Uma das questões mais discutidas, durante os trabalhos da Constituinte de 1987/88, foi a da escola pública. Por isso, foram muito fortes os confrontos e as pressões. A escola parti- cular, por exemplo, desejosa da manutenção do acesso às verbas públicas, garantido na Constituição anterior, posicionou-se com veemência. Mesmo assim, a Carta de 1988 assegura alguns avanços: • gratuidade do ensino público nos estabeleci mentos oficiais; • gratuidade e obrigatoriedade do Ensino Fundamental; • extensão progressiva do ensino obrigatório e gratuito ao Ensino Médio; • atendimento às crianças de zero a seis anos, em creches e pré-escolas; • planos de carreira para o magistério, no processo de valorização dos profissionais do ensino; • recursos públicos destinados, prioritariamente, ao ensino obrigatório, de acordo com o Plano Nacional de Educação; • a União deve aplicar anualmente em educação nunca menos de 18% da receita resultante dos impostos; • os estados, Distrito Federal e municípios, 25%, no mínimo. Essas linhas mestras da Constituição de 1988 fundamentam a nova Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDBEN n. 9.394/96), que, em seu artigo 1º, define: a educação abrange os processos formativos que se desenvolvem na família, na convivência humana, no trabalho, nas instituições de ensino e pesquisa, nos movimentos sociais e organizações da sociedade civil e nas manifestações culturais.
O parágrafo 1º da lei determina: “Esta Lei disciplina a educação escolar,
que se desenvolve, predominantemente, por meio do ensino, em instituições 2 próprias”. Seu parágrafo 2º orienta: “A educação escolar deverá vincular-se ao mundo do trabalho e à prática social”. Essa nova LDBEN é resultado de um amplo debate. De acordo com Shiroma (2002), no final do século XX, atribui-se à educação o papel de sustentação da competitividade. Importantes organismos multilaterais, mediante diagnós- ticos, análises e propostas de soluções adequadas ao caso da América Latina e Caribe, posicionaram-se me favor desse novo papel. A educação, nesse momento, estava no centro das atenções mundiais; por isso, inúmeros eventos passam a acontecer. Em 1990, realizou-se a Conferência de Educação para Todos, em Jomtiem (Tailândia). A partir dessa Conferência, os nove países com maior taxa de analfabetismo do mundo, entre eles o Brasil, desencadearam ações, para consolidar os princípios acordados na Declaração de Jomtien. Surgem, então, os chamados planos decenais. O Plano Decenal do Brasil foi elaborado em 1993, na gestão do ministro da Educação Murílio de Avellar Hingel, no governo Itamar Franco. O objetivo do plano era traçar as metas locais, a partir do acordo firmado em Jomtien. Paralelamente, sinalizava ”[...] aos organismos multilaterais que o projeto educa- cional por eles prescrito seria aqui implantado” (SHIROMA, 2002, p. 62). Anteprojetos da LDBEN tramitaram, no Congresso Nacional, durante oito anos. O Fórum Nacional atuou, de maneira efetiva, junto aos parlamentares, além de ter realizado eventos em várias partes do Brasil. Mas, à medida que a Lei era debatida, o governo impingia seu projeto educacional. Articulado aos desígnios firmados em Jomtien, esse projeto vinculava-se, também, aos grandes interesses internacionais. Após os embates, vence o projeto do Governo, e a LDBEN é sancionada. Por essa Lei, a educação básica passa a ser composta pela educação infantil, pelo ensino fundamental e pelo ensino médio. Relativamente à educação infantil, a LDBEN transferiu as creches do sistema de assistência social para o educa- cional: a educação infantil, atendimento em creches (para crianças de zero a três anos) e pré-escolas (de quatro a seis anos). O objetivo do ensino fundamental é a formação básica do cidadão. Para garantir esse objetivo, ele deve promover, entre outras, a capacidade de aprender e compreender o ambiente natural e social, o sistema político, a tecnologia, as artes e os valores que fundamentam a sociedade; adquirir conhecimentos e habi- lidades voltadas à formação de atitudes e valores, além de fortalecer os vínculos de família, os laços de solidariedade humana e de tolerância recíproca, bases da vida em sociedade. Em relação ao ensino médio e ao ensino técnico, em 1997, o Decreto 2.208, estabeleceu a separação formal entre eles. Em decorrência desse fato, criou, para cada um, organizações e currículos específicos, regidos pelo princípio da flexibili- dade e com um objetivo fundamental: oferecer maiores oportunidades de entrada 3 e saída do sistema, garantindo, assim, a empregabilidade dos alunos. Conforme SHIROMA (2002), com a reestruturação, o ensino técnico passa a organizar-se em três níveis: básico (independente da escolaridade anterior), técnico (supõe o nível médio) e tecnológico (cursos superiores de curta duração). Além disso, o divórcio entre o ensino médio e técnico parece ter respondido, numa só cartada, a mais de um interesse. Suprimiu-se o estatuto da equivalência [...] parte do ensino pós-compulsório foi trans- formada em estritamente profissionalizante, adquirindo caráter terminal, e parte manteve-se propedêutico. Reeditando a velha dualidade [...] tal separação configurou-se numa estratégia de lidar com a expansão do ensino médio sem onerar o ensino supe- rior (SHIROMA, 2002, p. 91-92).
Quanto ao ensino superior, um fato chama a atenção: o posicionamento
contra o caráter público da universidade, cujas raízes se encontram no Regime Militar, foi reforçado no governo Fernando Henrique Cardoso: um número consi- derável de leis, medidas provisórias, decretos, decretos-leis, portarias, resolu- ções definiram os rumos do ensino superior brasileiro. Na LDBEN de 1996, o capítulo sobre a educação superior contém o maior número de artigos, compa- rado aos demais. Com Paulo Renato de Souza, ministro da educação do governo Fernando Henrique, a reforma universitária tem três objetivos, envolvendo os seguintes aspectos: avaliação, autonomia e melhoria de ensino (SHIROMA, 2002, p. 93). Os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN), um dos primeiros frutos da sistematização do ensino, feita pela LDBEN 9394/96, podem ser considerados uma resposta às mudanças sociais que ocorriam no Brasil, na última década do século XX. Mas o que são, de fato, os PCN? São um proposta de reorientação das diferentes áreas curriculares que compõem o trabalho escolar. Seu objetivo é provocar debates sobre a função da escola e reflexões relativas a o quê, quando, como e para que ensinar e aprender. Esses debates e reflexões devem envolver, além da escola, os pais, o governo e a sociedade. A concretização dos PCN no cenário educacional-escolar brasileira dar-se- á através de quatro momentos: instituição (dos PCN) nas unidades federativas; discussão e elaboração de projetos educacionais pela unidades federativas e pelos municípios; elaboração de projeto educativo para cada instituição de ensino e planejamento e execução das atividades de ensino, na sala de aula, depois de discutir e elaborar, com a comunidade escolar, o projeto educativo (atribuição do professor). Numa palavra: o desenvolvimento dos PCN ocorrerá na medida em que cada escola os torne seus. Para isso, é necessário que os princípios que defendem sejam parte do projeto educativo de cada escola. 4 Nos limites deste caderno de conteúdos e exercícios, você sabe, não é possível discutir todos os projetos educacionais que foram pensados e elabo- rados, ao longo do processo aqui apresentado. Mas de uma coisa não podemos nos esquecer: estamos vivendo uma crise de paradigmas, crise de modelos, que nos coloca novas exigências como educadores. Entre essas exigências, merece destaque a necessidade de reflexão acerca das novas tecnologias e das meto- dologias de ensino, por elas exigidas. A vida é mudança, transformação. Nada é hoje o que era antes. As insti- tuições e práticas sociais, claro, mudam também, e com uma velocidade cada vez mais assustadora. O que nos resta a nós, profissionais responsáveis pela construção do novo homem? Não perder o bonde da história, estar sempre conscientes de suas proposições e exigências.
1. Produza um pequeno texto, de no máximo 15 linhas, relacionando a
LDBEN/96 aos grandes interesses internacionais.
2. Leia as afirmações a seguir.
I. De acordo com a LDBEN/96, a educação básica é composta pela educação infantil, pelo ensino fundamental e pelo Ensino Médio. II. A LDBEN/96 transferiu as creches do sistema de assistência social para o educacional. III. O objetivo do ensino fundamental, de acordo com a LDBEN/96, é a formação básica do cidadão. IV. A capacidade de aprender e compreender o ambiente natural e social, o sistema político, a tecnologia, as artes e os valores que fundamentam a sociedade, é uma das condições, segundo a LDBEN/96, para que se