicial.
A petição inicial deve ser indeferida:
a) quando for inepta;
b) quando a parte for manifestamente ilegítima;
c) quando o autor carecer de interesse processual;
d) quando o juiz verificar, desde logo, a decadência ou a prescrição
(art. 219, § 5º, do CPC);
e) quando o tipo de procedimento, escolhido pelo autor, não corresponder à
natureza da causa, ou ao valor da ação; caso em que só não será
indeferida, se puder adaptar-se ao tipo de procedimento legal;
f) quando não atendidas as prescrições dos arts. 39, parágrafo único,
primeira parte (indicação do endereço para recebimento de intimações), e
284 (descumprimento da determinação de emenda da petição inicial, no
prazo de dez dias).
No caso de inépcia, orienta o artigo 295, parágrafo único, do Código
de Processo Civil, que considera-se inepta a petição inicial quando: a) Ihe
faltar pedido ou causa de pedir;
b) da narração dos fatos não decorrer logicamente a conclusão;
c) o pedido for juridicamente impossível;
d) contiver pedidos incompatíveis entre si.
Indeferida a petição inicial, o autor pode apelar, hipótese em que o juiz
possui a faculdade de se retratar, no prazo de 48 (quarenta e oito) horas,
hipótese em que reformará sua decisão e mandará citar o réu, para que o
processo tenha prosseguimento. Contudo, se manter a decisão, aos autos
serão encaminhados imediatamente ao tribunal competente, sem que se fale
em citação do réu. No entanto, se a petição inicial preencher os requisitos
legais, ela será despachada, e o juiz deve determinar a feitura da citação do
réu, para responder, sob pena de presunção de veracidade dos fatos
articulados pelo autor.
Uma recente e relevante inovação processual, especialmente para efeito de
questionamento em concursos públicos, consta no artigo 285-A, do Código
79
de Processo Civil. Segundo o dispositivo, quando a matéria controvertida for
exclusivamente de direito e no juízo já houver sido proferida sentença de
total improcedência em outros casos idênticos, pode o juiz dispensar a
citação e proferir sentença imediatamente, reproduzindo-se o teor da
anteriormente prolatada.
Nessa situação, o autor pode apelar, hipótese em que o juiz tem a
possibilidade de se retratar, no prazo de 5 (cinco) dias, não mantendo a
sentença e determinando o prosseguimento do feito. Se não se retratar, no
entanto, deve ser determinada a citação do réu para apresentar
contrarrazões à apelação do autor.
Para melhor diferenciar as situações veja-se a tabela:
Indeferimento da petição inicial Julgamento do processo com
(art. 296, do CPC) resolução de mérito (art. 285-
A,
do CPC)
Recurso cabível Apelação. Apelação.
Prazo para retratação 48 horas. 5 dias.
do juiz
Natureza da coisa Meramente formal. Coisa julgada material.
julgada
Citação do réu Não há citação do réu. Apelação Há citação do réu, para que
segue sem contrarrazões para o apresente contrarrazões à
tribunal. apelação do autor.
Se o tribunal rejeitar a Processo extinto sem julgamento de Processo extinto com
apelação mérito. julgamento de mérito.
Se o tribunal acolher a Anula-se a sentença de indeferimento Anula-se a sentença de
apelação da inicial, os autos voltam à primeira indeferimento do pedido do
instância e realiza-se a citação do réu autor, os autos voltam à primeira
para prosseguimento do processo. instância e abre-se prazo para
que o réu conteste a ação.
8.2.1 Providências preliminares

Encerrado o prazo para a resposta do réu, o escrivão fará conclusos os


autos, e o juiz, no prazo (impróprio) de 10 (dez) dias, determinará, conforme
o caso, as providências preliminares.
Se o réu não contestar a ação, mas não for o caso de presunção de
veracidade dos fatos alegados pelo autor, o juiz deve determinar que o autor
especifique as provas que pretende produzir na audiência.
Caso o réu conteste o direito que constitui fundamento do pedido, o autor
pode requerer, no prazo de 10 (dez) dias, que sobre ele o juiz profira
sentença incidente, quando da declaração da existência ou da inexistência
do direito depender, no todo ou em parte, o julgamento da lide (art. 325, do
CPC). Por exemplo, se um filho pede alimentos ao pai, mas este contesta a
paternidade, antes de determinar ou não o pagamento daqueles, o juiz deve

80
proferir sentença incidente acerca da paternidade, só com o que poderá,
posteriormente, analisar o pedido de alimentos.
Se o réu, reconhecendo o fato em que se fundou a ação, outro lhe opuser
impeditivo, modificativo ou extintivo do direito do autor, este será ouvido no
prazo de 10 (dez) dias, sendo-lhe facultado a produção de prova
documental. A prescrição, por exemplo, é fato que extingue o direito do
autor.
Quando o réu alegar alguma das preliminares do artigo 301, do Código de
Processo Civil (inexistência ou nulidade da citação, incompetência absoluta,
inépcia da petição inicial, perempção, litispendência, coisa julgada, conexão,
incapacidade da parte, defeito de representação ou falta de autorização,
convenção de arbitragem, carência de ação, ou falta de caução ou de outra
prestação, que a lei exige como preliminar), o juiz deve mandar ouvir o autor
no prazo de 10 (dez) dias, permitindo-lhe a produção de prova documental.
Nesse caso, uma vez verificada a existência de irregularidades ou de
nulidades sanáveis, o juiz mandará supri-las, fixando à parte prazo nunca
superior a 30 (trinta) dias.
Cumpridas as providências preliminares, ou não havendo a necessidade
delas, o juiz poderá proferir julgamento conforme o estado do processo.

8.2.2 Julgamento conforme o estado o processo

Conforme dispõe o artigo 329, do Código de Processo Civil, ocorrendo


qualquer das hipóteses previstas no artigo 267 (extinção do processo sem
resolução de mérito) e 269, incisos II a V (extinção do processo com
resolução de mérito: II - quando o réu reconhecer a procedência do pedido;
III - quando as partes transigirem; IV - quando o juiz pronunciar a
decadência ou a prescrição; ou V - quando o autor renunciar ao direito sobre
que se funda a ação), o juiz deve declarar extinto o processo. Poderá ser
conhecido diretamente o pedido, caso em será proferida sentença desde
logo:
a) quando a questão de mérito for unicamente de direito, ou, sendo de
direito e de fato, não houver necessidade de produzir prova em
audiência; e
b) quando ocorrer a revelia (art. 319, do CPC)

8.2.3 Audiência preliminar

Contudo, se não for o caso de julgamento conforme o estado o processo, e


desde que a causa verse apenas sobre direitos disponíveis, o juiz deve
designar audiência preliminar, na qual as partes poderão ser representadas
por preposto, com poderes para transigir.
Se obtida a conciliação, esta será reduzida a termo e homologada por
sentença (art. 331, §1º, do CPC).

81
Não obtida a conciliação, o juiz fixará os pontos controvertidos, decidirá as
questões processuais pendentes e determinará as provas a serem
produzidas, designando audiência de instrução e julgamento, se necessário
(art. 331, §2º, do CPC).
Quando o direito em litígio não admitir transação, ou se as circunstâncias do
caso evidenciarem ser improvável sua obtenção, o juiz tem a faculdade de,
desde logo, sanear o processo e ordenar a produção da prova.

8.2.4 Provas

Todos os meios legais e moralmente legítimos são hábeis à demonstração


da veracidade dos fatos alegados, em que se funda a ação ou a defesa.
Conforme mandamento legal do artigo 333, do Código de Processo Civil, o
ônus da prova incumbe:
a) ao autor, quanto ao fato constitutivo do seu direito;
b) ao réu, quanto à existência de fato impeditivo, modificativo ou extintivo do
direito do autor.
E, segundo o parágrafo único do referido dispositivo, reputa-se nula a
convenção que distribui de maneira diversa o ônus da prova quando: a)
recair sobre direito indisponível da parte;
b) tornar excessivamente difícil a uma parte o exercício do direito.
Mas nem todos os fatos dependem de prova para serem reputados como
válidos. É por isso que o artigo 334, do Código de Processo Civil, dispõe que
não dependem de prova os fatos: a) notórios;
b) afirmados por uma parte e confessados pela parte contrária;
c) admitidos, no processo, como incontroversos;
d) em cujo favor milita presunção legal de existência ou de veracidade.
Via de regra, as provas devem ser produzidas em audiência. Quando
houver necessidade de prova oral, e a testemunha estiver impossibilitada de
comparecer, por enfermidade ou por outro motivo relevante, mas não estiver
impossibilitada de prestar depoimento, o juiz pode designar dia, hora e local
para inquiri-la (art. 336, parágrafo único, do CPC).
Tanto a carta precatória como a rogatória tem o condão de suspender o
processo, sempre que a sentença de mérito não possa ser proferida antes
de verificado determinado fato, ou de produzida certa prova, requisitada a
outro juízo, e desde que o requerimento para produção dessa prova tenha
sido efetuado antes da decisão de saneamento (art. 338, caput, do CPC).
Não devolvidas dentro do prazo ou concedidas sem efeito suspensivo, tanto
a carta precatória como a rogatória podem ser juntadas aos autos até o
julgamento final (art. 338, parágrafo único, CPC).
O Código de Processo Civil não exaure todas as provas que podem ser
produzidas no curso do processo, mas apresenta as principais, quais sejam:
a) depoimento pessoal;
b) confissão;
82
c) exibição de documento ou coisa;
d) prova documental;
e) prova testemunhal;
f) prova pericial; e
g) inspeção judicial.

8.2.4.1 Depoimento pessoal


O depoimento pessoal pode ser requerido pelas partes, ou determinado
pelo juiz, de ofício. Em qualquer caso, a parte deve ser intimada
pessoalmente, e no mandado deve constar que se presumirão confessados
os fatos contra ela alegados, caso ela não compareça ou, comparecendo, se
recuse a depor (art. 343, §1º, do CPC). Se devidamente intimada a parte
não comparecer, ou comparecendo, se recusar a depor, o juiz lhe aplicará a
pena de confissão (art. 343, §2º, do CPC).
Conforme redação legal do artigo 347, do Código de Processo Civil, a parte
não é obrigada a depor sobre fatos:
a) criminosos ou torpes, que Ihe forem imputados;
b) a cujo respeito, por estado ou profissão, deva guardar sigilo.
Contudo, essa não-obrigatoriedade não se aplica em relação às ações de
filiação, divórcio e de anulação de casamento.

8.4.1.2 Confissão

Há confissão quando a parte admite a verdade de um fato, contrário ao seu


interesse e favorável ao adversário (art. 348, do CPC). A confissão pode ser
judicial ou extrajudicial.
Se judicial, a confissão pode ser espontânea ou provocada. Feita
espontaneamente, dela se lavrará o respectivo termo nos autos. Feita de
forma provocada, constará do depoimento pessoal que foi prestado pela
parte. A confissão espontânea pode ser feita pela própria parte, mas
também o pode por procurador com poderes especiais (art. 349, parágrafo
único, do CPC).
A confissão feita por um dos litisconsortes não prejudica os demais, assim
como a confissão feita por apenas um dos cônjuges, nas ações que
versarem sobre bens imóveis ou direitos sobre imóveis alheios (art. 350, do
CPC).
Conforme expressa estipulação legal, não vale como confissão a admissão,
em juízo, de fatos relativos a direitos indisponíveis (art. 351, do CPC).

83
Se decorrer de erro, dolo ou coação, a confissão pode ser revogada:
a) por ação anulatória, se pendente o processo em que foi feita; ou
b) por ação rescisória, depois de transitada em julgado a sentença, da
qual constituir o único fundamento.
O direito à propositura dessa ação é personalíssimo, isto é, cabe apenas
àquele que fez a confissão. Contudo, se já ajuizada a ação ele vier a falecer,
podem seus herdeiros nela prosseguir (art. 352, parágrafo único, do CPC).
À confissão extrajudicial é dada a mesma eficácia provatória da judicial,
quando feita por escrito à parte ou a quem a represente. No entanto, se feita
para terceiro, ou contida em testamento, deverá ser apreciada pelo juiz (art.
353, caput, do CPC).
Se a confissão extrajudicial for feita verbalmente, só terá eficácia nos casos
em que a lei não exija prova literal (art. 353 parágrafo único, do CPC). Via
de regra, a confissão é indivisível, isto é, não pode a parte que a quiser
invocar como prova, aceitá-la apenas no ponto que a beneficiar e rejeitá-la
no que lhe for desfavorável. Admite-se a cisão, contudo, quando o confitente
lhe aduzir fatos novos, suscetíveis de constituir fundamento de defesa direito
material ou de reconvenção (art. 354, do CPC).

8.4.1.3 Exibição de documento ou coisa

Quanto a exibição de documento ou coisa, o juiz pode ordená-la sempre


que necessário. Intimado a apresentar documento ou coisa, o requerido
deve apresentar resposta em 5 (cinco) dias. Se afirmar que não possui o
documento ou a coisa, o juiz permitirá que o requerente prove, por qualquer
outro meio, que a declaração não corresponde à verdade (art. 357, do CPC).
O juiz não admitirá a recusa:
a) se o requerido tiver obrigação legal de exibir;
b) se o requerido aludiu ao documento ou à coisa, no processo, com o
intuito de constituir prova;
c) se o documento, por seu conteúdo, for comum às partes.
Ao decidir o pedido, o juiz deve admitir como verdadeiros os fatos que, por
meio do documento o u da coisa, a parte pretendia provar:
a) se o requerido não efetuar a exibição, nem fizer qualquer
declaração no prazo de 5 (cinco) dias; ou
b) se a recusa for havida por ilegítima.
Quando o documento ou a coisa estiver em poder de terceiro, o juiz deve
mandar intimá-lo para responder em 10 (dez) dias.
É, no entanto, lícito à parte e ao terceiro se escusarem de exibir, em juízo o
documento ou a coisa:
a) se concernente a negócios da própria vida da família;
b) se a sua apresentação puder violar dever de honra;

84
c) se a publicidade do documento redundar em desonra à parte ou ao
terceiro, bem como a seus parentes consanguíneos ou afins até o terceiro
grau; ou lhes representar perigo de ação penal;
d) se a exibição acarretar a divulgação de fatos, a cujo respeito, por estado
ou profissão, devam guardar segredo;
e) se subsistirem outros motivos graves que, segundo o prudente arbítrio do
juiz, justifiquem a recusa da exibição.

8.4.1.4 Prova documental

O documento público faz prova não só da sua formação, mas também dos
fatos que o escrivão, o tabelião, ou o funcionário declarar que ocorreram em
sua presença (art. 364, do CPC).
Fazem a mesma prova que os originais:
a) as certidões textuais de qualquer peça dos autos, do protocolo das
audiências, ou de outro livro a cargo do escrivão, sendo extraídas por ele ou
sob sua vigilância e por ele subscritas;
b) os traslados e as certidões extraídas por oficial público, de
instrumentos ou documentos lançados em suas notas;
c) as reproduções dos documentos públicos, desde que autenticadas por
oficial público ou conferidas em cartório, com os respectivos originais.
d) as cópias reprográficas de peças do próprio processo judicial
declaradas autênticas pelo próprio advogado sob sua responsabilidade
pessoal, se não lhes for impugnada a autenticidade.
e) os extratos digitais de bancos de dados, públicos e privados, desde
que atestado pelo seu emitente, sob as penas da lei, que as informações
conferem com o que consta na origem;
f) as reproduções digitalizadas de qualquer documento, público ou
particular, quando juntados aos autos pelos órgãos da Justiça e seus
auxiliares, pelo Ministério Público e seus auxiliares, pelas procuradorias,
pelas repartições públicas em geral e por advogados públicos ou privados,
ressalvada a alegação motivada e fundamentada de adulteração antes ou
durante o processo de digitalização. Nesse caso, conforme orientação do
parágrafo primeiro, do artigo 365, do Código de Processo Civil, os originais
dos documentos digitalizados devem ser preservados pelo seu detentor até
o final do prazo para a propositura da ação rescisória.
Sempre que a lei exigir, como da substância do ato, o instrumento público,
nenhuma outra prova, por mais especial que seja, pode suprir-lhe a falta (art.
366, do CPC).
Compete à parte, contra quem foi produzido documento particular, alegar,
em 10 (dez) dias, se lhe admite ou não a autenticidade da assinatura e a
veracidade do contexto, presumindo-se, com o silêncio, que o tem por
verdadeiro (artigos 372 e 390, do Código de Processo Civil). Mas, tenha o
documento sido aceito de forma expressa ou tácita, esta deixa de ser eficaz
se o documento houver sido obtido por erro, dolo ou coação.
85
Quanto à escrituração contábil, dispõe o artigo 380 do Código de Processo
Civil, que ela é indivisível. Se dos fatos que resultam dos lançamentos, uns
são favoráveis ao interesse de seu autor e outros lhe são contrários, ambos
serão considerados em conjunto, como unidade. A requerimento da parte, o
juiz pode ordenar a exibição integral dos livros comerciais e dos documentos
do arquivo: a) na liquidação de sociedade;
b) na sucessão por morte de sócio;
c) quando e como determinar a lei.
E pode, de ofício, determinar a exibição parcial dos livros e documentos,
extraindo-se a suma que interessar ao litígio, bem como reproduções
autenticadas (art. 382, do CPC).
Quando declarada judicialmente a falsidade de um documento, cessa
imediatamente sua fé, seja ele público ou particular. Conforme orientação do
parágrafo único, do artigo 387, do Código de Processo Civil, a falsidade
consiste:
a) em formar documento não verdadeiro; ou
b) em alterar documento verdadeiro.
Também cessa a fé do documento particular quando:
a) lhe for contestada a assinatura e enquanto não se Ihe comprovar a
veracidade; ou
b) assinado em branco, for abusivamente preenchido.
Incumbe o ônus da prova quando:
a) se tratar de falsidade de documento, à parte que a arguir;
b) se tratar de contestação de assinatura, à parte que produziu o
documento.
A falsidade documental deve ser arguida mediante incidente de falsidade,
que pode ser interposto em qualquer tempo e grau de jurisdição, incumbindo
à parte, contra quem foi produzido o documento, suscitá-lo na contestação
ou no prazo de (10) dez dias, contados da intimação da sua juntada aos
autos.
Arguida a falsidade, o juiz deve intimar a parte que produziu o documento,
para que responda no prazo de 10 (dez) dias, e, após, ordenará a feitura de
exame pericial (art. 392, do CPC). Contudo, não será necessário o exame
pericial se a parte que produziu o documento concordar em retirálo e a parte
contrária não se opuser ao desentranhamento.
Quando arguida antes de encerrada a instrução, a parte deverá endereçar
petição ao juiz da causa, expondo os motivos em que funda sua pretensão e
os meios com que provará a falsidade. No entanto, depois de encerrada a
instrução, o incidente de falsidade correrá em apenso aos autos principais,
e, no tribunal, processar-se-á perante o relator.
Suscitado o incidente de falsidade, o juiz deve suspender o processo
principal (art. 394, do CPC) até que seja proferida sentença que decida o
incidente, declarando a falsidade ou a autenticidade do documento.
86
8.4.1.5 Prova testemunhal

Sempre que a lei não dispuser de modo contrário, a prova testemunhal é


sempre admissível (art. 400, do CPC). No entanto, o juiz deve indeferir a
inquirição de testemunhas sobre fatos:
a) já provados por documento ou confissão da parte;
b) que só por documento ou por exame pericial puderem ser provados.
Se em determinado litígio a prova for exclusivamente testemunhal, esta só
poderá ser admitida em discussões de contratos cujo valor não exceda o
décuplo (10x) do salário mínimo, ao tempo em que foram celebrados (art.
401, do CPC).
No entanto, qualquer que seja o valor do contrato, admite-se a prova
testemunhal quando:
a) houver começo de prova por escrito, reputando-se tal o documento
emanado da parte contra quem se pretende utilizar o documento como
prova;
b) o credor não pode ou não podia, moral ou materialmente, obter a
prova escrita da obrigação, em casos como o de parentesco, depósito
necessário ou hospedagem em hotel.
Todas as pessoas podem depor como testemunhas, exceto as incapazes,
as impedidas e as suspeitas.
A testemunha não está obrigada a depor sobre fatos:
a) que Ihe acarretem grave dano, bem como ao seu cônjuge e aos
seus parentes consanguíneos ou afins, em linha reta, ou na colateral em
segundo grau;
b) a cujo respeito, por estado ou profissão, deva guardar sigilo.
Fixada data para audiência, o juiz deve abrir prazo para que as partes
apresentem o rol de testemunhas. Se o juiz for omisso, o rol deve ser
apresentado em até 10 (dez) antes da audiência.
Cada parte pode oferecer, no máximo, 10 (dez) testemunhas. No entanto,
quando qualquer das partes oferecer mais de 3 (três) testemunhas para a
prova de cada fato, o juiz poderá dispensar as restantes (art. 407, parágrafo
único, do CPC).
Depois de apresentado o rol, a parte só pode substituir a testemunha:
a) que falecer;
b) que, por enfermidade, não estiver em condições de depor;
c) que, tendo mudado de residência, não for encontrada pelo oficial de
justiça.
Se o juiz da causa for arrolado como testemunha, ele deve:

87
a) declarar-se impedido, se tiver conhecimento de fatos que possam influir
na decisão; caso em que será defeso à parte, que o incluiu no rol, desistir
de seu depoimento;
b) se nada souber, mandar excluir o seu nome.
Via de regra, intimada a depor, a testemunha presta depoimento na
audiência de instrução, salvo se forem inquiridas antecipadamente, se forem
inquiridas por carta, ou se estiverem impossibilitadas de comparecer em
juízo por doença ou outro motivo relevante. Mas não apenas, pois segundo
o artigo 411, do Código de Processo Civil, são inquiridos em sua residência,
ou onde exercem a sua função:
a) o Presidente e o Vice-Presidente da República;
b) o presidente do Senado e o da Câmara dos Deputados;
c) os ministros de Estado;
d) os ministros do Supremo Tribunal Federal, do Superior Tribunal de
Justiça, do Superior Tribunal Militar, do Tribunal Superior Eleitoral, do
Tribunal Superior do Trabalho e do Tribunal de Contas da União; . e) o
procurador-geral da República;
f) os senadores e deputados federais;
g) os governadores dos Estados, dos Territórios e do Distrito Federal;
h) os deputados estaduais;
i) os desembargadores dos Tribunais de Justiça, os juízes dos Tribunais de
Alçada, os juízes dos Tribunais Regionais do Trabalho e dos Tribunais
Regionais Eleitorais e os conselheiros dos Tribunais de Contas dos
Estados e do Distrito Federal;
j) o embaixador de país que, por lei ou tratado, concede idêntica
prerrogativa ao agente diplomático do Brasil.
Presentes as testemunhas, o juiz fará as inquirições de forma
separada e sucessiva. Primeiro ouvirá as testemunhas do autor e depois as
do réu, providenciando que uma não ouça o depoimento das outras (art.
413, do CPC).
Antes de depor, a testemunha será qualificada, declarando o nome por
inteiro, a profissão, a residência e o estado civil, assim como se tem
relações de parentesco com a parte, ou interesse no objeto do processo (art.
414, do CPC).
É lícito à parte contraditar a testemunha, arguindo-lhe a incapacidade, o
impedimento ou a suspeição. Contudo, se a testemunha negar os fatos que
lhe são imputados, a parte que a contraditou pode provar o alegado com
documentos ou com testemunhas, até 3 (três), apresentadas no ato e
inquiridas em separado.

8.4.1.6 Prova pericial

A prova pericial consiste em exame, vistoria ou avaliação (art. 420, do


CPC).

88
Nomeado o perito pelo juiz, devem as partes, no prazo de 5 (cinco) dias,
contados da intimação do despacho de nomeação: a) indicar o assistente
técnico; e
b) apresentar quesitos.
Os assistentes técnicos são de confiança da parte, e não estão sujeitos a
impedimento ou suspeição.
Já o perito, diferentemente, pode ser recusado por impedimento ou por
suspeição (art. 423, do CPC).
Em se tratando de perícia complexa, que abranja mais de uma área de
conhecimento especializado, o juiz poderá nomear mais de um perito e a
parte indicar mais de um assistente técnico (art. 431-B, do CPC). O perito
deve apresentar o laudo em cartório, no prazo fixado pelo juiz, ao menos 20
(vinte) dias antes da audiência de instrução e julgamento (art. 433, do CPC).
Os assistentes técnicos devem oferecer seus pareceres no prazo comum de
10 (dez) dias, após intimadas as partes da apresentação do laudo pericial
(art. 433, parágrafo único, do CPC).
O juiz não fica adstrito ao laudo pericial, lhe sendo lícito formar sua
convicção com outros elementos ou fatos provados nos autos, conforme a
redação legal do artigo 436, do Código de Processo Civil.

8.4.1.7 Inspeção Judicial

O juiz, de ofício ou a requerimento da parte, pode, em qualquer fase do


processo, inspecionar pessoas ou coisas, a fim de se esclarecer sobre fato
que interesse à decisão da causa (art. 440, do CPC).
Ao realizar a inspeção direta, pode o juiz optar pela assistência de um ou
mais peritos (art. 441, do CPC).
O juiz irá ao local, onde se encontre a pessoa ou coisa, quando:
a) julgar necessário para a melhor verificação ou interpretação dos
fatos que deva observar;
b) a coisa não puder ser apresentada em juízo, sem consideráveis
despesas ou graves dificuldades;
c) determinar a reconstituição dos fatos.
É direito das partes assistir a inspeção, prestando esclarecimento e fazendo
observações que reputem de interesse para a causa (art. 442, parágrafo
único, do CPC).
Finda a diligência, o juiz deve mandar lavrar auto circunstanciado,
mencionado tudo quanto for útil ao julgamento da causa (art. 443, do CPC).

8.2.5 Audiência de instrução e julgamento

Ao iniciar a audiência de instrução e julgamento, o juiz deve fixar os pontos


controvertidos, sobre os quais incidirão as provas (art. 451, do CPC). A

89
produção das provas, na audiência de instrução e julgamento, observam a
seguinte ordem:
a) o perito e os assistentes técnicos responderão aos quesitos de
esclarecimentos, requeridos no prazo de 5 (cinco) dias anteriores à
audiência, na forma do art. 435 do Código de Processo Civil;
b) o juiz tomará os depoimentos pessoais, primeiro do autor e depois do
réu;
c) finalmente, serão inquiridas as testemunhas arroladas pelo autor e
pelo réu.
Admite-se que a audiência seja adiada:
a) por convenção das partes, caso em que só será admissível uma vez;
b) se não puderem comparecer, por motivo justificado, o perito, as
partes, as testemunhas ou os advogados.
Se o advogado não fizer prova da ocorrência de impedimento até a abertura
da audiência, o juiz procederá à instrução (art. 453, §1º, do CPC).
Finda a audiência, o juiz dará palavra ao advogado do autor e ao do réu,
bem como ao órgão do Ministério Público, sucessivamente, pelo prazo de 20
(vinte) minutos para cada um, prorrogável por 10 (dez), a critério do juiz (art.
454, do CPC).
Sempre que a causa apresentar questões complexas de fato ou de direito, o
debate oral poderá ser substituído por memoriais, caso em que o juiz deve
designar dia e hora para seu oferecimento (art. 455, do CPC). Encerrado o
debate ou oferecidos os memoriais, o juiz deve proferir sentença
imediatamente ou no prazo (impróprio) de 10 (dez) dias.

8.2.6 Sentença

Com a sentença, põe-se fim ao processo em 1ª (primeira) instância.


Segundo o artigo 458, do Código de Processo Civil, são requisitos da
sentença:
a) o relatório, que conterá os nomes das partes, a suma do pedido e da
resposta do réu, bem como o registro das principais ocorrências havidas no
andamento do processo;
b) os fundamentos, em que o juiz analisará as questões de fato e de
direito; e
c) o dispositivo, em que o juiz resolverá as questões, que as partes Ihe
submeterem.
Pois, quando não há interposição de recurso, a sentença transita em
julgado. Com isso, a decisão fica protegida pela coisa julgada, mas essa
proteção refere-se apenas ao dispositivo da sentença, não abrangendo o
relatório, nem os fundamentos da decisão.
90
Quando o juiz profere sentença, ele pode acolher ou rejeitar, total ou
parcialmente os pedidos formulados pelo autor. E, pode, também, sequer
analisá-los, caso em que estar-se-á diante das hipóteses de extinção do
processo sem resolução de mérito.
Quando a ação tenha por objeto o cumprimento de obrigação de fazer ou de
não fazer, o juiz deve conceder a tutela específica da obrigação ou, se
procedente o pedido, determinar as providências que assegurem o resultado
prático equivalente ao do adimplemento (art. 461, do CPC). Só há que se
falar em conversão em perdas e danos quando o autor o requerer ou
quando impossível a tutela específica ou a obtenção de resultado prático
equivalente.
É lícito ao juiz, nesses casos, fixar multa diária para o caso de
descumprimento da decisão (astreintes), ou determinar medidas como
busca e apreensão, remoção de pessoas e coisas, desfazimento de obras e
impedimento de atividade nociva, se necessário com requisição de força
policial.
Uma vez publicada a sentença, o juiz só pode alterá-la:
a) para Ihe corrigir, de ofício ou a requerimento da parte, inexatidões
materiais, ou Ihe retificar erros de cálculo; ou
b) por meio de embargos de declaração.

8.2.7 Coisa julgada

Como já salientado, é apenas a parte dispositiva da sentença que reveste-


se da proteção da coisa julgada, com o que torna-se indiscutível e imutável a
sentença.
Portanto, não fazem coisa julgada:
a) os motivos, ainda que importantes para determinar o alcance da parte
dispositiva da sentença;
b) a verdade dos fatos, estabelecida como fundamento da sentença;
c) a apreciação da questão prejudicial, decidida incidentemente no processo.
Em relação à questão prejudicial, nada impede, porém, que a parte requeira
seu julgamento em sentença incidente, com a exata finalidade de ver a
matéria ser acobertada pela coisa julgada, desde que o juiz seja competente
para tanto e que a matéria constitua pressuposto necessário para o
julgamento da lide (art. 470, do CPC).
A sentença faz coisa julgada apenas entre as partes, não beneficiando nem
prejudicando terceiros. Contudo, nas causas relativas ao estado de pessoa,
se houverem sido citados no processo, em litisconsórcio necessário, todos
os interessados, a sentença produzirá coisa julgada em relação a terceiros.
Proferida sentença contra determinados entes, ela sujeita-se,
obrigatoriamente, a um reexame pela instância superior, não produzindo
efeito senão depois de confirmada pelo tribunal. Trata-se, pois, do reexame
necessário, ao qual sujeita-se a sentença:

91
a) proferida contra a União, o Estado, o Distrito Federal, o Município, e
as respectivas autarquias e fundações de direito público; ou
b) que julgar procedentes, no todo ou em parte, os embargos à
execução de dívida ativa da Fazenda Pública.
A exigência legal do reexame necessário faz com que os autos sejam
remetidos à 2ª (segunda) instância, haja ou não apelação. E se o juiz não
remeter os autos de ofício, o presidente do tribunal pode avocá-los (art. 475,
§1º, do CPC).
No entanto, não há que se falar em reexame necessário se a condenação
ou o direito controvertido for de valor certo e não excedente a 60 (sessenta)
salários mínimos, assim como no caso de procedência dos embargos do
devedor da execução de dívida ativa do mesmo valor (art. 475, §2º, do
CPC).
Por derradeiro, também não se sujeita ao reexame necessário a sentença
proferida com fundamento em jurisprudência do plenário do Supremo
Tribunal Federal ou em súmula deste Tribunal ou do tribunal superior
competente (art. 475, §3º, do CPC).

8.2.8 Liquidação de sentença

Sempre que a sentença não determine o exato valor devido por uma parte à
outra, será necessário proceder à sua liquidação. A sentença, ainda ilíquida,
constitui título executivo judicial, sendo que a liquidação é pressuposto de
seu cumprimento.
O procedimento de liquidação, atualmente, sofreu grandes modificações.
Tais modificações adequaram a liquidação à necessidade de um processo
sincrético.
O processo sincrético é aquele em que, proferida sentença, não é mais
necessário ao autor dar início a novo processo (de execução) para ver
concretizado seu direito. Com as alterações recentes do Código de
Processo Civil, após a prolação de sentença, sua liquidação segue como
mera fase processual, donde o cumprimento de sentença substituiu a
necessidade de ajuizamento de nova ação, conferindo celeridade e
economia ao processo civil.
Requerida a liquidação, a parte será intimada na pessoa de seu advogado
(art. 475-A, §1º, do CPC), e não mais citada, como anteriormente. Como se
percebe, antes havia o início de nova marcha processual, diferente do que
se verifica atualmente, onde há mero prosseguimento do trâmite processual
até que se obtenha a completa satisfação do direito.
Quando o juiz profere sentença, ele determina o an debeatur, isto é,
determina o que é pedido. Por exemplo, em uma ação ressarcitória por
acidente de veículo, quando o juiz determina que é devida reparação civil
por danos materiais e por danos morais, ele nada mais está a fazer do que
julgar o que é devido.
Mas o an debeatur não é suficiente à satisfação do direito do autor, que
precisa determinar, ainda, o quantum debeatur, isto é, o quanto lhe é devido
92
a título de indenização pelos danos material e moral que sofreu. A liquidação
de sentença, assim, pode ser traduzida como uma fase processual
destinada à apuração desse quantum.
Nada obsta que a liquidação seja requerida na pendência de recurso,
hipótese em que será processada em autos apartados, no juízo de origem,
cumprindo ao liquidante instruir o pedido com cópias das peças processuais
pertinentes.
A liquidação de sentença pode ser feita por 3 (três) modalidades:
a) liquidação por artigos;
b) liquidação por cálculo da parte; e
c) liquidação por arbitramento.
A liquidação por artigos é necessária quando para determinar o valor da
condenação haja necessidade de alegar e provar fato novo, relacionado ao
quantum debeatur, naturalmente. Em relação ao an debeatur, não há mais o
que ser provado, pois a fase de conhecimento era a pertinente para tanto.
Conforme dispõe o artigo 475-G, do Código de Processo Civil, é proibido, na
liquidação, discutir de novo a lide ou modificar a sentença que a julgou.
A liquidação por cálculo da parte, como é sugestiva a expressão, é aquela
passível de ser realizada pela própria parte. Contudo, não é necessária a
liquidação de sentença quando o valor da condenação depender apenas de
cálculo aritmético, conforme orientação dada pelo artigo 475-B, caput, do
Código de Processo Civil.
Já a liquidação por arbitramento é aquela feita quando há necessidade de
apuração do valor de um bem ou serviço. Dispõe o artigo 475-C, do Código
de Processo Civil, que far-se-á a liquidação por arbitramento quando:
a) determinado pela sentença ou convencionado pelas partes; ou
b) o exigir a natureza do objeto da liquidação.
Requerida a liquidação por arbitramento, o juiz deve nomear perito e
fixar prazo para a entrega do laudo.
Por derradeiro, demonstrando que realmente a liquidação de sentença
reflete mera fase processual, dispõe o artigo 475-H, do Código de Processo
Civil, que da decisão de liquidação cabe agravo de instrumento. Portanto, a
decisão de liquidação é mera decisão interlocutória, e não mais sentença,
como no passado.

9. CUMPRIMENTO DE SENTENÇA

Como salientado, o processo civil passou por recentes alterações, o que lhe
conferiu celeridade e economia.
Com o cumprimento de sentença, o autor pode obter a entrega de seu
direito como mera fase processual, desenrolada após a sentença e, se
necessário, após a liquidação, sem que se fale na necessidade de
ajuizamento de um novo processo (executório).

93
Sempre que se fale em título executivo judicial, impositivo da obrigação de
dar dinheiro, é possível falar em cumprimento de sentença, salvo no caso de
execução:
a) de alimentos (quanto ao direito de família);
b) de título extrajudiciais;
c) de sentença arbitral;
d) de sentença penal condenatória; e
e) de sentença contra a Fazenda Pública.
Se a sentença não for impugnada e transitar em julgado, a sua execução
será definitiva. No entanto, se interposto recurso, a sua execução será
provisória, desde que ao recurso não se concede efeito suspensivo.
É possível que se faça o cumprimento de sentença que tenha uma parte
líquida e outra ilíquida. Nesse caso, o credor pode promover a execução da
parte líquida e, em autos apartados, a liquidação da parte ilíquida (art. 475-I,
§2º, do CPC).
Feita em sentença a condenação ao pagamento de quantia certa, ou obtida
esta em liquidação, o devedor tem 15 (quinze) dias para efetuar seu
pagamento, ou ao montante da condenação será acrescida multa de 10%
(dez por cento), além da expedição de mandado de penhora e avaliação,
para constrição dos bens do devedor, destinados à satisfação do débito.
Nesse caso, ao credor é dada a faculdade de indicar quais bens pretende
penhorar, conforme dispõe o artigo 475-J, parágrafo terceiro, do Código de
Processo Civil.
Caso o pagamento da quantia indicada em sentença ou após liquidação
seja feita de forma parcial, a multa de 10% (dez por cento), acima
mencionada, incidirá apenas sobre o montante não pago.
Quando o oficial de justiça não tiver condições de proceder à avaliação do
bem, o juiz pode, imediatamente, nomear avaliador, assinandolhe breve
prazo para entrega do laudo.
Feita a penhora e a avaliação, o executado deve ser imediatamente
intimado, na pessoa de seu advogado, ou, na falta deste, o seu
representante legal, ou pessoalmente, por mandado ou pelo correio,
sendolhe facultado o oferecimento de impugnação, no prazo de 15 (quinze)
dias. Portanto, como se vê, o executado só é intimado para oferecer
impugnação após a feitura da penhora e avaliação.
A impugnação, no cumprimento de sentença, é análoga aos embargos do
devedor, no processo de execução. Entretanto, diferentemente dos
embargos, que tem natureza de ação autônoma, a impugnação tem
natureza de mero incidente processual. Tanto que a decisão que resolve a
impugnação, via de regra, tem natureza interlocutória, recorrível mediante
agravo de instrumento, salvo quando importar extinção da execução, caso
em que caberá apelação.
Outra importante diferença entre a impugnação e os embargos, é que no
primeiro apenas algumas matérias podem ser discutidas, diferentemente do
último, que tem cognição ampla.

94
Dispõe o artigo 475-L, do Código de Processo Civil, que a impugnação
somente pode versar sobre:
a) falta ou nulidade da citação, se o processo correu à revelia;
b) inexigibilidade do título;
c) penhora incorreta ou avaliação errônea;
d) ilegitimidade das partes;
e) excesso de execução;
f) qualquer causa impeditiva, modificativa ou extintiva da obrigação, como
pagamento, novação, compensação, transação ou prescrição, desde que
superveniente à sentença.
Conforme orientação do parágrafo segundo, do mencionado artigo,
considera-se inexigível o título judicial fundado em lei ou ato normativo
declarados inconstitucionais pelo Supremo Tribunal Federal, ou fundado em
aplicação ou interpretação de lei ou ato normativo tidas pelo Supremo
Tribunal Federal como incompatíveis com a Constituição Federal. Nos
casos em que o executado alegar excesso de execução, ele deve declarar
imediatamente o valor que entende correto, sob pena de rejeição liminar da
impugnação (art. 475-L, §2º, do CPC).
Apresentada impugnação, esta não tem efeito suspensivo, mas o juiz pode
lhe atribuir esse efeito quando forem relevantes seus fundamentos e o
prosseguimento da execução seja manifestamente suscetível de causar ao
executado grave dano de difícil ou incerta reparação (art. 475-M, do CPC).
Mesmo que atribuído efeito suspensivo à impugnação ao cumprimento de
sentença, é lícito ao exequente requerer o prosseguimento da execução,
desde que ofereça e preste caução suficiente e idônea, arbitrada pelo juiz e
prestada nos próprios autos (art. 475-M, §1º, do CPC). Deferido o efeito
suspensivo, a impugnação será instruída e decidida nos próprios autos e,
caso contrário, em autos apartados.
No caso de execução provisória da sentença, observar-se-á o mesmo modo
da execução definitiva, mas observadas as seguintes normas:
a) corre por iniciativa, conta e responsabilidade do exequente, que se
obriga, se a sentença for reformada, a reparar os danos que o executado
haja sofrido;
b) fica sem efeito, sobrevindo acórdão que modifique ou anule a sentença
objeto da execução, restituindo-se as partes ao estado anterior e
liquidados eventuais prejuízos nos mesmos autos, por arbitramento;
c) o levantamento de depósito em dinheiro e a prática de atos que importem
alienação de propriedade ou dos quais possa resultar grave dano ao
executado dependem de caução suficiente e idônea, arbitrada de plano
pelo juiz e prestada nos próprios autos.
Dispensa-se a caução, contudo,
a) quando, nos casos de crédito de natureza alimentar ou decorrente de
ato ilícito, até o limite de 60 (sessenta) vezes o valor do salário mínimo, o
exequente demonstrar situação de necessidade; e

95
b) nos casos de execução provisória em que penda agravo de
instrumento junto ao Supremo Tribunal Federal ou ao Superior Tribunal de
Justiça (art. 544), salvo quando da dispensa possa manifestamente resultar
risco de grave dano, de difícil ou incerta reparação. O cumprimento de
sentença efetua-se perante:
a) os tribunais, nas causas de sua competência originária;
b) o juízo que processou a causa no primeiro grau de jurisdição;
c) o juízo cível competente, quando se tratar de sentença penal
condenatória, de sentença arbitral ou de sentença estrangeira.
No caso de cumprimento de sentença no primeiro grau de jurisdição, pode o
exequente optar pelo juízo do local onde se encontram os bens sujeitos à
expropriação ou pelo do atual domicílio do executado, casos em que a
remessa dos autos do processo deve ser solicitada ao juízo de origem (art.
475-P, parágrafo único, do CPC).
Segundo a redação legal do artigo 475-Q, do Código de Processo Civil,
quando a indenização por ato ilícito incluir prestação de alimentos, o juiz,
quanto a esta parte, poderá ordenar ao devedor constituição de capital, cuja
renda assegure o pagamento do valor mensal da pensão. Constituído o
capital, representado este por imóveis, títulos da dívida pública ou
aplicações financeiras em banco oficial, torna-se inalienável e impenhorável
enquanto durar a obrigação do devedor.
A constituição de renda pode ser substituída pela inclusão do beneficiário
da prestação em folha de pagamento de entidade de direito público ou de
empresa de direito privado de notória capacidade econômica, ou, a
requerimento do devedor, por fiança bancária ou garantia real, em valor a
ser arbitrado imediatamente pelo juiz (art. 475-Q, §2º, do CPC). Mediante
alteração nas condições econômicas, pode a parte requerer, a redução ou o
aumento da prestação (art. 475-Q, §3º, do CPC).

10. RECURSOS

Os recursos são instrumentos processuais destinados a submeter uma


decisão judicial a uma nova análise, pelo mesmo ou por órgão diverso
daquele que a proferiu. A finalidade dos recursos é reformar, invalidar,
esclarecer, integrar ou complementar a decisão recorrida. Quanto às
espécies recursais, são as seguintes: a) apelação;
b) agravo;
c) embargos infringentes;
d) embargos de declaração;
e) recurso ordinário;
f) recurso especial;
g) recurso extraordinário;
h) embargos de divergência em recurso especial e em recurso
extraordinário.
96
Na sequência serão examinados aqueles com maior incidência no exame
da OAB e em concursos públicos.
Antes, no entanto, cumpre analisar os efeitos dos recursos, quais
sejam:
a) efeito devolutivo, que está presente em todos os recursos. Segundo
esse efeito, se devolve à instância ad quem a matéria nos limites em que
recorrida.
b) efeito suspensivo, que impede que a decisão recorrida (a quo)
produza efeitos até que seja julgada pela instância ad quem.
c) efeito translativo, que permite ao tribunal conhecer de matérias de
ordem pública, ainda que não alegadas pelo recorrente.
d) efeito expansivo subjetivo, que traduz a possibilidade do julgamento
do recurso atingir a outras partes, que não apenas o recorrente, como no
caso em que apenas um litisconsorte interpõe recurso, mas todos são
beneficiados pela decisão.
e) efeito regressivo, que é a faculdade presente em alguns recursos, de
permitir que a instância a quo efetue um juízo de retratação, antes de
encaminhar o recurso à instância ad quem.
Cumpre esclarecer, que órgão a quo é a instância recorrida (no caso da
apelação, é o juiz de primeira instância), enquanto que órgão ad quem é a
instância que julgará o recurso (no caso da apelação, é o Tribunal de
Justiça).
Ponto comum à todos os recursos são os requisitos de
admissibilidade, que se não estiverem presentes impedem o conhecimento
da matéria recursal. Assim, são requisitos:
a) a legitimidade, conferida à parte vencida, ao terceiro prejudicado e ao
Ministério Público, tenha este atuado no processo como parte ou como
fiscal da lei.
b) o interesse recursal, pertencente apenas à parte que sofreu alguma
perda com a decisão recorrida, salvo no caso do Ministério Público.
c) a regularidade formal, observada sob pena de não conhecimento do
recurso. O agravo de instrumento, por exemplo, é um dos recursos mais
criteriosos quanto à forma, que deve ser rigorosamente observada.
d) a tempestividade, que é a interposição do recurso dentro do prazo
previsto em lei. Os prazos para cada modalidade recursal exigem
memorização do aluno, pois são objeto de frequente questionamento em
concursos públicos. Deve-se recordar, ainda, que o prazo para o
Ministério Público e para a Fazenda Pública conta-se em dobro, assim
como no caso de litisconsortes com procuradores diferentes, em que a
decisão tenha sido desfavorável a ambos, e no caso dos necessitados
(pobres) representados por defensores dativos, da Lei n.º 1.060/50; e
e) o preparo, que é o recolhimento das custas, de modo a viabilizar a
interposição do recurso. No entanto, nem todos os recursos exigem o
recolhimento do preparo.

97
Feitas as considerações iniciais, passa-se a análise das principais espécies
recursais.

10.1 Apelação

Apelação é o recurso pertinente contra sentença, tenha esta extinto o


processo com ou sem resolução de mérito.
O recurso de apelação é dividido em duas peças, uma de interposição,
dirigida ao juiz da causa, e outra com as razões recursais, dirigida ao
tribunal.
O artigo 515, do Código de Processo Civil, consagra o efeito devolutivo,
incidente sobre a apelação. Segundo ele, a apelação devolve ao tribunal o
conhecimento da matéria impugnada. No entanto, podem ser objeto de
apreciação e julgamento pelo tribunal todas as questões suscitadas e
discutidas no processo, ainda que a sentença não as tenha julgado por
inteiro (art. 515, §1º, do CPC).
Se o pedido ou a defesa tiver mais de um fundamento e o juiz acolher
apenas um deles, a apelação devolverá ao tribunal o conhecimento dos
demais (art. 515, §2º, do CPC).
Quando seja interposta apelação de sentença que extinguiu o
processo sem resolução de mérito, é lícito ao tribunal, anulando a sentença,
julgar desde logo a lide, se a causa versar questão exclusivamente de direito
e estiver em condições de imediato julgamento (art. 515, §3º, do CPC). As
questões de fato que não tenham sito propostas no juízo a quo só poderão
ser suscitadas perante o ad quem, se a parte provar que deixou de fazê-lo
por motivo de força maior (art. 517, do CPC).
Via de regra, a apelação é recebida no duplo efeito, ou seja, no devolutivo e
no suspensivo. No entanto, será recebida apenas no efeito devolutivo,
quando interposta de sentença que: a) homologar a divisão ou a
demarcação;
b) condenar à prestação de alimentos;
c) decidir o processo cautelar;
d) rejeitar liminarmente embargos à execução ou julgá-los improcedentes;
e) julgar procedente o pedido de instituição de arbitragem.
f) confirmar a antecipação dos efeitos da tutela.
Recebida apenas no efeito devolutivo, o autor pode promover a execução
provisória da sentença.
Importante alteração do Código de Processo Civil, por meio da Lei n.º
11.276/06, foi a redação do parágrafo primeiro, do artigo 518, que concede
ao juiz a possibilidade de não receber a apelação quando a sentença tenha
sido prolatada em conformidade com súmula do Superior Tribunal de Justiça
ou do Supremo Tribunal Federal. Nesse caso, apresentada resposta, é
facultado ao juiz, em 5 (cinco) dias, reexaminar os pressupostos de
admissibilidade do recurso.

98
Quando a parte provar a ocorrência de justo impedimento, pode o juiz
relevar a pena de deserção e fixar-lhe prazo para que efetue o preparo,
decisão esta da qual não cabe recurso (art. 519, do CPC).
E, cumpre ainda salientar, havendo sucumbência recíproca e sendo
proposta apelação por uma parte, será cabível a interposição de recurso
adesivo pela outra parte, no prazo para contrarrazões.

10.2 Agravo

O agravo é o recurso pertinente para impugnação das decisões


interlocutórias. O prazo para sua interposição é de 10 (dez) dias e, via de
regra, deve ser interposto sob a forma retida. Será de instrumento, contudo,
quando a decisão interlocutória for suscetível de causar à parte lesão grave
e de difícil reparação, assim como nos casos de inadmissão da apelação e
nos relativos aos efeitos em que esta é recebida.
No caso do agravo retido, não é necessário preparo, diferentemente do
agravo de instrumento.
Interposto sob a forma retida, o agravo fica retido nos autos, e só chega ao
conhecimento do tribunal se for reiterado, preliminarmente, nas razões de
apelação. Se não houver requerimento expresso da parte, para sua
apreciação pelo Tribunal, o mesmo não será conhecido.
Interposto o agravo, e ouvido o agravado no prazo de 10 (dez) dias, o juiz
poderá reformar sua decisão (art. 523, §2º, do CPC).
Proferida decisão interlocutória em audiência de instrução e julgamento,
cabe agravo retido, que deve ser interposto de forma oral e imediata, bem
como constar do respectivo termo, nele expostas resumidamente as razões
do agravante (art. 523, §3º, do CPC).
Já o agravo de instrumento, não fica retido nos autos, mas é dirigido
diretamente ao tribunal competente, através petição com os seguintes
requisitos:
a) exposição do fato e do direito;
b) as razões do pedido de reforma da decisão;
c) o nome e o endereço completo dos advogados, constantes do processo.
A petição do agravo de instrumento deve ser instruída:
a) obrigatoriamente, com cópias da decisão agravada, da certidão da
respectiva intimação e das procurações outorgadas aos advogados do
agravante e do agravado; e
b) facultativamente, com outras peças que o agravante entender úteis.
O comprovante de pagamento das respectivas custas e, se for o caso, de
porte de retorno, deve acompanhar a petição (art. 525, §1º, do CPC).
Interposto perante o tribunal, o agravante tem o prazo de 3 (três) dias para
requerer a juntada, aos autos do processo, de cópia da petição do agravo de
instrumento e do comprovante de sua interposição, assim como a relação

99
dos documentos que instruíram o recurso, sob pena de inadmissibilidade do
recurso.
Recebido o agravo de instrumento, o relator pode:
a) negar-lhe seguimento, liminarmente, no caso de ser manifestamente
inadmissível, improcedente, prejudicado ou de estar em confronto com
súmula ou com jurisprudência dominante do respectivo tribunal, do Supremo
Tribunal Federal, ou de Tribunal Superior.
b) converter o agravo de instrumento em agravo retido, salvo quando se
tratar de decisão suscetível de causar à parte lesão grave e de difícil
reparação, bem como nos casos de inadmissão da apelação e nos relativos
aos efeitos em que a apelação é recebida, caso em que mandará remeter os
autos ao juiz da causa;
c) atribuir efeito suspensivo ao recurso, ou deferir, em antecipação de
tutela, total ou parcialmente, a pretensão recursal, comunicando ao juiz sua
decisão;
d) requisitar informações ao juiz da causa, que as prestará no prazo de
10 (dez) dias;
e) mandar intimar o agravado e, na mesma oportunidade, por ofício
dirigido ao seu advogado, sob registro e com aviso de recebimento, para
que responda no prazo de 10 (dez) dias; e
f) ultimas as providências, se for o caso, mandará ouvir o Ministério
Público, para que se pronuncie no prazo de 10 (dez) dias.
Caso o juiz a quo reforme inteiramente a decisão interlocutória recorrida, o
relator deve considera prejudicado o agravo (art. 529, do CPC).

10.3 Embargos infringentes

A situação dos embargos infringentes é específica. Eles são cabíveis


quando o acordão não unânime houver reformado, em grau de apelação, a
sentença de mérito, ou houver julgado procedente ação rescisória. E, se o
desacordo for parcial, os embargos serão restritos à matéria objeto da
divergência (art. 530, do CPC).
Portanto, se o tribunal decidir de forma não unânime, em apelação, para
reforma da sentença a quo, os embargos infringentes devem ser manejados
para tentar fazer prevalecer o voto vencido sobre o vencedor, pois é
interesse do recorrente que seja mantida a decisão a quo.
Outra situação diz respeito ao julgamento, também não unânime, pela
procedência da ação rescisória. Como se sabe, a ação rescisória é proposta
no tribunal e, se procedente, altera a decisão proferida no processo
originário. Logo, o objetivo dos embargos infringentes, novamente, é dar
prevalência ao voto vencido sobre o vencedor.
O prazo para interposição dos embargos infringentes é de 15 (quinze)
dias.

100
Uma vez interpostos, abrir-se-á vista ao recorrido para que apresente
contrarrazões. Na sequência, o relator do acórdão embargado apreciará a
admissibilidade do recurso (art. 531, do CPC).
Da decisão que não admite os embargos infringentes cabe agravo, no prazo
de 5 (cinco) dias, para o órgão competente para o julgamento do recurso.
Esse agravo é chamado de agravo interno.

10.4 Embargos de declaração

Não é objeto do presente estudo a discussão se os embargos de


declaração constituem ou não um recurso. Fato é que eles destinam-se a
afastar:
a) omissão;
b) obscuridade; ou
c) contradição.
Presente qualquer um desses defeitos em uma decisão judicial, ela é
passível de embargos de declaração. Os embargos são julgados pelo
próprio juiz que proferiu a decisão, e não por instância superior.
O prazo para interposição dos embargos de declaração é de 5 (cinco) dias,
e eles não estão sujeitos a preparo.
Interpostos os embargos, eles interrompem o prazo para a interposição de
outros recursos, por qualquer das partes.
Quando manifestamente protelatórios os embargos, o juiz ou o tribunal,
declarando que o são, deve condenar o embargante a pagar ao embargado
multa não excedente a 1% (um por cento) sobre o valor da causa. Na
reiteração de embargos protelatórios, a multa deve ser elevada a até 10%
(dez por cento), ficando condicionada a interposição de qualquer outro
recurso ao depósito do valor respectivo (art. 538, parágrafo único, do CPC).

10.5 Recursos especial e extraordinário

Os recursos especial e extraordinário são conhecidos como recursos


extremos. O primeiro é dirigido ao Superior Tribunal de Justiça, e o segundo
ao Supremo Tribunal Federal.
Ambos devem ser interpostos perante o presidente ou vice-presidente do
tribunal recorrido, em petições distintas. Se os dois forem cabíveis, devem
ser interpostos simultaneamente. Primeiro será julgado o especial, e, apenas
depois o extraordinário, isso se não estiver prejudicado.
O prazo para interposição de ambos os recursos é de 15 (quinze) dias, e
ambos são recebidos apenas no efeito devolutivo.

101
É cabível o recurso especial nas causas decididas, em única ou última
instância, pelos Tribunais Regionais Federais ou pelos tribunais dos
Estados, do Distrito Federal e Territórios, quando a decisão recorrida: a)
contrariar tratado ou lei federal, ou negar-lhes vigência;
b) julgar válido ato de governo local contestado em face de lei federal; ou
c) der a lei federal interpretação divergente da que lhe haja atribuído
outro tribunal.
Já o recurso extraordinário é cabível nas causas decididas em única ou
última instância, quando a decisão recorrida:
a) contrariar dispositivo desta Constituição;
b) declarar a inconstitucionalidade de tratado ou lei federal;
c) julgar válida lei ou ato de governo local contestado em face desta
Constituição; ou
d) julgar válida lei local contestada em face de lei federal.
Recebida a petição do recurso, o recorrido será intimado para que ofereça
contrarrazões.
Admite-se, também, a interposição de recurso especial ou extraordinário de
decisões interlocutórias, proferidas em processo de conhecimento, cautelar,
ou embargos à execução, caso em que ele ficará retido nos autos e somente
será processado se o reiterar a parte, no prazo para a interposição do
recurso contra a decisão final, ou para as contrarrazões.
Para que se fale em recurso especial ou extraordinário, é fundamental que
se faça presente o requisito do prequestionamento, que indica que o tema
recorrido já foi abordado e decidido pela instância recorrida. Sem o
prequestionamento, não serão admitidos os recursos especial e
extraordinário.
Mas não apenas, pois no caso do recurso extraordinário, o Supremo
Tribunal Federal exige que a questão constitucional nele versada possua
repercussão geral. A repercussão geral é a existência de questões
relevantes do ponto de vista econômico, político, social ou jurídico, que
ultrapassem os meros interesses subjetivos da causa (art. 543-A, §1º, do
CPC). Também considera-se que há repercussão geral sempre que o
recurso impugnar decisão contrária a súmula ou jurisprudência dominante
do Tribunal (art. 543-A, §3º, do CPC).
A demonstração de repercussão geral deve ser feita em preliminar de
recurso extraordinário, sob pena de não conhecimento do mesmo. Se a
Turma decidir pela existência da repercussão geral por, no mínimo, 4
(quatro) votos, fica dispensada a remessa do recurso ao Plenário (art. 543-
A, §4º, do CPC).
Negada a existência da repercussão geral, a decisão valerá para todos os
recursos sobre matéria idêntica, que serão indeferidos liminarmente, salvo
revisão da tese (art. 543-A, §5º, do CPC).
Se houver multiplicidade de recursos com fundamento em idêntica
controvérsia, a análise de repercussão geral será feita mediante a seleção
de um ou mais recursos que representem a controvérsia, caso em que serão
102
encaminhados ao Supremo Tribunal Federal, que sobrestará os demais até
o pronunciamento definitivo da Corte (art. 543-B, §1º, do CPC).
Nesse caso, se for negada a existência de repercussão geral, os recursos
sobrestados considerar-se-ão automaticamente não admitidos (art. 543-B,
§2º, do CPC). Em contrapartida, julgado o mérito do recurso extraordinário,
os recursos sobrestados serão apreciados pelos Tribunais, Turmas de
Uniformização ou Turmas Recursais, que poderão declará-los prejudicados
ou retratar-se (art. 543-B, §3º, do CPC).
Não admitido o recurso especial ou o extraordinário, cabe agravo de
instrumento, no prazo de 10 (dez) dias, para o Superior Tribunal de Justiça
ou para o Supremo Tribunal Federal, conforme o caso (art. 544, caput, do
CPC). Esse agravo deve ser instruído com as peças apresentadas pelas
partes, devendo constar obrigatoriamente, sob pena de não conhecimento:
a) cópias do acórdão recorrido;
b) da certidão da respectiva intimação;
c) da petição de interposição do recurso denegado;
d) das contrarrazões;
e) da decisão agravada;
f) da certidão da respectiva intimação; e
g) das procurações outorgadas aos advogados do agravante e do agravado.
As cópias das peças do processo poderão ser declaradas autênticas
pelo próprio advogado, sob sua responsabilidade pessoal (art. 544, §1º, do
CPC).
Esse agravo de instrumento, interposto de decisão denegatória de recurso
especial ou extraordinário, independe de preparo e do pagamento de
despesas postais.

11. AÇÃO RESCISÓRIA

A ação rescisória destina-se a desconstituir decisão já transitada em


julgado. É hipótese excepcional, mas que em função da relevância, admite a
mitigação do princípio da segurança jurídica, que resguarda a coisa julgada.
A sentença de mérito, transitada em julgado, pode ser rescindida quando:
a) se verificar que foi dada por prevaricação, concussão ou corrupção do
juiz;
b) proferida por juiz impedido ou absolutamente incompetente;
c) resultar de dolo da parte vencedora em detrimento da parte
vencida, ou de colusão entre as partes, a fim de fraudar a lei;
d) ofender a coisa julgada;
e) violar literal disposição de lei;
f) se fundar em prova, cuja falsidade tenha sido apurada em processo
criminal ou seja provada na própria ação rescisória;
g) depois da sentença, o autor obtiver documento novo, cuja existência
ignorava, ou de que não pôde fazer uso, capaz, por si só, de Ihe
assegurar pronunciamento favorável;
103
h) houver fundamento para invalidar confissão, desistência ou transação, em
que se baseou a sentença;
i) fundada em erro de fato, resultante de atos ou de documentos da causa.
São legitimados à propositura da ação rescisória:
I - quem foi parte no processo ou o seu sucessor a título universal ou
singular;
II - o terceiro juridicamente interessado;
III - o Ministério Público:
a) se não foi ouvido no processo, em que Ihe era obrigatória a
intervenção;
b) quando a sentença é o efeito de colusão das partes, a fim de
fraudar a lei.
A petição inicial da ação rescisória, além dos requisitos genéricos do artigo
282, do Código de Processo Civil, deve:
a) cumular ao pedido de rescisão, se for o caso, o de novo julgamento
da causa;
b) depositar a importância de 5% (cinco por cento) sobre o valor da
causa, a título de multa, caso a ação seja, por unanimidade de votos,
declarada inadmissível, ou improcedente, o que não se aplica para a União,
Estados, Municípios e Ministério Público.
Se não realizado o depósito mencionado, a inicial deve ser indeferida. O
ajuizamento da ação rescisória não impede o cumprimento da sentença ou
acórdão rescindendo, ressalvada a concessão, caso imprescindíveis e sob
os pressupostos previstos em lei, de medidas de natureza cautelar ou
antecipatória da tutela (art. 489, do CPC).
Recebida a inicial, o relator deve mandar citar o réu, assinando-lhe prazo
nunca inferior a 15 (quinze) dias nem superior a 30 (trinta) para responder
aos termos da ação.
A ação rescisória deve ser proposta no tribunal, logo, se houver a
necessidade de produção de provas, o relator delegará essa competência
ao juiz de direito da comarca onde ela deva ser produzida, fixando prazo de
45 (quarenta e cinco) a 90 (noventa) dias para a devolução dos autos (art.
492, do CPC).
Julgando procedente a ação, o tribunal rescindirá a sentença, proferirá, se
for o caso, novo julgamento e determinará a restituição do depósito. No
entanto, declarando inadmissível ou improcedente a ação, a importância do
depósito será revertida em benefício do réu, sem prejuízo da condenação
nas custas e honorários advocatícios (art. 494, do CPC). A ação rescisória é
admitida ainda que não se tenham esgotado todos os recursos contra a
sentença transitada em julgado.
Por derradeiro, a teor da disposição do artigo 495, do Código de Processo
Civil, o direito de propor ação rescisória se extingue (decai) em 2 (dois)
anos, contados do trânsito em julgado da decisão.

104
12. PROCESSO DE EXECUÇÃO

O processo de execução possui finalidade específica, pois destina-se


exclusivamente a constringir o devedor a efetuar o pagamento de uma
dívida ao credor. Diferentemente do processo de conhecimento, que tem
ampla possibilidade cognitiva, o processo executivo é direto, com escassa
possibilidade cognitiva e limitada possibilidade para o exercício do
contraditório.
Depois das recentes alterações no Código de Processo Civil, ficou reduzida
a possibilidade de ajuizamento do processo de execução, já que a maioria
das condutas executivas pode ser tomada com o procedimento de
cumprimento de sentença, isso sem mencionar a satisfação de direitos pela
efetivação, conforme artigo 461, do Código de Processo Civil, destinada às
obrigações de fazer e não-fazer.
No entanto, ainda é necessário o ajuizamento de processo autônomo em
relação à execução de:
a) de alimentos, quanto ao direito de família;
b) de título extrajudiciais;
c) de sentença arbitral;
d) de sentença penal condenatória; e
e) de sentença contra a Fazenda Pública.
Podem propor a ação de execução (sujeitos ativos), segundo o artigo 566,
do Código de Processo Civil:
a) o credor a quem a lei confere título executivo; e
b) o Ministério Público, nos casos prescritos em lei.
E, também recebem autorização legal para promover a execução, ou nela
prosseguir:
a) o espólio, os herdeiros ou os sucessores do credor, sempre que, por
morte deste, Ihes for transmitido o direito resultante do título executivo;
b) o cessionário, quando o direito resultante do título executivo Ihe foi
transferido por ato entre vivos;
c) o sub-rogado, nos casos de sub-rogação legal ou convencional.
Em contrapartida, são sujeitos passivos na execução:
a) o devedor, reconhecido como tal no título executivo;
b) o espólio, os herdeiros ou os sucessores do devedor;
c) o novo devedor, que assumiu, com o consentimento do credor, a
obrigação resultante do título executivo;
d) o fiador judicial;
e) o responsável tributário, assim definido na legislação própria.
Quando o credor tenha vários débitos em relação ao mesmo devedor, é
lícito que cumule várias execuções, ainda que fundadas em títulos

105
diferentes, desde que para todas elas seja competente o juiz e idêntica a
forma do processo (art. 573, do CPC).

12.1 Requisitos para realização de qualquer execução

Para que se fale em processo de execução, é indispensável que este seja


ajuizado com respaldo em um título executivo, o qual deve consagrar uma
obrigação: a) certa;
b) líquida; e
c) exigível.
Obrigação certa é aquela que indica no respectivo título, com exatidão, o
que é devido, isto é, o an debeatur. É certo o título que identifica a obrigação
que lhe deu origem, bem como a sua natureza, espécie e sujeitos.
Obrigação líquida é aquela que indica no respectivo título, o quanto é
devido, isto é, o quantum debeatur. É líquido o título que identifica o valor ou
a quantidade de bens que devem ser entregues para satisfação da dívida.
Obrigação exigível é aquela que esteja vencida, ou, em se tratando de
obrigação condicional, aquela em que a condição ou o termo já tenha se
verificado.
Em todos os casos em que é proibido a um contraente, antes de cumprida a
sua obrigação, exigir o implemento da do outro, não se procederá à
execução, se o devedor se propuser a satisfazer a prestação, com meios
considerados idôneos pelo juiz, mediante a execução da contraprestação
pelo credor, e este, sem justo motivo, recusar a oferta (art. 582, caput, do
CPC). Entretanto, o devedor pode se exonerar da obrigação, depositando
em juízo a prestação ou a coisa, caso em que o juiz deve suspender a
execução e não permitir que o credor a receba sem cumprir a
contraprestação que lhe tocar (art. 582, parágrafo único, do CPC).

12.2 Título executivo

Como se teve a oportunidade de mencionar, após a recente reforma do


Código de Processo Civil, os títulos executivos com aptidão a dar ensejo ao
processo autônomo de execução foram restringidos.
Hoje, a principal utilização do processo autônomo destina-se à execução
dos títulos extrajudiciais.
Conforme redação do artigo 585, do Código de Processo Civil, são títulos
executivos extrajudiciais:
a) a letra de câmbio, a nota promissória, a duplicata, a debênture e o
cheque;
b) a escritura pública ou outro documento público assinado pelo devedor; o
documento particular assinado pelo devedor e por duas testemunhas; o
instrumento de transação referendado pelo Ministério
Público, pela Defensoria Pública ou pelos advogados dos transatores;
106
c) os contratos garantidos por hipoteca, penhor, anticrese e caução, bem
como os de seguro de vida;
d) o crédito decorrente de foro e laudêmio;
e) o crédito, documentalmente comprovado, decorrente de aluguel de
imóvel, bem como de encargos acessórios, tais como taxas e despesas
de condomínio;
f) o crédito de serventuário de justiça, de perito, de intérprete, ou de
tradutor, quando as custas, emolumentos ou honorários forem aprovados
por decisão judicial;
g) a certidão de dívida ativa da Fazenda Pública da União, dos Estados, do
Distrito Federal, dos Territórios e dos Municípios, correspondente aos
créditos inscritos na forma da lei;
h) todos os demais títulos a que, por disposição expressa, a lei atribuir força
executiva.
É importante frisar que a propositura, pelo devedor, de qualquer ação
relativa ao débito constante do título não impede o credor de promover-lhe a
execução.
Diferentemente das sentenças estrangeiras, os títulos executivos
extrajudiciais estrangeiros, desde que preenchidos os requisitos de
formação pela lei do local de sua celebração e indicado o Brasil como lugar
de cumprimento da obrigação, não dependem de homologação, pelo
Superior Tribunal de Justiça, para adquirirem força executiva.
Consequentemente, de imediato podem instruir um processo de execução.
Lastreada em título extrajudicial, a execução é definitiva. Será provisória,
porém, enquanto pendente apelação da sentença de improcedência dos
embargos do executado, quando recebidos com efeito suspensivo (art. 587,
do CPC).
12.3 Responsabilidade patrimonial

O devedor responde, para o cumprimento de suas obrigações, com todos


os seus bens presentes e futuros, salvo as restrições estabelecidas em lei
(art. 591, do CPC).
Ficam sujeitos à execução os bens:
a) do sucessor a título singular, tratando-se de execução fundada em direito
real ou obrigação reipersecutória; b) do sócio, nos termos da lei;
c) do devedor, quando em poder de terceiros;
d) do cônjuge, nos casos em que os seus bens próprios, reservados ou de
sua meação respondem pela dívida;
e) alienados ou gravados com ônus real em fraude de execução.
Em contrapartida, determinados bens não se sujeitam à execução, pois a lei
lhes atribui o caráter de impenhoráveis. Além do bem de família, da Lei n.º
8.009/90, são absolutamente impenhoráveis:
a) os bens inalienáveis e os declarados, por ato voluntário, não sujeitos à
execução;

107
b) os móveis, pertences e utilidades domésticas que guarnecem a
residência do executado, salvo os de elevado valor ou que ultrapassem as
necessidades comuns correspondentes a um médio padrão de vida;
c) os vestuários, bem como os pertences de uso pessoal do executado, salvo
se de elevado valor;
d) os vencimentos, subsídios, soldos, salários, remunerações, proventos
de aposentadoria, pensões, pecúlios e montepios; as quantias recebidas
por liberalidade de terceiro e destinadas ao sustento do devedor e sua
família, os ganhos de trabalhador autônomo e os honorários de
profissional liberal, observado o disposto no §3º deste artigo;
e) os livros, as máquinas, as ferramentas, os utensílios, os instrumentos
ou outros bens móveis necessários ou úteis ao exercício de qualquer
profissão;
f) o seguro de vida;
g) os materiais necessários para obras em andamento, salvo se essas
forem penhoradas;
h) a pequena propriedade rural, assim definida em lei, desde que
trabalhada pela família;
i) os recursos públicos recebidos por instituições privadas para aplicação
compulsória em educação, saúde ou assistência social;
j) até o limite de 40 (quarenta) salários mínimos, a quantia depositada em
caderneta de poupança.
k) os recursos públicos do fundo partidário recebidos, nos termos da lei, por
partido político.
A impenhorabilidade, no entanto, não por ser oposta em relação à cobrança
do crédito concedido para aquisição do próprio bem (art. 649, §1º, do CPC).
Já a impenhorabilidade dos proventos de qualquer natureza não se aplica
no caso de penhor apara pagamento de prestação alimentícia (art. 649, §2º,
do CPC).

12.3.1 Fraude à execução

Tema recorrente em concursos públicos diz respeito a fraude à execução. É


fundamental distingui-la da fraude contra credores, prevista no Código Civil.
Enquanto a fraude contra credores gera um defeito no negócio jurídico, e,
portanto, se verifica no âmbito do direito material, a fraude à execução
constitui ato atentatório à dignidade da justiça, e se verifica no âmbito
processual.
Há fraude contra credores quando ainda não há processo em curso, e, caso
este já tenha sido instaurado, verificar-se-á fraude à execução. Em ambos
os casos, o devedor vende seu patrimônio para não satisfazer seu débito
com o credor.
Não há impedimento para que o devedor venda ou onere bens, no entanto,
ele deve resguardar parcela suficiente deles para satisfação de seus débitos
com os credores, com o que verificar-se-á:

108
a) fraude contra os credores, se não houver processo em curso; ou
b) fraude à execução, quando já houver processo de execução em trâmite.
Segundo o artigo 593, do Código de Processo Civil, considera-se fraude à
execução a alienação ou oneração de bens:
a) quando sobre eles pender ação fundada em direito real;
b) quando, ao tempo da alienação ou oneração, corria contra o devedor
demanda capaz de reduzi-lo à insolvência; e c) nos demais casos
expressos em lei.
Constatada a fraude à execução, reputam-se ineficazes os atos de
alienação praticados pelo devedor com a intenção de dilapidação do
patrimônio para não satisfação dos seus débitos.

12.3.2 Ato atentatório à dignidade da justiça

Situação diversa e que não deve ser confundida com a fraude à execução,
diz respeito ao ato atentatório à dignidade da justiça.
Dispõe o artigo 600, do Código de Processo Civil, que considera-se
atentatório à dignidade da Justiça o ato do executado que: a) frauda a
execução;
b) se opõe maliciosamente à execução, empregando ardis e meios
artificiosos;
c) resiste injustificadamente às ordens judiciais; ou
d) intimado, não indica ao juiz, em 5 (cinco) dias, quais são e onde se
encontram os bens sujeitos à penhora e seus respectivos valores.
Constatada a prática de ato atentatório à dignidade da justiça, o juiz deve
fixar multa ao devedor, em montante não superior a 20% (vinte por cento) do
valor atualizado do débito em execução, sem prejuízo de outras sanções de
natureza processual ou material, multa essa que será revertida em benefício
do credor, exigível no bojo da própria execução (art. 601, caput, do CPC).
Contudo, é dado ao juiz relevar a pena, caso o devedor se comprometa a
não mais praticar qualquer dos atos considerados atentatórios à dignidade
da Justiça e der fiador idôneo, que responda ao credor pela dívida principal,
mais juros, despesas e honorários de advogado (art. 601, parágrafo único,
do CPC).
Portanto, como se vê, enquanto a fraude à execução gera apenas a
ineficácia do negócio jurídico praticado com a intenção de dissimular o
patrimônio do devedor, a prática de ato atentatório à dignidade da justiça é
fato gerador de multa, em patamar de até 20% (vinte por cento) do valor em
execução, a ser revertido ao credor.
Ademais, note-se que a fraude à execução constitui ato atentatório à
dignidade da Justiça, e, assim sendo, caso o executado não faça o
compromisso de não mais praticar qualquer ato atentatório e não dê fiador
que responda pelo seu débito, além de ver ineficaz a alienação (efeito da

109
fraude à execução), terá de arcar com o pagamento de multa (efeito do ato
atentatório à dignidade da justiça).

12.4 Espécies de execução

São espécies de execução, segundo o Código de Processo Civil:


a) execução para entrega de coisa certa ou incerta;
b) execução para obrigação de fazer ou de não fazer; e
c) execução por quantia certa contra devedor solvente;
Há, ainda, a execução por quantia certa contra devedor insolvente,
disciplinada em Título próprio em razão das peculiaridades. Ressalvada
essa hipótese, em que tem lugar o concurso universal de credores, realizase
a execução no interesse do credor, que adquire, pela penhora, o direito de
preferência sobre os bens penhorados.
Quando mais de uma penhora recair sobre os mesmos bens, cada credor
conservará seu direito de preferência (art. 613, do CPC).
É dever do credor, ao requerer a execução, pedir a citação do devedor e
instruir a petição inicial:
a) com o título executivo extrajudicial;
b) com o demonstrativo do débito atualizado até a data da propositura da
ação, quando se tratar de execução por quantia certa; e
c) com a prova de que se verificou a condição, ou ocorreu o termo, se for o
caso.
E conforme o artigo 615, do Código de Processo Civil, cumpre ainda ao
credor:
a) indicar a espécie de execução que prefere, quando por mais de um modo
pode ser efetuada;
b) requerer a intimação do credor pignoratício, hipotecário, ou anticrético, ou
usufrutuário, quando a penhora recair sobre bens gravados por penhor,
hipoteca, anticrese ou usufruto;
c) pleitear medidas acautelatórias urgentes;
d) provar que adimpliu a contraprestação, que Ihe corresponde, ou que Ihe
assegura o cumprimento, se o executado não for obrigado a satisfazer a
sua prestação senão mediante a contraprestação do credor.
No caso da petição inicial ser incompleta, ou não estar acompanhada dos
documentos indispensáveis à propositura da execução, o juiz deve
determinar que o autor a corrija, no prazo de 10 (dez) dias, sob pena de
indeferimento, conforme dispõe o artigo 616, do Código de Processo Civil.
Relevante dispositivo para concursos públicos e para o exame da OAB é o
615-A, do Código de Processo Civil. Segundo aludido artigo, é lícito ao
exequente, no ato da distribuição da ação de execução, obter certidão
comprobatória do ajuizamento da execução, com identificação das partes e

110
valor da causa, para fins de averbação no registro de imóveis, registro de
veículos ou registro de outros bens sujeitos à penhora ou arresto.
Realizada a averbação, é dever do exequente comunicar ao juízo sobre ela,
no prazo de 10 (dez) dias de sua concretização.
É presumida a fraude à execução quando a alienação ou oneração de bens
ocorrer após a averbação mencionada, caso em que, além da ineficácia do
negócio, incorre o executado nas sanções decorrentes da prática de ato
atentatório à dignidade da Justiça.
No entanto, se o credor promover averbação manifestamente indevida,
poderá ser condenado a indenizar o executado pelos prejuízos que lhe
sobrevierem.
Efetivada a penhora sobre quantidade suficiente de bens, deve-se
determinar o cancelamento das averbações feitas sobre bens que não
tenham sido penhorados.
A propositura da execução, deferida pelo juiz, interrompe a prescrição,
desde que a citação do devedor tenha sido regularmente efetivada.
Dispõe o artigo 618, do Código de Processo Civil, que é nula a execução:
a) se o título executivo extrajudicial não corresponder a obrigação
certa, líquida e exigível;
b) se o devedor não for regularmente citado; ou
c) no caso de negócio jurídico condicional, se instaurada antes de se
verificar a condição ou de ocorrido o termo.
A alienação de bem aforado ou gravado por penhor, hipoteca, anticrese ou
usufruto será ineficaz em relação ao senhorio direto, ou ao credor
pignoratício, hipotecário, anticrético, ou usufrutuário, que não houver sido
intimado (art. 619, do CPC).
Quando, por vários meios puder ser promovida a execução, o juiz mandará
que se faça por aquele menos gravoso ao devedor, em consagração ao
princípio da menor onerosidade.

12.4.1 Execução para a entrega de coisa

A execução para entrega de coisa divide-se em:


a) entrega de coisa certa; e
b) entrega de coisa incerta.
No primeiro caso, o devedor de obrigação de entrega de coisa certa,
constante de título executivo extrajudicial, será citado para, dentro de 10
(dez) dias, satisfazer a obrigação ou apresentar embargos (art. 621, do
CPC). Quando desejar embargar, pode o executado depositar a coisa, ao
invés de entregá-la.
Ao despachar a inicial, o juiz pode fixar multa diária para o atraso no
cumprimento da obrigação, ficando o respectivo valor sujeito a alteração,
caso se revele insuficiente ou excessivo.

111
Entregue a coisa, lavrar-se-á o respectivo termo e dar-se-á por finda a
execução, exceto se esta tiver de prosseguir para o pagamento de frutos ou
ressarcimento de prejuízos (art. 624, do CPC).
Se a coisa não for entregue, nem depositada, e os embargos não forem
recebidos sob o efeito suspensivo, expedir-se-á, em favor do credor,
mandado de imissão na posse (no caso de bem imóvel) ou de busca e
apreensão (no caso de bem móvel).
É direito do credor receber, além de perdas e danos, o valor da coisa,
quando esta não Ihe tenha sido entregue, tenha se deteriorado, não tenha
sido encontrada ou não tenha sido reclamada do poder de terceiro
adquirente (art. 627, caput, do CPC).
Já no caso de entrega de coisa incerta, hipótese em que a execução recai
sobre coisas determinadas pelo gênero e quantidade, o devedor deve ser
citado para entregá-las de forma individualizada, se lhe couber a escolha.
No entanto, se a escolha couber ao credor, este deve indicá-la na petição
inicial.
Feita a indicação, qualquer das partes pode, em 48 (quarenta e oito) horas,
impugnar a escolha feita pela outra, caso em que o juiz decidirá de plano,
ou, se necessário, ouvindo perito de sua nomeação.

12.4.2 Execução para obrigações de fazer e de não fazer

Quando o objeto da execução for uma obrigação de fazer, o devedor será


citado para satisfazê-la no prazo que o juiz lhe assinar, se outro não estiver
determinado no título executivo (art. 632, do CPC).
Caso o devedor não satisfaça a obrigação no prazo que lhe é assinalado, é
lícito ao credor, nos próprios autos do processo, requerer que ela seja
executada à custa do devedor, ou haver perdas e danos, caso em que ela
se converte em indenização (art. 633, caput, do CPC).
Convertida em indenização, o valor das perdas e danos deve ser apurado
em liquidação, seguindo-se para a execução por quantia certa.
Além de optar por terceiro que realize a obrigação às custas do devedor, o
credor pode, ele mesmo, executar a obrigação, caso em que terá
preferência, em igualdade de condições de oferta, ao terceiro. Esse direito
de preferência deve ser exercido no prazo de 5 (cinco) dias, contados da
apresentação da proposta pelo terceiro.
Nas obrigações de fazer, quando for convencionado que o devedor a faça
pessoalmente, o credor poderá requerer ao juiz que Ihe assine prazo para
cumpri-la (art. 638, caput, do CPC).
Quanto as obrigações de não-fazer, se o devedor praticar o ato, a cuja
abstenção estava obrigado pela lei ou pelo contrato, o credor pode requerer
ao juiz que Ihe assine prazo para desfazê-lo (art. 642, do CPC). Se houver
recusa ou mora do devedor, o credor deve requerer ao juiz que mande
desfazer o ato à sua custa, respondendo o devedor por perdas e danos.
112
Não sendo possível o desfazimento do ato, a obrigação resolve-se em
perdas e danos (art. 643, parágrafo único, do CPC).

12.4.3 Execução por quantia certa contra devedor solvente

O objetivo da execução por quantia certa é expropriar bens do devedor para


satisfazer o direito do credor (art. 646, do CPC).
Dispõe o artigo 647, do Código de Processo Civil, que a expropriação
consiste:
a) na adjudicação em favor do exequente ou do credor com garantia real,
dos credores concorrentes que hajam penhorado o mesmo bem, do cônjuge,
dos descendentes ou dos ascendentes do executado; b) na alienação por
iniciativa particular;
c) na alienação em hasta pública;
d) no usufruto de bem móvel ou imóvel.
Não estão sujeitos à execução os bens considerados pela lei como
impenhoráveis ou inalienáveis.
Antes de adjudicados ou alienados os bens, pode o executado, a todo
tempo, remir a execução, pagando ou consignando a importância atualizada
da dívida, mais juros, custas e honorários de advogado (art. 651, do CPC).
Na execução por quantia certa contra devedor solvente, este será
citado para, no prazo de 3 (três) dias, efetuar o pagamento da dívida (art.
652, do CPC).
Não efetuado o pagamento, munido da 2ª (segunda) via do mandado, o
oficial de justiça procederá de imediato à penhora de bens e à sua
avaliação, lavrando-se o respectivo auto e de tais atos intimando, na mesma
oportunidade, o executado (art. 652, §1º, do CPC).
É conferido ao credor o direito de indicar, em sua petição inicial, os bens do
devedor a serem, eventualmente, penhorados.
O juiz pode, de ofício ou a requerimento do exequente, a qualquer tempo,
determinar a intimação do executado para que indique bens passíveis de
penhora (art. 652, §2º, do CPC). A intimação do executado será feita na
pessoa de seu advogado, e, não o tendo, será intimado pessoalmente (art.
652, §3º, do CPC).
Ao despachar a inicial, o juiz deve fixar, de plano, os honorários de
advogado a serem pagos pelo executado, pois no caso de pagamento
integral do débito, no prazo de 3 (três) dias, a verba honorária será reduzida
pela metade (art. 652-A, do CPC).
Se o oficial de justiça não encontrar o devedor, arrestar-lhe-á tantos bens
quantos bastem para garantir a execução (art. 653, caput, do CPC). Nos 10
(dez) dias seguintes à efetivação do arresto, o oficial de justiça procurará o
devedor 3 (três) vezes em dias distintos, e, não o encontrando, certificará o
ocorrido. Nesse caso, compete ao credor, dentro de 10 (dez) dias, contados
da data em que foi intimado do arresto, requerer a citação por edital do
devedor. Encerrado o prazo do edital, o devedor tem 3 (três) dias para
113
efetuar o pagamento da dívida e, se não o fizer, o arresto será convertido
em penhora.
Dispõe o artigo 655, do Código de Processo Civil, que a penhora deve
observar, preferencialmente, a seguinte ordem:
1º) dinheiro, em espécie ou em depósito ou aplicação em instituição
financeira;
2º) veículos de via terrestre;
3º) bens móveis em geral;
4º) bens imóveis;
5º) navios e aeronaves;
6º) ações e quotas de sociedades empresárias;
7º) percentual do faturamento de empresa devedora;
8º) pedras e metais preciosos;
9º) títulos da dívida pública da União, Estados e Distrito Federal com
cotação em mercado;
10º) títulos e valores mobiliários com cotação em mercado;
11º) outros direitos.
Quando a penhora recair sobre bens imóveis, o cônjuge do executado
também deve ser intimado (art. 655, §1º, do CPC).
Para possibilitar a penhora em dinheiro em depósito ou aplicação financeira,
o juiz, a requerimento do exequente, pode requisitar à autoridade
supervisora do sistema bancário, preferencialmente por meio eletrônico,
informações sobre a existência de ativos em nome do executado, podendo
no mesmo ato determinar sua indisponibilidade, até o valor indicado na
execução (art. 655-A, do CPC), naquilo que se tem chamado de penhora on
line.
Quando a penhora recair sobre bem indivisível, a meação do cônjuge alheio
à execução recairá sobre o produto da alienação do bem (art. 655-B, do
CPC).
É lícito à parte requerer a substituição da penhora (art. 656, do CPC):
a) se não obedecer à ordem legal;
b) se não incidir sobre os bens designados em lei, contrato ou ato judicial
para o pagamento;
c) se, havendo bens no foro da execução, outros houverem sido
penhorados;
d) se, havendo bens livres, a penhora houver recaído sobre bens já
penhorados ou objeto de gravame;
e) se incidir sobre bens de baixa liquidez;
f) se fracassar a tentativa de alienação judicial do bem; ou
g) se o devedor não indicar o valor dos bens ou omitir qualquer das
indicações a que se referem os incisos I a IV do parágrafo único do art.
668 do Código de Processo Civil (art. 668 […], parágrafo único […]: I -
quanto aos bens imóveis, indicar as respectivas matrículas e registros,
situá-los e mencionar as divisas e confrontações; II - quanto aos móveis,
particularizar o estado e o lugar em que se encontram; III - quanto aos
semoventes, especificá-los, indicando o número de cabeças e o imóvel
114
em que se encontram; IV - quanto aos créditos, identificar o devedor e
qualificá-lo, descrevendo a origem da dívida, o título que a representa e a
data do vencimento).
A penhora pode ser substituída por fiança bancária ou por seguro garantia
judicial, em valor não inferior ao do débito constante na inicial, mais 30%
(trinta por cento), conforme estipula o parágrafo segundo, do artigo 656, do
Código de Processo Civil.
Quanto ao bem imóvel, somente pode ser oferecido em substituição caso
seja requerido com a expressa anuência do cônjuge.
Sempre que se fale em substituição do bem penhorado por requerimento do
executado, este deve provar:
a) que ela não trará qualquer prejuízo ao exequente; e
b) que lhe será menos onerosa.
Se o devedor fechar as portas da causa, com a finalidade de obstar a
penhora dos bens, o oficial de justiça deve comunicar o fato ao juiz, e
solicitar ordem de arrombamento (art. 600, do CPC).
Sempre que necessário o juiz deve requisitar força policial, com a finalidade
de auxiliar os oficiais de justiça na penhora dos bens e na prisão de quem
resistir à ordem.
Feita a penhora e a avaliação, é lícito ao exequente, oferecendo preço
não inferior ao da avaliação, requerer lhe sejam adjudicados os bens
penhorados (art. 685-A, do CPC).
No caso de adjudicação, quando o valor do crédito for inferior ao valor dos
bens, o adjudicante deve depositar, imediatamente, a diferença, que ficará à
disposição do executado. Mas, se o valor do crédito for superior, a execução
prosseguirá pelo saldo remanescente.
Quando houver mais de um pretendente à adjudicação, proceder-se-á entre
eles à licitação. No caso de igualdade de oferta, tem preferência:
1º) o cônjuge (do executado);
2º) o descendente (do executado);
3º) o ascendente (do executado).
A adjudicação considera-se perfeita e acabada com a lavratura e assinatura
do auto pelo juiz, pelo adjudicante, pelo escrivão e, se for presente, pelo
executado, expedindo-se a respectiva carta, se bem imóvel, ou mandado de
entrega ao adjudicante, se bem móvel (art. 685-B, do CPC). Não realizada a
adjudicação dos bens penhorados, o exequente pode requerer que eles
sejam alienados por sua própria iniciativa ou por intermédio de corretor
credenciado perante a autoridade judiciária (art. 685C, do CPC). Nesse caso
de alienação particular, o juiz fixará o prazo em que a alienação deve ser
efetivada, a forma de publicidade e o preço mínimo, as condições de
pagamento e as garantias, bem como, se for o caso, a comissão de
corretagem (art. 685-C, §1º, do CPC).
Reputa-se encerrada a alienação com sua formalização por termo nos
autos, assinado pelo juiz, pelo exequente, pelo adquirente e, se for presente,

115
pelo executado, expedindo-se carta de alienação do imóvel para o devido
registro imobiliário, ou, se bem móvel, mandado de entrega ao adquirente.
Mas, não requerida a adjudicação, nem realizada a alienação particular do
bem penhorado, será expedido o edital de hasta pública, que deve conter:
a) a descrição do bem penhorado, com suas características e, tratando-se
de imóvel, a situação e divisas, com remissão à matrícula e aos registros;
b) o valor do bem;
c) o lugar onde estiverem os móveis, veículos e semoventes; e, sendo direito
e ação, os autos do processo, em que foram penhorados;
d) o dia e a hora de realização da praça, se bem imóvel, ou o local, dia e
hora de realização do leilão, se bem móvel;
e) menção da existência de ônus, recurso ou causa pendente sobre os bens
a serem arrematados;
f) a comunicação de que, se o bem não alcançar lanço superior à
importância da avaliação, seguir-se-á, em dia e hora que forem desde
logo designados entre os 10 (dez) e os 20 (vinte) dias seguintes, a sua
alienação pelo maior lanço (art. 692).
A alienação por hasta pública compreende:
a) a praça, destinada à alienação de bens imóveis; e
b) o leilão, destinado à alienação de bens móveis.
Quando o valor dos bens penhorados não exceder 60 (sessenta) vezes o
valor do salário mínimo vigente na data da avaliação, será dispensada a
publicação de editais. Nesse caso, o preço da arrematação não poderá ser
inferior ao da avaliação (art. 686, §3º, do CPC).
O edital que divulga a alienação em hasta pública deve ser afixado no local
do costume e publicado, em resumo, com antecedência mínima de 5 (cinco)
dias, pelo menos uma vez em jornal de ampla circulação local (art. 687,
caput, do CPC). Quando o credor for beneficiário da justiça gratuita, a
publicação do edital será feita no órgão oficial (art. 687, §1º, do CPC).
Importante inovação da Lei n.º 11.382/06 ao Código de Processo Civil
consta do artigo 689-A, segundo o qual pode-se realizar o procedimento de
hasta pública, a requerimento do exequente, através da internet, com o uso
de páginas virtuais criadas pelos Tribunais ou por entidades públicas ou
privadas em convênio com eles firmado.
A arrematação far-se-á mediante o pagamento imediato do preço pelo
arrematante ou, no prazo de até 15 (quinze) dias, mediante caução (art. 690,
caput, do CPC).
Qualquer pessoa que esteja na livre administração de seus bens pode
apresentar lances em hasta pública, exceto:
a) os tutores, curadores, testamenteiros, administradores, síndicos ou
liquidantes, quanto aos bens confiados a sua guarda e responsabilidade;
b) os mandatários, quanto aos bens de cuja administração ou alienação
estejam encarregados;
c) o juiz, membro do Ministério Público e da Defensoria Pública, escrivão
e demais servidores e auxiliares da Justiça.
116
Se o exequente arrematar os bens, não está obrigado a exibir o preço. Mas,
se o valor dos bens exceder o seu crédito, ele deve depositar, dentro de 3
(três) dias, a diferença, sob pena de ser tornada sem efeito a arrematação,
e, neste caso, os bens serão levados a nova praça ou leilão à custa do
exequente.
Se na primeira praça ou leilão não for ofertado lance que alcance o valor da
avaliação do bem penhorado, far-se-á nova praça ou leilão. Neste, pode ser
ofertado lance inferior ao da avaliação do bem, desde que não seja vil. A
arrematação, nesse caso, pode ser suspensa logo que o produto da
alienação dos bens baste ao pagamento do credor (art. 692, do CPC).
Considera-se perfeita e acabada a arrematação quando seu auto é
assinado pelo juiz, pelo arrematante e pelo serventuário da justiça ou
leiloeiro, ainda que venham a ser julgados procedentes os embargos do
executado (art. 694, caput, do CPC).
Nesse caso, isto é, caso julgados procedentes os embargos, o executado
tem o direito de haver do exequente o valor por este recebido como produto
da arrematação, e, caso inferior ao valor do bem, haverá do exequente
também a diferença (art. 694, §2º, do CPC).
No entanto, a arrematação pode ser tornada sem efeito:
a) por vício de nulidade;
b) se não for pago o preço ou se não for prestada a caução;
c) quando o arrematante provar, nos 5 (cinco) dias seguintes, a existência
de ônus real ou de gravame (art. 686, inciso V) não mencionado no edital;
d) a requerimento do arrematante, na hipótese de embargos à arrematação
e) quando realizada por preço vil (art. 692);
f) nos casos previstos neste Código (art. 698: “não se efetuará a
adjudicação ou alienação de bem do executado sem que da execução
seja cientificado, por qualquer modo idôneo e com pelo menos 10 (dez)
dias de antecedência, o senhorio direto, o credor com garantia real ou
com penhora anteriormente averbada, que não seja de qualquer modo
parte na execução”).

12.5 Embargos do devedor

Os embargos do devedor constituem o instrumento de defesa do executado,


em sede do processo de execução.
O executado, independentemente de penhora, depósito ou caução, pode
opor-se à execução por meios de embargos do devedor (art. 736, caput, do
CPC).
Os embargos do devedor tem natureza de ação autônoma, são distribuídos
por dependência, autuados em apartado, e instruídos com cópias das peças
processuais relevantes. A petição inicial dos embargos do devedor deve
atender a todos os requisitos dos artigos 282 e 283, do Código de Processo
Civil.

117
O prazo para oferecimento dos embargos é de 15 (quinze) dias, contados
da data da juntada aos autos do mandado de citação (art. 738, caput, do
CPC).
Para os embargos de execução, quando houver mais de um executado,
ainda que eles possuam procuradores diferentes, não se concede prazo em
dobro, como ocorre no processo de conhecimento segundo o artigo 191, do
Código de Processo Civil.
Quando houver mais de um executado, o prazo para cada um deles
embargar conta-se a partir da juntada do respectivo mandado citatório, salvo
tratando-se de cônjuges (art. 738, §1º, do CPC).
Dispõe o artigo 739, do Código de Processo Civil, que o juiz rejeitará
liminarmente os embargos:
a) quando intempestivos;
b) quando inepta a petição; ou
c) quando manifestamente protelatórios.
Via de regra, os embargos não tem efeito suspensivo, no entanto, o juiz
pode, a requerimento do embargante, conceder esse efeito quando, sendo
relevantes os fundamentos, demonstre-se que o prosseguimento da
execução manifestamente possa causar ao executado grave dano de difícil
ou incerta reparação, e desde que a execução já esteja garantida por
penhora, depósito ou caução suficientes (art. 739-A, do CPC).
A decisão que concede efeito suspensivo aos embargos pode ser
modificada ou revogada a qualquer tempo, em decisão fundamentada, tão
logo cessem ou se modifiquem as circunstâncias que a motivaram (art.
739A, §2º, do CPC).
Se o efeito suspensivo for concedido a apenas parte do objeto da execução,
essa pode prosseguir quanto à parte restante (art. 739-A, §3º, do CPC).
Concedido efeito suspensivo aos embargos oferecidos por um dos
executados, não se suspende a execução contra os que não embargaram,
quando o respectivo fundamento disser respeito exclusivamente ao
embargante (art. 739-A, §4º, do CPC).
Se o excesso de execução for o fundamento dos embargos, o embargante
deve declarar na petição inicial o valor que reputa correto, assim como
apresentar memória de cálculo, sob pena de rejeição liminar dos embargos
ou não conhecimento desse pedido (art. 739-A, §5º, do CPC). A concessão
de efeito suspensivo não impedirá a efetivação dos atos de penhora e de
avaliação dos bens (art. 739-A, §6º, do CPC).
Recebidos os embargos, o exequente será ouvido em 15 (quinze) dias, e o
juiz julgará imediatamente o pedido, ou designará audiência de conciliação,
instrução e julgamento, proferindo sentença no prazo (impróprio) de 10 (dez)
dias (art. 740, caput, do CPC).
Se o juiz constatar que os embargos foram meramente protelatórios, deve
impor, em favor do exequente, multa ao embargante em valor não superior a
20% (vinte por cento) do valor em execução, conforme determina o
parágrafo único, do artigo 740, do Código de Processo Civil.

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12.6 Execução contra a Fazenda Pública

Quando a executada for a Fazenda Pública, em processo de execução por


quantia certa, citar-se-á a devedora para opor embargos em 10 (dez) dias.
Se não forem opostos, observar-se-ão as seguintes regras (art. 730, do
CPC):
a) o juiz requisitará o pagamento por intermédio do presidente do tribunal
competente;
b) far-se-á o pagamento na ordem de apresentação do precatório e à
conta do respectivo crédito.
Caso o credor seja preterido no seu direito de preferência, o presidente do
tribunal que expediu a ordem, poderá, depois de ouvido o chefe do
Ministério Público, ordenar o sequestro da quantia necessária para
satisfazer o débito (art. 731, do CPC).
Na execução contra a Fazenda Pública, os embargos só poderão versar
sobre:
a) falta ou nulidade da citação, se o processo correu à revelia;
b) inexigibilidade do título;
c) ilegitimidade das partes;
d) cumulação indevida de execuções;
e) excesso de execução;
f) qualquer causa impeditiva, modificativa ou extintiva da obrigação, como
pagamento, novação, compensação, transação ou prescrição, desde que
superveniente à sentença;
g) incompetência do juízo da execução, bem como suspeição ou
impedimento do juiz.
Considera-se inexigível o título judicial fundado em lei ou ato normativo
declarados inconstitucionais pelo Supremo Tribunal Federal, ou fundado em
aplicação ou interpretação da lei ou ato normativo tidas pelo Supremo
Tribunal Federal como incompatíveis com a Constituição Federal (art. 741,
parágrafo único, do CPC).
Quanto ao excesso de execução, reputa-se este como presente:
a) quando o credor pleiteia quantia superior à do título;
b) quando recai sobre coisa diversa daquela declarada no título;
c) quando se processa de modo diferente do que foi determinado na
sentença;
d) quando o credor, sem cumprir a prestação que Ihe corresponde, exige o
adimplemento da do devedor (art. 582); ou
e) se o credor não provar que a condição se realizou.
Por derradeiro, conforme dispõe o artigo 742, do Código de Processo Civil,
se pertinente, a exceção de incompetência do juízo, assim como a de
impedimento ou suspeição deve ser oferecida juntamente com os embargos.

119
13. PROCESSO CAUTELAR

A principal finalidade do processo cautelar é assegurar determinadas


situações, para que uma vez obtido êxito perante uma discussão judicial,
esta possa ser efetivamente cumprida. A cautelaridade envolve o bem da
vida em disputa, protegendo-o para que ele possa, efetivamente, ser
entregue ao vencedor do litígio.
O processo cautelar tem nítido caráter assecuratório, e por isso não se
confunde com as medidas antecipatórias dos efeitos da tutela, que possuem
caráter satisfativo. Enquanto as medidas cautelares objetivam resguardar
situações, as antecipatórias dos efeitos da tutela objetivam entregar,
antecipadamente, o próprio direito ou parte dele. Ademais, as medidas
cautelares constituem processo autônomo, ao passo que as antecipatórias
são pedidos que podem ser formulados em quaisquer espécies de ação.
Mas há exceções. Existem cautelares impropriamente chamadas de
satisfativas, por independerem de posterior discussão judicial, como a
notificação e a antecipação de provas.
O procedimento cautelar pode ser instaurado antes ou no curso do
processo principal e deste é sempre dependente (art. 796, do CPC). Se
instaurado antes, se diz que o processo cautelar é preparatório, e se
instaurado durante, se diz que ele é incidental. Tanto em um como noutro
caso, o processo cautelar possui caráter de acessoriedade, já que ele tem
sua sorte ditada pelo processo principal.
A fixação da competência do processo cautelar se faz com base na
competência para o processo principal, assim como a extinção deste
acarreta, inevitavelmente, na extinção daquele.
Dentro do processo cautelar pode ser concedida medida liminar sempre que
se faça presente uma situação de urgência, somados os requisitos fumus
boni iuris (fumaça do bom direito) e periculum in mora (perigo da demora).
Para concessão de uma medida de natureza cautelar, não se exige prova
inequívoca do direito invocado.
A depender da urgência, admite-se que a medida liminar em processo
cautelar seja concedida inaudita altera pars, ou seja, sem a oitiva da parte
contrária, o que se configura como hipótese excepcional, que posterga o
exercício do contraditório.
Quanto às cautelares, o Código de Processo Civil apresenta alguns
procedimentos específicos, chamados de cautelares nominadas, mas deixa
espaço para que outros, ainda que não previstos, sejam utilizados,
chamados de cautelares inominadas.
Segundo o artigo 798, do Código de Processo Civil, além dos
procedimentos cautelares nominados, o juiz pode determinar medidas
provisórias que julgar adequadas, sempre que houver fundado receio de que
uma parte, antes do julgamento da lide, cause ao direito da outra lesão
grave e de difícil reparação, naquilo que a doutrina chama de poder geral de
cautela.

120
A medida cautelar pode, mediante situação de urgência, ser requerida até
mesmo em grau recursal, quando deve ser requerida diretamente ao tribunal
(art. 800, parágrafo único, do CPC).
Via de regra, a medida cautelar conserva seus efeitos até mesmo durante a
suspensão do processo.
A petição inicial em que o requerente pleitear a medida cautelar deve
indicar:
a) autoridade judiciária, a que for dirigida;
b) o nome, o estado civil, a profissão e a residência do requerente e do
requerido;
c) a lide e seu fundamento (não exigido quando o procedimento cautelar for
incidental);
d) a exposição sumária do direito ameaçado e o receio da lesão;
e) as provas que serão produzidas.
Recebida a inicial, o requerido será citado para, em 5 (cinco) dias, contestar
o pedido e indicar as provas que pretende produzir. Esse prazo, conta-se:
a) de citação devidamente cumprido; ou
b) da execução da medida cautelar, quando concedida liminarmente
ou após justificação prévia.
Se o pedido não for contestado, presumir-se-ão aceitos pelo requerido, e
incidentes os efeitos da revelia. Note-se que a não-contestação, no
procedimento cautelar, não induz a presunção de veracidade sobre a
discussão do processo principal, mas apenas acerca da medida
assecuratória pleiteada, isto é, da medida acautelatória em relação ao bem
que será discutido na ação principal.
Em contrapartida, quando o requerido apresentar contestação no prazo
legal, o juiz designará audiência de instrução e julgamento, se houver prova
a ser produzida (art. 803, parágrafo único, do CPC).
Entretanto, verificando que se o réu for citado, pode tornar ineficaz a medida
requerida pelo autor, o juiz pode conceder liminarmente a medida cautelar, e
apenas depois mandar citar o réu. Também pode intimar o autor para
audiência de justificação prévia, quando não estiver plenamente convencido
da necessidade da medida, e, ficando convencido, determiná-la
imediatamente, realizando-se a citação do réu apenas em momento
posterior. Nesses casos, o juiz pode determinar que o requerente preste
caução real ou fidejussória de ressarcir os danos que o requerido possa vir a
sofrer (art. 804, do CPC).
A qualquer momento, de ofício ou a requerimento de qualquer das partes,
pode haver a substituição da medida cautelar pela prestação de caução ou
outra garantia menos gravosa para o requerido, sempre que adequada e
suficiente para evitar a lesão ou repará-la integralmente (art. 805, do CPC).
Proposta a ação cautelar e efetivada a medida de mesma natureza, cabe à
parte propor a ação principal em 30 (trinta) dias, contados da efetivação da
medida, o que não se aplica se a medida cautelar for proposta

121
incidentalmente, haja visto que o processo principal, nesse caso, já está em
trâmite.
Durante esse prazo e na pendência do processo principal, as medidas
cautelares conservam sua eficácia, mas podem ser revogadas ou
modificadas a qualquer tempo (art. 807, caput, do CPC).
Via de regra, a eficácia da medida cautelar permanece inclusive durante o
período de suspensão do processo (art. 807, parágrafo único, do CPC).
Dispõe o artigo 808, do Código de Processo Civil, que cessa a eficácia da
medida cautelar:
a) se a parte não intentar a ação no prazo estabelecido no art. 806;
b) se não for executada dentro de 30 (trinta) dias;
c) se o juiz declarar extinto o processo principal, com ou sem julgamento do
mérito.
Cessada a medida, a parte não pode repetir o pedido, exceto se ele for
amparado por novo fundamento.
Os autos do procedimento cautelar correm apartados aos autos do
processo principal (art. 809, do CPC).
Como já salientado, o procedimento cautelar destina-se apenas à
proteção do direito que se pretende discutir em um processo principal, logo,
o indeferimento da medida cautelar não obsta que a parte intente a ação
principal, nem influi no julgamento desta, que não se confunde com o
daquela, exceto se, no procedimento cautelar, o juiz acolher a alegação de
prescrição ou de decadência do direito do autor.
O requerente do procedimento cautelar responde ao requerido pelos
prejuízos que lhe causar a execução da medida:
a) se a sentença no processo principal Ihe for desfavorável;
b) se, obtida liminarmente a medida inaudita altera pars, não promover a
citação do requerido dentro em 5 (cinco) dias;
c) se ocorrer a cessação da eficácia da medida, em qualquer dos casos
previstos no art. 808 (não ajuizamento da ação principal em 30 dias; não
execução da medida cautelar dentro de 30 dias; ou se o juiz extinguir o
processo principal sem julgamento de mérito);
d) se o juiz acolher, no procedimento cautelar, a alegação de decadência ou
de prescrição do direito do autor.
Nesses casos, a liquidação da indenização será feita nos autos do próprio
procedimento cautelar (art. 811, parágrafo único, do CPC).
Segundo o Código de Processo Civil, sem prejuízo das cautelares
inominadas que podem ser manejadas pelo requerente, são cautelares
nominadas (específicas): a) o arresto;
b) o sequestro;
c) a caução;
d) a busca e apreensão;
e) a exibição;
f) a produção antecipada de provas;

122
g) os alimentos provisionais;
h) a justificação;
i) os protestos, notificações e interpelações;
j) a homologação do penhor legal;
k) a posse em nome do nascituro;
l) o atentado
m) o protesto e a apreensão de títulos; além
n) de outras medidas provisionais (arts. 888 e 889, do CPC).
Na sequência, serão sucintamente analisados os procedimentos cautelares
específicos mais recorrentes em concursos públicos e no exame da OAB.

13.1 Arresto

O arresto é medida cautelar destinada à constrição de bens indeterminados


do devedor, para futura satisfação de crédito do credor, a ser discutido na
ação principal. Julgado procedente o arresto, este convertese em penhora,
no bojo do processo principal.
Dispõe o artigo 813, do Código de Processo Civil, que o arresto tem
lugar:
I - quando o devedor sem domicílio certo intenta ausentar-se ou alienar os
bens que possui, ou deixa de pagar a obrigação no prazo estipulado;
II - quando o devedor, que tem domicílio:
a) se ausenta ou tenta ausentar-se furtivamente;
b) caindo em insolvência, aliena ou tenta alienar bens que
possui; contrai ou tenta contrair dívidas extraordinárias; põe ou
tenta pôr os seus bens em nome de terceiros; ou comete outro
qualquer artifício fraudulento, a fim de frustrar a execução ou lesar
credores;
III - quando o devedor, que possui bens de raiz, intenta aliená-los, hipotecá-
los ou dá-los em anticrese, sem ficar com algum ou alguns, livres e
desembargados, equivalentes às dívidas;
IV - nos demais casos expressos em lei.
Para que o arresto seja concedido, é imprescindível:
a) prova literal da dívida líquida e certa;
b) prova documental ou justificação de algum dos casos mencionados no
artigo antecedente.
Para efeito de concessão do arresto, equipara-se à prova literal da dívida
líquida e certa, a sentença, líquida ou ilíquida, ainda que pendente de
recurso, que tenha condenado o devedor ao pagamento de dinheiro ou de
prestação que em dinheiro possa ser convertida (art. 814, parágrafo único,
do CPC).

123
Se o juiz reputar necessário, pode intimar o autor para realizar audiência de
justificação prévia, inclusive com a oitiva de testemunhas, audiência esta
que não terá a presença do réu e será feita em sigilo.
O juiz pode conceder o arresto independentemente de justificação
prévia:
a) quando for requerido pela União, Estado ou Município, nos casos
previstos em lei;
b) se o credor prestar caução.
Proferida a sentença no procedimento cautelar de arresto, esta não faz
coisa julgada no processo principal, salvo de reconhecer a prescrição ou a
decadência do direito do autor (art. 817, do CPC).
Conforme dispõe o artigo 819, do Código de Processo Civil, suspende-se a
execução do arresto se o devedor:
a) tanto que intimado, pagar ou depositar em juízo a importância da
dívida, mais os honorários de advogado que o juiz arbitrar, e custas;
b) der fiador idôneo, ou prestar caução para garantir a dívida, honorários do
advogado do requerente e custas.
E, por derradeiro, cessa o arresto:
a) pelo pagamento;
b) pela novação;
c) pela transação.

13.2 Sequestro

O sequestro é medida cautelar destinada à constrição de bens


determinados do devedor, para futura satisfação de crédito do credor, a ser
discutido na ação principal. Dispõe o artigo 822, do Código de Processo
Civil, que o juiz, a requerimento da parte, pode decretar o sequestro:
a) de bens móveis, semoventes ou imóveis, quando Ihes for disputada a
propriedade ou a posse, havendo fundado receio de rixas ou danificações;
b) dos frutos e rendimentos do imóvel reivindicando, se o réu, depois de
condenado por sentença ainda sujeita a recurso, os dissipar;
c) dos bens do casal, nas ações de separação judicial e de anulação de
casamento, se o cônjuge os estiver dilapidando; d) nos demais casos
expressos em lei.
Feito o sequestro, o juiz deve nomear depositário para os bens
sequestrados. Essa escolha poderá, no entanto, recair:
a) em pessoa indicada, de comum acordo, pelas partes;
b) em uma das partes, desde que ofereça maiores garantias e preste caução
idônea.
Tão logo o depositário assine o compromisso, lhe serão entregues os bens
sequestrados (art. 825, do CPC).
124
13.3 Busca e apreensão

A busca e apreensão pode ser decretada em relação a pessoas ou coisas


(art. 839, do CPC).
Quando necessário, o juiz pode designar audiência de justificação prévia,
que poderá ser realizada em segredo de justiça, se indispensável. Provado o
alegado, expedir-se-á o mandado que conterá:
a) a indicação da casa ou do lugar em que deve efetuar-se a diligência;
b) a descrição da pessoa ou da coisa procurada e o destino a Ihe dar;
c) a assinatura do juiz, de quem emanar a ordem.
O mandado de busca e apreensão deve ser cumprido por 2 (dois) oficiais de
justiça, um dos quais o lerá ao morador, intimando-o a abrir as portas (art.
842, caput, do CPC). Se não forem atendidos, os oficiais de justiça podem
arrombar as portas. Os oficiais de justiça devem estar acompanhados de
duas testemunhas, que com eles assinarão o auto circunstanciado.

13.4 Produção antecipada de provas

A produção antecipada de provas é procedimento cautelar tendente a evitar


o perecimento de provas, úteis em eventual processo.
A produção antecipada da prova pode consistir em interrogatório da parte,
inquirição de testemunhas e exame pericial (art. 846, do CPC).
O interrogatório da parte ou a inquirição das testemunhas antes da
propositura da ação, ou durante o seu trâmite, mas antes da audiência de
instrução far-se-á:
a) quando a parte ou testemunha tenha de ausentar-se;
b) quando, por motivo de idade ou de moléstia grave, houver justo receio de
que ao tempo da prova já não exista, ou esteja impossibilitada de depor.
O requerente deve justificar sumariamente a necessidade da antecipação,
assim como mencionar com precisão os fatos sobre que há de recair a prova
(art. 848, caput, do CPC).
Em se tratando de inquirição de testemunhas, devem ser intimados os
interessados a comparecer à audiência em que se prestará o depoimento
(art. 848, parágrafo único, do CPC).
Tomado o depoimento ou feito exame pericial, os autos permanecerão em
cartório, sendo lícito aos interessados solicitar as certidões que quiserem
(art. 851, do CPC).
O procedimento cautelar de produção antecipada de provas é apontado
como medida cautelar satisfativa, pois não há obrigatoriedade de
ajuizamento da ação principal em 30 (trinta) dias.

125
13.5 Alimentos provisionais

Para que se fale no dever de prestar alimentos, exige-se a presença o


binômio necessidade e possibilidade. A necessidade atine ao âmbito do
alimentado, enquanto que a possibilidade se relaciona ao âmbito do
alimentante. Nesse contexto, os alimentos devem ser fixados na proporção
das necessidades do reclamante e das possibilidades da pessoa obrigada.
Os alimentos podem, ainda, ser divididos em civis e naturais. Alimentos
civis são aqueles destinados à manutenção do padrão de vida do
alimentado, ao passo que os alimentos naturais são os destinados ao
custeio das necessidades de subsistência do mesmo.
A presença do binômio necessidade e possibilidade há de estar
constantemente presente, pois a alteração em qualquer dos vetores pode
resultar a alteração da prestação fornecida. Se, fixados os alimentos,
sobrevier alteração na situação financeira de quem os presta, ou na de
quem os recebe, é lícito ao interessado reclamar ao juiz, conforme as
circunstâncias, exoneração, redução ou majoração do encargo.
Dispõe o artigo 1.706 do Código Civil que os alimentos provisionais serão
fixados pelo juiz, nos termos da lei processual, ou seja, nos termos do
Código de Processo Civil. É importante não confundir alimentos provisionais
com alimentos provisórios.
Os alimentos provisórios, são aqueles fixados liminarmente pelo juiz, desde
que haja prova pré-constituída do parentesco, do casamento ou da união
estável, cuja disciplina consta da Lei n.º 5.478/1968.
Já os alimentos provisionais são aqueles concedidos em ação cautelar,
preparatória ou incidental. Os alimentos provisionais são destinados à
manutenção do autor, seja o cônjuge ou os filhos, durante a tramitação do
processo principal.
Dispõe o artigo 852, do Código de Processo Civil, que é lícito pedir
alimentos provisionais:
a) nas ações de divórcio e de anulação de casamento, desde que estejam
separados os cônjuges, caso em que a prestação alimentícia devida ao
requerente abrange, além do que necessitar para sustento, habitação e
vestuário, as despesas para custear a demanda;
b) nas ações de alimentos, desde o despacho da petição inicial; e
c) nos demais casos expressos em lei.
Ainda que a causa principal penda de julgamento no tribunal, será
processado no primeiro grau de jurisdição o pedido de alimentos
provisionais (art. 853, do CPC).
É lícito ao requerente solicitar ao juiz que, ao despachar a inicial e sem ouvir
previamente o requerido, lhe arbitre desde logo uma mensalidade para
mantença (art. 854, parágrafo único, do CPC).

14. PROCEDIMENTOS ESPECIAIS

126
Como já mencionado, procedimento é o rito que dita o trâmite processual,
isto é, o rito que determina qual a sequência de atos a serem praticados no
processo.
Consabido, o procedimento comum divide-se em ordinário e sumário, ao
passo que os procedimentos especiais dividem-se entre: a) os de natureza
contenciosa; e
b) os de natureza voluntária.
Nos procedimentos especiais de natureza contenciosa há formação de um
processo, pois há litígio entre duas partes, já nos de natureza voluntária não
há formação de processo, mas mero procedimento, pois as partes são
meros interessados, e não litigantes. O procedimento especial de natureza
voluntária destina-se apenas ao cumprimento de determinações legais, em
relação a interesses particulares dotados de relevância pública. Um traço
comum às ações de procedimento especial é que elas tem um início de
trâmite peculiar, adequado à necessidade de cada tipo específico de tutela,
mas a partir de certo momento, adota-se o rito ordinário, do procedimento
comum.
Segundo o Código de Processo Civil, são procedimentos especiais de
jurisdição contenciosa:
a) ação de consignação em pagamento;
b) ação de depósito;
c) ação de anulação e substituição de títulos ao portador;
d) ação de prestação de contas;
e) ações possessórias;
f) ação de nunciação de obra nova;
g) ação de usucapião de terras particulares;
h) ação de divisão e de demarcação de terras particulares;
i) inventário e partilha;
j) embargos de terceiro;
k) habilitação;
l) restauração de autos;
m) vendas a crédito com reserva de domínio;
n) juízo arbitral e
o) ação monitória;
Por sua vez, são procedimentos especiais de jurisdição voluntária:
a) alienações judiciais;
b) separação consensual;
c) testamentos e codicilos;
d) herança jacente;
e) bens dos ausentes;
f) coisas vagas;
g) curatela dos interditos;
h) organização e fiscalização das fundações; e
i) especialização da hipoteca legal.

127
Não é objeto do presente estudo exaurir todas as possibilidades de
procedimentos especiais de natureza contenciosa e voluntária, de modo
que, dentre os acima apresentados, serão abordados especificamente
apenas aqueles mais recorrentes em concursos públicos e no exame da
OAB.

14.1 Ação de consignação em pagamento

A consignação em pagamento pode ser feita não apenas pelo devedor,


como também pelo terceiro que deseja pagar o débito deste. E a
consignação pode ser feita judicial e extrajudicialmente.
Quando se tratar de obrigação em dinheiro, poderá o devedor ou terceiro
optar pelo depósito da quantia devida, em estabelecimento bancário, oficial
onde houver, situado no lugar do pagamento, em conta com correção
monetária, cientificando-se o credor por carta com aviso de recepção (A.R.),
assinado o prazo de 10 (dez) dias para a manifestação de recusa (art. 890,
§1º, do CPC).
Se, decorrido o prazo acima mencionado, sem que o credor tenha
manifestado recusa, reputar-se-á o devedor liberado da obrigação, ficando à
disposição do credor a quantia depositada (art. 890, §2º, do CPC). Contudo,
se houver a manifestação de recusa escrita ao estabelecimento bancário, ao
devedor ou terceiro abre-se a possibilidade de, dentro de 30 (trinta) dias,
propor a ação de consignação, instruindo a inicial com a prova do depósito e
da recusa (art. 890, §3º, do CPC). Se a ação não for proposta nesse prazo,
o depósito fica sem efeito e o depositante pode levantá-lo.
A consignação em pagamento deve ser requerida no lugar do pagamento,
com o que cessa para o devedor, tanto que se efetue o depósito, os juros e
os riscos, salvo se ela for julgada improcedente (art. 891, do CPC).
Em se tratando de prestações periódicas, uma vez consignada a primeira,
pode o devedor continuar a consignar, no mesmo processo e sem mais
formalidades, as que se forem vencendo, desde que os depósitos sejam
efetuados até 5 (cinco) dias, contados da data do vencimento, conforme
estipula o artigo 892, do Código de Processo Civil.
Quando o autor tiver dúvida sobre quem deva receber o pagamento, ele
deve requerer o depósito e a citação de todos os que disputam o crédito,
para que provem em juízo o seu direito (art. 895, do CPC).
Segundo o artigo 896, do Código de Processo Civil, são matérias que o réu
pode alegar em contestação:
a) que houve recusa ou mora em receber a quantia ou coisa devida;
b) que foi justa a recusa;
c) que o depósito não se efetuou no prazo ou no lugar do pagamento; ou
d) que o depósito não é integral.

128
Se o réu alegar que o depósito não é integral, deve indicar o montante que
reputa devido, podendo levantar desde logo a quantia ou a coisa depositada,
prosseguindo o processo no que tange à parcela controvertida. E, por
derradeiro, se o réu não contestar a ação consignatória, verificados os
efeitos da revelia, o juiz julgará procedente o pedido, declarará extinta a
obrigação e condenará o réu nas custas e honorários advocatícios (art. 897,
do CPC).

14.2 Ações possessórias

As ações possessórias destinam-se à proteção da posse, e, em razão do


princípio da fungibilidade, a propositura de uma ao invés de outra não obsta
que o juiz conheça do pedido e outorgue a proteção legal correspondente
àquela, cujos requisitos estejam provados. Há 3 (três) modalidades de
ações possessórias:
a) reintegração de posse, utilizada quando há atos de esbulho, isto é,
completa tomada da posse;
b) manutenção de posse, utilizada quando há atos de turbação, isto é,
parcial tomada da posse; ou
c) interdito proibitório, utilizada quando há atos de ameaça à posse, isto
é, na iminência de serem praticados atos de turbação ou de esbulho.
O autor pode cumular ao pedido possessório, o de:
a) condenação em perdas e danos;
b) cominação de pena para caso de nova turbação ou esbulho; e
c) desfazimento de construção ou plantação feita em detrimento de sua
posse.
A ação possessória tem natureza dúplice, assim, embora não permitida a
reconvenção, permite-se que o réu apresente pedido contraposto ao do
autor no bojo da própria contestação.
Outra questão importante acerca das ações possessórias diz respeito a
possibilidade de concessão de medida liminar, cabível apenas naquelas
ações de posse nova, isto é, naquelas ações ajuizadas dentro de ano e dia
da turbação ou esbulho. Ultrapassado esse prazo, não há como se falar em
medida liminar de reintegração ou manutenção de posse.
É dever do autor que ajuíza uma ação de reintegração ou manutenção de
posse, que prove: a) a sua posse;
b) a turbação ou o esbulho praticado pelo réu;
c) a data da turbação ou do esbulho;
d) a continuação da posse, embora turbada, na ação de manutenção; a
perda da posse, na ação de reintegração.
Estando em termos a petição inicial, o juiz pode deferir, sem a oitiva do réu,
a expedição de mandado liminar de manutenção ou de reintegração de
posse. Caso contrário, deve determinar que o autor justifique previamente o

129
alegado, citando-se o réu para que compareça à audiência que for
designada (art. 928, caput, do CPC).
Contra as pessoas jurídicas de direito público não será deferida a
manutenção ou a reintegração liminar sem prévia audiência dos respectivos
representantes judiciais (art. 928, parágrafo único, do CPC).
Se julgada procedente a ação possessória, imediatamente o juiz expedirá
mandado de manutenção ou de reintegração de posse.
No caso do interdito proibitório, cabível quando o possuidor direto ou
indireto tiver justo receio de ser molestado na sua posse, pode lhe ser
concedido mandado proibitório, no qual será cominado ao réu determinada
pena pecuniária, caso transgrida o preceito (art. 932, do CPC).

14.3 Ação de nunciação de obra nova

É pertinente a ação de nunciação de obra nova:


a) ao proprietário ou possuidor, a fim de impedir que a edificação de obra
nova em imóvel vizinho Ihe prejudique o prédio, suas servidões ou fins a que
é destinado;
b) ao condômino, para impedir que o co-proprietário execute alguma
obra com prejuízo ou alteração da coisa comum;
c) ao Município, a fim de impedir que o particular construa em
contravenção da lei, do regulamento ou de postura.
Também é lícito, conforme redação legal do artigo 935, caput, do Código de
Processo Civil, que o prejudicado, diante de uma situação urgente, faça o
embargo extrajudicial, notificando de forma verbal, perante duas
testemunhas, o proprietário ou, em sua falta, o construtor, para que não
continue a obra.
Feita a notificação verbal, o nunciante deve ratificá-la em juízo, no prazo de
3 (três) dias, sob pena de cessar o efeito do embargo.
O juiz pode conceder o embargo da obra de forma liminar, ou após
audiência de justificação prévia (art. 937, do CPC).
Deferido o embargo, o oficial de justiça encarregado de seu cumprimento
lavrará auto circunstanciado, descrevendo o estado em que se encontra a
obra, e, ato contínuo, intimará o construtor e os operários a que não
continuem a obra, sob pena de desobediência e citará o proprietário para
que conteste a ação, no prazo de 5 (cinco) dias.
Por derradeiro, conforme dispõe o artigo 938, caput, do Código de Processo
Civil, o nunciado pode, a qualquer tempo e em qualquer grau de jurisdição,
requerer o prosseguimento da obra, desde que preste caução e demonstre
prejuízo resultante da suspensão dela.

14.4 Inventário e partilha

130
Se todos os interessados forem capazes e concordes, e se não houver
testamento, o inventário e a partilha podem ser feitos por escritura pública,
a qual constituirá título hábil para o registro imobiliário. No entanto, se
houver testamento ou interessados incapazes, obrigatoriamente, há que se
proceder ao inventário judicial (art. 982, caput, do CPC).
O processo de inventário e partilha deve ser aberto dentro de 60 (sessenta)
dias a contar da abertura da sucessão, ultimando-se nos 12 (doze) meses
subsequentes, podendo o juiz prorrogar tais prazos, de ofício ou a
requerimento da parte (art. 983, do CPC).
Até que o inventariante preste compromisso, quem responde pelo espólio é
o administrador provisório, que o representa ativa e passivamente, sendo
obrigado a trazer ao acervo os frutos que desde a abertura da sucessão tiver
percebido, tendo direito ao reembolso das despesas necessárias e úteis que
tenha feito, e respondendo pelos danos a que, por dolo ou culpa, tenha dado
causa (art. 986, do CPC).
O requerimento do inventário e partilha incumbe àquele que estiver na
administração do espólio, mas possui legitimidade concorrente: a) cônjuge
supérstite;
b) o herdeiro;
c) o legatário;
d) o testamenteiro;
e) o cessionário do herdeiro ou do legatário;
f) o credor do herdeiro, do legatário ou do autor da herança;
g) o síndico da falência do herdeiro, do legatário, do autor da herança ou do
cônjuge supérstite;
h) o Ministério Público, havendo herdeiros incapazes;
i) a Fazenda Pública, quando tiver interesse.
No entanto, caso nenhuma das pessoas acima mencionadas requeira o
processamento do inventário e partilha no prazo legal, o juiz poderá fazêlo,
de ofício (art. 989, do CPC).
Como inventariante, o juiz deve nomear:
a) o cônjuge ou companheiro sobrevivente, desde que estivesse
convivendo com o outro ao tempo da morte deste;
b) o herdeiro que se achar na posse e administração do espólio, se não
houver cônjuge ou companheiro sobrevivente ou estes não puderem ser
nomeados;
c) qualquer herdeiro, nenhum estando na posse e administração do
espólio;
d) o testamenteiro, se Ihe foi confiada a administração do espólio ou toda
a herança estiver distribuída em legados; e) o inventariante judicial, se
houver;
f) pessoa estranha idônea, onde não houver inventariante judicial.
Intimado da nomeação, o inventariante tem 5 (cinco) dias para prestar o
compromisso de bem e fielmente desempenhar o cargo.

131
Dentro de 20 (vinte) dias, contados da data em que prestou o compromisso,
fará o inventariante as primeiras declarações, das quais se lavrará termo
circunstanciado. No termo, assinado pelo juiz, escrivão e inventariante,
serão exarados (art. 993, do CPC):
I - o nome, estado, idade e domicílio do autor da herança, dia e lugar
em que faleceu e bem ainda se deixou testamento;
II - o nome, estado, idade e residência dos herdeiros e, havendo
cônjuge supérstite, o regime de bens do casamento;
III - a qualidade dos herdeiros e o grau de seu parentesco com o
inventariado;
IV - a relação completa e individuada de todos os bens do espólio e dos
alheios que nele forem encontrados, descrevendo-se:
a) os imóveis, com as suas especificações, nomeadamente local
em que se encontram, extensão da área, limites, confrontações,
benfeitorias, origem dos títulos, números das transcrições aquisitivas e
ônus que os gravam;
b) os móveis, com os sinais característicos;
c) os semoventes, seu número, espécies, marcas e sinais
distintivos;
d) o dinheiro, as jóias, os objetos de ouro e prata, e as pedras
preciosas, declarando-se-lhes especificadamente a qualidade, o peso
e a importância;
e) os títulos da dívida pública, bem como as ações, cotas e títulos
de sociedade, mencionando-se-lhes o número, o valor e a data;
f) as dívidas ativas e passivas, indicando-se-lhes as datas, títulos,
origem da obrigação, bem como os nomes dos credores e dos
devedores;
g) direitos e ações;
h) o valor corrente de cada um dos bens do espólio.
Após, o juiz deve determinar que se proceda:
a) ao balanço do estabelecimento, se o autor da herança era
comerciante em nome individual; e
b) a apuração de haveres, se o autor da herança era sócio de sociedade
que não anônima.
Feitas as primeiras declarações, o juiz mandará citar, para os termos do
inventário e partilha, o cônjuge, os herdeiros, os legatários, a Fazenda
Pública, o Ministério Público, se houver herdeiro incapaz ou ausente, e o
testamenteiro, se o de cujus deixou testamento (art. 999, caput, do CPC).
Concluídas as citações, abrir-se-á vista às partes, em cartório e pelo prazo
comum de 10 (dez) dias, para dizerem sobre as primeiras declarações (art.
1.000, caput, do CPC).
Aquele que se julgar preterido poderá demandar a sua admissão no
inventário, requerendo-o antes da partilha. Ouvidas as partes no prazo de 10
(dez) dias, o juiz decidirá. Se não acolher o pedido, deve remeter o
requerente para os meios ordinários, mandando reservar, em poder do
132
inventariante, o quinhão do herdeiro excluído até que se decida o litígio (art.
1.001, do CPC).
Findo o prazo comum de 10 (dez) dias, para que as partes se manifestem
sobre as primeiras declarações, e sem que haja impugnação ou que seja
decidida a que tenha sido oposta, o juiz deverá nomear um perito para
avaliar os bens do espólio, se não houver na comarca avaliador judicial (art.
1.003, caput, do CPC).
Entregue o laudo de avaliação, o juiz mandará que sobre ele se manifestem
as partes no prazo de 10 (dez) dias, que correrá em cartório (art. 1.009,
caput, do CPC).
Aceito o laudo ou resolvidas as impugnações suscitadas a seu respeito
lavrar-se-á em seguida o termo de últimas declarações, no qual o
inventariante poderá emendar, aditar ou completar as primeiras (art. 1.011,
do CPC).
Ouvidas as partes sobre as últimas declarações no prazo comum de 10
(dez) dias, proceder-se-á ao cálculo do imposto sobre transmissão causa
mortis, e, após, todas as partes serão novamente ouvidas no prazo comum
de 5 (cinco) dias, e, em seguida, a Fazenda Pública.
Antes da partilha, poderão os credores do espólio requerer ao juízo do
inventário o pagamento das dívidas vencidas e exigíveis (art. 1.017, caput,
do CPC). Já o credor de dívida líquida e certa, mas ainda não vencida, pode
requerer habilitação no inventário, e, caso concordem as partes com o
pedido, o juiz, ao julgar habilitado o crédito, pode mandar que se faça
separação de bens para o futuro pagamento (art. 1.019, do CPC).
Separados os bens, tantos quantos forem necessários para o pagamento
dos credores habilitados, o juiz facultará às partes que, no prazo comum de
10 (dez) dias, formulem o pedido de quinhão. Na sequência, proferirá o
despacho de deliberação da partilha, resolvendo os pedidos das partes e
designando os bens que devam constituir quinhão de cada herdeiro e
legatário.
Pago o imposto de transmissão causa mortis, e juntada aos autos certidão
ou informação negativa de dívida para com a Fazenda Pública, o juiz julgará
por sentença a partilha (art. 1.026, do CPC). Transitada em julgado referida
sentença, receberá o herdeiro os bens que Ihe tocarem e um formal de
partilha, do qual constarão as seguintes peças: a) termo de inventariante e
título de herdeiros;
b) avaliação dos bens que constituíram o quinhão do herdeiro;
c) pagamento do quinhão hereditário;
d) quitação dos impostos; e
e) sentença.
Quando o quinhão hereditário não exceder 5 (cinco) vezes o valor do salário
mínimo vigente, o formal de partilha pode ser substituído por certidão do
pagamento do quinhão hereditário, caso em que se transcreverá nela a
sentença de partilha transitada em julgado (art. 1.027, parágrafo único, do
CPC).

133
14.5 Embargos de terceiro

Aquele que, não sendo parte em processo, sofrer turbação ou esbulho na


posse de seus bens por ato de apreensão judicial, em casos como o de
penhora, depósito, arresto, sequestro, alienação judicial, arrecadação,
arrolamento, inventário, partilha, poderá requerer Ihe sejam manutenidos ou
restituídos por meio de embargos (art. 1.046, caput, do CPC).
Os embargos de terceiro não devem, em hipótese alguma, serem
confundidos com qualquer das modalidades de intervenção de terceiros,
pois é processo autônomo, utilizável em situação específica.
Os embargos de terceiro podem ser opostos a qualquer tempo no
processo de conhecimento, desde que não transitada em julgado a
sentença, e, no processo de execução, até 5 (cinco) dias depois da
arrematação, adjudicação ou remição, mas sempre antes da assinatura da
respectiva carta (art. 1.048, do CPC).
Os embargos são distribuídos por dependência e correm em autos distintos
perante o mesmo juiz que ordenou a apreensão (art. 1.049, do CPC).
Na petição inicial dos embargos, além do preenchimento dos requisitos do
artigo 282 do Código de Processo Civil, o embargante deve fazer prova
sumária de sua posse e de sua qualidade de terceiro, instruindoa com
documentos e apresentando rol de testemunhas (art. 1.050, caput, do CPC).
Se o juiz reputar suficientemente provada a posse, deferirá liminarmente os
embargos e ordenará a expedição de mandado de manutenção ou de
restituição em favor do embargante, que só receberá os bens depois de
prestar caução de os devolver com seus rendimentos, caso sejam ao final
declarados improcedentes (art. 1.051, do CPC).
Quando os embargos versarem sobre todos os bens, o juiz determinará a
suspensão do do processo principal. Porém, se versar apenas sobre alguns
deles, o processo principal prosseguirá quanto aos bens não embargados
(art. 1.052, do CPC).
O prazo para contestação dos embargos de terceiro é de 10 (dez)
dias.
Por derradeiro, a teor da disposição do artigo 1.054, do Código de Processo
Civil, contra os embargos do credor com garantia real, somente poderá o
embargado alegar que:
a) o devedor comum é insolvente;
b) o título é nulo ou não obriga a terceiro;
c) outra é a coisa dada em garantia.

14.6 Ação monitória

A ação monitória é meio processual apto a quem possui prova escrita, mas
sem eficácia de título executivo, para pagamento de soma em dinheiro,
entrega de coisa fungível ou de determinado bem móvel.

134
Se a parte possuísse um título executivo, utilizaria o processo de execução,
e, se não tivesse qualquer prova, só lhe restaria o processo de
conhecimento.
Quando, no entanto, ela possui um início de prova, a ação monitória é a via
processual ideal para obtenção de um título executivo de forma mais célere.
Estando a petição inicial da ação monitória devidamente instruída, o juiz
deferirá de plano a expedição do mandado de pagamento ou de entrega da
coisa no prazo de 15 (quinze) dias (art. 1.102-B, do CPC). Nesse mesmo
prazo, o réu pode oferecer embargos, que suspenderão a eficácia do
mandado inicial, caso em que estes serão processados nos próprios autos,
pelo procedimento ordinário.
Se os embargos não forem opostos, constituir-se-á, de pleno direito, o título
executivo judicial, convertendo-se o mandado inicial em mandado executivo
e prosseguindo-se ao cumprimento de sentença.
E, se os embargos forem rejeitados, constituir-se-á o título executivo
judicial, intimando-se o devedor e prosseguindo-se ao cumprimento de
sentença.
Na ação monitória, se o réu cumpre o mandado inicial, fica isento do
pagamento das custas, assim como dos honorários advocatícios (art.
1.102C, §1º, do CPC).

15. LEI DOS JUIZADOS ESPECIAIS

É importante estar atento às disposições da Lei dos Juizados Especiais, Lei


n.º 9.099, seja em seu âmbito civil, para as questões de direito processual
civil, seja em seu âmbito penal, para as questões de direito processual
penal.
Os Juizados da Lei n.º 9.099 integram a estrutura da Justiça Estadual e do
Distrito Federal, e tem como princípios: a) a oralidade;
b) a simplicidade;
c) a informalidade;
d) a economia processual; e
e) a celeridade.

15.1 Competência

O Juizado Especial Cível possui competência para conciliar, processar e


julgar as causas cíveis de menor complexidade, assim consideradas:
a) as causas cujo valor não exceda a 40 (quarenta) vezes o salário mínimo;
b) as enumeradas no art. 275, inciso II, do Código de Processo Civil, quais
sejam:
b.1) de arrendamento rural e de parceria agrícola;
b.2) de cobrança ao condômino de quaisquer quantias devidas ao
condomínio;
b.3) de ressarcimento por danos em prédio urbano ou rústico;
135
b.4) de ressarcimento por danos causados em acidente de veículo de
via terrestre;
b.5) de cobrança de seguro, relativamente aos danos causados em
acidente de veículo, ressalvados os casos de processo de
execução;
b.6) de cobrança de honorários dos profissionais liberais, ressalvado o
disposto em legislação especial;
b.7) que versem sobre revogação de doação;
b.8) nos demais casos previstos em lei.
c) a ação de despejo para uso próprio;
d) as ações possessórias sobre bens imóveis de valor não excedente a 40
(quarenta) salários mínimos.
E, ainda, compete aos Juizados Especiais promover a execução:
a) dos seus julgados; e
b) dos títulos executivos extrajudiciais, no valor de até 40 (quarenta) vezes o
salário mínimo, observado o rol de legitimados a atuar perante o Juizado
Especial.
As causas de natureza alimentar, falimentar, fiscal e de interesse da
Fazenda Pública, e também as relativas a acidentes de trabalho, a resíduos
e ao estado e capacidade das pessoas, ainda que de cunho patrimonial
ficam excluídas da competência do Juizado Especial, da Lei n.º 9.099/95.
Para as causas de competência dos Juizados Especiais, é competente o
Juizado do foro:
a) do domicílio do réu, via de regra; ou
b) a critério do autor:
b.1) do local onde o réu exerça suas atividades profissionais ou
econômicas ou mantenha estabelecimento, filial, agência,
sucursal ou escritório;
b.2) do lugar onde a obrigação deva ser satisfeita;
b.3) do domicílio do autor ou do local do ato ou fato, nas ações para
reparação de dano de qualquer natureza.
Entre os foros mencionados, não há ordem legal de preferência.

15.2 Do juiz, dos conciliadores e dos juízes leigos

Como decorrência do princípio da informalidade, ao juiz é dado ampla


margem de liberdade na determinação das provas a serem produzidas, para
apreciá-las e para dar especial valor às regras de experiência comum ou
técnica.
Em qualquer caso, o juiz deve decidir da forma mais justa e equânime,
atendendo aos fins sociais da Lei dos Juizados Especias, assim como às
exigências do bem comum.
Nos termos do artigo 7º, da Lei n.º 9.099/95, os conciliadores e juízos leigos
atuarão como auxiliares da Justiça, recrutados, os primeiros,
136
preferencialmente, entre os bacharéis em Direito, e os segundos, entre
advogados com mais de 5 (cinco) anos de experiência. Os juízes leigos são
impedidos de exercer a advocacia perante os Juizados Especiais enquanto
estiverem desempenhado suas funções.
O objetivo principal da Lei dos Juizados Especiais é a obtenção da
conciliação para solução do litígio. A audiência de conciliação pode ser
presidida pelo conciliador, pelo juiz leigo ou pelo juiz togado, sendo que
todos possuem legitimidade para obter a solução conciliatória. Obtida esta,
porém, a decisão homologatória só poderá ser dada pelo juiz togado, que
prolatará sentença, passível de execução no próprio Juizado, caso o acordo
não seja volitivamente cumprido.

15.3 Partes

Por expressa disposição legal, não podem ser partes no procedimento


sumaríssimo dos Juizados Especiais Cíveis: a) o incapaz;
b) o preso;
c) as pessoas jurídicas de direito público;
d) as empresas públicas da União;
e) a massa falida; e
f) o insolvente civil.
Conforme artigo 8º, parágrafo primeiro, da Lei n.º 9.099/95, somente serão
admitidas a ajuizar ação perante o Juizado Especial:
a) as pessoas físicas capazes, excluídos os cessionários de direito de
pessoas jurídicas;
b) as microempresas, assim definidas pela Lei n.º 9.841, de 5 de outubro
de 1999;
c) as pessoas jurídicas qualificadas como Organização da Sociedade
Civil de Interesse Público, nos termos da Lei no 9.790, de 23 de março de
1999;
d) as sociedades de crédito ao microempreendedor, nos termos do art.
1º da Lei n.º 10.194, de 14 de fevereiro de 2001.
Ponto importante da Lei n.º 9.099/95 está contido no seu artigo 9º, segundo
o qual, nas causas de valor até 20 (vinte) salários mínimos, as partes
poderão comparecer pessoalmente, sem a exigência de estarem
acompanhadas por advogado. A presença do advogado nas causas do
Juizado Especial Cível que não ultrapassem 20 (vinte) salários mínimos é
faculdade da parte. Superado este valor, contudo, a assistência por
advogado torna-se obrigatória, sob pena de não restar preenchido
pressuposto processual de existência (capacidade postulatória).
Nas hipóteses em que a assistência de advogado é facultativa, caso uma
das partes compareça assistida por um, ou se o réu for pessoa jurídica ou
firma individual, à outra parte é conferido o direito, se desejar, de assistência

137
judiciária a ser prestada por órgão instituído junto ao Juizado Especial, de
forma gratuita.
No âmbito dos Juizados Especiais, o mandato conferido ao advogado pode
ser verbal, em razão da consagração dos princípios da oralidade e
informalidade, mas para outorga de poderes especiais exige-se a forma
escrita.
Quando o réu for pessoa jurídica ou titular de firma individual, pode ser
representado por preposto devidamente credenciado, o qual deve
apresentar carta de proposição com poderes para transigir, sem que se fale
na necessidade de vínculo empregatício (art. 9º, §4º, Lei n.º 9.099/95).
Nos processos que tramitam perante os Juizados Especiais não se admite
qualquer forma de intervenção de terceiros, nem de assistência, mas não há
óbice à formação de litisconsórcio (art. 10, Lei n.º 9.099/95).
Por derradeiro, quanto ao Ministério Público, este deve intervir normalmente
nos processos em que for exigida sua presença, conforme previsões gerais
de lei.

15.4 Atos processuais

A consagração do princípio da informalidade no âmbito dos Juizados


Especiais permite que estes possam ser realizados em horário noturno,
conforme autorização constante do artigo 12, da Lei n.º 9.099/99.
Ainda segundo o princípio da informalidade, mas também em razão do
princípio da instrumentalidade, no âmbito dos Juizados Especiais, os atos
processuais serão reputados válidos sempre que preencherem as
finalidades para as quais forem realizados. Nesse contexto, não se deve
pronunciar qualquer nulidade sem que tenha havido prejuízo.

15.5 Pedido

O processo de rito sumaríssimo, da Lei n.º 9.099/95, rege-se pelo princípio


da oralidade. Assim, pode haver o início da marcha processual através da
apresentação de pedido escrito, mas também através da apresentação de
pedido oral, perante a Secretaria do Juizado, oportunidade em que
funcionário habilitado reduzirá o pedido a termo e colherá assinatura do
autor.
O pedido deve conter, de forma simples e em linguagem acessível:
a) o nome, a qualificação e o endereço das partes;
b) os fatos e os fundamentos, de forma sucinta; e
c) o objeto e seu valor.
É importante ter em vista que o pedido genérico pode, perfeitamente, ser
apresentado perante o processo de rito sumaríssimo, sempre que não seja
possível determinar, desde logo, a extensão da obrigação.

138
Uma vez registrado o pedido perante o Juizado Especial,
independentemente de distribuição e atuação, a Secretaria do Juizado
designará a sessão de conciliação, a se realizar no prazo (impróprio) de 15
(quinze) dias, conforme dispõe o artigo 16, da Lei n.º 9.099/95.
Se comparecerem, inicialmente, ambas as partes, instaurar-se-á, desde
logo, a sessão de conciliação, dispensados o registro prévio do pedido e a
citação, nos termos doa artigo 17, da Lei n.º 9.099/95, pois, como
mencionado, o princípio da celeridade é um dos regentes do Juizados
Especiais Cíveis.

15.6 Citações e intimações

Dispõe o artigo 18, da Lei n.º 9.099/95, que a citação far-se-á:


a) por correspondência, com aviso de recebimento em mão própria;
b) tratando-se de pessoa jurídica ou firma individual, mediante entrega ao
encarregado da recepção, que será obrigatoriamente identificado;
c) sendo necessário, por oficial de justiça, independentemente de mandado
ou carta precatória.
Como se nota, em função dos princípios da informalidade, celeridade e
economia processual, a regra no âmbito dos Juizados Especiais é que a
citação seja feita por correspondência.
A citação deve conter cópia do pedido inicial, dia e hora para
comparecimento do cintado e advertência de que, não comparecendo este,
considerar-se-ão verdadeiras as alegações iniciais, e será proferido
julgamento, de plano.
No âmbito dos Juizados Especiais não será realizada citação por edital,
conforme determina o artigo 18, parágrafo segundo, da Lei n.º 9.099/95.
Sempre que a parte comparecer espontaneamente considerar-se-á suprida
a falta ou a nulidade de citação, novamente frisando a intensa presença do
princípio da instrumentalidade e informalidade.
Quanto as intimações, determina o artigo 19, da Lei n.º 9.099/95, que sejam
realizadas na mesma fora das citações, ou por qualquer outro meio idôneo
de comunicação. Quando os atos forem praticados em audiência,
considerar-se-ão desde logo cientes as partes (art. 19, §1º, Lei n.º 9.099/95).
Se o demandado não comparecer à sessão de conciliação ou à audiência
de instrução e julgamento, reputar-se-ão verdadeiros os fatos alegados pelo
autor em seu pedido inicial, salvo quando o contrário resultar da convicção
do juiz (art. 20, Lei n.º 9.099/95).

15.7 Conciliação e juízo arbitral

Aberta a sessão conciliatória, o juiz togado ou leigo deve esclarecer às


partes sobre as vantagens da conciliação, apresentando-lhes os riscos e as
consequências do litígio, especialmente quanto ao valor máximo dos
139
Juizados Especiais, teto que não se aplica no caso de conciliações, a teor
do artigo 3º, parágrafo terceiro, combinado com o artigo 21, ambos da Lei n.º
9.099/95.
Conforme disposição do artigo 22, da Lei n.º 9.099/95, a conciliação pode
ser conduzida por juiz togado ou leigo, ou por conciliador sob sua
orientação. Quando for obtida a conciliação, esta será reduzida a escrito e
homologada pelo juiz togado, só com o que adquire eficácia de título
executivo.
Se o demandado não comparecer à audiência conciliatória, o juiz togado
proferirá sentença.
Não obtida a conciliação, podem as partes optar, de comum acordo, pelo
juízo arbitral (art. 24, da Lei n.º 9.099/95), sendo o árbitro escolhido dentre
juízes leigos. Neste caso, o árbitro conduzirá o processo com os mesmo
critérios do juiz, tendo liberdade para determinar as provas a serem
produzidas, para apreciá-las e para dar especial valor às regras de
experiência comum ou técnica, devendo adotar, em cada caso, a decisão
mais equânime, atendendo aos fins sociais da lei e às exigências do bem
comum. Por fim, ao término da instrução, ou nos 5 (cinco) dias
subsequentes, deve o árbitro apresentar o laudo ao juiz togado para
homologação por sentença irrecorrível, conforme artigo 26, da Lei n.º
9.099/95.

15.8 Instrução e julgamento

Quando não for instituído o juízo arbitral, deve-se proceder imediatamente à


audiência de instrução e julgamento, desde que não haja prejuízo para a
defesa. Se não for possível sua realização imediata, a audiência deverá ser
designada para os 15 (quinze) dias subsequentes, cientificando-se, desde
logo, as partes e as testemunhas presentes.
Na audiência de instrução devem ser ouvidas as partes, colhida a prova e,
em seguida proferida sentença (art. 28, da Lei n.º 9.099/95).
Quando forem opostos incidentes que possam interferir no regular
processamento da audiência, o juiz deve decidi-los de plano. Quanto as
demais questões, devem ser decididas em sentença.
Se uma das partes apresentar documento, a pate contrária deve sobre ele
se manifestar, imediatamente, sem interrupção da audiência.

15.9 Resposta do réu

Assim como o pedido inicial do autor pode ser apresentado de forma escrita
ou oral, assim também a contestação, que deve apresentar toda a matéria
de defesa, exceto arguição de suspeição ou impedimento do juiz, que se
processa mediante regras gerais do Código de Processo Civil. No âmbito
dos Juizados Especiais não se admite reconvenção, mas o réu pode
oferecer pedido contraposto à pretensão do autor, desde que fundado nos
140
mesmo fatos que constituem o objeto da controvérsia, e adequado aos
limites de competência material dos juizados. Nesse caso, o autor poderá
responder ao pedido do réu na própria audiência ou requerer a designação
de nova data, que deverá ser dede logo fixada, cientes todos os presentes
(art. 31, parágrafo único, da Lei n.º 9.099/95).

15.10 Provas

Nos Juizados Especiais são admissíveis todos os meios de prova, desde


que moralmente legítimos, ainda que não especificados em lei.
Todas as provas devem ser produzidas na audiência de instrução e
julgamento, ainda que não requeridas previamente, podendo o juiz limitar ou
excluir as que considerar excessivas, impertinentes ou protelatórias,
conforme estipula o artigo 33, da Lei n.º 9.099/95.
No âmbito dos Juizados Especiais, as testemunhas, limitadas até o máximo
de 3 (três) para cada parte, devem comparecer à audiência de instrução e
julgamento independentemente de intimação, isto é, devem ser levadas pela
parte que as tenha arrolado. Contudo, nada impede que seja expedida
intimação para a testemunha, desde que a parte assim requeira
expressamente. Nesse caso, o requerimento para intimação deve ser
apresentado à Secretaria em prazo não inferior a 5 (cinco) dias anteriores à
data da audiência de instrução e julgamento. Se a testemunha, regularmente
intimada, não comparecer à audiência, o juiz poderá determinar sua
imediata condução, valendo-se, se necessário, do uso da força pública.
Sempre que a prova exigir, o juiz pode inquirir técnicos de sua confiança,
permitida às partes a apresentação de parecer técnico (art. 35, da Lei n.º
9.099/95). No curso da audiência, pode o juiz, de ofício ou a requerimento
das partes, realizar inspeção em pessoas ou coisas, ou determinar que o
faça pessoa de sua confiança, que lhe relatará informalmente o verificado
(art. 35, parágrafo único, da Lei n.º 9.099/95).
Produzida de forma oral, a prova não precisa ser reduzida a escrito, salvo
naquilo que lhe for essencial, através de sentença.
Conforme artigo 37, da Lei n.º 9.099/95, a audiência de instrução e
julgamento pode ser dirigida por juiz leigo, sob a supervisão de juiz togado.

15.11 Sentença

A sentença proferida no processo de rito sumaríssimo, da Lei n.º 9.099/95,


deve mencionar os elementos de convicção do juiz, com breve resumo dos
fatos relevantes ocorridos em audiência, dispensado o relatório
(art. 38).

141
Excedido o valor limite dos Juizados Especiais, isto é, 40 (quarenta) salários
mínimos, considera-se ineficaz a sentença naquilo que extrapolar esse valor.
Quando o juiz leigo que tiver dirigido a instrução processual proferir decisão,
deve imediatamente submetê-la ao juiz togado, que poderá homologá-la,
proferir outra em substituição ou, antes de se manifestar, determinar a
realização de atos probatórios indispensáveis (art. 40, da Lei n.º 9.099/95).
Proferida sentença, salvo a homologatória de conciliação ou laudo arbitral,
cabe recurso para o próprio Juizado. Esse recurso, chamado recurso
inominado, é julgado por uma turma recursal, composta por 3 (três) juízes
togados, em exercício no 1º (primeiro) grau de jurisdição, reunidos na sede
do Juizado. Para o âmbito recursal, é obrigatória a representação das partes
por advogado, não se admitindo que a parte que litigou sem advogado assim
prossiga (art. 41, §2º, da Lei n.º 9.099/95).
O prazo para recurso inominado é de 10 (dez) dias, contados da ciência da
sentença, por petição escrita, da qual constarão as razões e o pedido do
recorrente. Note-se que, diferentemente do que ocorre na fase inicial do
procedimento sumaríssimo, quando admite-se a feitura de pedido inicial e
contestação de forma oral, com predominância do princípio da oralidade,
isso não se mantém quando o processo dos Juizados atinge a fase recursal.
O preparo para interposição de recurso inominado deve ser feito
independentemente de intimação, nas 48 (quarenta e oito) horas seguintes à
interposição, sob pena de deserção. Após o preparo, a Secretaria deve
intimar o recorrido para oferecer resposta escrita no prazo de 10 (dez) dias.
O recurso inominado, via de regra, não possui efeito suspensivo. Portanto,
deve ser recebido apenas no efeito devolutivo, podendo o juiz darlhe efeito
suspensivo para evitar a ocorrência de dano irreparável para a parte,
conforme artigo 43, da Lei n.º 9.099/95.
O julgamento proferido em 2ª (segunda) instância constará apenas da ata,
com a indicação suficiente do processos, fundamentação sucinta e parte
dispositiva. Caso a sentença seja confirmada pelos próprios fundamentos, a
súmula do julgamento servirá de acórdão (art. 46, da Lei n,º 9.099/95).
Por derradeiro, é oportuno mencionar que não se admite a propositura de
ação rescisória nas causas sujeitas ao procedimento da Lei dos Juizados
Especiais, o que amplia a relevância do recurso inominado, já que nele
devem ser apresentadas todas as matérias passíveis de questionamento,
pois, depois dele, admite-se apenas recurso extraordinário, sem que se
possa falar em qualquer outro.

15.12 Embargos de declaração

No âmbito dos Juizados Especiais há uma limitação na possibilidade


recursal, em razão dos princípios da celeridade e economia processual.
Além do recurso inominado, cabem embargos de declaração no
procedimento sumaríssimo.
Cabem embargos de declaração quando, na sentença ou acórdão,
houver:
142
a) obscuridade;
b) contradição;
c) omissão; ou
d) dúvida.
Quanto aos erros materiais, estes podem ser corrigidos de ofício,
independentemente da interposição de embargos de declaração.
Os embargos de declaração podem ser interpostos por forma escrita ou
oral, no prazo de 5 (cinco) dias, contados da ciência da decisão, nos termos
do artigo 49, da Lei n.º 9.099/95.
Quando interpostos em face de sentença, os embargos de declaração
suspenderão o prazo para recurso (art. 50, da Lei n.º 9.099/95).

15.13 Extinção do processo sem julgamento do mérito

Dispõe o artigo 51, da Lei n.º 9.099/95, que além dos casos previstos em
lei, extingue-se o processo:
a) quando o autor deixar de comparecer a qualquer das audiências do
processo;
b) quando inadmissível o procedimento instituído por esta Lei ou seu
prosseguimento, após a conciliação;
c) quando for reconhecida a incompetência territorial;
d) quando sobrevier qualquer dos impedimentos previstos no art. 8º desta
Lei;
e) quando, falecido o autor, a habilitação depender de sentença ou não se
der no prazo de trinta dias;
f) quando, falecido o réu, o autor não promover a citação dos sucessores no
prazo de trinta dias da ciência do fato.
Em qualquer hipótese, a extinção do processo não depende de prévia
intimação pessoal das partes.
Quando o autor deixar de comparecer a qualquer das audiências do
processo, mas provar a ocorrência de evento de força maior, poderá ser
isentado, pelo juiz, do pagamento das custas (art. 51, §2º, da Lei n.º
9.099/95).

15.14 Execução

Os Juizados Especiais possuem competência para processar a execução


dos seus próprios julgados, aplicando-se, no que pertinente, as disposições
do Código de Processo Civil, mas observadas as seguintes alterações:
a) as sentenças serão necessariamente líquidas, contendo a conversão
em Bônus do Tesouro Nacional - BTN ou índice equivalente (art.
52, I, da Lei n.º 9.099/95);

143
b) os cálculos de conversão de índices, de honorários, de juros e de
outras parcelas serão efetuados por servidor judicial (art. 52, II, da Lei n.º
9.099/95);
c) a intimação da sentença será feita, sempre que possível, na própria
audiência em que for proferida. Nessa intimação, o vencido será instado a
cumprir a sentença tão logo ocorra seu trânsito em julgado, e advertido dos
efeitos do seu descumprimento (inciso V) - (art. 52, III, da Lei n.º 9.099/95);
d) não cumprida voluntariamente a sentença transitada em julgado, e
tendo havido solicitação do interessado, que poderá ser verbal, proceder-
seá desde logo à execução, dispensada nova citação (art. 52, IV, da Lei n.º
9.099/95);
e) nos casos de obrigação de entregar, de fazer, ou de não fazer, o Juiz,
na sentença ou na fase de execução, cominará multa diária, arbitrada de
acordo com as condições econômicas do devedor, para a hipótese de
inadimplemento. Não cumprida a obrigação, o credor poderá requerer a
elevação da multa ou a transformação da condenação em perdas e danos,
que o Juiz de imediato arbitrará, seguindo-se a execução por quantia certa,
incluída a multa vencida de obrigação de dar, quando evidenciada a malícia
do devedor na execução do julgado (art. 52, V, da Lei n.º 9.099/95);
f) na obrigação de fazer, o Juiz pode determinar o cumprimento por
outrem, fixado o valor que o devedor deve depositar para as despesas, sob
pena de multa diária (art. 52, VI, da Lei n.º 9.099/95);
g) na alienação forçada dos bens, o Juiz poderá autorizar o devedor, o
credor ou terceira pessoa idônea a tratar da alienação do bem penhorado, a
qual se aperfeiçoará em juízo até a data fixada para a praça ou leilão. Sendo
o preço inferior ao da avaliação, as partes serão ouvidas. Se o pagamento
não for à vista, será oferecida caução idônea, nos casos de alienação de
bem móvel, ou hipotecado o imóvel (art. 52, VII, da Lei n.º
9.099/95);
h) é dispensada a publicação de editais em jornais, quando se tratar de
alienação de bens de pequeno valor (art. 52, VIII, da Lei n.º 9.099/95);
i) o devedor poderá oferecer embargos, nos autos da execução,
versando sobre (art. 52, IX, da Lei n.º 9.099/95):
1) falta ou nulidade da citação no processo, se ele correu à
revelia;
2) manifesto excesso de execução;
3) erro de cálculo;
4) causa impeditiva, modificativa ou extintiva da obrigação,
superveniente à sentença.
E, consabido, os Juizados Especiais não são competentes apenas para
execução de seus julgados, mas também para execução de títulos
executivos extrajudiciais, no valor de até 40 (quarenta) salários mínimos,
obedecendo às disposições do Código de Processo Civil, com as
modificações introduzidas pela Lei n.º 9.099/95.
Realizada a penhora, o devedor será intimado a comparecer à audiência de
conciliação, quando poderá oferecer embargos, por escrito ou de forma oral.

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Nessa audiência, deve ser buscado o meio mais rápido e eficaz para a
solução do litígio, se possível com dispensa da alienação judicial, devendo o
conciliador propor, entre outras medidas cabíveis, o pagamento do débito a
prazo ou a prestação, a dação em pagamento ou a imediata adjudicação do
bem penhorado. Essa mesma solução pode ser requerida ao juiz por
qualquer das partes se os embargos não forem apresentados em audiência,
ou se forem julgados improcedentes (art. 53, §3º, da Lei n.º 9.099/95).
Não sendo encontrado o devedor ou inexistindo bens penhoráveis, o
processo será imediatamente extinto, devolvendo-se os documentos ao
autor.

15.15 Despesas

Em primeiro grau de jurisdição, o acesso aos Juizados Especiais independe


do pagamento de custas, taxas ou despesas (art. 54, da Lei n.º 9.099/95).
Mas, alcançado o segundo grau, mediante a interposição de recurso, o
preparo deste compreenderá todas as despesas processuais, inclusive
aquelas dispensadas em primeiro grau de jurisdição, ressalvada a hipótese
de assistência judiciária gratuita.
A sentença de primeiro grau não condena o vencido ao pagamento de
custas processuais e honorários advocatícios, salvo nos casos de
condenação por litigância de má-fé. Já em segundo grau, o recorrendo,
vencido, será compelido ao pagamento das custas e honorários
advocatícios, que serão fixados entre 10% (dez por cento) e 20% (vinte por
cento) do valor da condenação ou, não havendo condenação, do valor
corrigido da causa (art. 55, da Lei n.º 9.099/95).
Na execução, conforme dispõe o artigo 55, parágrafo único, da Lei n.º
9.099/95, não serão contadas custas, salvo quando:
a) reconhecida a litigância de má-fé;
b) improcedentes os embargos do devedor; ou
c) tratar-se de execução de sentença que tenha sido objeto de recurso
improvido do devedor.

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