Sunteți pe pagina 1din 250

Habitação e Cidade

Volume 5

Pós-Graduação da
Escola da Cidade

Organizadores
Luis Octavio de Faria e Silva
Ruben Otero
Prefácio dos
organizadores

Este quinto volume da publicação anual Habitação e Cidade, que é um desdobra-


mento do curso de Pós Graduação lato sensu de mesmo nome oferecido pela Es-
cola da Cidade, Faculdade de Arquitetura e Urbanismo na cidade de São Paulo,
está organizado em três partes que se complementam.

Numa primeira parte, há uma série de artigos que tratam de Políticas Habitacio-
nais, alguns de maneira panorâmica e outros focalizando algum período, pro-
grama ou espaço urbano decorrente.

Entendemos fundamental a observação contínua e cuidadosa de ações empre-


endidas quanto à Habitação em nosso país já que novos contextos permitem
compreensão mais acurada de relações e circunstâncias passadas que muito
têm a nos ensinar, algo afirmado com pertinência pela arquiteta Ana Paula Kou-
ry em seu texto aqui apresentado.

Nesse sentido, experiências brasileiras são observadas pela arquiteta Eulalia


Negrelos, pela economista Anacláudia Rossbach, pelas arquitetas Nilce Ara-
vecchia e a já citada Ana Paula Koury, fazendo com que nosso olhar se torne
mais consciente e preciso, e que se compreenda a cidade decorrente das ações
empreendidas. O arquiteto Gustavo Rebord nos esclarece sobre a experiência
argentina quanto às Políticas Habitacionais naquele país, algo que permite uma
visualização comparada no que diz respeito ao caso brasileiro e que nos aproxi-
ma e permite uma união de forças no sentido de conquistar um Habitat pleno e
sustentável em nossas cidades na América e no mundo.

3
A segunda parte da publicação traz algumas discussões sobre o desenho ur-
bano e, portanto, desenho de nosso habitat, urbano, que desejamos seja faci-
litador e até mesmo incentivador de uma vida aprazível, em harmonia com os
ciclos naturais e conquistado através de uma orquestração dos agentes envol-
vidos em sua produção. A forma desse habitat e a maneira de viabilizá-la é ob-
jeto de investigação do concurso Ensaios Urbanos, promovido pela Secretaria
Municipal de Desenvolvimento Urbano (SMDU) da Prefeitura de São Paulo
– alguns projetos premiados que contam em suas equipes com professores da
Escola da Cidade estão aqui reproduzidos, antecedidos de um texto do arquite-
to Daniel Montandon, responsável pelo concurso e também professor da Esco-
la da Cidade, no qual apresenta e comenta a iniciativa e sua nova modelagem de
concurso, que contou com a participação do IAB São Paulo.

O arquiteto Valter Fabietti, colaborador contumaz do curso Habitação e Cida-


de, comenta na sequência, a busca pela boa forma urbana que serve de pano de
fundo para ações como o concurso Ensaios Urbanos e para projetos em bairros
precários, questão central entre nós e tema da terceira parte desta publicação.
Antes da referida parte final, são apresentados alguns projetos realizados no 1º
módulo do curso em sua edição de 2013, em que são ensaiadas formas de se
inserir Habitação conjugada com outros usos em um contexto urbano existen-
te, mas em vias de rápida transformação. Também ali se reflete sobre a forma
da cidade e, fundamental, sobre o desenho que articula espaços privados com
espaços públicos – no fundo, tema básico do concurso Ensaios Urbanos, que
trouxe resultados que apontam para a equação no sentido de garantir espaços
públicos vívidos e, portanto, sedutores e seguros.

A já acima anunciada terceira e última parte da publicação traz projetos realiza-


dos pelos alunos do curso em 2013 para áreas precárias de Córdoba, na Argen-
tina, e de São Paulo – no caso paulistano dedicou-se a algumas comunidades do
Perímetro de Ação Integrada (PAI) chamado Morro do S4, na zona sul da cida-
de, enquanto duas áreas de Córdoba foram objeto de estudos: uma delas muito
próxima de seu Centro tradicional, um reduto de resistência de movimentos de
moradia (La Maternidad) e outra que representa a precarização urbana recente
vivida na Argentina, ocupação entre vias de mobilidade de escala regional, com
consequentes problemas de acesso e outros como alagamentos por bloqueio
de drenagem em função de terraplenos para infraestrutura de grande porte,
além de problemas quanto à salubridade e estabilidade das construções reali-
zadas (Los Artesanos).

Acreditamos que este novo volume da série Civilização América contribuirá


para a discussão sobre o tema da Habitação entre nós, que se deseja generosa,
e para uma crescente consciência de nossas possibilidades, que nos fará avan-
çar rumo a uma condição igualitária.

4
Antes das três partes descritas da publicação, temos um texto produzido a par-
tir das aulas proferidas em 2013 no curso, que vai em busca do que teria sido
o raciocínio empreendido naquela edição, compondo uma espécie de balanço
que tem se tornado uma constante e que, dada a possibilidade de vir a auxiliar
reflexões vindouras, nos atrevemos a dividir com leitores interessados na dis-
cussão que empreendemos.

5
Índice
09 Habitação e Cidade – algumas considerações
Luis Octavio de Faria e Silva

Parte 1 Políticas Habitacionais e Cidade decorrente


Housing Policies and Resulting City

21 Recentes Políticas Habitacionais no Brasil


Eulalia Portela Negrelos

37 Las políticas públicas de vivienda en Argentina desde principios


del siglo XX a la actualidad
Germán Gustavo Rebord

47 As outras dimensões da Política Habitacional no Brasil


Anacláudia Rossbach

57 Habitação e cidade como projeto coletivo: a Divisão de


Engenharia do Instituto dos Industriários (1937-1960)
Nilce Aravecchia Botas

65 Decifra-me ou devoro-te: O enigma da política habitacional e


urbana e o Sistema BNH
Ana Paula Koury

Parte 2 Desenho Urbano


Urban Design

79 Desenhos para o zoneamento de São Paulo


Daniel Todtmann Montandon

89 Projetos participantes do concurso “Ensaios Urbanos” em cujas


equipes há professores da Escola da Cidade

119 Forma urbana e cidade informal


Valter Fabietti
(título original Forma urbana e città informale, tradução Luis
Octavio de Faria e Silva)

129 Projetos realizados pelos alunos do curso Habitação e Cidade


(edição 2013) no período de atelier do módulo 1

Parte 3 Projetos para áreas urbanas precárias


Projects for precatious areas

167 Projetos realizados pelos alunos do curso Habitação e Cidade


(edição 2013) nos períodos de atelier dos módulos 2, 3 e 4

169
Módulo 2
La Maternidad & Los Artesanos - Córdoba, Argentina
195
Módulos 3 e 4
Morro do S4 - São Paulo, Brasil
240
English Version

7
Habitação e Cidade -
Algumas Considerações
Luis Octavio de Faria e Silva

O curso “Habitação e Cidade” promove aulas e investigações propositivas que trazem a


cada edição um raciocínio sobre as questões que compõem seu título. O presente texto vai
em busca do raciocínio promovido em 2013 – é, portanto, empenho no sentido de encontrar
o cerne do que se tratou. Espera-se que possa contribuir, junto aos artigos que se seguem
nesta publicação, esclarecendo sobre caminhos possíveis para avançar na obtenção de con-
dições de moradia digna e plena para todos nossos semelhantes.

O espaço de morar – a moradia ou habitação – reflete a dinâmica de ações, movi-


mentos e princípios daqueles que nele moram. Assim, transformações sociais e
tecnológicas acarretam diferenças no modo de morar e consequentemente no
espaço da moradia.

A moradia, ou habitação, não se restringe ao abrigo contra as intempéries já que


morar pressupõe uma escala mais abrangente, com conexões e espaços agre-
gadores de propriedade comum, coletivos e públicos, que possibilitam o habitar
num sentido pleno.

A habitação contemporânea, em função da condição de a grande maioria das


pessoas no planeta terem hoje um modo de vida decorrente de habitarem áreas
metropolitanas, é influenciada pela coexistência de diversos meios de comuni-
cação e obtenção de informações, equipamentos que tornam as atividades mais
rápidas, além de refletir novos formatos de grupos domésticos.

Tipologias de arranjo dos espaços e de mobiliário tendem a ser mais flexíveis e

9
multifuncionais na moradia contemporânea. A questão do armazenamento, por
exemplo, se apresenta de forma diversa do que foi no passado.

O desenho do espaço da habitação em todas as suas escalas – o que inclui o de-


senho do bairro e da cidade – é objeto de investigação intensiva especialmente
desde o início do século XX, ainda que ações ordenadas no sentido de produzi-
-lo a partir de princípios previamente definidos sejam identificáveis desde a An-
tiguidade, o que já indica convicções e experiências acumuladas. O arranjo de
materiais e técnicas com objetivo de produzir moradia, inclusive, é algo que se
confunde com o surgimento da humanidade.

Face à condição contemporânea, contando com todo o conjunto de experiên-


cias acumuladas, qual o desenho a ser defendido para a habitação, para a cidade?
Numa condição como a brasileira, como se preparar para a urbanização em cur-
so e que parece estar por vir?

Diversidade e projeto participativo parecem ser prerrogativas atuais inegoci-


áveis – somos variados e há que se perguntar o que querem as pessoas. Como
lidar, nesse sentido, com o legado que temos nas realizações e discussões decor-
rentes quanto à forma da cidade, dos bairros e da moradia?

Weissenhof, bairro de habitação moderna do início do século XX, relacionado


às pesquisas do Deutsche Werkbund, foi uma sistematização de possibilidades
de habitação contrapostas à forma de se morar até então. Justapõem-se ali o de-
sejo de adensamento no sentido da otimização da infraestrutura perceptível na
proposta de edifício de apartamentos, casas geminadas em fileira que parecem
querer garantir certo sentido de comunidade e casas unifamiliares associadas à
ideia de cidade jardim.

Os bairros novos na cidade de Frankfurt sob o comando de Ernst May1 levam


adiante propostas dessa nova forma de morar – projetados com critérios cien-
tíficos mas privilegiando densidade relativamente baixa, ecoando de certa ma-
neira a visão de cidade jardim de Howard, onde o desenho urbano produz es-

FIGURA 1 – Weissenhof Siedlung, Stuttgart, Alemanha

10
paços segregados, obstaculizados de maneira a garantir familiaridade para os
moradores e certo receio para visitantes e intrusos. Na Alemanha, esses bairros
chamados siedlungen não são tão explícitos na segmentação do espaço, mas
estão distantes da perspectiva de superquadras de acesso franqueado defendi-
dos como premissas por arquitetos seguidores dos CIAM do entre guerras, que
conclamavam a cidade aberta, com habitação produzida pelo Estado em larga
escala e com qualidade.

Ora subúrbios algo agrários como os siedlungen, que tiveram reflexos na produ-
ção dos IAPs no Brasil, ora bairros jardim com profusão de ruas sem saída e re-
sidências unifamiliares, ora conjuntos monumentais como os hoffes vienenses,
que representavam e celebravam a vida coletiva, ora a superquadra que dissipa
o retalhamento do terreno por demarcações, apontando para a propriedade
coletiva do chão urbano, modelo amplamente defendido no Brasil onde o mo-
vimento moderno na arquitetura, por outro lado, não foi coeso como quiseram
alguns historiadores, esses modelos alternam-se e se justapõem no desenho da
cidade, esse composto de movimentos e pausas, congestionado inicialmente
pela produção industrial e consequente expansão urbana.

FIGURA 2 – Westhausen Siedlung, Frankfurt, Alemanha

Habitação social, antes moradia operária, moradia popular ou econômica, item


programático da luta operária especialmente desde o século XX, num primeiro
momento tratada exclusivamente (frequentemente de maneira preconceituo-
sa) como questão de saúde, torna-se aos poucos uma prioridade na construção
da cidade, onde o desenho de novos conjuntos que são cada vez mais compreen-
didos como importante parte dela se apropriam daqueles modelos de desenho
urbano, resultando desde um Westhausen Siedlung em Frankfurt até Kiefhoek
em Rotterdam (projetado pelo arquiteto Oud2), conjuntos paradigmáticos no
estudo da produção de habitação pelo Poder Público.

Desde então existe a questão da obtenção de terras para produzir habitação social
– a falta de acesso ao solo urbano pelos pobres associada à busca por áreas onde

11
produzir habitação movimentaram Políticas Habitacionais que pressupõem então a
instituição de Bancos de terras, algo praticado na Frankfurt sob May e por COHABs
pelo Brasil nas últimas décadas. Na cidade alemã, é adquirida porcentagem significa-
tiva de terras em solo urbano; no caso brasileiro, foram compradas muito frequente-
mente terras baratas distantes das redes de infraestrutura.

FIGURAS 3, 4 e 5 – Kiefhoek, Rotterdam, Holanda

O desenho da habitação e o desenho da cidade são no fundo um só, imbricados


que estão se vistos a partir de suas especificidades. A cidade, como nos lembra o
arquiteto Jaime Leirner3, uma ossatura de vida, movimento e trabalho, precisa de
ações a partir de visão solidária e estratégica, entendendo o planejamento como
processo e tendo compromisso com a simplicidade e com a imperfeição.

Nesse sentido, ao observar as cidades latino-americanas, percebemos simulta-


neidades e paralelismos que podem nos esclarecer sobre caminhos a tomar. Na
América Latina da virada do século XIX para o XX, países exportadores de pro-
dutos agropecuários vêem surgir uma sucessão de planos de industrialização
não implementados nas suas sociedades patriarcais em dissolução. Reflexos
da posterior crise de 1929, dezenas de revoluções transformaram a região, que
recebe também um novo fluxo de imigração proveniente da Europa fragilizada
pelas guerras mundiais.

Nas décadas de 1930 e 1940, quando o norte da América Latina tinha vínculo
maior com os EUA e o sul do continente se mantinha mais ligado à Europa, ideias
sobre cidades americanas e européias são aplicadas nas reflexões e planos so-
bre cidades latino-americanas. No chamado reformismo dessas décadas nasce
a ideia de cidade latino-americana como atrasada e na qual grandes conjuntos
habitacionais são instalados como propaganda de um suposto progresso e cele-

12
bração de uma sistematização de princípios modernistas na arquitetura.

Em função da ambiguidade na ideia de progresso defendida e de perdas percebi-


das na passagem para a condição moderna, vão surgir na região, especialmente
a partir da década de 1960, movimentos de reação contra os efeitos dissolven-
tes da Modernidade, nos quais a autoconstrução vai ser defendida como menos
conflitiva do que os grandes conjuntos na transformação das cidades latino-a-
mericanas.

Há uma diferença marcante no ritmo de transformação nos países da região: no


México, na Argentina, no Brasil e na Venezuela se investe com mais vigor nos tais
grandes conjuntos habitacionais enquanto num primeiro momento na Colôm-
bia surgem Políticas que favorecem ações de ajuda mútua e autoconstrução. À
revelia dessas ações, no entanto, quem faz a cidade latino-americana de fato é o
pobre por iniciativa própria, privada.

Os anos 1960 de um lado vêem a defesa da volta à noção de comunidade e de


outro o chamado desenvolvimentismo em que, por exemplo, no Brasil a Habita-
ção é pensada como indústria voltada para sua produção, algo que se percebe
na observação do que é financiado pelo BNH, resultante da distensão havida no
golpe militar brasileiro de 1964.

Nessa mesma década, em Lima, onde estudos sobre as barriadas são realizadas
já há algum tempo, surge o importante projeto do PREVI4 que busca novos prin-
cípios para o desenho da moradia, voltados para a recuperação da noção de co-
munidade como algo perdido na transição da condição tradicional para a socie-
dade moderna que explicitava um choque cultural muito evidente nas barriadas
em Lima ou nas favelas do Rio de Janeiro e, ainda que mais tênue, também visível
nas villas miseria de Buenos Aires.

Na década de 1970 multiplicam-se as favelas no Brasil. Os anos 1980 e 1990 vi-


ram a disseminação de políticas neoliberais com privatização dos serviços públi-
cos e a Habitação promovida pelo Estado pareceu sumir do debate. Ausência de
Políticas Habitacionais de escala abrangente e urbanização precária se somam e
a questão da Habitação se mostra cada vez mais associada às ações nas favelas
que abrigam contingente significativo de moradores da cidade brasileira e tam-
bém de cidades dos outros países latino-americanos.

Em São Paulo nesses anos 1980 e 1990 são realizados projetos para as favelas vi-
sando uma urbanização parcial e gradual, sendo que até então as ações eram ape-
nas no sentido de erradicá-las. A partir dos anos 2000 objetiva-se para seus bairros
precários uma urbanização plena e integração com o entorno próximo e com a ci-
dade como um todo. Foram no Rio de Janeiro as ações pioneiras no sentido de inte-
grar a favela na cidade. Ali se está inclusive mais adiantado nesse esforço face ao que

13
parece por vezes ser uma oposição cidade contra favela. Na disputa pelo território,
favela e cidade persistem, inclusive, sendo vistas por muitos como racionalidades
distintas. Recentemente, porém, além de no Rio de Janeiro e em São Paulo, o plane-
jamento inclusivo tem sido praticado na forma de planos integrados com inserção
de Habitação também em Curitiba e Belo Horizonte.

No Brasil, com cidades partidas onde se sucedem ações transformadoras des-


conexas, ligadas com frequência ao sistema financeiro, as favelas mantêm o es-
tigma de invasoras. Há um conflito urbano-ambiental na cidade brasileira que é
explicitado nas favelas e segue muito em função da pouca clareza na legislação,
fazendo pensar na necessária compatibilização do desenvolvimento social e
preservação da qualidade do meio ambiente. Não há como tratar das megacida-
des com que nos deparamos, onde surgem os bairros precários, sem pensá-las
por fragmentos, ainda que a partir de um raciocínio geral. Nesse sentido, ações
transformadoras para os bairros precários devem buscar novos cenários, sem
abrir mão de sonhos, mas observando onde estão seus centros de vida comu-
nitária para valorizá-los, estabilizando seus espaços abertos, reforçando aces-
sos existentes ou insinuados, introduzindo a vegetação em todos os níveis para
possibilitar uma paisagem enobrecida. Há, nas proposições para esses bairros e
para a cidade de forma geral, a possibilidade de novos paradigmas em relação
às experiências, por exemplo, de um Weissenhof ou do PREVI. Pode-se pensar
na produção de espaços públicos que permitam apropriação lúdica, com sinali-
zação especialmente desenvolvida, estratégias criativas e atualizadas para lidar
com os resíduos sólidos, entre outras ações renovadoras.

No mundo contemporâneo, vemos diferentes maneiras de atuação quanto aos bair-


ros precários. Em alguns países como Peru e Bolívia há uma tendência em exclusiva-
mente regularizá-los – no Brasil também há instrumentos nesse sentido ainda que o
horizonte seja o de regularização de mãos dadas com reassentamento e construção
de novas unidades. O reassentamento como prioridade tem sido prática comum na
China e em menor escala em Angola, que segue os passos chineses, mas também na
Índia – há também uma forte orientação no Ministério da Cidade brasileiro no sen-
tido de privilegiar essa prática para lidar com os bairros precários. Políticas de finan-
ciamento da casa própria produzida via mercado imobiliário são vertentes fortes no
Chile, no México, na África do Sul e no Brasil com o PMCMV. O desejado mas difícil
Planejamento Integrado, defendido pelo Estatuto da Cidade, que foi copiado pela
Índia, ainda segue como exceção. Há também modelos de baixo para cima, com
programas baseados em mutirões, nas Filipinas e na Tailândia. Vemos, assim, que o
caminho dos grandes conjuntos de um lado e a autoajuda de outro ainda de certa
forma se mantém. O PMCMV Entidades, por exemplo, nasce a partir dos movimen-
tos da época da prefeita Luiza Erundina em São Paulo, que num primeiro momento
adotavam a autoconstrução como prática corrente. O modelo uruguaio que deu
sustentação às cooperativas segue com premissas calcadas nessas práticas dos
mutirões, algo que no Brasil se abandonou ainda que se mantenha a ideia da auto-

14
FIGURA 6 – implantação de trecho do conjunto PREVI, Lima, Peru

gestão e organização comunitária como tão importantes quanto o projeto.

Apesar das inegáveis conquistas do PMCMV quanto à instalação de novas unida-


des com redes de infraestrutura e mesmo de certa maneira quanto à distribuição
de benesses que representa, não temos tido como efeito uma inclusão urbana num
sentido mais amplo e o que se vê com freqüência é a repetição de velhos modelos
de expansão das cidades em áreas distantes, pouco propícias e com projetos que
não criam uma dinâmica urbana de fato, muito em função da ênfase na ação das
construtoras/incorporadoras e não das entidades, ou mesmo decorrente da inexis-
tência de outras linhas naquele programa de financiamento. De alguma maneira, o
Chile promoveu dessa forma novos conjuntos sem a qualidade urbana devida, ten-
do acabado, pode-se dizer, com seus bairros precários. A Habitação social recente
na Argentina tem sido tratada como parte de uma máquina estatal assistencialista,
sem crítica ou debate sobre a cidade decorrente, e os resultados tem demonstrado
também pouca qualidade urbana5.

Não será possível prevalecer outra visão urbanística, com espaços agregadores
– ágoras –centros adensados de atividades, com redes de infraestrutura minimi-
zadas, com aproveitamento de águas de chuva, reuso, energia solar, redução de
superfícies impermeáveis, áreas vegetadas conectadas, ruas pensadas como
indutoras urbanas, pacificadas já que as cidades precisam de acesso a pessoas
e não a veículos, com transporte coletivo simples, claro e não poluente? Que
podem nos ensinar experiências recentes de desenho urbano atualizado como
aquelas que vemos em Amsterdam – Almere, ilhas de Java, Borneo e KMSM,
pesquisa de grande diversidade de tipologias de Silodam projetada pelo grupo
MVRDV ou os projetos contemporâneos na China como Jiading New Town?

As Políticas Públicas de Habitação no Brasil devem ser baseadas em indicadores


sociais e em função de cenários desejados para a melhoria das condições de ha-

15
FIGURA 7 – vista da Ilha de Java, Amsterdam, Holanda

FIGURA 8 – perspectiva Jiading New Town, China

bitabilidade. Nesse sentido, insegurança da posse, o acesso inadequado a água


segura, saneamento e outras redes de infraestrutura, baixa qualidade estrutural
das edificações, congestionamento quanto à densidade familiar devem ser ob-
servados. Para enfrentar esses indicadores, objetivo das Políticas, será possível
um Plano de Habitação na escala do país ou será que Planos de Habitação deve-
riam ser pensados na escala dos municípios ou dos Estados?

Após décadas sem um Programa Habitacional de escala abrangente, no Brasil


se iniciou o PMCMV6 que teria atropelado a busca por um Plano Nacional de
Habitação. A compreensão daquele plano hoje vigente e dos ajustes necessários
para que a Habitação seja produzida na sua acepção plena, é nossa tarefa atual
no Brasil para que não nos deparemos em breve com um passivo na forma de
conjuntos habitacionais e cidades insustentáveis, verdadeiros “tiros no próprio
pé”.

Notas

16
1 Ernst May (1886-1970), arquiteto alemão, ocupou cargo público em Frankfurt am
Main entre 1925 e 1930, quando realizou plano regulador da cidade e vários projetos
para bairros residenciais como Westhausen, Romerstadt, Praunheim e Hobenblick.

2 Jacobus Johannes Pieter Oud (1890-1963), arquiteto holandês que se notabilizou


por experimentação de caráter modernista no projeto da habitação coletiva e social
– participou do Weissenhof e desenvolveu o projeto de Kiefhoek Housing Develop-
ment em Rotterdam (1928-1930)

3 Ideias apresentadas pelo arquiteto Jaime Leirner em aula proferida no curso Habita-
ção e Cidade da Escola da Cidade em 4 de Junho de 2013 http://escoladacidade.org/
bau/jaime-lerner-interface-tecnica-politica-no-planejamento-das-cidades/

4 PREVI “Proyecto Experimental de Vivienda”, AD Architectural Design 4 (1970),


projeto experimental de habitação realizado em Lima entre 1966 e 1968. Houve um
concurso do qual participaram vários arquitetos de destaque, entre os quais alguns
vinculados ao chamado Team X, que promulgava uma grande revisão de paradigmas
face ao urbanismo resultante da Carta de Atenas.

5 Informações apresentadas pelo arq. Gustavo Rebord em aulas proferidas no curso


Habitação e Cidade na Escola da cidade http://escoladacidade.org/bau/gustavo-re-
bord-politica-habitacional-america-latina/

6 Para compreender o Programa PMCMV consultar: lei 11977 – 2009, lei 12424 –
2011, decreto 7499 – 2011, além das portarias 168 – 2013 e 518 – 2013. Há, nesse pro-
grama de financiamento, uma linha que contempla entidades e outra que se orienta
para a produção de unidades pelo mercado imobiliário. Regras como área máxima da
unidade, necessária acessibilidade plena, custos máximos a serem praticados, dimen-
sionamento dos condomínios, questões referentes a espaços coletivos, equipamen-
tos e algo de infra-estrutura são encontrados nesse material apontado.

17
18
PARTE 1
Políticas Habitacionais e
Cidade decorrente
Housing Policies and Resulting City

19
Recentes Políticas
Habitacionais no Brasil1
Eulalia Portela Negrelos

Este artigo resulta de palestra cujo conteúdo se refere a um processo longo de trabalho de
pesquisa pessoal e está baseado em diversas fontes próprias e de colegas que, como Nabil
Bonduki, vêm pesquisando sobre a habitação no Brasil. Várias das ideias aqui desenvolvidas
têm o suporte das referências bibliográficas indicadas ao final. Para incrementar a transcri-
ção para o formato de artigo tomei a liberdade de desenvolver algumas ideias de referências
que se somam às já indicadas na palestra. São artigos de minha autoria resultado de pesqui-
sas em andamento no IAU-USP, onde atuo como professora e pesquisadora.

Agradeço à Escola da Cidade a oportunidade de oferecer estas reflexões para o debate acadêmico.

Periodização da Política Habitacional no Brasil

A reflexão sobre as recentes políticas habitacionais no Brasil requer, em função


do método de abordagem histórica, uma recuperação da trajetória dessas polí-
ticas, nem sempre públicas como veremos adiante, e que, ao longo do século XX
estiveram vinculadas a sistemas e regimes políticos, conjunturas econômicas
muito diferentes e, fundamentalmente, às especificidades da intensa urbaniza-
ção brasileira.

É fundamental ampliar a compreensão da intervenção pública – estatal – sobre


a problemática habitacional, principalmente das camadas populares, à luz da in-
tensa urbanização, sobretudo a partir da década de 1970, conforme indicado no
gráfico a seguir.

1 Palestra proferida no Curso de pós-graduação lato sensu Habitação e Cidade, Esco-


la da Cidade, 13 de junho de 2013.

21
Gráfico 1 - Evolução da População Urbana e Rural no Brasil – 1900-2000 (BONDUKI, 2009)

Com intensas ações públicas vinculadas ao higienismo, o Estado regulamenta a


produção habitacional privada, visando o controle sanitário, apesar de inexistir a
produção estatal de habitação, predominando a exploração privada rentista. Os
aluguéis são regulados pelo mercado, seja em vilas operárias (bairros operários
fechados) produzidas por industriais e algumas mútuas de trabalhadores ou em
cortiços (habitação coletiva precária de aluguel).

Figura 1 - Proposta de “planta do tipo de cortiço urbano”, em relatório da Comissão


de Exame e Inspeção dos Cortiços, 1893. (BONDUKI, 1998)

22
Figura 2 - Vila Economizadora - Conjunto de casas de aluguel produzidas pela Mútua Economizadora
Paulista, 1907. (BONDUKI, 1998)

Figura 3 - Primórdios da produção em série - Sobrados na Rua Barão de Jaguara, Mooca, projeto de Gregori
Warchavchik, 1929. (BONDUKI, 1998)

II - Origens da habitação social (1930-1964) - Desenvolvimentismo e in-


tervenção do Estado para “proteger o trabalhador”

A partir do trabalho de Bonduki (1998), entendemos que com Getúlio Vargas


(1930-1945) se deram as origens da intervenção do Estado em matéria de ha-
bitação popular, intervindo diretamente sobre o sistema rentista de oferta de
moradia popular o que levou, em 1942, à implementação da Lei do Inquilinato,
que congelava os aluguéis.

A produção estatal da habitação deu-se fundamentalmente através dos Institu-


tos de Aposentadoria e Pensões (IAP) e da Fundação da Casa Popular (FCP),
criada apenas em 1946, com projetos marcados pela adoção dos princípios do
Movimento Moderno.

23
A produção de habitação foi limitada às corporações autárquicas de trabalha-
dores sindicalizados e fortemente controlados pelo Estado, o que levou a uma
“exclusão” de demanda. Com o início da intensificação da urbanização no Brasil
ocorreu o crescimento da cidade “informal” em loteamentos periféricos (cuja
venda em prestações foi facilitada), favelas, mocambos, alagados, ocupações
irregulares e clandestinas.

A política de habitação através dos IAP apresentava os seguintes componentes:

1. Recursos em grande quantidade – fundos dos IAP recolhidos do salário dos


trabalhadores como contribuição previdenciária.
2. Previsão de um organismo unificador dos IAP e seus fundos: ISSB-Instituto de
Serviços Sociais do Brasil, representando uma política redistributiva (antecipan-
do o INPS de 1964).
3. Previdência social universal.
4. Serviços assistenciais (superando o corporativismo sindical).
5. Criação de uma poderosa agência habitacional – FCP – representando a insti-
tucionalidade da política.
6. Capacitação técnica – alta qualidade dos projetos.
7. Reconhecimento público sobre a importância da questão (quadro de crise de
habitação + pressão social que acelerou a produção do período 45/54).
8. Vontade política do governo.

Os institutos foram criados por categoria profissional (entre 1933-38 eram


6: marítimos, bancários, comerciários, industriários, motoristas, petroleiros,
estivadores) – quase todas de marca moderna. Todos eles estavam ligados ao
MTIC–Ministério do Trabalho, Indústria e Comércio, que geria e financiava o sis-
tema que era de capitalização.

Os recursos arrecadados podiam ser investidos para garantir aumento dos fun-
dos, o que permitiu a priorização de investimento em projetos estratégicos (Cia.
Siderúrgica Nacional, Fábrica Nacional de Motores e a construção de Brasília,
entre outros). Tal ação pode ser avaliada como perversa, pois eram recursos de
trabalhadores, nunca inadimplentes, financiando projetos estatais e privados,
voltados ao desenvolvimento econômico.

Entre 1937 e 1964, os institutos produziram 142.127 unidades habitacionais


(BONDUKI, 1998, p. 128), sendo que entre 1946 e 1964, foram 124.025 unida-
des habitacionais (BONDUKI, 1998, p. 115).

A FCP foi criada em 1946 por Eurico Gaspar Dutra, a partir de projeto varguista,
operando até 1964. Em seu anteprojeto encontramos: a centralização da ges-
tão (alterado); fontes permanentes de recursos; articulação entre produção de
moradia e desenvolvimento urbano; criação de empréstimo compulsório por 30

24
anos, garantindo recursos baratos e contínuos (alterado). A não centralização
da gestão, de forma populista, resultou na criação de diversos órgãos estaduais
(BONDUKI, 1998, p. 122). Sua produção foi de 143 conjuntos com 16.964 uni-
dades habitacionais.

A importância dessa atuação estatal através dos institutos influenciou a formu-


lação das diretrizes da política habitacional fomentada pelo Banco Nacional de
Habitação- BNH, criado em 1964, após o golpe militar.

Figura 4 - Conjunto Realengo, RJ; o primeiro do Brasil –


1939-1942, 2300 unidades, de Carlos Frederico Ferreira.
(BONDUKI, 1998).

Figura 5 - Conjunto Residencial da Baixada


do Carmo, São Paulo/SP. Attílio Corrêa
Lima e equipe. Projeto original com 4.038
UH, década de 1940. (BONDUKI, 1998)

Figura 6 -Conjunto Residencial Armando de Arruda Pereira


(Japurá) – IAPI – São Paulo/SP, Eduardo Kneese de Melo, 245 UH,
décadas de 1940/1950. (BONDUKI, 1998)

Figura 7 - Contracapa do jornal Correio Paulistano, 1946, sobre a autoconstrução em


loteamentos periféricos em Vila Matilde, zona leste de São Paulo/SP. (BONDUKI, 1998).

25
III - SFH/BNH e a consolidação de uma política habitacional (1964-1986)

No período militar, através do Sistema Financeiro da Habitação-SFH, do BNH, e


das Companhias de Habitação-COHAB, se produziu extensão de cidade com a
equação de terra pública, recursos públicos, habitação massiva e urbanização
periférica. (NEGRELOS e FERRARI, 2013)

Com a extinção da FCP e dos IAP inicia-se um período marcado por uma con-
cepção tecnicista para enfrentar os problemas sociais dos quais a habitação era
elemento especial. Ocorre a criação de forte estrutura institucional, baseada no
componente financeiro das ações e centralizada no BNH, que geria dois siste-
mas de atuação integrados, o SFH e o Sistema Financeiro do Saneamento-SFS,
atuante no desenvolvimento urbano. A habitação é o eixo da política urbana do
regime, disseminando-se a ideia da casa própria em detrimento do aluguel ou
outro tipo de garantia de acesso à moradia, buscando legitimação para a nova
ordem junto à população que habitava precariamente em favelas, cortiços e ca-
sas alugadas.

A captação dos recursos para o sistema era realizada junto ao Fundo de Garan-
tia por Tempo de Serviço-FGTS, criado em 1966, como poupança compulsória.
O BNH tinha atribuições de orientação, disciplina e controle das ações para a
promoção da habitação; para aplicar os instrumentos de operação direta das
ações em 1967 foi estruturada uma rede de agentes operadores e promotores,
as COHAB, de abrangência regional, com produção através de licitação pública
de pacote completo de projeto e obra. A racionalidade necessária às construto-
ras e a demanda governamental de produzir o maior número de moradias foram
articuladas na formação de “bancos de terras”, principalmente grandes glebas,
muitas vezes ainda rurais, nas periferias das grandes cidades, para a produção
de megaconjuntos habitacionais (“cohabs”) construídos com os chamados
“projetos-padrão” no esquema terraplenagem+unidade mínima, enquadrando
o empreendimento no padrão de maior retorno financeiro (Figuras 8 e 9) (NE-
GRELOS, 2012).

Figuras 8 e 9: Conjunto Dale Coutinho - COHAB-Santos/SP. Foto aérea e Implantação. Imagens Aéreas – Banco
de Imagens da Baixada Santista. Em: <www.imagensaereas.com.br> Acesso em 13/06/2012; e arquivo em
AutoCAD cedido pela COHAB–ST convertido em jpg, respectivamente.

26
A nova política habitacional, de componente financeiro, mostrou resultados ex-
cludentes (apesar de sua divulgada intenção de incluir o máximo de trabalhado-
res em casas próprias em bairros novos e com infraestrutura e equipamentos)
(Figuras 10 e 11) uma vez que era centralizada, com condições financeiras ex-
tremamente desfavoráveis para os mutuários, sobretudo após 1973 quando o
país entra na crise do “milagre brasileiro”, em um quadro de inflação crescente e
correção monetária, congelamento de salários e ausência de subsídios.

Figuras 10 e 11 - Conjunto Pe. José de Anchieta – Itaquera IA – 1983. Cedidas pela COHAB-SP. (NEGRELOS, 2012)

Figuras 12 e 13 - Produção convencional de conjuntos habitacionais com extrema racionalização. Revista


Projeto, Suplemento Especial “Da Utopia à Construção”, 1991. (NEGRELOS, 1998) e Bonduki (2009).

De 1964 a 1986 foram financiados cerca de 4,3 milhões de unidades novas, das
quais 2,4 milhões com recursos do FGTS, para o mercado popular, e 1,9 milhões
com recursos do SBPE (Sistema Brasileiro de Poupança e Empréstimo), para o
mercado de classe média (BONDUKI, 2007). No início da década de 1980 as
favelas estão consolidadas e em constante adensamento, os imóveis encortiça-
dos se expandiram da área central para lotes de periferia e diminuem as possibili-
dades fundiárias do esquema lote periférico-autoconstrução-casa própria, pois
o padrão periférico de crescimento urbano e a solução habitacional inerente a
ele esgotaram suas possibilidades de expansão, na escala em que vinham se
dando, principalmente no município de São Paulo (BONDUKI, 1992), além de
outros municípios da Região Metropolitana de São Paulo-RMSP.

27
Figuras 14 e 15 - Loteamento periférico – Osasco/
SP – década de 1970 (BONDUKI e ROLNIK, 1979)

IV - Transição democrática – Contextualismo Crítico; Redemocratização


e desestruturação da política nacional de habitação. Experiências alter-
nativas de projeto e participação popular (1980-2000)

O sistema BNH/COHAB se altera em 1986, quando as atribuições do Banco pas-


saram à CEF. Nesse momento, movimentos de moradia e suas assessorias técnicas
consolidam suas críticas aos conjuntos habitacionais massivos e periféricos produ-
zidos no período anterior, intensificando a disseminação de teorias críticas ao Mo-
vimento Moderno e defendendo o que se conhece como “retorno à cidade” (GO-
RELIK, 1996). No quadro de ruptura com o projeto moderno e de experimentação
de novos tipos de produção da moradia, se recupera do mundo rural a ideia de “mu-
tirão”, num sentido de valorização da vida comunitária para alcançar, ao contrário
daquilo que se criticava nos conjuntos massivos, mais identidade com o espaço da
moradia e com a comunidade envolvida.

Figuras 16 e 17 - Favela Recanto da Alegria, Santo Amaro, São Paulo/SP Projeto para mutirão com
“maquetomóvel”, 1983. (LABHAB - Belas Artes). Favela Heliópolis, São Paulo/SP. Construção em mutirão, 1991.
Foto de Negrelos, 1991.

28
A mobilização dos movimentos sociais também foi intensa no Movimento Na-
cional da Reforma Urbana-MNRU nos anos 1980, com a emenda popular que
constitui o Capítulo da Política Urbana, artigos 182 e 183 da Constituição Fede-
ral-CF de 1988, num quadro de baixo nível de investimentos federais em mora-
dia e saneamento.

Os novos conjuntos e intervenções integradas em favelas ou novas áreas, pro-


movidos oficialmente com a participação de associações comunitárias e asses-
sorias técnicas desde 1980 até hoje, justificam uma construção da relação do
morador com a elaboração de seu novo espaço em uma produção arquitetônica
e urbanística relacionada a vários ideários, desde os mais tradicionais como a
casa geminada ao longo da rua, até o bloco disposto de forma aberta no assen-
tamento, passando pela quadra fechada formada pelo edifício que se volta todo
para dentro.

Figuras 18 e 19 - Heliópolis I, São Paulo/SP. 1990/92. Arq.º Luis Espallargas Gimenez. (PMSP) (ANDRADE; BONDUKI;
ROSSETTO, 1993)

29
A produção habitacional da PMSP no município, de 1989 e 1992, defendeu o di-
reito das coletividades populares à arquitetura e a um tratamento global de seus
bairros de acordo com suas necessidades materiais, políticas e socioculturais,
viabilizou o desenho de um amplo rol de alternativas urbanísticas e arquitetôni-
cas discutidas diretamente com os usuários, desde variadas leituras do projeto
moderno ao “novo urbanismo” (LAMAS, 1993), explorando possibilidades de
novas formas urbanas (NEGRELOS, 1998).

Nessa gestão, ocorreu a valorização da Superintendência de Habitação Popular


Popular-HABI, com inovadora política habitacional e aumento de recursos orça-
mentários, com os princípios norteadores do direito à arquitetura e à cidade, de-
senvolvendo programas operados em cogestão dos recursos com associações
comunitárias, incentivando a regularização da posse da terra.

V - Novas políticas federais dos anos 2000 – Ministério das Cidades – PAR
– Programa de Arrendamento Residencial e PMCMV – Programa Minha
Casa Minha Vida.

A atuação do Governo Federal em matéria habitacional nos anos 1990 foi muito
limitada, sobretudo em função do avanço do neoliberalismo, expresso nas priva-
tizações de serviços públicos. Com estrutura institucional débil, desarticulada e
instável, além de rigor para conceder financiamento, exclusão das baixas rendas
e falta de financiamento ao setor público que afeta as áreas de saneamento e
urbanização de assentamentos precários, o Estado assiste ao crescimento das
necessidades habitacionais com agravamento da desigualdade e da violência
urbana; enquanto isso, o SBPE não investe em moradia para as classes de rendas
médias e baixas.

Após 13 anos da aprovação da CF em 1988, intensas negociações foram realiza-


das no Congresso Nacional para a aprovação da regulamentação do capítulo da
Política Urbana, em julho de 2001, Lei Federal 10257 e Medida Provisória 2220
sobre regularização de assentamentos em áreas públicas. Em 2000 o MNRU já
havia alcançado a inclusão do direito à moradia como preceito constitucional. O
Estatuto da Cidade-EC regulamenta inúmeros instrumentos para fazer valer a
função social da propriedade privada e da cidade, no sentido de garantir o direito
à moradia e regularizar as ocupações de terra; além disso, obriga a formulação
e aprovação de Planos Diretores Participativos-PDP com una série de critérios
(municípios com mais de 20.000 habitantes, por exemplo).

Para a campanha presidencial de 2002, o Partido dos Trabalhadores-PT elaborou o


“Projeto Moradia”, pactuado com vários setores da sociedade atuantes na área de
habitação, sendo a base do programa de Lula para habitação e política urbana. O

30
Projeto estrutura complexa estratégia para equacionar o déficit habitacional, pro-
pondo uma política nacional e não um plano de governo, articulando os três níveis
de governo, movimentos sociais, empresários, entidades da sociedade e demais
segmentos vinculados à habitação, para enfrentar os desafios do setor.

Os anos 1990 e 2000 serão marcados, no campo urbano-habitacional, pela imple-


mentação de Operações Urbanas Consorciadas-OUC, com articulação entre po-
der público e mercado, desenvolvendo os denominados Grandes Projetos Urba-
nos-GPU; tais projetos são entendidos como dispositivos capazes de articular três
grandes objetivos na cidade e na região metropolitana: 1. Reconfigurar o espaço
metropolitano como território de investimentos ligados à transformação territorial
metropolitana; 2. Imprimir um novo conjunto de valores ao centro da cidade para
superar o ambiente considerado de “abandono” e “marginal”, incompatível com a
reconfiguração da metrópole como lugar de atração de investimentos; 3. Recons-
tituir o território da periferia urbana, que ainda oferece terrenos para sua conversão,
assim como atividades consideradas “obsoletas” que podem ser substituídas por
novos usos e atividades e cujo parque habitacional pode ainda ser remodelado, seja
por reforma seja introduzindo novas atuações habitacionais junto com empresas
produtivas. (NEGRELOS, 2005).

Na reestruturação produtiva que ocorre no Brasil, sobretudo a partir de finais da


década de 1980, não se encontra apenas a indústria, o comércio e os serviços,
mas também a forma de produção da cidade que se expande cada vez mais de
forma horizontal, com expansão habitacional em condomínios horizontais peri-
féricos. Essa produção da cidade está denominada por Reis F.º e Tanaka (2007),
como “fragmentada e dispersa”.

Seria, então, nesse padrão de cidade fragmentada e dispersa que, no final da década
de 1990, são formulados novos programas habitacionais federais, como o Progra-
ma de Arrendamento Residencial-PAR-CEF, de 1999; sua produção é contextuali-
zada, mas agora pela iniciativa privada da construção civil que projeta condomínios,
verticais ou horizontais, no padrão forma-condomínio, ou seja, novos conjuntos de
pequeno porte segregados por muros. Do ponto de vista urbano, e segundo resulta-
dos parciais de nossa pesquisa (NEGRELOS, 2012), a maior parte desses conjuntos
é periférica nas cidades de porte médio e, no município de São Paulo, sua localização
é diferenciada dada a conformação do mercado imobiliário: ausência de grandes
áreas periféricas, reconstrução em terrenos centrais anteriormente utilizados por
indústrias, entre outras características.

Do ponto de vista imobiliário e da proposição dos novos empreendimentos


de habitação para as classes de menor poder aquisitivo, muita coisa continua a
mesma. Um modelo resiste, dada a manutenção da relação pendular do preço
da terra periférico x central, como nos fazem refletir alguns empreendimentos
do programa federal vigente, como em São Carlos/SP, que são implementados
em terra privada (Figuras 20 e 21).

31
Figuras 20 e 21 - Conjunto Residencial Oscar Barros, PAR, São Carlos. (LESSA, 2009). Conjunto Residencial Jardim das
Torres, PAR, São Carlos (LESSA, 2009).

No início de 2009, o Ministério da Cidade recebe a versão final do Plano Nacio-


nal de Habitação- PLANHAB, em fevereiro, elaborado de forma participativa
desde a primeira gestão do Governo Lula, com os seguintes eixos estratégicos:
a) Modelo de financiamento e subsídios; b) Política urbana e fundiária; c) Dese-
nho institucional; d) Cadeia produtiva da construção civil. (BONDUKI, 2009)

O PLANHAB detalha a nova Política Nacional de Habitação desse período, com


os seguintes princípios:

• Habitação digna como direito e vetor de inclusão social garantindo padrões


mínimos de qualidade, infraestrutura básica, transporte coletivo e serviços
sociais.
• Função social da propriedade urbana buscando implementar instrumentos
de reforma urbana para combater a retenção especulativa de solo e garantir
acesso à terra urbanizada.
• Questão habitacional como política de Estado - o poder público é agente
indispensável na regulação urbana e no mercado imobiliário, na provisão da
habitação e na regularização dos assentamentos precários.
• Gestão democrática com participação popular, controle social e transpa-
rência das decisões e procedimentos.
• Subordinação das ações em habitação à política urbana.

O PLANHAB, como instrumento de planejamento habitacional e fundamenta-


do em política nacional, deixa, entretanto, de ser implementado, em função do
lançamento do Programa Minha Casa Minha Vida PMCMV, em março de 2009,
com previsão inicial de um milhão de unidades até 2010. Com abrangência na-
cional e recursos do Fundo de Desenvolvimento Social-FDS, a produção do pro-
grama retoma a produção massiva de habitação, periférica e adensada, na tipo-
logia habitacional unifamiliar horizontal, conforme se apreende das Figuras 22 e
23, no município de São Carlos.

32
VI - A trajetória recente de habitação social no município de São Paulo a
partir de 2001 – a prática consolidada de remodelação de favelas.

Figuras 24 a 27: Conjunto Alexandre Mackenzie, Complexo Jaguaré. São Paulo/SP, Arq.º Marcos Boldarini.
Foto de Fabio Knoll, 2009 e planta cedida por Boldarini.

Novos projetos de habitação em favelas no município de São Paulo, principal-


mente a partir da gestão 2001-2004 recebem incentivos institucionais e orça-
mentários obtidos junto ao governo federal, produzindo projetos de remode-
lação de bairros populares, com propostas formuladas e, muitas, finalizadas e
ampliadas nos dois governos seguintes – 2005 a 2012.

São projetos de nova atuação em favelas, mesclando edifícios novos para reas-
sentamento com recuperação de moradias em bom estado. Com o advento, em
2006, de normativa nacional sobre recuperação de áreas degradadas ambiental-
mente ocupadas por assentamentos precários (Resolução CONAMA 369), foi
possível intervir de forma intensiva na recuperação ambiental de assentamen-
tos informais com possibilidade efetiva de manutenção da população que não
se encontra em risco de morte ou perda material.

Esses novos projetos retomam parâmetros modernos para os edifícios, agora na


cidade sem atributos da modernidade, numa tendência quase simbólica da reto-
mada projetual do ideário moderno, que, para habitação social, praticamente se
extingue na década de 1970. (NEGRELOS, 2010)

A escala e as dimensões de conjuntos habitacionais modernos como os dos IAP


e os da gestão 1989-1992 são, de alguma maneira, retomadas (Figuras 24 a 27;
28 e 29). Os novos conjuntos atuam na “costura da cidade”, preenchendo vazios
e potencializando a infraestrutura disponível, reorganizando espaços conside-
rados marginais com o reconhecimento do direito de moradia aos ocupantes
de favelas; e, quando não é possível construir na malha consolidada, se orienta o
crescimento em áreas mais periféricas com um elevado padrão habitacional, de
construção e de vida coletiva.

33
Figuras 22 e 23: Jardim Zavaglia, S. Carlos/SP, PMCMV, 2009/2010, PMSC/RPS Engenharia Ltda. Foto e Planta.
Fontes: Camila Ferrari, Maio/2012, com intervenção em imagem cedida pela Prefeitura de São Carlos. Em:
<http://www.saocarlos.sp.gov.br/index.php/habitacao-morar/154835-mapas-loteamentos-cidade-distritos.
html> Acesso em 13/06/2012, respectivamente.

Figuras 28 e 29. Conjunto Parque do Gato, centro de São Paulo/SP, concepção arq.ºs Wagner Germano e
Teresa Herling, projeto executivo Peabiru – Trabalhos Comunitários e Ambientais. http://fubango.blog.uol.
com.br/images/Martagato1.jpg, acesso em 14/03/2010. http://bbs.keyhole.com/ubb/ubbthreads.php, acesso em
14/03/2010. Foto de Marcos Issa/Argosfoto

A “nova economia urbana”, demarcada pelo processo de reestruturação técni-


co-produtiva a partir do final dos anos 1980 no Brasil, demanda e provoca trans-
formações no espaço (dos ricos e dos pobres). Buscamos contribuir na compre-
ensão desse processo de produção de novas formas urbanas: os componentes
que tem se modificado, as tipologias de novas configurações habitacionais, as
novas características morfológicas da habitação social, estatal, com a articula-
ção de agentes privados, o que mudou na sua relação com a cidade.

34
Referências

ANDRADE, C.R.M. de; BONDUKI, N.G.; ROSSETTO, R. Arquitetura e Habitação Social em São Paulo.
1989-1992. Livro que acompanha a Mostra “Arquitetura e Habitação Social em São Paulo 1989-1992”,
integrante do Núcleo Cidade e Território – 2.ª Bienal Internacional de Arquitetura de São Paulo, agosto
1993.

BOLDARINI ARQUITETOS. Projetos para a PMSP-SEHAB-HABI, no período 2005-2009-2012.

BONDUKI, N.G. Das origens da habitação social no Brasil ao Plano Nacional de Habitação. Apresenta-
ção em power point em debate no DAU – EESC – USP, São Carlos, SP, 06/05/09.

_________. Política de vivienda e inclusión social en Brasil: revisión histórica y nuevas perspectivas en
el gobierno de Lula. In: ESPINOSA, Jaime Erazo. (Org.).Inter/secciones urbanas: origen y contexto en
América Latina. Quito: Flacso Ecuador/Ministerio de Cultura, 2009, v. p. 95-135.

_________. Origens da habitação social no Brasil. Arquitetura Moderna, Lei do Inquilinato e Difusão da
Casa Própria. São Paulo: Estação Liberdade: FAPESP, 1998.

_________. Habitação & Autogestão. Construindo Territórios de Utopia. Rio de Janeiro: FASE, 1992.

BONDUKI, N.G.; ROLNIK, R. Periferias: ocupação do espaço e reprodução da força de trabalho. São
Paulo: FAU-USP:FUPAM, 1979.

GORELIK, A. O moderno em debate: cidade, modernidade e modernização. In: MIRANDA, W.M.(org.).


Narrativas da modernidade. Belo Horizonte: Autêntica, 1999, p.55-80.

LAMAS, J.M.R.G. Morfologia Urbana e Desenho da Cidade. Lisboa, Fundação Calouste Gulbenkian,
Junta Nacional de Investigação Científica e Tecnológica, Textos Universitários de Ciências Sociais e
Humanas, 1993.

LESSA, A.L.B. A negação da cidade em configurações habitacionais contemporâneas. Três casos em


São Carlos/SP. São Carlos: EESC-USP-SAP, Inic. Cient. (PEP/ USP-PRG), 2009.

NEGRELOS, E.P.; FERRARI, C. Resiliência de tipologias habitacionais e urbanas do alojamento popular


no Brasil. In Anais do XV ENCONTRO NACIONAL DA ANPUR - Desenvolvimento, planejamento e
governança. 30 anos da ANPUR, Recife, 2013.

NEGRELOS, E.P. O desafio da produção massiva da habitação social no Brasil. Perspectivas atuais. O
Caso de São Paulo. In Anais do 1.º Congresso Iberoamericano de Solo Urbano. Malvinas Argentinas,
Província de Buenos Aires, Argentina, 2012.

_________. Habitação Social Pós-1964 no Município de São Paulo. Contribuições ao Debate sobre o
Moderno e a Produção da Cidade. In Anais do XI SEMINÁRIO DE HISTÓRIA DA CIDADE E DO UR-
BANISMO. A CONSTRUÇÃO DA CIDADE E DO URBANISMO: IDEIAS TÊM LUGAR? Vitória, Espí-
rito Santo, 5 a 8 de outubro de 2010.

_________. Técnica e Estratégia Política. Grandes Projetos Urbanos na RMSP. São Paulo: FAU-USP, Tese
de Doutorado, 2005.

_________. Remodelação de bairros populares em São Paulo e Madrid, 1976-1992. Projeto e Participa-
ção Popular. São Paulo: FAU-USP, Dissertação de Mestrado, 1998.

REIS F.º, N.G.; TANAKA, M.M.S. (org.). Brasil – estudos sobre dispersão urbana. Apoio: LAP – Laborató-
rio de Estudos sobre Urbanização, Arquitetura e Preservação, FAPESP: Fundação de Amparo à Pesqui-
sa do Estado de São Paulo. São Paulo, 2007.

35
Las políticas públicas de
vivienda en Argentina desde
principios del siglo XX a la
actualidad
Germán Gustavo Rebord

Introducción

En el presente trabajo, se realiza un recorrido histórico desde principios del siglo


pasado hasta la actualidad, recuperando los modos y respuestas que se brinda-
ron desde el Estado, al problema de la vivienda en Argentina.

Se parte del concepto de que las políticas públicas son el resultado de un pro-
ceso social, económico y político, donde el Estado toma posición frente a un
determinado tema. Para ello, dentro del aparato gubernamental se accionan
mecanismos que viabilizan u obstaculizan las acciones necesarias, en función
de intereses e influencias internas y externas al gobierno. Frente a esto, Miriam
Rodulfo (2003) manifiesta que

“Las estructuras de orden político, técnico y burocrático no son asépticas


y actúan condicionando la naturaleza de las decisiones públicas. No hay
en lo público, un poder político o burocrático ajeno o aislado de las cues-
tiones económicas o sociales que afectan a individuos y grupos. Antes
bien, el ejercicio de éste poder es permeable a los complejos procesos,
relaciones y pujas existentes entre los intereses públicos y privados, los
que se expresan a través de los actores que detentan la capacidad de to-
mar decisiones y tiñen los contenidos, instrumentos y prioridades de las
políticas públicas”.

37
Teniendo en cuenta el concepto precedente, se presentan las respuestas brinda-
das desde el Estado en cada momento histórico, considerando el tejido contex-
tual, el modo de comprensión del problema por parte de la sociedad, y los acto-
res predominantes. En forma paralela, se encuadra a cada una de estas políticas
dentro de un paradigma de pensamiento, correspondiente a su lógica de acción.

Por razones prácticas, se ubica cronológicamente a las distintas políticas y su


período de mayor aplicación, las cuales no tienen fecha definida de inicio ni fina-
lización. Tienen un surgimiento, luego se modifican o permanecen en el tiempo,
según el marco político y los lineamientos que enuncien los paradigmas de pen-
samiento vigentes. Se hace necesario aclarar que los programas y proyectos de
vivienda, producto de un determinado momento, conviven con las nuevas res-
puestas al tema, superponiéndose miradas y acciones.

Ciudad Evita Barrio los Perales 1947

Primer Ciclo

Las grandes ciudades de Argentina, desde 1850, recibieron enormes contin-


gentes de población como producto de dos fenómenos: la migración interna de
población rural, y la inmigración europea. Ante estos movimientos demográfi-
cos masivos, los conventillos se constituyeron en la primera respuesta a la ca-
rencia de vivienda. En ellos habitaba una familia por habitación, compartiendo
los servicios sanitarios y de cocina.

La primera intervención del Estado en la temática habitacional, fue fijar la regu-


lación en el precio de los alquileres, modificando la postura del gobierno liberal,
el cual consideraba que la necesidad de alojamiento era un problema individual,
dependiente de la oferta y la demanda.

Hacia octubre de 1915, se crea mediante la Ley 9677, la Comisión Nacional de


Casas Baratas, con la misión de orientar en materia de hábitat, aplicar exencio-
nes impositivas, y realizar construcciones experimentales, como elementos

38
ejemplificadores, modelos a ser imitados por la iniciativa privada. Raúl Fernan-
dez Wagner (2007), expone que “paralelamente también se organizarían al-
gunos fondos -en sociedades filantrópicas- para promover la construcción de
“viviendas obreras”, o también llamadas “viviendas modelo” o “viviendas higié-
nicas”1. Estas acciones tuvieron un escaso impacto cuantitativo.

Ante la insuficiencia de viviendas, las familias comenzaron a instalarse en áreas peri-


féricas de baja calidad ambiental, auto produciendo su hábitat de manera informal.

A partir de mediados de la década del ‘40, con la llegada del Partido Justicialista al
poder, se impulsa un modelo de desarrollo basado en la sustitución de importa-
ciones, con un Estado planificador e intervencionista. Algunas acciones destaca-
bles llevadas adelante por este gobierno son, la construcción masiva de vivien-
da, la generación de un nuevo aparato burocrático y administrativo, y la sanción
de un conjunto de leyes de incidencia en el mercado habitacional, tales como:

-Ley 13512, de propiedad horizontal


-Ley 14005, de venta de lotes en mensualidades
-Ley 2962, que modifica la carta orgánica del Banco Hipotecario Nacional

Este conjunto de acciones directas e indirectas, proveyó de vivienda a clases me-


dias y medias bajas, logrando concretar el derecho de acceder a la ciudad y todos
sus servicios por parte de los obreros, como sujetos de derechos sociales.

Segundo Ciclo

1968-1979, Proyecto urbano General Savio (Lugano I y II)

El contexto histórico de este ciclo, sostiene como modelo de desarrollo la indus-


trialización sustitutiva de importaciones, basada en el impulso de la industria
pesada. Esto trajo aparejado un proceso de urbanización acelerado, con intensi-
ficación de la migración rural - urbana. Rodulfo (2003) se refiere a esta situación
de la siguiente manera:

1 Las comillas pertenecen al autor.

39
“El escenario habitacional, estaba dominado por un modelo de desarrollo
caracterizado por provocar fuertes movimientos migratorios, atraídos
por el crecimiento y diversificación de las actividades urbanas que trans-
formaron a las ciudades hasta concentrar el 87 % de la población nacional
en un proceso en el que, amplios sectores de la población nacional queda-
ron excluidos”.

Como consecuencia de esto, las ciudades se ven desbordadas por los nuevos
habitantes urbanos, quienes deben resolver el alojamiento por sí mismos, ya que
la economía formal no llega a incorporarlos. De esta manera, la cantidad de fa-
milias en asentamientos informales crece cuantitativamente, y lo mismo ocurre
con el número de villas. La actitud de los gobiernos democráticos es cambiante,
pues por momentos apoya brindando servicios, y en otros organiza desalojos
masivos en los asentamientos.

A partir de 1966, el gobierno de facto a nivel nacional da comienzo a un progra-


ma de erradicación de villas, bajo la idea de implementar el desarrollo comunita-
rio, pero controlado por el Estado. Para esta política de erradicación, se crearon
viviendas transitorias, donde fueron alojadas las familias mientras se construían
las viviendas definitivas, hecho que no se cumplió.

Hacia fines de este período puede verse, al decir de Oscar Yujnovsky (1984), que

“El fracaso de los proyectos encuentra sin duda su causa última en la im-
posibilidad estructural de resolver el problema de la situación habitacio-
nal deficitaria de los sectores de menores recursos sin una política que
atienda a la transformación de la sociedad argentina”.

En cuanto a la política de vivienda para sectores medios y medios bajos, se ejecu-


tan programas universales de vivienda llamados llave en mano, centralizados en
el órgano nacional. Debido a esto, no se toman en cuenta las particularidades del
usuario, ni tampoco se le da participación en ninguna etapa del proceso. A su vez,
se producen modificaciones en el sistema de financiación de la vivienda en dos
sentidos: por un lado, cambiando el origen de los fondos, y tomando créditos de
la banca internacional; por el otro, adaptando el aparato administrativo del Esta-
do a estas nuevas formas de financiamiento.

Tercer Ciclo

Las décadas del ‘70 y del ‘80, constituyen un momento histórico convulsionado,
tanto a nivel nacional, como internacional.

En lo económico, predomina un contexto inflacionario y recesivo, con amplio


descontento de los sindicatos y los movimientos obreros. A fines de los ‘70, co-

40
Lotes con Servicios y Mejoramiento de Barrios (radicación)

mienza un cambio de modelo en manos de los gobiernos militares, tomando me-


didas de corte liberal. Pero, ante su incapacidad de satisfacer la demanda con las
políticas que se implementan, el problema de la vivienda se agrava. Esto llevó a
que se desarrollen paralelamente, dos líneas estratégicas contrapuestas.

Por un lado, se crea en 1972 el Fondo Nacional de la Vivienda (FONAVI), que


captaba fondos aplicando un gravamen sobre el salario, que eventualmente pa-
garían los empleadores; su existencia se extendió por más de 30 años. La planifi-
cación y ejecución de esta política se mantuvo en la esfera nacional, hasta que en
1976 se incorporan los organismos ejecutores a nivel provincial. Luego, en 1983,
se descentraliza en los Institutos Provinciales de Vivienda - IPV.

Por el otro, emerge una estrategia innovadora, basada en nuevas ideas promovi-
das a nivel internacional.

Vale mencionar a John Turner (1977), quien cambia el punto de vista del proble-
ma de la vivienda, manifestando que a ésta se la debe entender como proceso
social, y no sólo como un producto.

Por su parte Ernst Schumacher (1978), generó una línea de trabajo en pos de
la invención de nuevas tecnologías para la vivienda, a la que llamó tecnologías
apropiadas.

La realización de la Primera Cumbre de la Naciones Unidas sobre Asentamientos


Humanos, Hábitat I (1976), se fundamentó en estos puntos de vista, recomen-
dando a los gobiernos implementarlos y apoyarlos desde las políticas públicas.

Estos avances, que recayeron en una consideración más prioritaria de los asen-
tamientos informales, dieron origen a políticas que se denominaron alternativas,
en las cuales la población pasó ser parte involucrada en la decisión y la gestión de
la construcción de su hábitat. Las políticas alternativas, se centran en solucionar
y optimizar el hábitat construido por los propios pobladores; para ello, se gene-
raron programas que atendieron la regularización de la tenencia, la provisión de
infraestructura y el mejoramiento de vivienda. Conceptos como progresividad,

41
vivienda evolutiva, pie de casa, vivienda semilla, fueron incorporándose en los
equipos técnicos de asesoramiento. También las formas de producción se diver-
sificaron, combinando la ayuda muta, el esfuerzo propio, el trabajo cooperativo
entre otras.

Cuarto ciclo

En las últimas dos décadas del siglo XX, se producen importantes transformaciones
económicas y políticas, basadas en un nuevo paradigma de desarrollo. Se adopta-
ron ideas neoliberales en la economía, y se introdujeron cambios en las formas de
producción. Ejemplo de dichos cambios, son las recomendaciones del Consenso
de Washington, impulsadas por el Fondo Monetario Internacional (FMI) y el Banco
Mundial (BM), entre otros. Estas promueven reducir el déficit fiscal y el gasto públi-
co; liberar las importaciones y todo tipo de restricciones al comercio; viabilizar las in-
versiones extranjeras; privatizar las empresas estatales; abolir las regulaciones que
impiden el acceso al mercado; restringir la competencia.

Actuación del Prog Promeba en Córdoba con provisión de nucleo sanitario

En Argentina, el gobierno democrático de Carlos Menem (1989-1999), se


orientó a la privatización de los servicios públicos, la desregulación del mercado
laboral, y la promoción del ajuste en los gastos del Estado.

“El fin del estado benefactor, provoca un paulatino abandono del princi-
pio de responsabilidad social de lo público hacia el problema habitacional,
construido como resultado de casi un siglo de lucha social. Ello permite
desvincular al Estado de la responsabilidad en la provisión de los servicios
habitacionales, para dar lugar a una mayor transferencia al mercado, me-
diante la restitución del principio de responsabilidad individual, frente al
problema del alojamiento”. (Fernandez Wagner, 2007)

La política habitacional puso su foco en el financiamiento de la demanda, pro-


moviendo el rol del Estado como facilitador del mercado. Además, para con-
trarrestar los efectos negativos del ajuste -incremento de la desocupación y la
pobreza- fijó como objetivo para sus políticas, un alivio de la pobreza urbana, que

42
posibilite la gobernabilidad de la ciudad, sin conflictos sociales que impidan la
movilidad y reproducción de los capitales. Al respecto, Rodulfo (2007) plantea
que la política habitacional se centró en los siguientes aspectos:

-Descentralización del FONAVI hacia la jurisdicción local


-Articulación de distintos niveles de Estado para la intervención asociada
-Diversificación de operatorias según tipo de demanda
-Predominancia de la vivienda individual como respuesta, y aparición de la lla-
mada solución habitacional
-Focalización de las inversiones, en los territorios donde es necesario paliar los
efectos negativos de la política económica
-Viabilización del crecimiento del mercado de hipotecas

Entre las principales acciones sucedidas en este período se encuentran:

-Privatización del Banco Hipotecario Nacional


-Cambios en el origen de los recursos del FONAVI
-Aplicación del Decreto 690/92, que permitió mayor diversidad de soluciones
habitacionales, para sectores de menores ingresos, con la participación de enti-
dades intermedias
-Creación del Programa Nacional Arraigo, para la regularización de las tierras fis-
cales ocupadas y desafectadas de su uso
-Implementación del Programa Nacional de Mejoramiento de Barrios PROME-
BA y del programa Rosario Hábitat, con el fin de integrar los asentamientos a la
ciudad formal, financiados por el Banco Interamericano de Desarrollo (BID)
-Implementación del Programa Nacional de Mejoramiento Habitacional e Infra-
estructura

Quinto ciclo

Argentina entra al nuevo siglo con una crisis económica, política y social que de-
sencadena la salida prematura del gobierno de la Alianza por el Trabajo, la Justicia
y la Educación.

6000 viviendas en Santiago del Estero Barrio Campo Contreras Programa Federal / Programa de
Erradicación de Villas en Córdoba, llamado Mi casa, mi vida

43
La cuestión social se manifiesta en cifras alarmantes, mostrando las consecuen-
cias del modelo; el desempleo alcanza el 18%; la clase media protesta mediante
los cacerolazos. Ante la pérdida de puestos de trabajo, los desocupados se orga-
nizan produciendo los primeros cortes de ruta, autodenominándose movimien-
tos piqueteros.

El 20 de diciembre de 2001, se produce el estallido social que generó el final de


una época y un modelo. Más adelante, en el año 2003, el nuevo gobierno plantea
un desarrollo nacional con objetivos como la expansión del mercado interno, la
generación de empleo y la redistribución del ingreso. En cuanto a lo habitacional,
sus pilares son la construcción de viviendas y la obra pública, financiadas desde
el Estado nacional.

Sobre esto, Rodulfo (2007) dice que “la producción de vivienda es así, un fac-
tor que contribuye a asegurar niveles de actividad y empleo en el tiempo y en el
territorio, hasta tanto se generen condiciones de reactivación de otros sectores
productivos”. La política de vivienda vuelve a centralizarse en el nivel del poder
ejecutivo nacional, generando una diversidad de programas:

-Programa Federal de Construcción de Viviendas, con subprogramas de construc-


ción con municipios, y de urbanización de villas y asentamientos precarios
-Programa Federal de Mejoramiento Habitacional - Mejor Vivir
-Programa Habitacional de Emergencia de construcción con cooperativas
-Continuación de ejecución del PROMEBA
-Programa de Crédito Argentino del Bicentenario para la Vivienda (PROCREAR)

Conclusiones

Las políticas públicas habitacionales, son una representación de la incidencia


de las ideologías y los paradigmas imperantes, sobre las formas de resolver la
cuestión de la vivienda. Debido a esto, se hace posible visualizar una evolución
en el tiempo de las concepciones sobre cómo deben ser la solución y las formas
de acceso a ésta. Pero también inciden los arreglos institucionales, los distintos
sectores involucrados, y la posición que toma el gobierno cuando el problema se
convierte en cuestión de Estado.

De la lectura cronológica, se desprende que el concepto de vivienda sufrió cons-


tantes transformaciones en sus estándares. El paso de la vivienda mínima con
ambientes multifunción, a la vivienda digna del peronismo con ambientes dife-
renciados para la nueva familia nuclear; la incorporación del concepto de hábi-
tat, en el cual la vivienda es parte de un contexto urbano, a la solución habitacio-
nal neoliberal, llegando luego a la visión del hábitat como un derecho humano.

Frente a esto, el hábitat urbano ha cobrado una complejidad y diversidad tal, que

44
necesita de una política urbano habitacional que garantice equidad socio-espa-
cial en el acceso a ciudad.

La mercantilización de la vida urbana y el encarecimiento del suelo, atentan con-


tra el acceso y permanencia en la ciudad de las personas, por lo que ya no es posi-
ble hablar de obtención de vivienda en los términos históricos. Es necesario que
sobre el proyecto arquitectónico, confluya de manera articulada una diversidad
de herramientas como, planificación estratégica, economía urbana, instrumen-
tos fiscales, estrategias socio-organizativas, de modo de tender hacia un verda-
dero proyecto urbano habitacional para toda la ciudadanía.

Bibliografía

Barrios, R. y Fernandez, N. (2012). (Con) vivir con el peronismo. Vivienda y ciudad durante el primer
peronismo. Disponible en: http://redesperonismo.com.ar/

Cravino, A. (2009). Una historia sobre la transformación de la habitación popular en Buenos Aires (II).
Del conventillo a las casas baratas, la casa chorizo y el cottage. En: revista virtual El Café de las ciudades.
Año 8, N° 77 http://www.cafedelasciudades.com.ar/politica_77

Fernandez Wagner, R. (2007). Elementos para una revisión crítica de las políticas habitacionales en
América Latina. En: Asentamientos informales y moradía popular. Instituto de Pesquisa Económica
Aplicada de Brasilia

Fernandez Wagner, R. (2007). Interrogantes sobre la sustentabilidad de la política habitacional Argen-


tina. Ponencia expuesta en Seminario Iberoamericano de ciencia y tecnología para el hábitat popular.
Córdoba, Argentina

Lecuona, D. (1993). Orígenes del problema de la vivienda/1. Biblioteca Política Argentina Nº 125, Cen-
tro Editor de América Latina

Otero, M. (2010). Política de vivienda en Argentina (1887-1930). Disponible en: http://www.barriada.


com.ar/SebastianOtero/SebastianOtero

Raminerz, R. (2002). Evaluación social de políticas y programas de vivienda: un análisis de la contribuci-


ón de la vivienda a la reducción de la pobreza urbana. Revista INVI Nº 45 Volumen 17, año 2002. Chile

Rodulfo, M. (2003). La situación habitacional y las políticas públicas. Disponible en: www.urbared.
ungs.edu.ar/pdf/pdf-articulos/c2.pdf

Rodulfo, M. (2007). Políticas habitacionales en argentina, estrategias y desafíos. Disponible en:

http://www.vivienda.mosp.gba.gov.ar/capacitacion/rodulfo_viv_social.pdf

Turner, J. (1977). Vivienda, todo el poder para los usuarios. Hacia la economía en la construcción del
entorno. Madrid, Editorial H Blume

Schumacher, E. (1978). Lo Pequeños es Hermoso. Madrid, Editorial H Blume

Yujnovsky, O. (1984). Claves Políticas del Problema Habitacional Argentino 1955 – 198. Grupo editor
Latinoamericano

45
As outras dimensões da
Política Habitacional no Brasil
Anacláudia Rossbach - Mestre em Economia Política pela PUC - SP

Nosso país, está inserido no continente campeão mundial em desigualdade de


acordo com as Nações Unidas, não só em termos de distribuição de renda, mas
também nos quesitos habitação, acesso a bens e serviços sociais e financeiros.
O continente lationamericano reúne os países com os maiores coeficientes de
Gini do planeta, destaque para Guatemala, Honduras, Colômbia, Brasil, Repúbli-
ca Dominicana e Bolívia, enquanto os países menos desiguais como o Uruguai e
a Venezuela ainda apresentam um coeficiente de Gini maior que Estados Uni-
dos e Portugal, o país mais desigual da União Européia (ONU Habitat, 2012).

Ainda segundo a ONU, ocorreu sim uma evolução positiva em termos de dimi-
nuição relativa da pobreza na região, com uma ligeira queda na concentração
de renda em dez países, entre os quais está o Brasil, para além de Venezuela,
Uruguai, Peru, Nicarágua, Honduras, Chile, El Salvador, México e Panamá; mas
por outro lado outros países ainda apresentam um contexto de aumento das
desigualdades, em um claro retrocesso com aumento da concentração de ren-
da, como Costa rica, Paraguai, Colômbia, Equador, República Dominicana, Bo-
lívia, Argentina e Guatemala (ONU Habitat, 2012). O gráfico (1) demonstra a
tendência de queda do coeficiente de Gini no Brasil, já o gráfico (2) apresenta
o crescimento da renda por decil de faixa de renda no período de 2004 a 2012,
demonstrando um claro movimento de aumento de renda na base da pirâmide,
ou seja nas faixas da população com menor poder aquisitivo.

47
Gráfico (1). Coeficiente de Gini – renda media familiar (2004 – 12).1
Fonte: Elaborado a partir de Ministério da Fazenda, 2013.

Gráfico (1). Coeficiente de Gini – renda media familiar (2004 – 12)1.

Fonte: Elaborado a partir de Ministério da Fazenda, 2013.

Gráfico (2). Variaçãoda renda por faixa de renda (10%) no período 2004 -12.

Fonte: Elaborado com base em BRAZIL, IBGE, 2013.

Gráfico (2). Variaç da renda por faixa de renda (10%) no período 2004 -12.
Fonte: Elaborado com base em BRAZIL, IBGE, 2013.

O Brasil também é apontado por outras organizações internacionais como a


OCDE2, o Banco Mundial, e o Fundo Monetário Internacional, como um ícone en-
tre os países emergentes no quesito superação das desigualdades sociais, refletindo
uma aceitação generalizada por essas instituições das políticas sociais implementa-
das pelas três esferas de governo com especial ênfase ao Programa Bolsa-Família e
à política de aumento real do salário-mínimo. O país e suas políticas sociais ganhou
destaque na nota técnica do Fundo Monetário Internacional de 2011 (Berg e Ostry,
2011) e também no recente lançado relatório da OCDE, Society at a Glance 2014,
a organização apresenta a redistribuição de renda, como pilar central do modelo de

1O Índice de Gini, criado pelo matemático italiano Conrado Gini, é um instrumento


para medir o grau de concentração de renda em determinado grupo.Ele aponta a dife-
rença entre os rendimentos dos mais pobres e dos mais ricos. Numericamente, varia
de zero a um (alguns apresentam de zero a cem). O valor zero representa a situação
de igualdade, ou seja, todos têm a mesma renda. O valor um (ou cem) está no extremo
oposto, isto é, uma só pessoa detém toda a riqueza (fonte: www.ipea.gov.br).
2 Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico.

48
crescimento econômico do Brasil, evidenciando a redução das desigualdades e a
saída de milhões de pessoas da situação de pobreza, evidenciando o programa Bol-
sa-Família um modelo importante e adotado por diversos países como medida de
redução de pobreza (OCDE, 2014:31).

Este contexto de desigualdades sociais, claramente expostas em nossas cidades


brasileiras, cujos traços de segregação territorial e espacial são bastante eviden-
tes, é o grande pano de fundo para a implementação dos programas integrantes
da política habitacional no Brasil. Uma análise mais profunda dos indicadores so-
ciais no Brasil aponta para uma melhora significativa da abrangência das políticas
sociais, como saúde, proteção social, emprego e educação com o incremento
de alguns indicadores, como a redução do analfabetismo, melhor convergência
entre idade e nível de escolaridade, frequência escolar e atendimento pré-esco-
lar, entre outros. O indicador mais representativo, no entanto, em uma situação
de crise econômica internacional desde 2008 é a redução do desemprego e o
aumento dos empregos formais: em dezembro de 2013 a taxa de desemprego
média nas regiões metropolitanas do Brasil era de 4,3% e o número de empregos
formais criados entre 2002 e 2012 é de 18 milhões (Brasil, IBGE, 2103).

A Política Nacional de Habitação 2003 – 2014

Após um hiato de 20 anos, sem uma política habitacional de âmbito federal e


com escassos investimentos de governo em suas três esferas, o recém-criado
Ministério das Cidades coordenou em 2004 a elaboração da Política Nacional
de Habitação, estabelecendo diretrizes para a elaboração dos grandes pilares
programáticos, o PAC – Urbanização de Favela (2007) e o Minha Casa, Minha
Vida (2009), para além de outros programas concebidos e executados ao longo
deste período, tanto para subsídios diretos como na forma de transferência or-
çamentária para estados e município.

A instituição do SNHIS – Sistema Nacional de Habitação de Interesse Social no


ano de 2005 foi fundamental pra estabelecer os pilares institucionais para a exe-
cução da política habitacional, alavancando a criação e fortalecimento de con-
selhos participativos locais e órgãos setoriais, além de estimular o planejamento
de longo prazo para enfrentar o problema da moradia nas três esferas de gover-
no. O instrumento de planejamento em âmbito nacional é o Plano Nacional de
Habitação – PLANHAB, elaborado no período 2007-08 de forma participativa
promovendo alinhamento e consenso de representações da sociedade civil e
entes públicos (movimentos sociais, setor privado, representações profissio-
nais, instituições de pesquisa e academia) sobre as reais necessidades do país,
recursos necessários e metas de atendimento para o período de 2008 a 2023.

Fundamentais para evitar o agravamento do problema habitacional do país, a


elaboração da política, lastreada no Estatuto da Cidade (Lei Federal de 2001),

49
Rio de Janeiro, Rocinha. Fonte: Atelier Metropolitano (Jorge Mario Jáuregui).

com seus respectivos programas e marco legal vem tardiamente em um contex-


to de significativa precariedade habitacional no país, com grandes porções do
território urbano do país ocupado por favelas e loteamentos irregulares, tecni-
camente conhecidos por assentamentos precários, com expressivo número de
domicílios localizados em situação de risco.

Com o lançamento do PAC em 2007, os municípios passaram a contar com re-


cursos expressivos significativos para implementação de infraestrutura e uni-
dades habitacionais em assentamentos precários, mas simultaneamente são
pressionados a se estruturar e organizar para ampliar a capacidade de planeja-
mento e gestão dos investimentos disponíveis. Igualmente, o programa de sub-
sídios habitacionais Minha Casa, Minha Vida – MCMV em 2009 trás consigo a
possibilidade de aumentar a provisão habitacional para atender às necessidades
habitacionais das cidades brasileiras, a partir de uma combinação de critérios na-
cionais e locais para a hierarquização dos atendimentos. O principal critério de
priorização estabelecido para todo país é o atendimento a famílias em situação
de vulnerabilidade física e social, agregando desta forma um instrumento pode-
roso para atendimento das famílias em situação de risco no país.

A estimativa da Secretaria Nacional de Habitação (Ministério das Cidades) de


população beneficiada pelo PAC é de 1,8 milhão de domicílios (de um total de 3
milhões residentes em favelas), e o MCMV gerou a produção de 1,2 milhão de
novas unidades, com 2,8 milhões em andamento para atender a meta corrente
de 3,4 milhões de moradias no país (SNH, 2013). A distribuição das unidades

50
por faixa de renda indica que 30% das unidades foram alocadas para famílias
com renda mensal de até R$ 1.600, 65,9% entre R$ 1.600 e 3.275 e 6,8% até R$
5.000 (SNH, 2013), convergente com o perfil socioeconomico do Brasil, mas
ainda insuficiente para atender às necessidades representadas pelo, déficit e
inadequação habitacional, e evitar a expansão de áreas de riso e assentamentos
precários.

Apesar do elevado patamar de investimentos gerados por estes dois programas,


e os impressionantes resultados, ainda estamos longe de atender às necessicda-
des habitacionais e evitar a expansão de assentamentos precários em áreas não
adequadas para moradia. Entretanto, elevar a velocidade e a escala de produção
garantindo a sustentabilidade social, econômica e ambiental em nossas cidades
é uma tarefa longe de ser fácil, pois vários fatores precisam ser levados em consi-
deração, como por exemplo (i) a existência de trabalho social durante os perídos
de pré e pós-ocupação; e (ii) instrumentos avançados de planejamento urbano
para a disponibilização de terrenos para a moradia com boa inserção na malha
urbana, ou seja: acesso a serviços, empregos, equipamentos públicos e lazer.
Adicionalmente, em função das grandes densidades observadas em nossas ci-
dades, a necessidade de verticalizar empreendimentos de habitação social traz
desafios adicionais para viabilizar a fixação das famílias nas novas residências,
como as despesas adicionais com manutenção e condomínio e serviços.

Ou seja: não há como aumentar significativamente a produção de unidades ha-


bitacionais para a população de menor renda em contextos que não priorizem o
planejamento e desenvolvimento urbano sustentável e de forma não articulada
com programas robustos de desenvolvimento social e econômico. E embora
grandes avanços possam ser observados nas três esferas de governo nestes úl-
timos dez anos em termos de (i) planejamento urbano equitativo e sustentável;
(ii) institucionalização da política habitacional e aumento de investimentos; (iii)
estruturação de políticas e programas de inserção e desenvolvimento social e
econômico; ainda existem grandes desafios para o país, principalmente relacio-
nados à coordenação das políticas e sua execução local, em função da diversida-
de político-administrativa dos municípios do país, constitucionalmente designa-
dos para definir as diretrizes de uso do solo e expansão urbana.

Os planos diretores municipais constituem o principal instrumento da política


urbana e do planejamento das cidades brasileiras, a absorção do componente
habitacional com o reconhecimento das precariedades existentes nos pro-
cessos de debate e revisão dos planos diretores, é fundamental para que este
processo de expansão urbana com reforço das nossas características históri-
cas de desigualdade seja revertido. Nos Estados Unidos e em alguns países do
continente europeu, mecanismos avançados de zoneamento inclusivo foram
instituídos com o objetivo de aproveitar os avanços do mercado imobiliário no
sentido de estimular a produção de habitação de interesse social de forma mais

51
integradas com mix de renda e usos nos territórios e até mesmo em um mesmo
empreendimento.

A política urbana no Brasil avançou significativamente no início da década de


2000 a partir da promulgação do Estatudo da Cidade em 2001, e depois com a
criação do Ministério das Cidades e uma série de programas e campanhas com
vistas a capacitar e estimular municípios para a elaboração de planos diretores,
e instituição de instrumentos dos Estatuto da Cidade. Pode-se dizer hoje que
houve um avanço, com a realização de planos diretores participativos e a imple-
mentação também majoritária do grande campeão do Estatuto das Cidades, as
zonas especiais de interesse social. No entanto, já se passam quase dez anos e
estes planos precisam ser revistos e avançar no desenho de instrumentos mais
progressivos e que possam garantir a disponibilidade de solo urbano bem locali-
zado para a provisão de habitação social. Sem que esta condição seja cumprida,
dificilmente um programa como o Minha Casa, Minha Vida terá condições de
ser implementado de maneira sustentável, atendendo às expectativas não só
da população integrante do déficit e da demanda habitacional, mas também dos
movimentos sociais e profissionais engajados e ativistas na promoção de cida-
des inclusivas e equitativas.

As dimensões sociais e econômicas do Minha Casa, Minha Vida

Para além dos quesitos físicos de qualidade e inserção urbana dos empreendi-
mentos produzidos por meio da política habitacional em voga no país, outras di-
mensões devem necessariamente ser consideradas em uma análise mais apro-
fundada sobre seus impactos diretos para as famílias recipientes dos programas,
e indiretos para a sociedade como um todo. Muito se fala sobre os benefícios
econômicos em termos de geração de empregos e dinamização da econômica
como um todo a partir da cadeia produtiva da construção civil, no entanto, há um
reflexo importante e bem menos abordado, de redistribuição de riqueza no país.

Em uma análise publicada no jornal Valor Econômico, o economista Marcelo


Neri aponta para um avanço do capital residencial per capita de 42,1% desde
2003, com aumento acelerado a partir do lançamento do programa Minha Casa,
Minha Vida em 2009, e com grande impacto em termos de aliviar as desigualda-
des do país. Segundo ele a queda da desigualdade do capital residencial foi de
166% maior que a queda da desigualdade de renda da Pnad, com maiores ga-
nhos destinados a grupos excluídos historicamente, como analfabetos, negros
e empregados agrícolas (Neri, 2014).

Sob a ótica do beneficiário, o grau de satisfação foi medido por uma pesquisa
conjunta do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA) e Ministério das
Cidades, na qual em uma escala de 0 a 10 os proprietários deram, em média, nota
8,8 às moradias. A nota maior foi de 8,9 par ao quesito aumento de bem estar,

52
seguido por 8,1 para o entorno das residências e 7,9 para custo das prestações3.

Distante destas questões fundamentais, oO debate recente sobre a política de


habitação no Brasil ressalta o protagonismo do principal programa de provisão
habitacional, o Minha Casa, Minha Vida, na configuração das cidades brasilei-
ras, acentuando tendências passadas de segregação e exclusão das populações
inseridas nas faixas de renda representativas da base da pirâmide socioeconô-
mica. Este debate revela, com razão, as grandes limitações de um programa ha-
bitacional enquanto instrumento majoritário de política urbana e no processo
de construção de cidades mais equitativas e sustentáveis, ressalta igualmente
a grande dificuldade encontrada pelo país para superar as mazelas históricas de
desigualdades em nossa sociedade.

Entretanto, uma análise mais aprofundada do contexto social, econômico e urbano


do país e uma compreensão mais ampla dos impactos dos programas habitacionais,
pilares da política nacional, em sua dimensão social e econômica, para além do am-
biente construtivo em si pode indicar sim um avanço em relação às políticas ante-
riores: investimentos robustos que permitam um avanço gradual na convergência
entre escala e qualidade, para além de uma contribuição mais efetiva no processo de
desenvolvimento social e econômico de um Brasil menos desigual.

Importante destacar o importante papel desempenhado pelo poder público mu-


nicipal neste processo de promover a convergência entre escala e qualidade da
produção habitacional nas cidades brasileiras. O principal instrumento consiste
obviamente no plano diretor, que deve incorporar as necessidades habitacionais
da população como pilar estrutural, e maximizar a utilização de terrenos vazios,
ou subutilizados em processos integrados e sustentáveis de desenvolvimento
urbano. Mecanismos mais sofisticados de zoneamento inclusivo também po-
dem contribuir para aumentar a oferta de terras bem localizadas para habitação
social; aplicado em alguns estados norte-americanos e em alguns países euro-
peus, modelos diversos de inclusionary zoning podem constituir um instrumen-
to eficaz para capturar ganhos de expansão do mercado imobiliário por meio da
promoção de habitação social, nestes casos o importante é a contribuição em
forma de terreno bem localizado e não apenas de recursos. Parcerias público-
-privadas para empreendimentos de uso misto, com um componente de habita-
ção social também podem servir como incentivo para aumentar a produção de
habitação de interesse social pelo setor privado, a partir de subsídios cruzados e
incentivos do poder público, como por exemplo o poder de desapropriação, mu-
dança de uso do solo, provisão de infraestrutura e acesso a serviços.

Ou seja, apesar de termos no Brasil hoje um dos modelos de subsídios mais ro-
bustos do mundo, os recursos são insuficientes para garantir a oferta de habita-
3 Reportagem sobre o tema no Jornal Valor Econômico, disponível em: http://www.
valor.com.br/brasil/3339440/beneficiarios-do-minha-casa-minha-vida-dao-nota-
88-moradias.

53
ção social em algumas áreas metropolitanas do país, sem tradição e histórico de
modelos de gestão e governança consolidados. Enquanto o mercado imobiliário
permanecer atrativo para o setor privado, o preço da terra e as oportunidades
de negócios existentes constituirão um impeditivo para a expansão da oferta
de habitação social em áreas mais próximas dos centros e com acesso a infraes-
trutura e serviços. Neste sentido, é necessário que o planejamento das cidades
esteja fortemente voltado às necessidades habitacionais da população e que o
poder público local estabeleça como prioritário a maximização da oferta de ter-
ra para habitação social liderando operações estruturadas, a partir de incentivos
e mecanismos robustos como a desapropriação, revisão de zoneamento, apoio
a processos de descontamização e oferta de infraestrutura e serviços.

Bibliografia

Berg A., Ostry J.(2011). Inequality and Unsustainable Growth: Two sides of the same coin?IMF Staff
discussion note. Available at: https://www.imf.org/external/pubs/ft/sdn/2011/sdn1108.pdf.

BRASIL, IBGE (2013). Síntese de Indicadores Sociais, uma análise das condições de vida da população
brasileira, 2013.Disponível em: ftp://ftp.ibge.gov.br/Indicadores_Sociais/Sintese_de_Indicadores_
Sociais_2013/SIS_2013.pdf.

BRASIL, Ministério da Fazenda, 2013. Informativo Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio –
PNAD 2012. Disponível em: http://www1.fazenda.gov.br/spe/publicacoes/conjuntura/informa-
tivo_economico/2013/2013_09/emprego_renda/IE%202013%2009%2027%20-%20PNAD%20
2012.pdf.

OCDE (2014). Society at a Glance 2014 – OECD Social Indicators. Organização para a Cooperação
e Desenvolvimento Econômico. OECD Publishing, available at: http://www.oecd.org/els/soc/OE-
CD2014-SocietyAtAGlance2014.pdf.

ONU Habitat (2012). Estado de Las Ciudades de América Latina y El Caribe 2012 – rumbo a una nue-
va transición urbana. Programa das Nações Unidas para os Assentamentos Humanos, ONU-Habitat.
Nairobi (194 p).

SNH - SecretariaNacional de Habitação. Ministério das Cidades. Brasil(2013).Cartilha Programa Mi-


nha Casa Minha Vida.

Neri, M. (2014). O Valor da Casa Própria. Valor Econômico, 02 de abril de 2014.

54
Habitação e cidade como
projeto coletivo: a Divisão de
Engenharia do Instituto dos
Industriários (1937-1960).
Profa. Dra. Nilce Aravecchia Botas

Este artigo pretende analisar a ação do Instituto de Aposentadoria e Pensões dos Indus-
triários (IAPI) na produção habitacional das décadas de 1940 e 1950, com o objetivo de
iluminar as tensões entre a ação dos profissionais de arquitetura e de urbanismo e as ca-
racterísticas predominantes do Estado forjado a partir de 1930 no Brasil, na perspectiva
de problematizar a relação entre autoria e trabalho coletivo. As reflexões aqui expostas
integram a Tese de Doutorado “Entre o progresso técnico e a ordem política: arquitetura e
urbanismo na ação habitacional do IAPI”, defendida na FAUUSP em 2011.

O encontro entre distintas visões sobre habitação e cidade no interior do IAPI


deu origem a projetos e obras de qualidade, apontando novos paradigmas de
soluções habitacionais econômicas, consoantes com as discussões sobre habi-
tação, arquitetura e cidade que permearam o meio técnico no segundo quartel
do século XX. Em muitas situações os dirigentes do Instituto envolveram-se nas
discussões teóricas, desencadeando a contratação de engenheiros e de arquite-
tos, que compartilhavam ideias semelhantes.

Aspectos de qualidade construtiva dos empreendimentos, e da noção de habi-


tação como serviço público que incluía equipamentos de uso coletivo e áreas
de lazer, e de um padrão mínimo para a organização da planta das residências,
eram constantes nos debates sobre habitação no período. O rebatimento des-
sas questões na ação habitacional do IAPI de certo foi influência da presença dos
técnicos ligados às discussões impulsionadas pelo movimento moderno em ar-
quitetura, em especial do arquiteto Carlos Frederico Ferreira, um dos primeiros
profissionais chamados a trabalhar no Instituto.

57
O IAPI foi fundado em 1937 e no início de suas atividades de construção o grupo
de profissionais era reduzido. Assim, ao mesmo tempo em que alguns projetos
eram totalmente elaborados na Divisão de Engenharia do Instituto, outros eram
encomendados a profissionais externos. Os Irmãos Roberto (Edifício Valpara-
íso de 1937 e um projeto não realizado para o Conjunto Residencial da Penha
de 1940, ambos no Rio de Janeiro, e o Edifício Anchieta de 1941 em São Paulo),
e os arquitetos Paulo Antunes Ribeiro (Conjunto Residencial da Mooca, 1946
em São Paulo) e Kneese de Mello (Edifício Japurá de 1945 em São Paulo) foram
alguns dos arquitetos contratados. Tais procedimentos estavam relacionados
aos interesses do Instituto de participar das transformações da arquitetura por
meio de suas atividades de inversão imobiliária:

• As edificações projetadas devem atender às posturas municipais em vigor


e traduzir, tanto quanto possível, empreendimentos de destaque no meio
local da construção civil (PEDRO, 1950:289).
• Os “empreendimentos de destaque” deveriam ser projetados por profissio-
nais reconhecidos. Tais construções tratavam-se principalmente de edifí-
cios para renda em locais nobres das capitais, mas no início das atividades
do Instituto, também diziam respeito aos conjuntos habitacionais.
• As conexões entre o IAPI e os arquitetos engajados no movimento pela re-
novação da arquitetura nas décadas de 1930 e 1940 apontam um momento
em que houve uma convergência entre a recolocação do papel da cultura por
parte dos intelectuais e dos técnicos, e o projeto político que se consolidou na
década de 1930.

Mas é nesse mesmo processo, que se pode divisar a estruturação da Divisão de


Engenharia do IAPI, a partir da contratação de profissionais para gerenciamento
direto de projetos e de obras, eliminando em vários casos, a intermediação dos
profissionais liberais e das construtoras. O processo de contratação de firmas
era bastante criticado por alguns setores internos dos institutos de previdên-
cia, que viam na iniciativa do IAPI de manter um corpo técnico fixo, um grande
exemplo a ser seguido, como revelou entrevista do arquiteto Moacir Fraga, do
Instituto de Aposentadoria e Pensões dos Trabalhadores em Transportes e Car-
gas (IAPETEC), para Revista de Arquitetura em 1942. (A CONSTRUÇÃO [...],
n.55, 1942).

Fraga dizia que, pela administração direta dos órgãos de Estado podia-se rela-
cionar, no processo construtivo, o conhecimento técnico e a prática. A gerência
direta por parte do instituto ou órgão empreendedor, além de baratear as cons-
truções em relação ao sistema de empreita, também possibilitaria rapidez na
solução de problemas, já que, os próprios funcionários dos institutos poderiam
tomar decisões, conforme as exigências imprevistas no canteiro de obras.

Esta orientação no interior do IAPI, a partir da constituição de um corpo profis-

58
sional, traduziu-se numa reinterpretação dos debates sobre a arquitetura mo-
derna e a habitação. O resultado seria a transformação da linguagem assumida
pela arquitetura produzida em série pelo Instituto, que se refletiu na produção
dos outros institutos de previdência.

O depoimento de Carlos Frederico Ferreira, arquiteto do IAPI, evidencia que os


presidentes do IAPI, os engenheiros Plínio Cantanhede durante o Estado Novo e
Alim Pedro no Governo Dutra, tiveram papel decisivo, escolhendo pessoalmen-
te os arquitetos a serem contratados e proporcionando-lhes autonomia:

O Getúlio criava a organização e depois dependia do presidente. Nós tivemos


sorte, o IAPI era um dos melhor organizados. Os nossos presidentes, O Plínio e
o Alim Pedro, eram esclarecidos. Contrataram ótimos arquitetos. Eles que esco-
lhiam (Depoimento de Carlos Frederico Ferreira a Nabil Bonduki, 1994 citado
por BONDUKI, 1998: 157).

A diretriz de realizar empreendimentos representativos do ponto de vista arqui-


tetônico também demandava a parceria com profissionais que estivessem en-
gajados com a ideia de criar uma arquitetura representativa do Estado.

Mas muitos dos técnicos da Divisão de Engenharia do IAPI ingressaram por meio
de concurso público e entre os funcionários de carreira do Instituto destacam-se
os que, de alguma forma, foram reconhecidos pela participação no movimento
de renovação da arquitetura brasileira. O desenvolvimento de novas tecnolo-
gias construtivas, ou o envolvimento com a questão habitacional mesmo fora
do IAPI, marcam a trajetória de algumas figuras marginais à história corrente
da arquitetura brasileira. Com diferentes formações e trajetórias, o engenheiro
Francisco de Paula Dias de Andrade e o arquiteto Helio Uchôa Cavalcanti, são
nomes representativos daqueles que ligavam o IAPI aos setores intelectuais, e
que estiveram juntos no projeto e no gerenciamento das obras das superqua-
dras SQS 105 e SQS 305 em Brasília.

Recém-formado engenheiro pela Escola Politécnica o engenheiro Francisco de


Paula Dias de Andrade ingressou na Delegacia do IAPI em São Paulo em 1938,
ano em que assina um artigo intitulado “Casas Operárias” na Revista Inapiários
(ANDRADE, 1938:6-7). Voltando à universidade, diplomou-se engenheiro-arqui-
teto em 1951, iniciando carreira docente em 1959 na mesma Escola Politécnica,
como assistente de Anhaia Mello (FISCHER, 2005:346). De 1956 a 1961 esteve
na equipe de gerenciamento das obras das superquadras do IAPI em Brasília, cujo
trabalho foi tema de sua livre docência1 como professor da Politécnica.

Helio Lage Uchôa Cavalcanti formou-se na ENBA em 1934 e trabalhou como


1 ANDRADE, Francisco de Paula Dias de. Organização do Tempo e do Espaço em Bra-
sília. Tese de livre docência. São Paulo: POLI-USP, 1962, citado por FISCHER, 2005:
346.

59
funcionário do IAPI ao mesmo tempo em que participou de vários projetos para
outras esferas governamentais ou para o setor privado. O arquiteto, muito pró-
ximo a Oscar Niemeyer colaborou com ele no projeto do Instituto Técnico da
Aeronáutica em São José dos Campos, do Parque do Ibirapuera em São Paulo e
do Hospital Sul-América no Rio. Na área habitacional concebeu os projetos do
Banco Hipotecário Lar Brasileiro em Goiânia, de 1952 (CAVALCANTI, 2001:
124). Depois deste trabalho é que se registra o projeto das superquadras do IAPI
em Brasília, iniciado em 1956, e cujas características construtivas aproximam-se
bastante da linguagem desenvolvida pelos arquitetos cariocas a partir da déca-
da de 1930.

Mas, além desses nomes, a pesquisa do corpo técnico do IAPI, com a identifica-
ção de dezenas de engenheiros politécnicos, revelou que entre figuras repre-
sentativas da arquitetura moderna brasileira, como Carmem Portinho, Affonso
Eduardo Reidy, Attílio Corrêa Lima, Francisco Bolonha e mais adiante Vila Nova
Artigas e outros, estiveram dezenas de anônimos que também contribuíram
para a consolidação de um pensamento brasileiro sobre a problemática habi-
tacional. Sabe-se, que por mais ativo e quantitativamente significativo o papel
desses profissionais, seu engajamento não foi suficiente para resolver o proble-
ma da falta de moradia. Por outro lado, as realizações no campo da habitação
durante as décadas de 1940 e 1950 são os resultados mais representativos da
relação entre arquitetura e urbanismo que os debates do período buscaram de-
flagrar. Nos conjuntos habitacionais produzidos no período pode-se encontrar
uma realização prática das formulações teóricas então feitas em torno da ques-
tão urbanística. Tais realizações não foram obra apenas dos adeptos do movi-
mento moderno, mas também dos engenheiros, muitos dos quais, herdeiros das
correntes do urbanismo científico do século XIX.

O desenvolvimento do urbanismo científico na Alemanha foi intensamente marca-


do pela presença de engenheiros, para os quais era excessiva a preocupação com
os aspectos sanitários e higiênicos. A questão dos fluxos também era primordial,
refletindo-se em planos em que prevalecia a visão viária. Internacionalmente essa
experiência foi incorporada como um grande pacote de instrumentos de controle
do uso do solo dos quais fazia parte o “zoning” (zoneamento) (SIMÕES Jr, 2008). O
zoneamento teve enorme repercussão inclusive no Brasil, onde será adotado princi-
palmente a partir de sua reelaboração pelos americanos2.

As teorias da “cidade jardim”, elaboradas por Ebenezer Howard na Inglaterra,


também encontrou campo fértil na Alemanha e foi incorporado às formulações

2 Na sua origem alemã o zoneamento fazia parte de uma complexa estratégia para
melhor distribuir os benefícios urbanos. Os teóricos do movimento moderno, sobre-
tudo Hans Schimidt, pensam o zoneamento no âmbito de um sistema legal, que não se
restringe a um conjunto de normas, mas é parte constituinte do Estado na regulação
e estruturação da estabilidade social. Nos EUA foi transformado em instrumento efi-
ciente para garantir a valorização das propriedades, assegurando os processos imobi-
liários já em curso nas cidades (FELDMAN, 2005: 79-82).

60
já instituídas, que ligavam as transformações físicas da cidade com inovações na
legislação e na administração dos municípios.

Pode-se afirmar que, no Brasil no início do século XX, em meio à profusão de pro-
postas e realizações que se referenciavam na reforma do Barão de Haussmann
de Paris, é possível identificar ideias que se aproximavam da urbanística germâ-
nica, ou do ideário “cidade jardim” (SIMÕES Jr, 2008; ANDRADE, 2009).

O engenheiro Marcos Kruter, responsável pelo Conjunto Residencial Passo


D’Areia, do IAPI, em Porto Alegre, junto com Edmundo Gardolinski, funcionário
do IAPI, chegou a apontar nominalmente uma referência do urbanismo alemão.
(FAYET & EQUIPE, 1995:25).3

Na perspectiva dos engenheiros a beleza estava relacionada à adequação da implan-


tação aos terrenos e ao desenho paisagístico e à arborização, que, por sua vez, estava
ligada à noção de salubridade. A tais concepções agregava-se o enfoque na eficiência e
na racionalidade econômicas que se refletia na preocupação com os aspectos técnico-
construtivos. Paralelamente, o movimento moderno em arquitetura, já bastante abor-
dado pela historiografia corrente, engrossava o caldo de cultura e formação técnica,
dando origem a um quadro de profissionais, cujas ideias, o quadro político e econômico
gerado pela Revolução de 30, ajudou a transformar em realidade.

A partir do IAPI, esse processo se materializou em trabalho coletivo tanto no


escritório de projetos quanto no canteiros de obras. O espírito de equipe que
gerou algumas singularidades no processo de construção dos conjuntos habita-
cionais do Instituto fica claro em crônica de Joel Lima4, na Revista Inapiários (a
revista do IAPI) que trata do Conjunto do Realengo no Rio de Janeiro. Ele nomeia
os engenheiros Altino Machado Silva, Sydney de Barros Barreto, Luiz Metre, Pe-
dro Coelho de Souza, Hermilo Campelo, Deocleciano Rocha Filho, Marino Gui-
marães, responsáveis cada um por uma parte da obra: produção de blocos de
concreto por uma máquina importada dos EUA e de outras peças pré-moldadas,
instalações elétricas e hidráulicas, rede de água e esgoto, e gerenciamento dos
operários. Por fim, fala de Carlos Frederico Ferreira:

E, a essa altura, seria injustiça clamorosa silenciar o nome de Carlos Ferreira –


esse poeta da arquitetura e do urbanismo, responsável não só pelo que há de

3 O escritório do arquiteto Carlos Maximiliano Fayet realizou levantamento do


Conjunto Residencial Passo D’Areia em Porto Alegre, a serviço da Secretaria do Pla-
nejamento Municipal. Foram registrados e catalogados os tipos habitacionais e as
modificações pós-ocupação. Também foi feita pesquisa histórica sobre o projeto e
a construção do conjunto, incluindo entrevista com o Engenheiro Kruter. O objetivo
do trabalho era embasar as discussões sobre preservação do patrimônio construído e
formas de adaptação possíveis.
4 Joel Lima foi enviado ao Distrito de Obras do Realengo por Plínio Cantanhede, para
trabalhar como auxiliar do engenheiro Altino Machado Silva, que era chefe do Distri-
to, no início da construção do conjunto (LIMA, 1943:12).

61
Fig. 1 Conjunto Residencial Moça Bonita – IAPI, Rio
de Janeiro. Com projeto da equipe da Divisão de
Engenharia do IAPI, sob coordenação de Carlos
Frederico Ferreira, o conjunto foi construído
no final da década de 1940. Os blocos repetem o
tipo da etapa final do conjunto do Realengo, com
varanda saliente, elemento vazado na vedação
das caixas de escada e telhado em duas águas
definindo a volumetria. A qualidade urbanística,
com a presença de áreas verdes e ajardinadas,
foi preservada. Foto: Stephan Norair Chahinian/
Arquivo do Grupo Pioneiros.

Fig. 2 Conjunto Residencial da


Penha, Rio de Janeiro. O projeto
elaborado pela equipe da
Divisão de Engenharia do IAPI foi
concebido em 1947 e o Conjunto
foi inaugurado em 1949. Na
imagem pode-se notar a extensão
das áreas públicas, com amplo
espaço de lazer ao ar livre Foto:
Stephan Norair Chahinian/
Arquivo do Grupo Pioneiros.

Figs. 3 e 4 SQS 305 Brasília da qual participaram


Hélio Uchôa e Francisco de Andrade. Projetada
e financiada pelo IAPI, esta superquadra foi
construída na primeira fase de implantação
da nova Capital do país. Vê-se nitidamente os
elementos que já compunham a gramática formal
da consolidada arquitetura moderna brasileira.
Foto: Nilce Aravecchia Botas/Acervo pessoal.

62
belo nesta Obra, mas, também, pelo que ainda vai surgir, dentro de poucos dias,
na Vila Operária dos Industriários (LIMA, 1943: 12).

Se até meados da década de 1940 esse trabalho de equipe concorria com as


encomendas feitas a arquitetos de renome, dali em diante os empreendimen-
tos seriam marcados por maior grau de reprodutibilidade e pela falta de autoria
específica. Os conjuntos habitacionais nos subúrbios, formados em sua maioria
por blocos de habitação longitudinais de dois a quatro pavimentos, compostos
de apartamentos de dois e três dormitórios, desenharam uma parte considerá-
vel da paisagem do subúrbio carioca, além de pontuarem outras capitais e cida-
des importantes para o processo de urbanização brasileiro. Para o grupo que se
reuniu no Setor de Engenharia do IAPI, sob a liderança de Carlos Frederico Fer-
reira, o elo entre o saber técnico próprio da formação dos engenheiros, com a re-
novação da linguagem arquitetônica, veicularia novas condições de urbanidade
às moradias populares.

Referências Bibliográficas

A CONSTRUÇÃO das moradias proletárias. Revista de Arquitetura. Rio de Janeiro: n.55, Ano VIII, abr./
mai., 1942.

ANDRADE, Carlos Roberto Monteiro de. O ideário cidade jardim na cultura urbanística paulistana e
carioca na primeira metade do século XX. In: Anais do XIII Encontro Nacional da ANPUR. Florianópolis:
UFSC, 2009. (cd-rom).

ANDRADE, Francisco de Paula Dias de. Casas Operárias. Revista Inapiários. Rio e Janeiro: IAPI, n.6, abr.,
1938.

BONDUKI, Nabil Georges. Origens da habitação social no Brasil: arquitetura moderna, Lei do Inquilina-
to e difusão da casa própria. São Paulo: Estação Liberdade, 1998.

BOTAS, Nilce C. Aravecchia. Entre o progresso técnico e a ordem política: arquitetura e urbanismo na
ação habitacional do IAPI. Tese de Doutorado. São Paulo: FAU USP, 2011.

CAVALCANTI, Lauro. Quando o Brasil era Moderno. Rio de Janeiro: Aeroplano, 2001.

FAYET, Carlos Maximiliano & EQUIPE. Vila do IAPI: patrimônio cultural da cidade. Porto Alegre: Secre-
taria do Planejamento Municipal, 1995.

FISCHER, Silvia. Os arquitetos da Poli: ensino e profi ssão em São Paulo. São Paulo: Fapesp, Edusp, 2005.

PEDRO, Alim. O Seguro Social, A Indústria Brasileira, O Insti tuto dos Industriários. Relatório-estudo do
presidente do IAPI, período de 1946 a 1951. Rio de Janeiro: IAPI, 1950.

LIMA, Joel O. O Realengo que eu vi.... Revista Inapiários. Rio de Janeiro: IAPI, n.64, ago., 1943.

REVISTA INAPIÁRIOS, n.6, 1938:6-7

SIMÕES JR., José Geraldo. A urbanística germânica (1870-1914). Internacionalização de uma prática e
referência para o urbanismo brasileiro. Arquitextos, ano 9, Junho de 2008. Disponível em: http://www.
vitruvius.com.br/revistas/read/arquitextos/09.097/134, acess em jun., 2009.

63
Decifra-me ou devoro-te:
O enigma da política
habitacional e urbana e o
Sistema BNH.
Ana Paula Koury

Nada pode ser mais comum aos cidadãos brasileiros do que a experiência da atu-
al crise urbana. As dificuldades de mobilidade, o alto custo da moradia, a ausên-
cia de espaços de lazer, a violência, a decadência da sociabilidade, são parte coti-
diana dos problemas enfrentados, principalmente pelos moradores das grandes
cidades. O cidadão comum é levado a concluir que não há e nunca houve plane-
jamento urbano no Brasil.

Para qualquer profissional engajado no debate sobre a política urbana brasileira,


a afirmação carece de verificação. Os instrumentos de planejamento e interven-
ção nas cidades brasileiras desenvolveram- se muito nos últimos anos, principal-
mente após a constituição de 1988 e a aprovação do Estatuto das Cidades em
2001. Para os especialistas, estudiosos da história do planejamento brasileiro,
exatamente o inverso que é verdadeiro, sempre se planejou muito o desenvolvi-
mento das cidades no Brasil.

Qual é o problema do planejamento no Brasil? Os planos não foram efetivos?


Mas será que o serão de agora em diante? Decifrar o enigma do planejamento
no Brasil tem ocupado esforços de muitos grupos de especialistas em diferentes
áreas do conhecimento. Este artigo pretende apresentar a operação do Siste-
ma BNH ressaltando algumas experiências que não generalizaram-se naquele
período mas que podem adquirir novos significados no atual estágio da política
urbana brasileira.

O Banco Nacional de Habitação foi criado em 21 de agosto de 1964, com claros

65
01-O Edifício Modular de Abrahão Sanovicz (1972) para a construtora Forma-Espaço seria implntado
em diversos terrenos em Moema, Itaim Bibi, Santo Amaro. O projeto pode ser considerado um exemplo
da aplicação dos princípios de coordenação modular como foram propostos pelo Centro Brasileiro
da Construção, aplicados em soluções verticais adaptadas ao formato dos lotes urbanos. A imagem
foi retirada do catálogo da obra do arquiteto, um presente do arquiteto à autora nos anos 1990, a
publicação não possui número de páginas nem a identificação dos autores da foto.

objetivos políticos e foi o maior e mais bem organizado instrumento da política


habitacional e urbana brasileira atingindo a marca de cerca de 4,5 milhões de uni-
dades financiadas em seus vinte e dois anos de funcionamento1. Dentro do siste-
ma de política urbana foram elaborados 686 documentos de planejamento em
oito anos. Desde a criação do Fundo de Financiamento para Planejamento Local
(FIPLAN) em 1966 até a extinção do SERFHAU em 19742. A produção do BNH
foi expressiva não apenas em quantidade, mas também, em alguns programas,
sua atuação foi inovadora.

A criação do Banco menos de cinco meses depois do golpe civil-militar gerou


grandes expectativas em uma parte dos profissionais, engenheiros e arquitetos,
pois anunciava que uma considerável soma de recursos estaria disponível para
financiar a aquisição da moradia. Um problema urbano que ainda aguardava me-
didas efetivas. Em tese, a política habitacional permitiria dar vazão aos tantos en-
saios de produção da casa realizados ao longo da história da habitação brasileira.
Entretanto, a consolidação da política como foi implementada pelo banco, do
ponto de vista da atuação profissional dos arquitetos, foi uma grande decepção
exatamente pelo conservadorismo das soluções construtivas e também das
práticas de projeto3.
1 AZEVEDO, Sérgio. Vinte e dois anos de política de habitação popular (1964-86):
Criação, trajetória e extinção do BNH. in Revista de Administração Pública. numero
22 vol. 4. Rio de Janeiro: out-dez, 1988, p.116.
2 VIZIOLI, Simone Helena Tanoue. Planejamento Urbano no Brasil: A Experiência do
Serfhau enquanto Órgão Federal de Planejamento Integrado ao Desenvolvimento
Municipal. Dissertação de mestrado. Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Uni-
versidade de São Paulo, 1998, p. 45 e 47.
3 Sanvitto em sua tese de doutorado aponta que ao contrário do que foi difundido os
arquitetos envolveram-se projetando muitos dos conjuntos do BNH. O conservado-

66
Os conjuntos habitacionais formados pela repetição regular de pequenas casas
em bairros periféricos produzidos por todo o país deram a identidade da atua-
ção do Banco e ficaram conhecidas como o “projeto carimbo do BNH”. Foram,
portanto, as críticas dirigidas a estes conjuntos as que mais generalizaram-se.
Por um lado apontavam a péssima qualidade dos conjuntos. Instalados em áreas
afastadas, sem infra estruturas e algumas vezes em terrenos impróprios. Muitos
destes conjuntos foram entregues com acabamentos de baixa qualidade, o que
resultava na deterioração rápida da unidade que, apesar de recém construída,
logo demandava reparo. Por outro lado, as críticas também apontavam para
uma política seletiva voltada para as classes com renda média, na prática acima
de sete salários mínimos4.

Muitas das críticas a atuação do BNH apoiaram-se em pesquisas consistentes como


a de Gabriel Bolaffi5 e, em análises perspicazes do funcionamento político do siste-
ma BNH como as de Lúcio Kowaric6 e foram muito importantes para a formação de
alguns consensos sobre a política implementada pelo Banco7. Ambos os trabalhos
explicaram a funcionalidade da atuação do Banco no aprofundamento do capitalis-
mo concentrador e desigual garantido pelo regime autocrático de 1964.

Todas estas considerações pertinentes sobre a atuação do Banco, apontadas


pelos seus autores com o objetivo de melhorar a política habitacional brasileira
na perspectiva da justiça social e da democracia de algum modo também contri-
buíram para a desmoralização do Sistema que precedeu ao seu encerramento
em 1986. Passados vinte e oito anos justifica-se uma análise em uma outra pers-
pectiva histórica, evitando os anacronismos que caracterizaram a generaliza-
ção das críticas iniciais repetidas principalmente durante a luta pela afirmação
da democracia no Brasil.

O BNH não teve outro sentido senão ser um instrumento de planejamento eco-
nômico, político e social criado especialmente para atuar no sistema urbano e
habitacional brasileiro. Como instrumento de planejamento geral, que foi desde

rismo de muitas propostas, segundo a autora explica-se pela obediência irrestrita aos
paradigmas da cidade moderna que teria impedido de procurar novas alternativas.
SANVITTO, Maria Luiza Adams. Habitação Coletiva Econômica e a Arquitetura Mo-
derna Brasileira 1964 - 1986. 2010. Tese (Doutorado em Arquitetura) - Universidade
Federal do Rio Grande do Sul. p. 503.
4 Embora muitos conjuntos fossem dirigidos a faixa de 3 salários mínimos, o famoso
estudo de Bollafi comprova a impossibilidade de aquisição dos financiamentos para
as famílias com faixa de renda abaixo de sete salários mínimos. BOLAFFI, G. A casa
das ilusões perdidas: aspectos socioeconômicos do plano nacional de habitação. Ca-
derno Cebrap. São Paulo: Cebrap, n. 27, 1977.
5 Sobre a qualidade dos conjuntos do BNH BOLAFFI, G. (1977).
6 KOWARICK, L. Espoliação urbana. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1979.
7 Para uma discussão mais abrangente sobre a avaliação do Sistema BNH através
das narrativas de época ver KOURY, Ana Paula . Construção social e tecnologias ci-
vis (1964 -1986): contribuição para um debate sobre política habitacional no Brasil.
Revista Brasileira de Estudos Urbanos e Regionais (ANPUR) v. 15, 2013. p. 167-182.

67
o início, o BNH priorizou o desenvolvimento regional e a desconcentração da
rede urbana brasileira, atuando na zona rural, em cidades pequenas e médias e
por isso mesmo esteve vinculado ao Ministério do Interior8. Isso não impediu
que também atuasse nas grandes cidades aonde concentrava-se (e ainda hoje
concentra-se) majoritariamente a carência de moradias. Entretanto explica,
pelo menos em parte, que algumas proposições não tenham alcançado o êxito
de conformar uma política intra-urbana naquele momento.

A estrutura de funcionamento do Sistema BNH, como foi elaborada9, consistia


em um fluxo administrativo que permitia o controle completo da política desde
a captação dos recursos, o financiamento dos programas, a elaboração de pes-
quisas, projetos e ações de apoio até o acompanhamento e reinvestimento dos
recursos. Os financiamentos dos programas vinham do Sistema Brasileiro de
Poupança em Empréstimo10 e do Fundo de Garantia por Tempo de Serviço11. A
aplicação dos recursos captados dividia-se pelos diferentes programas Habita-
ção, Saneamento, Desenvolvimento Urbano e Desenvolvimento Comunitário.
Os financiamentos eram garantidos por um sistema de fundos e de seguros. A
execução e implementação dos programas, assim como a sua melhoria, apoia-
va-se em um suporte técnico que variava de acordo com a natureza do progra-
ma. Os dois programas de maior visibilidade foram o programa habitacional e o
programa de desenvolvimento urbano.

O Serviço Federal de Habitação e Urbanismo (Serfhau), responsável pelo progra-


ma de desenvolvimento urbano do Sistema BNH foi criado junto com o Banco em
agosto de 1964 e inicialmente voltou-se apenas para a urbanização dos bairros
onde seriam implantados os conjuntos habitacionais. Em dois anos o Serfhau tor-
nou-se um instrumento da política de desenvolvimento urbano, o que foi viabiliza-
do pelo FIPLAN12 criado em 1966 para financiar os Planos de Desenvolvimento
Urbano Local Integrado. O Sistema de Desenvolvimento Urbano também conta-

8 O Sistema BNH foi criado sob a responsabilidade do Ministério do Planejamento e


através do Decreto nº 60.900, de 26 de Junho de 1967foi remanejado para o Ministé-
rio do Interior junto com os demais bancos de desenvolvimento regional. Portanto,
como perceberam os arquitetos desde o início, a atuação do BNH foi em um certo
sentido “anti urbana” Ver depoimento de Alberto Xavier em KOURY, Ana Paula. Ar-
quitetura Construtiva: proposição para a produção material da arquitetura contem-
porânea no Brasil. Tese de Doutorado. Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Uni-
versidade de São Paulo, 2005.
9 O esquema e alguma descrição do funcionamento encontra-se TRINDADE, Mário.
Habitação e Desenvolvimento. Rio de Janeiro: Vozes, 1971 p. 101 a 144. Uma análise
crítica aprofundada está em ARRETCHE, Marta. Intervenção do Estado e setor priva-
do: o modelo brasileiro de política habitacional in Espaço & Debates, São Paulo, v. X,
n. 31, p. 21–36, 1990.
10 A mesma lei 4380 de 21 de agosto de 1964, criou o BNH, o Serfhau, o SBPE e insti-
tuiu a correção monetária nos contratos imobiliários.
11 Criado pela lei no 5.107, de 13 de setembro de 1966.
12 FIPLAN- Fundo de Financiamento para Planejamento Local.

68
va com um órgão de Informação e com um Banco de Dados13 que fundamenta-
vam os diagnósticos e orientavam as ações de desenvolvimento urbano.

No caso da habitação embora não houvesse um órgão destinado a desenvolver


projetos dentro do Sistema BNH, havia um Sistema de Pesquisa e Desenvolvimen-
to que deveria, além de realizar pesquisas de apoio à política habitacional, também
orientar uma política de projetos. O Sistema de Pesquisa e Desenvolvimento era
composto por três órgãos, um deles destinado à realizar pesquisas socioeconô-
micas, o outro à pesquisa de materiais e métodos de construção e o terceiro à
pesquisas junto ao setor industrial. A Cenpha foi o órgão voltado às pesquisa só-
cio econômicas e teve uma atuação bastante diversificada entre as quais realizou
pesquisas sobre o uso do solo identificando terrenos disponíveis e a localização de
populações vulneráveis. O órgão de pesquisa tecnológica e de sistemas constru-
tivos foi Centro Brasileiro da Construção. Dedicado a estudar a coordenação mo-
dular, a racionalização do trabalho no canteiro de obras e o código de obras., Oo
Centro procurou elaborar uma política de projeto difundida através de suas prin-
cipais publicações, os Cadernos do CBC e o Boletim do CBC14. Ainda incluído no
mesmo Sistema de Pesquisa e Desenvolvimento havia o Centro de Coordenação
Industrial que procurava orientar e inovar a indústria de materiais e componentes,
a partir das aplicações desenvolvidas e testadas em projeto.

Para apoiar a estrutura geral de execução dos programas financiados pelo Siste-
ma BNH (habitação, saneamento, desenvolvimento urbano e desenvolvimento
comunitário) foram criados três de sistemas subsidiários, um para a formação
e treinamento de pessoal, outro para o apoio logístico e um terceiro voltado à
pesquisa operacional.

A formação e treinamento de pessoal incluía a capacitação de técnicos para


operar o sistema de empréstimos, para gerir o sistema hipotecário, para analisar
os projetos, para atuar no planejamento urbano e no desenvolvimento local e
também cursos de formação de mão de obra para a construção civil. Já o apoio
logístico destinava-se ao financiamento da indústria de materiais de construção
à programação dos investimentos dos recursos do Banco e ao apoio ao mutuá-
rio do sistema. A pesquisa operacional incluía um banco de dados para o planeja-
mento dos quatro programa e ainda realizava pesquisa de mercado de aluguéis,
pesquisa de custos de materiais de construção e mão de obra e apoiava a realiza-
ção de Censos Habitacionais.

Origina-se do Sistema BNH um conjunto de experiências inovadoras que recen-

13 SIDUL- Sistema de Informações para o Desenvolvimento Urbano e Local.


14 Sobre o Centro Brasileiro da Construção ver KOURY, Ana Paula . Brazilian Cons-
truction Center: iniciative for management of the Brazilian housing construction in-
dustry (1969-1972). In: CARVAIS, R., GUILLERME, A., NÉGRE, V., SAKAROVITCH,J..
(Org.). Nuts & Bolts of Construction History. Culture, Technology and Society. 1ed.
Paris: Picard, 2012, v. 2, p. 289-296.

69
temente tem sido valorizadas por uma série de estudos de caso15. Embora de-
finitivamente não possamos tomar o todo pela parte e considerar a política do
BNH como um todo inovadora, também não podemos deixar de registrar os ex-
perimentos que embora não generalizados podem adquirir novos significados
no atual debate sobre política urbana e habitacional no Brasil.

O BNH forneceu moradia para um grande contingente de população com renda


média que inclui-se através dos financiamentos no amplo processo de urbanização
brasileiro. No caso da cidade de São Paulo, esta foi uma tarefa em parte realizada pe-
los prógonos e epígonos da chamada “escola paulista”, que foram encarregados do
projeto de muitas residências unifamiliares em bairros como Perdizes, Butantã, San-
to Amaro, etc.16 Também desenvolveram padrões de moradia para a classe média
paulistana através dos financiamentos do BNH muitas construtoras como a Hindi e
a Formaespaço, que inovaram nos processos construtivos e nas soluções funcionais
para este segmento do mercado habitacional17.

Com o objetivo de elaborar uma política de projeto para a moradia popular o


Centro Brasileiro da Construção realizou o Plano de Coordenação Modular.
O ambicioso plano previa compatibilizar dimensionalmente os componentes
produzidos industrialmente, e o projeto dos ambientes domésticos. Se aplicado,
o plano resultaria em um grande avanço na qualidade do projeto, na produtivi-
dade dos serviços, nas etapas de projeto e execução e na redução de custos da
obra. O objetivo principal do plano era estabelecer parâmetros dimensionais
com base em estudos ergonômicos e de habitabilidade. O plano permitiria ar-
ticular a indústria de materiais e componentes, as construtoras executantes das
obras e os responsáveis pelo projeto e especificações em um sistema único de
projeto. Embora sem conseguir alcançar seus objetivos principais no caso a polí-
tica habitacional, o plano foi aproveitado para a produção de edifícios escolares
pela Secretaria da Educação do Estado de São Paulo através da Companhia de
Construções Escolares do Estado de São Paulo (Conesp) atual Fundação para o
Desenvolvimento da Educação (FDE). Teodoro Rosso idealizou o Plano com a
colaboração de João Honório de Melo que posteriormente levou o modelo para
a Conesp como diretor da Companhia no início dos anos de 197018.

A expertise de projeto integrado a cadeia produtiva da construção civil encontrou


espaço também no setor privado que construiu para os setores de renda média
em São Paulo. O exemplo mais inovador do setor privado em São Paulo no sentido
de racionalizar o sistema de projeto e execução das obras foi a empresa Merisa
15 VIZIOLI (1998), LUCCHESE (2004), KOURY (2005), FERREIRA (2007), SANVI-
TO (2010) entre outros.
16 ACAYABA, Marlene M. Residências em São Paulo 1947 1975. São Paulo: Projeto, 1986.
17 Sobre a construtora Forma Espaço ver IMBRONITO, Maria Izabel. Três edifícios de
habitação para a Formaespaço: Modulares, Gemini e Protótipo. Dissertação de mestra-
do. Faculdade de Arquitetura e Urbanismo. Universidade de São Paulo. São Paulo: 2003.
18 Entrevista de João Honório de Mello em KOURY (2005:127).

70
02- Canteiro Experimental de Narandiba apresentou muitas soluções para a produção de moradia. Acima
estão as unidades Sun House produzidas pela Empresa Servlease em pré-fabricado de madeira com enchimento
de poliuretano, uma tecnologia norueguesa. A imagem está no catálogo da exposição TABA/CEPED, 1978 p. 203.

03 - O projeto Cura foi explicado por Maria Cecília Lucchese em sua dissertação de mestrado, fartamente
ilustrada e documentada. As imagens acima foram retiradas de um exemplar (LUCCHESE, 2004:79 e 86)
reproduzindo respectivamente as páginas 4/03 e 4/33 do Centro Nacional de Pesquisas Habitacionais-
Cenpha/H.J.Cole Associados Planejamento e Empreendimentos- Projeto Cura Pesquisa Piloto: estudo de
viabilidade para recuperação de áreas urbanas, modelo demosntração Vila Valqueire. Rio de Janeiro,
CENPHA, 1972. A primeira imagem documenta as condições das habitações do bairro e a segunda o projeto
de Cole para o centro comercial proposto como forma de ativação econômica do local.

04 - Um dos exemplos implantados do projeto Cura foi a urbanização da área junto à estação do
Jabaquara. Renato Anelli no artigo Urbanização em rede:os Corredores de Atividades Múltiplas do
PUB e os projetos de reurbanização da EMURB (1972-82) analisa o planejamento da cidade na década
de 70 e a implantação do Cura Jabaquara entre outros projetos urbanos na cidade. O projeto é de
autoria de Aflalo e Gasperini. Os primeiros estudos são de 1973. Para uma genealogia deste tipo de
projeto de quadra aberta ver o artigo de Abilio Guerra Uma tipologia urbana rara em São Paulo. As
imagens acima retiradas destes dois artigos e modificadas pela autora para ilustrar os argumentos
enfatizados no texto. O croqui É dos autores do projeto

71
criada para desenvolver os projetos executivos contratados pela Construtora
Forma Espaço, novamente com a colaboração de João Honório de Mello19.

O objetivo de ativar a economia movimentando a cadeia da construção civil sur-


tiu efeito e a política de formação de quadros e de desenvolvimento tecnológico
do Sistema BNH embora tenha sido bastante criticada gerou um certo grau de
inovação no setor da moradia em massa produzida no país.

O Canteiro Experimental de Narandiba na Bahia em 1978 pode ser considera-


do um importante momento de experimentação tecnológicapara a produção
de moradia em massa no país. Promovido pelo BNH tinha o objetivo de ser uma
grande demonstração do que a iniciativa privada e as universidades poderiam
sugerir como forma de produção da moradia popular. A maioria dos exposito-
res apresentou soluções de pré-fabricação leve e racionalização do sistema
convencional, sem abandonar os parâmetros de atuação do BNH, introduzindo
apenas pequenas inovações técnicas que implicavam no emprego intensivo
de mão-de-obra e no baixo investimento em equipamentos pesados. Na con-
tramão da maioria das propostas de Narandiba, foi o protótipo realizado pela
construtora Alfredo Mathias20, um projeto de unidade habitacional totalmente
industrializada, que seria transportada pronta para o local de implantação. As
propostas construtivas apresentadas em Narandiba demonstram a diversidade
de empresas e de sistemas disponíveis para a solução da construção da moradia
em larga escala no país.

O sistema BNH movimentou o setor privado, não apenas para a produção de mo-
radia. A renovação urbana promovida pelo capital privado entrou na política do
Sistema de Desenvolvimento Urbano e Comunitário21 através da proposição do
urbanista carioca Harry Cole para o projeto CURA Comunidades Urbanas de Re-
novação Acelerada. Cole participou da organização do Sistema BNH desde o seu
início, convidado diretamente pelo Ministro do Planejamento Roberto Campos22.
Em 1972 já em seu escritório de consultoria privada Cole desenvolve para o BNH
o projeto Piloto de Vila Valqueire no Rio de Janeiro, a experiência deu origem ao que
foi a normativa do projeto CURA no ano seguinte. O objetivo do projeto piloto pro-
posto por Cole, e que não chegou a ser implantado, foi intervir em um loteamento de
classe média com alguma infra estrutura instalada, mas com grande quantidade de
lotes vazios impulsionando, através do investimento privado, o desenvolvimento

19 Ver IMBRONITO (2003: 15).


20 SANTOS, Demóstenes Magno. A História da Construtora Alfredo Mathias (1950-
1985). Dissertação de mestrado. Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universi-
dade de São Paulo. São Paulo: 2013.
21 ANELLI, Renato Luiz Sobral Urbanização em rede:os Corredores de Atividades
Múltiplas do PUB e os projetos de reurbanização da EMURB (1972-82) Arqtextos
(Vitruvius) São Paulo, 088.01ano 08, set. 2007.
22 LUCCHESE, Maria Cecilia, O arquiteto e urbanista Harry Cole. Revista Oculum
Ensaios. Campinas: PUC, ago 2008. p. 67 a 78.

72
local. A dinâmica imobiliária gerada pela oferta dos terrenos seria capaz de atender
via iniciativa privada o mercado em expansão nas cidades. 23

A sequência selecionada de exemplos tem como objetivo demonstrar situações,


ainda que pontuais, nas quais o papel do BNH movimentou o setor privado enco-
mendando projetos inovadores e que em alguns casos propôs o desenvolvimento
de tecnologia como foi o caso de Narandiba, absorveu métodos de racionalização
da produção da unidade habitacional como foi o caso da experiência da Merisa e de
outras construtoras que inovaram nos processos de produção da moradia como foi
também o caso da construtora, por exemplo da construtora Hindi24.

O outro lado da moeda foi a ausência de generalização do atendimento da po-


lítica às classes mais vulneráveis e com rendas mais baixas. Embora no caso do
Rio de Janeiro tenha havido espaço dentro do Sistema de Desenvolvimento Co-
munitário e da Cenpha para abrigar experiências pioneiras na urbanização de
favelas do Rio de Janeiro. Apesar disso, a iniciativa insere-se nos casos experi-
mentais que não generalizaram-se como políticas compreensivas do BNH, mas
que demonstram que houve uma disputa no interior do Sistema ao longo de seu
funcionamento.

O sofisticado sistema de produção habitacional e de planejamento urbano im-


plementado em 1964 não foi apenas uma invenção do regime civil-militar mas
um instrumento gestado na experiência brasileira desde a Fundação da Casa Po-
pular como apontam vários autores25. A disputa e apropriação desta experiência
contribuiu para empoderar o Estado que a institucionalizou à sua semelhança, e
não sem motivo, ficou identificada a ele. A negação do Sistema BNH como ins-
trumento administrativo válido para gerir os recursos públicos e privados na or-
ganização da base urbana do desenvolvimento brasileiro foi um grande prejuízo,
bem como o seria a sua retomada sem um profundo ajuizamento crítico de sua
funcionalidade dentro do padrão intensivo de acumulação de capitais franquea-
do pela política autocrática desenvolvimentista.

23 LUCCHESE (2004: 110)


24 ABUSSAMRA, Jorge. O Edifício residencial paulistano nos anos 70, 80 e 90: a ar-
quitetura e o mercado imobiliário. Dissertação de mestrado. Universidade São Judas
Tadeu. São Paulo, 2007.
25 ANDRADE E AZEVEDO (1981) , MELO (1991), BONDUKI E KOURY (2010)

73
Referências Bibliográficas

ABUSSAMRA, Jorge. O Edifício residencial paulistano nos anos 70, 80 e 90: a arquitetura e o mercado imobi-
liário. Dissertação de mestrado. Universidade São Judas Tadeu. São Paulo, 2007.

ACAYABA, Marlene M. Residências em São Paulo 1947 1975. São Paulo: Projeto, 1986.

ANDRADE, Luis Aureliano Gama e AZEVEDO, Sérgio de. Habitação e Poder. Rio de Janeiro: Zahar Editor,
1981.

ANELLI, Renato Luiz Sobral Urbanização em rede:os Corredores de Atividades Múltiplas do PUB e os pro-
jetos de reurbanização da EMURB (1972-82) Arqtextos (Vitruvius) São Paulo, 088.01ano 08, set. 2007.

ARRETCHE, Marta. Intervenção do Estado e setor privado: o modelo brasileiro de política habitacional in
Espaço & Debates, São Paulo, v. X, n. 31, p. 21–36, 1990.

AZEVEDO, Sérgio. Vinte e dois anos de política de habitação popular (1964-86): Criação, trajetória e ex-
tinção do BNH. in Revista de Administração Pública. numero 22 vol. 4. Rio de Janeiro: out-dez, 1988, p.107
a 119.

BOLAFFI, G. A casa das ilusões perdidas: aspectos socioeconômicos do plano nacional de habitação. Ca-
derno Cebrap. São Paulo: Cebrap, n. 27, 1977.

BONDUKI, Nabil Georges ; KOURY, Ana Paula . Das reformas de base ao BNH: as propostas do seminário
de habitação e reforma urbana. Arquitextos (São Paulo), v. 2, p. 120-02, 2010.

FERREIRA, Mauro. Planejamento nos tempos do SERFHAU: processo de construção e implementação


do Plano Diretor de Desenvolvimento Integrado de Franca. Tese de doutorado. Instituto de Arquitetura e
Urbanismo da Universidade de São Paulo. São Carlos, 2007.

GUERRA, Abilio Quadra aberta: Uma tipologia urbana rara em São Paulo. São Paulo Arqtextos (Vitruvius)
projeto urbano ano 11, 124.01 abr. 2011.

IMBRONITO, Maria Izabel. Três edifícios de habitação para a Formaespaço: Modulares, Gemini e Protóti-
po. Dissertação de mestrado. Faculdade de Arquitetura e Urbanismo. Universidade de São Paulo. São Paulo:
2003.

KOURY, Ana Paula . Brazilian Construction Center: iniciative for management of the Brazilian housing cons-
truction industry (1969-1972). In: CARVAIS, R., GUILLERME, A., NÉGRE, V., SAKAROVITCH,J.. (Org.).
Nuts & Bolts of Construction History. Culture, Technology and Society. 1ed.Paris: Picard, 2012, v. 2, p. 289-
296.

KOURY, Ana Paula . Construção social e tecnologias civis (1964 -1986): contribuição para um debate sobre
política habitacional no Brasil. Revista Brasileira de Estudos Urbanos e Regionais (ANPUR), v. 15, p. 167-
182, 2013.

KOURY, Ana Paula. Arquitetura Construtiva: proposição para a produção material da arquitetura contem-
porânea no Brasil. Tese de Doutorado. Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo,
2005.

KOWARICK, L. Espoliação urbana. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1979.

LUCCHESE, Maria Cecília. Curam-se cidades: uma proposta urbanística da década de 70. Dissertação de
mestrado. Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo, 2004.

LUCCHESE, Maria Cecilia, O arquiteto e urbanista Harry Cole. Revista Oculum Ensaios. Campinas: PUC,
ago 2008. p. 67 a 78.

MELO, Marcus André. Interesses, atores e ação estratégica na formação de políticas sociais: a não política
da casa popular. Revista Brasileira de Ciências Sociais, v. 15, p. 64-76, 1991.

SANTOS, Demóstenes Magno. A História da Construtora Alfredo Mathias (1950-1985). Dissertação de


mestrado. Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo. São Paulo: 2013.

SANVITTO, Maria Luiza Adams. Habitação Coletiva Econômica e a Arquitetura Moderna Brasileira 1964 -

74
1986. 2010. Tese (Doutorado em Arquitetura) - Universidade Federal do Rio Grande do Sul.

THABA/ CEPED. Narandiba. Campus experimental de habitação. Salvador: THABA/ CEPED, 1978.

TRINDADE, Mário. Habitação e Desenvolvimento. Rio de Janeiro: Vozes, 1971.

VIZIOLI, Simone Helena Tanoue. Planejamento Urbano no Brasil: A Experiência do Serfhau enquanto Ór-
gão Federal de Planejamento Integrado ao Desenvolvimento Municipal. Dissertação de mestrado. Faculda-
de de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo, 1998.

75
76
PARTE 2
Desenho Urbano
Urban Design

77
Desenhos para o zoneamento
de São Paulo
Daniel Todtmann Montandon1

Contexto

O Zoneamento talvez ainda seja o principal instrumento de planejamento ur-


bano utilizado nos municípios brasileiros. Mesmo não sendo a ferramenta re-
conhecidamente mais eficaz para o enfrentamento das desigualdades sociais e
para a indução do desenvolvimento urbano, o Zoneamento sempre teve o pres-
suposto de controlar o uso do solo por meio de regras de parcelamento, uso e
ocupação do solo. E muitas vezes esse instrumento acabou sendo aplicado de
forma autônoma, dissociado do Plano Diretor.

No caso paulistano, a partir de 2002, o Plano Diretor Estratégico (PDE) trou-


xe um arcabouço normativo que viabilizou a experimentação de instrumentos
estratégicos para promover o desenvolvimento urbano de acordo com os pre-
ceitos do Estatuto da Cidade X Lei Federal n. 10.257/01, tais como as Zonas Es-
peciais de Interesse Social (ZEIS), a Outorga Onerosa do Direito de Construir
e o Conselho Municipal de Política Urbana. Quanto ao Zoneamento pós PDE,
este foi revisado em 2004 e instituído de forma articulada aos Planos Regionais
Estratégicos das Subprefeituras, reforçando o caráter descentralizado do pla-
nejamento e da gestão do Município. Não podemos afirmar que o Zoneamen-
to instituído por meio da lei n. 13.885/04 tenha sido dissociado do PDE, Lei n.
13.430/02. Contudo, nos últimos dez anos, a falta de implementação de ações

1 Arquiteto e Urbanista (UNESP/Bauru), Mestre em Planejamento Urbano e Regional


(FAUUSP), ocupa o cargo de Diretor do Uso do Solo e é Presidente da Comissão de
Proteção à Paisagem Urbana (CPPU) da Secretaria Municipal de Desenvolvimento
Urbano desde janeiro de 2014.

79
e instrumentos estratégicos previstos no plano, acabaram por dar espaço à pro-
dução e transformação desses territórios estratégicos de acordo com as regras
do Zoneamento e não de projetos urbanos, conforme previa o PDE.

Transcorridos dez anos de vigência do PDE, em 2013 chegou o momento de


promover sua revisão, em atendimento ao ciclo decenal previsto no Estatuto da
Cidade (o Plano Diretor deve ser revisto no mínimo a cada 10 anos). Neste sen-
tido, ao longo de 2013, a Prefeitura da Cidade de São Paulo promoveu a revisão
participativa do PDE, cuja coordenação ficou sob a responsabilidade da Secreta-
ria Municipal de Desenvolvimento Urbano (SMDU).

Em que pese os avanços trazidos pelo PDE de 2002, a cidade de São Paulo não
passou por transformações urbanas de caráter estruturante previstas no plano
nos dez anos de sua vigência, se considerarmos principalmente os territórios de
transformação prioritária estabelecidos no plano (orla ferroviária, por exem-
plo). E ainda, algumas escolhas de investimentos públicos em infraestrutura
foram na contramão da reversão do problema da mobilidade urbana, que sem-
pre esteve pautada na prevalência do automóvel particular sobre o transporte
público coletivo (um exemplo é a obra de alargamento das marginais dos Rios
Pinheiros e Tietê).

Este quadro apontou alguns desafios para a revisão do PDE em 2013, como o
necessário enfrentamento do problema da mobilidade urbana não somente sob
o viés setorial do serviço de transporte público urbano, mas sob o viés do orde-
namento territorial. Isto é, que estrutura urbana São Paulo deve dispor para via-
bilizar a mobilidade urbana sustentável1.

Em paralelo, outra questão enfrentada na revisão do PDE (e que deve ser tratada
nas demais leis que o complementam) é a qualificação da forma urbana. Com-
preende-se que São Paulo carece de qualidade dos seus espaços públicos, dos
espaços privados, da paisagem urbana em seu conjunto e principalmente da in-
teração entre o público e o privado. Não que a cidade não disponha de qualidade
da forma urbana, mas tal qualidade ocorre em pequena escala e apenas em de-
terminados bairros.

E não é por falta de leis que a cidade deixou de ter uma melhor forma urbana ou
espaços públicos e edificados desejados pelo coletivo dos cidadãos. Tampouco
por falta de projetos. Pode-se dizer que grande parte da produção imobiliária
da cidade é resultante da aplicação de várias leis e normas (que muitas vezes
tornam moroso e complexo o processo de licenciamento urbanístico). E essa
produção foi feita com base em projetos, envolvendo arquitetos e diversos pro-
fissionais da construção civil. Neste quadro, acreditamos que um dos principais

1 Estamos considerando mobilidade urbana sustentável aquela que atende aos pre-
ceitos da Lei Federal n. 12.587/12.

80
problemas a serem enfrentados é que o Zoneamento, em algum momento, dei-
xou de lado a busca pela melhoria da qualidade do espaço urbano, em seu con-
junto, sejam os espaços públicos, seja o espaço edificado, seja o sentido público
do espaço privado.

Sob o pressuposto de se buscar a qualificação da forma urbana pela regulação


do uso do solo (e no que couber a ela, sem superestimá-la), a SMDU e o Insti-
tuto de Arquitetos do Brasil – Departamento São Paulo (IAB-SP) realizaram o
Concurso Ensaios Urbanos: Desenhos para o Zoneamento de São Paulo, com o
objetivo de subsidiar o debate da revisão do Zoneamento.

Concurso Ensaios Urbanos

O concurso teve o objetivo de promover uma reflexão junto aos arquitetos para
subsidiar a revisão do Zoneamento.

De início, cabe algumas considerações sobre sua concepção.

O Termo de Referência do concurso, elaborado pela SMDU, identificou alguns


elementos-chave a serem explorados nos ensaios para se avançar na melhoria da
forma urbana. Ao estabelecer duas modalidades - padrões urbanísticos gerais de
configuração urbana (1) e padrões urbanísticos específicos para unidades terri-
toriais selecionadas (2) – foram reconhecidas duas dimensões de regulação: uma
sistêmica, que dialoga com a organização de uma estrutura urbana em rede (os ei-
xos de adensamento ao longo das linhas de transporte público coletivo de média e
alta capacidade); e outra que pressupõe a adaptação da regulação aos elementos
locais, cuja peculiaridade do lugar requer um tratamento específico.

Por sua vez, a modalidade relativa ao regramento geral foi dividida em catego-
rias (PMSP/SMDU/IAB, 2013):

Categoria 1: estudos de configuração de corredores urbanísticos. Con-


sidera-se corredor urbanístico o eixo formado pela via em que é operado
sistema de ônibus troncal, em via segregada ou não, englobando as cal-
çadas, canteiros centrais, ciclovias, ciclo faixas e a totalidade das quadras
lindeiras em relação à via do sistema troncal de ônibus.

Categoria 2: estudos de configuração de tipologias edificadas de uso


misto no mesmo lote, envolvendo obrigatoriamente o uso residencial.

Categoria 3: estudos de configuração da frente dos lotes com as vias,


com ênfase no tratamento da testada dos lotes e do pavimento térreo de
modo a melhorar a fruição do espaço público e a interação do pedestre
com o embasamento do edifício.

81
Categoria 4: estudos de configuração de lotes em territórios com eleva-
das declividades, considerando situações com acesso exclusivo por uma
via e lotes com duas alternativas de acesso, na frente e no fundo do lote.

Categoria 5: estudos de configuração de lotes e quadras de grandes di-


mensões, resultantes ou não do desmembramento e parcelamento de
grandes glebas, inseridos ou não em Zoneamento predominantemente
industrial, devendo ser considerado o uso misto nos novos lotes e a inves-
tigação das dimensões máximas de configuração das quadras. (PMSP/
SMDU/IAB, 2013, p. 4).

Essas categorias demonstram alguns elementos que podem contribuir com


a melhoria da forma urbana via regulação do uso do solo: a interface entre o
logradouro público e o lote de modo a ampliar o espaço coletivo e a interação
de pedestres com os usos e o sistema edificado; o uso misto no mesmo lote e
na mesma quadra; a gestão de impactos urbanísticos por meio da regulação de
lotes e quadras de grandes dimensões; a adoção da quadra como elemento de
composição urbana.

Se cotejarmos tais elementos com as premissas definidas pela SMDU, ficam


mais evidentes quais são os atributos de qualificação da forma urbana que pre-
tendem ser explorados (PMSP/SMDU/IAB, 2013):

Premissas:

Proporcionar:

• contribuições objetivas, passíveis de implementação e aplicabilidade por


parte das normas de parcelamento, uso e ocupação do solo;
• os estudos realizados para a modalidade 1 deverão observar e demonstrar
sua capacidade para a replicabilidade;
• contribuições que possibilitem a implementação das diretrizes e inovações
trazidas pelo Projeto de Lei do Plano Diretor (PL 688/13) quanto à normati-
va de uso e ocupação do solo e os demais instrumentos;
• otimização e qualificação urbanística em função de critérios de densidade
demográfica e habitacional conforme localização;
• melhor fruição do espaço público e maior interação dos pedestres com o
uso e ocupação dos lotes, considerando a configuração de um sistema de
espaços públicos articulado com o sistema de mobilidade urbana e o siste-
ma de áreas verdes;
• o uso misto no mesmo lote, especialmente a convivência do uso habitacional
com outros usos, como serviços, comércio, institucional e serviços públicos;

82
Explorar:

• a quadra e o conjunto de quadras como unidades territoriais de composição


urbana;
• a paisagem como critério de configuração do sistema edificado, sendo iden-
tificadas unidades territoriais a serem objeto de tratamento normativo dife-
renciado;
• contribuições que expressem a noção da função social da propriedade
como princípio do regramento do uso e ocupação do solo;
• a importância das centralidades em suas diversas escalas e modos de ocu-
pação do território;

Considerar:

• o que a regulação do uso e ocupação do solo lida com a cidade existente e já


construída, seja nos aspectos fundiários, construtivos, de disponibilidade de
infraestrutura, de configuração do espaço público, entre outros;
• o município em sua totalidade, propondo contribuições que considerem a
diversidade social, de oportunidades econômicas, culturais, serviços, entre
outros;
• as diferentes possibilidades de configuração da estrutura fundiária, em ter-
mos de dimensionamento e conformação de lotes e glebas, para efeito de
aplicação das normas propostas;
• preexistências e elementos locais de configuração urbana e geográfica;
• a interface entre o sistema edificado e os sistemas estruturadores, como viá-
rio, transporte público coletivo, hidrografia e áreas verdes;
• a vulnerabilidade ambiental e a aptidão física à urbanização, especialmente
as áreas suscetíveis à ocorrência de deslizamentos de grande impacto, inun-
dações bruscas ou processos geológicos ou hidrológicos correlatos;
• imóveis e bairros tombados pelo IPHAN, CONDEPHAAT e CONPRESP,
considerando o entorno ampliado desses elementos como áreas de transi-
ção de padrões urbanísticos. (PMSP/SMDU/IAB, 2013, p. 6).

Ou seja, o que se busca é uma regulação do parcelamento, uso e ocupação do solo


que proporcione sentido público não somente ao espaço público, mas ao sistema
edificado e ao território privado. Isso significa em trazer o passeio público para
dentro do lote; criar multiplicidade de acessos aos lotes; instalar atividades no nível
térreo que proporcionem interação e encontro de pessoas; proporcionar maior ar-
borização nos lotes e logradouros; superar o protagonismo do automóvel, seja na
via, seja no lote; limitar muros e fechamento de lotes; dentre outras medidas que
proporcionem urbanidade na interface entre o público e o privado.

83
Resultados do concurso

Dos 25 prêmios previstos (15 na modalidade 1, sendo 3 para cada categoria e 10


na modalidade 2), foram concedidos 10 prêmios e 4 menções honrosas (de um
universo de 54 trabalhos entregues), como segue:

Modalidade 1 (total de 8 prêmios e 3 menções honrosas):

• Categoria 1: 3 premiados e 1 menção honrosa;


• Categoria 2: 1 menção honrosa;
• Categoria 3: 3 premiados e 1 menção honrosa;
• Categoria 4: nenhum premiado e nenhuma menção honrosa;
• Categoria 5: 2 premiados;

Modalidade 2: 2 premiados e 1 menção honrosa.

Embora o número de prêmios tenha sido reduzido, os trabalhos premiados avan-


çaram em bons experimentos das premissas estabelecidas para o concurso.
Cabe alguns comentários sobre esses experimentos.

Quanto à interface entre o logradouro público e o lote, os ensaios identificaram


não somente o uso não residencial como mecanismo de dinamização dessa
interface (conceito de fachada ativa, estabelecido na proposta de revisão do
PDE), mas regras de ocupação que limitam o uso do automóvel, alargam as cal-
çadas, exploram a vegetação na frente do lote, preveem múltiplos acessos aos
lotes e estabelecem formas de utilização coletiva do pavimento térreo. Talvez
o trabalho que sintetize bem essa variação de experimentos seja o Projeto 04 da
Categoria 3 da Modalidade 1, conforme Figura 1.

Figura 1: Projeto 04, Categoria 3, Modalidade 1 (imagem da prancha 2)

84
Quanto à gestão de impactos urbanísticos em lotes e quadras de grandes dimen-
sões, as equipes premiadas exploraram a quadra como unidade de desenho e com-
posição urbana. Ou seja, os lotes e glebas de grandes dimensões acabam assumindo
a dimensão de quadras e nesse contexto, a regulação urbana passa, então, a tratar
de parâmetros de uso e ocupação sem ter o lote como referência, mas a quadra. E
o desenho muda significativamente, uma vez que a volumetria, os espaços livres,
as áreas verdes, a ampliação das calçadas e a proporção de usos residenciais e não
residenciais acabam sendo tratados de forma harmônica, como se fosse um projeto
urbano para cada quadra. Um dos trabalhos que ilustra bem isso é o Projeto 01, da
Categoria 05 da Modalidade 1, conforme pode ser observado na Figura 2.

Quanto ao regramento específico em função dos aspectos locais, o trabalho de-


senvolvido no Projeto 08 da Modalidade 2 trouxe uma contribuição significativa
ao identificar as grotas como unidade do meio físico a ter um tratamento dife-
renciado, tendo sido proposto o instrumento da microárea (ou microzona) para
a regulação da ocupação do território referente à área de influência da grota. De-
preende-se que esta microzona funcione com uma espécie de plano de manejo
do perímetro de influencia da grota. Embora pensada para determinados locais,
essa proposta pode ser replicada nas diversas ocorrências de nascentes e cabe-
ceiras de drenagem, como ilustrado na Figura 3.

Em síntese, cabe uma leitura atenta de cada trabalho premiado para se com-
preender como os ensaios desenvolvidos dialogaram com a concepção de ci-
dade almejada no novo Plano Diretor Estratégico aprovado por meio da Lei n.
16.050/2014.

Figura 2: Projeto 01, Categoria 5, Modalidade 1 (imagem da prancha 2)

85
Por fim, cabe destacar que o Concurso não teve por objetivo premiar projetos a serem
implementados, mas ensaios que tragam reflexões para a revisão do Zoneamento.

Figura 3: Projeto 08, Modalidade 2 (imagem da prancha 4)

Perspectivas para a revisão do Zoneamento

Como desdobramento desse Concurso, a SMDU organizou o Atelier Ensaios


Urbanos, envolvendo os cursos de Arquitetura e Urbanismo das universidades
paulistas a explorarem as ideias, conceitos e experimentos advindos do concurso.
Os trabalhos do Atelier deverão ser iniciados em Agosto de 2014 e pelo menos 14
cursos devem aderir ao projeto, podendo envolver até cerca de 1.500 alunos.

Ao mesmo tempo, a SMDU realizará um processo amplamente participativo, de


modo a construir uma proposta de revisão do Zoneamento que seja efetivamente
democrática.

Ainda é cedo para tirar conclusões de como será o novo Zoneamento. Neste
momento, sabemos apenas algumas premissas que são bastante claras para
nortear os trabalhos de revisão: buscar a qualificação da forma urbana, nos di-
versos temas e dimensões envolvidos; respeitar a concepção de ordenamento
territorial estabelecida no novo PDE; promover um processo amplamente parti-
cipativo; simplificar a compreensão da lei.

86
Referências bibliográficas

PMSP/SMDU/IAB. Termo de Referência do Concurso Ensaios Urbanos: Desenhos para o Zoneamen-


to de São Paulo. São Paulo, PMSP/SMDU/IAB, 2013. Disponível em: <http://www.prefeitura.sp.gov.
br/cidade/secretarias/desenvolvimento_urbano/>.

PMSP/SMDU/IAB. Projetos Premiados. São Paulo, PMSP/SMDU/IAB, 2013. Disponível em: <http://
www.prefeitura.sp.gov.br//cidade/secretarias/desenvolvimento_urbano/>.

87
Projetos participantes do
concurso “Ensaios Urbanos”
em cujas equipes há
professores da Escola
da Cidade
Projects participating in the tender
“Urban Essays” in whose team there
are professors from the Escola
da Cidade

89
MODALIDADE 2: PADRÕES URBANÍSTICOS ESPECÍFICOS PARA UNIDADES TERRITORIAIS SELECIONADAS
Premiado

Uma Área Específica, Um


Problema Genérico
A Specific Area / A Generic Problem
Camila Paris, Ciro Pirondi, Fausto Chino, Luis Octavio de Faria e Silva,
Luisa Zacche, Monica Drucker, Noelia Monteiro, Roseli Azevedo,
Ruben Otero, Thais Malheiros

Implantação

90
O NOVO PLANO DIRETOR para a cidade de SÃO PAULO representa um
avanço importante na utilização mais racional da infraestrutura, promovendo
soluções de mobilidade não motorizadas e transporte público, consolidando e
densificando as áreas centrais.

O projeto em estudo, porém, ainda contém vários elementos característicos


dos planos anteriores que baseavam a organização da cidade em um problema
de ZONEAMENTO e de LEGISLAÇÃO NORMATIVA, como resultado de CO-
EFICIENTES E INDICADORES que não estão sustentados em uma ideia formal
e espacial para a cidade.

O fato de manter a base da legislação em conceitos como COEFICIENTES DE


APROVEITAMENTO básico e máximo, compromete o desenho de uma cidade
desejada, na medida em que quem de certa forma determina os coeficientes fi-
nais é o próprio poder econômico. O presente trabalho trata de explorar algu-
mas hipóteses e estratégias de legislação urbanística que possam contribuir ao
enriquecimento da discussão do Novo Plano Diretor, a partir de uma visão que
conceba a cidade como o mais importante TERRITÓRIO DE PROJETO.

A área selecionada, setor Norte dos bairros SANTA CECÍLIA - BOM RETIRO,
não faz parte de uma unidade territorial ou paisagística especialmente qualifica-
da, não possui também um patrimônio arquitetônico relevante, nem uma signifi-
cativa importância histórica ou cultural. Porém, dois elementos fazem dela uma
área de especial interesse:

1. É PARADIGMÁTICA DOS TECIDOS PREDOMINANTES nas áreas cen-


trais da cidade, que está em processo de transformação com o iminente pe-
rigo de apagar parte de uma rica história urbana e uma forma de usufruir a
cidade sustentável e desejável;
2. Encontra-se no Perímetro Expandido da OPERAÇÃO URBANA CONSOR-
CIADA AGUA BRANCA e, como consequência da dinâmica urbana que já
se manifesta na área, começaram a ser lançados novos empreendimentos
imobiliários que reproduzem uma visão segregada da cidade e comprome-
tem as qualidades urbanas preexistentes, ASSIM COMO ACONTECE EM
OUTRAS ÁREAS DO CENTRO EXPANDIDO DE SÃO PAULO.

O grande objetivo da proposta urbana é a PRESERVAÇÃO E POTENCIALIZA-


ÇÃO DA IDENTIDADE da área sem impedir o desenvolvimento imobiliário, incor-
porando instrumentos normativos de promoção controlada. Esta abordagem po-
derá ser replicada em outras tantas na cidade de São Paulo, através das estratégias:

1. Incentivar USOS MISTOS (residência + comércio | residência + serviços);


2. Promover a RUA como importante LUGAR DE ENCONTRO;
3. PropiciaraaberturadosMIOLOSDEQUADRAcomoáreasdeusopúblicocontrolado;

91
4. Definir o PEDESTRE como o grande protagonista da cidade;
5. Propor um MODELO DE IMPLEMENTAÇÂO NO TEMPO que integre as
novas edificações as preexistências construídas.

Em complementação com os instrumentos de legislação urbana (coeficientes,
índices e taxas), é proposta a priorização de uma MODELAGEM FORMAL na
definição da imagem desejada para a área. Assim, partindo do aproveitamento
máximo permitido, são estabelecidas diretrizes que contribuem ao desenvol-
vimento urbano da área respeitando as preexistências e o natural processo de
substituição edilício sem rupturas.

INSTRUMENTOS DE ORDENAÇÃO

1. Da formatação da lei

. Coeficiente de Aproveitamento Máximo em função da proposta dos Novos


Corredores Urbanos. (em concordância com o Plano Diretor: CA=4);
. Manter os Recuos Frontais a partir dos 9m de altura e eliminar a obrigatorieda-
de dos recuos laterais para promover a continuidade morfológica das ruas;
. Definição de gabaritos de altura diferenciados em função da importância e con-
formação das ruas:
. Para a área em geral o gabarito máximo é de 12 andares;
. Para os lotes com frente às Avenidas Rudge, Marques de São Vicente, Norma
Peruccini Giannotti,Tomás Sergio e Presidente Castelo Branco, o gabarito máxi-
mo é de 18 andares.

2. Dos novos empreendimentos

. Área máxima permitida para novos remembramentos de 2.500m² (aproxima-


damente 1/4 do quarteirão);
. É proibida a construção de muros na divisa do lote com o logradouro público.
Somente será permitida a colocação de grades com altura máxima de 1.80m;

3. Dos condomínios existentes

Estímulo urbano para construir usos não residenciais no limite do lote com o logradouro
público, sem serem contabilizadas no CA. O programa será chamado REURBANIZA-
ÇÃO DE CONDOMÍNIOS e poderá ser replicado em outras áreas da cidade.

92
INSTRUMENTOS DE PROMOÇÃO E ESTÍMULO URBANO | PRÊMIOS

1. Da promoção de usos mistos

. Exoneração do recuo frontal para edificações até uma altura de 9m;


. Exoneração no calculo do CA para as edificações com fins comerciais e de ser-
viço construídas nas áreas de recuo frontal. Esse incremento no potencial cons-
trutivo poderá chegar até o 20% do CA máximo;
. Os empreendimentos existentes poderão ser enquadrados nas mesmas condi-
ções de exoneração do CA para usos não residenciais;
. Se dispensa a necessidade de vaga para automóveis dos novos comércios e ser-
viços menores de 100m² por serem considerados de abrangência local.

2. Da promoção de quadras mais permeáveis

. Incremento do CA em 0,5 para as edificações que abram áreas internas do lote


ao uso público podendo ser comerciais, de serviços ou de lazer.

INSTRUMENTOS DE PROTEÇÃO PATRIMONIAL

1. Criação de CATÁLOGO DAS EDIFICAÇÕES DE INTERESSE URBANO me-


diante a elaboração de Fichas Técnicas Patrimoniais de avaliação de cada edificação;

2. Os proprietários dos edifícios catalogados como de interesse urbano terão


INCREMENTADO SEU COEFICIENTE DE APROVEITAMENTO EM 0,5 se
eles mantiverem tais edifícios nos novos empreendimentos;

AÇÕES DIRETAS | INTERVENÇÕES EM ÁREAS PÚBLICAS

. Alargamento dos passeios;


. Criação de áreas permeáveis e arborização nos logradouros;
. Criação de pequenas praças de vizinhança;
. Operações de projeto nas bordas da área (FERROVIA E VIADUTO);
. Previsão de vias para ciclistas;
. Colocação das redes de infra estrutura no subsolo;
. Apoio aos moradores de rua.

93
proposta urbanística

diagrama da quadra

94
perspectiva 1 perspectiva 2

perspectiva 3

95
MODALIDADE 2: PADRÕES URBANÍSTICOS ESPECÍFICOS PARA UNIDADES TERRITORIAIS SELECIONADAS
Premiado

Microáreas de proteção
ambiental
Microareas of environmental protection
GESTO ARQUITETURA E URBANISMO Autoria Newton Massafumi Yamato |
Tânia Regina Parma - arquitetos urbanistas
Coordenação Newton Massafumi Yamato
Consultor Prof. Dr. José Guilherme Schutzer Arquitetos e Urbanistas
Guilherme Pinheiro Ramalho | Carolina Scatolini | Thais Piva Reyes
Estudantes de Arquitetura Luiz Felipe Amado da Cunha

grota do bixiga - contextualização

96
grota do bixiga - contextualização

propósta - Microárea de proteção ambiental

97
proposta - zoneamento - cenário pretendido

98
replicabilidade

99
CATEGORIA 3 – CONFIGURAÇÃO DA FRENTE DOS LOTES COM AS VIAS
Menção Honrosa

Unidade Terrirorial Quadra


Block Territorial Unit
Autores: Felipe de Souza Noto/ Jordana Zola / Maira Rios /
Paulo Emilio Ferreira Equipe: Adriana Matsufuji / Fernando
Boari / Gabriela Ho / Lara Ferreira / Tamires Lima

problemas e objetivos

100
MEMORIAL DA PROPOSTA

A questão fundamental é a retomada da cidade pelo pedestre. Entende-se que


o térreo da cidade é espaço privilegiado, território dos encontros, da troca, da
vida pública. Esta proposta busca reorientar sua apropriação, identificando a ne-
cessidade de fazer valer a sua função social do chão da cidade, potencializando
infraestruturas e qualificando o uso cotidiano do espaço urbano.

A iniciativa privada precisa se configurar como agente de intervenções capazes de


ampliar e qualificar o suporte físico (calçadas) e os elementos que configuram os li-
mites entre os usos privados e públicos da cidade. Por meio da ampliação das áreas
de domínio coletivo e de sua qualificação, garantindo usos diversos a apropriação
pública efetiva dos espaços livres, a noção de fachada (como elemento de transição
entre o lote e a rua) deve ser ampliada para uma ideia mais flexível de superfície, en-
volvendo os térreos e as faces do interior da quadra. São quatro os objetivos:

Melhorias das calçadas

Fazer valer a Lei de Calçadas que estabelece as responsabilidades individuais


na manutenção e a configurações mínimas dos passeios. Ampliar incentivos às
ações que ultrapassem os mínimos impostos em lei e que qualifiquem o espaço:
arborização, coberturas contínuas e/ ou galerias, ampliação da malha pedonal e
mobiliário urbano devem ser trabalhados dentro da lógica da quadra, não mais
do lote. Ferramentas de gestão compartilhada são apresentadas para reverter o
quadro de individualização da responsabilidade sobre as calçadas.

Ampliação da malha pedonal

Apresentar alternativas para a ampliação da rede pedonal existente e do siste-


ma de mobilidade. Incentivos à abertura das quadras para passagens, galerias e
servidões de passagem, visando ampliar, no miolo das quadras, as possibilidades
de travessia.

Ampliação da superfície de contato entre público (via) e privado (edifício)

A disponibilização de áreas privadas ao uso público (miolo de quadra, flexibiliza-


ção dos térreos, galerias comerciais e passagens), ampliando e diversificando os
caminhos pedonais, antes reclusos à calçada e iniciando a ampliando a malha de
áreas públicas, sobretudo em regiões de ocupação densa e homogênea.

Qualificação da superfície de contato entre público (via) e privado (edifício)

Os muros contínuos em condomínios residenciais devem ser inibidos por meio


da obrigatoriedade de um número mínimo de eventos urbanos em cada testada

101
de quadra. Cada um destes eventos tem um potencial de qualificação do espa-
ço específico: uma passagem pública é mais efetiva do que um acesso de auto-
móveis, um acesso de um edifício habitacional é mais efetivo do que um acesso
secundário de imóvel comercial. É necessária a qualificação destes eventos de
modo a ser possível avaliar quais combinações seriam suficientes para garantir a
sobrevivência e diversidade da vida pedonal.

Para alcançar os objetivos elencados esta proposta apresenta novas ferramen-


tas que podem se combinar com os instrumentos existentes (como a Lei de
Calçadas, o Iptu Progressivo e o PEUC). São eles: Regulamentação a Estaciona-
mentos, Nova Lei de Eventos e Nova Unidade Territorial Quadra.

Nova Lei de Eventos

Regulamenta a obrigatoriedade e implantação de número mínimo de eventos


urbanos por frente de rua, com validade para todas as zonas mistas e zonas re-
sidenciais. Eventos urbanos são todos os acontecimentos no plano de contato
entre o privado (edifício) e o público (calçada/rua). Os eventos podem ser clas-
sificados de acordo com seu potencial dinâmico. A distância entre eventos ba-
seia-se no parcelamento do solo na região, de modo a garantir pelo menos um
evento por frente mínima oficial de lote. De qualquer forma considera-se em no-
vas ocupações a distância máxima de 20 metros entre eventos. Esta ferramenta
apresenta-se como um recurso para incentivo (fiscal ou de outras naturezas)
para investimentos que garantam maior número de eventos dinâmicos.

Unidade territorial quadra (UTQ)

Apresentação de alternativa de superação do lote como unidade territorial mí-


nima, com a possibilidade de associação “condominial” de um ou mais lotes de
uma mesma quadra. Esta nova unidade territorial se estabelece como uma fer-
ramenta útil na gestão municipal, na medida em que pode se encarregar da me-
diação entre poder público e um coletivo de edifícios, especialmente no âmbito
das subprefeituras. Ao mesmo tempo, a compreensão da cidade a partir de uma
unidade territorial estendida legitima a concessão de incentivos mais vigorosos
à iniciativa privada, considerando contrapartidas essencialmente de caráter co-
letivizante.

A equação proposta é apresentar incentivos fiscais e urbanísticos para aqueles


que se organizarem territorialmente, impondo exigências de retorno à cidade
especialmente à própria quadra. Aumento de potencial construtivo e reduções
dos valores de IPTU devem ser considerados na negociação.

Há dois casos em que se imagina a aplicação da UTQ: áreas em transformação, com


remembramento significativo de lotes (obrigatória para empreendimentos que

102
ocupem desde 25% da quadra) e áreas consolidadas na quais a associação entre lo-
tes não tenha como objetivo um novo empreendimento. Contrapartidas:

• criar área de uso coletivo (com acesso público livre) correspondente a uma
porcentagem da área do lote no pavimento térreo, que poderá ser coberta
e destinada ao uso comercial.
• permitir o cruzamento público entre todas as vias com as quais fizer frente
o conjunto de lotes;

Outra estratégia possível é a transferência de potencial construtivo entre lotes


de uma mesma UTQ. A operação pode tornar mais atraente o empreendimento
e estimular a proteção do patrimônio banal da cidade construída. Recomenda-
se que a transferência seja válida apenas para os lotes com imóveis que ocupem
no mínimo 70% de seu potencial construtivo: não interessa o congelamento de
imóveis com área construída muito aquém daquela regulada pelo Plano Diretor.

Redes privadas

O principal desafio a que esta proposta se dispõe é combater a natural tendência


individualista do mercado imobiliário, que restringe seu campo de atuação aos
domínios do lote. Evidentemente faltam instrumentos de orientados ao direcio-
namento coletivizante dos empreendimentos isolados (restritos ao lote). A Uni-
dade Territorial Quadra é uma estratégia na procura por novos caminhos para o
mercado, com estímulo a lógica coletiva na transformação da cidade.

Neste sentido, propõe-se um conjunto de incentivos proporcionais ao grau de


agrupamento alcançado: quanto maior o número de lotes participantes, maior
a redução de imposto ou maior o potencial construtivo permitido. Para além,
sugere-se a ampliação dessa proporcionalidade para uma possível associação
entre diferentes UTQs contíguas, isto é, incentivos crescentes para empreendi-
mentos organizados em rede. Vale a ressalva de que a regra pressupõe a proxi-
midade territorial das quadras.

O resultado esperado é a multiplicação de áreas livres e da malha pedonal conec-


tando quadras, estabelecendo transformações positivas agora em escala de bairro.

103
instrumentos

104
sistema de apliczção de utq e lei de eventos na cidade

105
CATEGORIA 2 – ESTUDOS DE CONFIGURAÇÃO DE TIPOLOGIAS EDIFICADAS DE USO MISTO NO MESMO
LOTE, ENVOLVENDO OBRIGATORIAMENTE O USO RESIDENCIAL
Menção Honrosa

Rearticulação da relação domínio


privado e domínio público
Re-articulation of the relationship between public and
private domains
Autores: Felipe de Souza Noto/ Jordana Zola / Maira Rios /
Paulo Emilio Ferreira Equipe: Adriana Matsufuji / Fernando
Boari / Gabriela Ho / Lara Ferreira / Tamires Lima

A fórmula de Adiron, mecanismo introduzido na Lei de Zoneamento de 72 para


que se pudesse aumentar os coeficientes originalmente definidos, cria em con-
trapartida, uma proporção inversa entre coeficiente de aproveitamento e taxa
de ocupação do lote, definida por uma fórmula matemática.

Esta determinação da lei não traz apenas as óbvias conseqüências para a tipolo-
gia arquitetônica do edifício mas também para a implantação do edifício no lote
e sua relação com a cidade a sua volta.

Partindo do princípio de que o empreendedor imobiliário vai optar sempre pelo


C.A. máximo, os arquitetos, na hora da criação do projeto arquitetônico, traba-
lharão sempre com a T.O. mínima.

A primeira e mais clara conseqüência da aplicação da fórmula de Adiron para a ti-


pologia dos edifícios se refere à sua altura: o aumento da área construída em menor
área de projeção faz com que a altura dos edifícios cresça em grandes proporções.

A altura do edifício, por sua vez, influencia diretamente o tamanho dos recuos
obrigatórios exigidos por lei. Apesar do zoneamento estabelecer recuos seme-
lhantes para as principais zonas da cidade, o Código de Obras do Município esta-
belece faixas de ventilação e iluminação, livres de construções, que estão direta-
mente relacionados com o número de andares da edificação, e que acabam por
se configurar como recuos muito mais restritivos que os estabelecidos pelo zo-
neamento. Apresenta-se aqui uma segunda conseqüência da fórmula de Adiron:
com o aumento da altura dos edifícios as faixas de iluminação e de ventilação se
tornam tão grandes e restritivas que não sobra outra opção para os arquitetos a
não ser implantar o edifício no centro do lote.

Uma terceira conseqüência da aplicação da fórmula de Adiron, menos perceptí-


vel mas de fundamental importância para a cidade, se refere ao uso do solo. Para

106
que não haja aumento na projeção do empreendimento e conseqüente dimi-
nuição do coeficiente de aproveitamento, a área do pavimento térreo não pode
ultrapassar a área de projeção do pavimento tipo. Este fator, somado ao fato de
o edifício estar implantado no centro do lote, desestimula o uso comercial do tér-
reo por este estar situado longe da rua. É desta maneira que, após a Lei de Zone-
amento de 72, o uso misto das edificações foi se extinguindo na cidade. Mesmo
nas zonas que permitem usos diversificados dos seus lotes, essa diversidade se
limitou apenas ao nível da quadra. Com a sistemática ocupação da cidade por
empreendimentos imobiliários que buscam sempre o maior coeficiente, o uso
misto vai ficando cada vez mais raro.

A aplicação da fórmula de Adiron, associada às exigências de faixas de ilumina-


ção e ventilação pelo Código de Obras, foi determinante para a formação de
uma tipologia característica praticada pelo mercado imobiliário ao longo dos
últimos quarenta anos na cidade de São Paulo. Esta tipologia pode ser claramen-
te observada em regiões de maior concentração de renda, como Moema, Itaim
Bibi, Vila Olímpia, Vila Nova Conceição, Tatuapé, Vila Leopoldina, entre outros
bairros que sofreram processos de verticalização nas últimas décadas e, portan-
to, foram edificados sob os parâmetros desta legislação.

Trata-se de uma tipologia de torres altas e estreitas, fisicamente isoladas, ocu-


pando uma pequena parte do lote, com diferentes alturas e diferentes afasta-
mentos da rua e, na maior parte da cidade, de uso exclusivamente residencial.
Sua implantação não é mais objeto de um desenho urbano, suas áreas externas
se tornaram apenas espaços residuais, resultado do que sobra da implantação
do edifícios no lote, sem comunicação com cidade ao seu redor.

A boa qualidade arquitetônica individual de diferentes edificações não pode por si


só dar boa forma ao tecido urbano. “Um conjunto de qualidade, se não for integra-
do num contexto, surge desarticulado e desprovido de verdadeira significação, tal
como um conjunto de belas palavras não chega para constituir uma frase. O dis-
curso arquitetônico pressupõe a relação dos edifícios com o espaço urbano e o seu
enquadramento numa estrutura”1. O espaço remanescente da implantação do
edifício no lote deve ser compreendido como articulação entre o domínio privado
e o domínio público, pois estabelece com o espaço urbano um diálogo que pode ser
positivo, possibilitando uma conexão, ou negativo, representando uma segregação.

Propostas para os novos empreendimentos:

I) Abolição da Formula de Adiron. II) Abolição das faixas de aeração “A” e ilumi-
nação “I” previstas no Código de Obras. III) Abolição dos recuos laterais para
construções acima de 6 metros de altura.

1 LAMAS, José M. Garcia, Morfologia Urbana e Desenho da Cidade, Lisboa:


Fundação Calouste Gulbenkian e Fundação para Ciência e Tecnologia, 2000, p. 307

107
Justificativa

A interdependência entre a forma do edifício e a forma urbana é uma das rela-


ções mais importantes entre a cidade e o projeto de arquitetura. O edifício, por-
tanto, não pode ser entendido como um acontecimento isolado na cidade, mas
como parte integrante de um complexo sistema de relações espaciais e formais
com todo o espaço urbanizado à sua volta.

Com a abolição da aplicação da Formula de Adiron, os empreendimentos ainda


poderão atingir o coeficiente máximo previsto por lei através da Outorga One-
rosa, mas não precisarão diminuir sua Taxa de Ocupação. Este fato possibilitará
que o pavimento térreo não mais precise estar contido na projeção do edifício e
poderá se aproximar do alinhamento do lote, incentivando o seu uso comercial
pois também estará próximo à rua. O recuo obrigatório de 5 metros previsto no
Zoneamento será o único a ser respeitado, mas deverá ser interpretado como
espaço privado de uso público, sendo incorporado à calçada, proporcionando o
seu alargamento e possibilitando as atividades relacionadas ao térreo comercial,
como mesas para bares e restaurantes, vagas para estacionamento de veículos
de clientes de lojas ou simplesmente espaço para a melhor fruição de pedestres.

As Faixas “A” e “I” foram criadas para afastar os edifícios das divisas do lote mas
acabaram por interferir de modo decisivo na tipologia edificada e, principalmen-
te, na implantação do edifício no lote. A abolição das faixas permitirá que todo o
empreendimento se aproxime do alinhamento com a rua e que sua implantação
seja resultado de um projeto de desenho urbano. A abolição dos recuos laterais
permitirá que o edifício ocupe toda a extensão da frente do lote, estabelecendo
uma relação especial e formal com o edifício vizinho. A sucessão de edifícios im-
plantados no alinhamento do recuo frontal e geminados entre si irá formar um
“Plano Vertical” (a fachada contínua) paralelo ao logradouro, configurando um
elemento morfológico determinante na forma e na imagem da cidade.

Propostas para a cidade pré-existente:

I) Para empreendimentos já construídos propomos a permissão de áreas cons-


truídas no alinhamento do lote com a rua, ou no alinhamento do recuo frontal,
de uso obrigatoriamente comercial, com abertura para o logradouro público e
acesso à população em geral e consideradas não computáveis até o limite de
20% da área total construída.

Justificativa

O tecido urbano da cidade de São Paulo já está consolidado na maior parte de seu
território, sendo que grande parte dos empreendimentos foi construído seguindo a
Lei de Zoneamento de 1972 que resultava numa tipologia de torres isoladas, implan-

108
tadas no centro do lote, sem relação com a rua. Para se atingir mais rapidamente os
objetivos de instrumentos como a “Fachada Ativa”, é necessário que sejam criados
meios de transformação sobre o patrimônio existente. Nossa proposta apresenta a
possibilidade de um edifício existente construir áreas para uso comercial próximas a
rua, que por um lado animam a vida pública nas calçadas e, por outro, se configuram
como uma fonte de renda para o próprio condomínio.

Dentro desta proposta é possível também lançar mão de incentivos fiscais,


como a redução de IPTU de condomínios que recuarem os fechamentos de seus
lotes, ampliando assim as calçadas para melhor fruição dos pedestres.

PROPOSTA PARA NOVAS TIPOLOGIAS

ÁREA COMERCIAL

RECUO FRONTAL
INCORPORADO A CALÇADA

proposta para novsa tipologias

109
PROPOSTA PARA A CIDADE EXISTENTE

ÁREA COMERCIAL

RECUO FRONTAL
INCORPORADO A CALÇADA

porposta para a cidade existente

PROPOSTA PARA A CIDADE EXISTENTE

SITUAÇÃO EXISTENTE PROPOSTA PARA EDIFÍCIOS EXISTENTE


TIPOLOGIA TÍPICA PRATICADA
PELO MERCADO IMOBILIÁRIO

ÁREA COMERCIAL

RECUO FRONTAL
INCORPORADO A CALÇADA

FAIXA DE AERAÇÃO "A"

FAIXA DE ILUMINAÇÃO "I"

porposta para acidade existente

110
PROPOSTA PARA A CIDADE EXISTENTE

SITUAÇÃO EXISTENTE PROPOSTA PARA EDIFÍCIOS EXISTENTE


TIPOLOGIA TÍPICA PRATICADA
PELO MERCADO IMOBILIÁRIO

ÁREA COMERCIAL

RECUO FRONTAL
INCORPORADO A CALÇADA

FAIXA DE AERAÇÃO "A"

FAIXA DE ILUMINAÇÃO "I"

grota do bixiga - contextualização

111
MODALIDADE 2: PADRÕES URBANÍSTICOS ESPECÍFICOS PARA UNIDADES TERRITORIAIS SELECIONADAS
Menção Honrosa

Adensamento com preservação da


tipologia “Cidade Jardim”
Intensification with preservation of the
Garden City typology
Autor: Silvio Oksman Equipe: Beatriz Vicino e Vanessa Mendes.

bairros tombados e principais vias e ligação

112
O tombamento de bairros em São Paulo – Jardim América, Europa, Paulista, Paulistano
e Pacaembu - é pauta de muitos debates. As diretrizes para preservação de bairros po-
dem entrar em conflito com os critérios de desenvolvimento urbano caso não haja um
diálogo entre os parâmetros estabelecidos pelos diversos instrumentos reguladores
- Plano Diretor, LUOS (Lei de Uso e Ocupação do Solo) e resolução de tombamento.
O momento da revisão do Plano Diretor de São Paulo se mostra muito oportuno para
abordar esta sobreposição de normas e leis. Neste sentido a resolução de tombamento
dos Jardins pode e deve ser revista à luz de novas propostas: aumento de densidade po-
pulacional, planos de mobilidade, e diversidade de usos, devem ser diretrizes que orien-
tam uma possibilidade de desenvolvimento em consonância com o tombamento. Ape-
sar das questões comuns aos bairros tombados, este trabalho vai se restringir a área dos
Jardins - Jardim América, Europa, Paulista e Paulistano. Esta decisão se dá principalmente
por serem cortados e circundados por vias que tem relevância metropolitana.

O instrumento do tombamento já se mostrou ineficiente no sentido de preser-


var as principais vias que cruzam a área. Houve uma flexibilização dos usos, es-
tabelecida através das Zonas de Centralidade Linear (ZCL) em Zonas Estrita-
mente Residenciais Um (ZER1) definidas na LUOS, que não propôs nenhuma
mudança das tipologias de ocupação, estas seguem atendendo as restrições
impostas pelo tombamento.

O que encontramos hoje são adaptações de imóveis residenciais para abrigar


atividades comerciais e de serviço. Em grande parte, as construções transgri-
dem a legislação: ocupam recuos, aumentam a área construída, ultrapassando
as taxas e coeficientes estabelecidos.

Chama atenção o fato de vias de importância metropolitana, que já não conser-


vam o aspecto desejado de Bairro Jardim, continuarem sendo geridas por estas
leis de tombamento. Como consequência observa-se a descontinuidade do te-
cido urbano com diversos lotes vagos e imóveis ociosos. É evidente, portanto,
que o valor de “bairro jardim” que se deseja preservar já se perdeu, são vias com
baixa arborização e tráfego intenso de veículos. As demais áreas dos bairros,
adjacentes a estes eixos, ainda preservam este caráter, objeto do tombamento.

Entende-se que é possível promover o adensamento a partir de verticalização


controlada, com proposta de uso misto, aumentando a utilização da infraestru-
tura disponível. Considera-se que estas diretrizes também garantam a sua pre-
servação nos termos em que hoje se apresentam.

Tratam-se, portanto, de áreas de exceção dentro do perímetro de tombamento


que se restringem aos lotes que têm frente para as vias destacadas.

As diretrizes estabelecidas contribuem para a preservação da área estritamente


residencial, do ponto de vista:

113
a) do uso, entende-se que a oferta de outros tipos de ocupação – serviços e comér-
cios principalmente – são atividades que complementam a área habitacional;

b) da tipologia, os critérios de gabaritos e recuos estabelecem uma relação har-


mônica com o bairro jardim que se intenciona preservar.

TOMBAMENTO

A resolução de tombamento dos jardins (Resolução 02/1986 da Secretaria de


Estado da Cultura) preserva: a) O atual traçado urbano, representado pelas ruas
e praças públicas contidas entre os alinhamentos dos lotes particulares; b) a ve-
getação, especialmente a arbórea, passa a ser considerada como bem aderente;
c) as atuais linhas demarcatórias dos lotes, pois são também históricas estas su-
perfícies, sendo o baixo adensamento populacional delas decorrente, tão impor-
tante quanto o traçado urbano.

Este estudo de revisão das ZCL em ZER1 considera que estes eixos poderão ser
adensados a partir da alteração das resoluções de tombamento dos bairros. As
novas diretrizes estabelecem parâmetros que consideram as especificidades e
características especificas de cada área. Alguns critérios específicos serão ado-
tados em função dos diferentes caracteres das vias (largura da via, tipo de infra-
estrutura disponível, etc.).

DIRETRIZES

a)Taxa de ocupação: 70%; b) Coeficiente de aproveitamento máximo: 3; c) Taxa


de permeabilidade: 15%; d) Gabarito máximo: 25m; e) Recuos: Frontal: 5m, com
exceção dos trechos compreendidos no Jardim América, onde o recuo frontal será
de 6m, com 50% de superfície permeável, com estacionamento proibido. Lateral:
inexistente; Fundos: para os volumes de altura máxima de 6m não haverá recuo de
fundo, para os volumes acima desta altura o recuo mínimo será de 10m.

VAGAS DE ESTACIONAMENTO

Em relação às vagas de estacionamento adotam-se os seguintes critérios pro-


postos no novo plano: a) serão consideradas não computáveis as áreas cober-
tas, em qualquer pavimento, destinadas a carga e descarga, circulação, manobra
e estacionamento de veículos, desde que o número de vagas de garagem obser-
ve os seguintes limites: nos empreendimentos residenciais, um total de até uma
vaga de estacionamento por unidade habitacional; nos empreendimentos não
residenciais, uma vaga de estacionamento para cada 100m2 de área construí-
da computável, desprezadas as frações. b) A quota de garagem máxima será de
28m2 c) pode-se estabelecer a desobrigação de atendimento ao número míni-
mo de vagas de estacionamento de veículos para os usos não residenciais. d) O

114
numero de vagas que exceder os critérios acima estabelecidos entrarão no cál-
culo de área computável.

USO HABITACIONAL

Serão estabelecidos dois valores para Cota Parte Máxima: a) 20, para os corredores
da Avenida Rebouças e Avenida Nove de Julho; b) 32, para os eixos das Ruas Estados
Unidos, Groenlândia, Gabriel Monteiro da Silva e Avenida Brasil. Será estabelecida
uma cota mínima de habitação por quadra, segundo os diagramas axonométricos.
A intenção é de que ao longo dos eixos exista sempre uma quantidade mínima de
edifícios residenciais.Para implantação de HIS e HMP fica estabelecido percentual
mínimo de: a) 50% da área computável nos corredores da Avenida Rebouças e Ave-
nida Nove de Julho; b) 30% da área computável nos eixos das Ruas Estados Unidos,
Groenlândia, Gabriel Monteiro da Silva e Avenida Brasil. Não será permitido o re-
membramento dos lotes demarcados nos eixos com os lotes que permanecem sob
a legislação de preservação de patrimônio cultural.

CONCLUSÃO

A proposta de cidade compacta, colocada nas diretrizes do novo plano diretor,


se depara com situações consolidadas na cidade que por vezes podem ser um
entrave. Com a proposta de verticalização dos eixos de mobilidade que atra-
vessam a área dos jardins, ficou clara a possibilidade de adensamento com a
preservação desta tipologia de “Cidade Jardim”, contornando a subutilização da
infraestrutura existente adjacente aos bairros de baixa densidade. Os critérios
adotados nesta proposta podem ser aplicados também para o bairro tombado
do Pacaembu e para outras ZER1, tais como o Alto de Pinheiros, Alto da Lapa,
Butantã. Estes bairros, apesar de não terem a incidência do tombamento, tem
outra sobreposição de leis que merece ser revisada, pois ainda são regidos pelos
critérios da Cia City, que os desenhou.

zoneamento dos bairros jardins e áreas adjacentes

115
situação atual: fluxos metropolitanos proposta: zona de transição nos exios de fluo

e interrupção do espaço urbano metropolitano

cortes esquemáticos das diretrizes propóstas

axonométrica: Avenida Rebouças, avenida 9 de axonométrica: Avenida europa, gabriel


julho e avenida brasil monteiro da silva e estados unidos

116
fotomontagem: ensaios sobre o zoneamento

117
Forma urbana e cidade
informal
Valter Fabietti

“O verdadeiro projeto urbano não inicia jamais com uma situação intocada e nunca pre-
vê um término definitivo. Mais especificamente, raciocina em termos de processo, de pro-
tótipos, de guia, de incentivo. (...) Uma bem desenvolvida coleção de modelos capazes de
integrar processo e forma seria de enorme utilidade para essa finalidade. Esses modelos e
essas construções teóricas deveriam ser, todavia, suficientemente independentes e simples,
de modo a permitir aquela contínua refundação de objetivos, análises e possibilidades que
é típica do projeto urbano.” K. Lynch “Uma Teoria da Boa Forma da Cidade” MIT Press
Cambridge MA 1981

As regras da forma

Nos anos ’80 manifesta-se uma renovada atenção nos confrontos do controle
da forma urbana, através de projetos que procuram mais a construção do “cená-
rio urbano” do que definições formais da arquitetura 1.

Trata-se de uma ampla experimentação que tem raízes nos anos ’60 e ’70, da
qual emerge uma corrente disciplinar orientada para as tradições urbanísticas
do início do novecentos. É no norte da América, em particular, e depois no Reino
Unido que se manifesta uma crescente intolerância quanto aos métodos domi-
nantes na projetação de novos conjuntos residenciais, não só nas periferias ur-
banas ou nos pequenos centros suburbanos, mas também nas grandes cidades.
O foco dessa postura disciplinar é o aprofundamento da relação entre espaço
coletivo e espaço privado, ou o controle da forma física do construído e da rela-

119
ção que se manifesta entre esta e o espaço público. Ao contrário de intervenções
que enfrentam o tema de novos conjuntos apenas na escala do edifício, a utiliza-
ção de regras formais na escala urbana permite melhor, afirma essa corrente de
pensamento, a construção de ambientes variados, não banais ou repetitivos, e
com valores estéticos amplamente partilhados. Trata-se de ambientes urbanos
nos quais “uma riqueza de elementos, harmonizados entre si, presta-se melhor
a responder a um amplo leque de expectativas e desejos de um público variado
e, de outro lado, favorece a participação de uma ampla pluralidade de agentes
produtores e usuários”. 2

Essa reinterpretação dos modos tradicionais se baseia na seguinte questão pro-


jetual: “o que significa um bom local para se viver?” 3

As experiências dos anos ’80 têm o mérito de evidenciar, através da aplicação de


“smart codes”, a importância da codificação de comportamentos projetuais efica-
zes para se produzir ambientes urbanos de qualidade, não só do ponto de vista
funcional mas também, e diria sobretudo, com respeito ao impacto perceptivo.
Nesse quadro, como veremos adiante, inserem-se elementos de caráter higie-
nista e ambiental, historicamente presentes na tradição disciplinar urbanística e
revisitados através do princípio mais geral da sustentabilidade.

Trata-se, em última análise, de uma espécie de retorno às tradições do projeto


urbanístico, que assume um valor revolucionário com respeito aos paradigmas
disciplinares dominantes daquele período: a reconsideração da qualidade for-
mal da implantação urbana comporta o reconhecimento cultural das regras da
forma e a definição de seu papel como procedimento. Não se trata apenas do
capricho ou da sensibilidade do projetista, mas do significado objetivo da forma
como valor estético tanto quanto técnico e construtivo. A partir das elabora-
ções de Kevin Lynch até as elaborações de Krier e depois, através das proposi-
ções do new urbanism, de Duany, PLater-Zyberk, Punter, Parolek e outros, emerge
uma corrente de pensamento que reformula e relança, de maneira sempre mais
evidente, os sistemas de controle formal.

Entre o final dos anos ’80 e início dos anos ’90 essa corrente se manifesta de ma-
neira madura 4 articulando suas propostas em um amplo leque de instrumentos
técnicos: diretrizes, manuais, regulamentos etc, aplicáveis nos mais diversos
contextos. O uso do controle da forma se torna instrumental, até mesmo do-
minante, e se volta também para questões funcionais e, retomando uma antiga
tradição da urbanística sanitarista, ambientais.

Partindo da codificação de elementos formais (fachadas dos edifícios, recuos


em relação aos limites do lote, distância entre o “invólucro” dos blocos edifica-
dos, relação entre a fachada e a via, entre volume edificado e seção da via, forma
do rés-do-chão, materiais construtivos etc), chega-se à conclusão sobre a defi-

120
nição do papel que esses elementos têm na construção do ambiente urbano e,
sobretudo, como podem influir no comportamento humano.

Emergem, nesse novo modo de considerar a forma, definições e códigos que


agem em diversas escalas: reflexões sobre os tipos edilícios, sobre regras de
agrupamento destes e sobre a composição dos espaços, dos mais simples aos
mais complexos e articulados, que levam à definição de composições urbanas
consideradas verdadeiras e apropriadas 5. Nas entrelinhas dessa nova atitude
ao se confrontar a forma que se insere uma interessante variante do conceito
de sustentabilidade ambiental, resumida na questão: o controle da forma pode
induzir à sustentabilidade ambiental nos projetos de transformação urbana?

O espaço urbano representa o habitat dos cidadãos e pode modificar, em função


de suas características, o modo com o qual as pessoas utilizam a cidade; induz
no observador a percepção da riqueza de quem vive em uma determinada área,
mas também mostra a possibilidade de usufruir de espaços de qualidade que po-
dem conduzir a uma vida mais serena e, talvez, mais saudável. Em última análise,
pode-se representar e defender a sustentabilidade com o espaço urbano.

Face à pressão quanto à questão da relação entre a forma do espaço urbano e sus-
tentabilidade, ocorre considerar uma “forma da sustentabilidade”, ou os instrumen-
tos da projetação urbana capazes de fornecer um princípio de sustentabilidade “am-
bientalmente pertinente, economicamente conveniente e socialmente utilizável.”6

A projetação urbanística, desde Colin Rowe e de seus ensinamentos na Cornell


University7 até o Congresso para um New Urbanism, produziu muitos instru-
mentos, internos ao processo de construção do espaço urbano, e que possibili-
tam explorar a relação entre edifícios individuais, não se fechando na arquitetura
isoladamente, mas propondo uma visão de conjunto. Trata-se de algo de fato
verdadeiro quando se considera que, nas experiências que fazem parte da ver-
tente acima referida, é dirigida uma grande atenção à via e, em geral mais ainda,
aos espaços intersticiais entre os edifícios.

Em alguns casos, a codificação desses elementos é desenvolvida de maneira


quase barroca, recorrendo à mensuração obsessiva do espaço público. Todavia,
também nas experiências mais rigorosas manifesta-se a finalidade das propos-
tas, que se resume no melhoramento qualitativo dos principais aspectos da vida
social: falar, caminhar, sentar-se, negociar. Tudo de tal forma a oferecer um estilo
de vida ambientalmente sustentável, reduzindo emissões de gases produtores
do efeito estufa, fazendo mais eficiente o consumo energético, melhorando as
condições de saúde humana e do ambiente natural (ar, água, solo).

As experiências de projetação urbanística na escala local (neighbourhood


planning) confrontam-se com o tema da diversidade funcional, no sentido de

121
1 - City of Knoxville. A Pocket Guide to Development on Knoxville’s South Waterfront, May 2006. http://
www.cityofknoxvillw.org/southwaterfront/related/draftcodepocketguide.pdf

favorecer, nos domínios urbanos consolidados, comportamentos socialmente


virtuosos além de ambientalmente sustentáveis. A forma exprime nessas ex-
periências uma espécie de “inteligência urbana” (smart cities), preparada para
tornar resilientes e sustentáveis as transformações da cidade.

A sustentabilidade do desenvolvimento urbano apresenta diversos graus de


complexidade. Em primeiro lugar, a articulação e a escala a que se refere. Cer-
tamente podemos e devemos considerar os recursos naturais empregados, tais
quais os sistemas de áreas verdes, das águas superficiais e subterrâneas ou os
corredores ecológicos, mas além desses, trabalhando em um ambiente antro-
pizado, tanta importância quanto assumem a insolação dos espaços coletivos,
o albedo ou os efeitos da mobilidade mecanizada e, em última análise, a conec-
tividade (walkability) dos espaços urbanos: a inteligência urbana se depreende
segundo o modo de usar a cidade.

Formal vs Informal

A projetação urbanística, assim como ocorre em outras disciplinas que têm na cidade
e na cidadania o foco disciplinar (civitas e urbs)8, assume esses dois termos (e suas rela-
ções recíprocas) como horizonte de pesquisa, fomentando inclusive a redefinição dos
próprios paradigmas disciplinares. O surgimento de uma exigência social de “susten-
tabilidade” (a construção de ecologias sociais ambientais, particularmente evidentes
nos assentamentos informais, o combate às mudanças climáticas, a manutenção da saúde
humana), a esperança de uma maior qualidade de vida na cidade (um local melhor para se

122
viver) estão gradualmente fazendo converter-se “em verde” os aparatos disciplinares.
O escopo atual não é mais controlar o crescimento mas elaborar modelos de cidade
capazes de enfrentar desafios futuros: o surgimento de novos estilos de vida, a reestru-
turação dos sistemas econômicos, a evolução, frequentemente não previsível, das con-
dições ambientais, devido também às mudanças climáticas e, não menos importante,
a rápida (e desigual) urbanização mundial. Onde o assentamento aparece totalmente
privado de regras, não só formais, a relação entre forma e ambiente urbano se enrique-
ce de complexidade, mas também de interesse disciplinar (além de social). É o caso dos
assentamentos “informais”, a grande multiplicidade de zonas urbanas marginais (slum,
favelas, baraccopoli, bidonville etc), habitados por uma vasta população de baixa renda
ou totalmente indigente.

É possível, nesse caso, recorrer ao controle da forma como instrumento de me-


lhoria social? É possível, como afirma o new urbanism e os form-based codes,
promover a melhoria social e fazer, portanto, do assentamento informal “um
bom local para se viver”?

Trata-se de uma questão complexa que envolve muitas competências e requer


uma política de suporte 9. No esteio da mudança de orientação nas ações em fa-
velas e suas intervenções necessárias para torná-las lugares habitáveis, muitos
programas de intervenção foram desenvolvidos tendo como tema o projeto ur-
bano para os assentamentos informais. Nesses casos, a hipótese é a de que a me-
lhoria do espaço coletivo (através de políticas públicas) poderá funcionar como
motor de uma requalificação mais generalizada. Algumas universidades brasi-
leiras introduziram em seus programas de atelier e nas experiências didáticas a
pesquisa de percursos louváveis de projetação urbana para a requalificação das
favelas. Entre elas, particular interesse apresenta a experiência levada adiante
pela “Escola da Cidade” de São Paulo que abriu, sobre o tema da projetação da
forma na cidade informal, um curso de mestrado lato sensu denominado Habita-
ção e Cidade, em cujo trabalho de atelier em 2012 se viram experimentações em
soluções projetuais para a favela Jardim Colonial, objeto do volume 4 da publica-
ção anual do mesmo curso.

2 - Guidelines Chinatown and Leather DIstrict, Boston USA 1 - City of Knoxville. A Pocket Guide to Development on
Knoxville’s South Waterfront, May 2006. http://www.
cityofknoxvillw.org/southwaterfront/related/
draftcodepocketguide.pdf

123
3 Complete communities toolbox. Guide to FBC. Delaware USA. http://completecommunitiesde.org/form-based-codes/

Para além da consolidação da unidade habitacional, essa experiência se debruça


na melhoria da qualidade do espaço intersticial e ambientes imediatamente pró-
ximos. Surge, na observação dos trabalhos desenvolvidos no referido curso em
2012, a necessidade de definir tipologias flexíveis de implantação que se adap-
tem ao contexto, seja morfológico ou construtivo.

Faz-se referência ali desde às relações que o conjunto da favela tem com a “cidade
formal”, seja ao confronto, inevitável, com as condições de risco gerado pela “inade-
quação” do substrato morfológico -geológico sobre o qual se apóia o assentamento.

No que diz respeito a este último tema mostram-se interessantes algumas soluções
adotadas quanto à verticalização dos assentamentos, percursos externos e inter-
nos à área construída que exploram o declive do terreno para gerar conexões no
tecido edificado da favela, explorando também sistemas ousados de áreas verdes
para reduzir a densidade construtiva e para a estabilização do terreno.

Uma particularidade das propostas formuladas nos projetos desenvolvidos no


curso refere-se à relação do assentamento com a água. O risco hidro-geológi-
co representa, sem dúvida, junto à implantação de infraestrutura (esgoto, rede
de iluminação, coleta de lixo), um dos nós a se desfazer para o saneamento das
favelas. Utilizar os fatores de risco como uma oportunidade projetual parece
certamente algo de grande interesse: controlar os níveis hídricos com tanques
de retenção integrados aos espaços públicos e espelhos d’água, liberar as áreas
de maior declividade consolidando-as através de percursos e canais em degraus
representam pontos fortes dos projetos para a favela desenvolvidos no curso.

Considerações análogas podem ser feitas a respeito dos projetos para o


“Concurso Nacional Ensaios Urbanos: desenhos para o zoneamento de São Paulo”,

124
apresentados nesta publicação. Os projetos assumem como foco a rede-
finição do espaço público, utilizado como instrumento de requalificação
formal e funcional do conjunto construído. Não só o espaço coletivo define
uma configuração formal e traça os limites da percepção urbana, mas con-
figura lugares para uma “hipersocialidade” encorajando o encontro entre as
pessoas. Com essa finalidade, a exploração projetual incita a redefinir, ana-
logamente às mais recentes experiências norte-americanas 10, a walkability,
através de um controle acurado dos resultados formais: a permeabilidade
do construído torna-se assim instrumento de saneamento social além de
físico. Trata-se de uma aceleração do processo natural de metamorfose da
cidade, regulada aqui por códigos acurados de comportamento projetual
(smart codes). É interessante ainda notar como os resultados formais são
fortemente ligados aos usos da cidade: também nesse caso, a diversidade as-
sume um papel social além de funcional e representa um reforço da walkabi-
lity como instrumento de resgate social.

Habitação e Cidade - Escola da Cidade Jardim Colonial, trabalho equipe 3

Habitação e Cidade - Escola da Cidade Jardim Colonial, trabalho equipe 3

125
Os trabalhos apresentados nesta publicação mostram, portanto, um avanço no
longo caminho para uma compreensão plena da relação entre forma e cidade e
permitem realizar, como ensaio, algumas reflexões. Ocorre,em primeiro lugar,
evitar o risco de um uso instrumental da cidade informal para fornecer aos proje-
tos um tempero de sustentabilidade social, alimentada também por uma “hiper-
valorização da forma”, atribuindo a esta um papel dominante e, em alguns casos,
absoluto. Em segundo lugar, evitar o risco da “espetacularização da pobreza”,
fazendo do assentamento informal um local de “safári” turístico. Mais do que
qualquer outro risco, todavia, necessário evitar o maior: a idéia de inevitabilida-
de da desigualdade e, com essa, a diluição do projeto como uma simples prática
estética. O controle da forma do espaço coletivo, ainda que não resolvendo os
problemas decorrentes de uma condição precária do assentamento, represen-
ta indubitavelmente uma contribuição para fazer da favela senão um bom local
para se viver, ao menos, mais simplesmente, um lugar para se viver.

Notas

1. São desse período diversas ações projetuais orientadas ao controle da forma urbana como,
nos EUA, o bairro Randolph em Richmond, o Master Plan para Battery Park City (1979), os
“design guidelines” para a “South Residential Area” (Rector PLace, 1981) ou a definição
de um novo modo de codificar a forma urbana (new urbanism) na intervenção de Seaside;
também, no Reino Unido, o Master Plan para Canary Wharf. Ver, a esse propósito, A.P.Latini
Falsariga per uma classificazione delle regole della forma nella nuova tradizione anglo-ameri-
cana, in V.Fabietti, Forma urbana e valutazione ambientale, Sala Ed. Pescara 2013

2. Ibidem

3. P. Langdon, “A good place to live”, The Atlantic Monthly, Boston, 1988

4. O New Urbanism nasce oficialmente em um congresso em Davis em 1991 e é desse perí-


odo a criação do Congress for New Urbanism http//:www.cnu.org/who we are. O escopo
dessa associação é promover o desenvolvimento de bairros percorríveis a pé e de possibilitar
o desenvolvimento de comunidades sustentáveis e “healthier living conditions”. Nasce em
2004 o Form Based Code Institut, que representa a evolução natural do New Urbanism e dos
smart codes cuja primeira versão vem à luz em 2003. Cfr A. Latini, op cit

5. O exemplo de Seaside, realizado por Robert Davis em 1979 com masterplan de Andres
Duany e Elizabeth Plater-Ziberk, é paradigmático também no uso cinematográfico que foi
oferecido em “The Truman show” fazendo dele uma espécie de Shangri-lá moderna.

6. cfr. V. Fabietti Valutazione dell’ambiente urbano, in V. Fabietti, Forma urbana e valutazione


ambientale, op cit.

7. Realizou-se recentemente em Roma junto à Facolta di Architettura di Roma Tre um inte-


ressante congresso sobre a figura de Colin Rowe e sobre seu papel na renovação da projeta-
ção urbana, com o título “Urban Design and the legacy of Colin Rowe”. Ver htpp://colinrowe-
conference.wordpress.com

8. Aos termos civitas (cidadania) e urbs (cidade) se acrescenta um terceiro, polis, frequente-
mente utilizado como sinônimo de cidade. O termo polis, todavia, referia-se originalmente à
cidade como lugar de participação mais que lugar físico, e refere-se, para o que aqui interessa,
às políticas urbanas.

9. cfr nota 8

10. Aplica-se para toda a experiência conduzida por Dan Porolek para Cincinnati

126
Projetos realizados pelos
alunos do curso Habitação e
Cidade (edição 2013)
no período de atelier do
módulo 1
Projects made by the students of the
course Housing and the City (edition
2013) in the atelier period of module 1

Foi adotada como objeto de observação e estudos uma área urbana no que se
poderia chamar de borda do Centro expandido paulistano, vizinha (e com fu-
turas reverberações) da Operação Urbana Água Branca, com algumas ZEIS
demarcadas, junto à ferrovia num trecho que aguarda projeto para articulação
de suas margens segregadas – área, portanto, que representa desafios e oportu-
nidade para pensar a condição e possibilidades urbanas da cidade de São Paulo.

Com condições diversas entre si, contando com temas como pré-existências,
otimização de investimentos públicos, regulamentações (ainda que se tenha
permitido críticas a restrições existentes e ensaios de sua flexibilização), alguns
lotes na área em questão foram fornecidos para que os alunos indicassem possi-
bilidades de implantação de Habitação num sentido pleno, ou seja, com a garan-
tia de urbanidade e, portanto, de uma vida urbana que fosse estímulo a encon-
tros e ampliação da consciência.

129
grupo 1
Beatriz Polizelli / Clélio Leme / Carlos Antonio / Gilberto Brunhari

Conjunto residencial / barra funda – o entorno

Área 2 a qual foi designada para desenvolvermos nosso projeto, apresenta as-
pectos privilegiados quanto à localização, na região central de São Paulo. Dota-
da de toda infra- estrutura urbana publica. Servida das principais vias estruturais
da cidade, marginal tiete (1KM), Av. Pacaembu (1KM) Av. Rudge Rio Bran-
co(500M)), avenida marques de são Vicente(600m), Metro leste/oeste na al-
tura da estação Marechal Deodoro (800m), metro norte/sul estação luz (2km),
estação de trem Barra funda(1,5km) e Rede de energia elétrica de baixa e alta
tensão, abastecimento de água, rede de esgoto instalada, galeria de águas plu-
viais, ruas pavimentadas em toda região, áreas verdes, distribuída em 7 praças,
escolas e faculdades no entorno.

Por ser uma área que está em um dos pontos mais antigos da cidade de São Paulo
encontra-se em estado de deterioração. Antigos galpões industriais, casas resi-
dências, térreas e sobrados com sua estrutura comprometida e abandonada.
Esta situação tem despertado o interesse da especulação imobiliária em cons-
truções verticalizadas com finalidades residenciais e comerciais.
 
Nesse sentido, optamos por desenvolver um projeto verticalizado com núme-
ros diferenciados de pavimentos possibilitando melhor ventilação e iluminação
natural, evitando uma padronização das torres. Ao observarmos o bairro e per-
cebemos que ele necessita de infraestrutura particular, tais como: padaria, mer-
cados, farmácias e comércio em geral, resolvemos então criar um projeto de uso
misto, comercial no térreo e residencial nos demais pavimentos.

As áreas de lazer: churrasqueira , playground e academia foram projetadas


no térreo, internamente possibilitando privacidade e segurança aos seus usu-
ários.

O 9º pavimento destinado ao uso comum caracterizado como um espaço al-


ternativo será usado para festas, estudos e jogos eletrônicos pois possui um
amplo espaço de lazer coberto e uma ampla varanda descoberta.

130
barra funda - entorno

tipologia 1 53,43 m2 tipologia 2 - 51,72 m2

implantação

131
pavimento tipo

9º pavimento

132
elevação

elevação

133
grupo 2
Lyzandra Machado / Juliana Drahomiro / Denise Dalla

Conjunto Vila do Bosque

Bairro Barra Funda


• Ferrovia antiga;
• Industrialização (séc. 19 e 20);
• Reduto de imigrantes e trabalhadores;
• Galpões de fábricas;
• Tentativa de transformar em região comercial há 18 anos;

Situação atual
• Vocação residencial e negócios;
• Rede de transportes (metrô e trem);
• Shopping, Sesc, Parque da Água Branca, Praça descuidada, estádio;
• Galpões subaproveitados;
• Baixa circulação de pessoas;
• Déficit de áreas verdes e comércio de rua;
• Alagamentos;
• Dificuldade em atrair moradores apesar de ser próxima ao centro

Operação Urbana Água Branca


• 540 hectares;
• Obras em drenagem e áreas verdes;
• Melhoramento viário;
• Incentivo ao padrão residencial médio;
• Melhoria das condições de mobilidade;
• Recuperação da paisagem;
• Facilitar acesso às estações de metrô e ferrovia;
• Transposição da via férrea;

134
Terreno área 3.866,5 m²

quatro lâminas l/o distribuição dos conjuntos

circulação arranjo

135
espaços livres

área verde

Planta baixa térrea

136
tipologia 1 tipologia 2

curva ascendente “morro”

perspectiva 1 perspectiva 2

137
grupo 3
Camila Romano / Sandro de Mauro / Lara Ferreira / Joan Font

Barra Funda

• Preservação dos galpões existentes


• Diversidade de tipologias
• Implantação linear
• Uso misto
• + Moradia
• + Comercial
• + Co-working
• + Ateliê profissional liberal
• Áreas comuns + pátio semi-público

ÁREA

138
CONCEITO

TIPOLOGIAS

139
térreo pavimento 1

pavimento 3 pavimento 12

140
1. vista da rua do bosque
2. vista do pátio interno
3. vista da galeria

perspectiva

141
grupo 4
Douglas Nascimento / Joana Penso / Mariana Ribeiro / Patrícia Fraga

perspectivas e corte esquemático

implantação térreo
01. praça de acesso 01. praça de acesso
07. terraço jardim com acesso excluisivo para moradores 02. acesso edifício residencial
08. terraço de serviços 05. rampa de acesso à biblioteca e a galeria de comércio e
09. paineis solares serviço

142
1º pavimento 2º pavimento

planta unidade

planta tipo

pavimento tipo

143
solstício de inverno_22/06_ 10h00 solstício de inverno_22/06_ 12h00 solstício de inverno_22/06_ 15h00

solstício de verão_22/12_ 10h00 solstício de verão_22/12_ 12h00 solstício de verão_22/12_ 15h00

modelo eletrônico

144
modelo eletrônico

145
grupo 5
Fabiana Kalaigian / Isabela Gardes / Daniela Facchin

Localização

146
esquemas de implantação

inserção no lote

térreo 1º pavimento 2º pavimento

147
tipologias:
1, 2 ou 3 dormitórios e duplex

pavimentos tipo
edifício a

pavimentos tipo
edifício a

pavimentos tipo
edifício b

148
perspectiva

perspectiva

149
grupo 6
Martin Benavidez / German Biglia / Artur Mei / Fernanda Sakano

150
151
área térreo

1º pavimento

2º pavimento

4º pavimento

152
fachada oeste fachada sul

tipologia: tipologia:
3 dormitórios 2 dormitórios

perspectivas

153
grupo 7
Caio Marçon/ Dhiego Torrano / Roberto Alves

implantação

térreo

pavimento térreo + 0,90m

planta auditório nível 4.68

corte esquemático

154
1 dormitório 34,43 m2 2 dormitórios 48,77 m2

lâminas tipo

térreo pavimento tipo - escritório

corte esquemático

esquemas

155
corte longitudinal AA

corte transversal BB corte transversal CC

156
perspectiva 1

perspectiva 2

perspectiva 3

157
grupo 8
Sylvia Facciolla / André Ribeiro / Cinzia Schiavon

modelo

implantação

158
térreo

1º andar

andares superiores

159
vista

modelo eletrônico

160
modelo eletrônico

modelo eletrônico

161
162
163
164
PARTE 3
Projetos para áreas
urbanas precárias
Projects for precarious areas

165
Projetos realizados pelos
alunos do curso Habitação
e Cidade (edição 2013)
nos períodos de atelier dos
módulos 2, 3 e 4
Projects made by the students of the
course Housing and the City (edition
2013) in the atelier period of modules 2,
3 and 4

Projetos para áreas urbanas precárias

Já há algumas décadas percebe-se que áreas precárias da cidade precisam de


projetos que considerem pré-existências – onde, portanto, relações sociais e es-
paciais conquistadas devem ser observadas com atenção e cuidado. Sabemos,
assim, que hoje a construção do Habitat humano não significa apenas a produ-
ção de novas partes da cidade, conjuntos habitacionais que seguem necessários
desde que não mais tratados como acampamentos destituídos das benesses da
vida urbana – também, e talvez sobretudo, os projetos para as áreas precárias
são o nosso gargalo na distribuição igualitária de acesso pleno à cidade e de re-
cursos para parcela significativa da população das aglomerações humanas.

Os projetos aqui apresentados vão nessa direção.

Em Córdoba, Argentina, cidade que associamos a pesquisas havidas desde a


década de 1960 sobre tecnologias construtivas facilitadoras da produção habi-
tacional por ajuda mútua1, tem visto crescerem áreas ocupadas sem infraestru-
tura apropriada, cujas famílias têm sido convocadas a viver em conjuntos habita-
cionais distantes e desprovidos de dinâmica urbana, algo diante do qual resistem
e que podemos perceber como mensagem de que querem viver na cidade e não
num arrabalde fora de onde as possibilidades de fato estão.

1 O Centro Experimental de la Vivienda Economica (CEVE), ligado à antiga Universi-


dade Católica de Córdoba, Argentina, inicia suas pesquisas em 1967

167
Os projetos aqui apresentados investigam como se pode lidar com as áreas
chamadas La Maternidad, que segue ocupada ainda que cenário de contínuas
remoções, e Los Artesanos que de certa maneira funda a possibilidade de se
viver numa situação a princípio inapropriada. Com esta área – Los Artesanos –
inevitável a reflexão sobre a adequação da permanência de uma ocupação não
planejada ainda que, por outro lado, seja perceptível ali a fundação improvável
de uma possibilidade de Lugar.

Nos projetos para São Paulo, respostas ao que se viu nas comunidades junto
ao córrego do Freitas, no Perímetro de Ação Integrada chamado Morro do S4,
lidam-se com uma parte da metrópole paulistana que tem sido associada à Cul-
tura dita periférica – Capão Redondo, Jardim Ângela, bairros vizinhos, têm mos-
trado à cidade através desde rappers a escritores2, uma vida com tempero pró-
prio, que compõe drama, solidariedade e vontade de se colocar no tabuleiro da
condição contemporânea.

Segue chocante na maior e mais rica metrópole brasileira a existência de pre-


cariedades extremas em áreas como aquelas onde as comunidades estudadas
estão instaladas ainda que, com uma necessária flexibilização de determinações
e com pesquisas de meios e instrumentos mais condizentes para nelas se inter-
vir, algo do encantamento dos seus recantos criados de maneira espontânea se
possa valorizar e preservar – e, para isso, a presença intensiva e ininterrupta do
Poder Público é ponto pacífico.

Os projetos aqui apresentados mostram ensaios de caminhos possíveis para a


articulação plena de duas formas urbanas que seguem de costas uma para a ou-
tra, cindidas ainda que complementares e interdependentes.

2 Mano Brown e Ferrez são exemplos de vozes dessa parte da cidade

168
módulo 2
La Maternidad
e Los Artesanos
Córdoba, Argentina

169
La Maternidad
grupo 1
André Ribeiro/ Caio Marçon/ Dhiego Torrano / Roberto Alves

situação

170
implantação

171
implantação

lâmina tipo lâmina tipo + pátios

3 dormitório 69m2 2 dormitório 55m2 1 dormitório 40m2

172
perspectiva 1 perspectiva 2

perspectiva 3

perspectiva 4

173
Los Artesanos
grupo 2
Camila Romano / Sandro de Mauro / Lara Ferreira / Joan Font

localização

regularização

174
tipologia
-estrutura metálica
-modular
-componentes pré fabricados
-preenchimento alvenaria
-autoconstrução
-customização
-incremental
-2 e 3 pavimentos
-uso misto

175
tipologias

176
intervenção

corte rua principal

corte rua tipo

177
Los Artesanos
grupo 3
Douglas Nascimento / Mariana Ribeiro / Patrícia Fraga

localização geral villa los artseaños

178
implantação

pavimento tipo

apartamento tipo

térreo

179
esquemas

perspectiva 1

180
perspectiva 2

perspectiva 3

perspectiva 4

181
La Marternidad
grupo 4
Beatriz Polizeli / Clélio Leme / Fabiana Kalaigiana / Fernanda Sakano / Juliana
Drahomiro / Lyzandra Machado

esquema proposto: flxo e usos

implantação

182
implantação térreo
eixos transversair e longitudinais

implantação cobertura
eixos transversair e longitudinais

183
corte AA’

corte bb’

corte cc’

corte dd’

184
perspectiva 1

perspectiva 2

perspectiva 3

perspectiva 4

185
Los Artesanos
grupo 5
Martin Benavidez / German Biglia / Artur Mei / Isabela Gardes

esquemas: construir o vazio

186
esquemas: construir o vazio

planta

corte corte

187
localização

implantação

188
perspectiva 1

perspectiva 2

189
Los Artesanos
grupo 6
Sylvia Facciolla / Cinzia Schiavon / Daniela Facchin / Carlos Antonio
/ Joana Penso

190
objeto de intervenção

estudo de novas conexões da cidade


formal com los artesanos

191
detalhamento área 01

detalhamento área 05

192
detalhamento área 06 detalhamento área 06
requalificação e realocação projeção

detalhamento área 06
projeção visão modular

detalhamento área 06
detalhe unidade habitacional

detalhamento área 06
estudo volumétrico

193
módulo 3
Morro do S4
São Paulo, Brasil
Planos Urbanísticos
Urbanistic plans

195
grupo 1
Camila Romano / Sandro de Mauro / Lara Ferreira / Joan Font

localização

diagnóstico

196
diagnóstico

diagnóstico

197
mobilidade

habitação

198
corte do eixo transversal

estratégia de intervenção urbana estratégia de intervenção urbana


programa para o córrego programa para eixos transversais

199
grupo 2
Sylvia Facciolla / Cinzia Schiavon / Daniela Facchin / Carlos Antonio /
Ágatha Morare/ Joana Penso

mobilidade_ciclovias

caminhos verdes_arborização

200
201
tratamento do córrego

202
esquemas

203
grupo 3
Caio Marçon/ Dhiego Torrano/ André Ribeiro/ José Ricardo Paoliello Jr./
Beatriz Polizelli / Clélio Leme / Lívia Silva

localização
estratégia

análise

204
diagnóstico

diagnóstico

205
intervenção

percursos e conexões de pedestres

206
propósta

207
grupo 4
Lyzandra Machado/ Fabiana Kalaigian / Artur Mei / Juliana Drahomiro /
Silvio Reichi /

situação existente:
levantamento favelas existente

situação existente:
levantamento áreas verdes

208
proposta
implantação do trecho ampliado

209
corte aa existente

corte aa proposto

corte bb existente

corte bb proposto

proposta
área de provisão

210
corte bb córrego

corte bb alagamento a

corte bb alagamento b

corte ff existente

corte ff proposto

corte gg existente

corte gg proposto

corte hh existente

corte hh proposto

211
grupo 5
Douglas Nascimento / Fernanda Sakano / Isabela Gardes / Mariana Ribeiro
/ Patrícia Fraga

proposta

212
proposta- remoções

213
cortes

proposta - jardim campo de fora


/ santo antônio

214
planta de bacias

seção transversal

vista parede do canal

215
grupo 6
German Biglia / Nathalie Artaxo/ Martin Benavidez

216
217
218
219
módulo 4
Morro do S4 - São Paulo, Brasil
Desenvolvimento de
anteprojeto específico no
âmbito do Plano Urbanístico
desenvolvido no módulo 3
Development of specific preliminary
draft in the sphere of the Urbanistic
Plan developed in module 3

221
grupo 1
Camila Romano / Sandro de Mauro / Lara Ferreira / Joan Font

maNcha de remoção

222
construção pré-fabricada modular componentes pré-fabricados a serem usados nos módulos

tipologias propostas

223
provisão de 235 unidades > 50% das unidades removidas

224
corte da via transversal

fachada das unidades que faceiam o córrego

225
grupo 4
Lyzandra Machado/ Fabiana Kalaigian / Artur Mei / Juliana Drahomiro /
Silvio Reichi /

implantação

226
corte aa trecho ampliado

corte bb trecho ampliado

corte esquemático barragem tipo a

vista a montante da barragem tipo a

corte esquemático barragem tipo b

vista a montante da barragem tipo b

227
perspectivas

modelo - construção

228
modelo - construção

construção

229
grupo 5
Douglas Nascimento / Fernanda Sakano / Isabela Gardes / Mariana Ribeiro
/ Patrícia Fraga

localização

230
planta 1 pavimento

planta 2 pavimento

231
planta 3 pavimento

planta 4, 5, 6 e 7 pavimento

232
perspectiva 1

perspectiva 2

perspectiva 3

perspectiva 4

233
grupo 6
German Biglia / Nathalie Artaxo/ Martin Benavidez

SITUAÇão

234
235
esquemas

236
perspectiva 1 perspectiva 2

perspectiva 3 perspectiva 4

perspectiva 5 perspectiva 6

237
239
Preface by the organizers in forms of rapid transformation, are attempted.
Also there we have a reflection about the form of
This fifth volume of the annual publication the city and, fundamentally, about the design that
Housing and the City, which is one result of the articulates private spaces with public ones – ulti-
lato sensu graduate course with the same name, of- mately, the basic theme of the tender Urban Es-
fered by the Escola da Cidade, School of Architec- says, which brought results pointing towards the
ture and Urbanism in the city of São Paulo, is orga- equation in the sense of guaranteeing life public
nized in three parts that complement one another. spaces and, then, safe and seducing.
In the first part, there is a series of articles The already announced third and last part of
about Housing Policies, some in a panoramic way the publication brings projects made by the stu-
and others focusing on a period, program, or result- dents of the course in 2013 for precarious areas
ing urban space. of Cordoba, in Argentina, and of São Paulo – in the
We understand that the continuous and care- case of São Paulo, it was dedicated to some com-
ful observation of the actions carried out about munities in the Perimeter for Integrated Action
Housing in the country is fundamental, since the (PAI), called S4 Hill, in the South zone of the city,
contexts allow for a more precise understanding where two areas of Cordoba were the theme of
of the past relationships and circumstances that studies: one of them very close to the traditions
have a lot to teach us, something said with great downtown area, a stronghold of resistance of the
property by architect Ana Paula Koury in her text housing movements (La Maternidad) and another
presented here. one represents the recent turn towards urban pre-
In this sense, Brazilian experiences are ob- cariousness experienced in Argentina, occupation
served by architect Eulalia Negrelos, by economist between ways of mobility in a regional scale, with
Ana Cláudia Rossbach, by architects Paulo Bruna, consequent problems of access and other, such as
Nilce Aravecchia and the already mentioned Ana flooding due to the blocking of drainage by earth-
Paula Koury, making us have a more precise and works for large size infrastructure, besides health
knowledgeable eye and that we understand the problems and problems of stability of the con-
city that results from the actions that were per- structions made there (Los Artesanos).
formed. Architect Gustavo Rebord clarifies to us We believe that this new volume of the series
the Argentine experience regarding Housing Poli- Civilização América will contribute for the dis-
cies in that country, something that allows a com- cussion about the question of Housing among us,
parative visualization in what refers to the Brazil- which we want it to be generous and that make us
ian case and brings us closes and allows us to join advance towards an egalitarian condition and that
efforts towards achieving a full and sustainable promote growing awareness of our possibilities.
Habitat in our American cities and in the World. Before the three parts of this publication, we
The second part of the publication brings have a text written from classes given in the course
some discussions about the urban design and, in 2013, which seeks what would have been the
thus, the design of our urban Habitat, which we rationale of that edition, composing some sort of
desire that should facilitate, and even stimulate, a balance that has become constant and that, giv-
a pleasant life, in harmony with the natural cycles en the possibility of helping future reflections, we
and achieved through an orchestration of the dare to share with readers interested in the discus-
agents involved in its production. The form of this sion that we had.
habitat and how to make it viable is the theme of in-
vestigation of the tender Urban Essays, organized
the by Municipal Department of Urban Develop-
ment (SMDU) of the Municipality of São Paulo
– some awarded projects that have professors
from the Escola da Cidade in their teams are re-
produced here, preceded by a text from architect
Daniel Montandon, responsible for the tender and
also professor of the Escola da Cidade, in which he
presents and comments the initiative and his new
modeling of the tender, which had the participa-
tion of the São Paulo IAB.
Architect Valter Fabietti, frequent collabora-
tor of the course Housing and the City, comments,
in the sequence, the search of the good urban form
that serves as background for actions such as the
tender Urban Essays and for projects in precari-
ous districts, central issue among us and the them
for the third part of this publication. Before this
final part, some projects made in the first module
of the course, in its 2013 edition, are presented,
and in those forms of inserting Housing together
with other uses in an existing urban context, but

240
Housing and the City – some considerations of the desire for greater density in the sense of opti-
Luis Octavio de Faria e Silva mizing the perceptible infrastructure in the propos-
al of na apartment building, rows of semi-detached
The course “Housing and the City” gives class- houses that seem to guarantee a certain sense of
es and makes propositional investigations that, in community and single-family houses associated to
each edition, make people think about the matters the idea of the garden city.
that form its title. This text seeks the reasoning pro- The new districts of the city of Frankfurt under
moted in 2013 – it is, then, an effort to find the core the command of Ernst May1 take ahead proposals
of what it was about. It is hope that it may contrib- of this new way of living – projected with scientific
ute, together with the article that follow it in this criteria, but favoring a relatively low density, some-
publication, clarifying the possible ways to progress how echoing the Howard`s view of the garden city,
in achieving conditions of dignified and full housing where the urban design produces segregated spac-
to all our fellow inhabitants. es, separated so as to guarantee familiarity to the
inhabitants and a certain fear for visitors and intrud-
The space to live – the dwelling or housing – ers. In Germany those districts, called siedlungen,
reflects the dynamics of actions, movements, and are not so explicit in the segmentation of the space,
principles of those who inhabit them. Thus, social but are distant from the perspective of the super-
and technological transformations cause differ- blocks of free access defended as assumptions by
ences in the way of living and, consequently, in the architects followers of the CIAM of the years be-
dwelling space. tween the wars, who advocated the open city, with
The dwelling, or housing, is not restricted to quality housing produced in large scale by the State.
the shelter against the weather since living presup- Sometimes somewhat agricultural suburbs
poses a broader scale, with connections and aggre- like the siedlungen, which had reflexes in the pro-
gating spaces of common property, collective and duction of the IAPs in Brazil, sometimes garden
public ones, which allow fully inhabiting. districts with profusion of dead-end streets and
The contemporary housing, due to the fact single-family residences, sometimes monumental
that most people in the planet have today a way of complexes such as the hoffes from Vienna, which
life resulting from inhabiting metropolitan areas, is represented and celebrated the collective life,
influenced by the coexistence of several means of sometimes the superblock which dissipated the
communication and means to obtain information, cutting of the soil by markings, indicating to a col-
pieces of equipment that make activities faster, be- lective property of the urban soil, a model widely
sides reflecting new forms of domestic groups. advocated in Brazil where the modern movement in
Typologies of the distribution of the spaces and the architecture, on the other hand, did not have the
of the furniture tend to be more flexible and multi- cohesion affirmed by some historians, such models
functional in the contemporary housing. The ques- alternated and mixed in the design of the city, which
tion of storage, for example, appears in a different is formed by movements and pauses, initially con-
way than it was in the past. gested by the industrial production and then by the
The design of the housing space in all its scales urban expansion.
– which includes the design of the district and of the The social housing, previously housing for blue
city – is the theme of intensive investigation, espe- collar workers, popular or economic housing, a
cially since the beginning of the 20th century, even if programmatic item in the struggle of the workers,
ordered actions to produce it from preset principles especially since the 20th century, as first treated ex-
can be identified since the ancient times, which al- clusively (and frequently in a prejudiced way) as a
ready indicated conviction and accumulated expe- matter o health, becomes gradually a priority in the
riences. The selection of materials and techniques construction of the city, where the design of new
aiming to produce the housing is, indeed, something complexes that are increasingly comprised as part
that gets mixed with the appearance of humanity. of it take hold of those models of urban design, re-
In view of the contemporary condition, count- sulting in since a Westhausen Siedlung in Frankfurt
ing with the whole set of accumulated experiences, up to a Kiefhoek in Rotterdam (projected by archi-
which design should be defended to the housing, to tect Oud2), paradigmatic complexes in the study of
the city? In a condition as the Brazilian one, how to the housing production by the Public Power.
get prepared for the ongoing urbanization and to Since then there is the issue of obtaining land
the one that seems to be coming? for the production of social housing – the lack of ac-
Diversity and participative project seem to cess to the urban soil by the poor associated to the
be current nonnegotiable prerogatives – we are search for areas where to produce housing moved
diverse and it is necessary to ask what the people the Housing Policies that assumed, then, the institu-
want. In this sense, how to deal with the legacy we tion of land banks, something practiced in Frankfurt
have in the resulting realizations and discussions as under May and by the COHABs in Brazil in the last
for the form of the city, districts, and of the housing? decades. In the German city a significant percent-
Weissenhof, modern housing district from the age of land in urban soil is acquired, whereas in the
beginning of the 20th century, related to the inves- Brazilian case quite frequently cheap land far from
tigations of the Deutsche Werkbund, was a system- the infrastructure networks is acquired.
atization of housing possibilities confronted to the The housing design and the city design are,
way of living then. There we have the juxtaposition ultimately, only one, as they are united if seen from

241
their specificities. The city, as recalls architect Jaime Slums multiplied in Brazil in the 1970’s.The
Leirner3, is a skeleton of life, movement and work, 1980’s and 1990’s saw the spread of neoliberal poli-
and needs action from a compassionate and stra- cies with the privatization of the public services and
tegic view, understanding planning as a process and state-promoted Housing seemed to disappear from
having a commitment with simplicity and imperfec- the debate. The absence of Housing Policies of a
tion. broad scale and precarious urbanization were add-
In this sense, when we look at the Latin-Amer- ed and the Housing problem is increasingly more
ican cities, we realize simultaneousness and paral- associated to the action in the slums that house a
lelisms that may clarify us on the path to follow. In significant contingent of inhabitants of the Brazilian
Latin America at the turning of the twentieth cen- city, as well as of cities of the other Latin-American
tury, countries that exported agricultural products countries.
see appear plans of industrialization that are imple- Projects for the slums are carried out in São
mented in the dissolving patriarchal societies. Re- Paulo in the 1980’s and 1990’s, aiming to a partial
flexes of the later 1929 crisis, dozens of revolutions and gradual urbanization, and it has to be noticed
have transformed the region, which also receives a that up until then action aimed only at eradicating.
new flow of immigration from Europe that had be- Since the 2000’s the objective for the precarious
come frail because of the World Wars. districts is their full urbanization and integration
In the 1930’s and 1940’s, when the North of with the close surrounding and with the city as a
Latin America had greater links with the US and the whole. Rio de Janeiro saw pioneer actions aimed to
South had greater links with Europe, ideas about integrate the slums into the city. We register more
American and European cities are applied in the progress there in such effort, in view of the fact
reflections and plans about Latin American cities. that sometimes there seems to be an opposition
In the so-called reformism of those decades there between the city and the slum. In the dispute for
is the birth of the idea of the Latin America city as the territory, the slum and the city persist, and are
something backward and in which large housing even seen by many as district rationales. Recently,
complexes are installed as propaganda of a sup- however, in addition to Rio de Janeiro and São Paulo,
posed progress and celebration of a systematiza- inclusive planning has been practiced as integrated
tion of modernist principles in architecture. plans with insertion of Housing also in Curitiba and
Due to the ambiguity in the defended idea of Belo Horizonte.
progress and of the perceived losses in the passage In Brazil, with torn cities, where disconnect-
for the modern condition, movements of reaction ed transforming actions follow themselves, fre-
against the dissolving effects of Modernity will ap- quently linked to the financing system, the slums
pear in the region, mainly from the 1960’s, in which continue being stigmatized as invasive. There is an
self-construction will be defended as less conflic- urban-environmental conflict in the Brazilian city
tive than the large complexes in the transformation which is made explicit in the slums and continues
of the Latin American cities. pretty much due to the lack of clarity in the legisla-
There is a remarkable difference in the rhythm tion, making one think in the necessary adjustment
of transformation in the counties: in Mexico, Argen- between social development and preservation
tina, Brazil and Venezuela there is stronger invest- of the quality of the environment. It is impossible
ment in such large housing complexes, whereas in treating the megacities we face, where new precar-
Colombia, at first, Policies that favor mutual actions ious districts appear, without thinking about them
and self-construction appear. Outside those ac- by fragments, even if from a general reasoning. In
tions, however, those who make the Latin-Ameri- this sense, transforming actions for the precarious
can city are, indeed, the poor, on their own private districts must seek new situations, without giving
initiative. up the dreams, but paying attention to where their
In the 1960’s from one side we have the de- centers of community life are to value them, estab-
fense of the return of the notion of community and, lishing open spaces, reinforcing existing or unusual
from the other, the so-called developmentalism, in accesses, introducing vegetation in all levels to
which, for example, in Brazil Housing is thought as make possible for a dignified life. In the propositions
an industry focused on its production, something for those districts and for the city in general there is
that is perceived when we see what is financed by the possibility of new paradigms regarding the ex-
the BNH (Housing National Bank), a result of the periences, for example, Weissenhof’s or PREVI’s. It
distension that happened in the Brazilian military is possible to think about the production of public
coup of 1964. spaces that permit ludical appropriation, with spe-
In this same decade, in Lima, where studies cially developed signaling, creative and updated
about the barriadas have been made for a while, strategies to deal with the solid waste, among other
the important project PREVI4 appears, seeking new renovating actions.
principles for the design of the housing, focused on In the contemporary world we see different
the recovery of the notion of community as some- ways of working as for the precarious districts. In
thing lost in the transition of the traditional condi- some countries such as Peru and Bolivia there is
tion to the modern culture, which made more evi- a trend of solely regularizing them – and in Brazil
dent a cultural clash in the barriadas from Lima or in there are also instruments in this sense, still with a
the slums of Rio de Janeiro and, even if more subtle, horizon that is the regularization walking side by
also visible in the villas miseria from Buenos Aires. side with the reallocation and the construction of

242
new units. The reallocation as a priority has been a ditions. In this sense, lack of ownership safety, inad-
common practice in China, and in a lesser scale in equate access to safe water, sanitation, and other
Angola, which follows in in the Chinese steps, but infrastructure networks, low structural quality of
also in India – there is also a strong guidance from the edifications, congestion as for the family density
the Brazilian Minister of the Cities to privilege this should be watched. To face those indicators, theme
practice to deal with precarious districts. Financing of the Policies, will it be possible to have a Housing
policies of own home acquisition produced through Plan in the scale of the country or will it be that Hous-
real estate market are strong trends in Chile, Mexi- ing Plans should be thought in the scale of the cities
co, South African, and Brazil, with the PMCMV. The or of the States?
desired, yet difficult, Integrated Planning advocated After decades without a Housing Program of
by the City Statute, which was copied by India, is broader scale, the PMCMV6 started in Brazil, which
still an exception. There are also bottom-up models, would run over the search for a National Housing
with programs based on joint work, in The Philip- Plan. The understanding of that plan that is in effect
pines and in Thailand. Thus, we see that on one hand today and of the necessary adjustment so that Hous-
the choice of large complexes and on the other hand ing is produced in its full sense is our current task in
self-help are still the paths that persist. The PMCMV Brazil so that we are not soon faced with a passive
Entidades (My House, My Life Program – Entities), in the form of housing complexes and unsustainable
for example, is born from the movements from the cities, a real case of causing more harm than good.
period of Mayor Luiza Erundina’s administration in
São Paulo, which at first adopted self-construction (Endnotes)
as current practice. The Uruguayan model that sup- 1 Ernst May (1886-1970), German architect, held a
ported the cooperatives continues with assump- public position in Frankfurt am Main between 1925
tions based on those practices of joint work, some- and 1930, when he made the regulating plan of the city
thing that was abandoned in Brazil, even if the idea and several projects for residential districts such as
of self-management and community organization Westhausen, Romerstadt, Praunheim and Hobenblick.
remains as something as important as the project. 2 Jacobus Johannes Pieter Oud (1890-1963), Dutch
Despite the unquestionable achievements of architect who became known for the modernist expe-
the PMCMV as for the installation of new units with rimentation in the collective and social housing project
infrastructure networks and even in a certain way – he participated of the Weissenhof and developed the
the distribution of favors it represents, we have not project of Kiefhoek Housing Development in Rotter-
had as its effect a broader urban inclusion and what dam (1928-1930)
we often see is the repetition of old models of expan- 3 Ideas presented by architect Jaime Leirner in a class
sion of the cities in distant little adequate areas, with given in the course Housing and the City of the Escola
projects that do not really create a urban dynamic, da Cidade on June 4, 2013. Available at: http://escola-
pretty much due to the emphasis in the action of the dacidade.org/bau/jaime-lerner-interface-tecnica-po-
building constructors/developers and not of the en- litica-no-planejamento-das-cidades/
tities, or even resulting from the inexistence of oth- 4 PREVI “Proyecto Experimental de Vivienda”, AD
er lines in the same financing program. Somehow, Architectural Design 4 (1970), experimental housing
Chile promoted new complexes without the neces- project carried out in Lima between 1966 and 1968.
sary urban quality this way, having ended up with its There was a tender from which several prominent ar-
precarious districts, it can be said. The recent social chitects participated, among which some linked to the
housing in Argentina has been treated as part of a so-called Team X, which defended a large revision of
state machine of assistencialism, without criticism paradigms in view of the urbanism resulting from the
or debate about the resulting city, and the results Letter of Athens.
have also shown little urban quality5. 5 Information presented by architect Gustavo Rebord
Is it not possible to have the prevalence of in classes given in the course Housing and the City at
another urbanistic view, with aggregating spaces the Escola da Cidade. Available at: http://escoladaci-
– agoras – centers of activities of greater density, dade.org/bau/gustavo-rebord-politica-habitacional-
with minimized infrastructure networks, with the -america-latina/
use of rain waters, reuse, solar energy, reduction of 6 To understand the PMCMV Program see: law 11977
impermeable surfaces, connected areas of vegeta- – 2009, law 12424 – 2011, decree 7499 – 2011, besi-
tion, streets conceived as urban inducers, pacified des the ordinances 168 – 2013 and 518 – 2013. In this
as cities need access to people and not to vehicles, financing program there is a line that contemplates
with simple, clear, not pollutant public transpor- entities and another one that is guided for the produc-
tation? What can we learn from the recent design tion of units by the real estate market. Rules such as
experiences of updated urban design as those we maximum are of the unit, necessary full accessibility,
see in Amsterdam – Almere, Java Islands, Borneo maximum costs to be practiced, dimensioning of the
and KMSM, an investigation of great diversity of condominiums, questions referring to collective spa-
typologies of Silodam projected by the MVRDV or ces, pieces of equipment and something of infrastruc-
the contemporary projects in China such as Jiading ture are found in the aforementioned material.
New Town?
The Public Housing Policies in Brazil should be
based on social indicators and according to desired
situations for the improvement of the housing con-

243
“Housing and the City”, 5th volume, mentally through Retirement and Pension Institutes
Escola da Cidade, São Paulo (IAP) and the Popular House Foundation (FCP),
Recent Housing Policies in Brazil1 created only in 1946, with projects marked by the
Eulalia Portela Negrelos adoption of the principles of the Modern Movement.
The housing production was limited to the
This article results from a lecture whose content self-managed corporations of unionized workers
refers to a long process of work of personal research and strongly controlled by the State, which led to an
and is based on several own sources and sources “exclusion” of demand. With the beginning of the in-
from colleagues who, such as Nabil Bonduki, have tensification of the urbanization in Brazil there was
been researching about housing in Brazil. Several the growth of the “informal” city in peripheral lots
of the ideas developed here have the support of (whose sale in installments was facilitated), slums,
the bibliographic references indicated at the end. mocambos (small villages), alagados (settlements
To increment the transcription for the format of an in swamps), irregular and clandestine occupations.
article I took the liberty of developing some ideas of The housing policy through the IAP had the fol-
references that add to those already indicated in the lowing components:
lecture. Those articles I produced are the result of 1. Large quantity of funds – funds from the IAP
ongoing research at the IAU-USP, where I work as a collected from the workers’ salary as social security
professor and researcher. contribution.
I thank the Escola da Cidade for the opportunity 2. Forecast of a unifying entity of the IAP and
of offering these reflections for the academic debate. their funds: ISSB – Brazil’s Institute of Social Services,
representing a redistributive policy (anticipating the
Periodization of the Housing Policy in Brazil INPS of 1964).
The reflection about the recent housing policies 3. Universal social security.
in Brazil, due to the method of historical approach, 4. Assistance services (overcoming union cor-
requires the recovery of the progress of such policies, poratism).
which have not always been public as we will see in 5. Creation of a powerful housing agency – FCP
the sequence, and that, during the 20th century, have – representing the institutional nature of the policy.
bee linked to political systems and regimes, very dif- 6. Technical training – high quality of the proj-
ferent economic assumptions and, basically, to the ects.
specificities of the intense Brazilian urbanization. 7. Public recognition of the importance of the
It is fundamental to broaden the understand- problem (situation of housing crisis + social pressure
ing of the public intervention – by the State – on the that sped the production of the period between 1945
housing problem, mainly to the lower classes of the and 1954).
population, in the light of the intense urbanization, 8. Political will of the government.
mainly starting in the 1970’s, as indicated in the fol- The institutes were created per professional
lowing chart. category (between 1933-38 there were 6: maritime,
banking, commerce, industry, drivers, oil workers,
I – Production by the market (1889-1930) – Agri- dockers) – almost all from modern brands. All of
cultural-exporting economy – The State does not them were linked to the MTIC – Ministry of Labor, In-
intervene in the social problem dustry and Commerce, which managed and financed
With intense public actions linked to hygienism, the system, a capitalization one.
the State regulates the private housing production, The funds that were obtained could be invested
aiming at the sanitary control, despite the inexis- to guarantee an increase of the funds, which allowed
tence of the state production of housing, and the the prioritization of investments in strategic projects
prevalence of private exploration for rent. Rents are (National Steelworks Company, National Factory
regulated by the market, whether in workers’ villag- of Engines, and the construction of Brasília, among
es (closed workers’ villages) produced by industries other). Such action can be evaluated as perverse, for
and some mutual societies of workers or in tene- those were workers’ funds, never in default, financ-
ments (called cortiços in Brazil). ing sate and private projects, aimed at the economic
development.
II - Origins of social Housing (1930-1964) – Devel- Between 1937 and 1964 the institutes pro-
opmentism and intervention of the State to “pro- duced 142,127 housing units (BONDUKI, 1998, p.
tect the worker” 128), from which 124,025 housing units were pro-
From the work of Bonduki (1998) we under- duced between 1946 and 1964 (BONDUKI, 1998,
stand that with President Getúlio Vargas (1930- p. 115).
1945) we had the origin of the intervention of the The FCP was created in 1946 by President Euri-
State in the area of popular housing, directly inter- co Gaspar Dutra, from a project by former President
vening on the rent system of offer of popular housing Vargas, and it operated until 1964. In its bill we see:
which led to implementation of the Tenancy Law in management centralization (amended); permanent
1942, which froze rents. sources of funds; articulation between housing pro-
The state housing production happened funda- duction and urban development; creation of compul-
sory loan for 30 years, guaranteeing inexpensive and
1 Lecture given in the lato sensu gradu- continuous funding (amended). The non-centraliza-
ate course Housing and the City, Escola da Cidade, tion of the management, in a populist way, resulted
June 13, 2013.

244
in the creation of several state entities (BONDUKI, and monetary adjustment, freezing of salaries and
1998, p. 122). Its production was 143 complexes absence of subsides.
with 16,964 housing units. From 1964 to 1986 nearly 4.3 million new
The importance of that steady work through units were financed, from which 2.4 million with
the institutes influenced the formulation of the funds from the FGTS to the popular maker, and 1.9
guidelines of the housing policy, stimulated by the million with funds from the SBPE (Brazilian Savings
National Housing Bank (BNH), created in 1964, after and Loan System) to the middle class (BONDUKI,
the military coup. 2007). In the beginning of the 1980s the slums are
consolidated, and they are constantly becoming
III - SFH/BNH and the consolitdation of a housing denser, the tenement residences have expanded
policy (1964-1986) from the central area to peripheral lots and there are
In the military period there is an expansion of the less land possibilities for the scheme of peripheral lot
cities with the equation of public land, public funds, plus self-construction plus own house, as the periph-
mass housing and peripheral urbanization, through eral model of urban growth and the housing solution
the Housing Financing System (SFH), of the BNH, inherent to it consumed all its expansion possibilities,
and of the Housing Companies (COHAB). (NEGRE- in the scale it was being produced, specially in the city
LOS e FERRARI, 2013) of São Paulo (BONDUKI, 1992), but also in other
With the extinction of the FCP and of the IAP municipalities in the São Paulo Metropolitan Area
we have the beginning of a period marked by a tech- (RMSP).
nically-oriented conception to face the social prob-
lems of which housing was a special element. There is IV – Democratic transition – Critical contextual-
the creation of a strong institutional structure, based ism; Re-democratization and destructuring of the
on the financial component of the actions, which is national housing policy. Alternative experiencies
centralized in the BNH, which would manage both of projects and popular participation (1980-2000)
systems that worked in integration, the SFH and the The BNH/COHAB system is changed in 1986,
Sanitation Financing System (SFS), which worked in when the attributions of the Bank are transferred t
the urban development. Housing is the orientation of the CEF (National Savings Bank). At that moment,
the urban policy of the regime, spreading the concept housing movement and their technical advisors
of the own house to the detriment of renting or any consolidate their criticisms to the mass peripheral
other type of guarantee of access to housing, aiming housing complexes produced in the previous period,
to legitimize the new order with the population pre- intensifying the defense of theories criticizing the
cariously inhabited slums, tenements, and rented Modern Movement and prosing what is known as
houses. the “return to the city” (GORELIK, 1996). In the sit-
Funds for the system were obtained from the uation of rupture with the modern project and of ex-
Government Severance Indemnity Fund for Employ- perimentation of new types of housing production,
ees (FGTS), created in 1966 as a compulsory savings the idea of the “mutirão” (joint effort) is recovered
fund. The BNH had the attributions of guidance, dis- from the rural world, in a way to valorize community
cipline and control of the actions for the promotion life to reach greater identity with the housing space
of housing. To apply the instruments of direct oper- and with the community involved, to the contrary of
ation of the actions a network of operating agents what was criticized in the mass complexes.
and promoters was structure in 1967, the COHAB, The mobilization of the social movements was
of regional coverage, with production through public also intense in the National Movement of Urban
tenders of the whole package and project and woks. Reform (MNRU) in the 1980s, with the popular
The necessary rationality to the construction com- constitutional amendment that creates the Chapter
panies and the governmental demand to produce of Urban Policy, articles 182 and 183 of the Federal
the biggest number of housing units possible were Constitution of 1988, in a situation of low level of
articulate in the formation of “land banks”, mainly federal investments in housing and sanitation.
large plots, often still rural ones, in the peripheral The new complexes and integrated interven-
areas of the big cities, for the production of housing tions in slums or new areas, officially carried out with
megacomplexes (so-called “Cohabs”), built using the participation of community associations and
the “standard projects” in a system of earthworks with technical advisors since the 1980s until today,
plus minimum unit, adjusting the undertaking in the justify the construction of the relationship of the in-
system of biggest financial returns (Figures 8 and 9) habitant with the elaboration of his new space in an
(NEGRELOS, 2012). architectural and urbanistic production related with
several ideals, from the most traditional ones, such
The new housing policy, with a financial com- as the semi-detached house on the street, to the
ponent, had excluding results (despite its manifest block openly placed in the settlement, passing by the
intention of including as many workers as possible closed block formed by the building which is totally
in their own housing units in new districts with infra- turned towards itself.
structure and urban equipment) (Figures 10 and 11) The housing production of the City Adminis-
since it was centralized, with extremely unfavorable tration of São Paulo, between 1989 and 1992, de-
financial conditions for the borrowers, mainly after fended the right of the collective popular groups to
1973, when the country enters in the crisis of the architecture and a global treatment of their districts
“Brazilian miracle”, in a situation of growing inflation according to their material, political, and socio-cultur-

245
al needs, making possible the design of a wide range ket, developing the so-called Large Urban Projects
of urbanistic and architectural alternatives directly (GPU). Such projects are understood as devices
discussed with the users, from several reading from capable of articulating three major objectives in the
the modern project to the “new urbanism” (LAMAS, city and in the metropolitan area: 1. Reconfiguring
1993), exploring possibilities of new urban forms the metropolitan space as an area of investments
(NEGRELOS, 1998). linked to the metropolitan territorial transformation;
During this administration, the Popular Housing 2. Providing a new set of values to the central area
Superintendence (Popular-HABI) was valued, with of the city to overcome the problem of the area that
an innovative housing policy and increase of bud- was considered “abandoned” and “marginal”, thus
getary funds, having as guiding principles the right to incompatible with the reconfiguration of the me-
the architecture and to the city, developing programs tropolis as a place for the attraction of investments;
operated in co-administration of funds with commu- 3. Reconstituting the territory of the urban peripheral
nity association, stimulating the regularization of the zone, which still offers land for conversion, as well as
ownership of land. of activities considered “obsolete” that can be re-
placed by new uses and activities and whose housing
V – New federal policies in the 2000s – Ministry of area can still be remodeled, whether by renovation
the Cities – PAR – Program of Residential Renting or by the introduction of new housing interventions
and PMCMV – My House, My Life Program. together with productive companies. (NEGRELOS,
The work of the Federal Government in the area 2005).
of housing in the 1990s was very limited, mainly due In the productive restructuring that happens in
to the progress of the neoliberalism, expressed by Brazil mainly from the end of the 1980’s we see not
the privatization of the public services. With a weak, only the industry, commerce, and services, but also
disarticulated and unstable institutional structure, the way of production of the city, which increasingly
besides stringent criteria to grant financing, the ex- expands horizontally, with housing expansion in pe-
clusion of the low incomes and the lack of financing ripheral horizontal condominiums. That production
of the public sector that affects the areas of sanita- of the city is called “fragmented and disperse” by Reis
tion and urbanization of precarious settlements, the F.º and Tanaka (2007).
State sees the growth of the housing needs with the Then, it is in the pattern of fragmented and
worsening of the inequality and of the urban vio- disperse city that, in the end of the 1990s, that the
lence, while the SBPE does not invest in housing for new federal housing programs are formulated, such
the middle and lower classes. as the Housing Residential Program (PAR-CEF), of
After 13 years of the approval of the Federal 1999. Its production is contextualized, but now by
Constitution in 1988, intense negotiations were the private initiative of civil construction that proj-
carried out in the National Congress for the ap- ects vertical or horizontal condominiums, in the pat-
proval of the regularization of the chapter of Urban tern of condominium-form, that is, new small-sized
Policy in July of 2001, Federal Law number 10257 complexes segregated by walls. From the urban
and Provisional Measure number 2220 about the perspective, and according to partial research results
regularization of settlements in public areas. In 2000 (NEGRELOS, 2012), most of those complexes are
the MNRU had already reached the inclusion of the located in the peripheral areas of middle-sized cities
right to housing as a constitutional precept. The City and, in the city of São Paulo, their location is differ-
Statue (EC) regulates several tools to make the so- ent due to the specificity of the real estate market:
cial function of the private and city property a reality, absence of large peripheral areas, reconstruction in
in the sense of guaranteeing the right to housing and central areas previously used by industries, among
regulating land occupations. Additionally, it makes other characteristics.
the formulation and approval of Participative Mas- From the real estate perspective, and the per-
ter Plans (PDP) mandatory, with a series of criteria spective of proposition of new housing undertak-
(municipalities with more than 20,000 inhabitants, ing for the classes with smaller buying power, a lot
for example). remains the same. A model resists, given the main-
For the presidential campaign of 2002, the tenance of the swinging relationship of the price of
Workers’ Party (PT) elaborated the “Housing Proj- peripheral land versus the price of the central one, as
ect”, agreed upon with several sectors of society some undertakings of the effective federal program
that worked in the housing area, which was the base make us think, such as in the city of São Carlos/SP,
of President Lula’s program for housing and urban which are implemented in private areas (Figures 20
policy. The project structures a complex strategy to and 21).
equate the housing deficit, proposing a new national
policy and not only a government plan, articulating
the three levels of government, social movements, In February of 2009, the Ministry of the City
business community, entities from society, and other received the final version of the National Housing
segments linked to housing, to face the challenges of Plan (PLANHAB), elaborated in a participative way
the sector. since the first administration of President Lula, with
The 1990s and 2000s will be marked in the the following strategic axes: a) Financing and sub-
urban-housing field by the implementation of the side model; b) Urban and land policy; c) Institutional
Urban Operations in Consortium (OUC), with ar- design; d) Productive chain of the civil construction.
ticulation between the Public Power and the mar- (BONDUKI, 2009)

246
The PLANHAB details the new National Hous- and potentiating the available infrastructure, reorga-
ing Policy of that period, with the following principles: nizing spaces considered as marginal ones with the
Dignified housing as a right and social inclusion recognition of the housing right to the inhabitants of
vector, guaranteeing minimum standards of quality, the slums; and when it is not possible to build in the
basic infrastructure, public transportation and social consolidated area, growth is guided towards more
services. peripheral areas with a high level of housing, con-
Social function of urban property aiming to struction, and collective life.
implement instruments of urban reform to fight the The “new urban economy”, marked by the
speculative retention of land and to guarantee ac- process of technical-productive restructuring since
cess to urbanized land. the end of the 1980s in Brazil, demands and causes
Housing problem as a State policy – the public transformations in the space (of both the rich and the
power is a fundamental agent in the urban regulation poor). We sought to contribute for the understand-
and in the real estate market, in housing provision ing of this process of production of new urban forms:
and in the regulation of the precarious settlements. the components that have been modified, the typol-
Democratic management with popular partici- ogies of the new housing configurations, the new
pations, social control, and transparency of the deci- morphologic characteristics of the social housing, by
sions and procedures. the State, with the articulation of private agents, and
Subordination of the housing actions to the ur- what has changed in its relationship with the city.
ban policy.
The PLANHAB as an instrument of housing
planning and founded on the national policy is not
implemented, however, due to the launch of the My
House, My Life Program (PMCMV), in March of
2009, initially foreseeing one million housing units
until 2010. With national coverage and funds from
the Social Development Fund (FDS), the program’s
production resumes the production of mass, periph-
eral, high-density housing, in the single-family hous-
ing typology, as it can be seen in Figures 22 and 23, in
the city of São Carlos.

VI – The recent trajectory of social housing in


the city of São Paulo since 2001 – The consolidated
practice of the remodiling of slums.
New housing projects in slums in the city of São
Paulo, specially starting in the 2001-2004 adminis-
tration, have received institutional and budgetary
incentives, obtained from the Federal Government,
producing projects for the remodeling of popular dis-
tricts, with proposals formulated and, often, finalized
and expanded in the two following administrations –
2005 to 2012.
Those are projects for a new intervention in
slums, mixing new buildings for resettlement and the
recovery of residences in good state of preservation.
In 2006, after the national normative about the re-
covery of environmentally degraded areas occupied
by precarious settlements (CONAMA Resolution
369), it was possible to intervene more intensely in
the environmental recovery of informal settlements
with effective possibility of keeping the population
that was not in a situation of risk of death or of mate-
rial loss.
Those new projects resume modern parame-
ters for the buildings, now in the city without attri-
butes of modernity, in an almost symbolical trend for
the project resumption of the modern ideal, which,
for social housing, is practically extinct in the 1970s.
(NEGRELOS, 2010)
The scale and the dimensions of the modern
housing complexes, like those from the IAP and
those of the 1989-1992 administration, are, some-
how, resumed (Figures 24 to 27; 28 and 29). The new
complexes actuate in “weaving the city”, filling voids

247
The housing public policies in Argentina since the Commission of Inexpensive Houses), with the
beginning of the 20th century until the present mission of giving guidance to the them o housing,
times applying exemptions and performing experimental
Germán Gustavo Rebord constructions, as examples, which would be models
to be copied by the private initiative. Raúl Fernandez
Introduction Wagner (2007) says that “at the same time some
In this work we make a historical review since funds would also be organized – in philanthropic so-
the beginning of last century until the current times, cieties – to promote the construction of “workers’
recovering the modes and responses that have been housing”, also called “model housing” or “hygienic
given from the State, to the housing problem in Ar- housing”1. Those actions had little quantitative im-
gentina. pact.
We start from the concept that the public poli- Faced with the lack of housing, the families start-
cies are the result of a social, economic and political ed settling in peripheral areas of low environmental
process, in which the State takes a position in front of quality, self-producing their habitat informally.
a certain theme. For such, in the governmental appa- Starting in the middle of the 1940’s, with the
ratus mechanisms that would make possible and hin- arrival of the Justicialista Party to power, a develop-
der the necessary actions would be used, according ment model based on the replacement of imports
to internal and external interests and influences. In is stimulated, with a planning and intervening State.
FACE of that, Miriam Rodulfo (2003) manifests that Some actions worth mentioning that were carried
“The structure of political, technical and bureaucratic out by this government are the mass housing con-
nature is not aseptic and works conditioning the nature of the struction, the generation of a new bureaucratic and
public decisions. The public power has no political or bureau- administrative apparatus, and the enactment of a
cratic power separated or isolated from the economic or so- series of laws regulating the housing market, such as:
cial issues that affect individuals and groups. On the contrary, -Law 13512, of horizontal property
the exercise of this power is permeable to the existing complex -Law 14005, of sale of lots in installments
processes, relations and struggles between the public and pri- -Law 2962, which modifies the charter of the
vate interests, which are expressed through the actors that Banco Hipotecario Nacional (National Mortgage
hold the capacity to make decisions and taint the contents, Bank)
instruments, and priorities of the public policies”. This set of direct and indirect actions provided
Bearing in mind the preceding concept, the housing to the middle and low classes, making the
responses provided by the State in each historical right to have access to the city and to all its services
moment are presented, considering the contextual a reality to workers, who started having social rights.
tissue, the way of understanding the problem by so-
ciety, the predominant actors. At the same time, each Second Cycle
of those policies is qualified in a thought paradigm, The historical context of this cycle has as its
corresponding to its action logic. development model the industrialization for the re-
For practical reasons, the different policies and placement of imports, based on the stimulation of
their period of greater application – which do no have the heavy industry. This brought together an acceler-
a definite date of start or end - are placed chrono- ated urbanization process, with intensification of the
logically. They appear, then are modified or remain rural-urban migration. Rodulfo (2003) refers to this
over time, according to the political framework and situation in the following way:
the alignments that are enunciated by the existing “The housing situation was dominated by a develop-
thought paradigms. It is necessary to clarify that the ment model characterized by causing strong migrating move-
housing programs and projects, product of a certain ments, attracted by the growth and diversification of the ur-
moment, coexist with the new responses to the ban activities that transformed the cities, up to concentrating
problem, overlapping actions and perspectives. 87 % of the national population, in a process in which large
sectors of the national population ended up being excluded”.
First Cycle As a consequence of this, the cities are flooded
Since 1850 the big cities of Argentina have re- with new urban inhabitants, who must solve their
ceived an enormous contingent of population as a housing problem by themselves, as the formal econ-
result of two phenomena: internal migration of the omy does not get to incorporate them. This way, the
rural population and the European immigration. quantity of families in informal settlements grows
Faced with those massive demographic movements, quantitatively, and the same happens with the num-
the conventillos (common rental houses) are the ber of slums. The attitude of the democratic govern-
first response to the housing deficiency. One family ments is irregular, as at moments it supports them
inhabited each bedroom, and they shared sanitation providing them with services and at others organizes
and kitchen services. massive expropriations in the settlements.
The first intervention of the Stat to the housing Since 1966 the government really starts a
issue was established the regulation of the price of program of slum eradication under the idea of im-
the rents, changing the attitude of the liberal govern- plementing the community development, but con-
ment, which considered the need for housing and trolled by the State. Transition housing was created
individual problem, depending on offer and demand. for this eradication policy, where the families were
In October of 1915 Law 9677 created the lodged while the final housing was built, something
Comisión Nacional de Casas Baratas (National
1 Quotes by the author.

248
that did not occur. of their habitat. The alternative policies are centered
In the end of this period it can be seen, in the in solving and optimizing the habitat built by the in-
words of Oscar Yujnovsky (1984), that habitants themselves; for such there was the gener-
“The failure of the projects finds, no doubt, its utmost ation of programs that met the regularization of the
cause in the structural impossibility of solving the problem ownership, the provision of infrastructure and the
of the deficient housing situation of the sectors with fewer housing improvement. Concepts such as progres-
resources without a policy that meets the transformation of sion, evolving housing, ground floor, seed housing
the Argentine society”. (vivienda semilla) were incorporated in the technical
As for the housing policy for the middle- and the consulting teams. The forms of production were also
lower-middle-classes universal housing programs diversified, combining mutual help, own effort, coop-
are carried out, called llave en mano (key in hands), erative work, among others.
centralized in the national entity. Due to that, the
specificities of the users are not taken into account, Fourth Cycle
neither are them given participation in any stage of In the last two decades of the 20th century
the process. On their turn, modification in the hous- important economic and political changes happen,
ing financing system are produced, in two ways: on based on a new paradigm of development. Neo-
one hand, changing the origin of the funds and taking libeal ideas are adopted in economy and changes in
credits from international banks; on the other hand, the forms of production are introduced. Examples
by adapting the administrative apparatus of the of such changes are the recommendations of the
State to those new financing forms. Washington Consensus, stimulated by the IMF and
the World Bank, among others. Those aim to reduce
Third Cycle the fiscal deficit and the public expenses, liberate
The 1970’s and 1980’s are a complicated histori- imports and abolish all types of restrictions to com-
cal moment, both nationally and internationally. merce; make foreign investments possible; privatize
In the economy there is the predominance of state-owned companies; abolish the regulations that
a context of inflation and recession, with large dis- prevent access to the market or restrict competition.
satisfaction of the unions and of the workers’ move- In Argentina, the democratic government of
ments. In the end of the 1970’s a change of model in Carlos Menem (1989-1999) is oriented towards
the hands of the military governments starts, taking the privatization of the public services, deregulation
liberal-oriented measures. But, in view of their inca- of the labor market and the promotion of the adjust-
pacity to meet the demand with the policies they ment of the expenses of the State.
were implementing, the housing problem worsens. “The end of the benefactor state causes a gradual aban-
This led to the simultaneous development of two op- donment of the principle of the social responsibility from the
posing strategic lines. public power towards the housing problem, built as a result of
On one side, the Fondo Nacional de la Vivien- almost one century of social struggle. That allows dissociating
da (FONAVI – National Housing Fund) is created the State from the responsibility to provide housing services
in 1972, which obtains funds applying a tax on the and their greater transfer to the market, through the restitu-
salary, which would finally be paid by employers; tion of the principle of individual responsibility, in view of the
its existence continued for more than 30 years. The housing problem”. (Fernandez Wagner, 2007)
planning and execution of this policy was kept in the The housing policy had its focus on the financing
national sphere, until in 1976 there was the incorpo- of the demand, promoting the State’s role as market
ration of execution entities at province level. Then, in facilitator. Additionally, to balance the negative ef-
1983, it was decentralized in the Institutos Provincia- fects of the adjustment – growth of the unemploy-
les de Vivienda – IPV (Province Housing Institutes). ment and poverty – established urban poverty alle-
On the other side, an innovative strategy ap- viation, as objective of its policies, which allows for
pears, based on new ideas carried out internationally. the administration of the city without social conflicts
It is worth mentioning John Turner (1977), who that prevent mobility or reproduction of the capitals.
changes the perspective of the housing problem, say- About that Rodulfo (2007) proposes that the hous-
ing that it should be understood as a social process, ing policy was centered on the following aspects:
and not only as a product.
On his turn, Ernst Schumacher (1978) generat- -Decentralization of the FONAVI to the local juris-
ed a line of work favoring the invention of new tech- diction
nologies for housing, which he called appropriate -Articulation of the several levels of the State for
technologies. the joint intervention
The holding of the First Summit of the United -Diversification of operators, according to the
Nations about the Human Settlements, Habitat I type of demand
(1976), was based on those points of view, recom- -Predominance of individual housing as response,
mending governments to implement them and sup- and appearance of the so-called housing solution
port them with the public policies. -Focusing of the investments in areas where it is
Those advancements, which were translated necessary to alleviate the negative effects of the eco-
into more priority given to informal settlements, nomic policy
originated the policies that were called alternative -Making possible the growth of the mortgage
ones, in which the population started taking part in market
the decision and management of the construction

249
Among the main actions that happened in this pe- and of the forms of access to them over time. But
riod we have: also part of it are the institutional arrangements, the
-Privatization of the Banco Hipotecario Nacional several sectors involved, and the position assumed
-Changes in the origin of the funds of the FONAVI by the government when the problem becomes a
-Enactment of Decree 690/92, which allowed for matter of State.
greater diversity of housing solutions, for lower income From the chronological reading it is observed
sectors, with the participation of intermediating entities that the housing concept underwent constant trans-
-Creation of the Programa Nacional Arraigo (Na- formations in its standards. It went from minimum
tional Roots Program) to regularize public land and re- housing with multifunctional environment to digni-
move it from its use fied housing in the Perón administration, with differ-
-Implementation of the National Program of Dis- ent environment for the new nuclear family; the in-
trict Improvement (PROMEBA) and of the Rosario corporation of the habitat concept, in which housing
Hábitat Program, aiming to integrate settlements to the is part of the urban context, to the neoliberal housing
formal city, financed by the IBD solution, then getting to the vision of the habitat as a
-Implementation of the National Plan of Housing human right.
and Infrastructure Improvement Faced with that, the urban habitat has assumed
such complexity and diversity that it requires an
Fifth Cycle urban housing policy that guarantees socio-spatial
Argentina enters the new century with an eco- equality in the access to the city.
nomic, political and social crisis which provokes the The commoditization of the urban life and the
early departure of the government of the Alianza increase in the cost of land are harmful to the access
por el Trabajo, la Justicia y la Educación (Alliance for and permanence of the people in the city, so it is no
Work, Justice and Education). longer possible to talk about housing obtainment in
The social problem appears in alarming figures, historical terms. It is necessary that the architectural
showing the consequences of the model; the unem- project has an articulated convergence of a diversity
ployment rate reaches 18%; the middle class pro- of tools, such as strategic planning, urban economy,
tests by t so-called cacerolazos (pot-banging man- tax instruments, socio-organizational strategies, so
ifestations). In view of the growing unemployment as to tend towards a true urban housing project for
the unemployed get organized producing the first all citizens.
road blockages, self-calling themselves movimientos
piqueteros (picketing movement).
On December 20, 2001, there is the social spark
that generated the end of a period and of a model.
Later, in 2003, the new administration proposes the
national development with objectives such as the
expansion of the internal market, job creation, and
wealth redistribution. As for the housing issue, its
pillars are housing construction and public works, fi-
nanced by the State.
About that Rodulfo (2007) said that “hous-
ing production is, then, a factor that contributes to
guarantee levels of activity and employment at the
moment and in the area, while other conditions for
the reactivation of other productive sectors are gen-
erated”. The housing policy is once again centralized
in the national executive power, generating several
programs:
-Federal Program of Housing Construction, with
construction subprograms with municipalities and of
urbanization of slums and precarious settlements
-Federal Program of Housing Improvement - Me-
jor Vivir (Living Better)
-Emergency Housing Program of cooperative
construction
-Continuation of the execution of the PROMEBA
-Bicentennial Argentine Program of Credit for
Housing (PROCREAR)

Conclusions
The public housing policies are a representation
of the incidence of the ruling ideologies and para-
digms over the ways of solving the housing problem.
Due to that, it is possible to visualize an evolution of
the conceptions about how those solutions must be

250
The other dimensions of the Housing Policy in forming the housing policy in Brazil. A deeper analysis
Brazil of the social indicators in Brazil indicates a significant
Anacláudia Rossbach – Master in Political improve of the coverage of the social policies, such
Economy by the PUC - SP as health, social protection, employment and educa-
tion, with the increase of some indicators, such as the
Brazil: a country in transition, towards overcoming reduction of illiteracy, better convergence between
historical inequalities age and level of education, school attendance, and
Our country is inserted in a continent that is pre-school attendance, among others. The most rep-
the World Champion of inequality, according to the resentative indicator, in a situation of international
United Nations, not only in terms of wealth distribu- economic crisis since 2008, is the reduction of unem-
tion, but also in terms of housing, access to goods, ployment and the increase of formal employment: in
social and financial services. The Latin-American December, 2013, the average unemployment rate in
continent gathers the countries with the biggest Gini the metropolitan regions of Brazil was 4.3% and the
coefficients of the plant, with highlight to Guatema- number of formal jobs created between 2002 and
la, Honduras, Colombia, Brazil, Dominican Republic 2012 is 18 million (Brazil, IBGE, 2103).
and Bolivia, whereas less unequal countries such as
Uruguay and Venezuela still present a Gini coeffi- National Housing Policy 2003 – 2014
cient higher than the United States ad Portugal, the After a gap of 20 years without a federal-leveled
most unequal country in the European Union (UN housing policy and with little investment from any of
Habitat, 2012). the three levels of government, the recently created
Still according to the UM, there was indeed Ministry of the Cites coordinated, in 2004, the elab-
a positive evolution in terms of relative reduction oration of the National Housing Policy, establishing
of the poverty in the region, with a slight fall in the guidelines for the elaboration of the main program
wealth concentration of ten countries, among which pillars, the PAC – Slum Urbanization (2007) and the
is Brazil, more than Venezuela, Uruguay, Peru, Nic- My House, My Life Program (2009), besides other
aragua, Honduras, Chile, El Salvador, Mexico and programs conceived and executed during this peri-
Panama; but, on the other hand, other countries still od, both for direct subsides, and as budgetary trans-
present a context of increase of inequalities, in a fer to states and cities.
clear movement backwards, with increase of wealth The institution of the SNHIS – National System
concentration in Costa Rica, Paraguay, Colombia, of Social Interest Housing in the year of 2005 was
Ecuador, Dominican Republic, Bolivia, Argentina fundamental to establish the institutional pillars for
and Guatemala (UN Habitat, 2012). The chart (1) the execution of the housing policy, bolstering the
demonstrates the trend of fall of the Gini coefficient creation and strengthening of local participative
in Brazil. As for chart (2), it shows the growth of council and sector entities, besides stimulating the
income per tenth of income range in the period be- long-term planning to face the housing problem in
tween 2004 and 2012, demonstrating a clear move- the three levels of government. The planning instru-
ment of increase of wealth at the base of the pyramid, ment in the national sphere is the National Housing
that is, in the population ranges of less buying power. Plan – PLANHAB, elaborated in the period 2007-08
Brazil is also indicated by other international in a participative way, promoting alignment and con-
organizations, such as the OECD1, the World Bank, sensus of representations from civil society and pub-
and the IMF as an icon among the emerging coun- lic entities (social movements, private sector, pro-
tries in the topic of overcoming social inequalities, fessional representations, research institutions and
reflecting a generalized acceptance by those insti- the academia) about the real needs of the country,
tutions of the social policies implemented by the necessary funds and goals to be met for the period
three levels of government, with a special emphasis between 2008 and 2023.
on the Family Stipend Program and on the policy of Fundamental to avoid the worsening of the
real increase of the minimum wage. The country and housing problem in the country, the elaboration of
its social policies gained prominence in the technical the policy, based on the City Statute (Federal Law of
note of the IMF from 2011 (Berg and Ostry, 2011) 2001), with its respective programs and legal frame-
and also in the recently published OECD report, So- work came late in a context of significant housing
ciety at a Glance 2014, the organization presents the precariousness in the country, with large portions of
wealth redistribution as a central pillar of the Brazil’s the urban territory occupied by slums and irregular
model of economic growth, showing the reduction occupations, technically known as precarious settle-
of inequalities and the ascension of millions of people ments, with expressive number of domiciles located
from a situation of poverty, which is evidence that in situations of risk.
the Family Stipend program is an important model With the launch of the PAC in 2007, the cities
and that it is adopted by several countries as a mea- started having significant funds for the implementa-
sure to reduce poverty (OECD, 2014:31). tion of infrastructure and housing units in precarious
This context of social inequalities, clearly ex- settlements, but they are simultaneously pressed to
posed in our Brazilian cities, whose traces of territori- get structured and organized to broaden the plan-
al and spatial segregation are quite evident, is the big ning and management capacity of the investments
background for the implementation of the programs available. Similarly, the program of housing subsides
called My House, My Life – MCMV, from 2009,
1 Organization for Economic Cooperation and De- brings with it the possibility of increasing the housing
velopment.

251
provision to meet the housing needs of the Brazilian ponent as a recognition of the existing precarious-
cities, from a combination of national and local crite- ness in the processes of debate and revision of the
ria for the hierarchization of the services. The main master plans, is fundamental for the reversion of this
prioritization criteria established for the whole coun- process of urban expansion with the strengthening
try is meeting families in situation of physical and so- of our historical characteristics of inequality. In the
cial vulnerability, thus adding a powerful tool to serve United States and in some countries of the European
families in risk situation in the country. continent, advanced mechanisms of inclusive zoning
The estimation from the National Housing De- were created aiming to use the advances of the real
partment (Ministry of the Cities) of people benefit- estate market in order to stimulate the production of
ed by the PAC is 1.8 million domiciles (out of a total social interest housing in a more integrated way with
of 3 million residents in slums), and the MCMV gen- the mix of income and uses in the areas and even in
erated the production of 1.2 million units, with 2.8 one single place.
million ongoing ones to meet the current goal of 3.4 The urban policy in Brazil progressed significant-
million residences in the country (SNH, 2013). The ly in the beginning of the 2000’s after the enactment
distribution of the units per income range indicates of the Statute of the City in 2001, and then with the
that 30% of the units were allocated to families with creation of the Ministry of the Cities and of a series
average income of up to R$ 1,600, 65.9% between of programs and campaigns to qualify and stimulate
R$ 1,600 and 3,275 and 6.8% up to R$ 5,000 (SNH, the municipalities to elaborate master plans, and the
2013), in line with the socio-economic profile of Bra- institution of the instruments of the Statute of the
zil, but still insufficient to meet the needs represent- City. Today it can be said that there was progress,
ed by the housing deficiency and inadequacy, and to with the realization of participative master plans and
prevent the expansion of risk areas and precarious the also great implementation of the most important
settlements. aspect of the Statute of the City, the special zones of
Despite the high level of investments generated social interest. However, it has been almost ten years
by those two programs, and of its impressive results, and those plans need to be reviewed and progress in
we are still far from meeting the housing needs and the design of more progressive instruments that can
avoid the expansion of precarious settlements in ar- guarantee the availability of well-located urban land
eas improper for housing. However, to increase the for the provision of social housing. If this condition is
speed and scale of production guaranteeing social, not met, hardly will a program such as the My House,
economic, and environmental sustainability in our My Life be capable of being implemented in a sus-
cities is a task that is far from being easy, as several tainable way, meeting the expectations not only of
factors have to be taken into account, such as, for ex- the population that is part of the housing deficit and
ample (i) the existence of social work during the pe- demand, but also of the active social and professional
riods of pre- and post-occupation; and (ii) advanced movements engaged in the promotion of inclusive
tools of urban planning to make land available for and equitable cities.
housing with good insertion in the urban network,
that is, access to services, employment, public The social and economic dimensions of the My
equipment, and leisure. Additionally, due to the great House, My Life Program
densities seen in our cities, the need of verticalize Beyond the physical questions of quality and
undertakings of social housing brings additional chal- urban insertion of the undertakings produced by the
lenges to make the fixation of the families in the new housing policy effective in the country, other dimen-
residences viable, such as additional expenses with sions must be necessarily considered in a deeper
maintenance, condominium fees and services. analysis about its direct impacts on the families that
In other words: there is no way to significantly receive the programs and about its indirect impacts
increase the production of housing units for the low- on society as a whole. A lot has been said about the
er-income population in contexts that do not prior- economic benefits in terms of employment gener-
itize sustainable urban planning and development ation and energization of the economy as a whole
and in a non-articulated way with sturdy social and from the civil works constructive chain; however,
economic development programs. And even though there is an important and a lot less approached reflex,
great advances can be seen in the three levels of which is the wealth distribution in the country.
government in those last ten years in terms of (i) eq- In an analysis published in the Valor Econômico
uitative and sustainable urban planning; (ii) institu- newspaper, economist Marcelo Neri indicates an ad-
tionalization of the housing policy and increase of in- vancement of the housing capital per capita of 42.1%
vestments; (iii) structuring of policies and programs since 2003, with fast increase since the launching of
of insertion and social and economic development; the My House, My Life program in 2009, and with big
there are still major challenges for the country, main- impact in terms of alleviating the inequalities in the
ly related to the coordination of the policies and their country. According to him, the fall in the inequality
local execution, due to the political-administrative of the housing capital was 166% higher than the fall
diversity of the municipalities of the country, consti- of income inequality of the Pnad, with greater gains
tutionally appointed to define the guidelines of use of to historically excluded groups, such as the illiterate,
soil and urban expansion. the black, and the agricultural workers (Neri, 2014).
The municipal master plans are the main instru- Under the perspective of the beneficiary, the
ment of the urban policy and of the planning of the level of satisfaction was measured by a joint research
Brazilian cities, the absorption of the housing com- of the Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada

252
(IPEA – Institute of Applied Economic Research) and most sound models of subside in the World in Brazil,
the Ministry of the Cities, in which in a scale from 0 to the funds are not sufficient to guarantee the offer
10 the owners ranked the residences 8.8, on the aver- of social housing in some metropolitan areas of the
age. The highest score was 8.9 for the question about country, without tradition or history of consolidated
the increase of well-beings, followed by 8.1 for the models of management and governance. While the
surroundings of the residences and 7.9 for the cost of real estate market remains attractive to the private
the installments2. sector, the price of land the existing business oppor-
Far from those fundamental questions, the tunities will be a hindrance for the expansion of the
recent debate about the housing policy in Brazil Dis- offer of social housing in areas closer to the centers
tant from those fundamental questions, the recent and with access to infrastructure and services. In this
debate about the housing policy in Brazil stresses sense, it is necessary that the planning of the cities
the leading role of the main program of housing pro- is strongly aimed at the housing needs of the popu-
vision, the My House, My Life program, in the config- lation and that the local public power establish the
uration of the Brazilian cities, stressing past trends of maximization of the offer of land for social housing as
segregation and exclusion of the populations from a priority, leading structured operations from strong
the income ranges representing the base of the so- incentives and mechanisms such as expropriations,
cio-economic pyramid. This debate reveals, appro- zoning revision, support to decontamination pro-
priately, the large limitations of a housing program as cesses, and offer of services and infrastructure.
major instrument of urban policy and in the process
of construction of more equitable and sustainable
cities and equality stresses the great difficulty found
by the country to overcome the historical problems
of inequality in our society.
However, a deeper analysis of the social, eco-
nomic and urban context of the country, and a
broader understanding of the impacts of the housing
programs, pillars of the national policy, in its social
and economical dimension, beyond the construc-
tive environment itself may indeed indicate some
progress in relation to the previous policies: strong
investments that allow a gradual progress in the con-
vergence between the scale and the quality, beyond
a more effective contribution in the process of social
and economic development of a less unequal Brazil.
It is important to highlight the role played by the
municipal public power in this process of promoting
the convergence between scale and quality of the
housing production in the Brazilian cities. The main
instrument is, obviously, the Master Plan, which
should incorporate the housing needs of the popula-
tion as a structural pillar, and to maximize the use of
empty lots, or sub-used ones, in the integrated and
sustainable processes of urban development. More
sophisticated inclusive zoning mechanisms can also
contribute to increase the offer of well-located land
for social housing; applied in some US states and in
some European countries, several models of inclu-
sionary zoning can be an efficient tool to capture
gains of expansion of the housing market by the pro-
motion of social housing. In those cases, what mat-
ters is the contribution as well-located area and not
only funds. Public-private partnerships for mixed-use
undertakings, with a social housing component, can
also serve as incentive to increase the production
of social interest housing by the private sector, from
mixed subsides and incentives from the public pow-
er, such as, for example, the power to expropriate,
change of use of soil, provision of infrastructure and
access to services.
In other words, even though we have one of the

2 Article about the topic in the Valor Econômico


newspaper, available at: http://www.valor.com.
br/brasil/3339440/beneficiarios-do-minha-casa-
minha-vida-dao-nota-88-moradias.

253
Housing and the city as a collective project: the noble areas of the capital cities, but in the beginning
Engineering Division of the Institute of the Indus- of the activities of the Institute they also had to do
trial Workers (1937-1960). with housing complexes.
Prof. Dr. Nilce Aravecchia Botas The connections between the IAPI and the ar-
Professor of the Department of History of the Archi- chitects engaged in the movement for the renova-
tecture and Aesthetics of the Project - FAUUSP tion of architecture in the 1930’s and 1940’s point to
a movement in which there was a convergence be-
This article intends to analyze the action of the Institute tween the replacement of the role of the culture by
of Retirement and Pensions of the Industrial Workers (IAPI) intellectuals and technicians and the political power
in the housing production of the decades of 1940 and 1950, that was consolidated in the 1930’s.
aiming to shed light at the tensions between the action of the But it is this very process, which can be seen
professionals of architecture and urbanism and the predomi- in the structuring of the Engineering Division of the
nant characteristics of the State, forged since 1930 in Brazil, IAPI, since the hiring of professionals to directly man-
in the perspective of discussing the relationship between au- age projects and works, eliminating in several cases
thorship and collective work. The reflections exposed here are the intermediation of the independent professionals
part of the Doctoral Thesis titled “Between technical progress and of the construction companies. The process of
and political order: architecture and urbanism in the housing hiring companies was strongly criticized by some in-
action of the IAPI”, presented in the FAUUSP in 2011. ternal sectors of the social security institutes, which
saw in the initiative from the IAPI of having a steady
The meeting of different views on housing and technical team a great example to be followed, as
the city inside the IAPI originated quality projects it was revealed in the interview of architect Moacir
and works, pointing to new paradigms of economic Fraga, from the Institute of Retirement and Pen-
housing solutions, in line with the discussions about sions of the Workers in Transportation and Cargo
housing, architecture, and the city that permeated (IAPETEC), for the Arquitetura Magazine in 1942.
the technical circles in the second quarter of the (A CONSTRUÇÃO (The construction) [...], n.55,
20th century. In many situations the directors of the 1942).
Institute got involved in the theoretical discussions, Fraga said that, by the direct management of
triggering the hiring of engineers and architects who the State entities, it was possible to relate, in the con-
shared similar ideas. structive process, the technical knowledge and the
Aspects of constructive quality of the under- praxis. The direct management by the institute or
takings, and of the notion of housing as a public ser- undertaking entity, besides bringing the costs down
vice that included pieces of equipment of collective in relation to the contract system, would also permit
use and leisure areas, and of a minimum standard to expedition in the solution of problems, since the em-
organize the plan of the residences, were constant ployees of the institutes themselves could make the
in the debates about housing in the period. The re- decisions, according to the unforeseen demands in
sponse to those questions in the housing action of the work site.
the IAPI was certainly influenced by the presence of This orientation inside the IAPI, from the for-
the technicians linked to the discussions bolstered mation of a professional team, was translated in
by the modern movement in architecture, especially a reinterpretation of the debates about modern
by architect Carlos Frederico Ferreira, one of the first architecture and housing. The result would be the
professionals to be called to work in the Institute. transformation of the language assumed by the ar-
The IAPI was founded in 1937 and in the begin- chitecture produced in series by the Institute, which
ning of its construction activities the group of pro- was reflected in the production of the other social
fessionals was small. So, while some projects were security institutes.
totally elaborated in the Engineering Division of the The account of Carlos Frederico Ferreira, an ar-
Institute, others were sent to external professionals. chitect of the IAPI, makes it clear that the presidents
The Roberto Brothers (Valparaíso Building, from of the IAPI, engineers Plínio Cantanhede during the
1937 and a project that was not executed for the period known as the New State and Alim Pedro
Penha Residential Complex, of 1940, both in Rio de during the Dutra Administration, had a decisive role,
Janeiro, and the Anchieta Building, of 1941 in São Pau- personally choosing the architects to be hiring and
lo), and architects Paulo Antunes Ribeiro (Mooca granting them autonomy:
Residential Complex, 1946 in São Paulo) and Kneese [President] Getúlio created the organization
de Mello (Japurá Building of 1945 in São Paulo) were and then depended on the president. We were lucky;
some of the hired architects. Such procedures were the IAPI was one of the best organized ones. Our
linked to the interests of the Institute in participating presidents, Plínio and Alim Pedro, were men of vision.
of the transformations in architecture through its ac- They hired excellent architects. They were the ones to
tivities of real estate inversion: choose (Account of Carlos Frederico Ferreira to Nabil
The projected edifications must meet the effec- Bonduki, 1994 quoted by BONDUKI, 1998: 157).
tive municipal rules and translate, as much as possi- The guideline of making representative un-
ble, prominent undertakings in the local environment dertaking from the architectural point of view also
of the civil construction (PEDRO, 1950:289). demanded the partnership with professionals who
The “prominent undertakings” should be pro- were engaged with the idea of creating a State-repre-
jected by recognized professionals. Such construc- sentative architecture.
tions were mainly building for income production in But many of the technicians of the Engineering

254
Division of the IAPI were hired by a public tender er hand, the realizations in the housing field during
and among the career employees of the Institute the 1940’s and 1950’s are the most representative
stand out those who, somehow, were recognized results of the relationship between architecture
by the participation in the movement of renovation and urbanism that the debates of the period tried to
of the Brazilian architecture. The development of bring forth. In the housing complexes produced in
new constructive technologies or the involvement the period it is possible to find a practical realization
with the housing issue even outside the IAPI mark of the theoretical formulations then made around
the trajectory of some figures that are marginal to the urbanistic question. Such realizations were not
the current history of the Brazilian architecture. With only the wok of those who were adept to the modern
different backgrounds and histories, engineer Fran- movement, but also of the engineers, many of which
cisco de Paula Dias de Andrade and architect Helio were heirs of the currents of the scientific urbanism
Uchôa Cavalcanti are representative names of those of the 19th century.
who linked the IAPI with the intellectual sectors, and The scientific urbanism developed in Germany
who were together in the project and management was intensely marked by the presence of engineers,
of the works of superblocks SQS 105 and SQS 305 for whom the concern with the sanitary and hygienic
in Brasília. aspect was excessive. The matter of the flows was
Recently graduate engineer by the Polytech- also essential, being reflected in plans in which the
nic School engineer Francisco de Paula Dias de road view prevailed. Internationally, that experience
Andrade joined the Office of the IAPI in São Paulo was incorporated as a great package of tools to con-
in 1938, year when he signs an article titled “Casas trol the use of the soil of which the “zoning” was part
Operárias” (Blue-Collar Worker’s Houses) in the In- (SIMÕES Jr, 2008). The zoning had enormous initial
apiários Magazine (ANDRADE, 1938:6-7). Back to repercussion in Brazil, where it will be adopted main-
the university, he graduated as engineer-architect in ly after its re-elaboration by the Americans2.
1951, starting a teaching career in 1959 in the very The theories of the “garden city”, elaborated by
Polytechnic School, as an assistant to Anhaia Mello Ebenezer Howard in England, also found a fertile field
(FISCHER, 2005:346). From 1956 to 1961 he was in Germany and were incorporated to the already
in the work management team of the superblocks instituted formulated, which linked the physical
of the IAPI in Brasília, whose work was the object of transformations of the city with innovations in the
his habilitation thesis1 as professor of the Polytech- legislation and administration of the cities.
nic School. It is possible to affirm that in Brazil, in the begin-
Helio Lage Uchôa Cavalcanti graduated at ning of the 20th century, amidst a profusion of pro-
the ENBA in 1934 and worked as an employee of posals and realizations that made reference in the
the IAPI at the same time in which he participated reform of the Baron of Haussmann of Paris, it is pos-
in several projects to other governmental spheres sible to identify ideas that get close to the German ur-
or to the private sector. The architect, very close to banistic, or to the ideal of the “garden city” (SIMÕES
Oscar Niemeyer, collaborate with him in the project Jr, 2008; ANDRADE, 2009).
of the Technical Institute of the Air Force in São José Engineer Marcos Kruter, responsible for the Pas-
dos Campos, of the Ibirapuera Park in São Paulo, and so D’Areia Residential Complex, of the IAPI in Porto
of the Sul-América Hospital in Rio de Janeiro. In the Alegre, together with Edmundo Gardolinski, employ-
housing area he conceived the projects of the Banco ee of the IAPI, got to indicate nominally a reference of
Hipotecário Lar Brasileiro (Brazilian Home Mortgage the German urbanism. (FAYET & TEAM, 1995:25).3
Bank) in Goiânia, of 1952 (CAVALCANTI, 2001:
124). After this work there is the registration of the 2 In its German origin, the zoning was part of a
project of the superblocks of the IAPI in Brasília, start- complex strategy to better distribute the urban be-
ing in 1956, and whose constructive characteristics nefits. Theorists of the modern movement, mainly
are quite close to the language developed by the ar- Hans Schimidt, thought zoning in the sphere of a
chitects from Rio de Janeiro since the 1930’s. legal system, which is not restricted to a set o nor-
But, besides those names, the investigation of ms, but is part of the State in the regulation and
the technical staff of the IAPI, with the identifica- structuring of the social stability. In the US it was
tion of dozens of polytechnic engineers, revealed transformed in efficient instrument to guarantee
that among representative figures of the modern the valorization of the properties, guaranteeing
Brazilian architecture, such as Carmem Portinho, Af- the real estate processes already ongoing in the
fonso Eduardo Reidy, Attílio Corrêa Lima, Francisco cities (FELDMAN, 2005: 79-82).
Bolonha and later Vila Nova Artigas and others, were
dozens of anonymous names who contributed for 3 The office of architect Carlos Maximiliano Fayet
the consolidation of a Brazilian thought about the made a survey of the Residencial Passo D’Areia
housing problem. It is known that, no matter how Complex in Porto Alegre, for the Municipal Plan-
active and quantitatively significant the role of those ning Department. The housing types and the post-
professionals, their engagement was not sufficient -occupation modifications were registered and ca-
to solve the problem of lack of housing. On the oth- taloged. A historical survey about the project and
the construction of the complex was also made,
1 ANDRADE, Francisco de Paula Dias de. Organi- including and interview with Engineer Kruter. The
zação do Tempo e do Espaço em Brasília. Habilita- objective of the work was to support the discus-
tion thesis. São Paulo: POLI-USP, 1962, quoted by sions about the preservation of the patrimony built
FISCHER, 2005: 346. and the possible forms of adaptation.

255
In the perspective of the engineer beauty was
related to the adaptation of the implementation to
the terrains and to the landscape drawing and to
the presence of trees, which, on its turn, was linked
to the notion of healthiness. The focus on efficiency
and economic rationality, reflected in the concern
with the technical-constructive aspects, were added
to such conceptions. At the same time, the modern
movement in architecture, already covered by the
current historiography, joined the bulk of culture and
technical formation, originating a team of profession-
als, whose ideas were helped to become reality by
the political and economical situation generated by
the Revolution of 1930.
From the IAPI this process became reality in a
collective work both in the office of projects and in
the work sites. The team spirit that generated some
singularities in the process of construction of hous-
ing complexes of the Institute is clear in the chronic
of Joel Lima4, in the Inapiários Magazine (IAPI’s
magazine) which refers to the Realengo Complex in
Rio de Janeiro. He names engineers Altino Machado
Silva, Sydney de Barros Barreto, Luiz Metre, Pedro
Coelho de Souza, Hermilo Campelo, Deocleciano
Rocha Filho, and Marino Guimarães, each one of
them responsible for a part of the work: production
of concrete blocks by a machine imported from the
US and of other pre-molded parts, electrical and hy-
draulic installations, water and sewer network, and
management of workers. Finally, it speaks about Car-
los Frederico Ferreira:
And, at that time, it would be a clear injustice to
silence the name of Carlos Ferreira – this poet of ar-
chitecture and urbanism, responsible not only by the
beauty of this Work, but also by what is to come, in a
few days, in the Vila Operária dos Industriários (Blue
Collar Worker’s Village of the Industry Workers)
(LIMA, 1943: 12).
If until mid-1940’s that team work competed
with orders made to renowned architects, since
then the undertakings would be marked by a greater
degree of reproducibility and by the lack of specific
authorship. The housing complexes in the suburbs,
formed mostly by two-to-four-storied longitudinal
housing blocks, formed by two- and three-bedroom
apartments, drew a considerable part of the land-
scape of the suburbs of Rio de Janeiro, in addition to
appearing in other capital cities and in cities import-
ant for the Brazilian urbanization process. For the
group that met in the Engineering Sector of the IAPI,
under the leadership of Carlos Frederico Ferreira,
the link between the theoretical knowledge proper
to the training of engineers and the renovation of the
architectural language would bring new conditions
of urbanity to the popular housing.

4 Joel Lima was sent to the District of Works of the


Realengo by Plínio Cantanhede to work as assis-
tant of engineer Altino Machado Silva, who was
the head of the District, in the beginning of the
construction of the complex (LIMA, 1943:12).

256
Decipher or I devour thee: acquisition of residences – an urban problem that
The enigma of the housing and urban policy and still waited for effective measures. Theoretically,
the National Housing Bank (BNH) System. the housing policy would allow for the tests of the
Ana Paula Koury production of residences carried out during the
Brazilian housing history. However, the consolida-
Nothing could be more common to the Brazil- tion of the policy implemented by the bank, from
ian citizens than the experience of the current ur- the perspective of the professional work of archi-
ban crisis. The difficulties of mobility, the high cost tects, was a great disappointment, precisely due to
of housing, the lack of leisure spaces, violence, and the conservativeness of the constructive solutions
decadence of sociability are every day part of the and also of the project practices3.
problems that mainly the inhabitants of the big cit- The housing complexes formed by the regular
ies face. The common citizen is taken to conclude repetition of small houses in districts in the out-
that there is no, and there has never been, urban skirts of the cities that were produced all over the
planning in Brazil. country gave the identity of the work of the Bank
To any professional engaged in the debate and got to be known as the “BNH-seal project”.
about the Brazilian Urban policy, the affirmation Therefore, it was the criticism against those com-
lacks verification. The planning and intervention plexes the ones that were most generalized. On
instruments in the Brazilian cities have developed one hand, they indicated the horrible quality of the
much in the last years, mainly after the 1988 Con- complexes installed in far-off areas, without infra-
stitution and the approval of the Cities Statute structure, and sometimes on inappropriate areas.
from 2001. For experts and scholars of the history Many of those complexes were delivered with
of the Brazilian planning, the truth is precisely the low-quality finishing, which resulted in the quick
opposite – the development of the Brazilian cities deterioration of the unit that, despite having been
has always been greatly planned. recently built, soon demanded repairs. On the
What is the problem of planning in Brazil? other hand, the criticism also indicated to a selec-
Have the plans not been effective? But will they tive policy aimed at the middle classes, in practice
be from now on? To decipher the enigma of the above seven minimum salaries4.
Brazilian planning has occupied efforts from many Many of the criticisms to the work of the BNH
groups of experts in different areas of knowledge. were supported by consistent investigations, such
This article intends to present the operation of as Gabriel Bolaffi’s5 and by clever analysis of the
the BNH System, stressing some experience that political operation of the BNH system, as Lúcio
were not generalized in that period, but which can Kowaric’s6 and were very important for the for-
acquire new meanings in the current stage of the mation of some consensuses about the policy
Brazilian urban policy. implemented by the Bank7. Both those works ex-
The National Housing Bank was created on
August 21, 1964, with clear political objectives and
3 Sanvitto in his Doctoral Thesis indicates that,
was the biggest and best-organized instrument of
contrarily to what was popularized architects go
the Brazilian housing and urban policy reaching
Involved projecting many of the BNH`s comple-
the mark of nearly 4.5 million financed units in its
xes. The conservativeness of many proposals,
twenty-two years of operation1. In the system of
according to the author, is explained by the total
urban policy 686 planning documents were elab-
adherence to the paradigms of the modern city,
orated in eight years, from the creation of the Fi-
which would have prevented the search for new
nancing Fund for Local Planning (FIPLAN) in 1966
alternatives. SANVITTO, Maria Luiza Adams. Ha-
until the extinction of the SERFHAU in 19742. The
bitação Coletiva Econômica e a Arquitetura Mo-
production of the BNH was expressive not only
derna Brasileira 1964 - 1986. 2010. Thesis (Doctor
in terms of quantity, but it was also innovative in
in Architecture) - Federal University of Rio Grande
some programs.
do Sul. p. 503.
The creation of the bank less than five months
after the civil-military coup generated great expec- 4 Even though many complexes were aimed at the
tation in a part of the professionals, both engineers range of 3 minimum salaries, the famous study by
and architects, for it announced a considerable Bollafi proves the impossibility of the acquisition
sum of funds that would be available to finance the of the financing for families whose Income was be-
low seven minimum salaries. BOLAFFI, G. A casa
1 AZEVEDO, Sérgio. Vinte e dois anos de política das ilusões perdidas: aspectos socioeconômicos
de habitação popular (1964-86): Criação, trajetó- do plano nacional de habitação. Caderno Cebrap. São
ria e extinção do BNH. in Administração Pública Ma- Paulo: Cebrap, n. 27, 1977.
gazine. number 22 vol. 4. Rio de Janeiro: Oct-Dec,
5 Sobre a qualidade dos conjuntos do BNH: BOLA-
1988, p.116.
FFI, G. (1977).
2 VIZIOLI, Simone Helena Tanoue. Planejamento
6 KOWARICK, L. Espoliação urbana. Rio de Janei-
Urbano no Brasil: A Experiência do Serfhau en-
ro: Paz e Terra, 1979.
quanto Órgão Federal de Planejamento Integrado
ao Desenvolvimento Municipal. Marter`s Thesis. 7 For a more comprehensive discussion about the
School of Architecture and Urbanism of the Uni- assessment of the BNH System through the narra-
versity of São Paulo, 1998, p. 45 e 47. tives of the time, see KOURY, Ana Paula . Constru-

257
plained the functionality of the operation of the the programs came from the Brazilian System of
Bank in the deepening of the unequal and concen- Savings in Loan10 and of the Fundo de Garantia
trating capitalism guaranteed by the autocratic por Tempo de Serviço (Brazilian Special Fund of
government of 1964. Investment for Workers` Indemnification)11. The
All those pertinent considerations about the application of the obtained funds was divided into
work of the Bank, indicated by its authors aiming the different programs: Housing, Sanitation, Urban
to improve the Brazilian housing policy in the per- Development and Community Development. The
spective of social fairness and democracy some- financing was guaranteed by a system of funds and
how also contributed for the demoralization of the insurances. The execution and implementation
System that preceded its end in 1986. After twen- of the programs, as well as their improvement,
ty-eight years an analysis under another historic was supported by a technical staff, which varied
perspective is justified, avoiding the anachronisms according to the nature of the program. The two
that have characterized the generalization of the programs of greater visibility were the housing
initial criticism, repeated mainly during the strug- program and the program of urban development.
gle for the affirmation of democracy in Brazil. The Federal Service of Housing and Urbanism
The BNH did not have any other meaning (Serfhau), responsible for the urban development
than to be an instrument of economic, political and program of the BNH System, was created togeth-
social planning created especially to work in the er with the Bank in August, 1964, and initially was
Brazilian urban and housing system. As a general focused only on the urbanization of districts where
planning tool, which it was since the beginning, the housing complexes would be implemented. In
the BNH prioritized the regional development two years the Serfhau became a tool of the urban
and the deconcentration of the Brazilian urban development policy, which was possible by the
network, working in the rural area, in small and FIPLAN12, created in 1966 to finance the Plans of
average-sized cities and thus was linked to the Integrated Local Urban Development. The Urban
Ministério do Interior (Homeland Department)8. Development System also had an Information en-
Something that did not prevent that it also worked tity and a Database13 that supported the diagno-
in the big cities were the lack of housing was (and ses and guided the actions of urban development.
currently still is) concentrated. That explains, at In the housing case, even though there was
least partly, the reason why proposals of compet- no entity to develop projects in the BNH System,
itors of the BNH were not successful in forming an there was a Research and Development System
infra-urban policy at that moment. that should, in addition to research to support the
The structure of operation of the BNH system, housing policy, also guide a projects policy. The
as it was elaborated9, consisted of an administra- Research and Development System was formed
tive flow that allowed for the full control of the pol- by three entities, one of them aimed to carry out
icy since the obtainment of the funds, the financ- socio-economic research, the other research of
ing of the programs, the elaboration of research, materials and constructive methods, and the third
projects, and support actions up to the follow-up one research of the industrial sector. The Cenpha
and reinvestment of the funds. The financing of was the entity aimed to carry out socio-economi-
cal research and worked in a much diversified way,
ção social e tecnologias civis (1964 -1986): contri- among which researched the use of soil identifying
buição para um debate sobre política habitacional available areas the localization of vulnerable pop-
no Brasil. Revista Brasileira de Estudos Urbanos e Regio- ulations. The entity of research of materials and
nais (ANPUR) v. 15, 2013. p. 167-182. constructive methods was the Centro Brasileiro
8 The BNH System was created under the respon- da Construção (Brazilian Construction Center).
sibility of the Planning Department and through Dedicated to study the modular coordination, the
Decree number 60.900, of June 26, 1967, and was rationalization of the work in the worksite and the
reallocated to the Homeland Department together works code. The Center tried to elaborate a proj-
with the other regional development bank. Thus, ect policy made known through its main publica-
as the architects have realized since the beginning, tions, the CBC Books and the CBC Bulletin14. Also
the work of the BNH was somehow “anti-urban”
See Alberto Xavier`s comment In KOURY, Ana 10 The same law number 4380 from August 21,
Paula. Arquitetura Construtiva: proposição para a 1964, created the BNH, the Serfhau, the SBPE and
produção material da arquitetura contemporânea Instituted the monetary adjustment In the real es-
no Brasil. Doctoral Thesis. School of Architecture tate contracts.
and Urbanism of the São Paulo University, 2005.
11 Created by law number 5.107, from September
9 The scheme and some descriptions of the opera- 13, 1966.
tion can be found in TRINDADE, Mário. Habitação
e Desenvolvimento. Rio de Janeiro: Vozes, 1971 p. 12 FIPLAN- Financing Fund for Local Planning.
101 to 144. A deep critical analysis can be found in
13 SIDUL- System of Information for the Urban
ARRETCHE, Marta. Intervenção do Estado e setor
and Local Development.
privado: o modelo brasileiro de política habita-
cional in Espaço & Debates, São Paulo, v. X, n. 31, p. 14 About the Centro Brasileiro da Construção se
21–36, 1990. KOURY, Ana Paula . Brazilian Construction Center:
iniciative for management of the Brazilian housing

258
included in the same Research and Development Aiming to elaborate a project policy for pop-
System was the Industrial Coordination Center ular housing the Centro Brasileiro da Construção
that tried to guide the industry of materials and performed the Modular Coordination Plan. The
components and promote innovation, from the ambitious plan foresaw to have the dimensional
applications developed and tested in projects. compatibility of industrially produced compo-
To support the general structure of execu- nents, and the project of the domestic environ-
tion of the programs financed by the BNH System ments. If applied, the plan would have resulted in
(housing, sanitation, urban development and com- great progress in the quality of the project, produc-
munity development) three subsidiary systems tive of the services, project and execution stages
were created, one to qualify and train people, one and reduction of work costs. The main objective
for logistic support, and a third one focused on op- of the plan was to establish dimensional parame-
eration research. ters based on ergonomic and ability studies. The
The qualification and training of people in- plan would permit articulating the materials and
cluded the training of technicians to operate the components industry, the construction companies
loans system, to manage the mortgage system, to carrying out the works and those responsible for
analyze projects, to work in urban planning and in the project and specifications in a single project
local development and also course of adjustment system. Although it did not reach its main goals, in
of labor for civil works. The logistic support, on the case the housing policy, the plan was used for
its turn, was for the financing of the materials and the production of school building by the Education
construction industry, programming of invest- Department of the State of São Paulo through the
ment of the fund of the Bank and support to clients School Construction Company of the State of São
of the system. The operation research included a Paulo (Conesp), currently the Foundation for the
database for the planning of the four programs and Development of the Education (FDE). Teodoro
also researched the market of properties for lease, Rosso idealized the Plan with the collaboration of
cost of construction materials and labor, and sup- João Honório de Melo, who later took the model to
ported the realization of Housing Censuses. the Conesp as the Director of the Company in the
A group of innovative experiences, which has early 1970`s18.
recently been valued by a series of case studies15, The expertise of an integrated project to the
was originated in the BNH System. Even though construction chain of construction also found
we cannot definitively consider the whole by a room in the private sector that built for the mid-
part and consider the BNH’s policy innovative as class sector in São Paulo. The most innovative
a whole, we must notice the experiments that, al- example of the private sector in São Paulo in the
though not generalized, can acquire new meanings sense of rationalizing the system of project and
in the current debate about urban and housing pol- execution of the works was the company called
icy in Brazil. Merisa, created to develop the executive projects
The BNH provided housing to a large number contracted by the Forma Espaço Construction
of people of average income, which were included Company, once again with the collaboration of
through financing in the ample process of the Bra- João Honório de Mello19.
zilian urbanization. In the case of the city of São The objective of activating the economy mov-
Paulo, that was a task that was partially performed ing the construction chain had positive effects and
by the progonos and epigonos of the so-called the policy of training of personnel and of techno-
“São Paulo School”, who were responsible for the logical development of the BNH System, although
project of many single-family residences in dis- heavily criticized, generated a certain level of inno-
tricts such as Perdizes, Butantã, Santo Amaro, etc.16 vation in the sector of mass housing produced in
They also developed the housing standards for the the country.
middle-class of São Paulo as the BNH financed The Experimental Worksite of Narandiba in
several construction companies, such as Hindi and the state of Bahia in 1978 can be considered an
Formaespaço, which innovated in the constructive important moment of technological experimenta-
processes and in the functional solutions for this tion. Promoted by the BNH, it aimed to be a large
segment of the housing market17. demonstration of what the private initiative and
the universities could suggest as form of produc-
construction industry (1969-1972). In: CARVAIS, tion of popular housing. Most exhibitors present-
R., GUILLERME, A., NÉGRE, V., SAKAROVITCH,J.. ed light pre-cast solutions and rationalization of
(Org.). Nuts & Bolts of Construction History. Culture, the conventional system, without abandoning
Technology and Society. 1ed.Paris: Picard, 2012, v. the parameters of work of the BNH, introducing
2, p. 289-296. only minor technical innovations that implied in

15 VIZIOLI (1998), LUCCHESE (2004), KOURY cios de habitação para a Formaespaço: Modulares,
(2005), FERREIRA (2007), SANVITO (2010) Gemini e Protótipo. Master’s Thesis in the School
among others. of Architecture and Urbanism of the São Paulo Uni-
versity. São Paulo: 2003.
16 ACAYABA, Marlene M. Residências em São
Paulo 1947 1975. São Paulo: Projeto, 1986. 18 Interview of João Honório de Mello in KOURY
(2005:127).
17 About the Forma Espaço Construction Com-
pany, see IMBRONITO, Maria Izabel. Três edifí- 19 See IMBRONITO (2003: 15).

259
the intensive use of labor and low investment in The other side of the coin was the absence of
heavy equipment. Opposite to most proposals generalization of the service to meet the policy to
from Narandiba we had the prototype made by the most vulnerable classes with lower income, al-
the Alfredo Mathias20 Construction Company, a though in the case of Rio de Janeiro there was room
project of totally industrialized housing unit, which to house pioneer experiences of slum urbanization
would be transported ready to the implementa- inside the Community Development System and
tion site. The constructive proposals presented in in the Cenpha. Despite that, the initiative is insert-
Narandiba demonstrate the diversity of compa- ed in the experimental cases that were not gener-
nies and systems available for the solution of the alized as comprehensive policies of the BNH, but
large-scale construction of housing in the country. that demonstrate that there was a dispute inside
The BNH System moved the private sector, the System during its operation.
not only for the production of housing. The urban The sophisticated system of housing pro-
renovation promoted by the private capital en- duction and urban planning implemented in 1964
tered the policy of the Urban and Community De- was not only an invention of the civil-military gov-
velopment System21 through proposals of Rio de ernment, but rather an instrument born from the
Janeiro Urbanist Harry Cole for the project of the Brazilian experience since the Fundação da Casa
CURA (Urban Communities of Accelerated Ren- Popular (Popular House Foundation), as several
ovation). Cole participated in the organization of authors indicate25. The dispute and appropriation
the BNH System since its beginning, having been of this experience contributed to frame the State
directly invited by the Planning Ministry Roberto that institutionalized it to its image, and it was not
Campos22. In 1972, already in his private consult- without reason that it was identified to it. The de-
ing office, Cole developed the Pilot Project of Vila nial of the BNH System as a valid administrative
Valqueire in Rio de Janeiro for the BNH – the ex- tool to manage the public and private funds in the
perience gave origin to what was the norm of the organization of the urban base of the Brazilian de-
CURA project in the following year. The objective velopment was a great loss, as well as it would be
of the pilot project proposed by Cole, and which its resumption without a deep critical reasoning of
did not get to be implemented, was to intervene its functionality inside the intensive system of cap-
in a middle-class lot with some installed infrastruc- ital accumulation granted by the autocratic policy
ture, but with large quantity of empty lots, bolster- of developmentism.
ing, through private investment, the local devel-
opment. The real estate dynamics generated by
the offer of the lots would be capable of meeting,
through the private initiative, the growing market
in the cities. 23
The selected sequence of examples aimed to
demonstrate situations that, although anecdotal, the
role of the BNH moved the private sector purchasing
innovative projects and that in some cases proposed
the development of technologies, as it was the case
of Narandiba, and it absorbed rationalization meth-
ods for the production of housing units, as it was the
case with the experience of the Merisa Construction
Company, as well as of other Construction Compa-
nies that innovated in the housing production pro-
cesses, as it was also the case of the Hindi Construc-
tion Company24, for example.

20 SANTOS, Demóstenes Magno. A História da


Construtora Alfredo Mathias (1950-1985). Mas-
ter’s Thesis. School of Architecture and Urbanism
of the São Paulo University. São Paulo: 2013.

21 ANELLI, Renato Luiz Sobral Urbanização em re-


de:os Corredores de Atividades Múltiplas do PUB
e os projetos de reurbanização da EMURB (1972-
82) Arqtextos (Vitruvius) São Paulo, 088.01 Year
08, Sept. 2007.

22 LUCCHESE, Maria Cecilia, O arquiteto e urba-


nista Harry Cole. Revista Oculum Ensaios. Campinas:
PUC, Aug 2008. p. 67 a 78.
cado imobiliário. Master’s Thesis. São Judas Tadeu
23 LUCCHESE (2004: 110) University. São Paulo, 2007.

24 ABUSSAMRA, Jorge. O Edifício residencial pau- 25 ANDRADE E AZEVEDO (1981) , MELO


listano nos anos 70, 80 e 90: a arquitetura e o mer- (1991), BONDUKI AND KOURY (2010)

260
DESIGNS FOR THE ZONING OF SÃO PAULO This situation indicated some challenges for
Daniel Todtmann Montandon1 the revision of the PDE in 2013, such as the nec-
essary confrontation of the problem of urban mo-
Context bility not only under the perspective of the sector
Zoning is perhaps the main urban planning of urban public transportation services, but also
tool used in the Brazilian cities. Even though it is under the perspective of territory ordering. In oth-
recognized as not being the most efficient tool to er words, which urban structure São Paulo should
face social inequalities and to induce urban devel- have to make urban mobility sustainable2.
opment, Zoning has always had the assumption of At the same time, another problem faced in
controlling the use of soil by rules of land division, the revision of the PDE (and which must be treated
use and occupation of the soil. And this instrument in the other laws that complement it) is the quali-
has often been used autonomously, dissociated fication of the urban form. It is understood that
from the Master Plan. São Paulo lacks quality in its public spaces, in its
In the case of the city of São Paulo, since 2002, private spaces, in the urban landscape as a whole
The Strategic Master Plan (PDE) has brought a set and, mainly, in the interaction between the public
of norms that made it possible for the experimen- and the private spaces. It is not that the city lacks
tation of strategic tools to promote the urban de- quality of the urban form, but such occurs only in
velopment according to the provisions of the City small scale and in certain districts.
Statute – Federal Law number 10.257/01, such as And it is not because of the lack of laws that
Special Zones of Social Interest (ZEIS), the Oner- the city ceased having a better urban form or the
ous Grant of the Right to Build and the Municipal public and built spaces desired by the citizens. Nor
Council of Urban Policy. As for the Zoning after is the lack of projects. It can be said that much of
the PDE, it was revised in 2004 and implemented the real estate production of the city results from
in an articulated way with the Strategic Regional the application of several laws and norms (which
Plans of the Sub-administrations, stressing the often make the process of urbanistic licensing
decentralized nature of the city planning and slow and complex). And such production was
management. We cannot affirm that the Zoning made based on projects, involving architects and
implemented through law number 13.885/04 has several civil works professionals. In this situation,
been dissociated from thee PDE, Law number we believe that one of the main problems to be
13.430/02. However, in the last ten years, the lack faced is that the Zoning of the city, at some mo-
of implementation of actions and strategic instru- ment, left to a side the search for improvement of
ments foreseen in the plan ended up giving room to the quality of the urban space, as a whole, whether
the production and transformation of those strate- public spaces or the built space, whether the public
gic territories according to the Zoning rules and not or the private ones.
through urban projects, as foresaw the PDE. Under the assumption of seeking the qualifi-
After ten years of effectiveness of the PDE, cation of the urban form by the regulation of the
it was the moment to make its revision, in 2013, use of soil (and in what refers to it, without overes-
according to the ten-year cycle foreseen in the timating it), the SMDU and Institute of Architects
City Statute (the Master Plan has to be reviewed of Brazil – São Paulo Department (IAB-SP) have
at least every ten years). In this sense, during organized the Urban Essays Tender: Designs for
2013 the Administration of the City of São Paulo the Zoning of São Paulo, aiming to subsidize the de-
promoted the participative revision of the PDE, bate of the revision of the Zoning of the city.
whose coordination was under the responsibility
of the Municipal Department of Urban Develop- Urban Essays Tender
ment (SMDU). The tender aimed to promote a reflection with
Despite the progress brought by the 2002 the architects to subsidize the Zoning revision.
PDE, the city of São Paulo did not undergo the Initially, it is worth making some consider-
structuring urban transformations foresee in the ations about its conception.
plan during its ten years of effectiveness, if we con- The Term of Reference of the tender, elabo-
sider mainly the priority transformation territories rated by the SMDU, identified some key elements
established in the plan (areas by the railroad tracks, to be explored in the essays to progress in the
for example). Additionally, some choices of public improvement of the urban form. By establishing
investment in infrastructure were opposed to the two types – general urbanistic pattern of urban
reversion of the problem of urban mobility, which configuration (1) and specific urbanistic patterns
has always been present in the prevalence of pri- for selected territorial units (2) – two regulation di-
vate vehicles over collective public transportation mensions were recognized: a systemic one, which
(one such example is the widening of the marginal dialogs with the organization of a networked ur-
avenues by the Pinheiros and Tietê Rivers). ban structure (the intensification axes along the
lines of collective public transportation of mid and
1 Architect and Urbanist (UNESP/Bauru), Mater in high capacity); and another one which assumes
Urban and Regional Planning (FAUUSP), he holds the adaptation of the regulation to the local ele-
the position of Director of Soil Use and has been the
President of the Commission of Protection of the 2 We are considering the sustainable urban kind as
Urban Landscape (CPPU) of the Municipal Depart- the one which meets the provisions of Federal Law
ment of Urban Development since January, 2014. number 12.587/12.

261
ments, whose specificity of the place requires a Plan (PL 688/13) as for the regulation of
specific treatment. use and occupation of soil and the other
On its turn, the type regarding the general reg- instruments;
ulation was divided in categories (PMSP/SMDU/ • Optimization and urbanisitic qualifica-
IAB, 2013): tion due to the criteria of demographic
and housing density according to the lo-
Category 1: studies of configuration of urbanistic calization;
corridors. A urbanistic corridor is considered as • Better use of the public space and greater
the axe formed by the street in which the trunk bus interaction of the pedestrians with the
system is operated, whether or not in segregated use and occupation of the lots, consider-
street, comprising the sidewalks, central media, ing the configuration of a system of pubic
bike lanes, and all blocks next to the street of the spaces articulated with the system of
trunk bus system. urban mobility and the system of green
Category 2: studies of configuration of built typol- areas;
ogies of mixed use in the same lot, mandatorily in- • The mixed use of the same lot, specially
volving residential use. coexistence of the use for housing with
Category 3: studies of configuration of the frontal other uses, such as services, commerce,
part of the lots with the streets, with emphasis on institutional and public services;
the treatment of the facade of the lots and of the To explore:
ground floor so as to improve the use of the public • The block and the set of blocks as territo-
space and the interaction of the pedestrian with rial units of urban composition;
the foundation of the building. • The landscape as criterion of configura-
Category 4: studies of configuration of lots in ar- tion of the built system, and territorial
eas with steep slopes, considering situations with units are identified as object for a differ-
exclusive access by one street and lots with two ent regulating treatment;
alternatives of access, in the frontal part and in the • Contributions that Express the notion of
back of the lot. the social function of the property as a
Category 5: studies of configuration of lots and principle of the regulation of use and oc-
blocks of large dimensions, whether or not result- cupation of the soil;
ing from divisions and of large lots, whether or not • The importance of the centralities in their
inserted in predominantly industrial Zoning, and several scales and forms of territory oc-
the mixed use of the new lots should be considered cupation;
as well as the investigation of the maximum di- • To consider:
mensions of configuration of the blocks. (PMSP/ • What the regulation for soil use and oc-
SMDU/IAB, 2013, p. 4). cupation prescribes for the existing and
already built city, whether in the aspect
These categories demonstrate some ele- of land law, constructive aspects, avail-
ments that can contribute with the improvement ability of infrastructure, configuration of
of the urban form through the regulation of the use the pubic space, among others;
of the soil: the interface between the public place • The city as a whole, proposing contribu-
and the lot in order to expand the collective space tions that consider the social diversity,
and the interaction of pedestrians with the uses economic, cultural and service opportu-
and the built system; the mixed use of the same lot nities, among others;
and in the same block; the management of urbanis- • The different possibilities of configura-
tic impacts by the regulation of large-sized lot and tion of land structure, in terms of sizing
blocks; the adoption of the block as an element of and formation of lots and plots, for the
urban composition. purpose of application of the proposed
If we compare those elements with the as- norms;
sumptions defined by the SMDU the attributes • Preexistence and local elements of urban
of the qualification of the urban form that should and geographic configuration;
be explored become even more evident (PMSP/ • The interface between the built system
SMDU/IAB, 2013): and the structuring systems, such as
Assumptions: streets, collective public transportation,
To provide: hydrography, and green areas;
• Objective contributions, possible of be- • Environmental vulnerability and physi-
ing implemented, and the applicability on cal aptness to urbanization, specially in
the part of the norms of land division, use areas prone to the occurrence of large
and occupation of the soil; impact landslides, sudden floods, or cor-
• The studies performed for type 1 should related geological or hydrological pro-
observe and demonstrate their capacity cesses;
for reproduction;
• Contributions that permit the implemen- Properties and districts protected by the IP-
tation of the guidelines and innovations HAN, CONDEPHAAT and CONPRESP, consid-
brought by the Bill of Law of the Master ering the expanded surrounding area of those ele-

262
ments as areas of transition of urbanitic patterns. that illustrates that well is Projects 01, of Category
(PMSP/SMDU/IAB, 2013, p. 6). 05 of Type1, as it can be seen in Figure 2.
In other words, what is sought is a regulation As for the specific regulation due to local as-
for land division, use, and soil occupation that pects, the work developed in Project 08 of Type 2
provides a public meaning not only for the pub- brought a significant contribution by identifying
lic space, but also to the build system and to the the grottoes as units of the physical environment
private territory. That means bringing the public to have a different treatment, and the instrument
area inside the lot; creating multiple accesses to of the microarea (or microzone) was proposed for
the lots; installing activities on the ground floor the regulation of the occupation of the territory of
that provide the interaction and gathering of peo- the area of influence of the grotto. It is understood
ple; providing greater tree coverage in the lots that this microzone works as some kind of han-
and public spaces; overcoming the protagonism dling plan of the perimeter of influence of the grot-
of the automobile, whether on the street or in the to. Although thought for certain places, this pro-
lot; limiting walls and closing of lots; among other posal can be replicated in the several occurrences
measures that provide urbanism in the interface of springs and draining head, as shown in Figure 3.
between the public and the private space. In summary, it worth reading each awarded
work with great attention to understand how
Results of the Tender the essays that were developed dialogued with
Out of the 25 foreseen awards (15 in type 1, the desired conception of the city from the news
from which 3 are for each category and 10 in type Strategic Master Plan approved by Law number
2), 10 awards were granted and 4 honorable men- 16.050/2014.
tions (out of a universe of 54 works that were pre- Finally, it is worth highlighting that the Tender
sented), as follows: did not aim to award projects to be implemented,
but rather essays that would bring reflections for
Type 1 (total of 8 awards and 3 honorable mentions): the Zoning revision.

Category 1: 3 awards and 1 honorable mention; Perspectives for the Zoning revision
Category 2: 1 honorable mention; As a result of this Tender, the SMDU orga-
Category 3: 3 awards and 1 honorable mention; nized the Urban Essays Atelier, involving the cours-
Category 4: no award and no honorable mention; es of Architecture and Urbanism of the universities
Category 5: 2 awards; of São Paulo to explore the ideas, concepts, and ex-
perimentations arising from the tender. The works
Type 2: 2 awards and 1 honorable mention. of the Atelier should start in August, 2014, and at
least 14 courses should join the project, which may
Even though the number of awards was small, involve up to nearly 1,500 students.
the awarded works progress in good experiments At the same time, the SMDU will carry out
of the assumptions established for the tender. It is a broadly participative process so as to build a
important to make some comments about those revision proposal of the Zoning that is effectively
experiments. democratic.
As for the interface the public space and the It is still early to draw conclusions of how the
lot, the essays identified not only the non-residen- new Zoning of the city will be. At this moment we
tial use as a mechanism for making that interface just know some assumptions that are very clear to
more dynamic (concept of active facade, estab- guide the revision works: to seek the qualification
lished in the proposal for the revision of the PDE), of the urban form, in the several topics and dimen-
but rules of occupation that limit the use of vehi- sions involved; to respect the conception of land
cles, widen sidewalks, explore the vegetation in order established in the new PDE; to promote a
front of the lots, foresee multiple accesses to the broadly participative process; to simplify the un-
lots and establish forms of collective use of the derstanding of the law.
ground floor. Perhaps the work that well synthe-
sizes that variation of experiments is Project 04 of
Category 3 of Type 1, according to Figure 1.
As for the management of urbanistic impacts
on large-sized lots and blocks, the awarded teams
explored the block as a unit of design and urban
composition. In other words, the large-sized lots
and plots end up assuming the dimension of block
and, in this context, the urban regulation thus
involves treating of parameters of use and occu-
pation without having the lot as a reference, but
rather the block. And the design changes signifi-
cantly, once the volumetry, the free spaces, the
green areas, the expansion of the sidewalks, and
the proportion of residential and non-residential
uses end up being treated harmoniously, as if it was
an urban project for each block. One of the works

263
Urban form and informal city paradigms of that period: the reconsideration of the
Valter Fabietti formal quality of the urban implementation allows
for the cultural recognition of the rules of the form
“True design never begins with a virgin situa- and the definition of their role as a procedure. It is not
tion, never foresees a completed work. Properly, only the whim or sensitivity of the designer, but the
it thinks in terms of process, prototype, guidance, objective meaning of the form as an aesthetic val-
incentive (...). A well-developed stock of mod- ue both technically and constructively. From Kevin
els which integrated process and form would Lynch`s elaboration until Krier`s and later through
be of immense value of it. These models and the proposals of the new urbanism, from Duany,
theoretical constructs must be sufficiently inde- PLater-Zyberk, Punter, Parolek and others, a new
pendent and simple, however, to allow for that current of thought appears, which reformulates and
continuous recasting of aims, analyses, and possi- re-launches, in an always more evident way, the sys-
bilities that is inherent in the conduct of city design.” tems of formal control.
Kevin Lynch, “A theory of good city form” MIT Press Between the end of the 1980`s and the begin-
Cambridge MA 1981 ning of the 1990`s this current appears in a mature
way (4) articulating its proposals in a broad array of
The rules of the form technical tools: guidelines, manuals, regulations, etc,
In the 1980`s there is a renewed attention to applicable in the most varied contexts. The use of
the confrontations of the control of the urban form, the control of the form becomes instrumental, even
through projects seeking more the construction of dominating, and also turns to functional questions
the “urban setting” than formal definitions of archi- and, resuming an old tradition of sanitary, environ-
tecture (1). mental urbanism.
It is an ample experimentation whose roots are From the codification of the formal elements
in the 1960`s and 1970`s, from which a disciplinary (facades of the buildings, recesses regarding the lim-
current guided towards the urbanistic traditions of its of the lot, distance between the “envelope” of the
the beginning of the 1900`s appears. It is the North built blocks, relationship between the facade and the
of America, especially, and later in the United King- road, between built volume and section of the road,
dom that we see a growing intolerance against the form of the ground floor, constructive materials, etc),
dominating methods in the projects of the new we get to the conclusion about the definition of the
housing complexes, not only in the urban outskirts, role that those elements have in the construction of
but also in the big cities. The focus of this disciplinary the urban environment and, mainly, how they can in-
attitude is the deepening of the relationship between fluence in the human behavior.
the collective and the private spaces, or the control In this new way of considering the form we have
of the physical form of what is built in relation to the appearance of definitions and codes that operate
what is manifested between it and the public space. in several scales: reflections about the types of build-
Contrary to interventions that face the topic of new ings, about the rules of grouping of those, and about
complexes only in the scale of the building, the use of the composition of the spaces, from the simpler to
formal rules in the urban scale, this current of thought the most complex and articulated ones, which lead
affirms, permits the better construction of varied to the definition of the urban compositions consid-
environments, not trivial or repetitive ones, and with ered true and appropriate (5). Between the lines in
broadly shared aesthetic values. Those are urban this new attitude when confronting form is inserted
environments in which “a richness of elements, in a variation of the concept of environmental sustain-
harmony among themselves, better serves to re- ability, summed up in the question: can the control of
spond to a broad array of expectations and desires of the form induce environmental sustainability in the
a diversified public and, on the other side, favors the projects of urban transformation?
participation of a wide pluralism of producing agents The urban space represents the habitat of the
and users”. (2) citizens and can modify, due to its characteristics,
That reinterpretation of the traditional forms is the way people use the city; it induces in the observer
based on the following project question: “what is the the perception of the richness of those who live in a
meaning of a good place to live?” (3) certain area, but also shows the possibility of enjoy-
The experiences from the 1980`s have the ing quality spaces which can lead to a calmer life and,
merit of making evident, through the application of perhaps, a healthier one. Ultimately, it is possible to
“smart codes”, the importance of the codification of represent and defend the sustainability with the ur-
efficient project behaviors to produce quality urban ban space.
environments, not only from a functional perspec- In view of the pressure, as for the matter of the
tive, but also, and I would say mainly, regarding the relationship between the form of the urban space
perceptive impact. It is in that situation, as we will see and sustainability, it is important to consider a “form
later, that elements of hygienist and environmental of sustainability”, or the instruments of the urban
elements are inserted, historically present in the ur- project capable of providing a principle of sustainabil-
banistic disciplinary tradition and revisited, mainly ity that is “environmentally pertinent, economically
through the most general principle of sustainability. convenient, and socially usable.”(6)
It is, ultimately, some kind of return to the tradi- The urbanistic projection, from Colin Rowe
tions of the urbanistic project, which assumes a revo- and his teachings at Cornell University (7) up to the
lutionary value regarding the dominating disciplinary Congress for a New Urbanism, has produced many

264
instruments internal to the process of construction unequal) world urbanization. Where the settlement
of the urban space and that permit exploring the rela- appear totally deprived from rules, not only from
tionship between individual buildings, not restricted the formal ones, the relationship between the form
to architecture in isolation, but rather proposing a vi- and the urban environment has plenty of complex-
sion of the whole. It is something actually true when ity, but also of disciplinary (besides social) interest.
we consider that, in the experiences that are part of That is the case of “informal” settlements, the great
the trend referred to above, and it guided to great multiplicity of marginal urban zones (slum, favel-
attention to the street and, in an even more general as, baraccopoli, bidonville, etc), inhabited by a vast
way, to the common spaces between the buildings. low-income or totally indigent population.
In some case, the codification of those elements Is it possible, in this case, to resort to the formal
is developed in an almost baroque way, using the ob- control as a tool for social improvement? Is it possi-
sessive measurement of the public space. However, ble, as affirms the new urbanism and the form-based
also in the most rigorous experiences, the objective codes, to promote the social improvement and, thus,
of the proposals appears, which is summed up in the transform the informal settlement in “a good place to
qualitative improvement of the main aspects of the live”?
social life: to speak, to walk, to sit, to negotiate. Ev- It is a complex problem that involves many com-
erything in such a way as to offer an environmentally petences and requires a support policy (9). In the
sustainable life style, reducing emission of green- path of change of orientation in the actions in slums
house-effect gases, making electric consumption and the necessary interventions to make them in-
more efficient, improving the conditions of human habitable places, many intervention programs have
health and of the natural environment (air, water, been developed having as their theme the urban
soil). project for the informal settlements. In those cases,
The experiences of urbanistic projection in the the hypothesis is that the improvement of the collec-
local scale (neighborhood planning) are confronted tive space (through public policies) can work as the
with the theme of the functional diversity, as favor- engine of a more generalized requalification. Some
ing, in the consolidated urban domains, socially virtu- Brazilian universities have introduced in their atelier
ous behaviors besides environmentally sustainable programs and in their teaching experiences the re-
ones. The form expresses some kind of “urban intelli- search of laudable paths of urban projection for the
gence” (smart cities) in those experiences, prepared requalification of the slums. Among those, the expe-
to make the transformations of the city resilient and rience carried out by the “Escola da Cidade” from São
sustainable. Paulo has had great interest, which has opened a Latu
The sustainability of the urban development Sensu Master’s Course about the projection of the
has several levels of complexity. First, the articula- form in the informal city, called Habitação e Cidade
tion and the scale to which it refers. Certainly we (Housing and the City), in whose atelier work exper-
can and must consider the natural resources that imentations in project solutions for the Jardim Colo-
are used, such as the systems of green areas, surface nial slum could be seen in 2012, theme of the volume
and underground waters or the ecological corridors, 4 of the annual publication of that course.
but in addition to those, working in an anthropized Beyond the consolidation of the housing unit,
environment, they assumed as much importance as that experience delves into the improvement of the
insulation of the collective spaces, the albedo or the quality of the collective space and of spaces in the
effects of the mechanized mobility and, ultimately, close vicinity. In the observation of the works devel-
the walkability of the urban space: the urban intelli- oped in the aforementioned course in 2012 the need
gence is perceive from the way of using the city. to define flexible typologies of implementation that
adapt to the context, whether a morphological or a
Formal vs. Informal constructive one.
The urbanistic projection, as it happens in other There reference is made to the relationships
areas that have as their focus the city and the citizen- the complex of the slum has with the “formal city”,
ship (civitas and urbs)(8), assumes those two terms whether by the inevitable confrontation, with the
(and their reciprocal relationships) as investigation risk conditions generated by the “inappropriateness”
horizon, stimulating even the redefinition of the very of the morphological-geological substrate upon
disciplinary paradigms. The appearance of a social which the settlement is supported.
demand for “sustainability” (the construction of Regarding this last topic, some interesting solu-
social-environmental ecologies, especially evident tions that have been adopted, such as the verticaliza-
in the informal settlements, the combat to climatic tion of the settlements, external and internal ways to
changes, the maintenance of the human health), the the built area that explore the slope of the are to gen-
hope for a better quality of life in the city (a better erate connections in the built tissue of the slum, also
place to live) are gradually making the disciplinary exploring daring systems of green areas to reduce
devices “green”. The current scope is not to control the built density an to stabilize the soil of the area.
the growth, but to elaborate city models capable of Something special in the proposals formulated
facing the future challenges: the appearance of new in the projects developed in the course has to do with
life styles, restructuring of new life styles, restructur- the relationship of the settlements with the water.
ing of economic systems, frequently not predictable, The hydro-geological risk represents, no doubt, to-
of the environmental conditions, also due to the cli- gether with the implementation of infrastructure
matic changes and, no less important, the quick (and (sewer, public lights, garbage collection), one of the

265
main problems to be solved for the sanitation of the About this, see A.P.Latini Falsariga per uma classifica-
slums. To use risk factor as a project opportunity zione delle regole della forma nella nuova tradizione
certainly seems to be something of great interest: anglo-americana, in V.Fabietti, Forma urbana e valuta-
controlling the hydric levels with retention tanks in- zione ambientale, Sala Ed. Pescara 2013
tegrated to the public spaces and water beds, freeing (2) Ibidem
the areas with steeper slope and consolidating them (3) P. Langdon, “A good place to live”, The Atlantic
through the courses and canals in steps represent Monthly, Boston, 1988
strong aspect of the projects for the slum developed (4) The New Urbanism is officially born in a congress in
in the course. Davis in 1991 and the creation of the Congress for New
Similar considerations can be made regarding Urbanism is from that period (http//:www.cnu.org/
the projects for the tender “Concurso Nacional En- who we are). The scope of that association is to promo-
saios Urbanos: desenhos para o zoneamento de São te the development of districts that can be covered on
Paulo” (National Tender of Urban Essays: designs for foot and to permit for the development of sustainable
the Zoning of São Paulo), presented in this publica- communities and of “healthier living conditions”. The
tion. The projects have as their focus the redefinition Form Based Code Institute is born in 2004, which re-
of the public space, used as an instrument of formal present the natural evolution of the New Urbanism and
and functional requalification of the built complex. of the smart codes, whose first version is produced in
Not only does the collective space define a formal 2003. According to A. Latini, op cit
configuration and draw the limits of the urban per- (5) The Seaside example, carried out by Robert Davis
ception, but it also configures places for a “hyper-so- in 1979 with a Master Pln from Andres Duany and Eli-
ciality”, stimulating the gathering of people. Aiming zabeth Plater-Ziberk, is a paradigm also in the cinema-
such, the project exploration stimulates the redefi- tographic use that was offered in “The Truman show”
nition, similarly to the most recent North-American making it some kind of modern Shangri-La.
experiences (10), the walkability, through a precise (6) According to. V. Fabietti Valutazione dell’ambiente
control of the formal results: the permeability of urbano, in V. Fabietti, Forma urbana e valutazione am-
what is built thus becomes an instrument of social bientale, op cit.
sanitation, besides the physical sanitation. It is an ac- (7) Recently in Rome, at the Facolta di Architettura di
celeration of the natural process of metamorphosis Roma Tre an interesting congress about Colin Rowe
of the city, here regulated by precise codes of project and his role in the renovation of the urban projection
behavior (smart codes). It is also interesting to notice was organized, titled “Urban Design and the legacy of
how the formal results are strongly linked to the uses Colin Rowe”. See htpp://colinroweconference.wor-
of the city: also in this case the diversibility assumes a dpress.com
social role besides a functional one, and it represents (8) To the terms civitas (citizenship) and urbs (city) a
the strengthening of the walkability as an instrument third one is added, polis, frequently used as a synonym
of social recovery. of city. The term polis, however, referred originally to
The works presented in this publication show, the city as a place of participation rather than a physical
thus, some progress in the long road to a full under- place, and for what is concerned here it refers to urban
standing of the relationship between form and city policies.
and permit making some reflections, as an essay. First, (9) According to note 8
it occurs to avoid the risk of an instrumental use of the (10) It is applied to the whole experience carried out by
informal city to supply to the projects some social sus- Dan Porolek for Cincinnati
tainability seasoning, also feed by an “over-valorization
of the form”, attributing a dominating role to it and, in
some cases, an absolute one. Secondly, to avoid the
risk of “making poverty a spectacle”, transforming the
informal settlement into a tourist “safari”. More than
any other risk, however, it is necessary to avoid the
greatest one of them all: the idea of inequalities cannot
be avoided and, thus, the dilution of the project as a sim-
ple practice of aesthetics. The control of the form of the
collective space, even though not solving the problems
arising from a precarious condition of the settlement,
undoubtedly represents a contribution to make a slum
if not a good place to live at least and more simply a
place to live.

(1) Several project actions oriented to the control of


the urban form are from this period, such as in the USA
the Randolph district in Richmond, the Master Plan for
Battery Park City (1979), the “design guidelines” for
the “South Residential Area” (Rector Place, 1981) or
the definition of a new way to codify the urban form
(new urbanism) in the intervention of Seaside; also, in
the United Kingdom, the Master Plan for Canary Wharf.

266
Estrutura do Curso Fabrizio Rigout Módulo 4
Adrian Gorilik
Coordenadores Gustavo Rebord Palestrantes
Luis Octavio de Faria e Silva Jaime Leirner Elisabete França
Ruben Otero Marcelo Faiden Jose Maria Delapuerta
Maria Teresa Fedeli Eulalia Negrelos Anaclaudia Rossbach
Mario Yoshinaga
Monitor Atelier Paulo Pellegrino
Victor Minghini Alehandro Cohen Sergio Ludemann
Cristian Nanze Analia Amorim
Módulo 1 & colaboradores Pedro Telecki
Representantes Caixa
Econômica PMCMV
Palestrantes Banca Final
Alexandre Delijaicov Eulalia Negrelos
Atelier
Joana Mello Carlos Barrado
Luis Mauro Freire
Regina Meyer
Marcos Boldarini
Luis Espallargas Módulo 3
Aguinaldo Farias
Banca Final
Paulo Bruna Palestrantes
Luis Mauro Freire
Nilce Aravecchia Pedro Araujo
Analia Amorim
Lara Barbosa Luis Khel
Ana Elena Salvi Violeta Kubrusly
Jorge Jauregui
Atelier Maria Teresa Diniz
Luis Octavio de Faria e Silva Grupo de HABI Sul
Ruben Otero Marcos Boldarini
Maria Teresa Fedeli Juan Pablo Aschner
Tassia Regino
Banca Final
Ana Elena Salvi Atelier
Felipe Notto Robert De Paaw

Módulo 2 Banca Final


Violeta Kubrusly
Palestrantes Robert De Paaw
Ana Paula Koury
Ines Moisset

268
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação - CIP

116 Habitação e cidade: curso pós-graduação lato sensu Escola da


Cidade 2013. / Organização de Luis Octavio de Faria e
Silva e Ruben Otero; tradução, Marco Antonio Castilho.
– São Paulo: ECidade, 2014.
270 p. : il. ; 19 cm. – (Civilização América ; v.5).


ISBN: 978-85-64558-08-3

1. Arquitetura. 2. Urbanismo. 3. Habitação. 4. Política


Habitacional. 5. Gestão de cidades. I. Título. II. Série.

CDD 711.4

Catalogação elaborada por Edina R. F. Assis

Agradecimentos especiais a Anália Amorim e Ciro Pirondi, grandes incentivadores da série


Civilização América, da qual faz parte esta publicação.

2014 Direitos reservados à


Escola da Cidade
São Paulo Associação Escola da Cidade – Arquitetura e Urbanismo
Rua General Jardim, 65 São Paulo – SP
HABITAÇÃO E CIDADE Tel. (11) 3258 8108
www.escoladacidade.edu.br
Organizadores
Ruben Otero
Luis Octavio de Faria e Silva
Projeto Gráfico
Três Design
Impressão
Gráfica Flavio Motta

270

S-ar putea să vă placă și