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28/05/2019 ConJur - O TJ-CE, a imparcialidade e a divulgação de notícias

TRIBUNA DA DEFENSORIA

Uma relação entre o TJ-CE, a imparcialidade e a


divulgação de notícias
11 de dezembro de 2018, 8h01

Por Marcel Joffily de Souza

Na coluna escrita no dia 13 de novembro do corrente ano, fizemos uma análise da


relação entre a finalidade do processo penal, a imprensa do Tribunal de Justiça do
Estado da Paraíba e as notícias veiculadas no site deste Tribunal envolvendo habeas
corpus. Chegamos ao seguinte número: de um total de 67 (sessenta e sete) notícias
envolvendo a concessão – ou não – de habeas corpus, veiculadas no período
compreendido entre 19/10/18 e 20/07/17, ou seja, em um período superior a um ano,
apenas 2 notícias diziam respeito a resultados favoráveis aos pacientes, enquanto
que a esmagadora maioria (65 notícias) dizia respeito a indeferimentos dos HC’s.

Dentre outras coisas, questionamos, então, o motivo pelo qual não havia, em um
nível proporcional (ou o mais próximo desta proporcionalidade possível), notícias
sobre deferimentos de tais ações não condenatórias (demonstrando que há, sim,
habeas corpus deferidos). Alertamos para a imparcialidade que deve(ria) ter o Poder
Judiciário no que tange à difusão destas notícias, ou seja, que devem ser noticiadas,
equitativamente, os desfechos dos habeas corpus na proporção das ordens
concedidas e denegadas, transmitindo com a isenção que se espera deste Poder as
notícias acerca da temática.

Assim, dando continuidade às ideias da coluna anterior, podemos afirmar que o


Poder Judiciário não deve(ira) ter interesse em publicar notícias apenas
relacionadas a determinados desfechos, eis que o desfecho de um processo não
deve, em tese, importar ao Judiciário. O que deve importar ao Judiciário é se o
processo foi desenvolvido com a observância do devido processo legal, das regras do
jogo pré-estabelecidas, dos direitos e garantias fundamentais. Deve importar ao
Judiciário, enfim, se o processo foi conduzido de uma maneira justa, razoável,
prestigiando-se uma acepção substancial do direito ao contraditório.

Se o processo é conduzido com a observância dos preceitos legais que lhes são
aplicáveis, se são observados os direitos e as garantias fundamentais e se é
concretizado um contraditório substancial, então o desfecho do processo criminal
será indiferente ao Poder Judiciário, pois o referido Poder já cumpriu a sua missão
ao conduzir o processo de maneira justa. “Os meios justificam os fins”. Por
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consequência, o desfecho do processo será um reflexo do quão justa foi a sua


condução pelo Poder Judiciário. Importa a este Poder conduzir o processo desta
maneira, não lhe importando o resultado, pois o resultado justo ou injusto será
consequência de um processo justo ou injusto.

Recentemente, o Tribunal de Justiça do Ceará, em seu perfil oficial em uma rede


social, publicou notícia (aqui) acerca do III Mês Nacional do Júri. Na imagem da
notícia (no folder), destacam-se os seguintes dados: 319 sessões de julgamento, 408
agendadas, 217 réus foram condenados.

Já no texto da notícia, dentre outros, constam os seguintes dados: no total, 217 réus
foram condenados. Desses, 101 eram presos, 164 réus foram absolvidos, dos quais 42
eram presos (levando-se em conta que um processo pode ter mais de um réu). Além
disso, em 36 processos foram proferidas decisões desclassificando o delito para
outro que não seja da competência do júri. Em Fortaleza, dos 98 júris pautados,
ocorreram 77, resultando no julgamento de 88 réus.

Na descrição da imagem para pessoas cegas, repetem-se apenas os dados que


constam da apontada imagem, salientando-se que desta imagem consta apenas o
número de condenações, não se fazendo menção ao número de absolvições ou
desclassificações (só há menção a estes “desfechos” no texto, não na imagem).

Mais uma vez, é visível o interesse, o móvel, a intenção do Poder Judiciário de dar
uma maior publicidade aos desfechos condenatórios, como se uma condenação
fosse mais importante ou um melhor resultado que uma absolvição, como se a
condenação trouxesse mais aceitação por parte dos destinatários da publicidade. De
fato, em tempos atuais, até traz... Uma condenação é mais simpática aos olhos da
população do que uma absolvição. Mas esse não é o ponto, levando-se em
consideração a citada imparcialidade que deve nortear o Judiciário e o seu
pertinente setor de imprensa.

Uma absolvição, nesse contexto, e conforme já dito na coluna anterior, parece se


consubstanciar no “fracasso” do processo penal, afinal, o processo penal, sob a ótica
de um senso comum (que também atinge grande parte da comunidade jurídica), só
atinge a sua finalidade se resultar em uma condenação.

A absolvição, por outro lado, acaba  por se tornar o produto de um processo falho,
não sendo um desfecho correto. O correto, pois, seria condenar. A absolvição se
torna uma espécie de anomalia, uma falha na Matrix, e se o Poder Judiciário absolve
muito, erra muito, falha muito. Ao menos, é o que parece ser quando se quer
demonstrar que muito se condena, mas pouco se absolve.

Assim, qual o interesse de se noticiar o score do III Mês Nacional do Júri no que
tange ao número de condenações e absolvições? Se o número de absolvições tivesse
sido maior do que o de condenações, haveria tal publicidade? Por que não noticiar

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que as sessões de julgamento ocorreram de maneira justa, com o respeito ao devido


processo legal, sem os atropelos comuns inerentes a tais “mutirões”? Por que não
noticiar que o III Mês Nacional do Júri obteve sucesso por terem sido realizadas
sessões plenárias justas, em que houve o respeito aos direitos e garantias dos
acusados? Importa ao Poder Judiciário, conforme já dito, assegurar um
desenvolvimento processual justo, um julgamento justo, não o seu resultado.

Sim, foi publicado o número de absolvições e de desclassificações, mas com uma


ênfase (muito) menor do que a conferida ao número de condenações. As absolvições
ficam em segundo plano. As condenações, em primeiro. Elas são o sucesso, dão
“ibope”! São o fim correto, não o incorreto, anômalo, do processo penal. Ao menos, é
o que parece ser...

Conforme já afirmado, o Poder Judiciário é regido, em regra, pelo princípio da


inércia, e de sua inércia decorre (ou deveria decorrer) a necessária imparcialidade.
Dizem os doutrinadores que a imparcialidade aproxima a verdade.

Pois bem.

Como aproximar, então, os jurisdicionados da verdade se, aparentemente, os


Tribunais insistem em priorizar a publicação de notícias condenatórias ou
desfavoráveis aos acusados, não dando proporcional ênfase a notícias absolutórias
ou favoráveis? Estas últimas notícias certamente existem. Como aproximar os
jurisdicionados da verdade se a imparcialidade não está sendo, de fato, observada
pelo setor de imprensa destes tribunais, deixando transparecer aos jurisdicionados
que os Tribunais são máquinas condenatórias?

O “recado” do Tribunal de Justiça do Estado do Ceará pareceu bem claro: “veja,


população, nós condenamos muito mais do que absolvemos! Nosso índice de
condenação é muito bom! Somos, portanto, um excelente Tribunal!”. Algo bem
semelhante ocorre nos filmes americanos, quando somos apresentados à figura do
promotor que é bom por nunca ter perdido um caso. Se o promotor “perde” um
caso, ele não é bom. Se ele não consegue um índice perfeito de condenações, não é
bom. O mesmo sintoma acomete nossos tribunais. Se o Tribunal muito absolve, não
é bom. Ao menos, é o que parece ser.

O desnivelamento é evidente. Inclusive, nos comentários realizados na coluna


anterior, o caro leitor e Advogado Djalma Brochado afirmou que o que se afirmava
em relação ao TJPB também ocorria, talvez de maneira mais agravada, no TJCE. E eis
que se confirma o que afirmou o ilustre comentarista. Ao menos, é o que parece...

Marcel Joffily de Souza é defensor público da Paraíba e ex-defensor público do


Piauí.

Revista Consultor Jurídico, 11 de dezembro de 2018, 8h01

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