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POR CONTINGÊNCIAS
RESUMO
Uma breve revisão dos principais comportamentos induzidos,
por esquemas de reforçamento é apresentada. As caractertstlcas
comuns aos mesmos são discutidas e defecação é comparada com os
demais padrões em termos dessas caracterfsticas. As hipóteses expia-
natórias de comportamentos induzidos encontradas na literatura
são avaliadas. A relevância social e cHnica dos estudos de compor-
tamentos induzidos é enfatizada.
o termo foi usado pela primeira vezpor Falk (1961), que relatou que sob
certos esquemas temporais de reforçamento (intervalo fixo (FI), intervalo variá-
vel (IV) e tempo fixo (FT), nos quais comida era utilizada como um reforçador
para pressão à barra, os ratos consumiam quantidades excessivas de água dispo-
nível (chegando essa quantidade à metade de seus pesos) durante uma sessão de
180 minutos. Não somente pode a polidipsia descrita ser induzida, mas consumo
de álcool etílico pode também ser induzido por tais esquemas (Falk, Samson, e
Winger, 1972)_ O comportamento de "beber" ar (apresentado como um fluxo
contínuo através do bico de uma garrafa) também foi encontrado sob esquemas
80 Rev. de Psicologia, Fortaleza, 3 (2): 79-85, jul./dez. 1985 Rcv. da Psicologia, Fortaleza, 3 (2): 79-85, jul./dcz. 1985 81
tadas acima são evidências contrárias a essa hipótese, isto é, a maior freqüência Além disso, deslocamento pode ser visto como um comportamento cUI.
função é estabilizar uma situação conflitante, gerada por uma tendênci 1 do
dos comportamentos induzidos ocorrem após a apresentação do reforçador e
organismo de escapar de uma situação frustrante (interrupção do comport
esses comportamentos não são afetados por procedimentos de CaD. Além disso,
mento consumatório) e permanecer na situação (motivado pelo estado de priva
com esquemas de intervalos pequenos a probabilidade de reforçamento acidental
cão). Entretanto, essa definição não pode explicar a fuga induzida pelo esqu ma
é maior. Porém, esses comportamentos não são induzidos por tais esquemas.
de reforçamento. Quando o animal tem a oportunidade ele escapará de certos
esquemas de reforçamento.
2. Oportunidade. Essa hipótese sugere que esquemas de intervalos pequenos
e esquemas de razão não dão oportunidade para que o sujeito engage em 4. Mediação. Essa hipótese afirma que comportamentos mediadores otimi
comportamentos adjuntos. Apesar dessa hipótese ser bastante lógica, ela não zariam o desempenho durante esquemas de intervalo de tamanho médio.
explica o fato de polidipsia não ocorrer durante esquemas de intervalos longos Mediação não seria necessária com intervalos pequenos, e com intervalos muito
(eg. Flory, 1971). De acordo com a mesma, com intervalos longos deveríamos grandes, o comportamento mediador se tornaria aversivo, portanto diminuindo
esperar uma maior taxa de comportamentos induzidos. Defecação também não sua taxa de ocorrência. Entretanto, esquemas de VI produzem uma alta taxa d
pode ser explicada por essa hipótese porque não sendo incompatível com o polidipsia e outros comportamentos adjuntos e o valor de mediação durante
operante governado pelo esquema não depende de oportunidade para ocorrer. esquemas de VI é questionável. Além disso, defecação ocorre simultaneament
3. Deslocamento. Segundo essa hipótese, a frustração produzida pela inter- com o operante governado pelo esquema e com a apresentação do reforçador,
rupção do comportamento consumatório leva o organismo a atividades de deslo- não podendo portanto ser considerada como comportamento mediador.
camento. Evidência em favor dessa hipótese é o fato da redução do nível de
privação reduzir a taxa de polidipsia. Lotter, Woods, e Vasselli (1973) também 5. Alternativas. Pode ser que os comportamentos induzidos pelos esquema
demonstraram que um aumento na quantidade de reforçamento por apresen- de reforçamento sejam unicamente uma função das alternativas disponívei
tação reduz a taxa de polidipsia. Rayfield (comunicação pessoal) também durante os intervalos. Quando água e uma roda de atividades estão presentes
observou uma redução na taxa de defecação com aumento do número de refor- durante esquemas temporais, polidipsia diminui (Levitsky e Collier, 1968). a
ços por apresentação. Num experimento subseqüente manipulamos a quantidade animal também desenvolve comportamentos na roda de atividade. Polanco
de reforço por apresentação porém mantendo intacto o intervalo do esquema. a (1982) observou urna alta correlação negativa entre um comportamento
intervalo só tinha início após o animal ter consumido o reforço apresentado. mediador bem estabelecido durante um esquema de reforçamento diferencial d
Neste caso não observamos 'nenhuma redução na taxa de defecação relacionada baixa freqüência (DRL) e taxa de defecação. Quanto maior a taxa do compor-
com o aumento na quantidade de reforço por apresentação. Isso sugere que as tamento mediador, menor a taxa de defecação. Talvez o tamanho do espaço
reduções nas taxas de comportamento induzidos obtidas através do aumento de experimental e o número de alternativas sejam importantes. Nós esperamo
reforçadores por apresentação pode ter sido uma conseqüência de alterações no encontrar algumas respostas decorrentes de experimentos em andamento.
próprio esquema. Quando Rayfield aumentou o número de reforçadores de Embora nenhuma das tentativas de explicações acima sejam o bastante ou
1 para 12 por apresentação num esquema de FI-32 seg., o tempo gasto pelo suficientes, como deveríamos analisar os comportamentos induzidos por
animal para consumir os 12 reforçadores pode ter se aproximado do intervalo do esquemas de reforçamento e como poderíamos nos beneficiar dos dados dispo
esquema, tornando-o assim funcionalmente equivalente a um esquema de inter- níveis? Em primeiro lugar, devemos lembrar que tais comportamentos são
valo bastante pequeno. afetados por um grande número de variáveis tais como o próprio esquema d
Um outro problema para a hipótese de deslocamento é o fato de que a reforçamento, variáveis potenciadoras como o nível de privação e tipo de refor
maioria dos comportamentos induzidos não ocorrem durante esquemas de razão çador, história e procedimentos.
que requerem um elevado número de respostas por reforçador. Jacquet (1972)
a que isso nos diz é que tais comportamentos são um produto do urna
trabalhando com um esquema múltiplo de VI e extinção observou que polidipsia
contingência mais global do que a contingência de três termos norrnalm nt
ocorreu durante os períodos de VI mas não nos períodos de extinção. De acordo
utilizada na área da análise experimental do comportamento e que d fin III o
com a hipótese em discussão, polidipsia deveria ter ocorrido durante os períodos
esquemas de reforçamento. Por conseguinte, eles deveriam ser d nonun do
de extinção pois a interrupção do reforçamento na extinção é mais acentuada do
"padrões de comportamento induzidos por contingências", seguindo a lIgf 1 o
que durante VI. a fato de alimento mais saboroso (definido pela preferência do
de Goldiamond (comunicação pessoal), desde que eles são induzidos 11 c
animal num pré-teste) diminuir o grau de polidipsia também vai contra a hipó-
somente pelo esquema de reforçamento, mas por um conjunto de vuuavers uuu
tese de deslocamento. A interrupção de um reforçador mais saboroso deveria
definem a contingência conseqüencial.
produzir um maior grau de frustração.
Rev. de Psicologia. Fortaleza. 3 (2): 79-85. jul.jdez. 1985 K
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Esses padrões de comportamento servem como descritores da contingência. REFER~NCIAS BIBLlOGRAFICAS
Eles podem nos informar aquilo que está acontecendo, ou que tipos de contin-
gências estão operando. Azrin, N. H. (1961) Time out from positive reinforcement. Science, 133, 382·383.
Estes, W. K. & Skinner, B. F. (1941) Some quantitative properties of anxiety. Journ lof
Experimental Psychology, 29, 390400.
Relevância dos estudos sobre padrões de comportamento
Falk, J. l. (1961) Production of polydipsia in rats by an intermittent food schedule.
induzidos por contingências
Science, 133, 195-196.
Os estudos sobre polidipsia podem ser relacionados com problemas de Falk, J. l., Samson, H. H. & Winger, G. (1972) Schedule-induced consumption of ethyl
alcoolismo que ocorrem aparentemente sem nenhuma razão e que são alcohol in rats. Science, 177, 811.
abundantes em nossa sociedade. Apesar de ainda não existirem demonstrações Flory, R. K. (1971) The control of schedule-induced polydipsia: Frequency and magnitude
inequívocas de polifagia como comportamento induzido por contigências, of reinforcement. Learning and Motivation, 2, 215-227.
observações clínicas sugerem que muitos dos problemas de obesidade e alimen- Hall, C. A. (1934) Emotional behavior in the ratoJournal of Comparative and Physiological
tação excessiva podem também pertencer a essa classe de comportamentos. Psychology, 18,385403.
Hunt, H. F., & Bradv, J. V. (1951) Some effects of electroconvulsive shock on a condi-
Da mesma forma, padrões de violências observados em nossa sociedade, a
tio naI emotional response ("anxiety"). Journal of Compara tive and Physiological
chamada violência gratuita, podem também estar diretamente relacionados com
Psychology, 44, 88-98.
as contingências que governam outros comportamentos do agressor, num deter- Hutchinson, R. R., Azrin, N. H. & Hunt, G. M. (1968) Attack produced by intermittent
minado momento. reinforcement of a concurrent operant response.Journal of the Experimental Analysis
Os estudos sobre defecação podem ser relacionados com a síndrome de of Behavior, 11,489495.
irritação do cólon que consiste numa alternação de diarréia e constipação sem Jaequet, Y. F. (1972) Schedule-induced licking during multiple schedules. Journal of the
causa orgânica definida. Esse é um problema que afeta em maior ou menor grau Experimental Analysis of Behavior, 17, 413424.
grande parte da população. Levitsky, O. & Collier, G. (1968) Schedule-induced whell running. Physiology and
Behevior, 3, 571-573.
Sucesso clínico no tratamento dos comportamentos descritos acima
Lotter. E. C., Woods, S., & Vasselli, J. R. (1973) Schedule-induced polydipsia: An
somente ocorrerão se nós os analisarmos como padrões de comportamento
artifact. Journal of Comparative and Physiological Psychology, 83, 478484.
induzidos por contingências e tratá-Ios como tal, não tentando mudá-Ios ou Mendelson, J. & Chillag, O. (1971) Schedule dependence of schedule-induced air-licking.
eliminá-Ios, dentro de um quadro de referência uni linear (cf. Goldiamond, 1975) Journal of Physiology and Behevior, 7, 207-210.
onde a contingência de três termos está situada. Rayfield, F., Segal, M. & Goldiamond, I. (1982) Schedule-induced defecation. Journal of
Uma última ressalva sobre os estudos de defecação. Embora defecação tenha the Experimental Analysis of Behavior, 38, 19-34.
sido previamente usada como um indicador emocional (Hall, 1934; Hunt e Thompson, O. M. (1964) Escape from SO associated with fixed-ratio reinforcement.
Brady, 1951), Rayfield, Segal e Goldiamond (1982) demonstraram que a mesma Journal of the Experimental Analysis of Behavior, 7, 1-8.
pode ser induzida por esquemas de reforçamento positivo. Eles também Villareal, J. (1967) Schedule-induced pica. Paper presented at the Eastern Psychological
descrevem a maneira amena dos ratos, cujos comportamentos não são aqueles Association Convention, Boston, Mass.